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O LIVRO DE ATOS

Curso de MINTS
(Miami International Seminary)

Reverendo Julian Michael Zugg


LLB (Hons) Barrister, M.Div.
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APRESENTAÇÃO

PREFÁCIO

INTRODUÇÃO

LIÇÃO 1. Uma Introdução ao livro de Atos

LIÇÃO 2. Cristo estabelece a Sua Igreja em Jerusalém

LIÇÃO 3. A ascensão da perseguição contra a Igreja

LIÇÃO 4. A expansão da Igreja na Judéia e na Samaria

LIÇÃO 5. Missão de Paulo na Galácia (Primeira viagem missionária)

LIÇÃO 6. Missão de Paulo na Macedônia - Acaia (Segunda viagem missionária)

LIÇÃO 7. Missão de Paulo na Ásia / Éfeso (Terceira viagem missionária)

LIÇÃO 8. A prisão de Paulo, defesa, viagem e chegada em Roma

BIBLIOGRAFIA

MANUAL DE INSTRUÇÕES
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INTRODUÇÃO

O objetivo desse curso é proporcionar aos estudantes um conhecimento maior das


Escrituras, e em particular do livro de Atos. O livro de Atos segue o Evangelho de Lucas com
ênfase no crescimento e no triunfo da Igreja. O livro de Atos é um livro histórico do Novo
Testamento e faz uma ponte para a compreensão das epístolas de Paulo.

CONTEÚDO DO CURSO

O curso é dividido em oito lições. Ele traça a história dos Atos desde o início da Igreja
até a primeira prisão em Roma de Paulo. A primeira metade concentra-se na expansão do
evangelho de Jerusalém a Samaria, principalmente através de Pedro. A segunda metade
concentra-se na propagação do evangelho para os Gentios, principalmente através de Paulo.

MATERIAL DO CURSO

As aulas expositivas representam o conteúdo completo do curso. Será exigido dos


alunos a leitura das aulas juntamente com as Escrituras. Os alunos também serão obrigados a
ler os Atos de Marshall.

OBJETIVOS DO CURSO
- Estudar os Atos com os colegas de sala;
- Adquirir conhecimento detalhado da história e das lições dos Atos;
- Desenvolver um entendimento profundo do trabalho de Deus nesse mundo;
- Aumentar o conhecimento de como Deus lida com seus filhos;
- Dominar o livro de Atos para ser capaz de usá-lo na pregação, ensino, e
aconselhamento pastoral;
- Dominar o livro de Atos para compreender os antecedentes históricos das epístolas
de Paulo.

ESTRUTURA DO CURSO

Este curso foi organizado em oito aulas consecutivas. As aulas seguem o livro de Atos,
e por isso devem ser estudadas em ordem.
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REQUISITOS DO CURSO

1. Participar de quinze horas de aula.


2. Fazer os exercícios de estudo da Bíblia das oito lições.
3. Ler o livro de Atos e a Mensagem dos Atos de Dennis Johnson.
4. Escrever um sermão ou um estudo de plano de aula sobre um tema dos Atos com no
máximo sete páginas ao nível de bacharelado e doze páginas ao nível de mestrado.
5. Fazer os dois exames sobre os Atos, com base nas perguntas do final de cada lição.

AVALIAÇÃO DO CURSO

1. Participação (15%): um ponto será dado pela presença do aluno em cada hora de
aula.
2. Dever de casa (40%): cinco pontos serão dados para a conclusão das questões ao
final de cada lição.
3. Leitura (10%): os alunos ganharão créditos por completarem os exercícios de
leitura.
4. Tese (15%): os alunos irão preparar notas exegéticas para um sermão / ensino.
5. Exame (20%): os alunos serão examinados através de duas provas extraídas das
perguntas do final de cada lição.

BENEFÍCIOS DO CURSO

O curso proverá ao aluno os fundamentos do Novo Testamento, mostrando-lhes a


história do triunfo do Evangelho através da oposição e do sofrimento. Será mostrado ao aluno
como Deus trabalha neste mundo.
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LIÇÃO 1. UMA INTRODUÇÃO À IGREJA

1. Uma Introdução ao livro de Atos (Lucas 1:1-4, Atos 1:1-3)

Começaremos nosso estudo pelo Prólogo (Introdução) de Lucas e dos Atos.


Lucas 1:1: "Na medida em que muitos se comprometeram a compilar a narração dos
fatos que foram realizados entre nós, assim como aqueles que, desde o início, foram
testemunhas oculares e Ministros da palavra e que a nós transmitiram, pareceu-me bom
escrever um relato ordenado a ti, ó excelente Teófilo, já que fui testemunha dos fatos no
passado, e para que tenhas a certeza sobre as coisas que te foram ensinadas".
Atos 1:1: "No primeiro livro, Ó Teófilo, fiz o primeiro tratado sobre tudo que Jesus
começou a fazer e a ensinar, até o dia em que foi recebido em cima, depois de ter ordenado
aos Apóstolos através do Espírito Santo, quem ele escolhera. Ele apresentou-se vivo para
eles, depois do seu padecimento, por muitas e infalíveis provas, durante quarenta dias, lhes
falando sobre o reino de Deus".
Na Igreja primitiva, Lucas e o livro de Atos originalmente circularam juntos. Em um
certo ponto Lucas juntou os Atos com os outros evangelhos e Atos tornou-se seu próprio
documento, agindo como uma ponte entre os Evangelhos e as Epístolas de Paulo. Uma vez
que Lucas e os Atos possuem o mesmo autor, e originalmente circularam juntos, Lucas-Atos é
uma narrativa estendida em duas partes (Atos 3-Bruce). Os dois prólogos nos ajudam a
entender porque os Atos foram escritos. O primeiro concentra-se sobre a vida de Jesus e o
segundo no estabelecimento do Reino. Bruce diz que "a ação de Deus oferece a salvação
através de Jesus Cristo para Judeus e Gentios, criando assim um novo povo" (Atos 16). Ele
observa que é a ação de Deus que está relatada em toda a narrativa (20) e Atos 1:8, sendo o
versículo tema: "Mas recebereis o poder do Espírito Santo, que há de vir sobre vós, e sereis
minhas testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins
da terra". E será Deus que trará a realização deste plano através da ação do Espírito Santo,
dos anjos e dos milagres. Estes Atos são uma necessidade divina, feita em cumprimento das
Escrituras (Testemunho dos Evangelhos, 22).1
O livro de Atos é um documento histórico e teológico. As informações históricas
indicam que ele foi escrito no primeiro século. Lucas era um historiador completo e detalhista
e tanto Bruce como Carson concordam que o "livro de Atos denotava um gênero ou um

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O nome "Witness to the Gospels" - Testemunho dos Evangelhos será abreviado para WttG a partir deste ponto.
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subgênero reconhecido entre os povos da Antiguidade, caracterizando livros que descreviam


os grandes feitos de um povo ou de uma cidade" (285). O livro de Atos abrange um período
de trinta anos, entre a morte de Cristo e sua ascensão até os anos 62 d.C (Carson 285).
Lucas usou uma variedade de fontes. Ele disse que seguiu todos os fatos de perto por
algum tempo e que teve acesso aos relatos de testemunhas oculares, "aqueles que foram,
desde o inicio testemunhas oculares e ministros (Lucas 1:1-4)". Lucas também testemunhou
pessoalmente muitos eventos. O pronome "nós" é usado três vezes nas seções em Atos, 16:10-
17; 20: 5-21; 27:1-28, e indicam que Lucas estava com Paulo nesses momentos.
Embora existam dúvidas com relação à validade histórica dos relatos de Lucas,
ninguém provou que a história dos "Atos" estava incorreta. Lucas registrou os acontecimentos
no livro de Atos de maneira detalhada, sendo minucioso na descrição de nomes, datas e
eventos. Lucas era um historiador preciso e registrou os fatos a partir de seu próprio
testemunho e de outras fontes.
Os Atos de Lucas foram escritos a Teófilo. Não sabemos quem era ele. Podemos dizer
que ele era culturalmente grego e, provavelmente, um romano importante. Ele era chamado de
"ó excelente Teófilo" no prólogo de Lucas e de "Ó Teófilo" nos Atos.
Quando os Atos eram parte de um único documento com Lucas, ele não teve um
título próprio. A necessidade de se dar um nome aos Atos aconteceu quando os documentos
foram divididos. A escolha do nome "Atos dos Apóstolos" foi infeliz e inadequada e
aconteceu após um conflito entre a igreja e um herege do segundo século, chamado Marcião
(c114), que tentou fundar uma igreja rival (Ferguson 685-686)2. O erro cometido por Marcião
foi dizer que Paulo era o único apóstolo (Bruce, Atos 5). Em resposta a igreja deu o nome ao
livro de "Atos dos Apóstolos", salientando o plural da palavra, Apóstolos. A escolha do nome
não foi das melhores, já que Pedro e Paulo desempenharam um importante papel apostólico.
Além disso, Lucas estava mais preocupado com a obra de Deus e do Espírito Santo na Igreja,
do que com as ações dos Apóstolos. Palavras de abertura no Evangelho de Lucas: "O que
Jesus continuou a fazer e a ensinar" (Lucas 1:1), resume o tema central e teria sido um bom
título para o livro,

2. Temas teológicos chaves

Lucas não era somente um historiador preciso, mas também um teólogo que escrevia
dentro de um propósito teológico. Ele escreveu seus relatos de forma a desenvolver três temas
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teológicos principais. Em primeiro lugar, Lucas salientou que Deus tem um plano para
estabelecer o Reino de Cristo até às extremidades da terra. Os Atos nos mostram Deus
trabalhando no seu plano na história da humanidade. O segundo tema principal é a oposição.
Como o Evangelho segue adiante pelo mundo, a palavra de Deus, a Igreja, e os mensageiros
enfrentam oposição. Em terceiro lugar, enquanto o livro de Atos não minimizava a oposição,
os Atos salientavam que o Reino de Deus prevaleceria. Essa oposição não comprometeria o
plano de Deus, mas sim, podemos ver que Deus usou a oposição para espalhar sua palavra até
os confins da terra. No final, vemos que o plano de Deus foi cumprido enquanto que o
Evangelho estava sendo espalhado pelo mundo. Por fim, Lucas escreveu os Atos como uma
defesa, uma apologética, contra judeus que acusavam o Evangelho de ser apenas uma heresia
judaica e uma ameaça para o domínio romano.
Vamos considerar cada um desses temas teológicos de forma mais detalhada.

2.1. Como a obra de Deus foi trabalhada 3

Em primeiro lugar, fica evidente que Lucas descrevia a obra de Deus no


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estabelecimento de seu reino. Foi Deus quem conduziu e guiou seus apóstolos e profetas;
eles não agiram por conta própria. Essa importante questão aparece em Atos 1:4-8, onde
Cristo lhes ordenou que aguardassem até que o Espírito Santo lhes concedesse poder. Isso
mostra que eles estavam sob a orientação de Deus e sendo preparados por ele para favorecer
o seu o reino através da obra de Cristo. Atos 1:8 é um versículo importante. Cristo falou aos
apóstolos que esperassem pelo Espírito Santo, pois ele os prepararia para que fossem
testemunhas em Jerusalém e no exterior. Isto foi uma prova de que Deus havia ordenado para
os apóstolos que fossem sua testemunha. O reino é de Deus e ele há de acontecer.
Squires (WttG 24-27) argumenta que os Atos descrevem a produção da obra de Deus
(14:27, 15:4), de acordo com as Escrituras (1:16). Ele observa que Lucas disse: "que estas são
coisas que deveriam acontecer" (26:22). No plano de Deus, Cristo e seu Reino permaneceram
no centro do palco (2:22) e este plano teve a ajuda do Espírito Santo (1:8), dos anjos (1:10,
10:3) e dos milagres (14:3). Analisaremos um de cada vez.
A obra de Deus: Lucas e a Igreja primitiva estavam conscientes que os eventos em
Atos mostravam as coisas que "Deus realizou entre nós" (Lucas 1:1, 2). Lucas acreditou que
os eventos em Atos aconteceram de acordo com o plano de Deus. Paulo afirmou em Atos

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Para mais detalhes de como esses temas se repetem em cada seção, consultar Squires WttG p. 17-37.
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Para a importância do Reino de Deus, em Atos lição 2 e Atos 1:3, 8:12, 14:22, 19:8, 20:25, 28:23, 31.
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14:27: "E quando eles chegaram e reuniram a Igreja, eles relataram sobre tudo que Deus
fizera por eles, e como abrira a porta da fé aos gentios". O plano de Deus é descrito como
sendo um cumprimento das Escrituras. Em Atos 1:16, Pedro afirma: "Irmãos, a Escritura
tinha que ser cumprida, conforme o que o Espírito Santo previamente falara pela boca de
David acerca de Judas, que foi o guia daqueles que prenderam Jesus." Também em Atos
26:22 ele afirma: "Até hoje eu tive a ajuda de Deus, e ainda permaneço aqui testemunhando
tanto a pequenos e a grandes, não dizendo nada mais do que os profetas e Moisés disseram
que devia acontecer". As coisas profetizadas na escritura deveriam ser cumpridas como uma
necessidade divina. Em Atos 3:21, nos dizem que Jesus "deveria" permanecer no céu até o
tempo da restauração. Como os eventos do Novo Testamento seguiam o plano de Deus, era
uma necessidade divina que estas coisas ocorressem.
O foco principal da obra de Deus é seu filho Jesus Cristo, o Messias, que Deus
ressuscitou dentre os mortos. Em Atos 2:22 Lucas registrou: "Homens de Israel, escutai estas
palavras: A Jesus de Nazaré, homem aprovado por Deus entre vós com maravilhas, prodígios
e sinais, que Deus por ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis; este Jesus, que
vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e
matastes pelas mãos de injustos; ao qual Deus ressuscitou, soltas as ânsias da morte, pois
não era possível que fosse retido por ela".
Atos 1:4-8 indica que Cristo trabalhou através do Espírito Santo. Em Atos 1:8 Jesus
prometeu que "Vós recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e sereis
minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judéia e Samaria e até os confins da terra".
O espírito é o principal agente através das regras de Cristo.
O trabalho do Espírito Santo teve a assistência do trabalho dos anjos. Em Atos 1:10
lemos: "E estando como os olhos fitos no céu, enquanto ele subia, eis que dois homens
vestidos de branco se puseram entre eles". Anjos soltaram João e Pedro da prisão (Atos 5:19,
20). Anjos soltaram Pedro da prisão em Atos 12:11. Em Atos 10:3, um anjo disse a Pedro para
ir a casa de Cornélio: "Na nona hora do dia, ele viu claramente numa visão um anjo de Deus,
que se dirigia para ele e dizia: Cornélio...". Anjos desempenharam um papel importante
ajudando a Igreja em seus testemunhos.
Finalmente, Deus testemunha seu trabalho através de milagres. Em Atos 14:3 nos
dizem: "E assim eles permaneceram por muito tempo, falando ousadamente acerca do
Senhor, o qual deu testemunho à palavra de sua graça, permitindo que por suas mãos se
fizessem sinais e prodígios". Deus realizou milagres para estabelecer seu novo trabalho.
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Estes temas chave no livro de Atos salientam que a obra de Deus estava trazendo o
Evangelho até os confins da terra. Ao ler o livro de Atos, você verá que Deus usou estes meios
para trabalhar no seu plano em cada seção do livro de Atos.

2.2. A oposição à Igreja

Um segundo tema chave é a oposição à propagação do evangelho. Essa oposição


começou em Jerusalém e continuou ao longo do livro. Ela surgiu a partir de várias grupos: dos
Judeus que se opuseram a obra de Deus, dos Gentios que também se opuseram e até mesmo
dos cristãos judaicos que eram contra a propagação do evangelho para os Gentios.

2.2.1. Oposição Judaica


A primeira grande oposição à mensagem surgiu a partir da liderança judaica.
Inicialmente, o povo em Jerusalém aceitaram a mensagem do Evangelho, mas a liderança foi
ameaçada pelo poder e pela popularidade dessa mensagem. O Sinédrio se opôs ao ministério
de Pedro e João em Jerusalém, aprisionando-os e espancando-os. Sob a liderança judaica,
Estevão foi apedrejado, e esta oposição dos judeus, liderada por Paulo dispersou a Igreja de
Jerusalém. Nos primeiros dias depois de Pentecostes, o evangelho e a Igreja eram apoiadas no
judaísmo, mas rejeitados pela liderança judaica, particularmente pelo Sinédrio.
Esta situação mudou com a disseminação do Evangelho na região dos Gentios. Agora
todos os Judeus se opunham à mensagem de Paulo. Paulo foi perseguido por varias cidades e
por cinco vezes recebeu as 40 chicotadas menos uma. Ele também foi apedrejado e deixado
para morrer em Listra (Atos 14) e os Judeus continuaram a atacar constantemente o seu
testemunho. Paulo e as novas igrejas enfrentaram grande oposição e elas foram relatadas em
todos os Atos remanescentes.

2.2.2. A oposição dos cristãos judeus

Oposição também surgiu dos judeus cristãos dentro da Igreja. A propagação do


evangelho para os Gentios era vista de forma preocupante pelos cristãos judeus, os quais não
tinham certeza se esta propagação era uma aberração do judaísmo ou algo novo de Deus que
deveria ser aceito.
Pedro e Paulo enfrentaram esta oposição. Em Atos 10, Pedro levou o evangelho aos
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Gentios tementes a Deus. Isso criou uma oposição por parte dos Judeus que acreditavam na
circuncisão. Lucas registrou essa oposição em Atos 11:1, "Agora os apóstolos e os irmãos
que estavam na Judéia e também os Gentios tinham recebido a palavra de Deus. Assim
quando Pedro subiu a Jerusalém, foi criticado pelos que estavam na festa da circuncisão,
dizendo: Entrastes em casa de homens incircuncisos, e comestes com eles".
Não existe muita clareza nas informações relativas à festa da circuncisão, se ela era
uma seita dentro do cristianismo ou se ela fazia referencia a toda a comunidade dos cristãos
judeus. Em todo caso, isso mostra que havia uma oposição real dentro da Igreja em relação à
evangelização dos Gentios, já que eles não se tornaram judeus. Pedro foi forçado a defender
suas ações antes da reunião da Igreja, e também mais tarde, antes do Conselho Judeu. Embora
a Igreja em Jerusalém não tenha feito objeções, eles se reuniram e louvaram a Deus, 11:18. E
isto não quer dizer que todos na Igreja os apoiavam. É importante notar que a Igreja de
Jerusalém não se envolveu realmente com a missão dos Gentios.
Da mesma forma, os Fariseus cristãos fizeram oposição ao trabalho de Paulo dentro
da Igreja. Após a primeira viagem missionária de Paulo, os Judeus, os fariseus e os cristãos
foram de Jerusalém para Antioquia. Eles argumentavam que uma pessoa não poderia ser salva
sem a circuncisão (15:1). Em Atos 15:5, os cristãos fariseus defenderam esta mesma posição
no Conselho de Jerusalém. Embora o problema tenha sido resolvido, Paulo continuou a
enfrentar oposição de dentro da Igreja de Jerusalém. Em Atos 21:21 (um evento que ocorreu
no fim da carreira missionária de Paulo), Lucas registrou o aviso de Tiago a Paulo: "Eles têm
dito sobre vós que estais a ensinar todos os judeus que estão entre os gentios à abandonarem
Moises, dizendo-lhes para não circuncidar seus filhos, nem andar segundo o costume da lei."
Isto revela que mesmo nesta fase final, os judeus cristãos estavam desconfiados e
declaradamente hostis (244).
A oposição dos cristãos judeus resultou de mal entendidos e receios de que os
padrões morais dos judeus estivessem sendo deixados de lado e de que a igreja seria
reformada pela cultura dos Gentios.

2.2.3 Oposição geral e os Gentios


Mais tarde quando o evangelho entrou em contato com o poder romano, Roma
tornou-se a grande perseguidora e Paulo acabou sendo martirizado em Roma. A razão para
essa oposição foi de que a igreja havia desafiado o estilo de vida pecaminoso daqueles que
estavam em torno deles, qualquer Judeu ou Gentio. Os sacerdotes judeus estavam
preocupados em perder sua posição. Eles estavam também com inveja do sucesso do Apóstolo
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e preocupados com a Nação (Atos 3, Atos 5:17:5). Os judeus não gostavam de perder seus
costumes e tradições, ou o seu sentimento de privilégio diante de Deus (Atos 7-Estevão, 14-
Antioquia, da Pisídia, 17-Tessalónica). Paulo, antes de sua conversão, ficou horrorizado que a
Lei e Moisés estavam sendo rejeitados na suposta vinda do Messias. Os gentios estavam
preocupados que seus ídolos seriam destruídos (Atos 19:23ss). Os romanos se preocupavam
que o Evangelho seria a rejeição final da lealdade a Roma e da adoração ao imperador. Com a
propagação do evangelho, a pecaminosidade do homem ficou exposta e como consequência,
provocou a oposição.

2.3. A Igreja continuou a testemunhar e o plano de Deus foi cumprido

O terceiro tema era de que a Igreja continuava a testemunhar. Como uma apologética
para os Judeus, Lucas citou o próprio teste da verdade do fariseu líder, Gamaliel em Atos 4,
argumentando que as coisas que Deus prometeu iriam acontecer; isto provou, de acordo com
Gamaliel, que se tratava de uma nova obra de Deus em Israel. Quem rejeitasse ou lutasse
contra os relatos do livro de Atos, estaria rejeitando Deus também.
A oposição ao evangelho ocasionou ainda mais oportunidade para se testemunhar.
Quando Paulo perseguiu a Igreja, isso se espalhou e forneceu testemunhos, não apenas em
Jerusalém, mas em toda a Judéia e Samaria. Quando Paulo foi colocado na prisão em Filipos,
ele testemunhou para o carcereiro de Filipos e, além disso, a sua detenção e prisão em
Cesaréia em Atos 21, o levou a testemunhar para as autoridades judaicas e romanas. A
oposição não impediu o testemunho do evangelho, em vez disso, a oposição, a detenção e o
julgamento trouxeram ainda mais oportunidades para se testemunhar. Paulo resumiu este
princípio em Filipenses 1:12: "E quero, irmãos, que saibais que as coisas que me
aconteceram contribuíram para o avanço do Evangelho, e que minhas prisões por Cristo se
tornaram conhecidas em toda a guarda imperial e por todos os lugares". Deus usou a
oposição dos inimigos para proclamar ainda mais o seu testemunho.
As promessas de Deus estavam cumpridas. Em Atos 1:8 Jesus prometeu aos
apóstolos que eles seriam testemunhas de Jerusalém em Roma. Em Atos 28 apareceu que as
promessas haviam sido cumpridas. Da mesma forma, o Senhor prometeu a Paulo que ele iría
testemunhar em Roma dizendo: "Mas na noite seguinte o Senhor permaneceu diante dele e
disse", tem bom ânimo, Paulo; porque como testemunhastes por mim em Jerusalém, assim tu
testemunharas também em Roma "(Atos 23:11). Apesar da chegada de Paulo em Roma ter
sido inesperada e complicada, ele realmente conseguir chegar. Através de muitas labutas,
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perigos e armadilhas o evangelho se espalhou em todo o mundo. Ele começou em Jerusalém e


se difundiu até Roma, que era o centro do Império e do mundo conhecido. As últimas palavras
no livro de Atos ditas por Paulo foram:" Pregando o Reino de Deus e ensinando com toda a
confiança as coisas que dizem respeito ao Senhor Jesus Cristo, ninguém o impediu ". (Atos
28:31)

2.4. Apologia de Lucas e Paulo para os Romanos

Um quarto tema em Atos é uma apologia, uma defesa dos cristãos contra a idéia dos
judeus e romanos que alegavam que o cristianismo era uma ameaça. Aproximadamente 25%
do livro de Atos aborda este tema e 50 % de todos os discursos registrados de Paulo em Atos
são aqueles feitos em sua própria defesa. Para os Judeus, Lucas salientou que a ressurreição
era uma doutrina judaica; e que a esperança judaica que era consistente com o ensinamento
dos Fariseus (23: 6-9). Para os Romanos, Lucas mostrou que Paulo não era um revolucionário
que desejava derrubar o governo da época . Lucas dedicou um quarto do livro de Atos a este
propósito (18:14, 23:29, 28:17).

3. Estruturas de tópicos e marcadores literários do livro de Atos

Existem várias maneiras de dividir o livro de Atos. Uma estrutura clara e simples é
apresentada em Atos 1:8 acima, no qual o Evangelho vai de Jerusalém, (capítulo 1-8), a
Judéia e Samaria (capítulos 9-12) e até os confins da Terra (13-28). O livro de Atos também
podem ser divididos em duas partes. A primeira parte fala de Pedro em Jerusalém, Judéia e
Samaria (Atos 1-12) e a segunda parte fala de Paulo levando o evangelho de Jerusalém para
Roma (Carson 13-28). Carson também observa que Lucas usou uma série de marcadores
chaves. Em cada seção Lucas leva o leitor através de ambientações geográficas e culturais
distintas e termina cada seção com um breve resumo sobre o crescimento da Igreja (Atos 6.7,
9:31, 12, 24, 16:5, 19:20) e (Carson 286). Esses recursos fornecem interrupções naturais na
narrativa do livro de Atos. Incluí também um esboço padrão para o livro de Atos feito por
Hendricksen.

A obra de Jesus Cristo na extensão da Igreja.


(1-12) I - A extensão da Igreja em e a partir de Jerusalém
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(1-7) A - Em Jerusalém
1. A ascensão de Cristo. Escolha de Matias para substituir Judas. O derramamento do
Espírito Santo. Resultados: (1,2)
2. Prodígios e sinais; particularmente a cura do mendigo coxo (3:1-4:31).
3. Testemunhos e partilha voluntária; também a perversão no caso de Ananias e Safira
(4:32-5:11).
4. Conquista de almas; o rápido crescimento da Igreja, o que resultou em perseguição,
prisão dos doze e o martírio de Estevão, o que provocou um maior crescimento do
evangelho (5:12-7:60).

(8-12) B - De Jerusalém, em toda Judéia e Samaria e regiões vizinhas


1. Trabalhos missionários de Filipe (8).
2. Conversão de Saulo (9:1-30).
3. Trabalhos missionários de Pedro (9:31-11:18).
4. Os resultados destes trabalhos: o crescimento posterior da Igreja, o que resulta em
mais perseguições: o martírio de Tiago, filho de Zebedeu e a prisão de Pedro (11:19-
12:25).

(13-28) II - A extensão da Igreja de Antioquia, através de trabalhos de Paulo


A. Primeira viagem missionária de Paulo e o Conselho de Jerusalém (13:1-15:35).
B. Segunda viagem missionária (15:36-18:22).
C. Terceira viagem missionária (18:23-21:16).
D. Paulo em Jerusalém e Cesaréia (21:17-26:32).
E. Viagem a Roma, a chegada e a primeira prisão romana (27.28).
(Hendrickson 402.403)

CONCLUSÃO

O livro de Atos descreve como Deus estabeleceu sua Igreja no mundo. Isso deveria
ser um encorajamento para nós tendo em vista que os propósitos de Deus irão acontecer. Isso
mostra ainda que a obra de Deus acontece de maneiras inesperadas. Por exemplo, a oposição e
o sofrimento de Paulo e o da Igreja são parte do plano divino de crescimento da Igreja de
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Deus. A oposição não impediu o testemunho da Igreja; Deus usou a oposição para promover a
sua causa.

RESUMO

O livro de Atos compõem a segunda metade do livro de Lucas. Os Atos mostram


como o plano de Deus para levar o Evangelho ao mundo foi cumprido. A obra de Deus no
mundo não foi recebida somente pela oposição liderada pelos judeus, mas pelos gentios e pela
Igreja propriamente dita. E apesar desta oposição, o plano de Deus através de Cristo, pelo
poder do Espírito, e auxiliado pelos milagres e anjos foi bem sucedido.
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LIÇÃO 1. Questões:

1. Por que Atos são chamados Atos dos Apóstolos? Trata-se de um bom nome?
2. Explique o que queremos dizer com o plano de Deus em Atos. Cite um versículo chave.
3. Qual é o papel Espírito no plano de Deus?
4. Explique o surgimento e a natureza da oposição judaica ao evangelho.
5. Todos os Judeus cristãos eram favoráveis à missão de Paulo e dos Gentios?
6. Por que Roma ameaçava o Cristianismo?
7. Como a Igreja primitiva em Jerusalém reagiu à perseguição?
8. Qual é a estrutura de tópicos do Hendrickson para capítulos 1-7 dos Atos?
9. Qual é a estrutura de tópicos do Hendrickson para capítulos 8-12 dos Atos?
10. Qual é a estrutura de tópicos do Hendrickson para capítulos 13-28 dos Atos?
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LIÇÃO 2 - CRISTO ESTABELECE SUA IGREJA EM JERUSALÉM

1. A missão do Rei ressuscitado em Jerusalém (1:1-11)

O livro de Atos começa falando sobre o Cristo Rei ressuscitado delegando aos seus
discípulos uma missão.
"No primeiro livro, Ó Teófilo, fiz o primeiro tratado sobre tudo que Jesus começou a
fazer e a ensinar, até o dia em que foi recebido em cima, depois de ter ordenado aos
Apóstolos através do Espírito Santo, quem ele escolhera. Ele apresentou-se vivo para eles,
depois do seu padecimento, por várias provas, durante quarenta dias, lhes falando sobre o
reino de Deus. E, estando com eles, determinou-lhes que não se afastassem de Jerusalém,
mas para esperar a promessa do Pai, que ele disse: Ouvistes falar de mim? Porque João
batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes
dias. Portanto quando eles se reuniram, perguntaram-lhe: Senhor, restaurarás tu neste tempo
o reino a Israel? E disse-lhes: Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai
estabeleceu pelo seu próprio poder. Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir
sobre vós; e sereis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até
aos confins da terra. E, enquanto dizia isto, e eles o vendo, foi elevado às alturas, e uma
nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos. E, estando com os olhos fitos no céu, enquanto
ele subia, eis que junto deles se puseram dois homens vestidos de branco. Os quais lhes
disseram: Homens Galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós
foi retirado de ti para o céu, há de vir do mesmo modo como o vistes ir para o céu".
Jesus permaneceu com seus discípulos os quarenta dias depois da ressurreição. Ele
lhes ensinou sobre o Reino de Deus. Seu Ministério inaugurou o Reino e os discípulos foram
instruídos à continuar dando o testemunho desse reino até os confins da terra. O conjunto do
livro de Atos refere-se à expansão do Reino de Deus. Os Atos começam com uma discussão
sobre a vinda do Reino e termina com Paulo em Roma, falando sobre o Reino de Deus. Isso
está declarado em Atos 28:30: "Aí viveu dois anos inteiros na sua própria habitação que
alugara, e congratulou-se com todos os que vieram a ele, pregando o Reino de Deus e
ensinando com toda a confiança as coisas que dizem respeito ao Senhor Jesus Cristo, sem
nenhum impedimento". O Reino é explicitamente mencionado em Atos 1:3, 8:12, 14:22, 19:8,
20:25, 28:23, 31 e o Reino é implicitamente mencionado quando se diz que Jesus era
chamado o Cristo, o Rei Messias.
17

Bruce comenta sobre a relação entre o reino e pregação em Atos afirmando: "O
Reino ou a pregação dele é concebida segundo os acontecimentos da vida, morte e
ressurreição de Jesus e para proclamar estes fatos de modo adequado, é pregar o Reino de
Deus. O Reino já está aqui, porque Cristo veio e os discípulos irão proclamá-lo... esta
pregação deve incluir o juízo final e o retorno de Cristo" (Atos 10:42, 17:31, 11; Mateus
6:10).
Em resumo, o livro de Atos é o livro do testemunho e da expansão do Reino de Deus
(Bruce, Atos 32, 33).
Jesus ordenou os discípulos a esperar até que o Espírito Santo se manifestasse, até
que eles fossem "vestidos com o poder do alto". O comando de espera do Espírito é um
exemplo de um outro tema fundamental em Atos. Em primeiro lugar, os discípulos estavam
agindo sob a orientação de Jesus e de Deus. Em segundo lugar, apenas pelo poder do Espírito
é que eles poderiam realizar seu trabalho. Eles não poderiam e não deveriam tentar realizar o
trabalho por conta própria. E foi Deus quem lhes enviou e lhes preparou para atingirem o
sucesso.
O derramamento do Espírito Santo no dia de Pentecostes faz um paralelo com o
próprio batismo de Jesus e a capacitação dada pelo Espírito para o cumprimento do ministério
de Cristo. Assim como Jesus tinha sido ungido com o poder do Espírito Santo, também seus
seguidores deveriam ser ungidos da mesma forma e habilitados a prosseguir o trabalho de
Cristo (Bruce Atos 36). A Igreja hoje deve sempre lembrar que ela somente terá sucesso, se
ela for conduzida e orientada por Cristo.
Cristo então, ascendeu nas nuvens do céu. E não podemos pensar que são nuvens de
chuva; mas sim, devemos considerá-las como nuvens de glória, uma manifestação do
"Shekhinah" (presença de Deus) do Velho Testamento. No Antigo Testamento, Deus se
revelou a Israel através das nuvens (ex. 28:2). No êxodo, os Israelitas foram liderados por
uma coluna de nuvens e fogo e uma "nuvem de glória" desceu sobre o tabernáculo, indicando
para Moisés e para Israel que Deus estava presente. Mais tarde a glória do "Shekhinah"
desceu sobre o Templo de Salomão. As nuvens são mencionadas por três vezes na vida de
Cristo. Primeiro, a presença do pai foi manifestada por uma nuvem brilhante na
Transfiguração (Mateus 17:2, 5). Segundo, na ascensão, Jesus subiu às nuvens (Atos 1:9). E
em terceiro, como é dito no verso seguinte, há referências frequentes de que Cristo apareceria
pelas nuvens junto com os santos anjos: "Eis que ele está chegando com as nuvens e todo
olho irá vê-lo, mesmo aqueles que o perfuraram e todas as tribos da terra se lamentarão por
causa dele. Assim sendo. Amém" (Rev. 1:7).
18

Os discípulos então, esperaram em Jerusalém (1:12-14). Eles escolheram Matias para


substituir Judas, e, portanto, o número de discípulos voltou para doze. O interessante é que
todos os doze apóstolos foram nomeados, mas apenas Pedro, Tiago, João e Paulo,
desempenharam um papel significativo no livro de Atos. Nos primeiros capítulos, vemos
Pedro e João juntos em Atos 3 (Cura do cego), Atos 5 (a detenção, a prisão e a pregação no
Templo) e em Atos 8 (Indo para Jerusalém), porém em todos os casos, Pedro é o orador
principal. João só é mencionado novamente depois em Atos 8.
Existem indícios de que o predomínio de Pedro era percebido quando ele agia em
nome de todo o Grupo. Isso pode ser verdade em seções anteriores, pois na seção posterior
Atos 10, Atos 15 e Gálatas 2, Pedro parece agir de forma independente.
O Apóstolo João desempenhou um papel de apoio em Atos 5. No relato de Lucas,
Tiago, o irmão do Senhor, desempenhou um dominante papel no Concílio de Jerusalém e em
Gálatas 2. Paulo considerava Tiago como um dos pilares da Igreja de Jerusalém. Pedro quase
não foi mencionado depois de Atos 12, quando a Igreja começou a se expandir na região dos
Gentios.
Lucas também mencionou que outras pessoas além dos apóstolos estavam presentes.
Em Atos 1:14 ele disse que os discípulos estavam "juntamente com as mulheres e Maria, a
mãe de Jesus e seu irmão". Isso foi encorajador. Sabemos que os irmãos de Jesus não
acreditavam nele quando estava vivo. Em João 7:5 nos dizem: "Pois nem mesmo seus irmãos
acreditaram nele". Mas sua mãe e seus irmãos somente acreditaram nele depois da
ressurreição.

2. O Dia de Pentecostes: o derramamento do Espírito Santo (Atos 2)

As palavras de Jesus foram cumpridas no derramamento do Espírito Santo no Dia de


Pentecostes. O trabalho do Espírito foi testemunhado em três eventos: vento impetuoso e
forte, línguas de fogo e a habilidade de se falar outras línguas dadas à Igreja para a
proclamação das obras poderosas de Deus (57 Johnson).

2.1. A intervenção sobrenatural de Deus (2:1-4)


"Quando chegou o dia de Pentecostes, todos estavam juntos em um só lugar. E de
repente veio do céu um som como de um veemente e impetuoso vento, e encheu toda a casa
onde estavam todos assentados. E línguas repartidas como de fogo foram vistas, as quais
19

pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar
em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem".
A festa de Pentecostes se deu no quinquagésimo dia após a colheita. Na prática o
período de 50 dias começou no primeiro domingo depois da Páscoa. O Dia de Pentecostes é
também chamado de Festa das Semanas (ex.34: 22a, Deuteronômio 16:10) e também de Dia
dos Primeiros Frutos (Nm 28:2).5 O espírito veio como um vento que "encheu a casa". No
Antigo Testamento, vento e fogo indicavam uma Teofania, a revelação de Deus no Antigo
Testamento. O fato de Lucas ter dito que o Espírito veio desta forma mostra a sua divindade
(2 Samuel 22:16; Ezequiel 13:13; Ex. 3:2-5, 19:18; Lucas 3:16). O Espírito veio e habitou
entre o povo; a Igreja começou um novo período na vida de Deus com seu povo. Em Gênesis
2, Deus soprou em Adão, e ele estava vivo. Deus prometeu que faria o mesmo com Ezequiel
37. Em Atos 2 mostra o cumprimento dessa promessa. Deus soprou em seu povo através do
Espírito. A partir deste momento, o povo de Deus, o Espírito Santo, o Templo de Deus e a
nova criação estavam unidos.
Línguas de fogo caíram sobre os discípulos (2:3). Elas anunciaram a presença de
Deus, assim como os relâmpagos e o fogo sobre a montanha no Sinai e também sobre a tenda
de reunião durante as viagens dos Israelitas (ex.19: 16, 40:34, 48). Agora cada fiel tinha uma
língua de fogo indicando que cada um era um templo, e que cada um possuía o Espírito da
glória e de Deus (Johnson 59).
E assim, a partir desse momento o Espírito Santo passou a ser o motor principal no
livro de Atos. Como já se pode observar, a linguagem e o lugar de batismo, citado em Lucas e
nos Atos revelavam uma ligação clara entre o batismo de Jesus na realização do seu trabalho e
o batismo dos discípulos na realização do deles. Além disso, existia uma ligação entre o
derramamento do Espírito em Pentecostes com o derramamento do Espírito ocorrido com
Moisés e com os anciãos de Israel, citado em Números 11:26. Em "Números", nos é dito que
o Espírito Santo descansou sobre Moisés como um mediador da Antiga Aliança. Em seguida,
para ajudá-lo em seu trabalho, o Espírito Santo que já havia repousado sobre ele foi colocado
sobre 70 anciãos (Nm. 11:17). Dessa maneira, esses anciãos profetizaram e dois deles, Eldad e
Medad que não estavam com Moises, também profetizaram (Nm.11: 26). Moisés disse que
desejava que o Espírito Santo repousasse sobre todo o povo (Nm. 11:29), e não apenas nos
anciãos. Esse evento foi tipológico, e como uma previsão, ele foi cumprido no dia de
Pentecostes. O Espírito estava sobre Cristo, o mediador da Nova Aliança (Lucas 3:22 4:1, 18).
O Espírito, então foi derramado sobre os seus discípulos. E uma vez que Cristo possuía o
5
Sugestão: faça uma leitura das festas e interprete-as à luz do derramamento do Espírito no dia de Pentecostes.
20

Espírito sem medida, este foi derramado com mais vigor sobre os discípulos e diante de toda a
Igreja (2:17, 18). O "Profeta maior do que Moisés" havia chegado (Deuteronômio 18:15).

2.2. "Cheio" do Espírito Santo


Lucas relatou que os discípulos estavam "cheios" do Espírito. Ele usou a palavra
"cheio" de várias maneiras diferentes. A palavra pode indicar o trabalho inicial de Deus diante
dos homens. Em Atos 2, isto se refere ao inicio da vinda do Espírito Santo à Igreja no dia de
Pentecostes. Lucas menciona que Paulo recebeu o Espírito Santo na sua conversão (9:17). O
termo "cheio" também era usado quando o Espírito Santo descia sobre alguém a fim de
prepará-lo para realização de um ato específico de Deus. Em Lucas 1:5 nos dizem que Jesus
recebeu o Espírito Santo. Pedro recebeu o Espírito para que pudesse continuar seu testemunho
(4:8, 11; 13:9). A idéia de se "receber" o Espírito Santo também aponta para a continuidade da
vida do Espírito Santo na Igreja (EF 5:18) (Marshall, Atos 69).
Lucas usou também outras palavras para descrever a forma como o Espírito Santo
desceu e habitou a Igreja. Jesus disse que seus discípulos seriam "batizados" pelo Espírito
Santo (1:5, 11:16). Ao Espírito lhe foi dito para ser "derramado" em Atos 2:17ss, 10:45 e ser
"recebido" pelos Gentios em Atos 10:48. É importante ressaltar que Lucas usou a palavra
batismo para o recebimento inicial do Espírito, e nunca para uma recebimento posterior
(Marshall, Atos 69). Se nós vamos falar sobre o Espírito Santo, é importante sermos precisos
em quais termos vamos utilizar e o que eles significam. Grandes confusões ocorreram por
causa do uso incorreto das palavras. Nas lições posteriores iremos ver outras maneiras que
Lucas falou sobre o Espírito Santo.
Inicialmente, o poder do Espírito Santo habilitou os discípulos a falarem em outros
idiomas, que poderiam ser entendidos por pessoas de todo o império. Há um grande debate
sobre isso, mas percebemos que as Escrituras não nos contam muito sobre o fato. Mas
sabemos que as línguas eram linguagens humanas (2:6, 8). Também sabemos qual é o
propósito das línguas: Deus permitiu aos homens de falarem diferentes línguas para que as
pessoas de todo o Império pudessem ouvir sobre as poderosas obras de Deus (2:11).

2.3. Pentecostes lança as bases da Igreja (2: 7-11) 6


O derramamento do Espírito no dia de Pentecostes sobre os discípulos lançou as
bases da Igreja.
6
Para uma melhor discussão sobre o significado bíblico e teológico de Pentecostes ver Johnson, "The Message
of Atos", página 53-70.
21

E eles ficaram surpresos e admirados, dizendo: "Não são Galileus todos estes que
estão falando? E como é possível ouvir, a cada um, na nossa própria língua materna? Partos
e medos, elamitas e os que habitavam na Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Ásia,
Frigia e Panfília, Egito e partes da Líbia, junto a Cirene, e forasteiros romanos, tanto judeus
como prosélitos, Cretenses e árabes, todos nós temos ouvido em nossas próprias línguas falar
das grandezas de Deus".
Embora os eventos tenham ocorrido em Jerusalém, as pessoas presentes viam de cada
parte do mundo romano. A ação de Deus no dia de Pentecostes significava que os apóstolos
haviam testemunhado para os judeus de Jerusalém e para cada parte do Império Romano. O
dia de Pentecostes e a pregação de Pedro significavam que o testemunho do Evangelho se
tornara internacional. 7

2.4. Tipos de pessoas no livro de Atos


No versículo 10 Lucas relatou que judeus e prosélitos, no princípio, testemunharam o
derramamento do Espírito. Ao longo do livro, Lucas falou sobre diferentes grupos religiosos e
culturais. Eles serão mencionados à medida que avançamos neste estudo. Nos versículos 7-9
Lucas falou sobre judeus, prosélitos, tementes a Deus e posteriormente falou sobre os
Gentios.
Judeus se referem àqueles que nasceram judeus. Prosélitos eram os Gentios que se
tornaram judeus e mantiveram a fé completa. Havia três coisas que um Gentio deveria fazer
para se tornar um prosélito: ser circuncidado, realizar o auto batismo diante de testemunhas e
oferecer um sacrifício em Jerusalém (Bruce 58). A terceira classe era a dos tementes a Deus,
gentios religiosos que temiam a Deus, mas que ainda não haviam dado o primeiro passo para
se tornarem um prosélito.

3. Sermão de Pedro no Dia de Pentecostes (2:14-39; 3:12-26)

3.1 Uma visão geral da primitiva pregação apostólica


Nesta seção vamos examinar o sermão do dia de Pentecostes feito por Pedro, mas
devemos observar que embora o sermão tenha sido singular como o primeiro sermão de
Pentecostes, este sermão foi um dos cinco principais sermões no livro de Atos. São eles:
Pedro no dia de Pentecostes (Atos 2) Pedro no templo (Atos 3), defesa de Estevão (Atos 7),

7
Lucas menciona a existência de pessoas vindas de Roma e Lucas salienta isso dizendo que todo o conjunto do
livro de Atos fala da viagem e da propagação da Igreja de Jerusalém até Roma.
22

Paulo em "Pisídia" - Antioquia (Atos 13) e a defesa de Paulo em Atenas (Atos 17). Os
sermões de Pedro, Paulo e Estevão aos judeus seguiram um padrão semelhante. Quando
falavam aos judeus, cada um deles usava a mesma estrutura, mas a ordem exata usada por eles
para falar de cada assunto provavelmente foram diferentes. Esse estilo semelhante mostra que
existia um método comum usado na evangelização judaica no livro de Atos (Bruce, Atos 63).8
A estrutura básica era:
1. Eles alegavam que a "Idade do cumprimento" havia chegado.
2. Falavam da proclamação do Ministério, Morte e Triunfo de Cristo.
3. Eles alegavam o apoio das Escrituras do Velho Testamento.
4. Eles terminavam com um chamado à fé e ao arrependimento.

3.2 A Pregação de Pedro no Dia de Pentecostes e em Jerusalém

3.2.1 Corrigindo a confusão - A Declaração do Último Dia


Atos 2:14-15: "Mas Pedro, pondo-se de pé com os onze, levantou sua voz e lhes
disse: Homens da Judéia e todos os que habitam em Jerusalém, que isto seja notório a vós, e
escutai as minhas palavras. Para aqueles que não estão bêbados, como vós pensais, uma vez
que é apenas a terceira hora do dia".
Pedro começou corrigindo a zombaria dos muitos que o ouviram. Alguns ouviram e
acreditaram nas grandes obras de Deus (2:11), mas a doação do dom das línguas criou uma
confusão entre a multidão. E assim, Pedro passou a corrigir o pensamento deles. 9
Pedro observou que os apóstolos não estavam bêbados, pois ainda não era a terceira
hora do dia. Na cultura judaica, o dia judaico começa na alvorada, a terceira hora
correspondia aproximadamente às 9:00 horas do nosso tempo, a sexta hora correspondia às
12:00 horas e a nona hora às 15:00 horas. Uma vez que se faz referencia à terceira hora, isto
significava 9:00 horas da manhã.
Pedro explicou que estes sinais mostravam que as promessas de Deus estavam sendo
cumpridas. Nos versos 16-21, ele ressaltou como estes eventos contribuíram para o
cumprimento das promessas de Deus feitas para Joel.
"Mas isso foi proferido pelo Profeta Joel: E nos últimos dias acontecerá, Deus
declara: Que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne; e os vossos filhos e as vossas
8
Para mais detalhes sobre discursos – ver WTTG, p. 257-354.
9
Isto levanta um ponto importante: As obras de Deus nunca estão sozinhas, e devem ser sempre explicadas pela
palavra de Deus. Quando Deus trabalha sem a palavra, podemos interpretá-la de erroneamente o que Deus faz.
Precisamos da palavra de Deus para podermos entender as suas ações. A palavra de Deus e as suas obras devem
sempre andar juntas. E quando estão separadas acabam por gerar confusão.
23

filhas profetizarão, os vossos jovens terão visões e os vossos velhos terão sonhos. E também
do meu espírito derramarei sobre os meus servos e minhas servas naqueles dias, e
profetizarão; E mostrarei prodígios nos céus e sinais na terra, sangue e fogo e colunas de
fumaça. O sol se converterá em trevas e a lua em sangue, antes de chegar o grande e
glorioso dia do Senhor. E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será
salvo".
Pedro citou a Septuaginta (LXX). Ele modificou a frase-chave "naqueles dias" para
"nos últimos dias" para salientar que a profecia de Deus fora cumprida e que o trabalho do
espírito por meio de sinais e prodígios havia testemunhado que os últimos dias haviam
chegado. Joel disse: "meu Espírito", no singular, ele será derramado, indicando que se referia
ao Espírito Santo, o qual fora derramado sobre toda carne. O Espírito havia chegado e feito da
Igreja a sua residência.
Não fica claro, porém, a quais sinais cósmicos Pedro estava se referindo (o mesmo
palavreado utilizado em Rev. 6:12). A morte de Jesus foi um sinal assim como o sinal da
escuridão que cobriu a terra, mas em outra parte das Escrituras, esses sinais estão
particularmente relacionados com o período do fim dos últimos dias (Marshall 74).
De acordo com a profecia de Joel, a vinda dos últimos dias significa que o Dia do
Juízo Final havia chegado. O dia do Senhor no Antigo Testamento foi o dia no qual Deus
chegaria para julgar a terra. A profecia de Joel indicava que, embora o julgamento havia sido
anunciado, ainda havia uma oportunidade para o arrependimento e misericórdia. "Todos os
que invocarem seu nome (Deus) serão salvos". E ainda que os últimos dias estejam próximos,
este será um dia de graça até que Cristo venha novamente uma segunda vez.

3.2.2. O pecado de Israel (23-24)


E tendo explicado sobre o Espírito Santo, Pedro passou a falar sobre Cristo,
mostrando o pecado de Israel na rejeição do Messias deles.
"Homens de Israel, escutai estas palavras: Jesus de Nazaré, homem aprovado por
Deus entre vós com poderosas obras, prodígios e sinais, que Deus por ele fez no meio de vós,
como vós mesmo bem sabeis; A este que vos foi entregue pelo determinado Conselho e
presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos (2:22-23)".
Pedro mostrou aos homens de Israel o pecado deles. Mesmo Jesus tendo mostrado
quem ele era, através de poderosos sinais e prodígios, os judeus, deliberadamente rejeitaram o
Messias. A culpa deles era clara. Pedro, então, continuou a falar que esta rejeição e morte de
24

Jesus faziam parte do plano de Deus. Deus provou que Jesus era o Messias através da
reivindicação e da ressurreição do próprio Jesus.10

3.2.3. A prova da "Messianidade"


Pedro por fim, acabou por provar que Jesus era o Messias. A morte não pôde segurar
Jesus. As Escrituras claramente nos dizem que o Messias seria ressuscitado dentre os mortos.
(Salmos 16:8-11; 2:32) Jesus ressuscitou e, portanto, ele era o Messias (Marshall 76). Pedro
alegou também que o derramamento do dom do Espírito Santo mostrou que Jesus era o
Messias (2:33-36).11

3.2.4 Os títulos dados a Jesus


Pedro nos conta sobre a nova posição de Jesus através de dois termos bíblicos
poderosos: "Ele está sentado à direita de Deus", o que indica uma posição de poder e
supremacia, e "A ele foi dado um nome acima de qualquer outro". Este último título equipara
Jesus a Deus.
Em Atos 3 e 4, Pedro usou outros títulos importantes para se referir à Cristo no seu
sermão e ainda em sua defesa. Vamos examinar brevemente cada um:
A. O servo do Senhor (Deus) (3:13, 26; 4:27, 30) Isso vincula Jesus, em seu sofrimento de
morte e sua subsequente ressurreição aos Cânticos do servo de Isaías 52:13-53.12
B. O Santo e o Justo (3:14). O título de Santo aparece em Salmos 116:6; Aaron e Elias
também foram chamados de Santos (2 Reis 4:9, Mk. 1:24). Pedro também usou esse título, o
Santo como seu nome próprio, e ele ainda usou para mostrar a relação especial de Jesus com o
pai. (pode ser uma referencia a Isaías 53:11).
C. O Príncipe da vida (3:15) (ver 5:31 e Hebreus 12:2 indicando a fonte, autor e líder da
vida).
D. Um profeta maior que Moisés. É uma referencia da promessa feita em Deuteronômio
18:15, onde se fala que Deus se tornaria um profeta maior que Moisés.

10
A afirmação de que a morte e ressurreição do Messias estava de acordo com o plano de Deus se tornaria um
pensamento padrão apologético para os judeus que afirmavam que Jesus não poderia ser o Messias porque ele foi
vergonhosamente crucificado. Paulo se valeu desse mesmo pensamento em seu sacerdócio aos judeus.
11
Neste sermão Pedro relata a relação entre Cristo e o Espírito de três formas: Primeiro introduziu o trabalho do
Espírito, segundo, ele falou de Cristo, e terceiro, ele vincula a obra do espírito com a de Cristo afirmando que foi
Jesus quem derramou o espírito.
12
Para uma discussão mais completa sobre o uso de Lucas dessas passagens do servo. Ver Johnson, "The Espirit
and the Servant", pág. 32-52.
25

E. Aquele que "Todos os profetas predisseram". É uma descrição geral de que todos os
profetas aguardavam ansiosos por Cristo.
F. O SENHOR (ver Bruce, Paulo 76). A palavra Senhor é uma referência ampla e geral para
alguém em autoridade; no entanto, na Septuaginta, a palavra Senhor é usada em nome de
Deus. Neste caso, Pedro usou o título de Senhor, para atribuir divindade à Cristo.

3.2.5 O comando para Israel: Arrependimento e Batismo


Pedro fez duas exigências, ou melhor, uma exigência com dois aspectos: Israel teria
que se arrepender do pecado e ser batizada. Esse pecado era, em particular, a rejeição do
Messias. A segunda exigência era: o batismo "em nome de Cristo". Isso significava, na
verdade, colocar a fé deles em Jesus, o que somente poderia ser feito se Israel acreditasse que
Jesus era o Messias. Paulo salienta uma relação entre fé e batismo em Romanos 10:9 e 1
Coríntios 12:3. Nestas passagens percebemos a ligação da profissão de fé com o batismo.
Marshall argumenta que fé e batismo ou arrependimento e fé são duas faces da mesma moeda.
A posição de Calvino era de que a fé vem antes, produzindo o arrependimento em seguida
(Marshall, 81). Israel foi chamada a se arrepender, a crer e a ser batizada em Jesus assim
como, Cristo e Messias.13
A promessa foi feita para eles e para seus filhos. E ela pode ser lida à luz da promessa
na ampla aliança feita a Abraão, David e toda a Israel. Deus nunca foi um mero Deus de
indivíduos isolados; ele era o Deus de Israel e incluiu também as gerações ainda por vir. A
promessa não se limitou a Israel apenas, mas foi sempre para todas as Nações (Gn. 12:1-3).
Marshall a viu como uma referência para a promessa de Isaías 57:19 e Efésios 2:13, 17 (81).

4. O estabelecimento e a natureza da Igreja (Atos 2:41-47; 4:32-37, 5:12-16)

A descida do Espírito Santo em Pentecostes e a pregação de Cristo levaram à


formação e ao estabelecimento da primitiva Igreja. Vamos primeiro considerar o crescimento
da Igreja e, em seguida, veremos a natureza desta nova comunidade centrada em Cristo e
cheias de Espírito Santo. Em resumo, a Igreja cresceu de maneira muito rápida, formando
uma nova e distinta comunidade, ou seja, uma comunidade baseada em Cristo e no Espírito
Santo, e marcada por dois pilares principais: amor e santidade.

13
Em Atos 3:17, Pedro disse aos governantes que fizessem isso na ignorância, já que é difícil entender o
verdadeiro significado da afirmação. Pecados cometidos na ignorância poderiam ser perdoados no Velho
Testamento, porém os pecados cometidos intencionalmente não poderiam ser perdoados.
26

4.1 O crescimento da Igreja


A Igreja primitiva cresceu rapidamente. Atos 2 relata que os apóstolos desfrutaram de
um poderoso ministério acompanhado por sinais e prodígios (2:43, 3:1-10, 5:1-11) o que
levou a um rápido crescimento. Lucas escreveu: "E foram batizados aqueles que receberam a
sua palavra e naquele dia agregaram-se cerca de três mil almas (2:41)". A pregação de Pedro
levou à conversão de 3.000 pessoas. A Igreja foi estabelecida rapidamente, o número de fiéis
aumentou de 3.000 (2:41-7) para 5.000 (Atos 4:4). E continuando a crescer, vemos em Atos
5:14: "E mais do que nunca os crentes foram se agregando ao Senhor, multidões de homens e
mulheres". O aumento do numero de adeptos foi impressionante se levarmos em conta a
14
população total de Jerusalém, que na época variava entre 25.000 a 250.000. Marshall
declara que a população estimada ficava entre 55.000 e 95.000. Assumindo que o numero
correto era de 100.000, então 1 em 20 pessoas eram crentes. 15 O clima era de alegria, energia,
coragem e um senso de união e amor (4:32-37). E rapidamente, uma nova comunidade se
formou.

4.2. A natureza da Igreja (2:42-47; 4:32-37, 5:1-12)16


Lucas salientou também a natureza da nova comunidade criada pelo Espírito.
Deveríamos estudar isso com muito cuidado, como mostra Lucas, tanto o que é possível, bem
como, fornecendo um modelo para os fiéis e da Igreja hoje.

1. Cristo estava formando uma nova comunidade. As conversões individuais eram


importantes para Lucas, e ele mostra que a obra de Cristo no dia de Pentecostes levou à
formação de uma nova comunidade cristã. O relato de Lucas é uma manifestação prática da
teologia de que Cristo era a cabeça sobre o corpo; de que os cristãos eram todos os membros
de um corpo juntos; de que não há santificação fora do corpo e de que separar alguém do seu
corpo seria colocá-lo para fora da obra de Cristo neste mundo (Ef 4).

2. Lucas ressaltou as seguintes características desta nova comunidade:


"E eles se dedicaram à doutrina dos Apóstolos e à Irmandade na divisão do pão e às
orações. E o temor veio sobre toda a alma e muitas maravilhas e sinais eram realizados
através dos Apóstolos. E todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. E
14
Marshall na pág. 82 – notas de rodapé -J. Jeremais, "Jerusalém in the Time of Jesus", (Londres) 1969, Pág. 83.
15
Isto é o cumprimento da promessa de João, que os discípulos realização uma obra maior do que Cristo.
16
Para outros pequenos resumos Veja Atos 6:7, 9:31, 12:24 e 19:20.
27

vendiam seus bens e pertences e distribuíam os proventos para todos, pois todos tinham
necessidade. E dia a dia, frequentando o templo juntos e repartindo o pão em suas casas, eles
receberam a comida com prazer e de coração, louvando a Deus e caindo na graça de todo o
povo. E o senhor acrescentou à Igreja, dia a dia, aqueles que haveriam de se salvar (2:42-
47)".
Lucas identificou quatro elementos principais. No primeiro deles, a Igreja era
dedicada à doutrina dos Apóstolos. O ensinamento de Jesus como Messias estruturava e
protegia a comunidade. A Igreja estava fundamentada na teologia.
O segundo elemento é a irmandade da comunidade. Essa irmandade se manifestava
em atividades conjuntas, em reuniões, na comunhão à mesa e na divisão dos bens. A
fraternidade entre eles era um compromisso do grupo. E estava vinculada aos ensinamentos,
às refeições conjuntas, às orações e ainda às doações em comum. Lucas aborda sobre isso em
Atos 2, mencionado acima e ainda faz um extenso relato em Atos 5. Em Atos 2, nos dizem
que os discípulos tinham tudo em comum. E Lucas explica melhor sobre isso em Atos 5. Aqui
se fala que aqueles que tinham posses deveriam doar aos discípulos para que fossem
distribuídos para aqueles que tinham necessidade (Atos 5). Não havia nenhuma exigência no
sentido de que todos os bens dos fiéis fossem reunidos a fim de ser tornar membro da Igreja;
pelo contrário, como Pedro disse a Ananias: "Cada pessoa continua a possuir seus próprios
bens e as doações serão feitas de acordo com a necessidade". Marshall declara: "Cada pessoa
mantém seus bens à disposição dos outros para serem usados conforme a necessidade" (84).17
Não havia necessidade de uma reunião das mercadorias para fazerem parte da comunidade
(Atos 5:4). Barnabé é um bom exemplo desta prática (4:36, 37) e Ananias demonstra como
este princípio foi corrompido (5:1-11).
O terceiro elemento é a divisão do pão (Santa Ceia), que passou a fazer parte da
refeição normal (1 Coríntios 11:17ss).
A característica final salientada por Lucas era a de que fiéis se reuniam diariamente
para as orações. E isso acontecia numa casa ou no templo. Nesta fase os cristãos ainda eram
aceitos pelas autoridades e tinham acesso ao templo. E provavelmente, eles ainda não tinham
percebido qual era a implicação de Jesus cumprindo os preceitos do Velho Testamento. Eles se
encontravam em público, no templo e nas casas uns dos outros. Eles faziam a adoração com
ação de graças e evangelização. Neste momento eles desfrutavam o favor de todos, incluindo

17
Em oposição a Bruce (Atos 74), que argumenta que Jesus tinha dinheiro em comum e isso era um exemplo
dessa maneira de viver. Essa idéia comum também é encontrada em Atos 4:32, um segundo resumo da vida da
Igreja nos Atos.
28

os sacerdotes (Atos 6:7) e os Fariseus (Atos 15:5), muitos dos quais acabaram por se
converter. Esta situação pacífica continuou até o início da perseguição judaica.

4.3. A Santidade da Igreja


O ocorrido com Ananias e Safira mostrou a necessidade da existência de uma
santidade dentro dessa nova comunidade.
O pecado desses dois membros da Igreja, Ananias e Safira, mostram um engodo, pois
eles mentiram, fingindo doar à Igreja mais do que realmente tinham. Pedro, pelo poder do
Espírito, teria exposto isso. E assim, a natureza espiritual do evento ficou evidente. Ananias
disse ter sido guiado por Satanás a mentir contra o Espírito Santo, que é Deus. Safira disse ter
sido testada pelo Espírito Santo. Bruce menciona que esse evento faz referencia ao momento
quando Israel testou o espírito no deserto.
Esta foi a primeira vez que Lucas usou a palavra "Igreja" em Atos. Tanto os milagres
quanto os sinais mostraram a glória e a seriedade da Igreja e da obra de Deus. As obras de
Deus deveriam ser levadas a serio. A Igreja de Deus deveria ser sagrada. Lucas também nos
lembra que os problemas e as dificuldades poderiam surgir dentro da Igreja ou mesmo fora
dela (ver o aviso de Paulo em Atos 20:30).

CONCLUSÃO

Antes da ascensão, Jesus passou 40 dias com os discípulos e lhes ensinou sobre o
Reino de Deus. Então, o espírito foi derramado sobre eles no dia de Pentecostes. No mesmo
dia, o Espírito habilitou Pedro para uma poderosa pregação. E através da pregação de Cristo e
do espírito, uma nova comunidade se formou.

RESUMO

Lucas começou a delegar autoridade aos discípulos em Jesus. Ele lhes ordenou que
aguardassem o Espírito. O Espírito chegou e veio acompanhado por poderosos sinais e
prodígios. Pedro pregou, explicando para o povo em Jerusalém que os milagres eram um sinal
de que os últimos dias haviam chegado. Ele pregava que Jesus era o Messias, provando isso
através dos textos do Velho Testamento. Em seguida, ordenou aos judeus a se arrepender e a
29

serem batizados em nome de Jesus. Muitos acreditaram e a Igreja cresceu rapidamente em


Jerusalém e nas regiões vizinhas.
30

LIÇÃO 2. Questões:

1. O que Jesus ensinou aos seus discípulos nos 40 dias antes de sua ascensão?
2. O que eram as línguas e por quem foram ouvidas?
3. De acordo com Joel, o que representava "falar em outras línguas".
4. O que significa a expressão: ser "cheio de Espírito"?
5. De acordo com Pedro, qual era a culpa de Israel?
6. Quais foram as duas coisas que Pedro ordenou a Israel?
7. De acordo com Pedro, o que comprovou a messianidade de Jesus?
8. O que significa o título "Senhor" de Jesus?
9. Como a pregação de Pedro foi eficiente em Jerusalém? Dê alguns exemplos.
10. Cite quatro pontos principais da Igreja primitiva.
31

LIÇÃO 3. A ORIGEM DA PERSEGUIÇÃO

A rápida disseminação do Evangelho em Jerusalém provocou uma perseguição por


parte das autoridades judaicas. No início, o sacerdócio dos apóstolos no templo (4:33; 5:12,
13) e em Jerusalém era poderoso e acompanhado por muitos sinais e prodígios. O testemunho
se espalhou em toda Jerusalém e depois para as cidades vizinhas (5:14-16). Os números de
discípulos continuaram a crescer em mais de 5.000. A Igreja cresceu rapidamente. Houve
temor e admiração. Jerusalém estava sendo virada de cabeça para baixo.
O crescimento rápido da Igreja levou à perseguição. A perseguição começou de
maneira gradual e foi aumentando ao longo do tempo. Inicialmente o Sinédrio pediu a Igreja
para não falar em nome de Jesus (4:18). Com o contínuo testemunho da Igreja, a perseguição
aumentou. Lucas relata que o Sinédrio aprisionou os apóstolos (5:18), bateu nos discípulos
(5:28), e matou Estevão (Atos 7). Saulo (mais tarde chamado de Apóstolo Paulo) levou ódio e
espalhou a perseguição da Igreja em Jerusalém e Judéia (8:3). Em resposta, a Igreja orou por
ousadia e coragem para a continuidade dos testemunhos. Mais adiante, a perseguição fez com
que toda a Igreja, exceto os Apóstolos, fosse forçada a se dispersar para Judéia e Samaria
(8:1ss). E com a Igreja disseminada, ela deu seu testemunho.
Essa lição tem três partes. Na primeira, vamos analisar a perseguição à Igreja pelas
autoridades judaicas em Jerusalém. Na segunda, vamos analisar a perseguição e a morte de
Estevão, na Sinagoga dos Homens Livres e na terceira, analisaremos a eclosão da perseguição
por parte de Paulo.

1. Primeiras perseguições pelas autoridades judaicas em Jerusalém

O Evangelho espalhou-se rapidamente através da pregação dos discípulos no templo


em Jerusalém. As autoridades judaicas contestavam este ensinamento feito em nome de Jesus.
Lucas aponta dois incidentes, em particular. No primeiro, em Atos 3:4, as autoridades se
opuseram à pregação de Pedro depois que ele curou um cego. No segundo, em Atos 5, as
autoridades reagiram aos poderosos sinais e prodígios feitos em nome de Jesus por Pedro no
templo e em toda Jerusalém (5:12, 13ss). Vamos analisar um de cada vez.
Na nona hora (15:00 h do nosso tempo) Pedro curou um cego na frente do bonito
portão do templo. Pedro explicou o evento, dizendo-lhes que o homem foi curado em nome de
Jesus. Pedro e João, em seguida, foram presos e encarcerados durante a noite. No dia
seguinte, os saduceus, os sacerdotes e os escribas questionaram Pedro e Paulo. E eles
32

proibiram os discípulos de pregar e ensinar em nome de Jesus. Os discípulos se recusaram a


aceitar a proibição e desafiaram os sumos sacerdotes dizendo-lhes: "Julgai por si mesmos se é
justo, diante de Deus, ouvir a vós antes, do que a Deus, vos deveis julgar, porque não
podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido". (4:19, 20). Os discípulos então, saíram
e oraram pedindo coragem, e continuaram seu sacerdócio por Jerusalém.
Com a continuação da propagação do evangelho, os sumos sacerdotes e o Sinédrio 18
encheram-se de inveja (5:17). Em Atos 5, eles prenderam os apóstolos, ordenando-lhes a não
mais pregar e então foram espancados (o espancamento seria de 40 chibatadas menos uma,
que era a punição que o Sinédrio ou os funcionários da sinagoga judaica poderiam aplicar).
No segundo incidente, Gamaliel, um líder fariseu, teve cautela em esperar e ver o que seria
feito.19
Observemos o seguinte:
1. A perseguição surgiu quando a população ficou afetada de maneira significativa pela
evidencia dos sinais e dos prodígios e pelo poderoso testemunho. Os sinais estavam claros
para todos, até mesmo para o Sinédrio. Em Atos 4 nos é dito: "Eles viram o homem que foi
curado de pé ao lado deles, eles não tinham nada a dizer em contrário".
2. Ainda que os sinais e os milagres fossem inegáveis, as autoridades rejeitavam a mensagem
de Cristo que vinha inserida neles.
3. A perseguição começou de maneira gradual, mas foi crescendo ao longo do tempo, e esse
crescimento começou a ameaçar as estruturas do poder judaico existente.
4. A Igreja endureceu sua posição ao longo do tempo. Inicialmente, Pedro disse às autoridades
que tudo tinha sido feito na ignorância. "E agora, irmãos, eu sei que vocês agiram em
ignorância, assim como fizeram também as regras (3:17)". Isso demonstra a grande graça de
Deus, porém implica também na existência de um fim para a ignorância, até o ponto em eles
agiriam por uma desobediência intencional.

2. Estevão e os Helenistas (6:1, 8-15, 7:1-57)

18
O Sinédrio era o Conselho Supremo dos Judeus e era composto por três grupos: os anciãos, que eram os chefes
leigos da comunidade, os escribas, que eram advogados, provenientes dos fariseus (c.f. Gamaliel) e os
governantes, que eram provenientes dos sacerdotes. Os governantes foram: Ananias sumo sacerdote de 6-14 d.C.
que, embora deposto pelos romanos, ainda manteve o seu título e seu poder (Lucas 3:2); Caifás, seu genro, sumo
sacerdote de 18-36 d.C.; e a família do sumo sacerdote que ocupou outros cargos importantes no Templo.
Marshall (99) comenta que o poder estava concentrado nas mãos de poucas famílias.
19
Os Fariseus tinham uma crença geral na ressurreição (ver Atos 21). Vários comentaristas observam que eles
teriam sido afetados pelo milagre dos homens sendo retirados da prisão. Eles também observam que Saulo, seu
discípulo, não teria reagido da mesma maneira.
33

A perseguição se intensificou, no inicio, com a ascensão do helenista Estevão. Os


judeus ficaram divididos entre Hebreus e Helenistas. Ambos eram judeus, porém os Hebreus
eram na sua maioria de Jerusalém e eram os mais rigorosos entre as duas seitas. As Escrituras
eram lidas por eles em hebraico e eles falavam e faziam a adoração em Hebraico. (Paulo era
um exemplo dessa seita mais rigorosa: Em Filipenses 3:4-7, ele chamava a si mesmo um
hebreu entre os Hebreus.) Os Helenistas eram judeus gregos que liam, falavam e adoravam
em grego. Eles foram mencionados pela primeira vez em Atos 6:1-8, no que diz respeito à
questão da distribuição para as viúvas. Os judeus helenísticos, que vinham de um mundo
diferente em relação aos judeus hebraístas, entenderam as implicações do evangelho de uma
maneira mais clara do que os Hebraístas.
Estevão era um judeu helênico e foi um dos escolhidos para ajudar na questão da
distribuição. Nos dizem que ele era cheio de Espírito, cheio de fé e sabedoria, fazia prodígios
e sinais. E também que pregou de maneira sabia e poderosa na Sinagoga Helenista dos
Homens Livres onde judeus da Cyrenia, Alexandria, Cilícia e Ásia faziam a sua adoração.

2.1 A situação
Lucas escreveu o seguinte:
"E Estevão, cheio de fé e sabedoria, fazia grandes maravilhas e sinais entre o povo.
E então, levantaram alguns que eram da Sinagoga chamada Sinagoga dos Homens Livres
(Cireneus, Alexandrinos e da Cilícia e da Ásia), e disputaram com Estevão. E não foram
capazes de resistir à sabedoria e ao Espírito do qual falava. Então eles secretamente
induziram os homens a dizer: Ouvimos ele proferir palavras blasfemas contra Moisés e
contra Deus. E excitaram o povo, os anciãos e os escribas; e investindo contra ele, o
tomaram e o levaram ao Conselho. E apresentaram falsas testemunhas que disseram: Este
homem não cessa de proferir palavras blasfemas contra este lugar sagrado e a lei; porque
nós o ouvimos dizer que esse Jesus de Nazaré há de destruir este lugar e mudar os costumes
que Moisés nos deu. Então, todos aqueles que estavam sentados no Conselho, fixaram os
olhos nele, e viram o seu rosto como o rosto de um anjo (Atos 6:1-8)".
Estevão foi um poderoso orador, um pensador incisivo e claro cuja pregação
desafiava à posição tradicional judaica do momento, a qual não poderia ser rejeitada. 20 Depois
da sua pregação ter sido rejeitada na Sinagoga, homens foram induzidos a afirmar que ele
havia proferido blasfêmias. Alguns homens da Sinagoga dos Homens Livres incitaram as

20
Notas de Taylor (11), na qual Estevão parece ter compreendido as implicações do Evangelho de uma forma
mais profunda do que os outros discípulos.
34

pessoas, apresentando-lhes testemunhas falsas e, então o levaram até o Conselho, o Sinédrio,


o tribunal religioso mais poderoso da época.

2.2 As acusações
Embora as acusações fossem falsas, elas sintetizavam a essência da pregação de
Estevão. O sermão de Estevão falava sobre a questão teológica fundamental daquele tempo e
particularmente sobre o papel da lei, sobre o templo, sobre Moises e sobre a posição de Israel
no plano de Deus. Nas leis de Moisés, Taylor (9) afirma que a posição de Estevão era de que
"a Lei de Moisés era para ser absorvida e substituída por um sistema espiritual duradouro e
que um estrangeiro, deveria entender essa leis melhor do que aqueles que eram de Jerusalém".
Conybeare (57) também observa que o sermão de Estevão atacou as duas partes mais sagradas
da tradição judaica: a lei e o templo.

2.3 O sermão
O sermão de Estevão é o mais antigo registrado no livro de Atos. E ele é importante,
pois ajuda a compreender o pensamento judaico (e mais tarde até o do cristão judaico em
Gálatas e Atos 15) contra a propagação do cristianismo aos gentios.
O sermão apresentava quatro argumentos principais. O primeiro se concentrou na
idéia de que a graça de Deus não estava limitada a um lugar determinado. E Estevão
salientou que, no passado, Deus viajou com seu povo e os guiou. A obra de Deus jamais
permaneceu limitada a uma só localidade. E isso significava que esse novo trabalho de Deus,
o levaria para fora de Israel. O segundo, baseado no primeiro argumento, afirmava que o
plano de Deus para Israel era sempre temporário. Mas que o plano maior de Deus era
abençoar toda a terra. O terceiro argumentava que o plano tinha sido cumprido em Cristo e
que, portanto uma nova era havia começado. O quarto argumento mostra que no passado, toda
a Israel havia resistido à vontade de Deus. Eles estavam mais uma vez rejeitando a sua
cristandade.21
Em seu sermão Estevão escolheu figuras históricas e momentos importantes da
história de Israel. Começou falando sobre José desenvolvendo o argumento de que Israel
havia sempre rejeitado os profetas de Deus, "E os patriarcas, tomados pela inveja, venderam
José para o Egito. Mas Deus estava com ele e o livrou de todos os seus problemas". Depois
ele salientou que Israel também rejeitou Moises (7:23-29, 7:35): "Este Moisés, o qual haviam
rejeitado, dizendo: Quem te fez um governante e juiz? Este foi quem Deus enviou para ser um
21
Para mais detalhes ver (WTTG 288).
35

governante e um libertador pela mão do anjo que lhe aparecera no bosque". E disse, ainda,
ao rejeitarem Moisés, eles também rejeitaram o Cristo (7:9)".
Estevão concluiu o seu sermão em Atos 7:51declarando: "Homens de dura cerviz e
incircuncisos de coração e ouvido! Vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim vós sois
como vossos pais. A qual dos profetas vossos pais não perseguiram? E mataram aqueles que
anunciaram a vinda do Justo, e de quem agora vós fostes traidores e assassinos, vós que
recebestes a lei por ordenação dos anjos, e não a guardastes".
O argumento de que Israel havia sempre rejeitado seus líderes é importante para se
combater o argumento de que Jesus não poderia ser o Messias. Cada um dos grandes
discursos em Atos argumentava que a verdadeira razão do Messias ter sido rejeitado e
pendurado na Cruz foi porque os judeus o rejeitaram. Jesus era o Messias, mas os judeus
cometeram um pecado quando o rejeitaram e o crucificaram (2:36, 4:10, 5:30 e 10:39).
Em segundo lugar, Estevão salientou que Deus não estava vinculado a um só lugar
(7:44-50). Nos versículos 33 e 34, ele já havia afirmado que a terra sobre a qual estava Moises
era sagrada, e a terra de Israel não era. Ele declara que primeiros padres adoraram a Deus no
Tabernáculo no deserto, e não no Templo de Jerusalém. Mesmo quando Salomão construiu
um Templo, Deus não viveu em templos construídos com as mãos (47). Estevão citou Isaías
66:1, 2 e 1 Crônicas 16:39 para lembrá-los de que o céu é o verdadeiro trono de Deus, não o
trono terrestre em Jerusalém.
Falando assim, Estevão estava atacando a idolatria do templo judeu, ou seja, a idéia
de que, enquanto tivermos o templo, Deus estará conosco, não importando se obedecermos a
ele ou não. Esse tipo de pensamento já havia ocorrido anteriormente na história de Israel. Em
1 Samuel 3 e Jeremias 7:4, os profetas alertaram as pessoas sobre como não confiar em
palavras idolátricas. "Não confie em palavras mentirosas dizendo: Templo do Senhor, Templo
do Senhor, Templo do Senhor é este" (Jeremias 7:4).

2.4. Consequências da defesa de Estevão


Os Judeus reagiram à defesa de Estevão com ódio e raiva. Atos 7:54 declara: "E
ouvindo eles isto, enfureciam-se em seus corações seus dentes rangiam seus dentes contra
isso”. E uma multidão levou Estevão para fora da cidade e ele foi apedrejado. Esse fato
aparece em Deuteronômio 17:2-7. Enquanto Estevão era apedrejado, os judeus colocavam
suas roupas aos pés de Saulo, que estava presente no local.

2.5. Estevão, o primeiro mártir


36

A morte de Estevão representou o primeiro modelo de mártir que havia nascido para
testemunhar a fé em Deus, na primitiva Igreja. Nos dizem que seu rosto resplandecia, o que
seria uma referencia à glória de “Shekhinah” (presença de Deus) do seu povo. Se isso era
verdade, então, pode-se afirmar que a glória do templo, não estava mais no templo, mas sim
no verdadeiro povo de Deus, ou seja, na Igreja. A glória havia saído do templo, e agora estava
no povo de Deus, seu novo templo.
Lucas declara que Jesus estava de pé e pronto para receber Estevão. E essa posição
(em pé) foi considerada importante, já que existia a referencia de um Cristo sentado no céu,
em seu trono, e vendo o seu trabalho ser feito. Neste caso, porém, quando Cristo viu que seu
servo estava sendo martirizado por sua causa, ele já estaria pronto para recebê-lo.
"E enquanto Estevão era apedrejado, ele clamava por Deus, dizendo: Senhor Jesus
recebe o meu espírito. E pondo-se de joelhos, clamou em voz alta: Senhor não lhes impute
esse pecado e depois de dizer isso, adormeceu. (Atos 7: 59-60)".
E Estevão orou, primeiro para si mesmo e depois orou pelo seu povo. Embora ele
tenha dito palavras duras para seus opositores, ele com ternura e sinceridade desejou a
salvação deles. As orações de Estevão foram respondidas. Cristo lhe recebeu e Estevão
adormeceu com Cristo. Quanto aos seus inimigos, Paulo se converteu. E muitos comentaristas
dizem que a conversão de Paulo se deu através do testemunho fiel de Estevão e às suas
orações. Mais tarde, a própria pregação de Paulo seguia o método de Estevão: uma revisão
histórica (método) e como conteúdo (a lei e a idéia de que o templo não salva). Alguns
comentaristas especulavam ainda que Paulo usou, os relatos de Lucas como fonte para a sua
pregação. E em Atos 7:60, Lucas usou o termo “adormecer” no lugar de “morte” em 1
Tessalonicense 4:13.

2.6 O catalisador da grande perseguição


Após a morte de Estevão surgiram grandes surtos de oposição à Igreja. A igreja de
Jerusalém se espalhou e somente os apóstolos permaneceram em Jerusalém. Lucas nota o
papel desempenhado por Paulo, no evento da morte de Estevão, se tornando um líder na
perseguição da Igreja. Em Atos 8:1-3, Lucas fez uma ligação entre os dois eventos: "E
também Saulo consentiu na morte dele. E fez-se naquele dia uma grande perseguição contra
a igreja que estava em Jerusalém; e todos foram dispersos pelas terras da Judéia e de
Samaria, exceto os apóstolos. E uns homens piedosos foram enterrar Estevão, e fizeram
sobre ele grande pranto. E Saulo assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando
homens e mulheres, os encerrava na prisão".
37

3. Saulo como um perseguidor

Em Atos 8, Saulo era o ponto central da perseguição de Israel ao cristianismo. Para se


entender o papel de Paulo consideraremos Atos 8, 9 e 26, assim como também declarações
autobiográficas de Paulo mostradas em Gálatas 1:13, 1 Coríntios 15:9ss e 1Timoteo 1:13ss.

3.1 Paulo e Estevão


Lucas falou sobre Paulo em Atos 8: mostrando que ele consentia na morte de
Estevão. Bruce (Atos 69) argumenta a partir de Deuteronômio 17:7 que se tratava de um ato
oficial e formal. "Donnelly" sugeriu que ele era mais do que apenas uma testemunha passiva.
É possível que Estevão fosse um supervisor em nome do Sinédrio.

3.2. Paulo e a perseguição geral


Saulo foi o agente principal entre os Atos 7 e 8. Em Atos 7 observamos Saulo como
um supervisor da perseguição de Estevão. Em Atos 8, Saulo empreendeu a perseguição de
toda a Igreja em Jerusalém e nas cidades da Judéia. Lucas usou uma linguagem forte para
descrever a perseguição de Saulo. Ele afirmou: Paulo fez "estragos", entrando em "cada casa"
e em "muitas sinagogas", arrastava as pessoas e os encerrava na prisão; fazia ameaças e
provocou um massacre.
Usando a palavra "assolar" em Atos 8:3, Donnelly observa que na literatura grega
clássica isto é visto como ações de um animal selvagem. Ele observa que o fato foi
mencionado da mesma forma na Septuaginta em Salmo 79:2, onde há a referencia a "porcos
selvagens" da floresta. Paulo era como um animal dilacerando um corpo morto. Ele queria
fazer o mesmo com todos os crentes, assim como havia feito com Estevão.
Saulo também tentou destruir a fé de todos e levá-los a blasfemar. Em Atos 26:10: "E
o que fiz em Jerusalém. Eu não só tranquei muitos dos santos nas prisões, mas após receber
autorização dos principais sacerdotes, votei contra eles, quando foram condenados à morte.
E castigando-os muitas vezes em todas as sinagogas, os obriguei a blasfemar, e enfurecido
em demasia contra eles, eu os persegui até mesmo em cidades estrangeiras". Conybeare (65)
constata o uso do tempo verbal grego no imperfeito: "Estava cansado de levá-los a
blasfemar", o que significa que não teve êxito.
No início a perseguição de Saulo, ficou limitada à Jerusalém, mas ele procurou
expandi-la à Damasco. Porém, "Saulo, ainda respirando ameaças e mortes contra os
38

discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote. E lhe pediu cartas para as sinagogas em
Damasco, a fim de que, se encontrasse algum daquela seita, quer homens quer mulheres, os
conduzisse presos a Jerusalém". E Damasco ficava a 170 km de distancia e a viagem levaria
12 dias. Apesar de Damasco estar em uma área separada, o Sinédrio Judeu possuía acordos
com Damasco, o qual lhes permitiam exercer o poder de extradição (Bruce, Paulo 71). A fúria
de Paulo foi tão grande que até Ananias e outros crentes em Damasco sabiam sobre ele (9:21).

3.3. O autotestemunho de Paulo no papel de perseguidor


Também nos ajuda se observarmos o testemunho de Paulo com relação à sua
perseguição. Paulo disse em Gálatas 1:13: "Para vós que ouviste falar da minha vida no
judaísmo, e de como persegui a Igreja de Deus, violentamente, e de como tentei destruí-la".
Donnelly comenta que a palavra "violentamente" pode também ser interpretada
como: "Além da medida". E ela foi extrema em todos os sentidos. Eadie comenta este
versículo afirmando: "seu fervor permeou cada esfera de sua vida e trabalho. Ele não
poderia ser morno, tanto na perseguição como no estudo. E dedicou toda a sua alma a essa
perseguição".
A perseguição era hostil e real e em alguns momentos Paulo lamentou amargamente
(1 Cor. 15:9). Ele resumiu e definiu sua conduta em três palavras, em 1Timoteo1: 13; ele
disse: "Antigamente eu era um blasfemo, perseguidor e insolente opositor" do evangelho.
Saulo, verdadeiramente, acreditava que estava fazendo as coisas certas na sua
perseguição. Em Atos 26:9, ele declarou: "Eu mesmo, estava convencido de que deveria fazer
muitas coisas em oposição ao nome de Jesus de Nazaré". Em Filipenses 3:6, falou de seu
zelo, o qual usou para perseguir a Igreja. Saulo olhou para sua perseguição como sendo uma
prova de que ele era um bom judeu e um seguidor de Deus. Quanto mais ele atacava a Igreja,
mais ele pensava que era um seguidor de Deus.

3.3.1. O entendimento de Paulo sobre sua perseguição


Paulo salientou duas questões dentro da reflexão sobre sua perseguição. Em primeiro
lugar, ele tinha um profundo e sincero arrependimento pelas suas ações e em segundo lugar,
ele enxergou sua conversão como um exemplo e como um padrão de graça.

3.3.2 O arrependimento de Paulo


Paulo lamentou profundamente o sofrimento que causou e ele expressa isso em
1Coríntios 15:9: "Eu sou o menor dos Apóstolos e indigno de ser chamado apóstolo, porque
39

persegui a Igreja de Deus". E da mesma forma, em Efésios 3:8 (tradução literal): "A mim, o
mínimo de todos os Santos". Esta é uma figura de linguagem, mas mostra o próprio
entendimento de Paulo sobre o que acontecia. Eadie observa que no idioma grego o "Eu sou"
é realçado, para se enfatizar a posição de Paulo. Mas Eadie ainda observa que para o grego
isso seria gramaticalmente impossível. Paulo usou então, um comparativo, baseado no
superlativo "menos do que o mínimo"; como uma forma de expressar uma profunda
humilhação de si mesmo.22
Donnelly observa que um dos motivos pelo qual Paulo estava tão preocupado com os
pobres e viúvas se deve ao fato dele se sentir responsável por ter causado pobreza e viuvez
para esses fiéis. Também podemos notar uma comparação entre o arrependimento de Paulo e
a vergonha e o arrependimento de Pedro por ter negado Cristo.

3.3.3 Paulo - um padrão ou modelo da graça de Deus


Paulo percebeu a sua maldade e a graça de Deus dentro dele como um exemplo
poderoso da graça de Deus. Ele declarou em 1 Timóteo 1:16: "Mas eu alcancei misericórdia
por isso, para que em mim, antes de tudo, Jesus Cristo mostrasse sua paciência perfeita, para
exemplo daqueles que haviam de crer nele para a vida eterna".

3.4 Razões para o ódio de Paulo e a rejeição de Cristo e da Igreja.


Bruce (Paulo 70,71) argumenta que a oposição de Paulo era baseada em dois
fundamentos:
Primeiro, ele prezava a Lei e a tradição dos anciãos. Em Gálatas 1:14, Paulo disse:
"E na minha nação excedia em judaísmo a muitos da minha idade, sendo extremamente
zeloso das tradições de meus pais". E ainda falou sobre isso em Filipenses 3:5 dizendo:
"quanto à lei, fariseu, quanto ao zelo, perseguidor da Igreja e quanto à justiça, dentro da lei,
irrepreensível".
Segundo, ele estava convencido de que Jesus não poderia ser o Messias e qualquer
um que afirmasse que Jesus era o Messias seria culpado de blasfêmia. Sua condenação foi
baseada no fato de que a vida de Cristo e a sua morte não pareciam estar em conformidade
com o padrão do Messias. Para os judeus, o Messias seria uma benção de Deus e não uma
maldição (Is, 11:2) e as Escrituras ensinam que Deus amaldiçoou qualquer um que morresse
enforcado e pendurado em uma árvore (Deuteronômio 21:23). Desde a sua crucificação,
Jesus, teve que ser amaldiçoado por Deus, e não abençoado. E para Saulo, sendo um judeu, a
22
40

morte de Jesus do modo como ocorreu foi um escândalo. Ele afirmou em 1Coríntios 1:23:
"Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é um escândalo para os judeus e loucura para
os Gentios". Somente mais tarde, Paulo percebeu que a glória do Messias era tirar os pecados
de seu povo.

CONCLUSÃO

Conforme a Igreja se expandia, a perseguição também aumentava. O sermão de


Estevão foi um marco importante na mudança dos acontecimentos. Paulo liderou a
perseguição na Judéia e Samaria até a sua conversão.

RESUMO

A Igreja primitiva foi fundada em Jerusalém. Os ensinamentos dos discípulos


desafiaram a estrutura de poder do Sinédrio no templo. A perseguição no início era leve,
somente com ameaças e prisão, mas em pouco tempo passou a realizar espancamentos.
Estevão foi apedrejado e Saulo, então liderou um ataque violento na tentativa de destruir a
Igreja. Sua perseguição começou em Jerusalém e na Judéia e depois se espalhou para regiões
vizinhas.
41

MÉTODO INDUTIVO: [Extrair informação do texto bíblico]


Textos de referencia. Como outros textos influenciam a nossa leitura do texto?
1.1 (etc.)

Explicação de informações importantes no texto:


-Palavras-chave e definições:
-Observações gramaticais: (estrutura das frases, leituras variantes)
-Figuras de linguagem: (comparações, associações, representações)
-O texto, explícita ou implicitamente, diz alguma coisa sobre Deus e sobre a salvação?
-Método de tradução utilizado:
-Há diferenças entre as versões da Bíblia? Quais são elas?
-Autoria humana. Como podemos saber?
-Em que ocasião o homem foi solicitado a escrever?
-Público original para leitura. Por que eles leriam o texto?
-Contexto geográfico:
-Contexto social e cultural:
-Contexto histórico:
-Contexto religioso:
-Em suas próprias palavras, o que o texto diz e qual o significado?
Comentários:

EXPLICAÇÃO EXPOSITIVA. Em ordem cronológica, identificar os principais ensinamentos


do texto em estudo.
1.
2.
3.
(outros)

CONSIDERAÇÕES LITERÁRIAS
-Gênero literário: (evangelho, história, leis, parábola, poesia, profecia, provérbio, etc).
42

-como o texto está relacionado aos outros textos vizinhos?


-como o texto se relaciona ao tema do capítulo e de qual livro provem?

MÉTODO ANALÍTICO. Qual é a tese principal, antítese, síntese e sincretismo do texto?

MÉTODO DEVOCIONAL DE ESTUDO. Como o texto ajuda a adorar Deus, a confessar os


pecados, dar graças a Ele e servi-lo?

LIÇÃO 3. Questões:

1. Como o Sinédrio reagiu à pregação de Pedro?


2. Os problemas vieram somente de fora da Igreja?
3. O que era um helenista?
4. Qual foi o ataque de Estevão no templo em Jerusalém?
5. O que Estevão disse que seus pais haviam feito aos profetas?
6. Quais as duas coisas que fizeram Estevão orar por sua morte?
7. Paulo estava presente na morte de Estevão?
8. Qual foi o papel de Paulo no inicio da perseguição da Igreja?
9. Paulo lamentou sua perseguição? Cite exemplos com base nas Escrituras.
10. Cite dois motivos para a rejeição de Paulo em relação a Jesus como o Messias.
43

LIÇÃO 4. A EXPANSÃO DA IGREJA NA JUDÉIA E SAMARIA (ATOS 8-12)

Esta lição trata do crescimento da Igreja. O martírio de Estevão não impediu o


cristianismo, apesar dos discípulos terem sido espalhados, eles não perderam sua fé e seu
testemunho. Esses discípulos viajaram para o exterior, para a Judéia, Samaria e até a
Antioquia cumprindo a promessa de Deus em Atos 1:8: "O Evangelho irá de Jerusalém para
Judéia e Samaria, e até mesmo os confins da terra". (Em Atos 11:19 nos dizem que eles
foram até a Fenícia e Síria.) Durante a viajem, os discípulos davam o seu testemunho e muitas
pessoas eram convertidas. O ponto central é que a perseguição não destruía a Igreja, pelo
contrario, a perseguição levou ao crescimento e ao triunfo da Igreja no plano de Deus.
Observemos a expansão da Igreja de três modos: a expansão na Judéia e Samaria, a conversão
de Paulo e as atividades da missão de Pedro.

1. Judéia e Samaria (Atos 8)

1.1. O evangelho em Samaria


Lucas iniciou seu relato falando de Felipe, o Evangelista, um dos sete escolhidos pela
Igreja em Atos 6, para ministrar aos santos (Taylor 10). Entre os "dispersos" depois da morte
de Estevão, Felipe saiu pregando a palavra (8:4), e levou o evangelho a Samaria e até
Cesaréia (8:40). Os samaritanos eram singulares, pois não eram Gentios, mas foram
considerados "as ovelhas perdidas das tribos de Israel" (Marshall 153, citando Jervell,
113.132). Assim como a pregação em Jerusalém, os sinais e maravilhas fizeram parte da
pregação aos samaritanos através da remoção dos espíritos sujos. Os coxos e os paralíticos
foram curados e houve muita alegria. Muitos passaram a crer em Deus e foram batizados.
Depois da chegada do relatório sobre esses eventos aos discípulos em Jerusalém, eles
enviaram João e Pedro para investigarem essa questão. Lucas mencionou, em particular, um
estranho evento sobre o Espírito Santo. Em Atos 8:14-17 ele afirmou: "Agora quando os
apóstolos em Jerusalém ouviram que Samaria recebera a palavra de Deus, mandaram para
lá, Pedro e João, os quais tendo descido, oraram por eles para que recebessem o Espírito
Santo, porque ainda não havia ainda descido sobre nenhum deles, mas eles só tinham sido
batizados em nome do Senhor Jesus. Então lhes impuseram as mãos sobre, e receberam o
Espírito Santo".
44

Lucas disse que eles acreditaram e foram batizados, mas ainda não tinham recebido o
Espírito Santo. O Espírito seria concedido somente quando os apóstolos fossem investigar o
trabalho da Igreja.23
Não está claro, porque Lucas disse isso. Marshall sugere que "Deus reteve o
derramamento do Espírito, até o momento da vinda de Pedro e João, a fim de que os
samaritanos pudessem ser vistos no momento da completa incorporação deles no círculo dos
cristãos de Jerusalém, que já haviam recebido o Espírito Santo no dia de Pentecostes" (88,
citando Lampe 70-72). Lucas menciona que Pedro e João não adicionaram nenhum
ensinamento novo e nem pregaram para eles; em vez disso, eles oraram para que o Espírito
Santo fosse concedido a eles. Marshall argumenta que Cornélio teve a mesma experiência
quando o Espírito Santo caiu sobre ele em Atos 10. O caso de Cornélio mostra que Deus o
havia aceitado, um Gentio, e consequentemente mostram a aceitação de Deus. Lucas incluiu
este evento para salientar que os Samaritanos já não eram hereges ou ovelhas perdidas; eles
agora eram membros da Igreja.

1.2 A conversão do Eunuco Etíope


A conversão do Eunuco Etíope é importante por várias razões:
Primeiro porque podemos observar o controle soberano de Deus no evento. Deus
guiou Felipe "através do anjo". Nos dizem também que o espírito o guiou (8:29) e que após o
evento, o Espírito o levou embora (8:39). E porque Deus usou o espírito e anjo, ao invés de
um ou outro, não está claro, mas de todo modo, estes eventos extraordinários mostram o
controle soberano de Deus neste acontecimento. O espírito trouxe Felipe até o eunuco no
momento ideal para que ele lhe explicasse o Evangelho, quando o eunuco estava lendo sobre
o sofrimento do servo em Isaías 53.
O Eunuco era um prosélito, um grego seguidor do modelo judaico. Lucas o incluiu
como um representante, uma figura significativa entre os gentios, a quem Deus converteu para
levar o Evangelho até os confins da terra. O Eunuco mostra que Deus abençoa aqueles que o
temem de todas as nações (10:34).
A conversão do eunuco indicou que uma nova ordem foi instigada em Cristo.
Embora o eunuco era um prosélito e havia viajado para Jerusalém e o Templo, ele não poderia
entrar no templo. Eunucos eram impedidos de adoração íntima e ao acesso a Deus pelo antigo
testamento. Deuteronômio 23:1declara: "Ninguém cujos testículos são esmagados ou cujo
23
A igreja de Jerusalém tinha o hábito de enviar homens para investigar o trabalho de pregação. Barnabé,
posteriormente, foi enviado para investigar a Igreja de Antioquia e Pedro fez um relatório à Igreja sobre sua
experiência com Cornélio.
45

órgão masculino é cortado entra na Assembléia do Senhor". O Espírito guiou Felipe, naquele
momento, no verdadeiro Templo de Deus para que se juntasse a ele (6:3, 8:29). O espírito
passou a residir no eunuco de uma nova maneira. E devido a isso, ele era um novo templo.
Isso era um cumprimento de Isaías 56: 3-8.24 Estes versículos são cumpridos na vinda de
Cristo. Ao invés de ser impedido de entrar do templo, e pela obra de Deus nele, ele tornou-se
sacerdote na casa do Senhor (1 Pedro 2:9). Uma nova ordem da salvação, concedida pelo
espírito para todos, os novos judeus, os gentios, o manco e os deformados havia chegado.
Finalmente, Marshall observa que este versículo faz um paralelo com o evento dos
dois homens na estrada de Emaús (Lucas 24). Nesse caso, Jesus abriu os olhos dos discípulos
para o entendimento das Escrituras. E Felipe ajudou o Etíope a compreender. O ponto chave é
que as Escrituras do Velho Testamento não podem ser entendidas sem uma chave para
destravá-las. Felipe, como um evangelista, ajudou o eunuco a compreender as Escrituras,
dirigindo-o para Cristo.

2. A conversão de Paulo (Atos 9:1-31, 22:7ss, 26:14ss)

A conversão de Paulo foi surpreendente. Saulo estava viajando a caminho de


Damasco em sua perseguição à Igreja quando, no final de sua jornada, ele foi "preso por
Cristo" (Fp 3:12).25 A conversão de Paulo foi registrada em Atos 9:1-31 e referida por Paulo
em Atos 22:7s e em Atos 26:14ss. Podemos considerar também as referencias em Gálatas 1 e
Efésios 3:7-9.

2.1 A revelação de Jesus


Enquanto Paulo estava viajando, ele ficou cego, atingido por uma grande luz e ouviu
uma voz: "Continuando no seu caminho, se aproximou de Damasco e de repente surgiu uma
24
"E não deixe o estrangeiro, que se houver unido ao SENHOR, dizer: Certamente o SENHOR me separará do
seu povo; nem tampouco diga o eunuco: Eis que sou uma árvore seca. Porque assim diz o SENHOR a respeito
dos eunucos, que guardam os meus sábados, e escolhem as coisas que me agradam, e abraçam a minha
aliança: Também lhes darei na minha casa e dentro dos meus muros um lugar e um nome, melhor do que o de
filhos e filhas; um nome eterno eu darei a cada um deles, que nunca se apagará. E aos filhos dos estrangeiros,
que se unirem ao SENHOR, para o servirem, e para amarem o nome do SENHOR, e para serem seus servos,
todos os que guardarem o sábado, não os que profanarem, e os que abraçarem a minha aliança, também os
levarei ao meu santo monte, e os alegrarei na minha casa de oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios
serão aceitos no meu altar; porque a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos. Assim diz o
Senhor DEUS, que congrega os dispersos de Israel: Ainda ajuntarei outros aos que já se lhe ajuntaram".
25
Para informações adicionais ver Lição 2.3.
46

luz do céu que piscava em torno dele. E caindo no chão ele ouviu uma voz dizendo-lhe:"
Saulo, Saulo, por que me persegues?" E ele disse: "quem és tu, Senhor?" E ele respondeu:
"Sou Jesus, a quem tu persegues. Mas levante-se e entre na cidade, e você saberá o que fazer.
Os homens que viajavam com ele ficaram sem palavras, ouviram a voz sem ver ninguém
(9:3-7)".
Saulo ouviu uma voz e viu uma grande luz, dois pontos marcantes da revelação
divina no Antigo Testamento (2 Coríntios 4:6). Cristo lhe falou em aramaico, sua linguagem
religiosa judaica, e lhe chamou pelo nome, duas vezes: "Saul, Saul" (26:12). Nas Escrituras é
comum repetir o nome para dar ênfase. Deus chamou Moisés na sarça incendiada, repetindo
seu nome. Donnelly nota que na verdade, isso seria um termo de ternura como Martha,
Martha. E concluindo, Deus chamava carinhosamente seus discípulos.
Saulo respondeu chamando-lhe de SENHOR. Como vimos na Lição 1, o nome não
implica em divindade, mas certamente aponta para ela.
Jesus, então, lhe disse: "Eu sou Jesus, a quem tu persegues". Embora não tenha
havido nenhuma referência direta à divindade, está claro que se trata de uma declaração de
que: 1- Jesus foi ressuscitado por Deus (e assim o Messias) e 2- O "eu sou", aponta para a
divindade. E isto se nota também quando Deus usou Moisés na sarça incendiada. Nesse
exemplo, havia uma luz, uma voz e o clamor do "eu sou", assim como a reputação do nome
de Moisés dado por Deus.
Paulo interpretou este evento como a visão do Senhor ressuscitado. Em 1Coríntios
9:1 ele pergunta: "Não sou livre? Não sou um apóstolo? Não vi eu a Jesus, nosso Senhor?" E
em 1Coríntios 15:8, ele alegou que Cristo lhe apareceu: "E por último de todos, como a um
prematuro, ele apareceu também a mim".
O evento ocorrido foi muito importante na vida de Paulo. Ele já não podia mais negar
a realidade de que Jesus não era amaldiçoado, mas sim, que esse Jesus que havia sido
crucificado era também o Messias ressuscitado (26:14). E ele percebeu que em seu zelo ele se
enganou, e que ao invés de defender a Deus, ele estava, na realidade, atacando o Messias de
Deus e a Igreja de Deus. A ressurreição mostrou que Jesus foi reivindicado. E está no céu. Ele
é o Messias, não é anátema. Ele é o Abençoado.
Jesus também fez uma ligação entre ele e a Igreja. E ambos tiveram a sua
importância prática e teológica. Saulo nunca tinha visto o Cristo, mas mesmo assim, ele
estava perseguindo sua Igreja. Teologicamente isso demonstrou para Paulo a ligação existente
entre Cristo e sua Igreja. Praticamente ele mostrou que a perseguir a Igreja de Cristo para
47

persegui-lo. E na prática isso demonstrou a ele que perseguir a Igreja de Cristo era o mesmo
que perseguir a si mesmo.
Grande parte da teologia de Paulo pode ser direcionada para este evento: o amor de
Deus por si próprio, enquanto os homens forem pecadores; o chamado soberano e a vontade
de Deus para trazer os homens à fé (Gálatas 1:12-16); a união entre Cristo e sua Igreja e a
centralização de Cristo em Paulo, tudo isso parecia estar direcionado para este evento. A
conversão de Paulo foi um modelo para toda a sua teologia. E ele sabia que tudo isso estava
ligado às leis das Escrituras do Velho Testamento, e, portanto, tanto as Escrituras, como suas
experiências guiariam a sua Teologia.
A conversão de Paulo envolveu uma grande reorientação do seu pensamento e
teologia. Bruce comenta que a mudança no pensamento de Paulo, observando-se o
acontecimento na "Estrada de Damasco" centralizou a teologia de Paulo. Anteriormente, tudo
na vida de Paulo havia sido centrado na lei, mas agora tudo passou a ser centrado ao redor de
Cristo. Bruce continua a afirmar que, embora essas alterações tenham ocorrido rapidamente,
Paulo teria que trabalhar através das implicações delas ao longo do tempo. Bruce afirma:
"Essa centralização da sua teologia não alcançou sua plenitude de uma só vez e como Paulo
viu, tudo estava implícito na revelação que ocorreu na estrada de Damasco. De modo formal,
todos os elementos da sua vida e os pensamentos foram organizados em torno do foco central
da lei. A revelação de Jesus Cristo mostrou-lhe em um lampejo a falência da lei e que ela não
poderia ser salva. Inevitavelmente isso levou um tempo para que Paulo concluísse que tudo
estava envolvido nessa reorganização... e que isso tomaria todo o tempo de sua vida. Era
como um ímã que atraia todos esses elementos juntos a um padrão bem definido... a lei havia
sido substituída pela do Senhor ressuscitado, em torno da qual a vida e o pensamento de Paulo
foram reorganizados para formar um novo padrão" (Bruce, Paulo 80).
Enquanto a conversão de Paulo foi única e espetacular, a mesma coisa estava
acontecendo com todos os crentes. Todos pecaram. Todos abafaram a verdade, até que Cristo
veio até eles mostrando poder e lhes revelando ser o Messias e Deus. Isso conscientizou os
fiéis da sua humildade, levando-os a uma reorganização de suas vidas ao redor de Deus em
uma nova obediência.

2.2 O Batismo de Paulo na Igreja


48

Paulo estava cego e assim ele foi guiado até Damasco e lá esperou por três dias. 26 O
Senhor chamou o discípulo Ananias para ajudá-lo.27 Ananias estava relutante em ir por causa
da reputação de Paulo, mas decidiu ir (9:13).28 A visão de Paulo voltou ao normal e ele
imediatamente começou a pregar o Evangelho.

2.3 O chamado de Paulo para se tornar um missionário


Na primeira reunião de Jesus com Paulo, Jesus o chamou para ser um apóstolo. Em
Atos 26:17 Paulo nos diz que Cristo disse-lhe: "Eu vou livrá-lo do povo judeu, bem como dos
gentios, a quem agora te envio, para abrir-lhes os olhos, e das trevas os converter para a luz
e do poder de Satanás a Deus, a fim de que recebam o perdão dos pecados e herança entre
aqueles que são santificados pela fé em mim".
Deus também disse a Ananias sobre a missão de Paulo. Ele lhe disse: "Vá, porque ele
é o instrumento da mina escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis e aos
filhos de Israel. Pois vou mostrar-lhe quanto ele deve sofrer por causa do meu nome". Paulo
ficou com os discípulos de Damasco e, em seguida, foi para a sinagoga e pregou.

2.3.1 As três principais fases da missão de Paulo


Normalmente, os relatos das missões de Paulo estão focados em suas três viagens,
mas na verdade, eles são apenas uma parte das atividades missionárias de Paulo. As atividades
de Paulo incluem:
1. O Ministério inicial em Damasco / Arábia durante três anos.
2. Um período de dez anos entre Atos 9 até 12, em que Paulo estava em Tarso. Estes
são os chamados "anos perdidos", mas há boas evidências de que Paulo estava evangelizando
e ensinando os judeus neste período (Donnelly).
3. As três viagens missionárias em Atos e a viagem a Roma.
4. Suas viagens após sua libertação da primeira prisão romana.
Devemos lembrar que o livro de Atos não aborda a vida completa de Paulo.

2.3.2 Primeira missão de Paulo em Damasco / Arábia

26
Sua própria viagem da morte à vida, ver Jonah Mints.
27
Sabe-se que já existia uma comunidade de crentes, embora não se sabe muito sobre ela.
28
Donnelly vê a comparação entre a relutância de Pedro em ir com Cornélio em Atos 10 como um paralelo. Deus
envia, mas a Igreja está relutante em ir.
49

Em Damasco, Paulo imediatamente pregou na sinagoga declarando que Jesus era o


filho de Deus.29
Os judeus foram surpreendidos (NVI) O verbo grego usado foi "surpreender ou
confundir, ou" misturar tudo junto ". Donnelly nota que a palavra pode referir-se a" serem
expulsos dos seus sentidos ", pois, agora os judeus teriam que acreditar na idéia de que aquele
que chegou, estava agora pregando a fé, que eles tentavam destruir. Nos dizem que Paulo
permaneceu lá por muitos dias. E como Donnelly disse:" Saulo (Paulo) cresceu ainda mais em
força e confundiu os judeus que viviam em Damasco provando que Jesus era o Cristo ".

2.3.3 Arábia
Nos dizem que Paulo passou três anos na Arábia. Em Gálatas 1:17, 18, Paulo disse:
"Nem retornei a Jerusalém para encontrar aqueles que foram Apóstolos antes de mim, mas
fui para a Arábia e voltei novamente a Damasco. Em seguida, depois de três anos eu fui até a
Jerusalém para visitar" Cefas "(nome dado a Pedro por Cristo) e permaneci com ele quinze
dias". Arábia ficava perto de Damasco e era parte do Reino dos Nabateus, governado pelo Rei
Aretas.
Ao se falar desse episódio, é comum dizer que esses três anos de Paulo foram de
treinamento, mas há evidencias sugerindo que esses três anos não foram de reclusão. Sabemos
que Paulo já estava pregando e os seus próprios discípulos, considerados frutos da sua
pregação e ensinamento, o colocaram dentro de um cesto e o desceram por uma janela da
muralha até Jerusalém (Atos 9:25).30 Esse evento aliado ao fato de que suas ações suscitaram
a ira do rei contra Paulo, parecem indicar que ele estava ativo na missão e na evangelização
durante esse tempo.

2.3.4. Jerusalém e os anos perdidos (Atos 9:26-30) (Gálatas 1:17-18)


Lucas registrou que Paulo foi até Jerusalém após três anos para passar quinze dias
com os apóstolos. No início, os apóstolos tiveram medo dele, pois não acreditavam que ele
havia se convertido, mas Barnabé encontrou com Paulo e lhe apresentou aos discípulos.
Pollock sugere que Paulo foi para Jerusalém a fim de passar um tempo com os discípulos para
conhecer mais a respeito a Cristo. Whyte (49) argumenta que o idioma grego podia ser lido ao
longo da "história" contada por Pedro sobre Cristo. Era o mesmo idioma grego usado numa

29
Donnelly observa que esta é uma única frase Paulina encontrada em sua carta, mas não uma frase que Lucas
tende a usar. Isso mostra o detalhe e a autenticidade do livro de Atos.
30
Paulo refere-se a este evento em 2 Corintios 11:33, dizendo que ele foi contrabandeado para fora de uma janela
para evitar ser capturado.
50

primeira investigação histórica feita por alguém antes de se escrever um livro. Isso indica que
Paulo estava buscando informações históricas adicionais sobre a vida e o Ministério de Jesus.
Paulo pregava com audácia em Jerusalém. Quando os judeus helenistas tentaram
matá-lo, os discípulos o levaram para Cesaréia e depois para Tarso (9:30). E aí o relato de
Lucas sobre Paulo termina, até quando Barnabé vai novamente procurar Paulo para lhe pedir
ajuda com o trabalho em Antioquia (11:22ss). Bruce sugere que esse período durou dez anos,
e Paulo faz referencias a isso em Gálatas 1:22, 23.

3. Pedro (Atos 9:32-12:25)

Lucas então, passou a se concentrar em Pedro e na propagação da Igreja em


Jerusalém, Judéia e Samaria. Lucas registrou três eventos principais: 1- As obras poderosas de
Pedro em Samaria (9:32); 2- Pedro e Cornélio (10:1-11:18) e 3- A prisão e a fuga de Pedro
(12:1-25).31

3.1 As poderosas obras de Pedro (Atos 9:32-43)


Lucas relatou que o sacerdócio de Pedro se estendeu até a cidade de Lida e Jope.
Pedro curou Enéias, um homem acamado há oito anos. Ele também curou uma mulher crente
chamada Dorcas. Esses dois milagres levaram muitos a acreditar no evangelho. Em Atos 9:35-
42, pode-se ler: "Todos os moradores de Lida e Sarona o viram, e eles se converteram ao
Senhor... Ele se tornou conhecido em toda Jope, e muitos acreditaram no Senhor. E ficou em
Jope por muitos dias com um certo Simão, o curtidor".
Lucas relatou também que Pedro exerceu seu poderoso ministério nas regiões de
Samaria e Cesaréia, assim como ele fez em Jerusalém. Veremos mais tarde que Paulo exerceu
o mesmo tipo de sacerdócio para os Gentios.

3.2. A interação de Pedro com Cornélio


A conversão na casa de Cornélio representa um passo importante para o progresso do
evangelho aos gentios. Até este momento, o evangelho tinha sido pregado aos Judeus e aos
prosélitos, e a extensão até Samaria era considerada como as "ovelhas perdidas de Israel" e o
Eunuco Etíope era um prosélito. Cornélio não era nem judeu nem prosélito. Era um gentio
temente a Deus. Esse fato representou uma etapa importante na pregação fora da Igreja e é

31
Esta seção em Lucas também inclui a fundação da Igreja em Antioquia, mas veremos sobre isso na próxima
lição.
51

necessário observarmos todo o contexto do momento para se ter um melhor entendimento de


tudo.
A vida judaica era centrada em uma lei e em um templo, localizada em um único
lugar - Jerusalém. A lei e o templo eram a base da vida social e religiosa, o que levou ao
isolamento nacional. Judeus e gentios interagiam nos negócios, mas em outras relações
sociais, como nas questões relativas à comida eles estavam separados. Além disso, algumas
leis sociais mantinham as famílias isoladas e separadas. Johnson diz: "Isso era como uma
fronteira separando a fidelidade dos crentes a Deus e a rebelião dos incrédulos contra Deus.
Para ser um Israelita era preciso estar em aliança com o Deus; e assim para ser um não-
israelita era preciso estar entre os inimigos de Deus" (122). Os judeus viviam nas áreas dos
gentios, porém eram socialmente divididos. Essa divisão se dava a partir do preconceito que
os judeus tinham em relação aos gentios. Era como se existisse uma parede separando os
judeus dos gentios, nos aspectos religiosos e sociais (EF 2:14). A extensão dessa divisão era
evidente, tendo em vista: a resposta de Pedro ao Senhor ("ele não comeria nenhuma coisa que
fosse impura"). Essas foram as palavras de Pedro a Cornélio quando ele afirmou que era ilegal
a um homem judeu comer com os gentios (10:28). Do mesmo modo, para horror dos judeus
cristãos, que vieram a Pedro e o acusaram de comer com os gentios (11:3). Foi com base
nesse princípio, que Pedro "retirou-se entre os gentios, apartando-se deles, quando os judeus
de Jerusalém chegaram".(Gálatas 2:11-16).
Pedro foi capaz de superar este preconceito, somente quando percebeu a existência
da ação direta de Deus na conversão de Cornélio. Deus preparou Pedro através de duas visões.
E logo após essas duas visões, dois homens chegaram. Cornélio, conforme a instrução de um
anjo, enviou os homens para encontrar Pedro. Enquanto a visão apontava para a comida,
Pedro entendeu que o princípio também se aplicava aos homens (10:28). E mais uma vez,
somente através destas ações diretas de Deus, Pedro conseguiu superar finalmente, a sua
relutância e entender que Deus havia conduzido as pessoas.
Pedro pregou e enquanto estava pregando, o Espírito Santo desceu sobre os gentios
(10:44). Somos informados que eles falaram em diferentes línguas, glorificando a Deus.
Muitos judeus que estavam juntos com Pedro ficaram admirados. Pedro ordenou que os
gentios fossem batizados em nome de do Senhor, já que haviam recebido o Espírito Santo, do
mesmo modo que eles (judeus).
Lucas salienta os seguintes eventos para indicar que:
1- Deus estava levando o evangelho para os Gentios;
2 - Os Gentios não deveriam ser considerados impuros;
52

3 - As leis relacionadas à comida e ao cerimonial destinadas a separar Israel dos


Gentios já não estavam mais em vigor;
4 - Essa verdadeira limpeza foi interna e forjada pelo Espírito;
5 - Qualquer gentio que tivesse a crença em Deus teria que ser batizado em nome de
Cristo;
6 - Isso significava que os gentios juntamente com os judeus estavam em plena e
igual comunhão com Deus e com os outros. Qualquer coisa que separasse os judeus dos
Gentios deveria ser rejeitada. Agora, através da graça, judeus e gentios haviam sido salvos,
viviam e estavam associados a Deus e uns aos outros. Mais tarde, Pedro contou este incidente
para o Conselho em Jerusalém, e declarou que: "Nós acreditamos que através da graça do
Senhor Jesus Cristo nós seremos salvos da mesma maneira que eles" (15:11).

3.3 A morte de Tiago e a prisão de Pedro


Lucas começa o relato da sua própria história, falando sobre o Rei Herodes. O Rei
Herodes era neto de Herodes, o grande. Os romanos fizeram dele um rei. Não era popular,
mas como desejava ganhar crédito com os judeus, atacou a Igreja. Ele primeiro atacou Tiago
(James), o irmão de João (9:2). Depois de perceber que isso agradou aos judeus (não está
claro porque motivo isso agradou os judeus), ele prendeu Pedro, com a intenção de matá-lo
após a Páscoa.
Pedro foi libertado da prisão na noite anterior ao dia que seria executado. Lucas
salienta a natureza milagrosa da sua libertação. Embora, estivesse sendo vigiado por dois
guardas, Pedro conseguiu escapar, passando por mais de dois guardas na porta, e alcançando
depois o portão principal da prisão, ele fugiu. Milagrosamente, um anjo ajudou Pedro, que
desapareceu ao alcançar a rua. Lucas comenta que a razão para a libertação de Pedro foi uma
fervorosa oração feita pela Igreja (12:5). Apesar da oração ter sido fervorosa, não foi perfeita,
já que os apóstolos não acreditavam que Pedro havia escapado (12:15). Pedro então, foi
encontrar Maria, a mãe de João, cujo sobrenome era Marcos. Esse João Marcos era o mesmo
que foi mencionado, mais tarde junto a Barnabé e pelas epístolas de Paulo. Pedro, então,
enviou um relatório a Tiago e desapareceu.
A história mostra que a natureza da vida cristã em Jerusalém havia terminado, em
particular aquela, que no início, os apóstolos haviam adquirido da população. Eles agora
viviam com medo. Embora a Igreja já estivesse espalhada, ainda foi possível para os
apóstolos permanecerem em Jerusalém, até o momento que sentissem a necessidade de se
mudar. A igreja de Jerusalém ainda era o alicerce do cristianismo, mas agora, era uma igreja
53

em constante ameaça e perseguida. Por alguma razão, Tiago, o irmão de Jesus, parecia ser
uma exceção a esse fato.

4. Tiago, o irmão de Jesus e a Igreja de Jerusalém

Lucas escreveu que, quando Pedro ficou fora da prisão, ele enviou uma mensagem
para Tiago. Existem duas mensagens importantes para Tiago em Atos. Havia dois discípulos:
Tiago, o irmão de João, e Tiago, o irmão de Jesus. Tiago, irmão de João, foi morto em Atos
12:2. Em Atos 12:17, Tiago, o irmão de Jesus é mencionado.
Tiago era o irmão do Senhor Jesus. Ele viu Jesus depois da ressurreição (1 Coríntio
15:7). Paulo se encontrou com ele em sua primeira viagem a Jerusalém (Gálatas 1:19) e
chamou-lhe de um dos pilares da Igreja (Gálatas 2:9). Curiosamente, foi Tiago, e não Pedro,
que se tornou o líder da Igreja em Jerusalém. No Concílio de Jerusalém era Tiago quem
apresentava mais argumentos e sabia concluir as discussões (15:13ss). Quando Paulo voltou
para Jerusalém após a sua terceira viagem missionária, ele foi ver Tiago (21:18). Tiago
parecia ter mantido um bom relacionamento com os judeus em Jerusalém. Nas notas de Bruce
(239), vemos que ele continuou no templo e orou pela cidade regularmente. E acabou sendo
morto, apedrejado pelo sumo sacerdote Ananias II em 62 d.C.

CONCLUSÃO

Nesta lição vimos que a perseguição da Igreja provocou uma poderosa expansão da
Igreja de Jerusalém para a Judéia e Samaria. Os sinais e os prodígios acontecidos em
Jerusalém deram testemunho do evangelho, e assim estes mesmos sinais e maravilhas
acompanharam o Evangelho pelas viagens para Judéia e Samaria, através do Ministério de
Filipe, e principalmente pelo de Pedro.

RESUMO

A perseguição da Igreja conduziu a uma forte expansão. Quando Felipe e os outros


fugiram, eles compartilharam do evangelho. Essa expansão conduziu muitos fiéis à salvação.
O evangelho se espalhou por Samaria. No caso do Etíope Eunuco, Lucas salientou que o
54

evangelho trouxe o surgimento de uma nova ordem. Outro passo importante ocorrido foi a
conversão de Paulo e a sua incumbência para ser um apóstolo para os Gentios. Pedro
continuou o testemunho da Igreja, expandindo o evangelho para Cesaréia. A conversão de
Cornélio representou o primeiro temente a Deus a ser convertido. Ele não precisou se tornar
um judeu antes, mas foi salvo somente pela fé.

LIÇÃO 4. Questões:

1. Por que o Apóstolo teve que colocar as mãos sobre os samaritanos para que eles
recebessem o espírito?
2. Cite duas lições da história da conversão do Eunuco Etíope.
3. Quais foram as palavras ditas por Jesus a Paulo na estrada de Damasco?
4. O que Bruce quis dizer quando mencionou que a teologia de Paulo foi reorganizada?
5. Como a experiência de Paulo está relacionada com seu desenvolvimento teológico?
6. O que Donnelly disse que Paulo estava fazendo por 15 dias em Jerusalém?
55

7. "Os anos perdidos" de Paulo se referem a qual período?


8. Por que os Judeus não comiam com os Gentios?
9. O que aconteceu na casa de Cornélio?
10. Qual a conclusão de Pedro em Atos 15, sobre a experiência de Cornélio?
56

LIÇÃO 5. A MISSÃO DE PAULO NA GALÁCIA (PRIMEIRA VIAGEM


MISSIONÁRIA)

Nesta lição vamos ver a segunda metade do livro de Atos. A idéia principal dessas
seções será abordar as viagens missionárias de Paulo, iniciadas primeiramente a partir da
poderosa missão cosmopolita da Igreja em Antioquia. Paulo e Barnabé foram escolhidos e
encarregados pela Igreja. Eles viajaram através de Chipre e Galácia, fundando Igrejas e, em
seguida, voltaram para Antioquia. Logo após seu retorno, os judeus cristãos (da seita dos
fariseus) vieram de Jerusalém e disseram que nas novas igrejas, os fiéis teriam que ser
circuncidados. Paulo e a Igreja em Antioquia contestaram a idéia e, assim, Barnabé e Paulo
foram enviados ao Conselho de Jerusalém. O Conselho rejeitou os judaizantes e declarou,
claramente que os gentios somente deveriam ser aceitos e totalmente integrados à Igreja
através da fé.
A lição possui três partes: em primeiro lugar, vamos falar sobre a Igreja em
Antioquia, em segundo lugar, vamos considerar a viagem missionária para Galácia, e em
terceiro lugar, vamos falar sobre o desafio dos judeus e do Conselho de Jerusalém.

1. A Igreja em Antioquia

A cidade romana de Antioquia situa-se na Síria. Foi a terceira maior cidade do


Mundo Romano (Pollock 62). Era um lugar de comércio, cultura e aprendizagem. Foi uma
cidade cosmopolita, um lugar onde o mundo oriental conheceu o mundo ocidental.
A Igreja de Antioquia ocupava um lugar único na história da Igreja. Foi a primeira a
ter uma missão ativa baseada na Igreja. A missão anterior e a expansão vinda de Jerusalém
foram impostas à Igreja primitiva pela perseguição de Estevão, mas em Antioquia, a missão
da Igreja foi um ato deliberado. Antioquia tornou-se o novo centro para a expansão da Igreja.
Além disso, os discípulos pela primeira vez foram chamados de cristãos em Antioquia
(11:26).

1.1. A história da Igreja


Antioquia tinha uma forte comunidade judaica. Muitos cristãos espalhados pela
perseguição de Jerusalém acabaram indo para lá. Houve também um número de judeus de
Chipre, que começaram a falar a palavra aos outros judeus, "Hebraístas". Alguns desses
judeus de Chipre e de Cirene levaram o evangelho para os Helenistas (11:19-20). Estes eram
57

os judeus que cultuavam a Deus usando a língua grega e os costumes, ao invés de lerem as
Escrituras Hebraicas e falarem Aramaico (6:1-7). A Igreja então, se preocupou em aumentar a
conversão dos gentios (Bruce 227). A Igreja em Jerusalém ouviu falar desse trabalho e enviou
Barnabé como seu representante (11:22).
A nova Igreja, então, tornou-se cosmopolita. Havia uma mistura de Hebraístas,
Helenistas, homens de Jerusalém, Barnabé, Ágabo, o profeta e outros de Chipre e Cirene. Pela
segunda vez, Barnabé, que era de Chipre procurou por Paulo, o encontrou em Tarso, e trouxe-
o para Antioquia. Eles ministraram em Antioquia por um ano (11:26) e foram nomeados pela
Igreja como representantes para socorrer os fiéis da grande fome que haveria em Jerusalém
(11:26-30, 12:25).

1.2 A característica da Igreja


Cada Igreja tinha uma característica. Donnelly argumenta que a Igreja de Antioquia
tinha quatro características particulares, que a tornavam adequada para a missão: ela era
cosmopolita, caridosa, crescente e talentosa. Cada aspecto contribuiu para a missionária visão
de Paulo.

1.2.1 Uma igreja cosmopolita


Antioquia era a capital da província da Síria. Foi uma grande Igreja e foi fundada por
Gregos de Chipre. A Igreja era uma mistura de gregos, cipriotas e judeus. A natureza
cosmopolita da Igreja significava que estava aberta às idéias estrangeiras, a missão dos
gentios.

1.2.2. Uma igreja em crescimento


A Igreja estava crescendo. Em Atos 11:21 nos dizem: "a mão do senhor estava com
eles, e um grande número de pessoas acreditaram e viraram para o Senhor". O Senhor
abençoava a todos pelos seus esforços e isso o levou a usá-los em esforços maiores em todo o
mundo. A missão era um produto natural, um fluxo natural de crescimento da Igreja, e não
algo que acontecia de maneira forçada dentro da Igreja.

1.2.3. Uma igreja caridosa e compassiva


Para aqueles que necessitavam, sempre uma ajuda era fornecida. Em Atos 11:29-31
Ágabo profetizou que haveria uma fome. A Igreja enviou ajuda para Jerusalém. Barnabé e
Paulo lideram essa viagem (Atos 11:30).
58

1.2.4. Homens talentosos


Havia muitos homens talentosos na Igreja. Profetas e professores foram mencionados
(13:1). É importante notar que Barnabé foi mencionado como um profeta antes de Paulo, o
qual foi mencionado por último.32 E como havia um bom número de talentosos, dotados e
habilidosos homens, eles poderiam ser enviados ao exterior sem causar um enfraquecimento
da igreja. Em Atos 13:1 nos dizem: "Agora havia na Igreja de Antioquia profetas e
professores; Barnabé, Simão (ou Simeão), que foi chamado de Níger (Negro), Lúcio, cireneu,
Manaém, um membro de Tribunal de Herodes, o tetrarca, e Saulo". 33

1.3. A missão da Igreja, o Espírito e o chamado de Cristo: Barnabé e Saulo


enviados em missão
Sob a orientação do Espírito, a Igreja de Antioquia foi a primeira a enviar um
missionário: "Enquanto eles estavam adorando ao Senhor e jejuando, o Espírito Santo Disse:
Separem-me Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado" (Atos 13:2). A Igreja, o
chamado apostólico de Deus (9:15) e o Espírito trabalharam todos juntos. O Espírito
trabalhou na e através da Igreja para realizar seu trabalho. No entanto, vemos que nem o
Apóstolo Paulo, nem o Espírito Santo agiram de maneira independente (13:1). O mesmo
ocorreu com o chamado de Timoteo para o Ministério em Atos 16:1, 1Timóteo 4:14 e 2
Timóteo 1:14. A autoridade para o exercício da missão vem de ambos: do Espírito Santo e da
Igreja.
O Espírito Santo escolhia os homens que achava serem adequados para a missão.
Tanto Paulo como Barnabé foram escolhidos e eram líderes experientes da Igreja (13:1). Eles
também eram de origem grega e judaica. Paulo era um cidadão romano de Tarso, educado
dentro do pensamento grego e judaico. Paulo já possuía experiência missionária na Arábia e
Tarso (9:20-25 e 11:1ss). Barnabé era um judeu, de Chipre, com experiência em Jerusalém e
no mundo grego. Esses dois homens foram considerados apropriados para o trabalho que
deveriam fazer. Deus preparava e escolhia os candidatos adequados e com a habilidade
necessária para fazer o trabalho em seu nome. Se o candidato não tivesse dom próprio, era
improvável que ele fosse chamado para esse tipo de missão.

32
Ver Conybeare 334 para uma ampla discussão sobre dons espirituais no Novo Testamento.
33
Pollock, página 64, argumenta que Simão (Simeão), era o Simão de Cirene, pai de Alexandre e Rufo, o mesmo
que um dos romanos selecionou para carregar a Cruz de Jesus. Seu filho foi para Roma e Paulo menciona a sua
mãe e ele. Isso nos dá alguma indicação sobre a vida próxima da família em Antioquia.
59

2. A primeira viagem missionária

A primeira viagem missionária começou com a viagem para Chipre. Depois, a


missão mudou-se para a Galácia e ficava indo e voltando para Antioquia. Paulo, então
percorreu seus passos. A sua primeira viagem missionária, embora essencial, foi a mais curta
das três. Com o passar do tempo, Deus guiou Paulo para frente e para o exterior na sua
estratégia missionária. Paulo prosseguiu estabelecendo estradas e rotas de viagem, e se
concentrando nas cidades. Como Deus foi abrindo-lhe portas, ele fundou Igrejas. Ele instruía
as Igrejas da melhor maneira que podia e, em seguida, como em muitos casos, ele era
obrigado a fugir por causa da perseguição. Paulo, depois de um tempo voltava às Igrejas, a
fim de fortalecê-las.
O grupo era formado por Barnabé, Paulo e João Marcos. João Marcos, que talvez
tenha escrito com base nos relatos de Pedro (O Evangelho de Marcos), era primo de Barnabé
e foi testemunha dos eventos em Jerusalém. Muitos pensam que Marcos foi o único que
seguiu Jesus no Jardim do Getsemani e que fugiu nu.

2.1. Chipre

2.1.1. A ligação entre Antioquia e Chipre


A primeira viagem de missão começou na ilha de Chipre. Todavia, não se sabe, por
que Chipre foi escolhida, mas, sabe-se que existia uma estreita relação entre Antioquia e
Chipre (Barnabé e muitos outros eram de Chipre) e assim, Chipre acabou sendo a primeira
parada. Eles provavelmente sentiram que tinham uma dívida para com a sua pátria.

2.1.2. O trabalho e a missão em Chipre


O grupo desembarcou em Salamina, no leste de Chipre e trabalhou em Pafos, que
ficava na direção oeste. Lá eles começaram a pregar para os judeus e nas sinagogas.34
Paulo sempre se dirigia primeiro para os judeus e depois para os gentios (9:20; 13:5,
14, 46; 14:1). A reunião da sinagoga começou com um convite para adoração e oração. Em
seguida, houve uma leitura feita pelos Pentateuco e pelos profetas, seguido pelo discurso
proferido por um capacitado membro da Congregação, o governante da sinagoga controlava
quem faria o discurso. A Congregação era uma mistura de judeus, prosélitos e os tementes a
Deus (ver Lição 1, 3.1.3) (13:16) (Bruce 252, 264). Judeus e prosélitos eram respeitados, mas
34
O plural indica muitos judeus e sinagogas.
60

em regra, os tementes a Deus eram tolerados, mas, na verdade, não eram reconhecidos.
Qualquer rabino (Paulo era um rabino) tinha o direito de falar nessas reuniões. Paulo usava
esse direito como um ponto de contato em suas missões.
No norte, eles encontraram oposição através de Elimas Bar-Jesus, que tentou
bloquear a conversão de Sergio Paulo, um importante aristocrata romano e procunsul.35 Esta é
primeira vez que vemos Paulo usando seu poder apostólico e também é o primeiro exemplo
do evangelho penetrando no coração do mundo romano.
A conversão de Paulo mostrou o poder de Deus e o sucesso imediato do evangelho
nas mais altas esferas da sociedade romana. Isso foi um grande incentivo para eles. Se Deus
conseguiu converter um homem como Paulo, ele pode converter qualquer um.36

2.1.3 Saulo torna-se Paulo, o líder da missão


A vinculação de Chipre com Bar-Jesus (um falso profeta) transformou Paulo em um
pré-eminente missionário. Lucas começou a missão dizendo que Barnabé e Saulo deveriam
ser trazidos de Antioquia. E Lucas manteve esta ordem quando eles chegaram em Pafos,
Chipre. (13:2, 7). A partir desse ponto Lucas falou sobre Paulo e seu grupo: agora Paulo e
seus companheiros partiram de Pafos e chegaram a Perga, na Panfília (13:13). Isso foi
importante por duas razões: Primeiro porque Paulo emergiu como o líder do grupo. Isso foi
um chamado de Paulo como apóstolo e assim era natural que ele tivesse primazia. Ele
também deve ter refletido sobre sua força e capacidade de liderança. Teve um papel
importante no incidente com Elimas, o Feiticeiro (13:6-12). Observamos também que Lucas
mudou o nome de Saulo para Paulo (ver 13:9). Saulo era seu nome judeu, mas como um
cidadão romano, Paulo teria tido três nomes. Donnelly observa que Paulo era seu sobrenome
Romano. Saulo, o judeu tornou-se Paulo, o missionário em um mundo romano não judeu. Isso
era semelhante a Abram, tornando-se Abraão durante o seu grande trabalho e Simão tornando-
se Pedro e tendo Cristo construindo a Igreja a partir da sua confissão. Desde esse momento
em diante, Lucas e Pedro passaram a chamar Saulo, de Paulo e, além disso, Paulo sempre
chamava a si mesmo de Paulo em todas as suas epístolas.

35
Pollock observa que Sergio Paulo foi curador do Rio Tibre. Foi um procônsul e se reportava ao Senado. Foi
um cientista notável. Fontes seculares nos dizem que ele publicou livros importantes sobre a natureza. Ele é
citado pelo famoso escritor clássico, Plínio, o velho, na História Natural.
36
Conybeare observa que a cegueira milagrosa, assim como as ações de Pedro com Ananias e Safira, são
exceções entre os milagres usuais no Novo Testamento. No Antigo Testamento, os milagres eram muitas vezes
sinais de julgamento, mas no Novo Testamento eram geralmente obras de misericórdia. Em ambos esses casos
excepcionais, o Evangelho foi ameaçado por mentirosos, hipócritas e impostores, que tentaram perverter,
distorcer e enganar. Deus ordenou estes eventos (20).
61

2.2. Antioquia da Pisídia: Primeiro para os Judeus, e depois para os Gentios.

2.2.1. Pregação no sul da Galácia


Esta pregação foi um grande avanço. Podemos supor que o evangelho já havia sido
pregado em Chipre devido às relações entre Chipre e a Igreja de Antioquia, porém o
evangelho ainda não tinha sido pregado na Ásia. E esta foi uma missão perigosa na fronteira,
uma área que não estava totalmente sob o controle romano. Eles teriam que caminhar desde o
litoral até as montanhas por estradas bem difíceis (Conybeare 129, Pollock, 76). Marcos os
deixou na costa e voltou para Jerusalém. Nesta fase Lucas não nos diz o porquê.

2.2.2. Antioquia da Pisídia


Eles chegaram à cidade de Antioquia da Pisídia, uma cidade de fronteira romana (um
posto militar) que foi estabelecida para impedir ataques de tribos assaltantes da área. Quando
Paulo chegou lá, percebeu que a cidade tinha uma forte presença romana.

2.2.3. A evangelização Judaica


Paulo começou por evangelizar os judeus. Embora ele fosse um missionário para os
Gentios, ele trouxe sua mensagem para os judeus em primeiro lugar e, em seguida, para os
gentios (veja Romanos 1:16, 9:1-5). O evento mostra o método de evangelização típico de
Paulo. Ele começou falando aos judeus primeiro. Enquanto alguns o aceitaram, a maioria
rejeitou sua palavra e o perseguiu. Esse padrão se repetiu ao longo do trabalho missionário de
Paulo.
Lucas registrou o sermão de Paulo com grandes detalhes (13:16-41). O sermão
mostra a abordagem de Paulo aos judeus. E pelo fato de ele estar pregando para aqueles que
conheciam as Escrituras, Paulo baseou seus argumentos a partir dessas Escrituras,
particularmente, daquelas escrituras que falavam da vinda de Cristo. O sermão mostra
também que quando Paulo pregou aos judeus, ressaltando que as promessas do Antigo
Testamento foram cumpridas em Cristo.37 O sermão de Paulo foi adaptado para o público
judeu e foi considerado um modelo para a evangelização judaica.
O sermão divide-se em três partes. Paulo começou falando sobre as ações históricas
do relacionamento de Deus com os judeus (13:17-22). Em seguida, ressaltou que Cristo
representa o cumprimento do Velho Testamento (13:23-37) e finalmente, desafiou os ouvintes
37
O sermão na Pisídia foi semelhante ao sermão de Pedro no Dia de Pentecostes. Se compararmos os sermões de
Pedro, Estevão e Paulo, as semelhanças são impressionantes, indicando que essa era a maneira comum para a
pregação do evangelho aos judeus, tanto por Paulo ou por qualquer um dos apóstolos.
62

para aceitar ou rejeitar a Mensagem. O principal ponto da mensagem de Paulo era entender
que Deus (a partir da família de Davi) levantou o "Salvador Messiânico", e que seu nome era
Jesus. Quando pregou para os judeus, Paulo terminou o sermão com uma aplicação direta. Ele
ofereceu o perdão de Cristo, o qual não estava disponível por meio da Lei de Moisés (38, 39).
Salientou também que este evangelho, agora, estava sendo mostrado para as nações como
havia sido profetizado. O período de exclusivismo judaico estava para acabar. E ele conclui
avisando aos ouvintes que eles não deveriam rejeitar o evangelho (13:40, 41).

2.2.4 A rejeição e a hostilidade dos judeus


Apesar de poucas pessoas acreditarem, a maioria dos judeus rejeitou a Palavra de
Deus. Parece que Paulo permaneceu em Antioquia por alguns meses (Atos 13:49). Quando a
rejeição virou perseguição e expulsão da região, Paulo sacudiu "a poeira dos seus pés"
(13:51). Esse acontecimento foi bem significativo. Paulo não estava apenas irritado, o fato
dele "sacudir a poeira dos seus pés", representava um sinal de maldição, onde Deus faria seu
julgamento e eles já não seriam mais o povo da Aliança de Deus. Eles foram excomungados.
Até o pó sobre seus pés foi amaldiçoado e rejeitado por Deus (Lucas 9:5, 10:11, Atos 18:6).
Ao fazer isso, Paulo deixou claro para os judeus incrédulos que eles tinham sido rejeitados.
Esse evento foi ainda mais ofensivo, pois vinha de um missionário cristão. As ações de Paulo
estavam dizendo que Deus já não era mais o Deus dos judeus; Ele era agora, o Deus dos
cristãos e os judeus seriam expulsos, a menos que eles o seguissem.

2.2.5 Voltando para os Gentios


Quando os judeus rejeitaram o evangelho, Paulo se voltou para os Gentios. Paulo
afirmou: "Foi necessário que a palavra de Deus fosse pregada a vos primeiro; mas visto que
a rejeitais, e não vos julgais dignos da vida eterna, eis que nos voltamos para os gentios.
Porque assim o Senhor nos ordenou: Eu ajustei vos como uma luz para os gentios, a fim de
que tu sejas para salvação até os confins da terra. E os Gentios, ouvindo isso, alegraram-se e
glorificavam a palavra do Senhor. E creram todos quantos estavam ordenados para a vida
eterna (Atos 13:46-48)".
Conybeare (144) comenta sobre este versículo, dizendo que o Concilio de Deus não
estava frustrado com a incredulidade de seu povo escolhido. Uma nova "Israel", uma nova
"eleição" de judeus e gentios sucederiam a anterior. Quando Paulo foi forçado a sair Lucas
deixou claro que os novos discípulos não estavam sozinhos. Lucas registrou que eles estavam
"cheios de alegria e com o Espírito Santo".
63

2.2.6 A verdadeira base do sucesso


Paulo usou esse evento para mostrar a verdadeira base do sucesso do evangelho para
todos os escolhidos que acreditavam na vida eterna. "E os Gentios, ouvindo isso, alegraram-
se e glorificavam a palavra do Senhor. E creram todos quantos estavam ordenados para a
vida eterna. E a palavra do senhor se divulgava ao longo de toda a província" (Atos 13:48,
49). E isso era para todos aqueles que acreditaram, pois tinham sido escolhidos para a vida
eterna. Se o Evangelho foi rejeitado, a rejeição foi feita por aqueles que não tinham sido
nomeados para a vida eterna".

2.3 Icônio
Paulo viajou 90 milhas pelo caminho Agostiniano, uma famosa estrada romana, até
Icônio. A cidade foi construída em cima de um cruzamento rodoviário estratégico. Embora
sua pregação tivesse tido melhores resultados na região, mais uma vez os judeus promoveram
uma oposição a Paulo. Lucas resumiu seu ministério assim:
"E aconteceu em Icônio, que eles foram juntos para a sinagoga dos Judeus e
falaram de tal modo que uma grande multidão acreditou, não só de judeus, mas de gregos.
Mas os judeus incrédulos incitaram e irritaram os gentios, envenenando suas mentes contra
os irmãos. E, eles ficaram lá muito tempo, falando ousadamente acerca do Senhor, o qual
dava testemunho à palavra da sua graça, permitindo que por suas mãos se fizessem sinais e
prodígios. Mas a multidão da cidade ficou dividida: uns eram pelos judeus e outros pelos
Apóstolos. E havendo uma tentativa violenta tanto dos judeus como dos gentios, com os seus
governantes, para os insultarem e apedrejarem" (Atos 14:1-7).
Os eventos de Antioquia foram repetidos em Icônio (Atos 14:1-3) e o evangelho foi
pregado em quase todos os outros lugares. "Judeus locais, quase sempre, como uma
associação recusava o evangelho, mas em contrapartida, o evangelho era proclamado de
comum acordo pelos gentios" (Bruce 266). Paulo compreendeu que este era o padrão que
Deus havia imposto a Israel e ao seu ministério. Em Atos 14:3 mostra a resposta de Paulo à
rejeição judaica e à hostilidade. E Lucas relata:
"E, eles ficaram lá muito tempo, falando ousadamente acerca do Senhor, o qual dava
testemunho à palavra da sua graça, permitindo que por suas mãos se fizessem sinais e
prodígio". 38
38
Pollock, pág. 91, assinala que os milagres de Paulo era a continuação da obra de Cristo quando Ele estava na
terra. Para mais detalhes de como o Senhor estava dando testemunho através de Paulo e do uso dos milagres em
Atos. (ver lição 6,2.5).
64

Em Atos 14:5 Lucas indica que os gregos e os judeus fizeram uma tentativa em suas
vidas; e por isso o Apóstolo continuou em frente.

2.4. Listra

2.4.1 Evangelização de um grupo sem origem judaica


Listra foi importante porque Paulo e Barnabé evangelizaram um grupo que possuía
uma pequena origem judaica (não há menção de uma sinagoga). O grupo parecia ser um
subgrupo da cultura grega. (Lucas comentou que os gentios de lá não falavam grego como
primeira língua). Isso mostrou a existência de um ministério intercultural forte: Paulo estava
alcançando a linguística e a cultura de um grupo, no qual havia entre eles um outro grupo sem
qualquer conhecimento bíblico (Bruce 11). Timóteo chegou de Listra e pode ter sido
convertido nesta visita (Atos 16:1).39
Paulo curou um homem em Listra, e isso imediatamente, foi mal interpretado ou
reinterpretado por meio da estrutura da lei popular local. Eles atribuíram aos deuses locais a
realização das ações de Paulo, e não ao poder do evangelho. Em Listra havia uma lenda que
dizia que Zeus e Hermes tinham vindo à cidade e estavam disfarçados de viajantes. Eles
foram rejeitados até que um casal de camponeses os alimentou e os abrigou. E os deuses
então, se mostraram, transformando os viajantes em rãs e a casa do casal de camponeses em
um Templo Dourado (Pollock 93). E isso foi atribuído aos missionários, chamando Barnabé
de "Zeus" e Paulo de "Hermes". Os cidadãos de Listra assimilaram os sinais do evangelho e a
mensagem, adaptando-os à sua própria cultura. Este evento mostra a existência de um perigo
real e da dificuldade de um ministério intercultural. E isso era um aviso para todos os
missionários, particularmente, para aqueles que iam pregar em áreas totalmente não-
evangelizadas. Paulo percebeu o que aconteceu e fez as correções necessárias. Lucas registrou
que os ensinamentos de Paulo em Atos 14:14-18, mostra como ele descreveu para os
Listrianos a verdadeira natureza do Deus criador. Esse sermão de Paulo foi semelhante ao
ensinamento que ele fez antes da audiência em Atenas (Atos 17:22-34). Estas duas passagens
devem ser estudadas em conjunto para se entender melhor o método de evangelização de
Paulo aos Gentios.

39
Pollock afirma que Timóteo acompanhou Paulo de volta, de Antioquia até a sua cidade natal, Listra. Ele se
baseia na ordem das cidades como foi registrado em 2 Timóteo 3:11, que diz: "Tu, porém, tens seguido minha
doutrina, modo de viver, intenção, fé, longanimidade, amor, paciência, perseguições e aflições que me
aconteceram em Antioquia, em Icônio e em Listra; quantas perseguições sofri, e o Senhor de todas me livrou".
65

2.4.2. A oposição judaica se intensifica


Os judeus de Antioquia e Icônio não ficaram satisfeitos de ter tido Paulo expulso de
suas áreas. Eles continuaram a perseguição contra Paulo, e quando o encontram em Listra,
eles incitaram a multidão local para que o apedrejassem. Observamos aqui a intensidade da
oposição dos judeus, o ódio judaico era tão extremo que eles desejavam a morte de Paulo. E a
inconstância dos Listrianos fez com que a popularidade de Paulo desaparecesse. Os opositores
deixaram Paulo quase morto. Mas, ele levantou-se no dia seguinte e partiu para Derbe.
Precisamos reconhecer que a missão de Paulo foi muito difícil e sofrida. Ele sofreu
terrivelmente, até o momento da sua morte (2 Cor.11:23-27). A missão de Paulo mostrou a
insensatez do Reino mesmo ele tendo sido revelado na própria vida de Cristo. Este pode ter
sido o período no qual Timoteo foi convertido.

2.5 O retorno para o fortalecimento dos irmãos


Ao final da sua missão na estrada, Paulo não regressou para sua casa (uma viagem
curta), em vez disso, Paulo retornou ao longo da estrada percorrida, visitando e fortalecendo
as igrejas. Isso demonstrou grande coragem pessoal. Ele tinha sido perseguido até a morte
nesta missão e ainda assim, ele optou por retornar.40 Após o fortalecimento das igrejas, Paulo
e Barnabé voltaram para Antioquia para fazer o relatório. Em Atos 14:26 nos diz: "E dali
navegaram para Antioquia, onde tinham sido encomendados à graça de Deus para a obra
que já haviam cumprido. E, quando chegaram e reuniram a Igreja, eles relataram todas as
grandes coisas que Deus fizera por eles, e como abrira a porta da fé aos gentios. E
permaneceram ali não pouco tempo com os discípulos".

3. A oposição à missão dos judeus cristãos

Antes do surgimento da oposição à Igreja Paulo não havia retornado durante um bom
tempo. Um grupo chamado de "Judaizantes" foi até Jerusalém. Eles ficaram horrorizados com
a frouxidão da igreja de Antioquia, os judeus comiam com fariseus. E Pedro estaria aí
incluído, Gálatas 2. O problema teria começado com a Irmandade, mas era mais profundo.
Eles ensinavam também que se você não fosse circuncidado e não mantivesse a Lei de
Moisés, você não poderia ser salvo (Atos 15:1).
Provavelmente, o argumento era de que Paulo teria falado a eles sobre o evangelho e
da fé em Cristo, porém eles não estavam seguindo a Deus completamente. E para seguir
40
Pollock, pág. 89, observa que os magistrados teriam mudado com a chegada do Ano Novo.
66

totalmente a Deus, eles precisariam ser circuncidados e seguir a lei. (General 3:1-5, 5:1-6).
Não está claro o que motivou estes homens. Mas, está claro que eles ficaram confusos quanto
à real natureza do evangelho.41
Os Judaizantes eram, provavelmente, do grupo dos fariseus que lemos em Atos 15:5
(Nota-se também que tendo chegado a Antioquia, eles também foram para Galácia). Paulo foi
obrigado a corrigir os ensinamentos deles em Antioquia (Gal. 2) e assim, escreveu a Epístola
aos Gálatas.42
O problema teológico pode ser colocado da seguinte forma: A fé foi suficiente para a
conversão dos gentios ou eles também precisariam ser circuncidados e manter a lei de
Moisés?

4. O Concílio de Jerusalém

O problema veio à tona em Antioquia. Em resposta, Paulo escreveu aos Gálatas e a


Igreja em Antioquia enviou Paulo e Barnabé para Jerusalém, o local da Igreja mãe, a fonte do
problema e o local de maior número de discípulos cristãos. O debate em Jerusalém definiu o
rumo de toda a Igreja.
Os anciãos e os apóstolos se reuniram para decidir a questão. O grupo de crentes
Fariseus abriu a discussão: "Mas alguns crentes que pertenciam ao grupo dos Fariseus
levantaram-se dizendo: É necessário circuncidá-los e pedir-lhes para manter a lei de Moisés
(Atos 15:5)". O debate continuou ainda, mas, em seguida, Lucas se concentrou nos três
principais discursos: o de Peter, o de Barnabé e Paulo e o de Tiago.
Pedro respondeu argumentando que o verdadeiro teste de aceitação era a aceitação de
Deus. Cornélio foi convertido e aceito por Deus diretamente, ele não precisava cumprir a lei.
Isso provou que Deus aceitou os gentios pelo derramamento do Espírito Santo sobre eles e
pela limpeza de seus corações, e tudo isso pela fé sozinha. Pedro estava discutindo, de modo
implícito que, uma vez que Deus havia aceitado os gentios sem a lei, os judeus cristãos
41
A questão é complexa. Os judeus tiveram muitas preocupações. Socialmente, a tomada do evangelho para os
Gentios era um novo foco e havia um medo de que se muitos gentios se juntassem à Igreja, isso poderia
transformar a Igreja de uma instituição judaica, aramaica, e centrada em Jerusalém para uma Igreja de Gentios
social e culturalmente, ressaltando a circuncisão e a lei. O perigo disso seria reduzido. Também existia um medo
de que através de uma minimização do papel da lei, a santidade na religião poderia ser ameaçada. Muitos dos
judeus de Jerusalém não pensariam sobre todas implicações teológicas. Isso levou a uma mente como a do
Apóstolo Paulo desse conta de esclarecer essas implicações. Podemos observar que estas questões são
semelhantes às que os judeus enfrentaram no discurso de Estêvão relativas à lei e ao templo. Os judeus
rejeitaram as reivindicações de Estêvão, mas agora os cristãos, judeus e gentios tinham que enfrentar a questão
dentro da Igreja.
4
42
Existem muitas datas para a carta de Paulo aos Gálatas, (ver anexo 1), mas a data inicial é a mais provável.
67

deveriam fazer o mesmo. Pedro então, desenvolveu um segundo argumento: ele salientou que
os judeus tinham estado sob o jugo da lei por um longo tempo e que isso não trouxe santidade.
Todos sabiam que a maioria dos israelitas havia rejeitado Cristo. E Pedro então, enfatizou que
a lei não conseguiu trazer benção.
Barnabé e Paulo passaram a falar. Donnelly observa o discernimento deles utilizado
neste momento. Barnabé era conhecido e tinha um lugar dominante na Igreja de Jerusalém,
enquanto que Paulo estava ainda sob suspeita. Eles falaram principalmente dos sinais e dos
prodígios de Deus para validar suas alegações.
Tiago, o irmão de Jesus, mais velho, falou por último e o seu argumento foi decisivo.
Tiago argumentou a partir do livro de Amós que a propagação do cristianismo e a inclusão
dos gentios representavam o cumprimento do judaísmo. Em Amós, Deus havia prometido
restaurar a quebrada Israel (como tinha feito no dia de Pentecostes) e que a partir de Israel o
evangelho se espalharia para toda a humanidade (15: 16,17). Tiago afirmou que a aceitação
dos gentios pela fé era o cumprimento da palavra de Deus para Davi, que lhe prometera
reconstruir sua casa que estava caída. Ele continuou a dizer que, à luz do que tinha acontecido
com Simão (usando o nome judeu de Pedro), não haveria necessidade de impor a lei para os
gentios que retornavam.

4.1 A decisão
O Conselho rejeitou a necessidade da circuncisão e do seguimento da lei para os
novos convertidos. Ficou decidido que os gentios poderiam ser incluídos na Igreja sem a
necessidade de se obedecer às leis e aos costumes judaicos. Para facilitar a irmandade, o
Concílio solicitou aos Gentios de se absterem das coisas que eram particularmente ofensivas
aos judeus e das questões que eram particulares dos gentios, tais como pecados, idolatria,
imortalidade, das carnes sufocadas (animais mortos por estrangulamento) e do sangue. A
decisão do Conselho de Jerusalém foi um grande passo à frente na missão da Igreja. A Igreja
estava agora livre para entrar em todo o mundo sem a interferência das exigências culturais
dos judeus. E assim, tanto os gentios como os judeus seriam vistos como iguais em Cristo na
Igreja.
Paulo e Barnabé, juntamente com os profetas Judas e Silas voltaram para Antioquia
para informar sobre as conclusões do Conselho.

CONCLUSÃO
68

A Igreja começou sua missão para os Gentios em Antioquia. A porta da fé se abriu


para eles através de Paulo e Barnabé. Eles evangelizaram a Galácia. O Conselho de Jerusalém
confirmou a missão sem fazer exigências adicionais aos gentios. Pediu somente que os
gentios respeitassem certas tradições judaicas para ajudar na irmandade.

RESUMO

A Igreja começou formalmente sua primeira missão na cidade de Antioquia. A igreja


sob a liderança do Espírito Santo enviou Paulo e Barnabé aos gentios. Paulo se tornou o líder
e começou a sua pregação primeiramente para os judeus e depois para os gregos. Foi bem
sucedido, porém sofreu uma extrema perseguição por parte dos judeus. Paulo e Barnabé
fundaram igrejas e depois voltaram para a Igreja inicial. A missão provocou uma perseguição
dentro da Igreja, mas Paulo resistiu a tudo isso. E para esclarecer a situação, a Igreja em
Antioquia enviou Paulo e Barnabé a Jerusalém. O conselho decidiu a favor deles e eles
voltaram para dar a notícia.

MÉTODO INDUTIVO: [Extrair informação do texto bíblico]


Textos de referencia. Como outros textos influenciam a nossa leitura do texto?
1.1 (etc.)

Explicação de informações importantes no texto:


-Palavras-chave e definições:
-Observações gramaticais: (estrutura das frases, leituras variantes)
-Figuras de linguagem: (comparações, associações, representações)
69

-O texto, explícita ou implicitamente, diz alguma coisa sobre Deus e sobre a salvação?
-Método de tradução utilizado:
-Há diferenças entre as versões da Bíblia? Quais são elas?
-Autoria humana. Como podemos saber?
-Em que ocasião o homem foi solicitado a escrever?
-Público original para leitura. Por que eles leriam o texto?
-Contexto geográfico:
-Contexto social e cultural:
-Contexto histórico:
-Contexto religioso:
-Em suas próprias palavras, o que o texto diz e qual o significado?
Comentários:

EXPLICAÇÃO EXPOSITIVA. Em ordem cronológica, identificar os principais ensinamentos


do texto em estudo.
1.
2.
3.
(outros)

CONSIDERAÇÕES LITERÁRIAS
-Gênero literário: (evangelho, história, leis, parábola, poesia, profecia, provérbio, etc).
-Como o texto está relacionado aos outros textos vizinhos?
-Como o texto se relaciona ao tema do capítulo e de qual livro provem?

MÉTODO ANALÍTICO. Qual é a tese principal, antítese, síntese e sincretismo do texto?

MÉTODO DEVOCIONAL DE ESTUDO. Como o texto ajuda a adorar Deus, a confessar os


pecados, dar graças a Ele e a servi-lo?
70

LIÇÃO 5. Questões:

1. Qual era o nome da primeira missão formal da igreja?


2. Cite quatro características da Igreja.
3. Explique a relação entre as missões, o Espírito Santo e a Igreja.
4. Como o sermão de Paulo, em Antioquia se relaciona com as pregações de Pedro e
Estevão?
5. Explique como e por quem Paulo foi perseguido.
6. Paulo faz visitas às igrejas estabelecidas: verdadeiro ou falso?
7. Quem eram os Judaizantes?
8. Qual foi o problema da missão aos Gentios?
9. Qual Concílio foi chamado para resolver o problema?
10. Qual foi a decisão tomada por esse Concílio?
71

LIÇÃO 6. MISSÃO DE PAULO NA MACEDÔNIA (A SEGUNDA VIAGEM


MISSIONÁRIA)

Esta lição aborda a segunda viagem missionária de Paulo de 49-52 a.D. Nesta missão
Paulo viajou mais além do que qualquer outra missão. Viajou pela Galácia, entrou na
Macedónia e na Grécia, na atual Europa. Ele evangelizou três províncias romanas. Como
veremos, a missão na Macedônia foi particularmente difícil. Ele somente conseguiu
permanecer por um curto período nas cidades por causa da perseguição, e assim foi forçado a
deixar a sua obra ainda incipiente na nova cidade. Lucas também nos relata de maneira
extensiva o Ministério de Paulo em Atenas e em seguida, fala sobre o de Corinto, cidade onde
Paulo escreveu a primeira e a segunda epistola aos Tessalonicenses.
A missão tem três partes. Vamos começar analisando alguns pontos distintivos da
missão de Paulo. Em seguida, enfatizaremos a evangelização na Macedônia e por último,
vamos considerar suas estadias prolongadas em Atenas e Corinto.

1. Paulo faz visitas às Igrejas anteriormente estabelecidas

A terceira viagem missionária de Paulo começou em Antioquia. Paulo quis retornar


para fortalecer as igrejas que ele havia fundado na sua primeira viagem missionária. Em Atos
15:36 podemos ler: "E depois de alguns dias, Paulo disse a Barnabé: Vamos voltar e visitar
os irmãos em todas as cidades onde proclamamos a palavra do Senhor e ver como eles
estão". O retorno para uma visita às igrejas fazia parte da estratégia missionária de Paulo. No
final da sua primeira viagem missionária, Paulo simplesmente poderia ter retornado à casa, já
que era uma viagem curta de Derbe para Tarso (casa de Paulo). Assim com era curta também
a viagem de Tarso até Antioquia. Em vez disso, Paulo retornou pela mesma perigosa e longa
estrada que já havia percorrido em sua missão, antes de retornar a Antioquia (Atos 14:21).
Esse foi um momento perigoso, já que os judeus de Antioquia, na Psídia, o haviam apedrejado
em Derbe. Porém, essa viagem foi também substancial. E Paulo ainda retornou a esta área
uma terceira vez na sua terceira viagem missionária para a Ásia e Éfeso. Ele passou por essa
área quatro vezes como já vimos, e talvez até tenha passado por lá uma ou duas vezes mais
depois que ele saiu da primeira prisão romana.
As ações de Paulo mostravam que ele se preocupava com o continuo crescimento e
desenvolvimento da Igreja. Ele acreditava também, que tinha uma responsabilidade
permanente para com as igrejas.
72

2. Alterações na equipe da missão

A viagem começou com polêmicas e alterações na equipe da missão. A equipe


original era formada por Paulo, Barnabé e seu primo Marcos. Na primeira missão João
Marcos retornou, depois de Chipre, enquanto eles desembarcavam na Ásia. Depois, Marcos
retornou a Jerusalém. Eles se encontraram novamente no Concílio de Jerusalém e João
Marcos retornou com eles para Antioquia. Enquanto eles começavam a próxima viagem
missionária, Barnabé queria levar Marcos junto com eles, mas Paulo disse não. Lucas registra
esse desacordo em Atos 15:39-41: "E levantou-se um acentuado desacordo, e assim eles se
apartaram um do outro. Barnabé levando consigo Marcos navegou para Chipre, e Paulo
tendo escolhido a Silas, partiu, encomendado pelos irmãos à graça do Senhor".
A discordância foi intensa, palavra grega que indica um "pessoal e profundo
desacordo". Isso ocasionou a separação entre Paulo e Barnabé. Lucas no seu relato, não
menciona de quem foi a culpa, mas muitos comentaristas sugerem que a Igreja favoreceu a
posição de Paulo, e Lucas simplesmente observa: Barnabé partiu, enquanto Paulo e Silas
foram "encomendados pelos irmãos à graça do Senhor".
Há alguns pontos importantes sobre essa separação:
1. A Missão e o Ministério e qualquer outra grande obra provocaram grande estresse
entre os homens. Esse tipo de missão exigia sabedoria, clareza de visão e força de convicção.
Paulo tinha estas habilidades, mas não se comprometeu com a missão. Nesta fase, Paulo
achava que Marcos não estava pronto e assim não queria levá-lo com eles. Barnabé era muito
encorajador e por isso incentivou Paulo. Ele o apresentou aos Apóstolos em Jerusalém e o
trouxe para Antioquia. Barnabé era uma pessoa encorajadora e com certeza esta foi a sua
atitude em relação a Marcos. Em alguns casos, uma pessoa encorajadora não seria o ideal
nesse momento, quando não se tem a capacidade de dizer não, na hora que deveria.
2. Eles se separaram em um momento importante, mas não em um momento
teologicamente chave (Donnelly). E não existe nenhuma sugestão de que Barnabé caiu em
pecado.
3. Esse evento foi lamentável, mas dependendo da circunstancia, é melhor manter
esses crentes em Deus separados do que permanecer em uma parceria infeliz.
4. Mesmo eles estando separados, não havia nenhuma menção de vingança. E se a
separação for inevitável, melhor que seja feita da melhor maneira possível. Embora Lucas não
tenha mencionado Barnabé uma outra vez, ele se referiu a ele com elogios em suas cartas.
Quando Paulo escreveu aos Coríntios, ele declarou: "Ou só eu e Barnabé não temos direito de
73

deixar de trabalhar?" (1Cor. 9:6). Paulo acabou se reconciliando com Marcos. Ele o
mencionou em suas cartas durante sua primeira prisão romana, Colossenses 4:10, e depois em
uma de suas últimas cartas. Em 2 Timóteo 4:11 ele declarou: "Somente Lucas está comigo.
Pegue Marcos e traga-o consigo, pois ele é muito útil para mim no Ministério". Se a relação
entre Marcos e Paulo fosse rompida, eles mais tarde se reconciliariam. Marcos ainda foi útil a
Paulo no seu último Ministério. Os dois grupos se dividiram. Barnabé levou Marcos para
Chipre enquanto Paulo levou Silas para Galácia.

2.2 Paulo e Silas


Seguindo o princípio missionário de continuar a pregação em duplas, Paulo ficou
com Silas. Silas era um líder e sendo um representante da Igreja de Jerusalém levantou a
questão da circuncisão para a Igreja de Antioquia (15:22). Ele era um cidadão de Roma
(16:37) e seu nome romano era Silvano (2 Coríntios 1:19, 1 Tessalonicenses. 1:1, 2; 2:1).
Referencias a ele, o descrevem com o profeta do Novo Testamento. Seu último ato registrado
nas Escrituras era como o portador das cartas de Pedro para as igrejas dos gentios (1 Pedro
5:12), mencionadas em 1 Pedro 1:1 "para aqueles que foram eleitos os exilados da dispersão
no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia" . Ele era um homem de experiência, cheio de
Espírito, de origem romana e com boa reputação na Igreja.

2.3 Paulo e Timóteo


Outro importante companheiro nessa missão e para o resto da vida de Paulo foi
Timóteo. Nessa viagem, Paulo primeiramente passou por Listra, onde Timóteo se juntou a ele.
Desde cedo Paulo havia ensinado as escrituras a Timóteo. Em 1 Timóteo 1:2 Paulo o chamou
de "meu verdadeiro filho na fé" (ver também 2 Tim. 2:1). Isso indica que Timóteo havia sido
criado em um lar judeu, mas fora convertido por meio do sacerdócio de Paulo. Se assim foi,
Timóteo converteu-se na primeira viagem de Paulo para Listra (ver Pollock, que sugere que
Timóteo seguiu Paulo até Antioquia, na Pisídia). Sabemos que Timóteo testemunhou o
sofrimento de Paulo. Em 2 Timóteo 3:10, 11. Paulo disse, "Mas você tem seguido
cuidadosamente minha doutrina, modo de viver, propósito, fé, longanimidade, amor,
perseverança, perseguições e aflições, que me aconteceram em Antioquia, em Icônio, em
Listra; quantas perseguições eu sofri. E de todos elas, o Senhor me livrou". Timóteo
permaneceu com Paulo até sua morte. Paulo faz elogios a Timóteo em Filipenses 2:19-22: "E
espero no Senhor Jesus que em breve vos mandarei Timóteo, para que eu também esteja de
bom animo, sabendo de vossos negócios. Porque a ninguém tenho de igual sentimento, que
74

sinceramente cuide do seu bem-estar. Porque, todos buscam seus próprios interesses, e não o
que é de Jesus Cristo. Mas bem sabeis qual a sua experiência, e que serviu comigo no
evangelho, como filho ao pai".
Timóteo estava se preparando para sua missão, porém nos dizem que a Igreja o
colocou de lado. E Paulo lhe disse em 1Timóteo 4:14: "Não negligencies o dom que há em ti,
o qual te foi dado por profecia, com a imposição das mãos do presbitério". Isso parece se
referir ao chamado original dele, mas mesmo que tenha acontecido mais tarde, isso nos
mostra a alta consideração que Paulo e Lucas tinham diante do poder da Igreja. Mas Paulo,
não se limitou a simplesmente transformar Timóteo em um ministro de Deus (2 Tim. 1:6). A
validação do chamado não veio de Paulo como apóstolo, mas a sua autoridade e o seu
chamado vieram da Igreja através das mãos do presbitério.
Paulo realiza a circuncisão de Timóteo. Precisamos entender que isso foi feito dentro
do propósito da missão. Paulo não acreditava que a circuncisão fosse necessária para a
salvação de Timoteo. E escreveu em Gálatas 1:8, dizendo que, se alguém for circuncidado, ele
será um anátema e Cristo não lhe proverá nada. Paulo considerava que era pecado se exigir
que alguém fosse circuncidado para ser salvo. Ele se recusou a ter Tito, um grego convertido,
circuncidado por este motivo (Gálatas 2:3). Por outro lado, se estivermos junto a Cristo, o que
fizermos ao nosso corpo não fará a menor diferença. Mas desde que isso ajudaria na missão,
Timoteo foi circuncidado para que isso não se tornasse um empecilho para os judeus.
Dependendo da circunstância, Paulo pôde se dar ao luxo de ser flexível (aceitação de Timóteo
como um missionário). Contudo, Paulo era inflexível nas questões que pudessem por em risco
os princípios da missão (a circuncisão não era requisito necessário para que Deus aceitasse os
gentios). Isso demonstra a grande sabedoria de Paulo.

2.4 Paulo e Lucas (as três seções de "nós").


A quarta pessoa importante nessa jornada era Lucas, o autor de Atos. Lucas, o
médico amado, (04:14), continuou com Paulo durante toda sua vida. Lucas juntou-se a Paulo
em Atos 16:10 em Troas*, a primeira das três seções do uso do pronome "nós". Pollock (122)
observa que havia um famoso centro médico, o Santuário de Antioquia, nas proximidades de
Pérgamo. Lucas largou a profissão de médico para se juntar a Paulo como um companheiro de
trabalho. Lucas permaneceu ajudando Paulo durante sua segunda prisão romana: "Marcos,
Aristarco, Demas e Lucas, meus cooperadores" (Filemom 24). Lucas era um erudito e um
cuidadoso médico, que nos forneceu um preciso e detalhado relato dessa história.
*
Também conhecida com o nome de "Trôade"
75

3. O líder de Deus em Atos

Uma outra característica proeminente da segunda viagem era a liderança direta de


Deus. Vemos o primeiro exemplo disso quando na viagem eles tentaram ir do oeste para o
norte em direção à Ásia: "Foram proibidos pelo Espírito Santo" (Atos 16:6). Assim, eles
tentaram ir para oeste, até Bitínia e foram proibidos "pelo Espírito de Jesus" (Atos 16:7). Não
há menção do porquê que o espírito teve estes dois nomes: "o Espírito Santo" e o "Espírito de
Jesus", mas olhando para cada um juntos, podemos perceber que o Espírito Santo estava
ligado a Cristo e ele governava por meio do Espírito. Nesses dois exemplos, Lucas registrou
que os apóstolos foram bloqueados de ir do norte para o oeste, e, assim, tiveram que ir na
direção noroeste para Troas.
Donnelly comenta ser reconfortante para nós ver que o Apóstolo Paulo, o poderoso
Apóstolo de Deus, não sabia sempre o que fazer e precisava de orientação e de ser guiado
pelo Espírito. Assim como na vida de Paulo, existem momentos em nossa vida que não
sabemos o que é certo fazer e Deus nos bloqueia. Em tais circunstâncias, o apóstolo esperou
que Deus abrisse outra porta. Lucas, então, se juntou aos companheiros em Troas, talvez essa
tenha sido a razão de Deus ter enviado Lucas para lá. Precisamos lembrar de que estamos
sempre operando com informações incompletas. Tomamos decisões baseadas nas nossas
melhores informações, mas, Deus sabe de todos os fatos e, assim, ele nos guia no caminho
certo.
Mais tarde em sua jornada, Paulo recebeu outras orientações e apoio direto do
Espírito. Em Corinto, Paulo estava tendo um momento difícil e temos a informação: "E o
senhor disse a Paulo em uma visão: não temas, mas fales e não te cales; porque eu estou
contigo, e ninguém lançará mão de ti para te fazer mal, pois tenho muito do meu povo nesta
cidade. E permaneceu ali um ano e seis meses, ensinando a palavra de Deus entre eles" (Atos
18:9, 11).
Lucas se juntou a eles em Troas. E foi em Troas que eles receberam a visão do homem
da Macedônia, um chamado para irem até Macedônia para ajudar. Lucas relata: "E apareceu
uma visão para Paulo à noite: um homem da Macedônia estava lá em pé, e lhe rogou:
dizendo: Venha para Macedônia nos ajudar. E, Paulo logo depois desta visão,
imediatamente, procuramos partir para Macedônia, concluindo que o Senhor nos chamava
para lhes pregar o Evangelho" (Atos 16:9, 10). Donnelly nota que Paulo e a Igreja
76

responderam a este "chamado" indo pregar o evangelho nessa região. Isto demonstra que o
ponto principal do trabalho do missionário e da Igreja era pregar a palavra.

4. A obra na Macedônia, Ásia (16: 6-17:14)

Nesta seção, Paulo e seus companheiros viajaram da Ásia para a Grécia. Embora o
evangelho já tivesse sido pregado na Grécia e até mesmo em Roma (ver 2:7-11), esta foi a
primeira vez Paulo e seus companheiros chegaram a Grécia.

4.1. Filipos (16:11- 40)


A cidade tinha esse nome por causa de Filipe da Macedônia, pai de Alexandre, o
Grande. Ela foi uma importante colônia militar romana e um centro comercial. Lucas relata
três acontecimentos importantes: a conversão de Lídia, o silencio da jovem escrava e a
conversão do carcereiro de Filipos.

4.1.1 Lídia – A primeira conversão


A cidade de Filipos não possuía uma grande população judaica nem uma sinagoga.
Sabemos disso porque, para se ter uma sinagoga era preciso a existência dez ou mais judeus
homens, isto é do sexo masculino. E como lá não existia nenhuma sinagoga, provavelmente
não havia 10 homens judeus na cidade. Alguns poucos judeus, e incluindo algumas mulheres,
se reuniam informalmente às margens de um rio. Uma delas era Lídia. Ela era uma mulher de
negócios da classe média de Tiatira, na Ásia (ver 01:11, 2:18, 2:24). Lucas salienta a
soberania de Deus na sua conversão. O Senhor abriu coração dela para que ouvisse as
palavras de Paulo (16:14, 15). Somos informados de que ela e sua família, que incluía
crianças e escravos, foram batizados (ver 16:15, 33; 18:8 para batismos domésticos). Em
regra Paulo não ficava com os convertidos, mas neste caso ele ficou hospedado na casa de
Lídia.

4.1.2 A jovem escrava


Esta jovem escrava era propriedade de um sindicato (16:16 usa-se a palavra "mestre"
indicando "muito"). Todos achavam que ela estava sob o controle demoníaco, e que tinha a
capacidade de adivinhar o futuro e de fazer profecias e, sendo assim, ela era uma mercadoria
valiosa para os seus senhores. Somos informados que ela seguiu Paulo por vários dias
77

clamando: "Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus
altíssimo". No final, Paulo agiu, comandando ao demônio em nome de Jesus Cristo que saísse
dela.
Donnelly sugere que Paulo não queria que ela falasse a palavra de Deus, não era esse
o caso, o que ele queria, era que ela não propagasse a palavra sobre o caminho da salvação de
maneira incorreta. A língua grega era dita no tempo indefinido e devia ser lida, "um" (não
exclusivo) caminho da salvação. Paulo não estava pronunciando "um" caminho da salvação,
como muitas traduções dizem. Paulo estava falando sobre "O" caminho, o caminho exclusivo
e o único caminho para a salvação. Se a jovem escrava falasse sobre "um" caminho de
salvação, então, ela estaria deturpando a verdade. Paulo precisava corrigir esse engano. Os
proprietários incitaram a multidão e falsas acusações foram lançadas contra Paulo e seus
companheiros diante dos magistrados. Eles foram espancados sem julgamento e colocados na
cadeia de noite.

4.1.3 O carcereiro filipino


Na prisão, Paulo e Silas deram testemunho do seu sofrimento através de oração e
louvor. Enquanto eles cantavam, houve um pequeno terremoto, que eram comuns na
Macedônia e eles foram entendidos como um resultado do julgamento dos deuses locais.
Neste caso, o terremoto ocorreu especificamente para esta prisão.
Junto ao terremoto, as portas da prisão se abriram, e de acordo com a lei romana, cabe
ao carcereiro garantir a vida dos prisioneiros com sua própria vida. Caso os prisioneiros
fugissem, ele então, seria condenado à morte. Neste caso, o guarda pegou a estrada nobre e
estava preste a se matar. Paulo o impediu, dizendo-lhe que todos os prisioneiros ainda
estavam na prisão. Depois de ter visto tudo isso, de ter ouvido falar dos milagres de Paulo, da
jovem escrava e do canto de louvor a Deus, o carcereiro perguntou o que poderia fazer para
ser salvo. Ele acreditou, foi convertido, e ele e sua família foram batizados.
Donnelly ressalta dois pontos importantes sobre o Ministério de Filipos. Apesar de
Paulo ter sido expulso da cidade, ele fez uma declaração pública importante, considerada uma
ameaça para as autoridades. Isso teria o efeito de proteger os cristãos existentes no local.
Observação: Temos que usar a lei para nosso próprio bem e para o bem dos outros. Quando a
vida de Paulo foi ameaçada, mais tarde, em Cesaréia, ele apelou para César.
Em segundo lugar, Donnelly observa como o trabalho secreto de Deus, e também o
seu trabalho através dos homens e evangelistas nas conversões das pessoas é visto. No caso de
Lídia, Lucas mostrou que Deus abriu coração dela, enfatizando a parte divina da obra de
78

Deus. Na história do carcereiro filipino, o lado divino pode ser observado na cura da jovem
escrava e no terremoto. Lucas salientou também a parte do missionário: O louvor e a ação de
graças de Paulo quando estava na prisão, seu amor pelo carcereiro e quando ele o chama:
"Não te faças nenhum mal."
Esse trabalho foi pequeno e Paulo teve que seguir em frente. As seções de "nós"
acabam e Lucas sentia que tinha ficado para trás com o seu novo trabalho da Igreja em
Filipos, enquanto que Paulo, Silas e Timoteo continuaram. Paulo mantinha um bom
relacionamento com a Igreja. Ela era a sua parceira no Evangelho, enviando-lhe ajuda
financeira. Em Filipenses 1:5 ele fala de "sua parceria no evangelho desde o primeiro dia até
agora". Provavelmente, a riqueza de Lídia e de outros lhes deram liberdade para fazer isso.

4.2. Tessalônica
Tessalônica era uma cidade que ficava a 90 km ao sul de Filipos na grande estrada
chamada Via Egnatia, ou Caminho Egnatia. Era uma cidade próspera e com muito comércio.
Paulo pregou em Tessalônica por três sábados e teve grande sucesso. Em Atos 17:4 nos é dito:
"E alguns deles acreditaram e se ajuntaram com Paulo e Silas, assim como uma grande
multidão de gregos religiosos e não poucas mulheres líderes". A casa de Jáson tornou-se um
centro para a Igreja. A Igreja primitiva se reunia muitas vezes nas casas dos moradores, já que
não havia nenhum outro lugar para se reunirem. E em Tessalônica a igreja era também a casa
de um judeu chamado Aristarco, que mais tarde viajou com Paulo (ver 19:29, 20:4, 27:2,
Colossenses 4:10 e Filemon 24).
Mas os judeus, movidos pelo ciúme (Atos 17:5), recrutaram alguns homens
perversos no mercado para atacar os missionários junto a uma multidão na casa de Jáson. E
eles foram inteligentes, pois quando não puderam mais lidar com Paulo, incitando a multidão
contra ele, eles se dirigiram até os governantes da cidade e fizeram uma acusação habilmente
redigida. Os ataques desses judeus foram bem feitos e implacáveis (Veremos isso mais tarde,
de como eles perseguiram Paulo até Beréia, cidade para onde Paulo fugiu). Os governantes
rejeitaram a acusação, mas chegaram a um meio termo, colocando Jáson em liberdade sob
fiança.
Esses ataques foram severos, e ameaças foram feitas a Paulo, à sua missão e à nova
Igreja. Paulo foi forçado a deixar esse novo trabalho, ficando preocupado com a jovem Igreja,
e assim, resolveu viajar apenas até Beréia, uma cidade vizinha. Ficando implícito que Paulo
parou lá, aguardando uma chance de voltar a Tessalônica, assim que pudesse. A ameaça
79

permanente contra a Igreja continuou a afetar Paulo pelo resto da sua missão grega. Paulo
permaneceu bem preocupado até que recebeu boas notícias em Corinto.

4.3 Beréia
Os discípulos fugiram para a vizinha cidade de Beréia, uma pequena cidade de férias
ao lado das montanhas. Provavelmente Paulo queria voltar para Tessalônica e, portanto,
resolveu ficar em Beréia. A sinagoga os aceitou e lhes deu um julgamento justo. Muitos foram
salvos. Paulo poderia ter permanecido em Beréia por um tempo, mas os judeus de Tessalónica
souberam que estava lá e o perseguiram. Deixando Timóteo e Silas para trás, Paulo foi levado
pelos irmãos a Atenas por segurança.

5. Atenas – A pregação do evangelho para os gregos (17:15-34)

5.1 A história de Atenas


Paulo chegou à Atenas sozinho, e de acordo com o relato de Lucas, a sua intenção não
era pregar o evangelho lá. Atenas era uma cidade importante, era o coração e a capital cultural
do mundo antigo. Seu ápice cultural foi em 480-323 a.C., período clássico sob a liderança de
Periclites. A Grécia foi organizada em torno de cidades-Estado e apesar de Atenas ter sido
derrotada por Esparta, ainda mantinham uma cultura importante e significativa. Roma
permitia que Atenas fosse uma cidade autônoma e com governo próprio. Mas devemos notar
que a cultura grega, e aí Atenas estava incluída, era totalmente imoral, com divórcios,
pornografia, homossexualidade e idolatria.
O livro de Atos era importante, pois mostrava Paulo dando seu testemunho para a elite
intelectual do mundo. Atenas estava no apogeu da filosofia, da cultura e da aprendizagem. E
como Paulo disse, os gregos buscavam sabedoria.
Paulo começou na Sinagoga, mas obteve pouco resultado. Não existe informação de
que alguma igreja foi fundada em Atenas. Depois disso, Paulo foi para ágora, a praça do
mercado. Lá ele conheceu filósofos locais epicuristas e estóicos. Os primeiros acreditavam na
obtenção do melhor proveito da vida, uma filosofia baseada em comer, beber e ser alegre,
porque amanhã todos morreremos. E os últimos acreditavam que o homem deveria "lutar, sem
medo e orgulho, aceitar a lei do universo, mesmo sendo ela dura, e se empenhar na construção
de um mundo fundamentado na razão" (Pollock 150).
80

No primeiro século, a maioria das filosofias ficou reduzida a um mero exercício


intelectual, algo que era pessoal e privado e não afetava a vida. Isso é parecido com o que
existe hoje na América e no Ocidente.
Paulo, então, se dirigiu para o Areópago para fazer a sua defesa formal. O Areópago
foi o primeiro tribunal formal e legal de Atenas. Esse tribunal controlava a religião e a moral
na cidade. Veremos o sermão com alguns detalhes, já que ele é um exemplo perfeito da
pregação de Paulo para um público formado pelos Gentios.

5.2 A pregação de Paulo no Areópago


Paulo iniciou a sua pregação fazendo um ponto de contato. Mencionou o estatuto do
Deus desconhecido e a partir daí ele desenvolveu o fundamento do verdadeiro Deus. Ele
começou falando sobre Deus como o criador, aquele que fez o mundo e tudo dentro dele, o
Senhor do céu e da Terra (ele repetiu Gen. 14:19-23, Ps. 24:1).
Depois de falar sobre a criação de Deus, Paulo passou a falar sobre a espiritualidade
de Deus. Deus não é venerado em templos construídos com as mãos (Isa. 66:1). Ele também é
auto-suficiente, e não necessita de nada. Paulo, em seguida, proclamou o poder e controle
absoluto de Deus, pois ele controla os homens, as horas e os limites de sua habitação. Paulo
disse que Deus age de um modo que permite aos homens encontrá-lo. Paulo concluiu o
sermão fazendo uma chamada ao arrependimento e uma explicação sobre Jesus e a
ressurreição.
Devemos observar o seguinte:
1. Este é o texto chave para se entender a evangelização dos Gentios através de Paulo.
Outro texto semelhante é o de Atos 14:8-18.
2. Paulo não fez uma citação das Escrituras, mas ele citou o conteúdo dessas
Escrituras e as mesmas doutrinas bíblicas. Uma vez que os gregos não tinham nenhum
conhecimento das Escrituras, ele não baseou seus argumentos nelas; mas sim, ele se
concentrou no que elas tinham, ou seja, a revelação geral.
3. Do mesmo modo, a falta de conhecimentos das Escrituras por parte dos gentios
significava que Paulo não podia destacar o cumprimento das Escrituras em seu sermão para
eles, como era o seu costume na evangelização dos judeus. E fazendo um contraste entre
Antioquia e Atenas, percebemos que Paulo usou métodos diferentes de evangelização em
circunstâncias diferentes.
4. A falta de conhecimento das Escrituras fez com que Paulo, começasse o sermão
falando sobre o básico: a natureza de Deus e sua criação antes de falar de coisas mais
81

profundas. A teologia de Deus de Paulo era a mesma de Romanos 1-3. Em Atenas, ele usou
um tom mais conciliatório. E a razão para essa mudança de tom foi que no livro de Romanos,
ele estava escrevendo para a Igreja para explicar o verdadeiro estado do homem, enquanto que
em Atenas ele estava pregando essa verdade para incrédulos.
5. Houve um chamado ao arrependimento na pregação tanto para os judeus como para
os gentios, porque todos haviam pecado e caíram na glória de Deus.
6. Paulo mencionou a ressurreição de Cristo entre os mortos. Este foi um novo conceito para o
mundo dos gentios, pois eles acreditavam que a alma continuava após a morte de alguma
forma por um certo tempo, mas eles não acreditavam que havia uma ressurreição física.43

5.3 O sucesso limitado de Paulo em Atenas.


O ministério de Paulo teve muito pouco sucesso em Atenas. A maioria das pessoas
rejeitou a sua mensagem, considerando-a como uma loucura, especialmente em relação ao
tema da ressurreição. Constatamos que alguns queriam ouvir mais, mas como observado
anteriormente, o trabalho de Paulo na sinagoga da cidade e com os gregos foi infrutífero, pois
nenhuma igreja foi fundada e nenhum batismo foi realizado (1 Cor. 16:15). Paulo deixou
Atenas frustrado.

5.4 Paulo e a sabedoria dos Gregos


Para terminar esta seção podemos salientar a inteligência de Paulo e sua relação com a
sabedoria dos gregos. Paulo fez referencia a essa aprendizagem grega em seu discurso de
Areópago. Pollock (153) nota que Paulo usou no seu discurso palavras raras, usadas também
pelo poeta Eumênides. Isso indica que Paulo era totalmente versado no pensamento e na
literatura grega. Paulo também citou Platão, quando se referiu à soberania de Deus e
finalmente, ele fez citações diretas do poeta cretense Epimênides. Donnelly, um erudito,
observa que as citações feitas por Paulo foram perfeitas para a ocasião, um fato que indica que
Paulo tinha um grande intelecto e possuía boa leitura da aprendizagem clássica. Observamos
também que Paulo não dependia desta aprendizagem. Ele somente a usava quando esta se
encaixava no modelo bíblico. A essência do Evangelho, a teologia e a chamada ao
arrependimento permaneceram os mesmos. Podemos resumir a atitude de Paulo no seguinte
princípio: Apesar de Paulo conhecer a sabedoria dos gregos, ele não dependia dessa sabedoria.
6. Corinto (Atos 18:1-18)

43
Para mais informações a respeito do entendimento grego sobre a ressurreição (Ver Wright 33-84)
82

Paulo chegou em Corinto, uma importante cidade, era comercial e militar, mas era ao
mesmo tempo rica e decadente. Paulo ministrou lá por um ano e seis meses (18:11) e escreveu
duas importantes cartas à Igreja de Corinto, 1 e 2 Tessalonicenses e mais tarde escreveu ainda
mais duas cartas à essa Igreja.

6.1 A luta de Paulo em Corinto


Paulo estava num período ruim quando chegou em Corinto. Nesta fase, Paulo havia
seguido o chamado do Homem da Macedônia de Troas para Corinto. O ministério tinha sido
difícil, ela havia sofrido perseguição em Filipos, Tessalônica e Beréia. Estava sozinho em
Atenas e tendo pouco sucesso lá. Quando chegou sozinho em Corinto, enfrentou oposição.
Donnelly menciona que esse foi um período pouco expressivo do trabalho de Paulo. Paulo
resumiu em 1 Coríntios 2:2 como ele veio e qual era a natureza do seu ministério: "E eu estive
convosco em fraqueza e em temor, e em grande temor. A minha pregação, e a minha
mensagem não eram palavras persuasivas de sabedoria, mas em demonstração do espírito e
do poder, que sua fé não pode descansar na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus" .
Embora fraco e medroso continuou seu ministério. Silas e Timóteo foram apanhados
com ele em Corinto, e o próprio Senhor que falou a Paulo em uma visão encorajou-o. Lucas
registra este evento, o Senhor disse-lhe: "não tenham medo, mas falem e não se calem, pois
estou contigo, e ninguém irá te atacar para te fazer mal, pois tenho muito do meu povo nesta
cidade" (18:10, 11). Estes versos demonstram que Paulo tinha medo e precisava de incentivo
para continuar. O Ministério da Igreja em Corinto continuou a ser bem difícil para Paulo,
como nos releva as duas cartas que Paulo, mais tarde, escreveu a esta igreja em sua terceira
viagem missionária. Em resumo, o Ministério para a Igreja em Corinto foi difícil.

6.2. Priscila e Áquila


Paulo encontrou um casal importante em Corinto, Priscila e Áquila. E nos dizem: "E
ele encontrou um judeu chamado Áquila, natural do Ponto, recentemente vindo da Itália com
o seu esposa Priscila, pois Cláudio havia ordenado que todos os judeus saíssem de Roma, e,
ajuntou-se com eles, e como era do mesmo ofício, permaneceu com eles e trabalhava, pois
tinham por oficio fazer tendas" (18:1-3).
Priscila e Áquila eram cristãos e fabricantes de tendas como Paulo. Eles tinham estado
em Roma, mas foram forçados a sair. O casal estava sempre junto ajudando Paulo na
pregação, e o nome de Priscila era sempre mencionado em primeiro lugar. Eles permaneceram
em Corinto até a partida de Paulo, e, então eles partiram junto com ele (18:18). Quando Paulo
83

voltou para casa, os deixou em Éfeso. Mais tarde ele os encontrou lá na sua terceira viagem
missionária.

6.3. Paulo escreve cartas aos Tessalonicenses


Como já foi observado, os companheiros de Paulo, Timóteo e Silas, foram apanhados
com ele. Eles tinham ficado para trás em Beréia. Paulo escreveu aos Tessalonicenses (1 e 2
Tessalonicenses) em resposta às perguntas deles. Eles devem ter chegado lá, como um
presente, liberando Paulo para trabalhar em tempo integral no seu Ministério. Paulo deve ter
sido incentivado a tê-los com ele.

6.4 O Ministério de Paulo em Corinto


Inicialmente, Paulo trabalhou e ensinou na Sinagoga. Quando Silas e Timóteo
chegaram, ele se dedicou "exclusivamente" (NVI-Nova Versão Internacional) à pregação,
testificando aos judeus que Jesus era o Cristo. O chefe da sinagoga e sua família foram
convertidos, mas, como aconteceu em outras ocasiões, o ministério de Paulo aos judeus levou
a uma oposição direta por parte deles. E Paulo foi forçado a deixar a sinagoga,
excomungando-os: "E quando eles se opuseram e o insultaram, ele sacudiu as vestes e disse-
lhes:" Vosso sangue seja sobre a vossa cabeça. Sou inocente, e de agora em diante eu irei
para os gentios "(18:6).
O ministério de Paulo continuou na casa de Tício Justo, um adorador de Deus, que
vivia junto da sinagoga. Um grupo de gentios foram convertidos e uma igreja se formou. Com
o aumento da oposição, Deus confortando Paulo, lhe prometeu que ele teria muitas pessoas
convertidas na cidade. E lá ele permaneceu por um ano e seis meses.

6.5. A conspiração contra Paulo


Em Corinto havia uma conspiração judaica contra Paulo. Esse fato é importante por
duas razões: Primeiro, porque Gálio, proconsul da Acaia, de fato recebeu tal nomeação e as
datas dessa nomeação são conhecidas, existe uma referência sobre isso no Novo Testamento.
Segundo, porque a decisão jurídica de Gálio relativa ao cristianismo, estabeleceu o mesmo, de
modo formal, como uma religião legítima no Império Romano. Esta parte é importante dentro
da apologética de Lucas.
O incidente está registrado em Atos 19:12-17:
"Mas, sendo Gálio proconsul da Acaia, levantaram-se os judeus num ataque conjunto
contra Paulo, e o levaram ao tribunal, dizendo: Este persuade os homens a servir a Deus
84

contra a lei. E, querendo Paulo abrir a boca, disse Gálio aos judeus: Se houvesse, ó judeus,
algum agravo ou crime enorme, com razão aceitaria vossa queixa Mas, se a questão é de
palavras, e de nomes, e da lei que entre vós há, vede-o vós mesmos; porque eu não quero ser
juiz dessas coisas. E expulsou-os do tribunal. Então todos os gregos agarraram Sóstenes, o
governante da sinagoga, e o feriram diante do tribunal; e a Gálio nada destas coisas o
incomodava".
Fontes seculares nos dizem que Gálio assumiu como proconsul em julho de 51 d.C.
Os judeus devem ter feito uma acusação contra Paulo alguns dias depois. E a partir dessa data
podemos trabalhar para frente e para trás até a data do livro de Atos.
O julgamento foi considerado por Lucas um fato importante e apologético. Os judeus
acusaram Paulo e os cristãos de serem adoradores de Deus e contrários à lei. Gálio percebeu
que essa acusação não estava relacionada com questões da lei romana e nem com o governo,
mas que era uma questão judaica interna. A palavra "juiz" usada por Gálio teve um
significado formal e jurídico, indicando que ela tinha um peso igual ao de um oficial romano
quando governa onde nenhum estatuto romano tinha sido infringido. E assim ele resolveu não
interferir nesta questão. Esta atitude do procônsul teria criado um precedente romano de que o
Cristianismo não era ilegal e, portanto, que nenhuma lei romana estava sendo descumprida.
Isso significou naquele momento, que Roma estava, oficialmente, agindo como uma protetora
do Cristianismo contra os judeus. O julgamento permitiu, então, que Paulo permanecesse em
Corinto até o momento de sua partida.

6.6. Paul sai de Corinto e vai para Jerusalém.


Na Primavera de 52 a.D. Paulo deixou Corinto para retornar a Jerusalém a fim de
cumprir o voto de Nazireu. Ele navegou de volta para Éfeso. Pregava na sinagoga e era bem
recebido. Prometeu voltar para eles. Depois de deixar Priscila e Áquila em Éfeso ele, então,
navegou de volta para Cesaréia, a Igreja mãe de Jerusalém, retornado depois para Antioquia.

CONCLUSÃO

Paulo inicia a viagem revisitando as igrejas que fundou na primeira viagem


missionária para Galácia. O Espírito guiou Paulo até a Macedônia. Lá ele pregou o evangelho
e começou a fundar a Igreja ao longo da costa leste chegando a Atenas e Corinto. Paulo
defendeu o Evangelho no Areópago, o mais alto tribunal ateniense. Paulo continuou indo até
85

Corinto e em julho de 51 a.D., Gálio o defendeu e pronunciou que o cristianismo não infringia
as leis Romanas.

RESUMO

A terceira missão de Paulo durou mais tempo e foi mais longe do que a segunda
missão. Começou com a separação de Paulo e Barnabé a respeito de João Marcos. Paulo
viajou com Silas. Viajaram através da Galácia até que foram bloqueados ao adentrarem na
Ásia. Eles entraram na Macedônia, levando o Evangelho para a Grécia. Evangelizaram em
Filipos, em Tessalônica e em Beréia. Paulo foi forçado a fugir. E, então, entraram e
evangelizaram as duas principais cidades gregas de Atenas e Corinto. Depois de voltar a
Jerusalém para pagar uma promessa, Paulo voltou para Antioquia.

MÉTODO INDUTIVO: [Extrair informação do texto bíblico]


Textos de referencia. Como outros textos influenciam a nossa leitura do texto?
1.1 (etc.)

Explicação de informações importantes no texto:


-Palavras-chave e definições:
-Observações gramaticais: (estrutura das frases, leituras variantes)
-Figuras de linguagem: (comparações, associações, representações)
-O texto, explícita ou implicitamente, diz alguma coisa sobre Deus e sobre a salvação?
-Método de tradução utilizado:
-Há diferenças entre as versões da Bíblia? Quais são elas?
-Autoria humana. Como podemos saber?
-Em que ocasião o homem foi solicitado a escrever?
-Público original para leitura. Por que eles leriam o texto?
-Contexto geográfico:
86

-Contexto social e cultural:


-Contexto histórico:
-Contexto religioso:
-Em suas próprias palavras, o que o texto diz e qual o significado?
Comentários:

EXPLICAÇÃO EXPOSITIVA. Em ordem cronológica, identificar os principais ensinamentos


do texto em estudo.
1.
2.
3.
(outros)

CONSIDERAÇÕES LITERÁRIAS
-Gênero literário: (evangelho, história, leis, parábola, poesia, profecia, provérbio, etc).
-Como o texto está relacionado aos outros textos vizinhos?
-Como o texto se relaciona ao tema do capítulo e de qual livro provem?

MÉTODO ANALÍTICO. Qual é a tese principal, antítese, síntese e sincretismo do texto?

MÉTODO DEVOCIONAL DE ESTUDO. Como o texto ajuda a adorar Deus, a confessar os


pecados, dar graças a Ele e a servi-lo?

LIÇÃO 6. Questões:

1. Quem acompanhou Paulo na segunda viagem missionária?


2. Como sabemos que Lucas viajou com Paulo?
3. Explique brevemente como Deus guiou Paulo até a Macedônia. Era esse o plano de Paulo?
87

4. Cite três incidentes ocorridos em Filipos?


5. O que aconteceu em Tessalônica? Como isso afetou o resto da missão de Paulo?
6. O que era o Areópago? Qual era a sua importância?
7. Resuma a abordagem de Paulo na evangelização dos Gentios no Areópago.
8. Qual era o estado de animo de Paulo em Corinto? Explique sua resposta.
9. Quem eram Priscila e Áquila? Dê uma explicação completa sobre eles, de onde eram e
aonde vamos encontrá-los novamente.
10. Exemplifique duas coisas importantes que aprendemos sobre o relato de Lucas no
julgamento de Gálio.
88

LIÇÃO 7. MISSÃO DE PAULO NA ÁSIA (TERCEIRA VIAGEM MISSIONÁRIA)

1. O propósito da Terceira viagem missionária

Paulo tinha três objetivos. Ele queria retornar para fortalecer as igrejas; passar um
tempo em Éfeso (onde estivera por pouco tempo no final da segunda viagem missionária) e,
desejava fazer uma coleta nas igrejas dos Gentios para a igreja Judaica em Jerusalém.
Ao contrário das outras viagens, Lucas não menciona quem eram os companheiros de
Paulo. Se observarmos as epístolas escritas na época, 1 e 2 Coríntios e Romanos podemos ver
que Timóteo estava com ele. E em Coríntios 2 notamos que Tito estava com ele em Éfeso e
em Corinto. Barnabé não é mencionado e Silas parece ter permanecido em Jerusalém no final
da segunda viagem.

2. Éfeso

Paulo viajou através da Galácia para Éfeso. Na segunda viagem, Deus não o permitiu
de ir a Éfeso e lhe revelou pelo seu Espírito que deveria ir para Macedônia. Mas, nesse
momento, a vontade de Deus dentro dele o conduziu para Éfeso. Paulo teve um longo e
poderoso ministério lá.

2.1. A origem do trabalho de Paulo em Éfeso


Paulo visitou Éfeso no final da segunda viagem missionária (18:19-21). Ele ensinou
na sinagoga, onde foi bem recebido e convidado a ficar. Embora tenha recusado, dizendo que
deveria ir para Jerusalém, mas lhes prometeu que voltaria. Priscila e Áquila ficaram em Éfeso,
e proveram as bases, se preparando para o retorno de Paulo. E ele, realmente, retornou com
um grupo.

2.2. A Cidade
Éfeso era a capital da província Romana. Era uma cidade livre, a qual foi dada aos
Efésios pelos Romanos, a fim de que governassem seus próprios assuntos, enquanto
estivessem ligados a Roma. Era o maior centro comercial, com um importante turismo
religioso. A estátua de Diana dos Efésios (este era o nome Grego, o nome Romano era
Ártemis; ver Atos 19:24) foi encontrada aqui. A princípio se supunha que Diana viera do céu,
porém, posteriores exames mostraram que a estátua era um meteorito brilhante que fora
89

lançado naquela área com a forma de mulher. A importância do turismo religioso pode ser
visto através de Demétrio, um ourives, que fazia prata nichos de Diana. Os santuários
proporcionavam não pouco lucro aos artífices (19:23). Éfeso era, também, uma cidade muito
supersticiosa onde a magia era praticada (19:11-20), bem como, um ponto central, ligado a
outras cidades através do comércio e religião.
O ministério de Paulo também se irradiava para fora de Éfeso. Ele iniciou seus
ensinamentos na sinagoga durante três meses. Então, ministrou aos gentios na Escola de
Tirano. O seu trabalho afetava toda a cidade. O evangelho se espalhou de Éfeso para as
regiões vizinhas. Éfeso era o centro das cartas às sete igrejas em Apocalipse 2 e 3.

2.3. Vários grupos em Éfeso


Havia vários grupos importantes que Paulo encontrou em Éfeso.

2.3.1. A Sinagoga Judaica


Como de costume, Paulo começou pregando na sinagoga dos judeus. Depois de sua
volta, alguns dos Judeus, teimosos e incrédulos, falavam mal do caminho perante a multidão,
então, Paulo retirou-se. Seu relacionamento com esses judeus parecia ser melhor do que com
muitos Judeus de outras sinagogas.

2.3.2. Priscila e Áquila


O casal permanecera em Éfeso, depois que Paulo partiu. Eles foram uma grande
benção para a igreja, fortalecendo-a. Um exemplo do ministério deles foi quando corrigiram
Apolo, com sabedoria e tato. Eles já o tinham ouvido falar na sinagoga e sabiam de sua
habilidade e fidelidade ao texto. Mas ao mesmo tempo, sabiam que ele ainda não tinha uma
compreensão plena do evangelho. Ao invés de corrigi-lo publicamente, o convidaram para ir a
sua casa, a fim de instruí-lo em particular. Apolo recebeu o testemunho deles e começou a
pregar sobre Cristo, abençoando muitas pessoas através de seu ministério (Taylor 301).
Priscila e Áquila permaneceram em Éfeso até que Paulo partiu, então, eles foram para Roma.
Mais tarde, em Corinto, Paulo os saudou em sua carta a Roma. (Romanos 16:3). É possível
que Paulo tenha estado com eles novamente como esteve em Atos 18:2.

2.3.3. Apolo
Em Éfeso, Lucas nos apresenta a um importante judeu de Alexandria, Apolo. Ele
chegou a Éfeso depois que Paulo partira, no final da segunda viagem missionária e, partiu
90

para Corinto antes do retorno de Paulo, no início da terceira viagem. Paulo o teria encontrado
em Corinto em sua curta passagem pela cidade quando ele permaneceu por dois anos em
Éfeso. Paulo se referiu a ele em Coríntios 1.
Alexandria, um importante centro de aprendizagem, sofreu influencia dos judeus e do
pensamento oriental (Taylor 301). Apolo era um homem culto, um bom orador e poderoso nas
Escrituras. Dizem que ele ensinou o caminho de Deus com precisão, no entanto, quando ele
chegou a Éfeso, conhecia apenas o batismo de João. Ele parecia estar na mesma posição que
os outros 12 discípulos que só conheciam o batismo de João, mas que não havia se cumprido
em nome de Jesus Cristo. Apolo encontrou Áquila e Priscila, que sabiamente o convidou para
sua casa (19:26) (Taylor 301). Ele era humilde e recebeu os ensinamentos por eles. Taylor
aponta: “Aqueles que caminhando para a luz estão prontos para receber muito mais quando
ele aparecer” (302). Apolo continuou a ensinar em Éfeso e, então, desejou ir para Corinto
ajudar nos trabalhos. Nos dizem: “os irmãos escreveram exortando aos discípulos para
recebê-lo”. Ele foi para Corinto e teve grande influência (1 Cor. 3:6).

2.3.4. Os discípulos de João Batista e outro Pentencoste (Atos19:1-6)


Os 12 discípulos de João foi o primeiro grupo que Paulo encontrou ao entrar em
Éfeso. E quando os encontrou, conheciam apenas o batismo de João (19:2) (ou seja, um
batismo de arrependimento, aguardando a vinda do Espírito Santo). Exatamente o que eles
sabiam é difícil de discernir. E disseram, "nós nem ainda ouvimos que haja um Espírito
Santo" (19:2). Quando João lhes falou que o batismo do Espírito Santo ocorreria com Cristo,
isso não significava que eles não tinham sido informados sobre a existência do Espírito Santo.
Muito provavelmente, eles não tinham consciência que as coisas que foram ditas por João se
cumpririam na vinda de Jesus, morrendo, e subindo novamente e que, como fruto de seu
trabalho, o Espírito Santo fora derramado no dia de Pentencoste. De qualquer forma, Paulo
explicou que o batismo de João apontava seu cumprimento em Cristo, e também, falou-lhes
sobre Cristo e suas obras. Os discípulos foram batizados no batismo de Cristo. E impondo-
lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo, e falavam línguas, e profetizavam.
Deliberadamente, Lucas criou um paralelo com o Pentencostes, indicando que um outro mini-
91

Pentencostes havia ocorrido na Asia.44 O Espírito Santo veio para confirmar as obras de Cristo
quando o evangelho foi anunciado a todas as nações.45

2.4. O modelo do Ministério de Paulo em Éfeso


Paulo permaneceu em Éfeso durante três anos (Atos 20:31), mais tempo do que em
qualquer outro lugar. Ele disse em 1 Coríntios 19:6, escrito em Éfeso, que uma grande porta
fora aberta para ele. Os acontecimentos em Éfeso oferecem-nos uma visão do modelo do
ministério pastoral de Paulo como distinto dos princípios de sua missão. Nós iremos nos focar
em Atos 19 e Atos 20:17-38. Nesta última seção, Paulo resumiu seu ministério como partiu
com os anciães de Éfeso.
Após passar três meses na sinagoga, Paulo partiu. E ensinou por três meses na
sinagoga e, mais tarde, publicamente, ensinou na Escola de Tirano, atendendo diariamente.
Donnelly observou as seguintes marcas da vida de Paulo:
Primeiramente, em Atos 20, ele modelou um estilo de vida exemplar. Em Atos 20:18-
19, ele disse: “Vós bem sabeis, desde o primeiro dia em que entrei na Ásia, como em todo
esse tempo me portei no meio de vós, servindo ao Senhor com toda a humildade, e com
muitas lágrimas e tentações que pelas ciladas dos Judeus me sobrevieram". Paulo realçou que
sua vida, ou seja, em missão ou no ministério pastoral, foi aberta e transparente, sendo um
exemplo para o rebanho. Ele modelou as doutrinas que pregava.
Ele era particularmente cuidadoso em relação a dinheiro e a cobiça, pois havia
muitos professores religiosos que viajavam e ensinavam por dinheiro. Paulo disse: “Eu não
cobicei prata, nem ouro, nem vestuário. Vós bem sabeis que estas mãos ministraram para
minhas necessidades e para aqueles que estiveram comigo. Em todas estas coisas eu lhes
mostrei através do trabalho árduo, e desta maneira devemos ajudar os fracos e lembrar as
palavras do Senhor Jesus, como ele mesmo disse: Mais bem-aventurada coisa é dar do que
receber”.
Segundo, ele também disse que não via a sua vida como valiosa, mas deu tudo a
serviço de Cristo: “Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com

44 Lucas aponta quarto importantes derramamentos do Espírito Santo. Um foi em Jerusalém para os Judeus, seguida por outro na Sumária para as ovelhas

perdidas da casa de Israel. O terceiro evento ocorreu em Cesárea com Cornélio, um gentio temente a Deus, e, finalmente, na Ásia quando o evangelho é
estabelecido no coração dos gentios.
45 Ver Apêndice 2 para uma descrição mais completa do fenômeno.

4
92

alegria a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do
evangelho da graça de Deus”.
Em terceiro lugar, Paulo focalizou o ensino bíblico. Ele ensinou na sinagoga por três
meses e, em seguida, lecionou na Escola de Tirano. Ele pregou o reino de Deus, o nome de
Jesus e tudo o que seria útil para os fiéis. Isto foi mais do que uma doutrina básica. Eles
adquiriram pleno entendimento de toda a doutrina das Escrituras, pois Paulo lhes ensinou
além do que temas básicos. Como resultado, quando ele partiu, certamente podemos dizer
que ele lhes havia anunciado todo o conselho de Deus (20:27).
Em quarto lugar, Paulo os ministrou de uma maneira prática e pessoal, dizendo:
“Não me esquivei de ensinar tudo o que lhes é útil, ensinando em publico e de casa em
casa”. Não contente em ministrar publicamente, Paulo os visitava para assegurar que a
doutrina ensinada era aplicada em casa. Isto requeria coragem. Ele disse: “Eu não deixei de ir
de casa em casa”. Paulo desejava que a doutrina ensinada fosse aplicada na vida diária.
Em quinto lugar, ele fez isso com amor. Falou de sua advertência e lágrimas. O amor
entre eles ficou evidente em seu discurso final: eles choraram com Paulo em sua despedida.
Em sexto lugar, Paulo estava sob uma grande dose de estresse e pressão. No
versículo 19 ele escreveu sobre as lágrimas, as tentações e as ciladas dos Judeus que lhe
sobrevieram. Suas lágrimas foram reais e ele sofreu severas provações. Os Judeus armaram
ciladas contra ele, querendo fazer-lhe mal. Se ele escreveu Gálatas a partir desse período, ele
tinha estudos sobre a fidelidade das igrejas. Veremos que ele, também, tinha estudos sobre a
igreja em Corinto. O custo do ministério de Paulo não foi fácil.
Finalmente, Paulo treinou outros para tomar seu lugar quando partisse. Seu último
discurso aos anciãos foi um exemplo disso. Ele sabia que não era indispensável para igreja e
que deveria partir. E quando partiu, deixou para trás um grupo de anciãos, treinados e fieis,
para supervisionar os trabalhos. E também, ordenou a Timóteo: “e o que de mim, entre muitas
testemunhas, ouvistes, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os
outros” (2 Tim. 2:2).
Supervisão pastoral é vital para um ministério. Em Atos 20:28, Paulo diz: “Olhai,
pois por vós e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para
apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue”. A igreja é
preciosa para Deus e os mais velhos tinham a posição de administrar sua casa. Eles teriam que
prestar contas.

2.5. O poderoso testemunho do Evangelho em Éfeso


93

O Testemunho do Evangelho em Éfeso foi poderoso. Consideremos este testemunho


sob dois aspectos: Primeiro, o testemunho de Paulo, no poder do Espírito Santo e, segundo, o
testemunho de Paulo dentro e fora de Éfeso.

2.5.1 As poderosas obras de Deus em e através de Paulo


O poderoso testemunho de Deus, em espírito, acompanhou o ministério de Paulo em
Éfeso. No início, o Espírito Santo fora derramado poderosamente sobre os 12 discípulos de
Éfeso. Lucas registra: “E Deus pelas mãos de Paulo fazia maravilhas extraordinárias, de
sorte que até os lenços e aventais se levavam de seu corpo aos enfermos, e as enfermidades, e
os espíritos malignos saíam” (19:11). Taylor desenvolve o tema da soberania de Deus nestas
áreas argumentando que os dons de Paulo não eram algo sob seu próprio controle, mas sim,
ele fora habilitado a fazer estas coisas somente de vez em quando. (ver Atos 14:3 para
formulação semelhante e Taylor 99, 101, 132, 307).46
O método de Deus, ou a maneira de trabalhar, sempre se encaixava na situação que
seu povo estivesse. Para Paulo fora dado um extraordinário poder quando ele trabalhou e
rebateu a cultura de magia que o cercava em Éfeso. Tal como acontecera com Moisés e Faraó,
o poder de Deus era claramente superior a qualquer outro poder. A extensão das obras
poderosas pode ser vista quando muitos tentaram imitá-lo. Em Atos 19, Lucas registrou como
os exorcistas judeus ambulantes tentaram usar o nome de Jesus. Eles foram até um homem
possuído por demônios e tentaram, em nome de Jesus, fazer os espíritos saírem. Porém, foram
rejeitados e dominados pelo homem possuído por demônios e fugiram feridos e nus. Em Atos
19:17 está escrito: “E foi notório a todos os que habitavam em Éfeso, tanto judeus como
gregos; e caiu temor sobre todos eles, e o nome do Senhor Jesus era engrandecido”.
Muitos mágicos rejeitaram seus antigos costumes, queimando seus pergaminhos
mágicos. Não sabemos exatamente qual é valor atual dos pergaminhos, mas estima-se que
chegue a milhões de dólares. Uma grande mudança social, religiosa e econômica ocorreu
através do ministério de Paulo. Isto é ilustrado pelo tumulto estabelecido em Éfeso. Demétrio,
um ourives, viu o efeito econômico sobre seus negócios de prata e alertou os artesãos em seus

46 Taylor, pg. 100 afirma: “O poder sobrenatural do Salvador estava em sua própria vontade. Ele realizava seus milagres quando, onde e

como quisesse. Sua capacidade de fazer tal obra não era uma coisa delegada, mas inerente em sua própria personalidade divina; mas era
bem diferente com seus representantes oficiais. Eles são operados apenas através de sua sugestão, por isso, a operação de milagres por eles
era subserviente não ao se próprio prazer, mas à sua sabedoria. Paulo podia executar sinais sobrenaturais apenas quando especialmente
ordenado pelo Espírito Santo para fazê-lo. Ele não tinha o privilégio de fazer essas coisas quando assim o desejasse”.
94

comércios e ofícios. E a cidade encheu-se de confusão, e arrebataram dois dos companheiros


de Paulo na viagem e correram para o teatro. A revolta no teatro durou duas horas, até que
foram apaziguados por um escrivão da cidade. Este acontecimento foi um dos gatilhos para a
partida de Paulo. Já tendo em considerado a sua partida (19:21, 22), ele então, vai para
Macedônia.

2.5.2. O testemunho de Paulo dentro e fora de Éfeso.


Como mencionado acima, os ministérios de Paulo afetaram toda a cidade de Éfeso.
Paulo iniciou lecionando na sinagoga e, em seguida, na Escola de Tirano, afetando toda a
cidade. Um grupo dentro dos convertidos de Paulo fez com que o evangelho se propagasse de
Éfeso para as cidades vizinhas. Muitos argumentam que as igrejas de Esmirna, Pérgamo e
Tiatira, que são mencionadas no livro do Apocalipse, foram fundadas neste momento. Paulo
foi levado a começar seu trabalho em uma grande cidade e, em seguida, o evangelho se
propagou para fora.

2.5.3. As trilhas de Éfeso


Em meio ao poder, trabalho e testemunha de Deus havia, também, grandes
provações. Lucas se refere apenas a dois incidentes: os judeus expulsando Paulo da sinagoga e
a perturbação ocasionada pelo ourives, Demétrio. No entanto, nas epístolas de Paulo escritas
para a igreja de Corinto, podemos ver que ele enfrentou uma série de outras dificuldades.
Primeiro, houve o julgamento com a igreja de Corinto. Em uma etapa, esta igreja rejeitou
Paulo e passou a seguir a outros, os chamados, apóstolos. Paulo escreveu várias cartas aos
Corintíos e até fez uma breve visita a eles em Éfeso.
Em Segundo lugar, em 1 Coríntios 15:32 a ESV (English Standard Version): declara:
”Se, como homem, combati em Éfeso contra as bestas, que me aproveita isso, se os mortos
não ressuscitam? Comamos e bebamos que amanhã morreremos”. A NIV (Nova Versão
Internacional) e a versão de J.Young indicam que isto não poderia não ser uma figura de
linguagem. Paulo, claramente, enfrentou difíceis provações em Éfeso, não registradas por
Lucas.
Em terceiro lugar, em 2 Coríntios 1:8, ele falou da dificuldade que sofreu na Ásia
(Éfeso).
Finalmente, em Romanos 16:3,4, escrito posteriomente em Corinto (sua próxima
parada), ele se referiu a uma situação em Éfeso, na qual Priscila e Áquila o salvaram: ".... os
95

quais pela minha vida expuseram as suas cabeças; o que não só lhes agradeço, mas também
todas as igrejas dos gentios”.
O ministério de Paulo fora extraordinariamente bem sucedido e muito difícil. Paulo
mostrou a razão para isso em 2 Coríntios 1:8-11:
“Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio na Ásia,
pois que formos sobremaneira agravados mais do que podíamos suportar, de modo tal que
até da vida desesperamos. Mas já em nós mesmos tínhamos a sentença de morte, para que
não confiássemos em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos. O qual nos livrou de tão
grande morte, e livra; em quem esperamos que também nos livrará ainda. Ajudando-nos
também vós com orações por nós, para que pela mercê, que por muitas pessoas nos foi feita,
por muitas também sejam dadas graças a nosso respeito”.

2.6. O término do Ministério de Paulo em Éfeso


Paulo era um missionário, e não pastor de igreja, e assim, depois de três anos mudou-
se para continuar seu trabalho missionário. Em Atos 19:21 nos diz: "E, cumpridas estas
coisas, Paulo propos, em espírito, ir a Jerusalém, passando pela Macedônia e pela Acaia,
dizendo: ‘Depois que houver estado ali, importa-me ver também Roma.” Ele enviou Timóteo
e Erasto antes dele, para Macedonia. De acordo com 1 Coríntios, ele já havia também enviado
Titus a Corinto.

3. Corinto e a correspondência aos Coríntios

Como já observamos, enquanto Paulo estava em Éfeso, problemas surgiram em


Corinto. Como solução, Paulo escreveu aos Coríntios e também fez uma rápida visita a eles.
Isto causou um grande desconforto para Paulo, tanto que é provável que ele tenha deixado seu
rentável ministério em Éfeso para fazer uma curta viagem a Corinto. Depois, ele retornou para
Éfeso. Paulo visitou Corinto novamente após deixar Éfeso e permaneceu lá durante 3 meses.
É difícil isolar a situação e, até mesmo, as várias cartas que foram escritas para a
igreja. Sabemos de uma carta perdida, pode ter havido outras. Uma possível sequência de
eventos foi que Paulo enviou uma carta original para Corinto, a qual ficou perdida. Esta carta
foi mal interpretada (1 Cor. 5:9-11).
96

Os Coríntios enviaram uma resposta pedindo esclarecimentos e conselhos (1 Cor.


7:1). Esta foi trazida pela família de Cloé (1 Cor. 1:11), que relataram, também, que houve
luta partidária e imoralidade na igreja.
Em resposta, Paulo escreveu 1 Coríntios. Em seguida, visitou (2 Cor. 2:1), mas não
foi bem recebido e retornou humilhado a Corinto (2 Cor. 10:10). Então, ele escreveu outra
carta, referida em 2 Coríntios 2:4, 9; 7:4, 8. Esta poderia ter sido sua segunda carta, ou,
poderia ter sido uma nova.
Depois de sair de Troas, Tito o encontrou em Macedônia. Então, Paulo escreveu 2
Coríntios e, finalmente, foi para Corinto e permaneceu lá por 3 meses.

4. A coleta para os santos

Um dos objetivos de Paulo, nesta viagem missionária, era fazer uma coleta para os
santos em Jerusalém. Em Atos e nas Epístolas lemos que Paulo reuniu representantes de todas
as igrejas dos Gentios, a fim de que eles pudessem fazer uma coleta para a igreja de
Jerusalém. Isto os abençoaria e consolidaria os Judeus e os Gentios Cristãos.
A base original para o alívio dos pobres em Jerusalém foi estabelecida na primeira
visita de Paulo a Jerusalém. Em Gálatas 2:9, 10, ele escreveu: “… para que nos fôssemos aos
gentios, e eles à circuncisão. Recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres:
o que também procurei fazer com diligência”.
Paulo e a igreja de Antioquia fizeram uma viagem com fundos: “Agora, nestes dias
profetas desceram de Jerusalém a Antioquia. E um deles, chamado Ágabo, levantou-se e
profetizou pelo Espírito que haveria uma grande fome em todo o mundo (isso aconteceu nos
dias de Cláudio). Então os discípulos determinaram que cada um, segundo sua capacidade,
enviasse socorro aos irmãos que viviam na Judéia. E assim fizeram, enviando-o para os
anciãos por mão de Barnabé e Saulo” (Atos 11:27-30).
Havia uma série de razões para a viagem. Fome, seca e perseguição dos Judeus na
Judéia significavam que a igreja de Jerusalém estava sofrendo. Paulo parecia estar usando isso
para fechar a evidente brecha que ainda existia entre os Judeus e os Gentios Cristãos. Os
gentios, beneficiados com a propagação do evangelho, poderiam demonstrar sua gratidão ao
ajudar financeiramente os necessitados da igreja judaica.
Taylor observa que a lista de nomes mostra que Paulo previu que os representantes
trariam uma oferta geral feita por de todos os Gentios. A lista incluía Filipos, Beria,
Tessalônica, Corinto, Éfeso e as igrejas da Galácia (1 Cor. 16:1).
97

O princípio da coleta está estabelecido em 2 Coríntios 8 e, em particupar, 16. Em 1


Cor. 16:1 ele declarou: “Ora, quanto à coleta que se faz para os santos, fazei vós também o
mesmo que ordenei às igrejas da Galácia. No primeiro dia da semana cada um de vós ponha
a parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que se não façam as coletas
quando eu chegar. E quando tiver chegado, manderei os que por carta aprovardes, para
levar a vossa dádiva a Jerusalém.”
Esta oferta deveria ser feita a cada semana, de forma voluntária, em particupar, com
amor e gratidão (1Cor. 8:1ff). Os recursos seriam distribuidos pelos nomeados das igrejas, os
quais viajariam com Paulo (1 cor. 16:3). O último requisito salvaguardava Paulo de qualquer
acusação de desonestidade. Taylor observa que, aqui vemos Paulo como um homem amoroso,
carinhoso e prático em sua abordagem para com a igreja (342-345).

CONCLUSÃO

A terceira viagem missionária de Paulo teve três objetivos: fortalecer as igrejas;


ministrar em Éfeso e Ásia e fazer uma coleta entre as igrejas dos Gentios para os pobres em
Jerusalém.

RESUMO

Paulo viajou através de Galácia para Éfeso. Em Éfeso, teve um longo e poderoso
ministério. Deus o abençoou com muitos sinais e prodígios. A igreja prosperou e o evangelho
afetou toda a cidade e as regiões vizinhas. Muitas igrejas foram fundadas em Éfeso. Foi a
permanencia mais longa de Paulo e nos mostrou seu método pastoral para com o rebanho.
Então, Paulo foi para Macedônia e Corinto, fazendo a coleta antes de retornar para Jerusalém.
98

MÉTODO INDUTIVO: [Extrair informação do texto bíblico]


Textos de referencia. Como outros textos influenciam a nossa leitura do texto?
1.1 (etc.)

Explicação de informações importantes no texto:


-Palavras-chave e definições:
-Observações gramaticais: (estrutura das frases, leituras variantes)
-Figuras de linguagem: (comparações, associações, representações)
-O texto, explícita ou implicitamente, diz alguma coisa sobre Deus e sobre a salvação?
-Método de tradução utilizado:
-Há diferenças entre as versões da Bíblia? Quais são elas?
-Autoria humana. Como podemos saber?
-Em que ocasião o homem foi solicitado a escrever?
-Público original para leitura. Por que eles leriam o texto?
-Contexto geográfico:
-Contexto social e cultural:
-Contexto histórico:
-Contexto religioso:
-Em suas próprias palavras, o que o texto diz e qual o significado?
Comentários:

EXPLICAÇÃO EXPOSITIVA. Em ordem cronológica, identificar os principais ensinamentos


do texto em estudo.
1.
2.
3.
(outros)

CONSIDERAÇÕES LITERÁRIAS
-Gênero literário: (evangelho, história, leis, parábola, poesia, profecia, provérbio, etc).
-como o texto está relacionado aos outros textos vizinhos?
-como o texto se relaciona ao tema do capítulo e de qual livro provem?

MÉTODO ANALÍTICO. Qual é a tese principal, antítese, síntese e sincretismo do texto?

MÉTODO DEVOCIONAL DE ESTUDO. Como o texto ajuda a adorar Deus, a confessar os


pecados, dar graças a Ele e servi-lo?
99

Lição 7. Questões

1. Qual era o propósito para a terceira viagem missionária de Paulo?


2. Quem era Apólo?
3. Explique o incidente com Paulo e os 12 discípulos.
4. Por quanto tempo Paulo permanecer em Éfeso?
5. Como o Espírito Santo acompanhava o ministério de Paulo?
6. Como foram fundadas as igrejas através do ministério de Paulo em Éfeso? Quais os nomes
das Igrejas?
7. O que estava acontecendo em Corinto quando Paulo estava em Éfeso?
8. Porque é complicada a correspondência de Coríntios?
9. Qual foi a grande coleta? E como foi feita?
10. Quem foi com Paulo para entregar a coleta para as igrejas e por quê?
100

LIÇÃO 8. A PRISÃO DE PAULO, DEFESA, VIAGEM E CHEGADA EM ROMA.

Esta lição tem três partes principais. Na primeira parte Lucas enfatiza a defesa de
Paulo, "apologia", perante os judeus e os gentios. Paul foi a figura representativa para cristãos
judeus e Lucas mostra que Paulo não era um judeu herege, ele ainda estava totalmente dentro
da religião judaica, nem era culpado de qualquer crime sob a autoridade romana. Os discursos
de defesa, total de 50% de todos os sermões e ensinamentos de Paulo em Atos.
A segunda seção destaca viagem de Paulo a Roma. Deus lhe prometeu que pregaria
em Roma e ele pregou realmente, mas de uma forma inesperada.
A terceira seção concentra-se sobre a natureza da missão de Paulo em Roma.
Roma – a lição termina com duas seções curtas para ligar as epístolas da prisão de
Paulo e, também, levanta a questão sobre o que aconteceu depois que a prisão de dois anos
acabou.

1. O retorno e a prisão de Paulo em Jerusalém

Nos capítulos anteriores, Lucas traçou as três missões de Paulo. Lucas completa o
seu trabalho, centrando-se sobre a história da prisão de Paulo e na defesa de sua missão
perante os Judeus e os Gentios. O relato mostra que as ações de Paulo eram perfeitamente
consistente com a religião judaica e não eram uma ameaça para os romanos. Estes dois
objetivos foram importantes para Lucas quando ele escrevia a Teófilo, um romano, e queria
salientar que Paulo era tanto um Judeu Ortodoxo, um Fariseu, bem como, um cidadão
Romano fiel.
Ao considerarmos a defesa de Paulo, é importante salientar que não havia apenas
uma única vertente do judaísmo. Os judeus reconheceram diferentes vertentes dentro do
Judaísmo. Inicialmente, os cristãos judeus eram apenas outra vertente que foi aceita na
sociedade judaica. Em Jerusalém, os judeus, viam o cristianismo como uma seita dentro do
judaísmo. Isto continuou até depois da destruição do templo em (d.C. 70). Foi nessa fase que
as muitas vertentes foram reduzidas a um teste para a ortodoxia e os judeus rejeitaram
formalmente o cristianismo.
A defesa de Paulo consistiu em uma série de discursos diante dos judeus e das
autoridades romanas (ou seja, diante de Felix, Festo, e Festo e Herodes Agripa). Uma vez que
Paulo era a pessoa chave para levar o evangelho Cristão aos Gentios, Lucas quis que
101

compreendessemos claramente a história por trás da prisão de Paulo, bem como, a defesa que
ele fez para suas ações perante aos Judeus e aos Gentios.
Começamos por considerar se Paulo deveria ter retornado a Jerusalém. Depois de um
breve resumo das circunstâncias históricas da prisão e detenção de Paulo, vamos olhar para
defesa de Paulo diante dos judeus e, finalmente, para suas três defesas perante as autoridades
romanas. Como existe uma sobreposição significativa nessas defesas não vamos olhar para
uma de cada vez, mas sim, vamos extrair os principais temas de todas as três.

1.1. Paulo deveria ter retornado?


Uma série de analistas levantam a questão sobre a sabedoria do retorno de Paulo
para Jerusalém, quando os profetas e o Espírito Santo o advertiram, repetidamente, que se ele
voltasse, seria amarrado e preso. Por este motivo, muitos de seus irmãos não queriam que ele
retornasse. Em Atos 21:3, 4 e Atos 21:10 nos diz:
"... os quais pelo Espírito diziam a Paulo que não subisse a Jerusalém" (21:3, 4).
“E demorando-nos ali por muitos dias, chegou da Judéia um profeta, por nome
Ágabo. E vindo ter conosco, tomou a cinta de Paulo, e ligando-se os seus próprios pés e
mãos, disse: Isto diz o Espírito Santo: Assim ligarão os Judeus em Jerusalém o varão de
quem é esta cinta, e o entregarão nas mãos dos gentios. E ouvindo nós isto, rogamos-lhe,
tanto nós como os que eram daquele lugar, que não subisse a Jerusalém” (21:10).
Mediante estes avisos, Paulo estava certo em voltar?
Donnelly sugere que Paulo estava bem certo, e observa que Paulo parecia estar sob
um senso de compulsão divina para ir a Jerusalém. Em Atos 20:22 Paulo afirma claramente:
"E agora, eis que, ligado eu pelo espírito, vou para Jerusalém, não sabendo o que lá me há
de acontecer”.
Paulo estava claramente consciente do perigo e, mesmo assim, sentíasse
impulsionado ou obrigado a ir. Em Atos 21:13, ele respondeu aos discípulos: "O que fazeis
vós, chorando e magoando-me o coração? Porque eu estou pronto não só para ser preso,
mas ainda a morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus".
A profecia de Ágabo é muitas vezes mal interpretada. Ágabo não disse a Paulo que
não era para ele ir, e sim, Ágabo disse-lhe que se fosse ele seria preso e solto. A distinção é
crucial.
Lucas salienta que o perigo e a prisão, quase inevitável, como o resultado da descida
de Paulo a Jerusalém é um paralelo com a ida de Cristo para Jerusalém. Cristo inclinou seu
coração para ir a Jerusalém, mesmo quando Pedro tentou dissuadi-lo. Aqui, Paulo, Seu grande
102

apóstolo, também, inclinou seu coração para ir a Jerusalém, apesar de os irmãos tentarem
desencorajá-lo. O que aconteceu com Paulo em Jerusalém fora o mesmo que lhe acontecera
em cada cidade. Se combinarmos essas três considerações, vemos que Paulo não estava errado
em ir a Jerusalém.

1.2. Um resumo sobre o retorno e a prisão de Paulo


Paulo voltou a Jerusalém depois de sua terceira viagem missionária. Os deputados
gentios da grande coleta o acompanharam. Mesmo nesta fase final, houve ainda uma grande
desconfiança sobre as ações de Paulo na igreja de Jerusalém. A acusação era principalmente
que Paulo não se preocupava com os costumes judaicos (21:19-21). Para combater isto, os
anciãos de Jerusalém o aconselharam que falasse com o conselho da igreja (21:22) e que se
oferecesse a pagar as despesas de alguns homens cristãos que tinha feito o voto de Nazireu
(21.22-25). Paul concordou. Ele pagou as despesas deles e juntou-se aos rituais do templo e
manteve o jejum. Quando ele estava no templo, alguns judeus da Ásia o viram e levantaram
falsas acusações de que ele havia rejeitado a lei e profanado o templo, trazendo um gentio
para o interior das muralhas. (21:27-29). (Ele viajou com Trófimo, de Éfeso, mas ele não
estava com Paulo no templo). Um motim estourou e a multidão de judeus procurava ferí-lo,
mas um centurião romano o salvou. O centurião queria examiná-lo sob açoites temendo que
ele era o líder da rebelião, no entanto, Paulo afirmou ter cidadania romana a fim de se
proteger.
Estas duas acusações, a reivindicação judaica de que ele rejeitou a lei e o templo e,
estava liderando uma revolta, deveriam ser julgadas.
Lísias, o Comandante (24:7), então o trouxe perante o sumo sacerdote e ao conselho
para descobrir o motivo pelo qual Paulo tinha sido preso. Paulo argumentou que ele estava
sendo julgado por causa da ressureição. O conselho estava dividido entre Fariseus e Saduceus
e o julgamento foi adiado. Temendo um assassinato, Paulo foi enviado a Cesaréia por
proteção. Lucas observa muito claramente em Atos 23:29 que a posição Romana era que as
questões que os judeus lhes trouxeram conserniam apenas às leis judaicas. Paulo nunca
infrigiu uma lei Romana.
Paulo foi levado perante vários Governadores Romanos em Cesaréia. Primeiramente,
diante de Félix, o qual admitiu sua inocência, mas adiou libertar Paulo, buscando suborná-lo.
Ele também queria fazer um favor aos judeus (24:26). Depois de ser demitido em desonra
algum tempo depois, Félix foi sucedido por Festo, em Julho de 59. Festo examinou Paulo pela
103

segunda vez e decidiu que ele deveria voltar a Jerusalém para ser julgado. Paulo, sabendo que
ele seria morto, se ofereceu para voltar a ser julgado formalmente.
Uma vez que Paulo sabia que seria assassinado se fosse enviado de volta, fez um
apelo formal a César. Então, Paulo foi perante Festus, Herodes Agripa e Berenice para ser
examinado pela terceira vez. Eles queriam esclarecer a questão antes de o enviar a César.
Embora todos eles o declararam inocente, Paulo não pode ser liberado pois havia apelado para
Cesar.

1.3. O testemunho e a defesa de Paulo para os judeus e autoridades romanas


(Atos 23:10-26:32)
A prisão do templo trouxe duas acusações formais. Os judeus alegaram que Paulo
não era mais um judeu, que ele havia profanado o templo e rejeitado o judaísmo Atos 21:28:
"Este é o homem que por todas as partes ensina a todos, contra o povo a lei, e contra este
lugar; demais disto, introduziu também no templo os gregos e profanou este santo lugar". Os
romanos alegaram que Paulo estava liderando uma rebelião contra Roma: “Não és tu
porventura aquele egípsio que antes destes dias fez sedição e levou ao deserto quatro mil
salteadores”? (21:38)
Estas duas alegações são fundamentais para a defesa de Lucas. Se Paulo era um
Judeu herege, então o cristianismo e a missão dos gentios também estavam em erro. Se o
cristianismo era um cumprimento válido do judaísmo, então, isso era verdade. Do lado
romano, se o cristianismo era o cumprimento do judaísmo, este era protegido como uma
religião legal no tempo dos romanos (Bloomberg 19). Lucas salienta, também, que Paulo não
cometeu crime algum, segundo a lei romana. Paul era um cidadão romano bom e leal.

1.3.1. Paulo perante os judeus


Ao observar a defesa de Paulo perante os judeus, vamos nos concentrar em sua
defesa perante o Sinédrio. Na seção 3.1, observaremos a defesa de Paulo aos Cristãos de
Roma.
No julgamento perante o Sinédrio, Paulo concentrou-se na ressureição. Em Atos
23:6-9 nos é dito: "Agora, quando Paulo percebeu que uma parte era Saduceus e outra
Fariseus, clamou no conselho: Varões Irmãos, eu sou fariseu, filho de fariseus, no tocante à
esperança e ressurreição dos mortos sou julgado. "E, havendo dito isso, houve dissenção
entre os Fariseus e os Saduceus, e a multidão se dividiu. Porque os saduceus dizem que não
há ressurreição, nem anjo, nem espírito, mas os fariseus reconhecem uma e outra coisa. E
104

originou-se um grande clamor; e, levantando-se os escribas da parte dos Fariseus,


contendiam, dizendo: Nenhum mal achamos neste homem, e se algum espírito ou anjo lhe
falou, não resistamos a Deus”.
Estes versículos mostram os Fariseus, que ainda o consideravam um judeu ortodoxo,
justificou Paulo.
A ênfase na ressurreição de Cristo é encontrada em todas as defesas de Paulo. Em
cada defesa, a ressurreição é a ponte de Paulo para vincular o Judaísmo com o Cristianismo.
Paulo argumentou que era cristão pois as profecias judaicas foram cumpridas em Cristo.

1.3.2. Paulo perante as autoridades romanas


Em sua defesa para os Romanos, Lucas constantemente salientou que Paulo era um
cidadão cumpridor das leis de Roma, e não um revolucionário. Em cada caso, e
particularmente perante de Gálio e Festus, Lucas destacou o natureza Judaica da alegação e
que não surgiu nenhuma questão sobre infringir a lei Romana (320).
Atos 18:14: "Mas, quando Paulo estava para abrir a boca, disse Gálio aos judeus:
Se fosse uma questão de algum agravo ou crime enorme, ó judeus, eu teria razão para
aceitar a sua reclamação. Mas, se a questão é de palavras e de nomes, e da lei que entre vós
há, vede-o vós mesmos: porque eu não quero ser juiz dessas coisas”.
Atos 23:29: "E achei que o acusavam de algumas questões da sua lei, mas que
nenhum crime havia nele digno de morte ou de prisão”.
Atos 28:17: "Varões irmãos, não havendo eu feito nada contra o povo, ou contra os
ritos paternos, vim contudo preso desde Jerusalem, entregue nas mãos dos romanos; os
quais, havendo-me examinado, queriam soltar-me, por não haver em mim crime algum de
morte".
O Rei Agripa é um teste importante. Bruce diz: "Agripa foi apresentado quando um
oficial romano que entendeu claramente a complexidade da religião judaica e com base em
seu conhecimento declarou, enfaticamente, a inocência de Paulo. "Este homem poderia ter
sido posto em liberdade se não tivesse apelado para César” (26:32).
Concluindo, os discursos de defesa validou a missão de Paulo perante os judeus e os
gentios, e eles teriam sido de grande ajuda para Cristãos Judeus que foram ameaçados por
seus vizinhos judeus e pelas autoridades romanas por causa de Paulo. Paulo não era criminoso
ou um apóstolo, ele era um professor fiel em Israel e cidadão romano respeitado. Ele era,
também, uma testemunha veraz da ressurreição, alguém pessoalmente recomendado por Deus.
105

2. A viagem de Paulo a Itália (Atos 27:1-28:16)

Esta seção enfatiza a viagem de Paulo a Roma. Paulo e outros presos foram enviados
a Roma escoltados e submetidos a autoridade de Júlio, um centurião da coorte augusta. Júlio
era mesageiro com especiais deveres de escolta e, que também teria cuidado dos prisioneiros
(Donnely, Ramsey) ou ele estaria envolvido na organização para o transporte de grãos para
Roma, vindos de Alexandria, no Egito, uma parte vital da linha de fornecimento (Bruce 368).
De qualquer maneira, ele era um centurião com amplos poderes.

2.1. Naufrágio
No outono, final de Outubro, eles partiram para Roma. Primeiro em um navio
adramitino que ia para Mirra, na Lícia, onde embarcaram em um outro navio que transportava
milho e passageiros de Alexandria para Roma. Era um grande navio de 500 toneladas e 276
pessoas.
Eles partiram e imediatamente foram impedidos de continuar. Então, seguiram para o
sul de Creta, parando em Bons Portos. O inverno começou e navegar naquele momento era
inseguro. Eles discutiam sobre a possibilidade de continuar. Paulo estava envolvido na
discussão e sugeriu que parassem em Bons Portos. Mas o capitão e o Centurion optaram para
que se partisse dali. Quase imediatamente depois de partirem, foram surpreendidos por um
vento forte que ameaçava o navio. As nuvens tornaram a navegação impossível. Todos no
navio, incluindo Paulo, se desesperaram por suas vidas. Lucas registra "E não aparecendo,
havia já muitos dias, nem sol nem estrelas, e caindo sobre nós uma não pequena tempestade
fugiu-nos toda a esperança de nos salvarmos" (27:20).
A fim de dar forças a todos a bordo do navio, Deus apareceu a Paulo e revelou-lhe
que, embora fossem naufragados, não iriam se afogar.
Mas, depois de longa abstinência de comida, então Paulo, pondo-se em pé no meio
deles, disse: "Fora, na verdade, razoável, ó varões, ter-me ouvido a mim, e não partir de
Creta, e assim evitariam este incômodo e esta perdição. Mas agora vos admoesto a que
tenhais bom ânimo, porque não se perderá a vida de nenhum de vós, mas somente o navio .
Por esta mesma noite o anjo de Deus de quem eu sou, e a quem sirvo, esteve comigo dizendo:
Paulo não temas, importa que sejas apresentado a César, e eis que Deus te deu todos quantos
navegam contigo. Portanto, o varões, tende bom ânimo: porque creio em Deus, que há de
acontecer assim como a mim me foi dito. É contudo necessário irmos da numa ilha” (27:21).
106

Como tinha sido revelado, eles encalharam em Malta. Primeiro Paulo impidiu que
vários marinheiros saissem do barco pois, se tivessem saido, a vida de todos eles teria sido
ameaçada: "Procurando, porém, os marinheiros fugir do navio, e tendo já deitado o batel ao
mar, como que querendo lançar as âncoras pela prôa, disse Paulo ao centurião e aos
soldados: se estes não ficarem no navio, não podereis ser salvar-vos. Então os soldados
cortaram os cabos do batel e deixaram cai” (27: 30).
E depois, quando já estavam encalhados, segundo Atos 27:42-44: "Então a idéia dos
soldados foi que matassem os presos para que nenhum fugisse, escapando a nado. Mas o
centurião, querendo salvar a Paulo, lhes estorvou este intento; e mandou que os que
pudessem nadar se lançassem primeiro ao mar, e se salvassem em terra. E os demais, uns em
tábuas e outros em coisas do navio. E assim aconteceu que todos chegaram à terra, a salvo”.
Ambos os exemplos mostram que a palavra de Deus se cumpriu. Ninguém se perdeu.
Mostra como Deus usou Paulo para cumprir seus designos. As lições desta seção do livro de
Atos espelham aquelas de outras seções, sendo particularmente intensa. Lucas destacou a
providência de Deus, a forma como foi elaborada, e a sabedoria de Deus na maneira como ele
ordenou cada acontecimento. A visão mostra que Deus ainda estava com eles, que a
tempestade não poderia parar os seus designos, e a necessidade para a responsabilidade
humana. Paulo teve de tomar medidas para impedir que os homens saíssem para que se
cumprisse a vontade de Deus. Finalmente, os propósitos de Deus foram concretizados. Toda a
narrativa mostra-nos como Deus os trouxe a Roma através de seus tortuosos caminhos.

2.2. Melita
Os náufragos foram orientados a nadar até chegarem em terra, uma ilha chamada
Malita. Paulo foi picado por uma víbora, levando os moradores a acreditar que ele fosse um
homicida e, portanto, tinha que morrer. Como Paulo não morreu, eles mudaram seu parecer,
dizendo que ele era um Deus (28:6). Mais tarde, através de Paulo, houve um milagre com um
cidadão líder da ilha. Lucas afirma: " E ali, próximo daquele mesmo lugar, havia umas
herdades que pertenciam ao principal da ilha, por nome de Públio, o qual nos recebeu e
hospedou benignamente por três dias. E aconteceu estar de cama enfemo de febres e
disenteria o pai de Públio, que Paulo foi ver, e, havendo orado, pôs as mãos sobre ele, e o
curou. Feito pois isto, vieram também ter com ele os demais que na ilha tinham
enfermidades, e sararam. Os quais nos distinguiram também com muitas honras: e havendo
de navegar, nos proveram das coisas necessárias" (28:7-10).
107

A viagem romana destaca a natureza da vida de Paulo. Ele era um homem prático,
um viajante, bem informado sobre os acontecimentos no mundo. Ele tinha uma personalidade
forte e habilidades naturais de liderança, e com isso, ele emergiu rapidamente como o líder.
Essas habilidades foram fotalecidas e assistidas pelo poder do Espírito Santo.
Eles permaneceram em Malita por três meses, em seguida, tomaram um navio para a
Itália.

2.3. Chegando a Itália


Eles chegaram a Itália no início da primavera. Então, ele começaram a subir a estrada
para Roma. A igreja de Roma estava esperando por Paulo e eles se encontraram na Via Ápia.
Uma segunda delegação da igreja o encontrou mais perto de Roma, em Três Vendas.

3. A missão de Paulo e a primeira prisão romana


O título acima é proposital. O relato de Lucas sobre Paulo mantém o mesmo padrão
para evangelizar os judeus e depois voltando-se para os gentios. Paulo não plantou uma igreja
em Roma, a Igreja Romana já existia nessa época.47 O livro de Atos é um livro missionário,
aquele que incide sobre a propagação do evangelho. Esta foi a última chance de Lucas para
mostrar a essência do evangelismo de Paulo aos Judeus e depois aos Gentios.
Lucas registrou duas ocasiões em que Paulo falou para os Judeus em Roma.

3.1. Primeiro os Judeus


Em circunstâncias normais, Paulo teria ido para a sinagoga judaica, mas devido à sua
prisão, ele não foi capaz. Em vez disso, ele convocou os líderes dos Judeus, e lhes perguntou
o que poderiam ter ouvido falar e eles professam não saber nada sobre a seita. Paulo afirma
não ter nada contra o povo judeu, mas que foi entregue pelos judeus aos romanos. Ele
ressaltou que os romanos quiseram libertá-lo, mas como sua vida estava em perigo ele teve
que apelar para César. Os judeus disseram que não tinham ouvido nada a respeito e que
desejavam que Paulo lhes contassem sobre essas coisas. Então, Paulo e os líderes judaicos
organizaram um dia apropriado para discutir as questões.
Em Atos 28:23-24 Lucas registra a segunda reunião.
47 Sabemos através de Atos 2:10, Priscila e Áquila são daqui, Paulo havia escrito à igreja de Roma, de Corinto em 57 d.C. e Lucas

menciona que ele foi encontrado por dois delegados da igreja romana no caminho de Roma.
108

"E havendo-lhe eles designado um dia, muitos foram ter com ele à pousada. Desde
manhã até a tarde ele expôs a eles, testificando o reino de Deus e tentando persoadí-los a fé
de Jesus, tanto pela Lei de Moisés como pelos profetas. E alguns criam no que se dizia; mas
outros não criam".
Nestes dois versículos, Paulo reafirmou observações iniciais de Cristo em Atos 1:3-8.
Ele explicou o reino de Deus e convenceu-os a respeito de Jesus, de Moisés e dos Profetas.
Lucas enfetizou sobre o reino de Deus no início do trabalho e aqui no final mostrou,
novamente, que este é o tema mais importante.
A seção termina com a advertência de Paulo aos judeus. Em Atos 28:26-28, lemos:
"Bem falou o Espírito Santo estava certo em dizer a nossos pais pelo profeta Isaías:" Vai a
este povo, e dize: "De ouvido ouvireis, e de maneira nenhuma entendereis; e vendo, vereis, e
de maneira nenhuma percebereis. Porquanto o coração deste povo está endurecido, e com os
ouvidos ouviram pesadamente, e fecharam os olhos, para que nunca com os olhos vejam,
nem com os ouvidos ouçam, nem com o coração entendam, e se convertam e eu os cure. Seja-
vos pois notório que esta salvação de Deus é enviada aos gentios, e eles a ouvirão”.
Paulo citou um versículo de Isaías, que era o mais frequentemente citado no Novo
Testamento.48 Ele argumentou que assim como os judeus responderam nos dias de Isaías, e
que eles continuaram a responder (Isaías 6:9). Eles foram orientados a ouvir e ver, mas não
compreenderam ou perceberam porque tinham endurecido seus corações para a verdade. Eles
recusaram a palavra e agora eles não eram capazes de ouvi-la. As ações de Paulo indicam que
ele terminou sua evangelização junto aos judeus e que agora voltaria para os gentios (Ver
Romanos 11:25-32). Se a mensagem tinha sido um fracasso para os judeus, a missão
continuou a ser um sucesso para os gentios.

3.2. A missão de Paulo junto aos Gentios


Por dois anos, Paulo continuou a pregar e a ministrar para os gentios em Roma Os
versículos finais indicam um tempo bem sucedido e rentável de seu ministério. Neste período,
Paulo pregou e modelou o evangelho como uma fiel testemunha e um homem preso a Cristo.
Seu exemplo ilustrado para a igreja foi de uma testemunha fiel, no julgamento e sofrimento,
algo do qual eles iriam precisar quando estourou a grande perseguição de Nero sobre os
cristãos. As cartas de Paulo, escritas neste momento, nos fala sobre seu ministério. Ele

48 Este verso também é citado em Lucas 8:10, 13:13-15 Mt (inteiramente citado), 4:12 Marcos, João 12:39ss
109

converteu muitos. Em Filemon 1:10 ele afirma: "Rogo-vos por meu filho, Onésimo, cujo pai
tornei-me na minha prisão." Onésimo era um exemplo do fruto da pregação de Paulo. Muitos
dos colaboradores de Paulo o visitaram em Roma, recebendo instruções e mensagens para as
igrejas.
O cooperação de Timóteo a Paulo foi um exemplo de como ele continuou seu
ministério para as igrejas enquanto estava em Roma. "Espero no Senhor Jesus que em breve
vos mandarei Timóteo, para que também eu esteja de bom ânimo, sabendo de vossos
negócios. Porque a ninguém tenho de igual sentimento, que sinceramente cuide do vosso
estado. Porque todos buscam o que é seu, e não o que é de Cristo Jesus. Mas bem sabeis qual
a sua experiência, e que serviu comigo no evangelho, como filho ao pai. De sorte que espero
enviar-lo assim que tenha provido a meus negócios. Mas confio no Senhor, que também eu
mesmo em breve irei ter convosco”. (Filipenses 2:19-24).49

4. Primeiras epístolas da prisão de Paulo

Não é certo, mas é provável que Paulo escreveu, em Roma, as chamadas Epístolas da
Prisão, ou seja, Efésios, Filipenses, Filemom e Colossenses.

5. Roma e mais além

Atos 28:30,31: "Então Paulo ficou dois anos inteiros na sua própria habitação que
alugara, e recebia todos quantos vinham vê-lo. Pregando o reino de Deus, e ensinando com
toda a liberdade as coisas pertencentes ao Senhor Jesus Cristo, sem impedimento algum”.
Lucas concluiu seu livro observando que Paul passou dois anos preso em sua casa.
Paul ficou esperando que seus acusadores viessem e fizessem acusações formais. Lucas não
nos diz o que aconteceu em defesa de Paulo ou, até mesmo, se os judeus vieram e o acursaram
formalmente. Se ele ofereceu alguma defesa, esta teria sido a mesma que fez em Cesareia.
É mais provável, que Paulo tenha sido libertado antes de Julho de 64 d.C., quando
Nero falsamente prendeu e acusou os Cristão de atearem fogo a Roma. Paulo teria, então,
viajado por mais dois anos antes de sua última prisão e martírio.
Os últimos versículos resumem o tema principal do livro. Paulo estava na prisão. Ele
estava sofrendo por causa do evangelho, mas a palavra de Deus continuou a se propagar. Atos
termina com a palavra "sem impedimento algum".
49
110

CONCLUSÃO

A última terça parte do livro de Atos refere o ministério de Paulo em Jerusalém e a


sua viagem a Roma. Embora Deus tenha prometido a Paulo que ele chegaria a Roma, ele
chegou lá através de muitos problemas, fadiga e armadilhas. Atos termina com Paulo na
prisão em Roma testemunhando o evangelho.

RESUMO

Embora advertido que sofreria se voltasse a Jerusalém, Paulo retornou com a coleta
das igrejas dos Gentios. Paulo foi preso no templo e manifestou sua defesa perante o Sinédrio.
Eles estão divididos. Paulo, então, fez a sua defesa perante Félix, Festo e Herodes Agripa e,
em todo momento, eles concordaram que ele não infrigiu nenhuma lei Romana. Paulo não
era um herege ou um agitador romano. Paulo, então, viajou para Roma. Ao chegar a Roma,
evangelizou os judeus e depois de ser rejeitado, voltou-se para os Gentios. O livro de Atos
termina com Paulo na prisão em Roma.
111

MÉTODO INDUTIVO: [Extrair informação do texto bíblico]


Textos de referencia. Como outros textos influenciam a nossa leitura do texto?
1.1 (etc.)

Explicação de informações importantes no texto:


-Palavras-chave e definições:
-Observações gramaticais: (estrutura das frases, leituras variantes)
-Figuras de linguagem: (comparações, associações, representações)
-O texto, explícita ou implicitamente, diz alguma coisa sobre Deus e sobre a salvação?
-Método de tradução utilizado:
-Há diferenças entre as versões da Bíblia? Quais são elas?
-Autoria humana. Como podemos saber?
-Em que ocasião o homem foi solicitado a escrever?
-Público original para leitura. Por que eles leriam o texto?
-Contexto geográfico:
-Contexto social e cultural:
-Contexto histórico:
-Contexto religioso:
-Em suas próprias palavras, o que o texto diz e qual o significado?
Comentários:

EXPLICAÇÃO EXPOSITIVA. Em ordem cronológica, identificar os principais ensinamentos


do texto em estudo.
1.
2.
3.
(outros)

CONSIDERAÇÕES LITERÁRIAS
-Gênero literário: (evangelho, história, leis, parábola, poesia, profecia, provérbio, etc).
-Como o texto está relacionado aos outros textos vizinhos?
-Como o texto se relaciona ao tema do capítulo e de qual livro provem?

MÉTODO ANALÍTICO. Qual é a tese principal, antítese, síntese e sincretismo do texto?

MÉTODO DEVOCIONAL DE ESTUDO. Como o texto ajuda a adorar Deus, a confessar os


pecados, dar graças a Ele e a servi-lo?
112

Lição 8. Questões

1. Poque Paulo retornou para Jerusalém?


2. Porque Paulo foi até o Templo?
3. Paulo estava errado ao retornar para Jerusalém? Cite exemplos com base nas Escrituras.
4. Qual foi a defesa de Paulo para o Sinédrio? Porque Lucas incluiu isso no livro de Atos?
5. Paulo era culpado de alguma coisa dentro das leis romanas?
6. Quais foram os versículos do Velho Testamento que Paulo citou no final do livro de Atos?
7. Porque é significativa a menção de Lucas ao dizer que Paulo pregou o reino de Deus?
8. Quanto tempo Paulo permaneceu em Roma?
9. Descreva a influencia de Paulo em Roma?
10. Qual é a ultima palavra citada no livro de Atos? Descreva o seu significado.
113

BIBLIOGRAFIA:

- Beasley Murray, G.K., Baptism in the New Testament, Eugine, Wipford & Stuck, 2006
- Bruce, F.F., The Book of Acts, Grand Rapids, Michigan, Eerdmans, 1988.
- Bruce, F.F., Paul, Grand Rapids, Michigan, Eerdmans, 2000.
- Blomberg, Craig L., Jesus and the Gospels, Nashville, Tennessee, Broadman and Holmes,
1997.
- Carson, D.A. and Moo, Douglas, An Introduction to the New Testament, Grand
- Rapids, Michigan, Zondervan, 2005.
- Conybeare, W.J. and Howson, J.S., The Life and Epistles of Saint Paul, Grand Rapids,
Michigan, Eerdmans 1949.
- Donnelley, Edward, Unpublished Lectures, The Life of Paul, Trinity Pulpit, Montville, New
Jersey, No publishing date.
- Eadie, John, Galatians, Electronic Copy, Accordance Bible Software.
- Ferguson, E, Evangelical Dictionary of Theology, Edited by Walter A Elwell, Grand Rapids,
Michigan, Baker Books, 14th printing 1999.
- Green, Michael, Thirty Years that Changed the World, Grand Rapids, Michigan, Eerdmans,
2004.
- Hendrickson, William, Survey of the Bible, Grand Rapids, Michigan, Evangelical Press,
1977.
- Jervell, J., Luke and the People of God, Minneapolis, Augsburg Publishing House,1972.
- Johnson, Dennis E. The Message of Acts, Phillipsburg, New Jersey, Presbyterian and
Reformed, 1997.
- Marshall, I Howard, Editor, Witness to the Gospel, David Peterson, Grand Rapids, Michigan,
Eerdmans, 1998.
- Marshall, I Howard, Acts, Tyndale New Testament Commentaries, Grand Rapids, Michigan,
Eerdmans, Reprint 2000.
- O’Brien, P.T., Gospel and Mission in the Writing of Paul, Grand Rapids, Baker Books, 2001.
- Pollock, John, The Apostle, A Life of Paul, Colorado Springs, Colorado, David C. Cook,
1985.
- Ridderbos, St. Paul’s Epistle to the Galatians, Grand Rapids, Michigan, Eerdmans, 1953.
- Stalker, James, Life of Paul, Uhrichsville, Barbour and Company Inc., 1994.
- Squires, Witness to the Gospel, nota de rodapé a ser inserida.
- Taylor, William M, Paul the Missionary, New York and London, Harper and Brothers, 1881.
114

- Whyte, Alexander, The Apostle Paul, Cincinnati, Jennings and Graham, sem data de
publicação.
115

APÊNDICE 1: Estrutura dos tópicos e Cronologia da vida de Paulo

Paulo é a figura central no livro de Atos e sua vida nos ajuda a datar o livro. O que
será mostrado a seguir foi retirado de um artigo muito útil: "A Vida e as Epístolas de Paulo"
de John A. Battle Ph.d. pelo " Western Reformed Seminary" (www.wrs.edu). O artigo é
apresentado na íntegra, mas eu mudei a formatação.
Para se entender e apreciar a vida de Paulo devemos nos familiarizar com o contexto
geral dos tópicos e com as datas dos eventos importantes. A descrição mostrada a seguir foi
retirada de Frank J. Goodwin, A Harmony of the Life of St. Paul (A Harmonia da vida de
Paulo). Datas foram alteradas com base nas evidencias que seguiremos e a data da escrita de
Gálatas foi ajustada. Os alunos devem estar familiarizados com essa descrição.
Eventos da cronologia de Paulo:

1. Início da vida de Paulo na sua primeira viagem missionária


- Conversão - 36 d.C.
- Em Damasco e Arábia, 36-38 d.C.
- Fuga de Damasco, primeira visita a Jerusalém, 38 d.C.
- Em Tarso e nas regiões da Síria e Cilícia, 38-45 d.C.
- Um ano em Antioquia com Barnabé, 45-46 d.C.
- Segunda viagem a Jerusalém com doações ("visita pela fome"), 46 d.C. verão / outono.

2. Primeira viagem missionária - 47 d.C. -primavera/verão – 48 d.C. verão / outono.


- Em Antioquia "um longo tempo", 48 d.C. -outono – 49 d.C. primavera / verão.
(Talvez Gálatas, foi escrito em Antioquia, 49 d.C. [data inicial]).

3. Terceira visita a Jerusalém, o Concílio, Verão de 49 d.C.

4. Segunda viagem missionária, 49 d.C. verão – verão de 51 d.C.


- I Tessalonicenses, escritas em Corinto, 50 d.C.
- 2 Tessalonicenses escritas em Corinto, 50 d.C.
(Talvez Gálatas foi escrito em Corinto, 50 d.C. [data intermediária]).
- Quarta visita a Jerusalém

5. Terceira viagem missionária, 51d.C. -outono e 54 d.C. -primavera.


116

-Gálatas foi escrito em Éfeso, em algum momento em 51-53 d.C. [ultima data; tradicional].
- I Coríntios escritas em Éfeso, 53 d.C.
- 2 Coríntios escritas em Macedónia, 53 d.C. -outono.
(Talvez Gálatas foi escrito em Corinto, do inverno/primavera de 54 d.C. [data mais recente]).
- Romanos foi escrito em Corinto, 54 d.C. -inverno/primavera.

6. Quinta visita a Jerusalém, Paulo apreendido no templo, verão de 54 d.C.

7. Prisão em Cesareia, em 54 d.C. - verão e em 56 d.C. -verão.

8. Viagem a Roma, 56 d.C. -outono – 57d.C. -primavera.

9. Primeira prisão romana - 57 d.C. -Primavera – 59 d.C. -primavera.


- Efésios foi escrito em 57 ou 58 d.C.
- Colossenses escritas em 57 ou 58 d.C.
- Filemon escritas em 57 ou 58 d.C.
- Filipenses escritas em 58 ou 59 d.C.

10. Entre a primeira e a segundo prisão romana, aprox. 59 d.C. - aprox. 64 ou 67 d.C.
- I Timóteo escritas em Macedónia
- Tito escritas em Éfeso

11. Segunda prisão romana, aprox. 64 ou 67 d.C.


- 2 Timóteo escritas em Roma, 64 ou 67 d.C.

12. Morte de Paulo, aprox. 64 ou 67 d.C.

Chaves para a cronologia de Paulo


Para se descobrir quando os vários eventos ocorreram na vida de Paulo, devemos
correlacionar os tempos mencionados em Atos e nas Epístolas, o período de tempo necessário
para as várias viagens, as estações do ano quando a navegação era possível e os sincronismos
do tempo encontrado na história secular e na arqueologia. Há três ligações primárias entre a
vida de Paulo e a história secular que nos permite delinear sua cronologia na estrutura dos
117

tópicos. Esses três sincronismos fornecem a estrutura pela qual a cronologia da vida de Paulo
pode ser trabalhada. Mesmo assim, algumas das datas são aproximadas, e outras são incertas.

Imperadores Romanos: Augusto 30 a.C. – d.C. 14, Tibério 14-37 d.C., Calígula 37-41d.C.,
Cláudio 41-54 d.C. e Nero 54-68 d.C.

1. Fuga de Paulo de Damasco, 37-40 d.C. (Atos 9:19-25).


- Aretas, era o rei de Damasco (2 Coríntios. 11:32-33) Aretas IV, o tetrarca, rei dos Nabateus
em 9 a.C., aprox. d.C. 40. Damasco era controlada diretamente por Roma desde 62 a.C.,
provavelmente a região foi dada a Aretas pelo Imperador.
- 1.4 Calígula em 37 d.C. Enquanto que as moedas de Augusto, Tibério e Nero estavam lá,
não havia porém nenhuma de Calígula ou Cláudio. Assim Aretas tinha o controle de Damasco
37 d.C. - aprox. 40.
- Fuga de Paulo ocorreu três anos depois de sua conversão (Gl. 1:18).

2. Proconsulado de Gálio na Acaia, 51-52 d.C. (Atos 18:12-17)


- Em 44 d.C. o Imperador Cláudio devolveu Acaia para o Senado, e a província foi
administrada através de um propretor com o título de procônsul. Os procônsules governariam
apenas com um mandato de um ano.
- É provável que Gálio tenha ocupado esse cargo em 49 d.C. ou depois disso, desde que seu
irmão Seneca estivesse mais favorável nesta época.
- As inscrições de Delfos mencionam uma data mais antiga. Mencionam Gálio como
procurador na vigésima sexta proclamação de Cláudio como imperador, o que teria sido na
primeira metade de 52 d.C. Assim Gálio poderia ter permanecido neste posto no ano de 51-52
d.C. ou de 52-53 d.C.
- Para um estudo mais detalhado dessa inscrição ver Adolph Deissmann, Paulo, App. 1,
"A Procuradoria de L. Junius Gallio", pág. 261-86, especialmente pág. 276; também Kirsopp
Lake, – Primórdios do cristianismo, 5:460-64.
- Paulo já tinha estado em Corinto em sua segunda viagem missionária, aproximadamente um
ano e meio (Atos 18:11).

3. Adesão de Festo como procurador da Judéia, 56 d.C. (Atos 24:27)


- O procurador anterior, Felix, tinha sido nomeado por Cláudio em 52 d.C. Depois de Nero ter
se tornado imperador em 54 d.C. Félix caiu em desgraça e foi julgado por Nero em Roma.
118

Seu poderoso irmão, Palas, o ajudou temporariamente (ver Josefo, Antiguidades dos Judeus
20:08:09).
- Um pouco mais tarde Nero o removeu do cargo e o substituiu por Festo (ver Eusébio,
Historia Eclesiástica 2:22:1).
- Para obter um resumo sobre a carreira de Felix e Festo, (ver, F.F.Bruce, História do Novo
Testamento, pág. 343-47).
- Evidências recém-descobertas mencionam uma data mais antiga nessas inscrições. Uma
moeda do quinto ano de Nero apresenta a gravação dos nomes dos cônsules para o ano de 58
d.C., com uma inscrição dizendo que era o terceiro ano de Festo.
Portanto, o primeiro ano de Festo teria sido 56 d.C. Paulo estava preso em Cesareia por dois
anos naquela época (Atos 24:27).
- 1.5 Ver Jack Finegan, Cronologia do NT, New ISBE, 1:691a. Ele menciona esta moeda
como uma "nova evidência micrográfica, descoberta por J. Vardaman". Observe que F.F.
Bruce (Historia do NT, 345-346) menciona a moeda a partir de 59 d.C., mas diz que isso
marcou a mudança da cunhagem da moeda, com Festo ainda começando em 59 d.C.
119

APÊNDICE 2: O Espirito Santo na história da redenção e os Atos

O trabalho do Espírito Santo em Atos é muitas vezes mal compreendido. E com


frequencia também se afirma que a obra do Espírito Santo em Atos é normativa para a Igreja
hoje.
Através das Escrituras, podemos perceber que quando Deus se revela de alguma
forma nova, ele está dando autenticidade aos profetas e às suas mensagens com sinais e
prodígios. E estes sinais e prodígios refletem a mensagem nova e lhe dão testemunho.
Podemos ver isso na libertação de Deus de Israel através de Moisés. Nesta libertação
ele mesmo se revelou para o Egito e para outras nações com poderosos sinais no evento das
10 pragas. No Monte Sinai, Deus se revelou e entregou a lei a Israel. A revelação foi
acompanhada por trovões e relampagos. O sinal corresponde também à natureza da revelação,
a lei, que traz uma maldição acompanhada de escuridão e terror.
Depois de Israel chegar na terra, a obra de Deus já não precisava mais de
autenticação e, portanto a frequência e a natureza dos sinais diminuiram. Novos sinais
ocorreram com a vinda dos profetas, o que representou uma nova etapa na história da
redenção. Deus deu autenticidade para os ministérios proféticos de Elias e Eliseu através de
milagres. Uma vez que o caminho dos profetas ficou estabelecido, os sinais começaram a
desaparecer novamente.
A próxima grande revelação ocorreu com a vinda de Cristo e o estabelecimento do
Reino. O ministério de Jesus era acompanhado por quaisquer sinais, e o proposíto deles era a
manutenção da natureza do ministério de Cristo. Jesus curou, perdoou, ressuscitou, tudo isso
apontando para a vinda do Reino na graça e na misericórdia.
Os apóstolos foram o estágio final do Apocalipse. Enquanto Cristo continuava a
revelar e a estabelecer seu Reino por meio deles, o Espírito testemunhava a verdade da obra
de Deus. A revelação de Deus nesse periodo foi completada com a morte do último Apóstolo.
Neste momento, o cânon foi fechado, não houve mais revelações novas e assim a
espetacular obra do Espírito Santo havia terminado. O Espírito Santo continuou ainda a
trabalhar na Igreja, (a conversão era a sua maior obra), mas o seu trabalho já não era mais de
uma forma exterior e visível. Esse período terminaria quando Cristo veio pela segunda vez.
No momento da segunda vinda de Jesus, a vontade de Deus mais uma vez se revelou
aos homens. Neste trabalho final, Deus fez a revelação do seu filho juntamente com seus
últimos sinais, ou seja, a destruição do antigo céu e da terra e a construção do novo céu e da
nova terra.

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