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N. 2. 15 DE NOVEMUUO DE 1843. VOL. 1

Ítt®ltiA$%
lnirotltt, i uo no ealudo das u-icncias phy.ica.. tros animaes; igualmente n.lo em ntror
armas oITensivas nem defensivaspossuo,
com que possa
repelhr os que o atacam, ou offender os
A*3M**, MKMM appareceu sobro a terra privado de que
querem privol-o da sua prezo. Para escapar uos
Mj^todos aquelles recursos quo o autor da natu- seus inimigos nao tem senuo a carreira o
esta
^MMyr(,ta havia concedido aos outros animaes
para mesma bem fraca comparada com a dos, ,
utros
proverem com segurança à suo conservação , e pre- animaes com quem está cm continua
Sen-
encherem os inoxerutaveis fins da sua existência; rival no ultimo ponto us influencius guerra.
da olmos-
o comparado com elles cm quanto á sua cons-
tituiçuo physica, parece quo foi o móis mal phera, o pouco apto pela disposição dos seus
orguos, para nutrir-se dos alimentos
aquinhoado de todos. Todos os animaes, inclusive quo o terra
lhe podia oflerecer, o homem serio certamente
o mesmo homem , carecem nos a
primeiros tem- mais miserável das creaturas se fosso abandonado
pos da vida , dos soecorros dos seus progenito- ao seu próprio inslineto. Cercado de terror
res para poderem manter-se , o escapar às ator-
montado pela fome, obrigado a empregar
ras dos outros, que mais fortes , tentam gar- de- mais fracos estratagemas
os
voral-os; e he só depois de corto o determinado para providenciar aos
meios da sua conservaçuo, a sua existência
tempo, quo varia nos differentes animaes, mas nuo
seria senão huma continuada serio do artifícios
quo he certo em cada espécie , que elles se mos- Para evitar os rigores do calor o do frio,
tram optos pura por si sós satisfazerem as suas ò
necessidades, e gozarem dos para ler hum asylo o repouso precários, buscaria
prazeres, quo na es- as cavernas da terra, os fendas dos rochedos
cala da oreação lho foram proporcionados. Pas- o as cavidades das arvores; alimentar-se!
sado este tempo que chamaremos da infância, lançaria mão de vermes, de para roptis immundos,'
não mais necessitam do auxilio dos o nem das mais mesquinhas
na velhice, nem ao terminar da vidapães, buscam a
producções da terra e até dò
restos de animaes dovorados
companhia dos da sua espécie; e por outros mais for-
pelo contra- tes. Sem quulidade alguma lhe garantisse o
no, até so esforçam por evitar a sua que
repouso e o livrasse da oggressuo, despresado
presença,
quando sentem oproximor-se o fatal termo em huns, repellido pelos outros, a sua espécie de
quo devem pagar o natureza o mais terrível e em
cruel de todos os tributos. Outro tanto não acon- poucos séculos seria aniquilada; ou então so por-
tece com o homem; a sua infância ho bastante petuana em algum conto da terra mais favora-
vel, mas n'esse mesmo caso arrastaria huma
longa e penosa, a sua velhice lambem bastante exis-
tencia mui curta e miserável.
caduca o assaz fraca
para dispensar os cuidados Com tudo este ser tão fraco, e
o o amparo dos seus semelhantes. Ainda
mais, tado tao inferior aos outros animaes, quo temos pin-
depois da infância, o homem ho bem diverso he o rei
dos da creação. Elle tem sujeitado o si os animaes
outros animaes,
pois que elle vé-so inhabilitado mais fortes, domesticado os mais bravios, des-
paro poder por si só obter o que lhe he necessário truido os mais terríveis. O tigre, o Jeuo o
para a sua subsistência. Elle he o unict. animal ,
elefante, a balea e a águia, todos igualmente
de sangue quente, que nao tem cobertura
própria obedecem á sua lei: domando a huns o devoran-
para supportar as vicissiludes da atmosphera e as do a outros, de todos so serve para satisfazer as
intempéries das estações, como
suecede aos ou- suas necessidades o contentar os seus dezejos.
a-

BPBBMBRZDBS
para o mez de JVorcmbro dc 1843.
1L1'0 EDIS «T^S-flSIIIBaSo
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LUA. MARKS CHEIAS.


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G.40 3.45 4. 2
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fl
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9.17 5.23 5.13 Explieaçüet.
11.44.24 0.19 11.39 4.33 10.12 0.3 6*5
O tempo destas epheme-
1» -¦;-10 11.44.33 0.20 B.22 *± G |8 yj rides ho o tempo médio, ou
11:05.10
... Mu.ilul.
li» ¦>- 9 11.44.42 0.21 So 0.11 Tnl
. ijuo devo marcar hum relo-
7.42 8 14
10 * 9 11.44.53 0.21 1. 0.59 gio hem regulado.
1. 8.49 9 30
17 «- 9 11.45. 5 0.22 1.43 7.49 A hora da passagem do
1.87 10. 10 40 sol pelo meridiano, denota
18 5. 9 11.45.17 0.23 2.27 8.41
3. 11.15 11.49 o tempo quo devo marcar
19 5. 8 11.48.30 0.24 3. 9.34 hum relógio hem regulado
4. .18
20 5. 8 11.45.44 0.24 3.54 10.33 quando fõr meio dia no re-
5.20 .45 113
21 5 8 11.45.69 0.25 4.47 11.34 logio do sol. Semelhante-
0.24 1.39 2 4 mente, a Lua,
22 5.8 11.40.15 0.20 6.40 *& quando pas-
7.32 2 30 253 sar pelo meridiano de noite,
23 5. 8 11.40.31 0.20 0.47 1.41 poderá servir para regular
8.35 3 17 3 42
24 5. 7 11.40.44 0.27 7.49 2 os relógios ordinários
42 9.34 4.0 4 28 pelos
26 5. 7 11.47. 0 0.27 8.48 3.37 do sol.
10.23 4.52 5 10 A hora do nascimento
20 5. 7 11.47.25 0.28 9.40 4.28
11. 5.39 G 2 o oceaso da Lua he caleu-
27 5.7 11.47.44 0.29 10.41 5.15 ,
11.44 0.25 0 51 lado com menor aproxima-
28 5. 7 11.48. 4 G.29 11.24 5.69 71G 7 42 Çfio; attenta a sua menor
29 5. 7 11.48.25 6.30 02S 6.41 *ft 8 importância, o as desigual-
8"37 dudes do nosso horisonte
30 5. 7 1U8.46 6.31 1.1/,
.53 9.12 946 phisico. jp
¦aaaMBBBpaBBgg bbibbbi^ 7.22 .
33 SCIENCIAS.

Seiiborcando-se de tudo o que o rodéa , elle des- i chymica, finalmente destinaram o nome de mtmrtu
|m.a o terra dos producto. com que mais ustento natural pura aquella parte da sciencia da natureza,
a suo superfície; arranca-lhe aquelles
que ella que trata espeeiolineiite das diflerciites portes de quê
*onega «o seu seio; vexa o oceano ; opprisiona o se compõe o torra e dm diflerentes seres
ar; adoto o» bosque*; obre os minas, divide as mon- que a ha-
bitam ; e debaixo dente ponto du v islã, a Imloria na-
tanbos; nada lhe escapa : l.u tribulnria a natureza tural aui.l.i •».* -subdivido uu abrange tres
inteira. D'onde lhe vemt«ugrande império.- Da suo grandes
ramos, designado* com us nomes de soologia,
rozao. Por que meio, ou de
que modo com esta ou sciencia que estuda os animaes; botânica
,
nova qualidade o fundou? Pela observação. Empre- sciencia que traia dos vegelaes; e mineralogià
gada em que ? Na contemplação de tudo o quo o que se oecupa dos mineraes.
rodéa, e dmiuelles mesmos seres
que até enl.to o ater- Hoje dá-se o nome de sciencias
physieas, só-
roviiiii, e dos quaes elle tanto se temia. Foi sim mente á physica o á chimica. A
primeira trata
pela observação do natureza e tios suas leis, que o das propriedades geraes dos corpos como elles exis-
homem , este ente tao fraco , adquirio sobre todos tem na natureza ; a segunda considera estas mes*
•w outros sores aquello
primazia , quo lhe faz dar o mas propriedades mas decompostos nos seus ele-
justo titulo de rei da creaçao. Foi lambem em vir- mentos. Todas as demais sciencias,
tude desta nobilissima quo tomoo o
qualidade e impelidos pelas exame qualquer corpo ou lei do nutureza , e
forças da necessidade que os homens desde as nao pertencem á algum dos Ires ramos da que bis-
primeiros sociedades fixaram a suo attençaõ a lium toria natural sao chamadas sciencias naluraes. Taes
gronde numero dc fenômenos que se ubseitam sao a geologia, a melarhigia , a agricultura, etc.
sobre o terra e na atmosphera ,
que passaram a Nada diremos do alto upreço em
quo forao ti-
meditar nos seus clTeitos eo indagar as suas leis; das em todos os tempos as sciencias
e bem depressa guiados physieas.
por tao poderoso auxi- Desde os Egypcios,
que forao os primeiros
liar tentaram a indagação dos causas de tantos as cultivaram com mais ardor, oté hoje ellas que
e Uo voriadus fenumenos, opplirando-se ao mes- ti-
verão admiradores: os maiores
mo tempo a estudar os diflerentescorpos gênios da onti-
que com- guidatle e dos tempos mudemos lizerao dellas as
poe este universo: desta sorte desde as primeiras suas delicias.
idades lançaram os homens os
primeiros funda- Bastam os nomes deMoysés, de Thales, de Anc-
inenlos das sciencias e das orles. xngoros , de Archimedes," de Pvtogoras e do Aris-
As sciencias de observação foram
por tanto as loteies entre os antigos, e os dc Bacon, de
Ga-
primeiras que os homens cultivaram: os antigos bleo, de Torricelli, deKcpler, de Huigens,
chamaram physica] ao estudo da natureza, e do
Descartes, de Lavoisier, de Newton de Leibniz
, ,
por isso deram esto nome ás sciencias de obser- de \ olla c de Cuvier ontre os modernos
voçao : algumas vezes lambem o applicaram áquel- , para re-
cordar-nos a excellencia das sciencias de observação
Ias.
que se encarregavam do exame dc alguma o o importância que sempre se lhe deu. A
das leis do mesmo universo : assim nao só a astro- cultura tem caminhado os seus parda sua
nomia, n mecânica c a óptica foram chamadas scien- progressos; ahi
estão as obras dos sábios
cias physieas , como também tiveram esto nome, que evidentemente pro-
vam o aperfeiçoamento a
B acústico , a metereologia , o botânica, a me- que tem chegado estos
sciencias, as importantíssimos descubcrlos
decina e o alchimia ; a
própria ostrologio , e a nestes últimos tempos se tem feito em todos que
falloz magia mereceram dos seus cultivadores a os
seus ramos, e os progressos do espirito humano
n denominação de sciencias cm somelhanto estudo. Accrescentoremos comtudo,
physieas.
Esta vaga e arbitraria denominação das scien-
cias ile observação mio durou que foi só depois que se applicaram as mathema-
porem muito tempo. ticas uo estudo dos fenômenos da natureza
Os primeiros sábios conhecendo , que as
quõo vasto e im- sciencias physieas receboram hum
menso era o campo das suas investigações, e grande opcrlei-
çoamonto e appareccram as mais importante desço-
que dilTicil seria poderem estudar com vantagem bertas c invenções. He ao illustre
olijectos tão variados e importantes; dividiram
cm Descartes que somos dovedoies de philosopho tão feliz
diflerentes ramos o estudo da
physica, designan- tentativa.
•lo-os com hum nome
particular segundo o ob- Na linguagem das sciencias
jecto que consideravam. Huns entregaram-sc ao o calculo ás sciencias quando se implica
estudo dos corpos considerados unicamente em physieas tomam estas o
nome de phmeo-malhemalicas, a mecânica
relação ás suas propriedades e reservaram ó esta opltca , a
a astronomia o todas as mathematicas
parle da sciencia da nutureza o nome de physi- applicadas entram n'esta classe.
¦ a propriamente dita : outrjM_j_ccu*___r_m-Si> de Passando a fallar da utilidade e benefícios
decompor os Corpos etornal-os a compor com os as artes e a sociedade tem tirado do que
próprios elementos quo tinham resultado da analy- estudo das
sciencias physieas, hum vasto c lisongeiro
-•*<¦; u oste ramo da sciencia da natureza chamaram qua-
dro se antolha ao espirito observador
que as
SCIENCIAS. 89

contempla. Desde a sua origem começaram os ho- cobrimcnlo do iodo edu acidocitriio, em
quanto
mens a colher dellas proveito, e a applical-as à nós, he mais que sullicientu para devermos tri-
aos usos da tida. Quasi todas as artes quo so tem butar o nosso re onhecimento aos sábios,
que com
inventado, derivaram os seus principios das ru-icn- tanto zelo e risco N entrega.) no eMudo dc huma
cias de obscrvaçuo. O estudo u conhecimento dai tuo altractiva quão útil sciencia , e quu , taatam
Ins do movimento dos corpos celestes , despertou t própria vida, buscuo todos os meios de prolon-
no homem as primeiras idéas da sempre iiiysle- gar u tornar mais supp.irl.iv.-l a dus seus seme-
riusa arto da navegação ; e lhe servio de norma Ihanlct.
para estabelecerem as leis e os fundamentos da Concluamos o nosso artigo. O estudo das scieu-
agricultura. As machinas as mais simples resul- cias do observação nuo será do certo interrom-
taram da observação da natureza , que submi- pido, o numero do seus cultivadores todos os dias
nistrou aos homens os modelos u us motores. augiueiita, as descobertas as mais importantes
Ninguom ignora os prodígios quo acompanha- em todos os seus ramos so suecodem todos ot
mm o invenção do palavra e a descoberta do itiinn ; «lias, e a sociedade dellas se aproveita. Que
pois ? !
e as mudanças que na sociedade produziram pela A civilisação do homem e o melhoramento du
sua applicoçuo às artes da guerra c da navegação. sua espécie seguirá seguramente o desenvolvimento
A invenção do telescópio deu o conhecer aos ho- da sua razão e os progressos das sciencias.
mens a existência de outros mundos, o lhe oITe- Dr. Lino.
receu novos e sublimes objectos de contemplação;
e do auxilio que recebeu a astronomia deste po- *mmmea*
deroso invento, resultou o exacto conhecimento
da liguro e grandeza da terra. A descuberta das PIIVSICA APPLICADA.
leis quo seguem os graves na sua queda, fez
também descobrir os que regem os grandes cor- Vi.rln.uo «In nsullin iiirtuu.r i, n.
pos que povoao o espaço e das mesmas, nasceu
nas mãos do iminortal Newton, a sublime lei da a*rj| DESCOBRIMENTO tia propridade que tem us
uttrucçno universal, que patenteando com toda a fjNjj.l.arras de aço mngnetisados , quando se
clareza a harmonia que presido à todas as obras ^^^collocam cm equilíbrio sobre o seu meio,
da creaçao , dissipou para sempre esses terrores de so dirigirem proximamentu no sentido do me-
que outr'ora os eclipses do lua o os cometas incuti- ridiano ou da linha norte-sul, deu hum auxilio
rao aos homens, e dos quaes a superstição o a igno- mui poderoso á navegação, e por isso so foi
rancia se serviram por algum tempo para fascinar a tornando hum objecto dos mais importantes do
razSo, o retardar os progressos da civilisação. A' estudo dn pbysica applicada à industria humana.
pbysica devemos todos esses instrumentos que dia- A observação foi mostrando quo a agulha ma-
riamento consultamos, e quo presentemente nos
gnetica , geralmente , náo aponta justamente para
sao indispensáveis: taes sao os relógios
que nos os pólos terrestres , e quo não só a mudança
marcam o tempo; o thermometro que nos indica de lugar, c a suecessuo do (empo produziam dif-
o grào de color ; o igrometro que nos dá o ferenças sensíveis nu sua direcção, como que ns
conhecer a humidade do ar, o baromelro horas do dia, a o tempo do anno inlluiam so
que
nos avisa das mudanças que breve vuo sueceder na bro u suu posição.
atmosphera, e outros muitos. Que diremos da in- A theoria destes movimentos, não so acha sul
venção dos guarda-raios! Quo beneficio mio re- ficicntoinente adiantada , mus tem-se feito muitas
ccheu a humanidade das arriscadas experiências observações, pelas quaes se pode , com alguma
do sábio e virtuoso Franklin. Também á
pbysica probabilidade , ajuisar da marcha da declinaçUo ou
se deve u invenção das machinas de vapor variaçüo da agulha , que assim se diurna o un-
quo
tantos melhoramentos tem introduzido em todas as
guio que forma a sua posição com o meridiano
mitras, e que conjunetamente com a invenção terrestre.
da arte typographica tom mudado inteiramente o Suppondo que buma barra de oço esteja ho-
aspecto das sociedades antigas. e concorreram a risontalmente em equilíbrio sobre o sou centro,
mudar a face das modernas,
principalmente, se a ella toma depois de magnetisadu, geralmente,
America conseguir dispensar os
productos que ora huma corta inclinação ao horisonte, que lie su-
llio ofioreco a agricultura o industria européa.
jeito a mudanças semelhantes ás que acabamos
A chimica também tem auompanhndo a phy- de fazer notar nu variação.
sica nas suas descobertas úteis ás artes e neces- Q nosso.fim neste artigo, be nppresenlor os
sarias ao homem; e benefícios incalculáveis tom
principaes factos que se tem coibido du obser-
recebido a humanidade dos descobrimentos chi- vação, a respeito da posição da agulha magne-
micos: fastidioso seria enumcral-os, ousadia ha- tica em diííerentes lugares du terra , e coordenar
veria em tentar analysal-os : a historia do des- as observações feitas no Rio de Janeiro, por meio

>*¦'!'*''
M ¦¦^(aaa«a*a«"aaF>iarT riravi '

31 SCIENCIAS.

de huma formula
que dé com probabilidade a Em Londres a variação da agulha cm 1660
variação nesta corte
pura os onnos futuros. era nullu, e foi crescendo poro o NO até
que
Ha quatro pontos sobre a superfície da terra
por 1813 foi de 2V" 3/4, tornando depois a di-
em que a agulha magnética ,
que esteve equili- miiiuir. Em Paris foi uullu em 10C7 e depois
brada horisontulmcnto antes du magnetisuda toma foi crescendo
a posição vertical, e estes
, para o N O «té que por 1810 foi
pontos so chamam a máxima do 22" 12, e depois tornou o di-
pólos magnéticos. Ha no hemisfério septcntrional miiiuir.
dous destes pólos, os
quaes se achavam cm 1830 No Cabo da Uoa-E*porança fui nulla em 1608,
nos seguintes posições: o 1." na bahia dc ltullin e em 1701 foi
a máxima do 23" 3/4 N O, ô
em 100" de longitude occidental de Grecnwich, agora vai outra vez diminuindo.
Coordenando
o em 70° l/i du latitude; o 2." no Sibéria em as observações feitas
uo llio do Janeiro,
101° 12 de longitude oriental, o 85° 3 4 de lu- meio do huma formula, por
o variação foi prova-
litude. No hemisfério meridional so observaram velmcnto a máxima
lambem dous pólos por Ilido, e do quasi 12"
quo so acharam : o 1." junto NE, o scrA nulla em 1830, passando depois
* terra de Yan-Dicmen om 130" 1/4 do longitu- o ser nara o N O.
Ksta epocha de variação nulla
do oriental, e 60*1/8 de latitude; o 2." coincide com o mais forte
xiinameiite a terra do Fogo em 124° longitude dional, pro- polo magnético meri-
que se ochn actualmente
occidental c 77a 1/4 do latitude. quasi no meri-
diano do Kio de Janeiro, mos do lado oppos-
Ha lugares na terra em quo a agulha mogne- to do
tico tomo o posição horisontal pólo terrestre.
que tinha untes Alem da marcha annual media ho a variação
tio magnetisoda, estes
pontos r.irmum hiiuia linha du agulha sujeita As oscilações, do modo
que pouco se afasta do ser hum circulo máximo dentro do mesmo anno ha no que
inclinado 12" sobro o equador terrestro lio de Janeiro
, e que diflerenças, que chegam até 1°: dentro do mes-
tem o nome de equador magnético
; este corta mo mez, até 30'; o no mesmo dia, até 10".
o equador terrestre em 113" 1/4 do longitude
A formula que lemos deduzido das observações
occidental , em 6C° 3/4 de longitude oriental.
no Rio do Janeiro, ho a seguinte,
Ha no equador magnético algumas inflexões das
quaes a maior tem lugar no occeano pacifico. a.=0,l3_—0,000351'
A maior latitude septcntrional do equador ma-
gnetico ho na Arábia : o a maior latitude me- Nesta formula x designa a variação om
ridional he na America do sul. aqual he N E antes do 1850, e N O depois: gráos,
Tanto os pólos como o equodor magnético - ho o numero de annos
nao conservam as mesmos , quo faltam ou sobram
posições sobre o globo' i duto proposta para 1850.
terrestro : assim, o 1."
polo magnético do norte A formula quo damos satisfaz
movin,en'" «nnual em longitude do aos dados proximamento
\°!? ,,Um
11' 4"; e o segundo quo tivemos ú vista, e vem a ser;
polo do mesmo hemis- 1." o verificação feita do huma medição
ferio w move 3o' 13". O 1.» que teve
polo magnético lugar em 1060 pelo rumo magnético : 2." os oh-
meridional, tom hum movimento em lonciludo servaçoes
do Bento Sanches Dorta cm os onnos
«lc 4' 7", e o 2.» do 10 57". Alem destes
mo- do 1781 a 85: 3." as observações de Roussin:
vimcntos em longitude, nota-se ainda
quo os 4." observações repetidos feitas por nós, desde o
primeiros pólos so afastam dos pólos terrestres anno de 1833 até
respectivos, o os segundos so oproximão. o presente. Bellegarde
Quanto ao equador magnético,
os pontos do sua intersecçao com o equador parece que
ter-
restre , tem hum movimento annual,
quo ainda
não está bom determinado,
para o occidente. A EXPLORAÇÃO DE FERRO NO BRASIL.
Os dous pólos a
que chamamos primoiros são
mais fortemente attrahentes do os segundos,
dc modo que, a não ser nos quo lugares próximos
A Fabrica dc Ypanemo.
a estes, a acção dos
primeiros, he muito mais bünoantes minas do ferro, montanhas
considerável.
inteiras deste minorai existem no
Posto quo a posição dos Brasil,
pólos magnéticos tem &. ,e apezar disso, elle tira ainda
huma grande influencia sobro as do estran-
posições da agulha geiro toda a quantidade de ferro
nos lugares que lhes não ostao muito que suas ne-
esta influencia ho modificada próximos' ccss.dadcs reclamam, porque não
as
equador magnético, e pela posição dò mesquinhas forças desseminadas em penso quo
magnetismo alguns pon-
pelo se tos do império, alterem
desenvolve por toda a superfície da terra quo sensivelmente o álea-
, o quo rismo de sua importação.
lie mais ou menos alterado
por influencias Iocacs Se a abundância de carvão do
pedra em ai-

-,....
SCIKNC1AS. 35

gumas regiões curopeas, se os aperfciçoamcn- ravtl. que tem o quu nao hu raro ver-se) mais
* los introduzidos nos processos da extracçao, per- do huma polegada du diâmetro. Iteunem.su, ou
niillrtii que su impnrli-m os ferros estrangeiros pnr suas arestas, ou
pelas faces, e seu intijum-lo
por hum preço inferior ao que custariam , caso constitue liitui.i camada, cujo espessura vuriu
fossem fubricudos no pai/, por outro lado relê- de hum pé a algumas 'tnlugada*. Estes cristaus
ta notar que esta vantagem só dcsfrii. Iam as ci- sflo o
prelúdio das grandes massas de mineral,
dades marítimas. As do interior sao obrigadas
quu abundam na partu austral. Aqui du todo des-
a comprar o ferro por preços tanto mais onero, apparcco
qualquer vestígio de crislalisuçao; o
sos, quanto o deplorável estudo dos caminhos ferro magnético forma massas compactos sem
nao consente senão hum meio de traiis|turte. mescla ulguma de matérias estranhas. Cllus es-
Tudo ho eamgado no dorso dus bestas, tpie tendem-se
por buixo dos pontos du montanha em
únicas podem subir os rápidos declives, e pus- quu ha maltas, o
sor pelos rochedos que o cada quo nuo permitiu avaliar-lhes
posso so encon- a extensão. Todavia como apporecein em Iodos
traiu nesses ruins atalhos. Imagine-se huma ma- os lugares em as cheias tem arrancado a
teria tao pesada como o ferro, assim transpor- camada espessa quo tio liuuius quu a cobru . he de
tudo huma centena tle léguas, o tpie segundo presumir,
que constituam exclusivamente o mole-
a marcha ordinária das bestas não exige menos rio das colunas centraes. Esta especio he a niíiis
do 20 dias do viagem; o nao se deve, ú vista rico,
quo apresenta a natureza; he formado de
disto, admirar quo nas cidades do interior tres átomos de ferro, e
quatro de oxigênio, o
aquelle metal stihii a hum valor duplo ou Ira—
que da por 1,000 partes.
pltcc do que tinha nos da costa. Ferro 7.;i8
A exploração dos minas próprias do paiz, of- Oxigênio 11*2
fereco vantagens imnicnsas aos consumidores, o A sua ritpieza mesma causa algumas dillicttl-
sobretudo aos produetores, que quando mesmo dades no fabrico, e mais adiante veremos
que,
dessem o ferro por metade do preço actual, po- em conseqüência da má disposição dos fornos,
deriaiu ainda assim realisar bencücios bem su- estas difiiculdades tornam-so
quusi insuperáveis.
periores aos quo so obtém na Europa, ondo a O primeiro estabelecimento foi a principio col-
força da concurrcncia obriga os proprietários de locado no centro da montanha
junto do mineral;
forjas a contentarem-se com pequenos lucros. mas o rio, movia as machinas, mio tendo
que
O governo tem-se conservado surdo a todas es- huma massa do água sullicionto, forçoso foi abati-
tas vantagens, o nenhum meio ba até hoje em- donal-o, o novas forjas so estabeleceram nas
pregado para animar no paiz a producção do margens do Vpancma.
primeiro do todos os metaes, a substancia mais Por muito tempo foram as forjas cat.il.ie> as
indispensável ás necessidades da civilisação. únicas usadas. Esto methodo porem , bem quu
Entretanto no numero das explorações tenta- do excedente ferro , não convinha a hum esto-
das neste ramo do mineração, ha huma sobrelu- belecimento deste
gênero, quo necessitava pri-
<lo, que devemos examinar, tanto
por causa do meiro quo tudo operar sobro grandes massas.
suo riqueza natural, como dos
processos quo Pensou-se então na construcçao do altos fornos;
tem sido suecessivomento nella empregados. mas as mesmas considerações, que tinham feito
As forjas do Vpancma estão situadas a tres lo- adoptar as forjas catalãos nos
primeiros tempos
guas ao Oesto do Sorocaba. Hum pequeno rio da exploração , presidiram o esto novo estabeleci-
corro pela frento do estabelecimento, o fica-lho mento, o surtiram os
poiores resultados, quo
por detrás a montanha do Araisoaba, onde encon- so podia esperar.
tra-so o mineral
quo alimenta a exploração. Esla Tudo foi estabelecido sobro hum plano mes-
montanha representa hum vasto circo ,
quo se quinho: longe do construir-so os fornos, segun-
abre ao Norte para dar
passagem a bum regato do as dimensões sanecionadas pela experiência,
quo ali tem a nascente. Todo esto circo dcstlo reduziram-as polo contrario, á melado do que
a base atô os pontos culminantes ho formado tio deveriam ser. As machinas hydraulicas destina-
huma pedra arcenta: no centro acham-se varias das a mover os folies, foram construídas segundo
colinas compostas tio
quarzilo tão penotrado do as mesmas vistas; e quando so quiz operar a
oxido de forro,
quo mal se pôde reconhocer esta fusão, o color era insullicionte, o mineral redu-
rocha. A matéria metálica não so acha ali uni- zia-se diflicilmento, as escorias não tinham con-
lormcmento desseminada
, mas sim em poquenos venienlc fluidoz ; os fornos entupiam-se. Appli-
grupos do cristoes octaedricos do ferro magnético. cava-so ao ferro
quasi puro os mesmos metho-
Em outros pontos a massa dos
quarzitos ho cor- dos, que na Europa se empregam para as mi-
tado por largas fundas, cobertas do huma cama- nas abundantes cm silicia. O carbonato
calca-
«Ia do cristãos octaedricos de ferro oxidulado,
roo era o único dissolvcnto empregado ; o fácil-
Mas aqui elles adquirem hum volume consido- mente advinha-se o
que sob a influencia de huma
-'¦¦¦ - '¦•fppf^'*"ff,m-.'*-

36 SCIENCIAS.

alia temperatura devia acontecer; este sal perdia zes da secca, o a fundição só parte do anno
o seu ácido carbônico, e tornava-se assim in- marcha regularmente. Dous meios podem ser
fusível, a menos que entro os mineraes se nao empregados pura supprir esta falta: bum consis-
encontrasso alguma fraca dosu de tilicia. Forma- teria em substituir uo» íulii» actuaes , huma ma-
va-se cntflo hum silicato básico, quo cm razão quina movida por vapor; e outro em reunir
de sua pouca falibilidade, dilli.-ilmeute so sepa- por hum canal as oguas do Ypanema às do rio
rava do ferro fundido. mais próximo. /'
Tal era o estado do estabelecimento, quando
o major Dloen foi encarregado de dirigil-o. Cui-
dou logo om chamar a si numerosos allemacs ba-
biluados a esto gênero do trabalho, o esto hotnciii
activo, com os fracos recursos, que lhe propor- GALVANO-I'LA9TIA.
cionava a venda do ferro *, oinprehcndoo a tarefa
árdua do tudo renovar, ou antes de croar tudo.
Elle examina attontamente as minas; certifica-se
de sua extensão e do suas diversas qualidades ;
e descobre suecessivomento no lugar todas as subs-
m .v mesma maneira , quo pelo galvinismo se
doura a praia, assim se podo dourar ou
_ pratear o ferro, o aço , cobre e todos os me-
taes. Como porém o ouro pouco adhero ao aço, i
(.meias necessárias ao tratamento completo desto ao forro, convém previamente applicar,
pelo mes-
metal. A presença do carbonato calcareo foi ve- mo processo, sobro estes dous últimos metaes,
librado na montanha do Arasoiaba, entretanto uma mui delgada película do cobre para depois
quo antes era (irado dos arredores dc S. Francisco, doural-os. O processo para o cobreamento he iden-
distantes do Vpancma hum dia do viagem , o que tico ao quo jà descrevemos para o dourameuto,
elevovo-lbo o preço acima do próprio minorai. com a dilferença porém de que o banho dove ser
Outra rocha do base do feldcpath o de amphi- feito com o cyanureto de cobro dissolvido em
bole foi igualmente descoberta nas immodiaçocs, cyunureto de potássio. Para se zincar
e empregado como dissolvento. qualquer me-
tal preparo-so buma dissolução do cyanureto dc
Os fornos funreionaram ontlo regularmente, zinco e cyanureto dc potássio, o mesmo na tem-
e produziram o quantidade de ferro necessária peratura ordinária se procede a operação, como
às despezas das novas construcções. Desde essa se faria para o dourameuto.
epocha o estabelecimento não cessou de engran- Hum banho de cyanuroto do prata dissolvi-
decer-so; comprou-se huma grande fabrica des- do em cyanureto do potássio servo para pratear.
tinada a obroiros maquinistas em 1839 , isto he , O cyanureto de platina o o mesmo cyanureto alça-
na mesma epocha , cm que os antigos fornos fo- lino he a mistura própria para se applicar a pia-
ram demolidos e substituídos por outros com tina sobre qualquer objecto metálico.
proporções mais convenientes. Em todos estes casos o metal, qualquer que
As antigas rodas hydraulicas, cuja má cons- elle seja, deve «star perfeitamente limpo antes
trucção causava huma perda considerável de for- de ser submettido à operação. Além disto o co-
ças, tinham desapparecido, cedendo o lugar a bre para ser prateado ou dourado deverá soffrer
motores mais poderosos. Os reservatórios, em duos operações provios: o primeira consiste em
que vem accumular-so as águas do Ypanema, aquecél-o até a temperatura rubra o depois mer-
haviam sido ougmentados. Aqueductos
para dis- gulhol-o no ácido sulfurico diluído; a segunda
tribuiçao das águas nas diversas maquinas, nu- om mergulhal-o no ácido nitrico froco e depois
merosos caminhos cm construcção, tudo trasia nos cm uma mistura dc ácido nitrico a 30 gráos,
arrodoros do Ypanoma o cunho do hum sebo e sal commum , lavol-o e enxugal-o em ser-
pensa-
mento activo, o intelligente. Huma só dillicul- radura de madeira. Feita esta previa operação o
dade subsistia , o vinha a ser, a insufliciencia cobre está apto para receber perfeitamente o ouro ,
das águas do Ypanoma para o movimento das
prata, ou platina.
maquinas. Este rio he mui baixo durante os me- Dr. J. V. Torres Homem.

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i.im:nAtiiKA nnirrnimtifir< fhameza. mo espirito social; devia pois o Brasil ter <r
sua reforma, visto que o glorioso Portugal ,
Artigo i. t.i«. amigo dos seus untigos
preconceitos, com-
prehenduu que u sociedade moderna , movida poli.-

i L KUC0KKI-.ND0-SIÍ o circulo dos conhecimeu-


ijt.is humanos no Brasil, vé-se que a França
[ he a nação que mais tem contribuído neste
século para o rápido progresso civilisodor deste
interesses du epocha , modificada nos seus cos-
turnos, sensível á lei uo do progresso, nao p._podia
conter-se em seus antigos limites, e nelle haviu
dado a hora do hum renascimento.
império. Descobre-se no seu desenvolvimento in- A nova litteratura portugueza provém cm parle
tcllectual, debaixo de todas as modificaçoos da França , assim como a litterutura brasileira
que
suo inherentes ao caracter nacional, a idéa franceza neste período nascente: julgamos pois de algum
dominador.. Porquanto, percorra-se o campo da interesse hum artigo que faça conhecer, em buiim
política , o distinguir-se-ha fragmentos do sys- rápida vista d'olhos, a litteratura contemporânea
lema francez; explorem-se as sciencias, physieas da França e o seu espirito; mormente se fór cs-
ou naturaes, sociaes ou philosophicas, incom- cripto sem paixão , se o autor, deixando os li-
mensuráveis dominius, a idéa franceza he mitos acanhados, sistemáticos e rotineiros du
sempre primeiro apparecerá. E, comquantoquea antiga escola , não cahir nas aberrações de alguns
França, com os seus Grétri o Auber, os seus adeptos da nova.
Halévy, e os seus Bossini o Mayer-Beer, mais Toda a litteratura do nova escola constituo
Francezes do que Italianos e Allemaes, não seja verdadeiramente a litteratura contemporânea em
u nação, dizom, mais dotada de gênio musical, França. Qual será entretanto o ponto de sepn-
a sua influencia todavia sobre esta arte nj> novo ração entro esta o a antiga ? Para que liuma
império tem sempre sido tanta
quanta a de Itália principie, devo a outra ter acabado com o ap-
e de Allemanha. Com referencia ás artes indus-
triacs, ás modas, máximo à litteratura nascento parocimento do 1789? No íim do século XVIU?
Com a queda do império, ou com a revolução
da epocha presente , ho o Brasil discípulo da de julho? O indicar huma separação exacta he
França. impossível. Não existo epocha sublime e grande,
Portugal, como dominador, havia a assim como evento , por pequeno que seja , que
imposto à colônia o seu principio
gênero de litteratura , nao deva sor considerado como hum annel desta
as mais das vezes, exceptuondo alguns illüstres re- immcnsa cadea cujas infinitas extremidades suo
presentantes, empolada, com imagens gigantescas, o porvir o o passado; seria portanto arbitraria
pretenciosas, e vãas palavras; mas sacudindo a indo- toda o qualquer divisão precisa. O trabalho da
pondoncia o jugo da antiga Lusitânia, com o mesmo intelligencia ou da natureza he sempre a con ti-
golpe com que ferio o sou systema politico que- nuação do outro anterior; tão diflicil pois seria
brou as ultimas cadéas do seu systema litterario, o assentar os limites que separam a antiga litte-
desde muito alterado, c
para logo vio-se des- ratura da nova, como o distinguir o ponto justo
pontar no horizonte o crepúsculo do huma au- que divido as diflerentes cores confundidas dó
rora nascente, formando-se
pouco tompo depois arco-íris
huma nova epocha da litteratura brasileira, ha- Isto posto, comecemos.
vendo já hoje alguns talentos trilhado esta no- Desacoroçoa na verdade a espécie humana o
bre vereda. Isto, demais, se acha na ordem das ver-sc quo foram necessários vinte e oito séculos
cousas: a nação europea e a nação americana ti-
nham ambas as mesmas instituições, alimentavam- para produzirem dous poetas épicos creadores .
Homero e Dante , troncos primitivos do nasci-
se com as mesmas idéas, tendo
quasi o mes- mento de Virgílio, Camões, Tasso o Milton.
38 LITTERATURA.
_
De tempo immemorial, desde a mais alta an- informes, nos quaes mio obstante encontram-se
iip.Miitl.tde, se abraçarmos os fragmentos épicos de primeira ordem ; deixure-
primeiros poemas
informes o imitados, o
quo se encontra ? Quinze mos mesmo de mencionar a única epopéa
que
< omposiçoes deste
gênero a principiarmos t-om o se quer uttribuir .1 Frunça, a fria Henriqueida
mundo : o Ramoyana, o Mahalharata , a Biblia, de Voltaire.
a Iliada . a Odissca , a Eneida , o Shah-Valmth , Desde o começo do actual século teve o França
a Divina Comedia, os Lusíadas, o Jerusalém li- muilo. poemas , posto que
àertada, o Paraíso perdido, o Cid, os Nibclim- poucos dit grande
merc-imento. Eis os principães : Philippe Au-
gen , Meesiada o o Divina Epopéa. Dante exho- gutta por Parseval, que he hum dos móis no-
lou o ultimo snspiro da poesia épica original ; luteis• a acçao he bem conduzida , encontram-
surgiram depois, do Albiao, de Allemanha o da so incidentes cheios de interesso e de invenção,
França , esta trindade do poetas do vóo sublime, e os caracteres acham-se com bastante habilid.i-
.Milton , Klosp-.li.ik , Alexandre Soumet!... e de desenhados. MaaTM de Ürabant,
nada mais ! Aguardemos todavia algum tempo por Ancelot;
o Sitie de Damas, por Viennet; u Allantituta,
mais; o fogo épico acha-se por ventura ulimen-
por l.eniercier, e a Panhgpocrisiada , poema rico
tudo c nao extineto ! de originalidade , de bellezas de estylo e de
Hcpcte-se , desde muito tempo, que os Fron- poe-
siii enérgica, o naturulidude. Carlos Magno ou
e*M não lem genio epico, que nao a Igreja resgatada , pelo príncipe de Canino ;
possuem
nom podem produzir o epopéa. Eslu rellevao , a Curuleida, pelo Visconde doAilicourt; mus
par-
lindo, pela primeira vez, do cérebro do algum do todos estos poemas quo tem por assumpto
obscuro indivíduo de hum século de critica aca- Carlos .Magno ( outros muitos existem dos
iibadii, soflreu, nos nossos dias, quaes
perfeita der- nao falíamos) , o de maior meiilo ho
roto. por ven-
tura o de Uarjaud , joven
Primeiramente, so, como nesses tempos, não poeta morto com vinte
e seis annos em Leipsiik, de huma bala tle or-
encararmos a litteratura isoladuincnte ; se a ex- lilheria , c moço de huma imaginação viva e
plicarmos; prendendo-a á historia, a religião, brilhante. O seu poema , ao qual devia elle
•vos costumes da épocha , és fluctuaçoes da ainda acerescentor oito cantos, licou inédito.
poli-
tica , se nao considerarmos mais como O ittimo canto de Child-Horold, Josselin, a
produeção
épica hum composto de certo numero de cantos Queda de hum anjo, dc Lomurtine, suo
onde força he que entrem absolutamente o ma- poemas
cheios de poesia e sentimentos, nos
ravilhoso, o inferno, o olyinpo; composições cm quaes com-
tudo o lyrismo sempre domina em detrimento
lim imitudas da Iliada , da" Odijssca , e mesmo da tio elemento epico. Napoledo no Egyplo de Bar-
Eneida ; mas sim os tantos enlhusiasticos de huma thélemy e .Mcry; O Ultimo Dia, por lleboul; e de
civilisação em chriao, que espalhados cabem da Edgar Quinei, Napoleão, Vrometheo , A has ver us,
boca do poeta como huma semente reproduzida onde se não encontra verdadeiramente
logo oo infinito pela do povo, do poema
povo que tem epico completo, mns fragmentos de epopéa su-
ns cem bocas da fama, reunindo os blinies, como ^l/tascerus. Segue-se depois Alfredo
quaes po-
.lera hum Pisistrato compor hum todo magestoso; do Vigny, quo não fez poemas de longo tiro,
a França então tem também a sua
poesia épica. mas pequenos poemas como Eloa, Moysés, o
Digamos mais. Da Provença passou ella Dilúvio, cujos principaes caracteres são a graça,
para a
Hespanha, c d'alli para toda a Europa moder- a vivacidade, variedade espontânea, c huma de-
na. Daquelle momento cm
que expirou o genio liciosa naturalidade. O espirito da poesia épica
do paganismo, nasceu, ergueo-so o do christiu- nianifüstou-so a Alfredo do Vigny com toda a
nismo , quo gerou a poesia religiosa o a sua vasta simplicidade. Tem a Fiança com ef-
poesia
épica da idade media , contidas ambas nos no- feito muita poesia épica; huma epopéa todavia,
mes de Arlhus o de Carlos magno. O Tilurcl c huma épopéu completa como a lliada, a Jeru-
o Parzival d'Esehembach ,
quo a Allemanha des- salcm Libertada, onde busca-la? Esperai, ain-
cobria ultimamente na poeira das suas bibliothe- ila não deu a hora; o
ias, o cujo merecimento muito exalta, só são, quo deve apparoccr não
hc obra quo tenha semelhança com os
iissim como o Lohcngrin , traducções hum poemas
pouco gregos c latinos; não, ella poderá collocor-se
alteradas do poemas francezes extraviados. A entre as do Dante, de Milton e dc Klopstock;
França então abastecia a Europa inteira com ho a Divina Epopéa do Alexandre Soumet.
versões épicas. E não são pula maior
parto vor- So a França não tivesse também tido o seu
dadeirot fragmentos dc epopéa as novellas cava- século epico na idado media, se o sceulo XVIII
lheiroscas ? Passamos cm silencio para mais de não houvesse produzido a Henriqueida, e se,
promplo chegarmos á poesia épica, o S. Luiz nos nossos dias, alguns
tio padre Lcmoinc, o David do Coras, c o poetas modernos, es-
pecialmenlo Alfredo dc Vigny e Edgar Quinet,
tfoysès salvo de Saint-Amand, todos poemas não tivessem produzido obras
que sao huma pro-
LITTERATURA. di)

va incontestável de que o século \l\ compre- ram inteiramente o tom declamatório e a moral
lii-iule a t-|iii|ii-.i, bastaria o poema «le Alexandre dogmática da escholu de Yoltiiro , especialmente
Snitmet. Ilu hiini.1 olira sublime, Uante percor- Alexandre .Souniet. quo oppiirtco oomo hum
reu o inferno, o purgatório e o paraíso, ondo, poeta trágico de mérito em Clt/tem na ira, Juan-
qual Homero christao, encontrou o vio a hu- nu a"Are , haM de Fraaea , loliraaahindo »u-
maniilade soh todas as faces; Milton revela os lifcludo no Utailiiulur e Sutil, prelúdio da mn
mystcrios «I > Éden, o desenha com troços abra. blime nlii.i quo o eollocu ao ludo do veiho Cl-
udores o primeiro sorriso do lava c a qué-du do belino.
homem; Klopstock, em huma poesia celeste, Ho nesta ópoclia em (pie a iv-iaiwinri dá ji
tob o orvalho do sanguo do Verbo sobro (iol- visos do começar que se apresenta Cusimiro De-
golh.i, fta buscar de novo a humanidade; Ale- bivigno; este como quo quer logo rt-suscilar .
xandro .Souniet obraça huma Idéa mais elevada , escola tio autor t\ Alzira, pata
pouco tempo de-
mais vasta o mais sublime ainda ; o redemp- pois trilhar vereda ililTercnlc; quanto | fôrma,
çrto do inferno, dos condemnados eternos por prender-se-ba á escola antigo; elevandn-se às re-
Christo 1 gioes mixtus du escolu moderna , quunto no pen-
Huma voz geral brada todos os dias quo por sumenlo, o que fai ilinente so reconhecerá cm
toda a parte, desde muito tempo ngonisunto, a l.ttiz XI, Marina 1'ulitro , os
/Hlws de Eduardo .
arte dramática expira, là imti efleito, onde está Huma fttmilia no imp» de I.uthno , e ti
filha do
a teu Sbakspeare, orgulhosa Inglaterra? Km Cid, ultima producçao sua,
que ao ler-so faz
que parte se acham u teu Schiller e o teu sempre recordar a obra prima de Corneille,
qm-
Coelho*, velha Allemanha? I". tu, boa o attica a faz descorar quaes eslrellns oo despontar do
França, onde estão o teu Molit-ro o o leu Cor- sol. Appareco depois Victor Hugo , o mais bri-
ncilli-? Hoje só vedes, a travei do pensamento, Ilianle e nobre representante da escola dramática
quaes sombras inaccessiveis , esses gigantes de moderna , cujos prim-ipaes peças em \erso soo Iler-
gênios, esses creadores omnipotenles da orlo! A intui, O Hei se diverte, Rutj lllat, cos Uttigra-
sociedade moderna franceza toiiitiiilo, sabida do ves, producçao do desordem, posto
que sublime
chãos do duas revoluções, náo poderá «le novo desordem, ü poeta tem huma maneira tao ori-
recuperar o seu caracter nacional , lilho do chris- ginal de conceber e executar, quo todas as suas
tianismo , que o nmor da imitação o o espirito composições dramáticas, principalmente se as
jul-
da realeza dos dous últimos séculos lhe lize— garmos pela poética dos antigos, trazem comsigo
ram perder? Sim; ella o recobra agora, em- hum caracter particular, quo em parte alguma senão
quanto quo as suas irmãus da Europa sao sub- encontra, dl desarranjo o de devassidao ; mas tudo
jugadas pelo profundo soinno do nada. Sim; isto sempre estreitamente ligado pelo
pensomento.
em Fiança , huma nova litteratura dramática so Consideradas no seu todo , ninguém poderá di-
levanta, livre nos seus passos, sacudindo zer que as composições dramáticas do Vicior Hugo
para
longo os estorvos servis o acanhados da antiga sejão grandes e bellas tragédias; consideradas
po-
poesia, conservando as regras inimtilaveis funda- rém huma a huma, achao-so ncllas todavia bel-
das pela razão. Os seus representantes nao são lezas trágicas de primeira ordem. (1 nutor mos-
•inda numerosos; novos comtudo cada dia se trou nos Uitrgraros, pela energia da sua poesia ,
apresentam. A litterotura dramática moderna, esla força du pensamento cuja idéa algumas pas-
não so achando ainda absolutamente lixa , nao sagens de llttij lilás nos pôde dar. Ha nos ul-
ha produzido completa a sua obra ; mas limas scenas desta trilogia sentimentos paternaes
quan-
tos séculos não foram
precisos para que nasces- da mais tocante grandeza o da maior simplici-
se bum Eschylo o hum Sophoclos? Hum dia dado, c quo Icmbriio ( pedimos venia aos que não
firii; o período
quo ha du abraçar a eschola partilhüo a nossa opinião ), por alguns traços de
moderna não so acha *
por ora volvido. sublimo naturalidade, esses lances do belleza
quo
A musa trágica do XIX século apresenta-se muitas vezes so encontrão cm Sbakspeare ;
'nconlinente sob a fôrma clássica vnllniriana, isto que
lembrSO, ainda quo em situação dilTerentc , as
hc, fria o
philosopliica ; mas tondo o presenli- scenas do Hubcrt c de Arthur no King John. Ale-
mento de huma renovação de idéas, o logo dando xandre Dumas, segundo chefo da escola drama-
bum passo ( o
que está longo do ser inteira- bica renascente, cujo titulo do poeta trágico são
mento o prol da
poesia dramática ) para o ly- Chrislina, Carlos Vil, obras resplcndentes de
rismo brilhante
que , hum pouco depois, so ha poesia o de paixão, mas sem arranjo lambem
de desenvolver; semelhante tragédia lio repre- como a imaginação desordenada do poeta ; o
sentada, á entrada do século,
por Daour-Lor- Alchimisla e Calligula , producções medíocres , de
mian, Arnauld, Legouvó
, Lueo do Lancival, e algum mérito comtudo; algumas passagens da
Lemercier, de
quem citaremos Agamemnon. Sc- ultima nos faz involuntariamente recordar Po-
giiem-so Guiraud , Ancelot, Lcbrun , lyettiie de Corneille. Alfredo de Yigny entra tam-
que larga-
6
40 LITTERATURA.

bem como arrimo da orto dramático moderno tt*


de dramas em prosa , posto que o teu nu-
nas fileira* du Victor Hugo o de Alexandre Du- mero
seja grande , | itnmenso o dos suas composi-
mas. Só hum titulo tem elle. mas bello
; he a çoes; mas a muior parte destos pecos tiveram
truducvao, hum
pouco litre , do üthtlto de Shaks- huma existência ephcinera, do alguns dias oo
peare , a qual faz como desupportKer e obvu- muis , batendo ellas an depois cabido como
recer a minguada imitação do Ducis. Para tiadu- ciuiit, , inere-
no silencio do ultido. A França
2ii eiU tragédia. concebida já nio possuo
por hum poeta do a tragédia do Corneille e de .latino, mas tem huma
maior genio, cru de mister hum
poeta que se tragédia nova que vingará hum dia ainda , o o dra-
identificasse com o Esrhylu inglei, era de mis- ma
ter hum grande que nuo linha o grande século. Ella também já
poeta , e este gronde poeta en- nio possue a comedia simples o
conlrou-so em Alfredo de Yigny. profunda de
Molière , a jovial e verdadeira comedia de Re-
A França também conta no sem numero do
gnard, a espirituosa comedia de Ucaumorcbois
nomes brilhantes quo appurecerom o do Adolpho o a
graciosa comedia de Morivoux ; nada mais
Dumas. Por sem duvida
que o Campo do» Cru- do ludo isto tem cila, c todavia possue huma
tados, o a sua ultima composição Atudemoitelle d» comedia
Lavaltière, demasiado o distinguem; que algum tanto partilho dos de Molière,
possuo elle o do Uegnard , do Doaumarchais e de Marivaux ;
arte de tudo traduzir em versos cheios de harmonia; mos
cujo corocter so nao acha determinado, n.ló
|ióde-so até dizer quo muitas vezes, em detri- podendo isso collocar-so oo lodo das destes
mento da acçao, do elemento trágico, nos sub- mestres. por
merge em hum oceano de
poesia que canso. Os esforços modernos paro resuscitorem a co-
Frederico Soulio , autor do Christina em Fonlai- media
dos últimos séculos foram infruetuosos.
uebleau o de üomto e Julittta ; Antônio de La-
Só Deos podia restituir ao cadáver huma alma.
tour , que fez Vallia , e einlini Ponsard
, que Podo lal comedia reviver, e sem duvida ha
ocabu de publicar huma obra notável, Lucrtcia,
do reviver, mas modificada e supportando a
tragédia com toda a antiga simplicidade
á acção o desentrecbo; o quanto influencia das idèas novas, dos costumes, das
quinto acto ho do crenças o dos conhecimentos da epocha , e ten-
mais picante interesse; o merecimento
desta peça ho a principal do hum caracter particular. Ella ainda nào exis-
pureza de sentimentos que ani- te. Na verdade existe ora em França a comedia
mio as personagens, e o desenvolvimento da
mais histórica e huma comedia de costumes; isto he,
alta e da mais sublimo virtude de huma
mulher. buma comedia de intriga, de
O drama em prosa , pequenos interes-
que om verdade ho li- ses, do conveniências e de commercio; mas
lho deste século, bobou toda a sua força
nas ainda se acha vacjllante e vaga, som fôrma re-
idéas da escola moderna
; mas quasi nunca no guiar e sem caracter fixo. Força he esperar.
escola moderna modesta e
pudico. Alli he Entro os autores modernos que so oecuparam
se encontra a desordem, huma exuberância que
de de comédias, tanto em prosa como em verso
imaginação fabricitanto, o desdém das
regras do citaremos como
oito, destas regras ainda immutaveis, cujo do- principaes: Casimiro Delovigne]
cuja mais notável comedia he 1'Ecole des Vitillardt •
minio so acha na razío. Entre os representantes
Alexandre Dumas, autor de Mlle. de Belle-Isle]
deste gênero ha nobres
por certo o cheios do d'Un Mariagt sous Louit XV, e, ha
ta ento, os pouco
quaes entretanto ultrapassam os limi- ainda, des Dcmoiselles do Saint-Cyr,
tes da estricla decência nfio que só
, sendo baldos do podem fazer lamentar a graço e o maneira es-
defeitos. Apresentam-se, em primeiro lugar,
Alexandre Dumas, autor do Henrique III, dê trundet pirituosa das primeiras; Scribo, do qual Ber-
Raton , La Camaraderie, le Vem dEau,
Ántony, da Torre de Nesle de Catherina Hoveard
, Une Chalne, são producçóes deste
o de Loretuírio, suas gênero, cheias
principaes produecões neste do espirito e de interesse. Ho outros nomes bos-
gênero; Vjctor Hugo, de quem poderemos citar tante honrosos, como
Luereota Borgia e Maria Turdor; depois os de Mozères et Empis
La- d'Alcxandre Duval, do madame Ancelot,
font, que produzio a Obra dè
prima desconhecida; Sanson, o outros mais já deskmbrados como os
Bougemont, a Duqueza de Ia Vaubaliire;
Bou suas obras.
chardy, o Sineiro de Sao Paulo; Frederico
Sou- j O vaudeville, sentimental
lié, o Proscripto e o Filho da louca; Ancelot, principalmente he
tombem verdodeiramente hum filho do
a Condessa de Chamilly, etc, etc. século,
"Alfredo Emfim hum filho por vezes delicado e cumulado
de Vigny , autor da Maréchale d'Ancre e dè
de Chatterton , drama encantador, graciosas gentilezas. Descendendo de illustres maio-
pejado de res, da pequena comedia do costumes e da
poesia, de paixão honesta e de nobres e
ros sentimentos, como a alma do pu- opera-comica, viram-no brilhantíssimo de futu-
pobre joven ro começar a vida; depois, durante algum tem-
poeta que evaporou-se para o céo.
Até aqui só havemos faJJado de po, levar a vida folgazona, simples e fresca
poucos auto- como as primeiras flores da primavera, e
por
LITTEIiATURA. 41

ultimo tornar-se do chofro velho , desregrado, que impellimlo-os , lhes bradava ao coração ! Aqui
definhar, o só ter , do tempos um tempos, cons- ho huma donzelln que so sacrifica du hom grado ;
ciência da sua nobre origem. ali huma mai quo ama a seus filhos o lhes diz :
Entre todos os vaudevillistas que tum algum — « Ido defender a pátria! Si nturrerdes
por
direito ao titulo de litterutos, furemos munçao ella, essu morte eqüivalerá a huma vida gloriosa,
de Scribe , Mullesville , Dup >rt, Dtipuiity , Ma- porquo tereis huma pagina da historia ! —» \\
lérus, Deniierv, Grangé, os irmãos (àognurd, elles correm e morrem , e ella sc envergonha do
Bayanl, Diim.iuoir o Varia. Nuste gênero ha pranteai-os. E do meio dVsse coi.flicto homens
muitos outros nomes, alguns mesmo do quem se surgiram quo, ou brilharam de envolta com os
falia com vantagem; mus cujo numero he ta- lidadores no turbilhão dos combates, ou se exila-
manlm, quo, para serom todos citados o os rum a longes terras , o distantes da pátria a hon-
que cada dia opparecem, hum só numero da raratti com sous escriptos, deixando-lho por he-
Mixehva nAo bastaria. rança mais quo hum nomo. Jacob do Andrade
Muito temos ainda quo dizer sobro a littora- Velosino, de Pernambuco, compoz , traduziu e
tura contemporânea da França; poròm, para náo publicou em liava o Anvcrs varias obras do con-
cansar a attenção do leitor, guardamo-lo para troversia , segundo a mania do tempo ; e exer-
bum segundo artigo. citou a medicina com grande reputação; Antônio
Emite Adit. Pereira, do Maranhão, exerceu a t Intuirá em
Portugal, o do volta á pátria, deu-se á conver-
são dos Indios, para os quaes rompo* hum com-
-mtttom-
pendio cm lingua brasilica , e morreu victima dn
seu zelo apostólico ; Manoel do Moraes , nasci-
ESTUDOS do em S. Paulo, escreveu em Amstcrdam a IIis-
toria da America , que não deu ao prelo por
não concluil-a , e cujos fragmentos forao ao de-
a Lima.atura brasileira durante o século xvu. pois do tanto proveito a João de Laett na com-
posiçuo do suo Historia das índias Occidentaet;
Ainaí une iiation nouvclle, qui Domingos Borboza , da Bahia , c os irmãos Sal-
problublemnr.t héritera aeulu tlu vadnr do Mesquita o Martinho do Mesquita, do
genie dca am-ieiis |tortugaia, Itio de Janeiro , se passaram aRomn, ondo com-
conimonçait ilt-jii à t rtiuru et it
a'elever au tte Ia tlcs mura. pozerao alguns poemas mysticos em latim; e
Sihumii dk Sibmondi. Dt tu litttra. em quanto Antônio de Sá, Euscbio de Mattos
turt du mitti dt f'Litrou , lem. 4.° e Lourenço Ribeiro, se avantojavam a todos os
seus compatriotas quo subiuo ao púlpito, Tci-
a luz do XVII século, om que o Bra- xuira Pinto, Grogorto do Mattos, Botelhod'Oli-
sil etngido ainda com as faxas da infan- voira, Bernardo Vieira, e Mendes da Silva cui-
cia teve quo esmagar a hydra da invasão
Íou livavao a poesia ; os desvarios, porém , do absurdo
hollandoza o batalhar por sua liberdade, grandes Gongora , o do alambicado Marino , tao applau-
o insignes homens apparecoram quer nas scien- didos então cm Hespanha o Itália, começavam á
cias, quer nas artes, quer nas letras. A instruc- ser imitados pelos Portuguezes; freiras c casqui-
çáo desenvolveu-se progressivamente, pois que no- lhos substituíram as muzas de Bernardim Ribeiro ,
vos collegios creados pelos jesuítas vierão facilitar do Camões, do Sá e Miranda, de Ferreira , do
a sua propagação, nilo obstante os inconvonien- Caminha, do Bornardcs e de tantos outros in-
tos o embaraços oceasionados por huma guerra signes engenhos, e abundaram a litteratura por-
de devastação e pilhagem. Rabello afrontou o tugueza de huma abundante esterilidade de obras
morto pugnando pela causa da pátria; Gamarão de ridículos titulos, o medíocres assumptos; pro-
e Henrique Dias suecumbiram ao pezo das fadi- clamaram-se regoneradores do gosto prevertendo
gas depois de assignalados esforços para consegui- o gosto, o quando pensavão mais e mais real-
rem o seu triumpho; Negreiros o tantos outros çar a poesia nacional, mais o mais a rebaixa vão
pleitearam por ella e com ella triumpharam, com essa abastança de antitheses a cada phrase,
mostrando ao mundo , quo hum povo escravo sa- do trocadilhos a cada verso , c de concetti a cada
hia combater pela sua liberdade, e como estrophe; o pois este mal, que tanta quebra dá
que podia
vir ainda a ser livro ; então o jugo de hum povo em as melhores composições dos poetas portugue-
irmão era menos posado e tolerável zes dossa epocha de máo gosto, nio deixou du
que o jugo
de hum povo estranho e conquistador I Velhos, accommelter os nossos, e com elle tudo so pur-
mulheres e crianças, tudo a huma voz empu- verteu ; despojaram-se de suas golfas, e se odor-
nhou as armas, o voou á narani à Hespanhola e á Italiana, vergonha, mais
guerra; o amor da
pátria, o amor da religião de seus pais, como digna de lastima, que vituperio !
42 LITTERATURA.

O primeiro de nossos lilteratus, segundo a or- nambuco, Jorge de Albuquerque Coelho, e nâo
dem clironologica, ho IJento Ferreira Pinlo
, querendo deixar sepultada no esquecimento essa
do cuja vido pouco temo*
que duer, pois quu longa serio do privações
porque passara, e du
ns suas mais interessautcs tnatm se lr.ibul.ios quo tivera, compoz u Relação do n<ut-
perdem nus
Irevas do
passado: sabe-se com ludu quo elle frugio, quu dedicou a seu amigo Jorgo de Al-
nascera em Pernambuco, no meado do XVI »u- buquerquu Coelho; companheiro cm luo culami-
culo ; passou a dór da moeidade cngolpliado no |.... transo.
cultivo du
poesia e lições da historia , 11 se re- De lodll as suas obras apenas
podemos ver
rrcaudo com o estudo duss.ienriu* naturaes, lento estu ultima, e o único mérito
se deixou sedu/ir das riquezas do quo Iho damos
pátrio ninlio he o ser ella_ producçao do mesmo antigo littc-
quo escreveu o Dialogo d,ts grandzas do Itrasil mto do Brasil; o estilo he chão, o
entre dous interlocutores, lli andino e Ateiem. pecea por
falta de concisão ; a muita rcdond.nicia do
inanuscripto numa publicado , e quu
quo o oddicio- se .,, Ii.i sobret-o, regado , ossaz entorpece a suo lei-
nador de Antônio do l.câo ( 1 tura; a dicção be pobre , o autor
) e o ahludo parece co-
Barbou ( 2 ) nos asseguram entro ricos o inte- nbecer melhor quo ninguém os seus defeito»,
rcssantissiinas noticias, assim da corograpbia como
pois que no prólogo diz:
du historia natural do «— Qui/ antes ser notado do breve
paiz. que do
Corria o onno de làifjj quando motivos
pur- preluxo, porque o meu intento principal be ser
liculures o obrigaram a se dirigir a l.i>boo o Senhor louvado e glorihVodo de todos, o
, c qual
se embarcando em a nau S. Antônio, subiu'do usando tlu sua bcnigiiidade com allligidos, os tira
porto do Beeife com vento de feiçuo, que pouco do perigos e os chega a salvamento,
depois so tornou contrario, e u nau arrasada pelo quo
peço nao olhem as palavras quo suo as que suo,
pela maré, cabiu sobre os baixos que demoram mas ao meu intento quo he ser o Senhor lou-
a entrada da barra , conhecidos lido para sempre. — »
por llaixos da
Cidade, e nao sem custo e grande risco de vida Ignoramos qual fosso o seu fim, com tudo
conseguio se salvar com os mais lio de crer quo o primeiro literato brasileiro
passageiros. A nau ,
tondo resistido a tanto se poz do novo em untiguidado, quo por outra causa nao, ter-
perigo,
cm -/.agem, levando a seu bordo minasse seus dias na pobresa e indilTerença; nâo
quarenta
soas entre homens mulheres o criancinhas; pes-o ho esse o destino do quasi todos os autores
e
nosso autor quo tomara aquelle itccidento por-
por luguezes e brasileiros ? Desgraçaduuiente ninguém
bum funesto presngio du horrendas calamidades, o contestará.
nao duvidou, proseguir cm sua viagem
, para logo Apoa este vem Grcgorio dc Mattos, hum dos
depois se arrepender. Aos seis maioies saljricos appreciados na republica das
primeiros dias de
bonança suecederum dias do tempestade e a lettras , bum desses gênios extraordinários dota-
des-
troçada nau foi cm sua derrota enlrepreza do do grando talento , cuja vida , complexo do
de
corsários francezes
quo a saquearam completa- excessos, c por ventura dramática abunda cm
mente. Para cumulo do infelicidades, a fome,
graciosas aneedotas, que conhecer fazem o quanto
osso flagcllo terrível no deserto das águas, era satyrico c extravagante.
veio
surprehender os quarenta Nascido na cidade da Bahia , cm abril 7 do
passageiros, que ae ali-
montaram pelo espaço de dozoselo dias com três 1693, terceiro filho de probos e ricos lavrado-
cocos, que so repartiam diariamente res, como foram Pedro Gonçalves de Mattos,
, e ruim
cerveja, tanta quanta bastasse
para molhar o pedir. natural da villa dos Arcos do Valdovcz, cm Por-
A final já com água aberta o levada da corrente tugal, c Maria da Guerra, senhora bahiana e
caminhava a despodaçar-so sobro o Cubo do de muitas virtudes , os
S. Ho- quaes possuiam além
que , quando Iho acodio buma caravella porlu- du outras fazendas bum vasto o bcllo canavial
gueza , quo dando-lhe cabo , a levou a encalhar na Patitiba , com dous engenhos, servidos
no porto do Cascaes, ondo so (ornou objecto por
de publica curiosidade Os perto de cento c cincoenta escravos, recebeu na
passageiros logo quo pia baptismal da calhcdral o nome de João, que
desembarcaram so dirigiram em romaria á igreja na chrisma lhe foi mudado
da Luz a render graças á Santa Virgem o pelo de Gregorio ás
en- instâncias do prelado D. Pedro da Silva
cher os votos foitos durante o naufrágio. Sam-
paio.
Bccolhido a Lisboa, publicou o seu Desde menino deu mostras de talentos não vul-
Prosopopea composto cm oitavas o dirigido poema
a seu gares, c sens pais desejando aproveitarem suas
compatriota, o governador da capitania de Per- naturaes inclinações, lhe derflo huma educação
inteiramente litteraria e seientifica. Adquirido os
estudos primários na boa cidade o viu nas-
Biblioteca t-oogr. toro. III, tit, unieo. ,
(1 ) cer, foi mandado a Coimbra, om quo cuja universi-
( 3 ) Biblioteca lusit. tom. I, png. 513. dade encetou brilhante carreira e se doutorou na

/
LITTERATURA. <a
faculdade de leis. Ahi desenvolveu elle todo o Regressou an solo natal, em rompanhia do ce*
teu gênio satírico e so tornou o assombro o a lebre jogral, Thomaz Pinto Brandão , de quem
admiração de todos. Suas satyros eram facilmente era muito intimo; e ahi serviu de thesoureiro
conhecidas pela originalidade dos peusamcntos, mór da cathedral e do vigário geral por nomea-
pela iibeiiieiHta da expressão , pelo maneira gra- ção do Arcebispo da Bahia, D. limpar Barata
. ..i.a com quo manejava o ridículo, o pelo sal do Mendonça , de que depois lhe privara seu iuc-
epigrammatico com que as adubava. Du si dizia cessor , D. João da Madre de Deus, por trajar
elle: o nosso autor habito secular quando se nao oceu-
pava nos cargos ecclesiaslicos, o recusar receber
N"oulras obras de talento ordens sacras.
Só eu sou o a-.noir.io, Então dando largas a seu gênio , so tornou mais
Mas sendo solvra , enlao o mais temivel; ao som de seu inseparável ban-
Só eu tenho entendimento (1) doliui, sem o qual nunca foi visto, empunhou
o latego da satyra porá costigor os vícios, e a
O desembargador Belchior da Cunha Brochado , corrupção dos costumes, — A educação , quo o
pasmado do suas satyras, e admirado du l.u iii- mocidado recebia dos viciosos parentes, quo com
tladr* com que elle as'improvisava, assim so expli- o exemplo ü levavam após de si
rou : « — Antla aqui hum estudante Brasileiro tao pela eslradu tia im-
moralidade; — a hypocrisia e irreligiosidade desso
relinodo no satvru que parece bailar momo ás clero da sé metropolitana do Brasil, foram os
cançonetas de Apollo. — » (2) pontos vulneráveis que escapar nau puderam as
Passando a Lisboa a praticar com hum insigne setas ilo novo Juvenal, o certo foi que elle fez
letrado , adquiriu nao pequena reputação c ser- conceber lisongeiras esperanças, pois qae delle su
viu o honroso cargo de juiz do crime , como Iam- esperava a corroerão das almas corrompidas c ca-
bem o de juiz de orpbaos, qual se colligo du Ilidas no ultimo degrau da depravaçao, tanto
sentença por elle proferida em novembro (2 ) do assim que o padre Antônio Vieira dizia que maior
1761 , que Pegas nos transmittiu, transcrevendo-a frueto se podia esperar dellas quo ile suas mis-
em suas obras. Distineto sempre pelos seus tulen- soes e sermões. Então o poeta empunhava o a/m -
tos, riT.>mmfiiil.i-el pelas suas maneiras polidas rague da critica, então castigava os vícios, era
cogrodaveis, atttrahiu a attençaõ do rei D. Pe- brando e moral , o be para ver como todo so
dro 11 , então príncipe regente, mas a graça quo quebrando em doces rimas nos pinta o namorado
lbe fazia esse monarchá, recompensondo-o com com todos os seus ademans o douaires , dirigindo
hum lugar na supplicaçuo , so viesse ao Bio dc ú sua amante requintadas phrases do mais alam-
Janeiro a devassar dos oclos de Salvador Corrêa bicado amor:
do Sá o Bcnavides, pareceu-lho incompatível com
a sua probidade (3); — regeitou-a , e cahiu no O namorado todo almisrarado ,
descontentamento do príncipe regente. Já de amor obrigado,
Deixando a corto, descontento como se colhe Faz á dama hum poema cm hum bilhete ,
do huma das décimas quo endereçava a D. João Cobardo o faz e tímido o rcmette ;
do Aloncastre : So lho respondo branda, alegro o gosta ,
E se tyranna , estima-lhe a resposta.
Mas inda que desterrado
Me tem o fado o a sorte Vai n'outro dia passear a dama,
Per hum Juiz de mà morte, Por quem se inflama ,
De que nao tenho appellado E sendo o intento ver a dama bella
He nojo, que sois chegado Passa-lho a rua , não lho vo a janella
Senhor, o tempo cm que appclle; Quo esta primeiro cm hum galan composto
Fazei que el-rei o desvelle O credito da dama, que o seu gosto,
Pagar o serviço meu,
Pois be bisarro e só eu Depois de muitos annos de suspiros,
Nfio vim muito pago delle. (4) De desdens c retiros,
Desprczos, desapegos, desenganos,
(1) Poouiaii inoilitnn, tom. I, png, 143. Constância do Jacob, serviços do annos
(íá) Anonymo , Vida tio Dr. Uregorio do Mattos Guerra,
pnff. VI.
Fazem com que da dama idolotrada
(3) Similhanto providencia so pralicnva com todo» os
-rovorwido.ea Lhe vem recado , cm quo lho dá entrada.
, q-imitlo terminavam sim inissiio , paru que ue
lniilussi) julgar ilo «eus serviços ; costumo muito louvável o
digno de iiuitnr.so. V, Catalogo dos capitáei mores gover. Com tal recado alvoraçado o moço
««..-.re*, publicada na Revista do Instituto Histórico Oco-
Quer morrer de alvoroço ;
graphico Brasileiro, tom. I. , pa_. 300.
(4 ) -'nit.iiii iin-dilu», tom. 1.
Entregue todo a hum subito disvcllo
41 LITTERATURA.

Enfeita a cara, penteando o pello; buscar ou consentisse ao menos que elle lha trou-
Galan um cheiioa, em vestir flainiuante, sesso. Gregorio sempre jovial, lhe respondeu
Parece bum cravo do Arroehella andontu. du modo algum a admittiria, a menos quu
nau
viesse manietada e conduzida por hum quecapita»
A rua sabe u junto ao aposunto do malto, como escrava fugitiva; e assim su
Do adorado pui tento , fez; e como ella dissesse quo a sua casa era de
Onde cuidou gozar da dama bella Gonçalo, lhe jurou que todos os filhos
Se lhe manda fazer pé de janella ; que delia
houvesse , assim so chamariam. Mos já toda a sua
Acceila elle , e , litro du desmaio ; reputação do advogado se tornara illusoria ,
Du cmorosos conceitos faz ensaio. os pleiteantes o desapnrovaram: e que
quem se atro-
vuria a procurar similhante homem ,
ti — Querido itlolo meu , anjo adorado quo nao dei-
vaia, ainda mesmo nas mais serias e innocentes
l.lte diz. com voz turbada , conversações do fulminar seus raios sotyricos,
So para hum longo amor ho curta a vida que
sem a mínima attenção e respeito nietainorphoseavii
Meu amor vos escusa de homicida, a mais bella personagem nhum aborto da natu-
De quu serve mattar-me rigorosa reza? E entretanto todos ambicionavuo o
Quem tantas seitas tira do formosa? possui*
suas poesias, todos sem mesmo exceptuar o
go-
vernador D. João de Alencastre,
Dai-me essa bella máo, mnpba prestante quo as fazia
copiar em hum livro reservado paro tal fim I
E n'esse rutilante O ridículo era a sua armo principal, e nella
Ouro em madeixas do cabello uudoso
primava ilu modo que a muitos maravilhava. Tantos
Prendei o vosso escravo , o vosso esposo ; o tantos não houve que se disseram seus amigos .
Nao peço muito, mas si muito peço receiosos dos obséquios de sua musa travessa,
Amor, minha senhora , bo todo excesso. receiosos de se verem metamorphoseados em mons-
tros ataviados de extravagantes e ridículos formas ,
« E modo amor quo nunco teve modo e tomados objeetos de publico divertimento ! Al-
Amor ho excesso todo
guns extractos de suas metamorphoses ou carica-
E n'esso mao de neve transparente turas comprovüo evidentemente o
Pouco pede quem ama firmemente que levtnno>
dito e dao huma idéa do seu talento satyrico ,
Dai-m'u por mais fineza , quo os favores e essa maneira quo tao peculior lhe era de levar
Sao leito e alimento dos amores. » o ridículo ao infinito, mio perdoando o
próprio'
Responde-lhe ella com hum brando sorriso physico dos satyrisados.
E no mesmo improviso,
«. — Ai, lho diz, que acordou meu
pai agora ! Vá do retrato
Amanho nos iremos, ide embora ! — » Por consoantes
Fecho a janella , o o moço mudo e
l-ica sobre hum penedo outro penedo!
quedo Quo eu vou timantes
De hum nariz do tocano cor de pato

Pelo cabello
Esposou por esto tempo Maria do Povos, viuva Começa a obra
tão formosíssimo quão pobre,
que seu tio, Vi- Quo o tempo sobra
cento da Costa Cordeiro, lho fez doação de hu- Paro pintar a giba do camcllo.
mos terras para quo so náo casasse sem doto,
pois que ha monos desse tompo já a prodigali- Causa-me engulho
dado e desleixo de Gregorio de Mattos haviam
O pello untado
arruinado toda a sua herança e jazia tão
como ella. Voltando a sua antiga pobro Que de molhado
profissão , abriu Parece que sabe sempre de mergulho.
seu escriptorio do advocacia o tove a ventura do
ver a sua banca so rodear de numeroso concurso
Não pinto as faltas
de demandistus; mas Gregorio de Mattos era sem- Dos olhos baios
pre o mesmo; som haver perdido suas nativas Que versos raios
originolidades, ataviava suas excellentes ÃNunca ferem
qualida- senSo em cousas altas.
tles com as mais risivois extravagâncias e ridicu-
Ias satyras; sua esposa, —e sua esposa tambem I—¦
Mas a fachada
não escapou a seu gênio satyrico e tomando a Da sobrancelha
resolução do abandonal-o, se foi refugiar em
Su me assemelha
casa do seu tio, que lhe veio pedir q_ue a fosse A huma negra vassoura esparramada.
LITTERATURA. 45

Nariz do embono Havendo apostas


Com tal sacada Se lie boiiiu' ou fera
Que entra na escada So assentou que era .
Duas horas primeiro que seu dono. Hum caracol que traz a casa a> rostos.

Nariz que falia De grande arriba


Longe do rosto Tanto se entono
Pois na se posto Quo já blosona
Na praça manda pór a guarda cm ala. Que engeitou ser canastra pm »cr giba.

Membros do olfotos Oh pico alçado,


Mas tio quadrado Quem lá subira
Que bum rei coroado Para aue vir»
O pódc ter por copado cem pratos. Se he Ktluia abrazador, se Alpes nevado.

Tão temerário
He o tal nariz
Que por bum triz
Nao licou cantareira de hum armário.

Você perdoe Seguem-se as pernas


Nariz nefando Sigao-se embora ,
Que eu vou cortando Pois que eu por hora
E inda fica nariz em que se assóe. Nio me quero embarcar cm taes cavernas

Ao pé da altura
Do nazo outeiro
Tem o sendeiro
O que boca nasceu he rasgadura.

Na gargantona Boa viagem ,


.Membro do gosto Senhor tocano,
Está composto Quo para o anno
O orgAo mais subtil da voz. Vos espera a Bahia entre a bagagem.

Vamos a giba, Que trunsformaçõo I Oh por certo que o go-


Porém que intento? vernador da Bahia, Antônio Luiz Gonçalves
Se eu não sou vento Coutinho, não se podia parecer com semelhan-
Paro poder subir lá tonto arriba ? te copia; mas que do originalidade por todos
esses versos! quo de talento por todas essas ex-
Sempre eu insisto travagancias e pinturas ridículas! que de varie-
Que no horisonte dade para descrever hum nariz I Era assim que
1 Vesse alto monto elle ridicularisava tudo, e tornava a pessoa de
Foi tentar o diabo a Jesu Christo. hum governador despotico o assumpto dos ga-
lhofadas o risos do povo, elle, que h força de
Chamao-ihe autores propotencias e tyrannias o vexava , querendo-se
Dorsum burlesco, tornar respeitado e obedecido!
Por fallar fresco, (Continuar-se-ha ).
No qual fabricaverum peccatores. J. Norbtrto de S. S.

¦'
W,«a..M'i-.!iJ .*• ' J I IIHUJPP,

46 LITTERATURA.

POESIAS. D'hum falso Simoente às cinzas liba ,


E solta em pranto, os manes seui evoca
Único lenitivo no desterro.
©JKB Aqui tudo me traça os
polrio» campos!!
Taes de brincada côr os apavonom,
A' PRIMAVERA. Taes os povoam multidões aligeras . (6)
Quaes pairam sobre nós, e vem fugindo
Das tenebrosas regiões polares!...
Primavera gentil, ethcreo mimo Dahi mal que so a Hasta o astro do dia
Do seio dessa nuvem resplendente Frio oguçodo as ondas enrigesso, (7)
Ao lado d'harmonia baixa a terra. Em castellos de gelo impera a morte.
Mal que appontasto , abotoaram dores Eis daii signal as legiões aludas
Mil ariadas em matiz, em cheiro. (8)
Preccpitom-se, juntam-se, romontam-sc;
Com leu aluiu calor afíervorada (1 ) Fende esquadrão triangulado os ares, I 9 .
Bcssurgc do letargo a natureza , O oceano som bussula Iransvõa
E vem beber nas viraçoes a vida. Fouto; dà vista das estivas
Amor as brancas azas dcslerindo, praias,
Derrama-so nas selvas solto cm hyinnos.
Hiurii franjadas incansável võa
Sejacs bemvindas, avezinbas meigas,
Pelo manso , azulado lirmamento ; Bcmvindas ao paiz, onde a luz vistes
No templo omnipotente do universo Pela primeira vez, ondo cnsaiastes
Innocentes mistérios solemnisa. Nas débeis pennas os primeiros vôos!
Aqui o simples camponez parado Eia ! ... Os berços tecei ã nova
No quadro magestoso contemplando , prole,
Que hade brotar do adormecido germen
As gallas quo adereçam montei , veigas
No vosso matcrnal seio amimado.
Os novos entes, que cm tropcl so Animam ,
Jà co'alviao cm punho a vista
De impressões , e impressões vaga os sentidos , pasco
O cultor nos alquclves; já concebo
Embebe o pensamento no infinito. De colheita abundoza alta esperança.
Ah ! Vamos nós também ( he tempo ) amigo , «lá nutro d'antemão ávidos li tos.
Dar pasto ao coração , dar pasto a mente. (2)
Feliz , se os seus dezejos limitasse
Dos prazeres o genio fugitivo
O homem n'essas rústicas fadigas!!
Ao valo solitário nos convida.
Mas da boa fortuna insaciável
Que sói donozo ! ! Que ar cmbalsüinodo !! Na taça d'oiro d'ambiçflo so abreva
Quo vasta paizage encantadora ! De mel envenenado a longos tragos.(10'
Aqui não he madrasta a natureza ; (3)
Deyanea em futuros mais brilhantes.
He mai; tudo respira almo deleite.
Deixa o campo, que abrolhos asperecem,
O Mondego , que ao longe vai descendo, (4) E vai rasgar os Ncptuninos reinos
Scmeiados cazaes de espaço a espaço
Sem medo a seus horrores. Ah! recua
Entre pálido bosque d'olivciras j
Insano, que to arrojas nos abismos!!...
Cingido de montanhas ondeiantes.
Pêndulos pomos dos copados ramos Pensas, que cm todo o clima os céos esgotam
Diiurivertle-criniliis larongciras; O cofre das delicias sobro os entes
Nesta estação, que teu
Brandos sicios dos subtis favoncos paiz amima?
Enganam-te os carinhos fementidos
Pelos viçosos trigos discorrendo
Vertem no coração dictamo saneto, Da fúria, que te encrava a fome d'ouro.
Mais cruel, que tormentas, là to espera
Aliviam lembranças magoadas.
Oh saudade! não punges tao aguda Para obysmar-le na vorogem cega
O não previsto, rápido tufão.
Nos sítios, onde a pátria nos recordas.
A sensível Andrómachc alTeiçoa („) Lá to esperam as podres calmarias,
Túmulo viio trilcitor, c junto a margem Quo no molle balanço a massa d'aguas
De todo o mar de pólo a
pólo jogam.
Co'os duros encontroes o lenho
geme ,
(1) «Segundo Moraei, o verbo—trflervorar— significa As juntas quasi quasi se descosem.
— em acção—; o ho islo oxactamente o
por ou quo que-
ro exprimir.
(2) Esto verso parece-mo quo nao lie meu, (G) Colore ludunt, diz Linneu da» avós.
(.!' Km contraposição r.o_ paizes quo ficam debaixo do (7) Causas .ue da Linneu _ migração das avós.
•irain, ilo
que diz Linnou — Sub noverante careri—, (8) Sogundo o mesmo naturalista as aves aiinunciam
(4) Vista do ponedn da saudade sobraneciro aos campos com seu canto o tompo de omigrar.
do Coimbra, cujas lembranças nfio podem apagar-so do mi. <,U0
nli. liiouioria. í?ntF-íma íí0 " nvo" ao b-n(*0 l'-8 -""'(.ra.
(\0) Abrevar-s*; he usado Francisco
(5) Vida Viigilio, quando falia d'Andromac_e na escra* cimento na significação de porbeber com Manoel do Nas.
vidtto, c ni. deitvrro, anciã, e sobre
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LITTERATURA. 41
Eis a magrém ao lado da dieta!...
Então desesperado alHictos olhos rRAOMENTOS
Alongaràs pelos immensos plainos,
Oue além alcance em derredor estendem na in m roeu* imiii i ,,..
Mórbidos vagalhocs ahaulodos!...
Nem hum ai solturas frio de medo IVU UlitlCÃO UU <|t l>TO miM.lllf).
Oue a morte, que esvoaça entre vapores,
Oue fétidos so elevam , mais depressa
Nao dissedente as garras em teu sangue. (11)
E quando muo divina em teu umparo
Desça, o 1'arranquo desses sorvedoiros.... CD S&VC1. BafVVaMa
Pinto inoia em deserto sem verdura , ( 12) Cuntiirliaio iiini gt-ntea: ot iii.linaiu siim
Sem água I.à 1'uguarda hum céo queimado, "¦.;»•'• (1'ai.lin. 45, v. va.;
Seccas aréas , áridas montanhas
Cobertas d'arcabouços, do rochedos Poiiulua qui ainliulnltiit in lineliria, vi.lit
lucein ii,.-iL-itiii ( Imiki-, cn|>. 20, v. ti.)
Partidos, do uracão mesquinhos restos,
'Indo
a vista se perde, o nao alcanço « Elle quo lez tremer na sua
»a natureza viva hum só vislumbre passogem
li nunca respira o viandantu 0 altar e os tronos, cm silencio dorme!
Dorme da eternidade na voragem
j]m fresca sombra, solidão perfeita, O século espantoso, o século enorme, (')
Que a dus florestas ainda mais medonha. 0 século de gloria , infâmia , horrores,
Mais trisle, do que a treva a luz renasce
Por mostrar-te a nudez entro os abysuios Quo ao som fallaz de theorius sublimes.
Desenfreou os instinclos de atros crimes,
Da iininensiilaile , quo se alarga em torno,
E anarchicos furores.
Oue te afasta da habitação dos vivos.
Ah I Dcbalde transpô-la intentarias
Arrependido!... Atiçam-se os brazeiros, « Morre a blasphemia nos impuros lábios
Urge a fome, urge a sede a cada instante , Do impio que o sanetuario ultraja insano:
Do desespero á morte hum passo resta,
A voz se extingue dos mentidos sábios,
Bem merecida pena d'auricidia... (13)
Corruptores do povo soberano;
Homem, o campo lá te estendo os braços
E outra voz jã solemno se levanta,
Te accena, seus thesouros te oflerece,
La rescendem os hálitos das flores, Quo do século findo o nome infama ,
E a alliança eterna da Realeza acclama,
Que as margens orlam da torrente límpida, Com a liberdade santa.
Onde so omeigam zephiros fagueiros,
Lü tudo he movimento, he vido tudo.
No campo aprenderás a ser sensível;
:tfelle amizade, e amor fundou seu templo. « Fecundo o novo século em portentos
Por tuas mãos seu seio fecundado Fará surgir ao seu potente cceno,
brotará dos prazeres entre os coros Vastíssimos estados opulentos.
^nramadas de messes a abundância. Em plaga immensa , fértil paiz ameno ,
Eis se ergue o quinto império soberano ,
Manoel Alves Branco.
Quo ha de na serie dar dc longas eras,
Qual dó o Empyreo às celicas espheras,
Leis ú terra e ao oceano.»
(U) Disjotlontar he usado na significação de mutur a «itio.
(18) Solum e.t, quod nratum noií ferrot fruotum ; at si Assim cantava a musa altiva e nobre
lodiatur, multoi
plures alit, quam si frumenti ferax ossot. Que sagra á humanidade votos e hymnos,
,,>13-„S.M\i. dB «queias, auri facra fame* d. Virgílio,
í-.ta Ode foi feita cm Coimbra om 1818.
Que ao afllicto consola , anima o pobre,
Ou celebra os magníficos destinos
Dos reis o das nações: ella execrava
Do extineto século os crimes, a demência;
E do novo os prodígios e a -tendt.nc.-v ._
Prophetica annunciava.
*¦ 5. _.
Sr'

(*) Bocage.

7»'
40 LITTERATURA.

zi. Se curva, escrava mísera e mesquinha


Ante essa furmidau-1 magestade
Surcet vero ra fortia, et tloiiiinulii-
tur potcainie multa t-t fatal ,,,i,..i ,,\u- Por hum soldado uuduz representado,
(f)
cutrit oii Kt rum atulM-ii cuiiti-n-tur
rt-giiiim t-ju».. E a real família augusta resignada,
Uímiil, cxe. II, v. t. Sc entre a Providencia
Que huma idéa magnânima lhe inspira;
Mas que rumor, K\pondo-se das ondas A iiiclcmcncia,
quo frêmito espantoso
Atroa os ares no arclico heiuispherio? Já da oceidental praia lusitana
Que novo trono, altíssimo e glorioso, Saudosa se retira:
Hoje se eleva em hum nascente império? Ji nas veleiras fuias
Quem, á frente de innunieras legiões, Da hospitaleira terra brasiliana
Dos Alnes detpenhadat tfttaes torrentes, Demanda e beija os praias.
Triumpíiante em cem batalhas doma as
gentes
De indomitas nações? Gozado (uniu bem, terra bemdita!
(*)
Respira, exulta nesta
ploga amena
Silencio I Deos o envia : Itegia familia! A guerra te condomna
Seu nome hc — Nnpoledo ; — Ao exílio, porem Deos to felicita,
Sublime a sua missão; Deus te reserva para grandes cousas!
O gênio á gloria o Verás surgir insólitos eventos,
guia.
Fmquanto aqui repousas,
Ante os cgypcios túmulos Que abalarão do mundo os fundamentos.
gigantes,
Donde o contemplam séculos
quarenta,
EM os destinos despertou brilhantes O leão por longo tempo não descansa
Dos povos que adormenla Fm o antro seu profundo;
0 bárbaro islamismo: Sobre o tigre mosqueado o furibundo
0 èefco das Thcnnopvlos sagrado Impai ido se lança.
Napoleão! — repetio om alto brado O gloria ! ()' paixão das grandes almas!
,
¦ a pátria se abalou do antigo heioismo. Fm vao a paz dourada te sujeita.

Do Nilo ao Sena rápido regressa, Costas da sombra dos laureis e


Sobe ao trono mais alto do oceidente; palmas:
O perfume do sanguo le deleita-:
Sobro os reinos o impérios so arremessa Quando o clangor da tuba nas batalhas
Do vasto continente Troa, paixões imhelles se horrorisam,
Quo invadem suas phalanges: Mas estes sons, ó gloria, te electrisam.
O Rheno, o libre, o Oder encadea De novo a multidão armada espalhas
,
E antes do voar do Niemen ao Canges(*) Do Sena ovante ao Vistula captivo.
Da Rússia á feroz águia o rôo tnfrèa. O audaz iMosckowita ,
[")
Do septentrião giganto c rei altivo,
Incansável guerreiro, Colérico se agita.
que
Para onde us tuas cohortcs pretendes?
so abalançam ? « F bo certo? diz. Contra mim se apprcstnm
Porque toa grão carreira não suspendes Euai phalanges quo a Cermania infestam?
Fm qua n to fieis não cansam Temerário inimigo ,
A fortuna e a gloria Esperas sujeitar ao Sena o Wolga?
De seguir os teus Ainda a oguia do Ivvan o raio empolga
passos do gigante?' ,
Nao vis que hczita ás vezes a victoria E das torres do Kremlo o vôo desprende,
Que obténs na Ibéria intrépida o constante? Paira ainda sobro a terra estupefacta;
Té o gélido pólo huma aza estendo
Já do luso na pátria bcllicosa F a outra aza sobro o Bosphoro dilata,
Suas hostes invasoras so derramam: (f f)
Indignados o Douro o o Tejo bramam, N'hum congresso do reis e potentados
Quando vem que a melropolo faslosa, Fm Drcsda estavas, Napoleão —o grande,
Aquella quo dos mares foi rainha, Quando os ameaços escutasto irados
Do mundo a primogênita cidade, Do Autocrata quo o seu furor expando

(•) Napoloão projoctava ocnquislar as índias oriisnLaos. (t) Junot.((!uquo do Mirantes).


(") Vorão do Diuiz : da iVussiu, diz ollo. (*) Verso do padro Durão
(il) Segtir hist. do Napol.-Lalmumo, Mmp. da Kuaa.
LITTERATURA. 40

Qual cedro mogcstnso entre os arbustos Na esplendida Mosckow.


Eras alli , mununha prepotunto , E já so toma em chamma
Doador dus contas do occidunto! Quo nos palácios prendo ;
Junto á lilha dos Cuzures augustos, llum vento horrível brama ,
Fitando os olhos no teu curo lilho, E in.ii-i o mais so acccndc
Attentando no exercito c na França, Na noute negrujaitte
Disscstn: Sou invicto, invulnerável, O incêndio crcpituuto.
Eterna bu minha herança. Mas elle que fuzia
Eu quebrarei o sceptro do culpavel O grão conquistador ?
Temerário inimigo que mo ulfronta, No Kremle nao dormia ?
Qual so do argila fosso débil vaso: Seus olhos deslumbrados
Gravará do meu igneo alfango a ponta Do gloria u do esplendor
A sorte das nações d'oriettto ao oceaso ; Se fecham fatigados.
Do quinto império, fundador, nao turno Mas ah ! Quando elle acorda .
Quo alguém resista ao meu poder supremo. Ve quo o incêndio aborda
O mesmo perislylio
Mortal, cm vao to arrogas Do augusto domicilio.
O quo somente ao grande Ser pertence. Com pasmo , com terror
Se incólumo tu vogas Contempla a atttia chamma ,
Nas ondas populares, o so venço K em voz sinistra clama —
0 teu gênio sem par aos reis da terra, Que horror, quo horror, quo horror I (a^
Podo apagar do alfango teu as cbamtuas
0 rei dos reis, senhor tia paz, da guerra, Assim o incêndio do Mosckow devora
No polago de sangue que derramas. A gloria da conquista, as esperanças ,
Pode o teu vasto império finccionatlo E tudo so evapora
Ver da mina em breve a hora aríaga Ao igneo sopro tio Numen das vinganças.
E outro ser o mortal predestinado O' Napoleio ! Na
Para alçar o quinto império cm outra plaga. quadra dos desastres,
Quando com as tuas ruinas
As margens do gelado rio ( b ) alastros ,
E's maior, mais potente , mais terrível "reinos
Quando os o impérios quo dominas
Do quo Alcxandro ou César (') nos combates; Passar te vejam fugitivo , exbausto ,
Mas conto quer quo o teu poder dilates De dôr o do fadiga,
Só Deos he grando , altíssimo, invencível. Então verás quo o fausto
Embora victorioso to opoderes A prepotência , a gloria , tudo ho fumo ,
De Wilna o do Smolensko bastionado,
Que despareco ao sopro do Rei summo.
E cm Moskowa , da montanha ensangüentada.
Embora mesmo imperes , Trahido , abandonado pela sorte ,
Lovar.do a effeito a gran conquista extrema Foges ao seio da querida França:
Do Olga na antiga capital suprema , E anto a grande nação, altiva o forte ,
Rico empório aondo as águias tuas voam , Dos reis to opprimo a barbara vingança !
Cidade quo mil áureas cúpulas c'roam. Abdicação, exilio, união do Maio.
De Waterloo sunguinolento dia ,
Ao mar que so elevara Santa Helena !. . . tristíssima agonia !. . .
Em líquidas montanhas espumantes Morto. . . No oceano , cmfun so apaga o raio. . .
E a innundar o globo inteiro so arrojara ,
Imprcteriveis términos sitiantes
III*
O omnipotente marca :
Ao principo da guerra , ao grão monarcha Surgo illmiiiniiii! Jerusalém -. quia
Quo do triumpho cm trimpho a Rússia invado venit Itimcm tuitm , st glorio llomini
E conquista a cidade supor te orla est.
Is.ti.ts CAP, fio.
Quo o temeroso Kremle cm vão guardara
O Altíssimo bradou :
guerreiro, pára. E outra luz porem luz , benigna o pura,
Suprema a voz soou ,
No bello eco da America fulgura,
Que os turbilhões humilha :
Huma faísca brilha Qual do Senhor a gloria
Sobre a cidade santa.
d) cot honinio
Nu» grand que César.
(a) Horror, horror, horror — Siàktiptart,
Victor Hua. ch, ii. (b) O Boresinu,
50 LITTERATURA.

Nas sombras do crepúsculo da vicloria, « Da pátria nos combates exbauriste


No occaio do grando homem se levanta
As forças; c da gloria o fogo ardente
Da ordem providencial sublimu arrono!) r-.iiiiiiiiin-ti- a vida: então subistu
O sol do
quinto império soberano. Ao conspettu do iiiihn- omnipotonte:
Sant. . . N. lt (J .iiiji. das victorias deu-te a
palma,
E nesse mesmo instante
Viile firmar-se com os olhos da alma
O poder dos tous Filhos vacilante. -
OITRO FRAGMENTO DA MESMA COMPOSIÇÃO.
Nuo mais ouvi accento algum distineto:
NAPOLEÃO E O «EJIIOK D. PEDRO 1. Melódico rumor, longínquo e vago
Apenas resta no ar, do canto mago.
-JU.ISI (oca .1 metade do amplo estádio lántoo eu meditei do império
quinto
Oue tem de percorrer a nossa idade: No sorte singular; o comparando
Dou» homens produzio — o heroe do Os dous heróes do século
gladio , preminentes
E o rei propugnodor da liberdade, Nada vi mais grandioso o memorando
Gigantes que so erguem muito acima (Jue os fados seus irmãos c dilTeren.es,
De tudo quanto o século sublima.
Longo do solio Napoloâo nascido
Nas horas em que a noute silenciosa Ao solio chego pelo guerra erguido;
Do vale, a Deos, eleva o I surpa a liberdade
pensamento .
Uuvi celeste \óz harmoniosa: Dos povos que domina ,
Kra a apotheose dos beroes cantada Arma com* seu alfange a magestade,
Nu harpa da gloria : imitar mal Inaugura bum império,
pudo que arruina;
Harpa , no céo por anjos allinada, E a victoria que hum dia o atraiçóa
Nos sons humildes do meu rouco alaude. Do seu querido filho rouba o corúo.
« Salve , ó filho do
povo ! A ti foi dado Pedro, do tronco ougusto feliz renovo,
Heconslruir sobre as ruínas da unarebia Cinge bum diadema que lhe ofTerece o
Do CarlúS Magno a immensa monarchia! povo
O amor da liberdade
üh ! so acaso nflo fosses deslumbrado Com o povo
Feio fatal mteore (1 ) da vic'..ria No amado Fillio abdicaportilba ,
a potostade,
Ou se a treda fó punica Reassume o sceptro da querida Filha ,
To não apunhalasse, a tua No lirosil triiimpbii da horrida nnarchia
gloria
Seria a gloria incomparovel e único. E cm Lysia destroniza a tyrannia.
<i Mas a epocha chegou da liberdade:
Do huma ilha, onde arrojado
0 mundo se renova c regenera ; pelos róis
Definha em ócio ignovo
O progresso ho a lei da humanidado; Napoleflo võo aos seus amigos fieis:
A idea, a idéa só no mundo impera. Das armas suas quer vingar o aggravo
Não podia o teu giganteo edifício ;
Seu astro de conquistas, fulguroso
Ser solido o durável, App'reco como d'antes,
Forque fundado fora sob o auspício Mas no fatol condido songuinoso
Da grande espada
(2) om pugna interminável. So oceulta em mar de nuvens negrejantes.
« Salve, ó filho dos róis! Tu renunciasto
E a que estatuas o columnas lhe levanta
Do teu poder a avita dignidade ,
Cidudo soberano,
E do hum povo da America acceitaste So vio calcada pela estrangeira
O trono quo te alçou a liberdado! planta ,
Porque do imigo ã política inhumana
O império collossal do Maccdonio, Cobarde abandonou o heróe vencido.
Do Semideos moderno Se com valor inteiro
A França gigantal , e o reino Ausonio, Tivesse o seu monarcha defendido
Jazem 1... Ah! Possa o teu durar eterno 1 Vil escrava não fora do estrangeiro.

Do huma ilha também sahe Pedro illustro


(*1) Fatal meteoro.- bolla expressão do Sr. Magalhães. Com pouca heróica gente,
(B) A epocha da grande espada, diz Chatoaubriond, fal. Corre ao triumpho
latido do remado do Napoleâo. que vai o summo lustre
I Ao seu renome dar
perpetuomente.
LITTERATURA. 51
Com os nobres filhos da cidade eterna mos nós os devemos pelo maior
Domou facção infrene; parte á adi-
vidade dos estrangeiros, que tem informar-se
Vencedor no fala! lide fraterna do
que vai na nossa caso, no terra em que vi-
De amor deixou-lhes svmbolo perennr. vemos.
Sant... jV. R Ho com estas disposições, com huma tal apo-
tbia, que o exemplo dos estrangeiros a a emu-
laçao nao poderam ainda corrigir,
quu encara-
mos o passado o o presente do nosso estado so-
lS3^*L3<D«*&Aa?*aa*lAa ciai. Comtudo por esses archivos e secretarias
dos governos, quer na corto,
OBBASSOBBB A GBOGRAFUIA B MSTORIA DO BRASIL quer nas provin-
cias, consta-nos que alguns moppos existem ainda
— O COMPÊNDIO DO SS. GEXERAL J. I. DC manuscriptos, os quoes, comquonto nao sejam
ABREl E UMA. perfeitos, certamente suo melhores do que mui-
tos quo por ahi giram. As assembléas
fo sabe-se entre nòs o que ha ciaes, a quem primeiro provin-
que tudo cumpro co-
na Europa, os nomes e situação do suas cida- nhecer o terro poro quo legislam,
toiiMi-MME.vrR
des o tillos, a grandeza e direcção de seus prestariam
gronde serviço á nsçao, so fizessem por venlu-
rios, altura do suas moiilouhos, os usos e cos tu- ra desenterrar do pò esses mappas
mes de seus habitantes muito melhor do guordados na
quo so sombro do mysterio, como os litros das sibvllas,
sobe o que ho no nosso próprio paiz. O Brasil e se depois do entrego-los oo exame e eorrec-
he quasi inteiramente ignorado dos brasileiros, ção das pessoas entendidas, destinossem fundos
embora hum ou outro possa ter detalhado co- ao governo, que os mondasse lithographor c dis-
nheciiiiento desta ou daquella localidade, onde tribuir oo publico por preço commodo.
morou, ou quo percorreu para o trato dos seus Além do corographio brosilico do
negócios. Estranhas humas as outras, falta às podre Ajres.
temos dillerentes viagens ao Brasil, onde algu-
nossas
províncias a força do laço moral, o nexo ma informação so vai buscar a respeito delle.
da nacionalidade espontânea que poderia Se exceptuarmos porem o obro in-folio de Sou-
pren-
der estreitamente os habitadores desta immensa thty, esta informação está longo de ser sufli-
peça, que a natureza abarcou com os dous maio- ciente, o nalguns desses livros ovulto cm erros
res rios do universo. A historia do
paiz ou de- graves; são péssimos itinerários poro quem do
positada em antigos o fastidiosos volumes e go- seu gobineto quer discorrer pelo paiz. Doixon-
ralmcnto ignorada , ou escripta até certo tempo do de porto o quo nos fins do século XVII e
por mãos menos aptas, por estrangeiros começo do XVIII escreveram os jesuítas, á mis-
como Beauchamp, trataram sò do compor que, hum turo com a chronica de seus conventos o re-
romance, que excitasse a curiosidade do seus
gistos das suas missões, e o pouco quo nos re-
leitores na Europa , não pôde despertar no es- manosceu dos Hollandczcs, duranto a sua do-
pirito de nossa juventude o nobro sentimento do minarão no Norte, existem , quo conheçamos na
amor do pátria , quo torna o cidadão capaz dos matéria, as viagens de Koster, do Maw , de
maiores sacrifícios, o o elevo acima dos cálculos lady Grohan, do principe Maximiliano, a rela-
mesquinhos do interesse individual.
ção de Spix e Martins, as viagens do Sr. A.
A ignorância , cm que estamos sobre as cousas de S. Hilaire, o a historia do Sr. Constando.
da nossa torra, sente-se no seio mesmo da le- Podem-se accrescentar ainda as noticias sobre as
gislatura, onde ella pòe obstáculos a muitas cousas do Brasil, devidas aos cuidados do Barão
medidas úteis o importantes. Como legislar con- de Eschbwoge, do cônsul Russiano Langsdorf,
venicnlomentc
para hum paiz que se não coube- e us brilhantes compilações de Ferdinand Dinis.
ce bom? como dispor da matéria, sobre a Koster, que passeou por algumas
qual se províncias
possuo apenas huma noticia leve , geral e muito do Norte, parece estar de boa fé; mas mostra
imperfeita? Sem duvida, se tivéssemos mappas bum espirito muito superficial, c as suas rela-
bons e exactos de cada humo de nossas
çoes são quasi sempro de nenhum interesse,
cios, onde fossem indicados, nao sò asprovin- villas ainda sem descontarmos a difforença
e povoaçoes, como ainda os que nes-
promenores mais sos províncias se tem operado dc 1808
notáveis do solo, os curiosos das cousas da para cá.
pa- Quasi o mesmo, excepto a sinceridade na ex-
t"a, muito melhor
poderiam dar-se ao estudo posição do quo vio, podemos dizer de Maw,
«o que nella ha, e dirigir esse objecto foi a Minas tratar de seus interesses antes
numa parte de sua applicação para e desvelos. Po- Sueo que investigar o que era digno de attenção
rem os poucos moppos do Brasil temos, silo
em geral incompletos, quefaltos de exactidfto poro servir á illuslração publica.
«in ponto demasiadamente , e O que diremos de lady Grahan que só via-
pequeno. E estes mes- jou pelo palácio de S. Christovao, o pelos sa-

Já*/<&**-S\ flY . ^ifea'«*"¦¦ *-^ /à


^vw /Z
52 LITTERATURA.

loes das personagens da corte de Pedro I? Suas hum escriptor, que viveo muitos annos no meio
reflexões, seus reparos, sao de huma puerilida- de nos, e que por conseqüência nao podia ser
do corteza, que enjoa, •¦ que de nada servem tle todo impassível a respeito das occorrvncias po-
a inslrucção dos quu pretendem adquirir algum lilicas. Ma*, em geral , bem que alguns juízos
conhecimento do IIiimI. do Sr. Armitage possao ser contestados, cremos
Spix o Marcius, »• o príncipe Maximiliano, quo foi mais ou menos verídico o imparcial. Eli,
posto que muito estiniaveis pelo lado scientilico, pódu ser lido com proveito; a parte da historia,
todavia pelo âmbito a quo se circumscrevéram , de que se oecupa, he huma matéria , quo (oca
interessam quasi apenas aos naturalistas. As via- muito de perto a geração presente ; c ahi depara-
gens do _S llilaire, sao dignos de alto preço, se com a inslrucção preciosa do muitos factos,
por mais de hum titulo; e sua imparcialidade , que jã bojo parecem estar esquecidos.
espirito indogador, e amor da escrupulosa exac- Itesto-nos a tratar da obra, que acaba do pu-
tiuflo, constituem sua obra muito acima de bio ,11 o Sr. J. I. du Abreu o Lima , e a que elle
qualquer outra das que neste gênero possuímos. deu o titulo de — Compêndio de historia ao Bra-
Mas infelizmente os viagens deste illustre sábio sil. — He huma produeção , que , so não ofTerece
nuo foram ainda todas publicadas; e quando o o interesse que lhe poderiaõ dar indagações ori-
sejam, o seu quadro só abrange a
parte
das ginaes ou vistas novas, apresenta todavia outra
províncias do Norte que percorreu , omittindo o espécie do méritos, que a critica deve assignalar.
conhecimento das do Norte, c do grande porção Esta obra que no estreito limite do dous volu-
das mesmas por onde passara. Por esta ocea- mes abrange a historia toda deste paiz desde o
siao não podemos deixar do coiiiinemorar a obra seu descobrimento até á maioridade do Sr. D.
do Sr. visconde dc S. Leopoldo—Us Annaes da Pedro 11 em 18.0, não he em grande parte se-
Provincia do fíio Grande do Sul — obra im- nao huma compilação bem feita o coordenada , do
e conscienciosa, como todos os Iraba- que o seu autor encontrou de melhor nos difle-
Íiortanto
lios litterarios desle douto e laborioso escriptor. rentes escriptores, que o precederão. « O me-
A mais interessante obra sobro a descripção rito de minha obra , ( diz elle ) su pôde. ter ai-
do nosso império, era a corographia do padre IMS, consiste na recopilação dc grande numero
Ayres, que já mencionamos, alias tao pouco de factos espalhados por muitos escriptos em dif-
estimada quando veio à luz da imprensa , c de ferentes épochas, vindo a ser o primeiro com-
que foi preciso que os estrangeiros nos trouxes- pendio da historia do Brasil, senão tão oxacto
sem noticia em seus escriptos para quo a apre- quanto podia sél-o, ao menos o mais rico cm
ciássemos. No entanto , o padre Ayres acabou documentos preciosos. » Exceptua-se porém o ul-
seus dias cm Portugal, consumido dc annos c limo capitulo do livro, em que o autor reluta
do fadigas; huma segunda edição que prepa- os acontecimentos de quo foi testemunha oceular,
rava de sua obra, nunca npparcceu; c provável- e quo foniprchclidem o período de dez annos de-
monte por falta do zelo do nossa parto os ori- corridos entro a abdicação de Pedro I, e a pro-
ginaes so perderam, ou so hão dc perder. Fora clamoção da maioridade de seu suecessor. A pro-
mister avivar as diligencias, so ho quo ulgu- funda imparcialidade, com que sao encarados os
mas se tem feito , para quo por conta do nosso suecessos desso decennio tempestuoso, imparcia-
governo sejam comprados aquellcs preciosos ma- lidado quo seria rara cm hum contemporâneo
nuscriptos. qualquer, c muito mais cm hum homem que
A historia do Brazil, publicada ha quatro náo foi espectador passivo de alguns delles, faz
annos om Paris, pelo Sr. Dr. Constancio , ho do certo bastante honra ao caracter do Sr. Abreu
huma compilação cheia do inoxactidões, o mes- c Lima. Abi distingue-se hum espirito conscien-
mo do erros grossoiros, jã quanto á gcographia cioso , quo dirigido unicamente pelo amor da ver-
deste paiz, já quanto aos factos o acontccimcn- dado, prescindo de todas as considerações, quo
tos , que são ahi registados sem critica. A bis- poderiaõ por ventura alterar a fidelidade histórica ,
toria do Sr. Armitage, quo toma por ponto de que elle se propoz observar cscrupulosamente.
partida, a chegada da família Real ao Brasil, Como compêndio do historia, este trabalho he,
épocha , cm que para a historia de Southcy, se em nosso conceito, o mais útil que ha sido pu-
termina cm 1831. Alguém faltando do juizo dos blicado sobre esto objecto, e está isento das ar-
estrangeiros sobre os acontecimentos contempora- guições , que attrahiria sobre si, se outro fosse o
neos de outras nações, comparou-os a huma es- ponto de vista , em que elle devesse ser encarado.
pecio de posteridade, porque não sendo adores Huma historia geral e completa do Brasil resta
nem partes interessadas n'esscs acontecimentos, a compor; e se até aqui nem nos era permit-
não podem ser aceusados de parcialidade. Não tido a esperança de que tão cedo fosse satis-
sabemos uté que ponto será verdadeira a com- feito este desideratum, hoje assim não acon-
parqção, e muito menos, quando se trata de tece, depois da fundação do Instituto Histórico,

r-;7 ¦'-'.
tJr» I .
LITTERATURA. 53

cujas importantíssimas, pcsquizas no nosso pos* contrafeitas pelos Belgas, o por preços muito
•sado deixam i--p.-i.ir, que euta illustre corpura- baixos. Temos quo alguns exemplos destes pode-
çao se dii à tarefa du escrever a historia uacio- ii.io ser imitados no Brasil. Nós sabemos quo «i
uai, resultado final, para que devem convergir imprensa periódica nao se presta a ctus imortal
todos seus trabalhos. /'. o que a imprensa brasileira tem sido quaii nem-
pre periódico. Nno lhe estranharemos c*,ta queda
natural quo a força dos cousas lhe faz tumar.
Entretanto, seja-nos licito dizer, que se o im-
p.tuvtNO niiA*ii.i.iKO, prensa não periódica ( ou periódica, mas lilteraria
u scientilica), tivesse sido mais activa; a ui.ltiu-
OU S.I.-i-.-iii do Pourlia. ilu* melhore. 1'm-tntl IIiíim- çao publica teria ganhado muito.
leiroa. ili-il.- o il.-.nl.i niiuiiii .l.i llrn-.il, precedida E-tus reflexões nos foram suggcridas por ocea-
ile Imitia Intri-tltirçSo l.iritorii-a o biogrnpliicn nobre siuo da leitura do Parnaso Brasileiro, obra quu
a l.iii.-i.itniii Brasileira |Hir J. M. 1*. da Silva. I.iu cana folgamos do ver por isso quo vulgarisa as copias
de Eil. e II. nr. Laeinmert. de muitas das bellas producções de poetas nacio-
naes, algumas das quaes sao escassos, ou adul-
2 vn hum que as necessidades litterarias so terad.is em manuscriptos o conluiadas em raros
é\*\\ multiplicam , o commercio de livros se torna exemplares. Meritoria por este lado, a obra do
<T__!9!-inais activo. O gosto da leitura tem feito quo tratamos, tem o defeito de nao satisfazer em
progressos incontestáveis em todo o império, o tudo aos desejos dos curiosos. Estranha-se nella
mui principalmente nesta corte o província. A a falta du muitas composições tao primorosas como
Bélgica , a França e Portugal, mandam huma as escolhidas ; de maneira que ella pecca pelo dc-
considerável porção de livros, que acham extrac- feito opposto áqucllc que so notou nos cadernos
çao, apezar da exorbitância de seus preços. O que com titulo idêntico publicara o Sr. Conego
mesmo acontece i-.iin as obras impressas no paiz, Januário. Nestes ligurão certos versos menos quo
que ainda são mais caras. Algumas edições tem medíocres que nao devião entrar n'bum«i obra se-
sabido dos prelos brasileiros, e, geralmen- melhonte : naquella em vao se buscao certas pe-
tu filiando, de livros úteis. Sem demorar-nos ças do mérito subido , o que devem ter lugar
om trator dellas, faremos algumas observações nliuina selecçao perfeita. Das traducçoes dos psal-
que nao sao alheias do objecto deste pequeno mos, podião extrahir mais algumas : nas poesias
artigo. originaes do padre Caldas, porque omittirao a
A livraria de hum paiz illustrado devo pro- magnífica ode—0'Sinai , ó montanha, c outras'.'
curar os meios do satisfazer a exigência de bons Os apaixonados de Gonzaga ( c neste numero cs-
livros, desejados pelos amadores da san c ame- tomos ) lambem se queixuo du exclusão du algu-
na instrucção , e isto pelo preço mais módico, mas satyras feiliceiras.
embora ganho muito pouco: a desvantagem do A introducção histórica c biogrophica que vem
momento vem a ser compensada com o tempo. á frente tia obra, ho devida ao Sr. Dr. Peroi-
Cumpre pois descobrir os meios do imprimir e ra da Silva. Sentimos não ter espaço suílicion-
vender livros recreativos o moraes, por preço to para discutir alguns dos pontos, em que o au-
commodo. So tal acontecesse com as traduecóes tor nos não parece estar ao abrigo da critica.
do illustre litterato J. C. de Deus e Silva, Fazendo justiça á elegância do seu estylo, c ao
cilas estariam mais vulgarisadas, o esse prestan- enthusiasmo com que falia dos poetas, oradores
te cidadão não teria feito sacrifícios que talvez o historiadores brasileiros, somos obrigados a
lhe dilTicultcm o continuar nos seus utilissimos transcrever huma opinião tal como a que o Sr.
trabalhos. Dr. Pereira da Silva adopta sobre a natureza
A barateza relativa he huma das causas da da litteratura brasileira. Ello a considera sim,
maior extracçflo que tem as immoraos e estupi- como «copia, imitação da portugueza quo jà o
das producções — Vida de Faublas, Cilador, era francoza » mas accresccnta: « rcconhccc-se
Compadre Matheus —, c outras que, por mui- porem, atravez de seu prisma , a sua nacivna-
to espalhadas, chegam à mão da mãi de fami- lidade, a sua origem nova e sagrada». Esta
lias, da donzclla, do joven quo principia os seus opinião ho summamonto favorável à aquella
quo
estudos, etc. , e que tanto pervertem a razão, emittimos no nosso artigo do numero 1." du
a imaginação e o sentimento desses leitores. Minerva.
A imprensa belga parecia habilitada para dar Formulada como se acha, parece própria a
os livros francezes por hum
preço muito infe- conciliar as opiniões oppostas sobro este assump-
rior ao de Paris. Entretanto Charpentier
publi- to , e tem hum certo caracter de demi-vérite
cou a sua bibliotheca e mostrou
que podia dar que não satisfaz a todos os espíritos. Entretan-
edições mais correctos e em tudo
preferíveis ás to , nós temos hum vivo' prazer, considerando

m
54 LITTERATURA.

que nao be e primeira vez que o Sr. Dr. Po- quo desappareccram da terra, ha dous ou trea mil
reira da Silva faliu da nacionalidade da littera- annos.
lura brasileira, e esperamos quu esto ponto se- Confirmada se acha nossa opinião pela lui-
ju incontroverso muilo em breve, para todos tura da novolla, cujo titulo damos no principio
aquelles que nuo quizerom negir a verdade co- deste pequeno artigo; as relações mais intimas
nbecida por tal. entro parentes, noiva e noivo, amos e crea-
SM., .V R. dos, estao reveladas com singela ingenuidade ;
somos testemunhas do scenas domesticas pintadas
por mio de mestre, e encontramos situações
dignas do hum Victor Hugo e Alexandre Dumas,
KXTTBRATURA CHINEZA. seja pelu horror que nos inspiram ou pelo fogo com
quo so manifestam as paixões, essas paixões quo
Wang-Keat.ii-Lwaii-Pili-Nceu-C.iaiig-Ilari, isto ho i o nem o fastidioso ceremonial chinez pode apagar.
pranto inconaolavul tta lunliora Kenuii-Lwnn-Wuiig. Os limitei deste artigo nao nos permittem
Novella cliinoza, coni|.oaia por Nun-i-ltoiig. 11. im- dar longos extractos da novella. Ella he tirada
'riiiiin
im-»» rm Camon ( IKi-i) |„,i Itulii-ii , o or. do 11." volume de buma collecçao de novellas
itítilii com lithograpbiaii executada* -mi Imui chitiez. publicada cm Pe-kio , sob o titulo do Kin-Koo-
Kee-Kwan, isto be: observações notáveis dos

ü' b muito provável quo cm conseqüência


da ultima guerra com os iuglcies caia o
.espesso vôo, que por tantos séculos enco-
brio aos olhos estrangeiros a misteriosa China.
tempos modernos, escriptus nuo na lingua cias-
sita , nem na ullicial ou dos mandarins, mas
sim no Classico-Bostardo, o que muito incom-
iiiudi.il uo editor inglez, quo encontrando sum-
Vários dos sous portos ja estao abertos ao com- mas dilliculdailes, recorreu a alguns dos mais
mercio ; relações mais intimas bao de estabelo- famosos Seen-Lang , ou professores públicos; mas
cer-so entro os europeus o os chins, e posto estes difleriam entro si do tal modo, quo M.'
quo
soja pouco provável que a lingua chinoia so tor- Thom exclama desesperado: quot domines, tot
nu algum dia objecto de hum estudo gorai, nao senteutiii-. O mais erudito cliin cm Cunluo, quo
faltarão ao menos troducçoes das melhores obras com opplauso gerai havia vertido as fábulas do
escriptus em chinez. Todos os
que por curiosidade
ou interesso cultivaram o idioma
Esopo, achou-se embaraçado por certos termos
principal do usados 110 Classiio-Haslurdo, o dando hoje huma
império do centro, concordam em
gabar a ri- o amanha outra explicação, desculpou-se geral-
queza da litteratura chineza, nao só nas scien- mente com o dito singular: quo cada hum en-
cias positivas, mas também no gênero dramático, tendia a poesia chineza segundo o seu gonio
Jyrico, o especialmente na novolla. Contamos sobro
tudo com esto ultimo ramo das bollas lettras, particular o os emoções do momento. Confessa
igualmente o editor que muitas scenas supprimio
que mais do quo outro qualquer se oecupa com por achal-as indecentes, o que realmente de-
e vida real o domestica , para conhecermos emfim vemos sentir conhecendo atè que ponto chega
os usos e costumes, e em geral o estado do
civilisação do hum povo, cujos autores nao conho- por vozes a Pruderie Anglaise, e temos que assim
cem senão o seu paiz, o escrevem unicamente perdeu a novella muito do sou colorido origi-
nal e local. A respeito das lithographias diro-
para o publico chinez. mos unicamenlo que ellas oflerecem mais huma
Em quanto pois o romancista ouropco muitas
vezes transfere a scena da sua novclla prova quo pouco a pouco vai desapparecendo en-
para paizes tro os chins aquelle espirito de immobilidade
longínquos, pensando assim dar novo interesso que
distinguia esta nação desde os tempos os mais
á sua obra, em quanto elle introduz estrangei- remotos; a litbographia seguramente he huma
ros , ate fazendo d'ellos os horoes do seu ro- arto que receberam dos desprezados estrangeiros,
mance, destruindo assim o quo nella ha de na- daquelles diabos roxos, como o Diário official
cional: o autor chinez pensa, sento, escrevo do império celeste costumava chamar aos Ingle-
como chim , e impossível lhe he sahir do cir- zes durante o ultima guerra.
culo limitado por sua completa ignorância do Amor terno e puro, mas cruolmente atraiçoa-
inundo além das fronteiras da China. Por isso, do , he o assumpto da novella, e o caracter da
e mesmo som refletirmos no valor poético donzella Keaou-Lwan-Ivang, com seu amor tio
as novellas chinezas poderão ler, ellas bao quó do
ser do summo interesse para nós, que devemos puro como apaixonado, sua dedicação e ingenui-
dade, e por fim seu desespero e
aspirar a conhecer hum povo composto de cen- pranto inconso-
lavei, be admiravelmente pintado. O amante he
tenares de milhões de indivíduos, e do Ting-Chang, joven estudante, cujo caracter fax
qual,
apesar de ser contemporâneo , menos sabe- lembrar os amantes da moderna eschola Franceza,
mos , do que dos an tigos egypcios e com sous principios hum tanto relaxados a res-
phenicios,

ê
LITTERATURA. 55

devida á noiva escolhida ; ho


peito da fidelidade resiste a tamanha sedurçao, e cedendo ás ins-
todavia o autor chinês muito mais severo paru tuiuiús do pao, que nadu suite das relações entro
tom >uu heroe do quo o maior parte dos romun- seu lilho t- a a senhora l.vvang , ,.,.., depois
, i-t.ui I uni' • es, quu com simples suicídio , ou il bruto hesitação com a innça Wci-hang En>
ferimento um hum dusulio (su for tanto ) , duo tretunto a infeliz esposa abamlonodu espera tu-
e qualquer crime comedido pelo
por pago todo dos os dias a voltu do marido; mas elle mm
aiintible runé. chega, nem escreve. Então arriscando o seu >e-
Ting-Chang e Keaou-I.won-Wang li.iliil.no a gredo, Lvvnng dirige huma carta ao seu esposo
mesma cidade sem conhecer-se; o primeiro un- na qual lho diz: u Dusdu quu tu mu abando-
tontro decide da surto du umbos. Muitos ubstu- « nasto, ô amigo o senhor, hum vco de lagri-
min* porem encontram os amaitlus no seu ca- w mas cobro os meus olhos; despreso flores u
i.iinhii. Wung-Chung , hum Ghcli-xvuy (coronel) « en feitos ; os meus cobellos quo oufroro obc-
no exercito chinez , lio o pao da donzella ; Chovv , « reram u tun mao , cubem soltos sobre ns mi-
grande letrado u mugistrudo tlu alta jurarchia , « iihas faces pullidas. Noivo u noiva separados
pae do jüvcn , e amluis se oppoo á união do suus u por mil lugares, quu terrível
pensamento!
tilhus por terem entro si antigo feudo , cbegiin- - Sonhei huma noute
que tu , ó amigo , esta-
do alô o impedir quo elles se vejno ou escre- l vas nos braços du outra mulher, e esta visão
vam. Mini*-In ,i, criado o ronfidenlu da moça « mo tirou o resto du rorogem que ainda
pos-
Lwang , di-.ftiipe.iha neste aperto pei feitamento o « suia. Vou ser mau, o a ociosa uspuro a hora
}..ipul do intrigante , com huma dcxtridude e « em quu abraçarei o meu , e o teu lilho; então
astucia dignas da comedia do século passado. « a Deusa lleen-neu quo pelos note téos pro-
llu igualmente huma velha tia , qne serve de « clamou os nossos juramentos de fidelidade ha
Ducna, o nao so mostra mais incorruptível do l du levar aos mesmos cèos os gritos da minha
quo us Ducnas hespanholas, pois a força do di- « alegria o gratidão! » Nenhuma resposta rc-
nbeiro o supplicas obtém d'ella Ting-Chang huma cebo, o he obrigada o confessar tudo ao seu pae,
entrevista com a sua amante , que desde algum o coronol Wang-Chung. Este nao acredito no
tempo estava resolvida á morrer , e recusava casamento , ( pois Ting-Chang levou o contrato,)
tomar alimentos. Os negócios seguem desde então amaldiçoa a sua filha por tel-o deshonrado , faz
marcha regular ; o moça consente em hum ma- expirar cm tormenlos a criada Ming-hca . a
trimonio secreto, precedido por solemne contrato condemno a eterna prisão a tia da sua lilha.
do casamento , no qual figuram a tia o a cria- Esta , não podendo sobreviver ao que todos cha-
da du testemunhas. Esto contracto bo assaz cu- in.un a sua deshonra, suicida-se , depois de ha-
rioso, n'clle encontramos a seguinte passagem : ver recebido noticias do segundo casamento tle
« Tornando-se a mulher infiel ao marido, quo seu marido. Wang-Chung communica o accon-
« o raio rápido caia sobre cila ; se o marido tecido ao mandarim Cbuw , que alé enlao nao
ur quebrar a fé jurada, innumeras flechas lhe havia desconfiado da lealdade de seu filho , mns
« atravessem o corpo ; c extineta a vida , con- tão depresso foi informado do procedimento in-
« tinuem os tormenlos do infiel na cidudo da fome d'ello , quo longo do oceultar o seu crime,
« morto, sendo ello precipitado no abismo das o próprio poo o leva ao conhecimento do com-
* trevas eternas para sempre o sempre. » Passam patente tribunal , declarando quu bastava-lhe a
seis mezes durante os quacs os noivos continuam desgraça do ser o pao de hum monstro, c quo
a ver-se clandestinamente , quando súbito o pao pelo monos havia do evitar o tornar-se seu cum-
do Ting-Chang hc promovido a hum posto su- plice. Todas as supplicas do filho , da infeliz VVei,
perior om huma das provincias septentrionaes tia da própria mao do culpado foram baldadas : nada
China. O filho obtom com diflicuhlade a permis- podo commover a severa rectidão do velho man-
são de continuar os seus estudos na cidade ondo darim. O tribunal supremo ao qual havia sido
resido sua esposa, da submottida a causa, dá finalmente u seguinte
qual todavia pouco depois so
separa , chamado sentença : « Tratar com leviandade ou ofleiider a
pelo pae, que lhe participa
estar gravemente doente , o untos do expirar do- « filha de hum mandarim ( Wang-Chung o era
suja mais huma voz abraçar o filho. Tem lugar « como ollicial superior) ho bum crime. Estar
huma scena do despedida no verdade tocante, « casado o concluir nova aliança hc hum Segun-
e amargurada ainda mais « do crime. Commcttcr adultério que causa a
pelos presentimentos
lunestos da noiva. Ting-Chang chega á resi- « morte do pessoa innocente , ho hum terceiro
dencia. do pae « crime. Em vosso contrato está escripto : so o
quo jâ se acha restabcllocido , e
quo aproveita a primeira occasião do apresentar « marido for infiel a mulher, immensas flechas
o joven a huma moça chamado Wei-hang, sum- « o transpassem : sejão estas substituídas por canas
momento bello o rica. O infiel; esquecido do « que hão de amassar o teu corpo como o de
s,,us juramentos e da desgraçada Lwang, não « hum cão, para servir esta punição du exem-
8
56 LITTFaRATURA.

a pio a todos os traidores iguaes a ti. a Ape- primeira classe até o proletário, todos estão su-
nas proferida o sentença rahirain sobre ling- geilos ao bambu.
Chang o» ali-ii/r-., ¦ MB pouco» momento* tor- Na ultima pagina da obra acha-se , cm ver-
i.ou-»e o corpo do k-llo munc-ebo em massa dif- soa, a seguinte moralidade : Leitor! porque
formo e hedionda, expirando o criminoso de- ambicionar riqueza e belleza , cuja possessoo nau
baixo dos mais horríveis lormcittot. se pode obter sem crime'.' l.luo proveito resul-
Assim acaba a novclla. Agora perguntamos so tara de huma má orçao. A lei divina diz: os
seu enredo he menos bem inveiitndo do que o es|Hisos que foram casados por hum dia o serão
de numerosas novella* do* mais afamados auto- por toda a vida. Quo felicidade pode esperai
ns francezes ou ingleie* I Nem íolH»'» mortes , quem engano o coração terno enimiamente con-
seducçoes, desgraças, maldiçõc*, adultérios etc liado de huma innocente donzella ? So acaso estais
sem os quaes hoje em dia nenhuma nou-llu pode |iersuadido que nenhum castigo espera ao falso
esperar uppluuso. .Mos, pelo menos, o crime he e cruel unianle: então lede a presente historia de
bum suecesso oceurtido em nossos dias.
punido, |Histoque do huma maneira pouco ro-
maiilica , muito conforme porem ao sistema go-
\emotivo da China, «nde desde o mandarim da T. I.

«««•WWaaaiMMMiaaaaaawaaaaWaaAwaaaaaaaaaaaaaaaMaMaaaaiiaaNMaaiiaaiaaaaaaaMaMaaaaM »*»»«»» ni"""."...»"»".™»""»""."

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REVISTA DRAMÁTICA. da nobre familia de Camargo. Foz seus debuta


em Paris cm 1720, na opera de Quinault de
Theatro Frauccx. nome Al>js, deixou a scena em 1731 , e até
1770, anno em que morreu, fez-se estimar por
i.i.i vs acharam o nosso primeiro artigo huma vida modesta e ch ris tua.
A. muito severo, outros demasiado indul-
_genle; declaramos portanto quo nao pres-
tamos ouvidos a qualquer queixa ; o quo nos
Nuo foi cingindo-se á historia quo os autores
da comediu , os Srs. Fomtan o Dupeuty , nos
apresentaram Maria Anna Cupi de Camargo;
move he a verdade, o amor da arte o o pro- alteraram o seu caracter c o da epocha , o que
gresso tio Brasil, e por isso fatiaremos sempre náo he permiltido em caso algum. Quando as
segundo a nossa consciência e convicção. personagens da historia são pouco conhecidas,
Falíamos no nosso ultimo artigo das Chansons licito he ao autor dramático o crear factos quu
tie Béranger o tYUne position Délicate, o se nuo existiram , prestar-lhe acções não suas, de-
nâo fora a Chanoincsse, já representada no thea- senvolver suas paixões, evocar entes que não pas-
tro de S. Januário , nada teríamos de novo a saram na sua existência ; porém o que devem
dizer sobro a representação do dia 28 do mez conservar sempre he o caracter que a historia dá u
passado. A Chanoinesse bo huma pequena peça estus personagens, sobretudo respeitar o caracter
do Scriho, feita no tempo cm que o celebre vau- da epocha. A peça a Camargo be no gênero de
devillisla era sempre suave , novo e brilhante; Madame Favart, menos graciosa, menos bem
e foi ella desempenhada com cuidado o gosto. conduzida, tendo mais do melodrama que esta,
Vimos no beneficio do Sr. Prat a Camargo , que muito da verdadeira comedia tem. Mademoi-
celebre actriz do século passado. Seu pai, gen- scllo Nongaret cantou com a graça que a carac-
tilhomem italiano, tinha ido residir cm Flan- terisa ; ú dansa , certamente mui bem executa-
dres, e havia desposado buma moça hespanhola da, faltava hum tanto de ligeireza; madame
...

BELLAS ARTES. 57

Codéral com algum enthusiasmo fez o papel da i i.ti..i.i. Também ho com pona
que vemos , tal-
actriz Brillunt; com gosto mostrou-se o Sr. Piei vez para so satisfazer na sombra pequenos inte-
no do duque de l.ionne , e de modo sntisfucto- M-.-.I"., que deixem retirar-se da scena do S.
rio o Sr. Pr.it no do barão de Camurgo. Januário mademoiselle Favriclnm. Merece esta
Principiou-se com o lludj I d'un jeune ména- senhora , pelo quu respeita .1 dicção , a eousa a
qs, pequena composição cheia de nuturalidade mais essencial nus circumstancias em que so acha
o de aiinplicidade. O* principaes uctoros que o theatro francez , os maiores elogios. Muitos
nulla entraram sao os Srs. Ilemortain , Adrien, Fluminenses falho puramente o francez, a elles
e inadaiuoisullo Caroline, que , supposto o pu- nos dirigimos, que digflo so entre elles alguns
blico que gosta de farças e melodramas ficasse frio , n.iii ha que o devem uo theatro de S. Januário .
desempenharam os seus papeis com in*elligencia. Iftuoramos pois o intento da direcção
quando
Por haver repentinamente adoecido huma da- quer conlractar novas pessoas sem as conhecer;
ma da companhia foi alterada a representação tpiando lambem nos apresenta crianças quo nm.
do dia V , u deu-se para substituir outru peça , a sabem fallar, e quo deixa retirar-se pessoas como
... .ilu.,- Dame, drama de mui pouco mereci- mademoiselle Favrichon, de quem se recordam
mento, quu o publico já varias vezes tinha visto, todos os Brasileiros; mademoiselle Favrichott
e em que pouco brilhou madamo Armund. Deu- quu salvou o Iheatro do huma queda infuilivet
se mais Ia Petite prisonniére monólogo que, para nhuin momento de crise , nos dias da dissenção.
tomar-se interessante, deve ser muito bem re- Pelo talento , nao está ella abaixo de muitas dessas
presentado, e mademoiselle Marcilla o recitou senhoras que se lisongeuo, e por prova pedimos
M-in pico nem sabor. Terminou-so o espectaculo qm- su recordem du huma peçu quu acaba de ser
ooin muita frieza; a Dot dAuvergne, bem que representada, Louise uu Ia reparation ; pelo lado
melhor desempenhada que as duas primeiras pe- da belleza , pouca graça (criamos em nao dizer
ças, nao deixou todavia boas impressões, e so- que be huma das mais interessantes actrizes; ugora,
bretudo os actores não so esmeraram em pro- pelo que respeita á causa pela qual advogamos,
nuuciar convenientemente : rogamos a estes Se- a pronunciaçuo, he impossível o nao dizer que ella
uliores que observem muito a pronunciaçuo. (em huma das mais puras no theatro. aMadcmoisclle.
Pois quu falíamos de pronunciaçuo , quo se Favrichon nao pronuncia como alguma dessas se-
nos permitia huma ligeira digressão. nhoras ( nao citamos ninguém ) , nuo diz tspirer
Hum theatro estrangeiro, hum theatro francez em vez du ekspirê ( expirei-) ; mezòn cm vez de
na capital do Brasil , hum theatro cm que se mèzòn ( maison ) ; meyèur em vez do melhtur
falia a lingua diplomática , a principal lingua com- (mcillcur). etc, etc. ; isto vai ao infinito.
mcrcial, quasi agora a lingua dos sábios , e cer- Desejamos pois, por interesso do theatro ,
lamente a lingua dos salões na mór parte dos visto que as pessoas du quem depende a sua
povos da Europa c America , hum theatro fran- existência sao instruídas, capazes de julgar , <•
cez , dizemos, nestas circumstancias, deve servir do obram no interesse da nação brasileira, que
eschola de pronuncioção. Os que dirigem senie- procurem actores habilitados o úteis para o pro-
ibanle empreza , membro do conselho (comitê) , gresso do que falíamos; persuadindo-se bem so-
accionistas o director-agente , de nada devem des- bretudo de que o theatro de S. Januário he
cuidar-se para ser ella proveitosa á nação que a mais freqüentado pelos estrangeiros do que por
sustenta ; devem também satisfazer , quanto possi- seus próprios compatriotas.
vel soja, pelo que diz respeito á utilidade , as pes- Porém voltemos ao nosso assumpto.
soas do quem depende o sou futuro, sua exis- Louise ou Ia reparation, ho huma peça de-
lencia presente até. conto como o são as pecos modernas, cheia de
Em todas as cidades capitães das nações civi- situações tocantes o lhanas, Foi bem represen-
lisadas o theatro he o centro , o foco da pro- tada, sobretudo no segundo acto, em quo se
nunciaçuo
pura; o quantos artistas, por isso distinguiram M. Dcmortain o mademoiselle Non-
mesmo, não tiveram suecesso senão por huma garet; talvez poderia desejar-se da parte dessa
boa dicção! Mademoiselle Mars nunca teve o en- senhora hum pouco mais dessa singeleza que se
thusiasmo , o calor, a alma de Rachel, pérolas exprime com hum simples movimento, hum
ambas do Theatro Francez de Paris;
porém ma- olhar , huma attitude; dessa graça de moça
demoisellc Mars tinha a pronunciaçuo a mais pura, cândida , que de alguma sorte era mister neste
elegante, branda o cheia de harmonia; e a isso
papel, e que assenta em todas os mulheres.
principalmente deve os seus primeiros e princi- Os coros, dizem alguns, não foram cantados;
pães triumphos. He pois com pezar que vimos porém berrados.
retirar-se o Sr. Guénèe do Iheatro; era entre A Marquise de Prétintaille, he, debaixo do
os homens que compõem a companhia dramática
ponto de vista dramático, numa ruim e gros-
francoza hum dos seira peça; madame Codérat, que foi encarre-
que tinha huma boa pronun-

*
.--..-,

58 BELL AS ARTES»

gada do papel principal, desetnpeiiliou-o solTii- me Uniiirtain, privam o publico de represen-


«cimento, deixando porém saudade» dos seus tuçoes notas, as quaes trariam espectador.*» ao
primeiros dtluii. theatro dc S. Januário, vazio desde ulgum lem-
Au Iluui du monde, peça sem ligação, sem po , apezar do inadeinoisellc Nongaret, Poder-
fundo, sem enredo algum, por assim dizer, se-hia ter dado üertrand 1'Uorlogtr , Un ma-
agradou, e ossim devia ser, pois que foi ma- itíige sauí I.uuis XV, de Alexandre Dumas,
demoiselle Nongarel encarregada de bum papel e muitas outras; porém , nao ; prefere-se oITero-
que, dizem , creou em Paris. cer ao publico, que lastima o seu dinheiro; oos
Destas tres peças foi composta a representa- assignantes, que so queixam ( e com justiço) ,
çao do dia 8, em que pouca genio houve. representações inteiras do peças j.'t muitas veie»
A representação do dia II constou de trt-s tistas, ou outras que se compõem de tres vau-
outros: Lt Wvjtlmnd, immoriil o indecente pro- dcwllt-s em hum acto cada hum; total tres actos,
ducçiio; Talma tn tange, pallida e fraco imita- dos quaes dous já conhecidos!
çao de Lteain ú Ürmjuitjnan, c sem nenhum Assim os octores representam pnra os bancos;
fundo ou ligação; e einliui Discrition, mui bo- fin limiKi única representação perde-se , nao |ò
nita e engraçada composição, em que so dis- os ordenados do mez de huma uelriz; porém os
liagaio iniiilame Annand. Pouco satisfeito o pu- ordenados de alguns cômicos. Chamam isto eco-
blico do ir ter bum espectaculo que se compu- iimiiia ! Senhores tio conselho ( comitêJ, Sr. Sc-
nha sini|ilcsmentc de tres actos de vaudevillo, gonil, ,|.t i os olhos sobre a posição do theatro ;
licou quasi vazia nessa noite o sala de S. Januário. fazei que ainda tiva por longo tempo ; síde eco-
Sabemos que o theatro francez cslii em grun- mnnicos, mas nao ridículos ; e sobretudo nao vos
•Ic déficit; que quer fazer economias, c tem deixeis preocctipar por interesses estranhos; par.t
razão; porém ba economias que nao o sao. que no lim , tendo-se o thealro muito tempo ar-
Existe aqui huma pessoa de quem falíamos , restado para o abismo, nelle cahindo , nào se diga,
pela qual alguns amigos, alguns assignantes , zombando, a cada hum dc vós, que faltais sem-
parte do publico c nós , desejamos que se con- pre muito, que talvez penseis pouco, que obrais
traetc , o que nao terá lugar, dizem, somente as vezes inconsideradamente , este verso:
para se cconomisar os ordenados qne lhe da-
riam. Por causa da falta dessa senhora , sobre- Bit-ii penaer, bien parlar, rt btea agir tout traia.
tini-» depois do continuo iiicommodo de muda-

Mivt.iv.iivt\i\»vv\tUViVt\vitvvtii»\ivtv.t»itvtxutv *?»%--%* *\\..**%.a*A.\*t..A.*at.\lt\\t\t*fl\tS%\.%%\a\\*J

VA1.I
^«•<«k^2>*3<£^x»^>.^

O 1." sendo mui raramente empregado não


FALSIFICAÇÃO 1)0 SULFATO DE QUININA. nos oecuparemos.
Quanto à existência da salissina he conhecida
1." porque seus cristues sito achatados, lamello-

<§p onos
)puro
sabem que o sulfato do quinina
he hum dos poderosos recursos da
sos, o estralam entre os dentes; 2.°
porque tra-
tados pelo ácido sulfurico tornam-se de huma
medicina cm certos casos; cumpro pois bella côr vermelha , entretanto
que o sulfato
nao ignorar quo nem sempro se acha cm estado de quinina cristalisa em agulhas
que imitam o
•le pureza , quaes são as substancias que do or- fio da seda , e tratado pelo ácido sulfurico dis-
dinario o falsificam, e os moios de reconhecer solve-se sem apresentar cor.
a falsificação. Tres são as matérias empregadas Para achar a terceira substancia , dissolve-se o
etn tal alteração: 1.°, sulfato de cal, 2.°, sa- sulfato de quinina cm água distillada, ajun-
lissina, 3.°, o principio cristalisavel do Naná. tando pequena porção de ácido sulfurico para
VARIEDADES. 59

lacililur a dissolução, precipita-re o sulfato do a chupa de cobro, guornecida do hum fio do


umoniaco, o tiltra-se; o sulfato mesmo metal, e soldada a huma de zinco de
quinino pelo
de quinino fica no filtro, evapora-se o liqui- igual grandeza , a qual elle lambem mete no outro
do com calor brando, utó ficar socco, trata-so, comiiurtimento de agoa acidulada.
neste estado, pelo álcool que dissolvo o princi- Al.HI.I..II.I-M- a experiência a si mesma duranlo
do Manu sem atacar o sullato alguns dias, e ..assu-so então huma serie du phe-
pio cristalino
aiiioniacal; filtra-se e evapora-se por algum tem- nomenos extraordinários, bem que jà conheci-
cristues em dos. Pela influencia clectrica do zinco , e do co-
po, pelo resfriamento deposita-se
fórum de agulhas de huma substancia mui so- bro, o sulfato du cobro decompocm-sc ; seu aci-'
liiv.-l cm água assucarudu, u que posta sobre do vai reunir-so uu zinco atrnvez do septo de terra ,
bruzos dà o cheiro do coramello. cosida , o o cobro depoem-so nos desenhos, isto
C. de Azeredo Coutinho. he , nos pontos, cm que a cera nao cobro a cba-
pa ; o desta lóriiia obtem-so huma gravura cm
relevo. Tal ho o niethodo rocommcnduth> por
Spencer, u cujo produeto ellu deu o nome de
NOVO PROCESSO PARA GRAVAR. voliaic cooper plate.

. nuo ba muito tempo em In-


rk Esconnif-SK ,
Wm\ ^atam hum novo proiaaio pura executar
chapas u buril pela ucçao du electricidade
vultuica. Esta invenção produzio grando movi-
mento de surpresa, visto que pode fazer completa
revolução na urto do gravador. Tendo appureeido
a este respeito descripçoes muito confusas , nao A Phenix itnmortal, nvu ilivinn,
seria talvez sem interesse resumir o quo as folhas Qne na A ml.m li-liz so ori^in.irn :
I'.,ini,. i iiiíiinvillui perigrinii,
inglezas tem dito. Imagem lirllii tlit virtiulo rara;
Segundo a regra quasi invariável das novas Jini l'.i>tiiL>irii ii.lorili.-rn, ilosiiim
invenções , dous inventores oprcsentárão-so siiiiul- Hiiniiliiilo tributo i) ini.rt.- niúrn ,
taticamente ; o professor Jacobi, de Dorpat ; o Aontlc, ile »i mt-sitm ranacida,
Na chnniiiia encontra a mortu, o nova vida.
Thomoz Sponcer, do Liverpool. Eis aqui o quo
estes dous physicos obtiverao do positivo. Tudo
so reduz a gravar em relevo hum desenho sobre
buma chapa de cobro. O processo ho simples e
olTeroco a explicação mui engenhosa de huma pro-
m ão incrível como bojo nos parece , l bis-
Floria du Phenix, não faltaram doutos e
graves autores , quo allirmassem muitas
das suas circumstancias. Iluma tão pratica inven-
priedade , desdo longo tempo conhecida , da elec-
tricidade voltaica. ção não só nicrccco ser aproveitada em verso ,
Spencer, quo obteve alguns productos assaz sa- mas em prosa , o ató achou lugar na historia ,
tisfaclorios, começa , por applicar, por meio do o nas obras religiosas.
calor, huma camada de cora sobro huma chapa Tácito, o historiador excellente , cm lermos
ordinária de cobro. Feito isto , desenha sobro a formaes , assevera quo esto raro animal (se ani-
cera os objectos, figuras ou paisagens que quer mal so podo chamar a lium ente que nao morre I
obter; o este primeiro desenho he feito com o apparccco no Egypto no tempo do consulado de
instrumento cortante, que os gravadores Fran- Paulo Fábio o do Lúcio Vitelio , e quo I suu
cezes chamam — ponta secca. — Depois Spencer apparição dera lugar a grando discussão entre
aconselha , quo so lavo a chapa assim desenhada os sábios do Egypto c da Grécia , c toma como
com buma dissolução do ácido nitrico, a fim do facto incontestável a volta periódica du Phenix.
(ornar os traços mais distinetos. Ainda mais adianta Solino quo citando actos au-
Ató aqui nada ha mais simples do que as ma- thenticos e solcmncs, positivamente ollirmn que
nipulações do novo descobrimento ; chegamos agora cm o anno 800 da fundação de Roma , apa-
a applicação da electricidade, ondo resido todo nhou-se a Phenix no Egypto e sendo trazida ú
o mysterio, Spencer serve-se para isso do huma capital do Império Romano, ahi estevo ú vista
pequena caixa do madeira, contendo bastante do publico, por ordem do Imperador Cláudio;
agoa , o a divido em dous compartimentos, por facto do que, diz o mesmo autor, existiam nos
meio de hum sopto feito do terra cosida, po- nrchivos do estado , processos verbaes. A figura
rosa, ou de gesso. Encho hum dos comparti- da Phenix he descripta por Solino pela seguinte
"lentos com agoa ligeiramente acidulada; e o ou- fôrma: « Esta ave he do tamanho de huma
tro com huma dissolução saturada de sulfato de águia , tem a cabeça ornada do hum bello to-
•-obre , ou vitriolo azul. Neste ultimo mergulha e
pete, o pescoço he cercadogde bellas penas,
VARIEDADES

brilhante como o ouro , o resto do corpo be da o Psalmo 91, onde se dii que: « O ju*to do-
rór d i purpura , a excopçao da cauda quo hc va- recera como a Phenix. u
riada da azul e de cor de rota. » Na verídica historia de Orlo* Magao e dos
O venerando pai da historia , Utroduio , he o doze pares du França, que anda ahi por ai mios
mai* antigo autor que trotou da Plu-iux , e ape- de todos, entre a aluviao de cutiladai e lança-
zar du que tem reputação de crédulo, nao fui das, dadas e recebidas por mil mudos dill. ren-
tao expresso a respeito deste notável pássaro, tes, vem também a oppariçuo da Phenix aquelle
o dii: a Existe hum pássaro sagrado que < ha- imperador, acompanhada do hunu descnpçuo
» -mim Phenix que t-u nunca vi senão pintado , circunstanciada du animal raro.
porque raramente vem ao Fgyplo, Ü* Heliopoli- Finalmente o mundo lilterario vio em o teculo
Uno» dizem que esta viagem se faz de íiOO em passado , huma grossa collecçio do mais restil-
500 annos, quando o pai lhe morre. Se as pin- ludo gongorismo , aue trouxe por nome Phtnix
lur.i» que lenho visto sao fieis parece-se no ta- renascida , c quo loi seguida do seu caudatario.
nuiili'1 c feitio com a águia, e a sua plumu- o Pinto renascido.
gem hu enfeitada e pintada de vermelho. A este Quanto á maneira de verificar a existência du
respeito (continua Uerodolo) contam cousas pou- tao maravilhoso ente, só nos lembra huma e he,
co verosimeis, c dizem que quando o pai lhe guardar hum exemplar du Phenix renascida , ate
morre foz hum lumulo dc substancias aromaticas o século tt.1, o queimai-o então com todas as
onde o encerra para o vir depositar no templo ceremonias, para ver se novamente renasce. Pelo
'
do sol. ( ) que toca oo pinto , como he natural que lenha
Pomponio Mello , Seneca, e outros autores , menor período, bom será queimar hum cada
li/i-i.itii mt-nsuo da Phcnix , e Claudiono em hum anno , ou mesmo cada mei, para desengano doi
poema , de que esta uve he o heróo , não só lhe incrédulos. II
gabo a formosura , como a devoção com que
esta ..ie antes de se queimar , recommcnda a
sua alma a Deos e ao sol, a que este certa-
mente corresponde enviando-lhe hum raio, que
abrazando a fogueira dá lugar á meatmorphose. \ n listai, he o 111.tu solido ruiitli.nuiiiu da proape-
A existência do ove Phenix e circumstancias do rttliitl.- doa IMitdo..
aua vida , nAo suo só allirni.id.is pelos aulhores
Artigo traduzido do I*. Neuvillc , por J. tia (.'• ikirlio/a
profanos, mo* também por grande numero de Pa-
dres du Igreja nao foi desdenhada a historia da
Phenix, tolvez por comparação. Fntre outros S. razão nos propõem idéas de ordem ,
Clemente Romano, escreveu o seguinte: « Fxiste J3v\
_t\ de justiça , de fidelidade, e de amor do
na Arábia huma aia , única no seu gênero, vive -*j*^ bem
publico; mas quando emprehendc
cem annos, o quando so sente para morrer for- erigir estas idôas cm deveres, preceitos, c leis
ma hum ninho do mvrrlia , incenso, e outros que obriguem o homem , se nos nao mostra
aromalicos, encerra-sc dentro e morre. Das car- nem legislador que deva receber nossas home-
nes consumidas nasce hum verme, que vai crês- nagens, nem recompensas para a virtude
prefe-
rendo c cobrindo-se do sua plumagem, e logo rida á felicidade, nem vingança á felicidade
que se acha formada, a nova Phenix , transporta comprada a custo da virtude, então a mesma
o túmulo c restos do pai, e vai dcposital-os no razão como que se elevo contra si, porquo oju-
templo do sol em Heliopolis , á vista do todos da a destruir o edilicio que quer estabelecer:
os habitantes, etc. » e muitas vezes aquelle que nestas circumstancias
lambem he positivo S. Cyrillo de Jerusalém , ataca a razão, parece tao razoável como aquel-
que diz: ¦ Fsta ave maravilhosa volta de SOO cm Io que a defende. Que faz pois a Religião? li-
SOO annos ao Fgypto por provar a ressurreição ; rando o véo que nos oeculta os mysterios do
n note-se, que nao bo cm hum deserto igno- nosso ser e da nossa dependência, abre-nos a
rado que ella vai depositar os rostos do seu pai, fonte donde decorrem os deveres e as leis da
mas cm huma cidade famosa e bem povoada , sociedade; faz-nos ouvir, na voz tia razão a
afim do que toquem com as mãos aquelles que linguagem de Deus supremo, que cm caracteres
nuo quizerem crer. » indeléveis gravou sua vontade no mais intimo
Finalmente, para nada faltar ós provas da da nossa alma: não he pois mais huma razdo
existência da Phenix , procura-se escorul-a com unicamente minha , e sim huma razão
que mar-
cada com o sello do Deus, de he inter-
que
(' ) 1'lularco deita a barra adiante, dizondo, epn oa está no interior de mim mesmo com
miolo» da avo Phenix eão bum cxcellento manjar: he pon"
preto,
hum titulo dc superioridade,
que lhe submetto
qne icjn t.40 raro! as minhas inclinações e os meus desejos. Não
VARIEDADES. Cl

debaixo das vistas do Deos de verdade ; fieis cm


he também huma sociedade de homens começa-
da pelo acaso, ajudada pelo instincto, cimen- suas promessas, por que Deos hu quem as re-
*, celio e as garante; sensíveis e generosos por que
Uda pelo interesse, e mantida pela política he
huma família numerosa, da qual Deus he o Duos tem posto u recuiso du ukn no coraçuo
chefe, he o pai, he o mostre, e o protector; e na muo tio rico.
o homem se apaga e dcsap- Nobreza de sentimentos, que eleva huma ai-
por Iodai as partes ma magnânima acima do interesse, e quo do bem
não te «6 mais do quo Deus autor
parece, e
e vingador das leis da natureza. que se faz outra qualquer recompensa nao pre-
Grande e sublime cspectaculo he sem duvida tende que a satisfação de o fazer em Deos, i
o que S. Paulo se applicava a representar vi- por Deos; firmeza o intrepidez de /elo , que mu
vãmente aos lieis; — meus irmãos, dizia-lhes, desagradar afim de servir, e que nao teme fa-
os doures do homem compõem os primeiros de- zer-se odioso só para ser útil; fidelidade, que
veres d» chrisMo; mas estes deveres constran- a esperança nao pôde seduzir, nem o temor
oceorren- intimidar; reconhecimento dos benefícios, que
gem , o sao penosos; em milhares du
cias exigem exforços de virtude, quo a groça nao expira com o credito e a fortuna do bemíei-
raras vezes obtém de hum coração amollccido tor; amor da verdude o da probidade, que
sabedoria do por- considera como desgraça mais desacrediladoro os
por tanto» vícios. A orgulhosa suecessos o o triumpho du que se eleva pela
tico debalde tem querido achar hum sustenta-
culo firmo e inabalável da paz e da felicidade impostura , do que a quedo de quem suecumbe
do inundo ; entretanto não vercis mais do que debaixo do perfídia; e quo pensa que mio he
o homem no homem ; as paixões se tornarão ii,nl.i o que se solTru quando nao ha nada de que
mais fortes contra a rozao, o a razão móis fraca so exprobre. ,

contra os paixões. Quercis dar à felicidade pu-
l.li.a lium apoio estável o immovel, olhai para
Deus , principio e origem do todos as cousas, lir-
mar em todas as suas obras' a mestra du divin-
dade, e encher por sua immcnsidade o dislan- BOLETIM DÁS SOCIEDADES Sf.ll.Nni.CAS DC 1NGLA-
cia de todos os lugares, c do todas as condi- TEMIA EM 18.0.
çoesjscr elle só acima em tudo o que obedece,
e em tudo o quo manda no mundo. Nós continuaremos a por os nossos leitores ao
Povo, continuava o Apóstolo, povo condemna- corrente dos trabalhos das sociedades sabias da
do à submissão o à dependência , nao degradeis a Inglaterra. Essas sociedades são numerosas : sen,
humanidade até fazer o homem escravo do ho- fallar das instituições particulares, que pugno pro-
muni Deos hu quem reina nos róis, quem de- fessores para cursos ou leituras, ha cm Londres
cido nos magistrados , quem manda nos senhores , as seguintos; sociedades real , sociedade statis-
tica , Instituição dos architectos inglezes, socie*--
quem governa nos pais ; à elle só se enderecão
todas as homenagens, e o homem as não rece- dade Linneanu, sociedade chymica , sociedade mi-
be, senão para llúts offcrccer. Grandes do inun- croscopica, sociedade mumistica, sociedade dos
do, depositários do poder e da authoridade , este antiquarios, sociedade geographica, sociedade real
povo que deve respeitar cm vós seus superiores, do litteratura, sociedado das artes , instituto dos
deve em vós encontrar pães, por que o Deos, que engenheiros civis , sociedade geológico , sociedade
recebe por vós as adorações do povo , recebo pelo astronômica , sociedado de horticultura, sociedade
povo os dons do vosso reconhecimento; assim a botânica , instituição real, sociedade a/.iatica. Ire-
doçura , (continua o apóstolo o eu não faço mais mos extrahindo para cada numero das actas das
do quo reunir os rasgos dispersos em suas Epis- sossões e leituras dessas sociedades todos os do-
tolas ) assim a doçura o a humanidade so asen- cumentos capazes de interessar a sciencia, e a
taràô sobre o throno , por que Deos ouve os sus- industria.
piros, e vinga as lagrimas do povo; a equidade Em Janeiro deste anno, a sociedade geogra-
presidirá nos tribunaes, porque são os direitos, phica recebou communicaçSo de cartas e corres-
o os interesses do mesmo Deus que se pezão na pondencias directas, que chamam sua attcncao,
balança da Justiça ; a paz e a concórdia reinarão 1.° sobre o Tripoli, d'onde a Inglaterra espera
entre o espozo e a espoza, por quo Deos for- estender suas relações commerciaes com o inte-
marà o laço do sua união; os pães acharão o rior da África; 2.° sobre o isthmo de Panamá,
e
terno reconhecimento e a respeitosa submissão ; que oecupa desde muito tempo os políticos,
do Dr. Beke á
os filhos a incansável vigilância , c o amor fecun- geographos; 3.° sobro a viagem
do em benefícios; por que he Deos quem falia Godjam; este viajante trouxo huma collcção geo-
pela vóz do sangue da naturesa; todos serão sin- lógica do interior do Abyssinia.
curos cm suas palavras,
por que todos marcham A sociedade Asiática, recebeu huma disserla-
VARIEDADES.

ção dn Dr. I! .ti.- , tao versado nas riquezus na- jornalistas, a exccpçfto du hum ou dous. De sos-
turae* e antigüidades du índia, estabelecendo senla e Ires, , que tiveram a honra du presidir
a identidade entre o minha tlus (iri-go* o o .'iqitflli assembléa 1«» foram guilhotinados , Ires
nakbi dos Indios. E>tos düu* pulavres, tradu/i- su in.,!..i.nu . oito foram depuitados, seis con-
das por cravo odorifero, exprimem huma subs- dumnodos a prisão perpetua , quatro enloquecu-
tuntia, aue cnlrurii na composição dus perfumes. ran s morrei am SSS Bicetre, vinte e dous foram
A socedodu de estatística, segundo as tabcl- pontos fora du lei, o dous somentu escaparam o
Ias fornecidas aiinualnienlu pelo rcgiilo geral , qualquer espécie de condemnoçao.
oecupou-sc do censo dos habilantes du Ingla-
turra. Novos documentos fórum uddicioitues do
quadro realmente prodigioso du progresso da po- Proielytismo dos protestantes— Os iirotcitanti-»
pulaçuo ingleiu desde ,0 annos, apezur du im- inglesei gabam-se de terem ustohclccido para a
mensidade de emigrantes inglezcs. que dirijem- propagação de sua religiuo huma typographia cm
se todos annos aos Estados-1'nidos, u ás colo- Macio, na Chino, oulra cm Singapona , na pe-
lua- britannicos. ninsula de Mulata; huma fundição de tipos na
A rccapituluçao seguinte mostra quanta a po- ilha de Javu , huma typogrtipbio em l.atnkok no
pularão adquiru cada huma progressuo ascen- nino du Siao , outra coiisider»tel o huma fun-
dente, comparativamente á França, paiz um que dirão de tipos no paiz dos Uirmans, outras em
a emigração he quasi nulla. l.odiano ( Índia septentrional ) , Madras, Bom-
IkiÍiii , ilhas du Samlwicb , na África tio sul, Cabo
Atijjmento ,ior cento. dus Palmas Baimlli (Sina), Ooroemialh (Pérsia ).
Inglaterra t piil tle Galloa. França. Inu. Fiiasça.
1-ü — 8,873,91*0 . • . 37,319,003 35. GO 11. 38
1891 — 11,978,875 . . . 30,461,875 16.01 6. 3'J Força do vapor emprrqado em Birmingham —
1831 — 13,B97,ln7 . . . SS.SSB.SSS 11. SS 4. 'Jl Esta forço In- de IS,4l| luvullos. ii uuini-io dus
1811 —15,1111,725 . . . S4.IS4.a7S maquinas locomotiva*- be de ii11.
(«.fine Britannique.)

Pttrulklt) dus forças innanimudas empregadas na


Noticias liibliograpliicas—Hum dos mui im- titjriculttira e nas trttt cm frança e ua Ingla-
portunlfs trabalhos ipie appureceram na Europa terra , tomando por medida a força de homens.
Mihre as siilislaiicias lilhontripticus, ou substancias
que possuem B propriedade du dissolier as pedras França. ImLAT.
nu bexiga , foi escriptu por hum brusileito nutu- .Miiinlios o inaijiiiiias FurÇ.iPii. Fnrt;.d'li.
rol desta cidade. Eis o seu titulo na língua em Iiiilinulicns eqüivalem n l,."i00,000 a 1,200,000
OM foi publicado—Chemical and Medicai pro- Vento ( navegação. 3,000,000 „ 13,000,000
perties of those substanres colled Lithontripties by Moinhos tle rato 253 333 „ 240,000
M. Joseph Pinto Aseredo from Brasils, Edimburgo iMui-uinas da vapor. 700,000 „ 0,400,000
1790. — Esta cxccIJontc memória, que tinha sido
ipretautada ã sociedade llarveiana de Edimburgo Instituto dos engenheiros civis. — Submetteo-
pelo seu autor, ohteve o grondo premio da mesma se aos membros presentes no ultima sessão (1." do
sociedade na sua sessão publica animal do 1789 , junho) hum novo telegrapbo clcctro-mognetico ,
como consta das folhas inglezas d'at]uclle tempo. destinado ao caminho do forro do Aix Ia cha-
Dr M. pelle. O alphabeto d'cstc instrumento mui sim-
pliliciido reduz-so a sois signaes elementares.
— A primeira obra
publicada em portuguez sobro Barrete salra-vida.
chimica depois dos itnniortaes trabalhos de Lavoisier
c Volta, ho devida igualmente a hum brasileiro Data Em Edimburgo acaba-se de inventar bum
ral de Minas Geraes. Ella tem por titulo—Elcmcu- harreto borraxa forrado do huma fazenda prepu-
los de chimica oflerecidos á sociedade litteraria do rada com gommo elástica. Esto forro, por meio
Itio do Janeiro para uso do seu curso de chimica , do bum pequeno gargalo metálico, encho-se do
por Vicente Coelho do Seahra.—Coimbra. Officina ar polo sopro ; om caso do perigo de naufrágio
da ünivorcidade. 1788. Dr. M. serve como do huma forlo bexiga, e conserva a
cima d'ngoa a quem o traz. Ha n'esta invenção a
vantagem do nao ser preciso empregar nenhum
Martyrologio da imprensa— Todos os presi- outro traste alem daquelle , de quo se faz bum
dentes da convenção nacional de França foram uso habitual nas viagens do mar.

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