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Marly Amarilha
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
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leitores, novas sensibilidades não surgirão se não houver trabalho experimental e de
risco das gerações precedentes, como se espera que sejam as de professores-mediadores.
Há, portanto, um rito de passagem intergeracional implicado no processo.
Com essa compreensão, realizamos o projeto A multimodalidade na leitura do
poema e do livro de poesia em aprendizes da escola fundamental – estudo
longitudinal (Amarilha et alii, 2014), que objetivou investigar aspectos do
desenvolvimento da formação leitora de escolares desencadeados pela diversidade de
linguagens presentes no livro de poesia para a infância desde o seu princípio: o texto
verbal. Como foco dos aspectos investigados foram tomados indicadores de
competência recepcional de sujeitos escolarizados às atividades de leitura de textos
poéticos presentes em livros impressos. No contexto do projeto, entendemos como
competência recepcional a superação da leitura do nível referencial para o nível
conotativo da linguagem, visto que na pragmática comunicativa da literatura “o sujeito
da produção e o sujeito da recepção não são pensáveis como sujeitos isolados, mas
apenas como social e culturalmente mediados, como sujeitos ‘transubjetivos’” (Stierle;
2002, p.143). Nessa lógica, assim como o produtor do texto literário cria, transitando do
referencial para o conotativo, em igual movimento deve agir seu leitor no processo de
leitura. É com esse fundamento teórico que entendemos o avanço como leitor de
poemas pode ocorrer, na escola. No trânsito do referencial para o conotativo, da relação
texto-vida e vice-versa é que se formula uma didática da leitura de literatura para
leitores em formação. E esse é o caminho proposto no projeto realizado, do qual
descrevemos e discutimos alguns aspectos, no presente capítulo.
O desenho da pesquisa
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Adotamos o modelo de estudo longitudinal tendo em vista acompanhar os
sujeitos, em dois anos consecutivos, no desenvolvimento de apropriação das
multimodalidades da linguagem presentes no poema e no livro de poesia.
O 4º ano foi selecionado tendo em vista que, nesse nível, os estudantes estão
consolidando o processo de alfabetização e estão aptos a desfrutarem da leitura do livro
de poesia em sua multimodalidade linguística e plástica.
Nas sessões, cada sujeito dispunha do livro impresso e foram mediados por uma
professora-pesquisadora.
Repertório de literatura
Para a realização das sessões de leitura foram utilizados os livros “Minha ilha
maravilha” (2007), de Marina Colasanti; “Quando chove a cântaros” - “Cuando llueve a
cántaros” (2005), de Gloria Kirinus e “Lampião e Lancelot” (2011), de Fernando Vilela.
Essas obras foram selecionadas porque são produções contemporâneas, atendendo,
portanto, ao princípio de que todo texto é escrito para o leitor do seu tempo; atendiam
ao critério de qualidade estética em sua textualidade, considerando-se aspectos da
melopeia, fanopeia e logopeia, conforme os conceitua Pound (1997), realizando-se,
portanto, como textos em que se destaca o trabalho conotativo com a linguagem.
A relação plausível entre texto e imagem é que o tênis remete a calçado usado
por crianças, como sendo apropriado a atividades realizadas na infância como correr,
jogar bola, visto que o poema trata do tempo da infância.
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Esse aspecto é relevante para uma educação do sensível, do traço de
humanidade solidária presente no poema, na musicalidade do espanhol, conforme
entendemos a leitura de “Cuando llueve a cántaros” provoca. Nesse sentido, Cruz
(2010) assinala com lucidez a fortuna humana, agregadora que significa a experiência
de conhecer outra língua:
[...]
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o seu uso mostrou-se eficiente como instrumento de coleta de dados e como fator de
entusiasmo e desenvolvimento do interesse pela leitura e pela resposta ao texto literário
pelos sujeitos. Sobre a acessibilidade, constatamos que, a despeito de entusiasta política
governamental de introdução da informática na vida dos nossos escolares, os fatos
revelam que a participação desses nossos estudantes na cultura digital para fins
educativos é ainda bastante tímida.
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pedagógica ficaria bastante comprometida. Daí que, as políticas públicas que distribuem
acervos às bibliotecas escolares precisam contemplar maior número de exemplares de
cada título para a realização de um trabalho mais envolvente e produtivo com os leitores
em formação.
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poética é apenas funcional, pois, de fato, a significação do poema acontece
contemplando todos esses aspectos, de maneira que seria inadequado pensá-los
isoladamente.
Aspectos Frequência
Melopeia 36
Fanopeia 23
Logopeia 31
Para cada aspecto elencado no quadro acima, selecionamos uma postagem a fim
de ilustrar a natureza da experiência vivenciada pelos sujeitos. Apresentamos os textos
dos sujeitos tal como estão registradas no fórum. Os sujeitos receberam nomes fictícios
para preservar suas identidades.
Sobre a melopeia:
Sobre a fanopeia:
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Achei legal, porque a casa tinha
coisas que a gente nunca viu.
(Paulo;1ª sessão; grifo nosso).
Sobre a logopeia:
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A ilustração representa a contribuição da linguagem imagética na composição
do livro de literatura para a infância. Todos os três livros escolhidos para a pesquisa
apresentam projeto gráfico cuidadoso e, cada obra veicula ilustrações de estilos
diferentes. Como linguagem, a ilustração tem a função de comunicar ideias, despertar
emoções, ampliar informações, sugerir e problematizar aspectos presentes no texto
verbal. A qualidade da ilustração pode ser avaliada pela interatividade com o texto
verbal como pela sua plasticidade. Considerando-se que os sujeitos são leitores em
processo de aprendizagem da linguagem verbal, a ilustração também representa um tipo
de andaime à compreensão do texto. Seguem algumas postagens tratando do assunto:
Observamos que cada uma dos sujeitos, acima, destaca funções diferentes da
ilustração no processo de leitura: de auxiliar na compreensão “a ilustração ajuda...”;
apreciação estética “[a ilustradora] foi criativa”; “desenhos bonitos”; como fonte de
informação “saber mais”. Esses depoimentos assinalam sobre a importância de haver
uma pedagogia da imagem que interaja com a leitura do texto verbal.
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Postagens sobre o livro
Mesmo não havendo registro no fórum sobre os aspectos do projeto gráfico e das
ilustrações, pelas imagens do vídeo constatamos a intensa participação e a
movimentação em torno do livro como objeto. Registramos manifestações de alegria, de
admiração e surpresa, conforme citado acima.
Na 14ª sessão, colocamos no fórum a seguinte provocação: Dos três livros que
foram trabalhados na pesquisa, qual deles você indicaria para a próxima turma de
alunos da professora Camila? O que os alunos aprenderiam sobre poesia ao ler o livro
por você indicado? Selecionamos algumas respostas:
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Minha ilha maravilha, porque eles
aprenderam mais sobre os poemas,
sobre os autores e sobre editoras
(Ivo; 14ª sessão).
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Conforme as respostas às provocações da primeira sessão: O que é poesia? O que você
achou do poema “Uma casa se faz?”, observamos que os sujeitos já eram propensos a
perceber aspectos da modalidade oral da língua, presentes na composição poética.
Vejamos os depoimentos a respeito:
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contou no modo cordel e prosa, porque no
modo de cordel tem rima e no modo da
prosa o texto é continuo. (Silvia;12ª sessão).
Referências
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