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II Encontro Nacional
do GT Estudos de
Gênero
Associação Nacional de História
Seção Regional do Rio de Janeiro
Anpuh-Rio
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Conselho Consultivo
Conselho Fiscal
Rio de Janeiro
Anpuh-Rio
2016
Encontro Nacional do GT Estudos de Gênero (2.:
2016: Rio de Janeiro, RJ)
Atas do II Encontro Nacional do GT Estudos de Gênero /
Lana Lage da Gama Lima, Miriam Cabral Coser, Fábio
Henrique Lopes e Thiago de Souza Reis (organizadores). – Rio
de Janeiro: Anpuh-Rio, 2016.
927p.: il.
Disponível em: http://www.rj.anpuh.org
ISBN: 978-85-65957-07-6
Comissão Científica
Sumário
APRESENTAÇÃO ......................................................................................... 17
ix
ST 1A: HISTÓRIA E GÊNERO: CULTURA MEMÓRIA E
IDENTIDADES .............................................................................................. 19
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Índice de Autores
A G
I
B
Inara Fonseca .............................................. 249
Brena Oliveira Pinto .....................................391 Ioneide M P B de Souza ............................... 857
Bruno Sanches Mariante da Silva .................877 Isabela Brasil Magno ................................... 378
C J
Camila Serafim Daminelli ............................. 781 Jaqueline Ap. M. Zarbato ............................ 570
Jhoana Gregoria Prada Merchán ................. 295
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N T xvi
Nadia Maria Guariza ....................................126 Tânia Bassi Costa ......................................... 106
Natanael de Freitas Silva .............................. 474
Nayara Cristina Carneiro de Araújo ..............822 V
Nicolle Taner de Lima ...................................807
Vanessa Gonçalves Bittencourt de Souza...... 65
Patrícia Urruzola...........................................895 W
Paulo Brito do Prado ....................................171
Wéber Félix de Oliveira ............................... 436
Weyber Rodrigues de Souza ........................ 507
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APRESENTAÇÃO
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Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
As(os) Organizadoras(es)
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ST 1A
História e Gênero: Cultura
Memória e Identidades
Coordenação
Prof. Dr. Ricardo dos Santos Batista
(UNEB)
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UERJ
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fontes de estudo. A tônica que permeia todas as obras referidas, conforme nos
informa Patrick Boucheron, é a dominação masculina sobre as mulheres.1
Para a implementação das suas análises, Duby utilizou como fontes de
pesquisa a literatura genealógica e os discursos clericais. Chamou a atenção para
o fato de que tais materiais não eram de autoria feminina, mas sim refletiam a
visão masculina sobre o papel social considerado adequado às mulheres. Nas
palavras do autor:
21
Faço de imediato essa advertência. O que procuro mostrar não
é o realmente vivido. Inacessível. Procuro mostrar reflexos, o
que testemunhos escritos refletem. Confio no que eles dizem.
Se dizem a verdade ou não, não é isso que importa. O
importante para mim é a imagem que oferecem de uma
mulher e, por meio delas, das mulheres em geral, a imagem
que o autor do texto fazia delas e quis passar aos que o
escutaram. Ora, a imagem viva é inevitavelmente deformada
nesse reflexo e por duas razões: Primeiro, porque os escritos
datados da época que estudo – e esse caráter, no espaço
francês, não se alterou antes do final do século XIII – são
todos oficiais, dirigidos a um público, jamais voltado para o
íntimo; segundo, porque foram redigidos por homens.2
1
BOUCHERON, P. Georges Duby. In: SALES, Véronique (org.). Os Historiadores.
São Paulo: UNESP, 2011.p. 278.
2
DUBY,G. Heloisa, Isolda e outras damas do século XII. São Paulo: Companhia das
Letras, 1995. p. 10.
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3
RUST, L. O concílio, o papado e o tempo: ou algumas considerações críticas sobre a
institucionalização do papado medieval (1050-1270). História: Questões & Debates,
Curitiba, n. 46, p. 165, 2007. Editora UFPR.
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A filha
O casamento medieval era um dos principais instrumentos de
organização da estrutura social. Afora as questões sentimentais, que não
formalmente não eram consideradas neste contexto, a união de homens e
mulheres em uma relação matrimonial significava a definição de um lugar social.
Os homens e mulheres casados gozavam de um status diferenciado na sociedade.
O casamento lançava sobre eles responsabilidades e privilégios. Ao homem
caberia ter a honra e a dignidade de chefiar uma família, sendo responsável pelo
seu sustendo e preservação. À mulher cabia antes de tudo gerar a família
tornando-se mãe e depois mantê-la unida sobre os princípios da honra e da moral
cristã.
O casamento funcionava como uma espinha dorsal que sustentava a
hierarquia social, principalmente no que se referia ao círculo aristocrático.
Tratava-se de uma prática que precisava ser regulada por aqueles que, desde o
século XII, com os ventos reformistas na Igreja e as tendências centralistas do
poder monárquico, buscavam ordenar aqueles pelos quais se consideravam
responsáveis. Controlar a prática matrimonial significava controlar, dentre
outros pontos, a sexualidade e a transmissão e a divisão dos bens familiares, já
que o casamento era, em última instância, uma decisão familiar onde o amor não
era um pré-requisito necessário, sendo na maior parte das vezes, condenável.
Como afirma Charles de la Roncière, “(...) Evidentemente, o casamento
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impõem-se como uma instituição indispensável, e até feliz, mas não é local de
amor.”4 Desta forma, tanto se referia ao âmbito eclesiástico quanto ao laico e
precisava ser por ambos ordenados. O Fuero Real, ao tratar da ordenação do
casamento, é claro em afirmar que ele deve ser feito de acordo com as regras
estabelecidas pela Igreja. Diz o Fuero Real: “Establecemos e mandamos que
todos los casamientos se fagan por aquellas palabras que manda santa iglesia, e
los que casaren sean tales que puedan casar sin pecado.” 5
25
Desde o século XII o casamento tornou-se um sacramento. Deixou de ser
um assunto que poderia ser tratado livremente pelos laicos que definiam as
regras e legavam ao clero somente o papel coadjuvante. Até ser
sacramentalizado, o casamento era elaborado pelas famílias dos noivos que além
de ver na união uma forma de ampliar e/ou preservar o seu patrimônio, o
entendiam também como um símbolo de status social. No planejamento da união
não era levado em consideração o desejo e o consentimento dos noivos, já que
se tratava de uma decisão coletiva e não individual.
O controle do casamento era, segundo Georges Duby, o conflito de duas
morais: a moral eclesiástica e a moral laica e foi estabelecido como uma forma
de sobrepor a autoridade moral da Igreja à autonomia de que gozava a
aristocracia para a definição da sua política patrimonial, que se desdobravam em
ações políticas e econômicas, além de lhe garantir um dado posicionamento
social.
A moral eclesiástica, implantada como um desdobramento dos ventos
reformistas, visava ressaltar o caráter divino do casamento, buscando retirar dele
qualquer traço de luxúria, o resguardo da virgindade da noiva até que o laço
matrimonial ocorresse de fato, o seu caráter procriativo e o combate à práticas
como o incesto, o repúdio e o concubinato. O discurso eclesiástico ressaltava
quatro pontos fundamentais que foram incorporados ao caráter matrimonial do
casamento. O primeiro ponto era assegurar que fosse dado aos noivos o direito
4
LA RONCIÈRE, Charles de. À sombra da castidade. In: BERNOS, M;
LÉCRIVAIN,P.; LA RONCIÈRE,C. de la et. GUYON, Jean. O Fruto proibido.
Lisboa: Edições 70, 1985. p. 141.
5
FUERO REAL DEL REY DON ALONSO EL SABIO. La real academia de la
historia. Madrid: Imprenta Real, 1836. Livro III, Título I; lei 1, p.64.
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6
FR, IV, X, 8; p. 136.
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7
FR,III, I; 1, p. 64.
8
FR, IV, VIII, 1, p. 132-133.
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9
FR, III, I, 2; p. 64.
10
FR, III, I, 3; p. 64.
11
FR, III, I, 5; p. 65.
12
DUBY,G. O cavaleiro, a mulher e o padre. Lisboa: Dom Quixote, 1981, p.30.
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A esposa
Cumprido o papel de filha impecável, a mulher medieval era inserida no
universo matrimonial. Como esposa a mulher assumia responsabilidades sobre
a sua casa e deveres. Silvana Vecchio15 define como um dos primeiros deveres
da esposa, a obediência aos seus sogros. A mulher casada passava da custódia
da sua parentela e passava à de seu marido e dos seus parentes. Ela não poderia
13
KNIBIEHLER,Yvonne. História da Virgindade. São Paulo: Contexto, 2016. p. 112.
14
FR,IV, X, 1, p. 134-135.
15
VECCHIO,Silvana. La Buena Esposa. In: DUBY,G.e PERROT,M. Historia de las
mujeres. La Edad Media. La mujer en la família y en la sociedad. Madrid: Taurus,
1992. p. 136.
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16
CASAGRANDE, Carla. La Mujer Custodiada. In: DUBY, G. e PERROT, M.
Historia de las mujeres. La Edad Media. La mujer en la família y en la sociedad.
Madrid: Taurus, 1992. p. 113.
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17
SEGURA GRAIÑO, Cristina. El pecado y los pecados de las mujeres. In:
CARRASCO, Ana Isabel Manchado e RÁBADE, María del Pillar Obradó (org.). Pecar
en la Edad Media. Madrid: Sílex, 2008. p. 213.
18
SEGURA GRAIÑO, Cristina. Op. cit., p. 223.
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A viúva
O casamento é entendido tanto pelo discurso eclesiástico quanto jurídico
como um marco na vida da mulher laica medieval. As donzelas eram
extremamente valorizadas porque seriam inseridas em uma nova parentela com
possibilidades de ampliação de recursos para o seu grupo familiar. Às esposas
atribui-se um papel fundamental na conservação das alianças patrimoniais e na
garantia da perpetuação familiar. Que papel jurídico e eclesiástico era reservado
às viúvas?
As viúvas eram peças também seminais na engrenagem familiar. Elas
eram responsáveis por aconselhar às demais damas e donzelas, ajudando-as a
desempenhar devidamente as suas responsabilidades quanto à administração da
casa, tarefa, aliás, que poderia tornar-se muito complexa dependendo do
tamanho do patrimônio familiar. As viúvas ajudavam a manter o gineceu sob
controle, tornando-se um bastião da moralidade que deveria reinar na casa.
19
FR, IV, VII, 1, p. 131.
20
FR, IV, VII, 5, p. 132
21
FR, IV, VII, 3, p. 131
22
FR, IV, VII, 4, p. 132
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Como lembra Duby: (...) O gineceu, entrevisto pelos homens mas do qual são
naturalmente excluídos, aparece a seus olhos como um domínio “estranho”, um
principado separado do qual a dama, por delegação do seu senhor, detém o
governo.”23 As responsáveis por manter as demais mulheres ocupadas e com as
suas mentes livres do pecado. “(...) O ideal era uma divisão equilibrada entre a
oração e o trabalho, o trabalho do tecido.” 24
O papel político desempenhado pelas viúvas também poderia ser muito
33
ativo, mesmo que não exercido publicamente. As damas viúvas poderiam ser
muito atuantes em termos governamentais nos períodos de minoridade dos seus
filhos, tornando-se regentes.
Assim como às virgens, às viúvas é indicada, pelo discurso clerical, a
castidade. Liberada das suas funções sexuais, as viúvas também deveriam
manter as suas mentes livres dos pensamentos luxuriosos. Somente poderiam
voltar a exercer a sexualidade de forma legítima através de um novo casamento.
O destino das viúvas na Idade Média era manter a sua condição, sendo
custodiada pelos homens da sua família, entrar para a vida religiosa (passando
assim, para a tutela da Igreja) ou contrair um novo casamento, o que nem sempre
era do desejo da sua parentela, só se uma nova união implicasse em vantagens
patrimoniais para o grupo familiar. Logo, muitas viúvas viam-se impedidas de
casar-se novamente. Para tanto, o Fuero Real, de uma forma geral garantia às
viúvas a liberdade para contrair novas núpcias sem que os seus pais ou demais
membros da sua parentela possam impedi-las25. No entanto, esse casamento teria
que seguir algumas regras, como por exemplo, a certeza de que o primeiro
marido estava realmente morto, uma regra muito plausível para uma sociedade
onde a guerra e o deslocamento de maridos para outras localidades era muito
comum; caso contrário, o casamento seria invalidado e tanto a mulher quanto o
seu futuro esposo cairiam em poder do marido que poderia imputar-lhes a pena
que melhor lhe conviesse, inclusive a morte26. Outra regra estabelecida em
23
Duby,G. Convívio. In: ARIÈS,P. et DUBY,G. História da Vida Privada. Da
Europa feudal à Renascença. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. p. 90.
24
Idem
25
FR, III, I, 4, p. 65.
26
FR, III, I, 11, p. 66.
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relação ao casamento das viúvas era que ele se desse passado um ano após a
morte do marido. Este segundo casamento só poderia ocorrer com a licença do
rei . Caso a viúva desrespeite esta regra, desrespeitando o prazo estabelecido e
sem o aval real, ela perderia metade de todos os seus bens que passariam para
seus filhos ou netos, caso os tivesse. Caso não os tivesse, os bens seriam dados
aos parentes mais próximos do marido morto27.
34
Conclusão
Analisando, portanto, os discursos clerical e legal, entende-se a
existência de princípios morais, pautados nos parâmetros da castidade,
direcionados às mulheres medievais, buscando a disciplinarização ao
desempenho dos papéis sociais considerados fundamentais para a sociedade em
questão, ou seja, o de filhas, o de esposas e o de viúvas. Através do bom
desempenho destes papéis, as mulheres medievais garantiam a sobrevivência e
a perpetuação tanto da sua parentela quanto da sociedade como um todo.
Os padrões morais e papéis sociais estabelecidos no medievo continuam
vigentes na sociedade atual, quando de uma forma geral espera-se que a filha
seja obediente aos desígnios dos pais, que a esposa mantenha a fidelidade ao seu
marido cumprindo as suas funções de administradora do lar e que as viúvas
sejam, símbolos da experiência e da sabedoria feminina. Como as
transformações mentais são as mais lentas de serem alteradas no processo
histórico, os modelos femininos medievais, reproduzidos pela Igreja e pelo
monarca, ainda fazem muito sentido no século XXI e influenciam direta ou
indiretamente a forma como as mulheres se comportam atualmente.
REFERÊNCIAS
27
FR, III, I, 13, p. 67.
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*
UFF
1
O Paiz, 15 de junho de 1907.
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Essa não era a primeira vez que Maria Umbelina de Britto se envolvia
em uma confusão e aparecia na coluna policial de algum jornal. Por ser meretriz,
ela representava o oposto da imagem familiar, isto é, da imagem moral, que tanto
era valorizada durante a Primeira República. Mulheres com o comportamento
como o de Maria Umbelina eram mal vista perante a sociedade, sua constante
presença nos noticiários era uma forma pedagógica de mostrar para a população
qual o comportamento era inadequado para as mulheres. A partir da leitura dos
conflitos envolvendo Maria Umbelina de Britto a presente investigação pretende
analisar o conceito de imoralidade feminina nas primeiras décadas da República.
Desordeira Conhecida
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Era esse o meio em que vivia Maria Umbelina. É provável que ela fosse
uma das meretrizes exploradas pelo bando do Mulatinho. Alguns dias depois do
crime, por volta das nove e meia da noite Maria Umbelina estava na janela de
2
Idem.
3
“Guarda Civil esfaqueado”. Correio da Manhã, 15 de junho de 1907.
4
“Sentença de morte”. Gazeta de Notícias, 4 de dezembro de 1901.
5
Ver: Jornal do Brasil, 04 de dezembro de 1901.
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sua residência quando rapidamente passou por ela o “crioulo” Agostinho Pinto
Gomes e lhe deu uma navalhada no rosto. Também a arrastou para fora e
“esbordoou-a desumanamente” até ser prendido em flagrante. A vítima afirmou
na 3ª delegacia que não conhecia o seu agressor, e o jornalista termina a coluna
perguntando se isso “não seria uma vingança? ”6.
6
“Navalhista Traiçoeiro: Porque seria? ”. Jornal do Brasil, 7 de dezembro de 1901.
7
Como sugere a análise de CAULFIELD, Sueann. Em defesa da honra: moralidade,
modernidade e nação no Rio de Janeiro, 1918-1940. Campinas, SP: Editora da
Unicamp, 2000.
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Moralidade e Prostituição
8
Afirmo no Jornal do Brasil porque foi o jornal que selecionei para direcionar minha
pesquisa.
9
Conf. RAGO, Luzia Margareth. “Imagens da prostituição na belle époque paulistana”.
Cadernos Pagu (1), Campinas, Pagu/Unicamp, 1993.
10
CAULFIELD, Sueann. Em defesa da honra. Op. Cit
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11
SOIHET, Rachel. “A interdição e o transbordamento do desejo: Mulher e Carnaval
no Rio de Janeiro (1890-1945) ”. Caderno Espaço Feminino, Uberlândia, vol. 2, ano 2,
n. 1, 1995, pp. 15-52
12
CAUFIELD, Sueann. O nascimento do Mangue: raça, nação e o controle da
prostituição no Rio de Janeiro (1850-1942). Tempo, Niterói, n. 9, 2000, pp. 43-63.
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13
Idem. (p, 45)
14
Idem, (p, 63)
15
SCHETTINI, C. . Que tenhas teu corpo: uma história das políticas da prostituição no
Rio de Janeiro das primeiras décadas republicanas. Tese de doutorado. São Paulo:
Unicamp, 2002
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do exército, seu envolvimento até amoroso com alguns deles, acabava por lhe
proporcionar alguma proteção:
Eram 9 horas da noite, quando as conhecidas marafonas e
desordeiras Maria Umbelina de Brito e Otília Maria da
Conceição promoviam desordens na rua de São Jorge,
dirigindo-se reciprocamente os insultos mais baixos e soezes
acompanhando-os de luta corporal.
O guarda civil Eugenio Ferreira Lima, n. 32 diversas vezes as
chamou a ordem aconselhando-as a que se acomodassem a se
recolhessem a sua residência.
As observações do guarda respondiam elas com desaforos de 43
toda espécie.
A calma mantida pelo civil, por sabe-las protegidas de
soldados do exército, esgotou-se, dando-lhes, voz de prisão.
Houve logo intervenção de soldados do 23º batalhão do
exército em favor delas. (...)”16 [grifo meu]
Casos como esse não eram incomuns. Cristiana Schettini observa que,
desde o século XIX, os “comandantes das corporações militares já deveriam
estar acostumados a receber comunicações da repartição central da polícia sobre
briga e desordens envolvendo seus subordinados e prostitutas de janela. ”17 As
rivalidades e as hierarquias entre os policiais eram fundamentais nas negociações
de convivência desses grupos. Maria Umbelina receberia a proteção dos
soldados do Exército não só por manter algum laço de amizade (ou amoroso)
com eles, mas porque haviam rivalidades entre os soldados do Exército e os
guardas civis.
16
“Assombroso! Crime Revoltante: Marafonas desordeiras dentro da 5ª delegacia”.
Jornal do Brasil, 27 de março de 1905.
17
SCHETTINI, C. . Que tenhas teu corpo: uma história das políticas da prostituição no
Rio de Janeiro das primeiras décadas republicanas. Op. Cit. (p,34)
18
“Crime horroroso: Soldado sanguinário na 5ª delegacia”. A União, 27 de março de
1905.
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Conclusões
19
Lerice de Castro Garzoni em seu trabalho, Vagabundas e Conhecidas: novos olhares
sobre a polícia republicana (Rio de Janeiro, início século XX) argumenta que no Código
Penal de 1890 a prostituição não era um crime nem contravenção, porém o texto legal
apresentava “medidas restritivas em relação a essa atividade”. Haviam artigos que
puniam a prática do lenocínio; que era o ato de induzir ou se beneficiar da prostituição
alheia. As brechas nas leis forneciam mecanismos para que as meretrizes fossem atuadas
em outras infrações como a de vadiagem.
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REFERÊNCIAS
BERNADES, Maria Elena. “Laura Brandão: dos salões aos comícios”. In:
Ângela de Castro Gomes e Benito Bisso Schmidt (Orgs.) Memórias e narrativas
autobiográficas. Rio de Janeiro: Editora FGV/ Porto Alegre: UFRGS Editora,
2009, p. 255-276
20
“O Maxixe”. Cidade do Rio, 25 de fevereiro de 1902.
21
“Espelunca do Vício”. Jornal do Brasil, 05 de julho de 1902.
22
Idem
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MATOS, Maria Izilda Santos de. “Do público para o privado: Redefinindo
espaços e atividades femininas (1890-1930) ”. Cadernos Pagu (4) 1995: pp.
97-115
SCHMIDT, Benito Bisso. “Nunca houve uma mulher como Gilda? Memória e
gênero na construção de uma mulher ‘excepcional’”. In: Ângela de Castro
Gomes e Benito Bisso Schmidt (Orgs.) Memórias e narrativas autobiográficas.
Rio de Janeiro: Editora FGV/ Porto Alegre: UFRGS Editora, 2009, p. 255-276.)
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Diversos movimentos sociais vão às ruas neste momento, denunciar a carestia e
reivindicar direitos e serviços sociais (SCHWARCZ; STARLING, 2015).
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2
Para conhecer mais sobre os discursos higienistas positivados, ver Moncorvo Filho
(1908, 1914, 1916, 1924, 1927, 1931), PAIVA (1922) e MAGALHÃES (1922, 1924).
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De 1919 até 1922 as cifras diminuem em aproximadamente dez mil óbitos. Os
"Annuários" apontam para um número maior de mortes de mulheres do que de homens,
bem como número elevado de mortes de menores de quinze anos. Outrossim, dentre as
profissões com mais elevado número de óbitos se encontram os operários. Apesar da
inconstância nas publicações dos Annuários, bem como na possível perda documental,
os dados por estes coletados se mostram imprescindíveis neste trabalho pela inclusão
de estatísticas de mortandade em hospitais filantrópicos, como é o caso do Pro matre, já
inserido no Annuário de 1922 (BRASIL, 1931, 1932).
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As mulheres das classes operárias já faziam parte de movimentos contestatórios desde
séculos antes do período por nós retratado (MELO; BANDEIRA, 2010). Não são elas,
entretanto, objeto de nosso trabalho.
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Instituto, vez que a educação com vistas à “higiene e à boa moral” faz parte do
ideário positivo-científico adotado nos espaços da medicina, seja nos
dispensários, nas clínicas ou nos hospitais.
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Poucos homens se fizeram presentes na reunião: o médico-filantropo e ginecologista
Fernando Magalhães e o Sr. Duval, marido de Stella e dono da casa onde o encontro
ocorrera.
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REFERÊNCIAS
______. Os Bestializados: O Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo:
Companhia das Letras, 1987.
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por Chiado, uma vez que as mesmas oscilam entre a valorização e a depreciação
das mulheres portuguesas. Conforme observa Eric Nicholson (1994, p. 341), “o
teatro moderno colocava a mulher em primeiro plano, em todos os seus aspectos:
negativos, positivos e frequentemente ambivalentes”.
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Por fim, a Comadre relata um diálogo com uma pessoa que teria
prometido uma poção para “amansar” o seu marido:
Quero amansar um imigo,
que a isso venho cá,
e conto-lh'o pé-á-pá,
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comandada por uma mulher não poderia funcionar bem. Esta observação é
interessante considerando que no século XVI um quinto dos lares lisboetas era
liderado por mulheres, sendo as viúvas cerca de 80% delas (RODRIGUES, 1997,
p. 119).
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Isabel não tenta rebater as acusações, mas ameaça fugir de casa diante
das queixas da mãe:
Não cuidem que sou de ferro,
que algura'hora farei mingua!
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Desse modo, a Velha recebe a visita de Pero Vaz, pai do noivo, para
discutir o que cada parte somará à união. Os bens do noivo incluem itens como
redes, cordas, remos e vela, materiais necessários ao ofício de pescador. Beatriz,
por seu lado, possui um enxoval composto por itens como colchões, cobertores,
castiçais, bacias, lençóis de linho, além de um “olival em São Bento” e um
“pinhal n’Arrentela”. Assim como no Auto da Natural Invenção, não há aqui um
marido ou pai para conduzir as negociações a favor de Beatriz, sendo a figura da
75
velha viúva a responsável pela tomada de decisões na vida familiar. O Sumario
e[m] que breuemente se contem alguas cousas assi ecclesiasticas como
seculares que ha na cidade de Lisboa de Cristóvão Rodrigues de Oliveira (1554)
indicava o número de 1635 viúvas na cidade de Lisboa até a década de 1550. O
título XXXII do livro III das Ordenações do Reino garantia a posição de
liderança familiar às mulheres em caso de viuvez: “e morto o marido a mulher
fica em posse e cabeça de casal, se com ele ao tempo de sua morte vivia em casa
tida e mantida como marido e mulher” (ORDENAÇÕES MANUELINAS,
1984). Porém, se comprovada a má administração dos bens de uma viúva, o
mesmo código jurídico indicava que os bens deveriam ser retirados de sua posse.
Vale observar que a Velha viúva era um dos tipos do teatro quinhentista que
melhor representavam a crítica a uma suposta moral corrompida e o apreço pelos
costumes numa sociedade tão impactada pelas transformações sociais e
econômicas resultantes sobretudo do processo de expansão ultramarina. Com
seu sarcasmo e maledicência, a Velha do Auto das Regateiras se enquadra no
perfil da mulher que se preocupa com essas transformações, conforme explicita
na seguinte fala:
Assim como é cousa forte
deixar d'aquentar o lume,
assim o mudar costume
é um parelho de morte
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REFERÊNCIAS
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Ordenações Manuelinas, livro III, título XXXII: Que o marido nom possa
litiguar em Juizo sobre bens de raiz sem ortorgua de sua molher. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 1984.
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Além de “dar alcouce”, Josefa de Souza era uma prostituta que se dava
aos homens em sua pousada em Ouro Branco, no ano de 1764. No entanto, era
concubinada com João da Costa Barbosa, oficial de ferreiro e ferrador. Assim
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como a mãe, Jacinta de São José era conhecida como “pública meretriz”, apesar
de seu amancebamento com o português Manoel Gomes Chaves. Josefa abrigava
“toda a casta de passageiros”, cozinhando para eles e lhes prestando outros
serviços, sendo infamada de servi-los com “atos lascivos” (Devassas, 1762-69,
fl.65v a 71; MELLO E SOUZA, 1986, p. 184-185). As uniões conjugais
informais com homens que com elas não se casariam não diminui a ação social
dessas mulheres. Josefa de Souza proporcionava oportunidades de convívio
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entre mulheres brancas e negras, solteiras e casadas, criando vínculos de
solidariedade femininos.
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companhia ela nunca quis”. Gertrudes não “fazia vida” com o marido por preferir
“viver na sua liberdade”, “dada à sensualidade” (Devassas, 1753, fl. 70v-71).
Tinha-se uma liberdade na escolha dos parceiros e a negação da estrita
submissão ao marido existente no matrimônio eclesiástico. A forra Paula
Perpétua “supondo seja casada vive como se não o fora, porque se ausenta de
seu marido todas as vezes e quando quer”. A posição passiva do marido de Paula
em relação ao adultério de sua esposa justificava-se pelo fato deste temer “que a
89
mesma lhe maquine a morte” (Devassas, 1756-57, fl. 7-7v-8). Apesar de
concubinada com outro homem, Paula relacionava-se com o marido, “a qual vive
separada dele no morro”, não obstante, algumas vezes, o seu marido ia à casa
dela e ela à casa dele (Devassas, 1750-53, fl. 58).
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“dada a todo o gênero de vícios por razão da qual têm sucedido grandes
distúrbios” no arraial (Devassas, 1756-57, fl. 82). Os ciúmes e a “desordem”
resultantes da infidelidade feminina sugerem a resistência das mulheres de
origem africana em adotar a monogamia cristã, pois as redes de parentesco
decorrentes das relações concubinárias e ilícitas eram a essência da vida
comunitária, revelando estruturas familiares extensivas que transmitiam
tradições culturais africanas. Parceiros únicos ou múltiplos, relações temporárias
91
ou estáveis, eram destinados a formar amplas unidades de parentesco simbólico
(SWEET, 2007). Rosa Pereira da Costa dava casa de alcouce, “em forma que
nela se ajuntam todas as noites quase todas as mulheres-damas que há neste
arraial e quantidade de homens de toda qualidade, e na dita casa estão todas as
noites até fora de horas conversando [...], fazendo saraus e galhofas” (Devassas,
1734, fl. 73v, 74v, 75).
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objetivo atacar uma técnica de poder. Temos que promover novas formas de
subjetividade através da análise das formas de resistência. Precisamos recusar o
que somos e construir o que poderíamos ser para nos livrarmos do
constrangimento político que é a individualização própria às estruturas do poder
moderno (FOUCAULT, 1995). Trata-se de fazer uma história da sexualidade
enquanto “experiência” para descobrir como os indivíduos foram levados a se
reconhecer como sujeitos de desejo, estabelecendo consigo uma relação que lhes
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impõe procurar no desejo, a verdade de seu ser (FOUCAULT, 1988).
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REFERÊNCIAS
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______. Quotidiano e Poder: em São Paulo no século XIX. 2. ed. São Paulo:
Brasiliense, 1995.
______. História da Sexualidade II: O Uso dos Prazeres. 5. ed. Rio de Janeiro:
Graal, 1988.
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LUNA, Francisco Vidal; COSTA, Iraci del Nero da. Devassa nas Minas Gerais:
observações sobre casos de concubinato. Anais do Museu Paulista. Tomo XXXI.
São Paulo, USP, 1982 (Separata).
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PAIVA, Eduardo França Escravos e Libertos nas Minas Gerais do século XVIII:
estratégias de resistência através dos testamentos. 3. ed. São Paulo: Annablume;
Belo Horizonte: PPGH-UFMG, 2009.
PRIORE, Mary Del. A Mulher na História do Brasil. 3. ed. São Paulo: Contexto,
1992.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil para análise histórica. Recife, S.O.S.
Corpo, 1991.
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Fontes Primárias
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105
ST 1B
História e Gênero: Cultura
Memória e Identidades
Coordenação
Profa. Dra. Claudia Andrade Vieira
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Introdução
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1
Jornal “ O Lingote” número 220, Rio de Janeiro, Julho/Agosto. 1971.
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108
Para um caráter comparativo, Andréa Brandão Puppin (2001), em seu
livro de título “Do lugar das mulheres e das mulheres fora de lugar”, analisa as
relações de gênero em uma empresa petrolífera de grande porte, quanto aos
espaços definidos no interior da usina e ao discurso da empresa e destaca que:
No processo de assimilação das mulheres dentro de espaços
de trabalho masculinizados, o que vemos ocorrer é o
afloramento de ambiguidades e o estabelecimento de
discriminações ainda operantes(...) afirmamos a existência de
uma ambiguidade colocada no fato de essa conformação
diferenciada do lugar social de homens e mulheres ser a todo
instante disfarçada, negada, pelo discurso dos agentes
masculinos e pelas políticas declaradas da empresa. (p. 75)
2
Jornal “ Nove de Abril”. Número 115, Ano IX, Maio de 1985.
3
A expressão teórica do processo de trabalho parcelado é levada a efeito por Frederick
Taylor (1856-1915) no livro Princípios de Administração Científica, onde estabelece os
parâmetros do método científico de racionalização da produção – daí em diante
conhecido como Taylorismo – e que visa o aumento de produtividade com a economia
de tempo, a supressão de gestos desnecessários e comportamentos supérfluos no interior
do processo produtivo.
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109
Apesar da presença das “Vira-latas” desde os anos 40, foram nas
décadas de 1970 e 1980 que se verificou uma maior inserção de mulheres no
mundo do trabalho e assim ganharam maior visibilidade, criando uma
“feminilização” do trabalho industrial, principalmente em setores de operação.
4
Sra. A. Depoimento cedido no dia 23 de janeiro de 2006.
5
Sra. R. Depoimento cedido dia 20 de janeiro de 2006
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Vale ressaltar que sexo e gênero não são sinônimos, pois a palavra sexo
está ligada as diferenças anatômicas e fisiológicas entre homens e mulheres, e
gênero está ligado as diferenças entre homens e mulheres na sociedade em que
vivem, é exatamente a relação de poder existente um sobre o outro, independente
do sexo. O conceito de Gênero se contrapõe a visão que enfatiza as diferenças
112
biológicas, ou sexuais, entre homens e mulheres que naturalizavam a dominação
masculina e enfatizam as visões sobre o “lugar” determinado para as mulheres.
Joan Scott (2011) analisa gênero como sendo uma “realidade social
baseada no sexo”, ela determina o sistema de gênero como sendo “as relações
entre os sexos opera de acordo com e através das estruturas socioeconômicas
bem como das estruturas de sexo/gênero”.
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vida privada.6 Existia a ideia de que a mulher que trabalhasse fora de casa
destruiria os laços familiares, pois não teria tempo para vigiar e educar os filhos,
deixaria de ser mãe dedicada, esposa carinhosa, sem falar das solteiras que se
desinteressariam pelo casamento e pela maternidade. Margareth Rago (2000)
acrescentou:
Nesse contexto, com a crescente incorporação das mulheres
ao mercado de trabalho, e à esfera pública em geral, o trabalho
feminino passou a ser amplamente discutido, ao lado de temas
relacionados à sexualidade: adultério, virgindade, casamento 116
e prostituição. Enquanto o mundo do trabalho era
representado pela metáfora do cabaré, o lar era valorizado
como o ninho sagrado que abrigava a ‘rainha do lar’. (p. 588)
6
RAGO, Margareth. Do Cabaré ao Lar.: A Utopia da Cidade Disciplinar (1890-
1930)1. Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.
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7
Ver: WAJNMAN, Simone. Quantas serão as mulheres: Cenários para a atividade
feminina. In: ROCHA, Maria Isabel Baltar da. Trabalho e Gênero: Mudanças,
permanências e desafios. Campinas: ABEP, NEPO/UNICAMP e
CEDEPLAR/UFMG/São Paulo: Ed.34, 2000. P69
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As “Vira- Latas”
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REFERÊNCIAS
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1990.
BOURDIEU, O poder simbólico. 12ª ed. Rio de Janeiro; Bertrand Brasil, 2009
DEL PRIORI, Mary (org); BASSANELI Carla (coord. de textos) . História das
Mulheres no Brasil. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2000.
HIRATA, Helena (et al). Dicionário Crítico do Feminismo. São Paulo: Editora
da Unesp, 2009.
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HIRATA, Helena (et al). Dicionário Crítico do Feminismo. São Paulo: Editora
da Unesp, 2009.
PUPPIN, Andréa Brandão. Do lugar das mulheres e das mulheres fora do lugar:
um estudo das relações de gênero na empresa. Niterói : EdUFF, 2001.
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SCOTT, Joan Wallach. Gender and politics of history. Columbia University 124
ANEXOS
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1
Vários estudos apontam ser essencialmente cristológico e que repudiou a mariologia
tradicional. AQUINO, 1997, COYLE, 1999, COUTO, 2002.
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Lourdes (COSTA, 2008), que era a entrevistada mais idosa, com oitenta
anos, comparava a questão dos trabalhos nas CEBs com a doação do tempo;
algumas mulheres não podiam doar o seu tempo, porque tinham muita coisa para
fazer, acumulando o trabalho fora de casa com as atividades da casa e da família.
Irene (COSTA, 2008) comentou que ser mulher era uma matemática difícil, a
mulher é cobrada se algo der errado em casa ou na família, sobretudo se
permanece muito tempo em atividades fora da casa. Nota-se que essas mulheres
136
tinham que trabalhar fora para manter o orçamento familiar, mesmo assim, eram
cobradas pelas obrigações de esposa e de mãe. Também, segundo Lourdes, havia
as mulheres que poderiam doar o seu tempo, mas não queriam, fazendo alusão à
geração mais nova que não se compromete com a comunidade e a Religião.
Porque a mulher que ajuda, é pessoas que podem doar o
serviço, que tem algumas que nem no domingo pode doar o
serviço, né, aquelas que não podem doar, algumas não
querem, porque têm algumas que não têm experiência de
religião, aqueles que não têm experiência de religião, eles não
acertam faze nada, então a gente que faz tempo que trabalha
na comunidade, a gente tem mais experiência, né. (COSTA,
2008)
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Considerações finais
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REFERÊNCIAS
DAVIS, Natalie Z.. Nas margens: três mulheres do século XVII. São Paulo:
Companhia das Letras, 1997.
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JULIA, Jean. História religiosa. In: BOUTIER, Jean; JULIA, Dominique (Orgs)
Passados recompostos; campos e canteiros da história. Trad. Macella Mortara e 139
Anamaria Skinner. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ/eD. Fgv, 1998.
PORTELLI, Alessandro. What makes oral history diferente. In: PERKS, Robert;
THOMSON, Alistair. The oral history reader. New York: Routtedge, 2003.
SANGER, Joan. Telling our stories: feminist debates and the use oral history.
In: PERKS, Robert; THOMSON, Alistair. The oral history reader. New York:
Routtedge, 2003.
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*
USP.
1
Cabe ressaltarmos que o Chile apresentou uma particularidade. Com as fraudes
ocorridas no plebiscito de 1980, a nova Constituição conferiu legitimidade ao regime
vigente para continuar no poder, além de inserir no texto medidas que possibilitariam
decretar estado de emergência e estado de sítio, como ocorreu em 1986. A nova
Constituição também definiu o itinerário da abertura tutelada, com as regras e os prazos
para a sua conclusão. De acordo com o texto, Pinochet ficaria à frente do governo por
um período de oito anos e, após este período, a autoridade militar indicariam um
substituto, que seria submetido a plebiscito para a sucessão. Se aprovado, um novo
período de 8 anos se iniciaria do qual, ao final, se convocariam novas eleições livre.
Caso houvesse reprovação, novas eleições deveriam ser convocadas no prazo de um
ano. (MARTINS, 2000)
2
De acordo com a autora, o Programa Empleo Minino funcionou entre os anos de 1974
a 1978, atendendo de 2 a 6% da população economicamente ativa. Entre os anos de
1980 a 1984, o desemprego feminino praticamente dobrou, indo de 10.7% a 19%,
enquanto o masculino foi de 12.1% para 15,9%.
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Mario Durán (2010) avalia que a entrada das ONGs no país seguiu duas
direções, sendo a primeira constituída pela formação dos centros acadêmicos, a
exemplo dos “Círculos de Estudio de la Academia de Humanismo Cristiano”
que, posteriormente, se estendeu para Facultad Latinoamericana de Ciencias
Sociales (FLASCO); e a outra formada por instituições de apoio aos
movimentos populares, como SEDEJ (Servicio de Desarrollo Juvenil), SEPADE
(Servicio Evangélico para el Desarrollo) y también ECO (Educación y
Comunicaciones).
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3
A respeito do conceito de ideologia ver: MOTA, L.;SERRA,C. A ideologia em
Althusser e Lacan: diálogos (im)pertinentes. Revista de Sociologia Politica. Vol.22, nº
50, abril/junho, 2014.
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como a família, “aparece como um objeto natural, mas é na verdade uma criação
cultural. Nada há de inevitável quanto à forma ou papel da família, a mais do
que quanto ao papel das mulheres. É função da ideologia apresentar estes tipos
sociais dados como aspectos da própria natureza” (2006, p.203). Igualmente, a
revista era tributária das reflexões da socióloga Julieta Kirkwood que asseverou
sobre a importância de se reconhecer o autoritarismo como um dado que estava
no cerne das experiências femininas.
145
[…] las mujeres reconocemos, constatamos, que nuestra
experiencia cotidiana concreta es el autoritarismo. Que las
mujeres viven- siempre han vivido – el autoritarismo en el
interior de la familia, su ámbito reconocido de trabajo y
experiencia. Que lo que allí se estructura e institucionaliza es
precisamiente la Autoridad indiscutida del jefe de familia, del
padre, la discriminación y subordinación de género, la
jerarquía y el disciplinamiento de un orden vertical, impuesto
como natural, y que más tarde se verá proyectado en todo el
acontecer social (1986, p.223).
4
Sobre a relação entre os partidos de esquerda e o movimento feminista chileno na
primeira metade do século XX ver: KIRKWOOD, Julieta. Ser politica en Chile: las
feministas y los partidos. Santiago: FLASCO, 1986, GAVIOLA Edda., MORENO,
Ximena, MIRA, Claudia. Queremos votar en las próximas eleciones: historia del
movimiento femenino chileno 1913-1952. Santiago: Centro de Análisis y Difusión de
la Condición de la Mujer, 1986.
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“eterno feminino”. Avalia que a ação das mulheres contra o gonverno da Unidad
Popular5, foi acionada pelo regime militar no intuíto de transformar as mulheres,
enquanto mães e esposas, como “bastiões” da nova nação. E este movimento foi
possível, pois, os partidos de esquerda nunca vislumbraram,de fato, a libertação
feminina, reservando às mulheres o mesmo lugar que a direita: na família, como
esposa e mãe.
5
Em 1971, durante o governo da Unidad Popular, presidido por Salvador Allende, as
mulheres de classe média organizaram a “Marcha de las Cacerolas Vacías”, com o
intuito de protestar contra o regime vigente. Essa manifestação se espalhou por outras
cidades e, devido a sua expressividade pela mídia, levou à formação do Poder Feminino,
movimento constituído por militantes ligadas à Democracia Cristiana, além de mulheres
que nunca haviam participado da vida política. Os protestos organizados pelo grupo
contribuíram, de sobremaneira, para desestabilizar o governo de Allende e, em certa
medida, legitimar o golpe de 1973. VALENZUELA (1993)
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Isso, no entanto, não quer dizer que a demanda das feministas foi
inserida nos novos partidos políticos. Segundo Valenzuela (1993), o Partido
Comunista propôs um programa voltado para os habituais “lugares” femininos,
como subsidio a maternidade e auxilio materno-infantil, além de uma permissão,
mas não estímulo, ao divórcio. Essa proposta pouco atendia às questões
femininas, sobretudo no que tange à desnaturalização dos papéis femininos e
redemocratização das atribuições domésticas e familiares. O Partido Socialista
renovado, por sua vez, que sofria de perto a pressão organizada das mulheres
socialistas, apresentou um projeto mais próximo aos interesses feministas,
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6
Pela Constituição de 1980, Pinochet era obrigado a chamar um plebiscito e apresentar
a eleição de um único candidato escolhido por unanimidade pelos Chefes do Exército.
Para isso era necessário abrir os registrados eleitorais, o que ocorreu em 1987, momento
em que a oposição atuou fortemente com a campanha do registro e, posteriormente, a
campanha pelo “NO” que saiu vitoriosa, levando à eleições livres, como estava
acordada na Constituição. No entanto, há vários impasses em torno da maneira como as
eleições ocorreram, sobretudo em relação aos acordos feitos com o regime militar que
resultaram nas intituladas “leyes de amarre” que incluíram a permanência de
funcionários em cargos públicos, algumas privatizações, além de que Pinochet, caso
perdesse as eleições, seguiria como chefe do exército até 1998 (COLLIER; SATTER,
1996).
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civil, mas não se divorciarem7. Apesar de a prática existir, o impacto das relações
entre Estado e religião, fez com que o divórcio só fosse autorizado em 2004. Em
relação ao segundo ponto, o aborto, até 1989 havia uma lei, datada de 1930, do
governo de Carlos Ibáñez del Campo, que permitia o aborto terapêutico. O
método era permitido quando a gravidez colocava em risco a mulher ou a criança
e foi mantida, durante a reforma do Código Sanitária, em 1968, no governo de
Eduardo Frei. No entanto, Pinochet, que já adotava um discurso contrário à
151
prática; em setembro de 1989, revogou o artigo e referendou a lei nº 18.826, do
Código Penal, criminalizando toda ação cujo propósito seja provocar um aborto.
Frente aos acordos feitos na transição democrática, que teve amplo apoio dos
setores religiosos, o tema do aborto foi retirado da pauta política, bem como o
divórcio, indo na contramão das discussões e políticas públicas latino-
americanas sobre emancipação feminina e direitos reprodutivos.
7
Para realizar a anulação, os cônjuges recorriam ao juiz e apresentavam três
testemunhas que pontassem erros no registro civil, como alteração na data de
nascimento de um dos noivos, endereço equivocado, etc.
8
A partir desta data o movimento passou a ser uma ONG, editando um novo periódico
intitulado La Boletina.
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9
O artigo intitulado “Colectivo Ayuquélen: somos lesbianas por opción” foi publicada
no nº 206 da revista APSI, de 1987.
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REFERÊNCIAS
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Entre lo académico y lo militante. Revista Izquierdas, Santiago, n.7, agosto,
2010.
IGLESIAS, Margarita. Los desafíos del Cono Sur desde las perspectivas de las
mujeres. La democratización de la democracia o la reinvención de una
democracia latinoamericana. In: PEDRO, Joana M & WOLFF, Cristina (Org.)
Gênero, Feminismos e ditaduras no Cone Sul. Florianópolis: Editoras Mulheres,
2010.
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Fontes Primárias
La Morada, s/n.,fev.,1986.
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La Morada, s/n.,dez.,1986.
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Introdução
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Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro.
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Partindo dessa questão será feita uma breve análise da construção dessa
categoria social tão complexa, buscando através da análise de alguns pontos
157
históricos como outras sociedades precursoras à nossa tratavam dessa questão.
A construção do binarismo
1
Nesse momento não será levada em consideração a capacidade do indivíduo em
modificar seus caracteres biológicos, como por exemplo, intervenções possíveis através
de processos de transexualização. Tal processo modifica caracteres biológicos abrindo
questionamentos como o uso de tais procedimentos como forma de reforçar o binarismo.
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Mas e Eva?
Essa teria sido criada após Adão, a partir de uma de suas costelas, o que
nos permite levantar inúmeras hipóteses e questionamentos. A primeira delas é
uma noção de “androginia constitutiva” (Buci-Glucksmann, 1984:181) partindo
do princípio de que Eva representaria a parte feminina retirada de Adão,
colocada na posição de outro. Essa posição de “outro”, representando assim a
alteridade também pode ser vista através de diversos ângulos. A parte feminina
2
Informação retirada de www.haroldoreimer.pro.br/genesis/Ge02.htm. Acesso em: 28
jun. 2011.
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O feminino dionisíaco
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em útero para que Dionísio pudesse ser gestado após a morte de sua mãe Sêmele,
que fora consumida pela luminosidade flamejante e fulminante de Zeus. Desse
modo é possível observar uma primeira ambiguidade em Dionísio – ser gestado
no “ventre de um homem”.
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dos significados culturais assumidos pelo corpo sexuado, podemos sugerir que
os aspectos subjetivos estariam ligados principalmente às ações do sujeito como
seus “códigos linguísticos e representações culturais” (Lauretis,1994 apud
Alves, 2004).
Desse modo Alves (2004) nos faz retomar a realidade grega, onde
temos o homem público como o Homem de Estado, homem de prestígio,
enquanto a mulher pública seria vista com desprestígio, tendo muitas vezes o
significado de ‘mulher da vida’, meretriz, dentre outros. Desse modo a sociedade
grega demonstra na fala a destinação do espaço público (pólis) aos homens e o
espaço doméstico (òikos) às mulheres, situação que pode ser percebida em
inúmeras sociedades, embora ainda seja possível perceber tal discurso (com
menos intensidade) nos dias atuais onde muitas vezes a mulher é culpabilizada
por agressões e/ou abusos sofridos por estar portando vestimentas tidas como
“vulgares” pela sociedade.
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A negação do Apolíneo
3
Grifos meus
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4
Vernant (1991:58) explica uma tradição grega entre os lacedemônios de se casarem
raptando a noiva.
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Reflexões finais
5
Leila Diniz ficou famosa ao exibir sua gravidez de biquini na praia.
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espaço na pólis embora o espaço privado (òikos) ainda seja um espaço reservado
a elas pela negação dos homens em assumir papeis ditos “femininos”.
Desse modo, temos hoje grupos que lutam pela defesa da diferença, da
“apolinização” do outro, sendo interessante notar ainda algumas estratégias que
esse grupo utiliza como forma de tentar se salvar dessa perseguição da qual
sofrem. Entre elas é possível perceber a tentativa desses grupos em esconder sua
identidade, recorrendo ao conhecido “armário”. Desse modo diz-se que o
indivíduo homossexual que não assume sua identidade está “dentro do armário”,
devido principalmente pela homossexualidade ser ainda vista por muitos como
algo desviante, transgressor, o que faz com que o indivíduo homossexual seja
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alvo dos mais diversos tipos de agressão. Tal situação inibe em muitos casos que
o indivíduo exerça de forma livre a sua identidade.
REFERÊNCIAS
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VERNANT, J-P. A morte nos olhos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988.
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170
ST 1C
História e Gênero: Cultura,
Memória e Identidades
Coordenação
Profa. Dra. Lídia Possas
(Unesp)
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Feeling Good
Birds flying high you know how I feel. Sun in the
sky you know how I feel. Breeze driftin’ on by you
know how I feel. It’s a new dawn. It’s a new day.
It’s a new life. For me. And I’m feeling good
Nina Simone (1965)
*
UFF.
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1
Quando destaco o uso hipotético de “minhas impressões, memórias e testemunhos”, é
evidente que não ignoro ser inviável basear-se, num trabalho de cunho científico, pura
e exclusivamente naquilo que testemunhei ao longo de uma trajetória. Aqui estou
pensando na história das sensibilidades, que se preocupa muito com “sensações”
capazes de tocar aquilo que se situa “além da elaboração intelectual, mas nunca se
separa dela” (GRUZINSKI, 2007, p. 07). Estou pensando numa história capaz de
incorporar novas fontes e novos formatos de fontes (Cf. ALMEIDA, 2011). Estou em
busca de uma operação histórica capaz de ver, revelada nas sensibilidades – tanto
minhas quanto das fontes – “a presença do eu como agente e matriz das sensações e
sentimentos”. (PESAVENTO, 2007, p. 14).
2
Entendo as fontes como “indícios de faltas” (Cf. ROUSSO, 1989) ou “ausências
presentes” que precisam ser categoricamente problematizadas.
3
Digo isto porque o “presente”, enquanto temporalidade me pertence tão somente em
fragmentos, e dele tenho apenas alguns episódios. Se recorrer às metáforas e tratá-lo
como uma “novela”, vou perceber tão logo sua incompletude. O presente, como uma
novela, esta repleto de cortes, interrupções, cesuras, acidentes de trajetória e espaços em
branco que impedem um reconhecimento totalizante. Diante desse “tempo” minhas
experiências e conhecimentos, as fontes e referencias que mobilizo não passam de
fragmentos organizados em uma “intenção narrativa” de caráter histórico. Este é um
aspecto que exige a busca de diferentes fragmentos do tempo – fontes – que permitam
a construção de sentidos que não sejam exclusivamente os meus. É necessário
reconhecer que “o documento histórico é raramente dócil, aberto ou fácil” (KARNAL;
TATSCH, 2009, p. 17), exigindo um exame criterioso que “à força de esforços titânicos,
permita extrair coisas que só aparecem de forma indireta” (p. 17).
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4
É evidente que ao propor tal exercício, ainda mais se estiver interessado em utilizar
fontes que não contam com a total fiabilidade da academia, o historiador, ou o
historiador do tempo presente, precisa criar métodos e técnicas para manipular, por
exemplo, registros virtuais da sociedade. Lembro a importante contribuição
metodológica de Fábio Chang Almeida (2011) que destaca ser necessário sinalizar de
que forma o material utilizado foi analisado e como estão sendo preservadas as
informações mencionadas. Além disso, ele ressalta ser um problema grave dos
historiadores que buscam compreender o presente, negligenciar as fontes digitais e a
Internet, pois isto “significa fechar os olhos para todo um novo conjunto de práticas, de
atitudes, de modos de pensamento e de valores que vêm se desenvolvendo juntamente
com o crescimento e popularização da rede mundial de computadores.” (p. 12).
5
Tomo de empréstimo o tema de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)
em 2015. A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira foi o
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ponto de debate exigido pelo Enem para que todos os estudantes da educação básica
dissertassem. Embora vários dados tenham sido incorporados à prova a fim de auxiliar
na produção dissertativa, o exame acabou envolvido em toda uma polêmica alimentada
por parcela da sociedade civil, caracterizada pelo ultraconservadorismo, que utilizou as
redes sociais (facebook, instagran, twitter) para manifestar sua insatisfação ao tema. Ao
longo do texto tentaremos traçar parte deste debate, evidenciando o avanço rápido do
conservadorismo e corroborando a vitória da “dominação masculina” que segue
subalternizando as mulheres e todos aqueles que não correspondem ao modelo
heteronormativo ditado por este campo de poder.
6
Destaco ter cruzado as notícias aqui utilizadas com outras e que a confiabilidade das
mesmas foi avaliada através de ferramentas oferecidas pela Internet. Para tal
averiguação utilizei a ferramenta WHOIS, conferi o protocolo IP das páginas e contatei
repórteres que produziram alguns dos artigos analisados.
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São formatações para armazenamento de dados digitais em um disco, de modo que tais
dados possam ser acessados posteriormente.
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É importante lembrar que a submissão feminina às violências de gênero não é uma
regra. Muitas mulheres se manifestaram contrárias aos abusos masculinos ao longo da
história (Cf. SOIHET, 1989; 2002). Também não ignoro a importante crítica realizada
por Mariza Correa (1999) ao trabalho de Pierre Bourdieu. Suas impressões são
fundamentais para operarmos esta categoria (dominação masculina) com maior
cuidado, de forma que não reforce naturalizações.
9
Destaco aqui os projetos nº1301/2015, nº 7180/2014, nº 7181/2014, nº 1859/2015 e nº
2731/2015 que tem como propósito majoritário impedir o debate de gênero na escola.
Existem algumas páginas na internet que também atuam numa espécie de “militância”
contrária à “ideologia de gênero”. Vale destacar que páginas como a do Observatório
Interamericano de Biopolítica e Revoltados On Line sempre trazem um discurso voltado
para a defesa do modelo heteronormativo de “família” imbuído por uma forte conotação
religiosa, de cunho cristão ultraconservador.
10
Feeling Good foi escrita pelos músicos ingleses Anthony Newley e Leslie Bricusse em
1964, mas sua maior projeção se deu após a interpretação de Nina Simone, em 1965.
11
Eunice Kathleen Waimon nasceu em 21 de fevereiro de 1933 na cidade de Tryon,
Carolina do Norte (EUA). Filha de pregadores evangélicos. Adotou o nome Nina
Simone para esconder dos pais a vida dupla. Trabalhava como cantora de blues em bares
noturnos e com os rendimentos desse trabalho mantinha a família e custeava o curso de
piano clássico na Juilliard School. Depois de rejeitada no Curtis Institute of Music (por
questões raciais) e percebendo o fim de suas economias acabou assumindo a
personalidade de cantora, tornando-se uma das mais importantes interpretes de blues e
jazz. Vale lembrar que suas músicas incorporaram o espírito da época, momento em que
Nina Simone militou em prol dos direitos civis da população negra americana e
defendeu os direitos das mulheres. Estas informações biográficas podem ser consultadas
no documentário What Happened, Miss Simone?
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12
GARBUS, Liz. What Happened, Miss Simone? [Biografia-Filme-Documentário].
Produção de Amy Hobby, Jayson Jackson, Justin Wilkes e Liz Garbus. Direção de Liz
Garbus. Estados Unidos. 2015, DVD, 102 minutos, colorido, som.
13
Poderíamos citar Carolina de Jesus e suas obras literárias; Caetana e sua luta pelo
direito de separação, ainda no Brasil Colônia (Cf. GRAHAM, 2005); Mãe Biu (Severina
Paraíso da Silva), responsável pela sobrevivência das tradições religiosas do terreiro
Nação Xambá (Cf. SHUMAHER; BRAZIL, 2013) e outra infinidade de exemplos.
14
Refiro-me à posse do corpo no sentido de ser decisão exclusiva das mulheres
decidirem o que fazer dele sem que, para isto, sofram com estereótipos, exclusões,
violências, retaliações ou anulações por parte das instituições de poder, historicamente
incumbidas, pela criação das representações sociais para os indivíduos. Aquelas que
tentavam escapar desses padrões eram execradas do convívio social. Conforme lembra
Rachel Soihet (1989) a quebra de padrões a elas atribuídos revela-se catastrófica: “As
mulheres que ousavam fugir à frigidez sexual, à dependência, à submissão,
mediocridade intelectual, apatia, eram degeneradas, masculinas, criminosas de alta
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“longe dos centros de poder político, real, cívico e senatorial.” (DAVIS, 1997,
p. 195). O fato de estarem consideravelmente afastadas “dos centros formais de
aprendizagem e de instituições voltadas para a definição cultural” (p. 195) as
transforma em vítimas potenciais de homens violentos. Entretanto, o volume de
violências que atingem as mulheres contemporaneamente não tem passado
despercebido da opinião pública. Para sentirmos os excessos da dominação
masculina em nosso cotidiano e tomarmos conhecimento da quantidade de
178
mulheres vitimadas por crimes de gênero, basta ligarmos a televisão em canais
jornalísticos ou realizar pesquisas rápidas em nosso “oráculo virtual
contemporâneo”, o google, e vamos encontrar uma lista infindável de “mulheres
violentadas por seus machos, estupradas por seus patrões” (ALBUQUERQUE
JUNIOR, 2007, p. 95) ou friamente assassinadas pela simples razão de estarem
em lugares marginalizados e distantes dos centros políticos e cívicos: periferias
e subúrbios.
Um simples abrir de olhos nos permite testemunhar o fim trágico de
Claudia Silva Ferreira e Francisca das Chagas da Silva. Esses são dois
exemplos posteriores a um quadro aproximado de 25.637 mulheres negras
assassinadas no Brasil na última década. Esse quadro integra uma estimativa
total de 46.186 mulheres assassinadas entre os anos de 2003 e 201318. O fato de
as mulheres negras ocuparem mais da metade desse número é elemento
indiciador do caráter racial e classista na constituição do gênero e das violências
resultantes do excesso de poder entre os sexos no Brasil19.
Embora tantos dados e exemplos mereçam análise, destaco que não é
propósito deste trabalho discutir a dura condição das mulheres negras na
18
Essas informações foram retiradas de WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência
2015: homicídio de mulheres no Brasil. Brasília: OPAS/OMS; Brasília: ONU Mulheres;
Brasília: SPM; Rio de Janeiro: Flacso, 2015.
19
Não foram encontrados dados numéricos que explicitassem a quantidade de mulheres
assassinadas nos anos 2014 e 2015. Percorri os Balanços produzidos pela Secretaria de
Políticas para as Mulheres da Presidência da República e Ministério das Mulheres, da
Igualdade Racial e dos Direitos Humanos (Extinta pelo atual governo, conforme
Medida Provisória n.º 726, de 12 de maio de 2016, assinada pelo presidente interino
Michel Temer), mas não os visualizei. Existem informações acerca das violências
sofridas por mulheres, mas não existe, em números, a quantidade de mulheres mortas
nestes dois últimos anos.
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20
Para isso precisaria de um suporte teórico e metodológico específico e que me
permitisse percorrer os meandros da “classe” e da “raça” na construção do gênero. Seria
necessário conhecer mais profundamente os debates voltados especificamente para o
caso da violência de gênero contra mulheres negras.
21
Segundo relatório produzido pelo Grupo Gay da Bahia foram vitimas fatais da
homofobia no Brasil, nos últimos três anos (2013-2015), aproximadamente 956
indivíduos.
22
Acredito que os dois crimes de misoginia e violência contra as mulheres, mais
polêmicos, em âmbito institucional, no Brasil contemporâneo, tenham sido os casos do
adesivo colado na entrada do tanque de gasolina em que a presidenta Dilma Roussef
figurava com as pernas abertas, dando a ideia de que, no momento do abastecimento,
quando a bomba de gasolina ali colocada, penetrasse sexualmente a presidenta. O outro
caso seria o do deputado federal Jair Messias Bolsonaro (PSC-RJ) contra a deputada
federal Maria do Rosário Nunes (PT-RS) onde este teria dito, em assembleia na Câmara,
para a referida deputada que “não a estupraria porque ela não merecia”. Notícias do
julgamento do processo podem ser consultadas na página virtual do Tribunal de Justiça
do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) e na do Supremo Tribunal Federal (STF).
23
É fotografo e profissional free-lancer. Formou-se em fins da década de 1980 em
Cinema pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP). Colabora e já colaborou
em publicações e editoriais para a Agência Estado, Editora Globo, Editora Abril, Portal
Uol, Jornalistas Livres, Grupo Folha, Grupo Glamurama e Jornal El País. Desenvolve
trabalhos pessoais na área da fotografia documental na cidade de São Paulo, como o
trabalho “Domingo” com curadoria de Eder Chiodetto, exposto na Pinacoteca do Estado
de São Paulo. Atualmente dedica seu trabalho ao fotojornalismo e à documentação do
cotidiano urbano de São Paulo.
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Fig. 01 – Passeata contra Eduardo Cunha (Deputado Federal, PMDB) e a PL 5069, novembro
de 2015. Foto de Roberto Setton/Jornalistas Livres
24
Estes dados constam no Balanço 10 Anos produzido pela Secretaria de Políticas para
as Mulheres e Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos.
p. 10, 2015.
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25
O projeto de lei n.º 5069 proposto pelo deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ)
e outros acrescenta o art. 127-A ao Decreto-Lei n.º 2848, de 07 de dezembro de 1940 –
Código Penal. O texto do projeto se desdobra numa justificativa apegada num possível
lobby de instituições internacionais de pesquisa, organizações não governamentais e
empresas que, por sua vez, apegadas em teorias neo-maltusianas estariam tentando
controlar o crescimento demográfico mundial partindo das regiões subdesenvolvidas. O
texto todo parece uma grande “teoria da conspiração”, onde diferentes organizações
internacionais apoiadas por feministas tentariam estabelecer um controle da natalidade
no Brasil.. A proposta do acréscimo é criminalizar o aborto. Com sua aprovação, o
atendimento a vitimas de estupro se tornaria ainda mais difícil e servidores da área da
saúde teriam dificuldades em explicar, por exemplo, procedimentos que vitimas de
estupro deveriam tomar para evitar a gravidez. Depois das manifestações, o projeto foi
novamente discutido e alterações foram feitas em seu texto, permitindo assim o seu
prosseguimento. É importante notar no texto original da proposta a imagem negativa
atribuída ao feminismo, a dominação/tutela masculina sobre o corpo das mulheres e as
decorrências da criminalização do aborto: aumento de interrupções de gravidez ilegais
e a mortalidade de mulheres durante processos abortivos.
26
TARGINO, Ricardo. Quem mandou mexer com as mulheres? Jornalistas Livres, 15
de novembro de 2015.
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27
Aproveito para agradecer ao fotógrafo Roberto Setton por ter, gentilmente, autorizado
o uso das fotografias aqui utilizadas.
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perguntas servirão para que reflitamos acerca dos problemas ocasionados por
estes projetos. Passo agora a mostrar, rapidamente, as alterações propostas por
cada um deles.
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censura imposta por agentes que confundem a atuação política com suas
crenças religiosas.
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REFERÊNCIAS
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Fontes consultadas:
AQUINO, Renata. A ideologia do Escola Sem Partido. Movimento Liberdade
para Ensinar. Disponível em:
https://liberdadeparaensinar.wordpress.com/2016/04/24/a-ideologia-do-escola-
sem-partido/. Acesso em 01 de junho de 2016.
ARRAES, Jarid. Questão de Gênero: adesivos misóginos são a nova moda
contra Dilma. Revista Forum, 1 de julho de 2015. Disponível em:
http://www.revistaforum.com.br/questaodegenero/2015/07/01/adesivos-
misoginos-sao-nova-moda-contra-dilma/. Acesso em 05 de junho de 2016.
BASTOS, Luana. You tube. E ai gente? Estupro Coletivo. Vídeo (4 min 21s).
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=kDz6YHmEr5Y. Acesso
em 27 de maio de 2016.
BASTOS, Luana. You tube. E ai gente? Cultura do Estupro não existe! Vídeo
(6 min 27s). Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=kDz6YHmEr5Y. Acesso em 27 de maio de
2016.
BASTOS, Luana. You tube. E ai gente? Eu não mereço ser estuprada. Vídeo (3
min 56 s). Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=YK3MmUFCDjU. Acesso em 27 de maio
de 2016.
BASTOS, Luana. You tube. E ai gente? Enem – Exame nacional marxista.
Vídeo (3 min 55 s). Disponível em:
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Lidia M V Possas*
Uma das metas que está sendo debatida situa-se na urgência de garantir
efetivamente a inclusão social, de gênero e racial na vida acadêmica diante dos
inúmeros enfrentamentos e os conflitos que se fazem presentes no vivido dos
campi universitários
*
UNESP.
1
A UNESP é distribuída do litoral ao interior do Estado de São Paulo. Possui a
caraterística de ser multicampus atuando em 24 cidades paulistas. Conta com 134 curso
de Graduação (37.388 estudantes), 13.200 cursos de Pós-Graduação (13.2006
estudantes). Atua com 3.880 docentes titulados e mais de 7 mil funcionários distribuídos
em suas 34 unidades. Jornal Estado de São Paulo de 30/01/2016.
2
O LIEG foi fundado em 2010, na UNESP, campus de Marília, com a implementação
do Projeto de Politicas Publicas do Edital n. 20/2010 do Conselho Nacional do
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), intitulado “O impacto da(s)
Teoria(s) Feminista(s) na criação e implementação de Políticas Públicas no
enfrentamento à violência contra as mulheres: A proposta de alternativas frente ao
estudo comparativo das realidades distintas dos municípios de Marília-SP e Maringá-
PR” 2010-1014
3
Dentre as atividades propostas, salientando-se o trabalho do CEDEM/Centro de
Memória, participo de uma Mesa Redonda intitulada “Mulheres Intelectuais na
UNESP”, no dia 17/08 em São Paulo, Reitoria.
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4
Essa noção de violência de gênero entendida como violência dirigida à mulher, tem
sido alvo de discussão no Brasil desde o início dos anos de 1980, possuindo
complexidade devido as variações interpretativas e vozes. Constitui-se em um campo
teórico-metodológico sendo alvo das reivindicações do movimento feminista brasileiro
e internacional. Ela ocorre motivada pelas desigualdades baseadas na condição de sexo,
tendo no universo familiar as suas raízes devido que as relações de gênero se constituem
em relações hierárquicas. (ALMEIDA)
5
Por que falamos em “ cultura do estupro?
https://nacoesunidas.org/por-que-falamos-de-cultura-do-estupro/
Cultura do estupro” é um termo usado para abordar as maneiras em que a sociedade
culpa as vítimas de assédio sexual e normaliza o comportamento sexual violento dos
homens. Ou seja: quando, em uma sociedade, a violência sexual é normalizada por meio
da culpabilização da vítima, isso significa que existe uma cultura do estupro. “Mas ela
estava de saia curta”, “mas ela estava indo para uma festa”, “mas ela não deveria andar
sozinha à noite”, “mas ela estava pedindo”, “mas ela estava provocando” – estes são
alguns exemplos de argumentos comumente usados na cultura do estupro.
6
Estaria me aproximando de uma abordagem que se faz presente na academia, desde os
anos 70, sendo denominado de estudos pós-coloniais na medida em que revê as
especificidades das sociedades, das relações de poder partir do lugar dos sujeitos, sem
intermediações frente ao processo de globalização e da construção do capitalismo pelo
Ocidente. (BALESTRINI, 2013)
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7
As minorias sociais são as coletividades que sofrem processos de estigmatização e
discriminação, resultando em diversas formas de desigualdade ou exclusão sociais,
apesar de constituírem a maioria numérica da população. Nesse sentido incluem além
das mulheres, os negros, indígenas, imigrantes, homossexuais, trabalhadores do sexo,
idosos, moradores de vilas (ou favelas), portadores de deficiências, obesos, pessoas com
certas doenças, moradores de rua, ex-presidiários.
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8
Nessa proposta, constitui-se de um campo teórico-metodológico que se fundamenta
nos estudos da opressão e dos conflitos que marcam a vida das mulheres de classes,
raças, religiões, culturas diferentes e para além de uma visão binária e reducionista
entre os sexos, em consonância os movimentos feministas pós –coloniais que levam
em consideração as dimensões micropolíticas, de subjetividades e de lutas específicas,
quanto aos contextos macropolíticos dos sistemas políticos e econômicos globais sem
descuidar de análises particulares, singulares. MATOS, M., 2010.
9
A expressão "cultura do estupro" é utilizada desde anos 70, para indicar a existência
de um ambiente onde esse tipo de crime, de violência em relação à mulher torna-se
naturalizado, justificado pela presença de uma cultura ( valores e normas) que confirma
a desigualdade social existente entre homens e mulheres, sendo estas vistas como
indivíduos inferiores e, muitas vezes, como objeto de desejo e de propriedade do homem
-- o que autoriza, banaliza ou alimenta diversos tipos de violência física e psicológica,
entre as quais o estupro. "Ela provocou”, “ela estava de saia curta”, “ela não deveria
sair sozinha”, “ela não deveria estar na rua naquela hora”, “ela não deveria ter bebido”
ou “ela é uma mulher fácil” -- quando surge esse tipo de comentário que coloca em
dúvida a denúncia da vítima, estamos diante de um traço da famigerada cultura do
estupro”. Cultura do estupro: Você sabe de que se trata. Carolina Cunha em 6/06/2016.
http://vestibular.uol.com.br/resumo-das-disciplinas/atualidades/discussao-o-brasil-
vive-em-uma-cultura-do-estupro. Acesso em julho de 2016
10
GILMORE, Stephanie. On The Issues Magazine , Wednesday, 09 February 2011.
http://truth-out.org/archive/component/k2/item/94414:disappearing-the-word-rape.
Acesso em 2/07/2016
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11
Revista Galileu -
http://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2016/02/rompendo-o-silencio-
vitimas-de-violencia-nas-universidades-brasileiras-contam-suas-experiencias.html.
Acesso 3/2016
12
Ver http://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2016-04-04/alunas-da-rural-relatam-casos-
de-estupro-na-universidade.html. Acesso 3/2016
13
A revista Veja divulgou uma matéria com vários depoimentos. Uma estudante
perante a Assembleia Legislativa/SP denunciou que tinha “sido estuprada em 2011 e
que, na ocasião, procurou a direção do curso. Em resposta, membros da diretoria teriam
tentado convencê-la a não denunciar o crime.http://veja.abril.com.br/educacao/o-que-
esta-por-tras-da-violencia-dentro-das-universidades/ Acesso em março/2015
14
O Instituto Avon, contando com a parceria do Instituto Patrícia Galvão, Ministério
Público de São Paulo, Defensoria Pública de São Paulo e Ministério das Mulheres,
Igualdade Racial e Direitos Humanos, promoveu a terceira edição do FÓRUM FALE
SEM MEDO. São Paulo, 3 de dezembro de 2015.
http://www.compromissoeatitude.org.br/instituto-avon-promove-forum-fale-sem-
medo-violencia-contra-a-mulher-no-ambiente-universitario-sao-paulo-03122015/
Acesso janeiro/2016.
15
Esse documentário tornou-se referência de estudo e, principalmente de denúncia
frente os casos de abusos e violência sexual nos campos e fraternidades norte
americanas. Ver crítica ao filme no Plano crítico. http://www.planocritico.com/critica-
the-hunting-ground/. Acesso março de 2016.
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16
A reportagem que veiculou o resultado da pesquisa dizia ainda mais: “violência contra
as mulheres ainda não exorcizou o fantasma da desigualdade de gênero”.
h.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2015/12/quase-70-das-mulheres-ja-sofreram-
violencia-em-universidades-mostra-pesquisa-4921846.html . Acesso em janeiro/2016.
O III Fórum Fale Sem Medo realizado em São Paulo, pelo Instituto Avon -
dezembro/2015 evidenciou um panorama critico e de violências com as narrativas das
jovens presentes. Contou com a participação de varias autoridades, promotoras,
feministas e movimentos de direitos humanos. Ver
https://www.youtube.com/user/falesemmedo
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17
Paul Ricoeur, A memória, a historia, o esquecimento. Campinas Editora da
UNICAMP, 2007, p. 189-192
18
Várias matérias podem ser encontradas a respeito. A pesquisa prévia remeteu a uma
mesma fonte, o jornal Folha de São Paulo. Em algumas delas existe a afirmação de que
a página no Orkut foi criada 4 dias depois de terminado o InterUNESP e que lá estariam
as regras para os próximos desafios, inclusive com premiações para os que se
destacassem. http://www.brasil247.com/pt/247/brasil/13848/Preconceito-contra-
gordas-agora-%C3%A9-crime.htm Em outra fonte (CARRIEL, 2010) há a menção de
que a comunidade existia desde 2006 e que à época em que foi excluída possuía 23
membros. Por sua riqueza informativa e de modo a compor os dados necessários para a
realização da pesquisa, fontes jornalísticas e de redes sociais virtuais, como as citadas
ao longo do projeto, serão utilizadas também como corpus documental.
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Apesar de ter sido relatado como um caso isolado, ocorrido fora das
dependências da universidade, outras agressões movidas por preconceito contra
mulheres consideradas acima do peso são relatadas por universitários. Mayara
Curcio (2010), aluna do campus de Assis, externou sua indignação em um blog
ao se posicionar sobre a agressão envolver pelo menos dois alunos do mesmo
campus, no caso futuros psicólogo e professor.
19
http://www.brasilpost.com.br/2015/03/30/unesp-botucatu-klu-klux-
klan_n_6968590.html Acesso em 20/08/2015.
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20
A CPI de que trata o trecho citado refere-se à “CPI das Universidades” instalada pela
Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) em dezembro de 2014 e concluída em
março de 2015. Produziu um relatório de 194 páginas “nas quais foi relatado uma série
de barbaridades vividas no mundo acadêmico paulista. Alguns dados espantam”.
Disponível em: http://www.brasilpost.com.br/2015/03/13/cpi-universidades-
sp_n_6863322.html O referido relatório também está sendo utilizado como fonte
documental para a pesquisa.
21
São grupos de jovens universitários ingressantes nas universidades para chamar a
atenção para problemas ainda não reconhecidos nas agendas prioritárias, como o de dar
visibilidade à luta das mulheres, dos homossexuais . Ver Luisa Scherer, do Coletivo
Jornalismo sem Machismo (UFSC) e com a Julia Dolce, do 3 Rosas (PUC-SP.)
Segundo elas “a empatia que rola dentro dos coletivos faz com que cada participante
se sinta amparada e empoderada. http://capricho.abril.com.br/vida-real/tudo-voce-
precisa-saber-coletivos-feministas-942780.shtml. Acesso em abril de 2016
22
BIDASSECA, Karina "Mujeres blancas buscando salvar a mujeres color café":
desigualdad, colonialismo jurídico y feminismo postcolonial. Andamios. Revista de
Investigación Social, vol. 8, núm. 17, sep-dic., 2011, pp. 61-89. Nesse artigo autora
investe na teoria das vozes . Ressalta um aspecto que há continuos intentos de algunas
voces feministas de silenciar a las mujeres de color/no blancas o bien, de hablar por
ellas.
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Lei Maria da Penha (2006) que tornou crime todo ato de violência contra as
mulheres.
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210
ST 2
Corpo, Violência de Gênero e
História
Coordenação
Profa. Dra. Maria Beatriz Nader
(UFES)
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Luciana Silveira**
Introdução
211
Há algumas décadas, o estado do Espírito Santo e, em especial, a
capital, Vitória, tem se destacado no cenário nacional pelos altos índices de
violência. Maria Beatriz Nader (2009) relaciona o fenômeno ao crescimento
demográfico ocorrido a partir dos anos de 1970, quando foram implementados
os Grandes Projetos Industriais no estado. A instalação da população que
chegava em Vitória, atraída pelas ofertas de trabalho nas indústrias recém-
surgidas, num espaço reduzido e em condição social desigual promoveu,
segundo a autora, um quadro de violência nunca antes experimentado pelos
moradores de Vitória.
*
Mestre em História pelo Programa de Pós-Graduação em História Social das Relações
Políticas da Universidade Federal do Espírito Santo. Integrante do Laboratório de
Estudos de Gênero, Poder e Violência (LEG-UFES).
**
Mestra em História pelo Programa de Pós-Graduação em História Social das Relações
Políticas da Universidade Federal do Espírito Santo. Integrante do Laboratório de
Estudos de Gênero, Poder e Violência (LEG-UFES).
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Daquele total, 711 boletins estão distribuídos pelos sete municípios que
compõem a Região Metropolitana da Grande Vitória, a saber, Vitória, Vila
Velha, Cariacica, Serra, Viana, Guarapari e Fundão, sendo que os quatro
primeiros lideram com os números com respectivamente, 305, 154, 136 e 101
boletins registrados. Os outros oito boletins correspondem aos municípios que
não fazem parte da jurisdição da DAPPI, localizados nas regiões norte e sul do
estado, como é o caso de Castelo, Mimoso do Sul, São Mateus e Cachoeiro de
Itapemirim, dado que demonstra que há uma demanda por esse tipo de serviço e
por novas unidades da Delegacia do Idoso no Espírito Santo.
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especial, aqueles em que as vítimas são mulheres. Vale salientar que do primeiro
para o segundo ano de existência da DAPPI ocorreu um aumento de cerca de
13% no número de registros, o que não quer dizer que tenha ocorrido um
aumento da violência contra os idosos e idosas, mas que casos de violência
contra idosos e idosas começaram a ser denunciados.
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Com relação à idade das vítimas, tanto nos casos da DEAM quanto da
DAPPI, percebe-se que tratam-se de mulheres pertencentes a todas as faixas
etárias, dos 60 aos 94 anos, com uma maior concentração nas primeiras idades
da velhice. Concorrem para tanto, não só o fato de existirem mais mulheres
217
idosas nessas faixas etárias em Vitória, como por possuírem melhores condições
de se dirigirem até a delegacia. O que faz com que as próprias vítimas se
qualifiquem também enquanto noticiantes na maioria das denúncias. Nas
demais, devido à idade avançada da vítima, dificuldade de locomoção, por
motivo de doença e outros, o noticiante é um terceiro, como um parente ou um
vizinho.
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Fonte: Sistematização dos pesquisadores, a partir dos dados dos boletins da DEAM/Vitória e
da DAPPI.
1
Em nove dos boletins analisados, a idade não corresponde a do público a ser atendido
pela DAPPI, superior a 60 anos. O que explica que o total apresentado na tabela não
corresponda ao mencionado antes, ou seja, 205 boletins de ocorrência. Constatou-se que
essas denúncias correspondiam a situações de perda e extravio de documento e perda
de aparelho celular, ou seja, serviu-se da Delegacia de Atendimento e Proteção à Pessoa
Idosa de Vitória como uma delegacia comum, afastando-a de suas competências.
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Tabela 2 – Cor das mulheres idosas vítimas de violência – DEAM/Vitória, 2002 – 2010
Cor Vítima
Branca 105
Negra 18
Parda 86
Não fornecido 05
Total 214
Fonte: Sistematização dos pesquisadores, a partir dos dados dos boletins de ocorrência da
DEAM/Vitória.
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220
Tabela 3: População feminina e sua distribuição segundo cor/raça aos 60 anos ou mais - Brasil,
2002 e 2012
Fontes: dados do projeto “Retrato das desigualdades de gênero e raça” do IPEA, sistematizados
pelos pesquisadores.
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221
Tabela 4: Escolaridade das mulheres idosas vítimas de violência e dos autores –
DEAM/Vitória, 2002 - 2010
Escolaridade Vítima
Analfabeta 19
Fundamental Completo 12
Fundamental Incompleto 74
Médio Completo 26
Médio Incompleto 07
Pós-graduada 03
Superior Completo 16
Superior Incompleto 01
Não fornecido 56
Total 214
Fonte: Sistematização dos pesquisadores, a partir dos dados dos boletins de ocorrência da
DEAM/Vitória.
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Tabela 5: Estado civil das mulheres idosas vítimas de violência e dos autores – DEAM/Vitória 222
e DAPPI, 2002 - 2012
Casada 70 46
Divorciada 27 22
Separada 09 -
Solteira 41 18
Viúva 65 78
Não fornecido 02 41
Fonte: Sistematização dos pesquisadores, a partir dos dados dos boletins de ocorrência da
DEAM/Vitória e DAPPI.
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Nº de Ocorrências Nº de
Ocorrências
Açougueira 01 -
Administradora 01 -
Advogada/Bacharel em direito 04 -
Agente de 01 -
polícia/investigação/presídio
Agente fiscal 02 -
Ajudante de cozinha/padaria 01 -
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Aposentada 66 67
Artista Plástica 01 -
Autônoma 04 -
Auxiliar Administrativo e de 01 -
contabilidade 224
Auxiliar de decoração 01 -
Auxiliar de enfermagem 02 -
Cabelereira e manicure 02 -
Comerciante 04 -
Copeira 01 -
Corretora de vendas 01 -
Costureira 11 -
Desempregada 03 -
Diarista 01 -
Do lar 51 10
Doméstica 06 -
Faxineira 02 -
Funcionária pública 08 04
Manicure 01 -
Maquinista 01 -
Médica/dentista/cirurgiã 01 -
Merendeira 01 -
Passadeira 01 -
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Pensionista 05 26
Pescadora 02 -
Professora 07 -
Recicladora 01 -
Salgadeira 01 -
Sucateira 01 -
Técnica de enfermagem 02 -
Outros 00 12
Não fornecido 02 86
Fonte: Sistematização dos pesquisadores, a partir dos dados dos boletins de ocorrência da
DEAM/Vitória e DAPPI.
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2
Instituições como bancos e hospitais que se recusam ou se omitem com relação aos
cuidados e direitos básicos da idosa.
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Tabela 7: Vínculo entre a vítima e o autor – DEAM/Vitória, 2002 – 2010; DAPPI, 2010-2012
Filho(s) e Filha(s) 51 44
Desconhecidos 01 32
Conhecidos 1 14
Instituição - 6
Múltiplos 03 6
Sobrinho(s) e sobrinha(s) 07 5
Neto(s) e Neta(s) 10 4
Irmão(s) e irmã(s) 14 4
Parentes indiretos 10 -
Outros 26 -
Não fornecido 11 35
Fonte: Sistematização dos pesquisadores, a partir dos dados dos boletins de ocorrência da
DEAM/Vitória e DAPPI.
Considerações finais
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*
Doutoranda em História Social pelo Programa de Pós-Graduação em História Social
da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHIS-UFRJ). Mestre em História
Política pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro (PPGH-UERJ).
1
Juan Manuel Santos. 24 de agosto de 2016. Discurso do Presidente após o anúncio do
acordo final entre governo e as FARC-EP. Bogotá. O discurso inteiro pode ser lido em:
http://es.presidencia.gov.co/discursos/160824-Alocucion-del-Presidente-Juan-Manuel-
Santos-sobre-el-Acuerdo-Final-con-las-Farc
2
Para efeitos desta pesquisa e, destacamos que um dos nossos principais horizontes
teóricos que se assenta na busca por apresentar os elementos socioeconômicos do
conflito armado desde a ofensiva contrainsurgente das elites colombianas, a fim de
garantir do desenvolvimento capitalista no país, violando a população economicamente
mais vulnerável.
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3
LEÓN, Magdalena. Bibliografias sobre Violencia de Género. Bogotá: Fundo de
Documentacion Mujer y Género “Ofélia Uribe de Acosta”, Escuela de Estudios de
Género, 2011, p.5.
4
Para a realização deste trabalho, durante o período de 9 a 26 de agosto de 2016,
estivemos em contato direto com mulheres vítimas de violência e deslocamento forçado
que são atendidas pela ANDESCOL. Durante este período levantamos cerca de 5 horas
de gravação, divididas em 18 entrevistas. É de nosso interesse, assim como da própria
organização, que não possui um fundo documental das pessoas que são usuárias dos
seus serviços, de darmos seguimento ao levantamento de memória das vítimas que
iniciamos durante estas primeiras visitas.
5
No dia 24 de agosto de 2016, o governo de Juan Manuel Santos e representantes das
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (FARC-EP)
assinaram o último comunicado conjunto da Mesa de Negociações, em Havana, com o
acordo final do conflito armado entre governo e as FARC. A partir desse momento, tem
início a corrida pelo Plebiscito que vai referendar (ou não) o Acordo Final. Sendo o SIM
o vencedor do referendo, tem início um processo de acordos pós-conflito, com
implementação de políticas públicas de garantias de não repetição, dentre elas, os
julgamentos dos crimes contra os direitos humanos ocorridos durante o conflito armado.
O Texto integral do Acordo Final de Havana pode ser lido em:
https://www.mesadeconversaciones.com.co/sites/default/files/comunicado-conjunto-
93-la-habana-cuba-24-de-agosto-de-2016-1472079906.pdf
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6
SISMA MUJER; ABCOLOMBIA; USOC. Colombia: mujeres, violencia sexual en el
conflicto y Proceso de Paz. Noviembre de 2013, p.1.
7
Característica do processo de acumulação capitalista em toda a América Latina, com
pequenas diferenças ligadas às especificidades locais de cada país, que, de um modo
geral, são países que introduziram-se no sistema capitalista internacional de maneira
associada aos países de capitalismo central. Tal associacionismo colocou nossas elites
regionais na posição de “acionistas minoritários” dentro da lógica do capital
multinacional e associado, cumprindo a função de mantenedores da lógica – histórica –
colonialista através do controle das classes trabalhadoras, com ofensivas
contrainsurgentes, lançando mão do aparelho do Estado e de seus exércitos privados
para tentar inviabilizar as lutas operárias contra a exploração e desigualdade. Para saber
mais sobre a opção burguesa latino-americana pela via contrainsurgente, ver:
ESTRADA ÁLVAREZ, Jairo. Transformaciones del capitalismo en Colombia.
Dinámicas de acumulación y nueva realidad. In: ASTORGA (2012). Y ESTRADA
ÁLVARES, Jairo. Acumulación capitalista, dominación de clase y rebelión armada.
Elementos para una interpretación histórica del conflicto social y armado. Informe
Comisión Histórica del Conflicto y sus Víctimas. Habana. Febrero, 2015.
FERNANDES, F. A revolução burguesa no Brasil: ensaio de interpretação
sociológica. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. LEMOS, Renato. Contrarrevolução e
ditadura: ensaio sobre o processo político brasileiro pós-1964. In: Marx e o Marxismo.
V.2, n.2, jan/jul 2014. VEGA, Renán. Injerencia de los Estados Unidos,
ISBN: 978-85-65957-07-6
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Rio de Janeiro, 27 e 28 de outubro de 2016.
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Rio de Janeiro, 27 e 28 de outubro de 2016.
10
SALDARRIAGA FLÓRES, 2013, p. 26-7
11
CLAUSEWITZ, Carl Von. Da Guerra. São Paulo: Martins Fontes, 1979, p.73. (Grifo
do autor).
12
BOBBIO, Norberto. O problema da guerra e as vias da paz. São Paulo: Editora
UNESP, 2003, p. 89.
ISBN: 978-85-65957-07-6
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13
MACKINNON, Catherine A. “Crímenes de Guerra, Crímenes de Paz”. RAWLS,
John; RORTY, Richard. De los Derechos Humanos, Trota, 1998, p. 94.
14
CLAUSEWITZ, 1979, p. 77.
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15
ANISTIA INTERNACIONAL, 2011, p. 5.
16
Soma-se a essa “empresa” de capital criminal o financiamento, manutenção e
reprodução do conflito armado, gerando terror, força de trabalho ilegal e violência
sistemática contra a população civil. Para uma visão mais ampla que quem são e como
atuam os grandes empresários das guerras, ver: VEGA CANTOR, Renán. Los
economistas neoliberales: nuevos criminales de guerra. El genocidio económico y
social des capitalismo contemporáneo. Bogotá: Impresol, 2010.
17
Para a realização deste artigo destacamos dois trabalhos em especial: MEERTENS,
Donny. Ensayos sobre tierra, violencia y género: hombres y mujeres en la historia rural
de Colombia (1930-1990). Universidad Nacional de Colombia, Centro de Estudios
Sociales, 2000; e YEPES, Olga Cecilia Restrepo. “¿El silencio de las inocentes?:
Violencia sexual a mujeres en el contexto del conflicto armado”. In: Opinión Jurídica,
vol. 6, n. 11, pp. 87-114, enero-junio de 2007.
18
O volume de trabalhos realizados por organizações colombianas (estatais ou ONGs)
e internacionais é vasto, mas destacamos aqui alguns estudos especiais: ACNUR.
Desplazamiento Forzado en Colombia: derechos, acceso a la justicia y reparaciones.
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Colombia, 2007; ANISTIA INTERNACIONAL, 2004, op. cit.; e GMH. ¡Basta ya!
Colombia: Memorias de guerra y dignidad. Bogotá: Imprensa Nacional, 2013.
19
CORREAL, Diana Gómez; OBREGÓN, María Emma Wills. “Los movimientos
sociales de mujeres (1970-2005). Innovaciones, estancamientos y nuevas apuestas”. In:
ASTORGA, p. 271.
20
CAMPAÑA - Violaciones y otras violencias: saquen mi cuerpo de la guerra.
Violencia sexual en contra de las mujeres en el contexto del conflicto armado. Primera
Encuesta de Prevalencia - Resumen ejecutivo, 2011, p.9.
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21
GMH. ¡Basta ya! Colombia: Memorias de guerra y dignidad. Bogotá: Imprensa
Nacional, 2013, p.78.
22
Entrevista cedida à autora no dia 21 de agosto de 2016. Bogotá.
23
Sobre a violência sexual na guerra guatemalteca, ver: FULCHIRÓN, Amandine. “La
denuncia de la violencia sexual cometida durante la guerra en Guatemala”, presentada
en Seminario de LASA, San José, Costa Rica, marzo, 2006.
24
O recorte de gênero do relatório da Comissão da Verdade do Perú, especificamente
sobre as mulheres que foram vítimas de violência sexual, pode ser lido em:
http://www.cverdad.org.pe/ifinal/pdf/TOMO%20VI/SECCION%20CUARTACrimen
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es%20y%20violaciones%20DDHH/FINALAGOSTO/1.5.VIOLENCIA%20SEXUAL
%20CONTRA%20LA%20MUJER.pdf.
25
A Comissão da Verdade é um dos mecanismos extrajudiciais criados para garantir a
investigação e posterior reparação dos crimes contra os Direitos Humanos praticados
no conflito armado, que inciará seus trabalhos no marco dos acordos pós-conflito com
as FARC-EP. Essa Comissão da Verdade faz parte do Acto Legislativo 1º del 2012. Ver:
http://www.alcaldiabogota.gov.co/sisjur/normas/Norma1.jsp?i=48679. Igualmente
importante é a Ley 975 del 2005. Ver: http://www.fiscalia.gov.co/jyp/wp-
content/uploads/2013/04/Ley-975-del-25-de-julio-de-2005-concordada-con-decretos-
y-sentencias-de-constitucionalidad.pdf. A lei 975/2005, conhecida como “ley de justicia
y paz, [foi o] marco legal que regió los acuerdos entre el gobierno y los grupos
paramilitares, creó una complexa institucionalidad de transición que incluyó una
comisión de la verdad con funciones relacionadas con la reparación de las víctimas y
la reintegración de los desmovilizados”. JARAMILLO, Isabel Cristina. Las formas
institucionales para buscar la verdad estructural: a propósito de la creación de una
(otra)comisión de la verdad em Colombia. GARCÍA, Helena Alviar; JARAMILLO,
Isabel Cristina (orgs). Perspectivas jurídicas para la paz. Bogotá: Ediciones Uniandes,
2016, p.439.
26
Lei 397, de 18 de junho de 1997. Disponível em:
http://www.secretariasenado.gov.co/senado/basedoc/ley/1997/ley_0387_1997.html.
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27
MEERTENS, 1997, p.1.
28
As entrevistadas habitam em bairros cujas casas foram entregues pelo governo
colombiano em 2015, que ficam em áreas bem distantes do Centro de Bogotá. Um
conjunto se chama Margaridas e outro, dome do bairro, inclusive, chama-se Porvenir.
Das 18 entrevistadas, 12 haviam de deslocado forçadamente pela violência mais de uma
vez, oito haviam saído de suas casas migrado para outras cidades a procura de emprego,
ainda na adolescência, sendo vítimas de deslocamento forçado pela violência já fora de
seus lugares de origem. Apenas uma havia mudado de cidade para estudar. A maioria
delas não chegou a completar o Ensino Fundamental; uma nunca frequentou a escola, é
analfabeta; e outra frequentou, mas tão pouco que também não é alfabetizada. Antes do
deslocamento, cerca de metade das entrevistadas trabalhava com plantação de alimentos
e a outra metade como domésticas, com exceção de uma – que vendia ouro – mas, já na
condição de deslocamento forçado, em Bogotá, apenas uma – a que vendia ouro – não
trabalhou como doméstica.
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29
ACNUR. Desplazamiento Forzado en Colombia: derechos, acceso a la justicia y
reparaciones. Colombia, 2007. p. 28.
30
SALDARRIAGA FLÓRES, Nora Isabel (org). Mujer, negra y desplazada: triple
victimización en Colombia. Medellín: Ediciones UNAULA, 2013, p. 15-16.
31
Nome fictício. Todos os nomes das entrevistadas foram modificados para sua
segurança e de suas famílias. Suas regiões de origem, no entanto, são verdadeiras.
32
VIOLETA. Entrevista cedida à autora em 20 de agosto de 2016. Bogotá.
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33
BELLO, Martha Nubia. Las familias desplazadas por la violencia: un tránsito abrupto
del campo a la ciudad. Revista de Trabajo Social. No. 2. Bogotá, 2000, pp.113-123,
p.115.
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34
ESTRADA ÁLVARES, Jairo. Op. Cit., p.128.
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REFERÊNCIAS
35
A CHCV tem como origem um acordo entre os representantes do Governo
colombiano e os delegados das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC-
EP), adotado em 5-10-2014 pela Mesa de Diálogos em Havana. A Comissão foi formada
com a missão de produzir um informe sobre as origens e as múltiplas causas do conflito,
os principais fatores e condições que tem facilitado ou contribuído para a sua
persistência, bem como os efeitos e impactos do mesmo sobre a população. O Informe
completo pode ser acessado em: https://www.mesadeconversaciones.com.co/comision-
historica.
36
LEONGÓMEZ, Eduardo Pizarro. Una lectura múltiple y pluralista de la historia.
(Relatoría). Informe de la Comisión Histórica del Conflicto y sus Víctimas. Havana,
2015, p.6.
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______. Des viols pendant la Guerre d’Algérie. In: Vingtième Siècle. Revue
d'histoire, 2002/3 no 75, p. 123-132.
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Inara Fonseca*
Introdução
Na manhã seguinte do parto o médico passou na porta da
enfermaria e gritou: ‘Todo mundo tira a calcinha e deita na 249
cama! Quem não estiver pronta quando eu passar vai ficar sem
prescrição!’. A mãe da cama do lado me disse que já tinha
sido examinada por ele e que ele era um grosso, que fazia
toque em todo mundo e como era dolorido. Fiquei com medo
e me escondi no banheiro. E fiquei sem prescrição de remédio
pra dor. P. atendida na ala do serviço público da Maternidade
Pró-Matre de Vitória-ES. (PARTO DO PRINCÍPIO –
MULHERES EM REDE PELA MATERNIDADE ATIVA,
2012: 137)
*
Jornalista. Mestre em Estudos de Cultura Contemporânea pela Universidade Federal
de Mato Grosso. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura
Contemporânea da Universidade Federal de Mato Grosso. Bolsista CAPES.
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A colonialidade do poder
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Odent (2004) narra que em seu nascimento a cesariana foi vista como
um recurso tecnológico incrível para salvamento da vida de mães e bebês, porém
a técnica era somente utilizada quando a parturiente possuía alguma questão
patológica que impedisse o parto via vaginal. As primeiras cesarianas não eram
vistas como seguras: a incisão clássica era vertical (de dois centímetros abaixo
do umbigo até dois centímetros acima do osso pubiano) e tinha sérios riscos de
256
infecção, obstrução intestinal e sangramentos uterinos em gestações posteriores.
O ponto de virada desse imaginário deu-se a partir da 2ª Guerra Mundial com a
corrida pelo desenvolvimento tecnológico. Descobriu-se por volta da década de
50, uma nova técnica (incisão transversal ou corte de segmento inferior uterino)
e a cirurgia cesárea se desenvolveu rapidamente acompanhando as mudanças
que ocorreram na própria medicina.
No Brasil, Rezende (1984: 37) narra que até 1915 a cirurgia cesariana
era realizada raramente e à maneira clássica, ou seja, incisão vertical. Devida à
escassez do procedimento o autor explica haver pouco material documentado
sobre a técnica. É com o surgimento das escolas de obstetrícia que a cesariana
se desenvolve e popularizasse. A fundação da Maternidade do Rio de Janeiro,
em 1904, é apontada como um marco que impulsiona à “modernização da
assistência obstétrica” (Rezende 2006: 102). Acompanhando o desenvolvimento
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Considerações finais
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REFERÊNCIAS
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AMORIM, Melania Maria Ramos de. Cesárea X Parto Normal – (parte 1): a
magnitude do problema. 2010. Disponível em:
http://guiadobebe.uol.com.br/parto-normal-vs-cesarea-parte-1-a-magnitude-do-
problema/
264
CARDOSO, Claudia Pons. Amefricanizando o feminismo: o pensamento de
Lélia Gonzalez. Revista Estudos Feministas, Florianópolis: CFH/CCE/UFSC,
vol. 22, n. 3, p. 965.986.
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__________, Rattner D, Venancio SI, Bógus CM, Miranda MM. O parto como
eu vejo... ou como eu o desejo? Expectativas de gestantes, usuárias do SUS,
acerca do parto e da assistência obstétrica. Cad. Saúde Pública.
2002;18(5):1303-1311.
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Iniciando a discussão
A pergunta que nos motiva nesta reflexão é permeada por interessantes 267
paradoxos. Ao questionarmos: “E esse corpo, de quem é?” nos dirigimos às
mulheres e é sobre este ponto de vista que pretendemos tratar a temática do
aborto. Importante enfatizar, contudo, que a mesma pergunta feita aos homens
ou pessoas que se definem por outros recortes de gênero guarda importantes
aspectos, os quais não serão trabalhados nesta ocasião. Nosso tema norteador é
o aborto, mais estritamente os chamados abortos induzidos ou provocados.
Aborto é aquilo que é eliminado quando da interrupção de
uma gravidez. O processo que resulta no aborto chama-se
abortamento. A interrupção da gravidez pode se dar por
causas naturais, os chamados abortos espontâneos, ou por
ação voluntária da mulher, ajudada ou não por outra pessoa.
Nestes casos, fala-se em aborto provocado ou induzido.
(VILLELA & BARBOSA, 2011, p. 11)
*
Doutoranda no Programa de História Social da Universidade de São Paulo (FFLCH-
USP) e bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
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patriarcal, além das relativas às relações de gênero, são elementos que compõem
um cenário de restrições ao domínio do próprio corpo pelas mulheres.
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O debate sobre o corpo que desde então vem tomando forma esteve
fortemente presente na agenda feminista e dos movimentos de mulheres. A luta
pelo direito à autonomia dos corpos femininos encontrou, no entanto,
abordagens distintas e, por vezes, contraditórias mesmo no âmbito destes
movimentos.
270
A centralidade do corpo é vista em diversos momentos. A
popularização da pílula como método anticoncepcional garantiu a ampliação do
controle sobre o número de filhos, ainda que seu uso não tenha sido desde o
princípio feito da maneira adequada por todas as adeptas. No entanto, a
possibilidade de escolha diante da maternidade gradativamente permitiu às
mulheres novos espaços de atuação dentro e fora do ambiente doméstico.
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Amelinha
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Deborah
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Paulo, teria que morar na casa do meu pai, coisa que ele
jamais admitiria. Tinha a opção de tirar porque não queria
decepcionar meu pai, mas também não queria ter um filho de
um babaca!
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Vanessa
Assim construiu terreno seguro para iniciar a vida sexual, sempre amparada por
métodos preventivos.
Minha consciência vinha das revistas que a gente lia na época,
Capricho, Atrevida, que não lembro se eram semanais ou
mensais, mas eu comprava todas! E o que eu sabia vinha daí!
Depois tive um namorado que fiquei por uns cinco anos e ele
era mais velho... Eu tinha 16 e ele uns 22 anos. Começamos a
ter relações, claro, e sempre tive esse cuidado de usar
camisinha... Lembro que depois da minha primeira relação fui
ao ginecologista... Muito por causa das orientações dessas
revistas, porque minha mãe não conversava esses assuntos
comigo... As revistas falavam que depois da primeira relação
precisava fazer exame Papanicolau e marquei sozinha minha
primeira consulta... Comecei a tomar pílula, mas como
esquecia, passei para a injeção... Depois de um tempo voltei
para a pílula... Mesmo com irmãs mais velhas, essas
conversas não rolavam...
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Fica claro que, a despeito das contingências, suas vidas são atravessadas
por uma estrutura que foge ao seu domínio no que diz respeito ao que fazer diante
da necessidade do aborto. Primeiramente, pois paira sobre suas histórias um
conjunto de leis e normas sociais que, independente de suas vontades,
influenciam suas decisões. Seja em termos práticos, como o acesso aos métodos
para viabilizar a interrupção da gravidez, seja no nível da intimidade e das
convicções pessoais, que implica em complexos dilemas envolvendo questões
morais e éticas.
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Este “outro” pode ser um, pode ser muitos... O Estado, o companheiro,
o médico... Ainda que a decisão seja tomada e encontre apoio, não garante que
sua vida esteja livre de riscos, preconceitos e julgamentos...
Finalizamos menos com uma conclusão ou ponto final do que com uma
sugestão para refletir sobre o tema do aborto na contemporaneidade. Afinal, esse
corpo, de quem é?
REFERÊNCIAS
BIROLI, Flávia. O debate sobre aborto. In: MIGUEL, Luis Felipe. BIROLI,
Flávia. Feminismo e Política. São Paulo: Boitempo, 2014.
DIAS, Maria Odila Leite da Silva. Teoria e método dos estudos feministas:
perspectiva histórica e hermenêutica do cotidiano. In: COSTA, Albertina de
Oliveira. BRUSCHINI, Cristina. Uma questão de gênero. Rio de Janeiro: Rosa
dos Tempos; São Paulo: Fundação Chagas, 1992.
MEIHY, José Carlos Sebe Bom. HOLANDA, Fabíola. História oral. Como
fazer, Como pensar. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2010.
ISBN: 978-85-65957-07-6
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MEIHY, José Carlos Sebe Bom. RIBEIRO, Suzana Lopes Salgado. Guia prático
de história oral. São Paulo: Contexto, 2011.
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Professora do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História
Social das Relações Políticas da Universidade Federal do Espírito Santo. Coordenadora
do Laboratório de Estudos de Gênero, Poder e Violência (LEG/UFES). E-mail:
marxis@terra.com.br
**
Doutoranda em História Social das Relações Políticas na Universidade Federal do
Espírito Santo. Vitória, Brasil. Integrante do Laboratório de Estudos de Gênero, Poder
e Violência (LEG/UFES). Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Beatriz Nader. E-mail:
mirela_marin_@hotmail.com
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Certo dia, o pai deu algumas facadas em um homem e teve que fugir da
polícia. Ele então foi para central de Mantena, trabalhar como meeiro na roça.
Não pôde levar as crianças porque saiu com pressa, fugindo da polícia, mas
mandou alguém para buscá-las. Quando chegou lá, ele começou a se relacionar
com uma mulher. Zezé então decidiu ir embora, porque ela e os irmãos não
gostavam dessa mulher, e voltou a morar em Governador Valadares. De acordo
com ela, foi lá que ela "se achou", era uma menina e se formou, deixando de ser
virgem. Ao que parece, foi nesse período que os irmãos foram se separando, e
cada um foi para um local distinto, muitos foram para o Mato Grosso. "Depois
foi separando tudo, tudo acaba né." Percebe-se uma nostalgia, um lamento, uma
saudade do período em que vivia com os irmãos e a família.
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pai teve aos olhos dela. Simplesmente por ele estar presente, não agredir
fisicamente a mãe e os filhos (porque os irmãos moravam perto) e trabalhar no
sítio e depois como meeiro, parece ter sido suficiente para Zezé ter guardado
uma recordação positiva do pai. Há uma naturalização dos papéis sociais de
gênero na narrativa de Zezé, como se fosse natural o comportamento paterno, na
mesma medida em que há uma culpabilização sobre a mulher pela sexualidade
aflorada do pai: "na roça as mulheres são iguais éguas minha filha, não estão
287
nem aí. Não pode ver uma pica dura". O motivo pelo qual a "pica estava dura"
ela não questiona.
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do outro filho que teve, ninguém soube da existência dele. As pessoas sabiam
que ela teve um que faleceu, e não do outro que ela deu quando era bem novinho.
De Governador Valadares, Zezé foi para Colatina. Ela conta que uma
mulher a viu trabalhando no parque e quis levá-la para Colatina. Ela ficou
devendo para a mulher o valor da passagem e da diária. Mas Zezé não quis ficar
em Colatina, uma amiga a chamou para ir para Vitória, pois lá seria possível
ganhar em dólar com os estrangeiros. Então, elas fugiram de trem de madrugada,
288
caso contrário a mulher não deixaria elas saírem por conta da dívida.
Até que a boate 78 teve que fechar as portas e Zezé precisou arranjar
outro local para trabalhar. Ela apresenta dois fatores para o fechamento da boate
no centro: primeiro, eles tiraram as donas de casa do centro e mandaram todas
para São Sebastião, segundo, porque a filha de Dalila era muito bonita e cobiçada
por um policial (policial era ruim naquela época). Contudo, ela não queria ficar
com ele, o que fez com que o policial mandasse fechar a boate.
Zezé foi então para uma boate chamada Casa Nova, em Jardim
Camburi. Mas também fecharam lá porque não podia ter boate naquele local.
Assim, Zezé foi para São Sebastião, diretamente para a boate da Ivanilde,
"aquela velha muchibenta. Mas ela era linda, linda, parecia uma bonequinha, de
louça. Como a pessoa acaba, né". De acordo com ela, Ivanilde era dona e também
"pegava homem". Só mulheres poderiam ser donas de boate, aos homens era
interditado.
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boate também se prostituía, ela não estava ilesa dessa condição que ela
enfrentava, apesar de ser dona.
Zezé não nos relata muito como ela mesma se portava no salão da boate
em Carapeba, o que sentia, como vivia. A única narrativa que faz em primeira
pessoa é do momento do boteco, em que saía para beber com uma amiga. Mas
do cotidiano no salão, antes de descer para o salão, seus sentimentos, ela omite
ou negligencia. Se refere a "elas", como se ela mesma não fizesse parte daquilo,
como se fosse diferente. E ela acredita mesmo que era diferente das demais, pois
não devia nada à cafetina, se considerava auto-suficiente, independente.
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Zezé conta essas questões como uma espécie de curiosidades. Ela mais
uma vez não se coloca na narrativa, não diz o que fazia e o que não fazia. Faz
questão de se manter fora da narrativa que ela mesma produz.
Mas Carapeba chegou ao fim e Zezé saiu de lá com o marido. Ela diz
que não foi somente por ter acabado a zona que ela saiu, mas também porque o
marido a tirou de lá: "ele falou para mim: não, vamos parar e me tirou de lá".
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Hoje Zezé diz que não está "nem mais feliz, nem menos feliz. Eu pra
mim eu vivi tudo o que eu tinha pra viver, mas ainda tenho muito o que viver".
Considerações finais
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REFERÊNCIAS
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MEIHY, José C. S. B.; HOLANDA, Fabíola. História oral: como fazer, como
pensar. São Paulo: Contexto, 2007.
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Introdução
295
Os discursos médicos ilustrados do século XVIII que foram criados na
Europa e que logo se trasladam a suas colônias americanas, assim como os de
produção própria, começaram a difundir-se graças a jornais, manuais y literatura
com a intenção de estabelecer uma renovada mirada à feminidade, sentenciando-
a como hegemónica e universal. Com esse novo matiz, se começou por
enquadrar à mulher em seu próprio corpo, especialmente em seu órgão
reprodutor: o útero. Este órgão serviu para explicar o comportamento feminino
e assumira-o como altamente instável e imaginativo, donde ao mesmo tempo as
discussões sob as doenças da mulher como a histeria, loucura e incluso a
criminalidade também foram definidas e relacionadas com as mudanças
originadas em seus órgãos reprodutivos.
*
PPGHIS/UFRJ/Bolsista Capes.
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Questões de mulher
A especialíssima tarefa que ela é chamada a executar na
grande obra da constituição das sociedades, justifica
plenamente a extrema importância que se deve ligar ao seu
estado bastante complexo visto que a ele se prendem muitos
(porque não dizer todos?) problemas sociais (ARAUJO, 1883,
p 7).
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De acordo com este mesmo autor, a loucura puerperal tinha dois tipos
de causas: a) as predisponentes, onde se incluem a herança, anemia, estado moral
da mulher, estados anteriores de loucura, idade e sexo da conceição –sobretudo
303
quando era masculino era mais predisponente- y b) as ocasionais, tais como, ação
simpática do útero, emoções morais, lactação, eclampsia, primeira menstruação
despois do parto, ação mecânica do útero, dor, lóquios, cloroformização
(anestesia). Igualmente, expressa que a loucura puerperal podia manifestar-se
em três formas: a) mania, que incluía sintomas como insônia, ideias falsas,
delírios e atos agressivos, b) melancolia, onde a mulher podia experimentar um
sentimento de tristeza e depressão, y c) monomania, apresentando a mãe ideias
únicas ou de um único tipo.
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a vários atos estranhos. A mulher parida e a que aleita sente-se impelida a matar
e de preferência ao recém-nascido [...]” (ARAUJO, 1883, p. 69).
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Considerações finais
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REFERÊNCIAS
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CARVALHO, Manuel Pires de. (1870). (Secção cirúrgica) Asphyxia dos recém-
nascidos, suas causas, formas, diagnóstico e tratamento.- (Secção cirúrgica) 314
Fractura do rádio e seu tratamento.- (Secção medica) Do emprego da sangria
na congestão e apoplexia cerebral.- (Secção accessoria) Do infanticídio sob o
ponto de vista médico-legal. Tese doutoral, Faculdade de Medicina da Bahia.
Universidade Federal da Bahia. Brasil.
COSTA, Thomas Jose Xavier dos Passos Pacheco e. (1840). Os cuidados que
devem prestar aos recém-nascidos quando vem no estado de saúde e sobre as
vantagens do aleitamento maternal. Tese doutoral, Faculdade de Medicina do
Rio de Janeiro. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Brasil.
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FREITAS, Jair Athayde de. (1924). Dos casamentos tardios sob o ponto de vista
médico. Tese doutoral, Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Universidade
Federal do Rio de Janeiro. Brasil.
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ROZA, Francisco Luis da Gama. (1876). Dos casamentos sob o ponto de vista
hygienico. Tese doutoral, Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Brasil.
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Introdução 319
Um dos efeitos da História Social, que emergiu no século XX, foi o de
ampliar o mapa do conhecimento histórico e legitimar novas áreas e sujeitos de
investigação. As transformações da historiografia favoreceram a inclusão das
mulheres e da abordagem de gênero nos estudos históricos. A presença das
mulheres na Historiografia vem crescendo nas últimas décadas e permitindo o
enfoque do cotidiano e a emergência de uma pluralidade de protagonistas. Dessa
maneira, a produção historiográfica abandona a centralidade do sujeito universal
para abordar experiências coletivas e individuais e, ainda, as subjetividades de
mulheres, transpondo o silêncio e a invisibilidade as quais estavam relegadas.
*
Doutoranda em História Social das Relações Políticas da Universidade Federal do
Espírito Santo (UFES), bolsista Capes. Professora no Curso de História da Universidade
do Estado de Minas Gerais (UEMG), Unidade Carangola. E-mail:
erikaoamorim@hotmail.com
**
Professora Titular do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do
Espírito Santo (UFES). Coordena o Laboratório de Estudos de Gênero, Poder e
Violência (LEG/UFES). E-mail: marxis@terra.com.br
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Família e patriarcado
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extenso grupo composto pelo núcleo conjugal e uma ampla rede de agregados,
escravos, parentes, concubinas e bastardos. Com o passar do tempo, o
patriarcado foi alterando sua configuração, mas manteve suas premissas
pautadas no poder e na autoridade masculinos. Com o advento das
transformações do século XIX e o início da industrialização, o formato das
famílias brasileiras foi modificado para um modelo de família conjugal,
perdendo as funções econômicas e políticas que detinha e passa a concentrar
321
suas atribuições específicas de procriação e disciplina do impulso sexual
(BRUSCHINI, 1990, p. 63).
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1
Conceito desenvolvido pela historiadora e pesquisadora Maria Beatriz Nader (2006).
Trata-se de um tipo de violência que é abstrata, impalpável, além de ser somente
percebida pela pessoa que a experimenta. Não deixa marcas físicas no corpo, mas magoa
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Hanna Arendt (2011) afirma que nada mais comum que a combinação
entre a violência e poder. Para a historiadora o poder emerge onde quer que as
pessoas se unam e que é legitimado pelo fato desta união. Onde um domina
absolutamente, o outro está ausente. A violência aparece onde o poder está em
risco, mas deixada a seu próprio curso, conduz à desaparição do poder
(ARENDT, 2011, p. 73).
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Os dados da pesquisa
2
Dados populacionais do Censo Populacional realizado pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, e, seguindo a previsão deste Instituto, a
população estimada nos dias atuais seria de 33.412 habitantes.
3
O Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) é uma unidade
pública estatal, de abrangência municipal ou regional, referência para a oferta de
trabalho social a famílias e indivíduos em situação de risco pessoal e social, por violação
de direitos, que demandam intervenções especializadas no âmbito do Sistema Único de
Assistência Social (SUAS) (BRASIL, 2011).
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Agressores
25
20
15
10
0
ex- ex-
namor descon cônjug
genro irmão pai namor cônjug amigo
ado hecido e
ado e
Agressores 1 1 1 1 2 4 5 5 23
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REFERÊNCIAS
ARENDT, Hannah. Sobre a violência. Tradução de André de Macedo Duarte.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.
AZZI, Riolando. Família e valores na sociedade brasileira numa perspectiva
histórica (1870-1950). In.: RIBEIRO, Ivete (Org.). Sociedade Brasileira
Contemporânea. Família e valores. Teresópolis: Edições Loyola, 1987.
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334
Concluamos numa palavra: Lucien Febvre, durante os dez
últimos anos de vida, terá repetido: ‘história ciência do
passado, ciência do presente’. A história dialética da duração,
não é à sua maneira, explicação do social em toda a sua
realidade? E portanto do atual? Valendo sua lição nesse
domínio como uma proteção contra o evento: não pensar
apenas no tempo curto, não crer que somente os atores que
fazem barulho sejam os mais autênticos; há outros e
silenciosos.
1
Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Inquisição de Lisboa, Processo 5007.
*
Doutoranda em História Moderna na Universidade Federal Fluminense. Bolsista do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
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2
Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes. 1ª Vara de Infância e da Juventude
do Distrito Federal. Disponível em <
http://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/glossarios-e-
cartilhas/violenciaSexual.pdf> Acesso em: 20 de agosto de 2016.
3
MONTEIRO, Alex Silva. O pecado dos anjos: a infância na Inquisição portuguesa,
séculos XVI e XVII. In: FEITLER, Bruno; LIMA, Lana Lage da Gama; VAINFAS,
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O verbete “menino” significa tanto o “rapaz, que ainda não chegou aos
sete annos de idade”, quanto o menino dos sete até aos catorze anos. Em suma,
ao mesmo tempo em que poderia ser uma “criança muito pequena”, poderia
tratar-se de um “rapaz pequeno”6. Ambiguidade que pode estar vinculada ao que
Ariès7 caracterizou como uma peculiar imprecisão das idades, muito comum
antes do século XVIII. O verbete “moço”8 é fluido e o dicionarista admite que é
“relativo”, podendo designar indivíduos de catorze ou quinze até os vinte e cinco
anos. O termo “mancebo” é o mesmo que “moço”, segundo Bluteau, que
acrescentou que a etimologia da palavra poderia significar escravo: “chamamos
assim ao moço, que nos serve, ainda que seja livre”9. Tais imprecisões levaram
6
Bluteau, remetendo-se ao verbete “moço”, faz referência ainda ao “moçosinho”, que
era “muito moço. Adolescentulus”. Itálico no original. BLUTEAU, Raphael.
Vocabulario..., op. cit. Disponível em <
http://www.brasiliana.usp.br/dicionario/edicao/1 > Acesso em 01 de jun. de 2015.
Verbetes: menino, moço e moçosinho.
7
ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
1981, p. 30. Apesar de tal consciência, o tradicional costume quanto à imprecisão das
idades não se extinguiu inteiramente.
8
“Moço” também poderia designar os criados. SÁ, Isabel dos Guimarães. As crianças...,
op. cit. p. 75. O verbete “mocidade” é definido como a “idade do homem dos vinte &
cinco annos atè os trinta, ou quarenta”. BLUTEAU, Raphael. Vocabulario..., op. cit.
Disponível em: <http://www.brasiliana.usp.br/pt-br/dicionario/1/mo%C3%A7o >
Acesso em 01 de jun. de 2015. Verbetes: moço e mocidade.
9
Bluteau afirmou também que a idade do homem mancebo variaria entre 30 e 40 anos.
Vale a pena mencionar ainda o termo “rapaz”, que é muito vago e não se refere a uma
idade precisa, mas às suas ocupações: “moço, criado de alguem, ou lacayo, porque de
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ordinario estes taes saõ rapazes, ou rapagões”. BLUTEAU, Raphael. Vocabulario..., op.
cit. Disponível em: <http://www.brasiliana.usp.br/en/dicionario/1/rapaz> Acesso em 27
de jul. de 2015. Verbete: rapaz. Há também o impreciso verbete “rapagaõ”, que poderia
referir o moço que ainda não tinha barba, bem como o que a tinha.
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Costa (11, 12 anos), abusado sexualmente pelo padre e seu mestre, João Botelho,
na década de 1630. Buscou a Mesa Inquisitorial com seu pai, aconselhado pelo
confessor, para se acusar. Jurou, sobre os santos evangelhos, dizer a verdade de
suas culpas e “pedia perdão e misericórdia’”. O contexto evoca o conceito de
“violência simbólica”, colocado por Bourdieu (2014, p. 60). O sociólogo francês
descreve que “a força simbólica é uma forma de poder que se exerce sobre os
corpos, diretamente, e como que por magia, sem qualquer coação física; mas
339
essa magia só atua com o apoio de predisposições colocadas, como molas
propulsoras, na zona mais profunda dos corpos”. Uma das formas eficazes dessa
força simbólica “repousa claramente em um trabalho prévio de socialização
religiosa (catecismo, frequência ao culto e, sobretudo, imersão precoce em um
universo impregnado de religiosidade)”. Essa era exatamente a atmosfera
religiosa, muito marcada pela culpabilização, respirada pelo menino João.
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10
Frei Manoel do Sacramento, processado em 1694 e em 1697, cometeu sodomia com
José Lopes, de 13 anos, mas seu processo ainda não foi transcrito. ANTT, IL, Proc.
3966-1 e ANTT, Inquisição de Évora, Proc. 4461.
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Frei João Botelho (ANTT, IL, Proc. 7118), 43 anos, pertenceu à Ordem
dos Jerônimos, de onde foi expulso, e no momento de sua prisão, em 1638, era
mestre da Capela de Santo Antônio, em Lisboa. O primeiro a denunciá-lo foi o
“moço estudante” João da Costa, de 11 para 12 anos, que, acompanhado de seu
pai, um almocreve11, buscou a Mesa Inquisitorial para “desencarregar sua
consciência”. O menino relatou que os contatos sexuais tinham começado havia
cerca de um ano, na casa do eclesiástico, onde ele dava aulas de solfa12. Numa
342
ocasião, estando ele e Luis Viegas, “estudante moço de pouca idade”, filho de
uma palmilhadeira13, Botelho o mandou arriar as calças, deitou o menino de
bruços e “se pós encima mettendo lhe pello seo vaso traseiro primeiro hu’ dedo
e depois o seo membro viril”. O menino contou ainda que Viegas, além de
testemunha dos atos, também passava pelos mesmos constrangimentos, e havia
poucos dias, o mestre mandou seus cinco ou seis alunos, que incluíam os filhos
de um sapateiro e de uma taverneira, despirem-se noutro aposento. O
depoimento de João da Costa é revelador e destaca a violência física, sexual e
psicológica a que seus corpos foram submetidos. Os corpos dos meninos eram
expostos e se tornavam “objeto do ataque sexual e do prazer sádico” (RAGO,
2013, p. 79) dos violadores. Trata-se de uma “violência de gênero”, tal como
define Sardenberg (2011, p. 1), em que um sacerdote, um homem mais velho,
agredia sexualmente seus jovens alunos.
João narrou ainda que o frei “fechou a porta pdentro com aldrava”, em
seguida, voltou a submetê-lo sexualmente e teve o cuidado de limpá-lo com sua
camisa. Botelho, ainda de acordo com a testemunha, tinha “por costume quando
os estudantes não sabe’ lição mandallos desattacar, E porse sobre elles”. A ação
do padre denota “uma prática de punição e humilhação, que reflete
11
O termo almocreve, segundo Bluteau, define quem levava “bestas de carga de huma
parte a outra”. BLUTEAU, Raphael. Vocabulario..., op. cit. Disponível em: <
http://dicionarios.bbm.usp.br/pt-br/dicionario/1/almocreve> Acesso em 31 de ago. de
2016. Verbete: almocreve.
12
As notas musicais. BLUTEAU, Raphael. Vocabulario..., op. cit. Disponível em: <
http://dicionarios.bbm.usp.br/pt-br/dicionario/1/solfa> Acesso em 25 de ago. de 2016.
Verbete: solfa.
13
Mulher que palmilha meias. BLUTEAU, Raphael. Vocabulario..., op. cit. Disponível
em: <http://dicionarios.bbm.usp.br/pt-br/dicionario/1/palmilhadeira> Acesso em 29 de
ago. de 2016. Verbete: palmilhadeira.
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Uma vez que os castigos físicos eram “entendidos na época como um mal
necessário” (BRAGA, 2011, p. 206), as agressões sexuais podem ter sido
compreendidas por Luis Viegas, assim como pelos outros meninos, de maneira
diferente. Ele disse que quando tinha cerca de 13 anos, o padre o recolheu no
aposento de costume para açoitá-lo (o que não parece ter-lhe causado nenhuma
surpresa), desatacou suas calças, o deitou de bruços e “penetrandoo, teve tão
14
Segundo Antonio de Moraes Silva, chapineiro era o oficial que faz ou vende chapins.
Um chapim era o “calçado de 4. ou 5. solas de sovereiro para realçar a estatura, de
mulheres. SILVA, Antonio de Moraes. Diccionario da Lingua Portugueza –
recompilado dos vocabularios impressos ate agora, e nesta segunda edição novamente
emendado e muito acrescentado, por Antonio de Moraes Silva. Lisboa: Typographia
Lacerdina, 1789/1813. Disponível em: < http://dicionarios.bbm.usp.br/pt-
br/dicionario/2/chapineiro > Acesso em 29 de ago. de 2016. Verbete: chapineiro.
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grande dor elle testemunha q’ o não pode sofrer, e logo se levantou, dizendolhe
q’ o mettesce [?] antes a assoutes, e lhe não fizesce aquillo” (ANTT, IL, Proc.
7118, grifo meu). A violência, que continuou por cerca de meia hora, pode ter
sido entendida como uma forma de punição, dada pelo mestre àqueles que não
sabiam a lição, sem conotação sexual para Viegas, já que ele tentou, em vão,
permutar o castigo.
Disse que não contou sobre as situações violentas a ninguém, nem à sua
344
mãe, por “pejo” “que tinha, e per entender que elle estava mal”. Sua fala é muito
reveladora e esclarece seus medos, a vergonha e a culpa (assim como no caso do
menino João da Costa) pelos atos cometidos contra si. Tais sentimentos e ações
nos remetem ao conceito de “poder simbólico”, de Bourdieu (2014, p. 61), para
quem
os atos de conhecimento e de reconhecimentos práticos da
fronteira mágica entre os dominantes e os dominados, que a
magia do poder simbólico desencadeia, e pelos quais os
dominados contribuem, muitas vezes à sua revelia, ou até
contra sua vontade, para sua própria dominação, aceitando
tacitamente os limites impostos, assumem muitas vezes a
forma de emoções corporais – vergonha, humilhação,
timidez, ansiedade, culpa – ou de paixões e de sentimentos –
amor, admiração, respeito –; emoções que se mostram ainda
mais dolorosas, por vezes, por se traírem em manifestações
visíveis, como o enrubescer, o gaguejar, o desajeitamento, o
tremor, a cólera ou a raiva onipotente, e outras tantas maneiras
de se submeter, mesmo de má vontade ou até contra a
vontade, ao juízo dominante, ou outras tantas maneiras de
vivenciar, não raro com conflito interno e clivagem do ego, a
cumplicidade subterrânea que um corpo que se subtrai às
diretivas da consciência e da vontade estabelece com as
censuras inerentes às estruturas sociais.
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Ao que tudo indica, o padre tinha uma casa onde costumava levar os
jovens para jogar e ali os acometia sexualmente. Ao menos um de seus
denunciantes, o padre Manoel da Costa, cerca de 30 anos, disse que João de
Mendonça gastava e despendia com os “mossos e rapazes”. Disse ainda que
havia treze ou catorze anos, um seu parente Balthezar de Barros, foi convidado
pelo padre para dormir com ele numa estalagem. Não sabemos a idade de
Balthezar, mas como queria uma licença, uma autorização, de Manoel, pensamos
que pudesse ser mais jovem. O padre voltou a convidá-lo, dizendo que “hera sua
honra ir elle”, mas Barros disse, “chorando”, ao seu parente que não voltaria à
estalagem porque o padre “pegara delle, e quisera com ele com metter o peccado
nefando de sodomia”, o que o levou a sair da cama e dormir vestido. Mais uma
vez, a violência é explicitada: o jovem chora ao se lembrar do ocorrido e o verbo
“pegar” traduz a experiência agressiva: “pegar de alguem”15 era, segundo
Bluteau, o mesmo que “prender”. Uma denunciante afirmou que um homem lhe
disse que numa noite ouvira um “rapas que trazia o dito João de Mendoça gritar
em casa disendo deixaime João de Mendoça”.
15
BLUTEAU, Raphael. Vocabulario..., op. cit. Disponível em:
<http://dicionarios.bbm.usp.br/pt-br/dicionario/1/pegar > Acesso em 29 de ago. de
2016. Verbete: pegar de alguem.
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que estando, à noite, na cama, entre os lençóis, com o padre Francisco Dias
Palma
e com hu’ mosso que se chamava então Joseph, e agora he
frade do Carmo e não deve ser professo ainda e não tinha pay
não lhe sabe o nome e era natural do Porto, [...] o ditto Jozeph
natinha [?] may e tinha pay e seria então de doze annos e
estando todos tres na mesma cama iazia [?] no meio o ditto
Jozeph e estava com o rosto virado pera elle confitente e então
procurou o ditto Francisco Dias Palma metter seu membro
viril no vaso trazerio do ditto Jozeph e assi o entendeo elle
confitente perq o ditto mosso se doeo [?] e enfadou, e elle 347
testemunha bem sentio que o ditto Francisco Dias pellos
meneos tratara de faser o sobreditto, e então elle confitente
tomou o ditto mosso e o pos pera a outra parte da cama
ficando elle confitente no meio (ANTT, IL, Proc. 6587, grifo
meu).
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a que os três submeteram o garoto. Ainda que não saibamos o motivo que levava
Joseph à casa de Almeida, o cenário é violento, dominador e hierárquico.
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REFERÊNCIAS
Fontes manuscritas
Bibliografia
16
Cf. em < http://www.cmjornal.pt/portugal/detalhe/fingiam-dormir-para-fugir-a-
padre-pedofilo> Acesso em 31 de ago. de 2016.
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FELIPE, Jane. Afinal, quem é mesmo pedófilo? In: Cadernos Pagu, nº 26.
Campinas: Unicamp, janeiro-junho de 2006, pp. 201-223.
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SÁ, Isabel dos Guimarães. As crianças e as idades da vida. In: MATTOSO, José
(Dir.); MONTEIRO, Nuno Gonçalo (Coord.). História da Vida Privada em
Portugal. Lisboa: Círculo de Leitores, 2011.
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Elaine P. Rocha*
*
Elaine Pereira Rocha é doutora em História Social pela USP, mestre em História pela
PUC-SP e mestre em História Cultural pela University of Pretoria (Africa do Sul).
Atualmente é chefe do Departamento de História e Filosofia da University of the West
Indies, campus Cave Hill, Barbados, onde leciona desde 2007.
1
http://www.unwomen.org/en/what-we-do/ending-violence-against-women/facts-and-
figures
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assassinatos para cada 100 mil habitantes por ano; isto num país que tem 280 mil
habitantes. A incidência de outros crimes, como roubo e estupro é também
considerada muito baixa2, o que torna Barbados um destino particularmente
atrativo para turistas, que vêm em busca de suas praias e mar calmo. Estes dados,
apresentados pelo Banco Internacional de Desenvolvimento, contrastam com o
relatório apresentado em 2001 pelo Caribbean Regional Tribunal on Violence
against Women3, segundo o qual, mulheres e meninas são a maioria das vítimas
353
da violência doméstica, que infelizmente é parte da cultura caribenha, sofrendo
abusos físicos, sexuais e psicológicos nas mãos de parceiros e familiares.
2
Bailey, Corin. Crime and violence in Barbados. IDB series on Crime and Violence in
the Caribbean. Relatório Técnico, Junho, 2016.
https://publications.iadb.org/bitstream/handle/11319/7774/Crime-and-Violence-in-
Barbados-IDB-Series-on-Crime-and-Violence-in-the-Caribbean.pdf?sequence=1
3
“Gender based violence in the Caribbean”. UNWomen.
http://caribbean.unwomen.org/en/caribbean-gender-portal/caribbean-gbv-law-
portal/gbv-in-the-caribbean#sthash.jU0EVGPk.dpuf
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4
ROCHA, Elaine & ALLEYNE, Frederick. “Millie Gone to Brazil” Barbadian
migration to Brazil in the early 20th century” in Journal of the Barbados Museum &
Historical Society. Vol. 58, December 2012, pp. 1-42.
5
Nesta pesquisa foram examinados os Relatórios Anuais da Colônia, chamados Blue
Books, referentes aos anos: 1901, 1902, 1903, 1904, 1905, 1906, 1907, 1908, 1913,
1914, 1915, 1916, 1917, 1918, 1919, 1920, 1921, 1922, 1923. Foram ainda consultados
a Official Gazette (Diário Official) de abril de 1917 que traz a transcrição de uma sessão
da Assembleia Colonial onde o crime foi discutido e o jornal The Agricultural Report
de dezembro de 1916 a maio de 1916. Todos os documentos fazem parte do acervo do
Barbados National Archives.
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A questão que se levanta aqui é por que Millie não tentou fugir, não
pediu socorro, mas caminhou obedientemente e em silêncio até o local da sua
356
execução. Uma das explicações me foi dada por um amigo barbadiano: a cultura
local entre as classes populares, de uma violência física e verbal, na qual o
agressor ameaça a vítima de morte. Quase como uma expressão sem
consequências, na maioria das vezes. Então Millie não teria acreditado na
ameaça?
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que “nem era de sua família”, pelo delito de estar assobiando em público, algo
condenado pelos costumes daquela sociedade, que ditava que apenas homens
poderiam assobiar. A agressão física, longe de provocar revolta na vítima, fez
com que ela imediatamente reconhecesse o delito e se desculpasse com o
agressor.6
6
BRODNER, Erna. The second generation of Freeeman in Jamaica, 1907-1914.
Gainsville, University Press of Florida, 2004, p. 21.
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Numa sociedade em que até hoje a punição de crianças por chibatas nas
358
escolas é comum e considerada normal, a violência física contra crianças é parte
da cultura e a violência de gênero é também prevalente, sendo que apenas nas
últimas décadas as campanhas contra este tipo de violência têm surtido efeito.
Em geral, as autoridades apenas entram em ação quando acontecem vítimas
fatais. O historiador Hilary Beckles refere-se a uma histórica violência e
depreciação da mulher negra, desde o período escravista quando as escravas
eram vendidas por preço muito mais baixo que os homens.
7
INNISS, Tara. “’This Complicated Incest’ Children, Sexuality and Sexual Abuse
during Slavery and the Apprenticeship Period in the British Caribbean.” In Sex, Power,
and Slavery. Eds. Gwyn Campbell and Elizabeth Elbourne. Routledge UP, 2014.”
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Na noite do crime, John e Christine mais uma vez tiveram uma briga,
na qual John, já bêbado, acusava Christine de haver colocado veneno na sua
pinga. Ele, então, saiu e foi para o hospital em busca de socorro, sendo
diagnosticado como mal-estar estomacal não relacionado a envenenamento. No
hospital ele contava a quem quisesse ouvir, que sua esposa estava tentando mata-
lo. Em casa Christine foi dormir com uma faca ao lado da cama (para defender-
se?). Mas não imaginava que o marido voltaria para ataca-la no meio da noite.
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8
Arquivo Histórico do Poder Judiciário de Rondônia. Processo Crime, doc. 003/1925,
caixa 17. Agradeço a colaboração de Nilza Menezes, que possibilitou o acesso a esta
documentação.
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361
ST 3A
Gênero, Sensibilidades e
Poder
Coordenação
Profa. Dra. Ana Carolina Eiras
(UFG)
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Introdução
*
Mestranda pelo programa de pós-graduação em História da Universidade Federal de
Goiás, integrante do Grupo de Estudo e Pesquisa em Gênero GEPEG/UFG e bolsista
Capes.
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363
Figura 1. A Pátria (1919) de Pedro Bruno. Óleo sobre tela. 1,90 m x 2,78 m. Museu da República,
Rio de Janeiro.
1
Pedro Bruno nasceu em 14 de Outubro de 1888 no Rio de Janeiro. Foi pintor escultor
e paisagista. Estudou na escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro. A obra A
Pátria rendeu-lhe o prêmio de viagem ao estrangeiro em 1919. O pintor carioca faleceu
em 1949. (Biografia disponível em: http://www.dezenovevinte.net/bios/bio_pb.htm.
acesso em Jun/2016).
2
José Murilo de Carvalho, em seu livro Formação das almas, reflete sobre a elaboração
e construção do imaginário entorno de símbolos cívicos, como a bandeira e o Hino
Nacional e heróis como Tiradentes, em meio aos embates entre republicanos de um lado
e de outro, os monarquistas e opositores do novo governo.
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3
Sobre o fracasso da tentativa dos intelectuais brasileiros de representar a república
como uma mulher, como ocorreu na revolução francesa ver José Murilo de carvalho,
Formação das almas, p.87.
4
Tania de Luca (2008) explica que século XX inaugurou uma nova forma de produção
de jornais. Agora motivados pelo lucro os donos de empresas jornalísticas e tipografias
passaram a incrementar as técnicas de produção, com materiais mais modernos, papéis
mais resistentes e elaborados e aperfeiçoaram também a distribuição.
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367
A mulher nas páginas da imprensa
5
Existe um debate sobre a circunstância da revolução de 30 em Goiás, para alguns
autores como Chaul tratou-se de fato de uma alternância de poder, segundo outra linha
que privilegia os continuísmos temos Palacin e Arrais, sendo que segundo Arrais, a
revolução de 30 foi marcada pelo patrimonialismo, conservadorismo e clientelismo,
destoando dos discursos de progresso e modernização. (DINIZ, 2013).
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6
Sobre a política através da imprensa em Goiás nesse período ver Cristiano Alencar
Arrais, Mobilidade discursiva: O periodismo político e Goiás, 2013.
7
O Lar, 1 de Outubro de 1927.
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8
O Lar, 15 de Novembro de 1926.
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chegavam ao país desde metade do século XIX. Essas ideias seriam como um
antídoto para sanar o problema da mestiçagem no Brasil – embranquecendo o
país, tornando-o mais parecidos com as nações europeias desenvolvidas e
combatendo comportamentos que acentuavam a degeneração da nação, como
alcoolismo, o vício em jogos, a lascívia e a loucura. Dentre os métodos
oferecidos pela eugenia para embelezar e aprimorar a não maculada pela
mestiçagem, estavam o escotismo e aulas de educação física, práticas que
372
deveriam ser incentivadas desde a infância, já nas escolas. Nesse momento o
governo também demonstra uma grande preocupação com a educação, como
uma forma de educar os jovens para uma nação forte e desenvolvida.
A mulher que garantia sua saúde física e a saúde física de sua prole
estava, portanto colaborando com o futuro da nação. A preguiça e as doenças
eram questões que preocupavam o governo brasileiro, durante a primeira metade
do século XX as preocupações médicas e sanitárias fizeram com que a saúde se
tornasse uma questão política e moldaram a identidade brasileira.9
Conclusão
9
Para aprofundar na questão da saúde na primeira república ver Noé Freire Sandes,
Nação, políticas de saúde e identidade, 2002.
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10
Herschmann e Pereira no livro A invenção do Brasil Moderno; Medicina, educação
e engenharia nos anos 20-30, explicam como a modernização no Brasil aconteceu pelo
viés da educação, da ciência e da engenharia.
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11
31 de Janeiro de 1298.
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mulher, como explica Oscarlina, ‘‘nos nossos dias já não é um ser inútil à
sociedade e à senda literaria; ella quer lutar, quer ser proveitosa ao seu paiz’’.12
REFERÊNCIAS
12
30 agosto de 1929.
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DE LUCA, Tania Regina. Fontes impressas, história dos, nos e por meio dos
periódicos. In: PINSKY, Carla Bassanezi (Orgs). Fontes Históricas. 2.ed., São
Paulo: Contexto, 2008.
PEDRO, Joana Maria Pedro (Org.). Nova história das mulheres no Brasil. São
Paulo: Contexto, 2012.
PINSKY, Carla Bassanezi; PEDRO, Joana Maria. (Orgs.). Nova história das
mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2013.
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PRIORE, Mary Del (Org.). História das Mulheres no Brasil. 9ª ed. São Paulo:
Contexto, 2009.
TADDEI, Angela Maria Soares Mendes. Notas sobre a obra A Pátria (1919),
de Pedro Bruno. Revista CPC, São Paulo, n. 10, p. 193-205, maio/out 2010.
Acesso em agosto de 2016. Disponível em:
http://www.revistas.usp.br/cpc/article/view/15666/17240.
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*
UFPR.
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Ela lançava seus livros através do esquema de comissão, pelo qual ela
arcava com os custos dos exemplares, caso não fossem vendidos. Seu primeiro
romance, Razão e Sensibilidade, esgotou na primeira edição, em 1811, lhe
rendendo um pagamento não muito grande, mas suficiente para ela seguir nessa
carreira, pois via no mercado editorial uma fonte de renda, rompendo com a ideia
de que ela não era profissional (MOURA, 2015). Apesar de isso ter se tornado
seu sustento, enquanto viva, suas obras nunca alcançaram muito sucesso nas
379
vendas. Só foi vista como uma grande escritora a partir de 1870, com a
publicação de “Memoir of Jane Austen”, pelo seu sobrinho James Edward
Austen-Leigh, que deu visibilidade para a figura e as memórias da sua tia, o que
permite uma reflexão acerca do reconhecimento de Jane Austen ter começado
através da escrita de um homem e não pela sua própria escrita, indicando como
o paternalismo sempre foi determinante em sua vida. Foi em meados do século
XX, com uma crítica do professor D. W. Harding, em 1940, que a escritora
entrou para o hall dos nomes da literatura inglesa, permanecendo assim até hoje
(MOURA, 2015).
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Além disso, esse modelo nos apresenta uma outra perspectiva da história
literária; uma vez que situa tanto as escritoras individualmente (e suas
particularidades biográficas, sentimentos, impressões) como também os diversos
períodos em que suas obras se encontram – e as diversas relações que se pode
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como parte do centro de atrações da literatura, mas sim como pessoas que sempre
estariam atrás dos homens. Sempre seriam inferiores.
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da sua vida. Jane, irmã mais velha de Elizabeth, poderia ser identificada
possivelmente como um “anjo do lar”, pois é retratada como uma moça boa,
doce, calada, educada, com grande amabilidade para com as crianças. Entretanto,
na construção da trajetória de Jane, Austen deixa claro que corresponder a esse
estereótipo não seria garantia de felicidade, ao contrário do que era pregado em
outras obras. Pois é consequência da passividade de Jane, de sua reserva e
discrição, seu recato, que a personagem é afastada de seu amado na metade do
386
romance, e até praticamente as últimas páginas do livro sofre por essa separação.
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Jane Austen parece “cree que las mujeres han estado aprisionadas de
forma màs efetiva por la mala educación que por las paredes” (GILBERT;
GUBART, 1998, p.147). Essa “educação ruim” que trata Austen nos romances
387
é a educação presente em livros didáticos destinados às mulheres, referenciados
por Gubart e Gilbert (1998), que estabeleciam as normas de comportamento que
deviam seguir filhas da Inglaterra. Segundo Maria Clara Pivato Biajoli (2013) o
escracho cômico das falas e das atitudes da personagem Mary Bennet, que tenta
sempre parecer muito instruída segundo as normas destes manuais, é uma crítica
a esse didatismo fervoroso, e no sentido racional, vazio.
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Segundo Nara Luiza do Amaral Dias (2015), essa oposição entre o ideal
de mulher pregado pela sociedade do final do século XVIII e inicio do XIX e a
concepção de Jane Austen sobre o papel e os direitos das mulheres está bem
definida no confronto da heroína Elizabeth com Lady Catherine, membro da
aristocracia (DIAS, 2015). Lady Catherine seria a personagem que por
excelência poderia ser intitulada de a guardiã da moral e bons costumes. Não só
ela estaria de acordo com os padrões de gênero como seria uma das suas grandes
defensoras. É valido ressaltar que esta figura é uma das antagonistas, se não a
maior, de Orgulho e Preconceito. Em vários momentos Elizabeth vive
momentos conflituosos com essa nobre, mostrando o seu descontentamento, e,
portanto, o descontentamento de sua autora, em relação ás concepções
conservadoras que permeavam os pensamentos de Lady Catherine sobre as
mulheres.
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vezes esse espaço foi mal interpretado, por vezes “despolitizado”, como afirma
Biajoli (2014) no título de seu artigo. Em outro texto seu, esta autora foi enfática
em relacionar a perda do caráter crítico da obra de Austen com a sua crescente
popularidade e adaptação para outros meios de entretenimento que passaram a
veicular as suas obras como simples histórias de amor. (BIAJOLI, 2013).
Todavia, como esse trabalho procurou demonstrar com uma breve análise das
personagens de Orgulho e Preconceito, o lugar de Jane Austen sempre foi o de
389
crítica, tanto da cultura de gênero da sua sociedade quanto da literatura em que
se apoiava nessa cultura.
REFERÊNCIAS
Fonte Primária:
Austen, Jane. Orgulho e preconceito. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
Referências bibliográficas:
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Licenciada em História e Mestranda do Programa de Pós-graduação em História da
Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), bolsista CAPES. Email:
brenapinto@yahoo.com.br
1
Dados do TSE, referentes às eleições de 2014. Disponível em:
http://www.tse.jus.br/hotsites/catalogo-publicacoes/pdf/relatorio_eleicoes/relatorio-
eleicoes-2012.pdf. Acesso em: 23 de setembro de 2016.
2
Feira de Santana: Jornal Feira Hoje, 27 de março de 1976, p. 02.
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3
SILVA, Perolina da Costa Pinto. Memória de uma menina risonha. Salvador: EGBA,
2013.
4
COSTA, Ana Alice Alcântara. As donas no poder. Mulher e política na Bahia.
Salvador: NEIM/UFBA – Assembleia Legislativa da Bahia, 1998.
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5
PERROT, Michele. Mulheres públicas. São Paulo: Fundação Editora da UNESP,
1998, p. 38.
6
Ibidem, p. 41
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7
SOIHET, Rachel. Feminismos e antifeminismos. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2013, p. 124
8
PINTO, Céli Regina Jardim. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo: Ed.
Fundação Perseu Abramo, 2003, p. 43.
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9
PINTO, 2003, p. 45
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10
BUTLER, Judith. Problemas de Gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio
de Janeiro, Civilização Brasileira, 2003, p. 23
11
SILVA, Adriana de Oliveira. Damas da sociedade: caridade, política e lazer entre
mulheres de Itabuna (1924 – 1962). (Dissertação de Mestrado). Universidade Estadual
de Feira de Santana, 2012, p. 19
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12
SILVA, 2012, p. 18.
13
SOUZA, Amós da Cruz. Comemorações e fotografias: práticas de inovação
pedagógico-cultural e os afro-brasileiros na Escola Maria Teófila – Amélia Rodrigues
– Bahia. (Dissertação de Mestrado). Universidade Estadual da Bahia: 2007, p. 114.
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Em entrevista recente, Sr. Mário Souza ressalta que a educação foi uma
das prioridades da sua gestão, embora observa-se que nesse período a referência
que se tinha em “pensar educação” no município estava limitado, quase sempre,
na construção de prédios, ainda que houvesse nacionalmente um debate mais
amplo em torno dessa temática:
Minha prioridade, que era o pedido do povo, era o estádio, né?
Todo mundo precisava, o estádio, tal... E o colégio! Lembro
que nós fizemos o [Colégio] Arlete Magalhães, dei uma ajuda
muito grande nesse [Colégio] Navarro de Brito, fiz diversas
salas, e aquele que hoje é [o Colégio Antônio] Pinto... na
época a gente tinha Berimbau que tinha o colégio, e nós não
tínhamos nada! Então ai, o resultado...15
14
Feira de Santana, Jornal: Feira Hoje, 27 de março de 1976 (sábado), p. 02.
15
Depoimento de Mário do Nascimento Souza. Entrevista concedida em 09/06/2015,
em Amélia Rodrigues-BA
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16
SOUZA, 2007, p. 15
17
Depoimento de Marli Arão. Entrevista realizada em 11/05/2016, em Amélia
Rodrigues/Bahia.
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18
SOUZA, 2007, p. 15
19
CÂMARA DE VEREADORES DE AMÉLIA RODRIGUES. Ata das sessões.
Amélia Rodrigues: 31 out 1963.
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20
CÂMARA DE VEREADORES DE AMÉLIA RODRIGUES. Ata das sessões.
Amélia Rodrigues: 11 de outubro de 1979.
21
CÂMARA DE VEREADORES DE AMÉLIA RODRIGUES. Ata das sessões.
Amélia Rodrigues: 18 de outubro de 1979, p. 21v.
ISBN: 978-85-65957-07-6
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22
Depoimento de Marli Arão. Entrevista realizada em 11/05/2016, em Amélia
Rodrigues-BA
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23
RODRIGUES, Andréa da Rocha. A Infância Esquecida: Salvador 1900-1940.
Salvador: EDUFBA, 2003, p. 101.
24
JESUS, Jeovane de. O vírus vermelho e o terço na ponta do fuzil: cristãos amelienses
entre fé e política (1965 – 1985). (monografia de conclusão de curso). Universidade
Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, 2013, p. 21
25
Depoimento de D. Alaíde Paim das Virgens. Entrevista concedida em 26/04/2013,
em Amélia Rodrigues-BA.
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26
OLIVEIRA, 2012, p. 16
27
OLIVEIRA, 2012, p. 17
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28
Depoimento de Mário do Nascimento Souza. Entrevista concedida em 09/06/2015,
em Amélia Rodrigues-BA
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29
Depoimento de D. Alaíde Paim das Virgens. Entrevista concedida em 26/04/2013,
em Amélia Rodrigues-BA.
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30
Depoimento de D. Alaíde Paim das Virgens. Entrevista concedida em 26/04/2013,
em Amélia Rodrigues-BA.
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REFERÊNCIAS
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Rio de Janeiro, 27 e 28 de outubro de 2016.
REIS FILHO, Daniel Aarão. 1968, a paixão de uma utopia. Rio de Janeiro:
Espaço e Tempo, 1988.
RODRIGUES, Andréa da Rocha. A Infância Esquecida: Salvador 1900-1940.
Salvador: EDUFBA, 2003
SILVA, Adriana de Oliveira. Damas da sociedade: caridade, política e lazer
entre mulheres de Itabuna (1924 – 1962). (Dissertação de Mestrado).
Universidade Estadual de Feira de Santana, 2012.
409
SOIHET, Rachel. Feminismos e antifeminismos. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2013.
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*
Bolsista pós-doc do PPGAS/UNB pela FAPEG/CAPES, Professora do Programa de
Pós-Graduação em História/Faculdade de História da Universidade Federal de Goiás,
Coordenadora do GT Regional de Gênero - Seção Goiás, Coordenadora do Grupo de
Estudos e Pesquisas em Gênero/FH-UFG/CNPq. Email: anacarolinaufg@gmail.com
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413
Neste trabalho analiso algumas seções selecionadas tais como: “Os bons
livros”, Cada qual como Deus o quer”, “A missão da mulher”, “A exibição”, “O
cinema” e “Pequenas flores de todos os dias” de maneira a articular o contexto
histórico vivenciado na América Latina – de um discurso de recrudescimento
dos movimentos sociais feministas pós-segunda guerra mundial – para
compreender porque bons livros, cuidado com o cinema e virtudes precisam ser
ensinadas reforçadamente às boas mulheres brasileiras.
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415
A empatia deveria vir também do fato de ter sido uma mulher quem
escreveu tais conselhos. E não qualquer mulher, mas uma mulher estrangeira.
Não consegui localizar nenhuma biografia de Clotilde Massa, mas foi possível
apreender que ela era italiana e que foi bastante atuante no mundo literário, tendo
traduzido uma série de livros tais como “La Casa de Enrico Bordeaux” para a
editora Pia Societtá San Paollo (sucursal da Edições Paulinas) e escrito um
romance intitulado “Il Cavaliere dei Sogni”. Era portanto, uma mulher, escritora,
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que preconizava uma fala cristã moralizadora com cavaleiros dos sonhos. Cabe
um questionamento: ela existiu de fato ou foi um homem que se utilizou desse
pseudônimo para aproximar-se do público feminino? São as questões da edição,
levantadas por Roger Chartier, que se colocam preementes aqui. No livro
aparece um prefácio do tradutor, mas esse não assina seu escrito. Se Clotilde
Massa existiu recai no que Michelle Perrot aponta como o esquecimento ou o
apagamento de uma história das mulheres, uma vez que seus livros, suas
416
traduções e seus escritos estão espalhados e sem nenhuma informação
catalogada a respeito1. Se ela era um pseudônimo masculino, recai o mistério da
autoria. Nesse sentido, os estudos de Roger Chartier apontam as questões que
recaem sobre a edição e a noção de autoria. O livro passa a ser uma obra
apropriada pela editora que, através de sua filosofia católica cristã, dissemina
uma maneira certa de comportamento, mas simultaneamente pertence a uma
autora – mulher e bastante atuante para a editora da Società di San Paolo, ou
seja, uma representação da boa mulher educada dentro dos moldes cristãos.
Representação, segundo Chartier, pensada quer como algo
que permite “ver uma coisa ausente”, quer como “exibição de
uma presença” (...) Se a noção de representação é vista por
Chartier como a “pedra angular” da Nova História Cultural, o
conceito de apropriação é o seu “centro”. (...) Chartier afirma
que o objetivo da apropriação é uma “uma história social das
interpretações, remetidas para as suas determinações
fundamentais”, que, insiste o autor, “são sociais,
institucionais, culturais”. (VAINFAS In: CARDOSO e
VAINFAS, 1997, p. 154)
1
Em contato telefônico com a Editora Paulinas e Editora Paulus fui informada que não
há nenhum registro da existência dos livros e da autora nos catálogos da editora. Acesso
realizado em 02 de Março de 2015.
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Mas, “Cada qual vai como Deus o quer”, como nos diria Clotilde e assim
valia mais a mulher que cuidava não apenas de sua aparência externa, mas do
espírito, lendo bons livros, sendo prendada para as tarefas domésticas e
aprendendo a ser uma boa esposa, mãe e cidadã.
A missão da mulher na família é principalmente a de semear
a paz ao redor de si. Cabe a mãe apaziguar as contendas entre
os pais e filhos; à filha aplainar as dificuldades entre os pais,
à irmã, manter o equilíbrio entre os irmãos” (MASSA,1954,
p. 59)
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É preciso pensar que a história que se narra no pós-guerra não inclui essas
“adequações” aos sentidos das boas moças, porque houve uma naturalização
dessa fala no cotidiano. Essa aqui é uma história das mulheres no feminino. É a
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narrativa de uma mulher que procura doutrinar outras mulheres a agir da maneira
que ela e um grupo religioso inteiro consideravam corretos. Um grupo bastante
hegemônico na América e no Brasil e que conseguiu de várias maneiras moldar
as subjetividades de milhares de moças que acreditavam que deveriam pensar,
agir, sentir e viver daquela maneira para serem felizes. É a atuação do poder
simbólico na história para a construção de uma pedagogia de sentimentos2.
Temo arriscar que leio uma obra de 1950 que poderia facilmente ter sido
escrita em na primeira década do ano 2000. Inúmeros são os sites, blogs e livros
que se disseminam, tais como a “a Bíblia da Mulher” que reproduzem ad
infinitum esse mesmo discurso moralizador. Claro, estamos em outros tempos e
2
Sobre esse conceito ver: Ana Carolina Eiras Coelho Soares. Moça Educada. Mulher
Civilizada, Esposa Feliz: Relações de Gênero e História em José de Alencar. Bauru:
EDUSC, 2012.
3
Essa é uma discussão muito intensa, ver: SCOTT, JOAN W. Os usos e abusos do
gênero. Tradução: Ana Carolina Eiras Coelho Soares. Projeto História, São Paulo, n.
45, pp. 327-351, Dez. 2012.
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outros discursos convivem com esses. Mas há ainda muita luta pela frente.
Escrevo pensando nas gerações futuras de mulheres latinas: Que nada as
detenham, que nada as conformem, que nada as diminuam!
REFERÊNCIAS
Fonte:
420
MASSA, Clotilde. Uma delícia por dia. São Paulo: Editora Paulinas, 1954.
Bibliografia:
MATOS, Maria Izilda S. de. Por uma História da Mulher. São Paulo: EDUSC,
2000.
PINSKY, Carla B. Mulheres nos Anos Dourados. São Paulo: Contexto, 2014.
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SCOTT, Joan W. Gender and the Politics of History. Revised Edition. New
York: Columbia University Press, 1999.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil para análise histórica. Recife: SOS
CORPO, 1991.
WOLF, Naomi. Promiscuidades, a luta secreta para ser mulher. Rio de Janeiro,
Rocco, 1998.
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Introdução
422
Se pretende com esta pesquisa, conhecer a representação do corpo
feminino e o prazer na literatura erótica escrita por mulheres brasileiras e
colombianas, porque como acontece na sociedade patriarcal, um importante
espaço público historicamente tem sido ocupado principalmente por atores do
sexo masculino, é claramente separada da participação da mulher no espaço
público (STERN, 1999).
*
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Objetivos
423
Analisar a representação do corpo feminino e o prazer na literatura
erótica escrita por escritoras brasileiras e colombianas na metade do século XX.
Objetivos específicos
Metodologia
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Fontes de investigação
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Marco conceitual
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en la vida femenina durante la primera mitad del siglo XX, mostra o lar e o
trabalho, como cenários de mudanças na vida das mulheres.
Sobre o tema do corpo das mulheres, até o que se tem pesquisado, estão
as historiadoras brasileiras como Mary Del Priore em sua obra, A História das
mulheres no Brasil conta a trajetória das mulheres desde o Brasil colonial.
Ademais, em Histórias Íntimas – Sexualidade e Erotismo na História do Brasil,
mostra como a sexualidade e a idea de intimidade foram mudando ao longo do
426
tempo, por questiones políticas, económicas e culturais. O livro História do
Corpo no Brasil, vários historiadores brasileiros se referem em seus artigos ao
corpo nu, corpo e santidade, esterilidade, o corpo sedento, corpo morto, vestindo
o corpo, a cólera, suicídio, higiene, o corpo no jornal malicioso, corpo infantil
entre outros. Magali Engel em seu artigo Psiquiatria e feminidade, mostra
repressão dos corpos sujeitos de desejo sexual.
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1
Até agora, ainda falta caracterizar muito bem esta parte respeito ao contexto, como
também delimitar bem as escritoras colombianas.
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A mulher e o prazer
corpo feminino. “La vida urbana requería de un cuerpo veloz, ágil ligero y que
se moviera con soltura, de ahí el porqué de los médicos recomendaran la
práctica de ejercicios físico y de deportes, considerados como hábitos
saludables. El culto al cuerpo se dispersaba con la fotografía y el cine
americano, este presentaba un nuevo modelo de belleza femenina, en el segundo
la gordura vista como algo feo e insalubre”. (Silva, 2012).
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Conclusões
REFERÊNCIAS
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DEL PRIORE, Mary. História das mulheres no Brasil. Editora Contexto, São
Paulo, 1997.
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MORANT, Isabel. Historia de las mujeres en España y América Latina. Vol. III
Del siglo XIX a los umbrales del XX. Ediciones Cátedra. Madrid. 2005.
PERROT, Michelle. Escribir la historia de las mujeres: una experiencia francesa 433
En: Las relaciones de género. Ed. Marcial Pons, Madrid, 1995, pp. 67/84.
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SILVA Souza, Francisco das Chagas. RESENHAS. Mary Del Priore Histórias
íntimas: sexualidade e erotismo na história do Brasil. Web oficial de Scielo
Cadernos de Pesquisa. Vol. 42, nº 146, São Paulo. May/Aug., 2012. Disponível
em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-
15742012000200018&script=sci_arttext
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Poder
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Prof. Dr. Getúlio Nascentes da Cunha
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Introdução 436
Mais que elencar esses pontos de virada no sentido político, cultural e/ou
teórico social a proposta aqui é encontrar nos discursos que Laerte faz de si
mesmo, por meio de entrevistas concedidas à programas de televisão, indícios
de subversões de locais comum no que tange à sexualidade. Em outro texto,
Foucault (2006) mencionará a sexualidade como uma espécie de super saber
social ao passo que há uma ignorância no âmbito privado. Stuart Hall (2007) ao
recuperar os momentos históricos sociais que desembocaram no sujeito pós-
moderno menciona as lutas do movimento feminista, que estouraram em 1970,
como um processo político onde há uma ruptura entre como deveria ser tratado
a sexualidade em âmbitos públicos e privados, já que através desses
movimentos, segundo o autor, não há mais essa distinção.
*
Graduado em Comunicação Social: Publicidade e Propaganda (Faculdade
Araguaia/GO), Mestrando em Comunicação, Mídia e Cultura – Linha de Mídia e
Cultura (FIC/UFG). Email: mayllon.lyggon@gmail.com
**
Graduado em Comunicação Social: Jornalismo (Universidade Federal de Goiás),
Mestrando em Comunicação, Mídia e Cultura – Linha de pesquisa Mídia e Cultura
(FIC/UFG). Email: weber.imprensa@gmail.com
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Antes de começar, porém, e por mais que esse não seja o foco desse
trabalho, é preciso que se faça resumidamente o percurso teórico-histórico a
respeito da sexualidade, tal como Foucault expressará em seu livro isso servirá
para localizar a análise proposta e proporcionar um escopo necessário para se
falar de sexualidade sob a perspectiva do não-lugar do Laerte. 437
O que Foucault vem falar, e é isso que torna também o seu trabalho tão
relevante e importante, é que em “em torno do sexo há uma verdadeira explosão
discursiva”, porém, deixe-se claro há também “uma depuração do vocabulário
autorizado”. Isso porque o sexo e a sexualidade, enquanto dispositivos, sempre
estiveram ligados a outros dispositivos, como a confissão dos pecados e a Igreja.
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próprias linhas. Essa linha diz respeito à dimensão do Si Próprio, que seria,
segundo o autor
não uma determinação preexistente que se possa encontrar já
acabada. Pois também uma linha de subjetivação é um
processo, uma produção de subjetividade, num dispositivo:
ela está para se fazer, na medida em que o dispositivo deixe
ou torne possível. É uma linha de fuga. Escapa as outras
linhas, escapa-lhes. O ‘Si Próprio’ não é nem um saber, nem
um poder. É um processo de individuação que diz respeito a
grupos ou pessoas, que escapa tanto às forças estabelecidas
como os saberes constituídos: uma espécie de mais-valia. Não 440
é certo que todo dispositivo disponha de um processo
semelhante (DELEUZE, 1996, p. 86-87).
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se fazer. Mais do que isso, uma forma de aceitar a sua própria condição outrora
marginalizada. Segundo Guacira Louro (2006)
a expressão, repetida como xingamento ao longo dos anos,
constituiu-se num enunciado performativo que fez e faz
existir aqueles e aquelas a quem nomeia. Performatividade
instituiu a posição marginalizada e execrada. A posição que
teria de ser indesejada. No entanto, virando a mesa e
revertendo o jogo, alguns assumiram o queer, orgulhosa e
afirmativamente, buscando marcar uma posição que,
paradoxalmente, não se pretende fixar. Talvez fosse melhor
dizer buscando uma disposição, um jeito de estar e de ser. 441
Mais do que uma nova posição de sujeito ou um lugar social
estabelecido, queer indica um movimento, uma inclinação.
Supõe a não-acomodação, admite a ambiguidade, o não-lugar,
o trânsito, o estar-entre. Portanto, mais do que uma
identidade, queer sinaliza uma disposição ou um modo de ser
e viver (LOURO, 2006, p. 45).
1
A distinção entre gênero e sexo foi uma alternativa encontrada por Simone de Beauvoir
(e uma parcela considerável das feministas/pesquisadoras) encontraram para dar um
estatuto ao gênero como objeto de estudos sociais. Butlher (2000), via Foucault (2012),
percebe que o sexo também não é algo exclusivamente biológico. Com a História da
Sexualidade: A vontade de saber pode-se perceber que inclusive o sexo (objeto de
estudo na biologia) se valeu de discursos para ser edificado. Ou seja, ele não é somente
biológico, mas uma construção histórica e política. Neste sentido, a dicotomia
sexo/gênero, encontra-se superada pelo estudo do gênero em Butler. Para ela,
precisamos nos desvencilhar do primado do natural, do biológico. Não existiria algo
somente cultural, mas sempre discursivo, histórico e político. Essas construções
históricas e políticas encontram-se naturalizados. Ou seja, aquilo que é, no fundo,
construção passa a ser considerado natural, é naturalizada. As construções científicas,
os fatos científicos se tornam fatos sociais por esses processos de naturalização.
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2
Stuart Hall (2012) recupera Deleuze, a afirmar que identidade é um conceito sob-
rasura, ou seja, é um conceito que não tem mais a capacidade de descrever os processos
históricos em que estamos inseridos, porém que não possui um novo termo/conceito que
possa expressa-lo. Os estudos queers, como vimos com Guacira Louro (2006), aponta
para um pós-identitário, que seria um processo onde as identidades conhecidas e
instituídas já não são mais suficientes para abarcar, no que tange à sexualidade, alguns
indivíduos que estão à margem e desfrutam dessa condição marginal (GAMSON, 2002).
Por esse motivo e com essa ressalva ainda utilizamos o termo identidade e seus
derivados.
3
Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=QmEGgs5yWCE&feature=youtu.be. Acesso em:
25 de Agosto de 2016
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SBT4, em que foi entrevistado pela jornalista Marília Gabriela para o programa,
já extinto, “Gabi quase proibida”. As duas exibições foram acolhidas como
objeto de análise porque elas enfocaram a construção do sujeito Laerte Coutinho,
apresentando elementos suficientes para este estudo. Quanto à eleição por um
material audiovisual deveu-se exclusivamente por dois motivos. Primeiro,
porque as duas emissoras de TV têm um alcance expressivo junto ao público
brasileiro e segundo, porque a veiculação de imagens corrobora para a
445
compreensão discursiva desse corpo em trânsito, já que ele traz em si elementos
de constituição e visualização do ser.
4
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=7_arzOEb5GI. Acesso em: 25 de
Agosto de 2016.
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Manhães (2009) nos ensina que o sujeito deixa suas marcas no discurso
e é a partir desses indicadores que os analistas podem acessar o discurso e
compreender, dessa forma, sua construção e seus sentidos. “Ao se apropriar da 447
linguagem e construir um discurso, o sujeito deixa pegadas que nos permitem
identificar sua presença e o modo como foi construindo o enunciado” (p. 313).
O autor complementa ao dizer que a desconstrução de um discurso permite
descobrir a posição do sujeito daquela ação, suas intencionalidades e qual
contexto social o enunciado fora produzido para ser compreendido de uma
maneira e não de outra.
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que Laerte faz entre os campos do masculino e do feminino. Ao longo das duas
entrevistas percebemos que ele utiliza-se de termos dos dois gêneros para referir-
se a si mesmo. Há de forma recorrente o uso de termos femininos: “É, mais
feminina”, “assediada”, “autora”, “eu mesma”, “mijava sentada”, “que nem uma
louca”. Mas, em outros momentos o masculino aparece: “estou vestido” e “eu
mesmo” e em outros a dupla personalidade também é observada: “no papel de
avó” quando ele é perguntado sobre como vai ser tratado agora que ganhará um
448
neto, o quadrinista insiste que essa classificação pode ser usada quando no plural
abarcando as duas identidades, a masculina e a feminina. Mas, também quando
ressalta o uso do seu nome (Laerte) que pode ser usado para referir-se tanto a um
homem ou a uma mulher. É processual, entre os/as transexuais, enquanto sujeitos
que se consideram no corpo errado e sentem repulsa das genitálias, a troca de
nome enquanto um aproximar-se mais do sujeito do devir, alguém que vai se
tornar. Questionado por um telespectador, através da Marília Gabriela, sobre
uma possível troca de nome e também sobre já estar usando o nome Sônia, Laerte
responde: “Eu usei esse nome, Sonia, e durante um tempo eu pensei realmente
em adotar uma identidade de Sonia, identidade claramente feminina, mas eu
gosto de Laerte, gosto do meu nome. Trabalho com ele, ele faz parte do meu
(risos) patrimônio cultural e existe uma senhora Laerte” (COUTINHO, 2013).
5
O próprio Laerte não se posiciona no seu discurso todo o tempo como ele ou como
ela. Dado que o problema discurso em torno do sexo e gênero não possui, ainda, uma
linguagem possível e Elx não é pronunciável faremos um percurso em que ora
utilizaremos o seu nome, ora utilizaremos pronomes no masculino e ora pronomes no
feminino.
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como uma gaiola, uma prisão, construída com base na congruência do “sexo
biológico, identidade de gênero e orientação sexual”, e isso é uma coisa que não
faz sentido (COUTINHO, 2012). Já em outro momento ele afirma que “Eu quero
ser a mulher que eu possa ser. Eu quero ser uma mulher possível, néh! Uma falsa
mulher possível. Eu quero continuar sendo eu” (COUTINHO, 2012, grifo
nosso). Sobre esse assunto ele o cartunista ainda transita entre o biológico
feminino e o masculino quanto a expressão corporal, uma vez que se cogita em
450
fazer uma cirurgia para implantação de seios, mas não a retirada da sua genitália
masculina, o que evidencia traços de duas identidades coabitando o mesmo
corpo.
Aqui, ela assume a sua posição, mas uma mulher falsa, sua proposta
não é emular uma mulher com uma constituição biológica, mas uma mulher
possível, característica por ter nascido com configuração biológica masculina,
mas que durante a sua vida se descobriu mulher, uma mulher que ainda é homem,
mas que também é mulher, que se comporta como mulher, o que ousaremos
chamar de mulher em trânsito. Seu sexo/gênero aqui é como dissemos, através
da Butler (2000) anteriormente, pautado na contingência, numa
performatividade utilizada e aproveitada conforme a sua necessidade, não se
atendo às convenções sociais estabelecidas pelo dispositivo da sexualidade.
Tanto que, em outro momento ele expressará: “Eu posso querer ser uma mulher,
mas eu sou Laerte. Vou ser sempre isso. Mulher ou homem vou ser sempre essa
pessoa” (COUTINHO, 2013).
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REFERÊNCIAS
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Introdução
*
Mestranda em Língua e Cultura e Monitora de Espanhol – UFBA; Bacharel em Direito
– UCSAL; Lic. Língua Portuguesa e Literaturas afins – UNOPAR; Técnica em Pesquisa
no Programa de Pós Graduação em Direito à saúde, Direitos Humanos e Direito à
família - PPGDSDHF– UCSAL/CNPq.
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Vários autores fazem alusão ao poder institucional que se exerce sobre 463
os indivíduos no ambiente escolar, trazendo reflexões de grande importância
para a produção científica e para as mudanças de paradigmas na sociedade e na
escola, afirma Louro (1999) a seguir:
na escola, pela afirmação ou pelo silenciamento, nos espaços
reconhecidos e públicos ou nos cantos escondidos e privados,
é exercida uma pedagogia da sexualidade, legitimando
determinadas identidades e práticas sexuais, reprimindo e
marginalizando outras”. (LOURO, 1999, p. 31).
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1
O cartaz consta de seis itens, cujo conteúdo pode ser conferido na íntegra na página:
http://www.programaescolasempartido.org/ consultada no dia 31/07/2016.
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têm dos professores se mostra mais otimista que a de Durkheim. Para estes
autores:
O professor como sujeito que não reproduz apenas o
conhecimento pode fazer do seu próprio trabalho de sala de
aula um espaço de práxis docente e de transformação humana.
É na relação refletida e na redimensão de sua prática que o
professor pode ser agente de mudanças na escola e na
sociedade. (LIMA E GOMES, 2002, p. 169).
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Considerações finais
2
Mészáros, István. A educação para além do Capital. 2ª ed. São Paulo: Boitempo, 2008.
3
_________ (p.45).
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470
REFERÊNCIAS
4
Morin (1996b, 1991c)
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MARX, C.; ENGELS, F. A ideologia alemã. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
472
MACHADO, da S. A. C. Virtualização das representações identitárias. Revista
Educação e Realidade. 26(1) pag. 115-123. Janeiro/Junho. 2001.
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POSSENTI, S. Ser ou não ser, eis a questão. Revista Educação e Linguagens, 473
Campo Mourão, v. 5, n. 8, jan./jun. 2016.
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*
Mestrando em História (PPHR/UFRRJ/CAPES). E-mail: natanaelfreitass@gmail.com
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1
Professor, fundador e diretor do Centro para o Estudo dos Homens e Masculinidades
em Long Island, Nova York e é criador e editor da revista acadêmica Men and
Masculinities (http://jmm.sagepub.com/).
2
BENNETT, Jessica. Estudos da masculinidade ganham força acadêmica. FOLHA.
05/09/2015. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2015/09/1677524-estudos-da-
masculinidade-ganham-forca-academica.shtml>. Acessado em 03/08/2016.
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3
Cf: PERROT, Michelle. Os excluídos da história. RJ: Paz e Terra, 1988.
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4
Sobre as chamadas “ondas” do feminismo, ver: PEDRO, Joana. Traduzindo o debate:
o uso da categoria gênero na pesquisa histórica. História, São Paulo, v.24, n.1, p.77-98,
2005; PEDRO, Joana. Narrativas fundadoras do feminismo: poderes e conflitos (1970-
1978). Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 26, n. 52, p. 249-272, 2006.
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falar das práticas das mulheres no passado e no presente e para propor novas
possíveis interpretações inimagináveis na ótica masculina” (RAGO, 1998:92).
5
Cf: CONNELL, Raewyn. Masculinities. Disponível em:<
http://www.raewynconnell.net/p/masculinities_20.html >. Acessado em 04/08/2016.
Desde 2007, as obras de Robert Connell passaram a ser publicadas sob a assinatura de
Raewyn Connell, mulher transexual, socióloga e professora da Universidade de Sydney,
na Austrália. Por isso, ao longo do texto sempre irei me referir à Connell pelo pronome
feminino.
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6
Cf: CAMPANA, Angela Nogueira Neves Betanho, et al. Drive for Muscularity: Um
Estudo Exploratório no Exército Brasileiro. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Vol. 30, n.
2, p. 213-222, Abr-Jun 2014.
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7
Bourdieu, em A Dominação Masculina (2002), vai dizer que a mesma é uma expressão
particular de violência simbólica que inscreve nos corpos e nos sistemas cognitivos dos
indivíduos uma ordem social androcêntrica a partir de uma relação de forças que se auto
sustentam. No entanto, para o autor, se esse sistema está imbricado na linguagem, nas
instituições, na delimitação dos espaços e dos corpos, logo, ele entende que não há
espaço para mudança, agência do sujeito. Por isso, autores como o antropólogo
português Miguel Vale de Almeida (1995), que desconfia da universalidade da
dominação masculina, e o sociólogo francês Daniel Welzer-Lang (2004) que aponta
para a necessidade de buscarmos identificar os diferentes sentidos atribuídos a noção
violência entre os homens e entre as mulheres, vão sugerir outros caminhos para
pensarmos as relações de gênero e as masculinidades de modo dinâmico, irrequieto e
movediço.
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Considerações finais
8
Segundo O sociólogo Richard Miskolci (2012ª) e a psicóloga Jaqueline Gomes de
Jesus (2015), a heteronormatividade é a ordem sexual vigente, fundada no modelo
heterossexual, familiar e reprodutivo, entendida como característica de todo ser humano
“normal”. Desse modo, qualquer pessoa que não se adeque a esse padrão é considerada
“anormal”, o que justificaria sua marginalização.
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REFERÊNCIAS
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PERROT, Michelle. Escrever uma História das Mulheres. Cadernos Pagu (4),
p.9-28, 1995.
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TREVISAN, João Silvério. Seis balas num buraco só: a crise do masculino.
Rio de Janeiro: Record, 1998.
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Introdução
Sabe-se historicamente que o Estado brasileiro demonstrou uma
494
dificuldade aparente ao que diz respeito lidar com quaisquer manifestações que
não se estabelecessem em um determinado padrão, visto que estes desviantes
possuem uma dificuldade de inserção neste sistema bem como circular entre as
classes dominantes que gerem o Estado. Neste caminho é necessário então que
se percebam quais práticas que o Estado amplamente usou para manter a moral
e o padrão tal qual foram fundados e ainda deixar clara a necessidade de perceber
como a violência contra as pessoas LGBT’s faz parte de um processo que até
hoje é reelaborado e apresentado socialmente.
O texto ainda, na atualidade, é extremamente necessário pois permite
que se faça uma reflexão sobre o momento político atual da democracia
brasileira que está a se desfalecer. Além disso, existe uma clara ascensão de uma
direita ultraconservadora que impede o movimento LGBT de continuar a sua
luta por direitos e participação social nos rumos do país. Dessa maneira,
estabelecer as formas que o Estado propôs na ditadura é permitir a reflexão sobre
como a democracia e a sociedade de maneira geral conseguiu lidar com a questão
LGBT nos últimos 31 anos. Há de se perceber então que evidenciar estes
processos históricos é permitir explicar e refletir se há hoje um cenário
ligeiramente parecido com o da formação da primeira onda LGBT nos fins da
ditadura.
Para tais reflexões será necessário utilizar o jornal Lampião da Esquina
1978 -1981 com o intuito de expor as denúncias das mais diversas violências
tanto do estado quando da sociedade para com a comunidade LGBT durante a
*
Graduando em História pela Universidade Federal de Goiás – Regional Catalão e
integrante do Grupo DIALOGUS ( Estudos Interdisciplinares em Gênero, Cultura e
Trabalho), e-mail: rhaniellypereira@hotmail.com
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ditadura. Deste modo, estabelecer uma reflexão sobre as recentes notícias que
envolvem a violência a este grupo tendo como base o momento e o processo de
luta do movimento LGBT.
O Lampião em cena
1
A este ponto procurou-se utilizar o termo correto para a época visto que a discussão
da transexualidade não havia ainda sido discutida nem pensada pelo movimento que
define a primeira onda.
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502
Desse ponto em diante fica clara a institucionalização da lgbtfobia a
partir dessas táticas de violência e repressão com as retiradas das oportunidades
de acesso ao trabalho, a educação e a socialização dos indivíduos da futura
comunidade LGBT. Como um último processo ainda de exemplificação da
retirada dos direitos das pessoas deste grupo o relatório da Comissão também
nos informa a perseguição a 15 diplomatas do Itamaraty com a demissão destes
também por uma conduta homossexual.
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Na ditadura havia uma estrutura de uma ideologia conservadora que ainda parece
ser bem representada nos dias de hoje. Podemos citar a expulsão de um casal gay
que se beijava dentro de uma escola e a diretora nesse caso expôs:
Na conversa que o aluno teve com a diretora, que foi gravada
com um telefone celular, ela afirma que, para continuar na
escola, o jovem precisará passar pelo crivo de um conselho
formado por professores, estudantes com mais de 18 anos e
pais de alunos. De acordo com o que a diretora disse ao
garoto, a situação será avaliada e este conselho irá “julgar” se
ele deve, ou não, permanecer na escola. O veredito só será 504
dado quando o aluno retornar da suspensão, na próxima
quinta-feira, dia 9. (DIÁRIO DA UNIÃO, 2015)
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Conclusão
REFERÊNCIAS
CAZARRÉ M. Com 600 mortes em seis anos, Brasil é o que mais mata travestis
e transexuais. Agência Brasil. 2015. Disponível em
<http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2015-11/com-600-
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Rio de Janeiro, 27 e 28 de outubro de 2016.
mortes-em-seis-anos-brasil-e-o-que-mais-mata-travestis-e>. Acesso em 8 de
agosto de 2016.
DIÁRIO DA UNIÃO. Diretora suspende alunos gays após beijos em escola. 506
Sul21.2015. Disponível em :< http://www.sul21.com.br/jornal/diretora-
suspende-alunos-apos-beijo-gay-em-escola/ >. Acesso em 5 de agosto de 2016.
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Considerações iniciais
507
Não é de hoje que o Teatro, enquanto área do conhecimento, tem
demonstrado interesses por temas políticos e sociais. Seja na educação, na
dramaturgia, na montagem cênica e/ou performativa, a linguagem teatral é
utilizada para abordar, analisar e criticar diferentes concepções e conceitos
presentes em nossa sociedade. Augusto Boal, autor de grande referência na área
teatral, desenvolveu várias propostas engajadas nessa concepção. Dentre elas o
Teatro-Fórum. Trata-se de uma ação estético-pedagógica capaz de permitir aos
sujeitos envolvidos a possibilidade de refletir sobre as cenas do espetáculo e
intervir de maneira crítica e reflexiva.
*
Acadêmico do 2º período do curso de Educação Física da Universidade Federal de
Goiás/Campus Goiânia (FEFD/UFG); Especialista em Gênero e Diversidade na Escola
pela Universidade Federal de Goiás/Campus Catalão (GDE/UFG-RC); Graduado em
Artes Cênicas pela Universidade Federal de Goiás (EMAC/UFG); Graduado em
Geografia pela Pontifícia Universidade Federal de Goiás (PUC-GO).
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Somado a tudo que foi exposto, o trecho acima, de forma geral, retrata
a visão de que o Teatro-Fórum pode contribuir de forma significativa no
processo de formação do educando/a, sendo capaz de ampliar a percepção de
mundo dos envolvidos/as em relação às questões de gênero. Essa, de maneira
geral, é a leitura que tenho feito acerca do Teatro e de seu posicionamento
político no espaço escolar na (re)construção de conceitos estereotipados sobre
gênero. Nesse sentido, entendendo a multiplicidade da temática em âmbito
escolar, reforço a importância desse saber e fazer humano como facilitador
pedagógico para a discussão das questões que envolvem as relações de gênero.
Enquanto disciplina ou procedimento metodológico, é dever dessa área do saber
promover discussões pertinentes para a construção de conhecimentos valorativos
e, assim, revelar o seu papel intrínseco na formação do cidadão/cidadã.
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Personagens
ANINHA
CRISTINHA
JEFER
NARRADOR
PEDRO
TIELLY
PRÓLOGO
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CORO
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Entra as personagens batendo palmas, dançando e cantando a paródia da
música 'Xote da alegria' do grupo Falamansa.
É só vivermos em harmonia
E deixe de lado a tirania
Dance o xote da minoria ha he he... um dê run dê run dê
Caras pessoas grandes e caras pessoas pequenas. Esta é uma história que
aconteceu há muitos anos, mas também é uma história que continua acontecendo
todos os dias. A história daqueles que são vítimas e daqueles que são praticantes.
Prestem atenção, bastante atenção, pois você pode ser a próxima vítima ou quem
sabe é o praticante e nem sabe. Essa história aconteceu em uma escola onde nem
todos viviam felizes para sempre. Vou deixar que as personagens contem essa
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ANINHA
519
Misericórdia, nem jogar bola com os mano eu posso. Tudo nessa escola só posso
fazer o que esse povo diz. (Imitando alguém) Isso não é coisa de menina... Você
é mocinha e não pode... (Irritada) Háaaaaaaa eu estou cheia disso viu.
JEFER
O que foi Aninha, você está tão pra baixo hoje. Alguém te maltratou?
ANINHA
É isso não Jefer, eu tô cansada das pessoas dessa escola. Nunca me aceitam do
jeito que eu sou. E o pior é que nem me deixam fazer o que eu gosto. Nem jogar
futebol com os meninos eu posso.
JEFER
É isso não Aninha, é que eles não querem que você saia correndo pela quadra da
escola e acabe caindo e se machucando.
ANINHA
Deixa de lero lero Jefer. Se fosse assim, os meninos nem poderiam jogar também
porque iriam se machucar. Eu queria estar na sua pele pra poder jogar e ser feliz
sem ninguém ficar me criticando ou me impedindo de fazer as coisas.
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JEFER
Eu sei disso Aninha. Sou seu amigo e nós sabemos perfeitamente como é difícil
ser diferente num lugar onde nem tudo é aceito. Quem sabe um dia
encontraremos um lugar onde possamos ser aceitos do jeito que somos?
ANINHA
520
Éh, quem sabe?!
CRISTINHA
Ai que raiva daquela Aninha. Ela é toda machona... e ainda se acha a tal. Olhem
lá pra ela gente. É um horror!
PEDRO
Não é só ela não Cristinha. É ela e aquele tal de Jefer. Olha lá, o cara consegue
ser mais mulher que a Aninha... (Fazendo caras e bocas) 'Cê é louco cachoeira'.
TIELLY
Eu vou lá tirar satisfação com eles agora. Eles são a vergonha da nossa escola.
Já estão até falando em mandar eles embora da cidade. Minha prima é filha do
pastor João, o vereador que mora lá perto da sua casa Pedro.
PEDRO
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Então, ele falou que esses dois aí são coisas do demônio e que estão dando um
jeito de tirá-los da nossa cidade porque já tem gente até mudando daqui com
medo deles influenciarem outras pessoas.
CRISTINHA
Não, gente, calma. Vamos ficar quietos. O recreio já está acabando e a chata da
coordenadora está nos observando e pode nos dar advertência. Ela já não está 521
muito boa com a gente tem dias... Já sei, vamos deixar para o final da aula. Aí, a
gente cerca eles lá na esquina perto do bar do seu Zé. Aí, aproveitamos e
ensinamos pra eles o que é ser homem e o que é ser mulher.
PEDRO
É isso aí galera. Boto fé que hoje esses dois viram gente ou vão morrer de
apanhar. Eu vou chamar toda a galera lá da minha sala pra ir também.
TIELLY
Há, eu também vou chamar umas pessoas fortinhas para nos ajudar. (Risos de
maldade).
NARRADOR
Embaixo de uma árvore, próximo do bar do seu Zé, a turma de Tielly esperam
ansiosos por Aninha e Jefer. Os dois caminham conversando desatentos sem
perceber o que estaria por acontecer. Quando menos esperavam
bummmmmmmm.
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CRISTINHA
PEDRO
522
Com um cassetete na mão. Eu tô achando que eles estão indo encontrar o pai
deles.... o tinhosooo.
ANINHA
TIELLY
JEFER
Mas pra que isso gente? Nunca fizemos nada com vocês, nem mesmo
conversamos. Somos inocentes de qualquer acusação, seja ela qual for.
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FINALIZAÇÃO/INÍCIO DO DEBATE
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Considerações finais
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Por fim, tais discussões precisam ser realizadas nos espaços escolares a
fim de promover uma formação para a diversidade. Por envolver assuntos
relacionados às questões de gênero, sexualidade, orientação sexual e relações
étnico-raciais, a temática diversidade é, ainda, considerada tabu por muitos que
compõem a comunidade escolar. Como instituição formadora, é dever da escola
524
e das disciplinas que compõem o seu currículo propor ações que intensifique o
seu debate. Em específico às questões de gênero, a escola precisa criar ações
didático-pedagógicas que contribua para ampliar o olhar dos sujeitos sobre os
padrões estabelecidos para homens, mulheres, gays, lésbicas, bissexuais,
travestis, transexuais, transgêneros, entre outros. Contudo, acredito que é preciso
encarar isso como parte de nossa profissão como docentes e que a ausência dessa
temática no currículo pode trazer consequências danosas à comunidade escolar.
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MST, Coletivo Nacional de Cultura do. Caderno das Artes nº 01: teatro. São
Paulo: MST, 2005.
NOVELLY, Maria C. Jogos teatrais: exercícios para grupos e sala de aula. 14ª
ed. Campinas: Papirus, 2012.
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526
ST 4
Relações de gênero,
interculturalidade e memória
Coordenação
Profa. Dra. Jaqueline Zarbato
(UFMS)
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A HISTÓRICA INEXPRESSIVA REPRESENTAÇÃO DAS MULHERES
NAS ACADEMIAS CIENTÍFICAS BRASILEIRAS E NO PRÊMIO
NOBEL
Introdução
*
Sociólogo, doutorando em Educação, FaE, UFMG; marcel.fae.ufmg@gmail
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vistas, por seus pares masculinos, totalmente como iguais, por mais que os
discursos oficiais e institucionais verbalizem o contrário; 2- correlativamente,
esses e outros fatores fazem com que, no imaginário feminino, inclusive das
cientistas, elas rejeitem se inserir em tais associações porque não se reconhecem
como legítimas representantes de tais instituições, ou então, em decorrência do
modo como foram educadas (menos competitivas, menos ‘agressivas’) não
coadunam com alguns preceitos e valores pertinentes a tais agremiações.
530
Logo, recuperar a memória e a trajetória dos nomes das mulheres nas
ciências brasileiras não só fortalece a identidade feminina, mas também estimula
as novas gerações a se guiar por exemplos positivos (MELO e CASEMIRO,
2003). Isso porque, em geral, quando se pronuncia a palavra cientista, a primeira
representação imagética que vem a mente das pessoas é de um indivíduo do sexo
masculino, idade avançada, branco (europeu ou norte-americano) e com a
aparência transloucada (CHASSOT, 2003). Por esse motivo, abordar a
invisibilidade das mulheres que fizeram carreira dentro delas é uma forma de
combater a discriminação femininas nas ciências.
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A partir dos anos 1990, o Brasil presenciou grande avanço nos seus
índices de escolarização, seja pelos fatores de uma vida escolar mais longa ou
porque houve mais vagas em universidades; as mulheres se viram no cerne desse
progresso de ampliação da escolarização superior. Atualmente elas estão em
maior número nas instituições universitárias e disputam com os homens pelos 533
mesmos postos de trabalho. Contudo, o universo escolar e o profissional ainda
são distintos para ambos os sexos. Há carreiras vistas como tradicionalmente
femininas e há carreiras encaradas como tipicamente masculinas. A composição
da Academia Brasileira de Ciências é característica deste fenômeno de caráter
cultural e também socioeconômico.
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537
Conclusões
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Elda Alvarenga*
1
Outra versão deste texto foi publicada no Blog Brasil em 5 minutos em 2015.
*
Mestra em educação. Nucaphe/PPGE/UFES. Professora da Faculdade Estácio de Vila
Velha.
**
Mestra em educação, NEPE/PPGE/UFES.
***
Mestre em Educação. ANFOPE/PPGE/UFES. Professor da Faculdade Estácio de
Vitória.
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2
O artigo foi traduzido por Moisés Sbardelotto e está disponível em:
<http://midiareligiaopolitica.blogspot.com.br/2015/06/grupos-religiosos-
conservadores-reagem.html>. Acesso em 10 jul. 2015.
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Vitória, Dom Luiz Mancilha Vilela, por meio de uma entrevista a um jornal
local. Vilela afirma dentre outras coisas que a inclusão da “ideologia de gênero”
nos planos nacional e estaduais de educação “destrói a família”. Alega também
que nessa lógica, professores e professoras são proibidos de tratarem as crianças
como menino e menina. Essa carta certamente foi um divisor de águas para o
debate que no momento estava em curso na medida em que ganha legitimidade
social pela voz da igreja. Nota-se também que se fizeram presentes diversos
544
líderes de igrejas protestantes. Com e por isso, as plenárias ocorridas na
Assembleia Legislativa e nas Câmaras Municipais de Vereadores da Grande
Vitória para a aprovação dos planos Estadual e Municipais de Educação foram
palco de grande debate em torno da questão e em todas as sessões as votações
realizadas os deputados e vereadores apontaram para a retirada de qualquer
alusão a política de igualdade de gênero dos planos de educação.
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3
Estamos ainda em processo de levantamento desses dados.
4
Disponível em: http://www.otempo.com.br/novo-estatuto-exclui-25-das-
fam%C3%ADlias-brasileiras-1.1128840). Acesso em 04/10/15.
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que essas iniciativas ressoam em muitos espaços e tempos e, como não poderia
deixar de ser, resvalam nos processos educativos e no trabalho cotidiano de
professores e professoras. Nesse sentido, recuperar a compreensão que o campo
de estudo de gênero faz a respeito da construção do termo como uma categoria
de análise, torna-se importante para desqualificar o que se denomina como
ideologia de gênero.
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Como nem tudo está perdido, vimos pipocar em todo o país inúmeras
manifestações de repúdio a esse movimento reacionário. Dentre eles podemos
citar, em se tratando de dispositivos legais, a Resolução Nº 12 do Conselho
Nacional de Combate à Discriminação e Promoções dos Direitos de Lésbicas,
Gayz, Travestis e Transexuais – CNCD/LGBT e a Portaria Nº 916 do Ministério
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sempre), criminalizadas da vida dos sujeitos nos cotidianos escolares, por meio
de condutas propostas, axiologicamente, oriundas das relações de poder que
determinam os padrões conservadores das relações de gênero em nossa
sociedade. O que ainda se configuram em ações educativas fragmentadas para
“tratar” questões que precisam ser analisadas em sua complexidade e diferença.
REFERÊNCIAS
5
Sigla que designa “Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e
Transgêneros”, grupo que compõe o movimento civil por direitos sociais igualitários.
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MALAFAIA, Silas. Eu sou um pastor que luto para praticar a palavra de Deus
[...]. Comunhão. Espírito Santo. p. 12-16, Julh. 2015. Entrevista concedida a
Sânnie Rocha.
O TEMPO. http://www.otempo.com.br/novo-estatuto-exclui-25-das-
fam%C3%ADlias-brasileiras-1.1128840). Acesso em 04/10/15.
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Introdução
Cem anos atrás, no sertão do Brasil, uma guerra camponesa chegava ao 555
fim. O ano de 1916 marca a fase final da Guerra Sertaneja do Contestado,
conflito que envolveu os moradores da área contestada pelos Estados de Santa
Catarina e Paraná em um processo que, na época, já durava mais de 60 anos.
Entre o Combate do Irani – considerado o marco inicial da Guerra, em outubro
de 1912 – e a destruição e massacre dos últimos redutos caboclos pelas forças
do Exército, foram quatro anos (1912-1916) de ofensivas e batalhas que matou
milhares de pessoas de ambos os lados da Guerra.
Foi uma luta camponesa pela terra, pela vida, pelo direito de plantar e
colher, pela construção de uma sociedade onde todas as pessoas seriam iguais e
segundo os ensinamentos do Monge João Maria, “quem tem mói, quem não tem
mói também e no fim todos ficarão iguais” 1. As mulheres da Guerra do
Contestado são diversas, são múltiplas. Personalidades e almas consideradas
puras dentro dos redutos caboclos do período conflito, elas alcançaram posições
de liderança que não são observadas em outras disputas pela terra do período.
Papéis femininos foram reconstruídos e realocados dentro da lógica camponesa
do Contestado antes, durante e depois da Guerra, chegando até nós a esperança
de uma sociedade onde se viva no respeito à igualdade e a vida.
*
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPEGEO) na Universidade
Federal do Paraná, sob orientação do Prof. Dr. Adilar Cigolini, vinculada ao NUPOTE
(Núcleo de Estudos em População e Território) da UFPR, Curitiba, Paraná. Email:
lahurquiza@gmail.com.
1
Essa mensagem/preceito figura no imaginário da população do Contestado desde o
período anterior ao início da Guerra. Seria a ideia de uma sociedade igualitária,
alternativa àquela em que se vivia na região, onde a maioria dos caboclos, que viviam
como posseiros, foram expulsos de suas terras pela entrada do imperialismo americano
durante a configuração da recém-criada República do Brasil.
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2
CANDAU, Joel. CANDAU, Joel. Memória e Identidade. Trad. FERREIRA, Maria
Letícia. 1º Ed., 3º Reimpressão. São Paulo: Contexto, 2016, p. 16.
3
Até a década de 1950, mais ou menos, os escritos sobre a Guerra eram exclusividade
do Exército, tanto de pessoas que participaram na frente militar quanto de observadores
distantes que analisaram a atuação do Exército na região. Outro ponto importante a ser
destacado é que as bases militares do Exército brasileiro continuam a existir em cidades
que um dia foram redutos caboclos. Essa presença militar pode nos levar a afirmar que
há uma espécie de tentativa de controle social por parte do Estado. Sobre o Exército e a
polícia na Guerra do Contestado, ver: RODRIGUES, Rogério Rosa. Veredas de um
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4
GEBARA, Ivone. Levanta-te e Anda: Alguns Aspectos da Caminhada da Mulher na
América Latina. São Paulo: Edições Paulinas, 1989, p. 3
5
Ibidem, p. 6
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6
QUEIROZ, Mauricio Vinhas de. Messianismo e Conflito Social: a Guerra Sertaneja
do Contestado (1912-1916). Civilização Brasileira, 1966, p. 151.
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7
MACHADO, Paulo Pinheiro. Lideranças do Contestado. Campinas: Editora da
UNICAMP, 2007, p. 222.
8
Ibidem, p. 222
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Outra mulher que não é citada nas músicas e pouco lembrada quando
se trata da memória das participantes da Guerra. É Querubina dos Santos, Dona
Quéqué. Quando da formação do primeiro reduto dos caboclos, o de Taquaruçu,
Querubina era responsável pela mediação entre os homens mais velhos e líderes
do povo e a questão espiritual. De acordo com a crença, o Monge apareceria em
sonhos ou em visões para pessoas de coração puro. Segundo Rivanildo da Silva
Lino
Querubina de França, amiga e seguidora de José Maria, era
uma das autoridades na Irmandade de Taquaruçu. Com a
morte do monge, coube-lhe a tarefa de escolher as videntes
9
TRENTO, A. E.; LUDKA, V. M.; FRAGA, N.; C. Guerreiras Imortais do Contestado:
as que tudo viam e faziam durante a guerra de extermínio. Geographia Opportuno
Tempore, Londrina, v. 1, número especial, p. 272-292, jul./dez. 2014.
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10
TONON, Eloy. Virgens, videntes, guerreiras. Disponível em:
http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/virgens-videntes-guerreiras. Acesso
em: Agosto/2016.
11
AURAS, Marli. Guerra do Contestado: A Organização da Irmandade Cabocla. 2ª
Edição. Florianópolis: Editora da UFSC, 1995.
12
SILVA, Nathalia Ferronato. As “Virgens Messiânicas”: participação e influência
das “Virgens” Teodora e Maria Rosa no Contestado (1912-1916). Revista Santa
Catarina em História – Florianópolis – UFSC, v.1, n.1, 2010, pp. 52-62, p. 57.
13
MACHADO, Paulo Pinheiro. Lideranças do Contestado. Campinas: Editora da
UNICAMP, 2007, p. 220
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Sobre essa questão das “virgens”, vale a pena ressaltar o que isso
significava na sociedade cabocla. Segundo Tonon,
Mesmo vivendo sob acentuado domínio patriarcal, muitas
mulheres desempenharam papéis importantes no movimento
do Contestado. A começar pelas “virgens”. O monge José
Maria se fazia acompanhar de um séquito delas para auxiliá-
lo nas rezas, nas pregações e no preparo de chás 563
homeopáticos. As “virgens” eram escolhidas por ele e pelas
lideranças dos Redutos – ou Cidades Santas – entre aquelas
que manifestavam piedade e pureza de alma. Não precisavam
ser virgens no sentido biológico, pois havia entre elas
mulheres casadas. Mas as que mais se destacaram eram
adolescentes. A proximidade com o monge lhes dava
respeitabilidade e poder junto à comunidade. Na ausência do
líder religioso, assumiam o papel de videntes. 14
14
TONON, Eloy. Virgens, videntes, guerreiras. Disponível em:
http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/virgens-videntes-guerreiras. Acesso
em: Agosto/2016.
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15
Caderno de Cantos: Romaria da Terra e das Águas de Santa Catarina. “Maria Rosa”
(Vicente Telles), 2015, p. 45.
16
MACHADO, Paulo Pinheiro. Lideranças do Contestado. Campinas: Editora da
UNICAMP, 2007, p. 224.
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17
Caderno de Cantos: Romaria da Terra e das Águas de Santa Catarina. “Chica Pelega”
(Vicente Telles), 2015, p. 46.
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Conclusão
18
VASCONCELLOS, A. Sanford de. Chica Pelega. Florianópolis: Insular, 2º ed., 2008,
p. 189.
19
Sobre a vivência cabocla e a história do Contestado ver: TERRA Cabocla. Direção:
Marcia Paraiso e Ralf Tambke. Plural Filmes, 2015, 82 min.
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20
Disponível em: http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,contestado-a-regiao-
nordeste-de-santa-catarina,834528. Acesso em: Agosto/2016.
21
Disponível em: http://diocesedecacador.org.br/site/primeira-pastoral-cabocla-do-
brasil-reune-se-em-lebon-regis/. Acesso em: Agosto/2016.
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ANEXOS
Anexo 1: Grupo Teatral das Professoras Municipais de Lebon Régis (SC) apresentando-se na
Semana do Contestado – Santo Antonio do Trombudo, com a música “Chica Pelega”,
composição de Vicente Telles. Jul./2015. Autora: Larissa Urquiza.
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Assim, este artigo versa sobre a história dessa mulher, negra e alforriada
que migrou do estado de Góias para Mato Grosso. Temos como objeto de análise
premente as narrativas e memórias sobre a história das mulheres, tendo a ex-
escrava Eva Maria de Jesus como foco central com o surgimento da comunidade,
‘Tia Eva’, fundada por esta mulher como contexto histórico em que se
desenrolaram as histórias e memórias. Desta forma, metodologicamente
dividimos o artigo em subtemas, que versam sobre a narrativa da história dessa
mulher, as representações culturais, bem como da constituição da comunidade
‘Tia Eva’. Segundo Santos, (2010, p 249/250) “foi na fazenda Ariranha, de
propriedade de José Manoel Vilela, que nasceu, no ano de 1848, a escrava Eva
*
Professora Adjunta na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/UFMS e de Pós
Graduação em História na UFMT. Pesquisadora e coordenadora do grupo: ensino de
história, memória e patrimônio. Atua com as áreas de Ensino de história,
interculturalidade e relações de gênero.
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(futura Eva Maia de Jesus – “tia Eva”). Criada, desde cedo, para os afazeres
domésticos, a escrava Eva desempenhou várias funções na casa sede da fazenda.
Já jovem assumiu os serviços na cozinha onde fazia vários doces”.
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A viagem até Campo Grande, destino final desse grupo, durou alguns
meses, pois o transporte da comitiva era de carros de boi e no meio do caminho
as pessoas tinham que fazer roças para a alimentação da comitiva e até
arrumavam serviços esporádicos. Segundo Seu Waldemar Bento de Arruda ,“aí
tocaram a carreta, cada um deu uma coisa e eles vieram. Aí veio embora do
Estado de Goiás para cá, os crioulos vieram rosando pastos, amansando boi,
fazendo cerca de arame, as crioulas vieram lavando roupa, e vieram naquela luta
tremenda. (...). Eu sei que eles passaram por Coxim e depois chegaram aqui
(Campo Grande). ( Santos, 2010, p 263)
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Rio de Janeiro, 27 e 28 de outubro de 2016.
ISBN: 978-85-65957-07-6
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“Tia Eva”, não só como mulher, mas como uma liderança e referência na
comunidade, mas também contra o processo [...] de banalização [...] das
sociedades e de seu meio”.
Algumas considerações...
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REFERÊNCIAS
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SANTOS, Carlos A. B. Plínio dos. Eva Maria de Jesus (tia Eva) : Memórias de
uma comunidade negra. Anuário Antropológico, I | 2012, 155-181.
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Introdução
“Pelo Direito à vida: uma dinâmica social de poder sobre o corpo”. O 588
título deste artigo sinaliza diretamente para o seu tema, que consiste num estudo
teórico sobre quais vidas são dignas de serem enlutadas e a consequente
influência desses olhares no direito de escolha da interrupção voluntária de
gravidez não planejada. Num enfoque feminista, utilizaremos como objeto de
estudo perspectivas sociais e políticas referentes ao direito das mulheres de
interromperem uma gravidez não planejada.
*
Mestre em Memória Social (UNIRIO).
1
Disponível em: http://extra.globo.com/casos-de-policia/jovem-encontrada-morta-
apos-fazer-aborto-em-clinica-clandestina-em-benfica-19981158.html Acesso em
31/08/2016 às 20h
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Disponível em http://extra.globo.com/casos-de-policia/jovem-encontrada-morta-apos-fazer-
aborto-em-clinica-clandestina-em-benfica-19981158.html Acesso em 27/08/16 às 22h
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590
Disponível em http://extra.globo.com/casos-de-policia/em-depoimento-namorado-
responsabilizou-jovem-morta-apos-aborto-pelo-procedimento-19989467.html Acesso em
28/08/16 às 22h
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2
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=AXuKe0W3ZOU Acesso em
16/12/ 2014 às 22h.
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3
A maior operação de lavagem de dinheiro já realizada no país.
4
Disponível em: http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/11/maioria-das-deputadas-
se-diz-contra-projeto-de-cunha-sobre-aborto.html Acesso em 30/08/2016 às 15h
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Pereira (2014: p. 68) afirma que “a mulher ideal deve ser santa, casta, abnegada
e pronta a servir ao marido e à família. Assim, aborto é considerado pecado
grave; inaceitável, pois rompe com esse ideário de maternidade”.
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In(conclusões)
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diferentes grupos sociais num processo interativo que constitui nossa memória
coletiva numa dinâmica cíclica e interruptiva.
Por isso, que muitas pessoas são a favor que a liberdade reprodutiva
inclua o aborto como uma escolha possível para uma gravidez ocorrida em
quaisquer situações. A vida das mulheres, nessa perspectiva, é enlutável mesmo
quando ela decida não gerar uma criança. O primeiro comentário da Figura 2
representa a opinião de uma pessoa que lamenta a morte da jovem que realizou
o aborto e foi encontrada morta. Essa pessoa culpa o governo pelo ocorrido.
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REFERÊNCIAS
____. Vida Precaria: el poder del duelo y la violência. Traduzido por Fermún
Rodríguez. 1° ed. Buenos Aires: Paídos, 2006.
____. A memória coletiva. Tradução de Beatriz Sidou. 2a ed. São Paulo, SP:
Centauro, 2006.
http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/pesquisas/pns/default.asp Acesso em
ISBN: 978-85-65957-07-6
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23/01/2016.
http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/3538/1/td_2048.pdf. Acesso em
10/09/2015.
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604
ST 5
Perspectivas transculturais e
transnacionais de gênero
Coordenação
Profa. Dra. Ana Paula Vosne Martins
(UFPR)
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Introdução
*
Doutorando do Programa de História Social da Universidade de São Paulo. Professor
de História do Colégio Embraer Juarez Wanderley.
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todo o mundo.1
1
Doravante, Reader’s Digest será mencionada apenas como Digest e Seleções do
Reader’s Digest como Seleções.
2
Sobre a mulher e o contexto da Segunda Guerra Mundial, além da obra citada na nota
anterior, ver: HARTMANN, Susan M.. The Home Front and Beyond: American
Women in the 1940s. Boston: Twayne Publishers, 1982; MAY, Elaine Tyler.
Homeward Bound: American families in the cold war era. New York: Basic Books,
2008; WEATHERFORD, Doris. American Women and World War II. New York:
Castle books, 2008; YELLIN, Emily. Our mother’s war: American women at Home
and at the Front during the World War II. New York: Simon and Schuster, 2004.
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qual a revista fazia parte.3 Destaca, também, que a organização dos papéis
desempenhados pelas mulheres, seja no trabalho ou na organização doméstica,
eram fundamentais para o sucesso dos Aliados, agora liderados pelos Estados
Unidos, contra a ameaça que o Eixo representava.4
3
A publicação de Seleções do Reader’s Digest no Brasil, a partir de 1942, compreende
parte desse esforço, assim como a publicação de Seleciones del Reader’s Digest, revista
em espanhol que foi distribuída por toda a América Latina. Ambas foram peças
estratégicas durante a Política da Boa Vizinhança, implementada pelo governo dos
Estados Unidos em relação à América Latina.
4
Diversos trabalhos trataram das diferentes formas de participação das mulheres ao
longo do conflito. Cabe destacar, principalmente: HARTMANN, Susan M.. op. cit.;
WEATHERFORD, Doris. op. cit.; YELLIN, Emily. op. cit..
5
Reader’s Digest (fev. de 1943, p.7-10). Doravante, todas as traduções são de minha
autoria. No original: We must use our womanpower to an extent heretofore undreamed
of in America. In Russia, women are fighting in battle; behind the lines they are doing
men’s work. That’s one reason why the Russian army has performed so magnificently.
I was recently on a Russian merchant ship in an American port and the captain and 47
of the crew of 50 were women. I don’t believe in sending women into battle. But I do
believe they can man anti-aircraft guns in all our coastal cities. Some may be wounded,
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as nurses were wounded at Corregidor, but men and women are in this war together.
Thousands of women now in non-essential work must change their jobs. Millions not
now in jobs must go to work. Those women who cannot work in factories and shops will
perform such essential tasks as caring for children whose mothers are working in
munitions plants. Nurses who have married and retired must resume their profession.
[…] This is a war in which all of us must fight side by side, civilians and military, men
and women, Russians, British, Chinese. A united effort will lift us spiritually. We will
become an undefeatable nation.
6
O artigo foi publicado em Seleções no mês de abril de 1944 com o título de Mulheres
da América ao serviço da vitória. A tradução do artigo simplifica algumas colocações
de Eleanor Roosevelt, por este motivo optei por realizar uma tradução do material
original publicado pelo Digest.
7
Reader’s Digest (jan. de 1944, p. 42-45). No original: So far the Waacs have been the
only ones allowed overseas. This seems to me ridiculous. The restriction on the activities
of our other women’s military services is not due to any feeling of Congress or the
military authorities that women cannot do the job. It is due, rather, to a false chivalry,
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which insists that women be protected from war hazards and hardships, even against
their own wishes. Some women accept this point of view, but I believe most of us would
rather share more fully in the experiences of our men.
8
Ibidem, p. 43. No original: the many thousands of women who are not doing any
unusual work, but are simply running their houses quietly and efficiently, are
contributing more to the war effort than they themselves realize.
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9
Reader’s Digest (fev. de 1944, p. 89-92). Sobre a vida e participação de Susan
B.Anthony no movimento sugragista, ver: HYMOWITZ, Carol; WEISSMANN,
Michal. A History of women in America. New York: Bantam Books, 1978.
10
Seleções do Reader’s Digest (mai. de 1944, p. 51-54).
11
Reader’s Digest (fev. de 1944, p. 89). No original: The Reader’s Digest has, in recent
years, presented a galaxy of humanitarians and social pathfinders who have contributed
to our rise as a nation. Here is the dramatic story of the crinoline-clad dynamo who
fought a 58-year battle for her sex – and won.
12
Cf. HYMOWITZ, Carol; WEISSMANN, Michal. op. cit.
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13
Reader’s Digest (fev. de 1944, p. 92). No original: the crusade she had carried on
continued. A decade later the World War gave it added momentum, when women took
the places of men in offices, shops and fields. In 1920 the suffrage amendment was
ratified. In her own land the program is nearly complete. Several states in 1943 passed
acts permitting jury service and otherwise rounding out full citizenship rights for
women. If Susan Anthony were living today she would be astonished at how completely
her dreams have come true. But she would still be crusading, for progress is a path that
has no end.
14
Reader’s Digest (mai. de 1943, p. 43-46).
15
O assunto foi amplamente discutido em: YELLIN, Emily. The “wrong kind” of
woman: prostitutes, unwed mothers, and lesbians. In: YELLIN, Emily. op. cit..
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culpa, seja a de manter relações sexuais com as jovens, seja a de, também, ser
disseminador de doenças. As mães do presente deveriam se responsabilizar,
naquele contexto, pela possível imoralidade das mães do futuro. O artigo
acrescenta que:
a raiz do problema está nos lares americanos. Atrás de toda
garota delinquente, de toda tragédia de promiscuidade e
doença, está a sombra de pais delinquentes. Todo pai em
serviço militar deixa uma responsabilidade dupla para sua
esposa; toda mãe na linha de produção tem um trabalho em 612
dobro para realizar. As mães americanas hoje devem se tornar
profundamente conscientes da importância da vida familiar;
se não estiverem, muitas de nossas mães do futuro terão um
passado sórdido de imoralidade e doenças venéreas.16
16
Reader’s Digest (mai. de 1943, p. 43-46). No original: the root of the problem lies in
the American home. Back of every delinquent girl, every tragedy of promiscuity and
disease, stands the shadow of delinquent parents. Every father in uniform leaves a
double responsibility with his wife; every mother on the production line has a double
job to do. America’s mothers today must become more deeply conscious of the
importance of family life; if they do not, too many of our mothers of the future will have
a sordid background of immorality and veneral disease.
17
Para maiores detalhes sobre a participação das Wacs no conflito, ver:
WEATHERFORD, Doris. The military woman. In: WEATHERFORD, Doris. op. cit..
YELLIN, Emily. This man’s Army: Wacs. In YELLIN, Emily. op. cit..
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18
Reader’s Digest (mai. de 1943, p. 85-88). No original: the reason behind most
enlistments is a man in the armed forces. Sweethearts, wives, mothers and daughters
long to share wartime experiences with their men in uniform. In barracks, where the
Waac is allowed to put up three pictures, photographs of men outnumber others better
than two to one. But there are no movie stars. Every picture is there by right of kinship
– either blood or heart. The Wacs are good soldiers, but in temperament they are still
feminine. […] And after the war? Most Wacs, of course, look forward to marriage and
motherhood. Some plan to work at jobs for which they have been trained in the Corps.
And many want to stay in the Corps and take part in the big postwar reconstruction job
overseas. They think there is something appropriate in a woman’s hand feeding the
hungry children of Europe.
19
O artigo foi reproduzido em Seleções na edição de agosto de 1943 com o título de
Mulheres em passo de marcha. A versão em português anunciava que “as WACs são
bem femininas, mas nem por isto deixam de ser bons soldados”. (Seleções do Reader’s
Digest, ago. de 1943, p. 54) Seleções já havia publicado, em junho de 1943, um artigo
intitulado Mulheres de armas da América, em que abordava a participação das mulheres
norte-americanas no esforço de guerra. O artigo tratou das mulheres que ocupavam
cargos de operárias na Intendência de Armamentos. (Seleções do Reader’s Digest, jun.
de 1943, p. 71-73)
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20
Reader’s Digest (set. de 1944, p. 105-107). No original: They learned about women
(why do women workers act like women? And what can be done about it?). Como
veremos no próximo subtítulo, o artigo em questão destoa drasticamente da construção
da mulher que trabalhou, nos anos de guerra, nas indústrias de aviões.
21
Seleções do Reader’s Digest (dez. de 1944, p. 86-88).
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Foi dessa forma que o Digest apresentou o grupo das mulheres norte-
americanas que trabalharam nas indústrias durante os anos de guerra: se antes
elas se fizeram necessárias ao trabalho fabril, ao término do conflito, poderiam,
novamente, ocupar o lugar em que historicamente “melhor desempenhavam” 615
suas funções - o lar. Segundo o texto, essas mulheres agora estavam cientes do
esforço desempenhado pelo homem na sociedade e no mundo do trabalho, por
terem vivenciado uma experiência similar àquela deles. Em outras palavras,
agora elas sabiam quão dura era a vida do homem. Não era possível esperar algo
diferente: a lógica do período está vinculada exclusivamente à ótica do homem.
Note-se que aqui está se falando de mulheres brancas de classe média. As
revistas são porta-vozes da classe média e dirigidas à classe média, e há pouco,
portanto, sobre a mulher pobre e negra. Segundo a lógica do Digest, só era pobre
- o loser (perdedor) - quem não conseguira com esforço próprio subir na vida.
Resta saber por quanto tempo ainda estariam essas mulheres dispostas a retornar
à lógica familiar, agora cientes dos outros papéis que poderiam ocupar ou
desempenhar em outros espaços sociais que não o lar.
22
Reader’s Digest (set. de 1944, p. 105-107, grifos do original). No original: At
Consolidated Vultee Aircraft Corporation, for example, where more women are
employed than men, absenteeism among the women was five times as bad as among the
men. Also four out of five women quit before they had worked a year. Recruiting and
training more women to take their places was expensive both in time and money; it kept
expert workers busy teaching instead of producing.[…] Women are primariry interested
in being women. Their interest in any other kind of success runs a bad second. Maybe
it could be said with equal truth that men are primarily interested in being men – but
being a man includes making good in a man’s world. Being a successful woman seldom
includes that at all. Working for wages is something a woman does until: - until she
finds the right man, until the baby comes, until her man comes home […] until the war
is won. […] And what will become of them when they go back to their homes?“They
will be better wives and homemakers,” Mrs. Jackson insists. “They will know how tires
a man is when he comes home. They will know what it means to earn money; it means
hard work. They will have learned the value of time, and how to budget it; their new
knowledge of the value of system and order will be reflected in their housekeeping.
Above all, they are learning how important it is to get along with people – how much a
harmonious home means, even in terms of efficiency on the job, and hence in the pay
envelope.”
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23
Cf. JUNQUEIRA, Mary Anne. Ao sul do Rio Grande: imaginando a América Latina
em seleções: oeste, wilderness e fronteira (1942-1970). Bragança Paulista: Ed. da USF,
2000.
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Grande parte dos números do Digest entre 1942 e 1945 foram dedicados
ao conflito, seus personagens (heróicos ou não), e aos possíveis desdobramentos
futuros. A mesma proporção foi adotada por Seleções, mesmo a participação de
Brasil e Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial ter se dado de forma tão
distinta ao longo daqueles anos, inclusive no que se refere à participação efetiva
das mulheres. Antes de o Brasil entrar no conflito, e mesmo após a sua entrada
o trabalho feminino nas fábricas não ter sido tão destacado, foi a contribuição
das mulheres norte-americanas na indústria bélica que ganhou maior destaque
em Seleções. As mulheres brasileiras pouco foram retratadas.
24
Sobre o contexto norte-americano, ver: DIGGINS, John Patrick. The Proud Decades:
America in war and Peace, 1941-1960. New York: W.W. Norton & Company, 1989.
Mais informações sobre a mulher nos Estados Unidos podem ser encontradas em:
CHAFE, William H.. The paradox of change: american women in the 20th century.
Oxford: Oxford University Press, 1992. Sobre a mulher e o contexto da Segunda Guerra
Mundial, além das obras citadas, ver: WEATHERFORD, Doris. op. cit.
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25
Seleções do Reader’s Digest (ago. de 1942, p. 71-74).
26
Reader’s Digest (jun. de 1942, p. 102-105).
27
Seleções do Reader’s Digest (ago. de 1942, p. 71-74). Como destacado no subtítulo
anterior, o presente artigo apresenta os aspectos positivos da entrada das mulheres no
processo produtivo industrial, enquanto o artigo publicado pelo Digest em 1944 visa
descaracterizar essa construção.
28
Ibidem, p. 72.
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29
Seleções do Reader’s Digest (mar. de 1942, p. 1-5).
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Considerações Finais
30
Ibidem, p. 1.
31
Ibidem, p. 4.
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32
Seleções, desde o primeiro número publicado no Brasil, se deteve a difundir produtos
voltados para o ambiente doméstico e para a família, tais como: ar condicionados,
rádios, lavadoras de roupa, geladeiras, máquinas de escrever e de costurar. Por outro
lado, inúmeros produtos, de certo modo inacessíveis ao público, também aparecem nas
páginas de publicidade, como aviões e automóveis.
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ultrapassaram fronteiras.
REFERÊNCIAS
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*
Mestranda em História no PPHR – UFRRJ, Bolsista CAPES. Contato:
luciananogueira1@hotmail.com
1
A expressão “Século Cristão no Japão” foi cunhada pelo historiador britânico Ralph
Charles Boxer que em 1951 publicou o trabalho The Christian Century of Japan, 1549-
1659 que se tornou uma referência para os estudos relacionados à presença jesuíta no
Japão.
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malogros da “empresa da fé” nos governos dos daimyōs2 Oda Nobunaga (1534-
1582), Toyotomi Hideyoshi (1536-1598) e Tokugawa Ieyasu (1543-1616).
2
O termo significa literalmente “grande nome”. Essa palavra designava aqueles que
tinham poder e influência sobre parte do território japonês. A historiografia tende a usar
o termo senhor feudal para explicá-los, uma vez que a organização política e econômica
do Japão deste período assemelhava-se ao feudalismo europeu sob certos aspectos. Ver:
AMESEN, P. J. The medieval japonese daimyô (The Ôuchi family’s rule ofSuô and
Nagato), New Haven, 1979.
3
Ver: João Paulo Oliveira Costa, 1998, O cristianismo no Japão e o episcopado de D.
João Cerqueira; Alexandra Curvelo e Ana Fernandes Pinto, 2009, O martírio de
cristãos no Japão, uma estratégia dos Tokugawa; Yuri Socrates Saleh Hichmeh, 2014,
O cristianismo no Japão: do proselitismo jesuíta à expulsão da Igreja.
4
Meaco/Miyako significa em japonês, literalmente, capital. Pode-se encontrar
referências a Miyako também como “velha capital” ou “cidade dos samurais”.
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5
ANJOS, Luis dos, O.E.S.A. 15---1625, Jardim de Portugal: em que se dá noticia de
alguas Sanctas, & outras molheres illustres em virtude, as quais nascerão, ou viverão,
ou estão sepultadas neste Reino, & suas cõquistas/recopilado novamente de vários, &
graves autores, pello Padre Doutor Frey Luiz dos Anjos... Coimbra: em casa de Nicolao
Carvalho, 1626. Disponível em http://purl.pt/14013/3/.
6
Lembremos que, embora o Japão jamais tenha constituído uma colônia portuguesa,
mantendo-se sempre autônomo política e militarmente, o Padroado régio o considerou
sob sua jurisdição. Nesse sentido, a conversão destas mulheres japonesas poderia ser
vista como fruto do trabalho missionário jesuíta português, que durante quase meio
século manteve o monopólio religioso no arquipélago nipônico.
7
Fleck; Tavares, 2015, p.27-50
8
Fernandes, 1994, p. 133-155.
9
Gonçalves, Op. Cit, p.17
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perfeição religiosa vigente na Europa moderna e que por sua vez foram
influenciados pelas normas de comportamento adotadas pós Concilio de Trento
(1545-1563), o qual obrigou alterações no seio das comunidades femininas,
principalmente no que concernia à clausura, quando as medidas de isolamento e
afastamento do mundo secular passaram a ser condição obrigatória, sobretudo,
para os conventos femininos
10
Amanda Dias de Oliveira, As constituições dos Conventos femininos de Clarissas e
Concepcionistas do período moderno.
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11
Leila Algranti, 2004 p. 24
12
Chartier, 1990, p. 17.
13
De acordo com Fernanda Olival, a institucionalização da limpeza de sangue vigorou
durante muito tempo na Península Ibérica. A questão estava relacionada aos cristãos-
novos e teria surgido em Castela em meados do século XV e em Portugal mais
tardiamente, no final do mesmo século, embora de forma diferente. No final do século
XV, Portugal proibiu o casamento entre cristãos-novos, como um mecanismo de
controle social e de integração religiosa dos neófitos, na esperança que o cristão-velho
ajudasse o recém convertido a ser um bom praticante do catolismo. Claramente estas
leis não vingaram. Quando a aristocracia buscava casar seus filhos, algumas casas
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Para Santa Maria, a falta de vocação não fazia parte da realidade das
beatas de Meaco. Essas mulheres eram, para o autor, “notáveis vocacionadas
que atenderam ao chamamento à vida perfeita” (RJ, p. 33). Enquanto as famílias
ocidentais enviavam suas filhas para a clausura percebendo o local como um
garantidor de status dentro da sociedade, no Japão a decisão dessas mulheres em
recolherem-se em uma comunidade cristã foi vista como um desacato as
tradições e políticas vigentes no período. O fato do Japão nunca ter se tornado
uma colônia portuguesa, mantendo-se sempre autônomo tanto política quanto
militarmente, contribuiu para que o número de cristãos fosse sempre menor do
que o número de praticantes da religião oficial local, o que tornou a decisão
dessas mulheres muito mais ousada.
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14
No período “feudal” japonês o termo Shōgum foi utilizado para designar os grandes
possuidores de terras, mas a partir do século XII, o termo passou a denominar título e
distinção militar concedido diretamente pelo imperador. Na prática os shōguns foram
os verdadeiros governantes do Japão entre os séculos XII e XIX, acumulando os poderes
administrativos e militares.
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15
Okamura, p. 615
16
Ver: Jorge Henrique Cardoso Leão, 2010, A Arte de Evangelizar: jesuítas, dojukus e
mediação culturais no Japão (1549-1587); também Yuri Sócrates Saleh Hichmeh,
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17
Silvia Liebel, Demonização da mulher, a construção do discurso misógino do Malleus
Maleficarum.
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Como bem disse Lucien Febvre, o individuo é sempre o que lhe permite
ser sua época e o seu meio social. Na modernidade, como uma continuidade da
época anterior, a mulher viveu sob o estigma da inferioridade, considerada como
culpada pelas mazelas dos homens devido ao estigma de Eva.
18
Pierre Bordieu, A dominação masculina. Educação e Realidade, [Porto Alegre], v. 20,
n.2, jul./dez. 1995. p. 176.
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REFERÊNCIAS
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ST 06
Gênero e Feminismos:
história, política e educação
Coordenação 643
Profa. Dra. Alcileide Cabral
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Míriam Albani*
Introdução
644
Contrariando o imaginário de que a mulher sempre se ocupou somente
dos trabalhos domésticos, “a participação feminina no mercado de trabalho
brasileiro tem raízes no período colonial [...]. A sociedade brasileira, que se
pautou no poder masculino, jamais prescindiu da mão-de-obra feminina”
(NADER, 2008, p. 68). Perrot afirma que "nem sempre as mulheres exerceram
ofícios reconhecidos, que trouxessem remuneração" (2016, p. 109). Essas
mulheres sempre enfrentaram preconceitos quanto a seu potencial de trabalho,
mas foram expandindo suas atividades ao longo da história, aproveitando as
oportunidades trazidas pela modernidade, aliadas às mudanças de
comportamento necessárias para a convivência na cidade urbanizada.
*
Mestre em Educação. Instituto Federal de Educação do Espírito Santo - Ifes.
mirialban@gmail.com
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Desenvolvimento
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A autora ainda acrescenta que "ao longo dos anos de 1960 e 1970, as
diferenças curriculares entre alunos e alunas se dissolveriam, proporcionando
melhores oportunidades às mulheres [...]" (PINSKY, 2012, p. 514).
Notadamente houve um desabrochar feminino, o que contribuiu para alterar os
espaços ora ocupados pelas mulheres, ampliando suas oportunidades na 651
sociedade, quebrando regras e padrões vigentes.
Dessa forma, Scott (1995, p. 75) aponta para uma discussão sobre as
questões que envolvem as pesquisas das relações de gênero:
O termo "gênero", além de um substituto para o termo
mulheres, é também utilizado para sugerir que qualquer
informação sobre as mulheres é necessariamente informação
sobre os homens, que um implica o estudo do outro. Essa
utilização enfatiza o fato de que o mundo das mulheres faz
parte do mundo dos homens, que ele é criado nesse e por esse
mundo masculino. Esse uso rejeita a validade interpretativa
da idéia de esferas separadas [...].
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Conclusões
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formal e alcançaram o espaço público, embora, vale ressaltar, que isso se deu
dentro de certos limites impostos pela ideologia dominante". (2012, p. 300)
REFERÊNCIAS
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Introdução
661
*
Mestranda em História Social da Cultura Regional pela Universidade Federal Rural de
Pernambuco (UFRPE) e integrante do Núcleo de Pesquisas em Gênero (NUPEGE).
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1
Essa era uma das denominações literárias da cidade do Recife.
2
Foi na década de 1910 do novo século, no governo de Dantas Barreto, que aconteceu
a destacável modernização da estrutura urbana do Recife, com o plano do engenheiro
Saturnino de Brito (SILVA, 2011, p. 22).
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bares, cafés e clubes – ainda assim eram percebidas com tons de desconfiança.
Em geral, a mulher perante a sociedade pernambucana ainda era refém de muito
conservadorismo, devendo ser submissa ao pai e, ao se casar, igualmente
submissa ao marido. O homem do início do século XX possuía um ideal de
mulher preconcebido, como um modelo a ser seguido pelo sexo oposto.
Neste contexto, gradativamente as mulheres de camadas médias passam
a circular sozinhas, fazendo-se presentes em novos espaços de sociabilidade e
664
em ambientes antes não transitados. A demarcação existente entre atividades
femininas e masculinas, entre o privado e o público, paulatinamente é
transformada. Algo bastante comum no período era a prática do footing: “(...) a
compra de um sapato, a escolha de um tecido, a busca de algum artigo importado,
tudo era, às vezes, um simples pretexto para se ir à cidade. A finalidade principal
era fazer o footing, ou seja, ver e ser vista (PARAÍSO, 2011, p. 177).
Observar e ser observada, frequentar cafés, ir aos cinemas, usufruir da
moda e de diferentes recintos. Todas estas práticas acabam se tornando mais
frequentes no cotidiano feminino, uma vez que “nem todas as mulheres estavam
conformadas com o papel de filhas, esposas, mães e ‘coquetes’. Algumas
queriam mais. Ressignificaram o sentido de ser mulher, fissuraram o conceito”
(LUZ; NASCIMENTO, 2014, p. 04).
É justamente na vigência da Primeira República, regime oligárquico e
liberal, que os movimentos feministas tomaram fôlego no Brasil. Foram décadas
de luta para alcançar a cidadania política, com avanços e recuos (HAHNER,
2003). A entrada no mercado de trabalho, o anseio de estudar e se capacitar
profissionalmente, o sonho de participar ativamente do âmbito político são
apenas alguns dos inúmeros desejos que ganham asas no período. Mais
especificamente no que diz respeito à questão do sufrágio, com a promulgação
da Constituição de 1891, o direito de votar não é explicitamente negado à mulher.
Aliás, sequer esta é citada ou considerada cidadã. Como elucida José Murilo de
Carvalho (2010) há dois tipos de cidadania: a dos cidadãos ativos, possuidores
de direito civis e políticos e dos cidadãos inativos, ou simples detentores dos
direitos civis da cidadania. A mulher se encaixava na segunda categoria, já que
os constituintes entendiam que a mesma não era um sujeito possuidor de direitos.
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3
Edwiges de Sá Pereira nasceu no município de Barreiros no estado de Pernambuco,
em 25 de outubro de 1885. Teve condições propicias para estudar, diferentemente da
maioria das mulheres daquele período. Ela foi professora, poetisa, escritora e também
jornalista (SILVA, 2012, p.30.)
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4
Martha de Hollanda Cavalcanti, de família tradicional, nasceu em 20 de março de
1903, na pequena cidade de Vitória de Santo Antão, próxima da capital do Recife.
(SILVA, 2012, p. 34).
5
Em 1932, já existiam treze filiais da Federação espalhadas pelo país (SILVA, 2012, p.
30).
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feminismo e adotava uma posição mais radical6 com relação aos ideais
feministas. O movimento lutava pelo acesso da mulher ao âmbito político e
caracterizou-se como um movimento de extrema importância para a conquista
do voto, tornando sua representante uma feminista ímpar e muito atuante. Martha
de Hollanda e Celina Nigro foram as primeiras mulheres a se alistar para obter
o direito de votarem e serem votadas em Pernambuco7. O pedido de alistamento
da vitoriense foi noticiado pelo periódico Jornal do Recife, que anunciava:
667
“Valendo-se das prerrogativas constitucionais da República e firmada ainda na
campanha vitoriosa do feminismo brasileiro, a senhorita Martha de Hollanda,
acaba de requerer ao juiz de direito local permissão para ser alistada como
eleitora, para os fins de direito8”.
6
Era ousada no vestir-se. Inventava moda. Roupas extravagantes, penteados inusitados, cores
fortes, decotes pouco comuns à época, roupas feitas em alfaiates e muita maquilagem.
(FREITAS, 2003, p.63-64).
7
Há divergências com respeito a este fato. Pesquisas afirmam que Celina foi a primeira
mulher a obter o direito de votar, porém por outro lado é dada a indicação de pioneira a
Martha de Hollanda (SILVA, 2012, p. 33).
8
Jornal do Recife, 1928, p. 01.
9
Edwiges de Sá declinou do convite de ser presidente de honra da Cruzada Feminista,
fundada por Martha, assim como Martha de Hollanda não aceitou o convite de participar
da Federação Pernambucana, criada por Edwiges. Através de cartas, a vitoriense
explicara a Bertha Lutz, líder da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, a
primeira divergência que nasceu no movimento feminista em Pernambuco, a qual ela
acreditava não ter muito relevo, e que, mantendo os princípios e a “primogeneidade” da
sua ideia, se colocava pronta para “colaborar, coadjuvar quaisquer novas sociedades que
apareçam para nossa defesa moral, social ou política” (NASCIMENTO, 2013b, p. 10).
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da mulher na seara política. Mas afinal, quem eram estas mulheres? O que
reivindicavam? Como conseguiam espaço para evidenciar ao mundo seus
contra-argumentos? Que estratégias utilizaram? Como driblavam e rebatiam as
insolentes críticas antifeministas?
Reivindicações e Estratégias
668
As mulheres que davam dinamicidade aos movimentos feministas dos
primeiros decênios do século XX advinham de vários setores e cargos: eram
mulheres de classe média, educadas, algumas profissionais liberais, casadas,
solteiras (NASCIMENTO, 2013a), professoras, comerciantes, poetisas,
mulheres de políticos influentes.
10
Lançada por Ilda Solto.
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11
A Pilhéria, 20 jun. 1931.
12
A Notícia, 11 nov.1931.
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conquistar apoio, reunir cada vez mais adepto(a)s, conseguir espaço nos meios
de comunicação influentes da época, instruir as mulheres acerca da importância
do voto e ainda lidar com as implacáveis críticas antifeministas.
Foi exatamente com o intuito de se valer dos meios que dispunham, que 670
as mulheres da FPPF e da Cruzada Feminista Brasileira buscaram estratégias,
formas palpáveis e eficazes de disseminar seus ideais. A intensa utilização da
imprensa e da rádio, desde anos iniciais do século XX14, foram peças-chave no
avanço destas organizações. Assim, os veículos de comunicação eram usufruídos
em prol da conscientização e mobilização de cada vez mais pessoas que
apoiassem a causa do sufrágio feminino, bem como da equidade entre os sexos.
13
Dicionário de Língua Portuguesa Online Houaiss.
14
Em Pernambuco, as mulheres escrevem nas revistas A Pilhéria, Helios, A Pátria, O
Bem-te-vi, além de conseguir espaço nos principais jornais da capital, como A Província
e o Diário de Pernambuco (LUZ; NASCIMENTO, 2014, p. 09). No interior, pode-se
destacar a participação e atuação de Martha de Hollanda no jornal O Lidador, de Vitória
de Santo Antão.
15
Jornal Pequeno, 29 jan. 1932, p. 01.
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As nuances do antifeminismo
16
Jornal Pequeno, 27 jan. 1932.
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17
A Província, 20 jun. 1923, p. 01.
18
Jornal do Recife, 24 jun. 1920, p. 04.
19
A Reforma (AC), 1932, p. 01.
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feminina do lar, também pode ser observado no discurso presente neste trecho
publicado no Jornal do Recife: “(...) Abandonar por completo, a mulher, os
deveres de mãe e o sacerdócio de educadora, na formação dos caracteres sãos, é
se imiscuir em certos caminhos da vida, invadindo uma atmosfera imprópria à
sua existência, é sair dos limites do bom senso20”.
20
Jornal do Recife, 24 jun. 1924.
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21
Sobre os antifeminismos e seus argumentos ver BESSE, 1999, p. 214-220.
22
A Província, 21 dez. 1924, p. 01.
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Conclusões
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REFERÊNCIAS
Documentos
A Notícia (1931)
A Pilhéria (1931)
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A Província (1923/1924)
Obras 677
LUCA, Tania Regina de. História dos, nos e por meio dos periódicos. In:
PINSKY, Carla Bassanezi. (org.). Fontes Históricas. 3. ed. São Paulo: Contexto,
2011.
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SOUSA, Ana Júlia da Silva de. Participação da mulher nos espaços de poder no
Brasil: atuação feminina no executivo, legislativo e judiciário. In: Âmbito
Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 91, ago. 2011. Disponível em:
http://ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10
148&revista_caderno=24. Acesso em: 06 jan. 2015.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil para análise histórica. Recife: SOS
Corpo, 1991.
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Introdução
679
Quem fez do homem o juiz exclusivo, se a mulher
compartilha com ele o dom da razão?
Mary Wollstonecraft
*
Mestranda em História Social da Cultura Regional pela Universidade Federal Rural de
Pernambuco. Emelly.facundes@hotmail.com
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representantes através do voto. A palavra voto não queria dizer muita coisa nem
para os mais pobres, nem para os mais ricos, a barreira da alfabetização excluía
a maioria do povo do exercício eleitoral. Votar não era um direito no Brasil.
Mas, apesar de todas as leis que restringiam o direito ao voto
e de todas as práticas que deturpavam o voto dado, não houve
no Brasil, até 1930, movimentos populares exigindo maior
participação eleitoral. A única exceção foi o movimento pelo
voto feminino, valente, mas limitado (CARVALHO: 2008:
42).
680
Essa limitação se dava não somente pelo contexto histórico ao qual o
Brasil passou de império para república, onde o povo não entendia claramente o
significado do voto e a organização da república, mas também pelo
patriarcalismo fortemente arraigado nas organizações familiares. Era uma luta
em duas frentes. Foi depois de 41 anos de promulgada a primeira constituição
republicana brasileira que o direito ao voto feminino foi institucionalizado, no
artigo 2 do decreto nº. 21.076 de 24 de fevereiro de 1932. Entretanto, essa
conquista não veio sem muita luta e organização feminina, que já na primeira
década do século XX começou de maneira organizada com a formação do
Partido Republicano Feminino (que atuava de maneira ilegal, já que as mulheres
não eram reconhecidas como cidadãs), porém, esse partido pioneiro desapareceu
nos fins da década de 1910.
Foi na década de 1920 que a luta pelos direitos políticos das mulheres
ganhou intensidade, década em que Bertha Lutz, intelectual e cientista, “retornou
de Paris e começou a organizar o embrião do que viria a ser a maior expressão
do feminismo da época, a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, FBPF”
(PINTO: 2003:21). A FBPF, com sede no Rio de Janeiro, ajudou a fundar outras
organizações feministas e de mulheres, organizando filiais estaduais, como a
Federação Pernambucana pelo Progresso Feminino (FPPF)1, que era presidida
por Edwiges de Sá Pereira. Edwiges também era intelectual, mulher de família
bem relacionada, e membro da Academia Pernambucana de Letras. As mulheres
1
Sempre que forem citadas no artigo as siglas FBPF e FPPF, entenda-se Federação
Brasileira pelo Progresso Feminino e Federação Pernambucana pelo Progresso
Feminino, respectivamente.
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A brilhante solenidade
2
Livro de atas das sessões extraordinárias e de Assembleia Geral da Federação
Pernambucana pelo Progresso Feminino. P.1. FUNDAJ.
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3
Federação Pernambucana pelo Progresso Feminino. Jornal Pequeno, 20.02.1933.
Hemeroteca Digital Brasileira.
4
Actividades da Federação Pernambucana pelo Progresso Feminino. Diário da Manhã.
15.11.1935. APEJE.
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5
Federação Pernambucana pelo Progresso Feminino. Jornal Pequeno, 20.02.1933.
Hemeroteca Digital Brasileira.
6
As eleições á Constituinte. Jornal do Recife, 30.04.1933. FUNDAJ
7
Pela Política. Jornal Pequeno, 23.01.1933. Hemeroteca Digital Brasileira.
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8
IDEM.
9
A quem deverá caber a representação da mulher pernambucana na futura constituinte?
Diário de Pernambuco, 29.01.1933. FUNDAJ
10
Ao eleitorado pernambucano. Diário de Pernambuco, 30.04.1933. FUNDAJ
11
Pesar de defender os postulados católicos e ser contra o divórcio, um fato curioso é o
de Edwiges nunca ter casado e nem ter tido filhos.
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12
Uma grande iniciativa da Associação das Senhoras de Caridade. Jornal do Recife,
p.1, 22/10/1937.FUNDAJ
13
Juvenato D.Vital. A Gazeta, 20.09.1931. Biblioteca da Cúria Metropolitana de
Recife.
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arma para angariar a simpatia das mulheres para a defesa, na política, dos valores
católicos. E esse mesmo Recife, palco de movimentos católicos que buscavam
manter a religião junto ao Estado, passava por várias transformações, abrindo
espaço para a modernidade, com a configuração de uma cultura urbana que
criava novos espaços públicos de convivência, alargava avenidas, abria o leque
de opções para os divertimentos, com bailes, clubs, cafés, etc. Entretanto,
convivia com os mocambos, a pobreza, a violência nas vielas do centro. Era uma
687
cidade de contradições, paradoxos, que olhava para o futuro mas tinha um
passado que lhe mordia os calcanhares.
14
A Pilhéria. Jornal do Recife, 04/09/1929. Chornica Social. Jornal do Recife,
24.03.1931. Theatrus e Cinemas. Jornal do Recife, 03/07/ 1929. FUNDAJ
15
A Pilhéria. Jornal do Recife, 04/09/1929. FUNDAJ
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no Jornal do Recife, o qual replicou uma matéria endereçada a Ida Uchoa pelo
catedrático de Português do Ginásio Amazonense Pedro II, Martins Santanna,
escrita na Revista Redempção, publicada em Manaus. Nessa homenagem o
catedrático não economiza nos elogios a poesia feita por Uchoa, e termina seu
escrito dizendo: “Ida Souto Uchoa é, deveras, uma poetiza galantemente
moderna”16. Ele se refere ao modo como Uchoa escreve suas poesias, rejeitando
a “monotonia” da métrica com rimas “enérgicas”. Fica claro que ela era
688
conhecida fora de Pernambuco e admirada pelo seu trabalho como poetisa.
16
Ida Souto Uchoa. Jornal do Recife, 15.09.1931. FUNDAJ
17
Chornica Social. Jornal do Recife, 24.03.1931. FUNDAJ
18
O Recife de Relance - Os nossos Instantaneos. Cri-cri semanário humorístico e
noticioso. Ano 1. Nº 1. Agosto/1908. FUNDAJ
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19
Bellas Artes. Jornal do Recife, 29.02.1916. FUNDAJ
20
Notas de arte. Jornal do Recife, 16.03.1924. FUNDAJ
21
Exposição de quadros. Jornal do Recife, 12.07.1920. FUNDAJ
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vistas pela sociedade patriarcal da época como sendo típicas do sexo feminino.
Saber pintar, escrever bem, cantar, tocar um instrumento, ensinar, era muitas
vezes requisito para conseguir um bom casamento, logo, as atividades que
envolvessem essas aptidões eram vistas como naturais da mulher. É possível que
encontremos, no decorrer da pesquisa sobre a Federação Pernambucana,
mulheres de um estrato social mais baixo que possam ter atuado na luta
encampada pela entidade, todavia, as ações organizadas pela entidade são
690
orbitadas pelas relações privilegiadas que uma parte das sócias possuíam.
22
Fundado em 16 de abril 1927 por Carlos de Lima Cavalcanti, nasceu pouco tempo
antes da queda da República Velha. Foi, em sua época, referência de leitura para as
principais lideranças políticas da Região Nordeste.
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suas atividades23. Isso demonstra que o direito ao voto não era o fim em si, mas
apenas o começo de um caminho sem volta, nunca mais as mulheres aceitariam
que seu lugar era apenas o lar.
É certo que até esse momento não era questionado, de maneira frontal,
por essas feministas o papel que o núcleo familiar tinha na manutenção da
submissão da mulher. Mas também é verdade que haviam algumas vozes que
destoavam, como era o caso de Juanita Borel Machado, 1ª secretária da FPPF 691
nesse período e responsável pela coluna da entidade no Diário da Manhã. Em
uma de suas colunas ela levanta o questionamento sobre o porquê de muitas
mulheres não se casarem, escolhendo viverem plenamente suas profissões ou se
dedicarem a assistência social. Mas, para ela, as mais admiráveis eram “aquelas
que, frente a um amor, sabem afastar um homem que dele não é digno,
salvaguardando sua liberdade e sua personalidade.”24
Ou seja, para ela o casamento não era a finalidade da vida da mulher, existiam
outros desafios a serem conquistados. Já para a Emilia Marchesini o verdadeiro
feminismo não incentivava a competição entre homens e mulheres, mas
23
Actividades da Federação Pernambucana pelo Progresso Feminino. Diário da
Manhã, 15.09.1935. APEJE
24
Actividades da Federação Pernambucana pelo Progresso Feminino. Diário da
Manhã, 29.09.1935. APEJE.
25
Actividades da Federação Pernambucana pelo Progresso Feminino. Diário da
Manhã, 17.11.1935. APEJE.
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26
Actividades da Federação Pernambucana pelo Progresso Feminino. Diário da
Manhã, 10.10.1935.APEJE.
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27
Actividades da Federação Pernambucana pelo Progresso Feminino. Diário da
Manhã, 22.09.1935. APEJE.
28
Actividades da Federação Pernambucana pelo Progresso Feminino. Diário da
Manhã, 15.09.1935. APEJE.
29
IDEM
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ROSENTHAL, Davis; KATZ, Jaime; MENESES, Paulo. (Org.). Coletanea de
Textos - Teilhard de Chardin. 1ed.Recife: Pinter, v. 1, p. 115-122. 2008.
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: um longo caminho. 11ª ed.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.
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2003.
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Christine Rufino Dabat e Maria Betânia Ávila. Disponível em
http://disciplinas.stoa.usp.br/pluginfile.php/185058/mod_resource/content/2/G
%C3%AAnero-Joan%20Scott.pdf .
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Fontes
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Daniela Auad*
698
Introdução
*
Pós-Doutora em Sociologia pela UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas),
Pedagoga, Mestra e Doutora pela Faculdade de Educação da USP (Universidade de São
Paulo), na área de concentração Sociologia da Educação. Atualmente, é Professora do
Programa de Pós-Graduação em educação da Faculdade de Educação da Universidade
Federal de Juiz de Fora (PPGE/FACED/UFJF). Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas
Flores Raras – Educação, Comunicação e Feminismos (CNPq/UFJF). Contato:
auad.daniela@gmail.com
**
Pedagoga; Mestra em Educação pela Universidade Federal de Juiz de
Fora;Especialista em Educação no Ensino Fundamental (C.A. João XXIII/UFJF) e
integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas Flores Raras – Educação, Comunicação e
Feminismos (CNPq/UFJF). Contato: nevesramosm@yahoo.com.br
***
Pedagoga; professora da Rede Municipal de Juiz de Fora; Mestra em Educação pela
UFJF e integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas Flores Raras – Educação,
Comunicação e Feminismos (CNPq/UFJF). Contato: rborgessalvador@yahoo.com
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práticas que imprimem essa falsa impressão de que “a vida sempre foi assim”.
Essa concepção foi construída socialmente historicamente, e as raízes desse
pensamento no campo da Educação serão debatidas a seguir.
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1
Que se refere ao fomento da qualidade da Educação tendo em vista os índices do IDEB
(Índices do Desenvolvimento da Educação Básica).
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REFERÊNCIAS
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SOUSA, Lia Gomes Pinto de. SOMBRIO, Mariana Moraes de Oliveira. LOPES,
Maria Margaret. Para ler Bertha Lutz. Campinas. Cadernos Pagu. 2005. pp. 316-
317. Disponível em www.scielo.br/scielo. Acesso em 21/07/2014.
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Os anos de guerra
*
Acadêmica de Licenciatura em Ciências Socais da Universidade de Pernambuco. Sob
orientação da Profª. Doutora Andrea Bandeira. Contato: giselemorais0@gmail.com
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1
http://pre.univesp.br/as-mulheres-na-guerra#.V7iiY608LIU
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Novos tempos
Temos nos EUA e demais países influenciados por ele uma onda
conservadora e anticomunista que surgiu no fim da guerra e seguiu durante a
guerra fria uma forte onda conservadora quis por “em ordem o homem e a
mulher na sociedade”, pois segundo a Igreja a sociedade estava a beira do
colapso pelas mulheres estarem fora de seus afazeres destinados. Além de que
queriam eliminar qualquer influencia do lado agora inimigo durante a guerra fria,
queriam reforçar a ideia que o bem está no homem que vai a Igreja.
Assim, a pertença a uma Igreja e uma atitude abertamente
favorável em relação à religião se tornaram formas de afirmar
o American way of life, especialmente porque a União
Soviética e seus aliados assumiram oficialmente o ateísmo.
Nesse quadro, ir à igreja regularmente era um escudo contra
a suspeita de subversão. Dessa forma, o que aconteceu nos
anos 50 não foi um revivecimento da crença religiosa, mas
sim da crença na religião, já que os benefícios da devoção não
seriam místicos, metafísicos, existenciais, psicológicos ou
éticos. Seriam políticos e sociais. A teologia dos anos 50
baseava-se na convicção de que a religião era símbolo da
nacionalidade norte-americana muito mais do que na crença
na existência de Deus. O caso católico é expressivo disso.
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Figura 3-Propaganda de gordura de coco, a figura representando o feminino usa o modelo New
Look. (1953)
722
A volta dos homens as cidades gerou num impasse, cargos que eles
ocupavam agora havia mulheres, em todos os setores, unida aos críticos que
achavam que as mulheres estavam perdendo a feminilidade ao trabalhar,
campanhas foram feitas para que elas largassem seus empregos e voltassem ao
lar e que “tudo voltasse a ser o que era antes” tinham apoio da igreja, mulheres
casadas voltaram deixando seus maridos no posto, porém um bom número de
mulheres solteiras seguia em seus ofícios, para o conceito da época começou a
ser tolerado desde que abandonasse ao casar, principalmente nas camadas mais
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baixas, afinal seria ajuda para conseguir o dote. Mas esta independência tinha
data para acabar, aos 25 anos caso não tivesse um pretendente estaria como
estorvo ao lar, e as que não anseiam um casamento são apontadas como
destruidoras de lares nas quais esposas deveriam ficar de olho, ou mulheres que
não tinham prestigio e já foram defloradas.
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Acima temos uma forte chamada para o título, iniciando com afirmação
sobre determinado comportamento não “atrai” o amor, mas logo vemos que o
que aparentava ser um conselho, torna sugestão para o uso das Gotas
Mendelinas, que promete cuidar dos “nervos combalidos” das mulheres nervosas
que apresentam sintomas como: chorar, irritar-se, lamentar a ponto de falarem
de seus nervos. E temos o adicional no rodapé da página que é o lembrete que 725
móveis lustrosos só com óleo de peroba. Temos neste exemplo algo que se repete
em várias outras matérias no Anuário das Mulheres, uma matéria de título
provocativo, alguma argumentação com ou sem respaldo científico e a venda de
um produto como conclusão para o problema apresentado.
O foco desta mídia era auxiliar a mulher ser a esposa, mãe, noiva,
namorada perfeita, o casamento é o pico do desenvolvimento social de uma
mulher. A falta de matérias sobre política ou economia, por exemplo, nos deixa
a plena certeza, e em revistas como O Cruzeiro as matérias “para elas” ficavam
no início longe de matérias de economia que ficavam localizadas no meio da
revista. Artistas apareciam com frequências nas edições e recheavam as páginas
com fotos, embora que o assunto nos textos fosse o vestuário, cabelo,
maquiagem, não tinha uma abordagem sobre a vida profissional, por outro lado
dava enfoque a conquistas e anseios pessoais, destacavam como Marlin
Monrone era uma esposa dedicada junto com dicas para ter o cabelo que usou
em seu último filme. Mas duramente criticada pelo estilo de vida e seus divórcios
(que no Brasil ainda não existia) sua vida considerada boêmia e suas polêmicas,
além de a categoria artista não era vista como profissão.
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a máscara da mulher perfeita, existiam maridos que nunca tinham visto a esposa
sem maquiagem, o que antes que era o uso de carvão nos olhos e batom negro
como Theda Bara nos anos 1910, mudaram para a delicadeza que Grace Kelly
usava. Esta imagem estava em diversas outras artistas como Carmen Miranda e
também representada em personagens femininas nas propagandas.
Figura 4- Imagem de Carmem Miranda (1954) a lado propaganda do sabonete Tabarra (1954) , 726
mesma caracterização.
Beleza que era dita no discurso no imperativo, sem filtros a afirmar que
ser bela é uma coisa necessária para o bem-estar. Diversas matérias com dicas
de se vestir, comportamento, dicas de relacionamentos acompanhadas de
propagandas de como estar bem vestida e cosméticos. Ocorrendo a mensagem
repetidas vezes em qualquer produto que seja vendido, como o exemplo abaixo:
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Representação das mulheres negras
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Figura 6, 7, 8- Imagens dos anúncios Fracalanza (1951), Dako(1953), livros Contos da Mãe
Preta (1954).
729
Conclusão
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REFERÊNCIAS
Anuário das Senhoras, Edições da sociedade anônima “o malho”, revistas
diversas; edições dos anos de 1951,1952, 1954. Disponíveis no acervo da
Fundação Joaquim Nabuco.
Jornal das Moças; Edições do ano de (1951 até 1959) Hemeroteca Digital
Brasileira Disponível em <http://hemerotecadigital.bn.br/acervo-digital/jornal-
mocas/11103> Acesso 26 de ago. 2016.
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PINSKY, Carla Bassanezi; Mulheres dos anos dourados - São Paulo: Contexto,
2014.
PORTES, Claudia Regina Pacheco e GONÇALVEZ, Nádia Gaiofato.
Adolescência Inventada: A Mídia Como Representação. Artigo. Pesquisa de
desenvolvimento educacional. Secretaria de educação de São Mateus do Sul,
2008.
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Mestranda em História social da cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio
de Janeiro (PUC-Rio).
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Assim, ele busca acabar com o abismo existente entre a história das
ideias e das mentalidades através do desenvolvimento de três conceitos em
especial: representação, prática e apropriação. Colocando a realidade como
sendo analisada através das suas representações, considerando-as então,
realidades de múltiplos sentidos. Contudo, há práticas sociais que não podem ser
reduzidas a “representações”, pois as mesmas possuem uma lógica autônoma, e
elas servem para dar significado ao mundo. E a apropriação se dá na forma como
os indivíduos leem as instituições representadas.
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1
Popeye é um desenho criado por Elzie Crisler Segar em 1929, onde teve sua primeira
aparição no Thimble Theatre. Também foi produzido para televisão, teatro e cinema.
2
A pequena órfã Annie criada Harold Gray, trata-se de uma tira de jornal norte
americano, criada em 1924 a qual relata o cotidiano de uma jovem menina chamada
Annie, seu cachorro Sandy e um benfeitor milionário chamado de Oliver.
3
The heart of Juliet Jones criada por Elliot Caplin (roteirista) e Stan Drake (desenhista)
em 1953, onde a trama girava em torno de uma família.
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origem grega, ela é uma amazona herdeira de uma linhagem de mulheres bélicas
que possui acessórios tipicamente gregos: o escudo, elmo e botas. Ao mesmo
que representa algumas reflexões do próprio criador sobre o feminino e lugar da
mulher naquela sociedade. Pense que seu surgimento se dá durante a Segunda
Guerra Mundial, momento muitíssimo emblemático aos Norte Americanos
assim como, para o mundo.
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ainda era a responsável pelas atividades em casa, mas agora, precisava conciliar
com sua jornada de trabalho. Ela deixou de ser a esposa exemplar, porque seu
marido e as vezes filhos estavam na guerra, e virou uma mulher exemplar, uma
mulher maravilha.
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REFERÊNCIAS
LEPORE, Jill. The secret history of Wonder Woman. Knopf, 1ST Edition, 2014.
MATOS, Maria Izilda Santos de. História das mulheres e das relações de
gênero: campo historiográfico, trajetórias e perspectivas. Mandrágora, v. 19, n.
19, 2013, pp. 5-15.
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PERROT, Michelle. Minha história das mulheres. São Paulo: Editora Contexto,
2013.
TILLY, Louise. Gênero, história das mulheres e história social. Cadernos Pagu
(3), 1994, pp.29-62.
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ANEXO A
Poster de divulgação da Mulher Maravilha para as tirinhas nos jornais. Artista desconhecido,
1944
743
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ANEXO B
Primeira capa da Mulher Maravilha, para a Sensation Comics, 1941. Onde apresenta a
personagem como uma mulher capaz de lutar contra homens e defensora dos EUA.
744
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ANEXO C
Esboço de como seria a personagem Mulher Maravilha feito por Harry George Peter.
745
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O século XX, por sua vez, entra em cena trazendo consigo muitas
*
Doutora em História Universidade Federal Rural de Pernambuco.
**
Graduanda em História Universidade Federal Rural de Pernambuco.
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conquistas quanto a essas demandas. Mas, no caso dos direitos civis, as mulheres
foram alijadas das conquistas referentes ao sufrágio. Em consequência disso,
algumas historiadoras afirmam que o fato de terem sido retiradas do cenário
político impulsionou muitas mulheres a repensar as estratégias individuais e
coletivas de luta (Ibid., p. 47). Nesse sentido, “[...] se o Movimento Sufragista
não se confunde com”, diríamos nós, os outros feminismos, “[...] ele foi, no
entanto, um movimento feminista, por denunciar a exclusão da mulher da
747
possibilidade de participação nas decisões públicas” (Ibid., p. 48) e por
questionar, direta e indiretamente, as relações entre homens e mulheres
(NASCIMENTO, 2013a, p. 41-57).
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época, como subversivas. Leolinda Daltro foi uma entre essas mulheres ousadas
e corajosas de seu tempo: professora, indianista e ativista feminista. Sua atuação
política começa de modo singular a partir de 1895, quando se une à militância
em favor da defesa dos indígenas, contra seu extermínio e o autoritarismo da
catequese. Em 1909, tenta, mas não consegue, se alistar como candidata para as
eleições e, no ano seguinte, como resposta, cria com Gilka Machado seu próprio
partido (Ibid., p. 19).
748
Gilka, por sua vez, foi uma audaciosa poetisa que chocou a sociedade
carioca com suas poesias de cunho erótico, como assinala Nádia Gotlib (2016,
on-line). Juntas, Gilka e Leolinda, foram capazes de movimentar a imprensa
carioca e lançar para o assunto do dia a questão do voto feminino. Em novembro
de 1917, as duas organizaram uma marcha que reuniu 90 mulheres que
caminharam pelo centro de São Paulo chamando a atenção da população para
suas reinvindicações e, mais uma vez, tornando-as objeto de matérias publicadas
nos jornais (PINTO, 2003, p. 19).
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1
JORNAL PEQUENO, 03 jun. 1931, p. 3.
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2
JORNAL PEQUENO, 01 jun. 1931, p. 1.
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3
JORNAL PEQUENO, 31 jul. 1931, p. 1.
4
JORNAL PEQUENO, 02 abr. 1932, p. 1.
5
JORNAL PEQUENO, 31 maio 1932, p. 1.
6
JORNAL PEQUENO, 07 dez. 1932, p. 1.
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7
JORNAL PEQUENO, 02 abr. 1932, p1.
8
JORNAL PEQUENO, 31 mai. 1932, p.4.
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os direitos civis femininos, mas sem destruir a estrutura social vigente, já que
“[...] as feministas brasileiras, de maneira geral, esquivavam-se de levar o
feminismo à sua conclusão lógica. Presas a fortes tabus quanto a provocar
conflitos ou agir ‘egoistamente’, grande parte delas adotava posições
conciliadoras que minavam as reinvindicações de igualdade entre os sexos”
(BESSE, 1999, p. 208). Como afirma Joan Scott para as feministas inglesas e
francesas do século XIX, o paradoxo marca o discurso do feminismo. Mulheres
754
que queriam mudanças lá e aqui, mas sem rupturas (SCOTT, 2002, p. 204).
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9
DIARIO DE PERNAMBUCO, 06 abr. 1919, p. 4.
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É por essa razão que, nas primeiras décadas do século XX, as rádios
adotavam o modelo de “rádio sociedade”, prevendo em seu estatuto o pagamento
de mensalidades (Ibid., p.53). Note-se ainda que nesse período não havia
locutores, radialistas, roteiristas de rádio, etc. O surgimento e a
profissionalização dessas carreiras somente ocorrem a partir de 1952, com a
inauguração do Diário de Associados de Assis Chateaubriand. Nessa direção,
757
“[...] nos primórdios do veículo, a programação musical era feita através de
doações ou empréstimos de discos às rádios, que eram fundadas em clubes ou
sociedades, ambas formadas por pessoas com boas somas de dinheiro capazes
de pagar mensalidades necessárias para o sustento das rádios” (FREITAS, 2012,
p. 4).
10
Electron foi uma revista de publicação mensal e ilustrada dedicada, especialmente, à
radiocultura e à divulgação científica. Parte do órgão oficial da Rádio Clube de Pernambuco teve
como diretores Oscar Moreira Pinto e Aristides B. Travassos; e como secretário Abílio Leôncio
de Castro. Foi criada em 15 de fevereiro de 1932, resistindo até seu sétimo número, publicado
em 15 de agosto do mesmo ano. Seu lema era: Electron é vosso, povo de Pernambuco,
ampare-o! In: NASCIMENTO, Luís do. História da Imprensa de Pernambuco (1821‒1954),
v. 9, p. 33-34, 1997.
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11
ELECTRON, abr. 1932. p. 6. Acervo Fundação Joaquim Nabuco.
12
DIARIO DE PERNAMBUCO, 24 fev. 1931, p. 3.
13
Para entender o impacto dessa lei no cotidiano dos ouvintes e consumidores das rádios, Cf.
MARANHÃO FILHO, Luiz. No tempo do reclame: subsídios à história da publicidade no
Nordeste. Recife: UFPE, 2002.
14
Para entender melhor como se deu o ensino de História do Brasil através do rádio Cf.
DÂNGELO, Newton. Ouvindo o Brasil: o ensino de História pelo rádio – décadas de 1930/40.
Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 18, n. 36, 1998.
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Considerações Finais
Ainda assim, é preciso apontar para o fato de que, à época, pairava uma
forte esperança em torno da utilização do rádio como meio para educar a
população não letrada. Por essa razão, acreditamos que as feministas da Cruzada
viram nele a possibilidade de não necessariamente atingir, mas reforçar a
comunicação com um público com quem elas já mantinham certo contato pela
mídia impressa. Martha de Hollanda convivia em meio aos intelectuais, e estes
já faziam uso da Rádio Clube para divulgarem temas que vão desde O Recife
Antigo e suas tradições (CÂMARA, 1998, p. 45) até palestras de saúde e higiene,
exatamente com essa ideia de que poderiam educar as massas iletradas através
da audição. Nesse sentido, entusiasmada por essa áurea de esperança no
progresso propagado pelo rádio, a escritora elaborou e proferiu discursos cultos,
poéticos e rebuscados em citações procurando sensibilizar homens e mulheres
em favor das pautas feministas pela emancipação feminina e seu acesso aos
direitos civis.
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REFERÊNCIAS
FREITAS, Goretti Maria Sampaio de et al. O que é preciso ler para entender o
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GOTLIB, Nádia B. Com Gilka Machado, Eros pede a palavra (Poesia erótica
feminina brasileira nos inícios do século XX). Disponível em:
http://www.labrys.net.br/labrys29/arte/nadia.htm. Acesso em: 20 jul. 2016.
762
LEITE, Miriam L. M. Outra face do feminismo: Maria Lacerda de Moura. São
Paulo: Ática,1984.
PINTO, Céli Regina Jardim. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo:
Fundação Perseu Abramo, 2003.
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763
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764
ST 7
Gênero e Culturas Políticas
no Brasil
Coordenação
Profa. Dra. Silvia Maria Fávero Arend
(UFSC)
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CENSURA PARA QUEM? GÊNERO E MORAL NO CINEMA DA
DITATURA
Com que prazer não deve ter saboreado, cada censor, a elaboração de
um parecer sobre Os homens que eu tive - um filme inicialmente liberado, para
18 anos, e proibido três meses depois, por questões morais. Como o título sugere,
a protagonista Pity era uma mulher que mantinha relacionamentos amorosos,
simultâneos ou não, com homens diversos, de acordo com suas preferências e
seus desejos.
*
Pós-doutoranda do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas
da Universidade Federal de Santa Catarina.
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rurais pegaram em armas para defender um sonho de liberdade, em sentido
amplo, para o seu país.1
1
Cf. ÂNGELO, 2011.
2
O filme estreou em junho de 1973 no cinema Roxy, na capital carioca, com seus 1800
lugares tomados, e tinha estreia marcada em São Paulo na semana em que foi
interditado: a Semana da Pátria, em setembro de 1973 (Trautman, 2010).
3
Uma visão mais aprofundada sobre a atriz Leila Diniz e sua personalidade “solar” pode
ser encontrada em Silva, 2010: 79-99.
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vivências da minha cuca, do meu coração aberto a todas as transações e todos os
gestos”, Sérgio Augusto sugere que “parte da personalidade de sua heroína, Pity
(Darlene Glória), foi inspirada em si mesma” (Veja, 01.08.1973). Ou seja, o
colunista busca o sensacionalismo para afirmar que, além de ser uma mulher
cineasta, Trautman era também uma mulher “liberada”, como sua protagonista.
Desta forma, ele simplifica e reduz a presença autoral da diretora à sua projeção
na personagem, o que pode ser tomado como um esvaziamento da autoria.
(VEIGA, 2013, p. 196) 767
No contexto cinematográfico, o predomínio das chamadas
pornochanchadas gerava um paradoxo com a interdição daquele filme, que não
trazia qualquer cena explícita de sexo em seu roteiro. Nuno Cesar Abreu (1996)
traça um panorama detalhado desse gênero, tipicamente brasileiro, dos anos
1970, ao sinalizar uma tendência no campo cinematográfico que acabou
conquistando um grande filão de mercado. Para este autor, a pornochanchada
expressa o desejo de liberação dos costumes da época (ABREU, 1996, p. 74-75).
Isso se dá em um contexto ambivalente das relações entre cinema e Estado, em
tempos de autoritarismo, coroado pela criação da Embrafilme, em 1969.
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feministas que apareciam com intensidade naqueles anos. Por seu lado, Azeredo
tentava “proteger” a diretora de um estigma:
Primeira mulher a realizar um longa-metragem no Brasil
desde a década de 1950, Tereza Trautman poderá reivindicar
um lugar na história do cinema brasileiro, no mínimo como a
primeira realizadora a filmar entre nós com um ponto de vista
nitidamente feminino. Classificar Os homens que eu tive de
feminista me parece apressado e – a julgar pelas distorções
sectárias sempre presentes nos movimentos feministas - uma
atitude talvez injusta. Um “cinema feminino” está longe do
pensamento da autora. (Azeredo, 2009: 208)
768
4
Cf. VEIGA e TRAUTMAN, 2015.
5
Documento da Censura em PDF. Disponível em: www.memoriacinebr.com.br.
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O parecer 3612/73, mencionado foi assinado por duas censoras e um
censor, que autorizaram a exibição do longa-metragem em junho de 1973. Pela
quase ausência de cortes, percebemos que o filme de Tereza Trautman não deve
ter causado tanto incômodo a seus avaliadores, ao menos naquele momento. A
proibição viria três meses depois, determinada diretamente pelo general Antônio
Bandeira, o então diretor geral do Departamento de Polícia Federal, responsável
pelo órgão de censura. O motivo? Funcionários do órgão diriam à cineasta que
foi uma denúncia de uma senhora “de família”, de Belo Horizonte, que teria 769
comunicado sua queixa ao general. Afinal, aquele filme deterioraria, em muito,
a “imagem da mulher brasileira” e da família (VEIGA e TRAUTMAN, 2015).
6
Carta da empresa Produções Cinematográficas Herbert Richers S.A. ao Ministério da
Justiça. Disponível em: www.memoriacinebr.com.br/pdfsNovos/0890473C01104.pdf.
Acesso em 19 jan. 2013.
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Parecer 4645/73. Título: Toda nudez será castigada.
Classificação etária: não liberação.
Cenas: de desajustamento familiar, conflitos, relações de
sexo, de exibicionismo erótico, de fuga, de suicídio.
Linguagem: vulgar, de baixo calão, sórdida. Tema:
psicossocial. Personagens: sadomasoquistas, desajustados,
angustiados. Mensagem: negativa.
7
Disponível em: www.memoriacinebr.com.br.
8
Documento anexo ao certificado de censura do filme, expedido pelo Ministério da
Justiça, Departamento de Polícia Federal, Divisão de Censura de Diversões Publicas e
assinado por Rogério Nunes e Deusdeth Burlamaqui em 21.12.1972.
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palavrões e com título alterado para Os homens e eu, por sugestão da própria
censura.
Parecer 4680/75. Título: Os homens e eu. Classificação etária:
não liberação.
9
Idem.
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Recorremos, neste ponto, ao sentido foucaultiano de “normalização”10,
explorado por Judith Butler e, por vezes, traduzido como “normatização”. Este
sentido torna-se evidente no discurso do censor, já que a protagonista de Os
homens que eu tive fugia a uma “normalidade” social, que compreendia a
vocação de submissão da mulher dentro do casamento. E que, curiosamente,
vemos reemergir nos dias atuais.
10
No capítulo “Corpos dóceis”, de Vigiar e Punir, Michel Foucault argumenta sobre o
estabelecimento do normal como princípio de coerção. Os desvios deveriam ser
reduzidos, por meio de penalidades aplicadas ao “campo indefinido do não-conforme”,
do anormal. O “poder da Norma” faria parte das leis da sociedade moderna
(FOUCAULT, 2002 [1975], p. 148-154). Podemos associá-lo às práticas dos regimes
militares sul-americanos.
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pertinência moral de cada filme. Assim sendo, sua profissão, ligada ao cinema,
também teria caráter artístico.
11
Cf. www.memoriacinebr.com.br.
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percebemos nos discursos da imprensa, representados por esta crítica da estreia
do filme no jornal Folha de São Paulo:
“OS HOMENS QUE EU TIVE” - Se em “Toda nudez será
castigada” Darlene Glória sofria na mão dos homens, a
vingança veio rápida, pois em “Os homens que eu tive” estes
é que sofrem sob a ação de seus caprichos. E olhe que os
homens são uns “pães”, como Gracindo Júnior, Arduíno
Colassanti, Milton Moraes, Gabriel Arcanjo e Roberto
Bonfim. É certo que o fato do diretor ser uma mulher (Tereza
Trautman, 22 anos) ajuda esta situação, mas Darlene vai
mesmo à forra, pois além dos homens, tem oportunidade de
transar com Ítala Nandi e Annick Malvil numa história 774
profundamente humana e sincera, de autoria da própria
diretora. “Os homens que eu tive”, numa apresentação da
Ipanema Filmes12, estréia no próximo dia 3 no circuito do cine
Ipiranga (Folha de São Paulo, 23.08.1973).
Isso significa que a crítica (provavelmente feita por uma mulher, já que
chama os atores de “pães” - linguagem coloquial na época para se falar sobre
homens bonitos) recomendava bem o filme e chamava o público para ir às salas
de cinema ver a atriz Darlene Glória “transar” com atores bonitos e ainda com
as atrizes Ítala Nandi e Annick Malvil (no filme a irmã de Pity, com quem ela
não faz sexo). Infiro que, se esse tipo de mentalidade podia estar impresso nas
páginas de um grande jornal, ele também estaria presente no senso comum de
muitos leitores e leitoras. As atrizes seriam menos ou mais respeitáveis de acordo
com as personagens que aceitavam interpretar no cinema ou na televisão.
Julgamento semelhante poderia ser aplicado a uma diretora que ousasse rodar
um filme como Os homens que eu tive.
12
Aqui mais uma coincidência entre Os homens que eu tive e Toda nudez será castigada
– os dois filmes foram distribuídos pela Ipanema Filmes.
13
Cf. BASSANEZI, 1996; BUITONI, 1981.
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Em 1979 encontramos outra crítica de Ely Azeredo em defesa do filme
de Trautman, no Jornal do Brasil, às vésperas de sua liberação. O crítico mostra
indignação diante do que chama “um processo obscurantista e pisoteador dos
argumentos da razão”, justamente no momento em que tanto se falava em
abertura.
Preconceito, arbítrio personalista, hipocrisia machista,
barretadas das autoridades ante decisões tomadas por seus
antecessores no poder, ignorância da evolução cultural do país
fazem do virtual seqüestro de criação artística14 talvez o caso
mais kafkiano da década de 70 na área das atividades 775
cinematográficas. (Jornal do Brasil, 17.11.1979)
14
Grifo no original.
15
Grifos no original.
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recepção. Ele já não causaria tanto impacto nos anos 1980, mas, ainda assim,
não seria bem visto pela parte mais moralista da sociedade.
16
Grifo no original.
17
“Fantasias de Tereza sem traumas”, de 18 agosto de 1980, p. 19.
18
“Os homens que eu tive, liberado sete anos depois”, de 12 agosto de 1980, p. 20.
19
“Os homens que eu tive, uma derrota da censura”, de 11 agosto de 1980, p. 17; “Os
homens que eu tive, Filmes novos”, de 18 agosto de 1980, p. 19; “Simpático, simples,
direto. E levemente ingênuo”, de 18 agosto de 1980.
20
“Simpático, simples, direto. E levemente ingênuo”. Jornal da Tarde, 18 ago. 1980.
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dominante, Os homens que eu tive não transmite a menor sensualidade. É frio,
esquemático e principalmente cansativo”. (Veja, 20.08.1980)
21
Cf. VEIGA, 2013.
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com a juventude. Seria Os homens que eu tive novamente censurado, se houvesse
esta possibilidade hoje? Talvez, sim.
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filme vai aos poucos sendo suprida,22 enquanto que ele, lentamente, alcança um
número cada vez maior de espectadores e espectadoras, ávidos/as por
representações que desafiem novamente padrões conservadores que insistem em
se reestabelecer.
REFERÊNCIAS
22
Cf. VEIGA, 2013b. Parte do que é tratado neste artigo é embasada no texto “Tereza
Trautman e Os homens que eu tive: uma história sobre cinema e censura”, publicado
pela revista Significação, da Escola de Cinema e Artes da Universidade de São Paulo e
na minha tese de doutorado.
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Maria Helena (et al.). História e Cinema. São Paulo: Alameda Casa Editorial,
2007, p. 327-349.
VEIGA, Ana Maria. Tereza Trautman e os homens que eu tive: uma história
sobre cinema e censura. Significação-Revista de Cultura Audiovisual, v. 40, p.
52-73, 2013b.
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Introdução
781
O dia 12 de outubro de 1979 foi um dia especial para as crianças
brasileiras. Durante as festividades do dia de Nossa Senhora Aparecida,
comumente festejado o Dia da Criança no Brasil, foi sancionada uma atualização
do Código de Menores de 1927, legislação que tutelou os infantojuvenis
brasileiros por mais de cinquenta anos. O general presidente do Brasil João
Batista Figueiredo encontrava-se tão comovido com a promulgação do Novo
Código de Menores1 que, quebrando o protocolo, abraçou entusiasticamente o
mentor da proposta, o senador Nelson Carneiro2.
*
Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado de Santa
Catarina, pesquisadora do Laboratório de Relações de Gênero e Família - LabGeF e do
Laboratório de Ensino de História – LEH, ambos da UDESC. Bolsista CAPES. Email para
correspondência: camis.hst@gmail.com.
1
BRASIL. Lei n. 6.697, de 12 de outubro de 1979.
2
O ESTADO. Figueiredo sanciona novo código e elogia ação de Carneiro. 11 out. 1979.
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em 12 de fevereiro informando sobre a entrada em vigor do Código, este viria
no sentido de amparar legalmente ações já levadas a cabo pela Polícia e pelas
utoridades competentes brasileiras no que diz respeito ao menor suspeito de
delito. Assim, o Ano Internacional da Criança, como foi eleito pela ONU o ano
de 1979, ficou marcado no Brasil como aquele em que meninos e meninas pobres
foram criminalizados através da insignia legal menor em situação irregular: um
aparato jurídico que permitia a prisão para averiguação, sem flagrante delito,
bem como a incomunicabilidade do menor que não tivesse representante legal. 782
A partir de um conjunto de reportagens veiculadas no jornal O Estado,
editado na cidade de Florianópolis, busco nessa comunicação apresentar o
cenário das instituições que governaram, assistiram ou toleraram a infância e a
adolescência pobres durante a vigência do Código de Menores de 19793. Uma
análise da operacionalidade dessa lei através das lentes de gênero descortina uma
cultura política da capital do estado de Santa Catarina, fruto de um processo
histórico de imbricamento entre os âmbitos público e privado no que se refere à
governança e ao controle social.
3
Essa discussão faz parte de uma reflexão mais ampla oriunda da dissertação de
Mestrado da autora, defendida em 2013 pela Universidade Federal de Santa Catarina,
sob orientação do Prof. Dr. Rogério Luiz de Souza e coorientação da Profa. Dra. Silvia
Maria Fávero Arend. Ver: DAMINELLI, Camila Serafim. Governar, assistir, tolerar:
uma história sobre infância e juventude em Florianópolis através das páginas de O
Estado (1979 - 1990). 2013. Mestrado em História. Universidade Federal de Santa
Catarina. 2013.
4
KOSELLECK, Reinhart. Futuro Passado: contribuição à semântica dos tempos
históricos. Rio de Janeiro: Contraponto: Ed. PUC Rio, 2006, p. 109.
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conforme sugerido por Julian Borba5; 2) analisando relações de gênero como
referências à contruções sociais que tem a ver como a distinção
masculino/feminino, conforme Linda Nicholson6, ou ainda, relações de gênero
como a organização social da diferença sexual, de acordo com Joan Scott7.
5
BORBA, Julian. Cultura política, ideologia e comportamento eleitoral: alguns
apontamentos teóricos sobre o caso brasileiro. Opinião Pública. Campinas, v. 12, n. 1,
mar. 2005, pp. 147 - 178.
6
NICHOLSON, Linda. Interpretando o gênero. Estudos Feministas. Florianópolis, v.
8, n. 2, jul./dez. 2000, pp. 09 - 41. Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/11917/11167.
7
SCOTT, Joan Wallach. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação &
Realidade. Porto Alegre, v. 20, n. 2, jul./dez. 1995, pp. 71 - 99.
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atitudes”8. A clientela a qual se referiam as matérias jornalísticas era a seguinte:
crianças e jovens ociosos, em atividades lucrativas sem a devida assistência
educacional, em situação de mendicância, delinquência e vício.
8
O ESTADO. FUCABEM abre centro quarta-feira. 28 fev. 1982.
9
Angelita Pereira Cardoso, ao estudar referências institucionais de adolescentes em
privação de liberdade, afirma que o São Lucas foi fundado no ano de 1973. A autora
menciona que coletou tal informação de maneira informal, pois não encontrou
documentação sobre o início das atividades do Centro, ainda que fosse, à época da
pesquisa, funcionária da instituição. Ver: CARDOSO, Angelita Pereira. A percepção
dos adolescentes internados no Centro Educacional São Lucas sobre o cotidiano
institucional, no ano de 2003 – município de São José. Especialização em
metodologias de atendimento à criança e ao adolescente em situação de risco.
Florianópolis: Universidade do Estado de Santa Catarina, 2003, p. 34.
10
BORTOLI, Ricardo. As relações sócio-familiares dos adolescentes internos no
Centro Educacional São Lucas. Especialização em metodologias de atendimento à
criança e ao adolescente em situação de risco. Florianópolis: Universidade do Estado de
Santa Catarina, 2004, p. 27.
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adolescentes do sexo feminino11. Para além do perfil infracional, vemos
delinear-se uma assistência pública voltada ao sexo masculino.
11
Uma reportagem publicada em O Estado faz referência ao um Instituto Educacional
Feminino, no entanto, não foi possível coletar nenhuma informação sobre a instituição.
O ESTADO. Com cinco anos foi estuprada. Hoje procura a liberação do vício. 18 ago.
1979.
12
SPOSATI, Aldaíza. Assistência Social: de ação individual a direito social. Revista Brasileira
de Direito Constitucional. v.1. n. 10, jul./dez. 2007. p. 437. Disponível em:
http://www.esdc.com.br/RBDC/RBDC10/RBDC-10-435-Aldaiza_Sposati.pdf.
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encaminhamento aos menores em situação irregular. De acordo com o Art. 59,
parágrafo único do Código de Menores de 1979, as entidades privadas de
assistência ou proteção aos menores comporiam o sistema complementar de
execução das medidas, de proteção ou assistência, a serem executadas
[prioritariamente] pelo Poder Público13.
13
BRASIL. Lei n. 6.697, de 12 de outubro de 1979. Capítulo V.
14
O ESTADO. Crise ameaça atividades da Serte. 27 mai. 1984.
15
O ESTADO. Crise ameaça atividades da Serte. 27 mai. 1984.
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início do século XX, quando então foi chamado Asilo de Órfãs São Vicente de
Paulo. Instituído enquanto orfanato, quer dizer, em caráter de abrigamento
permanente, manteve essa característica durante a maior parte de sua existência,
até a década de 1970, quando passou a funcionar em regime de apartamentos
livres, ainda sob coordenação da Irmandade do Divino Espírito Santo, que a
fundou. Em meados dos anos 1980, passou a ser administrado em caráter laico,
apesar de seguir valendo-se da mão de obra religiosa.
Numa pequena reportagem que O Estado destinou aos 80 anos do Lar 787
São Vicente de Paulo – numa das raras informações coletadas sobre o mesmo
em todo o período da pesquisa – somos informados de que haviam 16 meninas
abrigadas de forma permanente na instituição, que atendia outras 45 em regime
de semi-internato16.
16
O ESTADO. Lar São Vicente faz aniversário. 05 set. 1990.
17
O ESTADO. Crise ameaça atividades da Serte. 27 mai. 1984.
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Aos cuidados da “boa fé”: o primeiro damismo na assistência social às
crianças e aos adolescentes
18
RIZZINI, Irma. Meninos desvalidos e menores transviados: a trajetória da assistência
pública até a Era Vargas. In: PILOTTI, Francisco; RIZZINI, Irene (orgs.). A arte de
governar crianças: a história das políticas sociais, da legislação e da assistência à
infância no Brasil. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2011, p. 275.
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fragmentadas”19. Já por Assistência Social entende-se um conjunto de práticas
de promoção de direitos que visam à superação de desigualdades sociais e à
cidadania plena dos indivíduos.
19
NOZABIELLI, Sonia Regina; ET ali. O processo de afirmação da assistência social
como política social. Serviço Social em Revista. v.1, n. 2, jan./jun. 2006. Disponível
em: www.uel.br/revistas/ssrevista/cv8n2_sonia.htm
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hibridismo público/privado, cabe atentar que no ano de 2016 D. Ângela concorre
à prefeitura de Florianópolis tendo como uma das bandeiras da candidatura, sua
atuação junto ao Programa Pró-Criança. Este Programa, alçado à categoria de
política social voltada à nutrição e ao desenvovlimento infantil, foi desenvolvido
pela LADESC quando D. Ângela era presidente dessa instituição. O jornal O
Estado, entusiasta do casal Amin, publicou a seguinte narrativa em outubro de
1984:
Sem desconhecer todas as iniciativas comunitárias e 790
governamentais que o precederam o Pró-Criança, criado em
maio do ano passado, passou rapidamente a se constituir num
dos programas mais importantes da atual administração, pela
abrangência, papel e pioneirismo, admite a presidente da
Ladesc, Angela Amin. (...) O Pró-Criança surgiu da
constatação de que nunca, em termos abrangentes, a faixa
etária de zero a seis anos foi objeto de uma real preocupação
por parte das autoridades20.
20
O ESTADO. A criança catarinense já recebe o aceno da esperança no seu futuro. 14
out. 1984.
21
As atividades do Programa Pró-Criança, propagandeadas tanto por Esperidião quanto
por D. Ângela, de acordo com Yan de Souza Carreirão, sofreram duras críticas da
oposição da época. O Programa, unindo recursos públicos e operacionais em conjunto
com a LADESC, foi acusado de ser uma estratégia de relacionamento clientelista com
as comunidades, fortemente concentrado em objetivos políticos-eleitorais. Ver:
CARREIRÃO, Yan de Souza; BORBA, Julian. Os partidos na política catarinense:
eleições, processo legislativo, políticas públicas. Florianópolis: Ed. Insular, 2006, p. 39
– 40.
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Considerações finais
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Por fim, a terceira consideração versa sobre os lugares sociais ocupados
pelos indivíduos que empreenderam as políticas sociais infantojuvenis na cidade
entre as décadas estudadas. Os governadores, todos homens, geriram as políticas
públicas voltadas às crianças e aos adolescentes em sua versão técnica: seguindo
orientações legais, fazendo obras, buscando resolver problemas de segurança. Já
a gerência das instituições que operavam as políticas tinham o primeiro damismo
como modelo de gestão pública do assistencialismo ao qual a mulher era a figura
ideal: Ângela cuida, ela é mãezona, eis um dos slogans de D. Ângela a soar nas 792
rádios e na televisão atualmente, durante o horário político obrigatório.
REFERÊNCIAS
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BOURDIEU, Pierre. A força do direito: elementos para uma sociologia do
campo jurídico. In: ______________. O poder simbólico. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 1989, pp. 209 – 254.
ISBN: 978-85-65957-07-6
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(orgs.). A arte de governar crianças: a história das políticas sociais, da legislação
e da assistência à infância no Brasil. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2011. pp. 225 -
286.
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O cenário
*
UDESC.
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novos sujeitos e a Igreja Católica, pode-se articular dois fatores, ambos pautados
no referido autor. O primeiro, apresenta uma preocupação maior entre as
relações estabelecidas pela Igreja Católica e movimentos sociais. O segundo
fator está associado, ao que Sader identificou como, a crise da Igreja Católica,
ou de suas matrizes discursivas, o que fez com que essa instituição religiosa
sofresse uma significativa perda de influência junto aos seus fieis.
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sociais a esses espaços de atuação dentro do ambiente institucional católico,
como foi o caso da Pastoral do Menor e de tantas outras Pastorais Sociais.
Os personagens
797
Um garoto só, sentado no meio fio da calçada, vestia um par de
sandálias, calça jeans dobrada e uma regata. Seus braços estavam apoiados nos
joelhos e a cabeça amparada nos braços. Talvez fosse cansaço, um pouco de
tristeza ou então desamparo. Quem sabe tudo isso junto. Esse era apenas mais
dos milhares de meninos que circulavam pelas ruas do nosso país na década de
1980, mais um desses que correm de lá pra cá, daqui pra lá, na intenção de
continuar vivendo. Em uma das pausas da vida ele foi fotografado. Sua imagem,
agora congelada, estampava a capa do Livro da Campanha da Fraternidade.
1
O termo menor é uma construção social, pautada no discurso jurídico, tendo como
baliza fatores de ordem social, econômica, moral e não apenas o quesito idade (inferior
a 18 anos). Assim, menor passou a ser sinônimo de criança abandonada e/ou
delinquente que, excluída do cenário escolar, perambulava pelas ruas, em oposição à
noção de infância considerada civilizada.
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substituídos, as crianças pobres, abandonadas, que circulavam pelas ruas
continuavam associadas ao estereótipo do menor.
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O texto
2
Os subsídios são: texto-base, manual, material litúrgico, missa da CF-87, vigília
eucarística, celebração da misericórdia, via sacra CF-87, encontro com jovens, cartaz,
cartão postal, spot para rádio e para tv, encontro com crianças, encontro com famílias,
envelopes da CF-87.
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laranja ao amarelo, no centro a imagem, a fotografia de um menino, descrita há
poucas linhas atrás. Na contracapa estava a Oração da Campanha da
Fraternidade que trazia palavras-chave como: menores marginalizados, justiça,
acolhida e libertação. Como o próprio nome diz, o texto-base é o documento
principal, ele fundamenta toda Campanha. Entre suas páginas, dentro das
possibilidades, era discutida a realidade brasileira, ali foram apresentados fatos
que demonstravam a ‘degradação’ do futuro do país: os menores e suas
condições precárias de vida. A CPI do Menor, ocorrida em 1975, foi utilizada 800
como fonte para discussão, expondo os números de crianças nas ruas,
consideradas marginalizadas ou em vias de o ser.
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da via-sacra, a mesma seria repetida em todos os encontros, acompanhada de
uma oração inicial e final, diferentes para cada dia. Os cânticos aconteciam no
decorrer da celebração, sendo que o hino da libertação dos menores era indicado,
pelo livreto, em todos os encontros.
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exposto. Assim, cada Estação da Via-Sacra foi adaptada com a temática do
menor3
3
I Estação: Na criança, Jesus é condenado à morte, antes do nascimento; II Estação: No menor
Jesus recebe a cruz; III Estação: A criança pequena cai pela primeira vez, grita e suplica amor;
VI Estação: O menor encontra sua mãe: na rua; V Estação: O irmão ajuda-o a carregar a cruz.
VI Estação: Pessoas de boa vontade reconhecem Jesus no rosto do menor; VII Estação: O menor,
agora, adolescente, cai pela segunda vez. Grita mais forte. Suplica amor. VIII Estação: O menor
faz sua denuncia profética; IX Estação: O menor, agora jovem, cai pela terceira vez. Mata ou
morre. X Estação: No jovem, Jesus é despojado das vestes da esperança; XI Estação: No menor,
Jesus é pregado na cruz; XII Estação: No jovem Jesus dá um grande grito e morre; XIII Estação:
A mãe rua recebe em seus braços o corpo do menor sofrido; XIV Estação: Os preconceitos dos
grandes sepultam o menor; XV Estação: O menor não é problema, o menor é solução. As pessoas
de boa vontade ressuscitam Jesus no menor.
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prazer.” (CF, 1987, p 22). Nesse sentido pode-se abordar a problemática do ciclo
da marginalização.
803
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construção de masculinidades e feminilidades acontece em meio a processos
atravessados por símbolos, discursos, práticas, representações sociais nas quais
as identificações vão se (re)articulando e ocupando diferentes posições.
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pensar sobre as propostas de ações concretas para a libertação do menor. No
livro foram apresentadas nove: Organizar a Pastoral do Menor; Criar a Pastoral
da Criança; Organização comunitária das famílias pobres; incentivar associações
de menores trabalhadores; ações junto aos sindicatos; acompanhar de maneira
direta a constituição; realizar um júri simulado; criar um centro de educação
comunitário; criar a catequese em situações especiais. Assim, cada paróquia
deveria pensar na articulação dessas ações em prol da libertação do menor, e
coloca-la em prática. E assim, visualiza-se os desdobramentos: A Pastoral do 805
Menor, o artigo 227 da Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do
Adolescente.
REFERÊNCIAS
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BORAN, Jorge, Senso Critico e o Método. Ver Julgar Agir, Para Pequenos
Grupos De Base, São Paulo, Edições Loyola, 1981.
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Atas do II Encontro Nacional do GT Estudos de Gênero
Rio de Janeiro, 27 e 28 de outubro de 2016.
*
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em História na Universidade do Estado de Santa
Catarina, na linha de pesquisa intitulada Culturas Políticas e Sociabilidades. Orientadora: Prof.
Dra. Silvia Maria Fávero Arend. Bolsista CAPES. email para contato: nicolletaner@gmail.com
1
CASA DO PEQUENO JORNALEIRO. Relatório anual 1959. Curitiba, 1959. p. 70
e 71. Sem grifo no original.
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religião, educação, saúde e disciplina, pretendia organizar meninos que já
exerciam a função de vendedores de jornais.
2
CASA DO PEQUENO JORNALEIRO. Relatório anual 1953. Curitiba, 1953. p. 51.
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A Casa contava com três departamentos para “proteger e amparar sob
tôdas as fórmas, os menores pobres que se destinam à venda de jornais e
revistas”3: o religioso, o de saúde e o de educação.
3
CASA DO PEQUENO JORNALEIRO. Relatório anual 1961. Curitiba, 1961.
4
CASA DO PEQUENO JORNALEIRO. Relatório anual 1962. Curitiba, 1962. P 48.
5
CASA DO PEQUENO JORNALEIRO. Relatório anual 1962. Curitiba, 1962 P 40
6
CASA DO PEQUENO JORNALEIRO. Relatório anual 1962. Curitiba, 1962. P 48
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O departamento de educação, que oferecia o ensino primário aos
menores, cujo objetivo era, além de alfabetizar as crianças, ensinar os valores
patrióticos aos pequenos jornaleiros. Foi criado um grupo escolar dentro da
instituição, denominado Escola Manoel Ribas, que contava com uma média de
6 a 10 professoras durante o período que esta pesquisa abrange.
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O sociólogo Pedro Paulo Oliveira define as masculinidades como "um
lugar simbólico/imaginário de sentido estruturante nos processos de subjetivação
[...] que aponta para uma ordem de comportamentos socialmente sancionados"
(2004, p. 13). Ao nascermos, nos são ensinados determinados padrões de
comportamento, modelos de sujeito, performances corporais, a fim de que
subjetivemos tais padrões e os incorporemos em nossas práticas.
(ALBUQUERQUE JR, 2015, p .434)
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em sentido pleno. (SIROTA, 2001) – mas, durante muito tempo, as crianças
foram entendidas como passivas, compreendidas como um “vir a ser”, como um
ser não-formado, mas em vias de formação.
7
CASA DO PEQUENO JORNALEIRO. Relatório anual 1957. Curitiba, 1957, p. 90.
8
CASA DO PEQUENO JORNALEIRO. Relatório anual 1957. Curitiba, 1957, p 59.
9
CASA DO PEQUENO JORNALEIRO. Relatório anual 1959 Curitiba 1959, p 28.
10
CASA DO PEQUENO JORNALEIRO. Relatório anual 1961. Curitiba 1961. p 50.
11
CASA DO PEQUENO JORNALEIRO. Relatório anual 1959. Curitiba 1959, p70.
12
CASA DO PEQUENO JORNALEIRO. Relatório anual 1959. Curitiba 1959, p 70.
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o cenário bélico proporciona, estiveram e muitas vezes ainda estão, associados
ao masculino, à virilidade13 – bem como, a racionalidade, coragem,
insensibilidade, inteligência, poder – e, no senso comum e práticas cotidianas,
sempre em oposição ao feminino (irracionalidade, covardia, sensibilidade,
irracionalidade, sujeição):
A capacidade guerreira é uma das principais características
históricas da percepção sexual dimórfica do corpo no mundo
ocidental: ser homem ou ser mulher se inscreve de forma
excludente na sua presença ou ausência (MOREIRA, 2011, p
4) 813
13
Segundo Bourdieu, a virilidade seria uma “noção relacional, construída diante de
outros homens, para outros homens e contra as mulheres”. (VOKS, 2015, p 15)
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como ameaça constante à ordem pública. (LIMA, 2013, p 32) Para Maria Izilda
Santos de Matos:
(...) o trabalho aparecia como fonte básica de auto-realização.
Um espaço de criatividade e prazer, veículo de crescimento
pessoal, com a função de nomear o mundo subjetivo dos
homens, valorizando-os por sua capacidade de ação,
praticidade e objetividade, sucesso e iniciativa, modelando-o
com as expressões daquele que tem em si atributos de poder
viril. O sucesso profissional servia como medida no
julgamento de si e dos outros, vinculado à competitividade e
à própria ética do provedor − o homem capaz de sustentar uma
mulher e os filhos. (2001, 51) 814
14
CASA DO PEQUENO JORNALEIRO. Relatório anual 1957. Curitiba, 1957, p90
15
CASA DO PEQUENO JORNALEIRO. Relatório anual 1958. Curitiba 1958.
16
CASA DO PEQUENO JORNALEIRO. Relatório anual 1958. Curitiba 1958, p 17.
17
CASA DO PEQUENO JORNALEIRO. Relatório anual 1961. Curitiba 1961.p 51.
18
CASA DO PEQUENO JORNALEIRO. Relatório anual 1959. Curitiba 1959. P 35.
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referência, essa família com a qual “determinados modos de pensar, agir e ser
são ensinados e reconhecidos como legítimos,” (CECHIN, SILVA, 2012) a
instituição era entendida como esse lugar de sociabilidade e educação de códigos
morais, e nisso, ressalta-se a figura do Coronel Alfredo Costa, ou Coronel
Costinha – como as crianças o chamavam. 19
19
Em alguns recortes de jornal, bem como relatórios, além de um documento de 2004
escrito por um ex-pequeno jornaleiro, esse apelido é mencionado.
20
CASA DO PEQUENO JORNALEIRO. Relatório anual 1959. Curitiba, 1959. P 69.
21
CASA DO PEQUENO JORNALEIRO. Relatório anual 1959. Curitiba, 1959, p 35.
22
CASA DO PEQUENO JORNALEIRO. Relatório anual 1961. Curitiba 1961. P 19.
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Punição, neste sentido, poderia qualificar o comportamento e
o desempenho dos indivíduos a partir de dois valores opostos,
o bem e o mal, ou seja, o aparelho disciplinar, através de
castigos e recompensas, estabelecia classificações entre os
bons e maus indivíduos. A disciplina, portanto,
recompensaria exclusivamente pelo jogo das promoções que
permitiam hierarquias e lugares, e punia com mecanismos que
possibilitavam rebaixar e degradar. A penalidade tinha a
função de normalizar, porque possibilitava comparar,
diferenciar e relacionar desempenhos e comportamentos entre
os indivíduos, além de hierarquizar, homogeneizar e excluir
estas pessoas enquadradas no espaço disciplinar. (2009, p
100) 816
Considerações Finais
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A historiografia também tem tentado desnaturalizar a infância como um
processo meramente biológico, desnaturalizando, dessencializando, buscado
trabalhar com a noção de que a infância é uma construção social e mais
recentemente, com as contribuições da Sociologia e Antropologia da Infância,
também com a ideia de que nem toda infância é igual visto que “(...) não existe
uma infância, mas diferentes infâncias, que se configuram de acordo com o
contexto histórico-social no qual a criança está inserida” (SILVA, 2015, apud
FARIA FILHO, 2008) 817
Do mesmo modo, os estudos de gênero são bastante recentes e
começam a tomar proporções consideráveis, além de que boa parte das/os
estudiosas/os realizam esforços de tornar esse conhecimento acessível, pra que
essas teorias e conhecimento ultrapassem os muros da Universidade. Os estudos
acerca das masculinidades emergem com as teorias feministas, mas ainda não
expandiram da mesma forma que o primeiro. Também busca desuniversalizar,
dessencializar, desnaturalizar o que é considerado masculino.
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relíquias só fazem sentido enquanto tal quando já sabemos a que passado
pertencem.
Há também a noção de que a criança ainda não é, mas virá a ser caso
receba o incentivo necessário. Esse “incentivo” era realizado através da
educação, da moralização pelo trabalho, das relações de poder, hierarquia e
disciplina, e do aprendizado de valores tido como morais e pátrios – para que se
tornassem, então, os “(...) preciosos futuros cidadãos da pátria comum.” 23
REFERÊNCIAS
23
CASA DO PEQUENO JORNALEIRO. Relatório anual 1957. Curitiba,1957. p 59.
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AREND, Silvia Maria Fávero. Histórias de Abandono. Infância e Justiça no
Brasil (década de 1930). Florianópolis; Editora Mulheres, 2011
FOUCAULT, Michel. A vida dos homens infames. Ditos e escritos IV. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2010. 203 – 222
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LOWENTHAL, David. Como conhecemos o passado. In: The past is a foreign
country. Cambridge, Mass.: University Press, 1985 – tradução de Lucia Haddad,
disponibilizado na Revista Projeto História, São Paulo, (17), nov. 1998.
MATOS, Maria Izilda de Santos. Por uma História das Sensibilidades: Em Foco
– Masculinidade. História: Questões & Debates, Curitiba, n. 34, p. 45-63, 2001.
Editora da UFPR
PROST, Antoine. Doze lições sobre a história. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.
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SOSENSKI, Susana. Enseñar historia de la infancia a los niños y las niñas: ¿para
qué? Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 7, n. 14, p. 132 ‐ 154,
jan./abr. 2015.
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822
Introdução
*
Doutoranda em Educação (ProPEd/UERJ). anayaracristina@gmail.com.
**
Doutorando em Educação (ProPEd/UERJ). teofilo.leandro@gmail.com.
***
Doutora em Educação, Professora Adjunta do ProPEd/UERJ.
miriamsleite@yahoo.com.br.
1
Em parceria com a Universidade Federal do Paraná, com a Fundación Todo Mejora, do Chile,
e da Gay, Lesbian & Straight Education Network/GLSEN, dos EUA.
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‘Eles o chamaram de gay, bicha, gordinho... Às vezes ele ia
embora chorando’. Roliver deixou uma carta pedindo
desculpas pelo suicídio e dizendo que não entendia por que
era alvo de tantas humilhações.
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diversidade sexual e gênero, uma tentativa de imposição de uma “ideologia” para
a “destruição da família tradicional”, pois a presumida “ideologia” deturparia os
supostamente verdadeiros conceitos de homem, mulher, sexualidade, família,
casamento e reprodução da espécie. A discussão de tais temas nas escolas estaria,
dessa forma, “homossexualizando” crianças e jovens.
2
Pesquisa realizada pelo Grupo de Estudos sobre Diferença e Desigualdade na Educação
Escolar da Juventude/DDEEJ, sob coordenação da professora Miriam Leite, do Programa de
Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro/UERJ. Inclui etapa
de pesquisa-ação desenvolvida em colégio da rede pública de ensino do estado do Rio de Janeiro
(referido neste texto como “colégio base da pesquisa”), denominada O grêmio e outros espaços-
tempos de diálogo político da juventude contemporânea: possibilidades na educação escolar,
com financiamento FAPERJ, “Edital 36/2014 – Melhoria das Escolas Públicas”.
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indivíduos e nas instituições sociais, que buscam normatizar sexo, gênero e
sexualidade, tendo como base a heterossexualidade reprodutora.
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realidade que, em perspectivas representacionistas da
linguagem, entende-se que apenas descreveriam.
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sedimentados no texto social3. Avaliamos que a problematização de tais
repetições-deslocamentos poderia contribuir para a o enfrentamento das
propostas conservadoras relativas às questões do gênero na educação escolar.
3
Referência à noção de texto em teorizações derridianas: “Gostaria de recordar que o conceito
de texto que eu proponho não se limita nem à grafia, nem ao livro, nem mesmo ao discurso,
menos ainda à esfera semântica, representativa, simbólica, ideal ou ideológica. O que eu chamo
de ‘texto’ implica todas as estruturas ditas ‘reais’, ‘econômicas’, ‘históricas’, sócio-
institucionais, em suma, todos os referenciais possíveis” (DERRIDA, 1991, p. 203).
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interseccional, o que levou aos seus próprios tipos de silenciamento, exclusão ou
deturpação de grupos subordinados” (2013, p. 406, tradução nossa4). De toda
forma, acorda-se que o conceito está potencializando a perspectiva de que o
pessoal é também político, e busca responder à complexidade dos processos
sociais que, permanentemente, afetam nossa subjetivação.
4
“Despite their best intentions and claims of inclusiveness and solidarity, many have fallen short
of intersectional reflexivity and accountability, and prompted their own kinds of silencing,
exclusion or misrepresentation of subordinated groups”.
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Ponderamos, ainda, com Leite (2015, p. 332), que, discutindo sobre documentos
públicos e contemporâneos relativos à adolescência/juventude, indaga:
[...] neste documento e nos demais, depreende-se,
logicamente, da reiteração desse enunciado, que a condição
de desenvolvimento é marca identitária que especifica
diferencialmente esse grupo social – o que leva à questão: em
que momento da existência não se está em desenvolvimento?
Por que outras mudanças hormonais, como a andropausa não
define ‘condição peculiar’?
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respondidos nos três turnos da escola, cuja tabulação e interpretação foram
apresentadas ao corpo estudantil do Colégio em 8 seções, ainda em 2015.
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regras que incidem sobre corpos de alunos e alunas, embora não explicitadas nos
currículos escolares, é a de que devem encenar a heterossexualidade, através de
performances que apaguem corpos sexualmente transgressores.
O apagamento da sexualidade na escola é somente possível
por meio da invisibilidade da sexualidade não
heteronormativa. O corpo escancaradamente lésbico, gay ou
bissexual é problemático, porque ele torna o sexo e a
sexualidade visíveis em um espaço em que é essencial que
ambos permaneçam escondidos. As exigências de uma
heterossexualidade invisível agem coercitivamente sobre
todos os corpos na escola e, particularmente, sobre aqueles 831
para quem a performance da heterossexualidade é
problemática (PAECHTER, 2009, p. 127).
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Fizemos, então, contato com diversas escolas ocupadas para
agendarmos visitas e entrevistas5 com os ativistas, visando discutir esse novo
quadro que se configurava entre os estudantes do nosso estado. O conjunto das
transcrições das entrevistas e das observações dos espaços ocupados constituem
o contexto II da empiria aqui em foco.
5
Trabalhamos com a proposta de entrevista narrativa, conforme desenvolvida por Arfuch (2010).
Nessa perspectiva, valoriza-se “o acontecimento do dizer”, e se considera que “a memória, longe
de reproduzir simplesmente a realidade social, é um lugar de mediação simbólica e de elaboração
de sentidos” (p. 267).
6
As/os entrevistadas/os são aqui referidas/os conforme denominação de sua própria escolha. A
pesquisa em tela foi aprovada pela CONEP-Comissão Nacional de Ética em Pesquisa e as/os
participantes concordaram com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que
apresentamos, também aprovado pela CONEP (parecer n. 624.354, de 10/4/2014).
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a resposta se abrigava, segura de si, no primeiro termo da
disjuntiva. Já faz um quarto de século, porém, que a resposta
se deslocou (PIERUCCI, 1999, p. 7).
Estes são apenas alguns exemplos das várias passagens das entrevistas
em que se explicitam o interesse e a urgência percebidos pelos estudantes
relativamente à problemática do gênero e da sexualidade. Narram sua busca por
informações e a vinculação dessa busca ao que “deveria ser respeitado”. A escola
é enunciada, de forma recorrente, em que tanto estudantes quanto professores
têm a aprender. Observa-se, assim, que o quadro escolar registrado no contexto
II difere substancialmente daquele identificado no contexto I.
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Em todas as escolas ocupadas, conhecemos estudantes empenhados em
buscar conhecimento, ao mesmo tempo em que se formavam nos valores da
solidariedade e da responsabilidade social – em outras palavras, tivemos contato
com uma escola como defendemos que sejam as escolas: uma instituição viva,
reconhecida e valorizada por seus estudantes pela “abertura de conhecimento”.
Observe-se, ainda, que, em sua maior parte, os entrevistados relataram não ter
experiência de ativismo político anterior ao movimento de ocupação. Além
disso, todos reagiram fortemente à menção do Programa Escola Sem Partido ou 834
a perguntas quanto ao papel de professores/partidos/entidades
estudantis/sindicato docente no movimento: afirmaram enfaticamente sua
autonomia e se mostraram bastante incomodados com a especulação em torno
da influência de indivíduos ou organizações externas à escola e ao corpo
discente.
Considerações
7
ONU Mulheres e União Europeia lançaram currículo e planos de aulas para o ensino médio
sobre igualdade de gênero e enfrentamento à violência contra as mulheres e meninas através da
iniciativa “O Valente não é Violento”, que atua pelo fim de estereótipos de gênero e
comportamentos machistas. Disponível em: <http://www.onumulheres.org.br>. Acesso em 30
ago. 2016.
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Europeia, planos de aulas para o ensino médio sobre igualdade de gênero e
enfrentamento à violência contra as mulheres e meninas.
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requereram informações8 quanto à razão de existência do Comitê, postulando a
não inclusão, em qualquer hipótese, dessa discussão: “Qual é a pertinência da
criação de um Comitê vinculado ao MEC para acompanhar políticas de gênero,
visto que esta questão foi rejeitada no PNE?”.
REFERÊNCIAS
AUSTIN, John L. Quando dizer é fazer: palavras e ações. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1990.
8
Documento assinado pelo deputado Rogério Marino, alegando que necessita de
esclarecimentos “de forma que a Câmara dos Deputados possa agir da maneira correta”.
Disponível em: <http://www.camara.gov.br/sileg/integras/1387199.pdf>. Acesso em: 30 ago.
2016.
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<http://scalar.usc.edu/works/ftn-ethnic-studies-pedagogy-workbook-
/media/Bilge2013_Intersectionality_Undone.pdf>. Acesso em: 11 maio 2016.
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PIERUCCI, Antonio Flavio. Ciladas da diferença. São Paulo: Ed. 34, 1999.
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Rio de Janeiro, 27 e 28 de outubro de 2016.
Introdução
O presente artigo tem como objetivo analisar a imprensa feita por e para 839
mulheres, em especial a imprensa chamada de alternativa e, especificamente,
demonstrar como a redação do periódico Mulherio, publicado entre os anos de
1981 e 1988 por grupos de mulheres intelectuais que trabalhavam para a
Fundação Carlos Chagas (FCC) pode ser encarada como um espaço de
sociabilidade intelectual, detentor de uma cultura política própria, a cultura
política feminista.
*
UNIRIO.
1
O ato Institucional Nº 5 foi promulgado em 1968 durante o governo do presidente-
general Costa e Silva. Também chamada de “ditadura dentro da ditadura”, o ato ampliou
os poderes do poder executivo ao fechar o Congresso Nacional, promover a suspensão
do habeas corpus, aumentar a repressão a todos que fossem suspeitos de atos de
subversão, com indiscriminado emprego de violência com pessoas de todas as classes.
2
KUCINSKI, Bernardo. Jornalistas e Revolucionários: nos tempos da imprensa
alternativa. São Paulo: Scritta, 1991.
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O jornal teve três fases distintas. Entre 1981 e 1983 foram lançados 15
volumes, sob a supervisão de Borges e Rosemberg, recebendo apoio financeiro
da Fundação Ford para sua concretização. Em 1984, após disputas internas e a
desvinculação da Fundação Carlos Chagas, é criado o Núcleo de Comunicação
Mulherio com o objetivo de estruturar a publicação. Essa fase durou até 1988,
quando o jornal passa a se chamar Nexo, Feminismo, Informação e Cultura.
Porém, com este nome, apenas dois volumes foram publicados, culminando com
o encerramento das atividades do jornal no ano de 1988.
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3
OLIVEIRA, Rodrigo Santos de. A relação entre a História e a Imprensa, breve história
da imprensa e as origens da imprensa no Brasil (1808-1930). Historiae, Rio Grande, 2
(3), 2011. p. 131.
4
KAS, Leonel. Um olhar sobre elas, as revistas. Disponível em:
http://www.rio.rj.gov.br/dlstatic/10112/4204434/4101415/memoria4.pdf. Acesso em
18 ago 2016.
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5
Idem.
6
Ibidem.
7
O movimento pelo voto universal teve início nos Estados Unidos no ano de 1848, com
destaque para a Convenção dos Direitos da Mulher em Seneca Falls, considerado como
marco zero do movimento sufragista norte-americano. Somente em 1920 o voto seria
permitido para as mulheres. Na Inglaterra, é formado em 1866, em Manchester, o
Comitê para o Sufrágio Feminino. Porém, apenas após lutas, prisões, greves e atentados
as mulheres obtiveram o direito ao voto, em 1928. No Brasil, observamos que, mesmo
com as ideias de direito ao trabalho fora de casa, sufrágio, igualdade e direito a educação
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já estar posto em algumas revistas brasileiras no século XIX, não existiu um movimento
organizado de massas tal qual visto nos outros lugares. Em 1910, a professora Deolinda
Daltro funda, no Rio de Janeiro, o Partido Republicano Feminino, com o objetivo de
levar o tema do voto feminino ao Congresso Nacional. A luta pelo sufrágio continuou
em 1919 com a criação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, porém, só o
voto feminino só foi concretizado a nível nacional em 1932, promulgado por Getúlio
Vargas. Para maiores informações sobre a chamada 1ª onda do feminismo, ver: ALVES,
Branca Moreira; PITANGUY, Jacqueline. O que é feminismo? Coleção Primeiros
Passos. São Paulo: Brasiliense, 1981.
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8
BORGES, Joana Vieira. A grande dama do feminismo no Brasil. Revista Estudos
Feministas. Vol.14. nº 02. Florianópolis May/Sept., 2006.
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9
O feminismo liberal teve como ápice de sua articulação o National Organization of
Woman, criado por Betty Friedman em 1960. Buscava a igualdade entre homens e
mulheres através de reformas sociais na educação, no trabalho, nas leis e etc.
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de frente de projetos que pretendiam lutar por uma sociedade mais justa e
igualitária a todos.
10
GOLDBERG, Annete. Feminismo e autoritarismo: a metamorfose de uma utopia de
liberação em ideologia liberalizante. Dissertação de mestrado. Universidade Federal do
Rio de Janeiro, 1987.
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Ainda de acordo com Cardozo, foi nos anos de 1980 e 1981 que ocorre
esta mudança, diretamente ligados ao II e III Congresso da Mulher Paulista,
ocorridos na cidade de São Paulo, eventos que marcaram a ruptura do
movimento feminista com as questões exclusivas de classe e com os partidos de
esquerda, assim como a adoção do conceito de gênero nos debates.12
847
É neste ínterim de difusão de ideias feministas desligadas de partidos
políticos que nascem diversas publicações de entidades feministas autônomas,
geralmente ligadas a ONG’s, associações, conselhos municipais ou estaduais,
entre outros, que buscavam divulgar e defender suas ideias, sempre ligadas a
questões exclusivamente de gênero, dando destaque a temáticas como violência,
saúde, educação, sexualidade, etc. É neste contexto que acontece, em 1981, o
surgimento do periódico Mulherio, um dos jornais feministas mais longevo, com
36 edições, divididas em três fases.
11
CARDOSO, Elisabeth P. Imprensa Feminista Brasileira pós-1974. Dissertação de
mestrado. Universidade De São Paulo, 2004.
12
Em 1980 foi realizado o II Congresso da Mulher Paulista, e durante o evento, houve
uma confusão entre as feministas e membros dos partidos de esquerda. Enquanto as
feministas usariam o espaço para difundir o resultado de sua militância, os novos
conceitos que estavam adotando – o gênero, por exemplo –, as lideranças da esquerda
tinham como objetivo cooptar mulheres para a luta contra a ditadura militar, alegando
que o feminismo era separatista e não contribuía para uma sociedade mais justa para
homens e mulheres. Após o Congresso, que terminou com atritos físicos entre os
participantes, as feministas romperam com os partidos de esquerda. O III Congresso
vem afirmar esta tendência de separação entre os partidos políticos de esquerda e sela
definitivamente a separação entre o movimento feminista e os partidos de esquerda.
Para maiores informações sobre os Congressos da Mulher Paulista, ver: CARDOSO,
Elisabeth P. op. Cit.
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variadas áreas. Este era o perfil o qual a Fundação Ford estava procurando para
aprofundar seus novos investimentos na América Latina, algum projeto que
aliasse trabalho acadêmico especializado e preocupações de cunho social através
de políticas públicas de correções de desigualdades sociais.13 Desta forma, a
Fundação Carlos Chagas se tornou o lugar ideal para o investimento da
Fundação, uma vez que tinha destacada reputação, boa infraestrutura
organizacional e estava entre as instituições melhor informadas sobre os estudos
848
sobre gêneros no Brasil. O apoio financeiro, na forma de bolsas para fomento de
pesquisas, fez da FCC um dos maiores beneficiários da Fundação Ford no Brasil.
13
HEILBORN, Maria Luiza; SORJ, Bila. Estudos de gênero no Brasil. In: MICELI,
Sérgio (org.) O que ler na ciência social brasileira (1970-1995). São Paulo: Editora
Sumaré, 1999.
14
Cientista Social com destacado trabalho na área de população e desenvolvimento.
Atualmente integra o Grupo Independente de Especialistas da Estratégia Global da
ONU sobre Saúde da Mulher, das Crianças e dos Adolescentes.
15
Entrevista com Carmem Barroso, quando da morte de Cristina Bruschini. Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-
15742012000100016>. Acesso em 25 ago 2016.
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16
Cientista Social pela Universidade de São Paulo, com atuação nos estudos sobre as
divisões sexuais do trabalho. Pesquisadora sênior da FCC, coordenou o programa
Relações de Gênero na Sociedade Brasileira. Faleceu no ano de 2012.
17
Psicóloga com doutorado em Paris, Fúlvia foi responsável pela inserção de vários
ideais feministas franceses no grupo da FCC. Na década de 1970, chegou à Fundação
como pesquisadora sênior e foi trabalhar na área de crítica à literatura infantil. Faleceu
em 2014.
18
Psicóloga e educadora, foi pesquisadora sênior da FCC, idealizadora do Programa
Alfa de alfabetização. Faleceu no ano de 1983.
19
Pedagoga pela Universidade de São Paulo, foi diretora do Departamento de Pesquisas
Educacionais e Superintendente de Educação e Pesquisa. Atualmente, é Diretora Vice
Presidente da Fundação Carlos Chagas.
20
Várias foram as pesquisadoras que se dedicavam ao Coletivo em fins da década de
1970. Aquelas que chegavam à Fundação com doutorado eram pesquisadoras sênior,
enquanto as que ainda estavam cursando a pós-graduação atuavam como assistentes nas
pesquisas e departamentos. Destaco aqui Guiomar Namo de Mello, Maria Malta
Campos, Elba Siqueira de Sá Barretto, entre outras, que com o passar dos anos também
atingiram a categoria de pesquisadoras sênior, ou se destacaram na carreira acadêmica
em outras instituições.
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Campos, Maria Rita Kehl, Maria Valéria Junho Pena, Marília de Andrade, Maria
Correa e Ruth Cardoso.21 Com periodicidade bimestral, o jornal contava com
participações de várias mulheres para além de seu corpo editorial, e além de ser
vendido em bancas de jornais, era distribuído gratuitamente em órgãos de
imprensa, instituições acadêmicas e grupos organizados por mulheres em vários
lugares do país.
21
Editorial do jornal Mulherio, nº 0, março-abril/81, p.2.
22
Idem, p. 1.
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23
SIRINELLI, Jean Fraçois. Os intelectuais. In: REMOND, René. Por uma história
política. Rio de Janeiro: FGV, 2003.
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24
BERSTEIN, Serge. A cultura política. In: RIOUX, Jean-Pierre; SIRINELLI, Jean. Para uma
história cultural. Lisboa: Editora Estampa, 1998.
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Conclusão
25
TELES, Amelhinha; LEITE, Rosalina Santa Cruz. Da Guerrilha à Imprensa
Feminista: a construção do feminismo pós-luta armada no Brasil (1975-1980). São
Paulo: Intermeios, 2013.
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REFERÊNCIAS
Fonte
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Ioneide M P B de Souza*
Considerações iniciais
*
Doutoranda em História – UFJF. ioneide.piffano@gmail.com
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O feminismo
1
Estes “novos feminismos” também são conhecidos por feminismo de Segunda Onda.
Ele tem seu início datado a partir de meados da década de 1960 e teria por característica
a inclusão das reinvindicações de direitos políticos, educacionais e direito a salário
equiparado ao dos homens, aquelas referentes à sexualidade (direito ao prazer) e ao
corpo (aborto e contracepção). Ao incorporar essas reivindicações esse novo feminismo
uniu em um movimento o feminismo tido de primeira onda e o movimento das mulheres
até então restrito a denúncia das diferenças entre homens e mulheres. A classificação
em ondas tem sido questionada por aglutinar em um único termo um movimento com
vivência muito díspares. Para mais sobre esse assunto ver PEDRO, Joana Maria. Corpo,
Prazer e Trabalho. In: PINSKY, Carla Bassanezi; PEDRO, Joana Maria. Nova História
das Mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2012.
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2
É necessário deixar claro que esse “feminismo a brasileira” não é, de forma alguma
homogêneo e fechado. Este perpassara, e ainda perpassa, por diversas discussões e
embates teóricos. O que se pode falar são de feminismos a brasileira, dada a diversidade
de discussões e narrativas que tratam sobre a emancipação feminina. No entanto para o
presente artigo em função da trajetória da autora, o que é relevante é aquele feminismo
que nasce articulado com as camadas populares, atrelado às lutas de esquerda e valendo-
se de uma corrente epistemológica fortemente matizada pelo marxismo e pela luta de
classes, por isso o uso da expressão no singular.
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Heloneida e o PCB
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pediram a carta sindical. Neste processo Heloneida contou com a ajuda de seu
amigo Hércules Correia3 (que naquele tempo era o presidente do CGT —
Comando Geral dos Trabalhadores, que hoje equivaleria à CUT — e também
estava no comando do PUA — Pacto de Unidade e Ação) que a ajudou a
conseguir a carta sindical, que saiu no fim do ano de 1963. Uma vez
transformada a associação em sindicato (o Senalba) Heloneida, Cândido Filho e
Hércules Correia alugaram uma sede na Cinelândia, sendo o Cândido presidente,
864
Heloneida vice. Logo de saída o sindicato organizou uma greve que teria
conseguido um aumento de 40% para a categoria (FERREIRA; ROCHA;
FREIRE, 2001, p.59).
3
Hércules Correia nasceu em Cachoeiro do Itapemirim (ES) em uma família operária
de tradição comunista. Em 1942 mudou-se para o Rio de Janeiro e trabalhou como
engraxate e depois como operário têxtil. Em 1944 entrou para o PCB e posteriormente
fez cursos em Moscou e foi líder sindical. Em 1960 elegeu-se deputado constituinte no
estado da Guanabara na legenda do PTB. Em 1962 participou da criação do Comando
Geral dos Trabalhadores (CGT), organização intersindical não reconhecida pelo
Ministério da Trabalho, de cuja direção executiva passou a fazer parte, e foi eleito para
a Assembléia Legislativa da Guanabara. Em 1963 foi eleito presidente do Sindicato dos
Têxteis da Guanabara. Após o golpe de 64, teve o mandato cassado e os direitos
políticos suspensos por 10 anos. Continuou militando clandestinamente no PCB e em
1967 foi eleito membro do comitê central do partido. Em 1971 passou a integrar a
comissão executiva do PCB e em 1974 viajou para Moscou. Em 1979, com a anistia,
retornou ao Brasil. Em 1982 candidatou-se a deputado federal na legenda do PMDB,
mas não foi eleito. Ver Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro.
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Em suas obras de ficção essa estratégia do PCB também parece ter sido
uma marca de Heloneida. Nenhum de seus personagens pode ser caracterizado
4
Como é o caso do romance A Culpa que por se tratar de uma obra de transição entre
sua fase de simpatizante e militante ainda mostra de forma tímida a caracterização da
ação dos proletários e dos menos favorecidos. Essa explode, ao meu ver, nos romances
intitulados pela autora como trilogia da tortura: O Pardal é Um Pássaro Azul (1975), O
Estandarte da Agonia (1981) e O Torturador Em Romaria (1986). Estes romances
apesar de escritos e publicados posteriormente a este período de militância mais pujante
no Partido, são frutos de esboços feitos durante seu cárcere em meados da década de
1960 e guardam muito desta militância.
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como um herói típico. Todos, sem exceção, dos protagonistas aos comunistas,
são apresentados em sua humanidade repleta de falhas, fraquezas e fragilidades.
Suas obras do período, embora refletissem mais a questão da injustiça (vista em
todos os níveis: social, política, econômica e de gênero) do que o conflito nas
relações de gênero, mantinham com este conflito um importante diálogo.
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Essa postura tinha sua lógica, segundo Ana Paula Palamartchuk (2004,
p.275-282), já que muitos desses intelectuais, inclusive Heloneida, vinham de
famílias tradicionais decadentes das camadas médias do Nordeste, Rio Grande
do Sul e Rio de Janeiro e encontravam no partido comunista um lugar para reagir
à exclusão de certo prestígio social, alocando-se no estado e no aparelho
burocrático do governo como forma de ascensão5. Esses intelectuais ao serem
cooptados pelo Partido, por sua vez, emprestavam para esse seu prestígio de
escritor e assumiam em contrapartida seu dever de “verdadeiros” intelectuais
comunistas, ou seja, aqueles ligados pela “doutrina” aos trabalhadores.
5
Devemos lembrar aqui que muito desta militância de Heloneida no PCB será retomada
posteriormente quando deputada na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro
(ALERJ) talvez como forma de relocação no campo sócio-político. Além disso, como
veremos mais adiante a própria possibilidade dentro do partido de se questionar a
exclusão permitirá o fortalecimento da luta, que será a primordial para a escritora, da
exclusão feminina.
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6
Também conhecido como romance proletário. Este termo foi tomado pelos autores da época
com uma acepção mais genérica, e com o intuito de esquadrinhar palmo a palmo a miséria do
país, incorporando os “pobres” à cena política e intelectual. “Proletário”, então, terminaria por
designar todo e qualquer indivíduo que trouxesse em si um “ar de revolta”, que estivesse contra
o “sistema” ou, de alguma forma, à margem da sociedade. Assim sendo, para os escritores de
1930, “proletários” seriam desde trabalhadores rurais, passando por estivadores, vaqueiros,
militantes, miseráveis, prostitutas, malandros, boxeurs, capoeiras, retirantes, desempregados,
crianças, homossexuais, inválidos, mendigos, viúvas desamparadas, pescadores, jovens
intelectuais, soldados, até o operário urbano. Além desta terminologia há outras como: “romance
social”, “regionalista”, “de esquerda”, “engajado”, “revolucionário”, “intimista”, “psicológico”,
“católico”, nordestino (termo este usado pela livraria José Olympio editora). Para este estudo,
optou-se por usar a designação de romance de 30, que segundo Simone Ruffato (2011:253), é de
fato uma solução “menos rígida” para encarar o período, e possibilita ao leitor o acesso às obras
sem as – por vezes – engessantes categorias literárias. O que num primeiro plano é por impulso
associado ao tal “regionalismo”, ou aos escritores do Norte, foi, na realidade, um momento de
tensão política generalizada (no Brasil, os movimentos que levaram à Revolução de 1930; a
instituição do Estado Novo em 1937; no mundo todo, os embates que culminaram na II Guerra),
que se refletiu na literatura de diversas maneiras, todas elas norteadas pela necessidade de adoção
de uma postura ideológica de direita ou de esquerda – daí variarem tanto suas correntes literárias.
Além disso, embora a data em destaque seja 30, os romances com características abordadas no
texto podem ser encontrados até início da década de 1950.
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O PCB e o feminismo
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Considerações Finais
7
STUDART, Heloneida. A Culpa. Petrópolis: Livraria Agir Editora, 1964. Os grifos na
citação são meus.
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PEDRO, Joana Maria. Corpo, Prazer e Trabalho. In: PINSKY, Carla Bassanezi;
PEDRO, Joana Maria. Nova História das Mulheres no Brasil. São Paulo:
Contexto, 2012.
PINTO, Céli Regina Jardim. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo:
Perseu Abramo, 2003.
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SCOTT, Joan. História das Mulheres. In: BURKE, Peter. (org.) A Escrita da
História: novas perspectivas. 4 ª ed. São Paulo: Editora UNESP, 1992.
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*
Doutorando em História na Universidade Estadual Paulista (UNESP-Assis), Bolsista
CAPES.
1
Iraildes Torres (2002) destacou o comportamento relevante que a Imperatriz Dona
Leopoldina teve em relação a seu marido, Dom Pedro I, inclusive influenciando-o no
processo de independência do Brasil. Após sua morte, Dom Pedro I não conseguiu se
casar com sua amante, Marquesa de Santos, em função, também, de grande apreço da
corte por Dona Leopoldina e o desejo de manter sua memória. No entanto, essa atuação
da Imperatriz sempre se dera no privado.
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2
A reflexão aqui apresentada é parte de tese de doutorado em construção desenvolvida
sob o tema “Maternidade e Modernidade no Brasil dos Anos Dourados: os Boletins da
Legião Brasileira de Assistência (1945 - 1964)” junto ao programa de pós-graduação
em História e Sociedade da UNESP/Assis.
3
Francisco Ferraz faz importante balanço histórico e historiográfico sobre a
participação brasileira no conflito mundial. (FERRAZ, 2012).
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A partir de 1946, a LBA e seu Boletim ganham novas funções, uma vez
que a guerra findara no ano anterior e todos os combatentes brasileiros já haviam
retornado ao país, desse modo, a instituição passou a priorizar o combate à
mortalidade infantil e a proteção à maternidade e à infância, inclusive com uma
ampla reforma em seus estatutos (Boletim..., n.18, março de1946). Com a saída
de Getúlio Vargas do poder, em outubro de 1945, Darcy Vargas deixou a
presidência da LBA, tais mudanças promoveram inclusive um hiato na
publicação do Boletim entre novembro de 1945 e março de 1946. Quando de seu
retorno, a LBA já se encontrava sob a presidência de Carmela Dutra, esposa do
General Eurico Gaspar Dutra e primeira-dama do Brasil, assim como já possuía
novo escopo:
Art. 3º. A LBA tem por principal finalidade a defesa da
maternidade e da infância através da proteção à família,
procurando por todos os meios a racionalização de diretrizes
e de ação tendentes a um perfeito aproveitamento da
assistência social em suas diversas formas. (Boletim..., n.18,
março.1946, p.1)
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4
Não formando o escopo desse texto, mas julgando ser pertinente, cabe ressaltar a
importante reflexão sobre a politização da maternidade sob dois modelos: o cristão e o
da racionalidade técnico-científica (MARTINS, 2011).
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Outro jornalista a comparou à Princesa Isabel, uma vez que ambas “[...]
trilham estradas paralelas, escapadas pelo mesmo altruísmo, alcafiadas por
idênticas benemerências, que se conduzem ao panteon da gratidão popular.”
(Boletim..., n.64, fev.1951, p24). Tais representações míticas de Darcy Vargas
permanecerão de forma contundente ao longo dos anos, como destaca-se em
outras edições dos Boletins. Essa edição de fevereiro de 1951 faz ainda um
retrospecto por meio de imagens dos anos anteriores, sobretudo do período da
guerra, e da atuação da LBA, exaltando sua importância e a participação eficaz
da presidente Darcy Vargas.
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5
Boletim faz referência a Godfrey Lowell Cabot, industrial e filantropo norte-
americano, bastante envolvido com novas técnicas e modernização da vida cotidiana.
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6
Na edição número 107 de Boletim, são noticiadas doações e contribuições da LBA
para a fundação Darcy Vargas.
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7
Não cabe no presente trabalho uma explanação sobre o populismo e o trabalhismo em
Perón e Vargas, para mais ver GOMES, 1994.
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REFERÊNCIAS
8
No caso Perón-Evita isso se deu de forma muito mais contundente e acentuada, tanto
o é que ainda vigora no imaginário popular argentino a imagem de “Santa Evita”.
9
O conceito de participação política é polissêmico, como nos alerta Norberto Bobbio
(1998), visto que açambarca desde o ato do voto e da participação efetiva na tomada de
decisões até a difusão de informações políticas.
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LUCA, T.R. História dos, nos e por meio dos periódicos. In PINSKY, C. Fontes
Históricas. São Paulo: Contexto, 2008. p.111 – 153.
893
MOLINA, A. H. Fenômeno Getúlio Vargas: Estado, discursos e propagandas.
In História & Ensino (UEL), Londrina, v. 03, p. 95-112, 1997
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894
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Patrícia Urruzola**
Introdução 895
*
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
**
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
1
Análise interessante sobre a redação do dicionário em sua relação com o
estabelecimento de uma “língua brasileira” e com a formação do Estado imperial pode
ser encontrada em: LIMA, Ivana Stolze. Luís Maria da Silva Pinto e o Dicionário da
Língua Brasileira (Ouro Preto, 1832). Humanas, Porto Alegre, v. 28, n. 1, p. 33-67,
2006.
2
PINTO, Luiz Maria da Silva. Diccionario da Lingua Brasileira. Ouro Preto:
Typographia de Silva, 1832, p. 396. Disponível em: <
http://www.brasiliana.usp.br/handle/1918/02254100#page/1/mode/1up>. Acesso em:
28 ago. 2016.
A grafia dos trechos citados foi adequada às normas ortográficas vigentes; tal medida
será adotada para todas as fontes citadas neste trabalho.
3
Ibidem, p. 397.
4
Todos as edições do periódico mencionado neste artigo foram consultadas por meio
da hemeroteca da Biblioteca Nacional, cujo endereço eletrônico é: <
http://bndigital.bn.br/hemeroteca-digital/>.
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5
Ibidem, p. 610.
6
Francisca Diniz informa na edição de 2 de abril de 1876 que se afastaria da Corte do
Império por questões de saúde. Ela e toda a sua família teriam contraído febre amarela
e, por essa razão, o jornal que tinha publicação semanal passaria a ser publicado
mensalmente. Entretanto, as pretensões da redatora não se concretizaram e o jornal só
voltaria a ser publicado em 2 de junho de 1889.
7
Há trabalhos bastante interessantes sobre o periódico redigido por Francisca
Senhorinha da Motta Diniz e, por conseguinte, sobre os postulados defendidos pela
redatora enquanto comandara o periódico. Entre eles, destacam-se:
NASCIMENTO, Cecília Vieira; OLIVEIRA, Bernardo J. O Sexo Feminino em
campanha pela emancipação da mulher. Cadernos Pagu, Campinas, n. 29, p. 429-457,
jul./dez., 2007.
ROSA, Gerlice Teixeira. A mulher projetada no discurso: a construção ethótica de
Senhorinha Diniz em O Sexo Feminino. Revista ContraPonto, Belo Horizonte, v. 1,
n. 1, p. 126-143, jul., 2011.
SOUTO, Bárbara Figueiredo Souto. “Senhoras do seu destino”: Francisca Senhorinha
da Motta Diniz e Josephina Alvares de Azevedo – projetos de emancipação feminista
na imprensa brasileira (1873-1894). 2013. 197f. Dissertação (Mestrado em História
Social), Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013.
Cabe salientar, contudo, que os estudos mencionados apresentam perspectivas
diferenciadas da pretendida neste trabalho. Nesse sentido, ressalta-se a necessidade de
identificar e evidenciar as relações entre os enunciados pela emancipação feminina
presentes no periódico e os aspectos políticos estabelecidos nesses discursos, até então
negligenciados.
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8
Sobre os jornais destinados às mulheres no século XIX, ver: DUARTE, Constância
Lima. Imprensa feminina e feminista no Brasil: século XIX, dicionário ilustrado.
Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016.
9
MOREL; Marco; BARROS, Mariana Monteiro. Palavra, imagem e poder: o
surgimento da imprensa no Brasil do século XIX. Rio de Janeiro: DP&A, 2003, p. 60.
10
Ibidem.
Sobre o relativo pioneirismo de Juana Paula Manso na imprensa feminina, ver:
MUZART, Zahidé Lupinacci. Uma espiada na imprensa das mulheres no século XIX.
Estudos Feministas, Florianópolis, v. 11, n. 1, p. 225-233, jan./jun. 2003. Sob a
perspectiva da autora, o primeiro jornal dirigido e redigido por uma mulher no Brasil
não teria sido o “Jornal das Senhoras”, mas a folha predominantemente política “Belona
Irada contra os Sectários de Momo”, redigida por Maria Josefa Barreto Pereira Pinto,
que teria aparecido em Porto Alegre em 1833.
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11
O Sexo Feminino, n. 19, de 20 de janeiro de 1874, p. 1.
12
Ibidem.
13
A distinção entre os programas do Colégio e da Escola Doméstica pode ser encontrada
em SOUTO, Bárbara F. Op. Cit., p. 54-66. De maneira geral, pode-se conceber que o
Colégio seria destinado à formação de mulheres literatas, mães, preceptoras. Na Escola
Doméstica, seriam instruídas as mães e esposas da classe operária.
14
Ao citar o relatório do deputado [Antônio Cândido da] Cunha Leitão, Francisca
traçava o panorama sobre a instrução da população na Corte do Império, o município
neutro. Em edição datada de outubro de 1875, quando já se encontrava residindo na
capital, a redatora afirmava que: entre os homens, 68.716 eram analfabetos; 65.164
sabiam ler e escrever. Entre as mulheres, 58.161 eram analfabetas; 33.992 sabiam ler e
escrever. Já entre os meninos de 6 a 15 anos, 5.788 estavam na escola, 16.449 não
frequentavam escolas. O Sexo Feminino, n. 14, de 31 de outubro de 1875, p. 3.
15
Havia, com vistas a embasar seus pressupostos, menções a Rosseau, Bentham e Stuart
Mill, entre outros, nos escritos de Francisca Diniz. Além disso, a redatora de “O Sexo
Feminino” parecia estar bem informada a respeito dos avanços no tocante à educação
da mulher, a seu acesso a cursos superiores e à criação de escolas normais em países da
Europa e nos Estados Unidos, considerados por Francisca como mais civilizados que o
Brasil.
16
SIRINELLI, Jean-François. Os intelectuais. In: REMOND, René. Por uma história
política. 2ª Edição. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2003, p. 242.
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17
Ibidem.
18
Ibidem, p. 243.
19
Ibidem.
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20
O Sexo Feminino, n. 5, de 4 de outubro de 1873, p. 1-2.
21
“A educação moral, bem como a física e intelectual, tem até o presente estado a cargo
dos professores; mas isto constitui um erro que desabona o senso comum: o mestre só
deverá instruir e jamais educar”. O Sexo Feminino, n. 6, de 11 de outubro de 1873, p.1.
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família”23, criar “casas de educação para meninas e moças que precisem de uma
instrução mais apropriada às necessidades da vida”24: eis alguns aspectos de
suma importância nos discursos presentes em “O Sexo Feminino”.
22
O Sexo Feminino, n. 14, de 31 de outubro de 1875, p. 1-2.
23
O Sexo Feminino, n. 11, de 10 de outubro de 1875, p.1.
24
Ibidem.
25
Idem, n. 8, de 25 de outubro de 1873, p. 1.
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26
Ibidem.
27
Ibidem.
28
Ibidem, p. 2.
29
Ibidem.
30
Ibidem.
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31
O Sexo Feminino, n. 10, de 8 de novembro de 1873, p. 2.
32
Ibidem.
33
Ibidem.
34
Ibidem.
35
O Sexo Feminino, n. 9, de 14 de setembro de 1889, p. 1.
36
Importante mencionar que Francisca Diniz escreveu reiteradas vezes defendendo a
ideia de que a mulher não era, de modo algum, inferior ao homem. Além disso, afirmava
que os poucos lugares de destaque conferidos às mulheres ao longo da história seriam
fruto do desprezo conferido a elas por eles. Utilizando argumentos religiosos, a redatora
de “O Sexo Feminino” advogava pela superioridade da mulher:
“Desde que confundiu a Virgem de Nazaré em esposa do Espírito Divino, em mãe do
Divino Verbo, Jesus Cristo manifestou a sua sabedoria, fazendo ver ao homem que a
mulher é um ente igual ou mais superior do que ele, quando mais não seja sua igual.
Nada prova melhor a superioridade da mulher do que a doutrina de Cristo”.
O Sexo Feminino, n. 8, de 18 de agosto, de 1889, p. 2.
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37
O Sexo Feminino, n. 15, de 20 de dezembro de 1873, p. 2.
38
ROSANVALLON, Pierre. Por uma história conceitual do político. In: ______. Por
uma história do político. São Paulo: Alameda, 2010, p. 76.
39
Este aspecto fora brevemente citado em sua relação com o amor pela pátria professado
por Francisca Diniz em SOUTO, Bárbara Figueiredo. Op. Cit., p. 35.
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40
O Sexo Feminino, n. 1, de 7 de setembro de 1873, p. 2.
41
O Sexo Feminino, n. 45, de 7 de setembro de 1874, p. 1.
42
Ibidem.
43
Ibidem.
44
O Sexo Feminino, n. 7, de 12 de setembro de 1875, p. 1.
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45
Ibidem.
46
“Viva o aniversário da independência do Brasil. Viva o 7 de setembro. Viva a nação
brasileira. Viva o herói Pedro I.”.
O Sexo Feminino, n.45. Op. Cit., p. 4.
47
Em uma das últimas edições de 1873, fora publicado um poema em homenagem ao
aniversário do imperador, cujo título era “O Senhor D. Pedro II: O melhor dos monarcas
do universo!”.
O Sexo Feminino, n. 14, de 6 de dezembro de 1873, p. 4.
48
O elogio à princesa Isabel a sua participação na lei de 28 de setembro de 1871,
considerada por Francisca a “mais filosófica e humanitária de nossas leis”.
O Sexo Feminino, n. 28, de 11 de abril de 1874, p. 1.
49
O Sexo Feminino, n. 12, de 15 de dezembro de 1889, p. 1
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50
O Sexo Feminino, n. 8, de 25 de outubro de 1873, p. 3.
51
O Sexo Feminino, n. 27, de 4 de abril de 1874, p. 1.
52
Ibidem.
53
Sobre a construção da imagem de Tiradentes enquanto herói nacional nos anos finais
do século XIX e no início do século XX, ver: CARVALHO, José Murilo. Tiradentes:
um herói para a república. In: ______. A formação das almas: o imaginário da
república no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2013, p. 55-73.
54
Ibidem.
55
Contrária ao ensino oficial, a Escola do Povo era apresentada por seus fundadores
como meio para “elevar o espírito da população, para reanimar-lhe as forças e preparar
uma geração para o futuro”.
PESTANA, F. R.; ABREU, H. L.; MENEZES, J. N. T.; FERREIRA, M. V. Primeira
publicação feita na imprensa pelos instituidores da Escola do Povo anunciando a criação
desse utilíssimo estabelecimento, p. 2. Disponível em: <
http://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/242768>. Acesso em: 23 ago. 2016.
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56
O Sexo Feminino, n. 23, de 28 de fevereiro de 1874, p. 1.
57
Ibidem, p. 4.
58
Rangel Pestana, republicano histórico, também integrava o grupo dos federalistas
científicos de São Paulo na geração de 1870, ver: ALONSO, Ângela. Idéias em
movimento: a geração 1870 na crise do Brasil Império. São Paulo: Paz e Terra, 2002,
p. 346.
59
Em resposta às críticas que teria recebido de outro periódico, o Colombo, pelo soneto
em saudação ao aniversário de D. Pedro II em 1873, Francisca respondera: “Diz mais o
Colombo que a mulher sob o regime monárquico é escrava ou cortesã. Não sabemos em
que grande república ou republiqueta a mulher deixe de ser escrava e goze de direitos
políticos como o de votar e ser votada. O que é inegável é que em todo o mundo bárbaro
e civilizado, a mulher é escrava, domine a forma monárquica, ou o infrene despotismo”.
O Sexo Feminino, n. 15, de 20 de dezembro de 1873.
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Além disso, cabe ressaltar que mesmo com uma pausa longa, entre 1876
e 1889, e considerando a rapidez com que jornais surgiam e desapareciam no
oitocentos – muitos não passavam nem do primeiro número – há que se cogitar
a falta de referências aos principais debates políticos da época enquanto artificio
utilizado para a sobrevivência do periódico em ambiente hostil, uma empreitada 909
60
nada fácil .
60
Em carta enviada pela redação de outro periódico, “A República”, pode-se encontrar
menção a essas dificuldades: “para que em nosso pais uma senhora ache-se habilitada a
entrar nas lutas da imprensa, quanto não lutou para adquirir instrução, cercada como
está de um ambiente opressor, cheio de preconceitos, de falta de recursos de todo o
gênero para o sexo feminino”.
O Sexo feminino, n. 5, de 4 de outubro de 1873.
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Ao afirmar que sua folha não era política, Francisca Diniz não se
equivocara. Os temas tradicionais da política imperial passaram longe de seus
escritos. Entretanto, para as historiadoras e os historiadores que se debruçam
sobre a obra dessa intelectual, torna-se imperioso conceber seus postulados
enquanto defesas de um programa político, ainda que não sob este nome.
61
O Sexo Feminino, n. 15, de 7 de novembro de 1875, p. 1-2.
62
O Sexo Feminino, n. 18, de 14 de janeiro de 1874, p. 2.
63
ROSANVALLON, Pierre. Op. Cit., p. 73.
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O estudo dos homens a partir do gênero tem se mostrado cada vez mais
importante para se perceber diversas relações conflituosas e tensas envolvendo
913
as masculinidades e suas relações de poder, além de evidenciar o quanto o gênero
é relacional. Nessa perspectiva se ampliou também o olhar para o masculino,
mostrando que não falamos de uma masculinidade, mas sim, em uma
pluralidade. Ao focarmos nosso olhar para a revista Playboy encontramos uma
diversidade, no entanto a forma hegemônica da masculinidade se constitui como
predominante. Nesse sentido, em uma análise criteriosa podemos perceber a
existência de várias hierarquias dentro do campo das masculinidades, em que
uma sempre se impõe como superior às demais, exercendo uma dominação
simbólica. Essa hierarquia tem em seu topo essa masculinidade hegemônica
como norma, a qual vai se estabelecer como elemento vislumbrado por muitos,
pela ideia de estabelecer múltiplos privilégios, mas acessíveis a poucos, pois diz
respeito a uma camada social restrita, composta por homens ricos, brancos e
heterossexuais, os quais encontramos representados nas páginas da revista
Playboy ao longo da década de 1980.
*
UDESC.
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passa a ser o homem sedutor, conquistador e galante, aquele que não precisava
ter a força física exacerbada, mas que apresentava a sua masculinidade pelo
poder da conquista e, principalmente, pela capacidade sexual. Tudo isso
associado a uma vida jovem, livre e de um “novo homem”.
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Atas do II Encontro Nacional do GT Estudos de Gênero
Rio de Janeiro, 27 e 28 de outubro de 2016.
seja, o ideal desse novo homem que estava se estabelecendo nesse período. No
entanto, não é apenas a revista que enaltece esses comportamentos, o próprio
entrevistado se utiliza desse ideal de novo homem para compor a sua imagem
pública, ligada a jovialidade e ao desejo de mudanças. Então percebemos que
esses discursos operacionalizados pela revista podem em certa medida ser
introjetados pelos sujeitos que buscavam estabelecer novos comportamentos, ou
como no caso do governador citado, criar uma nova imagem política justamente
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em um momento em que se lutava por mudanças no cenário político brasileiro.
ISBN: 978-85-65957-07-6
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Considerações
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REFERÊNCIAS
ISBN: 978-85-65957-07-6
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of California Press, 2000.
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PINTO, Céli Regina Jardim. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo:
Editora Fundação Perseu Abramo, 2003.
REIS, Ana Regina Gomes dos. Do segundo sexo a segunda onda: discursos
feministas sobre a maternidade. 2008. Dissertação (Mestrado Interdisciplinar) –
Programa de Pós Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres,
Gênero e Feminismo da Universidade Federal da Bahia UFBA, Salvador.
ISBN: 978-85-65957-07-6
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