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A AGRICULTURA MOÇAMBICANA:

caracterização, estrutura, políticas agrárias e outros aspectos relevantes


por Prof. Doutor José Chichava, PhD(Econ)

“A organização económica e social da República de Moçambique visam a satisfação das


necessidades essenciais da população e a promoção do bem-estar social e assenta nos seguintes
princípios fundamentais:
a) na valorização do trabalho;
b) nas forças do mercado;
c) na iniciativa dos agentes económicos;
d) na coexistência do sector público, do sector privado e do sector cooperativo e social;
e) na propriedade pública dos recursos naturais e de meios de produção, de acordo com o
interesse colectivo;
f) na acção do Estado como regulador e promotor do crescimento e desenvolvimento
económico e social”. – Artigo 97 da CRM
g) na protecção do sector cooperativo e social;
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“1. A economia nacional garante a coexistência de três sectores de propriedade dos meios de
produção.

2. O sector público é constituído pelos meios de produção cuja propriedade e gestão pertence ao
Estado ou a outras entidades públicas.

3. O sector privado é constituído pelos meios de produção cuja propriedade ou gestão pertence a
pessoas singulares ou colectivas privadas, sem prejuízo do disposto no número seguinte.

4. O sector cooperativo e social compreende especificamente:


a) os meios de produção comunitários, possuídos e geridos por comunidades locais;
b) os meios de produção destinados à exploração colectiva por trabalhadores;
c) os meios de produção possuídos e geridos por pessoas colectivas, sem carácter lucrativo,
que tenham como principal objectivo a solidariedade social, designadamente entidades de
natureza mutualista”. – Artigo 99 da CRM
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“1. Na República de Moçambique a agricultura é a base do desenvolvimento nacional.

2. O Estado garante e promove o desenvolvimento rural para a satisfação crescente e multiforme


das necessidades do povo e o progresso económico e social do país”. – Artigo 103 da CRM
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“Na satisfação das necessidades essenciais da população, ao sector familiar cabe um papel
fundamental.

2. O Estado incentiva e apoia a produção do sector familiar e encoraja os camponeses, bem como
os trabalhadores individuais, a organizarem-se em formas mais avançadas de produção”. – Artigo
106 da CRM

A Agricultura em Moçambique: Do tempo colonial à actualidade 1


1. O PERÍODO COLONIAL

A agricultura no período colonial manteve-se subdesenvolvida pois, a grande maioria


manteve-se no campo produzindo apenas com a enxada. No entanto, o
subdesenvolvimento da agricultura fora planificado para servir os interesses da
acumulação primitiva de capital através da extracção do excedente económico do
camponês, sob forma de força de trabalho para a produção de mais-valia, ou sob a
forma de produtos dos camponeses comprados a preços baixos.

Desprovido de capital financeiro, a burguesia portuguesa no poder não fez mais do


que arrendar vastas parcelas de território de Moçambique a capitais estrangeiros
(não portugueses) como forma de manter a sua hegemonia e domínio colonial sobre
o País. Assim, o Centro e o Norte de Moçambique foram arrendados a Companhias
estrangeiras com poderes e funções não só económicas mas também políticos e
administrativos. O Sul de Moçambique transformou-se numa reserva de mão-de-obra
para o capital mineiro na África do Sul.

Durante a 1ª. fase da colonização também se assistiu à uma imigração de colonos


portugueses para Moçambique, o que nas áreas rurais contribuiu para a formação
dos Latifúndios que muito beneficiaram da política colonial de apropriação das terras
férteis dos camponeses e da instituição do trabalho forçado (o Chibalo). Recorde-se
da circular de 1 de Maio de 1947 que obrigava todos os indígenas a trabalhar seis
meses por ano para o Governo, para uma companhia ou para um particular.

1.1. Caracterização e Estrutura da Agricultura na economia colonial

Ocupando cerca de 75% da mão-de-obra activa, a produtividade na agricultura era


baixíssima devido à utilização de tecnologias e técnicas agrícolas rudimentares. A
mecanização era quase inexistente e a utilização de agro-químicos e de outros
factores modernos muito reduzida.

O sector da agricultura caracterizava-se pela existência de um dualismo de


estruturas que compreendia:

• Um sector com 4700 propriedades agrícolas, nas quais centenas de milhares de


moçambicanos trabalhavam para os colonos, cuja produção se destinava ao
mercado (ex: açúcar, sisal e chá). Esta era a mão-de-obra assalariada usando
técnicas relativamente avançadas de cultivo e dedicando-se à produção mercantil.

•Um outro sector de economia com cerca de 1.700.000 pequenas explorações de


tipo familiar e de subsistência cuja produção, pela sua natureza e dimensão, se

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destinava em cerca de 80% para o auto-consumo. Os excedentes de produção deste
sector eram adquiridos pelos colonos à preços extremamente baixos e destinavam-
se ao mercado externo e à indústria nacional (ex: algodão, cajú e sementes
oleaginosas). Esta era a mão-de-obra familiar usando técnicas de cultivo atrasadas e
produzindo para o auto-consumo.

O isolamento entre camponeses e trabalhadores assalariados não tornou possível o


surgimento de operários agrícolas. O desigual e baixo nível de desenvolvimento das
forças produtivas, aliado às técnicas extraordinariamente atrasadas de cultivo e
sacha, não podia permitir que a independência nacional, de per si, transformasse a
estrutura económica rumo ao desenvolvimento da economia nacional. Subsistiam no
país vestígios de modos de produção pré-capitalistas e de relações de classe com
base na ligação da acumulação capitalista ao atraso da agricultura familiar. A
dependência para a acumulação capitalista de exploração do campesinato era
através de:
- cultivo forçado de culturas de rendimento;
- trabalho sazonal e assalariado nas machambas e plantações dos colonos;
- fornecimento (venda) de produtos agrícolas pelos camponenses à preços
baixos para a indústria colonial;
- fonte de recrutamento de trabalho migratório assalariado.

Estas formas de exploração capitalista colonial destruiram a economia de


subsistência, pois a produção camponesa foi organizada de forma a constantemente
produzir para a subsistência e ainda um excedente que contribuia para aumentar o
capital em Moçambique, Portugal e África do Sul. O baixo custo da força de trabalho
colonial - que constituiu a própria base de acumulação do capital colonial - dependia
da capacidade da família camponensa de se auto-alimentar e ainda produzir
excedentes. Assim, o rendimento proveniente do trabalho assalariado e da produção
forçada de culturas de rendimento tornou-se um elemento necessário para a
reprodução da agricultura familiar - para a compra de ‘inputs’, animais e instrumentos
de tracção, bem como de bens de consumo.

Analisando a estrutura social da produção agrícola na colónia de Moçambique


podemos cinco elementos principais:

1. As plantações – grandes empresas de monocultura, concentradas no Vale


do Zambeze, extraindo o seu trabalho do campesinato, numa base regular ou
sasonal. Estas plantações eram controladas pelo capital estrangeiro (não

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português), e especializadas na produção de culturas de rendimento para a
exportação – açúcar, chá, copra, sisal, entre outras;

2. Os latifúndios – grandes propiedades de colonos normalmente com


ocupação de parte da sua terra pelos camponeses produzindo muitas vezes
em sistema de chibalo ou sendo obrigados a entregar parte de sua produção
(sistema de extracção da renda em espécie) para os colonos;

3. Médias e pequenas machambas dos colonos – machambas de colonos


dependendo de uma maneira significativa do trabalho familiar do colono assim
como do chibalo e trabalho assalariado do campesinato. Eram geralmente
unidades de produção mais eficientes caracterizadas por possuirem sistemas
de irrigação, mecanização, etc. São exemplos da localização destas unidades
de produção: o Vale do Limpopo, em Gaza; o Vale do Incomáti e Umbelúzi,
em Maputo. Na sua maioria, a produção deste grupo destinava-se a satisfazer
a comunidade de colonos nos centros urbanos.

4. A burguesia e pequena burguesia comercial no campo – fornecia as


infraestruturas necessárias em termos de lojas, armazéns e facilidades de
transportes em termos de compra e posterior venda dos produtos dos
camponeses. As cantinas rurais constituiram, juntamente com os
armezenistas, a principal forma de controlo e apropriação do excedente do
campesinato.

5. O campesinato – para além de produzir para as suas necessidades em


alimentação, foi compulsivamente integrado na economia de mercado como
fornecedor da força de trabalho para as plantações, latifúndios e colonos, e/ou
como pequenos produtores de mercadorias para vender ao colono.

Em termos de produção, estes diferentes sectores contribuiam do seguinte modo:

Quadro I: Estrutura Global da Produção Agrícola


Produção agrícola total 100%
Da qual:
- Produção de subsistência 55%
- Produção comercializada 45%
Da qual:
- Produção camponesa comercializada 15%
- Produção de plantações 15%
- Produção das machambas dos colonos/latifúndios 15%
Fonte: Marc Wuyts (1987), Camponeses e Economia Rural em Moçambique

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1.2. As Funções Económicas do Campesinato Moçambicano

A Circular de 1 de Maio de 1947 foi uma oficialização da prática de trabalho forçado


(chibalo) que propiciou a acumulação primitiva do capital à burguesia colonial. Para
além de produzir para a sua subsistência, o campesinato moçambicano contribuiu
significativamente para a produção mercantil do País. Cerca de um terço da
produção total mercantil tinha como origem os ‘excedentes’ dos camponenses,
nomeadamente os seguintes produtos:

Quadro II: Importância relativa da produção dos camponeses


% da Produção em %
Produtos relação à Produção da Produção dos
Agrícola nacional Camponeses
1. Mandioca 18% 100%
2. Milho 12% 90%
3. Algodão 11% 67%
4. Caju ~10% 90%
5. Amendoim 5% 100%
6. Sorgo 5% 100%
Total 61% 91%
Fonte: Adaptado de Marc Wuyts (1987)

A produção dos camponeses teve um papel significativo na agricultura


moçambicana, uma vez que era responsável por cerca de 70% da produção total,
sendo 55% para a subsistência e os restantes 15% comercializados como
excedente. Em média, os camponeses comercializavam 20% da sua produção e as
suas principais produções para o mercado contribuiam em cerca de 44% nas receitas
de exportação do País.

Quadro III: Alguns principais produtos de exportação, 1973


Contribuição para o valor
Produtos das exportações
1. Açúcar 11%
2. algodão 21%
3. Caju 23%
4. Chá 4%
5. Copra 6%
6. Tabaco 1.6%
Fonte: Adaptado de Marc Wuyts (1987)

Quanto às funções económicas do campesinato pode-se assinalar que em


Moçambique, o sistema colonial actuou nas zonas rurais basicamente com dois
padrões: por um lado, institucionalizou um sistema de trabalho migratório interno
(Centro e Norte do País) e externo (no Sul do País), por outro lado, implantou um
processo de campesinatização que exigiu a transformação dos camponeses

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moçambicanos em produtores de mercadorias. Deste modo, os camponeses
moçambicanos muito contribuiram para as seguintes funções económicas na
economia colonial:

• Produção de matérias-primas baratas, especialmente para a exportação


(cajú, algodão, copra, chá e tabaco), mas também para fornecer a indústria
alimentar virada essencialmente para o mercado interno de colonos (cereais e
oleaginosas);
• Produção de alimentos baratos para o abastecimento dos próprios
trabalhadores e dos colonos;
• Fornecimento da força de trabalho para as empresas capitalistas, a baixo
custo para o capital. A rendibilidade de trabalho nas plantações, nas médias e
pequenas empresas agrárias, nas minas, nos portos e caminhos de ferro,
dependia muito do recrutamento da força de trabalho sazonal pelas
autoridades administrativas coloniais. Este recrutamento representava sempre
uma mais valia para as autoridades administrativas pois os salários eram
baixos mas por cada trabalhador recrutado o beneficiário pagava uma
importância às autoridades administrativas da circunscrição do recrutado.;
• Redução dos custos de reprodução da força de trabalho, por intermédio
da produçã familiar destinada ao auto-consumo e da produção de alimentos
baratos.

1.3. Padrões Regionais na Estrutura de Produção Agrícola

Como referido na introdução, a debilidade política e financeira de Portugal ao lado de


outras potências internacionais levou à regionalização e especialização do País.
Assim, ao Sul de Moçambique coube funcionar como reserva de mão-de-obra para a
indústria mineira sul-africana; ao Centro e Norte do País coube a especialização na
economia de plantações e transformação do camponês em produtor de mercadorias.

Quadro IV: Padrões Regionais da Produção Agrícola em %


Produção agrícola (% do total) Sul Centro Norte
Produção agrícola nacional 17 43 35
- Comercializada 19 45 35
- Do campesinato 14 38 48
Produção Regional do Campesinato 59 61 86
- Para Subsistência 49 52 60
- Para Comercialização 17 15 29
Produção Regional Comercializada 51 48 40
Produção Regional dos Colonos 39 12 12
Produção Regional das Plantações 2 28 2
Fonte: Adaptado de Marc Wuyts (1987), Quadros IV, V, VII e VIII

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Em consequência desta especialização regional, a relação entre o produto agrícola
total e comercializado, e entre as diferentes formas sociais de produção variou de
região para região.

2. TRANSIÇÃO E CRISE NO PERIODO PÓS-INDEPENDÊNCIA

O Acordo de Lusaka entre as autoridades coloniais portuguesas e a FRELIMO no dia


7 de Setembro de 1974 abriu caminho para o fim da colonização e proclamação da
independência de Moçambique. O período de transição para a independência
testemunhou uma desintegração rápida da burguesia e pequena burguesia colonial
através do abandono massivo dos portugueses (para Portugal e África do Sul)
combinado com a fuga de capitais, sabotagem, contrabando e destruição de
equipamento. Esta situação agravou-se com as primeiras medidas de
nacionalizações da terra, ensino, saúde e advocacia privadas (em 24 de Julho de
1975), e a nacionalização dos prédios de rendimento (em 3 de Fevereiro de 1976).
Nas zonas rurais, o processo de desintegração da base económica da burguesia
colonial foi caracterizado pelo abandono das propriedades pelos colonos, para além
da destruição de equipamento e abate de gado, ou o seu contrabando através das
fronteiras da África do Sul e Rodésia. Até a rede de comercialização não escapou
pois esta era quase que exclusivamente controlada pela burguesia e pequena
burguesia colonial. Como consequência, assistiu-se a uma dramática baixa na
produção e colheita de produtos agro-pecuários, o que aliado com a baixa de
produção dos camponeses provocou uma quebra acentuada da comercialização de
excedentes mercantis, afectando o mercado interno e as exportações.

Quadro V: Crise da Produção Agrícola no Período pós-Independência (1974/75)


% da mudança na produção de
Descrição 1973/75 a preços constantes de 73
1. Produção total das colheitas agrícolas -13%
2. Produção de subsistência +12%
3. Produção mercantil das colheitas agrícolas -43%
Da qual:
- Produção mercantil dos camponeses -60%
- Colheitas das plantações -16%
- Produção das machambas dos colonos/latifúndios -54%
Fonte: Marc Wuyts (1987), Camponeses e Economia Rural em Moçambique, Quadro IX, pág. 48

Estudiosos divergem na análise das causas da crise de 1974-77 e dos indicadores


para uma política agrária no período pós-independência.

Os dualistas argumentam que a crise de 1974/77 reflectiu o carácter dualista, ou bi-


modal, da economia agrária de então, em Moçambique. Os colonos abandonaram o

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país e houve desinvestimento nas plantações e como consequência o sector
capitalista desmoronou-se e isso afectou negativamente o mercado interno e as
exportações. Por outro lado, com a liberdade o campesinato pôde retirar-se da
produção agrícola comercializada e da venda da sua força de trabalho. Por isso, a
crise da produção agrícola comercializada explica-se pelo facto de o campesinato ter
regressado ao modo de produção pré-capitalista (a chamada economia natural ou
tradicional), e o facto do sector capitalista ter perdido investimento e força de
trabalho.

Para os não-dualistas, a crise de 1974/77 foi provocada pelo desmoronamento do


sistema e do Estado coloniais, facto que era inevitável. Por um lado, o sector
empresarial entrou em crise parcialmente porque os colonos abandonaram o país e
porque se registou desinvestimento nas plantações. A quebra da produção agrícola
comercializada do campesinato deveu-se, sobretudo, à ruptura dos circuitos de
comercialização e do abastecimento do campo com bens de consumo e factores de
produção, ao desincentivo de preço, à fraqueza do sistema de extensão rural e à
deterioração da base de acumulação do campesinato, que se reflectiu num certo
desinvestimento na agricultura familiar.

Os não-dualistas olham também para o efeito global da crise. Enquanto por um lado,
ela pôs em causa a viabilidade do sector empresarial e de todo o sistema de
produção agrária coloniais na medida em que este não conseguiu superar a sua
dependência em relação ao trabalho sazonal, por outro lado, a crise reflectiu-se com
particular severidade na deterioração acelerada da base produtiva do campesinato.
Este ficou sem acesso a um salário estável e privou-se das mais importantes fontes
de rendimento. (Veja Tabela 4, pág.52-53, Castel-Branco, 1994)

3. As Directivas Económicas do III Congresso da FRELIMO e a Economia


Centralmente Planificada

A FRELIMO transformou-se em partido marxista-leninista, adoptou um sistema


económico de planificação centralizada no contexto da orientação político-ideológica
socilaista, no III Congresso da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO),
realizado em Mrbgrhraputo de 3 a 7 de Fevereiro de 1977. Nesse Congresso foi
explicitada a estratégia de desenvolvimento económico e social de Moçambique
independente. Esta estratégia foi mais tarde concretizada com a aprovação em 1979
do Plano Prospectivo Indicativo (PPI), cujo objectivo era acabar com o
subdesenvolvimento em 10 anos (1980-1990).

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No domínio da Agricultura, o III Congresso reafirmou a importância de estender às
zonas rurais e a nível de todod o País, a experiência da zonas libertadas. A
Colectivização ou Socialização do Campo constituia a espinha dorsal do
desenvolvimento agrário do país. A estratégia da Socialização do campo
consolidava-se no desenvolvimento acelerado do sector estatal e na
cooperativização do campo. As Empresas Estatais e as Cooperativas seriam as
formas organizadas de produção agrícola sobre as quais assentariam as Aldeias
Comunais.

A socialização do campo permitiria a criação de um forte sector estatal agrário e a


transformação da agricultura familiar através de um dinâmico movimento cooperativo,
com o enquadramento de milhões de camponeses em cooperativas agrícolas e a
emergência de um operariado agrícola. Por outro lado, a socialização do campo
criaria condições para o aumento da produtividade no campo.

Sendo o sector estatal o dominante, os objectivos do seu desenvolvimento e


fortalecimento era contribuir para o cumprimento das metas dos Planos anuais, no
âmbito da economia centralmente planificada, através da dinamização e
desenvolvimento das forças produtivas no campo. Para a efectivação deste objectivo,
foram aprovados Grandes Projectos agrários que representavam 75% do
investimento e da produção agrícola comercializada no sector estatal. Os grandes
projectos agrários previstos no Plano Prospectivo e Indicativo (PPI) eram os
seguintes:

• Limpopo-Incomáti;
• Vale do Zambézi;
• Lucheringo;
• 400 mil hectares em Niassa e Cabo-Delgado;
• Região algodoeira em Nampula;
• Angónia-Marávia;
• Lioma;
• Nauela;
• Catandica;
• Sussundenga, Revué-Vandúzi-Púngoé.

A área cultivada neste projectos seria de cerca de um milhão de hectares, em


sequeiro e regadio, e, em 1978, as empresas estatais agrárias já ocupavam 100 mil

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hectares de terra cultivável, tendo esta área expandido para 140 mil hectares em
1982. Para além da produção agrícola, previa-se que, em 1990, estes grandes
projectos contribuíssem com 78% da carne, 83% do leite e 56% dos ovos, do sector
estatal pecuário.

Para o programa de cooperativização, previa-se que se ampliasse o apoio aos


cooperativistas através de preços preferenciais, de subsídios e créditos ao
aprovisionamento, da assistência técnica, da comercialização e abastecimento,
mecanização, formação de quadros e desenvolvimento social.

A actividade principal das cooperativas devia concentrar-se na produção colectiva,


havendo toda a necessidade de criar condições para o aumento da produtividade por
hectare e por cooperativista.

Na implementação do PPI neste sector, na prática, foram priorizados investimentos


no sector estatal, em detrimento das cooperativas, sector familiar e agricultores
privados. Até 1984, mais de 90% dos investimentos e dos técnicos disponíveis foram
afectos na agricultura e à componente construção de infraestruturas para apoiar a
agricultura, nomeadamente as obras de irrigação. Entre 1977-81, foram importados
mais de três mil tractores e cerca de meio milhar de auto-combinadas, entre outro
equipamento e maquinaria agrícola. Insumos agrícolas de melhor qualidade foram
importados e usados massivamente na agricultura, sendo exemplo os fertilizantes e
pesticidas.

Quadro 6: Evolução das Exportações de Produtos Agrícolas (Mil Contos de MT)


Produtos 1975 1977 1979 1981 1982
761
Cajú 780 1 468 1 445 1 890 1 647
Açúcar 575 260 952 888 331
Chá 177 409 680 502 970
Algodão 439 288 761 881 653
Madeiras 375 154 206 260 124
Camarão 276 366 753 1 852 1 454
Fonte: CNP, 1982

Durante o período compreendido entre 1975 e 1981 conseguiu-se deter a queda dos
níveis de produção na agricultura e obter um aumento da produção que, durante
1981, atingiu, para a maior parte dos bens de consumo interno e de produtos para
exportação, os níveis mais altos após a independência. As exportações aumentaram
83% entre 1977 e 1981 e continuaram a ser de origem agrícola.

A Agricultura em Moçambique: Do tempo colonial à actualidade 10


O crescimento da produção bruta agrária de 1977 a 1981 foi de cerca de 9% no
período, e a contribuição do sector agrário para o Produto Social Global foi, em
média, de 40% ao ano, no período em referência. O subsequente aumento da
contribuição da agricultura para a produção bruta agrária, resultou principalmente do
crescimento da comercialização particularmente nos seguintes produtos.

Quadro 7: Produção Bruta Agrária Comercializada


Produtos Unidade de Medida 1977 1981

Milho Mil Toneladas 34.0 78.3


Algodão caroço “ 52.0 73.6
Chá folha verde “ 79.0 99.2
Citrinos “ 25.0 36.7
Fonte: CNP: Informação Económica, 1984

O sector familiar contribuiu com cerca de 36% da produção agrária comercializada,


sendo a sua participação considerável em culturas como o algodão, o cajú,
oleaginosas, o milho e outros cereais.

As inundações de 1977/78, em conjugação com as secas de 1981 a 1983,


devastaram enormes áreas na região sul do país, onde se produzia cerca de 80% do
arroz e 20% do açúcar, e onde se concentravam 70% dos efectivos bovinos do país.

Por isso, a contribuição do sector agrícola foi bastante condicionada pela enorme
flutuação dos preços dos produtos agrícolas no mercado internacional, para além dos
factores internos já referidos anteriormente, as inundações e secas, a diminuição do
aprovisionamento por importação e as acções de desestabilização. O crescimento do
valor das exportações até 1981 resultou da melhor organização do processo de
exportações e da retirada de Moçambique da zona do escudo.

3.1. A modernização da agricultura e seus desafios

Uma das estratégias que devia concorrer para o desenvolvimento rápido da


produção era a urgente modernização da agricultura através da introdução da
mecanização nas mais de 4.000 empresas agrícolas abandonadas pelos
portugueses e já transformadas em machambas estatais. A mecanização das
machambas estatais fazia parte de um sonho dos dirigentes da FRELIMO de que ela
pudesse contribuir na produção de bens de exportação e bens de consumo em
grande escala que pudessem transformar a vida nas zonas rurais. A rápida
mecanização era motivada, em primeiro lugar, pela vontade de aumentar a

A Agricultura em Moçambique: Do tempo colonial à actualidade 11


produtividade, mas também pela necessidade de substitui o trabalho forçado
(chibalo) e o trabalho manual duro por uma forma de agricultura mais moderna.

A mecanização acelerada destinava-se a modernizar e a aumentar ràpidamente a


produção do sector estatal. No entanto, o tipo e a intensidade da mecanização
introduzidos levantaram problemas sérios tendo em conta a estrutura económica
existente:

a) Reduziram as oportunidades de emprego dado o aumento da


produtividade do factor trabalho pela mecanização. Esta situação
contribuiu para o aumento da instabilidade do emprego;
b) Aumentaram as necessidades pelo trabalho sazonal, especialmente nos
períodos de pico da colheita, pois a mecanização não contemplou todas as
fases do processo de produção (da lavoura à colheita);
c) O fluxo de serviços que concorreria para optimizar o aproveitamento da
mecanização nem sempre estava disponível. São os casos de assistência
técnica, fornecimento de combustíveis e lubrificantes, peças
sobressalentes, manutenção corrente e pessoal técnico à altura;
d) Faltaram, com muita frequência, os insumos que pudessem garantir a
estabilidade da produção em quantidade e qualidade, o que diminuiu a
rendibilidade e a qualidade das culturas, aumentou os custos unitários e
quase que eliminou a viabilidade económica do investimento realizado;

No entanto, a economia, no seu global, estava longe de ser planificada dadas as


dificuldades de se planificar a produção do sector familiar, as calamidades naturais
cheias de 1977/78 e secas de 1981-83), os choques externos do mercado
internacional (aumento do preço do petróleo e deterioração dos termos de troca do
comércio internacional), deslocamento das populações das zonas de residência e de
produção, como consequência da sabotagem e insegurança provocados pelas
acções armadas de desestabilização.

Apesar desta conjuntura nacional e internacional, a partir de 1977, os níveis gerais


da produção apresentam tendência para aumentar mas, o ponto de partida era,
contudo, demasiado baixo, devido à enorme quebra havida nos dois últimos anos do
colonialismo.

A Agricultura em Moçambique: Do tempo colonial à actualidade 12


3.2. A Avaliação do Desemepenho da Estratégia de Desenvolvimento Agrário

É digno mencionar que a estratégia de desenvolvimento agrário desenhada no III


Congresso não foi integralmente implementada. No entanto, foram significativos os
resultados do desempenho do sector agrícola até 1983:
Quadro 8: Produção Agrária de Principais Produtos, em Mil Toneladas
Produtos 1975 76 77 78 79 80 81 82 83
Milho 95.0 90.0 34.0 70.0 66.0 65.0 78.3 89.2 55.8
Arroz 94.0 75.0 60.0 44.0 56.3 43.6 28.9 41.5 17.3
Algodao 52.0 36.8 52.0 72.4 36.8 64.9 73.7 60.7 24.7
Feijao 14.8 14.0 14.0 10.1 13.0 9.6 14.9 6.9 4.7
Cast.caju 160.0 120.0 102.0 90.0 62.6 87.6 90.1 57.0 18.1
Copra 50.4 72.0 48.0 60.0 51.0 37.1 54.4 36.6 30.7
Fonte: Elaborado a partir de Informações Estatísticas da CNP, DNE

À excepção do arroz, todos os produtos apresentam, em 1981, os melhores índices


em termos de resultados, como consequência dos esforços de investimentos
alocados prioritàriamente no sector estatal agrícola. No entanto, a política para as
zonas rurais tinha se baseado num número de pressupostos que não estavam em
concordância com as condições materiais do abastecimento de bens alimentares na
zona rural, nem com os padrões vigentes. O apoio ao sector familiar foi
negligenciado, o que contribuiu para a redução da produção nacional agrícola
comercializada.

Quadro 9: Produção Pecuária


Descrição U/M 1978 1979 1980 1981 1982 1983

Carne de Bovino Mil Tons 6.9 8.3 8.3 7.8 7.2 5.8

Carne de Suino Mil Tons 2.0 2.6 3.3 3.9 3.7 1.8

Carne de Frango Mil Tons 4.0 4.5 6.4 5.7 3.4 1.5

Ovos Bil.Unids 20.0 33.6 45.9 48.0 49.7 29.0

Leite Bil.Litros 5.2 5.1 5.7 5.5 5.3 5.3


Fonte: Elaborado a partir de Informações Estatísticas da CNP, DNE

Em consequência de todos os factores que influiam na economia moçambicana,


depois de 20 anos consecutivos de guerra (1964-1983), agressões, destruições,
saque, sem reservas económicas e com a economia estruturalmente dependente e
subdesenvolvida, o sonho da reconstrução e desenvolvimento do sector agrário não
foi tarefa fácil. A estratégia de modernização para o desenvolvimento rural, que
Moçambique escolheu em 1977, não obteve os resultados previstos. Contribuiram
para tal dentre outros os seguintes factores:

A Agricultura em Moçambique: Do tempo colonial à actualidade 13


• Crise e queda do colonialismo, agravada pelo desenvolvimento de uma
profunda crise económica internacional (a elevação da taxa de juro no
mercado internacional, a contracção geral na concessão de créditos novos
pelos bancos internacionais, a deterioração dos termos de troca no comércio
internacional) e pela subida vertiginosa dos preços do petróleo a partir de
1974;
• Calamidades naturais, os actos de agressão e de destruição, e as acções
sistemáticas de desestabilização económica e social;
• Reduzido número de técnicos moçambicanos, erros e insuficiências próprias
de quadros que adquirem experiência de direcção e gestão político económica
no próprio processo de transformação da vida económica e social;
• A não confirmação de Moçambique como membro de pleno direito do
Conselho de Ajuda Mútua Económica (CAME);
• A aplicação integral de sanções ao regime rebelde de Ian Smith, em
cumprimento da Resolução 253 (1968), aprovada em 29 de Maio de 1968
pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas;
• Agindo contra a independência de Moçambique e em reacção contra a
aplicação de sanções à colónia rebelde da Rodésia do Sul, o regime sul
africano planeou e desencadeou uma guerra não declarada contra
Moçambique;
• Redução do recrutamento de mineiros Moçambicanos para uma terça parte
do nível anterior e rescisão unilateral por parte da África do Sul do acordo que
tinha com Moçambique, sobre o pagamento dos salários dos mineiros em
ouro;
• Diminuição drástica da utilização dos caminhos de ferro e dos portos
Moçambicanos pela África do Sul, o que, a par com o encerramento de
fronteiras com a Rodésia do Sul, reduziu para metade o tráfego ferroviário
internacional através de Moçambique entre 1975 e 1981;
• Destruição de 400 estabelecimentos comerciais nas zonas rurais em 1982 e
de cerca de 500 outros em 1983, com efeitos multiplicadores negativos para a
economia camponesa.

4. As Directivas Económicas do IV Congresso e as Reformas na Agricultura

Aquando da realização do IV Congresso do Partido Frelimo, em Abril de 1983, a crise


económica e os seus efeitos demolidores da guerra de agressão e da
desestabilização contra Moçambique já eram uma realidade.

A Agricultura em Moçambique: Do tempo colonial à actualidade 14


O desenvolvimento económico depois de 1981 demonstrava uma tendência
decrescente, mensurável através da diminuição das receitas da prestação de
serviços à África do Sul e do decréscimo das exportações.

Quadro 10: Evolução das Exportações de Produtos Agrícolas (Mil Contos de MT)
1982 1983 1984 1985 1986
Caju 1,647 647 650 3,366 4,846
Açúcar 331 346 244 1,973 2,351
Chá 970 591 458 696 377
Algodão 653 684 341 1,538 174
Madeira 124 24 51 261 290
Camarão 1,454 1,254 1,200 9,693 10,476
Fonte: Elaborado a partir de Informações Estatísticas da CNP, DNE

A falta de bens de consumo fez com que os camponeses diminuissem a produção


agrária comercializada ou a canalizassem para o mercado paralelo, o que originou
grandes aumentos nos preços no mercado nacional.

Quadro 11: Produção Agrária de Principais Produtos, em Mil Toneladas

1982 1983 1984 1985


Milho 89 56 83 59
Arroz 42 17 19 18
Algodão 61 25 20 5
Feijão 7 5 4 4
Cast.Cajú 57 18 25 24
Copra 37 31 60 24
Fonte: Elaborado a partir de Informações Estatísticas da CNP, DNE

A reflexão sobre o estágio da estrutura e desenvolvimento da economia


moçambicana levou o IV Congresso da Frelimo a formular Directivas Económicas e
Sociais profundas que estabeleciam o quadro global de desenvolvimento para 5
anos. As directivas definiam uma metodologia de utilização máxima e integral dos
recursos disponíveis localmente e o máximo aproveitamento das capacidades
produtivas com vista a minimizar as importações e aumentar progressivamente as
exportações. Contrariamente às Directivas do III Congresso, o IV Congresso
recomendava uma forte combinação dos pequenos e grandes projectos para o
combate à fome e o aumento de receitas em divisas para o País.

A estratégia definida pelo IV Congresso da Frelimo para o sector agrário reafirmava


que a vitória sobre o subdesenvolvimento assentava no apoio concentrado e
integrado do sector de produção familiar, em especial na actividade agro-pecuária,

A Agricultura em Moçambique: Do tempo colonial à actualidade 15


assegurando os recursos necessários em instrumentos de trabalho, meios de
produção e bens essenciais para a troca no campo. O objectivo era aumentar a
produtividade do sector familiar e estimular a produção mercantil que garantisse
excedentes para o aprovisionamento interno e para o aumento das exportações. O
esforço principal incidiria na produção de cereais, na plantação e repovoamento de
cajueiros, no incentivo à apanha da castanha de cajú, na produção de algodão, de
mandioca, de oleaginosas, de feijão, na pecuária e produção de carne, e na pesca.

As conversações à nível governamental entre Moçambique e a África do Sul com


vista ao estabelecimento de um clima de boa vizinhança, assente no reconhecimento
e na prática dos princípios universalmente aceites da coexistência pacífica e do
respeito pela soberania e integridade territorial, da não ingerência nos assuntos
internos de cada Estado, e a perspectiva de relacionamento económico comercial
com base na igualdade e reciprocidade de benefícios, permitiam encarar o futuro da
economia do País com muito optimismo e confiança.

Em cumprimento do Programa de Acção Económica (PAE) aprovado no IV


Congresso da Frelimo, iniciou-se um processo de liberalização de preços que pouco
a pouco ia marcando os primeiros momentos da introdução da economia de mercado
em Moçambique.

A visita do Presidente Samora Machel aos Estados Unidos, em 1983, a assinatura do


Acordo de Nkomati entre Moçambique e a África do Sul, em 1984, e a aceitação de
Moçambique como membro do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco
Mundial (BM), permitiram que o País começasse a receber uma significativa
assistência bilateral das instituições internacionais de ajuda ao desenvolvimento.

5. O Programa de Reabilitação Económica (PRE) e seu Objectivos

A adesão às instituições de Bretton Woods proporcionaram ao País beneficiar de um


programa de recuperação e transformação económica. Em Janeiro de 1987 iniciava
em Moçambique a implementação do Programa de Reabilitação Económica (PRE)
que em 1989 integrou também a componente social (PRES). Os objectivos do PRE
que era inspirado e condicionado pelas políticas do Banco Mundial e do Fundo
Monetário Internacional, tinha como objectivos principais:
• Reverter a queda da produção nacional;
• Assegurar à população das zonas rurais receitas mínimas e um nível de
consumo mínimo;

A Agricultura em Moçambique: Do tempo colonial à actualidade 16


• Reinstalar o balanço macro-económico através da diminuição do déficit
orçamental; Reforçar a balança de transacções correntes e a balança de
pagamentos.

O PRE tinha por objectivo liberalizar a economia e sucessivamente deixá-la orientar-


se para o mercado.

Para que isso acontecesse era imprescindível que medidas políticas à nível
financeiro, monetário e comercial fossem tomadas. As empresas estatais deviam ser
reestruturadas e, tanto quanto possível, privatizadas. Deviam ser introduzidos
critérios rígidos de rentabilidade em toda a gestão económica. Deviam ser
depositados mais esforços na agricultura privada, de pequena escala e familiar,
através de melhores termos de troca e de um aumento de oferta de bens. O
comércio devia ser liberalizado e o sistema de preços fixos abolido.

Uma análise à implementação do PRE permite constatar que, a descida brusca da


produção, que caracterizou o período compreendido entre 1983-86, conseguiu ser
abrandada nos primeiros anos do programa de reabilitação, 1987-89. Contudo, esta
tendência foi interrompida em 1990, ano em que o crescimento anual da produção
voltou a ser negativo.

Quadro 12: Produção Agrária de Principais Produtos (Mil Toneladas)

Produtos 1986 87 88 89 90 91
Milho 21.5 27.3 45.4 93.8 96.7 89.8
Arroz 19.0 31.5 32.1 29.0 25.5 41.8
Algodao 10.8 28.2 19.0 28.0 29.7 40.0
Feijao 2.8 9.2 6.7 14.9 16.6 15.2
cast.caju 40.1 37.5 45.0 50.2 22.5 31.1
Copra 28.6 25.5 24.7 10.5 31.2 24.8
Fonte: Elaborado a partir de Informações Estatísticas da CNP, DNE

Estas oscilações no comportamento da produão podem ter várias explicações. Até


meados da década de 80, aproximadamente 130 empresas estatais do sector
agrícola respondiam por cerca de 50% da produção comerciada de bens alimentares
em Moçambique. No âmbito da transformação de empresas estatais em unidades de
produção mais pequenas e de dar início a um processo de privatização considerável,
o número de empresas agrícolas decresceu muito, não obstante este processo ter
conhecido um quase congelamento, na sequência de desestabilização muilitar nas
zonas rurais.

A Agricultura em Moçambique: Do tempo colonial à actualidade 17


Após o início da implementacão do PRE, havia poucos agricultores ou empresas
privadas preparadas para correr o risco comercial que os investimentos no campo
representam, e no caso presente, esta situação era prejudicada também pelo
ambiente de guerra.

O ritmo de crescimento de 7%, em média anual, nos períodos a que se seguiu a


implementção do PRE ficou a dever-se à liberalização de preços1 e às consequentes
alterações da dimensão da quantidade de produtos agrícolas comercializados no
mercado oficial e não nas alterações da produção agrícola real.

Devido à seca que se fazia sentir, o ano de 1992, registou um decréscimo


substancial da produção. De facto, a seca aliada à insegurança e às políticas de
ajuda internacional de muitos doadores2 pioraram a situação da população rural e
como consequência, as possibilidades de se implementar a estratégia de tomar a
“agricultura como base económica de desenvolvimento” diminuiram radicalmente.

5.1. O Programa dos Distritos Prioritários e o Desenvolvimento Rural

Nos esforços para a estabilização da produção no campo, foram seleccionados, em


1989, 40 distritos onde a guerra não se fazia sentir muito, e onde simultaneamente
existiam potencialidades para se fazer um aumento da produção de bens
alimentares.

O ponto de partida do Programa dos Distritos Prioritários (PDP) foi a situação de


emergência que se vivia no campo e a consciência de que só a produção de
alimentos podia fazer Moçambique atingir a segurança alimentar.

Os 40 distritos prioritários representavam 50% da população rural de Moçambique e


60% da produção agrícola comercializada. As áreas desses distritos deviam ter três
características essenciais: ter infraestruturas mínimas e condições climatéricas
adequadas; ser fisicamente acessíveis em termos de meios e vias de comunicação;
e, ter segurança e estabilidade.

1
Na materialização das decisões do IV VCongresso da Frelimo, os preços dos produtos agrícolas foram
liberalizados com a excepção do arroz e do milho para os quais foram introduzidos preços mínimos ao
produtor.
2
Muitos doadores internacionais opuseram-se a comprar excedentes da população em áreas de Moçambique
onde se havia conseguido alguma produção. A ajuda de emrgência a Moçambique teve frequentemente uma
relação directa com a política agrícola própria dos países doadores e a sua eventual produção excedentária.
Por outro lado, alguns doadores insistiam na distribuição gratuita da ajuda de emergência a população. Nas
zonas onde a população tem um certo poder de compra, por exercerem actividades económicas que não são
afectadas pela seca, a distribuição gratuita de alimentos criou problrmas no seio da população. Assim se
pode concluir que, ao mesmo tempo que a ajuda alimentar internacional era absolutamente necessária para
Mocambique, ela criou algumas consequências negativas de médio e longo prazo: desenvolvimento de uma
cultura de dependência mental e material o que criou e ainda cria dificuldades para a recuperação da
produção nas zonas rurais.

A Agricultura em Moçambique: Do tempo colonial à actualidade 18


Em termos de identificação de acções no âmbito do PDP, foram estabelecidos dois
princípios: Primeiro, que as acções deviam ser financiadas a longo prazo com
recursos locais. Com este princípio estavam implícito o princípio da descentralização;
Segundo, que o maior recurso de cada distrito do PDP devia ser um grande
excedente da força de trabalho.

Em termos de acções para o sector de agricultura priorizou-se a actividade de


extensão rural através da qual deviam ser fornecidas sementes melhoradas e
melhores condições de armazenagem e desenvolvidas outras acções de apoio
complementares.

O objectivo do PDP era de voltar ràpidamente aos níveis de produção de bens


alimentares e de actividades de extensão rural que se haviam verificado em 1981. O
PDP estaria sob coordenação e gestão do Ministério da Agricultura.

5.2. O Programa de Reconstrução Nacional (PRN) e o Desenvolvimento Rural

Na busca de uma alternativa ao Programa de Reabilitação Económica, considerado


limitado na sua concepção e conteúdo, foi desenhado e apresentado aos doadores
em 1991, o Programa de Reconstrução Nacional (PRN), concebido como um
alargamento do PDP. O PRN que concentrava toda a sua prioridade de acção no
desenvolvimento rural, tinha três componentes importantes:
• Criar a Segurança Nacional, através do restabelecimento da lei
e da ordem, reforço da capacidade das forças de Defesa e
Segurança, e a reabilitação de todos os sistemas de
comunicação do País;
• Aumentar a produção nacional, através de um aumento da
produção nas zonas rurais tendo como base o Programa dos
Distritos Prioritários;
• Reintegrar os deslocados e os soldados desmobilizados.

Este programa que se previa ser concluído em 1993, exigia um aumento


considerável do fluxo da ajuda internacional para sua implementação.

A Agricultura em Moçambique: Do tempo colonial à actualidade 19


6. O ACORDO GERAL DE PAZ, A RECONCILIAÇÃO E A RECONSTRUÇÃO DO
PAÍS

Em Novembro de 1990 entrou em vigor uma nova Constituição onde o sistema


político multipartidário e a economia de mercado são a nota dominante.

Em 4 de Outubro de 1992 foi assinado o Acordo Geral de Paz em Roma, Itália, entre
o Governo e a RENAMO, pondo fim a cerca de 16 anos de guerra civil em
Moçambique, e abrindo uma nova página para o povo moçambicano. Em
consequência do Acordo e da introdução do pluralismo político, foram realizadas as
Primeiras Eleições Gerais Multipartidárias em Moçambique, em Outubro de 1994.

7. O PROGRAMA QUINQUENAL DO GOVERNO 1995-1999

O Governo da Frelimo formado depois da vitória nas Primeiras Eleições Gerais


Multipartidárias definiu como desafios na Agricultura durante o Quinquénio 1995-
1999 os seguintes:

• Tomar a agricultura como base do desenvolvimento económico e social do


país;
• Desenvolver medidas de política visando aumentar a produção agrícola, em
particular dos cereais para a auto-suficiência alimentar;
• Empenhar-se na melhoria da produção, comercialização e distribuição de
sementes melhoradas; no repovoamento das principais espécies pecuárias e
no combate das pragas e doenças; na utilização de novas tecnologias e na
melhoria de técnicas agrícolas.

7.1. O PROAGRI

Durante muitos anos, o desenvolvimento do sector agrícola em Moçambique foi


baseado em projectos, quase que exclusivamente dependente da ajuda externa.

O Plano de Investimento Público consistia numa mera agregação de projectos sem


nenhuma coordenação entre si.

A fase de “Projectização” trouxe muitos problemas: (i) sobreposições entre projectos,


(ii) diferenças de abordagem e métodos, (iii) duplicação de esforços, (iv) dificuldades
na coordenação e gestão, (v) uso ineficiente de recursos, (vi) actividades
insustentáveis, entre outros constrangimentos.

A Agricultura em Moçambique: Do tempo colonial à actualidade 20


a) do pré-programa

Objectivos: Desenhar um programa nacional integrado de desenvolvimento agrícola


de cinco anos (PROAGRI) e, simultâneamente criar a capacidade institucional dentro
do Ministério da Agricultura, com o apoio do PNUD, da FAO e de outros doadores.

Em 1990/91, foram levadas a cabo as primeiras actividades concebidas para resolver


os problemas da projectização, com discussões internas sobre as mudanças
necessárias impostas pelo contexto politico emergente. A profunda mudança ocorreu
com o fim do conflito armado, em Outubro de 1992, com a normalização da
frequência de queda de chuvas em 1993/4. Estes dois factores criaram condições
para o regresso às zonas de origem de milhares de Moçambicanos deslocados
interna e externamente.

b) formulação do proagri

A formulação do PROAGRI foi iniciada em 1994, com a formação de grupos de


trabalho para preparar diagnósticos e propôr estratégias e programas de investimento
à nível sectorial.

No âmbito do Programa Quinquenal (1994-1999) do Governo saído das primeiras


eleições gerais multipartidárias, aprovou-se a política nacional da agricultura e
desenvolveram-se as estratégias subsectoriais correspondentes.

A partir de 1996, a formulação do PROAGRI passou a contar com o apoio do Banco


Mundial e da DANIDA, para além do PNUD e da FAO.

Os objectivos do processo de formulação do PROAGRI foram definidos como sendo:

i) Criar um programa compreensivo e integrado para o desenvolvimento


harmonioso da agricultura;
ii) Estabelecer consensus e mecanismos de coordenação entre vários
doadores interessados pelo financiamento do desenvolvimento no
sector da agricultura;
iii) Estabelecer regras e mecanismos de gestão de programas e projectos
que induzam a transparência na utilização de recursos financeiros,
humanos e materiais.

c) componentes subsectoriais do proagri

A Agricultura em Moçambique: Do tempo colonial à actualidade 21


a. Componentes Principais: components que pela sua natureza
alcançam a maioria dos objectivos de um sector particular (Pecuária,
Florestas e Fauna Bravia);
b. Componentes Auxiliares: components cujas actividades apoiam os
vários sectores (Extensão, Investigação, Terras, Irrigação e
Desenvolvimento Institucional);
c. Componentes Suplementares: compponentes que apoiam a
implementação efectiva das components principais e auxiliaries
(Finanças Rurais, Pós-Colheita, e Consolidação de Orçamentos).

d) análise do processo

Sucessos

i) Profundo sentido de titularidade do PROAGRI pelo MADER;

ii) Processo participativo;

iii) Partilha de pontos de vista sobre as funções do MADER;

iv) Consenso de que o melhor funcionamento do MADER é de forma


desconcentrada ou descentralizada, com o aumento do processo
decisório para os níveis provincial e distrital.

Problemas

i) Falta de clareza conceptual e mudanças conceptuais frequentes


durante o processo;

ii) Insuficiente comunicação sobre o PROAGRI a todos os ‘stakeholders’;

iii) Fraca coordenação e harmonização do processo.

O PROAGRI TEM UM CONTRIBUTO IMPORTANTE NO PARPA – Plano de


Acção para a Redução da Pobreza Absoluta.

7.2.Balanço da implementação do Programa Quinquenal do Governo no Sector


Agrário

Um dos ganhos importantes para o sector de Agricultura neste período foi a


preparação e aprovação pelo Governo da Política Agrária e Estratégias de

A Agricultura em Moçambique: Do tempo colonial à actualidade 22


Implementação, em Outubro de 19953. O Governo definia como objectivo geral do
desenvolvimento agrário, “A transformação da agricultura de subsistência numa
agricultura cada vez mais integrada nas funções de produção, distribuição e
processamento, tendente a alcançar:
(i) O desenvolvimento de um sector agrário de subsistência que contribua
com excedentes para o mercado;
(ii) O desenvolvimento de um sector empresarial eficiente e participativo
no desenvolvimento agrário.

Por outro lado, o Governo definia como objectivos a alcançar a curto e médio prazos
o alcance progressivo da auto-suficiência alimentar em produtos básicos, o
fornecimento de matérias-primas à indústria nacional, e a contribuição para a
melhoria da balança de pagamentos.

A implementação da Política Agrária pressupunha a observância dos seguintes


princípios fundamentais:
a) O uso sustentável dos recursos naturais, nomeadamente a terra, os
recursos hídricos, florestas, fauna bravia e recursos genéticos;
b) A expansão da capacidade de produção e melhoria da produtividade
agrária, promovendo o investimento público e privado, e implantação de
infraestruturas e serviços de apoio à produção;
c) A formação e desenvolvimento dos recursos humanos, no quadro da
reorganização institucional;
d) O desenvolvimento do conceito de desenvolvimento rural integrado
compatibilizando o desenvolvimento rural com outras políticas sectoriais
vitais no desenvolvimento das comunidades rurais, com destaque para a
saúde, educação, protecção ambiental, emancipação da mulher, agro-
indústrias, entre outros.

O quadro abaixo, construído a partir da produção registada anualmente no âmbito da


implementação dos Planos Económicos e Sociais ilustra uma tendência positiva da
produção dos principais produtos agrários, nomeadmente, o milho, o arroz, os
feijões, o algodão, a copra, a cana-de-açúcar, a castanha de caju e o tabaco.

33
Publicada no Boletim da República de 28 de Fevereiro de 1996

A Agricultura em Moçambique: Do tempo colonial à actualidade 23


Balanço  da  Produção  Agrícola  (em  Mil  Tons)  

Milho  
Arroz  
Algodao  
Mil  Tons  

Feijao  
cast.caju  
copra  
Cana-­‐d-­‐ac.  
Tabaco  

Anos  

Fonte: Elaborado a partir dos Anuários Estatísticos produzidos pelo INE

8. O PROGRAMA QUINQUENAL DO GOVERNO 2000-2004

O Governo formado após as Segundas Eleições Gerais Multipartidárias apostou, no


âmbito do sector agrário, na continuidade de esforços com vista a alcançar um
desenvolvimento agrário sustentável, que concorresse para atingir os seguintes
objectivos:
• Alívio da pobreza;
• Auto-suficiência e segurança alimentar em produtos básicos;
• Fornecimento de matéria-prima à indústria nacional;
• Desenvolvimento do sector familiar, cooperativo e privado, e criação do
emprego;
• Melhoria da balança de pagamentos.

Para garantir os objectivos acima definidos, o Governo propunha-se desenvolver


estratégias multi-sectoriais, nomeadamente:
(i) a promoção de um ambiente favorável para o desenvolvimento agrário
baseado nas regras do mercado, providenciando incentivos para o
investimento e crescimento produtivo;

A Agricultura em Moçambique: Do tempo colonial à actualidade 24


(ii) a melhoria da rede de estradas, infraestruturas de comunicações,
desenvolvimento dos mercados e comercialização;
(iii) a melhoria do desempenho dos serviços públicos de suporte ao sector
familiar, principalmente na investigação, extensão, apoio à produção
agrícola, pecuária e informação sobre mercados;
(iv) a garantia do uso sustentável dos recursos naturais, através do
envolvimento das comunidades na gestão e utilização da terra,
recursos hídricos, florestas e fauna bravia, em seu próprio benefício.

Para a adequação e modernização do sector da agricultura e pecuária, o Governo


propunha realizar acções:
• Na área da reforma e desenvolvimento institucional;
• Na área dos Serviços de Apoio à Produção Agrícola; na Área do
Reforço dos Serviços Públicos Agrários; e de Pecuária;
• N Área do Uso Sustentável dos Recursos Naturais;

No âmbito do Desenvolvimento Rural o Governo propunha-se desenvolver acções


aos níveis micro e macro que permitissem aumentar o ritmo de crescimento
económico nas zonas rurais, com impacto na melhoria da qualidade de vida da
população rural.

Balanço da implementação do Programa Quinquenal na Agricultura

As cheias e inundações que ocorreram nas regiões sul e centro de Moçambique em


Fevereiro e Março de 2000 deslocaram mais de 500.000 pessoas, e provocaram
danos humanos e materiais graves, nomeadamente, em termos de habitação, infra-
estruturas agrícolas, edifícios públicos, escolas, hospitais, sistemas de
abastecimento de água e energia eléctrica, redes rodoviárias, linhas férreas e
telecomunicações. Estes prejuízos representaram um enorme revés para a economia
nacional moçambicana e para os esforços realizados e em curso na área da redução
da pobreza.

“A dimensão da calamidade afectou a actividade económica de forma tão profunda –


com particular impacto na produção agrícola e industrial – e numa área tão vasta,
que foram enormes os efeitos macroeconómicos em 2000.” (Banco Mundial, 2000).
As cheias provocaram uma descida abrupta do PIB de 7,5 por cento em 1999 para
1,6 por cento em 2000, a inflação atingiu os 12,7 por cento em 2000 contra os 2,9 por
cento de 1999, e a taxa de câmbio sofreu uma brusca depreciação a uma taxa anual
de 28,2 por cento ao ano em 2000, acima dos 7,7 por cento em 1999 (Orçamento
Geral do Estado de Moçambique, 2002).

A Agricultura em Moçambique: Do tempo colonial à actualidade 25


As primeiras avaliações pós-cheias, indicavam que os prejuízos directos e indirectos
para a economia de Moçambique atingiriam um montante de cerca de 600 milhões
de dólares (mais do que o dobro das receitas anuais das exportações) incluindo:
perdas de bens (custos directos), 273 milhões de dólares; diminuição da produção
(incluindo a redução do estímulo à economia), 247 milhões de dólares; diminuição
das exportações, 48 milhões de dólares; e aumento de importações para consumo,
31milhões de dólares (Banco Mundial, 2001). Posteriormente, o custo real da
reposição de infra-estruturas excedeu em muito os prejuízos inicialmente calculados.

Balanço  da  Produção  Agrícola  (Em  Mil  Tons)  

Milho  
Arroz  
Algodao  
Mil  Tons  

Feijao  
cast.caju  
copra  
Cana-­‐d-­‐ac.  
Tabaco  

Anos  

Fonte: Elaborado a partir dos Anuários Estatísticos produzidos pelo INE

No cômputo geral, a produção agrária no quinquénio foi positiva, não obstante o


desastre de produção ocorrido na época agrícola 2000/01.

A Agricultura em Moçambique: Do tempo colonial à actualidade 26


9. O PROGRAMA QUINQUENAL DO GOVERNO 2005-2009

O Governo definiu a Agricultura como base do desenvolvimento económico e social do país.


Por outro lado, o Governo prosseguiu com os esforços visando o desenvolvimento
sustentável das actividades de pesca, a valorização da pequena produção pesqueira e o
desenvolvimento de aquacultura.

Assim, o Governo havia se proposto alcançar os seguintes objectivos:

a. Contribuir para a auto-suficiência e segurança alimentar em produtos básicos;


b. Aumentar a produtividade agrária;
c. Melhorar a competitividade e sustentabilidade económica da actividade
agrária;
d. Promover a exploração sustentável dos recursos naturais.
e. Assegurar o fornecimento de matérias-primas à indústria nacional;
f. Promover e apoiar o desenvolvimento do sector familiar, cooperativo e privado
e criação do emprego;
g. Aumentar a disponibilidade de serviços e melhorar as condições dos
criadores, em toda a cadeia de produção, processamento e comercialização,
como forma de fomentar o desenvolvimento pecuário;
h. Promover o investimento privado no sector agrário, encorajando parcerias;
i. Promover o acesso a mercados regionais e internacionais para os produtos
agrários e agro-industriais;
j. Garantir a segurança e posse da terra, em particular, ao nível do produtor
familiar e promover a sua gestão melhorada;
k. Melhorar o abastecimento interno de pescado através do aumento do volume
de pescado desembarcado e da redução das perdas pós-captura;
l. Garantir o crescimento das exportações pelo aumento do volume de produção
de aquacultura e pela valorização da produção artesanal;
m. Melhorar as condições de vida das comunidades pesqueiras através de
acções integradas de desenvolvimento social;
n. Garantir a exploração sustentável de recursos pesqueiros;
o. Contribuir para a melhoria da balança de pagamentos.

Balanço do Cumprimento do Programa Quinquenal na Agricultura

A produção agrícola global no período em análise cresceu em 6% e foi influenciada pelos


efeitos combinados de estiagem, pragas, temperaturas altas e inundações que assolaram
as zonas Sul e Centro do País, afectando 7 províncias, 55 distritos e 741 hectares de

A Agricultura em Moçambique: Do tempo colonial à actualidade 27


culturas diversas. Por produtos, registou-se uma tendência de baixa na produção de arroz,
cebola, algodão e soja, produtos com expressão no conjunto de culturas de rendimento do
sector agrário.

EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA


(2005-2010)

Milho

Arroz
Mil Tons

Algodao

Feijao

cast.caju

copra

Anos

Fonte: Informação produzida a partir de Anuários Estatísticos do INE e do Balanço do PES (2010) do GdM

Durante o quinquénio, como corolário da implementação das políticas públicas de


continuação de desenvolvimento de infraestruturas e serviços de apoio à produção, foram
realizadas as seguintes acções:

• Relançada a produção, em grande escala, de arroz em Chókwe (Gaza) e


nante (Zambézia);
• Relançada e/ou intesificada a produção de trigo nos distritos de Lago, Sanga,
Muembe e Lichinga (Niassa); Tsangano (Tete); Sussundenga e Báruè
(Manica); Xai-Xai e Chókwe (Gaza); manhiça (Maputo).
• Formação de 30 produtores em matéria de protecção de novas variedades;
• Treinados 192 produtores e técnicos em metodologias de produção de
sementes;
• Construção de 4.183 tanques piscícolas em todo o país;
• Assistidas 4.158 associações de produtores;
• Assistidos pelos serviços de extensão 354.070 produtores; a extensão conta
actualmente com 644 extensionitas a nível nacional;

A Agricultura em Moçambique: Do tempo colonial à actualidade 28


• Treinados e equipados com kits de trabalho 570 extensionistas;
• Entregues 139 novas motorizadas nas províncias;
• Aprovados dois projectos, que cobrem uma área de 48.000 hectares, para a
produção de etanol a partir da cana de açucar sendo “mozambique principle
energy” (mpel), em Manica, e a “procana” em Gaza, tendo criado cerca de
10.000 postos de trabalho;

Como consequência de todo este esforço de apoio à produção agrícola, foram


produzidas 10.716.000 toneladas de cereais (milho, mapira, mexoeira e arroz em
casca); 1.857.000 toneladas de leguminosas (feijões e amendoim); e 39.900.000
toneladas de mandioca.

Por outro lado, a distribuição de mais de 20.000 cabeças de gado para o fomento
pecuário, fez o efectivo do bovinos evoluir de 177.000 animais, em 2005, para
354.000, em finais de 2009.

Em síntese, o Balanço do cumprimento do PQ do Governo no período 2005-2009 é o


seguinte:
• PRODUÇÃO DE CERCA DE 28.612,2 TONELADAS DE SEMENTE DIVERSA
(MILHO, MAPIRA, MEXOEIRA, ARROZ, FEIJÃO MANTEIGA, FEIJÃO
NHEMBA, SOJA, AMENDOIM, BATATA RENO);

• LIBERTAÇÃO E REGISTO DE 10 VARIEDADES DE MILHO E 3 DE


ALGODÃO;

• RELANÇADA A PRODUÇÃO, EM GRANDE ESCALA, DE ARROZ EM


CHÓKWE (GAZA) E NANTE (ZAMBÉZIA);

• RELANÇADA E/OU INTESIFICADA A PRODUÇÃO DE TRIGO NOS


DISTRITOS DE LAGO, SANGA, MUEMBE E LICHINGA (NIASSA);
TSANGANO (TETE); SUSSUNDENGA E BÁRUÈ (MANICA); XAI-XAI E
CHÓKWE (GAZA); MANHIÇA (MAPUTO).

• FORMAÇÃO DE 30 PRODUTORES EM MATÉRIA DE PROTECÇÃO DE


NOVAS VARIEDADES;

• TREINADOS 192 PRODUTORES E TÉCNICOS EM METODOLOGIAS DE


PRODUÇÃO DE SEMENTES;

• CONSTRUÇÃO DE 4.183 TANQUES PISCÍCOLAS EM TODO O PAÍS;

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• ASSISTIDAS 4.158 ASSOCIAÇÕES DE PRODUTORES;

• ASSISTIDOS PELOS SERVIÇOS DE EXTENSÃO 354.070 PRODUTORES; A


EXTENSÃO CONTA ACTUALMENTE COM 644 EXTENSIONITAS A NÍVEL
NACIONAL;

• TREINADOS E EQUIPADOS COM KITS DE TRABALHO 570


EXTENSIONISTAS;

• ENTREGUES 139 NOVAS MOTORIZADAS NAS PROVÍNCIAS;

• APROVADOS DOIS PROJECTOS, QUE COBREM UMA ÁREA DE 48.000


HECTARES, PARA A PRODUÇÃO DE ETANOL A PARTIR DA CANA DE
AÇUCAR SENDO “MOZAMBIQUE PRINCIPLE ENERGY” (MPEL), EM
MANICA, E A “PROCANA” EM GAZA, TENDO CRIADO CERCA DE 10.000
POSTOS DE TRABALHO;

10. O PROGRAMA QUINQUENAL DO GOVERNO 2010-2014

A agricultura continuará a ser a actividade base para o desenvolvimento da economia


nacional, oferecendo um potencial elevado para o combate à pobreza. O objectivo do
Governo continua a ser a transformação estrutural, visando progredir de uma
agricultura de subsistência para um sector agrário integrado, próspero, competitivo e
sustentável e para a melhoria da sua contribuição no crescimento do Produto Interno
Bruto, através da implementação da Revolução Verde, destacando-se a
investigação agrária, a gestão de recursos hidrícos, e a tracção animal.

O principal desafio do Governo na agricultura continua a ser o de garantir a


segurança alimentar para todas as pessoas e em todos os momentos, em
quantidade e qualidade que assegurem a manutenção de uma vida activa e saudável
em todo o País. Trabalhar-se-á ainda para uma maior renda e rentabilidade dos
produtores e uma produção agrária orientada para o mercado interno e externo,
salvaguardando-se o uso sustentável dos recursos naturais e a preservação do
equilíbrio ambiental.

10.1. Acções prioritárias na Produção e Produtividade Agrárias

(1) Produzir, fornecer e promover o uso de semente melhorada e outros insumos


agrícolas no País;
(2) Priorizar o uso das terras em zonas com elevado potencial agrário para a
produção de alimentos;
(3) Promover o maneio integrado da fertilidade dos solos, utilizando fertilizantes

A Agricultura em Moçambique: Do tempo colonial à actualidade 30


orgânicos e inorgânicos de forma sustentável;
(4) Garantir a segurança alimentar e nutricional, através da criação de aves,
pequenos ruminantes e gado bovino;
(5) Incentivar a mecanização agrária;
(6) Ampliar a cobertura da rede de extensão rural para potenciar as actividades
agrárias, melhorar o acompanhamento das actividades dos camponeses, em
particular nos Distritos prioritários;
(7) Operacionalizar a estratégia de bio-combustiveis;
(8) Promover o estabelecimento de plantações florestais;
(9) Fomentar a produção de culturas estratégicas de rendimento, nomeadamente
algodão, castanha de caju e oleaginosas para a melhoria da renda;
(10) Disseminar a utilização da tracção animal para o aumento das áreas de cultivo e
da produção;
(11) Reduzir o défice alimentar através da promoção da avicultura comercial e do
melhoramento do gado de corte e leiteiro.

10.2. Acções Prioritárias na Provisão de Serviços de


Investigação, Apoio, Fomento e Infra-Estruturas

(1) Investigar, ensaiar e libertar novas variedades culturais, com ênfase para as
culturas tolerantes à seca;
(2) Realizar o melhoramento genético dos recursos zootécnicos e de sistemas de
engorda de gado;
(3) Promover e disseminar os resultados da investigação de suplementos alimentares
para o gado bovino no tempo de seca;
(4) Estabelecer padrões de qualidade, realizar a acreditação e metrologia de
produtos agrários ao nível das exigências regionais e internacionais para maior
penetração no mercado nacional e internacional;
(5) Reforçar os Serviços Veterinários no exercício da fiscalização, controlo veterinário
a todos os níveis para garantir a disponibilidade de serviços de saúde animal e a
protecção dos efectivos nacionais contra doenças;
(6) Promover o acesso ao crédito agrícola e estímulo ao crescimento de profissionais
e produtores agrários;
(7) Expandir o estabelecimento de casas agrárias e mercados grossistas de insumos
e produtos agrários;
(8) Promover condições de trabalho e de habitação ao nível local para os técnicos de
apoio e assistência no sector agrário;
(9) Promover a construção e reabilitação de instalações de unidades de inspecção,
fiscalização e controle fito e zoo-sanitário aos produtores.

10.3. Outras Acções:

A Agricultura em Moçambique: Do tempo colonial à actualidade 31


(1) Promover o processamento de produtos agrícolas, pecuários florestais e
faunísticos, de forma a agregar-lhes maior valor acrescentado.
(2) Promover a edificação de barragens e represas para armazenamento e maneio
de água destinada à agricultura;
(3) Promover a construção de novos regadios e reabilitação dos regadios existentes;
(4) Promover a construção e reabilitação de infra-estruturas de maneio pecuário e de
assistência veterinária e de apoio à produção e comercialização pecuária;
(5) Expandir a rede de energia eléctrica para zonas de produção agro-pecuária com
prioridade para os Distritos com alto potencial;
(6) Promover a construção e reabilitação das estradas terciárias com prioridade para
os Distritos prioritários no âmbito do Plano de Acção para a Produção de Alimentos;
(7) Promover a instalação de florestas comunitárias e pequenas explorações agro-
silvícolas de pequena e média dimensão;
(8) Fortalecer as instituições de formação agrária aos níveis básico, médio e superior,
adequar os programas de educação agrária às necessidades reais de
desenvolvimento agrário nacional;
(9) Implementar programas de formação técnica de extensionistas e formadores-
produtores e criadores nas diversas áreas agrárias, incluindo no agro negócio e na
gestão de águas nos perímetros sob irrigação, e garantir a integração de
extensionistas já formados;
(10) Reactivar os centros de formação agrária para a capacitação dos produtores,
técnicos e dirigentes agrários;
(11) Fortalecer a capacidade de advocacia das organizações dos camponeses como
forma de imprimir uma maior participação na definição de políticas e estratégias
agrárias;
(12) Desenvolver um novo sistema de estatísticas agrárias com uma única série
integrada de dados.

11. A EVOLUÇÃO DA AGRICULTURA DA INDEPENDÊNCIA ATÉ AO PRESENTE

Indicadores Base Produtiva


- Sem grandes alterações (distribuição por sector e tamanho das
explorações;
Ocupação da Terra - Acesso dos pequenos produtores sem mudanças significativas, embora
com maior inclusão legal e participação comunitária na atribuição de
DUATs a forâneos (mesmo que muitas vezes distorcida)
Regadios - Perda de areas porn ão ou deficiente manutenção, menor utilização e
eficiência reduzida
- Queda da produção em quase todos os ramos;
- Encerramento e em ruínas de muitas unidades industriais;

A Agricultura em Moçambique: Do tempo colonial à actualidade 32


Agro-Indústrias - Recuperação de algumas indústrias, sobretudo as relacionadas com a
exportação, mesmo que para níveis produtivos abaixo dos verificados na
altura da independência e princípios da década de oitenta (excepto no
tabaco e açúcar)
Indicadores Produção
Estrutura Produtiva - Sem grandes alterações nos sistemas de produção e composição das
culturas.
- Produtividade por hectare sem alterações significativas.
Produção - Redução dos volumes comercializados (excedentes de produção) em
muitas culturas.
- Produção alimentar per capita decresceu em cerca de 40%.
Indicadores Integração no Mercado
Emprego Rural - Menor
Utilização de - Não é possível comparar. Mantém-se em níveis muito baixos
Insumos
Mecanização - Menos equipamentos e serviços.
- Pequenos produtores mantêm-se com acesso limitado.
Comercialização - Grande parte da rede comercial em ruínas.
- Surge o comércio informal e comerciantes “sazonais” para captação de
excedentes produtivos.
Indicadores Serviços Públicos Agrários
Investigação - Produção de nova tecnologia, com deficiente disseminação.
- Melhor conhecimento da realidade.
Extensão - Estruturação e implantação do sistema nacional de extensão, mesmo que
grandes insuficiências.
- Mais técnicos formados, sendo que muitos nâo trabalham directamente
Capacidade Técnica na agricultura.
- Muitos técnicos com formação pós-graduada e experiente não estão
integrados directamente em actividades do sector agrário.
Indicadores Agricultura na Economia
Importância da - Menor na criação de emprego, redução da percentagem do PIB agrário no
Agricultura na PIB nacional, menor peso nas exportações, etc.
Economia
In Mosca (2011:442-443).

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12. PRODUÇÃO AGRÁRIA COMERCIALIZADA NO PERÍODO DE 1975-2010

PRODUÇÃO AGRÁRIA COMERCIALIZADA


Milho

Arroz

Algodao
MIL TONs

Feijao

cast.caj
u

copra

ANOS

Fonte: Informação produzida a partir de Anuários Estatísticos do INE e do Balanço do PES (2010) do GdM

Deste gráfico consegue-se decifrar quão difícil foi e continua a ser a trajectória da
produção do sector agrícola ao longo de 35 anos.

Maputo, Fevereiro de 1998 (actualizado em Março de 2014)


Bibliografia:
Abrahamsson, H. E Nilsson, A. (1994), Moçambique em Transição: Um estudo da história de
desenvolvimento durante o período 1974-1992, CEEI-ISRI, Maputo;
Castel-Branco, C.N. (1994), Moçambique: Perspectivas Económicas, UEM, Maputo;
CNP-Comissão Nacional do Plano (1984), Informação Económica, Maputo;
INE-Instituto Nacional de Estatística, Anuários Estatísticos;
FRELIMO – Directivas Económicas e Sociais do III, IV, V e VI Congresso;
GoM-Governo de Moçambique (2005), Constituição da República de Moçambique, Maputo;
GoM-Governo de Moçambique (1995; 2000; 2005, 2010) Programas Quinquenais;
GoM-Governo de Moçambique (1979), As Linhas Fundamentais do Plano Prospectivo Indicativo,
Maputo;
Machel, S.M. (1983), A Luta contra o Subdesenvolvimento, Partido Frelimo, Maputo;
Mosca, J. (2005), Economia de Moçambique Século XX, Lisboa: Instituto Piaget;
Mosca, J. (2011), Politicas Agrárias de (em) Moçambique (1975-2009), Escolar Editora, Maputo;
Wuyts, M. (1978), Camponeses e Economia Rural em Moçambique, CEA, UEM, Maputo.

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