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A Causa de Deus e da Verdade

— Livro 1 —
Por John Gill
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Traduzido do Inglês
For the Cause of God and Truth - Part 1
By John Gill

Tradução por David Gardner, Benjamin G.Gardner, Hiralte Fontoura


Revisão por Charity D. Gardner, Calvin G. Gardner, Erci Nascimento
Edição inicial por Calvin G. Gardner
Revisão Final por William Teixeira e Camila Rebeca Almeida
Edição Final e Capa por William Teixeira

Texto original via: PBMinistries.org

2ª Edição em Português: Abril de 2016

OEstandarteDeCristo.com © 2016

Publicado em Português como fruto de uma parceria entre os Ministérios O Estandarte De Cristo e Palavra Prudente

Salvo indicação contrária, as citações bíblicas nesta tradução são da versão Almeida Corrigida Fiel | ACF Copyright © 1994, 1995, 2007,
2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.

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Sumário
SEÇÃO 1 • Gênesis 4:7: “Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? etc.”.
SEÇÃO 2 • Gênesis 6:3: “Então disse o SENHOR: Não contenderá o meu Espírito para
sempre com o homem; porque ele também é carne; porém os seus dias serão cento e
vinte anos”.
SEÇÃO 3 • Deuteronômio 5:29: “Quem dera que eles tivessem tal coração que me
temessem, e guardassem todos os meus mandamentos todos os dias, para que bem
lhes fosse a eles e a seus filhos para sempre”.
SEÇÃO 4 • Deuteronômio 8:2: “E te lembrarás de todo o caminho, pelo qual o Senhor
teu Deus te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, e te provar, para
saber o que estava no teu coração, se guardarias os seus mandamentos, ou não”.
SEÇÃO 5 • Deuteronômio 30:19: “Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra
vós, de que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a
vida, para que vivas, tu e a tua descendência”.
SEÇÃO 6 • Deuteronômio 32:29: “Quem dera eles fossem sábios! Que isto
entendessem, e atentassem para o seu fim!”.
SEÇÃO 7 • Salmos 81:13-14: “Oh! se o meu povo me tivesse ouvido! se Israel
andasse nos meus caminhos! Em breve abateria os seus inimigos, e viraria a minha
mão contra os seus adversários”.
SEÇÃO 8 • Salmos 125:3: “Porque o cetro da impiedade não permanecerá sobre a
sorte dos justos, para que o justo não estenda as suas mãos para a iniquidade”.
SEÇÃO 9 • Salmos 145:9: “O Senhor é bom para todos, e as suas misericórdias são
sobre todas as suas obras”.
SEÇÃO 10 • Provérbios 1:22-30: “Até quando, ó simples, amareis a simplicidade? E
vós escarnecedores, desejareis o escárnio? E vós insensatos, odiareis o conhecimento?
Atentai para a minha repreensão...”.
SEÇÃO 11 • Isaías 1: 16-17: “Lavai-vos, purificai-vos, etc...”.
SEÇÃO 12 • Isaías 1:18-19: “Vinde então, e argui-me... Se quiserdes, e
obedecerdes...”.
SEÇÃO 13 • Isaías 5:4: “Que mais se podia fazer à minha vinha, que eu lhe não tenha
feito? Por que, esperando eu...”.
SEÇÃO 14 • Isaías 30:15: “Porque assim diz o Senhor DEUS, o Santo de Israel:
Voltando e descansando sereis salvos; no sossego e na confiança estaria a vossa força,
mas não quisestes”.
SEÇÃO 15 • Isaías 55:1: “Ó VÓS, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que
não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde, comprai, sem dinheiro e
sem preço, vinho e leite”.
SEÇÃO 16 • Isaías 55:6: “Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o
enquanto está perto”.
SEÇÃO 17 • Isaías 55:7: “Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus
pensamentos, e se converta ao Senhor, que se compadecerá dele; torne para o nosso
Deus, porque grandioso é em perdoar”.
SEÇÃO 18 • Jeremias 4:4: “Circuncidai-vos ao Senhor, e tirai os prepúcios do vosso
coração, ó homens de Judá e habitantes de Jerusalém, para que o meu furor não
venha a sair como fogo, e arda de modo que não haja quem o apague, por causa da
malícia das vossas obras”.
SEÇÃO 19 • Ezequiel 18:24: “Mas, desviando-se o justo da sua justiça, e cometendo a
iniquidade, fazendo conforme todas as abominações que faz o ímpio, porventura
viverá? De todas as justiças que tiver feito não se fará memória; na sua transgressão
com que transgrediu, e no seu pecado com que pecou, neles morrerá”.
SEÇÃO 20 • Ezequiel 18:30: “Portanto, eu vos julgarei, cada um conforme os seus
caminhos, ó casa de Israel, diz o Senhor DEUS. Tornai-vos, e convertei-vos de todas
as vossas transgressões, e a iniquidade não vos servirá de tropeço”.
SEÇÃO 21 • Ezequiel 18:31-32: “Lançai de vós todas as vossas transgressões com que
transgredistes, e fazei-vos um coração novo e um espírito novo; pois, por que razão
morreríeis, ó casa de Israel? Porque não tenho prazer na morte do que morre, diz o
Senhor DEUS; convertei-vos, pois, e vivei”.
SEÇÃO 22 • Ezequiel 24:13: “Na imundícia está a infâmia, porquanto te purifiquei, e
não permaneceste pura; nunca mais serás purificada da tua imundícia, enquanto eu
não fizer descansar sobre ti a minha indignação”.
SEÇÃO 23 • Mateus 5:13: “Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se
há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos
homens”.
SEÇÃO 24 • Mateus 11:20-23: “Ai de ti, Corazim! ai de ti, Betsaida! porque, se em
Tiro e em Sidom fossem feitos os prodígios que em vós se fizeram, há muito que se
teriam arrependido, com saco e com cinza... E tu, Cafarnaum, que te ergues até ao
céu, serás abatida até ao inferno; porque, se em Sodoma tivessem sido feitos os
prodígios que em ti se operaram, teria ela permanecido até hoje”.
SEÇÃO 25 • Mateus 23:37: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas
os que te são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha
ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!”.
SEÇÃO 26 • Mateus 25:14-30: A parábola dos talentos.
SEÇÃO 27 • Lucas 19:41-42: “E, quando ia chegando, vendo a cidade, chorou sobre
ela, Dizendo: Ah! se tu conhecesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua paz
pertence! Mas agora isto está encoberto aos teus olhos”.
SEÇÃO 28 • João 1:7: “Este veio para testemunho, para que testificasse da luz, para
que todos cressem por ele”.
SEÇÃO 29 • João 5:34: “Mas digo isto, para que vos salveis”.
SEÇÃO 30 • João 5:40: “E não quereis vir a mim para terdes vida”.
SEÇÃO 31 • João 12:32: “E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim”.
SEÇÃO 32 • Atos 3:19: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam
apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela presença
do Senhor”.
SEÇÃO 33 • Atos 7:51: “Homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração e ouvido,
vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim vós sois como vossos pais”.
SEÇÃO 34 • Romanos 5:18: “Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre
todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a
graça sobre todos os homens para justificação de vida”.
SEÇÃO 35 • Romanos 11:32: “Porque Deus encerrou a todos debaixo da
desobediência, para com todos usar de misericórdia”.
SEÇÃO 36 • Romanos 14:15: “Não destruas por causa da tua comida aquele por quem
Cristo morreu”.
SEÇÃO 37 • 1 Coríntios 8:11: “E pela tua ciência perecerá o irmão fraco, pelo qual
Cristo morreu”.
SEÇÃO 38 • 1 Coríntios 10:12: “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia”.
SEÇÃO 39 • 2 Coríntios 5:14-15: “Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando
nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram. E ele morreu por
todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles
morreu e ressuscitou”.
SEÇÃO 40 • 2 Coríntios 5:19: “Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o
mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da
reconciliação”.
SEÇÃO 41 • 2 Coríntios 6:1: “E nós, cooperando também com ele, vos exortamos a
que não recebais a graça de Deus em vão”.
SEÇÃO 42 • 2 Coríntios 11:2-3: “Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus;
porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido,
a saber, a Cristo. Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua
astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos, e se
apartem da simplicidade que há em Cristo”.
SEÇÃO 43 • Filipenses 2:12: “De sorte que, meus amados, assim como sempre
obedecestes, não só na minha presença, mas muito mais agora na minha ausência,
assim também operai a vossa salvação com temor e tremor”.
SEÇÃO 44 • 1 Timóteo 1:19-20: “Conservando a fé, e a boa consciência, a qual
alguns, rejeitando, fizeram naufrágio na fé. E entre esses foram Himeneu e Alexandre,
os quais entreguei a Satanás, para que aprendam a não blasfemar”.
SEÇÃO 45 • 1 Timóteo 2:4: “Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao
conhecimento da verdade”.
SEÇÃO 46 • 1 Timóteo 4:10: “Porque para isto trabalhamos e somos injuriados, pois
esperamos no Deus vivo, que é o Salvador de todos os homens, principalmente dos
fiéis”.
SEÇÃO 47 • Tito 2:11-12: “Porque a graça salvadora de Deus se há manifestado a
todos os homens, Ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências
mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente”.
SEÇÃO 48 • A Epístola aos Hebreus.
SEÇÃO 49 • Hebreus 2:9: “Para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos”.
SEÇÃO 50 • Hebreus 6:4-6: “Porque é impossível que os que já uma vez foram
iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo, e
provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes do século futuro, e recaíram, sejam
outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo
crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério”.
SEÇÃO 51 • Hebreus 10:26-29: “Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de
termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos
pecados, mas uma certa expectação horrível de juízo, e ardor de fogo, que há de
devorar os adversários. Quebrantando alguém a lei de Moisés, morre sem
misericórdia, só pela palavra de duas ou três testemunhas. De quanto maior castigo
cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por
profano o sangue da aliança com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da
graça?”.
SEÇÃO 52 • Hebreus 10:38: “Mas o justo viverá pela fé; E, se ele recuar, a minha alma
não tem prazer nele”.
SEÇÃO 53 • Pedro 1:10: “Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa
vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis”.
SEÇÃO 54 • 2 Pedro 2:1: “E também houve entre o povo falsos profetas, como entre
vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de
perdição, e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina
perdição”.
SEÇÃO 55 • 2 Pedro 2:20-22: “Porquanto se, depois de terem escapado das
corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem
outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o
primeiro. Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, do que,
conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado; deste modo
sobreveio-lhes o que por um verdadeiro provérbio se diz: O cão voltou ao seu
próprio vômito, e a porca lavada ao espojadouro de lama”.
SEÇÃO 56 • 2 Pedro 3:9: “O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a
têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam,
senão que todos venham a arrepender-se”.
SEÇÃO 57 • 1 João 2:2: “E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente
pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo”.
SEÇÃO 58 • Judas 1:21: “Conservai-vos a vós mesmos no amor de Deus, esperando a
misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna”.
SEÇÃO 59 • Apocalipse 2 e 3.
SEÇÃO 60 • Apocalipse 3:20: “Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha
voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo”.
A CAUSA DE DEUS E DA VERDADE

— LIVRO 1 —

DR. JOHN GILL

SEÇÃO 1

Gênesis 4:7: “Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? etc.”.

I. Será adequado questionar se um homem perverso e não-regenerado como Caim é capaz de


fazer boas obras. Esta pergunta pode ser respondida:
1. Adão tinha o poder de fazer toda boa obra que a lei requer, o que os homens, desde a Queda,
não têm. Os homens, num estado não-regenerado, poderiam de fato fazer muitas coisas que eles não
fazem, tais como: ler as Escrituras; frequentar os cultos públicos, etc.
Sem dúvida, aquelas pessoas da parábola que foram convidadas às bodas poderiam ter ido a ela
se tivessem vontade, da mesma forma que uma delas soube ir ao seu campo e a outra aos seus
negócios. Os homens, do mesmo modo, também podem se tiverem tanto desejo, vontade ou
inclinação de ir ao culto público quanto eles têm de ir a uma taverna ou bar. Contudo, quando se trata
de uma obra boa, é fácil observar que, frequentemente, as pessoas têm o poder nas mãos, mas não o
tem no seu coração. Como um rico pode dar esmolas aos pobres sem compaixão, apenas por lhe
sobrar dinheiro, assim também homens não-regenerados são capazes de fazer boas obras no sentido
natural e civil, mas não no sentido espiritual. Eles podem fazer tais coisas, que aparentemente em
relação ao assunto e substância delas, podem ser boas tais como: escutar, ler, orar, dar esmolas aos
pobres, etc., quando a condição indispensável para fazer boas obras lhes falta, pois tudo que é feito
como uma boa obra precisa ser feito em obediência à vontade de Deus, com um princípio de amor a
Ele, precisa ser feito em fé no Nome de Cristo e para a glória de Deus por meio dEle. Portanto,
2. É necessário negar que homens tolos e não-regenerados tenham capacidade de fazer boas
obras de uma maneira espiritual, pois é evidente em seu estado e condição natural, de acordo com a
representação bíblica, que a inclinação das suas mentes é para fazer o mal, e nada além disso. Visto
que eles são inteiramente carnais, se importam apenas com as coisas da carne, não têm força alguma,
são fracos, de fato, mortos em ofensas e pecados. Na verdade, estão debaixo de uma impossibilidade
de fazer o que é bom espiritualmente. Não há quem faça o bem, não há um só, nem são capazes, pois
não são sujeitos à lei de Deus, nem em verdade o podem ser. Quando o Etíope mudar a sua pele, e o
leopardo as suas manchas, então podereis fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal. Os homens não
podem esperar colher uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos, que os bons frutos cresçam sobre
eles, ou que boas obras sejam feitas por homens não-regenerados. Antes é preciso que eles sejam
recriados em Cristo Jesus, tenham o Espírito de Cristo posto neles e a Sua graça implantada neles;
sejam crentes nEle, para somente assim serem capazes de fazer aquilo que é espiritualmente bom. E
até os próprios crentes não são capazes de ter bons pensamentos ou de fazer boas obras por si só; é
Deus que opera neles tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade. Às vezes, quando
eles têm a vontade de fazer o que é bom, ainda assim, eles não sabem como fazer, não podem fazer
nada sem Cristo, Quem faz todas as coisas, Quem os fortalece; menos ainda podem os não-
regenerados ter o poder ou a vontade de fazer aquilo que é espiritualmente bom. Nem sequer existe
qualquer...
3. Fundamento para tal proposição destas palavras, que são hipoteticamente expressas, e,
portanto, absolutamente nada pode ser concluído a partir delas. Isso quer dizer que não devemos
argumentar que o fato de Deus ter dito a Caim: “Se bem fizeres”, significa que Caim tinha o poder de
fazer o bem ou de fazer aquilo que era espiritualmente bom; muito menos deveríamos inferir desta
passagem, como alguns o fazem, a saber, que: “Deus não poderia propor o fazer o bem como uma
condição se Ele não tivesse dado a Caim força suficiente pela qual ele seria capaz de fazer o bem”.
[1]
Já que Deus pode não só ter proposto o fazer do bem, mas o ter requerido de acordo com Sua lei,
sem estar sob a obrigação de dar força suficiente para que a obedecesse. Apesar do homem, pelo seu
pecado, ter perdido a capacidade de obedecer à vontade de Deus do modo correto, ainda assim,
Deus não perdeu Sua autoridade de mandar; de modo que Ele pode exigir isso sem Se ser obrigado a
dar força suficiente aos homens para agir em obediência ao Seu mandamento. Além disso,
4. Essas palavras dizem respeito a fazer o bem, não no sentido moral, mas no sentido
cerimonial. Caim e Abel foram ensinados logo cedo a necessidade, maneira e o uso de sacrifícios. E
aconteceu ao cabo de dias, que eles trouxeram suas ofertas ao Senhor, cada um de acordo com a sua
chamada e ocupação diferente, o primeiro trouxe os frutos da terra, o outro trouxe dos primogênitos
das suas ovelhas. E atentou o Senhor para Abel e para o seu sacrifício, isto é, Ele aceitou Abel e a
sua oferta; mas para Caim e a sua oferta não atentou, o que fez Caim irar-se e descair-lhe o
semblante, e o Senhor expostula com ele desta maneira: “Por que te iraste? E por que descaiu o teu
semblante? Se bem fizeres, ou Se tivesse oferecido corretamente”, assim a Septuaginta versa as
palavras que, embora não tenha o sentido literal da tradução, é apropriado no seu sentido, “não é
certo que serás aceito?”. Caim falhou ou na substância ou na maneira do sacrifício, provavelmente no
último, como o autor da epístola aos Hebreus observa, que pela fé Abel ofereceu a Deus maior
sacrifício do que Caim (Hebreus 11:4). Caim ofereceu o seu sacrifício sem fé, sem qualquer visão do
sacrifício de Cristo, ele realizou esse seu sacrifício hipocritamente, em exibição e aparência apenas;
ele não agiu de acordo com um princípio correto, nem para qualquer fim correto; e, embora qualquer
aparência de justiça, que tivesse em suas obras — de acordo com o apóstolo João (1 João 3:12) —
certamente foram declaradas más; assim como também as obras de homens não-regenerados e
ímpios. Eu prossigo:
II. Considerando se a aceitação do homem por Deus seja devido às suas boas obras:
1. Há uma diferença entre aceitar as obras dos homens e aceitar a pessoa deles. Há muitas ações
feitas por eles, que são aceitáveis e agradáveis a Deus, quando os que fazem não são aceitos por Ele,
pelas suas obras anteriores. Além disso, as obras de nenhum homem são aceitas por Aquele que não
aceita a pessoa anteriormente: Deus atentou primeiro para a pessoa de Abel e depois para sua oferta,
mostrando que a sua pessoa não foi aceita por causa da oferta. As melhores obras dos santos são
imperfeitas e acompanhadas de pecado e somente são aceitáveis a Deus em e por Jesus Cristo, o
Amado, somente nEle e por meio dEle é que as pessoas são aceitas e agradáveis a Deus. Nenhum
homem pode ser justificado ou salvo pelas próprias obras, e, portanto, nenhum homem pode ser
aceito por Deus desta forma. Esta é a doutrina geral das Escrituras Sagradas, isso nos ajudará a
entender o verdadeiro sentido de tais passagens como Atos 10:35; Romanos 14:18 e 2 Coríntios 5:9,
comparadas com Efésios 1:6 e 1 Pedro 2:5.
2. Nem sequer essas palavras supõem que a aceitação do homem para com Deus esteja baseada
nas obras. A palavra hebraica tas, pois há apenas uma palavra no texto original que nossos tradutores
traduzem: “não é certo que serás aceito?”, significa ou excelência, como em Salmo 62:4, e pode
indicar a dignidade da primogenitura, ou a honra da primogenitura, como é em Gênesis 49:3, e assim
pode ser traduzido, não é certo que terás a excelência? Isto é, o direito da primogenitura não
continuará contigo? A honra e o privilégio de ter nascido primeiro não permanecerão contigo? Você
não precisa temer que isso lhe seja tirado e dado ao seu irmão mais novo, o qual é disposto a
submeter-se a você e pronto para servir-te. Essas palavras concordam bem com o final do texto, e
sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar, ou como a palavra significa uma elevação,
[2]
ou levantar; e deve ser entendido como Aben Ezra observa em “Mygp tas”, um erguer do
semblante, que descaiu, versos 5 e 6, e, portanto, o sentido é: Se tivesse feito o bem, quando
trouxeste a sua oferta, tu poderias ter levantado o teu rosto sem mancha, e sem dúvida, tu poderia
assim fazer; mas na medida em que pecou e fez o mal, o qual pode ser visto em seu semblante
descaído, o pecado jaz a porta da sua consciência; que, uma vez aberto, entrará e fará uma obra
terrível como o fez pouco depois, que lhe fez falar: É maior a minha maldade do a que possa ser
perdoada. Mas admitindo que a palavra signifique aceitação e permitindo que seja traduzido: “não é
certo que serás aceito?”, deve-se entender não a aceitação da sua pessoa, mas dos seus sacrifícios e
serviços.
[3]
III. Permanece a ser considerado, se Caim teve algum dia de graça, no qual era possível ele
ser aceito por Deus.
1. Não há aceitação da pessoa de nenhum homem, exceto quando este é considerado em Cristo, o
Mediador. Agora não há nenhuma razão para acreditar que alguma vez Caim, que era do maligno, o
Diabo, foi encontrado em Cristo, ou alguma vez considerado nEle; portanto, não há nenhuma razão
para concluir que ele foi ou que fosse possível, ele ser aceito por Deus.
2. O texto não fala do seu fazer o bem em sentido moral ou espiritual, mas de um modo
cerimonial; e jamais da aceitação da sua pessoa, com base nas suas boas obras, no máximo fala
apenas da aceitação do seu sacrifício e serviços cerimoniais, supondo que tivessem sido realizados
corretamente.
3. As palavras ditas por Deus a Caim não expressam o dia da visitação da graça e misericórdia
sobre ele, mas são consideradas uma admoestação para ele devido a sua ira, fúria, semblante
descaído, e uma repreensão a ele por causa da sua iniquidade, a fim de acordar a sua consciência e
trazer-lhe a um sentido pleno do seu pecado; isto estava tão longe de provar ser um dia de graça para
ele, que logo causou angústia extrema, tortura de consciência e sombrio desespero.
SEÇÃO 2

Gênesis 6:3: “Então disse o SENHOR: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o
homem; porque ele também é carne; porém os seus dias serão cento e vinte anos”.

Para entender o sentido desse texto, será necessário questionar o seguinte:

I. Quem é significado pelo Espírito de Deus e se o Espírito Santo, a terceira Pessoa na Trindade, é
designado ou não.
[4]
1. Alguns dos escritores judaicos pensam que a alma do homem é pretendida e que é
chamado não só o espírito do homem, mas também o Espírito de Deus: como nas palavras de Jó, que,
enquanto em mim houver alento, e o sopro de Deus nas minhas narinas (Jó 27:3). Alguns deles
[5]
derivam a palavra dg traduzida contenderá de zry, que significa a bainha de uma espada, e dizem:
“O que a bainha é para a espada, assim é o corpo para a alma”, e dão esse sentido as palavras: “Meu
Espírito, ou a alma que pus no Homem, não habitará para sempre nele como a espada na sua bainha;
Eu a irei desembainhar, Eu o tirarei para fora; ele não viverá para sempre, visto que ele é carne,
corrupto, dado a concupiscências carnais; ainda os seus dias, o termo da sua vida, que agora
[6]
encurtarei, será cento e vinte anos”. Outros deles dão esse sentido às palavras para esse
propósito: “Meu Espírito, que tenho soprado no homem, não contenderá mais com o corpo, pois não
se deleita no corpo nem recebe proveito do corpo, porque o corpo é levado atrás de vontades
animais e isso porque é carne, os seus desejos são mergulhados e fixos na propagação da carne; não
obstante, prolongarei os seus dias por cento e vinte anos; se eles voltarem pelo arrependimento e
fizerem bem; mas se não, os destruirei do mundo”. O Targum parafraseia as palavras assim: “A
geração pecaminosa não será estabelecida diante de mim para sempre”.
2. Outros, tais como Sol Jarchi, entendem como se Deus estivesse falando consigo mesmo: “Meu
Espírito, que está dentro de mim, não será para sempre, como antes, em tumulto ou contenda sobre o
homem, se devo poupar-lhe, ou destruí-lo, como tem sido por muito tempo, mas não será mais. Eu
deixarei o homem sabendo que não estou indeciso entre misericórdia e julgamento, mas estou
determinado a ponto de puni-lo, já que ele está completamente entregue aos prazeres carnais, quando
o poupei por mais cento e vinte anos”. Este sentido das palavras é bem aceito entre os homens
[7]
instruídos. E se quaisquer destes sentidos forem aceitos, cai por terra, o raciocínio dos
Arminianos sobre estas palavras, a favor do seu esquema, mas estou disposto a aceitar
3. Que pelo o Espírito de Deus, nós devemos entender o Espírito Santo, assim Jonathan Ben
Uzziel, no seu Targum, expressamente o denomina; e eu sou induzido fortemente a crer que este seja o
sentido da frase; como quando o apóstolo Pedro fala de Cristo sendo mortificado, na verdade, na
carne, mas vivificado pelo Espírito, que se trata do Espírito Santo, e acrescenta, no qual, isto é, no
Espírito, também foi, e pregou aos espíritos em prisão; os quais noutro tempo foram rebeldes, quando
a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé (1 Pedro 3:18-20). Tais palavras referem-se
àqueles em Gênesis e são a melhor chave para eles, e comentário sobre eles. Eu prossigo
considerando que
[8]
II. Se o Espírito Santo estava nos homens do mundo antigo, como é observado, as palavras
podem ser versadas, Meu Espírito não contenderá para sempre no homem; e pode-se concluir então:
que o Espírito de Deus está em todo homem e que pela desobediência deste, Ele pode remover-se
inteiramente do homem.
1. O Espírito de Deus está em todo lugar, em toda criatura; e, então em todo homem. Pois Ele é
Deus onipresente; por isso, diz o Salmista: Para onde me irei do teu espírito? (Salmos 139:7). Ele
também pode estar em certas pessoas pelas suas dádivas naturais ou divinas, e isto de maneira
ordinária ou extraordinária, ou por algumas operações dEle sobre a mente, que não são de natureza
salvífica, nem designada para um propósito salvador; e em um ou o outro destes sentidos, a
manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil (1 Coríntios 12:7); e pode-se dizer
que Espírito está tanto nos homens do mundo antigo quanto nos deste. Contudo,
2. É necessário negar que Ele está em cada homem de uma maneira de graça especial, caso este
tenha um bom comportamento para obter salvação, pois todo homem, não convertido, é destituído do
Espírito; se o Espírito habitasse em todo homem, neste sentido, a habitação do Espírito no interior
não seria evidência da regeneração. A diferença entre um homem regenerado e um homem não-
regenerado neste estado é que o primeiro tem o Espírito de Deus e o último não tem. Portanto,
3. É fácil julgar em que direção o Espírito de Deus parte. Ele não parte de onde Ele já está. Ele
pode retirar-Se completamente de onde está, somente nas Suas dádivas ou operações externas. Ele
pode tirar essas dádivas ou cessar estas obras; e estas assim como os homens, podem ser perdidas
eternamente; mas onde Ele está pela Sua graça especial, Ele nunca Se retira totalmente, apesar de
poder tirar a Sua presença graciosa por um tempo; Seu povo pode não provar Seu gozo e conforto, e
nas suas ansiedades pode parecer que Ele tenha se afastado. Contudo, Ele habita para sempre no Seu
povo; de outra sorte as orações de Cristo pela Sua continuação perpétua com Seu povo não seriam
respondidas; nem seria a moradia do Espírito no crente uma razão de garantir a perseverança dos
santos, nem uma garantia da sua glória futura. Para não acrescentar ainda mais, as palavras do texto
não falam do Espírito estar nos homens do mundo antigo, mas da Sua contenda com eles. Portanto a
próxima investigação é:
III. Qual o significado das contendas do Espírito? E se pela negligência dos Seus homens ou
oposição a Ele, Ele pode contender sem sucesso.
1. A Palavra Hebraica zwd, usada aqui, significa julgar, executar julgamento, ou punir de uma
[9]
maneira justa; e, portanto, alguns leem estas palavras, Meu Espírito não julgará estes homens para
sempre; “Eu não reservarei eles para tormentos eternos; Eu os punirei aqui neste mundo. Pois são
criaturas pecaminosas, frágeis e carnais; Eu não contenderei para sempre, nem para sempre serei
irado, pois o espírito falharia perante mim, e as almas que tenho feito” (Isaías 57:16) ou
preferivelmente o sentido é de acordo com esta versão. “Meu Espírito não exercitará julgamento
[10]
sobre eles para sempre, isto é, imediatamente, diretamente, neste instante; embora que sejam tão
corruptos, eu os darei o espaço de cento e vinte anos para arrependerem-se; e depois disto, caso não
se arrependam, Eu os entregarei à destruição; que estava de acordo com o fim das coisas”.
2. A palavra aqui traduzida contenderá, significa também litigar um ponto ou razão em uma
causa, antes que esteja pronto para o julgamento, ou a execução dela. Agora o Espírito de Deus tem
litigado, isto é, questionado e arrazoado com estes homens no tribunal e na corte das suas próprias
consciências, sobre os seus pecados, por uma providência ou outra, e por um ministro ou outro;
particularmente por Noé, um pregador de justiça, e isso sem resultado; portanto, Ele determina a não
continuar por mais tempo neste caminho, mas proceder e julgar e executar a sentença de condenação
neles, uma vez que foram tão corruptos, sendo nada mais do que carne. Não obstante, isto é, apesar
do comportamento carnal, para mostrar Sua clemência e paciência, Ele concede-lhes uma
prorrogação de cento e vinte anos; que se trata da longanimidade de Deus do qual o apóstolo fala,
que esperaram nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca (1 Pedro 3:20). Portanto, parece que as
contendas do Espírito de Deus com estes homens foram somente pelo ministério externo da Palavra,
de uma maneira persuasiva moral, que não deu resultado. Isso pode nos levar a observar a
insuficiência de persuasão moral e do ministério externo da Palavra sem a graça poderosa e eficaz
do Espírito.
3. Agora é fácil discernir em que sentido o Espírito de Deus pode ser contrariado, resistido e
contender sem sucesso. As coisas do Espírito de Deus são desagradáveis ao homem natural: não é
nenhuma surpresa que o ministério externo da Palavra e as Ordenanças sejam desprezados,
contrariados e resistidos. A chamada externa pode ser rejeitada; na verdade, alguns movimentos
internos e convicções podem ser anulados, sufocados e não resultar em nada; ainda assim, será aceito
o fato de que pode ser que haja uma oposição e resistência à obra do Espírito de Deus na conversão,
mas o Espírito não pode ser assim resistido nas operações da Sua graça, ao ponto de ser obrigado a
cessar a Sua obra ou de ser dominado, ou impedido nela, pois Ele age com métodos que não podem
ser frustrados e com um poder que não pode ser controlado; se fosse de outra maneira, a regeneração
e conversão de cada um seria necessariamente precária, e onde a graça do Espírito é eficaz, de
acordo com a doutrina do livre-arbítrio, seria mais devido à vontade do homem do que a do Espírito
de Deus.
[11]
IV. A pergunta pode ser feita se o mundo antigo teve um dia de graça, e se também toda
humanidade pode ser salva se desejar; durante o tempo em que o Espírito contende com o homem, e
quando este morre, Ele não contende mais.
1. O espaço de cento e vinte anos dado ao mundo antigo para arrependimento foi, de fato, um
favor, uma indulgência da Providência Divina, um tempo da longanimidade e benignidade de Deus;
mas não significa que, por causa de terem um tempo alocado a eles, no qual se tivessem se
arrependido, teriam sido salvos de uma ruína temporária; e que isso segue acontecendo com toda a
humanidade, que tem um dia de graça, se ela melhorar e que ela pode ser salva com a salvação
eterna. Porque
2. Se um dia de graça significa os meios de graça; o ministério externo da Palavra e as
Ordenanças são insuficientes para a salvação, sem a graça eficaz de Deus; e, além disso, estes não
são utilizados por toda a humanidade. Todo homem não tem um dia de graça neste sentido. Às vezes,
os meios de graça têm sido confinados a uma nação em particular, e o resto do mundo tem ficado sem
ela por um número considerável de anos. Este era o caso das nações do mundo que Deus permitiu
andar nos seus próprios caminhos, negligenciou, não as notou; não deu a elas nenhum dia de graça;
enquanto a Sua adoração foi mantida apenas na terra da Judéia. E desde a vinda de Cristo, a
administração da Palavra e as Ordenanças têm sido, às vezes, em um lugar, e às vezes em outro,
quando o restante da humanidade tem ficado sem; de modo que nem todo homem tem, nesse sentido,
um dia de graça.
3. A inteira dispensação do Evangelho em geral pode ser chamada de o dia da graça, mas esse
dia não expira enquanto os homens vivem ou morrem; ele os alcança desde a vinda de Cristo até o
fim do mundo e continuará até todos os eleitos de Deus serem agregados: nem se pode dizer de
qualquer homem se ele viveu ou pecou além desse dia da graça; pois ainda está dito: “Hoje, se
ouvirdes a sua voz; Eis aqui agora o tempo aceitável, eis aqui agora o dia da salvação” (Hebreus
3:7; 2 Coríntios 6:2).
4. O dia especial da graça, aberto para os eleitos de Deus começa na conversão deles, que
nunca findará, nunca terminará para eles; pois se ainda resta um pouco de nuvens e escuridão, será
eliminado, e eles serão transformados naquele dia de glória eterna.
SEÇÃO 3

Deuteronômio 5:29: “Quem dera que eles tivessem tal coração que me temessem, e guardassem
todos os meus mandamentos todos os dias, para que bem lhes fosse a eles e a seus filhos para
sempre”.

I. Comenta-se que esses desejos veementes de Deus para o bem do Seu povo são
irreconciliáveis com os Seus decretos de eleição e reprovação, e supondo esses decretos, eles são
[12]
representados como hipócritas: aos quais podem ser respondidos:
1. Não há nenhuma contradição em Deus fortemente desejar coisas boas, até a própria salvação
para alguns, não para todos, mas, está perfeitamente de acordo com a doutrina da eleição. Se
qualquer coisa for falada com o propósito de militar contra essa doutrina, deve ser falado e provado
que Deus tem fortemente desejado a salvação de toda a humanidade; de qual afirmação estas
palavras não servem de prova, já que são acerca apenas do povo de Israel, o qual era o menor de
todos os povos. Quanto àquelas Escrituras que representam Deus querendo que todos os homens se
salvem (1 Timóteo 2:4; 2 Pedro 3:9), e não querendo que alguns se percam, elas serão consideradas
nos seus devidos lugares.
2. Pode parecer repugnante a estes decretos, implicar hipocrisia e astúcia, se pode ser
produzido qualquer instância de Deus ardentemente querendo a salvação daqueles que as Escrituras
representam como Deus tendo os rejeitado, entregues a uma mente réproba, vasos de ira preparados
para destruição ou que não serão eventualmente salvos, mas nenhum dirá: Tais eram o povo cujo bem
e prosperidade foram desejados veemente nesta passagem da Escritura. Pois
3. Essas são as instâncias mais impróprias que poderiam ser consideradas: já que foram de um
povo peculiar ao Senhor, quem Ele tinha escolhido para Si mesmo, com objetivo de torná-los um
povo especial, acima de todos os povos na face da terra (Deuteronômio 7:6).
[13]
II. Dizem que esses desejos ardentes, também, considerando a doutrina da redenção
particular, são cheios de dolo, engano, insinceridade, dissimulação e hipocrisia; aos quais eu
respondo.
1. A doutrina da redenção particular é uma doutrina das Escrituras. Cristo morreu não por todos
os homens, mas por alguns apenas que são chamados Seu povo, Suas ovelhas, Sua igreja, a não ser
que todos os homens possam ser chamados povo, ovelhas e a Igreja de Cristo.
2. Deve ser afastada de Deus, a acusação blasfema de dolo, engano, insinceridade, dissimulação
e hipocrisia, pois Ele não pode mentir, nem enganar, nem dissimular, nem negar a Si mesmo, pois
também é o Deus da verdade, sem iniquidade; Justo e Santo. Muito menos afastar de Deus
3. Que o Seu desejo veemente para o bem deste povo, por quem Ele tivera tão grande
consideração ao ponto de redimi-los da escravidão do Egito, implica qualquer coisa desta natureza
ao supor a doutrina de redenção particular, como tem sido observado em respostas às perguntas
anteriores. É necessário provar que Deus tem sempre usado tais expressões de vontade para a
salvação de toda a humanidade, e especialmente daqueles que não são salvos; dentre os quais
nenhum desejará colocar o povo de Israel, especialmente porque é dito (Romanos 11:26) que todo o
Israel será salvo. E,
4. Afinal, essas palavras não expressam o desejo de Deus para a sua eterna salvação, mas
somente para o seu bem e bem-estar temporário, e o da sua posteridade; pois a sua eterna salvação
não foi obtida por obras de justiça que eles fizeram, pelo seu temor e adoração a Deus ou pela sua
obediência universal e constante aos Seus mandamentos. Eles foram salvos pela graça do Senhor
Jesus Cristo, assim como nós. O seu temor ao Senhor e obediência à Sua vontade trouxeram a
abertura de fato da sua prosperidade temporária, e nesse sentido, foram rigorosamente intimados
para que pudessem viver; bem lhes suceder e terem os seus dias prolongados na terra que
possuiriam, como aparece no verso 33; e com vista a isto, Deus ardentemente desejou essas coisas a
eles, e para serem feitas por eles.
[14]
III. Pensa-se que tais expressões comoventes sugerem que Deus dá a todos os homens a
graça suficiente para conversão, e militam contra a necessidade da operação irrecusável da Sua
graça nessa obra.
1. Admitindo que a obra salvadora da conversão seja intencionada aqui; tal obra, não de forma
necessária, supõe que a graça suficiente para ela foi ou será dada, e se a coisa desejada foi efetuada,
não se deve concluir, portanto, que ela não foi realizada pela operação da irresistível graça de Deus.
2. Ao aceitar que essa graça, um coração para temer ao Senhor, e tudo que é requisito para isso,
foram dados aos Israelitas, com base nisso não se deve concluir que todos os homens tenham a
mesma a mesma coisa, ou que Deus deseje o mesmo para todos os homens.
3. Nós não devemos imaginar que tais veleidades e desejos estejam rigorosamente em Deus,
[15]
Quem fala aqui, como R. Aben Ezra observa, Mda ygb zwvlk, por uma antropopatia, segundo a
maneira dos homens; tais desejos foram atribuídos a Ele da mesma maneira que paixões e afetos
humanos são: como ira, tristeza, arrependimento e desejos semelhantes: nem os tais desejos e
vontades declaram o que Deus faz ou vai fazer, mas o que Ele aprova, e são agradáveis a Ele; como
um coração temente a Ele e uma obediência constante e universal aos Seus mandamentos.
4. As palavras são versadas por alguns, porque eles não expressam nenhuma vontade ou desejo
por Deus, mas não obstante aquilo que é desejado pelos próprios Israelitas; assim a versão Árabe,
deve ser desejada por eles, que tal coração continuará neles; isto é, o coração que eles professaram
ter no verso 27, quando falaram a Moisés: “Chega-te tu, e ouve tudo o que disser o SENHOR nosso
Deus; e tu nos dirás tudo o que te disser o SENHOR nosso Deus, e o ouviremos, e o cumpriremos”.
O Senhor observa esta declaração, no verso 28: Eu ouvi, diz Ele, as palavras deste povo, que eles te
disseram; em tudo falaram bem; e depois acrescenta: segundo esta versão, que uma continuação de tal
coração para ouvir e fazer será muito desejável por eles. Além disso, as palavras zty ym, podem ser
traduzidas como são pela Septuaginta, tisdwsei, Quem dará? E, portanto, se consideradas uma
[16]
interrogação, como o próprio Dr. Whitby diz: Quem lhes dará este coração? Eles não poderiam
dar a si mesmos: nenhuma criatura poderia dá-lo a eles; somente Deus poderia dar-lhes um coração
assim. E talvez esse modo de expressão possa ser usado de propósito para convencê-los da falta de
um coração como este, e que apenas Deus poderia dá-lo a eles; e, portanto, devem buscá-lO para
obter e não presumir como eles parecem fazer ao ouvir os Seus mandamentos e obedecê-los na sua
própria força, sem a assistência da graça. Ou,
5. Essas palavras podem ser consideradas como uma repreensão do povo, pela falta de um
coração temente ao Senhor e pela mesma falta de habilidade para guardar os Seus mandamentos, isso
sempre, não obstante as jactâncias vãs e resoluções vazias que acabaram de fazer. Do mesmo modo,
devemos considerar as expressões comoventes de natureza parecida, tais como, Deuteronômio
32:28-29 e Salmos 81:11-13.
SEÇÃO 4

Deuteronômio 8:2: “E te lembrarás de todo o caminho, pelo qual o Senhor teu Deus te guiou no
deserto estes quarenta anos, para te humilhar, e te provar, para saber o que estava no teu
coração, se guardarias os seus mandamentos, ou não”.

[17]
Dizem que é evidente nesta e em outras passagens das Escrituras, que o estado do homem
neste mundo é um estado probatório ou de provação. Será apropriado, portanto, fazer as seguintes
averiguações:
I. O que é este estado probatório ou qual é o significado dele?
1. Esse estado de provações não é das graças do homem, como: fé, paciência, etc., pelas
dispensações aflitivas da Providência; porque os homens em geral não estão em tal estado, já que
todos eles não têm a graça para serem provados; nem o estado de cada homem é aflitivo nesta vida:
Esse é um estado peculiar ao povo de Deus somente quando ele é convertido, porque antes da
conversão, ele não tem graças para ser provado; e com alguns deles, este estado é muito curto, muito
longe de ser um estado do homem enquanto vive nesse mundo; e ainda, como será visto depois, a
prova deste estado probatório depende em grande parte das passagens das Escrituras que relatam o
exercício da graça pelos santos por aflições, tentações, etc.
2. Este estado de provações, se eu o entendo bem, é o da obediência e conduta do homem para
com Deus durante a sua vida; de acordo com que conduta e comportamento Deus age para com ele,
tanto neste quanto no outro mundo. O estado em relação à felicidade ou miséria ainda não é
determinado, por isso, enquanto ele durar, ele não serve como garantia para afirmar que o homem
será salvo ou perdido.
II. Que prova é dada do estado do homem neste mundo, sendo tal estado de provação?
[18]
1. São citadas todas as Escrituras que falam que se Deus provasse os filhos de Israel no
deserto e na sua própria terra, eles andariam nos Seus estatutos e guardariam os Seus mandamentos
ou não; como Êxodo 16:4, Êxodo 20:20; Deuteronômio 8:2 e 13:3; Juízes 2:21-22, e 3:1, 4. Deve ser
observado que estas pessoas estavam sob uma teocracia, ou o governo imediato de Deus como seu
Rei, Quem lhes deu leis, de acordo com as quais deveriam agir; as quais eles prontamente
prometeram uma obediência alegre e universal; na condição desta obediência, eles deveriam gozar e
continuar gozando da terra de Canaã. Por isso, antes de entrar nela e quando a adentraram, agradou a
Deus provar-lhes, ora de uma forma, ora de outra forma, para ver se eles prestariam aquela
obediência aos mandamentos, que Ele requeria, e se permaneceriam ou não pelas promessas que eles
mesmos tinham feito. Tudo o que Ele fez, não foi por Sua própria causa, pois conhece todas as
coisas, mas para que a obediência deles ou desobediência pudesse ser manifestada, e Ele justificado
em todos os Seus feitos com eles. Esta prova da obediência do Seu povo não foi para que eles
obtivessem salvação em outro mundo, mas para o seu bem temporário neste mundo; pois aqueles que
foram salvos eternamente, foram salvos não pela sua obediência aos mandamentos de Deus, mas pela
graça do Senhor Jesus Cristo. Além disso, as Escrituras produzidas falam apenas do povo de Israel e
qual foi o seu estado e caso como um corpo político, sob o governo imediato de Deus, durante certo
tempo; e não de toda a humanidade; e, portanto, fica bem longe de provar o estado do homem neste
mundo. Este é apenas um estado probatório como descrito antes.
[19]
2. Tenta-se comprovar em todas as instâncias, nas quais dizem que Deus prova homens, suas
obras e graças, por aflições, perseguições, tentações e coisas semelhantes; como 1 Coríntios 3:13; 2
Coríntios 3:2; 1 Pedro 1:7, e 4:12; Tiago 1:3; Apocalipse 2:10 e 3:10; Salmos 66:10; Daniel 11:35 e
12:10; Zacarias 13:9. Em resposta à primeira pergunta, o que eu disse é suficiente para responder
aquilo alegado a respeito destas passagens; já que estas falam apenas dos santos, e da provação da
graça deles, que têm somente graça a ser provada, e isto não para assegurar ou consertar a sua
salvação; nem são estas provações meros ensaios da verdade e constância da sua graça, mas também
são designadas para levar adiante o exercício e aumento dela; o resultado que é para o seu próprio
bem espiritual, e a glória de Deus. Portanto, segue que estas Escrituras são provas insuficientes de
que todos os homens estão em estado probatório para alegria ou miséria eterna.
[20]
3. Dizem que isso é evidente em todas as promessas e ameaças nas Escrituras, para
comprometer todos os homens a arrependerem-se e tornarem-se a Deus; portanto, é acrescentado que
nem tal coisa pode ser oferecida a eles que já estão em um estado fixo, ou de miséria ou alegria. A
que eu respondo que as promessas e ameaças registradas nas Escrituras, relacionadas ao bem
espiritual e eterno dos homens, podem ser reduzidas e compreendidas nestas palavras: “Quem crer e
for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado”; que era o cerne do ministério
evangélico que os apóstolos tiveram para cumprir por comissão de Cristo, e que pode ser exercido
inteira e completamente, supondo um estado fixo de gozo ou miséria; já que tal ministério poderia ser
e é usado pela graça de Deus para trazer aqueles destinados ao gozo, para dentro do estado da graça
digno dos mesmos; e a deixar que os outros descubram mais a corrupção e depravação da sua
natureza e assim justifiquem os procedimentos justos de Deus contra eles, ficando desse modo,
inescusáveis.
[21]
4. O conceito de que o homem está em estado probatório é argumentado em todas as
exortações das Sagradas Escrituras para os homens vigiarem e orarem, para não entrarem ou serem
conduzidos à tentação, e em tais Escrituras que supõem que o homem esteja em perigo de cair em
tentação; as passagens referidas são: Mateus 6:13 e Mateus 26:41; Lucas 8:13; 1 Tessalonicenses
3:5; que só se dirigem aos salvos, ou àqueles que professam ser, e não toda a humanidade. Além do
mais, se Deus tem colocado todos os homens num estado probatório, e isso determinado por tentação,
como alguém vigiaria ou oraria para não cair em tentação? Ademais, este estado probatório ou é
bom, ou ruim; se é bom, porque os homens deveriam vigiar e orar contra ele? Se ruim, pode-se supor
razoavelmente que Deus colocou os homens nele para efetuar o seu bem eterno? E, portanto, pelo que
deve ser contendido?
[22]
5. Dizem que isso é evidente nas tentações de Satanás, que anda em derredor, bramando
como leão, buscando a quem possa tragar; e é acrescentado com que propósito, ele se esforça ou
tenta destruir os eleitos, ou empenha-se para impedir o progresso do Evangelho, ou a conversão de
qualquer homem; quando se supõe um estado fixo pelos decretos de Deus, e uma operação
irresistível e Divina nos corações dos homens, ele deve saber que a sua obra com certeza será em
vão? Ao que eu respondo que Satanás não tem em seu poder o livro da vida; nem sabe quem são ou
não os eleitos de Deus, até que isso apareça pela operação irresistível nos corações dos homens, e
pode ser que nem ainda nesta hora. Desse modo, não é surpreendente que ele tente, esforce-se e
empenhe-se para impedir o sucesso do Evangelho na conversão, e para destruir os eleitos, quando
ele sabe quem são, tenta angustiá-los pelas suas tentações, mesmo não podendo destruí-los; e em dez
mil instâncias mostrará a sua malícia, quando não pode mostrar o seu poder. Além disso, o texto
referido em 1 Pedro 5:8, carrega o sentido de um estado fixo; quando supõe que há alguns que
Satanás possa tragar, e deixa clara a intimação que há outros que ele não é permitido e não pode
devorar, pois são as ovelhas de Cristo e estando nas mãos dEle, nem homem nem Diabo podem
arrebatá-las. Isso é o resumo das provas em favor desta noção, por um escritor célebre, mas devido
ao grau da relevância, ele precisa ser considerado por outros.
III. Que razão temos para concluir que o estado do homem neste mundo não é tal estado
probatório?
1. Ambos os anjos e homens já estiveram em estado probatório, no qual o seu livre-arbítrio e
poder de obedecer aos mandamentos de Deus foram suficientemente provados. Ficando assim
constatado, que tal provação trouxe a Queda e destruição de um grande número de anjos e de toda a
raça humana: e, portanto, não é razoável supor que Deus colocaria o homem em tal estado
novamente; mas antes providencia outro meio para o bem daqueles que Ele intentou trazer ao gozo
eterno.
2. Se os homens estivessem em estado probatório, eles deveriam estar em estado igual, gozando
os mesmos privilégios e vantagens. Embora esse não seja o caso, alguns têm apenas a luz fraca e a
lei fraca da natureza, enquanto outros gozam da revelação do Evangelho; e destes alguns têm mais e
outros têm menos, dos meios de graça, luz e conhecimento; alguns têm a graça de Deus derramada
sobre eles; outros não a têm. Agora se todos os homens estivessem em estado probatório como é
argumentado, é razoável supor que teria tanta desigualdade entre eles?
3. Este estado probatório, que faz a salvação precária e incerta, é contrário à presciência de
Deus e decreto da eleição; porque Deus, de acordo com a Sua presciência, tem escolhido e
predestinado certo número de homens para a vida eterna e salvação, o estado destes é fixo, e a sua
salvação é certa, pois o propósito de Deus quanto à eleição permanecerá firme...Para que o
propósito de Deus segundo a eleição, ficasse firme. (Romanos 9:11); porque os que dantes conheceu,
também os predestinou; e aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou a estes
também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou (Romanos 8:29-30).
4. Esta noção coloca a salvação dos homens na própria obediência e obras, ao contrário das
Escrituras, dos méritos de Cristo, e da graça de Deus. Ela atribui mais ao livre-arbítrio do homem do
que à livre graça de Deus e coloca a fundação para jactância na criatura, isto é, dá liberdade ao
homem para gabar-se da sua própria salvação.
5. Tal estado probatório é contrário a todas as Escrituras que representam os santos que agora
estão num estado salvo e têm a vida eterna; tais como: Efésios 2:8, João 5:24, e João 6:47.
Em uma palavra, ela destrói a doutrina da segurança e deixa os próprios santos numa das
condições mais desconfortáveis, pois os deixa na condição mais precária, incerta e, na verdade,
perigosa.
SEÇÃO 5

Deuteronômio 30:19: “Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho
proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para que vivas, tu e a tua
descendência”.

[23]
Estas palavras são frequentemente usadas pelos apoiadores do livre-arbítrio, para fazer o
que é espiritualmente bom a favor dele e no seu poder. Eu considerarei brevemente este assunto tão
controverso ao considerar as seguintes coisas:
I. O que é livre-arbítrio, ou qual é a natureza da liberdade da vontade humana.
1. A vontade do homem, embora sendo livre, não é livre de forma independente e absoluta. O
ser humano depende de Deus, tanto no seu ser como no seu agir, é sujeito à Sua autoridade e
mandamento, e é controlado por Seu poder. O coração do rei (Provérbios 21:1), e, portanto, o de
todo homem, está na mão do SENHOR. Como ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do
SENHOR, que o inclina a todo o Seu querer. Deus intenciona que o homem seja livre somente no
sentido descrito acima, não que este não se sujeite a um Ser superior, e, portanto haja sem controle,
não estando de acordo com a vontade de Deus, nos exércitos dos céus, e entre os habitantes da terra:
portanto, aquelas grandes e exaltadas palavras de vaidade, aujtexousion, liberum arbitrium, que
carregam consigo o sentido de autossuficiência, despótica, liberdade arbitrária, são
inapropriadamente dadas à vontade humana, embora apropriadas suficientemente na língua de alguns
que creem no livre-arbítrio; tais como Faraó, que disse: Quem é o SENHOR, cuja voz eu ouvirei,
para deixar ir Israel? Não conheço o SENHOR, nem tampouco deixarei ir Israel (Êxodo 5:2). Outros
disseram, São nossos os lábios; quem é senhor sobre nós? (Salmos 12:4).
2. A liberdade da vontade não consiste em indiferença ao bem ou mal, ou na indeterminação de
ambos; caso contrário, a vontade sequer seria livre; pois como Deus é essencial e naturalmente bom,
Sua vontade é determinada apenas àquilo que é bom; nem tampouco, Ele faz ou pode fazer qualquer
coisa má; e mesmo assim, em tudo o que Ele faz, Ele age completamente livre na Sua vontade. A
vontade dos anjos bons, mesmo no seu estado probatório, foi deixada mutável e passível à mudança;
e ainda no seu estado confirmado, é impecável, inteiramente voltada e curvada àquilo que é bom, e
ainda todo o serviço que efetuam a Deus ou ao homem, é feito com grande prontidão, alegria e boa
vontade, sem força ou coação. A vontade do Diabo tende somente para o que é mal, sem a menor
inclinação para o que é bom e além de inclinar-se para o mal, se move livremente nas mais altas
categorias de pecado e malícia. Considerada no estado em que ele já esteve, está ou estará, a vontade
do homem, é determinada ao bem ou mal, não está em equilíbrio ou indiferente a ambos. A vontade
do homem, no seu estado de inocência, era de fato mutável, e capaz de ser influenciada pelo mal e
inclinada a ele, como a Queda demonstrou; mas enquanto estava naquele estado, era inteiramente
pronta para aquilo que é bom, agia livremente e sem coação, na obediência aos mandamentos de
Deus. No seu estado caído, a vontade do homem é inteiramente viciada às concupiscências
pecaminosas e realizá-las lhe traz o maior gozo e prazer.
Embora o homem seja inclinado tanto ao bem quanto ao mal, por causa do seu novo ser
regenerado, tendo dois princípios diferentes, um de corrupção e outro de graça; ainda assim, ambos
se movem livremente, porém, cada um determinado pelos seus vários objetivos. A carne ou a parte
corrupta é unicamente determinada a fazer o mal; a graça ou a nova natureza a fazer o que é
espiritualmente bom; para que com a carne, o homem regenerado sirva à lei do pecado, e com o seu
entendimento à lei de Deus. A vontade dos santos glorificados no Céu é completamente entregue às
coisas espirituais e Divinas, nem podem ser mudadas para aquilo que é pecaminoso; e, portanto, é
dessa forma que eles servem ao Senhor constantemente, com toda a liberdade. Considerem, portanto,
a vontade na classe menor dos seres, que a sua liberdade não consiste em indiferença ou
indeterminação ao bem ou mal.
3. A liberdade da vontade é consistente com algum tipo de necessidade. Deus, de forma
necessária e ainda livre, odeia aquilo que é mal e ama o que é bom. Como homem, Cristo estava
debaixo de algum tipo de necessidade de cumprir toda a justiça e mesmo assim a fez voluntariamente.
A vontade do homem é livre da necessidade física ou natural; ela não age e move pela necessidade
da natureza, como muitas criaturas fazem, bem como o sol, a lua e as estrelas se movem no seu curso;
o fogo, por uma necessidade física, arde; coisas leves sobem e corpos pesados descem. Ainda mais,
é livre da necessidade de coação ou força; a vontade não pode ser forçada; nem é pela poderosa,
eficaz e irresistível operação da graça de Deus na conversão; embora antes da conversão fosse
relutante a submeter-se a Cristo e o Seu caminho da salvação, portanto, ela se dispõe no dia do Seu
poder, sem qualquer violência; Deus trabalhando nela, como Agostinho diz: Cum suavi
omnipostentia et omnipotenti suavitate, com doce onipotência e onipotente doçura: mas então a
vontade do homem não é livre da necessidade de obrigação; ela é sujeita a obediência à vontade
Divina; embora sendo livre, não é livre para agir segundo a sua própria vontade, sem controle.
Embora a vontade pecaminosa e corrupta do homem se manifeste, escolha seu próprio caminho e se
alegre em abominações apesar das ordens de Deus, ainda assim, ela não é liberdade propriamente
dita, mas dissolução. E, embora um homem bom considere a necessidade de submeter-se à obrigação
de agir de acordo com a vontade de Deus, mesmo assim, ela é contrária à liberdade da sua vontade;
pois ele, segundo o homem interior, tem prazer na lei de Deus. Além disso, há um tipo de
necessidade que os letrados chamam de necessidade de imutabilidade, que diz respeito aos decretos
Divinos e aos eventos necessários, imutáveis e certos, que são consistentes com a liberdade da
vontade humana: porque embora os decretos de Deus sejam cumpridos, todavia, estes não violam
nem impedem a liberdade da criatura ao agir; por exemplo, a venda de José aos Ismaelitas, por quem
ele foi levado ao Egito, era de acordo com o decreto e o propósito de Deus, que o mandou e o
propôs para o bem dos outros, e ainda os seus irmãos no negócio inteiro, agiram com suprema
deliberação, escolha e liberdade das suas vontades imagináveis. Nada foi mais peremptoriamente,
isto é, decisivamente, decretado e determinado por Deus do que a crucificação de Cristo, e ainda os
homens nunca agiram tão livre ou perversamente quanto os Judeus em toda parte e circunstância
daquela cena trágica. Então a liberdade da vontade é consistente com algum tipo de necessidade, ou
seja, até certa servidão. Um servo pode servir ao seu senhor livre e voluntariamente, como o servo
hebreu que não tinha vontade de deixar o seu dono quando o tempo da servidão esgotou. Um homem
maligno que comete pecado e entrega-se inteiramente a ele, é servo do pecado, e ainda age
livremente nesse serviço vergonhoso e pecaminoso; ao mesmo tempo ele é o escravo das
concupiscências e prazeres que escolhe, nos quais se deleita. Isso fez Lutero chamar livre arbítrio de
servum arbitrium.
4. A consideração da vontade do homem nos vários estados da inocência, na queda, regeneração
e glorificação, serve para nos levar à verdadeira natureza e entendimento da liberdade e do poder
dela. O homem, no seu estado de inocência, tinha tanto o poder quanto a vontade de fazer aquilo que
era natural e moralmente bom; embora sua vontade fosse deixada mutável, e mediante a tentação
fosse inclinada a fazer o mal, que serviu de porta para o pecado entrar e para a Queda do homem.
Este, no seu estado caído, é completamente submisso ao poder e domínio do pecado, é prisioneiro do
pecado, escravo deste e não tem o poder, nem vontade de fazer aquilo que é espiritualmente bom. O
homem, no seu estado regenerado, é liberto do domínio do pecado, mas não do ser do pecado; sua
vontade é lavrada poderosa e graciosamente, é inclinado a fazer o que é espiritualmente bom, mas
ele encontra um corpo de pecado e morte ao seu redor, que o aflige e o impede de fazer o bem. Os
santos no Céu são libertos tanto do ser como do domínio do pecado; e como eles têm uma vontade
unicamente inclinada, então têm pleno poder de servir ao Senhor sem cessar.
5. A distinção entre a liberdade natural e a liberdade moral da vontade é muito útil nesta
[24]
controvérsia, embora as duas estejam habilidosamente entrelaçadas; e porque negamos uma, é
concluído que negamos também a outra; enquanto afirmamos que a liberdade natural da vontade é
essencial a ela e sempre habita com ela em cada ação e cada estado da vida. A vontade de um homem
maligno, no maior grau de servidão ao pecado, age tão livremente neste estado de servidão como
agiu a vontade de Adão em obediência a Deus, no estado de inocência; mas a liberdade moral da
vontade não é essencial a ela, ainda que acrescente a glória e excelência dela, e, portanto, pode estar
ou não com ela, sem violar, ou destruir a liberdade natural da vontade. A liberdade moral da vontade
para fazer o bem estava com Adão no estado de inocência, e isto foi perdido na Queda; portanto, o
homem em estado de corrupção e degeneração é destituído disso; no estado regenerado é implantado
na vontade pelo Espírito e graça de Deus, e no estado de glorificação será na sua inteira perfeição.
De modo que a controvérsia não deve ser acerca da liberdade natural, mas da liberdade moral da
vontade, e não tanto sobre o livre-arbítrio em si, como a força ou poder dele; que me conduz a
considerar a próxima pergunta, que é:
II. Qual é a força e poder do livre-arbítrio do homem, ou o que a vontade deste pode aprovar ou
desaprovar, escolher ou recusar, efetuar e fazer?
1. Será aceito que a vontade humana tem poder e liberdade para agir em coisas naturais ou em
coisas que pertencem à vida natural ou animal; tais como: comer, beber, sentar; ficar de pé, levantar,
andar, etc. As partes externas, ações; movimentos do corpo, falar de modo geral, são sujeitos à
vontade e controlados por ela; mas as partes internas, movimentos e ações dela não são, como a
digestão da comida; secreção dela para vários propósitos e usos; nutrição e crescimento das várias
partes do corpo; circulação de sangue, etc., todas que são feitas sem a permissão da vontade.
2. A vontade do homem tem a liberdade e poder de agir em coisas de natureza civil, como as
que estão relacionados ao bem das sociedades, em reinos, cidades, vilarejos e famílias; como
obediência a magistrados, casamento legal; educação de filhos; produção de artes e ciências;
exercício e aperfeiçoamento de negócios e das indústrias; e tudo mais que contribua para o bem, o
prazer e a vantagem da vida civil.
3. O homem também tem o poder de fazer as partes externas da religião, tais como: orar, cantar
louvores a Deus; ler as Escrituras; ouvir a Palavra de Deus e submeter-se à todas as Ordenanças
públicas. Por isso, Herodes ouviu João alegremente e fez muitas coisas de maneira religiosa
externamente. Os homens podem também entregarem-se a si mesmos, fazer justiça um ao outro, amar
aqueles que os amam, viver inofensivamente no mundo, aparentar ser justos perante os outros e fazer
muitas coisas que têm aparência de bem moral, como faziam os pagãos e publicanos, e o apóstolo
Paulo antes da conversão.
4. O homem não tem nem vontade nem poder para agir por conta própria em coisas
espiritualmente boas, ou em coisas que relacionam com o seu bem-estar espiritual ou eterno; tais
como conversão: regeneração, fé, arrependimento e coisas semelhantes a essas. Conversão não é a
obra da criatura, mas de Deus, uma obra do Seu poder onipotente; pelo qual os homens são
convertidos para Ele, do pecado e de Satanás, são resgatados do poder das trevas e transportados
para o Reino do Seu Filho amado. Nega-se expressamente que a regeneração ou novo nascimento
pertença à vontade da carne ou dos homens. Ela é atribuída ao próprio Deus e a mais ninguém. Todos
os homens não têm fé em Cristo, e em se tratando dos que têm, a fé destes não vem de si mesmos; é
dom de Deus, da operação do Seu Espírito, do fruto e efeito da graça eletiva e eficaz. O
arrependimento bíblico, que é para vida, não está no poder dos homens; estes, no estado natural, não
têm verdadeira noção dos seus pecados nem qualquer tentativa por conta própria os levará ao
arrependimento dos pecados, sem a graça eficaz de Deus. O verdadeiro arrependimento bíblico é o
dom gratuito da graça de Deus.
5. Não há poder natural na vontade do homem, para desejar, escolher e efetuar coisas
espiritualmente boas, não aparece só na experiência da natureza humana, mas também em todas
aquelas Escrituras que representam o homem como contaminado, inteiramente carnal, entregue ao
pecado, escravo e morto nele; e não apenas impotente para fazer o bem, mas sob uma
impossibilidade de fazer o que é bom; e de todas aquelas escrituras que declaram o entendimento,
juízo e afeições sendo corruptos, pelo que a vontade é grandemente influenciada e direcionada; e de
todas as tais Escrituras que intimam que toda a boa dádiva e todo o dom espiritual são de Deus, e que
os santos em si somente desejam e agem pelo poder e sob a influência da graça de Deus, Quem opera
neles tanto o querer como o efetuar segundo a Sua boa vontade. Eu prossigo
III. A inquirir, ou seja, questionar se as palavras do texto em consideração afirmam o poder e
liberdade da vontade do homem em escolher aquilo que é espiritualmente bom. Ao que eu respondo.
1. Supondo que aquilo que está sendo proposto aqui seja espiritualmente bom, e o que esteja
sendo recusado seja espiritualmente mal; não segue, portanto, que o homem tem o poder de escolher
[25]
um e recusar o outro; pois, como Lutero diz: “As palavras são imperativas, elas não afirmam
nada senão o que deveria ser feito, pois Moisés não fala: ‘Tendes o poder de escolher, mas escolha,
mantenha, faça’. Ele entrega o preceito de fazer, mas não descreve o poder do homem”.
2. Vida e morte, benção e maldição, devem ser consideradas em sentido civil, e delinear as
dispensações externas da providência de Deus, com o respeito ao bem e a ruína temporária, que
sucederiam ao povo de Israel, de acordo com o seu comportamento civil. Aquele povo estava sob o
governo imediato de Deus, Ele era a sua cabeça e rei político. Moisés, por Ele, deu-lhes um sistema
de leis como entidade política; segundo a sua obediência às leis, eles e a sua semente viveriam bem e
gozariam de todas as benções espirituais na terra de Canaã, como aparece nos versos 16, 20; mas se
desobedecessem, eles poderiam esperar maldição e morte, cativeiro e a espada, e não teriam
prolongados os seus dias na terra que possuiriam, como é evidente nos versos 17 e 18. Portanto,
Moisés os aconselha a escolher a vida, isto é, viver de acordo com as leis dadas a eles como um
corpo político; para que eles, debaixo da governança prazerosa em que estavam, pudessem viver
confortavelmente, e eles e a sua posteridade pudessem gozar de todas as benções de uma vida civil
na terra prometida. O que é parecido com tal caso e pode servir de exemplo disso, é como se uma
pessoa pudesse representar as sãs leis constitucionais da Grã-Bretanha, preservadas sob o governo
de sua majestade, o rei George, com toda a benção e alegria consequente; e também a condição
miserável e triste seria viver debaixo de um falso arrogante; e depois observa que seria muito
desejável, aconselhável e aceitável viver em paz debaixo de um, ao invés de receber o jugo do outro.
Escolher um é como escolher liberdade e propriedade, benção e vida, e tudo que é de valor num
sentido civil; ao escolher o outro é como escolher escravidão e ora poder, ora maldição e morte, e
tudo que é destrutivo e miserável. Agora é aceito que o homem tem o poder de aprovar e desaprovar,
agir e não agir, em coisas de natureza civil; portanto, estas palavras não podem servir nem devem ter
o seu lugar ou preocupação na controvérsia sobre o poder e a liberdade da vontade em coisas
espirituais.
SEÇÃO 6

Deuteronômio 32:29: “Quem dera eles fossem sábios! Que isto entendessem, e atentassem para
o seu fim!”.

Estas palavras foram usadas para contradizer as doutrinas da eleição absoluta, redenção particular e
[26]
da graça infrustrável na conversão. Intima-se que ao se fazer uma suposição dessas doutrinas,
estas representam o Deus da sinceridade e da verdade como cheio de astúcia e hipocrisia; pois Ele
sinceramente anseia por e deseja o bem-estar de todos os homens e que estes tenham sabedoria
espiritual; porém apesar disso, Ele mesmo decretou deixar alguns sem um Salvador e sem nenhum
meio de serem espiritualmente sábios. O resultado desta suposição é que apesar de Deus ter
desejado ardentemente que estes fizessem parte do número de Seus eleitos, Ele mesmo os excluiu
desse número por um decreto absoluto desde a eternidade. Em resposta ao qual, pedimos que seja
observado:
I. Deve ser demonstrado que Deus anseia pelo bem-estar espiritual e eterno de toda a
humanidade e deseja que cada indivíduo com natureza humana possa ter sabedoria espiritual para
conhecer o próprio estado espiritual e considerar o fim dele, pois é evidente que Ele não fornece a
cada filho de Adão meios de ser espiritualmente sábio, e é certo que estas palavras não expressam
um desejo universal, pois elas são dirigidas apenas à uma parte da humanidade — ou ao povo de
Israel, ou aos adversários de Israel, como será visto a seguir. Portanto, por este verso ter falado
apenas de alguns, e não de cada homem individualmente, ele não dever ser interpretado como uma
crítica à eleição e redenção apenas de alguns.
II. Também deve-se afirmar que Deus quer e deseja o bem-estar ou a sabedoria espiritual para
qualquer um, mas o Espírito de sabedoria é dado, para a revelação do pleno conhecimento de si
mesmos e de Cristo, apenas àqueles que Ele escolheu para a vida eterna, os quais Cristo redimiu por
Seu sangue, ou em outras palavras, Deus quer e deseja o bem-estar e sabedoria espiritual para os
tais, no caso de ainda não estarem eternamente salvos.
III. Deve ser considerado se estas palavras são realmente acerca do bem-estar espiritual de
qualquer um, se contêm em si um desejo para sabedoria e entendimento das coisas espirituais.
Conforme veremos, estas palavras tratam apenas das coisas temporais e do conhecimento destas.
IV. Supondo-se que estas palavras contenham um desejo de sabedoria e de entender as coisas
espirituais, tal desejo deve ser atribuído a Deus, não pessoalmente, mas por uma antropopatia (a
atribuição de emoções humanas a Deus, tais como emoções e sofrimentos, Ed.). Também à maneira
dos homens, desejos e veleidades (um grau muito baixo de desejo ou vontade. Ed.) são
indevidamente, ou de uma forma figurada, atribuídas a Deus. Tais atribuições não supõem qualquer
imperfeição nEle, nem suficiência em Suas criaturas. Estas atribuições implicam, necessariamente,
que não é a Sua vontade dar aos não-escolhidos aquela sabedoria que Ele deseja; nem Lhe é posto na
obrigação de providenciar até mesmo os meios de obter essa sabedoria espiritual. Contudo, da
mesma forma que um homem deseja o que é bom e agradável para si mesmo, assim também Deus
deseja a sabedoria espiritual nos homens, e isto apenas nos indica que para Ele, esta sabedoria neles
seria agradável. Além disso, tal modo de falar pode ser usado tanto como um meio de queixar-se da
ignorância ou como uma expressão de compaixão por ela ou como uma análise acerca dela. Tal
análise tem o objetivo de trazer o entendimento da ignorância e assim incentivar os homens a buscar
em Deus, a sabedoria necessária que Ele dá livremente. Essa análise também tem como objetivo
ainda de deixá-los inescusáveis. Mas
V. As palavras não são anunciadas na forma de um desejo qualquer, mas são uma proposição
[27]
hipotética. A palavra Hebraica usada aqui significa “se” e o verso devem ser interpretados
assim: Se eles fossem sábios, entenderiam isso, eles considerariam o seu fim. Supondo que fossem
entendidos em um sentido espiritual, o significado é: Se fossem tão sábios para fazer o bem, como
são para a fazer o mal, eles teriam entendido as coisas que pertencem à sua paz e bem-estar espiritual
e teriam seriamente considerado o fim de todas as coisas, e o fim deles mesmos. Mas eles não são
sábios acerca das coisas Divinas e espirituais; e, portanto, não as compreendem. Eles não
consideram o fim das suas obras pecaminosas, nem como os seus dias são curtos e o fim deles tão
próximo; não consideram como é terrível o juízo que os seguirão após a morte, nem seu destino final
para onde devem ir, para o Céu ou o Inferno. Embora,
VI. As palavras devam ser entendidas, de uma vez por todas, como referidas a coisas terrenas, e
não sobre o que diz respeito ao bem-estar espiritual e eterno de qualquer um. As instâncias da
bondade de Deus para com o povo de Israel são recitadas claramente no verso 14. Em seguida, os
seus muitos pecados contra Deus e a sua grande ingratidão para com Ele são mencionados nos versos
de 15 a 18, os quais atraiu o ressentimento e a indignação de Deus contra eles, como relatado por
meio de ameaças de muitos julgamentos severos nos versos de 19 a 25, os quais Ele teria executado
sobre eles, mas temia a ira do inimigo e cuidava que os seus adversários não deveriam se iludir,
dizendo: “A nossa mão está exaltada, não foi o Senhor quem fez tudo isso (v. 27), pois Ele sabia que
tais povos pagãos eram nações que tinham falta de conselhos: nem sequer havia entendimento neles
(v. 28), porque se tivessem sido sábios, eles entenderiam isso, que a destruição do povo de Israel era
[28]
de Deus, e não deles. Pelo contrário, se não fosse assim, como é que alguém sozinho poderia
perseguir mil, ou seja, um único gentio a mil israelitas, e apenas dois fariam dez mil fugir? Não fosse
pela Rocha que vendeu os israelitas a eles e se Senhor não lhes entregasse os israelitas? (v. 30).
Estes povos pagãos também teriam considerado o seu próprio fim e aquilo que os sucederia
inevitavelmente: assim como Deus havia cortado e destruído Seu próprio povo de Israel por seus
pecados, eles também deveriam esperar a mesma destruição por suas iniquidades semelhantes.
Agora, já que este é o sentido claro e óbvio deste pronunciamento, ele não pode ser usado com
qualquer propriedade na polêmica sobre as doutrinas da graça distinguidora.
SEÇÃO 7

Salmos 81:13-14: “Oh! se o meu povo me tivesse ouvido! se Israel andasse nos meus caminhos!
Em breve abateria os seus inimigos, e viraria a minha mão contra os seus adversários”.

Esta passagem é citada pelos Remonstrantes para provar que a graça de Deus na conversão pode
[29]
ser resistida. Eles também usam estes versos para argumentar que os santos podem perder a
[30]
eleição Divina. Um autor já falecido declarou que tais versos são irreconciliáveis com os
decretos da eleição e da reprovação, bem como irreconciliáveis com a doutrina da redenção
particular de Deus. Este autor ainda afirmou que esta passagem é a prova de que os homens por conta
própria têm capacidade suficiente de fazer o que Deus quer que eles façam. Contudo,
I. Consideramos admitir que as palavras contêm o desejo de Deus pelo bem-estar espiritual e a
conversão dos homens. Tal desejo só pode ser atribuído a Ele em um sentido figurado, como foi
observado na seção anterior. O desejar não pode ser atribuído a Deus no mesmo sentido que é
atribuído aos homens, os quais desejam muitas vezes aquilo que eles não têm a capacidade de
realizar e, portanto, desejam que seja feito por outro. Já em relação a Deus, não se pode dizer isso
dEle sem impugnar a Sua onipotência. Quando dizem que Deus deseja, como vamos supor aqui, a
conversão e obediência dos homens, esse desejo apenas indica que tal seria bom e agradável a Ele.
Contudo, isso não quer dizer que os homens têm a capacidade suficiente de converter a si mesmos,
nem de obedecer aos mandamentos de Deus Também não podemos afirmar que é a vontade
determinante e efetiva de Deus que cada indivíduo da humanidade seja convertido e venha a
obedecer aos Seus mandamentos de uma forma aceitável a Ele. Se esta fosse a Sua vontade
determinante, todos os homens seriam convertidos e obedeceriam. Assim, a interpretação de tal
desejo, por mais universal e extensa que seja, não milita contra a graça de Deus em distinguir,
escolher, resgatar e chamar apenas alguns, já que tal desejo declara somente aquilo que Deus aprova,
e não o que Ele tem determinado ocorrer.
II. O desejo pelo bem-estar espiritual das pessoas aqui mencionadas, supondo que é isto que
esteja sendo desejado, é só para o povo de Israel, aqueles que professam Deus, e os quais Ele chama
de “Meu povo”. Ele não Se refere a toda à humanidade, ou a cada filho individual de Adão,
conforme alguns acham que deveria ser e vão em busca de argumentos contra a eleição, a redenção e
o chamado eficaz de alguns em particular. Além disso, apesar de toda a sua perversidade, rebelião e
má conduta, seria difícil provar que estas pessoas das quais falamos não foram escolhidas por Deus,
redimidas por Cristo, movidas pelo poder da graça Divina e finalmente salvas.
III. As palavras, se devidamente examinadas, demonstrarão não conter um desejo e sim uma
hipótese ou suposição. Deveria ser lido assim: Se o Meu povo tivesse Me ouvido, se Israel tivesse
andado nos Meus caminhos, Eu teria, etc. R. Sol. Jarchi interpreta “wl” por “sa”, e R. Aben Ezra por
“wlya”, e a Septuaginta por “eij”, todos os quais significam “se”. Da mesma forma é lido no idioma
Sírio, Árabe, Etíope, na Vulgata Latina, Junius e Tremellius. Portanto, assim como os Contra-
[31]
Remonstrantes observaram com razão, não deve ser entendido que estas pessoas tinham a
capacidade de obedecer aos mandamentos de Deus, e nem que obedecê-lO dependia da vontade
deles. Semelhantemente, não podemos afirmar que se o homem guardar a lei perfeitamente, ele será
justificado por assim fazer. Portanto, não podemos dizer que simplesmente pelo fato de um homem
acreditar que ele poderá ser salvo, a fé agora depende da vontade dele, ou que os homens têm a
capacidade de crer. Além disso,
IV. As palavras não devem ser entendidas como se referissem a uma obra interior de graça
salvífica e a conversão, ou à obediência espiritual e evangélica que brota a partir desta obra de
graça, com as bênçãos espirituais e eternas que a acompanham. Mas referem-se a uma obediência
externa aos mandamentos de Deus, que seria seguida com favores temporais tais como: a subjugação
dos seus inimigos debaixo deles, a alimentação deles com o mais fino trigo e o satisfazer deles com o
mel extraído da rocha. Devemos ler e entender, neste mesmo sentido, as palavras de Isaías 48:18, as
quais geralmente acompanham qualquer discussão destes versos que agora tratamos em Salmo 81:13-
14, pois os de Isaías também devem ser lidos condicionalmente: Ah! Se tivesses dado ouvidos aos
Meus mandamentos! Então seria a tua paz como um rio, e a tua justiça como as ondas do mar. Tal
leitura condicional é evidenciada pelo Targum, a Septuaginta, e as versões em Árabe, por R. David
Kimchi, Junius e Tremellius. Nenhuma destas passagens têm relação com o bem-estar espiritual, mas
sim o bem-estar temporal do povo de Deus, Israel, como não contém um desejo para a salvação de
almas, mas sim uma afirmação de bênçãos condicionadas à obediência aos mandamentos de Deus. A
passagem em Oséias 11:8, que às vezes acompanha a análise de Isaias 48:18 e Salmo 18:13-14, é
também uma forma humana de falar, como R. Aben Ezra observa aqui; e declara a preocupação de
um Deus compassivo pelo bem-estar temporal de Efraim e Israel, não é uma afirmação retórica de
afeto, nem um desejo pelo bem-estar espiritual de qualquer um, e muito menos uma afirmação
dirigida a toda a humanidade.
SEÇÃO 8

Salmos 125:3: “Porque o cetro da impiedade não permanecerá sobre a sorte dos justos, para
que o justo não estenda as suas mãos para a iniquidade”.

[32]
Estas palavras são usadas para provar que “os santos ou verdadeiros crentes, ou homens
que já foram verdadeiramente bons, podem deixar de ser assim: pois dizem que este verso insinua
claramente que grandes e duradouras impressões podem ter esse efeito sobre eles; caminhar este que
Deus é assim cuidadoso para evitar. Assim, o justo não tem necessidade de se cuidar para evitar
aquilo que Deus tem absolutamente decidido preservar”. Estranho! Considerando:

I. A doutrina da perseverança final dos santos é perfeitamente esclarecida nos dois versos
anteriores neste Salmo: “Os que confiam no SENHOR serão como o monte de Sião, que não se abala,
mas permanece para sempre. Assim como estão os montes à roda de Jerusalém, assim o Senhor está
em volta do seu povo desde agora e para sempre”. Se eles (os que são os santos, os verdadeiros
crentes, os homens realmente bons) confiam no Senhor, eles são como o monte Sião, não podem;
portanto, ser removidos nem do coração de Deus, nem podem ser arrebatados das mãos de Cristo.
Porém, ficarão ali para sempre e, consequentemente, não podem deixar de ser o que são. Se como os
montes ao redor de Jerusalém, assim o Senhor está ao redor das mesmas pessoas antes descritas, que
são o Seu povo (e este o é para sempre), como é possível que ele venha então a perecer?
II. Estas palavras estão diretamente ligadas àquelas que as precedem e expressam tal efeito nos
que confiam no Senhor, que deve certamente acompanha-los a partir do estado seguro e da sua
situação bem-aventurada dos tais que confiam no Senhor, yk, pois ou porque isso é assim, ou assim
com eles; portanto a vara dos ímpios — um governo tirano, as opressões e perseguições de homens
ímpios — aos quais os santos são frequentemente sujeitos, não repousará, “será contínua”, sobre a
sorte, e não as costas, como o Dr. Whitby cita estas palavras, dos justos; significando tanto as suas
próprias pessoas como seus bens, para que os justos, que são feitos assim pela justiça de Cristo, não
estendam as suas mãos para cometer a iniquidade. Isto quer dizer que eles são impedidos de cometer
iniquidade, pois mediante as opressões dos homens ímpios, da instigação de Satanás, e seus próprios
corações, eles de outra forma correriam risco de serem movidos para fazer o que seria uma afronta a
Deus, assim trazendo reprovação aos caminhos dEle, e até vindo a ferir as suas próprias almas.
Devemos notar que eles poderiam fazer tudo isto e ainda não deixarem de ser santos, crentes
verdadeiros e verdadeiramente homens bons, como de forma clara exemplificam os casos de Davi,
Pedro e outros. O justo pode estender as mãos para cometer a iniquidade e cair em grandes pecados,
mas nem por isso totalmente cairá ou então cairá ao ponto de se perder e perecer finalmente. A
apostasia total não é o que significa a frase não estender as suas mãos para cometer a iniquidade.
III. É mais estranho ainda que o cuidado Divino em impedir que os justos estendam as suas
mãos para cometer a iniquidade, deve ser usado contra um argumento contra a perseverança deles,
assim militando em favor de sua apostasia. Iremos prontamente concordar que aquilo que Deus tem
cuidado de evitar, e mesmo supondo que pudesse ser apostasia total, eventualmente aconteceria aos
justos se estes dependessem das suas próprias forças para impedir tal apostasia e fossem destituídos
da poderosa proteção de Deus. Na realidade, nem haveria a possibilidade de ser de outra forma!
Mas já que o cuidado e o poder de Deus são tão grandemente empregados para preservá-los, é
impossível que os justos caiam em apostasia total.
IV. É também um erro grave dizer: “não devemos tomar cuidado para evitar aquilo que Ele
(Deus) está se esforçando para guarda-los”. O comprometimento de Deus para preservar o Seu povo
é a verdadeira razão de Seus cuidados por ele, e isto é necessário para impedir que eles façam a
iniquidade que seria feita por eles de outra forma. Deus tem soberanamente resolvido, determinado e
colocado em efeito que aqueles que nEle confiam, não devem ser removidos, mas permanecerão para
sempre. Portanto, Ele estará ao redor deles para sempre e cuidará deles para que nada os fira ou
destrua. Ele os manterá pelo Seu poder por meio da fé para a salvação.
SEÇÃO 9

Salmos 145:9: “O Senhor é bom para todos, e as suas misericórdias são sobre todas as suas
obras”.

As doutrinas da eleição, reprovação e redenção particular são representadas como contrárias à


misericórdia geral e a bondade de Deus expressas nesta passagem. Tendo em vista estas doutrinas,
certo autor vem a perguntar: “Por que é dito que as Suas misericórdias são sobre todas as suas obras,
[33] [34]
se tais misericórdias são negadas às suas mais nobres criaturas?”. E é observado por outro
que não deve ser dito que as Suas misericórdias são sobre todas as Suas obras e sim: “as Suas
crueldades são sobre todas as Suas obras”. A estes eu respondo:
I. Que as referidas doutrinas não restringem as misericórdias de Deus de uma forma
providencial a todas as Suas criaturas, este sendo o sentido deste texto como será mostrado a seguir:
Não, nem mesmo os não-eleitos, ou aqueles que não têm participação na graça e favor especial de
Deus, e que não estejam eventualmente salvos são excluídos da misericórdia referenciada aqui.
[35]
Apesar disso, estes não devem ser considerados as mais nobres criaturas de Deus, pois
certamente, estes não são mais nobres que os eleitos de Deus, ou aqueles que são salvos eternamente
nem são mais nobres que os anjos que permaneceram e nunca deixaram o principado em que foram
criados. Admitindo também que estas doutrinas carregam em si ideias de crueldade e de falta de
compaixão em Deus para aqueles que são rejeitados por Ele, e excluídos da redenção por Cristo; não
deveria, no entanto, ser concluído a partir disto que as crueldades de Deus são presentes em todas as
Suas obras uma vez que, de acordo com a natureza destas doutrinas, Deus escolhe apenas algumas de
Suas criaturas para a vida eterna e redime-as pelo sangue de Cristo, e com certeza, elas serão
eternamente salvas.
II. As referidas doutrinas não expressam a crueldade de Deus para com a humanidade, nem são
incoerentes com a Sua bondade e misericórdia. Também não representam Deus como sendo menos
bom ou misericordioso como as doutrinas da eleição condicional e redenção universal fazem. Não,
as doutrinas bíblicas da eleição incondicional e da redenção particular mostram um Deus muito mais
misericordioso que o Deus das doutrinas da eleição e redenção condicional, pois revelam a salvação
de alguns. Estas outras doutrinas revelam a salvação de todos os homens de forma precária e incerta,
se não, impossível, pois a salvação está assim dependente da vontade mutável da criatura.
III. Estas palavras devem ser entendidas não como se referissem às misericórdias especiais, ou
aos benefícios salvíficos, concedidos por Deus a algumas das Suas criaturas, mas devem ser
entendidas como referentes à Sua bondade providencial que se estende a todas as Suas criaturas, até
mesmo às do mundo animal. Enfim, tanto os seres irracionais quanto racionais. Isto se vê nos versos
15 e 16 em comparação com o Salmo 147:8-9, que não têm nenhuma preocupação com a eleição e a
redenção. Tanto que, se estas palavras fossem assim entendidas como sendo relacionadas às bênçãos
da salvação espiritual e eterna, tal entendimento provaria ser muito mais do que os nossos oponentes
desejam. Afinal, tal interpretação exigiria que até tais bênçãos e todas as obras de Deus fossem
fornecidas e estendidas até para as criaturas irracionais, de todo tipo e espécie. Portanto,
IV. As referidas doutrinas não são repugnantes para estas expressões universais da bondade e da
misericórdia de Deus. Afinal, os não-eleitos, e os que não têm nenhum benefício salvífico por
intermédio da morte de Cristo, têm uma participação na bondade providencial e ternas misericórdias
de Deus que faz nascer o Seu sol sobre maus e bons e faz chover sobre os justos e sobre os injustos,
e é bom para com os ingratos e os maus. Muitas vezes, o pior dentre os homens tem a maior parte das
coisas boas deste mundo; os seus olhos estão inchados de gordura e eles têm mais do que o coração
poderia desejar. Suas misericórdias temporais são muitas vezes maiores do que as desfrutadas pelos
[36]
filhos amados de Deus; e, portanto, eles não têm nada em comum com os brutos que perecem.
Deus cuida mais deles que dos bois, ou das aves do céu, de maneira providencial; mesmo eles
desprezando as riquezas da Sua bondade, tolerância e longanimidade; não sabendo que a bondade de
Deus leva-os ao arrependimento; mas depois de sua dureza e coração impenitente, entesouram para si
mesmos ira para o dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus.
SEÇÃO 10

Provérbios 1:22-30: “Até quando, ó simples, amareis a simplicidade? E vós escarnecedores,


desejareis o escárnio? E vós insensatos, odiareis o conhecimento? Atentai para a minha
repreensão...”.

Estas são as palavras de Cristo, que por trás do nome de Sabedoria, é representado anunciando bem
alto e proferindo Sua voz na cidade, nas ruas, no lugar principal de comércio e na abertura dos
portões. Disto devemos entender que é representada a pregação pública da Palavra, seja pelo
próprio Cristo ou por Seus ministros. O que é afirmado a partir destas passagens em favor de
qualquer parte do esquema Arminiano, será considerado na seguinte ordem:
[37]
I. Dizem que a partir disto “é muito evidente que era principalmente o conselho e vontade
de Deus de que mesmo os que não se voltariam, não se arrependeriam e não aceitariam a salvação,
deveriam crer e chegar ao arrependimento para se tornarem participantes dela”. Em resposta a isso,
eu observo:
1. Que este escritor, junto aos Remonstrantes, supõe uma vontade de Deus tanto antecedente
quanto consequente, quando ele diz que era principalmente o conselho e a vontade de Deus, etc.
Como se o que antes era a vontade de Deus, agora não é a Sua vontade. Essa suposição é contrária à
imutabilidade da natureza e vontade Divina; que é de uma mente, e quem pode mudá-lO? E o que a
Sua alma quiser, isso Ele fará. O que foi uma vez a Sua vontade, continua sendo e sempre será. Ela
não pode ser anulada e transformada em ineficaz pela vontade do homem.
2. Que confunde aqui o conselho de Deus, como também faz em Lucas 7:30, pela vontade
intencional de Deus, no que se diz a respeito à fé, ao arrependimento e à salvação das pessoas,
quando indicado em ambos os lugares, a vontade de comando e a aprovação de Deus; e é expressivo
não do que Deus planejou e designou a respeito dessas pessoas, mas do que eram os seus deveres, os
quais seriam agradáveis a Ele e seriam aprovados por Ele. Pois, se fosse a Sua vontade intencional
determinar que estas pessoas que tinham rejeitado e desprezado Seu conselho, deveriam acreditar, se
arrepender e ser salvas, elas teriam crido, se arrependido e se tornado participantes da salvação.
Porque, quem tem resistido à Sua vontade?
II. É intimado a partir daí que o homem não se encontra sob uma incapacidade de crer, de
arrepender-se e voltar-se para Deus. Logo, pergunta-se: “Qual o propósito da sabedoria ao dizer a
eles, que são assim incapazes: Convertei-vos pela minha repreensão? Ou ela poderia do mesmo
modo, sem insultar a miséria da humanidade decaída, rir da calamidade que esta nunca poderia
[38]
prevenir?”. A isso, eu respondo:
1. Que a exortação, Atentai para a minha repreensão, não é para o arrependimento e conversão,
mas para uma atenção ao ministério externo da Palavra. A repreensão é igual ao conselho, nos versos
25 e 30, onde eles estão juntos, trocados um pelo outro e significam a palavra pregada que reprova o
pecado, e declara a justiça e o juízo. E não é atentai em minha repreensão, mas a esta repreensão, que
é exortada aqui; pois ythkytl wbmt não deve ser entendido como atentai pela e sim à ou para a minha
repreensão. Assim leem Arias Montano, Mercerus, Gejerus, Junius e Tremellius. E o significado é
como o Targum interpreta zwnptt ytwgskml, ou seja, vire o seu rosto para a minha repreensão, e não
as costas; ou como Aben Ezra diz: Convertei-vos, isto é, os seus ouvidos, para ouvir a minha
repreensão; e não afastem o ombro, nem fechem seus ouvidos. Agora é certo que o homem não se
encontra sob uma incapacidade de virar o seu rosto e fechar as suas orelhas para o ministério externo
da Palavra — tamanha a depravação das inclinações e vontade do homem, e tamanho o amor deste
pela tolice e zombaria é, e tamanho o seu ódio pelo conhecimento verdadeiro, útil e espiritual, que
ele preferiria ouvir uma fábula ociosa, ou as Escrituras comunicadas num formato burlesco, do que
um sermão sério e honesto que reprova, revela e informa a condição dele.
2. A calamidade destas pessoas não surgiu de uma deficiência para fazer o que eles foram
exortados a fazer, mas foi devido a uma negligência àquilo que eles poderiam ter feito, pois eles
poderiam ter frequentado a pregação da Palavra, observado as Ordenanças e voltado seus rostos e
ouvidos para a repreensão da Sabedoria. Porém, escolheram aborrecer o conhecimento e os meios
deste: desprezaram sermões, riram das Ordenanças e trataram com o maior desprezo cada
admoestação, conselho e repreensão. Assim, eles comeram o fruto de seus próprios caminhos e se
fartaram com os seus próprios conselhos, verso 31. Assim, houve uma retaliação justa feita a eles:
foram pagos com seu próprio dinheiro. Assim sendo, a Sabedoria foi justa com eles e não houve
nenhum insulto da miséria deles, assim rindo de sua ruína, e zombando quando o temor veio sobre
eles.
III. Esta passagem é produzida para argumentar em favor da graça suficiente dada aos homens
[39]
para se arrependerem, crerem e serem convertidos, e para provar que as chamadas, convites e
mensagens de Deus, por meio dos Seus profetas, são incentivos suficientes para adquirir reforma e
arrependimento. A que eu respondo:
1. Está claro que as pessoas aqui mencionadas, chamadas, exortadas e ameaçadas, não tinham
graça suficiente, uma vez que elas são representadas como tolas, escarnecedoras, amantes da loucura
e inimigas do conhecimento, tanto que desprezavam o conselho da Sabedoria e rejeitaram a Sua
repreensão.
2. Também não se deve concluir a partir do incentivo que a Sabedoria dá para converter-se à
sua repreensão; dizendo: Eis que eu derramarei sobre vós o meu Espírito, e estas palavras não
devem ser entendidas como dizendo a respeito ao Espírito Santo nem a dispensação de Seus dons
extraordinários, nem a graça salvífica, pois quando o Espírito é prometido em um desses sentidos, é
comunicado por um termo diferente do que o usado aqui. Ele é prometido em termos de ser
derramado sobre os filhos dos homens, não como descrito aqui (Veja Isaías 44:3, Ezequiel 39:29;
Joel 2:28). Observo que sempre quando o Dr. Whitby cita a passagem diante de nós,
[40]
inadvertidamente, ele transcreve-a como se lesse, derramarei o meu Espírito sobre vocês,
quando quer dizer a vocês. Por Espírito, devemos entender a mente da Sabedoria; assim, a palavra
hwr é usada em Provérbios 29:11. Por derramarei, entendemos que é uma revelação grande e
completa aos filhos dos homens, como é explicado na próxima cláusula: vos farei saber as minhas
palavras.
3. Esta revelação externa da mente de Cristo não deve ser chamada de graça suficiente. Significa
sim a graça transportadora e implantadora, quando não vem em palavra apenas, mas no Espírito
Santo e com poder; não um meio suficiente de graça para todos os homens, pois nem todos eles têm-
na, nem é assim para todos os que a têm. Para alguns, é o cheiro de morte para morte, e para os
outros o cheiro de vida para vida; nem em si mesma é um meio suficiente para qualquer um sem a
graça eficaz de Deus. Assim,
4. Apesar dos chamados, convites e mensagens de Deus aos homens, por meio de Seus
ministros, poderem ser, às vezes, (mas nem sempre) incentivos suficientes para adquirir uma reforma
e um arrependimento externo, como se vê entre o povo de Nínive, no entanto, estes não são
suficientes em si mesmos, pois sem uma graça poderosa, não são capazes de produzir uma verdadeira
fé em Cristo nem o arrependimento evangélico para com Deus, nem uma nova obediência espiritual
na vida e nas conversações.
IV. Estas palavras: Eu chamei, e vós recusastes; Eu estendi a minha mão e não houve quem desse
[41]
atenção, são usadas para provar que a graça de Deus pode ser resistida, e que não é necessária
uma força irresistível para a conversão de um pecador. Contudo,
1. Deve ser observado que há uma dupla chamada: uma que é interna, por intermédio das
operações poderosas do Espírito de Deus na alma, com ou sem a palavra, e não pode ser resistida a
ponto de cessar, nem ser anulada e transformada em ineficaz. Outra que é externa pelo ministério da
palavra: esta sim pode ser resistida, rejeitada e desprezada e transformada em inútil. A chamada em
questão é esta última chamada, e não a primeira, e, portanto, de forma alguma milita contra a graça
irresistível de Deus, que não pode ser frustrada na conversão. É neste sentido que devemos entender
alguns outros textos da Escritura, tais como: Provérbios 2:3, 4; Provérbios 11:3, 4; Isaías 65:2 e
Mateus 20:16.
[42]
2. Dizem que “se um poder tão irresistível fosse necessário para a conversão de um
pecador, nenhum homem poderia ser convertido mais cedo do que ele é porque antes que esta ação
irresistível se apossasse dele, ele não poderia ser convertido, e quando tal poder viesse sobre ele,
ele não poderia escolher, mas apenas ser convertido”. A isto eu respondo: Não vejo nenhuma coisa
absurda nesta consequência. Afinal, já que todos os nossos tempos estão nas mãos de Deus, há um
tempo para nascer e um tempo para morrer; assim também há o tempo da conversão, que é chamado
do tempo de amor (Ezequiel 16:8). Assim, como um homem não pode nascer mais cedo ou mais tarde
do que ele nasce, nem morrer mais cedo ou mais tarde do que ele morre. Assim, ele não pode ser
convertido mais cedo nem mais tarde do que ele o é. Contudo, em seguida,
[43]
3. Refutam, que se este for o caso, “nenhum homem poderia com razão ser culpado por ter
vivido tanto tempo em seu estado impenitente e não-convertido”. Ao que eu respondo que o viver em
um estado impenitente e não-convertido é viver no pecado, e, portanto, condenável. E embora o
homem, ao pecar tenha se envolvido em tal condição da qual ele não pode livrar-se, ele não é menos
culpado por viver assim.
[44]
4. Além disso, é argumentado que se o homem não pode ser convertido mais cedo do que
ele é, Deus deve injustificadamente fazer tal declaração: Até quando, ó simples, amareis a
simplicidade? Junta a esta, em outras passagens: Êxodo 16:28; Números 14:11; Jeremias 4:14 e
13:27. Em resposta a isso será o suficiente dizer que estas passagens não falam de conversão, mas de
obediência externa e reforma; as quais podem ser feitas mais cedo, embora a conversão não possa.
[45]
5. Dizem que se fosse assim, “não seria louvável nas pessoas a conversão, não estando em
seu poder ser de outra forma, uma vez que uma operação que não pode ser frustrada é aquilo que
nenhum homem pode impedir”. E isto é verdade, pois todo o louvor procedente de uma conversão é
devido à graça poderosa e eficaz de Deus, e nenhum devido ao poder e à vontade do homem.
[46]
6. Perguntam: “Se houver alguma operação física que não poderá ser frustrada por parte de
Deus, a qual é necessária para o novo nascimento, por que a falta deste novo nascimento e renovação
espiritual é imputada como a falta voluntária de consideração por parte dos homens, a sua rejeição
do conselho de Deus, e por não escolher o temor ao Senhor?” (Provérbios 1:24, 25, 29, 30). Eu
respondo que a necessidade do novo nascimento e renovação espiritual não é o assunto tratado nos
trechos indicados. Contudo, é o ignorar e o desprezo pelo ministério da Palavra que é indicado, e a
falta do novo nascimento e da renovação espiritual são indicadores disto. Muito menos é o rejeitar
do conselho de Deus e não escolher o temor ao Senhor imputado aos homens. Na realidade, é o
oposto. Se falamos a verdade, é necessário dizer que o rejeitar o conselho de Deus, e o não escolher
o temor ao Senhor são devidos e devem ser atribuídos à falta do novo nascimento e de uma
renovação espiritual. Além disso, como o novo nascimento e a regeneração espiritual são por causa
do Espírito e da graça de Deus, e, portanto, chamado de nascer da água e do Espírito, e de renovação
do Espírito Santo, assim, a razão da falta deste é porque o homem não tem aquela graça que está
apenas no poder de Deus, e somente Ele pode dar-lhe.
SEÇÃO 11

Isaías 1: 16-17: “Lavai-vos, purificai-vos, etc...”.

Acredita-se que estas palavras expressam o poder do homem e contradigam a necessidade da graça
[47]
infrustrável na conversão. O argumento deles é formado desta maneira: “Se a conversão é
efetuada apenas pela operação infrustrável de Deus, e o homem é puramente passivo nela, todos estes
mandamentos e exortações dirigidas a homens ímpios são vãos. A fraqueza de tal conclusão
aparecerá ao se considerar particularmente cada mandamento ou exortação.
1. “Lavai-vos, purificai-vos”. Estes dois devem ser considerados como um só, uma vez que eles
pretendem ser a mesma coisa, e supondo que no seu estado natural, os homens sejam imundos e
impuros; e de fato sua imundícia seja de tal sorte e modo, que eles não podem purificar-se a si
mesmos, quer por abluções cerimoniais ou serviços morais, ou ordenanças evangélicas; pois “quem
poderá dizer: “Purifiquei o meu coração, limpo estou do meu pecado?” (Provérbios 20:9). Esta é
uma a obra apenas de Deus, como é mostrado em Suas promessas de limpar o Seu povo dos seus
pecados; a partir do derramamento completo do sangue de Cristo e da eficácia deste, das influências
santificadoras do Espírito, e das orações a Deus feitas pelos santos, isto é, por quem já se converteu
(Salmos 51:2, 7, 10), que Ele criaria corações limpos neles, lavaria completamente as suas maldades
e os purificaria de seus pecados. Contudo, se caso é esse: A purificação do pecador é obra exclusiva
de Deus, com a total incapacidade do homem purificar-se do pecado por iniciativa e esforço próprio.
Alguém poderá argumentar: “Então, qual a finalidade das exortações citadas? Eu respondo:
Convencer os homens de sua imundícia e de que eles necessitam ser lavados e limpos do que são
naturalmente ignorantes, pois existem muitos que são “puros aos seus próprios olhos e ainda não
foram lavados de sua imundícia” (Provérbios 30:12); como também, para fazê-los cair em si da
própria incapacidade de se purificarem por iniciativa e esforço próprio, o que parece ser a
concepção particular das palavras aqui; uma vez que estes judeus achavam que tinham se lavado de
suas imoralidades por meio de seus serviços cerimoniais, os quais, no entanto são rejeitados por
Deus (Provérbios, versos 11-15); e apesar de todas as suas purificações legais, eles são convocados
para se lavarem e se purificarem. Além disso, tais exortações podem ser úteis para levar as pessoas
a se questionarem: “Quais os meios adequados de purificação?”, e assim buscarem a fonte do sangue
de Cristo, na qual apenas as almas que são lavadas são purificadas. Estas exortações, portanto, não
são em vão, embora a conversão seja realizada apenas pela operação infrustrável de Deus, e o
homem seja puramente passivo nela. Esta visão delas vai nos ajudar a entender corretamente algumas
passagens paralelas, tais como: Jeremias 4:14, 13:27, 2 Coríntios 7:1; Tiago 1:21 e 4:8, as quais
geralmente fazem companhia a estas.
2. Tirai de diante dos meus olhos a maldade das vossas ações. O mal deve ser eliminado da
nação quando quem o praticou for punido (Veja Deuteronômio 13:5 e Deuteronômio 17:7, 12) e
quando uma família, e pessoas em particular que não se sentem estimuladas a praticá-lo e se abstêm
dele (Jó 11:14 e 22:23). Mas deve ser observado, que a exortação aqui não é apenas para remover as
suas ações, mas o mal delas; e não de si mesmos, mas de diante dos olhos de Deus. Agora, tirar o
pecado neste sentido, é levá-lo para longe, removê-lo, como aquele que é perdoado, e os homens
absolvidos e quitados dele, mas isto é impraticável para os homens, e é um ato apenas de Deus,
como é evidente a partir de Suas promessas para remover os pecados de Seu povo; a partir do
sacrifício completo de Cristo que era remover pecado para sempre, e das orações dos santos, que
desejam que Deus tire toda a iniquidade, e que eles recebam o que é bom. Mas, então, por que é dada
tal exortação? Primeiro para convencer os homens que tirar fora o pecado de diante dos olhos da
justiça vingativa de Deus, é absolutamente necessário para a salvação; e então esses homens não
podem fazer isto por meio de todos os seus serviços cerimoniais e morais; porque é impossível que o
sangue dos touros e dos bodes tire os pecados (Hebreus 10:4); como também atender e dirigir suas
visões para o sacrifício de Cristo, o qual efetivamente o faz; e sem Ele, qual é a finalidade dessa
multidão de sacrifícios? E vãs são todas as oblações (versos 11 e 12).
3. Cessai de fazer o mal; o que considera tanto uma cessação das obras cerimoniais, as quais
sendo efetuadas com intenção maligna, eram uma abominação ao Senhor, versos 13, 14, ou uma
abstinência de imoralidades exteriores; tais como o derramamento de sangue inocente, a opressão o
órfão e a viúva, versos 15, 17. Agora, um homem natural pode ser capaz de se abster de tais
enormidades externas da vida, sem supor um poder nele para fazer o que é espiritualmente bom; ou
que a graça infrustrável de Deus é desnecessária na conversão.
4. Aprendei a fazer o bem, isto é, fazer atos de justiça, beneficência, liberalidade e caridade,
tais como são aqui mencionados: procurai o que é justo; ajudai o oprimido, fazei justiça ao órfão;
tratai da causa das viúvas: tudo o que é mais louvável e pode ser realizado por homens não-
convertidos, porém, essas atitudes praticadas por não-regenerados não podem, de modo algum,
militar contra a passividade do homem, ou a necessidade da graça eficaz de Deus na obra de
conversão.
SEÇÃO 12

Isaías 1:18-19: “Vinde então, e argui-me... Se quiserdes, e obedecerdes...”.

I. O verso décimo oitavo é considerado em estreita ligação com as palavras anteriores e as


seguintes, donde conclui-se: que cessar de fazer o mal e aprender a fazer bem, estar disposto e
[48]
obediente, são as qualificações que são exigidas das pessoas com este tipo de caráter para o
perdão misericordioso de Deus, e as condições para obtê-lo; as promessas de perdão, vida e
salvação. Contudo,
1. Que seja observado que o verso décimo oitavo pode ser lido num parêntese, sem qualquer
conexão com ou dependência tanto de versos anteriores ou posteriores, lançados aqui com o
propósito de confortar o povo de Deus, oprimidos sentindo o peso de seus pecados, enquanto Ele
está expressando simplesmente Seu ressentimento e indignação contra os pecados dos outros.
2. Admitindo-se que o verso descrito acima esteja em estreita ligação com o contexto, ele
contém uma declaração gratuita de perdão gracioso e misericordioso, sem quaisquer condições
anexas a ele, não está expresso de forma condicional; não é dito: se cessardes de fazer o mal, e
aprenderdes a fazer o bem, então ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se
tornarão brancos como a neve, nem é dito: se estais dispostos e obedientes, então ainda que os
vossos pecados sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã, mas vós comereis
o bem desta terra.
3. A promessa de perdão de Deus é gratuita, absoluta e incondicional. Ela é expressa desta
maneira: Eu serei misericordioso para com suas iniquidades, e de seus pecados e de suas
prevaricações não me lembrarei mais (Hebreus 8:12); e feita às pessoas culpadas tanto dos pecados
de omissão como de comissão, que não tinham comprado dele por dinheiro, cana aromática, nem
com a gordura dos seus sacrifícios me satisfizeste, mas me deste trabalho com os teus pecados, e
me cansaste com as tuas iniquidades (Isaías 43:24).
4. O perdão do pecado nunca é atribuído a qualquer condição realizada pelos homens, mas à
livre graça de Deus, que flui por meio do sangue de Cristo, o qual foi derramado para obtê-lo, e em
cujo dom Ele é exaltado para ser Príncipe e Salvador, para dar arrependimento a Israel e perdão dos
pecados (Isaías 43:24-25), e o qual é dado frequentemente às pessoas sem quaisquer condições
prévias qualificando-as para isto.
5. A obediência não é condição para o perdão, embora, uma declaração de perdão seja um
excelente motivo para induzir à obediência; a obediência evangélica flui da e é influenciada pelas
descobertas de perdão, mas não é a causa nem a condição dele.
II. Aqui é prometido para aqueles que são dispostos a servir a Deus e obedientes a Ele, que eles
comerão o bem desta terra; enquanto que os desobedientes, serão devorados à espada. Todavia, nem
por isso, deve-se concluir que está no poder do homem fazer o que é espiritualmente bom, muito
menos que a felicidade eterna depende ou deve ser obtida pela obediência do homem. Pois
1. A obediência voluntária aqui incentivada é para as coisas civis; tais como: ajudar o oprimido;
fazer justiça ao órfão; tratar da causa das viúvas (verso 17). Aceita-se que um homem natural é capaz
de executar tal obediência; e esta pode ser razoavelmente esperada de uma pessoa que professa a fé,
assim como foi com as pessoas que receberam exortações.
2. O que é prometido aqui não é de uma natureza espiritual ou eterna, mas de uma natureza
temporal; comereis o bem desta terra; ou seja, da terra de Canaã; a possessão pela qual eles
sustentaram pela sua obediência aquelas leis de um tipo moral, civil e cerimonial, que Deus lhes dera
como um corpo político; e que, enquanto eles observassem-nas, eles continuariam em pleno e
satisfatório gozo de todas as bênçãos da boa terra, que manava leite e mel, como lhes fora prometido
(Veja Deuteronômio 5:32, 33; 6:24, 25; 28:1-14; e Levítico 26:3-10). Mas quando eles se recusaram
e se rebelaram, as coisas mudaram para eles. E, portanto,
3. A punição que ameaçava sua desobediência e rebelião era temporal; sereis devorados à
espada; porque a boca do SENHOR o disse; como Ele tinha dito em Levítico 26:25, 33, e assim era
frequentemente com este povo quando eles violavam as leis de Deus, transgredindo Seus
mandamentos e se rebelavam contra Ele. Essas atitudes provocavam a ira de Deus, e tinham como
consequência, a permissão dada por Ele ao inimigo para atacá-los, feri-los e destruí-los a espada, ou
levá-los cativos.
SEÇÃO 13

Isaías 5:4: “Que mais se podia fazer à minha vinha, que eu lhe não tenha feito? Por que,
esperando eu...”.

Nenhuma outra passagem das Escrituras é mais frequente nas bocas e nos escritos dos patronos
[49]
do livre-arbítrio, e adversários da graça de Deus, do que essa usada por eles, para provar que
Deus dá graça suficiente para a conversão daqueles que não são convertidos, e que Ele não efetua
esse trabalho por meio de uma força irresistível, por uma operação infrustrável. De tal operação é
dito que se a vinha necessita produzir os frutos esperados, mas não os produz, deve-se supor que esta
não tinha graça suficiente para atender as expectativas do seu Senhor; e sendo assim, Ele deve
irracionalmente reclamar que ela produziu uvas bravas, e mais irracionalmente, esperar boas uvas, e
mais irracionalmente ainda puni-la, por não fazer aquilo que Ele não deu a graça suficiente para
[50]
executar. Ao que eu respondo:
1. Estas palavras são parte de uma parábola que representava o estado e a condição do povo
judeu. Agora, a Divindade parabólica não é argumentativa, nem as parábolas deveriam ser
aumentadas além do seu propósito e designo; a intenção desta é mostrar a ingratidão dos judeus, no
meio de muitos favores concedidos a eles, e a paciência e a longanimidade de Deus para com eles, e
reivindicar a Sua justiça na ruína deles como uma nação.
2. Vendo que existe uma aplicação particular desta parábola ao povo de Israel e Judá (verso 4),
a vinha do Senhor dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá suas plantas agradáveis; os
quais foram favorecidos com as bênçãos peculiares acima de todas as pessoas da face da terra, ela
não pode ser prova de qualquer bênção ou graça comum a toda a humanidade, ou noutras palavras, a
parábola não pode servir como prova que Deus dá a todos os homens a graça suficiente para a
conversão, apesar dela não ser eficaz por causa da perversidade deles.
3. Não parece, portanto, que Deus deu a todos os homens de Israel e Judá graça suficiente para a
conversão. A graça não é nacional, mas uma bênção pessoal; e é evidente que alguns entre eles não
tinham a graça que detêm, não tinham noção dos próprios pecados nem tinham o temor de Deus diante
de seus olhos; eles arrastaram a iniquidade a si mesmos com cordas de vaidade, e o pecado com
tirantes de carro; eles disseram: deixe-O apressar a Sua obra, para que a vejamos; e que Ele permita
a aproximação do conselho do Santo de Israel, para que O conheçamos; eles ao mal chamam bem, e
ao bem mal; fazem das trevas luz, e luz trevas (versos 18 e 20). Nem todos os homens em Israel e
Judá eram capazes de julgar se Deus tinha dado graça suficiente ou não a qualquer um ou a todos
entre eles.
4. Estas palavras, Que mais se poderia fazer à minha vinha, que eu lhe não tenha feito; não
podem ser entendidas como se Deus tivesse feito tudo o que era suficiente e necessário para a
conversão salvadora daqueles que são determinados por vinha; pois uma resposta à questão, tomada
neste sentido, pode facilmente ser feita desta maneira: que Deus poderia ter transformado esta
Videira ruim numa boa, o que era absolutamente necessário para sua produção de uvas boas; Ele
poderia pela graça interior ter efetuado a obra completa da conversão de salvação; para a qual, os
meios externos não eram suficientes; Ele poderia ter removido o véu do seu entendimento, ter tirado
o coração de pedra e lhes dado um coração de carne: todos esses são requisitos para a verdadeira
obra da conversão.
5. As semelhanças na parábola apenas consideram a cultura externa da vinha e podem apenas,
no máximo, esboçar os meios exteriores de reforma que estas pessoas gozaram, tais como: a atuação
dos profetas do Senhor entre elas; o ministério da Palavra; admoestações, exortações, repreensões,
etc., por isso, o que poderia se esperar deste povo que gozava de tais privilégios, era que ele se
comportasse bem em sua conversa moral; fizesse justiça comum um ao outro, tivesse buscado
julgamento, ajudado o oprimido, feito justiça ao órfão, apelado em prol da viúva: tudo o que eles
poderiam ter feito, sem supor que eles tinham a graça suficiente para a conversão da salvação,
mesmo assim, eles eram capazes de praticar as ações descritas, portanto não era irracional o Senhor
esperar deles uvas boas deste tipo, nem se queixar de suas uvas bravas, nem puni-los por elas. No
entanto, tudo que eles fizeram foi: serem culpados de pilhagem, isto é, roubo, opressão, luxúria,
embriaguez, orgulho, desprezo ao próprio Deus, pecados dos quais eles são acusados neste capítulo.
6. Se a parábola for estreitamente examinada, será encontrado que as coisas boas que Deus tinha
feito por Sua vinha, os homens de Israel e Judá, eram de natureza civil, e que Ele considerava sua
constituição civil e estabelecimento como um corpo político; tal como sua plantação num outeiro
fértil, na terra de Canaã, terra que manava leite e mel; cercando-a com boas e leis sãs, que os
distinguiam e mantinham-nos separados de outras nações, bem como com o Seu todo-poderoso poder
e providência; especialmente nas três festas anuais, quando todos os seus machos apareciam em
Jerusalém; juntando as pedras, ou seja, lançando os pagãos para fora e dirigindo os Cananeus diante
deles; plantando-a com a mais excelente vinha, como tendo caído no deserto quem murmurou e
rebelou-se contra Deus, construindo uma torre nela, expressando proteção Divina, e colocando um
lagar, o que pode significar abundância de bênçãos temporais, ou os profetas, que foram colocados
entre eles, para agitar e exortar o povo para uma séria consideração às leis de Deus.
7. A procura e espera de Deus que esta vinha deva produzir uvas, não devem ser interpretadas
literalmente, mas em sentido figurado, segundo o costume dos homens, pois, de tal governo bem
formado, de tal excelente constituição, de um povo gozando de tais vantagens, não poderia ser
razoável esperar ter aparecido frutos de justiça comum e com equidade? Não poderia ter sido
buscado o juízo, em vez de opressão, a justiça, e em vez de um clamor? Mas infelizmente, provaram
justamente o contrário!
8. A interrogação não deve ser interpretada como se faz por nossos tradutores, Que mais se
podia fazer à minha vinha? nem como o Dr. Whitby o lê, O que havia mais a fazer por minha vinha?
etc, mas ymrkl rws twselAhm deveria ser traduzido, O que deve ser feito aqui, por minha vinha? etc.,
e assim não designa nada do passado, mas alguma coisa por vir; e não deve ser entendido por coisas
boas concebidas antes, mas de punição a ser infligida a seguir, como evidentemente aparece da
resposta a isso (versos 5-6): Agora, pois, vos farei saber o que eu hei de fazer à minha vinha: tirarei
a sua sebe, para que sirva de pasto. Derrubarei a sua parede, para que seja pisada, e a tornarei em
deserto, etc., que foi cumprido na destruição da terra pelos Caldeus, um castigo que Deus nunca
infligiu em tal grau a essas pessoas antes; e assim as palavras têm muito do mesmo significado como
aquelas em Mateus 21:40-41: Quando, pois, vier o senhor da vinha, que fará àqueles lavradores?
Dizem-lhes eles: Dará afrontosa morte aos maus, e arrendará a vinha a outros lavradores, que a seu
tempo lhe deem os frutos; pois a questão deve ser da mesma natureza que a resposta; e se é assim, as
palavras são estão muito longe de provar que a graça suficiente para a conversão é dada a alguns que
não são convertidos, ou de contradizer a doutrina da graça inconfundível na conversão.
SEÇÃO 14

Isaías 30:15: “Porque assim diz o Senhor DEUS, o Santo de Israel: Voltando e descansando
sereis salvos; no sossego e na confiança estaria a vossa força, mas não quisestes”.

[51]
Estas palavras são citadas em favor do livre-arbítrio, como prova de que a impotência dos
homens para o que é bom não é devido a qualquer incapacidade pela Queda de Adão, mas a outras
causas adquiridas por eles e não as herdadas em sua natureza; tais como: disposições malignas;
manias, preconceitos, dureza de coração ou cegueira contraída deliberadamente; e portanto, a
irresistível e infrustrável graça não é necessária para a conversão de um pecador. Mas de que
préstimo elas são nesta causa será melhor entendido quando as seguintes coisas forem observadas:
1. Admitindo-se que as palavras consideram a salvação espiritual e eterna dos homens, então
elas são expressivas quanto à forma e a maneira que Deus salva aqueles que estão salvos. Em vos
converterdes e em repousardes, estaria a vossa salvação, isto é, pela fé e arrependimento. O
arrependimento pode ser entendido por retorno, a fé por repouso ou por retorno e descanso, ela pode
ainda ser concebida como retornando ao repouso, isto é, a Cristo, que é o único repouso para as
almas cansadas; no sossego e na confiança estaria a vossa força. O sossego pode ter a intenção de
paz de consciência e confiança na fé garantida, que fazem os homens Cristãos fortes, embora, sua
força não repouse nestas graças (a fé e o arrependimento), mas no Objeto delas. Ora, a fé e o
arrependimento são bênçãos do Pacto, são dons de Deus. Estas graças do Espírito caminham juntas
na doutrina da salvação e têm uma grande consideração nisto; embora, elas não sejam meritórias nem
sejam motivos para obtê-la, nem condições dela, mas ainda é desta forma que Deus traz Seu povo à
salvação; elas estabelecem e descrevem o caráter dos salvos e ambas são tão próximas da salvação,
que ninguém é salvo sem elas.
2. Se tomarmos este como sendo o sentido das palavras, então a última cláusula, mas não
quisestes, mostra, que o caminho de Deus para a salvação dos homens por meio do arrependimento e
da fé, por ir a Cristo para descanso, colocando toda confiança nEle e tendo toda a paz e conforto
derivados dEle, é a maneira desagradável aos homens não regenerados; que é uma prova da
depravação miserável, corrupção e perversidade da vontade deles. Daí nesta Escritura, vista sob
esta luz, com Jeremias 6:16, 17 e 13:11, 27 e 18:12 e 29: 9, Ezequiel 20:8, Oséias 5:4, fica um
registro, assim com muitas repreensões duradouras para a vontade do homem.
3. Não lute por iniciativa e esforço próprio, deixe essa depravação, corrupção, perversidade e
obstinação da vontade, proceder de qualquer causa, ou daquilo que nasce com os homens ou são
adquiridos por eles; tais como: disposições malignas; costumes, preconceitos, cegueira e dureza de
coração, pois o que mais pode conquistar estas disposições malignas, quebrar tais costumes, destruir
tais preconceitos, remover esta cegueira e dureza de coração além do poder do Todo-Poderoso junto
à Sua graça eficaz? Quão necessário, portanto, são as operações irresistíveis e inconfundíveis do
Espírito de Deus para a conversão de tais pecadores; quando se pode racionalmente esperar que eles
devessem estar dispostos a ser salvos por Yahwéh à Sua maneira, além de no dia do Seu poder sobre
a suas almas? É Ele mesmo que deve operar neles tanto o querer como o efetuar segundo a Sua boa
vontade, se for curada a perversidade das suas vontades. Mas,
4. Embora, sem dúvida, a depravação e a obstinação da vontade sejam aumentadas por
preconceitos, manias, etc., mas de onde se originou o seu primeiro golpe e recebeu a sua
incapacidade original, senão da Queda de Adão? De acordo com essa doutrina, a Escritura não nos
fornece a melhor descrição da origem moral do mal? O Apóstolo Paulo, em (Efésios 2:8), não
atribuiu o andar dos homens nas concupiscências da carne, fazendo sua vontade da carne e dos
pensamentos, ao seu ser por natureza de filhos da ira? Porque não escutará a voz dos encantadores,
do encantador sábio em encantamentos; a não ser porque eles alienam-se desde a madre e andam
errados desde que nasceram, falando mentiras (Salmos 58:8). E o que mais pode ser a nascente e a
fonte de tais práticas em iniquidade tão cedo na vida, senão a corrupção da natureza, devido à Queda
do homem, que eles trazem para o mundo com eles? Não lemos em (Isaías 48:4, 8) de alguns cuja
cerviz era um nervo de ferro e sua testa de bronze, cuja obstinação, desobediência e traição nos
negócios são explicados por serem chamados transgressores desde o ventre?
5. No final das contas, as palavras não devem ser entendidas como a salvação espiritual e eterna
dos homens, mas da segurança temporal e felicidade do povo de Israel, se tivessem agido de acordo
com o conselho dado a eles; voltando e descansando sereis salvos; isto é, se vos converterdes do
mau conselho que tomastes, o qual não é de mim, diz o Senhor (verso 1), e descansar tranquilamente
em sua própria terra, e não descer ao Egito, nem procurar a Faraó por ajuda (versos 2 e 3), sereis
salvos; vós estareis em segurança, nenhum inimigo se forçará sobre vós ou perturbar-vos-ão: em
sossego e na confiança estaria a vossa força; no estarem quietos estará a sua força (verso 7),
tranquilamente esperar em Jerusalém, em vossas próprias cidades, e confiar em Meu poder e
proteção, então não tende necessidade de temer qualquer inimigo; mas não quisestes, mas dizeis, mas
fugiremos sws l‫ צ‬sobre cavalos para o Egito ou sobre cavalos que tivemos deles, significando os
Caldeus; mil homens fugirão ao grito de um, e ao grito de cinco todos vós fugireis, até que sejais
deixados como o mastro no cume do monte, e como a bandeira no outeiro. Agora, a partir do
contexto, como isto parece, ser o sentido claro e genuíno das palavras, elas podem não servir para
provar o porquê são citadas e não devem ter lugar na controvérsia sobre o livre-arbítrio e a graça
eficaz.
SEÇÃO 15

Isaías 55:1: “Ó VÓS, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro,
vinde, comprai, e comei; sim, vinde, comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite”.

[52]
1. Estas palavras não são um chamado, convite, ou oferta de graça aos pecadores mortos,
uma vez que elas são ditas aqueles que estavam sedentos, isto é, que, num sentido espiritual, estavam
sedentos em busca do perdão do pecado, de uma justiça que os justificasse, da salvação por Cristo,
em busca de saber mais sobre Ele, conhecê-lo, ter comunhão com Ele, ser conforme a Sua imagem,
sentir prazer nEle e em Suas ordenanças, o que supõe que eles estejam espiritualmente vivos; pois os
tais que estão mortos no pecado, com sede não da graça de Deus, mas das concupiscências da carne;
eles saboreiam e se importam com as coisas da carne, e não com as coisas do Espírito; apenas os
bebês recém-nascidos, ou os aqueles que nasceram de novo, estão vivificados, desejam Cristo, Sua
graça, e o leite puro da Palavra para que deste modo, suas almas possam crescer. Além disso, as
pessoas chamadas estão representadas como não tendo dinheiro, o que, embora seja verdade a
respeito de pessoas não convertidas, que não têm nada para quitar suas dívidas ou comprar quaisquer
coisas para si mesmas; elas ainda imaginam ser ricas e cheias de bens e não tendo falta de nada; mas
considerando que as pessoas aqui encorajadas são as tais, que são pobres em todos os sentidos, tanto
financeiramente quanto de espírito e sensíveis para reconhecer a sua pobreza espiritual; tal
reconhecimento surge das influências vivificadoras do Espírito de Deus sobre suas almas; nem são
Isaías 1:18, 19, Lucas 13:3, João 3:16 e 7:24, qualquer oferta da graça, sendo que são representadas
com isto.
2. Elas não expressam qualquer poder ou habilidade em pessoas não-convertidas para vir a
Cristo, visto que elas não são direcionadas para tais, como foi observado antes; além disso, nem
Cristo nem a Sua graça são designados pelas águas, mas as Ordenanças; a alusão, isto é, referência,
[53]
como é considerado por alguns, a lugares marítimos ou portos marítimos, onde os navios de
mercadorias descarregam sua carga, e as pessoas recorrem para comprar coisas necessárias para
elas. Agora, onde deveriam ir as almas famintas e sedentas, estas que não têm dinheiro para serem
atendidas, a não ser nas Ordenanças, os meios de graça? Onde elas podem esperar se encontrarem
com Cristo, e de Sua plenitude receber, mesmo graça sobre graça. Nem,
3. Elas declararam qualquer autossuficiência das suas obras, indo atrás de criaturas para obter
qualquer coisa para si mesmas; estão, porém, enganadas, pois as coisas para serem compradas, vinho
e leite adequados para pessoas sedentas, significam tanto as doutrinas do Evangelho ou as bênçãos
da graça, ambas que são dadas livremente. Comprar aqui não deve ser tomado num sentido próprio,
pois nenhuma consideração de valor pode ser dada a Deus por Sua graça; mas num sentido
impróprio, o modo no qual estas coisas deveriam ser compradas, sendo sem preço; e, além disso, as
pessoas que são chamadas a comprar são ditas sem dinheiro. Esta explicação das palavras em várias
partes delas, irá nos ajudar a compreender o conselho e o convite feito em outros lugares, tais como
Apocalipse 3:18 e 22:17.
SEÇÃO 16

Isaías 55:6: “Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto”.

Esta passagem da Escritura não é prova de um dia de graça, no qual, se os homens melhorarem,
eles poderão gozar do favor de Deus; mas se eles deixarem esse dia escapar se for uma vez passado,
não existirá mais oportunidade de encontrar-se com Ele.
1. Elas são uma exortação à adoração pública, representada por buscai ao SENHOR e invocai-
O, o tempo para o qual, com os judeus, foi no sétimo dia da semana, e conosco, os Cristãos, no
primeiro; estes sendo tempos nos quais se podem achar, os judeus foram instruídos no passado, e nós
agora, para atender as ordenanças públicas, na expectativa de um encontro com Deus; uma vez que
Ele tem prometido ao Seu povo estar no meio dele quando se reunirem.
2. As palavras podem ser assim interpretadas, como aquelas que podem ser entendidas tanto no
que se refere ao lugar quanto ao tempo; Buscai ao SENHOR, waxmhb, enquanto se pode achar,
invocai-O, wtwyhb brq, enquanto está perto; ou seja, no lugar onde Ele deve ser encontrado, e no
lugar onde Ele está perto. Agora, no entanto, Deus está em toda parte, e em todos os lugares, mas na
dispensação do Antigo Testamento, existia um lugar específico e santo para o nomeado culto público,
onde Deus concedia Sua presença, e onde era o dever e o interesse de Seu povo assistir. No Novo
Testamento, estamos sob a dispensação do Evangelho, podendo adorá-lO em todos os lugares, não
existe lugar santo, contudo onde os santos concordam em reunir-se, ali Deus tem prometido estar no
meio deles; e, portanto, ali Ele deve ser buscado e invocado.
3. As palavras podem ter uma consideração particular a Cristo estando no mundo na terra da
Judéia, visto que Ele é mencionado sob o nome de Davi (Isaías 55:3), e é prometido ser dado por
testemunha aos povos, como líder e governador dos povos (verso 4), e é profetizado dEle, que
deveria existir uma grande afluência de gentios a Ele (verso 5), que aqui são encorajados, ou melhor
os judeus, a buscá-lO e invocá-lO, enquanto Ele estava em sua terra, perto deles; quando eles tinham
a vantagem da Sua presença pessoal, Seu ministério e Seus milagres..
SEÇÃO 17

Isaías 55:7: “Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se
converta ao Senhor, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em
perdoar”.

[54]
I. Estas palavras são representadas como uma promessa de perdão, sob a condição de
abandonar as práticas pecaminosas e pensamentos e voltar-se para o SENHOR, as quais, se não
estiverem no poder do homem executá-las, deveriam ser prometidas sobre uma condição impossível,
ou seja, de fato, prometer nada. Ao que pode ser respondido:
1. Que o abandonar do pecado, e o voltar-se para o SENHOR na primeira conversão, ou voltar
a Ele depois de se afastar do caminho, o que talvez possa ser aqui entendido, não são devidos ao
poder do homem, mas à graça eficaz de Deus. Ninguém pode abandonar verdadeiramente o pecado,
ou sinceramente voltar para o SENHOR, senão aqueles que são influenciados pelo Espírito de Deus;
então diz Efraim: Converte-me e converter-me-ei (Jeremias 31:18).
2. Que a promessa de perdão é livre, absoluta e incondicional, não dependendo de qualquer
condição para ser realizada pelos homens ao abandonarem pensamentos e práticas pecaminosas e
retornar ao SENHOR, não é proposto aqui como condições para obter misericórdia e receber o
perdão; mas as declarações de perdão, graça e misericórdia feitas aqui, são feitas com o propósito
de encorajar as almas sensíveis da maldade dos seus caminhos, e da injustiça dos seus pensamentos,
para retornar ao SENHOR, que é um Deus de graça e misericórdia.
3. Embora a fé e o arrependimento não sejam condições para o perdão, nem o homem seja capaz
de realizá-los por conta própria; ainda como o perdão é prometido para os que se arrependem, creem
e voltam-se para o SENHOR, para que todos os tais, a quem Deus faz a promessa de perdão, Ele dá
as graças da fé e do arrependimento; daí a Sua promessa não é vã, vazia e ilusória.
[55]
II. É dito, que “se a conversão é realizada apenas pela operação inconfundível de Deus, e o
homem é puramente passivo nela, são vãs as promessas de perdão, tais como esta; pois nenhuma
promessa pode ser o Seu próprio meio para fazer um homem morto viver, ou prevalecer sobre um
homem para Ele agir, mas este deve ser puramente passivo”. Ao que eu respondo:
1. Estas palavras não contêm promessa para homens mortos, mas uma declaração da graça de
perdão, a graça aos pecadores sensíveis ao seu estado; que eram maus e injustos em suas próprias
apreensões, sendo representados como sedentos (verso 1), buscando o caminho da vida e salvação;
embora eles tenham tomado o caminho errado e tenham seus pensamentos erroneamente virados para
gastar o dinheiro naquilo que não é pão, e o produto de seu trabalho naquilo que não pode satisfazer
(verso 2), e, portanto, manteve-se oprimido com um senso de pecado; daí, eles são aqui encorajados
a deixar o seu próprio caminho de salvação, e todos os pensamentos de sua própria justiça, e
somente buscar o SENHOR por misericórdia e perdão; já que os Seus pensamentos não eram como
os pensamentos deles, nem os Seus caminhos como os caminhos deles.
2. Admitindo que seja uma promessa de perdão feita a homens mortos; pode-se pensar que é um
meio adequado e suficiente na mão de Deus, sob as influências poderosas de seu Espírito e graça,
fazer os homens mortos viverem; já que o Evangelho é o poder de Deus para a salvação, o ministério
da vida, sim, o cheiro de vida para vida (Romanos 1:16; 2 Coríntios 2:16; 3:6); e especialmente
quando é observado o que é dito nos versos 10 e 11. Porque, assim como desce a chuva e a neve dos
céus, e para lá não tornam, mas regam a terra, e a fazem produzir, e brotar, e dar semente ao
semeador, e pão ao que come, assim será a Minha palavra, que sair da minha boca, agora neste
presente momento anunciada (versos 7-9); ela não voltará pra Mim vazia, antes fará o que Me apraz,
e prosperará naquilo para que Eu a enviei.
3. Embora o homem seja passivo na regeneração, ele ainda está ativo em abandonar o pecado e
voltar-se para o SENHOR. As promessas de perdão podem, por meio da graça de Deus, prevalecer
sobre o tal para agir nestes casos, que tem sido passivo na obra da regeneração; pois a regeneração
antecede estes; o abandono ao pecado, o voltar-se para o SENHOR, seguem, e vem da graça
regeneradora. Nenhum homem pode verdadeiramente fazê-los, até que ele seja regenerado pelo
Espírito de Deus. Segue-se, então, que os homens podem ser persuadidos, pelas promessas de
perdão, a agirem, os quais têm sido passivos na regeneração.
III. É dito, que os tais que têm o modo Calvinista de pensar, dizem que Deus promete perdão e
[56]
vida para os não-eleitos, sob condição de sua fé e arrependimento: e é questionado: “Como um
Deus em verdade e sinceridade pode ser dito prometer-lhes perdão e salvação, seriamente e com boa
sinceridade que são, por Seu próprio ato de preterição, infalível e inconfundivelmente excluídos
dEle?”. Eu respondo:
1. Quem são os homens que dizem isso, eu não sei, e deve-se deixá-los defender suas próprias
posições, os quais são apenas responsáveis pelas consequências delas; de minha parte, eu nego
completamente que exista qualquer promessa de nenhum perdão feita para os não-eleitos, nem sob
qualquer condição. A promessa de perdão é uma promessa do Pacto da Graça a qual não é feita a
ninguém, os não-eleitos não têm parte nesse Pacto, somente os eleitos aos quais, a bênção do perdão
pertence, a promessa de perdão é feita, por quem Cristo morreu, cujo sangue foi derramado para a
remissão do pecado: e embora, a declaração de perdão do Evangelho seja feita em termos
indefinidos, sobre todo aquele que crê; a razão é, porque todos aqueles que são participantes no
Pacto da Graça e por quem Cristo morreu, Deus, em Seu próprio tempo, dá fé, arrependimento e o
perdão dos pecados.
2. Esta passagem da Escritura sob consideração, não é uma promessa de perdão para os não-
eleitos; pois as palavras maligno e ímpio não são peculiares a eles; os eleitos de Deus estão assim
em seu estado natural e em seu próprio sentido e apreensão quando o Espírito de Deus os convence.
Além disso, as pessoas mencionadas parecem no contexto ser os tais para quem os pensamentos de
Deus têm sido desde a eternidade (vv. 8-9), e que deveriam participar das bênçãos de alegria e paz
para sempre (vv. 12-13).
SEÇÃO 18

Jeremias 4:4: “Circuncidai-vos ao Senhor, e tirai os prepúcios do vosso coração, ó homens de


Judá e habitantes de Jerusalém, para que o meu furor não venha a sair como fogo, e arda de
modo que não haja quem o apague, por causa da malícia das vossas obras”.

Estas palavras associadas àquelas em Deuteronômio 10:16, que expressam a mesma coisa, com
quase as mesmas palavras, são pensadas para refutar a passividade do homem e a operação
infrustrável de Deus na conversão; ou que essa é obra de Deus somente. Dizem que se isso é
[57]
verdade, todas as exortações e os mandamentos como estes são vãos. Sobre isso, deixem que os
seguintes aspectos sejam observados:
1. É questionável se estas expressões figuradas devem ser entendidas por conversão interna, ou
a primeira obra dela na alma; já que elas são direcionadas para as relapsas Israel e Judá e devem
esboçar um arrependimento e reforma nacional delas como povo professo de Deus, que poderiam ser
salvos com um livramento temporal de julgamentos temporais; com os quais eles são ameaçados
durante todo este capítulo.
2. Admitindo-se que elas devem ser entendidas como obras da conversão salvífica, interna e
[58]
espiritual; já que é um judeu o que o é interiormente, e circuncisão a que é de coração, no
espírito, e não na letra, cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus (Romanos 2:29): este
sentido da palavra carrega as coisas expressas por aqueles que refutam a passividade do homem na
conversão ainda mais longe do poder do homem, e para as mãos de Deus apenas; vendo que isto é a
circuncisão não feita por mão no despojo da carne: a circuncisão de Cristo (Colossenses 2:11), isto
é, sem o poder, ajuda e assistência dos homens, mas de Cristo. A circuncisão da carne era diferente
daquela do espírito, no entanto, há uma única coisa em comum, algo que ela expressa
adequadamente: a passividade dos homens ao recebê-la; pois, como a criança era inteiramente
passiva e não ativa na circuncisão, assim é o homem na regeneração e primeira conversão. Não se
deve tomar qualquer nota ou insistir que a palavra wlmh é uma forma passiva e interpretada pela
Septuaginta, peoitmhqhte e pela Vulgata Latina como circumcidimini, sede circuncidados.
3. Deus mesmo promete fazer, noutro lugar, os mandamentos e exortações que Ele requer aqui,
dizendo: O SENHOR teu Deus circuncidará o teu coração, e o coração de tua descendência, para
amares o SENHOR teu Deus com todo o coração, e com toda a tua alma, para que vivas
(Deuteronômio 30:6); o que ao mesmo tempo revela a incapacidade homem, e a necessidade da graça
de Deus; pois se o homem pudesse fazer isso por iniciativa e esforço próprio, Deus não precisaria
fazer por ele: sendo assim, podemos dizer como Agostinho: “Domine, da quod jubes, et jube quod
vis”; “SENHOR, dá o que Tu ordenaste, e ordena o que Tu queres”.
4. Tais mandamentos e exortações não são em vão, supondo a passividade do homem nesta obra
de conversão, e a operação infrustrável de Deus nela; vendo que tais exortações podem ser úteis para
convencer os homens da corrupção de sua natureza; da sua própria incapacidade de transformá-la,
necessitando, portanto, do poder e da graça de Deus para efetuar uma circuncisão espiritual, sem a
qual não pode haver salvação.
SEÇÃO 19

Ezequiel 18:24: “Mas, desviando-se o justo da sua justiça, e cometendo a iniquidade, fazendo
conforme todas as abominações que faz o ímpio, porventura viverá? De todas as justiças que
tiver feito não se fará memória; na sua transgressão com que transgrediu, e no seu pecado com
que pecou, neles morrerá”.

[59]
Esta Escritura está posta na frente daquelas que são ditas “expressamente afirmar a possibilidade que os verdadeiros crentes e
penitentes, homens verdadeiramente justos e retos, podem cair de sua justiça e morrer em sua iniquidade”. Contudo,

1. O homem, aqui mencionado, não é verdadeiramente um justo e reto; visto que ele é
denominado justo por sua própria justiça na qual ele confiava e da qual ele é suposto desviar-se. Que
seja notado que ninguém é verdadeiramente, e num sentido evangélico, justo por sua própria justiça;
apenas os que são feitos assim pela obediência de Cristo; e estes nunca devem, nem podem desviar-
se desta justiça, que se trata da justiça de Deus. Ela é eterna e é descoberta de fé em fé; eles nem
cometem o pecado, isto é, fazem do pecado um negócio, vivem no curso dele; menos ainda fazem
conforme todas as abominações que faz o ímpio; nem pode ser dito deles que de todas as justiças que
tiverem feito não se fará memória, desde que elas duram para sempre; e eles, por conta disto, estarão
em memória eterna. Eles também nunca podem morrer no sentido Arminiano da frase aqui usada,
pois eles estão justificados de todos os seus pecados pela justiça de Cristo e, portanto, não devem
morrer neles, eles vivem pela fé nisto e nunca morrerão a segunda morte; existe mais virtude na
justiça de Cristo para justificá-los, do que existe em todos os seus pecados para condená-los; a sua
justificação e glorificação estão inseparavelmente ligadas entre si. Além disso, Deus está
comprometido com eles por Seu tão imenso Amor, Cuidado e Poder exercidos para com eles, que é
impossível que eles devam perecer eternamente.
O homem aqui concebido é aquele que parece exteriormente justo aos homens, que se imagina
ser assim; confiando na sua justiça (Ezequiel 33:13); conclui que o que ele sofreu foi devido ao
pecado de seu pai, e não a qualquer iniquidade própria, e, por isso, queixa-se de injustiça em Deus.
A loucura desse homem, a vaidosa opinião de si mesmo e noções injustas da providência de Deus
estão completa e justamente expostas neste capítulo. A justiça da qual ele é denominado justo, é a sua
própria, e não a de outro, e a que ele mesmo tem feito, e não a que Cristo fez por ele: uma mera
justiça moral, composta de um tipo de santidade negativa, e umas poucas externas práticas morais,
como aparece nos versos 5-9; um homem pode se desviar de tal justiça, cometer iniquidade, pecar e
morrer; mas então isto não é prova alguma ou exemplo da apostasia dos santos, os verdadeiros
crentes e penitentes, homens verdadeiramente justos e retos.
[60]
De fato é dito “que o homem justo do qual se fala aqui, é verdadeiramente um justo, pois ele
é aquele que não peca, não comete iniquidade e não se desvia da sua justiça; aquele que anda nos
estatutos de Deus e guarda os Seus juízos, sim, que anda nos estatutos da vida, e não vive praticando
iniquidade; e, portanto, seguramente é aquele que é justo de verdade interiormente, e não apenas
exteriormente na profissão”. Ao qual eu respondo: “Os textos referidos a Ezequiel 33:12-13 e 8:9,
17, 19, não constam nenhuma destas coisas sobre o homem justo; mas pelo contrário, supondo que ele
pode pecar, cometer injustiça e desviar-se de sua justiça; de fato, não existe um homem justo, aquele
que realmente é assim, que vive e não peca; nem qualquer homem é justo aos olhos de Deus em
virtude de sua santidade interior ou de seu caminhar exterior; além disso, o mesmo autor contradiz a
[61]
si mesmo na próxima página, quando ele diz: “O homem justo, que se desvia de sua justiça, é
aquele que comete a iniquidade e faz conforme todas as abominações que faz o ímpio; e, portanto,
deve ser aquele a quem pertence à porção do ímpio, que é a morte eterna”. É contestado ainda do Dr.
[62]
Prideaux, que “se ele (o homem justo) apenas se desviar da sua falsa e hipócrita justiça, ele não
deveria antes viver do que morrer; na medida em que ele tiraria o presumido lobo, para colocar o
presumido cordeiro?”. O que será plenamente respondido ao observar a horrível gafe e o miserável
engano que um teólogo fez, e o outro que se deixou levar por ele; pois o desvio não é de uma justiça
falsificada e hipócrita para uma real; mas de uma mera externa justiça moral, que teve nela alguma
aparência e grau de obediência, para um vida aberta ao pecado, vergonhoso e abominável, que está
tão longe de tirar o lobo e colocar o cordeiro, mas é apenas o verdadeiro inverso disto, é vestir a
pele do cordeiro ou das ovelhas, nas quais ele apareceu justo, para mostrar o lobo que ele realmente
é; e, consequentemente o tal deveria antes morrer do que viver.
2. A morte ameaçada ao homem justo que se transforma de sua justiça, não é uma morte eterna,
ou a morte da alma e do corpo no Inferno; desde que esta morte estava então sobre ele, o que ele se
queixava, imaginando que viera sobre ele por causa dos pecados de seus pais; e, além disso, eles
poderiam ter sido recuperados dela pelo arrependimento e reforma. Desejaria eu, de qualquer
maneira, a morte do ímpio? diz o Senhor Deus; não desejo antes que se converta dos seus caminhos e
viva? Porque não tenho prazer na morte do que morre, convertei-vos, pois, e vivei (Ezequiel 18:13);
tudo disso não pode ser dito de uma morte eterna; morrer em sua iniquidade, é o mesmo que morrer
por sua iniquidade, como ela é interpretada no verso 26, e esboça alguma calamidade temporal
severa ou aflição; que é, muitas vezes nas Escrituras, chamada de morte (Êxodo 10:17, 2 Coríntios
1:10; 11:23); tal como o cativeiro, no qual os judeus então estavam, do qual eles estavam queixando-
se que era devido aos seus pecados, e do qual eles eram capazes de ser recuperados. “Dizem que
[63]
esta resposta, contradiz as expressas palavras do profeta cerca de vinte vezes”, embora, nenhuma
única instância dela é dada. Por isso,
3. Mesmo admitindo que o homem verdadeiramente justo e reto é aqui mencionado, não existe
nenhuma prova de que haja uma possibilidade dele desviar-se de sua justiça e pecado ao ponto de
estar finalmente perdido e morrer; mas apenas, ao ponto de ser aflito ou de sofrer numa calamidade
geral. Além disso, as palavras são anunciadas de forma condicional, devendo ser lidas assim: Se
desviar-se o justo da sua justiça. Agora suppositio nil ponet in esse, uma suposição não faz nada ser,
[64]
não é prova ou exemplo da questão de fato. Mas isto se diz ser uma fuga por um refúgio para um
mero engano; as palavras no original não sendo se, mas beshub,en h an hmera epistreyh, no dia em
que ele desviar-se da sua justiça”. Ao que eu respondo: “A palavra bwvb beshub pode ser
[65]
interpretada, se ele se converter, como é pela Vulgata Latina e Pagnine aqui e por nossos
tradutores em Ezequiel 33:19, de acordo com as formas de expressão em outros lugares; como Salmo
46:2: Portanto não temeremos xra rymtb, e ainda que, ou ‘se’, a terra se mude, syrh jwmbwe, ainda
que, ou ‘se’, os montes se transportem para o meio dos mares. Nem a versão Grega da Septuaginta lê
as palavras, en h an hmera epistreyh, no dia que ele afastar-se, mas, voltando, ou quando ele voltar.
Adicione a isto, que uma forma condicional não é apenas representada por se, mas por quando. E
enquanto pode ser dito, como é, que tal forma de palavras supõe alguma coisa em possibilidade,
embora nada sendo, como faz na conversão de um homem ímpio de sua maldade; contrário a isto,
será admitido que existe uma possibilidade da queda de um homem verdadeiramente justo, se ele foi
entregue a si mesmo e não mantido pelo poder e graça de Deus; e, portanto, tal suposição como esta
pode ser concebida e usada como um meio de mostrar ao justo sua fraqueza, torná-lo cauteloso no
seu andar e levá-lo inteiramente a confiar e depender da ajuda e assistência Superior, e esta ser
assim, consequentemente, o meio de sua perseverança final.
SEÇÃO 20

Ezequiel 18:30: “Portanto, eu vos julgarei, cada um conforme os seus caminhos, ó casa de
Israel, diz o Senhor DEUS. Tornai-vos, e convertei-vos de todas as vossas transgressões, e a
iniquidade não vos servirá de tropeço”.

Estas exortações são representadas como contrárias às doutrinas da eleição absoluta, da


[66]
reprovação e da graça infrustrável na conversão. O argumento deles é sustentado desta maneira:
que Deus faria com que todos os homens aos quais o Evangelho tinha sido concedido chegassem ao
arrependimento, e que Ele não tinha preparado esta graça salvadora apenas para alguns poucos
Cristãos, deixando o restante sob a necessidade de perecer pela carência dela; pois para todas essas
[67]
pessoas, Ele promete que elas não pereceriam”. E em outro lugar, é dito, que “tais homens
iludidos com palavras vãs, que ensinam que um Deus de verdade, de sinceridade e de grande
bondade deveria dizer para as pessoas com esses sintomas de preocupação apaixonada, Arrependei-
vos e convertei-vos de todas as vossas transgressões, e a iniquidade não vos servirá de tropeço;
quando Ele próprio desde a eternidade tinha-os nomeado para a ruína e propôs reter deles aquela
graça, sem a qual era impossível que eles se arrependessem como deveriam ou fossem convertidos”;
[68]
e que, “se a conversão for operada apenas pela operação infrustrável de Deus, e que o homem é
puramente passivo nela, são vãs todas tais exortações”. A todas eu respondo:
1. Que estas exortações não são feitas a todos os homens, mas somente à casa de Israel; e,
portanto, não contradizem a preparação da graça salvífica para alguns poucos apenas, como eram os
Israelitas; nem nós afirmamos que Deus tem preparado a graça salvífica apenas para alguns poucos
Cristãos, mas para todos os Cristãos; isto é, todos os que são de Cristo, e nenhum deles é deixado
sob a necessidade de perecer por carência dela, uma vez que ela é dada a eles, e eles têm-na como
seu caráter expõe: e enquanto é dito para todas essas pessoas as quais Deus tem prometido que não
perecerão, isso é prontamente garantido, e a propósito, é um reconhecimento, da doutrina da
perseverança final dos santos; a qual é grandemente contestada noutro lugar. Além disso, na medida
em que eles eram a casa de Israel, e cada um deles, que são aqui mencionados, são as pessoas
erradas para carregar o peso da contradição dos decretos da eleição e da reprovação; pois quem vai
dizer que cada um deles foram condenados à morte eterna ou nomeados à ruína eterna, que foram
escolhidos para ser um povo peculiar? Deveria ser mostrado, se qualquer coisa é feita com esse
propósito, se Deus tem Se expressado, nalgum lugar ou outro, em tal linguagem a todos os homens, e
particularmente aos que eventualmente não serão salvos, como é aqui usado ao Seu povo professo.
2. O arrependimento, aqui exortado, não deve ser entendido como evangélico, que é um
arrependimento para a vida e para a salvação; mas como o de uma nação, por iniquidades nacionais
e para prevenir julgamentos nacionais, com os quais eles aqui são ameaçados; visto que é toda a casa
de Israel, a nação inteira e cada integrante dela que são exortados ao arrependimento. Agora, apesar
de não poder existir qualquer arrependimento evangélico verdadeiro sem a graça infrustrável de
Deus; pode existir um arrependimento nacional externo sem ela; como no caso dos ninivitas. Além
disso, se foi um arrependimento evangélico aqui concebido, uma exortação sendo feita ao povo de
Deus, como foi feita a casa de Israel, ele poderia ser somente para o exercício deste arrependimento,
a própria graça tendo sido operada neles pelo poder de Deus: ou se admitirmos que as palavras
sejam ditas para os tais que não tinham a graça em si; tal exortação pode não ser em vão, supondo a
necessidade de uma operação infrustrável, visto que poderia ser aproveitada para convencer os tais
desta necessidade de arrependimento e da sua carência dela; e assim, Deus pode trazer Seus eleitos
ao arrependimento, de acordo com os Seus eternos propósitos e padrões. Além disso, tornando de
transgressão não pretende ser aquela primeira obra interna de conversão salvífica, a qual é operada
pela poderosa e eficaz graça de Deus e na qual os homens são puramente passivos; mas uma reforma
externa, ou uma produção de frutos dignos de arrependimento, na qual as pessoas podem ser e são
ativas; já que não é razoável supor que a casa de Israel, e cada um deles deveria estar num estado de
um não-convertido. Além disso, alguns dão o sentido a estas palavras assim: não vos convertei, mas
transformai os outros, cada um a seu próximo, ou seu irmão, assim como R. Sol. Jarí, R. David
Kimchi, R. Sol. Ben Melec, e alguns intérpretes Cristãos.
3. A ruína da qual a casa de Israel estava em perigo pela iniquidade, da qual eles poderiam
escapar pelo arrependimento e reforma, não era eterna, mas temporal; a iniquidade não vos servirá
de ruína, lwvkml uma pedra de tropeço para ti, um empecilho, uma obstrução, encontrada no caminho
de seu gozo das bênçãos temporais; portanto, lançai para longe de vós todas as suas transgressões.
Este sentido das palavras pode ser confirmado a partir das vantagens propostas para os que se
afastassem de seus pecados e transgressões (vv. 27-28), como eles deveriam manter as suas almas
vivas; e não com uma salvação eterna, pois nenhum homem pode salvar a sua alma viva nesse
sentido; mas com um sentido temporal, como fizeram os Ninivitas, por seu arrependimento e reforma:
também é dito que ele certamente viverá, não uma vida espiritual e eterna; pois a ele é dito (Ezequiel
33:19) que viva praticando juízo e justiça; e que, nenhum homem pode viver espiritual e eternamente
agindo assim, mas essa forma de viver foi requerida para uma vida civil, no gozo confortável das
misericórdias exteriores. Além do mais é acrescentado que ele não morrerá, que deve ser entendido
não de uma morte eterna, mas de uma temporal, ou de uma morte por aflições, como foi observado na
seção anterior.
SEÇÃO 21

Ezequiel 18:31-32: “Lançai de vós todas as vossas transgressões com que transgredistes, e
fazei-vos um coração novo e um espírito novo; pois, por que razão morreríeis, ó casa de Israel?
Porque não tenho prazer na morte do que morre, diz o Senhor DEUS; convertei-vos, pois, e
vivei”.

[69]
Esta passagem da Escritura é frequentemente usada pelos patronos do livre-arbítrio, e pelos
opositores da graça de Deus; na qual eles imaginam que o poder do homem na conversão é
fortemente afirmado, e a doutrina da reprovação suficientemente refutada; mas se elas são ou não,
seremos mais capazes de julgar quando as seguintes coisas forem consideradas:

1. Que a exortação para lançar deles as transgressões se refere aos próprios pecados cometidos
por eles e mostra que eles não eram apenas inúteis, mas perniciosos, e assim, deveriam ser
repugnados e detestados, como tais coisas que são próprias para serem lançadas fora; ou então,
receber o castigo devido por seus pecados, que eles podiam ter removido e lançado deles por seu
arrependimento e reforma. Esse é o sentido que Kimchi dá as palavras mencionadas, ou, àquelas
coisas, particularmente seus ídolos, pelos quais então transgrediam. Agora seja observado que esta
frase, lançar as transgressões, não é utilizada em mais nenhum outro lugar, é peculiar a Ezequiel, e
assim pode ser melhor interpretada por Ezequiel 20:7-8: “Então lhes disse: Cada um lance de si as
abominações dos seus olhos, e não vos contamineis com os ídolos do Egito; eu sou o Senhor vosso
Deus...”. Agora, estes ídolos que eram as abominações dos seus olhos, foram a causa de suas
transgressões, ou que pelos quais eles transgrediram, os quais fabricaram as vossas mãos para
pecardes (Isaías 31:7). E o que eles tinham poder ou eram capazes de lançar deles; e de modo algum,
milita contra a necessidade de uma operação infrustrável na conversão.
2. A outra exortação, para fazer-vos um novo coração e um novo espírito, admitindo que
conceba um coração e um espírito renovados e regenerados, nos quais são novos princípios de luz,
vida e amor, graça e santidade, não provará que está no poder de um homem não-regenerado, criar
em si mesmo tal coração e espírito; já que dos mandamentos de Deus, para o poder do homem, non
valet consequentia, não é um argumento: Deus ordena que os homens guardem toda a lei
perfeitamente; isto não quer dizer que eles tenham o poder de fazê-lo; Seus preceitos mostram o que
o homem deve fazer, não o que ele pode fazer. Uma exortação como esta, para fazer um coração
novo, pode ser concebida para convencer os homens de sua falta de tal coração, e da importância
dele, que sem ele não há salvação; e assim ser o meio, por intermédio da graça eficaz de Deus, dos
Seus eleitos gozarem esta bênção; pois o que Ele aqui exorta, Ele tem absolutamente prometido na
nova aliança (Ezequiel 36:26) “e dar-vos-ei um novo coração, e porei dentro de vós um espírito
novo”. Embora deva ser observado que estas palavras não foram pronunciadas para pessoas não
convertidas, mas à casa de Israel, a cada um deles; dos quais não pode ser pensado que,
especialmente todos eles, tenham estado naquele momento num estado não regenerado; e portanto,
não deve ser entendido como a primeira obra de renovação, mas de sucessivas renovações, que
deveriam aparecer em sua conversação externa; e assim as palavras têm o mesmo sentido que as do
apóstolo Paulo aos crentes Efésios: (Efésios 4:23, 24) “E vos renoveis no espírito da vossa mente; e
vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade”. Além
disso, por um novo coração, e um novo espírito, podem ser entendidas como o Targum de Jonathan
Ben Uziel as interpreta, aljd hwrw lytd bl, um coração temente, e um espírito de temor, isto é, um
coração e um espírito para temer, servir e adorar ao Senhor; e não aos ídolos. E é observável que
onde quer que um novo coração e espírito sejam mencionados, eles são opostos aos ídolos e ao
serviço deles; de modo que nada é acrescentado à exortação. Além disto, que eles prestem uma
obediência reverencial amável ao Deus vivo e não aos ídolos mudos. Além disso, o que aqui é
chamado de um novo coração, em Ezequiel 11:9, é chamado de um coração, isto é, um só coração,
em oposição a um dobre ou a um hipócrita, e assim pode conceber sinceridade e retidão em seu
arrependimento nacional e reforma externa. Eles são aqui pressionados a isso.
3. A indagação, “por que razão morreríeis?” não é feita a todos os homens; nem pode ser
provado que ela foi feita a quaisquer que não foram finalmente salvos, mas à casa de Israel, que
foram chamados os filhos e povo de Deus; e portanto, não podem refutar qualquer ato de preterição
passando por cima dos outros, nem ser um impedimento da verdade e da sinceridade de Deus. Além
disso, a morte a qual a indagação citada se refere, não é um conceito eterno, mas um conceito
temporal ou que diz respeito aos assuntos temporais do povo de Israel, e condição civil, e as
circunstâncias de vida (Veja Ezequiel 33:24-2). Então,
4. A afirmação, não tenho prazer na morte do ímpio, que às vezes é introduzida, com um
juramento, “Vivo eu, diz o Senhor DEUS, que não tenho prazer na morte do ímpio” (Ezequiel 33:11),
não milita nem um pouco contra um ato de preterição, isto é, desprezo; pelo qual Deus deixa,
simplesmente, qualquer um perecer por suas iniquidades; ou o decreto de reprovação, pelo qual
qualquer um, por conta de suas transgressões, é nomeado ou pré-ordenado para a condenação e
[70]
morte; e portanto, são vãos e impertinentes todos os raciocínios , fundados sobre essa passagem
da Escritura, usados para refutar essas coisas, pois a morte por aflições está aqui intencionada, como
já foi observado, pela qual a casa de Israel estava gemendo e reclamando; embora tal morte tenha
sido única e exclusivamente culpa deles mesmos. Ela não foi graças a Deus e não deu a Ele nenhum
prazer; o que deve ser entendido, não simples e absolutamente, e a respeito a todas as pessoas aflitas
por Ele; pois Ele Se gloria em fazer juízo e justiça, bem como em mostrar misericórdia, e Ele ri da
perdição de homens ímpios, e zomba quando o medo deles vem; (Jeremias 9:24; Provérbios 1:26),
mas deve ser entendido comparativamente; como quando Ele diz em Oséias 6:6, “Eu quero
misericórdia e não o sacrifício”; e aqui, não tenho prazer na morte do que morre: em suas aflições,
angústias, calamidades, cativeiro e coisas semelhantes; mas ao contrário, que ele se converta dos
seus caminhos, se arrependa, e melhor viva em sua própria terra; o que mostra a misericórdia e
compaixão de Deus, (Lamentações 3:33) que não aflige com prazer, nem entristece de bom grado aos
filhos dos homens. Pelo que Ele renova a Sua exortação, convertei-vos e vivei. A soma de tudo isso
é, Vós não tendes razão alguma para dizer, como no verso 2: “Os pais comeram uvas verdes, e os
dentes dos filhos se embotaram”, ou como no verso 25, “O caminho do Senhor não é direito”, visto
que não é pelos pecados de seus pais, mas pelos seus próprios pecados, que as presentes
calamidades das quais vós estais se queixando, encontram-se sobre vós; de Minha parte, Eu não
tenho qualquer prazer na vossa morte, no vosso cativeiro; seria mais agradável a Mim, se vós vos
afastásseis dos vossos maus caminhos, para o Senhor vosso Deus e vos comportásseis de acordo
com as leis que Eu lhes dei para andar e assim viver em vossa própria terra, na possessão pacífica
de todos os vossos bens e propriedades”. Mas o que tem isto a ver com os assuntos da vida ou morte
eternas?
SEÇÃO 22

Ezequiel 24:13: “Na imundícia está a infâmia, porquanto te purifiquei, e não permaneceste
pura; nunca mais serás purificada da tua imundícia, enquanto eu não fizer descansar sobre ti a
minha indignação”.

Estas palavras são representadas tão irreconciliáveis com os decretos da eleição e reprovação
de Deus como são incompatíveis com a doutrina da redenção particular, mas são em favorecimento
[71]
da graça suficiente dada a todos os homens. Contudo,
1. As palavras não são ditas a todos os homens, nem elas declaram o que Deus tem feito para
eles, ou o que Ele teria feito por todos os homens; mas são direcionadas apenas para Jerusalém ou a
casa de Israel, cuja destruição está aqui representada sob a parábola de uma panela fervente. Elas
não revelam qualquer concepção de Deus ou planos que Ele tenha feito para a purificação, isto é,
para eliminar os pecados de toda a humanidade, e, portanto, de modo algum, militam contra os
decretos da eleição e reprovação.
2. Esta purificação de Jerusalém, e dos seus habitantes deve ser entendida como a de
purificações cerimoniais ou como a de uma reforma externa de vida e costumes, e não como a de uma
limpeza interna deles, nem muito menos de todos os homens, do pecado pelo sangue de Jesus. Assim,
de modo algum, ela é incompatível com a doutrina da redenção particular.

3. Estas palavras não expressam o que Deus tinha feito, e o que não foi feito, que é uma
contradição em termos; nem o que Ele tinha feito suficiente para purifica-los de seus pecados, mas
foi impedido pela obstinação deles, ou que Ele teria purgado-lhes; e que eles não teriam seus
pecados purificados, pois nosso Deus está nos céus; fez tudo o que Lhe agradou (Salmos 115:3), mas
o que Ele ordenou que deveria ser feito, e não foi feito; pois assim as palavras devem ser
interpretadas como elas o são por Pagnine, Jussi ut mundares to, et non mundasti to, Eu te ordenei
que deverias ter-te purgado a ti mesmo, e tu não te purgaste a ti mesmo, o que, concorda com a
observação de Junius sobre o texto. Verbo praecepi to mundari et toties et tamdiu per prophetas
imperavi, Eu tenho na Minha palavra, e pelos Meus profetas, tantas vezes e por tanto tempo ordenado
a ti que seja purgado. O sentido delas é que Deus tinha ordenado tanto abluções cerimoniais quanto
purificações, ou uma reforma moral externa, e eles não tinham obedecido; e por isso, Ele ameaça
deixá-los em sua imundícia e derramar toda a Sua ira sobre eles; e por isso, não são provas de Deus
dando graça suficiente ou os meios de graça suficientes para todos os homens. O texto em Jeremias
51:9: “Queríamos curar babilônia, porém ela não sarou...”, é muito impropriamente unido a este, uma
vez que não são as palavras de Deus expressando qualquer tipo de intenção ou meios suficientes de
[72]
cura, os quais foram obstruídos, como um erro, eles são representados por um escritor erudito;
mas dos israelitas, ou outros, que estavam preocupados com o bem-estar temporal da Babilônia,
embora em vão e sem nenhum propósito.
SEÇÃO 23

Mateus 5:13: “Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para
nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens”.

[73]
Esta é uma das passagens onde é dito : “Claramente se supõe que os santos ou verdadeiros
crentes, ou homens uma vez verdadeiramente bons, podem deixar de ser assim. Com certeza, o bom
sal deve significar os homens de bem; nem pode este sal perder o seu sabor e não servir para nada a
não ser que deixe de ser o bom sal”. A isso, eu respondo:
1. O texto não fala de homens como santos ou crentes verdadeiros, comparáveis ao sal, por
causa da verdade e do sabor da graça de Deus neles, mas como ministros e pregadores do
Evangelho, que, por suas saborosas doutrinas e conversações são o sal da terra, os meios de
purificação e preservação do mundo contra a corrupção. Agora alguns homens podem ser bons
pregadores, e assim bom sal. Contudo, isso não significa que eles sejam bons homens ou crentes
verdadeiros; portanto, eles não são provas nem exemplos da apostasia final e total dos santos
verdadeiros, já que qualquer um deles pode, a qualquer momento, cair das verdades saborosas da
palavra, pois por não serem verdadeiros, não conseguem pregar a verdade por muito tempo e manter
as aparências. Deve-se dizer, que aqueles que são aqui chamados de sal da terra, eram os discípulos
de Cristo, e, portanto, bons homens, assim como bons pregadores; pode ser respondido que existiam
muitos que foram chamados de discípulos de Cristo, além de apóstolos; e existiam alguns que, no
decorrer do tempo, afastaram-se dEle (João 6:66) e já não andavam com Ele. Contudo, admitindo
que os doze apóstolos fossem especialmente designados, existiu um Judas entre eles, a quem é
possível Cristo ter tido um olhar especial; pois Ele sabia, desde o princípio, quem eram os que não
criam, e quem era o que havia de entregar (João 6:64, 70) que um daqueles a quem Ele havia
escolhido era um diabo e perderia sua utilidade e posição; que seria um desgraçado inútil; e, no
final, seria rejeitado e desprezado pelos homens. Admitindo ainda, que ao contrário de Judas, os
verdadeiros e sinceros apóstolos de Cristo são aqui intencionados; contudo, o perder o seu sabor é
apenas uma suposição, a qual nil ponit in esse, nada coloca à existência, não prova o assunto de fato,
e pode ser apenas concebido como uma advertência para eles, para prestarem atenção em si mesmos,
às suas doutrinas, e ao ministério, a que eles são aconselhados em muitos outros lugares (Veja
Mateus 16:6, 12 e Mateus 24:4, 5; Lucas 21:34-36); embora não existisse a possibilidade de sua
final e total apostasia.
2. A verdadeira graça é uma semente incorruptível, por isso, nem ela nem o seu sabor podem ser
perdidos. O sabor aqui suposto não é o da verdadeira graça, mas de qualquer dom, que qualifica
homens para serem bons e úteis pregadores, tais dons podem deixar de existir ou pode significar as
saborosas doutrinas do Evangelho as quais os homens podem deixar, ou pode significar suas
aparentes saborosas conversas que eles podem pôr de lado; ou que é o aparente sabor, zelo e afeto,
com o que eles têm pregado e que podem ser deixados; ou ainda, sua completa utilidade no
ministério, a qual eles podem perder; pois todas estas coisas os homens podem ter e perder, os que
nunca real e verdadeiramente provaram do sabor do Senhor que é cheio de graça; e, em geral, quando
tais homens perdem sua utilidade, eles nunca mais são recuperados; eles se tornam e permanecem
inúteis, são desprezados e pisados pelos homens: mas estes casos não são provas de que os santos ou
crentes verdadeiros, ou homens uma vez verdadeiramente bons, podem deixar de ser o que são.

A semelhança com a aquilo que o que nosso Senhor diz: “Ninguém deita remendo de pano novo
em roupa velha, porque semelhante remendo rompe a roupa, e faz-se maior a rotura. Nem se deita
vinho novo em odres velhos; aliás rompem-se os odres, e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se;
mas deita-se vinho novo em odres novos, e assim ambos se conservam” (Mateus 9:16-17), não
[74]
significa isso, como não significava a antiga metáfora do sal; mas é o propósito dessa mostrar
que os “discípulos mais novos de Cristo não devem, antes da hora, ser colocados sobre encargos
rigorosos, para que não desanimem e desistam dEle”. Isto mostra de fato as suas fraquezas e perigo
de queda, e ainda, ao mesmo tempo, o cuidado e a preocupação de Cristo na preservação deles; e
portanto, não deveria ser manipulado num argumento contra a perseverança final deles, embora a
simples similitude pareça, a partir do contexto, ser esta, que seria igualmente absurdo para os
discípulos estarem em jejum e tristes, enquanto Cristo, o Noivo, estava com eles, como seria colocar
pano novo em vestido velho, ou vinho novo em odres velhos.

Nem a denúncia contra eles: “Mas, qualquer que escandalizar um destes pequeninos, que creem
em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma mó de azenha, e se submergisse na
profundeza do mar” (Mateus 18:6), claramente supõe que os santos, ou crentes verdadeiros podem
cessar de ser assim; pois a palavra skandalizein, aqui utilizada, não significa ser ofensivo a eles, de
modo a ser a causa de sua queda da fé para sua ruína eterna, mas se opõe a recebe-los no verso 5 e é
explicada por desprezá-los, no verso 10, e no máximo, pode significar somente a imposição de uma
ofensa, escândalo, ou pedra de tropeço no caminho deles; que podia ser de má consequência,
considerando sua fraqueza e a maldade dos homens, se não fossem o cuidado, o poder e a graça de
Deus, que estava preocupada com eles: e já que os anjos, que são os seus guardiões da terra, sempre
veem a face de meu Pai que está nos céus (verso 10); e visto que o Filho do homem, que também é o
Filho de Deus, veio salvar o que se tinha perdido (verso 11) e especialmente uma vez que não é a
vontade de nosso Pai, que está nos céus, que um destes pequeninos se perca (verso 14). Não é falso,
mas verdadeiro, que esses que verdadeiramente creem em Cristo, pertencem ao número daqueles a
quem Deus não queria que perecesse, não podem ser tão ofendidos a ponto de caírem da fé para a
própria ruína, nem fazem discursos comoventes, e pesares terríveis e punições denunciadas, implicar
o contrário; visto que eles são usados para mostrar o cuidado de Deus sobre o Seu povo, e a
tendência natural para arruinar que tais ofensas podiam ter, se não foram impedidos pelo Seu poder;
e consequentemente suas tentativas dessa forma não são menos pecaminosas e criminosas. Quanto a
Romanos 14:20; 1 Coríntios 8:9, 11; Salmos 125:3; que são instados para o mesmo fim; veja nas
Seções 8, 36, e 37.
SEÇÃO 24

Mateus 11:20-23: “Ai de ti, Corazim! ai de ti, Betsaida! porque, se em Tiro e em Sidom fossem
feitos os prodígios que em vós se fizeram, há muito que se teriam arrependido, com saco e com
cinza... E tu, Cafarnaum, que te ergues até ao céu, serás abatida até ao inferno; porque, se em
Sodoma tivessem sido feitos os prodígios que em ti se operaram, teria ela permanecido até
hoje”.

[75]
Frequentemente insistem em usar estas palavras como prova da capacidade do homem de se
arrepender, crer e converter-se, a si mesmo; e que a graça infrustrável e irresistível não é necessária
a essas coisas; e que a fé, o arrependimento e a conversão, não são produzidos por ela. Contudo,
1. Aqui não existe qualquer menção feita à fé e conversão, apenas de um arrependimento que
não é espiritual e evangélico, mas externo e legal; tal como foi realizado em saco e cinza, e em
virtude dos quais Sodoma poderia ter permanecido até hoje. Apesar do arrependimento não ser a
salvação eterna, muitas vezes, ele é atendido com as bênçãos temporais, e é o meio de evitar
julgamentos temporais, como no caso dos Ninivitas, e pode estar onde a verdadeira graça de Deus
não está, e com a falta desta. Cristo poderia, como Ele justamente faz, censurar as cidades onde Suas
[76]
grandes obras foram feitas, e os Judeus em Mateus 12:41, e 21:31, 42, por terem sido
abençoados e não agirem conforme a vontade Deus, embora eles não tivessem poder para se
arrepender num sentido espiritual e evangélico, foi-lhes exigido que cressem independente dos
milagres de Cristo (Veja Lucas 16:31).
[77]
2. Estas palavras devem ser entendidas, como Grotius observa, num sentido popular, e
expressam o que era provável, de acordo com um julgamento humano das coisas; e o significado é
que, se os habitantes de Tiro, Sidom e Sodoma, tivessem tido as vantagens do ministério de Cristo e
de terem visto os Seus milagres, como os habitantes de Corazim, Betsaida e Cafarnaum tinham,
parece muito provável, ou alguém estaria pronto a concluir, que eles teriam se arrependido de seus
crimes hediondos, que trouxeram os juízos de Deus sobre eles de maneira notável; como estes
deveriam ter feito, se arrependido, em particular do seu pecado de rejeitar o Messias apesar de todas
as evidências de milagres, e convicções de suas próprias consciências, e assim provavelmente
teriam cometido o pecado contra do Espírito Santo. E, portanto,
3. As palavras são um exagero hiperbólico de sua maldade, como aqueles em Ezequiel 3:5-7,
mostrando que eles eram piores do que os Tíros e os Sidônios, que viveram vidas mais libertinas e
dissolutas, do que os habitantes de Sodoma, de forma tão infame por seus desejos pervertidos; sim,
mais do que quaisquer outros, se não existissem piores que estes sob os céus; e, portanto, seriam
punidos com o pior dos castigos (versos 22 e 24). Em grande parte, da mesma forma, nós devemos
entender Mateus 12:14 e 21:31-32, onde Cristo repreende os Judeus com a falta até mesmo de um
arrependimento externo pelo seu pecado de rejeitá-lO, embora eles tivessem tal prova completa e
demonstração de Ele ser o Messias; e, portanto eram piores do que os homens de Nínive, que se
arrependeram externamente com a pregação de Jonas; sim, piores, apesar de toda a pretensa
santidade e justiça deles, do que os publicanos e as meretrizes, que entraram no Reino de Deus,
participaram no ministério exterior da palavra, acreditaram em João, o Batista, e deram pelo menos
uma aceitação ao que ele disse a respeito do Messias como verdadeiro.

4. Estas palavras não podem ser uma prova que Deus está dando graça suficiente de forma igual
a todos os homens, o que é eficaz em alguns para a conversão, e em outros não; visto que os homens
de Tiro, Sidom e Sodoma, não tiveram as mesmas vantagens e meios, ou a mesma graça, como os
habitantes destas cidades tinham, se as grandes obras feitas entre eles devem ser assim chamadas.
Além disso, onde as pessoas têm os mesmos meios externos de graça e as mesmas vantagens
exteriores, e alguém se arrepende verdadeiramente, crê pela fé em Jesus Cristo, e é convertido, e as
outras não, isto não é devido à vontade do homem, mas à graça soberana de Deus, como aparece nos
versos 25 e 26: “Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da
terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai,
porque assim te aprouve”.
SEÇÃO 25

Mateus 23:37: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são
enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos
debaixo das asas, e tu não quiseste!”.

Nada é mais comum na boca e nos escritos dos Arminianos do que esta passagem da Escritura,
de modo que eles estão prontos para produzi-la em todas as ocasiões contra as doutrinas da eleição e
da reprovação, da redenção particular e do poder irresistível de Deus na conversão, e em favor da
[78]
graça suficiente, do livre-arbítrio e do poder do homem embora essa passagem tenha muito
pouca razão para provar tudo isso, como aparecerá quando as seguintes coisas forem observadas:
1. Que não devemos interpretar a palavra “Jerusalém” como a cidade nem todos os habitantes;
mas os regentes e governadores dela, tanto civis e eclesiásticos, especialmente o grande Sinédrio,
que foi mantido nela, aos quais pertencem melhor as características descritivas de matar os profetas
e apedrejar os tais que eram enviados a eles por Deus, e que são manifestamente distintos dos seus
filhos, isto é, do povo, pois os líderes mencionado por serem os cabeças do povo, tanto num sentido
civil ou eclesiástico, eram chamados de pais (Atos 7:2 e 22:1), e o povo de alunos e discípulos,
filhos (19:44, Mateus 12:27, Isaías 8:16, 18). Além disso, o discurso de nosso Senhor, ao longo de
todo o contexto, é dirigido aos escribas e fariseus, os guias eclesiásticos do povo, e para quem os
governadores civis davam uma atenção especial. Por isso, é manifesto que eles não são as mesmas
pessoas a quem Cristo quis ajuntar, e não quiseram. Não é dito, quantas vezes Eu quis ajuntar-te, e tu
[79]
não o quiseste, como o Dr. Whitby mais de uma vez, inadvertidamente cita o texto; nem, Ele quis
[80]
ajuntar Jerusalém, e ela não quis, como o mesmo autor transcreve-o noutro lugar; nem, Ele quis
[81]
ajuntá-los, teus filhos, e eles não quiseram, de forma que ela também é por vezes expressada por
ele; mas Eu teria de ter ajuntado os teus filhos, e vós nãos quisestes, cuja observação por si só é
suficiente para destruir o argumento fundado sobre esta passagem em favor do livre-arbítrio.
2. Que o ajuntamento aqui mencionado não concebe um ajuntamento dos judeus a Cristo
internamente, pelo Espírito e pela graça de Deus; mas um ajuntamento deles a Ele internamente, pelo
e sob o ministério da Palavra, para ouvi-lO pregar; de modo que eles pudessem ser trazidos a uma
convicção de uma aceitação favorável dEle como o Messias; qual, embora pudesse ter ficado aquém
da fé salvífica nEle, teria sido suficiente para tê-los preservado da ruína temporal, que ameaçou sua
cidade e o templo no verso seguinte, Eis que a vossa casa vai ficar-vos deserta, cuja preservação é
representada pela galinha ajuntando os seus pintinhos debaixo das asas, e mostra que o texto não tem
qualquer relação com a controvérsia sobre a forma da operação de Deus pela graça na conversão;
pois todos aqueles que Cristo quis ajuntar neste sentido, foram ajuntados, apesar de toda a oposição
feita pelos regentes do povo.
3. Que a vontade de Cristo em ajuntar estas pessoas não deve ser entendida sobre a Sua Divina,
ou seja, Sua vontade como Deus; porquanto, quem tem resistido à Sua vontade? Esta vontade não
pode ser impedida nem quebrantada; Ele fez tudo o que Lhe agradou, mas de Sua vontade humana, ou
de Sua vontade como homem; que embora não seja contrária à vontade Divina, mas subordinada a
ela, contudo nem sempre é a mesma com ela, nem sempre cumprida. Ele fala aqui como um homem e
ministro da circuncisão, e expressa uma afeição humana pelos habitantes de Jerusalém, e um desejo
humano ou vontade pelo bem temporal deles, momentos de afeição e vontade humana que podem ser
observadas em Marcos 10:21, Lucas 19:41 e 22:42. Além disso, esta vontade de juntar os judeus a
Ele estava nEle, e é expressa por Ele em várias vezes determinadas e por intervalos, e, portanto, Ele
diz, Quantas vezes quis eu ajuntar, etc. Considerando que a vontade Divina é uma vontade contínua
invariável e imutável, é sempre a mesma, e nunca começa ou cessa de existir e para tal expressão
como esta é inaplicável; e portanto, esta passagem da Escritura não contradiz a vontade absoluta e
soberana de Deus nos atos distintivos dela, respeitando a eleição e a reprovação.

4. Que as pessoas que Cristo queria ajuntar não são representadas como não se estivessem
dispostas a ser ajuntadas, mas eram os seus regentes que não estavam dispostos a deixar Cristo
ajuntá-las. A oposição e resistência à vontade de Cristo não foram feitas pelo povo, mas por seus
governantes. As pessoas comuns pareciam inclinadas a participar do ministério de Cristo, como
aparece com as grandes multidões que, em diferentes épocas e lugares, O seguiram; mas os
principais sacerdotes e regentes fizeram todo o possível para impedir que elas fossem apascentadas
por Ele, que cressem nEle como o Messias, por denegrir Seu caráter, milagres e doutrinas, e pela
passagem de um ato que todo aquele que O confessasse, deveria ser expulso da sinagoga; de modo
que o significado óbvio do texto é o mesmo do verso 13, onde Nosso Senhor diz: “Mas ai de vós,
escribas e fariseus, hipócritas! pois que fechais aos homens o reino dos céus; e nem vós entrais nem
deixais entrar aos que estão entrando”; e consequentemente não é prova de homens resistindo às
operações do Espírito e à graça de Deus, mas de obstruções e desencorajamentos postos no caminho,
de modo que não davam atenção ao ministério externo da Palavra.
5. Que a fim de pôr de lado e derrubar as doutrinas da eleição, da reprovação e da redenção
particular, deve ser provado que Cristo, como Deus, ajuntou, não apenas Jerusalém e seus habitantes,
mas toda a humanidade, mesmo os não eventualmente salvos, e de uma maneira espiritual de
salvação e forma para Si mesmo, sobre o que não existe a menor insinuação neste texto para que
estabeleçam a resistibilidade, pela vontade perversa do homem, à graça de Deus, tornando esta
ineficaz. Também deve ser provado que Cristo teria convertido essas pessoas com a salvação, mas
mesmo assim, elas não seriam convertidas; e que Ele concedeu a elas a mesma graça que concedeu a
outras que são convertidas; enquanto o resumo desta passagem encontra-se nestas poucas palavras,
que Cristo, como Homem, por causa de uma relação compassiva com o povo judeu, a quem Ele foi
enviado, quis ajuntá-los sob Seu ministério, e tê-los instruído no conhecimento de Si mesmo como o
Messias; o que, se eles tivessem recebido apenas superficialmente, teriam garantido segurança como
os pintinhos sob as asas da galinha contra os julgamentos iminentes que depois caíram sobre eles;
mas os seus governantes não quiseram, e não o povo de modo geral, isto é, não deixaram que este
fosse recolhido e ajuntado dessa maneira, e fizerem todo o possível para dificultar, sem dar qualquer
crédito a Ele como o Messias; se tivesse sido dito e eles não quiseram, teria sido apenas o mais
triste exemplo da perversidade da vontade do homem, que frequentemente se opõe tanto ao seu bem
temporal quanto ao espiritual.
SEÇÃO 26

Mateus 25:14-30: A parábola dos talentos.

I. Não se deve concluir a partir desta parábola que a graça suficiente é dada a todos os homens e
que por meio dela, todos eles possam ser salvos se quiserem. Pois,
1. Todos os homens não são destinados a ser os servos a quem os talentos foram dados; deste
modo, estes não são todos servos de Cristo, nem são chamados assim; muito menos com uma ênfase
os Seus servos. Nada mais pode ser incluído nessa característica aqui além daquilo que pertence ao
Reino dos Céus, o evangelho visível do estado de igreja, o assunto desta parábola, que não consiste
de toda a humanidade. É verdade também que mesmo todos os eleitos de Deus não são intencionados;
pois embora eles sejam os próprios servos de Cristo, a quem o Pai Lhe deu, e Ele os comprou pelo
Seu sangue e os tornou submissos a Ele pela Sua graça, contudo todos os que são abrangidos por esta
característica aqui, não eram os tais; pois um deles é representado como um servo mau e negligente,
e seria com justiça lançado nas trevas exteriores; mas os servos do homem que partindo para fora da
terra, ou seja, Cristo, são os ministros do Evangelho, que são, num sentido especial, os servos de
Cristo; e que, se fiel ou negligente, são de uma maneira vívida descritos nesta parábola, que é uma
parábola distinta daquela anunciada na parte anterior deste Capítulo; pois, como aquela refere-se aos
vários e diferentes membros da igreja visível, assim esta refere-se aos vários e diferentes ministros
dela; e sendo falada aos discípulos, era uma instrução, direção e um sinal de cuidado que eles
deveriam ter, e não apenas eles, mas todos os ministros que pregariam a Palavra depois deles nas
próximas gerações.
2. Não se intenciona graça suficiente pelos talentos, mas pelos dons; e estes não apenas os dons
de conhecimento natural e adquirido, tais como os: de saúde, riquezas, honra; do ministério externo
da Palavra; das Ordenanças do evangelho e das oportunidades de gozá-los, mas pelos dons
espirituais ou tais que capacitam e qualificam os homens a serem pregadores do Evangelho, como
aparece do nome, talentos, sendo estes os maiores dons para utilidade e serviço na igreja, como eram
o maior dos pesos e as moedas entre os judeus; sendo dessa natureza, eles podem ser melhorados ou
perdidos. Os homens são responsáveis por eles e pelas pessoas a quem eles foram entregues, os
servos de Cristo. No momento da entrega deles, Cristo saiu da terra para o Céu, subiu ao alto e
recebeu dons para os homens e concedeu-lhes; foi uma distribuição desigual, sendo dados a uns um
pouco mais, e a outros menos; todos os quais estão perfeitamente de acordo com os dons ministeriais.
Agora esses dons podem estar onde a graça não está; e se eles devem ser chamados de graça, porque
são dados livremente, apesar disso, eles não são dados a todos os homens, e muito menos para a
salvação, pois os homens podem ter estes dons e ainda serem condenados (Veja Mateus 7:22, 23, 1
Coríntios 13:1, 2). E, portanto,
II. Não deve ser estabelecida a partir daqui, a capacidade de um homem melhorar o estoque de
[82]
graça suficiente dado a ele, e por sua melhoria, obter a bem-aventurança eterna para si mesmo; já
que tal estoque de graça não é apontado pelos talentos, nem é implantado ou melhorado pelo homem;
nem a parábola sugere que os homens ao melhorar os talentos recebidos, sejam ou consigam obter a
bem-aventurança eterna. Servos bons e fiéis são realmente elogiados por Cristo, e Ele graciosamente
promete grandes coisas a eles, que não é proporcionado por seus próprios méritos; pois enquanto
eles foram fiéis sobre o pouco, Ele promete colocá-los sobre o muito, e mandá-los entrar no gozo do
seu Senhor; no gozo que Ele a partir de Sua graça e bondade tinha provido para eles, e não no que
tinham merecido e obtido para si mesmos.
III. Não deve ser deduzido a partir daqui que a verdadeira graça, uma vez dada ou implantada,
possa ser tirada ou perdida, pois a parábola não fala do que é operado e implantado nos homens, mas
de bens e talentos, significando dons, concedidos a eles, dados à confiança deles, e recebidos por
eles; o que pode ser perdido, ou tirado, ou ser embrulhado num guardanapo, e se deixado inútil por
eles; quando a verdadeira graça é a semente incorruptível que nunca morre, mas sempre permanece
essa boa parte que nunca será tirada nem perdida, mas está inseparavelmente ligada com a glória
eterna.
SEÇÃO 27

Lucas 19:41-42: “E, quando ia chegando, vendo a cidade, chorou sobre ela, Dizendo: Ah! se tu
conhecesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua paz pertence! Mas agora isto está
encoberto aos teus olhos”.

Estas palavras são frequentemente usadas para refutar qualquer decreto de reprovação por Deus,
Cristo morrendo intencionalmente por alguns apenas, a incapacidade do homem, e em favor de um
dia de graça. Contudo,
1. Deve-se observar que estas palavras não se referem a toda humanidade, apenas a Jerusalém e
seus habitantes, e não consideram a salvação espiritual e eterna destes, mas a sua paz e prosperidade
temporais; e, portanto, não deve ter um lugar em nossas controvérsias sobre estes assuntos. Que as
palavras referem-se apenas a Jerusalém e seus habitantes, não será disputado; e que elas apontam
para a sua prosperidade temporal, com a qual Cristo estava preocupado, e estava quase no fim, o que
evidencia-se nos versos seguintes, 43, 44, porque os dias virão sobre ti, etc. Adicione a isto mais
esta observação, que Cristo fala aqui como um Homem, expressando Sua afeição humana pelo bem-
estar temporal presente desta cidade, como é evidente de Seu choro sobre ela em Sua abordagem a
ela. Daí,
[83]
2. Não existe qualquer fundamento neste texto para um argumento como este: “Cristo aqui
toma como certo que o povo de Jerusalém, no dia da sua visitação pelo Messias, podia ter conhecido
salvificamente as coisas pertencentes à sua paz. Agora, ou esta afirmação, que eles sabiam
salvificamente que estas coisas estavam de acordo com a verdade; ou Seu desejo, que eles tinham
assim conhecido as coisas pertencentes à Sua paz, eram contrários à vontade e ao decreto de Seu Pai;
o que é palpavelmente absurdo. E visto que a vontade de Cristo era sempre a mesma que a de seu
Pai, segue-se também que Deus, o Pai tinha o mesmo afeto carinhoso para com eles; e assim não tinha
colocado qualquer impedimento contra a sua felicidade por Seus decretos, nem retido deles qualquer
coisa de Sua parte necessária para seu bem-estar eterno”. Mas aquilo não era seu bem-estar eterno,
ou que pudessem salvificamente conhecer as coisas que pertencem à sua paz eterna, mas a sua
prosperidade exterior, que Ele como um Homem, um de Sua própria nação, estava preocupado; e tal
consideração humana compassiva por eles que Ele podia ter e mostrar, apesar de qualquer decreto de
Seu Pai, respeitando o estado eterno de algumas ou de todas estas pessoas, ou qualquer outra parte da
humanidade. Isto não significa que, porque Cristo como um Homem tinha um afeto carinhoso pelos
habitantes de Jerusalém, que Deus o Pai tinha um amor eterno para com eles; ou, porque Ele mostrou
uma boa vontade para com seu bem-estar temporal, que o Pai tinha no Seu coração a intenção da
salvação eterna. Os afetos humanos e a vontade de Cristo não eram sempre os mesmos que o de seu
Pai: Ele em Sua natureza humana, olhando o jovem rico mencionado pelo evangelista (Marcos
10:21), o amou, mas isto não quer dizer que Deus Pai, também o tenha amado e lhe dado ou feito
qualquer coisa necessária para o seu bem-estar eterno. Os sofrimentos e a morte de Cristo foram
absoluta e peremptoriamente decretados por Deus, e ainda Cristo como Homem desejou que, se fosse
possível, o cálice fosse afastado dEle; e assim Ele podia desejar como Homem a felicidade temporal
desta cidade, embora Ele soubesse que as desolações determinadas seriam assoladoras, derramadas
sobre ela (Daniel 9:26-27), tanto no sentido temporal quanto espiritual; e ainda Suas lágrimas
derramadas sobre eles são lágrimas de amor e compaixão verdadeira, e não lágrimas de crocodilo,
[84]
como eles estão impiedosamente chamando, numa suposição do decreto de reprovação de Deus,
ou ato de preterição. Então,
3. Nós não acharemos tão difícil reconciliar estas palavras com a doutrina da redenção
[85]
particular, como é sugerido, quando é dito: “Você pode também esperar reconciliar a luz com a
escuridão, conforme estas palavras de Cristo com Sua intenção de morrer apenas pelos que deviam
realmente ser salvos”; a menos que isso possa ser pensado como algo irreconciliável, e o que
implica uma contradição, que Cristo como Homem deve desejar o bem temporal para os habitantes
de Jerusalém, e ainda não morrer intencionalmente para os que não são salvos; se Ele devesse morrer
intencionalmente pelos que não são realmente salvos, Suas intenções seriam até agora frustradas, e
Sua morte seria em vão.
4. Realmente segue daqui que, porque estas pessoas podiam ter conhecido as coisas que
pertenciam à sua paz temporal, embora elas estivessem agora de maneira judicial escondidas de seus
olhos, portanto os homens podem de si próprios, e sem a poderosa e infrustrável graça de Deus
operando em seus corações e esclarecendo os seus entendimentos, saber as coisas que pertencem à
sua paz espiritual e eterna, visto que é dito de homens naturais que não conheceram o caminho da paz
(Romanos 3:17); e se estas palavras poderiam ser entendidas das coisas que pertencem à paz
espiritual e eterna, tais palavras só provariam que estes judeus tinham os meios do conhecimento
destas coisas que eles desprezaram, Deus lhes havia dado cegueira de coração; e assim as palavras
de Cristo devem ser consideradas, nem tanto como tendo pena deles, mas como os repreendendo por
sua ignorância, incredulidade, negligência e desprezo por Ele, Seus milagres e doutrinas; portanto,
Deus era justo: e eles inescusáveis.
5. No tempo em que Cristo esteve na terra foi como um dia de luz, de grandes misericórdias e
favores para os judeus; mas isso não significa que, porque eles tiveram um tempo gracioso, portanto,
que todos os homens têm um dia de graça, no qual eles podem ser salvos se quiserem. Além disso, a
frase neste teu dia pode referir-se ao tempo da sua visitação (de Jerusalém) (v. 44), que era um dia
de vingança, e não de graça, que se apressava, e próximo à mão, embora tudo isso tenha sido oculto a
ela, e foi a ocasião das lágrimas e desejos compassivos de Cristo.
SEÇÃO 28
João 1:7: “Este veio para testemunho, para que testificasse da luz, para que todos cressem por
ele”.

É pensado que um argumento considerável em favor da extensão da morte de Cristo a todos os


homens surge da obrigação destes de crer em Cristo, obrigação esta que é e sempre foi dada a todas
as pessoas a quem o Evangelho é ou foi revelado, que Ele veio para salvá-las e morreu por elas; pois
se Ele não morreu por elas, elas são obrigadas a acreditar numa mentira e se condenadas por não
[86]
acreditarem, são condenadas por não acreditar numa inverdade. Eu observo:
1. O argumento é muito miseravelmente coxo e deficiente. A coisa a ser provada é que Cristo
morreu por cada homem e mulher individualmente que tem estado, está ou estará no mundo. O meio
pelo qual se espera que isso seja provado é: existe naqueles a quem o Evangelho é revelado, uma
obrigação de crer que Cristo morreu por eles; e a conclusão é que, portanto, Cristo morreu por todos
os homens. Agora, o Evangelho não tem sido, nem é revelado a todos os homens, apenas a alguns;
portanto se houvesse alguma verdade no meio, a conclusão não seguiria. O argumento fica assim:
todos os homens a quem o Evangelho é revelado são obrigados a crer que Cristo morreu por eles;
alguns homens têm o Evangelho revelado a eles, portanto, Cristo morreu por todos os homens. A
fraqueza e falácia de tal argumento devem ser percebidas por todos. Que argumento mais miserável é
este, que procede de uma revelação parcial do Evangelho para uma redenção universal. Eu observo:
de crer em Cristo, tendo assim a fé a qual os homens são obrigados, está em proporção e de acordo
com a natureza da revelação do Evangelho, que os obriga. Saiba, a revelação do Evangelho é externa
ou interna: a revelação externa é pela Palavra e o ministério dela; que com respeito a Cristo,
encontra-se nestas coisas, que Ele é real e propriamente Deus e verdadeiramente homem, Ele é o
Filho de Deus, e o Mediador entre Deus e os homens, Ele é o Messias, Aquele que veio
verdadeiramente em carne; Ele morreu e ressuscitou ao terceiro dia; subiu ao céu, está sentado à
direita de Deus e virá uma segunda vez para julgar o mundo com justiça; e que por Sua obediência,
sofrimentos e morte, Ele se tornou o Salvador dos pecadores, e que ninguém pode ser salvo, senão
por Ele. Agora, que seja observado, que esta revelação é geral e não particular, não necessariamente
obriga as pessoas as quais esta mensagem veio a ser conhecida, a crerem que Cristo é o seu Redentor
e Salvador, e que Ele morreu por elas em particular; embora o Espírito de Deus possa e atualmente
abençoe a muitos com a geração da fé especial e pode e realmente estabelece uma base geral para
atos especiais e apropriados dessa graça, embora requeira apenas uma fé histórica, ou simples
consentimento à verdade das ditas propostas. Agora tal fé não é salvífica, os homens podem tê-la, e
ainda ser condenados; sim, os próprios demônios a têm. Segue ainda que os homens possam ser
obrigados a acreditar, e contudo não para a salvação de suas almas, ou que Cristo morreu por eles.
Além disso, esta revelação não é feita para todos os homens, e, portanto, eles, tais como os
Indígenas, e outros, não são obrigados a acreditar em Cristo, nem mesmo a dar um simples
consentimento à verdade das coisas ditas acima, muito menos crer que Cristo morreu por eles, e de
fato, como eles crerão nAquele de Quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?
(Romanos 10:14). E talvez nem todos sejam obrigados a acreditar como aqueles que não têm sua
razão natural e audição, ou a utilização devida e adequada e exercício delas, tais como: as crianças,
os idiotas, os loucos, e aqueles que são totalmente surdos; apenas aqueles a quem esta revelação é
feita e são capazes de ouvir e entender, são obrigados a ter fé em Cristo por essa mensagem, como
eram os judeus do passado, que foram condenados por sua incredulidade, não porque eles não
acreditaram que Cristo morreu por eles, ao que eles não eram obrigados, mas porque eles não
acreditaram que Ele fosse Deus, o Filho de Deus, o verdadeiro Messias e Salvador dos pecadores. A
revelação interna do Evangelho, e de Cristo por este Evangelho, é dada em seu conhecimento o
Espírito de sabedoria e de revelação; por meio do qual uma alma é sensibilizada de sua condição e
estado perdidos e de sua necessidade de um Salvador; é familiarizada com Cristo como o único
Salvador, capaz e disposto a salvar perfeitamente todos os que vêm a Deus por Ele; de onde é
encorajada a lançar-se a Ele, confiar nEle e acreditar nEle para a sua salvação: agora esses tais, e
ninguém além desses, devem crer que Cristo morreu por eles. Esta fé todos os homens não têm, que é
a fé dos eleitos de Deus, o dom de Deus, a operação do Seu Espírito e produzida pelo Todo-
Poderoso.
É de acordo com a revelação que os homens de fé são obrigados, e o que é produzido por ela:
se a revelação é externa, ou o Evangelho vem somente em palavras, o que os homens de fé são
obrigados a exercitar é apenas uma fé histórica, nem pode outro qualquer segui-la; e que Cristo
morreu por cada um dos homens individualmente não é parte da revelação. Se a revelação é interna,
uma fé espiritual especial e apropriada é o resultado dela; mas então esta revelação não é feita para
todos os homens, nem mesmo os eleitos de Deus, antes das suas conversões, são obrigados a
acreditar que Cristo morreu por eles; e quando eles são convertidos para crer que Cristo morreu por
eles, este não é o primeiro ato de fé especial; é o plerophory, ou seja, a plena certeza de fé, para
dizer, Ele me amou e se entregou, a Si mesmo por mim (Gálatas 2:20). Daí,
3. Uma vez que não existe uma revelação feita do Evangelho para todos os homens, e eles não
são obrigados a acreditar em Cristo, muito menos a crer que Cristo morreu por eles; nota-se que
nenhum absurdo pode ajuntar-se à negação da redenção universal, que mais alguns são obrigados a
acreditar numa mentira; nem será a condenação dos pagãos que não creem em Cristo, mas que eles
pecaram contra a luz, e quebraram a lei da natureza; nem quaisquer pessoas gozando de uma
revelação serão condenadas por não acreditarem que Cristo morreu por elas, mas pela violação das
leis de Deus, negligência e desprezo do Seu Evangelho; nem existe qualquer perigo de qualquer um
acreditar numa mentira, uma vez que todos aqueles que creem em Cristo, e que Ele morreu
certamente por eles serão salvos, que é a mais completa prova que pode haver de Sua morte por eles.
Cristo morrendo por um Cristão incrédulo e falso, e um Cristão estar sob um decreto condenatório,
[87]
são frases ininteligíveis, meros paradoxos e contradições, apenas em termos.
4. João, o Batista, dando testemunho de Cristo, a luz, e verdadeiro Messias, para que todos
cressem por meio dele, não diz respeito a todos os indivíduos da natureza humana, uma vez que
milhões estavam mortos antes que ele começasse seu testemunho, e multidões desde então, os quais
nunca foram alcançados, nem pode designar mais do que os judeus, a quem ele deu testemunho de
Cristo somente; a fé que ele ensinou e exigiu por seu testemunho, não era crer que Cristo morreu por
eles, como ainda não estava morto, mas uma aceitação da sua mensagem que Ele era o Messias. Esta
foi a obra, a vontade e ordem de Deus, que cresse no que após ele havia de vir, neste sentido, que Ele
(o Pai) havia enviado. Isto é o que frequentemente Cristo solicitou deles, declarando, que se eles não
acreditavam que Ele era o Messias, eles morreriam em seus pecados; e essa foi a razão pela qual o
Espírito de Deus reprovou o mundo dos judeus, trazendo a ira de Deus em ruína temporal e
destruição sobre as suas pessoas, nação, cidade e templo. Desde então, este texto, com multidões de
outros, que falam de crer em Cristo, apenas diz respeito ao povo judeu, e aponta a apenas uma
simples aceitação dEle como o Messias, o que teria preservado esse povo e nação da ruína temporal;
isto não implica que todos os homens crerão em Cristo, que Este morreu por eles, e
consequentemente pode ser de nenhuma utilidade para a doutrina da redenção universal.
SEÇÃO 29
João 5:34: “Mas digo isto, para que vos salveis”.

[88]
Esta passagem da Escritura é muitas vezes produzida como prova da séria intenção de
Cristo em salvar alguns que não são salvos, a quem Ele deu meios suficientes de salvação, que eles
recusaram; e consequentemente que Seu Pai não tinha feito qualquer decreto, pelo qual eles
estivessem excluídos da salvação, que Ele não morreu intencionalmente apenas para os tais que são
realmente salvos, e que a obra da conversão não é realizada por um irresistível e insuperável poder.
Ao que eu respondo:
1. É certo que os judeus, a quem Cristo fala aqui, não tinham meios suficientes para a salvação;
pois embora os testemunhos das obras e milagres feitos por Ele; de Seu Pai; de João, o Batista,
fossem os meios adequados para induzi-los a acreditar que Ele era o Messias, contudo não eram os
meios suficientes para a salvação; pois para que tenha a salvação, uma obra interna da graça, a
regeneração do Espírito, é absolutamente requerida e necessária; sem ela homem nenhum pode ser
salvo. Agora é evidente, que esta faltava a eles, uma vez que eles não tinham o amor de Deus neles
(v. 42); nem Sua palavra habitando neles (v. 38); nem tinham conhecimento nenhum da divindade de
Cristo ou de Ele ser o verdadeiro Messias (v. 18).
2. É tido como certo, que estas palavras dizem respeito a uma salvação espiritual e eterna;
enquanto que elas podem muito bem ser entendidas de um modo temporal; e o sentido delas é este:
digo isto, ou seja, estes testemunhos de Meu Pai, e de João, Eu opero, nem tanto para Minha própria
honra e glória, como para o vosso bem; que, por meio destes Meus testemunhos, possam acreditar
que Eu sou o verdadeiro Messias, e assim serdes salvos da ruína e destruição temporal, que caso
contrário, virá sobre vós e a vossa nação, por vossa descrença, negligência e desprezo a Mim.
Contudo,
3. Admitindo-se que Cristo falou essas palavras com uma visão para a salvação espiritual e
eterna de Seu público; deve ser observado que Ele deve ser aqui considerado como um Pregador, um
Ministro da circuncisão, enviado às ovelhas perdidas da casa de Israel, por cujo bem-estar Ele teve
uma consideração e interesse compassivo; e, portanto, declarou as coisas a respeito de Sua pessoa,
ofício e graça, indefinidamente para todos eles, para que Ele pudesse ganhar alguns deles, não
sabendo como homem, mas conhecendo como Deus, quem eram ou não os escolhidos. Essa
consideração não é prejudicial para Deus nem para Ele.
4. Será difícil, se não impossível provar que as pessoas a quem Cristo falou estas palavras, não
eram eternamente salvas; embora naquele presente momento, elas fossem incrédulas e destituídas da
graça de Deus, ainda podiam, depois disso, ser convertidas e capacitadas a ir para Cristo, para ter a
vida e salvação; ou pelo menos, podia existir algumas entre elas que eram as eleitas de Deus e as
ovelhas de Cristo; por cuja causa Cristo podia expressar-se como o Salvador, a fim de fazê-las
conhecê-lO e trazê-las a salvação por intermédio dEle; e, portanto estas palavras não militam contra
qualquer decreto ou ato de preterição feita por Deus, respeitando qualquer parte da humanidade, ou
as doutrinas da redenção particular e da graça infrustrável na conversão.
SEÇÃO 30

João 5:40: “E não quereis vir a mim para terdes vida”.

Estas palavras são normalmente citadas com a referência anterior e instigadas para os mesmos
fins em particular para mostrar que Cristo seriamente deseja a salvação daqueles que não quiseram
vir a Ele para obtê-la, e que o homem não está sob qualquer incapacidade de chegar a Cristo para a
vida, porém caso ele estivesse, a sua não vinda a Cristo não seria uma atitude criminosa por parte
[89]
dele; nem ele seria digno de culpa pelo que ele não podia fazer. Ao que eu respondo:
1. Aquilo que Cristo quer, Ele deseja seriamente; mas não aparece nestas palavras que Ele
intencionava a salvação dessas pessoas que não viriam a Ele, senão o contrário; já que elas parecem
mais com um caso exibido contra eles, por negligenciá-lO, como o Caminho da Vida e Salvação;
confiança na lei de Moisés e sua obediência a ela, e portanto, por não O terem recebido ou
acreditado nEle, e embora Cristo tenha deixado de trazer uma acusação direta e formal contra eles,
mas Ele deixa claro a eles que existia alguém que os acusara, Moisés, em quem confiavam; e
portanto, sua condenação futura seria justificável sobre seus próprios princípios, e pelos verdadeiros
escritos sobre os quais, eles tinham uma forte opinião; uma vez que estes testemunhavam dEle e da
vida eterna por Ele, o que eles rejeitaram.
2. Estas palavras estão tão longe de ser a expressão do poder e da liberdade da vontade do
homem para vir a Cristo, mas elas, em vez disso, declaram a perversidade e obstinação contra elas;
que o homem não tem desejo, inclinação ou vontade de ir a Cristo para a vida, mas antes quer ir a
qualquer lugar ou confia em qualquer coisa do que nEle. O homem é duro de coração e muito distante
da justiça de Cristo, e da submissão a Ele; não está sujeito à lei de Deus, nem ao Evangelho de
Cristo; nem o pode ser, até que Deus opere nele tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa
vontade; ou até que ele venha voluntariamente no dia do Seu poder. Ninguém pode vir a Cristo, se o
Pai não o trouxer; nem tem vontade para tal salvação a não ser que ela seja operada nele.
3. Embora o homem se encontre sob tal deficiência e não tenha poder nem vontade própria de
vir a Cristo para a vida; quando este é revelado no ministério externo do Evangelho, como a forma
da salvação de Deus, ele é criminoso e digno de culpa por não se chegar a Cristo; uma vez que a
incapacidade e a perversidade de sua vontade não são devidas a qualquer decreto de Deus, mas à
corrupção e à depravação de sua natureza, por intermédio do seu pecado; e portanto, de uma vez por
todas, essa depravação da natureza é digna de culpa; pois Deus fez o homem reto, embora eles
buscassem muitas astúcias, as quais têm corrompido sua natureza; que segue a corrupção, e é o efeito
dela, deve ser deste modo também.
SEÇÃO 31

João 12:32: “E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim”.

Embora este texto não seja produzido pelos principais escritores da controvérsia Arminiana,
nem pelos antigos Remonstrantes, nem por Curcellaeus, nem por Limborch, nem por Whitby da
[90]
atualidade. Ainda assim, como ele é instigado por outros em favor da redenção universal, que
Aquele que atrai todos os homens a Si por Sua morte necessita morrer por todos eles, por isso, será
apropriado considerar o significado dele, e o argumento sobre ele. E,
1. É certo, que a morte de Cristo, e o tipo exato de morte que Ele deveria morrer, é anunciada
por Seu corpo levantado da terra; uma vez que o Evangelista observa no verso seguinte, que dizia
isto significando de que morte havia de morrer; e deve ser apropriado, que o atrair de todos os
homens para Cristo, é aqui representado como um fruto de Sua morte, ou como o que deveria
participar nela, ou a seguiria; e eu ean uywqw, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. E,
portanto,
2. O sentido dessas palavras praticamente depende do significado da palavra atrair: que
concebe uma reunião de um grande número de pessoas até Ele e ao redor dEle, quando Ele deveria
ser levantado na cruz, alguns contra; outros a favor dEle; alguns para reprovação; e outros para
lamentá-lO, ou melhor, sobre ajuntamento do povo até Ele, por meio do ministério dos Apóstolos, e
assim o seu serem capacitados, mediante o poder da graça Divina, a virem até Ele e crer nEle para a
vida e salvação eterna; para todos aqueles que Deus tem amado com um amor eterno, e por quem
Cristo morreu. Esses são, mais cedo ou mais tarde, com benignidade atraídos a Ele, e neste sentido
Cristo usa a palavra neste Evangelho; ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não
trouxer... (João 6:44). Agora,
3. Está mais do que evidente, que todos os homens, ou seja, cada indivíduo da natureza humana,
cada filho e filha de Adão, não tem fé, não é atraído ou capacitado para vir a Cristo e crer nEle.
Existiam muitos dos judeus que não queriam, e não vieram a Cristo, para que que eles...pudessem ter
vida...; os quais, em vez de ser atraídos a Ele nesse sentido, quando levantado na cruz, difamaram e
reprovaram-nO! Não, neste momento, no mesmo contexto, era falado de um mundo, cujo julgamento,
ou condenação era chegado; e, além disso, existia então uma multidão de almas no Inferno, que não
podiam nem nunca serão atraídos a Cristo; e um número maior ainda existirá no último dia, aos
quais, em vez de atraí-los para Ele neste caminho e modo gracioso, Ele dirá, apartai-vos de Mim,
vós que praticais a iniquidade (Mateus 7:23 e Mateus 25:41). Cristo morreu, de fato, por todos os
homens que são atraídos a Ele; mas essa não é a verdade para todos os homens que estão, estavam ou
estarão no mundo. Eu acrescento a isso que as palavras, os homens, não estão no texto Grego; é
[91]
apenas panta, todos, e nalgumas cópias se lê panta, todas as coisas; assim Austen o lê como
antigamente, e assim estava numa cópia antiga de Beza. Mas para não insistir nisto;
4. Entende-se por todos os homens, pessoas de todos os países, isto é, em cada país há os
[92]
eleitos de Deus, todos os eleitos de Deus, os filhos de Deus, que andavam dispersos; e
[93]
particularmente os gentios bem como os judeus, como Crisóstomo e Teofilato interpretam as
palavras; essa interpretação está perfeitamente de acordo com a antiga profecia; quando Siló estava
para chegar (Gênesis 49:10; Isaías 11:10) a Ele se congregarão os povos, ou gentios; e com o
contexto, uma ocasião destas palavras, que eram estas: alguns gregos que tinham subido a adorar no
dia da festa desejavam ver a Jesus; dos quais quando Ele foi informado por Seus discípulos, Ele
respondeu que a hora havia chegado em que Ele havia de ser glorificado, e como o grão de trigo que
caindo na terra, não morre, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto (João 12.24), assim Ele deve
também fazê-lo; e embora Ele tacitamente insinue que não era apropriado admitir esses gregos em
Sua presença naquele momento, mas quando Ele fosse levantado da terra ou depois de Sua morte
quando o Seu Evangelho deveria ser pregado tanto a eles quanto aos judeus; e que um grande número
deles seria atraído até Ele e levados a crer nEle; concordante com esse sentido das palavras está o
Dr. Hammond parafraseando-as: “E Eu sendo crucificado por este meio, trarei uma grande parte de
todo o mundo a crer em Mim, gentios bem como judeus”. E com a mesma finalidade é a nota do Dr.
Whitby no texto.
SEÇÃO 32

Atos 3:19: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados,
e venham assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor”.

[94]
Conclui-se a partir desta passagem Bíblica que o arrependimento e a conversão estão no
poder dos homens, e não são operados pela graça infrustrável de Deus, que não existe tal coisa como
uma eleição absoluta, nem redenção especial de pessoas em particular; já que todos os homens são
exortados a se arrependerem e serem convertidos, a fim de obter a remissão de seus pecados.
Contudo,
1. Deve ser observado que o arrependimento pode ser tanto evangélico quanto jurídico, e ainda
ser tanto pessoal, quanto nacional. O arrependimento evangélico não está no poder de nenhum homem
natural, mas é o dom da livre graça de Deus. O arrependimento jurídico pode ser feito por pessoas
em particular, que estejam destituídas da graça de Deus, mesmo que sejam todos os habitantes de um
lugar, como os ninivitas, que se arrependeram exteriormente com a pregação de Jonas, apesar de não
parecer que eles tivessem recebido a graça de Deus, já que a destruição posterior veio sobre aquela
cidade por suas iniquidades; e da mesma forma, esses judeus foram exortados a se arrependerem por
causa de um pecado nacional, a própria crucificação de Cristo, da qual eles são acusados nos versos
14-18, e em qual culpa e castigo eles haviam se envolvido e toda a sua posteridade, quando eles
disseram: “O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos” (Mateus 27:25). Da mesma forma a
conversão que aqui é apresentada a nós, não é uma conversão interna da alma para com Deus, que é a
obra de poder onipotente, mas é uma reforma exterior de vida, ou seja, tinham uma produção de
frutos vistos no seu comportamento de acordo com aquele arrependimento jurídico. Além disso,
exortações a qualquer coisa, seja ela qual for, não implica necessariamente que o homem tem poder
para cumpri-las. Aos homens é requerido crer em Cristo, amar o Senhor com todo o seu coração, ter
criado em si mesmos um novo coração e um novo espírito, e ainda guardar toda a lei de Deus; mas
isso não significa que eles são capazes de fazer todas estas coisas por iniciativa e esforço próprio.
Se fosse o arrependimento evangélico e a conversão interna que estavam aqui intencionados,
provaria apenas que essas pessoas mencionadas estavam sem essas qualidades de salvação, tinham
necessidade delas, que não poderiam ser salvas, a não ser que esses fossem participantes dessas
graças, mas como não eram, deveriam pedir a Deus por elas.
2. Estas exortações não militam contra a eleição absoluta nem contra a redenção particular de
apenas algumas pessoas, já que essas exortações não são feitas a todos os homens, mas a esses
judeus, os que crucificaram Cristo; e se foram feitas a todos os homens, elas devem ser consideradas
apenas como declarações das quais Deus aprova, comanda e exige, e não o que Ele quer ou que
determina ser; pois se fossem, então todos os homens se arrependeriam e se converteriam; porquanto
quem tem resistido à Sua vontade? Além disso, desta forma, Deus pode e traz os Seus eleitos para
verem a sua necessidade de arrependimento, e para uma apreciação dessa graça e deixa os outros
inexcusáveis.
Diz-se, que se Cristo não morreu por todos os homens, Deus não poderia de forma equitativa
exigir que eles todos se arrependessem: e pergunta-se, que bem esse arrependimento poderia fazer-
lhes? Que remissão dos pecados poderia adquirir? e, portanto, deve ser em vão; sim, o que resultaria
disso, que nenhuma pessoa impenitente pode ser justamente condenada por morrer em seu estado
impenitente. Ao que eu respondo: Não cabe a nós definir o que é, ou o que não é equitativo para
Deus exigir de Suas criaturas, na suposição de Cristo ter morrido ou não por eles; isto é limitar o
Santo de Israel. Supondo que Cristo não tivesse morrido por qualquer um dos filhos dos homens;
todos eles não pecaram e transgrediram os mandamentos de Deus? E eles não deveriam lamentar-se
pelos pecados e arrepender-se deles, sendo feitos contra o Deus de suas misericórdias? E Deus não
poderia exigir isso de forma equitativa de suas mãos, embora Ele não tivesse dado o Seu Filho para
morrer por eles? E embora tal arrependimento não obtivesse remissão dos pecados, o que não deve
ser adquirido por qualquer arrependimento que seja; nem é pelo arrependimento daqueles por quem
Cristo morreu, mas por Seu precioso sangue, sem o qual não existe remissão; ainda que pudesse ser
um dos meios de gozar de um bem temporal presente, e diminuir o agravamento da punição futura;
como no caso dos ninivitas. Também não é lógico crer que por Cristo não ter morrido por todos os
homens, que nenhuma pessoa impenitente pode ser justamente condenada por morrer em seu estado
impenitente; já que a providencial benignidade de Deus leva ao arrependimento (Romanos 2:4, 5) e,
portanto, aquele que despreza as riquezas da Sua benignidade, e paciência e longanimidade, faz,
segundo a sua dureza e seu coração impenitente, entesoura ira para si no dia da ira e da manifestação
do juízo de Deus; e uma vez que todos os que sem lei pecaram (Romanos 2:12) e, consequentemente,
sem o Evangelho e sem conhecer a Cristo, Seus sofrimentos, e morte, sem lei também perecerão; e
todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados. Além disso, como tem sido observado, a
exortação para se arrepender nesse caso não foi feita a todos os homens, mas aos judeus, numa
ocasião muito notável, e muitos deles foram abençoados, ao se desviarem de suas iniquidades; pois
muitos dos que ouviram a palavra creram, e chegou o número desses homens a quase cinco mil (Atos
4:4).
Se for necessário replicar a alguém, que apesar da exortação ao arrependimento não ser feita
aqui a todos os homens; ainda que ela seja dita expressamente em outro lugar, que Deus anuncia
agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam (Atos 17:30), será preciso observar
também que este mandamento para arrependerem-se, não supõe que os homens tenham poder para tal
arrependimento; nem contradiz que também seja um dom da livre graça de Deus; nem que tal
arrependimento seja uma bênção no pacto da graça, e nas mãos de Cristo para concedê-lo; assim
também não se estende, como expressado aqui, a cada indivíduo da humanidade, mas apenas diz
respeito aos homens daquela época, em distinção daqueles que viveram nos antigos tempos da
ignorância, pois assim as palavras são expressas: mas Deus, não tendo em conta os tempos da
ignorância, ou seja, negligenciou, não tomou conhecimento, não lhes enviou mensagem alguma, não
lhes ordenou mandamentos de fé em Cristo, ou arrependimento para com Deus; mas agora, desde a
vinda e morte de Cristo, anuncia agora a todos os homens, gentios bem como judeus, e em todo o
lugar, que se arrependam, sendo a Sua vontade, que se pregasse o arrependimento e a remissão dos
pecados, em todas as nações (Lucas 24:47), mas admitindo que foi uma ordem de Deus em todas as
épocas, e a todos os homens que se arrependam; como todos os homens são realmente obrigados a
um arrependimento natural pela lei da natureza, apesar de nem todos eles serem chamados pelo
Evangelho a um arrependimento evangélico; contudo não vejo razão para tais conclusões poderem
ser formadas a partir daí contra qualquer eleição absoluta ou redenção particular.
3. Embora exista uma estreita ligação entre o arrependimento evangélico, a verdadeira
conversão e o perdão do pecado, ou seja, que as pessoas realmente convertidas, verdadeiramente se
arrependem, têm os seus pecados perdoados; contudo nem o arrependimento e nem a conversão, mas
a graça de Deus e o sangue de Cristo são as causas do perdão. O perdão do pecado é de fato
manifestado apenas aos pecadores penitentes convertidos, os quais são encorajados e influenciados a
arrependerem-se do pecado e voltarem-se para o Senhor a partir da promessa da graça perdoadora;
daí o máximo que pode ser dito de tal exortação é apenas isso: Que os homens, não por iniciativa e
esforço próprio, mas como consequência do encorajamento e influência da graça, devem tanto se
arrepender quanto ter o interesse em voltar para Deus, de modo que eles possam ter uma descoberta
da remissão de seus pecados por meio do sangue de Cristo. No entanto, depois de tudo, nem o
arrependimento evangélico e a conversão interna, nem a graça do perdão estão aqui intencionados;
nem o arrependimento evangélico e a conversão interna, como têm sido observados antes, nem a
bênção espiritual e a graça do perdão; pois, embora o perdão do pecado seja representado pela
eliminação dele, Salmos 51:1, 9; Isaías 43:25, e Isaías 44:22; contudo o perdão do pecado, às vezes,
significa nada mais que a remoção de uma calamidade presente, ou a prevenção de uma ameaça de
juízo, Êxodo 32:32; 1 Reis 8:33-39, e esse é o sentido do termo acima. Esses judeus tinham
crucificado o Senhor da glória, e por esse pecado estavam ameaçados a sofrer uma miserável
destruição, por isso, o apóstolo exorta-os a se arrependerem dele, e reconhecer Jesus como o
verdadeiro Messias; para que, quando a ira viesse sobre sua nação até o extremo, eles pudessem ser
entregues e salvos da calamidade geral; que, apesar de trazer tempos terríveis para os judeus
incrédulos; seriam, ao contrário, tempos de refrigério para o povo de Deus, a partir de seus
problemas e de suas perseguições. Embora a última cláusula do verso acima possa ser considerada,
não como a expressão do momento, no qual suas iniquidades devem ser apagadas, mas como uma
distinta promessa adicional feita aos penitentes, e ser lida com a outra assim: que seus pecados
possam ser apagados, para que os tempos de refrigério possam vir; como elas são pelas versões
Siríaca e Árabe, e com as quais a versão Etíope concorda, e é a leitura preferida por Lightfoot; e o
sentido é este: “Arrependei-vos do vosso pecado de crucificar Cristo, reconheçam Jesus como o
verdadeiro Messias, e não sereis salvos apenas da destruição geral da vossa nação, mas tereis o
Evangelho e a consolação de Israel convosco. Jesus Cristo, que foi primeiro pregado a vós, deve ser
enviado a vós no refrescante ministério da palavra de consolo, embora Ele em Pessoa deva ser
contido no Céu até os tempos da restauração de tudo”.
SEÇÃO 33

Atos 7:51: “Homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao
Espírito Santo; assim vós sois como vossos pais”.

Embora estas palavras não sejam nenhuma vez citadas ou referidas pelo Dr. Whitby, que eu me
[95]
lembre, contudo, na medida em que os Remonstrantes nunca deixaram uma oportunidade de usá-
las contra a irresistibilidade da graça de Deus na conversão, e para provar que essa obra não é feita
por um poder irresistível e que os homens não-convertidos podem possuir em si mesmos graça
suficiente para converterem-se, será bom não deixar alguns argumentos em seu favor; o argumento
deles fica assim: Se o Espírito Santo pode ser resistido ao agir no homem com um propósito e
vontade de convertê-lo, então Ele não opera a conversão por um poder irresistível, mas o Espírito
Santo pode ser resistido quando Ele age no homem com um propósito e vontade de convertê-lo,
portanto, etc. Contudo,
1. Que o Espírito de Deus nas operações de Sua graça sobre o coração na conversão, pode ser
resistido, isto é, ser oposto, isso é aceito; mas que Ele pode ser tão resistido como ser superado ou
ser impedido, ou ser obrigado a cessar a obra da conversão, de modo que a Sua obra e vontade não
resulte em nada, onde Ele age com propósito e vontade de converter, deve ser negado, porquanto,
quem tem resistido à Sua vontade? Quem, neste sentido, pode resistir-Lhe? Nenhum caso deste tipo
pode jamais ser produzido como prova.
2. Deve ser provado que o Espírito de Deus estava dentro e agindo nessas pessoas com o
propósito de convertê-las, e que tinha sido dada a elas graça suficiente para a conversão, e que essa
graça era a mesma daquela que é dada apenas à pessoa convertida; já que não parece que elas tinham
qualquer graça de nenhum tipo, uma vez que elas são mencionadas ser de dura cerviz e incircuncisas
de coração e ouvidos.
3. Supondo que o Espírito de Deus estava agindo nelas com um propósito e vontade de
convertê-las, será difícil provar que elas assim resistiram e continuaram a resistir-Lhe, como se elas
não fossem ser convertidas por Ele numa data posterior; nós temos certeza de que uma dessas
pessoas, ou seja, Saulo foi depois real e verdadeiramente convertido; e quantos mais o foram assim,
nós não sabemos.
4. Essas pessoas não resistiram o Espírito de Deus nelas, do qual eram destituídas, mas ao
Espírito de Deus em Seus ministros, em Seus Apóstolos e, particularmente Estevão; não a qualquer
operação interna de Sua graça, que não parece ter estado nelas, mas ao ministério externo da palavra,
e a todos esses objetivos como: conhecimento, evidência e convicção dados pela Palavra de que
Jesus ERA e É o Messias; em qual sentido, são ditas rejeitar o conselho de Deus contra si mesmas
(Lucas 7:30) e rejeitar a palavra de Deus (Atos 13:46). Os tais que resistem aos ministros de Cristo
resistem a Ele; e os tais que resistem a Ele podem ser ditos resistir ao Seu Espírito Santo. Uma vez
mais,
A palavra anipiptete, significa uma corrida veloz e apressada contrária e queda sobre algo, de
uma maneira rude e hostil. Isso apropriadamente expressa seus maus-tratos à Cristo e Seus ministros,
caindo sobre Eles e colocando-Os à morte, que é a resistência aqui particularmente concebida, como
é manifesto a partir das palavras seguintes, verso 52.
SEÇÃO 34

Romanos 5:18: “Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para
condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para
justificação de vida”.

[96]
Estas palavras funcionam como uma prova da redenção geral; e o sentido dado a elas é que
Cristo morreu para a justificação de todos os homens e que a justificação da vida foi adquirida por
Ele, e é oferecida a todos os homens; sendo aparente que o apóstolo está comparando a condenação
que é adquirida pelo pecado de Adão com o dom gratuito da justificação adquirido pelo o Último
Adão, quanto à extensão das pessoas envolvidas em ambos; todos os homens, na cláusula primeira,
que deve ser tomada na latitude extrema, a mesma palavra na última cláusula deve ser tomada da
mesma forma, ou a graça da comparação é totalmente perdida. A tudo eu respondo:
1. Essas palavras não dizem nada sobre a morte de Cristo, ou de Sua morte por quaisquer
pessoas ou qualquer coisa, mas fala de Sua justiça e da virtude desta para justificação de vida;
justiça pela qual se entende por Sua obediência ativa, como aparece do seguinte verso: nem as
Escrituras dizem, em qualquer lugar, que Cristo morreu para nossa justificação, mas que Ele morreu
por nossos pecados e ressuscitou para nossa justificação. É verdade de fato que a justificação é
obtida pela morte, bem como a obediência de Cristo; que somos justificados pelo Seu sangue bem
como por Sua justiça; mas não pode ser dito, com qualquer responsabilidade, que a justificação da
vida é oferecida a qualquer um; já que a justificação é forense, um termo jurídico, e significa que
uma sentença foi pronunciada ou declarada e não oferecida. Um juiz, quando absolve ou condena, ele
não oferece a sentença de justificação ou condenação, mas a pronuncia; assim Deus, quando justifica,
não oferece justificação aos homens, mas lhes pronuncia como justos, por meio da justiça de Seu
Filho; e quando Cristo adquiriu a justificação, não foi uma oferta da justificação, mas a própria
bênção em si. Estas palavras, então, não devem ser entendidas ou por Cristo morrendo para
justificação de qualquer um, especialmente por cada homem e indivíduo; uma vez que todos os
homens, neste amplo sentido, não são justificados; muitos serão justamente condenados e punidos
eternamente; e consequentemente Sua morte, com respeito a eles, seria em vão, se fosse esse o caso;
ou, nem da obtenção de justificação, e menos ainda da oferta desta, mas da aplicação dela às pessoas
aqui mencionadas.
2. É evidente que o apóstolo está aqui comparando o primeiro e o último Adão juntos, como
cabeças e representantes de suas respectivas descendências, e os efeitos do pecado para a
condenação daqueles que surgiram a partir do primeiro, com a graça de Deus para a justificação dos
que pertencem ao Último, e não o número de pessoas envolvidas nessas coisas. Seu significado
simples é que como o primeiro Adão transmitiu o pecado, a condenação e a morte para toda a sua
posteridade; assim o Último Adão comunica a graça, a justiça e a vida para toda a Sua posteridade; e
aqui o último tem a preferência sobre o primeiro, e em Quem reside a abundância da graça aqui
referida; que as coisas comunicadas por Um é, em sua própria natureza, a preferida em contraste ao
outro; e particularmente por que a justiça que Cristo dá aos Seus não somente justifica do pecado do
primeiro Adão e protege de qualquer condenação, mas também de todas as outras ofensas, e dá
direito a vida eterna, por isso, é chamada de justificação da vida, que o primeiro Adão nunca teve.
Se forem comparados os números dos tais que são condenados pelo pecado de um, e daqueles que
são justificados pela justiça de Outro, os números sendo os mesmos, a graça da comparação seria
totalmente perdida; pois onde estaria a exuberância quando existe perfeita igualdade?
3. Admitindo-se que o apóstolo está comparando a condenação que foi adquirida pelo pecado
de Adão com o dom gratuito da justificação adquirida pelo Último Adão, quanto à extensão das
pessoas envolvidas em ambos; esta medida não pode ser pensada alcançar mais dos que surgem
deles respectivamente, e os que a eles pertencem. Ninguém mais poderia ser condenado pelo pecado
de Adão além daqueles que naturalmente descenderam dele pela geração comum. Os anjos que
caíram não são condenados pelo pecado de Adão, de quem eles não descenderam, mas por suas
próprias iniquidades pessoais. Esse pecado não alcançou o homem Cristo Jesus, nem foi condenado
por Si mesmo, porque Ele não descendeu de Adão por geração ordinária; assim não pode existir um
número maior que pode ser justificado pela justiça de Cristo, nem que pode alcançar a justificação
mais do que aqueles que são de Cristo, que pertencem a Ele, e que são, em tempo propício,
regenerados por seu Espírito e graça, e evidenciam-se ser Sua semente e descendência espiritual.
4. Todos os homens, na última cláusula desse texto, nunca podem conceber cada indivíduo da
humanidade, pois se viesse a graça sobre todos os homens, neste grande sentido, para a justificação
da vida, então cada homem teria uma justiça para ser justificado, estar seguro da ira vindoura, ter o
direito à vida eterna, e finalmente ser glorificado e eternamente salvo; pois os tais que são
justificados pelo Seu sangue, serão por Ele salvos da ira (Romanos 5:9 e Romanos 8:30) e aos que
Deus justificou, a estes também glorificou. É certo que “todos os homens”, na máxima extensão deste
termo, não têm uma justiça justificadora, pois existe uma série de homens injustos que não herdarão o
Reino de Deus, e não são, nem jamais serão justificados; mas a ira de Deus permanece sobre eles, e
será a porção eterna deles; se isso pudesse provar que a justiça de Cristo é imputada pelo Pai, e
aplicada pelo Espírito, para a justificação de cada homem, e que cada homem será salvo, logo
entraríamos na doutrina da redenção universal pela morte de Cristo. Contudo,
5. O apóstolo é o melhor intérprete de suas próprias palavras, e podemos facilmente aprender
dessa epístola que a frase “todos os homens” são aqueles para quem o dom gratuito da justiça de
Cristo veio para a justificação da vida. Eles são os eleitos a quem Deus justifica, por meio da justiça
de Seu Filho, e são guardados da condenação por Sua morte (Romanos 8:33-34). Todos estes são a
semente a quem a promessa de justiça e vida pertence, e é assegurada (Romanos 4:16). Eles são
todos os que creem, sobre quem e a quem a justiça de Cristo é manifesta, revelada e aplicada pelo
Espírito de Deus (Romanos 3:22). Eles são os tais que recebem a abundância da graça e o dom da
justiça (Romanos 5:17). Numa palavra, o dom vem sobre todos os que são de Cristo e pertencem a
Ele para a justificação da mesma maneira como veio o juízo sobre todos para condenação, por meio
da ofensa de Adão, que pertencem a ele ou descendem dele.
O texto em 1 Coríntios 15:22, porque, assim como todos morrem em Adão, assim também todos
serão vivificados em Cristo, no qual a mesma comparação é feita entre os dois cabeças, Adão e
Cristo, e os seus efeitos diferentes, que é por vezes utilizado a favor de redenção universal, é
estranha ao propósito. Isso, porque este verso não fala da redenção por Cristo, nem da vida eterna e
espiritual por meio dEle, mas da ressurreição dos mortos, como é evidente por todo o contexto; e
este não é de cada homem como indivíduo, mas apenas daqueles que são de Cristo, e que dormem
nEle, de quem Ele foi feito as primícias (versos 20 e 23). Esses serão erguidos pela virtude da união
com Ele e virão para a ressurreição da vida; da qual nem todos participarão, pois alguns
ressuscitarão para vergonha e desprezo eterno, sim, para a ressurreição da condenação, que por
sinal, é uma prova que a palavra todos nem sempre concebe cada indivíduo da humanidade.
SEÇÃO 35

Romanos 11:32: “Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todos usar
de misericórdia”.

Esta passagem da Escritura é citada como prova que é a vontade de Deus que todos os homens
devem ser salvos, portanto, Ele não tem rejeitado ninguém de ser salvo por um decreto absoluto e
antecedente, e consequentemente, Cristo morreu por todos os homens; visto como Deus encerrou
todos os homens na desobediência, sem qualquer exceção, por isso, pela regra da oposição, Ele Se
[97]
compadece de todos, sem qualquer exceção. Ao que eu respondo:
1. É certo que Deus mostra misericórdia para com todos os homens de uma maneira
providencial, pois as Suas misericórdias são sobre todas as Suas obras (Salmo 145:9), mas deve ser
negado que todos os homens são participantes de Sua misericórdia especial por meio de Cristo, uma
vez que vasos de misericórdia são manifestamente distintos dos vasos de ira, preparados para a
perdição (Romanos 9:22-23) e é certo, que existem alguns que “Aquele que o fez não se
compadecerá dele, e Aquele que o formou não lhe mostrará nenhum favor” (Isaías 27:11) e onde
Deus faz estender Sua misericórdia especial, é totalmente devido à Sua soberana vontade e prazer,
pois, compadece-Se de quem quer, e endurece a quem quer (Romanos 9:18).
2. Pela regra da oposição, não mais pode-se pensar serem os objetos da misericórdia de Deus a
não ser os que Ele encerrou na desobediência; o que não é verdade de todos os homens que já
estavam no mundo; pois, apesar de todos eles serem, por natureza, incrédulos, contudo, eles não
estão todos encerrados por Deus na desobediência. Estar encerrado na desobediência é o mesmo que
estar firmado sob o pecado, o significado destas frases não é que Deus torna os homens pecadores e
incrédulos ou coloca-os na prisão do pecado e da incredulidade, mas que Ele prova, demonstra e
[98]
convence-os que eles estão em tal estado e condição, como Crisóstomo em outro lugar observa,
[99]
e que é o sentido destas palavras que Grotius e Vorstius, que estavam ambos do outro lado da
questão, dão; pois os tais que estão salvificamente convencidos do seu pecado são tomados e
obrigados pelo senso de tal convencimento em suas consciências, que eles não podem encontrar um
meio de escapar ou criar qualquer desculpa para ele. Agora, todos os homens não estão, nesse
sentido, encerrados sob o pecado, ou encerrados sob a desobediência, nenhum além daqueles que o
Espírito de Deus reprova e convence dessas coisas; cujas convicções são operadas neles, com
propósito que eles possam fugir, não para os seus próprios méritos, mas para a misericórdia de Deus,
para que eles possam esperar ter uma parte nela, já que no Senhor há misericórdia, e nele há
abundante redenção (Salmo 130:7).
3. Não é dito absolutamente, Deus encerrou, pantaV, a todos debaixo da desobediência, para
que Ele usasse de misericórdia, pantaV, para com todos; mas Deus encerrou, touV pantaV, a todos
debaixo da desobediência, para com todos, touV pantaV, usar de misericórdia, o que limita e
restringe a todas às pessoas a quem o apóstolo está falando no contexto; fossem os eleitos de Deus
entre os judeus e gentios, Ele assim conceberia a plenitude dos gentios, a quem Deus determinou
trazer, verso 25, e especialmente todo o Israel, vero 26, que será salvo, não por sua própria justiça,
mas pela pura misericórdia e livre graça de Deus. Em suma, por todos sobre quem Ele tem
misericórdia, e para levá-los a um senso de sua necessidade disso, encerra na e convence da
incredulidade, devem ser entendidos todos os crentes, ou seja, os que são eventualmente salvos,
[100]
sejam eles judeus ou gentios, como Vorstius observa (Salmos 130:7), e que é manifesto em um
texto paralelo: “Mas a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, para que a promessa pela fé em
Jesus Cristo fosse dada aos crentes” (Gálatas 3:22). Daí essa passagem não milita contra uma
eleição absoluta, nem contra uma redenção especial de pessoas em particular.
SEÇÃO 36

Romanos 14:15: “Não destruas por causa da tua comida aquele por quem Cristo morreu”.

Todos confessam que Cristo morreu por aqueles que não perecem. Contudo, há pessoas que
[101]
usam frequentemente a citação acima em favor da redenção universal e para provar que Cristo
morreu não somente pelos eleitos, por Suas ovelhas, e os verdadeiros crentes, mas também por
[102]
aqueles que perecem; e o argumento delas é formado assim: “Se Cristo morreu por aqueles que
perecem, e para aqueles que não perecem, Ele morreu por todos”. Mas Cristo morreu por aqueles
que perecem, e por aqueles que não perecem; ergo [consequentemente], Ele morreu por todos os
homens. Os defensores dessa tese sugerem nesta injunção: “...não destruas por causa da tua comida
aquele por quem Cristo morreu”. Mas se é esse o raciocínio que essa citação tanto sugere, será visto
quando as seguintes coisas forem consideradas:
1. Que a injunção, ou seja, imposição “...não destruas por causa da tua comida, aquele por quem
Cristo morreu”, não tenciona a destruição eterna; já que tal ação nunca pode ser imaginada estar tanto
na vontade ou no poder daqueles a quem esta é imposta. Tal grau de malícia e perversidade,
certamente, nunca pode surgir no coração de qualquer um, o desejar ou intimar e tomar todos os
passos necessários para selar a condenação eterna dos outros; o que chega mais próximo de tal ação
seria a proibição dos judeus aos apóstolos de pregarem aos gentios as palavras da salvação (1
Tessalonicenses 2:16); o que revelou malícia implacável e inveterada de fato; mas certamente nada
deste tipo poderia estar entre os irmãos da mesma fé, e na mesma igreja; e se fossem tão maus a
ponto de desejarem a destruição eterna do outro, contudo não estaria em seu poder alcançá-lo;
ninguém pode destruir eternamente senão Deus; não temais os que matam o corpo e não podem matar
a alma, temei antes Aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo (Mateus 10:28). Além
disso, é razoável supor ou concluir que a condenação eterna deve vir por comer e beber coisas de
maneira indiferente, como ervas, carne e vinho, ou ser causada por uma ofensa feita e recebida por
tais coisas? Portanto, a menos que possa ser provado que a destruição eterna resultou ou podia
resultar mediante a utilização de tais comidas diferentes; ou que irmãos fracos podiam ou estavam
tão ludibriados, ofendidos e feitos tropeçar ao ponto de perecerem eternamente, não existe força no
argumento.
2. Surgirá do contexto, que a destruição do irmão fraco mencionado nessa exortação, não é a
destruição eterna de sua pessoa, mas a destruição presente, interrupção ou impedimento de sua paz e
consolo. Destruir o irmão por causa da tua comida é, ao comer, colocar um tropeço ou uma ocasião
para ele cair em seu caminho (v. 13), não cair da graça e do favor de Deus; mas de modo que a paz
de sua mente possa ser quebrada, sua afeição aos irmãos esfriada, e ele fique confundido com as
doutrinas do Evangelho. Assim diz o apóstolo: Bom é não comer carne, nem beber vinho, nem fazer
outras coisas em que teu irmão tropece ou se escandalize, ou se enfraqueça (Romanos 14:21); fazer
tal coisa é contrário à caridade Cristã; se teu irmão estiver aflito com a tua carne, agora tu não andas
caridosamente; sim, isto está destruindo a obra de Deus (Romanos 14:20); não o Cristão convertido,
que é obra das mãos de Deus, nem a boa obra da graça, que será realizada até o dia de Cristo; nem a
[103]
obra de fé, que nunca falhará; mas a obra de paz nas igrejas, e nas pessoas em particular, das
quais Deus é o autor, e as coisas que produzem tal paz é que devem ser seguidas pelos santos (
Romanos 14:19). Agora um irmão mais fraco, por quem Cristo morreu, pode ser assim entristecido,
angustiado, ferido, ter sua paz destruída, e contudo, não perecer eternamente. Portanto, isso não serve
de argumento nem exemplo da morte de Cristo por aqueles que podem estar ou estão eternamente
perdidos. O propósito do apóstolo nesta exortação é, manifestamente, este: Mostrar o interesse de
Cristo e o amor que Ele tem mostrado a esses irmãos ao morrer por eles; e a preocupação dEle com
a mágoa que pode ser feita às fracas mentes e consciências deles, para dissuadir, isto é, fazer mudar
a indiferença dos crentes mais fortes ao usar, comer ou beber coisas que possam ofendê-los, embora
ele soubesse que a salvação eterna deles não estaria deste modo em qualquer perigo.
SEÇÃO 37

1 Coríntios 8:11: “E pela tua ciência perecerá o irmão fraco, pelo qual Cristo morreu”.

Estas palavras são comumente associadas com a anteriores, e elaboradas para os mesmos
propósitos, ambas para provar que Cristo morreu pelos tais que perecem, e que os verdadeiros
[104]
crentes podem total e finalmente cair em perdição. O que foi dito na seção anterior poderia ser
suficiente para levar-nos ao verdadeiro sentido desse texto, que está em paralelo, e assim remover
qualquer argumento ou objeção tomados daqui. Contudo, para não deixá-lo passar sem um exame
particular, que seja observado:
1. Como o texto de Romanos 14:15, esta é uma exortação ou uma injunção para não destruir por
causa da comida, aquele por quem Cristo morreu; isso é feito na forma de algumas interrogações, e
nem uma nem outra prova o assunto de fato, supondo que elas poderiam ser entendidas como
destruição e ruína eternas; ou como que qualquer irmão, que era um verdadeiro crente, fosse
destruído ou perecesse eternamente desta forma; e quando muito, apenas implica o perigo e a
possibilidade disso, por meio de suas próprias corrupções, as tentações de Satanás e as ofensas
dadas pelos irmãos mais fortes; como se eles não fossem preservados pela graça e poder de Deus,
por Cristo, Quem morreu por eles, e assim não lhes permitirá perecer.
2. O padecimento deste irmão fraco deve ser entendido e é explicado como uma contaminação
de sua consciência (Romanos 14:7), um ferimento dela (v. 12), e escandalizá-lo, (v. 13), pelo abuso
imprudente da liberdade Cristã daqueles que tinham uma fé mais forte, e maior conhecimento, e por
uma participação em coisas oferecidas aos ídolos, num templo do ídolo (vv. 7, 10); mas não de sua
condenação eterna no Inferno, o que nunca poderia entrar nos pensamentos do apóstolo; já que ele
diz: (v. 8) comida não nos faz agradáveis a Deus, porque se comemos, nada temos de mais e se não
comemos nada nos falta. Por isso, não temos necessidade de voltar para a resposta, aos argumentos
formados sobre esses textos, que esses irmãos fracos, dos quais é suposto que eles possam perecer,
estando sob uma profissão de religião, cujos homens eram obrigados, de um ponto de caridade, a
crer que Cristo morreu por eles, embora eles não pudessem crer com tanta convicção, ou que os
outros pudessem ter dito algo para destruí-los ou levá-los a perecer, embora sua destruição não
ocorresse; porque mal avisados fizeram tudo o que neles estava obrigado a fazer por isso, e que em
sua própria natureza tendiam a isso; e, portanto, não estamos preocupados com as respostas feitas a
tais questões, as quais não nos comprometemos a defender.
3. Este texto prova que Cristo morreu por irmãos fracos, cujas consciências podem ser
contaminadas, feridas e ofendidas, por meio da liberdade que outros podiam ter, e só neste sentido,
perecem; mas isto não prova que Cristo morreu por qualquer um além de Suas ovelhas, Sua igreja; ou
[105]
aqueles que são crentes verdadeiros; pelo que os Remonstrantes citam-no; pois certamente é um
irmão que apesar de fraco é verdadeiramente uma ovelha de Cristo, um membro de Sua igreja e um
crente; e, portanto, não pode haver qualquer ocorrência da morte de Cristo por todos os réprobos, e
menos ainda por toda a humanidade.
4. Os tais por quem Cristo morreu, nunca podem final, total e eternamente perecer; uma vez que
Ele, por Sua morte, adquiriu tais bênçãos para eles, como uma justiça justificadora, o perdão dos
pecados, a paz com Deus, a reconciliação com Ele e a salvação eterna: tudo que irá para sempre
guardá-los de perecer. Além disso, caso algum deles perecesse nesse sentido, Sua morte seria até em
vão; nem se poderia pensar na morte de Cristo como uma garantia suficiente da condenação; já que
disso o apóstolo diz, “Quem é que condena? Pois é Cristo quem morreu...” [Romanos 8:34]; nem
seria uma plena satisfação à justiça de Deus; ou Deus seria injusto ao punir duas vezes pelas mesmas
falhas.
SEÇÃO 38

1 Coríntios 10:12: “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia”.

[106]
É observado que o apóstolo fala aqui para toda a igreja em Corinto, e principalmente
àqueles que verdadeiramente pensavam estar de pé; e claramente supôs que aquele que realmente
estava de pé, podia cair e cairia, se ele não usasse de grande diligência para manter sua posição;
pois não fosse este olhe a condição da posição deles; se eles tivessem sido do número daqueles que,
pelo decreto de Deus ou promessa, infalivelmente, estavam garantidos de ficar de pé, esta exortação
para que tomassem cuidado, seria desnecessária; já que os homens não necessitam de qualquer
admoestação para fazer com que o decreto e a promessa de Deus os guardem, pois eles não podem
omiti-los; muito menos evitar o que possivelmente não pode suceder-lhes. A que eu respondo:
1. O apóstolo não fala essas palavras a toda a Igreja em Corinto, pois embora a epístola seja,
em geral, direcionada a igreja, contudo existem várias coisas que tão somente dizem respeito a
algumas pessoas em particular: como a pessoa incestuosa; a tal que foi a juízo com seus irmãos
perante os incrédulos; algumas que se comportaram desordenadamente na mesa do Senhor, e outras
que negaram a ressurreição dos mortos, e para quem algumas coisas particulares são faladas, que não
pertencem a toda a Igreja. Aqui o apóstolo exorta, não aos que verdadeiramente pensavam estar de
pé, pois esses estão de pé na graça de Deus, em Cristo, e pela fé, e nunca final e totalmente cairão,
mas aqueles, que parecem a si mesmo e aos outros, estar em pé; e manifestamente inclui esses tais
que foram inchados com vã opinião de si mesmos, de seu conhecimento e da sua própria força,
tentavam a Deus e confiavam em si mesmos, como a versão Etíope o lê, e desprezavam os crentes
fracos; agora, note bem: estes podem cair, como eles sempre fazem, daquilo que eles pareciam estar,
das verdades do Evangelho e da profissão dele, e caem também em pecados escandalosos e
finalmente, em condenação. Deve ser perguntado, por que o apóstolo se preocupa com estas pessoas
ou exorta-as para que não caiam? Não teria sido melhor se elas tivessem jogado fora a máscara de
uma vez e mostrado o que realmente eram? Eu respondo que a apostasia de professos formais é
prejudicial tanto para a honra quanto para o interesse da verdadeira religião; pois os caminhos de
Deus são mal falados, o nome de Cristo blasfemado, pecadores profanos endurecidos e crentes
fracos tropeçam pelas quedas dos professos formais, como se estivessem seguindo verdadeiros
Cristãos; além disso, deve ser pior para eles mesmos, sua falha sendo o meio de uma punição mais
severa, porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, do que, conhecendo-o,
desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado (2 Pedro 2:21).
2. Supondo que os tais que verdadeiramente ensinados são mencionados; será aceito que estes
possam cair em tentação, em armadilhas, em pecado, de um grau de firmeza no Evangelho, de um
exercício vívido e confortável da graça, mas não final, total e irrevogavelmente; já que eles estão
colocados nos braços de amor eterno, guardados nas mãos de Cristo, edificados sobre uma fundação
que nunca ruirá e preservados por um poder onipotente que nunca pode ser vencido: e embora devam
olhar para não cair, não da condição de sua posição, pois essa é garantida a eles pelo propósito e
promessa de Deus, que nunca pode falhar; contudo tal exortação não é desnecessária; visto que eles
não podem final e totalmente cair, eles podem cair para a desonra de Deus, a reprovação do
Evangelho de Cristo, para o entristecimento do Espírito ao ferir suas próprias almas. Embora eles
nunca possam cair para perecer eternamente, as razões e argumentos, pelos quais eles devem cuidar
para não cair, são muitos e fortíssimos, por exemplo: para os crentes fracos não tropeçarem, e para
que as mãos dos ímpios não sejam fortalecidas. Portanto, as admoestações não são desnecessárias
para a segurança do decreto e da promessa de Deus; pois estes cuidados são muitas vezes os meios
pelo qual Deus executa Seu decreto e cumpre retamente a Sua promessa (Veja Atos 27:22, 24, 31).
Nada mais a acrescentar, estas palavras nunca deveriam ser usadas contra a perseverança final dos
santos, uma vez que elas estão intimamente ligadas com o verso seguinte, que expressa tão
plenamente essa doutrina: não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos
deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais
suportar (1 Coríntios 10:31). Desta forma, podemos julgar da natureza, designo e uso de advertências
[107]
dadas aos santos para não cair, que são representadas como evidências e suposições que eles
podem fazer assim; tais como:
O cuidado que Cristo deu a todos os Seus discípulos, com estas palavras: olhai por vós, não
aconteça que os vossos corações se carreguem de glutonaria, etc. (Lucas 21:34, 36). Que implica
apenas que os apóstolos, como os outros homens, estavam sujeitos a enfermidades, pecados,
armadilhas e tentações: e, portanto, cuidado, zelo sério e oração, foram incumbidos a eles para que
eles não fossem achados descuidados, negligentes ou de alguma forma sonolentos quando — não no
dia do julgamento final, mas — no dia que traria a destruição de Jerusalém que estava por chegar.
Assim eles poderiam escapar da calamidade geral, e estar de pé diante do Filho do homem, e levar o
Seu Evangelho para o mundo dos gentios. Essa não foi uma prova alguma da possibilidade ou perigo
de sua queda final; esses que foram escolhidos por Cristo, dados a Ele por Seu Pai, e assim mantidos
por Ele, para que nenhum deles fosse perdido, senão o filho da perdição.
Quando o autor da Epístola aos Hebreus adverte os crentes aos quais ele escreve, vede, irmãos,
que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo e caia do
descanso prometido; e tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus (Hebreus 3:12; 4:1,
12:15), seu propósito é expor o pecado da incredulidade, como aquilo que roubou tristemente os
santos de muito conforto, e Deus de muita glória; cada grau descente sendo um parcial, embora não
um desvio total de Deus, e, portanto, deve ser visto com cuidado. E deve ser observado, que Ele não
os adverte para ter cuidado que eles não caíam do descanso a eles prometido, mas para que não
pareça que algum de vós fique para trás; o que eles podiam fazer, e ainda gozar dela. E quando Ele
os exorta, a ter cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus; isto não deve ser entendido como
a graça e o favor de Deus para com eles, nem como a graça de Deus neles, mas como as doutrinas da
graça que eles tinham recebido; os deveres ordenados a eles a serem recíprocos, em que eles
estavam episkopein, fazendo o papel de um bispo ou supervisor uns sobre os outros.
Quando o apóstolo Paulo adverte aos Colossenses, para que tivessem cuidado, para que
ninguém os enganasse com palavras persuasivas, fazendo-os presa sua por meio de filosofias e vãs
sutilezas, e dominando-os a seu bel-prazer (Colossenses 2:4, 8, 18), ele não propõe uma sedução
final e total deles de Cristo seu cabeça, em Quem eles estavam completos, verso 10; não a destruição
da graça neles, mas uma corrupção da doutrina da graça recebida por eles; que pode ser
inconscientemente introduzida por falsos mestres, sob os pretextos capciosos de humildade e
santidade.
Quando o apóstolo Pedro exorta aqueles a quem ele escreveu, para guardarem-se que, pelo
engano dos homens abomináveis, fossem juntamente arrebatados, e descaíssem da sua firmeza (2
Pedro 3:17), seu significado é: que não existia perigo ou uma possibilidade de cair da fé igualmente
preciosa que eles alcançaram, mas que eles podiam estar em perigo de cair, por graus, de pouco em
pouco da firmeza na doutrina da fé, por meio dos erros ludibriantes dos homens ímpios; e, portanto,
deveriam guardarem-se disso.

E finalmente, quando o apóstolo João diz para os filhos da senhora eleita: “Olhai por vós
mesmos, para que não percamos o que temos ganho, antes recebamos o inteiro galardão” (2 João
1:8), isto não quer dizer que os tais que têm a verdadeira graça de Deus, possam perder todas as
coisas que obtiveram; pois isto não é o que vós, mas o que nós temos ganho, muito menos perder o
que o Espírito de Deus tem operado; mas o cuidado em relação às doutrinas e ao ministério dos
apóstolos, para que não fosse em vão em algum aspecto, ou que um véu desenrolasse sobre a glória
disso, por meio dessas pessoas de qualquer maneira darem atenção a doutrinas de enganadores (vv.
7, 9, 10).
SEÇÃO 39

2 Coríntios 5:14-15: “Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um
morreu por todos, logo todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não
vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou”.

[108]
Esta Escritura nunca deixa de ter um lugar na controvérsia sobre a extensão da morte de
Cristo. A redenção universal é concluída daí, pelos seguintes argumentos, agora a serem examinados:
[109]
I. O primeiro é extraído da palavra todos aqui utilizada, se, ou logo um morreu por todos.
Contudo, deve ser observado:
1. O texto não diz que Cristo morreu por todos os homens, mas para todos; e, portanto, de
acordo com as outras Escrituras (Mateus 1:2 l; João 10:15; Efésios 5:25; Hebreus 2:9-10); pode ser
entendido por todos, as pessoas a quem Jesus salva dos seus pecados; de todas as ovelhas por quem
Ele deu a Sua vida; de todos os membros de Sua igreja, a quem Ele amava, e por quem Ele deu a Si
mesmo; ou de todos os filhos por quem Ele provou a morte, e, como o Capitão da Salvação deles,
traz para a glória.
2. Que é dito na última parte do texto, que aqueles pelos quais Cristo morreu, por eles também
[110]
ressuscitou; os tais, portanto, devem viver tw uper autwn apoqanonti kai egerqenti, para
Aquele que por eles morreu e ressuscitou. Cristo não morreu por ninguém mais nem por quaisquer
outros além daqueles por quem Ele ressuscitou. Estes são aqueles por quem Ele ressuscitou, ou seja,
Ele ressurgiu para a justificação deles. Se Cristo ressuscitou para a justificação de todos os homens,
todos os homens seriam justificados, ou a finalidade da ressurreição de Cristo não seria alcançada.
Mas todos os homens não são, nem serão justificados. Alguns dos homens serão condenados. Além
disso, Cristo não ressuscitou dentre os mortos por todos os homens e, consequentemente, não morreu
por todos os homens.
3. Que a todos por quem Cristo morreu, morreram com Ele, e por Sua morte estão mortos tanto
para a lei quanto para o pecado; logo todos morreram. Além disso, o propósito de Sua morte por eles
era que os que vivem não vivam mais para si, mas para Aquele que por eles morreu; nenhum destes
propósitos é a verdade de toda a humanidade. Isso para não falar da natureza e da forma da morte de
Cristo por todos estes; que era para, ou melhor, no lugar e para o bem deles; e denota uma
substituição feita, uma satisfação dada, que resulta no pleno cancelamento, na libertação judicial e na
justificação deles. Este não é o caso de cada indivíduo da natureza humana.
4. Que o contexto (2 Coríntios. 5:17, 18, 21), explica a todos dos tais que estão em Cristo, são
novas criaturas, reconciliados com Deus, cujas transgressões não são mais imputadas a eles, estes
por quem Cristo foi feito pecado, e que são feitos a justiça de Deus nEle. Isso não pode ser dito de
todos os homens.
[111]
II. É observado que “as palavras, todos morreram, certamente devem ser tomadas em sua
maior latitude; portanto, as palavras anteriores, se ou desde que Cristo morreu por todos, de quais
elas são uma inferência, deveriam também ser tomadas na mesma medida”. Ao que eu respondo:
1. A latitude na qual as palavras todos morreram, é e deve ser de acordo com aquela na qual as
palavras anteriores, se um morreu por todos, devem ser tomadas. Por esta extensão a outra é fixada, e
não a extensão destas por aquelas. O apóstolo não diz, nem é seu sentido, que Cristo morreu por
todos os que estavam mortos; mas que todos eram mortos porque Ele havia morrido por eles; se um
morreu por todos, logo oi panteV apeqaion, todos morreram; pois o artigo “oi” é anafórico ou
relativo, como Beza e Piscator justamente observam: supondo, portanto, que as palavras todos
morreram, são capazes de serem tomadas em tal latitude de modo a compreender cada indivíduo da
humanidade, não existe necessidade que elas devam ser tão utilizadas aqui, a menos que seja
primeiro provado, que as palavras anteriores, se um morreu por todos, pelas quais a extensão destas
é fixada, devem ser entendidas em tão amplo sentido; que é a coisa em questão, e não pode receber
qualquer prova neste verso. Até que isto seja provado, é suficiente dizer que todos por quem Cristo
morreu estavam mortos: de onde não pode raciocinar, por qualquer consequência justa, que Cristo
morreu por todos os que estavam mortos.
2. É apropriado considerar o sentido destas palavras, logo todos morreram. Os
[112]
Remonstrantes compreendem-nas como uma morte pelo pecado, que é comum a toda a
humanidade; e porque todos os homens estão mortos pelo pecado, eles concluem que Cristo morreu
por todos os homens. Admitindo este sentido das palavras, eles provam nada mais, que todos por
quem Cristo morreu eram mortos em pecado; o que é a pura verdade; pois os eleitos de Deus estão
mortos em transgressões e pecados, enquanto num estado natural, bem como os outros; mas não que
Cristo morreu por todos os que estavam mortos pelo pecado: e por isso, mesmo de acordo com esta
interpretação, eles nada concluem em favor da salvação universal, ou contra a redenção particular.
Embora não pareça que este seja o sentido das palavras, uma vez que estar morto no pecado não é
consequência da morte de Cristo, isto é, a alguém que está dependendo de tal morte; pois teria sido
uma verdade, que todos os homens descendentes de Adão, estavam mortos no pecado, se Cristo
nunca tivesse morrido; ou se Ele tivesse morrido por alguns ou por ninguém; muito menos alguém
morrendo no pecado é o fruto da morte de Cristo, ou aquilo que coloca as pessoas numa capacidade
de viver para Cristo, que a morte aqui mencionada é intimada para ser e fazer; mas, pelo contrário,
esta morte é o fruto do pecado, e é o que torna as pessoas incapazes, enquanto sob o poder dele, para
viver para Cristo. E, portanto,
3. Quando aqueles por quem Cristo morreu, são ditos estar mortos mediante a Sua morte por
eles, o significado é que ou eles estavam mortos com Ele, ou nEle, como se lê na versão Etíope, seu
cabeça e representante federal; quando Ele foi crucificado eles foram crucificados com Ele, e assim
era o seu homem velho, de modo que o corpo do pecado é desfeito, para que não sirvamos mais ao
pecado; ou que eles estavam mortos para a lei pelo corpo de Cristo, como para a maldição dela, e a
condenação por ela; e morto para o pecado, como ao seu poder condenatório, de modo que eles
foram absolvidos, descarregados e justificados dele; cuja consequência é uma libertação do poder
reinante e domínio dele. Portanto, estando assim mortos para a lei e o pecado, eles são capazes, por
meio da ajuda da graça Divina, de viver para a justiça e para a glória de Cristo; tudo o que é
privilégio dos santos, e o fruto e efeito da morte de Cristo. Agora, como o primeiro sentido das
palavras nada conclui a favor da morte de Cristo por cada indivíduo da humanidade; este último
sentido, o qual é tão genuíno, fortemente conclui contra ela; uma vez que todos os homens não estão,
nem estarão mortos para a lei e para o pecado.
III. A redenção universal é defendida a partir do propósito da morte de Cristo; que é, para que
os que vivem, não vivam mais para si, mas para Aquele que por eles morreu. Sobre o que é
observado: “Esta certeza deve ser o dever de todos os Cristãos em particular (a menos que existam
alguns Cristãos que não são obrigados a viver para Cristo, mas sim em liberdade de viver para si
[113]
mesmos), e que a morte, que é o motivo para isto, deve ser destinada a todos eles”. A isso
acrescento, em vez de responder, que esta é uma forma de raciocínio que não pode ser contrariada,
certamente é o dever de todos os Cristãos viverem para Cristo, e ninguém está em liberdade para
viver para si mesmo; e não será negado, que a morte de Cristo foi destinada para todos eles, já que
todos os Cristãos, os tais que realmente são os crentes, estes são os eleitos de Deus. Contudo, então,
existe uma grande diferença entre estas duas proposições, Cristo morreu por todos os Cristãos, e
Cristo morreu por todos os homens. A menos que se possa pensar que todos os homens, turcos,
judeus e índios sejam Cristãos. O argumento do propósito da morte de Cristo, aqui mencionado, é
[114]
formado de uma maneira muito melhor, e com propósito melhor, pelos Remonstrantes, assim,
“Aqueles que devem viver para Cristo, por eles Cristo morreu; mas não apenas os eleitos devem
viver para Cristo, pois Cristo não morreu somente pelos eleitos”. Ao que eu respondo que embora
este argumento possa parecer plausível, entretanto não tem fundamento no texto, que não diz que
Cristo morreu por todos eles que devem viver para Ele; mas apenas, no máximo, prova, que aqueles
por quem Ele morreu, devem viver para Ele: todos os homens devem viver para Cristo como Deus,
como o Criador deles, eles são obrigados a isto pelas leis da Criação, e pelos laços da natureza, se
Ele morreu por eles ou não, e de fato, supondo que Ele nunca tivesse morrido por qualquer um; mas
além da obrigação da criação, existe uma nova sobre tais por quem Ele morreu para viver com Ele:
[115]
daí não segue “dizer que Cristo morreu apenas por alguns de todas as nações, judeus e gentios,
é isentar todos os outros daquelas nações de viver para Cristo”, pois embora eles não sejam
obrigados a viver para Cristo em consideração da redenção por Ele; ainda, porque eles são Suas
criaturas, e são providos com as misericórdias temporais dEle: e quanto ao que é mais observado,
[116]
que “dizer que Ele morreu por todos os eleitos, que aqueles que vivem, podiam não viver para
si, é supor que alguns dos eleitos podiam viver, não para Cristo, mas para si mesmos; o que não pode
ser verdadeiramente imaginado dos eleitos de Deus”. Eu respondo, que há uma propensão em todos
os eleitos de Deus, mesmo depois que eles são feitos espiritualmente vivos, de viverem para si
mesmos, e não para Cristo; e portanto, tal argumento extraído da morte de Cristo por eles em
particular é um argumento muito bom para animá-los para os seus deveres, e envolvê-los com toda a
prontidão e ânimo para buscar a glória e a honra de seu Redentor.
IV. Que Cristo morreu por todos os homens, é argumentado, pelo amor de Cristo constrangendo
[117]
os apóstolos a pregar o Evangelho a todos; e é dito, o apóstolo “declara, que o sentido deste
amor de Cristo prevaleceu sobre eles para persuadir os homens a crerem nEle. Agora esta persuasão
eles usaram para cada homem a quem eles pregaram; e portanto, eles persuadiram todos os homens a
crerem que Cristo morreu por eles (Colossenses 1:28)”. Ao que eu respondo; “Não era o amor de
Cristo, mas o terror do Senhor, que prevaleceu sobre eles para persuadir os homens (v. 11), e não é
dito que eles persuadiram todos os homens, mas os homens; pois não foi a todos os homens a quem
eles pregaram. Além disso, esta persuasão não era crer em Cristo, mas num julgamento geral, para o
qual todos serão convocados (v. 10), muito menos crer que Cristo morreu por todos a quem eles
pregaram; deste tipo de persuasão não temos exemplo, nem aqui nem em Colossenses 1:28 nem em
qualquer outra passagem da Escritura.
SEÇÃO 40

2 Coríntios 5:19: “Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes
imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação”.

[118]
Este texto é citado para confirmar a verdade da redenção geral. Alega-se fazer isso além do
esperado, mas se ele faz ou não, aparecerá melhor quando,
I. For considerado que a palavra mundo não pode ser entendida como sinônimo da inclusão de
cada homem ou mulher que estavam, estão ou estarão no mundo. Pois,
1. Todos e cada um desses que estavam, estão ou estarão no mundo não estão reconciliados com
Deus. O texto diz: Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo; o que deve ser entendido
que Ele está fazendo isso ou de forma intencional, ou verdadeira. Se for intencionalmente apenas, ou
seja, se Ele pretende reconciliar o mundo consigo mesmo por Cristo e criou o esquema para a
reconciliação do mundo a Ele, será que as Suas intenções podem ser frustradas? Ou Seu conselho
não será aceito e seguido? Será que Ele não fará tudo o que Lhe apraz? Pode um esquema tão
sabiamente desenvolvido por Ele em Seu Filho acabar em nada? Será que pelo menos apenas uma
parte seria consumada? Assim deve ser o caso, se era Seu propósito reconciliar cada indivíduo da
humanidade conSigo mesmo, pois há um grande número deles que não estão reconciliados. Mas, se
as palavras devem ser entendidas como uma reconciliação verdadeira por Cristo, que é certamente o
sentido do verso anterior, e tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou conSigo mesmo por meio
de Jesus Cristo; então é incontestável que não se pode tomar o significado da palavra mundo em tão
larga escala de modo a incluir cada homem e mulher no mundo. Não pode, pois existem multidões
que morrem em seus pecados, num estado de inimizade contra Deus e Cristo, cuja paz não é feita com
Deus, nem eles reconciliados ao Seu modo de salvação por Seu Filho. Realmente, é dito: “O
significado destas palavras é simplesmente este: Ele estava oferecendo por meio de Cristo uma
reconciliação com o mundo e prometendo aos que cressem nEle, a absolvição de suas ofensas
[119]
passadas”. Ao que eu respondo: Admitindo que o ministério da Palavra seja determinado neste
verso, não uma oferta de reconciliação para o mundo; mas uma proclamação ou declaração de paz.
Tudo isso feito pelo sangue de Jesus, uma reconciliação por meio da morte do Filho de Deus, e, nem
esse é o ministério da reconciliação enviado a todos os homens, que abrange milhões de pessoas que
estavam já mortas antes disso, que nunca ouviram falar deste ministério, desde que a palavra da
reconciliação foi dada aos apóstolos, e esta também nem chegou a todos quantos estavam vivos
naquela presente época. Além disso, o texto não fala do que Deus fez por intermédio do ministério de
Seus apóstolos, mas do que Ele mesmo havia feito em Seu Filho, o que era antes, e deu origem a, e
era o fundamento dos seus ministérios. Existia um esquema de reconciliação desenvolvido nos
conselhos de Deus antes da fundação do mundo, e uma reconciliação real pela morte de Cristo, que é
declarada no Evangelho pelos Seus ministros, a qual não é declarada a toda a humanidade. Nem os
apóstolos rogavam por todos os homens a quem eles pregavam, para serem reconciliados com Deus.
A exortação no verso seguinte, que vos reconcilieis com Deus, não é dada a todos os homens, mas
aos crentes de Corinto, pelos quais Cristo foi feito pecado, e eles feitos justiça de Deus nEle.
2. Não pode ser dito de cada homem e mulher do mundo que Deus não imputa as suas
transgressões a eles; enquanto isto é dito do mundo aqui: Bem-aventurado o homem a quem o Senhor
não imputa o pecado. Mas esta bem-aventurança vem sobre todos os homens? Os pecados de alguns
homens são manifestos, precedendo o juízo; e em alguns eles manifestam-se depois (1 Timóteo 5:24).
[120]
Dizer que Deus está neste verso “prometendo-lhes, aos que crerem nEle, a absolvição de suas
ofensas passadas”, é colocar uma construção errada sobre as palavras. Pois, aqui não é uma
promessa do que Deus faria se os homens cressem, mas uma declaração daquilo que Ele estava
fazendo. Além disso, se apenas uma absolvição de ofensas passadas é prometida, o que deve ser
feito com as que vêm depois? E após tudo ser considerado, os que creriam ou creem não são todos os
homens e mulheres existentes no mundo.
II. Existe uma boa razão para concluir que o mundo inteiro, o qual a citação mencionada se
refere, deve ser restringido aos eleitos de Deus; uma vez que essas são as pessoas cuja paz é Cristo e
são reconciliadas com Deus por Sua morte, cujos pecados não são imputados a elas, e contra quem
nenhuma acusação de qualquer proveito pode ser estabelecida. Talvez possa se pensar no povo de
Deus entre os gentios, já que,
1. Eles são chamados em todo o mundo e são ditos ser reconciliados (Romanos 11:12, 15), sim,
no mundo todo, por cujos pecados Cristo é a propiciação (1 João 2:2). Nem era a coisa mais comum
entre os judeus chamar os gentios µlw[j twmwa, as nações do mundo. Dr. Hammond, pelo termo
mundo, neste lugar, entende que é a maior e pior parte dele, os gentios.
2. Este sentido também concorda com o contexto. Nos versos 14 e 15, o apóstolo afirma que
Cristo morreu por todos, tanto gentios quanto judeus e acrescenta no verso 16, Assim que daqui por
diante a ninguém conhecemos segundo a carne, e ainda que também tenhamos conhecido Cristo
segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos deste modo; ou seja, nós não fazemos diferença
em nosso ministério, nem em nossa estima, valor e afeto pelas pessoas, com respeito à descendência
carnal delas, ou seja, se elas nascem de pais judeus ou gentios: e, ainda que também tenhamos
conhecido Cristo segundo a carne; como Ele tinha valor como um judeu, como um de nosso próprio
país, acolheu-se noções brutas acerca dEle e acerca de um livramento temporal dos romanos, e um
reino temporal a ser erguido entre nós por Ele; contudo agora já não O conhecemos deste modo; nós
temos deixado nossas antigas apreensões carnais a respeito dEle, e apenas olhamos para Ele como
um Salvador espiritual de judeus e gentios. Assim que, no verso 17, se alguém, judeus ou gentios,
está em Cristo, nova criatura é; ou que ele seja uma nova criatura; que é a principal coisa que nós
consideramos. As coisas velhas já passaram; a economia do Velho Testamento está abolida; eis que
tudo se fez novo, sob a dispensação do Evangelho; daí agora, em Cristo Jesus nem a circuncisão, nem
a incircuncisão tem virtude alguma, mas sim o ser uma nova criatura; pois este é o assunto do nosso
ministério. Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, tanto gentios quanto judeus.
3. Que a reconciliação foi feita tanto para gentios quanto para judeus. Essa não era apenas uma
razão pela qual os apóstolos, a quem a palavra de reconciliação foi comissionada, levaram-na entre
os gentios, mas era também um argumento nobre para encaixar os gentios crentes em Corinto para
eles considerarem a exortação que lhes tinha sido feita, no verso 20, que vos reconcilieis com Deus,
isto é, às suas providenciais dispensações para com eles, para a ordem e ordenanças de Sua casa,
para a forma de disciplina que Ele tinha fixado na igreja, e para todas as leis de Cristo, como Rei
dos santos, uma vez que Deus estivera reconciliando-os para Si mesmo por Seu Filho, os efeitos
abençoados dos quais eles então gozavam. Esta exortação não foi feita para os pecadores não
[121]
convertidos, muito menos para os não-eleitos; mas para a igreja de Cristo, professando fé nEle,
que foi reconciliada com o modo de salvação de Deus por meio dEle.
SEÇÃO 41

2 Coríntios 6:1: “E nós, cooperando também com ele, vos exortamos a que não recebais a graça
de Deus em vão”.

[122]
Esta Escritura geralmente permanece entre as provas da defectibilidade ou apostasia dos
santos, de onde se conclui que um homem pode receber a verdadeira graça de Deus na regeneração
em vão, a qual pode tornar-se inútil e de nenhum proveito, pois pode ser perdida, e eles mesmos
perecer eternamente. Mas,
1. Não devemos entender por graça de Deus, aquela graça que é implantada na alma dos homens
no momento da sua regeneração, pois essa não pode ser recebida em vão; ela sempre produz o seu
fruto adequado e efeitos designados; ela começa, continua e consuma a obra da santificação; é uma
incorruptível semente imortal, que nunca morre; ela não pode ser perdida em qualquer parte ou ramo
da mesma; é uma fonte viva que jorra para a vida eterna; ela está íntima e inseparavelmente ligada à
glória eterna; a todos aqueles a quem Deus dá graça, Ele dá glória; a quem chama e justifica, a estes
também glorifica.
2. A graça de Deus, por vezes, deve ser entendida como os dons da graça e, em particular, como
os que qualificam os homens para a obra do ministério, em cujo sentido é usado pelo apóstolo Paulo,
em Romanos 1:5 e 12:6; Efésios 3:8; 1 Coríntios 15:10; da qual ele tinha uma grande medida; nem
foi em vão graça que foi concedida a ele, visto que trabalhou muito mais do que todos os demais
apóstolos. E parecerá razoável tomar a frase no mesmo sentido aqui, se considerarmos as palavras
enquanto estão em conexão com a última parte do capítulo anterior, e alguns versos a seguir neste,
desta maneira; considerando a palavra e ministério da reconciliação que está confiado a nós, e nós
somos embaixadores de Cristo; não apenas pedimos, aos membros da igreja de Corinto, que se
reconciliem à ordem do Evangelho, e às leis de Cristo em Sua casa, mas cooperando (não com Ele,
isto é, Deus ou Cristo, o que não está no texto), como companheiros de trabalho na vinha do Senhor,
como em união na causa da mesma embaixada da paz; nós vos rogamos, também, os ministros da
Palavra nesta igreja, que não recebam a graça de Deus em vão; isto é, que vocês tomem cuidado para
que os dons concedidos a vocês não sejam negligenciados e inutilizados, mas que vocês os usem e
desenvolvam para proveito da igreja e para a glória de Cristo, entregando-vos ao estudo, meditação
e oração e por esforçarem-se constantemente na Palavra e na doutrina; e também, que vocês tenham
uma austera preocupação com as suas vidas e conversas, não dando qualquer escândalo em qualquer
coisa, que ponha alguma pedra de tropeço no caminho daqueles que estão sobre o vosso cuidado,
para que o ministério não seja censurado, verso 3 (pois, o verso 2 está incluído em um parênteses), e
em seguida, adiciona os apóstolos, mas em todas as coisas recomendando, συνιστάνοντες, a si
mesmos como ministros de Deus, na muita paciência, etc.
3. A graça de Deus muitas vezes intenciona a Doutrina da Graça, ou o Evangelho da graça de
Deus, como em Tito 2:11, Hebreus 12:15; Judas 1:4; o que pode ser realmente chamado, uma vez que
é uma declaração do amor e da graça de Deus para com os homens pecadores; ela atribui o conjunto
da salvação a isso, e é o meio de implantar a graça de Deus nos corações de Seu povo, na
regeneração. Agora a graça de Deus, nesse sentido, ou seja, a Doutrina da Graça, pode ser recebida
em vão, de modo que ela pode tornar-se inútil, não ter nenhum efeito real, nem produzir qualquer
fruto verdadeiro; como foi o caso daqueles que foram semeados à beira do caminho, nos lugares
pedregosos, e entre os espinhos; e é o caso, sempre que ela vem somente em palavra; é recebida, não
no coração, mas apenas na cabeça; quando a vida e conversa não está em processo de transformação;
e, especialmente, quando é abusada ao ser utilizada para fins vis, ou seja, quando os homens
transformam esta Doutrina da Graça de Deus em libertinagem; e quando, além disso, eles a rejeitam,
a negam e caem dessas verdades do Evangelho que eles antes professavam; e uma vez que isso
muitas vezes é o caso, uma súplica, uma exortação deste tipo feita para uma igreja visível,
constituída por professos verdadeiros e nominais, não pode ser imprópria; nem devemos supor que
os verdadeiros crentes podem cair da ou perder a verdadeira graça de Deus na regeneração.
SEÇÃO 42

2 Coríntios 11:2-3: “Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; porque vos tenho preparado
para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo. Mas temo que, assim
como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte
corrompidos os vossos sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo”.

Os receios do apóstolo expressos nestas palavras, e em Gálatas 4:11, 1 Tessalonicenses 3:5,


para que pessoas piedosas não fracassassem, são imaginados fortalecer ainda mais o argumento
[123]
contra a perseverança final dos santos. Pois, é dito que se os apóstolos, pelos ditames do
Espírito Santo, haviam declarado que Deus prometera, absolutamente, uma vez que os homens
realmente piedosos devem perseverar até o fim, como eles poderiam expressar razoavelmente seus
receios, para que não fosse de outra forma? Ao que eu respondo:
1. Os receios do apóstolo acerca das pessoas referidas nessas várias passagens não eram para
que elas não caíssem do amor e favor de Deus, nem da graça que foi implantada nelas, e assim
fracassassem de ir ao Céu e ter felicidade eterna. Os receios dos ministrantes da graça de Deus eram
que a sutileza de Satanás e seus instrumentos, os falsos mestres, corromperiam as mentes e
julgamentos dos salvos em qualquer grau de pureza e simplicidade do Evangelho de Cristo, ou seja,
que eles de alguma forma cairiam em doutrinas errôneas ou concordariam com as práticas
judaizantes. Assim o trabalho deles e de seus ministros companheiros, em instruir e estabelecê-los
nas verdades do Evangelho, seria em vão.
2. Os receios do apóstolo, para que essas pessoas não devessem cair neste sentido, mesmo que
elas pudessem cair nas piores circunstâncias, não são provas de que elas caíram. Mas, as palavras
do apóstolo estavam, no máximo, declarando suas apreensões do perigo que correram. E é certo que
os santos mais eminentes estão em perigo, em virtude das artimanhas de Satanás, a astúcia de falsos
mestres, as perseguições do mundo, e a corrupção de seus próprios corações, de cair de sua firmeza
na fé. Contudo, É devido AO PODER ONIPOTENTE E À GRAÇA DE DEUS, que eles são em
qualquer medida preservados. O apóstolo poderia expressar seus receios por causa dessas coisas
sem qualquer contradição ou hesitação acerca da promessa absoluta de Deus da perseverança final
dos santos, e sua fidelidade no desempenho desta.
3. O zelo e os temores do apóstolo, acerca dessas pessoas, expressos com tal preocupação terna
e afetuosa, podem ser propositadamente dirigidos e poderosamente transformados em uma benção a
elas pelo Espírito. Ele era de fato assistido pelo Espírito Santo, como um meio da preservação dos
seus adeptos dos falsos princípios e práticas que eles estavam em perigo de cair. Assim, com o
cuidado do apóstolo e o poder do Espírito Santo, a promessa absoluta de Deus, de preservação final
dos Seus eleitos, seria realizada.
O receio, o zelo, o cuidado e a vigilância do apóstolo de si mesmo, expressa em 1 Coríntios
9:27, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado,
não implica qualquer possibilidade ou perigo, ou suposto perigo de condenação eterna dele ou deles.
[124]
A palavra adókimo, não designa um réprobo (que não pode ser salvo), como se fosse essa
crença em oposição a uma pessoa eleita; pois o apóstolo sabia em Quem ele cria e estava certo que
nada poderia separá-lo do amor de Deus; mas a sua preocupação era que ele não fizesse qualquer
coisa que pudesse trazer uma reprovação sobre o Evangelho, e seu ministério ser comprovadamente
culpado e levado ao desprezo e assim fosse rejeitado e desaprovado pelos homens e se tornasse
inútil.
SEÇÃO 43

Filipenses 2:12: “De sorte que, meus amados, assim como sempre obedecestes, não só na minha
presença, mas muito mais agora na minha ausência, assim também operai a vossa salvação com
temor e tremor”.

Estas palavras são apresentadas como se militassem contra o decreto da reprovação de Deus, a
passividade do homem na salvação, a graça infrustrável na conversão e a perseverança final dos
santos.
[125]
1. Afirmam que Deus seriamente convida, exorta e requer de todos os homens que operem
sua salvação, e ainda, por Seu decreto da reprovação, cancela essa possibilidade para maior parte
deles e reduz o Evangelho de Cristo ao escárnio. Mas deve-se observar que essa exortação não é
dada a todos os homens, e particularmente não é dada aos réprobos (os que não podem ser salvos),
[126]
mas aos homens que já creem e são convertidos, como é comprovada em outro lugar. Essa
exortação é dada a todos os santos em Cristo Jesus, que estão em Filipos com os bispos e diáconos,
nos quais uma boa obra da graça foi iniciada. A esses crentes foi concedido tanto o crer em Cristo,
como também padecer por Ele; os quais eram amados pelo apóstolo, sempre obedeceram ao Senhor,
e em cujos corações Ele foi operando tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade.
Agora a exortação as estes, e àqueles que estão no mesmo estado e condição destes, para operar a
sua salvação. Aos que têm um princípio de vida espiritual neles e têm medidas da graça e força dada
a eles são responsáveis em cumprir aquilo para o qual eles são exortados, para não tornar o
Evangelho de Cristo um escárnio. Nunca se pode imaginar os salvos como réprobos. Isso também
não contradiz o decreto da reprovação de outros. Esse decreto nasce da vontade soberana e justa de
Deus, mas isso não significa que ele seja a causa da condenação do homem, e sim o pecado.
[127]
2. Pergunta-se , “Se uma física e irresistível operação é requerida da parte de Deus, o que
torna necessário para que possamos querer e fazer, por que então somos então ordenados a operar a
nossa própria salvação? Pois quem pode agir onde somos puramente passivos?”. Ao que eu
respondo: Estas palavras são ditas aos homens já convertidos, nos quais a obra de regeneração já foi
operada, obra essa em que eles foram puramente passivos; embora agora, tendo um princípio de vida
espiritual e sob as influências da graça de Deus sejam capazes de ser ativos na operação de sua
própria salvação, que é algo distinto de conversão e regeneração. E não deve ser entendido, nem um
pouco, como se esses homens pudessem adquirir e obter a salvação espiritual e eterna por seus
próprios desempenhos, o que é contrário às Escrituras. Os salvos atribuem a salvação, em geral e em
parte, à graça de Deus. A salvação pelas obras do homem é contrária à glória das Divinas perfeições
da sabedoria, da graça e da justiça, e seria inconsistente com a fraqueza e a impotência dos próprios
crentes. Além disso, as melhores obras dos homens são imperfeitas, e, por mais perfeitas que elas
conseguissem ser, não poderiam ser meritórias, já que os requisitos de mérito estão faltando neles.
Soma a esta verdade o fato de que a salvação é obtida somente por Cristo e já é completa nos
convertidos. Ela não deve ser operada agora, ou por Cristo ou pelos crentes. E, se fosse adquirida
pelas obras dos homens, a morte de Cristo seria em vão, a ostentação na criatura não seria excluída,
e as obrigações dos homens a Deus e a Cristo seriam grandemente enfraquecidas. Já que esse sentido
das palavras é tratado com tais dificuldades insuperáveis, elas nunca podem ser o que o verdadeiro
significado das palavras era. Que seja observado que as palavras podem ser traduzidas como se
[128]
esforce a respeito da sua salvação, ou seja, ocupe-se em coisas que, embora não essenciais à
salvação, ainda assim acompanham a salvação. Essas coisas devem ser realizadas por todos aqueles
que a esperam, embora não façam com que a salvação seja esperada pela realização delas. Tais
obras que acompanham a salvação, como o ouvir da Palavra; submissão às Ordenanças do
Evangelho; um desempenho de cada parte da obediência espiritual e evangélica, aos quais o apóstolo
elogia no início deste verso. Desde que eles sempre obedeceram, não só em sua presença, mas muito
mais agora em sua ausência, ele os exorta a continuar dessa maneira alegre a obediente até o fim de
seus dias, quando devem receber o alvo de sua fé. Tal alvo a qual eles estavam visando, e esperando
era isto mesmo: a salvação de suas almas. A versão Siríaca, mesmo não sendo uma tradução
rigorosa, ainda dá o sentido exato das palavras ao interpretá-las ˆwkyyjd anhlwp wjwlp, ou seja,
façam a obra ou negócio de suas vidas, ou seja, a sua obra de geração, aquilo para qual Deus tem
designado e nomeado para cada um nesta vida. Eles eram responsáveis a fazerem tudo com temor e
tremor, com toda humildade, não confiando em sua própria força, mas dependendo da graça de Deus,
que opera nestes tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade.
3. Essa exortação para operar a salvação com temor e tremor, sendo direcionada a esses que
estavam, no momento, num estado de graça diante de Deus, e nos quais Ele começou a boa obra, com
os outros, uma exortação dirigida para as igrejas e pessoas temerem para não caírem e, finalmente,
fracassarem, tais como: Provérbios 23:17 e 28:14, Romanos 11:20, Hebreus 4:1 e 12:28, 1 Pedro
1:17; fazem parte de um argumento contra qualquer decreto absoluto ou promessa de Deus, contra a
[129]
perseverança final dos santos, por isso, é dito: “Que fundamento de temor pode existir onde
Deus tem, absolutamente, decretado outorgar essa salvação e fica obrigado pela promessa a fornecer
aqueles meios que a produzirão de forma infalível?”. Ao que eu respondo:
1. A exortação aos Filipenses para exercitar a sua salvação com temor e tremor não deve ser
entendida como um medo servil do Inferno e da condenação, ou para que eles não caiam e finalmente
falhem; já que isto teria sido uma desconfiança do poder e da fidelidade de Deus, e assim seria um
crime da parte deles. Também não é razoável supor que o apóstolo exortá-los-ia a tal medo, quando
ele próprio estava extremamente confiante que aquele que começou a boa obra neles a aperfeiçoaria
até o dia de Jesus Cristo. (Filipenses 1:6). Além disso, a exortação seria estranhamente formada se
este fosse o sentido dela, exercitar a vossa salvação com temor da condenação, mas como a frase
com temor e tremor sempre opera, sempre que utilizadas, significam aqui também a modéstia e
humildade, sendo opostas ao orgulho e à vã confiança; como em Romanos 11:20, não te
ensoberbeças, mas teme, sentido que perfeitamente concorda com a concepção geral do apóstolo
neste capítulo, que é atrair os santos a uma postura modesta e humilde em toda a vida. Esse estilo de
vida uns com os outros, e em todos os ramos do dever é exortado pelo exemplo de Cristo, em Sua
encarnação, humilhação e morte. Em imitação a Ele, Paulo os exorta a uma obediência constante e
alegre, com toda a humildade da alma, sem serem egoístas por tê-la, ou presumirem a vanglória por
conhecê-la; mas atribuindo-a inteiramente à graça de Deus, que opera em nós tanto o querer quanto o
efetuar, segundo a Sua boa vontade.
2. Várias das passagens referidas, tais como: Provérbios 23:17 e Provérbios 28:14, Hebreus
12:28, 1 Pedro 1:17, devem ser entendidas não como um medo da apostasia, mas como um temor
filial, espiritual e evangélico de Deus; que é uma graça do Espírito de Deus, um ramo da nova
aliança, e de uma ocasião importante para guardar os santos de um desvio total e definitivo de Deus.
Porei o meu temor nos seus corações, para que nunca se apartem de Mim (Jeremias 32:40).
3. O apóstolo, em Hebreus 4:1, fala na verdade, de uma cautela temerária da queda. Contudo,
não exorta os crentes hebreus a temerem que algum deles deve ficar para trás deixando a promessa
de entrar no seu descanso, como o Dr. Whitby cita as palavras, mas que nenhum deles pareça ficar
para trás. Agora, entre deve ficar para trás e pareça ficar para trás há uma grande diferença. Apesar
de que não havia perigo de ficar para trás, fora do Céu, contudo, na medida em que tornavam o
próprio o andar desagradável, eles podiam parecer aos outros que ficavam para trás, portanto, para a
glória de Deus, para a honra do Evangelho, para o crédito da religião e para o bem dos outros, isso
fez com que eles se tornassem tão atentos, cautelosos, cuidadosos e zelosos com as suas
conversações que não davam ocasião a qualquer um para tecer tal opinião deles. Por isso, parece
que todo o raciocínio contra a doutrina da perseverança final dos santos, fundada sobre estas
exortações escriturísticas, para temer, são vãs e impertinentes.
SEÇÃO 44

1 Timóteo 1:19-20: “Conservando a fé, e a boa consciência, a qual alguns, rejeitando, fizeram
naufrágio na fé. E entre esses foram Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para
que aprendam a não blasfemar”.

[130]
Entre os casos de apostasia dos santos, está, I. Himeneu, Alexandre e seus associados, que
[131]
são aqui referidos rejeitarem uma boa consciência e fazerem naufrágio da fé. “Agora”, é dito,
“rejeitar uma boa consciência pertence somente àqueles que já a tinham, e deveriam tê-la mantido, e
fazer naufrágio na fé, de modo a blasfemar contra a doutrina que uma vez professaram, é certamente
cair na profissão dela”. E esses casos são representados como uma refutação suficiente de todos os
argumentos produzidos a partir da Escritura para a Doutrina da Perseverança. Mas,
1. Deve ser provado que esses homens uma vez eram homens de bem, e tinham a verdade da
graça neles; caso contrário, não há nenhum caso de apostasia dos santos. Himeneu e Alexandre, que
são mencionados pelo nome, eram homens vis, maus; aquele era um falador profano e vão, que não
passou da verdade da graça para um curso de pecado, mas de um menor grau de impiedade (1
Timóteo 2:16-17), para mais iniquidade; o outro, que parece ser o mesmo com Alexandre, o latoeiro
(2 Timóteo 4:14-15) fez muito mal ao apóstolo Paulo e não somente resistiu às suas palavras e
doutrinas, mas também às dos outros.
2. Sua rejeição de uma boa consciência, não implica necessariamente que anteriormente tinham
uma, uma vez que pode-se rejeitar e pôr de lado o que nunca foi tido. Assim, os judeus, que
contradiziam e blasfemavam contra a Palavra de Deus, nunca a receberam, nem consentiram com ela,
o apóstolo diz, a rejeitais, ἀπωθεῖσθε (Atos 13:45-46), eles a rejeitaram, a mesma palavra que é
[132]
usada aqui e significa recusar, rejeitar qualquer coisa com ódio e desprezo. Estes homens
sempre tiveram um horror a uma boa consciência entre os homens, e uma boa vida e conversação, a
evidência disto, e, finalmente, retiraram a máscara, e abandonaram a fé que professavam, como
sendo contrária à sua consciência e práticas más. Porém, admitindo que esse termo supõe que uma
vez tiveram uma boa consciência, isto não deve ser entendido sobre uma consciência realmente
purgada e purificada pelo sangue de Cristo; mas de uma boa consciência na aparência externa
somente, ou em comparação com o que eles depois pareciam ter. Além disso, alguns homens,
privados da graça de Deus, podem ser ditos ter uma boa consciência, em algum sentido, ou com
relação a alguns fatos particulares, ou quanto à sua conduta geral e comportamento entre os homens;
de modo que o apóstolo Paulo, embora não-regenerado, viveu em toda a boa consciência (Atos 23:1)
e diz-se dos pagãos não esclarecidos, que sua consciência também testemunhavam, e os seus
pensamentos, quer acusando ou desculpando uns aos outros (Romanos 2:15). Agora, essas pessoas
tinham posto de lado, rejeitaram, e agiram contrários aos ditames da consciência natural; a deles foi
cauterizada com um ferro quente, e assim falaram mentiras em hipocrisia, dando ouvidos a espíritos e
doutrinas de demônios enganadores (1 Timóteo 4:1-2).
3. Será admitido, que fazer naufrágio da fé, de modo a blasfemar contra a doutrina que uma vez
professaram, é cair da profissão dela; mas então, cair da doutrina do Evangelho, e uma profissão
dela, e cair da graça e favor de Deus, ou a partir da graça da fé, são coisas diferentes. O ser humano
pode cair totalmente e, finalmente, a partir de um, mas não a partir do outro; e não é a graça, mas a
doutrina da fé, que é aqui concebida, e é o sentido em que muitas vezes é usado nesta Epístola (Veja
1 Timóteo 3:9; 4:1; 5:8; 6:21), embora admitindo a fé como uma graça que foi intencionada, o termo
fazer naufrágio da mesma, não é forte o suficiente para provar a total e definitiva queda de
verdadeiros crentes, fosse pensado ser tal o sentido aqui, uma vez que as pessoas podem naufragar e
não se afogar ou perder. O apóstolo Paulo, três vezes sofreu naufrágio (2 Coríntios 11:25), e ainda
assim, a cada vez foi salvo. Além disso, como há uma fé verdadeira e sincera, assim há uma fé
fingida e falsa, que pode existir em pessoas que não têm a verdadeira graça, e podem naufragar, de
modo a serem perdidas.
II. Os próximos exemplos de queda dos santos são Himeneu e Fileto, dos quais o apóstolo diz,
que eles desviaram-se da verdade, e perverteram a fé de alguns (2 Timóteo 2:18-19). Agora,
1. Como foi observado antes, deve ser provado que estes homens uma vez foram bons homens,
verdadeiros crentes em Cristo; o que, pelo contrário, parece é que eles tinham apenas uma aparência
de piedade, mas negaram o poder dela, eram homens vis e enganadores, que iam de mal a pior.
2. Quando, é dito deles, que, no que diz respeito à verdade, erraram; ou, como Dr. Whitby
considera as palavras, caíram para longe da verdade, pois, sobre tal tradução nós não disputaremos;
o significado não é que eles caíram para longe da verdade da graça em seus corações, que não é
manifesto que eles já tiveram, mas a partir da verdade do Evangelho na profissão dele, e,
particularmente, a partir desse ramo dele referente à ressurreição, dizendo que a ressurreição já
ocorreu.
3. Quando eles são ditos perverter a fé de alguns, isso não deve ser entendido sobre a
verdadeira graça da fé, o fim da qual é a salvação da alma, e não deve ser pervertida por homens ou
demônios, mas sobre uma fé doutrinária, ou uma fé histórica, que é um simples assentimento do
espírito a alguma proposição doutrinária, como aqui, a ressurreição dos mortos, e que teve um lugar
em alguns professos nominais, que aprendiam e nunca foram capazes de chegar ao conhecimento
salvífico da verdade; e depois de todos esses casos de queda da verdade e da subversão de fé, o
apóstolo diz, no entanto, que o fundamento de Deus permanece firme, tendo este selo: O Senhor
conhece os que são dEle, de modo que estes não são casos de apostasia dos santos verdadeiros.
III. Muitos judaizantes na igreja da Galácia, a seguir, parecem ser suspeitos de estar na lista
negra de apóstatas, de quem é dito (Gálatas 5:4) que haviam caído da graça; de onde argumenta-se,
[133]
que, portanto, devem ter permanecido anteriormente em um estado de graça, e,
consequentemente, que aqueles que uma vez conheceram a Deus podem cair de Sua graça e favor.
Mas deve ser observado,
1. Que, como, por um lado, tudo o que é dito nesta epístola, a essa igreja, em geral, não deve ser
aplicado a cada membro em particular; como que eles haviam recebido o Espírito através da
pregação da fé, eram todos filhos de Deus, e semelhantes; assim, por outro lado, não deve-se pensar
que todos eles caíram da graça, mas apenas aqueles que dentre eles foram justificados pela lei, isto
é, que procuravam pela justificação pelas suas obras; de modo que eles não eram as mesmas pessoas
individuais que caíram, a quem as melhores características da epístola pertencem.
2. A graça, de onde eles caíram não era a graça e favor de Deus em seu coração, nem qualquer
graça de Deus em seus corações; mas a Doutrina da Graça, em especial a da justificação pela graça
de Deus, através da justiça de Cristo, que tinham anteriormente professado, mas agora estavam se
afastando dela, e abraçando a doutrina da justificação pelas obras.
[134]
IV. A este tópico de exemplos de apostasia são referidas as predições da Escritura
relativas às pessoas que cairiam; tal como,
1. As palavras de nosso Senhor, em Mateus 24:12-13, são pensadas ser, por se multiplicar a
iniquidade, o amor de muitos esfriará; mas aquele que perseverar até o fim, esse será salvo. Ora,
estes muitos ou são hipócritas e professos formais, passíveis de serem enganado por falsos mestres
(verso 11), e por isso não são os eleitos de Deus, que não podem ser seduzidos (verso 24), e seu
amor não é outro senão um zelo chamativo pela religião, que no tempo, através da subtileza de falsos
mestres, as corrupções dos homens, e perseguições do mundo, diminui, esfria, e por fim, desaparece,
e assim não é nenhum exemplo de queda dos santos; ou então, estes muitos são os verdadeiros crentes
cujo amor a Cristo, embora possa esfriar nos maus momentos, entretanto, não deve ser perdido, como
aconteceu coma igreja em Éfeso, que diminuiu no fervor de seu primeiro amor, embora ela não o
tenha perdido; este exemplo, apesar de uma prova de decadência, contudo não o é de apostasia final
e total.
2. As palavras do apóstolo Paulo, em 1 Timóteo 4:1, são ditas para o mesmo fim: Ora, o
Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé; mas isso deve ser
entendido, não sobre uma queda da verdadeira graça de Deus, mas de um afastamento da doutrina da
fé; desde que segue, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios, falando
mentiras em hipocrisia, tendo a sua consciência cauterizada com ferro quente, proibindo o
casamento, e ordenando a abstinência de alimentos; estas coisas apontam claramente para apostasia
geral (2 Tessalonicenses 2:3.) das verdades do Evangelho, quando o homem do pecado e filho da
perdição, o Papa de Roma, for revelado.
V. Esta seria uma passagem adequada para considerar os casos de Davi, Salomão, Pedro,
[135]
Demas, e outros, que normalmente são supostos como provas da apostasia dos santos; mas estes
não são mencionados pelo escritor celebrado que eu principalmente intenciono. No entanto, apenas
observarei que, assim como Davi, embora, por sua queda, tenha tido seus ossos quebrados, e a
alegria da salvação interrompida, contudo, sua salvação estava segura e protegida; e embora as
graças do Espírito não pudessem ser exercidas por ele, entretanto o próprio Espírito não lhe foi
tirado, como se depreende de suas próprias palavras, quando mais sensível ao seu caso: “Não me
lances fora da tua presença, e não retires de mim o teu Espírito Santo. Torna a dar-me a alegria da tua
salvação, e sustém-me com um espírito voluntário” (Salmos 51:11-12).
Quanto a Salomão, embora sua apostasia tenha sido grande, e haja ocorrido com circunstâncias
agravantes, no entanto, não parece ser total, a partir de algumas expressões qualificadas em
consideração a ele; como, que o seu coração não foi perfeito para com o Senhor seu Deus, como fora
o de Davi, seu pai; e que ele não seguiu totalmente o Senhor, como Davi, seu pai (1 Reis 11:4, 6);
nem foi final; o que não é razoável supor de alguém que foi um tipo tão eminente de Cristo; e além
disso seria contrário à promessa que Deus fez a respeito dele, dizendo: “Eu lhe serei por pai, e ele
me será por filho; e, se vier a transgredir, castigá-lo-ei com vara de homens, e com açoites de filhos
de homens. Mas a minha benignidade não se apartará dele...” (2 Samuel 7:14-15). Além disso, ele
arrependeu-se de seus pecados, e o livro de Eclesiastes foi escrito por ele em sua velhice, como um
reconhecimento e retração de suas loucuras anteriores, e após a sua morte, algumas pessoas são
elogiadas por andarem no caminho de Davi e Salomão (2 Crônicas 11:17).
Quanto a Pedro, sua queda não foi total; Cristo orou por ele, para que a sua fé não desfalecesse;
nem final, pois ele foi rapidamente restaurado pelo arrependimento. E, quanto a Demas, que, muito
provavelmente, era um bom homem, já que ele é mencionado com os tais que eram assim
(Colossenses 4:14, Filemom 4:24); o que o apóstolo diz sobre ele (2 Timóteo 4:10), enquanto este o
havia abandonado, tendo amado o presente século, não é suficiente para provar que ele era um
apóstata, mais do que o afastamento de Marcos quanto a Paulo, como outros na Panfília; ou que o
muito amor do mundo, que é observado em muitos outros homens bons, valiosos, provaria que eles
sejam assim; no entanto, esses casos são registrados nas Escrituras para aviso nosso; para que aquele
que pensa estar em pé, cuide para que não caia.
SEÇÃO 45

1 Timóteo 2:4: “Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da
verdade”.

Essas palavras são usadas muitas vezes para opor-se ao decreto da reprovação de Deus e em
favor da redenção universal, mas se as usam com sucesso será visto quando for observado:
1. A salvação que Deus aqui deseja que todos os homens desfrutem não é uma mera
[136]
possibilidade de salvação para todos, nem coloca todos os homens num estado de quase obtê-
la, nem uma oferta de salvação a todos, nem uma proposta de dar meios suficientes dessa salvação a
todos em Sua Palavra. Isso é uma declaração de um desejo de Deus por uma salvação real, certa e
genuína, que Ele tem determinado que os homens devam ter, uma que Ele tem proporcionado e
assegurado na Sua aliança de Sua graça e enviou Seu Filho ao mundo para realizá-la, e Ele a realizou
completamente.
2. A vontade de Deus que todos os homens sejam salvos não é uma vontade condicional,
[137]
ou será uma que depende da vontade do homem ou de qualquer coisa a ser realizada pelo
homem? Pois, se este fosse o caso, ninguém poderia ser salvo; e se alguém deve ser salvo pelos seus
próprios meios, tal salvação seria do que quer, e do que corre, e não de Deus, que Se compadece, ao
contrário das palavras expressas da Escritura (Romanos 9:16), mas essa vontade de Deus, acerca da
salvação dos homens é absoluta e incondicional, uma vontade que infalivelmente a garante e a
produz. Não é tal vontade como é distinguível no antecedente e consequente com a primeira das quais
é dito que Deus deseja a salvação de todos os homens porque eles são Suas criaturas e obra de Suas
mãos; com a última Ele a deseja ou não, de acordo com a conduta futura e comportamento do homem.
Mas a vontade de Deus, relacionada à salvação do homem, é uma vontade completa, uma vontade
invariável, inalterável e imutável. Mas, se Ele resolveu alguma coisa, quem então O desviará? O que
Sua alma quiser, isso fará (Jó 23:13). Também não é meramente Sua vontade de aprovação ou
complacência, sendo apenas expressão do que Lhe agrada ou que é considerado bom a Ele; mas é o
Seu decreto, conforme o Seu propósito, é uma vontade determinante que nunca é frustrada, mas é
sempre cumprida. Eu sei que é observado por alguns, que não é dito que Deus sw~sai salvos facere,
salvará todos os homens, implicando que Ele gostaria de fazer; mas que Ele teria a todos os homens
swqh~nai salvos fieri, para serem salvos, significando que estes devem buscar a salvação, e usar
todos os meios para a obtenção dela, que, quando realizada, é agradável a Ele. Contudo, o outro
sentido deve ser abundantemente preferido.
3. Que todos os homens a quem Deus gostaria que fossem salvos, são aqueles que Ele também
teria de conduzir ao conhecimento da verdade; isto é, não a uma simples concordância, mas um
conhecimento experimental do Evangelho de Jesus Cristo, como o caminho, a verdade e a vida, ou
seja, do verdadeiro caminho da vida e da salvação por meio dEle. E todos os salvos por Deus são
trazidos pelo Seu Espírito e por Sua graça a uma familiaridade com essas coisas, que são um ato de
Sua vontade soberana e um caso característico de Seu favor, mesmo dAquele que ocultou estas
coisas aos sábios e entendidos, e as revelou aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim te aprouve
(Mateus 11:25-26). Então:
4. Não devemos entender cada indivíduo da humanidade por todos os homens a quem Deus quer
salvar, uma vez que essa não é a vontade dEle que todos os homens, neste amplo sentido, devem ser
salvos; pois é Sua vontade que alguns homens sejam condenados, muito justamente, por seus pecados
e transgressões. Estes são homens ímpios, que já antes estavam escritos para este mesmo juízo (Judas
1:4) e a quem será dito: apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno. Além disso, se fosse a
vontade de Deus que cada indivíduo da humanidade fosse salvo, então, cada um seria salvo;
porquanto, quem tem resistido à Sua vontade? Ou pode fazê-lo? Ele não faz segundo a Sua vontade
com o exército do Céu e os moradores da terra? (Romanos 9:19; Daniel 4:35; Efésios 1:11).
Não é verdade que Ele faz todas as coisas, segundo o conselho da Sua vontade? Sendo assim, é
certo que todos os homens, nesse amplo sentido, não são salvos, pois alguns irão para o tormento
eterno, mas os justos para a vida eterna (Mateus 25:46). Além disso, as mesmas pessoas que Deus
quer que sejam salvas, estas mesmas, Ele teria que fazê-las chegar ao conhecimento da verdade; mas
essa vontade não é em relação a cada indivíduo da humanidade. Se fosse Sua vontade, Ele sem
dúvida, daria a cada homem os meios para isso, o que Ele não fez, nem fará. Por muitas centenas de
anos, Ele deixou andar todas as nações em seus próprios caminhos, não tendo em conta os tempos da
ignorância. Mostrou a Sua palavra a Jacó, os Seus estatutos e os Seus juízos a Israel. Não fez assim a
nenhuma outra nação; e quanto aos Seus juízos, não os conhecem (Atos 14:16; 17:30; Salmos 147:19-
20). Para muitos a quem o Evangelho é pregado, Ele está escondido; alguns se entregaram às fortes
ilusões para acreditar numa mentira, e poucos são familiarizados salvífica e experimentalmente com
a verdade como ela é em Jesus.
[138]
5. Existem de fato muitas coisas incitadas em favor deste amplo sentido do termo todos os
homens.
1. Como a exortação do apóstolo, no verso 1, que se façam deprecações, orações, intercessões,
e ações de graças, por todos os homens; contudo, certamente, por todos os homens, não significa cada
indivíduo, isto é, ser humano, sem exceção, que está ou estará no mundo. Milhões de homens estão
mortos e já se foram, pelos quais a oração não deve ser feita. Muitos estão no Inferno, aos quais, ela
não seria de proveito algum; e muitos no Céu, que não têm necessidade disso. Nem devemos orar
pelos que têm cometido pecado para a morte (1 João 5:16). Além de ação de graças, bem como
orações, deveriam ser feitas por todos os homens; mas certamente o significado do apóstolo não é
que os santos devem dar graças por homens maus, e perseguidores e particularmente por um Nero
perseguidor; nem por hereges ou falsos mestres, tais como Himeneu e Alexandre, os quais Ele
entregou a Satanás. O termo deve, portanto, ser tomado num sentido limitado e restrito. Isso quer
dizer por alguns apenas, como aparece do verso 2, pelos reis, e por todos que estão em eminência;
isto é, por homens da mais elevada, bem como da mais baixa ordem e posição.
2. Este sentido é defendido, a partir da razão dada no verso 5, porque há um só Deus, “que é o
Deus de todos, o Pai comum e Criador de todos os homens”. Agora, “é dito, assim que Ele é o Deus
de todos os homens em particular; e assim este argumento deve mostrar que Ele deveria ter todos os
homens em particular, para serem salvos”. Ao que pode ser respondido que Deus é o Deus de todos
os homens, como o Deus da criação e da providência, mas não como o Deus da graça, ou de uma
forma de aliança, pois então Ele não distinguiria favor ou felicidade entre qualquer povo, que o
Senhor é o Seu Deus; de fato há um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em
todos vós, significando os crentes, a quem o apóstolo escreve (Efésios 4:6; Romanos 10:12) porque
um mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que O invocam.
3. Isso é argumentado a partir de um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus
Cristo homem; mas deve ser observado que Ele não é mencionado como o Mediador entre Deus e
todos os homens, e muito menos para cada homem individualmente. Desde que Ele é expressamente
chamado de o Mediador de uma nova aliança (Hebreus 12:24) Ele só pode ser um Mediador para os
que pertencem a esta aliança. Além disso, deve ser claro que Ele não realizou os diversos ramos de
Seu ofício mediatório, a oblação de Si mesmo na cruz, e a Sua intercessão no Céu, por cada homem.
E, embora a natureza que Ele assumiu seja comum a todos os homens, foi dotada com o melhor dos
sentimentos humanos, e sujeita à lei comum da humanidade. Contudo, já que foi assumida com uma
visão peculiar aos eleitos de Deus, a semente de Abraão, eles compartilham todas as bênçãos
peculiares e favores decorrentes da assunção de tal natureza.
4. É observado que Cristo é mencionado no verso 6, como o qual que Se deu a Si mesmo em
preço de redenção por todos, o que é entendido de todos os homens em particular. Mas deve ser
observado também, que esta redenção é ajntilutron uper pantwn, ou seja, uma redenção vicária,
substituída no lugar e em nome de todos, por meio do qual um preço total foi pago por todos, e uma
plena satisfação foi feita pelos pecados de todos, o que não pode ser verdade de cada homem
individualmente, pois assim nenhum homem poderia ser justamente condenado e punido. O sentido
dessas palavras é melhor compreendido por aquilo que Cristo mesmo disse: O Filho do homem não
veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos (Mateus 20:28).
Assim, a palavra Hebraica lk todos, a qual esta se compara, às vezes significa muitos, uma multidão;
[139]
e, por vezes, apenas uma parte de uma multidão, como Kimchi observou. Portanto,
[140]
5. É melhor entender por todos os homens alguns de todos os tipos, como Agostinho fez há
muito tempo, e é o sentido em que a palavra todos deve ser considerada em muitos lugares; como em
Gênesis 7:14; Mateus 4:23, 24; Joel 2:28. Esse é o significado dela no verso 1 e concorda bem com
o contexto; desde que Cristo redimiu alguns de todas as nações, alguns de toda a tribo, povos e
línguas; e Deus salva e chama alguns de todas as classes e qualidades, como reis e camponeses; de
cada estado e condição, como ricos e pobres, escravos e livres; de sexo, masculino e feminino; de
todas as idades, jovens e velhos, e todos os tipos de pecadores, grandes e pequenos. É dito
[141]
realmente, que, de acordo com essa limitação e sentido das palavras, Deus está disposto que
alguns de todos os tipos e pessoas sejam salvos; pode ser dito mais verdadeira e propriamente, que
Deus deseja que todos os homens sejam condenados, e que Cristo morreu por ninguém; já que
aqueles por quem Ele morreu são nada, de acordo com essa doutrina, comparativamente ao maior
número por quem Ele não morreu. Ao que eu respondo, não compete a nós dizer o que poderia ser
mais verdadeiro e propriamente dito por Deus, ou um escritor inspirado. No entanto, isto é certo, que
todo o mundo está no maligno (1 João 5:19) assim existe um mundo que deve ser condenado; o que
concorda com o que o apóstolo Paulo diz em tantas palavras, que o mundo deve ser condenado.
Somos repreendidos pelo Senhor para não sermos condenados com o mundo (1 Corinthians 11:32).
Além disso, embora aqueles por quem Cristo morreu sejam poucos comparativamente, contudo eles
não podem ser classificados, num sentido comparativo, ou em qualquer sentido, como “ninguém”; e
de fato, quando considerados por eles mesmos, trata-se de um número que nenhum homem pode
contar. Contudo,
6. Prefiro pensar que por todos os homens se refere aos gentios, que são, por vezes, chamados
de o mundo, o mundo inteiro, e cada criatura (Romanos 11:12, 15; 1 João 2:2; Marcos 16:15). Esse é
o sentido que eu percebo que é usado no verso 1, onde o apóstolo exorta que se façam deprecações,
orações, intercessões, e ações de graças, por todos os homens, pelos reis, e por todos os que estão
em eminência. Tal prática, que era contrária a uma noção que foi praticada entre os judeus, dos quais
[142]
existiam muitos nas igrejas primitivas que não orariam por pagãos e magistrados pagãos. O
apóstolo reforça esta exortação a partir da vantagem que se voltaria para eles mesmos; para que
tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade. Além disso, ele diz: Isto é
bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens, gentios, assim como
os judeus, se salvem, e venham ao conhecimento da verdade, e, portanto, enviou Seus ministros para
pregar o Evangelho entre eles. A doutrina da graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a
estes homens todos, a fim de levá-los a isto; pois há um só Deus dos judeus e gentios, que, por Seu
Evangelho, tirou deste último um povo para o Seu nome e Sua glória; e há um só Mediador entre
Deus e os homens, Jesus Cristo homem, que, não igual a Moisés, que era o mediador somente para os
judeus, mas também para os gentios, e esta se tornou a nossa paz (Efésios 2:14-18), o qual de ambos
os povos fez um; e pela cruz reconciliou ambos; evangelizou a paz, a vós que estáveis longe, e aos
que estavam perto; porque por meio dEle, ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito; o qual
se deu a Si mesmo em preço de redenção por todos, para redimir os gentios bem como judeus, o que
deveria servir de testemunho a seu tempo para eles, como foi para o apóstolo, que acrescenta: para o
que (digo a verdade em Cristo, não minto) fui constituído pregador, e apóstolo, e doutor dos gentios
na fé e na verdade, e então conclui: Quero, pois, que os homens orem em todo o lugar, isto é, não se
limitem ao templo para a oração pública; esta era outra noção e prática judaica; levantando mãos
santas, sem ira nem contenda. Percebendo então que existem algumas noções judaicas apontadas no
contexto, e todo ele é adaptado para o estado e caso dos gentios, sob a dispensação do Evangelho,
existe uma boa dose de razão para concluir que eles estão aqui designados. Por meio desse contexto
outro princípio dos judeus é refutado: Que os gentios não deveriam receber qualquer benefício pelo
Messias quando Ele veio; e é a razão verdadeira da maioria, se não de todos, aquelas expressões
universais, relacionados com a morte de Cristo, que nós encontramos nas Escrituras.
Do todo, uma vez que essas palavras não podem ser entendidas como se referissem a cada
homem individualmente, não se deve pensar nelas militando contra o justo decreto da reprovação de
Deus, nem mantendo e apoiando a redenção universal.
SEÇÃO 46

1 Timóteo 4:10: “Porque para isto trabalhamos e somos injuriados, pois esperamos no Deus
vivo, que é o Salvador de todos os homens, principalmente dos fiéis”.

Essas palavras permanecem entre outras, as quais contêm, em temos expressos, a doutrina da
[143]
redenção geral. Contudo,
1. Se essas palavras representam Deus, como o Salvador de todos os homens, no sentido de uma
salvação espiritual e eterna, elas provam mais do que qualquer outra, ao menos que Orígenes e seus
seguidores disputaram, particularmente, por uma salvação universal. Dizer que Cristo é o Salvador
de todos os homens, com respeito à súplica de salvação para eles, embora não acompanhe nada a
respeito à aplicação dessa a todos eles, é uma distinção que deve, em parte, tornar a morte de Cristo
em vão. Nem pode existir a possibilidade de ter uma mera possibilidade de salvação, nem uma que é
condicional, e nem pode colocar os homens num estado salvável na mente de Deus. Isso faria então
com que aqueles que creem estivessem apenas num estado precário e incerto. Mas a verdade é certa
que aquele que crê será salvo. Além disso, se Deus é o Salvador de todos os homens, no sentido da
salvação eterna, então Ele deve ser o Salvador dos incrédulos, ao contrário de muitas passagens
expressas da Escritura; tais como: João 3:18, 36; Marcos 16:16; Apocalipse 21:8.
2. As palavras devem ser entendidas se referindo à bondade providencial e salvação
temporária, nas quais todos os homens têm uma parte mais ou menos. Deus, o Pai, e não Cristo, é
aqui chamado o Deus vivo, que é o Salvador de todos os homens, que é, o preservador de todos os
homens; que os sustenta em Seu ser, e supre-os em todas as necessidades da vida, e principalmente
dos fiéis, que são o cuidado especial de Sua providência. Pois, embora Ele seja bom e faça bem a
todos os homens, ainda assim, principalmente aos domésticos da fé. Esse era o alicerce da confiança
dos apóstolos nEle, por meio do labor de todas as suas obras e perseguições, que ocorriam com eles
na pregação do Evangelho. Esse é o sentido das palavras que está perfeitamente de acordo tanto à
[144]
analogia da fé como ao contexto, e está de acordo com alguns que estão do outro lado da
questão.
SEÇÃO 47

Tito 2:11-12: “Porque a graça salvadora de Deus se há manifestado a todos os homens,


Ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste
presente século sóbria, e justa, e piamente”.

[145]
Essa escritura também aparece entre as muitas claras e expressas , em que pensa-se que a
[146]
doutrina da redenção universal é contida. É observado: “A graça aqui mencionada é a graça de
Deus, a mesma daquele Deus que nem mesmo ao Seu próprio Filho poupou, antes O entregou por
todos nós, o que é denominado eh karis eh sotrios, a graça salvadora; e que esta graça tem se
manifestado a todos os homens...”. Portanto, a eles ela é prontamente concedida. O argumento criado
sobre essas observações fica assim: “Se os apóstolos em sua pregação ofereceram-na (a salvação) a
todos, sem exceção ou ofereceram àqueles a quem, por intenção de Deus, ela não pertencia, e assim
excederam sua comissão, ou então ela pertence a todos os homens; e uma vez que ela poderia
pertencer apenas a eles pela virtude da paixão de Cristo, isso resulta que o benefício de Sua paixão
deve pertencer a todos”. O fundamento existente no texto para esse tipo de raciocínio, será visto
quando for considerado,
1. Que, pelo termo “graça de Deus”, não devemos entender aquela graça que se encontra em Seu
próprio coração, ou Seu livre amor, favor e boa vontade para qualquer um dos filhos dos homens por
meio de Cristo; o que, embora seja produtivo da salvação e instrutivo em real piedade, contudo não
parece, nem tem sido, nem é manifestada a todos os homens. Também não é aquela graça designada
que reside nos corações dos crentes, implantada ali pelo Espírito de Deus. Apesar de essa também
operar a salvação ou estar estritamente vinculada a ela e poderosamente influenciar a vida e as
conversações dos tais que são participantes dela; contudo ela não tem aparecido para todos os
homens. Isso porque eles não têm fé, nem esperança, nem amor, nem quaisquer outras graças do
Espírito! Mas, pela graça de Deus, entende-se aquela que se encontra no Evangelho, ou que é o
Evangelho da graça de Deus, em cujo sentido ela é frequentemente utilizada; como em Atos 20:24, 2
[147]
Coríntios 6:1, Hebreus 12:15. É de fato apropriado ser o sentido dela aqui pelo estudioso autor
com quem eu estou preocupado. Agora,
2. Essa doutrina da graça de Deus trazendo salvação, traz a notícia dela aos ouvidos dos
homens, no seu ministério externo e leva a si mesma aos corações dos homens, sob as poderosas
influências e aplicação do Espírito de Deus. Assim pode ser corretamente chamada da graça
salvadora, sendo o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê. Isso é verdade embora ela
não seja, nem tenha sido concebida para ser assim a todos a quem ela é externamente pregada, nem
diz o texto que ela traz a salvação para todos os homens. Se ela fez tudo isso ou se deve ser
interpretada como ela é por alguns, a graça de Deus trazendo salvação a todos os homens; ao que
concorda a Versão Siríaca, lk tyjm, que vivifica ou salva a todos; bem como a Árabe; isso não pode
ser entendido de cada pessoa individual, cada homem e mulher; pois o Evangelho não tem trazido
salvação a cada um, em qualquer sentido, nem no seu ministério externo, pois existiram multidões
que nunca ouviram tanto o som externo da salvação por Jesus Cristo, e menos ainda que tenham tido
uma aplicação do mesmo às suas almas pelo Espírito de Deus. A muitos a quem essa mensagem veio,
ela tem sido um Evangelho escondido, e o cheiro da morte para a morte.
3. É realmente dito que esta doutrina da graça de Deus se há manifestado a todos os homens, mas
por todos os homens não pode significar cada homem e mulher que tem estado no mundo, por isso
não seria verdade que a graça de Deus tem se manifestado a todos nesse sentido. Todo o mundo
gentio, por muitas centenas de anos, estava em trevas, sem a luz do Evangelho, que não brilhou sobre
eles, nem neles. Nos tempos dos apóstolos, quando a doutrina do Evangelho apareceu mais ilustre e
brilhou mais intensamente, bem como mais claramente. Mesmo assim ela não alcançou cada pessoa
individualmente, nem tem feito isso em gerações desde então, nem infelizmente na nossa, nem em
nossa própria nação; nem nessa grande cidade (Londres), onde o Evangelho é mais pregado; pois
pregadores que pregam a doutrina da graça de Deus são em menor número, tendo como consequência
o menor número de ouvintes que atendem e abraçam essa doutrina. Multidões não sabem nada dela e
não estão sob a forma nem sob o poder dela. Desde então, os fatos são incontestavelmente contra
esse sentido das palavras, e, por isso, nós devemos olhar para outro significado. Por todos os
homens, portanto, pode significar todos os tipos de homens, ou seja, homens de todas as classes
sociais e de diferentes padrões estéticos, ricos e pobres, altos e baixos, escravos e livres, senhores e
servos, chefes e funcionários. Esse sentido da frase concorda bem com o contexto, no qual o apóstolo
cobra que Tito exorte os servos a que se sujeitem a seus senhores, e em tudo os agradem, não
contradizendo, não defraudando, antes mostrando toda a boa lealdade para que em tudo sejam
ornamento da doutrina de Deus, nosso Salvador (Tito 2:9-10). E esse contexto apresenta isto como a
razão de “todos os homens”, pois a graça de Deus, trazendo a salvação, que se há manifestado a
todos os homens, tanto servos quanto mestres; ensinando-os aqueles que creem, quer sejam mestres
ou servos, de qualquer estado ou condição, a viver uma vida piedosa e religiosa, enquanto estavam
neste mundo. Ou por todos os homens, nós podemos, com o Dr. Hammond, entender os gentios, antes
dos tempos dos apóstolos. O Evangelho era como uma vela iluminando numa parte do mundo, apenas
na Judéia; mas agora ele brilhou como o sol em sua glória meridiana e se manifestou a todos os
homens, tanto gentios quanto judeus. Não estava mais confinado às ovelhas perdidas da casa de
Israel, mas pregado a toda criatura debaixo do céu, mas embora Ele tivesse se manifestado a todos,
não foi aplicado a todos, embora tivesse brilhado sobre todos eles, contudo não nos corações de
todos eles. Essa não é também uma manifestação universal do Evangelho, na ministração externa
dele, qualquer prova da redenção universal, não foi assim concebida pelo apóstolo; e é fácil
observar que quando ele vem falar de redenção e das pessoas redimidas no verso 14, ele faz uso de
uma forma diferente de expressão; onde ele diz: o qual se deu a Si mesmo por nós, não para
[148]
eles , ou para todos; para nos redimir, não eles, ou todos os homens, de toda a iniquidade; e
purificar para Si um povo Seu especial, zeloso de boas obras. O argumento acima citado, é
fundamentado numa manifesta falsidade, que os apóstolos ofereceram a graça salvadora de Deus a
todos os homens, sem exceção enquanto que eles não ofereceram a ninguém, mas pregaram o
Evangelho a todos, sem qualquer distinção de pessoas que vieram para ouvi-los. Os Arminianos
frequentemente argumentam a partir de uma oferta universal do Evangelho para uma redenção
universal. Aqueles cujas ministrações executam nelas pressão de ofertas e propostas, fariam bem em
considerar isto, e livrarem-se deste argumento, já que eles são apenas esmagados por ele.
4. A doutrina da graça de Deus é representada como ensinando-nos que renunciando à
impiedade, e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, justa e piamente.
Observe que o apóstolo não diz, ensinando-os, todos os homens, a quem ele se manifestou, que é o
[149]
triste engano de um escritor erudito ; mas ensinando-nos, por quem Ele veio, não somente em
palavras, mas em poder; e assim lhes ensinou não só doutrinária, mas influentemente, tanto a negativa
como a positiva santidade. Por esta lição, todos o que aprendem a graça, sem dúvida, serão salvos,
embora não por aprender essa lição, ou fazer essas coisas, mas pela paixão salutar de nosso Senhor.
A tais coisas são obrigados pela graça de Deus e pelos sofrimentos de Cristo. Mesmo que todos os
homens não sejam obrigados pelos sofrimentos, dos quais muitos são ignorantes, mas pela lei da
[150]
natureza; de onde esse absurdo, portanto, não apoia: “que existe alguns ainda, sim, a maior
parte dos Cristãos, que não são, por conta dessa graça manifestada a eles, ou de tais sofrimentos,
obrigados ao cumprimento dos seus deveres”. Como todos os homens não são Cristãos, e por todos
os que são reais e verdadeiros Cristãos, Cristo sofreu e a graça de Deus apela com poderosas
influências, compelindo-os ao desempenho destas coisas.
SEÇÃO 48

A Epístola aos Hebreus.

Dizem “que a Epístola aos Hebreus foi manifestamente escrita para evitar a apostasia dos
crentes judeus; e que como o excelente Dr. Barrow sempre dizia, ela foi escrita contra a doutrina da
perseverança, e que certamente contém muitos argumentos convincentes, contra essa doutrina, como é
evidente nas exortações, advertências, promessas, declarações e ameaças aos verdadeiros crentes,
dos quais o apóstolo ali fala. Além disso, dizem que a epístola supõe que eles inquestionavelmente
[151]
possam cair tanto de forma definitiva quanto total”.
1. É expresso de forma meio desajeitada e soa um pouco estranho, que esta Epístola deve ter
sido escrita para evitar a apostasia de crentes judeus, e ainda escrita contra a doutrina da
perseverança dos santos, já que todos os meios para evitar apostasia tendem a estabelecer e garantir
a perseverança e nunca podem ser contrários à doutrina dela. Considerando que entre os meios da
perseverança podem ser contadas as exortações, advertências, promessas, declarações e ameaças
mencionadas, e não devem, portanto, ser consideradas como argumentos convincentes contra a
doutrina dela. Além disso, essa igreja dos Hebreus como outras igrejas, sem dúvida, consistia de
professos reais e nominais, crentes verdadeiros e hipócritas. Talvez, com uma visão particular para
com os últimos desta lista, os hipócritas, aos quais muitas dessas exortações, advertências,
promessas e ameaças são emitidas. Mesmo supondo que eles fossem todos crentes verdadeiros, essas
considerações não foram inoportunas e impróprias, mas muito úteis para incitá-los ao dever,
diligência, cuidado e vigilância, uma vez que pode existir perigo parcial, embora não um desvio total
e definitivo. No máximo, esses argumentos podem somente apontar a possibilidade ou perigo de tal
desvio, considerados a parte, e se os dessa igreja foram, devido ao pecado, deixados a si mesmos, a
Satanás e aos falsos mestres, não encontramos prova de fato e nem qualquer instância de que
qualquer crente jamais tenha caído final e totalmente.
2. Parece estranho que essa Epístola deva ter sido escrita contra a doutrina da perseverança, ao
contrário, existem tantas provas fortes desta doutrina nela. O autor de Hebreus representa a
imutabilidade do conselho, propósito e promessa de Deus com relação à salvação de Seu povo, na
mais forte luz, quando ele diz: “Por isso, querendo Deus mostrar mais abundantemente a
imutabilidade do seu conselho aos herdeiros da promessa, se interpôs com juramento; para que por
duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos a firme consolação, nós, os
que pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta” (Hebreus 6:17-18). Mas onde estaria a
imutabilidade do conselho de Deus, ou a forte consolação dos santos, se os herdeiros da promessa
pudessem perecer? Nessa Epístola também, Cristo é apresentado como tendo por uma só oblação
aperfeiçoado para sempre os que são santificados (Hebreus 10:14, Hebreus 7:25 e Hebreus 2:10, 13)
e como Aquele que pode salvar perfeitamente os que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para
interceder por eles; e, como o Capitão da sua salvação, que trouxe e trará, muitos filhos em
segurança para a glória, mesmo todos os filhos de Deus; pois, no grande dia, Ele dirá: Eis-me aqui a
mim, e aos filhos que Deus me deu, Ele não seria capaz de fazer essas ações se qualquer um deles
pudesse se perder ou viesse a perecer. As graças do Espírito são mencionadas como coisas certas e
seguras, a fé é dita ser o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se
não veem; a qual temos como âncora da alma, segura e firme (Hebreus 11:1 e Hebreus 6:19); sim, o
apóstolo diz desses crentes hebreus (Hebreus 12:28 e Hebreus 10:34, 38, 39, e Hebreus 6:9), como a
si mesmo também, que eles tinham recebido um Reino que não pode ser abalado, e sabiam em si
mesmos que eles próprios tinham uma possessão melhor e permanentes; que eles não eram daqueles
que se retiram para a perdição, mas daqueles que creem para a conservação da alma, e que o justo
viverá da fé. Deles, ele esperava coisas melhores, e coisas que acompanham a salvação; quando os
que não eram verdadeiros crentes, caíram final e totalmente, para quem exclusivamente são dirigidas
as ameaças nessa Epístola. De tudo que é claro, é que essa Epístola não foi escrita contra a doutrina
da perseverança, nem são as exortações, advertências, promessas e declarações feitas para os
verdadeiros crentes, argumentos convincentes contra essa doutrina, já que esses foram concebidos
como meios para promover e protegê-la, e não implica em nada que qualquer um dos verdadeiros
crentes, nessa igreja, pode ou deva cair final e totalmente.
SEÇÃO 49

Hebreus 2:9: “Para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos”.

[152]
Dizem que a doutrina da redenção universal está contida em termos expressos nessas
[153]
palavras e é observada sobre elas, que “aqui não há restrição nenhuma, nem qualquer limitação
aparente na abrangente frase, provasse a morte por todos, distributivamente tomadas”; e que não
existe algo “que pareça reforçar o entendimento geral da frase, pois isso é dito magnificar a graça de
Deus ao enviar o Seu Filho para morrer por toda a humanidade. Agora a graça de Deus será com
certeza mais magnificada por essa extensão geral da morte de nosso Salvador, do que pela admissão
do entendimento dela para alguns, pois se a graça de Deus é grande no envio de Seu Filho para
morrer por algumas poucas pessoas escolhidas, ela deve ser maior ao enviá-lO para morrer por
muitos e ainda maior em dá-lO para morrer por todos nós”. Ao que eu respondo:
1. A palavra homem não está no texto original, que não diz que Cristo provasse a morte, úper
pantós anthrwpou, para todo homem, mas úper pantó, que pode ser coletivamente interpretado: para
o todo, ou seja, para o corpo todo, a igreja (Efésios 4:16) por quem Cristo morreu, e de quem Ele é o
Salvador. Ou o termo pode ser lido distributivamente e ser traduzido para cada um, ou seja, para
cada um dos filhos, que Cristo, o Príncipe da salvação, traz à glória (verso 10). Pois, Ele não Se
envergonha de confessar cada um dos irmãos que Ele santifica e declara o nome de Deus (verso 11 e
12). Cada um dos membros da igreja, mesmo a assembleia geral e igreja dos primogênitos, cujos
nomes estão escritos no Céu, no meio da qual Ele cantou louvores (verso 12), para cada um dos
filhos que Deus deu a Ele, e por causa dos quais Ele participou da carne e do sangue (verso 13 e14);
e para cada um da semente de Abraão, tomada num sentido espiritual, que são de Cristo, cuja
natureza Ele assumiu (verso 16). Além disso, supondo que existe uma mudança de número, e que
úper pantós, está no lugar de úper pantân, para todos, ou seja, para todos os homens, existe sim, no
contexto, uma simples retenção e limitação da frase, a todos os filhos, os irmãos, os membros da
igreja, os filhos, a semente de Abraão, para todos aqueles que Cristo provou a morte, isto é, Ele
realmente morreu e tornou-se Autor da Salvação eterna para eles, o que não promovem a mínima
ajuda à causa da redenção geral.
2. Deve-se considerar se as palavras úper pantos geústai thanatou, podem não estar
corretamente interpretadas: que Ele deveria provar de cada morte, ou da totalidade da morte. Essa
[154]
pista eu recebi de um autor . Se essa leitura das palavras pode ser estabelecida como eu penso
que pode, concordantemente com sua construção gramatical, são totalmente removidos o contexto, a
analogia da fé, o argumento e qualquer explicação ou pretexto para alguém a favor desse esquema
universal. Se tal posição fosse contrariada que assim fosse esse o sentido das palavras, elas teriam
sido colocadas desse modo: geúsetai úper pantos thanátou, e o verbo não estaria entre o adjetivo e
o substantivo. Pode ser observado que existe no próprio texto em si uma posição semelhante de
palavras, como hgattoménon blépomen´ Iesoun, portanto, tal objeção não teria qualquer peso nela;
úper é por vezes, trocado por perì, e significa de, do, casos dos quais léxicos nos fornecerão, e,
embora o verbo geúomai reja um caso genitivo, caso de um verbo na sua forma possessiva, sem uma
preposição, no entanto, é bem conhecido que a Língua Grega abunda em pleonasmos desse tipo. O
contexto também favorece esse sentido das palavras. Pois, se tais palavras forem consideradas em
conexão com a frase, feito um pouco menor do que os anjos, ou daquela outra, coroado de glória e de
honra, elas continham uma razão pelos dois lados. Pois, deve-se perguntar: Por que Cristo foi,
grandemente, deprimido e humilhado na natureza humana? A resposta pronta é: Por que Ele poderia
ser capaz de provar de cada morte, ou o todo da morte; e se Ele deve ser questionado, porque Ele é
exaltado de tal maneira gloriosa? Pode ser respondido: Porque Ele a provou. É como no verso 10, o
Príncipe da salvação é consagrado pelas aflições. E é certo que Cristo tinha provado de cada morte,
ou de toda a morte, que a lei exigia que Ele deveria tomar no lugar ou como Substituto de Seu povo;
por isso, lemos de Suas mortes no plural, Isaías 53:9. E puseram a sua sepultura com os ímpios, e
[155]
com o rico, wytmb nas suas mortes; Ele provou da morte de aflições, sendo todos os Seus dias
um homem de dores, e experimentado nos trabalhos; de uma morte corporal, sendo condenado à
morte na carne, no corpo ou natureza humana; e de uma morte eterna, ou o que foi equivalente a ela,
quando Seu Pai escondeu dEle o Seu rosto, despejou Sua ira sobre Ele, como o Fiador de Seu povo,
no que Sua alma entristeceu-Se muito, mesmo até a morte; Ele provou de toda a morte, as angústias,
as misérias, a amargura e a maldição dela e assim libertou o Seu povo do aguilhão dela, e de toda a
ira que segue sobre ela.
3. Considera-se que o esquema da redenção geral magnifica mais a graça de Deus do que a
redenção particular; o contrário é a mais pura verdade. Certamente o esquema da redenção que
proporciona a salvação assegurada de alguns, “alguns” esses que são um número que nenhum homem
pode contar, louva mais a graça de Deus, do que um esquema que proporciona uma salvação precária
e incerta para todos, dando apenas uma mera possibilidade dela, com uma probabilidade de que
todos eles possam perecer. Isso deixaria multidões sem os meios de salvação, e inteiramente sem o
Espírito de Deus para aplicá-la a elas. Colocá-los-ia apenas num estado de salvação, de modo que
eles poderiam ser salvos se quiserem; o que se for efetuada deve depreciar a graça de Deus, e os
sofrimentos de Cristo, e exaltar o poder e livre-arbítrio do homem. O exemplo de um príncipe
oferecendo um ato de graça e indenização para alguns rebeldes, deixando um número dos outros
ainda sob a condenação, certamente, conceberia que sua graça e favor seriam maior se fosse
estendida a esses também, e não pensaria nela mais magnificada por ser tão discriminatória, mas esse
não é o propósito. A graça do príncipe não deve ser julgada pelas concepções de tais rebeldes, que
são justamente deixados sob a condenação. E por falar dos que foram contemplados, tudo o que eles
pensam sobre isso, é certo, que aqueles que são compreendidos no ato de graça, olham para o favor
de seu príncipe sendo maior justamente por ser tão discriminatório, visto que eles eram tão culpados
quanto os outros que são deixados de fora. A graça de Deus é magnificada, não tanto pelo número de
pessoas a quem é conferida, mas pela soberania dela, as circunstâncias das pessoas interessadas nela
e a maneira na qual ela é concedida.
SEÇÃO 50

Hebreus 6:4-6: “Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o
dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus, e
as virtudes do século futuro, e recaíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; pois
assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério”.

[156]
Essa Escritura é frequentemente usada para contradizer a perseverança final dos santos:
[157]
diz-se que “A doutrina da possibilidade do desvio final dos verdadeiros crentes e penitentes da
fé está totalmente contida nas palavras mencionadas”. É evidente que eles estão falando isso da
palavra phwtiathéntes, iluminados, usada pelo mesmo apóstolo, falando às mesmas pessoas, em
Hebreus 10:32, que foram iluminadas de tal forma ao ponto de saber que elas tinham uma herança no
Céu; e das palavras, é impossível que sejam outra vez renovados para arrependimento, implicando
que eles uma vez tinham, realmente, se arrependido e estiveram uma vez, verdadeiramente, naquele
estado no qual eles deveriam ser renovados e que se perdessem tal estado, eles cairiam total e
finalmente, porque o apóstolo pronuncia como uma coisa impossível renová-los para
arrependimento, e, por conta disso, eles, de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao
vitupério. Contudo,
1. Admitindo-se que essas palavras são ditas a respeito de crentes verdadeiros, elas produzirão
uma versão e um sentido que estarão tão longe de fornecer um argumento contra a perseverança dos
santos que elas concluirão em favor dela. Isso porque pode ser interpretado assim: é impossível que
haja qualquer um que tenha sido uma vez iluminado, e provado o dom celestial, kai parapésontas, e,
contudo recaia; ou seja, é impossível que o tal deva recair; concordante com a Versão Siríaca das
palavras, é impossível, etc., ˆfjn bwtd, que eles devem pecar novamente, de modo a morrer
espiritualmente ou perder a graça de Deus e necessitar de uma nova obra da graça sobre eles, o que
exigiria a crucificação de Cristo novamente, e uma nova exposição dEle à vergonha pública, de
modo que as últimas coisas mencionadas são impossíveis; e, por conseguinte, a primeira coisa, ou
seja, que eles devem pecar de tal maneira é impossível também. Pois, de acordo com essa versão, as
várias outras coisas mencionadas estão relacionadas com a palavra impossível, uma vez que é
impossível que eles devem ser renovados novamente para o arrependimento, impossível que eles
devem crucificar outra vez o Filho de Deus, e impossível expô-lO à vergonha. Este sentido das
palavras é confirmado também pela Versão Árabe. Além disso, deveríamos ler a palavra, recaíram,
como se ela no máximo contivesse uma suposição dos santos caindo; Et suppositionil ponit em esse,
ou seja, uma suposição nunca coloca algo como sendo real, não prova nenhuma realidade do fato;
nem pode ser concluído a partir daí que qualquer um tenha recaído, e são, quando muito, apenas
expressivas do perigo que correm, e da dificuldade de restaurá-los quando caem ainda que
parcialmente. Uma total e final recaída sendo impedida pela graça e poder de Deus.
2. Não é evidente, do caráter daquelas pessoas, que eram verdadeiros crentes; eles são ditos
como sendo uma vez iluminados, que alguns interpretam como uma vez batizados; e está certo, que
[158]
phwtismos e photisma, iluminação, foram usadas pelos antigos para o batismo, e
phwtizomenoi, uma vez iluminado, para as pessoas batizadas. Concordantemente, a Versão Siríaca lê
as palavras assim, que uma vez atydwm [ml wtjn tenham descido ao batismo, a versão Etíope, depois
deles serem batizados, e não se pode negar que alguns, tais como Simão, o Mágico, pôde total e
finalmente recair. Todavia não insistimos nesse sentido das palavras. Existem dois tipos de pessoas
iluminadas, algumas que estão salvificamente iluminadas pelo Espírito de Deus, para que vejam o
seu estado e condição de perdição, sua necessidade de salvação por Cristo e seu interesse nela, que
nunca perecerão; e outras iluminadas apenas nas doutrinas do Evangelho. Algumas destas estão
iluminadas a tal ponto que são capazes de pregá-las aos outros, estando, contudo, inteiramente
destituídas da graça de Deus e quando recaírem, elas não são provas, nem exemplos da apostasia de
verdadeiros santos. As pessoas iluminadas, em Hebreus 10:32, não são as mesmas que essas aqui
mencionadas; pois os hebreus crentes são manifestamente distintos dessas, verso 9: Mas de vós, ó
amados, esperamos coisas melhores, e coisas que acompanham a salvação, ainda que assim falamos;
e, portanto, embora os hebreus fossem tão iluminados ao ponto de conhecer que eles tinham uma
herança no Céu, não segue que estes eram iluminados daquela mesma forma, nem eram tão sinceros
Cristãos e verdadeiros crentes. Eles são também ditos: provaram o dom celestial, pelo qual, se nós
entendemos ser a vida eterna, ou de qualquer das bênçãos da graça, como uma justiça comprovada,
ou, com os antigos gregos, aphesin twn amartiwn, a remissão dos pecados; o significado é que eles
tinham algumas noções especulativas sobre essas coisas e alguns desejos por elas, decorrente de um
princípio natural do amor próprio carnal; ou que o próprio Cristo deveria ser desejado por esse
amor, provando dEle, o que é o oposto de comer Sua carne e beber Seu sangue, que é próprio de
verdadeiros crentes, que se alimentam dEle e por Ele e internamente.O recebem. Mas os hipócritas e
professos formais, só provam dEle, tem um conhecimento superficial dEle e gosto por Ele. No
mesmo sentido, eles são ditos como aqueles que provaram a boa palavra de Deus, o Evangelho, na
sua forma simples e tinham noções vazias sobre Ele, e as virtudes do século futuro, significando tanto
o estado da igreja e as coisas gloriosas com ele relacionadas, após a primeira ressurreição, que eles
podem ter algumas apreensões nocionais, quanto às alegrias e glórias do céu, sobre as quais eles
podem ser capazes de fazer algumas reflexões naturais e agradáveis; ou melhor, os dunameis,
milagres e prodígios na primeira parte da dispensação do Evangelho, ou tempos do Messias, os
judeus, akh slw [o século futuro], que muitos, como Judas e outros, foram capazes de perceber, quais
não eram Cristãos sinceros nem verdadeiros crentes, mas, contudo, puderam ser ditos participantes
do Espírito Santo; não de Sua pessoa, nem de Sua graça, mas de Seus dons extraordinários, em qual
[159] [160]
sentido não apenas Dr. Hammond , como também o próprio Dr. Whitby entendem a frase.
Ainda pode ser observado que nada além do que pode ser aplicado aos hipócritas é dito sobre essas
pessoas, nem coisa alguma, que é peculiar aos verdadeiros crentes, é dita sobre elas, por exemplo,
não e dito que elas estão regeneradas, nem santificadas, nem justificadas, nem adotadas, nem seladas
pelo Espírito Santo de Deus, atributos esses dados aos reais e verdadeiros santos. Além disso, os
verdadeiros crentes estão no contexto, manifestamente distinguidos desses outros, e são comparados
com a terra fecunda, quando os outros são apenas comparados à terra estéril (versos 8 e 9). Seu caso
é mencionado com o propósito de incitar os santos a terem cuidado e diligência (versos 11 e 12),
sendo assim os meios de sua perseverança final, que eles tinham razão para esperar e acreditar, a
partir da imutabilidade do conselho de Deus, o refúgio seguro em Cristo, a natureza da esperança, a
âncora segura e firme, e a entrada de Cristo, seu precursor por eles, para o Céu (versos 17 a 20).
3. A frase, é impossível renová-los para arrependimento, não implica que eles uma vez
tivessem realmente se arrependido e perderam o verdadeiro arrependimento, pois esse não pode ser
perdido, porque está inseparavelmente ligado com a vida e a salvação, e, por isso, é chamado
arrependimento para a vida e para a salvação. O arrependimento dessas pessoas, como o de Caim,
Faraó e Judas, foi apenas uma demonstração de alguns, e o último desses falsificado; e
consequentemente, uma renovação deles seria novamente para concepções do podre arrependimento
de aparência, e uma renovação para que eles apenas parecessem tê-lo e tivessem apenas pretensões a
ele.
4. Será admitido que essas pessoas falsas e todas aquelas semelhantes a elas possam cair final e
totalmente. Mas na medida em que não parecem ser verdadeiros penitentes e crentes, nem devem ser
mencionados como sendo reais, nem aceitos como exemplos de que os verdadeiros desviem
finalmente da fé.
SEÇÃO 51

Hebreus 10:26-29: “Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o


conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, mas uma certa expectação
horrível de juízo, e ardor de fogo, que há de devorar os adversários. Quebrantando alguém a lei
de Moisés, morre sem misericórdia, só pela palavra de duas ou três testemunhas. De quanto
maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por
profano o sangue da aliança com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça?”.

[161]
Essa passagem é utilizada de duas maneiras ; as duas para provar que Cristo morreu por
alguns que perecem. Caso contrário, é perguntado: “Em que sentido tolerável pode-se dizer que não
resta nenhum outro sacrifício pelos pecados para eles, para os quais nenhum sacrifício jamais foi
oferecido ou intencionado, e que foram, pelo próprio decreto de Deus, excluídos de qualquer
interesse na morte de Cristo antes deles entrarem no mundo? Como pode alguém profanar o sangue da
aliança com que foi santificado, se dele foi, inevitavelmente, excluído desde o início do mundo?”.
Ela é usada também para provar que verdadeiros crentes, tais como dizem que são esses, tendo sido
santificados pelo sangue da aliança, podem não cair de forma definitiva e total, uma vez que eles
pecaram de tal forma já não resta nenhum sacrifício por seu pecado, e fizeram agravo ao Espírito da
graça. Contudo,
1. Não é evidente que eles eram verdadeiros crentes, nem a partir do que foi dito sobre essas
pessoas, nem pelo fato do apóstolo Paulo, um verdadeiro crente e um vaso escolhido de salvação, ter
falado na primeira pessoa do plural, nós, que pode parecer incluir a si mesmo. Ele frequentemente
usa esse modo de falar, não tanto com relação a si mesmo, mas aos outros para que desse modo
aquilo que ele proferiu seja amenizado, ou seja, possa não ser tão pesado para eles, sendo recebido
com mais facilidade. Dessa forma, eles, os que são realmente graciosos, percebem que ele não teria
guardado algum grande sofrimento para eles, algo que pesaria na consciência deles (Veja Hebreus
2:1 e 4:1). Além disso, pode-se observar que, às vezes, quando os apóstolos se expressavam dessa
maneira, eles não designavam a si mesmos de jeito nenhum, mas aos outros, que estavam sob a
mesma profissão visível de religião e pertenciam à mesma comunidade de crentes que eles (Veja 1
Pedro 4:3; Tito 3:3; Efésios 2:3; em comparação com Atos 22:3 e 26:5; Filipenses 3:6). Contudo,
admitindo que o apóstolo e outros crentes verdadeiros estão inclusos nessas palavras, eles não são
uma proposta categórica, mas hipotética, que pode ser verdadeira quando uma ou ambas as partes da
frase são impossíveis. A verdade de tal proposta consiste na conexão do antecedente e consequente;
como quando nosso Senhor disse aos judeus: E, se disser que o não conheço, serei mentiroso como
vós (João 8:55). A proposta é quando ambas as partes dela eram impossíveis. Era tanto impossível
que Cristo dissesse que Ele não conhecia o Pai, quanto que Ele fosse um mentiroso como eles.
Assim, a proposta no texto é verdade, embora impossível que os crentes verdadeiros pequem de tal
modo, a ponto de perecerem eternamente. Quando eu digo impossível, não quero dizer que é
impossível por considerar a própria fraqueza deles, e o poder de Satanás, e que eles devem ser
deixados às suas próprias corrupções e as tentações do maligno, mas impossível, considerando a
graça de Deus, o poder de Cristo, a segurança dada a eles numa Aliança Eterna, etc. Por isso, segue-
se, que tal proposta não prova que eles poderiam ou de fato pecariam dessa maneira. Pode-se dizer,
então, que tal proposta é proferida em vão e não responde a nenhum propósito. Eu respondo que pode
ser sobre o serviço, embora a condição seja impossível, como para ilustrar e certificar a justa
punição dos apóstatas, pois se os crentes realmente verdadeiros seriam tão severamente punidos,
eles deveriam, ou se fosse possível terem pecado desse modo. Tais pessoas hipócritas, más e vis
apóstatas não poderiam esperar escapar da vingança Divina; portanto, sim, tais declarações podem
ser utilizadas pelo Espírito de Deus para incitar os verdadeiros crentes à diligência no dever e
vigilância, contra todos os graus de apostasia e assim ser o meio de sua perseverança final. Depois
de tudo, é evidente que o apóstolo distingue os verdadeiros crentes (versos 38 e 39) desses
apóstatas, cujo padrão tinha sido deixar a própria assembleia (verso 25).
Nem parece que esses eram verdadeiros santos, por terem recebido o conhecimento da verdade.
Se pela verdade, nós entendemos Jesus Cristo, ou as Escrituras, ou o Evangelho, ou alguma doutrina
particular deste, especialmente a principal, a salvação em Cristo, o que estou inclinado a pensar é
intencional; uma vez que, além de um conhecimento salvífico dessas coisas, que é peculiar aos
verdadeiros crentes, existe uma noção comum entre eles com os outros. Os outros podem dar somente
o seu consentimento a eles como verdadeiros e também ter muita luz dentro de si, ser capazes de
explicá-las, pregá-las a outros e ainda serem destituídos da graça de Deus. E, portanto, se tais
pessoas pecam e caem de forma definitiva e total, elas não são exemplos nem provas da apostasia
final e total dos verdadeiros santos; nem é manifesto que essas são as pessoas mencionadas aqui,
sendo santificadas pelo sangue da aliança, supondo que as palavras devem ser entendidas sobre elas;
visto que elas não têm qualquer relação com a santificação interior de nossa natureza pelo Espírito
[162]
de Cristo, como o Dr. Whitby mesmo concorda e alega que elas devem ser entendidas como a
remissão dos pecados e justificação pelo sangue de Cristo, que estas pessoas receberam. É de fato
verdade, que as bênçãos do perdão e da justificação, se dão por meio de e pelo sangue da aliança; e
às vezes, são expressas pela santificação, purgação e limpeza (Veja Hebreus 9:13, 14, Hebreus
10:10, Hebreus 13:12; 1 João 1:7). Contudo, não pode ser designado aqui, pois ou essas pessoas
receberam remissão e justificação parciais dos pecados ou uma remissão completa de todos os seus
pecados e um resgate plenário deles; não um parcial, pois quando Deus perdoa pela causa de Cristo,
Ele perdoa todas as transgressões e justifica de todo o pecado; sendo assim, se essas pessoas
tivessem recebido o perdão de todos os seus pecados e sido justificadas de todas as suas
iniquidades, elas teriam ficado sem necessidade de qualquer sacrifício a mais pelo pecado (Veja
Hebreus 10:18) e não teria existido qualquer fundamento para punição de qualquer espécie, muito
menos para uma tão grave como é aqui representada (Veja Romanos 8:1, 30, 33). Se então essas
palavras devem ser consideradas mencionando esses apóstatas, cujo significado é tanto que eles
foram santificados ou separados dos outros por uma profissão visível da religião, rendendo-se a uma
igreja para andar com eles nas Ordenanças do Evangelho, apresentando-se ao Batismo, participando
da Ceia do Senhor e bebendo do cálice, o sangue do Novo Testamento ou aliança; embora eles não
tenham discernido espiritualmente o corpo e o sangue de Cristo nessa Ordenança, mas profanaram o
pão e o vinho, os símbolos destes, como coisas comuns; ou que eles professaram a si mesmos e eram
vistos pelos outros, como sendo verdadeiramente santificados pelo Espírito e justificados pelo
sangue de Cristo. As pessoas são frequentemente descritas não por aquilo que elas realmente são,
mas pelo que se imagina que elas sejam. Assim, o apóstolo, escrevendo aos Coríntios diz de todos
eles que foram santificados em Cristo Jesus e por Seu Espírito, porque os professos por si mesmos
afirmaram ser assim, e na opinião dos outros, eram assim; embora não se possa pensar que todos eles
eram realmente assim. Mas depois de tudo, parece mais provável, que não aquele que pisar o Filho
de Deus, mas o próprio Filho de Deus, é dito aqui ser santificado pelo sangue da aliança; que é
mencionado como um agravamento da maldade dos tais que profanam esse sangue, pelo qual o
próprio Filho de Deus foi santificado, isto é, separado, santificado e consagrado; como Aarão e seus
filhos foram pelos sacrifícios de animais mortos, para ministrar no ofício sacerdotal; Cristo, quando
ofereceu a Si mesmo e derramou o Seu próprio sangue precioso, o sangue da aliança, por meio do
qual a aliança da graça foi ratificada e confirmada, e também por meio do sangue da aliança trouxe,
novamente, os que estavam entre os mortos e declarou-Se como Filho de Deus com poder, sendo
estabelecido à mão direita dEle, vivendo sempre para interceder por nós; que é a outra parte de Seu
ofício sacerdotal. Sendo Cristo santificado por Seu próprio sangue para completar toda a Sua obra
de salvação.
2. Os crimes supostamente dessas pessoas ou como elas são acusadas, tais como pecados
voluntários; não são compreendidos pelas enfermidades comuns da vida, pois até mesmo atos
grosseiros de pecado podem ser voluntariamente cometidos pelos santos depois da regeneração,
como foi por Davi, Pedro e outros. Esses crimes são compreendidos por uma negação da verdade do
Evangelho, da salvação por Cristo, contra todas as evidências dela, e as convicções das próprias
mentes de quem os comete: aquele que pisar o Filho de Deus, tanto quanto neles estava, puxando-O
de Seu trono, pisoteando-O e retirando-Lhe da glória de Sua Pessoa e sacrifício, negando ser Ele o
Filho eterno de Deus; profanando o sangue da aliança, colocando-O no mesmo nível com o sangue de
um novilho, ou no máximo, profanando-O, çglkd dya, de acordo com a Versão Siríaca, como o
sangue de qualquer outro homem, sim, considerado como impuro e abominável; e fazendo agravo ao
Espírito da graça rejeitando-O como um espírito de mentira, Seus dons e milagres como ilusões,
[163]
conforme o Dr. Whitby observa: “Eu digo que tais crimes como esses, são os que nunca podem
ser pensados em se cometer, ou capaz de serem cometido pelos tais que têm verdadeiramente
provado que o Senhor é gracioso”.
3. A declaração feita a essas pessoas, já não resta mais sacrifício pelos pecados; significa
nenhum sacrifício típico oferecido em figura em Jerusalém, nem qualquer outro sacrifício real como
Cristo ofereceu, ou seja, que Ele não virá, morrerá novamente e repetirá o Seu sacrifício; e, por isso,
eles tendo negado a salvação por Ele e a virtude de Seu primeiro sacrifício, não podem nunca
esperar por outro; mas que quando Ele aparecer uma segunda vez, Ele trará um terrível julgamento,
que emitirá nas chamas devoradoras de Sua ira e indignação, e será um castigo maior que os
transgressores da lei de Moisés enfrentaram, que era apenas temporal, porém esta morte será eterna.
Tal declaração de ira e vingança, eu digo, prova de fato que essas pessoas caíram final e totalmente;
mas na medida em que elas não podem ser provadas como verdadeiras crentes, por isso, não será
evidente a partir daí, que Cristo morreu pelas tais que se perdem; ou que aqueles que realmente têm
crido podem total e finalmente cair.
SEÇÃO 52

Hebreus 10:38: “Mas o justo viverá pela fé; E, se ele recuar, a minha alma não tem prazer
nele”.

[164]
Diz-se que a doutrina da possibilidade dos crentes verdadeiros se desviarem
definitivamente da fé, é ainda mais evidente a partir dessas palavras. Portanto,
1. Para a correta compreensão dessa passagem, será apropriado consultar o texto original em
Habacuque 2:4, de onde é retirada a palavra hlp[, que a Septuaginta tem interpretado por
uposteílhtai aqui usada pelo apóstolo, e em nossa versão traduzida como recuar, está de acordo com
[165]
R. David Kimchi , nyn[ˆwdzw blh twhbg, uma frase que expressa orgulho e altivez de coração.
[166]
De acordo com Jarchi twz[ nwçl é uma palavra que tem em si o significado de obstinação. R.
[167]
Moses Kimchi a considera como sendo a mesma lp[, que significa uma torre ou lugar
fortificado. Ele acha que ela aponta a alguém que se dirige a um lugar de abrigo contra o inimigo e
não busca a Deus por libertação. De todos esses sentidos, nós podemos concluir que eles descrevem
quem é arrogante, vaidoso, orgulhoso, vão e presunçoso de sua própria justiça, na qual ele confia e
imagina estar a salvo de todo o mal. Assim esse significado se opõe ao homem justo que vive pela fé,
caminha humildemente com Deus, depende não de si mesmo, mas da justiça de Cristo, na qual ele
está a salvo de toda a ira e condenação e seguro do favor Divino. Enquanto o outro estará tão longe
de ser o objeto de deleite e prazer de Deus, que ele ficará sob Seu triste descontentamento e sentirá
Seu intenso e justo ressentimento. A palavra grega uposteílhtai usada pela Septuaginta e pelo
apóstolo significa uma retirada por temor, como Pedro retirou-se por causa da circuncisão (Gálatas
2:12), e aqui pode referir-se ao abandono das assembleias dos santos (verso 25, que era o costume
de alguns), e todas as Ordenanças de adoração pública, por temor de repreensão, escândalo e
perseguição, retendo a verdade, evitando declará-la ou manter uma profissão dela, contrário ao que
diz o apóstolo Paulo de si mesmo (Atos 20:20, 27), onde essa palavra é utilizada duas vezes, e pode
designar alguém que upokrivetai, dolieuetai, alguém que age como hipócrita e trata enganosamente.
[168]
É como um antigo escritor observa: “A palavra é interpretada por Hesychius e Suidas assim
pior quando aplicada especialmente em assuntos religiosos, nada é mais abominável a Deus; e, em
resumo, pode ser expressivo de um desvio completo e apostasia total da fé, não da verdadeira fé
salvífica, mas de uma mera profissão da graça e da doutrina da fé”. Contudo, então,
2. Deve-se observar que eàn iposteilhai, se ele ou qualquer um recua, não se refere claramente,
[169]
como é dito, ao homem justo que vive apenas por sua fé, pois como aquele que recua, no verso
39, se opõe aquele que crê na salvação de sua alma. Assim, aquele que recua, no verso 38, opõe-se
ao justo que vive pela fé, que é de acordo com o autor que me refiro, e consequentemente, não pode
ser a mesma pessoa. Isso aparecerá ainda mais plenamente a partir da ordem das palavras em
[170]
Habacuque 2:4, aquele que é orgulhoso, ou retira-se a si mesmo ou falha, Sua alma, isto é, a de
Deus, não terá prazer nele; mas o justo viverá pela sua fé; portanto, as palavras não supõem
[171]
claramente, como é afirmado, que o homem justo que vive por aquela fé, na qual se ele
persistisse, ele salvaria sua alma, pode recuar para perdição; nem é evidente a partir das palavras
subsequentes, a Minha alma não terá prazer nele, pois tais palavras não sugerem claramente, como é
afirmado, que Deus tomou prazer nele antes de seu recuo; já que não é dito, Minha alma não terá
mais, ou não terá nenhum prazer nele, mas não tem prazer nele. Este uso necessariamente não supõe
que Ele tinha qualquer prazer nele antes, mas que Ele não deve ter nenhum nele daqui por diante.
Além disso, os tais que são os objetos de deleite e prazer de Deus assim o são sempre, nada pode
separá-los do amor de Deus, que sempre tem deleite em Seu povo.
3. Admitindo-se que, claramente, as palavras se referem ao homem justo que vive por fé. Tal
pessoa não pode recuar para a perdição, pois o que é negado no verso seguinte é contrário a uma
declaração expressa: porque sete vezes cairá o justo e se levantará (Provérbios 24:16), e é
consistente com a promessa Divina, o justo seguirá o seu caminho firmemente (Jó 17:09) e mesmo
com isto no texto, o justo viverá pela fé. Portanto, não deve morrer a segunda morte, ou então recuar
como se estivesse perdido eternamente; embora seu zelo possa diminuir, o seu amor esfriar e ele cair
de algum grau de firmeza na fé. Contudo, permitindo que o recuo para a perdição seja aqui suposto
do homem justo, não é mais do que uma proposta hipotética, que não prova que qualquer homem justo
tenha recuado, poderia ou deveria assim recuar. A natureza e o uso de tais propostas condicionais,
em que a condição, ou a coisa suposta é impossível, têm sido mostrados na seção anterior. Mas é
[172]
observado, que kai ean, pode ser interpretado não hipoteticamente, e se, mas e quando ele
recuar. Sendo assim, é bem conhecido que a condição é também e frequentemente expressa por
quando, o advérbio de tempo, como pela conjunção se, dos quais exemplos numerosos poderiam ser
dados. A objeção da impossibilidade da condição e da inutilidade de ameaças fundadas nelas é
respondida na seção anterior.
4. Eu não vejo por que o suplemento feito por nossos tradutores, qualquer homem, não deve
ficar firme, do qual a construção gramatical das palavras parece exigir. Grotius concorda com a
justeza dela. Agora isso elimina o sentido do homem justo que vive pela fé, para qualquer dos que
tinham feito uma profissão externa de religião, mas retiravam-se da comunhão dos santos, por medo
de perseguição, sendo ameaçados com o justo ressentimento e descontentamento do Todo-Poderoso,
mas para que isso não seja surpreendente e inesperado para os verdadeiros crentes, o apóstolo
acrescenta, ...porém, não somos daqueles que se retiram para perdição, mas daqueles que creem para
a conservação da alma. Isso está tão longe de provar a apostasia definitiva e total dos verdadeiros
santos, que, ao contrário, estabelece a doutrina da sua perseverança final; pois aquele que é justo ou
reto pela eterna justiça de Cristo, sempre permanecerá assim e viverá espiritualmente por essa fé que
nunca falhará e é inseparavelmente ligada à salvação e assim, ele nunca morrerá.
SEÇÃO 53

Pedro 1:10: “Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição;
porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis”.

[173]
Diz-se: “A eleição mencionada nas Escrituras Sagradas não é aquela de determinadas
pessoas, mas apenas de igrejas e nações, que é o desfrutar dos meios da graça, que os coloca numa
capacidade de ter todos os privilégios e bênçãos que Deus prometeu à Sua Igreja e povo, e é apenas
uma eleição condicional, mediante a nossa perseverança numa vida de santidade, e deve ser feita a
nós com certeza pelas boas obras, de acordo com esta exortação”. Contudo,
1. Embora será admitido que existia uma eleição nacional dos judeus, que gozavam dos meios
da graça, da palavra e das ordenanças de Deus e tiveram bênçãos peculiares e privilégios em
consequência dessa escolha especial deles como uma nação; contudo, esta não era uma eleição para
salvação mencionada em outros lugares, e sobre a qual é a nossa controvérsia, e, portanto, em vão o
[174]
Dr. Whitby produz tantas passagens do Antigo Testamento para provar o que ninguém nega. E
embora, por vezes, comunidades inteiras ou igrejas sejam, pelos apóstolos, denominadas as eleitas
de Deus, como as igrejas de Colossos, Tessalônica, Babilônia, (Colossenses 3:12; 1 Tessalonicenses
1:4; 2 Tessalonicenses 2:13; 1 Pedro 5:13) e outras, no entanto, os membros que compõem as igrejas
ou nações não foram escolhidos com tal eleição nacional; nem se deve pensar que todos eles foram
ordenados para a vida eterna, embora os apóstolos falem deles, de forma geral, como os eleitos de
Deus, estando eles sob uma visível profissão religiosa; exatamente como eles chamam a todos de
santos, os santificados e fiéis em Cristo Jesus; embora não se deva supor que cada um dos seus
membros individuais dessas igrejas eram verdadeiros santos. No entanto, não parece que as pessoas
a quem o apóstolo Pedro escreveu as suas epístolas eram uma nação ou uma igreja, sendo os
estrangeiros dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia (1 Pedro 1:1); eles de fato são
chamados a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido (1 Pedro 2:9), mas
isso é apenas em alusão à figura de Israel, e a eleição em sombra daquelas pessoas como uma nação.
É certo que essas pessoas não foram escolhidas meramente por meios externos, bênçãos exteriores e
privilégios, mas pela graça aqui, e no porvir a glória, porque foram eleitos segundo a presciência de
Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus, e em
consequência disso sendo de novo gerados, para uma viva esperança de uma herança incorruptível e
incontaminável e que não se pode murchar, guardada nos céus, e que mediante a fé estavam
guardados na virtude de Deus para a salvação (1 Pedro 1:2-5). Eles eram um conjunto de pessoas em
particular, que alcançaram fé igualmente preciosa com os apóstolos, (2 Pedro 1: 1) e cada um deles
deveria procurar fazer cada vez mais firme o seu próprio chamado, e não outro chamado e eleição;
portanto, não houve uma eleição nacional ou da igreja, mas uma eleição pessoal.
2. Essa eleição não é condicional, dependendo da perseverança de uma vida de santidade. O
texto não diz: se fizeres estas coisas vós sereis eleitos, ou a vossa eleição permanecerá firme e
segura, mas vós jamais caireis; significando, não em pecados menores e enfermidades da vida,
porque todos tropeçamos ptaiomen apantes em muitas coisas, todos nós caímos; mas [não] no grande
mal de uma apostasia definitiva e total; ou nunca jamais tropeçareis (Tiago 3:2), de modo a
perderem-se e perecerem. A perseverança final dos santos é garantida pela graça eletiva. Isso
significa que tal perseverança depende da eleição, não sendo, portanto, a causa desta, mas sim o seu
fruto.
3. A eleição e a vocação aqui mencionadas em conjunto, devem ser feitas firmes. Todavia, não
se deve pensar com isso que elas possam ser mais firmadas em si mesmas, ou em relação a Deus, do
que elas já estão, sendo ambas não segundo as nossas obras, mas segundo o propósito e graça de
Deus que não podem ser frustrados. Portanto, ficamos sobre um firme alicerce, que nunca pode
falhar, e estamos inseparavelmente ligados com a glorificação (Romanos 8:30). Nem devem ser
firmadas pelos santos por si mesmos, ainda que eles possam ter algumas dúvidas e escrúpulos em
suas mentes sobre os próprios interesses nessas coisas, e uma garantia de que elas podem ser
alcançadas, contudo, não é obra deles, mas do Espírito de Deus, para certificar ou assegurá-los da
própria vocação e eleição de Deus. Mas os santos devem usar diligência para firmar a própria
vocação e eleição e também ajudar a firmar a dos outros. Eles podem fazer isso quer conversando
com os seus companheiros Cristãos sobre a obra da graça sobre suas almas, quer dando testemunho
ainda mais ao mundo, tal testemunho será dia twn kalwn ejrgwn, pelas boas obras. Como essas
palavras são lidas em duas cópias das manuscritas de Beza, e pelas Versões Siríaca, Etíope e Vulgata
Latina o significado é: Seja cuidadoso em manter as boas obras! Seja diligente em fazer estas coisas,
as quais, pela graça de Deus, não serão apenas o meio de sua perseverança final, mas também o de
fazer a sua vocação e eleição firmes para os outros. Considerando tudo dessa maneira, você, pelas
obras boas e uma boa diligência, certificará e assegurará aos outros, dando a melhor evidência para
o mundo que você é capaz de dar, ou eles de receber, que você é o chamado e escolhido de Deus que
você professa ser.
SEÇÃO 54

2 Pedro 2:1: “E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também
falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que
os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição”.

Essa passagem da Escritura é muitas vezes produzida como uma prova tanto da apostasia
[175]
definitiva e total dos santos como da redenção universal; ou que, além daqueles que são salvos,
[176]
Cristo morreu também para os que perecem. Dr. Whitby menciona as várias respostas que os
diferentes homens dão a essas palavras: Um diz que Cristo comprou essas pessoas apenas para serem
escravas; outro, que Ele morreu para resgatá-las das punições temporais, mas não das punições
eternas; um terceiro, que Ele morreu por elas porque Ele pagou um preço suficiente por elas; um
quarto, que elas negaram o Senhor a quem elas afirmavam tê-las comprado; e um quinto, que elas
negaram que Ele as tinha comprado no julgamento de outros homens, isto é, outros homens foram
condenados no lugar delas. Ele observa que essas respostas são tão extravagantes, que é tão fácil
refutá-las quanto recitá-las.
1. Eu não me encontro preocupado em defender qualquer um desses sentidos do texto
mencionado, a julgar que nenhum deles dão o significado das palavras, e assim não tem nada a ver
com os raciocínios usados na refutação deles, embora, talvez, os dois últimos não sejam tão
extravagantes como apresentados. No entanto, a fim de dar o verdadeiro sentido do presente texto,
que seja observado,
2. Cristo não é mencionado aqui de nenhuma maneira. Nem existe uma sílaba sequer sobre a Sua
morte feita por quaisquer pessoas mencionadas, seja qual for o sentido. A palavra despoths, Senhor,
não designa Cristo, mas Deus, o Pai de Cristo. Os únicos usos além dessa passagem onde esta
palavra é usada, quando aplicada a uma pessoa Divina, são Lucas 2:29, Atos 4:24, 2 Timóteo 2:21,
Judas 1:4, Apocalipse 6:10, versos nos quais Deus o Pai é claramente designado, e na maioria
desses versos, está manifestamente claro que eles não apontam a Cristo; nem existe nesse texto ou
contexto algo que nos obrigue a compreender que ele se refere ao Filho de Deus. Isso não deve
levar-nos a pensar em qualquer diminuição da glória de Cristo, já que a palavra despoths é
devidamente expressiva apenas desse poder que os mestres têm sobre seus servos; enquanto que a
palavra kúrios, usada sempre que Cristo é chamado de Senhor, significa o domínio e autoridade que
os príncipes têm sobre seus súditos. Além disso, Cristo é chamado Rei dos reis, e Senhor dos
senhores, e o único poderoso Senhor; sim, Deus sobre todos, bendito para sempre. Além disso,
3. Quando essas pessoas são mencionadas como sendo compradas, o significado não é que elas
foram redimidas pelo sangue de Cristo, pois, como é observado anteriormente, Cristo não está
designado. Além disso, sempre que a redenção por Cristo é tratada, o preço é geralmente
mencionado, ou alguma circunstância ou outra que totalmente alude a Ele (Veja Atos 20:28; 1
Coríntios 6:20; Efésios 1:7; 1 Pedro 1:18-19; Apocalipse 5:9 e 14:3-4), enquanto o nosso texto não
dá o menor indício de qualquer coisa desse tipo. Adicione a isso que os que são redimidos por
Cristo nunca são levados a negá-lO a ponto de perecerem eternamente. Se eles pudessem perder-se
ou trazer sobre si mesmos repentina destruição, a compra deles por Cristo seria em vão e não
serviria para nada o preço pago pelo resgate. Contudo,

4. A palavra resgatar se refere à libertação temporal, e em particular à redenção do povo de


Israel do Egito, que por isso são chamados o povo que o SENHOR adquiriu. A frase é emprestada de
Deuteronômio 32:6, “Recompensais assim ao Senhor, povo louco e ignorante? Não é ele teu pai que
te adquiriu, te fez e te estabeleceu?”. Nem esse é o único lugar que o apóstolo Pedro se refere nesse
Capítulo (Veja os versos 12 e 13, comparados com Deuteronômio 32:5). Agora, as pessoas a quem o
apóstolo escreve eram judias, os estrangeiros dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e
Bithyna, um povo que, em todas as épocas, valorizaram a si mesmos e gabaram-se extremamente de
serem os adquiridos, o povo adquirido do Senhor. Portanto, Pedro usa muito esse termo da mesma
forma como Moisés tinha feito antes dele, ou seja, para agravar a ingratidão e a impiedade desses
falsos mestres entre os judeus. Eles devem negar tais mestres, se não em palavras, pelo menos em
obras, que o poderoso Yahwéh, Quem desde os tempos antigos redimiu seus pais do Egito, com um
braço estendido, e, em sucessivas épocas, tinha distinguido-os com favores peculiares; sendo homens
ímpios, que convertem em dissolução a graça; a doutrina da graça de Deus, em dissolução. Assim,
5. Nada pode ser concluído a partir dessa passagem em favor da morte de Cristo por aqueles
que perecem; uma vez que nem Cristo, nem a Sua morte, nem a redenção por Seu sangue são aqui
mencionados sequer uma vez, nem houve, no mínimo, a intenção de mencioná-los. Nem se pode
pensar nessas palavras como prova e exemplo da apostasia definitiva e total dos verdadeiros santos,
já que não existe nada dito sobre esses falsos mestres que dê qualquer razão para acreditar que eles
eram verdadeiros crentes em Cristo, ou que alguma vez tiveram a graça do Espírito operada em suas
almas.
SEÇÃO 55

2 Pedro 2:20-22: “Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo
conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos,
tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro. Porque melhor lhes fora não conhecerem
o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora
dado; deste modo sobreveio-lhes o que por um verdadeiro provérbio se diz: O cão voltou ao seu
próprio vômito, e a porca lavada ao espojadouro de lama”.

[177]
Essa escritura geralmente está entre as provas da apostasia dos verdadeiros santos, e diz-
[178]
se que a possibilidade da queda definitiva e total dos verdadeiros crentes pode ser defendida
fortemente a partir dessas palavras.
1. Será aceito que os crentes aqui mencionados caem de forma definitiva e total; já que eles não
são apenas ditos desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado, mas ser outra vez
envolvidos nas corrupções do mundo, e vencidos, sim, para voltar como o cão ao seu próprio
vômito, e a porca lavada ao espojadouro de lama; de modo que o último estado é pior do que o
primeiro.
2. Apesar de nada ser dito sobre eles que os revelem como verdadeiros crentes, aparentemente,
eles podem ter escapado das corrupções do mundo, reformado suas vidas exteriores e conversas por
meio do conhecimento nacional do Senhor e Salvador Jesus Cristo; professado o caminho da justiça,
e andado visivelmente nele por um tempo, terem se submetido aos santos mandamentos e Ordenanças
de Cristo, e, contudo não terem sido participantes da graça de Deus; nem é evidente que o apóstolo
fala aqui daqueles que alcançaram fé igualmente preciosa com eles, os apóstolos, mas de algumas
terceiras pessoas distintas deles. Talvez o maior caráter dado a eles esteja no verso 18, o qual é, que
eles “foram limpos”, ontos verdadeira e realmente, como o Dr. Whitby interpreta a palavra,
[179]
afastando dos que andam em plánh em erro; por isso, o que ele observa, deve ser entendido não
de julgamento, mas de concupiscências do engano. Mas que seja considerado que existem diferentes
leituras desse texto; algumas cópias, em vez de ontos leem olígos, dentro de um pouco, ou quase,
como o Alexandrian MS. na Bíblia Poliglota, e dois livros de Beza; outros olígon; como a edição
Complutense, e a Bíblia do Rei da Espanha; concordante como a Vulgata Latina interpreta paululum,
muito pouco ou pouquíssimo tempo. A versão Siríaca o lê lylq almb, em poucas palavras, ou quase;
e, de acordo com a versão Etíope, algumas pessoas são concebidas. De todas as quais, esse sentido
das palavras pode ser obtido: Havia algumas poucas pessoas, que, em alguns poucos casos que quase
tinham, por pouco ou pouquíssimo, se afastado dos que andavam no erro, sendo levados com
diversas e estranhas doutrinas. Contudo, admitindo que onyos é a leitura verdadeira, e que plánh não
significa erro de julgamento, mas o engano das concupiscências, é possível que os homens possam
verdadeira e realmente escapar, não só de idólatras e falsos mestres, e assim ter a forma de sã
doutrina, enquanto negam o seu poder, mas também reformarem-se e retirarem-se dos que são
abertamente profanos e dos pecadores escandalosos, e ainda assim não serem verdadeiros crentes,
como parece que esses não eram; já que eles abertamente voltaram ao seu estado antes da conversão,
mostrando-se como eles realmente eram; como o cão voltou ao seu próprio vômito, e a porca lavada
ao espojadouro de lama.
SEÇÃO 56

2 Pedro 3:9: “O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é
longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a
arrepender-se”.

[180]
Essa passagem da Escritura aparece entre aquelas que são ditas ser muito claras e
[181]
manifestas para a doutrina da redenção universal; e é observado que, tines, oposto a pántes, é
um distributivo de todos, e, portanto, significa que Deus não deseja que qualquer indivíduo de todo o
gênero humano pereça. Contudo,
1. Não é a verdade que Deus não deseja que qualquer indivíduo da raça humana pereça, já que
Ele fez e nomeou o ímpio para o dia do mal, mesmo homens ímpios, que são pré-ordenados para esta
condenação, os tais são como vasos de ira preparados para a perdição; sim, existem alguns a quem
Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira, para que todos eles sejam
condenados, sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sentença, e a sua perdição não
dormita (Provérbios 16:4; Judas 1:4; Romanos 9:22; 2 Tessalonicenses 1:11, 12; 2 Pedro 1:3).
Também não é Sua vontade que todos os homens, neste amplo sentido, cheguem ao arrependimento, já
que Ele retém de muitos tanto os meios quanto a graça do arrependimento; e embora seja Sua vontade
de preceito que todos se arrependam, todos a quem a pregação do Evangelho é garantida, contudo
não é o Seu propósito, vontade determinante trazê-los todos ao arrependimento, porquanto, quem tem
resistido à Sua vontade? (Romanos 9:19).
2. É bem verdade que tíves, qualquer um, opondo-se ao pántes, todos, é um distributivo dele;
mas então ambos, o qualquer um e todos devem ser limitados e contidos por nós, a quem Deus é
longânimo. Ele não deseja que mais ninguém pereça e não quer que ninguém mais chegue ao
arrependimento além de nós a quem sua longanimidade é a salvação. A chave, portanto, para abrir
este texto reside nessas palavras, eis hmâs, para nos guardar, ou por amor de vós; pois, essas são as
pessoas que Deus não queria que qualquer uma delas perecesse, mas gostaria que todas elas
chegassem ao arrependimento. Será apropriado, portanto,
3. Questionar quem são essas. É evidente que elas são distintas dos escarnecedores que zombam
da promessa da vinda de Cristo (versos 3 e 4). Elas são chamadas de amadas (versos 1, 8, 14, 17), o
que deve ser entendido tanto por elas sendo amadas por Deus, com um amor eterno e imutável,
quanto elas sendo amadas como irmãos pelo apóstolo Pedro, os demais apóstolos e outros santos.
Deve ser entendido também que essa não é uma verdade para a humanidade. Além disso, a
concepção das palavras é estabelecer os santos e confortá-los com a vinda de Cristo, que Deus tem
sido longânimo com eles, o que eles consideram a salvação (verso 15). Adicione a isso, que o
apóstolo manifestamente designa uma companhia ou sociedade à qual ele pertencia, da qual ele fazia
parte, e assim não pode significar outra coisa além daqueles que foram escolhidos de Deus,
redimidos entre os homens e chamados das trevas para Sua maravilhosa luz; e os tais eram as
pessoas a quem o apóstolo escreve. Algumas cópias leem as palavras di umâs, por amor de vós; do
mesmo modo que a MS Alexandriana, a versão Siríaca, wktlfm, por vós, ou por amor de vós; da
mesma forma a Etíope. Agora essas pessoas que eram os crentes que foram eleitos segundo a
presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de
Jesus Cristo (1 Pedro 1:2); e os que como esses, ou aqueles que pertencem à mesma eleição da graça
que eles, Deus não quer que qualquer um deles venha a perecer, mas quer que todos eles cheguem ao
arrependimento para a vida; e, portanto, Ele espera ser gracioso para com eles e retarda a segunda
vinda de Cristo. O caso fica assim: Existia uma promessa anunciada da segunda vinda de Cristo, para
julgar o mundo; esperava-se que esta segunda vinda acontecesse muito rapidamente, considerando
que ela tem sido adiada por um longo tempo. Daí escarnecedores devem surgir nos últimos dias,
acusando o Senhor de negligência e lentidão acerca de Sua promessa, embora Ele não seja tardio
com relação a isso, mas é longânimo para com os Seus eleitos, esperando até que seja completado o
número deles na vocação eficaz, e por amá-los, suporta toda a idolatria, superstição e profanação
que estão no mundo; mas quando o último homem que pertence àquele número for chamado, Ele não
ficará mais esperando, mas descerá como chamas de fogo, tomará Seus escolhidos para Si mesmo e
queimará o mundo e os ímpios.
[182]
4. É realmente dito que o apóstolo, pelos eleitos, para quem ele escreve, não se refere,
absolutamente, a todos os homens como concebidos para a bem-aventurança eterna, mas apenas aos
homens que professam o Cristianismo, ou esses que eram visíveis membros da igreja de Cristo: uma
vez que Ele os convida a fazer cada vez mais firme a vocação e eleição deles, exortando-os à
vigilância, visto que o Diabo seu adversário, está buscando a quem possa tragar, e a guardar-se de
que, sejam arrebatados e descaiam da sua firmeza; e sim, ele fala de alguns deles como se tivessem
deixado o caminho direito; e também profetiza que falsos profetas farão deles negócio. Nenhuma
dessas profecias observadas, podem se supor de homens absolutamente eleitos para a salvação; e,
também, que a igreja na Babilônia era eleita, junto a essas pessoas, que não poderiam ser conhecidas
e ditas como todos os seus membros. A todos aos quais eu respondo, que a chamada para fazer a sua
eleição firme, não supõe que ela seja precária e condicional, como eu já mostrei numa seção anterior
que exortações à sobriedade e vigilância contra Satanás e advertência sobre a queda são pertinentes
aos que são absolutamente eleitos para a salvação; pois, embora Satanás não possa devorá-los, ele
pode causar-lhes muita aflição; e, embora eles não caiam final e totalmente da graça de Deus,
contudo eles podem cair de algum grau de firmeza, tanto quanto à doutrina e à graça da fé, que pode
ser para o seu prejuízo bem como para a desonra de Deus; que não é verdade que o apóstolo fala de
qualquer um desses eleitos a quem ele escreve, que eles haviam deixado o caminho direito, mas de
algumas outras pessoas; e, embora ele profetize que os falsos profetas farão negócio deles, o
significado é, que, por suas belas e lisonjeiras palavras, eles devem ser capazes de tirar dinheiro de
seus bolsos, e não que eles devem destruir a graça de Deus operada nos corações deles. Quanto à
igreja em Babilônia sendo mencionada como eleita com eles, o apóstolo podia dizer isso da igreja
em geral, como ele faz, num julgamento de caridade, da igreja em Tessalônica e outras, embora cada
membro em particular não tenha sido eleito para a salvação, sem qualquer prejuízo para a doutrina
da eleição absoluta. Além disso, as pessoas que ele escreve que não eram membros visíveis de uma
igreja em particular ou comunidade, professando o Cristianismo, mas eram estranhos dispersos em
várias partes do mundo, e, eram os tais que tinham obtido fé igualmente preciosa com os apóstolos, e
é uma forte evidência deles sendo homens absolutamente concebidos para a bem-aventurança eterna.
E considerando que é sugerido que essas pessoas já chegaram ao arrependimento e, portanto, não
podem ser as mesmas a quem Deus é longânimo para que elas pudessem chegar a arrepender-se; eu
respondo: Embora elas não sejam as mesmas pessoas individualmente, elas ainda são as que
pertencem ao mesmo corpo e número dos eleitos, a quem o Senhor espera e é longânimo até trazê-las
todas para participar dessa graça, tendo determinado que nenhuma delas jamais pereça.
5. Assim, consequentemente, essas palavras não fornecem qualquer argumento em favor da
[183]
redenção universal, nem militam contra a eleição (1 Pedro 1.2) e reprovação absolutas, ou a
graça infrustrável na conversão; mas, ao contrário, as mantém e estabelece, uma vez que parece ser a
vontade de Deus que nenhum daqueles que Ele escolheu em Cristo e deu a Ele, por quem Ele morreu,
jamais pereça; e, na medida em que o arrependimento evangélico é necessário para eles, pois não
podem chegar-se a Ele por esforço e iniciativa própria, Ele concede livremente sobre eles, e, por
Sua graça infrustrável, opera-o neles; e, até que isso seja feito em e sobre cada um deles, Ele
conserva o mundo, que é guardado para o fogo, o dia do juízo e da perdição dos homens ímpios.
SEÇÃO 57

1 João 2:2: “E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas
também pelos de todo o mundo”.

Um argumento muito considerável para o alcance universal da morte de Cristo é pensado


[184]
surgir dessa passagem da Escritura, bem como de todos aqueles que representam Cristo como o
Salvador do mundo; e é observado que considerando que essas Escrituras são todas, exceto uma,
escritas por João, o sentido que o mundo carrega no​ Evangelho de João e nas Epístolas deve ser
considerado, dentro do possível, como o sentido apropriado da palavra, onde ela nunca significa
apenas os eleitos, em oposição aos ímpios do mundo, mas o ímpio do mundo em oposição ao Cristão
[185]
fiel. Ao que eu respondo:
I. Haveria alguma validade nessa observação se a palavra mundo sempre fosse usada num único
sentido uniforme e constante nos escritos do apóstolo João, mas os escritos de João admitem uma
grande variedade de sentidos, e, portanto, o sentido da palavra mundo num único lugar não pode ser
a regra para a interpretação dela em outro, que só pode ser recebida como o texto ou o contexto
determinar; às vezes, significa todo o universo de seres criados (João 1:10); a terra habitável (João
16:28); os habitantes dela (João 1:10); as pessoas não-convertidas, ambas eleitas e réprobas (João
15:19); a pior parte do mundo, os ímpios (João 17:9); a melhor parte, os eleitos (João 1:29 e João
6:33, 51); um número de pessoas, e um pequeno número em comparação com o restante da
humanidade (João 12:19); num lugar ela é usada três vezes, e em muitos sentidos (João 1:10); Ele,
Cristo, estava no mundo, a terra habitável, e o mundo, todo o universo, foi feito por Ele, os habitantes
da terra não O conheceram, o que não deve ser entendido de todos eles, pois existiam alguns
habitantes da terra, embora poucos, que O conheciam; e eu me atrevo a afirmar que a palavra mundo
é sempre usada nos escritos do apóstolo João num sentido restrito e limitado, para alguns apenas, a
menos que ela conceba todo o universo, ou a terra habitável, sentidos que estão fora de questão, pois
ninguém dirá que Cristo morreu pelo sol, a lua e as estrelas, pelos peixes, aves, feras, paus e pedras;
e que nunca é usada para significar cada indivíduo da humanidade que estava, está ou estará no
mundo; em cujo sentido ela deve ser provada que é usada, se qualquer argumento pode ser concluído
a partir dela em favor da redenção geral.
II. É muito bem manifesto que a palavra mundo, usada pelo apóstolo João quando ele fala de
redenção e salvação por Cristo, é sempre usada num sentido limitado e restrito e significa algumas
pessoas apenas; não todos os indivíduos da natureza humana, como aparecerá a partir da
[186]
consideração das várias passagens seguintes, como quando o Batista diz: Eis o cordeiro de
Deus, que tira os pecados do mundo! (João 1:29). Não se pode entender como mundo cada indivíduo
da humanidade; pois não é verdade e nem fato que Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, tira o pecado ou
pecados de todos os homens, um por um, já que existem alguns destes que morrem em seus pecados,
cujos pecados são manifestos, precedendo o juízo, e alguns manifestam-se depois, pelos quais eles
serão justa e eternamente condenados; o que nunca poderia acontecer se Cristo tivesse tirado o
pecado deles. Se for dito, como ela é, que o Batista fala isso em alusão aos cordeiros oferecidos
diariamente pelo pecado de toda a nação judaica; e, portanto, sugere, que assim como eles eram
oferecidos para expiar os pecados de toda a nação, assim foi o Cordeiro de Deus oferecido para
expiar os pecados de todo o mundo em geral; eu respondo que como os cordeiros oferecidos
diariamente eram tipos de Cristo, o Cordeiro de Deus, também as pessoas, para quem eles foram
oferecidos, eram tipos, e não de todo o mundo em geral, mas do verdadeiro Israel e da igreja de
Deus, por quem Cristo entregou-Se a Si mesmo num sacrifício expiatório, e cujos pecados que Ele
também tira de forma que eles não serão mais vistos.
Quando nosso Senhor diz que Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu Filho unigênito,
para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna (João 3:16), por mundo Ele
não pode significar cada filho e filha de Adão; pois este mundo é representado como o objeto do
amor de Deus, até mesmo de Seu amor especial, o que nem todos os homens são, portanto, aqueles
por quem Deus tem dado Seu Filho unigênito, não é verdade a respeito de toda a humanidade; mas
dos que são levados a crer em Cristo, por consequência do amor de Deus e do dom de Seu Filho,
herdando assim a vida eterna. Contudo, os outros que não receberão o dom fé jamais poderão fazer
parte dos que nunca perecerão. Eles irão para o castigo eterno e sofrerão a segunda morte. A
semelhança da serpente de bronze, levantada para a preservação dos judeus, é insuficiente para
provar a redenção de toda a humanidade; nem é suposto sobre este mundo assim amado por Deus,
que alguns não acreditariam, e, portanto pereceriam; e que os outros seriam salvos; pois o termo
aquele que crê, não aponta a uma divisão de pessoas diferentes, mas uma distinção das mesmas
pessoas; que, no seu estado não convertido, não criam, mas, por meio do poder da graça Divina, são
levadas a crer em Cristo para a vida e salvação; e assim aponta o caminho no qual eles estão
assegurados de não perecer e ter a vida eterna. Pela morte de Cristo não incluir todos do mundo
inteiro, não será a condenação dos infiéis entre os pagãos que não creram em Cristo, mas a sua
condenação vem das suas transgressões da lei da natureza; nem os judeus incrédulos não são
condenados por eles não acreditarem que Cristo morreu por eles, mas porque eles não acreditam que
Ele é o Messias; nem essas palavras de João 3:16, tomadas no sentido universal, magnificam mais o
amor de Deus do que quando tomadas num sentido mais restrito; já que de acordo com este esquema
geral, os homens podem ser os objetos do amor de Deus, e têm todo o interesse no dom de Seu Filho,
e ainda finalmente perecem e são destituídos da vida eterna. As palavras do verso seguinte (João
3:17; João 12:47), e, que estão em outro lugar, da mesma maneira, expressam que Cristo veio ao
mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo, são concebidas para
apontar os diferentes fins da primeira e da segunda vinda de Cristo.
Mais uma vez, quando os samaritanos declararam sua crença em Cristo, que Ele era o Salvador
do mundo (João 4:43; 1João 4:14), e o apóstolo João diz que vimos e testificamos que o Pai enviou
Seu Filho para Salvador do mundo; por mundo, não pode ser intencionado a todo homem e mulher
que estava, está ou estará no mundo, já que todos não serão salvos; e Cristo não pode ser o Salvador
além daqueles que são salvos. Além disso, se Ele fosse o Salvador do mundo nesse sentido
universal, Ele deveria ser o Salvador, tanto de crentes quanto não crentes, ao contrário de suas
próprias palavras: quem crer e for batizado, será salvo; mas quem não crer será condenado (Marcos
16:16). Além disso, quando Cristo diz: O pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo
(João 6:33) nada mais pode ser concebido por mundo do que a quem este Pão de Deus dá a vida.
Agora é certo que a vida espiritual aqui e a vida eterna a seguir não são dadas a todos os homens, e,
portanto, todos os homens não podem ser destinados aqui; apenas os que são vivificados pelo
Espírito de Deus, e, por isso, gozarão a vida eterna; e esses são o mundo, pela vida que Cristo
prometeu dar a Sua carne, neste mesmo capítulo (João 6:51). Agora a partir da consideração de todas
essas passagens, parecerá fraco, destoado e inconclusivo o argumento tirado dessas passagens em
favor da redenção universal. Contudo,
III. Pode-se dizer, se o mundo não inclui cada indivíduo nele, contudo certamente a frase, todo o
mundo, deve; e quando o amado discípulo diz: E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não
somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo (1 João 2:2); essas, suas palavras, não
[187]
admitirão um sentido restrito, mas devem se estender a todos os homens. Ao que eu respondo:
1. O termo, todo o mundo é frequentemente usado pelos judeus num sentido limitado e contido;
[188]
como quando eles relatam, “Isso aconteceu com certo sumo sacerdote, que quando saiu do
santuário, aml[ylwk, todo o mundo foi atrás dele”; que só poderia conceber a multidão no templo; e
[189]
onde é dito, “aml[ylwk, todo o mundo deixou o Misnah e foram após o Gemara”; que no
[190]
máximo só pode intencionar os judeus, e talvez apenas a maioria de seus doutores; e em outro
lugar, aml[ylwk, todo o mundo caiu sobre os seus rostos; mas Raf não caiu sobre o seu rosto”; onde
[191]
ele significa nada mais do que a congregação. Uma vez mais, é dito: “Quando R. Sirecon Ben
Gamaliel entrou, isto é, na sinagoga, aml[ylwp, todo o mundo, ou seja, toda a sinagoga se levantou
diante dele”. Em tais frases como estas ygylp al aml[ylwk, a frase “todo o mundo” não faz
dissidência; ydwm aml[ ylwk, todo o mundo confessa; e yrbs aml[ylwk, todo o mundo é da opinião,
são frequentemente encontrados com no Talmud; pelo qual é concebido um acordo entre os Rabinos
em certos pontos; melhor dizendo, às vezes entre dois doutores apenas são indicados por amy[ylwk,
[192]
todo o mundo.
2. Essa frase na Escritura, a menos que signifique todo o universo, ou a terra habitável, é sempre
usada num sentido limitado e restrito; um decreto saiu que todo o mundo deve ser tributado; o que
não era outro senão o império Romano, e os tais países como foram sujeitos a ele. A fé da igreja em
Roma, foi mencionada ao longo de todo o mundo, isto é, em todas as igrejas, e entre todos os santos
do mundo. É dito que todo o mundo é culpado diante de Deus pela lei; o que pode ser dito de nada
mais dos que estavam sob aquela lei, e então, não verdadeira de toda a humanidade; que, apesar de
todos sendo culpados pela lei da natureza, contudo não pela lei de Moisés. O apóstolo conta aos
Colossenses, que o Evangelho está em todo o mundo, e já vai frutificando; o que pode significar
apenas os santos reais e os crentes verdadeiros, em quem, apenas, é produzido fruto. Uma hora de
tentação é mencionada, que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na terra; não
pode ser outro além dos quais estarão vivos, e não pode ser pensado incluir todos os indivíduos que
estiveram no mundo. Toda a terra se maravilhou após a besta; mas ainda havia alguns que não
receberam sua marca, nem a adoraram. Satanás engana todo o mundo; e, contudo é certo, que os
eleitos não podem ser enganados por ele. Todo o mundo será ajuntado para a batalha, naquele grande
dia do Deus Todo-Poderoso; que são distintos dos santos, a quem eles se opõem. (Lucas 2:1;
Romanos 1:8 e 3:19; Colossenses 1:6; Apocalipse 3:10 e Apocalipse 12:9, 13:3).
3. Esta frase, nos escritos do apóstolo João, é usada num sentido estrito e não se estende a todos
os indivíduos da natureza humana, que estava, está ou estará no mundo, como deve ser provado que
ela significa, para concluir um argumento dela em favor da redenção universal. Agora, ela é usada
em só um lugar além do texto sob consideração, quando se concebe os homens, em todas os seus
escritos, e que está em 1 João 5:19. E sabemos que somos de Deus, e todo o mundo está no maligno;
onde todo o mundo está no maligno é manifestamente distinto dos santos, que são de Deus e não
pertencem ao mundo; e consequentemente, todo o mundo não deve ser entendido de todos os
indivíduos contidos nele. E é fácil observar a semelhante distinção no texto diante de nós; pois os
pecados de todo o mundo são opostos aos nossos pecados, os pecados do apóstolo, e outros aos
quais ele se ajuntou, que, portanto, não pertencia a, nem eram parte de todo o mundo, por cujos
pecados Cristo foi uma propiciação, como foi pelos deles. Que todo o mundo, para quem Cristo é
uma propiciação, não pode intencionar cada homem e mulher que estavam, estão ou estarão no
mundo, aparece por Cristo ser a propiciação deles; por cujos pecados Ele é uma propiciação; seus
pecados, são expiados e perdoados, e a pessoa deles justificada de todo pecado, e assim certamente
será glorificada; o que não é verdade de todo o mundo, tomado no amplo sentido que é argumentado.
Além disso, Cristo é proposto para propiciação pela fé no Seu sangue (Romanos 3:25). O benefício
do seu sacrifício propiciatório só é recebido e apreciado por meio da fé; de modo que no evento,
parece que Cristo é a propiciação apenas para os crentes, os tais que não estão de acordo com toda a
humanidade. Adicione a isso que por quem Cristo é uma propiciação, Ele também é um Advogado,
verso 1, mas Ele não é um Advogado para cada indivíduo no mundo; sim, existe um mundo pelo qual
Ele não orará, e consequentemente, por este Ele não é a propiciação. Uma vez mais, o propósito do
apóstolo nessas palavras é confortar seus filhinhos, que podem cair em pecado devido à fraqueza e
negligência, com a advocacia e o sacrifício propiciatório de Cristo; mas que conforto produziria a
uma mente angustiada ao ser informada que Cristo era uma propiciação, não apenas para os pecados
dos apóstolos, e outros santos, mas pelos pecados de cada indivíduo no mundo até mesmo daqueles
que estão no Inferno? Não seria natural para as pessoas, em tais circunstâncias, argumentar contra si
mesmas em vez de a favor; e concluir que, na medida em que as pessoas podem ser condenadas,
apesar do sacrifício propiciatório de Cristo, que este pode e seria o seu caso? Contudo,
4. Para uma melhor compreensão do sentido do texto, deve ser observado que o apóstolo João
[193]
era um judeu e escreve aos judeus, como o próprio Dr. Whitby observa, e eles principalmente,
se não totalmente, foram distinguidos dos gentios, comumente chamados de o mundo: agora, diz o
apóstolo: Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, os pecados de nós,
judeus, mas também pelos de todo o mundo, os gentios. Nada é mais comum nos escritos
[194]
judaicos , do que chamar os gentios aml[, o mundo; e µlw[ lk, todo o mundo; e µlw[j twmwa, as
nações do mundo; assim, o apóstolo Paulo os chama “kósmos”, o mundo, em Romanos 11:12, 15. Foi
uma controvérsia agitada entre os doutores judeus, que quando o Messias viria, os gentios, o mundo,
deveriam ter qualquer benefício por Ele; a maioria foi excessivamente grande negativos sobre a
questão, e eles determinaram que não deveriam; apenas alguns poucos, como o velho Simeão e
outros, sabiam que Ele deveria ser uma luz para iluminar as nações, e para glória de Seu povo Israel.
O restante concluiu que os julgamentos mais severos e calamidades terríveis cairiam sobre eles; sim,
[195]
que eles devem ser lançados no Inferno no lugar dos israelitas. A essa noção João, o Batista,
Cristo e Seus apóstolos, propositadamente, opor-se-iam, e é a verdadeira razão do uso desta frase
nas Escrituras que falam da redenção de Cristo. Assim João o Batista, quando ele apontou o Messias
para os judeus, representou-o como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, os gentios, bem
como dos judeus; pois pelo sangue deste Cordeiro, comprou para Deus homens de toda a tribo e
língua e povo e nação. Quando nosso Senhor estava conversando com Nicodemos, um de seus
rabinos, Ele permitiu que ele soubesse que Deus amou o mundo de tal maneira, os gentios, contrário
às suas noções rabínicas, que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele dos que nEle crê não
pereça, como eles concluíram que cada um deles deveria; mas tenha a vida eterna: e que Deus enviou
o Seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, os gentios, como eles imaginavam, mas
para que o mundo fosse salvo por Ele. Quando os samaritanos creram em Cristo, eles declararam-nO
como o Salvador do mundo, os gentios, e assim de si mesmos, que eram contados pelos judeus como
pagãos; Cristo estabelece a Si mesmo como o pão da vida, preferível ao maná, entre outras coisas,
de Sua extensa virtude para o mundo, os gentios: e aqui o apóstolo João diz que Cristo não era
apenas a propiciação pelos pecados dos judeus, mas pelos pecados de todo o mundo, os gentios
(João 1:29, e João 3:16, 17, João 4:42, João 6:33; 1 João 2:2). Isso me faz lembrar de uma passagem
[196]
que eu encontrei no Talmud, um ditado do Rabi Jochanan”, Nós”, diz ele, “twmwal lsw[h, para
as nações do mundo, que estamos perdidos, e não sabemos que estamos perdidos; enquanto o
santuário estava de pé, o altar expiado, ou foi uma propiciação por elas; mas agora quem será uma
propiciação para elas?”. Bendito seja Deus, nós sabemos quem é a Propiciação por nós, as nações
do mundo, um que foi tipificado pelo altar, e é maior do que este, sim, o Senhor Jesus Cristo.
SEÇÃO 58

Judas 1:21: “Conservai-vos a vós mesmos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso
Senhor Jesus Cristo para a vida eterna”.

Essas palavras são imaginadas representar a preservação dos santos no amor e na graça de
Deus, condicionalmente, dependendo de sua obediência, cuidado e a perseverança deles próprios; e
que lhes seja possível a própria queda, e consequentemente, que eles não são absolutamente eleitos
[197]
para a vida eterna. Ao que eu respondo:
1. A preservação dos santos no amor e na graça de Deus não depende da obediência deles, ou de
qualquer coisa feita por eles; mas de Deus, já que o Seu amor a eles é ETERNO e começou desde a
eternidade e continuará até a eternidade; é anterior a toda obediência deles; estava em Seu próprio
coração para com eles e é expresso por vários atos antes de eles terem feito tanto o bem quanto o
mal; e continuou, apesar de toda a desobediência deles, num estado não regenerado, e É A FONTE E
A NASCENTE DE TODO O AMOR E OBEDIÊNCIA DELES PARA COM ELE; nem existe algo em
suas melhores obras que podem intitulá-los em Seu favor ou garantir-lhes a própria perseverança; já
que, quando tiverem feito tudo o que eles puderem, ainda assim, nada serão além de “servos inúteis”.
Também não existe qualquer possibilidade ou perigo dos santos verdadeiros caírem do amor e da
graça de Deus. Eles podem, e às vezes, são permitidos cometer deslizes que desagradam a Ele. Se
Ele fosse um homem, Ele agiria como os homens costumam agir, seria capaz de imediata e
efetivamente esvaziá-los de Seu favor; mas o caso é que Ele é o Senhor, não apenas homem, e não
muda em Seus afetos como os homens fazem; “por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos”
(Malaquias 3:6). Em Suas severas providências em direção ao Seu povo, o Seu amor permanece
sempre o mesmo, como quando Ele esconde Seu rosto deles ou repreende e castiga-os de uma forma
paternal; se fosse de outra forma, Seu amor não seria eterno, imutável e dele não existe separação,
como as Escrituras apresentam-no; e, além disso, seria contrário às garantias que Ele tinha dado da
continuação do Seu amor, tanto pela Palavra e pelo juramento (Isaías 54:9-10).
2. Pelo amor de Deus, nesse texto, não devemos entender o amor que Deus tem em Seu próprio
coração para Seu povo, ou com o qual esses são amados por Ele, mas o amor do povo de Deus a Ele,
[198]
e do qual Ele é o Objeto (Veja Lucas 11:42), que é um sentido que alguns intérpretes do outro
lado da questão podem aceitar prontamente; e então o significado da exortação, conservai-vos,
eautous, um ao outro; como pode ser interpretado, no amor de Deus, é que embora esta graça do
amor não possa ser perdida, contudo, na medida em que o fervor pode ser compartilhado, e os santos
podem esfriar e ficar indiferentes em suas expressões dele, isso faz com que eles usem todos os
meios apropriados para manter, aumentar e inflamá-lo, tanto em si mesmos quanto nos outros. Tal
como são mencionados no contexto, conversando juntos, de forma edificante, ou acerca da graça ou
da doutrina de sua santíssima fé; orando separadamente ou em conjunto, sob a influência do Espírito
Santo, e sinceramente esperando pela misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna.
Tudo isso com muitas outras coisas, pela bênção de Deus, podem servir para manter e reviver a
graça do amor e fazê-la fluir numa chama. Embora, talvez, esta frase possa conceber, principalmente,
o amor, a paz e a concórdia, que devem subsistir entre os santos como irmãos, e que eles devem ser
cuidadosos em preservar. Isso pode ser chamado o amor de Deus, tal como a mesma coisa é
denominada a paz de Deus (Colossenses 3:15), porque Ele os chama para isso, tal vem dEle, aquilo
que eles são ensinados por Ele, e no qual Ele faz com que eles abundem, e então o sentido da
exortação, conservai-vos, ou um ao outro no amor de Deus, é, procurando guardar a unidade do
Espírito, pelo vínculo da paz; para nos estimularmos ao amor e às boas obras; (Efésios 4:3; Hebreus
10:24; Efésios 5:2) andai em amor, tanto para com Deus e entre vós mesmos, como vós tendes a
Cristo como um exemplo; sentido que é reforçado pelas seguintes palavras, apiedai-vos de alguns,
usando de discernimento e salvai alguns com temor. E, portanto, parecerá que esse texto nem milita
contra a doutrina da eleição absoluta, nem tolera a doutrina da possibilidade dos verdadeiros santos
caírem de um estado de graça e favor de Deus. Contudo,
3. Admitindo-se que pelo amor de Deus são entendidos a graça e o favor de Deus, a exortação
aos santos, conservai-vos nele é para manterem-se sempre nele, mantê-lo constantemente à vista,
exercitar a fé nele, firmemente acreditando em seu interesse nele, e, portanto continuar esperando a
misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna; ou conservai-vos nele é meditar sobre
ele, entregar-se totalmente para contemplação dele, e empregar constantemente Seus pensamentos
sobre esse assunto delicioso, o amor de Deus; que é o fundamento de toda a graça agora e glória
futura. Mais uma vez, as palavras eautous em ágape Teou thohate podem ser interpretadas,
conservai-vos pelo amor de Deus, isto é, contra as tentações de Satanás, as armadilhas do mundo, e
as concupiscências da carne. Sempre que Satanás solicitá-los ao pecado, qualquer laço que é
colocado para puxar para dentro dele e a carne de vocês tentar prevalecer, recorram ao amor de
Deus, como uma fortaleza ou conservante contra o pecado; e raciocinem assim, como fez José:
“...como pois faria eu tamanha maldade e pecaria contra Deus?” (Gênesis 39:9) “Quem, quando eu
olho para trás, tem me amado com um amor eterno e quando eu olho para frente, há a misericórdia do
Senhor Jesus Cristo para a vida eterna”. Considere as palavras em ambas as luzes, elas nem provam
uma eleição condicional, nem a possibilidade dos santos caírem da graça; contra o que, a provisão é
feita em Cristo, o que no verso 24 é apresentado como “Aquele que é poderoso para vos guardar de
tropeçar, e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a Sua glória”.
SEÇÃO 59

Apocalipse 2 e 3.

Várias passagens são produzidas a partir das Epístolas às sete igrejas da Ásia, em favor da
satisfação e da apostasia total dos verdadeiros santos. Deve-se observar que as igrejas, de todas as
eras, têm, mais ou menos, consistido de crentes verdadeiros e hipócritas, virgens sábias e tolas,
ovelhas e bodes, trigo e joio, às vezes, denominados da melhor, e às vezes, da parte mais fraca.
Algumas coisas nas Epístolas a elas, particularmente, consideram uns como verdadeiros crentes e
outros somente professores formais entre eles. Essa observação nos ajudará a compreender a razão e
o sentido de várias ordens, advertências, exortações e ameaças, não só usadas nessas Epístolas, mas
no restante das Epístolas enviadas a várias igrejas. Além disso, pode-se observar que todos os
membros das igrejas podem estar não-congregados, o estado de igreja deles pode estar dissolvido, e
ainda nenhum crente verdadeiro entre eles ser perdido ou perecer, como tem sido o caso dessas sete
igrejas e muitas outras. Isso pode ser provocado pela remoção dos crentes verdadeiros pela morte
natural, por Deus reter uma bênção dos meios da graça para a conversão de outros; pela retirada total
do Evangelho delas, e assim, finalmente, pela remoção do castiçal de seu lugar. É, portanto, um
despropósito aplicar ou insistir em passagens e exemplos desse tipo contra a perseverança final dos
santos; no entanto, devemos considerar a insistência em várias Escrituras que foram dadas como
referências. E,

1. A primeira desse tipo a ser examinada, está na Epístola à igreja de Éfeso. “Tenho, porém,
contra ti que deixaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica
as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te
[199]
arrependeres” (Apocalipse 2:4-5). Mas nem a queixa apresentada contra essa igreja, que ela
tinha deixado o seu primeiro amor, prova que o local tinha total e finalmente caído da graça; já que
ela podia abandonar, ou seja, diminuir no fervor de seu amor a Cristo, embora não perdê-lo; o que,
por vezes, o amor esfria por intermédio da prevalência da corrupção e as armadilhas do mundo,
quando ele não está perdido, como não estava nessa igreja; nem pode ser perdido em qualquer crente
verdadeiro, não obstante suas deserções, tentações, quedas e rebeldias: nem a exortação, lembra-te,
pois, de onde caíste, comprova a perdição, visto que ela poderia estar caída parcialmente, embora
não totalmente; e o designo dessa exortação é para ela se lembrar comparando sua condição anterior
com a presente. Assim ela relembraria de suas afeições, e depois de uma restauração à sua forma
anterior vívida e confortável, ela poderia ser avivada, tornaria a ser envergonhada pelas suas
rebeldias e levada a um reconhecimento dela, algo que seria demonstrado por ela realizar as suas
primeiras obras; também nem a ameaça de vir a ela e tirar do seu lugar o seu castiçal, no caso do não
arrependimento, prova tais doutrinas mencionadas; visto que isso pode ser entendido de Sua vinda a
ela de uma forma providencial, isto é, deixando-a pensar em seu estado eclesiástico pelo sofrimento
da perseguição ou deixando uma heresia vir sobre ela, ou removendo-a completamente do seu lugar,
por meio da retenção de uma bênção dos meios da graça, e inteiramente tirá-la; o que pode ser feito
sem a perda de um verdadeiro crente, como tem sido observado. Além disso, essa igreja é
grandemente elogiada nos versos 2 e 3 por seu trabalho, paciência e zelo contra os falsos apóstolos;
um caso simples que mostra que ela não estava definitiva e totalmente caída da graça.
2. A próxima passagem a ser considerada é a promessa feita à igreja de Esmirna, “sê fiel até à
morte, e dar-te-ei a coroa da vida” (Apocalipse 2:10) que é apresentada como incongruente com uma
promessa absoluta de Deus, que os crentes devem perseverar até o fim, ou suspender a sua felicidade
sobre a condição de sua perseverança, que é dito ser feito nessas palavras. Contudo, deve ser
observado que a coroa da vida ou a felicidade eterna não é uma bênção suspensa, já que ela nunca
foi prometida nem nunca deverá ser apreciada antes da morte, muito menos suspensa em qualquer
condição a ser realizada por nós; já que ela é um dom totalmente gratuito da graça. Em fidelidade até
a morte não é feito aqui sob a condição de desfrutar a coroa da vida; mas o dom da coroa da vida é
feito como incentivo à fidelidade até a morte. Na mesma luz devemos considerar Tiago 1:19, e as
palavras de nosso Senhor em Mateus 24:12, 13. E, por se multiplicar a iniquidade (não porque as
tribulações são abundantes, como o Dr. Whitby cita as palavras), o amor de muitos esfriará: mas
[200]
aquele que perseverar até o fim, será salvo; onde perseverar até o fim, não é a condição de
salvação, mas a promessa de salvação é o encorajamento para perseverar até o fim, isto é, Deus nos
salvou pela graça e promete manter-nos assim até o fim.

3. Uma terceira passagem referida é a exortação para a igreja de Pérgamo, não Éfeso, como o
[201]
Dr. Whitby, por errar, a chama: “Arrepende-te, pois, quando não em breve virei a ti, e contra
eles batalharei com a espada da minha boca” (Apocalipse 2:16). Essa igreja está tão longe de ser um
exemplo da apostasia dos verdadeiros santos, que ela é elogiada por ter retido o nome de Cristo, e
não negar a própria fé no pior dos lugares e no pior dos momentos, mesmo onde está o trono de
Satanás, ainda nos dias de Antipas, minha fiel testemunha, o qual foi morto entre vós; e embora
existissem alguns entre eles que retiveram as doutrinas e seguiram as práticas de Balaão e dos
Nicolaítas, as quais devem ter sido motivos de humilhação, e por conta da qual Cristo exorta ao
arrependimento; e embora Ele diga que em breve virá a ela, que está numa forma providencial, mas
mesmo assim não para batalhar contra ela, mas contra eles; pois Ele não diz, eu batalharei contra ti, a
igreja, como o Doutor Whitby inadvertidamente lê as palavras, mas contra eles, os Balaamitas e
Nicolaítas; e isto não com a espada temporal, mas com a espada da Sua boca, a palavra de Deus. A
passagem tirada da Epístola à igreja em Tiatira, sendo em muito a mesma do que é alegado na
Epístola à igreja de Filadélfia, será considerado com ela. Eu prossigo,

4. Examinando o exemplo da Igreja em Sardes. Existiam poucos crentes verdadeiros nessa


igreja; ela tinha um nome de que vive, mas estava morta; ela tinha algumas pessoas que não
contaminaram suas vestes, e, portanto, o seu desvio não é prova da apostasia dos verdadeiros santos.
Os restantes, quem ela está chamada a confirmar, não deve ser entendido sobre as graças do Espírito
em seus membros; uma vez que essas nunca são realmente desperdiçadas ou em declínio, elas sempre
estão continuamente crescendo, prosperando e aumentando; pois esta boa obra da graça continua
diariamente se os santos são sensíveis a isto ou não, e será aperfeiçoada até ao dia de Jesus Cristo;
nem podem as graças do Espírito morrer, pois sendo sementes imortais e incorruptíveis; elas não
estão prestes para morrer, a não ser nas apreensões dos santos sob ataques de incredulidade. Além
disso, o que confirma os santos é a obra de Deus, e não do homem, e se estes devem ser
intencionados nessa passagem, não seria prova da perda real de graça verdadeira, já não são
mencionados que estes estavam mortos, mas estavam para morrer, mas eram recuperáveis. O tà loipà
eram os membros restantes dessa igreja, sentido que é confirmado pelas Versões Siríaca, Árabe,
Etíope, Vulgata Latina e outras. A maioria dos membros já estava mortos, e muitos outros deles
estavam doentes e estavam prestes a morrer; o anjo, ou o pastor, dessa igreja é chamado a fazer o seu
dever, confirmar os que estavam em dúvidas, e fazer tudo o que estava em seu poder, por meio de
uma pregação diligente da palavra e a constante administração das Ordenanças, para preservá-los de
um desvio generalizado. A ameaça, no verso 3, que diz respeito à parte ritual, formal e sem vida
[202]
dessa igreja; e quanto ao restante, em Sardes algumas pessoas que não se contaminaram, uma
promessa de perseverança e bem-aventurança lhes é feita: “Mas também tens em Sardes algumas
poucas pessoas que não contaminaram suas vestes, e comigo andarão de branco; porquanto são
dignas disso. O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome
do livro da vida; e confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos” (Apocalipse
3:4-5).

[203]
5. Quando Cristo diz à igreja em Tiatira, Esses que já tendes, não os que tu tens obtido,
como Dr. Whitby cita as palavras, Mas o que tendes, retende-o até que eu venha (Apocalipse 2:25)
e aquela em Filadélfia, guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa (Apocalipse 3.11);
[204]
pelo que ela tinha e deveria guardar seguramente, Ele não quer dizer a graça, mas a doutrina da
fé, a palavra fiel, a forma das palavras sãs, que ambos os ministros e membros deveriam guardar
seguramente, em oposição a ter dúvidas sobre isso, covardia nela, e um desvio desta; e tais
exortações, embora possam implicar que os santos podem ter as suas tentações, e que existe a
possibilidade deles poderem cair de algum grau ou convicção de firmeza nas doutrinas do
Evangelho, e, portanto, devem estar sobre sua guarda, contudo eles não podem ou devem ser final e
totalmente deixados cair. E mesmo que os santos são incitados a considerar mais diligentemente tais
exortações para que ninguém tome a sua coroa, pela qual se pode entender, ou o Evangelho, que era a
sua propriedade e glória, ou a honra que tiveram alcançado por sua fidelidade e integridade estando
nEle; ou se a vida eterna é intencionada por Ele, não segue que é possível que essa seja tomada dos
verdadeiros crentes ou perdida por eles, apesar de alguns que professam a fé serem desapontados
dela; mas que o designo da expressão faz uma alusão aos Jogos Olímpicos, no qual muitos correm,
mas só um leva o prêmio, para estimular os santos ao serviço, vigilância e diligência.
6. Quando Cristo diz à igreja de Laodicéia, Assim, porque és morno, e não és frio nem quente,
[205]
vomitar-te-ei da minha boca (Apocalipse 3:16) deve ser observado que o estado dessa igreja,
e os seus membros eram como é mencionado na citação, isto é, que ela não era fria, ou seja, sem um
princípio de vida espiritual, amor e uma profissão de religião; nem quente, animada, calorosa e
zelosa no exercício da graça e cumprimento do dever; mas morna, indiferente, desinteressada a
respeito de sua própria condição, da honra e do interesse de Jesus Cristo, uma situação de alma
muito desagradável a Cristo, e portanto, para mostrar Seu ressentimento por tal estado, Ele ameaça
vomitá-la de Sua boca, como os homens fazem com o que é repugnante a eles, e designa alguns
castigos ou aflições para fazê-la cair em si sobre a sua condição presente e livrar-se dela; pois certo
é que Ele tinha um amor, imutável e eterno, por muitos nessa igreja; por isso Ele diz: Eu repreendo e
castigo a todos quanto amo; sê pois zeloso e arrepende-te (verso 19).
SEÇÃO 60

Apocalipse 3:20: “Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta,
entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo”.

[206]
A partir dessa passagem conclui-se que Cristo está à porta e bate nos corações dos
pecadores não-regenerados pelo ministério da Palavra, e que eles têm graça e força suficientes para
abrir seus corações para Ele, ou então Ele bate em vão. Por que, que homem sábio estaria diante de
uma porta e bateria se Ele soubesse que não existia alguém dentro que poderia abrir para Ele? E uma
vez que é exigido dos homens na conversão que abram os seus corações a Cristo, segue-se, que a
obra não é executada por uma força irresistível, ou sem o consentimento e a cooperação da vontade
do homem. Contudo,
1. Deve ser provado que o ministério da Palavra é uma vez representado por bater nos corações
dos pecadores não-regenerados, ou que Deus, ou Cristo, são alguma vez mencionados batendo nos
corações dos homens pelo ministério da Palavra. Os homens podem atingir o ouvido, mas somente
Deus pode alcançar e atingir o coração, o que acontece quando o Evangelho não vem somente em
palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo; e quando Deus faz isso, Ele não só bate ou
desfere pancadas e depois espera até que a entrada seja dada do lado de dentro; mas Ele atinge o Seu
alvo, e ao mesmo tempo, abre a porta do coração, como a fez com Lídia, pela Sua graça poderosa e
eficaz. Também deve ser provado que Deus, na conversão, comanda e exige que os homens abram
seus corações para Ele, nenhum dos quais pode ser provado a partir desse texto ou de qualquer outro
em toda a Bíblia; nem está no poder dos homens não-regenerados, sendo mortos em transgressões e
pecados, e nem por suas vontades, inclinações, ou desejos e afetos, pois sua mente carnal é inimizade
contra Deus e Cristo, jamais abrirão os seus corações e O deixarão entrar. E supondo que essas
palavras representam Cristo permanecendo e batendo na porta dos corações dos homens, pelo
ministério externo da Palavra, não é Cristo que tem a chave da casa de Davi, com a qual Ele abre e
ninguém fecha? E Ele adentra pelo poder de Sua graça, sem oferecer qualquer tipo de violência às
vontades dos homens, já que Seu povo é feito um povo mui voluntário no dia do Seu poder. Assim
Sua batida não é em vão, já que para os Seus eleitos não é dada apenas graça suficiente, mas a graça
eficaz pela qual a porta de seus corações é aberta para Ele, e outros são deixados indesculpáveis, os
quais estão prontos a dar desculpas como estas: “Se Ele tivesse batido, eu teria aberto; se eu tivesse
ouvido, eu teria crido; se eu soubesse, eu teria feito isso e outra coisa”. Contudo,
2. Essas palavras não são ditas a nenhum dos pecadores não-regenerados, tampouco eles têm
qualquer referência à abertura dos corações dos homens na conversão, mas são direcionadas ao anjo
da igreja que está em Laodicéia, e aos membros daquela igreja, pessoas que professaram o nome de
Cristo; as quais, apesar delas não estarem quentes, contudo não eram frias, Cristo ainda tinha uma
consideração, apesar delas estarem naquele estado morno; e, portanto, toma todo método adequado
para tirá-las dessa situação; o que foi a mesma coisa com a igreja em Cantares de Salomão 5:2: “Eu
dormia, mas o meu coração velava; e eis a voz do meu amado que está batendo: abre-me, minha irmã,
meu amor, pomba minha, imaculada minha...”, um lugar paralelo a esse texto, e que é o único no qual
Cristo é mencionado bater, e requer que alguém abra para Ele. Agora Ele estando à porta pode
significar sua aproximação ao julgamento (Veja Tiago 5:8-9); esta igreja em Laodicéia, sendo a
última das igrejas, representa o estado da Igreja nos últimos tempos, o que trará e concluirá com o
julgamento geral; ou então se entende a Sua presença nessa igreja, a qual demonstra o Seu contínuo
amor, cuidado, condescendência e paciência para com ela. O Seu bater não é pelo ministério da
Palavra, mas por alguma dispensação aflitiva da providência, talvez perseguição. Essa igreja estava
numa atitude sonolenta, morna, indiferente, uma condição acomodada de espírito, como nos parece
nos versos 15 a 18. Cristo não suportará que ela continue assim, e, portanto, toma Sua vara em Sua
mão e fica à porta dela, dá algumas batidas e pancadas severas para trazê-la a Si mesmo, para que
ela saia desse estado e condição indolente, altiva e autoconfiante no qual ela estava; um sentido que é
confirmado pelo verso precedente, eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê, pois zeloso, e
arrepende-te. A promessa que Ele faz aos que ouvem a Sua voz, isto é, aos sábios, que ouvem a vara,
e Quem a ordenou, quando a voz do Senhor clama a uma cidade ou uma igreja, e estas se abrem para
Ele, isto é, pelo exercício vivo da fé e amor, e que é devido a Ele pôr Sua mão pela fresta da porta, é
deste modo, que Ele entrará nelas e ceará com elas, e elas com Ele, o que pode, no geral, conceber, a
comunhão e companheirismo em Sua casa e nas Suas ordenanças, ou em particular, à Ceia das Bodas
do Cordeiro, às quais aqueles que são chamados, são declarados bem-aventurados.

ORE para que o ESPÍRITO SANTO use este Tratado para trazer muitos ao conhecimento salvífico de JESUS CRISTO para a glória de
DEUS PAI.

Sola Scriptura!
Sola Gratia!
Sola Fide!
Solus Christus!
Soli Deo Gloria!
[1]
Barclay’s Apology, p. 151
[2]
In loc.
[3]
Assim diz Barclay na sua Apology, p. 154.
[4]
R. Levi Ben Gersom, R. Aben Ezra, etc., in loc.
[5]
Tais como R. Aben Ezra, in loc. R. Hona em Bereshit Rabba, p. 22, 3.
[6]
R. Joseph. Kimchi em R. David Kimchi. Lib. Shorash, rad. ^wd.
[7]
Veja Fuller. Miscell. Sacra, 1, 5, c. 5; and Vatablus, e Capellus, in loc.
[8]
Barclay’s Apology, p. 154.
[9]
Symmachus, Hieron. Trad. Hebrews tom, 3 p.66; R. Juda Bar Elhai em Bereshit Rabba, fol. 22, 3.
[10]
Veja Fuller. Miscell. Sacr. 1, 5, c. 5.
[11]
Veja Barclay na sua Apology, pp. 153, 154.
[12]
Curcellae, Relig. Christ. Inst. 1.6, e. 6, sect. 7, p. 370; Whitby's Discourse on the Five Points pp.
77, 197; edit. 2. 76, 193.
[13]
Whitby, p. 179, 181; ed. 2. 175, 177.
[14]
Whitby, p. 235; ed. 2. 230.
[15]
In loc.
[16]
Página 235; ed. 2. 230.
[17]
Whitby, p. 305, 314; ed. 2. 297, 306.
[18]
Whitby, p. 305, 314; ed. 2. 297, 306.
[19]
Whitby, p. 306; ed. 2. 298.
[20]
Whitby, p. 306; ed. 2. 298.
[21]
Whitby, p. 306; ed. 2. 298.
[22]
Whitby, p. 307; ed. 2. 299.
[23]
Erasmo em Lutero. De Selvo Arbitr. c. 95 e 97, pp 145, 148; Curcellaei Institut. Rel. Christian.
I. 6, c. 13, sect. 2, p. 400: Limborch. Theolog. Christ. I. 4, c. 13, sect. 22, p. 376, Whitby, pp. 317.
318; ed. 2. 309, 310.
[24]
Veja Gale’s Court of the Gentiles, part. 4. b. 3, c 1, sect. 4, pp. 13, 14.
[25]
Verba adducta sunt imperativa; nihil dicunt, nisi quid fieri debeat; neque enim Moses dicit.
eligendi haves vim, vel virtutem; sed elige, serva fac, Praecepta faciendi tradil non autem describit
hominis facultatem. – Lutero, de serv. arbitr, e. 97, p. 148.
[26]
Whitby, pp. 181, 222, 223; ed. 2. 177, 216, 217.
[27]
Os três Targums de Onkelos, Jonathan, e Jerusalém, usam “wla”, para “se”; como faz também R.
Sol. Jarchi, R. Aben Ezra, e R. Levi ben Gerson, in loc. Também Noldius em Concord. partic. Ebr,
Chal. p. 503, traduz as palavras, Si saparent. intelligerent ista; como também as versões em Árabe e
Siríaca. A Septuaginta parece ter lido “al” para “lw”, pois lê ouk ejronhsan su ienai, eles não eram
sábios para entender: assim também a versão Samaritana.
[28]
Veja Vatablum in loc.
[29]
Em Coll. Hag. art. 3. 4. p. 216, 219; art. 5 p.15, ed. Bert.
[30]
Whitby, pp. 77, 181, 222; ed. 2, 76, 177, 216.
[31]
Em Coll. Hag. art. 3. 4. p. 232.
[32]
Whitby, p. 436; ed. 2. 425.
[33]
Whitby, p. 159; ed. 2, 155.
[34]
Curcellae Relig. Christ. Inst. 1. 6, e. 6, seção 8, p. 370.
[35]
Whitby, pp. 159, 177; ed. 2. 155, 173.
[36]
Veja Whitby, p. 159; ed. 2. 155.
[37]
Whitby, p. 72; ed. 2. 71.
[38]
Ibid. p. 252; ed. 2. 246.
[39]
Whitby, p. 250, 251; ed. 2. 244, 245.
[40]
Ibid. p. 181, 251; ed. 2. 177, 245.
[41]
Remonstr. in Coll. Hag. art. 3. 4. p. 215.
[42]
Ibid. art. 3. 4. p. 221; Whitby, p. 260; ed. 2, 254.
[43]
Whitby, ib.
[44]
Ibid.
[45]
Whitby, p. 261; ed. 2.255.
[46]
Ibid. p. 224, 257; ed. 2. 218, 251.
[47]
Ibid. pág. 237; ed. 2. 231.
[48]
Whitby, pág. 181, 242, 298; ed. 2. 177 236, 291.
[49]
Remonstr. in Coll Hag. art. 3. 4. p. 216, 219; Act. Synod. pág. 89. etc: Curcell. Christ. Institut. 1.
6. c. 13. sec, 3, p. 400; Limborch. 1. 4, c. 13, sect. 2, 3, 4, pág. 369.
[50]
Whitby, pág. 334; ed. 2. 229.
[51]
Whitby, págs. 261, 262; ed. 2. 255.
[52]
Whitby, pág. 341; ed. 2. 358.
[53]
Gataker em Pol Synops. em loc.
[54]
Whitby, pág. 242; ed. 2. 236.
[55]
Whitby, págs. 237, 242; ed. 2. 231, 236.
[56]
Whitby, pág. 243; ed. 2. 237.
[57]
Whitby, págs. 237, 287; ed. 2. 231, 280.
[58]
Veja Remonstr. em Coll. Hag. art. 3. e 4. Pág. 265.
[59]
Remonstr, em Coll. Hag. art. 5. pág. 14; Sínodo lei. pág. 218; Limborch. 1. 5, c. Seita, 81 1, pág.
705; Whitby, pág. 401, ed. 2. 390.
[60]
Whitby, pág. 402, ed. 2. 3.
[61]
Ibid. pág. 403; ed. 2. 392.
[62]
Ibid. pág. 402; ed. 2. 391.
[63]
Whitby, pág. 402; ed. 2. 391.
[64]
Whitby, pág. 403; ed. 2. 392.
[65]
Mesmo assim Vorstius lê as palavras e argumenta a partir delas por um decreto condicional em
Deus. Amic. Collat. cum Piscator, seita 4, pág. 10.
[66]
Whitby, pág. 70; ed. 69.
[67]
Ibid. pág. 34; ed. 2. 33.
[68]
Whitby, págs. 237, 242; ed. 2. 231, 236.
[69]
Remontr. in Coll. Hag. art. 3. 4. p. 216; Act. Synod. p. 78, etc.; Curcell. 1. 5, c. 6, sect. 1. p. 363;
et. 1. 6, c. 14, sect 8, p. 408; Limborch. 1. 4, c. 5, sect. 2, p. 331, &, 31. p. 374.
[70]
Veja Whitby, pp. 3, 33, 160, 196, 197; ed. 2.3, 32, 156,192, 193.
[71]
Whitby, pp. 77, 160, 204, 251,252, 447: ed. 2. 76, 156, 199, 245, 246, 452.
[72]
Whitby, pp. 204, 477; ed. 2. 199, 456.
[73]
Ibid. p. 435; ed. 2. 424.
[74]
Whitby, p. 435; ed. 2. 426.
[75]
Remonstr. em Coll Hag. art. 3. 4. pág. 218, lei. Sínodo. pág. 120 etc.; Limborch. 1. 4, c. 13,
seita. 6, pág. 370; Whitby, pág. 173; ed. 2. 169.
[76]
Whitby. pág. 174; ed. 2. 170.
[77]
Em loc.
[78]
Veja Whitby, pág. 13, 77, 162, 204, 222, 358; ed. 2. 13, 76, 158, 199, 216, 349 Remonstr. em
Coll. Hag. art. 3. 4. pág. 215; lei. et Script. Synodalia arte circa. 4. pág. 64; Curcell. Relig. Cristo. 1.
6, c. 6, seita. 7, p. 370, e c. 13, seita. 5, pág. 402; Limborch, 1. 4, c. 13, seita. 7. pág. 371.
[79]
Whitby, págs. 13, 162, 201; ed. 2. 13, 158, 197.
[80]
Ibid. pág. 77; ed. 2. 76.
[81]
Ibid. pág. 222; ed. 2. 216.
[82]
Veja Whitby, págs. 30, 175; ed. 2. 30. 171.
[83]
Whitby, pág. 13, 14, 236, 237; ed. 2. 13, 14, 231.

[84]
Curcellaei Relig. Cristo. Inst. 1. 6, c. 6, seita. 7, pág. 470, e c. 13, seita. 5, pág. 402.
[85]
Whitby, pág. 162; ed. 2, 158.
[86]
Ibid., pág. 143, 144, 146; ed. 2. 140-142.
[87]
Whitby, pág. 146; ed. 2. 142.
[88]
Remonstr. em Coll. Hag. art. 3. 4. pág. 216; Sínodo lei. pág. 81; Curcell. 1, 6, c. 13, ver 6, pág.
402; Limborch. 1. 4, c. 13, seita. 13, pág. 373; Whitby, pág. 13, 73, 135, 162; ed. 2. 13, 72, 132, 158.
[89]
Whitby, pág. 52, 73, 358; ed. 2. 51, 72, 349.
[90]
Veja Polani Syntag. Theolog. l. 6, c. 18, p. 398.
[91]
Veja Beza in loc.
[92]
João 11:52. A versão persa, in Lond. Bibl. Polyglott, lê estas palavras assim: And I, when I am
lifted up from the earth, will draw my friends unto me [E eu, quando for levantado da terra, atrairei
meus amigos a mim].
[93]
Veja Beza in loc.
[94]
Limborch, 50:4, c. 13, sect. 16, p. 374; Whitby, p. 70, 88, 153; ed. 2.69, 87, 149.
[95]
In Coll. Hag. art. 3. 4. p. 215, Acta Synod. p. 70, etc.; Limborch, 50:4,c. 13, sect. 14, p. 373.
[96]
Whitby, p. 113, l17, 118; ed. 2. 111, 115, 116.
[97]
Limborch, 50:4, c. 5, sect. 6, p. 333.
[98]
In Pharaeus in loc.
[99]
In loc.
[100]
In loc.
[101]
Remonstr. em Coll. Hag. art. 2, pág. 132; Sínodo lei. pág. 346, etc; Curcellaeus, 50:6, c. 4, sec.
7, pág. 360; Limborch, 50:4, c. 3, seita. 9, pág. 321.
[102]
Whitby, pág. 138; ed. 2. 235.
[103]
Veja Whitby, págs. 436, 442; ed. 2., 425, 431.
[104]
Whitby, pág. 138, 436, 442; ed. 2. 135, 425, 431.
[105]
Em Coll. Hag. art. 2, pág. 173.
[106]
Whitby, págs. 428-429; ed. 2. 417-418.
[107]
Whitby, págs. 429-430; ed. 2. 418-419.
[108]
Remonstr. em Coll. Hag. art. 2. pág. 132; Curcellaeus, 1. 6, c. 4, seita. 6, pág. 360; Limborch,
50:4, c. 3, seita. 3, 4, pág. 319.
[109]
Whitby, pág. l13, ed. 2. 111.
[110]
Repete uper autwn, sicut ratio hypozeugmatis requirit;Vorst in loc.
[111]
Whitby, p. 119; ed. 2.116.
[112]
Whitby, p. 119; ed. 2. 116.
[113]
Whitby, p. 119; ed. 2. 116.
[114]
In Coll. Hag. art. 2. p. 132.
[115]
Whitby, p. 119; ed. 2. 116.
[116]
Ibid.
[117]
Whitby, p. 119; ed. 2. 116.
[118]
Whitby, pág. 129; ed. 2. 124.
[119]
Ibid. pág. 136; ed. 2. 133.
[120]
Whitby, pág. 136; ed. 2. 133.
[121]
Whitby, pág. 2, 6, 75; ed. 2. 2, 6, 74.
[122]
Remonstr. Em Coll. Hag. art. 5. p. 14, 78; Limborch, 1. 5, c. 83, sec. 1, p. 718; Whitby, p. 423,
461; ed. 2. 412, 441.
[123]
Whitby, p. 426, 427, 460, 461; ed. 2. 415, 440, 441.
[124]
Veja Whitby, p. 9, 10.
[125]
Whitby, p. 76; ed. 2. 75.
[126]
Ibid. p. 295; ed. 2. 288.
[127]
Ibid. p. 294; ed. 2. 287.
[128]
Nos vertimus, operamini circa salutem vestram, kata< th<n swthri>an uJmw~n ujrga>zesqe;
imo quamvis sinekata< , dixisset simpliciter, th<n swthri>an uJmw~n ejrga>zesqe, sensus non esset,
salutern, vestram, efficite, sed idem quam jam nune dedimus, sicut 1 Corinthians 9:13; Revelation
18:17, and John. 6:27. Ita et hic ejrga>zesqeaut katerga>zesqe th<n swthri>an , non est salutem
efficere, sed circa eam operari at laborare, ea tractare, quae ad salutem facient. De Dieu, in loc.
[129]
Whitby, p. 424-426, 480; ed. 2. 413-415, 459.
[130]
Veja Remonstr. in Coll. Hag. art. 5 p. 17; Act. Synod. p. 266; Limborch, 50:5. c. 82, sec. 15, p.
716.
[131]
Whitby, p. 411,412; ed. 2. 402.
[132]
A Septuaginta traduz a palavra Hebraica ‫ָמַ֗אְסָתּ‬, por ela em Jó 34:33, Jeremias 2:37, Oséias 4:6,
e em outras passagens, e também pela palavra ‫ ָגּ ֲֽ֙על֙וּ‬em Ezequiel 16:45; ambas significando recusar ou
rejeitar qualquer coisa com repugnância e desprezo.
[133]
Whitby, p. 513; ed. 2. 403.
[134]
Whitby, p. 413, 414, 440; 2. ed. 403, 404, 428.
[135]
Remonstr. in Coll. Hag. art. 2:p. 134; Act. Synod. circa art. 2:p. 321, etc.; Curcellaes, p. 364;
Limborch, p. 332; Whitby, p. 29, 30, 74. 120, 121; 2 ed. 29, 30, 33, 117, 118.
[136]
Vorst in loc.
[137]
Ibid. et Amica Collat. cum Piscator, p. 8, 13, 28; Curcell. Relig. Christ. Instit. 50:6, c. 5, sect,
7, p. 366.
[138]
Whitby. p. 120, 121; ed. 2. 117, 118.
[139]
In lib. Shorash rad.llk
[140]
Enchirid. e. 103.
[141]
Whitby, p. 114; ed. 2. 111. To the same purpose, Curcellaeus, p. 365, and Limborch, p. 332
[142]
Veja Lightfoot, vol. 1. p. 301.
[143]
Whitby, of Redemption, p. 113; ed. 2. III.
[144]
Volkolius de vera Relig. 1. 2,'e. 7, p. 10. See also Crellins de Deo c. 19, p. 133.
[145]
Whitby, p. 113, ed. 2. III; Curcellaeus, p. 359.
[146]
Ibid. p. 122; ed. 2. 119.
[147]
Whitby, p. 165; ed. 2. 161.
[148]
Whitby, p. 122; ed. 2. 119.
[149]
Ibid. Veja também p. 51. 205; ed. 2. 200.
[150]
Ibid. p. 123; ed. 2. 120.
[151]
Whitby, p. 414-417; ed. 9. 404-06, 408.
[152]
Remonstr. in Coll. Hag. art. 2. p. 134, 135; Curcellaeus, p. 360: Limborch, p. 319; Whitby, p.
143; ed. 2.111.
[153]
Ibid, p. 123; ed. 2, 120.
[154]
Obadiah How's Universalist Examined, c. 11, p. 149, 150.
[155]
Veja R. Sol. Jarchi in loc.
[156]
Remonstr, in Coll. Hag. art. 5:p. 18; Act. Synod. circ. art. 5:p. 235, etc.; Limborch, p. 710.
[157]
Whitby, p. 404 - 406; ed. 2. 394 - 396.
[158]
Justino Mártir, Apolog, 2. p. 94; Clemente de Alexandria, Paedagog. 1. 1, c. 6, p. 93.
[159]
In loc.
[160]
Página 211; ed. 2. 206.
[161]
Remonstr. in Coll. Hag. art. 2. p. 176, 178, and art 5. p. 18; Act. Synod. circa art. 2. p. 346, art.
5. p 235; Limborch, p. 322, 709; Curcellaeus, p. 360; Whitby, p. 140, 406, 407; ed. 2. 137, 396, 397.
[162]
Páginas 141, 406; ed. 2. 138, 396.
[163]
Ibid.
[164]
Whitby, p. 407: ed. 2. 397.
[165]
In loc.
[166]
Ibid.
[167]
In R. David Kimchi in loc. and in lib. Shorash. rad. Lp[. So Philip Aquinas in Lex. rad, lp[.
[168]
Whitby, p. 408; ed. 2. 397.
[169]
Ibid.
[170]
Veja Pocock Not. misc. in port. Mosis, p. 43, 44.
[171]
Whitby, p. 408; ed. 2. 397.
[172]
Whitby, p. 409; ed. 2. 398.
[173]
Ibid. p. 36; ed. 2. 35.
[174]
Páginas 37-40; ed. 2. 36-89.
[175]
Remonstr. in Coll. Hag. art. 5. p. 17, and art. 2. p. 132, 160; Act. Synod. circ. art. 2. p. 354,
etc.; Curcell. p. 360; Limborch, p. 322.
[176]
Páginas 141, 142; ed. 2. 138, 139.
[177]
Remonstr. in Coll. Hag. art. 5. p. 17; Act. Synod. circ. art. 5. p. 242, etc.; Limborch, p. 711.
[178]
Whitby, p. 409; ed. 2. 398.
[179]
Página 410; ed. 2. 399.
[180]
Remonstr. in Coll. Hag. art. 2. p. 160, 181, 196; Curcellaeus, p. 364; Limborch, p. 333; Whitby,
p. 113; ed. 2. 111.
[181]
Whitby, p. 124; ed. 2. 121.
[182]
Whitby, p. 125, 126; ed. 2. 122, 123.
[183]
Whitby, p. 13, 75; ed. 2. 74.
[184]
Remonstr. in Coll. Hag. art. 2:p. 133; Curcellaeus, p. 358; Limborch, p. 321.
[185]
Whitby, p. 127, 128. 184; ed. 2. 124,125,131.
[186]
Ibid. p. 134.
[187]
Whitby, p. 132; ed. 2. 129.
[188]
Talmud. Roma, fol. 7l. 2.
[189]
Bava Metzia, fol. 33.2.
[190]
Megilla, fol. 22. 2.
[191]
Horaiot fol. 13. 2.
[192]
Veja Mill. Formul. Talmud, p. 41,42.
[193]
Páginas 466; ed. 2. 446.
[194]
Talmud, Rabbet, and Zohar. Veja Jarchi in Isaiah lilt. 5. Veja Shemot Rabba, fol. 98. 3, and 99.
l,: Shirhash, Rab. fol. 24.1.; Jarchi and Kimchi, in Zechariah 9:1.
[195]
Veja Shemot Radda, fol. 98. 3, and 99. 4: Shirhash, Rab. Fol. 24. 1; Jarchi and Kimchi, in
Zechariah 9:1.
[196]
Succa, fol. 55. 2.
[197]
Whitby, p 87. 398,422,458; ed. 2. 86, 188,410,411,438.
[198]
Vorstius and Grotins in loc.
[199]
Veja Limborch, 1. 5. c. 83, sect. 19, p. 721; Whitby, p. 432, 458; ed. 2. 420, 438.
[200]
Apocalipse 2:10. Veja Whitby, p. 4,30, 431; ed. 2. 419,420.
[201]
Ibid. p. 431; ed. 2. 420.
[202]
Ibid p. 432; ed. 2. 420.
[203]
Veja Whitby, p. 432,433; ed. 2. 420,421.
[204]
Whitby, p. 422; ed. 2. 411.
[205]
Apocalipse 3:16. Veja Remonstr. in Coil. Hag. art. t. p. 14.
[206]
Bellarmia. de Gratis el. Lib. Arbitr. 1. 1. c. 11; Remonstr. in Coil. Hag. art. in. and 4:p. 274;
Whitby, p. 286; ed. 2. 279.

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