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12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Janeiro/Fevereiro, 2012

issn 1982-5994
Entrevista
Fotos Karol Khaled

JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXVI • N. 101 • Janeiro/Fevereiro, 2012

As feiras, os mercados e a cidade


E
stranhar o olhar para um

Alexandre Moraes
local por onde estamos ha-
bituados a circular. Suprir
a carência de estudos mais den-
sos sobre esses ambientes. Ana-
lisar as relações de sociabilidade
em espaços que são centrais na
construção da cidade. Essas são
algumas das razões que levaram
as professoras Carmem Izabel
Rodrigues e Wilma Leitão, do
Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas (IFCH), a implementa-
rem o Projeto "Mercados Popu-
lares em Belém: sociabilidades,
práticas e identidades ribeirinhas
em espaço urbano". O Projeto
integra estudantes de graduação e

UFPA coordena rede de Direitos Humanos


pós-graduação da UFPA que, atu-
almente, desenvolvem pesquisas
em Belém e em Caiena, capital
da Guiana Francesa. Págs. 6 e 7

Programa envolve universidades da América Latina e União Europeia


Rosyane Rodrigues Hoje, somos 13 universidades em seis países. Para acessibilidade, ou seja, como desenvolver polí-
Museologia

N
participar do edital, utilizamos a mesma rede do ticas para garantir o acesso à educação superior.
a Amazônia, temos um cenário permanente
de violação de Direitos Humanos: o direito
consórcio. Nós somos 10 universidades sócias e
quatro colaboradoras.
No terceiro ano, estaremos preocupados com a
difusão dos resultados. Estamos prevendo encon-
Discursos sobre
de ir e vir, comprometido pelo trabalho es-
cravo; o direito à integridade, comprometido pelas Beira do Rio – Institucionalmente, qual a im-
tros nas universidades latino-americanas abertos
para a sociedade - outras universidades, agentes
Belém e a Belle Em muitos casos, a venda de mídia pirata é a alternativa para quem não tem oportunidade em outros mercados
torturas; o direito fundamental à vida, violado pelas
execuções extrajudiciais, são alguns exemplos.
portância de um projeto como este?
Antônio Maués – O Projeto permite que a UFPA
políticos, ONGs - para difundir os resultados do
trabalho.
Époque
Hoje, o Programa de Pós-Graduação em Direito, da consolide uma posição de liderança acadêmica na
Universidade Federal do Pará, é uma referência no área de Direitos Humanos na América Latina. O Beira do Rio – Um dos objetivos específicos Acervos do Museu de Arte de Turismo Multicampi
assunto, tanto pela pesquisa e produção de conhe- nosso Programa de Pós-Graduação em Direito já é transferir os resultados do Projeto para Belém e do Museu Paraense Emílio
cimento quanto pela formação de pessoas que irão
promover a proteção dos Direitos Humanos.
foi bem avaliado pela Capes duas vezes, receben-
do nota cinco. Hoje, somos uma referência na área
instituições públicas e ONGs que trabalham
na defesa dos Direitos Humanos. Qual a es-
Goeldi revelam diferentes olhares
sobre a capital. Pág. 4 Pesquisa propõe roteiro de Projeto
O PPGD acaba de ter o Projeto Rede de
Direitos Humanos e Educação Superior aprovado
de Direitos Humanos no Brasil. Com o consórcio,
passamos a liderar uma rede latino-americana,
timativa de tempo para que tenha início esse
trabalho? visitação aos coretos transforma lixo
pelo ALFA, principal programa de cooperação aca-
dêmica da União Europeia com a América Latina.
mas só havia recursos para fazer reuniões entre
si. O ALFA permite expandir as atividades de
Antônio Maués – A partir do segundo ano, os
primeiros materiais didáticos devem estar dis-
Enfermagem Símbolos da urbanização da capital parte do nosso patrimônio histórico e em brinquedos
Assim, a UFPA e a Universidade de Pompeu Fabra intercâmbio sobre Direitos Humanos em toda a poníveis na rede. Nosso compromisso é com a paraense no período conhecido como simbólico. Alguns exemplares ainda
irão coordenar um grupo que reúne 14 universidades
de nove países. O Jornal Beira do Rio conversou
América Latina. elaboração de materiais e a preparação de pessoal.
O que pode ser feito para ampliar o impacto dessas Estudantes "Ciclo da Borracha", os coretos fazem resistem ao tempo. Pág. 3 Oficinas e minicursos capacitam
professores e alunos de graduação

criam Liga em Abaetetuba, Barcarena e Belém.

Karol Khaled
com o professor Antônio Maués sobre o assunto. Beira do Rio – Quais são os objetivos do Pro- atividades acadêmicas? Chamar ONGs, órgãos
jeto? públicos para as atividades da rede. Nós temos Pág. 11

Beira do Rio – Como surgiram essas parce-


Antônio Maués – Fortalecer os Direitos Humanos
no ensino superior, com a produção de material di-
a previsão de realizar conferências e seminários
convidando o mundo “não acadêmico” para Acadêmica
rias? dático. Teremos recursos para treinar professores, que eles tenham conhecimento do trabalho que Pág. 9
Antônio Maués – O ALFA existe desde 2000 e é produzir material, comprar livros e desenvolver está sendo desenvolvido e possam utilizar esse
Músico
Acervo do Projeto

um edital aberto a qualquer área do conhecimento. uma série de atividades, a qual irá permitir que material. Mas não temos controle sobre como as
Este é o segundo projeto que o PPGD aprova. Em
2004, a nossa rede era menor, formada por Brasil –
essas instituições ampliem suas ações em DH. entidades (governamentais ou não) vão usá-lo
efetivamente.
A trajetória
Colômbia – Chile – Portugal – Itália – Espanha, e
coordenada pela UFPA e pela Universidade Carlos
Beira do Rio – Quais atividades estão sendo
planejadas? Beira do Rio – Com relação ao respeito pelos
de Waldemar
III, de Madri. Então, desde 2004, mantemos essa
articulação com universidades europeias em torno
Antônio Maués – O ponto de partida será a
produção de materiais didáticos para a reforma
Direitos Humanos, como estamos na Amazô-
nia?
Henrique
do Programa. Neste novo Projeto, a Universidade dos currículos a fim de que os Direitos Humanos Antônio Maués – A importância de trabalhar essa
de Pompeu Fabra, em Barcelona, fará a coordena- sejam integrados com alguns cursos específicos temática na Amazônia deve-se, justamente, às Análise antropológica mostra o
ção administrativa e a gestão de recursos. Juntos, ou como tema transversal em vários cursos. Para graves violações a que assistimos cotidianamen- percurso do compositor paraense
faremos a coordenação acadêmica. você ter uma atividade mais prática, como é o te. O fato do PPGD ter conseguido se consolidar No Parque da Residência, temos o típico coreto do início do século XX até ser nacionalmente reconhecido.
Para submeter um projeto como este, você não caso das clínicas, é preciso ter esse fundamento como um programa de Direitos Humanos também Pág. 8
começa do zero, pois as exigências são muitas teórico. Então, as primeiras atividades serão decorre das pessoas saberem dos problemas que
e é preciso algum tipo de articulação anterior reuniões com a equipe – são dois professores por afetam os DH na região e acharem importante
entre os parceiros. Na América Latina, temos o universidade – que participará permanentemente apoiar um programa de pesquisa e pós-graduação
Consórcio Latino-Americano de Pós-Graduações do Programa e com os outros colegas que parti- que tenta discutir e encaminhar soluções. Nós Entrevista Opinião Coluna da Reitoria
em Direitos Humanos, outro projeto administrado ciparão de atividades específicas. Esse grupo irá temos um trabalho importante de formação, pois
pelo PPGD da UFPA desde 2007. O Projeto conta discutir os currículos das universidades envolvi- muitos alunos são ou serão membros do Ministé- Professor Antônio Maués fala É possível voltar no tempo? Nesta edição, Edson Ortiz Matos,
com recursos da Fundação Ford para montar uma das e produzir manuais e guias para professores, rio Público, da Magistratura, além de exercerem sobre o fortalecimento da Rede de Quem responde é o professor pró-reitor de Administração, é
rede de universidades latino-americanas que tra- procurando a expansão dos DH no ensino superior outras profissões jurídicas. Depois de fazer a pós- Direitos Humanos. Theodomiro Gama Júnior. quem assina a coluna.
balhem com pesquisa e pós-graduação em Direito. a partir das universidades sócias. Daí, teremos a -graduação nessa área, eles modificam a maneira Estudo sobre trauma é prioridade Pág. 12 Pág. 2 Pág. 2
Oficialmente, o consórcio existe desde 2008. base para as atividades práticas, como discutir a de conduzir as suas atividades.
2 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Janeiro/ Fevereiro, 2012
Karol Khaled
BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Janeiro/ Fevereiro, 2012 – 11

Multicampi
kkk
Coluna da REITORIA
Edson Ortiz de Matos - Pró-Reitor de Administração

Sucata transformada em recurso didático


proad@ufpa.br

Satisfação traduzida em números


Projeto envolve professores de Abaetetuba, Barcarena e Belém
A
o final do ano, quando se en- dos positivos. Apostamos que a solução ção de R$ 738.190,00  na capacitação de mentos na aquisição de equipamentos
cerra o exercício financeiro na mais adequada está na descentralização nossos servidores. de processamento de dados somaram

Fotos Jéssica Maia


administração pública, espe- dos recursos para autonomia das unida- Para o ano de 2012, uma de 9 milhões e 600 mil; em aparelhos e
cificamente nas unidades de gerência des, que passam a gerenciar  demandas e nossas metas será o estabelecimento de utensílios domésticos para as diversas
financeira e contábil, o trabalho se necessidades mais de perto. Para atingir novas estratégias para viabilizar, de ma- unidade e Restaurante Universitário, fo-
torna tenso, pelos prazos inadiáveis a esse patamar na administração, é funda- neira segura e eficiente, a autonomia das ram aplicados 2 milhões e 600 mil reais;
cumprir, e de grande expectativa.  Aqui, mental, de início, investir na capacitação unidades.  Outra meta é a capacitação de em coleções e materiais bibliográficos,
na UFPA, não é diferente. Este ano de do quadro técnico, especialmente dos servidores técnicos para atuarem como 1 milhão e 100 mil; em equipamentos
2011, seguramente, foi o que nos trouxe mais diretamente envolvidos na gestão pregoeiros nas respectivas unidades. Já para áudio, vídeo e foto, foi utilizado
maior satisfação, porque comprovamos, dos recursos financeiros, do planejamen- existem iniciativas isoladas nessa ativi- mais de 1 milhão de reais. Com esses
no final de dezembro, que o resultado to, da licitação e da aquisição. Nesse dade, mas pretendemos estendê-las até dados, percebemos mais claramente a
de um esforço coletivo foi a execução aspecto, continuamos realizando, anual- alcançarmos todas, incluindo os campi responsabilidade que todos devemos
total do orçamento deste ano –  acima mente, a capacitação para os servidores do interior e aquelas que demandam ter como administradores e gerencia-
dos 173 milhões de reais repassados pela Semana Orçamentária, que, este aquisições sistemáticas de produtos e dores do bem público ao iniciarmos
pelo Tesouro. ano, alcançou a oitava versão, reunindo equipamentos específicos. um processo de aquisição, optando
Este fato positivo é resultante mais de 500 servidores públicos em Be- O que vamos continuar perse- por produtos ou bens que satisfaçam as
de uma série de medidas adotadas na lém. Somente da UFPA foram 150, que guindo, continuamente, é um plane- reais necessidades institucionais. 
PROAD e absorvidas nas unidades da puderam escolher entre as  96 oficinas jamento cada dia mais eficaz, o qual É mais um papel da UFPA, como
Instituição, nos campi de Belém e do realizadas pela Escola de Administração torne os procedimentos de compras e instituição pública: a preocupação de
interior, para que a eficiência nos proce- Fazendária (ESAF). aquisições para a Instituição bem mais adotar procedimentos adequados à
dimentos administrativos tivesse reflexo Também promovemos treina- seletivos e aperfeiçoados, além de trans- nova realidade mundial, que indica a
positivo na administração equilibrada mentos específicos para servidores, parentes, traduzindo-se, ao final, em eco- aquisição de materiais e equipamentos
dos recursos financeiros destinados a individualmente ou em grupo, como o nomia e equalização dos gastos públicos, ecologicamente corretos. O ano de
cada uma delas. Para a administração que precedeu à implantação do Sistema ampliação do leque de opções para a 2012 foi definido pela Organização das
superior, executar 100% o orçamento de Controle de Diárias e Passagens, escolha de produtos de qualidade, bem Nações Unidas (ONU)  como o Ano
da UFPA não pode ser avaliado com um para unidades de Belém, dos campi mais adequados às reais necessidades da Internacional da Energia Sustentável, À esquerda, aluno da Escola de Aplicação confeccionando a Cobra Maluca, com cuba de ovos. À direita, professores na oficina de brinquedo reciclado
mérito isolado da PROAD ou de suas do interior e da UFOPA; outros sobre Instituição e a custo reduzido. então, vamos nos organizar, criar e
diretorias, mas, além disso, indica o sur- procedimentos a serem adotados em Nossa Instituição teve um vo- difundir mecanismos de participação
gimento de um favorável entrosamento pregões eletrônicos; sobre as recentes lume anual de compras de materiais e demonstrar para a sociedade que so- Ericka Pinto Tudo começa a partir de ativida- estão: Cavalo Marinho (feito com e educar: transformando sucatas em

I
entre as várias esferas administrativas, de atualizações no sistema de gerencia- e equipamentos que ultrapassaram 32 mos uma instituição de ensino não só des lúdicas que envolvem professores garrafa PET), Garota Vareta (palito de brinquedos para educação das crian-
coordenação e gestão para a administra- mento de licitações e sobre legislação e milhões de reais. Aparelhos, utensílios preocupada com o desenvolvimento magine uma simples garrafa PET e alunos. Eles utilizam papelão, palito churrasco e rolha de cortiça), Senhor ças das escolas de educação infantil
ção dos recursos. normas que regem a guarda e o controle e diversos equipamentos adquiridos sustentável do planeta, da região ama- dando origem a bonecos, a jogos e a de churrasco, cuba de ovos, latas, PET (palhaço feito de garrafa PET), e ensino fundamental". "O objetivo
Diversas medidas foram necessá- do patrimônio institucional. Dados do para a área da saúde somaram, em 2011, zônica e de nosso Estado, mas também outros brinquedos que a criatividade vidros, rolhas de cortiça, entre outros Palhaço Maluco (garrafa de iogurte é continuar implementando práticas
rias para se alcançar este e outros resulta- orçamento de 2011 registram  a aplica- mais de 10 milhões de reais; investi- voltada para ele. permitir. Se o destino desse material era materiais que seriam descartados nas e tampinhas de PET), Cobra Maluca metodológicas inovadoras, utilizando
o lixo, isso começa a mudar nas escolas lixeiras ou no meio ambiente. Para (cuba de ovos), Jogo de Pega (feito o brinquedo para educação e inclusão
de ensino básico e fundamental dos auxiliar na confecção dos brinquedos, com PET e bola de papel), Jogo de Vai social. Ao mesmo tempo, contribuir
Mácio Ferreira

municípios de Abaetetuba e Barcarena tesoura, cola e tintas guache e para e Vem (PET e barbante). para a construção de uma consciência

OPINIÃO
e na Escola de Aplicação, em Belém. A tecido não podem faltar. Com o mate- Mostrar que a reciclagem pode ecológica sustentável e ambiental-
iniciativa é do Grupo de Estudo e Pes- rial em mãos, basta a garotada soltar contribuir para a preservação do meio mente responsável entre os alunos da
quisa em Educação, Infância e Filosofia a imaginação. ambiente é a proposta desenvolvida Escola de Educação Básica", ressaltou
Theodomiro Gama Júnior gamajr@ufpa.br (GEPEIF) do Campus da Universidade Alguns brinquedos transfor- pelo GEPEIF, por meio do Projeto de o coordenador do Projeto, professor
Federal do Pará, em Abaetetuba. mam-se em personagens, entre eles, Extensão "Reciclando para preservar Waldir Ferreira de Abreu.

É possível voltar no tempo? Alunos dos cursos de Licenciatura são multiplicadores

A
O Projeto, atualmente na Letras e Matemática e 300 crianças.
h, o tempo! Que conceito tão antimatéria, até chegar à forma de vida homem vivia em harmonia, respeitava o tempo podem ser deformados e, terceira etapa, tem o apoio da Pró- No momento, já atingimos boa parte
belo e, ao mesmo tempo, tão complexa, que somos nós, humanos. a vida e a natureza. Olhava para o rei portanto, modificados. Cada indivíduo Reitoria de Extensão da UFPA (Pro- do público-alvo. Acredito que, até o
misterioso. Quem já não teve Mesmo os animais irracionais Sol, contemplava o espaço e definia sua estabelece o seu próprio tempo. O tempo ex) e da Coordenação de Pesquisa final do Projeto, em junho do ano que
o seu momento dejà vu? Quem não têm o seu próprio tempo. Vejam os maneira de vida. Sabia o tempo certo só é o mesmo para todos quando estamos e Extensão (Copex) da Escola de vem, vamos ultrapassar a meta", co-
relembra os seus momentos bons e ou- pássaros. Acordam com o raiar do Sol, para dormir, acordar, plantar, comer, parados. Aplicação. A primeira etapa foi a memora o professor Waldir Ferreira
tros difíceis vividos no tempo passado? voam, cantam e comem até próximo ao brincar, mas não sabia quanto tempo Daí, basta aplicar a consciência preparação de doze estudantes do de Abreu.
E quem não pensa, planeja e projeta o meio-dia. Descansam até as três horas ainda iria viver. alerta para viver no sentido anti-horário, curso de Graduação em Pedagogia
futuro? Assim, o tempo faz parte da vida da tarde, voam, cantam e comem até Ao olhar a trajetória do Sol, o através de exercícios diários de de- para atuarem como multiplicadores. Atividades – As atividades do Pro-
de todos nós e está atrelado ao nosso o pôr do Sol e voltam a dormir. No dia homem – de maneira errada – estabe- formação do seu espaço-tempo, do As atividades tiveram início em ju- jeto envolvem: oficinas de novas
espaço. seguinte, repetem o mesmo ritual. leceu que a sua vida seria controlada espaço-tempo coletivo e do Universo. nho de 2011. metodologias de ensino com o uso do
O tempo tem sido pensado, escri- Existe o tempo para tudo. O pelo tempo no sentido horário. Mas não E, assim, passar a viver em harmonia A segunda etapa envolveu pro- brinquedo na sala de aula; curso de
to e falado já faz muito tempo. Talvez, tempo para nascer, o tempo para viver e percebeu que a Terra gira em torno do com os movimentos de rotação da Ter- fessores da rede pública de ensino e reciclagem de sucatas e construção
desde quando o homem se entende por o tempo para morrer. E essas passagens Sol, e, portanto, no sentido anti-horário. ra, com a expansão do Universo e com alunos dos cursos de licenciatura do de brinquedos e brincadeiras para
gente. Ou mesmo, quem sabe, quando do tempo são percebidas por todos os Essa desarmonia obrigou o homem a própria vida. Campus de Abaetetuba. Eles são ca- os alunos dos cursos de Pedagogia,
estava passando de um animal híbrido seres vivos. Existe o tempo para arar a a remar contra a maré. A partir daí, Deseja ter qualidade de vida e pacitados por meio de oficinas minis- Matemática e Letras nos campi de
e irracional para o humano, que se diz terra, semear, irrigar e colher o que se estabeleceu-se o caos que vivemos hoje: ser feliz? Então, aprenda a deformar o tradas pelo Grupo de Pesquisa para Abaetetuba e Barcarena; palestras
racional, porém, muitas vezes, não de- plantou. Assim como existe também o individualismo, violência, consumismo, espaço-tempo, no sentido anti-horário. uso do brinquedo reciclado como sobre reciclagem e preservação do
monstra tal habilidade. tempo para amar, copular, gerar a vida desarmonia familiar, crise de identidade, Volte no tempo e fique mais jovem. Eis recurso didático em sala de aula. A meio ambiente e minicursos, ofici-
O tempo surgiu no momento em e parir. Toda forma de vida tem uma social e por aí vai. o segredo da consciência viva. terceira e última fase do Projeto cor- nas e vivências pedagógicas para
que o Universo se formou. Foi um lapso ordem regida pelo tempo. Mas existe alguma esperança de responde à capacitação das crianças, professores.
de tempo esplêndido e de muita energia. A maior dificuldade criada pelo minimizar esse caos? Sim, existe. Basta Theodomiro Gama Júnior é doutor em sendo, desta vez, os professores os O Projeto também prevê a Em Abaetetuba, alunos jogam Vai e Vem feito com garrafa PET e barbante
A partir daí, tudo começou. Inicialmen- homem foi quando ele tentou quanti- o homem querer e entender o conceito Geologia e professor da Universidade responsáveis pelas oficinas, sob a realização de cursos de formação
te, pura energia, seguida da matéria e ficar o tempo. Antes desse momento, o de espaço-tempo. Tanto o espaço como Federal do Pará, Campus Castanhal. orientação do Grupo de Pesquisa. Em continuada para os professores da
Belém, as três etapas já ocorreram na rede de ensino de Abaetetuba e Rio de Janeiro e de Porto Alegre. recurso metodológico para as crian-
Escola de Aplicação. Barcarena; seminário sobre criança Um dos projetos foi desenvolvido ças", avalia.
Reitor: Carlos Edilson Maneschy; Vice-Reitor: Horácio Schneider; Pró-Reitor de Administração: Edson Ortiz de Matos; Pró-Reitor de Em Barcarena, 80 professores e preservação do meio ambiente e pela Universidade do Estado do Rio A estudante Jéssica Maia
Planejamento: Erick Nelo Pedreira; Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Marlene Rodrigues Medeiros Freitas; Pró-Reitor de Exten- e 30 alunos participaram das oficinas elaboração de cartilha-livro ensi- (UERJ). "O retorno desse trabalho de Souza, do curso de Pedagogia,
são: Fernando Arthur de Freitas Neves; Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Emmanuel Zagury Tourinho; Pró-Reitor de Desen- no mês de dezembro, na Casa do nando a confeccionar brinquedos a é uma maior consciência ecológica participou das oficinas como mul-
volvimento e Gestão de Pessoal: João Cauby de Almeida Júnior; Pró-Reitor de Relações Internacionais: Flávio Augusto Sidrim Nassar; Professor. A próxima atividade no partir da sucata. e ambiental por parte daqueles que tiplicadora. "Mostramos, de forma
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ Prefeito do Campus: Alemar Dias Rodrigues Júnior. Assessoria de Comunicação Institucional Coordenação Luiz Cezar S. dos Santos; município deve ocorrer em feve- De acordo com o professor estão envolvidos no Projeto. Eles lúdica, como é possível transformar
JORNAL BEIRA DO RIO Edição: Rosyane Rodrigues; Reportagem: Anne Beatriz Costa/Dilermando Gadelha/Ericka Pinto(1.266- reiro deste ano, com a participação Waldir Ferreira de Abreu, a expe- desenvolvem uma relação diferente esses objetos que seriam descartados.
Rua Augusto Corrêa n.1 - Belém/PA DRT/PA)/Flávio Meireles/Helder Ferreira/Jéssica Souza(1.807-DRT/PA)//Rosyane Rodrigues (2.386-DRT/PE)/Vito Ramon Gema-
beiradorio@ufpa.br - www.ufpa.br que; Fotografia: Alexandre Moraes/Karol Khaled; Secretaria: Silvana Vilhena; Beira On-Line: Leandro Machado; Revisão: Júlia
de crianças de 30 escolas. "Nossa riência de transformar sucata em com aquele material que se tornaria Participar dessa iniciativa foi, sem
Tel. (91) 3201-8036 Lopes/Cintia Magalhães; Arte e Diagramação: Rafaela André/Omar Fonseca; Impressão: Gráfica UFPA; Tiragem: 4 mil exemplares. meta era atingir 100 professores, brinquedo e utilizá-lo como recurso lixo. Além disso, o professor perce- dúvida, uma experiência enriquece-
150 alunos dos cursos de Pedagogia, pedagógico já existe em escolas do be o potencial do brinquedo como dora", afirmou a aluna.
10 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Janeiro/ Fevereiro, 2012 BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Janeiro/ Fevereiro, 2012 – 3

Memória Turismo

Entre o Largo da Trindade e o Guamá Pesquisa propõe visita aos coretos


Crônica comemora os 110 anos da Faculdade de Direito No início do século XX, eles marcaram o progresso e a urbanização

Karol Khaled
Alexandre Moraes
Jane Felipe Beltrão Flávio Meireles

C V
onversando com meus colegas da Faculdade ocê já imaginou Paris sem a
de Direito, descobri que, salvo os mais ex- Torre Eiffel? Londres sem o fa-
perientes que não ocultam a idade, poucos moso Big Ben? Ou até mesmo
lembram que o Direito era no Largo da Trindade, o Rio de Janeiro sem o Cristo Redentor?
onde hoje funciona a Ordem dos Advogados do Como diz a estudiosa em paisagem e
Brasil, Secção Pará. Aquele casarão de muitas espaço público, professora Raquel de
janelas, que chamamos sobrado, característico da Castro Almeida, "é importante para
herança colonial portuguesa, o qual ocupa o canto (a determinar o caráter e o valor do lugar
esquina) da Praça Rio Branco com a Gama Abreu, perguntar-se ou imaginar como seria
continuação da Almirante Tamandaré. Sobrado a cidade sem ele". É por esse motivo
dos moços de muitas jornadas pela liberdade do que não podemos imaginar a cidade de
e no Pará. Belém sem o Mercado Ver-o-Peso, o
Não sei onde começou a Faculdade, pois Theatro da Paz ou a Estação das Docas.
escrevo a partir do território da memória e não Mas estes não são os únicos símbolos
da busca histórica, mas, no Largo da Trindade, os da capital paraense. Os coretos das pra-
acadêmicos do Direito reinaram como referência ças também fazem parte do patrimônio
por mais de meio século. Por lá, passaram mestres histórico e simbólico da cidade.
(no amplo sentido do termo) que se formaram na Percebendo a falta de uma
Trindade e passaram a integrar o quadro de cate- publicação que reunisse informações
drático (assim se chamavam os respeitáveis mestres sobre todos esses monumentos, a
dos anos 50, 60 e 70 no século passado), na época, professora Marlene Schlup Santos,
não se formavam apenas Bacharéis em Direito, mas da Universidade Estadual de Rorai-
Bacharéis em Ciências Jurídicas e Sociais, muitos ma (UERR), desenvolveu a pesquisa
dos quais se desdobravam entre o Direito e a antiga "Estética e História no Roteiro dos
Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da também Coretos: um olhar sobre as praças de
Universidade Federal do Pará. Belém – PA", entre os anos de 2001 Manutenção adequada garante beleza do coreto instalado na Praça Batista Campos
Muitos nomes podem ser lembrados e, por e 2002.
certo, cada um tem uma interminável lista de prefe- O estudo foi resultado do curso
rências. Faço minhas anotações pensando em alguns de Especialização em Ecoturismo do perspectivas turísticas. Uma parte da ser divulgadas. Há um enriquecimento Campos e Magalhães Barata, o Parque
dos notáveis com quem tive o prazer de conviver Núcleo de Meio Ambiente da Uni- pesquisa encontra-se também no livro quando se conhece um espaço por intei- da Residência e o Bosque Rodrigues
em diversas circunstâncias, alguns foram meus versidade Federal do Pará (Numa/ Belém do Pará: História, Cultura e ro, principalmente, quando esse espaço, Alves. A ideia era descobrir a origem,
professores, outros, autoridades universitárias, im- UFPA). Além de compilar informações Sociedade, publicado pelo Núcleo de além de envolver a natureza, também o estilo, a influência, o material usado
portantes não pelo cargo, mas pela visão de futuro por meio de pesquisa bibliográfica, a Altos Estudos Amazônicos. envolve a natureza construída", explica na construção, o valor simbólico da
que tinham e que emprestaram à UFPA. professora visou, neste trabalho, iden- "Quis construir um roteiro de a professora. arquitetura e a utilização social da
Os "Sílvio(s)" Hall de Moura e Meira, a tificar, in loco, a importância destes visitas a esses coretos. Quando nos da- No estudo, a professora faz uma obra, tanto no período em que foram
quem se fazem os maiores elogios, formadores de espaços e equipamentos para a cultura mos conta das riquezas do patrimônio análise de coretos de cinco locais de construídos quanto na sua conservação
gerações de bacharéis. Daniel Queima Coelho de local, considerando, principalmente, as de Belém, percebemos que elas devem Belém: as Praças da República, Batista e utilização hoje.
Souza, o reitor da transição, ponderado e diplomata,
que, exemplarmente, com a ajuda de muitos, mudou
os destinos da Universidade. Otávio Mendonça,
Simão Bittar, Daniel Coelho de Souza, Benedito
Ferro fundido e vidro eram materiais mais utilizados
Nunes e Roberto Santos, oriundos do Direito, foram Para a compilação de informa- no tempo e entenda as consequências coretos, quiosques e chafarizes se- ferro, entre outros", explica. Por se-
mestres na Filosofia e ensinaram gerações. Alguns ções, dados e imagens, a professora do passado no nosso presente. O tem- guiu o modelo europeu imposto na rem de ferro, os coretos mantiveram-
foram para a hoje Cidade Universitária Prof. José estudantes secundaristas, oriundos dos colégios de caruru, vatapá, café e bolinho de estudante. As contou com o apoio do Instituto do po áureo da borracha, a Belle Époque, época. se em bom estado até hoje, apesar de
da Silveira Netto, quando o lindo território era prestígio, como o Paes de Carvalho, que "domina" sociabilidades se cristalizaram a ponto de a banca Patrimônio Histórico e Artístico Na- a ideologia do progresso, a maneira Durante a pesquisa, a professo- estarem abandonados.
uma promessa de Campus, contra o qual muitos a Praça da Bandeira – aliás, os casarões se parecem da Judith ficar conhecida como A Jurídica. Título cional (IPHAN); da seção de Obras como eram introduzidas as técnicas de ra percebeu que a maioria dos coretos Mas as obras não devem ser
atiravam pedras. na prática e na tradição – onde também estávamos que a distinta senhora mandou bordar nos uniformes Raras da Fundação Cultural do Pará construção permitidas pela Revolução de Belém foi construída com ferro compreendidas somente por aspec-
Imagino quão "violento" foi à geração, acos- acostumados à cátedra e aos notáveis mestres! brancos que a vigilância sanitária passou a exigir. Trancredo Neves (Centur); da Fun- Industrial são contextos que devem ser fundido. A utilização deste material e tos históricos. É preciso conhecer
tumada à austera cátedra, deslocar-se ao Núcleo Muitos dos articuladores foram presos du- Se alguém quer lembrar o sabor dos quitu- dação de Parques e Áreas Verdes levados em consideração. do vidro plano deve-se a um conjunto as personalidades que moldaram a
Pioneiro do Guamá, como se chamava o embrião rante os Anos de Chumbo, alguns desapareceram tes, é só chegar por lá, a banca só se deslocou do (Funverde); da Biblioteca do Museu Pode-se afirmar que a implan- de fatores ligados ao próprio Ciclo da paisagem política de Belém, tanto
da Cidade Universitária. As salas na Trindade eram e outros foram resgatados pela "resistência" dos canto da Praça para um recuo mais abaixo, pela Histórico do Estado do Pará (MHEP) tação de coretos foi resultado do Borracha. "O poder aquisitivo do Es- para explicar a existência dessas obras
integradas por bancadas e cadeiras, muitas delas movimentos sociais que se valiam de célebres Gama Abreu, quando da reforma do prédio, pois a e do Arquivo Público do Pará. processo de urbanização da cidade tado, na época, e da classe enriquecida quanto para justificar a destruição de
feitas em jacarandá da Bahia, elevadas do "rés do advogados de presos políticos, saídos do Largo da Judith faz parte do patrimônio da Trindade. Talvez Segundo Marlene Schlup San- entre os séculos XIX e XX, quando a permitia a escolha dos produtos mais alguns dos espaços. Nesse sentido,
chão" indicando a autoridade dos ocupantes, dis- Trindade. Alguns deles, durante muito tempo, tive- o terreno livre da Trindade seja o único lugar onde tos, para compreender a singularidade capital paraense ganharia muitas pra- sofisticados e de melhor qualidade. destaca-se a importância do inten-
postas em salões de tábuas corridas, trabalhados em ram dificuldades políticas ao fazerem concurso para as bancas de advogado e de tacacá se juntam em dos processos destas construções na ças e seria radicalmente embelezada. Todas essas condições eram preenchi- dente Antônio Lemos, que governou
pau-amarelo e acapu, formando lindos desenhos a UFPA, como José Carlos Castro. Outros tantos patrimônio e, felizes somos nós, na inovação e na cidade de Belém, é preciso que se volte A iniciativa de criar jardins, praças, das pelos produtos pré-fabricados em Belém de 1897 a 1911.
que distraíam os estudantes encabulados por não recorreram aos mestres Itair Silva e Roberto Santos, consideração do patrimônio da memória de muitos
saberem responder aos mestres.
Os mestres falavam do "púpito", como sacer-
dotes do saber, com voz impostada e forte como se
pois os tempos não eram de brincadeira e cedo os
moços foram chamados à responsabilidade.
Não apenas os estudantes de Direito pade-
paraenses.
Recordar é viver e reviver. O casarão da
Trindade ficou com a Ordem e, felizmente, não
Largo de Nazaré possuía coretos em seus quatro cantos
estivessem a proferir aulas magnas quotidianamen- ceram com a Ditadura, outros mais que vinham teve o destino de tantos outros que, demolidos, não O mandato de Antônio Lemos pensar nos coretos como uma forma praças receberam ao longo dos anos. "Não temos, no Brasil, uma
te. Lembro colegas e amigos do Direito informando de outros casarões da UFPA para articular, como mais permitem sonhar com os tempos bons que não privilegiou a execução e manutenção de atrair famílias para os locais. Os Dependendo da localização, da aten- política de manutenção constante das
sobre as aulas que, à época, eram ministradas em os futuros médicos do Largo de Santa Luiza, os voltam mais. Afinal, 110 anos faz a Faculdade de da política de ajardinamento e arbo- pavilhões eram usados para a apresen- ção do poder público com manutenção construções históricas, como se vê em
salas com pé direito alto, paredes desenhadas em professores que estavam a formar-se no casarão da Direito, que se multiplicou pelos campi da Institui- rização da cidade. "Antônio Lemos tação de bandas de músicas estaduais e restauração, bem como dos cuidados alguns países, onde há equipes traba-
florões (atualmente, as paredes não são decoradas), Generalíssimo, os aprendizes do ofício de cirurgião- ção, desdobra-se no Programa de Pós-Graduação teve uma estrutura que permitiu sua e municipais. da população que os frequenta, muitos lhando constantemente na recuperação,
finamente acabadas com rodapés estruturados em -dentista que iam do casarão da Batista Campos. em Direito (PPGD) e ganhou, há pouco, seu próprio ascensão. O momento histórico com coretos estão fechados ou em completo a exemplo da Índia. No nosso caso, o
madeira trabalhada, como não mais se veem. Os atores da Escola de Teatro da Quintino, os prédio na Cidade Universitária. Os jovens de agora o apogeu de produção e exportação Largo de Nazaré – Durante o estudo, abandono. Uns continuaram nobres, mais comum é licitar uma restauração
"Deslocados" do Largo para o Campus – estudantes de Farmácia da Generalíssimo e tantos que, jocosamente, denominam de "Banco Central" da borracha deu a ele o sustentáculo a professora encontrou diversas infor- outros foram relegados. só depois de estar bem deteriorado ou
espaço despojado e moderno, sem pompa e muito outros visionários que faziam da utopia a política o novo prédio do Instituto de Ciências Jurídicas econômico necessário para imprimir mações sobre atividades culturais que Em decorrência do clima ama- esquecido", avalia.
menos circunstância – em face da reforma univer- necessária à democracia dos cidadãos de hoje! (ICJ), herdeiros que são da irreverência que veio na cidade as reformas que estam- aconteciam nos coretos do Largo da zônico, com muito calor e umidade, o A estrutura urbana de Belém
sitária imposta pelos ditadores que cortaram os As conversas eram muitas e em época em do Largo da Trindade, podem pensar no lugar de pavam a Belle Époque", esclarece a Igreja de Nossa Senhora de Nazaré, material utilizado para a criação dos possui diversos problemas. Entre
sonhos dos jovens que imaginavam a via socialista que fast food, em Belém, era banca de tacacá e antes como memória. Aos que usam do estatuto dos professora. hoje chamada de Praça Santuário. No monumentos (tinta sobre ferro) não fa- eles, estão o desemprego ou a falta de
como trajeto e mudanças radicais. cachorro-quente do Pernambucano, a tacacazeira cabelos prateados, é permitido ter saudades. Mesmo com praças impecáveis, total, eram quatro coretos, um em cada cilita a manutenção. Mesmo passando moradia. Isso faz com que os espaços
Os moços sonhadores se deixavam ficar nos mais famosa da cidade, a Judith, "colocou" sua os espaços embelezados e monumen- canto do Largo. Hoje, estes espaços por restauração, logo começam a dete- sejam tomados como área de lazer
bancos da praça para articular, politicamente, os modesta banca na calçada lateral da Faculdade e, Jane Felipe Beltrão é antropóloga, docente do talizados precisavam ser mais frequen- não existem mais. riorar. "Temos uma 'ajuda', às vezes, da para alguns ou como um meio de
destinos do Brasil. Quantas conversas não foram por lá, os estudantes e seus convidados, às rodas de Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFPA tados e valorizados pela população. Atualmente, é possível perceber própria população com pichações, por subsistência e "moradias invisíveis"
ouvidas no Largo, dando continuidade aos sonhos de conversa, "matavam" fome com tacacá, maniçoba, e pesquisadora do CNPq. Então, o governo da época passa a a diferença de uso e cuidado que muitas exemplo", acrescenta a professora. para outros.
4 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Janeiro/ Fevereiro, 2012 BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Janeiro/ Fevereiro, 2012 – 9

Museologia Enfermagem

O olhar nativo e o olhar estrangeiro Estudantes criam Liga Acadêmica


Acervos do MABE e MPEG mostram diferentes discursos sobre a capital
Fotos Reprodução Luiz Tadeu da Costa
Objetivo é aprofundar estudos sobre trauma, com pesquisa e extensão

Fotos Acervo do Projeto


Anne Beatriz Costa

U
ma cidade localizada nos
trópicos, mas onde era possí-
vel encontrar linhos, sedas e
arremates europeus para a confecção
de roupas de pessoas da elite, a qual
adotava hábitos, costumes e modas
parisienses. Essa cidade é Belém do
final do século XIX até o início do
século XX, quando vivia a sua Belle
Époque e tinha Paris como referência
de modernidade e desenvolvimento.
A partir de uma pesquisa ini-
ciada em 1999, para sua dissertação
de mestrado, Luiz Tadeu da Costa,
professor da Faculdade de Museolo-
gia da Universidade Federal do Pará
(UFPA), começou a estudar os acervos
do Museu de Arte de Belém (MABE)
e do Museu Paraense Emilio Goeldi Membros da Liga Acadêmica Paraense de Enfermagem do Trauma realizam treinamento com a Cruz Vermelha
(MPEG), especialmente as telas e
fotografias que retratam Belém entre
as últimas décadas do século XIX e Jéssica Souza A Liga é uma entidade pri- Inspirados nas atividades já ser o assunto principal da nossa Liga

E
as duas primeiras do século XX. Parte mordialmente estudantil, a qual tem desenvolvidas pela Liga Acadêmica devido à necessidade da própria
da pesquisa, intitulada "Iconografias les ultrapassam obstácu- à sua frente um grupo de estudantes de Urgência e Emergência do Pará Faculdade de complementar a grade
da Belle Époque de Belém: Acervos los, correm contra o tempo, dedicados a aprofundar-se na temá- (LAUEP) e pela Liga Paraense do curricular sobre o assunto. Além
do MABE e do MPEG", foi publicada ajudam a salvar vidas e a tica do trauma e atender as deman- Trauma (LPT), vinculadas ao curso disso, a escolha justifica-se diante
em forma de artigo no livro Belém do diminuir o risco de acidentes. Eles das da população e da comunidade de Medicina da Universidade, os da incidência do trauma. Fizemos
Pará: História, Cultura e Sociedade. promovem ações educativas, assis- acadêmica sobre o assunto. A Lapaet estudantes do curso de Enfermagem uma pesquisa e verificamos que é
O livro, organizado pela professora tência à comunidade e pesquisas foi criada em 2011 com o objetivo de formaram a sua própria Liga. Na área possível prevenir o trauma em 100%
Ligia Simonian, do Núcleo de Altos científicas. Eles são a Liga Acadê- complementar as atividades curricu- de Enfermagem, a LAPAET é a ter- dos casos e que o custo com o tra-
Estudos Amazônicos (NAEA), agrega mica Paraense de Enfermagem do lares e colaborar para a melhoria do ceira da Região Norte e a primeira do tamento do paciente traumatizado é
textos apresentados no colóquio com No sentido horário: fotografias do acervo do MPEG e o óleo sobre tela Regando o Jardim, de Benedicto Calixto de Jesus Trauma (LAPAET), da Faculdade de Projeto Político Pedagógico do curso Pará. O grupo tem 21 membros, 15 bem maior do que com campanhas de
o mesmo nome. Enfermagem do Instituto de Ciências de Graduação em Enfermagem da efetivos e seis integrantes da Direto- prevenção. A nossa Liga quer preve-
No século XIX, houve uma da Saúde da Universidade Federal UFPA, proporcionando a aplicação ria. A professora Thalita Fernandes, nir o trauma e oferecer capacitações
fixação nos belenenses por esse so- de representação quando começa a quase uma holografia. É a imagem de conta' em que eu me visto daqui- do Pará. Qualquer semelhança com prática da teoria estudada em sala da Faculdade de Enfermagem da práticas para que cada vez mais pes-
nho de uma cidade esplendorosa e importar modas e "trazer" Paris para em si, praticamente". Num segundo lo. As pessoas começam a absorver a Liga da Justiça – equipe de super- de aula. Em outubro passado, o UFPA, é a preceptora da LAPAET soas possam assistir esses pacientes",
próspera, pela ideia de modernidade a Amazônia, com seus coretos e ruas momento, começa a simulação, que aquele estilo de vida, elas começam -heróis criada pela editora americana grupo atuou com a Cruz Vermelha e o professor Adson Hugo Soares é explica Jéssica Gomes, estudante
e pela utopia da Idade de Ouro de Be- largas. De acordo com o professor, a é a constituição de algo a partir de a viver como se estivessem em Paris", DC Comics – pode não ser mera realizando atendimentos durante o professor-colaborador. do sexto semestre de Enfermagem e
lém. A cidade passa por um processo representação "é a projeção de algo, referências. "É uma espécie de 'faz explica. coincidência. Círio de Nazaré. "Escolhemos o trauma para presidente da LAPAET.

Cidade com ruas largas, praças, arborização e teatro Grupo cria oportunidades para unir teoria à prática
O intendente municipal à épo- prosperidade. Ruas largas, praças, conhecido e pouco estudado, porque fias naturalistas é uma cidade em pro- O foco da LAPAET é a assis- tologia, o I Seminário das Ligas em É isso o que nós queremos", ressalta Tradicionalmente, os enfer-
ca, Antônio José Lemos, contratou arborização, teatro, bosque tinham raramente estiveram em exposições. cesso, a qual ainda está se arrumando. tência em saúde, por isso também Evidência, a I Jornada do Trauma, o a presidente da LAPAET. meiros são comparados com anjos,
pintores renomados nacionalmente, esse significado". Essas imagens revelam, sob a ótica Diferentemente dos artefatos produ- trabalha com aulas e demonstrações I Curso Teórico-Prático do Trauma Para 2012, a meta do grupo é salvadores e até com super-heróis. É
como Antônio Parreiras, Benedito Essa visão da cidade de Be- de fotógrafos naturalistas estrangei- zidos e coletados pela elite burguesa, práticas de socorro, resgate e salva- e o I Simpósio de Urgência e Emer- estabelecer parcerias com a Secre- aquele que está diretamente ligado ao
Calixto e Teodoro Braga, para retratar lém, a qual está presente nas telas ros, outra cidade e outras populações os quais representam uma cidade já mento de um modo geral. "A Liga gência Pediátrica. taria do Estado de Saúde Pública paciente e sempre pronto para ajudar.
situações que reforçavam o discurso do MABE, é chamada de "olhar da Amazônia, as quais tinham sido desenvolvida, como uma "Paris dos também oferece oportunidades de Segundo Jéssica Gomes, há (Sespa) para que os membros da Os integrantes da LAPAET acredi-
político-administrativo dele e, as- nativo" pelo professor Luiz Tadeu esquecidas nas telas encomendadas trópicos". "É como se eles retratassem pesquisas aos estudantes. Dentro quem pense que o trauma acontece Liga possam estagiar no Hospital tam que podem ser super-heróis. "Eu
sim, constituir a coleção fundante da da Costa em sua dissertação. Este por Antônio Lemos, como o índio. "O uma realidade que a intendência mu- da Liga, poderemos desenvolver somente quando há alguma fratura Metropolitano de Belém. A ideia é me comparo a um super-herói, por-
Pinacoteca Municipal, hoje, MABE. olhar faz um paralelo com o que ele discurso estrangeiro busca o exótico, nicipal não queria mostrar", explica o Trabalhos de Conclusão de Curso ou machucado, quando, na verda- intensificar o aprendizado sobre o que tenho que fazer várias coisas ao
Segundo Luiz Tadeu da Costa, "ele chama de "olhar estrangeiro", aquele busca, na cidade, aquilo que talvez professor. A partir desse cruzamento e projetos de extensão", continua de, queimaduras, afogamentos e atendimento ao paciente traumati- mesmo tempo. Se eu pudesse, seria o
'edita' uma cidade, faz um recorte da que está presente nas fotografias do não existisse em nenhum outro lugar", de diferentes visões sobre a cidade é Jéssica. "Realizamos, ainda, cursos intoxicações também fazem parte zado. A inserção no Hospital Metro- Naruto, que se multiplica. Às vezes,
realidade usando lugares que iam ao MPEG. Segundo o professor, o acer- afirma Luiz Tadeu da Costa. que se elaboram reinterpretações da de capacitação para agentes de saúde do trauma. Desse modo, a Liga dá politano deve favorecer pesquisas de gostaria de ser mais de uma pessoa
encontro do desenvolvimento e da vo iconográfico do MPEG é pouco A cidade retratada nas fotogra- história. em Belém e no interior", acrescen- visibilidade à Enfermagem, profissão levantamento de dados epidemioló- para dar conta de tudo que tenho que
ta. Entre as ações de 2011, o grupo que nem sempre recebe a atenção gicos e a elaboração de projetos de desenvolver", afirma Marcelo Silva,

Discurso metonímico é comum no início do século XX promoveu o I Simpósio de Trauma- que merece. "A Enfermagem forte. extensão. diretor científico da Liga.

As duas visões não retratam As figuras de linguagem as fotografias do MPEG, pode


Visitação aos acervos
No Brasil, a primeira liga foi criada em 1920 Enfermagem na UFPA
a realidade absoluta daquela época, também são abordadas na pesquisa parecer muito estranha, como uma
mas ajudam a refletir não só sobre o do professor Luiz Tadeu da Costa. cidade que ninguém viu ou mostrou A LAPAET foi estruturada própria comunidade e na natureza. "Até antes da Ditadura, as
passado, mas também sobre a época Segundo ele, existe uma cultura, antes. Museu de Ar te de Belém para ser um grupo permanente. Ha- De acordo com o diretor ligas não tinham reconhecimento ou Na UFPA, o curso superior de
atual, já que muita coisa não é falada fruto do século XX, de ser metoní- Como símbolo da moderni- – 3ª a 6ª feira, das 10h às verá eleições anuais para a presidên- científico, Marcelo Silva, a primeira legitimidade. Com o surgimento de E n f e r m a ge m fo i c r i a d o e m
ou sofre uma edição, uma estetiza- mico, ou seja, de tomar a parte pelo dade, é importante que o museu 18h. Sábados, domingos e cia e para os membros da Diretoria, liga acadêmica, a Liga de Combate movimentos sociais no momento Pós- 1975, pela Resolução nº 322
ção. Para o professor Luiz Tadeu da todo. Essas obras, principalmente represente a vida social, cultural, feriados, das 9h às 13h. Mais embora os fundadores da Liga sejam à Sífilis, foi criada no Brasil, em -Ditadura e com a Constituição, que do Conselho Universitário, e tem
Costa, a pesquisa é uma provocação as telas do MABE, vão ao encontro econômica e política daquele lugar informações: mabe@belém. membros vitalícios. Atualmente, o 1920, com a finalidade de prestar estipulou os princípios e as diretrizes a duração de quatro anos e
para que as pessoas possam refletir do discurso da modernidade meto- e contextualize de que maneira grupo se prepara para participar de assistência e informação às comu- da Educação, criou-se o princípio de
p a . g o v. b r e ( 9 1 ) 3 1 1 4 - meio. A Universidade também
sobre que medida participam desse nímica, já que se toma aquela parte aqueles elementos estão relaciona- congressos apresentando trabalhos nidades sobre a doença. A segunda indissociabilidade entre Ensino, Pes-
processo de esquecimento. "A me- da cidade como a história de fato. dos com o mundo. "A articulação 1026 sobre o trauma, além de iniciar um foi a Liga de Trauma da Faculdade quisa e Extensão e as ligas puderam
dispõe de um curso de Mestrado
mória é seletiva. Individualmente, Aquele é o imaginário cons- do museu é o passado, o presente, projeto de pesquisa voltado para a de Medicina de Botucatu (FMB), da mostrar suas ações para suas univer- em Enfer magem. Para mais
nós também fazemos isso, por moti- truído sobre o que era Belém no mas, sobretudo, o futuro. O grande M u s e u Pa r a e n s e E m í l i o assistência à saúde da população Universidade de São Paulo (USP), sidades e para o próprio Ministério informações, acesse o site do
vos e interesses distintos", explica o final do século XIX – uma pequena objeto do museu é a preservação Goeldi – 3ª a domingo, das ribeirinha. A proposta é desenvol- desde então, as ligas acadêmicas da Educação, ganhando, dessa forma, Programa de Pós-Graduação
professor, para quem a relação entre Paris. Pequenos pedaços são toma- da história, da memória. Se é 9h às 17h. Mais informações: ver técnicas que possam favorecer começaram a surgir em maior nú- legitimidade e reconhecimento como em Enfermagem < www.ppgenf.
memória e esquecimento é algo na- dos como o todo e qualquer coisa preservar, isso é futuro", avalia o (91) 3219-3313 o pronto atendimento, em casos de mero, sempre vinculadas aos cursos ferramenta útil para o Ensino", expli- ufpa.br>
tural, uma conversa frequente. que seja divergente a isso, como professor. urgência, com recursos existentes na de Medicina. ca Marcelo Silva.
8 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Janeiro/ Fevereiro, 2012 BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Janeiro/ Fevereiro, 2012 – 5

Música Arqueologia EM DIA

Waldemar: o gênio desde o nascimento Uma outra história de Belém Digitalização


A Biblioteca Central da UFPA
comemora 50 anos este ano. De
Análise antropológica mostra trajetória do músico paraense Artefatos indicam ocupação por outras civilizações acordo com Graça Pena, diretora
da Unidade, a digitalização dos
acervos autorizados é a principal

Mácio Ferreira
Karol Khaled

Vito Ramon Gemaque Helder Ferreira meta para 2012. A informação

B
eletrônica não só amplia as possi-
Certa vez de montaria elém está comemorando 396 bilidades de acesso às obras, como
eu descia um paraná anos de fundação e toda vez também garante um diálogo mais
e o caboclo que remava que chegamos à data de 12 de eficiente com os jovens alunos da
não parava de falar janeiro, voltamos nossa atenção para a Universidade.
Que caboclo falador! história da cidade. Retornam às nossas
Me contou do lobisomem mentes as aulas de História sobre a Prêmio
da mãe d’água e do tajá chegada da frota de Francisco Caldeira
disse do Jurutaí Castelo Branco nas terras que, mais Estão abertas, até o dia 16 de abril, as
que se ri pro luar tarde, seriam paraenses. Entretanto a inscrições para o “II Prêmio Daniel
Que caboclo falador memória apenas registra a história de Coelho de Souza de Monografias
Que mangava de visagem Belém de 1616 para cá, mas, antes Jurídicas”, promovido pelo Instituto
que matou surucucu disso, já havia uma trajetória construída de Ciências Jurídicas (ICJ) da UFPA,
e jurou por pavulagem por outros povos. em parceria com o Escritório Coelho
que pegou o uirapuru Para saber quem eram esses de Souza Sociedade de Advogados.
Que caboclo tentador (...) povos e como viviam antes da capital Os trabalhos inscritos devem con-

Q
do Pará ser fundada, Fernando Luiz templar os seguintes temas: Teoria
uem lê o trecho da música Tavares Marques, doutor em História Geral do Direito, Direito Civil, Pro-
Uirapuru tem a sensação de pela Pontifícia Universidade Católica Artefatos encontrados durante obra estão em exposição no Forte do Castelo cessual Civil e Deontologia Jurídica.
estar navegando pelos rios do Rio Grande do Sul (PUC- RG) e As três melhores propostas recebe-
amazônicos e ouvindo as histórias de pesquisador do Museu Paraense Emílio rão R$ 2.500, R$1.500 e R$1.000,
caboclo. A música, conhecida pelas Goeldi, desenvolve estudos no âmbito ques, o trabalho resulta da percepção de até anterior à chegada dos europeus na respectivamente. Mais informações
interpretações de artistas paraenses, da Arqueologia Histórica. Alguns resul- um potencial arqueológico encontrado região. “Já conhecíamos alguns relatos pelo telefone (91) 3201-7666.
como Lucinha Bastos e Nilson Cha- tados estão no artigo Um sítio indígena no solo de prédios e monumentos históricos sobre a presença desses po-
ves, é uma das várias composições sob a Feliz Lusitânia: Descobertas históricos, como Forte do Presépio, vos nesta terra, mas ainda não tínhamos Exposição I
do maestro Waldemar Henrique que recentes em arqueologia urbana, em Estação das Docas e Largo do Carmo. nada de concreto nas mãos. Foi depois
entrelaçam a música erudita e o fol- Belém do Pará, incluído no livro Belém Restos de vasilhas cerâmicas pintadas de encontrarmos esses vestígios, enter- Gravuras, painéis, objetos, dese-
clore da Amazônia. do Pará: História, Cultura e Sociedade, e alguns artefatos de pedra associados rados em uma camada de terra escura nhos e livros de Oswaldo Goeldi
Mas o percurso até o reconhe- publicado pelo Núcleo de Altos Estudos a uma considerável área com solo no entorno do Largo da Sé, que levan- podem ser vistos na Exposição “Po-
cimento nacional como um composi- Amazônicos da Universidade Federal de coloração escura evidenciam que tamos uma hipótese real da existência esia Gravada”, em cartaz no Museu
tor amazônico por excelência não foi Na década de 60 do século passado, o Theatro da Paz esteve sob a direção do maestro Waldemar Henrique do Pará. esses lugares foram habitados por desses povos que remontam mais de da UFPA até o dia 19 de fevereiro.
fácil. É o que afirma a pesquisadora Segundo Fernando Tavares Mar- civilizações indígenas de um período 500 anos,” explica o pesquisador. A mostra, patrocinada pela empresa
Michelly de Jesus Martins, autora Vale, reúne obras de todas as fases
da Dissertação Waldemar Henrique: pação ativa na construção da sua Se um artista quisesse ter renome na- ra, a obra do maestro acaba se situan- do artista, desde os desenhos até
só Deus sabe por quê. Uma análise imagem e Michelly Martins procu- cional, acabava indo para lá", afirma do entre o clássico e o popular. Descobertas surgem a partir de restaurações as gravuras em preto e branco e
antropológica a respeito da cons- rou entender como isso aconteceu. a pesquisadora. "Ele não se enquadra nas coloridas. A visitação acontece de
trução da trajetória de um músico “O maestro Waldemar Henrique diz Um dos aspectos que chamou classificações musicais e esta é a sua Algumas dessas descobertas esqueletos com características indíge- e na região de Jaguarari, no Rio Moju, terça a sexta-feira, das 9h às 17h;
paraense, orientada pela professora que foi coisa do destino, que sim- a atenção da pesquisadora foi a difí- singularidade. Alguns classificam a arqueológicas se deram a partir de nas, como a presença de dentes incisi- próximo a uma das pontes da Rodovia aos sábados e domingos, das 10h às
Diana Antonaz e defendida no âm- plesmente aconteceu. Esse estudo cil classificação da obra de Waldemar sua música como folclore; outros, obras de reforma e restauração de mo- vos com predominância de pá (dupla Alça Viária. 14h, exceto feriados. Mais informa-
bito do Programa de Pós-Graduação antropológico mostra que não, que Henrique. Ao mesmo tempo em que como erudita ou até como erudita numentos e locais turísticos de Belém, e simples). Evidências que indicam a Segundo o pesquisador, a pros- ções: (91) 3224-0874 ou pelo site
em Ciências Sociais da Universidade ele se empenhou para isso aconte- é uma música feita para orquestra e popular. Hoje, Waldermar Henrique como o Forte do Castelo, onde foram existência de um cemitério indígena no pecção na região de Jaguarari revelou o www.ufpa.brr/museufpa
Federal do Pará (UFPA). cer. Saiu daqui e foi para o Rio de piano, expressa também o folclore é um ícone da música paraense”, encontrados os alicerces da antiga ca- local relacionado pelo menos à época sítio de um antigo engenho onde, antes,
Waldemar teve uma partici- Janeiro, o centro cultural da época. paraense e amazônico. Desta manei- afirma a pesquisadora. pela de Santo Cristo, que existiu até o do contato entre os portugueses e os havia existido uma missão jesuítica Exposição II
final do século XVIII, e cerca de 100 nativos. com cerâmicas datadas em mais de 700

Valorização do folclore reflete momento histórico mil amostras de material arqueológico,


entre as quais, 25% constituem-se de
fragmentos e utensílios com traços da
Regiões com boas condições de
sobrevivência, como aquelas próximas
aos rios, protegidas de inundações e
anos, portanto referente a uma aldeia
anterior.
“É muito provável terem existido
Oswaldo Goeldi nasceu na cidade
do Rio de Janeiro, em 1895. Até
os seis anos de idade, morou em
O folclore está presente em linguagem e na estética da canção. regional, já que não havia muitos lações sociais que criaram aquele cultura indígena. fartas em comida e água potável, pos- muitas aldeias indígenas e, com a che- Belém, com seus pais, Adelina
várias composições do maestro. Portanto, a música pode ser consi- compositores discutindo essa temá- personagem. Na pesquisa realizada na área suem maiores chances de terem sido gada dos europeus, algumas se transfor- Meyer Goeldi e Emilio Augusto
Referências às lendas contadas por derada um discurso social. tica. Como é que o maestro poderia O estudo sobre trajetória tenta da Estação das Docas, foram coletados habitadas por outras civilizações. A maram em missões e depois se tornaram Goeldi. Seu pai, renomado zoólogo
nossos avós, como o Uirapuru, a A partir deste ponto, é pos- ganhar espaço? Justamente levando compreender o ponto de vista do quase 3 mil fragmentos de cerâmica imensa área que compreende Belém e cidades, como Santarém. Em Lugares e naturalista suíço, foi diretor e deu
Tajapanema e o Boi-Bumbá, são sível entender as composições de o amazônida, o regional para dentro próprio compositor sobre sua vida, in- relativos a utensílios, como tigelas e sua Região Metropolitana é, portanto, que reúnem todas as condições para nome a uma das mais importantes
exemplos da influência da cultura Waldemar Henrique como um retra- do contexto histórico”, esclarece a vestigando o sentido que ele conferia panelas antigas que remontam a uma uma região propícia para estes acha- a sobrevivência de grupos humanos, instituições de pesquisa do País:
popular. to da sua época histórica. Naquele pesquisadora. a seus atos nos diferentes momentos civilização indígena que habitava o dos. Fernando Luiz Tavares Marques podemos imaginar o quanto de história o Museu Paraense Emílio Goeldi.
Segundo Michelly Martins, a momento, o Brasil se encontrava À primeira vista, um estu- de sua existência. É possível entender local. Já no Largo do Carmo, foram apontou outros lugares em que já foram tem em seu solo. Esse é o nosso trabalho. A mostra relembra os 50 anos da
análise antropológica não considera sob os efeitos da Semana de Arte do antropológico sobre a vida de que, mesmo se achando predestinado, encontrados moedas e outros materiais encontrados vestígios históricos, como Descobrir esse passado, investigá-lo e morte do desenhista, ilustrador,
a obra e a vida do compositor sepa- Moderna e da aspiração do governo alguém pode ficar muito próximo o autor jamais deixou de lutar para oriundos do Período Colonial e também nos municípios de Marituba, Barcarena trazê-lo à tona”, explica. gravador e professor. A curadoria
radamente, mas como uma relação a construir uma nação unificada. As a uma biografia, mas existem dife- ocupar um espaço na música e na é de Lani Goeldi, sobrinha-neta
direta. A produção cultural é uma canções amazônicas vieram suprir renças fundamentais. Na biografia, sociedade. O maestro soube colocar do artista e presidente do Projeto
representação das condições sociais um espaço destinado ao folclore. o autor pode se deixar influenciar sua criatividade e suas músicas a seu Preservação do local preocupa pesquisadores Goeldi, e a produção é assinada pela
em que foi criada, refletindo na "Ficava mais fácil trabalhar o pelo biografado e não focar as re- favor no jogo social. Cult Arte Comunicação.
Para os pesquisadores, a gran- eles acionaram os órgãos competentes encontrado durante a reforma dessas
Revista Artifícios
Biografias trazem mitos sobre infância e adolescência de preocupação, quando a cidade é
o local de prospecção, é conservar
o lugar em que os objetos ficaram
para fazer a retirada desses materiais”,
lembra Fernando Marques.
Entretanto isso nem sempre
áreas para fins turísticos. Fernando
Marques aponta que estes dois luga-
res são bastante visitados, sendo que A Revista Artifícios está recebendo,
Para entender o quanto a fama de Sebastião Godinho; Encontro com fosse produzida de si". Na época, Mesmo não tendo consegui- enterrados e foram descobertos. Para acontece. “Em outros casos, a retira- o Forte do Castelo é o primeiro em até o dia 19 de fevereiro, trabalhos
de "gênio desde o nascimento" foi Waldemar, livro de entrevistas com o o próprio músico teria ficado muito do alcançar a fama de Villa-Lobos, a Arqueologia, é imprescindível a da desses materiais é apontada como visitação. Estes são exemplos de que para publicação em seu próximo
criada em torno de Waldemar Hen- compositor, de João Carlos Pereira; feliz com o trabalho de Cláver Filho, compositor erudito, brasileiro, reco- conservação desses achados, pois um empecilho, pois a obra precisa a população tem, sim, interesse em número. Podem ser submetidos
rique, Michelly Martins precisou e Waldemar Henrique: o Canto da participando, inclusive, do lança- nhecido mundialmente, Waldemar qualquer dano pode ser desastroso, ser paralisada para não prejudicar a visitar e conhecer um pouco mais da artigos, entrevistas ou experiências
pesquisar biografias e reportagens Amazônia, de Cláver Filho. mento do livro. Henrique conseguiu conquistar seu prejudicando o estudo em laboratório pesquisa. Seria recomendável estabe- sua história. de escrituras ( ensaios, poesias,
publicadas em jornais, disponíveis É neste último livro, princi- Para a pesquisadora, o biógrafo espaço em um momento precioso de para saber a origem, a idade e como o lecer ações de parceria entre os órgãos “O que falta é a divulgação contos, crônicas, traduções, fotogra-
em arquivos públicos e particulares, pal referência sobre o maestro, que poderá ver o biografado como o me- construção da identidade nacional. A objeto foi parar naquele local. que licenciam obras e as instituições entre o grande público ou a criação fias, entre outros). A Revista é uma
além de entrevistar pessoas que co- aparecem os mitos sobre a infância lhor em sua atividade, “fazendo com cultura amazônica, característica sin- “Quando a Prefeitura de Be- de pesquisas arqueológicas para que de espaços musealizados no entorno publicação semestral do Grupo de
nheceram o músico. e a adolescência do músico. O rela- que o pesquisador/biógrafo não revele gular de sua obra, foi uma vantagem lém estava construindo um restau- isso possa ser resolvido rapidamente”, desses sítios, para que a população Pesquisa Diferença e Educação do
Foram fontes de pesquisa os to dos primeiros anos, traçado por tudo. O biografado acaba dizendo o frente a outros compositores e artistas. rante popular no centro da cidade, avalia. local e o turista conheçam mais a PPGED∕ICED∕UFPA. Mais infor-
livros biográficos, como Waldemar Cláver Filho, "é um artefato que nos que quer que pensem sobre ele, aju- Em contrapartida, o maestro fez com alguns operários acharam vestígios O Forte do Castelo e a Estação respeito das civilizações que, antes de mações no site http://www.artificios.
Henrique da Costa Pereira e Walde- diz muito da imagem que o próprio dando a construir uma imagem sobre que as histórias da Região Norte ficas- arqueológicos enquanto faziam as das Docas têm áreas destinadas para nós, já viviam em solo amazônico”, ufpa.br/
mar Henrique: só Deus sabe por quê, Waldemar Henrique desejava que si”, explica Michelly Martins. sem conhecidas no país inteiro. fundações do prédio. Imediatamente, exposição de material arqueológico conclui.
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Cultura

Olhando as cidades a partir das feiras e dos mercados populares


Grupo do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas analisa sociabilidade e identidade na Guiana Francesa e em Belém
Mídia pirata: do Comérico para as bancas do Guamá
Acervo do Projeto

Dilermando Gadelha lidade e festas na Feira do Jurunas,

U
coordenada pela professora Carmem
ma profusão de cores, sabores, Rodrigues. A ideia de estudar as fei-

Alexandre Moraes
cheiros, pessoas, sotaques. Isso ras surgiu pela pequena quantidade O estudante José Julierme
é um clichê, sim, mas repre- de trabalhos que tratassem do seu Furtado dos Santos, com o trabalho
senta bem aquilo que, primeiramente, aspecto social. "Vendedores de CDs e DVDs piratas:
percebemos quando chegamos a uma "Aliamos o fato de que faltava identidades socioculturais dos (as)
feira ou a um mercado. É comum ir a um estudo mais denso sobre esses am- vendedores (as) na feira do bairro
esses locais comprar temperos, frutas, bientes, do ponto de vista das Ciências Guamá", também participa do Projeto
carnes, peixes e produtos industriali- Sociais, aqui, em Belém, à existência que pesquisa feiras populares. Em
zados. Tão comum que, às vezes, não de algumas feiras extremamente im- seu trabalho, ele procura mostrar um
percebemos a riqueza que essas feiras portantes para a cidade – pelo número pouco da história da feira do bairro
e mercados apresentam do ponto de de feirantes, de famílias e pelo grande Guamá, levando em consideração as
vista comercial e sociológico. fluxo econômico gerado. As feiras dinâmicas da venda de mídias piratas
Justamente com o objetivo de têm um lugar central na construção no local.
nos dar densidade sociológica sobre da cidade se você olhar a história de "A pirataria surgiu na década
o ambiente das feiras populares da Belém, sua ocupação, sua história de 1990, quando Jon Lech Johan-
cidade é que foi criado o Projeto comercial", explica a professora Car- sen, um nerd e hacker norueguês de
"Mercados Populares em Belém: mem Izabel Rodrigues. apenas 15 anos de idade, descobriu
sociabilidades, práticas e identida- A facilidade de se fazerem pes- como burlar o código de proteção do
des ribeirinhas em espaço urbano", quisas nas feiras populares também DVD", explica o estudante. De acordo
vinculado ao Instituto de Filosofia e é um dos motivos para a realização com Julierme, os vendedores de CDs
Ciências Humanas (IFCH) da Uni- do Projeto nesses espaços. Segundo e DVDs piratas costumam morar no
versidade Federal do Pará (UFPA), a professora Wilma Leitão, do ponto Guamá ou em bairros próximos, como
coordenado pela professora Carmem de vista metodológico, é mais simples Jurunas e Cremação. "Eu descrevo o
Izabel Rodrigues. levar os alunos para fazerem pesqui- processo de trabalho deles, como eles
O Projeto iniciou, em 2009, sas de campo e coleta de dados nas organizam a barraca, como vendem
como desdobramento de outras duas feiras. "Além do estranhamento de e onde compram os CDs e DVDs",
pesquisas: uma sobre o Mercado voltar a um lugar com uma preocu- explica.
Ver-o-Peso, realizada pela professora Freguesia: além do valor econômico, a lealdade também está presente pação mais teórica", complementa a A produção - "falsificação" - Mulheres são minoria entre os vendodores de CDs e DVDs piratas na Feira do Guamá
Wilma Leitão, e outra sobre sociabi- professora. dos discos, na maioria das vezes, não
é feita pelo próprio vendedor, mas

Há 40 anos, feirantes foram remanejados de São Brás sim comprada e, depois, revendida
por eles. O principal ponto de compra
de mídias piratas é na Avenida João
os vendedores voltam para a Feira
do Guamá e montam sua "barraca",
geralmente, um carrinho de madeira,
começa o movimento, eles ligam os
amplificadores aos aparelhos de DVD
e televisão para testarem os produtos.
gueses que passam pelo local", expli-
ca o estudante. O trabalho de venda de
CDs piratas é tipicamente masculino,
Acervo do Projeto

O Projeto integra estudantes de com o estudante, a Feira teve um início Alfredo, bairro Comércio. coberto por lona. Esses CDs e DVDs, geralmente, são pois, além de vender, é preciso montar
graduação e pós-graduação da UFPA. turbulento. Após a compra dos produtos "É interessante como eles de baixa qualidade e, algumas vezes, e desmontar a barraca. Isso não exclui
Entre eles, estão os trabalhos dos alu- "A Feira tem 40 anos e se origi- para revenda, os quais custam barato, criam meios de atrair a clientela não têm nada gravado. Ao fazerem o as mulheres, que, às vezes, substituem
nos de graduação em Ciências Sociais nou partindo de conflitos. Um grupo de cerca de R$ 0,50 cada CD ou DVD, para a barraca. De manhã, quando teste, eles chamam a atenção dos fre- seus companheiros.
Rogério Sousa, que pesquisa a Feira 25 feirantes foi remanejado de São Brás e
de Setembro; e José Julierme Santos,
que trabalha com a Feira do Guamá; a
doutoranda Rosiane Martins, que pes-
da frente do Colégio Berço de Belém e
realocados para a área número um da
25, entre a Travessa Jutaí e a Travessa
Vendas chegam a render até R$ 50,00 por dia
quisa uma feira em Caiena, capital da das Mercês. Então, essa problemática A venda de CDs e DVDs pira- experimentaram vender outro produto e (2009) e Silveira (2009), falam que isso que eles possam recolher seus produtos.
Guiana Francesa; o mestrando Marcos de abandono teve início nesse período. tas acontece, muitas vezes, por causa perceberam que é mais lucrativo vender não é negativo, porque a pirataria e a Quando são pegos, o mais comum é a
Borges, que pesquisa o Porto do Açaí; Eles foram retirados de um local onde da falta de oportunidades de trabalho CD e DVD baratos, porque vendem informalidade complementam o capita- apreensão dos CDs e DVDs, os ven-
e a graduanda Suelem Nascimento já tinham estabilidade econômica, em outros mercados econômicos. A muito", afirma a professora. lismo, já que as pessoas que fazem esse dedores só são presos caso resistam à
dos Santos, que, sob a orientação da seus fregueses e foram levados para professora Carmem Rodrigues explica Uma das coisas interessantes, comércio são potenciais consumidores ação policial.
professora Wilma Leitão, pesquisa a um lugar em que não havia uma es- que, apesar dos preços baixos dos pro- quando se trata do comércio de mídias em estabelecimentos comerciais legais: Tanto o estudante Rogério Sousa
transmissão das barracas de venda de trutura para se estabelecer uma feira", dutos piratas – um CD ou um DVD pirateadas, é a questão da criminaliza- lojas, supermercados e shoppings cen- quanto José Julierme Furtado dos San-
farinha no Mercado Ver-o-Peso. conta Rogério Sousa. são vendidos por R$ 2,00, ou três por ção. Na ótica do Estado (a visão corren- ters", explica José Julierme Furtado tos realizaram seus trabalhos no âmbito
O trabalho do estudante Rogério Demoraram alguns anos para R$ 5,00 – o volume de vendas faz com te), a pirataria está relacionada ao crime dos Santos. do Programa de Bolsas de Iniciação
Sousa, intitulado "Atos de sociabilida- que os feirantes se estabelecessem no que esses vendedores ganhem até R$ organizado, porque ela cria prejuízos Por ser identificado como crime, Científica (Pibic), que é realizado pela
de na Feira 25 de Setembro: mistura local e criassem sua rede de comer- 50,00 por dia. para a sociedade, uma vez que não paga é comum acontecerem batidas policiais UFPA, em parceria com a Fundação de
de valores e costumes no cotidiano cialização nos arredores. Segundo o De acordo com a pesquisa, em os impostos devidos e também prejudi- para apreensão de mercadorias piratas Amparo à Pesquisa do Estado do Pará
da cidade Belém", procura analisar as estudante, no início, eram cerca de 50 alguns finais de semana e datas co- ca o mercado do entretenimento. na feira. Os vendedores comunicam-se (Fapespa). Este ano, os dois trabalhos
interações entre os feirantes do local feirantes no espaço. Quinze anos após memorativas, eles podem ganhar até "Entretanto alguns autores, como por meio de celulares, para informar foram apresentados no XXII Seminário
– mais de 420, distribuídos em 415 o início da Feira, começaram a se agre- R$ 200,00. "Em muitos casos, eles já Pinheiro-Machado (2008), Ribeiro quando está ocorrendo a "batida", para de Iniciação Científica da UFPA.
equipamentos -, desses feirantes com gar mais pessoas. Entretanto, de acordo
os seus fregueses e também as relações com a professora Carmem Rodrigues,
Fotos Alexandre Moraes

dos feirantes com a sociedade em seu a sociabilidade vai além das relações
entorno, objetivando perceber como estritamente comerciais mantidas entre
essa sociabilidade influencia na prática Reformada recentemente, a Feira da 25 de Setembro tem 420 trabalhadores esses feirantes e, algumas vezes, chega
cotidiana dessas pessoas. De acordo mesmo a sobrepujá-las.

Relações comerciais mediadas pela amizade e confiança


Nas feiras, como a 25 de Se- depois. É a reprodução da máxima do mais novos quanto os mais antigos sua atuação diária.
tembro, as relações comerciais são sociólogo Karl Polanyi, a qual diz que interagirem, seja no dia a dia, seja nas A troca de saberes extrapola o
mediadas pela amizade e pela con- as relações econômicas estão imbri- festividades. campo do trabalho e perpassa a vida
fiança. "Nesses locais, as relações são cadas nas relações sociais", explica a As relações de sociabilidade pessoal dos feirantes, como quando
face a face. São relações de confiança, professora Carmem Rodrigues. entre os atores da feira geram mu- precisam de informações acerca de
lealdade, fidelidade. Elas são morais, Segundo Rogério Sousa, com danças nas próprias práticas diárias. como obter documentos ou orienta-
são valores, mesmo que o valor eco- as entrevistas, foi possível verificar A troca de saberes é outro ponto dis- ções para irem a lugares desconheci-
nômico esteja presente. Então, entre que os feirantes mantêm uma boa cutido pelo estudante e acontece, por dos. "Existe toda uma rede de circu-
fulano e beltrano, pode não circular relação entre si. Esse comportamento exemplo, quando um feirante ensina lação desses conhecimentos, dessas
dinheiro, mas existe um crédito, é é encorajado pela própria Associação a outro como tratar as mercadorias e experiências", acrescenta a professora Nas barracas, o movimento começa pela manhã. Títulos recém-lançados, a preço baixo, atraem a clientela.
possível comprar fiado para pagar dos Feirantes, a qual faz tanto os este último incorpora esta técnica à Carmem Izabel Rodrigues.

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