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Resumo: Este trabalho tem como objetivo demonstrar a preocupação em se adotar critérios para um gerenciamento
sustentável de resíduos gerados em instituições de ensino superior, e promover uma maior conscientização do
problema por meio do envolvimento dos alunos como o tema, uma vez que as atividades desenvolvidas nas aulas de
laboratório geram quantidades significativas de uma grande variedade de produtos químicos, os quais podem causar
diversos problemas ao meio ambiente e à saúde da população. Além disso, a legislação brasileira estabelece padrões
de qualidade e padrões de emissão que devem ser respeitados.
INTRODUÇÃO
Utilizar a temática ambiental como forma de introduzir conceitos químicos, nas diversas
unidades curriculares dos cursos superiores de química, pode ser uma experiência muito
interessante.
Ao professor cabe a responsabilidade de demonstrar a importância do tema e estabelecer
ligações com a disciplina em questão, o que é perfeitamente possível, pois todas as áreas da
química podem contribuir significativamente com o meio ambiente.
Inevitavelmente todos os setores da sociedade geram algum tipo de resíduo seja ele qual
for. De certa forma somos estimulados a poluir desde a infância pela grande oferta de produtos
cada vez menos duráveis.
O desenvolvimento tecnológico trouxe consigo a distribuição de grande quantidade de
materiais descartáveis no meio ambiente, tais como latas, plásticos, papéis, etc.
Obviamente boa parte desses materiais pode retornar às linhas de produção pelo
processo de reciclagem, evitando assim a extração de mais recursos naturais e o conseqüente
acúmulo no meio ambiente.
Quando descartamos algum tipo de lixo de nossas casas, nosso ambiente de trabalho, e
até mesmo durante alguma aula, podemos equivocadamente pensar que acabamos como nosso
problema, pois nos “livramos” do inconveniente – o lixo – entretanto, nosso problema pode estar
apenas começando.
Talvez nunca tenhamos pensado em quantos tipos de embalagens temos contato todos
dos dias.
Todos nós somos uma pequena fábrica de lixo e contribuímos para o desequilíbrio
ecológico, resta- nos saber como podemos conviver com esse desenvolvimento desenfreado e ao
mesmo tempo preservar o meio ambiente para as futuras gerações - essa é a filosofia do
desenvolvimento sustentável.
A criação de mecanismos para uma gestão consciente dos recursos naturais e a
preservação ambiental “são a bola da vez”, muito se tem falado do assunto e pouca ação pode-se
perceber. Ao nos preocuparmos com a questão dos resíduos gerados nas aulas de laboratórios
estamos nos incluindo entre àqueles que plantam uma sementinha para vivermos num mundo
mais limpo.
O curso de Bacharelado em Química – Faculdade de Campo Limpo Paulista –
FACCAMP, apresenta a experiência dos professores Antonio César T. Toledo e Viviane Maria
XIV Encontro Nacional de Ensino de Química (XIV ENEQ) ( EX – Experimentação no Ensino)
RESPONSABILIDADE TÉCNICA
O apoio declarado da instituição é de suma importância, pois demonstra não apenas uma
preocupação didática, mas, sobretudo social, e os alunos reconhecem essa visão da Faculdade.
INÍCIO DO PROJETO
Uma das melhores soluções a serem adotadas para minimizar ou evitar a poluição
ambiental com resíduos químicos de laboratório é a adoção de um sistema de gerenciamento de
resíduos nos locais que apresentem atividades laboratório. (Jardim, 1998).
Existem algumas etapas dentro de um plano de gerenciamento de resíduos que devem
ser seguidas:
1. Organização dos reagentes, materiais e fichas das substâncias;
2. Procurar minimizar ao máximo a geração de resíduos, principalmente quando se
tratar de substâncias perigosas;
3. Separar de forma correta os resíduos, armazenando-os de forma segura de acordo
com suas compatibilidades químicas;
4. Buscar sempre a reutilização dos resíduos, pois boa parte deles pode se tornar novos
reagentes através de algum tipo de tratamento;
5. Quando não for possível reutilizar um resíduo e tiver que descartá- lo, procurar
inertizá- lo de forma a ser o menos agressivo possível ao meio ambiente, e que esteja
dentro dos padrões ambientais estabelecidos.
A ementa da disciplina de Estudos Independentes previa algum tipo de trabalho voltado
às soluções reais para sociedade, buscando a interdisciplinaridade e o aprimoramento científico
dos alunos.
Congressos da área de química, principalmente a Reunião da Sociedade Brasileira de
Química, vêm apontando a necessidade de formação de estudantes críticos e empenhados com a
responsabilidade ambiental. (Abreu, 2003).
Escolhemos a temática ambiental justamente por se tratar de um problema social e de
certa forma estimulante sob o ponto de vista didático. Grande parte dos alunos se interessa pela
questão e isso promove uma excelente interação professor – aluno.
Durante as aulas teóricas, cada vez que o assunto vinha à tona observávamos o interesse
dos alunos sobre o tema, e abríamos espaço para um fórum de discussões.
Ao final de todas as aulas tínhamos ótimas idéias e isso de certa forma estimulava os
alunos à pesquisa, o que contribuiu para o bom andamento do curso.
As instituições de ensino devem desempenhar um esforço para ajudar na formação de
seu corpo discente com integra compreensão dos processos que agridem o meio ambiente e que
estes tenham condições de intervir nos processos para minimizar danos ao ambiente. (Figuerêdo,
2006).
Iniciamos os trabalhos introduzindo alguns conceitos básicos sobre meios de gestão e
propriedades físico-químicas de alguns resíduos e segurança em laboratórios químicos.
Os meios de gestão oferecem subsídios para que o responsável pelo gerenciamento
saiba definir critérios de armazenamento e destinação final dos rejeitos, bem como trabalhar a
questão da redução da geração e uma correta organização das matrizes.
Várias instituições estão efetuando a reutilização e/ou reciclagem de resíduos criados
como subprodutos em determinados processos químicos industriais ou laboratoriais. (Gerbase,
2006).
Por exemplo, a Universidade Federal do Paraná apresenta um sistema que quantifica as
incompatibilidades de resíduos e os custos de neutralização, além disso realiza a inertização dos
materiais gerados em laboratórios em fornos de co-processamento, prática essa autorizada pela
legislação do estado. (Cunha, 2001).
Outro exemplo é o sistema adotado pela Universidade de Brasília (UNB) que tem a
intenção de reciclar e reutilizar de 40% dos resíduos gerados. (Santos, 2006).
Uma questão muito importante que destacamos é a minimização, talvez este seja o
principal ponto de um sistema de gerenciamento de resíduos, pois ao consumirmos menos
reagentes nas aulas estaremos gerando menos resíduos.
Esta mudança de conceitos é de suma importância e é de responsabilidade do docente
perceber que os tempos mudaram e hoje em dia não se realiza mais uma aula consumindo litros e
mais litros de soluções, tudo deve ser feito em escala micro, em tubos de ensaio e quando um
determinado método solicitar um reagente muito tóxico o professor tem o dever de procurar
outra alternativa a fim de reduzir um eventual estoque de produto perigoso.
Justamente por isso solicitamos aos alunos que se colocassem na posição de um gestor
de laboratório e que planejassem fichas de estoque de reagentes e de resíduos, o que facilitaria a
organização do laboratório e a correta disposição dos rejeitos.
Relatos sobre as estratégias de implantação de gestão e gerenciamento de resíduos
apontam as várias dificuldades existentes, porém os resultados alcançados é a consciência ética
com relação ao uso, reaproveitamento e descarte de produtos visando a preservação ambiental.
(Resende, 2003; Tavares, 2005).
Pesquisas sobre os materiais de armazenamento, incompatibilidade de substâncias e
critérios de segregação de resíduos também foram solicitados aos alunos.
Realizamos muitas discussões a respeito, alguns grupos apresentaram suas propostas e
todos chegaram num consenso sobre a melhor forma de elaboração das fichas de resíduos e a
melhor classificação para armazenagem.
Após a realização dos testes acima classificar os resíduos em: Ácidos, Bases, Orgânicos,
Inorgânicos, Sólidos, Líquidos, Gasosos e Oxidante-Redutores.
Testes simples como estes despertaram ainda mais o interesse nos alunos ao tema. Num
segundo momento sugerimos que fizessem uma pesquisa aprofundada para o tratamento mais
efetivo dos rejeitos e que a apresentassem em sala de aula.
A figura 1 demonstra um tipo de pesquisa feita pelos alunos sobre o tratamento de
soluções sulfocrômicas, utilizadas em laboratórios para lavagem de vidrarias. O Cromo (VI)
Cr6+ Sulfocrômica
Fe em pó
Cr3+
NaOH
Cr(OH) 3
Filtrar
Sólido Solução
Ajustar pH
Coletor adequado Coletor adequado
Essa conscientização em não agredir o meio ambiente tem que começar nas instituições
de ensino, de forma que isso seja assimilada pelos alunos para quando exercerem atividades nas
indústrias possam ter uma preocupação com os resíduos gerados e assim também implantar um
gerenciamento de resíduos nas indústrias onde atuam.
Essa preocupação teria que ter acontecido há muito tempo, com o advento da revolução
industrial, onde os meios de produção começaram a inserir rejeitos numa velocidade cada vez
maior.
CONCLUSÃO
Ficamos muito satisfeitos com os resultados, sabemos que ainda temos muito a fazer e
contamos com a colaboração dos alunos e de todos os demais professores, afinal esse não é um
problema apenas da disciplina de estudos independentes, é uma questão multidisciplinar e deve
ser tratada por todos.
Cada professor que utilizar o laboratório e gerar algum tipo de resíduo deve ter plena
consciência da destinação que deve dar ao mesmo, e inclusive introduzir essa problemática
dentro de sua aula.
Muitos alunos mesmo após terem concluído o semestre ainda participam do processo e
sempre procuram propor melhorias para o sistema.
Boa parte dos resíduos gerados foi continuamente descartada, e hoje temos poucos em
estoque, somente alguns que necessitam de certo estudo de tratamento, haja vista a grande
potencialidade de recuperação que possuem.
Resíduos mais simples como ácidos e bases foram neutralizados e simplesmente
descartados, resíduos contendo metais pesados foram precipitados na forma menos agressiva e
estocados como futuros reagentes.
Com certeza levaremos muitos anos para corrigir o que já foi agredido, mas se todas as
instituições de ensino e pesquisa tiverem um programa de gerenciamento e conscientização,
teremos um futuro melhor e com perspectivas mais otimistas, pois sabemos que a natureza leva
tempo para voltar a sua forma de origem.
Estamos fazendo a nossa parte.
REFERÊNCIAS
Abreu, D. G.; Iamamoto, Y.; Relato de uma experiência pedagógica no ensino de química:
formação profissional com responsabilidade ambiental. Química Nova, vol. 26, No. 4, 582-
584, 2003.
Alberguini, L. B. A.;Silva.; SILVA, C. L.; Rezende, M. O. Tratamento de resíduos químicos -
guia prático para solução dos resíduos químicos em instituições de ensino superior. Editora
Rima, São Carlos, 2005.
Cunha, C. J.; O programa de gerenciamento de resíduos laboratoriais do departamento de
química da UFPR. Química Nova, vol. 24, n°3, 424-427, 2001.
Figuerêdo, D. V.; Manual para gestão de resíduos químicos perigosos de instituições de ensino
e de pesquisa; Belo Horizonte: Conselho Regional de Química de Minas Gerais, 2006.
Gerbase, A. E., Gregório, J. R.; Calvete, T.; Gerenciamento dos resíduos da disciplina química
inorgânica II do curso de química da universidade federal do Rio Grande do Sul. Química
nova, vol. 29, n°2, 397-403, 2006.
Jardim, W. F. Gerenciamento de resíduos químicos em laboratório de ensino e pesquisa.
Química nova, vol. 21, n°5, 671-673, 1998.
Jardim, W. F. Gerenciamento de resíduos químicos em laboratórios de ensino e pesquisa.
Instituto de Química-Unicamp - Laboratório de Química Ambiental; Campinas, 1997.
Leite, F.; Validação em análise química. 4. ed., Átomo, Campinas, 2002.
Pimenta, A.C; Santos, D. V; Leal, R.C. Protocolo de tratamento de resíduos químicos.
Universidade de São Paulo – USP Ribeirão Preto - Laboratório de resíduos químicos (LRQ).
Disponível em:< www.pcarp.usp.br/lrq/main.html> Acesso em 03/03/08.
Resende, M. O. O; Alberguini, L. B.; Silva, L. C.; Laboratório de resíduos químicos do campus
USP-São Carlos – Resultados da experiência pioneira em gestão e gerenciamento de resíduos
em um campus universitário. Química Nova, vol. 26, No. 2, 291-295, 2003.
Santos, G. J. M.; Imbroisi, D.; Barbosa, S. S.; Shintaku, S. F.; Monteiro, J. H.; Ponce, A. E.;
Furtado, G. J.; Tinoco, C. J.; Mello, D. C.; Gestão de resíduos químicos em universidades:
Universidade de Brasília em foco. Química nova, vol. 29, n° 2, 404-409, 2006.
Tavares, G. A.; Bendassolli, J. A.; Implantação de um programa de gerenciamento de resíduos
químicos e águas servidas nos laboratórios de ensino e pesquisa no CENA/USP. Química
Nova, vol.28, No. 4, 732-738, 2005.