GIDDENS, Anthony. O que é a sociologia? In. GIDDENS, Anthony. Sociologia. 6. Ed.
Fundaçao Calouste Gulbenkian, 2008.
Sociologia: estudo da vida social humana, grupos e sociedades.
Perspectiva de análise abrangente e mais objetiva, com relação de causa e efeito entre comportamentos individuais e de grupo e forças históricas e sociais.
Perspectiva sociológica: imaginação sociológica (C. Wright Mills), abstração da rotina
familiar cotidiana para observá-la de forma diferente.
Estrutura social: os contextos sociais individuais estão estruturados ou padronizados, de
diferentes maneiras. Reconstruída constantemente pelos seres humanos.
Aplicação Prática da Sociologia:
- Consciência de diferenças culturais. Olhar para o mundo social a partir de múltiplos pontos de vista. Compreensão dos modos de vida de grupos e de seus problemas, facilitando a ação social. - Avaliação dos efeitos das políticas: pesquisa sociológica apresenta ajuda prática nessa avaliação. - Autoconsciencialização: grupos ou indivíduos podem beneficiar-se da investigação sociológica para responder eficazmente às políticas ou promover suas próprias iniciativas.
Desenvolvimento do pensamento sociológico
Primeiros teóricos: estudo sistemático e objetivo da sociedade e do comportamento humano remonta ao final do séc. XVIII, com o surgimento da abordagem científica (influencia das Rev. Francesa e Industrial). Antes, as idéias sobre as razões do comportamento eram expressas pela religião, mitos, superstições ou crenças tradicionais.
Auguste Comte (1798-1857)
Inventou o termo Sociologia. Pensamento refletia os acontecimentos da Rev. Francesa. Sociedade submetida a leis invariáveis, como as leis naturais determinam o mundo físico. Abordagem positivista, com aplicação de métodos científicos e rigorosos no estudo da sociedade; produção de conhecimento sobre a sociedade com base em provas empíricas retiradas da observação, comparação e experimentação. Lei dos três estágios: tentativas humanas para compreender o mundo passam pelos estágios: Teológico: idéias religiosas e crença de que sociedade era expressão da vontade de Deus; Metafísico: se afirmou na época do Renascimento. Sociedade começou a ser vista em termos naturais e não sobrenaturais; Positivo: desencadeado pelas descobertas de Copérnico, Galileu e Newton, encorajou a aplicação de técnicas científicas ao mundo social.
Émile Durkheim (1858-1917)
Impacto mais duradouro na Sociologia moderna. Considerava muitas idéias de Comte especulativas e vagas, falhando em conferir caráter científico à disciplina. Via a Sociologia como nova ciência que podia ser usada para elucidar questões filosóficas tradicionais, examinado-as empiricamente. Principio básico da sociologia, e foco principal, era estudar os fatos sociais como coisas, podendo a vida social ser analisada com o mesmo rigor que se analisam objetos ou fenômenos naturais. Fatos sociais: formas de agir, pensar ou sentir externas aos indivíduos, tendo realidade própria exterior à vida e percepções das pessoas individualmente. Exercem poder coercitivo sobre os indivíduos, dificilmente reconhecível pelas pessoas que acham que agem segundo suas opções. Para Durkheim, as pessoas seguem padrões comuns na sociedade. Temas que abordou: importância da Sociologia enquanto ciência empírica; emergência do individuo e formação de uma ordem social; origens e caráter da autoridade moral da sociedade. Interesse especial na solidariedade social, aquilo que mantém a sociedade unida, através de valores e costumes partilhados. Solidariedade mecânica: sociedades tradicionais, com baixa divisão do trabalho, o que une as pessoas em torno de experiência em comum e crenças partilhadas. Solidariedade orgânica: com a revolução industrial, maior divisão do trabalho e diferenciação social, a sociedade se une pela interdependência econômica entre as pessoas e reconhecimento da importância da contribuição dos outros. Crenças partilhadas são substituídas por relações de reciprocidade econômica e mútua dependência. Anomia: sentimento de ausência de objetivos ou desespero provocado pela vida social moderna, onde os padrões e meios de controle anteriormente fornecidos pela religião são destruídos pelo desenvolvimento social moderno. Suicídio
Karl Marx (1818-1883)
Idéias contrastantes as de Comte e Durkheim. Tentativa de explicar mudanças ocorridas com a Rev. Industrial. Capitalismo e luta de classes: mudanças sociais ligadas ao desenvolvimento do capitalismo. Dois elementos principais: capital e trabalho assalariado. Os capitalistas detém os meios de produção e o capital, constituindo-se me classe dominante. Trabalhadores assalariados são a classe operária. Relação entre elas é caracterizada pelo conflito. Mudança social: concepção materialista da história: as principais fontes de mudança social não se encontram nas idéias ou nos valores humanos, mas promovida por fatores econômicos. Os conflitos entre as classes são o motor da história. Os sistemas sociais transitam de um modo de produção para outro, gradual ou brusco por meio de revoluções, como resultado das contradições dos seus sistemas econômicos. Acreditava na inevitabilidade de uma revolução da classe trabalhadora e emergência de uma sociedade sem classes.
Max Weber (1864-1920)
Deu atenção particular ao desenvolvimento do capitalismo e moderno e como a sociedade moderna diferia de tipos anteriores de organização social. Na perspectiva Weberiana, os fatores econômicos eram importantes, mas as idéias e valores tinham o mesmo impacto sobre a mudança social, sendo essas as forças promotoras. Defendia que a Sociologia deveria centrar-se na ação social e não nas estruturas. Essas estruturas eram formadas por uma complexa rede de ações recíprocas. Comparando religiões da China e Índia com as do Ocidente, concluiu que alguns aspectos das crenças cristãs influenciaram o aparecimento do capitalismo. Racionalização: desenvolvimento da ciência, da tecnologia moderna e da burocracia. Organização da vida social e econômica segundo princípios de eficiência e embasada em conhecimento técnico. Capitalismo dominado pelo avanço da ciência e da burocracia, ao invés de pelo conflito de classes. Preocupações: que a racionalização resultasse em uma sociedade que, ao tentar regular todos os aspectos da vida social, destruísse o espírito humano. Temia os efeitos sufocantes e desumanizantes da burocracia e suas implicações nos destinos da democracia.
Olhares sociológicos mais recentes
Três das mais importantes correntes teóricas recentes:
- Funcionalismo (Comte – Durkheim):
Sociedade é sistema complexo de partes que se conjugam para garantir estabilidade e solidariedade. A Sociologia deve investigar o relacionamento entre as partes e para a sociedade como um todo, e o papel que desempenha na perpetuação da existência e prosperidade de uma sociedade. Importância do consenso moral (partilha de mesmos valores) na manutenção da ordem e estabilidade da sociedade. Principal critica: ênfase em fatores que promovem coesão social em detrimento dos que produzem conflito e divisão. Minimização das divisões e desigualdades sociais (classe social, raça, gênero) e do papel da ação social criativa.
- Perspectiva do conflito (Marx e Weber)
Como o funcionalismo, sublinha a importância das estruturas na sociedade. Defendem um modelo abrangente para explicar o funcionamento da sociedade e rejeitam a ênfase ao consenso. Sublinham a importância das divisões na sociedade, centrando a analise nas questões de poder, desigualdade e luta, e procurando compreender como se estabelecem e perpetuam as relações de controle. Vêem a sociedade composta de diferentes grupos que lutam por poder e que determinados grupos terão mais beneficio do que outros. Influenciados por Marx e Weber. Diferença de interesses em função das classes (Marx) ou de forma mais vasta com a autoridade e o poder (Weber).
- Perspectivas da Ação Social
Atenção ao papel desempenhado pela ação e interação dos membros das sociedades na formação das estruturas. Sociologia busca o significado da ação e interação social, mais do que o da explicação das forças externas aos indivíduos que os compelem a agir de determinada forma, centrando-se na análise de como os atores sociais se comportam em relação uns aos outros e com a sociedade. Posição de Weber em relação a importância das ações sociais dos indivíduos, foi desenvolvida sistematicamente pelo interaccionismo simbólico, com origens na obra do filósofo americano G.H. Mead (1863-1931).
Interaccionismo simbólico: Mead defendia que a linguagem permite a
autoconsciência, cientes da individualidade e capazes de vermos de fora, cujo elemento-chave é o símbolo (palavras, gestos, e outras formas de comunicação). Sociólogos centram a análise na interação face-a-face e nos contextos da vida cotidiana, realçando o papel dessas interações na criação da sociedade e das suas instituições. Critica: ignora questões mais amplas relacionadas com o poder e a estrutura da sociedade e a forma como ambos constrangem a ação social.