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ISSN 1516-8085

ANPOCS
Revista Brasileira de Informação Bibliográfica
em Ciências Sociais

66
Neste número:
Saneamento Básico no Brasil
Tecnologia, Informação e Sociedade
Cultura das Organizações
Teoria e Método no Legislativo Brasileiro
Eleições, Economia e Ciclo Político

EDITORA HUCITEC
ISSN 1516-8085

bib
Revista Brasileira de Informação Bibliográfica
em Ciências Sociais
BIB - Revista Brasileira d e Inform ação B ibliográfica em Ciências Sociais (ISSN 1516-8085} é uma publicação semestral da Associação
Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs) destinada a estimular o intercâmbio e a cooperação entre as
instituições de ensino e pesquisa em Ciências Sociais no país. A BIB c editada sob orientação de um editor, uma comissão editorial e um
conselho editorial composto de profissionais vinculados a várias instituições brasileiras, E-mail: <bib@anpocs.org.br>.

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Presidente: Rüben George Oliven (UFRGS); Secretário Executivo: Marcelo Siqueira Ridenti (Unicamp); Secretário Adjunto: Gildo Marçal
Bezerra Brandão (USP); Diretores: Glaucia VdliS Boas (UFRJ): Renato Athias (UFPE); Yan de Souza Carreirão (UFSC)

Conselho Fiscal: Antonádia Monteiro Borges (UnB); Isabelle Braz Peixoto da Silva (UFC); Magda de Almeida Neves (PUC-MG)

Coordenação: Marcelo Siqueira Ridenti (Unicamp)

Editor: João Trajano Sento-Sé {Uerj)

Comissão Editorial: Emerson Alessandro Giumbelli (UFRJ); José Eisenberg (luperj); José Sérgio Leite Lopes (MN/UFRJ); Maria Celi
Scalon (luperj)

Conselho Editorial: Gustavo Lins Ribeiro (UnB); Jane Feipe Beltrão (UFPA); João Emanuel Evangelista de Oliveira (UFRN); Jorge
Zaverticha (UFPE); Llvio Sansone (UFBA); Lúcia Bógus (PUC/SP); Helena Bomeny (CPDOC-FGV/RJ); Magda Almeida Neves
(PUC/MG); Paulo Roberto Neves Costa (UFPR); Roberto Grün (UFSCar)

Edição
Assistente Editorial: Mírian da Silveira
Copidesque/preparação/revisão de textos: Gislaine Maria da Silva
Versão/tradução de resumos: Jorge Thierry Calasans (francês) e Júris Megnis Jr, (inglês)
Editoração eletrônica: Editora Hucitec

Produção gráfica: Editora Hucitec

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BIB: Revista Brasileira dc Informação Bibliográfica em Ciências Sociais /Associação Nacional de


Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais. —n. 41 (1996), —São Paulo: ANPOCS, 1996-

Semestral
Resumos em português, inglês e francês
Título até o n, 40, 1995: BIB: Boletim Informativo e Bibliográfico de Ciências Sociais.

ISSN 1516-8085

1. Ciências Humanas 2, Ciências Sociais 3. Sociologia 4. Ciência Política 5. Antropologia


I. Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais

CDD 300

Associação Nacional de Pós-Graduação e


Pesquisa em Ciências Sociais —Anpocs
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Revista Brasileira de Informação Bibliográfica
em Ciências Sociais

Sumário

A Crise do Setor de Saneamento Básico no Brasil:


uma Revisão Bibliográfica
Ana Cristina Augusto d e Sousa e Nikon do Rosário Costa

Tecnologia, Informação e Sociedade: uma Sistematização


de Conceitos e Debates 25
D aniel G uem nie. Ronaldo Baltãr

Cultura dás Organizações: Enfoques Dominantes,


Tendências Internacionais e Novas Propostas Analíticas 47
Leonor Lima To>res

Teoria e Método nos Estudos sobre o Legislativo Brasileiro:


uma Revisão da Literatura no Período 1994-2005
M anoel Leonardo Santos

Eleições, Economia e Ciclo Político: uma Revisão da Literatura Clássica 91


Ricardo Borges Gama. Neto

Programas de Pós- Graduação e Centros de Pesquisa filiados à Anpocs 113

Fontes de Pesquisa 117

Trabalhos Publicados: 1975-2008 123

BIB, São Paulo, n° 66, 2° semestre de 2 008, pp. 5-131


Colaboraram neste número:

Ana Cristina Augusto de Sousa c historiadora e mestre em Ciência Política pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente é doutoranda do Programa de Saúde Coletiva da
Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca/Fiocruz. E-mail: crisantema_s@bol.c0m.br.

Daniel Guerrini é graduado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina. Atual­
mente é mestrando do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS). Suas áreas de pesquisa são: Tecnologias da Informação e Comunicação e
Informática Aplicada à Educação e à Pesquisa. E-mail: daniel_guerrini@hotmail.com.

Leonor Lima Torres é professora e diretora adjunta do Departamento de Sociologia da Educação e


Administração Educacional do Instituto de Educação e Psicologia da Universidade do Minho,
Portugal. E-mail: leonort@iep.uminho.pt.

Manoel Leonardo Santos é mestre em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE) e especialista em Poder Legislativo pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gecais.
Atualmente é doutorando em Ciência Política pela UFPE, onde desenvolve, ém cooperação com o
Centro de Estudos Legislativos (CEL) do Departamento de Ciência Política da Universidade Fede­
ra! de Minas Gerais e a Universidad de Salamanca, Espanha pesquisa sobre a influência dos grupos
de pressão no sistema político brasileiro.

Nilson do Rosário Costa é pesquisador titular da Fundação Oswaldo Cruz e professor adj unto do
Instituto de Saúde da Comunidade da Universidade Federal Fluminense (UFF). E-mail:
nilsondorosario@terra com.br.

Ricardo Borges Gama Neto é doutor em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE) e professor adjunto II da Universidade Federal de Roraima (UFRR). Atua nas áreas de
Políticas Públicas; Teoria Política Contemporânea; Economia Política: Métodos eTécnícas de Pesqui­
sa e Análise de Dados Quantitativos. E-mail: ricardobgneto@gmail.cbm.

Ronaldo Bakar é professor associado da Universidade Estadual de Londrina (UEL), graduado em


Ciências Sociais pela Universidade de Brasília e doutor pela Universidade de São Paulo. Suas áreas de
pesquisa são: Informática para o Ensino e a Pesquisa em Ciências Sociais e Relações Industriais e
Processos de Trabalho. Tem publicados os livros: O ponto morto (Londrina, editora UEL, 2000) e,
com outros autores, Fundamentos do trabalho acadêmico I: elementos para orientara leitura e a escrita
(Cascavel, Coluna do Saber, 2005). E-mail: baltar@uel.br.
A Crise do Setor de Saneamento Básico no Brasil:
uma Revisão Bibliográfica

Ana Cristina Augusto de Sousa e Nilson do Rosário Costa

Introdução meta intermediária em direção à universaliza­


ção desses serviços no ano de 2025. Porém,
A categoria saneamento básico diz respeito especialistas afirmam que, se mantido o atual
ao conjunto de ações que inclui o abastecimen­ ritmo de investimento dos últimos anos, ela
to de água, o esgotamento sanitário, a drena­ não será, definiúvamente, alcançada. Tais fatos
gem urbana das águas pluviais, a disposição de demonstram, por si só, que o setor vem enfren­
resíduos sólidos e o controle de vetores e roedo­ tando graves problemas que estão inviabilizan­
res. Essas ações visam à modificação do meio do a universalização do saneamento no país, o
ambiente com o objetivo de promover a saúde que significa negar à população brasileira a oferta
da população e evitar as doenças decorrentes de um importante direito de cidadania.
de um meio ambiente não saneado (Fsesp, O presente estudo tem por objetivo iden­
1981). Além da saúde pública, as ações de sa­ tificar as principais teses presentes na literatura
neamento exercem ainda um forte impacto nacional para a explicação do baixo desempe­
positivo sobre o meio ambiente e o desenvolvi­ nho setorial do saneamento no Brasil durante
mento econômico e social do país. Por isso, a as décadas de 1990 e 2000, tendo como refe­
política de saneamento é de natureza púbLica, rência as metas de universalização desses servi­
social e intersetorial. ços fixadas inicialmente pata 2010 e, posterior­
No Brasil, a principal experiência na área mente, para 2015 e 2025 junto à ONU. Para
de investimentos em serviços públicos de água, tanto, o texto foi dividido em três seções. Na
esgoto e drenagem foi o Plano Nacional de Sa­ primeira, veremos os procedimentos adotados
neamento (Planasa), lançado pelo Governo fe­ para a realização da revisão bibliográfica aqui
deral em 1970, na vigência da ditadura mili­ proposta. Na segunda, apresenta-se o panorama
tar. O esgotamento desse Plano, porém, a partir de crise em que mergulhou o setor após a extin­
da extinção do BNH em 1986, marcou o iní­ ção do Planasa, identificando alguns dos obs­
cio de uma crise sem precedentes no setor. Essa táculos presentes para a universalização desses
crise levou a um insuficiente aumento dos in­ serviços no país. A discussão dos resultados ob­
dicadores de cobertura, tendo em vista a meta tidos compõe a terceira seção deste trabalho.
de universalização para .2010, proposta nos Por fim, após o balanço dos resultados discuti­
anos 1990 pela gestão FHC. No ano 2000, dos, adota-se, na conclusão, uma perspectiva
em atendimento aos objetivos do desenvolvi­ para a evolução de futuros estudos sobre o setor.
mento do milênio acordados com a ONU,
novas metas foram fixadas para 2015 e 2025. Procedimentos
Neste acordo, o Brasil se comprometeu a redu­
zir à metade o número de pessoas sem acesso ao As relações entre saneamento, saúde, meio
saneamento básico até o ano de 2015j como ambiente e desenvolvimento econômico inte­

BIB, São Paulo, n° 66, 2° semestre de 2008, pp. 5-23. 5


gram as discussões pertinenres aos campos de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), por sua
conhecimento da Saúde Coletiva, da Ecologia vez, foram incluídos nessa busca por conta do
é mesmo dá Economia, entre outros, umá vez reconhecimento de sua qualidade, muitas vezes
que os prejuízos causados pela ausência de sanea­ utilizados como fontes de informações e dados
mento na saúde do cidadão e do meio ambien­ para as análises dos especialistas no assunto.
te brasileiros constituem um sério obstáculo para O idioma selecionado foi o português, uma
o desenvolvimento econômico e social do país. vez que a busca preliminar realizada em bases
Por issó, o conjunto de documentos recupera­ internacionais nada detectou de relevante so­
dos nesta revisão contemplou as áreas de Saúde bre o tema no qual se insere a pergunta suscita­
Coletiva, Economia, Administração, Ciências da por esta revisão, bastante atrelada à realida­
Sociais e Planejamento Urbano e Ambientai, de brasileira. Devido ao escopo deste trabalho,
com enfoque no tema de políticas públicas. no caso de dissertações, teses e artigos científi­
O objetivo desta revisão foi identificar na cos, demos preferência aos estudos que estives­
literatura produzida sobre a política de sanea­ sem em formato eletrônico, por razões de aces­
mento no Brasil as explicações para o baixo so ao céxto completo.
desempenho setorial do saneamento após o fim Para filtrar os resultados obtidos, o primei­
do Planasa, no período compreendido entre ro critério utilizado foi a seleção de estudos que
1995 e 2006. Por baixo desempenho setorial, se propuseram a realizar análises a respeito des­
entende-se o aumento residual da cobertura po­ sa política setorial em nível nacional, no perío­
pulacional dos serviços de abastecimento de água do recente, isto é, a partir de 1991. Esse crité­
e esgotamento sanitário, tendo em vista as me­ rio implicou a exclusão dos estudos de caso,
tas de universalização pactuadas pelo governo por entender que avaliam realidades específi­
brasileiro nesse período. Os principais indicado­ cas, não se preocupando em fornecer hipóteses
res utilizados para a demonstração desse desem­ e respostas para o quadro nacional. Para refinar
penho foram a cobertura populacional desses a busca e responder à questão colocada por esta
serviços, bem como o financiamento federal revisão, optamos ainda pela seleção de estudos
dedicado aó setor a partir de 1995. de política de saneamento que procuraram ex­
Os documentos utilizados para a análise plicar a evolução do setor no período citado,
da bibliografia foram de três tipos: (1) artigos tendo como pelo menos uma de suas preocu­
publicados em revistas científicas; (2) teses e pações a questão do desempenho da cobertura
dissertações; e (3) livros de pesquisadores sobre desses serriços, Como resultado, foram analisa­
o assunto. A busca foi feita na base de dados da das as obras de catorze autores, consideradas
Biblioteca Virtual em Saúde (Bireme/BVS, aqui as mais relevantes em responder à questão
2008), utilizando como descritores a expres­ proposta por esta revisão. Assim, após a realiza­
são 'política de saneamento” e “instituições de ção de uma breve contextualização da crise ex­
saneamento”, e no banco de teses e dissertações perimentada pelo setor no Brasil, faremos a dis­
da Capes, através da combinação das palavras- cussão dos resultados obtidos.
chave “saneamento” e “política”. Relatórios ins­
titucionais que apareceram na busca, tais como A Crise do Setor no Brasil: o Baixo
os do Ministério da Saúde, da Fundação Nacio­ Desempenho na Cobertura Populacional
nal de Saúde (Funasa) e das secretarias gover­ das duas Últimas Décadas
namentais ligadas ao setor, foram excluídos por
não terem sido produzidos no ambiente aca­ A principal experiência brasileira na área
dêmico. Os trabalhos técnicos do Instituto de de investimentos em serviços públicos de água,

6
esgotamento e drenagem foi o Planasa, formu­ existência do BNH e, conseqüentemente, do
lado pelo Governo federal ao longo da década próprio Planasa. A partir de então, houve uma
de 1960 e lançado em 1970. Esse Plano foi o pulverização insritucional do setor de sanea­
responsável pela criação de companhias esta­ mento que incluiu a transferência das institui­
duais e pelo arcabouço institucional que vigora ções federais encarregadas das políticas urba­
aré hoje na prestação dos serviços de saneamento nas entre diferentes ministérios, é de suas
do país. Com o objetivo de eliminar o déficit funções entre diferentes secretarias, até 1995.
de abastecimento de água e de esgotamento Isso dificultou a recriação de um espaço insti­
sanitário adequado, o Plano previa alcançar, em tucional definido, como houvera nos 1970,
1990, uma cobertura de acesso à água para para a formulação e gestão dos programas de
90% da população urbana e de 65% para a de saneamento.
esgotamento sanitário adequado. Porém, não As iniciativas governamentais a partir de
houve fixação de meras para a drenagem das então se revelaram pontuais e desarticuladas,
águas pluviais, manejo de resíduos sólidos e enquanto a Política Nacional de Saneamento
limpeza, pública. permaneceu sem regulamentação por toda a
Visando desenvolver uma política para o década de 1990, apesar de diversas tentativas
setor, o Planasa conseguiu ampliar, entre 1970 (Turolla e Ohira, 2007, p. 201). As compa­
e 1991, de 32,8% para 70,7% o número de nhias estaduais passaram a conviver com a crise
domicílios com fornecimento de água ligado à financeira, ampliada pelas dívidas acumuladas.
rede geral, e de 26,4% para 52,4% o número As funções de agente financeiro central dos sis­
de domicílios com esgoto ligado à rede geral ou temas financeiros de habitação, e saneamento
fossa séptica (IBGE, 1970; 1991). A destina- foram transferidas do BNH à Caixa Econômica
ção de recursos para esse Plano, no entanto, Federal e os recursos do FGTS passaram a ser
nunca atingiu 1% do PIB. concorridos por outros setores sociais. O resul­
O esgotamento do Planasa se deu em mea­ tado foi uma drástica redução de investimen­
dos da década de 1980, após a extinção do tos no setor, o que gerou um forte entrave para
Banco Nacional de Habitação (BNH) em o avanço dos serviços de saneamento no país.
1986, principal fonte de financiamento do A Constituição de 1988, por sua vez, in­
setor. A revogação do Decreto n° 82.587/78 troduziu importantes aspectos nas questões le­
em 1991, pelo então Presidente Fernando gais que envolvem o investimento no setor. Em
Collor de Mello, enterrou a única regulação primeiro lugar, com o objetivo de comprome­
existente para as companhias estaduais em ní­ ter todos os entes federados com o setor, a Cons­
vel federal no âmbito desse Plano, o que aca­ tituição determinou competência comum na
bou por selar o fim do mesmo. Dois fatores área de saneamento para União, estados e mu­
concorreram de forma especial para a crise que nicípios, mas não especificou as respectivas atri­
culminou no esgotamento do Planasa: a reces­ buições cabíveis a cada um deles dentro dessa
são econômica da década de 1980 e a mudan­ atividade. Essa omissão resultou no primeiro
ça do marco jurídico-institucional proveniente impasse para a definição de um novo arcabou­
da redemocratizaçáo brasileira que resultou na ço jurídico-institucional para o setor após o fim
Constituição Federal de 1988. do Planasa. Em segundo lugar e mais impor­
A crise do endividamento externo e o de­ tante, apesar de atribuir aos municípios a com­
clínio dos recursos do FGTS em face do de­ petência sobre a prestação dos serviços de sa­
semprego na década de 1980 retraíram as fon­ neamento, a norma constitucional de 1988
tes que financiavam o setor, inviabilizando a abriu brechas para que os estados da federação

7
reivindicassem a assunção dessa atividade. Se, O economista R. Bielschowsky (2002,
por um lado, no artigo 30 da Constituição, o apud^úzxiu 2007, pp. 40-1) afirma que o sa­
saneamento aparece como um serviço de inte­ neamento básico foi, entre os setores de infra-
resse local, gerido, portanto, pelo município; estrutura, um dos que mais sofreram uma sen­
por outro, no artigo 25, parágrafo 3o, reco­ sível queda de investimentos nas décadas de
nheceu-se a possibilidade de os estados “ins­ 1980 e 1990. Segundo seu estudo, as médias
tituírem regiões metropolitanas, aglomerações investidas a partir de então jamais se aproxima­
urbanas e microrregiões para integrar a organi­ ram das médias dos anos 1970, na vigência do
zação, o planejamento e a execução de funções Planasa. Durante o Plano, diz ele, as médias de
públicas de interesse comum” (Brasil, 1988). investimento anuais do Governo federal varia­
Isto significa dizer que, de acordo com o artigo ram entre 0,3 e 0,4% do PIB, o que elevou,
25, parágrafo 3o, se o saneamento fosse inter­ como vimos anteriormente, a cobertura de água
pretado como uma função pública de interesse e esgotamento nos domicílios brasileiros.
comum nas regiões metropolitanas, caberia, Segundo cálculos atuais do governo, para
portanto, a gestão dessa atividade ao Governo universalizar o acesso ao saneamento em nosso
estadual através da fixação de uma lei com­ país até 2020, seria necessário investir anual­
plementar. mente 0,45% do PIB até esta data, supondo o
Essa ambigüidade gerou uma indefinição crescimento do PIB em 4% ao ano (Brasil,
jurídica acerca da titularidade sobre a prestação 2003). Para a O.NU, no entanto, esse investi­
dos serviços de saneamento no país que culmi­ mento deveria ser de, no mínimo, 1% (Pnud/
nou, na maior parte das regiões brasileiras, em ONU, 2006, p. 8). O problema nesses cálcu­
conflito entre estados e municípios, que corre­ los é constatar, através dos dados do Ipea (Fi­
ram à J ustiça para assegurar a sua titularidade gura 1), que a média dos investimentos fede­
sobre a prestação desses serviços. Por envolver rais de 1995 até 2006 não ultrapassou 0,1%
matéria constitucional, a questão encontra-se do PIB, o que se faz muiro aquém do necessá­
ainda hoje à espera de decisão no STF. rio para alcançar a universalização.

Figura 1
Gasto Federal com Saneam ento como Proporção (%) do PIB
B rasil (1995-2006)

0,25
* 0,23
0,2
* 0 ,1 8 / \
0,15
> * « \ _ Y o „ \ !- ^ % p ib
0,1
jT Í ,0 8 6,1
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1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2 0 0 4 2005 2006
ano

Fonte: Ipea/Disoc. Estimativas anuais a partir dos dados do Siafi/Sidor, daí Contas Nacionais do IBGE e do FGTS
da Caixa Econômica Federal. Disponível em: <http//www,datasus.gov.br>. IDB Brasil 2007. Indicadores de
recursos: E13-1

S
Diante de cal subfinanciamento, tornou- distante da meta estabelecida, com apenas 30%
se inevitável o comprometimento do avanço de chances de ser alcançado (Brasil, 2008). Essa
da cobertura populacional nos últimos anos afirmação confirmou um cenário anteriormen­
(Figura 2). te divulgado por estudo da FGV de 2007,
No acordo firmado pelos países-membros segundo o qual a universalização do acesso ao
da ONU na Cúpuia do Milênio do ano 2000, esgoto tratado - a melhor solução em se tratan­
a data para cumprimento da meta para a uni­ do de esgotamento sanitário adequado - só seria
versalização do acesso ao saneamento básico é o atingida em 2122, ou seja, daqui a 115 anos!
ano de 2025. Porém, a meta intermediária exi­ (Neri, 2007). A situação do esgotamento sani­
gida para o atendimento dos objetivos de de­ tário inadequado representa, definitivamente,
senvolvimento do milênio (ODM) impõe que um grande risco para a integridade dos ma­
se reduza pela metade, até 2015, a população nanciais hídricos, especialmente diante de
que, em 1990, não dispunha desses serviços. um cenário próximo de escassez de água doce
Isso significa eíevar o acesso à água potável e ao no mundo. Isso torna a universalização de seu
esgotamento sanitário adequado para 84,88% acesso um ponto prioritário na pauta do sanea­
e 69,71% da população brasileira, respectiva­ mento básico.
mente, até 2015. Apesar da percentagem sobre o PIB aplica­
Estudo recente do Ministério das Cidades da em saneamento ter diminuído na gestão
afirmou que, diante dos investimentos recen­ Lula, como vimos na Figura 2, o ex-Secretário
tes, teríamos 70% de chances de conseguirmos Nacional de Saneamento Ambiental Abelardo
atender à méta para o caso do acesso à água. Oliveira Filho argumenta que, durante sua
Em via oposta, não disse o mesmo para o acesso gestão (2003-2006), o governo contratou 10,5
ao esgotamento sanitário, o qual considerou bilhões de reais em contraposição aos 15,5

Figura 2
Moradores com Acesso ao Abastecimento de A gua e Esgotamento Sanitário
Brasil (1995-2007)

90
80 72,26 7 1 .B 6 73.23 74,26, 75.8» 76.07 7 7,3 3, 77,96 77,64 77,95^ 7 9 , 3 3 3 ^ 8 4 , 8 8
69^
I 69,71
g 70
g 60
0 50 ,, „ 4 3 SQ_ 46,46 44 87 45,94_ 47,70 47,95_ 48,11_ 4a,70_
3 8 i9 7 40,67 40.B2 42,23 ----------- ' ----------- ■----------■--------- * --------- * ----- * 48,75
1 40
S 30
20
10
0 --------------- 1 i i----------------- 1-----------------1----------------- 1----------------- 1-----------------1----------------- 1-----------------1----------------- 1----------------- l
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 META
2015

-A b aste cim e n to de água (rede geral) —■ — Esgotam ento sanitário (rede geral total e fossa séptica rural)

Fònte: Pnad/IBGE (1995-2007). Elaboráçãò prôpriá.

9
bilhões dos. oito anos do governo anterior (Oli­ de civil a criação de um novo modelo institucio­
veira Filho, s.d.). Para Marcelo C. Vargas, po­ nal para o setor, que preenchesse o vazio no
rém, embora a previsão de gastos federais neste qual o mesmo se encontrava. Desse debate,
setor tenha aumentado consideravelmente na surgiu o Projeto de Lei n° 199/93, que busca­
administração Lula (5,2 bilhões de reais no bié­ va instituir a Política Nacional de Saneamento
nio 2003-2004), a maior parte desses recursos segundo os princípios da descentralização, ações
(que inclui a contratação de empréstimos oriun­ integradas (água, esgoto, lixo e drenagem) e
dos do FGTS e recursos empenhados no orça­ controle social {Brasil, 1993). A concepção de
mento geral da União) segue Sendo renda ou saneamento básico se ampliou para a de sanea­
“contingenciada”, como na gestão deFHC, para mento ambiental e incluiu drenagem pluvial e
atender ao compromisso fiscal do governo fe­ manejo de resíduos sólidos, além do controle
deral de atingir um superávit primário equiva­ de vetores e roedores.
lente a 4,25% do PIB nas contas públicas (re­ Q projeto foi então aprovado pelo Con­
ceita menos despesas, excluído o pagamento gresso Nacional, mas vetado integralmente pelo
de juros sobre a dívida) (Vargas, 2005). Por Presidente Fernando Henrique Cardoso em
isso, afirma que os gastos federais em sanea­ 1994, sob alegação de “contrariar o interesse
mento do governo Lula no biênio 2003-2004 público”. Como alternativa, o presidente dina­
foram os menores dos últimos dez anos, consi­ mizou, seguindo as orientações do Banco Mun­
derando apenas os recursos efetivamente libe­ dial, o Programa deModernrzação do.Setor de
rados para investimento e custeio, isto é, liqui­ Saneamento (PMSS), idealizado no Governo
dados {idern). Coilo r. Tal programa, conduzido de maneira
Embora o subfinanciamento do setor seja “insulada” por um conjunto de economistas
um entrave para o cumprimento das metas de vinculados ao Ipea, acabou excluindo do pro­
universalização, ele não explica, por si só, o au­ cesso de agenda-settingas entidades represen­
mento residual da cobertura nos. últimos anos. tativas do setor (Costa, 1998; p. 85).
Na verdade, a ausência ou insuficiência de in­ O objetivo do PMSS era diagnosticar e
vestimentos indicaria a existência de uma lógi­ propor diretrizes paia a ‘modernização” do se­
ca ou de um conjunto de razões que impediria tor através de seu reordenamento jurídico-ins-
ou dificultaria a alocação de recursos nesse se­ titucional e aumento de eficiência global para
tor, comprometendo assim a universalização da que se alcançasse a universalização do acesso à
cobertura. Os autores analisados nesta revisão água e ao esgotamento adequado até 2010. As
propõem identificar as causas que explicariam estratégias para tanto seriam aumentar o inves­
o baixo desempenho do setor no Brasil a partir timento na área, mediante a ampliação de con­
da década de. 1990. E isso que será abordado cessões ao capital privado, e instituir um novo
na próxima seção. marco regulatório para o setor (Vargas e Lima,
2004, p. 74). Tal programa encontrava-se em
A Explicação do Baixo Desempenho consonância com a agenda do Banco Mundial
Setorial do Saneamento no Brasil: sobre o assunto, segundo a qual seria necessária
Balanço dos Resultados a abertura do setor para a iniciativa privada,
baseada numa regulação mais segura para os
Diante da crise institucional instalada a investidores internacionais ligados ao setor de
partir do fim do Planasa, entidades representa­ água no mundo (Borja, 2005, p. 5).
tivas e profissionais do setor passaram a debater Na época, o Brasil respirava os ares do
entre si e junto ao Governo federal e à socieda­ ajuste estrutural ditado pelo Consenso de

10
Washington (1989), cujo receituário paia os públicas, segundo a qual caberia aos governos
países em desenvolvimento pressupunha uma atribuir prioridade aos setores sociais efetiva-
redefinição do papel do Estado e das políticas mente.fundamentais, Tal orientação fortaleceu
sociais. O Consenso de Washington condicio­ o papel compensatório das políticas públicas,
nou o acesso aos financiamentos internacionais retirando o seu caráter universal em nome de
ao cumprimento da agenda neoliberal, segun­ uma perspectiva focalista, segundo a qual se
do a qual OEstado deveria reduzir sua partici­ visa atender os segmentos populacionais mais
pação na economia nacional, de forma a não vulneráveis.
intervir, mas sim regular a mesma, abrindo es­ Essa lógica do Banco Mundial e do FMI
paço para o investimento privado em amplos decorre das teses relativas à ineficácia das políti­
setores produdvos da sociedade, entre os quais, cas sociais e de sua captura pelos estratos de
o de saneamento. O Estado passou a ser enten­ maior renda, sendo dever do governo corrigir
dido não mais como o provedor de serviços tais desequilíbrios. Essa programática inclui,
públicos, mascomo promotor e regulador, de­ também, o aumento da participação de prove­
vendo estabelecer suas funções de acordo com dores privados nos serviços básicos até então
sua capacidade. prestados predominantemente pelo setor pú­
Os programas de ajuste estrutural necessá­ blico, como saúde, educação, assistência aos
rios ao fortalecimento das políticas macroeco­ segmentos mais pauperizados e saneamento,
nômicas formuladas pelas agências multilate- entre outros, desde que rentáveis.
rais internacionais, entre elas o FMI e o Banco Para o economista Eduardo Fagnani
Mundial, se baseavam em três elementos bási­ (2005), a estratégia macroeconômica dos anos
cos: redução dos gasros públicos; realocação de 1990, sob influência das agências internacio­
recursos necessários ao aumento de superávits nais, minou as bases financeiras e institucionais
na balança de pagamentos; e reformas visando do Estado, debilitando a sua capacidade de
ao aumento da eficiência do sistema econômico. intervenção nas políticas sociais, em particular.
As principais diretrizes dos organismos in­ Segundo o autor, a estratégia macroeconômica
ternacionais recomendavam que a Reforma do e de reforma do Estado, central e hegemônica
Estado fosse orientada para o mercado, exigin­ na agenda governamental, foi incompatível
do o abandono de instrumentos de controle com as possibilidades efetivas de desenvolvi­
político e a restrição na alocação de recursos mento e inclusão soçial.
públicos, principalmente na área social. As agên­ Embora tenha analisado os impactos dessa
cias de cooperação internacional, especialmen­ estratégia em diversas políticas sociais, Fagnani
te o Banco Mundial e FMI, articularam uma não considerou as dinâmicas institucionais es­
aliança tecnocráüca transnacional, com o obje­ pecíficas e próprias das políticas setoriais da área
tivo de racionalizar os investimentos nessa área, social, isto é, a capacidade de intermediação de
diminuindo o papel do Estado como presta­ interesses na aiena setorial. Ao defender uma
dor direto dos serviços e fortalecendo as ações tese generalizante dos efeitos da estratégia macro­
de natureza privada na provisão dos mesmos. econômica sobre as políticas sociais em geral, o
O cumprimento dessa programática exi­ autor se aproximou de uma abordagem mais
giu a complementaridade entre Estado e mer­ estruturalista dentro do campo teórico das
cado, ou seja, a iniciativa privada apareceu como Ciências Sociais.
o novo. conteúdo na execução das funções A tese de Fagnani é compartilhada tam­
públicas. Nessa ótica, o Banco Mundial incen­ bém por Sonia Mercedes (2002) em estudos
tivou a adoção de sua concepção de políticas setoriais sobre energia elétrica e saneamento no

11
Brasil em tempos de ajuste liberal. Para ela. ás na divisão internacional do trabalho, determi­
recorrentes crises econômicas, somadas ao mo­ nou a posição do Brasil como mercado consu­
delo de crescimento adotado, industrial e ur­ midor dos insumos estrangeiros, determinou
bano, além de reforçarem de forma estrutural o também a implementação dos serviços de sa­
perfil de exclusão e de concentração de renda neamento no país e a relação dos seus gestores e
já então configurados espacialmente, impuse­ formuladores com a sociedade. Isso fez com
ram também, especialmente na década de que os últimos privilegiassem, no presente, os
1990, restrições ao financiamento dos serviços interesses do capital internacional, em detri­
de infra-estrutura. Para a autora, sobretudo no mento das necessidades do povo brasileiro. Para
período em que os ajustes macroeconômicos ela, o enfrentamento das desigualdades gera­
exigiram a redução da intervenção do Estado das passaria, antes de tudo, pela escolha políti­
na economia, “a ausência de políticas prévias ca (pp. 372-3).
de garantia de atendimento universal resultou Na mesma linha, o economista Mello Justo
em circunstâncias que fogem totalmente ao es­ (2004, p. 64) argumenta que, com a mudança
copo dos modelos de reestruturação desenvol­ do modelo econômico miciado na década de
vidos para os serviços públicos” (idem, ibideni] 1990, o crescimento industrial foi preterido
nos últimos anos. Nesse período, a tentativa de em favor da acumulação financeira e da sus­
extinguir as políticas governamentais que per­ tentação de altas taxas de juros mantidas pelas
mitiram algum ácèsso a esses serviços resultou ações do Estado. Segundo o autor, essa mu­
no retrocesso das condições saturarias exatamen­ dança também afetou a percepção do governo
te nos segmentos e nas regiões onde a pobreza sobre o saneamento: de serviço público essen­
estruturalmente se concentrava (p. 372). A cial tornou-se atividade econômica pautada peía
autora afirma ainda que, no Brasil, o caráter do lógica empresarial. Para ele, a mudança de prio­
déficit de acesso aos serviços de saneamento é ridades ao governo explicaria a crise do setor a
estrutural. Isso porque os significativos aumen­ pârtir dessa data: “o saneamento perdeu desta­
tos de cobertura ocorridos nas últimas décadas que e, conseqüentemente, acesso a recursos para
não foram capazes de eliminar o déficit cie aces­ financiamento” (idem, ibidem). Com base nos
so relacionado à localização geográfica (áreas estudos deMontenegro (1999; 2000), Mello
rurais e pequenas cidades) e ao nível de renda Justo (idem, p. 54) argumenta ainda que, embo­
dos usuários (pobres) (p; 131). Pará ela, a desi­ ra o governo se interessasse em financiar o sane­
gualdade social, historicamente constituída no amento apenas com as receitas tarifárias, o
país, precederia e condicionaria esse déficit de FGTS dispunha de recursos suficientes para
acesso aos serviços por parte da população. realizar a universalização do saneamento no
A permanência desse déficit de acesso pode Brasil até 2010. Tais recursos foram, no entan­
ser explicada, segundo a autora, em função do to, utilizados para o pagamento dos juros da
próprio modelo capitalista de acumulação ado­ dívida pública do país.
tado, excludente e periférico. Esse modelo, por Em 1999, no acordo de ajuste estrutural
sua vez, integra um sistema internacional de firmado com o FMI, o governo se comprome­
poder, que não pode ser desconsiderado. Dessa teu a incluir o saneamento no programa de
forma, as políticas sociais brasileiras sofreriam, privatizações do Brasil, considerado um dos
portanto, dupla pressão: uma de natureza exó­ mais ambiciosos do mundo (Brasil/FMI, 1999),
gena, outra de natureza endógena ao padrão segundo palavras do próprio documento.
de desenvolvimento nacional. Sobre a primei­ Conforme a engenheira Patrícia Borja (2004;
ra, a autora sustenta que a mesma lógica que, 2005), as instituições financeiras internacio-

12
nais vêm atuando na definição da política de marcado pela concentração de renda {idem, ibi­
saneamento do Brasil desde o início do século dem , pp. 234, 259). Embora apontem essa li­
XX e nunca deixaram de atuar desde então. gação, tais autores não aprofundam a discus­
Assim como os demais autores, ela defende que são, não esclarecendo os modos pelosquais esse
"a diretriz neoliberal influenciou dramatica­ “contexto crônico de crise social” vem afetando
mente o setor de saneamento”, determinando especificamente o setor de saneamento.
“uma redução drástica dos investimentos no Diferentemente da abordagem verificada
setor” (idem , 2005, p. 5), mas acrescenta que nos autores anteriores, á corrente neo-institu-
isso deu com vistas a um objetivo definido, a cionalista das Ciências Sociais valoriza, de for­
saber, à sua privatização. Essa opinião é igual­ ma central, o papel das instituições no com­
mente compartilhada por outros autores, como portamento das polídcas e dos atores polídcos.
Oliveira Filho e Moraes (1999), Rezende e Desse modo, as dinâmicas ínsritucionais espe­
Heller (2002). cíficas e próprias das políticas setoriais da área
Borja (2005, p. 5) afirma que as IFIs atua­ social e a capacidade de intermediação de inte­
ram decisivamente na definição das estratégias resses na arena setorial adquirem relevância cen­
adotadas por FHC para privarizar esses sem- tral nas análises neo-insdtucionalistas sobre polí­
ços, entre as quais, podemos listar a limitação dcas públicas. Nilson Costa (2002, pp. 13-21),
de recursos aos municípios interessados em in­ por exemplo, afirma que a estabilização macro­
vestir no setor e a execução de programas foca­ econômica afetaria sim severamente alguns se­
lizados. Para comprovar sua tese, Borja enume­ tores de política social, como o saneamento e a
ra as iniciativas governamentais tomadas no habitação, mas não aqueles nos quais as coali­
campo legal e financeiro para dar suporte à fu­ zões de interesses tiveram capacidade de mobi­
tura privatização do setor, o que incluiu, entre lização e de acomodação de interesses, como foi
outras medidas, a estrangulacão dos operado­ o caso da saúde. Para ele, diferentemente do
res públicos desses serviços, também destacada que ocorreu no setor de saneamento, em que se
por Oiiveira Filho (e Moraes, 1999, s.d.) e Re­ verificou a focalização de programas sociais ao
zende e Heller (2002), Apesar de ser explícita longo da década de 1990, na saúde a gover­
em focar o papel das IFIs na defimção da agen­ nança setorial teve sucesso na estabilização dos
da para o setor, Borja não considera, porém, e gastos públicos federais, sem alterai" os funda­
nem mesmo menciona, o papel e a atuação dos mentos da proposta da universalização pela
outros grupos de interesse ligados a ele, como descentralização.
os profissionais da área e as associações munici­ Ao analisar as transformações das políticas
pais e estaduais de saneamento, que resistiram públicas e das novas formas de gestão propos­
arivamente à privatização desses serviços. tas para o setor de saneamento nos anos 1990,
Na mesma linha, Rezende e Heller (ibi­ o arquiteto Zveibil concluiu, com ba^e na teo­
dem , p. 258) concordam com a idéia de que “a ria de Claus Offe (1984) sobre os grupos de
atuação do poder público pretende favorecer a interesse, que o veto do presidente ao Projetó
acumulação privada do capital, a concentração de Lei n° 199/93:
de renda e o crescimento dás oligarquias nacio­
nais, representadas pelo setor financeiro e pelas [...] consrimíti-se num forre rompimènro da
grandes empreiteiras”, mas acrescentam que a aliança entre Estado e os grupos de interesse,
situação do saneamento reflete uma crise maior na medida em que a construção desse proje­
do país, de um “contexto crônico de crise social”, to de lei envolveu grande articulação dos
gerado por um modelo de desenvolvimento agentes do setor e também da burocracia

13
federal (ainda que em um cenário de fragili­ período por ele analisado ocorreram}além das
dade institucional) com os representaQtes restrições macroeconômicas, devido aos seguin­
legislativos (Zveibil, 2003, pp. 88-9). tes aspectos principais: (1) constrangimentos
de recursos como instrumento de pressão para
Por tudo isso, acabou gerando: privatização; (2) limitações récmco-burocráti-
cas na relação demandantes-operacionalizado-
[...] forte reação que conduziu à criação da res de recursos e interesses da tecnoburocracia
Frente N acional pelo Saneamento, congre­ das principais agências envolvidas no financia­
gada por várias entidades do setor, que con­
mento; e (3) reduzidas intersetorialidade, inte-
testaram conceitos e princípios fundam en­
gralidade das ações, descentralização e controle
tais do PM SS e se mobilizaram para obstruir
a aprovação dos projetos de lei formulados
social. Como vemos, mesmo considerando os.
dentro do Programa ( idern., p. 103). fatorès exógenos ao setor, ele conclui que “não
foram apenas motivos externos ao setor que
Para o autor (p. 102), “a cisão entre os ato­ determinaram a baixa efetividade e eficácia da
res do setor, a radicalização dos conflitos sobre política; há razões endógenas no setor para os
paradigmas cruciais para a definição de políti­ resultados alcançados, que precisam ser reco­
cas e a incapacidade do PMSS em construir nhecidos e enfrentados” (p. 210).
uma proposta mitigadora desses conflitos” in­ Nessa mesma linha de preocupação, o
viabilizaram a transformação das propostas de economista César Saiani (2007i p. 187) enu­
políticas para o setor em legislação federal du­ mera uma série de questões institucionais, fis­
rante toda a gestão FHC. Noutras palavras, esse cais e internas ao setor no BrasiS, que, na sua
processo engessou a criação de uma nova enge­ ótica, vem restringindo a expansão dos investi­
nharia institucional para atender às demandas mentos:
do setor de saneamento no Brasil.
[ . . .] (i) problemas institucionais - fragmen­
Outro autor que chama, a atenção para as
tação das responsabilidades e dos recursos
questões endógenas ao setor é o engenheiro federais, indefinições regulatórias, irregulari­
André Monteiro Costa (2003, p. ix). Para ele: dades contratuais; (ii) poucas fontes alterna­
tivas de financiam ento; (iii) baixa eficiência
[...] a baixa efetividade alocativa pode ter sido operacional e financeira (fraco desempenho)
decorrente de restrições macroeconôm icas dos prestadores de serviços, especialm ente
e como mecanismo de pressão para a privati­ os públicos; (iv) regras fiscais - metas de
zação dos serviços, tuas tainbém por estraté­ superávit, lim ites de endividamento e con-
gias e procedimentos inadequados do gestor, tingenciam ento de crédito ao setor púbíico;
apontando para problemas técnico-gerenciais. e (v) alta tributação.

Ao avaliar a política nacional de saneamento Para ele, contribui ainda com essa situação
entre os anos 1996 e 2000, o autor afirma que a própria earacterísdca do déficit de acesso aos
a opção preferencial do governo pela privati­ serviços no Brasil, que se encontra intimamen­
zação aponta para “evidências de que Os for- te relacionado ao perfil de renda dos consumi­
muladores (da privatização) não consideraram dores (idem, pp. 262-3).
devidamente as especificidades do setor" (idem, Saiani sustenta ainda que o fato de os pres­
p. 2 1 2 ). tadores públicos estarem submetidos a metas
Para Costa (pp. ix, 209-10), a baixa efeti­ fiscais para a condução estável da política ma­
vidade e eficácia observada no setor durante o croeconômica e mais suscetíveis às interferén-

14
cias políticas governamentais faz aumentar a metas de expansão e universalização com maior
chance de que a prestação de serviços por ope­ eficiência” (Seroa da Motta, 2004, p. 23).
radores púbücos não s e ja tão eficiente quanto Ainda com o foco na gestão, Faria explica a
poderia vir a ser. Ao comparar o desempenho baixaperform ance dos setores de saneamento
de prestadoras públicas e privadas, de natureza em sistemas centralizados e controlados direta­
local e regional, o autor conclui que os serviços mente pelo governo - como predomina no
privatizados e/ou descentralizados de saneamen­ Brasil - attavés da Teoria do Equilíbrio de Baixo
to mostraram-se mais eficientes que os geridos Nível (Faria et a i, 2003, pp. 115-40). Segundo
pelos operadores públicos centralizados. Por essa teoria,
isso, defende a privatização e/ou a descentrali­
zação como as melhores alternativas para a re­ dadas certas condições iniciais e a existência
tomada dos investimentos no setor (p. 267). de um arranjo institucional que não restrinja
a interferência política nas empresas de sanea­
Destaca, porém, que, como o déficit de acesso
mento, cria-se um “oportunismo político"
se localiza em áreas de menor retorno econômi­ para uma prática tarifária com preços abaixo
co do investimento —mais pobres e menos aten­ dos custos dos serviços, desencadeando uma
didas —,a atuação do Governo federal, inves­ série de conseqüências indesejáveis e que
tindo e planejando as ações de todos os agentes reproduzem o ciclo vicioso de baixa perfor­
envolvidos, torna-se fundamental para garan­ mance dos serviços {idem, p. 115).
tir a universalização dos serviços de saneamen­
to (p. 267). Tais conseqüências são refletidas na cober­
Na mesma linha, Toyojidenozaki (2007, tura. Essa teoria, usada para explicar diversos
p. 104) enumera os mesmos motivos que Saia- casos, como o da Argentina, o do Chile, o do
ni para a crise do setor, mas acrescenta ainda Peru, o do Equador e, mais recentemente, o do
que, nos casos por ele estudados, públicos e Brasil, sustenta que o arranjo insdtucional em
privados, relativamente bem-sucedidosj o fa­ que se dá a prestação desses serviços é, em últi­
tor tarifário foi condição essencial para a ala­ ma instância, o responsável pela baixa perfor­
vancagem da retomada, da qualidade e da efi­ mance do setor.
ciência dos setviços de saneamento básico. Sem A despeito dos esforços do Govemo federal
ele, diz o autor, dificilmente a prestadora con­ em privatizar o setor, as tentativas dos governos
seguiria angariar recursos para o investimento estaduais em privatizar as respectivas concessio­
no setor. Embora afirme que a privatização nárias de saneamento em vários estados brasilei­
possa até ser uma alternativa, Toyojidenozaki ros durante o governo FHC esbarraram na im­
alerta que “ela, por si só, não garante um bom possibilidade de se transferir as concessões dos
resultado” (idem, p. 105). O engenheiro Seroa serviços municipais englobados nesses esrados
da Morta, do Ipea, concorda e acrescenta que aos investidores privados, sem prévia autoriza­
“a ausência de regulação tarifária tem dissipado ção e compensação aos municípios conceden-
as eficiências e permitido a prática de tarifas res. A já citada indefinição jurídica a respeito
monopolistas” (Seroa da Motta e Moreira, da competência em relação ao setor provocou
2004, p. 2). Em seus estudos, sustenta que, sérias disputas judiciais entre estados e municí­
“na ausência de incentivos à eficiência, os ope­ pios em todo o país, o que acabou por criar um
radores dissipam o seu potencial de produtivi­ obstáculo jurídico-instirucional seríssimo para
dade e aplicam tarifas mais altas” (p. 17). Para o investimento em municípios que desejam
ele, a atenção deve se concentrar “na discussão romper as concessões com o Estado e privatizar
de uma política tarifária que incentive atingir ou municipalizar seus serviços de saneamento.

15
Segundo o raciocínio de Arretche (1999, ções em qualquer área de políticas públicas
p. 118), tal obstáculo teria sido uma das causas - na ausência de imposições constitucionais
para que a privatização desses serviços não tenha - está diretam ente associada à estrutura de
evoluído. Para essa autora, as empresas de água incentivos oferecida pelo nível de governo
e esgoto, privadas ou públicas, consideram des­ interessado na transferência de atribuições
{ibidem, p. 119).
vantajoso investir vultosas somas em obras desse
porte numa realidade de insegurança jurídico-
institudonal elevada. Dessa forma, diante do Daí a inferência a respeito do setor de sa­
risco, não investem. Para municipalizar esses neamento.
serviços, os municípios teriam que, segundo Embora concorde com Arretche sobre a
Arretche, “romper seus contratos de concessão atribuição de riscos devido à indefinição jurí-
com as empresas estaduais, o que implicaria dico-institucional, o sociólogo Vargas (2005,
uma longa batalha jurídica com alto risco de p. 35) discorda sobre a improbabilidade da
insucesso do ponto de vista legal" (ibidem , p. municipalização ou privatização desses servi­
118). Além disso, teriam ainda que “arcar com ços. Em seus estudos, ele afirma que, apesar
a parcela de investimento já realizada pela em­ desses riscos, a privatização j;í se encontra em
presa estadual e realizar vultosos investimentos andamento: não pela venda das companhias
concentrados no tempo” (idem). estaduais, mas pela via da municipalização.
Para as empresas estaduais, por sua vez, tal Vargas não se refere somente aos municípios
indefinição envolveria também enfrentar lon­ que não aderiram ao Planasa, mas fundamen­
gas batalhas judiciais para impedir a rescisão de talmente aos municípios descontentes com as
municípios ricos nos contratos de concessão, concessões das companhias estaduais, que ora
dos quais dependem, via tarifação, para garan­ se finalizam após vinte ou trinta anos de con­
tir o financiamento dos demais municípios trato na maior parte do país, e que dispõem
pobres da região, os quais não possuem capaci­ desde 1995 dé um instrumento legal para pri-
dade técnico-administradva e nem econômica vatizar os seus serviços: a Lei de Concessões.
para investir nessa área. Como se pode perceber, o enfoque que,
Dessa forma, para a autora, que analisa a nos autores anteriores, passou pelas questões da
municipalização de cinco políticas sociais nos condicionalidade macroeconômica do país, da
anos 1980 e 1990, entre elas a de saneamento, gestão e eficiência publico/privada da prestação
municipalizar esse tipo de serviço implicaria de serviços públicos e da questão técnico-geren-
para os municípios, ou para as empresas priva­ cial das instituições responsáveis pela gestão do
das contratadas por estes, arcar com elevados setor deu lugar, em Arretche, à questão da inse­
castos jurídicos e financeiros para obter a trans­ gurança juridico-institucionai para explicar o
ferência dessas funções. ínexistindo programa refreamento dos investimentos privados e/ou
federal ou estadual que minimize esses cusros municipais no setor. Enquadram-se nessa linha
através de incentivos, é improvável, mas não outros autores, como, por exemplo, Turolla
impossível, que ocorra a municipalização ou a (1999; 2002). Para ele, durante os anos 1990,
privatização desses serviços. Nessa linha de ra­
ciocínio, Arretche afirma que
ocorreram avanços no diagnóstico e na apre­
sentação de soluções dos principais proble­
em um Estado federativo, caracterizado pela mas do setor, mas as ações concretas foram
efetiva autonom ia política dos níveis subna- lim itadas pelo impasse legislativo que opôs
cionais de governo, a assunção de atribui­ frontalmente governadores a prefeitos e pela

16
falta de definição das responsabilidades pe­ grande destaque, porém, foi a edição, já no se­
las políticas públicas” (2002, p. 23). gundo mandato, da chamada Lei do Sanea­
mento (Lei n° 11.447/2007). O tão esperado
Assim, ele conclui que “o estabelecimento marco reguiatório, ainda não regulamentado
do marco reguiatório específico é o principal até hoje, estabeiece as diretrizes e bases da Polí­
problema a ser atacado no setor de saneamento tica Nacional de Saneamento Básico e enume­
brasileiro”, o qual “consiste na aprovação da ra entre os seus princípios a universalidade, a
Política Nacional de Saneamento e na sua re­ integralidade, a eficiência, a sustentabilidade
gulamentação no nível dos poderes conceden- econômica, a disponibilidade e a qualidade da
tes” (idern, ibidem). prestação de serviços e o controle social.
Justamente para resolver esse entrave, o Essa Lei, considerada uma vitória pelas en­
Presidente FHC tentou aprovar, em regime de tidades representativas do setor, não interfere
urgência, o Projeto de Lei n° 4.147, de 2001, na discussão entre estados e municípios acerca
no qual se buscava transferir o poder conce- da competência sobre a prestação dos serviços,
dente desse serviço aos estados nas regiões me­ pois se refere ao poder concedente como o “ti­
tropolitanas, segundo orientação expKcita do tular do serviço de saneamento”. Dessa forma,
Banco Mundial (Borja, 2005, p. 3). Para essa deixa para o STF a tarefa de definir o ente
entidade, “a solução do poder concedente era o competente nessa atividade. A lei especifica
passo crítico para permitir o desenvolvimento também as formas de concessão do serviço e os
proveitoso da participação da iniciativa priva­ princípios de regulação para o setor. O marco
da no setor de saneamento no Brasil” (idem, reguiatório funciona como um instrumento
ibidem ). A expectativa era de que, uma vez di­ fundamental para permitir maior segurança
rimido o conflito da titularidade em favor do jurídica aos investidores do setor.
estado, os governadores pudessem privauzar, Çomo os dàdos de cobertura aqui utiliza­
de forma segura para os investidores privados, dos limitam-se ao ano máximo de 2006, últi­
suas companhias estaduais, a exemplo do que mo ano do primeiro mandato do Presidente
ocorreu no setor bancário. Contra esse possível Lula, o escopo deste estudo não abrange as
cenário, diversas entidades representativas do modificações resultantes da edição dessa Lei.
setor recrudesceram sua resistência ao Governo Desse modo, embora se observe a permanência
federal, mobilizando-se para impedir a aprova­ do caráter residual no aumento da cobertura
ção dessa lei até o fim do mandato em 2002. até o fim de seu primeiro mandato, não há
Com a posse do Presidente Lula em 2003, ainda como avaliar o impacto do recém-lança-
o projeto foi retirado do Congresso em 2005.2 do marco reguiatório sobre a mesma, dada a
Importantes avanços institucionais em relação insuficiência de dados sobre o período. Isso é
ao setor foram feitos a partir de então. Pode-se tema para estudos futuros. O grande desafio
citar, entre outros, a criação do Ministério das agora é superar o déficit brasileiro nos serviços
Cidades (2003), da Secretaria Nacional de Sa­ de saneamento, tendo em vista as metas de
neamento Ambiental e a edição da Lei dós ampliação da cobertura para 2015 e de univer­
Consórcios (Lei n° 11.107/2005), que toma salização do acesso até2025.
viável a execução e a gestão associada dos servi­
ços de saneamento entre entes públicos. Além Conclusão
disso, o diálogo com as entidades representati­
vas do setor, interrompido durante o governo No presente trabalho, viu-se que o esgota­
FHC, foi retomado com o novo governo. O mento do Planasa redundou, a partir dos anos

17
1990, numa crise institucional do setor de sa­ ços institucionais e arenas setoriais deci­
neamento, que resultou no aumento residual sórias da política de saneamento (Cos­
da cobertura populacional desses serviços até ta, 1998, 2002; Zveibil, 2003);
2006. A permanência dessa tendência compro­ 3) a ausência de um arcabouço jurídico-
mete as metas de ampliação da cobertura para institucionaí consolidado, que assegu­
2015 e de universalização do acesso até 2025 - rasse os investimentos através da exis­
O objetivo desta revisão foi investigar è tência de um marco regulatório bem
identificar as principais explicações presentes definido, incluindo aí a questão da ti­
na literatura nacional a respeito do baixo de­ tularidade sobre os serviços (Arretche,
sempenho setorial do saneamento no Brasil 1999; Turolla, 1999, 2002; Vargas,
durante as gestões FHC (1994-2002) e Lula 2005);
(2003-2006). 4) questões institucionais de natureza téc-
A literatura disponível concentrou-se forte­ nico-gerenciais, ou seja, de gestão, que
mente na análise setorial durante os dois man­ dizem respeito ao planejamento, às ca­
datos de FHC. Apesar das evidências de perma­ racterísticas e à eficiência das institui­
nência do padrão residual observado, apenas o ções (empresas públicas e/ou privadas)
estudo de Vargas (2005) avaliou o desempenho envolvidas na prestação dos serviços de
setorial do primeiro mandato de Lula. Pode-se saneamento (Costa, 2003; Saiani, 2007;
inferir, no entanto, que as explicações para tal Seroa da Morta, 2004; Faria et al., 2003,
desempenho no períqdo em questão permane­ Toyojidenozaki, 2007).
cem válidas para o governo Lula, uma vez que E importante destacar que, das razões apon­
os entraves identificados peSos autores para o tadas pelos autores analisados no presente traba­
desenvolvimento do setor não foram subita­ lho, para a explicação do baixo desempenho
mente eliminados de um governo para o outro. setorial do saneamento no Brasil, nenhuma foi
De acordo com a literatura analisada, qua­ por eles considerada “determinante” dessa situa­
tro foram, grosso modo, as explicações dom ínan- ção. Em todos os textos, houve a preocupação
tes para a crise e o baixo desempenho do setor em se enunciar os diversos fatores que, combina­
nas duas últimas décadas: dos, contribuíram para a crise do setor e seu
1) o ajuste estrutural vivenciado pelo país baixo desempenho de cobertura, tendo em vis­
a partir da década de 1990, o qual im­ ta as metas de universalização. E, em quase todos
pôs sérias restrições aos investimentos os estudos analisados, essa combinação se repe­
nas áreas sociais, associado à transfor­ tiu. A ênfase dada a cada um desses fatores.pelos
mação do modelo de acumulação capi­ autores foi o diferencial que serviu de base para
talista do Estado brasileiro, que alterou a divagem das hipóteses compiladas nesta revisão.
a percepção do saneamento de uma ati­ Outro ponto a ser destacado diz respeito à
vidade pública essencial para uma ati­ inserção do setor de saneamento na agenda polí­
vidade econômica e empresarial (Fag- tica brasileira. É de espantar o fato de que o
nani, 2005; Rezende e Heller, 2002 ; maior plano voltado para o saneamento básico
Mello Justo, 2004; Oliveira Filho e tenha sido realizado durante o regime militar,
Moraes, 1999; Oliveira Filho, s.d.; Bor- não tendo sido, após o seu fim, substituído por
ja, 2004, 2005; Mercedes, 2002); outro de mesmo porte ou até maior no período
2) a incapacidade de organização e inter­ democrático recente, ao menos até 2006. Na
mediação dos grupos de interesse e de literatura revisada para; este artigo, este tema
seus conflitos (lutas políticas) nos espa­ constituiu uma lacuna, tendo sido abordado

is
tangencialmente somente por dois autores: o acesso ao saneamento básico? Ê uma questão
Mello Justo (2004) e Mercedes (2002). Investi­ para reflexão. Não existem ainda evidências con­
gar as razões para que o setor tivesse sido contem­ clusivas que demonstrem que a operação de sis­
plado na agenda política autoritária, mas não temas de saneamento por empresas privadas é
na democrática pós-1988 constitui um gran­ favorável aos estratos mais pobres em termos
de desafio para a agenda de estudos políticos de melhor acesso e maior qualidade de serviços.
sobre saneamento, especialmente porque o aces­ Por fim, é importante destacar que a análi­
so a esses serviços se trata de uma demanda se dè alternativas para o seror de saneamento
social amplamente reivindicada pela agenda deve considerar, para além da expansão da ca­
pública brasileira. pacidade física de atendimento com vistas à
Todas as obras, com exceção de Nilson Costa universalização, o estabelecimento de políticas
(2002), dialogaram direta e intensamente com que assegurem condições aos usuários pobres
a questão da privatização dos serviços de água e de arcar com os custos da conexão e da presta­
esgoto no Brasil, o que demonstrou que esse ção, especialmente no segmento residencial,
tema é inevitável e bastante relevante na agenda cativo e detentor de menor poder de barga­
de pesquisas sobre a política recente de sanea­ nha. Embora a privatização não tenha sido vi­
mento no país. Embora reconheça que o debate, toriosa no Brasil, os serviços de saneamento são
originado em tempos de ajuste macroeconô­ produzidos e distribuídos como uma mer­
mico, se faz necessário, é preciso também consi­ cadoria qualquer peiâ maioria das empresas
derar a seguinte premissa que envolve o tema: públicas e algumas privadas. Qual o efeito des­
privatização pressupõe atividade empresarial e te padrão de prestação sobre o acesso dos estra­
mercado consumidor de bens e serviços consoli­ tos pobres? Não se tem resposta. Essa é uma
dado. Esta não é ainda a realidade brasileira, questão espantosamente ausente na literatura
dada a enorme desigualdade social com a qual analisada neste trabalho: as condições de justi­
vivemos. Tendo em vista a característica do défi­ ça redistriburiva no setor de saneamento, espe­
cit de atendimento no país —pobres que não cialmente no que diz respeito ao custo de aces­
podem pagar pelo serviço —diagnosticado pelos so e de utilização desses serviços diante das mais
especialistas aqui enunciados, como se poderia que conhecidas limitações de renda da maioria
mercantilizar um direito essencial à vida como das famílias brasileiras.

Notas

1 O PL n° 4.147/01 foi retirado de tramitação em 24/5/2005, conforme deferimento aposto ao


Aviso n° 497/05, da Presidência da República, referente à Mensagem n° 295/05, que solici­
tou, nos termos do art. 104, parágrafo 5o, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados,
a retirada da proposição.
2 O gasto federal em saneamento inclui o gasto direto da União e suas transferências aos estados,
municípios e distrito federal, além do FGTS. Informações sobre o FGTS em 2006 não estão
dispo níveis nesta fonte. Para maiores informações sobre a metodologia de cálculo, ver a ficha de
qualificação e o anexo IV referente ao capítulo denominado “recursos” do IDB Brasil 2007,
disponível em: <http//www.datasus.gov.br>.

19
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Artigo recebido em outubro/2008


Aprovado em dezembro/2008

Resumo

A Crise do Setor de Saneamento Básico no Brasil: uma Revisão Bibliográfica

A recessão econôm ica dos anos 1980 e as m udanças decorrentes da redemocratização reduziram o
financiamento do saneamento básico no Brasil. A extinção do Plano Nacional de Saneamento (Planâ-
sa) em 1991 e a ausência de um a política pública alternativa a partir de então demonstram a baixa
prioridade dada ao setor nas duas últim as décadas. D iante disso, o aum ento residual da cobertura
populacional de água e de esgotamento sanitário dos últimos anos ameaça a universalização do acesso ao
saneamento básico no Brasil. O objetivo deste trabalho é identificar, na literatura nacional, as explicações
para o baixo desempenho setorial do saneamento no país durante as décadas de 1990 e 2000. As fontes
para a seleção da literatura foram a BVS do Brasil e o portal de teses e dissertações da Capes, que
contemplam os campos da economia, planejamento urbano e regional, políticas públicas e saúde coletiva,
entre outros.

Palavras-chave: Revisão bibliográfica; Política de saneamento básico; Políticas urbanas:

22
Abstract

The Crisis ofW ater Supply an d Sewerage Sector in Brazil: a Bibliographic Review

The economic recession in the 1380s and the institutional changes brought by the re-democratization
process dried up the resources to finance the sanitation sector in Brazil. The extinction o f National
Sanitation Plan (Planasa) in 1991 and the lack o f an alternative policy for the sector have shown the low
priority given to the area. As a consequence, the marginal changes in levels of warer supply and sanitation
coverage threatens the universalization o f access. The objective of this paper is to identify, in the current
literature on sanitation policies, the theses that w ould explain the marginal changes of Brazilian water
supply and sanitation policy during the decades of 1990 and 2000. Both the BVS from Brazil and the
Capes website for papers and dissertations were chosen as main sources for the research because of their
great range of knowledge areas, such as economics, urban and regional planning, public health, and others.

Keywords: Bibliographic review, Sanitation policy; Urban policies; W ater supply policies.

Résumé

La Crise du Secteur d ’A ssainissement d e Base üu Brésil ; u ne Révision Bibliographique

La récession économique des années 1980 et les changements liés à la redémocratisation ont réduit le
financement de l’assainissement de base au Brésil. L’extinction du Plan National d ’Assainissement (Pianasa)
en 1991 et l’absence d’une politique publique alternative démontrent, à partir de ce moment, l’absence de
priorité accordée au secteur au cours des deux dernières décennies. Ainsi, la croissance résiduelle de l’accès
de la population à l’eau potable et à l’assainissement de ces dernières années menace l'universalisation de
l’accès à l’assainissement de base au Brésil. L’objectif de ce travail est d’identifier, dans la littérature
nationale, les explications concernant la basse performance sectorielle de l'assainissement au Brésil pendant
les décennies de 1990 et 2000. Les sources pour la sélection de la bibliographie ont été la BVS du Brésil et
le site web de thèses et dissertations de la Capes (Coordination pour le Perfectionnement du Personnel de
l’Enseignement Supérieur du m inistère brésilien de l’Éducation), qui contem plent, entre autres, les
domaines de l’économie, de la planification urbaine et régionale, des politiques publiques et de la santé
collective.

M ots-clés: Révision bibliographique; Polidque d ’assainissement de base; Politiques urbaines.

23
^NUEVA
SOCIEDAD
www.nuso.org
Director: Joachim Knoop
Jefe de redacción: José Natanson

La integración
fragmentada
219
E N E R O ^FE B R E R O 20 0 9

COYUNTURA: Andrés Pérez-Baltodano. Ei regreso dei


sandinismo al poder y la cristalización dei «Estado-mara».
Carmelo Mesa-Lago. La ley de reforma de la prevision
social argentina. Antecedentes, razones, características y
análisis de posibies resultados y riesgos.
APORTES: Julio Sevares. Argentina y Brasil: diferente
macroeconomia, pero la misma vulnerabilídad.
TEMA CENTRAL: Félix Pena. La integración dei espacio
sudamericano. ^La Unasur y el Mercosur pueden com-
plementarse? Fernando Rueda-Junquera. ^Qué se
puede aprender dei proceso de integración europeo?
La integración económica de Europa y América Latina
en perspectiva comparada. Tullo Vigevani / Haroldo
Ramanzini Jr. Brasil en e! centro de ia integración. Los
câmbios internacionaies y su influencia en la percepción
brasileiia de la integración. Carlos Malamud. La crisis
de la integración se juega en casa. Francisco Durand.
El eje Lima-Brasiíia (donde algunos entran en arcos y
salen con flechas). Josette Altmann Borbón. El a l b a ,
Petrocaribe y Centroamérica: ^intereses comunes?
Andrés Serbin. América dei Sur en un mundo multipo­
lar: ^es ia ünasur la alternativa? Gerardo Caetano.
Integración regional y estrategias de reinserción interna­
cional en América de! Sur. Razones para la incertidumbre.

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nuestro próximo número


M éxico
Tecnologia, Informação e Sociedade: uma Sistematização de
Conceitos e Debates

D aniel Guerrini e Ronaldo Bàltar

introdução ser organizadas em três eixos de análise, quais


sejam:
Esce trabalho tem como foco o debate em 1) o primeiro e fundamental deles é aponta­
torno das Tecnologias da Informação e Comu­ do como o surgimento de pesquisas fei­
nicação (TIC) e seu desenvolvimento na so­ tas sobre o conceito de informação ad­
ciedade contemporânea. Sendo assim, a neces­ vindo principalmente de teóricos das
sidade de sistematizá-lo, para que se tenham Ciências Físicas e Matemáticas durante
mais claras as diversas concepções que circun­ e alguns anos após a Segunda Guerra
dam o tema ao longo do tempo, mostrou-se Mundial. Com essas pesquisas desen­
evidente. Foi possível, então, analisar correntes volve-se o conceito de informação e pas­
teóricas diversas entre si, mas que de alguma sa-se a estudar a importância desse ele­
maneira se referiam ao assunto em questão. Com mento na organização dos processos
isso, uma vez apreendidas suas particularidades, naturais, maquinísticos e também so­
semelhanças e diferenças, pretende-se oferecer ciais. Vê-se, portantoj nessas obras o ali­
elementos necessários a uma reflexão sociológi­ cerce sóbre o qual se desenvolveram
ca mais apurada acerca das TIC. mais tarde muitas teorias e metodolo­
O percurso da mudança das TIC será en­ gias nas Ciências Sociais, inclusive aque­
tão trabalhado conforme os parâmetros estabe­ las que aqui serão trabalhadas a respeito
lecidos nó quadro conceituai seguir. O debate das TIC. Isto, por terem dado início ao
é amplo e comporta diferentes linhas teóricas e debate em torno da informação, a sua
enfoques da realidade. 0 procedimento de sistematização conceituai, como tam­
análise do material coletado neste trabalho, para bém por terem sido responsáveis pelo
o exercício de sua sistematização, foi o de iden­ desenvolvimento das primeiras máqui­
tificar eixos temáticos e, portanto, estabelecer nas mais sofisticadas que trabalhavam
cortes transversais nos textos analisados para com este “novo” elemento e as discus­
construir um quadro conceituai que permita sões acerca dos usos possíveis que a elas
de algum modo guiar posteriores leituras. Des­ se poderia dar;
sa forma, também se pretende lançar luz ao 2) no segundo eixo, estabelecer-se-á um
estado atual do debate em torno da sociedade víncuio entre o avanço científico e tec­
com relação a suas tecnologias através da iden­ nológico citado acima e as teses do pós-
tificação de suas matrizes originais. industrialismo surgidas por volta das
décadas de 1950 e 1960. Alguns teóri­
Quadro Conceituai
cos viam uma valorização da impor­
Para estudar a relevância das TIC na so­ tância dos cientistas e dos especialistas
ciedade, as discussões a esse respeito puderam numa sociedade de crescente industria-

BIB, São Paulo, n° 66, 2o semestre de 2008, pp. 25-46. 25


lização e mecanização em ambos os pó­ tecnológico na sociedade contemporânea, será
los da Guerra Fria. São as teorias da tec­ desenvolvido a seguir o conceito de informa­
nocracia) um “sistema de organização ção e seu imbricamento com o de tecnologia a
política e social fundado na supremacia partir da análise da realidade empírica que sus­
dos técnicos” (Houaiss, 2001). Esses citou a elaboração desses conceitos.
trabalhos foram importantes na medi­ Assim, a partir da segunda e terceira dé­
da em qué precederam em grande par­ cadas do século XX, surgem tecnologias que
te as atuais discussões em torno da “so­ têm seu diferencial no fato de que não mais
ciedade da informação” e destacaram ampliam e intensificam apenas a força física do
o papel da informação e do avanço tec­ ser humano, mas passam a trabalhar com in­
nológico e científico nas mudanças que formações. Homeostatos, servomecanismos,
este cenário causava ou poderia causar máquinas de criptografia, todas são fruto de
na sociedade como um todo; intensas pesquisas, mormente impulsionadas
3) o terceiro eixo aparece como o mais tar­ pelo financiamento governamental militar e de
dio dos debates acerca das TÍC em empresas diretamente ligadas a esses setores,
desenvolvimento, retomando questões como foi o caso da união entre governo estadu­
já presentes no primeiro eixo no que se nidense, seu Departamento de Defesa e a Ame­
refere às críticas desenvolvidas porNor- rican Telephone & Telegraph (AT&T). Tais
bert Wiener (1968) às organizações es­ máquinas não apenas desencadeiam uma ação
tritamente hierárquicas e burocra­ mecânica quando acionadas, mas são capazes
tizadas. Flá, portanto, um diálogo com de alterar essas ações quando necessário, estan­
ãs teses do pós-industrialismo, citadas do sensíveis às “respostas” de seu meio, decodi­
acima, acerca das mudanças sociais e da ficando-as.
inovação tecnológica. Essa “novidade” levou alguns cientistas a
Estas divisões servem como recurso analí­ trabalharem o conceito de informação para
tico e a todo tempo se entrecruzam e se entender o funcionamento de tais mecanismos.
desdobram umas nas outras, sendo imprescin­ Se um mecanismo cibernético, conforme des­
dível, por vezes, traçar paralelos entre as mesmas crito por Wiener (1968), é sensível às respostas
nas diferentes seções. É importante também do meio às suas próprias ações e, a partir disso,
deixar clara a limitação do trabalho. As discus­ capaz de modificar não só suas ações, mas tam­
sões e implicações em que os conceitos de infor­ bém toda uma política de ações, ele está neces­
mação e tecnologia tiveram parte são i nquesrio- sariamente passando por um processo de apren­
navelmentè mais extensas do que aquelas aqui dizagem. Um processo que surge apenas com a
expostas. O objetivo, portanto, não é esgotar o troca de informações, não de matéria nem de
assunto, mas contribuir para o debate através eletricidade. Distinção fundamental para a de­
de uma possível sistematização, apontando para finição desse elemento.
o atual estado dessas discussões, seus avanços e Wiener percebeu, com o desenvolvimen­
laclmás percebidos. to de determinadas máquinas, a possibilidade
de uma teoria das mensagens contribuir no
Bases Teóricas dos Conceitos estudo dos fenômenos de controle e organi­
de Informação e Tecnologia zação das máquinas, assim como de organis­
mos vivos, humanos ou não. A informação,
Autes de entrar nas obras que analisam es­ nesse sentido, desempenha papel fundamen­
pecificamente os desdobramentos do avanço tal. Sob esse prisma, não há diferenciação entre

26
tipos de “mecanismos” conquanto estes sejam rou-se pela matematização e quantificação da
capazes de crocar informações com seu meio. informação para seu uso prático pelos labora­
Ela é a medida de organização de uma socie­ tórios da AT&T, empresa para a qual trabalha­
dade, de um organismo biológico ou das va e que à época detinha o monopólio dos ser­
máquinas. viços de telecomunicações dos Estados Unidos.
Para a cibernética de Wiener, a troca de E importante ainda assim destacar as noções
informações se faz presente nas mais variadas gerais dessa teoria que tiveram profundas in­
relações e não pode ser tomada de maneira fluências nas ciências a partir de então.
puramente formal, uma vez que seu conteúdo Como mencionado, para Shannon e Wea­
definirá as ações e a organização a serem ado­ ver se tratava muito mais de estabelecer parâ­
tadas. Do ponto de vistá da cibernética, metros para quantificar a informação. Sua teo­
portanto, todo organismo, natural ou arcificiai, ria, portanto, foi alvo de maior formalização
pode ser entendido como um padrão de in­ para poder servir aos objetivos práticos de en­
formação que se relaciona com o meio externo, vio e codificação de mensagens quando com­
exercendo e recebendo influências. Para pôs, durante a Segunda Guerra, o corpo de
Wiener, portanto, a teoria das mensagens é o pesquisadores da Bell Laboratories, laboratório
estudo da transmissão de informações com o de pesquisa da AT&T, que era subsidiada pelo
objetivo de controlar um determinado meca­ National Defense Research Committee dos Es­
nismo (máquinas, seres vivos, ou a sociedade). tados Unidos.
Esse é o sentido de seu conceito de cibernética, Shannon é considerado o responsável pela
palavra que em grego (K vpepvrjrriç) significa conversão de mecanismos analógicos para a lógi­
“piloto”. ca binária dos sistemas digitais, uma diferença
Como fundamento da idéia de controle, substancial em relação à lógica analógica de­
Wiener concebe os processos de retroalimen­ fendida por Wiener em sua teoria cibernética.
tação próprios à transmissão de informações. Enquanto a lógica analógica é sensível à inten­
Assim, a retroalimentação é definida como o sidade gradativa da informação com que está
“ajuste da conduta futura em função do de­ trabalhando, a digital converre-a para conjun­
sempenho pretérito” (idern, ibidem, p. 28} no tos de 0 e 1, levando em consideração apenas
que indica falhas na comunicação e as possi­ duas intencionalidades opostas. Essa aborda­
bilidades de adaptação e, portanto, de apren­ gem formal da lógica binária é que sustenta a
dizagem. Ao emitir um comando (mensagem) programação numérica vigente na computa­
a um receptor, o emissor original deve receber ção tal qual a conhecemos. A importância dessa
deste um “retorno” relativo aos resultados ob­ distinção se dá na medida em que estão, ao
tidos e compará-los com os resultados alme­ menos indiretamente, correlacionados às dis­
jados. Daí abre-se a possibilidade de mudança tinções presentes entre o segundo e o terceiro
da organização original no intuito de alcançar eixo do quadro conceituai apresentado, con­
eficácia na ação. Tal processo desdobra-se em forme se demonstrará mais à frente.
aprendizagem. Há, portanto, sentido nas in­ Ainda que a teoria da informação exerces­
formações transmitidas, ó que impede que seu se declaradamente influência na epistemologia
modelo seja puramente formal. estruturalista de meados do século XX (Matte-
Aqui, no entanto, pode se estabelecer uma larr, 2002; Moles, 1973), a interpretação ob­
correlação com a concepção de informação de jetiva e formalizada do conceito teve também
Claude Shannon e Warren Weaver (1975). A um desdobramento nas. teses tecnocráticas que
pesquisa que esses autores desenvolveram pau- defendem a invasão do pensamento objetivo

27
na esfera das relações econômico-sociais para a estão tanto mais alicerçadas na lógica digital de
solução dos.problemas com maior precisão è controle das variáveis do que na concepção de
racionalidade. Para Bell (1977, p. 381), aprendizagem da cibernética e sua lógica ana­
lógica, mas seriam igualmente impensáveis sem
[...] as decisões fundam entais, referentes ao a compreensão da realidade enquanto um pa­
desenvolvimento da Economia e a seu equi­ drão de informação passível de controle, pres­
líbrio, virão do governo, baseando-se porém suposto de ambas as lógicas.
no patrocínio oficial à pesquisa e desenvol­
vim ento e na análise dos cusros efetivos e
dos custos e benefícios; a elaboração das Tecnologias Digitais da Informação
decisões, devido à natureza intrincadam en­ e Comunicação: a Escolha de um
te entrelaçada de siias conseqüências, assu­ Padrão e sua Alternativa
m irá um caráter cada vez mais técnico.
Antes de falar sobre as concepções das Ciên­
Para esse autor, as tecnologias do intelecto cias Sociais que permearam as análises sobre a
tenderiam a suprimir a necessidade da experiên­ mudança tecnológica das TIC, será interessan­
cia para a obtenção de um conhecimento, con­ te compreender historicamente tais tecnologias.
quanto se pudesse através delas simular a reali­ Apesar de com isso ser necessário buscar infor­
dade com muito mais predsao. O conhecimento mações e conhecer dados próprios ao fazer tec­
científico abstrato seria concebido em sua for­ nológico, será discutido a seguir como também
ma pura e cada vez mais despido de ideologias, nesse âmbito aparecem questões sociais que
logo, objetivo e racionai. A burocracia, os espe­ implicam escolhas tecnológicas.
cialistas e a pesquisa acadêmica seriam os locais Existiu, e continua existindo, uma alter­
por excelência da razão objetiva. O avanço nas nativa à computação digital que prevalece na
teorias estatísticas e matemáticas permitiriam microeletrônica tal qual a conhecemos, qual seja,
até mesmo aventar predições das realidades so­ a analógica. Esta reproduz uma grandeza {en­
ciais futuras. Essas perspectivas tecnocráticas tendida como informação) com que se quer

Quadro 1
Síntese dos Conceitos de Informação

Informação Definição Processo Lógico Caracterização Procedimento


Comunicativo

Para a Cibernética Medida substanti­ Analógico: conce­ A informação carrega um Baseado na aprendiza­
va de organização be uma gradação sentido e, para sua eficácia gem acravés da tentati­
dos objetos em es­ contínua de gran­ no processo de organiza­ va seguida de retroali­
tudo: máquinas ou dezas. ção, depende de um pro­ mentação.
seres vivos. cesso de aprendizagem.

Para a Lógica Medida formal de Binário: concebe A informação está despro­ Baseada na programa­
D igital organização dos conjuntos de duas vida de sentido e, para sua ção prévia. A comuni­
objetos em estudo. grandezas opostas. eficácia no processo de or­ cação obtém sucesso ou
ganização, depende da falha dependendo da
programação prévia que a sua correta codificação.
converte em conjuntos de
duas grandezas opostas.

28
trabalhar por outra. Um circuito analógico cap­ memória volátil que se apaga quando o circuito
ta a variação contínua de uma informação ao é desligado) que poderia ser carregada por pro­
longo do tempo sem codificá-la através da sua gramas desenvolvidos e gravados em discos
formalização binária, O circuito digital tem um magnéticos externos à máquina. Assim, a inter­
alcance restrito no que diz respeito à gradação ferência humana volta a ter lugar, mesmo na
da realidade a que é sensível, já que converte computação digital. Uma questão que será reto­
uma informação {sons, imagens, equações, tex­ mada em outro patamar pelas discussões em tor­
tos etc.) em conjuntos de 0 e 1, ou, grosso modo, no da propriedade intelectual conforme será
em ausências e presenças de sinais elétricos. discutido adiante.
As máquinas analógicas foram desenvolvi­ Esse desenvolvimento tecnológico, que
das paralelamente às digitais, como o Moneta- desembocou no que conhecemos hoje pelas
iy National Income Automatic Computer (Mo- TIC, não terminou, no entanto, com a invenção
niac), na Inglaterra, criado em 1947 para da computação. A interconexão entre termi­
simular o funcionamento da economia daque­ nais é fundamental. Antes do surgimento do
le país. Já com dimensões muito menores que o primeiro computador de mesa, já existia a
Eniac,1 a máquina inglesa utilizava tanques de conexão entre máquinas computadoras, os
água e encanamentos para simular o fluxo da mainframes. A conhecida Advanced Research
economia e investimentos levados a cabo pelo Projects Agency N etW ork (Arpanet), a red e de
governo. Se o Eniac trabalhava uma informa­ computadores desenvolvida pela Defense
ção segundo operações predeterminadas, dan­ Advanced Research Projects Agency (Darpa)
do resultados exatos para cada sicuação que fosse foi o experimento que deu início às pesquisas
requisitado a calcular, o Moniac, tendo sua pro­ em torno de uma rede de computadores em
gramação como sua estrutura física, permitia a que os pesquisadores e militares podiam trocar
interferência direta nesta durante a simulação informações a distância no desenvolvimento
(os tanques de água poderiam ter seu volume de seus trabalhos. O desenvolvimento de com­
máximo diminuído ou aumentado, cada qual putadores menores, aré os microcomputadores
representando um setor da economia, como em 1977 pela companhia Apple, e financeira­
saúde, investimento militar, educação etc.). mente mais acessíveis, foi aumentando o tama­
Entretanto, a perspectiva de que a tecnolo­ nho dessa rede, criada inicialmente por um de­
gia analógica seja mais suscetível de ser repro­ partamento militar, mas que acabou integrando
gramada e de sofrer interferências humanas centros de pesquisa de várias universidades dos
conforme suas necessidades deve ser situada his­ Estados Unidos. Com os computadores, mais
toricamente. No início da computação digital, baratos e menores, a sociedade civil, empresas,
os programas, ou algoritmos, eram, de íãto, ins­ escritórios, e outros países passaram a adquirir
critos nos circuitos das máquinas. A maneira essa nova tecnologia, por vezes criando suas
como estas trabalhariam a entrada e a saída de próprias redes de comunicação e informação.
informações (através, por exemplo, de seu cál­ Essa apropriação civil da tecnologia trou­
culo ou simulação, dependendo da natureza xe de volta algumas preocupações a respeito.
da máquina) estava colocada juntamente aos Quando comandada pelo Darpa, prevaleceu a
seus transístors, no que era chamado de ROM programação prévia segundo os criténos da
Memory, ou Read-Only Memory (uma me­ eficiência e do controle de variáveis. Nessa adap­
mória que.só permite leiturae não alterações). tação para o uso civil, ressurge a preocupação
Isso foi mudando com o desenvolvimento da em se poder interferir na programação das
Random Access Memory (memória RAM, uma máquinas segundo necessidades específicas,

29
possível graças ao desenvolvimento tecnológi­ do tempo. As classificações variam: sociedades
co das memórias de leitura è de acesso já descri­ da informação (Borges, 2000; Demo, 2000)
tas. Esse foi, por exemplo, o sentido da criação, pós-industriais (Bell, 1977); em rede e infor-
em 1985, da Free Software Foundation (FSF) macionais (Castells, 2006); a era do conheci­
por Richard Matthew Srallman. Este progra­ mento (Lévy, 2003); pos-capitalistas (Drucker,
mador, junto a outros, foram contrários às ten­ 1999), entre outras. Mas as concepções que
tativas de empresas tornarem-se proprietárias embasam esses conceitos de sociedade não são
de softwares e da vinculação destes com deter­ homogêneas.
minadas máquinas, tornando-as imodificáveis Alguns autores vêem a sociedade capita­
fora dos limites estabelecidos previamente pe­ lista e/ou seu corolário industriaíista fundamen­
las empresas. A capacidade de interferir na tec­ talmente transformados (Bell, 1977; Drucker,
nologia ganha nova relevância, 1999, Galbraith, 1987). Outros, apesar de re­
conhecerem mudanças sociais e tecnológicas da
A Construção Teórica e Social da sociedade contemporânea, não deixam de cons­
Tecnologia tatar a permanência do capitalismo e do setor
industrial, divergindo entre abordagens mar­
Nesta seção, serão apresentadas as linhas xistas (I.ojkine, 2002) e aquelas mais influen­
teóricas que foram desenvolvidas para a inter­ ciadas, não sem discordâncias, pelas teses acima
pretação das mudanças tecnológicas e das es- mencionadas do pós-industrialismo (Castells,
pecificidades da atual socieda.de com o desen­ 2006). Assim, tais análises serão trabalhadas
volvimento dasTIC, sob o quadro conceituai anteriormente estabe­
Devido à crescente importância no trata­ lecido para que se possa traçar suas diferenças e
mento de informações entre seres humanos, e semelhanças no que diz respeito à compreen­
entre estes e as máquinas, diversos estudiosos são dessa mudança tecnológica em foco.
lançaram mão de novos conceitos para a eluci­ Fato é que, durante a época das descober­
dação de uma sociedade que comporta tais tas da microeietrônica, as expectativas em tor­
mudanças em seus diversos âmbitos ao longo no da tecnologia estavam em conformidade

Q uadro 2
Síntese do Desenvolvimento Tecnológico

Modelos Tecnológicos Definição Primeiros Modelos Desenvolvimento


Ulterior

Tecnologia Analógica Trabalha uma grandeza re­ Estruturas mecânicas e hi­ Desenvolveram-se c ir­
presentando-a de forma dráulicas. Programação ins- cuitos microeletrônicos
contínua. cri ta nestas estruturas, alte­ analógicos, mas suas pes­
ráveis por meio de ajustes quisas são marginais em
mecânicos. relação à digital.

Tecnologia Digital Trabalha uma grandeza co­ Estrutura eletrônica e mi­ Programação pode ser
dificando-a em valores bi­ croeietrônica. Programação desenvolvida fora da es­
nários. inscrita nos circuitos elétri­ trutura física da máquina.
cos, inalteráveis uma vez Retoma-se a capacidade
construídos. de interferir na progra­
mação.

30
com o modelo de transformações trazidas pelas Para Galbraith (1987), se tratava apenas
inovações tecnológicas anteriores; nos ramos das de deixar de lado a preocupação tradicional e
indústrias e do comércio, esperava-se que essa mitológica com a escassez. Numa sociedade
tecnologia reduzisse de maneira drásdca a mão- afluente, a produção irrestrita de bens materiais
de-obra necessária e os custos da produção e se tornava irracional a ponto de ter de criar, an­
das transações. Com o desenvolvimento da tes, a própria necessidade de seu consumo. A
microeietrôníca, os analistas perceberam nos ojeriza da sociedade estadunidense com relação
computadores a possibilidade de avanço ainda a gastos públicos, como impedidva do aumento
maior no sentido de liberar o esforço humano da produtividade, não tinha mais fundamento
das tarefas mais elementares e rotineiras da vida, já que o consumo de bens materiais pressupu­
tornando-o cada vez mais livre e desimpedido nha maior consumo de serviços públicos —con-
para expandir sua potencialidade intelectual comúanre ao aumento do número de auto­
(Abelson e Hammond, 1981; Noyce, 1981; móveis vinha a necessidade de se investir nas
Time, 1978). vias deste transporte, como exemplificava o au­
Essa mudança tecnológica, entretanto, traz tor. Assim, Galbraith defendia a ampliação dos
consigo muitos debates acerca da interpretação serviços e ascensão da nova classe de dentistas
das sociedades contemporâneas. Primeiramente responsáveis pelas pesquisas e pela produção
as TIC emb.asaram o aprofundamento da in­ do conhecimento necessário para racionalizar a
dustrialização após a Segunda Guerra Mundial. permanência de uma sociedade de afluência.
A ciência e a tecnologia, desde o início da in­ Essa sociedade de grande produção e con­
dustrialização, sempre importantes fatores da sumo marginaliza a sustentação de ideologias,
produção material da sociedade,, ganham um como demonstra a proposição de Galbraith.,
caráter cada vez mais sistemático nas suas ino­ em favor da nova classe técnica e radonal, e
vações e descobertas, o que aprofunda ainda reveLa, segundo Foria (1968, p. 59),
mais a mecanização do trabalho. A importân­
[...] o verdadeiro charm e “tecnológico”, o
cia que o desenvolvimento econômico tem nas
cuko da eficácia. [E que] Os Estados mo­
sociedades capitalistas, solapando as bases de dernos rendem a ceder aos técnicos a esfera
uma dominação puramente tradicional que, das decisões políticas, uma vez. que estas de­
por sua natureza, obstava o avanço tecnológi­ cisões se tornam também “funcionais” e que
co, permite uma ampliação da racionalização a atingem um nível mais elevado dc ehcácia.
outras esferas da sociedade. Esta procura de um a eficácia exprime-se de
A vigência do Estado de Bem-estar Social m aneira perfeita na política das planificações
(em inglês Welfare State) nos países centrais do onde, basianre claramente, os expertstom zm
pólo capitalista, durante um período que vai o lugar dos políticos puros e os managers, o
de 1945 a aproximadamente 1975, ficou co­ dos burocratas tradicionais. Assiste-se por
conseguinte a um a nova forma de organiza­
nhecida como os trinta anos gloriosos (Cardo­
ção burocrática do Estado que, partindo das
so junior, 2003)-1 Numá mudança que à épo­
esferas .elevadas onde se tom am as decisões,
ca parecia ser permanente, a política se volta estende-se a toda um a rede de relações sociais
para a antecipação e prevenção das crises cícli­ e a rodos os níveis.
cas do sistema capitalista em vez de simples­
mente normadzar formalmenre seu funciona­ Dessa maneira, o cenário político-social da
mento desimpedido. A política, portanto, época teve profundas influências nas teses que
parece orientada a soluções técnicas da vida em surgiram acerca das mudanças sociais em anda­
sociedade (Habermas, 2001). mento e assim contribuíram para a formação

31
das teorias do pós-industrialismo e da tecno­ ses. Em seu ponto de vista, a sociedade pós-
cracia. Como um dos teóricos notadamente industrial, pautada na relação entre seres hu­
inseridos nesse contexto, Daniel Bell (1977) manos, dava início a problemas políticos ainda
atesta que a sociedade estaria substituindo o mais complexos que outrora. Soluções técnicas
trabalho físico pelo saber abstrato, pela ciência deveriam ser atualizadas segundo os resultados
pura. A gradativa convergência entre ciência e dos embates políticos entre grupos divergen­
técnica a partir de finais do século XIX faz al­ tes. Para o autor, a racionalidade funcional de­
guns autores passarem a considerar a ciência veria permanecer submetida aos fins políticos.
não apenas parte das forças produtivas da socie­ Habermas (2001) vai ao encontro dessé
dade, mas a principal delas no que foi cha­ princípio afirmando que a tecnocracia pura,
mado de revolução tecnocientífica. do governo estrito dos especialistas, não passa­
Bell mesmo segue as análises do autor tche- va de um jogo de dominação de grupos de
coslovaco, Radovan Richta, que havia defen­ interesses específicos, revestidos de uma falsa
dido uma revolução científica e tecnológica, neutralidade técnica instrumental. Nâo era a
no contexto da então União Soviética em que técnica em si que se tornava ideológica, mas a
vivia, a qual estaria tornando a ciência e a técni­ política que queria se fazer técnica, dizia o au­
ca corao forças produtivas predominantes em tor em seu debate contra Marcuse (1979).
detrimento do trabalho simples. A crescente A dominação para esses teóricos da revolu­
importância da informação nos processos pro­ ção tecnocientífica se dá, portanto, na esfera da
dutivos, uma vez que as próprias máquinas que reprodução cultural, uma vez que, na da pro­
os compõem passam a operacionalizá-la, recla­ dução material, já dominariam as modernas téc­
mariam, a importância de engenheiros e cien­ nicas e ciência neutras, objetivas e racionais.
tistas em tais processos. Assim, ainda que circunscrita pela política, a
Para esses autores, o homem não é mais o concepção de predomínio da ciência, neutra
agente principal da produção, "o ‘fator decisi­ em sua própria esfera, não é deixada de lado,
vo’ no crescimento das forças produtivas da segundo Habermas.
sociedade não é a força de trabalho [...] :mas a Desde então, das décadas de 1960-1970,
ciência” (Bell, 1977, p. 128). E o princípio o cenário político, econômico e social passaram
tecnocrático mostra-se mais acabado quando por modificações significativas. As políticas de
asseveram qué, a partir “[...] da revolução cien­ planejamento e de seguridade social desestabi-
tífica e tecnológica, o aumento das forças pro­ lizaram-se e foram postas num segundo plano,
dutivas obedece a uma lei altamente prioritá­ quando não, completamente extintas a partir de
ria, isto é, a da precedência da Ciência sobre a ofensivas de governos como os de Margareth
tecnologia e a da tecnologia sobre a indústria1’ Tatcher na Inglaterra, Augusto Pinochet no
(Richta a p u d Bell, 1977, p. 128). Chile, Ronald Reagan nos Estados Unidos. A
Dentro dessa perspectiva da revolução tec­ integração das economias através, da infra-es­
nocientífica, existem algumas divergências que trutura telemática (criada a partir da década
se fazem notar. Num ponto extremo, alguns de 1960, mas expandida internacionalmente
autores chegaram a propor uma revolução ad­ apenas a partir de meados de 1970 à década de
ministrativa, uma espécie de fim da ação políti­ 1980) potencializou o florescimento de um
ca numa sociedade sem espaço para interesses forte fluxo de capitais financeiros que reclama­
divergentes, já que capaz de atender a todas às vam, para sua acumulação, uma desregulamen-
suas necessidades. Bell é um dos que aponta tação dás economias até então substancialmen­
para o caráter impreciso e exagerado dessas te­ te orientadas pela política dos Estados nacionais.

32
Ademais, as prospectivas acerca daprodu­ Depois de 1929, o Estado também toma
ção industrial das sociedades não se objetiva­ parte nesse processo, e a teoria keynesiana é que
ram. A ciência e a técnica encontraram obstá­ lhe dá fundamentação. Esta, ao defender o
culos na substituição do trabalho de execução. aumento da demanda interna de consumo para
A lógica digitai de controle das variáveis não foi que se fortalecesse o tecido social e se garantisse
capaz de avançar para a completa automatiza­ novos investimentos, compôs, junto aos então
ção do processo produtivo, como se previa e novos modelos de organização do trabalho, um
tencionava. Pelo contrário, chegou-se a impas­ quadro político-econômico chamado de fordis-
ses em termos organizacionais, já que a relação mo-keynesianismo ÇWólfF, 2005).
hierárquica entre ciência e produção, como co­ Se até aqui se tem, aparentemente, apenas
locada pelas perspectivas tecnocráricas, não foi uma nova interpretação da realidade política,
capaz de lidar com as necessidades de aprendiza­ social e econômica, que levaram às conclusões
gem pela experiência. A rigidez nas divisões do pós-mdustrialistas, e de uma sociedade da
processo produtivo acabou por cercear a co­ afluência, a opção pelos aspectos da organiza­
municação necessária entre planejamento e exe­ ção econômica do trabalho ressalta uma des-
cução do trabalho, trazendo dificuldades para continuidade que as teorias pós-industrialistas
a própria empresa. Além do mais, a extração da não apreenderam.
mais-valia das empresas capitalistas repousa so­ Há, de fato, um processo de “fuga do tra­
bre a exploração do trabalho humano, o que balho generalizado” (WolfF, 2005, p. 104), mas
não seria possível numa produção totalmente como resposta de operários mais bem pagos e
estruturada sobre capital fixo (Lojkine, 20Q2). com maior escolaridade a uma intensificação
Para se entender as razões dessa mudança da exploração do trabalho através da superes-
de cenário e perspectivas será de fundamental pecialização., fragmentação e intensificação da
importância retomar alguns aspectos econômi­ produção operada pelo taylorismo-fordismo.
cos da realidade, em meio ao qual surgiram as As implementações desse modelo produtivo
teses tecnocráticas. visavam otimizar a produção em uma fábrica
Como mencionado, com as crises do capi­ através da fragmentação das atividades dos
talismo do início do século XX, como o crack operários, mecanizando-as para acelerar o fa­
da Bolsa de Valores de Nova York de 1929, ini­ brico de um produto e, por conseqüência, in­
ciaram-se políticas preocupadas em evitá-las, tensificar essa mesma produção, já que se po­
tanto no âmbito das empresas capitalistas quanto deria diminuir o tempo necessário à produção
no âmbito do próprio Estado. Isso impulsio­ de uma quantidade determinada de produtos.
nou a implementação do fordismo na organi­ O projeto politico-ideológico de uma socie­
zação produtiva das empresas, que complemen­ dade democrática, racionalizada e de massas,
tava a organização taylorista, dando cadência à própria ao fordismo-key.nesiamsmo, não é ca­
sua administração científica do trabalho (leia- paz de integrar de forma homogênea a socieda­
se, fragmentação racional das operações e mo­ de e nem mesmo toda ela. A tentativa de elevar
vimentos necessários à execução de uma tarefa, as massas a condições mais dignas, democrati­
mecanizando-os). Com o fordismo, inicia-se zando o consumo, não foi suficiente para con­
umà política de produção em massa que deve­ tornar o quadro de controle racional da produ­
ria ser acompanhada pelo consumo em massa, ção nas fábricas, descrito anteriormente com a
atrelando os salários à produtividade. Gerava- implementação do taylorismo-fordismo.
se, com isso, garantia de consumo e vínculo Com as manifestações e greves surgidas nas
político do operariado com o patronato. décadas de 1960-70, :a reconstrução européia,

33
que ampliou o mercado mundial trazendo com­ Em contraposição ao funcionamento da
petição à economia estadunidense, e a limitação máquina-ferramenta convencional, o sistema
em se implantar sistemas produtivos mais com­ de controle numérico monitora as máquinas
plexos devido à simplificação fragmentada do fornecendo informações ao seu operador sobre
trabalho operada pdasuaadrriinistraato dentífica, seu estado e funcionamento. O operador das
inicia-se uma crise de acumulação do capital pelo máquinas não mais interage com estas direta­
modelo da produção em massa, “E assim que a mente, mas através de uma interface computa­
cadeia fordísta de regulamentação da economia dorizada. Por isso, estas máquinas permitem
começa a romper-se” (Wòlf£ 2005, p. 105)- mudanças na produção com maior facilidade
A mencionada .ampliação do mercado que as convencionais, uma vez que, para tanto,
mundial diversifica o consumo, mas o desman­ dependem apenas de uma programação digi­
telamento das políticas de altos salários restrin­ talizada, enquanto as convencionais depen­
ge-o aos setores de renda mais alta. Inovações diam da mudança de toda a rotina do traba­
tecnológicas são, então, orientadas para a flexi­ lhador, tal seja um exemplo da diferença entre
bilização da produção necessária para atender a tecnologia analógica e a digital.
esse mercado ampliado, porém, segmentado e A implantação das MFCN é o que dá iní­
não mais massificado. Surge uma necessidade cio à automação, que, segundo Lojkine, é o
de mudanças na regulamentação econômica processo em que a máquina controla e corrige a
nos e entre países devido a essa ampliação da própria máquina, ainda que a intervenção
produção e do consumo em escala mundial. A humana se faça imprescindível. Esse processo
gestão da produção, conseqüentemente, tam­ visa a um maior controle da produção material
bém deverá sofrer mudanças junto às formas e sua flexibilização, como resposta à crise do
de utilização da força die trabalho. É o que fordismo e às mudanças do mercado mundial
caracteriza a chamada reestruturação produti­ e ao consumo eirados anteriormente.
va do capital que passa então a “direcionar as Para ilustrar essa passagem, cabe lembrar
inovações tecnológicas de acordo com as ne­ que, com :a, revolução industriai, passa-se de
cessidades provocadas por essa nova crise do uma produção artesanal de objetos para sua
capital1’ {idem, ibidem, p. 106). mecanização, na qual o homem deverá operar a
Nesse contexto é que surgem as Máqui- máquina que fará a transformação direta da
nas-Ferramentas de Comando Numérico matéria bruta. Com a revolução das tecnologias
(MFCN), inicialmente implantadas no Brasil informacionais, esse trabalho operatório das
na década de 1970, mas com maior ênfase na máquinas-ferramenta é feito elé mesmo pelos
década de 1980 (Abramo, 1990), tendo sido sistemas de controle numérico que transmiti­
a Romi, uma indústria de bens de capital do rão a informação dada pelo trabalhador para a
interior do estado de São Paulo, na década de condução de todo o processo de transformação
1970, a primeira empresa a produzir um modelo da matéria bruta. Restaria ao homem o traba­
naclçmal (Rattner, 1985). Com elas, são objeti­ lho de inspecionar o processo como um todo e
vadas as funções sensitivo-reflexivas do cére­ de conceber os objetivos do mesmo.
bro, “que intervém na direção-vigilância dos E possível perceber nesse processo como a
processos [produtivos] automatizados. A má­ inovação tecnológica vai objetivando atividades
quina pensa para a máquina; [...] a flexibilida­ que antes eram desempenhadas por trabalhado­
de e a integração dessas máquinas se opõem à res. Até mesmo na última etapa, na atividade
rigidez e à segmen tação-parcelarização do sistema sensitivo-reflexiva do trabalhador, como coloca
mecânico” (Lojkine, 2002, pp. 107-8). Lojkine. Trata-se, segundo Wolff (2005, p. 107),

34
de um processo em que a dimensão criadva do um feto, cedo ou tarde. Sobreviveriam as ativi­
trabalho é apropriada pelo capital, uma “expro­ dades intelectualizadas e novas clivagens po­
priação qualitativamente acrescida [...] [já que] deriam surgir: entre os possuidores e os despos-
da dimensão intelectual da atividade criativa”. suídos de informações.
Segundo Rattner (1985), a tecnologia Cabe então analisar as tecnologias infor-
Computer Aided Design (CAD), já se adian­ macionais, até aqui restritas à produção ma­
taria na automatização completa da fábrica terial, em relação às teses pós-industrialistas,
(processo, este sim, que prescinde da ação hu­ considerando a produção de serviços tão im­
mana), uma vez que até o desenho e a elabo­ portante para estas últimas.
ração do projeto da produção são por ela Para autores como Daniel Bell ( 1977), Peter
processados. Drucker (1999) e John Keneth Galbraith
O fato de essas mudanças tornarem pres­ (1987), trata-se, na automatização integral das
cindíveis trabalhadores que antes eram respon­ fábricas, de suprimir o trabalho industrial sim­
sáveis pela operação e supervisão das máqui- ples e rotineiro do chão de fabrica. Restariam
nas-ferramenta levantou preocupações acerca assim funções intelectuais administrativas, de
de um desemprego maciço. Mas, em fins da planejamento, técnicas e de programação no
década de 1980, no Brasil, conclui-se não ha­ processo produtivo que implicam uma mudan­
ver até então “desemprego tecnológico, en­ ça setorial deste, ou seja, do setor industrial para
tendido como demissões maciças (ou nume­ o de serviços. No caso, apenas cientistas e tecnó­
ricamente relevantes) diretamente provocadas logos seriam responsáveis pela produção mate­
pela introdução das NT [novas tecnologias de rial das sociedades, consolidando uma estrutura
base microeletrônica]” (Abramo, 1990, p. 49).3 social menos exploratória; elites, setores inter­
Para Rattner,as ftinções próprias aos Ope­ mediários, ousubalternosi todos desfrutariam
rários qualificados, com a assimilação dos siste­ de um trabalho intelectualizado nessa nova
mas de controle numérico pelas indústrias, são organização do trabalho.
transferidas para o pessoal de escritório, como Diferentemente dos teóricos do pós-in-
programadores e supervisores da produção. dustrialismo, e baseado em estudos empíricos,
Ainda segundo esse autor, a tese de que o pro­ Castells (2006) não vê um processo evolucio­
gresso técnico seria a chave para o crescimento nário e unidirecional. Para ele, mantêm-se as
econômico e, portanto, para o desenvolvimen­ atividades industriais e produtivas ainda que
to, estaria equivocada, pois não levaria em con­ inscritas em outro paradigma tecnológico, qual
sideração o fato de que os investimentos em seja, o informacional. Esse paradigma está vin­
tecnologia não resultam em um progresso cau­ culado à emergência da empresa em rede e traz
sal e linear. Aumento da produtividade não consigo mudanças organizacionais.
quer dizer melhora das condições de trabalho
Apesar dos .enormes obstáculos, da admi­
nem redução da jornada, mas, como na maioria
nistração autoritária e do capitalismo ex­
dos casos, significa intensificação da explora­ plorador, as tecnologias da informação exi­
ção daqueles trabalhadores que continuam, ne­ gem maior liberdade para trabalhadores mais
cessariamente, no chão de fabrica. esclarecidos atingirem o pleno potencial da
Essas mudanças tecnológicas levaram produtividade prometida. D trabalhador
Schaff (1991), autor marxista, a prever o fim atuante na rede c o agente necessário à em­
do trabalho, nos moldes mesmo das teorias tec- presa em rede, possibilitada pelas novas
nocráticas. Para esse autor, não se tratava de tecnologias da informação (Castells, 2006,
julgar tal asserção, mas de constatá-la, pois seria p. 306).

35
Segundo esse autor, a automação, que se do, segundo o autor, dentro de uma perspecti­
iniciou com os sistemas de controle numérico, va global, em que outros países desenvolvidos
só se completou na década de 1990 com a in­ mantêm suas estruturas industriais como é o
tegração da informática e das telecomunicações, caso da Alemanha e do Japão. A implantação
ou seja, com o surgimento das máquinas liga­ de tecnologias da informação reclama pelo au­
das em rede. Assim, apesar de constatar os mes­ mento da produção dessas tecnologias e não
mos obstáculos a uma mudança de paradigma simplesmente determina o fim do .trabalho de
que Lojkine (2002), as tecnologias da informa­ execução.
ção é comunicação, em Castells (2006, p, 306), Também dentro das empresas, o autor vê
parecem ditar mais os rumos dessa mudança modificações organizacionais. Para ele, há uma
que os “limites do antigo conjunto de objeti­ emergente colaboração entre os setores de uma
vos organizacionais (como aumento a curto empresa, e também de suas hierarquias. Pers­
prazo de lucros calculados em base trimestral)”. pectiva que Lojkine refuta ao constatar a exis­
Ambos podem constatar que a evolução tência dos “gargalos burocráticos” no interior
linear proposta pela substituição do trabalho das empresas que implementam o uso das TIC
industrial não se atualizou. A permanência desse e são incapazes de estabelecer essa colaboração
tipo de trabalho é evidenciada a partir de séries piena entre níveis hierárquicos que persistem
de trabalhos empíricos analisados pelos auto­ num sistema que ainda sobrevive da explora­
res, ainda que Castells aponte para reduções ção do trabalho.
em proporção deste em relação ao trabalho nos WolíF(2005) também coloca limites para
serviços nos países mais desenvolvidos. a mudança de paradigma tecnológico na orga­
A questão é que, para Lojkine, há uma visão nização do trabalho, mesmo com a adoção de
elitista e tecnocrática tanto quanto autoges- novas tecnologias. Não se trata nem de postu­
tionária do uso dos computadores. Esta últi­ lar uma mudança completa, tampouco da per­
ma contemplaria uma revolução organizacio­ manência pura e simples do sistema taylorista
nal e o acesso a todas as informações. Mas, para de divisão do trabalho. Há, segundo a autora,
o autor, “não há impedimentos à coexistência mudanças e permanências. Como Lojkine
do funcionamento dessas redes informacionais (2002), ela vê a necessidade de se qualificar o
com a antiga estrutura organizacional das em­ trabalho para que seja implementado um apro­
presas” (idem , p. 126). Empresas capitalistas veitamento ótimo das inovações tecnológicas.
guiadas pela lógica do lucro necessariamente Mas a lógica patronal resiste a essa mudança e
resistem a um verdadeiro questionamento da ainda vê a inovação como fator de substituição
estrutura piramidal do poder e de uma ver­ do trabalho vivo pelo trabalho morto, ou seja,
dadeira descentralização das informações e de trabalhadores por máquinas.
das funções do setor produtivo, como se po­ As transformações organizacionais apon­
deria fazer. tadas por alguns autores, portanto, se revelam
Castells, por outro lado, segue algumas das taiito mais como possibilidades às quais se
pistas dos teóricos do pós-industrialismo, mes­ opõem 'enormes forças de resistência” (Lojki­
mo que as critique como simplistas. Vê, por ne, 2002, p. 42). As transformações em pro­
exemplo, os Estados Unidos, o Reino Unido e cessamento implicam o desempenho de fun­
o Canadá como modelos de economias de ser­ ções produtivas e improdutivas pelo. mesmo
viço, em que haveria uma ascendência de ad­ trabalhador, para que este possa prever, organi­
ministradores, programadores e técnicos. Tal zar e reprogramar as máquinas que opera, já
quadro, no entanto, só pode ser compreendi­ que estão sujeitas a falhas extremamente preju-

36
diciais e onerosas para a própria empresa. Mas as atividades materiais do homem por ativida­
os círculos viciosos burocráticos encontrados des tão-somenie intelectuais, intrinsecamente
nas empresas capitalistas, por não lhes ser pos­ não-mercantis. Num extremo, esses raciocínios
sível liberar plenamente os processos decisó­ levaram às teses de superação do próprio siste­
rios, fazem com que, em vez de mudanças or­ ma capitalista, com a substituição das elites
ganizacionais, haja “recomposições —cada vez detentoras dos meios de produção por elites
mais sistemáticas - do trabalho dos operado­ administrativas (Drucker, 1999). Para Drucker
res” (idem , ibidem, p. 151), o que denota as­ (1978, p. 49) são necessárias “instituições ade­
pectos de permanência do modelo taylorista quadas para as novas necessidades e capacida­
de inovação pela gerência e de controle cientí­ des forjadas pelas mudanças tecnológicas”.4
fico do trabalho. Essas novas instituições, que devem ser respos­
Segundo dados analisados por Castells tas sociais e políticas corretas para a tecnologia,
(2006), as atividades de escritório tiveram sig­ se orientadas por valores humanistas e de res­
nificativo aumento, tanto em quantidade como ponsabilidade social, marginalizam a necessi­
em produtividade; porém, o setor de serviços dade de se preocupar com um possível desem­
não pode ser considerado homogêneo e a par­ prego recnológico e uma sociedade dominada
cela que teve maior tepresentatividade nesse peias novas tecnologias.
crescimento foi a dos serviços diretamente liga­ Álvaro Pinto (2005, p. 438), comentan­
dos à produção industrial. Portanto, concluí, do a obra de Gaibraith, critica essa perspectiva
não houve substituição da produção industrial, tecnocrática, que concebe o processo tecnoló­
mas um processo no qual o trabalho assalariado gico como determinante no “deslocamento do
estendeu-se ao setor de serviços e este passou a centro do poder social”, o que visa tão-somente
cooperar e se articular com o setor industrial. tirar de foco, ao se tomar a sociedade como um
Numa outra perspectiva, Lojkine (2002, todo, o poder, que continua nas mãos daqueles
p. 108) vê uma “interconexão entre a produ­ que detêm os meios de produção.
ção e a esfera dos serviços”, que refutaria a tese Para Lojkine (2002), essas são teses tecno-
do fim das atividades produtivas, levantando, cráticas que dão continuidade à concepção de
antes, novas contradições na economia. O pró­ Taylor de inovação pelo alto. Q pós-industria-
prio setor de serviços se automatiza adotando lismo, para o autor, seria uma concepção neo-
procedimentos industriais, e as indústrias, com taylorista e centralizada da revolução informa-
freqüência, passam a integrar no seu processo cional, que prevê uma ditadura dos cientistas e
produtivo atividades de escritório, terceiriza­ a fábrica sem homens como norte. Teses que
dos ou não (Rattner, 1985). são postas em questão por conta de sua própria
A tese pós-industrialista e tecnocrática se ineficácia econômica.
pauta numa separação entre as atividades pro­ Como mencionado anteriormente, o qua­
dutivas e as improdutivas. A questão, entre­ dro político-econômico do keynesianismo-for-
tanto, que se coloca nesse eixo de debates é que dismo iniciou um processo de desmantelamen­
“não se pode separar a transformação da natu­ to com a ascensão das economias européias, sua
reza material e o grande desenvolvimento das competitividade em relação à economia esta­
funções informacionais” (Lojkine, 2002, p. dunidense, com a conseqüente diversificação
115). No caso das teses pós-indutrialistas, a da produção e restrição do consumo. Essa di­
ciência e a técnica, como forças produtivas, versificação do mercado mundial é que estabe­
destituiriam o trabalho de sua capacidade de lece os vínculos com o desenvolvimento de um
gerar valor, uma vez que se estaria substituindo maquinário flexível no interior das empresas,

37
que comporta uma variedade de usos possíveis 1990, sabendo-se que as TIC tiveram papel
e um meio de trabalho e organização humana fundamental nessa integração.
polihincional, garantindo que sua linha de pro­ Alguns trabalhos apontam para uma mul-
dução se adapte mais facilmente às mudanças tidimensionalidade da globalização em que esta­
dos mercados (Lojkine, 2002; Rattner, 1985; riam inseridos “processos globais distintos e
Woiff, 2005). conflitantes, como, por exemplo, do capitalis­
Já na década de 1980, o uso crescente de mo, da cultura, da normatividade (direitos
tecnologias que flexibilizam o processo produri- humanos)” (Therborn, 2001, p. 196). Outros
vo (tendo em vista a rigidez do processo tayloris- para o lato de que “a globalização dos mercados
ta-fordista), permitia se falar em um “controle financeiros é a espinha dorsal da nova econo­
total do processo de produção pelo computador” mia” (Castells, 2006, p. 147), De uma manei­
constituído pela implementação de um conjun­ ra ou de outra, o aumento do fluxo de capitais
to de tecnologias que se denominou Computer financeiros entre as principais economias do
Integ>-atedManufacturing{ÇlM), ou, em portu­ mundo aparece como uma constante nas análi­
guês, Produção Assistida por Computador ses. Um dado importante para que não se per­
(PAC) (Rattner, 1985, p. 124). Essa integração ca de vista o caráter capitalista desse processo.
A internacionalização sempre foi um pro­
[...] não ocorre, necessariamente, cm escaia cesso inerente à produção capitalista. À época
nacional, mas antes internacional, com van­ das colonizações e da expansão marítimas dos
tagens enormes para as empresas e conglome­
países europeus, predominando a internacio­
rados transnacionais O Sistema de Fabrica­
nalização do capital mercantil; quando da re­
ção Flexível (SFF) permite realizar economias
volução industrial, com predomínio do capital
de escaia em dimensões globais, com uma
fração de custos e de volumes de produção
industrial; e o terceiro momento, que se encon­
correnres. F.m outras palavras, será possível tra em andamento, com o predomínio do capi­
produzir na escala do mercado m undial, em­ tal financeiro. Essas formas de capital nunca se
bora o estabelecimento esteja localizado em internacionalizaram de maneira isolada, há ape­
um rerritório ou mercado relativamente ré- nas determinado predomínio das mesmas em
duziido (idem , ibidem , pp. 126-127). suas respectivas fases (Wolff, 2005),
Assim sendo., o que caracteriza esse proces­
A garantia de consumo implementada pe­ so de internacionalização das economias é uma
las políticas do Estado de Bem-estar Social tor­ combinação de liberalização e desregulamen-
nou-se insustentável para a reprodução do ca­ tação dos entraves burocráticos nacionais e da
pital nesse novo cenário. Há, portanto, um hegemonia monetária, típicos do período for-
agravamento das desigualdades sociais com a dista. As transações feitas por meios digitais em
retomada da concentração de capital à medida grandes velocidades, num processo de desre-
que vão se suprimindo as políticas de bem- gulamentação institucional, permitem às em­
estar e as regulamentações econômicas orienta­ presas produzir e comercializar “onde for possí­
das internamente para os Estados-nacionais. vel em todo o mundo, [,.,] em grande parte
Assim, o fato de as economias mundiais graças às novas tecnologias da comunicação e
estarem cada vez mais integradas, seja por sua dos transportes” (Castells, 2006, p. 156).
produtividade, comércio ou competição, cha­ Grandes empresas fazem suas instalações em
mado de globalização, ou de mundialização, diversos locais do globo em busca de melhores
tem levantado alguns debates acerca das espe- condições financeiras, produzindo partes de
cificidades desse processo a partir da década de seus produtos em diferentes países, utilizando-

38
se de acordos e subcontratações para o forneci­ bancos financeiros etc. Essas mudanças na eco­
mento de produtos, serviços ou mão-de-obra nomia não avançam a despeito da localidade,
terceirizados. não alcançam a todos indiscriminadamente,
É a relação que Rattner (1985) estabelece como poderia se supor, dado seu caráter impes­
entre as grandes unidades produtivas e as pe­ soal. A valorização e o investimento nessa tnfra-
quenas e médias empresas (PME) já em 1985. estrutura se dão somente nas regiões que os
Segundo o autor, havia uma linha de raciocí­ suportam, ou ainda, que lhes dão retorno, seja
nio que previa o fim das PME por conta de sua em lucratividade, para as empresas, seja em com­
incapacidade em absorverem as inovações tec­ petitividade, para as instituições e governos
nológicas e de racionalizarem plenamente sua (Castells, 2006).
linha de produção devido à limitação de seus Pode-se dizer então que há também uma
capitais. Contudo, esse não foi seu fim na socie­ concentração no processo de inovação tecnoló­
dade capitalista, nem mesmo com a inovação gica, que necessita de grandes investimentos e
das MFCN. Para o autor, essas empresas so­ corre atualmente orientado por interesses de
breviveram por terem estreita relação com as mercado. Se há ampliação do acesso às TI.C,
grandes unidades produtivas, as quais buscam esta se dá para os já privilegiados, e custa chegar
nas PME uma fonte de lucro que não as obriga às regiões marginalizadas desse processo (Quéau,
investir na construção de novas unidades, 1998; Therborn, 2001).
tugindo assim das responsabilidades de tais Vê-se que, mesmo com as novas tecnolo­
investimentos num mercado instável e diversi­ gias, ainda enfrentam-se antigas questões. Mes­
ficado. Esse risco fica, então, por conta das PME, mo o acesso à informação e à comunicação ainda
daí sua alta rotatividade e “o nascimento contí­ não se democratizou como direito reconhecido
nuo de novos empreendimentos industriais, pela Unesco (Rabelo, 2005). O fim dos territó­
comerciais e déserviços” (Rattner, 1985, p. 18). rios e da distância num ambiente de comuni­
Mas, nesse processo que se denomina cação virtual, ou a arquitetura da desterritoria-
globalização, poucos autores discordam que a lização (Borges, 2000; Lévy, 2003), permanece
maior parte da população mundial não partici­ uma falácia. A integração global das economias
pa de sua economia apesar de ser direta ou in­ e dos grupos de mteresses não acontece inde­
diretamente afetada por ela. Com os mercados pendentemente de süa localidade. Uma gran­
desregulamentados e com o auxílio dasTIC, o de infra-estrutura material é requerida para que
fluxo de capitais encontra, com facilidade, se torne possível essa integração, o que exclui
mercados que lhe agregam valor, daí sua insta­ desde regiões inteiras, como boa parte do con­
bilidade e volatilidade. Nesse sentido, a nova tinente africano, até bairros-satélites das regi­
economia aparece como uma estrutura domi­ ões metropolitanas do mundo.
nante que, apesar de não beneficiar a maioria A globalização parece, então, ter servido a
da população, integra e exclui países e regiões uma consolidação do poder daqueles países que
com base em critérios de lucratividade e com­ a ela aderiram através de um processo de liberali­
petitividade, num processo de globalização zação e desregulamentação econômica. Ao se
seletiva. ampliar mundialmente, foi dificultando ainda
Além do mais, a tais redes de capitais é mais a resistência de países.que buscassem cami­
imprescindível uma infra-estrutura material nhos alternativos e favorecendo aqueles nela inse­
para que tenham lugar. Grandes centros finan­ ridos (Castells, 2006). Mas mesmo nos países
ceiros se localizam onde há uma integração de que aderiram às políticas de desregulamentação
indústrias de tecnologia avançada, escritórios, econômica e abertura para os capitais financeiros

39
internacionais não foram unânimes os casos a concentração da informação mundial nas
bem-sucedidos, como, por exemplo, a econo­ mãos de quatro agências principais, fato que
mia argentina da segunda metade da década de hoje se agrava uma vez que essas grandes
] 990. Talvez por se prender ao levantamento agências concentram também diferentes tipos
empírico de dados restritos basicamente aos paí­
de mídia, o que dificulta a consolidação do di­
ses que integram o Grupo dos Oito países mais reito à comunicação como defendido pelo rela­
industrializados, Castells aponta para uma me­tório (Rabelo, 2005).
lhora substancial do desempenho econômico do Castells (2003b), é preciso dizer, não dei­
país aderente à integração global das economias.
xa de identificar a apropriação dos canais midiá-
De qualquer modo, viu-se até aqui uma ticos por empresas privadas internacionais que
tendência hegemônica na implementação das coadunam com os interesses da internacionali­
TIC, orientada por interesses capitalistas e corpo­
zação econômica. Sua preocupação maior, no
rativos, e, apesar das críticas e de algumas expec­
entanto, é com o desmantelamento do mono­
tativas, esses interesses obstam tentativas de auto-
pólio estatal das informações.
orgamzação dos homens, como coloca Lojkine Para esclarecimento das diferenças teóricas
( 2002 ). e respectivas concepções sobre os temas desen­
O Relatório MacBride (Unesco, 1980), volvidos neste artigo, veja-se, no quadro a seguir,
como ficou conhecido, em 1980 já denunciava uma síntese do que foi trabalhado nesta seção.

Quadro 3
Sociedade, Tecnologia e Correntes Teóricas

xCaracterísticas Do Regime Do Regime de Do Modelo Do


Político Produção Organizacional Desenvolvimento
Tecnológico
Correntes n.
Teóricas \

Pós-industrialismo Tecnocrático Fim do trabalho Piramidal: Cientistas Através do trabalho


industrial e/ou de —Programadores — intelectual e simu­
execução Técnicos lação tecnológica

Informacionalismo Desmonte do Divisão internacio­ Redes: desmantela­ Inscrito num novo


monopólio estatal, nal do trabalho: mento de relações paradigma que
permanência países com econo­ hierárquicas, predo­ valoriza mais a
hegemônica dos mias de serviços minância de relações interação que a
interesses complem entados de inclusão e exclusão competição
capitalistas pelos de economia
industrial

Reestruturação Tecnocrático Interconexão do Divisão hierárquica Orientado para o


C apitalista capitalista trabalho industrial e entre detentores dos modo de produção
de serviços meios de produção capitalista e a
(incluindo a circulação de
informação) e os mercadorias
despossuídos

40
Considerações Finais existentes na sociedade como um todo (Balbo-
ni, 2007).
Como se esperava, a sistematização deste Todavia, como se demonstrou na seção
debate em corno das tecnologias da informa­ acerca das tecnologias, a capacidade de interferir
ção abre caminhos para uma reflexão sociológi­ no próprio funcionamento desse produto social
ca a seu respeito, tendo em conta os avanços e sempre esteve em debate, implícita ou explicita­
lacunas presentes em meio século de discus­ mente, tato que por si só coloca em destaque a
sões. Sem pretender esgotar o assunto, é im­ possibilidade de desenvolvimento de tecnolo­
portante rever algumas propostas presentes na gias alternativas. Logo, não pode haver apenas
literatura até agora analisadas acerca dos cami­ uma resposta tecnológica a determinados pro­
nhos e alternativas possíveis à mudança tecno­ blemas e situações enfrentados pela sociedade.
lógica ná sua relação com a sociedade, Alternativas tecnológicas dizem respeito direta­
Para autores como Tapia (20Q5), Quéau mente a interesses sociais em disputa e as respos­
(1998), como também para o Relatório Mac- tas encontradas deverão, portanto* atualizar tais
Bride da Unesco (1980), há necessidade de se interesses (Feenberg, 2002; Figueiredo, 1989).
orientar a tecnologia e de, através do debate Como coloca Rattner (1985, p. 148), as “Es­
público, fazer uso das tecnologias com fins de colhas de tecnologia, longe de seguirem uma
garantir direitos, diminuir as desigualdades e lógica interna própria, são antes de mais nada
ampliar a democracia. A percepção é de que o opções políticas explícitas”. A informação ou a
desenvolvimento tecnológico p er se não será comunicação não podem ser discutidas por si
responsável por um desenvolvimento social só; a infra-estrutura tecnológica que as conduz
qualitativo. tem papel igualmente fundamental. Vê-se, no
Mas orientar a tecnologia parece ser insu­ entanto, uma tendência, ao se falar nas TIC,
ficiente. Em todas as correntes teóricas vistas até em destacar seus aspectos inovadores em detri­
agora, de maneira crítica ou apologética, estão mento do fato de estarem imersas em uma rea­
presentes aspectos que permitem pensar um lidade sócio-histórica (como, por exemplo, o
desenvolvimento hegemônico das tecnologias da faro de a inovação hoje estar maj oritariamente
informação por parte de determinados grupos, resguardada pela propriedade intelectual que
seja dos tecnocratas e especialistas, seja dos coloca entraves na capacidade de manipulação
empresários e investidores de capital. O que é dessas tecnologias). Abre-se, com isso, espaço
reforçado quando se constara no uso dessas tec­ para a discussão da própria tecnologia tanto
nologias uma reprodução das desigualdades quanto dos grupos que por ela se interessam.

Notas

1 Primeiro computador digital, criado em 1943, que pesava mais de 30 to neladas e tinha 18 mil
válvulas eletrônicas para definir sua programação (os algoritmos),
2 É importante ter em conta que os EUA, apesar das políticas contra o desemprego, não concen­
traram no Estado a prestação de serviços de saúde e educação, como na Europa, o que traz
discussões acerca da validade do conceito de Estado de Bem-Estar para este país.
3 Em seu artigo, Laís Abramo analisou 38 pesquisas feitas entre 1984 e 198.8 a respeito da
introdução das novas tecnologias dé base microeletrônica, as MFCN, na indústria brasileira.
4 No original; “instituciones âdecuadas para las nuevas necesidades y para las nuevas capacida­
des que el cambio tecnológico éstá forjando”.

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Artigo recebido em abriI/2008


Aprovado em outubro/2008

Resumo

Tecfiologia, Informação e Sociedade: urna Sistematização de Conceitos e Debates

Este trabalho consdtui uma sistematização de conceitos c debates acerca das Tecnologias da Informação
e Comunicação (T IC ), de seu desenvolvimento e implicações sociais apontadas a partir de 1950 por
diferentes perspectivas reóricas nas Ciências Sociais. A grande variedade de remas pelos quais tais tecnologias
perpassam nos permitiu, mesmo assim, estabelecer eixos de analise sobre a literatura existente, identificando
nesses debates aspectos relacionados às estruturas sociais que percorrem os temas da informação e da
tecnologia. Com isso, foi possível abrir caminhos p aia um a reflexão sociológica, tendo em conta os
avanços e lacunas presentes em meio século de debates sobre as TIC, e sugerir algumas questões para
faturas leimras e aiiálises.

Palavras-chave: Sociologia da tecnologia; fnformacionalismo; Tecnologias da Informação e Comunicação;


Tecnocracia; Sociologia do trabalho.

Abstract

Technology, Information and Society: a. Systematization o f Concepts and Debates

This paper consists in a systematization of concepts and debates on Information and Com m unication
Technologies (IC T), as w ell as its development and social implications pointed out from 1950 on by
different theoretical perspectives in the Social Sciences. The great variety o f themes by which such
technologies traverse have allowed establishing an axis of analysis on the existing literature, identifying in
such debates aspects that have allowed reasoning the social structures that run the rhemes of information
technology. T hat wav, it has been possible to open ways for a sociological thinking considering both
advances and deficiencies present in h alf a century o f debates on ICT, suggesting some questions for future
readings and analyses.

Keywords: The sociology of technolog)7; Informationalism; Information and Com munication


Technologies; Technocracy; The sociology o f work.

Résumé

Technologic, Information et Société: une Systêmatisation des Concepts et Débats

C e travail presente une systémarisation des concepts et debars relatifs aux Technologies de I'lnformation
et de la Com munication (TIC), de lew s développements et des implications sociales indiquées à partir de
1950 par différentes perspectives théoriques dans les Sciences Sociales. La grande variété de themes

45
touchés par ces technologies ont permis d'établir des axes d ’analyse à propos de la littérature existante, et
d’identifier, dans ces débats,, des aspects qui perm ettent de penser les structures sociales qui parcourent les
thèmes de l'information et de la technologie. Grâce à cela, il a été possible d’ouvrir les voies vers une
réflexion sociologique qui tienne en compte les avancées et les lacunes présentes en un demi siècle de
débats à propos des T IC , et de suggérer quelques questions pour de futures lectures et analyses.

M o ts-clés: Sociologie de la tech no lo gie; In ferm atio n n alism e; Technologies de l ’in fo rm atio n et
Com munication; Technocratie; Sociologie du Travail.

46
Cultura das Organizações: Enfoques Dominantes,
Tendências Internacionais e Novas Propostas Analíticas

LeonorLima Torres

A Relevância das Dimensões Culturais tura como técnica de gestão, secundarizando o


na Era da Globalização conhecimento dos processos, dos espaços e dos
tempos de construção e reconstrução cultural.
Os fenómenos culturais configuram uma Tal constatação .remete-nos para uma interro­
realidade dual: tratando-se de processos carac­ gação fundamental: será possível e pertinente
terizados pela sua lenra mutabilidade, não dei­ criar instrumentos de gestão de mudança da
xam, contudo, de revelar uma extrema sensibi­ cultura sem conhecer, apriori, como ela nasce,
lidade aos processos de mudança ocorridos no desenvolve e se consolida nas diferentes or­
contexto social e global. Construídas e sedimen­ ganizações? Longe de cingi-la ou de esgotá la
tadas na longduré-, as dimensões culturais e sim­ numa resposta meramente confirmatória, essa
bólicas das organizações representam ao mes­ interrogação remete-nos para a análise do pa­
mo tempo regularidade e recriação, imobilismo norama teórico-científico da cultura organiza­
e acção. Por um lado, as culturas constroem-se cional, designadamente para a apreensão das
no tempo e tendem a perpetuar costumes, tra­ linhas evolutivas, dos contextos de produção e
dições, hábitos e rotinas difíceis de alterar; por das inspirações teóricas dominantes.
outro lado, confrontada eom mudanças estru­ Na primeira secção deste artigo, aborda­
turais, a cultura surge como o domínio mais mos as principais focalizações teóricas da cultu­
reactivo, seja pelas resistências que desencadeia, ra organizacional, colocando em destaque os
seja pela ruptura que denuncia, seja ainda pela diferentes registos inerentes às perspectivas in­
continuidade e adesão què promove. tegradora, diferenciadorae fragmentadora. No
No actual contexto, marcado por comple­ intuito de melhor esclarecer o impacto dessas
xas mudanças no domínio das organizações, os focalizações sobre o desenvolvimento das in­
fenómenos culturais tendem a adquirir maior vestigações na ár.ea, recorremos, num .segundo
visibilidade, justamente por se revestirem des­ momento, à análise £ interpretação de informa­
sa dupla e contraditória faceta. Ao mesmo tem­ ções recolhidas em pesquisas bibliográficas reali­
po que as mudanças impostas pela nova ordem zadas em quatro bases de dados internacionais
global provocam rupturas nos tradicionais - UMI ProQuest Digital Dissertations, ISI Web
modelos culturais e desencadeiam resistências òf Science, ERIC Database e ABI Inform/Social
várias aos novos valores e ideologias do merca­ Sciences.1 A análise de uma grande diversidade
do, procura-se, no nível da investigação e da de estudos produzidos nas últimas décadas no
gestão organizacional, investir no diagnóstico plano internacional, permitiu-nos identificar
da cultura dominante e na concomitante ges­ dois movimentos teóricos distintos e concorren­
tão da sua mudança em função dos objectivos tes na abordagem da cultura organizacional: o
da eficácia e da competitividade. E, nessa se­ movimento integrador , como referencial hege­
quência, privilegia-se o uso instrumental da. cul­ mónico, e, em contra-corrente, o movimento

BIB, São Paulo, n° 66, 2o semestre de 2008, pp. 47-63. 47


crítico. Após uma análise crítica às potenciali­ desses estudos —um primeiro particularmente
dades e limitações teórseo-conceptuais ineren­ centrado na compreensão dos processos de cons­
tes a esses dctis m ovim entos , submetemos a de­ trução da cultura nas organizações, isto é, na
bate, na parte final do artigo, um modelo identificação dos factores que condicionam a
teórico-empírico para a análise das dimensões sua génese, o seu desenvolvimento e a sua con­
culturais e simbólicas das organizações. solidação; e um segundo pólo mais preocupa­
do com a forma de perspectivar o grau de par­
Cultura Organizacional: as Múltiplas tilha da cultura, no sentido de compreender os
Focalizações da Problemática significados das suas manifestações em contex­
to organizacional.
Objecto de estudo amplamente debatido O primeiro pólo remete-nos para a nature­
entre investigadores oriundos de várias Ciências za ontológica da cultura, questionando se esta
Sociais, alvo de múltiplas produções académi­ é uma importação externa à organização (cultu­
cas inspiradas:em paradigmas teóricos e con­ ra com o va riá vel independe?itè) , um factor en­
ceptuais quase sempre descoincidentes, a cul­ dógeno e idiossincrático da organização (cultu­
tura organizacional permanece no início deste ra com o va riá vel depen d en te) , ou ainda, num
novo século como uma problemática de difícil outro plano, um processo dialéctico de cons­
apreensão em face da natureza ainda incerta do trução e reconstrução contínua através das in­
seu estatuto epistemológico. As múltiplas foca­ teracções sociais (cultura com o m etáfora),1 por
lizações teóricas de que tem sido alvo, inspira­ sua vez, o segundo pólo enfadza o modo como
das em diferentes disciplinas científicas (a an­ a cultura se manifesta, podendo esta estar situa­
tropologia, a sociologia, a história, a economia, da num continuum representativo de três pos­
as ciências da gestão etc.) tornaram essa área de síveis modalidades de partilha —a integradora,
estudo permeável, nomeadamente por algumas a diferenciadora e a fragm entadora?
fragilidades em suas raízes epistemológicas. Se,
por um lado, a ainda recente proliferação de Apersp ectiva integradora
estudos sobre essa temática permitiu ampliar a
sua visibilidade aos níveis académico e gestio­ Inspirada nos enfoques mais funcionalis-
nário, alcançando mesmo neste último sector tas, que conceptualizam a cultura organizacio­
uma popularidade assinalável, por outro lado, nal como uma variável estrutural (dependente
esses múltiplos trabalhos emergiram num con­ e/ou independente), a perspectiva integradora
texto relativamente fechado (do ponto de vista enfatiza os aspectos mais consensuais da cul­
das fronteiras disciplinares) e em condições não tura, sendo esta tanto mais forte e consensual
propícias ao desenvolvimento de espaços de quanto mais alargado for o seu grau de partilha
reflexão interdisciplinar que contribuíssem para entre os trabalhadores da organização. Estaría­
enriquecer todo o processo de redefinição do mos, então, em presença de uma organização
estatuto científico e epistemológico da cultura que tem uma cultura no sentido possessivo do
organizacional. termo, isto é,‘ a cultura é entendida como algo
O
Não obstante os trabalhos produzidos nes­ de objectivo e como pertencendo à ordem in­
se âmbito se inscreverem em correntes teóricas terna e específica da organização. No fundo,
diferenciadas e frequentemente antagónicas, reduz-se a um conjunto de símbolos, crenças,
podemos eleger com algum grau de sustenta- valores, mitos e outros factores pertencentes à
bilidade dois pólos de debate em torno dos ordem do simbólico, que representam o pa­
quais se tem vindo a desenvolver grande parte drão da conformidade ideal e que, por isso, se

48
deseja interiorizar prioritariamente a todos os ras, o seu grau de infiltração e extensão. Nessa
actores da organização. O protagonista culticral , óptica, a cultura organizacional corresponderia
ou o elemento central na criação da cultura é o ao denominador comum das várias subculturas
líder (fundador ou empresário) da organiza­ existentes com a particularidade de nunca ser
ção, que adquire poderes de eleger os seus pró­ concepiualizada de forma homogeneizante, até
prios valores e crenças como aqueles que passa­ porque parte-se do princípio de que as diferen­
rão a ser impostos aos restantes membros da ciações sociais e culturais são inerentes ao siste­
organização. Sendo a cultura vista como uma ma social como um todo (Gregory, 1983; Van
variável que a organização tem e que se pode Maanen, 1991; Rósen, 1991, entre outros).
desenvolver à luz dos interesses gestionários, Contrariamente à ■anterior, a perspectiva
abre-se então a possibilidade, segundo essa pers­ diferen ciadora atribui um papel de protago-
pectiva, de g erir e m udar a cultura a favor da nismo aos actores no processo de construção e
integração, da comunhão da interesses, da par­ reconstrução, da cultura da organização, pois
tilha de valores, do consenso. Não será de estra­ visibiliza o papel activo é determinante dos dife­
nhar, por isso, que os mecanismos eleitos para rentes grupos profissionais na negociação dos
salvaguardar a manutenção e a consolidação significados, valores, normas, estruturadores da
do status quo e da estabilidade cultural sejam os organização. Aproxima-se, portanto, de um
processos de socialização profissional, as estra­ enfoque mais interpretativo.
tégias de treinam ento do pessoal, os rituais de E é por referência a essas subculturas, que
confraternização, os mitos da grande família segmentam culturalmente a organização, que
etc, Como expoentes máximos do desenvolvi­ podemos focalizar diferentes dinâmicas na cons­
mento desses pressupostos teórico-conceptuais, trução das identidades profissionais, muito se­
situam-se autores como Schein (1985,1991), dimentadas nas vivências e nas interacções regu­
Ouchi (1986), Peters e Waterman (1987) e lares estabelecidas entre o grupo depares, que
Deal e Kennedy (1988 [1982]), entre outros. se confinam às mesmas condições de trabalho.
Nãó admitindo a presença de uma cultura ho­
Aperspectiva diferenciadora mogeneizante que dilua as heterogeneidades
profissionais, essa visio teórica faz ressaltar as
No tocante a essa perspectiva, salientamos implicações dos processos de aprendizagem
sobretudo a ênfase colocada nas diferenciações cultural na construção das identidades colecti­
culturais, nos dissensos, nos conflitos e nos an­ vas de trabalho, aliás uma agenda teórica mui­
tagonismos culturais emergentes numa mesma to bem sustentada por Sainsaulieu (1987).
organização. A organização caracteriza-se pela Ora, as espécificidades de um contexto
coexistência (simultânea ou não) de diferentes organizativo marcado por uma multiplicida­
subculturas cujo desenvolvimento e cristaliza­ de, por vezes conflituosa, de “loci de cultura”,
ção radica na segmentação da organização do ou “meios portadores de cultura” (cidture bect-
trabalho contemporâneo —a divisão vertical e rin gm ilieu ) (Lotus, 1985), e que visibilizam o
horizontal, a depammentaiização, a existência papel activò e determinante dos grupos socio-
de vários postos de trabalho - que, ao permitir profissionais na negociação dos significados,
o estabelecimento de interacções privilegiadas valores, normas, estruturadores da organização,
no espaço e no tempo entre determinados gru­ exigem do investigador o reconhecimento de
pos profissionais, lança as condições para a que em contexto organizacional coexistem sub-
emergência de múltiplas (sub)culturas, tornan­ culturas ocupaeionais sedimentadoras de iden­
do-se mesmo difícil identificar as suas frontei­ tidades profissionais diversas.

49
Aperspectivafragmentadora ambiguidades e desconexões experienciadas
pelos actores, em suas intenções, na compreen­
Contrariando as lógicas da clareza, da ordem são dos objectivos organizacionais e, maisrestri­
e da previsibilidade conceptual subjacentes à tamente, na eventual confusão inerente à própria
unidade/consistência e à diferença/inconsistên­ ocupação ou função organizacional, impede a
cia defendidas pelas perspectivas integradora e construção de identidades colectivas e de iden­
diferenciadora, respectivamente, a visão fr a g ­ tidades profissionais —quando muito pode
m entado m releva como elemento central de conduzira proliferação desarticulada de iden­
análise as ambiguidades inerentes às múltiplas tidades de trabalho meramente individuais.
ordens e racionalidades organizacionais, propi­ Mesmo admitindo a possibilidade de os
ciando, desse modo, a emergência de uma varie­ diversos actores partilharem, em contexto or­
dade de interpretações sobre uma realidade que ganizacional, orientações e objectivos comuns,
é sobretudo socialmente construída e caracteri­ tal como experienciarem problemas similares,
zada pela complexidade, diversidade e pelo são as crenças e os valores individuais que em
paradoxo (Martin, 1992). Se, por um lado, as última instânciaaccionam diferentes soluções
concepções de mundo em nível global, societal para os mais variados problemas, fragilizando
e, mais especificamente, organizacional, se ins­ assim essà aparente homogeneidade.’
piram em alguns pressupostos enformadores
dos modelos de ambiguidade, por outro, pare­ A multiperspectivação
ce-nos que a perspectiva fragmentado^ ao acen­
tuar as suas análises no domínio dos actores em Apesar de a grande maioria dos trabalhos
contextos organizacionais, enquanto protago­ sobre a cultura organizacional perfilhar apenas
nistas na construção e reconstrução de signifi­ uma das perspectivas teóricas, convém salientar
cados e interpretações múltiplas, não deixa tam­ que partimos do pressuposto de que a comple­
bém de reflectir influências que em muito mentaridade teórica subjacente às três visões se
aspectos se aproximam de alguns postulados toma imprescindível para a compreensão da
teóricos dos modelas subjectivos* E se a aborda­ totalidade do contexto cultural, como já tivemos
gem fragmentadora produz a sua aproximação oportunidade de o testar empiricamente, em
à cultura das organizações pela análise das práti­ anteriores trabalhos de investigação (Torres,
cas, dos sentidos das práticas e da ausência de 1997, 2001, 2004). A partilha dos elementos
ambos, centrados nos actores, então a natureza culturais (valores, crenças, opiniões etc.) pelos
essencialmente ambígua dos objectivos organi­ diferentes actores de uma dada organização só
zacionais, da tecnologia e das práticas sócio-or- pode ser abordada como se de uma questão de
ganizacionais, tornar-se-á provavelmente mais grau se tratasse, como se situando ao longo de
perceptível se admitirmos que aquela perspecti­ um intermitente continuum revelador de distin­
va pode ser igualmente tributária da corrente tos graus de coesão cultural entre os actores.
sociológica da Teoria da Acção. Assim, e procurando explicitar a representação
Aquilo que parece sobressair desta aborda­ gráfica (Figura 1), é possível encontrar no seio
gem cultural é uma multiplicidade de crenças, das organizações pelo menos três tipos de cultu­
valores e significados dados pelos actores às expe­ ra, consoante o grau e a especificidade das suas
riências vividas, sem que se denote, em contexto manifestações: a cidtura integradora, quando o
algum, a consolidação de uníformídades de con­ grau de partilha e de identificação colectiva com
dutas ou de atitudes dos grupos estruturadores os objectivos e valores da organização é elevado;
da organização. De igual modo, todo o rol de a cultura diferenciadora, quando o grau de parti-

50
lha cultural apenas se restringe ao grupo de refe- nal; por fim, a cultura fragmentadora, quando se
rència, sendo provável a coexistência de distin- constata o grau mínimo de partilha cultural, fre­
tas subculturas no mesmo contexto organízacio- quentemente adscrita à mera esfera individual.
Figura 1
M anifestações da C ultu ra O rganizacional: C u ltu ra Integradora, D iferenciadora e Fragm entadora

(-) Cultura fragmentadora Cultura diferenciadora Cultura integradora (+)


<---------------------------------------------------------------------------- -------------------------------------
(-) Nenhuma partilha Alguma partilha Máximo partilha (+)
Nível: individual Nível: subgrupos Nível: organização

Nessa óptica, a questão nuclear não será a 0 Movimento Gestionário da Cultura


de saber se a organização tem ou não uma cultu­ Organizacional: o Nível da Superfície
ra, estritamente no sentido integrador do ter­
mo, mas, sobretudo, de conseguir identificar Tendo em atenção o número de estudos
diferentes manifestações culturais num deter­ produzidos, a evolução da problemática da cul­
minado contexto organizacional, compreender tura organizacional caracteriza-se por uma con­
os múltiplos processos que presidem à sua cons­ centração de trabalhos na década de 1990, ten­
trução e o seu real impacto no desenvolvimen­ dência essa registada a partir das informações
to estratégico das organizações. disponíveis nas quatro bases de dados consulta-
Figura 2
Evolução das Publicações sobre C u ltu ra O rganizacional
{análise com parada)

- X — UM! -IS! -ERIC -A B I

das. A observação da Figura 2 incide sobre o tivas teóricas subjacentes a cada estudo, com o
número global de publicações, revelando-nos fim de obter uma espécie de retrato que captasse
evoluções similares nas quatro bases de dados, o as tendências teóricas mais globais, isto é, o grau
que parece querer significar que o interesse e o e a intensidade de expressão assumida por algu­
ritmo de produção de trabalhos sobre essa pro­ mas manifestações culturais. Assim, a Figura 3
blemática não estiveram condicionados às especi- evidencia-nos a preponderância da perspectiva
ficidades dos seus contextos de produção. Sem­ integradora da cultura na orientação dos vários
pre que foi possível aceder aos resumos dos trabalhos produzidos, confirmando, desse mo­
trabalhos inscritos nas bases de dados (UMI, do, a supremacia do paradigma flmcionalista na
ERIC e ISI), procuramos identificar as perspec­ análise dos fenómenos culturais nas organizações.

51
Figura 3
Perspectiva Teórica A doptada no Estudo da C ultu ra O rganizacional

Integradora Fragmentadora

UM! E l ERIC □ ISI

Dado que os estudos sobre a corporate cul­ conforme ilustra a Figura 4, e sobretudo na ISI
ture constituem uma linha invesrigativa forte­ e na ABI que a corporate culture obtém um nú­
mente inspirada nos pressupostos integradores mero de observações mais elevado, com desta­
da cultura (cf. por exemplo, Deal e Kermedy, que para esta última, onde se encontram mais
1988 [1982]; e Killmann et al., 1985), im­ de quinhentos trabalhos em cujo título o ter­
pôs-se no decurso da nossa investigação a curio­ mo aparece, ultrapassando mesmo o número
sidade sociológica de saber qual a expressão dessa de estudos incluídos na designação de cultura
linha nas várias bases de dados trabalhadas. E, organizacional.

Figura 4
Cultura Organizacional e Corporate Culture

□ Cultura organizacional Corporate culture

52
Sabendo de antemão da inspiração ges­ Estados Unidos da América, enquanto que os
tionária daqueles pressupostos e tendo presen­ trabalhos produzidos na Europa e noutros
te que mais de 50% dos estudos recenseados países denotam maior adesão ao paradigma
nas três bases adoptaram a perspectiva inte­ crítico e interpretativo, submetendo estes às
gradora, fica clara a supremacia desta corrente suas pesquisas e enfoques mais multitèoréticos,
na abordagem dos fenómenos culturais nas em que a perspectiva diferenciadoi'a e a multi-
organizações. Referência ainda para a discre­ perspectivação assumem maior protagonismo
pância entre as três perspectivas, quando ob­ analítico.
servamos as bases de dados em que os trabalhos A partir dos dados (em bruto) fornecidos
estão registados: a UMI, mais perto do contex­ pela ISI Web of Science, relativamente ao
to académico de produção, configura o enfo­ universo dos trabalhos citados por cada autor
que integrador quase três vezes superior ao incluído nessa base, construímos alguns rank­
enfoque diferenciador e cinco vezes mais pro­ ings das publicações e dos autores mais citados
dutivo do que o enfoque multiperspectivacio- para melhor apreender os senddos da evolução
nal; na ERIC, os números e essas proporções da problemárica da cultura organizacional. Ao
são menos significativos, enquanto na ISI se analisarmos a Figura 5 r.elauva ao rankingàas,
destaca o enfoque muhiperspectivaaonal com publicações màis citadas, deparamo-nos com
valores superiores ao diferenciador, muito em­ um cenário totalmente dominado pela litera­
bora constitua sensivelmente um terço dos tra­ tura de tipo empresarial, o que denota a utili­
balhos realizados com a orientação do enfoque zação prevalecente de um quadro de referência
integrador. teórica inspirado na empresa e, porventura, re­
Quanto à perspectiva diferenciadora , iden­ convertido para outras realidades organiza­
tificamos a existência de um total de 203 tra­ cionais. Publicados, sobretudo ao longo da
balhos, número este bastante inferior aos 540 década de 1980, os trabalhos sobre a cultura
trabalhos alocados na perspectiva integradora, o organizacional mais citados internacionalmen­
que poderá indiciar algumas resistências teó­ te apresentam a tipologia de obra ou artigo
ricas ao avocar da natureza plural e diversifi­ científico {quase na mesma proporção), sendo
cada das culturas organizacionais. Por fim, de destacar, no entanto, que os três primeiros
podemos ainda verificar que a perspectivafra g­ lugares são ocupados por obras norte-ameri­
mentadora, enquanto enfoque exclusivo, não canas que ficaram celebrizadas nesse domínio
foi por nós detectada na análise que efectuá­ de estudo.
mos, não obstante depreendermos a sua expres­ Não obstante o evidente protagonismo.
são difusa na constituição da abordagem das áreas da gestão e da sociologia das organi­
multiperspecdvacional, ainda que em termos de zações, a pluralidade de posicionamentos teó­
complementaridade e articulação com as outras ricos, metodológicos e episteraológicos implí­
duas perspectivas. cita neste ranking revela bem a complexidade
A informação disponível permite-nos inerente ao processo de construção da pro­
igualmente o cruzamento de algumas variáveis blemática da cultura organizacional. Por um
pertinentes para o aclarar das tendências acima lado, e ocupando os iugares cimeiros, encon­
captadas, nomeadamente porque põe em evi­ tram-se trabalhos teoricamente inscritos numa
dência a relevância de algumas tradições teóricas perspectiva integradora da cultura, mais pró­
radicadas em distintas culturas, científico-in- xima de registos normativos e gestionários que
vestigativas. Por exemplo, apurámos a tendên­ privilegiam os processos de mudança organi­
cia de afirmação ààperspectiva. integradora nos zacional; por outro lado, e numa proporção

53
Figura 5
Publicações m ais citadas (ISI)

interessante, ressaltam os trabalhos, que adop­ que outros trabalhos de sentido teórico inver­
tam um enfoque fundamentalmente crítico e so, quer em termos de representatividade esta­
problematizador, mais próximos de perspectivas tística, quer em relação aos lugares ocupados,
diferenciadoras efragm m tadoras da cultura (por rivalizam e relativizam a hegemonia do para­
exemplo, Smircich, 1983a, 1983b; Pettigrew, digma funcionalista na análise da cultura orga­
1979; Aliai reeFirsirotu, 1984; Berger e Luck- nizacional, Essa tese ganha consistência quan­
mann, 1990; Martin, 1992, 2002; Martin e do confrontamos essas informações com os
Meyerson, 1988; e Martin e outros, 1983, dados evidenciados pelo ranking relativo aos
1985). autores mais citados (Figura 6), onde, à excep­
Se bem que o primeiro enfoque, ocupado ção do destacado Schein, é possível encontrar
pelos lugares cimeiros do ranking, apareça em autores de distintas filiações teóricas em lugares
vantagem com petitiva, julgamos, no entanto, de significativa difusão.

54
Figura 6
Autores m ais citados (ÏSI)

Se é evidente que Edgar Schein se tornou pectiva integradora da cultura, desenvolve-se


uma espécie degu ru da cultura organizacional dê uma forma quase subterrânea, porque mais
(figurando no primeiro lugar nos dois rankings, discreta e mais difusa no espaço, outro movi­
ora como obra, ora como autor incontestavel­ mento concorrente e em contrà-corrente, que
mente mais citado), não deixa de ser pertinente se demarca do anterior pela versatilidade teóri­
verificar que duas das autoras mais importantes ca, crítica e reflexiva. Enquanto o primeiro se
no âmbito do paradigma crítico ocupam o ter­ tomou mais popularizado e, por isso, com mais
ceiro (Linda Smircich) e o quarto lugar (Joanne impâetó nas comunidades científica e gestio­
Martin). Objecto de distintas e antagónicas nária internacionais - ao que não serão alheios
focalizações teóricas e epistemológicas, assim os sucessos editoriais alcançados por alguns au­
como de diferentes enfoques metodológicos, a tores, nem tão pouco o facto de representar tuna
cultura organizacional tem vindo a construir- corrente teórica legitimada e legitimadora das
se como uma problemática de natureza multí- ideologias políticas e económicas vigentes —,o
disciplinar e multiparadigmática, espelhando segundo movimento representa porventura o
bem as influências teóricas, políticas e ideoló­ desenvolvimento de linhas de investigação mais
gicas plurais a que tem sido sujeita. Os dados problematizadoras e, portanto, não tão com­
estatísticos que aqui apresentamos têm o condão prometidas com determinadas ideologias de
de ilustrar empiricamente a natureza multifor­ mercado.
me desse tema, ao revelar a coexistência de dis­ Inscrito sobretudo num contexto mais
tintos e antagónicos contextos de produção (dos estritamente académico, esse segundo movi­
mais eminentemente académicos aos de índole mento tem concentrado os seus objectivos no
mais gestionária e técnica), orientados por lógi­ aprofundamento da problemática da cultura
cas de produção, de divulgação e de consumo organizacional, pondo à prova as potencialida­
igualmente dispares e por vezes contraditórias. des das várias perspectivas de análise, sendo de
destacar a sua crescente afirmação no domínio
O Movimento Crítico da Cultura específico da educação. Os contextos escolares,
Organizacional: o Nível da tanto nos níveis básico e secundário como no
Profundidade superior, ao mesmo tempo que se tomaram em
objectos privilegiados de investigação numa
Paralelamente a um movimento teórico óptica mais funcionaiista e gestionária, suscita­
hegemónico e tipicamente norte-americano, ram em simultâneo o desenvolvimento de di­
caracterizado pela adopção dominante da pers­ versas propostas que permitiram análises mais

55
críticas e Kolístícas dosfenómenos culturais. IIus- integrados nessa linha de investigação, Essa
trativamente, a Figura 7 apresenta a expressão matriz que intercepta os vários trabalhos assen­
que as diferentes perspectivas teóricas assumem ta na rejeição de uma imagem exclusivamente
no estudo da escola (por confronto com as integradora e uniforme de cultura, propondo,
empresas e outras organizações) e no âmbito de em contrapartida, a análise e interpretação de
duas bases de dados (UMI e ERIC). várias possibilidades de manifestação cultural.
Apesar de se verificar a supremacia teórica O questionamento, sob diferentes ângulos de
da p ersp ectiv a in tegra d ora nas abordagens análise, dos estudos de tipo monoculturalj per­
culturais dé codas as organizações, os dados da mitiu não só um alargamento teórico.-científi-
UMI, revelam que, num segundo plano, a co da problemática, como visibilizou distintas
perspectiva diferenciadora e a m ultiperspectiva- e contraditórias modalidades de apreensão da
ção atingem valores mais elevados nas aborda­ cultura organizacional.
gens culturais da escola (e mesmo em outras Celebrizando o registo mais crítico e pro-
organizações) do que propriamente nós estu­ blematizador de entre todas as modalidades de
dos empresariais. Essa constatação vem refor­ apreensão da cultura, os vários trabalhos pro­
çar a ideia de maior protagonismo da área da duzidos no âmbito dessa agenda constituem já
educação no desenvolvimento do movimento um suporte teórico e científico relativamente
crítico. sustentado, sobretudo no campo educativo. De
Se bem que este movimento alternativo facto, ao constatarmos que o contexto da edu­
não represente um corpus teórico-científico ho­ cação escolar tem sido aquele que mais tem
mogéneo e uniforme, dadas as múltiplas filia­ fomentado o aprofundamento teórico deste
ções teóricas e ideológicas que integra, é.possí­ movimento, somos tentados a admitir a hipó­
vel, mesmo assim, identificar um denominador tese de existência de uma correlação entre as
comum que atravessa a maioria dos trabalhos especificidades da estrutura-acção da escola e

Figura 7
Perspectiva Teórica por Tipo de Organização Estudada
(análise comparativa entre a UMI e a £RIC)

UM! ERJ.C

H Integradora E3 Diferenciadora LJ Fragmentadora EMultiperspectivação

56
os seus efeitos na construção da cultura orga­ o jogo de forças coexistentes em determinado
nizacional. Isto é, as singularidades políticas e contexto. Por isso, investe-se em abordagens
organizacionais da escola, ao alicerçarem-se sob mais hoiísticas, que extravasam os limites físi­
diferentes 'planos analíticos”,6 com impacto cos da própria organização, ora enfatizando os
assinalável nas práticas e interacções quotidia­ processos de construção cultural de cima para
nas, parecem exigir a convocação de mode­ baixo (top-dow n ), ora questionando tal orien­
los de análise alternativos, susceptíveis de tação, proclamando antes uma inflexão analíti­
melhor apreender o carácter holístico e muki- ca, assente numa recentralização da escola como
factorial que subjaz ao “processo de construção espaço investigativo, deslocando o enfoque de
e reconstrução da cultura da escola” (cf. Bates, baixo para cima (dow n-top ),
1987, pp. 88-89; e Sparkes e Bloomer, 1993, A natureza multidisciplinar desse movi­
p. 171). mento, assim como a sua associação a metodolo­
Decorrente das especificidades do modelo gias de investigação mais qualitativas, não só
organizativo da escola, o impacto das reformas permitiu uma abordagem mais aprofundada e
educativas sobre os processos de mudança nas consolidada sobre a problemática da cultura,
organizações escolares assume proporções mais como correlativamente desmistificou algumas
expressivas ao visibiliz.ar uma desçontinuidade apropriações ideológicas e políticas a que aquela
entre o contexto heterónimo de concepção de tem sido sujeita. Ao denunciar-se a presença de
orientações/medidas (administração central) e diferenciadas manifestações culturais (cultura
o contexto localizado e periférico de adopção e integradora, diferenctadora e/oufragm entadora)
implementação pelos actores (escolas). A cons­ num mesmo contexto organizacional, questio­
tatação de uma certa desregulação, e, por vezes, na-se como consequência, a natureza positivis­
mesmo de uma ruptura profunda entre as ta (fixista e estática) dos pressupostos integra­
esferas da concepção (objectivos) e os espaços dores da cultura, assim como a sua relação directa
concretos de implementação (resultados), com os objectivos da eficácia e da eficiência.
fomentou a necessidade de se compreender, Não obstante a diversidade de trabalhos
por um lado, as especificidades culturais dos produzidos em diferentes contextos organiza­
contextos onde decorre a acção educativa e, cionais, sobretudo escolares, julgamos, contu­
por outro lado, a reacção destes a um conjunto do, que a edificação de um modelo teórico para
de factores, como, por exemplo, um pacote de a análise da cultura organizacional ainda se en­
programas de acção externamente produzidos. contra comprometida peio tradicional fecha­
Essa dupla preocupação em olhar a cultura or­ mento disciplinar dos estudos e pelos limites
ganizacional simultaneamente como processo e temporais e lógicas institucionalmente impos­
produ to parece estar presente em grande parte tas aos projectos de investigação.
das investigações enquadradas no movimento
crítico. A Construção da Cultura nas
Se bem que a resistência à dissociação das Organizações: Regularidades e
ideias de cultura organizacional e desenvolvi­ Dinâmicas na Sedimentação
mento da escola continue presente nalguns tra­
balhos, privilegia-se, doravante, um enfoque Analisando a vastíssima literatura desen­
multidisciplinar, susceptível de desocultar os volvida sobre a cultura organizacional, identi­
factores intervenientes na construção da cultu­ ficamos como uma das fragilidades teóricas mais
ra organizacional da escola, podendo esta tra­ expressivas, sobretudo em relação aos trabalhos
duzir-se em distintas manifestações consoante de natureza mais gestionária, a quase ausência

57
de informação acerca dos processos de constru­ manifestação cultural (integradora, diferencia-
ção e reconstrução das dimensões culturais das dora, fragmentadora). A sobreposição de di­
organizações. Ao privilegiar-se, em primeiro versas configurações culturais no contexto or­
plano, os processos de diagnóstico e de gestão ganizacional aparece, igualmente, associada à
das variáveis culturais e das suas relações com ideia de “tráfico cultural” (Alvesson, 2002, p.
os resultados organizacionais, desfocou-se a aten­ 191), no sentido em que reflecte o fluir da
ção dos modos como se processa a construção e mudança das orientações e constelações sócio-
a consolidação das culturas, transferindo-se o culmrais em trânsito no seio de várias instân­
enfoque para os processos de medição e de con­ cias: meios de comunicação social, agências
trolo dos indicadores culturais. Porém, náo políticas, literatura científico-gestionária, mo­
podemos verdadeiramente compreender a vimentos sociais, entre outros.
importância das especificidades culturais de As organizações enquanto loa de reprodu­
üma dada organização sem primeiro identifi­ ção e produção normativa e cultural, reagem
carmos os tempos, os lugares e os espaços em activamente sobre o fluir do tráfico cultural\
que elás ocorrem. A relevância do simbólico e redireccionado-o e recontextualizando-o a par­
do cultural no contexto das organizações será tir de um processo similar ao de “reposição cul­
tanto mais significativa quanto melbor conhe­ tural dinâmica”, defendido por Alvesson (;idem ,
cermos os factores que contribuíram para o seu p. 192), isto é, o modo pelo qual os valores, as
desenvolvimento. crenças, os significados permutam entre o cen­
Em face desse quadro de fundo, defende­ tro e a periferia, entre a macro-estrutura e a
mos aadopção de uma focalização interpreta- acção organizacional, num movimento dinâ­
tiva e crítica da cultura organizacional, que en­ mico e interactivo. A pertinência analítica des­
fatize a sua natureza processual, dinâmica e ses “princípios para um uso produtivo do con­
dialéctica. Em termos fenomenológicoSi o pro­ ceito de cultura organizacional” (idem, ibidem,
cesso de construção da cultura organizacional p. 189) reside na exploração da dupla tensão
constitui uma forma sustentada de hibridaçáo, das relações entre estrutura e acção e entre den­
resultante de combinações, de interferências tro e fora (Torres, 2004).
mútuas, de interfaces e interpenetrações entre Erguido a partir de dois eixos principais, a
um vasto conjunto de factores. Na sequência grelha analítica representada na Figura 8, pro­
dessas orientações teóricas, faz sentido recupe­ cura ilustrar os diversos graus de implicação,
rar a proposta desenvolvida por Alvesson articulação e de interdependência entre as res­
(2002, pp. 190 ss.), assente numa visão das pectivas categorias constituintes do eixo hori­
“configurações culturais múltiplas”, para enfa­ zontal (fora/dentro) e do eixo vertical (estrutu­
tizai' a ideia de hibridação e de mistura de ma­ ra/acção) no processo de construção da cultura
nifestações culturais de diferentes níveis e de organizacional. Da intersecção entre os dois eixos
distintas naturezas. Abordada como um pro­ resulta o recorte de quatro quadrantes, regulados
cesso dinâmico e de configuração variável, re­ por factores de incidência e expressão diferen­
sultante de uma simbiose operada entre as cir­ ciados na construção cultural e simbólica: o
cunstâncias externas (das locais às de âmbito quadrante 1 , circunscrito ao binário estrutura/
global) e a forma como estas são construídas e dentro, evidencia a centralidade da estrutura
reconstruídas nos contextos organizacionais formal no processo de construção da cultura,
concretos, a cultura organizacional assume, induzindo uma relação de sobredererminação
desse modo, uma natureza multiconfiguracio- da primeira sobre a segunda; o quadrante 2 ,
naf, podendo dar origem a distintas formas de localizado na intersecção entre a acção e o

58
Figura S
Processo de Construção da Cultura Organizacional

i
\
Estrutura /
formal J
Ex: Órgãos de administração
e gestão / Serviços / Posto
^de Trabalho ^___ v
Ex: Orientações poiííicas,
económicase^rofissionais
de âmbijd gíobaí^acional
í' e local }

Factores
\ ■
Factores
Exógenos Endógenos
Fora/Exterior Ex: Espaços de convívio
Dentro/Interior
e sociabilidade, rituais de
Ex: Aprendizagens socjâis interacção, rotinas e
v _desenvolvimento foçâ da padrões de comportamento
organizaçãíj (femília, àfnigos,
>es diversas]

Acção/
Informal

dentro, revela o protagonismò da agência hu­ do mais, essa visão recortada da problemática
mana no interior da organização na produção possibilita um pertinente exercício de desven-
da sua cultura; o quadrante 3 , situado na conver­ damento das limitações e das capacidades ex­
gência enrre a acção e o fora, aponta-nos para a plicativas propiciadas por cada constelação cul­
influência exercida quer pelas trajectórias de socia­ tural, indispensável à problematização da
lização vivenciadas pelos actores nos vários cultura organizacional.
contextos sociais, quer pelo genotipo cultural da Se é facto que, no actual quadro de globa­
comunidade/meio ria construção da cultura or­ lização económicd-culturai, as organizações de
ganizacional ; por fim, o quadrante 4 , restrito ao trabalho têm estado sujeitas a múltiplas transfor­
cruzamento dos campos estrutura/fora, sugere- mações - na política de gestão, na estrutura orga-
nos a prevalência dos padrões estruturais, exter­ nizativa, rias práticas de trabalho, nas compe­
namente contexrualizados no nível polídco e na tências e nos perfis pro-fissionais, e na formação
esfera profissional, no enquadramento das orien­ profissional com um impacto assinalável na
tações normativas e culturais dá organização, reconfiguração da sua cultura, interessa apro­
A relevância heurística desses quatro cená­ fundar os processos de construção e reconstru­
rios culturais, analiticamente recortados do mode­ ção cultural a partir de uma óptica mais global,
lo teórico, reside na visualização dos efeitos que que contemple as diversas pressões e tensões que
determinados factores exercem sobre o processo actualmente se impõem a todo o processo de
de construção da cultura, sòbretudó qiiando produção cultural. Estamos em crer que o mo­
estão em discussão as potencialidades de distintas delo teórico que temos vindo a desenvolver cons­
perspectivas teóricas, assentes em diferenciadas titui apenas um pequeno contributo a merecer,
agendas científicas, políticas e ideológicas. Além futuramente, maior reflexão e aprofundamento.

59
Notas

1 A função destes dados deve ser entendida como meramente ilustrativa de algumas tendências
evolutivas da problemática da cultura organizacional, já que as bases electrónicas consultadas
não integram a totalidade de trabalhos produzidos na área, incidindo particularmente nos países
anglo-saxónicos e, entre estes, com grande preponderância, nos Estados Unidos da América.
2 Para um desenvolvimento teórico dessas focalizações, ver Smircich (1983a).
3 Sobre os pressupostos e o desenvolvimento teórico subjacentes a essas perspectivas, ver Meyerson
e Martin (1987); Martin e Meyerson (1988); Frost (1991); Martin (1992, 2002).
4 Para uma síntese dos vários modelos teóricos de análise organizacional, nomeadamente no que
respeita aos modelos subjectivos, ver, por exemplo, Bush (1986).
5 No âmbito da perspectiva fragmentadora, ver, por exemplo, os contributos de Weick (1991),
Meyerson (1991) eFeldman (1991).
6 Referimo-nos, na esteira de Lima (1992), ao “plano das orientações para a acção" e ao “plano da
acção organizacional”, regidos por distintas regras e lógicas organizacionais.

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Artigo recebido em maio/2Q07


Aprovado em novembro/2008

Resumo

Cultura das Organizações: Enfoques Dominantes, Tendências Internacionais e Novas Propostas Analíticas

A cultura e o simbolismo organizacional representam hoje una sólido campo de estudos marcado por
múltiplas contribuições disciplinares e por diversas agendas teóricas. Analisando a diversidade de estudos
produzidos nas dirimas décadas no plano internacional, identificamos dois movimentos teóricos distintos
e concorrentes na abordagem da culrura organizacional: o movimento integrador, como referencial
hegemónico; e em contra-corrence, o movimento crítico. Se, por um lado, as perspectivas de natureza mais
gesdonária e integradora defendem que as culturas integradoras favorecem a construção da excelência e a
competitividade organizacional, por outro lado, as perspectivas críticas e reflexivas investem no estudo
dos processos de construção e manifestação do cultural, relativizando o seu uso como técnica a serviço da
produtividade. O objectivo centrai deste artigo consiste na apresentação de um modelo teórico-empírico
para a análise das dimensões culturais e simbólicas das organizações que perm ita apreender os actuais
processos de m udança em curso nas organizações de trabalho.

P alavras-chave: C u ltu ra organizacional; Sim bolism o organizacional; Sociologia das organizações;


Gérencialismo.

Abstract

Culture o f Organizations: Dominant Focusing, International Tendencies, and New Analytical Proposals

Both culture and organizational symbolism represent nowadays a solid field o f study marked by m ultiple
disciplinar)' contributions and by several theoretical agendas. H aving analyzed the diversity of studies
produced in the last few decades in the international level, w e have identified two competing distinct
theoretical srudies on approaching organizational culture: the integrator movement, as a hegemonic refer­

62
ential, and, as a countercurrent, the critical movement. If, on the one hand some more m anaging and
integrating perspectives support that integrating cultures w ill favor the building o f excellence and organi­
zational competitiveness, on the other hand critical and reasoning perspectives w ill invest in the study of
processes o f construction and cultural .manifestation, relarivizing its usage as a technique in service of
productivity. The central objective o f this article consists in presenting a theoretical-empirical model to
analyze cultural and symbolic dimensions o f organizations that w ill allow apprehending the current
processes o f ongoing changes in labor organizations.

K eyw ords: O rgan izatio n al cu ltu re; O rgan izatio n al sym b o lism ; T h e sociology o f o rganization s;
M anagerialism.

Résumé

Culture des Organisations: Points deVue Dominants, Tendances Internationales et Nouvelles Propositions Analytiques

La culture et le symbolisme organisarionnel représentent, de nos jours, un domaine d ’études solide,


marqué par de multiples contributions disciplinaires et par divers agendas théoriques. En analysant la
diversité des études produites au cours des dernières décennies sur le plan international, nous avons
id en tifié d eux m ouvem ents théo riques d istin cts et concourants dans l’ abordage de la cu ltu re
organisationnelle : le mouvement intégrateur en tant que référentiel hégémonique et, en contrepartie, le
mouvement critique. Si, d un côté, les perspectives de la nature plutôt gestionnaire et integrative défendent
que les cultures intégracives sont favorables à la construction de l ’excellence et à la com pétitivité
organisationnelle, d'un autre, les perspectives critiques et réflexives investissent dans Fétude de processus
de construction et de manifestation culturelle, relativisant leur usage en tant que technique à service de la
productivité. L’objectif central de cet article est présenter un modèle théorique et empirique pour l’analyse
des dimensions culturelles et symboliques des organisations qui permette d ’appréhender les processus
actuels de changement en cours dans les organisations de travail.

M ots-clés: Culture organisationnelle; Symbolisme organisarionnel; Sociologie des organisations; Gestion.

63
Teoria e Método nos Estudos sobre o Legislativo Brasileiro;
uma Revisão da Literatura no Período 1994-2005

M anoel Leonardo Santos

Introdução tudos para a Ciência Política brasileira, parece


justificável que os contornos dessa produção
Com a a redemoçratszação do país e, em científica sejam resumidos num esforço analíti­
especial, com a nova ordem constitucional inau­ co mais sistematizado. Essa é exatamente a
gurada em 1988, teve início na Ciência Políti­ motivação deste artigo.
ca brasileira um esforço coletivo para produzir E claro que não se trata de uma iniciativa
boas explicações sobre nossas instituições políti­ exclusiva ou original. Outras revisões da litera­
cas. Nesse contexto, o Poder Legislativo se cor­ tura já foram feitas, a exemplo de Partidos, elei­
nou um privilegiado objeto de estudo. O ponto ções e Poder Legislativo (Limajr., 1999) e “For-
de ínfléxão desses estudos está no mício dos anos mas de governo, leis partidárias e processo
1990 e, pode-se, sem maiores problemas, to­ decisório” (Limongi, 2003). Além da revisão
mar como marco teórico inicial desse período a que consta no livro intitulado E no início eram
pesquisa de Fernando Limongi, darada de as bases: geografia política do vòto e comporta­
1994 e denominada Tetra incógnita: funciona­ mento legislativo no Brasil (Carvalho, 2003).
mento eperspectivas do Congresso Nacional. Na­ Sem desconsiderá-las, muito pelo contrário,
quele momento, como resultado dessa pesqui­ partindo de suas valiosas contribuições, é que
sa, um survey da literatura norte-americana foi esta revisão foi realizada.
publicado por Limongi (1994) na BIB, com a Entretanto, o tratamento dado ao assunto
expectativa de que a vasca produção norte-ame­ aqui foi um pouco diferente. Mais do que uma
ricana1 sobre a organização legislativa pudesse revisão bibliográfica pura, faz-se uma recons­
lançar luz sobre os nossos parcos conhecimentos trução racional da produção científica, toman­
sobre o funcionamento do Congresso Nacional. do como foco principal os problemas de teoria
Além dessa pesquisa, dois outros trabalhos e método enfrentados pelos pesquisadores.
aparecem como marcos importantes. São duas Nesse sentido, ao contrário de uma cronologia
teses de doutorado que podem ser consideradas da produção do conhecimento na área, a re­
paradigmáticas. A primeira, posteriormente pu­ construção racional da produção científica aqui
blicada na revista Dados, é a de Santos (1995), sugerida parte de duas questões analíticas bem
denominada “Microfundamentos do clientelis- definidas: (i) que teorias influenciaram os pes­
mo político no Brasil” (luperj); a segunda é a de quisadores brasileiros quando se voltaram para
Pessanha (1997), intitulada Relação entre ospode­ o Congresso Nacional como objeto de estudo,
res Executivo e Legislativo no Brasil: 1946-1994. especialmente no que diz respeito às teorias
A partir dessas referências, muitos outros positivas sobre o Legislativo norte-americano?r
trabalhos foram desenvolvidos e, desde lá, o e (ii) quais as mais significativas opções meto­
debate vem acumulando importantes avanços. dológicas feitas por essespesquisadores para dar
Considerando a relevância desse campo de es­ conta do seu objeto de estudo?

BIß, São Paulo, n° 66, 2 ° semestre de 2008, pp. 65-89. 65


Adicionalmente, este artigo procura tam­ Congresso, aqui foram priorizados os
bém cotejar os resultados obtidos no campo autores com pretensões a generalizações
dos estudos legislativos com outras áréas da mais amplas sobre a estrutura e funcio­
Ciência Política brasileira e apontar aspectos namento da organização legislativa;
relevantes para uma futura agenda de pesquisa. c) pelo mesmo motivo acima menciona­
do foram deixados de fora também os
Análise Crítica da Literatura recentes estudos sobre migração parti­
dária na Câmara dos Deputados. Em­
O que comumente se toma por literatura bora esses trabalhos digam muito sobre
científica são artigos publicados em revistas cien­ os partidos e seu comportamento na
tíficas, comunicações em congressos científicos, arena legislativa, não são propriamente
dissertações de mestrado, teses de doutorado, generalizações sobre a estrutura e o fun­
livros publicados e u/orktngpapen. Entretanto, cionamento do Congresso Nacional;6
no âmbito desta pesquisa, foram priorizados os d) os estudos sobre sistemas políticos em
artigos científicos, por considerá-los a parte mais perspectiva comparada também não
relevante da produção acadêmica. Ou seja, foram incluídos, embora.se saiba de sua
aquele substrato que foi mais amplamente ava­ importância e que cada vez mais cres­
liado pela comunidade científica e que mereceu, cem em número e qualidade na. Ciên­
ao final, uma indicação para publicação. No cia Política brasileira; '
mais, uma análise como esta não poderia mes­ é) trabalhos de caráter ensaístico ou
mo ser censitária, pois os números encontrados puramente opinativos também não fo­
tornaram esta tarefa inviável.3 De qualquer for­ ram considerados;
ma, considerando a amostra aqui analisada, f) trabalhos de cunho eminentemente
parece justo crer que a parte mais significativa normativo ou jurídico, da mesma for­
da produção foi de fato considerada. ma, foram excluídos;
O período da revisão compreende onze g) foram excluídos também trabalhos de
anos (1994-2005), e os critérios utilizados1para natureza jornalística ou de memórias e
a escolha dos trabalhos foram: trabalhos que se depoimentos de atores polídcos;
caracterizam como explicações comprometidas h) trabalhos sobre a história do Legislati­
com causalidade, trabalhos com hipóteses empi­ vo no Brasil também ficaram de fora do
ricamente motivadas e trabalhos que guardam escopo desta pesquisa;
alguma relação com as teorias norte-americanas i) foram considerados trabalhos sobre o
sobre o Legislativo. Esses critérios foram operacio- Legislativo produzidos por cientistas
nalizados considerando os seguintes aspectos: políticos nacionais e por brasílianistas,
a) foram incluídos apenas os trabalhos que publicados tanto ém periódicos nacio­
trazem alguma explicação sobre o Con­ nais como em publicações internacio­
gresso Nacional, ou seja, explicações so­ nais.
bre o Legislativo estadual e municipal Com base nesses critérios, a amostra consi­
não foram consideradas, derada teve: capítulos em livro (12), artigos
b) não foram incluídos alguns trabalhos publicados em periódicos científicos nacionais
que buscam explicar aspectos relativos e internacionais (31) e comunicações em con­
a políticas públicas específicas na arena. gressos científicos (2), totalizando 45 papers.
legislativa.5 Muito embota se saiba que O procedimento para a reconstrução racio­
eies trazem alguma explicação sobre o nal da produção científica foi a desagregação das

66
teorias, considerando seus aspectos teóricos, na forma de operacionalização das variáveis
metodológicos e empíricos. A operacionalização da explicativas por parte dos pesquisadores, de
análise considerou: (i) a análise da teoria, que im­ maneira que não é possível considerar todas aqui,
plica identificar os pressupostos teóricos de cada uma a uma.5 Então, para tornar viável essa análi­
modelo; (ii) a análise da metodologia, que pressu­ se, o que se tem aqui é uma síntese das inúmeras
põe levantar que metodologias foram utilizadas variáveis utilizadas nos modelos, agrupadas na­
para a realização dos estudos; e, por fim, (iii) a quilo que se pode chamai' de macrovaríáveis.
análise dos dados em píricos, ou seja, a verificação Essas macrovaríáveis agregam, por semelhança,
de quais os dados utilizados nos trabalhos. certo número de variáveis utilizadas nos modelos.
Os resultados da “entrevista” com a litera­ Como se vé na Tabela 1, estão classificadas
tura são os que seguem. em dois grupos: variáveis do tipo exógenas e do
tipo endógenas à organização legislativa. Essa
Estudos Legislativos por Variável classificação procura levar às últimas conseqüên­
Explicativa cias a hipótese oferecida pela literatura norte-
americana, segundo a qual os estudos se dividem
Se considerarmos que a escolha de uma em modelos de primeira e segunda geração, que
variável explicativa para compor um determi­ demandam instituições para sua elaboração; e
nado modelo segue uma orientação teórica, ou os modelos de terceira geração, que, ao contrá­
seja, que, quando um pesquisador parte para rio, oferecem as próprias instituições para a cons­
um objeto de estudo, ele elabora hipóteses teo­ trução das explicações9 (Sliepsle e Weingast,
ricamente orientadas, o melhor critério para 1994). Por variáveis etidógenas, assumem-se
verificar as influências que um determinado aquelas que dizem respeito à organização interna
campo de pesquisa sofreu é a análise de suas do Poder Legislativo e ao processo decisório; e
variáveis explicativas. Dito de outra forma, o por variáveis exógenas, entendem-se as demais
melhor caminho é analisar aquilo que os pes­ variáveis utilizadas nas explicações em análise.
quisadores colocam do lado direito da equação. As m acrovaríáveis explicativas utilizadas
Entretanto, a análise dos inúmeros modelos nos modelos elaborados peta ciência política
apresentou uma imensa variação na seleção e brasileira nesse período são as seguintes.

T ab e la 1
Variáveis Explicativas, Agregadas, Utilizadas para Explicar a Organização
do Legislativo Brasileiro

Macrovaríáveis Conjunto de variáveis


Agregação de variáveis explicativas (operacionalização)
(questão central)

M acrovaríáveis exógenas

Federalismo Distribuição de recursos orçamentários (investimentos e transferências


Conjunto de variáveis relativas às tensões constitucionais); distribuição de recursos via empréstimos do F G T S
intergovernamentais (governo central x (transferências não-consdtucionais); execução de emendas orçamentárias
níveis subnacionais de governo) e relati­ das bancadas dos estados; governador fone ou fraco eleitoralmente; reelei­
vas ao poder dos governadores sobre as ção do governador; voto da bancada dos estados em questões relativas à
bancadas estaduais. redefinição do pacto federativo; convênios entre ministérios e prefeituras.

continua

67
continuação

Macrovariáveis Conjunto de variáveis


Agregação de variáveis explicativas (operacionalização)
(questão central)

M acrovariáveis exógenas

Forma de governo Parlamentarismo x presidencialismo; em especials aspectos relativos às


Variáveis relativas à forma de governo. características do presidencialismo brasileiro.

Sistema eleitoral Sistema de lista aberta; processo de escolha dos candidatos no partido;
Conjunto de variáveis relativas às regras descentralização da escolha dos candidatos no partido; migração partidá­
eleitorais e partidárias. ria (fidelidade); magnitude do distrito; competição eleitoral no distrito;
gastos de campanha; n° de cadeiras do distrito; desproporcionalidade (n°
de cadeiras x n° de habitantes - mãlãpointment) ; eleição em dois turnos
para governadores (indica fraqueza ou força do candidato); ciclos eleitorais.

Desempenho eleitoral N ° de votos; padrão de votação (dominante/compartilhada e dispersa/


Conjunto de variáveis relativas ao de­ concentrada); padrão de coalizões com os atores políticos locais (coalizão
sempenho eleitoral do parlamentar e de com o governador e com o prefeito); independência (independência do
seu padrão de votação nos distritos. deputado diante dos seus concorrentes no mesmo município); desempenho
eleitoral, dado pela sua posição na lista; margem de vitória na última
eleição; votos para presidente na última eleição; taxa efetiva de participação.

Características do distrito N ° de eleitores; n° de empregados na indústria; renda p er capitai PIB p er


Variáveis sociodemográficas e econômi­ capita ; região a que faz parte (se pobre ou rica); população; n° de empre­
cas dos distritos eleitorais dos estados e gados no governo; n° de empregados na agricultura; n° de imigrantes.
m unicípios.

Sistema partidário Número de partidos; n° efetivo de partidos; fragmentação partidária;


Conjunto de variáveis relativas ao nú­ coesão partidária; padrão de coalizões partidárias.
mero de partidos e outras características
do sistema.

Ideologia Filiação partidária atual; filiação partidária durante o bipartidarismo bra­


Conjunto de variáveis relativas à posição sileiro (Arena x M D B); abrangência (distância ideológica entre os parti­
do parlamentar no espectro ideológico dos que formam a coalizão); distância (distância ideológica entre os par­
esquerda-direita. tidos e o chefe do Executivo); distância ideológica do cartel.

Ba ckçro und/exp ertise Atividade econômica predominante; atividade profissional; ter exercido
Conjunto de variáveis relativas ao histó­ cargo eletivo no Executivo ou no Legisladvo (nas três esferas de governo);
rico do parlamentar, tanto de expertist ter exercido cargo não-elerivo no Executivo (burocracia, nas três esferas);
como de experiência política. área de atuação política (movimentos sociais, sindicatos etc.); formação
académica; perfil sociológico (sexo, faixa etária, nível de instrução).

Posicao oolítica Fazer parte do partido ou da coalizão de sustentação do presidente; fazer


C onjunto de variáveis que indicam a parte do partido ou da coalizão de sustentação do governador no seu
posição política do parlamentar diante estado; fazer parte da oposição; assumir posições políticas publicamente
de um determinado governo. no p{ano nacional em temas polêmicos; fazer pane do cartel legislativo.

continua
continua

Macro variáveis Conjunto de variáveis


Agregação de variáveis explicativas (operacionaiizaçáo)
(questão central)

M acrovariáveh endógenas

Poderes do presidente Iniciativa exclusiva de leis, decreto com força de lei - medidas provisó­
Variáveis relativas aos poderes de que rias; requerimento de urgência; poder de veto.
dispõe o presidente para fazer valer sua
vontade sobre o Legislativo.

Centralização decisória Poderes concentrados no colégio de líderes (poder de agenda; requeri­


Conjunto de variáveis que determina o mento de urgência; negociações privilegiadas); poderes dos líderes parti­
processo decisório centralizado ou des­ dários (encaminhamento de votações nominais; voto de liderança; con­
centralizado no Legislativo. trole da apresentação de emendas em plenário); poder legislativo pleno
das comissões permanentes.

Direitos parlamentares Ocupar o cargo de liderança do partido; liderança de bancada; mesa


Variáveis relativas à distribuição de di­ diretora: designação para as comissões permanentes, para as CPIs e co­
reitos parlamentares e de recursos legis­ missões especiais; indicação para presidência das comissões e para as
lativos. relacorias.

Partidos políticos Partidos fortes (com capacidade para resolver problemas de ação coleti­
Conjunto de variáveis relativas ao poder va); partidos fracos (que não desempenham um papel relevante na arena
do partido político na arena parlamentar. legislativa); migração partidária; coesão partidária; disciplina partidária.

Patronaeem Nomeações no gabinete; distribuição do orçamento por ministério a


Conjunto de variáveis relativas à distri­ partir dos critérios partidários; eferiva execução (valor) das emendas
buição de recursos por parte do Executi­ orçamentárias dos parlamentares; decurso (diminuição do interesse pela
vo com o objetivo de formar coalizões no patronagem e afastamento da coalizão presidencial em virtude do final do
parlamento em favor de sua agenda po­ mandato do presidente); recompensa (n° de ministérios proporcional ao
lítica. n° de cadeiras do partido); coalescência (índice indicativo do grau de
coerência entre a formação do gabinete e a proporcionalidade partidária
no parlamento); concessão de rádio e TV,

Pork Execução de emendas orçamentárias dos parlamentares; n° de emendas


Conjunto de variáveis relativas à distribui­ apresentadas pelo parlamentar por município {credit claiming)\ audiên­
ção de recursos públicos concentrados e cia ministerial; transferência de benefícios aos municípios; convênios
localizados, caracterizando conexão eleitoral. com os municípios.

Sênioritv N° de mandatos; n° de mandatos nas comissões; ocupação de cargos no


Variáveis relativas à carreira do parlamen­ Legislativo ao longo da carreira parlamentar.
tar no interior do Legislativo.

Processo legislativo Tipo de proposição (decreto legislativo; projeto de lei, medida provisória,
Conjunto de variáveis relativas às regras projetos de resoluções etc.); tempo de tramitação; autoria (autor na liderança
de tramitação e ao tipo de proposição e dos partidos ou em cargos de destaque no parlamento); sede da revisão
seus impactos nos outcomes legislativos. final (casa); parecer técnico das comissões (favorável ou contrário); relatoria.
Fonte: Banco de ciados do autor.

69
Três Grupos de Modelos Explicativos autores não é razoável. Entretanto, é perfeita­
mente possível classificar os referidos grupos
Considerando a utilização que os pesqui­ pela sua opção teórica, ou seja, pelo conjunto
sadores fizeram das variáveis explicativas em de variáveis explicativas que os autores deram
seus modelos, chega-se, sem maiores proble­ mais significado. Nesse sentido, passar-se-á a
mas, a três grupos de estudos sobre o Legislati­ chamar o Grupo I de modelos de arena Executi-
vo brasileiro. vo-Legislativo , que também poderia ser cha­
O Grupo I é formado por 25 modelos ca­ mado de modelo de processo decisório; o Gru­
racterizados pela utilização exclusiva de variá­ po II de modelos de arena eleitoral, e o Grupo III
veis endógenas. Os treze autores que desen­ de modelos de dupla arena.
volveram esses modelos foram: Figueiredo e Contudo, para que essa classificação não
Limongi (1994a; 1994b; 1995; 1997; 1998a; sugira certo atropelo das diferenças, é mais pru­
1998b; 2000; 2001a; 2001b; 2001c; 2002a; dente refinar a sua análise, demonstrando o
2002b; 2003; 2005); Figueiredo (2001); Al­ peso que cada grupo de estudos atribui a cada
meida e Santos (2005); Figueiredo, Limongi e variável explicativa.
Valente (1999); Cheibub, Figueiredo e Limon­
gi (2002); Amorim Neto (2000); Amorim Neto O Peso das Variáveis Explicativas em Cada
e Santos (2001; 2002); Amorim Neto e Tafner Grupo de Modelos
(2002); Amorim Neto, Cos e McCubbins
(2003); Santos (1995; 1997); Ricci (2003); Partindo da mesma premissa anteriormen­
Pereira e Mueller (2000). te sugerida, segundo a qual a escolha por deter­
O Grupo II é formado por seis modelos minadas variáveis explicativas por parte de um
que utilizam exclusivamente variáveis exóge­ pesquisador é informada pela teoria que orien­
nas. Aqui encontramos: dois modelos de Ames ta a formulação de suas hipóteses, parece ser
(2003); dois modelos de Mainwaring (2001); coerente, e relevante, saber mais sobre essas
um de Carey e Reinhardt (20.03) e outro de opções teóricas. Com isso, não só se pode carac­
Santos (1999). terizar melhor cada um desses grupos, mas, so­
Por fim, o Grupo III, que é formado por bretudo, inferir de forma mais segura quais os
quatoree modelos que combinam de forma re­ referenciais teóricos que os orientaram. Em
lativamente equilibrada os dois tipos de variá­ suma, a idéia é que se forem atribuídos valores
veis, endógenas e exógenas, ou seja, aquilo que pelo padrão de utilização das variáveis11 expli­
se pode chamar de modelos híbridos. Nesse cativas pelos pesquisadores dos três diferentes
grupo temos: dois modelos de Ames (2003); grupos, como forma de mensurar sua impor­
Pereira e Mueller (2002; 2003); Santos (2002; tância, é possível então representar graficamente
2004); Amorim Neto e Santos (2003); Pereira as semelhanças, as diferenças e as áreas de ten­
e Rennó (2001); Santos e Rennó (2004); são entre os grupos (ver Figura 4).
Mueller e Alston (2005); Cheibub, Figueire­
do e Limongi (2002); Arretche e Rodden Modelos Explicativos de Arena Executivo-
(2004); Lemos (2001), Leoni, Pereira e Rennó Legislativo (ou d e Processo Decisório)
(2003) e Melo e Anastasía (2005).10
Como se vê, o uso de determinado tipo de Os modelos de arena Executivo-Legíslati-
variável não é exclusivo de qualquer grupo de vo se caracterizam pela escolha predominante
autores, pois muitos deles aparecem em mais de variáveis endógenas e seus autores atribuem
de um grupo. Portanto, uma classificação por alto grau de capacidade explicativa aos poderes

70
presidenciais, à centralização decisória na Câ­ República está em posição privilegiada no sis­
mara dos Deputados e ao papel desempenha­ tema político brasileiro. Associada a isso, a cen­
do pelos partidos políticos (ver Figura 1}. tralização do processo decisório na Câmara aca­
Em resumo, a tese desse grupo é orientada ba conferindo altos poderes aos líderes dos
pela assunção de que as instituições próprias partidos e àqueies que desempenham papel-
do Poder Legislativo (e da sua relação com o chave no processo decisório. O resultado é que
Executivo) importam e têm impacto tanto na os partidos são dotados de vários instrumentos
organização, quanto na performance e no con­ para resolver problemas de ação coletiva. As­
teúdo dos outcomes legislativos. Para autores sim, com relativa facilidade de montar uma
como Figueiredo e Limongi (2001 b), por exem­ coalizão estável a seu favor no parlamento, o
plo, contando com o poder de editar medidas presidente governaria mais ou menos como um
provisórias, poder de veto, de iniciativa exclu­ primeiro-ministro, diante de um Legislativo
siva e de requerer urgência, o presidente da estável e cooperativo.

Figura 1
Peso das Variáveis Explicativas dos M odelos de Arena Executivo-Legisiativo (1994-2005)

Federalismo
Seniority Forma de governo

Processo legislativo^ Sistema eleitoral

Patronagem Desempenho eleitoral

Direitos parlamentares Características do distrito

Partidos políticos Sistema partidário

Centralização decisória
Background/expertise
Poderes do presidente
Pork
Posição política ideoSogia

Fonte: banco de dados do autor.

Outros autores relevantes nesse grupo, política, e cumpre um papel decisivo nesse pro­
como Amorim Neto (2002) e Santos (2004), cesso. Em resumo, o Congresso colabora com o
chamam a atenção para duas outras variáveis presidente, mas isso tem seu preço.
relevantes: a patronagem e o processo legislativo. No caso da variável processo legislativo
Patronagem aqui é entendida como um con­ (tipo de proposição, probabilidade de um
junto de recursos à disposição do presidente deputado aprovar uma lei, o tipo de lei que se
para induzir o LegisJ ativo a aprovar sua agenda aprova, o tipo de benefícios que ela distribui

71
etc.), aj uda a esclarecer um antigo debate sobre lamentares, além, é claro, da delegaçao de po­
a produção legislativa no Brasil, ou seja, essa deres ao Executivo e à burocracia.
variável lança luz sobre a natureza da prática
legislativa dos deputados, cuja tensão assenta Modelos Explicativos de Arena Eleitoral
entre a prática clienteíista/paroquial ou nacio­
nal. Amorim Neto (2000), Santos (2002), já no caso dos modelos de arena eleitoral,
acompanhados também por Ricci (2003), as­ embora esses estudos não neguem totalmente
sumem que os recursos de patronagem e as ca­ a relevância das instituições endógenas ao Le­
racterísticas próprias do processo legislativo dão gislativo, parece claro que seu foco também é
certa margem a negociações permanentes no bem definido. Para essa constatação, basta que
Congresso e que esse processo de negociação é se observe, na Figura 2, as opções por variáveis
parte da explicação do funcionamento do Le­ como federalismo, sistema eleitoral, desempe­
gislativo brasileiro. Trata-se de uma visão mais nho eleitora] e padrão de votação dos deputa­
complexa da realidade, ou seja, de ampliar o dos, o que caracteriza â troca de benefícios loca­
debate incluindo outras variáveis para além dos lizados por votos, em especial no modelo
poderes presidenciais e da centralização decisó­ sugerido por Ames (2003).
ria no Congresso. Por outro lado, as explicações de Ames so­
Diante da Figura 1 e das análises anterio­ bre o esforço desempenhado pelo presidente
res, é possível inferir que esse grupo de mode­ para aprovar sua agenda política junto ao Le­
los explicativos recebe uma significativa carga gislativo recorrem à variávelpork, caracterizada
de influência da versão partidária. Isso porque sintomaticamente por esse autor como a distri­
o peso que atribuem ao pape! dos partidos, à buição de emendas ao orçamento e a distribui­
centralização decisória e aos poderes do presi­ ção de convênios dos ministérios com as prefei­
dente tem estreita relação com os pressupostos turas, especialmente aquelas de interesse eleitoral
dessa versão, a qual assume que partidos de­ do presidente. Adicionalmente, outra caracte­
sempenham o papel de resolver problemas de rística desses modelos é atribuir boa parte da
ação coletiva e que, em boa parte, as caracte­ responsabilidade dos problemas de governabi­
rísticas do Legislativo podem ser explicadas a lidade ao sistema presidencialista de governo.
partir do processo de delegação de poderes do Há pelo menos dois traços característicos
Legislativo para q Executivo, assim como da nesses trabalhos que os aproximam da aborda­
delegação interna.. Adicionalmente, a pouca gem distributivista da teoria norte-americana:
atenção dispensada ao sistema de comissões nos a explicação a partir de variáveis exógenas (em
permite inferir que esses autores as entendem especial o sistema eleitoral) e o Legislativo visto
como instituições com papel limitado, mais uma como mercado de votos, cujas instituições ga­
vez uma assunção compatível com a versão rantem os ganhos de troca, tendo como moeda
partidária, que defende que comissões não têm corrente os benefícios localizados. No caso do
autonomia decisória e estão, na verdade, a ser­ sistema eleitoral, tanto Ames (2003) como Main-
viço dos cartéis partidários. wanng (2001) apontam para os efeitos negati­
Por fim, uma última característica autoriza vos das regras eleitorais e da desproporciona-
a ligar os modelos de arena legislativa à versão lidade da representação no parlamento. Já no
partidária: a escolha por variáveis endógenas. que diz respeito ao problema da distribuição,
Este ponto é relevante porque, para os adeptos segundo esses autores, as regras do jogo político
da versão partidária, a variável explicativa prin­ brasileiro produzem incentivos para um com­
cipal é a distribuição de recursos e direitos par­ portamento individualista dos deputados, quase

72
Figura 2
Peso d is Variáveis Explicativas n as M odelos de A rena Eleitoral (1994-2005)

Federalismo
Seniority Forma de governo

Processo legislativo Sistema eleitoral

Patronagem Desempenho eleitoral

Direitos parlamentares Características do distrito

Partidos políticos Sistema partidário

Centralização decisória Background/expertise


Poderes do presidente
Pork
Posição política Ideologia

Fonte: banco de dados do autor.

exclusivamente interessados em distribuição de o comportamento individualista, conflituoso e


benefícios localizados em busca de vocps, carac­ pouco colaborativo por parte dos parlamenta­
terizando um Congresso pouco colaborativo e res no interior do Legislativo denunciam a rela­
que exige do presidente um esforço gigantesco ção dos modelos de arena eleitoral com a versão
no cumprimento de sua tarefa de governar. distriburivssta norte-americana.
Em resumo, paraesses autores, o sistema
polídco brasileiro (em virtude também do pre­ Modelos Explicativos de Dupla Arena
sidencialismo) não está em equilíbrio e esses são
os óbices institucionais que tornam cada vez Porfim, tem-se um terceiro grupo de mode­
mais difícil erigir uma democracia sólida, dota­ los explicativos, aqui denominados de modelos
da de uma capacidade governativa relativamen­ de dupla arena, os quais se caracterizam pelo
te aceitável e apta a promover as mudanças ins­ esforço de combinar, de forma mais ou menos
titucionais necessárias tanto em suas políticas equilibrada, variáveis exógenas e endógenas.
públicas como em suas próprias instituições. Eles são, como se verá mais claramente na próxi­
Em caráter complementar, a razoável atenção ma seção, o resultado de um produtivo debate
de Ames e Mainwaring com as variáveis patro­ acadêmico travado ao longo do período aqui
nagem e a pouca ênfase dada ao papel dos par­ estudado. A observação dessas combinações
tidos aproximam-nos ainda mais da versão dis- mostra que os seus autores seguiram pelo me­
tributivista, caracterizando o Legislativo como nos dois caminbos distintos: o primeiro grupo
um mercado devotos. procurou incorporar variáveis endógenas e exó­
Em suma, o foco no sistema eleitoral, a genas para produzir explicações mais convin­
importância dada às variáveispork e patrona- centes emais amplas sobre o fenômeno. O se­
gem, a pouca relevância dos partidos, bem como gundo seguiu procurando incorporar variáveis

73
exógenas aos seus modelos (anteriormente carac­ Em linhas gerais, essas interpretações sus­
terizados tipicamente porvariáveis endógenas), tentam que a conexão eleitoral se dá pela via da
com ò objetivo de proteger com uma espécie distribuição de recursos e isso fica claro quando
de cinturão epistemòlógico b seu programa de esses autores optam por privilegiar variáveis
pesquisa e as suas principais descobertas. como pork e patronagem. Cumpre registrar,
No caso da primeira leva de pesquisado­ entretanto, que a observação da Figura 3 mos­
res, entre os quais estão Pereira e Mueiler (2002); tra que eles não ignoram outros aspectos e ou­
Leoni, Pereira e Rennó (2003); Pereira e Ren- tras variáveis, como as variáveis de processo
nó (2001); Mueiler e Alston (2005), a caracte- decisório, que, de maneira geral, aparecem de
ríscica principal está na combinação de variá­ forma bastante equilibrada.
veis que, de modo gerai, compartilham a idéia Usando os termos dos próprios autores, o
de que as instituições próprias do Legislativo resumo da idéia é que “o sistema político brasi­
têm um peso na explicação, mas são incapazes leiro éform ado p or incentivos paradoxais” e que,
de explicar p er se um objeto de estudo tão com­ em virtude disso “está em equilíbrio instável'
plexo e multifacetado como o Congresso Nacio­ (Pereira e Rennó, 2001). Em outras palavras, o
nal. Como era de se esperar, a combinação de que querem dizer os reóricos é que a solução de
diferentes pressupostos teóricos (expressos na parte considerável dos dilemas de ação coletiva
escolha de variáveis explicativas de matizes di­ do Congresso pode ser explicada a partir de
versos) acaba por levantar múltiplos aspectos suas instituições políticas endógenas e, de fato,
bastante relevantes da organização legislativa, o caos não é a regra, mas há muitas oportunida­
até então desconsiderados. Em conseqüência, des no contexto que permitem e justificam a
se tem uma gama de interpretações ainda mais açio individualistaeeleitoralmente interessada
diversa sobre o Poder Legislativo no Brasil. dos parlamentares.

Figura 3
Peso das Variáveis Explicativas nos Modelos de Dupla Arena (1994-2005)

Federalismo
Seniority 4 ___ Fornia de governo

Processo legislativo Sistema eleitoral

Patronagem Desempenho eleitoral

Direitos parlamentares Características do distrito

Partidos políticos Sistema partidário

Centralizacao decisória
Background/expertise
Poderes do presidente
Pork
Posição política Ideologia

Fonte: banco de dados do autor.

74
A idéia de pork for policy (Mueller e Als­ não são assim tão simples de expiicar com tanta
ton, 2005), entendida como a troca de aprova­ parcimônia.
ção de políticas públicas de interesse do Exe­ Um segundo grupo de autores, formado
cutivo por recursos orçamentários com alguma por Figueiredo e Limongi (2005); Cheibub, Fi­
relevância eleitoral, a favor dos parlamentares, gueiredo e Limongi (2002); Arretche e Rodden
caracteriza os ganhos de troca que as institui­ (2004), entre outrós, trilhou um caminho bem
ções não apenas permitiriam, mas também in­ diferente. Na combinação, de variáveis endóge­
duziriam no interior do Congresso Nacional, nas e exógenas, a principal preocupação desses
mesmo considerando que o presidente não pre­ autores (cuja trajetória teórica é fortemente
cisaria necessariamente se utilizar desse expe­ marcada pelas explicações centradas nas variá­
diente para governar. veis de processo decisório) foi testar severamente
Numa mesma perspectiva, mas com uma o peso de variáveis exógenas, não para oferecer
abordagem um pouco diferente, Amorim Neto novas explicações sobre a organização do Le­
e Tafner (2002) e Santos (2004) levam essa gislativo, mas sobretudo para proteger o sólido
problemática às últimas conseqüências. Ao con­ núcleo de seu programa de pesquisa. Assim, ao
siderarem variáveis das duas arenas em seus incorporarem paulatinamente aos seus mode­
modelos, eles direcionam o debate para pelo los variáveis como pork (emendas orçamentá­
menos duas outras questões que até então não rias individuais dos parlamentares) e variáveis
haviam sido objeto de investigação por parte como o federalismo (capacidade de influência
da Ciência Política brasileira: (i) a de esclarecer do governador sobre a bancada do estado da
como um processo legislativo mediado por um federação na Câmara dos Deputados), esses
presidente poderoso e por partidos fortes na autores submeteram tais variáveis à sucessiva
arena legislativa pode, paralelamente, oferecer verificação e à permanente refutação de sua ca­
algumas oportunidades para ações parlamen­ pacidade explicativa.
tares com interesses distributivistas e (ii) como Em resumo, esses autores, ao incorporar
uma reavaliação da medida provisória pode variáveis explicativas exógenas, mandveram in­
apontar para a teoria da delegação, e não da tactas as formulações centrais de seu programa
abdicação, de poderes legislativos por parte do de pesquisa, segundo as quais a basé da organi­
Congresso Nacional. Essas duas proposições zação do Legislativo se eaplica por suas institui­
superam a idéia de um Congresso obediente ções próprias e que essas instituições são os fato­
diante de um presidente poderoso e, nà ver­ res determinantes da governabilidade no Brasil.
dade, passam a explicar as relações Execurivo-
Legislativo de outra forma, ou seja, da subordi­ A Transformação dos Modelos
nação para a coordenação, e da abdicação para Explicativos sobre o Legislativo
a delegação. Essa transição, é bom que se regis­ Brasileiro
tre, deve ser entendida como mediada por in­
teresses de sobrevivência eleitoral dos parlamen­ Parece justo crer que esses modelos dedupla
tares. Num mesmo sentido, também podem arena são o resultado do debate cada vez mais
ser incluídos os trabalhos de Melo e Anastasia avançado sobre o Legislativo no Brasil. Não há
(2005), que discutem em perspectiva com­ nada de absurdo nessa hipótese, porque esse é
parada os complexos aspectos da reforma da realmente o movimento esperado. Pelo menos
previdência em dois governos diferentes, e mos­ se se considerar o que acontece nos Estados
tram que as relações entre Executivo e Legisla­ Unidos, conforme a an álise de Shepsie e \X'ein-
tivo não são assim tão fáceis de estiiizar, ou seja, gast (1994) das diferentes versões teóricas desse

75
Legislativo. Eles concluíram que, na verdade, W e believe the rem ainder of the 1990s w ill
essas versões são mais complementares do que be a theoretical exiting period during which
contrárias. Já naquele momento, esses autores these various approaches w ill be combined
apontavam para uma espécie de integração dos to provide a balanced, more complete, posi­
paradigmas na Ciência Política norte-america­ tive th eo ry o f con gressio nal in stitu tio n s
na, como se vê nesta passagem: (Shepsle e W eingast, 1994 ).12

Figura 4
Modelos Explicativos em Perspectiva Comparada

Federalismo
Seniority . Forma de governo

Processo legislativo Sistema eleitora!

Patronagem Desempenho eleitoral

Direitos parlamentares Características do distrito

Partidos políticos Sistema partidário

Centralização decisória Background/expertise


Poderes do presidente Pork
Posição política Ideologia

Fonte: banco de dados do autor.

Nesse sentido, a Figura 4 indica que algo modelos tenham sido elaborados em maior
semelhante acontece no caso brasileiro. Ou seja, quantidade nos anos finais da série histórica
há uma espécie de equilíbrio na combinação aqui considerada.
de variáveis explicativas de diversos matizes. Como se pode verificar na Figura 5, é exa­
Outra evidência nesse sentido aparece se tamente isso que acontece. A observação da
esses modelos forem posicionados no tempo. distribuição mostra que os modelos de dupla
Ou seja, se é verdade que os modelos de dupla arena só começam a surgir a partir de 2001,
arena são o resultado do debate acadêmico tra­ sete anos depois do início do debate marcado
vado entre diversos autores interessados no pelos trabalhos seminais de Figueiredo e Li-
Congresso Nacional, é razoável esperar que tais mongi (1994) e Santos (1994).

76
Figura 5
M odelos de A rena Executivo-Legislativoj de Arena Eleitoral e de D upla Arena (1994-2005)

. E . E

* A

O * 1
Ú A O

<> 2 O
• 2 * ^

* 1 r* -f

--------- 1-------------------

1994 1996 1998 2000 2002 2004


♦ Arena Executivo/Legislativo ■ Arena eleitoral à . Dupla Arena N=

Fonre: banco de dados do autor.

Diante desse quadro^ parece razoável infe­ ção científica brasileira. Nesse sentido, é que se
rir que esses estudos são mesmo o resultado do apresenta uma breve anáiise das opções metodo­
debate entre as diferentes interpretações em lógicas de pesquisa feitas pelos cientistas brasilei­
permanente confronto teórico, e, mais que isso, ros no período estudado. Não se trata, obviamen­
que essa é uma tendência. te, da pretensão de fazer uma análise mais
A análise dos textos toma evidente que esse profunda da metodologia utilizada, mas, tão-
debate, iniciado num passado próximo, come­ somente de oferecer uma descrição bem infor­
çou a mostrar as limitações e fragilidades natu­ mada dessas opções feitas pelos autores em seus
rais das análises baseadas em um número de modelos. Assim, os dados sobre as escolhas
variáveis explicativas relativamente pequeno e metodológicas feitas por eles dizem respeito a
focadas especificamente em apenas uma arena. apenas dois aspectos básicos: (i) sobre a meto­
Não que haja qualquer problema com isso, pois dologia utilizada e (ii) com relação ao alicerce
modelos são mesmo reduções da realidade e empírico sobre o qual os pesquisadores cons­
reduções são mesmo resultado de alguma “ar­ truíram suas edificações teóricas.
bitrariedade’. Entretanto, a compreensão que
importa aqui é que é exatamente desta “arbitra­ Métodos Quantitativos, Teoria dos Jogos e
riedade”13 que surgem as oportunidades de crí­ Modelos Espaciais
tica e de avanço do conhecimento científico.
A análise dos modejos observados sugeriu
Métodos e Técnicas de Pesquisa no uma classificação em dois tipos: (i) aqueles que
Brasi! utilizam métodos de estatística descritiva e (ii)
aqueles que utilizam métodos de inferência es­
Além da descrição acima realizada, parece tatística. No caso dos primeiros, considera-se
relevante também analisar, além dos aspectos como estatística descritiva a utilização de sim­
teóricos, os aspectos metodológicos da produ­ ples freqüências, de ntedidas de tendência

77
central, de probabilidade, de comparação de plementar, foi registrada também a presença
médias e de análises percentuais. No caso dos de alguns modelos espaciais e de teoria de jogos
segundos, consideram-se como modelos base­ encontrados na literatura como alternativa de
ados no uso de inferência estatística desde um formalização.
simples teste de b ipótese até os mais sofistica­ A metodologia predominantemente utili­
dos testes e modelos baseados na construção de zada pelos pesquisadores brasileiros,.considerada
regressões dos mais variados tipos. A título com­ na série histórica aqui analisada, é a que segue.

Figura 6
Série H istórica dos Estudos Legislativos no Brasil segundo a M etodologia U tilizada na Construção de
Modelos: M odelos Estatísticos, Teoria dos Jogos e M odelos Espaciais (1994-2005)
10 - t — ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- m----------

-5-9-

- 2- * --------- 2 « ---------- Z -m — 2- « -- -2-*----2-----------


- 4 - x ------4- - 4 - * ------4- ------ 4- -£ 1

1994 1996 1998 2000 2002 2004

♦ Estatística ■ Inferência A Teoria dos X Modelos


jogos espaciais N = 52
desicritiva estatística

Obs.: O n=52 é porque os estudos podem trazer mais de um cipo de metodologia, mas o n° de papers analisados é o mesmo: 45-
Fonce: banco de dados do autor.

A análise dos dados permite fazer pelo um alinhamento com o mainstream da Ciência
menos duas proposições. A primeira diz respei­ Política contemporânea.
to ao uso da estatística. Resta claro que na Ciên­ Uma segunda proposição é que a Ciên­
cia Política brasileira há um movimento dos cia Política brasileira não aderiu, como se espera­
pesquisadores no sentido de incorporar a me­ va, à teoria dos jogos e aos modelos espaciais,
todologia quantitativa sofisticada em substitui­ modelagens largamente difundidas no mains­
ção aos estudos puramente descritivos. Não há, tream da Ciência Política internacional. As.mo-
portanto, nenhuma dúvida de que a Ciência delagens que aparecem em 1995, realizadas por
Política passou, nesse período, e com certa rapi­ Santos em sua tese de doutorado, podem ser
dez, da descrição à explicação. A leitura cuida­ consideradas raridades. E seria factível afirmar
dosa dos trabalhos mostra isso muito claramente, que a partir dele muitos outros fossem realiza­
E a explicação mais plausível pata essa mudan­ dos. Infelizmente, no que diz respeito à incor­
ça parece ser a qualificação cada vez maior dos poração de novas metodologias, o estorço de
pesquisadores, possibilitada pelos investimen­ Santos (1995) ainda não gerou os frutos que
tos feitos em estudos nessa área, em busca de seria razoável esperar.

78
Mesmo diante desse quadro, seria omissão estudados não passa de 10,7 anos, com desvio
grave não fazer justiça aos valiosos esforços padrão de 8,84.
empreendidos por outros pesquisadores, es­ Isso é ainda mais preocupante se da análise
pecialmente a partir de 2000, para a incor­ da dispersão dos dados retirar-se um outlie>\ Essa
poração de modelos espaciais. Embora poucos supressão se justifica porque este artigo foi um
em número, é razoável crer que esses estudos dos primeiros estudos realizados (Figueiredo e
possam vir a impulsionar a utilização de novo Limongij 1994a) sobre a produção legislativa,
instrumental metodológico na Ciência Política e os dados relativos à produção de leis por ini­
brasileira. Aqui cabe referência aos trabalhos de ciativa foram tomados de forma muito agrega­
Pereira e Mueller (2000; 2002), Amorim Neto, da, tanto que os autores não repetiram mais,
Cox e McCubbins (2003), Carey e Reinhardt em nenhum dos seus estudos posteriores, uma
(2003) e Mueller e Alston (2005). As espe­ série rão longa (48 anos).
ranças de incorporação de novas metodologias Com a supressão desse ponto, a média cai
certamente se renovarão se a Ciência Política de .10,7 para 9,67, e o desvio padrão também
nacional continuar a contar com a relevante cai de 8,84 paia 6,29. Isso significa que, toma­
contribuição desses pesquisadores. da de forma agregada, a média das séries histó­
ricas utilizadas pelos nossos pesquisadores no
O Alicerce Empírico dos Estudos período foi de 9,67 anos.
sobre o Legislativo no Brasif Cabe questionar se isso é pouco ou se é
suficiente. Se comparado com os 40 anos de
A extensão das séries históricas dos estudos pesquisa empírica nos Estados Unidos, vê-se
sobre o Legislativo brasileiro é de fato que se trata de uma cobertura bastante tímida.
preocupante. A média aritmética dos períodos Tomados mais cuidadosamente, os números

Figura 7
Séries H istóricas dos Estudos Legislativos no Brasil: D istribuição da Extensão M édia dos Períodos
U tilizados em cada M odelo (1994-2005)
48
50

40

35 » 1 ,5 -

30 27.

25
17,8 17.5
2D
13.5
15

-+f- -t+-
9
10 “W
5

0
1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2 000 2001 2002 2 00 3 20 0 4 2 005 2 00 6

Fonte: banco de dados do autor.

79
revelam uma preocupação ainda maior. É que Conclusões
dezessete esrudos, 47,22% do total, não pas­
sam de duas legislaturas (oito anos), e que oito Como se vê, as teorias positivas sobre o
deles, ou seja, 22,22%, se restringem a apenas Congresso norte-americano influenciaram so­
uma legislatura (quatro anós). bremaneira a produção brasileira e ofereceram
Mui co embora preocupantes, os números uma extensa gama de problematizações para o
não nos devem causar espécie, pois não há qual­ estudo do nosso Congresso Nacional. Tomada
quer surpresa neles. Eles são, na verdade, refle­ de forma mais ampla, a literatura apresentou
xo da Falta de tradição em pesquisa empírica um cisma entre explicações ancoradas na versão
nessa área no Brasil (é bom lembrar que são partidária e outras informadas por proposições
apenas onze anos de pesquisa na área), e das de nartireza distributivista. Estas últimas, en­
dificuldades que todos nós conhecemos para tretanto, além de em menor número, influen­
obtenção de dados junco aos órgãos públicos. ciaram muitas investigações, mas pouco servi­
Por outro lado, a alternância entre perío­ ram para explicar o caso brasileiro.
dos autoritários e democráticos que marcaram Uma visão mais geral dos estudos aponta
a história recente do país, o que parece, a prin­ para o papel preponderante dos partidos, do
cípio, um problema que impõe graves restri­ poder de agenda do presidente e dos recursos
ções aos nossos pesquisadores, na verdade se de patronagem na arena legislativa. Esses fo­
apresentou como excelente oportunidade me­ ram os fatores explicativos mais presentes na
todológica. Considere-se aqui a possibilidade justificação do desempenho do Legislativo.
da realização de verdadeiros experimentos “na­ Mais do que as trocas mediadas por comissões,
turalmente” sugeridos peia nossa história. Ou onde minorias encasteladas fazem valer seus
seja, diante de períodos democráticos com interesses sobre os da maioria, conforme suge­
características institucionais tão distintas (1946­ ririam os adeptos da versão distributivista.
1964 e o pós-1988), mantidas estáveis algu­ Merece registro a tímida presença dos ele­
mas variáveis e outras profundamente altera­ mentos da versão informacional. Como se viu,
das, o quadro faz mesmo lembrar um verdadeiro explicações pautadas em modelos de informa­
laboratório. Isso tornou possível aos nossos ção incompleta fizeram falta em nossas análi­
pesquisadores observar o seu objeto de estudo ses. Embora tenha merecido destaque a inicia­
sob a influência de certas variáveis, em condi­ tiva de Pereira e Mueller (2000) e a de Santos e
ções conhecidas e controladas por eles pró­ Almeida (2005).14 Esses estudos apontam, ain­
prios, o que lhes permitiu identificar e analisar da que embrionariamente, para uma definição
os resultados que essas variáveis produziam no clara e delimitada do “problema informacio-
objeto. naT, procurando trazer para o centro do deba­
Pelo menos cinco estudos foram realizados te a possibilidade de se desenvolver um pro­
nesse sentido, e os pesquisadores que mais se grama de pesquisa que leve em consideração os
aproveitaram dessa oportunidade metodoló­ modelos de informação incompleta. Espera-se,
gica foram Figueiredo (2001), Figueiredo e com isso, que o problema informacional mere­
Limongi (2002a), Santos (1997; 2002); que ça a devida atenção dos pesquisadores do Con­
escolheram tratar do problema da mudança e gresso Nacional e que, se for ó caso, venha a
da continuidade institucional, diga-se de provar a capacidade heurística que sugere ter.
passagem, um problema da maior relevância No que diz respeito aos aspectos metodo­
para o programa de pesquisa dos neo-institu- lógicos da produção brasileira, três conclusões
cionalistas. são possíveis. A primeira, sobre as escolhas me-

80
todológicas feitas pelos pesquisadores, de que a Há, entretanto, uma limitação bastante
opção por mérodos quandtativos foi a tônica, significativa nos estudos legislativos no Brasil.
ficando os modelos formais de teoria dos jogos Melhor dizendo, no país, os estudos baseados
e modelos espaciais como exceções. Mas a prin­ no novo institucionaiismo e na escolha racional
cipal conclusão aqui —a segunda —è que a sofrem, como não poderia deixar de ser, das
Ciência Política brasileira, nos últimos onze limitações recentemente encontradas e ampla­
anos, avançou da descrição para a explicação. A mente discutidas desses paradigmas da Ciência
distribuição dos modelos ao longo da série Política contemporânea. Como se sabe, a revi­
histórica trabalhada mostrou que esses mode­ são por que passam atualmente éssès paradig­
los passaram do uso da estatística descritiva para mas aponta para limites em vários aspectos, três
a ampla utilização da inferência estatística. A dos quais serão aqui rapidamente destacados.
terceira e última conclusão diz respeito ao ali­ O primeiro diz respeito à incorporação ao
cerce empírico sobre o qual os pesquisadores debate da idéia de instituições como instrumento
do Congresso Nacional construíram suas teo­ de poder. Isso implica ir além da idéia da teoria
rias. Nesse caso, a média de 9,67 anos das séries da escolha racional sobre instituições políticas,
históricas utilizadas pelos pesquisadores indica segundo a qual instituições são exclusivamente
que a dificuldade com dados ainda é alta no o resultado da cooperação voluntária entre in­
Brasil e que, para consolidarmos esse campo divíduos, que instituições servem para resolver
como uma verdadeira tradição de pesquisa problemas de ação coletiva, e que, de alguma
muitos esforços precisam ser feitos. forma, elas beneficiam a todos e todos ficam
Sobre a agenda de pesquisa, vê-se clara­ melhores no final. Essa superação significa as­
mente que o universo de problematizações sumir que Instituições também funcionam
incorporadas pelos estudos legislativos no Bra­ como estruturas de poder. Estruturas que im­
sil foi bastante amplo e que houvé de faro a põem resultados e comportamentos para além
influência das teorias positivas sobre o Legis­ da simples cooperação. Tal sugestão é oferecida
lativo norte-americano. Os temas mais presen­ por Moe (20Ó6)j que diz:
tes nos trabalhos são: o papel dos partidos na
arena legislativa, o poder de agenda do pre­ [...] in fàct, the political process often gives
sidente, abdicação versus delegação de poderes rise to institutions that are good for some
people and bad for others, depending on who
do Legislativo para o Executivo, conexão elei­
has the power to impose they w ill. Institu­
toral (ou a accountability vertical), as carreiras
tions m ay be structures o f cooperation, I
parlamentares, o processo orçamentário, os argued, but they m ay also be structures of
outputs legislativos e o sistema de comissões. pow er.15
Entretanto, um universo ainda mais amplo do
que o informado por essas influências foi, na Um segundo ponto relevante remete à
verdade, trabalhado. Ou seja, o caso brasileiro incorporação do problem a da confiança no de­
ensejou novos temas como a accountability bate da teoria da escolha racional (Rothstein,
horizontal (ou mecanismos de checks an d 2005). E aqui isso se potencializa, uma vez que
balances ), a governabilidade e o papel das o institucionaiismo da escolha racional foi a mais
instituições estaduais no processo decisório marcante influência nos estudos sobre o Legis­
(poder dos governadores). Essas questões po­ lativo no Brasil. Ou sejà? em contextos nos quais
dem ser identificadas como a contribuição bra­ a cooperação do ator depende necessariamente da
sileira ao debate teórico sobre a organização do cooperação de todos, e nos quais o capital social é
Legislativo. baixo, não cooperarpode ser racionalporque nunca

81
se sabe (pois não hd confiança) se todos vão realmente do-se, na verdade, em coritraparte na estrutura
cum prir sua palavra. E quais as implicações das regras do jogo (Helmke e Levitsky, 2006).
analíticas da inclusão do problema da confian­ No mais, trata-se de um universo bastante
ça no debate? Diante desse problema não são amplo, e que tende a crescer, a julgar pelas mais
apenas as preferências dos atores que contam, o recentes investidas dos pesquisadores em no­
contesto importa, e importam, sobretudo, as vos temas. O estudo do processo decisório so­
relações historicamente determinadas entre bre políticas públicas, envolvendo inclusive á
grupos ou indivíduos em interação estratégica, burocracia, a ação dos grupos de pressão (lo -
ou, indo um pouco mais longe, até mesmo as bby) no Congresso, as relações do Legislativo
características culturais desses grupos e indiví­ com outros atores políticos relevantes, como o
duos (Rothstein, 2005)- Em suma, confiar ou Judiciário, o Banco Central, as agências regula-
não confiar está histórica e/ou politicamente tórias, o Tribunal de Contas e o Ministério
determinado peia memória coletiva, e isso pode Público, são apenas algumas das muitas possi­
se apresentar como uma verdadeira armadilha bilidades. Essa nova agenda de pesquisa parece
social que aprisiona os atores em jogos coletivos bastante animadora e, acrescida de estudos so­
não-cooperativos. bre o Senado, pode vir a apresentar um quadro
Uma terceira e última reflexão trata da analítico cada vez mais completo do nosso sis­
incorporação das instituições informais na aná­ tema político.
lise. Em especial no caso da América Latina, Resta claro que a Ciência Política brasilei­
Helmke e Levitsky (2006) chamam a atenção ra, no que diz respeito aos estudos legislativos,
sobre o problema, levantando a dúvida sobre tem se desenvolvido a passos largos. Esse foi
se o foco exclusivo nas Instituições formais é um subcampo, nos últimos anos, fortemente
suficiente para entender o que direciona a polí­ marcado peio rigor metodológico e pela cumu-
tica na região. Esses autores seguem a orientação latividade do conhecimento científico. Parece
de pesquisadores como Guillermo O’Donnell justo reputar essa evolução a pelo menos três
e Douglas North, que têm freqüentemente ar­ aspectos: primeiro, à escolha de um objeto de
gumentado que instituições informais —regras estudo bem delimitado; segundo, ao compro­
e procedimentos que são criados, comunicados misso dos pesquisadores com questões teorica­
e impostos fora dos canais oficiais de sanção - mente informadas e empiricamente verificáveis;
são importantes para as regias formais, constituin­ e, por fim, áo rigor metodológico cada véz mais
presente na produção acadêmica.

Notas

1 Nas palavras do próprio Limongi (1994, p. 4), “(...) este artigo foi escriro com um olho no
Congresso brasileiro. Não são muitos os estudos que o tomam como objeto. Se se pretende
alterar esta situação, travar conhecimento com o debate que se desenvolve entre os estudiosos
do congresso mais estudado de todo o mundo me parece um bom começo”.
2 Teorias positivas sobre o Legislativo norte-americano são: “o conjunto de teorias sobre funcio­
namento do Congresso norte-americano, elaboradas tanto com base em intuições comporta-
mentalistas como em explicações neo-institucional istas, mas que têm em comum bases estabe­
lecidas em postulados empíricos, devidamente acompanhados de suas respectivas corroborações
e refutações”. Em resumo; segundo essas teorias, três conjuntos de explicações são possíveis

82
para o Legislativo norte-americano: aversão distrsbutivista, aversão infcrmacional e aversão
partidária (cf. Shepsle e Weingast, 1994).
3 Um levantamento preliminar, realizado quando ainda estava entre minhas intenções incluir as
dissertações e teses nesta análise, mostrou uma quantidade inicial de 63 teses e dissertações na
área de estudos legislativos, produzidas nos onze programas de pós-graduação em Ciência
Política e Sociologia que foram consultados (USP, UnB, Iuperj, UFMG, UFRGS, UFF, UFPE,
Unicamp, UFF, Unesp e PUC/Rio). Os dados estão à disposição dos interessados.
4 Parte significativa dos critérios aqui adotados foram aproveitados de Lima Jr. (1999) , na sua
revisão da literatura que cobre a produção até 1997.
5 Exemplos: Ricci, P.; Lemos, L. B. (2004), “Produção legislativa e preferências eleitorais na
Comissão de Agricultura e Política Rural da Câmara dos Deputados”, RBCS, 19: 55: 107-29;
Santos, F.; Patrício, I. (2002), “Moeda e Poder Legislativo no Brasil: prestação de contas de
bancos centrais no presidencialismo de coalizão”, RBCS, 17, 49: 93-113; Rodrigues, M. M.
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de saúde no Brasil democrático (1985-1998)”, Dados, 45, 3: 387-429.
6 Entre os principais trabalhos desta área, encontram-se Santos, A. M. (2001), “Sedimentação
de lealdades partidárias no Brasil: tendências e descompassos”, RBCS, 16,45; Diniz, S. (2000),
“As migrações partidárias e o calendário eleitoral”, Revista de Sociologia ePolítica, 15; e Meto, C.
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Deputados”, in José Antonio Giusti Tavares (org.), O sistema partidário na consolidação da
democracia brasileira, v. 1, Brasília, pp. 163-226; Melo, C. R. F. (2003), “Migração partidária na
Câmara dos Depurados: causas, conseqüências e possíveis soluções”, in Maria Victória Benevides;
Paulo Vanuchi; Fábio Kerche (orgs.), Reforma política e cidadania, v. 1, São Paulo, p. 32U43.
7 Destaco aqui o amplo trabalho que vem sendo realizado no âmbito da América Latina por
Fabiano Santos (Iuperj), Carlos Ranulfo e Fátima Anastasia (UFMG), numa parceria que já
está produzindo muitos frutos. Ver, por exemplo, Anastasia, M. F. j.; Melo, C. R. F.; Santos, F.
(2004), Governabilidade e representação política na América do Sul. Rio de Janeiro, Fundação
Konrad Adenauer; São Paulo, Editora da Unesp. Registro também os estudos realizados por
Limongi e por Cheibub, com sua contribuição mais que consolidada para a Ciência Política
brasileira e, por fim, o recente trabalho de Octavio Amorím Neto (2006) sobre o presidencia­
lismo nas Américas, enfatizando as estratégias utilizadas pelos presidentes para governar, bem
como as relações entre presidentes e formação de gabinetes presidenciais: Presidencialismo e
governabilidade nas Américas. Rio de Janeiro, EditoiaFGV.
8 Um quadro com todas as variáveis explicativas e suas respectivas operaeionalizaçóes nos 45
papers analisados está disponível em Santos (2006).
9 Segundo as palavras dos próprios autores: “á view from dem andside vs a view from supply sid e’.
I 0 Embora não esteja entre os modelos classificados aqui, pois se trata de um debate mais amplo,
é fundamental registrar o trabalho de Diniz (2005), que faz um excelente debate sobre as
formas correntes na literatura para avaliação do sucesso e do fracasso presidencial. Esse traba­
lho levanta sérias, reflexões sobre como medir sucesso legislativo do chefe do Executivo é,

83
seguramente, as questões abordadas não poderão ser ignoradas pelos futuros pesquisadores do
sistema político brasileiro.
11 Os valores utilizados foram: 0 —se a variável não foi considerada nos estudos de um determi­
nado grupo em seus diferentes modelos; 1 —se ela aparece em pelo menos uma das explicações
do grupo, 2 —se a variável aparece com freqüência (mais de uma vez) em mais de um modelo
ou explicação, 3 —se a variável aparece em pelo menos um modelo, mas também mostra ter
força explicativa (estatisticamente significativa); e 4 —se ela for considerada pelo grupo como
a variável com maior poder explicativo, considerando todos os seus módeios.
12 “Nós acreditamos que nos anos 90 teremos um período no qual várias abordagens serão
combinadas, com o objetivo de oferecer explicações teóricas positivas mais equilibradas e mais
completas sobre as instituições legislativas”.
13 Coloco entre aspas o termo arbitrariedade porque entendo qué essa arbitrariedade é, na verda­
de, muito mais uma opção teórica que informa ao pesquisador o que incluir e o que não incluir
numa determinada análise.
14 Refiro-me ao trabalho sobre o papel informacional atribuído aos relatores nas comissões da
Câmara dos Deputados, Aqui percebemos uma ressonância com a visão de Geertz (1978) da
religião como sistema cultural, que penetra no senso comum, apesar de se distinguir dele, através
de atitudes e disposições.
15 “[-••] Na verdade, o processo político freqüentemente gera instituições que são positivas para
uns e negativas para outros, dependendo de com quem está o poder. Assim, argumento que
instituições podem ser estuturas de cooperação, mas podem, também, ser estruturas de poder”.

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Artigo recebido em maio/2007


Aprovado em novembro/2008

Resumo

Teoria e Método nos Estudos sobre o Legislativo Brasileiro: uma Revisão da Literatura no Período 1994-2005
Esta. revisão bibliográfica traz os aspectos mais relevantes da produção cientifica brasileira no campo dos
estudos legislativos no período de 1994 a 2005- A reconstrução racional da produção cientifica procura
delim itar que teorias influenciaram os pesquisadores brasileiros quando se voltaram para o Congresso
Nacional, tomando como ponto de partida as teorias positivas sobre o legisladvo norte-americano (versões
distributivista, infotm acional e partidária). O texto traz, também, uma breve discussão sobre as mais
significativas opções metodológicas feitas por esses pesquisadores para dar conta do seu objeto de estudo.
Adicionalmente, o arrigo traz aspectos relevanres sobre a agenda de pesquisa. Como resultado, aponta-se
a forte influência das teorias norte-americanas no Brasil, em especial a versão partidária, assim como os
lim ites da metodologia e da base empírica udlizada pelos pesquisadores brasileiros.

Palavras-chave: Estudos legislativos; Teorias positivas sobre □ Legislativo; Novo instimcionalism o; Teoria
da Escolha Racional; Congresso Nacional.

Abstract

Theory an d M ethod in the Studies on the Brazilian Legislative: a Review o f the Literature in the 1994-2005
Period

This bibliographic review analyzes the most relevant aspects of the Brazilian scientific production in the
field o f legislative studies in the period from 1994 to 2005. The rational reconstruction o f the scientific
production aims at delim iting which theories have influenced Brazilian researchers as they turned to the
National Congress, taking as starting point positive theories on the North American legislative (distributive,
inform ational, and p arty versions). The paper also brings a b rief discussion on the most significant
methodological options taken by such researchers in order to account their object of study. Moreover, the
article points out relevant aspects on the research agenda. As a result, it points up the strong influence of
North American theories in Brazil, especially the party' version, as well as the lim its of methodology and
o f the empirical basis utilized b y Brazilian researchers.

Keywords: Legislative studies; Positive theories on the legisladve; New institutionalism; The theory of
rational choice; National Congress.
Résumé

Théorie et M éthode dans les Études à -propos du L égislatif brésilien: une Révision d e la Littérature dans la Période
1994-2005
Cette révision bibliographique identifie [es aspects les plus relevants de la production scientifique brési­
lienne dans le dom aine des études législatives au cours des années 1994 à 2005- La reconstruction
rationnelle de la production scientifique cherche à démontrer que les théories ont influencé les chercheurs
brésiliens quand ils se sont tournés vers le Congrès National, choisissant comme point de déparr les
théories positives sur le législatif nord-américain (versions distributive, informationnelle et parddairé). Le
reste propose, également, une brève discussion sur les options méthodologiques les plus significatives
faites par ces chercheurs pour pouvoir aboudr avec leur objet d’études. L’article aborde, en outre, des
aspects relevants à propos de l ’agenda de recherche. En tant que résultat, il indique la forte influence des
théories nord-américaines au Brésil, en particulier la version partidaire, ainsi que les limites de la métho­
dologie er de la base empirique employée par les chercheurs brésiliens.

M ots-clés: Etudes législatives; Théories positives sur le Législatif; Nouvel institutionnalisme; Théorie du
Choix Rationnel; Congrès National.

89
Eleições, Economia e Cicio Político:
uma Revisão da Literatura Clássica*

Ricardo Bôrges Gama Neto

Introdução A conturbada história política e econômi­


ca da América Latina nas duas últimas décad as
Nas democracias, a autoridade dos gover­ do século passado possui vários exemplos de
nos para regular a vida nas sociedades ocorre a comportamentos oportunistas dos governan­
partir da delegação dos cidadãos aos políticos, tes na administração da política macroeconô­
do uso do poder de Escado via eleições livres e mica. O Plano Austral (1985), naArgentma, e
limpas. Contudo, em nenlium regime demo­ o Plano Cruzado (1986), no Brasil, são muitas
crático, os políticos são impositivamente obri­ vezes percebidos como programas de estabi­
gados a cumprir sua plataforma de campanha lização macroeconômica que foram gerencia­
eleitoral. No entanto, para continuarem no dos para aumentar a popularidade do governo
poder, eles necessitam de apoio eleitoral dos junto áo eleitorado., No entanto, o sucesso ini­
cidadãos nas próximas eleições. Desse fato sur­ cial de ambos foi substituído pelo fracasso no
ge o seguinte questionamento: como os politi­ período pós-eleitoral,2 marcado pela desorga­
cos que estão no governo manipulam ou não as nização econômica, alta inflação e moratória da
normas que regulam a atividade econômica a dívida externa.
seu favor?1 E o que tenta responder uma abor­ Na última eleição presidencial brasileira
dagem teórica que tem sido desenvolvida na (2006)/ o Executivo federal foi acusado, por
Economia Política desde os anos 1970: ateoria parte da imprensa e pela oposição, de manipu­
dos ciclos político-econômicos. lação dos gastos públicos para favorecer a posi­
A argumentação básica da teoria dos eidos ção eleitoral do chefe do governo. Em 2005,
político-econômicos é a de que nas democra­ os recursos do Orçamento federal para o prin­
cias existe uma relação intrínseca entre o estado cipal programa social do Governo Luia, o Bol­
da economia e o apoio individual dos eleitores sa Família, foram de 4 bilhões de reais; em 2006,
ao governo. Como afirmam Lewis-Becke Steg­ a União aumentou em 100% os recursos desti­
maier (2000, p. 211), dentre as questões de nados ao programa. O desembolso com o Bolsa
uma típica agenda do eleitor, a mais constante Família seguiu uma.Iógica eleitoral: em junho
e de mais forte impacto é a situação da econo­ foram gastos 597,7 milhões de reais; no mês
mia, e “o descontentamento do cidadão com a seguinte ocorreu um acréscimo de 60% no
performance econômica aumenta substancial­ volume de recursos. No Nordeste, região que
mente a probabilidade do eleitor votar contra apresentava o maior índice de intenção de vo­
o governo”. tos ao presidente Lula, o aumento em julho foi

* Este artigo é am a versão modificada de parte de minha tese de doutorado defendida em dezembro de
2007, na Universidade Federal de Pernambuco, que contou com o apoio financeiro de uma bolsa de
doutorado da Capes. Agradeço os comentários do professor M arcus André Melo e dos dois pareceristas
anônimos.

BIB, São Paulo, n° 65, 2 o semestre de 2008, pp. 91-112, 91


maior: 93% (de 245,8 milhões para 473,8 têm como unidade de análise os Estados Uni­
milhões de reais). O aumento dos gastos do dos e os países europeus.8 Com a expansão da
governo com o Bolsa Família ocorreu princi­ democracia nos anos 1980, essa abordagem
palmente nos meses mais próximos da eleição. passa a ser utilizada para explicar o comporta­
Até junho de 2006, a média mensal de dis­ mento dos governantes em relação aos eleitores
pêndio com o programa era de 577 milhões de nos novos regimes democráticos.
reais. “A partir daí, a média mensal (para se A literatura sobre ciclos político-econômi­
desembolsar todos os recursos orçados para cos desenvolveu-se tendo como principal ob­
2006) aumenta em 44%, para R$ 800 mi­ jeto de estudo o comportamento dos governos
lhões, acompanhando meses eleitoralmente dos Estados nacionais. No entanto, no início
decisivos, como julho, agosto, setembro e, em da década de 1990, Rogoff (1990) já advertia
caso de segundo turno, outubro)”.4 sobre a necessidade de trabalhos empíricos que
Na primeira parte deste artigo, apresenta­ analisassem governos subnacionais e locais para
remos os Modelos Oportunista e Partidário melhor compreensão do fenômeno, com a van­
Não-racional, discutindo as contribuições de tagem de já haver maior número de observa­
William Nordhaus e Douglas Hibbs. Na se­ ções para a análise empírica.9
gunda parte., vamos analisar os Modelos Opor­ Existem duas premissas básicas na teoria
tunista e Partidário Racional, apresentando as dos ciclos político-econômicos: (1) a opinião
idéias de Kenneth Rogoff, Alberto Alesina, dos eleitores sobre o governo varia de acordo
Torsten Persson e GuidoTabelline. Na tercei­ com o desempenho da economia —nível de
ra, faremos uma avaliação sobre a evidência emprego, taxa de inflação, custo devida, carga
empírica da existência de ciclos políticos, para tributária e crescimento econômico- ,e o voto
então concluir. pode alterar essa situação a partir da troca de
governos. Será a partir da avaliação do desem­
Modelos Oportunista e Partidário penho do governo que os eleitores decidirão
Não-racional penalizá-los ou não nas próximas eleições; e (2)
o governo sabe qual avaliação os eleitores fazem
Os estudos desenvolvidos pela Economia das condições macroeconômicas do país: se
Política sobre a relação entre ciclos eleitorais e a negativa, ele irá buscar compatibilizar o estado
economia procuram analisar de que forma os atual da economia para o mais próximo possí­
governantes influenciam a evolução da econo­ vel do ideal esperado pelo eleitorado. Em uma
mia conforme suas expectativas de vitória ou situação negativa junto ao eleitorado, os gover­
derrota no pleito eleitoral futuro. Essa literatu­ nos podem ser tentados a explorar a chamada
ra vem se desenvolvendo desde meados dos Curva de Phillips,1 trocando mais emprego
anos 1970,5 particularmente pelos economis­ hoje por inflação num futuro próximo.
tas norte-americanos William Nordhaus (1975) A análise do comportamento dos gover­
e Douglas Hibbs (1977).s Estes pesquisadores nos quanto à relação entre economia e votantes
estabeleceram os principais pontos de inflexão produziu quatro modelos empíricos centrais.
na teoria, divergindo principalmente sobre o Eles percorrem duas dimensões básicas: se o
papel dos partidos políticos, da ideologia, da comportamento do governo é oportunista ou
racionalidade e das preferências dos eleitores. partidário (ideológico), e se o comportamento
As primeiras pesquisas nesse campo de estudo do eleitorado é racional ou não.

92
Q uadro 1
Classificação dos M odelos de Ciclos Político-Econômicos

Eleitores Governos

M odelos O portiinistas M odelos Partidários

Comportamento não-racional N ordhaus (197 5) H ibbs (197 7)

Comportamento racional Rogoff e Siebert (1988) A lesina (1987)


Persson e Tabellini (1990)

Fonte: Alesina, Roublni e Cohen (1997) üpud Bõrsani (2003, p. 59).

Os modelos da teoria que tomam o com­ suem informações perfeitas quanto à preferên­
portamento do eleitor como não-racional par­ cia dos eleitores; (4) todos os eleitores têm as
tem do princípio de que a formação das expec­ mesmas preferências: maior níve! de emprego e
tativas dos votantes ocorre de forma adaptativa menor inflação possível; no entanto, os votan­
e “míope’ , pois estes levam em conta apenas o tes não possuem informações claras sobre as
passado recente. Ao contrário, os modelos ra­ preferências dos políticos; e (5) os eleitores são
cionais defendem que os votantes agem cons­ retrospectivos, suas escolhas são sempre basea­
cientemente, de forma estratégica, e, dessa das no recente desempenho do govemo.
forma, não avaliam apenas o passado recente, De acordo com Nordhaus (1975), o ciclo
mas também as repercussões futuras de suas econômico de curto prazo em uma economia
escolhas. pode ser caracterizado como uma Curva de
O modelo de comportamento governa­ Phillips normal, acrescentando-se as expecta­
mental elaborado por W illiam Nordhaus tivas dos eleitores quanto à sua evolução.11 O
(1975) é conhecido na literatura cómo Opor­ comportamento endógeno dos políticos é sem­
tunista Não-racional, e se sustenta em cinco pre buscar manter-se no poder. Assim, o di­
premissas básicas (as três primeiras referentes lema econômico pode ser representado como
aos governantes e as duas últimas aos eleitores): uma escolha pública entre desemprego versus
(1) todos os políticos objetivam maximizar a inflação. Os políticos no governo são sempre
probabilidade de se manter no poder, a oposi­ tentados a fazer essa escolha, reduzindo o
ção é sempre asegunda opção; (2) o partido no desemprego, se estiverem próximos da eleição
poder consegue interferir nos níveis de preços, em situação de desvantagem junto ao eleitora­
desemprego e crescimento da economia atra­ do, Caso o governo resolva intervir na eco­
vés da manipulação das políticas monetária e/ nomia, ele tornará a Curva de Phillips de cürto
ou orçamentária. Essa interferência tem signi­ prazo mais favorável. Contudo, a longo prazo,
ficativo impacto nos resultados eleitorais; (3) o ela se tornará mais desfavorável. Os eleitores
sistema político encontra-se dividido em dois não têm informação sobre a natureza do trade-
grupos (ou até mesmo em dois partidos): um o f f entre essas variáveis macroeconômicas
no governo e outro na oposição; ambos pos­ fundamentais.

93
F igu ra I
M odelo O portunista N ão-racional

Inflação

A Figura 1 representa a lógica do Modelo aumento da inflação, derivado do desequilí­


Oportunista Não-radonal. Suponhamos que a brio provocado, tende a produzir perdas fu­
economia no período anterior às eleições en­ turas no bem-estar da sociedade. Se o governo
contra-se no ponto C, qué é um pónto na não tentar reintroduzir a economia no ponto
Curva de Phiilips de longo prazo. Para aumen­ C, ela poderá aumentar o desequilíbrio e atin­
tar seu poder eleitoral, o governo passa a adotar gir o ponto A (o ponto mais desfavorável da
uma política econômica mais expansionista, figura).
acelerando o crescimento econômico e redu­ As flutuações nos ciclos econômicos, pro­
zindo o desemprego, que não é acompanhada duzidas pela interferência política, tendem a se
por aumento significativo da taxa de inflação repetir nas próximas eleições. Os eleitores, por
(representada pela Curva de Phillips pouco sua vez, esquecem-se das recessões pós-eleito-
inclinada). Os eleitores são míopes e votam no rais e se atêm mais às condições econômicas
partido do governo, tendo como referência da presentes. Assim, caso os políticos que estão no
situação da economia o ponto B (que designa governo se sintam ameaçados por uma possível
na realidade uma situação de desequilíbrio, mas derrota eleitora], eles procurarão estimular in­
ainda sustentável). Os votantes não percebem devidamente o crescimento econômico antes
de imediato o aumento da inflação, ajustando das eleições, para depois, se vencerem, adota­
suas expectativas mais lentamente do que a real rem novamente políticas restritivas.
situação da economia. Foram realizadas várias críticas ao modelo
Após as eleições, o governo tem de adotar de Nordhaus (1975). Uma delas, mais empíri­
uma política econômica mais restritiva. O ca, centra-se na capacidade real dos governos

94
de interferir na economia. Nos casos de passes e procuram ganhar as eleições para adotar um
onde a polírica monetária é gerida por bancos programa de governo partidário.
centrais independentes, ela ê bastante restrita. O Modelo Partidário Não-racional, de
Mas a crítica mais séria refere-se ao comporta­ Hibbs (1977, 1987a, 1987b), possui as se­
mento não-racional dos votantes. guintes premissas básicas: (1) os votantes são
Com o desenvolvimento da teoria das diferentes, com preferências heterogêneas e
expectativas racionais, o modelo de Nordhaus fixas (posicionamento ideológico) quanto às
(1975) demonstrou suas limitações.12 Surgi­ funções de utilidades individuais dos níveis de
ram trabalhos que buscavam conciliar a hi­ inflação, desemprego e crescimento. Os elei­
pótese de cicios econômicos induzidos poli­ tores analisam a economia e escolhem, nas elei­
ticamente com a idéia de que OS votantes ções, o partido da direita ou da esquerda. Como
poderiam antecipar racionalmente as conse­ o de Nordhaus (1975), o modelo de Hibbs
qüências das mudanças nas políticas econô­ aceita que os eleitofes votam retrospectivamen­
micas. te e são míopes; (2) o sistema político é com­
A teoria das expectativas racionais13 afir­ posto por dois partidos, um no governo e ou­
ma que os agentes econômicos, no nosso caso, tro na oposição. As preferências partidárias
políticos e eleitores, são racionais. Isso significa quanto ao estado ideal da economia são di­
que suas decisões são operadas visando à maxi­ ferentes. Partidos de esquerda preferem mais
mização do ganho. Os atores buscam realizar a emprego e crescimento, dando menos im ­
melhor escolha possível dentro das restrições portância ao problema da inflação. Os partidos
existentes à sua ação. As decisões são focaliza­ de direita têm preferências opostas, se preo­
das no futuro (forw ard looking ); por isso, os cupam mais com a taxa de inflação do que com
agentes precisam coletar roda a informação não- o emprego e o crescimento. Por mais que dese­
enviesada disponível para a formação de suas jem chegar ao poder, os partidos têm como ob­
expectativas. Assumindo que os eleitores pos­ jetivo principal implementar seus programas
suem informações verdadeiras a respeito da parndário-ideológicos.
dinâmica macroeconômica- crescimento eco­ Segundo Hibbs (1977, 1987a, 1987b),
nômico, inflação, estoque de moeda —, o go­ há diferentes combinações de desemprego e
vernante não poderá utilizar as políticas econô­ inflação na economia, e, em face disso, os elei­
micas deforma oportunista porque os eleitores tores possiiem preferências heterogêneas de
votam racionalmente e possuem a mesma in­ política econômica, pois cada uma dessas
formação que o governo. Para a teoria das combinações gera diferentes efeitos distribu­
expectativas racionais, a situação da economia tivos. Uma política mais restritiva, que cause
somente se afastará do esperado se houver um maior desemprego, afeta mais intensamente as
choque de informação causado por fatos não- classes trabalhadoras, enquanto uma política
previsíveis ex-ante. mais expansionista afeta as classes mais ricas.
Hibbs (1977) promove a primeira revisão Esse pesquisador fundamenta suas hipóteses
do modelo de Nordhaus,14 e suas críticas cen­ em várias pesquisas feitas nos Estados Unidos e
tram-se, especialmente, em duas premissas bá­ Inglaterra, obtendo como resultado que a
sicas do Modelo Oportunista Não-racional: os população de baixa renda preocupa-se mais
eleitores têm idênticas preferências e o com­ com desemprego e os mais favorecidos com a
portamento dos governos é sempre oportunis­ inflação, diferentes preferências que estão cris­
ta. Seu modelo adota a premissa de que os po­ talizadas no continuum ideoiógico esquerda-
líticos são motivados por ideologias diferentes, centro-direita.

95
Q u ad ro 2
Preferências dos Partidos Políticos nas Sociedades Industriais Avançadas em Relação a Vários
Objetivos Econômicos

S o cialistas-trabalK istas Centro Conservador es

O Pleno emprego Esrabilidade de preços


> Equalização da distribuição
IS' de renda
o Estabilidade de preços
flj
"Ü Expansão econômica
d<u Estabilidade econômica Equilíbrio na Balança de
u Pleno emprego Pagamentos
flj Equalização da
o
-Ü distribuição de renda
rt Estabilidade de preços Expansão econômica
<C
c5 Equilíbrio na Balança de
Û Pagamentos
Pi« Equilíbrio na Balança de Equalização da distribuição
g
H -1 > f Pagamentos de renda

Fonte: Hifabs (1977, p. 1.471).

O resultado das eleições dependerá das sumindo assim a possibilidade de uma inflação
condições econômicas existentes e da distribui­ mais alta. A base eleitoral dos partidos conser­
ção de preferências dos votantes. As classes tra­ vadores é a classe mais abastada da sociedade
balhadoras são mais sensíveis ao problema do (como os setores financeiro e industrial), que
desemprego, por isso tendem a votar em para­ possui forte aversão ao riseo de aumento da
dos de esquerda (socialistas e trabalhistas), as­ inflação.

Figura 2
Modelo Partidário N ão- racionai

96
A Figura 2 demonstra a dinâmica do Mo­ to os atores políticos; segundo, o caráter negati­
delo Panidário Não-racional de Hibbs (1977). vo dado ex-ante à influência governamental ou
Imaginemos que a economia encontra uma si­ partidária nas políticas econômicas - ambos os
tuação de equilíbrio no ponto B, e que um ciclos polídco-eleítorais têm como resultado flu­
partido conservador (de direita} vence o pleito tuações que produzem ineficiência a longo pra­
eleitoral. O partido vence a eleição prometen­ zo; por fim, ambos os modelos produzem teo­
do reduzir a inflação; então, ao assumir o go­ rias rígidas de mudança política ao imaginarem
verno, procura movera economia ao longo da resultados sempre idênticos. No Modelo Opor­
CPcp até atingir o ponto C. Como os resulta­ tunista, o governo, sempre que estiver em difi­
dos da nova política econômica são bastante culdade de se reeleger, irá procurar alterar a
defasados em relação à decisão do partido do Curva de Phillips de curto prazo, gerando mais
governo de mover a economia ao longo da emprego, e depois adotando uma política mais
CPcp, Hibbs (1977, 1987a, 1987b) defende restritiva para reduzir a inflação. No Modelo
que a movimentação da Curva de Phillips de Partidário, um governo de direita sempre busca
curto prazo tem pouco impacto sobre o ajuste reduzir a inflação e o de esquerda estimular o
das expectativas. O comportamento da curva emprego.
de curto prazo é relativamente estável e os erros As falhas instrumentais dos modelos não-
de previsão do passado têm pouco impacto na racionais de ciclos político-econômicos exigi­
formação furara das expectarivas. ram uma reformulação importante da teoria.
Imaginemos o seguinte caso: a economia O pressuposto da formação adaptativadas ex­
encontra-se np ponto C, e agora a vitória é de pectativas foi fortemente criticado, não apenas
um partido de esquerda. A partir do modelo por ser altamente questionável a premissa de
dé Hibbs, irá ocorrer tuna mudança na política que os votantes são míopes, mas principalmen­
econômica. O novo çoverno adotará medidas te porque não é crível que o eleitorado seja eter­
expansionistas até atingir o ponto A da figura, namente enganado. Os atores econômicos e os
onde se encontram baixo desemprego e infla­ votantes iogo aprenderiam como os governos
ção acima do ponto de equilíbrio. se comportam, e antecipariam as conseqüên­
Essa estrutura bi polar (direita e esquerda) cias das escolhas sempre fixas. Não é crivei tam­
é enganosa, haja vista que, nas democracias, bém que os governos possam manipular siste­
posições ideológicas extremas raramente têm maticamente a economia, provocando ciclos de
ampla base no eleitorado. Na maioria das ve­ inflação e desemprego específicos.
zes, partidos e votantes de centro decidem a
eleição. Outro fato importante a ser observado Modefos Oportunista e Partidário
é que as políticas econômicas não são adotadas Racional
apenas como resultado da escolha do eleitora­
do. Alternância democrática não significa mu­ A partir dos anos 1980, novos modelos de
danças econômicas radicais. ciclos político-econômicos surgem no desen­
Tanto o Modelo Oportunista de Nor­ volvimento da teoria, incorporando a perspecti­
dhaus (1975, 1989) quanto o de Hibbs va dos eleitores como atores racionais. Rogoff
(1977, 1987a, 1987b) pecam em pelo menos (1990) e Persson e Tabellini (1990) assumem
três aspectos-chave: o primeiro relaciona-se às esta posição, elaborando um Modelo Oportunis­
expectativas racionais dos atores —esses pesqui­ ta Racional que incorpora à C u r a de Phillips
sadores não aventam a possibilidade de o elei­ clássica (inflação versus desemprego) um termo
torado comportar-se tão estrategicamente quan­ que mede a competência governamental. Essa

97
competência pode ser definida como a capaci­ rais. Nesse caso, a competência deve ser medi­
dade do governo de resolver problemas mo da como a capacidade do governo de produzir
momento em que surgem, e gerenciar o funcio­ mais bens e serviços dentro de determinada
namento da economia da forma mais eficiente restrição orçamentária. No período pré-eleiro-
possível. ral, o governo é incentivado a comportar-se de
O Modelo Oportunista Racional elabora­ forma a reduzir o nível de impostos abaixo do
do por PerssoneTabellini (1990) possui como ótimo e os gastos acima do ideal.
premissas: (1) todos os votantes têm idêntica Ambos os modelos de ciclos político-eco­
preferência: maximizar a utilidade esperada de nômicos defendem que a expansão da econo­
seu bem-estar; (2) o sistema partidário é com­ mia, que se materializa em maior inflação e
posto por dois partidos, um no governo e ou­ menos desemprego, ocorre pouco antes das elei­
tro na oposição, e a primeira preferência dos ções. Contudo, não ocorre recessão pós-eleito-
políticos é manter-se no poder; (3) as eleições ral,como preconiza Nordhaus (1975). O go­
são independentes, as condições nas quais ocor­ verno competente distorce a economia para
reram a anterior são únicas e não afetam direta­ mais à frente resolver o problema, o que o torna
mente a eleição posterior; (4) o equilíbrio da mais competente ainda. Rogoffe Silbert (1988,
economia pode ser representado por uma Cur­ p. 12) afirmam que
va de Phillips com expectativas aumentadas,
adicionando um termo que mede á competên­ [...] it should be emphastzed thai elections
cia do governo; e (5) as expectativas dos eleito­ are not necessarily a bad thing, just because
res sobre a inflação são racionais. they resuk in excessive inflarion or a subop­
A reeleição de um governo depende de tim al distribution o f tax distortions over
quão competente ou não ele pareça diante do time. By holding elections, the public get a
eleitorado. O governo procura demonstrar ser more com petent government, on average.15
mais competente do que é aos eleitores, au­
mentando o nível de crescimento do Produto O último modelo de ciclos eleitorais é o
Interno Bruto (PIB) perto do período eleitoral. Partidário Racional. Alesina e Rosenthal (1985)
Os governos procuram utilizar a política mo­ e Alesina (1987,1988), utilizando a teoria das
netária para aumentar a taxa de crescimento da expectativas racionais16 e elementos do modelo
economia. A hipótese central do Modelo Opor­ partidário de Hibbs, encontraram fortes evidên­
tunista Racional de Persson eTabellinni (1990) cias do impacto das eleições legislativas que ocor­
é que os ciclos políticos acontecem em razão da rem no meio do mandato dos presidentes nor­
diferença temporal entre o momento em que te-americanos ( midterm ) sobre as preferências
ocorre a inflação e o conhecimento desta pelos das políticas econômicas executadas. Quando
eleitores (a informação sobre a inflação éassi- os eleitores tendem afomecer maioria parlamen­
métrica, os governantes conhecem primeiro do tar à oposição, como forma de moderar as prefe­
que a população). O crescimento econômico rências econômicas do governo, as políticas
surge sempre primeiro no cenário político e a econômicas passam a refletir uma mescla dás
inflação depois. preferências dos partidos dem ocratas e
O modelo de Rogoff (1990) diferencia-se republicanos.57
especialmente do anterior por centrar sua aná­ No modelo proposto por Alesina (1987,
lise na crença de que os governos utilizam prin­ 1988), a economia é apresentada por uma
cipalmente o gasto público e as políticas fiscais Curva de Phillips acrescida de expectativas. £
como mecanismo de produção de ciclos eleito­ introduzida também uma nova variável, o cres­

98
cimento real dos salários, que sofre aumento ferências partidárias, o que lhes permitem an­
antes da inflação. Para Alesina, no sentido de tecipar a política econômica a ser adotada. Isto
antecipar as conseqüências da nova situação permite aos atores calcular o que pode ocorrer
política, os agentes econômicos tentam fixar com a probabilidade de vitória de cada partido
determinada taxa de crescimento nominal para quanto à inflação.
os salários, igual à inflação esperada. Como Alesina (1987, 1988) imagina um mode­
observa Drazen (2000, p. 254), “[...] nominal lo de jogos repetidos, onde um partido ganha
wage increases reflect rationally anticipated in- um mandato dividido em dois períodos claros:
flauon at the rime the contracts issigned 18 um eleitoral e outro não eleitoral. Ambos os
As premissas do Modelo Partidário Racio­ partidos possuem preferências positivas em re­
nal são as seguintes: (!) os votantes escolhem lação ao crescimento econômico. Independen­
pamdos que prometem maximizar sua utilida­ temente da ideologia, as variáveis que separam
de esperada. Os eleitores possuem preferências os dois contendores em campos opostos são
heterogêneas em reiação aos principais índices inflação e salários. Supondo que um partido de
da economia (inflação, desemprego e cresci­ esquerda ganhe a eleição, no primeiro período
mento econômico), e e apartir da convergên­ do mandato haverá incenuvo à expansão econô­
cia entre suas preferências pessoais com os pro­ mica, com inflação mais alta e desemprego abai­
gramas partidários que decidem escolher em xo da taxa natural. Caso o vitorioso seja um
quem votar; (2) o sistema partidário é compos­ parrido de direita, o processo será diverso, com
to por dois partidos ideologicamente diferen­ crescimento econômico mais restrito, inflação
ciados. Os partidos possuem preferências dis­ mais baixa e desemprego acima da taxa natural.
tintas quanto à Curva de Phillips, os de direita Na segunda fase do mandato, uma vez
preocupám-se com a inflação e os de esquerda conhecido o partido vitorioso e a política eco­
com o desemprego e o crescimento econômico; nômica adotada, não existe fator de incerteza,
(3) o equilíbrio da economia pode ser repre­ todos os atores na sociedade são capazes de an­
sentado por uma Curva de Phillips com expec­ tecipar as conseqüências econômicas do resul­
tativas aumentadas; e (4) as expectativas dos tado eleitoral/11 procurando maximizar sua uti­
eleitores sobre a inflação são racionais. lidade esperada. Desfeira a incerteza inerente
O ciclo político é decorrente da incerteza às eleições, as taxas de crescimento e inflação
quanto ao resultado do processo eleitoral. As rendem, no futuro próximo, a se tornarem neu­
expectativas sobre a inflação futura depende tras; desta forma, o ciclo econômico induzido
de quem vai ganhar as eleições. Todos os eleito­ economicamente logo desaparece.20 O modeio
res individualmente têm suas preferências proposto por Alesina (1987,1988) promulga
quanto à taxa de inflação e os benefícios do que as flutuações cíclicas da inflação e do em­
crescimento dos salários; contudo, a distribui­ prego são de curto prazo, ocorrem apenas na
ção das preferências dos eleitores é desconheci­ primeira fase do mandato e decorrem da dis­
da. Não obstante, os partidos e.votantes serem puta eleitoral. Hibbs (1977), ao contrário, acre­
racionais, eles não conseguem prever com exa­ dita que o ciclo ocorre durante todo o governo.
tidão quem ganhará a eleição. Casó contrário, Drazen (2000) apresenta um sumário das
se houvesse certeza dos resultados, não haveria principais críticas realizadas ao Modelo Partidá­
ciclos, isto porquê, sendo os atores racionais, rio Racional de Alesina. A primeira delas refere-
antecipariam as conseqüências econômicas das se à questão da antecipação dos salários antes
eleições. No modelo de Alesina (1987, 1988), das eleições. Drazen observa que se os agentes
os eleitores são prospectivos, conhecem as pre­ econômicos são racionais, eles tenderiam, com

99
a experiência adquirida com as flutuações eco­ evidência empírica de que os governos, em face
nômicas pré-eleicorais, a adiar qualquer toma­ do tisco de perderem as próximas eleições, al­
da de decisão, especialmente quanto a aumen­ teram deliberadamente a política macroeco­
to de salários, até conhecer o resultado das nômica para afetar a Curva de Phillips de curto
eleições. Uma segunda crítica, mais empírica, prazo. Drazen (20Ô0, p. 238) afirma clara­
afirma que o modelo de Alesina, com dois par­ mente que;
ados, somente é aplicável aos Estados Unidos,
ondeos partidos não possuem diferenças ideo­ the opportunistic model has been w idely
lógicas significativas, produzindo ciclos eleito­ tested econometrically both for the United
rais de curta duração. Contudo, as diferenças States and for other countries, w ith the bulk
o f studies finding lin le support for the basic
ideológicas e as interações partidárias nos legis­
Nordhaus model of a political cycle in econ­
lativos dos sistemas multipartidários são mais
om ic activity [...] It is neither possible nor
complexos que a realidade norte-americana faz
useful to summarize all o f the studies except
crer. Por fim, a questão da incerteza. Segundo to say there is fairly clear rejection o f the
Drazen (2000, p. 266}, simple mode! for the U nited States.22

rhe final criticism concerns d ie central role No entanto, ele considera que há evidên­
player b y uncertainty about who w ill win an cias que corroboram a validade dos modelos de
elecdon. The rational partisan m odel pre­
ciclos partidários.23 Clark (2003) discorda.
dicts, a positive correlation between the ex­
tent o f the electoral surprise and the size of
Fránzese Jr. e Jusko (2006) destacam que a
post electoral movements in real economic análise comparada dos cicloseleitoráis demons­
activity. If an election outcome can be well tra que, na realidade, há profunda inconsistên­
predicted, there should be little uncertainty cia nos resultados empíricos.24
about monetary policy after the election, and Norpoth (1985, p. 180,2/WLewis-Beck
hence little effect on economic activity.21 e Stegmaier, 2000) afirma que há pouca dúvida
de que o estado da economia seja importante
Contudo^ quando considerados indivi­ para a popularidade presidencial norte-ameri-
dualmente, o grau de incerteza do processo elei­ canar5 o problema real é saber quais variáveis
toral pode ser bastante variado, e seu impacto contam para a análise empírica e como elas se
sobre o ciclo eleitoral difícil de ser medido. estruturam.
Os modelos empíricos utilizam diversas
Evidência Empírica dos Cicios variáveis independentes:25 Nordhaus (1975),
Políticos desemprego; Tufte (1978), desemprego, ren­
da e popularidade do candidato; Hibbs (1977),
Terminamos a seção anterior destacando a desemprego; Hibbs (1987), renda pessoal;
dificuldade de medição do impacto do pro­ Lewis-Beck e Paldam (2000), popularidade e
cesso eleitoral sobre a dinâmica macroeco­ PIB; Krause (2004), crescimento da renda pes­
nômica. Como foi visto, a noção central da soal. Nos últimos anos, os pesquisadores da
teoria dos ciclos eleitorais é de que a trajetória teoria dos ciclos políticos têm tentado equacio­
de uma economia pode ser afetâda por moti­ nar o problema da validade das variáveis in­
vações políticas dos governos, especialmente as dependentes e dependentes e das medidas de
de cunho eleitoral. Por mais lógica que essa comparação que devem ser empregadas. Não
afirmação pareça, ela não é inconteste, ao parece haver uma resposta única. De acordo
contrário, há forte questionamento sobre a com Lewis-Beck e Stegmair (2000, p. 211):

100
[...] the answer varies from country to coun­ posição junto ao eleitorado. McCallum (1978),
try. It could, be msemployment, inflation, or perfazendo os passos de Nordhaus, não encon­
gro w th , p erhap s m easured p ercep tively, tra evidência empírica da existência de cicios
perhaps at a lag. T hat measurement vari abil­
político-econômicos nas taxas de desemprego,
ity is not a theoretical weakness. Rather, it
em períodos pré-eleitorais nos Estados Unidos,
incorporates, as it should, the institutional
entre 1948 a 1976. Lachler (1978), Golden e
history o f econom ic performance an d statis­
tical reporting in that particular country. Also, Poterba (1980) e Beck (1987) também criti­
it is in harm ony w ith the value o f specifying cam a falta de consistência empírica da teoria
political context, as is done in the positive dos ciclos eleitorais.
cross-national studies. Electoral institutions, Tuíte (1978) apresenta evidências de ex­
w hich shape the distribution o f political eco­ pansão da quantidade de moeda ofertada pelo
nomic responsibility in a nation, can affect Federal Reserve (FED), em decorrência de
much. W here government is led by one par­ períodos eleitorais entre os anos 1950 e 1970.
ty, rather than several in coalition, the econ- O ciclo eleitoral seria caracterizado por uma po­
om y-polity lin k is especially firm .” lítica monetária expansionista nos dois anos an­
teriores às eleições, para ser reduzida nos poste­
O Modelo Oportunista de Nordhaus riores. Essa afirmação era interessante, pois
(1975) serviu de referência para a maioria dos entrava em confronto com a visão comum do
estudos posteriores sobre o problema. Exami­ elevado nível de autonomia do FED vis-k-vü
nando a relação entre taxa de desemprego e às disputas políticas nacionais. Beck (1987)
eleições nacionais para nove países entre 1947 observa que o agregado monetário nos Estados
a 1972, esse autor encontrou evidência de ci­ Unidos das décadas de 1960 a 1980 realmen­
clos eleitorais sobre o nível de emprego para os te parece apresentar um comportamento cícli­
Estados Unidos, Alemanha e Nova Zelândia. co. Contudo, ao acrescentar no modelo econo­
Os dados demonstraram modesta indicação métrico dummies para representar as eleições,
para França e Suécia, e nenhuma para Austrá­ não encontra evidências de comportamento
lia, Japão e Inglaterra. Nordhaus destaca que o oportunista do FED por motivações políticas.
comportamento da taxa de desemprego nos Beck (1987) afirma que banco central norte-
Estados Unidos comporta-se como predito pela americano não altera sua política monetária
teoria nas eleições de 1948,1952 e 1956. Antes antes das eleições e que o comportamento da
da disputa eleitoral, elas declinavam acentua- moeda era, na realidade, uma acomodação pas­
damente para logo depois do fim das eleições siva a ciclos eleitorais fiscalmente induzidos.
aumentarem novamente. A taxa de desempre­ Alesina, Roubini e Cohen (1997), num
go também declinou antes das eleições de 1964 extenso trabalho comparativo, testaram a hi­
e subiu depois das eleições de 1968, voltando pótese da existência dos ciclos políticos para os
a cair antes de 1972.2S Estados Unidos e para mais dezoito países da
Ainda nos anos 1970, um conjunto im ­ Organização para Cooperação e Desenvolvi­
portante de trabalhos —Wright (1974), Tuíte mento Econômico (OCDE). As regressões de
(1978), Fair (1978), Frey e Schneider (1978) dados de painel demonstraram haver pouca
e MacRae (1977) - corroboram de forma geral evidência de ciclos eleitorais oportunistas nas
às conclusões de Nordhaus (1975). Contudo, variáveis macroeconômicas norte-americanas,
a partir do finai da década começaram a surgir inexistem sinais de que a economia cresça mais
criticas severas à hipótese de que o governo al­ rápido, que a taxa de desemprego seja mais
tera a dinâmica da economia para melhorar sua baixa, mesmo que ocorra aumento de inflação

101
em razão das eleições. O mesmo resultado foi nômicos antes do período eleitoral só se confir­
encontrado para os demais países da OCDE. ma porém quando o Executivo possui maioria
Ciclos eleitorais foram detectados nas taxas de legislativa e, mesmo assim, essa melhoria res­
crescimento do PIB e da inflação em apenas tringe-se ao PIB. Outro achado importante cor­
dois países: Nova Zelândia e Alemanha. Alesi- robora a teoria dos ciclos partidários: o desem­
na, Roubini e Cohen (1997) também pesqui­ prego aumentou mais nos governos de direita
saram a possibilidade de haver ciclos eleitorais do que nos de esquerda e centro. Entretanto, a
em relação à política monetária. Foi encontra­ ideologia não parece impactar sobre a variação
da correlação positiva entre eleições e taxas de do PIB e da inflação.
expansão da moeda pata o conjunto dos países Nó Brasil, os estudos sobre cicios eleitorais
da OCDE; contudo, não foi encontrada a encontram-se em franco desenvolvimento. Os
mesma evidência para os Estados Unidos. trabalhos têm um viés majoritariamente econô­
Os estudos sobre os ciclos políticos têm mico e preocupam-se, principalmente, com o
majoritariamente como objeto os Estados Uni­ impacto das eleições sobre o gasto público e os
dos e países da OCDE. No entanto, nos últi­ agregados macroeconômicos (Fialho, 1997;
mos anos, a produção acadêmica sóbre os paí­ Preussler e Portugal, 2002; Salvato et a i, 2007).
ses em desenvolvimento tem crescido de forma Fialho (1997), utilizando como variável
consistente. De forma geral, tais estudos tentam independente o crescimento do PIB, afirma
comparar a capacidade explicativa dos mode­ que há evidência empírica de ciclos eleitorais
los clássicos com seus dados econômicos. sobre a dinâmica da economia nacional: evo­
A falta de consistência empírica de muitas lução real do PIB e expansão dos meios de pa­
análises baseadas em modelos clássicos tem feito gamento. Contudo, um fato interessante des­
os pesquisadores buscarem novos subsídios taca-se na análise: não foram encontrados
teóricos, como o neo-institucionalismo econô­ indícios de mudanças no comportamento das
mico, para demonstrar como o design institucio­ taxas de inflação e de desemprego em decor­
nal pode impactar a relação entre política e eco­ rência das disputas eleitorais. Outro elemento
nomia. E provável que os ciclos políticos sejam importante a ser destacado é que, para a autora,
mais perceptíveis em determinadas condições os ciclos políticos apresentam-se como um
políticas, como, por exemplo, alta fragmentação fenômeno novo na economia brasileira, surgi­
legislativa e fracas regras de controle de gastos.-^ da a partir do processo de abertura política e
O trabalho mais importante sobre a exis­ redemocratização.
tência de ciclos políticos na América Latina foi. Preussler e Portugal (2002), que fazem
realizado p.òr Hugo Borsani (2003), que, a severas críticas à metodologia de Fialho (1997),
partir da análise dos três agregados macroeco­ encontram evidências de comportamento
nômicos básicos (variação do PIB, inflação e oportunista do governo federal em relação à
desemprego) para um conjunto de doze demo­ taxa de inflação, mas não ao crescimento do
cracias entre 1979 e 1998, encontrou evidên­ PIB e à taxa de desemprego. Salvato et al.
cias da influência da lógica eleitoral sobre a eco­ (2007, p. 13), no mesmo sentido, afirmam
nomia. Contudo, o estudo adverte que as teorias que, no Brasil, para se manterem no poder, os
clássicas não podem explicar completamente governantes adotam “políticas econômicas ex-
essa dinâmica. As análises estatísticas confirma­ pansionistas que geram distorções fiscais nas
ram que após as eleições houve menor cresci­ contas públicas’ .
mento do PIB, maior desemprego e inflação. A Os estudos sobre os governos subnacio-
hipótese de que haja melhora dos índices eco­ nais brasileiros também têm demonstrado que

102
o comportamento das políticas fiscal e de gas­ ra, a avaliação dos eleitores sobre o governo va­
tos públicos, depois da redemocratização, tem ria de acordo com o desempenho da economia
sofrido significativa influência do ciclo eleito­ e o voto pode alterar essa situação a partir da
ra] (Teixeira, 2001; Cossio, 2001; Gama Neto, troca de governos (os elementos centrais dessa
2007). No entanto, mudanças no desenho fe­ avaliação são os.agregados macroeconômicos
derativo, como a Lei de Responsabilidade Fis­ básicos: nível de emprego, taxa de inflação e
cal, abrem uma nova agenda de pesquisa, in­ crescimento do PIB); segunda, o governo tem
troduzindo uma nova variável nos modelos; o conhecimento sohre qual avaliação realizam os
impacto que as novas restrições hierárquicas de votantes das condições econômicas do país, e
gastos tem sobre a discricionariedade dos go­ se essa avaliação for negativa, ele irá buscar com­
vernos estaduais em suas políticas de despesas, patibilizar o estado atual da Curva de Phillips
especialmente gastos sociais, despesa de pessoal para o mais próximo possível do ideai esperado
e previdência dos servidores aposentados nos pelo eleitorado. Apesar das premissas serem
ànos eleitorais (Souza, 2008). bastante lógicas, até o momento ínexistem evi­
A hipótese cencral da teoria dos ciclos polí­ dências empíricas, incon testes.
ticos, de que os governos podem interferir na Os diversos modelos da teoria dos ciclos
evolução da economia para melhorar sua posi­ político-econômicos foram submetidos à ex­
ção junto ao eleitorado, ainda carece de evidên­ tensiva comprovação, e, de forma geral, os tra­
cias sólidas. Os testes estatísticos parecem dar balhos sobre ó tema demonstram que os gover­
maior suporte empírico à influência do gover­ nos podem utilizar as políticas econômicas
no na economia, como decorrente da ação de como instrumento para melhorar sua posição
poSíticas relacionadas a gastos governamentais nas futuras eleições. Contudo, seu efeito não é
e políticas tributária e fiscal, com pouca influên­ generalizado e talvez ocorra em determinadas
cia sobre a Curva de Phillips de curto prazo. O circunstâncias. A natureza do regime político,
impacto das eleições sobre a evolução dos agre­ presidencialista ou parlamentarista, a ideologia
gados macroeconômicos parece ser menos cla­ do partido do governo, a radicalização ideoló­
ro. A utilização de novas variáveis como frag­ gica no parlamento e as restrições institucionais
mentação legislativa, radicalização ideológica, ao gasto também áfecam consideravelmente a
entre outras, traz novas perspectivas na busca relação entre o estado da economia e a lógica dá
da evidência empírica dos ciclós eleitorais. estratégia eleitoral. Concretamente, a fraca cor­
respondência entre o que prega a teoria e os
Conclusão resultados empíricos, em vários casos, sugere a
necessidade de recondução de novas pesqui­
Neste trabalho, apresentamos as principais sas, buscando uma reconciliação entre os mo­
teorias dos ciclos político-econômicos: de um delos Oportunistas e Partidários e uma redis-
lado os modelos Oportunistas e de outro os cussão da noção de racionalidade dos eleitores
Partidários. Suas premissas básicas são; primei­ e agentes econômicos.

Notas

1 A legitimidade da democracia contemporânea decorre de seu funcionamento, que é resultado


de um fin o ajuste entre os instrumentos institucionais de autorização, voro através de eleições
livres, eos instrumentos institucionais de fiscalização das ações dos governantes, accountability.
Na hipótese centra] da teoria dos ciclos políticos está embutida uma questão normativa séria:

103
como a sociedade pode garantir que o governo não altere a política econômica de forma
oportunista? A principal função do voto nas democracias é punir ou premiar os representantes
polídcos e o governo. Porém, como é possível o eleitor avaliar a qualidade das políticas públicas
governamentais em relação às respostas exigidas pela agenda pública se os governos discricíona-
riamen te podem mudar a situação da economia, aumentando, durante curto prazo. o grau de
satisfação ou insatisfação do eleitorado?
2 O Plano Real também é acusado de ter sido dirigido eleitoralmente. A oposição argumentava
que o lançamento da nova moeda, em substituição à Unidade Real de Valor (URV) , em juliio
dé 1994, tinha claramente o objetivo de garantir a vitória do candidato do governo, o então
Ministro da Fazenda Fernando Henriqiie Cardoso.
3 O mesmo pode ser dito da questão cambial na eleição presidencial de 1998.
4 Disponível em: <http://contasabertas.uoI.com.br/noücias/detalhes_noticias.asp?auto=l486>.
5 Os trabalhos de Michel Kalecki (1997), Schumpeter (2006) e Anthony Downs (1999)
podem ser vistos como as primeiras tentativas de desenvolvimento de modelos formais para a
análise do impacto das escolhas políticas dos governantes na economia. Drazen (2000), que
apresenta uma análise detalhada acerca do estado da arte dos modelos de análise dos ciclos
político-econômicos, afirma que “Short-term fluctuations in U.S. voting behavior: 1898­
1964”, de Kramer (1971), é provavelmente o primeiro estudo empírico detalhado sobre como
o estado da economia afeta o comportamento eleitoral.
6 A literatura empírica sobre ciclos político-econômicos é imensa. Além dos trabalhos analisados
neste texto, também podem ser considerados de especial relevância para o entendimento da
teoria, autores como: Drazen (2000), Dorussen eTavlor (2002); Frey (1997); Fiorina (1981,
1997); Lewss-Beck (1988); Lewis-Beck e Paldam (2000);Lewis-BeckeEulau (1995); Lewis­
Beck, Norpoth e Lafay (1991);Tufte (1978); e W illet (1988).
7 Existe na literatura sobre o comportamento dos governos em relação aos eleitores uma abordagem
conhecida como Model of Electoral Control. Esta se baseia na aplicação do modelo Principal
(eleitores) —Agente (governantes). Os principais autores dessa perspectiva são Barro (1973) e
Ferejohn (1986). Para o primeiro, o governante no início do governo escolhe o nível de gasto
público que lhe traria o maior “ganho político privado”. Para atingir esse objetivo, ele impõe à
sociedade uma carga tributária específica. Contudo, existe o periga de o gasto do governo sér
maior que o nível desejado pelos cidadãos, comprometendo, dessa forma, o “ganho político
privado” do governante. Ao final do governo, os eleitores decidem se reelegem ou não o gover­
nante em função dessa reíação. Para o segundo, o desempenho do governo depende da perfor­
mance do governante, não de suas ações individuais. O esforço do governante em melhorar seu
desempenho é uma variável que não pode ser mensurada pelos eleitores, isso porque o resulta­
do das ações do governo pode ser conseqüência de acontecimentos fora de seu controle. No
termo do governo, os eleitores decidem ou não se reelegem o governante. Para Ferejohn, a
reeleição pode ser um estimulo para o governante melhorar seu desempenho administrativo.
8 Os estudos para outros países têm avançado rapidamente. Argentina: Alvarez (2005) e Rumi
(2005); México: Magaloni (2000) e Grier e Grier (2000); Egito: Blaydes (s/d); índia: Chau-
dhuri e Dasgupta (2005) e Khemani (2004); Japão: Yoo (1998) e Kohno e Yoshitaka (1990).

104
Também têm avançado os escudos comparativos sobre a América Latina como: Borsani (2003),
Sparnakos (s/d) e AmorimNeto e Borsani (2002).
9 O trabalho de BlaiseNadeu (1992) pode ser o primeiro a procurar explicar o comportamento
oportunista dos governos subnacionais em países federais. Esses pesquisadores investigaram a
relação entre gasto público e eleições em dez províncias canadenses entre 1951 e 1984,
encontrando evidências da existência de um ciclo eleitoral de pequena intensidade, observável
apenas nos anos eleitorais nas despesas sociais e. estradas.
1 0 A Curva de Phillips pode ser caracterizada pela seguinte fórmula: = 7 + y(n r - TTp, y >0.
Onde aiaxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) é caracterizado por y a laxa de
crescimento natural por y, a variável que capta o impacto positivo dos votantes quanto à inflação
por y ; a taxa de inflação atual por ?r e a expectativa quanto à taxa de inflação futura por 7T';
11 A noção de que as expectativas são adaptativas significa que o eleitorado irá formar sua expec­
tativa sobre a inflação, futura baseada no passado. Um modelo simples disso é dado pela
seguinte equação: J/ =p t + Q(pl, - p t j), 0 < l.A inflação esp erad a^ ) em t é igual à inflação
(p ) do período anterior se as expectativas anteriores ( í—1 ) forem corretas. O parâmetro 6 é um
termo de ajustamento parcial para erros de previsão cometidos. De acordo com Nordhaus, os
erros de previsão permitem ao governo manipular os agregados macroeconômicos e aumentar
suas chances de reeleição. Essa afirmação não tem se confirmado por análises empíricas. Paldam e
Nannestad (2000), analisando o conhecimento dos eleitores dinamarqueses sobre o funciona­
mento da economia e suas expectadvas sobre a evolução futura, afirmam que a grande maioria das
pessoas sabe pouco sobre economia e normalmente não elaboram expectativas para a inflação.
12 MacRae (1977), ao analisar quatro eleições presidenciais norte-americanas (1957 á 1972),
percebe forte evidência de ciclo político. Contudo, afirma que a percepção original de Nord­
haus, de que o eleitor é “míope”, não é capaz de explicar os resultados de todos os períodos
eleitorais. A hipótese de MacRae é de que, em certas circunstâncias, 0 voto estratégico explica
melhor o comportamento do eleitorado.
13 A teoria das expectativas racionais é utilizada para explicar situações onde os resultados depen­
dem parcialmente do que as pessoas èsperam que aconteça. Um exemplo é a situação futura de
uma economia, de acordo com Sargent (2008), a teoria preconiza que ela não deve diferenciar-
se muito do que os consumidores esperam dela. Para o caso da inflação (p), a teoria preconiza
que ela deverá ser é igual à esperada (p'), mais um termo de erro (e), ou seja, p=p" + e.
14 Em “Alternative approaches to thè political business cycle”, Nordhaus (1989) fez uma ava­
liação geral do desenvolvimento da Teoria dos Ciclos Eleitorais, centrando-se especialmente
nas respostas às críticas de seu modelo de análise.
15 deveria ser enfatizado que as eleições não são necessariamente uma coisa má, somente porque
elas resultam em inflação excessiva ou em uma distribuição subótíma das distorções fiscais ao
longo do tempo. Por realizarem eleições, o público pode ter um governo mais competentes na
média”.
16 Preconizando que os eleitores são votantes prospectivos e que consomem o máximo de infor­
mação disponível para formar as expectativas sobre a situação da economia.

105
17 O Modelo Partidário Racional traz uma novidade importante: a interação estratégica entre o
Executivo e o Legislativo e a importância da estrutura institucional do sistema político. Nos
mqdelos até agora estudados, ou o governo, ou o partido que assume o governo, comanda a
economia. Todos ignoraram um elemento fundamental da democracia contemporânea, que ê
o papel da estrutura institucional sobre as escolhas estratégicas dos atores. A política econômica
reflete também essa estrutura, a forma como os partidos estão organizados e o Legislativo tem
um impacto real no desenvolvimento da economia.
18 “[...] aumentos salariais nominais refletem racionalmente a antecipação da inflação ao mesmo
tempo que os. contratas são assinados.”

19 Uma questão ocasional é que, se um parddo adotar políticas econômicas que sejam desviantes
quanto à sua posição ideológica, ele certamente produzirá ciclos político-econômicos pós-
eleitorais mais significativos. Contudo, eles poderiam perder reputação, o que teria impactos
negativos no futuro,
20 Até o período próximo da eleição, quando a incerteza eleitoral provocará novo ciclo.

21 “[ ..J á crítica final refere-se ao papel central jogado pela incerteza sobre quem ganhará uma
eleiçãó. O Modelo Partidário Racional prediz uma correlação positiva entre a extensão da
surpresa eleitoral e o tamanho dos movimentos pós-eleitorais na atividade econômica real. Se
um resultado da eleição pode ser predito, deveria haver pouca incerteza sobre a política mone­
tária após a eleição, c, portanto, pouco efeito sobre a atividade econômica.”
22 O Modelo Oportunista tem sido amplamente testado econometricamente para os Esta­
dos Unidos e outros países, com a maior parte dos estudos encontrando pouca sustentação
para o modelo básico de Nordhaus de um ciclo de atividade econômica f...]. E nem é possível
nem útil sumarizar todos os estudos, exceto para dizer que é bastante clara a rejeição ao modelo
simples para os Estados Unidos”.

23 Alt e Chrystal (1983, p. 125) afirmam que “ninguém pode ler a literatura de ciclos político-
econômicos sem ser atingido pela falta de evidências”.
24 Franzese Jr. e Jusko (2006) argumentam que parte da incapacidade dos modelos empíricos de
construírem explicações válidas pode ser explicada pelo que eles denominam de “negligência
dos pesquisadores acerca das interações contextuais” que existem nas. relações éntre a política
doméstica e a internacional, quanto à economia e à política, e os contextos estratégicos, conjun­
turais e institucionais, que envolvem eleitores e políticos. “A magnitude, regularidade e con­
teúdo dós ciclos político-econômicos irão variar com esses contextos” (p. 546).
2 5 CandeLSánchez (2007) afirma que o ciclo político deve ser considerado um fenômeno ampla­
mente difundido nas democracias capitalistas. Já Carey e Lebo (2006, p. 543) escrevem que “é
quase uma realidade empírica indiscutível que os farores econômicos influenciam a populari­
dade de um governo e süa sorte eleitoral”.

2 6: Grosso modo , podemos classificar as variáveis dependentes utilizadas para analisar o ciclo eleito­
ral em dois grupos: (a) dados macroeconômicos, como, por exemplo: crescimento do PIB,
desemprego, renda e inflação; e (b) política econômica, tributária e fiscal: transferências gover­

106
namentais, emissão de moeda, taxa de câmbio, aumento e redução de impostos, gastos públi­
cos, aumento de salário do funcionalismo etc.
27 “[...] A resposta varia de um país a outro. Poderia ser o desemprego, inflação ou crescimento,
talvez medido deforma perceptível, talvez com certo atraso, Essa variabilidade damensuração
não é uma fraqueza teórica. Pelo contrário, ela integra, como deveria, a história institucional do
desempenho econômico e os relatórios estatísticos daquele determinado país. Além disso, ela
está em harmonia com os valores de determinado contexto político, como feito nos estudos
positivos cross-national. As instituições eleitorais, que se moldam à distribuição da responsabi­
lidade econômica política em uma nação, podem afetar muito. Onde o governo é liderado por
um partido, em vez de várias coligações, o link economia-classe política é especialmente forte'’.
28 O período de 1969 a 1972 corresponde à primeira administração Nixon, caracterizada por
taxai de desemprego mais altas no início do governo e mais baixas no iim. Nordhaus (1975, p.
187) afirma que “o programa econômico durante a primeira administração Nixon nos Estados
Unidos foi um caso exemplar de planejamento para o ciclo político-econômico”. Para análise
da perspectiva da teoria dos ciclos políticos do governo Nixon, ver Keller e May (1984).
29 Um exemplo desta abordagem pode ser encontrada em Amorim Neto e Borsani (2002), que,
analisando vários países latino-americanos, chegaram à conclusão de que presidentes filiados a
grandes partidos políticos, com gabinetes ministeriais estáveis e mais à direita no continuum
ideológico, tendem a produzir balanços fiscais mais positivos. A hipótese clássica de que ó ciclo
eleitoral deteriora o resultado fiscal também foi confirmada.

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Artigo recebido em feveréiro/2008


Aprovado em óutubro/2008

Resumo

Eleições, Economia, e Ciclo Político: uma Revisão da Literatura Cldssicâ

Este artigo tem como objetivo discutir as principais teorias de cicios político-econômicos. O problema
central é entender como os políticos que este contabilidade criativaão no governo manipulam as normas
que regulam a atividade econômica a :s eu favor em períodos eleitorais. As teorias possuem duas premissas
básicas: ( !) a opinião dos eleitores sobre o governo varia de acordo com o desempenho da economia (os
elementos centrais déssa avaliação são: nível de emprego, taxa de inflação e crescimento econôm ico); e (2)
o governo sabe qual avaliação íazem os eleitores das condições macroeconômicas do país, c, se essa
avaliação for negativa, irá buscar compatibilizar o estado atual da economia para o mais próximo possível
do ideal esperado pelo eleitorado. A análise da literatura demonstra que inexistem conclusões definitivas.

Paiavras-chave: Ciclo eleitoral; Comportamento político; Eíeiçoes; Economia; Curva de Phillips.

Abstract

Elections, the Economy, and the Political Cycle: a. Review o f Classic Literature

111
This article alms at discussing the m ain theories on political-economical cycles. The central problem is
realizing how politicians in office w ill m anipulate the norms chat regulate the economic activity in their
own favor during electoral periods. Theories include two basic premises: (1} the opinion of voters on the
government varies according to the performance of the economy (central elements o f such raring being:
level of employment, inflation rate, and economic growth); and (2) the government knows how voters rate
the macro-economical conditions of the country, and should such rating be negative, w ill seek to match
the current economic situation to the closest possible to the expectations o f voters. An analysis of the
literature evidences the inexistence o f definite conclusions.

Keywords: Electoral cycle; political behaviour; Elections; Economy; Phillips Curve.

Résumé

Élections, Économie et Cycle Politique: une Révision de la Littérature Classique


C et article propose une discussion à propos des principales théories de cycles politico-économiques. La
question centrale est comprendre de quelle façon les hommes politiques qui occupent un poste an
gouvernement manipulent, en leur bénéfice et pendant les périodes électorales, les normes qui réglementent
l ’activité économique. Les théories possèdent deux prémisses de base; (1) 1 opinion des électeurs à
propos du gouvernement varie suivant la réussite de l’économie (les éléments centraux de cette évaluation
sont : le niveau d ’emploi, le taux de l’inflation et la croissance économique) ; et (2) le gouvernement
connaît l’évaluation faite par les électeurs des conditions macro-économiques du pays et, si cette évaluation
s’avère négative, il cherchera à comptabiliser l’état actuel de l’économie vers le plus proche possible de
l’idéal attendu par l’électorat. L’analyse de la littérature démontre qu’il n’existe pas de conclusions définitives,

Mots-clés: Cycle électoral; Com portement politique; Élections; Économie; Courbe de Phillips.

112
Programas de Pós-Graduação
e Centros de Pesquisa Filiados à Anpocs

Casa de Oswaldo Cruz Departamento de Fundação Casa de Rui Barbosa


Pesquisa —COC www.casaruibarbosa.gov.br
www.coc.fiocruz.br
Fundação Joaquim Nabuco Instituto de
Centro Brasileiro de Análise e Pesquisas Sociais —FJN
Planejamento —CEBRAP www.fundaj.gov.br
www.cebrap.org.hr
Instituto de Estudos da Religião —ISER
Centro de Estudos Africanos - CEA - USP www.iser.org.br
www.ffl.ch ,usp.br/cea Instituto de Relações Internacionais IRI-
PUC-RJ
Centro de Estudos de Cultura
www.puc-rio.br/sobrepuc/depto/iri
Contemporânea —CEDEC
www.cedec.org.br IUPERJ - Programa de Pós-Graduação em
Ciência Política
Centro de Estudos da Religião - C E R - USP
www.iuperj.br/pos_graduacao
www.fflch.usp. br/cer
IUPERJ - Programa de Pós-Graduação em
Centro de Estudos Rurais e Urbanos Sociologia
CERU-USP www. iuperj .br/pos_graduacao
www.iflch.usp.br/prpesq/ceru/hrm
Museu Paraense Emilio Goeldi —UFPA
Centro de Pesquisa è Documentação www.museu-goeldi.br/infcrmacaocientifica
História Contemporânea CPDOC — Núcleo de Altos Estudos Amazônicos —
FGV-RJ N AEA-U FPA
www.cpdoc.fgv.br www.naea.ufpa.br

Centro Josué de Castro Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Demo­


www.josuedecastro.org.br cracia e Desenvolvimento —NADD/USP
www.nadd.prp.usp.br
Centro Recursos Humanos —CRH - UFBA
Núcleo de Documentação Cultural —UFC
www.crh.ufba.br
www.ch.iifc.br
FGV - Programa de Pós-Graduação em Núcleo de Documentação e Informação
Administração Pública e Governo Histórica - NDHIR/UFPB
www.easp. fgvsp.br www.reitoria.ufpb.br/ndhir

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N úcleo de Escudos dc Gênero - PAGU - UFC - Programa de Pós-Graduação em
UNICAMP Sociologia
www.unscamp.br/pagu7 consulta.htm www. ufc,br/posgraduacaò

Niiçleo de Estudos de Políticas Públicas - UFF - Programa de Pós-Graduação em


NEPP - UNICAMP Antropologia
www.nepp.unicamp.br www.uff.br/ppga/dissertações .htm

Núcleo de Esrudos de População —NEPO UFF - Programa de Mestrado em Ciência


- UNICAMP Política
www.unicamp.br/nepo www. uff.b r/pgcp

Núcleo dé Estudos e Pesquisas Sociais — UFF —Programa de Pós-Graduação em


NEPS - UFC Sociologia e Direito
www.ch.uFc.br www.ufF.br/ppgsd

PUC-MG —Programa de Pós-Graduação em UFG - Programa de Mestrado em


Ciências Sociais - Gestãò Cidades Sociologia
www.pucminas .br/cursos/mestrado www.mestsociolpgia@Fchf.iifg.br

PUC-RJ —Programa de Pós-Graduáção em UFJF —Programa de Pós-Graduação em


Ciências Sociais Ciências Sociais
www.puc-rio/ensino/pesquisa/ ccpg www.mestradosociais,ufjf.br

PUÇ-SP - Programa de Pós-Graduação em U FM A - Programa de Pós-Graduação em


Ciências. Sociais Ciências Sociais
www.pucsp.br/pos ww w.pgsc.ufm a.br

UEL - Programa de Pós-Graduação em UFMG - Programa de Mestrado em Ciência


Ciências Sociais Política
www.uel.br/cch/pos/mestsoc www.fafich.ufmg.br/dcp/mestrado.htm
UENF —Programa de Pós-Graduação em UFMG - Programa de Mestrado em
Sociologia Polírica Sociologia e Antropologia
www.uenf.br/ uenf.pages www.fafich.ufms.br/soa
UERJ - Programa de Pós-Graduação em UFMG - Programa de Pós-Graduação em
Ciências Sociais Antropologia
www.2.uerj .br/ "ppcis w w w .fafich .ufm g.b r/ an tro-p o s

U FA L- Programa de Pós-Graduação em UFPA—Programa de Mestrado em


Sociologia Antropologia
www.ufal.br/propeg/posgraduacao www.ufpa.br/cfch
UFBA—Programa de Pós-Graduação em UFPB —Programa de Pós-Graduação em
Ciências Sociais Sociologia
www.ppgs.ufba.br www.prpg.ufpb.br

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UFPE - Pós-Graduação em Ciência Política UFRN - Programa de Mestrado em
www.politica.ufpe.br Ciências Sociais
www.cchla.ufrn.br
UFPE —Programa de Pós-Graduação em
Antropologia UFRN - Programa de Pós-Graduação em
www.ufpe.br/antropologia Antropologia Social
UFPE —Programa de Pós-Graduação em www.cchla.ttfm.br
Sociologia
UFRRJ —Curso de Pós-Graduação de
www.ufpeppgs.hpg.ig.com.br
Ciências Sociais em Desenvolvimento,
UFPR - Programa de Pós-Graduâção em Agricultura e Sociedade
Antropologia www.alternes.com.br/-cpda
www.humanas.ttfpr.br/pos/antropol
UFS - Programa de Pesquisa e
UFPR—Programa de Pós-Graduação em Pós-Graduação em Ciências Sociais
Sociologia www.posgrap.ufs.br
www.humanas.ufpr.br/pos/socio
UFSC —Programa de Pós-Graduação em
UFRGS —Programa de Pós-Graduação e Antropologia Social
Planejamento Urbano Regional www.chf.ufsc.br/-aii tropos
www.ufrgs.br/propur
UFSC—Programa de Pós-Graduação ém
UFRGS —Programa de Pós-Graduação em
Sociologia Política
Antropologia Social
www.reitoria.ufsc.br/prpg
www.ufrgs.br/ifch/ppgas

UFRGS - Programa de Pós-Graduação em UFSCar —Programa de Pós-Graduação em


Ciência Política Ciência Política
www.cienciapolitica.ufrgs.br www.ppgpòl.ufscar.br

UFRGS —Programa de Pós-Graduação era UFSCar - Programa de Pós-Graduação em


Sociologia Ciências Sociais
www.ufrgs.br/ifch/posgrad/soeiologia www.ufscar.br/-- ppgcso

UFRJ —Programa de Pós-Graduação em UFSCar - Programa de Pós-Graduação em


Antropologia Social —Museu Nacional Sociologia
www.acd. ufrj .br/- museuhp/pesq.htm www.ppgs.ufscar.br

UFRJ —Programa de Pós-Graduação em UNB - Programa de Mestrado em Ciência


Ciência Política Política
www. i fcs.ufrj.b r/- p pgcp www.unb.br/ipol

UFRJ - Programa de Pós-Graduação em UNB —Programa de Mestrado em Relações


Sociologia e Antropologia Social Internacionais
www.ifcs.ufrj.br/-ppgsa www.unb.br/dpp.ppg.htm

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UNB —Programa de Pós-Graduação em USP - Programa de Pós-Graduação em
Antropologia Social Antropologia
www.unb.br/ics/dan/manual_pos www.fflch.usp.br/da

UNB —Programa de Pós-Graduação em USP - Programa de Pós-Graduação em


Sociologia Ciência Política
www.unb.br/ics/sói/posgraduacáo www.fflch.usp.br/dcp

UNESP —Programa de Pós-Graduação em USP —Programa de Pós-Graduação em


Ciências Sociais Sociologia
www.marilia. unesp. br/ensino/pos-grad/ www.fflch.usp.br/ds
ciencias_sociais

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Graduação em Sociologia
www. felar. unesp.br/possoc

UNESP/UNICAMP/PUC-SP —
Programa de Pós-Graduação em Relações
Internacionais
www.unesp.br/santiagodantassp;
www.unicamp.br/santiago dan tassp;
www.puesp.br/santiagodantassp

UNICAMP —Programa de Doutorado em


Ciências Sociais
www.ifch,Limcamp.br/pos

UNICAMP - Programa de Mestrado em


Antropologia Social
www.ifch.unicamp.br/ pos

UNICAMP —Programa de Mestrado em


Ciência Política
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UNICAMP - Programa de Pós-Graduação


em Sociologia
www.ifch.unicamp.br/pos

UNICAMP - Programa de Política


Científica Tecnológica
www.ige.unicamp.br/ dçpt

UNISINOS —Programa de Pós-Graduação


em Ciências Sociais Aplicadas
www.unisinos.br/ppg.ciencias_sociais

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Belo Horizonte Planejamento (Cebrap)
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Arquivei Público do Distrito Federal Céntro de Documentação Cultural
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Arquivo Público do Estado da Bahia www.unicamp.br/iel/cedae/cedae.html
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Santo (APEES) www.funarte.gov. br/edoe/
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Centro de Documentação e Memória —
Arquivo Público: dó Estado do Pará Unesp
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NADD) Ciência da Informação (Abecin)
www.nadd.prp.usp.br/piloto/index.aspx www.abecin.org/Home.htm

Fundação Arquivo e Memória de Santos Associação Brasileira de Normas Técnicas


www. web@sântós ,sp.gov.br (ABNT)
www.abnt.org.br/
Fundação Casà de Rui Barbosa
www. casaru ibarbosa.gov. br/ Associação Brasiliense dè Arquivologia
(Abarq)
Fundação Joaquim Nabuço www.montess.com.br/ dominio/abarq/forum/
www. fimdaj -gov. br/ default.asp

Fundação Osvaldo Cruz/Departamento de Associação de Amigos do Arquivo Público do


Arquivo de Documentação Estado de Santa Catarina
www.fiocruz.br/coc/dadl .html e-mail: associacaoami gos.sç@bol. com. br

Fundação Patrimônio Histórico da Energia Associação de Arquivistas de São Paulo


(ARQ-SP)
de São Paulo
www.arqsp.org.br/
www. fphesp.org. br/
Associação dos Arquivistas do Estado do
Marxists.org Internet Archive
Rio Grande do Sul (AARS)
www.marxists. org/
www.arquivologia.ufsm.br/áars/
National Archives and Records
Associação dos Arquivistas Brasileiros
Administration (Nara)
(AAB)
www.nara.gov/ www.aab.org.br/
National Archives of Australia Associação Nacional de Pesquisa e Pós-
www.naa.gov.au/ Graduação em Ciência da Informação e
Biblioteconomia (Ancib)
National Archives of Canada
www.alternex.com.br/--aldoibct/ancib.ht.ml
www.archives;ca/
Associação Nacional de Pós-Graduação e
Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA)
Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs)
www.naea.ufpa.br www.anpocs.org.br
Núcleo de Estudos em Políticas Públicas da Conselho Nacional de Arquivo (Conaiq)
Unicamp (Nepp) www.arquivonacional.gov.br/conarq/
www.nepp.unicamp.br index.htm

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119
Bibliotecas Virtuais Instituto Superior de Estudos da Religião
www.iser.org.br
ÀBU: Ia Bibliorhèque Univereelle
abu.cnam.fr/ Instituto Universitário de Pesquisas do Rio
de Janeiro (iuperj)
B ib lio m a n ia www.iuperj.br
www.bibliomania.com/
Pontifícia Universidade Católica de Minas
Biblioteca Virtual Carlos Chagas Gerais (Graduação em Ciência da Informa­
www.prossiga.br/cliagas/ ção)
www.inf.pucminas.br/ci/
Biblioteca Virtual de Ciências Sociais
www.pros.siga.br/ csociais/pacc/ Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (Mestrado e Doutorado em Comuni­
Biblioteca Virtual de Estudos Culturais cação e Semiórica —área: Tecnologias da
www. prossiga.br/estudosculturais/pacc/ Informação)
www.pucsp.br/-cos-puc/
Biblioteca Virtual Prof. José Roberto do
Amaral Lapa Universidade do Rio de Janeiro
143.106.59.6/index.htm (Graduação em Arquivologia)
www.unirio.br/cch/index.htm
Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro
www.bibvirt. futuro, usp.br/ Universidade Estadual de Londrina/Depto.
de Ciências da Informação/Depto. de
Bibliotecas Virtuais Temáticas História (Graduação em Arquivologia;
www.prqssiga.br/bvtemaucas/ Especialização em Gerência de Unidades e
Serviços de Informação)
UNESBIB —Bibliographic records of www.uel.br/ceca/cinf/arquivologia.htm
Unesco documents, publications an Library
collections Universidade Federal de Santa Maria/
unesd oc.u nesco.org/ulis/u nesbib ,li tml Arquivologia (Graduação em Arquivologia)
www, arquivologia. ufsm.br/
The Library of Congress
Universidade Federal Fluminense/Depto.
www.ioc.gov
de Documentação (Graduação em Arqui­
http://catalog.loc.gov
vologia, Especialização em Planejamento,
SiBi/USP Organização e Direção de Arquivos)
www.uff.br/#
www.usp.br/sibi
Universidade Nacional de Brasília/Depto.
Faculdades e Institutos de Ciência da Informação e Documentação
(Baciiarelado em Arquivologia)
Instituto Brasileiro de Informação em www.unb.hr/deg/eursqs.hrm
Ciência e Tecnologia (IBICT)
www.ibict.br/ Universidade Nacional de Brasília/Depto.
de Ciência da Informação e Documentação
Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) (Mestrado em Biblioteconomia e Docu­
(Especialização em Organização de mentação —área: Planejamento de Proces­
Arquivos) sos Documentários)
www.ieb.usp.br/ www.unb.br/dpp/stricto/stricro-13 .h tm#s

120
Universidade Nacional de Brasília/Depto. Museu da Pessoa
de Ciência da Informação e Documentação www2.uoLcom.br/mpessoa/
(Doutorado em Ciência da Informação —
área: Transferência da Informação) Museum ofTelevision & Radio., The
www.unb.br/dpp/srricto/stricto-13-htm#s www.mtr. org/

Universidade de São Pàulo/Depto. de Publicações Eletrônicas


Biblioteconomia e Documentação (Mestra­
do e Doutorado em Ciências —área: Archival Science
Ciências da Informação e Documentação) www.wkap.nl/j oumals/archival_science
www.eca.usp.br/departam/cbd/cursos/
posgrad/indèx.htm Arquivologia no Brasil
w w w . cpdoc.fgv.br/comum/htm/
Guias, Banco de Dados e Listas de
ASIS Thesaurus of Information Science,
Discussão
2nd Edition (by Jessica Milstead)
Comissão de Patrimônio Cultural (CPC) www.asis.org/Publications/Thesaurus/
www.usp.br/cpc/cpcinfo.html tnhome.htm

Guia da Internet no Brasil para Cientistas Boletim do Arquivo Edgard Lêuenroth —o


Sociais, Historiadores e Arquivistas (do ÁEL via Internet
CPDOC) e-mail: andrew@unicamp.br
www.cpdoc.fgv.br/ comum/htm/
Boletim Eletrônico da Associação Nacional
infocafe de Pós-graduação e Pesquisa em Ciências
www. infocafe. cj b .net/ Sociais (anpocs on-line)
Lista de Arquivistas, Arquivos e Arquivologia www.anpocs.org.br/boletim/boletim.htm
br.egroups.com
Bulletin des Archives de France-Publi-
e-mail: ownet@egroups.com
cations
Lista Eletrônica de História do Brasil www.archivesdefrance.culture.gouv.fr/fr/
(HBrasil-L) p u b licatio n s/
www. clio net.ufjf. br/hbr-1/ index. htm
e-mail: hbr-mod@ah. ufjf.br Bulletin of the American Society for
Information Science and Technology
Rede Eletrônica de História do Brasil www.asis.org/Bultetin/
(ClioNet)
www.clionet.ufjf.br/ Journal of the American Society for
Information Science and Technology
Museus www.asis.org/Publications/JASIS/jasis.html

International Museum of Photography and Informação e Sociedade - Estudos


Pilin (George Eastman House) www. i nformacaoesodedade. ufpb.br/
www.eastman.org/
Revista Brasileira de História
Memorial do Imigrante www. filch .usp.br/dh/anpuh/ public_html/
www.memorialdoimigrante.sp.gov.br/ revisoa.htm

12!
Revista Ciência da Informação (Qionline)
www. ibict. br/cionl ine/300101 /indes.htm

Scientifxc Electronic Library Online (Scielo


Brazil)
www.scielo.br/

122
TRABALHOS PUBLICADOS; 1975-2008

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tica".
BIB 11
BIB 2 Luiz Antonio Cunha, “Educação e Sociedade
Anthony Seeger e Eduardo Viveiros d e Castro, no Brasil"; Licia do Prado Valladares e Ademir Fi­
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BIB 3 BIB 12
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BIB 4 trovérsias e Perspectivas”.
Lucia Lippi Oliveira, “Revolução de 1930: BIB 13
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BIB 5 “Relações Internacionais e Política Excerna Brasi­
Bolivar Lamounier e Maria DAlva Gil Kin- leira: U m a Resenha Bibliográfica”.
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BIB 14
Eleitoral no Brasil, 1945-1978”.
Licia Valladares * M agda Prates Coelho, “Po­
BIB 6 breza Urbana e M ercado de Trabalho: U m a Aná­
Alba Zaluar Guimarães, “Movimentos ‘Mes­ lise Bibliográfica”.
siânicos1 Brasileiros: Um a Leitura”.
BIB 15
BIB 7 Jo sé Cisar G nacarini e M argarida Moura,
Roque de Barros Laraia, “Relações entre Ne­ “Estrutura Agrária Brasileira: Permanência e D i­
gros e Brancos no Brâsil”. versificação de um Debate”; Bila Sorj, “O Pro­
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Amaury d e Souza, “População e Política Po­ Pesquisa”.
pulacional no Brasil: U m a Resenha de Estudos BIB 16
Recentes”. Aspdsia Camargo, Lucia Hippolito e Valenti­
BIB 9 na da Rocha Lima, “Histórias de Vida na América
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Força de Trabalha”; Pedro Jacobi, “Movimentos Trabalho na América Latina: Um Ensaio Biblio­
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123
BIB 17 BIB 26
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Brasil”; Luiz Werneck Vianna, “Atualizando uma dares, “Infância e Sociedade no Brasil: U m a Aná­
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brica”.
BIB 27
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res: Um a Visão Parcial da Literatura Recente”; Cláudia Fonseca, “A História Social no Estudo da
Mariza Corrêa, “M ulher e Família: U m Debate Fam ília: Uma Excursão Interdiscipiinar”,
sobre a Literatura Recente”.
BIB 28
BIB 19 M aria Lúcia Teixeira Werneck Vianna, “A
E dmundo Campos Coelho, “A In stituição Emergente Temática da Política Social na Biblio­
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grafia Brasileira”; Anette Goldberg, “Feminismo no
BIB 20 Brasil Contemporâneo: O Percurso intelectual de
Maria Alice Rezende de Carvalho, “Letras, So­ um Ideário Político”; Maria Cecília SpinaForjaz,
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BIB 21 CN Pq (1950 -1 9 85 )”.

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Recentes”. José Sávio Leopoldi, “Elementos de Etnoas-
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Roque de Barros Laraia, “Os Estudos de Pa­ fa e l d e M enezes Bastos, “M usicologia no Brasil
rentesco no Brasil”; Pedro Jacobi, “Movimentos Hoje”; Laís Abramo, “Novas Tecnologias, D iíu-
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BIB 24 BIB 31
Angela de Castro Gomes e Marieta d e Moraes Helena Hirata, “Elisabeth Souza Lobo 1943-
Ferreira, “Industrialização e Classe Trabalhadora 19 9 1 Elisabeth Souza Lobo, “O Trabalho como
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BIB 25
G uimarães, “C lasses, Interesses e Exploração:
Girãlda Seyfertb, “Imigração e Colonização
Com entários a um Debate Anglo-Americano”.
Alemã no Brasil: Um a Revisão da Bibliografia”;
M aria H elena G uimarães d e Castro, “Governo BIB 32
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124
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Brasileira: U m a Revisão na Pesquisa Recente”. Novos Movimentos Religiosos na Am érica: Os
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Paulo Freire Vieira, “A Problemática Am bien­ BIB 38
tal e as Ciências Sociais no Brasil: 1980-1990”; Theodore Loivi, “O Estado e a Ciência Polí­
Guita Grin Debert, “Família, Classe Social e Et- tica ou Cpmo nos Convertemos Naquilo que Es­
nicidade: Um Balanço da Bibliografia sobre a tudamos”; Luís Fernandes, “Leituras do Leste: O
Experiência de Envelhecimento”; M arco Antonio Debate sobre a N atureza das Sociedades e Es­
Gonçalves, “Os Nomes Próprios nas Sociedades tados de Tipo Soviético {Primeira Parte—As Prin­
Indígenas das Terras Baixas da Am érica do Sul”. cipais Interpretações O cidentais”; Ju lia Silvia
BIB 34 Guivant, “Encontros e Desencontros da Sociolo­
Olavo Brasil de Lima Junior, Rogério Augusto gia Rural com a Sustentabilídade Agrícola: Uma
Schmitt e Jairo César M arconi Nicolau, “A Produ­ Revisão da Bibliografia”,
ção Brasileira Recente sobre Partidos, Eleições e BIB 39
Com portamento Político; Balanço Bibliográfico”; Marta T. S. Arretche, “Emergência e Desen­
Arabela Campos O liven , “O Desenvolvimento da volvim ento do Welfare State : Teorias E xplicati­
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tos Históricos”; Wilma M angabeira, “O Uso de Debate sobre a N atureza das Sociedades e Es­
Computadores na Análise Q ualitativa; U m a Nova tados de Tipo Soviético (Segunda Parte — As
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Sérgio Adorno, “A C rim in alid ad e U rbana Oliveira e Lourdes Gonçalves Furtado, “As Ciên­
Violenta no Brasil: Um Recorte.Temático”; Chris­ cias Humanas no Museu Paraense Emílio Goeldi:
tian Azais e Paola Cappellin, “Para um a Análise 128 Anos em Busca do Conhecim ento Antropo­
das Classes Sociais”; Guillermo Palacios, “C am ­ lógico na Amazônia”.
pesinato e Historiografia no Brasil - C om entá­ BIB 40
rios sobre Algumas Obras Notáveis”; “Arquivo de “Floresran Fernandes: Esboço de um a Traje­
Edgard Leuenroth”.
tória”; Luiz Werneck Vianna, Marta Alice Rezende
BIB 36 de Carvalho e M anuel Palacios Cunha Melo, “As
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um Objeto”; Maria da Glória Bonelli, “As C iên­ Abramo e Cecília M ontero, “A Sociologia do Tra­
cias Sociais no Sistem a Profissional Brasileiro”; balho na Am érica Latina: Paradigmas Teóricos e
M arieta d e Moraes Ferreira, “O Rio de janeiro Paradigmas Produtivos”.
Contemporâneo: Historiografia e Fontes - 1930­
BIB 41
1975”.
Gustavo Sorá, “Os Livros do Brasil entre o
BIB 3 7 Rio de Janeiro e Frankfurt”; M ario Grynszpan ,
Fernando Limongi, “O Novo Institucionalis- “A Teoria das Elites e sua Genealogia Consagra­
mo e os Estudos Legislativos: A Literatura Norce- da”; Jorge Ventura de Morais , “Trabalhadores, Sin­

125
dicatos e Democracia: Um Ensaio Bibliográfico BIB 45
sobre D em ocracia Sin d ical ’; M aria da Gloria Eli Diniz, “Globalização, Ajuste e Reforma
Bonelli e Silvana Donatoni, “Os Estudos sobre do Estado: Um Balanço da Lirerarura Recente”;
Profissões nas C iências Sociais Brasileiras”. Terry M ulhalle Jorge Ventura d e Morais, “M apean­
do o Reino da Sociologia H istórica: Reflexões
BIB 4 2
A cerca do M ó d elo Teorico-m etodológic.o de
Alba Zaluar, Antonio Augusto Prates, Claitdio
Theda Skoçpol”; Aljredo Wagner Berna d e Almei­
Beato Filho e Ronaldo Noronha, “Antônio Luiz
da, “Quilombos: Repertório Bibliográfico de uma
Paixão, Intelectual e Amigo”; Jo sé Maurício Do-
Questão Redefinida (1995-1997)”; Lúcio Rennó,
tningues , “Evolução, H istó ria e Sub jetividade
“Teoria da C ultura Política: Vícios e Virtudes”.
Coletiva”; Mareia de Paula Leite e Roque Apare­
cido da Silva, “A Sociologia do Trabalho Frente à BIB 46
Reestruturação Produtiva: U m a Discussão Teó­ Ju lià S. Guivant, “A Trajetória das Análises
rica"; M arco A. C. Cepik, “Sociologia das Re­ de Risco: D a Periferia ao Centro da Teoria So­
voluções Modernas: Um a Revisão da Literatura cial”; Carlos Aurélio Pimenta de Faria, “U m a Ge­
N orte-A m ericana”; Angela Alonso, “De Positi­ nealogia das Teorias e M odelos do Estado de
vismo e de Positivistas: Interpretações do Posi­ Bem -Estar Social”; Aloísio Ruscheinsky, “Nexo
tivismo Brasileiro”. entre Atores Sociais: M ovimentos Sociais e Par­
tid o s P o lítico s”; “D ebates sóbré A u to n o m ia
BIB 43
U niversitária: Carlos Benedito Martins e Sérgio de
Sérgio Costa, “Categoria Analítica ou Passe­
Azevedo, “Autonom ia Universitária: Notas sobre
Partout Político-Normativo: Notas Bibliográficas
a Reestruturação do Sistem a Federal de Ensino
sobre o Conceito de Sociedade C ivil”; Luis Fer­
Superior”; José Vicente Tavares dos Santos, “A Cons­
nandes, “Leituras do Leste III: O Debate sobre a
trução da Universidade Autônoma”; Gilberto Ve­
Natureza das Sociedades e Estados de Tipo So­
lho, “ U n iversid ad e, A u to n o m ia e Q u alid ad e
viético [Parte Final —As Leituras Centradas na
Acadêmica”; Tomaz Aroldo da M ota Santos, “A
Prevalência do Capitalism o de Estado e/ou Buro­
ANDIFES e a Au tonomia”.
crático e a Convergência Problemática no C on­
ceito de Staiinism o”; Eduardo C. Marques, “Notas BIB 47
Críticas à Literatura sobre Estado, Políticas. Esta­ Eduardo G. Noronha, “A Contribuição das
tais e Atores Políticos”; Paulo J. Krischke, “C ultu­ Abordagens Institucionais-N orm arivas nos Es­
ra Política e Escolha Racional na Am érica Látina: tudos do Trabalho”; Cecília Loreto Mariz, “A Teo­
Interfaces nos Estudos da Democratização”. logia da B atalha E sp iritu al: U m a Revisão da
Bibliografia”; Mauro Guilherme Pinheiro Koury,
BIB 44
“A Imagem nas Ciências Sociais do Brasil: Um
Luís Donisete Benzi Gntpioni e Maria Denise
Balanço C rítico”; Jaw dat Abu-El-Haj, “O Debate
Fajardo Grupioni, “Depoimento de Darcy Ribei­
em Tomo do C apital Social: Uma Revisão C rí­
ro”; Christina de Rezende Rubim, "Um Pedaço de
tica".
Nossa H istória: Historiografia da Antropologia
Brasileira”; Glaucia Villas Bôas, “A Recepção da BIB 48
Sociologia Alemã no Brasil: Notas para um a Dis­ Priscila Fítulhaber , “Entrevista com Roberto
cussão”; Carlos Pereira , “Em Busca de um Novo Cardoso de Oliveira”; Fernanda Wanderley, “Pe­
Perfil Institucional do Estado: U m a Revisão C rí­ quenos Negócios, Industrialização Local e Redes
tica da L iteratura R ecente”; Flávia de Campos de Reíações Económicas: U m a Revisão Bibliográ­
Mello, “Teoria dos Jogos e Relações Internacio­ fica em Sociologia Económica”; Celina Souza e
nais: U m Balanço dos Debates’’. M árcia Blumm, “Autonom ia Política Local: Uma

126
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Fam ília em Algumas Visões Clássicas da Forma­ Possibilidades para os Estudos dos Movimentos
ção N acional”; Clarice Ehlers Peixoto , “Antropo­ Sociais”; Celso F. Rocha de Barros, “A Transição
logia é Film e E tnográfico: Um T ravelling no para o Mercado no. Lestè Europeu: Um Balanço
Cenário Literário da Antropologia V isual”. do Debate sobre a M udança do Plano ao M erca­
BIB 49 do”; Luiz Líenrique de Toledo, “Futebol e Teoria
Social: Aspectos da Produção Científica Brasilei­
Licia Valladares e Roberto Kant de Lima, "A
ra (1982-2002)".
Escola de Chicago: Entrevista com Isaacjoseph”;
Marcos Chor M aio e Carlos Eduardo Calaça, “Um BIB 53
Ponto C ego nas Teorias da D em o cracia: Os Gláucio Ary Dillon Soares, “H om enagem a
Meios de Com unicação”; Luis Felipe M iguel, “De­ Vílm ar Faria”; Jo sé Carlos Durand, “Publicidade:
finição de Agenda, Debate Público e Problemas Comércio, Cultura e Profissão (Parte I)”; Ângela
Socais: Uma Perspectiva Argum enrativa da Di­ Alonso e Valeriano Costa, “Ciências Sociais e Meio
nâm ica do Conflito Social”; Mario Fuks e Karl Ambiente no Brasil: um Balanço Bibliográfico”;
Monsma, “Jam es C. Scott e a Resistência C oti­ Antônio Sérgio Araújo Fernandes, “Path depen ­
diana no Campo: Uma Avaliação Crírica”. dency e os Estudos H istóricos C om parad os”;
Leonardo Mello e Silva, “Qualificação versus C om ­
BÍB 50
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M arcus André M elo, “Política R egulatória:
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tins, Gláucia Villas Boas, Maria Ligia de Oliveira
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“Violência, C rim inalidade, Segurança Pública e
èiti Sociologia”^
ju stiça C rim in al no Brasil: um a Bibliografia”;
Alejandro Frigerio , ‘Teorias Econômicas Aplica­ BIB 54
das ao Estudo da Religião: Em Direção a um Novo M aria I fele ruí de Castro Santos, “'Política
Paradigma?”; Angela Xavier de Brito, “Transfor­ Com parada: Estado das Artes e Perspectivas no
mações Institucionais e Características Sociais dos Brasil”; Jo sé Carlos Durand, 'Publicidade: Com ér­
Estudantes Brasileiros na França”. cio, C ultura e Profissão (Pane II)”; Maria Lucia
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BIB 51
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Maria Herminia Tavares de Almeida, “Fede­ Leila da Costa Ferreira e Lúcia da Costa Ferreira,
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127
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BIB 56
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bate entre Propostas Teóricas e M etodologias de
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Pesquisa Alternativas”; Luís Antônio Francisco de
cantamento: a Emergência dos Novos M ovim en­
Souza, “C rim ino logia, D ireiro Penal e Ju stiça
tos Religiosos”; José Celso Cardoso Jr., “Fundam en­
C rim inal no Brasil: U m a Revisão da Pesquisa Re­
tos Sociais das Economias Pós-industriais: uma
cente”; Carlos Eduardo Se11. “Sociologia da M ís­
Resenha Crítica de Esping-Andersen"; Diana No­
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gueira de Oliveira Lima, “Antropologia do C on­
sumo: A Trajetória de um Campo em Expansão”. BIB 60
José Reginaldo Santos Gonçalves, “Antropolo­
BIB 57
gia dos Objetos: coleções, museus e patrim ônios”;
Maria Arminda do Nascimento Arruda, “Ho­
Fabiola Rohden, “A constituição dos saberes so­
menagem a Octavio lan n í”; Giralda Seyferth , “A
bre a sexualidade em diferentes perspectivas de
Imigração no Brasil: Com entários sobre a C on­
análise”; Piero de Camargo Leirner, “Perspectivas
tribuição das Ciências Sociais”; Christine Jacquet
Antropo lógicas da Guerra”; Artur Zimertnan, "Re­
e Lívia Alessandra Fialho da Costa, “A Sociologia
visão B ibliográfica da L iteratura Q u antitativa
Francesa diante das Relações Beaux-parents: En­
sobre os Determinantes de Guerra C ivil”; Paulo
teados nas Famílias Recompostas após Divórcio
Sérgio Peres, “O Problema da Instabilidade Elei­
oü Separação”; M arcelo Medeiros, “As Teorias de
toral na Europa: Uma Análise do Debate Teóri­
Estratificação da Sociedade e o Estudo dos Ricos ’;
co, Empírico e M etodológico'’
M areia Contins, “Objetivos e Estratégias da Ação
Afirmativa: Um a Bibliografia”; ClovesL. P. Olivei­ BIB 61
ra, “O que Acontece quando um Cavalo de Cor Elisete Schuiade, “Néo-ésoterismo no Brasil:
Diferente Entra na Corrida? O Painel das Estra­ D inâm ica de um Campo de Estudas”; Ana Cláu­
tégias Eleitorais dos Políticos Afro-americanos nas dia N. Capella, “Perspectivas Teóricas sobre o
Eleições M unicipais nos Estados Unidos”. Processo de Formulação de Políticas Públicas”;
Ana M. F. Teixeira, “'A cigarra e a formiga’: Q ua­
BIB 58
lificação e Com petência —Um Balanço Crítico”;
Argelina Cheibub Figueiredo, “O Executivo
Amâncio Jorge Oliveira, Janina Qnuki e M anoel
nos Sistemas de Governo Democráticos”; R. Par-
Galdino Pereira Neto, “M odelos Espaciais na Teo­
ry Scott, “Família, Gênero e Poder no Brasil do
ria de Coalizões Internacionais: Perspectivas e
Século XX”; Andrei Koerner, “D ireito e Regula­
C ríticas”; Tatiana Savoia Landini,“Sociologia de
ção: um a Apresentação do Debate Teórico no
Nprbert Elias”.
Réseau Européen Droit et Société”; Sérgio Eduar­
do Ferraz, “O s Dados do Norm ativo: Aponta­ BIB 62
mentos sobre a Recepção das Teorias Contempo- Adriano Oliveira e Jo rge Zaverucha, “Tráfico
porâneas de Justiça no Brasil (1990-2003)”; Pa­ de Drogas: U m a Revisão Bibliográfica”; Rajael
blo Alabarces, “Veinte aiios de Ciências Sociales y Duarte Villa e Rossana Rocha Reis,“A Segurança
D eporte en A m érica L atina: un balance, una Internacional no Pós-Guerra Fria: Um Balanço
agenda”. da Teoria Tradicional e das Novas Agendas de

128
Pesquisa’ ; João M arcelo Ehlert Maia, “IdéiaSj In­ BIB 66
telectuais, Texros e Contextos; Novamente a So­ Ana Cristina Augusto de Sousa e Nilson do Ro­
ciologia da C u ltu ra.. D aniel Barile da Silveira, sário Costa, “A Crise do Setor de Saneamento Bá­
“M ax W eber e H ans Kelsen: a Sociologia e a sico no Brasil: uma Revisão Bibliográfica”; Daniel
Dogmática Jurídicas”; Felícia Picanço, ‘‘Os Estu­ Cuerrini e Ronaldo Baltar, “Tecnologia, Informa­
dos de M obilidade Social e Ocupacional: Passa­ ção e Sociedade: um a Sistematização de Concei­
do, Presente e Desafios para o Futuro” tos e Debates”; Leonor Lima Torres, “C ultura das
BIB 63 Organizações: Enfoques Dominantes, Tendências
Reginaldo Prandi, “As Religiões Afro-brasi­ Internacionais e Novas Propostas A n alíticas”;
leiras nas Ciências Saciais: uma Conferência, uma M anoel Leonardo Santos, “Teoria é M étodo nos
B ibliografia”; M aria Aparecida Chaves Jardim , Estudos sobre o Legislativo Brasileiro: uma Revi­
“Criação e Gestão de Fundos de Pensão: Novas são da Literatura no Período 1994-2005”; Ricardo
Estratégias Sindicais”; André Borges, “Desenvol­ Borges Gama Neto, “Eleições, Economia e Ciclo
vendo Argumentos Teóricos a Partir de Estudos Político: um a Revisão da Literatura Ciássica”.
de Caso; o Debate Recente em Torno da Pesqui­
sa Histórico-Com parariva”; A ndreiK oem er, “Ins­
tituições, Decisão Ju d icial e A nálise do Pensa­
m ento Ju ríd ico : o D ebate N orte-A m ericano”;
R ousiiey C. M. M aia, "Política. D elib erativ a e
Tipologia de Esfera Pública”.

BIB 64
Sônia M. K Guimarães, “Sindicatos em Trans­
formação. ‘M odelos’ de Ação Sindical: o Debate
Internacional”; Claudia Barcellos Rezende, “Iden­
tidade e Contexto: algum as Questões de Teoria
Social”; Ednaldo Ribeiro, “Teoria do Desenvolvi­
m ento H um ano, C ultu ra Política e D em ocra­
cia”; Eugênio Carlos Ferreira Braga , “Entre Fatos e
Discursos: sobre o Debate era torno da Conver­
gência Técnico-m etodológica”; Carla M achado e
Ana, Rita Dias,“C ultura e Violência Familiar: um a
Revisão C rítica da Literatura”.

BIB 65
André MarenCo, “Estudos de Elites Políticas
Explicam como Instituições Tornam-se Institui­
ções?”; Cdina ^ « ^ “Federalismo: Teorias e Con­
ceitos Revisitados”; Edmar Aparecido de Barra e
Lopes, “Setor Informal: um Debate C onceituai,
um a Nova Abordagem”; Fabrício Mendes Fialho,
“As M últiplas Definições do Conceito de Capital
Social”; Roberta Bivar C. Campos, “Sobre a Doci­
lidade” do Catolicismo: Interpretações do Sincre-
tismo e Anti-sincretismo na/da Cultura Brasileira”.

129
NORMAS PARA APRESENTAÇÃO DE COLABORAÇÕES À BIB

As resenhas e balanços biblio­ Critérios bibliográficos VÍRGULA/ nom e da ed ito ra /


gráficos apresentados, inéditos, de­ PO NTO . Exemplo:
vem ser entregues em crês cópias Livro: sobrenome do autor (em caíxa
impressas e uma em disquete, de alta) /VÍRGULA/ seguido do nome ABRAN CHES, Sérgio H enrique.
preferência no programa Word for (em caixa alta e baixa) /PONTO/ (1987), “Governo, empresa esta­
Windows» em espaço 1,5 com mar­ data entre parênteses /VÍRGULA/ tal e política siderúrgica: 1930­
gens razoáveis e sem emendas. Não título da obra em itálico /PONTO/ 1975”, in Olavo Brasil de Lima
devem ultrapassar 30 laudas (de 20 nom e do tradutor /PONTO/ n° Jr. e Sérgio Henrique Abranches
linhas), ou seis mil palavras; as re­ da edição, se não for a prim eira / (org.), As origens da crise, Rio de
senhas não devem ultrapassar sete VÍRGULA/ local da publicação / Janeiro, Vértice.
laudas. VÍRGULA/ nome da editora /PON­
O texto deve ser acompanhado TO. Exemplo: Tese acadêmica: sobrenome do au­
de um resumo e de cinco palavras- tor em caixa alta/VÍRGULA/segui­
chave, bem como de dados sobre o SACHS, Ignacy. (1986), Ecodesenvol- do do nome em caixa alta e baixa/
autor (formação, instituição atual, vimento, crescer sem destruir. Tra­ PONTO/ da data entre parênteses/
cargo, linhas de pesquisa e dois últi­ dução de Eneida Cidade Araújo. VÍRGULA/ título da tese em itálico /
mos livros publicados, se for o caso). PONTO/ grau acadêmico a que se
2 ed. São Paulo, Vértice.
Os autores cujos textos forem refere /VIRGULA/cidade da institui-
aprovados para publicação enviarão ção/VIRGULA/ instituição em que
Artigo: sobrenome do autor (em cai­
seu trabalho por e-mail, com a se­ foi apresentada /VÍRGU LA/sigla da
xa alta) /VÍRGULA/ seguido do
guinte organização: instituição/PONTO. Exemplo:
nom e (em caixa a lta e b aixa) /
PONTO/ data entre parênteses /
• Quadros, mapas, tabelas etc. em SG UIZZARD 1, E unice H elena.
VIRGULA / “título do artigo entre
arquivo separado, com indicações (1986), O estruturalismo de Pia­
aspas /PONTO/ nome do periódico
claras, ao longo do texto, dos lo­ get: subsídios para a detenninação
em itálico /VIRGULA/ volume do
cais em que devem ser incluídos. de um lugar comum para a Ciên­
periódico /VÍRGULA/ número da
• As menções a autores, no correr cia e a Arquitetura. Dissertação de
edição entre p arên teses /DOIS
do texto, seguem a forma —(Au­ mestrado, São Paulo, Fundação
PONTOS/ numeração das páginas. Escola de Sociologia e Política de
tor, data) ou (Autor, data, pági­
Exemplo: São Paulo, ESPSP.
na) , como nos exemplos: (Jagua-
ribe, 1962) ou (Jaguaribe, 1962,
REIS, Elisa. (1982), “Elites agrárias,
p. 35). Se houver mais de um tí­
tulo do mesmo autor no mesmo state-building e autoritarismo”.
ano, eles são diferenciados por Dados, 25, 3: 275-96. O envio espontâneo de qualquer
uma letra após a data; (Adorno, colaboração im p lica au to m atica­
1975a), (Adorno, 1975b) etc. Coletânea: sobrenome do autor em mente a cessão integral dos direitos
• Colocar como notas de rodapé caixa alta /VIRGULA/ seguido do autorais a ANPOCS. A revista não
apenas informações complemen­ nom e em caix a a lta e b aixa / se obriga a devolver os originais das
tares e de natureza substantiva, PONTO/ data entre parênteses / colaborações enviadas. .
sem ultrapassar 3 linhas. VIRGULA/ “título do capítulo en­
• A bibliografia entra no final do tre aspas" /VIRGULA/ in {em itáli­ Endereço: Edito ria RB CS
artigo, em ordem alfabética, obe­ co)! nome seguido do sobrenome Av. Prof. Luciano Gualberto, 315 —
decendo os critérios abaixo. do(s) organizador(es) /VÍRGULA/ Io andar —Cidade Universitária —
• O título do artigo deverá ter, no títu lo da coletâ nea, em itá lico / CEP 05508-900 São Paulo - SP
máximo, 80 caracteres com espa­ VIRGULA/ local da publicação /
ços.
Publicações

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de Pós-Graduação e Pesquisa
em Ciências Sociais

A REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS A REVISTA BRASILEIRA DE INFORMAÇÃO


SOCIAIS (RBCS) existe desde 1986 e já BIBLIOGRÁFICA EM CIÊNCIAS SOCIAIS
se consolidou como o periódico mais im ­ (BIB) é uma publicação semestral que
portante na área de ciências sociais oferece balanços criteriosos, elabo­
strícto sensu. Assinar a RBCS é estar em rados pelos mais eminentes cientistas
contato com os temas atuais e as pes­ sociais, da bibliografia corrente sobre
quisas recentes realizadas na Antropo­ Antropologia, Ciência Política e Socio­
logia, na Ciência Política e na Sociologia logia. Resumos das teses defendidas,
por pesquisadores do pais e bons auto­ perfis de programas de pós-graduação e
res estrangeiros. É um espaço de encon­ contros de pesquisa apresentados a ca­
tro das inovações na reflexão e no dis­ da edição transformam a BIB em ponto
curso das ciências sociais em que a de partida para a investigação e para o
herança dos clássicos da teoria social é conhecimento das instituições voltadas
desafiada pelos problemas postos à pes­ para as ciências sociais.
quisa contemporânea. E-mait: bib@ anpocs.org.br.
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Assinatura anual da RBCS (3 edições)


Nacional: R$ 60
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