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PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS

Uma análise do Projeto Produtor de Água do Rio Camboriú.

Luciano Guimarães Oliveira1


Prof. Dr. Wagner Luiz de Menezes2

Resumo

O modelo de desenvolvimento adotado pelo homem para os setores industrial, agrícola,


pecuário e urbanização não planejada, além do estímulo desenfreado ao consumo, tem
exercido uma sensível pressão sobre os recursos naturais. Diante desta problemática e da
notável evolução da ciência ambiental, tem-se desenvolvido uma série de estratégias de
mitigação e reversão destes impactos, visando harmonizar os interesses econômicos e
ecológicos. Dentre essas estratégias, o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) se
apresenta como um instrumento econômico que visa garantir o equilíbrio ecológico, através
de incentivos e benefícios aos atores que se comprometem com a preservação de
ecossistemas. Como exemplo de PSA, este trabalho analisa o projeto Produtor de Água, com
especial enfoque na Bacia Hidrográfica do Rio Camboriú em Santa Catarina, como uma
solução sustentável aplicada na preservação dos recursos hídricos, visando garantir a
quantidade e qualidade da água.

Palavras-chave: Valoração ambiental. Pagamento por serviços ambientais. Produtor de Água


do Rio Camboriú.

PAYMENT FOR ENVIRONMENTAL SERVICES

An analysis of the Project Water Producer Camboriu


River.
Abstract
The current development model for the unplanned industrial, agricultural, livestock and
unplanned urbanization, in addition to the strong stimulus to consumption, has exerted a
considerable pressure on natural resources. Faced with this problem and the remarkable
evolution of environmental science, a series of mitigation strategies have been developed to
reverse these impacts, in order to harmonize economic and ecological interests. Among these
strategies, the Payment for Environmental Services (PES) presents itself as an economic
instrument that aims to guarantee the ecological balance, through incentives and benefits to
the actors who are committed to the preservation of ecosystems. As an example of PES, this
work analyzes the Project Water Producer, with a special focus on the Camboriu River Basin
_________________________________
1
Tecnólogo em gestão Ambiental. Instituição UNIASSELVI. E-mail: luciano.o@emasa.com.br.
2
Professor Orientador. UNIASSELVI. E-mail - wagnerluiz@mandic.com.br.
2

in Santa Catarina, as a sustainable solution applied in the preservation of water resources,


aiming to guarantee the quantity and quality of water.

Keywords: Payments for Environmental Services. Valuation criteria. Water Producer Rio
Camboriu.

1 INTRODUÇÃO

O crescimento populacional e o desenvolvimento econômico têm exercido uma


elevada pressão sobre os recursos naturais, aumentando os níveis de poluição e degradação
ambiental (RODRIGUES et al. 2016). Para contornar o problema e minimizar tais impactos, a
manutenção dos serviços ecossistêmicos e sua capacidade de manter as condições ambientais
apropriadas e em equilíbrio, está intimamente ligada a implementação de práticas humanas
que minimizem os efeitos deletérios sobre o ecossistema de maneira geral (BOLFE et al.
2013).
O envolvimento do setor público, como estratégia de ação, mediante a criação de um
arranjo institucional e jurídico visando a proteção dos recursos naturais, merece destaque;
dado que a criação de incentivos como o Pagamento por Serviços Ambiental tem sido
apontada ao redor do mundo com um avanço considerável para alcançar este objetivo.
A alocação de valor econômico para bens ambientais tem como objetivo internalizar
os custos socioeconômicos e ambientais das políticas implementadas e, assim, reconhecer o
valor do ecossistema e as consequências do dano ambiental. Isso implica identificar os custos
e os benefícios das medidas de gestão para conservação e de ecossistemas degradados. As
dificuldades desta tarefa são que bens que não possuem mercado e há necessidade de
financiamento econômico para fins de conservação. Nesse sentido, procura-se atribuir valor
monetário aos serviços ecossistêmicos a fim de reconhecer o valor real da perda destes
serviços. O gerenciamento sustentável é garantido dentro de um modelo de gerenciamento
integrado de recursos, combinando as esferas econômicas, sociais, ambientais, políticas e
culturais.
Nesse sentido, o projeto Produtor de Água, idealizado pela Agência Nacional de
Águas, atua neste contexto de discussões relacionadas à implementação da cobrança pelo uso
da água, prevendo o pagamento de incentivos ou uma espécie de compensação financeira aos
produtores rurais que, comprovadamente contribuem para a proteção e recuperação de
mananciais, gerando benefícios para a bacia e a população, ou seja, o projeto objetiva em
última instância um modelo de proteção hídrica de mananciais de abastecimento público,
gerando benefícios tanto para a bacia quanto para a população por ela abastecida.
Neste contexto, a análise crítica deste modelo de valoração ambiental, por meio de
pagamento por serviços ambientais aplicados ao Projeto Produtor de Água, se mostra
relevante quando se avalia seus resultados e principais benefícios, além dos desafios e
entraves da gestão do mesmo. Pretende-se, portanto, analisar de maneira objetiva também
como caso prático o Projeto Produtor de Água do Rio Camboriú, avaliando o alcance dos seus
objetivos e o cumprimento de suas metas previamente estabelecidas.
3

2 DESENVOLVIMENTO

Wunder (2005) conceituou o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) como a


transação voluntária onde um serviço ambiental bem definido é comprado por, pelo menos,
um comprador de, pelo menos, um provedor, sob a condição de que o provedor garanta a
provisão deste serviço.
Deste modo se faz necessária a existência de cinco requisitos essenciais para que o
pagamento por serviços ambientais seja caracterizado, quais sejam:
i) transação voluntária;
ii) existência de um comprador interessado em remunerar atitudes que conservem ou
recuperem áreas que forneçam serviços ecossistêmicos;
iii) a disponibilidade de um provedor dos serviços ambientais;
iv) definição do objeto desse contrato, ou seja, o tipo de serviço que será prestado e
remunerado e, por fim,
v) adimplemento da obrigação contratual, tida com o pagamento pelo serviço prestado
mediante a efetiva provisão dos serviços.
A transação é voluntária, pois em se tratando de PSA, não existe nenhum meio
coercitivo para que alguém provenha serviços ambientais. Desse modo, a opção pela não
prestação de tais serviços não gera nenhuma sanção de caráter civil, administrativo ou penal.
Por sua vez, os compradores e provedores dos serviços assumem um papel peculiar no caso
do pagamento por serviços ambientais (Wunder, S., 2008).
Nusdeo (2012) leciona que a situação do fornecimento do serviço ambiental é
diferente, pois, na medida em que é provido pela natureza e tem características de bem
público, existe a possiblidade de beneficiários não pagarem por ele.
De acordo com Monteiro, et al. (2006), o PSA pode ser definido como um instrumento
econômico que objetiva facilitar o cumprimento das regulamentações impostas pela legislação
vigente, caracterizando os gastos com os pagamentos como investimento em infraestrutura
ecológica, permitindo assim a manutenção das condições que permitem a vida. Ou ainda,
pode-se entender por PSA, a retribuição monetária ou não, referente às atividades humanas de
preservação, conservação, manutenção, proteção, restabelecimento, recuperação e melhoraria
dos ecossistemas que geram serviços ambientais, amparados por programas específicos
(SANTA CATARINA, 2010).
O PSA adquire as características da voluntariedade, condicionalidade e
adicionalidade, como pontos centrais na criação de mercados de serviços ambientais, vistos
como uma solução pragmática, eficaz e eficiente para resolver os problemas ambientais,
sendo de fundamental importância a valorização destas características para nortear os
objetivos, o planejamento e a coordenação das Políticas de PSA, para que os resultados
esperados sejam concretizados (PAGIOLA, 2006).
Percebe-se assim que o PSA representa uma forte estratégia ambiental e econômica,
uma vez que entra como um adicional de renda para ressarcir os custos de oportunidade e de
manutenção encarados pelas práticas conservacionistas, que permitem o fornecimento dos
serviços hídricos. Uma vez identificados os beneficiários, os provedores, os serviços, a forma
4

de garanti-los e a fonte de recursos financeiros diretamente ligada ao interesse de se obter os


serviços hídricos oferecidos é necessário, também, que haja condições institucionais prévias
que possam administrar os pagamentos e a gestão dos contratos (ENGEL et al. 2006).
No caso específico dos serviços hídricos, o que se observa é que, geralmente, o
governo participa diretamente dos esquemas de PSA, uma vez que se trata de serviços
ambientais com caráter de bem público. Ao estender o campo de análise para projetos em
outros estados e municípios, a cobrança pelo uso da água pode representar, sim, uma fonte
financeira que assegure, de forma ininterrupta, a manutenção dos projetos de PSA. Nesse
caso, seria a fonte segura que garantiria o fluxo contínuo de serviços ambientais por meio da
articulação entre os provedores e beneficiários.
Porém, para que isso ocorra é fundamental que os Comitês de Bacias Hidrográficas se
fortaleçam e passem a utilizar, plenamente, os instrumentos de gestão previstos na legislação
brasileira, com ênfase nos planos diretores, planos de bacia e na cobrança pelo uso da água,
para induzir e assegurar a conservação integrada dos recursos hídricos e florestais.
Finalmente, um ponto chave a ser observado é a importância do governo local e do
fortalecimento institucional da prefeitura na liderança de ações ambientais. Devido à
complexidade de um esquema de PSA, que inclui o desenho e a implantação de todo um
arcabouço institucional, como ocorrera com a prefeitura de Extrema que assumiu um papel de
liderança fundamental para a concretização do Projeto Conservador das Águas, além de se
responsabilizar por boa parte das ações de manutenção e pelo pagamento propriamente dito
(JARDIM & BURSZTYN, 2015).
Quanto à avaliação do Projeto Conservador das Águas, ainda que não seja possível
quantificar os benefícios quanto aos serviços ambientais adquiridos pelas práticas
conservacionistas já iniciadas, não se pode ignorar o mérito dessa primeira experiência
brasileira, o Caso de Extrema/MG, que se estruturou e se preparou em todos os aspectos
sociais, ambientais e econômicos, com o intuito inédito de buscar a conservação dos recursos
hídricos aliada à conservação dos solos por meio do mecanismo de PSA (PEREIRA, et al.
2010).
Ainda que tenha servido de modelo e inspiração para os projetos de conservação da
água (produtor de água) que sucederam o caso de Extrema/MG, não se pode considerar a
existência de um modelo a ser transposto de forma generalizada para todos os casos. Percebe-
se que os resultados positivos do Conservador das Águas estão diretamente relacionados com
a continuidade política de Extrema; o contexto regional no qual o município está inserido,
próximo à Grande São Paulo e situado em uma região onde há abundância de água; a
consolidação do Comitê de Bacia Hidrográfica dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ),
incluindo a cobrança pelo uso da água; e o fortalecimento institucional da prefeitura na
liderança de ações ambientais (JARDIM & BURSZTYN, 2015).
Desse modo, é relevante considerar que esquemas de PSA em recursos hídricos devem
ser desenvolvidos de tal maneira que se ajustem aos seus contextos particulares e às condições
locais. Percebe-se também a necessidade de consolidar o arcabouço teórico do PSA, a partir
do acompanhamento dos projetos na prática. Pesquisas visando à evolução dos projetos, após
os primeiros anos, podem ajudar na adaptação e no melhoramento das bases estratégicas dos
programas de PSA, devendo incluir o acompanhamento dos diversos fatores que interferem
na sustentabilidade desses projetos, inclusive a percepção dos proprietários rurais em relação
às atividades de conservação, estudos visando a relação floresta-água e o fortalecimento das
instituições administrativas que envolvem a gestão dos recursos hídricos no país. Os
resultados dessas primeiras experiências em projetos de PSA podem auxiliar na evolução dos
cenários futuros da gestão de recursos hídricos sob a perspectiva do desenvolvimento rural
mais sustentável.
5

2.1 Projeto Produtor de Água do Rio Camboriú

A Agência Nacional de Águas (ANA), autarquia vinculado ao Ministério do Meio


Ambiente, no âmbito de suas atribuições de entidade responsável pela implementação da
Política Nacional de Recursos Hídricos e integrante do Sistema Nacional de Gerenciamento
dos Recursos Hídricos, desenvolve ações de implementação e coordenação da gestão
compartilhada e integrada dos recursos hídricos, visando regular o acesso a água, seu uso
sustentável, eficiente e racional (ANA, 2011).

É dentro deste contexto de atuação que a ANA idealizou o projeto Produtor de Água
em 2001, em meio a discussões à implementação da cobrança pelo uso da água, lançando mão
deste instrumento econômico com uma promissora alternativa para regularização de vazão e
para assegurar a quantidade de água (GUEDES & SEEHUSEN, 2011). O Produtor de Água
tem por característica o modo de adesão voluntária, que prevê o apoio técnico à execução de
ações de conservação da água e do solo, como, por exemplo, a construção de terraços e bacias
de infiltração, a readequação de estradas vicinais, a recuperação e proteção de nascentes, o
reflorestamento de áreas de proteção permanente e reserva legal, o saneamento ambiental, etc.
Prevendo também o pagamento de incentivos (ou uma espécie de compensação financeira)
aos produtores rurais que, comprovadamente contribuem para a proteção e recuperação de
mananciais, gerando benefícios para a bacia e a população (ANA, 2012).
O Manual Operativo do Programa Produtor de Água, aprovado em 2013 pela ANA,
busca orientar o desenvolvimento e habilitação de projetos, assim como as formas de apoio
prestado, e estabelece como objetivos do projeto: estimular o desenvolvimento das políticas
de PSA de proteção hídrica no Brasil; apoiar projetos em áreas (de mananciais de
abastecimento público; com problemas de baixa qualidade das águas; com vazões e regime de
rios sensivelmente alterados; com eventos hidrológicos críticos); difundir o conceito de
manejo integrado do solo, da água e da vegetação; garantir a sustentabilidade socioeconômica
e ambiental dos manejos e práticas implantadas, por meio de incentivos, inclusive financeiros,
aos agentes selecionados (ANA, 2012).
A concessão dos incentivos ocorre somente após a implantação, parcial ou total, das
ações e práticas conservacionistas previamente contratadas e os valores a serem pagos são
calculados de acordo com os resultados: abatimento da erosão e da sedimentação, redução da
poluição difusa e aumento da infiltração de água no solo (ANA, 2011). As fontes de
financiamento incluem os orçamentos da União, Estados e Municípios; Fundos Estaduais de
Recursos Hídricos e Meio Ambiente; Fundo Nacional de Meio Ambiente; Bancos e
Organismos Internacionais, como ONGs, GEF, BIRD, entre outros; Companhias de
saneamento, de geração de energia elétrica e usuários; Recursos da cobrança pelo uso da
água; Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), compensações financeiras por parte de
usuários beneficiados e Mecanismo de Desenvolvimento Limpo/Kyoto.
O projeto Produtor de Água está implementado em bom número e em diferentes
Estados Brasileiros, incluindo Rio de Janeiro (Guandu e Nova Friburgo), Espírito Santo
(Afonso Cláudio, Alfredo Chaves, Alto Rio Novo, Brejetuba e Mantenópolis), Minas Gerais
(Patrocínio e Extrema), São Paulo (Joanópolis e Nazaré Paulista, e Guaratinguetá), Paraná
(Apucarana), Santa Catarina (Camboriú), Rio Grande do Sul (Santa Cruz do Sul), Tocantins
(Palmas), Mato Grosso do Sul (APA de Guariroba), Goiás (Goiânia), e no Distrito Federal
(Brasília) (ANA, 2011).
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Quando se trata de PSA em recursos hídricos, sabendo que a unidade de gestão é a


bacia hidrográfica, os Comitês de Bacias Hidrográficas adquirem uma responsabilidade
maior, por serem representações legais, como gestores desses recursos. Nesse sentido, outro
ponto observado no caso de Extrema é que a consolidação do Comitê PCJ favorece a
sustentabilidade do Conservador das Águas. Apesar de ainda não repassar o dinheiro obtido
pela cobrança pelo uso da água para o projeto, o Conservador das Águas recebeu o apoio
imediato do comitê pelo fato desse compartilhar interesses comuns voltados ao incentivo de
manejos sustentáveis no uso do solo, visando à conservação dos recursos hídricos (JARDIM
& BURSZTYN, 2015).
No estado do Espírito Santo, o Projeto ProdutorES de Água abrange cinco municípios,
incluindo Afonso Cláudio, Alfredo Chaves, Alto Rio Novo, Brejetuba e Mantenópolis,
contemplando as Bacias Hidrográficas dos rios Beneve, Guandu e São José, captando
recursos dos royalties do setor de petróleo e gás e por meio de compensação financeira do
setor hidroelétrico. A definição das bacias prioritárias ocorre por parte do Instituto Estadual
de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA), assim como as áreas estratégicas nelas
contidas, incluindo a proximidade com os rios e estradas vicinais, potenciais fontes de
sedimentos e consequentemente de assoreamento dos corpos hídricos, realizando a
caracterização das áreas de florestas para enquadrá-las nos critérios técnicos que irão definir o
valor a ser pago (SILVA et al. 2008).
Projeto semelhante foi criado para preservação da Bacia Hidrográfica do Rio
Camboriú. Localizada no Estado de Santa Catarina, é responsável pelo abastecimento de duas
cidades, Balneário Camboriú e Camboriú, e pelo desenvolvimento de atividade econômica. A
prestadora dos serviços de água e esgoto da cidade de Balneário Camboriú, a Empresa
Municipal de Água e Saneamento – EMASA, criada em 2005, por meio da Lei Municipal n°
2.498, é obrigada a investir pelo menos 1% de sua arrecadação bruta anual, em programas de
preservação e recuperação ambiental e efetivou a destinação destes recursos em 2008, para
implantação de um projeto de recuperação da Bacia Hidrográfica do Rio Camboriú, no qual o
município está inserido, que está sujeita a atividade de rizicultura, extração de granito,
pecuária, somada ao crescimento populacional e a grande variação sazonal da população no
período de verão, visando assegurar a disponibilidade hídrica necessária para suprir o
abastecimento de água tratada.
O projeto foi regulamentado por meio da Lei Municipal n° 3026, de novembro de
2009, Lei esta que cria o projeto produtor de água, autoriza a Empresa Municipal de Água e
Saneamento - EMASA a prestar apoio financeiro aos proprietários rurais e dá outras
providências.
Tendo por objetivo geral a conservação e restauração das matas ciliares sensíveis para
promover a qualidade, quantidade e regularização do fluxo d’água na Bacia Hidrográfica do
Rio Camboriú, por meio do incentivo financeiro aos proprietários rurais que aderirem,
voluntariamente, ao projeto, a fim de proteger os mananciais e readequar suas propriedades
frente à legislação ambiental vigente.
O Produtor de Água do Rio Camboriú objetiva reduzir a erosão e o assoreamento,
apoiar e recuperar estradas vicinais, além de desenvolver ações de educação ambiental para a
comunidade local, visando à conscientização quanto a preservação e a recuperação das áreas
degradadas (Tabela 1), prevendo pagamento de até 15 Unidades Fiscais do Município (UFM)
com valor atual de R$ 274,75 a unidade, por hectare, por ano de área recuperada de mata
ciliar e um valor diferenciado, de no máximo 23 UFM para áreas de nascentes. Prevendo
ainda a suspensão do incentivo financeiro no caso de não observância das ações propostas de
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preservação e recuperação, incluindo ainda o ressarcimento dos valores recebidos (EMASA,


2010).
Tabela 1 - Detalhamento do Projeto Produtor de Água do Rio Camboriú

Objetivo Geral Objetivos Específicos Diretrizes Metas

Desenvolver Garantir a Unidade de trabalho: Adesão de pelo menos


instrumentos, sustentabilidade sócio- sub-bacia. 40% dos proprietários
estratégias e econômica e ambiental rurais por microbacia.
metodologias para das atividades
efetuar a conservação desenvolvidas na bacia,
e restauração das por meio de incentivos
matas ciliares e áreas financeiros aos
sensíveis para proprietários rurais.
promover qualidade,
Aumentar o grau de Guiar-se pela legislação 500 ha de áreas
quantidade e
proteção das áreas ambiental e pelas degradadas em processo
regulação do fluxo de
conservadas e recuperar políticas nacionais de de restauração
água no âmbito da
áreas degradadas. recuperação e priorizando as matas
Bacia Hidrográfica do
preservação de bacias ciliares.
Rio Camboriú e
hidrográficas.
incentivar
financeiramente os Reduzir a erosão e o Adotar flexibilidade para 5200 ha de áreas
proprietários rurais assoreamento. as práticas e os manejos conservadas protegidas
que aderirem ao propostos. pelos proprietários por
projeto, a fim de contrato com a
proteger os EMASA.
mananciais e adequar Apoiar a correta Gestão Associada, por 180 km de estradas
as propriedades rurais manutenção das estradas meio de Convênio, com a vicinais adequadamente
à legislação ambiental. vicinais. Prefeitura de Camboriú e conservadas.
parcerias com entidades
relacionadas.
Contribuir para a Inserção do conceito de Implantação de plano
regularização hídrica da co-produção dos serviços de monitoramento
bacia. públicos ambientais, por hidrológico da bacia.
meio da participação da
população local e da co-
responsabilidade do
público-alvo pela
efetividade do projeto.
Desenvolver ações de Aplicação do conceito de Implantação de
Educação Ambiental Pagamentos por Serviços programa de educação
para a comunidade local, Ambientais, que serão ambiental na bacia.
informando sobre a efetuados com base no
importância de preservar cumprimento das
e recuperar as áreas obrigações constantes do
ripárias. Termo de Compromisso
a ser firmado entre a
EMASA e os
proprietários rurais.
Fonte: DACOL apud EMASA (2011).
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Ao longo de sua curta trajetória, segundo Antunes (2014), é possível observar que as
propriedades carecem muitas vezes de saneamento básico adequado, e que seus proprietários
rurais da região possuem bons conhecimentos sobre às áreas de preservação permanente,
embora muitos ainda não associem a degradação da mata ciliar às práticas inadequadas de uso
e ocupação do solo, muitas vezes, por eles adotadas. E que esta falta de consciência
ambiental, pode de certo modo, comprometer a aplicabilidade do projeto. Contudo, o
desenvolvimento de ações de educação ambiental, inclusive previstas em projeto, poderá
contribuir para uma melhor percepção e conscientização ambiental, trazendo reflexos diretos
no sucesso do projeto.

A análise deste projeto possibilitou compreender como os conceitos e critérios de


valoração ambiental podem ser adotados na pratica para criação de um mercado de serviços
ambientais, tendo este resguardo jurídico e fonte de recursos para sua implementação e
manutenção junto aos proprietários rurais que aderiram e/ou venham aderir ao projeto.

Segundo KROEGER et al (2017), em estudo recente sobre o retorno do investimento


feito pela autarquia no projeto:
Ao intervir em cerca de 5% da área da bacia a montante da
captação, estima-se que o projeto resultará numa redução de 14%
na concentração de sólidos totais em suspensão que entra na
estação de tratamento, uma vez que as intervenções de
infraestrutura verde atinjam plenamente sua funcionalidade
ecológica.
Tal estimativa se traduz em redução de custos de tratamento e redução da perda de
água. De acordo com o mesmo autor, no período 2015-2045, o projeto pode trazer benefícios
econômicos que podem totalizar 194.000,00 dólares a EMASA, incluindo a redução da perda
de água com a lavagem de filtros e no consumo de produtos químicos empregados nos
processos de coagulação/floculação, como o PAC e polímero, diminuição do volume de lodo
seco gerado e destinado a aterro e de bombeamento, isto é, de consumo de energia. Cabe
destacar que além da redução da sedimentação, co-benefícios também são gerados para os
dois municípios sendo eles: redução do potencial risco de enchentes e a redução do potencial
do risco de desabastecimento de água durante a alta temporada devido à redução da vazão do
rio na ausência de reservação de água na bacia.
Quanto aos custos do projeto podem ser considerados: a mobilização de proprietários,
a gestão do projeto, o pagamento pelos serviços ambientais e o planejamento técnico e
monitoramento e as negociações do arranjo institucional. A combinação deste montante,
chamados custos antecipados, com os benefícios que inicialmente são limitados e aumentam
gradativamente ao longo do tempo, resulta num retorno do investimento que se torna positivo
somente após um período de 43 anos, segundo os autores (KROEGER Et al,2017); sendo
este, portanto, um fator negativo quando encarado com um investimento.
Contudo, cabe destacar que ainda que o período seja longo, o projeto contribui para
postergar a necessidade de investimentos em infraestrutura de concreto, isto é, ampliação
sucessiva de capacidade instalada da estação de tratamento de água, podendo ser visto como
um exemplo de infraestrutura verde, com investimentos muito menores.
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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Baseado nos dados e informações levantadas na pesquisa bibliográfica pode-se


concluir que o Projeto Produtor de Água do Rio Camboriú tem se mostrado como uma
ferramenta eficaz na redução de sólidos suspensos totais na captação de água da EMASA,
conforme os dados de modelagem matemática apresentaram, permitindo inferir que
iniciativas que visem reverter do quadro de depleção dos serviços ecossistêmicos brasileiros,
como o projeto Produtor de Água do Rio Camboriú idealizado para a recuperação de Bacias
Hidrográficas são de extrema importância.
A criação de incentivos financeiros, como o Pagamento por Serviços Ambientais, para
o aprimoramento da gestão relacionada aos sistemas ambientais, sejam eles recursos florestas
ou hídricos, apresentam-se como uma potencial alternativa para reversão do atual quadro de
degradação do meio ambiente. Há, contudo, a necessidade de regulamentação jurídica e
normativa, por parte dos governos federal, estadual e municipal, de modo que o PSA possa
ser aplicado de forma incisiva em todas as regiões do país, com mecanismos de controle e
fiscalização.
Considerando que o investimento na bacia em tela é elevado e com longo período para
retorno do investimento, os benefícios ambientais e econômicos acima expostos certamente
cobririam os custos, uma vez que os benefícios, ao contrário dos custos, seriam continuados.
Finalmente, para que se amplie o sucesso dessa prática, a implantação efetiva de
educação ambiental junto aos proprietários, o reajuste dos valores do PSA para novos editais
de credenciamento e a adoção de sistema de tratamento para o saneamento rural, são ações
que não podem ser postergadas e minimizadas tendo em vista os resultados obtidos.

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