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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO
CAMPUS MATA NORTE
LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA

RENATA DA SILVA LEITE

GÊNERO E EDUCAÇÃO: ESTUDO ACERCA DA FEMINIZAÇÃO DA


DOCÊNCIA NOS CURSOS DE LICENCIATURA DA UPE - CAMPUS
MATA NORTE EM NAZARÉ DA MATA, PERNAMBUCO (2000 – 2005).

NAZARÉ DA MATA
2017
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RENATA DA SILVA LEITE

GÊNERO E EDUCAÇÃO: ESTUDO ACERCA DA FEMINIZAÇÃO DA


DOCÊNCIA NOS CURSOS DE LICENCIATURA DA UPE - CAMPUS
MATA NORTE EM NAZARÉ DA MATA, PERNAMBUCO (2000 – 2005).

Monografia apresentada ao Curso de


Licenciatura Plena em História da
Universidade de Pernambuco
Campus Mata Norte como requisito
para obtenção do título de
Licenciatura em História.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Magdalena Maria de Almeida

NAZARÉ DA MATA
2017
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4

Dedico ao meu querido Titio.


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Agradecimentos

Há cerca de um ano após conhecer a doutrina espírita, venho


conhecendo e exercitando a Gratidão na sua mais pura essência. Desde muito
nova me deixei acreditar que nada acontece por acaso em nossas vidas e
trago esse ensinamento bem guardado comigo a fim de explicar ou entender
minha própria vida! Dessa maneira, sou feita inteira de gratidão primeiramente
a Deus por sua infinita bondade para comigo e toda minha família, sempre nos
abençoando e amparando, e ainda à Espiritualidade Amiga, que me guia e
ilumina pelos caminhos e lutas diárias sempre com amor e muita luz!
Sou grata às oportunidades! Filha de Sebastiana - mulher, pobre,
nordestina - tenho como Mãe a maior inspiração e exemplo de mulher
guerreira! Vinda do interior de Serra Talhada, abandonou sonhos e luxos para
cuidar dos seis filhos, aos quais nada deixou faltar. Analfabeta e tendo de
trabalhar cedo, sempre valorizou e incentivou a educação. Irmã de Régina,
mulher guerreira e esforçada, porém criada para ser dona de casa, a mesma
não abandonou seus sonhos sendo a primeira mulher de uma família de seis
filhos, dos quais quatro são homens, a ingressar em uma faculdade após os 30
anos em um período em que mulheres ainda lutavam para ter acesso à
educação. Atualmente, uma das maiores pedagogas que admiro.
Escolhi a docência como profissão graças a minha mãe e a minha irmã,
as quais me ensinaram a importância da educação e mostraram ainda bem
cedo as duras lutas que a mim estavam reservadas pelo simples fato de ser
mulher. Escolhi a docência como profissão com o sonho de alcançar as tantas
Sebastianas e Réginas que aos montes nascem e são jogadas à própria sorte.
Sou grata pela oportunidade de escolher e me identificar com a docência, pois
entendo e tomo a educação como um real instrumento de transformação, sinto-
me preenchida mediante a menor possibilidade de proporcionar mudança e
emancipação social por meio de minha atuação!
Agradeço ainda aos demais membros de minha família, em especial ao
meu irmão do meio a quem carinhosamente chamo Titio e a quem dedico esse
trabalho. Sempre comigo, me protegendo e cuidando desde os primeiros
passos, esse trabalho é tão seu quanto meu! Sou grata por cada concessão
feita em meu nome e de meu bem-estar, por cada palavra de incentivo e
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carinho e até mesmo pelas repreensões as quais também fazem parte da


mulher que venho me tornando! A meu padrinho Rivaldo, querido Babo, que
nunca mediu esforços ou distância para cuidar de mim e me apoiar, meu eterno
amor e gratidão!
Gostaria de agradecer profundamente às orientadoras Magdalena
Almeida e Eliana Calado, as quais acreditaram na proposta da temática por
mim definida e mesmo diante das dificuldades encontradas no caminho foram
sempre solícitas e compreensivas a ponto de me transmitirem o discernimento
e calma necessários para a realização deste trabalho. Aprof.ª Drª Magdalena
em especial, pois desde o início afirmou ser um desafio a temática aqui
definida, mas que faria o possível paraajudar-me. Ambas grandes exemplos de
profissionais e mulheres as quais sou grata por ter conhecido! Agradeço ainda
às meninas do Setor de Escolaridade da UPE-CMN, Fátima, Nina e Doraci, as
quais gentilmente disponibilizaram as atas e demais documentações que
serviram de objeto de análise para o tema aqui exposto. Rosa e William,
bibliotecários, os quais me ajudaram nos últimos instantes.
É imprescindível lembrar ainda dos professores que me acompanharam
ao longo da graduação, grandes profissionais dos quais procurei extrair os
melhores exemplos e aprendi para a vida! Lembro ainda dos mestres que me
acompanharam em outras modalidades do ensino, posso citar Tia Nete, quem
me ensinou as primeiras letras em uma escola simples e sem estrutura, porém
com muito amor formávamos quase uma família. Os professores Georgos,
Nadja e Maciel, os quais formavam parte de minha terceira família, o Marista!
Além das professoras Rosely e Valda as quais me conquistaram durante o
ensino médio e me levaram para a área de humanas! Por último, mais que
professores, pessoas a quem tanto admiro e levarei para vida, Erick, Adailton,
Vilmar e Danúbio. Este último, de fundamental importância na hora que escolhi
a História para minha vida! Muito mais que gratidão a esses profissionais, meu
verdadeiro respeito e admiração por fazerem da educação mais que profissão
e renda, mas suas próprias vidas!
Ao meu querido Pedro, que tanto admiro e sou feliz em ter conhecido,
sou grata pelos bons momentos, sentimentos e aprendizados compartilhados.
Agradeço ainda à sua família, em especial Seu Ivelto e Dona Jaci, os quais me
acolheram tão bem e a quem dedico grande respeito e admiração pelas
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pessoas que são. Aos amigos Ângela, Raiza, Júnior e Enrique os quais me
levaram por discussões extremamente ricas a respeito do que nossos temas,
projetos e convicções possuíam em comum.
Serei eternamente grata ainda aos amigos Rayanne, Gustavo, Girlene,
Vívian e Halberys por aguentarem minhas reclamações, abusos e
principalmente minhas ausências devido ao tamanho envolvimento com a
pesquisa, e nem mesmo assim deixarem de me apoiar. Aos colegas de
trabalho, os quais tenho como um grande presente, Bruno, Edson e Alexandra
pela parceria e por me acolherem. Aos irmãos do grupo Raios de Luz, dos
quais tanto me ausentei de corpo presente, mas nunca em vibrações, também
os agradeço pela força e compreensão.
Às pessoas que me apoiaram de longe devido ao peso da rotina e
compromissos que se faziam maiores, meu eterno sentimento de gratidão.
Minhas queridas Fátima, França e Regina junto com a pequena Mariana,
pessoas as quais nunca me faltaram com palavras de incentivo e amor. Aos
meus queridos Reginaldo e Galego, que sempre bastantes alheios não saem
de meus pensamentos e coração. Aos demais que por minha vida passaram ao
longo de minha graduação ou até mesmo antes e aqui não os menciono, meus
eternos sentimentos de respeito, carinho e gratidão, pois sem essas trocas e
vivências eu nada haveria de ter construído, nem mesmo nossos laços!
Obrigada!
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A história única cria estereótipos. E o problema com os estereótipos não é


que eles sejam mentiras, mas que sejam incompletos. Eles fazem uma
história tornar-se a única história.

Chimamanda Adichie
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Resumo

O espaço privado voltado às mulheres e ao desenvolvimento de suas


atividades pode ser identificado nas mais diferentes sociedades ao longo do
desenvolvimento da história da humanidade. No Brasil não foi diferente, as
mulheres costumavam ser direcionadas às atividades domésticas e a educação
que recebiam tinha como objetivo formar boas filhas, esposas e mães. Com o
lento e muitas vezes escasso processo educacional disponível para as
mulheres, após longos anos foi na profissão de professora que muitas
mulheres deram o primeiro passo rumo à esfera pública. Dessa maneira, a
partir dos conceitos acerca da feminização da docência e do espaço privado
restrito às mulheres trabalhados por Guacira Lopes Louro, Mary Del Priore,
dentre outras autoras, será investigado dentro do contexto de criação e
manutenção da Universidade de Pernambuco Campus Mata Norte a existência
de um processo de feminização no início do século XXI, limitado ao campo das
licenciaturas, espaço para onde as mulheres foram levadas e mantidas ao
longo da história. O Campus, voltado à formação de professores durante
muitos anos, conta com público diversificado e de diferentes cidades, assim, é
objetivo do estudo levar em consideração as mudanças e permanências no
comportamento e valores da sociedade pernambucana. O recorte temporal foi
definido com base na passagem das licenciaturas curtas para as licenciaturas
plenas e também na virada do século. Para isso serão analisadas as atas de
conclusão de curso referentes ao recorte temporal definido relacionadas com a
bibliografia base.
Palavras-Chaves: Gênero e Educação, Feminização da Docência,
Licenciatura, Nazaré da Mata, UPE.
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Resumen

El espacio privado dirigido a las mujeres y al desarrollo de sus actividades


puede ser identificado en las más diferentes sociedades a lo largo del
desarrollo de la historia de la humanidad. En Brasil, no fue diferente, las
mujeres han sido dirigidas a las actividades domésticas y la educación que
recibían tenía como objetivo formar buenas hijas, esposas y madres. Con el
lento, y muchas veces escaso, proceso educativo disponible para las mujeres,
después de largos años, fue en la profesión de maestra que muchas mujeres
han dado el primer paso hacia la esfera pública. De esta manera, a partir de los
conceptos acerca de la feminización de la docencia y de lo concepto de
espacio privado restringido a las mujeres trabajadas pro Guacira Lopes Louro,
Mary Del Priore entre otras autoras, será investigado dentro de lo contexto de
creación y mantenimiento de la Universidad de Pernambuco Campus Mata
Norte la existencia de un proceso de feminización, a principios del siglo XXI,
limitado al campo de las licenciaturas, espacio para donde las mujeres fueron
llevadas y mantenidas a lo largo de la historia. El Campus, orientado a la
formación de maestros durante muchos años, cuenta con público diversificado
y de diferentes ciudades, así, es objetivo de este estudio tener en cuenta los
cambios y permanencias en el comportamiento y valores de la sociedad
pernambucana. El espacio de tiempo fue definido en base al paso de las
licenciaturas cortas para las licenciaturas plenas y también a la vuelta del siglo.
Para ello serán analizadas los libros de acta de conclusión de curso referente al
espacio de tiempo definido relacionando con la bibliografía base.

Palabras claves: Género y educación, Feminización de la Docencia,


Licenciatura, Nazaré da Mata, UPE.
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SUMÁRIO

Introdução ………………………………………………………………………….. 12

1.Gênero e Educação:A feminização da profissão professora …………... 15

1.1 História das Mulheres nos séculos XIX e XX ………………....………...15

1.2 Mulheres, Trabalho e Educação no Brasil nos séculos XIX e XX ........17


1.3 Mulher e Educação em Pernambuco.................................................... 22

2. Ensino superior em Pernambuco ……………………………………...….... 26

2.1 Histórico da Universidade de Pernambuco ………………………........ 28


2.2 Desenvolvimento político, econômico e educacional na Zona da Mata
Norte de Pernambuco................................................................................ 29
2.2.1 Paulo Pessoa Guerra ....................................................................... 30
2.2.2 Monsenhor Petronilo Pedrosa .......................................................... 31
2.3 Construção e consolidação da Faculdade de Formação de
Professores................................................................................................ 32
2.4 Faculdade de Formação de Professores de Nazaré da Mata.............. 35

3. Demanda pelos cursos de licenciatura do Campus Mata Norte ............40

4. Considerações Finais .................................................................................47

5. Referências ..................................................................................................49
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INTRODUÇÃO

A temática a qual nos propomos desenvolver foi pensada em cima da


emergência dos estudos de Gênero no Brasil, por volta do século XIX, e
também de um crescente espaço galgado e conquistado pelo sujeito feminino
no tocante à escrita da história e da inserção da mulher enquanto personagem
e sujeito de sua própria história. Dessa maneira, a pesquisa irá tomar como
relevante o estudo da categoria Gênero, a qual articula, organiza, classifica e
dispõe as pessoas socialmente em função de uma estrutura de poder
preestabelecida culturalmente e pautada em modelos de feminilidades e
masculinidades dentro da sociedade.

Na tentativa de investigar os espaços que o sujeito feminino ocupa nos


campos educacionais na virada do século XX para o XXI, entendemos aí uma
mudança não apenas temporal, mas uma lenta transição na mentalidade e
costumes da sociedade pernambucana. Se faz importante destacar também a
estreita relação que o tema estabelece com a história cultural e social, pois a
investigação se ocupará do sujeito e das relações que o mesmo determina com
o seu passado e a sociedade em volta.

É de fundamental relevância destacarmos ainda o recente caminho que


a categoria Gênero, enquanto campo de estudo, tem percorrido dentro da
Universidade de Pernambuco Campus Mata Norte (UPE-CMN) com poucos
trabalhos e incentivos voltados para a área. A pesquisa nessa perspectiva se
faz relevante ao tornar mais denso o debate acerca do conceito de gênero
levando-o juntamente com a possibilidade de se repensar os moldes culturais e
sociais para dentro dos muros da universidade, espaço esse de
questionamentos e construção de conhecimentos, identificando as diferenças
de gênero porém promovendo a igualdade dentro do próprio espaço
educacional, o qual mais nos interessa aqui, e que também sofreu e ainda
sofre fortes influências da luta de poderes entre o feminino e o masculino.

As inquietações que levaram até a definição do tema surgiram dentro do


próprio espaço acadêmico e mercado de trabalho do campo educacional, onde
mulheres atualmente ainda se apresentam em maiores quantidades quando
falamos em áreas como Pedagogia ou Letras, e o contrário ocorre em áreas
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como Matemática, Física e Química, por exemplo. Dessa maneira, se fez


desejoso investigar a fundação e os anos iniciais da Faculdade de Formação
de Professores Campus Nazaré da Mata, escopo da pesquisa, procurando
identificar os índices de procura pelas licenciaturas oferecidas categorizadas
pelo gênero do formando.

O trabalho, ainda quando estava sendo pensado, possuía


objetivos ambiciosos que visavam investigar a existência de um processo de
Feminização da docência no recorte de Nazaré da Mata e da faculdade em
questão, assim como Guacira Lopes Louro (2016)identificou ao pensar o
cenário brasileiro. Nesse processo seriam coletadas entrevistas de alunos
concluintes e dos próprios funcionários da instituição referentes ao recorte
temporal estabelecido pela pesquisa. A essas entrevistas seriam vinculadas
ainda a análise das atas de conclusão de cursos para assim traçar um perfil
dos alunos e dos cursos ofertados esclarecendo se, além do quesito gênero,
algo mais – questões sociais, raciais, econômicas etc. – os levava a optar por
tais áreas de estudo e trabalho.

Contudo, desde os primórdios da realização do trabalho erigiram-se


dificuldades e barreiras institucionais, o que nos obrigou a modificar os
objetivos preestabelecidos e até mesmo parte da temática do trabalho. Devido
a uma mudança inesperada de orientadoras e consequente ausência do
Projeto Guarda-Chuva ao qual nos vincular, além de prazos curtos, esbarramos
ainda nas exigências de submissão e aprovação do Comitê de Ética
Institucional, as quais nos impediriam de realizar tais entrevistas e análises
documentais mais aprofundadas caso tais requisitos não fosse devidamente
cumpridos.

Dessa maneira, logo redirecionamos os objetivos gerais e específicos,


fazendo dessa pesquisa apenas o pontapé inicial para uma rica temática ainda
por ser explorada. Diante dos fatos apresentados tomamos agora como
objetivo investigar o processo de feminização da docência partindo da análise
das atas de formandos que concluíram os cursos de licenciatura na UPE-CMN
entre os anos 2000 a 2005. Será analisada ainda a mudança ou manutenção
das práticas institucionalizadas, comportamentos e mentalidade da sociedade
14

pernambucana, buscando relacionar com os espaços ocupados e conquistados


pelo sujeito feminino em relação ao século passado. Por último, será
apresentado em tabelas os resultados obtidos a partirda investigação dos
documentos, considerando o processo de educação superior como método de
emancipação, independente de gênero.

Para realização da pesquisa, após feitas as mudanças necessárias,


inicialmente foi feito um levantamento bibliográfico envolvendo autores e
teóricos de gênero como Guacira Lopes Louro (2016), Margareth Rago (2016),
Jane Almeida (1998), entre outras, e também autores da área de educação.
Para o trabalho com as fontes, devido às limitações no processo de produção
já citadas, foi definido como método de trabalho a análise quantitativa dos
dados a fim de identificarmos a demanda pelos cursos de Licenciatura do
Campus Mata Norte a partir da ótica do gênero e da luta de poderes no âmbito
social entre o feminino e o masculino. Tais dados foram gentilmente cedidos
pelo setor de Escolaridade da própria instituição.

No que tange ao espaço de tempo escolhido para a investigação – os


anos de 2000 a 2005 – esse foi pensado de acordo com o comportamento e
mentalidade da sociedade brasileira, mais especificamente da população
pernambucana, povo que ao longo do século XX galgou lentas, porém notórias,
conquistas sociais e políticas referentes ao sexo feminino e que ainda
naturalizava às mulheres o espaço privado do lar e opção por profissões
naturalizadas como femininas. Dessa maneira, procura-se identificar com a
virada do séculoquais mudanças houveno imaginário da sociedade no tocante
ao campo educacional,que serão tidas aqui como instrumento de emancipação
do sujeito, levando-o assim a optar por uma profissão, no caso as licenciaturas.

Dessa maneira, repensar Gênero associando-o à Docência no espaço e


tempo aqui estabelecidos, além de tratar o debate partindo de uma história
geral para uma história local, servirá para nos situar dentro de um debate mais
amplo e também de uma luta crescente e constante para alterarmos os rumos
da nossa própria história.
15

1. GÊNERO E EDUCAÇÃO

1.1 A feminização da profissão professora

1
O mundo sempre pertenceu aos machos.

Antes de adentrarmos o universo das discussões que permeiam a


feminização da profissão professora, faz-se necessário nos familiarizarmos
com os conceitos e discursos de gênero que definiram ao longo da história da
humanidade, e mais precisamente da história do Brasil, o perfil e os espaços
ocupados que foram naturalizados pelos sujeitos femininos e masculinos
mediante uma sociedade capitalista, patriarcal e com raízes no catolicismo do
período colonial brasileiro. A pesquisa aqui desenvolvida possui caráter
bibliográfico com base em fontes, teóricos e documentos da época a fim de
realizar um levantamento acerca do imaginário e cotidiano desses sujeitos
femininos do final do século XIX e XX, para dessa maneira entendermos e
identificarmos as mudanças e permanências em relação aos primeiros anos do
século XXI, século que situa a trajetória galgada pelo sujeito feminino na
história da educação no Brasil e principalmente em Pernambuco, escopo do
estudo aqui apresentado.

1.2 História das Mulheres nos séculos XIX e XX

É sabido que nas mais diferentes sociedades ao longo do tempo, as


mulheres quase sempre tiveram seus espaços e desempenhos de funções
diretamente ligadas apenas à esfera familiar e doméstica, tendo assim sua vida
voltada costumeiramente para o âmbito privado, em oposição ao espaço
público, geralmente destinado aos homens. Com base em valores
conservadores, repressores e excludentes, não é raro que a condição feminina

1
BEAUVOIR, S. 2016, 95.
16

venha a ser “representada como passiva e inferior, tomando como parâmetro o


padrão anatômico, fisiológico, e psicológico masculino. ” 2 (PIRES, 2003, 207).

De acordo com Almeida (1998, 18), as teorias defendidas por correntes


evolucionistas e positivistas associadas ao poder da igreja e do estado foram
de fundamental importância para cunhar a classificação reservada às mulheres
do século XIX. Os mesmos, ao buscarem se desligar do perfil que “pregava a
lascívia e maldade inatas das mulheres” 3 presentes por volta da Idade Média,
na Idade Moderna, colocam os sujeitos femininos dentro de suas casas à
disposição da família e à luz da religiosidade, da inferioridade biológica e
fragilidade psicológica, quando comparadas aos homens. Esse discurso
buscava distanciar as mulheres dos espaços públicos e consequentemente do
campo educacional, se pensarmos que nesse período a obtenção de
conhecimento já estava diretamente ligada à concentração de poder.
Porém, apesar de reforçar o discurso de desigualdade entre os
sexos, o positivismo advogou a mesma instrução para homens e
mulheres, embora seus adeptos se manifestassem contrários à
coeducação. (ALMEIDA, 1998, 19).

Dessa maneira, os positivistas defendiam a oferta de uma educação que


atendesse a ambos os sexos. Contudo, a educação feminina viria a se
diferenciar ao longo dos tempos da educação masculina, de acordo com os
objetivos traçados para o sujeito feminino em sociedade, pois "o trabalho
intelectual não devia fatigá-las, nem se constituir um risco a uma constituição
que se afirmava frágil e nervosa, o que poderia, certamente, debilitar seus
descendentes” (ALMEIDA, 1998 p 18). Nota-se, a partir de então, uma grande
preocupação com a prole da qual biologicamente a mulher é refém, que será
usada para estabelecer uma forte ligação da mulher com a família, e da
maternidade com o espaço interno do lar.
Ao longo do século XIX, é possível notar a presença e influência do
pensamento positivista também no desenrolar da história do Brasil e
consequentemente na história das mulheres brasileiras. Às mulheres cabiam
não apenas o espaço privado, mas o molde feminino da boa esposa e boa mãe
"principal interesse do homem e da pátria" (ALMEIDA, 1998,18), em
contraponto, àsconquistas por teremacesso tardio ao ensino superior e o
2
PIRES, 2003, 207.
3
Op. cit., p 17.
17

alargamento do leque profissional para boa parte dos sujeitos femininos, que,
influenciadas pelo contexto e movimentos históricos europeus, foram galgando
lentamente novos espaços.
Dessa maneira, é possível notar que o contexto histórico e social que
atingiu o mundo ocidental nas primeiras décadas do século XX proporcionaram
o cenário apropriado para a ascensão de lutas feministas que buscavam
reivindicar os direitos, o lugar e o papel da mulher nessa sociedade que ainda
estava em formação e em constantes mudanças, as quais também alcançaram
lentamente o Brasil. Porém, é necessário lembrar que o sujeito feminino é
múltiplo em sua constituição, e as mulheres não foram atendidas da mesma
maneira, sendo diferenciadas entre si por suas raças, classes, condição social,
entre outros aspectos.

1.3 Mulheres, Trabalho e Educação no Brasil nos séculos XIX e XX


O processo de industrialização que alcançou o Brasil, ainda no século
XIX, atraiu muitas mulheres e crianças para o setor da indústria têxtil. Durante
o século XX,muitas mulheres pertencentes às camadas mais baixas da
sociedade e muitas imigrantes europeias 4em busca de melhores condições de
vida passaram a trabalhar nas fábricas, tornando o sexo feminino tão
importante em número quanto em produção nesses locais que surgiam a todo
vapor e por todo o Brasil.Essa nova configuração e demanda social levou as
pessoas a questionarem e repensarem as delimitações de espaço público
versus privado. Vejamos os dados sobre os trabalhadores das fábricas naquele
período apresentados por Margareth Rago (2016):

Um terço deles, ou melhor, 1.160.000 eram italianos; 1 milhão,


portugueses; 560 mil, espanhóis; mais de 112 mil eram alemães; 108
mil, russos e 79 mil, australianos. Desanimados com a difícil condição
social em seus países de origem, os imigrantes sonhavam em fare l'
América (“fazer a América”), seduzidos pelos anúncios que acenavam
para um futuro extremamente promissor. Esses trabalhadores foram
o principal contingente das fábricas que cresciam no Rio de Janeiro e
em São Paulo. (RAGO, 2016, 485).

Esse processo de Industrialização que ocorreu no Brasil e a forma como


se deu é de fundamental importância para entendermos mais adiante o
processo de feminização da docência. Ainda de acordo como Rago (2016),

4
RAGO, 2016, 485.
18

apesar das mulheres serem consideradas mão de obra barata e somarem,


juntamente às crianças, uma maioria da massa operária, o avanço da
industrialização ampliou o leque de oportunidades ao público masculino,
expulsando gradualmente as mulheres das fábricas, porém não em sua
totalidade.

As mulheres que se mantiveram no meio fabril precisaram travar uma


luta contra o sistema violento e excludente,e foram inúmeras as dificuldades
encontradas. “Da variação salarial à intimidação física, da desqualificação
intelectual ao assédio sexual, elas tiveram sempre de lutar contra inúmeros
obstáculos para ingressar no campo definido – pelos homens – como
“naturalmente masculinos”. Esses obstáculos não se limitavam ao processo de
produção; começavam com a própria hostilidade com que o trabalho feminino
fora do lar era tratado no interior da família. (RAGO, 2016, 582).

Para assegurar o processo de saída dessas mulheres das fábricas e sua


entrada no universo do lar surgiram uma série de discursos contrários à
entrada do público feminino no mundo do trabalho em geral. Esses discursos
serviam para reforçar e propagar a ideia de fragilidade do sexo feminino e de
como essas mulheres precisavam de cuidado e proteção, ou seja, a proteção
do lar. Essas ideias receberam apoio da Igreja e do Estado, como propôs
Almeida (1998), ao mencionar o trabalho dos positivistas.

Nesse contexto, com a crescente incorporação das mulheres ao


mercado de trabalho e à esfera pública em geral, o trabalho feminino
fora do lar passou a ser amplamente discutido, ao lado de temas
relacionados à sexualidade: adultério, virgindade, casamento e
prostituição. Enquanto o mundo do trabalho era representado pela
metáfora do cabaré, o lar era valorizado como o ninho sagrado que
abrigava a “rainha do lar” e o “reizinho da família”. (RAGO, 2016,
588).

Era tamanho o empenho em redirecionar as mulheres para o setor


privado, para o espaço do lar, que se chegava mesmo a desqualificar social e
moralmente as mulheres que precisavam trabalhar para se manter ou ajudar
financeiramente suas famílias. Esses discursos serviam também para
estereotipar e diferenciar a mulher burguesa dona de casa da trabalhadora,
operária, proletária, além de distanciar essas últimas,cada vez mais das salas
de aula, na busca por profissionalização.
19

A História da Educação no Brasil, a História das Mulheres e do Trabalho,


assim como o desenvolvimento da sociedade brasileira estão pautadas na luta
de classes e na luta de poderes entre os gêneros. Aqui se faz necessário
pontuar que o acesso à educação também estava diretamente ligado às
questões raciais, à classe social, à religião e ao gênero ao qual se pertencia. 5
Dessa maneira, apesar do acesso tardio à educação, nem todas as mulheres
foram atendidas, assim como o campo do trabalho não era para todas – quiçá
para nenhuma6. Ao falarmos em “feminização” do magistério, de acordo com
Lopes(2016), não estão aí incluídas as operárias – que muitas vezes
trabalhavam 12 horas nas fábricas e para sobreviver tinham de complementar
os lucros costurando para fora ou se prostituindo7 – nem as negras, que apesar
da Abolição foram relegadas aos serviços socialmente marginais e muito mal
vistas, ou as índias.

Para a população de origem africana, a escravidão significava uma


negação do acesso a qualquer forma de escolarização. A educação
das crianças negras se dava na violência do trabalho e nas formas de
luta pela sobrevivência. As sucessivas leis, que foram lentamente
afrouxando os laços do escravismo, não trouxeram, como
consequência direta ou imediata, oportunidades de ensino para os
negros. São registradas como de caráter excepcional e de cunho
filantrópico as iniciativas que propunham a aceitação de crianças
negras em escolas ou classes isoladas – o que vai ocorrer no final do
século.Algo semelhante se passava com os descendentes indígenas:
sua educação estava ligada às práticas de seus próprios grupos de
origem e, embora fossem alvo de alguma ação religiosa, sua
presença era, contudo, vedada nas escolas públicas. (LOURO, 2016,
445).

Dessa maneira, podemos facilmente traçar alguns perfis das mulheres


que conseguiram mais facilmente acesso à educação e das que se engajaram
na luta política e feminista por acesso ao direito de trabalho e tantos
outros.Essas mulheres fizeram parte ou descendiam das famílias burguesas

5
“Seria uma simplificação grosseira compreender a educação das meninas e dos meninos
como processos únicos, de algum modo universais dentro daquela sociedade. Evidentemente
as divisões de classe, etnia e raça tinham um papel importante na determinação das formas de
educação utilizadas para transformar as crianças em mulheres e homens. A essas divisões se
acrescentariam ainda as divisões religiosas, que também implicariam diversidades nas
proposições educacionais. ” (LOURO, 2016, 444).
6
No discurso de diversos setores sociais, destaca-se a ameaça à honra feminina representada
pelo mundo do trabalho e a questão da moralidade social. Nas denúncias dos operários
militantes, dos médicos higienistas, dos juristas,dos jornalistas, das feministas, a fábrica é
descrita como “antro de perdição”, “bordel”, ou “lupanar”, enquanto a trabalhadora é vista como
uma figurante totalmente passiva e indefesa. Essa visão está associada, direta ou
indiretamente, à vontade de direcionar a mulher à esfera da vida privada” (RAGO, 2016, 585).
7
RAGO, 2016, 581.
20

que se constituíram e passaram a moldar o imaginário da sociedade brasileira


ainda no século XIX. Mas, de maneira geral, o acesso à educação estava
aberto a todas,podendo se distinguir de acordo com a instituição ou com a
instrução das mestras, inicialmente com a criação das escolas normais
públicas, e principalmente com as propostas de ensino particular, como aponta
Louro(2016).

“Essas instituições de ensino tinham suas diferenças: escolas


normais públicas, colégios normais religiosos, alguns internatos
particulares; cursos localizados nas cidades mais importantes das
províncias e dos estados, cursos de cidades menores, escolas laicas
ou de orientação religiosa, pagas ou gratuitas. As moças que
frequentavam esses cursos tinham origens sociais diversas, o que
dificulta qualquer tentativa de caracterizá-las globalmente; mesmo a
passagem do tempo acarretou outras mudanças na população
escolar. Em alguns momentos e em algumas comunidades, as
escolas normais se tornaram prestigiadas instituições de ensino, e
acrescentaram, ao curso de formação de professor primário, cursos
de especialização, captando uma clientela socialmente privilegiada. ”
(LOURO, 2016, 455).

No Brasil, foi em boa parte das vezes na condição de professora que


muitas mulheres conseguiram conquistar algum espaço na esfera pública. A
visibilidade que o campo educacional ganhou, por volta do século XIX, com o
objetivo de fazer o país se desprender do imaginário colonial, almejando se
modernizar, não conseguiu reverter o quadro de grande parte da população
brasileira ainda ser analfabeta. Em um sistema escravocrata e em uma
sociedade predominantemente rural, não foi suficiente apenas chamar atenção
para a importância da educação, vejamos:
Aqui e ali, no entanto, havia escolas – certamente em maior número
para meninos, mas também para meninas; escolas fundadas por
congregações e ordens religiosas femininas ou masculinas; escolas
mantidas por leigos – professores para as classes de meninos e
professoras para as de meninas. Deveriam ser, eles e elas, pessoas
de moral inatacável; suas casas ambientes decentes e saudáveis,
uma vez que as famílias lhe confiavam seus filhos e filhas. (LOURO,
2009. 444).

Ao desempenhar o papel de profissional do ensino, a mulher devia


obrigatoriamente se encaixar nos padrões de moral e decência ditados por uma
sociedade que tomava como base o patriarcado importado da Europa e por
outro lado, as ordens da Igreja, que logo trataram de definir o status quo da
mulher brasileira.Esse aspecto fica mais claro ao analisarmos os componentes
curriculares, ainda no ensino básico, destinados às instituições de ensino
21

masculinas em detrimento das femininas, diferenciação pensada para manter


as mulheres no espaço privado, como já citado. Os primeiros priorizavam as
noções de geometria, enquanto as segundas o bordado, as costuras e demais
afazeres do lar que buscavam formar uma boa esposa e mãe, companheira
adequada para seu marido.
Quando os deputados regulamentaram com a primeira lei de
instrução pública o ensino das “pedagogias” – aliás o único nível a
que as meninas teriam acesso – afirmaram que seriam nomeadas
mestras dos estabelecimentos “aquelas senhoras que por sua
honestidade, prudência e conhecimentos se mostrarem dignas de tal
ensino, compreendendo também o de coser e bordar”. Aqui vale notar
que, embora a lei determinasse salários iguais, a diferenciação
curricular acabava por representar uma diferenciação salarial, pois a
inclusão da geometria no ensino dos meninos implicava outro nível de
remuneração no futuro. (LOURO, 2015. 444).

A profissão apenas teve seu momento de aceitação após vinculada e


afirmada pelas correntes positivistas e cientificistas 8 defensoras da profissão
ser uma extensão do ser mãe. Apenas assim as mulheres professoras
puderam ter um trabalho dito como digno e bem colocado socialmente, o qual
seria encarado como uma extensão dos afazeres do lar. Foram aceitas a
profissão de professora, ou qualquer outra que envolvesse o cuidado e a
dedicação com o próximo, pois essas seriam ocupações as quais exigiram
atributos tomados como femininos – “doar-se com nobreza e resignação” 9 –
como por exemplo a profissão de parteira. Era indicado também que se
trabalhasse em apenas meio turno, pois as mesmas poderiam conciliar a dupla
jornada de casa e trabalho, já que ambas se complementariam.
Ao longo do século XX, foi possível notar uma evidente mudança no
âmbito sociocultural no que se refere ao papel, espaço e função social das
mulheres, contando com a força de movimentos sociais e debates cada vez
mais densos e acalorados. No âmbito do discurso de gênero, a análise do
espaço desbravado e conquistado pelas mulheres instaurou mudanças
culturais, sociais, econômicas e até mesmo questionamentos do ideal de
público versus privado que existiam e definiam os espaços até então. 10 Ainda é
expressivo o número de mulheres que exercem o papel de cuidadora, seja no
que se refere à saúde ou à educação infantil. Para constatar isso, uma rápida

8
LOURO, 2016, 447.
9
ALMEIDA, 1998.32.
10
LOURO, 2016, passim.
22

comparação entre o grande número de mulheres e o raro número de homens


que cursam uma formação em Pedagogia ou em Enfermagem, por exemplo,
revela-se bastante elucidativa.
Diante de tais apontamentos, é possível notar que os avanços e
conquistas atribuídos ao sujeito feminino, na história do mundo e do Brasil,
foram sim reflexos de suas lutas e reivindicações, porém, foram muito mais
respostas a uma sociedade machista, patriarcal e religiosa que, ao sucumbir às
mudanças trazidas pelo novo século, buscava se adaptar, relocando agora a
posição e espaços do sujeito feminino. Uma forma de suprir, por exemplo, a
evasão masculina das salas de aula, devido à abertura de um grande leque de
possibilidades de atuação profissional.

1.4 Mulher e Educação em Pernambuco


No Pernambuco do século XIX e XX, a situação econômica e
educacional era bem parecida com o cenário do resto do Brasil, tendo como
peculiar apenas a demora com que as novidades chegavam, em relação ao Rio
de Janeiro. ”O Brasil era um país rude” 11. O sistema açucareiro era responsável
pela economia local, os grandes proprietários de terras detentores de grande
influência política, a sociedade era rural, puramente escravocrata e pouco
instruída. Às mulheres dessa região, cabia o espaço do lar e os assuntos
familiares, excetuando-se as pertencentes às famílias abastadas, tendo essas
um leque um pouco maior de opções sociais e profissionais 12.

O estado de Pernambuco também não ficou fora do quadro ao qual


pertencia o Brasil no que tange à posição e espaço reservados à educação das
mulheres, como aponta Hajnalka Gati (2009). Presos a uma historiografia 13
excludente e generalizante, apenas mediante a análises de documentos e do
contexto histórico-cultural do período, foi possível notar não apenas a escassez
das oportunidades de ensino e também das instituições de ensino voltadas
11
GATI, 2009, 51.
12
GATI,2009, passim.
13
Para desenvolver estudos acerca da educação voltada para o público feminino em
Pernambuco, autoras com GATI (2012) e PEIXOTO (2006) apontam a problemática de lidar
com uma historiografia excludente, a qual não se preocupa em incluir, problematizar e tomar o
sujeito feminino como importante objeto de estudo ainda naqueles períodos (XIX), fazendo com
que o historiador recorresse ao contexto sócio cultural por meio dos relatos de jornais da
época. No período surgiam e ficavam cada vez mais populares os jornais que davam voz ao
sujeito feminino.
23

para as mulheres em Pernambuco, mas também uma crescente e constante


preocupação com a moral, o comportamento e a posição social das mulheres
da região como obstáculos significativos à realidade abordada.

É válido ressaltar que as primeiras escolas criadas em Pernambuco,


além de voltadas para o público masculino, também eram particulares,
reduzindo ainda mais o público ao qual buscava atender e evidenciando o
caráter elitista assumido pela educação em Pernambuco desde muito
cedo. Assim como em outras partes do país, a preocupação com a educação
mais básica das meninas era tarefa da mãe, desde as virtudes morais até as
primeiras letras – preocupação que também se estendia aos filhos homens.
Entre as famílias mais abastadas também era comum complementar essa
instrução contratando senhoras vindas da Europa tomadas como professoras
particulares “para aprimorar seu caráter e evitar que ultrapassassem os limites
impostos pela sociedade.” (GATI, 2012, 14).
Esse panorama que tentamos esboçar sobre o século XIX no Brasil,
em Pernambuco e no Recife, tem como finalidade mostrar em que
sociedade surgiram as primeiras escolas normais e a ausência da
maioria das mulheres da educação formal. Pelos dados fornecidos
por Mario Sette, vemos que o número de alunos do sexo feminino
tornava-se já bastante expressivo. Mas a educação feminina
continuava limitada às primeiras letras e a própria escola normal
oficial só se abriu às mulheres a partir de 1875. A concepção de
mulher vigente não se alterara muito. (PEIXOTO, 2006, 36).

A presença em larga de escala de instituições de ensino particulares em


detrimento do ensino público revela a manutenção do pensamento colonial, o
qual perdurou durante o período Imperial, de não investir na educação pública
de maneira eficaz e efetiva, mesmo reconhecendo sua importância e
necessidade dentro do contexto de mudança que se almejava ao tentar se
desvencilhar do passado rural e escravocrata que não permitia o crescimento
rápido do país. Esse descaso revela também uma maior preocupação em
suprir primeiramente as necessidades da Família Real, a qual encontrou uma
colônia escassa de quase tudo.
Assim, as várias instituições de ensino superior que foram criadas
visavam atender os quadros que eram exigidos: formar oficiais e
engenheiros civis e militares encarregados da defesa da colônia e
também os médicos e cirurgiões para a Corte, o exército e a marinha.
Por isso, foram criadas a Academia Real da Marinha e o curso de
cirurgia (Bahia, 1808); os cursos de cirurgia e anatomia (1808),
medicina (1809), e Academia Real Militar (1810), todos no Rio de
Janeiro. (PEIXOTO, 2006, 20).
24

É válido ressaltar que as necessidades trazidas pelos portugueses


denotavam um ideal bastante imediatista, o que fez a organização educacional
nos primórdios brasileiros se encaminhar de forma tecnicista e
profissionalizante. Os cursos e demais propostas educacionais, além de uma
série de avanços implantados pela Corte atenderam de forma direta e local o
Rio de Janeiro, sede do governo e da Corte Real. “O ensino secundário
continuou como na colônia, a ser ministrado através das Aulas Régias e o
primário não foi contemplado pelas mudanças feitas pelo regente [...] a
educação feminina não era considerada necessária e a educação não era vista
como elemento importante para os brasileiros” (PEIXOTO, 2006, 22).

De volta ao cenário pernambucano,era possível notar os lentos avanços


e o surgimento das primeiras escolas no século XIX. Voltadas para a educação
feminina, terá o Curso Normal da Sociedade Propagadora (1872) e a Escola
Normal Oficial que apenas atenderá o público feminino a partir de 1875. Junto
a isso,as escolas e instituições particulares e ensino doméstico. De acordo
com Gati (2009), “entre os impulsos de conservação e mudanças” mais à
frente, após o alargamento das portas da educação em Recife, capital de
Pernambuco, na mesma região foi possível notar também o processo de
feminização do magistério – fortemente influenciado pelas escolas de ensino
puramente femininas, na mesma época já identificado em outros locais do país
e já tomado como influência europeia.
De acordo com Flávia Maria Peixoto (2006), esse cenário no qual a
mulher pernambucana estava inserida era o mesmo do resto do Brasil,
porémsegundo Gati (2009)esse cenário estava em constante mutação. A
situação da população feminina não era a mesma para todas e as
que possuíam algum tipo de letramento já buscavam espaço de fala e
luta, influenciadas pelas ideias de igualdade, liberdade e justiça vindas da
Europa.Nesse ponto foram auxiliadas pelos jornais da época. As mulheres
almejavam não apenas espaços na sala de aula, mas uma profunda mudança
nos valores e mentalidades vigentes ao longo do século XIX no Brasil.

Essas ideias, por sua vez, atravessaram as fronteiras por intermédio


da imprensa, do rádio e do cinema, influenciando as mentalidades
nos países periféricos, entre eles o Brasil, principalmente em São
25

Paulo e no Rio de Janeiro. Para isso, a contribuição da imprensa


feminina foi decisiva e as mulheres instruídas aproveitaram esse
espaço aberto no mundo das letras para se fazer ouvir e expor uma
nova maneira de pensar, diferente daquela dos tempos do Império.
(ALMEIDA, 1998, 26)

Procuramos compreender aqui a evolução do processo educacional


voltado para as mulheres brasileiras, mais precisamente pernambucanas,
como algo lentamente mutável, considerando os avanços e conquistas como
reflexos de muitas lutas e embates políticos e sociais, sendo as barreiras
encontradas nesse processo frutos de uma sociedade patriarcal construída às
sombras do Estado e da Igreja que, juntos, se apropriaram do espaço e destino
do sujeito feminino. A partir de então, continuaremos explorando e investigando
o conceito de feminização da docência em Pernambuco de maneira a nos
aproximar do escopo e recorte temporal estabelecidos por esse estudo.
26

2. Ensino superior em Pernambuco

Ao fazermos um breve histórico do desenvolvimento do sistema


educacional no Brasil, ao longo dos séculos XIX e XX, relacionando-o com a
disputa por poderes entre masculino e feminino, podemos destacar a
implantação de uma educação deficitária e não encarada pelas autoridades
como prioridade. É notório ainda o interesse das instituições educacionais
voltadas ao ensino básico,inicialmente para os homens, reflexo de uma
sociedade patriarcal e opressora, enquanto às mulheres destinavam-se o
espaço do lar; de acordo com a condição social, podiam acessar as primeiras
letras. Conhecida essa configuração social, veremos que o ensino superior
enfrentou dificuldades parecidas para se firmar no Brasil e também favoreceu
determinadas camadas e setores sociais em detrimento de outros.

De acordo com os pontos apresentados por Gati (2012) o modelo de


educação superior que chega ao Brasil também foi importado da Europa, assim
como o modelo de ensino básico e as escolas normais. Contudo, nesse
continente, de maneira bastante polêmica, o assunto da igualdade educacional
já era bastante debatido e, por meio de leis, o acesso das mulheres à
educação era crescente, assim como eram as lutas acerca da emancipação do
sujeito feminino por meio da educação e do mercado de trabalho. Vejamos:

As escolas superiores para moças (liceus de ensino secundário) só


aparecem em cidades alemãs (Prússia e Berlim) no final do século
XIX, em 1872. O diploma do Liceu e a entrada na universidade só
serão possíveis na vida das mulheres alemãs depois de 1900. (GATI,
2012, 3078).

Enquanto no Brasil, de acordo com Farias (2005), as demandas por um


ensino superior se deram apenas no século seguinte,comparado ao modelo e
reivindicações europeias:
Mas, efetivamente, as demandas sobre a educação superior, nos
anos 20 e 30 do século XX, foram consequências de diversas
transformações que estavam acontecendo no mundo. O Brasil se
sentia secundarizado em relação aos outros países, de modo que
foram criados diversos cursos isolados, para atender à demanda. Em
1823, portanto, logo após a independência, foram discutidos projetos
para a criação de uma universidade brasileira. (FARIAS, 2005, 83).

Nesse sentido,é de fundamental importância estreitarmos o recorte

espacial para o melhor entendimento do tema proposto.Nos reportaremos ao


27

contexto de desenvolvimento da educação superior em Pernambuco, nordeste

brasileiro, a qual seguiu o modelo estabelecido no sul do país. Ainda de acordo

com Farias (2005), o desenvolvimento da educação superior no Brasil se deu

também em função das necessidades e demandas trazidas pela Família Real

de Portugal, mas era preciso desenvolver de maneira geral as regiões. Nesse

contexto, escolas foram melhoradas e multiplicadas, e agora um novo foco era

a educação técnica e superior, essas últimas para instruir e formar a população

local, oferecendo serviços já existentes em Portugal e em outras nações da

Europa. Contudo, a autora, ao citar Chizzotti, afirma que “a tarefa da educação

popular era considerada de menor importância para a elite governante” 14

devido à recorrente ida dos membros de famílias abastadas para a Europa com
o objetivo de estudar.

Nesse cenário, a educação superior no Brasil surgiu em um formato mal


estruturado, mal direcionado e sem articulação entre si, em meio a uma série
de tantas outras demandas sociais. Segundo Fávero (1977), que reforça o
pensamento de Farias (2005), as primeiras universidades públicas surgiram em
um contexto de resistência:primeiro,era necessária uma luta para se firmar
enquanto instituição de ensino, aumentar os números de vagas e,
principalmente, multiplicar essas instituições sob responsabilidade do Estado,
além de se manterem articuladas entre si.Esse último seria o grande desafi o e
outra luta ainda seria em oposição às instituições privadas que surgiram
durante o mesmo período e que também buscavam suprir parte da demanda
educacional. A respeito, vejamos o que diz Farias:

No Brasil, ainda havia a luta pela implantação da educação superior e


pela consolidação dos níveis mais básicos de ensino. As ideias
europeias faziam eco no Brasil, embora as pedagogias progressistas,
as ciências aplicadas, as grandes ideias revolucionárias tivessem
chegado um pouco que tardiamente no nosso país, isto só acelerava
o desejo da sociedade por uma educação que ajudasse a construir o
livre pensar. (FARIAS, 2005, 86).

Assim, nos aproximamos cada vez mais do locusdo estudo aqui


estabelecido, a Universidade de Pernambuco Campus Mata Norte – UPECMN,

14
CHIZZOTTI, 2001, p.66. apud Farias 2005, p 85.
28

que se enquadra nesse “contexto de luta para existir” 15. De acordo com
Edileuza Farias (2005), a qual buscou elaborar um elucidativo levantamento
acerca da história de fundação e gestão da Universidade de Pernambuco –
UPE. É válido ressaltar o contexto de luta para manter e executar propostas
sobre as quais a instituição está moldada desde suas origens, quando ainda se
configurava como a Fundação de Ensino Superior de Pernambuco (FESP).

2.1 Histórico da Universidade de Pernambuco

A Universidade de Pernambuco, enquanto instituição, vai apresentar


suas raízes diretamente vinculadas à Fundação de Ensino Superior de
Pernambuco (FESP), a qual possuía o objetivo inicial de relacionar diferentes
faculdades ou unidades educacionais já existentes, sob o amparo do Estado,
esse modelo também se estabeleceu no sul do país, a fim de vincular e
dinamizar o custeio dessas faculdades. Dessa maneira, de acordo com os
apontamentos de Farias (2005), sob a administração da FESP se uniram
inicialmente a Faculdade de Ciências Médicas (1950) e a Faculdade de
Odontologia de Pernambuco (1965), ambas atestando dificuldades de custeio e
manutenção. No ano seguinte, criada pelo governador Paulo Pessoa Guerra,
foi anexada à FESP a Escola de Administração Pública.

Entendeu o governador que, em vez de repassar recursos


isoladamente deveria se criar uma fundação que, recebendo do
Estado, pudesse repassá-los para as faculdades integradas.
Assim pela Lei n° 5736, de 25 de novembro de 1967, iniciativa
do poder executivo, autorizava-se a criação de Fundação de
Ensino Superior de Pernambuco, nos termos de Lei Federal
21.024 de Dezembro de 1961, de uma Fundação, com sede e
foro na cidade do Recife. (FARIAS, 2005, 86).

Foram integradas à FESP ainda a Escola Politécnica de Pernambuco

(1912) e a Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças (1945) após

a criação oficial da Fundação. Um ano antes, em 1966, o próprio governador

havia criado as Faculdades de Formação de Professores, uma em Nazaré da

Mata e outra em Garanhuns, as quais já surgiram vinculadas à FESP.

Posteriormente, em 1970, foram agregadas à Fundação a Faculdade Superior

15
FARIAS, 2005, 85.
29

de Educação Física (1946) e a Faculdade de Formação de Professores de

Petrolina (1968); por último, o Instituto de Ciências Biológicas (1976).

Pela Lei n° 5.921, de 13 de dezembro de 1966, os trabalhos


prosseguiram na busca da consolidação do objetivo maior, o
reconhecimento da universidade, o que só veio com a portaria n° 964,
de 12 de junho de 1991, em que o Ministério da Educação reconhecia,
então a Universidade de Pernambuco que teve, como já exposto, sua
base fundada na Antiga FESP. Desse modo, a Universidade de
Pernambuco inicia sua história, baseada nas Faculdades isoladas, com
objetivas proposições diferentes, que se uniram para afinar ações e
cortes, que vieram caracterizar o fazer Universitário. (FARIAS, 2005,
88.)

Nesse cenário de luta para se firmar e manter articulada, a Universidade

de Pernambuco assume um caráter social e um forte compromisso com a

educação de qualidade. E não apenas a educação superior, já que também


fazem parte da Fundação a Escola do Recife e os três (3) polos de Escola de

Aplicação, descentralizados entre Nazaré da Mata, Garanhuns e Petrolina.

Atualmente, a UPE se configura como a única universidade estadual de

Pernambuco e se propõe levar a educação e desenvolvimento para todo o

estado, já que possui formato interiorizado com seu modelo multicampi,

mantido até os dias atuais.

Agora, faremos um recorte ainda menor, vamos nos ater à Faculdade de

Formação de Professores de Nazaré da Mata, a qual faz parte da instituição

desde o 1966, criada durante a gestão do governador Paulo Guerra um ano

antes da legalização da FESP e já pensada para se tornar vinculada a tal


instituição.

2.2 Desenvolvimento político, econômico e educacional na Zona da Mata

Norte de Pernambuco

Pensar uma educação emancipatória para a região de Nazaré da Mata


exigia ainda desenvolver outros setores do município como, por exemplo,
política e economia as quais se encontravam estreitamente relacionadas com o
desenvolvimento educacional. A região viu o auge do seu desenvolvimento
político entre as décadas de 1950 e 1960 com duas grandes personalidades
30

políticas da época: Monsenhor Petronilo Pedrosa e o Governador Paulo


Pessoa Guerra.

2.2.1 Paulo Pessoa Guerra

Natural de Nazaré da Mata – PE, Paulo Pessoa nasceu em 10 de


dezembro de 1916, filho de João Pessoa e Maria Gaião. Cursou a educação
primária em Nazaré da Mata, o secundário e a faculdade de Direito em Recife.
Em 1938 inicia sua carreira na política como prefeito de Orobó - PE, durante o
Estado Novo instalado pelo então presidente Vargas, e nomeado por
Agamenon Magalhães. Ao longo de sua carreira passou ainda pela prefeitura
de Bezerros (1940), ocupou a delegacia regional do Departamento de
Imprensa e Propaganda e ainda a direção da Penitenciária Agrícola de
Itamaracá (1945).

Com a deposição de Vargas em 1945, Paulo Guerra se elege deputado


de Pernambuco pelo Partido Social Democrático (PSD) ainda sob a tutela de
Agamenon Magalhães. “Assumindo o mandato em fevereiro do ano seguinte,
participou dos trabalhos constituintes, integrando, em substituição ao deputado
Osvaldo Lima, a comissão designada para apresentar o anteprojeto de
regimento da Nova Carta. Assumiu o cargo de deputado federal em 1950. Em
1954 foi eleito deputado estadual de Pernambuco pelo PSD. “Em janeiro de
1955 deixou a Câmara e no mês seguinte ocupou uma cadeira na Assembleia,
onde permaneceu após ter sido reeleito em outubro de 1958. Ocupou a
presidência da Assembleia Legislativa em 1961, no governo de Jânio Quadros,
e nesse cargo assistiu à crise política desencadeada pela renúncia de Jânio e a
posse de João Goulart. Em 1962, já no governo Goulart, manteve-se na
presidência da Assembleia pernambucana e defendeu as reformas que o
presidente tentava implantar, integrando o chamado bloco dos agressivos do
PSD.”16

Em 1963 Paulo Guerra assume como vice-Governador de Pernambuco


pelo Partido Republicano e apoiado pelos Partidos Socialista Brasileiro e PSD.
Como governador estava Miguel Arraes. Mediante suas divergências com

16
http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/paulo-pessoa-guerra acessado
em 20 de novembro de 2017.
31

Arraes, Guerra se aproximou do general Humberto Castelo Branco o qual em


1964 será um dos principais articuladores contrários a João Goulart, atual
presidente. Em março do mesmo ano teremos o movimento político militar
depondo João Goulart e, com Ato Institucional n° 1, cassando os direitos
políticos dos apoiadores do governo anterior. Com Arraes cassado, Paulo
Guerra assume o governo de Pernambuco.

Com a extinção dos partidos políticos pelo Ato Institucional nº 2


(27/10/1965), e a posterior instauração do bipartidarismo, filiou-se à
Aliança Renovadora Nacional (Arena), de orientação governista. No
governo de Pernambuco, procurou manter uma infraestrutura de
estímulo à industrialização do estado, através da construção de
rodovias, de implemento da eletrificação rural e do abastecimento
d’água. Além disso, ampliou a rede escolar, criou a Federação do
Ensino Superior de Pernambuco (FESP) e mandou construir o novo
hospital de pronto-socorro em Recife. (FUNDAÇÃO GETULIO
17
VARGAS) .

Paulo Pessoa Guerra faleceu em Brasília em 09 de Julho de 1977


deixando um grande legado político para a história e desenvolvimento político
de Pernambuco, sempre associado a luta por desenvolvimento do trabalhador,
do homem do interior do estado e da educação.

2.2.2 Monsenhor Petronilo Pedrosa

Petronilo da Cunha Pedrosa nasceu em 07 de janeiro de 1915 sendo


natural de Timbaúba. Filho de Francisco Gomes da Cunha e Ana Maria de
Freitas Pedrosa. Cursou os primeiros estudos em sua cidade, transferindo-se
para Nazaré da Mara com o objetivo de concluir o ginásio. Em 1932 cursou
teologia o Antigo Seminário de Nossa Senhora de Lourdes de Olinda. “Vindo
de família religiosa o jovem Petronilo estava naturalmente encaminhado na fé e
na vocação desde sua remota origem. Dedicou-se aos estudos eclesiásticos,
concluídos estava habilitado para o sacerdócio. Aos vinte e quatro anos
recebeu o sagrado presbiteriato em 15 de agosto de 1939 na catedral de
Nazaré.” (LIMA, 2003, 18)18.

Como padre atuou em Nazaré e Carpina desempenhando várias


funções durante o período de um ano e quatro meses. Realizou ainda uma

17
Disponível em: <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/paulo-pessoa-
guerra> Acesso em: 20 de novembro de 2017.
18
LIMA, M. I. As contribuições do Mons. Petronilo para a cultura de Nazaré da Mata.Nazaré da
Mata: Universidade de Pernambuco. Pós-graduação em história do Nordeste, 2003. P 18.
32

série de trabalhos junto à comunidade cristã local reavivando as relações


desse público com a igreja. Em 1988 Petronilo foi agraciado com o título de
“Monsenhor”, “D. Manoel o fez camareiro secreto numerário da Santidade o
Papa João Paulo II e nomeado vigário geral pelo Bispo Diocesano D. Jorge
Tobias de Freitas.” (LIMA, 2003, 19)19.

Entre Carpina e Nazaré da Mata, fez parte do legado de Monsenhor


Petronilo o desempenho de vários cargos eclesiásticos, encabeçando ainda a
construção da capela São José. Descobriu também sua vocação no campo
pedagógico e procurou complementar os estudos como bacharel em Filosofia
da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e o mestrado em História
na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Em paralelo a vida religiosa
Petronilo dirigiu o jornal Gazeta de Nazaré, atuou como professor nos
principais colégios de Nazaré da Mata e Carpina além de lutar ativamente para
a fundação e manutenção da Faculdade de Formação de Professores de
Nazaré da Mata. Atuou ainda como escritor lançando várias obras.

O Monsenhor Petronilo enfrentou complicações em sua saúde devido


alterações glicêmicas falecendo em março de 2001 aos 86 anos de idade.

2.3 Construção e consolidação da Faculdade de Formação de Professores

Atuantes em um mesmo período, porém com personalidades e por


caminhos diferentes, o que unia Monsenhor Petronilo e o Governador Paulo
Pessoa Guerra era a percepção e o empenho em desenvolver Nazaré da Mata,
principalmente por meio da educação. Muito cedo Monsenhor identificou a
necessidade em levar o ensino superior ao município pois era muito comum
que a população local parasse os estudos no nível secundário ou tivessem que
se deslocar para a capital para dar continuidade em outras modalidades de
ensino, alguns nem mesmo retornavam à cidade natal devido às novas
aspirações e conquistas.

Paulo Guerra, assim como Pe. Petronilo, via em Nazaré da Mata


potencial para desenvolvimento devido sua localização privilegiada e
densidade populacional – sua ligação e relação com a terra natal favoreceu tais

19
Ibid, 19.
33

projetos de crescimento na Zona da Mata. Porém, não só isso, o governador


antes mesmo de assumir tal cargo já se via comprometido com a melhoria da
educação em Pernambuco e com o crescimento e autonomia do homem do
interior.

Com o afastamento do governador do Estado Miguel Arraes


em março de 1964, assumindo a chefia do executivo em Pernambuco
o Dr. Paulo Pessoa Guerra que vinha exercendo o cargo de vice-
governador, com posse em 04 de abril de 1964. (Gazeta, 1964),
garantindo ao nazareno crescimento sociocultural para nossa cidade.
Devido suas origens e ascendentes serem vinculadas à terra natal,
não deu outra coisa na sua gestão de governo, Nazaré obteve um
20
grande impulso de crescimento. (LIMA, 2003, 25) .

Cruzados os objetivos de Petronilo e Guerra, deu início a luta pela


conquista e construção da Faculdade vinculada ao grupo Fesp. Monsenhor
utilizou de sua influência com as elites educacionais, governamentais, e
religiosas, e também através do jornal da cidade, no qual também atuava. “Isso
significava a democratização do ensino superior até pouco tempo possível às
classes afortunadas” 21. Petronilo pensou ainda nos problemas do porvir como,
por exemplo, a falta de profissionais qualificados para atuar na faculdade,
porém os aspectos favoráveis existiam em maior quantidade, a população
estava desejosa por esse impulso sociocultural.

Por meio do decreto de N° 1357 de 28 de dezembro de 1966, publicado


no Diário Oficial do Estado de Pernambuco é criada a Faculdade de Formação
de Professores de Nazaré da Mata. Pe. Petronilo Pedrosa passa a atuar como
então coordenador e mais tarde como professor, selecionando com base em
algumas especificidades os professores que ali iriam atuar. “Elaboram um
regimento interno para a aprovação do Conselho Estadual de Educação. Foi
doada uma área de terra para edificar a Faculdade, localizada às margens da
BR-408 em frente a GERE- Gerência Regional de Ensino”. (LIMA, 2003, 27).

Inicialmente os trabalhos foram realizados no prédio cedido pelo grupo


Escolar Maciel Monteiro, e no ano seguinte à sua criação é realizado o primeiro
vestibular da instituição. O ano letivo tem início em Abril com um total de 80
alunos, como aponta Lima (2003). Pe. Petronilo via na existência e atuação da

20
Ibid, 25.
21
LIMA, 2003, 26.
34

faculdade a possibilidade de engrandecimento da comunidade por meio do


saber e do trabalho. Era a chegada de uma era tecnológica e do conhecimento
científico em Nazaré da Mata, como Petronilo afirmava: “a ciência não se
adquire sem esforço, é no convívio com os mestres e no contato com os livros
especializados que se pode progredir neste sentido”. 22

Mediante o elucidativo trabalho de Maria Ivone de O. Lima (2003),


acerca das lutas e contribuições do Monsenhor Petronilo para o crescimento
sociocultural de Nazaré da Mata é possível notarmos também o caráter político
dessa luta. Apesar de seu engajamento religioso, sua trajetória de lutas e
conquistas se apresentava bastante democrática. Apoiado em um discurso
progressista e humanista – como se declarava – defendia a autonomia das
pessoas do campo por meio do acesso a informação e uma educação de
qualidade, por isso se dedicou tanto ao Jornal Gazeta de Nazaré, considerado
uma grande conquista a nível local.

Em um cenário político rígido e refém do regime militar, Monsenhor


Petronilo não ousava se calar. Seus artigos publicados na Gazeta de Nazaré –
analisados por Lima (2003) – buscavam inteirar os cidadãos nazarenos do que
acontecia no Brasil e no mundo, e também a nível religioso, levando-os a
refletir sobre suas próprias condições de vida. Sua luta por uma educação de
qualidade e pela construção e manutenção da FFPCMN seguiam essa mesma
lógica, trazer a educação superior de uma maneira democrática visando
emancipar os homens trabalhadores do campo e da zona da mata em geral,
muitas vezes vítimas de uma má administração política.

Os discursos do Pe. Petronilo não chegavam a ser agressivos ou


explicitamente contrários a gestão atual, porém se faziam bastante corajosos,
ao incentivarem o livre pensamento e questionamento da ordem social, para o
período repressor do regime militar brasileiro. Dessa forma, entendemos que a
conquista de uma instituição de ensino superior que proporcionasse o
desenvolvimento e crescimento local foram fruto das lutas e trajetória políticas
do Monsenhor Petronilo e do Governador Paulo Pessoa Guerra, ambos com
uma estreita relação com o município de Nazaré da Mata e com seu povo.

22
PEDROSA [1966], Apud LIMA, 2003, 28.
35

2.4 Faculdade de Formação de Professores de Nazaré da Mata

Criada segundo o decreto de lei N° 1.357 de 28 de dezembro de 1966, a

Faculdade de Formação de Professores Campus Mata Norte, fica localizada no

município de Nazaré da Mata, em Pernambuco. Com cerca de 50 anos de

atuação, tem como missão “promover o homem do Interior, elevar o nível do

nosso povo, preparar aqueles que almejam um porvir melhor.” (Gurgel,

1970:10)23. Dessa maneira, a instituição contribui ativamente para o

desenvolvimento do estado, atendendo mais de 40 municípios entre Nazaré da

Mata, Recife, Olinda e Jaboatão dos Guararapes, formando e oferecendo mão

de obra qualificada para atuar no campo educacional. Em 1967 ocorreu seu

primeiro vestibular e seu reconhecimento enquanto instituição apenas em

1974, com o funcionamento dos cursos das licenciaturas curtas de Ciências,

Estudos Sociais e Letras.

Entre os anos de 1978 e 1979, foi autorizada pelo Conselho de

Educação do Estado de Pernambuco – CEE/PE a conversão dessas

licenciaturas curtas em licenciaturas plenas. E as novas modalidades criadas,

os cursos de História, Geografia e Letras – francês ou inglês, convertidas para

licenciaturas plenas pelo Ministério da Educação e Cultura apenas em janeiro

de 1984 e reconhecidos no ano seguinte na Portaria Ministerial nº 630. Visando

atender um público ainda maior o Decreto nº 94.204, de 10 de abril de 1987,

autorizou o funcionamento do Curso de Pedagogia, com habilitações em


Administração e Supervisão Escolar. Durante todos esses anos, a Faculdade

de Formação de Professores de Nazaré da Mata – FFPNM esteve associada à

FESP, como visto.

Com o crescimento populacional e desenvolvimento da Mata Norte, para

acompanhar a demanda, o atual Campus Mata Norte cresceu. Atualmente,

23
Disponível em: http://www.upe.br/matanorte/campus/historico/, acessado em 15 de março de
2017.
36

oferece os cursos de Licenciatura Plena em: História; Geografia; Pedagogia,

Letras com habilitação em Português/Inglês, Português/Espanhol; Ciências

Biológicas e Matemática. Todos voltados para o campo educacional e

alinhados com os objetivos e missão iniciais à criação da instituição. E ainda,

recentemente em vigor, o curso Tecnólogo em Logística. Dessa maneira, a

Universidade vem cumprindo sua missão de promover o interior por meio da

educação de forma ampla, cultural e social integrada com os demais polos do

estado, formando e gerando mão de obra qualificada de maneira a atender

massivamente o campo educacional.

Dessa maneira, o Campus Mata Norte nos chama atenção para

investigação proposta por esse estudo, por atuar durante muitos anos na

formação direta de profissionais professores e professoras – profissão

identificada durante muitos anos como voltada para o público feminino devido

às suas demandas por características que as mulheres possuem em maior

quantidade que os homens e demais questões já exploradas na primeira parte

deste estudo.

Inserida em um contexto de luta para se manter financeiramente e


articulada às demais universidades vinculadas à FESP, atual UPE, como visto
temos então a fundação e consolidação do Campus Mata Norte envolvidas em
uma série de outras demandas sociais, muitas encabeçadas pelo próprio
Monsenhor Petronilo. Como sugere a própria missão da UPE enquanto
instituição, a universidade carrega consigo a responsabilidade de levar o
desenvolvimento para boa parte do Estado de Pernambuco.
O campus Mata Norte, devido à sua localização, leva tudo o que a
missão propõe e ainda mais. Suas responsabilidades possuem estreita relação
com os homens e mulheres do interior do Estado, os quais muitas vezes se
apresentam como reféns de uma má administração política, possuem suas
realidades distanciadas de um ensino superior, público e de qualidade, e
muitas de suas possibilidades de emancipação pessoal se alternam entre a
agricultura e demais trabalhos desenvolvidos nas propriedades rurais, o
37

artesanato e a pequena indústria têxtil, como apontam os níveis de


desenvolvimento econômico, disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) 24 sobre os principais municípios atendidos pela
instituição.
Nesse mesmo cenário, porém, apenas em relação às mulheres, objeto
de estudo importante para esse trabalho, o desenvolvimento do trabalho
doméstico, o magistério e as atividades na saúde pública, entre outras
atividades muitas vezes passadas de geração em geração em meio às
mulheres da família, são consideradas os meios de emancipação pessoal do
público feminino.
Assim, entendido de maneira breve, o desenrolar econômico dos
principais municípios que compõem a região, a chegada da Instituição de
Ensino Superior – IES à Zona da Mata Norte deve ser encarada não apenas
como uma conquista em nível educacional, mas também, e principalmente,
como uma nova possibilidade de emancipação pessoal para as pessoas
daquele local, independente da divisão de gênero, agora por meio da educação
superior pública como foi pensada por Pe. Petronilo e por Paulo Guerra. Faz-se
importante relembrar que a UPE-CMN, enquanto instituição, também atende
alunos e alunas da capital e região metropolitana, atraídos não apenas pela
oportunidade de emancipação pessoal, mas também pela boa pontuação da
universidade nos índices de desenvolvimento dos cursos, mostrando como a
mesma se desenvolveu positivamente superando as dificuldades iniciais a sua
criação.
A universidade, ao longo dos anos de atuação, desenvolveu projetos
que buscassem reinserir pessoas afastadas das salas de aula ou que
atuassem apenas com a formação do magistério. Um desses programas é o
Programa Especial de Licenciatura Plena em Pedagogia 25 (PROGRAPE), o
qual atendia turmas formadas de mulheres, em sua totalidade, vindas de todo o

24
Fonte: IBGE, em parceria com os Órgãos Estaduais de Estatística, Secretarias Estaduais de
Governo e Superintendência da Zona Franca de Manaus - SUFRAMA. 2000 – 2014.
25
O programa é fundamentado na Lei 9.394/96 Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional/LDB que visa a atender as exigências de que todos os profissionais, atuantes da
Educação, tenham formação completa em nível superior. O programa foi criado pela Resolução
CONSUN nº 21/99, de 26 de outubro de 1999 e tem dinamizado a região porque tanto seu
corpo discente como docente são professores das municipalidades, da rede estadual e
universidades.
38

estado que atuavam voltadas à educação básica. Aqui é possível notar não
apenas a adesão massiva do público feminino às oportunidades ofertadas pela
universidade, como também o comprometimento da instituição com os ideais
políticos sociais de emancipação e crescimento da região, desenvolvendo e
ofertando projetos compatíveis com a região e o público atendido, ou
seja,suprindo a falta de profissionais qualificadas, chamando-as a dar
continuidade a formação e assim se manterem inseridas ao mercado de
trabalho.
De tal maneira, façamos referência aqui a Paulo Freire, em sua obra
Pedagogia da Autonomia (1996)26, onde a educação assumiria caráter
emancipatório, dando ideia de liberdade e proporcionando ao aluno, seja ele
homem ou mulher, a possibilidade de se desprender de seus opressores
externos e internos gerando assim a autolibertação. Esse modelo educacional
iria congregar o desenvolvimento do senso crítico, e no caso do ensino superior
aqui explorado por nós, a escolha de uma profissão ou formação, o que nos
remete mais uma vez aos ideais propagados pelo Monsenhor Petronilo
chamando sempre atenção para a importância da educação e do ensino
superior.
Voltando ao contexto de atuação da UPE-CMN e ao público atendido, a
oportunidade de emancipação levada aos homens e mulheres do interior faz-
sede fundamental importância se levarmos em conta o lento processo de
desenvolvimento das cidades e municípios do interior se comparado às
grandes capitais. Nessas regiões também se faz presente o forte processo de
manutenção de pensamentos e costumes, muitas vezes reflexo de uma
sociedade repressora, ao pensar o processo de emancipação do sujeito
feminino. Prova disso são as possibilidades limitadas de atuação direcionadas
ao público feminino antes da chegada da faculdade à região, já citadas com
base no IBGE.
Dessa maneira, a universidade vem colaborando para o
desenvolvimento local e das regiões próximas chamando o público a atuar no
campo educacional como professores ou ainda como pesquisadores. Nesse
processo, procuraremos investigar a manutenção do processo de feminização

26
FREIRE, P. (1996).
39

da profissão professora partindo da análise dos documentos de ata dos alunos


formados cedidos pelo setor de escolaridade da própria UPE-CMN. Será
identificada a demanda, por gênero, das diferentes licenciaturas oferecidas
pela instituição.
40

3. Demanda pelos cursos de licenciatura do Campus Mata Norte

Aqui serão apresentados em tabelas os números de formandos,


divididos por gênero, e suas procuras pelos cursos de Licenciatura do Campus
Mata Norte a fim de identificar o processo de feminização da docência nos
anos iniciais do século XIX, objetivo da pesquisa.

Tabela 1: Número de alunos entre homens e mulheres formandos nos


cursos de Licenciatura da UPE-CMN no ano de 2000.

Ano de 2000

1° semestre 2° semestre

Biologia 19 Mulheres / 6 Homens 24 Mulheres / 6 Homens

Matemática 7 Mulheres / 12 Homens 28 Mulheres / 19 Homens

Pedagogia 50 Mulheres / 4 Homens 12 Mulheres / 1 Homem

Letras Mulheres 44 / Homens 15 Mulheres 17 / Homens 3

Geografia
Mulheres 20 / Homens 5 Mulheres 8 / Homens 4
História
Mulheres 13 / Homens 15 Mulheres 8 / Homens 4

Tabela 2: Número de alunos entre homens e mulheres formandos nos


cursos de Licenciatura da UPE-CMN no ano de 2001.

Ano de 2001

1° semestre 2° semestre

Biologia 13 Mulheres / 5 Homens 34 Mulheres / 9 Homens

Matemática 5 Mulheres / 6 Homens 16 Mulheres / 13 Homens

Pedagogia 52 Mulheres / 0 Homens 13 Mulheres / 0 Homens

Letras
Mulheres 32 / Homens 20 Mulheres 8 / Homens 5
Geografia
Mulheres 22 / Homens 18 Mulheres 16 / Homens 6
História
Mulheres 14 / Homens 12 Mulheres 14 / Homens 16
41

Tabela 3: Número de alunos entre homens e mulheres formandos nos


cursos de Licenciatura da UPE-CMN no ano de 2002.

Ano de 2002

1° semestre 2° semestre

Biologia 24 Mulheres / 6 Homens 27 Mulheres / 10 Homens

Matemática 4 Mulheres / 11 Homens 13 Mulheres / 18 Homens

Pedagogia 46 Mulheres / 6 Homens


ATA NÃO ENCONTRADA
Letras Mulheres 10 /Homens 2
Mulheres 40 / Homens 10
Geografia
Mulheres 40 / Homens 16 Mulheres 4 / Homens 5
História
ATA NÃO ENCONTRADA Mulheres 6 / Homens 4

Tabela 4: Número de alunos entre homens e mulheres formandos nos


cursos de Licenciatura da UPE-CMN no ano de 2003.

Ano de 2003

1° semestre 2° semestre

Biologia 20 Mulheres / 11 Homens 30 Mulheres / 15 Homens

Matemática 2 Mulheres / 5 Homens 18 Mulheres / 26 Homens

Pedagogia 63 Mulheres / 2 Homens ATA NÃO ENCONTRADA

Letras
Mulheres 39 / Homens 11 Mulheres 7 /Homens 4
Geografia
Mulheres 36 / Homens 28 Mulheres 4 /Homens 2
História
Mulheres 30 / Homens 19 Mulheres 8 /Homens 6
42

Tabela 5: Número de alunos entre homens e mulheres formandos nos


cursos de Licenciatura da UPE-CMN no ano de 2004.

Ano de 2004

1° semestre 2° semestre

Biologia 28 Mulheres / 4 Homens 26 Mulheres / 5 Homens

32 Mulheres / 5 Homens

Matemática 19 Mulheres / 19 Homens 9 Mulheres / 11 Homens

Pedagogia 54 Mulheres / 3 Homens 2 Mulheres / 1 Homens

Letras
Mulheres 26 / Homens 12 Mulheres 3 / Homens 1
Geografia
Mulheres 26 / Homens 25 Mulheres 17 / Homens 3
História Mulheres 24 / Homens 19 Mulheres 4 / Homens 5

Tabela 6: Número de alunos entre homens e mulheres formandos nos


cursos de Licenciatura da UPE-CMN no ano de 2005.

Ano de 2005

1° semestre 2° semestre

Biologia 43 Mulheres / 9 Homens 13 Mulheres / 8 Homens

Matemática 24 Mulheres / 16 Homens 3 Mulheres / 8 Homens

Pedagogia 37 Mulheres / 1 Homens 3 Mulheres / 0 Homens

Letras
Mulheres 32 / Homens 8 Mulheres 4 / Homens 2
Geografia
Mulheres 17 / Homens 19 Mulheres 5 / Homens 2
História
Mulheres 14 / Homens 16 Mulheres 2 / Homens 3

Ao partirmos de uma breve observação dos dados disponibilizados é


possível relacionarmos afirmativamente, com a bibliografia inicialmente
analisada, que confirma a existência de um processo de feminização da
docência ao longo dos séculos XIX e XX mas também de uma supremacia do
sexo masculino em detrimento ao sexo feminino nas questões sociais e
43

culturais. Os dados aqui apresentados fazem referência aos primeiros anos do


século XXI o que nos permite falar em uma crescente mudança nos valores e
costumes da sociedade pernambucana associados a uma trajetória de luta, dos
sujeitos femininos, para conquistar novos espaços na esfera pública.

Contudo, o processo de feminização aqui identificado não pode ser


igualado com o que ocorreu no século anterior no Brasil, pois temos nesse
espaço de tempo o crescimento de uma série de políticas públicas27 voltadas
para as questões educacionais do país, as quais começaram a ser pensadas
ainda na década de 60 e passaram a ser encaradas como questão política
associadas ao desenvolvimento direto do país, que visando se desvencilhar do
período de retrocesso instalado pelo Regime Militar 28 mais tarde tratou de forjar
programas que chamassem a população às salas de aulas dos diferentes
níveis de ensino.

É nesse contexto de Regime Militar que a Faculdade Formação de


Professores irá surgir em Nazaré da Mata, fruto da união dos interesses do Pe.
Petronilo com o governador Paulo Guerra – o qual tratou de criar mais duas no
estado em Petrolina e Garanhuns – os quais identificavam os aspectos
favoráveis da região em abrigar a instituição e junto a isso a necessidade em
gerar mão de obra ao mesmo tempo que permitia e ampliava o acesso à
educação.

Dessa maneira, não podemos esquecer da localização da Universidade


de Pernambuco Campus Mata Norte. Comprometida com os cidadãos de
Nazaré da Mata e cidades próximas, a instituição tem a oportunidade de
atender um público alvo, formado massivamente por mulheres, como aponta os

27
“Pacote de leis, decretos-leis e pareceres relativos à educação objetivando garantir um
desenho de política educacional orgânica, nacional e abrangente.” O pacote de leis assegurava
a regulamentação da participação estudantil, normas de organização e funcionamento do
ensino superior e diretrizes e bases para os ensinos de 1° e 2° grau. Tais leis são apo ntadas
por Santos (2011) como contraditórias para o período do Regime Militar. (SANTOS, 2011,
passim).
28
Nesse momento, as questões sociais passaram a ser tratadas como questões políticas e o
discurso da segurança nacional cedeu lugar ao da integração social. Dentro de uma ideologia
compensatória e seguindo a orientação do Banco Mundial, um grande número de projetos
começaram a surgir como paliativos para a situação de pobreza da época, tais como: Polo
Nordeste, Edurural, Programas de Ações Socioeducativas e Culturais para População Carente
do Meio Urbano (PRODASEC) e do Meio Rural (PRONASEC), Programa de Educação Pré-
Escolar, entre vários outros, com a inevitável pulverização de recursos. (Ibid., 6).
44

dados, as quais muitas vezes encontram no exercício da docência – muitas já


portadoras do magistério – uma forma de alcançar independência e
emancipação, atuando em suas próprias cidades. Tal fato nos leva a pensar na
possibilidade de saturação da profissão nessas regiões do estado de
Pernambuco, na concorrência com o público masculino que também opta por
tais áreas, além do surgimento de vínculos informais gerando desvalorização
da profissão.

De acordo com as tabelas construídas e a análise quantitativa dos


documentos podemos identificar ainda outros aspectos acerca da feminização
da docência no campus Mata Norte, vejamos:

É notória a grande evasão do público masculino entre os anos


analisados – 2000 a 2005 – das salas de aulas do ensino superior público
voltadas para as licenciaturas. Os gráficos do Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Anísio Texeira, abaixo, apontam essa evasão masculina a nível
nacional e não apenas referente aos cursos de licenciatura. Aqui, relacionando
os dados com a bibliografia analisada, nos é pertinente questionar “para onde
foram/estão indo esses homens?”.

Figura 1 Sinopse Estatística da Educação Superior 2000 INEP/MEC


45

Figura 2 Censo da Educação Superior 2010

Com os índices de desenvolvimento econômico que atingiram o Brasil


associados à industrialização e urbanização ainda nos séculos XIX e XX,
citados por Guacira Lopes Louro (2016) e discutidos no primeiro capítulo,
abrem-se novas possibilidades de atuação para os homens distanciando-os da
profissão docente, das salas de aula e possivelmente redirecionando-os para
um ensino tecnicista e imediatista que possibilitassem uma rápida entrada no
mercado de trabalho. Tais números se colocam contra as crescentes políticas
públicas educacionais – lutas, movimentos, leis – as quais não estão
atendendo o público masculino de maneira equivalente ao feminino.

De volta à análise dos dados, é possível observar ainda que as turmas


de licenciatura em Matemática, curso que possui grande adesão masculina,
nas quais o número de mulheres formadas supera ou se iguala aos homens,
em sua maioria são turmas que contaram com alunos especiais ou
retardatários, ou seja, que colaram grau atrasados. Tal fato nos faz refletir a
respeito das infinitas problemáticas enfrentadas principalmente pelo sujeito
feminino na hora de encarar uma jornada de estudos e concluí-la, devendo
conciliá-la muitas vezes com as atividades maternas, conjugais e/ou do lar as
46

quais juntas formam as famosas duplas jornadas de trabalho cansativas,


desgastantes e que atingem o público feminino de maneira massiva.

Ainda em relação ao curso de Matemática, o fato dos homens se


apresentarem em maior número nos remete mais uma vez aos apontamentos
de Louro (2016)29 quando aponta a ausência do ensino da matemática,
aritmética e raciocínio lógico da grade curricular das moças desde o ensino
básico. A preocupação em não instruir as mulheres por volta do século XIX se
manteve presente no imaginário da sociedade – ora sendo reforçado, ora
sendo rebatido – gerando pouco estímulo e incentivo das mulheres para às
áreas exatas.

Em contrapartida, nas turmas dos cursos de Pedagogia ainda é possível


notarmos a presença massiva feminina, chegando a haver turmas formadas
por mulheres em sua totalidade, e é também um dos cursos que preenche
todas as vagas durante os dois semestres letivos da universidade, ou seja,
possui uma demanda maior que os demais cursos. A evasão masculina dos
cursos de Pedagogia pode ser associada a construção social, também vinda do
século XIX, de que “as mulheres tinham, “por natureza”, uma inclinação para o
trato com as crianças, que elas eram as primeiras e “naturais educadoras” 30,
reforçando assim o discurso de feminização da docência, na época
feminização do magistério.
Dessa maneira, os dados referentes ao número de alunos concluintes
dos cursos de licenciatura do Campus Mata Norte, nos permite notar a
existência e manutenção, ainda no século XXI, do processo de feminização da
docência identificado no Brasil por volta do século XIX. Porém entre os anos
investigados não é possível identificar se houve oscilações na demanda dos
cursos, pois os números são bastantes variados e entre os semestres não
existe uma regularidade no número de formandos, havendo quase sempre nos
primeiros semestres do ano letivo o maior número de formações.

29
LOURO, 2016, passim.
30
Ibdi, p 450.
47

Considerações Finais

Ao colocarmos em discussão a posição do sujeito feminino frente à


educação superior e suas trajetórias para chegar até aqui, vemos os caminhos
de retrocessos, lutas e muitas conquistas que entrelaçam a história das
mulheres no Brasil com a história da educação, tornando essa discussão
necessária e cada vez mais contemporânea.
Apesar da existência do processo de feminização da docência em
Nazaré da Mata, temos aqui o acesso à educação superior assumindo o
caráter de luta por emancipação e autonomia, independente de gênero, o que
representa, ainda no século XXI no Brasil, a ausência de uma educação
democrática, descentralizada e igualitária, porém com crescentes lutas frente
uma série de reivindicações da própria população, como foi o caso de Pe.
Petronilo Pedrosa, importante personagem para o período e contexto histórico
aqui estudado.
Com bases na observação dos dados, identificadas por meio do
cruzamento da análise quantitativa dos documentos com as leituras da
bibliografia tomada por pilar, foi possível identificar a existência do processo de
feminização da docência nos primeiros anos do século XXI em Nazaré da
Mata, sendo possível ainda falarmos em uma lenta porém notória e crescente
mudança no comportamento da população acerca da inserção das mulheres no
mercado de trabalho e no campo educacional, mas principalmente nas salas de
aula do ensino superior.

Esses números são reforçados no censo realizado pelo Instituto


Brasileiro de Geografia e Estatística, porém em uma escala muito maior
referente aos anos de 2001 a 2010. Os números do censo revelam uma
evasão do público masculino das salas de aula do ensino superior em todo e o
Brasil e também das salas de aula das licenciaturas. E automaticamente, uma
crescente procura do público feminino pelos cursos de nível superior.

As crescentes políticas educacionais associadas às lutas e conquistas


do sujeito feminino, juntas, trataram de levar as mulheres não apenas para as
salas de aulas mas também para novos espaços na esfera pública, espaço
tomado há muito tempo como puramente masculino. O processo de
48

feminização aqui identificado como manutenção de velhos pensamentos e


comportamentos sociais deve agora ser pensado, à luz de uma sociedade que
busca emancipar seus sujeitos por meio do acesso à educação e
profissionalização.

Tais fatos devem ser analisados com cuidado e criticidade, pois Guacira
Lopes Louro ao analisar o século XX, em suas obras, alerta para o fato de que
tais avanços conquistados pelo público feminino na época – acesso à estudo e
trabalho – também foram uma forma das camadas mais influentes, de uma
sociedade patriarcal, manobrar as mulheres, mantendo-as apenas naquele
patamar socialmente reservado para elas e do interesse de outras camadas.
Esse estudo nos permite pensar ainda em uma série de outras questões
envolvendo gênero e docência, as quais permanecem em aberto e se
relacionam intimamente com a existência e continuidade desse processo de
feminização da docência, tornando o Campus Mata Norte um ilimitado e rico
campo de pesquisa.
49

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51

UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO CAMPUS MATA NORTE. Graduação.


Atas de Colação de Grau (cópias). Nazaré da Mata, PE, 2000…

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