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CORRUPÇÃO

Whistleblowing: o cidadão colaborador a partir do


anteprojeto de Moraes
Países como os Estados Unidos, Itália, Chile e Peru já incorporaram tal mecanismo às suas legislações

RODRIGO SÁNCHEZ RIOS


ALLIAN DJEYCE RODRIGUES MACHADO

08/06/2018 15:44

Ministro do STF Alexandre de Moraes | Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF

O anteprojeto capitaneado pelo ministro Alexandre de Moraes, pensado para “aperfeiçoar


o combate à criminalidade organizada”, dentre outros crimes, e para “agilizar e
modernizar a investigação criminal e a persecução penal”, traz novamente à tona a
discussão acerca da gura do cidadão colaborador. De nindo-o como aquele que
denuncia “às autoridades competentes, de boa-fé e com motivos razoáveis, quaisquer
feitos relacionados com o delito” da Lei 12.850/2013, busca inserir este instituto ao
ordenamento jurídico brasileiro sob forma de um novo dispositivo na referida normativa,
o artigo 14-A. A intenção, possivelmente, seja ir além tanto da colaboração premiada,
quanto do sistema de proteção à testemunha de nido pela Lei 9.807/99. Em especial,
porque cria um incentivo ao oferecimento, aos órgãos de persecução, de informações
relativas ao funcionamento de associações contrárias ao Direito, facilitando a descoberta
de ilícitos independentemente de investigação. No entanto, perdeu a oportunidade de
avançar, pois restringe sua aplicabilidade aos crimes relacionados à Lei de organizações
criminosas.

Pode-se dizer que tal iniciativa, de aplicabilidade restrita, tem inspiração nos sistemas de
Whistleblowing, termo de origem anglo-saxã empregado para se referir a programas de
denunciação interna, cujo objetivo é sistematizar, incentivar e proteger aqueles sujeitos
que, integrando o sistema laboral de qualquer pessoa jurídica, de direito público ou
privado, e veri cando a prática de um ilícito de qualquer ordem, o reportam à autoridade
competente. Países como os Estados Unidos, Itália, Chile e Peru já incorporaram tal
mecanismo às suas legislações, observando as recomendações de tratados
internacionais, dentre os quais, a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção.

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A temática, no Brasil, não é inédita. Em 2015, a proposta de lei nº 362 foi apresentada sob
a justi cativa de fomentar e aprimorar instrumentos que “incentivem uma cultura de
combate à corrupção”. O projeto, arquivado em abril de 2016, pretendia criar um
programa de proteção aos Whistleblowers, denunciantes de irregularidades perpetradas
no interior da Administração Pública ou de empresas privadas. Exigia, assim como a
atual proposição, que a denúncia fosse impelida por “boa fé” e baseada em “motivos
razoáveis”, compreendidos como indícios relevantes de ilegalidades ou irregularidades.

A matéria foi também lançada no âmbito do o Projeto de Lei nº 4.850, de 2016,


conhecido por veicular as chamadas 10 medidas contra a corrupção. Com fulcro na
experiência comparada, a iniciativa teve dois objetivos. De um lado, garantir que os
relatos fossem apresentados mediante a proteção de identidade. De outro, estabelecer
um sistema de recompensas sem ônus para o Estado, porquanto os valores recuperados
a partir da informação prestada seriam utilizados como contraprestação ao reportante,
como reproduzido pela alteração legislativa sugerida em maio de 2018.

Este anteprojeto, pensado para o combate ao crime organizado, trata da colaboração


para denúncia de quaisquer feitos relacionados aos delitos da Lei 12.850/2013. Nada
obstante, a incorporação de uma legislação Whistleblowing poderia ensejar grandes
ganhos não apenas no enfrentamento destes delitos, desde que sua aplicabilidade fosse
ampliada ao âmbito corporativo. Talvez possa ser esse o ponto a merecer maiores
re exões na proposta apresentada pelo membro do STF.

A crescente complexidade das organizações empresariais tem tornado cada vez mais
difícil a prevenção de condutas ilícitas no ambiente intraempresarial. Suas opções de
ordenação própria têm apresentado embaraços de forma crescente, não somente à
individualização e imputação da responsabilidade penal, mas principalmente à
descoberta da própria infração. Neste prisma, fala-se de um relevante mecanismo de
prevenção técnica, de índole político criminal extrapenal, capaz de auxiliar a persecução
estatal.

Porém, para alcançar a efetividade que deles se espera nesta conjuntura de aplicabilidade
ampliada, os sistemas de Whistleblowing não podem estar fundamentados unicamente
na previsão de recompensas aos cidadãos colaboradores ou na garantia do sigilo da
fonte da informação. É preciso pensar em uma segura estrutura de proteção aos
denunciantes, principalmente àqueles considerados os mais vulneráveis nesta relação:
os trabalhadores privados.

O projeto de lei nº 362/2015, nesta senda, citava que nenhum empregado poderia ser
responsabilizado civil, penal ou administrativamente por revelar informações à autoridade
competente. Trata-se de proteção relevante, uma vez que afasta uma inibição decorrente
do medo de represálias em face da denúncia apresentada. No núcleo das relações
trabalhistas propriamente ditas, assegurava a impossibilidade de “demissão,
rebaixamento de função, transferência imotivada, punição, perda de benefícios ou
qualquer outra espécie de represália” (art. 3º, §1º), instituindo sanções à empresa que
ignorasse essas recomendações, punições que poderiam variar desde a reversão do ato,
à aplicação de multa (com teto máximo de 10.000 – dez mil – salários mínimos) e, no
caso da Administração Pública, à responsabilização administrativa do superior. São
garantias não reproduzidas no anteprojeto contra o crime organizado apresentado ao
Congresso Nacional, até mesmo em razão do âmbito de alcance que lhe foi conferido.

Um exemplo do potencial prático da utilização do instituto do denunciante cívico está no


âmbito das pessoas jurídicas de Direito privado, porquanto especialmente vulneráveis às
fraudes praticadas em concurso de agentes. Cite-se a necessidade de levá-lo em
consideração no planejamento de seus sistemas de Compliance, principalmente em
relação aos relacionamentos com terceiros (ex. fornecedores). Aqui, outra vez a
denunciação interna se apresenta como um recurso mais e caz de detecção, pois
enquanto os fraudadores que agem sozinhos têm maior probabilidade de serem
identi cados pela auditoria interna, acidentalmente ou por ocasião de uma revisão
gerencial, os partícipes somente são expostos por delações e denúncias anônimas, “o
que sugere que outras formas de detecção possam ser ine cazes dentro de esquemas
de conluio razoavelmente grandes”.1

Uma expansão dos contornos atribuídos à gura do cidadão colaborador, no entanto,


deve ser analisada à luz dos sucessos na experiência comparada, mas com uma peculiar
atenção à realidade brasileira, ressaltando-se que a aplicação automática e sem ltros
necessários de adaptação tornará a medida meramente simbólica, com alcance restrito
a uma promoção publicitária. Sob outro vértice, estes sistemas de denúncia demandam
uma aplicação conjunta a fatores que incentivem positivamente a postura pela
colaboração. Aqui, o incentivo positivo a partir da promessa de recompensas nanceiras
deve ceder lugar para se priorizar o incentivo pela segurança jurídica, é dizer, por mostrar
ao possível colaborador salvaguarda legal em face de quaisquer represálias,
compensando-o pelos custos concretos eventualmente suportados se optar pela
cooperação em prol do interesse público.

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1 “Este ponto é re etido no fato de que uma quantidade signi cativa de fraudadores (14
por cento) foi detectada por acidente, ao invés de serem detectados por controles
internos e monitoramento. […] ‘Os métodos mais e cazes de detecção são mecanismos
de denúncias anônimas e delações, e não auditoria interna nem revisão gerencial. Os
fraudadores potencializados são geralmente os mais difíceis de se capturar,’ diz Jimmy
Helm, Head de Forensic, KPMG Europa Central e Leste Europeu”. (ps. 10 e 13). Disponível
em: https://assets.kpmg.com/content/dam/kpmg/br/pdf/2016/09/br-per l-do-
fraudador-2016.pdf. Acesso em: 24 de maio de 2018.

RODRIGO SÁNCHEZ RIOS – Doutor em Direito Penal e Criminologia pela Università degli studi di Roma III – La
Sapienza. Professor de Direito Penal da PUCPR. Advogado Criminalista.
ALLIAN DJEYCE RODRIGUES MACHADO – Mestre em Direito pela PUC-PR. Advogada Criminalista

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