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Mestrado em Estudos Medievais: Economia e Sociedade
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Anónimo, Subsídios para o estudo da História da Literatura Portuguesa, Edição com revisão, prefácio e
notas de Mendes dos Remédios – Chronica do Condestabre de Portugal Dom Nuno Alvarez Pereira.
Coimbra: F. França Amado – Editor, 1911.
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que ele não existe, poderá tornar-se frustrante. E foi o que aconteceu! As informações
recolhidas sobre ordens militares foram de certo modo escassas; contudo, deu-nos a
conhecer que o Condestável nunca foi Prior do Crato, nem tão-pouco integrado na Ordem
do Hospital, – como tal como era denominada e mais conhecida entre nós – nem mesmo
como simples Cavaleiro; conquanto tenha nascido e crescido no seio desta Ordem,
sobretudo, na casa de seu pai, em Flor da Rosa, onde terá vivido pelo menos até aos 13
anos, tendo aí aprendido as artes militares e ganho o gosto pela leitura, sobretudo pelos
livros de Cavalaria. Com essa idade o Condestável torna-se escudeiro da rainha D.
Leonor, por uma informação interpretativa de grande valia para a defesa do reino; ao
avaliar que o poderio militar de Henrique II de Castela quando caminhava sobre Lisboa
(Segunda Guerra Fernandina, Janeiro de 1373), iam “mal acaudellada: e que pouca gente
com bom capitão bem acaudellada os poderia desbaratar”2. Esta simples e importante
informação catapultou-o para a ribalta do mundo militar português.
Tal como já referi, o Condestável nunca pertenceu a nenhuma Ordem Militar;
contudo, esteve sempre acompanhado por várias Ordens Militares, especialmente duas.
Uma delas por laços de parentesco, outra por razões sentimentais: Ordem do Hospital e
Ordem de Avis. Quanto à primeira, o factor convergente verifica-se pelo facto de o seu
pai ter sido Prior dessa Ordem assim como o seu irmão, numa segunda fase apoiou de
uma forma incondicional o Mestre da Ordem de Avis – futuro rei D. João I. Se por um
lado temos esta afinidade parental e sentimental, por outro, temos um inimigo de
estimação: o Mestre da Ordem de Santiago de Castela, D. Fernando Ançores e seu filho
D. João Ançores.
Em jeito de conclusão podemos observar através do que nos informa a Crónica do
Condestável que, as Ordens Militares sempre estiveram presentes na vida de Nuno
Álvares Pereira, embora nunca fizesse parte de nenhuma, contou sempre com ajuda
dessas ordens; durante o reinado de D. Fernando (guerras Fernandinas) até quase ao final
do reinado de D. João I (especialmente na crise de 1383-85 e a conquista de Ceuta). Por
fim no ano de 1422, o Condestável entra para o Mosteiro de Santa Maria do Carmo em
Lisboa que ele próprio tinha fundado pelo ano de 1389; que não sendo uma ordem militar,
mas sim apenas religiosa e, que era ocupado pelos frades carmelitas de Moura a mando
do mesmo em 1392. Morre em 1431 aos 70 anos nesse Mosteiro, onde é reconhecido pelo
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Anónimo, Subsídios para o estudo da História da Literatura Portuguesa, Edição com revisão, prefácio e
notas de Mendes dos Remédios – Chronica do Condestabre de Portugal Dom Nuno Alvarez Pereira. …
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rei D. João I e o Infante D. Duarte que lhe mandaram fazer exéquias tão honradas que
nem em Castela fizeram a outra pessoa do estado.
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João Álvares, Obras, Edição crítica com introdução e notas de Adelino de Almeida Calado, vol. 1:
Trautado da Vida e Feitos do muito Vertuoso Sor Iffante D. Fernando. Coimbra: 1960.
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por pouco que o Infante não nascia, devido a problemas de saúde da mãe no período do
parto; tendo mesmo o rei o xarope na mão, para que a rainha pudesse abortar e salvar-se
de tal agonia por que estava a passar; mas Deus encarregou-se de levar a bom porto esta
dificuldade. Durante a sua curta vida, a Crónica informa-nos que o Infante sempre foi
uma pessoa melancólica, extremamente devota e doente. Essa melancolia ao que parece
fazia parte de dois aspectos; primeiro: nunca tivera a oportunidade de mostrar o seu valor
numa batalha, ao contrário dos irmãos – excepto D. João por ser ainda muito jovem – que
já tinham no seu currículo a conquista de Ceuta em 1415; segundo: uma certa indiferença
ou mesmo desigualdade que se nota por parte dos pais e depois, por parte do irmão mais
velho D. Duarte. Desigualdade essa que recai sobre finanças; ou seja, não tinha dinheiro
para pagar aos seus criados, enfim… era pobre patrimonialmente para um filho de um rei.
D. Duarte em 1434 atribui-lhe a administração da Ordem de Avis, tal como podemos
verificar através da Crónica: “(…) este infante seu filho [de D. João I] não tinha outra
terra senão a villa de Salvaterra de Magos de jure e herdade, e Atouguia da Balea em
sua vida e tinha delRey de seu assentamento cada anno boa renda. E em começando de
Reinar o serenissimo e virtuoso Rey dom Duarte primeiro deste nome e irmão do santo
Infante, se finou o mestre da cavalaria do mestrado da ordem de Avis [D João Rodrigues
Sequeira]. E deu lhe elRey a governança deste mestrado.”4. E assim, as principais Ordens
Militares ficaram a ser administradas por infantes da dinastia de Avis, a saber: Infante D.
Fernando ficou com a Ordem de Avis, Infante D. Henrique, com a Ordem de Cristo e o
Infante D. João com a Ordem de Santiago. Salienta-se a título de curiosidade que por esta
altura o Prior da Ordem do Hospital (Prior do Crato) era o D. Frei Nuno de Gois.
Contudo, sendo o Infante D. Fernando o administrador da Ordem de Avis, não era
sinónimo de riqueza; faltava-lhe algo. Queria, quiçá, provar aos irmãos – já que vivia na
sombra deles e do pai –, que poderia participar ou mesmo comandar numa campanha
militar, para obter legitmamente uma recompensa para melhorar a sua situação financeira.
Mas isto, provavelmente era o que lhe passava na alma, pensamos nós. Portugal era
demasiado pequeno para ele; ou, ele não se esforçou o suficiente para tornar o seu país
como um lar perfeito; entenda-se “perfeito” como economicamente rentável para a casa
dele. Intimidou o seu irmão e rei, dizendo-lhe que abandonaria o país, por falta de
dinheiro; a Crónica dá-nos conta disso: “E como elle não tinha que dar aos seus tudo o
que aviam mester, nem com que os agasalhar: cuidou deixar tudo isto, e de se ir viver ao
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João Álvares, Obras, Edição crítica com introdução e notas de Adelino de Almeida Calado, vol. 1:
Trautado da Vida e Feitos do muito Vertuoso Sor Iffante D. Fernando. Coimbra: 1960. Cap. 9, p. 141.
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Reino de Inglaterra, tendo que segundo o grande parentesco que com elRey de Inglaterra
tinha o receberia de boamente (…) ”5. O que se faz para se obter fama e dinheiro! Mas
quis o destino traçar outros planos, ou melhor, D. Duarte não permitiu, que saísse de
Portugal. Após diálogos, reuniões, chantagens e questionários à mistura, D. Duarte lá
começou a empreitada de Tanger. E o Infante D. Fernando, por fim, sempre conseguiu o
que queria: mais terras em solo português; atentamos a esta passagem na Crónica: “(…)
[Informa o Infante D. Fernando] Todauia socorrome a V.A. a que peço tome essa pouca
terra que de vos tenho, e minha baixella e meus adereços (…) [ao que o Rei D. Duarte
lhe responde] (…) Mas prazerá a Deos que vos tornará muito cedo a estes Reinos, e
vereis quantas merces, e acrescamentos recebereis de mi.”6. Palavras para quê! O Infante
tinha acabado de assegurar o seu futuro patrimonial, mas, não chegou a tempo de o
usufruir.
Como breve conclusão à análise das obras supra citadas e colocando em evidência
as Ordens Militares, notei um certo vazio na sua abordagem, quer a nível quantitativo,
quer qualitativo. Se por um lado, não obtive uma descrição com rigor de elementos
quantitativos pela qual uma Ordem é composta, assim como o seu funcionamento do
ponto de vista institucional: património, gestão ou mesmo sociabilização; por outro lado,
a parca informação que obtive nas Crónicas não gerou “sumo” suficiente ao ponto de
entender toda a rede organizativa de uma Ordem Militar. Mas tenho a consciência, que
foram organizações extremamente importante no âmbito do desenvolvimento,
crescimento, organização e defesa nacional. Não obstante, nas tabuas7 abaixo
mencionadas, decidi colocar os assuntos mais relevantes no que concerne à actividade
relacionada com elementos das diversas Ordens Militares.
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João Álvares, Obras, Edição crítica com introdução e notas de Adelino de Almeida Calado, vol. 1:
Trautado da Vida e Feitos do muito Vertuoso Sor Iffante D. Fernando. Coimbra: 1960. Cap. 9, p.142.
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João Álvares, Obras, Edição crítica com introdução e notas de Adelino de Almeida Calado, vol. 1:
Trautado da Vida e Feitos do muito Vertuoso Sor Iffante D. Fernando. Coimbra: 1960. Cap. 10, p.145.
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Estas entradas recolhidas e patentes nas crónicas, serão pois, o “sumo” mais relevante, onde podemos
obter a respectiva natureza sociológica do desenrolar de um ou vários elementos que compõem a espinha
dorsal de uma Ordem Militar; portanto, a sua boa interpretação será primordial para a compreensão de
factos que retratam o individuo e a nossa História de Portugal. A não colocação de outras entradas
mencionadas nas crónicas prende-se, sobretudo, pela irrelevância que a mesma assim nos confere.
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