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CONTEXTO HISTÓRICO
A Teologia do livro de Levítico liga a ideia de santidade à vida cotidiana. Ela vai
além do assunto de sacrifício, embora o cerimonial do sacrifício e a obra dos
sacerdotes sejam explicados com grande cuidado. O conceito de santidade afeta não
somente o relacionamento que cada indivíduo tem com Deus, mas também o
relacionamento de amor e respeito que cada pessoa deve ter com o seu próximo. O
código de santidade permeia a obra porque cada indivíduo dever ser puro, pois Deus
é puro e porque a pureza de cada indivíduo é a base da santidade de toda a
comunidade do concerto. O ensinamento de Jesus Cristo: “Portanto, tudo o que vós
quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os
profetas”.
Conforme é indicado no seu nome, “Levítico”, e embora nunca se afirme que
Levítico tenha sido escrito por Moisés, as evidências internas de que seus conteúdos
foram mediados por ele ao povo são bastante fortes. O livro inicia com a frase
“chamou o SENHOR a Moisés” (Lv. 1.1), e a expressão “disse o SENHOR a Moisés”
(acrescentada em algumas ocasiões por “e a Arão”) é recorrente em muitos pontos
de transição no texto (p. ex., Lv. 4.1; 5.16; 6.1 > 8., 19, 24; 11.1; 12.1; 13-1; 14.1,
33; 15.1; 16.1; 19.1; 20.1; 21.1; 24.1; 27.1, entre outras passagens). O livro
salienta a função dos sacerdotes de Israel, aqueles membros da tribo de Levi que
Deus escolheu para servir em Seu santuário (Dt 10. 8). Muitos cristãos, por causa
disso, imaginam que Levítico é uma espécie de Manual Técnico que fornecia
orientação aos sacerdotes antigos sobre os detalhes de cerimônias que não são mais
observadas pelo povo de Deus; o que justificaria a visão irrelevante que se tem do
mesmo nos dias de hoje, porém, sua mensagem era originalmente dirigida a todos os
crentes (Lv 1. 2), e suas verdades continuam revestidas de significação primária para
o povo de Deus. Afinal, o livro constitui a primeira revelação detalhada do modo pelo
qual Deus restaura a Si mesmo homens perdidos. Tanto a atividade redentora de
Deus como a resposta da apropriação que se espera da parte do homem são suma-
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riadas no versículo chave: “Ser-me-eis santos, porque eu, o Senhor, sou santo, e
separei-vos dos povos, para serdes meus” (20. 26).
DATA
Os sábios datam o Livro de Levítico da época das atividades de Moisés (datando
mais antigamente no séc. XV a.C. e a última alternativa no séc. XII a. C.) até a época
de Esdras, durante o retorno (séc. VI a.C.). A aceitação da autoria mosaica para
Levítico dataria sua escrita por volta de 1445 a.C. O livro descreve o sistema de
sacrifícios e louvor que precede a época de Esdras e relembra a instituição do sistema
de sacrifícios. O livro contém pouca informação histórica que forneceria uma data
exata.
GÊNERO
A grande proporção da lei em Levítico não deve obscurecer o fluxo narrativo do
livro. O episódio inicial localiza a cena na tenda da congregação, onde Moisés ouve a
voz de Deus instruindo-o sobre como os Israelitas deveriam agir. Todas as leis do
livro possuem essa linha narrativa.
Também existem no livro, embora curtas, narrações não legislativas (c. 8-10,
16). Tudo isso indica que Levítico é uma continuação do gênero do Pentateuco como
um todo, ou seja, primariamente uma história instrutiva. Pretende-se informar o
leitor sobre o que ocorreu no passado, no caso oferecendo o contexto histórico para a
lei. Na realidade “o relato existe em função das leis que ele estrutura” (p. 66).
ESTRUTURA
Levítico pode ser resumido da seguinte forma:
I. Leis sacrificiais (Lv 1.1—7.38)
A. Instrução para a expiação (1.1—6.7)
1. A lei do holocausto (1)
2. A lei da oferta de cereais (2)
3. A oferta da comunhão (3)
4. A lei da oferta pelo pecado (4.1—5.13)
5. A lei da oferta pela culpa (5.14—6.7)
B. Instruções aos Sacerdotes (6.8—7.38)
II. Narrativa sacerdotal (8.1— 10.20)
A. O início formal do sacerdócio (8.1—9.24)
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B. Os limites no sacerdócio - Nadabe e Abiú (10)
III. Leis para proteger a pureza ritual (11.1— 16.34)
A. Os animais que se devem comer e os que não se devem comer (11)
B. A purificação da mulher depois do parto (12)
C. As leis acerca da lepra (13— 14)
1. Julgando a doença (13)
2. Purificando a doença (14)
D. Imundícias do homem e da mulher (15)
E. O Dia da Expiaçao (16)
IV. Código de santidade (17—27)
A. As leis (1 7 J—24.23)
1. A proibição de comer sangue (17)
2. Casamentos ilícitos (18)
3. A repetição de diversas leis (19—20)
4. Leis acerca dos sacerdotes e sacrifícios (21—22)
5. As festas solenes do Senhor (23)
6. A lei do tabernáculo [a lei acerca das lâmpadas] (24.1-9)
7. A pena do pecado de blasfêmia (24.10-23)
8. O ano sabático (25)
B. Bênçãos e maldições (26)
1. A recompensa da obediência (26.1-13)
2, O castigo da desobediência (26.14-46)
C. Ofertas ao Senhor (27)
MENSAGEM TEOLÓGICA
O contexto do Antigo Testamento:
A santidade de Deus. A maior parte de Levítico contém leis e rituais a
respeito da adoração formal de Israel. Entre outros tópicos, existe uma descrição do
rito sacrificial e leis que dizem respeito à dieta e à pureza sexual. Antes que os
detalhes gerem confusão, é importante discernir, por debaixo de todas as leis e os
principais conceitos de pureza e limpeza, a doutrina central do livro, ou seja, a de que
Deus é santo. Como motivação por trás das várias ordens permanece a declaração
divina: “Eu sou o SENHOR, vosso Deus” (Lv 18.2,4,5; 19.3-4,10; 20.7), Além
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disso, Deus não está somente presente, ele é santo: “portanto, vós sereis santos,
porque eu sou santo” (11.45: ver também 19.2; 20.26).
Levítico ensina, desse modo, que Deus está separado do mundo existente, e
que somente os que também são libertos da mácula do pecado são permitidos na sua
presença.
Nas páginas seguintes, observaremos como isso funciona nas três principais
áreas de Levítico: o sistema sacrificial, o sacerdócio e a pureza. Embora essa não
seja uma análise exaustiva de todos os conteúdos de Levítico, ela nos dará uma
indicação da mensagem teológica global do livro.
A oferta pelo pecado (Lv 4.1—5.13; 6.24-30). A oferta pelo pecado, algumas vezes
chamada de oferta pela purificação, obviamente tem a ver com a remissão do
pecado. Como já visto, porém, esse não é o único sacrifício com função expiatória. A
distinção aqui se refere ao fato de ser destinado aos que pecaram de forma não
intencional. Alguns exemplos de pecados não intencionais podem ser encontrados em
5.1-6 e uma distinção entre pecados não intencionais e “arbitrários” pode ser
verificada em Números 15.22-31.
O tipo de sacrifício no caso depende do status do ofensor. Em escala
decrescente, o sacrifício é para:
O sacerdote (4.3-12)
A comunidade israelita (v. 13-21)
O líder da comunidade israelita (v. 22-26)
O israelita leigo (v. 27-35)
A oferta pela culpa (Lv 5-14—6.7; 7.1-10). Essa oferenda tem muito em comum
com a oferta pelo pecado. Os casos referidos à primeira, no entanto, são restritos as
ofensas contra as “coisas de Deus”, quer dizer, as sancta [as coisas sagradas]
(Milgrom). Esse sacrifício exige um pagamento adicional de vinte por cento como
oferta pela culpa. Essa característica levou Milgrom e Wenham a denominar esse
sacrifício de “a oferta pela reparação”.
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Muitas das leis em Levítico foram dirigidas aos sacerdotes de modo que eles
pudessem preservar a sua santidade (Lv 21—22). Também fazia parte das suas
obrigações ensinar a lei aos Israelitas (2Cr 17.7-9) e, assim, proteger a santidade de
Deus no acampamento. Como disse Deus a Arão, em Levítico 10.11, “ensinardes aos
filhos de Israel todos os estatutos que o SENHOR lhes tem falado por intermédio de
Moisés”.
Assim, em poucas palavras, podemos resumir a função principal do sacerdócio
de acordo com Levítico: eles deviam proteger a santidade de Deus no acampamento.
Pureza. Uma preocupação principal das leis de Levítico está relacionada com a
pureza cultual, também conhecida como purificação. Dieta (c. 11), parto (c. 12),
doenças de pele e mofo (c. 13-14), e impurezas (c. 15) são alguns entre os muitos
tópicos tratados no livro com relação à purificação.
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Deus estava presente com Israel, a pureza do acampamento tinha que ser
mantida. Essas leis indicavam a Israel e aos guardiões da santidade de Deus, os
sacerdotes, como manter o acampamento puro.
No centro do acampamento estava o tabernáculo, no qual a arca, o símbolo
máximo da presença de Deus, era mantida. A partir desse ponto, havia níveis
diferentes de santidade representados, entre outras coisas, pela exclusão de certas
classes de pessoas (v. Fig. 2, p. 71).
Qualquer um podia morar fora do acampamento: era o reino dos impuros e dos
gentios. Somente os israelitas eram autorizados a morar no acampamento. Os Levitas
funcionavam como um anteparo entre o acampamento em geral e o tabernáculo,
enquanto apenas aos sacerdotes era permitido entrar no tabernáculo propriamente
dito. Levítico 16 fala da única vez ao ano em que o sumo sacerdote poderia sozinho ir
ao lugar mais santo de todos para executar um rito de expiação.
O ponto em discussão aqui, porém, diz respeito à distinção entre o puro e o
impuro. O sacerdote era responsável por diferenciar os dois e saber quem poderia
morar no acampamento e quem deveria ficar fora do acampamento para não ofender
a Deus.
Muitas explicações têm sido oferecidas sobre a razão por trás das leis de pureza
em Levítico. Uma interpretação favorita é que Deus estava protegendo a saúde do
povo de Israel através dessas leis. Ele os estava protegendo, por exemplo, dos
defeitos de nascença decorrentes do incesto pelas leis em Levítico 18 e 20. Assim
como os defendia de doenças através das leis kosher em Levítico 11. Embora possa
haver alguma verdade nessa abordagem, ela não fornece uma razão holística para
interpretar as leis. Algumas das comidas não são insalubres. Entre outros motivos
(Wenham, p. 166-7), o fato de Jesus Cristo declarar tais alimentos puros indica que,
neste ponto, está em jogo mais do que higiene.
Uma segunda interpretação comum dessas leis centra-se no esforço divino em
manter Israel longe da idolatria. Porém, nem tudo da lei pode ser explicado assim.
Talvez o símbolo de animal mais poderoso em Canaã naquele período fosse o touro,
que os adoradores de Baal adotavam para simbolizar seu ídolo. Aceita semelhante
interpretação do culto israelita, seria difícil entender porque o touro não foi banido de
Israel.
EM DIREÇÃO AO NOVO TESTAMENTO
Qual é o valor que perdura Levítico? Essa questão tem incomodado os leitores
judeus e cristãos ao longo dos séculos. Para os primeiros, a perda do templo suscita o
problema, mas a continuação das leis da dieta (kashrut) e a esperança de algum dia
a adoração no templo ser retomada apresentam uma resposta ao menos parcial.
Para o cristão, Hebreus fornece orientação na medida em que apresenta Jesus Cristo
como o Sumo Sacerdote perfeito que se oferece em sacrifício perfeito. Como dito em
Hebreus 9.26:
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Ora, neste caso, seria necessário que ele tivesse sofrido muitas vezes desde a
fundação do mundo; agora, porém, ao se cumprirem os tempos, se manifestou
uma vez por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado.