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A FORÇA DA SUA RESSURREIÇÃO

1. Seja qual for o texto de Paulo hoje lido e escutado,


neste dia 2 de novembro, Comemoração de Todos os
Fiéis Defuntos, é sempre de uma enxurrada de vida nova
que se trata, mas que, a fazer fé no que se sente, ouve e
vê, já não nos diz nada, não fala para nós, nenhuma
fome nos mata, nenhuma sede nos apaga, não responde
a nenhuma inquietação nossa. E, todavia, os textos de
Paulo que hoje lemos, quer provenham das Cartas aos
Coríntios ou aos Tessalonicenses, eram ansiosa e
atentamente recebidos e respondiam às questões que se
punham os cristãos das comunidades dos anos 50: o que
acontece com a nossa morte? O que vai acontecer
quando Cristo Ressuscitado vier ao nosso encontro? E
como pode a humanidade das gerações que viveram e
morreram antes de Jesus ter aparecido a calcorrear os
caminhos da Palestina beneficiar da salvação por Ele
trazida e oferecida?

2. Em boa verdade, não parece credível que as questões


acima formuladas façam parte das preocupações das
pessoas que hoje frequentam as igrejas ou visitam os
cemitérios das nossas comunidades paroquiais. Tanto
quanto nos podemos aperceber, as questões que as
gentes de hoje transportam têm mais a ver com a
situação daqueles que a morte separou de nós: o que
permanece da relação que tínhamos com eles? O que
permanece sobretudo da amizade, do amor, do carinho
que se partilhava quando eles ainda estavam connosco?
Haverá alguma maneira, alguma possibilidade de lhes
permanecermos fiéis? Poderemos, porventura, fazer algo
mais do que colocar estas flores sobre a sua campa?

3. Podemos, com certeza, pôr tranquilamente de parte a


imagem do toque da trombeta e dos restos mortais a
saírem dos túmulos. Mas também podemos abandonar
sem medo o medo quotidiano da morte que uma certa
pregação medieval e moderna incutia nas pessoas. É
sabido, de resto, que esta comemoração de todos os fiéis
defuntos é de origem medieval e monástica, e acusa, por
vezes, traços de piedade duvidosa e supersticiosa,
acentuados ainda por outras estranhas ideologias que, de
forma difusa, dissimulada e até violenta, invadem hoje o
nosso quotidiano.

4. Estranha Boa Nova que amedrontava para levar à


conversão. Conversão a que deus?, temos de nos
perguntar. Porque não era seguramente àquele Deus a
quem Jesus tratava e nos ensinou a tratar por Pai. E a
força explosiva dos textos de Paulo hoje lidos não está
nos acessórios, mas reside toda no nosso conhecimento
pessoal, experimental (ginôskô / yadaʽ), de Jesus Cristo e
da força (dýnamis) da sua Ressurreição (Filipenses 3,8 e
10). «Em verdade, em verdade, vos digo: “Quem escuta
a minha palavra e acredita naquele que me enviou, tem a
vida eterna, e passou da morte para a vida”» (João
5,24).

5. Sim, esta Palavra nova que Jesus faz irromper na


nossa vida faz-nos saber que o peso e o medo da morte
já passou, afinal, para trás de nós, de tal modo que já
não pode ameaçar apagar, mais dia, menos dia, como
uma esponja, a vida que vamos construindo com o amor
novo que nos vem do Ressuscitado, pois é este amor que
nos faz passar da morte para a vida (1 João 3,14). E
mesmo quando o sofrimento cai sobre nós como uma
avalanche, transformando a nossa vida num insuportável
pesadelo, como sucede com Job, seremos ainda levados
a descobrir que não é Deus que nos persegue e fustiga,
pois Ele permanece ao nosso lado, dado que é Ele o
nosso «familiar mais próximo», que é o nosso «redentor»
(goʼel) (Job 19,25), aquele a quem cabe o dever, a
obrigação, de velar sempre por nós em todas as
situações difíceis da nossa vida. Os pretensos e falsos
amigos de Job tudo fazem para o fazer calar. Vão de
argumento em argumento. Só Deus se vem
verdadeiramente sentar ao nosso lado, põe a sua mão de
Pai sobre o nosso ombro (Job 9,33), carrega sobre si as
nossas dores e a nossa morte (Isaías 53,4; Mateus 8,17;
Hebreus 2,14-15), limpa os nossos olhos e o terreno todo
à nossa frente, dá-nos a mão para a liberdade,
libertando-nos também do temor da morte (Hebreus
2,15).

6. Estranha aberração que a Igreja tenha durante tanto


tempo pregado a resignação, a aceitação do sofrimento,
mas também da injustiça e da desigualdade. Sim, mas a
fé na ressurreição é esta força (dýnamis), esta alavanca,
que mantém Job de pé, e o leva a recusar até ao fim a
resignação, a demissão, a ideia de um Deus que ficaria
satisfeito com a injustiça suportada.

7. Faz-nos bem sentar hoje com tempo na página do


Evangelho (Mateus 11,25-30). As poucas linhas que a
atravessam guardam o segredo mais inteiro de Jesus. Há
quem considere estas breves linhas como o mais belo e
importante dizer de Jesus nos Evangelhos Sinóticos. Na
verdade, estas linhas leves e ledas como asas guardam o
segredo mais inteiro de Jesus, o seu tesouro mais
profundo, o tesouro ou a pedra preciosa da parábola
(Mateus 13,44-46), preciosa e firme, porque leve e suave
como uma almofada, onde Jesus pode reclinar
tranquilamente a cabeça (João 1,18), e tranquilamente
conduzir, dormindo mansamente à popa, a nossa barca
no meio deste mar encapelado (Marcos 4,38). Nos lábios
de Jesus, chama-se «PAI» (Mateus 11,25) este lugar
seguro e manso, doce e aprazível, que acolhe os
pequeninos, os senta sobre os seus joelhos, lhes conta a
sua história mais bela, e lhes afaga o rosto com ternura.
Diz bem Santo Agostinho que «o peso de Cristo é tão
leve que levanta, como o peso das asas para os
passarinhos!».

8. «Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra,


porque escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes,
e as revelaste aos pequeninos (népioi)» (Mateus 11,25).
Sim, aos pequeninos, grego népioi, que em sonoridade
portuguesa daria «népias», nada, nenhuma ciência,
nenhum poder, nenhum valor autónomo. Ó abismo da
sabedoria dos pequeninos, daqueles que nada podem
fazer sozinhos, mas que sabem confiar, e sabem que
podem confiar, e sabem em quem podem confiar (2
Timóteo 2,12). É sobre os pequeninos que recai toda a
atenção de Jesus, que, de resto, voluntariamente se
confunde com eles, pois diz: «Todas as vezes que fizestes
isto (ou o deixastes de fazer) a um destes meus irmãos
mais pequeninos, foi a Mim que o fizestes (ou o deixastes
de fazer)» (Mateus 25,40 e 45). E, no ritual do Batismo,
são estes os dizeres que acompanham a entrega da vela
acesa aos pais e padrinhos das crianças batizadas: «a
vós, pais e padrinhos, se confia o encargo de velar por
esta luz, para que estes pequeninos, iluminados por
Cristo…».

9. Abre-se aqui um dos mais belos fios de ouro da


espiritualidade cristã, habitualmente denominado por
«infância espiritual», o «pequeno caminho», «o
permanecer pequeno», «o estar nos braços de Jesus»,
que Santa Teresinha do Menino Jesus (1873-1897) exalta
na sua História de uma alma, que tem a sua nascente
mais funda naquela maravilha que é o Salmo 131,2, em
que o orante se diz assim: «Estou tranquilo e sereno/,
como criança desmamada (gamûl),/ no colo da sua
mãe;/ como criança desmamada,/ está em mim a minha
alma». Não se trata de uma quietude irracional e cega,
semelhante à do recém-nascido, depois de ter mamado
no seio da sua mãe. O texto fala de uma criança
desmamada (gamûl). E é sabido que, no Oriente, o
desmame oficial acontecia tarde, pelos três anos, e dava
origem a uma grande festa familiar (cf. Génesis 21,8; 1
Samuel 1,22-24). Também o famoso Padre Jesuíta
francês, Léonce de Grandmaison (1868-1927), se
segurava neste fio de ouro, e rezava assim: «Santa
Maria, Mãe de Deus, conserva em mim um coração de
criança, puro e transparente, como uma nascente».
10. Os pequeninos, os népioi, népias, que nada valem de
per si, dependem dos seus pais ou de alguém que cuide
deles com carinho. Se Jesus os traz desta maneira para a
primeira página, temos então de perguntar: o que é que
são então cristãos adultos, maduros na sua fé? Serão
aqueles que sabem tudo, que estão seguros de si, que
chegaram ao fim de um curso ou percurso, que têm tudo
na mão, que já não são dependentes porque já não
precisam de ninguém que cuide deles? Seguramente não.
Cristãos adultos na sua fé são aqueles que sabem que
precisam de Deus a todo o momento, e que sabem
debruçar-se sobre os pequeninos com amor. Cristãos
adultos na fé não somos nós que pensamos que temos as
chaves de tudo e de todos, mas somos nós como filhos
de Deus, a quem carinhosamente tratamos por PAI
(ʼAbbaʼ), em quem depositamos toda a nossa confiança,
somos nós como filhos e irmãos, carinhosamente atentos
uns aos outros, até ao ponto sem retorno de já não
sabermos viver senão repartindo o pão e o coração.

11. «Eu Te bendigo, ó PAI, Senhor do céu e da terra,


porque escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes,
e as revelaste aos pequeninos» (Mateus 11,25; cf. Lucas
10,21). Esta é uma das muitas vezes em que, nos
Evangelhos, Jesus aparece a rezar ao PAI, mas é uma
das poucas vezes em que nos é dada a graça de
ouvirmos o conteúdo da oração de Jesus [além desta vez,
só no Getsémani: «PAI, se é possível, afasta de mim este
cálice, mas não se faça a minha vontade, mas sim a tua»
(Mateus 26,39 e 42), e na Cruz: «Meu Deus, meu Deus,
por que me abandonaste?» (Mateus 27,46); «PAI,
perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem» (Lucas
23,34); «PAI, nas tuas mãos entrego o meu espírito»
(Lucas 23,46)]. Note-se que a belíssima oração do «PAI
Nosso» (Mateus 6,9-13; cf. Lucas 11,2-4) é-nos ensinada
por Jesus, mas não o ouvimos a rezá-la. Um cristão
adulto na sua fé, isto é, na sua confiança, tem de se pôr,
como Jesus, totalmente nas mãos seguras e carinhosas
do PAI, única direção da sua e da nossa vida.
12. É assim que o Evangelho deste Dia entra por nós
adentro, cortante como uma espada de dois gumes ou
como um bisturi. Nenhum arrogante raciocínio, nenhum
orgulho, nenhuma escada por nós construída, conduz a
Deus. Nenhuma arrogância conduz a Deus. Jesus, Mestre
novo, não aponta para coisas nem ensina coisas. Ele diz:
«Vinde a Mim» e «aprendei de Mim» (Mateus 11,28 e
29). Com Jesus. Como Jesus. Ele não ensina coisas.
Ensina-se a si mesmo, dando-se a si mesmo. Aprendeu
do Pai, que tudo lhe deu (Mateus 11,27). Dar e receber.
Jugo suave e carga leve (Mateus 11,30). Como os
missionários do Evangelho, que devem partir sempre sem
ouro, nem prata, nem cobre, nem saco, nem duas
túnicas, nem sandálias, nem bastão, dando de graça o
que de graça receberam (Mateus 10,8-9). Nenhum
acessório nos faz falta. Nenhuma estratégia dá certo.
Basta-nos Cristo no coração, e a vida, sim, a nossa vida,
para dar.

13. O Salmo 27 pode deixar-nos nos braços de Deus,


cantando e decantando a luz e a confiança que de Deus
recebemos. Mas também a suavidade, a bondade e a
beleza nos encantam. Corolário normal, ainda que
sempre de excecional elevação, para este dia e para esta
liturgia, que nos deixa sempre tranquilos a brincar à
porta da Casa de Deus, sob o olhar carinhoso e atento de
Deus.

Senhor,

Tu firmaste a terra há muito tempo,

O céu é obra das tuas mãos.

Eles perecem, mas Tu permaneces.

Eles ficam gastos como a roupa.


Sim,

Tu os mudarás como um vestido,

E eles ficarão mudados.

Mas tu permaneces sempre o mesmo,

E os teus anos jamais findarão.

O homem é como a erva,

E toda a sua glória como a flor do campo.

Seca a erva e murcha a flor,

Mas a tua Palavra, Senhor, permanece para sempre.

Neste mês em que a paisagem muda,

As folhas caem,

As árvores choram,

E nós verificamos que a nossa vida é breve e frágil,

Como a lançadeira no tear,

Assiste-nos, Senhor, mais de perto, com a tua bondade,

Sustém os nossos passos vacilantes,

Alumia os olhos do nosso coração titubeante,

Faz-nos sentir a alegria da tua presença carinhosa,

Senta-nos à mesa da certeza da tua salvação.


António Couto

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