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Direito Romano Clássico – Resumo

Filed under: História do Direito — Evaristo Filho @ 8:14 pm

CAPÍTULO 5 – DIREITO ROMANO CLÁSSICO: SEUS INTITUTOS JURÍDICOS E


SEU LEGAGO

Francisco Quintanilha Verás Neto

1.INTRODUÇÃO

Nessa introdução, Francisco Quintanilha Véras Neto fornece todo um estudo sobre o
funcionamento dessa sociedade que originou o direito antigo mais importante e que
mais influenciou nosso direito atual. Essas diversas características podem ser
observadas nas seguintes passagens:

“O Império Romano e suas várias etapas históricas estariam fixadas


cronologicamente no modo de produção escravagista, em que o motor do
desenvolvimento econômico estava nas grandes propriedades apropriadas pela
aristocracia patrícia, que, controlando os meios de produção, as terras e as
ferramentas necessárias ao trabalho agrícola, dominavam as classes pobres e livres
dos plebeus, clientes e dos escravos”.

“A significação histórica do direito romano em seu contexto histórico, caracterizado


por um modo de produção escravagista, especialmente demarcado no tempo. Esse
mundo era caracterizado por formas de dominação diferente das atuais, incluindo aí
um universo jurídico construído por formas peculiares de controle social, mantidas
pela força coativa e pela persuasão de um universo cultural constituído por uma
religião, uma moral e filosofia típicas daquela civilização da Antigüidade Clássica”.

“Os recém-nascidos só vêm ao mundo, ou melhor, só são recebidos na sociedade


em virtude de uma decisão do chefe de família… A criança que o pai não levantar
será exposta diante da casa ou num monturo público; quem quiser que a
recolha”(ARIES, Philippe; DUBY, Georges).

“O universo cultural e a significação moral advinda desse mundo escravagista


atribuíam ao direito civil romano a forma de direito material e instrumentalmente
sicofânico, ou seja, um direito baseado em ardis e fraudes, que por sua vez
acabavam beneficiando os mais fortes em face da existência de uma sociedade
extremamente desigual”.

“Numa sociedade tão desigual, desigualitária e atravessada por redes de clientelas,


não é necessário dizer que os direitos mais formais não eram reais e que a um fraco
pouco tinha a ganhar processando os poderosos”( ARIES, Philippe; DUBY,
Georges).
“Não existiam a autoridade e a coerção públicas indispensáveis à implementação de
decisões judiciais; e as violações mais cruéis possuíam apenas um caráter civil; não
existia, portanto, coação pública capaz de impor a sanção penal, visando à proteção
contra a violência que atingisse os bens jurídicos relevantes; as citações eram feitas
pelas próprias partes, que dependiam muitas vezes de poder militar para obter êxito
nesta iniciativa; não existia, pois, um poder público coativo e exterior, capaz de
impor a sanção jurídica de forma organizada e centralizada”.

“O casamento romano não possuía uma configuração que permitisse a intervenção


de um poder público e estava essencialmente disciplinado pelo direito privado, que
não era escrito, pelo contrário, era informal e oral, ocorrendo apenas a presença
precária de testemunhas e em última instância da prova verbal dos nubentes
restabelecedores da celebração através de sua memórias”.

2.A IMPORTÂNCIA DO DIREITO ROMANO E A SUA PRESENÇA NOS


ORDENAMENTOS JURÍDICOS MODERNOS

A importância do direito é elucidada nas palavras de José Cretella Júnior:

“Ora, nenhum direito do passado reúne, para esse fim, as condições que o direito
romano apresenta. Abarcando mais de 12 séculos de evolução –documentada com
certa abundância de fontes-, nele desfilam, diante do estudioso, os problemas de
construção, expansão, decadência e extinção do mais poderoso império que o
mundo antigo conheceu”.

Francisco Quintanilha mostra como o direito romano está presente no nosso atual:

“O direito romano continua vivo em várias instituições liberais individualistas


contemporâneas, principalmente naquelas instituições jurídicas concernentes ao
direito da propriedade no seu prisma civilista e ao direito das obrigações, norteando
o caráter privatístico do nosso Código Civil”.

3.AS FASES HISTÓRICAS DA CIVILIZAÇÃO ROMANA E DE SUAS


INSTITUIÇÕES JURÍDICO-POLÍTICAS

Primeiro, é exposto o funcionamento das instituições no período monárquico:

“Na fase da Realeza surgem algumas instituições político-jurídicas ainda muito


vinculadas à existência de um Estado Teocrático. O cargo de rei assume caráter de
magistratura vitalícia, sendo ao mesmo tempo chefe político, jurídico, religioso e
militar, ou seja, o rei era o magistrado único, vitalício e irresponsável”.

“O Senado funcionava como uma espécie de Conselho do Rei, composto por 100
membros; era subordinado ao rei e por este convocado; sua função era consultiva e
não deliberativa”.

Após, o do período seguinte, o republicano:


“Na República, as magistraturas passaram a ganhar mais prestígio, destacando-se
do poder dos dois cônsules, que inicialmente são as magistraturas únicas e
vitalícias”.

“As fontes do direito na República são o costume, a lei e os editos dos magistrados”.

“Nesse período também se destacam alguns dos maiores jurisconsultos e criadores


de conceitos tópicos da ‘ciência jurídica romana’, incluindo alguns dos maiores
sistematizadores do direito romano, que mais tarde foram elevados à condição de
fonte imutável do direito romano, no período justineu”.

E, finalizando, do período imperial:

“O último período da história da civilização romana é o do baixo Império


(dominato), quando ocorre a cristianização do Império, e também a decadência
política e cultural; a fonte de criação do direito passa a ser a constituição imperial”.

4.LEIS E INSTITUTOS ROMANOS: O DIREITO DE PROPRIEDADE E DAS


OBRIGAÇÕES

De início, é discutido o motivo da formação de institutos que guardariam as leis e,


posteriormente, é apresentado algumas das XII Tábuas, que foi, sem dúvida, a
maior conquista do povo romano na esfera jurídica:

“Os magistrados patrícios julgavam segundo tradições que apenas eles conheciam e
aplicavam. A incerteza na aplicação do direito, por parte dos magistrados patrícios,
levou a plebe a pleitear a elaboração de leis escritas”.

“A lei das XII Tábuas foi elaborada por uma comissão de três magistrados…

Tábua I – Referia-se ao chamamento a juízo.

Tábua II – Suspensão da causa por motivo de moléstia.

Tábua III – Execução no caso de confissão por dívida.

Tábua IV – Tratava do poder paterno e de outras matérias de direito da família.

Tábua V – Da tutela hereditária.

Tábua VI – Da propriedade e da posse (dominio et possessione).

Tábua VII – Do direito relativo aos edifícios e às terras”.

Francisco Quintanilha fala, então, do direito da propriedade criado pelos romanos,


que foi um dos seus maiores feitos no campo das leis e que muito influencia nosso
sistema atual:
“Os romanos não deixaram de conceder em termos jurídicos uma das instituições
mais duradouras e controversas da civilização humana, o direito de propriedade, que
define em grande parte a divisão da sociedade em classes, determinando o poder
econômico e político para quem detém o poder jurídico de dispor sobre a
propriedade”.

“Todavia, mesmo sendo considerado mais forte poder de uma pessoa sobre um
objeto, o direito de propriedade nunca teve caráter ilimitado e absoluto em Roma”.

É explicado, brevemente, o funcionamento desse avançado direito:

“A propriedade quiritária exigia a concorrência de três requisitos: fundo romano,


proprietário romano e a aquisição de acordo com o direito civil”.

“As terras provinciais eram públicas, mas ocupadas e utilizadas por particulares, que
pagavam imposto, que não era devido pelos proprietários dos fundos itálicos”.

“Existia também a propriedade peregrina concedida aos estrangeiros… essa nova


forma de propriedade admitia o uso de meios processuais de defesa que imitavam a
defesa da propriedade quiritária”.

“A propriedade peregrina desapareceu com a Constituição de Caracala…


Posteriormente, ocorre a unificação dos diferentes tipos de propriedade, no período
Justineu”.

Francisco coloca, também, os conceitos de pessoa jurídica e responsabilidade


patrimonial como pontos relevantes nesse direito romano:

“Existia também a questão do conceito de pessoa jurídica… Há duas categorias de


pessoas: as físicas,ou naturais, e as jurídicas, seres abstratos, que a ordem jurídica
considera sujeitos de direito”.

“No campo do direito das obrigações, os romanos substituíram as responsabilidades


pessoal e corporal dos devedores pela responsabilidade patrimonial”.

É feita uma referência às importantes modificações implantadas por Justiniano em


seu reinado:

“Justiniano introduziu algumas modificações na legislação mediante Constituições


imperiais: as Institutas (manual escolar), o Digesto (compilação dos iura), o Código
(compilação das Leges) e as Novelas (reunião das constituições promulgadas após
Justiniano). Ao conjunto das compilações dá-se o nome de Corpus Iuris Civilis,
designação criada por juristas ocidentais, já na Idade Moderna”.

Por último, Francisco revela relação da igreja católica com o direito:


“A influência do cristianismo no direito romano se dá no período do dominato… A
influência da religião cristã apareceu com mais força no direito de família, e não no
patrimonial, devido à base econômica escravagista”.

5.A QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO E A EMERGÊNCIA DO MUNDO FEUDAL

Francisco aponta algumas causa que fizeram com que o império romano ruísse,
detendo-se, em especial, no desgaste da economia escravagista:

“Vários fatores podem ter contribuído e se conjugado para a sua queda: o colapso
da economia escravagista; a falência dos pequenos agricultores… o crescimento do
exército de desocupados urbanos… ocorreu também o colapso da pesada
administração romana”.

“O modo de produção escravagista foi sendo paulatinamente substituído por uma


economia de subsistência agrária e estática”.

Nas palavras de Michael Tigar, é explicada a afloração do feudalismo:

“A necessidade de sobrevivência e defesa militar e a ausência de governo e de


legiões romanas tornaram possível e necessária a instituição de um sistema
senhorial”.

6.A RETOMADA PELOS ESTUDOS ROMANÍSTICOS NO DIREITO DO OCIDENTE


EUROPEU

Nas palavras de Norberto Bobbio, é situada a retomada do estudo do direito romano


e a área européia que esse estudo influenciou:

“O Direito Romano… ressurgiu no primeiro milênio com o aparecimento da Escola


Jurídica de Bolonha e difundiu-se não apenas nos territórios sobre os quais já se
havia estendido o Império Romano, mas também sobre outros territórios jamais
dominados por este: sobretudo a Alemanha… o direito romano difundiu-se, por outro
lado, também nos Países Baixos, nos escandinavos e, ainda que em medida mais
limitada, na própria Inglaterra”.

7.A RECEPÇÃO DO DIREITO ROMANO

Os motivos para a recepção do direito romano são esclarecidos nas seguintes


passagens, que mais uma vez mostram a grande influência desse direito:

“A recepção do direito romano pela administração de justiça do Ocidente deu-se


unicamente pela necessidade de acolher as suas qualidades formais genéricas… os
mesmos burgueses não estavam em absoluto interessados na apropriação das
determinações matérias do direito romano; as instituições de direito mercantil
medieval e do direito de propriedade de suas cidades satisfaziam muito melhor suas
necessidades”.
“A apropriação de tais qualidades formais do direito romano foi essencial para o
estabelecimento da justiça principesca patrimonial no Ocidente, que não se
caracterizou como administração de justiça patriarcal de tipo material”.

“O direito romano não teve ajustamento mecânico e universal, em face das novas
condições econômicas criadas pela sociedade mercantil, demonstrando que vários
institutos jurídicos do direito moderno advinham das próprias práticas costumeiras
desenvolvidas ao final do período medieval”.

“A partir da incorporação de postulados formalistas do direito romano, o direito


ocidental adquire o caráter dedutivo que lhe é característico, com seu significado
universalizador, abstrato e consubstanciado pelo atendimento dos requisitos formais
essenciais”.

“E também não se pode negar a sua influência no delineamento de importantes


institutos privados, como a propriedade no seu sentido material, que foi um dos
atributos máximos da codificação napoleônica. Assim, de acordo com Perry
Anderson, o direito romano garantia um conceito de propriedade absoluta, sem
restrições, oponível em relação a terceiros e independente de outros fatores
extrínsecos”.

“A codificação contribuiu como fator de unificação do direito privado europeu. Serviu


também como instrumento de expansão do direito romano-germânico para fora dos
quadros europeus… Este trabalho foi gradativamente sendo empreendido pelos
novos juristas contratados para atender as necessidades mercantis burguesas”.

8.CONSIDERAÇÕES FINAIS

Francisco apenas faz uma menção à utilização de princípios do direito romano nos
diversos direitos europeus da Idade Média:

“A ordem legal capitalista encontrou substratos fundantes no sistema romano


germânico, não nos seus aspectos materiais já ultrapassados, mas sim nos seus
aspectos racionalizantes, que permitiram a certeza e a segurança do cálculo
capitalista nas modernas economias. A Commun Law sofreu a influência da ordem
romana através dos tribunais de chancelaria e que geraram as regras
da equity. Mesmo o direito socialista real, que dominou parte do século XX,
incorporou a forma codificada e constitucionalizada da rigidez adotada no sistema
romano germânico”.
História do Direito: O direito grego antigo.

História do Direito

Direito Grego

SOUZA, Raquel de. O direito grego antigo. In: WOLKMER, Antônio


Carlos.Fundamentos de História do Direito. 3. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2006.
Cap. 3, p. 37-66

Páginas

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1 INTRODUÇÃO

A Grécia Antiga é dividida em períodos:

* Arcaico: dos séculos VIII ao VI a.C, quando se iniciam as Guerras Pérsicas;

* Clássico: dos séculos V ao IV a.C;

* Helenístico: desde Alexandre Magno até a conquista romana do Mediterrâneo


oriental;

* Romano: fixado a partir da derrota de Antônio e Cleópatra por Augusto.

É interessante para estudo do Direito grego partir do surgimento das pólis, na qual
se pode destacar Atenas como parâmetro, além de ser da pólis que se obtiveram
maiores informações. A democracia ateniense deu estrutura para o Direito atingir
perfeitos níveis quanto à legislação e ao processo. Toma-se como referência para o
direito grego, o direto ateniense. Entretanto, não se pode falar em um sistema único,
há exceções como Esparta.

No decorrer da época arcaica houve um período de grandes transformações na


Grécia Antiga com destaque para colonização, que estimulou o comércio e a
indústria, devido ao início da troca de mercadorias com outros povos.

No período arcaico ocorreram várias inovações, em destaque:

* O hoplitia é o conjunto de armamentos, que qualquer cidadão que tivesse terras e


condições financeiras poderia adquirir;
* A moeda agregou ao comércio de tal forma que permitiu o acúmulo de riquezas,
surgindo uma nova classe, a plutocracia, fazendo com que a aristocracia perdesse
poder econômico;

* E a escrita que foi um fator importante para a codificação e divulgação das leis.
Deste modo, as instituições democráticas passam a contar com a participação do
povo, e a aristocracia também perde o monopólio da justiça. No entanto, era
incumbido ao legislador codificar as leis.

Autor: Raquel de Souza Ano: 2006

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Idéias

Houve dois importantes legisladores: Dracon que deu início à introdução do código
penal, e Sólon que, além de criar leis, estruturou uma reforma institucional,
econômica e social.

Ainda ocorreu na época arcaica o aparecimento de tiranos (640-630 a.C), com o


governo dos Trintas Tiranos, cujo desenvolvimento econômico foi grande. Mas com
a queda destes, o povo ateniense reage e elege Clístenes, considerado o pai da
democracia.

Inicia-se o período Clássico com as Guerras Pérsicas. Nesta época, concretizam-se


as instituições gregas: a Assembléia, o Conselho dos Quinhentos (Baulê) e os
Tribunais de Heliaia.

2 A ESCRITA GREGA

A escrita pode ser vista como uma tecnologia por ser uma novidade na sociedade.

Michael Gagarin descreve três estágios explicando o desenvolvimento do direito em


uma sociedade:

* Sociedade pré-legal: não existem critérios estabelecidos em caso de disputas;

* Sociedade proto-legal: haverá procedimentos determinados em disputa, mas sem


distinção de regras;

* Sociedade legal: um estágio mais evoluído, na qual há intervenção na conduta de


membros com punições, portanto é necessária uma forma da escrita desenvolvida.
A escrita para o direito é de extrema importância, pois através dela haverá o
exercício de divulgação das leis pelos meios tecnológicos disponibilizados. E para
melhor compreender o Direito grego é necessário analisar a história da escrita, pois
estes se confundem.

Com a migração de povos de língua indo-européia para várias regiões, os aqueus se


instalaram na Grécia, onde a língua foi um importante meio de desenvolvimento para
futura civilização Micênica. Desta forma, depois da destruição da civilização
Micênica, os gregos ignoraram a escrita por séculos retomando com o alfabeto
semítico e influenciados pelo comércio marítimo. Como destaque, os gregos que
instituíram as vogais no alfabeto.

É importante citar duas características exclusivas da civilização grega. A primeira é a


negação da figura do profissional do direito (advogado) que, quando existia não
podia rece-

Autor: Raquel de Souza Ano: 2006

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ber pagamento. E a segunda é a preferência da fala à escrita. Um exemplo foi


Sócrates que possuía uma grande reputação devido à sua retórica.

Mas uns dos motivos desta primazia de falar é conseqüência das dificuldades de
veículos para a escrita, principalmente, pelo custo do material. Portanto, quando
houve disponibilidade de material para o desenvolvimento da escrita o auge da
Grécia já tinha passado e, Roma dominava.

3 A LEI ESCRITA COMO INSTRUMENTO DE PODER

Houve uma época (queda da civilização Micênica) que os gregos ignoraram a


escrita, acredita-se que o motivo da retomada seria a exigência do povo com relação
às leis escritas, na qual assegura justiça por parte dos juízes. O propósito seria
colocar as leis em um lugar acessível para todos, retirando-as de um grupo restrito.
Mas não há evidências de ter mais justiça devido à escrita, pois o poder político
continua intocável. Apenas em Atenas aumentou-se o poder do povo quando Sólon
implantou leis democráticas.
Outro ponto questionado com a queda da civilização Micênica é a transição de um
grande reino para um menor, formando as cidades (pólis) que independentes e com
rápido desenvolvimento, ocorreram vários conflitos. Houve, então, a necessidade de
intervir na vida desses habitantes utilizando da escrita como meio de controle.

Muito embora as leis de Sólon fossem mais democráticas que as anteriores,


Gagarim acredita que o povo estava mais regulado, mesmo em cidades que não
adotaram à escrita como Esparta, mas utilizava-se de outros meios.

Ocorre o surgimento da jurisdição, na qual o Estado esta suficiente forte para


solucionar conflitos. E que as leis não serviam apenas a um determinado grupo de
indivíduos, mas todos que incorporava a instituição, a cidade (polis).

Os vestígios deixados por inscrição pública mostram o poder da cidade sobre o


povo, apesar da escrita tornar acessível a todos, sendo um “operador de
publicidade”. Acredita-se que estas inscrições eram mais para assegurar uma
presença do que para serem lidas.

Autor: Raquel de Souza Ano: 2006

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4 O DIREITO GREGO ANTIGO

No ano 1.200 a 900 a.C a Grécia atravessou um período denominado “era das
trevas” e, no começo de 900 a.C eles ainda não tinham leis oficiais. Os conflitos,
como o assassinato, eram resolvidos pelos próprios membros das famílias das
vítimas. Só no meio do século VII a.C eles criaram suas primeiras leis codificadas.

As fontes de leis escritas são divididas em: fontes literárias e em fontes epigráficas.

1. Fontes epigráficas: documentos publicados de maneira pública e permanente


(escritos em pedra, bronze, madeira) que sobreviveram até o dia de hoje.

2. Fontes literárias são:

1. Discurso dos oradores áticos: Antífonas, Lísias, Isaeus, Isócrates, Demóstenes,


Esquino, Licurgo, Hipérides e Dinarco.

2. Monografias constitucionais
3. Filósofos do direito

4. Antiga e nova comédia

A tradição tem em Zeleuco o primeiro legislador que escreveu leis (cerca de 662
a.C), e em Dreros em Creta a primeira inscrição legal (meio ou segunda metade do
século VII a.C). No meio do século VI, a única cidade sem escrita era Esparta.

Os gregos limitaram-se a tarefa de legislar e administrar a justiça pela resolução de


conflitos. Por conta da precariedade dos materiais de escrita da época o
conhecimento que se teve desse direito só foi possível pelas contínuas transcrições
e reproduções e até citações por autores posteriores.

Pela classificação de Michael Gagarem as leis gregas se dividiam em:

1. crimes e tort

2. família

3. pública

4. processual

No direito grego havia a importante distinção entre lei substantiva e lei processual. A
primeira é o fim que a administração da justiça busca, e a processual são os meios
para se chegar a esse fim.

Autor: Raquel de Souza Ano: 2006

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Os gregos davam muita importância à parte processual e por isso era a mais
desenvolvida, e se dividia em arbitragem privada e arbitragem pública. A arbitragem
privada era o meio mais simples de se resolver um litígio, era realizada fora do
tribunal e nela as partes escolhiam os árbitros que julgariam visando a obter um
acordo ou uma conciliação entre as partes. Já a arbitragem pública contava de um
árbitro escolhido pela magistratura, e a principal meta era emitir um julgamento,
sendo que a decisão, neste caso, não era acordada, e sim imposta.
Os gregos não estabeleciam a diferença entre direito público e privado, civil e penal,
mas, no direito processual existia uma diferenciação quanto à forma de se mover
uma ação: ação pública e ação privada. A pública tratava de conflitos com o Estado,
sendo que qualquer cidadão era apto a iniciá-la, e a privada só em conflitos
judiciários e reservada aos envolvidos na ação.

5 A RETÓRICA GREGA COMO INSTRUMENTO DE PERSUASÃO JURÍDICA

Cabia aos próprios lesados abrirem processos, defender-se, tomar a palavra,


levantar testemunhas, isto é, eles não podiam contar com o auxilio de advogados,
como conhecemos hoje. O sucesso da defesa ou da acusação cabia a arte de
persuadir do próprio indivíduo.

Douglas MacDowell atribui aos atenienses a invenção do júri popular e acrescenta


que isso é uma parte de fundamental importância para a democracia.

Uma particularidade dos gregos é a retórica de persuasão, que até então não era
muito analisada pelos especialistas, mas que não deve ser deixada de lado quando
se estuda o direito grego.

Na Atenas clássica havia a Heliaia, que era o tribunal popular que julgava as causas
públicas ou privadas, somente o crime de sangue era julgado pelo Areópago. Os
cidadãos para poderem ser heliastas sem sofrerem prejuízos por isso, recebiam um
salário por dia de serviço. Os cidadãos que exerciam um serviço público eram
chamados de dikastas e a decisão final era dada pelo voto da maioria.

Autor: Raquel de Souza Ano: 2006

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O julgamento era presidido por um magistrado que não interferia no processo. O


exercício da retórica era o que garantia o sucesso dos litigantes, que tinham que
demonstrar o seu poder de persuasão. E para que isso ocorresse muitos valiam de
um artifício muito usado, que era o uso de escritores profissionais para redigirem o
discurso, os chamados logógrafos, que muitos consideram como os primeiros
advogados da história. Tal prática não era permitida por lei, mas foi se tornando
ineficaz por causa do seu descumprimento sendo então uma lei morta.
Os logógrafos escreviam um discurso que os clientes deveriam tomá-los como de
sua própria autoria, devendo ser eles os mais naturais possíveis para que seja
admitido como discurso do próprio litigante.

Esses profissionais tornaram-se muito importante para a retórica e pode ser uma das
grandes fontes do direito grego antigo.

Nos tempos de hoje a retórica é vista como uma embromação, mas no sentido
original grego é vista como a arte de falar, mais ainda, é falar bem, é ter total
domínio das palavras e saber convencer os seus ouvintes para o ponto que se quer
defender.

6 AS INSTITUIÇÕES GREGAS

Podem-se dividir as funções das instituições gregas em: órgãos encarregados de


governar as cidades e órgãos encarregados de administrar a justiça.

Os órgãos do governo são formados por:

* A Assembléia (Ekklêsia): composta por todos os cidadãos acima de 20anos. É o


órgão de maior poder, cujo presidente é o epistatés dos prítanes;

* O Conselho (boulê): composto por 500 cidadãos, com idade superior a 30 anos.
Eram escolhidos por sorteio, substituídos anualmente, e submetidos a exames de
moral (dokimasia). Eram auxiliares da Assembléia em suas decisões, uma vez que
esta não tinha como se dedicar por inteiro à política;

* Os prítanes: é o representante de cada um dos dez grupos que formam o


Conselho, além da própria Assembléia. Eram escolhidos diariamente, sem repetição,
sendo um deles eleito o guardião do templo;

Autor: Raquel de Souza Ano: 2006

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* Os estrategos: compostos por 10 membros, eleitos pela Assembléia. Deveriam ser


cidadãos natos, casados e possuir rendas. Sua função é comandar as forças
armadas;
* Os Magistrados: escolhidos por sorteio a cada ano, sem poder de reeleição. Eram
divididos em colegiados, porém o mais importante era o dos arcontes, formado por
dez integrantes, classificados em:

1. Arconte epônimo: o ano em que exercia sua função receberia seu nome, sua
função era regular calendários, tutelar viúvas e órfãos.

2. Arconte rei (basileu): possuía funções religiosas.

3. Arconte polemarco: responsável pelas cerimônias dos corpos dos mortos em


guerra.

4. Arcontes tesmótelas (thesmothétai): em numero de seis, eram os juízes dos


tribunais.

5. O último arconte tinha a função de secretário

Em suma, as atividades prestadas pelo órgão do governo eram:

* Assembléia: delibera; decide; elege e julga.

* Conselho: examina; prepara leis; controla.

* Estrategos: administram a guerra; distribuem impostos; dirigem a polícia.

* Magistrados: instruem processos; ocupam-se com cultos; exercem funções


municipais.

Os órgãos que administram a justiça podem ser divididos em:

* Justiça Criminal

Existiam dois grandes tribunais: o de Areópogo e o de Efetas. O Areópogo era


formado por ex-arcontes, onde se julgavam casos de homicídio intencional e não-
intencional. O Efetas era formado por quatro tribunais menores: o Pritaneu, o
Paládio, O Delfínio e o Freátis. Constituído por 51 membros com mais de 50 anos,
para lá eram transferidos casos de homicídio premeditado.

* Justiça Civil

Os casos de litígio mais simples eram resolvidos por juízes dos demos. Casos mais
graves eram encaminhados a tribunais formados por árbitros privados (que eram
escolhidos secreta-

Autor: Raquel de Souza Ano: 2006

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mente) e árbitros públicos (eleitos pelo povo, tendo mais de 60 anos). No tribunal da
Heliaia, muitos casos eram submetidos a júri popular, demonstrando a soberania do
povo. Havia sorteios adicionais antes do julgamento para impossibilitar fraudes, as
seções recebiam o nome de dikasterias e os jurados de dikostas. As questões
marítimas também possuíam seu próprio tribunal.

7 CONSIDERAÇOES FINAIS

Afirmar que o direito grego não apresentou bases fortes, evoluídas é equívoco.
Criou-se o mito que o direito grego não era bem estruturado, e que as leis de Dracon
a tudo puniam com a morte. Três fatores contribuíram para tal interpretação:

* O uso de material durável para a escrita só ocorreu juntamente com a evolução da


sociedade grega;

* Os gregos não deram relevância para as atividades jurídicas como, por exemplo, a
do advogado;

* As leis escritas, além de serem disponíveis a poucas pessoas, eram feito com
material peculiar que se deterioraram no tempo. Isto dificultou as pesquisas.

A escrita desenvolveu papel primordial na sociedade grega, inclusive como forma de


controle das autoridades sobre o restante da população. Portanto, além de
apresentarem um direito evoluído, os gregos demonstram sua influência sobre o
direito romano em muitos termos técnicos, tais como: júri popular, figura do
advogado (logógrafo), distinção entre homicídios.

O problema das fontes para um estudo de História do Direito Grego antigo

Gisele Mascarelli Salgado


Resumo: Este trabalho pretende apresentar como os estudos na área da História do
Direito grego antigo têm sido prejudicados por causa da dificuldade com as fontes
históricas. Esse problema decorre da dificuldade do acesso, da leitura, mas também
decorre da tentativa de aproximação do direito grego antigo com as fontes
encontradas na Roma antiga.

Palavras chave: fontes do direito, História do Direito, Direito grego antigo

Sumário: Introdução, 1. Fontes do direito e fontes históricas, 2. O problema da


conceituação do Direito grego antigo, 3. Fontes para uma história do Direito grego
antigo, 4. O paradigma romano das fontes escritas, 5. Direito grego antigo e a
prática política- fonte do direito é a demos, 6. Direito grego conceituado pela falta
frente ao direito romano, Considerações finais, Bibliografia

Introdução

Os estudos de História do Direito Grego antigo são em muito menor número se


comparados aos estudos de Direito Romano, existindo um apagamento desse direito
nos livros de direito e de história do direito produzidos no Brasil. Quando há
referências ao direito grego antigo, essas são colhidas de segunda mão, dificilmente
feitas a partir de fontes históricas, havendo exceção para as fontes filosóficas e
literárias de grande divulgação. Esse problema de quantidade e qualidade de
informações e produção historiográfica sobre o Direito grego antigo não é somente
um fenômeno brasileiro, sendo que há poucos estudiosos especializados em direito
grego antigo no mundo. Um dos aspectos levantados para essa dificuldade na
produção de uma História do direito grego antigo está nas fontes, porém a crença
difundida em muitos livros de que a Grécia antiga não produziu direito, também
contribui e muito para que poucos se aventurem nessa empreitada.

Este artigo pretende apresentar algumas fontes do direito grego, apontando para
uma possibilidade de se fazer história do direito grego antigo, em especial a partir de
textos de filosofia, literatura, teatro, etc, já compilados e estabelecidos. Dá-se
especial atenção para livros brasileiros de história do direito que tratam sobre o
tema, bem como livros comumente lidos no Brasil.

Primeiramente, procura-se diferenciar o que são “fontes de direito” e o que são


fontes da história do direito, destacando que o historiador do direito grego antigo não
precisa ficar preso somente à legislação. Em um segundo momento, pretende-se
apresentar a discussão sobre a existência de um direito grego antigo, uma vez que a
diversidade das cidades gregas quanto ao direito coloca em dúvida a unidade. Isso
porque essa diversidade - ou unidade - defendida tem relação com o próprio direito,
que é também objeto de estudo dessa história. Em um terceiro momento, busca-se
apresentar as fontes mais comuns citadas pelos historiadores do direito para estudar
a história do direito grego antigo. Em quarto, busca-se apontar como o paradigma de
um direito escrito e codificado do direito romano não pode ser utilizado para olhar o
direito grego antigo que tem como grande tradição uma cultura oral. Em quinto,
busca-se apresentar a visão de que a fonte do direito grego antigo, em especial o
ateniense na era clássica, era o povo. Afirma-se o caráter democrático e
participativo desse direito. Por fim, destaca-se que o direito grego antigo tem sido
definido pela falta em comparação com o direito romano e que essa falta não se
fundamenta quando se olha para outros tipos de fontes históricas que não a
legislação.

1. Fontes do direito e fontes históricas

Os historiadores do direito algumas vezes confundem fonte do direito com fonte


histórica, ocasionando uma restrição no campo da história do direito. A teoria das
fontes do direito busca uma estruturação dos tipos de normas jurídicas que podem
ser aceitos no âmbito do judiciário e da argumentação jurídica e estabelece um
escalonamento a partir de uma hierarquia. A teoria das fontes do direito tem dado
mais importância àquelas fontes do direito que são produzidas no âmbito do Estado
pelo poder legislativo. Outras fontes também são aceitas, porém de forma
subsidiária, como os costumes. Essa escolha quanto à valoração e hierarquia das
fontes tem ligação direta com o crescimento da positivação legal, uma vez que
durante muitos séculos o costume e a legislação eram utilizados sem que houvesse
uma diferenciação ou desvalorização da fonte não estatal.

Por outro lado, as teorias modernas da história adotaram um espectro muito amplo
do que pode ser fonte da historia. Entende-se que podem ser fontes para a história
qualquer material que possa servir para o historiador construir sua história. Adota-se
não apenas documentos oficiais, mas todo o tipo de documentos produzidos pelos
órgãos governamentais ou não. Documentos, livros, fotografias, gravuras, arquivos
pessoais, objetos, memórias, depoimentos, são alguns dos tipos de fontes utilizados
por historiadores.

Porém, grande parte dos historiadores do direito ainda adota como fonte para uma
história do direito apenas as fontes legislativas. Em sociedades como na Grécia
antiga em que não predominavam as fontes como as leis escritas, restringir às
fontes históricas às leis impede o historiador de entender o que era o direito nessas
sociedades. É necessário reabilitar todo o tipo de fonte histórica para a construção
de uma história do direito, e não apenas se ater às fontes do direito validadas na
modernidade.

2. O problema da conceituação do Direito grego antigo


A História do Direito grego antigo deve levar em consideração a variedade da
Grécia, com suas diferentes polis e também um tempo histórico bem grande, que vai
dos séculos XX a.C. a IV a.C. Devido a esses fatores, alguns historiadores do direito
chegam a colocar em dúvida a possibilidade de se criar uma História do direito grego
antigo, uma vez que se discute a unidade desse direito.

Os historiadores do direito grego costumam adotar uma divisão temporal visando


classificar o tipo de direito a que eles se referem e para isso adotam marcos
históricos. Assim, são possíveis diferentes classificações temporais da história
grega, que servem também para delimitar o tipo de direito produzido. É possível
encontrar uma divisão do direito utilizando as seguintes classificações segundo
períodos: a) pré-homérico/micênico (XX-XIII a.c.), homérico (XII-IX a.c.), arcaico
(VIII-VII a.c.), clássico (VI-IV a.c.); b) jônico-dórico, ático, alexandrino e romano-
cristão; c) arcaico, clássico, helenístico e romano. Ao se elaborar uma história do
direito grego antigo é preciso que o historiador atente para cada época da sociedade
à qual se refere, uma vez que o direito de cada uma delas é muito diferente.

Quanto à variedade das cidades gregas também existe uma imensa diferença e isso
acarreta em uma diferença no direito. Gilissen é um dos historiadores que destacam
essa diferença:

“Não há propriamente que falar de direito grego, mas de uma multidão de direitos
gregos, porque, com exceção do curto período de Alexandre do Grande, não houve
nunca unidade política e jurídica na Grécia Antiga. Cada cidade tinha o seu próprio
direito, tanto público como privado, e tendo caracteres específicos e evolução
própria. Nunca houve leis aplicáveis a todos os gregos; no máximo, alguns costumes
em comuns. Na realidade, conhece-se mal a evolução do direito da maior parte das
cidades; apenas Atenas deixou traços suficientes para permitir conhecer os estádios
sucessivos da evolução do seu direito”[1].

Segundo Gagarian, a discussão sobre a unidade do direito grego começa no século


XIX, com historiadores como Mitteis que era papirologista e estudou originalmente
direito romano[2]. Outros defensores da tese da unidade também vinham da
formação de direito romano, em que essa unidade estava presente.

Finley, por sua vez, acredita na unidade do direito grego, considerando que há
características semelhantes desse direito em diferentes tempos e locais, o que
permite atribuir uma unidade[3]. Gagarin também acredita em uma unidade do
direito grego antigo, porém de modo diferente uma vez que considera que a unidade
pode ser dada pelo processo:

“A conclusão que proponho, no entanto, sugere que embora a lei ateniense possa
diferir em seus detalhes essenciais, no âmbito do procedimento (no sentido amplo)
compartilha características importantes com outros sistemas jurídicos da Grécia
arcaica e clássica. Isso nos permite falar em uma unidade essencial do direito grego
- ou pelo menos do procedimento legal grego – o que é um pouco diferente do que
Finley tinha em mente, mas que, penso eu, satisfaz seus critérios para uma unidade.
Entretanto, parece haver uma diferença substancial entre os sistemas jurídicos da
Grécia arcaica e clássica e o do Egito ptolemaico. A unidade que se encontra na lei
grega, portanto, é uma unidade processual geral - baseada nos períodos arcaico e
clássico - e não uma unidade substancial, fundamentada na lei helenística, em que
Mitteis e seus seguidores acreditavam. Mesmo nos períodos arcaico e clássico, esta
unidade processual geral não é forte o suficiente para nos permitir tirar conclusões
sobre a lei de uma polis com base na lei de outras polei. Mas o conceito de uma lei
unificada grega pode ser de ajuda na compreensão da natureza dos diferentes
sistemas jurídicos da Grécia arcaica e clássica, incluindo o direito ateniense,
valorizando as diferenças entre o direito na Grécia e em outros lugares”[4].

A questão da unidade do Direito grego antigo traz à discussão a valoração da


unidade de um direito e toma como positivo um direito que tem pontos universais.
Porém, isso é apenas um tipo de valoração, que entende que a fragmentação e a
especialidade de cada direito voltada para cada região da Grécia antiga é um defeito
e não algo valoroso. Muitos historiadores utilizaram o direito romano como um
paradigma a ser aplicado à análise direito grego, buscando elevar aquele em
detrimento deste. Revelar esse movimento permite entender a criação desses
historiadores do direito e, por uma crítica, buscar uma valoração diferente ou mesmo
evitar a comparação de direitos de sociedades tão diferentes e com isso tentar
redescobrir um direito grego antigo.

3. Fontes para uma história do Direito grego antigo

São inúmeros os tipos de fontes que podem ser utilizados para a construção de uma
História do direito grego antigo e essas vão além de materiais que tem ligação direta
com o direito, como as legislações e discursos judiciários. Diante da variedade de
fontes o que é fundamental garantir é que o objeto do estudo seja o Direito e nesse
ponto a questão do conceito de direito adotado pelo historiador é importante.

Gilissen destaca 5 tipos de fontes para os estudos de História do Direito grego


antigo: a) epopéias de Homero, b) discursos do direito ateniense, c) discursos
literários e filosóficos, d) inscrições jurídicas, e) “lei de Gortina” e “lei de Dura”[5]. O
autor tem como foco as produções jurídicas e com isso restringe bastante as fontes
para sua História do Direito.

Há certo receio dos juristas em lidarem com outras fontes que não as jurídicas.
Nesse caso, questões como a dificuldade de se averiguar a verdade das fontes, ou
mesmo a dificuldade de lidar com o caráter literário ou filosófico da obra aparecem.
Esses receios são muito próprios de um tipo de produção pouco ligada à discussão
histórica e muito ligada a um direito que se pretende verdadeiro. Isso porque,grande
parte da história que se produz atualmente tem consciência de que construir uma
história é interpretar e essa depende daquele que a interpreta, tendo um ponto de
vista específico, que não está ligado com ser verdadeiro ou não. Um exemplo da
dificuldade de se lidar com outras fontes para a história do direito grego é vista no
seguinte trecho:

“(....) não há como acolher por inteiramente verdadeiro o que ali se diz, já que os
filósofos poderiam estar se referindo a uma sociedade hipotética, ideal, e não real,
da qual participassem; assim, não se pode afirmar, com segurança, que as
passagens porventura escolhidas discorressem sobre a correspondente estrutura
administrativa e judiciária do período; e mais de uma seqüência, aliás, verifica-se
que estes autores usam a expressão “deve ser” o que não significa dizer que
“é”. Por sua vez, os discursos proferidos pelos exímios oradores durante o calor dos
debates, nos tribunais nem sempre estariam acompanhando também o originário
espírito da lei, como a argumentação não se fazia para convencer juízes togados,
mas jurados leigos, permitiam-se expedientes próprios da oratória, capazes de
impressionar o público para o qual aquela se dirigia”[6].

Os trabalhos dos filósofos gregos antigos, apesar de serem muito utilizados em


Filosofia do direito, não estão presentes em muitos trabalhos de História do Direito
grego antigo. Os textos filosóficos fornecem uma série de informações sobre o
direito e como os filósofos da época entendiam o que era o direito. Alberto Rosa
Benitez apresenta em seu livro “Orígenes del derecho antiguo” uma história do
direito grego antigo que tem como fontes principais as obras dos filósofos gregos
antigos[7]. Sócrates, Platão, Aristóteles, entre outros, são utilizados como fonte
histórica. Cada obra tem que ser analisada a partir de um momento histórico,
geralmente daquele em que o filósofo está falando.

Obras literárias, como as peças de teatros, também podem ser utilizadas como fonte
para história do Direito. “Antígona”, obra comumente utilizada no estudo do direito,
possui diversas interpretações e leva a pensar sobre a existência de múltiplas
normatividades no mundo do Direito Grego[8]. “As vespas” aponta para a existência
na Grécia de tribunais de julgamento que não abarcavam profissionais, mas
cidadãos que recebiam uma determinada quantia. Essa obra também faz a crítica
dos tribunais durante a guerra do Peloponeso, trazendo uma série de informações
sobre o Direito na época.

Mesmo os mitos gregos podem ser fonte para uma história do Direito. É isso o que
faz Francesco D’Agostino em seu livro “Per un’archeologia del diritto: miti giuridici
greci”. O que o autor está interessado não é propriamente em uma história de datas,
mas sim uma história do pensamento, que tem como foco os mitos gregos que
tratam do direito.

As leis dos legisladores, como Dracon, Sólon e Clístenes, também são uma
importante fonte para a história do Direito grego. Além dessas leis há outras, como
as que apontam para um direto das colônias gregas. Algumas dessas leis estão
compiladas.
Informações escritas sobre a sociedade e o direito grego podem ser obtidas em
diversos suportes como louça, mosaicos, escritos em couro e cerâmica, tábuas de
cera, madeira e cerâmica, etc[9]. Há também papiros com informações sobre o
direito grego, e com isso surgiu um estudo específico de papirologia jurídica. Porém,
esses papiros não são de fácil leitura, mesmo para os especialistas, como afirma
Finley[10].

4. O direito grego e as fontes escritas

A relação entre escrita e história é postulada por alguns historiadores como um


marco fundamental para a contagem da História, porém ela não é uma relação
necessária. Acredita-se que a escrita é uma fonte importante para a História, mas há
outras fontes que permitem entender as sociedades ágrafas. O direito também não
está necessariamente ligado à existência de uma escrita e é possível a utilização de
outras fontes para se criar uma História do Direito grego antigo. Entende-se,
portanto, que em todos os períodos da História grega houve direito, porque não se
entende o direito apenas como fontes escritas e organizadas por um poder. Essas
outras fontes, como os costumes, regras jurídicas para pequenos grupos, etc., não
são muito fáceis de serem trabalhadas por um Historiador do Direito, porém não são
diferentes das fontes que outros profissionais da história lidam para estudar outros
objetos ligados ao mundo grego antigo. O direito não se dá somente na esfera do
que está escrito, nem hoje em dia, nem na Grécia antiga.

Mesmo quando a sociedade grega antiga já possuía uma escrita bem elaborada e
difundida, esse não era o principal meio de transmissão do direito. A Grécia antiga é
marcada por uma sociedade em que a tradição oral é muito mais valorizada do que
a tradição escrita. Isso ocorre não apenas com o direito, mas com a filosofia e com
as artes, como destaca Reinaldo de Lima Lopez no seguinte trecho:

“Os gregos preferiam falar e ouvir, a sua própria arquitetura é a de um povo que
gostava de falar, não apenas os grandiosos teatros ao ar livre e os recintos de
reuniões (.....) Por cada pessoa que lia uma tragédia, havia dezenas de milhares que
as conhecida por representação ou audição. O mesmo acontecia com a poesia lírica
composta habitualmente para execução pública (freqüentemente por coros) em
ocasiões festivas, quer casamentos, festas religiosas ou para celebrar um triunfo
militar ou uma vitória nos Jogos. O mesmo se verificava ainda, embora dentro de um
certo limite, em relação à prosa. Heródoto, por exemplo, fez leituras públicas da sua
História. Os filósofos ensinavam mediante discurso e a discussão. Platão exprimiu
abertamente sua desconfiança em relação aos livros: não podem ser inquiridos e,
por conseguinte, as suas idéias estão fechadas à correção ou ao maior
aperfeiçoamento e, além disso, enfraquecem a memória (Fedro 274-8). O seu
mestre Sócrates conseguiu a sua reputação apenas com uma longa vida de
conversação, já que não escreveu uma só linha”[11].
O documento escrito grego que continha informações sobre o direito era
denominado de symbolon, apontando para o caráter não apenas funcional ou
mesmo probatório, mas também simbólico[12]. Essas duas dimensões do direito não
são esquecidas pelos gregos antigos, porém, apesar da dimensão simbólica do
direito ser muito forte na sociedade moderna, ela dificilmente é apontada pelos
juristas e estudiosos do direito. Esse caráter simbólico das leis gregas também pode
ser visto na escrita das leis nos muros, que não tinha como função primordial ser
lida, mas de expressar a presença da lei[13].

Entender as características peculiares da sociedade que se estuda é necessário


para o historiador evitar cometer grandes anacronismos. Deste modo, olhar apenas
para o direito escrito na Grécia antiga e imputar a essa sociedade um direito pouco
desenvolvido por causa de suas poucas fontes escritas é um erro na medida em que
a riqueza do direito grego antigo estava na oralidade, que tem de ser recuperada por
outras fontes. Uma dessas fontes são os poemas, em que o direito era aprendido
por todos os cidadãos:

“Havia, porém, o costume de aprender de cor (recitando em forma poética) alguns


textos jurídicos, assim como os poemas de Homero. As leis de Sólon eram
ensinadas como poemas, de modo que todo ateniense bem educado terminava por
conhecer sua tradição político-jurídica comum. A literatura “jurídica” era fonte de
instrução e prazer. Em geral no tempo da filosofia socrática sabia-se ler. As técnicas
propriamente jurídicas eram próprias do logógrafo, o redator de discursos forenses:
pedidos, defesas, etc. O direito, presumia-se, devia ser aprendido vivenciando-o. As
leis deveriam fazer parte da educação do cidadão. As discussões sobre a justiça são
discussões sobre a justiça da cidade, entre cidadãos e iguais. As leis menores não
importavam para a discussão pública”[14].

Os poemas e a literatura que envolviam questões judiciárias eram utilizados como


forma de aprendizado de um direito que era vivido na cidade. Algum desses poemas
chegaram em fontes escritas, e é possível ver-se a importância da oralidade no
direito grego antigo:

“Nunca perguntei como é o homem

que gosta de andar em más companhias,

pois é sabido que é semelhante àquele

a quem gosta acompanhar”[15].

“Dizem que Carondas, o legislador, em uma lei

Prescreve estas e outras tais coisas:

Aquele que der uma madrasta a seus filhos, que não seja estimado
nem tenha voz entre os cidadãos com quem

proporciona um mal importado contra seus próprios

assuntos. Porque, diz, se por acaso tivesse

acertado em seu primeiro casamento, teria morrido feliz

mas, se não tivesse acertado, seria um louco

ao tentar casar-se pela segunda vez”[16].

5. A fonte do direito é a demos

A história do Direito grego tem na época da democracia em Atenas um período


muito raro em que a fonte do direito é a demos, ou seja, o povo. Essa é uma
particularidade da história do direito grego que é pouco divulgada nos livros. O
direito grego em Atenas está intimamente ligado à política da polis, que tinha
participação ativa e direta dos cidadãos. Essa particularidade do direito ateniense
antigo como um direito autônomo é apontada no seguinte trecho:

“O coletivo dos cidadãos – o dèmos- proclama-se absolutamente soberano: ele se


rege por suas próprias leis (autonomos), possui sua jurisdição independente
(autodikos) e governa-se a si mesmo (autoteles), para remontar os termos de
Tucídides. E declara também a igualdade política (a igual repartição da atividade e
do poder) e todos os homens livres. É essa auto-instauração, autodefinição do corpo
político, que contém – como não pode deixar de conter- um elemento de
arbitrariedade. Quem estabelece a Grundnorm, na terminologia de Kelsen, a norma
que governa o estabelecimento de normas é um fato. Para os gregos, esse “quem” é
o corpo dos cidadãos masculinos livres e adultos (....)”[17].

O Direito grego antigo, em especial o de Atenas, tem base na política, sendo


altamente consensual, participativo e instável, para garantir que as mudanças
sociais estivessem presentes nesse tipo de direito. O foco não estava em uma
formalização do processo, nem na imobilidade legal. Isso porque a “segurança” do
Direito não tinha como foco a imutabilidade para a proteção, mas sim a garantia de
que aquelas mudanças eram queridas pela demos e que foram discutidas e votadas
na Eclésia. Órgãos importantes de discussão das questões da Polis eram aqueles
onde se discutiam e se vivia um direito ligado intimamente à política. Assim, a
Assembléia e o Conselho (boulé) tinham também funções judiciárias e legislativas,
além das administrativas.

“A participação se concretiza na ecclésia. A Assembléia do povo, que é o corpo


soberano efetivo. Nela, todos os cidadãos tem o direito de tomar a palavra (iségoria),
suas vozes têm cada qual o mesmo peso (isopséphia) e todos se impõe a obrigação
moral de falar com toda a franqueza (parhésia). Mas a participação se dá também
nos tribunais, onde não há juízes profissionais e a quase totalidade das cortes são
formadas de júris, sendo os jurados escolhidos por sorteio. A ecclésia, assistida pela
boulè (Conselho) legisla e governa. Isso é a democracia direta”[18].

Esses órgãos apresentam um tipo de direito ligado às cidades, mas o direito Grego
antigo também abarcava o direito ligado à religião e outros assuntos da cidade, sem
que se fizesse uma divisão desses assuntos, uma vez que tudo isso era direito da
polis grega.

Estudar um direito democrático como foi o direito grego ateniense, aponta para um
direito em que esses valores são possíveis. Esse tipo de direito que não vem de um
governante tirânico, de um deus distante ou de um herói, mas é criado pelo povo
para o povo.

6. Direito grego conceituado pela falta frente ao direito romano

O direito grego antigo tem sido entendido por diversos historiadores por oposição ao
direito romano e definido pela falta em comparação a este. Assim, o direito romano,
já mais estudado e com sua codificação publicada em diversas línguas, é tomado
como paradigma para o estudo do direito grego. A comparação não é somente pela
diferença, mas pela falta, evidenciando uma valoração superior dada ao direito
romano. Ao direito grego antigo falta tudo, em especial fontes e com isso afirma-se a
pouca importância de se estudar essa história do direito. Os romanistas que foram
estudar o direito grego, acostumados a utilizar como base para seus estudos as
fontes escritas codificadas, encontraram muito pouco desse material na Grécia
antiga. Assim, presos nos paradigmas romanistas, negaram a importância do direito
grego, como aponta o texto abaixo:

“Falando sobre o direito grego em Atenas, Mario Curtis Giordani menciona que os
historiadores têm dado pouca importância a ele e cita Louis Gernet como
reconhecendo “que o direito grego foi durante muito tempo uma disciplina
deserdada”, novamente porque o direito grego tem sido objeto de estudo mais por
parte de 1) filósofos (que não se preocupavam muito com a verdade jurídica) e 2) de
romanistas que permaneciam fechados em suas categorias tradicionais”[19].

Muito do direito romano chega até a modernidade porque foram preservados e


reelaborados, mas isso não foi feito com o direito grego, restando poucas fontes
escritas sobre esse direito. Os estudos de direito romano também não teriam tantas
fontes se ficassem restritos ao direito antigo e se as fontes escritas não tivessem
sido preservadas. O volume das fontes romanas escritas também foi muito
aumentado pelos glosadores, comentadores e juristas alemães do século XIX, como
aponta Roscue Pound:

“A ciência jurídica moderna começou com o estudo dos Digestos no século XII e,
dessa maneira, foi moldada a partir dos materiais romanos legais.
Consequentemente, como o pensamento filosófico e jurídico grego se fundam
principalmente na jurisprudência, o direito grego tem recebido pouca atenção. Este
não é o lugar para discutir o significado deste fenômeno. Basta dizer que o direito
grego é descrito pela ciência da lei somente como uma pequena janela para os
primórdios, o que nos obriga a repensar em diversos dogmas estabelecidos com
base na consideração exclusiva de matérias da Roma antiga, da Roma moderna e
do direito germânico. O estudo de matérias do direito grego não tem se constituido
em meio para a ampliação da base de jurisprudência histórica e filosófica de nossa
geração”[20].

Diante de categorias que não são próprias do direito grego, tentar escrever uma
História desse direito é algo que só pode ser feito pela falta, porém isso agrega
muito pouco uma vez que saber “o que não é” é diferente de saber “o que é”. Há
características positivas do direito grego antigo que são pouco evidenciadas. Ao
direito grego falta ciência, profissionalização, direito privado, objetividade, método e
principalmente leis escritas. Os historiadores do direito passaram a negar o direito
grego porque não acharam as fontes escritas. Abaixo alguns trechos dessa definição
do direito grego antigo pela falta:

“O sistema jurídico na Grécia antiga é uma das principais fontes históricas dos
direitos da Europa Ocidental. Os gregos não foram, no entanto, grandes juristas; não
souberam construir uma ciência do direito, nem sequer descrever de uma maneira
sistemática as instituições de direito privado; neste domínio, continuaram sobretudo
as tradições dos direitos cuneiformes e transmitiram-nas aos Romanos”[21].

“O direito grego privado deixou poucos traços no nosso direito moderno, e estes por
intermédio dos Romanos. Os gregos mal souberam exprimir as regras jurídicas em
fórmulas abstratas, há poucas leis, poucas obras jurídicas”[22].

“Ainda que nem sempre e possa encontrar nas fontes do Direito Grego aquela
objetividade e método que o Direito Romano proporcionaria, verifica-se quão
expressiva foi a contribuição do primeiro para os fundamentos da ciência política e
das instituições de Direito Público”[23].

“O estudo do Direito grego antigo não encontrou por parte dos historiadores e
juristas o mesmo interesse demonstrado pelo Direito Romano, o que se explica
facilmente pelo fato de o primeiro aparecer como um direito meramente histórico
sem as profundas repercussões que o segundo teve na elaboração da Civilização
Ocidental. Acrescente-se a dificuldade que o estudo do Direito grego apresenta em
virtude da documentação esparsa que constitui sua fonte de cognição. Cabe aqui
uma observação curiosa. Algumas obras gerais que focalizaram o Direito Grego
(como por exemplo a notável Histoire du droit prive de la Republique Athénienne, da
autoria de Beauchet, 1897) revestem a tendência de expor a matéria de direito
helênico dentro dos quadros tradicionais do Direito Romano. Este método de
exposição pode sugerir uma semelhança entre um e outro. Na realidade um paralelo
entre ambos mostra algumas acentuadas diferenças. Um fato chama logo a atenção
quando se estuda a formação do Direito Grego: embora tenha existido na Grécia
uma vida jurídica, não encontramos ai, anota Gernet, “como órgão de elaboração do
direito, qualquer coisa comparável aos prudentes romanos”. A Grécia não produziu
juristas. Roma, ao contrário, faz do Direito o objeto de uma jurisprudência
profissional. Outra diferença fundamental: o costume, a regra não escrita estava
enraizada em um passado mais ou menos distantes, existe em diversos planos
(familiar, religioso, econômico), mas não é considerado expressamente,
teoricamente, como fonte de direito. “Há no grego uma disposição intelectualista que
o inclina a não reconhecer outra norma além da norma escrita, que é como um
decreto da inteligência a Lei”[24].

Note-se que o primeiro trecho evidencia certo desconforto do historiador que


primeiro afirma que a Grécia antiga é fonte histórica do direito ocidental, para depois
negar essa influência. Dificilmente é apontada uma característica do direito grego
como algo peculiar desse direito sem que haja comparações. Nem todos os
historiadores trabalham com essa oposição e com a definição pela falta, porém ela é
recorrente em muitos trabalhos e acabam difundindo a idéia de que a Grécia antiga
não produziu direito e não vale a pena fazer uma História do direito grego antigo.

Considerações finais

A história de uma sociedade e também do direito de uma sociedade, não é apenas


feita com fontes, uma vez que a dimensão da informação não faz a história por si só.
O trabalho do historiador na interpretação das fontes é fundamental e esse olhar
nunca é isento, uma vez que o historiador vai buscar na história o que lhe interessa,
o que lhe move para a pesquisa. Assim, por essa seleção que o historiador faz das
fontes, uma série delas passa a ter importância e outras não, delimitando a própria
pesquisa que é sempre algo necessário para a sua viabilidade. Nem sempre o
historiador poderá se livrar de anacronismos e problemas de interpretação, uma vez
que ele é um homem que está inevitavelmente condenado a olhar o passado sendo
um homem do presente, nascido e criado em uma sociedade que não é aquele que
ele estuda. Essas incompatibilidades não somem com o aprimoramento técnico,
apenas melhoram, uma vez que este olhar estrangeiro é próprio do historiador.

Esse olhar fez um grande historiador da Grécia como Werner Jaeger falar de uma
Grécia, mas sem interesse na política e também no Direito, fazendo que grande
parte do entendimento dessa sociedade fosse dificultado, uma vez que a política era
central para essa sociedade. A restrição de Jaeger às instituições sociais históricas
da Grécia como a política, segundo Momigliano decorreram de sua condição
pessoal, vítima do nazismo que procurava deixar a política de lado[25].

Esse caso é paradigmático para mostrar que o problema não é apenas da


dificuldade das fontes gregas antigas, mas do que elas têm para falar para os
historiadores modernos e o que estes querem ouvir destas fontes. A sociedade
grega tem exemplos de momentos de tirania quanto à política e ao direito, mas
também tem momentos de democracia direta em que a sociedade tem um direito
que é autonomos. Falar dessa sociedade contando sua História do Direito é
estabelecer também um exercício comparativo que leva o historiador e seu leitor à
reflexão sobre sua própria sociedade e sobre que direito se quer construir. Por isso,
estudar sociedades diferentes não é apenas um exercício para a busca de mais
informação, mas é fundamentalmente um exercício para a reflexão e para a crítica.

1.INTRODUÇÃO

Wolkmer começa o capítulo apresentando o principal dilema quanto a esse


assunto:

“Falar, portanto, de um direito arcaico ou primitivo implica ter presente não só uma
diferenciação da pré-história e da história do direito, como, sobretudo, nos
horizontes de diversas civilizações, precisar o surgimento dos primeiros textos
jurídicos com o aparecimento da escrita... Autores como John Gillisen questionam a
própria expressão ‘direito primitivo’, aludindo que o termo ‘direito arcaico’ tem um
alcance mais abrangente para contemplar múltiplas sociedades que passaram por
uma evolução social, política e jurídica bem avançada, mas que não chegaram a
dominar a técnica da escrita”

2.FORMAÇÃO DO DIREITO NAS SOCIEDADES PRIMITIVAS

“A dificuldade de se impor uma causa primeira e única para explicar as origens do


direito arcaico deve-se em muito ao amplo quadro de hipóteses possíveis e
proposições explicativas distintas”

Após esclarecer a complexidade desse tema, Wolkmer expõe o falado processo de


formação:

“Nasceu espontânea e inteiramente nos antigos princípios que constituíram a


família... Nas sociedades antigas, tanto as leis quanto os códigos foram expressões
da vontade divina, revelada mediante a imposição de legislador-administradores,
que dispunham de privilégios dinásticos e de uma legitimidade garantida pela casa
sacerdotal”.

“A inversão e a difusão da técnica da escritura, somada à compilação de costumes


tradicionais, proporcionam os primeiros códigos da Antigüidade, como o de
Hamurábi, o de Manu, o de Solos e a Lei da XII Tábuas. Constatam-se, destarte,
que os textos legislados e escritos ‘eram melhores depositários do direito e meios
mais eficazes para conservá-lo que a memória de certo número de pessoas, por
mais força que tivessem em função de seu constante exercício’(SUMMER MAINE,
Henry)”.
3.CARACTERÍSTICAS E FONTES DO DIREITO ARCAICO

Referente às características:

“o direito primitivo não era legislado, as populações não conheciam a escritura


formal e sua regras de regulamentação mantinham-se e conservavam-se pela
tradição... cada organização social possuía um direito único... Trata-se da
multiplicidade de direitos diante de uma gama de sociedades atuantes, advinda, de
um lado, da especificidade para cada um dos costumes jurídicos concomitantes, de
outro, de possíveis e inúmeras semelhanças ou aproximações de um par outro
sistema primitivo... o direito arcaico está profundamente contaminado pela prática
religiosa... Gillisen chama atenção para o fato de que os direitos primitivos são
‘direitos em nascimento’, ou seja, ainda não ocorre uma diferenciação efetiva entre o
que é jurídico do que não é jurídico”.

Referente às fontes:

“as fontes jurídicas primitivas são poucas, resumindo-se, na maioria das vezes, aos
costumes, aos preceitos verbais, às decisões pela tradição etc. No que concerne
aos costumes, há de se reconhecer como a fonte mais importante e mais antiga do
direito, manifestação que comprova por ser a expressão direta, cotidiana e habitual
dos membros de um dado grupo social.”

4.FUNÇÕES E FUNDAMENTOS DO DIREITO NA SOCIEDADE PRIMITIVA

Para explicar esses dois pontos é usada a linha de pensamento de Malinowski,


conforme as seguintes passagens:

“Inicialmente, constata-se que em cada cultura humana desenvolve-se um corpo de


obrigações, proibições e leis que devem ser cumpridas por motivos práticos, morais
ou emocionais... além das regras jurídicas sancionadas por um aparato social com
poderosa força cogente, subexistem outros tipos diferenciados de normas
tradicionais gerados por motivos psicológicos”.

“As regras de direito civil caracterizadas por uma certa flexibilidade e abrangência...
compreendiam um conjunto de ‘obrigações impositivas consideradas como justas
por uns e reconhecidas como um dever pelos outros, cujo cumprimento se assegura
por um mecanismo específico de reciprocidade e publicidade inerentes à estrutura
da sociedade”.

“A função principal do direito é, para Malinoski, liminar certas inclinações comuns...


assegurando um modo ‘de cooperação baseada em concessões mútuas e em
sacrifícios orientados para um fim comum’... Assim o papel do direito é fundamental
como elemento que regula, em grande parte, os múltiplos ângulos da vida dos
grupos na Melanésia e ‘as relações pessoais entre parentes, membros do mesmo
clã e da mesma tribo, fixando as relações econômicas, o exercício do poder e da
magia, o estado legal do marido e da mulher, etc’”.

5.CONSIDERAÇÕES FINAIS

O primeiro item que Wolkmer faz uma crítica é o que diz respeito à fragilidade de
várias teses existentes sobre o direito arcaico que usam de visão evolucionista,
vistas por John Gilissen como sendo por demais simplistas e sobejamente lógicas
para serem corretas.

Outro ponto é quanto à tendência de Malinowski de considerar o indivíduo primitivo


como sendo alguém que não desrespeitava as leis impostas por sua sociedade. Ele
faz a seguinte referência sobre esse aspecto:

“Escreve Norbert Rouland que algumas investigações etnográficas mostram o


contrario, pois o indivíduo, pensando que há menos vantagem do que
inconveniência em respeitar a lei, acaba muitas vezes violando-a”.
CAPÍTULO 3 – O DIREITO GREGO ANTIGO

Raquel de Souza

1.INTRODUÇÃO

Raquel de Souza inicia seu estudo indicando o período de análise do direito


grego em questão:

“Para o estudo do direito grego é particularmente interessante o período que se


inicia com o aparecimento da polis, meados do século VIII a.C., e vai até o seu
desaparecimento e surgimento dos reinos helenísticos no século III a.C.”

Após, Raquel explica que apesar do direito de Atenas ser o de maior


destaque na época, ele não pode ser considerado como o direito de toda a Grécia.

Em seguida, ela coloca o invento da escritura peça fundamental para a


popularização do direito grego:

“A escrita surge como nova tecnologia, permitindo a codificação de leis e sua


divulgação através de inscrições nos muros das cidades. Dessa forma, junto com as
inscrições democráticas que passaram a contar com a participação do povo, os
aristocratas perdem também o monopólio da justiça”.

Nesta introdução, ainda, Raquel faz uma pequena apresentação de dois


grandes legisladores atenienses: Drácon e Sólon:

“Deve-se a Drácon a introdução de importante princípio do direito penal: a distinção


entre os diversos tipos de homicídio, diferenciando entre homicídio voluntário,
homicídio involuntário e o homicídio em legítima defesa”

“Sólon não só cria um código de leis, que alterou o código criado por Drácon, como
também procede a uma reforma institucional, social e econômica”.

No final da introdução, são feitas mais algumas considerações sobre a


história do direito de Atenas:

“Com a queda da tirania de Pisístrato em 510 a.C., o povo ateniense reage... e elege
Clístenes, considerado, posteriormente, o pai da democracia grega. Clístenes atua
como legislador, realizando verdadeira reforma e instaurando nova Constituição”.

“Com as guerras Pérsicas... inicia-se o que se conhece como era clássica da


Grécia... Nessa época se consolidam as principais instituições gregas: a
Assembléia, o Conselho dos Quinhentos (Boulê) e os Tribunais da Heliaia”.
2.A ESCRITA GREGA:

Raquel explica a falta que a escrita fez para o direito grego:

“a escrita grega surgiu e se desenvolveu ao longo da história da civilização grega,


tendo atingido sua maturidade somente após o ocaso dessa civilização... Pode-se
afirmar que não há como ter um sistema jurídico plenamente estabelecido sem um
sistema de escrita”.

É então mostrado que, não podendo desenvolver os aspectos formais do


direito, os gregos se apegaram a outra parte do direito: o uso da oratória.

“O historiador Moses Finley... chama a atenção para essa característica dos gregos:

‘Os gregos preferiam falar e ouvir... Heródoto, por exemplo, fez leituras públicas da
sua História... Platão exprimiu abertamente a sua desconfiança em relação aos
livros... Sócrates conseguiu a sua reputação apenas com uma longa vida de
conversação, já que não escreveu uma só linha’”.

“Os escritores do século IV eram na sua maioria oradores e professores de retórica.


Não por acaso, o direito grego é, antes de tudo, um direito retórico”.

3.A LEI GREGA ESCRITA COMO INSTRUMENTO DE PODER

Raquel coloca a teoria mais aceita sobre o surgimento das leis escritas:

“A escrita... somente dois reaprendida pelos gregos no século VIII a.C. e um dos
usos dessa nova arte foi a inscrição pública de leis... A explicação até agora mais
predominante tem sido a de que o povo grego, em determinado ponto da história
(por volta do século VII a.C.), começou a exigir leis escritas para assegurar melhor
justiça por parte dos juízes... O propósito seria o de remover o conteúdo das leis do
controle de um grupo restrito de pessoas e coloca-lo em lugar aberto, acessível a
todos”.

É apresentada, então, a outra percepção do fato. Nela, a vinda da escrita é


vista como uma forma de dominação da elite, não como uma conquista da
população em geral.

“No entanto, entre as objeções a essa teoria está a falta de evidência de que as leis,
antes dos legisladores, estivessem sob controle exclusivo de determinados grupos
da sociedade”.

“Uma versão mais recente, defendida por Michael Gagarin, é a da utilização da nova
tecnologia, a escrita, pela cidade (polis) como um instrumento de poder sobre o
povo... Eles podem ter limitado a autonomia dos magistrados judiciais, mas o poder
político absoluto continuava intocável”.

“Como resposta às perturbações e agitações que se formavam, muitas cidades


devem ter buscado na nova tecnologia da escrita uma forma de controle e
persuasão”.

“À medida que as cidades aumentavam em tamanho e complexidade, reconheciam


a necessidade de um conjunto oficial de leis escritas, publicamente divulgadas, para
confirmar sua autoridade e impor a ordem na vida de seus cidadãos”.

“Marcel Dettienne, em seu artigo... desenvolve a idéia de que a escrita, nos povos
antigos, além de sua complexidade intrínseca, estava confinada aos palácios e era
privativa de especialistas letrados... Porém, com a nova escrita alfabética,
mercadores, poetas, artesãos e o povo em geral, cada um a sua maneira,
começaram a usar escrita... a escrita muda de status e se torna ‘operador de
publicidade’”.

4.O DIREITO GREGO ANTIGO

Raquel discute a pouca importância dada ao direito grego no campo dos tratados:

“Os gregos não elaboraram tratados sobre o direito, limitando-se apenas à tarefa de
legislar (criação das leis) e administrar a justiça pela resolução de conflitos (direito
processual)”.

“Com o direito grego aconteceu um processo diferente do tratamento dispensado à


filosofia, literatura e história. Enquanto estes foram copiados, recopiados e
constantemente citados, nada se fez com relação às leis gregas, não havendo
compilações, cópias, comentários, mas pouquíssimas citações. Ficaram apenas
algumas fontes epigráficas e as menções feitas por escritores, filósofos e oradores”.

Apesar de não ser muito conhecida, as leis gregas, principalmente as


processuais, possuíam um grau de organização muito grande como se vê nas
passagens a seguir:

“Uma forma utilizada para classificar as leis gregas é a utilizada por Michael Gagarin,
categorizando-as em crimes (incluindo tort), família, pública e processual. A
categoria denominada por crimes e tort, que aproximadamente correspondia ao
nosso direito penal, inclui o homicídio que os gregos, já com Drácon (620 a.C.),
diferenciavam entre voluntário, involuntário e em legítima defesa... Ainda na
categoria de crimes e tort se incluem: as leis estabelecidas por Zaleuco, que fixou
penalidades para determinadas ofensas... as leis de Carondas, que também
estabeleciam penalidades para vários tipos de assaltos; as leis de Sólon, que
previam uma multa para estupro, penalidades específicas para roubo, dependendo
dos bens roubados, e penalidades para difamação e calúnia”.

“Classificadas como família, encontramos leis sobre casamento, sucessão, herança,


adoção, legitimidade de filhos, escravos, cidadania, comportamento das mulheres
em público etc”.

“Como leis públicas temos as que regulam as atividades e deveres políticos dos
cidadãos, as atividades religiosas, a economia (regulamentando as práticas de
comércio), finanças, vendas, aluguéis, o processo legislativo, relação entre cidades,
construção de navios, dívidas etc”.

Outra prova do alto nível evolutivo desse direito é encontrado na utilização


de árbitros públicos e privados.

“A arbitragem privada era um meio alternativo... sendo arranjada pelas partes


envolvidas que escolhiam os árbitros entre pessoas conhecidas e de confiança”.

“Por outro lado, a arbitragem pública visava a reduzir a carga dos dikastas, sendo
utilizada nos estágios preliminares do processo de alguns tipos de ações legais... A
ação pública podia ser iniciada por qualquer cidadão que se considerasse
prejudicado pelo Estado... A ação privada era um debate judiciário entre dois ou
mais litigantes”.

5.A RETÓRICA GREGA COMO INSTRUMENTO DE PERSUASÃO JURÍDICA

Fica esclarecido, aqui, o importante papel da retórica no direito grego.

“Steven Johnstone inicia seu livro... declarando:

‘A lei ateniense era essencialmente retórica. Não havia advogados, juízes,


promotores públicos, apenas dois litigantes dirigindo-se a centenas de jurados’”.

“É S.C.Todd quem talvez esclareça os motivos que levaram os gregos a


conservarem o direito nas mãos de amadores:

‘Em Atenas, contudo, a administração da justiça foi mantida, tanto quanto possível,
nas mãos de amadores, com o efeito (e talvez também o objetivo) de permanecer
barata e rápida. Todos os julgamentos eram aparentemente completados em um
dia, e os casos privados muito mais rápidos do que isso’”.

“É justamente nessa parte processual do direito, formada por litigantes, logógrafos e


júri popular, que se encontra a grande particularidade do direito grego antigo: a
retórica da persuasão”.

O funcionamento do processo grego é então detalhado por Raquel de Souza:


“O direito grego através de seus tribunais formados por um júri composto de cidadão
comuns... era atividade que fazia parte do dia-a-dia da maioria das cidades gregas”.

“A heliaia era o tribunal popular que julgava todas as causas, tanto públicas como
privadas... Os membros da heliaia, denominados heliastas, eram sorteados
anualmente dentre os atenienses”.

“A apresentação do caso era feita por discurso contínuo de cada um dos litigantes...
A votação era feita imediatamente após a apresentação... Não havia juiz”.

“Os litigantes dirigiam-se diretamente aos jurados através de um discurso... O


julgamento resumia-se a um exercício de retórica e persuasão”.

É nesse contexto que surge a figura do advogado que conhecemos:

“Cabia ao litigante convencer a maior parte de jurados e para isso valia-se de todos
os truques possíveis. O mais comum... foi o uso de logrógafos, escritores
profissionais de discursos forenses. Podemos considera-los como um dos primeiros
advogados da história”.

“O júri regularmente permitia que um parente, ou associado, auxiliasse um litigante...


as pessoas que prestavam auxílio, no início, eram recrutadas dentre os parentes de
sangue ou de casamento... Pelos meados do quarto século a.C., a prática ficou
firmemente estabelecida e os litigantes já não mais fingiam que a pessoa que
prestava auxílio era na verdade um amigo e até mesmo um profissional”.

“A retórica dos logógrafos tornou-se um dos mais eficazes meios de persuasão... Em


seu tratado, Retórica, Aristóteles diferencia três tipos de retórica: deliberativa,
judiciária e epidítica. A retórica judiciária, segundo Aristóteles, visava ao júri e tratava
de eventos passados”.

É feita, ainda, uma menção à peculiar figura do sicofanta no direito grego:

“Tem-se ainda, no rol de personagens do sistema processual do direito grego antigo,


a figura dosicofanta, um produto do próprio sistema que permitia e estimulava que
qualquer cidadão grego iniciasse uma ação pública (graphé).O estímulo era dado
por meio de leis que concediam percentuais, pagos ao acusador, sobre a quantia
que o acusado deveria pagar ao Estado”.

6.AS INSTITUIÇÕES GREGAS

Os órgãos do governo

O primeiro órgão apresentado é a assembléia:


“A Assembléia (ekklêsia) era composta por todos os cidadãos acima de 20 anos e
de posse de seus direitos políticos”.

“A Assembléia constituía-se no órgão de maior autoridade, com atribuições


legislativas, executivas e judiciárias. Competiam-lhe: as relações exteriores, o poder
legislativo, a parte política do poder judiciário e o controle do poder executivo”.

Em seguida, o Conselho:

“O conselho (boulê), composto de 500 cidadãos... com idade acima de 30 anos e


escolhidos por sorteio a partir de candidatura prévia, era renovado a cada ano”.

“O papel do Conselho, devido a sua dedicação total à atividade pública, era o de


auxiliar a Assembléia e alivia-la das atividades que requeriam dedicação total,
funcionando como parlamento moderno”.

Na seqüência, os estrategos:

“Os estrategos foram instituídos em 501 a.C., em número de dez, sendo eleitos pela
Assembléia, e podendo ser reeleitos indefinidamente... Tinham como atividades
principais o comando do exército, distribuição do imposto de guerra, dirigir a política
de Atenas e a defesa nacional”.

A última instituição a ser mostrada é a referida aos magistrados:

“Os magistrados eram sorteados dentre os candidatos eleitos, renovados


anualmente e não podiam ser reeleitos... Os atenienses tinham vários tipos de
magistraduras, quase sempre agrupadas em forma de colegiado”.

Um resumo das funções dos órgãos é, então elaborado:

“O Conselho: -examina -prepara as leis -controla

A Assembléia: -delibera -decide -elege e julga

Os Estrategos: -administram a guerra -distribuem os impostos -dirigem a política

Os Magistrados: -instruem os processos -ocupam-se dos cultos -exercem as


funções municipais”

A justiça e os tribunais

É feita uma breve introdução sobre como funcionava a justiça grega, como estava
dividida e a quem ela estava subordinada:

“Como detentor da soberania, ao povo, e somente a ele, cabia administrar a justiça e


resolver conflitos através de instituições populares e com a característica adicional
da ausência total do profissionalismo. As instituições atenienses... podem ser
agrupadas em duas categorias: (a) justiça criminal e (b) justiça civil”.
a)Justiça criminal

Sobre a justiça criminal:

“O Areópago era o mais antigo tribunal de Atenas... Com as sucessivas reformas


(Clístenes e Efialtes), teve seu poder esvaziado, perdendo várias atribuições,
inclusive as políticas. No quarto século, somente julgava os casos de homicídios
premeditados ou voluntários”.

“O tribunal dos Efetas era composto de quatro tribunais... O Areópago enviava a


esses tribunais os casos de homicídio involuntário ou desculpáveis”.

b)Justiça civil

Inerente à justiça civil:

“Os juízes dos demos, em número de 30 e mais tarde de 40, escolhidos por sorteio,
percorriam os demos e resolviam de forma rápida os litígios que não ultrapassassem
10 dracmas”.

“Os árbitros podiam ser privados ou públicos… Funcionava também como sistema
rápido e econômico para a solução de litígios entre familiares”.

“A heliaia foi a grande demonstração de que o povo era soberano em matéria


judiciária, por ser um tribunal que permitia que a maior parte dos processos fosse
julgada por grandes júris populares”.

“Finalmente, havia os juízes dos tribunais marítimos (nautodikai), que se ocupavam


dos assuntos concernentes ao comércio e à marinha mercante, além das acusações
contra os estrangeiros”.

7.CONSIDERAÇÕES FINAIS

Raquel de Souza recapitula os motivos para a pouca importância dada ao


direito grego atualmente:

“Três fatores adicionais contribuíram para o direito grego não ocupar a importância
que merece. Primeiro, o desenvolvimento da escrita e a publicação de textos em
material; durável aconteceu paralelamente à evolução da sociedade grega e do
direito. Em segundo lugar, a obstinação dos gregos em não aceitar a
profissionalização do direito... Finalmente... muito pouco material sobreviveu para
servir ao estudioso do direito grego antigo”.

Raquel finaliza exaltando as qualidades do direito grego:


“Os gregos antigos não só tiveram um direito evoluído, como influenciaram o direito
romano e alguns de nossos modernos conceitos e práticas jurídicas: o júri popular, a
figura do advogado na forma embrionária do logógrafo, a diferenciação de homicídio
voluntário, involuntário e legítima defesa, a mediação e a arbitragem, a gradação
das penas de acordo com a gravidade dos delitos e, finalmente, a retórica e
eloqüência forense”.

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