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20122013 2083
REVISÃO REVIEW
uma revisão bibliográfica
Abstract The scope of this article is to analyze Resumo O artigo analisa artigos publicados en-
papers published between 2003 and 2011 that fo- tre 2003 e 2011 enfocando discussões sobre condi-
cus on discussions regarding chronic conditions ções crônicas ou doenças crônicas de crianças e
or chronic diseases in children and adolescents. It adolescentes. Metodologicamente conjuga a revi-
combines a methodological review of the litera- são de literatura a uma análise de conteúdo te-
ture and thematic analysis of content in order to mática com vistas a identificar quais os elemen-
identify the elements that characterize chronic tos que caracterizam doenças crônicas em crian-
diseases in children and adolescents and the spec- ças e adolescentes e as especificidades geradas por
ificities generated by these chronic conditions. essas condições. A revisão resultou na descrição
The review of the literature resulted in a descrip- do conjunto dos artigos, caracterizando-os quan-
tion of the series of articles identified by year of to ano de publicação, país, tipo de estudo, popula-
publication, country of origin, type of study, pop- ção e condição de cronicidade abordada. A análi-
ulation and the chronic condition addressed. The- se de conteúdo temática gerou dois temas: Defini-
matic content analysis generated two core themes: ção de Doença Crônica e Formas de se lidar com
Definition of chronic disease and Ways of han- as doenças crônicas em crianças e adolescentes.
dling chronic disease in children and teenagers. Destaca-se como conclusão que as transições etá-
The main conclusion reached is that the age tran- rias quando uma doença é diagnosticada e trata-
sitions when a disease is diagnosed and treated da desde a infância, vai passar por transforma-
since childhood involve transformations that in- ções que incluem a maneira como se dá o seu flu-
1
Departamento de Ensino,
clude changes in health facilities, discharge pro- xo entre os serviços e as mudanças que envolvem
Instituto Fernandes Figueira
(IFF), Fundação Oswaldo cesses, decision making and networking that in- processos de alta, de tomada de decisão e de cons-
Cruz (Fiocruz). Av. Rui clude family, hospital, school and institutions that trução de rede que inclua família, hospital, escola
Barbosa 716/5º andar/Saúde
guarantee the child’s rights. e sistema de garantia de direitos.
e Brincar-Programa de
Atenção Integral à Criança Key words Chronic health conditions, Chronic Palavras-chave Condições crônicas de saúde,
Hospitalizada, Flamengo. disease, Child, Adolescent, Review of the litera- Doença crônica, Criança, Adolescente, Revisão
22.250-020 Rio de Janeiro
ture bibliográfica
RJ Brasil.
moreira@iff.fiocruz.br
2
Pós-graduação em Saúde
da Criança e da Mulher, IFF,
Fiocruz.
3
Fisioterapia Motora, IFF,
Fiocruz.
2084
Moreira MCN et al.
p
- pranchas de
totalmente implantado Interação com o comunicação;
meio: comunicação, - programas de
p expressão e função computador
motora.
p p
p
e qualidade de vida
ca, das representações, interpretações e valores cias de acordo com a faixa etária e a participação
sobre a existência. E mais uma vez, torna-se im- ativa no processo decisório de seu tratamento
perativo situar qual o sujeito que adoece croni- assim como na transição entre os serviços10-
14,19,21,23-25,29,31-35,41,42,45,47
camente, se adulto, criança ou adolescente, na . Já o segundo núcleo de
definição de um quadro crônico e de suas conse- sentido se relaciona à defesa da ideia de que para
quências. se lidar com as condições crônicas se faz necessá-
A segunda temática – Formas de se Lidar com rio a criação de redes de apoio, tais como siste-
as Doenças Crônicas – se resume em dois núcleos mas organizacionais e de suporte mediante os
de sentido, ilustrados na árvore de ideias a seguir quais os cuidados são empreendidos8-15,17,18,21,23-
25,27,29-37,39-41,44,45,47,48
(Figura 2). .
O primeiro núcleo se refere a propostas de se No que se refere à segunda árvore de ideias
promover o protagonismo da criança e do ado- (Figura 2), destaca-se que no momento em que
lescente no cuidado da saúde, incluindo-se estra- se assume a necessidade de situar a doença na
tégias lúdicas na comunicação adaptada de notí- vida, ao defini-la, são alcançados seus sujeitos,
2088
Moreira MCN et al.
Núcleo de
Sentido 1: Estratégias lúdicas na
Protagonismo comunicação adaptada
p
da criança e do de notícias de acordo
adolescente com a faixa etária
Participação ativa no
p p
processo decisório de Construção de autoimagem:
seu tratamento assim elação com as marcas da
como na transição doença
entre os serviços
Formas de Lidar
com as Doenças
Crônicas na vida
p de crianças e
adolescentes
PARTICIPAÇÃO,
COMUNICAÇÃO
DE NOTICIAS,
INCLUSÃO
p
Núcleo de
Sentido 2:
Redes de Apoio e
Sistemas
Organizacionais
p
p
Relação entre família, serviço de
saúde e redes de apoio que facilitem Sensibilização das escolas
processos de alta possibilitando uma frequência
adaptada às interrupções que
derivam de internações
Figura 2. Árvore de ideias relacionadas às Formas de se lidar com as doenças crônicas em crianças e
adolescentes.
alguns conceitos são recorrentes, tais como, co- nificar enfrentar as relações entre situações nega-
ping, papéis sociais, adaptação/inclusão, aconse- tivas e influências na aderência ao tratamento.
lhamento, autoestima, imagem corporal, estres- Significativo refletir aqui sobre as relações que as
se, e ainda alguns quadros associados, tais como, crianças estabelecem com seus cuidadores e suas
o da síndrome de Burnout, para afirmar a espe- sensibilidades em identificar aspectos de atenção,
cificidade e a relevância da doença crônica como escuta, capacidade de oferecer acolhimento e
um fator que intervém no desenvolvimento. como estes podem estabelecer circuitos de troca
O tema da comunicação, seja ela intrafamiliar positiva durante processos de tratamento e
ou das equipes com as famílias ou crianças ou hospitalização.
adolescentes, se destaca sobre como incluir, em No conjunto dos estudos revisados, há al-
que momento e com que apoios a criança em guns que consideram crianças e adolescentes
processo de crescimento e que chega à adolescên- como sujeitos que reconhecem situações negati-
cia no seu tratamento de saúde26. A relação entre vas e positivas, e esse reconhecimento pode pro-
autoeficácia e autoconceito media a interação en- mover estratégias de adaptação à doença que vão
tre desenvolvimento individual e interação com o influenciar no processo de negociação de estraté-
ambiente social. Valorizam a perspectiva de que gias de cuidado para esse segmento. Citamos aqui
ter conhecimento acerca de si mesmo e do mun- o reconhecimento do brincar como mediador
do externo contribui para o desenvolvimento de para os tratamentos de saúde e a necessidade da
competências, e ainda para a aquisição de um sen- presença dos pais durante hospitalizações e tra-
tido de eficácia pessoal. Essa visão utilitarista e tamentos 25,41.
funcional do conhecimento os aproxima de uma Assim, esses artigos contribuem para refletir
leitura reducionista, a qual pode ser alvo de críti- sobre as seguintes especificidades: a) crianças com
cas na medida em que o conhecimento/informa- necessidades de cuidados especiais de saúde ne-
ção, por si só, não garante mudanças de compor- cessitam ser recebidas para tratamentos a partir
tamento28, ainda mais quando os sentimentos de das suas necessidades e das demandas que ge-
insegurança e a realidade socioeconômica marca- ram, em virtude da condição de saúde que as
da pela pobreza impossibilita o cumprimento de marca, e de serem sujeitos em desenvolvimento.
planos e acordos. Nesse marco analítico há uma Assim os marcadores delimitariam o quanto,
comunicação entre definições já anteriormente como e onde precisariam de medicalização, mo-
identificadas, como por exemplo, as condições nitorização, suporte tecnológico e cuidados con-
crônicas em crianças se revelam como promoto- tínuos. Daí definirem as condições complexas
ras de cuidados complexos. Nesses artigos, ou- como aquelas referidas às necessidades continu-
tros atores tornam-se sujeitos de pesquisa, no caso adas de saúde: longo tempo de oxigenoterapia
os professores39, destacando que em relação a cri- ou ventilação assistida, alimentação e com limi-
anças e adolescentes com AIDS e epilepsias a per- tações motoras e cognitivas (escuta, aprendiza-
cepção desses profissionais está marcada pelos gem, mobilidade e comunicação). Ou seja, essa
pré-conceitos. Por exemplo, a imagem de que a definição é gerada a partir da descrição de quais
epilepsia leva a uma incapacidade neurológica e a necessidades de suporte essa criança possui; b)
alterações comportamentais que mobilizam a re- crianças são diferentes de adolescentes, e quanto
organização da estrutura escolar. maior a idade maior o acúmulo de repertório
O envolvimento de várias categorias de pro- que lhes permite desenvolver estratégias mais
fissionais é importante, principalmente se esses apoiadoras no processo de viver a doença11,12,23;
conseguem perceber as crianças e os adolescen- c) no que se refere ainda aos adolescentes, ganha
tes em condições crônicas para além de avalia- destaque para eles o fato de que precisam comu-
ções comportamentais. Ou seja, é importante que nicar-se com seus médicos29.
os profissionais fiquem atentos não só aos riscos No que se refere ao avanço na perspectiva de
que comportamentos podem oferecer aos gru- um sistema de atenção a saúde, esse grupo de
pos de convivência, mas também prestem aten- artigos apontam para a complementaridade en-
ção ao sofrimento que pode ser expresso na ex- tre as medidas para monitoramento e medição
periência de gerenciamento da condição crônica, da eficácia da prática clínica e os indicadores ba-
não passando despercebidas as capacidades de seados na clínica convencional (análises labora-
crianças e adolescentes. torial e radiológica). Nesse cruzamento pode ser
Com relação ao reconhecimento das crian- possível a avaliação do sucesso e bem-estar do
ças e de suas expressões, Lemetayer25 assinala que paciente, buscando para tanto suporte nos pro-
conhecer suas estratégias de adaptação pode sig- tocolos de qualidade de vida.
2091
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