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O proteccionismo de Trump
por Prabhat Patnaik [*]
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06/11/2018 O proteccionismo de Trump
Ultimamente tem havido muita conversa sobre como a economia mundial estaria a
recuperar-se e de como os EUA em particular estariam a sair da crise, com a sua taxa
oficial de desemprego agora reduzida a meros 4,1 por cento. Mas se isto fosse realmente
o caso, então a administração Trump não teria razão para introduzir as suas medidas
proteccionistas.
Se o mercado de trabalho está tão tenso quanto sugere a taxa de desemprego de 4,1 por
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cento, então tarifas mais elevadas provocariam não produção interna mais alta nos
sectores protegidos mas, ao contrário, apenas um aumento dos seus preços, isto é, não
ajustamento da produção mas apenas ajustamento do preço. Isto significaria uma mera
promoção gratuita da inflação interna que é contraproducente para a economia. O facto de
a administração Trump ter recorrido ao proteccionismo indica portanto que o mercado de
trabalho não está de modo algum tão tenso como se diz, que a crise persiste na economia
dos EUA.
Outros indicadores também confirmam este ponto de vista. Exemplo: apesar de a taxa de
desemprego oficial ser de 4,1 por cento, a qual é mais baixa do que no início de 2008
quando a crise começou, a taxa de participação do trabalho, isto é, o rácio entre aqueles
empregados ou à procura de trabalho e a população em idade de trabalhar, continua a
permanecer abaixo da que existia na data inicial. Se assumirmos que a mesma taxa de
participação do trabalho de hoje existisse em Janeiro de 2008, então a taxa de
desemprego nos EUA de hoje seria não de 4,1 por cento mas sim de 6,1 por cento.
que o mercado de trabalho está longe estar tenso e que os 4,1 por cento é um número
enganoso. E agora a medida proteccionista de Trump apenas confirma que a economia
dos EUA, sobre a qual a recuperação da totalidade do mundo capitalista está tão
vitalmente dependente, continua a estar afundada na crise.
O que é digno de nota é o facto de que Trump tenha recorrido ao proteccionismo como a
saída da crise, o que também está em conformidade com o que ele prometera durante a
sua campanha eleitoral. Ele não está a pensar numa expansão do mercado estado-
unidense através de despesas públicas mais vastas. A razão porque não está a fazer isso
é porque uma tal estratégia exige que despesas públicas mais vastas teriam de ser
financiadas ou através de uma tributação sobre capitalistas (pois tributar trabalhadores
que na generalidade consomem o seu rendimento compensa o efeito expansionista da
despesa pública através de uma redução correspondente no consumo dos trabalhadores),
ou através de um défice orçamental – e ambos são anátema para o capital financeiro.
Uma vez que não há um plano para expandir a dimensão do mercado nos EUA através de
maiores despesas públicas, o proteccionismo significa simplesmente que uma fatia maior
do mercado existente está destinada à produção interna. Isto equivale, por outras
palavras, a efectuar uma expansão na produção e emprego interno através do
arrebatamento de uma parte do mercado aos produtores localizados em outros países, o
que significa que a geração de emprego dentro do país seria acompanhada pela
destruição de emprego em outros países. Esta política, que é mencionada como política
de "empobreço meu vizinho" (isto é, eu ganho às expensas do meu vizinho), é assim uma
manifestação do terrível estado do mundo capitalista no presente, geradora de piores
coisas que estão para vir.
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06/11/2018 O proteccionismo de Trump
É porque o capital-como-finança não está de todo a ser restringido que a oposição das
finanças a défices orçamentais tem de ser respeitada. Isto descarta qualquer activismo
orçamental por parte do Estado para ressuscitar a economia e deixa o proteccionismo
como a única opção remanescente, especialmente desde que a política monetária se
demonstrou ineficaz. As restrições ao capital-na-produção são, em suma, uma medida
desesperada a qual é necessitada, ironicamente, pela ausência de quaisquer restrições
ao capital-como-finança.
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06/11/2018 O proteccionismo de Trump
globalização, o presente esforço pode ser encarado como tentar fazer frente às
consequências (fall-out) da globalização sem negar a globalização.
25/Março/2018
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