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Rosas e Livros

Laurent and the Beast


K.A. Merikan
Tradução: Denise Amorim.
Revisão: Lanna.
Leitura e Formatação: Fanny.
Próximos:
*My Dark Knight
*On Your Knees, Prospect
*Gray's Shadow
Nada pode impedir o amor verdadeiro. Nem o
tempo. Nem mesmo o próprio diabo.

1805. Laurent: Um trabalhar escravo por contrato. Desesperado para


escapar de uma vida que está caindo aos pedaços.
2017. Beast: Vice-presidente do Kings of Hell MC. Seus punhos falam.

Beast foi desfigurado em um incêndio, mas ele cobriu sua pele com
tatuagens para garantir que ninguém confundisse suas cicatrizes com
fraqueza. O acidente, além de machucar o seu corpo, danificou a sua alma
e autoestima, então ele se envolveu em um casulo de violência e caos, onde
ninguém pode alcançá-lo.
Até uma noite, quando ele encontra um jovem coberto de sangue na
casa do clube.
Doce, inocente e tão bonito como um anjo caído do céu, Laurent puxa
todas as cordas do coração de Beast. Laurent está tão perdido no mundo
ao seu redor, e é um mistério tão complicado, que Beast não consegue
deixá-lo assim, e ajuda o homem que tenta abrir um caminho pela pedra
que é o coração de Beast.
Em 1805, Laurent não tem família, nem meios, e sua visão está
falhando. Para escapar de uma vida de pobreza, ele usa sua beleza, mas
isso só causa contra-ataque e o leva a uma catástrofe que muda sua vida
para sempre. Ele dá um passo para um abismo e é transportado para o
futuro, pronto para lutar por uma vida que vale a pena viver.
O que ele não espera encontrar no seu caminho é uma parede brutal
e grosseira de músculos tatuados com um lado macio que somente Laurent
é autorizado a tocar. E, no entanto, se Laurent quiser ganhar sua liberdade,
ele pode ter que arrancar o coração do próprio homem que cuidou dele
quando mais importava.
Póssiveis Spoilers:
Temas: Viagem no tempo, escravidão, assassinatos em série, crueldade,
moto clube, estilos de vida alternativos, deficiência, demônios, tatuagens,
escolhas impossíveis, engano, crime, autodescoberta, cura, virgindade,
magia negra, gótico.

ATENÇÃO: Esta história contém cenas de violência, linguagem ofensiva,


e personagens moralmente ambíguos.
Capítulo Um Beast
Brecon, Maine, abril de 2017

Pelo canto do olho, Beast viu seu pai dando beijos e mordendo sua
namorada, Martina, de frente, e em seguida, a garota magra beijou o homem
que a estava tomando por trás. A cerveja tinha um sabor amargo, mas Beast
bebeu mais, mesmo assim, batendo os dentes na garrafa de vidro com tanta
força que ele temeu que quebrasse da força de sua mandíbula flexionada.

Batidas pesadas explodiam no interior do clube, um antigo asilo, e


retumbava sob o teto alto. O toque violeta e verde na iluminação mostrava
as formas escondidas além do seu alcance, fazendo até mesmo a coisa mais
mundana parecer fantástica. No canto da sala grande, se escondendo sob o
brilho violeta, os três amantes se moviam como um; transformados pela
sombra e fumaça, como se fossem um corpo monstruoso pulsando com
velocidade, torções e tremores, como se estivessem prestes a deixar as
sombras e atacar Beast com toda a sua ferocidade.

Eles estavam se movendo mais rápido agora, pegos em um ritmo que


teria que acabar em breve. Dois pares de membros volumosos enrolados em
volta da carne trêmula da mulher no meio, furiosamente empurrando no
corpo esguio, prestes a chegarem à conclusão, antes de se desintegrarem em
corpos separados.

Beast estava nos bastidores com os braços cruzados sobre o peito,


calmamente olhando o buffet de carne que ele poderia provar, se desejasse.
E a verdade era que ele adoraria se juntar ao clube, sem inibições e sem
vergonha, da forma como ele costumava fazer. Ele pegaria Spike primeiro. O
bonito hangaround1 pairava ao redor, e tinha um tesão pelos motociclistas e

1
Uma pessoa que “anda por aí” em um clube de motocicletas e pode estar interessada em participar.
nunca perdia a oportunidade de ser fodido por um cara com um patch2, ele
sempre estava disposto a abrir as pernas nas festas, e até mesmo o terno que
ele usava para trabalhar havia sido deixado em Portland.

Beast poderia facilmente foder o cara, ele tinha apenas que enfiar seu
pau na boca escancarada dele e observar o rubor se espalhar pelo seu rosto,
depois de gozar no peito de Spike. E o pior era que ele tinha apenas que dizer
isso em voz alta para Spike cair de joelhos na frente dele, pronto para receber
seu pau. Beast sabia que o cara já tinha riscado o nome dos outros membros
do Kings of Hell MC de sua listinha, além de enviar olhares sugestivos na
direção de Beast. Mas Beast não era um maldito show de aberração, e não
queria a piedade de alguém, ou ser outro cara na coleção de parceiros sexuais
de Spike.

Ele também não seria um atalho para alguém querendo ser prospecto3.

Beast duvidava que qualquer um desses carinhas que fodiam todo


mundo iriam querer que ele ficasse perto deles, a menos que fosse por
curiosidade mórbida ou para obter favores.

O tempo todo ele se perguntava se alguém realmente se sentiria atraído


por ele. Não. Assim era melhor. Continuaria observando.

Enquanto ele tinha desviado o olhar, King, o pai de Beast, Martina e o


outro cara tinham terminado de foder. Ela deslizou do colo do terceiro cara,
e tropeçou nos braços de King, compartilhando mais um beijo com ele. Ela
puxou a saia e voltou para as luzes com a mão apoiada contra a parede para
se apoiar, parecendo tonta, embora pudesse ser da dupla penetração ou de
ter bebido muito – Beast não sabia. Ela acenou para ele e tropeçou logo
depois, felizmente agarrando a cadeira mais próxima para se apoiar, em vez
de cair contra a coleção de garrafas e copos sujos na mesa.

Uma mão pesada pousou na pele de Beast de forma tão abrupta que ele
mal se impediu de tremer quando os nervos mutilados de seu ombro gritaram
em alarme. Ele sabia quem era antes de seu pai falar.

2
É a costura/emblema que eles usam atrás de seus coletes indicando seu clube, entre outras coisas. Patche(s): no
mundo MC é como sobem as fileiras, “ganhando” o patch.
3
Um Prospecto é um membro em treinamento. Um tipo de "estágio" para se tornar um membro oficial e ganhar seu
patch como tal.
A braguilha de King ainda estava aberta, o que fez Beast imediatamente
olhar para o rosto bonito que sempre o lembrava de sua boa aparência há
muito perdida. Ele costumava ser uma imagem espelhada do seu pai. Pena
que bons genes não tinham chance alguma contra o fogo. Olhar para a forma
máscula de King e suas características marcantes era um lembrete diário de
como Beast poderia ser se não tivesse sido desfigurado em um acidente há
doze anos.

Seu velho poderia facilmente ser um daqueles caras quentes do cinema,


com seus cinquenta e poucos anos de idade, e ainda parecia uma dessas
estrelas de Hollywood que as pessoas pareciam tão afeiçoadas. Seu cabelo e
barba ainda tinham o tom loiro-dourado, lábios rosados e carnudos, como
os de um homem jovem; e seu corpo gritava vitalidade, apesar de toda a
violência, álcool e noites sem dormir ao qual foi submetido em toda a vida
dele.

— Ainda não transou? — King perguntou, mostrando duas fileiras de


dentes perfeitamente brancos. — Eu vou perguntar todos os dias até que isso
aconteça — ele disse, cavando os dedos na carne dolorida de Beast, fazendo
que ele se esforçasse para não vacilar com as sensações de alerta que seus
nervos danificados estavam enviando ao seu cérebro.

Beast não podia mostrar fraqueza, não após o acidente que deixou seu
corpo um campo minado de dor - mais outra razão pela qual foder
casualmente durante uma festa parecia mais alarmante do que emocionante.
E se eles tocassem em Beast com muita força e o fizessem gritar de dor? E
se eles começassem a falar que o filho do presidente era um fracote que
gritava de dor quando era tocado? O clube era a única família que Beast
tinha. Sua única razão de ser. E ele não poderia colocar sua posição aqui em
perigo, porque King não iria segurá-lo, se ele caísse.

— Apenas relaxando. — Beast disse, passando uma garrafa fria no seu


pescoço.

A boca de King se esticou em um largo sorriso, e ele deu um tapinha


nas costas de Beast. — Apenas o seu pau está relaxado, estou certo?
Beast obrigou-se a sorrir, e seu olhar vagou até o conjunto de sofás e
cadeiras. No início desta noite, o amigo mais próximo de Beast, Knight, e sua
namorada Jordan, pareciam ter voltado ao normal, mas o humor deles deve
ter se deteriorado ao longo das últimas horas, porque eles estavam agora
afastados um do outro e gritando sobre seus ombros.

Às vezes, Beast considerava tentar encontrar um parceiro regular – se


houvesse um homem interessado nele o suficiente para isso – porque dessa
forma, ele poderia ensinar a um cara como realmente tocá-lo, ao invés de ter
que fazê-lo uma e outra vez, cada vez que ele ficava com alguém como tinha
que fazer com cada amante casual. As pessoas não queriam fazer um esforço
com um homem tatuado com queimaduras e uma vida nas sombras, quando
havia tantos mais fáceis para se estabelecer, como um simples clique de um
botão. E então, Beast pensou no relacionamento de Knight e Jordan e
estremeceu, e logo perdeu o interesse em qualquer tipo de romance. Estar
com alguém só iria trazer mais dificuldade e aborrecimento do que
permanecer celibatário.

King gemeu. — Você está em um de seus humores de novo?

— Meus humores? — Beast perguntou, como se ele não soubesse o que


seu pai queria dizer. King era do tipo que acreditava que o cara tinha que
estar sorrindo o tempo para não passar por mal-humorado. E Beast estava
muito bem. Ele se sentia completamente normal. Observar os casais que
realmente tinham uma ligação romântica e sexual só havia machucado nos
primeiros meses depois que ele percebeu que não iria mais ter esse tipo de
ligação novamente. Ele tinha a pele mais áspera agora, e tinha as cicatrizes
para provar isso.

King ergueu as mãos em derrota e riu. — Está bem, está bem. Pelo
menos tome outra cerveja.

Beast apertou sua mão ao redor da garrafa, e parou quando percebeu


que a última coisa que queria era aumentar a sua coleção de imperfeições na
mão.

Com a música tocando alto e todos precisando gritar para ouvir uns aos
outros, Beast não tinha notado uma briga começando no outro lado da
grande sala, mas dois homens empurrando um ao outro, eventualmente,
chamou a atenção dele e o afastou de King. Um deles era o seu VP4, Davy, o
outro Gyro, um recém-chegado que foi convidado por uma das meninas.
Quase ninguém percebeu o que estava acontecendo, e, no entanto, mesmo
com a banda tocando alto, Beast já estava correndo pelo meio da multidão,
entre as pessoas envolvidas em uma dança de acasalamento que em breve
passaria para os sofás ou para os quartos mais próximos.

— Que porra é essa, afinal? — Gyro gritou e empurrou Davy com força,
e o chapéu favorito de Davy de pêlo de guaxinim caiu. As coisas estavam
prestes a ficarem feias.

Os olhos de Davy estavam brilhando de fúria. — Você não vem a uma


orgia e espera apenas ficar coberto de bucetas. Um cara acariciou seu ombro!
Supere isso, seu filho da puta!

Não desta vez. Beast não era responsável por expulsar pessoas novas,
mas em momentos como estes, ele desejava que fosse, para que pudesse lidar
com tudo isso, mesmo que alguns dos seus irmãos carecessem do senso de
responsabilidade exigido para o trabalho, permitindo a entrada de algum
homofóbico na sede do clube. Pelo menos essa briga iria dar-lhe algo para
fazer, em vez do mau humor em que ele estava por não ter conseguido
nenhum tipo de ação por tanto tempo.

A música parou. Primeiro a guitarra, depois a voz, e a bateria ainda


levou alguns segundos a mais, antes do cara perceber que as coisas estavam
mais aquecidas que o normal. A voz de Gyro estava alta e clara no vazio
deixado pela falta do som do heavy metal.

— Você chama a si mesmo de motoqueiro? Vocês são um bando de


maricas amantes de pau — ele rosnou e jogou uma garrafa na parede, seu
corpo cheio de bebida balançando para recuperar o equilíbrio após o
movimento rápido. A garrafa quebrou em um milhão de pedaços, mas o som
de vidro foi rompido e afogado pelo ataque de gritos e barulhos quando os
motociclistas voltaram sua atenção para os insultos lançados contra eles.

4
Vice-presidente.
Joker empurrou a menina que estava em seu colo e levantou, saltando
sobre o banco de trás do sofá de couro, ágil como um acrobata em sua camisa
verde brilhante, que certamente escondia uma coleção de armas que
poderiam ser usadas contra o delinquente que tinha vindo aqui para quebrar
as regras do clube.

— Nós agimos fora da lei. Nós fazemos o que diabos queremos! Você
tem um problema comigo por foder um cara quando eu quiser? Talvez meu
pau deva entrar em sua bunda para lhe mostrar como é, não acha? Quer ser
convertido? — Joker vaiou, empurrando para trás o seu cabelo brilhante e
espetado que tinha ficado ligeiramente despenteado, provavelmente por estar
transando com a garota.

Os olhos de Gyro se voltaram para Joker, e antes de Beast poder chegar


até ele, o filho da puta puxou uma arma. Uma pequena, uma que as
mulheres eram encorajadas a levar em suas bolsas, mas não importava o
quão pequena fosse à arma de fogo, ela poderia fazer um monte de danos. —
É melhor você se manter bem longe!

A atmosfera em torno de Beast ficou pesada, como alcatrão arrefecido.


Alguns de fora se espalharam, gritando de medo, se escondendo atrás de
móveis ou fugindo da sala, alguns sem suas roupas. A enorme sensação de
pânico no ar era azeda, e as gengivas de Beast coçavam com a violência.

Ele se abaixou e ficou atrás dos sofás, com a intenção de se aproximar


do filho da puta por trás. As pontas de cigarro e sujeira espalhada no chão
eram nojentas contra as pontas dos seus dedos, mas ele avançou em direção
ao inimigo o mais rápido e silenciosamente possível, a cabeça pulsando ainda
mais. Quanto mais tempo levasse para desarmar o filho da puta, mais
perigosa a situação ficaria. Beast não queria isso. Não em sua casa.

— Vamos, não seja idiota. — Rev, o seu sargento de armas, disse em


uma voz calma e firme. Sua personalidade confiável era uma das razões pelas
quais ele se ajustava como o policial do clube, e talvez ele pudesse
proporcionar distração suficiente para Beast atacar o pedaço de lixo por trás.

— Eu? Vocês são fodidamente ridículos. Nem carregam sua maldita


arma com vocês! — Gyro gritou o insulto, e Beast cerrou os dentes. Neste
ponto, durante uma festa, todos os membros do clube estavam muito
bêbados para acertar um inimigo armado sem que fosse um risco para todos
os outros, mas se Rev mantivesse as negociações, a situação ainda poderia
ser resolvida. Ninguém precisava de um civil morto e enterrado no quintal do
clube, só porque ele agiu muito rápido e se considerava intocável.

Knight deve ter notado o que Beast estava fazendo, porque seus olhos
se encontraram por uma fração de segundo, e Knight casualmente afastou
seus longos cabelos para trás e deu mais um passo para perto de Gyro.
Inevitavelmente, Gyro virou a arma para ele, mas pelo menos afastou a
atenção de Beast.

— Quantas balas você tem nessa arma pequena, seu imbecil? Em


quantas pessoas você pode atirar antes que alguém arrombe o seu cérebro
com uma bala? — Knight perguntou em voz baixa.

Não era exatamente a abordagem que Beast usaria ao conversar com


um homem armado e que estava bêbado ou drogado, mas serviria como
distração. No momento em que o filho da puta abriu a boca, toda a sua
atenção sobre Knight, Beast saltou sobre as pernas dele para derrubá-lo
como uma árvore.

Gyro soltou um grito agudo, mas, assim que ele bateu no chão, a arma
disparou seguida de um estrondo.

Beast torceu a mão de Gyro para fazê-lo soltar a arma de fogo, então
deu um soco poderoso que acertou o rosto do cara. O cheiro de enxofre
explodiu inesperadamente em seu rosto, e o salão rompeu em gritos. A
cabeça de Beast se ergueu e, na nuvem pálida de fumaça e pó, ele viu um
homem lutando contra um grande bloco, espalhado pelos escombros. A luz
ambiente iluminava o suficiente do teto, e com o seu coração batendo
furiosamente, Beast notou um grande entalhe na decoração esculpida na
parte de cima - a fonte dos detritos que choveram para o chão em grandes
pedaços, em vez de pequenos.

Lizzy, o líder da banda, pulou do palco, gritando para alguém chamar


uma ambulância para seu pai, mas quase ninguém ouviu a agitação. Mais
pessoas estavam fugindo da sala agora, para não correrem mais risco de
levar uma bala, e Beast calculava que todos deveriam evacuar.

Gyro se contorcia debaixo dele, tentando se livrar do aperto de Beast.

— Sinto muito! — ele gritou, agora soando lamentável, e com medo por
sua vida. Tarde demais para isso.

Rev estava ao lado de Davy, levantando pedaços de madeira e tijolo ao


lado de Lizzy, Knight, e Joker.

— Eu disse que este lugar não era seguro! Se quisermos realmente


investir aqui, temos que reformar, ou temos que nos mudar! — ele rosnou,
jogando um grande pedaço de detritos tão forte que atingiu a parede mais
próxima e caiu com um baque surdo.

Apenas alguns segundos depois, Beast percebeu que King e Rev


estavam discutindo. — Só deixa de ser seguro quando alguém atira no teto,
pelo amor de Deus!

— E como um tiro no teto iria fazer desabar um edifício normal? Vá


tomar uma ducha fria. — Rev chiou, forçando os músculos enquanto ele e
Knight erguiam um pedaço grande de laje onde estava Davy, que gritava
como se alguém estivesse puxando suas unhas uma por uma. Lizzy, que
tentava ajudar seu pai a sair debaixo da pesada laje de tijolo, estava tão
pálido que Beast temia que ele fosse desmaiar a qualquer momento.

Empurrando Gyro mais firmemente contra o chão para mantê-lo quieto,


Beast olhou para eles, ainda confuso com a poeira sufocante e caos ao seu
redor. — O que aconteceu?

King olhou para ele com uma carranca. — A bala desalojou algo no
teto...

Rev se intrometeu com um grunhido, afastando os braços musculosos


do peito nu e tatuado. — O teto está caindo aos pedaços. Olhe para isso, a
perna de Davy está fodida!

E para piorar a situação, só agora Beast percebeu um latido alto e feroz


ressonando do corredor, onde Hound, seu cachorro, esteve trancado durante
a noite.
— Eu vou embora! Eu não quis atirar! Esqueci que ainda tinha balas
na arma. — Gyro se manteve gritando como um leitão que sabia que o seu
tempo para o abate havia chegado.

Martina já estava falando com a emergência ao telefone, mas devido à


bebida em seu sistema, ela teve que se repetir e ficava mais frustrada a cada
segundo. O rosto de Davy estava retorcido de dor, vermelho atrás da barba
branca, e isso dominou os pensamentos de Beast. Davy era como um tio para
ele. Foi ele quem tinha ensinado Beast as habilidades de sobrevivência e o
prazer de acampar na natureza. E agora ele estava machucado por causa de
um idiota que não respeitava as regras de seus anfitriões.

Beast pegou a arma caída e puxou Gyro para cima com um único braço.
A confiança do filho da puta derreteu, substituída por um medo tão intenso
que ele estava tremendo e mal conseguia ficar de pé. Pensar que alguém
patético assim era a fonte da dor de Davy era um insulto. Os olhos de Beast
se encontraram com os de King. Entendimento sem palavras passou entre
eles, e King concordou, dando permissão para Beast lidar com Gyro como ele
bem entendesse.

— Prospecto. — Beast gritou, levando Gyro para longe do círculo de


pessoas formadas em torno do membro do clube ferido. — Quem é o maricas
agora? — Beast sussurrou no ouvido do homem quando ele notou as
lágrimas escorrendo pelo rosto do cara.

Jake, um prospecto, já estava ao lado de Beast, seguindo-o assim como


Hound quando eles saíam para passear.

— O que você quer que eu faça? — Jake perguntou, com os olhos azuis
arregalados no rosto jovem, o menino inclusive corou. Ele costumava jogar
futebol na escola, e ele agora parecia tão animado como se tivesse marcado
um touchdown.

— Venha comigo. — Beast disse e puxou os braços de Gyro, forçando o


bastardo a andar em uma posição inclinada. Seu coração estava quebrando
por Davy. Beast, de todas as pessoas, sabia o valor de ter boa saúde, e ele
odiava pensar em todas as coisas que o seu VP teria que passar quando ele
estava tão perto de se aposentar.
Jake correu à frente e abriu as portas duplas levando aos aposentos
particulares, onde apenas os membros do clube eram permitidos. A luz
acendeu piscando, mais um testemunho do estado de deterioração do
edifício. Era provavelmente a umidade que causava os problemas constantes
com a eletricidade, mas o teto desabando foi a gota d’água. Gyro era culpado
por puxar uma arma em seu clube, e um membro sênior do clube se
machucar como consequência disso, mas não teria sido tão grave se este
edifício não estivesse lentamente se transformando em uma armadilha
mortal. Beast tinha sugerido se mudarem, mas depois de hoje à noite, todo
mundo iria finalmente ver como era urgente a necessidade de reformar o
antigo edifício ou se mudarem.

Quando se aproximaram da sala onde Hound estava preso, o latido ficou


mais alto, aumentando a ansiedade no cérebro de Beast. Era provável que
Hound tivesse sentido o caos e estava com medo de todo o barulho, mas ele
ainda precisava verificar o seu cão.

— Prospecto, o porão — ele disse, facilmente subjugando seu


prisioneiro, que nem sequer tentou se soltar, tremendo como um coelho
assustado. Era tarde demais para desculpas ou pedidos de misericórdia.

Jake deu ao homem um longo olhar cheio de pena. Ele precisava


superar isso se quisesse se tornar um membro com um patch um dia. O
caminho para o porão era um labirinto através de salas abandonadas onde
o entulho e os móveis velhos estavam cobertos de poeira. Jake teve que
afastar um gabinete médico sobre rodas para acessar a porta escondida.

— Por favor, eu não queria fazer aquilo! Quero dizer, não queria dizer
nenhuma ofensa! Eu estava muito bêbado!

Parecia que ele estava sóbrio agora. Bom.

Beast empurrou o filho da puta para frente, fazendo-o rolar nas escadas
velhas. Ouvir o som do corpo caindo no piso mais abaixo não fez nada para
aliviar a raiva de Beast. Nada poderia tornar isso melhor.

— Você era um convidado aqui. Não podemos tolerar isso. Você não
pode ferir o nosso VP e ir embora. — Beast disse, ao ligar a única lâmpada
que iluminava o pequeno espaço vazio cheirando a mofo e merda de ratos.
Ele desceu as escadas do porão em apenas três passos longos.

Gyro deu um sorriso nervoso para Beast enquanto tentava se levantar


do chão, apenas para que a bota de Beast o empurasse para baixo.

— E-eu posso balançar para esse lado5... Me ajude — ele terminou em


um sussurro trêmulo.

Beast zombou, levemente enojado.

— Não — ele disse e agarrou o colarinho de Gyro, puxando-o até ficar


de pé, depois deu um soco rápido nele, que o enviou novamente para o chão
com um grito chocado, mas Beast não tinha terminado. Mais e mais, Beast
dava seus golpes, ele levantava o filho da puta e o socava sem se importar
com o quanto Gyro se arrastava para longe ou se encolhia; os punhos de
Beast fizeram o seu dever, marcando lentamente o rosto de Gyro, até virar
carne surrada e ensanguentada. Jake observou, completamente silencioso,
enquanto Beast se ajoelhava ao lado de Gyro, que permaneceu deitado após
o último soco, aparentemente incapaz de se levantar mais.

O sangue corria rápido nas veias de Beast, e até mesmo quando olhou
diretamente nos olhos inchados do cara, não sentiu nenhum remorso. Gyro
deveria estar feliz de que sairia vivo do clube. Mas isso não significa que ele
poderia deixar Davy aleijado e sair dessa com apenas algumas feridas. Antes
que Gyro pudesse reagir, Beast puxou sua mão direita, a mesma que deu o
tiro no teto, e descansou seu antebraço contra a borda de um bloco de
cimento que estava ao lado. Beast empurrou para baixo usando o bloco como
alavanca, e os ossos quebraram com um rangido doentio. Gyro deu um grito
frenético, e desmaiou.

Um momento de silêncio envolveu a sala, os latidos do seu cão pareciam


chegarem até lá. Beast respirou fundo e, finalmente, olhou para Jake, que
estava alerta, como um soldado aguardando ordens.

— Cuide disso. Pode levá-lo para a cidade e deixá-lo perto de algum


hospital. Verifique para que você não apareça em nenhuma câmera. E depois
descubra para mim quem autorizou a entrada desse merda.

5
O que ele quis dizer foi que, para se livrar da morte, ele poderia “virar” gay.
Houve algum tipo de “sim, senhor” a partir de onde Beast estava, mas
não esperou para ver se ele entendeu, apenas saiu e subiu as escadas.

O rosnado alarmado de Hound estava aumentando à medida que se


aproximava dele, juntamente com lamentações, e quando chegou à porta
onde ele estava e a abriu, teve que ficar de lado para que o corpo maciço do
Rottweiler passasse por ele e seguisse para o corredor. Beast esperava que o
seu animal de estimação corresse em direção ao quarto onde o acidente
aconteceu há poucos minutos atrás, mas Hound olhou para Beast, como se
estivesse sinalizando que queria ser seguido, e correu para o outro lado,
mexendo com o pior dos sentimentos de Beast.

Havia um intruso em algum lugar do clube? O antigo asilo tinha servido


de clube para os Kings of Hell durante os últimos quinze anos, e era enorme,
era fácil ignorar coisas que aconteciam nas partes abandonadas da
propriedade. Eles já tinham encontrado uma vez um bando de adolescentes
que vieram espionar a orgia dos membros do MC. Que felizmente não
terminou em sangue, e depois de toda a confusão, Jake entrou para suas
fileiras.

Beast se perguntava se não deveria voltar para o arsenal do clube e


pegar uma arma, mas, em última instância decidiu ir contra essa ideia. A
polícia e os serviços de emergência apareceriam por causa de Davy, e ele não
queria se pego com uma arma de fogo, não importando o quão boa fosse sua
relação com a polícia local.

Hound se movia como se estivesse seguindo uma trilha clara, mas Beast
não podia cheirar nada além de poeira e umidade. Eles estavam deixando
para trás os gritos e até mesmo o som da ambulância se aproximando, e,
eventualmente, entraram em um corredor tão em desuso, que tinha uma
espessa camada de poeira no chão. Agora mesmo Beast podia ver pegadas
fracas na poeira, e ao lado delas, gotas escuras que poderiam ser de sangue.

Hound cheirou os cantos, olhou para trás e começou a correr, e Beast


teve que segui-lo com a pior das expectativas quanto ao que ele acabaria por
encontrar. Seu coração batia mais rápido enquanto corriam pelo corredor
escuro.
O edifício era um labirinto, e eles estavam em uma área afastada de
onde todos eles moravam e trabalhavam, não era sequer usada e nem limpa,
então ele sentiu cheiro de mofo enquanto seguia Hound através da escuridão,
na esperança de que não tropeçasse.

As janelas nos quartos sem portas em ambos os lados do corredor eram


a única fonte de luz, e agora mostravam um brilho vermelho e azul fraco da
ambulância que se aproximava. Para todos os outros, Beast sabia que essa
construção poderia ter sido um castelo gótico, algo tirado da história do
Drácula de Bram Stoker, com monstros sanguinários à espera de sua
próxima vítima em um dos corredores intermináveis, e ainda assim ele só
correu mais rápido, ouvindo o som constante das patas do Hound batendo
no piso.

Sem qualquer hesitação, Hound correu para dentro de um dos quartos


e deu um grunhido tão cruel, e algo dentro de Beast lamentou sua decisão
de não pegar uma arma. Mas ninguém iria disparar contra ele enquanto
Hound pudesse intimidar. Beast empurrou para o lado a porta caída,
saltando sobre uma cadeira quebrada, só para ver alguém escondido nas
sombras.

A julgar pelo cabelo ondulado e longo e a pequena estatura, Beast


pensou no início que fosse uma mulher, mas, em seguida, a pessoa falou
com uma voz distintamente masculina.

— Eu... Eu não estou certo de onde estou — o estranho deu meio passo
para fora da sombra, e para a luz que vinha de fora. Seu sotaque era
nitidamente estrangeiro. Francês talvez?

Beast fez uma carranca. O sangue cobria o rosto e cabelo do estranho,


escorrendo pelo queixo, e a partir das pontas de seus dedos trêmulos. Sua
roupa parecia ter sido roubada de uma loja de fantasias. Botas até o joelho,
calça justa e um colete gasto sob um fraque.

— Que porra você está fazendo em nossa propriedade, garoto? — Beast


grunhiu, observando a forma delicada e suave do homem muito mais jovem.
— De quem é esse sangue? — ele perguntou, ainda cauteloso. Em sua
experiência, uma presença não-ameaçadora poderia esconder um lutador
experiente, e ele não iria correr nenhum risco quando se juntou a Hound na
frente do estranho, que era tão baixo em comparação a altura de um metro
e oitenta e cinco de Beast, que a cabeça manchada de vermelho dele só
chegava ao queixo de Beast.

O estranho recuou para o canto, choramingando com medo de Hound,


que rosnava para ele novamente e baixou a cabeça, mas Beast não estava
engolindo nada disso e agarrou o braço do rapaz.

— O sangue é seu? Alguém te atacou? Onde? — ele perguntou, e não


hesitou em vasculhar o intruso, para se certificar de que não havia armas
escondidas sob o casaco da fantasia.

O garoto tentou se afastar do seu aperto, mas ele não parecia ter
habilidade e força. — N-não. Eu acho que não é meu. Eu não sei. Aqui é o
inferno?

Beast gemeu, encarando o jovem de aspecto bobo, cuja camisa branca


estava completamente encharcada de vermelho. Alguém deve ter morrido
para produzir essa quantidade de sangue.

— Você vai explicar-se à King.


Capítulo Dois
Laurent
Brecon, Massachusetts, abril de 1805

Com uma lanterna de lata na mão, Laurent estava enfrentando o frio de


abril com o coração na garganta. Esta noite seria a primeira vez que ele
estaria sozinho com o Sr. Fane, sem o perigo de alguém se intrometer em sua
conversa privada. Até agora, eles só se encontraram na livraria do Sr.
Barnave, mas Laurent tinha certeza de que eles compartilhavam uma
conexão especial. Tantas vezes o Sr. Fane passou horas escolhendo livros; e
ele sentia que deviam continuar conversando.

Ou, se Laurent fosse um bom juiz de caráter, capaz de entender dessas


coisas, possivelmente algo muito mais do que apenas conversar. A forma
como os seus olhos se encontrava às vezes e permaneciam fixos, sem
nenhuma palavra dada, ou a forma como o Sr. Fane ficava mais próximo do
que era estritamente necessário ou adequado, fez Laurent recordar o livro
que o Sr. Barnave havia proibido explicitamente de Laurent tocar. O que,
naturalmente, deixou Laurent ainda mais interessado em seu conteúdo.
Sempre muito curioso para seu próprio bem, ele acabou lendo o livro do
começo ao fim, e acabou ficando com ele em segredo, quando o Sr. Barnave
achou que o volume havia sido extraviado.

Ainda assim, Laurent levou um golpe no seu contentamento, porque


dias depois, o livro acabou sendo vendido e levado da loja sob o casaco de
um cavalheiro. As imagens incluídas dentro da história ainda permaneciam
nos cantos da mente de Laurent, e isso o Sr. Barnave não poderia tirar-lhe.

Era uma publicação ilícita compostas de gravuras que retratavam a vida


de um homem que se envolveu com vários amantes em todas as fases de sua
vida, às vezes até mesmo com homens. E as ilustrações não hesitavam em
mostrar esses encontros também. Homens nus, entrelaçados como marido e
mulher, se tocando de formas proibidas, se beijando e acoplando como
animais, sem nenhum temor sobre moralidade ou as leis de Deus.

Laurent não tinha certeza se ele estava destinado a uma vida de pecado
ou se o livro irreversivelmente o deixava corado, mas nunca em sua vida ele
olhou para uma senhora e se perguntou como seria compartilhar uma cama
com ela. Em vez disso, ele às vezes se maravilhava com a força dos homens
que trabalhavam no porto, e secretamente admirava os antebraços grossos
revelados pelas mangas arregaçadas, e se perguntava como seria se deitar
nu na cama com um deles. Como seria ter a sensação de mãos masculinas
o tocando de maneiras íntimas, ter um homem em cima dele, pressionando-
o...

Com toda a justiça, Laurent não estava inteiramente certo de como dois
homens poderiam se conectar desta forma, o livro não dava explicações
detalhadas, e dificilmente fornecia muito material de leitura, mas nada tinha
sido o mesmo desde que ele pegou pela primeira vez o livro em suas mãos.
Ele estava ciente das consequências sociais de seus desejos, é claro, e o medo
da descoberta era um que o impedia, e, conforme Laurent cresceu, ele se
convenceu de que não poderia se sacrificar para deitar com um homem.
Possivelmente. Talvez. Provavelmente.

Como ele poderia saber se algum homem se aproximaria dele desta


maneira, se ele também nunca se aproximou de outro homem assim, e nem
sabia como se aproximar? Ele era um homem adulto, com quase vinte anos,
e ainda assim, sua vida foi gasta ajudando o Sr. Barnave na livraria, de
manhã bem cedo até o anoitecer. Pelo menos, fazer entregas em todo Brecon
o impedia de desenvolver uma corcunda ou acabar em uma cama fina.

Então, se apenas as faíscas de interesse que ele tinha certeza que sentia
do Sr. Fane fossem reais, Laurent estava prestes a tomar o assunto em suas
próprias mãos e experimentá-los contra a sua pele.

Tentou não abrigar muita esperança, mas a entrega de livros para o Sr.
Fane era mais uma oportunidade para desenvolver uma conexão mais íntima
e pessoal. Ele estava certo que o Sr. Fane gostava dele. Ele, além de visitar a
livraria com frequência para compartilhar seus pensamentos com Laurent,
também havia comprado para Laurent uma cesta das maçãs mais doces após
um encontro casual no mercado. E para lembrar ao Sr. Fane daquela época,
Laurent trouxe duas maçãs para compartilhar com ele. Ele esperava que não
ultrapassasse nenhuma linha com a oferta de tais alimentos escassos a
alguém que provavelmente consumia açúcar e marzipan6 todos os dias, mas
no fundo, Laurent sabia que o Sr. Fane iria apreciar e compreender o gesto.
E comê-los juntos seria como compartilhar um segredo.

Como a caminhada de Brecon até a propriedade do Sr. Fane levava um


tempo muito longo, o Sr. Barnave havia concordado com Laurent que
passasse a noite e voltasse para a cidade de manhã. Claro, o empregador de
Laurent assumiu que ele iria dormir com os cavalos ou com os funcionários
da casa, mas se alguma coisa fosse acontecer entre ele e o Sr. Fane, iria
acontecer hoje à noite.

Laurent não poupou esforços para vestir-se e se preparar, e apesar da


longa viagem pela floresta, ele escolheu suas melhores roupas. Uma calça
ajustada castanha clara, botas de couro cano alto, e mesmo que o colete
fosse ligeiramente antiquado, com listras amarelas, o orgulho e a alegria de
Laurent era a jaqueta deslumbrante e brilhantemente azul que alargava os
seus ombros e afinava a sua cintura. Ele comprara de um vendedor de
roupas usadas com o dinheiro que havia coletado de pequenos trabalhos e
depois drenou os bolsos para que fosse ajustado ao tamanho dele.

Valeu à pena cada centavo.

Havia dois conjuntos de botões de porcelana na frente da jaqueta, e as


largas lapelas deixavam espaço suficiente para Laurent colocar a sua mais
preciosa posse, um broche que a sua mãe havia lhe dado em sua despedida,
há sete anos. Era uma composição do arco do Cupido com flechas, dois
corações com duas pombas, e uma tocha acesa representada à prata e
colorida com esmalte vermelho para simbolizar tanto o amor romântico,
quanto o sangue derramado durante a revolução na França, que tinha

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Marzipã, marzipan ou maçapão é um doce de origem árabe, preparado a partir de uma pasta feita de amêndoas
moídas, açúcar e claras de ovos, que pode ser moldada. Também podem ser adicionadas essências.
causando caos e prisões súbitas quando Laurent deixou sua pátria e foi para
as Américas.

Ele considerou prendê-lo no nó da gravata, mas se preocupava que a


musselina pudesse mascarar o broche, deixando-o passar despercebido. E
isso importava, porque em um ponto da conversa, ele poderia dizer ao Sr.
Fane toda a história da briga familiar entre sua mãe, que favorecia a
revolução, e a sua avó, que acreditava que o Rei foi nomeado por Deus e que
não deveria ser julgado como um homem comum. Que por sua vez poderia
levar a uma conversa sobre o que eles mais valorizavam na vida, e Laurent
poderia dizer que ele considerava a liberdade uma causa pela qual valesse a
pena morrer.

O bisavô de Laurent costumava trabalhar nos jardins de Versailles e


contou muitas histórias de Louis XIV para sua filha, avó de Laurent. Em
suas palavras, o Rei era divino, e a sua avó possuía essa impressão do Rei, e
ainda mantinha um quadro acima de sua cama. Em honra a um homem tão
deslumbrante e tão amado por sua avó, que apesar da moda atual, Laurent
usava o cabelo castanho escuro comprido em longas ondas que atingia o
meio de suas costas. Era a sua única excentricidade.

Ele não possuía muito, mas teve a sorte de ser agraciado com um belo
rosto e o cabelo brilhante e saudável. Secretamente, se perguntava se as
longas madeixas, nos braços do homem certo, poderiam fazê-lo passar por
alguém tão dócil como uma mulher, mas essa esperança só era baseada em
sua própria interpretação das coisas, que ele mal compreendia.

As sombras das árvores na iluminação fraca da lanterna transformavam


a floresta em um lugar onde os lobisomens se escondiam na escuridão e os
espíritos antigos esperavam que o viajante solitário fizesse um movimento
em falso. Ele sabia que essas coisas eram apenas contos de fadas, é claro,
mas muitos homens já pereceram nos bosques ao redor de Brecon nos
últimos anos, e tudo o que tinha acontecido com eles poderia muito bem
acontecer consigo.
Ele quase desejou que não tivesse que usar a lanterna, porque o
contraste de luz e a escuridão deixavam os troncos mais próximos à estrada
se aprofundarem nas sombras, tornando tudo ainda mais ameaçador.

Mas ele não podia correr o risco de cair e arruinar não apenas suas
roupas de domingo, mas também os itens que o Sr. Fane lhe pediu para
entregar. Assim, ele perseverou, dizendo a si mesmo que não havia nada a
temer. Lobos eram raros na área, e a luz na mão de Laurent certamente
assustaria todos os predadores. Os homens que pereceram certamente não
possuíam nenhuma mercadoria.

Não importava o quão cuidadosamente ele tentava distrair sua mente,


depois de uma hora caminhando ao longo da estrada de barro entre Brecon
e a residência do Sr. Fane, ainda sentia uma coceira de medo sempre que as
sombras se moviam, e alguns pequenos animais faziam sons na escuridão,
onde a luz da lanterna não poderia alcançar.

Tudo estava escurecendo lentamente, e já há algum tempo os olhos de


Laurent tinha se tornando terrivelmente falíveis na melhor das condições.
Ele se sentia seguro o suficiente na loja e em torno da casa do Sr. Barnave,
que ele sabia de cor, mas sair, mesmo para fazer entregas, estava se tornando
mais difícil a cada dia.

Ele não se atrevia a dizer a ninguém que a cada semana que passava,
as letras estavam ficando mais borradas e os objetos em sua proximidade
pareciam tão claro que às vezes tinha dificuldades em reconhecer as pessoas
que ele não conhecia muito bem. Com os sete anos de seu contrato prestes
a chegar ao fim, e com toda a sua família deixada para trás na França, e que
quase nunca lhe escrevia cartas, sua situação estava além de terrível. Tendo
trabalhado como funcionário de uma livraria a maior parte de sua vida, ele
não tinha outra habilidade. E quão bom seria ter um funcionário que não
poderia escrever, nem ler, ou pior ainda, que acabaria por perder a visão?

Ele sabia que havia métodos para ajudar com as doenças dos olhos,
mas eram métodos e próteses caras, e ele não podia esperar que o Sr.
Barnave, mesmo sendo um bom mestre, pudesse comprar um par para
Laurent, especialmente tão perto do fim do seu contrato. Mencionar isso
poderia negar a Laurent até mesmo a menor chance de encontrar um
emprego em Brecon quando estivesse livre de suas obrigações contratuais.
Não ajudava que os sentimentos de Laurent sobre o assunto estavam ficando
mais sérios a cada dia.

Com a rápida progressão da doença nos últimos dois anos, Laurent se


virava ao se lembrar de todos os títulos da loja por ordem alfabética e ele
usava uma lente de aumento, quando não havia ninguém para testemunhar
isso, e ele tinha certeza de que sua visão era um caminho irreversível para a
completa escuridão. Não havia esperança para ele, e uma vez que o prazo
terminasse e se tornasse um homem livre novamente, ele seria deixado
apenas com a roupa do corpo e sem condições de encontrar um trabalho.

Pelo menos as coisas localizadas mais afastadas ainda estavam ao


alcance dos olhos de Laurent, e ele estava contente de ver o bosque claro na
frente dele. Ele acelerou, ansioso para chegar a um lugar com mais
iluminação. A lua estava excepcionalmente grande esta noite, embora
curiosamente tingida, como se água oxidada tivesse manchado sua intocada
superfície.

Quando chegou à última das árvores, a casa do Sr. Fane veio à tona
com sua fachada branca, grande o suficiente para ser uma câmara
municipal, e mais dois conjuntos de colunas emolduravam o alpendre, e uma
grande varanda no segundo andar. Era magnífica, e tão bonita a sua
simetria, com uma cerca elegante de pedra e metal.

Laurent lambeu os lábios, tentando acalmar seu coração que batia


furiosamente. Nem uma única vela estava acesa na mansão, o que lhe
pareceu um pouco estranho, mas, novamente, talvez a vida parecesse
diferente além das fronteiras da cidade? Ele nunca esteve no campo em toda
sua vida, passando brevemente por La Rochelle depois que o seu pai lhe
firmou com um capitão de um navio que ia para as Américas, apenas
algumas semanas depois que ele e sua mãe tiveram outro filho.

Uma leve brisa levou o perfume das flores, e ele respirou fundo,
fechando os olhos e simplesmente apreciando a forma como o seu cabelo
longo deslizava contra o seu rosto. Como ele esperava que os dedos do Sr.
Fane fizessem hoje à noite. Era tão tranquilo aqui. Talvez ele fosse autorizado
há passar mais tempo aqui, se ele conseguisse forjar uma estreita amizade
com o Sr. Fane?

— Laurent, você chegou cedo.

Laurent engoliu um grito que quase escapou de seus lábios, mas ele
reconheceu a voz do Sr. Fane a tempo. Ele levantou a lanterna e olhou em
volta, frustrado sobre o quão pobre a sua visão era das coisas mais próximas.
Se o Sr. Fane soubesse disto, será que ele ainda o teria convidado?

— Boa noite, Sr. Fane. — Laurent deu alguns passos na direção da voz.

A luz tocou uma enorme rocha que estava ao lado da linha das árvores
e era alta o suficiente para ter o tamanho da cabeça dos ciclopes lendários.
O corpo gracioso do Sr. Fane estava esticado em um banco delicado, que
estava posicionado de tal forma que, um escultor poderia contemplar esta
maravilhosa prova de desenvolvimento geológico da região.

— Boa noite para você também. Eu espero que você não esteja
excessivamente exausto após toda essa caminhada, mas eu não podia deixar
de apreciar minha chaise esta noite — disse o Sr. Fane, lentamente se
levantando e apoiando o seu longo corpo graciosamente em uma bengala,
mesmo que ele provavelmente não precisasse. Era apenas um sinal de seu
status, assim como as roupas caras e perfeitamente adaptadas que ele
sempre usava.

Laurent abraçou o saco com os livros no seu peito.

— Não foi um problema, eu apreciei o passeio. Ficar sentado à mesa


desde o anoitecer até o amanhecer não é o ideal para um homem da minha
idade. E você, Sr. Fane? — ele olhou para o monte de terra revirada em torno
da rocha. Laurent levantou a lanterna para ver melhor, mas era inútil. —
Certamente, você não estava praticando jardinagem, não é? — ele riu alto
com o absurdo desse conceito.

Agora que o Sr. Fane se aproximou, o rosto que parecia tão simétrico de
longe estava começando a ficar confuso, mas Laurent estava determinado a
não mostrar qualquer preocupação ou hesitação.
Sr. Fane olhou para o chão remexido.

— Ah, isso. Não é nada — ele disse com um largo sorriso. — Você disse
a alguém que não seja o Sr. Barnave onde estava indo hoje à noite?

— Não, e me perdoe se parece muito triste, mas eu não tenho muitos


amigos. Tenho livros, ao invés. — Laurent olhou para as manchas escuras
na face dos olhos do Sr. Fane. Laurent era um homem de estatura razoável,
mas o Sr. Fane era mais impressionante nessa qualidade. — Embora eu não
seja um solitário! Eu só... Raramente se encontra um homem que sabe o
suficiente sobre livros para me manter entretido em uma conversa — ele se
atreveu a dar um sorriso, mas parou de respirar e falar quando os dedos
quentes do Sr. Fane contornaram sua mandíbula e afastaram algumas
mechas do seu longo cabelo para trás da orelha de Laurent.

Era como se o tempo tivesse parado, e quando Laurent finalmente


conseguiu inalar, ele sentiu o poder do perfume caro que quase ninguém ao
redor de Brecon podia pagar.

— Eu entendo perfeitamente, querido Laurent. Eu o considero um bom


rapaz. Bem versado, educado, com uma inteligência que supera de longe a
sua posição. Seu progresso é bastante notável.

Os ouvidos de Laurent estavam começando a esquentar, e ele estava


feliz por ser tão tarde da noite, porque o tom corado certamente manchava
seu rosto pálido, e iria fazê-lo parecer um trabalhador agrícola depois de um
dia de trabalho ao sol.

— O senhor é muito generoso, Sr. Fane. E eu não tenho certeza se


mereço tal elogio — mas ele merecia. Ele sabia que merecia. Havia coisas que
se deveriam dizer por causa de modéstia, mas Laurent não podia se negar
sentir o orgulho que tinha em ter ido tão longe a partir de suas origens
humildes na livraria do Sr. Barnave. Ele absorvia o conhecimento como uma
esponja absorvia água, e era ousado o suficiente para agir onde os outros
recuavam.

Se apenas Laurent pudesse fazer o Sr. Fane ver que ele valia tal atenção,
ainda poderia haver um bom futuro na loja para ele. Um emprego dentro da
residência do Sr. Fane, talvez? Laurent não ousaria expressar o desejo de tal
patrocínio incondicional, mas se um homem de riqueza tão vasta como o Sr.
Fane se afeiçoasse a ele, ele poderia certamente ajudar um amigo em tempos
de necessidade? Laurent sabia como tornar-se útil, e podia auxiliar nos
afazeres da casa do Sr. Fane se tivesse a chance.

Sr. Fane inclinou sua cabeça, e estava tão perto de Laurent que ele
poderia cheirar a doçura de sua respiração, e deixou o seu coração galopando
como um garanhão frenético.

— Por favor, me chame de William quando estivermos sozinhos. — Sr.


Fane disse eventualmente, e começou a caminhar em direção ao portão.

Laurent o seguia, em êxtase com este novo privilégio, e quando ele


tropeçou muito ansioso para ficar perto do Sr. Fane, o homem estava lá para
segurá-lo. O tecido que revestia a roupa do Sr. Fane era tão fino onde ele
roçou a mão de Laurent.

— Tem certeza, senhor? — ele perguntou por educação, já ansioso para


sussurrar o nome no... ouvido de William. Porque William sugeriu que
estariam sozinhos. E mais de uma vez!

— Absolutamente. Eu acredito que nós temos muito em comum, meu


amigo. — William disse, graciosamente se movendo em direção ao portão
mais próximo que dava para o vasto pátio. Vendo sua vasta extensão,
Laurent gostaria que pudesse entrar em uma carruagem, depois de tudo,
mesmo que fosse só para ter uma grande entrada.

— Eu li cada um dos livros que você encomendou... William — dizer o


nome em voz alta deixou Laurent tão animado que ele mal conseguia
respirar. — Eu não posso esperar para discuti-los com você no futuro. Espero
que não seja muito para frente. Eu sei que você deve ser um homem muito
ocupado.

William assentiu enquanto eles passavam pelo portão, andando em


direção aos degraus da frente. Um tremor passou por Laurent quando
percebeu que William pretendia deixá-lo entrar pela porta principal, e não
pela entrada dos funcionários. Quase como se fossem iguais socialmente.

— Oh, nós definitivamente devemos, embora eu acredite que haja


outras coisas que poderíamos falar se você gostar. — William disse, tocando
os dedos contra a parte de trás do casaco de Laurent, em uma carícia breve.
Pode não ter sido muito, mas o contato queimou a pele de Laurent e o deixou
ansiando por mais.

Por um momento, Laurent temia que ele não soubesse como agir em
torno dos servos, sem saber a sua posição, que nem era de um convidado e
nem empregado, mas quando entrou na casa, não havia uma única alma
para cumprimentá-los. Sem pensar em como era estranha essa situação,
Laurent achou um alívio, porque ele queria William só para ele, sem a
necessidade de impressionar ninguém, além do seu anfitrião.

— Qualquer coisa que você queira — saiu da boca de Laurent antes de


perceber que soou muito ansioso. Ele não deveria soar como um filhote de
cachorro só porque achava a presença de William tão desejável.

Ele quase não registrou o salão elegante suavemente iluminado por sua
humilde lanterna. Os seus tetos altos e esculturas de deuses congelados em
poses sensuais em pequenas alcovas ao longo das paredes davam a casa
uma aparência ainda mais silenciosa. Eles eram divindades gregas, com
atributos, e quando Laurent enfrentou o rosto de Dionísio olhando para ele
a partir de um afresco, se distraiu tanto, que Laurent se esqueceu de estudar
quaisquer outras esculturas. Quando Laurent olhou para a luz e sombra que
era o rosto de William, ele estava completamente hipnotizado.

Algo frio e arredondado apareceu na parte inferior do queixo dele, e ele


levou segundos para perceber que era o aperto suave de uma bengala. Um
tremor deslizou para baixo de seu corpo quando William se inclinou para ele.

— Qualquer coisa?

Laurent lutou para recuperar o fôlego, então ele riu nervosamente em


seu lugar. — Eu não iria prejudicar os livros.

— Bobagem, Laurent. Por que você iria até mesmo dizer algo assim,
doce menino? — William sussurrou, e mesmo este ínfimo e suave som
deslizou pelas paredes altas do corredor.

Laurent não conseguia tirar os olhos de William, embora ele não


pudesse realmente vê-lo de tal proximidade.
— Você precisa saber, William, que eu tenho limites — que não incluía
ser tocado por toda parte. Nessa matéria, o seu coração estava aberto. E
William apenas o chamou de “doce”?

William cantarolou e recostou-se, arrastando a ponta de sua bengala


para baixo do pescoço de Laurent antes de encaminhá-lo para uma das três
portas que levavam a um corredor. — Quais outros limites você tem?

Laurent engoliu em seco. Ele tinha que andar pelo corredor com base
no que ele podia ver ao longe e lembrar quaisquer obstáculos potenciais. —
Acredito que um homem deve ter uma mente aberta para viver sua vida ao
máximo.

— Um homem que pensa da forma que encaro as coisas, eu vejo.


Nenhum homem deve negar a si mesmo o que ele pensa ser seu por direito.
— William disse, levando Laurent até um corredor, onde seus passos
combinados ressoaram no silêncio.

— Eu não quero ser rude, mas onde estão os criados? Eu acredito que
uma casa tão gloriosamente limpa deve ser cuidada por muitos.

William puxou o ombro de Laurent e o levou para uma escadaria que


tinha sido muito bem trabalhada em pedra e madeira escura. A balaustrada
era de um desenho intrincado que lançava longas sombras à luz da lâmpada
fraca. Colunas cobertas com arcos pontiagudos se esticavam em direção ao
céu, tornando a escada uma reminiscência de uma torre gótica sem manter
o espaço verdadeiramente fechado. Era em espiral ascendente e tinha uma
curva suave no meio, que agora era ocupada pela estátua de uma gárgula
empoleirada com suas asas de morcego bem abertas.

Laurent sentiu uma sensação de desconforto com as características


horripilantes da escultura afiada na luz, mas ele não se atreveu a perguntar
ao Sr. Fane sobre a arte. Talvez a escultura tivesse sido transportada do
Velho Mundo, e perguntar sobre ela deixaria Laurent parecendo um inculto.

Fane ignorou a estátua e andou em linha reta para sua sombra, tocando
os painéis de madeira. Algo clicou, e uma seção da parede se moveu,
revelando uma porta escondida. O ar frio bateu no rosto de Laurent, e
quando o brilho lançado pela lâmpada escapou para o espaço atrás da
entrada secreta, um lance escondido de escadas surgiu, levando para o porão
que se revelou. As paredes estavam curiosamente nuas, muito mundanas
para um homem tão rico quanto William Fane. William trancou as duas
fechaduras na porta, logo que entrou.

— Ah, eles não têm permissão para vir aqui.

Laurent teve uma sensação incômoda no estômago quando ele olhou


para a parte de baixo das escadas, onde a luz morria na escuridão. Mas,
novamente, se eles iriam fazer algo ilícito, não seria melhor garantir que
nenhum servo pudesse ouvi-los ou vê-los? Ele agarrou os livros mais perto
de seu peito.

— Oh — sua mente começou a vagar e imaginar sobre a única


experiência do proibido que ele teve. — Você possui... Livros que não devem
ser necessariamente vistos?

William ficou em silêncio por alguns momentos quando ele tomou a


lanterna da mão de Laurent e desceram as escadas. Assim que se
aproximaram do chão, um cheiro intenso, frutado começou a dominar o ar,
como se as paredes tivessem sido impregnadas com perfume. — Essas coisas
não são faladas. Precisamos ser cautelosos sobre o que fazemos nestes
quartos.

Laurent sorriu enquanto seu coração acelerava erraticamente no peito.


Nunca em seus sonhos mais selvagens ele teria imaginado que seria levado
para um dos quartos secretos de William, e nem que chamaria o Sr. Fane por
seu nome de batismo.

— Será que nós o usaremos? Para que servem? — ele olhou para o
corredor com um teto baixo e várias portas de cada lado. Todas as paredes
estavam cobertas de madeira muito bem esculpida, mas não havia outras
decorações, o que fazia o lugar parecer inacabado. Seriam os aposentos
privados de William?

— Dê sua opinião. — William disse, abrindo a última porta e levando


Laurent para dentro. O fogo queimava na chaminé, mas o quarto, com teto
baixo e paredes revestidas de madeira, estava curiosamente vazio. Uma cama
grande feita de madeira maciça estava no canto, uma cômoda, alguns
acessórios, uma peça de mobiliário coberta com tecido, e não havia muito
mais, o piso de madeira nu, e não havia tapetes. O cheiro de perfume e
incenso estava particularmente forte aqui, tão forte na verdade, que estava
sufocando Laurent um pouco, mas ele não queria desagradar seu anfitrião,
dizendo que não gostou.

De sua garganta até o seu umbigo, arrepios percorriam para cima e para
baixo o corpo de Laurent. Ele ergueu o saco com livros, abriu e tirou uma
maçã e a apresentou a William, pateticamente tremendo.

Ele era um homem que iria conseguir o que tanto desejava. Ele
mostraria a William suas intenções e queria ser considerado digno da
atenção do homem. — Eu trouxe um presente para você.

William fez um pequeno som e fez um gesto como se pretendesse aceitar


a maçã, mas em vez disso pegou o pulso de Laurent e o puxou junto com a
maçã. Laurent não podia sequer pensar mais, mas ele desejava tanto que a
sua visão ainda fosse boa o suficiente para ver o belo rosto de William de
perto. Para ser capaz de ver a mensagem secreta, sem dúvida, escondida em
seus olhos. Os dentes saudáveis de William trituraram a casca do fruto, e ele
deu outra mordida na maçã.

Laurent engasgou, atordoado demais para fazer qualquer outra coisa.


William Fane estava comendo de sua mão? Ele não estava errado sobre onde
esta noite iria certo? William o levou para um quarto secreto, que continha
apenas uma cama e alguns itens. Não havia outra explicação para essa
sucessão de eventos. Primeiro William iria morder a maçã, então ele iria
morder os lábios de Laurent.

— Eu gosto muito de você, William. — Laurent sufocou, com os joelhos


fracos.

William cantarolou e continuou comendo enquanto os seus dedos se


moviam para baixo, e não havia outra maneira de descrevê-lo ao acariciar o
braço de Laurent. — Eu sou amado por muitos.

— Mas essas pessoas têm os mesmos lábios que os meus? — Laurent


sussurrou, com o coração na garganta. Ele tinha tanto medo da rejeição que
poderia desmaiar a qualquer momento.
William colocou a boca ao lado da mão de Laurent, fazendo à fruta meio
comida cair no chão.

— Certamente que não, mas eu ainda não provei os seus — ele


sussurrou, puxando Laurent para mais perto, enquanto o incenso, o perfume
e o calor do fogo faziam sua cabeça girar mais rápido.

Não havia necessidade de perguntar a William sobre suas intenções. As


cartas estavam na mesa, e enquanto o jogo de sedução ainda estava sendo
jogado; as apostas estavam se tornando ao mesmo tempo, impossivelmente
altas e irrelevantes.

Laurent levou metade de um segundo para jogar o saco com os livros


na cama e deu o pequeno passo necessário para ter seus lábios conectados
aos de William. Seu contrato ainda estava em vigor, mas ele nunca se sentiu
tão livre na sua vida, como se sentia naquele momento.

As mãos de William eram surpreendentemente fortes quando agarraram


os ombros de Laurent, mantendo-o no lugar onde William poderia devastá-
lo. Seu toque falava de uma fome insatisfeita, e quando seus dedos teceram
no cabelo de Laurent, o momento parecia quase perfeito demais. Laurent se
empurrou para mais perto de William, fazendo um som que nunca proferiu
antes, meio luxurioso, e tão pecaminoso, que quem o ouvisse, saberia que
ele estava envolvido em atos ilícitos.

A língua quente de William entrou profundamente em sua boca,


provocando-o com uma ferocidade que ele mal conseguia acompanhar. Seu
coração batia forte com o desejo implacável de uma besta, e ele colocou as
mãos sobre o peito de William ao tentar retribuir o beijo com a mesma
habilidade que William estava oferecendo, mas era uma batalha perdida. A
língua de William tinha formas de acariciar as bochechas de Laurent do lado
de dentro, que deixou os dedos de Laurent enrolando em suas botas e
arrepios percorrendo todo o caminho até seu pênis, que rapidamente
enrijeceu.

William empurrou-o de repente, e Laurent perdeu o equilíbrio e caiu


sentado na cama, observando as magníficas linhas de movimento do corpo
de seu anfitrião na luz quente do fogo. Ele tirou seu casaco marfim de
brocado, colocando-o em cima da cômoda.

— Eu... Eu nunca conheci um homem que... Você vê, isso é muito novo
para mim. — Laurent balbuciava, ficando quente e frio. Tudo estava
acontecendo tão rápido, e sua boca ainda tinha o gosto da maçã que tinha
dado a William. Laurent iria sempre pensar naquele beijo quando comesse
torta de maçã ou até mesmo quando a cheirasse.

A boca de William se esticou em um sorriso, e ele desabotoou o colete


também.

— Será que você poderia tirar as minhas botas, Laurent? — ele


perguntou, inclinando-se contra a parede.

Laurent engoliu, sem saber o que fazer com o pedido. Era algo que os
amantes faziam uns para os outros? Seriam amantes?

— S-sim. Se for esse o seu desejo. — Laurent ficou de joelhos, nem um


pouco preocupado com a mancha em sua calça quando ele estava tão
animado sobre o homem glorioso acima dele.

Ele agarrou a parte inferior da bota e puxou, com firmeza suficiente para
tirá-la sem causar desconforto. O pé com meia surgiu e quase o tocou entre
as pernas, como se esta fosse mais uma maneira de seduzi-lo.

— Eu queria você neste quarto por algum tempo. — William sussurrou.

— Você queria? — perguntou Laurent, sobrecarregado com


sentimentos que ele não podia nomear, enquanto puxava a outra bota. — Eu
tenho que confessar que penso em você muitas vezes também. Ninguém
nunca falou comigo do jeito que você fala. E quando você estava na loja como
cliente, o Sr. Barnave não ousava me afastar para fazer outras tarefas.

William deu uma risada curta. — Você acha que ele sabe por que eu
queria que você passasse a noite aqui?

— Não! Nunca. Eu nunca fiz nada para sugerir essas coisas — o


pensamento atingiu Laurent com o calor de um atiçador de ferro, e ele ficou
imóvel, ajoelhado no chão e sem saber o que fazer. Não importava o quanto
desejava saber sobre as delícias carnais com outro homem, ele estava além
sobrecarregado.

— Ah, isso é muito bom. Uma flor para eu arrancar. — William disse,
pedindo para Laurent se levantar segurando o queixo dele delicadamente.

As palavras enviaram um arrepio na coluna de Laurent, mas ele acabou


deixando William guiá-lo.

— Você tem... Muita experiência nestes assuntos? — quando tinha sido


meramente uma fantasia na mente de Laurent, nenhuma preocupação
alcançava seu corpo faminto, mas agora que William tinha falado sobre “uma
flor para eu arrancar,” ele não tinha certeza de como se sentia sobre isso.
Uma flor arrancada só era boa por um tempo antes de ser jogada fora.

— O bastante. — William disse, puxando a gravata que Laurent tinha


meticulosamente amarrado anteriormente. O nó se desfez, e mão quente de
William percorreu seu peito. — Vou ensinar-lhe coisas que você nunca
imaginou.

Laurent deu um passo para trás, mas William não soltou a gravata,
segurando Laurent com ela como se o tecido delicado fosse um colar. —
Isso... é o que quero. Muito. Mas eu estou nervoso, e isso está levando o
melhor de mim, e seria muito melhor se tivéssemos a chance de nos conhecer
melhor primeiro, William.

— Absurdo. Já estamos muito bem familiarizados. Você se esqueceu de


todas as nossas conversas? — William perguntou, puxando a gravata como
se encerrasse o assunto.

— Eu sei, mas este tipo de conexão é nova para mim. Eu nem tenho
certeza sobre como deve ser essas coisas. — Laurent agarrou o pulso de
William. O doce aroma na sala estava começando a deixá-lo doente. —
Podemos, por favor, nos beijar de novo?

William ficou em silêncio de uma forma que deixou Laurent preocupado.


Quando ele falou, sua voz não era menos agradável do que antes, mas havia
um toque de impaciência nela, e com o seu rosto borrado na frente de
Laurent, era impossível saber como estava a sua expressão, o que William
lhe dizia. — Você concordou em me visitar aqui, nos meus aposentos
privados onde eu não trago muitos convidados. Será que isso não prova meu
interesse de forma suficiente?

— Sim! — Laurent foi rápido em responder. — Mas eu não sabia o que


vir aqui queria dizer, e ainda quero... Aprender. É só que... nós temos toda a
noite, porque correr tanto? — ele se inclinou para um beijo, em uma tentativa
de apaziguar William.

William exalou contra seus lábios, mas não se moveu para tocá-lo. —
Por que você aceitou me cortejar, se você não tinha a intenção de seguir
adiante? Eu não vou ser manipulado dessa forma.

Laurent passou os braços nos ombros fortes de William. Por que ele
estava tão confuso? Ele queria ser tocado por William. Não sonhava em
passar uma noite nos braços de William? Seus membros emaranhados, suas
bocas dançando juntas como se o ar não fosse necessário?

Ele respirou fundo e se apoiou no peito de William. — Eu sinto muito.


Por favor, me perdoe se estou sendo rude.

William exalou, como se ainda estivesse com raiva e tentasse controlar


suas emoções.

— Obrigado. Seu pedido de desculpas foi aceito — ele disse,


empurrando Laurent de volta para a cama e imediatamente o seguindo para
os cobertores frescos.

Laurent ousou abrir um sorriso trêmulo, na esperança de compensar o


fiasco anterior. Suas mãos foram para o peito de William, e apenas ao tocar
o homem, mesmo que através de uma camada de seda, Laurent se acalmou
da mais agradável das maneiras.

Ele estava sendo bobo. O seu primeiro beijo não tinha virado o mundo
dele de cabeça para baixo? Será que ele não queria ir muito mais além? Será
que ele não queria tocar a pele nua de William? Ele não podia esperar para
sempre, se concordasse em ter o fruto proibido. E quanto tempo sua visão
ainda iria durar? Não havia garantias de que ele ainda poderia atrair um
homem uma vez que seus olhos desistissem de funcionar e ele fosse afogado
na escuridão ao longo da vida. Esta poderia ser sua única chance de
encontrar a felicidade, e ele não deixaria a insegurança levá-lo para longe
dele.

William subiu em cima dele e empurrou uma das mãos de Laurent,


entrelaçando os dedos enquanto se beijavam. Os lábios de William, enquanto
eram doces e ainda continham o gosto da maçã, pareciam mais agressivos
do que antes, quase como se ele estivesse prestes a tirar um pedaço de carne
de Laurent e mastigá-la.

Laurent fez o seu melhor para responder da mesma maneira fervorosa,


apesar de que seus dedos estavam começando a doer do aperto forte. O peso
de William no topo foi surpreendentemente agradável, roubando-lhe a
respiração, e fazendo-o imaginar todas as maneiras em que eles poderiam se
conectar esta noite. O aperto no ombro de William aumentou quando ele
começou a se preocupar com a dor que sua vida amorosa poderia trazer. Mas
se William era experiente, ele não saberia como lidar com essas coisas?

William gemeu, separando as pernas de Laurent e balançando os


quadris contra ele. Não havia como negar que ele estava excitado com o que
estavam fazendo; e Laurent estava assustado e animado, por sua vez. Sua
cabeça girava, e ele não sabia o que pensar ao ficar deitado na cama ainda
com a sua melhor roupa de domingo. Mas era William Fane, então quem era
ele para pedir-lhe para se afastar apenas para que fosse permitido que
Laurent tirasse o casaco e colete?

O coração de Laurent sacudiu quando pensou no pênis duro na calça


de William o penetrando mais tarde. Tudo estava acontecendo muito rápido,
mas ele ainda seguiria o fluxo, sabendo que não haveria fuga agora. Tinha
quase vinte anos de idade e ele finalmente cumpriria o seu potencial,
maldição!

Uma algema de metal se fechou em torno de seu pulso, e ele


choramingou quando William mordeu a língua dele, tirando sangue.
Capítulo Três
Laurent

Algo em Laurent apertou.

E quando ele olhou para cima, encontrou uma algema de ferro em torno
de seu pulso, e por alguns momentos estava muito chocado para perceber
que a outra extremidade da algema curta estava anexada à estrutura da
cama.

— Isso. Eu pensei que você nunca iria parar a sua teatralidade — disse
William, segurando a outra mão de Laurent.

— Teatralidade? — Laurent choramingou, lutando contra o aperto,


ainda incapaz de compreender o que estava acontecendo. — O que você está
fazendo? — toda emoção foi drenada para fora de seu corpo, e ele voltou a
pensar nas duas travas que prendiam a porta do porão.

A falta de funcionários.

A pergunta sobre se alguém sabia se Laurent estava vindo aqui.

William riu e bateu a palma da mão contra a bochecha de Laurent, como


se ele fosse um menino.

— Oh, eu estou tão assustado Sr. Fane. Podemos conversar durante o


jantar? — William murmurou em um tom agudo e açucarado antes de se
inclinar sobre Laurent e latir suas próximas palavras. — Não. Nós não
podemos.

A zombaria cortou direto através do coração de Laurent. Ele não podia


acreditar no que estava acontecendo.

— Como pode um homem ser tão cruel? — Laurent sufocou, forçando-


se a não chorar, pois com certeza seria a fonte de ainda mais humilhação. —
Meu empregador sabe que eu estava vindo para a sua casa! Fique longe de
mim, e eu vou esquecer que isso aconteceu! — ele empurrou o ombro de
William com a mão algemada. William segurou a outra mão com tanta força,
que Laurent ficou preocupado se o seu pulso quebraria. E que valor ele teria
se não fosse mais capaz de escrever?

William segurou-o, inclinando a cabeça com uma expressão de


curiosidade, mas as linhas consideráveis de seu rosto se transformaram em
uma máscara grotesca além do véu que o desfocava.

— Não, você foi comido por lobos. Minha serva irá se certificar que
alguém encontre os livros na floresta. E o seu casaco manchado de sangue.
Ninguém vai saber que você esteve aqui.

O sangue sumiu do rosto de Laurent quando ele percebeu o significado


por trás dessas palavras. William queria mantê-lo aqui? Para quê? Ele sabia
a resposta, uma vez que certamente não era para conversarem. Ele tinha
planejado isso. Foi por isso que ele pediu para Laurent caminhar pela floresta
à noite. Para que ele pudesse afirmar mais tarde que Laurent simplesmente
nunca chegou à sua propriedade e possivelmente até mesmo se juntaria ao
grupo de busca em uma zombaria pervertida ao sistema de justiça. A traição
de um homem que Laurent pensava como um amigo e amante em potencial
quebrou profundamente seu coração, mas o temor por sua vida era muito
mais visceral.

Alguém tão torcido assim não poderia ser humano.

— Você é um monstro! — Laurent gritou, sem fôlego e em pânico. O


que antes tinha sido uma luta de uma traça em uma poça de alcatrão se
tornou uma batalha feroz pela liberdade. As algemas de ferro sacudiam com
cada movimento que ele fazia, cavando em sua carne, mas era inútil, e o
metal áspero machucava sua pele. — Que besta desumana faz uma coisa
dessas? Eu não fiz nada para merecer isso!

— Nós não acabamos de concordar que um homem tem o direito de


pegar o que quer da vida? Acontece que eu quero homens muito jovens. —
William moveu uma mão para baixo da coxa de Laurent. E isso fez Laurent
se debater mais, batendo o joelho no lugar sensível debaixo do braço de
William mais e mais.
Os olhos de Laurent se arregalaram, e a realização escorreu como gelo
em suas costas, como água de um pingente de gelo derretendo. Não era a
primeira vez que William tinha feito isso.

— O direito de tomar a vida? Não à custa de outro! — ele não seria


escravizado por este homem! Sete anos de contrato não foram o suficiente?
Tudo o que ele queria era ter seu próprio homem, em seus próprios termos.
Ele preferia morrer a ser uma prostituta algemada à espera de seu mestre!

Sua mão ficou tão suada que conseguiu deslizar para fora do aperto de
William, e ele bateu no rosto dele, colocando toda a sua força em um único
golpe desesperado. Ele nem estava pensando em maneiras de escapar ou
lutar mais contra William. Sua mente era um borrão de medo, como se a
doença dos olhos tivessem tomado seus pensamentos também.

William cuspiu uma maldição e bateu com o punho no lado da cabeça


de Laurent. Era como se o mundo inteiro tremesse, mas Laurent conseguiu
soltar uma de suas pernas e chutou o corpo mais pesado para trás. Seu
primeiro instinto foi rolar para fora da cama. Com todo o seu ser queimando
como uma fornalha, ele tentou correr para pegar a bengala que estava
apoiada ao lado da cômoda, mas o ferro cavou em seu pulso com tanta força
que ele temeu ter quebrado o pulso.

O impacto da tração o enviou cambaleando de volta para a cama, e o


impacto tombou um dos baús que estava ao lado, caindo sobre ele, quando
Laurent caiu no chão. O seu conteúdo derramou para fora, juntamente com
ainda mais cheiro doce de incenso e perfume. Mas havia algo escondido junto
desses cheiros, um cheiro de rato em decomposição escondido em um mar
de rosas. Não importava o quanto Laurent apertava os olhos, ele não podia
ver a forma alongada bem o suficiente. Uma boneca coberta em tecido?
Houve também um baque surdo e um tinido. O objeto de metal que caiu ao
lado do outro era um grande arco com uma corrente ligada, como uma
manilha ou... Um colar?

William caiu na gargalhada, inclinando-se contra uma das colunas da


cama, como um canibal prestes a rasgar a carne de sua vítima. O perigo
iminente fez Laurent assumir o risco. Ainda desnorteado com a realidade, e
com sua visão borrada e falhando, ele estendeu a mão para pegar o tecido
vermelho e as peças de cheiro doce que acabaram por ser de flores secas.
Laurent tocou em algo macio e frio como uma coxa de frango crua. Ele parou,
porque sua mente não conseguia compreender por que havia pêlo na carne,
ou por que a carne estava sendo mantida em um lugar tão quente, tão longe
das cozinhas.

William riu. — Diga olá. Você conhecia Marcel Knowles?

Laurent gritou quando ele moveu a palma da mão mais para cima do
objeto e tocou dedos duros, sem vida.

Era um braço. Um braço humano cortado.

Laurent não conseguia parar de gritar, e depois se transformou em


soluços quando ele se afastou; muito petrificado para se levantar. Estava em
um pesadelo do qual não podia acordar, e ele ainda podia sentir o gosto do
sangue, de quando William tinha mordido a sua língua, o que significava que
era real; e ele nunca iria acordar.

Marcel Knowles havia desaparecido na área durante uma viagem de


caça, há três meses, e Laurent se lembrava, porque ele era um homem
bonito, filho de um padeiro local, que sempre tinha uma palavra boa para
alguém.

— Oh, Deus! Você o matou! Você é louco, seu bastardo doente!

— Eu não o matei. — William disse com desdém. — Eu fiquei fora da


cidade por três dias. Ele já estava morto quando eu voltei, mas ainda estava
quente. Enterrei-o sob a rocha. Com os outros. E é para onde você irá quando
cansar do seu corpo. — William disse, abrindo a calça. Ele estava longe o
suficiente para Laurent vê-lo claramente, e a serenidade de sua expressão,
marcada apenas pelo tom estranho de crueldade em torno de seus olhos, era
tão neutra – como se estivessem discutindo Platão, e não falando sobre um
membro amputado.

— Não! Por favor! Eu sempre fui gentil com você! — Laurent gritou,
incapaz de compreender que uma criatura tão vil andasse na terra, que ele
fosse um membro admirado da sociedade. E ainda, em seu estado
desesperado, Laurent perguntou-se se havia alguma coisa que poderia salvá-
lo, se havia uma arma escondida em algum lugar para que ele perfurasse o
coração do demônio.

— Eu estava me perguntando se não deveria preservar a mão no sal,


mas, novamente, eu tenho um bom fornecimento de gente como você. —
William disse, abrindo uma gaveta e pegando uma tesoura grande, com
lâminas tão afiadas, que Laurent conseguiu ver do lado da cama. Larvas
quentes e frias estavam fazendo buracos em seu crânio, até que ele mal podia
pensar.

Entre o mau cheiro, o braço cortado, e as lâminas da tesoura, a mente


de Lauren estava torcendo e girando como um aglomerado de enguias, e cada
vez que tentava agarrar um pensamento, ele deslizava para longe de seu
alcance.

Os capítulos iniciais de sua vida não continham muita coisa, e o resto


dela, todas as páginas que ele gostaria de escrever, depois de tão longa espera
para preencher com algo significativo, algo diferente de servidão, estavam
prestes a serem destruídas.

Ele não merecia isso.

Ele fazia tudo certo. Trabalhava duro e tentava não sentir pena de si
mesmo, apesar da maldição de sua visão falhando. Ele não permitiria que
William fizesse isso com ele. Ele não seria escravizado por este monstro
nojento!

— O que você vai fazer com essa tesoura? — Laurent perguntou em


uma voz tão calma que surpreendeu a si mesmo.

William se aproximou e pegou o colar de metal do chão, fazendo com


que o tinido da algema soasse ameaçador. Quanto mais perto ele estava, mais
seu rosto se assemelhava a um reflexo distorcido visto na água em
movimento. — Eu ouvi que as unhas crescem mesmo após a morte. O que
você acha? Será que Marcel precisa de um corte?

William estava louco. Nunca em sua vida Laurent tinha encontrado esse
tipo de maldade pura e sem remorso. Seria a própria sanidade de Laurent a
sua chave para a segurança, ou ele estava prestes a entrar na espiral de
loucura também? Suas entranhas já estavam torcendo dolorosamente.
Ele avaliou o quão longe a corrente lhe permitiria se mover, e não era
muito.

William suspirou e se aproximou dele com a tesoura aberta na mão. —


Não se preocupe. Eu vou deixar você experimentar o toque de um homem
antes de morrer. A menos que você me deixe realmente com raiva, mas eu
não posso ter um novo menino aqui todas as semanas. Não para as coisas
que eu quero. As pessoas iriam começar a falar.

O pensamento da criatura vil em cima dele fez Laurent querer vomitar.


Como era possível que ele não tivesse visto o mal escondido nos olhos de
William? Não só a sua visão estava falhando, seus pensamentos foram
obscurecidos pela própria concupiscência ilícita de Laurent, e agora ele iria
pagar o preço mais alto da sua cegueira.

Na outra mão, William balançou a coleira, como se a oferecesse a


Laurent. — Quando eu colocar isso em você, você vai fazer o que eu quiser,
mas eu gosto de um pouco de luta na primeira vez.

Será que a coleira tinha espinhos para torturar um homem até que ele
obedecesse? Quem William realmente era? Laurent precisava fazer algo e
rapidamente, antes que esse fogo em suas veias acalmasse. Ele
freneticamente procurou em sua mente todos os indícios, todas as boas
ideias dos livros que ele tinha lido, mas quando William se aproximou
novamente, Laurent ficou de joelhos e mordeu seu braço como um cão
raivoso, e toda a finesse foi esquecida.

Um guincho alto ressoou no quarto, e a tesoura e a coleira caíram no


chão com um tinido metálico. O rosto de William retorceu como em um
pesadelo e ele desceu sobre Laurent como uma harpia, as duas mãos
apertando ao redor do pescoço desprotegido de Laurent. Ele pressionou forte,
os polegares cavando o pomo de adão de Laurent, as unhas rasgando a pele
enquanto a boca de William se esticava em um sorriso diabólico cheio de
dentes claros.

— Eu? Você está tentando me machucar? Você é uma pequena cobra,


menino! Você vai se arrepender de ter esses dentes! Vou arrancá-los um por
um, para que você chupe melhor o meu pau! — William gritou.
A tesoura brilhou nas proximidades, e Laurent tentou alcançá-la
esticando o braço, apesar de ser sua única mão livre. Todos os instintos
gritavam para ele usá-la para impedir que as mãos de William continuassem
pressionando seu pescoço, cortando seu fornecimento de ar, e Laurent olhou
para a máscara grotesca do rosto em cima dele e o seu instinto de
sobrevivência agiu sobre ele.

Seus dedos roçaram na lâmina que acabou por ser tão afiada como
Laurent tinha imaginado, mas os cortes rasos que sentiu nos dedos não eram
nada em comparação com a dor causada pela falta de ar ou o soco que levou
mais cedo na cabeça. Seus pulmões doíam como se mil agulhas o picassem
todas de uma vez, e sua visão estava embaçada, distorcida e escurecida nas
bordas.

William gritou mais ameaças e palavrões que não poderiam penetrar


mais a mente de Laurent quando William puxou-o pelo pescoço e bateu sua
cabeça contra o chão. Mas, ao mesmo tempo em que aumentava sua dor, e
sacudia o seu núcleo, a violência brutal moveu Laurent mais alguns
centímetros para longe da cama.

Laurent pegou a tesoura de aço e apunhalou a lâmina na garganta de


William.

Calor lavou o seu rosto, e as mãos em torno de sua garganta apertaram


mais uma vez, em seguida se soltaram quando William ergueu suas mãos
freneticamente para pressionar sob o queixo, tentando suprimir o fluxo de
sangue. Sua boca se escancarou como a de um cão prestes a uivar, mas tudo
o que saiu foi um gorgolejo acompanhado por mais um esguicho de sangue.

A casa inteira tremeu, e um guincho de endurecer os ossos rasgou o ar.


A porta se sacudiu, como se alguém estivesse tentando abri-la pela força,
mas toda a atenção de Laurent estava sobre o monstro distorcido acima dele.

Ele não podia arriscar que a ferida que infligiu fosse uma que William
pudesse se recuperar, e quando seu algoz freneticamente se pôs de joelhos,
Laurent esfaqueou com a tesoura o estômago vulnerável que até agora estava
escondido por uma camisa de linho. O barulho lembrava a Laurent dos sons
produzidos por aves de rapina, e perfurou seus ouvidos quando ele esfaqueou
as duas lâminas na carne mais e mais, mesmo depois que William tombou,
Laurent continuou, e logo depois caiu como uma pedra sobre ele. Sua carne
mutilada estava aberta, substituindo os gritos de William, mas Laurent
continuou, mesmo quando as entranhas começaram a aparecer e a feder.

— Eu te odeio tanto! — Laurent soluçou, assustado com o cheiro


acobreado penetrando suas narinas e a umidade quente encharcando suas
roupas.

O sangue estava quente em sua pele, encharcando-o como um bálsamo


que nunca lavaria, deixando um aroma distinto de assassinato em sua carne.
Ele devia ter se desorientado por alguns momentos, porque em um momento
William ainda estava se debatendo sobre ele, e no outro, estava imóvel como
uma estátua.

A casa não estava mais tremendo, e a pessoa que tinha tentado invadir
o quarto momentos atrás não estava fazendo mais tentativas. Certamente,
algum servo teria sentido o chão tremer, mas eles iriam procurar seu mestre
aqui? Poderia ter sido a imaginação frenética de Laurent?

Tudo estava mortalmente parado.

Laurent estava atordoado demais para se mover, mas então a


necessidade de tirar William de cima dele era tão visceral que gritou em
pânico, como se ainda estivesse sendo atacado, e empurrou o corpo sem vida
para o lado. O sangue do estômago de William cobriu o peito de Laurent, o
fraque precioso rasgado, suas mãos e cabelo úmidos com líquido pegajoso,
como tivesse gotejando com ovo cru.

O que ele deveria fazer agora? Seus joelhos estavam fracos, seus dedos
tremiam, e olhou com descrença para a carnificina que tinha causado. Ele
amaldiçoou no momento em que engoliu um pouco de saliva com sangue.

Só quando ele tentou se afastar para longe do corpo, foi quando se


lembrou da algema em seu pulso. Laurent choramingou como um cão
chutado, e olhou para algema de metal em pânico. William tinha colocado a
chave na cômoda, juntamente com suas outras coisas, e estava muito além
do seu alcance.
O que aconteceria se Laurent fosse forçado a ficar aqui com o corpo, e
o braço cortado muito tempo? Ele tinha certeza que ficaria louco. E uma
visão terrível dele se banqueteando do cadáver de William para sobreviver
por mais tempo o fez entrar em ação e levantar-se.

Ele começou a puxar a corrente freneticamente, esperando que o anel


de ferro ligado à cama pudesse de alguma forma ser puxado para fora da
madeira, mas Marcel era maior do que ele, então, se ele não tinha conseguido
se libertar, Laurent certamente não poderia.

Ele empurrou o corpo, irritado que seus olhos estavam molhados,


porque deixava sua visão ainda menos clara, mas ele se inclinou para dar
uma olhada melhor na algema. Ele não podia discernir muitos detalhes,
então usou seus dedos em vez disso, sondando o ferro em torno de seu pulso.

Não estava muito apertado, então havia alguma esperança para ele, e
apesar da sensação de que William tinha de alguma forma o enganado a
acreditar que ele tinha morrido e estava prestes a atacá-lo por trás, Laurent
persistiu. Com cuidado, ele torceu a mão na algema, adicionando um pouco
de saliva como lubrificação. Seu progresso foi lento, mas quanto mais ele se
concentrava na sua tarefa, mais subjugada sua ansiedade se tornava.
Quando chegou ao ponto em que sua mão estava áspera, e a dor em suas
juntas se intensificou, ele não desistiu e continuou, sabendo que a
sobrevivência estava ao seu alcance, ele só tinha que se libertar. Na pior das
hipóteses, iria deslocar o dedo.

E mesmo que não tivesse sido necessário, ele esfolou a pele do lado de
fora de sua mão, mas era um pequeno preço a pagar.

Ele respirou fundo.

Ele matou um homem. Um homem como o Sr. William Fane. Será que
alguém acreditaria que Laurent estava apenas se defendendo? Eles
certamente viriam a este quarto? Eles também iriam encontrar o braço de
Marcel, e eles não poderiam supor que Laurent trouxe com ele, poderiam?

Sua garganta estava ficando muito apertada para respirar. Levaria


horas, talvez dias, até que alguém descobrisse o que aconteceu aqui, e
Laurent seria considerado culpado de alguma forma. Ele iria acabar morto
por matar um homem em legítima defesa, só porque ninguém jamais
suspeitaria que um bom homem como o Sr. Fane poderia ser o monstro feio
que estava no interior dele.

Laurent cobriu a boca e deslizou pela parede com um soluço. Sua vida
inteira estava sendo destruída por causa de uma coisa que tinha tentado
alcançar, e ele ainda não tinha provado a liberdade de seu contrato na
livraria. Fane nunca se importou com ele, ele era louco e cruel, e estava
atraído apenas pela aparência de Laurent. Certamente, nenhuma das suas
conversas tinha importado para o vilão assassino.

Houve um baque, alto e claro, como se alguém batesse as unhas contra


o vidro.

Laurent olhou ao redor em pânico, levantando-se.

— Tem alguém aqui? — perguntou, tropeçando para frente para pegar


a tesoura ensanguentada. Havia alguém sendo mantido em cativeiro aqui,
ou era uma ameaça que ele precisava lidar?

Ele congelou quando seu olhar foi até um tipo de armário, ou um guarda
roupa coberto com um tecido preto e grosso. Ele tinha notado quando entrou,
mas agora via com perfeita clareza, embora as paredes ao lado estivessem
borradas.

Ele se aproximou com cautela, dando um passo para trás quando


bateram novamente, três batidas em intervalos regulares. Laurent engoliu
em seco, observando a cortina em silêncio.

— Quem está aí? — perguntou, agarrando a tesoura de uma forma que


lhe permitiria usá-la como arma mais uma vez. Sua pele arrepiou enquanto
esperava por uma resposta.

E então aconteceu. As cortinas se abriram com uma lufada de ar muito


quente, que poderia ter vindo de uma fogueira, forçando Laurent a fechar os
olhos e inclinar a cabeça quando o ar quente se aproximou do seu nariz. Sua
pele ardia com o calor, mas quando ele olhou para trás, a lareira estava
completamente apagada, como se o único golpe de ar tivesse apagado as
chamas.
Então de onde vinha esse calor, se não da lareira?

Laurent olhou para cima e deu um passo para trás com um grito,
estendendo a arma improvisada, mas a figura à sua frente fez o mesmo. Só
então ele percebeu que ele estava olhando para um espelho. Seu reflexo
estava coberto de sangue além do reconhecimento, mas mesmo com o medo
se torcendo no interior de Laurent, ele ficou chocado com a clareza da
imagem. Ele não tinha visto um desde que ele era uma criança.

Ele olhou fixamente os seus olhos castanhos, que tantas vezes eram
apenas um borrão; os rios de lágrimas em seu rosto manchado de sangue,
ele não sabia que estava chorando, muito sobrecarregado para perceber.

Tinha algum tipo de magia negra nesse espelho? Ou alguma invenção


que poderia ser usada em vez de óculos? Ou era sua mente pregando peças
nele? Porque bem diante de seus olhos, a imagem do espelho começou a
escurecer, como se a superfície tivesse fuligem a cobrindo por dentro.

Laurent não podia se mover, congelado no lugar quando o espelho se


tornou negro como piche, derramando como melaço em um pote. A
viscosidade derramou sobre a superfície, indo para baixo e pela parede de
madeira, se tornando uma poça que começou a ferver de repente. Laurent
deu um passo para trás, chocado demais para fazer muito, apertando a mão
sobre a tesoura quando a substância subiu, ficando mais alta, até que
formou uma forma distintamente humana.

Sua mente estava brincando com ele? Ele estava ficando louco? Ou era
a alma do mal de Fane voltando do além-túmulo para terminar o que o corpo
não poderia?

— Por favor, deixe-me ir. — Laurent choramingou, dando mais alguns


passos para trás quando o alcatrão na figura pareceu endurecer, como uma
secagem rápida. Ele gritou novamente quando pequenas rachaduras
começaram a aparecer na figura monstruosa, e tudo o que estava sob a “pele”
preta brilhava de um vermelho como o ferro fundido.

Laurent correu para a porta, mas quando ele agarrou a maçaneta, o


queimou, como se as chamas do inferno estivessem logo atrás da porta.

Era isso. Ele sofreria a condenação eterna por seu crime.


Quando a figura falou por trás de suas costas, sua voz tremeu até o seu
núcleo. Crua e estranhamente assexuada, como passar o ferro contra a
madeira áspera. — Enfrente-me, Laurent.

Laurent estava com medo de olhar para trás, com medo de enfrentar a
criatura desconhecida cuja simples presença fazia sua pele queimar, mas
não havia outra saída, e ele virou-se lentamente.

Ele tinha uma presença imponente, um gigante entre os homens e, no


entanto, estranhamente esguio, com pernas que eram mais como as patas
de um cachorro do que pés humanos e um par de chifres longos em espiral
crescente dos lados de sua cabeça. Com os olhos brancos incandescentes,
observando Laurent.

Laurent apoiou as costas contra a porta, que não oferecia nenhuma


fuga, e as lágrimas mais uma vez derramaram por seu rosto.

— Ele iria me forçar, e depois me matar. Eu tinha o direito de lutar! —


toda vez que ele respirava, o cheiro de lenha e enxofre dominava o cheiro de
podridão e flores.

— Eu sei — disse a criatura com a mesma voz monótona. Ele deu um


passo adiante, e Laurent estremeceu, observando as garras grossas sobre os
três grandes dedos se arrastando pelo chão, deixando para trás a fumaça
originária onde suas patas estavam. — Ele era um homem ganancioso. Mas
agora ele está morto, e você necessita da minha intervenção.

Laurent engoliu, olhando nos olhos de uma criatura que podia ver com
perfeita clareza.

— Necessito? Você pode fazer tudo isso ir embora? — ele apontou ao


redor da sala.

A criatura sorriu, ou pelo menos sua boca carbonizada se curvou em


uma careta parecida com um sorriso. — Posso assumir esta responsabilidade
de seus ombros. Eu posso levá-lo para um lugar onde você vai ser capaz de
viver da maneira que desejar, e onde a morte deste homem não enviará cães
atrás de você.
A mente de Laurent trabalhava com a mesma facilidade com que seus
olhos se arregalaram enquanto olhava para a criatura.

— Em algum outro lugar? Em algum lugar onde eu possa ser livre? Ser
o mestre do meu próprio destino? — ele sabia agora o que essa criatura era.
— Você é o diabo?

O ser balançou a cabeça, como se estivesse divertido, e carvão caiu de


seu rosto em pedaços pequenos, revelando o interior escaldante. — Se eu sou
o senhor do submundo da maneira como os cristãos entendem? Não. Eu sou
um diabo? Talvez eu seja. E eu tenho o poder de dar-lhe uma nova vida. Uma
vida onde você pode ter tudo o que você sempre sonhou.

Laurent engoliu em seco. Será que essa criatura iria criticá-lo, ou julgá-
lo por fazer um pedido que os seus contemporâneos iriam considerar
imorais?

— Uma vida em que eu possa satisfazer livremente meu desejo por


homens sem repercussões? — ele se aprumou, apertando os dedos na
tesoura com tanta força que doía. Ele estava tão, tão cansado de ser sempre
um servo, ligado a alguém, e agora quase um escravo ou cativo.

A criatura o observava sem pestanejar. — Sim.

— Um mundo em que eu não iria ficar cego?

— Sim.

Agora vinha a parte mais difícil. — Você não iria fazer algo assim
livremente. O que você quer de mim?

— Eu não exigirei a sua alma, mortal, se é isso o que você está


perguntando — disse a criatura, revelando seu ardor na garganta quando
riu. — Eu preciso de um humano para cuidar de um assunto por um curto
período de tempo. Se você não falhar, você estará livre quando realizar a sua
tarefa. Você vai para o Kings of Hell. Você vai se encontrar com Beast e terá
a certeza que ele estará na casa de King no dia em que atingir a idade de
trinta e três anos. Certifique-se que o próprio King viva até então. Mantenha
em segredo os detalhes de sua tarefa de Beast.
Laurent baixou a tesoura em resignação. — Eu... Eu sou o assistente
de um livreiro. Como posso ter qualquer poder sobre uma Besta, ou um Rei7?

A criatura observou-o em silêncio, como se pesando suas palavras, mas


no final, ele estendeu sua mão grande, desdobrando todos os cinco dedos
que terminavam em obsidiana, como garras afiadas. — Você tem esse poder,
Laurent. É por isso que eu escolhi você.

Laurent estendeu a mão, apesar do medo de ser queimado, apesar do


medo de mais um contrato de servidão. Hoje à noite ele tinha matado um
homem vil durante a tentativa de assegurar um futuro melhor para si
mesmo. Talvez esse fosse o seu destino desde o início? — Eu vou encontrar
a Besta, me certificarei que esteja presente no seu trigésimo terceiro
aniversário, e eu não vou deixar o Rei morrer. Vou manter os detalhes de
meu segredo escondidos da Besta.

A criatura curvou a cabeça e inclinou seu corpo maciço na direção de


Laurent. Seu calor era proeminente, mas desta vez Laurent não teve medo
de se queimar. Quando a grande mão se fechou em torno dele, parecia
estranhamente semelhante a algo quente envolto em fatias finas de uma
casca.

— E em troca, eu vou torná-lo livre em um mundo onde você pode


satisfazer os seus desejos com os homens, e sem temer a lei. Você vai receber
a sua visão de volta. Você será capaz de forjar o seu próprio destino. Mas se
você falhar, você vai voltar a este mesmo quarto e sofrer as consequências do
que você fez. Ajoelhe-se, Laurent.

Laurent engoliu em seco, mas caiu de joelhos, sem protesto. Com a


cabeça baixa, ele observou a fumaça lentamente agitando o chão sob as patas
da criatura. Essa foi à última coisa que notou antes de um calor escaldante
descer na parte de trás do seu pescoço, enchendo a sua cabeça e todo o seu
corpo.

Ele estava no inferno.

7
A criatura se refere à Beast e King, nomes de estrada dos MCs, mas Laurent não sabe, então está correto traduzir
para o português, pois a princípio não são nomes próprios. King = Rei; Beast = Besta, Fera e etc.
Capítulo Quatro
Laurent

Todo o corpo de Laurent passou de quente para frio em uma fração de


segundo. Como se ele tivesse caído em um lago, mas não se engasgou com a
água quando abriu a boca em um suspiro desesperado por ar.

Ele estava em terreno estável.

Em um tapete espesso.

Ele olhou para trás, apenas para enfrentar o seu próprio reflexo
embaçado no que era um espelho alto, onde o diabo usou para entrar no
mundo humano.

Ele não estava mais no quarto-porão. O teto era mais alto, e uma janela
grande ao lado de Laurent deixava entrar luz suficiente para que ele
examinasse o quarto, que era tão grande quanto o mercado de Brecon ou um
andar inteiro de um edifício, sem paredes para dividir o espaço. Poderia ter
sido uma câmara usada para armazenamento, mas ele não viu poeira, e os
móveis estavam organizados de forma ordenada.

Um conjunto de camas... Ou talvez sofás, estavam bem na frente de


Laurent, cobertos de couro preto e ordenados em torno de uma mesa de
vidro. As suas arestas brilhavam com a luz fraca vinda através da janela, e
Laurent encarou os móveis, atingido pelo contra senso da utilização de um
material facilmente quebrável para agir como tampo da mesa. Certamente,
cairia no momento em que colocasse um copo pesado em cima.

Levantou-se com as pernas trêmulas, na sala cheia de móveis com


bordas afiadas, que o cutucava de cada lado. Isto não poderia ser o inferno,
poderia? Parecia muito tangível.

Ele se virou para observar uma pintura de uma mulher de pele escura
e nua, deitada de costas para o seu pintor, com nenhuma explicação
alegórica para a pele desnudada. Apenas uma mulher bonita envolta no
lençol. Laurent deu um passo para trás, atingido pela audácia de uma arte
sem vergonha e pudor. Talvez este fosse o inferno depois de tudo.

Ele olhou para o lado quando notou algo se mexendo no canto do seu
olho, apenas para detectar outra mulher nua. Esta era definitivamente mais
real, a menos que o inferno tivesse esculturas em movimento. Ela gemeu e
rolou para o lado em uma cama que poderia caber pelo menos cinco pessoas
confortavelmente.

Laurent deu alguns passos em sua direção, chocado pela forma como...
A mulher parecia. Ela era provavelmente mais alta do que ele quando ficasse
em pé.

Seu cabelo tinha uma cor selvagem que, à luz fraca parecia quase tão
azul como sua jaqueta. Será que ela era um súcubo esperando um homem
para seduzir em seus braços e tirar a sua energia?

Ele não seria aquele homem.

O zumbido que estava sentindo em seus ouvidos desde que a criatura o


tocou, finalmente parou, e ele ouviu sons distantes, um estrondo rítmico
baixo, um arrastar no chão de pernas com uma música primitiva, ritualística
e sem melodia.

Na porta atrás do sofá, havia outra pintura, desta vez com uma imagem
crua de um crânio e uma coroa de ossos cruzados debaixo dela. A imagem
estava enquadrada por palavras na parte superior e inferior, e a escrita era
grande o suficiente para Laurent ler: Kings of Hell Moto Club.

Isso fazia sentido. Afinal, a criatura que o enviou para os Kings of Hell,
deveria ter mulheres nuas esperando nos espaços escuros cheio de
parafernália de morte? De uma das prateleiras na parede, um crânio de
cristal verde sorria para ele, uma coroa de ouro firmemente colocada ao lado
de sua cabeça.

Laurent se aproximou da porta com uma respiração profunda. Era hora


de encontrar o rei.
A perspectiva de fazer barulho na presença de uma mulher que poderia
ser um demônio e avançar contra ele fez seu coração bater forte, mas
conseguiu abrir a porta sem acordá-la.

No momento que conseguiu sair, o zumbido distante que ele tinha


ouvido tornou-se muito mais pronunciado, perfurando seus ouvidos com um
som metálico que oscilava de forma contínua, e Laurent percebeu que
poderia ser o violino do diabo tocando.

Ele ficou parado no vasto corredor de uma grande mansão, diante de


uma fileira de grandes desenhos pendurados entre as portas, cada um
representando algo mais erótico que a anterior. Esqueletos sobre mulheres
mal-vestidas, homens rasgando sua própria carne, e instrumentos estranhos
e coisas ímpias, que Laurent não queria testemunhar, apesar de ter feito um
pacto com o diabo. E, em vez de avaliar de mais perto, seus olhos notaram
pinturas mais afastadas dele, apesar de ver os detalhes em um borrão, logo
que Laurent se aproximou.

Feliz ao ouvir que a música estranha acabou, ele correu rapidamente


pelo corredor, como se os monstros pudessem deixar os quadros para
persegui-lo. Ele hesitou quando chegou em frente das escadas em espiral de
metal, mas, em seguida, deu um passo cuidadoso sobre a estrutura do
esqueleto. Se o rei do inferno8 poderia descer aquelas escadas, certamente
aguentaria o peso de Laurent também.

As escadas rangeram desagradavelmente quando ele desceu, mas não


parecia tão vacilante, então Laurent apenas se manteve focado em chegar à
base rapidamente. Ele estava prestes a descer mais rápido quando um
estrondo rasgou o ar, parecendo uma legião de soldados atirando todos de
uma vez, e ele meio que esperava que o cheiro de pólvora o alcançasse
quando tropeçou, e caiu no chão liso e cinza. Não parecia com nenhuma
pedra que ele já tinha tocado, mas sua mente não ficaria ocupada com tais
ninharias por muito tempo.

Os gritos irromperam mais a frente dele; e ele lutou contra a dor em


seus joelhos ao se levantar, pronto para encontrar uma saída. Ele certamente

8
Novamente um trocadilho com os nomes do personagem King: King of Hell (Rei do inferno).
poderia voltar assim que os soldados fossem embora, uma vez que o perigo
não fosse tão pronunciado como parecia agora. O que quer que este mundo
fosse - se era um dos círculos do inferno ou apenas outro reino, Laurent
estava determinado a sobreviver e cumprir as ordens do diabo.

Ele se encolheu contra a parede em pânico quando duas pessoas nuas,


um homem e uma mulher, correram pelo corredor, gritando como se seus
membros estivessem sendo arrancadas. Talvez estivessem sendo torturados?
Laurent colocou as mãos sobre os ouvidos, pronto para ouvir outro tiro, mas
em vez disso, só havia mais gritos e comoção.

Ele não podia simplesmente esperar até que o perigo o pegasse, então
forçou as pernas a se moverem. Quando ele passou por outra porta, um
latido vicioso irrompeu atrás dela, fazendo-o cair contra a parede oposta. Ele
engoliu um soluço e virou-se, com medo do animal escondido na sala
trancada. A casa escura estava cheia de horrores escondidos e a mente de
Laurent não estava muito mais clara com o medo florescendo dentro dele.

As luzes piscaram acima dele, e só então ele notou quão estranha as


lâmpadas eram – não eram candelabros com velas, mas varas de vidro longas
que deveriam ser preenchidas pelo sol liquefeito para emitir uma iluminação
tão poderosa. As paredes ao redor dele e o chão pareciam pulsarem
perpetuamente com o eco dos sons que eram totalmente estranhos aos
ouvidos de Laurent. Havia vozes, mas também esse sempre presente zumbido
no fundo, que Laurent não podia nomear. Ele não estava pronto para
enfrentar o rei do inferno. Ele precisava de mais tempo.

Laurent se virou quando a porta sacudiu sob o peso da besta do outro


lado, mas não quebrou, ainda mantendo a besta do inferno na baía. Seria o
monstro que Laurent deveria manter na casa até o dia do seu trigésimo
terceiro aniversário? Como ele saberia quantos anos a criatura tinha?

No entanto, recusando-se a enfrentá-lo, ele correu pelo corredor quando


as vozes se aproximaram, perseguindo-o mais para dentro das entranhas
emaranhadas da mansão, com nenhuma forma clara à vista.

Os latidos se tornaram mais altos, mais cruéis, e agora acompanhados


por um rugido de trompas que causou arrepios profundos na carne de
Laurent, empurrando-o pelo corredor, para longe das fontes de luz e para os
cantos escuros, onde talvez pudesse encontrar abrigo dos males deste reino.

O cheiro de poeira o lembrou do sótão do Sr. Barnave, onde ele tinha


dormido na noite passada, mas agora fornecia pouco conforto quando os
latidos da besta eram a sua companheira nessa perseguição. O barulho de
seus pés estava ficando mais alto a cada momento que Laurent gastava
tentando desesperadamente discernir as formas no corredor escuro onde o
mobiliário e entulho haviam sido deixados para apodrecer.

Quando teve que escolher entre dois caminhos através deste cemitério
de itens abandonados, que estavam cutucando e raspando os seus membros
no mobiliário, ele escolheu o caminho mais empoeirado na esperança de que
algo dentro dele tinha até agora impedido os monstros de encontrá-lo. Ele
acelerou, ignorando todas as dores em seu corpo, deixando para trás o
trabalho e a luta contra a força superior de Fane. O rugido da besta o fez
abrir a porta mais próxima, na esperança de se esconder lá dentro, mas, de
repente, ele foi confrontado com um flash de luz que mudava do vermelho
para o azul alternadamente, como se fosse o caleidoscópio do diabo.

Ele queria ficar longe das cores ofuscantes, e correr de volta para o
corredor e encontrar um esconderijo diferente, mas o latido alto o fez
congelar, em seguida, tropeçou para trás, na direção da janela. Ele olhou ao
redor, mas estava dolorosamente vazio. Nem um único pedaço de madeira
que pudesse usar para se proteger do confronto com a besta. Não havia lugar
para correr.

Ele deu um passo em direção à janela, com a esperança de que ela


pudesse servir como uma rota de fuga, mas o chão estava longe demais para
saltar, e ele não sabia como abrir o estranho bloqueio também.

A besta não lhe deu tempo suficiente para resolver o enigma. Ele deu
um pulo ao ouvir o latido que parecia querer comer Laurent vivo, e tudo o
que ele podia fazer era se afastar até o canto e rezar por um milagre.

Era um cão de proporções magníficas, alto e musculoso como uma


mula, coberto por um casaco preto e brilhante com marcas ao redor dos
dentes enormes e sobre suas patas. Ele poderia rasgar Laurent em pedaços
se quisesse, e Laurent empurrou seu corpo contra a parede, com muito
medo, igual a um cordeiro prestes a ser abatido por um lobo. Mas além do
rosnar, ele ouviu passos. Eles eram pesados e firmes, como os de um homem
corpulento, em vez da batida de cascos do diabo.

Laurent parou de respirar e se encolheu, puxando a gola do casaco


úmido em uma tentativa de proteger-se com a única armadura que ele tinha.

E então a verdadeira besta entrou. Não, um gigante.

À primeira vista, ele parecia um vazio negro. Todas as suas roupas, a


calça e a camisa eram dessa cor, assim como as suas mãos, e seu rosto cor
de piche com manchas pálidas nos lábios, olhos e apenas a ponta do seu
nariz. Ele era um homem gigante, inclusive mais alto que a criatura que tinha
transportado Laurent para este reino, com os punhos grossos como pães e
ombros fortes como os de um boi.

Não havia mais nenhum ponto em se esconder. Ele precisava agir


primeiro e mostrar que não tinha medo, mesmo se ele estivesse de fato
totalmente apavorado.

— Eu... Eu não tenho certeza de onde estou — ele deu um meio passo
para fora da sombra até a luz fraca vinda de fora.

O monstro rosnou ainda mais ferozmente do que o seu cão com uma
voz rouca como se sua garganta estivesse cheia de agulhas.

— Que porra você está fazendo em nossa propriedade, menino? Esse


sangue é seu?

O cão enorme foi rápido para ameaçar Laurent também, e assim que ele
rosnou, Laurent voltou para o seu canto com um gemido. Sua cabeça estava
girando, e cada vez que ele olhava para a criatura parecida com um humano,
que poderia ter mais de um metro e oitenta de altura, ele se sentia
completamente indefeso. Ele não entendia por que o demônio o escolheu, de
todos os homens, para enviar a este reino.

O gigante chegou até ele em passos largos, agarrando o braço de Laurent


e se inclinando sobre ele como se pretendesse sugar a alma de Laurent
através de seus lábios. No momento em que ele ficou na luz, o rosto escuro
estava borrado, com características ainda mais distorcidas pelos olhos
defeituosos de Laurent. Não querendo ofender o caçador que o perseguiu, ele
olhou para o rosto largo, e realmente havia olhos nos buracos ovais, embora
Laurent não conseguisse discernir sua cor. Independentemente de sua
deficiência visual, ele agora percebia que a pele do gigante não era
completamente enegrecida, mas sim toda pintada com algum tipo de alfabeto
infernal.

— É o seu sangue, então? Alguém te atacou? Onde? — o gigante latiu,


deslizando uma de suas mãos enormes sobre os quadris de Laurent até sob
as abas de seu casaco.

Laurent empurrou os braços do gigante, com a intenção de pelo menos


ter alguma dignidade, pois ser revistado como uma vaca não era algo que ele
aceitaria, mas era como empurrar uma pedra enorme.

E se ele admitisse seu crime? Será que ele seria recompensado por isso
em um lugar onde os crânios faziam parte da decoração? Ele não podia
confessar até ter certeza.

— N-não. Eu não acho que seja meu. Eu não sei. Aqui é o inferno? —
ele perguntou, exasperado quando as enormes mãos do gigante finalmente
se afastaram dele.

O homem soltou um gemido profundo e se esticou em toda sua altura.


Ele era tão alto, que a ponta da cabeça de Laurent mal chegava a sua
clavícula, e agora que Laurent estava perto, ele percebeu o quão estranho o
gigante cheirava também. Sem sequer uma pitada de suor ou enxofre, o
homem tinha um cheiro de cerveja, almíscar, e casca de limão. Nenhum
homem cheirava limpo assim, a menos que tenha saído de um banho.

— Você vai explicar-se à King — o gigante disse severamente.

Laurent engoliu em seco, de repente autoconsciente sobre seu próprio


estado. Apenas algumas horas atrás, sua maior preocupação era se o Sr.
William Fane notaria seu broche esmaltado, e agora ele estava prestes a
conhecer o Rei do inferno, coberto de sangue. Talvez o Rei gostasse dele desse
jeito.
— Você vai me levar para o seu Rei? — Laurent tentou falar de forma
mais confiante, mas era impossível ao lado do cachorro assustador e um
homem mais alto do que qualquer outro que Laurent já conheceu.

O gigante olhou para ele em silêncio.

— Você conhece King? — ele perguntou no final.

Laurent engoliu em seco. Parecia que as regras da linguagem eram


diferentes aqui. — Sei um pouco sobre ele.

O gigante suspirou e tirou algo do bolso da calça. O item, que se parecia


muito com um pequeno caderno preto, foi pressionado contra sua orelha, e
momentos depois, ele falou.

— King, temos um intruso no clube. Venha imediatamente até meu


quarto. Vou levá-lo até lá — disse o homem, já puxando Laurent até a porta.

Laurent respirou fundo, mas não ajudou em nada enquanto o gigante o


arrastava ao longo do corredor com a força de um touro. — Por favor, não
me maltrate. Eu tinha a intenção de me encontrar com o rei antes que você
me prendesse.

— Você deveria ter solicitado uma audiência então — assobiou o


gigante, andando pelo mesmo corredor que Laurent tinha passado mais cedo.
— Ele não gosta de ser surpreendido.

Laurent queria falar, mas empurrou seu corpo contra o gigante quando
o cão passou correndo por ele, escovando seu corpo musculoso contra as
pernas de Laurent.

— Eu não queria ser desrespeitoso — ele tentou, sentindo-se tão fraco


contra o corpo que parecia ser feito de puro músculo. Tudo o que a criatura
precisava era de chifres.

— Eu não ligo para o que você quer dizer. Você está em nossa
propriedade. Você veio até aqui coberto de tanto sangue, que você pode ter
esfolado a pele de alguém! Você deve ficar contente por eu não estourar os
seus miolos. Você não é daqui, certo?

— Eu não esfolei ninguém! — Laurent ergueu a voz enquanto o pânico


se infiltrava sob sua pele. Será que ele seria torturado? Será que se ele
admitisse o seu crime, seria poupado da dor? — Eu poderia dizer se sou
daqui se souber onde eu estou — ele disse, jogando ao gigante um osso que
poderia tanto ser sua salvação ou a fonte de ainda mais antagonismo,
dependendo de quão proficiente o homem fosse à detecção de tentativas de
manipulação.

O gigante parou no corredor empoeirado e olhou para ele. O cachorro


latiu a partir do final do corredor, como se estivesse os chamando, mas ficou
em silêncio quando o gigante silenciou-o com um gesto. — O que você quer
dizer? Será que alguém o trouxe até aqui?

Laurent engoliu em seco, sentindo o foco da atenção do gigante.

— Eu fui enviado aqui voluntariamente — será que foi uma resposta


agradável? Talvez ele devesse fingir que era burro e que não sabia de nada?
Poderia ser mais fácil navegar nessa posição até que ele entendesse melhor
esse novo reino.

— Por quê? — perguntou o gigante, andando com Laurent pelo corredor


com menos gressão em seus movimentos.

— Eu não sei. Por favor, estou confuso. — Laurent disse, mantendo a


voz e a postura submissa. A nova tática parecia funcionar muito melhor do
que o confronto.

— Qual é a última coisa que se lembra? Sabe de quem é esse sangue?


Você trabalha em algum museu de história viva? — perguntou o gigante,
andando com Laurent por corredores que ele não tinha visto ainda. Era
muito mais escuro aqui, e ele lutou com a preocupação de que ia acabar
tropeçando novamente. Mas o aperto do gigante no braço de Laurent era forte
o suficiente para que ele mantivesse Laurent na vertical se isso acontecesse.

— Um museu... Onde você mantém a vida? — ele não gostava do som


disso em tudo. As almas condenadas eram trancadas em vidro por uma
eternidade, enquanto demônios chegavam e se maravilhavam com seus
corpos nus. Sua mente estava ficando mais confusa a cada momento.

— Tudo bem, tudo bem. Você está parecendo confuso pra caralho.
Bateu com algo na cabeça? Dói? — perguntou o gigante, seguindo o seu cão
em um lance de escadas até chegar a um corredor, semelhante ao primeiro
que Laurent entrou, este era menos confuso e tinha as mesmas lâmpadas
estranhas. Então, novamente, eles estavam andando em um enorme
labirinto, e não ficaria surpreso se eles estivessem realmente andando pelos
corredores para tentar alcançar os quartos que estavam em movimento.

— Eu... Me machuquei. — Laurent sussurrou quando ele pensou no


machucado em sua cabeça, onde Fane lhe deu um soco. Ainda latejava de
dor.

O gigante exalou e finalmente parou em uma das entradas. Havia uma


placa curiosa acima da fechadura e ele bateu algumas vezes. O bloqueio
clicou, e Laurent ficou deslumbrando e recuou um pouco quando percebeu
que o item poderia ser algum tipo de chave.

— Talvez possamos arrumar um médico para olhar isso mais tarde, ou


algo assim — disse o gigante.

Foi um pensamento curiosamente gentil de um homem que vomitou


palavras rudes minutos antes.

— Você tem médicos aqui? — talvez apenas para consertar aqueles que
foram torturados, apenas para que eles pudessem ser atormentados
novamente.

Mas o gigante não conseguiu responder, porque outro homem enorme


já estava se aproximando.

— Que diabos é isso? — o recém-chegado gritou com uma voz tão


agradável que era imprópria em relação a esse tipo de linguagem vil.

O gigante enfrentou o outro estranho. — Ele diz que está procurando


você.

Laurent endireitou-se para enfrentar o homem antes que ele pudesse


chegar tão perto e suas características se tornassem distorcidas. — O senhor
é o Rei?
Capítulo Cinco Laurent

Laurent teria suspeitado da identidade do homem, mesmo sem ser dita,


porque o Rei9 tinha o tipo de presença que fazia com que as pessoas
quisessem ficar e ouvir. Seus traços faciais eram simétricos e belos da única
maneira que um homem mais velho poderia ser; e cabelo dourado e curto
adornava sua cabeça como uma coroa. Ele estava vestindo roupas pretas, tal
como o seu... Soldado?

Quando o Rei chegou mais perto, as características dignas de um


monarca medieval se transformaram em uma mancha cor de carne na frente
de Laurent. — Esta é a primeira vez que o vejo na minha vida. E o que é que
ele está vestindo?

— Disse que machucou a cabeça. Precisamos ver se ele não está ferido
— disse o gigante, finalmente puxando Laurent para o interior da câmara,
que era bem grande e pouco decorada, com paredes cor de vinho e sofás cinza
de um tipo semelhante como o que Laurent viu na sala do espelho.

O cão enorme andou por todo o cômodo, depois foi até um grande
travesseiro onde descansou depois de fazer vários círculos em torno dele.
Mas era o que estava ao lado de seu ninho de tecido que deixou a boca de
Laurent seca. Havia uma estante tão cheia de livros, que alguns estavam
empilhados em cima dos outros. Seu entusiasmo diminuiu um pouco quando
ele percebeu que se o inferno tinha livros, eles poderiam estar cheio de
páginas vazias, apenas para zombar de quem ousara estender a mão para
pegar um romance e acalmar sua mente.

O Rei soltou uma risada.

9
Novamente a confusão devido o nome do King e o significado dele (Rei). Como Laurent não o vê como King e sim
como Rei, decidi manter assim para evitar confusão.
— Ele deve ter. Somente alguém sem juízo na cabeça estaria andando
por aí vestido desse jeito — ele empurrou algo na parede, e uma luz tão
brilhante quanto uma dúzia de velas iluminou o quarto de uma só vez. —
Jesus, foda-se! Ele está coberto de sangue! É como se ele tivesse estado em
uma matança de zumbis ou algo assim!

— Eu não matei ninguém! — Laurent foi rápido em dizer, uma vez que
ele decidiu que era o melhor curso de ação.

— Então o que aconteceu? — perguntou o gigante, puxando-o para um


pequeno corredor com mais três portas. Foi na direção da que estava aberta
e mais uma vez acendeu uma lanterna brilhante acima com apenas um toque
na parede. Era uma câmara completamente coberta por uma cerâmica preta
no chão e uma espécie de cerâmica granulada cinza nas paredes. Sob um
grande mosaico de vidro colorido estava uma banheira, também coberta por
azulejos cinza do lado de fora, mas branco e suave no interior. Atrás dele
havia uma tela translúcida, que revelava uma coleção de itens coloridos e
tubulação de metal, em seguida, havia uma cadeira feita de porcelana
branca, e um armário que abrigava um lavatório vazio no topo. Acima dele
estava pendurado um armário pequeno e plano.

O espaço oprimiu Laurent com a sua singularidade, a lisura das


superfícies e a estranheza completa. Era aqui que ele teria sua audiência
com o Rei? Ele achava que precisava encontrar um lugar onde pudesse se
reunir com o homem e começar a organizar o seu plano, mas ele era
inteligente o suficiente para improvisar.

Laurent olhou para os dois homens.

— Eu não me lembro. Eu não tenho certeza — mostrar confusão tinha


sido a melhor estratégia até agora, então ele iria ficar com ela por enquanto.
Não que ele não estivesse realmente confuso, porque ele estava; além de ter
uma grande dor de cabeça.

O Rei se aproximou e Laurent tentou não fazer uma careta. Ele odiava
o momento em que as expressões faciais das pessoas ficavam fora de foco,
principalmente nos momentos de vulnerabilidade, pois ser capaz de ler sinais
faciais poderia ser uma questão de vida ou morte. — Nós só precisamos saber
o que aconteceu. Não podemos deixá-lo aqui coberto de sangue.

— É só nos dizer, e eu prometo que você vai ficar bem — disse o gigante,
encostado na parede. Laurent deu alguns passos para trás, para a luz
brilhante, assim ele poderia ver seu rosto muito mais claramente. Havia de
fato linhas e fileiras de escrita obscurecendo suas feições em todos os
lugares, exceto nos olhos pálidos, lábios e narinas. Mas havia algo mais sob
a tinta, como se a pele tivesse sido de algum modo retorcida, e mastigada por
um cão feroz, especialmente no lado esquerdo, onde Laurent só agora
percebeu que havia um ouvido faltando. O braço esquerdo do homem
também estava completamente preto, como se estivesse coberto do alcatrão
que tinha derramado para fora do espelho do diabo.

— Eu receio não ter qualquer lembrança. — Laurent disse calmamente,


muito consciente do perigo que corria. Fane era alto, mas nada como esses
homens. Se fossem mesmo homens, porque Laurent não estava totalmente
certo.

O Rei respirou fundo e deu um passo ainda mais perto dele. — Você
acha que pode mentir para os Kings of Hell, menino? Vou perguntar mais
uma vez. Existe um corpo em algum lugar nas instalações que você quer nos
contar?

— Eu perguntei a ele, e ele não vai dizer. Hound só me levou até ele —
disse o gigante de seu lugar ao lado da porta.

— Por que diabos isso tem que acontecer esta noite, quando temos
policiais e médicos nas instalações? Foda-se — o Rei assobiou e chutou um
balde vazio.

— Vamos ter calma sobre isso. Você sabe que todos estão no nosso
bolso, e não vai ter investigação além dessas instalações. Se alguns
adolescentes já se infiltraram em um dos quartos abandonados, porque ele
não poderia? Talvez alguém o tenha deixado aqui para cobrir seus rastros?
É óbvio que ele deve ter tido algum tipo de traumatismo craniano. Você não
percebe o quão estranho ele fala? — perguntou o gigante.
O Rei suspirou profundamente e agarrou a frente do casaco de Laurent
sem levar em conta que o sangue poderia sujar sua mão.

— Talvez seja porque ele é estrangeiro. Você é algum tipo de estudante


de intercâmbio? Ah, foda-se isso. Pegue as algemas. Ele não vai a lugar
nenhum até eu descobrir de quem é a porra desse DNA em cima dele.

À primeira fala do Rei, Laurent não estava certo do que ele queria dizer,
mas, em seguida, o gigante pegou algo de trás da calça e puxou um par de
algemas unidas por uma corrente curta, e sua curiosidade se transformou
em terror.

Ele recuou tão rapidamente que tropeçou na banheira e bateu com a


cabeça contra a parede com tanta força que seus dentes rangeram.

— Não! Por favor! Sem grilhões! Não há necessidade disso! — enquanto


ele lutava para sair da banheira escorregadia, o medo daquele momento em
que Fane mudou de homem para monstro na frente de seus olhos voltou com
uma vingança. Ele precisava de uma arma.

Um tubo de metal que terminava com um peso em forma de lágrima


parecia ser a escolha ideal, mesmo que estivesse ligado à parede, mas quando
Laurent o apanhou, parecia desanimadoramente leve na sua mão.

O Rei levantou o braço. — Cale a boca. Você está na minha propriedade,


e eu posso fazer o que diabos eu quiser com você. Não adianta tentar me
bater com a mangueira do chuveiro, ou eu vou ter Hound mordendo a sua
mão!

— Eu não vou ser um prisioneiro! Eu vim aqui... — Laurent queria dizer


que ele veio com boas intenções, mas se ele supostamente não lembrava a
sua história, então teria que contar aos dois homens que estava mentindo o
tempo todo. Ele soltou a mangueira do chuveiro, e agarrou um dos itens da
banheira, ao invés. Este acabou por ser uma garrafa de vidro de peso sólido.
Ele jogou no Rei e saltou para fora da banheira, e tentou sair pela porta.

A garrafa explodiu em pedaços e cobriu o Rei com um lodo verde. Com


a distração, Laurent sentiu um raio de esperança, mas quando os braços
escuros e manchados de tinta do gigante se fecharam em torno dele e o
obrigaram a enfrentar a parede, ele sabia que não havia maneira de sair. Ele
gritou de medo quando sua mão esquerda foi puxada para trás, e metal frio
tocou sua pele já queimada, lhe recordando do toque das mãos de William.

E então as algemas caíram com um estrondo alto.

— King, dê uma olhada aqui — disse o gigante, torcendo dolorosamente


para trás o braço esquerdo de Laurent.

Laurent deixou escapar um soluço impotente.

— Cristo... Sua mão está fodida. Como se ele já tivesse sido preso e
tivesse tentado se soltar — o Rei disse, olhando por cima do pulso de Laurent.
O sangue fresco começou a pingar nos dedos de Laurent, onde a crosta mal-
formada fora arrancada na luta. — Esta é uma merda fodida — o Rei circulou
Laurent e se inclinou para olhar o seu rosto. — Escute, criança...

— Eu não sou uma criança! — Laurent engoliu outro soluço. — É você


que é anormalmente grande!

O Rei riu e colocou as mãos nos ombros de Laurent. — Até que nós
possamos descobrir o que aconteceu com você, você não pode sair, mas não
vamos algemá-lo, ok? Acalme-se, e nós não iremos prejudicá-lo.

Laurent respirou fundo e balançou a cabeça lentamente, obrigando-se


a ignorar a dor em seu braço.

O gigante gemeu, olhando para o chão sujo. — Mas você vai limpar isso,
porque eu não vou. Agora tire a roupa. Precisamos ver se você está ferido em
qualquer outro lugar.

— P-perdão? — Laurent disse engasgado, torcendo seu corpo para


olhar para o homem atrás dele.

O gigante mostrou-lhe a tela de vidro no canto. — Ali. Tire suas roupas,


você pode tomar um banho, e vamos ver se você precisa de um médico.

O Rei concordou e até sorriu. — Tire todo esse sangue de você. Se nada
mais, então vai pelo menos ajudar com o seu cheiro.

Laurent olhou para as manchas escuras cor de vinho que cobriam a


frente de seu corpo. Ele sabia que elas estavam lá, mas de alguma forma só
agora caiu em si que era o sangue que tinha escorrido do estômago e da
garganta de Fane. Ele estava se sentindo doente de novo, e correu para
desfazer os botões de seu amado fraque.

— Ele está em choque. Ele está tremendo como um motor no inverno


— o Rei sussurrou para o gigante, mas Laurent estava mais do que ciente
das palavras. Ele estava ficando cego, e não surdo. Mas era verdade, ele mal
conseguia desabotoar o casaco.

— Sim. Deveríamos ligar para Jake e perguntar sobre os museus e


teatros na área. Ele pode ser funcionário.

— Se ele for, teve algum tipo de colapso. Não podemos ser arrastados
para sua merda. Temos o suficiente no nosso prato agora.

Laurent colocou cuidadosamente o casaco arruinado sobre a borda da


banheira, e continuou a despir-se, enojado com o sangue que encharcava a
sua pele. Ele tinha certeza de que havia coágulos de sangue em seu cabelo,
e ele precisava lavar desesperadamente por que já coçava.

— Você se lembra do seu nome? — perguntou o gigante.

Laurent tirou as botas, já imaginando como ele iria salvar todas as suas
roupas depois de danos tão terríveis. — Meu nome é Laurent Mercier.

O silêncio que se seguiu o fez olhar para cima a partir dos botões de sua
calça que sempre lhe deram um pouco de dificuldade.

O Rei suspirou, mas ele não parecia estar falando com Laurent. — Me
dá um tempo.

— Você acha que Knight pode conhecê-lo? — perguntou o gigante, e


apesar de sua raiva anterior, ele começou a recolher o lodo verde e os pedaços
de vidro com uma pequena pá.

— Eu não sei de mais nada. Isso é problema com P maiúsculo.

Desde que eles não estavam falando dele, Laurent tirou todas as suas
roupas e as colocou em uma pilha na borda da banheira. Pelo menos uma
camada de fluidos corporais estava fora dele, mas ele estava muito consciente
de sua própria nudez, as manchas vermelhas em seu corpo, e o sangue ainda
escorrendo de sua mão.
— Será que... Alguém poderia me providenciar um banho? Ou... Eu...
Quer dizer, eu poderia fazer isso sozinho. Por favor, instrua-me.

— Entre no chuveiro — disse o gigante, mas vendo a confusão de


Laurent, ele apontou para a tela no canto.

Laurent aproximou-se, só agora percebendo que a tela era uma porta


com pequenas alças moldadas do lado de fora do vidro. Ele esperava que as
placas de vidro fossem mais pesadas e mais frias, mas essa deveria ser algum
tipo de invenção infernal que não existia no mundo humano ainda. Como
instruído, ele entrou no espaço grande. Ele poderia facilmente estender as
mãos para os lados, se quisesse, mas como isso iria ajudá-lo a limpar o seu
corpo, ele não tinha ideia.

— Apenas levante a grande alavanca. E regule a temperatura.

— Esta aqui? — Laurent puxou uma alavanca estranhamente leve que


parecia feita de prata, mas definitivamente não era. A água fria o molhou
num piscar de olhos, e não parava de bater na sua carne. Ele gritou e se
encolheu no canto, mas não adiantou. A água chegou até ele também. Com
os dois homens olhando para ele como falcões, ele se enrolou em uma bola,
forçando a suportar o choque e se acostumar com a temperatura fria. Ou
talvez fosse a temperatura de seu corpo que se ajustou a ela, porque
gradualmente atingiu um calor agradável, como se alguma alma boa tivesse
acrescentado água recém-fervida na água gelada em perfeita proporção.

— Use qualquer gel que quiser — disse o gigante do lado de fora da tela,
e apontou para uma prateleira de metal contendo várias garrafas. Todas elas
pareciam ser feitas de vidro, mas ao toque, acabou por ser algo
completamente diferente, um tipo de resina, talvez?

Ele pegou uma delas, e inspecionou até abrir o topo, liberando um


cheiro intenso de pinho. Isto foi à primeira coisa lhe trouxe um pouco de
felicidade desde sua chegada condenada até Fane. Ele derramou um pouco
do “gel” direto na cabeça e começou a se mover na água que limpava seu
corpo com calor agradável. O líquido criou uma espuma parecida com sabão,
mas era infinitamente mais agradável de usar e tinha um cheiro mais
agradável também!
— Quanta água eu tenho? — ele perguntou quando afastou seu cabelo
por cima do ombro, sem se importar que o machucado de sua mão ainda
estivesse sangrando.

Mas algo mudou na atmosfera atrás dele, e antes que ele percebesse, o
Rei abriu a porta, e agarrou o pescoço de Laurent com uma palma maciça.

— O que você está realmente fazendo aqui? — ele gritou, batendo


Laurent contra a parede.

A sensação de segurança acabou e Laurent ficou paralisado contra o


corpo grande e masculino que o obrigou a sair de fora da água. O gigante se
juntou a eles, mas em vez de colocar suas mãos enormes em Laurent
também, ele agarrou o pulso do Rei.

— O que você quer deste garoto agora?

O Rei estava ofegante, e ele não afrouxou o seu aperto no pescoço de


Laurent, como se congelado em sua raiva viciosa. Ele franziu as
sobrancelhas, mas Laurent não poderia avaliar o rosto do Rei assim tão de
perto, que se transformou em um emaranhado de cores. — Eu…

— Você não pode ver que alguém o machucou? Pare de assustá-lo! —


o gigante se aproximou de uma forma que lhe permitiria bloquear qualquer
soco vindo contra Laurent.

O Rei soltou Laurent e riu de repente.

— Eu apenas pensei que ele poderia sair de sua amnésia. Você sabe,
como quando você assusta alguém com soluços — ele recuou, e assim que
sua mão o soltou, Laurent tropeçou de volta para o chuveiro quente, muito
atordoado para pensar. Algo estava terrivelmente errado, e esse sentimento
torcia todas as suas entranhas. Ele não podia ver bem, mas ele podia sentir
a mentira.

O gigante fechou as portas translúcidas, trancando Laurent e olhando


para o Rei por alguns momentos.

— Talvez você devesse verificar como estão indo as coisas lá embaixo


— ele disse, no final.
As narinas do Rei inflaram, e seu olhar correu para Laurent de uma
forma tão intrusiva, que parecia um nobre com uma bengala. — Não o deixe
ir a qualquer lugar.

Laurent olhou para a água-cor-de-rosa circulando o ralo.

— Eu fico de olho nele — disse o gigante, seguindo o Rei com o olhar


até que ele deixou a sala de banho. Ambos ficaram em silêncio, até que a
porta para o corredor abriu e fechou, mas mesmo assim, a água continuava
a ser o único som no ambiente.

Finalmente, Laurent se atreveu a olhar através do vidro, mas sua


garganta estava apertada, como se ele pudesse sentir as mãos de Fane em
torno dele. O gigante ainda estava lá. Encostado na pia e observando. Mesmo
a água morna e a espuma com aroma de pinho no cabelo de Laurent não
conseguia acalmá-lo.

— Peço desculpas por isso — disse o gigante no final, cruzando os


braços sobre o peito. — Você foi mantido preso em algum lugar contra a sua
vontade? Há marcas de punho em sua mão.

— Não, eu me arranhei. Na floresta. — Laurent olhou para o pulso


machucado e sangrando com um sentimento de ira justa de repente subindo
dentro de seu peito. Esse monstro, William Fane tinha a intenção de mantê-
lo em seu porão e estuprá-lo uma e outra vez. Ele merecia o fim que Laurent
lhe dera.

O gigante permaneceu em silêncio, mas ele se aproximou em passos


lentos e firmes até que apenas as portas do chuveiro impedissem o contato
com Laurent.

Laurent engoliu em seco e esfregou o rosto com a água e sabão.

— Ainda está em mim? — ele sussurrou.

— O quê?

— O sangue. — Laurent se aproximou do vidro, de modo que o gigante


pudesse vê-lo melhor.

Um silêncio estranho se seguiu, mas no final, o gigante perguntou. —


Quem lhe deu essa marca?
Laurent parou, assim como o seu coração. — Que marca?

A voz do gigante estava baixa quando ele respondeu. — A marca em sua


nuca. Quem o marcou?

Laurent deu um passo para trás do vidro que estava embaçando tanto
que ele mal podia ver o gigante. Ele passou os dedos sobre a nuca e sentiu
cumes em sua pele que não estavam lá da última vez que ele tocou. Os cumes
pareciam quentes, mas não o queimava. Sua respiração acelerou, e ele se
lembrou de como o diabo o tocou.

É claro que o diabo iria marcá-lo como seu.

— Laurent? Não desmaie — disse o gigante. — Diga-me quem fez isso.


Enquanto não sabemos quem você é, você vai precisar ficar aqui, por isso é
no seu melhor interesse me dizer.

— Eu não vou desmaiar! Eu estou bem! — ele começou a esfregar o


rosto na esperança de que tivesse conseguido tirar todo o sangue. — Por que
o meu cabelo ainda está pegajoso? — ele sussurrou, imaginando o sangue
de Fane em seus cabelos longos, formando nós feios e emaranhados que
nunca poderiam ser limpos. Estava ficando difícil respirar, e o vapor não
estava ajudando. Sua mão ferida doía quando ele tocava o seu cabelo. Tudo
doía. Tudo estava contra ele.

— Porque você colocou a metade de um frasco de xampu nele. Que


diabos há de errado com você? Você tem que me dizer o que eu preciso saber,
ou nós dois vamos esperar até que você o faça. Pare de fingir que você não
sabe como lavar a cabeça, porque eu não vou fazer isso por você!

Laurent sugou seus lábios, tentando lembrar todos os detalhes que


estavam sendo mencionados. O gel era “xampu,” e ele tinha usado muito. Ele
decidiu esperar para dar a resposta, assim não revelaria detalhes de sua
missão para o soldado-monstro-homem do Rei. Pelo menos a água quente
correndo no seu corpo estava ajudando a lavar o gel, e com ele, todos os
vestígios de rosa na água acabaram por desaparecer.

Enquanto ele estava terminando, o gigante desapareceu brevemente da


sala de banho, só para voltar com um pacote de tecido. — Ainda estou
esperando. Nós temos toda a porra da eternidade, se você quiser ficar com a
gente.

Laurent estava dividido entre falar com a criatura rudemente ou ser


educado para apaziguá-lo. Pelo menos ele finalmente se sentia limpo.

— Eu não sei sobre a marca. Eu ainda estou... Confuso a respeito de


onde eu estou — ele gentilmente empurrou a porta, mas só então se lembrou
de puxar para baixo a alavanca que impedia a água de cair. Sem os restos
de Fane sobre ele, se sentia mais como ele novamente.

O gigante passou-lhe o pacote de tecido preto. Parecia bem ao toque, e


macio, com minúsculas cordas costuradas na superfície, como se tentasse
imitar a pele de animal. — Você está no clube Kings of Hell MC, trinta e dois
quilômetros de distância de Portland.

Laurent se cobriu com o cobertor macio que absorveu a água de seu


corpo. Era tão agradável ao toque, que ele o passou em seu rosto antes de
olhar para o rosto do gigante, agora se perguntando finalmente se ele não era
apenas um humano grande. Ele ainda não queria revelar o seu problema de
visão para o homem, no caso dele usar a informação contra Laurent.

— Isso é... no Distrito do Maine?

O gigante caiu contra a parede. — Nós estamos no Estado do Maine.

Laurent abraçou o cobertor felpudo mais apertado em torno de si. —


Sinto muito, estou muito confuso. Você, eventualmente, tem um pedaço de
pano para envolver a minha mão? Eu odiaria manchar a sua coberta.

— Coberta? — perguntou o gigante, parecendo confuso. — Você não vai


se enrolar nu em qualquer uma das minhas cobertas. Eu não sei quem é
você.

Laurent inclinou a cabeça e levantou as bordas do pano preto e felpudo


que ele tinha envolvido em seu corpo. — Este aqui. Certamente não é um
lençol, é?

O gigante exalou.
— Ah, então agora você não sabe o que é uma toalha? Muito engraçado.
Eu estou tendo um ótimo momento ao lidar com a sua merda. Venha aqui —
acrescentou bruscamente e abriu uma gaveta no armário.

Laurent suspirou. Ele tentou, ele realmente tentou, mas parecia que
nada o que sabia era válido neste... Lugar. Será que não era o inferno? Ele
não entendia nada. Ele estava cauteloso, mas o gigante ainda não o
machucara, então ele deu um passo para mais perto.

A pata monstruosamente grande do gigante pegou o seu antebraço e o


fez descansar a mão na borda do lavatório. Só então Laurent percebeu que
havia um buraco no meio. Antes que ele pudesse pensar, o gigante espirrou
um líquido frio que pinicou sua mão ferida e pulso, fazendo doer como se a
substância contivesse um ácido.

Ele gritou e tentou se afastar, mas o gigante o segurou no lugar, como


se a força de Laurent fosse comparável às asas de uma borboleta. — Isso dói!

— Alguém marcou você e você sequer percebeu. Então essa limpeza


deve ser algo bobo para alguém tão casca-grossa como você — disse o
gigante, mas rapidamente envolveu a mão de Laurent com um pano que dava
a sensação de ser um papel.

Laurent mordeu os lábios para não choramingar. Ele tinha que parar
de pensar no homem como um ser desumano, mesmo que ele fosse
monstruoso. Ele abraçou a toalha com uma mão. Este não era um lugar
normal, o que quer que fosse este clube.

— Tão rude — ele murmurou no final, quando a dor diminuiu.

— Eu sou rude? — perguntou o gigante, acrescentando mais uma


camada de pano e amarrando as extremidades para fixar o curativo. — Você
é o único que veio até aqui sem ser convidado e nem sequer admitiu ainda o
que está fazendo aqui. E você continua mentindo para mim, mesmo quando
você usa o meu banheiro.

— Eu teria dado meu jeito. — Laurent disse, mas não soou tão
convincente como ele teria desejado. Ele desprezava ser um prisioneiro, mas,
por outro lado, só tinha roupas ensanguentadas, o broche bonito, e nada
mais. Nem uma moeda para a sua alma.
O gigante soltou um rosnado e empurrou mais pano para Laurent. —
Coloque esta roupa. Se você não vai falar, então vai se vestir como um
prisioneiro. Se imagine em roupas laranja.

— Não! Eu não sou um convidado? — Laurent olhou para o homem,


tentando ver melhor suas expressões faciais, mas só ficou confuso por toda
a escrita borrada no rosto dele. Ele foi pegar as roupas, mas a toalha acabou
caindo no chão.

— Não até que você fale. Não podemos ter um estranho nos espionando.
É apenas a sua escolha.

As roupas tinham um ajuste folgado, muito grande para Laurent,


particularmente a calça, que parecia estranhamente macia ao toque. Era
apertada nos tornozelos e tinha uma corda para apertá-la sobre os quadris.
Ele conseguiu colocá-la no lugar, apesar de sobrar tecido em torno de suas
pernas. Laurent provavelmente parecia um mendigo saído do clássico das Mil
e Uma Noites. A camisa, disforme e com mangas tão curtas que só atingiam
os cotovelos, não o agradou, mas pelo menos ele estava coberto.

Ele soltou uma respiração profunda e tirou um pouco mais de água de


seu cabelo, feliz ao não ver nenhum resíduo rosado.

— Eu não sou um espião. — Laurent empurrou o peito do homem, e


não era a sua intenção machucá-lo, e sim ver qual a reação que provocaria.
Com certeza, era uma maneira arriscada de se comportar, mas ele precisava
desesperadamente estabelecer em quem ele poderia contar neste lugar
esquecido por Deus.

O homem nem sequer se moveu, e, pior ainda, o pulso abusado e ferido


de Laurent doeu pelo impacto.

— Você está tentando me provocar? Não vai acontecer. Eu lidei com


homens muito piores do que você, garoto — disse o gigante, empurrando
Laurent de volta para o corredor e para a porta do outro lado do corredor.

A luz se acendeu, revelando uma nova câmara. Tinha bom tamanho,


com uma cama e travesseiros revestindo um espaço perto da janela, mas o
que mais deslumbrou Laurent foi o grande número de livros nas prateleiras,
e até mesmo em pilhas no chão.
Ele não se conteve e caminhou para frente, só para tropeçar sobre um
dos montes. O gigante estava lá para salvá-lo da queda, e ter o braço maciço
em torno de sua barriga era tanto enervante quanto reconfortante.

— Eu sinto muito, ainda estou um pouco sobrecarregado.

— Então vá dormir. Talvez quando você acordar, você vai finalmente


falar — o gigante disse, irritado.

Laurent se afastou do toque, mas as barras na janela encheram o seu


coração de medo. E se houvesse homens como Fane neste “clube”, e o que
poderia feri-lo depois de tudo? Como ele poderia concordar em ficar aqui
como um prisioneiro quando ele ainda tinha que encontrar a “Besta10” pela
qual foi enviado?

Ele se virou e sorriu.

— Obrigado por sua bondade — ele disse, pronto para aproveitar a


primeira oportunidade para fugir dele.

O gigante assobiou, e o som repentino de patas contra o piso deixou o


coração de Laurent agitado. O enorme cão apareceu na porta e se sentou
assim que seu mestre fez um gesto para ele.

O gigante inclinou-se e colocou a mão na nuca do cachorro antes de


olhar para Laurent.

— Vê ele, Hound? O mantenha aqui. Se ele deixar este corredor, pode


rasgar a garganta dele — disse com firmeza e Hound bateu suas enormes
patas contra o chão.

Laurent abraçou a si mesmo e não pode deixar de estremecer como se


tivesse mordido um limão. Ele retrocedeu até os joelhos baterem na cama. —
Não há necessidade disso.

O homem se esticou. — Eu acho que há necessidade. Eu não confio em


você, e ele vai ser os meus olhos. Eu saberei se você tentar por os pés fora
daqui.

10
Novamente ele leva pro literal o significado do nome Beast (Besta, fera e etc.).
Laurent voltou a pensar nos latidos furiosos do cão e engoliu
nervosamente. Ele iria encontrar uma maneira de sair. Afinal, ele era muito
mais esperto do que aquele cão.

— Não faça caretas para mim — sibilou seu captor, e Hound deu um
latido alto e aterrorizante. — Não ache que somos moles porque ficamos com
pena de você, seu merdinha. Se eu descobrir algo incriminador, não haverá
lágrimas derramadas que ajudarão você!

Laurent não tinha uma resposta para isso também, porque o que ele
poderia dizer iria contradizer a verdade? Ele estava agora em um lugar onde
não conhecia ninguém, mas mesmo se voltasse para Brecon, ele não tinha
família, nem amigos próximos, e só um empregador que já havia manifestado
o desejo de pagar pelo contrato de outro jovem para substituir Laurent em
sua livraria. Ele iria cuidar de si mesmo neste novo mundo e encontraria
uma maneira de cumprir os desejos do demônio.

— Ei, Beast! — alguém gritou do lado de fora, assustando Laurent,


quando uma batida veio da entrada principal deste conjunto de quartos. —
Beast, abra! King disse que há um Mercier aí dentro?

Os olhos de Laurent arregalaram, e ele olhou para o homem que era na


verdade a Besta pela qual Laurent foi enviado até aqui. Ele sentou-se na
cama, muito sobrecarregado para se expressar em palavras, e já odiando as
roupas largas.

Beast resmungou e saiu do quarto, seguido por seu cão.

— Lembre-se, ele estará te observando. Melhor ser um bom menino —


ele disse, antes de fechar a porta atrás dele.

— Eu sou um homem crescido! — Laurent levantou a voz em


frustração, mas tudo o que conseguiu em troca foi silêncio.

Ele encolheu os ombros, tentando não pensar no animal monstruoso


que o protegeria. Havia um caminho para passar por isso. Enquanto ele
pesava suas opções, Laurent vagou o seu olhar sobre as paredes vazias,
parando no único elemento decorativo que ele detectou. Era uma pintura.
Incrivelmente realista, ela mostrava parte de um bosque, com raios
brilhantes de sol saindo através das copas das árvores. Abaixo havia uma
espécie de tabela, e sob ela, em letras grandes e grossas, lia-se abril. Um
calendário, então.

Mas quando Laurent se levantou para olhar, agora frustrado que havia
deixado sua lupa no bolso do casaco, algo estava estranho nisso. O papel era
suave como a seda, como as pinturas dos esqueletos que vira no andar de
cima, e, como ele previu, as linhas estavam borradas com os números na
frente de seus olhos.

Ele deu um passo para trás em frustração e se afastou até encostar-se


à borda da cama para ter distância. Ele olhou mais uma vez, e ele finalmente
conseguiu identificar os maiores números.

2017.

Abril de 2017.

No início, a sua mente ficou em branco, mas depois, ele finalmente


entendeu todas as suas implicações terríveis. Ele não estava no inferno.
Estava no futuro.
Capítulo Seis
Beast

O som da ambulância ainda vibrava na cabeça de Beast muito tempo


depois do veículo ter saído. Quando se foi, os membros do clube se reuniram
para uma reunião de emergência no pequeno estúdio circular sem janelas
onde eles tinham sua mesa redonda, e onde havia os compartimentos
escondidos, com jóias e outros objetos de valor que eles transportavam para
o seu parceiro de negócios de Nova York, conhecido como Sr. Magpie. O
estúdio era localizado na parte mais antiga do edifício, que tinha sido
originalmente uma Casa de Campo de um homem rico, e assim ele imaginou
que o lugar tinha algum tipo de decoração elaborada, até que o pessoal do
hospital arrancou toda a elegância, substituindo a pintura dourada e os
ornamentos nas paredes por tinta branca.

Beast não estava conseguindo se concentrar muito no seu ambiente.


Sua mente continuava reproduzindo a imagem da espuma rosa que tingia
água que escorria do corpo de Laurent. Os olhos castanho chocolate do
menino não paravam de olhar para ele sobre a curva graciosa de seu ombro,
por trás da cortina do cabelo grosso, e longo, e as bochechas rosadas do calor
do banho.

Tinha passado um bom tempo desde que alguém atraente visitou o


quarto de Beast.

Para ser honesto, tinha sido um longo tempo desde que um homem
passou uma noite no quarto de Beast. Um tempo muito longo. Tanto tempo,
que de fato a presença de Laurent estava interferindo com os pensamentos
de Beast, fazendo sua mente ficar na sarjeta mais do que o habitual. Em
situações quando ele deveria se concentrar no problema em questão, e não
sobre um menino que provavelmente agia estranhamente devido a uma lesão
e não deveria exigir muito da inteligência de Beast.
Talvez Beast não devesse tê-lo deixado sozinho depois de tudo? E se
Laurent sofresse algum tipo de hemorragia cerebral enquanto ele estava fora,
e ele iria encontrar o corpo pálido caído no chão quando ele voltasse?

Ele descartou esses pensamentos, tentando ouvir o discurso de King


sobre o seu clube estar em excelente forma e precisar de apenas pequenos
ajustes, mas mesmo quando ele repetiu as palavras de seu pai em sua cabeça
para uma melhor compreensão, sua mente visualizava as nádegas redondas
brilhando com a água, e os lábios tão adoráveis e beijáveis que estavam
deixando Beast desconfortável. Laurent tinha dois pequenos pontos de beleza
ao lado de seus lábios e seu único propósito parecia o de atrair e chamar
mais atenção para a boca que já estava ocupando muito dos pensamentos
de Beast. Ele realmente não deveria pensar dessa maneira sobre alguém que
era efetivamente o seu prisioneiro.

Ele ficava em torno de homens atraentes o tempo todo, então por que
ele não podia se concentrar? Aos trinta dois... Bem, quase trinta e três, ele
não deveria ser governado por seu pênis assim. Então, novamente, ele achava
que não tinha conhecido ninguém remotamente tão atraente como Laurent
em sua vida. Havia uma abundância de pessoas de boa aparência, mas
Laurent tinha o tipo de rosto que você esperaria encontrar em um outdoor.
Com um nariz ligeiramente arrebitado, olhos expressivos e marcantes,
emoldurados por cílios longos e bochechas como maçãs suculentas que
Beast poderia morder esperando nada além de doçura. Ele parecia uma
presença surreal que não se encaixava em seu clube em ruínas, e menos
ainda no apartamento de Beast. Ele bufou quando pensou que Laurent
pudesse ser um fugitivo da masmorra de um magnata da alta moda.

King ficou em silêncio e se concentrou em Beast. — Você tem alguma


coisa a acrescentar? — A carranca profunda sugeriu que King não estava
falando sobre qualquer coisa que merecesse os sorrisos de Beast.

Beast olhou para os seus irmãos, que estavam todos concentrados nele.

— Tenho certeza de que ele está muito triste por Davy ter que deixar o
cargo de VP. — Knight disse dando um tapinha nas costas de Beast. Calor
encheu o rosto de Beast quando ele percebeu que tinha perdido esta parte,
mas, novamente, não era de admirar. Com as pernas de Davy esmagadas
pelo teto caído, a reabilitação levaria muito tempo, mesmo no cenário mais
positivo, onde ele não teria realmente que perder os membros. Davy fazia
parte do clube desde o início. Ele começou com King e seu sargento de armas,
Rev. Ele também era o mais velho de todos eles, e os anos de indulgência e
luta estava alcançando o pobre rapaz. Talvez eles devessem pensar em sua
aposentadoria, mesmo que ninguém desejasse que isso acontecesse dessa
maneira. Ele agora estava nas mãos dos médicos, com sua família, e tudo o
que restava para eles era as notícias.

— É lamentável. Davy era um bom VP. — Beast disse no final.

Knight acenou para Beast, as sobrancelhas grossas se reuniram em


uma carranca. Ele não estava feliz por não saber quem Laurent era, mas ele
ainda tinha as costas de Beast na reunião. Era ridículo, mas havia algo sobre
Laurent que fazia Beast desejar mantê-lo para si mesmo, mesmo que esse
desejo o deixasse parecendo como um dragão guardando sua pilha de ouro.
Ele não tinha intenção de perseguir o cara, pois não queria ser lembrado
como o cara que teve o seu avanço rejeitado.

Pelo menos, ao contrário de King, Knight nunca fez Beast se sentir


menos digno só porque a pele dele era toda fodida. Ninguém ousaria dizer
isso na cara de Beast, mas entre ele e Knight, maliciosamente bonito e com
o cabelo longo perfeitamente desarrumado, ele era definitivamente o amigo
feio.

King deu um suspiro profundo. — Teremos de fazer indicações e votar.


Eu preciso de um VP que possa aceitar o peso da responsabilidade que Davy
sempre teve.

Os homens ao redor da mesa murmuraram o seu acordo. Joker levantou


um copo de cerveja, embora não tivesse certeza se ele estava brindando a
sua indicação do voto ou para a saúde de Davy.

Rev deu alguns goles de cerveja e bateu os dedos grossos na mesa, a


ponta do cigarro contra o tampo da mesa. — Acho que precisamos de um
pouco de sangue jovem para ajudá-lo. Beast faria um bom segundo em
comando.
O coração de Beast acelerou, e ele olhou para cima, surpreso que Rev
não quisesse se indicar. Então, ele sempre foi o tipo de homem que preferia
estar fora dos holofotes. A função de sargento de armas estava à altura de
suas ambições quando se tratava da hierarquia do clube.

King ficou em silêncio, o que deu tempo suficiente para Knight dizer. —
Oh, cara! Tão certo. — Ele bateu seu copo com o de Rev. — Ele sempre lida
com a merda quando ela atinge o ventilador. Ele é uma escolha óbvia para
VP. E ele não tem nenhuma outra posição, então não é como se nós
tivéssemos que preencher outro cargo. — O entusiasmo em sua voz fez o
coração de Beast acelerar, mas ele manteve a expressão séria, escutando. Ele
não queria manter suas esperanças como da última vez, quando ele se
ofereceu para se tornar seu Capitão de Estrada, apenas para King nomear
Knight para o cargo.

Pelo tempo que Beast podia se lembrar, seu pai nunca tentou elevá-lo
ou recompensar seus sacrifícios para o clube. E o clube era toda a vida de
Beast, ainda mais desde o acidente, e ver os outros subindo as fileiras
enquanto ele permanecia sem reconhecimento era como um tapa na cara
dele. Lentamente, ele levantou seu olhar para encontrar os olhos azuis de
King.

Joker deu de ombros. — Sim, eu voto em Beast também. Inclusive hoje


à noite, ele cuidou do que precisava ser feito. E então ele encontrou o intruso
também. Ele é a principal escolha.

King ergueu as mãos. — Nós não estamos votando ainda. E ainda tem
Grey na corrida em Nova York, então como fazemos?

Rev gemeu e revirou os olhos. — Ele é o meu filho. Eu posso mandar


uma mensagem para ele. Não é como se fosse uma informação confidencial.

Seu membro mais recente, Fox, deu um aceno de cabeça afiado. — Essa
é uma boa ideia. Eu sei que Beast não ocupou oficialmente qualquer outro
posto...

— Mas isso está muito atrasado de qualquer maneira. Ele fez todas as
coisas que poderia ter feito, e de forma excelente, mesmo não tendo o posto.
— Rev disse, fazendo com que a sala ficasse quieta quando ele apertou os
botões de seu indestrutível velho Nokia.

Jake saiu do seu lugar junto à parede onde estivera em pé ereto como
uma flecha. — Se eu pudesse dizer, Beast cuidou de forma eficiente as coisas
hoje.

Se olhares pudessem matar, Jake seria uma pilha de poeira deixada


para trás pelo calor escaldante do olhar de King. — Alguém lhe perguntou
alguma coisa Prospecto?

— Eu apenas pensei que valia a pena mencionar...

King bateu com o punho contra a mesa. — E eu acho que você deveria
calar a boca e ir ajudar com os escombros se você não sabe o seu lugar em
uma reunião. Que parte de “apenas um patch recebe a voz” você não
entendeu? Dispensado.

O Prospecto assentiu com os ombros caídos. Ele murmurou um “sim,


senhor”, e saiu da sala rapidamente.

Beast lambeu os lábios, sentindo um rubor subindo seu pescoço. — Eu


ficaria honrado em assumir o lugar de Davy — ele disse no final, sabendo
que esperavam uma declaração dele. Os olhos de King o perfuravam, ele não
conseguia parar de pensar na marca intrincada na parte de trás do pescoço
de Laurent que causou uma explosão de raiva em King anteriormente. Qual
era o significado desse símbolo?

E por que King tinha a mesma marca na sua nuca?

O telefone de Rev acendeu, e ele abriu a mensagem com um aceno de


cabeça. — Gray diz sim — ele disse, mostrando a tela para todos. A
mensagem continha apenas aquelas três letras.

Beast engoliu em seco, pegando o olhar de Knight. Seu melhor amigo


sorriu em encorajamento e Beast falou. — Eu acho que, considerando o que
aconteceu com Davy, devemos repensar a questão do clube. Alguns de vocês
têm filhos, e eles às vezes brincam naquela sala. E se um pedaço do teto cair
sobre a filha de Fox?
Fox franziu a testa, inclinando-se para trás na cadeira, com o rosto sério
como se estivesse participando de um funeral. Essa era exatamente a reação
que Beast queria.

O rosto de King estava severo. — Nós realmente votamos?

Rev balançou a cabeça para King. — Quem apóia Beast para se tornar
nosso VP? — Ele levantou a mão, e todas as outras pessoas ao redor da mesa
o seguiram, enchendo Beast com tal alegria que ele teve que trabalhar duro
para se manter estóico.

Todos os olhos se voltaram para King, e, no final, o pai de Beast levantou


a mão por meio segundo. — Está feito então. — Ele jogou o patch para Beast
com o título de “vice-presidente” do outro lado da mesa e sorriu de uma
maneira que parecia quase sincera. — Vamos celebrar a nomeação do nosso
novo VP e bebermos para a saúde de Davy. Podemos falar sobre o clube outra
vez.

Beast sorriu, embora ele não quisesse admitir o quão feliz ele estava.
Ele iria levantar o tema do clube novamente em breve, mas este esse não era
mais o momento para estragar o humor dos irmãos com conversa séria. —
Vamos.
Capítulo Sete
Laurent

Laurent, ao mesmo tempo amava e odiava as roupas que Beast lhe dera.
Ele odiava sua forma, seu tamanho, e como elas o faziam se sentir pequeno,
mas, novamente, o tecido da calça e a camisa eram tão suaves ao toque, que
ele não podia deixar de apreciar a forma como as roupas o envolviam.

Algumas horas devem ter se passado desde que Beast saiu, e Laurent
não conseguia dormir, suando nos lençóis e constantemente preocupado que
alguém iria abordá-lo enquanto ele dormia e quebrava o seu pescoço. Ele não
podia ouvir os sons, mas o zumbido estranho que pairava no ar e estava
começando a afundar no fundo. Mas Beast provavelmente ainda não tinha
retornado para seu quarto, e apesar do monstro peludo guardando Laurent,
ele precisaria se aliviar, e logo. Não havia penico no quarto, e sem outra
perspectiva à vista, ele decidiu dar um salto de fé.

Com o coração na garganta, ele espiou o corredor escuro, mas o cão


estava longe de ser visto, e a porta para grande sala principal permanecia
fechada, então era seguro passar para o banheiro. Ele teria apreciado se
Beast lhe autorizasse sair, e não o deixasse sofrendo com a bexiga cheia.

Na parede de seu quarto, ele encontrou o interruptor que iluminava o


espaço e não pôde deixar de brincar com ele por um tempo tentando
descobrir como evocava tão rapidamente e de forma eficiente o fogo, mas não
adiantava. Suas necessidades físicas eram mais urgentes do que a
curiosidade desse novo mundo e suas invenções.

O futuro era um lugar incrivelmente avançado. Ele pensou no banho de


chuveiro que parecia conter uma quantidade ilimitada de água, como se o
reservatório acima fosse do tamanho de um celeiro.

Suas roupas ainda estavam na beira da banheira, sangue no tecido


caro, fazendo seu coração doer ao dano possivelmente permanente em sua
melhor roupa. Ele empurrou as peças na banheira e olhou para as alavancas
acima dele, que pareciam muito semelhantes àquelas no chuveiro. Se ele
pudesse, pelo menos, embeber as roupas em água durante a noite fria, talvez
elas pudessem ser recuperadas. Depois de pensar um momento, ele
derramou um pouco do gel “xampu” sobre elas também.

Ele olhou em torno, procurando um urinol, pensando que se ele não


estivesse lá, ele sempre podia aliviar-se no chuveiro, uma vez que tinha
algum tipo de sistema de drenagem. Mas, como ele tomou o seu tempo
examinando o quarto e se perguntando sobre que novos dispositivos que as
pessoas usavam, ele notou que a “cadeira de porcelana” era notavelmente
semelhante aos desenhos dos lavatórios de auto limpeza que ele tinha visto
em livros sobre os mais recentes avanços tecnológicos. É claro que ninguém
tinha um em Brecon, mas talvez em 2017 a conveniência de tais dispositivos
oferecidos já não fossem um luxo acessível apenas para os mais ricos. Ele se
aproximou do lavatório e se maravilhou que a tampa que não era sequer feita
de porcelana, mas o mesmo material que parecia resina, como muitos outros
itens no quarto, como o frasco de xampu.

Ficou aliviado por finalmente urinar na pequena piscina de água, mas


com Beast não estava presente, ele tirou um tempo para verificar os
ambientes desconhecidos e cheios de coisas que ele não conhecia. Quando
se virou para olhar para as roupas manchadas na banheira vazia, ele tocou
no pedaço de metal ao lado do lavatório. Inesperadamente caiu sob o peso da
sua mão. Surpreso com o som de água borbulhando, ele deu um passo para
trás, apenas para observar a água clara inundar da bacia de porcelana e
lavar sua urina.

Laurent riu alto quando pensou em como este ambiente estava cheio de
água disponível gratuitamente em qualquer quantidade desejada. Talvez
houvesse algum limite? Talvez as pessoas trabalhassem bombeando a água
perpetuamente sem nenhum esforço de sua parte? Sua excitação cresceu por
um segundo, mas não havia tempo a perder quando se trata de suas roupas.
Usando o conhecimento adquirido durante o banho mais cedo, ele uniu o
dreno com um item de borracha colocado nesse canto aparentemente para
esse uso, e em seguida, encheu a banheira com um pouco de água. Era
incrível como era fácil preparar um banho completo no futuro!

A água que saia do tubo era morna, mas quando Laurent se moveu em
torno da alavanca, ele trabalhou para deixá-la mais fria, enquanto girava a
outra, aconteceu que a água quente saiu dos tubos. Escolheu a temperatura
mais baixa possível, para não deixar as manchas de sangue em suas peças
de vestuário de forma permanente, e observou o gel com cheiro pinho criar
uma espuma espessa, branca sobre o revestimento. Ele não sabia muito
sobre esses assuntos, mas ele tinha visto a mulher que fazia a lavanderia do
Sr. Barnave no trabalho várias vezes, e ele sabia que as peças de vestuário
deviam mergulhar na água primeiro.

Orgulhoso de seu trabalho e descobertas, ele inalou o cheiro intenso de


pinho. Como Beast não estava por perto, talvez ele tenha levado o cão com
ele, e deixado Laurent com ameaças vazias? Isso seria típico de um homem
tão rude e grosseiro quanto o gigante.

Laurent espiou o corredor estreito e se aproximou da porta fechada que


iria levá-lo para a câmara principal. Ele colocou o ouvido contra ela, mas não
ouviu nenhum som de patas do cão batendo contra o piso. Na verdade, ele
não podia ouvir sinais da presença de Hound.

Laurent voltou para o quarto para colocar suas botas, apenas no caso
dele conseguir deixar o quarto de Beast e explorar a área. Talvez, então,
pudesse encontrar alguma alma mais amigável, mas com essa hedionda
calça desproporcional embolada em seus joelhos, ele certamente parecia
ridículo. Pela primeira vez ele estava feliz que não houvesse nenhum espelho
à vista.

As botas moviam o tecido excessivo na sua perna, fazendo-o parecer que


estivesse usando algum tipo de calça do Oriente. Tudo o que ele precisava
para completar o visual eram as jóias de ouro e um sabre. Infelizmente, ele
não tinha nada que pudesse ser considerados uma arma, e um pincel longo
que encontrou na câmara de banho era feito da mesma resina como muitos
outros itens e não era forte o suficiente para ser usado para essa finalidade.
Ainda não estava disposto a voltar para a sala principal, Laurent
escolheu explorar a última porta no corredor, mas acabou por estar
bloqueada; o que aumentou a sua curiosidade, mas o deixou sem escolha,
senão sair da mesma maneira que Beast tinha usado para levá-lo para
dentro.

Pelo quarto que estava possivelmente sendo guardado pelo cão vicioso.

Só agora Laurent percebeu que todas as coisas que ele fizera desde que
saíra da cama - colocar as botas, procurar uma arma - tinha sido destinadas
a adiar a decisão que poderia custar-lhe a garganta. Ainda doía da tentativa
de Fane de sufocá-lo, mas permanecer como prisioneiro de Beast não era
uma opção. Ele precisava continuar sua missão com uma posição mais
digna.

Ele respirou fundo e abriu um pouco a porta do quarto principal, para


ver se o cachorro estava esperando por ele, quieto e pronto para atacar. Mas
nenhum focinho salivante tentou empurrar a fenda entre a porta e o batente.
A liberdade estava mesmo à distância do braço?

Ele saiu em uma sala grande banhada com a primeira luz da manhã. A
fraca iluminação tornava tudo ainda mais cinza, mas as primeiras horas
seriam uma vantagem de Laurent. Os saltos de suas botas batiam contra o
chão quando caminhava em frente, para a porta que iria oferecer-lhe a
salvação, mas ele estava apenas a meio caminho quando um rosnado baixo
rasgou o ar e arrepiou a coluna de Laurent, transformando suas pernas em
chumbo. Focado em seu objetivo, Laurent tinha esquecido o ninho de
travesseiros e cobertores escondidos atrás da estante, mas o cão estava lá,
já elevando o seu corpo negro fora da cama.

Se Laurent fosse rápido o suficiente, se ele pudesse correr até a porta


antes de Hound, ele estaria livre em segundos. Ele também precisa fechar a
porta atrás dele para que o monstro não o seguisse, mas a decisão tinha de
ser feita. Agora.

Laurent correu. Com um grito escapando de seus lábios, ele correu para
a porta com rosnado do cão em seus calcanhares. Ele saltou sobre o sofá e
bateu contra a porta com o impacto. Com um sentimento de vitória, ele
pressionou o mecanismo que deveria abrir a porta, mas em vez de um brilho
verde que apareceu quando Beast mexeu, uma luz vermelha brilhou junto
com um zumbido desagradável, e nada aconteceu. A porta estava trancada,
e o cão estava tão perto que ele podia senti-lo atrás dele.

O latido fez Laurent cambalear para trás, mas Hound não iria deixá-lo
recuperar a compostura. Ele ficou apoiado nas pernas traseiras e empurrou
a frente contra o estômago de Laurent com todo o poder de seus músculos e
peso combinado.

Laurent caiu, e enrijeceu o pescoço no momento certo para evitar bater


com a parte de trás de sua cabeça enquanto ele sofria um pouso forçado no
chão. O focinho avermelhado de Hound estava a polegadas do rosto de
Laurent, os dentes longos a mostra, patas fortes o empurrando para baixo,
no meio do peito de Laurent. Quando o cão latiu, o som perfurou
dolorosamente os ouvidos de Laurent.

Lágrimas encheram os olhos de Laurent, e ele nem teve vergonha delas.


Quem não iria temer essas mandíbulas tão perto de seu rosto? Ele morreria
comido por um cachorro depois de escapar de uma morte longa e dolorosa
nas mãos de William Fane. O quão patético era isso?

Ele choramingou; duro como um pedaço de madeira e enrolando as


mãos em punhos.

Hound inclinou-se, fazendo com que Laurent fechasse os olhos quando


os dentes enormes chegaram mais perto, e a respiração pútrida do animal
provocou seu nariz. O cão o farejou, esfregando o focinho peludo contra a
bochecha de Laurent, como se sondasse qual pedaço de carne que ele iria
morder primeiro.

Mas, então, ele colocou o seu peso inteiro em cima de Laurent e colocou
sua cabeça no peito dele, observando-o com os grandes olhos castanhos.

Laurent não se atreveu a olhar para trás, mas ele exalou


profundamente. Pelo menos a garganta ainda estava intacta. Mas, em
seguida, minutos se passaram, e nada mudou. No momento em que tentou
se mover até mesmo um centímetro, o pesado cão soltou um rosnado de
aviso, que foi convincente o suficiente para fazer Laurent ficar imóvel.
Tudo o que lhe restava era tentar suportar o peso do cão e ver o sol
nascer pela janela com barras de aço. Até o momento ele ouviu passos e vozes
por trás da porta que conduzia para fora do apartamento, ele estava
morrendo de vontade de sair sob o cão que certamente o teria sufocado em
algum ponto apenas com o seu peso.

Os passos cessaram em algum lugar perto da porta, e o coração de


Laurent vibrou com gratidão quando ouviu o bloqueio. Ele olhou para a porta
a tempo de ver Beast entrar na companhia de um homem ligeiramente mais
baixo com belos traços e cabelos pretos ondulados.

Os olhos do recém-chegado brilharam, e ele riu alto. — Ah não! Você o


deixou assim?

Os lábios de Beast se estreitaram enquanto ele andava para dentro da


sala, deixando passar uma jovem mulher com as características nitidamente
estrangeira e bochechas cheias. Ela lembrava Laurent dos chineses que tinha
visto algumas vezes no porto, mas ao contrário deles, o cabelo dela estava
pálido como areia da praia. Ela usava um vestido azul tão apertado,
moldando suas curvas, que seu corpo parecia envolvido com ligaduras, e
suas pernas estavam nuas, talvez ela fosse uma mulher de má reputação.
Essa era a única explicação para ela estar usando roupas íntimas com os
homens presentes.

— Foi um acidente, e não vai acontecer novamente. Eu sinto muito por


isso. Por favor, ele é tão pesado.

— Oh, wow! Ele é francês? — A mulher disse no mesmo sotaque que


Beast e o outro homem. Ela não parecia chinesa em tudo. Tudo era
demasiado confuso, e ele estava sem ar por causa do cão.

O homem bonito sorriu amplamente e se abaixou ao lado de Laurent.


— Você é realmente Francês? Qual é a sua linhagem?

— Knight, você está assustando o menino — a mulher disse, colocando


uma pilha de pano em uma das cadeiras. Quando ela se inclinou para fazê-
lo, o vestido parecendo com uma bandagem arrastou até sua coxa, revelando
a parte de baixo de suas nádegas, e Laurent desviou o olhar, corando
furiosamente quando viu um pedaço de tecido rosa entre as pernas dela.
— Eu tenho certeza que ele está com medo do grande cão mau — disse
o homem bonito, Knight. As pessoas no futuro adotavam palavras como
nomes?11 Laurent não diria nada e seguiria a liderança de seus anfitriões.

Beast pairava sobre Laurent, olhando para ele com seus olhos claros,
ainda sem pedir para Hound soltá-lo. — Bom. Talvez ele esteja pronto para
falar agora.

Agora que Beast estava aqui, Laurent estava mais confiante em tentar
empurrar a pata do cão, mas ele rapidamente abandonou a ideia quando
Hound franziu a testa e fez um grunhido desagradável. — Por favor, Sr.
Beast, eu não fiz nada de errado. É apenas um mal entendido.

A mulher riu alto e olhou para Beast. — Sr. Beast! Meu Deus! Será que
você pediu para chamá-lo assim?

Beast colocou os braços grossos sobre o peito e inclinou sua cabeça,


fazendo com que parte de seus cabelos loiros escuros, que estava maior no
topo, deslizasse sobre a testa. Ele jogou a mexa para trás com um suspiro
irritado. — Não seja boba, claro que não. Eu só quero saber de onde ele veio.
Não é minha culpa que ele se recusa a responder.

Knight empurrou o corpo Hound, mas o cão rosnou para ele também.
— Oh, vamos lá, Hound. Eu te conheço desde que era um filhote de cachorro!

Laurent fungou e olhou para Beast. — Porque eu não tenho as respostas


para essas perguntas.

— Como você pode não saber?

A mulher se aproximou, e se ajoelhou ao lado de Laurent, seu rosto se


transformou em uma mancha de cores. Ela estava até usando pintura facial.
E havia cor nos lábios que ninguém poderia determinar a cor. — Talvez ele
tenha amnésia, ou algo assim?

— Obrigado pela compreensão — Laurent disse ansioso para agradá-


la. Se ele não poderia ter a compreensão de Beast, ele precisava ter outras
pessoas ao seu lado. — Tudo o que eu queria era ir ao banheiro, Sr. Knight,
e eu julguei mal as portas quando esse monstro me atacou.

11
Em referência aos nomes dos membros do clube em inglês. Knight= Cavaleiro, Beast= Besta, King= Rei.
— Ele está falando estranho — Knight disse, apesar de ter ser a
linguagem dele que continha palavras estranhas e não naturais.

A boca de Beast abriu em um sorriso que deixou a pele de Laurent


arrepiada. — Se ele bateu na cabeça com muita força, então há certamente
contusões na cabeça. Talvez nós devêssemos raspar seus cabelos e procurar
o machucado.

Laurent ficou em silêncio quando as palavras afundaram. Seu cabelo


ainda estava úmido da lavagem, e estranho ao toque, mas ele não gostaria
de perdê-lo. Os longos fios eram uma das poucas coisas que ele teve uma
escolha, e ter essa liberdade ameaçada o fez desejar afundar no chão.

— Não, por favor. Você pode apenas tocá-lo, e você vai sentir o caroço.

Knight observou-o em um estranho silêncio, e estômago de Laurent


estava torcendo em nós.

Beast deslizou ao seu lado e mergulhou os dedos nos cabelos de


Laurent, fazendo-o endurecer quando os dedos pressionaram o local
dolorido. Beast deu um grunhido baixo.

— Você sabe onde seus pais moram? Qualquer um que poderia entrar
em contato?

— É tudo um borrão.

— Quantos anos você tem? — Perguntou Knight.

— Dezenove. — Laurent disse, mas rapidamente olhou para Beast,


esperando que esta fosse a sua chance de descobrir quanto tempo levaria
para completar sua missão aqui. — E você, Sr. Beast?

A mulher riu e falou. — Oh, ele é uma coisinha preciosa.

— Cristo, pare de me chamar de senhor — Beast assobiou o que fez


Hound finalmente sair de cima de Laurent e deixá-lo respirar novamente. —
Faz-me sentir velho.

— Mas quantos anos tem exatamente? Você não pode ter quarenta, não
é? — Perguntou Laurent, sabendo que quando alguém sugeria uma idade
muito avançada, a outra pessoa provavelmente iria revelar sua verdadeira
idade.
A mulher sacudiu a cabeça. — Deus, você o fez soar como um vovô!

— Beast fará trinta e três até o final de agosto — Knight disse


finalmente, fornecendo algumas informações úteis. Era abril, de acordo com
o calendário, o que significava que esse tormento iria demorar cerca de mais
quatro meses.

Laurent engoliu em seco, lentamente sentando-se. — Eu sinto muito...


Beast. Eu tenho certeza que ainda existem muitos anos felizes para você.

A mulher colocou a mão sobre os lábios, abafando uma risada. — Ok,


eu vou embora. Trouxe-lhe algumas roupas, Laurent, e pela sua aparência,
você precisa muito delas.

Ela sorriu e acenou para todos eles antes de sair do ambiente, deixando
Laurent com os dois grandes homens monstruosos e um cão igualmente
grande. Depois que ela se foi, Beast recuou e fez um gesto para Laurent
levantar. — Tire sua camisa.

Laurent se levantou, mas deu um passo atrás, olhando entre Beast e


Knight. — Eu... Eu não preciso de outro banho.

Knight inclinou a cabeça para o lado. — Por que você quer que ele se
dispa? Quer dizer, eu sei o porquê, mas...

O corpo grande de Beast ficou rígido, e seu rosto se voltou na direção de


Knight. — Há algo que eu preciso que você veja. Nada mais do que isso.

Laurent suspirou profundamente, sabendo que não havia maneira de


sair deste processo humilhante. Ele puxou a camisa de grandes dimensões
debaixo da cintura e, em seguida, sobre a cabeça.

Knight bufou. — Oh sim. Eu vejo o que você quer dizer.

Laurent amuou em frustração. Por que ele não entendia se era tão óbvio
para seus anfitriões?

A camisa mal saiu quando Beast pegou-o pelos ombros e o girou,


levantando o cabelo úmido da nuca de Laurent. A súbita percepção veio sobre
ele, e ele ficou tenso, sentindo os dois pares de olhos na marca deixada pelo
diabo. Um tremor profundo atravessou seu corpo quando o medo tomou
conta. E se a presença da marca o fizesse um bruxo para os olhos deles?
— Você vê isso? — Beast perguntou calmamente, e Knight respondeu
com um zumbido.

— É como a do seu pai!

As mãos de Beast apertaram Laurent, e ele exalou pesadamente antes


de soltá-lo. — Mas o que eu posso fazer se ele não se lembra, ou pelo menos
diz que não? Eu não posso exatamente extrair a informação dele?

Knight pigarreou. — Eu aposto que Joker pode.

Laurent olhou por cima do ombro em pânico, só para ver Beast


sacudindo a cabeça e Knight olhar novamente para a nuca de Laurent.

— Uau! Toque isso! É como... Quente. — Knight puxou a mão de Beast


e colocou-a na nuca de Laurent, como se Laurent fosse alguma aberração da
natureza, para ser picado e incitado. Ele escondeu o rosto entre as mãos e
curvou seus ombros.

Ele não tinha ideia de como sua pele poderia ser anormalmente quente,
mas os dedos da Beast ao tocá-lo pareciam deixar vestígios escaldantes. Sua
palma era enorme, e não só cobria a nuca de Laurent com facilidade, mas
também se espalhava em seus ombros. Ela também era áspera, com umas
superfícies irregulares e pequenas saliências que se esfregavam contra
Laurent com o toque mais suave.

Tinha acabado antes que ele pudesse se acostumar com sua presença.

Beast xingou em voz alta. — Olha, não é apenas isso, e ele tem sido
mantido em algum lugar pela força. Alguém bateu em sua cabeça e tentou
sufocá-lo. Deve ser algum tipo de... — Sua voz sumiu em um sussurro, e
Laurent não poderia pegar as últimas palavras.

Ele olhou por cima do ombro novamente. — Posso me vestir?

Knight estava observando, e apesar de seu rosto parecer bem difuso,


Laurent podia discernir quando as sobrancelhas escuras se franziram com
tudo o que ele tinha ouvido. Ele estendeu a mão em um gesto que Laurent
entendeu, então ele se virou e apertou-a em saudação. — Eu sou Travis
Mercier, mas meus amigos me chamam Knight.
Laurent se atreveu a sorrir para o homem, tocado que eles de fato
compartilhavam seu último nome. — Laurent. Laurent Mercier — ele estava
ansioso para dizer.

Knight sorriu tão amplamente que Laurent poderia ver de perto. — De


onde é sua família?

— Eu... — Ele não tinha certeza se deveria mencioná-la, mas era muito
excitante ter uma conexão para deixar passar assim. — Uma pequena cidade
a leste de La Rochelle.

Knight deu um grito e bateu com a mão no braço de Laurent. — Nós


podemos ser parentes. Eu também! Sou muito respeitado na comunidade de
genealogia on-line, por isso não deve ser um problema descobrir como
estamos conectados. E entrar em contato com a sua família de lá.

Beast murmurou mais uma sequência de palavras venenosas, como se


a reunião de família de alguma forma pudesse ferir seus sentimentos.

Laurent sorriu para a conexão inesperada que tinha neste novo mundo.
— Posso... Quero dizer, usar... As roupas que a dama Oriental trouxe. Espero
que elas sejam mais adequadas do que estas?

Knight afastou-se a tempo de deixar um caminho limpo para Beast, que


agarrou a orelha de Laurent e puxou-o firmemente. — O que há de errado
com você? Não a chame assim! Ela é nipo-americana e a namorada de King!

Knight gemeu. — Você morava sob uma rocha? Não use essa palavra!

— Oh, oh. Sinto muito. — Laurent agarrou a camisa nova e segurou-a


na frente de si mesmo como um escudo. — Eu esqueci o nome dela.

Knight se inclinou para Beast e sussurrou algo, novamente deixando


Laurent fora da conversa. Laurent suspirou e decidiu se concentrar em si
mesmo em vez disso, uma vez que parecia que nada que ele falava ou fazia
estava certo. Pelo menos ele era um aprendiz rápido. Ele pegou a camisa
nova, que em contraste com a que ele recebeu de Beast, estava beirando o
muito apertado. O tecido era estranhamente elástico, como se tivesse
minúsculos fios de borracha adicionados ao tecido de alguma forma.
— É assim que é suposto para caber? — Ele se virou para os dois
homens e abriu os braços.

Ambos, Knight e Beast olharam para ele por um momento mais longo.

— Você parece caber bem nessa camisa. — Knight disse no final.

Laurent ousou um sorriso. — E isso é bom?

Knight bufou e cutucou Beast com o cotovelo. — Olhe para ele, já está
pescando elogios.

Laurent sentiu o calor de seu rosto. — Esse não é o caso! Eu


simplesmente queria saber.

— Só termine de se vestir. Você vai precisar de mais algumas roupas


se vai ficar aqui. — Beast disse dando um passo para trás.

Laurent tirou as botas, com medo de Hound observando cada


movimento seu, mas assim que ele desatou a calça larga, Beast empurrou
Knight.

— Você não quer ir mijar ou algo assim? — Beast gemeu.

Knight levantou as mãos e se dirigiu para a sala de banho. — Certo.


Certo. Claro.

Beast ficou em silêncio por um momento, observando seu amigo até que
ele desapareceu de vista. Ele deu mais um passo para perto de Laurent e
inclinou-se para falar no ouvido dele. — Veja. Eu sei que você está
escondendo alguma coisa. Talvez você esteja com medo que alguém venha
atrás de você ou algo assim. Você precisa ficar aqui até que eu saiba o que
está acontecendo, mas nada de ruim vai acontecer com você. Está claro?

Laurent engoliu em seco, surpreso com essa afirmação, e ele olhou para
Beast, que apesar de elevar-se sobre ele, apesar do cão assustador, e a
atitude mal-humorada, parecia estar do lado de Laurent. E Laurent não
precisava ficar aqui de qualquer maneira? Ele deu um aceno lento. Pelo
menos ele não estava sendo solicitado para dar mais repostas.

Beast olhou para ele também, no limite entre borrão e clareza, onde seu
rosto marcado parecia de alguma forma ter suavizado o suficiente para
Laurent ler sua expressão. Foi um momento ímpar de silêncio que deixou
aquecida as bochechas de Laurent por nenhuma razão em tudo.

A voz de Knight falando com Beast quebrou o feitiço, e Beast olhou em


direção a casa de banho. — O que?

— Por que há roupas em sua banheira?

Laurent tocou o antebraço de Beast, surpreendido pela forma como era


estranhamente texturizada. — São as minhas roupas, eu queria colocar de
molho durante a noite de modo que ficasse mais fácil limpá-las depois.

Beast se agitou, mas não se moveu nem um centímetro. — Você nunca


viu uma máquina de lavar? — Ele perguntou com a voz estranhamente
macia.

Laurent lambeu os lábios. A partir do som dele, ele deveria saber. Ele já
gostava dessa ideia. Uma máquina que lavava as roupas, para que as pessoas
não tivessem que fazer. Quão maravilhoso era isso? — Eu sei, eu sei! Eu só...
Eu não tinha certeza se tal máquina poderia lidar com sangue. Você vê, esse
casaco é muito importante para mim.

Beast esfregou as costas de seu pescoço. — Quando for ao shopping, eu


poderia deixá-la em uma lavagem a seco para você, eu acho. Mas tem que
secar primeiro.

Laurent queria agradecer-lhe, mas um alto e estridente som,


acompanhado por um som de zumbido, ressoou de Beast.

Beast gemeu, como se alguém tivesse tirado o seu vinho, e ao mesmo


tempo puxou o pequeno caderno preto, que de alguma forma ele conseguiu
se comunicar com o King anteriormente. Era um dispositivo mágico? Nada
mais iria assustá-lo neste mundo estranho que não tinha limites sobre a
água de um banho, e onde a luz surgia com a pressão de um dedo.

— Sim? — Beast se mexeu e moveu o seu peso. — Tem certeza disso?


Você não quer apenas assustá-lo novamente.

A voz de King ressoou a partir do dispositivo, com a voz levemente


distorcida. — Espero que o meu filho esteja te tratando bem, Laurent. Eu
queria me desculpar novamente por ontem. Eu não queria assustá-lo.
Laurent se inclinou mais perto da mão de Beast e o dispositivo preto.
— Oh, não, Sr. King. Eu estou muito bem. Eu até mesmo recebi roupas novas
de sua namorada nipo-americana.

King riu bem-humorado. — Não? Ela é uma gostosa, não é? Você precisa
conhecer a outra. Ela faz um Martini assassino.

Como estava perto de Beast, Laurent podia sentir o cheiro de citros em


cima dele novamente, embora não fosse tão potente como foi à noite. Em vez
disso, o cheiro mais natural de sua pele era quase palpável, apesar de ainda
estar sem cheiro de suor para ser notado.

— Sim senhor. Ela foi muito boa. — Também parecia uma prostituta,
mas isso não precisava ser dito. Laurent iria manter a mente aberta sobre
todas as questões relacionadas com o futuro. Afinal, os romanos não usavam
roupas diferentes da dele? Luís XIV não usava uma longa peruca, quando,
um século atrás, o cabelo curto estava na moda? Não fazia uma ou outra
coisa ter mais ou menos moral.

— Tanto quanto eu entendo, você vai ficar aqui por agora, então eu
quero que você se sinta em casa. Beast vai levá-lo para comprar qualquer
coisa que você quiser.

— Você... Quer que eu o leve para fazer compras? — Beast perguntou


como se ele não tivesse certeza de ter ouvido King corretamente.

— Mas... Eu não tenho dinheiro, Sr. King.

— Não se preocupe com isso. São apenas alguns itens básicos.

Laurent sorriu, dominado por essa gentileza, mas o homem era um Rei
afinal. — É muito generoso, senhor.
Capítulo Oito
Laurent

— Se seu pai é o Rei, você não deveria ser chamado de Príncipe, e não
de Besta? — Laurent perguntou enquanto eles lentamente passavam através
de um mundo que parecia tão diferente do que Laurent conhecia que parecia
outro reino, e não outro tempo.

Eles estavam em um lugar que Beast chamou de shopping, e o grande


número de pessoas andando pelos corredores deste palácio do comércio era
provavelmente várias vezes maior do que toda a população de Brecon no
tempo de Laurent. A música moderna estranha explodia de cada pequena
loja dentro deste enorme mercado municipal, criando uma cacofonia de
confronto musical com uma corrente de vozes, risos, e o zumbido de fundo
que parecia ser um elemento permanente em 2017. Após as queixas de uma
leve dor de cabeça da parte de Laurent, causada por toda essa comoção,
Beast ofereceu-lhe comprimidos que rapidamente tiraram todas as pequenas
dores em seu corpo, bem, tudo isso sem confundir os pensamentos de
Laurent.

E eles não chegaram a pé também. No futuro, as pessoas desistiram dos


cavalos potentes dando lugar a máquinas movidas à eletricidade e óleo para
se locomoverem. Laurent tinha ficado imóvel no carro de Beast quando ele
lhe garantiu que era tudo perfeitamente seguro. A coisa tinha feito um ruído
alto e ele se assustou, mas o pior de tudo; tinha cheiro de combustível e se
movia tão rápido, que Laurent temia que a velocidade pudesse sufocá-lo.
Não. Pior ainda foi o fato de que havia dezenas dessas carruagens chamadas
de carros de todas as formas e tamanhos, e todos eles se moviam ao longo
das estradas pretas e lisas, e Laurent não tinha nada para compará-las.
Rodovias do inferno talvez.
Ele estava feliz por estar em terra firme, mas a experiência o deixou
tanto alegre quanto apreensivo, pois ainda havia todos os outros medos que
ele certamente teria que encarar neste estranho mundo novo.

Beast colocou as mãos nos bolsos enquanto se moviam ao longo de um


grandioso corredor e mais opulento do que qualquer um que Laurent já tenha
visto. Vidro e cores deslumbrantes estavam por toda parte, e o número de
itens em exposição parecia não ter limites. Certamente, mesmo a cidade de
Nova York, até mesmo as cidades mais ricas do Velho Mundo não poderiam
se vangloriar de tal riqueza na época de Laurent.

— Ele não é realmente um Rei. É apenas como nós o chamamos, porque


ele é... O chefe do clube. E eu sou dificilmente um Príncipe Encantado. —
Beast disse, caminhando ao lado Laurent pelo chão tão perfeitamente polido,
que Laurent poderia ver seu reflexo nele, se os seus olhos não fossem
defeituosos. Havia tantas pessoas aqui também, muitas eram gigantes, e até
mesmo algumas mulheres eram mais altas que Laurent. Algumas usavam
roupas tão justas, que claramente tinha sido projetada para os homens,
outras usavam o cabelo curto, e tanto quanto Laurent tentou não julgar este
lugar para os padrões do seu próprio tempo, ele se encontrou olhando para
longe dos tecidos apertados que abraçavam obscenamente as coxas
femininas.

Intimidado com o que tinha visto na casa do Kings of Hell, Laurent ficou
aliviado ao ver que nem todos os homens de 2017 eram gigantes como Beast
ou seu pai. Embora alguns tivessem grandes barrigas e se tornaram grandes
em sua própria maneira. Grandes mesmo. Tinha que haver uma abundância
de alimento no futuro, assim como havia água ilimitada no banheiro.

Beast, no entanto, era o homem mais alto que Laurent viu até agora.
Com ombros largos e com o pescoço de um touro, ele tinha um porte
impressionante enquanto andava por entre a multidão que ele facilmente
superava.

Laurent teve que concluir que o que tinha sido uma boa altura para um
homem em seu tempo, nesse poderia ser considerado baixo, especialmente
quando comparado com o volume maciço de seu companheiro. Com altura
de 1.70 ele não se destacava da forma como estava acostumado. E as roupas,
mais adequadas do que as que ele recebeu ontem, o fez sentir-se
extremamente inexpressivo. A calça ainda estava folgada, revelando que ele
era muito pequeno para preencher a roupa, e ele estava inseguro sobre a
forma como os sapatos de tecido macio que recebeu de Nao guinchavam
contra o chão polido quando ele andava. E de Beast, ele recebeu algo que
não o deixou muito feliz. Uma manilha pequena em seu tornozelo, que
poderia explodir e amputar o seu pé se ele tentasse correr e ficasse afastado
mais que meio quilômetro de distância. Era um negócio terrível, então
Laurent tentou não pensar muito sobre isso.

— Eu acho que você seria realmente se tentasse ser mais charmoso.

A recém bondade do King estava deixando Laurent um pouco mais


confiante sobre suas interações com Beast, mas ele ainda estava
desconfiado, ainda testando as águas, porque essas mãos enormes poderiam
rasgá-lo em dois.

— Eu sou chamado de Beast por uma razão. — Beast resmungou, como


se nada pudesse fazê-lo se sentir feliz. Ele entrou em uma das lojas. Grande,
tão brilhante que doía os olhos de Laurent, e com roupas dispostos em
engenhocas de metal estranhas. Havia também figuras brancas sem rosto,
com formas vagamente de mulheres em pequenos palanques, apresentando
algumas das roupas, mas para Beast isso deve ser algo cotidiano, porque ele
passou direto pelas figuras e entrou mais profundamente no corredor sem
fim.

Fiel à sua decisão anterior, Laurent estava tentando simplesmente


absorver tudo e observar como as outras pessoas agiam. Assim, ele também
não prestou atenção às esculturas vestidas, e ele seguiu a forma distinta de
Beast na frente dele. Com um braço tão negro que ele poderia ter mergulhado
em tinta, sua altura, e seus ombros largos, era impossível se perder dele.
Mas quando Laurent ficou alguns passos para trás, ele poderia finalmente
ver que na parte de trás do colete de couro de grandes dimensões de Beast,
havia o símbolo dos Kings of Hell MC - e um crânio coroado.
Duas meninas riram quando Laurent passou por elas, mas quando ele
discretamente olhou para elas, ficou claro que ele não era o objeto de sua
zombaria. Ambos os pares de olhos seguiram a figura imponente de Beast
enquanto ele se movia entre as prateleiras de roupas.

— Oh, meu Deus, você viu isso? — Uma delas sussurrou em voz alta o
suficiente para Laurent ouvi-la.

Ele franziu a testa quando uma das meninas pegou uma coisa
semelhante a que Beast tinha usado para a comunicação com King e a
apontou para Beast. Laurent estava fora do clube, com todas aquelas
pessoas ao redor, mas ele reconheceu que, mesmo em comparação com as
pessoas de seu próprio tempo, Beast se destacava na multidão, e não só
devido à sua altura superior. O que Laurent ainda não tinha certeza era se
as pessoas ficavam impressionadas com Beast, o temiam, ou se divertiam
com ele.

Beast finalmente parou quando ele chegou a um ambiente diferente


dentro da loja, que parecia ter menos roupas. Laurent rapidamente percebeu
o que era quando ao invés de figuras femininas, as figuras daqui tinham a
forma de homens, embora Laurent não achasse que os estilos para ambos os
sexos fossem tão diferentes assim. Do lado de fora no shopping, à maioria
dos homens e mulheres se vestiam vagamente da mesma forma - calças de
tecido, calças feitas de lona e camisas que eram muito simples na sua
concepção, mas muitas vezes decoradas com letras ou desenhos coloridos.
Ele se perguntou o qual seria a opinião da Igreja de tal falta de modéstia.
Então, novamente, quem era ele para falar, com apenas um pequeno pedaço
de pano cobrindo o seu peito. Com a temperatura fria, o contorno de seus
mamilos estava aparente por baixo.

— Por favor, prometa que não vai se afastar de mim mais de meio
quilômetro de propósito. — Laurent falou nervoso com a manilha em seu
tornozelo mais uma vez. Não seria nada fácil se Beast usasse o seu carro.

Beast franziu a testa para ele, e longe o suficiente para Laurent ver sua
expressão, apesar da tinta cobrindo sua pele. — Eu não vou. Agora escolha
algumas roupas.
Oh, esse era um tipo de mercado de roupas usadas. Ele se inclinou e
cheirou uma das mangas de uma camisa. — Elas foram lavadas, não é?

— O que? Por quê?

— Essa roupas foram feitas para alguém, correto? Então, elas foram
provavelmente usadas por essa pessoa no passado. — Laurent virou-se para
as prateleiras com roupas e tocou os tecidos, tentando compreendê-los
melhor. Que padrão que uma pessoa contemporânea poderia usar para
escolher roupas nesse tempo? Ele não deseja obter algo que pudesse ser
considerado fora de moda.

Beast inclinou sua cabeça. — Estamos no shopping. Tudo é novo. De


onde você comprava suas roupas antes?

— Quero dizer... Eu escolhia algo para mim ou as comprava de pessoas


que não precisavam mais. Mas estou mais do que feliz em escolher qualquer
uma destas. Minha única preocupação é que eu não sei se elas podem servir
corretamente. — Foi o suficiente que o seu cabelo estava uma confusão logo
após o xampu e Beast não possuía uma escova, além de uma de cabo longo
no banheiro, que ele disse explicitamente que Laurent não poderia usá-la no
seu cabelo.

— Você é um Menonita12 ou algo assim? — Beast perguntou


lentamente. — Você experimenta o que gostar, e se elas se encaixarem, você
compra.

Os olhos de Laurent arregalaram e ele se aproximou para sussurrar. —


Na frente das outras pessoas?

Beast cobriu o rosto com as mãos, e Laurent se sentiu envergonhado


por perturbá-lo com tantas perguntas. Mas o que ele podia fazer se não tinha
ideia do tamanho correto das coisas?

— Quer saber, vou escolhê-las para você. — Beast disse no final,


aproximando-se do primeiro grupo de camisas. Ele começou a mover as

12
Membro de uma seita e, posteriormente, denominação protestante surgida no século XVI de uma corrente
moderada de anabatistas holandeses e de outros grupos anabatistas (como os opositores de Zwingli [1484-1531], na Suíça),
caracterizada pela rejeição de autoridade eclesiástica, separação do Estado, não resistência e pacifismo, e conhecida pelas
comunidades fechadas e conservadoras fundadas por imigrantes na América do Norte.
peças de vestuário idênticas sobre a vara de metal e ele selecionou alguns
itens antes de prosseguir para o próximo.

Era um alívio receber este tipo de ajuda, e Laurent sorriu para ele. —
Obrigado. Eu odeio ser um fardo, mas eu odiaria ainda escolher o vestuário
de forma incorreta.

Beast tomou seu tempo para responder, mas rapidamente se moveu


entre os modelos em exposição. — Tudo bem, eu vou escolher a coisa certa
para você.

Não demorou muito para Laurent estar carregando com vários itens,
que ele soube agora onde poderia experimentar. Ter alguém para guiá-lo
através desse processo foi um alívio, especialmente com sua visão tão pobre
com a proximidade, mesmo nas luzes brilhantes da loja.

Laurent se perguntou quantas pessoas realmente moravam nessa


cidade, porque mesmo esta loja era enorme e cheia de um fluxo infinito de
homens e mulheres. No final, Beast guiou Laurent para os provadores no
fundo.

Que também não foi tão fácil, porque quando Beast percebeu que
Laurent não tinha roupa interior, ele disse-lhe para aguardar e ir
experimentando a “calça jeans” e o deixou na grande tenda, só para voltar
dez minutos mais tarde com três caixas, cada uma contendo três pares das
menores roupas íntimas que Laurent já viu. Elas nem sequer chegavam até
o meio das coxas, e abraçavam seu corpo com força, porém, ele se divertiu
com os desenhos coloridos nelas, que variavam de listras a damas, e até
mesmo um padrão de árvores de alguma forma entrelaçadas no tecido ou
pintadas nele.

Com um par dessas, ele finalmente pegou o primeiro jeans enquanto


Beast ficava sentado em uma cadeira minúscula e simples no canto. O tecido
de todas as pantalonas - ou calças como eram chamadas agora - que Beast
escolheu para ele eram de um tecido grosso e um pouco grosseiras, mas se
isso era o que as pessoas usavam em 2017, Laurent iria usá-las do bom
grado. Ele experimentou talvez uma dúzia de pares, alguns dos quais
estavam muito apertados, alguns muito grandes, muito curtos, ou não
cabiam bem em seus quadris. Mas no final, Beast decidiu que precisava
manter dois pares, um cinza escuro e um preto, extraordinariamente
apertado, apesar de uma estranha sensação de elasticidade no tecido. A cinza
tinha buracos nos joelhos, que Laurent se opôs, mas Beast disse que era
considerado na moda, ele simplesmente aceitou seu destino.

Era uma sensação estranha se despir na frente de Beast. Ele deve ter
colocado um perfume antes de saírem do clube, porque a tenda estava cheia
com o aroma de citrus e almíscar que lentamente estava se tornando um dos
favoritos de Laurent, assim como uma distração potente. Ele tentou não
olhar na direção de Beast quando tirou suas roupas e, em seguida, colocou
todas as roupas novas, mas ele não podia perder a forma como sua
respiração acelerava quando sentia o olhar de Beast sobre ele. Nudez entre
homens não era razão para alarido em seu próprio tempo, mas ser observado
assim, com Beast completamente imóvel e só respiração suave enchendo o
silêncio, fazia o corpo de Laurent consciente dos olhos azuis seguindo todos
os seus movimentos.

Ele não teve qualquer outra indicação de que Beast estava apenas
fornecendo ajuda a um viajante perdido, mas estar sozinho em um espaço
tão fechado deixava os pensamentos de Laurent vagar. Ele tentou ser
gracioso enquanto lentamente retirava as roupas feias e as dobrava
lentamente. O tecido elástico abraçava agradavelmente a curva de suas
nádegas, bem como seu pau e bolas, e enquanto mudava as roupas, Laurent
se entreteve com o pensamento de que Beast estava apreciando a vista,
apenas por uma questão de seu próprio prazer. Beast era um homem
assustador, mas ele também era um homem de posses e posição, que
provavelmente poderia ter alguém que ele queria. As costas de Laurent se
cobriram de arrepios quando ele imaginou um homem como Beast o
cobiçando. Independentemente de como as coisas terminaram na última vez,
as fantasias eram inofensivas, e era a única expressão de desejo que Laurent
podia permitir-se.

Vagando de loja para loja, eles também escolheram várias camisas,


jaquetas soltas e macias, com capuzes e meias que não precisavam de ligas.
A carga que transportavam tornou-se tão pesada, que em algum momento
eles tiveram que voltar para o carro para deixar os bens adquiridos; e apesar
do grande número de coisas que eles obtiveram, Beast gastou em cada loja,
como se o dinheiro que ele gastou não significasse nada para ele. Beast não
parecia alguém que Laurent imaginasse com um bolso grande no início, mas
com o tempo passado no shopping, Laurent estava começando a pensar que
ele tinha julgado mal a condição do homem, embora ele não tivesse certeza
do valor dos itens, porque os preços eram geralmente muito pequenos para
Laurent ler.

Mesmo um par novo de botas de couro pretas, semelhantes aos que o


próprio Beast usava pareciam não ser uma grande despesa. E, apesar das
pessoas secretamente olhando para Beast onde quer que ele fosse, no
momento que ele puxou a bolsa de dinheiro em uma loja, os atendentes
sorriam largamente e agradeciam a ele pela preferência.

Laurent sentia falta de suas roupas elegantes, mas se sentia muito


entusiasmado para se preocupar, e ansiosamente colocou os novos itens
assim que ele adquiriu uma roupa completa.

— Por que a música deve ser tão alta? — Laurent perguntou quando
eles entraram em uma loja que lhe agrediu os sentidos com o cheiro de
sabonetes. Era um lugar estranho, com prateleiras coloridas com imagens
de rostos muito pintados, e algumas mulheres estavam aplicando os
produtos nas pessoas em público! Mas ninguém dava muita atenção, então
ele escolheu não olhar tanto, e seguiu Beast em um corredor entre as
estantes cheias de todos os tipos de garrafas e frascos - todos feitos do
material futurista que ele sabia agora ser chamado de plástico.

Em 2017 a maioria das coisas era feita desse material. Cadeiras,


talheres, garrafas, até mesmo as roupas podiam ser feitas de plástico! Que
engenhosa substância!

— Ok, escolha o xampu que você deseja. Você não precisa usar uma
garrafa inteira de cada vez. — Beast disse a ele, ficando para trás.

— Oh. — Laurent lambeu os lábios e balançou em seus calcanhares,


sem saber por onde começar. — Qual é o que você usa? Cheira muito bem.
Beast ficou em silêncio por dois segundos. — Eu acho que seria melhor
outro para você. Eu tenho cabelo curto.

Laurent suspirou e depois de um pouco de hesitação, pegou uma


garrafa rosa. Se esta loja era como todas as outras, ele deveria fazer a escolha
por conta própria e pagar ao sair. Ninguém iria ajudá-lo a fazer a sua mente.
— Isso é uma vergonha. Eu nunca conheci um homem que cheira como você.

— O que você quer dizer? — Veio depois de outra pausa.

Laurent se inclinou mais perto e tomou uma lufada do cheiro de Beast,


fechando brevemente os olhos quando o aroma distintamente masculino fez
sua pele formigar. — É tão... Fresco. Como limões, e outra coisa. Menta
talvez? — Ele forçou sua mente a se afastar da memória do porão de Fane,
onde o incenso e as pétalas de rosas combinados com algo ainda mais doce
e doentio. O sabor de maçã que parecia ainda perdurar na boca de Laurent.

— Essa é a minha colônia. Quero dizer... Poderíamos escolher uma para


você mais tarde, mas vamos pegar o básico primeiro, sim? O que diz na parte
de trás do frasco? — Beast perguntou.

Laurent virou a garrafa cor de rosa com um sentimento de afundamento


em seu estômago. As letras eram tão pequenas que ele não tinha como saber
o que estava escrito. Com o seu coração acelerado em pânico, ele afastou a
garrafa para longe de seus olhos, mas com o tamanho mínimo das letras, foi
inútil. Por que ele não tinha pegado sua lupa? Ele poderia tê-la usado quando
Beast não estava olhando.

— Xampu... Com r-rosas?

Ambos estavam em silêncio enquanto Laurent deixava o sentimento de


vergonha inundá-lo, e nenhuma quantidade de música bestial tocando no
fundo jamais poderia distraí-lo da humilhação.

— Você não pode ler? — Beast perguntou no final.

Laurent mordeu o interior de sua bochecha e se forçou a tomar algumas


respirações profundas para se acalmar, mas não estava ajudando. — Eu
posso. Claro que eu posso. É apenas esta escrita. Olha... — ele apontou para
uma pintura grande na parede, que mostrava uma senhora apresentando
suas pernas nuas com um sorriso. — Ali diz “Suaves como os garotos em
Paris. Moreau.” E, logo em seguida, “Agora, com três lâminas.”

— Então você não pode ver bem? Você tem hipermetropia13? Por que
você não me disse que precisava de óculos? — Beast perguntou em um tom
que sugeriu que ele estava à beira de perder a paciência.

E pensar que as coisas estavam indo tão bem até agora. Eles estavam
conversando, falando sobre as músicas ressoando nas lojas, sobre as roupas,
sobre o edifício. Sobre o plástico. Beast tinha lhe ensinado tantas coisas
novas, e as pessoas ao seu redor era uma fonte inesgotável de
entretenimento. Agora, porém, Beast iria perceber que Laurent se tornou
alguém inútil, por isso não havia necessidade de investir no ensino de
Laurent, em nada.

— Não, não, eu estou bem. Eu não quero ser um fardo para você, é uma
promessa. É que as letras menores me causam tanta dor. — Laurent só
percebeu que estava apertando a garrafa de plástico quando a tampa abriu,
e uma carga de gel com aroma de rosas expeliu em sua mão.

Beast se aproximou. — Você não está bem. Nós deveríamos ter


começado com os óculos. Por que você apenas não disse o que realmente
precisa?

Laurent suspirou tão profundamente, que ele sentia como seus pulmões
inteiros estivessem desmoronando. E ele não tinha ideia do que fazer com a
garrafa quebrada na mão. — Eu costumo gerenciar...

— Por que você tem que tornar isso tão difícil? Todo mundo sabe que
não é saudável forçar seus olhos assim. — Beast pegou a garrafa da mão de
Laurent e a colocou de volta na prateleira antes de agarrar o ombro de
Laurent e puxando-o para a saída.

— É? — Era algo que “todo mundo sabe'?” Laurent olhou para Beast,
sem lutar contra a atração. Desde o terror de sua doença ser descoberta, um
sentimento de esperança estava começando a florescer. Os meios para poder
ver estariam disponível para ele neste mundo? Talvez eles não fossem tão
caros como costumavam ser em 1805.

13
Problema de visão em que os objetos próximos ficam embaçados.
Beast o levou para uma loja muito brilhante, com vários pequenos
espelhos e filas de óculos pendurados nas paredes - preto, branco, verde,
vermelho, de qualquer forma que pudesse desejar! Não escapou a atenção de
Laurent que atendentes em roupas pretas e brancas pareciam estar
ajudando os clientes, como se estivessem em seu próprio tempo, mas
ninguém se aproximou dele e de Beast enquanto caminhavam até uma das
exposições.

— Devo escolher algo para você de novo? — Beast perguntou pegando


um dos pares.

Laurent levantou as mãos em frustração, exasperado com a rapidez com


que isso estava acontecendo. — Eu não sei. Talvez. Eu não consigo ver bem
de qualquer maneira. — Seus ombros caíram. Ele estava ficando cego.

A armação de plástico deslizou no nariz dele e rosto de Beast apareceu


em um borrão de expressões ilegíveis. Não havia esperança para Laurent se
os óculos vendidos em uma loja tão especializada não alterassem sua visão.
Mas ele não disse nada. Muitos outros pares de óculos se seguiram enquanto
eles caminhavam ao longo da parede, com Beast colocando par após par em
Laurent até que ele decidiu sobre uma armação preta que parecia robusta,
mas era bem leve. O que importava sua forma se eles não faziam nada para
a vista de Laurent?

Eles abordaram o balconista, que a princípio parecia tentar correr para


o quarto dos fundos, mas quando Beast se dirigiu a ela por um nome, ela
finalmente virou-se para enfrentá-los. Não escapou a atenção de Laurent
como Beast agia muito educado e de fala mansa com todos os funcionários
que interagiram com ele, como se precisasse de alguma forma assegurar-lhes
que ele era uma besta só no nome.

Minutos mais tarde, Laurent e Beast foram levados para uma sala nos
fundos, aonde uma senhora em uma saia justa que chegava até os joelhos e
um casaco branco esperava por eles. Ela era uma espécie de médico, Laurent
percebeu, e apesar do choque de tal novidade, ele preferiu não questionar a
sua perícia. Ela o submeteu a um conjunto de testes humilhantes, que
incluiu a leitura vários números e letras em tamanhos variados a partir de
um quadro na parede, e depois ser examinado com uma máquina que
manteve a cabeça dele imóvel, enquanto a médica lançava luz brilhante em
seus olhos.

Ela disse muitas coisas que Laurent não entendia, e, eventualmente,


começou a repreendê-lo por negligenciar seus problemas de visão. Ele
preferiu não discutir, embora o diagnóstico de catarata tenha parecido como
um golpe físico. Seu avô tinha sofrido do mesmo mal, e ele ficou
completamente cego aos quarenta anos de idade.

A médica observou-o em silêncio e por fim disse: — Você é muito jovem,


e esta é uma doença que ocorre principalmente em pacientes mais velhos.

Laurent mal podia compreender o que ela estava dizendo enquanto ele
afundava cada vez mais em seu próprio corpo, enquanto o diagnóstico
produzia um espiral de dor. Era como se colocar um nome para sua doença
tornasse o seu destino mais real de alguma forma. A médica explicou algo
sobre a desnutrição ser uma possível causa de alguém em sua idade ter
catarata, mas como é que esse conhecimento possivelmente poderia ajudá-
lo agora? Sua única chance para obter saúde seria completar a tarefa para o
diabo.

Até que uma palavra chamou a sua atenção, e ele abriu os seus olhos
novamente, chocado com o que estava ouvindo.

— É uma cirurgia de rotina. Posso encaminhá-lo a um especialista que


poderia agendar a operação.

— Cirurgia? Nos olhos? — Vencido pelo pânico, Laurent procurou o


antebraço de Beast para agarrar alguma coisa. Ele imaginou alguém
cortando suas órbitas e o sangue vazando das orbitas, como quando o pobre
Samson Smith perdeu o olho devido a um acidente na loja de seu pai.

A médica deu-lhe um sorriso educado. — Oh, não se preocupe. Você


não vai sentir nada. Milhões de pessoas realizam esse procedimento a cada
ano.

Laurent mordeu a língua antes de repetir a palavra “milhões” como um


camponês estúpido olhando para as portas de uma Catedral. E se isso fosse
parte da liberdade que o diabo prometeu a ele? Fazia tanto sentido agora. Ele
tinha sido levado para um mundo onde ele estaria livre para fazer uma vida
para si mesmo. Livre da doença que em 1805 teria reduzido a sua vida como
a de um mendigo.

Ele respirou fundo para afastar a picada de lágrimas em seus olhos. Seu
problema ao longo da vida seria tratado em uma “cirurgia de rotina”. Ele
ainda não tinha notado quando os dedos ásperos da Beast se entrelaçaram
com os dele, mas ele apertou com força assim que percebeu isso.

— Eu gostaria muito disso — ele proferiu para médica que era uma
senhora.

Ela então o levou para uma cadeira especial que estava perto de Beast
e Laurent teve que olhar através de várias lentes que deixaram o seu coração
batendo, porque elas estavam realmente funcionando. Nem todas eram
perfeitas, mas melhoraram sua visão imensamente. No final, eles fizeram
uma escolha entre duas lentes, que estavam mais próximo do ideal, e a
médica disse-lhes para esperar por quinze minutos para pegarem os óculos.
Era isso. Um quarto de hora.

Laurent nem sequer teve que ir a qualquer lugar, eles sentaram em um


banco de plástico com estofado, e ele estava trabalhando duramente para
ficar calmo, apesar das ondas de calor e frio em fúria correndo em seu corpo.

— Quanto poderia custar uma operação dessas? — Laurent olhou para


Beast, esfregando as mãos nervosamente. Apesar de tudo ser tão estranho
aqui, se estes novos tempos pudessem oferecer a cura para os olhos, ele faria
tudo em seu poder para permanecer aqui e se encaixar, tornando-se útil.

Beast deu de ombros e lentamente se aproximou mais de Laurent. —


Eu não sei. O outro médico irá provavelmente nos dizer.

— Eu poderia até trabalhar nas minas para reunir os fundos, se isso


for necessário. Você não entende por quanto tempo eu tenho lutado com isso.
E eu amo ler livros. — Ele sorriu quando Beast colocou a mão grande no
joelho dele e apertou gentilmente, enviando faíscas inesperadas de calor no
seu peito, fazendo seu coração vibrar.
— Então... Você não estava autorizado a usar os óculos antes? Por que
você estava com tanto medo de me dizer? — Beast perguntou com a sua voz
quente, e áspera.

— Eu não quero parecer inútil. Eu não quero acabar nas ruas, cego e
carente. Ninguém me empregaria se soubessem que eu sou um inválido, e
eu não tenho família nenhuma para me apoiar.

— Você tem se Knight for realmente o seu primo. — Beast disse com
uma suave risada.

— Eu duvido disso, mas eu acho que é uma noção que vale à pena
investigar.

— Você não vai ficar cego, por isso não importa, não é? — Beast
perguntou, mantendo a mão na perna de Laurent e gentilmente arrastando
o dedo sobre a pele nua no joelho.

O toque fez Laurent prestar mais atenção, mas ele não tinha certeza do
que fazer com isso. Mas, novamente, se as senhoras andassem por aí com as
pernas nuas à mostra, ele deveria questionar o toque reconfortante? Se Beast
estivesse fazendo isso em um lugar tão público, então não poderia ser fora
do comum, mesmo que para ele tal contato fosse ilícito e proibido. A moral e
o significado por trás dos gestos realmente mudaram, e ele precisava parar
de ver o toque como uma carícia, mesmo que fosse tão bom ser tocado por
um homem, de um jeito que cobria suas costas com gotículas imaginárias de
óleo quente.

— Eu acho que isso não vai acontecer. Uma vez que a minha visão
ficar melhor, eu vou ser capaz de fazer muitas coisas. E eu aprendo muito
rápido, então eu certamente poderei encontrar algum uso para mim.

— Tenho certeza que você vai. Você é muito brilhante, mesmo sendo
meio estranho. — Beast disse parecendo se divertir. As pessoas olhavam para
eles quando passavam, e isso estava deixando Laurent um pouco
desconfortável, mas não havia nada a ser feito sobre Beast se destacando
tanto.

O elogio fez Laurent brilhar com alegria. Se até Beast, que esta manhã
estava determinado a alimentar o seu cachorro com ele, notou que Laurent
tinha qualidades positivas, então suas perspectivas de uma boa vida não
estavam condenadas. — Eu vou aprender a não ser estranho.

Beast bateu o pé contra o chão e limpou a garganta. — Eu acho que os


óculos devem estar prontos agora. Você quer...

Laurent levantou. Ele não tinha sequer percebido que suas mãos
tinham ficado tão suadas enquanto esperavam. — Sim, sim, por favor, vamos
ver! — Ele bufou com o jogo bobo de palavras que ele acidentalmente formou.

Beast se levantou também, e sua presença imponente não era mais


opressiva. Quando ele tocou as costas de Laurent, fez Laurent se sentir
cuidado enquanto caminhavam para a loja e se aproximavam do funcionário.
Ela aceitou o pagamento de Beast, e deu-lhes uma caixa de plástico e um
papel com o encaminhamento ao oftalmologista.

Laurent abriu o estojo, sem se importar que seus movimentos fossem


rápidos e gananciosos, como se ele fosse um mendigo que não tinha comido
durante dias e que agora estiva em uma festa. Seus dedos tremiam e seu
coração batia quando ele colocou os óculos que eram obviamente feitos de
plástico.

Ele amava plástico.

Tudo parecia nítido, como se seus olhos fossem totalmente novos. Como
se ele nunca estivesse doente. Como se ele nunca tivesse temido a completa
escuridão. Ele podia ver cada fibra da camisa preta de Beast, mas ele
precisava ver mais do que isso e olhou para o peito musculoso, sobre o
pescoço grosso e tatuado, para o rosto que agora era como um livro para ele
ler, rabiscado em todo lugar. Com letras minúsculas sobre a pele torcida e
mutilada. E entre as fileiras de preto, cinza e a cor pálida da carne de Beast,
havia olhos tão brilhantes que tiraram o fôlego de Laurent. Azul pálido, e
muito humano e nada monstruoso. O verdadeiro eu de Beast estava
observando-o em algum lugar além das cicatrizes, uma pessoa lá no fundo,
cuja orelha não foi arrancada, e que só queria que ele ficasse feliz com os
óculos. Havia tanta antecipação naquele olhar, como se nesse momento nada
importasse para Beast.
Laurent estendeu a mão e arrastou os dedos pela escrita ao longo do
queixo de Beast. Era tão pequeno, e ainda assim ele podia vê-lo tão bem. Só
agora ele percebeu que toda a escrita sobre a pele de Beast era em latim. Sem
pensar, ele leu um pedaço em voz alta. — No meio do caminho da minha
jornada, encontrei-me dentro de uma floresta escura. Porque me perdi no
caminho certo. — Era uma tradução grosseira da passagem que descia pelo
pescoço de Beast, e ainda assim o deixou tão animado. Sob a tinta, o lado
esquerdo do rosto de Beast, que era o mais assustador; tinham as
características que pertenciam a um homem outrora bonito. Laurent agora
entendia por que as pessoas olhavam, mas quando ele olhava nos olhos
inquisitivos que refletiam seu olhar, era difícil para ele não sorrir para o rosto
largo, o nariz forte e as maçãs do rosto pronunciadas. Ele não tinha pêlos
nas sobrancelhas.

Beast lambeu os lábios, parecendo nervoso enquanto olhava para


Laurent, sem se mover nem um centímetro. — Você fala latim? — Ele limpou
a garganta. — Então... Você gostou de seus óculos?

— Eu os amei. — Laurent não aguentou mais a tensão e passou os


braços ao redor da cintura de Beast, abraçando-o com força e sem se
importar nem um pouco com o que os outros fregueses diriam.
Capítulo NoveBeast

Os braços de Laurent envolveram em torno da barriga de Beast tão


firmemente que não havia maneira alguma que ele pudesse se libertar.

Não que ele queria.

Observar Laurent fechar brevemente os olhos por trás dos óculos pretos
deixaram o batimento cardíaco de Beast em um ritmo selvagem, mas quando
o momento de surpresa passou, ele colocou os braços em torno de Laurent
muito lentamente acariciou a cabeça do garoto. Ele tinha o melhor e mais
macio cabelo que Beast já havia tocado e tinha um cheiro de pinho tão
intenso, que Beast sabia que se ele cobrisse o rosto com as mãos, ele poderia
fingir que estava em algum lugar na floresta, segurando um amante.

Havia um tempo desde que alguém o abraçou assim, e ele estava se


sentindo um pouco estranho sobre isso, um pouco inseguro se eles deveriam
estar fazendo isso, mas a maneira que Laurent se agarrou a ele, não parecia
como os breves abraços de Knight ou seus outros irmãos que ofereciam às
vezes. Durou, e era aquecido, e a cabeça de Laurent estava firmemente contra
o peito de Beast, como se ele quisesse se entregar para a proteção de Beast.

Foi mais uma surpresa após a maneira desinibida em que Laurent


elogiou o cheiro de Beast, ou aquele aperto firme na sua mão no consultório
do optometrista. Ninguém entrelaçava os dedos com pessoas que não
estavam interessadas. Apesar de Laurent vir de uma estranha seita Menonita
que não permitia a correção da visão, esses gestos tinham um significado
universal.

E agora Beast, um homem que não havia tocado ninguém intimamente


em mais de dez anos, estava sendo abraçado em público por um menino tão
bonito que deveria ter sido pago por usar as roupas que eles pegaram.
Beast reprimiu o gemido de decepção que se formou em seu peito
quando Laurent se afastou, ainda mantendo as mãos em Beast.

— Eu vejo tudo. — Laurent disse com um sorriso tão largo que derreteu
algo em Beast e fez se perguntar se esse “tudo” que Laurent disse, significava
as profundezas da alma de Beast. Ele olhou para o peito de Beast e puxou a
gola da camisa de Beast, fazendo um arrepio em seu corpo. — O caminho
para o paraíso começa no inferno — ele leu e traduziu as palavras na pele de
Beast.

A voz quente e melodiosa de Laurent, ao ler a citação feita em seu corpo,


o fez sentir minúsculas formigas imaginárias tocando todo o corpo de Beast.
— É... Do inferno — ele disse envergonhado que saiu tão baixo, mas tinha
passado tanto tempo desde que alguém havia mostrado interesse sincero
nele, que ele estava tendo um momento difícil em ficar calmo. Certamente,
alguém tão mal informado sobre o mundo quanto Laurent não poderia
mostrar interesse apenas por causa dos patches?

Compreensão atravessou grandes olhos castanhos de Laurent, e ele


continuou sorrindo como se tivesse obtido um McLanche Feliz. — Inferno de
Dante Alighieri?

Mas o tempo não iria ficar parado esperando Beast ter o seu momento
aquecido. Laurent se afastou e começou a caminhar ao redor da loja com um
olhar de admiração em tudo ao seu redor, um novo mundo novo e excitante,
embora este fosse apenas uma ótica comum em um shopping decadente.

Beast seguiu Laurent da mesma maneira que Hound sempre o seguia,


hipnotizado pelo entusiasmo selvagem expressado em cada gesto gracioso.
Laurent se movia com uma graça estudada de um bailarino, com as costas
sempre retas e o queixo para o alto. Não ajudava a sanidade de Beast depois
de observar Laurent no chuveiro e no vestiário, ele tinha a imagem do corpo
nu de Laurent gravado em seu cérebro tão firmemente, que mesmo com o
casaco com capuz cobrindo o traseiro de Laurent não conseguia impedir a
imaginação de Beast de correr selvagem. A pele de Laurent era macia e
quente ao toque, era lisa como porcelana fina, mas, apesar da sensação de
que Beast poderia quebrá-lo com as mãos desajeitadas, ele ainda queria
segurar o garoto firmemente contra ele. Ele não conseguia se lembrar de ter
uma queda tão súbita por alguém e tão forte.

— Sim — ele finalmente respondeu à pergunta de Laurent. Fazia


sentido para um membro de uma seita religiosa conhecer um livro que falava
sobre o inferno.

Os problemas de visão de Laurent devem ter sido proeminentes, porque


ele estava andando com mais vigor. E com essa nova confiança em seus
movimentos, Laurent se aproximou da assistente de vendas - que estivera se
esforçando para não olhar para eles se abraçando - e beijou sua mão.

— Muito obrigado por seu trabalho duro. Não consigo colocar em


palavras o quanto aprecio esses óculos.

O rosto da mulher se iluminou, logo que ela conseguiu superar o


choque, e ela escorregou a mão. — Não há de que, e certifique-se de voltar
na próxima semana. Teremos uma nova coleção de óculos Ray Ban.

Laurent agradeceu mais uma vez e prometeu retornar. Ele voltou para
Beast com o mais amplo sorriso, e quando eles deixaram a loja, ele sussurrou
animadamente: — Você ouviu isso? Eles terão óculos de toda a coleção de
Ray Ban.

Beast engoliu em seco e estendeu a mão para tocar o ombro de Laurent.


Estava tão quente a palma da mão que ele não queria soltá-lo, até que fosse
absolutamente necessário. — Sim. Sim. Tenho certeza que você poderia
receber algum modelo enviado do Japão, se você gostar de um modelo
específico.

Laurent estava olhando em volta como se ele estivesse só agora vendo o


shopping pela primeira vez, e um sentimento de orgulho cresceu em Beast,
que ele fosse o único a presentear Laurent com os óculos. Ele seria especial
para Laurent. Ele não queria ter muitas expectativas e esperanças muito
altas, mas no momento em que Laurent o olhou com toda a clareza fornecida
pelos óculos, e, em seguida, abraçou-o como se as cicatrizes das
queimaduras retorcidas que permanentemente alteraram as características
naturalmente bonitas de Beast não significassem nada, tinha sido
transcendente.
— Isso está além de emocionante. — Laurent olhou por cima do ombro
para Beast, mas, em seguida, sua atenção dispersou novamente quando ele
se viu em um espelho de corpo inteiro. — Eu pareço um jovem comum do
Maine?

Beast respirou fundo. Ele engoliu em seco. Ele podia simplesmente


mentir e confirmar a expectativa de Laurent, mas quando teria outra
oportunidade de dar um elogio? Ele estava determinado a não deixar a
oportunidade escorregar entre os dedos.

— Não. Não, você está muito bonito... Cada menina está olhando para
você enquanto andamos — ele disse no final, amaldiçoando-se em silêncio
quando ele percebeu que não havia maneira alguma de pegar de volta as
palavras tolas que afastou a atenção de Laurent dele. Será que ele esqueceu
como flertar? Quanto tempo tinha passado? Sim, era isso.

— Elas estão? Quer dizer, no bom sentido, eu espero? — Laurent


piscou com um sorriso malicioso no rosto que só o fez parecer mais bonito.
Beast de bom grado enterraria as mãos sob a camiseta de Laurent, e o levaria
para o provador da H & M para transar com ele ali, indiferente se ele pudesse
ser permanentemente banido do shopping.

Ele provavelmente iria ser preso, mas ouvir os gemidos Laurent em seus
braços teria valido a pena. — No melhor sentido. Qualquer um teria orgulho
de ser visto com você.

O rubor se espalhou no rosto de porcelana de Laurent, como pó de


pétalas de rosa misturado no leite. Beast não era brega, mas as
características impressionantes de Laurent imploravam para tais
comparações ridículas. Mas quando Laurent olhou para mais um espelho de
passagem, Beast começou a se perguntar se talvez Laurent não tivesse
conhecimento de sua própria beleza. E agora com esse novo conhecimento,
talvez Beast não fosse uma possibilidade tão atraente para um jovem que
poderia ter alguém que ele queria.

— Não me lembro de andar com tanta leveza no meu caminhar. —


Laurent se virou e caminhou para trás, como se ele não quisesse perder a
expressão de Beast enquanto falavam. E Beast o deixou, e ele interveio
apenas quando notou que Laurent estava se aproximando de um banco no
meio do corredor. Usando a oportunidade dada a ele, ele colocou a mão no
ombro de Laurent e guiou-o gentilmente enquanto o calor do corpo esguio
que poderia ter sido criado por um escultor idealista fluía em sua mão. Talvez
ele pudesse transformar este dia em um encontro de alguma forma? Nada
havia mudado o comportamento de Laurent em relação a ele agora que ele
podia ver a bagunça que era o rosto de Beast. Talvez na comunidade que ele
cresceu a aparência não fosse tão crucial em termos de atração quanto no
mundo real?

— Se você quiser, podemos fazer algo para nos divertimos depois que
terminarmos as compras.

Laurent virou para andar mais uma vez ombro a ombro com Beast.
Embora fosse mais parecido com o ombro para braço, considerando a
diferença de altura. E Beast gostava disso em Laurent também. Para um
homem tão forte como Beast, Laurent não era um peso pena. Ele seria tão
fácil para foder contra a parede, as pernas longas embrulhadas em torno dos
quadris de Beast. O rio de sujeira que passava pela mente de Beast estava
mudando a cada minuto. Oh, as coisas que ele poderia fazer com Laurent se
tivesse uma chance... Ele não deixaria o garoto fora da sua cama por
semanas.

— Isso soa maravilhoso! Eu adoraria fazer muitas coisas divertidas.

Beast pesava as palavras de Laurent em sua cabeça. Será que o uso


extravagante de palavras era um sinal de que Laurent era gay? Ele sabia
muito bem que, teoricamente, era impossível dizer, mas... Será que era?

— Quer fazer alguma coisa primeiro? Você está com fome? — Beast
perguntou, nunca deixando Laurent fora da vista e já com ciúmes de cada
par de olhos que se atrevia a olhá-lo. Se não fosse pela presença de Beast,
ele provavelmente teria sido abordado.

— Sim, por favor. Eu gostaria de comer, mas... Depois de fazer


compras? Eu posso ler todos os xampus agora. Gostaria de escolher um que
seja certo para o meu cabelo.
— Certo. Sim. E você queria a colônia também, e vai precisar de uma
escova de dente e tudo isso. — E Beast iria comprar preservativos e
lubrificantes. Apenas no caso.

Ele não era um verme. Ele só queria estar preparado.

— Sim, uma escova de dente, definitivamente. — Laurent assentiu


ansiosamente e continuou sorrindo como um maníaco, o que só fez Beast
pensar em uma escova de dente se juntando a sua no copo em seu banheiro.

Mas, em seguida, Laurent parou e deu meia volta, colando-se na vitrine


da loja onde havia uma grande exibição de televisores de tela plana com
jogos, filmes e musicais.

Beast olhou para a tela na frente de Laurent, onde mostrava um clipe


vividamente colorido estrelado por uma das mais recentes sensações do pop.
Mostrava uma festa cheia de doces coloridos de algodão, com casais
dançando, brincando na piscina, e todas as outras imagens que a indústria
do entretenimento fingia que acontecia em todas as festas. Ele sorriu,
olhando para Laurent, que apertou os olhos, como se as cores intensas
estivessem ferindo seus olhos.

— Onde você morava não tinha televisão? — Ele adivinhou, cada vez
mais convencido de que Laurent estava verdadeiramente perdido e
precisando de ajuda. Ninguém poderia fingir ingenuidade e falta de
conhecimento sobre o mundo moderno tão perfeitamente.

Laurent olhou para ele em hesitação, mas balançou a cabeça no final.


— Não. Nada assim. — Ele olhou para os televisores de novo, e Beast se
perguntou sobre os hematomas no pescoço e pulso de Laurent. Eles o
incomodaram antes, mas agora eles estavam começando a fazer com que a
fúria negra transbordasse dele sem uma saída. Como alguém poderia ter
machucado um menino tão lindo? Mas ele já sabia que pressionar Laurent
por mais informação de uma só vez não adiantaria.

Em pouco tempo, ele iria colocar as mãos sobre a pessoa que fez isso, e
não sobraria quase nada para Hound mastigar depois que Beast terminasse
com ele.

Porém, mais cedo, Beast iria colocar suas mãos em Laurent.


— Oh. Oh meu... — Laurent sussurrou, voltando a atenção de Beast
de volta para a tela onde no meio da festa na piscina havia dois rapazes se
beijando. Com corações saindo de seus lábios enquanto os dois atores se
abraçavam, seus corpos perfeitos tonificados brilhando com algum tipo de
glitter.

Beast sentiu sua boca seca, e ele olhou para Laurent, de repente duro
como um pedaço de madeira seca. — Bom, certo? — Ele perguntou, no final,
tentando sorrir. Ele só precisava de alguma confirmação de interesse
potencial de Laurent. Isso seria tudo.

Quando Laurent bateu os dedos contra o vidro, a câmara já estava


focada em outra coisa. — Você acha que é aceitável para dois homens se
beijarem desse jeito? — Quando ele olhou para Beast com uma expressão
tensa em seu rosto, seus olhos pareciam ainda maiores através dos óculos.

— Sim. — Beast disse imediatamente, perfurando seu olhar em


Laurent. — É... Uma boa coisa que as pessoas podem estar com quem
realmente querem estar, não é?

O sorriso tímido nos lábios de Laurent fez o coração de Beast saltar uma
batida. Ponto. Sua suposição inicial estava correta. Ele só precisava colocar
mais algum esforço, e essa boca bonita seria sua hoje à noite.

— Uma coisa muito boa — Laurent disse com um profundo suspiro.


— Posso vê-lo novamente? Como faço para fazer as imagens voltarem?

Beast pigarreou. — Oh, são imagens apenas para exibição. Para que as
pessoas possam decidir qual desses... Televisores querem comprar. Mas nós
temos em casa, e se você quiser ver homens se beijando, então você poderá
assim que nós voltarmos. — Laurent também era mais do que bem-vindo em
beijar um homem. Beast estava pronto para ser o cordeiro em sacrifício para
isso.

Laurent concordou, finalmente, afastando-se do vidro. As marcas de


suas mãos ficaram no vidro... E Beast imaginou os dedos suaves o tocando.
Ele tinha certeza de que mesmo os lugares em seu corpo que tinha danos
mais severos poderiam aceitar o toque da pele sedosa de Laurent.
— De onde eu venho era punido — ele sussurrou, e foi à confirmação
da suspeita de Beast sobre algum tipo de seita. A tática de não cutucar estava
trabalhando ao seu favor então.

Beast assentiu para mostrar seu entendimento. — Ainda há muitos


lugares assim, e alguns idiotas não aceitam, mas é perfeitamente legal. Quero
dizer... Eu gosto de homens também. — Beast disse observando Laurent para
qualquer vestígio de desconforto.

Houve uma respiração pesada, uma corada, olhos arregalados, mas ele
não se afastou. — Oh — Laurent sufocou no final. Beast mordeu os lábios
e enfiou as mãos nos bolsos enquanto se aproximavam da farmácia
novamente.

— Então... Eu entendo. Você não tem de que se envergonhar.

Laurent balançou a cabeça, mas ele parecia distraído. O que


provavelmente significava que ele estava realmente organizando sua merda.
Eles voltaram para os xampus, onde o humor finalmente tornou-se menos
tenso quando Laurent começou a ler os rótulos, um por um.

Beast pediu licença para pegar os suprimentos de que precisava, se


Laurent estivesse disposto a lhe dar uma chance. Ele se perguntou se
Laurent - se algo acontecesse - apreciaria lubrificantes com sabor, ou alguma
outra coisa chique, mas no final pegou a que dizia não ter cheiro, assim como
alguns preservativos. Levou mais tempo do que deveria para fazer sua
escolha, mas, quando voltou ao corredor de produtos para banho, havia uma
mulher de meia-idade com cabelos ruivos conversando animadamente com
Laurent, que a olhava com um sorriso educado.

Droga. Beast não deveria tê-lo deixado sozinho assim.

Como o homem em uma missão, Beast se aproximou deles em passos


rápidos.

Laurent olhou para ele, assim como à senhora, mas seu sorriso pareceu
forçado.

— Este é meu amigo, Beast. — Laurent apresentou-o dessa maneira


ridiculamente educada. — Ele está me ajudando nas lojas. E esta é... — ele
apontou para a mulher. — Sra. Avery, e ela estava me contando sobre o seu
negócio de fotografia.

Avery olhou para Beast e lambeu os lábios rosados. — Sim... Então,


como eu estava dizendo, eu adoraria que você pudesse ir a nossa loja algum
dia para um ensaio fotográfico de teste.

— Não. — Beast disse imediatamente. — Ele não pode.

Laurent parou, sugando seus lábios daquele jeito distraído, mas depois
finalmente falou quando a mulher olhou para Beast. — Sim, eu sinto muito
pela inconveniência, mas o meu amigo acabou de me lembrar que eu já estou
envolvido com outra pessoa sobre esse assunto.

Avery exalou alto, como se para sinalizar seu desapontamento e


sobrecarregar todos com isso. Não seria possível ela ir embora? —
Compreendo. Tenha isso em mente caso você mude de ideia. — Ela passou
para Laurent um cartão de visita, e ele aceitou com um sorriso, muito
provavelmente sem ter ideia do que ela estava falando.

Quando ela finalmente se afastou, Beast gemeu de alívio. — Essa foi por
pouco. Você tem alguma fotografia de onde você vem?

Os ombros de Laurent cederam. — Não. É uma coisa ruim?

Beast se inclinou para olhá-lo nos olhos. — Quem o feriu poderia


encontrar-lo através de fotos. Ela provavelmente não queria fazer nenhum
mal, mas é um negócio complicado tirar fotos se você está se escondendo de
alguém.

Os grandes olhos castanhos se arregalaram, e lá estava. Medo. Beast


não estava feliz em ser o único a lembrar Laurent de perigo em potencial,
mas Laurent precisava estar ciente de que ele não estava seguro fora da vista
de Beast. Pelo menos era o que Beast estava dizendo a si mesmo, porque
admitir que ele quisesse toda a atenção de Laurent teria sido ganancioso.
Mas, novamente, não era permitido ser um pouco ganancioso desta vez?

— Compreendo. Nada de fotografia. — Laurent respirou fundo e passou


os dedos sobre o curativo em sua mão.
Beast sorriu e pegou a cesta, que já continha algumas garrafas, e
procurou a mão de Laurent unindo com a sua. Sua pele coçava com o calor,
e ele não ficaria surpreso se fosse rejeitado, mas os dedos finos de Laurent
se entrelaçaram com a sua enorme pata.

Alegria explodiu dentro do corpo de Beast, e ele deu um aperto suave


na mão de Laurent, sorrindo para ele na esperança de que talvez a pele
mutilada na lateral do seu rosto, que desarmonizava todas as suas
expressões, não deixasse sua expressão tão desagradável aos olhos de
Laurent. — Está tudo bem. Eu não vou deixar ninguém levá-lo embora.

— Porque você não quer que o meu pé exploda? — Laurent sorriu


levemente quando andaram para a caixa. O comentário brincalhão fez a
culpa picar nas entranhas de Beast. O manguito do tornozelo era apenas um
rastreador.

— Isso também. Mas você está tão perdido. Alguém precisa ajudá-lo,
certo? — Beast disse decidido a não divulgar a verdade ainda. Ele não podia
deixar de se perguntar o que Laurent realmente pensava dele. Ele era honesto
ou estava procurando obter uma vantagem?

— Eu não vou recusar qualquer ajuda dada, mas eu não desejo que
você me considere inútil. Eu vou aprender rapidamente tudo o que você quer
que eu saiba. — Laurent já disse isso muitas vezes, como se precisasse
repeti-lo por algum motivo.

A verdade era que, apenas vê-lo sorrir era bastante útil para Beast.
Quando Laurent tinha aparecido na noite passada, Beast tinha pensado que
ele seria um incômodo para o clube e ele pessoalmente, mas agora ele estava
dominado pelo encanto natural que Laurent exalava. Pela maneira tola, e
antiquada que ele falava, pelo sotaque francês, os lábios bonitos, o cabelo
macio, e mesmo soando estranho, ele estava redescobrindo o mundo através
dos olhos de Laurent.

Laurent merecia todas as coisas boas que Beast pudesse dar a ele em
agradecimento pela atenção e interesse oferecido sem julgamento. E desde
que ainda era abril, e mais alguns dias iria ficar frio, Beast decidiu que
Laurent precisava de uma jaqueta de couro. E não uma barata. Couro real,
que permitiria que essa pele linda respirasse. Vendo Laurent apreciar a
qualidade do artesanato na loja mais sofisticada que eles visitaram, derreteu
algo que Beast tinha endurecido dentro de si há muito tempo.

Agora que Laurent teria algo quente para vestir, Beast fantasiou levá-lo
para passeios em sua moto. Levá-lo para aquele local à beira do lago, onde
Beast usou muitas vezes, levando seus casos quando ele ainda tinha sexo.
Quando poderia ter qualquer cara que ele queria.

Laurent levou o seu tempo escolhendo a jaqueta, fazendo perguntas


sobre os botões, zíperes, fivelas. Mesmo que geralmente ir ao shopping fosse
uma espécie de missão para Beast, Laurent de alguma forma tornava isso
agradável com suas perguntas divertidas e sérias.

Ele poderia ter esses botões com esta jaqueta? O plástico era melhor do
que o couro? Será que as cores das jaquetas significavam status social? Qual
era a marca considerada requintada? E ele realmente usou a palavra
“requintada”.

Mas Laurent não estava simplesmente seguindo o exemplo de Beast.


Quando conseguiu todas as suas respostas, ele escolheu uma jaqueta de
couro macia, de um tom cinza clara, mais clara do que seus jeans. Com
bolsos internos e externos, zíper lateral, ajuste nas laterais, e detalhes de
prata nos ombros. Quando ele colocou em conjunto as botas de motoqueiro
pretas que tinha comprado antes, ele parecia totalmente comestível.

Beast não conseguia parar de olhar para ele, sentindo tanto


divertimento e admiração irradiando de tudo o que Laurent dizia. Ele fez uma
viagem mundana para o shopping parecer tão refrescante, mesmo os olhares
dos transeuntes não poderiam estragar o humor de Beast. E pela primeira
vez em muito tempo, ele pensou que talvez não fosse seu rosto tatuado que
eles estavam julgando, mas o que eles se perguntavam: como um cara como
ele tinha ao lado um raio de luz do sol para segurar sua mão.

No caminho para pegar um pouco de comida, passaram por um armário


com espelho, uma atração sazonal destinada às crianças, mas com Laurent
tão ansioso para dar uma olhada, eles acabaram jogando conversa fora na
frente dos espelhos.
Beast não conseguia se lembrar de ter se divertido tanto, e quando eles
se aproximaram do restaurante no shopping, um lugar para comer um bife
com sobremesas incríveis para selar o passeio, o fato de segurar a mão de
Laurent fez Beast sentir como se ele fosse apenas mais um cara comum em
um encontro com a pessoa que gostava. Ele perdeu mais do que gostaria de
admitir.

E Laurent não era apenas alguém nisso. Beast viu a maneira como o
atendente na loja com as jaquetas olhava para ele, oferecendo uma mistura
potente de conselhos e elogios. No entanto, Laurent saiu da loja com Beast,
e o outro cara foi esquecido, embora ele tivesse um rosto bonito sem
cicatrizes ou tatuagens.

— Cheira tão bom aqui. — Laurent disse sorrindo para Beast quando
eles entraram no restaurante de carnes

— Ouvi dizer que eles têm uma carne muito boa. Mas se você não gosta
disso, eles têm todos os tipos de opções. — Beast foi rápido em acrescentar
quando se aproximavam do lugar onde os clientes poderiam esperar sentados
pelas mesas. Havia uma quantidade razoável de pessoas por todo o
restaurante, mas sendo o intervalo entre o almoço e jantar, não estava muito
lotado também.

— Estou disposto a tentar qualquer coisa. — Laurent anunciou dando


sorrisos para Beast.

Beast guardou essas palavras em sua memória, para provocá-las entre


os lençóis.

O atendente se aproximando parecendo profissional e calmo de longe,


mas quando mais se aproximava de Beast, ele poderia reconhecer os sinais
de cautela em seus olhos. Típico. Mas sim, ele sabia que parecia assustador,
e que era a razão pela qual era sempre extremamente educado nas lojas. Ele
não estava no negócio de deixar estranhos desconfortáveis de propósito, nem
antes de sua carne ser queimada e retorcida, e mesmo antes de acrescentar
as tatuagens.
— Boa tarde. Nós gostaríamos de uma mesa para dois — ele disse e
deu-lhe o seu melhor sorriso, a metade que não puxava muito a pele apertada
de sua bochecha.

— Sem problema. Vou verificar se há alguma disponível — ele disse


com um sorriso falso grudado nos lábios e saiu rapidamente, apertando o
coração de Beast. Haveria problemas? Tudo o que ele queria era alimentar
Laurent com algo agradável. Sim, ele não se parecia com a maioria das outras
pessoas. Ele era alto, talvez até um pouco ameaçador, e era um membro de
um clube de motociclistas, mas isso não significava que ele irá eviscerar
alguém assim que recebesse uma faca de carne.

Ele queria conversar com Laurent, mas não conseguiu falar quando
uma mulher um pouco mais velha em um terninho espiou atrás de uma
coluna na parte de trás do restaurante. Ele sorriu para ela. Ela sorriu de
volta e se escondeu atrás da divisória. Segundos depois, o atendente voltou
com um sorriso ainda mais largo no rosto. Tudo estava em ordem, parecia.
Pelo menos até as sobrancelhas reunirem-se em uma expressão de desculpas
estudada.

— Sinto muito, mas estamos com todas as reservas preenchidas.

O olhar de decepção no rosto de Laurent esculpiu um buraco no coração


de Beast.

— Nós gastamos todo dia em compras, com quase nenhuma refeição.


Você está certo de que não há nenhum espaço para nós dois? Nós não
levaríamos muito tempo. — Laurent disse.

Beast apertou os lábios e apertou a mão de Laurent com vergonha e


raiva misturados, enquanto uma gosma preta, e amarga sufocava sua
garganta. — Está tudo bem, Laurent. Tenho outro lugar em mente. Vamos
até lá — ele mentiu, para salvar as aparências. Ele não queria dar a estes
fanáticos malditos à satisfação de vê-lo implorar por um lugar na sua porra
de restaurante de terceira categoria!

Laurent não protestou quando o atendente se desculpou mais uma vez.


Era tudo mentira. Ele iria suspirar de alívio assim que saíssem. A única vez
que Beast realmente tinha alguém para trazer aqui, e eles não iriam recebê-
lo?

— Ai! Beast? Você está me machucando. — Laurent choramingou, e só


então Beast percebeu que estava apertando a mão ferida de Laurent muito
forte.

Ele soltou e saiu para o corredor principal do shopping. — Desculpe.


Estou com raiva, e não pensei — ele disse firmemente. E só queria perfurar
alguma coisa.

— É porque você queria o bife tanto assim?

Beast olhou para os olhos que pareciam refletir uma confusão genuína.
Como se Laurent fosse de alguma forma capaz de olhar além da alteridade
de Beast e não entendesse o que aconteceu. Isso por si só estava fazendo o
coração de Beast bater mais rápido. — Não. Não. As pessoas são merdas em
qualquer lugar extravagante. Vamos para outro lugar — ele disse, já sabendo
que eles não comeriam. Ele não podia arriscar outra humilhação como essa
com Laurent por perto.

Laurent o seguiu com uma expressão concentrada naquele rosto


perfeito, e Beast não poderia ajudar, mas ele amargamente achava que se
Laurent entrasse naquele restaurante com outra pessoa, ele certamente teria
o tratamento real de todos os funcionários.

— Você gosta de comida chinesa? — Beast perguntou abrindo o


caminho para a praça de alimentação, quando ele não podia mais suportar
o pesado silêncio.

— Eu ficaria feliz em tentar. Você está chateado?

Beast apertou a mandíbula, não querendo revelar como estava agitado


com essa situação. — Estou com fome. Mas há mais comida disponível, por
isso é a perda deles se comermos em outro lugar.

— Será que eles assumiram que não tínhamos dinheiro? — Laurent


perguntou e parou bem na frente da escada rolante de forma tão abrupta,
que Beast teve que correr de volta para baixo das escadas para se juntar a
ele.
É só então ocorreu a Beast que se Laurent nunca tinha visto uma TV,
ele certamente não tinha nenhuma referência de escadas rolantes. — Vamos
lá, não tenha medo. É apenas outro mecanismo.

— Sinto muito, eu não tinha certeza de como montar nisso.

Um homem em um terno mal ajustado empurrou Laurent para o lado.


— Jesus Cristo, se mova.

Beast se virou, pegou o terno do homem e o empurrou para trás com


tanta força que ele caiu, deixando a maleta cair no chão. — Você se esqueceu
das palavras mágicas?

Os olhos do homem se arregalaram, e ele começou lentamente a


levantar-se. Beast podia ver o cálculo em seus olhos. Se ele iria começar uma
briga com Beast, ou deveria pedir desculpas, e só mais tarde xingar baixinho?

— Desculpe — O de terno murmurou no final. Escolha sábia.

— Para o meu amigo aqui, não eu. É ele que você foi mal educado. —
Beast disse, ainda bloqueando a escada rolante com seu corpo. Isso. Ele
mostraria a Laurent quão seguro ele estava com Beast!

Laurent acariciou o antebraço de Beast, o totalmente preto, que tinha


sido queimado muito mais do que o outro. O toque causou arrepios por todo
o corpo de Beast. E disse de forma suave e familiar. — É desnecessário, não
se preocupe. Eu estava obstruindo o caminho para este cavalheiro.

Beast não estava tendo isso. O filho da puta iria pedir desculpas. Ele
estava tão determinado e focado no desgraçado rude que ele não notou outras
pessoas se aproximando.

Um par de mãos fortes puxou o outro braço. — Senhor, eu preciso que


você deixe o local — disse alto o segurança do shopping. Mais dois já estavam
em seu caminho, como se Beast estivesse prestes a começar a rasgar
membros das pessoas, e não estivesse simplesmente discutindo com outro
cliente.

Beast olhou para o homem, os punhos coçando para a violência. Mas se


ele fosse preso o que aconteceria com Laurent? Então ele engoliu sua raiva e
ergueu as mãos. — Bem. Tudo bem, eu vou. Você pode me soltar.
— Por aqui, por favor. — O segurança do shopping porra insistiu, e
Beast teve de suportar o cara de terno agindo arrogante. Se Laurent não
estivesse aqui, ele iria preso, se soltaria do aperto e quebraria a mão daquele
covarde.

Laurent acompanhou seu ritmo, com o rosto lindo marcado com


preocupação, que deixou Beast ainda mais estressado. — É um mal-
entendido, senhor.

— Salve isso, garoto — disse um oficial de segurança que os alcançou,


agarrou o braço de Laurent como se ele também precisasse de estímulo. —
Nós vimos à coisa toda. Nós sabíamos que vocês dois seriam um problema.

— Oh, realmente, o que te deu essa ideia? — Beast sibilou, tentando


manter Laurent à vista em todos os momentos. Ele sabia muito bem qual era
o problema, e era por isso que ele sempre se mantinha calmo e educado em
lugares públicos. Mas é claro que era ele de quem eles suspeitavam de
problemas, não as pessoas frustradas em ternos legais que se comportavam
como babacas.

— O olhar em seu rosto. — Um segurança do shopping disse com o


rosto cheio de acne, os seguindo com um sorriso de satisfação, apesar de não
ser realmente necessário. Se eles não estivessem sendo observados pelos
olhos das testemunhas e câmeras, Beast esmagaria os dentes do bastardo.

Pelo menos eles já estavam na porta, e logo Beast saiu para o sol da
tarde e enfiou as mãos nos bolsos. Apenas outra humilhação na frente de
Laurent. Ele apostou que o garoto de bom grado iria querer ir para casa
agora.

Uma vez que os seguranças do shopping se foram depois de entregar


uma palestra sobre não ser tolerado nenhum tipo de violência, de qualquer
tipo no centro comercial, Laurent permaneceu parado, com o rosto vermelho
e a respiração rápida.

Beast engoliu em seco, observando-o por um momento mais longo. —


Vamos embora — ele disse no final, sentindo-se completamente sem
esperança sobre suas chances com Laurent após esta exibição humilhante.
Os preservativos seriam outra compra inútil juntando poeira em algum lugar
em seu quarto.

— S-sim. — Laurent pronunciou, mas quando Beast se virou para sair


do estacionamento, Laurent deslizou sua mão na de Beast.

Beast apertou-a com alívio tão poderoso que ele precisou ficar parado
por alguns segundos. Nem tudo estava perdido então. Ele ainda podia fazer
as pazes. — Existe outro lugar. Eu vou lá muitas vezes, e eles são muito
agradáveis — ele disse quando se sentou no carro.

Laurent apertou o cinto de segurança, da mesma forma como ele foi


ensinado quando entraram pela primeira vez no carro pela manhã. — É
normal ter tantos soldados surgindo do nada sobre a menor divergência?

Beast fez uma careta. — Não. Você ouviu. Aqueles desgraçados estavam
apenas esperando por uma desculpa — ele disse saindo da vaga.

— No começo eu pensei… espero que você não se importe comigo


dizendo isso, mas o seu tamanho é intimidante, mas hoje eu vi muitos
homens muito mais altos do que eu. Mas eu não vi nenhum homem com
tantos padrões em sua pele quanto você. É isso que os assusta?

Beast uivou por dentro e saiu do estacionamento o mais rápido possível.


Laurent o achava intimidante? — Eles são idiotas, ok? Eu não fiz nada
errado. Eles simplesmente não queriam que eu estivesse lá, só isso.

Laurent balançou a cabeça e olhou pela janela. Por um momento Beast


queria perguntar o que ele estava pensando, mas depois decidiu que preferia
se refrescar antes de potencialmente descobrir que havia mais sobre ele que
Laurent achava assustador.

Pelo menos a sua comida chinesa favorita não era tão longe, e desde que
ele achava que Laurent nunca teve qualquer experiência nessa culinária, ele
pegaria algumas coisas diferentes para escolher, incluindo lulas fritas.

O sol estava se pondo quando Beast parou o carro em um


estacionamento pequeno com um parquinho recém-construído, e essa hora
estava completamente deserto. Ele não tinha vontade de voltar para casa e
ainda queria aproveitar o tempo com Laurent sozinho um pouco mais. O
parquinho era feito principalmente de madeira e um pouco parecido com um
castelo, com duas estruturas principais ligadas por uma ponte, vários postes
de escalada e escorregas.

Ele colocou sua comida em uma das torres antes de subir a escada do
prédio de madeira. Era bem reservado, então não havia chance de que
alguém pudesse vê-los de longe.

Laurent estava bem atrás dele, com aquele delicioso olhar de espanto,
mais uma vez presente em seu rosto. — Se há homens tão altos quanto você,
este lugar é para pessoas com metade do seu tamanho?

Beast soltou uma gargalhada e se sentou com as pernas para baixo em


um escorregador amplo projetado para ser usado por várias crianças ao
mesmo tempo. — É para as crianças. Venha aqui — ele disse batendo no
espaço ao lado dele.

Quando Laurent se sentou, ele estava coxa a coxa com Beast. Ele
esfregou a testa com um suspiro profundo. — Claro.

Beast tirou a comida e abriu a aposta mais segura, um caril suave com
frango, antes de dividir os pauzinhos de madeira. Ele pegou um pouco de
arroz e colocou na boca para demonstrar.

Laurent seguiu seu exemplo, observando como Beast manuseava os


pauzinhos na mão, mas ele não entendia muito bem o conceito. Beast o
puxou para mais perto e colocou os pauzinhos na mão de Laurent, primeiro
mostrando a ele o movimento correto, depois envolvendo a mão dele com a
sua e mostrando-lhe como pegar um grande pedaço de carne com pressão
suficiente.

Laurent riu com a boca cheia quando ele finalmente conseguiu. Com a
luz do sol laranja inundando o parquinho, sozinho com ele no escorregador
que parecia ser uma casa na árvore, Beast se sentiu como uma criança
novamente. Nem mesmo com toda a presunção dos 20 anos de idade, quando
achava que estava no topo do mundo e pensava que poderia seduzir qualquer
um que ele queria, e nem nos seus quinze anos de idade, quando estava
desesperado para descobrir se sua primeira grande paixão era gay ou não.
— Eu nunca tive nada parecido. — Laurent disse no final, assim que
engoliu o frango.

— Mas você gostou? — Beast insistiu, apontando para a mão de


Laurent para fazer com que levasse a comida para própria boca de Beast. O
caril parecia ainda melhor desta maneira, e ele olhou nos olhos de Laurent,
procurando a resposta que ele desejava.

— Eu acho que eu gosto. Preciso comer mais do mesmo para entender


melhor o sabor. — Os vincos nas laterais dos olhos de Laurent apareceram
quando ele sorriu e falou com honestidade e Beast mal podia acreditar que
se encontraram apenas ontem.

— Temos muito. Pegue outros sabores. — Beast disse, permitindo que


Laurent comesse por conta própria, apesar de querer tocá-lo o tempo todo.
Seus joelhos se tocando teria que ser suficiente para agora.

— Eu vou ter sucesso. É só esperar. — Laurent disse orgulhoso como


um escoteiro quando conseguiu segurar um pedaço de carne entre os
pauzinhos, e quando ele se inclinou mais para alimentar Beast, ele estava
tão focado em sua própria mão, que Beast teve tempo para comer com os
olhos as coxas de Laurent nos jeans skinny. Ele se sentia um pouco de merda
sobre isso, mas naquela loja, ele disse para Laurent experimentar dois pares
diferentes de roupa íntima, só para ver a apertada bunda revelada mais e
mais.

Algo caiu sobre seu peito e rolou para fora. Beast percebeu que Laurent
tinha deixado cair um bocado, e deixou um rastro pegajoso alaranjado de
molho em seu peito e estômago. — Oops — ele disse tirando um lenço de
papel do saco com comida.

— Eu sinto muito! Eu pensei que estava firme. — Laurent rapidamente


pegou o guardanapo de sua mão e começou a dar tapinhas no peito de Beast
com ele. Se fosse qualquer outra pessoa, Beast teria pensado que Laurent
tinha feito isso de propósito, para ter uma desculpa para tocá-lo, mas
Laurent era tão diferente do que qualquer um dos novatos no clube. Tão doce
e ridiculamente educado.
— Está tudo bem, não se preocupe. — Beast lhe assegurou, observando
o rosto preocupado na luz da tarde. Ele adoraria beijar ambos os pontos de
beleza ao redor dos lábios de Laurent. — Você ainda está aprendendo. Eu fui
expulso do shopping, por isso, em termos de fodidos, eu acho que você não
pode me superar.

Laurent recuou e ficou em silêncio, como se não soubesse o que dizer


então os nervos de Beast já estavam em frangalhos quando Laurent disse:
— Se você sabia que a tinta em sua pele iria assustar as pessoas, então por
que você a colocou?

Beast vacilou e bateu os dedos contra o escorregador. Ele poderia dizer


a Laurent uma mentira, mas qual seria o ponto? — Você vê a minha pele,
certo? Eu estive em um incêndio. As pessoas olhavam para mim, ou fingiam
que eu não estava lá porque eu as deixava desconfortáveis. E, em seguida,
os médicos me disseram que iria ficar assim para sempre. Eu acho que eu
prefiro que as pessoas pensem que eu sou assustador do que elas tenham
pena de mim. — Ele disse com um peso crescente em seu peito.

Laurent assentiu, mas pela forma como ele levou tempo para processar
as palavras, Beast achava que ele estava realmente aceitando. — Certa vez,
eu conheci um homem incrivelmente bonito. Quando você olhava para seu
rosto, sua beleza o fazia imaginar que ele era o perfeito cavalheiro. Mas no
fundo, o coração dele tinha tanto mal, que você não iria compreender. As
pessoas estão erradas para julgá-lo por suas cicatrizes.

Beast engoliu em seco, observando Laurent com o pulso tamborilando


nas têmporas e orelhas. Ele não esperava tal entendimento. Ele não era o
tipo de homem que compartilhava muito, mesmo com as pessoas que ele
estava perto, mas Laurent era tão fora do mundo e diferente de todos os
outros, que Beast sabia que parecia natural falar francamente com ele. —
Foi este homem que feriu o seu pulso? — Beast perguntou suavemente.

Laurent recuou ligeiramente, e Beast se amaldiçoou por ultrapassar.


Laurent claramente não tinha amnésia. Ele estava com medo de alguém, e a
necessidade de Beast para descobrir quem era perfurava um buraco em seu
estômago.
Laurent balançou a cabeça e mergulhou seus pauzinhos no curry com
seus ombros curvados. — Por favor, não me pergunte sobre ele. Eu não quero
me lembrar.

O garoto estava fisicamente e emocionalmente ferido, Beast podia ver


isso, o sorriso doce recuou em sua concha, como se seu medo fosse tão
grande que ele desejava se encolher até se tornar invisível.

Beast colocou o braço em volta dele, e quando Laurent se inclinou mais


perto, Beast esfregou sua bochecha contra o cabelo macio em cima da cabeça
de Laurent. Pela primeira vez em muitos anos, um homem não estava se
afastando de seu toque. Laurent não só parecia ansioso para o contato físico,
mas também declarou abertamente que a aparência da Beast não importava.
Isso, obviamente, significava que havia uma chance de algo se desenvolver
enquanto Beast dava ao garoto tempo e espaço o suficiente para respirar. Ele
iria fazer isso.

— Que tal tentar a lula a seguir? — Ele perguntou para distrair Laurent
das memórias dolorosas.
Capítulo DezBeast

Laurent acabou não gostando de lulas fritas, mas wontons de carne


foram um grande sucesso. Após o momento emocional, eles conversaram e
comeram, até que o sol se pôs completamente. Beast lhe disse o que era uma
moto e prometeu levá-lo para um passeio em algum momento, e comentou
que não tinha feito esse passeio com alguém há anos, e que ele estava
disposto a passear com Laurent. Apenas o pensamento de Laurent abrindo
as pernas sobre a moto e pressionando as coxas contra Beast teve seu sangue
bombeando mais rápido.

Quanto mais perto eles estavam da sede do clube, mais frenético de


excitação Beast ficava. Ele não iria demonstrar para Laurent, ainda não,
porque ele não queria entrar em alguma situação estranha quando eles
estivessem em um espaço público, onde não poderia facilmente difundi-la.
Então Beast esperou pacientemente até voltarem para o seu apartamento.

Na sede do clube, todo mundo havia voltado aos seus negócios diários.
Ele já tinha recebido informações sobre o prognóstico de Davy, estava melhor
naquela manhã, mas ninguém estava no clima para festejar, embora os
escombros que caíram do teto já tinham sido removidos quando os dois
saíram. A atmosfera estava mais sombria do que o habitual, e apesar de
alguns dos rapazes e prospectos expressando curiosidade em Laurent, fazer
a apresentação não estava na agenda de Beast. Especialmente com o jeans
skinny que Laurent estava usando abraçando sua bunda redonda tão
atraente. Beast faria primeiro a sua reivindicação, e depois iria apresentá-lo,
para que não houvesse dúvidas sobre qual era a posição de Laurent.

— Eu nem sequer consegui ver que havia números ontem. Eu apenas


pensei que devia pressioná-la e que iria abrir. — Laurent admitiu enquanto
observava Beast usar o teclado numérico para desbloquear o apartamento.
Beast o deixou ir primeiro para dar uma boa olhada nas suas costas e
bunda. Apesar de ser pequeno, Laurent tinha uma boa largura nos ombros
que devam ao seu corpo uma boa forma masculina. Beast não podia esperar
para vê-lo nu novamente.

Ele não tinha certeza de como agir assim que a porta fosse trancada e
estivessem sozinhos na sala de estar, mas Hound salvou o dia, correndo de
sua cama e empurrando o rosto contra os joelhos de Beast em uma afetuosa
saudação. Knight deve ter o colocado de volta mais cedo.

Laurent estava claramente desconfortável com animal de estimação de


Beast, mas depois de alguma persuasão, ele se sentou no chão e acariciou
Hound por tanto tempo, que a fera deitou de costas, sem palavras pedindo
para esfrega a barriga. Laurent deu uma risada satisfeita, e seus olhos
castanhos encontraram os de Beast acima do corpo de Hound, causando
outra onda de calor fluindo por todo o peito de Beast.

Ele deveria tomar banho primeiro após um dia inteiro fora de casa?
Então, novamente, ele não tinha certeza de qual protocolo de namoro deveria
seguir depois que Laurent chegou. Além disso, não era melhor fazer feno
enquanto o sol brilhava?

— Então, foi um bom dia para sair, não foi? — Beast perguntou assim
que Hound se encheu com a atenção e voltou para a cama.

Laurent sorriu para ele em resposta, e foi até os sacos de plástico que
haviam depositado no sofá. — Foi o melhor dos dias.

Um calor agradável se espalhou por todo o corpo de Beast, e ele se


aproximou, sorrindo para Laurent. Esta era apenas a resposta que ele
precisava para continuar. — Eu também. Eu gostei de passar um tempo com
você.

Laurent sugou seu lábio inferior, parecendo contemplativo. — Eu tenho


que admitir que, considerando as circunstâncias infelizes que nos
conhecemos, eu não esperava que as coisas fossem por este caminho, e aqui
estou eu, nesse estranho novo lugar e já fiz um amigo.

Beast se obrigou a não franzir a testa. Seria uma figura de linguagem?


Ele não queria ser colocado na categoria “amigo”! — É como você chama de
onde você vem? — Ele perguntou, e se aproximando de Laurent para que eles
ficassem de frente. O cheiro do xampu de pinho no cabelo de Laurent já
estava o deixando quente. Eles nem sequer precisaria usar o preservativo
esta noite. Ele ficaria apenas abraçando Laurent. De preferência, nu. Talvez
um boquete.

Laurent olhou para ele, ficando em silêncio por um tempo. — Sim, eu


acredito que seria o caso.

Beast hesitou, mas, em seguida, estendeu a mão e lentamente arrastou


as costas de seus dedos sobre o queixo de Laurent. Era um toque quente e
macio como um pêssego suculento. Ele se inclinou e, com as mãos tremendo
um pouco, apertou seus lábios contra aquela boca carnuda e adorável.

Ele estremeceu de alegria quando Laurent não recuou, e as visões de


arrancar todas as roupas recém-compradas de Laurent inundaram sua
mente como sementes do pecado. Mas dois segundos mais tarde, em vez de
abrir a boca em convite, Laurent se afastou, dando um passo para trás, como
se ele precisasse colocar distância física entre ele e Beast.

— Eu... Eu não tenho certeza do que isso significa. — Ele engasgou.

Beast engoliu e lambeu o leve rastro do gosto de Laurent de seus lábios.


Ele seguiu Laurent e tocou seu ombro. — Você disse gostou de passar o dia
comigo. Nós... Gostamos de passar um tempo juntos — ele disse apontando
entre eles com uma mão.

Mas Laurent deu mais um passo para trás, perigosamente perto da


única porta que guardava todos os segredos de Beast. Que deveria estar
bloqueado, como sempre estava, mas um tremor de inquietação dançou na
coluna de Beast. — Sim, mas eu-eu o conheço há um único dia.

— É apenas um beijo.— Beast disse pressionando os lábios juntos


quando ficou claro para ele que a declaração anteriormente, de que as
pessoas não deveriam julgar Beast por sua aparência foi apenas para
Laurent consolá-lo. Ele foi apenas gentil com um homem tão feio, que apenas
ao vê-lo, por vezes, faziam as crianças chorarem. — Sabe o que? Esqueça.
Mas se você não estiver interessado, não me importune!
— Desculpe-me? — Laurent franziu a testa sem tirar os olhos de Beast.
— Eu fiz o que?

— Você estava flertando comigo o dia todo. Você me tocou, você foi o
primeiro a segurar a minha mão. Você acha que esse é um jogo que pode
jogar? Que eu farei o que você quiser por um pouco de atenção? É claro que
eu só sou bom para isso, não importa o que você diga! — Beast assobiou
amargamente e empurrou sua bota contra o sofá com tanta força que a coisa
se moveu.

Laurent olhou para ele e cruzou os braços sobre o peito enquanto inclina
as costas contra a porta. — É por isso que você estava sendo gentil comigo?
Eu não deveria ter segurado a sua mão? Eu não entendo as regras estão
aqui, mas se você pensou que eu estava enganando você, essa não era a
minha intenção.

Beast apertou suas mãos em punhos, sem saber como lidar com essa
resposta. Apesar da raiva zumbido, ele estava tão profundamente
decepcionado, que desejava reverter tudo o que tinha acontecido mais cedo.
Bem, talvez exceto deixar Laurent com os óculos. Ele precisava, e as coisas
só foram para baixo depois disso de qualquer maneira. Agora que o véu caiu
de seus olhos, ele percebeu o quão tolo foi ao se enganar, pensando que
alguém como ele poderia ter uma chance com alguém tão bonito como
Laurent. Como ele ficou tão consumido por sua própria luxúria em apenas
um dia?

— Não, você não deveria ter. E eu não acredito que você não saiba
muito. Você está mentindo. Assim como você não vai dizer a verdade sobre a
sua presença aqui.

— Você disse que os homens se beijando na televisão estavam bem,


então eu assumi que os homens dando as mãos também fosse aceitável. Por
que você tem que me confundir assim? Você acha que algumas longas
conversas e guloseimas comprariam meu carinho? Talvez você me compre
uma cesta de maçãs da próxima vez — a última frase saiu incrivelmente
cruel, e Laurent olhou para longe com uma carranca, como se ele mesmo
não tivesse certeza de quanto sentido estivesse fazendo.
— Oh, então agora eu sou o cara mau, hein? — Beast assobiou por
entre os dentes, andando na frente de Laurent. Seu sangue estava fervendo
e enchendo-lhe o crânio com a fumaça de raiva. — Porque eu gosto de você
e queria te dar algo de bom? Eu daria de qualquer maneira. Nós dois sabemos
que eu estou bem como um amigo, mas você não quer realmente estar com
alguém assim? — Beast perguntou puxando a frente de sua camisa
comprida. Ele não podia suportar ainda mais humilhação, desta vez entregue
pelas próprias mãos graciosas de Laurent.

— Você é o único que está levando para o lado da aparência. E eu acho


que é porque no fundo é tudo o que você gosta. Você me conhece há um dia
e quer se deitar comigo por causa do meu lindo rosto. Eu estava pensando
hoje, que há muito para se admirar em você, mas eu conheci homens como
você antes e agora eu vejo isso. Você não deixa espaço para minha hesitação.
Eu dou um passo para trás e sua fúria não tem fim. Você acha que só porque
você tem os meios e a posição, que eu cederei a você. Você sabe o que? Você
pode ficar com isso. Eu não serei comprado. — Laurent tirou os óculos e os
empurrou para Beast.

— Coloque-os de volta na porra da sua cara. — Beast resmungou,


quando a raiva atingiu o ponto de ebulição, prestes a derramar e transformar
tudo em mingau. — Pegue as suas coisas e saia da minha vista.

— Tire essa manilha daqui! — Laurent apontou para o pé, mas pegou
de volta os óculos, o que significava que seu grande gesto tinha sido apenas
para se mostrar. Claro, ele era ganancioso para manter tudo o que tinha e
não dava nem um centímetro em troca.

Só então Beast percebeu o que o pedido para tirar a “manilha”


significava. Laurent queria ir mais longe do que meio quilômetro de distância.
E aonde diabos ele iria? Ele nem sabia o que era um carro até hoje cedo.

— Eu disse que você só vai sair quando começar a falar... — Ele


tropeçou nas palavras quando o cotovelo de Laurent deslizou sobre a
maçaneta, e a porta para a sala secreta fez um som como se estivesse se
mexendo. — Afaste-se daí. Você não tem permissão para entrar. Nunca. —
Beast disse com mais agressividade que era estritamente necessário. Antes
que Laurent pudesse lhe fazer qualquer pergunta, ele gritou: — Até então, vá
para o seu quarto e não me mostrar o seu rosto. Eu não quero mais vê-lo!

Ele não podia acreditar que suas esperanças foram quebradas tão
impiedosamente. O que Laurent estava pensando quando ele deixou Beast
abraçá-lo? Que eles se tornariam amigos platônicos e trocariam pulseiras de
amizade? Beast era um homem, e ele não ficaria preso no eterno inferno das
bolas azuis. Dada a metade de uma chance, ele estaria transando com a
bunda empinada de Laurent agora, e mostrando ao garoto o que o pênis de
Beast podia ser.

Sua perda.

Laurent reuniu todos os seus sacos, o rosto bonito enrugado. — Bem!

Beast se afastou dele, tentando recuperar o fôlego, o que estava se


tornando cada vez mais difícil à medida que sua agitação crescia. Cada
passo, cada som de plástico farfalhante era como se um alfinete fosse
empurrado na carne de Beast. Ele não podia acreditar que ele se deixou ficar
assim. Que por um momento ele pudesse acreditar que um cara como
Laurent poderia ter o menor interesse nele. Essa humilhação era uma
punição por ouvir o seu pau.

Laurent cerimoniosamente saiu para o pequeno corredor onde todos os


outros quartos estavam. Beast não podia acreditar que ele estava agora preso
com este garoto em seu apartamento. Agora Laurent estaria se empurrando
na cara de Beast a cada dia até que King terminasse com ele.

A forma como o pequeno bastardo bateu a porta foi à última gota.

— E fique lá. — Beast gritou correndo para o corredor e inclinando-se


mais perto da madeira dura. — Você não vai sair deste quarto até que eu
diga!

— Eu tenho óculos, e centenas de livros aqui! Eu posso ficar aqui para


sempre! — Laurent gritou de volta como o pirralho que ele era.

Beast bateu o punho contra a porta duas vezes, até que os ossos de sua
mão doíam tanto que ele precisou recuar. — Você pode se foder bastardo
ingrato.
A mente de Beast o atormentava com a felicidade que ele poderia ter
experimentado se Laurent tivesse sido doce e flexível, como esteve o dia todo,
e convidasse Beast para entre suas pernas. Era pedir muito? Teria sido
divertido para Laurent também. E agora ele estava imaginando o rosto de
Laurent corado e suado, o cabelo grudado, os lábios se abrindo em êxtase.

Ele bateu na porta mais uma vez e voltou para a sala de estar. Hound
deu um gemido silencioso, mas Beast fez um gesto para que ele ficasse onde
estava.

Seu olhar deslizou sobre o sofá e o único saco plástico que continha
uma camisa que ele havia comprado para si. Onde também estava escondido
os preservativos e lubrificantes. Agora ele queria queimar tudo.

— Foda-se — ele gritou, andando ao redor do quarto até sua raiva


inicial evaporar, deixando para trás um vazio de fogo, que não poderia ser
preenchido. Apenas um dia antes, simplesmente ter um garoto bonito em
torno parecia agradável. Mas agora que Beast sabia de fato que Laurent era
gay, ser rejeitado na primeira tentativa de ficar com alguém em anos fez com
que ele quisesse voltar para a vida sem sexo, onde a pornografia era o seu
único alívio.

E para piorar a situação, houve uma batida na porta principal, no


apartamento dele, invadindo sua solidão impotente com um ruído alegre. —
Yo! Beast! Ouvi dizer que voltou.

Beast afundou no sofá e esfregou o rosto com as mãos. Ele esperou mais
algumas batidas para pedir seu amigo para entrar. Knight e King eram as
únicas pessoas que conheciam o código de desbloqueio do apartamento de
Beast. Não. Havia também Laurent agora, e Beast precisava alterar o código.
A atmosfera em torno de Beast tinha sido tão adorável que não tinha ocorrido
a ele que as coisas poderiam azedar, e ele não poderia aceitar que Laurent
soubesse como sair tão facilmente.

Knight entrou com um largo sorriso no rosto bonito que atraia ambos
os sexos em igual medida. Beast se perguntou amargamente se a moral e as
convicções de Laurent seriam tão severas se fosse Knight que tentasse entrar
em suas calças. Ele provavelmente teria uma desculpa estúpida depois que
a ação fosse feita, como: “Ah, eu não sabia que chupar pau significava
atração!”

— Porque a cara emburrada? — Knight perguntou acenando algumas


revistas na mão. Ele olhou ao redor e baixou a voz. — Onde ele está? Eu
tenho essas revistas pornôs gays. Pensei que poderia deixá-los em torno para
descobrir se ele é tão gay como as palavras que ele usa.

Beast levantou, agarrou o ombro de Knight, e levou-o através da única


porta que conectava sua sala de estar para o escritório, onde ele reuniu todas
as coisas que ele precisava para se manter escondido. Com uma breve giro
de sua chave que sempre estava com ele, todos os seus segredos estavam à
vista.

— Ele é gay. — Beast disse assim que fechou porta atrás deles. Não
havia decoração, a menos que um punhado de fotografias e impressões de
fotos históricas penduradas em todas as paredes pudesse ser considerado
como decoração. — Nós não precisamos verificar nada. E eu não o quero
lendo pornografia na minha casa.

As sobrancelhas do Knight arquearam. Beast não poderia ter algo pra


si mesmo? Ele sabia que era uma merda não deixar Knight fazer um
movimento se ele próprio foi rejeitado, mas... Seriamente? Não havia carne
suficiente no prato do Knight?

Beast mordeu suas bochechas, respirando com dificuldade e apertando


a mão na borda da mesa. Ele não queria compartilhar seus fracassos, mas,
ao mesmo tempo, a necessidade de dizer ao seu amigo que algo, até mesmo
vagamente sexual aconteceu em sua vida pela primeira vez depois do
acidente, foi tão forte que ele lutou contra sua vergonha.

— Ele viu homens se beijando na TV e ficou feliz por estar tudo bem.
E...

— Essa é a prova? Eu acho que meu plano é melhor.

Besta gemeu. — Não. Eu não quero que ele fique todo excitado e venha
aqui com outro cara. — Apenas o pensamento era tão humilhante que Beast
queria bater a cabeça contra a parede nua atrás dele.
Knight olhou para Beast, e Beast pôde ver as engrenagens movendo-se
sob o cabelo bagunçado. — ... Porque você quer foder com ele primeiro.

— Bem, isso não vai acontecer, não é?

Knight sorriu e encostou-se ao grande quadro de cortiça, apenas para


se afastar com um silvo quando um pino cavou em suas costas. — Por que
não? Ele está vivendo aqui. Você tem todas as oportunidades para seduzi-lo.

Beast estalou, jogando um livro para fora da mesa. — Eu sei disso


porque eu sei que ele não está interessado. Ele segurou a perra da minha
mão durante todo o dia, mas no momento que eu o beijei, ele começou a dizer
todas essas coisas sobre não saber o que significava. Eu nem sequer usei a
merda da minha língua, e ele estava porra revoltado!

Knight coçou o queixo. — Oh, cara... Que idiota. Mas pelo menos você
teve as mãos dadas. Pré-escola? — Ele riu e cutucou o braço de Beast, mas
Beast não estava no humor para piadas à sua custa. Knight pigarreou. —
Talvez você só precise jogar o jogo por um tempo, sabe? Ou mostrar a ele que
você tem opções, deixá-lo com ciúmes.

Beast apertou sua mandíbula com tanta força que seus dentes se
feriram. — Bem, eu não sei. Não tenho opções. Olhe para mim. O que eu
estava pensando tentando chegar perto de um cara assim? Não há ninguém
interessado. Não em mim. Eles o fariam por diversão ou pelos patches. Será
que você quer transar comigo?

Knight gemeu e moveu seu peso. — Isso não é uma pergunta justa. Você
sabe que não é o meu tipo. Você nunca foi. E para que conste, eu sei que não
sou seu. É como... Ew. Somos praticamente irmãos.

Beast esfregou o rosto. Se não fosse por Knight nesse caso em


particular, Beast estava no ponto onde ele não tinha nenhum tipo, enquanto
alguém estivesse realmente interessado nele. O problema era que ninguém
estava vindo em sua direção. Ele estava destinado a ser uma pessoa de
emoção, mas não uma pessoa interessante. — Sim... Certo.

Knight respirou fundo, e olhou para Beast com um olhar preocupado


que estava fazendo Beast querer expulsá-lo depois de tudo. — Claro, todos
nós sabemos que se alguém ganhar na loteria genética fica mais fácil para
ficar com alguém, mas você está apto, você é alto, você é forte, e você tem um
pau grande. Um cara não precisa de um rosto de bebê para obter alguma
ação. Esqueça o menino Amish14 e seus choramingos.

Beast levantou as mãos, mas percebendo que ele não sabia o que queria
fazer com elas, ele as abaixou. — Nós tivemos uma conexão. Tivemos um
bom dia. Eu sou tão estúpido.

Knight deu um tapa no braço de Beast. — Sua perda. O que está


acontecendo aqui? — Ele se aproximou da mesa e apontou para as notas e
impressões que Beast tinha reunido em várias pastas e caixas. Algumas
delas estavam relacionadas com a história da casa, outros eram sigilosos.
Como a marca na nuca de King e Laurent.

Beast massageou os olhos com os dedos, tentando mudar seu foco. Ele
não era um bebê chorão, e ele não iria lamentar as coisas que não podia ter.
Ele era um homem de ação.

— Eu tenho certeza que a marca em Laurent é a mesma em King, e o


que encontramos debaixo do chão — ele disse olhando para a fotografia que
ele e Knight tiraram quando eles fizeram a descoberta. Foi há anos atrás,
quando Beast ainda era um jovem promissor, com um sorriso arrojado e pele
clara. Naquela época, alguns andares no porão tinham começado a
apodrecer, e uma vez que o clube estava usando esses quartos para
armazenamento, era seu trabalho e de Knight substituir a madeira velha com
algo novo.

Mas sob as tábuas velhas, eles encontraram pedras lisas - que deveria
ter sido o piso original. Eles encontraram sujeira e até um esqueleto de rato,
mas no meio da sala havia algo completamente diferente. Os sulcos foram
meticulosamente esculpidos na pedra para formar o estranho sinal em um
círculo duplo de dois metros de diâmetro. E então alguém teve o cuidado de
preencher os sulcos no chão com ferro, deixando para trás o sinal
perturbador que Beast aprendeu de cor desde então.

14
Amish é um grupo religioso cristão anabatista baseado nos Estados Unidos e Canadá. São conhecidos por seus
costumes conservadores, como o uso restrito de equipamentos eletrônicos, inclusive telefones e automóveis.
Dentro do círculo havia uma estrela de dezesseis braços, adornada com
letras curiosas em cada uma das extremidades, afiadas e cheia de um
emaranhado de sinais que vagamente se assemelhavam a um crânio
humano. Era o mesmo símbolo que King carregava em sua nuca, e assim,
Beast e Knight tomaram a decisão de não informá-lo da descoberta. Tudo
parecia muito estranho, e Beast queria encontrar as respostas.

Livros proibidos e tratados sobre o ocultismo os ajudaram, ele e Knight,


a decifrar alguns dos elementos, mas tudo indicava que era um símbolo
infernal. Então, o que isso estava fazendo no corpo de King? E como King
acabou possuindo o antigo asilo? O local foi construído aproveitando as
instalações de um edifício do século XVIII que pertencia a um famoso serial
killer que tinha o mesmo símbolo no porão. Notavelmente, o serial killer
também tinha uma marca do diabo em sua nuca. Havia uma conexão, mas
Beast não conseguia entender o que era.

Ele não acreditava exatamente em magia - seria ridículo - mas seu pai
estava escondendo algo. Ele era um membro de um culto? Ou era um símbolo
de uma aliança com uma gangue que ele não queria contar a ninguém para
manter o dinheiro e a conexão para si mesmo?

Knight debruçou-se sobre todos os papéis e fotos dispostas sobre a


mesa. — E eu não encontrei nada sobre Laurent Mercier de La Rochelle. É
meio estranho, na verdade, porque como ele seria capaz de voar sob o radar
assim? E que tipo de conexão um cara como ele pode ter com King de
qualquer maneira? É como uma coceira que não conseguimos coçar.

Beast assentiu, traçando as fotografias do símbolo que ainda estava


escondido no porão, embaixo do novo piso. — É o mesmo símbolo. Estou
certo disso. Ele disse que alguém estava o maltratando, e ele está obviamente
com medo de ser encontrado por essa pessoa. Talvez ele estivesse preso por...
Um grupo que usa esse símbolo como sua marca.

— Deve ser um segredo melhor guardado do que os Illuminati — Knight


disse, puxando uma caixa de chiclete. — Mas se o garoto bonito foi mantido
preso em algum lugar remoto, e King tem seus dedos nele, ele iria querer
escondê-lo a todo custo. Ele sabe que ninguém no clube concorda com tráfico
de seres humanos.

Beast fez uma careta. — Isso é nojento. Você acha que King lidaria com
esse tipo de merda nas nossas costas? — Seu pai não era nenhum anjo, mas
mesmo Beast achava difícil acreditar que ele iria se envolver nesse tipo de
negócio após o estabelecimento de um MC que representava a liberdade em
todos os sentidos, incluindo a sexual.

Knight envolveu as mãos na nuca. — Eu não sei. Eu não o acusaria


disso, mas eu estou apenas jogando hipóteses. King ficou furioso quando
notou pela primeira vez aquele símbolo em Laurent, e então, ele ficou todo
manso de repente e pediu para você levá-lo para fazer compras! Mas você
sabe o que realmente me assustou? Como essa marca na nuca de Laurent
ainda estava quente, mas ele não estava sentindo dor alguma.

Beast havia colocado os dedos na pele de seu bíceps quando percebeu


que o pescoço de Laurent ainda estava anormalmente quente quando se
abraçaram no parquinho. O que isso significa? — Eu me pergunto se com
King é o mesmo.

— Não é como se pudéssemos tocá-lo, mas talvez pudéssemos


perguntar a Nao? Ou eu poderia pedir para Jordan abraçá-lo.

Beast assentiu, mas seus pensamentos já estavam traçando conclusões


e pensamentos que ele guardava para si. Knight era seu amigo mais próximo,
mas ele estava mais interessado na marca, porque ele achava que tinha
significado com a história da casa, e por sua vez, a história da família Mercier.
Ele não iria compreender algumas das esperanças da Beast com isso. — Sim,
vamos fazer isso.

Knight olhou para o seu telefone quando ele tocou, e ele gemeu. —
Jesus. É ela. Meia hora, como um relógio. Essa mulher está fazendo minha
cabeça. Eu disse a ela que eu não estou transando com ninguém pelas costas
dela. Que, se eu foder alguém, eu vou avisá-la. Ela disse que estava bem com
um relacionamento aberto, mas não tenho mais certeza se ela sabe o que
isso significa. Eu tenho que ir ou ela vai congelar a minha comida ou alguma
merda assim.
Beast assentiu, fingindo que ele também sentia que o problema com
Jordan era um enorme problema no mundo da abundância sexual de Knight.
Ela era o tipo de mulher que gostava da fantasia de ter um bad boy e seu
estilo de vida, mas não apreciava a realidade dele. Knight estaria melhor com
outra pessoa, mas quem era Beast para julgar? Knight era um menino grande
e poderia tomar suas próprias decisões.

— Claro, eu não vou parar você.

— Mas me informe se encontrar algo novo. Isso tem que ser a


descoberta mais emocionante na árvore genealógica dos Mercier em anos. —
Knight sorriu descontroladamente e deixou Beast com seus próprios
pensamentos. Às vezes, Beast se perguntava o que a “comunidade da
genealogia” - como Knight adorava chamar - pensaria se descobrisse quem
era Knight. Beast definitivamente nunca conheceu um motociclista com um
hobby mais estranho. Então, novamente, quem era ele para falar sobre
hobbies estranhos quando ele estava preso sozinho nesta sala, abrindo a
gaveta cheia de suas descobertas sobre práticas ocultistas?

Havia histórias ligadas ao símbolo sob o assoalho. O símbolo que Beast


agora via em dois homens. Um serial killer ativo no início do século XIX
supostamente também tinha um desses símbolos, e sempre que as
referências dele apareciam nas páginas dos jornais antigos, letras ou
crônicas da cidade, eram sempre relacionadas com acontecimentos
incomuns. A aquisição repentina de riqueza. As missas negras e o sacrifício
brutal de animais na mata nas proximidades. O nascimento de óctuplos, dos
quais todos sobreviveram. Intermináveis banquetes. A alucinação em massa
entre os pacientes e funcionários da instituição psiquiátrica que
anteriormente ocupava o clube atual. Na década de sessenta, muitas pessoas
afirmaram ter visto o diabo dentro do asilo, e que a decisão de abandoná-lo
veio de repente e deixou o edifício apodrecendo. Até que King o comprou por
quase nada no início do ano 2000.

E curiosamente, todos esses eventos estavam agrupados em torno da


propriedade, com cada novo edifício sendo reconstruído no mesmo local,
reutilizando a mesma estrutura antiga.
Quantos anos têm o símbolo de ferro no chão no porão? Seria tão antigo
quanto às colônias européias, ou talvez ainda mais antigo?

Beast abriu seu caderno na única história que ele continuava voltando.
Uma que estava mais para conto de fadas do que um relato histórico, e nem
sequer ficava claro se era uma lenda nativa ou apenas produto da imaginação
selvagem dos primeiros colonos.

A história conta a história de um homem que caçava nesta área e


negociava com os capitães dos navios europeus, e durante uma de suas
viagens de caça, um urso o machucou tanto que seu braço precisou ser
amputado. O capitão do navio que escreveu sobre isso em seus diários,
alegou ter visto com seus próprios olhos. No entanto, quando ele voltou da
Inglaterra um ano depois, ele encontrou o mesmo homem, não apenas em
perfeita saúde, mas tão impressionantemente bonito, que uma das senhoras
que viajavam com o capitão se casou com o homem apenas dois dias depois.

A maioria dos contos de fadas tinha algum tipo de moral, e essa era só...
Essa. O homem nunca disse a ninguém o que o curou, e a única coisa que o
capitão observou foi que os moradores disseram que o homem fez uma
viagem pela floresta a oeste do município de Brecon - que também era a
localização do clube e voltou curado. Com sua nova esposa, ele se mudou
para morar na mesma floresta. Mas a história não para ai. Algumas versões
alegaram que ele fundou uma cidade, alguns que ele atraiu viajantes e fez
sacrifícios de sangue, outra história sugeriu que ele comeu e bebeu como um
monstro, e ainda casou com mais três esposas e viveu até os cem anos de
idade.

O que importava era que era uma história de um homem cujo corpo foi
esmagado, e ele encontrou uma maneira de curar-se num momento em que
a maioria das pessoas não vivia até os seus cinquenta anos. E se houvesse
qualquer tipo de verdade nisso, mesmo que fosse apenas com base em fatos
que a ciência ainda não descobriu, Beast queria encontrar as respostas. Ele
precisava encontrar.
Mais ainda, a cada dia que passava ele via o seu pai de quase sessenta
anos vivendo uma vida de drogas, álcool e inúmeros parceiros sexuais, mas
quase sem rugas.
Capítulo Onze
Laurent

Laurent jazia enrolado no cobertor macio que era tão leve, que parecia
nuvens de algodão, e por dentro, o calor era tão acolhedor que ele não queria
sair de debaixo dele, apesar de já estar acordado por já duas horas.

Na noite anterior, ele vasculhou as estantes de Beast procurando


qualquer coisa que pudesse ajudá-lo a compreender melhor o mundo em
torno dele. Entender a forma como as pessoas usavam a linguagem e as
conotações nas palavras eram cruciais se ele quisesse se misturar. Até os
próprios livros, embora reconhecível pelo que eram, eram diferentes dos
livros do seu tempo. Muito mais leves, e feitos de um papel brilhante e fino,
envolto por capas de papelão com vários tipos de pinturas sobre eles.

Ele também precisava desesperadamente de uma distração e se


contentou com um livro que contava a história de uma jovem cruel que fingia
sua morte para controlar o seu marido. Ele não conseguia virar as páginas
com rapidez suficiente e, apesar de muitos detalhes e algumas palavras
terem escapado à sua compreensão, ele estava aprendendo a essência do
contexto.

Mas, assim que ele apagou a luz e deitou na cama com o coração ainda
batendo no peito, enquanto relembrava os acontecimentos do livro em sua
mente, ainda espantado com a facilidade de ler com os novos óculos, a vida
real veio rastejando de volta para agarrá-lo pela garganta. O beijo desastroso
que se seguiu ao dia mais glorioso não o deixava dormir.

Laurent deveria saber que Beast não seria melhor do que Fane. Ele
acorrentou o seu pé e se transformou em um dragão assim que Laurent
hesitou em aceitar os avanços de Beast. Foi o melhor. Ele estava se afogando
neste novo mundo e não precisava sentir afeição por Beast, nada, além disso.
Não importa o quão rápido seu coração se agitou quando os dedos com
cicatrizes de Beast se enrolaram ao redor dos dele ou o quão forte era o seu
braço maciço quando Beast o colocou sobre o ombro de Laurent no
escorregador. Todas essas bagatelas eram ridículas para refletir.

Não foi exatamente esse o erro que ele fez antes? Um homem poderoso
o inundou de atenção e presentes, e o coração de Laurent já começava a se
excitar, embora o tivesse deixado coberto de sangue da última vez. Ele não
seria um alvo novamente, ao se envolver com um homem que poderia quebrá-
lo como um graveto. Se Beast reagiu com fúria quando seu beijo não foi
retribuído, o que ele teria feito se Laurent o beijasse, mas não estivesse
disposto a seguir adiante? Laurent ainda se lembrava de como Fane zombara
de seu nervosismo, como ele chamara Laurent de uma flor para se arrancar.

Laurent se encolheu quando passos pesados ressoaram em algum lugar


atrás da porta, e ele puxou o edredom, descansando o livro aberto em seu
peito. O homem parou em frente ao quarto de Laurent, e quando a tensão
chegou ao limite e fez seu estômago se apertar, houve uma batida.

Laurent olhou para a porta. Não lhe disse para “se foder” ontem? Ele
mal podia acreditar na quantidade de palavras desprezíveis que saía da boca
de Beast toda vez que algo o incomodava, mas parecia que elas eram mais
comumente usadas do que no passado. E ainda assim elas doíam tanto
quando eram arremessadas contra ele.

Mas quando o homem falou atrás da porta, não era a voz de Beast, mas
a de King. — Laurent, você está dormindo?

Ele colocou o livro de lado e deslizou para fora da cama. Seria apropriado
receber a visita de King quando Laurent estava em suas roupas de noite? Ele
provavelmente deveria recebê-lo assim se King escolheu para visitá-lo aqui.
— Por favor, entre — ele disse, inutilmente endireitando sua calça escura
verde xadrez do pijama.

A porta se abriu, e o belo rosto de King surgiu por trás dele. — Por que
você não respondeu a princípio? O meu filho está lhe tratando mal?

Laurent lambeu os lábios, sem saber o que dizer. — Nós poderíamos ter
tido um pouco de discussão ontem. Ele alegou não querer ouvir nada de mim,
então eu escolhi não responder à batida. Eu não quis ser desrespeito com
ele, Sr. King.

A boca de King se esticou em um sorriso, e Laurent soube o quão


saudável eram os seus dentes, em comparação com os homens de sua idade,
de onde Laurent veio. Eles eram tão brancos, e alinhados, e não havia nem
mesmo um único dente faltando! — Apenas ignore-o. Ele é um troll mal
humorado. Agora, saia. Eu tenho o café da manhã no andar de baixo — ele
disse abrindo a porta ainda mais.

— Isso é muito gentil, senhor. — Laurent sorriu, mas ainda estava


desconfiado do humor estranho de King e sua mudança de opinião. Primeiro
ele tentou estrangular Laurent, e depois Beast levou-o às compras. O homem
tinha um irmão gêmeo, ou algo mais estava acontecendo que Laurent não
entendia. Ele não tentaria envenenar Laurent, iria?

Ele seguiu King até a sala de estar, onde várias bandejas estavam na
mesa baixa ao lado do sofá, junto com duas xícaras de café fumegante. O
olhar de Laurent ainda se desviava para a porta trancada que lhe foi
explicitamente informado para não ousar se aproximar. O acesso proibido só
fez aumentar a curiosidade de Laurent.

— Sirva-se. Eu pensei que nós dois deveríamos ter uma conversa em


particular e falar de nosso amigo comum. — King disse sentando em uma
cadeira em frente ao sofá. Ele pegou um dos pratos vazios e encheu com
todos os bens que ele trouxe. Havia ovos fritos, bacon, tomates, panquecas e
salsichas, além de cogumelos e pão. A abundância disso em uma refeição tão
simples era surpreendente, embora Laurent já soubesse que as pessoas
neste mundo não pareciam querer mais nada.

— Knight? Nao? Eu diria que ainda não somos amigos, senhor. —


Laurent estendeu a mão para pegar um pãozinho quente, colocou um ovo
frito sobre ele, sorrindo com a fartura. Ele não iria ser arrastado para dentro
do mesmo humor de Beast, quando havia tanto neste mundo para lhe
oferecer. Um dia, ele iria encontrar um homem que pudesse confiar; um
homem que não abusaria dele, e nem o enganaria por achar que ser de uma
posição social muito maior do que Laurent que ele pudesse fazer qualquer
coisa com ele.

— Não. Quero dizer o nosso amigo de chifres. — King disse e a comida


ficou presa na boca de Laurent, assim como a marca em seu pescoço parecia
incendiar com o calor.

Ele afundou mais no sofá, observando King com mais cautela e de


repente se perguntando se Beast ainda iria ajudá-lo em caso de ataque de
King, ou se ele iria assistir com satisfação cruel.

King tirou um lenço preto que estava usando, e mostrou a Laurent um


símbolo intrincado queimado na parte de trás do seu pescoço grosso. Laurent
tinha dado uma boa olhada na sua própria marca no banheiro no shopping,
e ele poderia jurar que eram idênticos. Mas o que isso poderia significar?

— Você... Será que ele te ajudou? — Laurent perguntou no final.

King sorriu e deu a Laurent um aceno de cabeça, mordendo seu pão


com um gemido alto de prazer. — Você já conheceu Martina? Ela cozinha
muito bem quando está de ressaca.

A mudança de tema confundiu Laurent. — Eu acredito que ainda não a


conheci. Mas, de volta para a outra questão... Como ele o ajudou?

King mastigou sua comida e se inclinou para trás, cruzando as pernas


em uma posição relaxada. — Oh, ele está cuidando por mim. Mas acima de
tudo, ele me disse que você está aqui para mim, então eu acho que nos torna
parceiros.

Laurent soltou um grande suspiro de alívio, e seus ombros caíram. —


Sim! Sim, você está certo. Ele me explicou explicitamente que nenhum dano
pode vir a você. Eu estive extremamente preocupado com isto senhor, e, por
isso estou mais do que feliz em saber que estamos do mesmo lado.

King acenou com a mão. — Se você tiver quaisquer problemas com o


meu filho, diga-me, e eu vou lidar com ele. Ele está empurrando duramente
para mudarmos do clube, mas eu não posso fazer isso. Iria quebrar os termos
do meu acordo com o nosso amigo. Precisamos ter certeza de que ele não
agite as coisas com os outros membros do clube.
Laurent armazenou todas as informações que ele recebendo nas
prateleiras arrumadas em sua mente. — Agora eu entendo. Fui enviado para
me certificar de que ele esteja aqui no seu próximo aniversário. Eu entendo
que é vantajoso para você, senhor?

King empurrou a comida com o café, e apertou os olhos ligeiramente.


— Laurent, você é tão adorável quando você fala assim. Sim, tudo será feito
e concluído se ficarmos aqui até os trinta e três anos dele.

Laurent recheou sua boca com torradas e ovo, sem saber o que fazer
com o elogio. Ele estava apenas sendo educado. — Assim que isso acontecer,
eu ficarei livre, mas também sem um aliado neste mundo. Existe uma chance
de que eu poderia ficar quando tudo se resolver? Eu, por sua vez, prometo
tornar-me útil.

King se espalhou na sua cadeira como um Rei medieval em seu trono.


— Se você fizer isso por mim, eu não vou deixá-lo passar fome ou ficar pobre.
Essa é uma promessa — ele disse e estendeu a mão sobre a mesa.

Laurent estava ansioso para apertá-la. Finalmente! Talvez o diabo


estivesse certo, e ele realmente tinha o poder necessário para cumprir a
tarefa que ele foi sobrecarregado. Tudo o que ele tinha a fazer era impedir os
planos de Beast por alguns meses. Estar perto de Beast não seria fácil, mas
Laurent certamente poderia se tornar uma distração suficiente para fazer
Beast esquecer as outras tarefas.

O bloqueio soou, e King retirou a mão, pegando a caneca de café antes


da porta se abrir e Beast entrar. Ele parou meio passo quando os notou
sentados na pequena mesa. Os olhos de Laurent foram para Hound quando
ele latiu agressivamente correndo para ficar na frente dele, como se ele
estivesse pronto para morder se o seu mestre lhe ordenasse.

King ergueu a xícara com um sorriso largo. — Filho! Ouvi dizer que você
teve um pequeno desentendimento com o nosso querido convidado. O que
ele poderia possivelmente ter feito? Basta olhar para ele — ele disse
apontando para Laurent.
A boca de Beast apertou, e ele lentamente fechou a porta atrás dele. —
Seria ótimo se você me dissesse que estava prestes a sair do meu
apartamento.

King sorveu seu café. — Tecnicamente é o meu apartamento. Esta


propriedade inteira pertence a mim.

Laurent pegou sua xícara também, e ficou ansioso no momento em que


Hound se aproximou com seu focinho preto e começou a cheirar o joelho de
Laurent. Ele nem tinha certeza se deveria falar com Beast, e quando ele olhou
para cima e captou o olhar azul que o prendia ao sofá, ele rapidamente olhou
para dentro da xícara. Agora que ele podia ver o rosto de Beast tão claramente
através dos óculos, ele tinha certeza que Beast definitivamente não era um
'troll' como seu pai o havia chamado. Beast era um homem de carne e osso,
mesmo marcado com toda a tinta. As inscrições em latim, juntamente com
as imagens do inferno suavizaram o coração de Laurent sempre que ele
olhava para Beast. Apesar das palavras cruéis de ontem, ele agora sabia que
a pele na qual Beast vivia era seu Inferno pessoal, e nada que Laurent fazia
ou dissesse poderia torná-lo pior.

Hound pressionou o nariz contra a coxa de Laurent, olhando para ele


com olhos escuros curiosos, mas se afastou imediatamente quando Beast
chamou-o com um assovio. Beast puxou um osso cor de carne de uma
prateleira e deu para o cão, que fez um círculo no lugar antes de correr para
a sua cama no canto.

— Olha, eu entendo que esta casa pertence a você, mas é também o


nosso clube. Não sabemos quando um dos andares vai desmoronar. Não
houve trabalho de manutenção feito desde os anos sessenta. Depois de
quarenta anos de desuso, esse lugar precisa de reformas, quer você goste ou
não. Por isso, temos que investir e renovar ou encontrar algum outro lugar.
— Beast disse, caminhando até a mesa com uma garrafa de uma bebida
preta na mão. Laurent se encolheu sob o olhar Beast lhe deu.

— É por isso que nós estamos começando o trabalho de manutenção


na sala comum hoje. Você é um pé no saco sabe disso? Eu estou pagando
por isso do meu próprio bolso também.
Beast deu alguns goles e mudou seu peso, o que fez a camisa escura
com mangas compridas se agarrar ao peito. Laurent ainda se lembrava de
como suave era o tecido que Beast usou ontem e quão duros eram os
músculos por baixo. — Supere isso, às vezes, decisões difíceis precisam ser
feitas. Nós nem sequer usamos a maior parte do edifício, por isso, por que
não o vendemos? Por que você está tão inflexível em manter este lugar em
particular?

Os ombros de King ficaram rígidos, e ele se levantou. Ele não era tão
alto quanto seu filho, mas Laurent não ousaria enfrentá-lo de qualquer
maneira. — Eu não preciso me explicar para você. O edifício é enorme, com
potencial de expansão, enormes quartos para realizar festas e concertos. Se
você tivesse alguma imaginação, você iria olhar para o futuro e ver o que
poderia acontecer se todos nós trabalharmos duro!

Laurent pigarreou. — Eu tenho que admitir que o lugar seja


incrivelmente impr...

Os olhos azuis de Beast foram à direção a ele, e ele apontou seu dedo
indicador enorme para ele. — Cale-se. Isso não tem nada a ver com você!

King bufou. — Dê ao garoto uma pausa. Parece que ele é mais esperto
do que você, se ele vê o potencial dessa propriedade. Eu não vou nem
começar com todos os motivos, o que poderia ser convertido em uma área de
lazer no futuro. De jeito nenhum vou me livrar deste lugar para comprar
alguns bunker de concreto fodido em algum lugar.

A mandíbula de Beast cerrou. — Tanto faz. Apenas me informe da


próxima vez que você entrar como um maldito Rei do castelo.

King deu de ombros. — Oh, eu estava saindo de qualquer maneira. Você


pode terminar o café da manhã. Está delicioso. Não é mesmo? — Ele
perguntou a Laurent.

— Sim, está muito bom. Muito obrigado, senhor. — Laurent assentiu


rapidamente, se sentindo queimar sob escrutínio de King.

King deu um tapinha em Beast quando se levantou. — Desça e o


apresente quando terminarem de comer. Laurent é o nosso convidado, e ele
vai ficar aqui por um tempo, então o trate como tal. E parar de deixá-lo em
pânico com o cão.

Beast colocou os braços sobre o peito, observando Laurent em completo


silêncio até que King desapareceu atrás da porta. — Você o chupou para ele
ser tão amigável com você? — Ele explodiu assim que estavam sozinhos.

Laurent olhou para cima, congelado no seu lugar no sofá. — Desculpe?

— Você me ouviu. — Beast disse aproximando-se em passos duros e


agressivos.

— Eu... Não entendo o seu significado. — Laurent deixou seu café na


mesa e se levantou rapidamente para não estar em posição de desvantagem
se Beast se tornasse violento. Ele não iria admitir isso, mas ontem tinha
sentido uma emoção ao ver Beast lidando com aquele homem rude na escada
rolante. No entanto, ele odiaria ter esse tipo de força dirigida a ele. Ele tinha
certeza de que a força da Beast facilmente ultrapassava a William Fane, e
Fane já tinha sido um adversário cuja mão Laurent quase morreu.

Beast soltou uma gargalhada e apertou seu punho sobre uma forma
invisível. — Não? Eu vou te dizer. Você pega o pau de um homem, o coloca
em sua boca, e você o chupa — explicou, trazendo sua mão mais perto de
seus lábios e pressionando no interior de sua bochecha com a língua, como
se algo realmente tivesse sido inserido.

O rosto de Laurent ficou em chamas. — Essa é uma insinuação rude!


Estou chocado! — Ele se virou para evitar ver Beast e vê-lo repetir o
movimento. Mesmo seu pescoço ficou quente quando ele pensou em Beast...

Laurent saiu pisando duro para o seu quarto, mas ele podia ouvir Beast
o acompanhamento. Tudo o que podia pensar agora era os lábios de Beast
em torno dele, movendo-se até beijar a ponta. Isso não era nada bom.

— Vista algo adequado. Se King quer que você conheça os outros, então
você está indo. Você tem quinze minutos. — Beast disse de pé na porta
quando Laurent tropeçou em seu quarto.

Laurent tirou a camisa sem mangas que usou para dormir, mas depois
parou, olhando para Beast. — Alguma privacidade, por favor?
— Agora você quer privacidade? Então agora estou proibido de sequer
olhar para você?

A pergunta deixou Laurent mais nervoso a cada segundo. Como ele


deveria responder? Não era como se Beast não o tinha visto nu antes. E, no
entanto, após o beijo tudo parecia diferente. — Não foi você que disse que
não queria olhar para o meu rosto?

Um sorriso desagradável torceu as características da Beast. — Quem


disse que eu quero olhar para o seu rosto?

Desta vez, até as orelhas de Laurent ficaram quentes. Pensar que Beast
o cobiçara antes, quando Laurent pensou que eram apenas dois homens cuja
nudez não tinha consequências. Ele deu um passo em direção a Beast e,
apesar do tamanho imponente do homem, empurrou seu estômago, tentando
empurrá-lo para fora do quarto. — Eu não sou um pedaço de carne para ser
mastigado.

Beast olhou para o relógio, que estava preso ao seu pulso. — Agora são
dez minutos, então é melhor se apressar ou vou arrastá-lo para baixo de
pijama.

Laurent bufou exasperado e recuou da frente da montanha em forma


de homem. Certamente não estava abaixo de Beast humilhá-lo desse jeito na
frente de outras pessoas, se era assim que ele agia depois de ter sido negado
aos prazeres da carne.

Laurent se afastou e tirou a calça do pijama, muito consciente dos olhos


em sua parte traseira, e com medo de que sua presença o deixasse excitado
demais para ser educado. Mas quando ele olhou para trás, apenas para se
certificar que não havia perigo, Beast não estava mais lá.

Laurent exalou profundamente, e perdeu instantaneamente a presença


imponente. A revelação de que Beast era semelhante a ele, “gay”, como eles
chamavam hoje em dia, tinha acendido um fogo em algum lugar debaixo da
pele de Laurent que não parava de lançar fumaça em seu cérebro, sem
importar o quanto tentasse impedi-la.

Com a saída de Beast, se vestir foi mais rápido, uma vez que todas as
roupas modernas eram simples e fáceis de colocar, ao ponto de Laurent
considerá-las “simplistas”, mas ele se encaixaria a todo custo. Ele respirou
fundo e saiu, sentindo-se muito mais seguro com a jaqueta de couro, do que
na calça de pijama, que era tão firmemente colada nas pernas, que deixaram
pouco à imaginação. Laurent agora se perguntou se foi por isso que Beast as
escolheu.

Beast estava deitado no sofá com o cão enorme esparramado sobre suas
pernas. Ambos os olhares dispararam em Laurent assim que surgiu no
corredor, vestido e com o cabelo penteado com a nova escova de cabelo. Se
arrumar era muito mais fácil agora que ele realmente podia ver-se no
pequeno espelho redondo que comprou na loja.

Hound bateu suas mandíbulas preguiçosamente e rolou para suas


costas, mas Beast gentilmente o empurrou e se levantou. — Leve a bandeja
— ele disse apontando para os restos de comida.

Laurent franziu a testa. — Você não tem servos para fazer isso?

Beast sorriu. — Eu tenho agora. Leve a bandeja.

Laurent franziu os lábios e contou os segundos para se acalmar. Ele


escapou dessa vida e não deveria ser mais obrigado a seguir ordens. Ele não
podia acreditar que até aqui ele estava sendo ordenado. Ele lutou contra a
coceira em seus olhos, as lembranças de uma vara de bétula contra suas
costas e pegou a bandeja sem outra palavra.

— Desde que King permite que você saia do meu quarto, coma na
cozinha. Vocês dois deixaram migalhas por todo o meu sofá. — Beast disse e
chamou Hound, liderando o caminho para a porta.

Laurent passou pela porta que Beast abriu para ele, morrendo de
vontade de conhecer outras pessoas, então ele não estaria preso aos seus
sentimentos conflitantes por Beast.

Hound seguia o seu mestre com a cauda preta abanando. O cão olhava
para trás, na direção de Laurent, como se ele não confiasse nele, mas com o
som da música cada vez mais alto, os três progrediram pelo corredor. Laurent
estava feliz quando eles finalmente passaram por um espelho, como não
havia no apartamento de Beast ele olhou para o reflexo de todo o seu corpo
para se certificar de que de fato estava apresentável.
A superfície do vidro estava ligeiramente curvada, como se o espelho
tivesse uma imperfeição que Laurent não conseguia identificar. Não era que
estivesse deformado; como aqueles da loja com os espelhos que visitou ontem
com Beast, mas mesmo com os óculos firmemente sobre o nariz, o reflexo de
Laurent estava um pouco claro, e sombras escuras escondiam os cantos.
Nada como as superfícies limpas e lisas que ele tinha visto no shopping.

Eles passaram por um corredor diferente que da última vez, mas todas
as passagens pareciam um grande labirinto na mente de Laurent de qualquer
maneira. Todas as paredes estavam com pintura descascando, assim como
a pele no verão, e os corredores de azulejos tinham a aparência suja. Cada
quarto que ele passou, a sensação de desconforto estava crescendo em
Laurent com a visão de cadeiras caídas e quadros quebrados. Era um grande
contraste do apartamento limpo de Beast, que era fresco e cheio de itens que
Laurent poderia apostar serem caros. Devia ser por esse motivo que Beast
não queria morar aqui.

Quanto mais se aproximavam do ruído, mais ordenado os arredores se


tornavam. Os corredores, enquanto ainda vastos, mudavam de alguma
forma, e com a vista recém-melhorada de Laurent, ele notou traços de
decoração que eram de um estilo grego familiar, embora decadente. Este era
um castelo antigo que já foi ocupado por algum rei europeu antigo no tempo
de Laurent?

Seus pensamentos corriam livremente enquanto ele seguia Beast por


um corredor, até que eles estavam de frente para uma escada grande em
espiral, parcialmente cercada por arcos de madeira que pareciam janelas de
algum castelo e se destacavam completamente da simplicidade e crueza de
tudo o mais no clube que Laurent encontrou até agora.

Ele enfrentou o espaço circular da escadaria em espiral, e foi como se


alguém atingisse a sua cabeça, esvaziando sua mente até que apenas a dor
permaneceu. À luz do dia brilhante que vinha através das janelas atrás das
costas de Laurent, o rosto vicioso, desfigurado de uma gárgula olhava para
Laurent, zombando dele com um meio sorriso. Os talheres e os pratos
tremeram na bandeja quando todo o corpo de Laurent balançou em terror.
Ele olhou de volta para os olhos profundos e realistas da criatura, que foi
esculpida com tanta atenção aos detalhes, que era como se ela pudesse se
mover a qualquer momento, voando do teto alto com as suas asas.

Era a mesma estátua que confundiu Laurent quando ele entrou pela
primeira vez na casa de William Fane. E agora que sabia disso, seu olhar
inevitavelmente se estendeu para detrás do monstro, até os painéis de
madeira descoloridos que traziam traços de mofo, mas ainda escondiam os
segredos da tortura e da morte. Atrás dessa porta escondida Fane o levou
como um cordeiro para o abate.

Ele nem sequer perceber que ele tinha parado até que Beast falou com
ele. — Estranho, né? Estou surpreso que eles não tiraram essa coisa quando
o hospital foi criado aqui. Ver esculturas como esta não poderia ter ajudado
os pacientes — ele disse aproximando-se da monstruosidade, e ele acariciou
seu focinho malformado.

Os lábios de Laurent torceram em uma careta, mas ele conseguiu firmar


suas mãos para manter o conteúdo da bandeja estável apesar da náusea
subindo em sua garganta. — Que lugar é esse?

Partículas de poeira dançavam no ar, criando uma atmosfera singular,


mas o coração de Laurent pulava com força, como se quisesse puxá-lo para
fora daqui e através da porta mais próxima. Ele tinha visto o enorme
complexo de edifícios do lado de fora por duas vezes, mas ao longo dos
últimos duzentos anos, a fachada deve ter sido modificada, porque não
parecia em nada com a mansão de Fane. Embora para ser justo, Laurent só
tinha visto uma vez no passado, e à noite.

Calafrios percorreram sua coluna quando ele olhou para a porta secreta
que o levou para a câmara de horrores de Fane, mas Beast o cutucou para
seguir ao longo do corredor.

— Oh, King possuiu este edifício desde o início da década de 2000, mas
antes costumava ser uma instituição psiquiátrica. É por isso que há tantos
quartos. É uma dor na bunda, se você me perguntar — ele disse enquanto
passavam pelo o que costumava ser o principal corredor na entrada.

Laurent percebeu que tinha viajado no tempo, mas foi parar no mesmo
lugar, a evidência disso vinha de todas as direções. As portas originais foram
trocadas, mas o painel acima ainda tinha uma decoração adornada com um
relevo representando uma guirlanda de flores. Os nichos nas paredes agora
tinham lâmpadas em vez de estátuas nuas, mas quando Laurent olhou para
cima, o rosto de Dionísio o encarava da mesma forma que tinha quando ele
entrou pela primeira vez na casa com Fane. O afresco estava escuro, a
pintura rachada, e o gesso desmoronou e caiu, deixando buracos em branco
na pintura do bacanal, mas era sem dúvida o mesmo.

Algo se moveu em seu estômago ao pensar que o cadáver podre de Fane


ainda podia estar trancado naquele porão secreto. Então, novamente, em
duzentos anos, alguém certamente teria encontrado o corpo. Esfaqueado,
com o pescoço cortado, como um peixe eviscerado, e escondido por trás de
uma porta que bloqueava por dentro, e com exceção de um único braço de
uma vítima sem rosto; será que as pessoas poderiam pensar que o braço
ganhou vida e fez justiça? Laurent sorriu para si mesmo com o pensamento.

— O que está acontecendo? Você vem ou não?

— Desculpe, eu só... — Laurent acelerou para escapar dos olhos


curiosos de Dioniso. — Eu estou indo. — Ele deixou o corredor para trás e
encontrou-se com Beast, de repente desejando sentir seu braço forte em
torno dele novamente.

As palavras cantadas por uma mulher, com uma voz estranhamente


deformada ficou mais clara, assim como sons de conversa e o cheiro de
comida e café. Hound soltou um latido abafado através do osso que ainda
segurava entre os dentes e correu pelo corredor. Laurent e Beast o seguiram
através de dois pares de portas altas e um salão bem grande que continha
mesas de bilhar e cheirava tão intensamente a tabaco, como se um grupo
grande de fumantes estivessem lá dentro.

O próximo quarto era do tamanho de um teatro, com assentos


confortáveis, de frente para um dos televisores semelhantes aos no shopping.
Este era enorme, quase do tamanho de uma mesa de bilhar.

A era moderna parecia ter afrescos também, mas eram mais brutos,
feitos em cor escura e vulgar. Enquanto caminhavam pela sala de televisão,
mulheres nuas davam a Laurent sorrisos luxuriosos nas fotos na parede,
onde estavam em travesseiros na frente de um homem de pele vermelha, com
chifres que claramente descrevia o diabo, mas não tinha nada da subtileza e
da graça perigosa da criatura. Este tinha um pau enorme fazendo volume na
frente de sua calça e anéis ligados a seus mamilos. Ele contemplava as
mulheres como a personificação da luxúria infernal.

O antigo Laurent poderia ter olhado para longe, mas não havia nenhum
ponto em evitar tais representações obscenas depois de ter feito um pacto
com o próprio demônio.

Houve uma clara mudança nos aposentos da mansão de Fane até essa
estrutura. Aqui, os pisos eram feitos de algo que parecia uma mistura de
borracha e plástico e rangia sob as solas de suas botas. Os arquitetos não
haviam dado nenhum adorno às paredes, o que fazia com que todos os
cômodos, e até mesmo os corredores, parecessem caixas empilhadas por
conveniência. Ele viu mais dos afrescos perturbadores, imagens mais suaves
e brilhantes de corpos nus e criaturas diabólicas, e as paredes foram
pintadas com uma variedade de cores intensas, a sutileza dos relevos foi
esquecida.

Depois de passar por um corredor estreito, eles finalmente entraram na


sala, onde pelo menos uma dúzia de pessoas estava pelos sofás, conversando
e comendo. Logo acima da porta, Laurent notou uma frase escrita em letras
grosseiras.

Abandone toda a esperança assim que vós que entrais aqui!


Capítulo Doze
Laurent

Laurent engoliu em seco ao ler a mensagem infernal acima da porta


quando Beast o cutucou para entrar em uma sala afogada na cor vermelho.
Pinturas de chamas e esqueletos dançantes cobriam as paredes vermelhas e
os sofás de couro reunidos em torno de uma mesa baixa, com as pernas de
cabra. Havia armários no tom escarlate na área, provavelmente usados para
servir comida, e o tapete era da cor de cerejas escuras esmagadas no chão
por botas pesadas.

O barulho que transbordava na direção dos corredores e câmaras do


clube se originava aqui, embora Laurent não pudesse ver quaisquer músicos
ou instrumentos. A música, uma mistura dolorosa de gritos roucos e batidas,
soava como se alguém estivesse raspando as unhas contra um quadro, um
tipo de zumbido constante na cabeça de Laurent.

Quando as pessoas reunidas na câmara repararam nele e Beast,


algumas conversas cessaram, e ele podia sentir os olhares curiosos e
penetrantes, mesmo sem a pretensão de polidez.

— Nada para ver aqui. — Beast disse em um tom que sugeria que ele
quis dizer exatamente o oposto. Ele acenou com a cabeça em direção a um
balcão dividindo o espaço de outra câmara, que brilhava com metal polido.
— Deixe a bandeja na cozinha e volte.

Agora que Laurent podia ver tudo tão claramente, ele não tinha certeza
se queria. A maioria dos homens era gigante, e eles estavam vestidos de preto
e, a julgar pelas roupas das mulheres, nenhum delas era senhoras
respeitáveis. Mesmo em comparação com as mulheres que Laurent tinha
visto no shopping, a abundância de carne nua em exposição aqui abafou a
sua voz. Seria um bordel?
Escolhendo ser civilizado para não dizer nada que pudesse ser
considerado rude, ele colocou a bandeja sobre a superfície polida na cozinha,
observando Beast andando na direção dos sofás e sendo recebido com
sorrisos e tapinhas nas costas.

— Eu sou Martina — uma mulher com cabelo vermelho flamejante e


uma espessa camada de Kohl15 ao redor dos olhos apertou a mão de Laurent
antes que ele pudesse decidir se era uma coisa apropriada a se fazer. — Você
gostou do café da manhã? Eu não tinha certeza se você era vegan ou algo
assim.

Nao, a quem Laurent felizmente já havia conhecido anteriormente


chegou até eles com um sorriso. — Olhe para você! Essas calças largas
estavam escondendo tudo isso?

Laurent se atreveu a sorrir, aliviado que pelo menos alguém aqui fosse
mais baixo do que ele, mesmo que ela fosse uma mulher. — Obrigado. Beast
me ajudou a escolher.

As sobrancelhas de Martina arquearam. — Beast o ajudou nas


compras?

— Incrível! Não é mesmo? — Nao comentou casualmente colocando o


braço em volta da cintura de Martina, e pegou um copo de suco do balcão.
— Ele não é doce? King nunca vai deixá-lo ir — ela fez uma careta, e Martina
revirou os olhos.

— King nunca faz nada que não seja sobre ele ser o centro das atenções.
Da última vez ele me levou as compras, nós nos separamos depois de meia
hora, e ele acabou comprando para ele mesmo. Acabei esperando por ele, e
ele chegou atrasado ao cinema. Não são os homens que sempre reclamam
que eles têm de esperar por suas mulheres? Eles demoram tanto como nós.

Nao gemeu e deu um tapinha nas costas de sua amiga. — Você deveria
ter me chamado. Eu queria ver esse filme de qualquer maneira. Você sabe o
quão quente eu fico com Tom Hardy em praticamente qualquer coisa.

15
Em referência de ela estar usando lápis/delineador preto nos olhos.
Só então Laurent percebeu que Nao era a “namorada” de King, que ele
já tinha entendido que significava ser uma espécie de esposa com o mesmo
direito em comum. — É... Eu não quero ser rude, mas eu gostaria de fazer
uma pergunta. É aceitável que um homem saia com outra mulher quando
ele já tem uma namorada?

O rosto de Martina ficou sem expressão, e então ela explodiu em uma


gargalhada e cutucou Nao com o cotovelo. — Meu Deus! Você estava certa!
Ele é precioso.

Laurent gemeu, concentrando-se na mesa. Quando ele iria começar a


fazer as coisas direito?

Nao acenou com a mão com desdém. — Ambas somos amigas do King,
querido.

Laurent franziu a testa, mas decidiu deixar a pergunta sobre a bigamia


para si mesmo.

Nao riu, inclinando-se para trás como se Laurent fosse uma obra de arte
para admirar. — Olhe para os seus olhos. Você está tão confuso, Sweet baby,
mas está tudo bem. Nós concordamos com isso, por isso não é um tipo de
traição.

A risada de Beast se espalhou em toda a sala e perfurou os ouvidos de


Laurent. Seria rude deixar de olhar para os seus parceiros de conversa, mas
ele queria tanto saber o que causou tal explosão de alegria em um homem
tão permanentemente carrancudo.

— Estávamos esperando por vocês dois para aquecer o chili. — Martina


disse e apontou para uma caixa metálica ao lado de Laurent com números e
símbolos na frente. — Coloque três minutos.

Laurent engoliu em seco, hesitante sobre o que ela queria dizer, ainda
não querendo parecer irremediavelmente mudo. Ele balançou a cabeça e
caminhou até a caixa com o seu coração batendo mais rápido a cada minuto.
Ele nunca iria aprender sobre este mundo no futuro. Haveria sempre algo
para surpreendê-lo, como agora.
Com o coração na garganta, ele apertou o botão com o número '3' na
frente dele, mas quando nada aconteceu, ele apertou outro, com um
triângulo vermelho, em seguida, um símbolo com ondas, o '3' de novo, que
só acabou com o número '33' aparecendo no visor.

Ele não soube se ouviu a voz de Beast primeiro ou se sentiu sua


presença por trás de suas costas, mas, de repente, o homem montanhoso
estava lá, de pé atrás Laurent e falando ao lado de sua cabeça com o aroma
fresco, cítrico da colônia que inundava os sentidos de Laurent.

— É chamado de micro-ondas. Ele usa energia invisível para aquecer


os alimentos. — Beast disse e chegou a passar por Laurent, tocando em um
dos botões. Os números foram zerados, mas tudo o que Laurent conseguia
pensar era o braço grosso digno de um trabalhador portuário, que roçou
levemente no seu ombro e o calor do peito de Beast que ele podia sentir,
mesmo sem tocar.

Laurent colocou as mãos sobre o balcão onde estava o “micro-ondas” se


ergueu e engoliu em seco com o mal-estar que se formou em sua garganta
com a proximidade de Beast. — Eu teria entendido... No final — ele
sussurrou, mas ele não tinha certeza se entendeu o conceito de aquecer os
alimentos com energia invisível. Como poderia a fonte de energia ser
invisível? De onde ela vinha? Por que bastariam três minutos, não cinco ou
dois?

— Você está realmente mansplaining16 o micro-ondas para ele? —


Martina perguntou de trás do balcão. Ela estava misturando algum tipo de
bebida feita de tomates esmagados e água.

Beast endureceu, e seu rosto se torceu. — Não é mansplaining se ele é


um homem. Além disso, ele não sabe nada sobre nada, então ele precisa ser
avisado para não colocar as merdas das talheres!

Laurent esfregou a testa em frustração. Ele sabia muitas coisas. Ele


conhecia latim e francês, e lia rapidamente, e sabia como os livros eram
impressos, e tinha um grande interesse em filosofia, história e romances.

16
Mansplaining. Quando um homem dedica seu tempo para explicar algo óbvio a uma mulher, de forma didática,
como se ela não fosse capaz de entender. O termo é uma junção de — man — (homem) e — explaining — (explicar). Em
atos de mansplaining, um homem acha que sabe mais sobre um tópico do que uma mulher.
Mas como ele deveria usar esse conhecimento em um mundo de tecnologia
a par com magia?

— O que é 'mansplaining'? — Ele perguntou com cautela, só para ter


Nao rindo tanto que ela acabou fazendo um ruído que lembrava o som de
porcos.

— Vá em frente, Beast, explique para ele — ela disse tão divertida que
teve que limpar uma lágrima de seu olho.

Knight surgiu ao lado dela e pegou a bebida que Martina estava fazendo.
— O que Beast tem de explicar?

— Mansplaining e micro-ondas. — Nao sorriu bebendo seu suco.

Beast apertou a boca e bateu no micro-ondas algumas vezes, fazendo


com que a coisa iluminasse no interior, enquanto uma bacia branca se movia
por uma força invisível.

— Whoa! — Knight riu e depois de dar alguns goles da bebida com


tomate. — Isso é como explicar A Origem17.

Nao riu, e o significado mais uma vez passou na frente do nariz de


Laurent. Por um momento Laurent queria perguntar por que os talheres não
deveriam ser aquecidos no micro-ondas, mas ele decidiu contra essa ideia,
já que todos provavelmente consideravam algo óbvio.

— Teremos chili. — Laurent tentou mudar o assunto, embora ele não


tivesse ideia do que era chili.

Knight sorriu, e mais uma vez Laurent percebeu como ele era agradável,
mesmo que seu queixo fosse desnecessariamente desalinhado, e seu longo
cabelo parecia um emaranhado de ondas penteados pelo vento. — Chili da
Martina? Sim! Foi bom Beast tê-lo ajudado com o micro-ondas, não é?

Laurent olhou para Beast, que estava tão perto, que tudo o que Laurent
podia pensar era a maneira gloriosa que ele cheirava. — S-sim — ele
murmurou.

17
A Origem (no original em inglês, Inception) é um filme de ficção científica lançado em 2010. DiCaprio faz o papel de
Dom Cobb, um ladrão especializado em extrair informações do inconsciente dos seus alvos durante o sonho. Incapaz de visitar
seus filhos, Cobb tem a chance de vê-los em troca de um último trabalho: fazer a inserção, plantar a origem de uma ideia na
mente de um rival de seu cliente.
Com a tigela branca nas mãos e uma bandeja de pratos de plástico,
todos se juntaram aos outros nos sofás. Laurent tentou manter a calma, mas
não havia como negar que todos os olhos estavam sobre ele, e quando Beast
o dirigiu até uma cadeira sem encosto, ele estava contente que pelo menos
ele sabia o que era esperado dele.

As pessoas caíram sobre a comida como gaivotas famintas, e desde que


Laurent já tinha comido, ele deixou o alimento para as outras pessoas e só
aceitou uma pequena porção de pão quando um jovem com cabelo loiro curto
entregou-lhe.

— Seja cuidadoso. Eu não sei se eles usam tais especiarias de onde


você vem — disse o homem antes de oferecer a mão para Laurent. — Eu sou
Jake. É verdade que você é Amish?

Beast rosnou com a boca cheia. Engolindo em seco, ele se inclinou para
trás na cadeira de couro e apertou os olhos. — Prospecto, eu disse que ele
não quer falar.

— Sim, apenas o deixe em paz Prospecto. — Knight adicionou e enxotou


o jovem, deixando Laurent se perguntando se Jake era um tipo de servo. —
A propósito, o nome dele é Laurent Mercier. Então, eu queria te perguntar:
você tem o nome do Laurent Mercier, aquele que matou o serial killer? Porque
eu estava investigando, e não consigo descobrir em qual ramo da árvore
genealógica você está.

As palavras atingiram Laurent como um chute. — Eu não matei


ninguém! — Ele disse tudo muito rápido, e muito alto, o único atraindo mais
atenção para si mesmo. Ele quase deixou cair o pão também. Se ele fosse
prosperar aqui, ele precisava se controlar muito melhor.

— Uau, isso ficou intenso muito rapidamente — disse um jovem bem


barbeado, com o cabelo muito brilhante com as pontas destacadas,
parecendo espetos. Como Beast, havia padrões por todo o corpo dele, mas as
pinturas eram coloridas e brilhantes, como a camisa que ele usava. Apesar
de suas palavras, ele não parecia nada abalado, apenas observava
calmamente Laurent por cima de sua tigela de chili.
— Este é o Joker — Beast disse apresentando o homem. — Não ligue
para ele. Ele só pensa que é engraçado.

Joker riu, balançando a cabeça, o que fez com que as fileiras de anéis
que cobriam sua orelha se movessem. Ele pegou um pedaço de papel, o
amassou e o jogou em Beast. — Sempre dispensado. Meu coração sangra.

Knight inclinou-se para Laurent e ignorou os outros dois homens. —


Não, eu só queria saber se você não é um descendente do filho ilegítimo de
Laurent Mercier. Ele era um trabalhador escravo, assim o seu mestre não o
teria deixado se casar.

Laurent o olhou, mas depois uma risada escapou de seus lábios. — Oh,
ele não teria tido tempo para romance, eu lhe garanto.

Knight franziu a testa. — Como você saberia disso?

Como Laurent poderia saber o que era e o que não era de conhecimento
comum, desde que a história claramente revelou que ele era o único que
matou Fane? — Eu... É só um palpite. — Ele mergulhou o pão no chili, que
parecia algum tipo de carne e molho de tomate, mas quando ele o colocou na
boca para mastigar, seus olhos começaram a lacrimejar com o súbito calor
das especiarias em sua língua.

— Veja, eu disse que seria muito picante para ele. — Jake riu, mas não
forneceu qualquer alívio.

Beast empurrou um copo de água para Laurent, e ele aceitou com


avidez, tragando metade imediatamente.

— É por isso que eu comprei comida chinesa suave. — Beast


murmurou.

Laurent terminou a água, constrangido pela forma gananciosa que ele


bebeu, mas muito desesperado para parar.

Knight balançou a cabeça e deu um tapinha no ombro de Beast. — Sim,


se você não tiver certeza sobre as coisas, basta perguntar a Beast, ele é o seu
homem.
Os olhos de Beast encontraram brevemente os de Laurent, mas depois
ele desviou o olhar e pegou um copo de água, já que ele tinha dado o seu
para Laurent.

Laurent afastou a porção de chili e esfregou os lábios com um


guardanapo, como as outras pessoas pareciam fazer. A bandeja era uma
escolha estranha para comer uma refeição, mas ele não iria questioná-lo.

— Sim, ele tem sido muito útil. — Laurent murmurou, e era um enorme
eufemismo. Beast estava incitando tantos sentimentos contraditórios dentro
dele, que ele não conseguia se concentrar na coleta de informações que lhe
permitiria influenciar o homem de forma mais eficiente.

Joker deu uma risada curta. — King sabia a quem pedir para cuidar de
você. Apenas a pessoa mais responsável aqui. Se fosse eu, você
provavelmente estaria usando as minhas roupas velhas e comendo cereais.

— Teria sido um esforço de grupo. — Martina disse encarando Joker


com o olhar estrábico.

— Sim, sim! E ele agora é VP também. — Knight apontou para o patch


no colete de couro de Beast onde dizia “vice-presidente”.

Laurent se mexeu na cadeira desconfortável, sem saber por que Knight


sentiu necessidade de anunciar Beast desta forma. Ele não poderia estar
apaixonado por ele, poderia?

Jake se mexeu no sofá, observando o patch como se fosse o broche mais


bonito que trouxe da Itália. — Chegou muito atrasado, Beast.

Beast esfregou o seu pescoço, parecendo surpreendentemente tímido,


mas a ligeira curva em seus lábios e a linguagem corporal relaxada informava
a Laurent que era orgulho o que Beast estava sentindo. Parecia que todo
mundo gostava e o respeitava aqui, apesar da deformidade física e as
tatuagens que o tornara indesejado no shopping.

Em qual opinião Laurent deveria confiar?

Ele bebeu um pouco de água em silêncio, endireitando-se na cadeira,


para não parecer demasiado tímido. Ele estava meio oprimido com o grande
número de pessoas, mas a sua confiança crescia cada vez que ele aprendia
algo novo, então, ele não gostaria de deixá-los com uma impressão errada
dele.

— Então, Knight, de qual linha Mercier você é? — Laurent sorriu


educadamente, tentando avaliar a linguagem corporal das outras pessoas
para se espelhar, mas ficar sentado com as pernas abertas à maneira de
Knight não lhe parecia apropriado.

Um coro de vozes deu um suspiro exasperado. O que ele fez de errado


desta vez?

Beast pigarreou. — Talvez não devêssemos exagerar com o passado,


certo?

Knight levantou os braços. — Vamos! Quando eu encontro alguém que


está interessado é isso o que eu ganho?

Nao riu. — Então fale com ele sobre isso em privado. Todo mundo já
ouviu falar sobre a sua gloriosa “linhagem” Francesa pelo menos umas três
vezes.

— Você sabe, eu sei que nós não estamos todos aqui, mas eu queria
falar com vocês sobre o que aconteceu com Davy e buscar ideias de como
impedir que isso aconteça novamente. — Beast disse colocando para baixo a
taça vazia na mesa.

— Meus pensamentos? Poderíamos nos mudar para um ambiente


diferente. — Joker disse. — Este lugar é enorme. Há espaço suficiente.

Beast franziu a testa. — E o que, ficar saltando em torno do edifício,


movendo constantemente os móveis, e perdendo dinheiro para aquecer os
espaços que não usamos?

De primeira, Laurent ouviu a discussão sobre o edifício estar em mau


estado, e pelo que Beast estava dizendo, alguém se machucou quando parte
do telhado caiu sobre suas pernas. Mas o que realmente despertou sua
atenção foi o argumento que Beast estava fazendo. Ele queria encontrar um
novo lugar para os Kings of Hell, assim como o King havia dito, e era
precisamente o que Laurent não podia permitir.
No meio de uma discussão, ele limpou a garganta e conseguiu
interceder. — Bem, como uma questão de fato, eu acho que este lugar é muito
lindo. Ele tem a maturidade de um bom vinho. — Seu estômago apertou
quando todo mundo parou de falar e olhou para ele. Isso não era bom em
tudo.

Joker foi o único a falar primeiro. — Você é gay ou apenas educado?


Porque entre o sotaque francês e o idioma, eu não consigo entender.

— Ele não mora aqui, então sua opinião pouco importa nesta
discussão. — Beast disse tenso. — Tudo o que eu quero saber é se vocês
poderiam ver um lugar se eu achar algo adequado. Alugar um composto
custaria muito menos do que reformar este lugar.

Knight gemeu. — Eu te amo, cara, mas eu não quero a porra de um


senhorio.

“Amor”? Laurent observava com os olhos arregalados. Beast era bígamo


como o seu pai, e tentou puxar Laurent em algum tipo de esquema? E ele
não sabia como responder à pergunta de Joker também. Ele deveria admitir
isso na frente de todos? Beast havia dito que homens se beijando estava bem,
e Laurent se lembrou que naquele mesmo momento, no meio da multidão de
pessoas, ele havia imaginado Beast inclinando-se sobre ele e pressionando
seus lábios. Entre a traição de William Fane e a raiva de Beast por não ser
autorizado a tocá-lo livremente, Laurent deveria limitar tais coisas em sua
mente agora.

Joker abriu os braços. — O que há para perder? Se significa apenas que


podemos parar de falar sobre isso, eu vou ver esse lugar. Basta encontrar
um bom.

Beast exalou e finalmente sorriu amplamente. — Eu sei que mudar


daqui seria uma dor na bunda, mas talvez nos faça algum bem, também.

— Eu não aguento mais isso! Eu sou o seu porta-voz? Eu tenho que


lidar com toda essa merda para você? — Gritou uma voz feminina, ecoando
pelos corredores e silenciando todas as conversas, o que permitiu Laurent
notar o clicar rítmico dos calcanhares contra o piso.
Knight já estava de pé antes que a mulher chegasse. — Jordan! O que
aconteceu?

Uma mulher magra entrou usando um vestido preto que chegava até os
joelhos e sapatos deformados com um salto muito alto e esguio que a fazia
andar de forma deformada e bamba. Seu cabelo dourado girava em ondas
perfeitas enquanto ela jogava a cabeça em uma exibição teatral de frustração.
— Eu fiz o que você pediu e tentei falar com aqueles construtores, mas um
deles continuou entrando no meu espaço pessoal e ficou flertando. Por que
você não encontra outra garota para foder, se for isso que é preciso? Eu
terminei! — Ela disse e se virou, saindo antes que Knight chegasse até ela.

— Jordan! Espere! Qual desses desgraçados estava flertando com você?

— Você se importa? — Ela gritou. — Você está aqui comendo a porra


do chili enquanto eu tenho que lidar com assuntos do clube para você?

Laurent aproveitou a oportunidade oferecida pela comoção e


rapidamente se virou para Beast, incerto sobre quem mais perguntar sobre
o que continuava cutucando no fundo de sua mente. — Eu deveria
amaldiçoar mais? — Ele sussurrou.

Beast bufou. — Não.

— Devo dizer ao Joker que eu sou gay?

— Se você quiser. — Beast disse, mas ele já estava se levantando


quando Knight declarou que iria matar alguém. — Irmão, nós não queremos
mais sangue aqui, não tão cedo depois de Davy.

Quando outras pessoas seguiram para fora da sala, Laurent não iria
ficar para trás, a curiosidade já recebendo o melhor dele. Nao estava bem
atrás dele.

— Isso acontece pelo menos uma vez por semana com a Jordan. Eu
gostaria de ter feito pipoca — ela disse, e Laurent sorriu de volta para a piada
que ele não conseguia entender, muito feliz com alguém sendo amigável com
ele.

— Esse é o seu nome, certo?


Nao assentiu, encolhendo-se um pouco quando Jordan e Knight
começaram a gritar um com o outro tão alto que poderia quebrar o vidro. —
Se você quer saber o que eu penso, seria melhor para ele parasse de namorar
princesas.

— Estou indo embora! E não vou voltar desta vez. — Jordan gritou se
afastado em um ritmo dolorosamente lento por causa de seus sapatos altos.

— Baby, vamos lá — Knight disse a seguindo. — Diga-me quem foi o


merda com você, e eu vou lidar com ele.

Ela parou e cruzou os braços sobre seu peito volumoso, olhando para
Knight. — O careca. Ele não me meu descanso! Eu disse a eles que poderiam
ir embora. Vocês precisam contratar uma equipe mais profissional.

Beast apertou suas mãos em punhos. — Espere, espere, espere... Você


disse a eles o quê?

Jordan abriu os braços. — Sim! Se eles não podem ser respeitosos, eles
precisam ir. Diga alguma coisa, querido! — Ela acrescentou, olhando para
Knight, como se todo esse desempenho só foi destinado para chamar atenção
para ela. E o pior de tudo, parecia estar funcionando.

Knight olhou em torno de seus amigos em desafio. — Bem, eu não vou


ter nenhuma equipe desrespeitando a minha mulher no nosso clube!

Joker gemeu. — Mas nós ainda não tivemos a festa do VP de Beast em


duas malditas semanas! Alguém tem que consertar esse telhado!

— Sim, eles são o equilíbrio perfeito de qualidade barata e um pouco


decente. Eles construíram a casa dos meus pais, e foi tudo muito bem. —
Jake disse, indo para frente.

— Ela provavelmente flertou de volta também. — Nao sussurrou no


ouvido de Laurent.

Beast se aproximou de Knight e Jordan. — Vamos lá pessoal. É provável


que seja um mal entendido.

— Ele elogiou o jeito que eu ando! — Jordan assobiou. — Pare de


colocar ideias idiotas na cabeça do meu homem. Esse tipo de coisa não está
nada bem!
Beast esfregou o rosto. — Knight, por favor, nós precisamos dos reparos
feitos o mais rápido possível.

Só agora ocorreu a Laurent que, pelo que ele estava acontecendo, Knight
provavelmente não estava apaixonado por Beast. O alívio desse pensamento
era ao mesmo tempo agradável e desconcertante.

Knight puxou Jordan para debaixo do braço e ela o abraçou com força.
— Tudo o que posso prometer é que não vou quebrar o nariz dele agora, mas
não vou implorar a eles que voltem.

— Combinado. Que tal você e Jordan saírem para beber algo? — Beast
sugeriu, claramente querendo afastar a namorada histérica de seu amigo.

Jordan fez beicinho, olhando para o rosto bonito de Knight. — Eu acho...

Laurent encostou-se no peitoril da janela e olhou para fora, onde um


grupo de homens grandes estava embalando alguns sacos em um carro
grande, sem janelas na parte de trás. Agora, ele sabia que Beast era o 'VP'.
Ele parecia assumir o comando em todas as situações. Se ele realmente
poderia mover o clube para um novo lugar, como Laurent poderia
possivelmente ficar em seu caminho?

— Vamos, baby. — Knight colocou o braço sobre os ombros de Jordan


e puxou-a para longe.

— Beast, que tal Laurent falar com eles? — Nao perguntou quando os
pombinhos recém-reconciliados desapareceram de vista.

Todos - incluindo o próprio Laurent - olharam para ela como se ela


tivesse um par de chifres, mas ela sorriu em reconhecimento. — Eu sei, mas
me ouça. Jordan provavelmente insultou todos eles, pois estão saindo sem
uma palavra. E Laurent pode não ser muito bom com micro-ondas, mas ele
é super educado. Talvez pudesse funcionar?

Joker encolheu os ombros. — Eu pagaria para ver isso.

Laurent mexeu o seu peso desconfortavelmente, e toda a sua alma


gritou para ele correr e se esconder, mas não havia espaço para histeria. Ele
precisava provar ser útil se quisesse ganhar o respeito dos Kings of Hell.
— Se ao menos eu recebesse mais informações, tentaria de bom grado
executar tal façanha.

Joker bufou. — Aw, meu. Ele nunca vai parar de me impressionar.

Beast olhou para Laurent, levantou uma sobrancelha, ou melhor,


abrindo mais os olhos, porque ele não tinha cabelo acima dos olhos. Teria
sido queimado no fogo também? — Você tem certeza?

— É claro que ele tem. — Nao disse.

Cinco minutos depois, armado com todos os detalhes sobre o problema


que ele conseguiu aprender dentro de um curto período de tempo e muito
consciente dos olhos nas costas seguindo-o a partir da janela, Laurent fez o
seu caminho para os homens sujos, com as roupas largas.

— Bom dia, Sr. Maddock! — Laurent disse com um sorriso largo que
ele esperava que escondesse o quão nervoso estava. Ao viajar no tempo, a
altura média de um homem em 2017 não poderia ser a mesma? Seria pedir
demais?

Os três homens olharam em sua direção, um deles até mesmo se


inclinou contra o enorme carro e o observou se aproximar como se ele fosse
uma curiosidade trazida de terras distantes. Havia algo que não era
contemporâneo nele afinal? Esses homens poderiam de alguma forma sentir
isso nele?

— Sou eu — o maior deles disse. Careca, um pouco mais baixo que


Beast, e com uma barriga pendurada sobre o jeans por baixo da camisa
apertada, o Sr. Maddock era uma presença pesada por si só. — O que posso
fazer para você?

— Fui informado de que houve um mal-entendido em relação aos


reparos do telhado, e eu sei que significa muito para os meus amigos que as
obras sejam concluídas a tempo. Entenda que em duas semanas haverá uma
celebração nesta mesma sala, que por razões de segurança seria impossível,
se o teto não for reparado até então. — Ele engoliu em seco quando os
homens o observaram com mais atenção. — Então, como você pode ver, essa
questão é de suma importância, e tenho certeza de que a dama em questão
não praticou nenhum desrespeito.
Os três homens se entre olharam, e Laurent endureceu quando notou
que um deles se escondeu atrás de seus dedos, como se tentasse suprimir o
riso. Maddock pigarreou e, eventualmente, limpou a garganta quando falou
com Laurent. — Hum. Lamento querido... Senhor, mas eu digo que a dama
nos insultou.

Laurent assentiu rapidamente e tocou o braço de Mr. Maddock por um


segundo. — Sim, eu ouvi sobre isso. Ela teve um momento difícil
ultimamente, e ela agiu fora da linha, mas você tem que entender que ela
não representa todos nós. Não só estou autorizado a oferecer uma
renegociação dos termos financeiros, mas eu também gostaria de convidá-lo
para degustar chili e pão de milho para consertar o relacionamento
danificado entre nós. Eu comi esta manhã, e foi o céu em minha boca. — Ele
sorriu amplamente, e o mais novo dos construtores riu novamente.

— Oh, merda... Maddock, eu simplesmente não posso aguentar mais.


Ele foi autorizado.

Maddock deu um pequeno latido, firmou-se, apenas para rugir de tanto


rir, que uma lágrima escorreu de sua bochecha em questão de segundos. —
Oh, meu Senhor! Isso é hilário! De onde eles diabos eles pegaram você,
garoto?

Laurent não deixou seu sorriso vacilar. — Eu... Eu sou francês. — Isso
seria suficiente?

— Para ser justo, ele ainda não nos ofereceu nem sapos ou caracóis,
então ele está tentando se integrar — disse o homem que ainda não havia
expressado sua opinião sobre o assunto. — E eu poderia comer um pouco de
chili...

Maddock suspirou, observando Laurent com um ligeiro estrabismo. —


Bem, porque não? Você conseguiu um negócio, garoto. — Ele disse
estendendo a mão para Laurent.

Eles apertaram as mãos, com Laurent ainda descrente e seu coração


batendo duro. Ele não estragou tudo! E em uma questão importante! Assim,
ele não era inútil neste novo mundo depois de tudo. — Por favor, se juntem
a nós, então. — Ele apontou para a porta mais próxima.
Os homens disseram que estariam no andar de cima assim que
pegassem algumas ferramentas, e Laurent voltou para a sala comunal do
clube com uma sensação de triunfo. Ele foi recebido com alguns tapinhas
nas costas e retransmitiu o que aconteceu rapidamente, mas a única pessoa
que ele queria impressionar virou-se assim que Laurent sorriu para ele.

— Ok, eu vou me juntar a eles agora e lidar com o resto. — Beast disse,
já fazendo o seu caminho até a porta.

Laurent não pôde suportar que o seu sucesso fosse ignorado, assim ele
o seguiu. Ele conseguiu alcançar Beast no corredor, e os sentimentos dentro
dele se misturaram como água e óleo abruptamente sacudidos. Beast falou
tantas palavras cruéis ontem para ele, e, no entanto, a conexão que haviam
forjado antes parecia algo mais do que um homem tentando ganhar o favor
daquele que ele queria dormir.

— Beast?

Beast parou com os ombros duros, mesmo antes de olhar para trás. —
Hmm?

Laurent engoliu em seco, agora sem saber o que dizer. — Eu... Por favor,
lembre-se de não ficar mais longe do que meio quilômetro...

Beast gemeu. — Sua perna não vai explodir. Esta braçadeira está aí
apenas para que eu saiba onde você está. OK?

Laurent entrelaçou os dedos com um suspiro, sua mente em branco.


Então ele foi enganado mais uma vez. — Tudo bem — ele disse esperando
que estivesse usando as palavras corretamente.

Beast olhou para ele em silêncio. Ele lambeu os lábios. E, em seguida,


saiu, deixando Laurent de pé parado no lugar, desapontado, apesar de sua
vitória inesperada.

— Laurent, você vem? — Gritou Nao.

Ele levou alguns segundos para se recompor e voltou. Ele sorriu para
ela, e uma vez que nenhum dos homens pareceu considerar as roupas
reveladoras das mulheres impróprias, ele iria tentar seguir o seu exemplo.
— Em que mais eu posso ajudar? O chili vai precisar de mais micro-ondas?
Capítulo Treze Beast

Duas semanas depois, Laurent tornou-se um elemento permanente na


sede dos Kings of Hell. Ele estava em toda parte onde Beast estava, e agora,
mais frequentemente do que não, ele passava mais tempo fora do quarto que
Beast o colocou. E sabendo que a braçadeira em sua perna não ia explodir,
e que foi uma ameaça vazia, de alguma forma o fez se sentir intocável. Ele lia
livros espalhados no sofá de Beast em seu pijama justo. Ele conversava em
voz alta com praticamente todo mundo, e agora não estava mais com medo
das pessoas desconhecidas. E ele mais frequentemente do que não, deixava
o maldito armário no banheiro de Beast aberto e pronto para atacá-lo com a
visão de seu rosto feio e cheio de cicatrizes no espelho. E, no entanto,
sabendo que Laurent provavelmente gostava de olhar para suas próprias
feições, Beast não conseguia dizer isso a ele, e por isso ele apenas fechava o
maldito armário a cada vez.

Porque não importava o que Beast tivesse dito, ele ainda gostava de
olhar para os lábios carnudos, os grandes olhos castanhos, e ele estremecia
cada vez que Laurent passava por ele no corredor quando seu cabelo macio
e comprido roçava o braço de Beast.

Era o inferno.

Antes, seu apartamento poderia ser muito solitário, mas agora que ele
tinha o pedaço de doce que não podia chupar no mesmo espaço, era uma
distração constante. Isso tornou o propósito de encontrar um potencial novo
clube uma tarefa quase impossível. Laurent estava fazendo, mesmo que
lentamente, progresso com Hound e ele frequentemente falava com o cão em
francês, como se os dois tivessem segredos de Beast.

Mas toda vez que Beast considerava jogá-lo fora, atribuindo a Laurent
um quarto maior em outra parte do clube, o aliviando da presença incômoda,
ele não conseguia, pois no final do dia, era bom ter alguém além de Hound
ou Knight sentado com ele em sua fortaleza de solidão. Ele até começou a
entender quando Laurent ficava confuso, e ele gostava de ajudá-lo a entender
conceitos modernos. Laurent era fascinado por filmes, mas Beast não o
levaria a merda mentirosa do cinema. Ele ficaria tentado a segurar a mão
dele novamente.

E teria parecido muito com um encontro de qualquer maneira.

No começo, Beast ficou tão furioso e magoado com a rejeição anterior,


que ele queria dar a Laurent o tratamento de silencio completo, mas ele
falhou no primeiro dia. Eles geralmente não falavam muito, mas Laurent
tinha uma maneira de puxar Beast para as discussões sobre os romances
que ele estava lendo, e ele era um rato de leitura assustadoramente rápido.
As conversas também pareciam especiais, porque só as tinham quando
estavam sozinhos, como se fosse o seu pequeno segredo. Beast se lembrava
do tempo em que ele ainda estava pensando em ir para a faculdade.

Depois de meses no hospital, Beast perdeu toda a esperança de uma


mudança em sua vida. Ele odiava a ideia de ir para a faculdade e ficar
parecendo com o Deadpool, então o seu futuro com o clube foi selado. Ele
ainda chegou a fazer um curso on-line e King até pagou por isso, mas não
era o mesmo.

E ainda havia Laurent, discutindo o Inferno de Dante Alighieri com ele,


como se estivessem em uma aula de literatura. Ele amava seus irmãos, mas
nenhum deles compartilhava a paixão pelos livros.

Ter alguém tão desumanamente bonito ao seu redor não era apenas
tortura, mas também tentação. Ainda assim, ele não ousaria tocar no garoto
novamente. Seu ego estava frágil o suficiente depois de sua última tentativa.

Nao sugeriu que Laurent pudesse ser virgem, mas Beast não queria
perguntar ou repetir isso com Laurent, especulando que havia fofocas sobre
sua vida sexual pelas costas dele. Ainda assim, a inocência de Laurent sobre
sexo era estranhamente cativante.

Se Laurent descobrisse que havia uma aposta em curso sobre quanto


tempo levaria para ele estourar a sua cereja, ele provavelmente ficaria
amuado por um mês, porque ele parecia muito preocupado com a opinião
das pessoas sobre ele. Beast esperava que a aposta tivesse acabado, porque
ele tinha conversado sério com Joker sobre isso.

Pelo menos Grey estava de volta de seu emprego em Nova York, o que
significava que todos os Kings finalmente estariam presentes, e ele poderia
levá-los para o complexo de armazéns e garagens que tinha encontrado. E o
aluguel não era alto para o que a propriedade representava. Considerando
que King tinha levado Nao e Martina em um encontro a três, a ocasião não
poderia ter sido melhor.

Quando ele entrou em seu apartamento, o lugar estava estranhamente


tranquilo, embora o dispositivo do rastreador de Laurent indicasse esta área.
Talvez ele estivesse lendo em seu quarto, uma vez que não havia respingos
sendo ouvidos do banheiro.

Tomar banho era um dos passatempos favoritos de Laurent, e isso


estava enlouquecendo Beast, mas desde que isso significava que às vezes ele
tinha uma prévia de Laurent submergido em água e espuma, ele nunca
reclamou. A mente de Beast viajou para a vez que ele entrou e viu Laurent
desfrutando de um dos seus longos períodos de imersão. Esticado na
banheira, ele havia adormecido, e Beast acabou observando-o por cinco
minutos inteiros, como o monstro sem vergonha que ele era. Então a cabeça
de Laurent se inclinou na água, e Beast correu para ele em pânico, o que só
terminou com Laurent gritando quando ele acordou e viu o intruso.

Aquele não foi um momento divertido.

Beast se aproximou da porta, perguntando se ele deveria mesmo se


preocupar quando Laurent estava ocupado lendo ou tirando uma soneca,
mas Laurent era fascinado por carros e motos, e aviões, e era uma
oportunidade como qualquer outra para exibir sua moto. Beast estava se
coçando para ser o primeiro apresentar a Laurent o assento da cadela.

Ele também queria que Laurent o abraçasse por trás, mesmo que
acabasse sendo outra forma de tortura.

Ele bateu na porta.

— Não entre! — Veio a voz alta.


Beast piscou assustado. — Uh... Algo errado?

— Não! Não! Está tudo bem! Eu estou bem! — Ele não parecia bem.

Beast deu um passo para trás e olhou para a porta, mas ainda segurava
a mão na madeira fria, como se sua presença pudesse de alguma forma
ajudar Laurent com qualquer problema que estivesse tendo. — O que está
acontecendo?

— Comigo? Nada.

Beast engoliu em seco. — Vou sair para um passeio com os caras, e eu


pensei que você talvez queira sair e ver a cidade ou algo assim.

O silêncio confirmou as suspeitas de que algo estava errado.

Finalmente, Laurent falou. — Você promete não rir de mim?

Ah, então, pelo menos, não era nada horrível. — Eu posso tentar não rir
de você.

— Pode entrar.

Beast entrou no quarto, que cheirava curiosamente doce, como se


Laurent tivesse comido chocolate. Mas quando Laurent olhou para ele da
cama, Beast congelou e não o reconheceu em primeiro lugar. O cabelo
ondulado de Laurent estava um coque no alto da cabeça, ele estava vestindo
apenas a calça xadrez do pijama, e seu rosto estava completamente preto,
exceto por suas órbitas e lábios. Ele parecia um panda inverso.

— Uh-huh — foi tudo o que Beast poderia produzir quando confrontado


com essa imagem. Era a última coisa que ele esperava ver. Nunca antes tinha
visto um homem usando uma máscara facial. Bem, ele tinha, mas nunca na
vida real. — Qual é o problema?

— Eu não consigo tirá-la. Nao deu para mim e disse que era ótimo para
a pele, e eu segui as instruções, mas... Eu não sei o que fazer. — Os ombros
de Laurent cederam, mas os mamilos cor de rosa estavam escuros em
exposição, o que tornou difícil para Beast se concentrar na camada fosca que
congelou o rosto de Laurent.

Desta vez, Beast riu antes que ele pudesse sequer pensar. Era o
problema mais estranho que ele já tinha ouvido falar desde aquele cara na
sua escola que tentou dar prazer a si mesmo com um aspirador de pó. —
Er... bem? você não deve apenas lavar? — Ele perguntou se aproximando de
Laurent.

— Não. As instruções aconselham a descascá-la, mas dói, e eu não


posso me forçar a fazê-lo.

— Mostre-me. — Beast disse estendendo a mão para o tubo. Ele leu as


instruções, e Laurent estava certo. Beast não era um especialista quando se
tratava de produtos cosméticos, mas ele estava certo que não havia nenhuma
mágica nisso. E se Nao estava tão ansiosa para oferecer produtos de
mulheres para Laurent, então talvez ela devesse supervisionar a operação
em vez de deixar Laurent sozinho com isso. O pobre rapaz provavelmente não
tinha sequer uma ideia que não era algo que a maioria dos homens fazia.

Beast inclinou-se, observando o rosto de Laurent de perto, e encontrou


os olhos castanhos rodeados pela superfície seca da máscara.

Parecia estranho, mas nada para ter medo ou gritar, igual aos homens
nas comédias antigas quando encontravam com suas namoradas nessas
máscaras.

— Você quer que eu ajude?

Laurent demorou um pouco para responder, e ele lentamente se


levantou, ficando perto de Beast e parecendo positivamente ridículo. —
Talvez.

Beast engoliu em seco quando o cheiro de cacau chegou a ele


novamente. A pele de Laurent teria gosto de chocolate?

— É suposto doer? — Ele perguntou, tocando os pedaços da fina


máscara parecida com uma folha arrancada na linha do maxilar de Laurent.

Laurent mudou seu peso com um gemido. — Nao disse que poderia.
Mas valeria a pena e deixaria a pele refrescada e flexível. Agora eu me
questiono se vale realmente à pena, mas é difícil fazer um julgamento
enquanto ainda está em mim.

Beast sorriu e lentamente puxou a parte elevada. A máscara estava


descascando, mas se agarrava à pele de Laurent como se quisesse se fundir
com ele para sempre. Beast queria ser essa máscara. — Ouvi dizer que as
mulheres têm um limiar mais alto para a dor por causa do nascimento dos
bebês, então talvez elas possam aguentar.

Laurent não respondeu, apenas mordeu os lábios e se contorceu.


Quando Beast puxou a máscara mais forte, para ver se ele poderia ir em
frente mais rápido, Laurent choramingou e apertou as palmas das mãos
contra o peito de Beast, como se para se firmar.

Era difícil não tremer com o toque súbito, e Beast acariciou


delicadamente um dos ombros de Laurent. Era tão maravilhosamente suave,
como se ele tivesse massageado com óleo. — Está bem. Vou tentar ser gentil.

Laurent respirou fundo, fazendo suas bochechas incharem por um


momento. — Eu estou pronto. — Ele fechou os olhos, e Beast puxou
novamente, ele apertou o punho e enrolou seus dedos na camisa de Beast.

Beast se sentiu como um verme por desfrutar, mas Laurent estava


sendo tão incrivelmente bonito em seu desamparo. Beast contou dois
batimentos cardíacos para fazer a sua mente pensar sobre o que fazer, e
puxou Laurent para perto com um braço, segurando-o com força contra o
seu lado. — Fácil agora — ele disse metodicamente puxando a máscara.

— Merda. — Laurent xingou baixinho, e que tinha que ser a primeira


vez que Beast o ouviu xingar. Ele se enrolou debaixo do braço de Beast, se
encaixando perfeitamente contra o peito dele. A maneira como ele estremeceu
e gemeu tão perto de Beast era um prazer culpado que Beast não iria admitir.
E Laurent estava seminu também. Se ele estivesse disposto a puxar para
baixo a calça apertada do pijama, Beast de bom grado esqueceria a visita ao
edifício se ele pudesse apenas observar Laurent.

Beast estava quase arrependido quando ele terminou de tirar a máscara


preta, porque isso significava que Laurent logo se afastaria. Ofegando como
se tivesse corrido uma maratona e esfregando o rosto, Laurent ficou parado
com os olhos fechados por mais algum tempo. Beast não pôde deixar de
imaginar Laurent ofegante contra o peito por razões muito diferentes, mas
ele não se moveu do local e não tentou puxar Laurent para mais perto,
simplesmente observando o cabelo escuro que escorregou do coque, ao longo
das maçãs do rosto pronunciadas de Laurent.

Ele era surrealmente bonito, como uma criatura fora deste mundo, e a
pior coisa que enfrentava com esse tipo de atração, era que lembrava Beast
de suas próprias falhas nesse respeito.

Laurent respirou fundo mais uma vez e abriu os olhos, com traços de
lágrimas nos longos cílios. Ele franziu a testa e balançou a cabeça. — A
brutalidade desse tratamento está além das palavras! Mas toque! Está tão
suave agora! — Ele agarrou a mão de Beast e a colocou contra sua própria
bochecha.

Beast dificilmente suprimiu um suspiro, congelado no lugar enquanto


ele traçava a suavidade que era a bochecha de Laurent. Ele deve ter se
barbeado hoje cedo para parecer tão suave. Os dedos da outra mão de Beast
dançaram entre as omoplatas de Laurent. Ele já imaginou como a pele quente
ali provaria, e como se sentiria contra o seu rosto.

Mas então Laurent se retirou do abraço e o momento se foi. Ele sorriu,


então havia aquele pedaço de afeição para Beast memorar. Laurent esfregou
as próprias bochechas. — Minha pele está vermelha?

Beast assentiu incapaz de encontrar sua voz. Ele levantou o dedo,


ansioso para tocar as bochechas rosadas mais uma vez, mas afastou-se em
seu lugar. — Não faça isso de novo.

Laurent balançou a cabeça. — Eu não vou, eu prometo. Sinto muito tê-


lo puxado para este negócio medonho.

— Está tudo bem. Talvez apenas coloque um pouco de creme sobre isso
agora. — Beast disse lambendo os lábios quando seu olhar deslizou sobre o
peito suavemente de Laurent. Ele era baixo, e ainda assim tão perfeitamente
proporcionado.

— Eu tenho um para isso, sim. Muito obrigado! Eu estarei pronto em


pouco mais de dez minutos.

Beast concordou.
Laurent piscou, sem se mexer também. — Sua camisa é tão
intensamente macia. Que tecido é esse? — Ele perguntou e puxou a calça do
pijama.

Beast manteve os olhos no rosto de Laurent, mas isso não ajudou muito,
já que ele recebeu a maravilhosa imagem dos ombros e pescoço de Laurent
se movendo da forma mais erótica possível. Ou então ele pensou. — É...
Algodão penteado. Meus nervos ficaram fodidos durante o incêndio, então eu
não gosto de roupas ásperas ao redor das cicatrizes — ele disse no final. Era
uma coisa boa que suas pernas estivessem em boa forma, ou ele não poderia
usar jeans confortavelmente.

Laurent se vestiu rapidamente, cobrindo o corpo glorioso com uma


cueca boxer, depois jeans e uma camiseta que dizia: Tantos livros, tão pouco
tempo. Então colocou a jaqueta de couro, e Laurent pegou seus óculos,
lembrando a Beast que ele estava adiando a visita deles ao médico, porque
ele sentia vontade de amuar toda vez que pensava em ficar sozinho com
Laurent fora do clube.

— Quase pronto. — Laurent começou a esfregar um pouco de creme


em seu rosto, mas depois olhou para Beast. — Você precisa esfregar as
cicatrizes com creme? Dói quando alguém te toca?

Ninguém tocava em Beast.

Ele limpou a garganta. Era uma pergunta tão íntima, que ficou surpreso
no início, mas ele não tinha acabado de remover uma máscara facial do rosto
de Laurent? É exigido um grau de intimidade que precisava ser retribuído.
— Eu uso, e deixa minha pele um pouco melhor. E algumas áreas são mais
sensíveis do que outras, isso é tudo.

— Certifique-se de nunca colocar esta máscara sobre suas cicatrizes.


— Laurent estremeceu com uma carranca e jogou fora todo o tubo em uma
pequena caixa que ele usava para o lixo. Beast tinha que lhe arrumar uma
lata de lixo real. Na verdade, havia muitos itens de conveniência em falta no
quarto de Laurent, uma vez que era um quarto para armazenamento de
Beast e um lugar ocasional para Knight ficar. Se Laurent iria ficar, talvez
fosse hora de arrumar para ele sua própria cadeira, ou talvez uma pequena
mesa?

— Eu não vou. E terei certeza de ter alguém para me ajudar se for usar.

Laurent sorriu para ele e saiu do quarto com as mãos nos bolsos,
parecendo fresco e casual, como se ele não tivesse se chocado contra a vida
de Beast coberto de sangue e usando roupas históricas há apenas duas
semanas. — Bem, você sabe quem chamar se você cometer esse erro.

Beast riu. — Talvez eu devesse pedir a máscara depois de tudo.

Laurent olhou por cima do ombro e balançou as sobrancelhas, seu rosto


ainda ligeiramente corado. — Talvez você deva.

Beast ainda estava em cima do muro sobre essa coisa toda, sem saber
se Laurent estava flertando ou se era apenas uma piada, porque se fosse, em
seguida, as dores de que ele teria que passar definitivamente não valeria à
pena.

Mas quando saiu do clube e chegou à garagem onde todos os outros


membros estavam esperando por ele já, ele pensou que preferia se aproximar
andando de moto juntos.

Laurent olhou ao redor, acenando para todos os outros que já estavam


sentados em suas motos. — Eu vou atrás de alguma moto?

— Sim. Você gostaria de andar no meu grande cavalo de metal? —


Beast perguntou abrindo o caminho até uma grande moto preto e prata, a
única com três cabeças de um cão feroz na frente.

Os olhos de Laurent pousaram na decoração de aço e ele passou os


dedos pelo assento de couro preto. — É horrível — ele disse de uma forma
que não deixava claro se Laurent queria dizer isso como um elogio ou uma
crítica.

Joker riu, inclinando-se para frente em sua moto, ele gentilmente


cutucou Gray com o pé. Tendo recentemente voltado de um trabalho sujo em
Nova York, Gray estava agora conhecendo Laurent, e até agora parecia estar
indo tudo bem, principalmente porque Gray era o tipo de homem que tomava
seu tempo para dar uma opinião. Talvez essa fosse a razão para ele ficar com
os cabelos meio cinzentos, quando tinha apenas 21 anos. Velha alma e tudo
isso.

Com as pedras e jóias preciosas escondidas e em segurança no cofre,


Gray finalmente foi autorizado a relaxar, o que no seu caso significava beber
chá e ouvir as pessoas que estavam dispostas a falar em torno dele. Beast
sentia-se quase culpado por tê-lo incomodado, mas, apesar de sua natureza
tranquila, Gray se preocupava muito com o clube e parecia ansioso para
ouvir o caso de Beast.

Beast abriu os braços, tentando não ficar ofendido com a declaração de


Laurent. — Você não precisa ir.

— Não! Não! Eu quero! Mas… Como eu dirijo isto?

Rev sorriu e colocou seu capacete. — O garoto acha que ele vai dirigir
sua moto?

Beast levantou as sobrancelhas e passou um capacete extra para


Laurent. — Você não vai; apenas me segure enquanto eu faço o trabalho.

Knight começou a gargalhar tão alto que Beast quis dar um tapa na
parte de trás de sua cabeça. — Foi o que ele disse.

Laurent fechou o zíper de sua jaqueta, dando um olhar cauteloso na


moto. Ele deve ter visto os caras montando e levando as meninas no banco
traseiro, por isso podia ser que ele não tivesse entendido o conceito. Beast
estava começando a suspeitar que Laurent simplesmente não quisesse estar
tão perto dele por um período prolongado de tempo, e que o fez de repente se
arrepender de perguntou a Laurent para vir com eles.

— Apenas fique se você não está pronto para isso — ele disse e montou
sua moto em um movimento rápido e um pouco agressivo.

Mas então ele sentiu uma presença atrás dele, e momentos depois os
braços finos envolveram sua cintura, e um peito pressionou as costas de
Beast.

— Está tudo bem? — Laurent sussurrou.


Beast respirou fundo e deu algumas instruções para Laurent ficar firme
na moto, mas sua mente estava em tumulto. Os braços de Laurent pareciam
tão bons. Quando foi a última vez que alguém tinha montado com ele assim?

Antes do acidente, quando ele ainda estava loucamente apaixonado e


queria ser o único cara no mundo de seu homem.

Pensamentos sombrios queimaram seus músculos, e ele sacudiu a


cabeça, ligando a moto. — Estamos saindo!

Laurent se agarrou ainda mais em Beast e suas coxas ficaram tensas


contra as dele. — É suposto tremer tanto assim? — A pergunta era sobre o
motor, mas Beast só conseguia pensar dos braços tremendo em torno dele.
O abraço dele o aquecia, mesmo através do couro, e ele precisava firmar sua
voz antes de responder.

— Apenas se segure em mim. Tudo bem? — Ele perguntou e olhou para


trás.

Laurent balançou a cabeça tão vigorosamente que seu capacete


balançou para frente e para trás. Beast precisava ter certeza de que Laurent
não andasse com mais ninguém.

Quando seu pé levantou do chão, e a moto avançou, todo o corpo de


Laurent parecia se moldar contra o dorso de Beast. Seu capacete cavou na
carne dele, e os dedos longos agarraram seus couros tão freneticamente, que
fez seu estômago torcer com prazer. Provavelmente, esse momento seria o
máximo de contato que teria com ele, então iria aproveitar o momento.

Enquanto a moto ganhava impulso, acelerando ao longo da estrada de


asfalto estreita através da floresta, o ar fresco encheu os pulmões de Beast e
ele podia respirar livremente pela primeira vez em dias. O rugido de outras
máquinas cantando em um coral com sua própria moto era a melodia perfeita
para acalmá-lo.

Laurent estava tão imóvel, tão imóvel atrás dele, que por um momento
Beast pensou em parar para ver se ele estava bem. Mas ele se inclinou
ligeiramente para frente, e Laurent inclinou-se com ele em vez de ficar duro,
como se tivessem de alguma forma se tornado um só corpo. Os braços finos
apertaram ainda mais quando Beast rugiu sua moto.
A estrada de asfalto estava vazia, mesmo depois de todos terem deixado
os terrenos pertencentes ao clube, e quase não viam carros até chegarem à
periferia de Brecon. Laurent estava agarrado a ele com tanta força que
parecia que ele era outra parte do corpo de Beast. Ele não estava mais tão
tenso também, e foi um pensamento agradável que foi Beast aquele que o fez
se sentir tão seguro. Beast meio que perdeu o contato próximo e estava
ansioso para sentir isso novamente na volta deles para o clube. Ele não
gostava de assustar Laurent, mas sabendo que agora ele era o mestre de
ambas as suas vidas; dava-lhe certa emoção.

Beast imaginou se ele deveria ter levado Laurent depois de tudo,


considerando que de outra forma seria apenas ele e seus irmãos, mas no
final do dia não era uma corrida oficial do clube. Eles estavam fazendo isso
por trás das costas de King, e enquanto todos os homens declararam que
essa visita ficaria entre eles, ele ainda temia que o segredo pudesse mordê-
lo no traseiro no futuro.

King ficaria furioso se soubesse que Beast organizou isso, e ele deixaria
que todos soubessem, mas os Kings of Hell eram homens sensatos. Eles
sabiam o quanto as reformas custariam em um prédio antigo como o clube
atual. Era lógico se mudarem, mesmo que isso exigisse investimento inicial,
já que a manutenção seria muito mais barata e fácil do que os reparos em
grande escala. Inferno, considerando o que aconteceu com o pobre Davy, eles
provavelmente teriam especialistas rastejando por todo o lado, testando a
qualidade da construção e a reforma, o que drenaria os bolsos do clube
mesmo antes que os reparos começarem.

Laurent relaxou atrás dele, seus braços agora descansando


confortavelmente contra o estômago de Beast, como se os dois fossem feitos
um para o outro, apesar da diferença de tamanho. Eles correram atrás de
Knight até chegarem ao oceano e pilotaram ao longo da costa. O vento era
uma brisa suave, acariciando suavemente o rosto de Beast com seu aroma
salgado.

Eles tiveram que diminuir a velocidade ao dirigir pela cidade, e Beast


ficou feliz em ver Knight liderando as motos pela rua principal. Ele podia
sentir Laurent se movendo um pouco atrás dele enquanto se moviam entre
as pequenas casas com fachadas de madeira coloridas e postes de
iluminação antiquados. Os toldos retráteis protegiam os transeuntes da luz
do sol enquanto passavam por lojas fofas vendendo de tudo, desde
lembranças locais até comida fresca.

Foi quando eles dirigiram para a esquerda, de volta para a costa, quando
a rua bifurcou em frente a uma igreja branca, que Laurent endureceu um
pouco. No espelho, Beast o viu olhar freneticamente para trás, e deve ter sido
a antiga prefeitura que chamava a atenção dele. Um dos edifícios mais
antigos da região, inalterado desde a sua criação, era de um estilo
arquitetônico ímpar. A forma geral parecia bastante normal, com linhas retas
e grandes janelas do estilo renascentista grego, mas alguém deve ter
considerado isso muito chato. Duas pequenas torres foram adicionadas em
ambos os lados da fachada, pouco mais altas que o telhado, mas cobertas
com cúpulas que se assemelham às das igrejas ortodoxas russas. O produto
final permaneceu controverso até hoje, entretanto, era o orgulho da cidade.

Pelo canto do olho, Beast viu os transeuntes olhando para o grupo de


motociclistas, e o orgulho inchou em seu peito quando ele pensou que pela
primeira vez em anos ele não estava apenas andando com seus irmãos, mas
também tinha essa coisa bonita agarrada firmemente em suas costas.
Ninguém notaria ou se importaria, mas ele sim, e só de pensar nisso lhe dava
o impulso certo de energia necessária para a tarefa que ele estava se
preparando durante a semana.

Knight liderou o caminho para fora da cidade, através do arco de


concreto branco que marcava a fronteira de Brecon, e de volta para a costa
onde o porto industrial estava localizado. O complexo de armazéns e de
escritórios em forma de bloco em anexo a um deles estava separado dos
odores de peixe do porto por quase três quilômetros de floresta e ostentava
uma linda vista do oceano. O inquilino anterior era produtor de pequenas
ferramentas, e havia transferido a produção para fora do estado há meses, e
assim a propriedade estava em excelente estado, com potencial para
converter o armazém menor em uma área de estar adicional. Embora na
opinião de Beast, o edifício de escritórios existente era grande o suficiente
para as suas necessidades atuais. Especialmente que o complexo também
continha alojamentos para alguns funcionários do inquilino anterior.

É verdade que ao se mudarem para cá, significaria redução de pessoal


e uso de todo o espaço disponível, mas o pequeno armazém funcionaria muito
bem para o uso recreativo dos membros do clube e seus convidados,
enquanto o armazém maior seria perfeito para os grandes shows e festas que
o clube às vezes organizava para fins fiscais, mas eles tinham outras
maneiras, muito mais lucrativas, de ganhar seu sustento, mas mesmo com
os amigos da polícia local, uma pretensa legitimidade precisava ser mantida.

Eles pilotaram ao sol quente ao longo da cerca sólida de metal e por todo
o caminho até o portão que estava aberto. A corretora de imóveis já estava
esperando por eles, parecendo profissional em seu terninho cor de vinho e
saltos pretos.

Beast não iria tão longe ao pensar que ele convenceria seus irmãos, mas
seu coração inchou quando ele percebeu que seus irmãos iriam ver o lugar
com o sol de maio, em vez da chuva que pairou no ar nos últimos meses.
Dias. Quando eles estacionaram todas as suas motos em um semicírculo, em
frente à corretora de imóveis, ela sorriu nervosamente e deu um passo para
trás.

Beast esperou Laurent desmontar e saiu depois; abriu sua jaqueta de


couro e tirou o capacete. Passou sua mão sobre a faixa de cabelo no topo de
sua cabeça para torná-lo melhor, e ele se aproximou da mulher com o mais
amigável dos sorrisos. Pelo menos os seus dentes ainda estavam bons.

— Boa tarde, Sra. Taube. Espero que estejamos no horário certo — ele
disse concentrando-se nela enquanto seus irmãos se juntavam a ele um por
um.

Ela sorriu um pouco demais, mas assentiu. — Bem na hora. Sou eu que
sempre gosto chegar à propriedade um pouco mais cedo. Estou feliz em ver
que você trouxe toda a sua tripulação com você.

Rev bufou e passou a mão sobre a cabeça careca. — Vamos levar este
show na estrada.
Beast olhou para todos os homens e sorriu. — Estamos interessados.
Nosso clube atual é muito grande para as nossas necessidades, e isso deve
ser um ajuste perfeito. Você pode confirmar que não teríamos problemas com
as festas e reformas? — ele perguntou enquanto ela os levava em direção à
fachada amarela escura dos escritórios.

A Sra. Taube assentiu. — De acordo com o nosso contrato padrão, o


inquilino é responsável pelo estado dos edifícios. Desde que a propriedade
esteja bem conservada, isso não deve ser um problema. Como você pode ver,
não há vizinhos, além dos peixes. — Ela disse movendo o braço em direção
ao oceano cintilante. Beast deu uma risada educada, precisando causar uma
boa impressão. Os Kings of Hell eram infames por direito próprio, embora
fossem muito cuidadosos em manter um bom relacionamento com os
habitantes locais, conforme seu acordo mútuo com o chefe de polícia. Mas
isso não significa que eles eram vistos como cidadãos honestos também. Ele
sabia muito bem que a agência não estaria interessada em alugar para eles,
a menos que estivessem perdendo dinheiro para manter vazia uma
propriedade tão grande.

— Claro. Para alguns de nós, incluindo eu, isso pode ser a nossa casa,
então mantê-la em boa forma é muito importante.

A Sra. Taube assentiu, entrando em um corredor vazio com uma escada


em espiral pendurada em uma das paredes e duas janelas altas que
chegavam até o teto, proporcionando uma grande quantidade de luz e
fazendo a sala grande parecer ainda mais espaçosa.

Laurent olhou em volta com o nariz ligeiramente enrugado e as mãos


nos bolsos. — Será que King gostaria disso? — Ele olhou para o oceano
cintilante como se de alguma forma o ofendesse.

Beast franziu a testa, mas ele rapidamente virou-se e bateu no ombro


de Laurent. — Isso é para ele decidir mais tarde, quando ele puder vir.

Laurent suspirou, mas acompanhou os demais, ficando no final,


quando iam passando pelos anexos. Beast exercia suas habilidades sociais
mostrando a Fox uma área onde seu filho poderia brincar, dizendo a Grey
que ele poderia ficar com o pequeno edifício no final da propriedade para si
mesmo, anunciando a área para concertos como um lugar onde o filho de
Davy, Lizzy pudesse ensaiar com a banda, e ao mesmo tempo lidar com
qualquer dúvida sobre os alojamentos e os espaços para os veículos e as
motos. Ele sabia todas as respostas, e para ser honesto, se o mundo fosse
justo, ele deveria receber metade da comissão da corretora de imóveis se tudo
corresse bem. Ele pesquisou a cabeça dele para isso, ele enviaria para a
agência chocolates a todas as senhoras em seu escritório, e ele iria convencer
os seus irmãos para colocar pressão sobre King.

Mas o melhor de tudo era a própria propriedade que Beast também


estava vendo pela primeira vez. Sem mofo nas paredes, tudo estava
relativamente limpo, mesmo quando Laurent apontou que vários meses de
desuso deixaram para trás um cheiro empoeirado e seco. Poderia ser
cuidado. Até mesmo as pequenas conversas e comentários sobre a
dificuldade de mover tudo o que o clube tinha pela cidade poderia ser de
alguma forma transformado em algo positivo. Melhor ambiente para as
crianças quando eles visitassem. Custo de manutenção mais baixo em longo
prazo. Começando do zero. Fiação que não estava constantemente com
defeito e um perigo para a saúde. Esse último aprimoramento iria liberar um
monte de tempo de Knight, pois ele era o único que lidava com a eletricidade.

Ao passarem sala após sala, Beast estava contente de ouvir seus irmãos
comentando sobre o uso para o espaço, ideias para pôr paredes extras.
Laurent por outro lado, era um pé no saco, e apesar do passeio emocionante
na garupa de Beast, ele estava começando a se arrepender de trazê-lo com
eles.

Ele estava agindo como uma porra de princesa, encontrando falhas em


tudo, como se ele fosse pagar por alguma coisa. Ele tinha sorte de ter um
teto sobre sua cabeça. Beast tinha pensado que levá-lo em um passeio seria
bom, que Laurent ficaria animado ao ver o lugar novo e que ele apreciaria
ser incluído, animado com a mudança. Mas não.

— Você teria que colocar grades em todas as janelas? — Laurent


perguntou com aquele beicinho adorável, em um rosto que Beast agora
queria bater. Ele não entendia o motivo do comportamento de Laurent, e o
pior de tudo, ele podia ver os comentários começando a agitar entre os
outros, como se qualquer falha na propriedade fosse um argumento contra
a mudança para um clube diferente.

Laurent nunca havia agido assim antes. Desde o primeiro dia explosivo,
seu relacionamento com Beast se tornou civilizado e realmente agradável.
Beast não o ajudou a arrancar aquela porra da máscara facial uma hora
atrás? Que diabos era o problema dele agora?

Quando saíram do prédio principal, o sol tinha um tom ligeiramente


mais quente e estava mais alto no céu, de modo que devia ter passado uma
hora ou duas no local, o que era um bom sinal no livro de Beast. A corretora
de imóveis lhe deu uma pasta com fotos adicionais, e ele a envolveu em uma
conversa agradável, agora que ela havia relaxado depois de estar em sua
presença por tanto tempo.

— Algum de vocês tem alguma dúvida? — Beast perguntou, varrendo


seu olhar sobre os seus irmãos.

Gray levantou a mão e empurrou a outra no bolso da frente do jeans


desbotado. Os fios de prata pareciam tão estranhos em seu rosto jovem e
bonito, como se os tingisse de propósito, assim como a moda entre algumas
mulheres. — Posso usar a área de supervisão acima do workshop para o meu
apartamento?

Beast encolheu os ombros. Um lugar solitário e sem vizinhos. Um local


muito apropriado para Grey, de fato. — Claro, alguém mais? — Seu peito se
contraiu em antecipação quando Laurent levantou a mão com aquele olhar
preocupado em seu rosto. Que porra mais ele queria do lugar? Um jacuzzi e
um cinema privado?

— Existe alguma instalação subterrânea aqui? — Ele perguntou a


corretora de imóveis, que piscou com surpresa por um momento, então
Laurent continuou. — Nosso amigo King disse que estava querendo montar
uma masmorra, você entende, para práticas sexuais. Então, eu queria
perguntar em seu nome se isso era uma possibilidade.

Joker começou a rir como um maníaco, mas o olhar morto no rosto da


corretora de imóveis deixou Beast suando nas bolas.
Beast riu, tentando parecer o mais casual possível antes de se virar para
a Sra. Taube. — Eu sinto muito. Ele é o meu primo, e é da França. Deve ter
entendido mal alguma coisa. Não haverá masmorras, Laurent. — Ele disse
com um pouco mais de pressão.

O filho da puta agiu como se fosse burro, como se não tivesse pegado a
dica. Laurent pode ter crescido em algum culto Menonita estranho, mas
Beast notou o quão rápido ele pegava tudo, e como ele calava a boca e ouvia
quando as coisas não estavam claras para ele, então vê-lo agir de uma forma
tão obstrutiva estava fazendo formigas raivosas rastejar nos braços de Beast.

— Não, não. King disse especificamente que queria uma masmorra com
algemas, e uma gaiola para uma garota fingir que era o seu cão. Não culpe o
mensageiro. — Laurent cruzou os braços sobre o peito.

— Err... Eu teria que falar com o meu gerente sobre isso. — A Sra.
Taube disse.

Joker manteve o cacarejar e acariciou as costas de Laurent. —


Poderíamos acrescentar um balanço de sexo enquanto estudamos o assunto.

Os braços de Beast ficaram tão rígidos que começaram a doer, e ele


olhou para os outros homens, cujas reações variavam de irritados para
divertidos. Seus punhos coçavam para esmagar algo, quando seu olhar
parou na expressão desagradavelmente presunçosa no rosto de Laurent.
Beast se lembrava de onde tinha visto essa expressão na última vez. Na porra
da Jordan.

Ele ignorou o lado feio de Laurent por causa de sua beleza? Assim como
Knight fazia com cada namorada consecutiva? Laurent desviou o olhar assim
que seus olhos se encontraram, deixando Beast se perguntando se essa
sabotagem havia sido causada por Laurent e King, mesmo sendo
improváveis, como um bebê foca e um leão.

O resto da exibição caiu a partir daí, com a Sra. Taube embaraçada e


claramente tentando abortar a coisa toda da maneira mais educada possível.

A mente de Beast estava ficando frenética e fervia em tal velocidade que


ele mal conseguia pensar direito com esse sentimento de traição. — Eu sinto
muito, Sra. Taube. Eu vou mostrar rapidamente algo para o meu primo. Eu
sei onde isso está. — Ele assegurou rigidamente e se dirigiu para Laurent,
nem mesmo tentando disfarçar seu humor ao garoto.

O olhar ferido no rosto de Laurent antes mesmo de Beast agarrar seu


braço era como uma facada nas suas entranhas, mas ele não esperaria que
a pequena cobra torcesse a lâmina e o levasse para o prédio mais próximo.

— O que foi? — Laurent choramingou.

— Oh, eu me pergunto o que poderia dar possivelmente errado depois


de passar duas malditas semanas pesquisando lugares para encontrar a
mais perfeita, só para ter você falando mal de nós na frente da corretora de
imóveis? — Beast assobiou apertando sua mão dura no ombro de Laurent
enquanto desciam o corredor. Somente quando Beast achou que era o
suficiente para que a Sra. Taube não lhes escutasse, ele empurrou Laurent
em um dos quartos vazios e entrou atrás dele.

Laurent tropeçou, mas rapidamente se virou, se apoiando em um canto.


— Eu só repeti o que King disse. Não deveríamos estar procurando um lugar
que pudesse satisfazer as necessidades de todos?

— Não há nós. — Beast chiou empurrando o peito de Laurent com força


suficiente para fazê-lo bater na parede. O garoto não tinha força e o tamanho
de Beast, e Beast decidiu que já era hora de mostrar a ele explicitamente. As
correntes elétricas de raiva arrepiavam sob sua pele quando ele se aproximou
de Laurent, forçando-o contra a parede fria antes que ele pudesse correr. —
Você é apenas o nosso convidado. Você não é um membro. O chamei para
vir conosco porque eu queria ser agradável e mostrar algo legal para você. O
que diabos está errado com você? — Beast tomou uma respiração profunda,
equilibrando-se quando sentiu que a sua voz estava à beira de quebrar a
partir do desamparo de sua atração por Laurent. — Como você ousa minar
a minha autoridade?

Laurent olhou por cima do braço de Beast para a porta, como se


estivesse avaliando suas chances. — Bem, talvez você não devesse ter me
chamado, porque eu não me sinto confortável sendo desleal ao King. Por que
ele não está aqui? Eu não vou dizer a ele sobre esta viagem se esse for o seu
desejo, mas eu não acho que seja justo. — Mas, apesar de seu olhar
desafiante, ele agarrou-se à parede como se quisesse derreter, e sua
respiração acelerou como um rato encurralado.

Um rosnado baixo saiu da garganta de Beast quando ele colocou a mão


sobre a boca de Laurent e a outra no pescoço dele. — Você tem um desejo de
morte? Você acha que eu vou ser o seu cachorrinho, só porque você tem um
rosto bonito? Pensei que tínhamos um entendimento. Você mora no meu
apartamento, usa a minha água, e come a minha comida. Você mal fala com
o King, então qual é o negócio hein? Você me dá nojo. — Beast chiou e
apertou a mão sobre a garganta de Laurent.

Laurent choramingou e agarrou o pulso de Beast com aqueles dedos


magros que Beast poderia esmagar em seu punho se quisesse. Os olhos
arregalados estavam ficando frenéticos; e Beast esperava que ele finalmente
estivesse transmitindo sua mensagem. Já teve o suficiente agora. Não
haveria mais privilégios no apartamento de Beast para Laurent, e Beast
ficaria de olho em seus sinais de comportamento manipulativo que ele
poderia ter perdido simplesmente porque ele não queria acreditar que tanta
malícia pudesse existir em alguém tão educado como esse garoto e com um
rosto tão inocente.

Manchas escuras apareceram nas bordas de sua visão quando ele se


inclinou contra Laurent, observando sua pele de ir de pálida a roxa.
Fechando as pálpebras, Beast se inclinou e cheirou o cabelo macio. Se
Laurent escolheu ser tão desleal, não havia nenhuma razão para Beast
cuidar de seu bem-estar também. Que piada.

— Eu não quero você no meu apartamento. Você vai sair. Não me


importa para onde. Pergunte ao seu amado King sobre isso. Talvez ele o deixe
ficar com ele se você lamber sua bunda por tempo o suficiente — ele disse
no final e o soltou deixar, se afastando abruptamente.

Laurent começou a tossir com a falta de ar. Por um momento ele se


encolheu no canto como um animal ferido, mas do jeito que Beast estava
puto, pelo menos agora ele sabia quem ele era realmente, e que não estava
do seu lado. Ele era o vice-presidente dos Kings of Hell porque os homens
tanto o temiam, quanto o respeitavam, porque todos sabiam que quando o
impulso vinha sobre ele, Beast não segurava a merda de ninguém. Já era
tempo de Laurent aprender sobre isso.

Beast respirou fundo, movendo o seu peso e rolando seu pescoço sobre
os ombros quando a tensão nas costas tornou-se demais para suportar. —
Hoje. Você está indo embora hoje. Eu não quero falar com você de novo, eu
fui claro? Você arruinou tudo. — Beast chiou no final antes de agarrar o
braço de Laurent e o puxar para longe da parede. Só havia um tanto de tempo
que eles poderiam ficar para trás sem que alguém ficasse impaciente.

Laurent não encontrou os seus olhos, mas ele deve ter entendido o
ponto de Beast, porque não houve mais lamentação, nem desrespeito, e
nenhuma palavra desafiadora. Como um garoto que nem tinha vinte anos
poderia ter chacoalhado Beast desta maneira? Já era hora de parar de
torturar-se com a presença de Laurent em seu apartamento.

Quando saíram para o sol novamente, Beast não conseguiu forçar o


sorriso quando ele encontrou os olhares curiosos de seus irmãos, e o olhar
tenso da Sra. Taube.

— Eu espero que tudo esteja bem? — Ela perguntou.

— Absolutamente — ele disse e só então soltou Laurent. Seu rosto doía


quando Beast forçou um sorriso que parecia tão falso, que ele rapidamente
desistiu. — Nós vamos esperar uma oferta.

A Sra. Taube assentiu com uma expressão falsificada no rosto. — Claro.


Espero que você aproveite o resto do dia.

— Com este tempo? É claro — Beast disse com o pensamento de que


ele estaria de volta em sua moto em breve, tirando tudo do seu sistema com
a velocidade.

Mas vendo Laurent ao lado de sua moto ferveu o sangue de Beast mais
uma vez. Fodido seja se ele achava que Beast desejaria qualquer contato
físico após esta sabotagem.

— Joker, você pode levá-lo? Eu tenho algo para fazer antes de voltar
para o clube.
O olhar magoado no rosto de Laurent não tinha lugar. Ele não foi o
único que foi esfaqueado nas costas.

— Claro. — Joker convidou Laurent com um gesto para sua Harley


vermelha.

Laurent suspirou profundamente, como um cachorrinho ansioso, mas


Beast não iria cair nesse ato. Laurent era um pequeno artista manhoso que
ainda não tinha revelado muita da informação para o clube. Agora, Beast
nem sequer se surpreenderia se Laurent cortasse seu próprio pulso para
jogar de vítima e ter um lugar livre para ficar.

Ele deu um aceno para seus irmãos de cabeça e montou rapidamente a


moto, desejando sair e ficar sozinho novamente. Sozinho em seu
apartamento com apenas Hound, o único ser que nunca se afastava dele.
Capítulo QuatorzeBeast

Laurent respirou fundo, avaliando sua nova roupa no espelho. Já faz


uma semana desde a explosão de Beast, e apesar de uma parte de Laurent
ter esperado que o assunto fosse morrer e ele fosse convidado a voltar para
o apartamento de Beast, isso não aconteceu. Então ele estava preso em um
quarto com um colchão, roupa de cama e as poucas coisas que ele possuía;
cortesia de seus novos amigos. Ele não gostava de ficar sozinho à noite no
quarto, porque ninguém mais morava por perto e para chegar ao banheiro
ele tinha que andar por um corredor escuro sem eletricidade e um espelho
que lhe dava um medo terrível cada vez que passava por ele.

Pior ainda, ele foi repentinamente privado ao acesso dos livros, porque,
como se viu, nenhuma das outras pessoas que moravam no clube tinha
muito interesse em literatura. Então, às vezes, ele passeava pelo prédio
durante o dia, perguntando-se sobre o propósito de alguns dos itens deixados
para trás pelas pessoas que haviam ocupado aquelas câmaras anos atrás.

Beast não tinha falado com ele desde o modo horrendo como as coisas
tinham se desenvolvido na propriedade que eles foram ver; então Laurent
não ousou perguntar sobre poder ler. Provavelmente só o levaria a outro
argumento que ele não poderia ganhar.

Beast até conseguiu que Jake tirasse o punho de plástico do tornozelo


de Laurent, como se quisesse dizer que ele não se importava mais com
Laurent, ou se ele fosse levado por alguém. Laurent estava sozinho e ele
detestava essa sua nova realidade com paixão.

Não importava quantas pessoas gostasse de sua companhia, a rejeição


de Beast doía como um tapa na cara, apesar de Laurent saber que ele merecia
a violência desencadeada sobre ele. Sua tentativa de frustrar os planos de
Beast não foi particularmente hábil e deve ter parecido tão sem caráter que
ele ficou com vergonha de ferir os sentimentos do homem que dedicou tanto
do seu tempo e atenção para deixar Laurent confortável no novo lugar.

Ele tentou preencher o vazio deixado por Beast, falando com novas
pessoas e tornando-se tão útil quanto humanamente possível. Jordan deixou
algumas das tarefas administrativas que vinha fazendo para o clube, e como
Laurent não era muito bom em trabalhos que não fossem de escritório, ele
entrou no labirinto de informações e documentos do escritório e elaborou um
sistema de arquivamento para todas as contas. A princípio, foi uma tarefa
aparentemente inatingível, mas Laurent gostou do desafio que os
documentos apresentavam.

Nao se tornou a sua amiga mais confiável e explicou muitas coisas novas
para ele, então, quando o telhado da sala de festas foi finalmente consertado,
e chegou à hora de celebrar a nova posição de Beast como vice-presidente do
clube, Laurent confessou a ela que ele esperava atrair um cavalheiro com o
propósito de explorar o desejo. No começo, ela riu dele, mas quando ele ficou
chateado com ela pela zombaria, ela explicou que era apenas o jeito que ele
tinha dito que era engraçado.

Mais uma pequena decepção. Laurent estava se esforçando tanto para


se enquadrar, mas ele não conseguia contornar todas as expressões
estranhas que as pessoas do futuro usavam. Algumas palavras
permaneceram as mesmas do seu próprio tempo, e ainda assim eram usadas
de maneiras diferentes, e ele temia que ao abrir caminho pelo emaranhado
de palavras contemporâneas, não seria menos difícil do que aprender o
básico de uma nova língua.

Nao o levou para o mesmo shopping que ele visitou com Beast semanas
antes. Ela escolheu o mesmo restautante que Beast originalmente queria
levá-lo, e desta vez conseguir uma mesa não foi problema. A carne de boi
realmente tinha um ótimo sabor, e a fácil disponibilidade de açúcar para café
e sobremesas fez Laurent comer mais do que o necessário. Mas a comida
ainda deixava um sabor amargo em sua boca quando ele se lembrou de como
Beast estava chateado quando ele foi recusado de ter o privilégio de comer
lá.
Nao decidiu que se ele quisesse “transar” - o que significava atividade
sexual geral - então ele precisava de roupa nova e sexy. Isso o confundia, já
que ele achava que as roupas que Beast o ajudara a escolher eram muito
atraentes, mas ele iria aceitar o que era necessário para o empreendimento
e colocaria sua confiança em Nao, já que ela tinha encontros regulares com
homens.

Então lá estava ele, na frente de um espelho, sem saber se suas roupas


não eram muito obscenas para serem mostradas em público, enquanto a
música já tocava sob seus pés. Como convidado honorário, Beast
provavelmente já estava na festa, e Laurent não pôde deixar de se perguntar
se Beast gostaria do jeito que ele estava hoje à noite.

Nao endireitou o seu cabelo com um ferro quente, e tudo o que Laurent
usava se agarrava ao seu corpo como uma segunda pele. O tecido de sua
calça preta era um pouco semelhante ao couro fino e macio, ainda que
ligeiramente esticado, para acomodar cada parte de seu corpo. Todas as
partes. Ele já usou calças justas no passado, mas nenhuma que abraçasse
seu pau tão obscenamente. A melhor coisa que ela comprou para ele era
ainda mais estranha. Ele experimentou em uma loja que vendia toda uma
série de objetos obscenos e onde a própria Nao comprou um vestido curto
feito de borracha para usar na festa.

No começo, Laurent não tinha certeza de como colocar a roupa, mas


Nao o ajudou a descobrir. Eram duas longas mangas pretas e justas,
conectadas na parte de trás com uma tira de tecido com pequenos orifícios.
Isso significava que seu peito nu estava exposto e seus braços escondidos, o
que não fazia sentido algum, mas Nao disse que ele parecia “sexy,” o que
parecia ser sua palavra-chave para atrair homens, então Laurent escolheu
seguir seus conselhos.

Ele precisava pedir a Nao que lhe emprestasse um dicionário. Como com
o latim, certamente para memorizar as novas expressões e palavras, e ajudá-
lo a aprendê-las muito mais rápido do que meramente falando.

Era quase meia-noite quando Nao aplicou um pouco de tinta preta nos
olhos de Laurent, insistindo que precisava ficar meio manchado para ficar
bem em um homem, e só então ele foi autorizado a ir com ela participar da
festa. Pelo jeito, o número de convidados era muito superior a qualquer coisa
que Laurent já tinha visto no clube até então. A música estava mais alta. E
até Nao parecia mais animada para a noite do que normalmente ficava.

Era isso. Hoje era a noite que Laurent beijaria um homem novamente.
Talvez mais do que um beijo, já que com tantas pessoas ao redor ele se sentia
seguro o suficiente para tentar a sorte com alguém; e com certeza alguém o
ajudaria se o homem que ele escolhesse se tornasse agressivo. Ele teve com
o diabo uma segunda chance na vida. Uma chance de viver livremente em
um mundo onde ele poderia fazer o que quisesse, e ele não perderia essa
oportunidade. Ele seria o mestre de seu próprio destino.

Uma enorme multidão de pessoas que ele não conhecia se misturava no


espaço escuro iluminado com luzes vermelhas e amarelas como se este fosse
o abismo do inferno onde todos e quaisquer pecados poderiam acontecer. A
roupa apertada fez Laurent se sentir como se estivesse nu, mas seus nervos
diminuíram quando ele viu que ele de fato se misturou, e a bebida alcoólica
que Nao colocou em sua mão também ajudou.

Knight estava saindo com Jordan no canto da mesa de sinuca, e a


cantora dos Kings of Hell estava tocando sua música diabólica no palco.

O cantor deles, Lizzy, assustara Laurent quando eles se conheceram,


mas então Laurent descobriu que os olhos de répteis do homem eram “lentes
de contato”, e até as tirou quando Laurent não acreditou que algo assim
existisse. Instantaneamente, Laurent se perguntou se ele também poderia
conseguir aqueles óculos invisíveis, mas descobriu que ele não podia usá-los
por causa de sua condição.

Mas ele não queria ser ganancioso se a medicina moderna permitisse


que ele tivesse uma maneira segura de ficar melhor e, eventualmente,
enxergar como um homem saudável. Nao assegurou que ele parecia muito
bem nos novos óculos que escolheram juntos, pagos com o dinheiro de King.
Ele se perguntou se ela achava igualmente difícil reconhecer pessoas e
discernir amigos de estranhos na sala mal iluminada, onde quase todas as
luzes se concentravam em Lizzy, que se debatia no palco como um homem
possuído.

Mesmo quando ele tropeçou em um cabo e caiu no chão, à multidão em


volta dele só rugiu com risos e aplausos, como se não fosse nada que eles
não esperassem. Por alguns momentos, Lizzy tocou seu violão
estranhamente plano e deixou os outros dois membros de sua trupe musical
- ou “banda” como era chamado agora - no centro das atenções.

Ao redor, as pessoas roçavam em Laurent quando passavam, e ele podia


jurar que alguém realmente esfregou a mão contra sua bunda, mas o toque
não solicitado foi embora antes que ele soubesse quem era o culpado. Isso o
deixou com uma sensação de confusão sobre sua posição. Será que a sua
roupa fazia alguém pensar que ele estava disponível para tais carícias? E se
fosse, então ele não deveria aceitar tal toque ao invés de se afastar? Ele
pretendia experimentar esta noite.

Apesar de seu melhor julgamento, seu olhar percorreu o emaranhado


de corpos em busca do mais alto dos homens, mas o corte incomum de cabelo
que Beast usava não estava em lugar nenhum. Ele havia se retirado para
algum lugar? Ele estava tomando ar do lado de fora? Laurent não conseguia
se concentrar com Nao puxando-o através de uma multidão tão vasta que
parecia maior do que toda a população de Brecon no tempo de Laurent.

A cidade havia mudado e crescido desde então, como o prefeito Lamont


queria. A prefeitura, inspirada pelo Oriente, agora era menor do que a de
prédios mais grandiosos e atraentes, e em vez de andar na lama e no esterco,
os habitantes montavam máquinas e andavam sobre a superfície dura que
era o asfalto.

Quando a música diminuiu um pouco, King entrou no palco com um


microfone na mão, sorrindo amplamente e semicerrando os olhos, como
sempre quando bebia demais. Com Lizzy e sua banda saindo do palco e sem
música alta saindo da caixa, toda a atenção estava voltada para ele.

— Tantas pessoas. Espero que ninguém danifique nosso teto


novamente. — King disse, balançando levemente. No vazio deixado pela
música, risos e gemidos se misturaram em uma mistura estranha, e pelo
canto do olho, Laurent viu Nao franzindo o cenho.

— O que ele está fazendo...? — Apesar de ser a namorada de King, ela


era surpreendentemente crítica com o homem.

— Estamos todos aqui para celebrar meu filho se tornando vice-


presidente do clube de motocicletas Kings of Hell. — King puxou uma das
lâmpadas para que apontasse para um ponto no meio da multidão. Beast
estava sentada à mesa, com uma cerveja na mão, parecendo o verdadeiro
governante do clube. Ele franziu o cenho assim que a luz atingiu seu rosto.
— Eu nunca pensei que esse dia chegaria. — King continuou esperando a
platéia rir de sua piada e continuando quando ele conseguiu o que queria.
— Mas ele é meu sangue. Suponho que ele ganhou isso agora que o pobre
Davy se aposentou. Vocês sabem quando ninguém mais quer um emprego?
— King disse sorrindo como se ele fosse um dos atores cômicos que Laurent
assistiu com Beast na televisão.

Beast apenas levantou a cerveja, mas seu rosto permaneceu inalterado,


embora com a espessa camada de desenhos intricados e palavras cobrindo
sua pele, era difícil reconhecer suas expressões à distância.

O discurso continuou sobre os perigos de ter que substituir alguém


insubstituível, mas depois King elogiou suas próprias realizações, sugerindo
que, com ele sendo presidente, um vice-presidente não teria que fazer tanto
assim, afinal. Parecia que a conversa nunca terminaria, especialmente
quando King começou a beber outra cerveja no meio do discurso. O homem
definitivamente não era a pessoa favorita de Laurent no salão, especialmente
bêbado assim.

Ainda assim, com a multidão de pessoas também infundida com álcool


e desfrutando de uma festa livre, King foi ovacionado quando ele terminou.

O holofote permaneceu em Beast, que estava sentado ao lado de Jake e


Martina em uma pequena mesa de canto e apenas escutou. Primeiro, ele
olhou para o pai acima das cabeças da multidão, mas no final do discurso
do pai, declarando todas as razões pelas quais ele era uma péssima pessoa
para seu novo emprego, seus olhos baixaram para o copo em sua mão. Tudo
foi feito em tom de brincadeira, ao que parece, mas com todas as piadas
sendo à custa de uma pessoa, Laurent considerou insensível e sem tato.

Foi doloroso escutar King por tanto tempo, e Laurent ficou feliz quando
a música começou de novo. King saiu do palco, acenando para a multidão
enquanto caminhava com um sorriso branco perolado. Nao alcançou-o
empurrando seu corpo esbelto através dos corpos suados. Ela puxou a
cabeça dele pelo colarinho e apertou o rosto contra a orelha dele. Pela
maneira como King se encolheu ela provavelmente estava gritando.

King acenou com a mão em desdém e deu um tapinha na bunda dela,


mas depois se virou para Laurent, como se só agora notasse sua presença.
— Vamos lá, garoto, eu tenho que te dizer uma coisa! — Ele gritou alto o
suficiente para ser ouvido vagamente sobre as músicas agressivas, e Laurent
relutantemente o seguiu. O braço de King estava pesado ao redor de seus
ombros, e os aromas de cerveja, colônia forte e tabaco perfuraram seu nariz,
deixando para trás um resíduo desagradável que ele não tinha certeza se iria
se livrar no final da noite.

King tomou um gole de sua garrafa e depois empurrou o gargalo de vidro


no rosto de Laurent com tanta força que colidiu com os dentes superiores de
Laurent através da carne de seu lábio. Laurent segurou a garrafa para
impedir que a cerveja derramasse nele.

— Você está fodidamente gritando sacanagem hoje à noite! Eu gosto


disso! Nao levou você às compras, hein? — King puxou Laurent para um
canto mais quieto, e as palavras deixaram Laurent tão confuso que ele
decidiu beber um pouco para desculpar seu silêncio.

— Isso é bom, eu acho. — Ele disse sem saber o que a palavra


significava. Parecia positivo no contexto das palavras de King, embora em
seu tempo fosse usado para descrever alguém desarrumado. — Nao é minha
melhor amiga aqui. Ela é realmente uma mulher maravilhosa.

King bufou. — Sim, sim, só um pouquinho. Eu lhe digo Laurent, as


mulheres não têm senso de humor. Tão fácil ofendê-las, sabe? Você é um
cara inteligente embora. Você gostou do meu discurso?
Laurent bebeu a cerveja para dar-se alguns segundos. — Foi... Uma
maravilha.

— Uma maravilha! Ha! É por isso que gosto de você Laurent! Você
sempre encontra as palavras certas. — King deu um tapinha nas costas nuas
de Laurent, fazendo Laurent se arrepender da roupa que ele e Nao
escolheram quando os dedos de King permaneceram em sua coluna. — Eu
vou contar um segredo para você. Sabe por que foi um discurso tão bom?

Laurent sacudiu a cabeça.

King se inclinou para que só Laurent pudesse ouvi-lo. — Porque toda


vez que Beast recebe um soco no estômago, eu fico alto, como se eu tivesse
cheirado cocaína. Tudo graças ao nosso amigo chifrudo.

Laurent piscou sem ter certeza se ouviu as palavras através do barulho,


mas seu estômago já estava embrulhando. — Eu não entendo.

King gemeu meio bêbado, como se estivesse irritado por sua revelação
ter ficado em ouvidos moucos. — Eu consigo tirar sua energia vital quando
ele está chateado, porque todas as barreiras estão para baixo, e ele é perfeito
para isso, porque ele fica de mau humor o tempo todo. Sempre que ele se
machuca, sempre que ele sangra, eu posso comer toda essa energia, como se
fosse uma melancia aberta e eu estou pingando com os sucos.

A maneira como ele riu, tropeçando na parede como se tivesse acabado


de contar sua melhor piada, deixou Laurent atordoado com a revelação. Era
absolutamente horrível.

— Eu acho que é bom, Sr. King — ele murmurou, apesar do aperto na


garganta.

Os olhos azuis de King brilharam e ele riu tão maliciosamente que uma
parte da cerveja em sua boca escorreu pelo queixo dele. — Ele é tão jovem e
forte, e eu só preciso saber... Vocês dois foderam? Porque desde que você
saiu do quarto dele, eu me sinto como um recém-nascido. Eu não vou ficar
de ressaca depois desta noite.

O coração de Laurent afundou. Então Beast ainda estava chateado com


o que aconteceu há uma semana? — N-não. Nada como isso.
King riu e deu um tapinha no traseiro de Laurent, assim como fazia com
as garotas. — Pode ser o motivo então. Ele está com bolas azuis como o
inferno. Mantenha o seu bom trabalho.

Laurent gemeu e quis reclamar, mas King sempre saia quando queria e
o fez com o aceno de mão.

Laurent ficou olhando para ele por tempo suficiente para vê-lo puxando
uma mulher alta e magra usando roupas pretas para fora da multidão. A
mulher riu e deu-lhe um beijo assim que viu quem era, e Laurent não podia
mais olhar. Ele tentou não julgar a depravação que observava no clube todos
os dias, já que os tempos e os costumes claramente mudaram, mas ele não
queria ver King de qualquer forma depois das coisas que acabara de ouvir.

Nao não se importava que o homem dela tivesse encontrado outra


mulher durante a noite e nem que dançasse em um poste de metal em um
local elevado, para todo mundo ver. Deixado sozinho, Laurent não sabia para
onde ir. Seu olhar continuava voltando para Beast quando um braço pesado
pousou em seus ombros. Ele odiava ser tão baixo.

— Eu não sou apoio de braço — ele gemeu, mas depois olhou para
cima e encontrou Knight sorrindo para ele amplamente. Ele podia desculpar
Knight por ser intrusivo, já que o homem era tão irresistivelmente
encantador. Ainda assim, ele cruzou os braços sobre o peito enquanto os
pensamentos do terrível pacto de King com o demônio caíam em sua mente
como roupas em uma máquina de lavar roupa.

— Aw, eu não falo com você há algum tempo. Você já deu os parabéns
à Beast? — Knight perguntou, movendo-se para o lugar desocupado por King
momentos atrás.

Laurent se mexeu desconfortavelmente, ainda chocado com a verdade


por trás das intenções de King com Beast. E agora ele se sentia como um
cúmplice involuntário do plano vil. — Eu... Eu acho que ele não iria apreciar.

— Você acha? — Knight encolheu os ombros, olhando para Laurent


com um sorriso largo que o deixou ainda mais bonito, o cabelo bagunçado
de alguma forma apenas adicionava um charme meio malandro. — Talvez ele
já tenha te perdoado. Você foi um idiota no armazém, mas não foi como se
você tivesse matado alguém.

Os ombros de Laurent afundaram. — Eu gostaria muito de fazer as


pazes com ele, mas admito que eu esteja com um pouco de medo.

O súbito tapa na bunda assustou Laurent.

— Seja um homem! Vá! — Knight disse encostado na parede. Era quase


como se ele soubesse de algo que Laurent não sabia.

Laurent respirou fundo e começou a andar em direção à pequena mesa


de canto escondida de todos os corpos suados. Sua calça nova estava
convidando um ataque de tapas, e ele não tinha certeza do quanto ele gostava
desse tipo de atenção.

Para evitar ser tocado tanto quanto possível por estranhos, Laurent se
aproximou da parede, efetivamente circulando o salão, enquanto Nao e outra
mulher dançavam juntas junto ao poste de metal, incitadas por uma
multidão assobiando. Nao subia até o topo, apenas para descansar sua
coluna contra a vara com a cabeça baixa e abaixar as pernas, espalhando-
as obscenamente. A outra mulher deve ter tido inveja de toda aquela atenção,
pois de repente ela arrancou sua camisa, revelando seu peito para todos os
reunidos.

Laurent ficou tão chocado com a exibição que ele esbarrou em alguém.
Depois de um pedido de desculpas profuso, ele finalmente chegou à mesa de
Beast, diminuindo a velocidade como se fosse um pobre chegando para uma
audiência com um rei. Ele nervosamente pegou em sua manga, tentando
ignorar a sensação em seu peito, que o restringia de respirar livremente.

Beast olhou por cima de seu copo, estreitando os olhos quando ele viu
a presença de Laurent. Seus olhares se encontraram, e atingiu Laurent como
uma bala o quanto ele ansiava que Beast o apreciasse. Martina e Jake
olharam para Laurent também, e o último assobiou, mas a opinião deles não
importava em face da careta de Beast.

— Ok... — Beast disse em um tom estranho.


Beast observou Laurent sem dizer uma palavra, e ainda assim parecia
que havia dedos ardentes e quentes esfregando o corpo de Laurent. Isso, ou
o olhar de Beast estava realmente o esfolando. Ele não sabia mais a
diferença. Tudo o que ele sabia era que até mesmo os toques acidentais e
fugazes de Beast eram o que ele ansiava por tanto quanto a atenção e o
perdão de Beast.

— Eu... Eu vim para parabenizar pela sua promoção para o cargo de


vice-presidente. — Laurent disse no final, com o coração batendo tão forte
no peito que estava com medo de que as pessoas pudessem ver a evidência,
já que todo o peito dele estava à mostra.

A boca de Beast se estreitou e ele deu um breve aceno de cabeça. Antes


que Laurent pudesse fugir diante de uma reação tão pouco entusiasta, Beast
falou, e cada uma de suas palavras fez Laurent desejar que ele não tivesse
se aproximado dele. — O que você está vestindo? Essas roupas não são
oportunas para você. Você quer parecer sujo?

Laurent lambeu os lábios, olhando ao redor, mas nenhuma ajuda vinha


das outras pessoas que apenas o olhavam, esperando que ele reagisse. — N-
Nao me ajudou a escolher. E King disse que eles elas gritavam sacanagens.

Jake riu alto. — Oh, cara… sim. Elas são muito sacanas.

— Eu acho que ele não sabe o que isso significa. — Martina disse
acariciando gentilmente o braço de Laurent.

— Você parece como uma prostituta Laurent. — Beast disse e tomou


um grande gole de sua cerveja. — Nao é adorável, mas o gosto dela? Bem
questionável.

Martina começou a rir e escondeu o rosto nas mãos.

Laurent enraizou no chão com vergonha, e ele agora percebeu por que
ele estava atraindo tantos tapas na bunda de todos ao seu redor. Essa não
tinha sido sua intenção. Seu rosto ficou tão quente que parecia um farol
entre o mar de pessoas ao seu redor.

— Ela disse que eu pareço sexy — ele tentou sem muita energia,
duvidando de si mesmo quando os olhos azuis de Beast perfuraram seu peito
nu. Suas roupas realmente convidavam aos homens a lhe oferecer dinheiro
por prazer?

Jake deu um lento aceno de cabeça. — Você parece. Eu pagaria por


você.

Martina riu ainda mais e quase engasgou com a bebida alcoólica que
estava tomando. Beast bateu os dedos no copo e alternou entre manter os
olhos na cerveja e olhar para Laurent.

— Eu não vendo prazer. — Laurent resmungou derrotado além da


crença. Então Beast odiava as suas roupas. Beast o odiava. Esta deveria ser
a pior noite que já teve em 2017. Não. O pior foi saber que Beast estava
servindo de alimentação para o seu próprio pai, um homem em quem ele
deveria confiar, e Laurent não podia intervir, pois se o fizesse, ele seria levado
para 1805. Só de pensar nisso sufocava a vida dentro dele.

— Tem certeza? — Martina riu e pegou uma nota, acenando para ele.
— Eu vou dar isso para você, se você nos mostrar sua bunda linda.

Beast sibilou e desviou o olhar, como se até mesmo o pensamento de


ver Laurent nu o enojasse.

Ele queria tanto fazer as pazes! Knight o havia preparado para essa falha
em nome de Beast? — Eu tenho que recusar — ele murmurou e saiu
rapidamente, com medo de que a dor nas pálpebras se intensificasse se Beast
lhe desse mais um olhar odioso. Ele veio até a festa se sentindo tão orgulhoso
de sua roupa nova e sexy, mas agora ele queria desaparecer em seu quarto
vazio e frio.

Ele não deveria ter tentado se tornar algo que ele não era. Talvez ele
simplesmente não tivesse nascido para ser sexy? Pelo menos nos dias de
hoje, ele não era um empregado vinculado a um mestre por um contrato que
basicamente significava que o Sr. Barnave o possuía por um período fixo de
tempo.

Ele encontrou um lugar em um canto, uma mesa vazia, e ele esperava


desaparecer nas sombras, apesar de sua pele ainda chamuscada pelo
escrutínio de Beast.
Ele se perguntou se deveria fugir para seu quarto quando alguém
acenou com a mão na frente do rosto de Laurent. — Você é novo aqui? —
Perguntou o homem. Apenas um pouco mais alto que Laurent, ele não era
tão intimidante quanto os motociclistas, e os óculos de aros vermelhos
sugeria que ele era um pouco excêntrico.

Laurent respirou fundo e estendeu a mão. — Laurent. Eu estou há


pouco tempo aqui.

O homem apertou a mão dele. — Bob. — Ele olhou para Laurent de


cima a baixo. — E você parece muito sexy.

Laurent ousou sorrir, avaliando o homem sob uma nova luz.


Capítulo Quinze
Laurent

Bob acabou por ser um sujeito fantástico. Eles logo se mudaram para
um canto sossegado com travesseiros empilhados, onde conversaram sobre
bebidas, o que deixou Laurent com a mente um pouco confusa. Ele
suspeitava que as bebidas contivessem algum tipo de espírito, apenas muito
mais doce do que ele estava acostumado. Bob até trouxe um canudo para ele
beber e, como muitas das coisas favoritas de Laurent em 2017, era feito de
plástico.

Com a festa girando em torno deles, com música alta e com as luzes tão
fracas, Laurent finalmente relaxou, apreciando a proximidade de um corpo
masculino quando Bob pressionou contra ele para sussurrar em seu ouvido
de uma forma que enviou sensações de cócegas por todo o corpo de Laurent.

Esta noite poderia acabar em beijos? Bob não estava apressando as


coisas como Fane, e nem era de tirar o fôlego como Beast, mas ele tinha um
sorriso bonito, ele era masculino, e fazia Laurent rir. O que mais ele deveria
esperar quando era tão inexperiente?

— Quando te vi do outro lado do salão, eu fiquei chocado por você estar


sozinho. Um cara como você raramente está. — Bob disse.

Laurent sorriu amplamente. — Eu não tenho muita sorte nessa área.


Parece que sempre digo as coisas erradas.

Bob sorriu, inclinando-se ainda mais perto, e Laurent se mexeu de


surpresa e excitação quando Bob descansou sua garrafa de cerveja gelada
contra o estômago nu de Laurent. — Eu não posso imaginar isso. Você fala
como um príncipe.

Laurent riu do frio e das gotas de água que caíam em sua pele. — Talvez
eles sintam que eu não tenho a criação certa.
— Ah, acho que estou apaixonado agora. Seu sotaque parece tão bom...
— Bob disse e se inclinou, esfregando a bochecha contra a de Laurent.

— Apaixonado por mim? Isso é simplesmente tão bobo! — Mas um


arrepio de prazer fez as entranhas de Laurent vibrar.

— Você acha que estou brincando, mas nunca conheci ninguém como
você. Eu não conseguia tirar meus olhos de você desde que você entrou, mas
eu acho que estava um pouco tímido para me aproximar de você no início. —
Bob suspirou e lentamente colocou a mão acima do joelho de Laurent.

Instantaneamente, a memória de Beast tocando-o dessa maneira, do


polegar lentamente traçando o joelho dele, era como uma interferência que
Laurent não conseguia se livrar. — Você entende que eu... Não vendo prazer,
certo?

Bob sorriu. — O que? Por que você diria isso? Eu só queria pedir-lhe
para servir de modelo para mim, mas a conversa está ficando ótima também.

— Porque me disseram que a minha roupa poderia sugerir que sou de


moral frouxa. Mas estou feliz que você não tenha percebido isso. Como eu
serviria de modelo para você? Você quer me pintar?

— Como uma das minhas garotas francesas. — Bob riu e Laurent se


juntou, mas ele não tinha certeza do porque era tão engraçado. Ele queria
entender, entretanto, ele assumiu que a piada tinha algo a ver com o seu
sotaque.

— Isso parece emocionante.

Bob lambeu os lábios, observando-o com um brilho sombrio nos olhos.


A pele de Laurent coçava por proximidade, e ele ousou olhar para os lábios
de Bob.

— Então, você gostaria de servir de modelo para fotos? Nós poderíamos


fazer um teste em uma dos quartos disponíveis para os hóspedes.

Laurent inclinou a cabeça. — Você tem tudo o que precisa? — Talvez no


futuro, os cavaletes e tintas se expandissem a partir de pequenos objetos?
Ele assistiu a tantos filmes nas últimas semanas, e fez tantas perguntas a
seus amigos, e ainda assim havia coisas novas escapando de seu alcance.
— Tudo isso. — Bob disse e lentamente se levantou antes de oferecer
sua mão para Laurent.

Hesitante, Laurent enfiou os dedos na palma da mão úmida. — Eu


adoraria ver mais do seu trabalho. — Ele entrelaçou os dedos com o coração
na garganta, sentindo o estresse de tudo isso. Desde a primeira vez que ele
tentou se deitar com um homem, cada interação romântica foi um desastre.
Este homem poderia possivelmente quebrar o feitiço? Bob parecia
genuinamente gentil, e nada ameaçador. Além disso, ele era um artista, uma
alma sensível por definição.

Bob acariciou o cabelo de Laurent com a outra mão e puxou-o para as


portas que Laurent sabia que levavam a uma série de quartos com apenas
colchões. Mais cedo naquele dia, ele ajudou a torná-los mais apresentáveis,
porque os convidados da festa estavam livres para usá-los.

— Você terá luz suficiente? — Ele perguntou, para o caso de Bob


realmente querer pintá-lo, embora tivesse certeza de que eles iriam se beijar,
e quem sabe o que mais aconteceria depois que a paixão surgisse.

— Acho que podemos nos conhecer melhor primeiro. Isso me permitirá


capturar melhor sua personalidade quando eu começar a pintar.

Laurent sorriu para si mesmo e apertou a mão de Bob, cada vez mais
nervoso enquanto saíam para o corredor vazio, onde a música era apenas
um som surdo. — Eu gostaria disso.

Uma vez que as portas se fecharam atrás deles, a sensação de apreensão


se curvou ao redor das entranhas de Laurent, dando-lhe um desejo
inexplicável de correr. Mas ele não podia fugir de suas verdadeiras
necessidades para sempre. Ele não podia simplesmente esperar. Ele era um
homem neste novo mundo onde os homens podiam ficar juntos livremente,
e ele precisava alcançar as coisas que ele queria, e não podia esperar que
caíssem em seu colo.

As portas se abriram de novo tão rapidamente que bateram contra a


parede. Bob olhou por cima do ombro, apertando a mão de Laurent.

Beast se aproximava com passos rápidos, o rosto tenso e marcado de


crueldade como há uma semana, quando agarrou Laurent pela garganta. O
que Laurent fez de errado? Beast estava esperando Laurent deixar o salão de
dança para punir Laurent por se atrever a falar com ele depois de ter dito
explicitamente que não queria que ele falasse com ele?

— Onde você está o levando hein? — Beast resmungou, mostrando os


dentes em um grunhido que lembrava Hound. A enorme mão tatuada pousou
no ombro de Bob com tanta força que Bob pareceu derreter sob ela.

— Eu... Isso é um problema? — Bob levantou as sobrancelhas. — Eu


só estava...

Laurent agarrou o pulso de Beast. — Ele só ia me pintar. Não há nada


questionável acontecendo.

— Pintar você? — Beast praticamente cuspiu como se fosse uma


palavra suja e balançou Bob, que soltou a mão de Laurent e enrolou seus
ombros.

— Beast, qual é! Eu não estou fazendo nada ilegal.

Laurent assentiu rapidamente, ansioso para proteger seu novo amigo


da súbita ameaça. — Sim, ele disse que vai me pintar como suas garotas
francesas. Eu acho que isso significaria que eu seria o primeiro garoto
francês que ele vai pintar. Não admira que ele já queira fazer os esboços
iniciais.

Ele sorriu para Bob.

Bob não sorriu de volta, seu rosto contorcendo-se brevemente antes que
o enorme punho de Beast colidisse com ele com tanta força que Bob bateu
na parede mais próxima e deslizou para o chão com sangue jorrando sobre
os azulejos cinzentos. Ele gritou, segurando o nariz com uma das mãos e
erguendo a outra na tentativa de se proteger. — Não, por favor! É um mal
entendido, eu juro!

— Não! — Laurent gritou em pânico e agarrou o braço de Beast. — Pare!


O que você está fazendo? Como você ousa!

Beast encurvou os ombros, olhando para Laurent com os lábios


apertados com tanta força que estavam pálidos. — Vá em frente, diga a ele o
que você realmente faz! — Ele retirou-se do aperto de Laurent e agarrou o
pulso de Bob, arrastando-o pelo chão.

Bob gritou, enrolando-se em uma bola, como se esperasse que Beast o


chutasse. — Eu não fiz nada!

Laurent tentou ficar entre eles, mas Beast o afastou com facilidade. —
Pare de atormentar esse pobre homem! Tudo o que ele queria fazer era me
conhecer melhor! Isso é pecado?

— Conhecê-lo melhor? — Beast sibilou encarando Laurent. — Este


homem não pinta. Ele tira fotos nuas das pessoas e as coloca para todos
verem. É assim que ele ganha dinheiro!

Laurent deu um passo para trás, sem saber no que acreditar. — Isso é
verdade? — Ele sussurrou, olhando para Bob, cujo nariz sangrava até as
gotas caírem chão.

Bob levantou uma mão e segurou a outra no nariz. — Sinto muito por
ter julgado mal as coisas. Eu posso ir embora?

Beast socou a parede com tanta força que seu punho deixou um
amassado na parede, e Bob gritou, protegendo a cabeça. — Você está banido
daqui. Tente voltar, e eu pessoalmente vou quebrar seus braços, seu pedaço
de merda! Pintá-lo como suas garotas francesas... Que piada!

Laurent deu outro passo para trás, mais para dentro das sombras, tão
profundamente envergonhado que doía fisicamente. E o pior era que Bob não
teria sequer que inventar mentiras para ganhar o favor de Laurent. Laurent
teria considerado ficar íntimo com o homem de qualquer maneira. Agora, o
próprio pensamento o repelia. Seria o seu destino ser enganado por todos
que ele escolhia se abrir?

Bob ficou de pé, tendo que se segurar com a ajuda da parede. — Claro,
claro! Vou! Não há necessidade de ficar violento. — Ele riu nervosamente e
uma bolha de sangue explodiu em sua narina.

Beast estalou os dedos, e foi o suficiente para mandar Bob saindo


correndo pela porta sem sequer olhar para Laurent.
Eles estavam sozinhos de novo, com as costas de Laurent tocando a
parede, a presença volumosa de Beast enchendo o corredor com rigidez
muscular e suspiros profundos, e o som abafado que as pessoas em 2017
chamavam de música.

Beast lambeu os lábios e lançou um breve olhar em Laurent. — Ele não


lhe deu nenhuma coisa estranha para beber, não é? Você está se sentindo
fraco?

Laurent balançou a cabeça rapidamente, e estava confuso porque Beast


o seguiu, mesmo desprezando Laurent. — Deve ter sido minha roupa que lhe
deu a impressão errada — ele disse fracamente, recuando ainda mais. Ele
estava morrendo de vontade de ficar sozinho, de tirar a roupa e esfregar a
tinta dos olhos. Esta noite foi um desastre.

Beast enfiou as mãos nos bolsos e abriu a boca, sem emitir nenhum
som quando um homem e uma mulher tropeçaram no corredor, ambos
atracados em um beijo agressivo. Laurent e Beast os observaram tentarem
entrar em duas portas antes de achar uma disponível, e o casal correu para
dentro do quarto.

Beast limpou a garganta. — Ele deve ter notado que você não sabe do
que ele estava falando. Ele queria usar você porque você é ingênuo — ele
disse no final.

A represa que estava segurando a frustração de Laurent se rompeu e


ele abriu os braços. — Eu não sou ingênuo! Estou me esforçando para
aproveitar ao máximo essa situação e, ainda assim, tenho certeza de que esse
não será o último erro que cometerei. Por que você tem que me mostrar o
quanto você sabe de tudo melhor do que eu? Então minhas roupas são
'sacanas' e eu julguei mal as intenções de Bob. Eu vou saber melhor da
próxima vez.

— Laurent, isso não é um jogo. Esta é sua vida. Você não pode
simplesmente pular nas coisas. Sua vida passada não te preparou para nada
disso. — Beast lambeu os lábios, se aproximando.
Laurent se manteve firme, soltando um suspiro pesado de exasperação.
— Como vou aprender? Eu tenho tanta vontade de tocar um homem, e todas
as minhas tentativas terminam em desastre!

O pomo de Adão da Beast ondulou em seu pescoço, e ele brevemente


olhou para o chão. — Uma semana atrás, eu pensei que nós nos tornamos
amigos. Por que você me fez de bobo na frente de todos?

A miséria de Laurent não teria fim. O homem que Laurent tratara com
malícia para seu próprio ganho o resgatou mais uma vez. Ele não poderia
dizer para Beast a verdade, e ainda assim, não importa o quanto ele odiava
o que ele fez na audiência, não havia alternativa. Laurent não podia permitir
que Beast mudasse de moradia até o próximo aniversário. Havia uma meia
verdade que ele pudesse dizer? Uma que não foi sua motivação, mas que
descrevia seus sentimentos?

— Se nós mudássemos, eu temia que não vivêssemos mais juntos —


ele disse olhando para os azulejos manchados de sangue sob seus pés. As
palavras comunicavam à tristeza que sentia todos os dias ao ser banido do
apartamento de Beast. Ele nem percebeu o quão profundo era esse vazio até
agora. Havia muitos outros homens ao redor do clube, muitos mais
convencionalmente atraentes, mas nenhum deles era Beast. Nenhum deles
tinha a voz estranhamente áspera ou músculos fortes o suficiente para
esconder a suavidade do coração batendo no peito de Beast. Ele teria ido com
Bob, porque ele queria finalmente sentir como era estar com um homem,
mas na semana passada ele tinha se arrependido de ter rejeitado Beast
naquela primeira vez todos os dias. Bob nunca poderia ter sido um substituto
para o homem que Laurent realmente desejava. O homem que Laurent
permitia ser ferido por King por vários meses, a fim de salvar sua própria
pele.

Ele era escória, e não era merecedor do afeto de Beast, e ainda assim,
ele era egoísta o suficiente para desejá-lo.

Beast estava muito quieto. — Se você gosta de mim, por que você não
disse nada? — Ele perguntou no final.
Laurent esfregou os olhos, apenas alguns segundos depois de perceber
que a tinta negra já havia se espalhado por suas mãos. — Você disse que me
desprezava.

— Você não queria me beijar e me disse que queria que fôssemos


apenas amigos.

Laurent olhou para ele e se atreveu a dar um passo à frente para o


grande homem cujo punho pingava com o sangue de outro. — Você tem
poder, propriedade e posição. Como podemos estar em pé de igualdade? Eu
te conheci há menos de um dia, e eu não tinha te rejeitado. Eu hesitei e você
ficou furioso. Isso me fez imaginar o que você faria se eu permitisse um beijo
e recusasse outras... Coisas.

Beast engoliu e depois apontou rapidamente para as gotas de sangue


no chão. Seu rosto estava tão tenso que parecia que irai rasgar as costuras
a qualquer momento. — Você não o conhecia também.

— Eu não moro com ele. Meu bem-estar não depende dele. Ele não tem
autoridade sobre mim. E ele não é tão grande e forte quanto você.

Os ombros de Beast caíram ainda mais, e seu rosto se contraiu. — Eu


sinto muito por ter te assustado.

Laurent estava prestes a falar quando o casal de antes irrompeu do


quarto, rindo alto enquanto a mulher ajustava o sutiã.

— Isso foi... Rápido. — Beast disse observando-os até que eles


desapareceram de vista novamente, mas, ao mesmo tempo, ele lentamente
estendeu a mão para Laurent. O interior de sua palma também estava
queimado e com pele retorcida, mas não estava coberta por tatuagens e era
nua em um emaranhado de rosa e branco. Laurent queria beijá-lo até a pele
ficar macia pelo toque constante.

Laurent engoliu em seco e falou apenas quando o casal fechou as portas


atrás deles. — Mas o que significará se eu segurar sua mão? — Seu coração
já estava gritando sim para seus dedos se entrelaçarem com os de Beast.
Beast respirou fundo, fazendo seu enorme peito se expandir sob a
camisa preta. — Que talvez você pudesse gostar... De experimentar algumas
das coisas que você quer fazer com um homem... Comigo.

A garganta de Laurent estava apertada, e ele deslizou a mão na de Beast


antes que ele realmente pensasse. Ele queria estar nas boas graças de Beast
tão mal que doía cada pedaço do seu ser. Ele nem tinha percebido o quanto
ele ansiava pelo toque de Beast.

Algo mudou nos olhos de Beast. As íris azuis brilhantes ficaram mais
suaves quando encontraram o olhar de Laurent. Beast o puxou para mais
perto, levando-o pelo corredor e longe do barulho, longe dos quartos onde as
pessoas escapavam para fazer coisas obscenas com estranhos. Os dedos de
Beast eram quentes e convidativos, tão gentis quanto tinham sido no
shopping.

Eles entraram em um longo corredor iluminado por uma única lâmpada


amarela.

Beast liderou o caminho para os quartos e fechou uma porta com um


baque suave. Ele tinha a sensação de formigas minúsculas rastejando pela
sua coluna, e uma sensação inquietante na boca do estômago. Como não
conhecia as regras contemporâneas de namoro, mais uma vez, ele poderia
acabar com posições desastrosas. E se Beast exigisse coisas que Laurent não
estava preparado? Ele estava disposto a correr o risco com Fane, e tudo isso
aconteceu com Laurent.

Ele estava tão nervoso, tão focado no homem na sua frente, que ele nem
se preocupou em procurar um interruptor de luz ou olhar para a cama. Tudo
o que ele sabia era que Beast era grande, quente e cheirava como nenhum
outro homem vivo - tanto no passado quanto no presente.

— E se eu mudar de ideia? E se eu quiser desistir? — Laurent


perguntou rapidamente sem soltar a mão de Beast. — E se eu quiser
experimentar algo que você não deseja fazer comigo?

Besta se aproximou, deixando Laurent entre a parede e seu peito. Ele


suspirou e, com o rosto virado para longe das janelas, Laurent não conseguiu
estudar suas feições, mesmo com os óculos.
— Você está aqui comigo... Eu estou supondo que você não me acha
completamente revoltante. Tenho certeza de que podemos trabalhar um meio
termo.

O coração de Laurent começou a bater desesperadamente, e ele não


parava. Ele tentou controlar a sua respiração, mas cada inspiração inalava
o cheiro de Beast, e o aroma rico e fresco estava deixando Laurent atordoado
com luxúria.

— Revoltante? — Ele perguntou um pouco confuso. Beast não era


tradicionalmente bonito, com as escritas com tinta e padrões por todo o
corpo, com as cicatrizes percorrendo até mesmo o rosto, mas tudo o que
Laurent queria fazer era traçar com os dedos suavemente nas cicatrizes para
conhecer cada uma. Não havia nada revoltante sobre as imperfeições. — Toda
a sua presença faz meu coração saltar. Você mexe comigo em todos os
sentidos, até o ponto onde eu temo que nunca possa ser igual, e que qualquer
coisa que eu faça com você vai acabar em um conflito desastroso.

Beast expirou, e então lentamente, muito lentamente, ficou de joelhos


na frente de Laurent. Suas grandes palmas se moviam pelo peito nu de
Laurent, cobrindo seus músculos peitorais, apenas para acariciar seu
estômago e descansar em seus quadris.

Laurent não conseguia respirar.

Beast olhou para cima, seus olhos pálidos na luz fraca do lado de fora
quando ele levantou a cabeça para olhar para Laurent. — Isso é menos
assustador? — Ele sussurrou.

Laurent mal conseguia engolir, tremendo da cabeça aos pés, como um


gatinho na chuva. Uma coisa era certa, Beast não estava mais em cima dele.
Pena que agora Laurent não tinha ideia do que se esperava dele. — Isso...
Isso é um prazer. — Que coisa estúpida para dizer! Por que ele não podia
dizer algo espirituoso ou cheio de luxúria? Por que ele estava sem palavras,
quando muitas vezes imaginava as coisas que poderia dizer a um homem
quando estivesse em uma situação íntima?

Beast exalou, e houve um leve tremor em sua voz quando ele se inclinou
para frente e esfregou o rosto contra o estômago nu de Laurent. Mas foi
quando a boca de Beast se abriu contra o umbigo de Laurent e o provocou
com ar quente que Laurent gemeu, derretendo contra a parede.

— Oh, querido Deus no céu. — Laurent sussurrou, olhando para o


homem musculoso ajoelhado diante dele como se Laurent fosse digno de
adoração. Beast não era charmoso como Knight, ou atraente como Fane, mas
ele era bonito por si só. Seu apelo estava na musculatura definida, nas linhas
de seu corpo e no modo como ele exalava confiança quando tocava Laurent.
Tudo sobre Beast estava enchendo o pênis de Laurent com uma velocidade
impressionante, fazendo sua cabeça girar com a sensação de calor em espiral
em seu corpo.

A risada de Beast provocou a pele sensível ao redor do umbigo de


Laurent, mas depois veio a língua quente, úmida e maravilhosa enquanto
pintava linhas em chamas por toda parte. Por um momento, Laurent estava
completamente certo de que o toque deixaria rastros, uma marca que
lembraria para sempre esse momento, dos ombros tatuados de Beast
parecendo prateados ao luar.

— Existe... Algo que eu deveria fazer? — Laurent perguntou, movendo


os dedos trêmulos sobre as linhas de tinta no braço de Beast. O músculo ali
era como aço. Laurent nunca conheceu um homem parecido como um antigo
guerreiro de estatura quanto Beast. Mas, quando ele apertou os dedos com
mais força, os ombros largos ficaram tensos sob o toque, pedindo a Laurent
para ser mais gentil, para entender a natureza incomum da pele de Beast.

Beast engasgou e deslizou a língua no umbigo de Laurent antes de


pressionar um beijo molhado na pele. — O que você quer fazer? — Ele
perguntou em uma voz rouca e irregular enquanto se abaixava, movendo os
lábios e o nariz para frente da calça apertada de Laurent, onde o pênis de
Laurent já estava se esforçando contra o tecido.

— Tudo, eu quero fazer tudo — Laurent murmurou fervorosamente,


incapaz de resistir ao ver o rosto de queixo quadrado em sua virilha. Beast
de repente parecia mais bonito do que Knight e Fane combinados. Alguém
poderia se comparar à beleza de um homem tão ansioso em dar prazer?
Beast lambeu os lábios e sorriu para ele, movendo lentamente as mãos
grandes para cima e para baixo nas coxas de Laurent. — Você se lembra do
que chupar alguém significa?

Oh ele lembrava. Não importava o quanto à explicação o envergonhasse


na época, mas ela se implantara em sua mente como se uma pedra pudesse
usar um sapato, sempre impossível de encontrar quando alguém queria se
livrar dela. Ele assentiu vigorosamente, e teve que empurrar para trás o
cabelo que caia em seu rosto. — Eu sinto muito que de todas as noites, logo
esta eu esteja vestido de uma forma que te desagrada muito.

Beast olhou para cima quando seus dedos se moveram sobre a frente
da calça de Laurent e o apertou suavemente. Qualquer sangue que ainda
estivesse na cabeça de Laurent escorreu momentaneamente, enchendo seu
pênis tão rapidamente que ele temia que sujasse as novas roupas com sua
semente.

— Não é bem assim. Elas simplesmente não se encaixam em você. Você


parece muito sexy nas coisas que você usa todos os dias. — Beast sussurrou,
puxando o cós da calça apertada de Laurent.

— Sério? — O peito de Laurent continuava subindo e descendo


rapidamente quando sua ereção foi revelada, balançando tão perto do rosto
de Beast como se quisesse beijá-lo. A visão estava além da excitação e ainda
assim tão obscena. Nunca antes um homem o havia visto nesse estado, muito
menos tocado nele.

Beast grunhiu como um cachorro prestes a reclamar seu osso. — Sim


— ele sussurrou com um leve tremor em sua voz. Ele correu os dedos sobre
o comprimento do pênis de Laurent, gentilmente provocando a parte de baixo
com o polegar.

Os dedos dos pés de Laurent se curvaram e ele empurrou os quadris


para frente, incapaz de resistir ao toque. Ele se sentia tão exposto, tão
vulnerável ao abuso de confiança. E Beast estava certo. Ele era fácil de
enganar. Os pensamentos dos beijos de gosto de maçã de Fane deixaram seu
estômago revirado, e ele precisava se forçar a voltar ao presente, onde
compartilhava uma crescente intimidade com Beast. Ele só podia esperar
que Beast estivesse recebendo tanto prazer quanto ele, porque ele estava no
ambiente de Beast, ele tinha certeza de que ele estaria prestes a alcançar a
liberação.

Beast traçou os dedos da outra mão no interior da coxa de Laurent,


gentilmente provocando até que eles alcançaram as bolas de Laurent e se
fecharam ao redor delas. Era como se ele estivesse puxando um fio dentro
do pênis de Laurent, pouco antes de tocá-lo com os lábios.

Laurent agora desejava ter encontrado o interruptor de luz, mas o prazer


iluminava cada fluxo de pensamento em sua mente, fazendo-os fluir mais
rápido e se entregando a luxúria por todo o corpo. Ele mordeu o punho para
abafar um gemido, todo dominado pelos lábios subindo e descendo pelo seu
pau. Nunca imaginou que isso pudesse ser algo que Beast estivesse disposto
a fazer por ele.

Mas Beast estava de joelhos, respirando com dificuldade e praticamente


gemendo de prazer enquanto brincava com o pau de Laurent, chupando-o e
provocando todo o comprimento com sua língua quente e escorregadia. Sua
boca era o céu puro, tão insuportavelmente quente e doce, tudo ao mesmo
tempo, e Laurent já estava começando a sentir faíscas de relâmpago em seus
dedos.

Ele não duraria muito mais com Beast brincando com suas bolas,
passando a outra mão sobre o quadril de Laurent, e fazendo sons de prazer
como se ele fosse o único a ser favorecido. Uma sensação invadiu Laurent
mais rápido, e ele teve que se inclinar para frente e se firmar contra os
ombros de Beast, cauteloso para não os apertar com muita força. Toda vez
que Beast chupava mais forte, um gemido escapava dos lábios de Laurent, e
cada toque provocante nas partes íntimas de seu corpo o fazia tremer com o
lançamento que se aproximava.

O prazer derrubou Laurent como uma onda quente e o enterrou na


doçura da boca de Beast. Beast espremeu avidamente as nádegas de
Laurent, sugando-o até o fim, apenas para se afastar um pouco no momento
em que o pau de Laurent se contorceu, liberando o esperma de suas bolas.
Beast engoliu em seco, todo o seu corpo se movendo como um animal
selvagem no cio enquanto ele bebia a semente de Laurent sem nenhuma
queixa. Laurent se inclinou contra ele, diminuindo ligeiramente o aperto nos
ombros de Beast quando percebeu que poderia estar machucando-o em seu
prazer. Mas ele não conseguia parar de ofegar, quebrado pela experiência de
compartilhar o pico de sua luxúria com outro homem. Uma montanha
imponente de músculos grossos, mãos grandes e olhos que podiam perfurar
sua alma.

Ele estava mentindo para si mesmo em considerar ter essas


experiências com outros homens que não fosse Beast.

Beast ainda respirava com dificuldade quando ele soltou o pênis de


Laurent com um último beijo na cabeça e lentamente moveu seu corpo para
cima, arrastando beijos molhados e gananciosos no peito nu de Laurent, no
pescoço, até a boca de Laurent.

Com os joelhos de Laurent ainda trêmulos, ele se atreveu a se firmar


contra o peito de Beast e abriu os lábios para o beijo, sem pensar em se
preocupar com as possíveis consequências. Ele ainda estava flutuando nas
ondas de sua liberação e quando Beast pressionou com sua língua com
ferocidade crescente, Laurent estava ansioso para ceder. Mesmo o pênis ereto
repentinamente empurrando contra seu estômago não podia assustá-lo. Se
qualquer coisa, ele estremeceu com o desejo de tocá-lo.

Havia um tom amargo no beijo, mas o suave deslizamento da língua de


Beast, lentamente, mas insistentemente penetrou nas profundezas da boca
de Laurent, já estava puxando cordões de excitação e fazendo-o querer ceder
em qualquer coisa que Beast pudesse possivelmente fazer. Ele tinha apenas
que solicitar.

A respiração de Beast vinha em suspiros agudos, sua pele tremendo


como se estivesse com frio e ansiando por se enterrar no calor de Laurent.
Laurent deixou suas mãos deslizarem para os lados de Beast, e então ao
redor dele, segurando-o bem perto. Ele estava tão sobrecarregado que sua
mente não estava funcionando com sua agudeza habitual, então ele seguiu
seu instinto e deslizou seus dedos sob o colete de Beast e apenas os manteve
lá, entregando-se ao contato pele a pele, que era proibido com um homem.

E não era apenas um homem. Uma Fera18.

18
Trocadilho com o nome dele. Beast: Fera, Besta.
Capítulo Dezesseis Beast

O beijo foi explosivo. Como se Beast tivesse 14 anos de novo e beijasse


um garoto pela primeira vez. Pessoas minúsculas e invisíveis dançavam por
toda a sua pele, batendo os pés no ritmo acelerado dos rios vermelhos que
estavam prestes a transbordar de adrenalina e excitação. Era uma dança de
acasalamento, e ele empurrou Laurent, embalando o rosto suave em suas
palmas, dando o mais profundo e doce dos beijos. Sua sede não tinha fim,
como se seu corpo precisasse se saciar após dez anos de seca, então ele
lambeu, beliscou e chupou, compartilhando a salinidade do esperma e o doce
aroma da boca quente de Laurent.

Laurent nunca esteve mais bonito do que era agora, frenético e corado
mesmo depois de gozar. Suas palmas estavam pressionadas contra a pele
das costas de Beast, mas era o jeito que ele continuava puxando Beast para
beijos que eram o mais atraente. Beast não era apenas um meio para um
fim, Laurent não era um cara excitado procurando por uma boca para chupá-
lo. Ele queria abraçar e beijar de uma maneira que Beast esqueceu que era
possível.

Beast choramingou com emoção e acariciou a bochecha de Laurent,


respirando o cheiro de seu xampu. Ele não queria que isso terminasse ainda.
Ele queria ver Laurent nu e cobrir cada centímetro de seu corpo com beijos.
Agora que Laurent sabia como era estar com Beast, talvez ele não mudasse
de ideia no caminho de casa. — OK?

Laurent assentiu freneticamente, afastando as mãos apenas para puxar


a calça. — Sim. Tão bom. Obrigado. Eu devo...? — Seus olhos procuravam
uma resposta no seu rosto quando ele pressionou os dedos contra o pênis de
Beast, que ainda estava preso em seu jeans. A visão de Laurent chupando
seu pau explodiu na mente de Beast como uma Supernova. Ele estaria
olhando para cima, bochechas rosadas de excitação, ou ele manteria os olhos
fechados, envergonhado ao encontrar o olhar de Beast? Ele iria querer engolir
ou apenas masturbá-lo até que ele pulverizasse seu esperma na sua mão
graciosa? Havia tantas opções, e Beast queria ver todas elas ganhando vida.

— Eu... Ainda não. — Beast sussurrou gentilmente puxando a mão de


Laurent, porque seu toque estava nublando a parte racional da mente de
Beast. — Vamos para casa.

Laurent assentiu e entrelaçou os dedos antes mesmo de Beast tentar.


Ele levantou a mão de Beast para seus lábios e beijou seus dedos. — Eu
gostaria muito disso.

Beast olhou para ele, mal respirando quando os lábios macios e


beijáveis roçaram sua mão, como se as cicatrizes feias não tivessem
importância. Ele sorriu, ficando mais alto enquanto acariciava a bochecha
de Laurent com a outra mão e afastava o cabelo longo e rebelde. Estava reto
devido o trabalho de Nao, mas ele gostava muito mais em seu estado natural.

Eles ficaram parados por vários segundos até que Beast percebeu que
era sua decisão dar o próximo passo. Ele puxou Laurent para fora do quarto
e para o corredor escuro, em direção às luzes brilhantes do corredor que os
levaria ao apartamento de Beast.

Mesmo o espelho distorcido que eles passaram no caminho não poderia


incomodar Beast hoje à noite. O único espelho que ele precisava agora era o
dos olhos de Laurent. Eles caminharam em silêncio, com Laurent olhando
para ele de vez em quando, e ele finalmente deslizou o braço ao redor das
costas de Beast. Era adorável o quão hesitante ele era. Como se houvesse
alguma coisa que ele poderia fazer para afastar Beast.

Ele se encaixava tão bem sob o braço de Beast, com seus ombros
graciosos e pele quente que cheirava a manteiga de cacau e algum tipo de
perfume almiscarado. Apesar das inúmeras tentativas, Beast não se atrevia
a falar também, e assim ambos caminharam em silêncio, para longe do
barulho da festa e em direção à privacidade do apartamento de Beast. Como
Hound estava trancado em seu cercado do lado de fora durante a noite, não
havia ninguém para perturbar sua intimidade, e a expectativa construída
pela longa caminhada estava perfurando buracos no crânio de Beast.

— Tem certeza de que quer sair de sua festa? — Laurent sussurrou no


final, uma vez que eles passaram pelo último turno no caminho para o
apartamento.

Beast olhou para o rosto bonito, e ele sabia, sem sombra de dúvida, que
ele estaria disposto a desistir de festas por um ano apenas para cair entre os
lençóis com Laurent uma única vez.

— Ta brincando né? Você acha que eu prefiro beber cerveja e ouvir Lizzy
gemendo no palco do que ficar sozinho com você? — Beast perguntou,
apertando Laurent com mais força contra ele. O sorriso lentamente se
esticando na boca de Laurent fez o coração de Beast bater mais rápido, e
quando eles se aproximaram da porta que finalmente lhes concederia toda a
privacidade que precisavam, seus músculos ficaram tensos com a pressão
para fazer isso direito. Ele sabia que Laurent gostava dele, mas ele ainda
podia decidir que não queria ir mais longe com isso. Ele poderia querer foder
alguém em questão de dias, e o que Beast faria então?

Ele dispensou aqueles pensamentos incômodos e concentrou-se na


sensação alegre de calor em seu peito, nos mamilos rosados que ele via toda
vez que olhava para Laurent, e do jeito que Laurent o observava, como se
Beast tivesse todas as respostas. Ele não iria estragar isso por sua causa.
Agora não. Ele levaria tudo o que pudesse e aproveitaria enquanto durasse.

— Não é todo dia que você se torna oficialmente o vice-presidente dos


Kings of Hell. — Laurent sorriu, pressionando contra o lado de Beast quando
eles pararam para Beast digitar o código em sua porta.

Beast riu levemente envergonhado por parecer tão tonto, mas ele estava
com Laurent, então talvez isso não fosse errado. — Acho que tive a melhor
surpresa que poderia ter — ele disse puxando Laurent para o quarto escuro.
Ele não se incomodou em procurar o interruptor de luz, porque ele conhecia
sua casa de cor. Ele imediatamente se virou para o corredor que os levaria
ao quarto principal. Seu pau estava tão duro que quase parecia dolorido, mas
ele esperaria e faria o certo esta noite.
Laurent sorriu para ele na escuridão, seguindo sua liderança como se
não houvesse ninguém com quem ele preferisse ficar. Beast podia recordar
em todos os detalhes vívidos como o pênis de Laurent provava na sua boca,
como palpitava contra sua língua e paladar, e como estava desesperado por
Laurent minutos atrás. Na sua idade, Beast já tinha fodido vários caras para
contar, mas para Laurent era tudo um novo começo, o que deixava Beast se
sentindo como se estivesse fazendo algo completamente novo.

Ele abriu o quarto e acendeu as pequenas luzes atrás da cabeceira de


madeira preta em vez da lâmpada principal, para dar uma atmosfera mais
íntima. Ele brevemente se perguntou se deveria oferecer algo a Laurent para
beber, mas ele imaginou que seria estranho, e formal, e na verdade ele só
queria se livrar das roupas apertadas que eram tão incompatíveis com a
personalidade de Laurent.

Graças a Deus ele sempre mantinha seu apartamento arrumado, e ele


recentemente trocou os lençóis para um conjunto preto macio que seria um
contraste tão extraordinário com a pele pálida e maravilhosa de Laurent. Ele
fechou a porta e olhou para cima, apenas para endurecer com a visão
apresentada a ele.

Laurent olhou para as roupas velhas penduradas na porta do guarda-


roupa para que Beast pudesse olhá-las da cama. Ele se aproximou e passou
os dedos pela manga da casaca azul. — Você limpou...

Beast se sentiu subitamente sem fôlego e sem saber o que dizer. Ele
estava tão empolgado em colocar as mãos em Laurent que ele esqueceu sobre
as roupas. Ele pretendia devolvê-las a Laurent depois que ele as pegasse, ele
realmente queria, mas sem Laurent aqui para encher a casa de Beast com
conversas, era a única coisa que ele tinha deixado dele. Por mais patético
que fosse... Ele só queria que a proximidade imaginada durasse um pouco
mais.

— Sim. Eu... Esqueci de devolvê-las para você.

Laurent passou os dedos pelo lindo broche esmaltado na lapela do


paletó. — Eu achei que pudesse estar perdido — ele disse tão suavemente
que a roupa sexy e apertada parecia ainda mais fora do que antes.
— Não, não. Desculpe por não ter avisado, eu mantive o broche aqui,
apenas no caso. É uma antiguidade? — Beast perguntou tentando cobrir sua
inquietação. Perguntas diretas devem fazer o truque.

Laurent finalmente se virou, olhando nos olhos de Beast. — Foi um


presente da minha mãe. Desculpe-me por estar estragando o clima. Não
importa. Estou feliz por tê-lo de volta. — Ele sorriu, mas ainda parecia estar
esperando pelo movimento de Beast.

Beast sentou na beira da cama e estendeu a mão para Laurent. A


tristeza na borda da voz de Laurent estava abrindo caminho através do corpo
de Beast, fazendo-o corar com a necessidade de saber tudo sobre Laurent e
seu passado, estar mais perto dele, ser tudo para ele. — Eu gostaria de saber.

— Ela… Meus pais me entregaram quando eu ainda era um menino,


mas está tudo bem, realmente. Eu sou um homem adulto agora, eu posso
cuidar de mim mesmo. — Ele chegou mais perto e montou no colo de Beast,
envolvendo seus braços em volta do pescoço dele.

Beast ofegou quando Laurent esfregou contra o pênis esticado no seu


jeans, mesmo que apenas ligeiramente. O breve contato fez sua cabeça girar;
e ele movimentou os dedos para cima e para baixo na coluna nua e
descoberta pelas roupas obscenas de Laurent. — Não aja tão valente. Dê-me
espaço para te ajudar — ele disse com uma breve risada.

Laurent sorriu para ele e se aproximou; primeiro para buscar outro


beijo. Um gentil desta vez, todos os lábios macios e toques suaves. — É graças
a você que eu tenho óculos, Beast. Você me ajudou muito.

Beast os rolou devagar, mantendo Laurent perto dele com as duas mãos,
para que ele não caísse no colchão, mas baixasse suavemente para ele, com
todo o cuidado que Beast queria investir nessa... Coisa que estava se
desenvolvendo entre ele e Laurent. — Foram eles que deixaram você com as
pessoas estranhas com quem estava? Você não mantém contato com eles,
não é?

Laurent sacudiu a cabeça, mas estava ficando tenso, alerta. Como em


todas as outras ocasiões, quando surgia o tópico de seu passado. Beast se
perguntou se Laurent havia sido abusado sexualmente por seus guardiões,
mas considerando sua busca por novas experiências sexuais, Beast esperava
que não fosse o caso.

— Não. Eu desisti disso há muito tempo.

Era uma declaração tão triste que Beast se sentiu obrigado a segurar
Laurent por um momento, roçando os lábios na testa de Laurent para
expressar sua simpatia. — Eu sinto muito. Eu perdi minha mãe, e eu sei que
deve ter sido difícil. — Ele sussurrou.

O olhar castanho atento entrou nele instantaneamente. — O que


aconteceu com ela? — Laurent perguntou o distraindo com o toque de seus
dedos e as pernas envolvendo os seus quadris como se ele estivesse puxando
Beast para dentro de seu corpo.

Beast engoliu em seco, apoiando-se acima do corpo flexível e


pressionando a testa contra a de Laurent. Eles estavam tão perto que ele
quase podia sentir o toque de mãos invisíveis em seu pênis, mas ele pegou o
olhar de Laurent e o manteve. — O carro dela explodiu. Eu a tirei lá de dentro,
mas ela morreu. — Era como se cada cicatriz em seu corpo fosse prova de
seu fracasso, e ele fechou os olhos, enterrando o rosto no pescoço de Laurent,
tão macio, quente ao toque.

E Laurent estava lá para acalmar cada pedacinho da dor de Beast. —


Oh, Beast... Eu sinto muito. Foi assim que você se queimou? — Os dedos
macios dançaram sobre o braço dele. Beast se tatuou por causa de todas as
cicatrizes.

Beast assentiu, engolindo o calor do perfume de Laurent e abraçando-o


com mais força. Isso foi o pior de tudo - não importava o quanto ele tentasse,
ele ainda não conseguiu salvá-la. Às vezes, ele achava que se sua mãe tivesse
sobrevivido ao acidente, à dor resultante do acidente teria sido mais
suportável de alguma forma. Teria um propósito. Em vez disso, a
deformidade era apenas uma entrada particularmente dolorosa no diário da
vida de Beast.

— Está tudo bem agora.

Laurent beijou a bochecha de Beast, no ponto sensível bem abaixo do


olho. — Por que o carro dela explodiu? Eles são perigosos?
Beast sacudiu a cabeça. — Não. Nós estávamos em conflito com essa
gangue. Eles plantaram uma bomba e a mataram.

Laurent assentiu lentamente, mas Beast não tinha certeza do quanto


ele entendia. O que realmente importava era que ele ouvia. Após o ataque, os
Kings of Hell fizeram a gangue rival pagar em sangue, mas isso não poderia
trazer a mãe de Beast de volta à vida ou torná-lo bonito novamente.

— Eu posso... Ver mais? — Laurent perguntou, puxando gentilmente a


parte de trás do colete de couro de Beast.

Beast engoliu em seco, mas deu um aceno de cabeça a Laurent e se


ajoelhou, tirando devagar primeiro o colete e depois a camiseta preta que ele
usava por baixo. Seu peito estava coberto de tecido cicatrizado grosso e
tatuado em uma imagem distorcida da queda de Lúcifer. Laurent
reconheceria a imagem?

Laurent passou os dedos tão perfeitos, com os lábios entreabertos e o


cabelo formando uma auréola ao redor do rosto. Sua respiração acelerou,
mas Beast não tinha certeza se isso era um bom sinal ou não. — Doeu para
que as fotos permanecessem na sua pele?

— Um pouco. Dependendo do lugar. — Beast disse, puxando o tecido


elástico quase inexistente do corpo de Laurent. Ele queria tirar essa coisa
dele bem rápido.

Laurent reprimiu um sorriso e arqueou-se para roçar os dedos sobre o


mamilo de Beast. — E aqui? — Ele lutou com a peça que era basicamente
apenas mangas, mas finalmente puxou-a, revelando seus braços esbeltos.

Beast lambeu os lábios, ofegando ao toque. — Mais forte — ele disse e


moveu os próprios dedos para baixo, para o cós da calça de Laurent. Ele não
podia acreditar que tinha alguém tão bonito, tão maravilhoso em sua cama.
E Laurent não apenas sentia prazer com ele, mas também queria tocar em
Beast.

— Assim? — Laurent engasgou e pressionou a palma da mão no mamilo


de Beast, movendo a outra mão para a parte do peito de Beast que tinha
menos cicatrizes, e em seu estômago. Ele abaixou as pernas ao redor de
Beast, espalhou-se como uma travessa de iguarias para Beast provar.
Beast sorriu, pegando a mão de Laurent e esfregando-a contra o mamilo
até que ele endureceu com o toque contínuo. — Não. Assim. Desse jeito é
bom.

Laurent riu nervosamente, mas deixou Beast guiar sua mão. A visão era
tão doce que Beast queria lamber Laurent todo. Ele não conseguia se lembrar
de já estar na cama com alguém tão inocente. Porque apesar de suas
declarações de maturidade, Laurent era a pessoa mais natural que Beast
conhecia. Tão completamente diferente da vida que ele e seus irmãos
lideravam como membros do MC Kings of Hell, e ainda assim, de alguma
forma Laurent se encaixava como se ele estivesse destinado a estar aqui para
compensar todo o derramamento de sangue e violência.

— Posso ver mais de você? — Beast perguntou, não querendo assustar


Laurent. Ele girou a ponta dos dedos no estômago de Laurent e esfregou os
dedos contra a virilha. O gemido que ele recebeu já disse à Beast qual seria
a resposta.

Laurent de brincadeira empurrou o estômago de Beast. — Você já me


viu todo! Agora sou eu, pois estou morrendo de fome para tocar a sua carne.

Beast riu. — Ok, eu vou primeiro então. É isso que você quer? — Ele
perguntou e puxou a mão de Laurent para frente de sua calça. Apenas a
proximidade dos dedos de Laurent fez sua pele explodir com a sensação.

Laurent assentiu ansiosamente, sua respiração ficando rouca antes


mesmo que ele abaixasse o zíper, e o peito de Beast bateu com um sentimento
de orgulho que esta linda criatura estava tão animada para ver seu corpo
inteiro. Não apenas porque Beast era o único homem disponível, ou porque
Laurent fosse um prostituto. Não, Laurent estava tremendo todo quando ele
puxou o jeans de Beast para baixo junto com sua cueca boxes, e ele não
daria um descanso até que todo o pênis de Beast fosse revelado.

Laurent na verdade gemeu ao vê-lo.

Beast sorriu, olhando para o pau dele, tatuado com escamas de dragão.
Era uma tatuagem antiga, antes de seu acidente, e agora ele estava em êxtase
por ter alguém para vê-la. Sem pensar, ele puxou a mão de Laurent e fez
seus dedos deslizarem para cima e para baixo, movendo o prepúcio para que
ele deslizasse sobre a cabeça, provocando uma sensação que explodiu por
todo o caminho até o crânio de Beast. Ele imaginou Laurent abaixando-se
para chupar seu pênis, e isso criou uma reação tão forte nele, que o líquido
claro apareceu na fenda, prestes a chuviscar nos dedos de Laurent.

— É... Eu... ah, e tem tinta nele. — Laurent disse, completamente


hipnotizado.

Beast nunca se importou muito se seus parceiros tivessem muita


experiência ou não, mas ter um pêssego tão maduro em sua cama, pronto
para ser mordido pela primeira vez, estava lhe dando arrepios. Ele era agora
o único homem que Laurent havia tocado dessa maneira. Ele já podia
imaginar-se deitado entre as pernas ansiosamente espalhadas de Laurent,
mostrando-lhe como era ser fodido bem... Tantas coisas que Beast poderia
fazer com Laurent para fazê-lo esquecer todas as suas outras opções.

— Sim. É suave, não é? Não é como o resto de mim. — Beast sussurrou,


soltando Laurent para permitir que ele explorasse. — Você pode tocar minhas
bolas em seguida. Suavemente.

O nariz arredondado de Laurent se contorceu como um coelho, mas toda


a atenção do garoto estava no pênis de Beast, exatamente como deveria ser.
Laurent deslizou a mão entre as coxas de Beast, seu peito subindo e
descendo rapidamente. — É... Grande demais. Como todo você — ele
sussurrou.

— Você gosta disso? — Beast perguntou, tentando não sorrir muito,


porque sabia que poderia parecer predatório com sua aparência geral. Ele
lentamente balançou seu pênis na mão de Laurent, encolhendo de prazer
quando Laurent apertou os dedos em torno dele.

— Sim. É... O mais maravilhoso que eu já vi. — O rosto de Laurent


estava vermelho como um tomate, mas aqueles dedos macios se moviam para
cima e para baixo no pênis de Beast, como se estivesse em câmera lenta.

— Quantos você viu? — Beast sussurrou, movendo-se junto com as


carícias de Laurent. Ele elogiou seu próprio autocontrole, porque ele queria
fazer o contrário.
Laurent parou, e Beast já sentia falta das carícias em suas bolas e pau.
— É uma pergunta capciosa.

— É? — Beast perguntou e se inclinou para beijar Laurent na boca,


para fazê-lo entender que com Beast ele estava livre para falar o que pensava.

— Sim. Se eu disser “muitos” seria uma mentira, e se eu disser “alguns”


seria um tipo de elogio, mas eu teria menos valor.

— Eu só quero saber quem você olhou em segredo. — Beast riu e saiu


da cama, ansioso para tirar o resto de suas roupas. Foi rápido, e com as
meias já no chão, ele estava pronto para realizar qualquer fantasia que
Laurent pudesse ter. O modo como Laurent afirmava que queria fazer ‘tudo”
ainda era uma presença firme em sua mente, mas sabia que provavelmente
era uma figura de linguagem. E ele não se importava de qualquer maneira.
Apenas ser capaz de tocar Laurent de uma maneira íntima estava deixando-
o em êxtase.

O jeito que os olhos de Laurent continuavam seguindo Beast era um


prazer em si mesmo. — Algumas pessoas. Mas nenhum tão bem...
Constituído. E nenhum excitado. — Ele se sentou na cama em toda a sua
glória seminua, como se não soubesse o quão faminto Beast estava
observando seu corpo. O pênis de Laurent estava claramente ansioso
também.

— É hora de você se mostrar para mim novamente. — Beast disse e


puxou o tecido preto que se agarrava na panturrilha de Laurent. Sem esperar
por uma resposta, ele puxou os quadris de Laurent, e o virou para que ele
ficasse de quatro e de costas para Beast. A calça preta abraçava sua bunda
de um jeito que fez Beast salivar com a fome de vê-la ser revelada.

Laurent olhou por cima do ombro, de olhos arregalados, mas sem


protestar. A pequena provocação até abriu as pernas ligeiramente, como se
estivesse convidando Beast para ficar entre elas. Suas palavras anteriores só
confirmavam a suposição de Beast de que Laurent nunca compartilhara
qualquer intimidade com um homem. E Beast seria o primeiro a sentir o
gosto dele, e ele saboreia cada mordida.
Ele exalou completamente hipnotizado pela beleza das costas nuas de
Laurent, tão intocada, tão pálida, com o músculo tonificado suavizado pelas
sombras até o cós. Beast esfregou a mão para cima e para baixo nas costas
de Laurent antes de deslizá-las para as nádegas enquanto seu olhar
permanecia focado no rosto bonito, procurando por sinais de desconforto ou
protesto. — O que você quer? — Ele sussurrou antes de lentamente enrolar
o tecido apertado junto com a roupa íntima preta para revelar ainda mais da
carne macia.

A respiração de Laurent estava tão pesada que Beast estava morrendo


de vontade de beijá-lo só para sentir, mas o traseiro perfeito o distraía
demais. Ele já viu isso antes, mas não assim. Não quando ele estava
autorizado a tocar. — Eu… Eu quero…

— Hmm? — Beast cantarolou, revelando toda a bunda e as coxas de


Laurent antes de puxar toda a roupa.

Laurent estava completamente nu, tão vulnerável e bonito na posição


sedutora que Beast o colocou. Ele era como uma fruta suculenta prestes a
derramar sobre os dedos de Beast.

— Eu sinto muito. Eu não tenho certeza. — Laurent disse, olhando para


Beast mais e mais. — Eu quero estar perto. Eu quero te tocar.

— E se eu fizer isso? — Beast sussurrou, abaixando o peito nas costas


de Laurent, o que fez seu pênis se encaixar no vale entre as nádegas de
Laurent. O toque enviou fogo líquido pelo corpo de Beast, e ele
agressivamente chupou o ombro de Laurent, abraçando o corpo esguio e
maravilhoso apertado contra o dele.

— Oh… Oh! Isso é bom. Você é tão excitante. — O gemido de Laurent


era como a música mais doce nos ouvidos de Beast. Ele poderia ficar com
Laurent assim a noite toda, apenas ouvindo os gemidos dele. As costas de
Laurent estremeceram contra o peito de Beast, e saber que ele era a causa
desse estado de excitação de Laurent fez sua pele ficar estática com
eletricidade.

— Então... É para você — Beast sussurrou languidamente movendo a


palma da mão no estômago de Laurent e provocando seu pau com um toque
fugaz. Ele sorriu do jeito que Laurent se arqueou sob ele, apertando o pênis
de Beast entre seus corpos tão deliciosamente que Beast pensou por um
momento que ele estava prestes a entrar entre as nádegas abertas dele.

Laurent gemeu e caiu nos cotovelos, o cabelo escuro deslizando por seu
ombro. Deu muita satisfação a Beast vê-lo perder o controle. Isso só o fez
imaginar como Laurent soaria uma vez que Beast realmente transasse com
ele, aquele corpo apertado espremendo o pau de Beast e o ordenhando.
Laurent não era exatamente passivo, mas definitivamente complacente com
suas pernas abertas, fazendo como solicitado e seguindo o exemplo de Beast.

Laurent se empurrou contra a mão de Beast, balançando para frente e


para trás como um felino no cio, e seu pau estava duro novamente. Claro
que estava. Esta era a primeira vez que ele estava na cama com um cara. E
se Laurent passasse a noite, eles faria tudo de novo na manhã seguinte. Ele
empurrou seu traseiro contra a virilha de Beast, mas Beast tinha outros
planos. Ele se afastou um pouco, só para empurrar a bunda de Laurent e
deslizar seu pênis entre as maravilhosas coxas.

As bolas de Laurent se arrastaram sobre o pau de Beast, e ele gemeu de


prazer, sorrindo quando olhou para baixo entre as nádegas de Laurent, e viu
o anel rosado de seu buraco. Ele não podia apressar as coisas demais com
Laurent, pois ele era muito inexperiente, mas um dia ele iria deslizar seu pau
entre esse pêssego suculento.

Arrastando sua mão pela coluna de Laurent, ele enterrou os dedos no


cabelo grosso e ondulado, e Laurent olhou para ele. Ao mesmo tempo, ele
moveu a ponta do dedo ao redor do seu ânus, seu pau tão pesado e pulsante
que por um momento ele coçou para ignorar suas preocupações em
convencer Laurent para ir até o fim. O garoto não iria protestar, mas a ideia
de explorar a sua inocência depois de protegê-lo de um predador anterior não
coadunava com as intenções de Beast. Ele não era esse tipo de homem. Ele
cuidaria de Laurent e ele iria deixá-lo explorar atividades menos invasivas
primeiro. Ele seria paciente e provocaria Laurent até que ele ficasse viciado
com o corpo de Beast e os prazeres que ele poderia lhe dar.
Os olhos de Laurent ficaram um pouco mais abertos com o toque íntimo,
e a tensão era óbvia em seus ombros, mas ele não protestou. Ele estaria com
medo? Ele se sentia intimidado em ter um parceiro mais experiente e
considerava inadequada sua falta de experiência? Ou ele queria ser tocado
lá, mas estava nervoso?

— Não? Que tal isso? — Beast sussurrou, inclinando-se e lambendo a


carne sensível com a ponta da língua. Custou-lhe a pressão contra o seu
pênis, mas queria tornar tudo muito excitante e ilícito, e tudo isso estava
fazendo sua cabeça pulsar de prazer. O vale entre as nádegas de Laurent lhe
proporcionava a visão perfeita do rosto bonito que imediatamente corava tão
fortemente que estava quase roxo.

— Oh, bom Deus! — Laurent o observou tão intensamente que seu


pescoço com certeza machucaria pela amanhã por se torcer tanto para trás.
— É… Isso é algo que as pessoas fazem? Eu nem sei mais o que é o inferno
e o que é o paraíso.

Beast riu e virou Laurent. Ele próprio deslizou os joelhos no chão tão
rapidamente que doeu, mas era um pequeno preço a pagar por colocar o
rosto enterrado entre as coxas abertas de Laurent. Ele o puxou até a beirada
da cama e chupou a pele macia de seu saco, saboreando o suor e a excitação
enquanto se arrastava para baixo, com a intenção de se satisfazer com o
garoto.

— Você tem um gosto bom — ele disse passando a ponta da língua


contra a pele enrugada.

Vendo os dedos de Laurent se curvar e se contorcerem na beira da cama


fez Beast esquecer as cicatrizes em seu corpo. Se ele conseguiu dar esse lindo
espasmo em Laurent, além de fazê-lo perder a cabeça, significava que ele
ainda era bom o suficiente. As pernas à sua frente se abriram mais, e foi todo
o convite que ele precisava para alternar entre perfurar sua língua contra o
buraco e lamber as bolas macias, em seguida, deslizando todo o caminho até
a parte de baixo do pênis de Laurent, que já pingava de prazer.

Ele queria Laurent incoerente, gemendo, e com as pernas tão trêmulas


que ele não conseguiria ficar de pé.
O almíscar salgado do corpo de Laurent era o néctar que Beast ansiava.
Depois de ter ficado anos sem abordar ninguém, apenas on-line, por medo
de ser uma novidade e sem ninguém digno para se dedicar na vida real,
Laurent era a resposta para suas necessidades mais secretas; um homem
flexível e maravilhoso, e confiando nele de um modo que fez Beast desejá-lo
e apreciá-lo, mesmo que sua mente estivesse cheia dos mais sujos
pensamentos.

Ávido como um lobo no final do inverno, ele devorou a carne de Laurent,


levando seu jovem pau até a garganta. Depois de anos de celibato, ele
conseguiu abocanhar a carne macia. Ele chupou as bolas de Laurent e as
manuseou na mão. Ele beijou, mordeu e chupou as coxas trêmulas de
Laurent. Ele abriu bem as nádegas e comeu a bunda de Laurent com tanta
dedicação que o buraco se suavizou em poucos minutos. Com a língua dentro
do canal apertado, com a ponta provocando a carne enrugada, ele imaginou
enterrar seu pênis na bunda de Laurent e fodê-lo até Beast gozar, enchendo
o buraco de Laurent com seu esperma. Eles olhariam um para o outro, e
Laurent então entenderia que nenhum outro homem poderia dar a ele as
coisas que Beast poderia fazer.

Ele estava tão imerso na mistura de fantasia e realidade que o primeiro


jato de semente espirrou em sua bochecha antes que ele pudesse colocar o
pênis dele de volta em sua boca.

Ele só bebeu de Laurent duas vezes até agora, e já se sentia viciado em


seu gosto.

O garoto ofegou e se contorceu tão lindamente, agarrando os lençóis e


gemendo sem vergonha. Suas coxas ainda estavam trêmulas quando ele
terminou, mas considerando o olhar atordoado em seus olhos, ele ainda não
estava presente. Quais seriam suas fantasias e pensamentos? Ele também
sonhava com como o pênis de Beast entre suas nádegas em vez de sua
língua?

Renovado, Beast pulou na cama, enlaçando Laurent com seu corpo.


Incapaz de ficar quieto com as bolas doloridas e com o pau duro, ele colocou
os dentes sobre o pescoço de Laurent, massageando a carne em sua boca e
chupando-a.

As coxas de Laurent se fecharam ao seu redor e foi o abraço mais doce.


— Você é muito bom para mim — ele sussurrou entre um gemido e outro, e
seus dedos começaram a traçar a pele irregular do ombro de Beast.

Beast estava tão excitado que mal registrou as palavras. — N-não... Eu


quero. Você é tão maravilhoso... Tão doce — ele murmurou, rolando seus
quadris contra Laurent e gemendo quando seu pau esfregou contra o
estômago de Laurent.

Laurent envolveu um de seus braços em volta do pescoço de Beast e


beijou o que restava de sua orelha esquerda, mas era difícil se preocupar
como Laurent o percebia quando os dedos macios e hábeis mergulharam
entre seus corpos e alcançaram o pênis dolorosamente ereto de Beast. — E
você é desumanamente paciente.

Beast gemeu e encontrou seus lábios, colocando os braços sob as costas


de Laurent para fechá-lo em um abraço apertado de corpos quentes e suados.
Ele fechou os olhos, flutuando nas ondas da luxúria enquanto a mão de
Laurent trabalhava no seu pênis, usando o pré-gozo como lubrificação.
Qualquer capacidade de pensamento estava evaporando do cérebro de Beast,
e ele seguiu em frente, montando o punho apertado sendo ordenhado até
secar.

Ele ainda estava ofegante depois que o seu orgasmo derreteu seu
cérebro, e quando o pensamento de seu gozo estava na mão e estômago de
Laurent, ele sentiu uma nova pontada de excitação em suas bolas vazias. Só
agora ele realmente sabia o quanto ele sentia falta do sexo. O quanto ele
sentia falta de ter alguém em sua cama, e ser também querido e apreciado
não apenas como um grande líder dentro do clube, um bom amigo e um
homem responsável, mas como um amante digno de tocar e beijar. Ao
permitir que ele ficasse tão perto, Laurent substituiu uma peça dentro de
Beast que tinha sido quebrada há muitos anos.

— Eu fiz isso! — Laurent exclamou com alegria, como se um homem


com sua aparência fosse um desafio fazer outro homem gozar.
Beast riu, abraçando o corpo esguio contra ele. Incapaz de se conter
quando a energia foi drenada dele rapidamente, ele rolou com Laurent e
deitou no colchão ao lado dele, completamente gasto. — É um milagre que
eu não tenha gozado mais rápido...

Laurent rolou até ficar colado ao seu estômago e olhou para Beast para
conversar, e foi mais uma faísca de alegria para Beast. Seu novo amante não
se esquivou de olhar para ele. Corando furiosamente, Laurent cobriu a parte
inferior do rosto com as duas mãos. — Aquilo que você fez com a sua língua?
— Ele sussurrou. — Eu realmente não sei nada sobre aquilo.

Beast explodiu em gargalhadas e puxou Laurent para mais perto,


sorrindo largamente. — Oh, qual das coisas que eu fiz com a minha língua?
— Ele perguntou, pressionando um beijo suave nos lábios de Laurent. Ele
não conseguia parar de sentir o cheiro da pele quente novamente. O cheiro
do garoto era ainda mais intenso agora, ainda mais sexy.

Laurent riu e escondeu o rosto na dobra do pescoço de Beast. — Eu


ainda estou todo... Contagiado lá. — Laurent puxou a mão de Beast para sua
bunda, e esse gesto de convite fez Beast gemer com a necessidade de fazer
Laurent gozar de novo.

— Eu quero fazer tudo para você aí embaixo — ele declarou olhando


para Laurent maravilhado. Ele não podia acreditar que isso aconteceu. Ele
fez um garoto tão adorável gozar, não uma, mas duas vezes.

E ele também gozou.

Seu coração disparou quando Laurent estava pensando nas mesmas


coisas. — Podemos fazer essas coisas de novo de manhã?
Capítulo Dezessete
Laurent

O pênis de Beast era uma beleza, e a tinta nele só aumentava o efeito


que tinha sobre Laurent. Não que Laurent pudesse ver quando metade estava
enterrada em sua boca.

Ele acordou pressionado firmemente contra o peito de Beast, e por um


momento ele pensou que ainda estava sonhando, mas então Beast colocou
uma coxa pesada em Laurent, e ele descobriu que definitivamente não estava
dormindo.

Como o mestre de seu próprio destino, ele mergulhou a cabeça debaixo


das cobertas, e o resto foi história. A carne latejante em sua boca estava
prestes a liberar seus sucos, e Laurent ansiosamente engoliu tudo, ouvindo
o som glorioso dos gemidos de Beast acima dele.

As coxas de Beast tremiam dos dois lados de sua cabeça. Sem marcas
de cicatrizes e peludas, eles apertaram e fizeram cócegas na pele nua de
Laurent cada vez que ele chupava mais forte ou torcia os lábios ao redor da
circunferência em sua boca. Antes de vir para cá, ele nunca considerou
colocar a boca no pênis de outro homem, mas o corpo inteiro de Beast tinha
um aroma tão limpo, com apenas um pouco do sabor da noite anterior, que
ele ansiava fisicamente retribuir o favor e oferecer seus lábios em troca do
cuidado mostrado a ele na noite passada.

E observar um homem tão grande e poderoso perder o controle pouco a


pouco, ter o corpo forte lutando para respirar por causa do que Laurent
estava fazendo, era um deleite que ele queria que durasse mais,
independentemente da leve dor em sua mandíbula.

Beast deslizou a mão no cabelo de Laurent quando os primeiros


espasmos de liberação atingiram seu corpo, e ele manteve a cabeça de
Laurent no lugar enquanto o esperma levemente amargo enchia a boca de
Laurent. Ele queria tudo o que Beast pudesse dar a ele, mas cruzar a linha
que ele colocou entre eles antes de ontem, deixou Laurent frenético em
pensamentos sobre o que tudo isso significava e como a amizade deles
mudaria. Ele não tinha nenhuma referência para ajudá-lo nessa nova
jornada, mas pelo menos Beast estava lá para segurar sua mão.

Depois que Beast soltou sua última contração na boca de Laurent,


Laurent lentamente se afastou e colocou sua bochecha no estômago forte e
musculoso que ele desejava tocar por tanto tempo, apenas para concluir que
não era suficiente e começou a beijar os músculos rígidos e a pele cicatrizada
que fazia uma paisagem tão bonita.

Era como se ele tivesse transcendido a outro plano de existência onde o


desejo era livre para ser expresso e onde ele podia oferecer sua devoção como
quisesse.

Beast estava respirando com dificuldade, e toda vez que ele inspirava
profundamente o ar, a cabeça de Laurent era empurrada para cima, apenas
para afundar quando Beast exalava. Mãos fortes acariciavam o cabelo de
Laurent, brincando com os fios gentilmente. Não havia nada desajeitado ou
brutal nas carícias, e Laurent se sentiu sorrindo enquanto acariciava a pele
marcada no estômago de Beast.

— Como foi? — Beast perguntou no final.

Laurent bufou e se arrastou para baixo das cobertas, descansando em


cima de Beast. — Eu amei. Como foi para você? Eu sei que posso soar um
pouco demais, mas não sei se existe algo assim. Eu tenho uma nova alegria
em seu corpo, e eu gostaria de nunca mais sair dessa cama.

Beast olhou para ele por alguns segundos, gentilmente roçando os


dedos ao longo da mandíbula de Laurent, mas então sorriu tão amplamente
que puxou a pele marcada na metade do rosto que foi mais queimada,
tornando sua expressão adoravelmente torta e malandra. Até os olhos dele
estavam sorrindo, um azul brilhante suavizado por leves linhas ao redor.
Laurent nunca tinha visto Beast tão feliz.
— Bem, não há razão para ser tímido com um amante. É bom se
comunicar. — Beast disse no final antes de rolar, apenas para pressionar
um beijo na têmpora de Laurent.

Laurent ofegou de repente preso sob o peso impressionante de Beast.


Era glorioso ficar nu debaixo de um homem. Sob Beast. Tudo o que eles
fizeram ontem foi como um sonho cheio de surpresas e coisas excitantes e
obscenas que Laurent nunca imaginou. No entanto, quando Beast os fez
ganhar vida, todos os seus desejos pareciam que seriam cumpridos, além de
suas esperanças.

E se eles se comunicassem, ele poderia dizer o que pensava. — Eu gosto


de estar sob você. — Laurent passou os braços ao redor do pescoço de Beast
e o puxou para um beijo.

A respiração de Beast ficou presa, e ele embalou a cabeça de Laurent


na curva de seu cotovelo, fazendo-o sentir-se quase impossivelmente seguro
de todo e qualquer dano. — E eu gosto de você debaixo de mim.

Laurent inclinou o rosto para beijar o pescoço de Beast. As cicatrizes


não eram as mais bonitas, mas havia algo extremamente íntimo em ser
permitido tocá-las, e Laurent queria amar o corpo de Beast ainda mais.
Mesmo a mais horripilante - o buraco e a carne retorcida que restava da
orelha esquerda de Beast - não enojava Laurent de maneira alguma. Ele
simplesmente se sentia mal pelo fato de Beast ter passado por tanto
sofrimento e por não ter conseguido salvar sua mãe.

— Eu tenho que fazer xixi. Ou isso é muito para a frente?

Beast começou a rir e deu um breve abraço em Laurent antes de soltá-


lo. — Não. Vá em frente e volte para mim antes que eu me canse de esperá-
lo.

Laurent rolou para fora da cama com tanta dignidade quanto pôde, já
que sabia que estava sendo descaradamente ofendido. Ele se esticou na
frente da janela para prolongar o momento.

— Eu já estou me acostumando com isso. Você pode precisar me cortar


se quiser se livrar de mim. — Beast disse, rindo.
Laurent caminhou de costas até a porta, para que ele pudesse observar
Beast por mais algum tempo. Esticado e sorridente, seu amante maravilhoso
era uma visão que Laurent teria alegremente gravado na parte de trás de
suas pálpebras. — Isso me deixaria ferido — ele disse no final e não deixou
Beast responder, e saiu. Mas no momento em que ele fechou a porta e se
virou para correr para o banheiro, ele enfrentou Knight, que estava no final
do corredor, olhando para ele com um sorriso.

Laurent parou, sentindo as agulhas de constrangimento arrepiando sua


pele.

— Olá. Eu queria saber se eu não deveria voltar mais tarde. Sorte


minha que vocês dois já terminaram. — Knight disse.

Laurent respirou fundo para avaliar a situação e fugiu de volta para o


quarto, pressionando as costas contra a porta e olhando para Beast, ainda
tentando processar o que aconteceu.

Beast franziu a testa. — O que há de errado? — Ele perguntou, rolando


para fora da cama e se aproximando dele em passos rápidos.

Laurent escondeu o rosto nas mãos com um gemido. Em outros tempos


mais inocentes, ele não costumava se incomodar muito com outro homem
que o via nu, mas suas opiniões sobre o assunto mudaram desde que ele
descobriu que ele não era uma aberração e que muitos homens
compartilhavam suas inclinações. — Knight está aqui — ele disse
categoricamente.

Beast fechou os olhos e respirou fundo. — Você quer falar com ele ou
quer ficar aqui?

Laurent esfregou o rosto, ciente de que a tinta em volta dos olhos dele
era uma bagunça total. — Está bem. Eu só preciso da minha calça. — Ele se
deu mais dois segundos para reunir seus pensamentos, e então pegou suas
roupas e se vestiu. Beast, por sua vez, parecia não se importar com Knight
vendo sua nudez.

— Você não vai...?


Beast rosnou. — Se ele acha que é bom para me ouvir fazendo sexo em
minha própria casa, então ele pode lidar com o meu pau. Venha — ele disse,
oferecendo a mão a Laurent.

— Mas eu não quero que ele veja. — Laurent sussurrou e passou os


braços ao redor da cintura de Beast. O homem era tão grande que estava lhe
dando arrepios.

Beast sorriu. — Somos como irmãos. Ele já me viu nu um milhão de


vezes. Não há razão para ficar com ciúmes.

Laurent suspirou profundamente, mas agarrou a mão de Beast no final


e o seguiu pelo corredor. Knight acenou para eles do sofá, sorrindo como um
louco. Ele mexeu as sobrancelhas. — Fico feliz em ver vocês dois se
entendendo.

— Você poderia ter deixado uma nota, seu espião sujo. — Beast disse,
puxando Laurent para mais perto e abraçando-o com um braço.

Laurent mordeu os lábios para não sorrir muito. Sim Knight. Nós
fizemos sexo ontem. E hoje. E foi incrível.

Knight sorriu. — Eu não sou um espião! Eu realmente vim porque eu


notei que Laurent estava faltando, e imaginei que você gostaria de saber. Mas
parece que esse mistério está resolvido.

Beast puxou os dentes sobre o lábio inferior e brincou com o cabelo de


Laurent. — Sim, nós precisávamos conversar algumas coisas.

— Aposto que houve muita conversa envolvida. — Knight disse com


uma cara séria. Beast abriu a boca para responder, mas Knight ergueu
ambas as mãos e continuou. — Eu não estou tentando ser uma merda. Você
sabe que eu te amo, cara. Bom para você. É bom ver você finalmente
desbloqueado.

Laurent passou os braços ao redor da cintura de Beast, tão


insuportavelmente confortado pela proteção que o braço pesado oferecia.
Toda a sua ansiedade parecia desaparecer quando eles se tocavam dessa
maneira.

— E eu? — Laurent exigiu. — É bom para mim também.


Knight começou a rir, mas ofereceu um gesto de desculpas quando
Beast fez uma careta para ele. — Eu sei, eu sei. Você tem que ensinar tudo
o que sabe. Ele é muito fofo. Esse cara se escondeu debaixo de uma pedra
todo esse tempo? O que você diz Laurent? Como é que ninguém te pegou
antes, com um rosto assim?

Laurent sorriu, embora a lembrança de Fane azedasse seu bom humor.


— Eles tentaram. Mas sou eu quem decide quem receber na minha cama —
ele disse, mas ficou um pouco triste, porque na verdade ele não tinha uma
cama.

Beast acariciou o topo de sua cabeça enquanto Knight olhou entre eles
com diversão. — Boa escolha então. De qualquer forma, eu vou sair e deixar
os dois pombinhos sozinhos.

Beast grunhiu. — Knight, isso pode ficar entre nós três por enquanto?

Laurent prestou atenção nas palavras, sem saber se realmente o


incomodava, ou se era um alívio. Ele não tinha certeza de como navegar no
campo minado de interações sociais e o que o tempo na cama de Beast
realmente significava, então era melhor se ele tivesse mais tempo. Não era a
liberdade que ele queria com o seu pacto com o diabo em primeiro lugar? Ele
nunca mais queria ser ligado a alguém.

Knight assentiu. — Claro, não há problema. É tudo muito divertido


desde que todos estejam felizes. — A última frase parecia estar de alguma
forma voltada para Laurent, como se fosse uma pergunta.

— Sim! — Laurent foi rápido em dizer. — Eu preferiria dedicar um


tempo para descobrir as coisas sem que as pessoas façam perguntas.
Especialmente se for isso que Beast quer também.

Knight deu um suspiro profundo e passou os dedos pelos cabelos. —


Oh cara. Eu queria que Jordan fosse como você.

Beast colocou a mão na nuca de Laurent. — Você sabe minha opinião,


irmão. Mas é sua mulher e suas escolhas.
Knight lentamente recuou para a porta. — Você sabe, estou começando
a concordar com você. Eu odeio quando as pessoas não conseguem agrupar
sua maldita mente.

Laurent pensou se deveria dizer alguma coisa, sua língua coçava, e não
era como se Knight pudesse ficar violento quando Laurent estava sob o braço
de Beast, e sob sua proteção. — Você tem que me desculpar, mas não é você
que se envolve em ações sujas com outras pessoas? Ambos os homens e
mulheres…

Knight revirou os olhos. — Sim, mas ela sabe que não somos exclusivos.
Ela nem consegue se decidir se está bem com isso ou não, e ninguém pode
me dizer para fazer algo que eu nunca concordei.

Laurent assentiu devagar, tentando organizar a informação em sua


mente. Ele notou que as relações entre as pessoas no clube não eram nada
parecidas com o que ele sabia do seu tempo, então ele tentou aceitar tudo
como estava.

Beast soltou Laurent e se aproximou de um armário. Ele se serviu de


suco e encolheu os ombros. — Esse é o problema, não é? Ela gosta da ideia
de um cara como você, mas ainda tenta mudá-lo. Talvez seja essa a fantasia
dela? Domesticá-lo.

Knight bufou. — Foda-se. Ela vai ter que lidar com outro pensamento
se você estiver certo. De qualquer forma, estou de folga. Cuide bem do meu
amigo. — Ele disse piscando para Laurent.

Laurent sentiu-se corar um pouco e se encostou à beira do sofá,


deixando para trás seus próprios pensamentos e a visão gloriosa do corpo
forte e nu de Beast. — Eu nunca tentaria domesticá-lo. — Ele esperava ter
entendido as conotações da frase corretamente. A raiva de Knight parecia ser
sobre Jordan tentando amarrá-lo, e isso o fez se lembrar do Sr. Barnave, e
tiver que fazer sempre o que lhe era dito, e nunca sendo livre para decidir
sobre as coisas que importavam.

O olhar de Beast passou por Laurent, e pela primeira vez ele não tinha
certeza se tinha dito a coisa certa depois de tudo. Knight bateu os dedos
contra a porta e abriu-a, desaparecendo de vista depois de uma palavra de
despedida e deixando Laurent e Beast em um silêncio absoluto.

Laurent passou o cabelo por cima do ombro. — Eu entendi errado o


significado da palavra? O contexto é de não prender alguém a você mesmo,
não é? E notei que a liberdade é o que tem de mais valor para todos dos Kings
of Hell.

— Bem, eu não posso te dizer o que você deveria querer para si mesmo
— Beast disse um pouco bruscamente.

Laurent fez uma pausa, pensando um pouco. — Acredito que nada seja
tão valioso quanto à liberdade. — Ele olhou para a porta que Beast sempre
mantinha trancada. Knight era permitido entrar. Laurent agora seria
também? Ele não ousou perguntar ainda.

Beast tomou um copo inteiro de suco. — Eu estou com fome. Você quer
sair e tomar café em algum lugar?

Laurent assentiu. As preparações levaram muito mais tempo do que o


habitual, porque o banho acabou sendo muito mais prazeroso com os dois
juntos. Então, a tinta nos olhos de Laurent não saiu, de modo que ele fez um
desvio para encontrar Nao, o que também lhe deu a chance de parar em seu
próprio quarto e vestir as roupas que Beast gostava muito mais.

Foi bom para ele ter um pouco de tempo, porque Beast queria ir
alimentar Hound de qualquer maneira, mas a verdade sobre os eventos da
noite passada cutucavam na parte de trás da garganta de Laurent quando
ele falou com Nao. Ela estava muito curiosa para saber se ele conseguiu
encontrar um parceiro, mas ele tentou contar o mínimo de mentiras
possíveis.

Uma vez que ele terminou suas tarefas e desceu as escadas em busca
de Beast, ele se sentiu completamente revigorado e como ele novamente nas
roupas que Beast escolheu para ele na primeira vez que foram fazer compras
juntos. Laurent prendeu seu broche de valor inestimável na lapela de sua
jaqueta de couro, e ficou feliz ao descobrir que esse novo estilo moderno
combinava muito bem com ele.
Ele estava a meio caminho da sala de bilhar quando um homem idoso
tropeçou no corredor, cortando seu caminho. Laurent demorou alguns
segundos para perceber que a massa de cabelos grisalhos e opacos
emaranhados e os ombros curvados pertenciam a ninguém menos que King,
que usava cabelos dourados e brilhantes na última noite.

Martina o seguia usando as roupas da noite anterior e com traços de


maquiagem nas bochechas. Seu cabelo estava um pouco bagunçado, mas
apesar da quantidade copiosa de álcool que consumia em todas as festas, ela
não parecia tão ruim quanto King.

— Por favor, você pode pintá-lo. Muitos homens fazem isso. — Martina
murmurou recuando quando o homem gemeu, esfregando a testa. — Você
vai ficar doente de novo? Você quer um chá de hortelã? Café? — Ela tentou,
mas King descartou todos os seus esforços com gestos grosseiros e rápidos.

Martina finalmente notou Laurent e suspirou, cruzando os braços sob


os seios. — Está tudo bem. Ele bebeu demais ontem à noite.

Só então ocorreu a King que ele estava sendo observado, e os olhos


pálidos e selvagens cuspiam veneno em Laurent por trás da juba prateada e
emaranhada. — Você. Venha aqui, seu pequeno filho da puta.

Martina se aproximou, tentando acalmá-lo, mas depois de algumas


palavras de desprezo, ela deve ter tido o suficiente e correu para o outro lado,
descalça e com os saltos altos na mão.

King nem mesmo se movia como um ser humano, tropeçando contra a


parede como um lobo ferido que tinha perdido muito sangue. Laurent não se
atreveu a se mover quando ele se aproximou, curvado como os bêbados mais
miseráveis de Brecon no tempo de Laurent. Em 2017, as esposas não
estavam interessadas em ajudar seus homens a todo custo. Martina
tecnicamente não era a esposa de King, mas ainda assim parecia a Laurent
que ela era pela lei dos comuns.

— Entre. — King pediu, empurrando Laurent para a sala com a porta


aberta, que cheirava a bebida e suor.

Laurent sorriu nervosamente. Ele viu que os homens às vezes


chamavam uns aos outros de 'filho da puta' e riam disso, mas o tom das
palavras de King lhe parecia que ele não estava de bom humor. — Como
posso ajudar, Sr. King?

— Sr. King minha bunda! — King sibilou e empurrou Laurent com tanta
força que ele quase caiu no colchão sujo coberto apenas por um lençol que
estava no meio do caminho de qualquer maneira. — Olhe para mim. O que
você fez? — Ele perguntou, o empurrando para trás, e revelando uma
aparência enrugada e sem brilho, e com olhos opacos.

Ele parecia um homem que envelheceu mal.

— Eu? — Laurent tropeçou, avaliando suas chances no caso de precisar


correr. Ele estava cauteloso, e não iria deixar King se aproximar dele o
suficiente para estar ao alcance do braço. — Você está apenas cansado
depois de beber demais, senhor?

King cerrou os dentes, feroz como um lobo doente procurando comida.


— Você não vai bancar o bobo comigo, garotinho. Eu estou drenado. Eu não
me sinto como eu mesmo! É como se a conexão que eu compartilho com o
meu filho tivesse sido cortada. Quer me privar disso antes que ele complete
os trinta e três anos?

Laurent lambeu os lábios, escondendo a sensação de satisfação de King


não ser capaz de roubar Beast. A culpa que o acompanhara na noite passada
evaporou quando percebeu que, sem saber, ajudara seu amante a não passar
por seu tormento secreto. — O que acontece quando ele completar trinta e
três anos, senhor? E eu não entendo como sua condição atual possa ser
minha culpa.

King massageou as têmporas e de repente olhou para cima. Era como


se uma lâmpada tivesse subitamente se acendido em sua cabeça, lançando
uma nova luz sobre tudo. — Você transou com ele?

Laurent parou e seu rosto ficou quente. Ele rapidamente puxou a gola
da camiseta, mas não conseguiu esconder as mordidas de amor em seu
pescoço. — Com licença?

— Você fez, não é? — King sussurrou e de repente correu até Laurent


e o empurrou para baixo com uma força surpreendente. A respiração
impregnada do espírito pútrido soprou no rosto de Laurent, sufocando-o. —
Eu sabia. Isso nunca aconteceu desde o acidente. Eu nunca fui tão...
Drenado. Você precisa romper as coisas agora.

Laurent engoliu em seco. — Eu… Eu preciso mantê-lo aqui até o


aniversário dele. Esse é o trabalho que tenho que fazer, e ele está tão
determinado que eu deva agarrar qualquer meio necessário. — O que ele
tinha que entender realmente era a confiança de King nele, porque ele estava
começando a entender que havia algo que ele estava perdendo sobre King. O
pacto. Tudo o que Laurent sabia era que, em troca de manter os Kings of Hell
aqui, King poderia de alguma forma obter a força vital de Beast, e que esse
efeito se amplificava quando Beast sofria. O pacto de King terminaria quando
Beast completasse trinta e três? — Quando eu estiver livre da minha
obrigação, vou deixá-lo imediatamente. Se eu encontrar outra maneira de
distraí-lo, farei isso também, mas ele está decidido a convencer todos a se
mudarem.

King assobiou por entre os dentes e levantou a mão, como se


pretendesse atacar Laurent, mas no final virou-se e começou a andar de um
lado para o outro com a cabeça entre as mãos. — Porra! Porra! foda-se! Ele
está trabalhando nas minhas costas, não está? Os outros estão o apoiando?

— Os outros... Não são totalmente contra a ideia. — Laurent


rapidamente se levantou do colchão, ansioso para mais uma vez estar fora
de alcance. Ele odiava o que King estava fazendo com Beast com todo o seu
coração, mas ele não daria voz àqueles pensamentos quando era muito mais
vantajoso ter o homem acreditando que Laurent estava do seu lado. Dessa
forma, uma vez que Laurent cumprisse os termos de seu próprio pacto, em
apenas alguns meses, ele poderia expor o homem pelo que ele era, ou pelo
menos encorajar Beast a deixar esse lugar para trás. — Mas ontem à noite
eu me convenci de que, se eu ficar nas boas graças de Beast, poderei
influenciá-lo com esse assunto com muita facilidade.

King engoliu em seco, observando-o sob as espessas sobrancelhas


cinzentas. Laurent ouvira falar de homens ficando grisalhos da noite para o
dia devido à tristeza, mas essa era a primeira vez que ele realmente viu a
verdade por trás dessas histórias. Bem, havia Gray também, mas isso foi algo
que os outros lhe disseram. Ver o arrojado e dourado deus que King
costumava ser apenas algumas horas antes, transformado em um homem
que parecia ter a sua idade, deu um arrepio em Laurent.

— Então, você fode o meu filho para distraí-lo? É isso que você quer
dizer? Ele está pensando em deixar o clube antes de 29 de agosto?

Se King precisava de Beast aqui para o seu aniversário, ele não iria
realmente machucá-lo até então... Iria? Mas, novamente, Laurent ainda não
podia encorajar Beast a sair. Ele precisava pensar em si mesmo e na vida
que lhe foi oferecida em troca de cumprir um contrato que duraria apenas
alguns meses. Ele se recusava a voltar a uma vida de servidão e pobreza, e
pior ainda, a um quarto encharcado de sangue com o corpo de Fane. Em
2017, ele iria trabalhar duro até que ele economizasse para fazer a cirurgia
ocular, e ele ganharia seu próprio dinheiro.

Desde que ele tinha doze anos sempre dependeu de si mesmo. Ele teve
sorte que o Sr. Barnave não era um mestre cruel, porque alguns servos que
ele conhecia eram muito menos afortunados, mas o homem ainda trabalhava
com ele o dia todo, todos os dias. Não importava quão doces fossem os beijos
de Beast, Laurent tinha que confiar em si mesmo quando considerava seu
futuro. Beast fazia seu coração palpitar e seu corpo se contorcer de prazer,
mas tudo precisava ser feito nos termos de Laurent, e ele não comprometeria
o assunto.

— Sim ele está. Mas se você deixar isso em minhas mãos, eu vou
garantir que nada mude nos próximos quatro meses. — Era ainda menos do
que isso agora, e uma vez que o mês de agosto acabasse Laurent estaria livre
para buscar uma vida independente em 2017, com Beast ao seu lado em
quaisquer termos que eles decidissem. — Ele gosta muito de mim.

King cuspiu no chão e Laurent tentou não se contorcer com a visão.


King não se parecia muito com um Rei agora usando roupas suadas e sem
dormir. Ele tropeçou na parede e caiu de joelhos. — Claro que ele gosta. Foi
à primeira vez em dez malditos anos. Talvez essa energia alta de sua vontade
passe assim que ele se acostumar a foder novamente. Não, isso mesmo. Tudo
vai ficar bem. Precisamos mantê-lo aqui a todo custo.
Laurent esfregou o pescoço, desconfortável com a maneira que King
falava da intimidade dele e de Beast. Era uma delícia ser amado, não era um
evento descartável. E, no entanto, ainda dava a Laurent um arrepio de
satisfação ao pensar em todos os prazeres carnais que ele compartilhou com
Beast, e foi tão exaltado, que King não conseguiu drenar nada para o vigor
dele.

— Tenho certeza de que esse arranjo vai facilitar as coisas senhor. —


Laurent disse embora esperasse que King permanecesse para sempre
afastado da força vital de Beast, e acabasse enrugado como uma ameixa seca.
Um homem que abusava de seu filho não merecia compaixão. Pensar que até
ontem à noite, durante a festa de celebração de Beast, King havia encontrado
maneiras de trazer Beast para baixo, apenas para deleitar-se com sua
vitalidade.

King assentiu e esfregou o rosto. — OK. Continue, mas não exagere. Eu


não vou virar um vegano para sobreviver até então, você me ouve? Mantenha-
o satisfeito apenas o suficiente. Seja um pouco malvado todos os dias. Ajuda
se você disser algo sobre ele ser um incômodo, ou sobre as cicatrizes. Isso
faz com que seu humor caia, mesmo que as palavras reais sejam inocentes e
possam ser desculpadas, você me entende?

Laurent desprezou o conselho com todo o seu coração. —


Absolutamente, senhor. Compreendo. Estar perto dele me permitirá ter
muitas oportunidades. Mas, por favor, você precisa se certificar de não
revelar a ninguém que você sabe que estou com ele. Ele pode querer recuar,
e isso só pioraria as coisas em termos de mantê-lo aqui. — O peito de Laurent
doía tanto que ele queria vomitar. King era tão ruim quanto Fane por torturar
seu próprio filho durante anos sem nenhuma outra razão a não ser seu
próprio ganho.

King lambeu os lábios e assentiu. — Bem. Mas eu vou estar te


observando. Melhor não ficar todo sentimental com ele.

Laurent balançou a cabeça e decidiu revelar algo sobre si mesmo para


aliviar a mente de King. — Não senhor. Estou aqui para ficar livre e farei tudo
que estiver ao meu alcance para conseguir isso. O sangue que você viu em
mim naquela primeira noite é uma prova da minha convicção. — Ele esperava
que soasse ameaçador o suficiente para tirar King de suas costas.

King o observou por vários momentos antes de se levantar de novo. —


Bom, mas tenha isso em mente, porque se você violar seu contrato e o diabo
não te despedaçar, eu irei. — Ele piscou, tocando a porta com uma expressão
contemplativa em seu rosto. — Ah, e na véspera do seu aniversário eu vou-
te foder e ter certeza de que ele descubra. Isso o faria se perder de verdade.
— Com isso, King abriu a porta e saiu, deixando Laurent dormente. O que
em todos os infernos foi essa última sugestão? King nem sequer perguntou
se isso era algo que Laurent queria participar.

Ele não queria.

Deixou-se cair no colchão, mas voltou a se levantar quando sentiu algo


pegajoso na sua mão. Ele não esperava que o que lhe foi pedido pelo demônio
fosse fácil. Ele antecipou que teria que lutar por sua vida, ou caminhar por
um mundo cheio de perigos, mas ele nunca poderia ter previsto o tumulto
emocional que já lhe causara tanto sofrimento.

Ele não conseguiu a paz para limpar sua mente antes de se aventurar
para encontrar Beast, com King amaldiçoando alto em algum lugar no
corredor. A risada despreocupada que veio a seguir fez toda a pele de Laurent
explodir com lembranças tangíveis da noite passada. Ele se levantou
imediatamente e se aproximou da porta aberta.

— Isso é a nova declaração de moda? — Beast perguntou. — Gray só


conseguiu isso porque tem vinte e seis anos, mas realmente não fica bem em
alguém da sua idade.

Laurent olhou para o corredor e viu King empurrar violentamente o peito


de Beast. — Quem é você para criticar a aparência de alguém? — Ele
sussurrou, mas o riso de outra pessoa no corredor parecia apontado para ele
de qualquer maneira.

Laurent correu para fora da câmara fedorenta, ansioso para levar Beast
para longe de King o mais rápido possível. — Pronto — ele anunciou com um
largo sorriso.
Os olhos azuis se iluminaram, fazendo todo o corpo de Laurent doer por
toque, e Beast inclinou a cabeça para indicar a direção da saída principal.
— Desculpe, King, eu vou levar Laurent para ver o oftalmologista. Talvez
pergunte a Nao o que fazer com o seu cabelo. Provavelmente há um pouco de
óleo de coco e canela para isso — ele disse caminhando em uma linha fina
entre zombaria e conselhos. Nao gostava de cosméticos naturais, então ele
também poderia estar falando sério.

King rosnou como um animal selvagem e saiu do salão, batendo a porta


atrás dele. Assim que ele se foi, todas as pessoas no salão - com uma notável
exceção de Gray - explodiram em risadas e conversas. Mas Laurent e Beast
não ficariam. Somente quando eles estavam sozinhos, Laurent se lembrara
do que Beast dissera.

— Oftalmologista? Não iríamos sair para o café da manhã?

Beast encolheu os ombros e caminhou pela sala de bilhar, que agora


estava ocupada por Rev e Fox, que estavam na companhia de mulheres
seminuas. — Sim, mas devemos ir ao oftalmologista em seguida. Liguei para
a clínica e uma consulta foi agendada para hoje, porque alguém desistiu.

— Eu… Hum… Quando você conseguiu fazer isso? Quero dizer, King
me pagou um pouco para ajudar com os documentos que Jordan bagunçou,
mas duvido que tenha recolhido o suficiente para a cirurgia. — O coração
dele tamborilou quando eles entraram na garagem.

Beast se alongou quando eles se aproximaram de sua moto grande, com


os cães de aparência assustadora na frente. — Oh, você estava demorando
um pouco para agendar, então pensei em me tornar útil. E não se preocupe
com o dinheiro. Eu tenho isso. — Ele disse olhando para Laurent com tal
calor que foi o suficiente para derreter a geada do desconforto em torno do
coração desconfiado de Laurent.

Ele apertou a mão de Beast depois de se certificar de que ninguém


estava por perto para ver. — Eu não sei se posso aceitar uma oferta tão
generosa. Eu já tirei muito de você. — E ele não deveria se defender sozinho?
Encontrar a independência? Por que ele se sentia tão bem em ser cuidado
por alguém que lhe oferecia livremente proteção e carinho?
Beast encolheu os ombros, também olhando em todas as direções antes
de esfregar as mãos de Laurent com as grandes e quentes palmas das mãos.
— Você deveria aceitar. Eu prometo que isso não é... Uma transação ou
qualquer coisa assim. Eu realmente quero que você fique saudável
novamente.

Laurent enterrou o rosto no peito de Beast, incapaz de explicar o quanto


isso significava para ele. A única razão pela qual o Sr. Barnave sempre quis
Laurent saudável era para que ele fosse útil. Nunca houve alguém que se
importasse com o bem-estar de Laurent apenas por causa disso. Talvez a avó
dele.

— Obrigado. — Ele sussurrou contra o tecido macio da camisa de Beast


e suspirou de alívio quando os braços grossos o abraçaram em troca.
Capítulo Dezoito
Beast

— Você acha que ele apena viu o meu sobrenome em algum lugar e é
por isso que ele usou? Porque não há registro de nenhum Laurent Mercier.
— Knight disse, sua voz como o zumbido de uma mosca no ouvido de Beast.
Depois de três gloriosas semanas com Laurent dormindo em seus braços,
por tudo que ele se importava, Laurent poderia ter caído do céu só por ele. E
ele estava aqui para ficar, se Beast tivesse alguma opinião sobre isso.

Ele exalou, tentando manter a calma, porque senão ele perderia com
Knight novamente. Lentamente, ele se inclinou sobre a mesa de sinuca e
arqueou o corpo, observando as bolas e mentalmente planejando suas
trajetórias antes de finalmente fazer um golpe preciso. A bola branca rolou
sobre a mesa, batendo em uma azul. O fôlego de Beast ficou preso quando
ele assistiu à primeira colisão da bola na beirada e depois correu pela
superfície, até o buraco no canto. Ele exalou alto quando caiu.

— Beast, você está me ouvindo? — Knight perguntou, e Beast não tinha


certeza se seu amigo realmente queria saber a resposta para as intermináveis
perguntas da história ou se ele queria distrair Beast.

— Você está pensando demais nisso. Ele não pode ser daqui. Como ele
teria descoberto sobre você? Deve ser uma coincidência. Tem que haver
outras famílias com o mesmo sobrenome que o seu — ele disse, buscando
outra bola para se aproximar, e ele lutou contra o sorriso que se alargava em
seu rosto quando ele pensou quando ele estava aqui ensinando a Laurent
tudo sobre como jogar sinuca. As costas de Laurent se encaixaram tão bem
contra o peito de Beast...

— Bem, ok, mas se eu soubesse da linhagem dele, eu poderia rastrear


de quem ele descende, e isso poderia nos dar algumas respostas. — Knight
insistiu, franzindo a testa enquanto se inclinava sobre a mesa de sinuca. Ele
baixou a voz. — Eu entendo que tudo o que importa agora é foder seu cérebro,
mas e se ele estiver envolvido em algo que vai voltar a nos morder na bunda?

Beast errou o alvo e sibilou exasperado quando a bola branca roçou sua
bola escolhida, girando e quase caindo em um buraco. — Ele é apenas um
garoto. O que ele poderia fazer conosco? Alguém o deixou aqui, e é isso. —
Ele disse bruscamente. Ele não queria mais discutir isso. Laurent tinha
muitos problemas e seu passado era um enigma, mas ele era inteligente e
ansioso por aprender, e Beast queria estar com ele o tempo todo.

Na primeira semana após a cirurgia de Laurent, ele precisou de muitos


cuidados, apesar do processo de cicatrização transcorrer suavemente. Ele foi
liberado no dia da operação e se saiu muito bem após o choque inicial de sua
visão ficar meio azulado, antes de seus olhos se acostumarem com seu novo
estado. Beast estava mais do que feliz em fornecer-lhe todo o cuidado que ele
precisava, aplicando remédio várias vezes nos olhos de Laurent ao longo do
dia e lendo para ele, para que ele não ficasse muito entediado. Fazia semanas
desde então, e Laurent se preparava lentamente para a cirurgia final - em
seu outro olho. Era com isso que Beast precisava se ocupar, não uma
besteira de genealogia.

Knight olhou para o pequeno rádio que tocava no peitoril da janela


quando começou a tocar estranhamente. — Maldito inferno! Isso sempre tem
que acontecer neste lugar? — Ele gemeu e se aproximou. — Eu ouvi que você
vai trabalhar amanhã com Joker e Gray. Tem certeza de que vocês não
precisam de mais apoio?

— Não, você sabe que grupos grandes chamam muita atenção. Eu não
quero nenhuma merda acontecendo durante essa corrida. A carga é muito
valiosa. — Beast disse, observando seu amigo se esgueirando pela tomada.
Ele não contou a Laurent sobre a longa viagem ainda, não querendo
preocupar o garoto sobre algo que tinha que ser feito de qualquer maneira.

Knight examinou a tomada como se fosse um médico verificando a


cavidade óssea de alguém, mas voltou para a mesa de sinuca, andando em
volta para encontrar uma boa posição. — Bem, pelo menos se o nosso querido
sócio desembolsar uma quantia razoável de dinheiro, nós poderíamos tentar
consertar alguns dos encanamentos no andar de baixo. A parede no porão
está tão úmida que tenho certeza que temos um vazamento em algum lugar.
E não me dê esse olhar! Eu sei que quer sair daqui, mas isso não vai
acontecer durante tão cedo, então vamos trabalhar com o que temos aqui.

Beast exalou. Seu conhecimento de eletricidade era apenas de


interruptores na caixa de fusíveis e de tentar não tocar em aparelhos elétricos
com as mãos úmidas. — Você sabe, com menos pessoas na casa, talvez você
pudesse olhar os cabos? Desligar a energia em partes do edifício, ou algo
assim?

Knight se inclinou sobre o taco. — Certo. Eu poderia fazer Laurent se


mudar para outro lugar enquanto você estiver fora e dar uma boa olhada na
fiação do seu apartamento. Isso me deixa maluco, pois mesmo nas partes
mais recentemente renovadas do prédio, a eletricidade ainda é instável.

Beast franziu o cenho. — Não, tudo bem. Qualquer problema no meu


apartamento é apenas temporário. Não há necessidade de estressá-lo. Ele já
passou por muita coisa — ele disse observando os pontos coloridos no fundo
verde da mesa. — A propósito, se pudéssemos ter algo diferente em um clube
novo, o que você acha que seria mais importante? — Ele perguntou.

As visitas em propriedades diminuíram depois que Laurent mentiu para


a corretora de imóveis, mas quanto mais tempo Beast estava com o garoto,
mais ele entendia que talvez sua abordagem não tivesse sido tão boa assim.
No momento em que ele realmente perguntou a Laurent o que estava
acontecendo, as coisas entre eles se suavizaram. Não havia razão para que
isso fosse diferente. Se ele mostrasse interesse no que seus irmãos queriam,
eles tratariam o assunto mais pessoalmente.

Knight esfregou seu queixo permanentemente desalinhado, por um


longo tempo sem dizer nada. — Não vai rir, mas se tivéssemos banheiros
elegantes, com espelhos e outras coisas, teríamos mais filhotes entrando
pelas portas.

Beast olhou para ele momentaneamente assustado. — Oh, tudo bem!


Sim, podemos pensar nisso. Ter um lugar onde as franguinhas pudessem
colocar camadas adicionais de pintura facial. — Ele disse rindo quando
Knight fingiu jogar o taco na direção dele.

— Funcionaria! Jordan amaria totalmente esse tipo de merda! Ela


traria suas amigas, porque como está agora, todas elas acham que o lugar é
ruim.

Beast gemeu. Ultimamente, até o nome de Jordan lhe dava um arrepio.


Aquela mulher não merecia a atenção de Knight, então era particularmente
desconfortável ver Knight se estressando com suas opiniões. — Sim, se isso
vai te fazer feliz.

Knight sorriu e apontou para sua virilha. — Quando ele está feliz, estou
feliz.

Beast não estava feliz em ouvir isso. Agora que ele tinha Laurent em sua
vida, era mais fácil julgar Jordan também. Nem todas as pessoas bonitas
precisavam ser completos desperdícios de espaço. Apesar de sua aparência
digna de modelo, Laurent continuava sendo um cara modesto e doce, que
sempre sorria para Beast. Estar com ele mudou muita coisa. Era como se
Beast estivesse reaprendendo lentamente como viver. Não importa o quanto
ele respeitasse e amasse seus irmãos, eles não poderiam lhe dar essa
sensação que ele experimentava com Laurent. Era um tipo completamente
diferente de relacionamento, e não apenas porque envolvia sexo - por mais
glorioso que fosse - mas porque, pela primeira vez em tantos anos, Beast
podia expressar uma parte de si mesmo que permaneceu trancada por muito
tempo.

Knight apontou um dedo para Beast com um sorriso. — Eu conheço


esse sorriso. O pau de alguém está chamando muita atenção. — Ele balançou
as sobrancelhas, mas uma pitada de passos e vozes da sala principal fez
Beast ficar atento. Era hora de perguntar a mais pessoas o que elas queriam
de um futuro clube.

— Sim, bem, eu não vou negar isso. O outro Sr. Mercier está me dando
muita atenção. — Ele disse deixando o taco na mesa.

Ambos foram para a porta, e Knight bateu no braço de Beast, sem saber
que era um ponto particularmente dolorido quando se tratava das
terminações nervosas queimadas. Beast teve que respirar fundo para ignorar
a dor.

— Não fale sobre ele assim, ou vai parecer que você está transando com
o meu irmãozinho.

Beast bufou. — Eu não sei. Talvez ele seja. Qualquer parente perdido
há muito tempo? — Ele brincou quando entraram na sala comunal com suas
paredes vermelhas. O baixo zumbido do sistema de som sendo ajustado
significava que Lizzy estava por perto. Ele estava sentado na beira do palco
com um caderno, enquanto o baixista da banda trabalhava na eletrônica.

— Ai credo! Você está sugerindo que eu tive pensamentos incestuosos.

Beast levantou o dedo para Knight. — Não.

Knight riu alto, parecendo que não tinha nenhum cuidado no mundo
quando acenou para Fox e Joker, que estavam sentados no sofá empurrando
as rodinhas. Felizmente para todos eles, o assunto morreu no momento em
que ambos viram Laurent.

Ele estava sentado com as pernas recolhidas em uma poltrona de couro,


lendo um livro sob o brilho do holofote. No momento em que seus olhos se
ergueram do livro e eles encontraram o olhar de Beast, o sorriso largo que
floresceu no rosto bonito fez o coração de Beast saltar uma batida.

Por um momento, ele estava tão focado nos olhos de Laurent que quase
atropelou a mesa de café, mas felizmente a razão voltou rápido o suficiente,
e ele ajustou seus passos, sentando-se em uma cadeira. — Que livro é esse?
— Ele perguntou, estendendo a mão para a mesa e pegando uma pequena
garrafa de Coca-Cola de uma bandeja de bebidas.

Laurent mostrou-lhe a capa que tinha um raio batendo em uma pipa.


— É um livro sobre a história da eletricidade. Knight prometeu me mostrar
alguns princípios básicos na prática, assim que eu terminar de lê-lo.

Beast apertou os olhos para Knight. — Sim... — Knight nunca seria


desleal e tentaria agarrar Laurent para si, mas depois de tanto tempo
sozinho, até mesmo a menor possibilidade de perder Laurent para outra
pessoa parecia um perigo crescente.
Knight abriu os braços com um gemido. — Eu vou mostrar a ele como
conectar alguns cabos, sem verificar o buraco da tomada.

Joker cuspiu um pouco da cerveja que ele estava bebendo de volta na


garrafa, rindo tão alto que Beast queria bater nele. E o pior de tudo, Laurent
olhava para eles, claramente confuso e sem entender a insinuação da piada
de Knight. Bem, foda-se! Pelo menos Joker e Fox não jogavam no time, a
menos que estivessem completamente bêbados.

— Estou apenas dizendo.

Laurent guardou o livro. — Eu aprendi a cozinhar pipoca hoje. Gostaria


de ver? — Ele sorriu e já se levantou do assento.

Beast o observou se mover, com os pés velozes e graciosos como uma


gazela. O jeans skinny fazia as nádegas de Laurent parecer tão bem que Beast
queria puxá-las para baixo e comer a bunda de Laurent. Se ele estivesse
bêbado o suficiente no escuro, talvez ele não se importasse se as pessoas
assistissem isso acontecer.

Se ele pudesse justificá-lo, ele apenas não sairia mais de seu quarto e
foderia Laurent o tempo todo. Ele não estava empurrando para o sexo anal,
muito feliz com o que ele estava recebendo até agora, mas considerando o
quanto Laurent gostava de rimming19, Beast tinha certeza que mais cedo ou
mais tarde ele iria deslizar seu pau naquele buraco rosa apertado. Melhor
ainda, ele queria que Laurent lhe pedisse isso.

O som do micro-ondas zumbindo no fundo o distraiu tanto que ele não


notou alguém se aproximando. Um tapa no ombro o fez silvar e o tirou de
seus pensamentos agradáveis tão rapidamente que ele queria dar um soco
no culpado.

— Teremos um show de braços hoje? — King perguntou e colocou sua


bunda na poltrona que Laurent tinha acabado de desocupar. — Espero que
você use protetor solar; Você sabe, pelas cicatrizes.

Beast forçou as mãos a permanecerem abertas e deu a King um sorriso


apertado. Ele não queria pensar nas cicatrizes em seu corpo quando Laurent

19
Prática sexual de tocar o ânus do parceiro com a boca, lábios ou a língua.
estava aqui, e ele definitivamente não queria ser constantemente picado
pelas palavras de King. Elas eram educadas o suficiente e não pareceriam
cruéis para o espectador médio, mas Beast reconhecia cada palavra passiva
agressiva por trás delas. — Eu não preciso de uma babá.

Fox colocou os pés sobre a mesa. — Ele está certo. Ele tem mais de
trinta anos. Se ele se queimar, é o problema dele.

King revirou os olhos e abriu uma cerveja. — Não se for eu quem vai ter
que ouvi-lo gemendo sobre isso.

Outra fodida declaração vazia, porque Beast nunca gemeu para King
sobre merda assim. E estaria escuro há algum tempo, então o sol não seria
um problema até de manhã.

O som do micro-ondas zumbindo ao fundo o distraiu. Ele tinha muitas


outras razões para gemer ultimamente, e isso o deixava irracionalmente
tonto que King não tinha ideia. De fato, King provavelmente pensava que
Beast era casto como um monge, se masturbando a cada noite e assistindo
algum pornô quando se sentia particularmente solitário.

Bem, isso pode ter sido o caso algumas semanas atrás, mas agora Beast
tinha alguém que tornara sua vida infinitamente melhor, e ele não precisava
de duas namoradas ou uma fila de carinhas chupando seu pau em festas
para provar sua masculinidade.

— Não, ele é o tipo que sofre em silêncio. — Joker disse fazendo uma
careta e enrijecendo os braços para imitar alguém cuja pele estava tão
queimada do sol que não conseguia se mover.

Esse tipo de comentário só poderia ser engraçado para alguém que


nunca sofreu lesões semelhantes, mas Beast não queria estragar o humor de
todos por causa das coisas que ele era muito mais sensível. Já era hora de
mudar de assunto.

— Joker, se você pudesse ter qualquer coisa em um clube, o que você


gostaria?

— Um parquinho para adultos — Joker disse sem hesitar nem um


segundo, deixando todos em silêncio.
Beast limpou a garganta. — OK. E você, Fox?

Fox não conseguiu afirmar sua opinião, porque os olhos de King


perfuraram-no como duas lâminas afiadas. — O que é isto? Você está
planejando renovar um dos quartos? — Ele perguntou com firmeza, e Beast
encontrou seus olhos sem hesitar.

— A eletricidade está fodida novamente.

— Bem, talvez Knight devesse verificar isso. Novamente.

Raiva borbulhava no peito de Beast. — O que isto quer dizer? Não é


culpa dele que essa porra de prédio é uma merda!

Knight gemeu e se recostou no sofá com os braços no peito. — Desculpe,


King, mas eu estou fazendo o meu melhor aqui, e isso sempre acaba no final.
Pode haver ratos roendo os cabos, umidade nas paredes, e todas essas coisas
que estão fora do meu controle.

King abriu os braços. — Então vamos pegar alguns gatos! Até a


Disneyworld faz isso?

Joker bufou. — Este lugar não é a Disneyworld.

Laurent se aproximou com um grande sorriso, e foi como se o próprio


sol descesse para os braços de Beast. — Eu cozinhei a pipoca. — Ele colocou
uma tigela cheirando muito bem na mesa de café, mas hesitou quando notou
que King tinha tomado o seu lugar enquanto ele estava fora. A confusão no
rosto doce e bonito fez Beast se preocupar que Laurent pudesse ler em outro
lugar.

Beast rapidamente olhou para a mandíbula tensa de King e os pés de


galinha que haviam se aprofundado recentemente. Ele queria dizer que a
maldita coisa estava com ele quando King ficou cinza como uma pomba. Um
impulso de calor empurrou seus dedos, e ele puxou Laurent para o seu colo.

Laurent riu nervosamente, mas agarrou o braço de Beast em busca de


apoio. — Oh — e foi tudo o que ele tinha para dizer quando se acomodou na
coxa de Beast, apertando os dedos na parte de trás da regata dele.

Até as garotas que estavam na cozinha olharam para eles, atraídas pelo
silêncio atônito.
Joker apertou os olhos. — O que estou olhando? Este é um daqueles
momentos?

Beast lambeu os lábios, por um momento sentindo sua garganta se


apertando. Ele nunca declarou sua orientação sexual para os seus irmãos.
Eles o viram foder com praticamente todo tipo de pessoa, e quando Beast
teve um namorado fixo uma vez, ele não revelou a profundidade de seu
relacionamento com ninguém além de Knight. Seu rosto corou levemente,
mas ele encontrou os olhos de Laurent e acariciou o topo de sua cabeça,
lentamente dando-lhe um sorriso.

— Talvez — ele disse sem se afastar do olhar castanho quente que se


comunicava tanto quando Laurent estava sem fôlego para falar.

E em um momento que fez seu coração disparar, foi Laurent quem se


inclinou para frente e lhe deu um beijinho nos lábios.

Fox assobiou. — Essa é nova.

Joker olhou para Knight. — Acho que alguém está trabalhando nessa
tomada — ele sussurrou de um jeito propositadamente alto.

Beast o chutou na canela e puxou Laurent para mais perto, passando a


mão pelo braço nu, que se arrepiou sob o seu toque. — Já está acontecendo
há algum tempo. Eu acho que é hora de irmos a público. O que você acha
Laurent? — Ele perguntou, traçando o queixo de Laurent com o polegar.

Nao saiu da cozinha rapidamente, e agora Beast sentiu que ele era o
espetáculo sobre o qual todo mundo estaria comendo pipoca. Pela primeira
vez, ele não se importou.

— Eu acho que não há nada de ilegal nisso, certo? — Laurent


perguntou com um sorriso tímido.

Joker bateu na própria coxa dele. — Oh cara! Esse cara sempre me


surpreende.

Nao sorriu e se inclinou sobre as costas da cadeira, massageando os


ombros endurecidos de King. — Então, vocês são namorados20?

20
No Original: “Are You Boyfriends?” No inglês Boyfriends significa namorados, porém aqui o Laurent entende as
palavras separadas. Boys= garotos, Friends= amigos.
Laurent rapidamente balançou a cabeça, fazendo o coração de Beast
afundar. — Nós não somos garotos. Nós somos manfriends21.

Besta piscou, quando Joker começou a rir. Mas ele não queria
envergonhar Laurent, então ele apertou a mão e assentiu. — Sim, somos
manfriends22.

King ficou em silêncio enquanto deixava Nao tocá-lo, e apesar de querer


vê-lo experimentar a menor derrota, Beast realmente não queria jogar aqui.
Então, em vez disso, ele se concentrou em Laurent e em todos os outros,
fingindo que seu pai não estava lá. Os dedos de Laurent tocaram a nuca de
Beast e a pipoca quente teve um gosto de vitória.

Isso. Um cara como ele poderia ter Laurent. Um lindo e jovem docinho
com lábios que eram o sonho de qualquer um. Beast navegou na conversa
de volta para o que Fox estava procurando em um clube, mas então Laurent
sussurrou em seu ouvido, fazendo cócegas nele com o cabelo macio.

— Podemos conversar em particular?

O sangue de Beast se transformou em resina endurecida, irradiando


súbita preocupação por todo o corpo. Ele respirou o cheiro de pinho do
xampu de Laurent e pressionou seus lábios em sua pele perfumada, apenas
apreciando a suavidade do cabelo perto da orelha de Laurent. Apesar do calor
agradável que parecia tão natural para Beast, o momento do pedido de
Laurent foi sentido, e o mais negro dos pensamentos desceu sobre Beast
como um bando de harpias. Será que Laurent só concordou com a declaração
anterior de Beast porque ele não queria envergonhá-lo na frente de todos?
Deixar as coisas ambíguas parecia servir a ambos. E para ele, ainda era outra
maneira de se fazer acreditar que a coisa que ele compartilhava com Laurent
podia durar. Que talvez pudesse se transformar em um relacionamento real
algum dia, mas agora todo o seu corpo estava doendo do estresse de manter
uma fachada estóica para o benefício do homem que nunca lhe prometeu
nada.

21
No Original: “We are not boys. We are manfriends.” Ele quis dizer que eles não são garotos, e sim homens por isso
o “man”, rsrs. Daí a confusão do Laurent.
22
No Original: “Yes, we are manfriends.” Aqui o Beast entende a confusão do Laurent e confirma, rsrs.
Mas Beast não era um covarde. Ele sempre enfrentou todas as coisas
que a vida jogou nele, então desta vez também seria assim, ele gentilmente
tirou Laurent do seu colo e se levantou.

— É meio tarde. Falo com vocês amanhã. — Ele agarrou a mão de


Laurent, e Laurent apertou de volta, então pelo menos havia isso.

Eles caminharam pelo curto corredor até a sala de bilhar, e Beast fechou
a porta atrás deles, forçando os ombros a relaxarem. Um pouco do peso saiu
de seu coração quando Laurent sorriu para ele. Talvez a coisa que ele queria
dizer a Beast não fosse algo que acabaria por esmagar seu coração.

— Eu estava pensando…

Beast respirou fundo, observando Laurent em silêncio e ainda


segurando a mão dele. Segurando? Não, Laurent se encolheu e olhou para a
mão que Beast, sem saber, apertou um pouco demais.

— Que poderíamos talvez expandir… As coisas que fazemos juntos? Eu


sei que você está ocupado tentando procurar este novo lugar e tudo mais,
mas eu esperava que você tivesse tempo... — Os olhos castanhos o
observavam com tanta intensidade que Beast não conseguia desviar o olhar.
Ele nem sequer entendia sobre o que era a questão, e ainda assim Laurent
parecia tão enigmático como o canto de sereia, chamando-o para os braços
quentes, independentemente do que mais estivesse à frente.

— Expandir em... Outras coisas. — Beast murmurou fisicamente


incapaz de desviar o olhar de Laurent.

Laurent lambeu os lábios, fazendo Beast se concentrar


instantaneamente neles. — Bem... Com o conhecimento que você provou no
quarto até agora, tenho certeza que você sabe que há outras... Coisas que
poderíamos fazer, certo?

A cabeça de Beast girou com as imagens de Laurent espalhado debaixo


dele, e sua bunda macia e maravilhosa tomando seu pênis. O cabelo
comprido no travesseiro, as mãos de Laurent agarrando a carne de Beast.
Ele viu tudo na expressão inocente no rosto de Laurent, e seu cérebro fritou
em luxúria líquida. — Há tantas coisas — ele disse em voz baixa, de repente
percebendo que talvez a hesitação de Laurent sempre que Beast sugeria
progredir em sua vida sexual para algo mais intenso pudesse ter sido o
resultado dele não se sentir seguro em seu relacionamento. Era tão óbvio
agora que Beast queria se bater na cabeça. Ele não queria que fosse de
conhecimento comum a relação deles, porque ele temia que Laurent logo o
abandonasse, deixando-o todos com pena dele, mas talvez ele tivesse
interpretado mal as intenções do garoto completamente.

Laurent se inclinou para um abraço, e Beast desejou trancar as portas,


levantá-lo na mesa de bilhar e transar com ele bem aqui, mesmo que isso os
colocasse em risco de serem ouvidos. O convite entre as pernas de Laurent
pulsou na mente de Beast como uma presença em sua própria consciência,
e ele achou difícil pensar em outra coisa. Ele adorava observar Laurent
lindamente corado e desinibido naquele momento de prazer, os lábios
trêmulos, e os olhos se fechando. Ele não podia esperar para ver quando seu
pau estivesse embutido naquele corpo apertado.

— Você vai me mostrar?

Beast não tinha ideia do que a conversa anterior tinha sido. Ele apenas
moveu as costas da mão no peito de Laurent, até a virilha, e se inclinou,
observando as pupilas de Laurent se dilatar. — Você quer que eu te penetre?
— Ele perguntou para se certificar de que isso não fosse mais um caso de
falha de comunicação, como muitas antes.

Laurent parecia tímido sobre isso, escondeu o rosto no peito de Beast,


mas disse: — Sim.

Beast exalou, observando o emaranhado de cabelos macios


pressionados entre seus peitorais. Tanto quanto ele queria jogar toda a
preocupação para fora da janela e fazê-lo aqui, na mesa de bilhar, com todo
mundo ouvindo o quão incrível sua vida sexual era, ele não queria que nada
estragasse o momento. Laurent ficaria estressado se soubesse que poderiam
ser interrompidos, e isso inevitavelmente estragaria a experiência para ele.

— OK. Vamos para casa.

Laurent olhou para cima com um pequeno sorriso e ficou na ponta dos
pés, mas ainda teve que puxar a blusa de Beast para que seus lábios
pudessem se encontrar. Isso nunca ficava velho. Beast sorriu para o beijo e
abraçou Laurent, mas a excitação explosiva fervendo sob sua pele e a súbita
vontade de empurrar Laurent contra a parede e esfregar seu pênis
endurecido contra o garoto fizeram Beast se mover.

A caminhada até o apartamento parecia uma eternidade, mesmo que


não pudesse durar mais do que três minutos. O pênis de Beast estava rígido
o suficiente para ser desconfortável nos limites de sua cueca e jeans, e o
momento em que ele poderia abrir o zíper sem cuidado e fazer Laurent tocá-
lo chegaria em breve. Com Laurent, até a masturbação era empolgante.

Eles não falaram no caminho, e quando a porta dele apareceu no


corredor, Beast desejou poder se teletransportar para dentro, um
pensamento que se tornou ainda mais difundido quando ele colocou o código
errado e precisou fazê-lo novamente enquanto seu cérebro fritava.

Laurent dispersou a tensão com uma risada curta, e ele deslizou os


dedos sob a parte de trás da regata de Beast. — Você esqueceu? Estamos
presos aqui? — Ele pontuou as perguntas com um beijo no braço de Beast,
e Beast não queria mais seu pau em Laurent do que agora.

— Não, eu só... Eu só... Oh, isso. — Beast disse triunfante quando a


porta destrancou, deixando-os entrar.

Beast chutou a porta e pegou Laurent, puxando-o para perto tão


rapidamente que ele cambaleou contra a porta. Estava escuro lá fora, mas o
brilho da lua brilhava o cabelo escuro de Laurent, emoldurando lindamente
suas bochechas coradas.

Laurent gritou, mas passou os braços em volta do pescoço de Beast em


um instante. Ele era tão ridiculamente compacto. Beast não diria isso a ele,
já que Laurent reclamava algumas vezes de sua altura, mas Beast achava
que era uma das coisas que o deixavam ainda mais fofo. Quando Laurent
colocou as pernas ao redor da cintura de Beast e se deixou levantar, a mente
de Beast já fornecia a imagem das costas de Laurent contra a parede, o corpo
flexível recebendo o pau de Beast. Mas ele seria um bom garoto. Ele esperaria
até que eles deitassem na cama. Ele daria a Laurent à primeira vez mais
incrível e o deixaria tão viciado em foder.
Beast rosnou e rolou Laurent contra a parede, apenas para um beijo,
um beliscão, uma fungada da pele quente atrás do ouvido de Laurent. Ele
sugou a carne sensível, suavemente mordendo e balançando os quadris
contra Laurent.

O garoto soltou um gemido suave, apertando suas coxas como se


tentasse dar à Beast o gosto das coisas que viriam. Quando Beast se afastou,
foi só para levar Laurent para o quarto, onde os lençóis ainda estavam
desordenados depois do sexo matinal. Os dedos macios de Laurent
provocaram a parte de trás da cabeça de Beast como se silenciosamente o
incitasse a se apressar e enterrar-se em seu corpo.

Beast gemeu e colocou um joelho no colchão antes de abaixar Laurent


com segurança. Ele passou as palmas das mãos sobre as coxas amáveis e
bem formadas e recuou, para abrir a calça apertada e deixar o corpo de
Laurent respirar. — Eu quero você nu. Completamente nu.

— Oh... Tudo bem. — Laurent assentiu um pouco tenso, mas era


compreensível que ele estivesse um pouco preocupado com isso.

Beast lambeu os lábios, apoiando as mãos nos dois lados da cabeça de


Laurent. — Não fique nervoso. Eu sei o que estou fazendo — ele disse,
deslizando os dedos sob a camiseta de Laurent e desenhando formas
indistintas em sua pele quente.

Laurent deu-lhe um beijo rápido nos lábios e tirou a blusa, revelando


toda a carne que Beast estava tão ansiosa para lamber de cima a baixo. —
Você vai parar se eu pedir?

Beast suspirou e se inclinou. Ele esfregou o rosto contra o estômago


duro de Laurent e lambeu seu caminho para cima. — Claro que eu vou.
Apenas relaxe. Vai ser bom — ele disse suavemente, colocando os dentes
sobre o mamilo de Laurent e abrindo seu jeans ao mesmo tempo. O alívio de
sentir seu pau livre o fez estremecer de antecipação.

O batimento cardíaco de Laurent estava frenético, e Beast podia sentir


claramente quando ele colocou a bochecha contra o peito liso de seu amante.
O calor do belo corpo logo receberia seu pênis, e Beast estava determinado a
dar o quanto ele recebesse. Eles poderiam evitar o uso de preservativo?
Laurent era virgem e Beast não fazia sexo há anos antes de Laurent, então
ele sabia do seu status de DST. A ideia de encher a bunda de Laurent com o
esperma fez Beast gemer contra a pele sedosa.

Ele lambeu os lábios e puxou o jeans de Laurent com uma sensação de


déjà vu. Sua primeira vez ao ser penetrado por um pênis não foi exatamente
incrível, mas ele estava muito bêbado para se importar. Isso seria diferente.
Ele tinha todas as ferramentas para fazer Laurent se sentir absolutamente
incrível, para tornar este momento profundo e especial para ele. — Você quer
ficar nu? — Ele perguntou, acariciando as pernas nuas de Laurent. Não
houve surpresa em ver o pau de Laurent totalmente duro também.

Laurent observou Beast quando o resto de suas roupas cairam no chão.


— Nu? Não estamos nus? — Os grandes olhos castanhos estavam cheios de
inocência. Claro que a alma pura dele não sabia o que eram os preservativos
de borracha.

Beast engoliu em seco, puxando a mão de Laurent para mais perto e


para o jeans aberto. Ver seus olhos turvos quando as pontas dos dedos dele
roçavam o pênis duro de Beast era poesia pura. — Você quer que eu coloque
uma capa de borracha sobre o meu pau quando ele entrar em você?

Laurent soltou uma gargalhada. — Por que diabos eu iria querer uma
coisa dessas?

O estômago de Beast se contorceu de prazer, e ele balançou seus


quadris contra a mão quente, apreciando seu toque em seu eixo latejante.
— Bem... Algumas pessoas não querem esperma dentro de seus corpos. Ou...
Para que uma mulher não engravide, ou para que as pessoas não recebam
doenças umas das outras. — No momento em que essas palavras saíram de
sua boca, ele queria reverter à coisa toda, mas era impossível. As coisas
foram ditas e ele só podia rotular esse momento como educativo, mesmo que
não fosse particularmente sexy.

— Oh. — O olhar de Laurent se afastou. — N-não. Eu quero tudo isso


— ele sussurrou no final, apertando sua palma macia sobre o pênis de Beast.

Beast sorriu, tocando sua testa na de Laurent e fechando brevemente


os olhos para sentir o cheiro de sua pele. — Eu também. Eu quero sentir
você sem nada entre nós. Sem barreiras. Só você e eu — ele sussurrou,
puxando a outra mão de Laurent para sua calça e direcionando-o para que
Laurent o despisse.

Laurent roubou outro beijo sem fôlego e não perdeu tempo ao puxar o
jeans e a cueca de Beast até os joelhos, a outra mão ainda acariciando o
pênis de Beast. Beast mal conseguia se lembrar da última vez em que ele se
sentiu totalmente aceito. Era como se suas cicatrizes não significassem nada
para Laurent, e talvez elas realmente não significassem. Talvez fosse tudo na
cabeça de Beast.

Beast saiu de Laurent apenas brevemente, para se livrar de sua calça e


meias, e então entrou entre as coxas de Laurent, balançando os quadris
contra as bolas e o pênis de Laurent enquanto eles se beijavam. Havia tantas
posições em que ele podia foder com facilidade um homem do tamanho de
Laurent, mas naquela noite ele precisava pensar no mais confortável. Eles
teriam todo o tempo do mundo para experimentar uma vez que Laurent
soubesse o que era bom para ele e o que não era.

Havia algo tão puro em Laurent, apesar da marca estranha em sua


nuca. Quando ele passou os braços em volta do pescoço de Beast e eles se
beijaram, era difícil imaginá-lo fazendo algo errado, mesmo que Beast
soubesse que Laurent não era exatamente incapaz de ser mau se quisesse.
Era como se essa beleza saudável fosse à compensação por todos os anos
que Beast passara no corpo que costumava ser seu inferno pessoal.

Beast sorriu para Laurent, rolando os dois para mais perto da beira da
cama, para que ele pudesse pegar o lubrificante. Eles estavam usando para
algumas das outras coisas que faziam na cama, então pelo menos ele sabia
que não seria surpreendente para Laurent o toque frio do gel. Ele beijou
Laurent novamente, Beast esfregou seu corpo inteiro contra o seu amante,
nunca desviando o olhar, mesmo assim o toque fez seu pênis se contorcer de
prazer. Ele precisava manter a calma para ao momento apropriado. Mesmo
que seu prazer fosse estragado por ter que se manter em xeque, o prazer de
Laurent viria primeiro esta noite.
Virar Laurent foi um caso rápido, e Beast se empurrou contra ele,
gemendo quando a cabeça de seu pênis traçou brevemente o ânus de Laurent
antes de empurrar para cima e emergir entre suas nádegas. Beast levantou
o corpo ligeiramente para ver aquela vista magnífica novamente.

Laurent choramingou, e o som só fez o pênis de Beast se contorcer


enquanto seu cérebro traduzia o que Laurent disse em seguida.

— Podemos parar?

Beast levou muito mais tempo do que o necessário para processar a


questão. Ele limpou a garganta, de repente sentindo suas bolas doerem. —
Por quê?

Laurent arqueou os ombros, o que só fez Beast fantasiar sobre segurá-


los enquanto estocava seu pau no buraco apertado.

— Eu só não quero mais. Eu sinto muito.

Beast olhou para ele. A excitação estava lentamente se transformando


em uma dor surda que pulsava em torno de seu pênis, como se alguém
apertasse algo com força ao redor da base. — Eu fiz alguma coisa errada? —
Ele sussurrou, com perda e tentando não parecer desapontado, mesmo que
ele estivesse. E ele estava. Foi Laurent quem lhe disse que queria isso.

Ele confirmou que queria penetração.

Ele confirmou que queria ficar nu.

Beast sabia que ele tinha que recuar, mas todo o seu corpo estava sendo
inundado com um ressentimento tão amargo que ele não tinha certeza do
que fazer sobre isso.

— N-não. — Laurent murmurou, se contorcendo debaixo de Beast, o


que agitava ainda mais o pênis de Beast. — Mas você disse que poderíamos
parar...

Beast respirou fundo, apertando as mãos no edredom. Ele não entendia


nada disso. Momentos atrás, Laurent estava ansioso como um cachorrinho,
então o que aconteceu? — Foi ideia sua — ele disse em uma voz
desagradavelmente sem graça.
Laurent rolou e puxou as pernas para cima, observando Beast como se
ele fosse uma exibição no zoológico. — Eu sei. Mas tudo bem mudar minha
mente, não é? — Ele perguntou suavemente, como se não estivesse enfiando
uma faca nas bolas de Beast.

Beast respirou fundo. Claro que era bom mudar de ideia. Claro que era,
mas ele não podia deixar de sentir que havia algo profundamente artificial
em toda a situação. Não parecia que Laurent odiava o que eles estavam
fazendo, ou que algo o assustou. Ele parecia calmo e completamente
tranquilo, como alguém que decidiu escolher outro filme no cinema depois
dos primeiros quinze minutos, porque o atual não era tão divertido quanto
esperava.

— Então você não está mais no clima? — Beast perguntou, olhando


para o pau duro de Laurent. Talvez ainda houvesse uma maneira de salvar
o momento. Talvez pudessem se contentar com o habitual, e o clima
desconfortável desapareceria.

Laurent lambeu os lábios e balançou a cabeça, puxando o edredom


sobre a parte inferior do corpo, como se para sinalizar que estava fora dos
limites.

Porra! Que merda é essa?

Beast exalou, tentando argumentar consigo mesmo. — Existe alguma


coisa que você quer me dizer?

— Você ficará bem em não fazer nada depois de tudo?

— O que você quer que eu diga? — Beast sibilou e rolou para fora da
cama, andando pelo quarto escuro, as mãos firmemente entrelaçadas na
parte de trás do seu pescoço. Ele mal podia respirar, e agora tudo o que
queria era sair e dar uma volta, mas com Laurent se comportando de maneira
tão estranha, ele não queria deixá-lo sozinho também.

Havia algo estranho na maneira como os olhos de Laurent o seguiam na


escuridão, o lado do rosto iluminado de azul por uma lâmpada do lado de
fora. — Eu quero que você diga que está tudo bem — ele sussurrou. — Eu
preciso saber que você vai parar se eu pedir.
Beast ficou parado e deu uma olhada em Laurent, de repente tão
sufocado que ele pensou que queria ficar o mais longe possível de Laurent.
— O que você está dizendo? Que isso foi algum tipo de teste fodido? — Ele
perguntou no final.

A maneira como Laurent enrolou seus ombros em vez de negar


instantaneamente a acusação, fez o estômago de Beast apertar e sua ereção
se esvaziar como se alguém o tivesse chutado nas bolas.

— Como eu posso ter certeza? Às vezes você acha que conhece um


homem bem, apenas para descobrir que ele não é o cavalheiro que você
esperava que ele fosse.

Beast empurrou as palmas das mãos na parte de trás de sua cabeça,


respirando com dificuldade através da dor em seu peito pela pura sensação
de traição. — O que você tem? Estamos juntos há semanas e nunca fiz nada
que você não quisesse. Isto não é um jogo. Você não pode me jogar e me
testar sem motivo!

Palavras saíram dele, uma após a outra, até que ele não tinha mais ar
nos pulmões e encostou-se ao peitoril da janela para se recuperar. — Porra!
Eu sou tão estúpido!

— Não, Beast...

Ele viu Laurent se recostando na cabeceira da cama, e ele não podia


acreditar que tinha usado o termo ‘inocência’ com Laurent há poucos
minutos atrás, quando o garoto esteve manipulando-o o tempo todo. Os
passos suaves sobre o piso de madeira o pediam para aceitar o toque, fingir
que isso nunca aconteceu e novamente parar de fazer perguntas, mas o
choque desta revelação o fez desprezar a ideia de ser tocado.

Beast ergueu as mãos para Laurent, sem palavras dizendo-lhe para se


afastar. — Isto é tão fodido! Pensei que tínhamos uma coisa boa acontecendo.
Eu nem sequer o perturbo com o seu passado, respeito sua vontade — ele
disse amargamente, apertando a outra mão no peitoril da janela.

Laurent olhou para seus pés, e o pior era que a beleza enganosa de seu
corpo e rosto ainda estavam lá para insultar Beast. — Eu sinto muito. Eu
só... Eu conheci um homem antes de conhecer você, que me fez confiar nele.
— Laurent estava ofegante como se ele fosse o verdadeiro injustiçado aqui.
— E ele costumava ser cuidadoso, e até me comprou presentes, e em seguida,
ele...

— Ele o quê? — Assobiou Beast, incerto se ele ainda queria acreditar


no que Laurent falava. Doía saber que Laurent tinha pouca confiança nele,
mas talvez, pelo menos ele iria receber uma desculpa esfarrapada que de
alguma forma pudesse justificar a estupidez das ações de Laurent.

Laurent curvou seus ombros, e seu cabelo caiu sobre eles,


obscurecendo o rosto. — E-ele queria me forçar. E ele me bateu. E eu o matei.
— Ele disse em uma única respiração, em um tom mais alto, sem fôlego, e
Beast tentava processar o que estava ouvindo, quando Laurent continuou.
— Peguei uma tesoura, e eu o esfaqueie em sua garganta, e havia sangue em
cima de mim... Em cima dele. — Todo o seu corpo tremia como uma folha no
vento.

Beast foi até ele antes que pudesse sequer pensar. Ele empurrou
Laurent na cama e se ajoelhou na frente dele, com ambas as mãos em seu
rosto, quando o luar revelou a umidade escondida nos grandes olhos
castanhos.

— Era o sangue dele? Quando eu encontrei você? — Beast perguntou,


horrorizado com o que acabara de ouvir. Ele ainda estava agitado pela
maneira que Laurent teve que lidar com o seu trauma, mas agora pelo menos
ele entendia. Ele queria entender. — Onde você deixou o corpo? Está em
algum lugar do clube? — Beast perguntou, sentindo seu estômago torcendo.
Seria possível haver um cadáver em decomposição escondido em algum lugar
do vasto edifício ou nas proximidades, e ninguém descobriu ainda? Eles
precisavam se livrar dele, porque ele não queria Laurent tirado dele.

Laurent concordou com um suspiro alto, apertando as mãos de Beast


em troca. — Está muito longe. Você entende? Eu matei William Fane. Meu
nome é Laurent Mercier.
Capítulo DezenoveBeast

Beast olhou para Laurent em silêncio, seu cérebro estava


desesperadamente tentando processar o que ele tinha acabado de ouvir. As
mãos finas estavam tão quentes, tão vivas na sua, e ainda a apreensão fria
esfaqueava as costas de Beast como milhares de agulhas. Ele respirou fundo,
tentando se acalmar, mas parecia impossível. Como ele lidaria com isso?
Poderia ser uma piada? Uma maneira de Laurent para difundir a
animosidade que ele criou, jogando com os sentimentos de Beast?

Mas não, os olhos de Laurent estavam úmidos com lágrimas não


derramadas, e seus joelhos tremiam como se ele tivesse sido agredido não há
meses, mas minutos atrás. O que quer que tenha se escondido na cabeça de
Laurent, era real para ele, e que assustava Beast. Será que ele perdeu os
sinais de um problema muito mais profundo do que a ingenuidade de
Laurent sobre o mundo? Seria realmente um problema mental, que ele tinha
ignorado porque Laurent era tão adorável que Beast não podia resistir a ele?

Será que ele quase dormiu com alguém que de alguma forma estava
mentalmente instável e não poderia realmente fazer suas próprias escolhas?
Ele gelou até os ossos por sequer pensar nisso. Ele não era esse tipo de
homem. Talvez não fosse inocente, mas ele nunca conscientemente usaria a
desvantagem de alguém assim. Então, novamente, não havia tantas
bandeiras vermelhas que pudessem ter o alertado. Ele não buscou as
respostas?

— William Fane? — Beast perguntou, e ele não podia sequer reconhecer


sua própria voz tão fraca.

E ainda assim, Laurent olhou para ele, com tanta esperança de


compreensão, que o coração de Beast apertou. — Sim. O Knight falou. Eu
pensei que ele era um homem encantador e atraente, mas depois ele me
convidou para sua casa... E-eu não tive escolha. Eu não queria morrer como
prisioneiro dele.

Beast engoliu em seco, dividido entre exigir que Laurent não mentisse e
realmente obter alguma informação dele. Seu estômago estava enjoado com
cada palavra que saia dessa linda boca. Talvez todos estivessem errados
sobre não fazer perguntas? Parecia completamente provável agora que
houvesse uma família em algum lugar, procurando por seu parente perdido,
e em vez de falarem sobre um jovem amnésico que apareceu com sangue em
cima dele, eles simplesmente varreram tudo para debaixo do tapete. É
verdade, isso era o que os Kings of Hell costumavam fazer quando o problema
surgia, mas a chegada de Laurent tinha sido uma ocorrência de pura pena?

— E como foi que você o conheceu? Onde está sua família?

— Eu... Eles estão na França. Mas não mais, é claro. Eles estão muito
longe. Eu precisava contar a alguém, queria te dizer. Se vamos confiar um
no outro, você precisa saber isso. — Laurent mal piscou, e todo o seu rosto
era uma máscara tensa.

O corpo estava provavelmente ainda escondido em algum lugar, porque


Beast teria ouvido sobre um homem assassinado na área, ele teria
encontrado. O que aconteceu, ele tinha deixado sua marca em Laurent,
fazendo-o acreditar em coisas ficcionais.

Muito gentilmente, Beast apertou as mãos de Laurent e olhou em seus


olhos. — Eu entendo que isso deve ser difícil para você. Mas quaisquer outras
coisas estranhas acontecem? Você ouve vozes ou consegue ver coisas que
não deveriam estar lá? — Ele perguntou mal do estômago ao imaginar que
talvez Laurent estivesse fora de sua mente o tempo todo, e ele nem tinha
percebido. O que isso diz sobre ele?

Laurent tomou seu tempo para responder a pergunta, o que fez Beast
instantaneamente se perguntar se ele estava procurando algo em sua mente
para responder, ou se estava tentando esconder algo. — Você nunca
percebeu que há algo de errado com os espelhos neste edifício?
Beast engoliu em seco. Os espelhos sempre ficavam escuros no clube,
mas todo mundo sabia disso. Ainda assim, ele acenou com a cabeça,
querendo saber o que estava escondido dentro crânio de Laurent.

— O diabo passou através de um desses espelhos até onde eu estava


depois que eu matei Fane. — Laurent disse lentamente.

Beast engasgou. — O diabo veio para você. Através de um espelho.

— Você não acredita em mim. — Laurent disse calmamente e seus


ombros caíram.

Pelo menos Laurent reconheceu isso. Então, novamente, Laurent era


suspeitamente bom com pessoas para alguém com problemas mentais, então
talvez não fosse que ele tivesse amnésia ou não entendesse o que aconteceu.
Talvez ele fosse simplesmente um mentiroso compulsivo. Talvez ele estivesse
manipulando Beast da mesma forma que ele manipulou seus sentimentos
hoje à noite para testá-lo. — Você iria?

— Será que não podemos confiar um no outro? — A pergunta


docemente redigida não poderia ser mais insidiosa depois do que Laurent
tinha falado para Beast nesta última meia hora.

— Você claramente não confia em mim. Por que eu iria confiar em você?
— Beast assobiou, mas não soltou das mãos de Laurent.

— Eu estou apenas tentando navegar neste novo mundo. Você não


entende o quão difícil é para mim? Fui ver Fane com um coração tão leve
como nuvens, e quando nós nos beijamos, era como se o sol tivesse saído,
mas quando tudo começou a acontecer muito rápido e eu queria voltar para
fora de onde estava; ele não deixou. Ele tentou me prender. Ele algemou o
meu pulso. — Laurent puxou sua mão para cima, como se para lembrar
Beast da cicatriz nele. — Eu não podia ver bem, eu estava tão assustado, e
quando eu pensei que só estava lidando com um homem irritado e
desprezado, deparei-me com um braço podre que ele manteve em uma caixa.
Eu nunca estive tanto medo na minha vida.

Beast engoliu em seco, fazendo cálculos em sua cabeça. Talvez houvesse


um grão de verdade na realidade distorcida na história de Laurent. Laurent
esteve coberto de sangue quando ele chegou. Ele havia ficado com medo, e
seu corpo tinha sinais de agressão, mas Fane? Tinha Laurent de alguma
forma lidado com o seu trauma imaginando que era outra pessoa? — Então
você viajou no tempo. Você matou um assassino em série, e você não tem
absolutamente ninguém para cuidar de você?

Laurent bufou como se fosse ele quem tivesse razões para ficar
frustrado. — Como você quer que eu prove isso? As roupas não são
suficientes? Eu poderia dizer-lhe mais de como as pessoas viviam no meu
tempo, mas eu não sei o que é conhecimento comum e o que não é.

Beast engoliu em seco. A senhora na lavanderia lhe dissera que as


roupas de Laurent eram a recriação fantástica de uma roupa histórica, mas
isso não provava nada. Ele poderia muito bem ter sido um ator. — Eu não
sei, Laurent. Talvez você não possa. Talvez eu devesse ter levado você para
ver um médico em vez de tentar sair com você.

— Mas você me levou para um. E mesmo quando eu estava tão


assustado, você estava comigo. Eu estou tentando ser o mais honesto com
você quanto eu posso ser.

Beast o olhava com a tensão puxando seus músculos. Ele queria


acreditar em cada palavra, porque senão a realidade que o fez mais feliz do
que ele tinha estado em anos seria uma farsa. — Eu não sei... Algo sobre
Fane talvez? Ele lhe disse o que ele fazia com os corpos? — O pior cenário,
se toda a fantasia de Laurent Mercier tivesse qualquer base na verdade,
talvez Laurent pudesse levá-lo para o corpo do homem que ele matou.

Laurent endireitou-se. — Porventura ele não foi encontrado? Ele é um


assassino conhecido, não é?

— Eles encontraram dois corpos enterrados no porão, mas ele tinha


guardado lembranças de muitos outros homens que desapareceram em torno
desse tempo. Quase trinta anos, mas a localização de outros órgãos
permanece um mistério.

— Eu... Eu sei onde ele enterrou Marcel Knowles. Aquele cujo braço
ele... Manteve. — O rosto de Laurent contorceu com desgosto, como se
pudesse sentir o cheiro de carne podre. — Ele era um padeiro, e um bom
homem.
Beast exalou forte, observando Laurent em silêncio. — Não sei nada de
um braço. Onde é que esse cara foi enterrado, então? — Ele perguntou,
tentando manter a calma, apesar da raiva latente sob a pele. E o pior era que
ele não sabia se seus sentimentos eram justificáveis ou não, porque se
Laurent acreditava honestamente em tudo isso, então, como ele seria
culpado por sua conduta?

— Há uma grande rocha nas proximidades do velho poço, não muito


longe do prédio. Eu sei que ele ainda está lá. Quando eu vim encontrar Fane,
o terreno ao lado tinha sido recentemente revirado. Agora eu acredito que
seja onde ele deve ter enterrado o pobre homem.

Beast sabia sobre a rocha. Talvez se ele provasse para Laurent que a
coisa toda tinha acontecido em sua cabeça, Laurent seria capaz de enfrentar
a verdade. Se ele tivesse força suficiente nele para não quebrar a pá com a
raiva impotente.

— Então, vamos escavar, e vamos encontrar os ossos, não é mesmo?


Você pode me prometer isso?

— Se, como você diz, eles nunca foram encontrados, então... Sim, eu
acredito que vamos encontrar os ossos. Você vai acreditar em mim, então?

Beast contou até dez em sua mente. — E se nós não encontrar nada,
você vai me dizer a verdade ou ir a um psiquiatra comigo?

Laurent pegou no antebraço de Beast e assentiu.

Beast bufou sentado sobre os pés, um pouco impotente. Então, o que


faria agora? Ele realmente iria cavar? Ele poderia pedir aos outros para
ajudar, mas poderia colocar Laurent em uma posição horrível.

— Isso é uma loucura.

Laurent se levantou e pegou suas roupas. — Talvez seja. Eu nunca


pensei que esse tipo de feitiçaria fosse possível, e aqui estou!

Beast se levantou e saiu da pilha de roupas deixadas para trás após o


encontro sexual mais decepcionante de toda a sua vida. — Certo. Bem.
Vamos cavar.
Laurent rapidamente colocou sua roupa, como se ele tivesse o direito de
estar com raiva. — E eu odeio que tantas pessoas me chamam de 'garoto'. No
meu tempo, eu era considerado um homem crescido, capaz de cuidar de si
mesmo. E alto.

— Bem, agora você é apenas um garoto. E baixo. E manipulador.


Apenas um cara. — Beast disse, puxando para cima sua calça jeans.

Laurent franziu os lábios e jogou em Beast um olhar tempestuoso. —


Pelo menos eu não vomito palavrões o tempo todo — ele cuspiu, mas saiu
frágil, e ele tinha que saber isso. E ele jurava que não era um problema
quando ele colocava na balança todas as coisas que Laurent estava jogando
em Beast. Laurent colocou o capuz e o fechou como se estivesse se
preparando para a guerra.

Beast sacudiu a cabeça. — Deveria ter pensado nisso antes de entrar


na minha cama, que eu poderia ofender tanto os seus ouvidos. — Com isso,
Beast colocou suas botas e saiu pela porta do quarto.

O 'tap tap tap' dos pés de Laurent o seguiram. Beast não podia acreditar
que eles estavam prestes a cavar o chão no meio da noite. Se eles
encontrassem o corpo que “Fane” matou, com certeza seria uma bagunça
podre, apenas ossos.

O armário de suprimentos fornecia lanternas e pás, para que eles


pegassem o que precisassem e eles saíram em direção à rocha solitária,
pegando o cão no caminho. Hound estava em êxtase sobre a possibilidade da
caminhada inesperada e liderou o caminho, apreciando tudo, como se não
tivesse notado a atmosfera azeda de Beast.

Beast só queria acabar com isso. Ele estava com tanta raiva que nem
sequer queria falar mais, constantemente se lembrava de que isso só poderia
ser uma história de alguém que não estava em seu juízo perfeito, ou ele tinha
mentido durante semanas.

Laurent virou o feixe da lanterna para um ponto da rocha. — É aqui —


ele murmurou. — A menos que a pedra tenha sido movida, mas ela é muito
grande, então eu duvido, e ainda está alinhada. Beast... Eu não sei. Talvez
devêssemos deixar o corpo em paz?
O peito de Beast apertou, e ele jogou a pá como uma lança,
apunhalando-a no solo. — Ah, então você não quer mostrar a prova depois
de tudo? O que você vai me dizer a seguir? Que você veio do lado escuro da
Lua?

Ele notou com irritação que Hound se aproximou de Laurent e sentou-


se a seus pés, como estivesse do lado dele!

— Foda-se! — Laurent assobiou e enfiou a pá no chão também. Ele


raramente xingava desta maneira, e isso deu a Beast um sentimento de
satisfação escura. Laurent não era tão inocente depois de tudo.

— Agora estamos chegando a algum lugar. Eu já passei por muita


merda na minha vida para apenas aceitar isso. Eu não vou ser tratado assim,
não importa quão doce ou bonito você seja. — Ele merecia o respeito, e ele
mal conseguia reunir tudo para si mesmo agora.

Mas Laurent não respondeu, cavando com irritação, e com o capuz em


seu rosto, mesmo quando a chuva começou a chuviscar do céu. Ele colocou
o próprio capuz, e começou a cavar com a pá a terra molhada. As lanternas
davam iluminação apenas o suficiente para passar por um filme de terror, e
o cheiro de terra úmida que normalmente fazia Beast respirar profundamente
o ar, agora parecia estar sufocando-o.

Pelo menos eles estavam escondidos além das árvores, o que fez com
que fosse improvável que alguém pudesse observá-los da casa. Ainda assim,
a garoa cobria cada polegada de pele nua de Beast, tornando as articulações
em suas mãos endurecer com frio e nublando seus olhos com a chuva que
batia em seu rosto sempre que o vento mudava de direção. Mas ele não iria
desistir, não importava o quão desconfortável fosse tudo isso.

Beast não tinha ideia de quanto tempo eles estavam cavando, quando
Hound decidiu que nem tudo valia à pena e saiu para se esconder debaixo
de uma árvore, mas Beast não poderia adiar esta tarefa até amanhã. Sem
prova definitiva, ele não seria capaz de sequer olhar nos olhos
traiçoeiramente bonitos dele.

A amargura estava sufocando-o enquanto ele trabalhava, infiltrando-se


em seus ossos e confundindo qualquer pensamento positivo que ele tivesse
deixado. Ele não queria descobrir se havia algo de sinistro escondido aqui,
mas ele ainda cavava apesar da dor em seus músculos e do frio que o fazia
estremecer mais violentamente a cada momento que passava. Ele deveria ter
pegado uma capa de chuva.

Ele olhou para Laurent, que trabalhava incansavelmente, grunhindo


quando ele empurrava a pá no chão com força, e apesar do ressentimento
crescendo com suas raízes no coração de Beast, ele ainda estava preocupado
com Laurent pegando um resfriado como resultado disso.

Depois de muita escavação, e nenhum deles disse nada, nem sugeriram


desistir. Beast poderia culpar a natureza teimosa de Laurent, mas ele próprio
não era melhor. Ele enfiou a pá no chão, ignorando a lama fria que se
agarrava nas botas e a chuva que encharcava suas roupas, fazendo-o tremer
como se estivesse nu. Parecia que ele estava cavando seu próprio túmulo.

— Espere. Eu acho que vejo algo. — Laurent empurrou Beast para o


lado e o forçou a levantar a pá.

Beast suspirou, inclinando-se contra a ferramenta e observou Laurent


mergulhar suas lindas mãos na terra molhada. Ele estava tão cansado. Tudo
o que ele queria era tomar um longo banho e ir dormir. E esta noite, ele não
queria mais Laurent em sua cama.

Laurent parecia como um verme no chão, empurrando freneticamente


a lama com os dedos. Ele estava vendo coisas na lama, mas não conseguia
alcançá-las porque elas não existiam?

— Por todos os infernos! Eu não consigo ver bem com toda essa chuva.
Você pode descer e dar uma olhada?

— Claro. — Beast disse resignado com seu destino simplesmente triste.


Ele não sabia para onde ir a partir daqui. Ele pediu para Laurent aproximar
a lanterna, ele enfiou as mãos na lama fria e tocou um galho. No buraco que
continuava sendo perturbado pela sujeira rolando para dentro do buraco era
impossível dizer o que realmente estava se escondendo sob seus pés, mas
quando ele puxou e a peça não se desintegrou como um pedaço de madeira,
sua mente fuçou em branco e o fez congelar com os pedaços de um quebra-
cabeça se encaixado no lugar.
Não. Isso não poderia estar certo!

Não poderia ser!

Mas Laurent estava tão certo desse lugar em particular. Como se ele
realmente soubesse, não apenas suspeitasse o que poderia estar escondido
além da rocha.

Frenético, Beast passou as mãos pela superfície lisa, descobrindo a


forma pálida e alongada. Estava cheio de terra, mas quando ele fechou a mão
e puxou mais uma vez, o osso emergiu, espirrando sujeira no seu rosto.

Beast sentiu seu sangue pulsando por todo o corpo, mesmo em sua
garganta, e muito lentamente, ele olhou para Laurent.

— Devemos continuar cavando? — Laurent sussurrou, esfregando


camadas de lama e revelando mais do esqueleto que Beast já conseguia ver.
Depois de descobrir um único osso, as saliências na escavação ficaram claras
como o dia, com a inclinação do crânio aparecendo à esquerda da bota de
Laurent. O garoto estava jogando água na lama dos ossos, os óculos não
estavam apenas molhados, mas também enevoados. Beast estava começando
a perceber que, mesmo após a cirurgia, o túmulo sem identificação
provavelmente era apenas um borrão para ele.

De repente, Beast queria afastar Laurent desse horror.

Ele soltou o osso e o puxou, colocando o corpo menor em seus braços.


— Não. Não — ele disse freneticamente se perguntando se outro membro do
clube não tinha enterrado alguém aqui. Mas não, eles não teriam. Eles não
teriam escondido um corpo tão perto de casa, não na propriedade.

Ele fechou os braços ao redor de Laurent, respirando com tanta


intensidade que a corrida hiper ventilatória estava começando a chegar à sua
cabeça. — Laurent... Você não é louco.

Os braços de Laurent deslizaram ao redor dele imediatamente, e como


esperado, o moletom de Laurent estava tão encharcado que não poderia
fornecer calor. — É o corpo de Marcel? — Ele sussurrou trêmulo, ajoelhando-
se com Beast na cova rasa sobre os ossos cobertos de lama.
Beast esfregou o queixo no topo da cabeça dele e soltou o ar,
inesperadamente comovido pela descoberta. Ele tinha visto homens
morrerem, mas isso era algo completamente diferente, e vinha com o seu
próprio conjunto de perguntas. — É um corpo. Você estava certo. —
Lentamente, o peso por trás dessa verdade afundou no corpo de Beast, e ele
afastou Laurent para olhar para ele, óculos molhados, cabelo grudado em
suas bochechas e tudo. — É a... É a marca no seu pescoço...?

— O diabo deixou isso em mim. Ele viu o que eu fiz e concedeu meu
desejo. Eu queria viver em um mundo onde eu pudesse ser livre para me
sustentar, livre para amar um homem. E ele me trouxe até aqui.

— Para mim. — Beast disse, movendo lentamente as mãos pelos braços


de Laurent, completamente fora de seu elemento.

— Eu sei como isso soa. — Laurent fungou contra o peito de Beast. —


Eu realmente sei, mas esta casa, esta terra pertence a criaturas infernais, e
ele pode fazer o que quiser. A marca em minha nuca mão é uma evidência
também?

— Meu pai tem um também essa marca. — Beast sussurrou, olhando


de volta para o corpo. Eles não podiam simplesmente deixar descoberto até
a manhã. — Você sabe por quê? Ele também viajou no tempo?

Laurent ficou imóvel, mas finalmente olhou para Beast, seu rosto
molhado e enlameado, olhos quase invisíveis através dos óculos. — Não. Mas
ele faz algum pedido ao diabo. Eu não sei exatamente o que é, mas tem algo
a ver com a casa.

Beast engoliu em seco, gentilmente acariciando o cabelo de Laurent. —


Eu sinto muito. Eu... Isso é tão inacreditável. — Ele disse observando
Laurent com uma nova luz. Ele tinha reunido histórias de lendas e fofocas
sobre magia e coisas estranhas que aconteceram nessa área, e ainda quando
a verdade lhe foi dada em uma bandeja, ele se recusou a acreditar em
Laurent. Ele tinha sido um idiota.

Isso era o que ele vinha procurando o tempo todo.

Laurent tirou os óculos e colocou-os no bolso, tremendo todo. Era hora


de deixar este buraco cheio de lama e ossos. — Eu sei. Eu nunca fui
supersticioso. Eu não procurei isso também. Eu matei Fane naquela casa e
o diabo apareceu. Ele saiu do espelho, como piche fumegante. Eu estava tão
assustado, mas queria viver.

— Eu sei, baby, eu sei. — Beast disse, hesitando. Ele queria afastar


Laurent desta chuva, mas a sepultura escondida não poderia ser deixada
assim. Ele desculpou-se brevemente e cobriu o esqueleto com um pouco da
sujeira antes de assobiar para Hound e puxar Laurent para perto novamente.

O caminho para casa foi longo e miserável. Beast estava tão envolvido
em seus próprios pensamentos que ele não conseguia invocar palavras de
conforto. Sua cabeça girava com o novo conhecimento de que seu pai não era
membro de algum tipo de culto. Ele literalmente fez um pacto com o diabo.
Isso era insano e, no entanto, o corpo que estivera oculto nos últimos
duzentos anos era prova suficiente. Isso era real. Os demônios eram reais, e
isso significava que a magia também era real.

Se Beast conhecesse o diabo, ele poderia pedir a ele para conceder seu
desejo também. Ele poderia ter o seu antigo eu de volta. Ele poderia viver
como uma pessoa normal novamente. Ele poderia ter procurado todas as
informações sobre eventos estranhos ao redor da casa por anos, mas só agora
ocorreu a ele que nunca realmente acreditou que qualquer um dos relatos
fosse verdadeiro. Sua busca era apenas fios que ele agarrava com a ilusão de
esperança que aparentemente estava ao seu alcance.

Quando chegaram ao apartamento de Beast, os dois estavam pingando


lama e água, mas Beast olhou para a nuca de Laurent novamente, ele queria
ligar para Knight o mais rápido possível e analisar em uma nova luz todas as
evidências que ele tinha. Iriam se reuniu em seu escritório. No momento, até
mesmo o teste de confiança de Laurent não importava tanto.

Laurent estava perdido e com medo de um mundo tão novo para ele.
Era um milagre que Laurent ter se saído tão bem. De repente, ele não parecia
engraçado e ingênuo, mas muito corajoso e um aprendiz rápido com a
maneira como ele entendia os conceitos que tinham que ser tão estranhos
para ele quanto à magia para Beast.
As patas sujas de Hound deixavam manchas de lama na sala de estar,
mas Beast não conseguia se importar. Assim que eles entraram, ele tirou as
roupas encharcadas de Laurent e rapidamente tirou as suas. Apesar do calor
que agora sentia no ar contrastando com a pele úmida e gelada, ele e Laurent
ainda estavam tremendo e precisavam lidar com o frio o mais rápido possível.

Os dentes de Laurent batiam quando entraram no Box juntos. A água


quente era certamente um alívio para ele como era para a Beast. Eles ficaram
juntos, e Beast não conseguia parar de pensar sobre o que o garoto tinha
passado. Laurent ainda nem tinha vinte anos, e Fane tinha trinta e poucos
anos quando Laurent Mercier o matou. Era difícil ver o garoto à sua frente
como o homem misterioso da história, e ainda assim ele estava aqui, em
carne e osso, com o cabelo longo e bonito, o rosto bonito e os dedos esbeltos.
Beast não podia imaginá-lo cometendo um ato de violência. Seria violência
se foi autodefesa?

Se as palavras de Laurent fossem verdadeiras, para ele, o ataque só


ocorrera há dois meses.

— Você deveria ter me contado. Devemos ser honestos um com o outro,


se quisermos ficar juntos. Não sobre a viagem no tempo. Estou falando do
abuso. Eu teria lidado com as coisas de forma diferente se eu soubesse. —
Beast disse no final, enquanto ele tirava o xampu do cabelo de Laurent. Ele
estava feliz em ver a cor voltar aos dedos de Laurent, mas ele ainda os tocava,
só para ter certeza de que estavam realmente quentes.

Laurent assentiu com um suspiro profundo quando Beast correu os


dedos sobre a marca do diabo em sua nuca. — Fane me disse que ele manteve
esse homem, Marcel, em seu porão por meses. Eu sabia que tinha que fazer
alguma coisa. Eu nunca fiquei tão aterrorizado na minha vida. Como poderia
existir esse tipo de mal?

Beast engoliu em seco e lentamente se inclinou, beijando os lábios de


Laurent, ansioso para mostrar que tudo ficaria bem a partir de agora. — Ele
não está mais aqui. É só você e eu, e eu vou te proteger. Eu prometo.
Os lábios de Laurent mostraram uma sugestão de sorriso, e isso causou
tanto alívio no corpo de Beast que ele finalmente se sentiu pronto para lidar
com Knight, a pesquisa, e a busca por respostas.

Laurent não era louco e ainda queria estar com Beast. Isso era tudo o
que importava.

Beast beijou Laurent novamente e desligou o chuveiro, energizado e se


sentindo melhor a cada segundo que passava. — Bom. Você deveria dormir.
Preciso falar com o Knight e vamos ver o que podemos fazer com o Marcel.
Capítulo Vinte
Laurent

O cheiro de Beast se agarrava ao edredom e travesseiros, e era o único


consolo que Laurent tinha. Ele estava escondido no casulo macio no meio da
cama, escutando a constante chuva batendo contra a janela. Ele se encolheu
quando o vento uivou, lançando gotas de água contra o prédio, mas ele estava
apenas sendo excessivamente sensível depois do horror desta noite.

Ele estava quente. Ele estava seguro. Ainda assim completamente


solitário.

Por que Beast estava tão ansioso para discutir suas descobertas com
Knight? Por que Laurent não pode entrar na sala secreta quando não fazia
muito tempo que Beast alegou que eles deveriam ser honestos um com o
outro?

Laurent não podia acreditar que uma noite perfeitamente boa tenha se
transformado em um desastre. Ele primeiramente afastou Beast das
conversas sobre a casa, simplesmente porque frustrar tais planos era o seu
trabalho, mas então a sua decisão de distrair Beast para expandir seu
repertório no quarto se transformou em uma avalanche incontrolável de
arrependimentos.

No começo, ele achava que o teste de paciência da Beast era uma boa
ideia. Uma que, de uma vez por todas, proporcionaria a sensação de
segurança e confiança que Laurent precisava para dar seu corpo à Beast e
desfrutar de seu ato de amor sem nenhuma pitada de medo. Nada saiu como
planejado, uma vez que ele colocou sua ideia em movimento. Em sua cabeça
idiota, ele só levou em conta sua própria ansiedade, esquecendo
completamente como suas ações afetariam sua besta forte, mas amorosa.

Então ele teve que explicar para Beast porque estava tão abalado. Uma
coisa levou a outra e aqui estava Laurent. Sozinho, mesmo com a esperança
no coração de que Beast acreditasse nele. Ele parecia sincero ao fazer
perguntas, e não estava desconfiado como no princípio.

Laurent só queria ser mais incluído. Ele desejava ter permissão para
estar com Beast e Knight, não jogado de lado quando Beast encontrasse algo
mais importante para fazer. Agora que Beast sabia da viagem no tempo,
Laurent coçava para falar com ele sobre as coisas que ele tinha sido forçado
a manter em segredo até agora. E, no entanto, Beast não estava lá para ele,
ocupado demais com a nova descoberta.

Do lado de fora do quarto, uma porta clicou e vozes masculinas


surgiram no ar, fazendo Laurent tirar a cabeça do travesseiro e olhar para a
entrada. Ele logo reconheceu que Beast e Knight devem ter deixado a sala
onde Laurent não era permitido.

Era como um espinho em seu corpo.

Laurent saiu da cama e caminhou até a porta com os pés descalços,


colocando os óculos no caminho. O frio que o saudou lhe deu arrepios, mas
ele estava muito ansioso para ouvir o que estava sendo dito para se importar.

Ele colocou o ouvido contra a porta.

Knight parecia agitado. — Isso é história, Beast. Precisamos que alguém


preserve esses ossos para as gerações futuras.

— Não podemos chamar as autoridades agora. Gray e Rev voltaram


recentemente de uma corrida, e temos muita carga no clube para arriscar.
Isso precisa ficar quieto por enquanto. Esses ossos não vão a lugar nenhum.
— Beast disse, e Laurent ouviu o tilintar familiar de vidro.

“Carga” era outro segredo, Beast apenas contava mentiras vagas para
Laurent antes de mudar de assunto, mas Laurent não era um idiota. Ele
sabia que algumas das fontes de renda dos Kings of Hell eram obscuras, na
melhor das hipóteses. Os homens só voltavam alguns dias depois com
pequenos pacotes que todos tratavam com tamanha reverência que poderiam
ser objetos sagrados. Parecia que algumas mulheres sabiam o que realmente
estava acontecendo, mas fingiam que não, então ele seguia o exemplo delas
e evitava o assunto.
Ignorar os segredos parecia tão fácil quando se tratava da sala secreta,
escondendo de Laurent algo de valor pessoal do seu amante.

Knight soltou um gemido de frustração. — Então, o Conde ainda tem


permissão para fazer suas afirmações estúpidas e não comprovadas sobre
Fane e seus métodos de matar, e eu devo permanecer sentado ouvindo seus
vídeos do You Tube...

— Que porra é essa, Knight? Por que você se importa com o que alguns
caras dizem na internet? Ele é outro teórico da conspiração.

— Ele está manchando a memória dos meus antepassados! Você sabe


que uma de suas teorias é de que Laurent fosse um prostituto, e que ele
estava no esquema de Fane, e o assassinato foi causado por uma discussão
sobre dinheiro?

Beast permaneceu em silêncio antes de dar um suspiro mal-humorado.


— Nós dois sabemos que não é verdade. E não é como se eu estivesse dizendo
que isso deveria ser mantido em sigilo para sempre, mas precisamos levar
em conta que um corpo pode atrair os Federais, e teríamos que andar na
ponta dos pés até confirmar a idade do cadáver. O clube não é mais
importante?

Laurent ainda estava processando o fato de que algum homem


desconhecido estava inventando coisas indecentes sobre ele quando Knight
respondeu claramente infeliz.

— Eu acho. Podemos organizar uma revelação com os historiadores e


os desdobramentos quando você voltar da próxima viagem e quando não
tivermos nada a esconder.

Beast estava indo a algum lugar? Esta era a primeira vez que Laurent
ouviu sobre isso.

— Nós também precisamos conversar com os outros, e nós dois


sabemos que o King não vai gostar disso. Se você quiser impedir que os fãs
de Seriais killers de escreverem fanfiction de Fane/Laurent, talvez você
devesse propor algo para King concordar com isso, porque ele nunca me ouve
de verdade.
— Laurent Mercier merece melhor. — Knight disse, mas sua voz se
dissipou, e depois de outro clique de portas, Laurent percebeu que Beast e
Knight deviam ter deixado o apartamento.

Ele olhou para o corredor para ter certeza, mas eles estavam de fato
desaparecidos. Por quanto tempo? A porta da sala secreta de Beast foi
deixada aberta, e o coração de Laurent pulou uma batida. Seus pés se
moveram antes que seu cérebro pudesse tomar uma decisão.

Hound abriu os olhos, mexendo as orelhas com curiosidade, mas não


se mexeu da cama, provavelmente sonolento demais para se preocupar com
os assuntos humanos. Laurent engoliu em seco e encarou a câmara secreta
onde ninguém além de Beast e Knight era permitido a entrada. Estava
sempre trancada, mas desta vez a chave estava pendurada embaixo da
maçaneta da porta, e a porta em si não estava nem fechada.

Laurent sentiu calor no peito enquanto se aproximava lentamente e


espiava dentro do quarto, apenas para encontrar tudo escuro. Não havia
janelas ou cortinas muito grossas. Ele deu um tapinha na parede do lado da
porta, onde os interruptores de luz geralmente estavam, e, como esperado,
tudo o que ele precisava fazer era pressionar um deles para iluminar o
ambiente.

De uma só vez, anotações e fotos apareceram para Laurent nas paredes.


Algumas páginas de livros estavam conectadas a recortes de jornal, alguns
pregados com desenhos e pilhas de pastas sobre a mesa ao lado de duas
latas de Coca-Cola, a bebida escura e gélida que Laurent desprezava.

Ele estremeceu quando as fotos de várias seitas satânicas, incluindo


uma esculpida em um chão de pedra, o atacaram tão inesperadamente que
ele agarrou a parte de trás do pescoço, onde as linhas salientes queimavam
na ponta dos seus dedos. Atrás da porta havia uma estante de livros e
folhetos marcados por frases como “atividade oculta”, “satanismo”, “Brecon
18 C” - mas era demais para ser absorvido de uma só vez, então Laurent
passou os olhos sobre a mesa com pilhas de cadernos abertos e desenhos no
topo.
Acima disso tudo, pregado a um quadro de cortiça, havia uma fotografia
grande e um tanto desbotada de um belo rapaz de mandíbula quadrada e
cabelos loiros que raspava em seus ombros nus. Laurent ficou
instantaneamente atraído pela foto e ajustou os óculos enquanto se
aproximava dela; apertou os olhos com a sensação de familiaridade que o
retrato lhe dava. Levou um tempo para perceber por que ele se sentia assim,
mas quando viu outra fotografia do mesmo homem na moto de Beast, ele
percebeu quem era o estranho.

As cores se desvaneceram um pouco, mas Laurent reconheceria os


olhos azuis em qualquer lugar. O rosto em si havia sido completamente
transformado pelas cicatrizes e tatuagens, a ponto de dificultar a
identificação do homem sendo o amante de Laurent, mas, após uma inspeção
cuidadosa, ficou claro que sua estrutura óssea era a mesma.

Beast teria sido o mesmo homem que ele era hoje, se não fosse pelo
acidente que matou sua mãe? Ele seria mesmo conhecido como “Beast”? Só
agora Laurent percebeu que ele não sabia o verdadeiro nome de Beast. Quão
triste era saber que um homem tão terno, tão bom amigo, fosse conhecido
apenas como um monstro, uma besta.

Ele exalou, observando o sorriso malandro por mais alguns segundos


antes de desviar sua atenção para olhar o caderno aberto no meio da mesa.
Ao contrário de alguns dos outros itens, não estava nem um pouco
empoeirado, e a escrita dentro não se parecia com a de Beast. Ele se inclinou,
sentindo uma pontada de calor em seu peito quando percebeu que era uma
árvore genealógica da família Mercier, com o nome de Travis - ou Knight -
circulado em vermelho na parte inferior.

Laurent rapidamente rastreou com o dedo, todo o caminho até...


Adolphe, seu irmão.

Ele piscou quando viu seu próprio nome suavemente riscado com um
lápis. Seu próprio ramo havia sido cortado como uma parte podre de uma
árvore, enquanto seu irmão prosperou por gerações, até 2017, até Knight e
sete de seus irmãos, nenhum que Laurent tinha visto em volta do clube,
apesar das pessoas terem famílias, seus próprios de acordo com a árvore de
gerações.

Ele começou a folhear as páginas do caderno, tentando se apressar caso


Beast e Knight voltassem, mas sua mente estava rodando em círculos nesta
sala. A verdade sobre seu passado esteve aqui o tempo todo. Com pesquisas
e livros sobre o diabo, sobre outros lugares onde os cultos foram encontrados,
e Beast, mesmo depois do quanto ele mencionou sobre a sua família, nada
se comparava com a quantidade de informações que tão claramente
poderiam fornecer uma visão sobre a situação de Laurent.

Havia todo tipo de coisas sobre a família Mercier no caderno, que era
dividido em capítulos onde Knight meticulosamente colocava datas, lugares,
bem como histórias e curiosidades. Laurent Mercier tinha uma seção inteira
dedicada a ele.

Continha uma cópia de um registro antigo, que o listava como servo


contratado pelo Sr. Barnave, e uma nota sobre ele ser um assassino, escrito
pelo padre local, com quem Laurent se lembrava de ter falado apenas
semanas atrás. Uma descrição física dele estava lá também, de alguma forma
colorida e o acusando de ter relações com o próprio diabo. Seu cabelo
incomumente longo era retratado como prova da associação de Laurent com
bruxaria. O que mais o impressionou, porém, foi o modo como ele foi
retratado. Um assassino. Um ladrão astuto que queria roubar o bom Sr. Fane
- que na época que a nota foi escrita, ele ainda não tinha sido exposto como
um assassino. A nota especulava que Laurent queria ficar com os anéis de
Fane, que deviam ter sido tirados por um servo desonesto antes que o corpo
fosse de fato relatado como desaparecido pelas autoridades.

Perto do final do capítulo, ele também viu fotografias de itens associados


ao assassinato de Fane - entre eles, a coleira grossa que fez Laurent encolher
com as lembranças. Em anexo havia também uma fotografia de um objeto
do museu local - uma bala descrita como provavelmente falsa. A bala real foi
aparentemente retirada do corpo de um homem diferente na época da
execução de Laurent Mercier.
O estômago de Laurent se apertou com a vergonha de tudo isso. Ele
estava confuso com todas as menções do diabo, mas alguns parágrafos
depois, ele percebeu que era porque o próprio Fane tinha sido encontrado
com o símbolo do diabo em sua nuca. Tudo se juntou na mente de Laurent.
Os assassinatos de Fane tinham que ser ele fazendo o lance do diabo. Mas é
claro que foi Laurent, seu assassino, quem levou toda a culpa.

A página seguinte gritava para ele com listras coloridas sob os elementos
do texto. Ele levou alguns segundos para entender que eram os relatos sobre
o assassinato e o julgamento que se seguiu.

Ele foi encontrado.

Ele estava no porão quando os criados arrombaram a porta.

Ele foi levado para a cadeia e levado a julgamento.

Então, como ele estava aqui?

Sua respiração ficou presa quando em outra citação, ele leu uma
anotação de Knight informando que Laurent Mercier havia sido condenado à
forca. Na página seguinte, os nomes de seus três irmãos foram mencionados
no topo. Chegaram a Brecon três anos depois do assassinato de William
Fane, esperando encontrar seu irmão prosperando, mas foram confrontados
com seu crime. Eles nem sequer tinham um túmulo para prestar suas
homenagens, presumivelmente porque o corpo de Laurent havia sido
enterrado em um túmulo sem identificação.

E, no entanto, ele estava aqui. Ele não entendia. Ele era um tipo de
espírito e o diabo deixou seu corpo em 1805?

Ele esfregou os olhos em pânico quando as lágrimas caíram nas


anotações. Seus irmãos, sua família vieram até ele depois de todos esses
anos, e ele não tinha ideia. Eles não o abandonaram depois de tudo. Ele
apertou as mãos na borda da mesa, olhando para as anotações rabiscadas e
os pedaços de papel com a escrita de outra pessoa, completamente
sobrecarregado pela tempestade em seu peito.

Como se de repente, além da confusão e do processo aterrorizante de ler


sobre sua própria morte, um raio de luz penetrou na alma de Laurent. Ele
ainda tinha família. Ele até tinha um membro da família que estava
interessado em sua vida. Ele não estava sozinho no mundo.

— O que você está fazendo aqui?

Laurent se virou em pânico, muito sobrecarregado por suas descobertas


até mesmo para formar uma mentira coerente. O que ele poderia dizer? Ele
obviamente tinha se infiltrado aqui, apesar dos numerosos avisos para não
entrar. — Eu…

Beast olhou para ele, sua mão apertando a maçaneta da porta com
força. Ele respirou fundo, como se esperasse que isso o ajudasse de alguma
forma a manter a calma quando até os tendões do pescoço estavam
visivelmente se movendo. Ele parecia um touro prestes a atacar. — O que?
Você o quê? — Ele retrucou.

Laurent deu um passo para trás, batendo na mesa. — Estou morto —


ele sussurrou. — E você sabia disso. Como você não pôde me contar?

Knight pairava atrás de Beast, mas o foco de Laurent estava apenas em


seu amado.

Beast bateu na parede, inclinando-se para frente com as duas mãos


apoiadas no batente da porta. — Já faz mais de duzentos anos, Laurent. E
você está aqui, então obviamente você não está morto. E pare de mudar isso,
porque eu disse para você nunca entrar aqui. Eu não quero que você olhe
para nada disso — ele disse e rapidamente puxou a mão de Laurent, levando-
o para fora da pequena sala.

Laurent reprimiu o grito que tentava escapar de seus lábios. Na sala de


estar, ele deu uma olhada clara em Knight. — Minha família veio até mim
três anos depois. Por que eu não posso ficar com você, e tentar entender
tudo? — Ele apontou para a sala em frustração. A maioria das notas e
recortes não era nova. Beast estava trabalhando nisso há anos, e ele não
achou apropriado contar a Laurent, embora Laurent estivesse usando a
marca do diabo em seu corpo!

Beast engoliu em seco, seus braços tão rígidos que parecia doloroso. —
Não é para conversar. Isso é pessoal. Como ousa quebrar minha confiança
assim? Você não me deu o suficiente por uma noite?
Knight suspirou e olhou para os pés, como se quisesse fingir que não
viu o que estava acontecendo.

— Por que você está pesquisando isso? O que você sabe? — Laurent
exigiu sem fôlego, sem vontade de sair ou se desculpar. Ele estava sendo
tratado além da injustiça. E se ele ainda pudesse morrer? Ser sugado de volta
ao passado quando à hora chegasse? — Existe alguma coisa sobre o Laurent
morto com a marca? — Ele perguntou a Knight, esperando que sua própria
família fosse mais cooperativa.

Knight limpou a garganta. — Sim. É por isso que algumas pessoas


acham que ele estava envolvido com Fane. Que ambos faziam parte de um
culto satânico.

— Eu não preciso falar sobre cada segundo da minha vida. — Beast


sibilou. — Eu não acredito que você jogou comigo pela segunda vez na mesma
noite!

Laurent mudou seu peso de um pé para o outro, desconfortável com a


forma como Beast estava segurando seu pulso. — Eu lhe contei tudo! — Ele
atacou, sentindo-se culpado além da crença no momento em que as palavras
traiçoeiras deixaram sua boca. Mas mentir era uma questão de
sobrevivência. Ele não podia dizer a Beast tudo o que havia para saber sobre
o seu pacto com o diabo, ou até mesmo sobre as coisas que ele sabia sobre
o pacto de King. Se Beast soubesse, ele provavelmente deixaria este lugar e
Laurent para trás.

E Laurent não podia deixar isso acontecer. Ainda faltava mais de dois
meses até que Laurent estivesse livre para viver neste mundo, e só depois
que seu acordo fosse finalizado, ele poderia esclarecer Beast sobre isso.

E ele faria. Mesmo que isso significasse que Beast o abandonasse,


Laurent prometeu a si mesmo que seria sincero.

Mas agora não. Ainda não.

Beast abriu os braços. — E o que, eu deveria apenas me abrir para você,


todos os meus pensamentos? Você quer saber qual a minha cor favorita na
escola também? Não funciona assim. Você não pode forçar as pessoas a
desistir de seus segredos assim. Isso está ficando mais fodido a cada minuto.
Laurent olhou para Knight, mas o homem sacudiu a cabeça.

— Você não espera que eu o apoie nisso contra o meu melhor amigo,
não é? — Knight arqueou uma sobrancelha.

— Tudo bem! — Laurent conseguiu sair do aperto de Beast, mas fez


tanta força que ele tropeçou contra o sofá. — Desculpe-me por ter invadido
sua privacidade — ele assobiou sem nenhum arrependimento.

Beast apertou a mandíbula e enfiou as mãos nos bolsos rapidamente,


como se quisesse rasgá-lo. — Vá dormir.

Laurent engoliu em seco e olhou para os dois homens. — Boa noite —


ele disse no final e se virou.

Ele iria dormir em seu antigo quarto esta noite.


Capítulo Vinte e Um Beast

Beast despertou com uma batida suave na porta, seguida por um


gemido alto e um barulho que só poderia ter sido causado pela cauda de
Hound batendo no chão. Ele gemeu, rolando de costas e forçando-se a
sentar-se, ainda grogue depois de ir dormir quando já estava ficando claro lá
fora.

— Entre.

A porta abriu devagar e Laurent, o traidor, entrou com um olhar


cauteloso no rosto e uma bandeja de comida nas mãos. Após a explosão de
ontem, a visão foi o suficiente para fazer Beast levantar as sobrancelhas. A
raiva depois de ter sua privacidade violada ainda era uma presença ardente
em seu corpo e despertou no momento em que ele olhou para o rosto bonito
e enganador de Laurent.

— Então, eu... Fiz o café da manhã. — Laurent disse e sentou-se na


beira da cama. Ele colocou a bandeja entre eles, mostrando uma xícara
fumegante de café e torradas Poptarts com cobertura rosa. — Seu favorito,
certo?

Beast olhou para o tratamento e não pôde deixar de se divertir. Ele olhou
para Hound e mandou sem palavras que ele não pulasse na cama quando as
duas patas dianteiras descansaram na beira do colchão. — Deixe-me
adivinhar, você mesmo cozinhou?

Laurent sorriu e empurrou o cabelo atrás da orelha. — Bem, sim. Você


lembra? Você me disse para torrar, não comê-los direto da embalagem.

Beast se levantou e encostou-se aos travesseiros, observando as ofertas


escassas. Ele supôs que, se isso significasse algum tipo de suborno para
deixá-lo menos bravo, então Laurent deveria ter tentado o seu melhor. — A
que devo a honra? — Resmungou no final, sem saber o que pensar disso. Ele
não podia ser apaziguado como um cachorro, com um pedaço de carne
jogado em seu caminho.

Laurent lambeu os lábios, contorcendo-se sob o escrutínio. — Eu queria


me desculpar — ele murmurou sem olhar nos olhos de Beast. — Eu estava
com raiva ontem, mas tive muito tempo para pensar à noite. Achei difícil
adormecer sem você depois de tudo o que aconteceu e... Cheguei à conclusão
de que você estava certo em perder a paciência depois de tudo o que já
havíamos passado mais cedo naquele dia.

Isso era novo.

Enquanto Laurent não fosse totalmente malcriado, alguns dos seus


comportamentos eram difíceis de engolir, particularmente o tipo que ele
expressou no dia anterior. Beast tinha imaginado que Laurent ficaria
tranquilo e submisso até que a raiva de Beast evaporasse, mas uma desculpa
verdadeira era a última coisa que Beast esperava do garoto. — Não foi uma
boa noite.

Laurent cutucou o prato para aproximá-lo de Beast. — Eu estava


frenético com as descobertas, mas depois de pensar um pouco, percebi que
você não teve muito tempo para se concentrar no que me dizer quando
descobriu quem realmente eu era. Eu deveria ter ficado grato por você ter
acreditado em mim.

Beast exalou, esfregando o rosto e tentando ignorar o aroma açucarado


dos Poptarts23 e a cafeína que parecia já penetrar em seu sistema, antes que
ele pudesse tomar um gole.

— E?

Laurent suspirou e passou os braços em volta de si. — Desculpe-me


por eu ter entrado em sua sala secreta. — Desta vez ele estava ficando mal-
humorado, e o amuado familiar estava de volta no lugar - um sinal de como
relutante esse último pedido de desculpas era.

Beast franziu o cenho. — O que há realmente? Eu não permiti que você


guardasse seus segredos? Por que você achou que estava tudo bem descobrir

23
Pop-Tarts é um biscoito pré-cozido recheado produzido pela Kellogg.
os meus? — Beast sibilou, ficando imediatamente agitado. — Eu não queria
que você visse nada daquilo. E você explodiu ali como se tivesse algum direito
aos meus pensamentos ou ao meu passado.

Os ombros de Laurent afundaram e o beicinho sumiu. — Você está


certo, eu não tinha direito de invadir. Minha curiosidade e meus nervos não
são desculpas para a minha conduta.

Beast lambeu os lábios, apertando o edredom em seus punhos. Ele


deveria parar de ficar chateado, só porque Laurent sentia muito? Ele não
tinha certeza se poderia fazer isso ainda, mas pelo menos adoçava a amarga
pílula que ele tinha sido forçado a engolir na noite passada. — Que bom que
você entende.

— Você achou alguma coisa ontem que gostaria de compartilhar


comigo?

Isso foi uma surpresa e Beast imediatamente sentiu pena de falar em


um tom tão rude com a pergunta verdadeira. Relutantemente, ele pegou um
Poptart e deu uma mordida. — Bem, descobri que a magia é real e ainda
estou em estado de choque.

Laurent sorriu, mas não olhou para cima, movendo os pés para cima e
apoiando os calcanhares na beira do colchão. — Há muito que não
entendemos sobre isso. Mas você está certo de que talvez eu não devesse ter
entrado em pânico do jeito que eu fiquei. Eu claramente ainda estou vivo,
então eu não poderia ter morrido no passado.

— Talvez haja duas versões da história e, em uma, você está aqui. —


Beast disse, estendendo a mão para tocar na mão de Laurent. Estava quente
e suave do creme para as mãos que ele usava, e Beast gostava de seu toque.

Os dedos rapidamente apertaram a mão de Beast, e isso acalmou o


coração de Beast ao ver Laurent tão envolvido nele, que ele veio se desculpar
em vez de ficar emburrado e interpretar o Príncipe.

— Deve ser isso. O que é mais importante para mim é que não estou
sozinho nisso e ontem à noite... Senti-me muito sozinho sem você.
Beast sentiu uma sensação estranha e oca se espalhando pelo peito
dele. De repente, ele se lembrou da maneira como Laurent o olhou no
chuveiro ontem à noite quando Beast lhe disse para ir dormir, como se suas
descobertas não o preocupassem. — Sinto muito por ontem também. Eu não
teria encontrado o corpo sem você. Mesmo se eu quisesse falar com Knight
sobre tudo isso, eu não deveria ter te empurrado de lado.

Quando Laurent finalmente olhou para Beast, foi um alívio tão grande
que Beast deu outra mordida no Poptart. — Todos nós cometemos erros,
certo?

Beast deu uma risada aguda, aliviado ao ver que Laurent honestamente
queria fazer as pazes. — Sim. Há algo que me possa dizer sobre o pacto do
meu pai? — Ele perguntou, imaginando se Laurent havia notado as fotos
antigas dele no escritório. Se ele reconheceu o cara bonito na foto como sendo
Beast agora.

— Há muito que eu não me entendo. King tem sido muito vago, e eu


continuo tentando ficar em suas boas graças para que ele me conte mais.

— E o seu? O que o diabo queria de você em troca? — Beast perguntou,


tomando o café em goles. De repente, ocorreu-lhe que o pedido poderia ter
sido algo terrível, e ele engasgou com a bebida, lembrando-se de todas as
histórias que mostravam os demônios roubando as almas das pessoas.

— Eu... Ainda está por vir, mas não posso dizer a ninguém o que é
exatamente. Eu estarei livre dele no devido tempo. É uma coisa pequena, na
verdade. Eu acredito que os poderes do diabo são limitados em relação ao
que ele pode oferecer, e eu sou apenas uma engrenagem em seu esquema.
Ele até sugeriu que ele não é o diabo da Bíblia, então talvez ele seja outro
tipo de monstro.

Beast exalou e largou a xícara para segurar a mão de Laurent. — Então


sua alma ainda é sua? E você vai ficar aqui?

Laurent rastejou sobre a cama até que ele estivesse perto o suficiente
para colocar o braço de Beast sobre seus ombros. — Eu vou, desde que eu
cumpra meus deveres com ele.
Beast lambeu os lábios, seu corpo relaxando imediatamente quando o
calor de Laurent se encaixou contra o dele. — É algo horrível?

Laurent beijou a pele do antebraço de Beast. — Não. Mas King não pode
morrer até determinada data, então não importa o quanto você o odeie, por
favor, mantenha-o em segurança.

Beast riu, mas o pedido ainda o deixava desconfortável. — Por que eu


iria querer machucá-lo? Ele é o meu Prez. Quero dizer... Ele é um idiota, mas
somos família. Eu não faria isso.

— Bom. — Foi tudo o que Laurent tinha para ele.

Beast pigarreou e comeu um pouco mais de Poptart enquanto observava


o belo perfil de Laurent com a esperança lentamente se acomodando em seu
peito. — Você pode falar com ele? O diabo, eu quero dizer.

Laurent se aproximou do corpo de Beast. — Porque você iria querer falar


com aquilo?

Beast exalou, puxando Laurent para mais perto, e a lembrança de seu


velho rosto, de todas as coisas que perdera nos últimos doze anos, inundou
sua mente junto com a história sobre um homem que recuperou seu membro
perdido. — Há algo que eu quero.

Laurent pressionou a palma contra o peito de Beast. — Não há outra


maneira de obtê-lo? Você nunca sabe o que o diabo pode querer em troca, e
isso pode mudar você. É melhor evitar o contato com essa criatura.

O coração de Beast bateu mais rápido contra a palma de Laurent, e


quando eles se olharam, Beast sabia uma coisa: ele queria que a criatura o
mudasse. Ele queria ser um homem de quem as pessoas não se afastassem
e que não parecesse estranho ficar ao lado de Laurent quando os dois
estivessem juntos. O nome Beast tornou-se quase sinônimo dele, mas ainda
lamentava a perda de seu antigo eu. — Não, eu não posso. Eu preciso essas
coisas. Eu preciso. É por isso que coletei todas essas anotações no escritório,
mas eu nunca acreditei que teria sucesso.

Laurent beijou Beast embaixo da mandíbula. O toque de seus lábios era


tão macio que quase doía fisicamente ser um monstro ao lado dele. Se Beast
pudesse se tornar o homem que ele deveria ter sido o tempo todo, Laurent
nunca iria deixá-lo. Ele nem precisava ter de volta o tipo de vida antigo,
transando com pessoas diferentes o tempo todo. Ele mudou desde então,
tanto na aparência quanto no interior. Mas ninguém nunca viu seu
verdadeiro eu, apenas as cicatrizes, visíveis, não importando as tatuagens
que as cobrissem.

— Eu poderia tentar para você, mas eu não o contatei desde que


cheguei aqui.

Beast se inclinou, sentindo o calor se espalhando por todo o seu corpo.


Suas mãos eram tão feias contra as macias e graciosas de Laurent. — Você
pode fazer isso agora? Por favor.

E, no entanto, Laurent ainda se inclinou e lhe deu um beijo nos dedos


de Beast antes de se levantar. — Vamos até um espelho.

— Um espelho? — Beast perguntou, mas já rolando para fora da cama,


brevemente imaginando se ele não deveria usar algo mais formal do que o
pijama preto, mas ele decidiu que seres infernais provavelmente não se
importavam com tais problemas terrenos. Esse pensamento o fez sufocar
uma risada.

Seria possível?

Ele finalmente conseguiria o que ele estava procurando?

Na verdade, a história de Laurent ainda era difícil de acreditar, mesmo


que Beast tenha escolhido não duvidar dele. Chegar a experimentar o
sobrenatural, lhe daria a evidência que ele precisava.

Laurent parecia distante, mas ele provavelmente estava apenas tenso.


— Sim, ele veio até mim através de um espelho, e eu acredito que cada
espelho nesta casa poderia ser uma porta para ele.

A respiração de Beast ficou presa quando ele se lembrou de sua


frustração interminável com os espelhos escuros pela casa. — Ele está...
Olhando para nós através deles? — Ele perguntou, apertando a mão de
Laurent no caminho para fora da porta.
— Eu acho que sim. — O nariz de Laurent enrugou quando ele franziu
a testa. — Mas eu nunca penso muito nisso quando lavo meu rosto ou escovo
o meu cabelo. Eu acho que ele... Bem, toda a casa é o seu domínio, e eu
acredito que ele sabe de tudo o que acontece de qualquer maneira.

Beast lambeu os lábios, subitamente desconfortável. Um ser que não é


deste mundo testemunhou a intimidade dele e de Laurent, e Laurent nem se
importou? — OK. Isso não te incomoda? — Ele perguntou, mas seguiu
Laurent até o único cômodo no apartamento que continha um espelho. O
banheiro.

Laurent gemeu. — O que quer que seja esse diabo, ele não deve se
incomodar. Eu duvido que ele pense do jeito que nós pensamos. Incomodaria
você se as árvores o estivessem vigiando?

A luz brilhante iluminava o banheiro moderno, e o resíduo lamacento


nos azulejos lembrava à Beast que eles descobriram um túmulo na noite
passada.

— As árvores não têm olhos. — Beast resmungou, curvando os ombros


e se preparando para... Alguma coisa. Ele não tinha ideia do que esperar,
então ele tentou se acalmar e mantiver a mente mais aberta possível. Ainda
assim, ele se encolheu quando Laurent abriu o pequeno armário, revelando
a imagem no espelho de ambos na luz branca doentia da lâmpada acima. O
brilho apenas acentuou a descoloração da pele de Beast.

Laurent olhou para ele. — Como você sabe?

A pergunta fez Beast ter um tremor desagradável, e ele se concentrou


no espelho. Apesar da luz brilhante, o vidro parecia esmaecido nas bordas.

Laurent limpou a garganta e ficou na ponta dos pés para alcançá-lo


sobre a pia. Ele esfregou a mão sobre a superfície, dando a Beast um olhar
nervoso. — Eu não sei como fazer isso, então, por favor, tenha paciência
comigo.

E se Laurent tivesse descoberto o esqueleto enterrado na propriedade


de alguma outra forma e esse era um esquema elaborado, afinal de contas?
Mas por que alguém iria passar por tantos problemas? Beast não tinha
decidido acreditar em Laurent? Ele deveria manter essa decisão e parar de
pensar em todos os detalhes.

Beast moveu seu peso, observando as omoplatas de Laurent se movendo


sob a camiseta que ele usava. Sua bunda empurrou ligeiramente para trás
quando Laurent se inclinou sobre a pia para bater suavemente na superfície
refletora.

Um arrepio passou pelo corpo de Beast, começando debaixo de seus


pés, como um show particularmente alto. Houve um sopro de brisa, como se
houvesse uma janela aberta no banheiro e, ainda mesmo, a porta se fechou.

Falta de eletricidade, ele ainda podia explicar, já que a fiação era uma
merda no prédio, mas isso era estranho.

Laurent olhou por cima do ombro, mas manteve a mão no espelho. —


Eu gostaria que falássemos — ele disse depois de outra pausa, e a lâmpada
que Beast acabara de pensar começou a piscar como se fosse um animal
trêmulo, com medo do que estava por vir.

Ele respirou fundo, mas o ar estava tão seco que deixou sua garganta
parecendo um pergaminho. A base tremeu novamente. E de novo, e desta
vez, rachaduras se abriram, como uma teia no gelo sobre um lago. Beast
olhou para ele, sem muita certeza se estava alucinando ou se era real. Uma
sensação inquietante se curvou em seu estômago, e quando ele notou a
fumaça surgindo de onde a mão de Laurent estava no espelho, ele quase o
puxou de volta.

Com um estalo alto, a lâmpada apagou, deixando-os na escuridão meio


quebrada pela luz do dia. Deveria haver luz do sol passando pelos pequenos
espaços ao redor da porta, mas não havia nada.

Nada além do brilho avermelhado e doentio do espelho.

Uma parte de Beast não acreditava que nada disso aconteceria mesmo
quando eles chegassem aqui, e ainda assim ele estava aqui, tendo que
admitir que os eventos fantásticos sobre os quais Laurent contou a ele eram
reais demais.
A água que estava pingando da pia ficou rosada, e depois uma cor mais
escura apareceu, e ele não queria acreditar.

Laurent recuou, observando o espelho se tornando mais crepuscular, a


fumaça se acumulando do outro lado, como se não fosse o reflexo deles, mas
uma tela para outro mundo. Uma parte de Beast se arrependeu de perguntar
isso a Laurent, preocupado que ele pudesse se machucar, então ele
rapidamente passou os braços em volta de Laurent, puxando o garoto para
perto dele.

Ele endureceu quando um grito estridente que não poderia ter se


originado na garganta de um humano rasgou o banheiro. Soava errado, um
som artificial como nada que ele já tivesse ouvido antes. O abraço de Beast
se apertou ao redor de Laurent, e ele nem tinha certeza se estava se
segurando na esperança de proteger Laurent ou porque seu corpo estava
lutando contra sua resposta de luta ou fuga. O espelho de aparência
enferrujada o hipnotizava, atraia o seu olhar, e se ele olhasse de perto o
suficiente, havia algo que ele podia identificar na superfície que não se
assemelhava mais aos seus rostos.

O grito veio novamente, enviando arrepios pelos braços, e por um breve


momento pareceu como se garras fantasmagóricas percorressem sua
espinha sob as roupas.

E então, uma voz veio alta e clara, mesmo que soasse como o produto
de uma artista de música eletrônica enlouquecida, em vez de algo que poderia
ser produzido por cordas vocais. Tinha uma qualidade metálica, como se a
garganta que fazia a voz fosse de aço enferrujado e madeira velha.

— Eu não preciso de você.

Era uma declaração simples, mas antes que Beast pudesse reagir, o
fantasma de longos dedos apareceu no espelho, longas garras rasgando o
vidro e deixando para trás cinco longas cicatrizes na superfície.

Beast gritou e empurrou Laurent para longe, acertando o espelho com


o punho. O espelho cedeu, desmoronando sob o seu toque, mas depois a
porta se abriu e, à medida que a luz do dia entrava, não revelava nada além
de rachaduras no espelho e nas paredes. Não havia a presença inumana para
ser vista.

Com mais uma piscada, a lâmpada voltou a acender.

Não havia sangue na pia.

Não havia fumaça no ar.

E, no entanto, o espelho quebrado, os azulejos, eram a prova de que


Beast não tinha imaginado isso.

Laurent se encolheu no canto do chuveiro. — Eu acho que ele não queria


falar.

Beast olhou para ele, lentamente retirando a mão dolorida do espelho e


deixando-a descansar ao lado da pia. Seu peito latejava com o batimento
cardíaco acelerado e sua mão com a dor do impacto.

Nem o diabo o queria.

Simplesmente achava que ele não fosse digno de seu tempo. Uma
sensação abafada de angústia percorreu Beast, fechando-o. Ele não queria
falar com ninguém ou ver ninguém.

A coisa achou que Beast não tinha nada a oferecer? Que um garoto
como Laurent merecesse mais atenção do que ele?

Beast tinha que sair, para não derramar seu ressentimento em Laurent,
que só tinha feito o que lhe pediu. Não era culpa de Laurent.

— S-sua mão... — Laurent se aproximou, mas Beast apenas rosnou em


resposta. Ele era um animal ferido e lamberia suas feridas sozinho.

— Tudo bem — ele disse sem sequer olhar para o garoto, e saiu do
banheiro, indo direto para a porta do apartamento. Mesmo o gemido de
Hound não o impediria.
Capítulo Vinte e Dois
Laurent

Beast havia desaparecido há uma semana. Laurent ficou chocado a


princípio quando descobriu que Beast saíra sem sequer dizer um adeus.
Depois de tudo o que tinham passado, ele saiu com Joker e Grey para fazer
um vago “trabalho” em Nova York, e por mais que Laurent entendesse que
era algo que Beast tinha que fazer, ainda doía ficar sem uma explicação.

Pelo menos ele tinha Hound, que parou de ser assustador há algum
tempo, e o cheiro de Beast na cama, que parecia grande demais para ele
agora. Ele se angustiou com os acontecimentos no banheiro, imaginando se
deveria ter chamado o diabo em primeiro lugar toda vez que olhava para o
espelho quebrado.

O que ele poderia fazer além de esperar? Ele leu ainda mais livros, fez-
se útil de todas as maneiras possíveis, passou algum tempo com os Kings Of
Hell, suas mulheres, e os prospectos e convidados. Ele trabalhou duro para
se encaixar e ainda não estava nem perto de atingir esse objetivo, mas quanto
mais tempo ele se dedicava a aprender os caminhos das pessoas modernas,
mais ele sentia que havia um lugar para ele em 2017, mesmo que ele fosse
considerado excêntrico. As pessoas aqui pareciam ter uma tolerância pela
excentricidade muito superior à do tempo de Laurent.

No domingo de manhã, ele estava dividido entre antecipação e raiva. Era


o dia que Beast deveria voltar de sua corrida, e considerando que Laurent
não teve nenhuma comunicação dele por uma semana inteira, ele nem sabia
como cumprimentar seu manfriend - ou como Nao disse a ele, namorado, que
aparentemente era usado sem relação com a idade.

Ele não podia simplesmente aceitar que Beast o deixou sem dizer adeus.
Não depois de ele ter saído depois que o diabo se recusou a conceder uma
audiência a Beast. Era dificilmente culpa de Laurent, e machucava
profundamente que Beast parecia ter colocado a culpa nele. Depois de tantos
dias sem ter ouvido a voz de Beast, Laurent começou a pensar que ele era o
único a sentir a perda.

Não sabendo se ele ainda tinha apetite, mesmo sabendo que deveria
comer alguma coisa, ele pairou sem rumo pela cozinha. A maioria das
pessoas que passeavam pelo clube estava fora, passando algum tempo com
suas famílias, o que deixou Laurent meio encalhado. Ele considerou preparar
um lanche para receber Beast em casa, mas isso só o fez se sentir patético.
Ele sabia cozinhar coisas que só precisavam de aquecimento, mas depois de
ver Martina fazer sua mágica e fazer as refeições mais elaboradas do zero, ele
sabia que suas habilidades nesse quesito estavam em falta.

A comida era realmente a única coisa legal que ele poderia fazer para
Beast? Seu amante definitivamente gostava do lado carnal do que se poderia
chamar de relacionamento, mas deixava Laurent desconfortável ao pensar
que a luxúria poderia ser a única coisa boa para ele. A necessidade de
satisfazê-lo tornou-se mais proeminente toda vez que Laurent pensava no vil
modo como King estava usando Beast, mas ele dizia a si mesmo que isso
duraria apenas até o aniversário de Beast. Contar a ele agora custaria à vida
de Laurent.

A coceira para consumir açúcar atingiu Laurent quase imediatamente,


então ele se abaixou para pegar alguns biscoitos da prateleira de baixo da
ilha da cozinha.

O riso alto ressoou no ambiente próximo, seguido pelo som de corpos


batendo contra o metal. A voz feminina soava como Jordan, a namorada de
Knight, que nem sequer concedia a Laurent uma única frase dita diretamente
a ele. Ele não gostava muito dela, e nem Beast, embora Laurent nunca tenha
expressado esse sentimento.

— Oh, Baby, mostre-me. — Knight disse em voz baixa e rouca que


imediatamente colocou Laurent em alerta máximo.

Ah não.

Laurent congelou quando percebeu o que estava acontecendo. Um


baque suave e um barulho de vidro sobre a mesa de café sugeriram que
Knight e Jordan tinham ido ao sofá. Laurent lutou uma batalha de vontades
consigo mesmo, imaginando se ele deveria anunciar sua presença de alguma
forma, mas então gemidos e o som de tapa de carne contra carne começou.

Sexo público no clube era uma ocorrência que nunca deixava de deixá-
lo desconfortável, não importando quantas vezes ele tropeçava em casais
envolvidos em tais encontros ilícitos. Talvez se ele ficasse quieto atrás dos
armários, por tempo suficiente, Knight e Jordan iriam embora.

Um tapa forte acompanhou o gemido e o chocalhar de Jordan. Que soou


como se algo batesse contra a mesa de café. — Vamos, levante o vestido para
mim. Mostre-me sua bunda agora, ou eu não vou permitir que você goze hoje.

Laurent cobriu o rosto, muito envergonhado para encontrar palavras.


Isso ia demorar muito? Talvez ele devesse sair e se desculpar depois de tudo?
Ou tentar rastejar até a porta quando eles não estavam olhando? Que
desastre.

— Não! — Jordan choramingou após outro tapa. — Eu quero seu pênis


agora. Dê para mim, vamos lá.

— Sim, você quer isso em sua boceta? — Uma pancada ainda mais alta.
— Ou na sua bunda, garota safada? Hã? Diga-me, ou eu vou apenas foder
sua boca e deixar você assim.

As orelhas de Laurent estavam sangrando, mas cobri-las não adiantava,


porque Knight e Jordan eram muito barulhentos, consumidos pela luxúria,
embora tivessem discutido na noite anterior.

— Seu besta! — Ela riu, e o rosto de Laurent se encolheu com a ideia


de chamar alguém que não fosse seu Beast... bem, de uma besta. — Eu vou
tomar seu pau grosso como quiser — ela baixou a voz, mas Laurent ainda
podia ouvir.

Então, os dois ficaram em silêncio por um breve momento antes que


Jordan desse um grito tão alto que Laurent quase correu para trás do balcão
para ajudá-la, mas uma batida de botas o manteve congelado no lugar.

— Seu filho da puta sorrateiro. — Knight assobiou. — Não se atreva,


eu vejo onde você está!
— Que porra é essa! Ele não entende a necessidade de privacidade das
pessoas? — Exclamou Jordan como se ela não tivesse apenas proclamado
em voz alta suas necessidades carnais em um lugar que era chamado de sala
comum por um bom motivo. Se ela queria privacidade, ela deveria ter levado
Knight para algum outro lugar, especialmente porque Knight não era
necessariamente tímido em fazer sexo em público - algo que Laurent
acidentalmente descobriu quando ele pegou Knight recebendo um boquete
de um cara em um dos corredores. Knight apenas piscou para ele então!

— Eu sinto muito Knight! — Jake gritou sua voz emergindo de algum


lugar lá fora. — Eu estava apenas passando! Eu não queria olhar.

Como Laurent se meteu nessa confusão? Tudo o que ele queria era
alguns biscoitos.

Laurent espiou por trás do balcão na hora certa, e viu Knight puxando
Jake para dentro pela janela. Jake gritou quando ele caiu no chão com um
baque surdo. A fivela de Knight abriu o cinto quando ele se aproximou de
Jake, puxando o prospecto. Laurent não trocaria de lugar com Jake agora.
Knight raramente era cruel com Laurent, mas apesar de seu belo rosto, ele
era uma força a ser reconhecida quando se enfurecia.

E ele estava facilmente irritado.

Knight deu um soco no rosto de Jake com tanta força que Laurent
engasgou e cobriu a boca para atenuar o som.

— Você acha que pode perverter a minha garota, seu desgraçado? —


Knight gritou, com o punho cerrado e apontou para Jake, que
desesperadamente agarrou seu próprio rosto.

Ah não!

Isso significaria que Laurent também seria o receptor da violência, se


ele fosse encontrado? Claro, Laurent era o namorado de Beast, e Beast era o
melhor amigo de Knight, mas talvez isso não importasse no calor do
momento? Knight era um homem impulsivo, sempre ansioso por uma luta
da mesma maneira que parecia sempre ansioso por sexo.
— Não! Não é isso! — Jake agarrou o pulso de Knight quando Knight
puxou o colete de couro de Jake, puxando-o pelo chão até onde Jordan estava
sentada com a saia puxada para baixo.

— O que é então? É melhor você se desculpar por ser um rastejador! —


O rosto de Knight estava vermelho, seu cabelo comprido desgrenhado ainda
mais do que o normal, e seus antebraços grossos estavam cheios de tensão,
como se estivessem prontos para soltar a fúria.

— Sinto muito, Jordan. — Jake gemeu — mas você sabe que eu sou
gay — ele terminou categoricamente.

Knight observou-o por alguns segundos, mas depois desatou a rir e deu
um tapinha na bochecha de Jake. — Seu pervertido! Só precisava me pedir
para ver o meu pau.

— Knight! — Jordan rosnou para ele.

Knight revirou os olhos e virou-se para encará-la, com o pobre Jake


afundado sob o poderoso braço. — O que? Ele nem é uma garota, e eu desisti
de todas as garotas por você. Vê? Estou fazendo um maldito esforço. Que
tipo de compromisso você fez para mim? — Ele disse, puxando um pacote de
lenços de papel, que ele entregou a Jake. O pobre rapaz rapidamente puxou
um para lidar com o nariz sangrando.

Jordan cruzou os braços sobre o peito, o que nunca era um bom sinal.
— Você está brincando comigo? Eu fico sabendo que você está fodendo, eu
tolero ouvir suas besteiras sobre encontrar um esqueleto antigo, e você está
cancelando nosso encontro hoje à noite porque você prefere olhar malditos
ossos! Esse cara está morto há duzentos anos! Ele pode esperar!

Jake se mexeu desconfortavelmente. — Eu... Eu deveria ir — ele


murmurou, afastando-se de Knight.

Knight cruzou os braços e moveu seu olhar de Jordan para Jake de uma
maneira tão demonstrativa que teve que ser de propósito. — Prospecto,
encontre-me na sala de bilhar em três horas. Esteja lá.
Um sorriso bobo apareceu no rosto de Jake, mas ele gritou quando
Jordan se levantou e bateu na sua bochecha violentamente. — Não se atreva
a estar lá! — Ela gritou.

— Ele não responde a você. Ele é o nosso prospecto, ele me escuta e os


outros membros. Você é apenas uma namorada. — Knight disse apontando
o dedo para ela.

Em qualquer outra circunstância, Laurent apoiaria mentalmente


Jordan, mas ela era um ser humano tão horrível que ele estava torcendo por
Jake, que conseguiria o que queria mais tarde.

Jake rapidamente se despediu, enquanto Jordan batia os calcanhares


no chão em fúria impotente.

— Estou tão cansada da indignidade de tudo isso! — Ela empurrou o


peito de Knight, e o jeito que parecia não afetar Knight em tudo lembrou
Laurent da frustração que ele às vezes sentia quando discutia com Beast. —
Eu sou a porra de uma princesa e você me trata como sujeira! Eu mereço
muito mais que isso! Você deveria ser grato por ter uma garota como eu, tão
diferente de todos esses vadios sujos que estão por aqui. E o que eu ganho
em troca? Você está mais interessado em um tatara-tio que suprir as
necessidades da sua mulher.

Os ombros de Knight relaxaram, mas ele olhou para ela. — Você acabou
de chamar os meus amigos de vadios sujos? E você se acha uma princesa?
Onde estão as câmeras? — Ele perguntou, olhando ao redor. Felizmente, ele
não estava sendo realmente curioso ou teria visto Laurent.

— Claro que sim! — Ela levantou o dedo no ar com um grunhido. — E


é melhor você parar de me desrespeitar se você quiser provar isso de novo.
— Ela empurrou os seios para cima com as mãos na frente do rosto dele.

Knight olhou para ela. — Uau. Você é uma vadia. Você tem um rosto
bonito e jóias de ouro que compra a crédito, e isso faz você pensar que você
é muito melhor do que todo mundo aqui? Nao é uma foda muito melhor que
você. Talvez você deva receber algumas aulas. Seja bem vinda em aprender
— ele disse, se afastando antes que ela pudesse acertá-lo com sua pequena
bolsa. — Diga-me uma única coisa que a faça oh-tão-diferente dos outros
'vadios sujos', o que eu não considero, e apenas me mostre um ponto.

— Como você pode dizer isso? Nós passamos por tantas coisas juntos,
e agora você fica assim? No fundo você sabe que sou muito melhor do que
todos esses que moram aqui, mas você não está sendo legal.

Laurent recuou para trás do armário e pôs o rosto nas mãos. Ele nunca
seria livre para sair daqui, e ele definitivamente não queria ouvir a troca
embaraçosa.

Knight deu um suspiro alto. — Sim, e você está me desiludindo a cada


maldito dia. Eu tenho coisas para fazer além de te mimar, e se você não quer
que eu foda com mais ninguém, você está latindo na árvore errada. Eu te
disse isso no começo.

Houve um longo silêncio. — Ok, Knight, querido, mas se estamos juntos,


você precisa me dar atenção — ela disse com a voz de uma criança petulante.
— Você não pode olhar para algum esqueleto estúpido com Beast quando
deveríamos ir a um encontro. Ele é mais importante que eu?

— Ouça, mulher, não são apenas ossos. São os restos mortais de um


homem assassinado por William Fane, se você consegue entender do que
estou falando com esse seu cérebro minúsculo. Se você pode atrasar duas
horas porque você precisava trocar as unhas no último minuto, eu vou
desenterrar um túmulo e fazer anotações de merda, e ficar com os meus
irmãos, seja lá o que for que eu escolher também!

Desta vez, Knight parecia seriamente irritado.

— Tudo bem! — Ela gritou. — Você se masturba com seus amigos por
causa de William, se esse for o verdadeiro nome dele, e eu vou encontrar
outro namorado para mim. Um que realmente me trata certo!

— Perfeito. Dê chiliques para outra pessoa. Estou curioso para saber


quem você consegue com esse temperamento.

— Qualquer um que eu quiser! Você é tão idiota!

Pelo som dos saltos clicando rapidamente no chão, Laurent imaginou


que Jordan realmente estava saindo desta vez. O que era bom, porque Knight
geralmente a seguia em tais situações, e Laurent finalmente seria capaz de
fugir.

Mas a porta bateu, e passos pesados foram rapidamente se movendo


em direção à cozinha.

— Fodida puta. — Knight murmurou — Nem sequer sabe quem é Fane.

Laurent fechou os braços, tentando ficar o mais minúsculo possível, e


ficou quieto quando as longas pernas de Knight foram até a geladeira. Ele
parou na frente e Laurent sentiu o calor de seu olhar.

— Fodido Cristo! O que você está fazendo aqui? Desde quando você está
ouvindo o nosso quase sexo? — Ainda assim, Knight abriu a geladeira e tirou
uma lata de cerveja.

— Eu sinto muito! Eu não estava querendo ouvir! Eu estava pegando


biscoitos, e então tudo aconteceu. Eu queria sair. — Laurent choramingou.

Knight suspirou, apoiando as costas na geladeira e abriu a lata antes


de tomar vários goles ao mesmo tempo. — Você pode acreditar nela? Ela
pensa que é muito melhor do que todo mundo, e o que ela pode fazer além
de cabelo e a maquiagem?

Laurent respirou fundo e abriu o pacote de biscoitos resignado. Ele


estava com muito medo de deixar a embalagem aberta. — Um parceiro deve
fornecer algo de valor — ele murmurou, tentando descobrir o que ele poderia
oferecer a um homem como Beast.

— Eu sei certo? — Knight perguntou, apontando para a porta pela qual


Jordan saiu. — Não posso acreditar que estou aguentando essa merda por
tanto tempo. O que há de errado comigo que eu continuo namorando essas
putas?

Laurent levantou-se do chão e encostou-se ao balcão da ilha da cozinha.


— Você a ama?

A pergunta parecia ter derrubado Knight, e ele deu de ombros,


observando os dedos dos pés. — Eu pensei que amava. Ela era tão charmosa
no começo, e era agradável, e disse que gostava de mim do jeito que eu era,
e então ela começou a mudar. Todos os dias ela vinha com uma nova
demanda. E é sempre assim. Eu acabei com outros relacionamentos...

— Eu… Acho que Beast ainda pode estar com raiva de mim. Você acha
que é por isso que ele não fala comigo?

— Você tem um telefone? — Knight tomou um gole de cerveja com as


sobrancelhas erguidas.

Laurent enfiou outro biscoito na boca, sentindo-se pateticamente


carente. Ele não desejou independência durante toda a sua vida? Como era
possível que o silêncio de outra pessoa pudesse chocá-lo tanto? Ele nem
percebeu quando Beast se tornou uma figura de tamanha importância para
ele. — Ele liga para você.

Knight engoliu a cerveja ruidosamente, observando Laurent por um


momento prolongado. — Ele perguntou como você está.

O coração de Laurent pulou uma batida e ele se aproximou. — E o que


você falou?

Knight largou a lata vazia e serviu-se dos biscoitos de Laurent. — Que


você parece bem. Por quê? Você não está bem em geral?

— Eu sinto falta dele. — Laurent sussurrou. — Ele saiu tão


abruptamente. E logo após a descoberta.

Knight suspirou, mastigando o biscoito. — Bem, você sabe, a viagem


dele estava marcada há um tempo. É assim que as coisas estão no clube. Às
vezes, ele apenas não vai estar. Apenas se distraia com outra coisa.
Poderíamos voltar para a árvore genealógica, para que você pudesse me
ajudar com as gerações anteriores dos Merciers.

Isso fez Laurent sorrir. Knight era tão dedicado a preservar a história de
sua família que aqueceu Laurent. Apesar do passar do tempo, um
descendente em 2017 que se preocupava em descobrir mais sobre as
gerações passadas e honrar sua memória. — Eu adoraria descobrir mais. E
quanto a Beast? E a árvore genealógica dele?
Knight encolheu os ombros. — A família de King é finlandesa e alemã
originalmente. Sua mãe era russa e irlandesa. Mas eu acho que ele não esteja
interessado no passado. Você teria que perguntar se você quer saber mais.

— E vocês dois? Vocês já…? Quero dizer... Há algum passado que eu


deva saber? — Knight riu. — Não. Nós não nos misturamos assim. Ele é
como um irmão para mim. Nós nos masturbamos juntos algumas vezes
quando crianças, mas é isso. Não se preocupe, eu não vou pegar o seu
homem, tio-avô Laurent.

Laurent gemeu de vergonha. Knight poderia ser tão paternalista às


vezes. — Como vocês se conheceram então?

— Escola. Não há nada mágico nisso, para ser honesto. Nós


praticamente crescemos juntos.

— E na escola, Beast conheceu outros homens?

Knight poderia ser uma mina de ouro de informações se Laurent tivesse


cuidado com a maneira como ele extraía o minério.

Knight sorriu e cutucou Laurent. — Você está com ciúmes, não está? —
Ele disse, mas quando Laurent negou vigorosamente a acusação, Knight
apenas continuou. — Ele começou com as meninas, no clube do pai dele. E
então ele começou a foder os caras também e decidiu que ele gostava muito
mais disso.

— E então ele foi muito ferido no fogo para... Perseguir isso?

O rosto de Knight endureceu e ele lambeu os lábios, olhando brevemente


para longe de Laurent. — Ele tinha um homem quando isso aconteceu. E era
uma coisa real, verdadeira. Beast amava aquele cara. Ele ainda era um
prospecto e até considerou desistir de ser membro do clube, porque aquele
imbecil queria se mudar para Hollywood. Mas então o acidente aconteceu, e
Beast apenas... Uh. Nós não sabíamos se ele conseguiria. Então duas
semanas se passaram e Beast ainda estava na UTI... Tudo parecia indo bem,
e esse idiota foi até Beast e disse a ele que não podia lidar com tudo isso.
Que levaria séculos até que eles voltassem a ser como um casal novamente,
e Beast provavelmente nunca seria o mesmo homem que era. Disse a Beast
que ele precisava entender que era muito difícil para ele, como se ele não
tivesse acabado de perder sua mãe e ter sua saúde permanentemente
danificada. Ele tinha todos esses sonhos, e Beast não se encaixava mais
neles. Que ele estava muito feio para acompanhá-lo no tapete vermelho, e
ajudá-lo levaria muito tempo. As pessoas são sempre assim. Eles querem que
tudo corra bem, seja fácil. E então eles abandonam as pessoas que eles
deveriam cuidar. — Knight concluiu, visivelmente agitado.

Laurent absorveu toda a informação como se fosse o ar de que precisava


para respirar, mas a história era tão insuportavelmente triste que ele ainda
sentia agulhas picarem seus pulmões. — Isso é vil. Se você ama alguém, fica
do lado dele. — Era uma história do passado, e toda vez que Laurent repetia
isso em sua mente, ele ficava mais irritado com isso. Ele não se chamaria de
uma pessoa violenta, mas ele ficaria feliz em socar aquele homem.

Knight suspirou. — Sim. Porra! Tudo foi para baixo depois disso. O
rompimento destruiu Beast. Ele não tinha energia para o sexo no começo,
mas ele simplesmente não procurava. Não que ele não tivesse pessoas
propondo a ele, mas ele se queimou tanto que ele se afastou. Até você chegar.
— Ele disse franzindo o cenho para Laurent, como se estivesse tentando de
alguma forma ler os pensamentos de Laurent.

Laurent sorriu para si mesmo, sentindo-se todo quente. — Com toda a


justiça, ele parece bastante intimidante à primeira vista.

— Mas ele é um cara legal, não é?

— Ele é... áspero em torno das bordas. — Laurent disse, mas seu
sorriso foi ampliando-se com a memória de todas as coisas que Beast sabia
fazer na cama.

— Eu sei que somos da família, mas eu o conheço há mais tempo. Eu


vou observar. — Knight disse com um sorriso, mas havia um tom em sua voz
que dizia a Laurent que ele não estava brincando.

— Contanto que você não esteja observando no quarto. — Laurent


sentiu-se ousado, mas ele podia sentir um rubor subindo pelo seu pescoço
no momento em que ele disse isso. Felizmente para ele, algum tipo de
comoção e o rugido de motos invadiram pela janela.
Laurent correu até lá para ver o que estava acontecendo lá fora. Seria
Beast? Finalmente de volta do que ele estava fazendo?

— Lá estão eles. — Knight disse, colocando mais um biscoito em sua


boca e indo até a saída mais próxima.

Os motoqueiros estariam todos na garagem e Laurent seguiu a liderança


de Knight com o coração batendo mais rápido. Apesar da falta de contato, ele
ainda queria ver Beast. E ele iria repreendê-lo por não dar um único sinal de
vida durante a semana, mas isso só aconteceria no devido tempo. Uma vez
ele tivesse certeza que Beast tinha sentido a falta dele também.

Ele sabia que algo estava errado antes mesmo de chegar às garagens.
Gray gritava algo sobre chamar um médico, e até mesmo Joker se manteve
sério ao relatar como eles foram perseguidos perto da fronteira do estado.
Laurent estava muito ocupado procurando por Beast para ouvir.

Ele entrou nas garagens e congelou no momento em que viu Beast, sem
seu capacete, sentado em sua moto e respirando muito laboriosamente. Um
fio de sangue escorria da manga de sua jaqueta de couro, juntando-se
lentamente no chão duro do cimento.

Laurent deu os últimos passos.

Joker agarrou-o com força pelo braço e puxou-o para longe enquanto
Gray gritava algo pelo telefone. Foi a primeira vez que Laurent viu o
motociclista estóico e louro tão agitado. Não havia muitos deles aqui, mas
todos pareciam frenéticos, exceto por Beast, que estava ficando pálido a cada
minuto.

Beast olhou para Joker. — Estou bem.

— Não está, você está sangrando. O que há de errado? — Laurent


agarrou a mão limpa de Beast assim que Joker o soltou. Sua respiração
estava ficando frenética. — Devo ajudá-lo a tirar a jaqueta?

— Deixe-o garoto! — Joker assobiou, apenas agitando Laurent ainda


mais.

— Eu não sou um garoto! — Ele gritou de volta.


— É apenas uma ferida na carne. — Beast disse, apesar do suor na
testa, como se tivesse sido pulverizado do esguicho da mangueira. Ele puxou
Laurent para mais perto de seu lado não ferido assim que ele saiu da moto.

— Oh merda! Beast está bem? — Jake perguntou, se aproximando


assim que entrou na garagem.

— Ele vai ficar bem. Pegue a carga. — Knight disse, apontando para
vários alforjes, alguns dos quais já estavam no chão. Com todos os outros
perdendo a cabeça - compreensivelmente - foi Knight quem assumiu a
situação, e apesar de parecer insensível, Laurent ficou feliz por permitir que
todos pensassem no bem-estar de Beast.

Jake deu a Beast um olhar preocupado, mas rapidamente fez como lhe
foi dito.

— O doutor vai estar aqui de cinco a dez minutos. Leve Beast para
dentro. Coloque-o em uma mesa alta. Ou no palco mesmo. — Gray disse.

Apesar de acenar com a mão com desdém, Beast ainda colocou muito
do seu peso em Laurent quando ele saiu da moto.

Ele gemeu, franzindo a testa enquanto dava pequenos passos


cuidadosos em direção à porta enquanto os outros membros do clube
corriam, recolhendo as sacolas e se comunicando em frases cortadas.
Laurent ouviu o nome de King ser mencionado, mas não pensou muito,
completamente focado no toque e no peso de Beast.

Ele era tão grande e quente, de alguma forma mais quente que o
habitual, e os tremores em seu braço eram tão perceptíveis que Laurent teve
que lutar contra seu próprio tremor de pânico.

— Como você esteve? — Beast perguntou depois de vários segundos de


silêncio, como se tudo sobre essa situação fosse perfeitamente normal.

O pensamento repentino de perder Beast atingiu Laurent sem palavras,


e duramente porque isso também significaria que Laurent falharia em sua
missão e voltaria ao horror que o aguardava no passado.

— Eu... Isso não importa.


Gray seguiu-os enquanto ainda estava ao telefone. — Fale com ele,
mantenha-o ocupado — e com essas palavras ele se virou em outra direção,
deixando Laurent para ajudar Beast a subir as escadas sob o olhar atento de
Knight.

— Bem. Eu fiquei bem. Lendo muito. Knight me mostrou alguns


truques com eletricidade. — O coração de Laurent estava batendo tão forte
como se fosse ele que estivesse ferido.

Beast deu a ele um sorriso fraco, vacilando quando Laurent não notou
que a porta era muito estreita para os dois e Beast acabou passando o braço
machucado no batente da porta. Ele assobiou alto, endurecendo contra
Laurent, mas então empurrou para dentro, claramente com a intenção de
chegar a algum lugar onde pudesse descansar. — Eu sabia que vocês dois se
divertiriam juntos.

— Sim, Knight é muito gentil comigo. — Laurent suspirou


profundamente, mais cuidadoso agora que eles caminhavam pelo corredor
em direção à sala comum. — E o cão vai a caminhadas comigo. E... Eu senti
sua falta — acrescentou no final. Todos os seus planos de ficar distante e
esperar que Beast pedisse desculpas pelo modo como ele partira saíram pela
janela assim que Laurent viu o sangue.

Beast olhou para ele, sorrindo de novo, como se ele não se importasse
com a dor, desde que Laurent declarasse sua afeição tão claramente. Eles
finalmente chegaram à cozinha, e Knight rapidamente tirou tudo do balcão
antes de se abaixar para pegar um pouco de água sanitária no armário. O
líquido de limpeza cheirava horrivelmente, mas aparentemente a limpeza era
mais importante para manter as feridas em bom estado do que qualquer
outra coisa. E considerando quantos idosos havia em 2017, Laurent tinha
certeza de que a medicina moderna estava certa sobre muitas coisas.

— Eu tenho algo para você. — Beast disse e olhou para baixo. — Bolso
interior do meu corte.

Laurent respirou fundo. Ele queria dizer que isso não importava agora.
Que ele não precisava de presentes, mas, como Beast achava importante,
Laurent enfiou a mão no bolso.
— Você não precisava — ele ainda disse, encontrando um item
alongado feito de plástico. Ele lambeu os lábios, olhando para o rosto pálido.
Beast lembrou o quanto ele gostava do material, mas o que poderia ser?

Ele puxou o item, e isso fez com que um cabo bem fechado caísse no
chão. Ele não sabia o que o item era no começo, mas era azul escuro e bonito,
com uma tela pequena e um teclado parecido com o do controle remoto da
TV.

— Para que possamos manter contato quando eu estiver fora — Beast


disse.

Knight bufou. — Você vai dar um telefone antigo assim?

Laurent engasgou e abraçou o celular contra o peito, com lágrimas


coçando nos olhos. — Eu amei o presente.

— Ele não precisa de um smartphone. — Beast disse e se inclinou para


pressionar um beijo no topo da cabeça de Laurent, encostado no balcão
limpo. — Mensagens e chamadas serão suficientes.

Laurent gentilmente esfregou a frente do corpo de Beast. — E você vai


me ensinar como usá-lo?

— É por isso que eu o comprei para você. — Beast disse pacientemente


e grunhiu, empurrando seu corpo para Laurent. Ficou claro que com o braço
saudável ocupado mantendo seu peso, ele não tinha os meios para abraçar
Laurent.

Laurent foi rápido em ajudá-lo com isso e passou os braços ao redor da


cintura de Beast.

— Tenha cuidado, periquito. — Knight disse, observando Beast como


um falcão.

— O que aconteceu? — Laurent perguntou e beijou o peito de Beast.

O peito de Beast subiu quando ele respirou fundo, seu coração,


saudável e batendo rápido apesar da ferida, era música para os ouvidos de
Laurent. — Problemas durante a corrida, mas nós lidamos com isso. Essas
pessoas provavelmente não serão mais um problema — ele disse, olhando
brevemente para Knight antes de olhar de volta para Laurent. — Este é um
segredo, Laurent, mas nós movemos certos valores para um amigo nosso. E,
às vezes, as pessoas querem tirar esses objetos de valor de nós.

Laurent assentiu, olhando entre Beast e Knight, já que isso era


claramente um ponto de tensão. — Se qualquer coisa, você sabe que eu posso
manter um segredo — ele disse feliz que ele foi finalmente considerado
confiável o suficiente para ser informado, até mesmo com esse pedaço de
informação. — E é isso que traz o dinheiro dos Kings of Hell?

Beast assentiu. — Isso é o que fazemos. É lucrativo o suficiente e nos


permite viver como escolhemos. Mas Laurent, ninguém pode saber.

Laurent apertou a mão saudável de Beast. — Há sempre um preço a


pagar para viver uma vida de liberdade. Eu, pelo menos, entendi isso
claramente. Não há maior valor. Eu ficarei ao seu lado.

Beast encontrou seu olhar com um sorriso mais amplo e,


eventualmente, apoiou o queixo em cima da cabeça de Laurent, praticamente
se enrolando ao redor dele. A sensação foi tão agradável que Laurent fechou
os olhos e simplesmente aproveitou até que os passos de alguém o
assustaram, e ele olhou para trás. Um homem de meia-idade estava andando
apressado com uma sacola grande, e ele parecia tão esquisito no clube
usando uma camisa social e calça feita de tecido macio em vez de jeans, que
Laurent imediatamente percebeu que era o médico. Ele observou Knight
ajudando Beast a tirar sua metade de cima e deitar no balcão, mas agarrou
a mão saudável assim que sentiu que não perturbaria o processo.

A ferida era na verdade superficial, mas a maneira como sangrou por


todo o corpo tornou difícil para Laurent respirar calmamente. O médico
continuou com o trabalho de fechar a lesão com fio, e foi Beast quem acabou
tentando distrair Laurent, e não o contrário.

Knight estava ajudando a configurar o telefone, já que Laurent não


queria soltar a mão de Beast.

— Há uma lista de todas as pessoas que você poderia ligar em caso de


emergência, ou se você só quiser incomodá-los por qualquer motivo. — Beast
disse com um sorriso de escárnio quando o médico deve tê-lo machucado
com a agulha.
Laurent apertou a mão de Beast com mais força, lendo a lista, cada vez
mais frenético. — Por que o seu nome não está aqui?

— Está sim. Eu coloquei 1 na frente, para que fique no topo.

Laurent imediatamente procurou pelo nome, ofegante com a


importância disso.

1 Kai

— Kai... — Ele sussurrou, desejando dizer em voz alta pela primeira


vez. Beast lhe dera seu nome. — Obrigado. — Ele apertou os dedos de Beast
mais uma vez.
Capítulo Vinte e Três Beast

Duas semanas após o tiroteio que deixou Beast com um buraco no


braço, ele estava se sentindo muito melhor. Com Laurent correndo em seu
auxílio, mesmo quando não era necessário, ele conseguiu se recuperar muito
rapidamente. Se ao menos sua mente estivesse em uma forma tão boa quanto
seu corpo.

O encontro com o... Diabo - Demônio, criatura ou qualquer outra coisa


que ele pudesse chamar - deixara cicatrizes não apenas em suas paredes e
espelho. A sensação de raiva impotente percorreu as veias de Beast e se
acomodavam em seu peito à noite, acordando-o com seu peso.

Ele era inútil para o diabo.

Qualquer homem normal não teria pensado muito nisso. Se qualquer


coisa, eles provavelmente ficariam felizes por sua natureza ser tão
desinteressante para um ser que poderia mudar sua vida, mas Beast ansiava
ter sua vida distorcida de volta a sua forma antiga. Um desejo poderoso que
até mesmo os melhores médicos não conseguiram tirar toda a dor refletida
em sua carne, para fazer dele um homem que Laurent não iria, em última
análise, começar a ficar envergonhado. Passando a maior parte do tempo na
sede do clube, onde todos estavam acostumados com Beast, Laurent ainda
não enxergava o quanto Beast parecia, como um eterno polegar dolorido.
Quanto mais Laurent observava a televisão, e quanto mais ele saía, mais ele
percebia que seu relacionamento com Beast era uma armadilha. Que ele
poderia ter uma vida diferente, com um homem diferente, que poderia levá-
lo a qualquer restaurante e não corresse o risco constante de ficarem de boca
aberta.

As paredes do prédio do clube estavam se tornando tão opressivas que


assim que julho chegou, Beast estava morrendo de vontade de sair e esquecer
todos os olhos observando-o dos espelhos, e todas as sombras que agora
pareciam mais longas do que deveriam ser. As pequenas coisas como a falta
de eletricidade e os ecos estranhos nas pequenas salas eram enervantes,
mesmo que agora soubesse a razão por trás delas.

Beast queria ficar longe de tudo, mesmo que apenas por alguns dias, e
ele ficou feliz em descobrir que Laurent também estava ansioso para isso
quando Beast propôs um acampamento. Suas malas estavam prontas, o
tempo estava quente, e Hound seguia Beast animadamente, sabendo que ele
ficaria com a sua matilha também.

— Não se preocupe, pois nós temos comida suficiente para que você
não tenha que caçar seu vagabundo preguiçoso. — Beast disse a seu
cachorro, acariciando o topo de sua cabeça. Hound latiu alto, virando o
focinho para cima para olhar seu mestre antes de pular e girar, como se
esperasse que fosse hora de brincar.

Beast exalou, sorrindo para o seu animal de estimação. — Você vai estar
cansado em breve, eu prometo — ele disse caminhando ao longo da parede e
em direção às garagens. Hound o deixou quando notou algo entre as árvores,
mas Beast sabia que o cachorro viria quando chamado, então ele continuou,
aproximando-se da garagem onde a caminhonete já estava esperando por ele
com Laurent. Ele diminuiu a velocidade quando pedaços de conversa dura
soaram em seus ouvidos.

— O que quer que você esteja fazendo, acalme-se. Eu não estou mais
brincando. Faça o que você tem que fazer, mas pare de interferir comigo! —
King rosnou, fazendo Beast parar em suas trilhas. A voz de raiva estava
saindo de dentro da garagem.

— Eu não estou interferindo! Todos nós temos nosso papel a


desempenhar. — Laurent respondeu.

O grunhido de King soou tão ameaçador, Beast se aproximou e deu uma


olhada lá dentro, para os dois homens de frente um para o outro ao lado da
caminhonete.

King encostou-se na parede, apertando os olhos como se a luz do dia


estivesse machucando seus olhos. Cabelos grisalhos obscureciam um pouco
o seu rosto, mas ele estava tão pálido quanto depois de todas as festas nas
últimas semanas. A garrafa de uma bebida completou o quadro de miserável,
e ainda ao lado da forma esbelta de Laurent, King era um gigante ameaçador,
não importando em que estado ele estivesse nesse momento.

— Você está gostando demais. — King sibilou entrando no espaço


pessoal de Laurent como sempre fazia quando tentava intimidar alguém.

— Isso não é da sua conta. — Laurent se manteve firme, mas ele não
conseguiu por muito tempo, porque King agarrou Laurent pela garganta e
bateu-o contra a parede de cimento da garagem.

Beast viu vermelho, e ele atacou King, agarrando-o pelo pescoço e


puxando-o com tanta força que ele podia jurar que ele podia ouvir os ossos
se quebrarem. Não houve nem um momento de hesitação entre o ataque à
reação de Laurent e Beast. Ele desejou que ele realmente tivesse os chifres
de um touro para que ele pudesse atravessar o patético corpo de ressaca de
King.

— Solte-o — ele sussurrou entre os dentes, mal parando de levantar


King do chão.

King engasgou, encarando Beast como se visse um fantasma, mas


soltou Laurent, mesmo que o gesto fosse cheio de relutância. Laurent se
afastou rapidamente, massageando o pescoço e respirando com dificuldade.

Só então Beast soltou King, girando-o para longe com tanta força que
sua garrafa caiu no chão e se espalhou por toda parte. Beast exalou, olhando
para as mãos dele. Ele não pretendia ser tão forte, mas talvez a raiva dele
tivesse o melhor dele. — Que diabos está fazendo? Ele é meu.

— Ele é? — Rosnou King, e Beast lambeu os lábios, olhando para


Laurent. Não havia colete de propriedade sobre ele, e esse vazio de repente
fez Beast se coçar.

Laurent se aproximou e limpou a garganta. — Não há necessidade disso.


Tudo está bem. O Sr. King e eu tivemos um mal entendido.

King olhou para Laurent e fez Beast querer socar seu próprio pai. —
Sim, você pode chamar assim.
Beast bateu na bochecha dele, sem força, só para constar. — Não toque
nele novamente. Se você tiver algum problema com o comportamento de
Laurent, você deve trazê-lo para mim.

Porque Laurent estava sob a proteção de Beast agora. Ele ainda não
estava usando um colete de propriedade, mas ele iria em breve, de modo que
ninguém ousaria encostar um dedo nele sem a permissão de Beast. Beast
sentiu um arrepio agradável em seu estômago ao pensar em um remendo
nas costas de Laurent, pronunciando para o mundo inteiro que o jovem lindo
que usava era de Beast.

— Eu vou da próxima vez, então, porra, apenas observe. — King disse


a Laurent, mas pelo menos não o tocou. Ele esbarrou no ombro de Beast
quando saiu. Beast observou sua forma curvada até que ele desapareceu
dentro do prédio e só então seu corpo relaxou.

Ele olhou para Laurent, instantaneamente preocupado novamente


quando viu o quão pálido seu rosto estava. — O que foi aquilo?

Laurent deu um suspiro profundo. — Não é nada. Ele simplesmente não


gosta quando as coisas não vão exatamente do jeito dele. Hound está pronto?
— Ele sorriu para Beast.

Beast franziu a testa e uma sensação pesada se instalou em seu peito.


— É sobre o... Você sabe, não é?

Do jeito que Laurent se mexeu desconfortavelmente, Beast sabia qual


era a resposta para aquilo. — Nem sempre concordamos sobre esse assunto.

— E você não vai me dizer?

— Eu não posso. Por favor, vamos apenas sair.

Beast exalou, apertando as mãos em punhos enquanto sua cabeça se


enchia com uma pulsação desagradável. Ele assobiou alto e se afastou de
Laurent, jogando sua mochila na caçamba da caminhonete.

Laurent foi até o outro lado e sentou-se no banco do passageiro. Quanto


tempo isso duraria? Por quanto tempo Laurent estaria em algum conflito com
King sobre o que Beast não tinha permissão de saber?
Pelo menos Hound nunca mentiria para ele, tão feliz em ver Beast como
sempre quando ele correu até ele com um latido.

***

Com o cão seguro em uma gaiola na parte de trás, eles foram para a
floresta onde Beast frequentemente passava seus dias de folga, longe das
pessoas olhando para ele, com apenas uma bússola e seu amigo peludo, que
nunca o julgava.

E ainda assim, a necessidade voraz de passar um tempo sozinho na


natureza com Laurent se dissipou, deixando Beast com o silêncio na cabine
e um vazio em seu peito.

Ele odiava que seu amante guardasse algum grande segredo dele,
escondido à vista de todos e, ainda assim, inacessível. Se pelo menos Beast
não soubesse que o segredo estava lá, ele não sentiria que o relacionamento
deles estava de alguma forma fraturado por dentro.

Beast estava ciente agora de muito mais do que antes. Ele tinha chegado
a um acordo com o fato de que ele estava namorando um viajante do tempo,
que tinha um pacto com o diabo, mas era difícil até mesmo considerar
simplesmente namorar, já que eles viviam juntos. No entanto, os detalhes de
uma das maiores partes da vida de Laurent ainda estavam fora dos limites
para ele.

Então, novamente, talvez essa viagem, longe do clube e com apenas um


ao outro para conversar, abrisse a boca de Laurent sobre as coisas que Beast
queria desesperadamente saber. Como ele iria fazer planos, saber como agir,
se esta peça vital do quebra-cabeça estiva faltando? Especialmente um
segredo que era aparentemente digno de violência.

Eles mal falaram no caminho, e então, uma vez que deixaram para trás
a picape e eles seguiram pela trilha, o silêncio desconfortável tornou-se ainda
mais perceptível, porque a beleza da natureza não era uma desculpa
suficiente para manter a boca fechada. Beast não conseguia parar de pensar
no encontro na garagem. Mesmo durante uma parada ao meio do dia, quando
eles almoçaram na margem de um rio pitoresco, o cérebro de Beast estava
ocupado com o demônio que vivia sob o mesmo teto que eles e as questões
que esse ser escolheu confiar a King e Laurent.

A viagem era sobre fugir de tudo, e ainda assim parecia que quanto mais
eles entravam na floresta, mais difícil era esquecer aquela porra de casa.

— Você planejou onde vamos acampar? — Laurent perguntou com um


sorriso sutil, que tinha sido uma constante ao longo do caminho. Ele estava
fazendo um esforço para se comunicar e ser agradável, mas Beast não
conseguia esquecer a nota azeda que ficou daquele encontro.

— Na verdade não. Vamos sair da trilha e escolher um lugar. No lago,


talvez? — Beast sugeriu irritado, que até mesmo sua garganta estava
apertada, apesar de ter passado várias horas agora. Ele estava queimando
por dentro, e a vegetação que deveria ser reconfortante só lhe trouxe mais
miséria.

O mundo fez uma promessa falsa para ele. Ele estava aqui com um
homem cuja presença trazia tanta alegria em sua vida, e ainda assim a
verdade sobre ele era constantemente negada a Beast. Parecia que os bons
dias podiam terminar a qualquer momento, com Laurent fora antes que ele
pudesse fazer sua segunda cirurgia no olho.

Então Beast tentou se acalmar, cheirar a terra e as plantas frescas. Ele


tentou aproveitar o vento em seu cabelo e colocava religiosamente mais
protetor solar na pele que não estava coberta pelas roupas. Ele jogou bastões
para Hound e tentou discutir tópicos neutros. Nada funcionou. Era como se
sua mente estivesse presa em um redemoinho em torno dos segredos de King
e Laurent, e ele não conseguia encontrar uma saída.

— Eu sempre gostei de andar, mas eu acho que nunca estive em uma


viagem como essa. — Laurent puxou a camisa de Beast para fazê-lo parar e
respirou fundo. Ele estava corado, com o nariz rosado do sol, mas ele ainda
sorria para Beast. — Você dá longos passos.

— Sim. — Beast disse e enfiou a mão no bolso antes de entregar


Laurent o protetor solar. — Você vai se queimar.
Laurent aplicou o creme no rosto, mas sem um espelho, ele deixou
manchas em tudo. — Eu estava pensando sobre a viagem miserável que eu
fiz da França quando criança, e como agora poderia fazer o mesmo, voando
no céu em menos de um dia. — Ele ficou mais perto da beira de um penhasco
com vista para o mar escuro. — Não é um mundo maravilhoso este agora?

Beast engoliu em seco, observando o vento brincar com o cabelo


comprido de Laurent. A brisa emaranhava os fios como dedos invisíveis e
deixava Beast irracionalmente com ciúmes. Com o Hound rolando na grama,
o momento realmente parecia que eles eram as duas únicas pessoas vivas, e
ainda assim, o segredo que Laurent estava segurando de Beast era um
espinho em seu corpo.

— Pode ser muito sombrio. Há guerras. E as pessoas estão morrendo


em algum lugar com fome. Mas é bom aqui.

Laurent gemeu e se virou para encarar Beast. Ele segurou seu cabelo
para arejar suas costas suadas, mas isso só lembrava Beast da marca em
sua nuca. — Beast! Não deixe tudo tão triste. Que tal acamparmos aqui? Eu
quero sentir o cheiro do oceano quando eu acordar. — Mesmo com as
manchas de creme no rosto e o nariz enrugado, Laurent era tão bonito que
Beast poderia comê-lo como se fosse um Poptart. O tipo com cobertura rosa.

Ele engoliu em seco e sacudiu a cabeça. — Eu não quero que Hound


esteja tão perto de um precipício quando nós dormimos. Vamos para o lago.

Os ombros de Laurent afundaram. — Oh. Eu não tinha pensado nisso.


— A energia ensolarada se foi, e ele começou a descer a colina. Pelo menos
a marca foi mais uma vez obscurecida pelo cabelo dele.

Eles começaram a lenta descida em direção ao lago, indo para um vale


que logo se abriu entre eles quando a luz estava diminuindo lentamente. —
Você quer voltar algum dia? Para o lugar onde você nasceu? — Beast
perguntou, lembrando-se do que Laurent disse quando olhava para o oceano.

Laurent olhou por cima do ombro, tendo tempo para responder. — Sim.
Eu gostaria disso. Knight me mostrou fotos, mas não é o mesmo, é?

Beast balançou a cabeça e de repente ele percebeu que provavelmente


teria dificuldade em viajar para outro país com o aspecto dele. A realidade de
não ser capaz de cumprir mais um dos desejos de Laurent se agarrava a ele
como uma camada de pele queimada; e ele mal conseguiu falar até chegarem
a um local agradável e isolado perto da água onde ele havia acampado uma
vez.

Era dolorosamente lindo, com grama tão verde que parecia irreal e
montanhas surgindo de trás dos bosques do outro lado do lago. O brilho
laranja e púrpura do pôr do sol acariciava seus picos, e nuvens fofas se
arrastavam pelo céu logo acima. Quando Beast jogou sua mochila na grama,
ele teve um vislumbre do reflexo do adorável horizonte antes que Hound
corresse para a água para matar sua sede com avidez.

— Posso ajudar com a barraca? — Laurent perguntou, passando as


mãos pelas costas de Beast.

Beast endureceu, sem esperar o toque. Ele olhou por cima do ombro,
fixando brevemente os olhos no adorável rosto apenas para ver a familiar
necessidade de atenção que ele viu refletido nos olhos de Laurent durante
todo o dia. Com o sol descendo rapidamente no céu colorido, não teria sido
irracional pedir ajuda, e ainda assim, neste momento, Beast desejou estar
sozinho, e sem ter que enfrentar o homem que guardava tantos segredos dele.

Ainda assim, ele concordou e com Laurent seguindo as instruções de


Beast, a tenda estava pronta antes que ficasse completamente escuro. Com
Hound comendo o seu jantar enlatado, Beast foi para entre as árvores
recolher um pouco de lenha.

Mas ele não ficava sozinho, porque Laurent o seguia como um


cachorrinho. Seu cabelo estava preso em um coque, e a nuca à mostra mais
uma vez lembrava a Beast da marca em Laurent. A mesma que o seu pai
tinha, e ainda assim ele era considerado indigno de conseguir o que quer que
demônio pudesse querer dele.

— Eu só deveria pegar os secos, certo? — Laurent perguntou, pegando


um galho grande.

— Sim. — Beast disse secamente.

Ele sabia que não estava sendo totalmente justo com Laurent, mas a
situação que ele testemunhou anteriormente foi à prova de que algo estava
definitivamente errado e que as apostas estavam contra Laurent. Como ele
poderia protegê-lo de King sem estar ao lado de Laurent em todos os
momentos? Não seria possível. E o fato de que um ser inumano teve suas
garras afiadas em volta do pescoço de Laurent também não ajudava. Ele
tinha a noção de que ele mesmo poderia suportar tal peso perfeitamente bem,
mas Laurent não tinha a compleição de um lutador, ele era muito doce para
lidar com uma monstruosidade de outro mundo. Beast não queria que ele
fosse tocado pelo fogo do inferno ou marcado por uma marca que parecia tão
perversa na pele de porcelana dele.

Não importa o quanto Beast ansiasse ficar sozinho por um tempo,


quando Laurent parou de reunir galhos na mesma área, Beast estava
imediatamente no limite. Por que ele não se preocupava quando estava
ficando mais escuro a cada minuto? E se Laurent perdesse os óculos? Talvez
se Beast conseguisse seguir Laurent em todos os lugares, seria mais seguro?

Quando nuvens pesadas se juntaram e obscureceram a lua, um tipo


diferente de pensamento ameaçador rastejou no coração de Beast. E se por
alguma razão tivesse sido a missão de Laurent seduzir a Fera? Não era
perfeitamente possível que Laurent tivesse sido escolhido por sua beleza?
Então, novamente, Laurent nem sempre foi agradável. Eles discutiram no
passado, e alguém que tentasse seduzi-lo não teria certeza de que Beast
estava sempre recebendo o que ele queria?

Quando a luz se tornou tão escassa que ele começou a forçar os olhos,
de repente Beast percebeu que a visão de Laurent era muito pior do que a
dele, e olhou ao redor, tentando identificar a figura familiar entre as árvores.
Ele chamou o nome de Laurent.

— Eu estou no acampamento! — Laurent gritou de longe.

Beast exalou e cuidadosamente fez o caminho de volta, observando o


céu cinza acima das montanhas. As nuvens se tornaram mais espessas
também, mas ele não pensou muito quando viu Laurent sentado com Hound,
com as mãos subindo e descendo na barriga do cachorro enquanto a fera
rolava, grunhindo de alegria a cada toque.
Beast ficou parado, observando os dois na frente da tenda, ao lado de
uma pilha de madeira que se tornaria a fogueira.

Laurent tomou seu tempo, mas finalmente olhou para Beast. — Você
está bravo comigo?

— Não. — Beast resmungou sem pensar, finalmente depositando a


madeira que ele pegou junto com a de Laurent. Ele nem sabia se estava
mentindo ou não. Talvez fosse só porque ele estava com raiva apesar de saber
que ele não quisesse ficar assim. Por que tudo isso tinha que ser tão
complicado quando esta viagem era sobre manter as coisas simples?

Laurent franziu a testa. — Ok então. — Ele se levantou, dando mais


algumas palmadinhas na barriga de Hound, e… se afastou.

A eletricidade desceu em todo o corpo de Beast. Ele o seguiu como se


estivesse na coleira. — Aonde você vai?

— Dar uma caminhada. — Laurent não se virou, deixando Beast


fervendo em sua própria frustração.

— Você não vai dar um passeio sozinho. Está escuro. Você vai se perder
na floresta — Beast sibilou, correndo até ele. Ele queria agarrar o braço de
Laurent e levá-lo à força para o acampamento, mas descobriu que não. Por
que ele estava tão zangado de qualquer maneira? Se ele desejava ficar
sozinho a maior parte do dia? Inconscientemente, Laurent queria apenas dar
a Beast o que ele queria.

— Eu tenho uma lanterna. — Como se quisesse aborrecer Beast ainda


mais, Laurent a virou para apontar o feixe para o rosto de Beast.

Beast se encolheu, protegendo os olhos quando o raio caiu sobre ele


como se ele fosse um monstro na floresta seguindo os passos de Laurent para
levá-lo ao seu covil. Tudo o que Laurent precisava era de um capuz vermelho
para completar a foto.

Laurent começou a andar de novo e suas botas rangeram contra a terra


e as pedras. — Voltarei mais tarde.

O coração de Beast batia forte, mas ele seguiu Laurent sem dizer uma
palavra, uma figura magra entre as árvores sombrias. Com o cabelo longo e
ondulado, andando com tanta graça, que ele poderia se passar algum tipo de
espírito natural desta região. Em vez disso, ele era a presa de uma fera, que
não conseguia nem mesmo mantê-lo satisfeito.

Laurent continuou andando por um tempo, mas depois diminuiu a


velocidade. Ele virou-se tão abruptamente que Beast teve que recuar para
ficar fora do feixe da lanterna.

— Eu posso ouvir você. Isso é além de injusto. Você mal falou comigo o
dia todo. Essa viagem foi ideia sua, e agora não consigo ficar sozinho?

— Eu não estava me escondendo. — Beast disse antes de baixar à mão


que usava para proteger os olhos do brilho da lanterna. — Eu não sou
assustador o suficiente no escuro? — Ele perguntou, sem olhar nos olhos de
Laurent. Ele entendia perfeitamente a sua raiva, mas o seu próprio
ressentimento ainda estava lá, queimando buracos em seu coração.

— Você não é nada assustador! — Laurent circulou e começou a


caminhar de volta para o acampamento. Mais rápido desta vez, mas não foi
difícil acompanhá-lo.

— Não? — Beast perguntou finalmente se movendo para andarem de


braços dados. — Eu sou menos assustador do que King?

Laurent olhou para ele. — Eu não sou tão fácil de assustar como você
poderia pensar.

— Eu aposto. Você fez um acordo com um monstro do inferno.

— Eu fiz. E eu vou fazer o que for preciso, porque eu não quero ser
aquele Laurent Mercier que foi condenado a enforcado. Eu matei Fane em
legítima defesa!

Beast agarrou o ombro de Laurent, impedindo-o de ir mais longe. As


árvores ao redor lançavam longas sombras, prendendo-as em uma bolha que
cheirava a fungos e ar fresco. Com a lanterna como única fonte de luz, o rosto
de Laurent foi esculpido pela escuridão e pela luz. Beast engoliu em seco,
estudando o único olho que ele podia ver bem. Ele olhou para ele, curioso,
mas sem nenhum traço de medo.
— Esse segredo... Parece um muro entre nós. Eu vejo você, mas eu não
posso tocar em você. Eu continuo pensando sobre o que pode ser isso,
especialmente depois de hoje, porque o que quer que você esteja fazendo,
King não gosta disso. Eu não vê-lo atacando você.

Laurent olhou para a tenda não muito longe. — Você nem sempre sabe
tudo. Não foi você quem disse que temos que manter nossos segredos?
Prometo que vou contar a verdade um dia, mas agora não posso. Eu estou
lidando com King.

— Você está? Porque não parecia que estava. Ele tem sido um canhão
solto ultimamente, então quem sabe como ele vai reagir quando ele ficar alto
da próxima vez? — Beast disse, puxando os ombros de Laurent para fazer
seus olhos se encontrarem.

Tudo o que tem Beast recebeu foi um sussurro. — Eu não sei. Eu levo
um dia de cada vez.

Beast exalou, abrindo as mãos para deixá-las descansar nos ombros


bem formados dele. Como se essa conversa não estivesse indo mal o
suficiente, uma gota de chuva caiu sobre a cabeça da Beast. Depois de um
dia inteiro empurrando Laurent para longe, a necessidade urgente de tocá-
lo agora era uma surpresa, mas desde que Laurent tinha entrado na vida de
Beast, havia muitas coisas que ele não entendia muito bem sobre como ele
se sentia.

— Você pode me prometer, pelo menos, que você não vai embora? Que
você vai ficar? — Ele perguntou, inclinando-se para mais perto e olhando nos
olhos de Laurent enquanto suas mãos subiam pelo pescoço de Laurent para
cobrir seu rosto. Será que ele precisava terminar a frase e dizer comigo, ou o
seu significado estava claro o suficiente? Ele poderia ignorar qualquer coisa
e perdoar tudo se Laurent nunca fosse embora. Se ao menos ele pudesse
estar lá, para que Beast pudesse provar todos os dias que ele era digno de
alguém tão amável.

Laurent enfocou toda a sua atenção em Beast, e ele colocou sua mão
sobre Beast, acariciando sua bochecha com a palma, quando a chuva
começou a ficar mais intensa. — Para ficar neste tempo, preciso cumprir meu
dever. Eu farei tudo o que puder para fazer isso. Mas há algo que posso te
dizer. Quanto mais nos aproximamos, mais perto ficamos e mais intenso é o
nosso ato de... Amor — o rosto de Laurent ficou mais quente contra a palma
de Beast. — E mais irritado King ficará, e será melhor você ficar fora disso.
E eu esperava que essa viagem nos aproximasse ainda mais. Longe do
escrutínio de todos. Sem testes, sem mentiras, só você e eu.

Beast soltou um suspiro trêmulo, tão absorto em observar Laurent no


brilho agudo da lanterna que mal notou que gotículas de água estavam
descendo pelos lados raspados de sua cabeça e por baixo do colarinho. A
umidade fez o rosto de Laurent brilhar como se estivesse coberto de orvalho
matinal, cabelos castanhos ainda não achatados pelo aguaceiro, olhos
brilhando em Beast como se ele fosse o último homem deixado no mundo.
Ou pelo menos o único que importava.

Beast protegeria Laurent a todo custo.

— Só você e eu — ele repetiu, impressionado com a percepção do


quanto de dor ele sentiu durante todo o dia por essa linda criatura.

Laurent puxou a gola da camiseta de Beast para beijá-lo, e foi como se


ele estivesse puxando o coração de Beast, com um fio preso ao dedo mínimo
de Laurent.

— Eu estou encharcando. — Laurent disse com um sorriso, uma vez


que seus lábios finalmente se separaram, com o beijo sabor de chiclete e
chuva.

Beast sorriu e puxou Laurent para perto, sem vontade de soltá-lo,


apesar do abraço tornando a caminhada deles de volta para a tenda mais
desajeitada. — Eu sei de algo para fazer você se aquecer — ele sussurrou
contra o cabelo de Laurent, levando-o para o acampamento, apenas para ser
recebido por um brilho amarelado dos olhos de Hound quando a luz caiu
sobre ele. O cachorro parecia não se importar muito com a chuva, mas
quando viu seus humanos, ele gentilmente levantou-se e esticou-se antes de
fazer um círculo ao redor deles, como se precisasse se certificar de que o
bando inteiro estivesse de volta.
Laurent acariciou a cabeça de Hound, mas depois correu para a tenda.
— Nossa madeira está encharcada, mas acho que não faremos fogo de
qualquer maneira.

Beast sabia que com Laurent, essa seria a tenda mais aconchegante em
que ele já havia ficado.

— Oh, nós definitivamente vamos fazer fogo. — Beast disse, sorrindo


incontrolavelmente. Havia um lugar para Hound no anexo da tenda, então
ele ordenou que o cão ficasse e se arrastasse para a sala em forma de cúpula
onde eles colocariam as camas. A chuva bateu no teto da tenda, mas eles
estavam a salvo do frio, e assim que Beast fechou a abertura com zíper, à
lanterna o guiou de volta para Laurent, que estava colocando os óculos de
volta no estojo.

Eles se beijaram.

A batida constante de gotas de chuva contra a tenda era como música


de fundo ao toque aquecido. Os lábios de Laurent eram tão macios e flexíveis
quando se tratava de beijos, sempre lembrando a Beast de quão avidamente
Laurent levava seu pau naquela boca quente.

O modo como Laurent falava de “ato de amor” e “sem testes” deixou


Beast quase certo de que era um convite para o tipo de foda que Laurent
havia negado a Beast no passado. Isso teria sido mais claro se Laurent não
fosse tão puritano quando se tratasse de palavrões. Curiosamente, Laurent
definitivamente não era modesto quando se tratava de sexo dentro dos limites
que eles estabeleceram.

Beast esperava expandir esses limites hoje à noite.

Laurent puxou as roupas de Beast, beijando-o mais intensamente e


envolvendo as pernas ao redor das coxas de Beast.

O calor de seu corpo ainda estava distante sob as roupas, mas Beast
queria emendar isso o mais rápido possível. Tirar as camadas molhadas de
Laurent não era nem uma tarefa. Cada centímetro de carne nua era uma
visão bem-vinda no feixe trêmulo da lanterna, e Beast esfregou o rosto contra
a pele úmida, imaginando como era incrível sentir o calor ardente sob uma
camada de água da chuva fria. Ele colocou o mamilo de Laurent em sua boca,
rapidamente puxando os quadris de Laurent para perto dos dele quando o
garoto gemeu com a sensação.

— Eu amo estar sozinho com você assim. — Laurent sussurrou como


se tivesse medo de perturbar a noite tranquila lá fora. Seus dedos arrastaram
nas costas de Beast até que alcançaram a bainha da camiseta dele. Laurent
puxou para passar por cima da cabeça de Beast.

Beast esfregou as palmas das mãos para cima e para baixo nos braços
delgados de Laurent, juntando as mãos quando o beijo inicialmente suave se
tornou mais urgente. — Eu desejo que você nunca saia do meu lado.

— Muito fácil quando você sabe que eu não tenho para onde ir, e que
você é todo o meu mundo. — Laurent brincou com Beast dando uma lambida
em sua bochecha, balançando os quadris sob Beast.

Beast roçou os narizes e abaixou-se para esfregar seus corpos onde eles
ainda estavam cobertos pelo jeans. Ele gemeu quando seu pênis endureceu
contra o de Laurent. Era um prazer simples, e parecia a coisa mais natural
do mundo. — E se você pudesse ir a qualquer lugar que quisesse? — Ele
perguntou incapaz de manter a pergunta apesar de saber o quão carente era.
Seu anseio pela aprovação de Laurent estava crescendo a cada dia que
passavam juntos, e não era apenas por causa da beleza de Laurent, ou
porque ele era o único a olhar para Beast como se ele fosse qualquer outro
homem. Laurent podia realmente ver Beast por dentro.

Laurent gemeu em resposta. — Beast... Você pode sentir o quão excitado


eu estou? Você é o único homem em quem eu confio assim. Você poderia me
oferecer uma visita até La Rochelle, e eu ainda preferiria estar nesta tenda.
— Ele abriu as pernas sob Beast, como se quisesse enfatizar seu ponto.

A respiração de Beast ficou presa e ele banhou o pescoço macio de


marfim com beijos. Beast nunca tinha sido um cara romântico, e ainda havia
algo sobre Laurent que o fazia desejar saber como escrever poesia que faria
justiça ao seu amante. — Eu vou levar você para La Rochelle algum dia. É
uma promessa.

— E eu vou mostrá-lo esta noite o quanto eu quero você. — Laurent


sussurrou no ouvido de Beast, envolvendo as pernas em torno dos quadris
dele e balançando sua ereção contra o estômago de Beast novamente e
novamente. — Porque eu realmente quero saber como é ter você dentro de
mim.

O arrepio dessas palavras percorreu todo o caminho para as bolas de


Beast, roubando-lhe os pensamentos coerentes. Ele abriu o jeans de Laurent
e puxou-os para baixo em suas pernas bem formadas. Laurent disse a ele
que costumava andar por toda parte em seu tempo, e o exercício deu ao seu
corpo uma forma que pedia adoração. Com as roupas restantes de Laurent
jogadas de lado, Beast se inclinou sobre ele, tocando com avidez cada pedaço
de pele. Sua mão lançava sombras deliciosas sobre a carne lisa, e ele levou
seu tempo observando seus dedos percorrerem as coxas de Laurent, subindo
a curva de sua bunda.

— Conte-me. Como você quer que isso aconteça? — Ele perguntou


ansioso pelo mínimo de conhecimento quando se tratava das expectativas de
Laurent. A última coisa que ele queria era desapontar suas sensibilidades,
porque claramente Laurent relutara em ir até o fim.

— Eu... Eu quero que você assuma a liderança — Laurent disse, e seus


olhos estavam cheios de confiança que Beast nunca ousaria quebrar. — Não
tenho certeza dos detalhes de como devemos proceder. Mas… Eu gostei da
primeira vez na cama com você, quando você parecia saber como fazer tudo.
Coisas que eu nem sabia ser possíveis se transformaram em prazer
inesperado com você. — Laurent arrastou as mãos sobre as cicatrizes nos
ombros de Beast, não se importando com a textura. Se qualquer coisa, ele
parecia explorar com prazer.

Beast cantarolou, sorrindo para Laurent e finalmente tirando sua


própria calça, sem nunca quebrar o contato visual. Com a testa apoiada
contra a de Laurent, ele ficou nu rapidamente e espalhou seu corpo sobre o
de Laurent, permitindo que ele sentisse seu peso e gentilmente esfregando
seu pênis contra o estômago de Laurent. Ele queria falar, mas as palavras
lhe escaparam mais uma vez quando ele encontrou o olhar amoroso e
caloroso de Laurent. Nada que ele dissesse seria apropriado, porque sua
mente estava indo para a sarjeta ao pensar em “assumir a liderança.”
Foda-se sim, ele poderia fazer isso.

Ele poderia assumir a liderança a noite toda. Ele seria o primeiro homem
a mostrar a Laurent como pode ser prazeroso levar um pênis para dentro.
Até agora, Laurent provou ser um amante muito flexível, então Beast só podia
esperar uma foda incrível.

Laurent deixou um beijo suave na mandíbula de Beast, alimentando


apenas a fantasia de invadir toda aquela inocência até que Laurent ficasse
vermelho, ofegante e implorando por mais.

— É... Grande. — Laurent riu nervosamente, esfregando-se contra o


pau de Beast.

— É. — Beast disse, puxando seu quadril para trás um pouco e, com a


ajuda de sua mão, empurrando-o entre as coxas de Laurent para que ele
pudesse sentir a circunferência e comprimento antes que o pau grosso
deslizasse para o calor apertado de seu corpo. — Imagine como vai se sentir
dentro de você — ele disse com um beijo no queixo de Laurent.

O suspiro dele foi música para seus ouvidos. As últimas semanas com
Laurent tinham sido uma festa de foda em si, uma que Beast tinha perdido
profundamente quando ele estava fora com Gray e Joker, mas ele não tinha
realmente penetrado um homem há uns doze anos. A perspectiva de fazer
isso com Laurent estavam fazendo seus músculos formigarem
antecipadamente. Aquele buraco virginal seria tão apertado com o seu pênis,
os gemidos de Laurent seriam roucos e encharcados de luxúria. Beast tinha
fantasiado sobre isso muitas vezes quando lambia aquele buraco rosa.

Laurent apertou suas coxas sobre o pênis de Beast, agarrando-se a


Beast firmemente. — Eu pensei sobre isso.

Beast puxou os dentes sobre o lábio de Laurent e fez um duro empurrão


com seu pênis, esfregando a cabeça contra a carne sensível entre o traseiro
de Laurent e as bolas. Ele se levantou, endireitando os braços para olhar
para baixo enquanto empurrava várias vezes, com apenas um pouco de
saliva e lubrificante. O atrito estava fazendo sua cabeça girar, e ele parou,
deitando em cima de Laurent para puxá-lo para mais perto, abraçando o
corpo menor com tanta força que ele podia sentir o rápido bater do coração
de Laurent contra suas costelas. Ou era dele mesmo? Ele não sabia mais.

— Sim. A maneira como eles fizeram nos filmes que assistimos juntos?
— Beast havia apresentado Laurent à pornografia. Nada super hardcore, e
principalmente clipes mostrando o tipo de coisa que eles já estavam fazendo
de qualquer maneira, mas ele também colocou um filme com sexo anal,
observando discretamente a reação de Laurent com o casal na tela. Era isso
que Laurent tinha em mente agora?

Laurent não encontrou seu olhar, mas seu toque na pele de Beast era
constante, como se ele não conseguisse o suficiente. — Sim. E às vezes eu
via pessoas fazendo sexo no clube, e imaginei como seria ter você fazendo
isso comigo. Eu… Eu sinto como se eu pudesse ceder o controle quando você
assume, e eu continuo querendo mais desse sentimento.

Beast lambeu o lábio, observando Laurent em silêncio. A chuva tornou-


se mais forte, batucando acima de suas cabeças como uma força incitando-
o a entrar em ação. Ele se ergueu de Laurent e puxou sua mochila para mais
perto. Ele colocou lubrificante em um dos bolsos facilmente alcançáveis -
apenas no caso - e estava tão feliz que ele não teve que estragar a atmosfera
jogando tudo fora do compartimento principal. Com o tubo na mão, ele rolou
os dois para que ele e Laurent deitassem de lado, um de frente para o outro.

O suave deslizamento dos cabelos de Laurent sobre o braço nu de Beast


era um prazer por si só, mas seu coração queria ver Laurent a cada passo do
caminho. Ele embalou a cabeça quente na curva de seu braço e pediu aos
lábios de Laurent para abrirem com a língua, arrastando os dedos pela curva
de sua coluna, provocando e agarrando suavemente até que sua mão
descansou na nádega de Laurent. Era redonda e se encaixava tão bem na
mão de Beast que ele sorriu contra os lábios de Laurent.

O pênis de Laurent se contraiu quando Beast mergulhou as pontas dos


dedos entre as bochechas de sua bunda. A pele nos braços de Laurent estava
coberta de arrepios, e os beijos de Laurent ficaram mais desesperados.

Beast não queria apressar as coisas, já que ele já esperara por tanto
tempo, mas seu pau duro fazia com que o exercício de manter a paciência
fosse muito mais difícil. Tudo o que ele queria era ver seu pênis entre as
suculentas metades redondas até que desaparecesse dentro do corpo de
Laurent uma e outra vez. Ele nem percebeu quando a fantasia o levou a
circundar o buraco de Laurent com a ponta do dedo. Laurent gemeu nos
lábios de Beast e arqueou contra ele da maneira mais requintada.

Arrastando beijos quentes no pescoço de Laurent e em seu braço, ele


puxou o joelho de Laurent, trazendo-o para descansar no quadril de Beast
para que seu buraco fosse exposto. Beast gemeu, esfregando sua bochecha
contra o cabelo úmido de Laurent e moveu seu quadril, até que seu membro
longo se estabeleceu entre as coxas de Laurent novamente, descansando
confortavelmente contra o calor do saco de Laurent. Ele empurrou seus
corpos para mais perto, apertando o pênis de Laurent no meio, forte o
suficiente para provocar ainda sem pressão suficiente para fazer seu amante
gozar prematuramente. Isso só aconteceria quando Beast estivesse dentro.
Com um sorriso diabólico puxando sua boca, ele empurrou o tubo na mão
de Laurent. — Esprema na minha mão.

O rosto de Laurent já estava com o glorioso tom corado que sempre fazia
Beast querer que Laurent o chupasse. A obediência de Laurent estava
deixando Beast ainda mais duro. Cada lambida de seus lábios, cada olhar
incerto nos olhos de Beast o fez sentir como se isso fosse especial e vinculante
a Laurent da mesma maneira que Beast já estava enroscado nele.

— Isso é o suficiente? — Laurent sussurrou, empurrando seu pênis


contra o corpo de Beast.

Beast esfregou a testa contra a de Laurent e lambeu os lábios


entreabertos. Eles eram quentes e doces, e ele não queria fazer mais nada
além de beijá-los o dia todo. — Um pouco mais, para que eu possa empurrar
dentro de você realmente fácil.

Laurent estremeceu com as palavras, e o lobo dentro de Beast acordou


completamente. Ele comeria seu lindo garoto vivo até Laurent estar ofegante
para ser devorado. Ele começou o processo mordendo os lábios de Laurent
com um gemido quando Laurent apertou mais lubrificante nos dedos de
Beast. O pênis pressionando em Beast era quente e latejante, mas não
receberia mais atenção até que Beast decidisse.

Com tanto gel escorregadio na palma da mão, o deslizar dos dedos de


Beast na rachadura entre as nádegas de Laurent foi suave e lânguido, que
fez os dois gemerem por razões completamente diferentes. Os olhos de
Laurent se fecharam, e ele deu um gemido baixo, escondendo o rosto na
curva do pescoço de Beast enquanto Beast explorava a pele sensível com
seus dedos, movendo-os para cima e para baixo, quase todo o períneo, depois
de volta através do buraco em si, que se contraiu violentamente quando uma
das pontas de seus dedos rolou sobre ele. A dobra suave ao redor do ânus de
Laurent tinha uma beleza própria, e Beast tomou seu tempo girando os dedos
sobre elas, e sem tentar abrir o corpo de Laurent, ainda.

Era estranho que, apesar da urgência queimando em suas bolas,


comandando-o para rolar Laurent e penetrá-lo finalmente, outra parte dele
queria que isso durasse para sempre, até que seu toque cuidadoso deixasse
Laurent tão quente, tão flexível que ele iria implorar por isso. O corpo esbelto
estremeceu de antecipação, de repente se esfregando contra Beast quando
ele finalmente mergulhou metade do dedo indicador na bunda de Laurent. E
o seu dedo entrou liso e escorregadio, quase como seda oleosa.

Laurent passou os braços ao redor do pescoço de Beast, abraçando-o


com força e beijando o lado da cabeça de Beast, como se ele realmente
achasse a pele gravemente danificada e a falta de uma orelha sem
importância. Cada vez que Laurent se movia contra Beast, sua bunda
deslizava para frente e para trás, deliciosamente se mexendo em torno do
dedo. Laurent parecia tão inquieto que Beast sorriu com o pensamento de
que ele logo ficaria viciado e pegaria o que Beast quisesse lhe dar.

Mesmo agora, Beast ficava com tanto tesão em torno de Laurent, o


tempo todo, compensando os anos que ele ficou sem esse contato, mas ele
se lembrava da confusão de hormônios quando ele tinha a idade de Laurent.
Se Laurent acabasse gostando desse tipo de foda, ele estaria implorando a
Beast por mais em pouco tempo.
— Até seus dedos são grandes. — Laurent choramingou, agarrando-se
a Beast.

— É por isso que eu preciso colocá-los primeiro. — Beast disse,


movendo os quadris em sintonia com a forma que ele gentilmente empurrava
dentro de Laurent com o dedo indicador. Seu pênis recebeu estímulo
suficiente para fazer a cabeça de Beast queimar com o calor e suas bolas se
apertarem. Quando o ânus de Laurent aceitou facilmente dois dedos ao
mesmo tempo, Beast os manteve imóveis, beliscando os lábios trêmulos de
seu amante com crescente urgência. — Mas eu realmente preciso estar
dentro de você em breve. Eu tenho imaginado isso tantas vezes.

— Você tem? — Laurent engasgou, como se não fosse óbvio que ele era
o objeto da luxúria constante de Beast. O jeito que ele ficava mexendo nos
dedos fazia o pau de Beast pulsar com a fantasia de como o mesmo
movimento seria ao redor dele.

Os braços de Laurent seguravam Beast com uma força surpreendente,


mas era o ligeiro chuvisco do pré-gozo do pênis de Laurent, deslizando pelo
estômago de Beast, que lhe dava uma onda de satisfação.

Deu em Laurent um último beijo agressivo antes de se afastar e colocar


Laurent de quatro. Ele se ajoelhou atrás dele, esfregando as costas perfeitas
com uma mão enquanto seus olhos focavam na umidade cintilante do
lubrificante ao redor do buraco flexível de Laurent, que dilatava e estreitava
ligeiramente enquanto o corpo de garoto se arqueava na frente de Beast,
movendo-se contra a mão de Beast como um gato no cio.

— Você não tem ideia, mas tudo o que posso pensar é deixar meu
esperma dentro de você.

A tenda estava ficando úmida com a respiração pesada, mas Beast não
se importava. Parecia que eles estavam trancados em um casulo. Laurent
olhou por cima do ombro e puxou o longo cabelo, dando a Beast uma ótima
visão do rosto corado e dos olhos brilhantes na fraca luz amarela da lanterna
que rolou nos sacos de dormir.

— Eu... Eu também quero isso. — Laurent disse em um sussurro, e


Beast podia pensar em algumas coisas que seriam tão doces de se ouvir. E
se as palavras não fossem adoráveis o suficiente, Laurent se abaixou até os
cotovelos, espalhando um pouco mais as coxas, o que criou uma imagem tão
erótica que Beast teve que agarrar a base de seu pênis para não gozar.

Seu belo Laurent estava tão aberto para ele, tão pronto, sua bunda um
show, com o seu buraco todo escorregadio e disponível com a maneira que
Laurent abriu as pernas.

A beleza de Laurent surpreendia Beast tão profundamente que ele


precisava conscientemente respirar. Ele aplicou mais lubrificante em seu
pênis enquanto massageava o ânus de Laurent com o polegar, devagar e
gentilmente. Ele gostava de imaginar que tipo de toque ele finalmente
deixaria Laurent completamente suave por dentro assim que Beast
finalmente entrasse nele.

— Está certo. Eu não quero mais ninguém desse jeito — ele sussurrou,
movendo seu quadril para mais perto e esfregando a cabeça do seu pênis
para cima e para baixo no buraco escorregadio, deixando deslizar até o
traseiro de Laurent, apenas para agarrá-lo na base novamente e cutucar o
abrindo mais e mais.

Os gemidos agudos que ele recebeu de Laurent eram pura felicidade.


Era isso que Laurent precisava lembrar. Que ninguém jamais lhe daria esse
prazer, do jeito que Beast poderia.

Beast sorriu com o pensamento de que com Laurent tão baixo, ele
poderia facilmente ser capaz de beijar seus lábios, mesmo por trás, uma vez
que seus corpos se conectassem.

— Vá em frente, quero sentir isso. Eu preciso saber. — Laurent disse


sem fôlego, olhando para trás novamente, apesar de seus ombros tremerem.

Beast não tinha certeza se ele deveria olhar mais para o rosto
perfeitamente angelical, ou o traseiro redondo que ele não podia esperar para
ver em torno de seu pau. Até mesmo ter seu pênis aninhado entre as nádegas
de Laurent era tão fodidamente excitante que ele mal conseguia pensar.

Sem considerar muito, ele colocou o pênis contra o buraco de Laurent


e empurrou, observando cuidadosamente as características encantadoras,
mesmo quando o prazer provocava explosões em sua cabeça e nublava as
bordas de sua visão.

O apertado anel de músculo apertou seu pênis logo que a cabeça


passou, e dessa vez foi ele que soltou um gemido incoerente. Ele achava que
sabia o que esperar, mas o tempo deve ter feito com que ele esquecesse o
quanto era bom penetrar naquele canal de músculos.

Laurent arqueou as costas e Beast queria beijar cada ponto de beleza


na pele pálida. A cabeça de Laurent baixou entre os ombros e ele a empurrou
contra o saco de dormir, tão inquieto quanto antes.

Beast olhou para baixo, para seu pau meio enterrado entre os adoráveis
globos do traseiro de Laurent, mas com Laurent tendo ficado tão quieto, ele
gentilmente deslizou suas mãos até as nádegas de Laurent, respirando
lentamente para distrair-se da sensação entorpecente em torno de sua pele.
— Laurent?

— S-sim? — Veio a voz abafada por trás da massa de cabelos


ondulados. As coxas de Laurent tremeram, e ele mexia seus quadris de vez
em quando, como se estivesse provocando o pênis de Beast de propósito.

Não ser mais um adolescente vinha com o privilégio de ser capaz de


manter sua excitação por mais tempo, mas Beast ainda estava tão alto que
mal se lembrava do que exatamente ele queria perguntar. — Você está bem?
— Ele sussurrou no final, esfregando as costas de Laurent em círculos lentos.

— Estou um pouco... Sobrecarregado. — Laurent levantou a cabeça e


olhou para trás, seus lábios cheios estavam trêmulos. — Mas ainda quero
tudo. Suas mãos em cima de mim. — Suas pálpebras estavam meio fechadas,
o que fez seus olhos quase invisíveis por baixo dos longos cílios escuros.
Beast dificilmente se lembrava de ter visto algo mais sexy do que aqueles
olhos. — Foda-me.

Beast lambeu os lábios e empurrou para dentro, assegurou que Laurent


não estava com dor, mas esta bunda maravilhosa ainda estava tão apertada
que no momento em que o osso púbico de Beast pressionou contra as suaves
nádegas, ele estava ofegante, tão duro que precisava pensar em outra coisa
por alguns segundos, ou ele gozaria antes de entregar o que ele prometeu.
— Oh, baby, você se sente tão bem. Você não tem ideia. — Beast sussurrou,
alisando as palmas das mãos nos lados de Laurent.

O corpo de seu amante era tão maleável ao toque, tão quente e forte
apesar de seu tamanho. Beast arrastou as mãos por todo o caminho até o
peito de Laurent, pressionando-os contra os mamilos duros, depois esfregou
a carne enrugada lentamente até que Laurent gemeu e se mexeu. O pênis de
Beast amava cada pequeno movimento que Laurent fazia, e parecia que eles
realmente tinham se tornado um.

Laurent se levantou em um cotovelo, mas levantou a outra mão para


entrelaçar os dedos com Beast. — Você tem tudo de mim — ele sussurrou.

Beast deu um gemido baixo e se inclinou sobre Laurent, cobrindo-o com


seu corpo, pelo conforto, pelo calor e pela proximidade que ambos
precisavam tão desesperadamente. Ele enfiou os dedos no cabelo de Laurent
e usou-o para virar o rosto de Laurent em direção a ele, para um profundo
beijo sensual que enviou eletricidade para baixo em seus membros e em suas
bolas. A pressão em torno de seu pênis era tão maravilhosa que ele queria
apenas cavalgar Laurent a noite toda naquele ritmo lânguido que permitia
que ambos ficassem livres com seu toque.

A batida da água contra a tenda tornou-se mais constante agora, um


ruído rítmico que os protegia contra qualquer outra coisa no mundo
enquanto Beast se movia para frente e para trás, arrastando a cabeça de seu
pau sobre a próstata de Laurent.

Beast amava beijá-lo enquanto empurrava seu pênis para dentro e para
fora em um ritmo constante, e que cada um de seus movimentos causavam
um gemido, e um suspiro que Beast podia sentir diretamente em sua boca.
Os dedos de Laurent apertaram o saco de dormir toda vez que Beast o
penetrava profundamente.

Quando o ritmo de Beast acelerou, Laurent mordeu o lábio de Beast


quando Beast puxou para fora apenas para bater de volta, afundando até
suas bolas. Ele amava o jeito que o buraco de Laurent se encaixava tão
confortavelmente ao redor dele, como se o convidasse a gozar e deixar todo o
seu gozo dentro daquele corpo lindo.
Ele poderia deixar a penetração ainda mais profunda se ele
simplesmente se ajoelhasse atrás de Laurent, e se ele não se imperidia a fazê-
lo no futuro, mas agora ele só queria estar perto. O mais próximo possível,
com a respiração de Laurent provocando seus lábios entre beijos, seu cabelo
fazendo cócegas na pele de Beast, o corpo ágil movendo-se ao ritmo dos
impulsos dele, para encontrá-los no meio do caminho, tão maravilhosamente
necessitado e ardendo de luxúria.

Beast mordeu o ouvido de Laurent, puxando-o suavemente enquanto


ele movia os dedos pelo estômago tenso, em direção ao pênis de Laurent, que
ele podia ouvir batendo na barriga de Laurent várias vezes. Não sabendo
quanto tempo ele duraria, Beast precisava fazer Laurent gozar também,
sentir seu gozo entre seus dedos gananciosos.

Assim que ele tocou o pênis de Laurent, o corpo menor investiu contra
ele. Laurent arqueou a bunda mais alto, empurrando o pênis de Beast e
engolindo tudo em um único empurrão.

— Por favor, sim! — Laurent exclamou carente e arrastando os dedos


sobre o saco de dormir. A mendicância fez o pênis de Beast inchar dentro do
corpo quente e latejante, e por um momento sua mente entrou em curto.

Ele daria a seu garoto bonito tudo o que ele queria e muito mais.

— Assim? — Beast lambeu a nuca coberta com a marca que o havia


dado tanto pesar. Mas a marca era agora uma parte de Laurent, uma parte
do que trouxera o garoto para cá.

Para ele.

Ele acelerou os impulsos de seu quadril, empurrando na bunda de


Laurent em um ritmo rápido. Sua mão se moveu sobre o pau de Laurent na
mesma velocidade, fazendo-o ir contra Beast vez após vez. Ele precisava se
lembrar disso, porque era tão gostoso que ele visse Laurent sacudindo seu
pau daquele jeito, ele tinha certeza de que gozaria...

O som devasso dos gemidos de Laurent misturados com o calor do pré-


gozo nos dedos de Beast criou uma sensação tão poderosa, que entre isso e
os espasmos gloriosos dos músculos em torno do pênis de Beast, não ficou
claro o que fez seu cérebro ficar em branco de prazer.
Ele enrolou-se em torno de Laurent, segurando-o com uma devoção
frenética, seus lábios duros contra a artéria pulsante no pescoço de Laurent
enquanto eles se misturavam, finalmente desmoronando, ainda muito
conectados, ainda nos braços um do outro, enquanto seus corpos lentamente
esfriavam, e as mentes se acalmavam com a constante batida de chuva acima
de suas cabeças.

Beast pressionou sua bochecha contra a de Laurent, girando as pontas


dos dedos sobre o peito avermelhado de Laurent enquanto eles permaneciam
em silêncio, sem se incomodar com ninguém nem nada. Com Hound
guardando sua paz, nada poderia pôr fim ao glorioso resplendor que pôs fim
a mais de uma década de inadequação de Beast. Se Laurent o queria assim,
se Laurent o amasse de volta, então quem era ele para questionar essa
decisão? Por que ele não poderia receber de Laurent todo esse carinho?

Quando Laurent puxou a mão de Beast até os lábios e beijou os nós dos
dedos, Beast queria chorar pelo jeito que seu coração se apertou, e ficar com
tesão sobre o fato de que havia porra naquela mão.

Essa mistura de ternura e atração sexual não era como nada que ele já
tenha sentido antes. Só agora, com Laurent para fazer a comparação, ele
podia ver que havia muito mais atração física do que amor no relacionamento
que partiu seu coração todos aqueles anos atrás.

Ter percepção desse fato era como se Laurent tivesse retirado um


espinho que estava preso no coração de Beast há muito tempo.
Capítulo Vinte e QuatroLaurent

Laurent não gostava muito da banda de Lizzy, Beasts of Hell. Eles


faziam um barulho horrível, cometiam erros óbvios enquanto tocavam, mas
apesar dessas falhas, todos pareciam considerar a música ótima, então
Laurent educadamente concordava com isso e não expressava suas opiniões.
O aniversário de Beast faltava menos de duas semanas agora, e isso
significava que ele logo estaria livre do pacto.

Livre para buscar uma vida independente em 2017. Não havia dúvida
em sua mente que o MC Kings of Hell iria ser uma grande parte de seu futuro,
por isso, se a maioria dos Kings e seus amigos gostassem de metal, ele não
reclamaria. Haveria algum tipo de música com o nome de plástico? Ele
assumiu que gostaria muito disso. Mas apesar do barulho que deixava seus
ouvidos entorpecidos toda vez que o metal era tocado, ele queria fazer parte
de tudo, mesmo porque, Beast era o vice do clube e Laurent girava em torno
dele como a Terra girava ao redor do sol.

Havia uma grande festa planejada para meados de setembro, e várias


trupes musicais locais iriam apresentar seus trabalhos e músicas aos Kings
of Hell, na esperança de serem empregados naquela noite. Laurent não sabia
quase nada sobre a estranha cultura musical de 2017, mas havia uma
sensação de urgência em todas as bandas que queriam apresentar suas
habilidades. Beast disse a ele que nas proximidades de Portland era um lugar
onde muitas bandas diferentes podiam encontrar admiradores, mas
localmente, o clube era um local proeminente, famoso por seus banquetes
selvagens, embora durante eventos que eram acessíveis a pessoas de fora, o
sexo livre fosse considerado menos aceitável. Hoje à noite, membros e
convidados poderiam relaxar em companhia familiar.
Knight certamente fazia bom uso da atmosfera aberta. Desde o
rompimento com Jordan, ele estava presente todas as noites,
descaradamente nu em uma cama grande que era apenas parcialmente
obscurecida pela cortina de veludo.

Mais três pessoas haviam se juntado a ele há muito tempo, e Laurent


fez o melhor que pôde para não olhar para a obscenidade de tudo. Ele tentou
não julgar, já que ele próprio estava envolvido em atos que alguém poderia
chamar de indecentes, mas a falta de modéstia de Knight era algo
completamente diferente. Knight nunca mais falou de Jordan, como se os
poucos meses que eles compartilharam não importassem para ele. Ela só
veio uma vez, para recuperar alguns de seus pertences do clube, e até mesmo
aquela visita acabou em uma discussão maciça, mas desta vez, não foi
interrompida com o sexo.

Laurent nunca gostou muito de Jordan, e além das palavras ofensivas


expelidas por ambas as partes, não havia nenhuma violência entre o casal,
mas a separação toda deixou Laurent um pouco desconfortável. Se Knight
estivesse em um relacionamento com Jordan por meses, apenas para se
separar como se nunca tivessem compartilhado um vínculo, poderia ser esse
o futuro de Laurent também? Ele só se preocupava com isso em noites
melancólicas quando Beast estava fora, porque quando eles estavam juntos,
tudo o resto deixava de importar. Seu homem era uma montanha, tanto no
sentido físico quanto espiritual, sua estatura tão grande quanto suas
convicções eram inabaláveis.

No último mês, o intenso e frequente namoro, parecia ter criado um elo


inquebrável entre eles. Nunca em sua vida Laurent pensou que poderia
baixar sua guarda ao redor de outro homem.

Ainda assim, era sensato Laurent se amarrar ao futuro de Beast de uma


forma tão inseparável? Independentemente da sensação de que Beast era
uma pessoa de confiança, Laurent sabia que nenhum laço era resistente ao
desgaste. Havia tanta coisa que ele ainda precisava aprender, e a última coisa
que queria era acabar como algumas das amantes de homens ricos em seu
tempo. Usado e jogado fora com seus corações quebrados. Ele não acreditava
que seria o caso com ele e Beast - porque Beast tinha um coração genuíno e
ele provavelmente não jogaria Laurent nas ruas se ele perdesse o seu amor,
mas Laurent sabia que precisava pensar em seu futuro e estava lentamente
economizando dinheiro sempre que recebia pagamento por qualquer tarefa
que ele realizava para o clube. Sabendo que o estoque estava crescendo,
melhorava o seu sono.

Com outro grupo de músicos tocando suas canções cacofônicas, Lizzy e


sua banda, que estavam aqui no papel de especialistas, começaram a
sussurrar um ao outro, depois do silêncio deixado para trás quando a música
acabou. Laurent ficou contente, porque a guitarra elétrica tinha sido
particularmente cruel com seus ouvidos nas mãos do garoto magricela que a
tocava momentos antes.

Um grupo de moças subiu no palco seguinte, cada uma com roupas


esfarrapadas que pertenciam a prostitutas mendicantes, não jovens damas.
Todos usavam botas masculinas que pareciam grandes demais para elas, e
a que se aproximara do microfone sem um instrumento tinha um lado do
vestido escorregando de seu ombro, revelando completamente sua roupa
íntima, que nesses tempos modernos era particularmente escasso.

— O que é esse desdém, Laurent? — Nao riu, tomando sua cerveja ao


lado dele. — Você não gosta?

— Não! Não! Eu estou apenas distraído.

Nao riu, colocando um braço em volta do ombro de Laurent. Sendo


justo, suas roupas eram ainda mais resumidas do que as da cantora e
consistiam apenas em um short jeans que deixava descoberta metade de
suas nádegas e uma blusa que mal escondia seu peito.

A mulher por trás do set estava gentilmente cutucando as placas de


metal usadas para fazer sons particularmente perturbadores quando o
rugido de Fox rasgou o ar em volume tão alto que poderia até ter sido ouvido
com uma banda tocando. — Prospecto! Traga sua bunda aqui com um balde!

Laurent desviou o olhar do palco para ver o que estava acontecendo.


Jake correu pela porta momentos depois, ficando na frente de Fox, como se
estivesse o saudando, com um - balde. — Sim, senhor? — A testa franzida
no belo rosto jovem tinha o foco de alguém resolvendo uma questão
aritmética, não uma tarefa que exigia pegar um balde.

Fox deu um passo para trás, revelando uma jovem debruçada na mesa
e tremendo tanto que a primeira reação de Laurent foi oferecer sua ajuda. Só
então ele notou a poça de vômito entre as mãos dela, e a súbita sensação de
náusea fez com que ele olhasse para Jake, que deu um breve aceno de
cabeça, ansioso como um jovem soldado para receber o elogio de seu general.

— Limpe essa merda e ajude Thalia. Leve-a para algum lugar onde ela
possa dormir. Então volte. Knight perguntou por você.

Essa última frase fez Jake concordar freneticamente. — Sim, Fox!


Senhor. Eu estou nisso! — Ele olhou para a cortina e a cama com o tipo de
devoção que Hound às vezes expressava com Beast. Era... Perturbador.

— É melhor fazer isso rápido! — Knight riu, puxando a cortina para o


lado para revelar seu corpo nu, com uma garota imóvel deitada sobre as
pernas. Ele enfiou a língua no interior de sua bochecha do mesmo jeito
lascivo que Beast uma vez mostrara a Laurent.

— Sim, eu vou! — Jake se virou, provavelmente para pegar um esfregão


e água.

Knight se inclinou para trás, imediatamente agredido por um par de


lábios vermelhos brilhantes quando uma mulher de topless subiu em seu
colo e pressionou seus seios grandes e nus contra o peito dele.

Laurent nunca gostou da maneira como Jake era tratado pelos


membros do clube, mesmo que ele nunca se queixasse. Beast explicou a
Laurent que essa fase de “prospecto” era algo que a maioria dos membros do
clube havia passado e que era um período de transição antes de se tornar
parte do círculo interno do clube. Isso não mudou o fato de que a prática de
iniciar um prospecto lembrava Laurent de sua servidão com o Sr. Barnave.
Ele nunca mais se submeteria a tal acordo se pudesse evitá-lo.

A voz de Lizzy vinda dos alto-falantes voltou à atenção da maioria das


pessoas para o palco. Na luz distorcida pela fumaça de cheiro doce dos
cigarros especiais cheios de ervas, que Beast proibia Laurent de aceitar, suas
lentes de contato amarelas brilhantes faziam Lizzy parecer mais uma criatura
do submundo. Apesar de curtir tanto o palco, Lizzy parecia bem dócil quando
falava, limpando a garganta antes de apresentar as moças como Hellcats. A
música que a banda produziu logo depois soava como um saco de gatos
jogado no rio Styx, mas Laurent estava se acostumando e só tinha um pouco
mais de vinho para embotar um pouco seus sentidos.

Seus olhos vagaram e, do outro lado da sala, avistou Beast. O perfil


bonito era proeminente acima da multidão que mal chegava aos ombros dele,
seu cabelo tinha sido estilizado e cortado com cuidado especial mais cedo,
suas roupas tão novas que Laurent não conseguia parar de enterrar o rosto
no peito de Beast antes de sair do apartamento. A luz roxa lançava sombras
escuras no rosto dele, como se as palavras rabiscadas tivessem derretido,
criando poças de tinta nos vincos.

Para outros, Beast pode não ser o pretendente arrojado que alguém se
apaixonaria, mas Laurent via tudo o que Beast representava. A força que
dava a Laurent, e a emoção quando Beast o levava para o quarto. A
profundidade emocional das citações de Dante em latim salpicavam todo o
corpo de Beast. A ternura das mãos que pareciam ter sido feitas apenas para
infligir violência.

Laurent não estava mais cego e ele tinha visto o suficiente do mundo
para saber que dos dois, ele seria o considerado convencionalmente o
atraente. Mas foi Beast quem segurou a mão de Laurent durante a operação
em seu outro olho, e foi Beast quem explicou esse novo mundo para ele.

Por causa da bondade de Beast, estranhos podiam pensar que Laurent


olhava para além do exterior de Beast, que ele era de alguma forma generoso
com sua afeição por alguém que os outros chamavam de fera. Mas, além de
todos os traços gentis na personalidade de Beast, Laurent não estava
simplesmente querendo permanecer sob seus cuidados. Na verdade, ele
também era ávido pelo toque egoísta e queria ter tudo de Beast para si
mesmo. Ele não estava fazendo um favor a Beast estando com ele, porque
era Beast aquele que fazia espasmos no corpo de Laurent. Ele levou o amor
deles a um ponto em que Laurent estava muito sobrecarregado pelo prazer
para lembrar-se de decoro e não tinha vergonha ao se entregar aos prazeres
crus e animalescos.
Essa porra era tão boa.

Então, quando seus olhos se encontraram com os de Beast, tudo o que


importava era que os dois soubessem o que significavam um para o outro.

Beast sorriu tão amplamente que fez seu rosto queimado parecer um
pouco assimétrico, mas era mais uma peculiaridade de sua aparência que
Laurent aprendera a amar sobre seu homem. Como qualquer outra suposta
imperfeição, era parte dele e o fazia parecer ainda mais bonito.

Beast deu um tapinha no homem com quem ele estava falando nas
costas e fez o seu caminho através do bando de pessoas bêbadas que
dançavam com a música horrenda. Ele nunca desviou o olhar de Laurent
enquanto andava em sua direção através do mar de cabeças.

As pessoas modernas não sabiam como dançar corretamente, ao que


parece, mas com Beast, Laurent ficaria contente em mudar para o ritmo,
porque seria bom estar perto.

Um forte empurrão em suas costas fez Laurent se aproximar de Beast,


e quando ele olhou para trás, Nao, que agora abraçava um cara jovem com
uma barba ruiva, gesticulou para Laurent ir.

Laurent ficou na ponta dos pés para conseguir um beijo de Beast. —


Tarde — ele disse, mas não se importou realmente. Ele se divertiu com Nao,
apontando quem tinha a pior fantasia.

Beast se inclinou para que seus lábios roçassem o ouvido de Laurent, e


ele precisava gritar para ser ouvido sobre o barulho estridente. — Necessário
para lidar com alguma coisa. Eu sou todo seu agora — ele disse, e suas
grandes mãos deslizaram para o quadril de Laurent, puxando-o para mais
perto, e então entre as outras pessoas, que dançavam em grupos ou em
pares.

Uma mulher por perto estava debruçada e esfregou as nádegas contra


a virilha do homem que estava atrás dela. Laurent não teria ficado confortável
dançando assim, não com todo mundo assistindo, mas ele nem precisava
perguntar a Beast se ele queria isso ou não.
Às vezes, parecia que eles poderiam se comunicar sem palavras, e
quando Beast descansou uma palma nas costas de Laurent e passou os
dedos pelo braço de Laurent, ambos se moveram lentamente, em um ritmo
que só eles podiam ouvir.

Laurent passou os braços ao redor da cintura de Beast, maravilhado


com a presença e a força resistente de Beast. — Eu ainda não sei dançar
essas melodias modernas — ele disse e colocou a bochecha no peito de Beast.

— Ignore. Isso é muito melhor. — Beast gritou para Laurent enquanto


eles languidamente dançavam pelo salão, abraçando um ao outro como se
isso fosse à coisa mais natural do mundo. Durante todo o seu tempo aqui,
Laurent aprendeu que nem todas as pessoas em 2017 aceitavam dois
homens juntos, como ele esperava, mas isso não parecia importante quando
as pessoas que realmente importavam estavam completamente bem com
seus desejos. O mundo estava mudando em um ritmo mais lento do que ele
inicialmente imaginou, mas talvez fosse realmente Beast que ele deveria
encontrar? Mesmo com o barulho atacando-os de todos os lados, ele podia
ouvir o batimento cardíaco firme em seu ouvido e deleitar-se com isso.

Talvez a coisa toda com King sugando a vitalidade de seu amado


estivesse prestes a terminar no aniversário de Beast, e era esse o ponto de
manter Beast aqui. Para que o diabo cumpra sua promessa. Laurent mal
podia esperar para esclarecer tudo.

Pensar que, em 1805, seus sonhos haviam sido tão modestos. Encontrar
um homem com quem ele pudesse ficar de alguma forma, ter um meio de se
sustentar, apesar de sua falta de visão, e de estar livre de sua servidão com
o Sr. Barnave. E agora? Ele tinha muito mais. Ele vivia em um mundo onde
sua afeição por um homem era aceitável. Onde o homem que ele escolheu
cuidava dele profundamente, onde seus olhos tinham sido curados, e onde
ele estava fazendo uma renda modesta.

Ele beijou o bíceps de Beast discretamente, e em troca ele deu um


sorriso doce. Mas com Beast puxando Laurent em direção ao espaço recém-
liberado no canto, Laurent não objetou. Se eles não estivessem dançando em
sintonia com a música de qualquer maneira, eles poderiam desistir por
enquanto e se deliciar com a intimidade de uma dança com música decente,
que ainda era possível em discos de plástico especiais.

Mais tarde. Outra hora.

Mas enquanto eles saíam da pista de dança e passavam por Nao, que
agora estava profundamente envolvida com a boca de seu ruivo, apesar de
ainda ser a namorada de King, Laurent inevitavelmente procurava por seu
homem, preocupado por não gostar muito disso. É verdade, Nao parecia ter
muitos parceiros e não tentava esconder, mas King era o tipo de homem que
sorria para você em um minuto e socava seu nariz no próximo.

Felizmente, King estava ocupado conversando algo com Martina no


conjunto de degraus que levavam ao palco, mas com a maneira como ele
segurava seu braço, a conversa parecia mais uma discussão. Laurent parou
Beast, apontando com a cabeça para o início da violência.

O rosto de Martina estava visivelmente vermelho, mesmo sob a espessa


camada de maquiagem habitual, e ela empurrou King com uma expressão
infeliz.

O peito de Beast murchou, e ele deslizou a mão para Laurent, levando-


o para mais perto enquanto as quatro meninas se debatiam no palco,
pulando e gritando nos microfones, porque seu desempenho dificilmente
poderia ser chamado de canto. Laurent realmente fez o seu melhor para não
julgar, mas era quase impossível às vezes.

O estômago de Laurent afundou quando King torceu a mão no cabelo


vermelho de Martina e a puxou tão brutalmente que a dor expressada em
seu rosto estava clara. Beast acelerou, afastando as pessoas enquanto ele
subia ao palco, bem a tempo de o ato terminar. Lizzy disse algumas palavras
para concluir a apresentação, mas ele não conseguia silenciar outras vozes,
que ressoavam alto e claro no vazio deixado pela música.

— Que diabos está fazendo? Solte-a! — Beast assobiou, agarrando o


pulso do pai.

— Eu estou fazendo o que eu acho que é apropriado quando a porra da


minha namorada está me irritando de propósito! — King se manteve firme,
mas até ele era mais baixo que Beast.
— Eu só queria cantar uma música com a banda de Lizzy. — Martina
choramingou, já em lágrimas.

O coração de Laurent se afundou com a visão.

Beast olhou entre os dois, uma grande carranca marcando sua testa.
— É isso? Você a está puxando porque ela quer cantar uma música com
Lizzy? Qual é o seu problema?

King rosnou, mas soltou Martina, que passou a mão no cabelo e


esfregou a umidade das bochechas, borrando com tinta preta por toda parte.

— Eu não quero que ela se apresente. Deveria ter me perguntado, desse


modo ela não teria passado vergonha — ele disse, como se essa fosse à
resposta para o problema real.

— Eu queria surpreendê-lo! — Martina olhou para os dedos dos pés


com os lábios trêmulos.

— Deveria ter me dado um boquete surpresa então. Você está


procurando um novo namorado ou algo assim, por que você tem que se
anunciar como uma vaca?

Laurent queria se aproximar e dar a King um pedaço de sua mente, o


que, para Beast, não era nem um pouco arriscado, mas ele sabia melhor.
King era um tirano e encontraria uma maneira de se voltar contra Laurent,
mais cedo ou mais tarde. Era melhor se ele ficasse fora disso.

Martina puxou o aperto de King e empurrou seu peito. — Você é tão


idiota!

— O que há de errado em cantar? Você está bem com elas fazendo sexo
com outras pessoas, então por que não isso? — Beast chiou, abrindo seus
grandes braços.

King bufou. — Porque se ela se envolver demais, isso vai distraí-la. E eu


a quero aqui, não em uma turnê, ou tentando a sorte dela na porra de
Portland!

Ele fez uma careta quando Martina jogou um copo inteiro de água no
rosto dele, jogou o copo no chão e saiu correndo, deixando os dois com King,
que revirou os olhos, como se fosse o razoável ali.
— Vê? Uma propriedade do clube, mas não pode nem mostrar respeito
quando necessário.

Laurent deu alguns passos em direção à porta, considerando ir atrás de


Martina, mas ele não era tão próximo dela quanto era com Nao. Ele não
queria se intrometer. Eles ficaram ali mesmo, desconfortavelmente, sem
música para matar o silêncio, e apenas o som estranho de pele batendo
contra a pele, vindo de trás da cortina onde Knight estava transando com
alguém.

Lizzy foi para o meio do palco e olhou em volta, passando brevemente


seu olhar amarelo sobre Laurent. — OK. Então parece que um participante
não irá participar depois de tudo. Quanto às bandas, precisaremos de alguns
dias para nos decidir; mas todos vocês estão convidados a ficar para a festa
e se divertir.

King sorriu largamente e entrou na luz brilhante, para que ele também
ficasse visível. Como se na sugestão, Lizzy apontou a mão para ele. — Ordens
do King!

As palmas foram um pouco flácidas, mas quando King acrescentou que


estava preparando um barril de cerveja, todos aplaudiram com mais
entusiasmo.

Os olhos de Lizzy se fixaram em Beast, e ele sorriu amplamente, mesmo


esticando a língua que nunca deixava de dar arrepios a Laurent. — Ah, mais
uma coisa. Ouvi dizer que alguém preparou algo especial para um rapaz esta
noite e aposto que todos vão querer ver isso.

Laurent olhou ao redor, sem saber de quem Lizzy poderia estar falando,
mas então, a luz ao redor dele se tornou mais brilhante, e ele pegou Beast
franzindo a testa no palco, um pouco tenso. Lizzy não parecia se preocupar
muito com o olhar assassino e mandou um beijo para Beast antes de voltar
para seus companheiros de banda.

O salão ficou muito mais calmo, e Laurent podia realmente ouvir as


pessoas se silenciando quando Beast lentamente virou seu corpo enorme
para encarar Laurent. A luz pálida fez as imperfeições de sua pele se destacar
mais, mas seu olhar azul era tão suave que Laurent queria se aconchegar
em seu amante e permanecer em seus braços.

Beast limpou a garganta e enfiou a mão dentro do seu colete de couro,


onde um pacote preto estava preso com alças. Lentamente, ele olhou nos
olhos de Laurent, e a tensão ao redor deles era tão óbvia que Laurent podia
sentir os olhares das pessoas lambendo sua pele.

— Oh. — A respiração de Laurent ficou presa na garganta. — Um... O


que é isso? — Ele perguntou enquanto aceitava o pacote dobrado de couro
preto e macio. Ele não se sentia confortável sendo o centro da atenção de
todos.

Beast lambeu os lábios, tão inseguro sobre todos vendo como ele estava.
— Isto é para você. Eu fiz isso para se adequar ao seu gosto.

Laurent lentamente desdobrou o couro, percebendo que era um colete,


muito parecido com os usados pelos motociclistas e suas mulheres, mas com
uma frente mais curta e duas pontas nas costas. Assemelhava-se ao estilo
de casaco usado no tempo de Laurent, mas adaptado ao senso moderno de
moda, e com a parte traseira não tão longa o suficiente para entrar nas rodas
de uma motocicleta durante um passeio.

Ele sorriu e o segurou, mas a onda de ternura passando por ele ficou
fria quando ele virou o colete ao redor e viu a escrita bem conhecida.

Kings of Hell MC.

Um intrincado crânio em uma coroa.

Propriedade de Beast.

A mente de Laurent galopou como se um tiro explodisse nas


proximidades.

— O que é isso? — Laurent disse em voz baixa, já recusando a palavra


“Propriedade.” Ele fez um pacto com o diabo e escapou no tempo duzentos
anos para não ser propriedade de ninguém.

Martina também era uma propriedade, e agora ela não conseguia nem
cantar uma música no palco sem a permissão do homem. Por que Beast lhe
ofereceria isso? Sua intenção era também exercer tal controle sobre Laurent?
Para fazê-lo executar serviços como Jake e impor sua autoridade sobre
Laurent sempre que eles não estivessem de acordo? Será que o tempo que
passaram juntos foi apenas uma oportunidade para atrair Laurent antes que
o verdadeiro relacionamento começasse? Nos termos de Beast?

Beast exalou e empurrou o cabelo para trás, observando Laurent


intensamente. — Isso é para que todos saibam que você pertence a mim.

— Então isso significa que eu vou pertencer a você?

A pressão da decisão esmagou os pulmões de Laurent. Ele sentiu como


se todos estivessem esperando por sua resposta, e cada sussurro era como
uma mão curiosa. Nao com o homem barbado, King, Lizzy... O pânico
começou a apertar os membros de Laurent e não o soltou.

Beast assentiu, aproximando-se e quase estendendo a mão, como se


quisesse colocar algemas nas mãos de Laurent, apesar da expressão suave e
agradável em seu rosto. — Sim.

Laurent pensou em Marcel, que passou os últimos meses de sua vida


como propriedade de William Fane. Ele se aproximou de Beast, cada vez mais
abalado.

— Para sempre? — ele perguntou em uma voz fraca, segurando o colete


como se fosse um laço que o carrasco esperava que ele colocasse em volta de
seu pescoço.

Os ombros de Beast relaxaram, e ele se inclinou mais perto, como se ele


não pudesse se impedir de tocar em Laurent. Desta vez, o suave deslizamento
de seus dedos queimou.

— Para sempre.

Laurent lambeu os lábios e gentilmente empurrou o colete para Beast,


tentando fazer isso o mais discreto possível. — Eu não posso, Beast. — Seus
dedos tremiam, e seu coração doía, mas ele não seria um escravo, nem
mesmo para o amor.

As mãos de Beast se contorceram e a roupa caiu no chão. Ele


rapidamente se abaixou para pegá-la e torceu o couro fino em uma bola
bagunçada, como se quisesse torná-lo invisível.
A voz de King veio de outra dimensão enquanto Laurent assistia Beast
dar um passo para longe dele com uma expressão que era impossível de ler
sob as cicatrizes e as letras rabiscadas.

— Achei que ele seria propriedade do clube, assim como as meninas.

Os olhos de Laurent se arregalaram e ele explodiu com toda a raiva


reprimida. — Eu não sou propriedade de ninguém! Eu vivo do jeito que eu
escolher!

King soltou uma gargalhada que ecoou fracamente antes que a música
subitamente saísse dos alto-falantes com tanta força que Laurent se sentiu
fisicamente atingido por ela.

Beast estava ainda mais longe agora, encontrando brevemente o olhar


de Laurent, apenas para mergulhar na multidão e para longe dele. Laurent
tinha que fazer as pazes de alguma forma, mas seu coração doía com a ideia
de Beast querendo prendê-lo. Ele não precisava. Laurent tinha o livre arbítrio
agora e não podia permitir que essa escolha fosse tirada dele.

Ele correu através da multidão em direção à porta na parte de trás onde


Beast desapareceu. Tudo dentro dele queimava como se tivesse engolido
enxofre e fosse incendiado por dentro.

Ele correu e passou por duas garotas que riram tanto que estavam
praticamente caindo, mas ele realmente não se importava com o bem estar
delas naquele momento. Ele passou pela porta e mergulhou no corredor
luminoso, que ressoou com gemidos altos vindos de trás de uma porta
próxima. Beast estava longe de ser visto, mas quando Laurent se perguntou
o que fazer a seguir, a porta se abriu atrás dele, batendo em sua bunda.

— Ow! Você! — Ele sussurrou, mas enfrentou King, e deu um passo


cauteloso para trás. O largo sorriso no rosto de King tinha uma qualidade
sinistra, e quando King se aproximou mais, Laurent recuou até ele bater na
parede.

— Esse foi um bom trabalho. Lá estava eu, pensando que você se virou
contra mim, mas suponho que cada um de nós tem pactos que não podem
falar. Aquele grande gole de dor foi excelente, já me sinto cinco anos mais
jovem — ele disse, e na luz brilhante Laurent notou que as pupilas de King
estavam tão largas que faziam seus olhos parecerem muito mais escuros do
que eram. Ele parecia com algumas pessoas que ficavam agitadas nas festas.
Como se ele estivesse tão alto de energia que ele não conseguia mais se
controlar.

A mão firme e quente agarrou o pulso de Laurent e puxou-o para a


protuberância na frente do jeans de King. O gesto obsceno chocou Laurent
tão profundamente que ele não se afastou imediatamente, com os olhos fixos
em King, que acariciava a cabeça de Laurent com um fingimento gentil. —
Isso me deixou duro, você sabe. Não consigo nem imaginar como vai ser
quando finalmente tiver tudo dele.

— Tudo... Dele...? — Laurent tentou arrancar sua mão, sua mente uma
bagunça crepitante de pensamentos conflitantes.

King suspirou, apoiando o cotovelo contra a parede e mantendo o rosto


tão perto do de Laurent, que era impossível não sentir o cheiro da bebida em
sua respiração. Havia uma vitalidade nele agora. Seus olhos brilhavam com
um brilho vitorioso quando ele sorriu, intimidando Laurent com seus ombros
largos e altura superior.

— Sim. No dia em que ele completar 33, o diabo vai me dar tudo dele.
Serei forte como um jovem, e esse cabelo... — ele puxou uma mecha grisalha
e franziu o cenho — ...provavelmente ficará loiro novamente. Porra! Estou
tão farto de ser um velhote.

Foram necessárias várias batidas do coração de Laurent para entender


o que King estava dizendo, mas talvez fosse porque ele realmente não queria
aceitar a verdade por trás das palavras? Claro que sua tarefa para o diabo
não poderia ter sido simples. Como ele não tinha previsto isso?

Ele estava entorpecido, mas ainda forçou um sorriso para King, para
não parecer o inimigo. — Você terá a vida dele, e o seu desejo de se mudar
não será mais um problema. — Laurent disse, querendo que sua declaração
fosse falsa, mas no fundo soube que era verdade mesmo antes de King
concordar.

King deu uma gargalhada aguda e bêbada e deu um tapinha nas


bochechas de Laurent, como se estivesse fazendo um gesto paternalista com
uma criança. — Quem teria pensado que você é tão inteligente? Não se
preocupe Laurent. Eu cuidarei bem de você quando ele estiver fora de cena.

O jeito que o polegar de King empurrou o lábio de Laurent fez a bile


subir em sua garganta. O desgosto era tão visceral em seu corpo, apesar dos
traços bonitos de King, que não havia outro jeito senão se afastar.

Ele deu a King um sorriso trêmulo, apenas para fingir que concordava,
mas depois saiu andando pelo corredor, apesar de suas pernas serem feitas
de chumbo, e seu coração pesava como uma âncora.

Ele foi enviado aqui para matar Beast.


Capítulo Vinte e Cinco
Laurent

Laurent podia jurar que estava andando pelos intermináveis corredores


desde sempre. A batida da música alta no salão de festas tornou-se
monótono quando ele se afastou das paredes que, há mais de duzentos anos,
haviam sido a casa de Fane. Os acréscimos mais recentes à estrutura
construída pelos proprietários subsequentes da propriedade eram sombrios,
simplistas em sua forma, com muitas paredes soltando gesso, corredores
inteiros e quartos abandonados e frios apesar de ser verão.

Depois de procurar por Beast em seu apartamento, na garagem e em


outros lugares onde Laurent poderia esperar que ele estivesse, ele
simplesmente continuou examinando cada sala vazia cheia de móveis
quebrados. A silhueta do prédio estreito, e espremido entre as duas longas
asas do antigo hospital, conectada com passarelas, pairava além da janela
fria e vazia como o próprio peito de Laurent.

Ele não podia acreditar que tinha sido tão estúpido a ponto de não exigir
de King uma resposta sobre seu pacto anterior. Ele nunca assumiu que um
pai sentenciaria seu filho à morte.

Laurent correu os dedos pela parede úmida, andando sem um propósito


e sem muita esperança de encontrar Beast. Ele não passou muito tempo
explorando o complexo que formava o clube, mas essa área em particular
parecia familiar de alguma forma.

Mesmo agora, quando ele podia ver tão bem, a propriedade não era
menos de um labirinto do que tinha sido. Assim como o pacto que ele fez com
o diabo, os corredores foram feitos para prendê-lo. Não dava a ele nenhuma
saída, não importa quanto tempo ele procure por portas.
Aos 33 anos, enquanto Beast estivesse dentro dessas paredes, ele
morreria, sua força vital seria um sacrifício involuntário no altar da ganância
e do egoísmo de King.

Se King morresse antes disso, Laurent seria levado de volta ao corpo


ainda quente de Fane.

Se Laurent dissesse a Beast sobre os detalhes de seu pacto, ele seria


levado de volta.

Se Laurent matasse King, ele seria levado de volta.

Se Laurent tivesse certeza de que Beast não estivesse lá para o seu


aniversário, ele seria levado de volta.

Se Beast morresse, King não seria o único culpado. Laurent


compartilharia a culpa em igual medida.

Ele se abraçou, lutando contra as lágrimas enquanto procurava por


uma resposta nos corredores escuros e empoeirados. Não lhe admira que
este edifício infernal pertença ao diabo, porque tinha o poder de drená-lo
completamente de esperança. Se houvesse um inferno, ele já estava lá.

O som surdo de rodas gritando sobre um chão empoeirado chamou sua


atenção, puxando-o para fora de sua própria miséria. Ele engoliu em seco
quando avistou Martina marchando em sua direção – o cabelo dela estava
uma bagunça e havia traços de lágrimas negras manchando suas bochechas
- puxando duas malas de viagem com rodas.

— M-Martina? Você está bem? Você viu Beast? — Laurent perguntou,


notando a contusão florescendo em seu antebraço.

Ela enrolou os ombros, como se esperasse ser agredida, mas ela


balançou a cabeça. — Não. Eu não o vi. — Ela então notou a aparência de
Laurent e acrescentou: — Você parece uma merda.

Laurent esfregou o rosto. Martina sempre ia direto ao ponto. — Eu só


estou cansado. Desculpe-me pelo que aconteceu lá atrás com King. Eu
adoraria ouvi-la cantar um dia.

Ela parou, olhando para ele antes de seu rosto tenso se suavizar em um
sorriso. — Eu lhe enviarei um convite. E sabe de uma coisa? Estou feliz que
o King tenha se comportado como um idiota. Todos eles parecem tão legais
no começo, mas tudo que eles fazem é mastigar e controlar sua vida. Todos
eles, sem exceção. Eu não posso acreditar que perdi tantos anos da minha
vida com um motociclista.

Laurent deu um passo para trás e suas palavras lhe deram um tapa no
rosto. Ela conhecia King há anos e esta foi a sua conclusão final. King a
tratava como sua propriedade, que era exatamente o que Laurent queria
evitar em sua vida. E, no entanto, ali estava ele, procurando por Beast como
um filhote de cachorro apaixonado.

— Você está indo?

Martina olhou para os dois casos. — Como você pode ver, depois de
cinco anos com King, é tudo que tenho. Não é um bom negócio, mas ei, ainda
sou jovem o bastante para encontrar um homem que me trate com o respeito
que eu mereço. Chega um momento em que você precisa se colocar em
primeiro lugar, não importa o quanto você ame alguém.

Com isso, ela se virou e continuou andando pelo corredor, emanando


determinação que Laurent nunca tinha visto nela antes. Isso deixou seu
humor ainda mais azedo quando ele pensou no momento em que Beast
exigiu uma escolha impossível dele. Por que as coisas não poderiam
continuar do jeito que estavam?

Ele continuou sua busca em crescente frustração, incapaz de parar o


bater de pensamentos em sua cabeça, em um ritmo de uma procissão
fúnebre.

Laurent parou em frente a um velho espelho empoeirado em um dos


corredores e esfregou-o. — Não é justo! Não me contaram o que significa
manter Beast aqui!

O espelho vibrou, e o som aumentou, enquanto ao mesmo tempo fazia


seus pelos se arrepiarem. A superfície mudou lentamente de cor, a tonalidade
alaranjada viajando de baixo da moldura, até o meio, queimando o rosto de
Laurent com calor.

A criatura era apenas uma sombra no início, mas quanto mais tempo
Laurent olhava para seu próprio reflexo, mais ele via o demônio em vez de
seu próprio rosto. Os olhos grandes e simétricos queimavam no rosto negro,
destacando Laurent e fazendo seus pés congelarem no chão.

— Não importa para você o que acontece quando seu acordo comigo for
concluído. Faça o que eu pedi e você terá uma chance de uma vida feliz. Foi
com isso que concordamos. — Disse o demônio com uma voz rouca que soou
como se fosse produzido pela personificação do cascalho.

Laurent esmurrou as paredes ao lado do espelho. — Como eu posso ter


uma vida feliz depois disso? Como posso viver comigo mesmo sabendo que
sentenciei à morte a única pessoa de quem tanto gosto? Esse acordo não é
razoável!

A criatura o observou. — Isso não é da minha conta. Eu não fiz você se


importar com Beast, e agora é com você, se você quer ficar aqui ou voltar
para sua antiga vida.

A superfície do espelho tremeu, criando círculos concêntricos, como se


o diabo tivesse mergulhado uma de suas garras no vidro e transformado em
água.

No espelho, Laurent viu seu próprio rosto novamente, mas não era seu
reflexo. Na visão, ele estava sentado na cama de Fane, ainda com suas
roupas velhas, manchadas de marrom por sangue velho. E Fane estava
deitado de bruços aos seus pés, um emaranhado imóvel de membros vestido
de seda cara e lã fina.

Algumas batidas cardíacas rápidas depois, o Laurent no espelho


levantou e olhou para a borda da moldura, depois protegeu a cabeça com um
braço quando homens entraram, batendo com os punhos nele. A cena então
mudou para os mesmos homens arrastando-o escada acima e depois pelo
corredor, com o próprio corpo de Laurent tão sem vida pela surra que ele não
podia mais andar e o rosto tão inchado que estava quase irreconhecível.

— Sua escolha — disse a criatura em uma voz sem emoção.

— Mas...

— É melhor você se apressar, Laurent, se você quiser cumprir suas


obrigações.
A imagem no espelho desapareceu, revelando uma que Laurent não
entendeu a princípio. Um chão coberto com o mesmo símbolo que o da nuca.
Uma sombra a obscureceu parcialmente, mas foi só quando a imagem se
revelou que Laurent percebeu que não era outro senão Beast andando pela
sala. Ele apareceu, apenas para desaparecer de novo. Sua boca se abriu
amplamente, em um grito sem voz, e ele arrastou os dedos manchados de
sangue pelo rosto, deixando para trás o resíduo vermelho.

— O que é isso? — Laurent nem sequer piscou, petrificado até o osso.

— Ele quer forjar um pacto próprio. Um para mantê-lo como seu para
sempre. Mas eu não preciso dele.

— Eu não entendo! — Laurent chorou. — Onde ele está?

Uma figura sombria apareceu no espelho, olhando diretamente para


Laurent. Direto em sua alma. Fane - William Fane estava no mesmo quarto
que Beast, ameaçadoramente observando tudo de um canto. Ele usava uma
roupa idêntica à da noite em que ele morreu, e mesmo sem estar no mesmo
lugar, Laurent estava ficando doente com o cheiro de perfume do fantasma,
e, no entanto, Beast agia como se estivesse sozinho.

— O que ele está fazendo lá? — Laurent bateu na parede em fúria


impotente.

— Ele? Esse é o seu lugar de inquietação eterna. Você sabe onde é isso,
Laurent.

A superfície tremeu, e das ondulações emergiu o rosto de Laurent,


olhando para ele com horror.

Adega de Fane. Era onde ele costumava matar suas vítimas, então por
que diabos Beast teria escolhido esse lugar?

E, no entanto, cada vez que ele pensava em Beast, as palavras do


demônio voltavam para ele para diminuir todos os sentimentos ternos. Ele
não podia acreditar que Beast estaria tentando capturá-lo de maneira tão vil.
Era quase - quase - o que Fane tinha feito a todas as pobres almas, ao pobre
Marcel cuja mão Fane poupou por algum motivo perverso. Tudo tinha sido
sobre o controle sobre o outro, e agora era Beast quem desejava vincular
Laurent a ele, independentemente dos desejos do próprio Laurent.

Mesmo com esse conhecimento, os pés de Laurent começaram a se


mover, e ele correu pelo corredor, em direção à parte do prédio que ele sempre
evitou. Ele não podia deixar Beast sangrar. Em parte porque doía pensar em
Beast ser ferido e em parte porque, se Beast morresse esta noite, uma morte
horrível aguardava Laurent do outro lado do espelho, para um passado que
ele jamais desejaria voltar.

Teria sido mais fácil simplesmente passar pelos cômodos onde a festa
continuava forte, mas Laurent não queria ver ninguém - muito menos King -
e por isso usou um pequeno corredor que devia ter sido usado anteriormente
por empregados. Estava estranhamente quieto quando ele se aproximou da
escada que o levaria ao abismo que era o porão, quase como se as paredes
antigas magicamente entorpecessem a base barulhenta e o estrondo
agressivo das guitarras elétricas.

Laurent ficou na frente da velha escadaria. Se ele subisse, entraria nos


aposentos de King, mas os degraus escondidos atrás da porta secreta das
costas da gárgula eram como um buraco negro, e apesar de suas melhores
tentativas, ele não conseguiu acender a luz com nenhum dos botões nas
paredes próximas. Se ele quisesse ir até lá e ajudar Beast, ele teria que
esquecer o medo e apenas mergulhar.

Cada passo cuidadoso que ele deu o aproximava da alma de Fane, preso
em algum lugar nesses quartos. Um fantasma poderia machucá-lo? Poderia
envolver seus dedos translúcidos no pescoço de Laurent e apertar até que
Laurent não pudesse mais respirar?

Com apenas o luar atrás das costas iluminando os degraus, ele ainda
notou que algo estava diferente no porão. Havia menos quartos do que em
1805? O corredor estava mais curto? Ou parecia que era mais longo no
passado porque tudo na casa de Fane tinha sido tão grandioso?

Passo a passo, de forma dolorosa, ele estava se aproximando da câmara


que Fane o tinha levado para aquela noite fatídica. Ele respirou o ar
empoeirado e um pouco úmido do corredor que não tinha sido tocado em
décadas.

A entrada no final estava fechada, e nenhum som vinha além da porta,


mas uma linha fina de brilho acima do chão fez Laurent respirar mais rápido.
Ele se aproximou, hesitando por um momento antes de pressionar a
maçaneta e abrir a porta.

O cheiro de mofo e sangue fresco encheu Laurent de náusea, mas ele


entrou na sala, os olhos atraídos para as manchas vermelhas visíveis à luz
fraca de uma lanterna colocada no consolo da lareira. A sala estava vazia,
com apenas algumas caixas e barris de metal agrupados no canto. Uma
seção do piso havia sido removida, descobrindo o símbolo embaixo, que fez
um arrepio frio percorrer a espinha de Laurent.

Seu coração poderia ter parado por um momento quando ele notou a
silhueta escura enrolada em um dos cantos, e ele freneticamente passou o
olhar ao longo de todas as paredes em busca do rosto aparentemente bonito
de um fantasma.

Fane se foi, mas Beast olhou para cima, e seu rosto se contorceu quando
viu Laurent, mas ele permaneceu sentado em suas coxas.

Laurent não sabia o que dizer ao homem que costumava pensar que só
tinha o melhor interesse de Laurent em mente. Laurent tinha perdido os
sinais de aviso enquanto lentamente se aprisionava nos braços de Beast
todos os dias? E mesmo que os planos de Beast não fossem tão sinistros
quanto os de Fane, ainda era ruim ser tratado como gado, como se não se
pudesse confiar em Laurent para permanecer fiel à Beast por vontade própria
e precisava de uma corrente no pescoço.

Pior de tudo, apesar de saber do desejo de Beast de manter Laurent a


todo o custo, o pensamento de viver sem ele abriu o coração de Laurent.
Como ele poderia sorrir, beijá-lo e aproveitar os dias restantes quando ele
estava vendendo a vida de Beast em troca da sua própria? Ele já podia ouvir
o relógio passando os dias até 29 de agosto.

11 dias
Beast olhou para a parede nua, como se estivesse coberta de tinta
dourada e os mosaicos. A mancha de vermelho em seu rosto era como uma
pintura de guerra bárbara, mas mesmo na luz branca da lanterna, Beast
parecia excessivamente pálido sob suas tatuagens. Quanto sangue ele
perdeu?

— Eu vejo você minha besta. — Laurent disse com toda a ternura


transbordando em seu coração.

Beast respirou fundo, tão alto que ecoou entre as paredes vazias. —
Seu? Você me rejeitou. O que você quer agora?

Laurent entrou no quarto, sufocado pelo cheiro doentio. Seu coração


batia rápido, como se houvesse um relógio batendo em seu coração, como se
lembrasse de Laurent do futuro que era muito aterrorizante para considerar?
— Eu preciso da minha liberdade. Isso não significa que eu queira mudar o
que existe entre nós.

Beast ficou de pé, segurando o colete com uma das mãos enquanto se
aproximava de Laurent em passos longos e ameaçadores. Agora que ele se
esticou na luz, Laurent pôde ver o brilho de cortes paralelos nos antebraços
tatuados. Eles não estavam mais sangrando pelo menos. — Liberdade para
fazer o que? Foder alguém melhor quando aparecer?

Laurent se encolheu diante da raiva, mas não recuou. — Liberdade para


fazer o que eu quiser. — Saiu rouco, como se ele já estivesse sendo infectado
por dentro pela escolha que ele nem tinha feito. Ele olhou para o homem à
sua frente. Não fazia muito tempo desde que eles se encontraram no corredor
empoeirado no andar de cima, mas Laurent não conseguia lidar com o
pensamento de que Beast não estaria por perto. Sua mente estava caindo em
um poço sem fim onde apenas dor e sofrimento o aguardavam.

— Que tal eu ajudar com seus cortes? — Laurent tentou tocar o


antebraço de Beast, mas Beast fez uma curva abrupta, andando entre a
parede e a lareira abandonada como um leão que Laurent viu durante uma
viagem ao zoológico no início deste verão. Com os ombros erguidos e a cabeça
abaixada, Beast marchou ao redor de sua gaiola como se pudesse de alguma
forma descarregar a energia zangada zumbindo dentro dele. Talvez a morte
por suas mãos fosse melhor do que ter que escolher entre pendurar um laço
e condenar o homem... Que ele amava morrer.

Sem resposta, Laurent tentou novamente. — Beast, o que você estava


fazendo aqui?

Beast jogou o colete que ele havia feito para Laurent no chão e agarrou
as bochechas de Laurent. O fedor de sangue transbordou os sentidos de
Laurent, mas ele não ousou desviar o olhar da intensidade no olhar de Beast.
— Eu preciso dele. Eu preciso dele para me dar algo.

Laurent se encolheu, porque ele não precisava saber que essa raiva era
para ele. Ele era a “coisa” que Beast queria ser concedida pelo demônio, e
Laurent não suportava ouvi-la, mas também não se afastaria de Beast. O
desejo de estar perto dele era visceral, mesmo quando ele sentiu o sangue
pegajoso em suas bochechas.

— E se você não pode ter isso? E se o diabo não garantir? — Laurent


perguntou, apesar de seus próprios objetivos estarem em contradição com
Beast. Ele nunca mais seria possessão de ninguém. Não do Sr. Barnave, nem
do Fane, nem mesmo de Beast.

Beast lambeu os lábios, inclinando-se sobre Laurent com o fogo


queimando em seus olhos azuis. — Eu não vou descansar até que seja meu
— ele disse empurrando os dedos sujos de sangue no cabelo de Laurent.

Laurent se aproximou, precisando desesperadamente encontrar uma


saída que permitisse que ambos ficassem juntos. — O que você pode
possivelmente precisar tanto? Você tem o clube, amigos, uma boa posição.
Nós moramos juntos em sua casa. Nós nos importamos um com o outro. Mas
nós dois somos homens livres, você tem que me permitir isso. — Quando ele
estendeu a mão para o braço de Beast, seu amante recuou, e doeu tanto que
Laurent rapidamente puxou sua mão para trás também.

Beast apertou e abriu as mãos tão rigidamente que parecia que seus
dedos poderiam quebrar. — Você vai correr no momento em que outra pessoa
chamar sua atenção, e você não quer se comprometer porque tem medo de
retaliação. Admita.
Laurent esfregou o rosto, frustrado que isso era o que ele tinha que lidar
em cima do que ele descobriu de King e o que o diabo lhe mostrou. — Eu não
farei! Mas também não serei sua propriedade. Eu me recuso.

— Por quê? Por que não? Se você for meu, ninguém te toca. E eu preciso
que você seja meu. — Um músculo do maxilar de Beast pulsou quando ele
cerrou os dentes, seus olhos prendendo Laurent no lugar.

As palavras machucaram e acalmaram Laurent. Beast estava


desesperado por ele, talvez até sentisse o mesmo que Laurent. Mas o que
Laurent tinha a ver com isso? Como ele entregaria sua vida quando lutou
tanto para sair da servidão? Será que importava se, em onze dias, ele
finalmente tivesse que fazer uma escolha entre ele e Beast?

A noção de morte de Beast fez os olhos de Laurent doer com lágrimas


não derramadas mais uma vez. Ele pensou na conversa que tivera com
Martina e se perguntou se ela ainda teria se colocado em primeiro lugar se a
vida de King estivesse em jogo.

Beast não entendia o que significava viver como propriedade de alguém.


Mesmo que Barnave fosse um bom mestre, que fornecia algumas moedas a
Laurent de vez em quando, dava a ele um lugar decente para dormir, todos
os dias Laurent vivia sabendo que a vida dele não era dele, e que aos olhos
da lei, Barnave podia tratá-lo como um cachorro.

Beast engoliu em seco, observando-o, igualmente em silêncio. Era como


se uma parede tivesse sido erguida entre eles e nenhum deles soubesse como
romper. De pé sobre o símbolo do diabo gravado no chão, só lembrava a
Laurent do pacto. Este era o lugar onde ele matou Fane, e este era o lugar
onde ele voltaria se falhasse em sua tarefa.

No final, foi Beast quem falou primeiro. — O que você quer então?

Laurent correu os poucos passos para Beast e o abraçou com força


apesar de Beast se encolher como se o toque de Laurent o tivesse revoltado.
— Eu quero estar por perto.

Beast respirou fundo várias vezes, e por um momento evitou os olhos


de Laurent como se pudessem contaminá-lo. Mas então ele agarrou o
antebraço de Laurent e moveu as mãos para cima, até os ombros de Laurent.
— Fechado.

— Nada mudou entre nós, Beast. — Laurent respirou fundo pela boca
para evitar chorar. A escolha impossível estava sufocando-o, e ele não podia
compartilhar seu desespero com a pessoa que mais importava. Ele poderia
escolher entre Beast e ele mesmo? Beast não estava tentando justamente
isso? Ele não estava tentando de alguma forma prender Laurent ao seu lado?

Uma vida ao lado de Beast seria uma armadilha?

Uma jaula invisível ainda não era uma gaiola?

E por que ele estava mesmo considerando essas questões se o acordo


com o diabo tornaria inatingível qualquer tipo de futuro?

A boca de Beast estava meio torta no mais insincero dos sorrisos, e ele
piscou. — Certo. O que quer que você queira. — Mas antes que Laurent
pudesse responder Beast o empurrou de volta até que Laurent estava de pé
contra a parede. Com o rosto enterrado nas dobras da camiseta de Beast, ele
ouviu o rápido batimento cardíaco a poucos centímetros de distância de suas
orelhas. As grandes mãos desceram para o peito de Laurent.

— É isso que você quer?

Laurent deu um suspiro trêmulo e assentiu, embora pudesse sentir as


ações de Beast vindo de um lugar de raiva. Não poderia a proximidade
acalmar suas dúvidas? Talvez ele pudesse esquecer seu pacto com o diabo
por apenas alguns momentos preciosos. Talvez eles pudessem consertar o
que eles quebraram.

O que ele quebrou.

— Sim — ele sussurrou, colocando as mãos sobre Beast. Lentamente.


Beast mudaria de ideia depois de tudo.

Beast deu um suspiro estremecido, empurrando seu corpo enorme


contra Laurent e pressionando-o contra a parede. Ele moveu as mãos para
os quadris de Laurent enquanto pressionava o nariz e a boca no topo da
cabeça de Laurent, respirando alto.
Laurent não tinha certeza se se sentia preso ou protegido do mundo
inteiro, envolto na gaiola mais preciosa. As palavras já tinham falhado com
ele esta noite, então ele beijou o peito de Beast através do tecido.

As mãos em seus quadris se apertaram, e Beast uniu suas cabeças. Ele


mudou seu peso e moveu a perna, levantando-a entre as coxas de Laurent.
Ele não tinha que perguntar, Laurent iria espalhar suas coxas em Beast
como ele já tinha feito tantas vezes. No fundo, ele era de Beast. Corpo e alma.

Laurent lentamente balançou contra a coxa de Beast, como quando eles


estavam dançando. Mas num ritmo mais lânguido, sonhando em esquecer-
se no movimento. Ele estava pronto para tirar toda a raiva de Beast. Ele
mereceu.

O baixo ronco da voz de Beast poderia muito bem ter sido trovão.
Choveu nas costas de Laurent, e quando a perna entre as coxas de Laurent
encontrou seu ritmo, cada esfregar ficaram carregadas de eletricidade. Beast
empurrou uma das mãos sob a camiseta de Laurent, massageando
avidamente sua carne, como se estivesse preocupado que ele nunca mais
fizesse isso.

Como Laurent possivelmente viveria sem ser tocado dessa maneira?


Poderia um homem realmente morrer de desespero? Seu coração iria parar?
E depois virar pedra?

Laurent focou todo o seu ser apenas neste momento. Na maneira dura
que Beast passou as mãos pelo peito e pelas costas, no calor que Beast
irradiava e no modo como a coxa pressionava insistentemente contra o pênis
de Laurent. Quanto mais lentas as coisas, mais tempo ele tinha para pensar.

Pensamentos que ele desprezava.

Laurent precisava de mais rapidez, precisava de uma velocidade


decadente para consumi-lo.

Ele balançou o quadril mais rápido e deixou suas mãos subirem no peito
de Beast. Beast grunhiu, rolando sua bochecha contra o templo de Laurent.
Era como se a ânsia de Laurent tivesse dado permissão a Beast para ir mais
longe, e ele instantaneamente abriu a calça de Laurent, agressivamente
empurrando sua calça jeans. Ele não disse nada, apenas manteve o rosto
perto o suficiente para Laurent ouvir sua respiração rápida, mas não para
realmente vê-lo.

Laurent não tinha certeza de por que ele iria precisar de suas calças
completamente, mas quando Beast as empurrou para baixo, ele não
questionou, e correu para tirar seus tênis. Mesmo quando ele fez isso, ele já
estava desafivelando o cinto de Beast, ansioso para se comunicar sem
palavras, dessa forma, apenas que dois corpos poderiam.

Não havia palavras entre eles, e ele rezou para que eles não tivessem
perdido a capacidade de falar um com o outro, apesar de sua rejeição ter
ferido tanto Beast. A respiração deles era alta na sala vazia, subindo pelas
paredes enquanto se esfregavam um contra o outro, tocando os pênis um do
outro em um ritmo frenético que deixava os dois com fome de mais.

Laurent se atreveu a olhar para cima, tentando não pensar sobre a


sujeira que ele estava de pé descalço. Em vez disso, o pau grosso em sua mão
ocupou sua mente. — Como você me quer? — Ele sussurrou, com o coração
chacoalhando. Esta era uma boa maneira de mostrar à Beast que ele estava
disposto a entregar-se aos seus cuidados? Alguma coisa seria suficiente
novamente?

Beast se afastou um pouco, e foi a primeira vez que Laurent pôde olhar
nos olhos dele desde que eles começaram a se tocar. Sua boca estava fina e
tensa, os olhos procurando, como se Beast esperasse que Laurent o atacasse,
e não amá-lo. Isso durou apenas um momento, com Beast rapidamente se
inclinando para frente, com a boca aberta e quente ao lado do pescoço de
Laurent, comendo seu queixo, mordendo, puxando e chupando. Beast
agarrou a mão de Laurent e apertou o lubrificante nele antes de jogar o
pequeno tubo para longe.

— Prepare-me — ele sussurrou entre os dentes.

A respiração ficou presa na garganta de Laurent e ele deslizou a mão


sobre o pênis de Beast em movimentos rápidos. Tudo naquele momento em
um quarto sujo, onde ele estava apenas usando uma camisa moderna e
curta, e era tão grosseiro, e ainda assim todos os seus esforços estavam
determinados em esquecer o que King havia dito a ele.
Apenas por mais uma noite.

Ele cutucou o peito de Beast com a testa, ansioso para pegar o que quer
que fosse dado. O pênis de Beast estava tão quente em sua mão, como se
não houvesse um laço invisível prestes a deslizar em um dos seus pescoços,
e eles estavam prestes a ceder aos seus desejos como sempre faziam.

O pênis de Beast latejava em sua mão, e ele o soltou, já colocando seus


braços ao redor de Beast. O corpo grande e forte cheirava a colônia que
impressionara tanto Laurent em seu primeiro encontro. Ficou tenso,
curvando-se ligeiramente e então Laurent voou para cima, carregado por dois
braços firmes. Apoiado contra a parede, ele mal podia respirar do choque até
que Beast direcionou Laurent para onde colocar as pernas.

Outro testamento da força inumana de Beast. Laurent passou os braços


ao redor do pescoço de Beast, e suas pernas ao redor do quadril dele, e ele já
podia sentir o pênis ereto de Beast cutucando entre suas nádegas. Ele
abraçou Beast firmemente, sem vontade de soltar, mesmo que Beast o
segurasse firmemente de qualquer maneira. Seu coração estava frenético,
sua pele ficando quente e fria.

Os lábios de Laurent doíam por um beijo ainda mais do que seu corpo
doía pelo pênis de Beast, mas seus olhos se encontraram apenas brevemente
antes que Beast enterrasse seu rosto no pescoço de Laurent. Havia uma
urgência em seus movimentos quando ele se abaixou, e, esmagando Laurent
contra a parede, empurrando seu pênis. Um gemido baixo escapou de seus
lábios, vibrando contra a garganta de Laurent quando a espessura grossa
afundou em um ritmo constante.

Os dedos de Laurent se enrolaram, e ele choramingou com a sensação


intensa de ser penetrado tão rapidamente. Todo o seu corpo enrijecendo não
ajudou, mas ele segurou Beast ainda mais firmemente. Ele desejou que
ambos pudessem se fundir e se tornarem uma quimera, deixando o diabo
incapaz de levar qualquer um deles sozinho.

Um soluço abafado deixou sua boca, e ele mordeu o ombro de Beast,


seu corpo inteiro tremendo enquanto o pau grosso se movia lentamente.
Os músculos de Beast tremiam, como se apesar de sua força, Laurent
fosse um fardo difícil de carregar. A textura familiar da pele cicatrizada
parecia tão certa na dobra do pescoço de Laurent, e quando Beast empurrou
todo o caminho em Laurent, enrolando-o contra a parede, as grandes mãos
se moveram até o traseiro de Laurent, cavando suas nádegas como se fosse
massa para ele modelar.

Beast rosnou e mordeu com tanta força que o fez andar em linha tênue,
separando o prazer da dor, mas quando ele se moveu, Laurent não podia
mais falar, reduzido a gemidos roucos a cada vez que o corpo de seu amante
o arrastava para cima e para baixo na parede com poderosos impulsos. Ele
agora desejava que não tivesse a camiseta para que suas costas sentissem a
dor de esfregar contra o gesso desmoronando ou um prego enferrujado, para
puni-lo por seu pacto com o diabo.

No brilho da lanterna, Laurent pôde ler a escrita no pescoço de Beast.


O verso de abertura do Inferno de Dante.

No meio da jornada da nossa vida, encontrei-me dentro de uma floresta


escura. Pois o caminho certo foi perdido.

Oh! Como isso era verdade! Ele se aventurou no caminho que o diabo
havia estabelecido para ele tão cheio de esperança, apenas para descobrir
que nada era do jeito que parecia. Os impulsos da Beast eram ásperos,
punitivos, mas Laurent pegou tudo, abraçando Beast firmemente e
esperando que ele não estivesse sufocando seu amado. Ele beijou as palavras
na pele de Beast, e um soluço indefeso deixou sua garganta, apesar de querer
afastá-lo.

Beast parou, respirando fundo algumas vezes antes de se inclinar para


trás, afastando-se do aperto firme dos braços de Laurent. — Eu te
machuquei? — Beast sussurrou o olhando com seus olhos azuis pálidos. Ele
estava corado, e suas narinas chamejaram quando ele olhou para trás com
uma expressão tão crua que estava fazendo o coração de Laurent sangrar.

Laurent desejou esconder seus lábios trêmulos contra o pescoço de


Beast, mas não adiantou. Talvez pelo menos as sombras obscurecessem seu
rosto, porque ele temia que tudo estivesse escrito da mesma forma que Beast
tinha sua dor sobre a dele.

Beast veria Laurent o Judas sendo enviado para traí-lo.

— Não — ele disse, mas saiu meio quebrado. — É apenas intenso... Eu


quero tudo de você. — Ele odiou a escolha de palavras assim que elas saíam
de sua boca. Esse seria o caminho dele? Ele tiraria tudo de Beast e não
deixaria nada além de ossos carbonizados? Ele não era melhor que King.

Beast lambeu os lábios, respirando mais devagar, e apesar de seu pau


duro latejando dentro de Laurent, Beast não estava mais com pressa. Ele se
inclinou para mais perto, pressionando Laurent com mais força contra a
parede e movendo a palma quente para cima de suas costelas. Seus lábios
se encontraram em um movimento lânguido que era tão delicado que teria
deixado as asas de borboleta ilesas.

Ele assentiu, de repente aprofundando o beijo e afastando-se da parede.


Laurent gritou, agarrando-se ao corpo firme de Beast enquanto a gravidade
o puxava para baixo em uma luta entre a força do próprio Beast. O mundo
girou em uma nuvem de poeira enquanto Beast ficava de joelhos, ainda
segurando Laurent bem perto, seu pau ainda enterrado no traseiro de
Laurent, e então Laurent estava deitado no chão sujo, com Beast se
inclinando sobre ele.

Laurent enrolou os joelhos mais perto de seu peito, pronto para que
Beast abrisse seu peito se fosse seu desejo. Ele não podia se importar menos
com a sujeira esfregando na parte de trás de sua camiseta. A necessidade de
estar com Beast era tão visceral que ele não conseguia respirar.

Ele respondeu ao beijo faminto com igual paixão, explorando a boca


quente de Beast e não querendo pensar na morte. Todo o corpo de Beast
estava quente como brasa, emanando a vitalidade que King não tinha o
direito de roubar.

Ele entrou em Laurent, e a maneira como ele se movia, os sons que ele
fazia, estavam perfurando seu caminho através da mente de Laurent e
afastando todo o pensamento coerente. A verdade sobre seu pacto se
dispersou, no desconforto da sujeira que se enterrava em sua pele, no modo
bestial de que seu amante se movia sobre ele. Suas línguas dançavam juntas
mais rápidas a cada momento que passava, até que Laurent estava tão
completamente sem cérebro que ele não percebeu que Beast estava gozando.
A explosão de calor dentro dele, e os rápidos impulsos que o enviaram ao
chão com sua força de repente fizeram com que ele abrisse os olhos e olhasse
para o belo rosto tatuado relaxado em absoluta felicidade.

Era o mínimo que Laurent pôde dar a ele.

Laurent alcançou entre seus corpos e acariciou seu próprio pênis.


Bastou apenas algumas vezes para ele gozar com um gemido abafado pelos
lábios de Beast. Ele nunca parou de se mexer sob seu amante, tenso como
uma corda até que sua liberação passou, deixando-o completamente
desossado.

— A poeira poderia apenas nos cobrir, para que nunca tivéssemos que
sair desta sala? — Ele sussurrou ainda ofegante, mas já inundado de ondas
de tristeza.

Sua libertação foi falsa.

Era inútil se ele não pudesse compartilhar seu coração com Beast.

11 dias
Capítulo Vinte e SeisBeast

As coxas de Beast tremiam ao redor da cabeça de Laurent, e ele


engasgou com um gemido, forçando os olhos a se abrirem, apenas para que
ele pudesse ver o lindo rubor no rosto de Laurent. Seus olhares se
encontraram, brevemente, e quando Laurent enfiou suas bochechas ao redor
da cabeça de Beast enquanto gentilmente rolava suas bolas na mão delgada,
Beast gozou.

O prazer fluía através dele como ondas quentes; e ele ficou


completamente flácido nos lençóis, quase incapaz de acariciar a penugem na
nuca de Laurent. Ele deslizou os dedos até o ombro de Laurent e o puxou;
ainda incapaz de falar. Laurent se arrastou pelo corpo dele e se deitou nos
braços de Beast. Eles se encaixavam tão perfeitamente que, às vezes, Beast
achava que o braço dele era moldado exatamente dessa maneira, para que
ele se enroscasse confortavelmente em torno de Laurent.

Havia passado mais de uma semana desde que Laurent rejeitou o colete
de propriedade de Beast, e os sentimentos de Beast sobre o assunto se
acalmaram um pouco. Ele aceitou a decisão de Laurent, e prometeu a si
mesmo não tornar as coisas estranhas e tentou agir como se nada tivesse
acontecido. Mas a verdade era que sim, e os eventos daquela noite haviam
deixado um buraco no meio do peito de Beast, que ficava mais dolorido a
cada dia, como se em vez de curar se infectasse.

King estava fazendo um grande negócio com o aniversário de Beast e


todos estavam meio quietos sobre a festa que certamente estava por vir. Ao
mesmo tempo, nada parecia ter sido feito em termos de preparação no clube,
o que levou Beast a acreditar que seu pai havia escolhido um local diferente
por algum motivo. Era bom alguém colocar esforço nesta celebração, mas na
verdade, tudo o que Beast queria era passar tempo com seus irmãos, e com
Laurent. Talvez pelo menos isso tirasse sua mente da tentativa fracassada
de falar com o diabo. Se ele tivesse algo de valor para oferecer ao maldito
monstro, ele teria sua aparênia antiga de volta, seu antigo eu, e não teria que
se preocupar que Laurent pudesse deixá-lo.

O sorriso de Laurent era tão bonito que Beast mal podia acreditar que
estava segurando uma criatura tão bonita em seus braços. — O que você
gostaria de fazer no seu aniversário? Eu sei que é amanhã, mas quero fazer
algo especial apenas para nós. Eu quero que seja o melhor dia.

Beast engoliu em seco, surpreso com a proposta. Laurent havia estado


estranhamente doce e complacente desde aquela festa fatídica, quase como
se ele se sentisse culpado por ser incapaz de se comprometer. Beast fez o
possível para ter certeza disso, mas ele não pôde deixar de se perguntar se
isso não era uma situação de quando um marido traidor levava flores.

Talvez ainda não, não este ano, mas em algum momento no futuro
Laurent pretendia deixá-lo, e quando chegasse a hora, Beast sabia que ele
teria que deixá-lo ir. Essa era a realidade disso, e ele não podia mudar isso.
Tudo o que ele podia fazer era tentar não pensar, não perturbar a harmonia
de seu relacionamento enquanto durasse, mas manter uma atitude positiva
era besteira. Ele toda noite sentia essa dor no peito, toda vez que ele não
tinha nada para manter sua mente ocupada.

Talvez fosse a idade de Laurent o problema? Beast queria passar o resto


de sua vida com Laurent, mas Laurent mal tinha começado a viver. Ele
provavelmente ainda estava avaliando o que ele poderia e não poderia fazer
em um mundo totalmente novo. Quais pessoas estavam lá para ele se
encontrar? Que tipo de homens?

Ele acariciou a testa de Laurent e o puxou para mais perto, desejando


poder memorizar cada canto do seu corpo. — Isso seria bom — ele disse se
perguntando se tinha sido ideia de King. Se ele e os caras quisessem preparar
uma surpresa para Beast, eles o queriam fora do clube.

— Existe algo novo que poderíamos fazer? Ou algo que você amava
quando era criança? — Laurent arrastou os dedos sobre a imagem de um
Lúcifer caindo no peito de Beast.
Beast lambeu os lábios e levou a mão de Laurent aos lábios,
observando-o em silêncio enquanto seu estômago se contorcia. Laurent disse
que queria que fosse o dia de Beast, mas não havia nada que Beast quisesse
mais do que satisfazer seu namorado. Havia algo de tão alegre na excitação
de Laurent cada vez que ele via algo novo que sua vida passada nunca
poderia oferecer a ele, que Beast ficaria feliz em vê-lo se divertindo o dia todo.

— Que tal um parque aquático? Eles têm brinquedos com ondas falsas
e sorvete de abacaxi.

Isso fez Laurent se animar como um gatinho. — Oh, isso soa esplêndido!
E nós poderíamos pegar o último resquício de sol de verão. Como as ondas
são feitas? E o sorvete. Eu adoraria um pouco de sorvete. — Ele beijou Beast
nos lábios. — Há muitas coisas feitas de plástico?

Beast riu subitamente relaxado. Ele passou os dedos pelos cabelos de


Laurent e beijou-o gentilmente. — Tenho certeza de que existem muitas
coisas feitas de plástico. Como cadeiras. E eu não sei sobre as ondas, mas
tenho certeza que poderíamos perguntar a alguém que trabalha lá.

Laurent colocou todo o seu corpo em cima de Beast e fez o próximo beijo
durar mais tempo. Se Beast fechasse os olhos, ele poderia apenas acreditar
que Laurent estaria em sua vida para sempre.

Quando Laurent se afastou, seus olhos estavam tão cheios de ternura


que deixou Beast autoconsciente.

— Vamos, e ver onde este dia nos leva — ele terminou sem um sorriso,
e essa breve expressão fez as sobrancelhas de Beast se levantarem, mas
Laurent estava de pé antes que Beast pudesse perguntar se estava tudo bem.

***

Era sábado, e o estacionamento do parque aquático estava lotado, mas


felizmente sempre havia espaço suficiente para uma moto. Beast colocou
suas toalhas e roupas de banho em uma mochila enquanto se aproximavam
do portão, já ouvindo a música com temas tropicais e crianças gritando
enquanto caminhavam ao longo da cerca. Laurent parou por um momento e
olhou entre os elementos de aço, com toda a diversão que os aguardava.
Beast usaria sua roupa de mergulho para proteger seu corpo do sol e manter
as tatuagens mais ofensivas fora de vista em um lugar tão cheio de crianças
pequenas, mas ele gostaria de nadar e observar Laurent usando roupas
sumárias.

Ele costumava vir aqui muito com o seu ex. Antes que o bastardo o
deixasse.

— Devemos dar as mãos? Ou é inapropriado nessa área? — Laurent


perguntou quando eles caminharam até a bilheteria.

Beast hesitou, sem ter certeza se ele queria arriscar que a equipe
imediatamente os rotulasse. Talvez fosse melhor ficarem neutros até que
saíssem dos vestiários? — Você nunca sabe o que as pessoas vão pensar. É
complicado — ele disse enquanto entrava na fila de cerca de dez pessoas.

Ele manteve os olhos em Laurent, mas quando dois meninos pequenos


não pararam de olhar para ele dos braços de seus pais, ele sorriu para eles,
desapontado quando eles olharam para longe ao invés de sorrir de volta.

Ele ficou tão perdido em pensamentos que nem notou quando Laurent
comprou seus ingressos. Ele estava com a sua carteira, e era incrivelmente
doce que ele queria gastar o pouco dinheiro que ganhou em algo para Beast.

— Com licença? Por que não? — Laurent perguntou, tentando


empurrar o dinheiro para a mulher atrás da janela.

Beast franziu a testa e se inclinou para olhá-la. — Há algum problema?


— Ele perguntou, olhando para a jovem morena atrás da caixa registradora.
Ela deu a ele um sorriso falso, e um peso frio já estava se acumulando na
boca do estômago de Beast. Hoje não...

— Você poderia, por favor, esperar no final da fila? Alguém estará com
você em breve — ela disse, e Beast endireitou suas costas, segurando a mão
de Laurent sem sequer olhar em sua direção.

— Venha.
Laurent apertou-a de volta e foram para onde foram solicitados. Um
sentimento de tristeza já havia feito Beast se arrepender da ideia de vir para
cá. As pessoas eram tão cheias de merdas. Ele não poderia ir a um parque
aquático com o namorado na porra do seu aniversário? Mas se ele explodisse
sobre isso, ele certamente seria preso, e isso seria ainda pior para Laurent.

Eles ficaram parados no final da fila, e não demorou muito para que um
gerente atrapalhado chegasse. Ele era um homem mais velho com um
penteado cinzento e um pouco de barriga. Ele estava suando profusamente
em sua camisa azul de botão.

— Boa tarde, ouvi dizer que houve um problema.

Laurent abriu o braço sem soltar a mão de Beast. — Eu tenho dinheiro


suficiente e a senhora não nos vendeu os ingressos.

Beast limpou a garganta, olhando brevemente para o modo como seus


dedos se entrelaçaram, e ele sentiu um calor se espalhando pelo peito. — É
um dia tão bom. Queríamos ter um dia no parque aquático. Eu costumava
vir muito aqui quando era mais jovem — ele disse com um sorriso agradável.
Ainda havia esperança enquanto permanecessem educados.

O gerente lambeu os lábios, olhando para a infinidade de tatuagens


visíveis na pele descoberta de Beast. — Sinto muito, mas não permitimos
aqui tatuagens que retratem material divisivo, religioso ou palavrões — ele
disse no final.

Laurent ficou na ponta dos pés, como se quisesse parecer mais alto. —
Oh, não, você não entende. Kai pensou sobre isso. Ele trouxe sua roupa de
mergulho e não causaremos nenhum problema, senhor, asseguro-lhe.

O gerente mudou seu peso, observando-os por um momento


prolongado. — Isso cobre o seu pescoço?

Besta engoliu em seco, imaginando o diabo vermelho tatuado em sua


garganta se movendo. — Não — ele disse no final. — Mas eu tenho certeza
que ninguém vai notar. Isto...

— E as tatuagens no seu rosto? As pessoas associam essas pessoas a


gangues e eu não posso permitir que os clientes se preocupem com os seus
filhos — disse o gerente, aparentemente encorajado pelo comportamento
calmo de Beast.

— É apenas citações de livros.

— Não importa. Esta é minha decisão final. Eu sinto muito.

Laurent tirou a mão do aperto de Beast e avançou como se ele pudesse


intimidar qualquer um com sua altura e rosto bonito. — Isso está além de
irracional. Estamos apenas tentando nos divertir. É a festa de aniversário do
Kai. Uma exceção não pode ser feita?

— Isso não é uma opção.

A carranca do homem estava dizendo a Beast que eles deveriam recuar,


ou eles teriam segurança em suas costas. Independentemente de serem
rejeitados ou não, o parque era uma empresa privada, e isso permitia que
estabelecessem suas próprias regras.

Laurent levantou as mãos. — O senhor é uma desgraça! Você não pode


nem reconhecer o tesouro literário no rosto desse homem. Eu presumo que
você não conhece latim, não é? As crianças deste parque devem se considerar
sortudas, se entrarem em contato com palavras tão profundas. Você não os
encontraria no Bob Esponja, asseguro-lhe!

Beast franziu a testa, perguntando-se de onde Laurent assistia os


desenhos animados, mas o sentimento avassalador de orgulho rapidamente
substituiu qualquer outra emoção quando ele gentilmente puxou Laurent de
volta. — Está bem. Vamos apenas para outro lugar — ele disse.

Laurent respirava com dificuldade e todo o seu corpo falava de tensão.


— Não está bem, mas vamos levar nossos negócios para outro lugar!

A perda de cinquenta dólares caiu em ouvidos surdos. O gerente revirou


os olhos e saiu, deixando Laurent tão abalado como se o parque aquático
fosse o portão para o Céu e ele tivesse sido impedido de entrar.

Beast puxou a mão dele, levando-os para longe da entrada e a fila de


pessoas admirando a comoção. A vida de Beast não era um reality show. E
ainda assim, ele fechou muitas portas quando ele escolheu cobrir as
cicatrizes de queimaduras com tatuagens. Ele fez isso com raiva e desespero,
mas agora que ele tinha que viver com tudo o que essa escolha lhe trouxe,
ele ficou imaginando se poderia ser diferente. Se não fosse pelas tatuagens,
ele ainda teria pessoas olhando para ele, mas ele poderia levar Laurent em
qualquer lugar que quisesse, e talvez pudesse ser bem-vindo em todos os
lugares.

Laurent respirou fundo quando chegaram ao estacionamento, e ele


esfregou os olhos com o antebraço. Ele estava... Chorando?

Beast ficou imóvel, observando Laurent com vergonha enrolada em seu


estômago e sufocou sua garganta. — Eu sinto muito. Eu era jovem e
estúpido, ok? Eu não posso me livrar das tatuagens. Desculpe por estragar
sua diversão. Talvez outra pessoa possa te levar outro dia?

— Não! Eu queria ir hoje! — Laurent fungou e apertou as mãos de


Beast quando chegaram à moto. Beast não tinha certeza se suas ações eram
brutais ou erráticas. — Não importa. Eu nunca mudaria nada sobre sua tinta
a menos que você quisesse. Fala da sua alma.

A ternura por trás das palavras de Laurent fez Beast desviar o olhar por
alguns segundos, mas ele apertou os dedos de Laurent firmemente. —
Obrigado. Eu gosto delas. Eles impedem as pessoas de terem pena de mim
por causa das cicatrizes. Mas às vezes... Isso é simplesmente insuportável.
— Beast disse e esfregou o rosto com a mão livre.

Laurent observou-o em silêncio por um tempo. — Seria possível ir a


algum lugar hoje onde eu poderia ser tatuado? Eu quero saber como é. Eu
quero entender.

Beast olhou para Laurent, sem saber o que pensar. — Pode doer — ele
disse suavemente, inclinando-se para beijar a testa de Laurent. Ele afastou
o cabelo comprido e apoiou o queixo sobre a cabeça de Laurent,
aproximando-o.

— Estou pronto para senti a dor — Laurent sussurrou, e Beast não


conseguia identificar por que parecia que eles estavam falando sobre coisas
diferentes.

Ele exalou, observando Laurent com crescente curiosidade. Ele parecia


completamente certo de sua ideia. — O que você quer tatuar?
— Isto. — Laurent arrastou os dedos sobre as clavículas de Beast. — O
caminho para o Paraíso começa no Inferno. — Beast engoliu em seco, tentando
se convencer de que Laurent simplesmente queria uma citação do Inferno de
Dante, porque ele tinha conhecimento íntimo do texto, mas ainda assim
parecia que Laurent estava prestes a tirá-lo da pele de Beast.

Beast não conseguiu falar por vários momentos, depois apertou a mão
de Laurent com firmeza e assentiu. Nuvens de tempestade se reuniam no
horizonte de qualquer maneira, então talvez, esse impedimento à entrada do
parque aquático fosse uma coisa boa, afinal de contas.

***

Depois do fiasco no parque aquático, entrar na loja de tatuagens foi


como voltar para casa. Beast passou horas intermináveis aqui, tendo sua
pele coberta de tinta, centímetro após centímetro. Aqui, ele era respeitado e
recebido com sorrisos, não evitado como um leproso.

Jabba, o dono, ainda estava trabalhando em um cliente quando eles


entraram, mas uma palavra de Beast foi o suficiente para ele fazer o esforço
e mudar o próximo compromisso para deixar uma vaga para Laurent. O
zumbido constante da máquina de tatuagem deu a Beast um chute
agradável. Tendo feito tanto trabalho, ele percebeu que a dor causada pela
agulha repetidamente esfaqueando sua pele era um pouco agradável, e ele
não pôde evitar relaxar com o som.

Nudez sempre deixava Laurent um pouco confuso, então ele desviou o


olhar quando o cliente de Jabba saiu da cama e se olhou no espelho. Assim
que Beast viu o que ela havia feito, seu bom humor despencou.

A tatuagem era grande, mas simples e sem frescuras, e dizia:


Propriedade da Claw. E ela queria que todos soubessem, tanto que estava
permanentemente gravada em sua pele.

Quando ele olhou para uma cadeira próxima, notou um colete de couro
com remendos de um clube de motoqueiros de New Hampshire. Ele se sentiu
fisicamente doente ao vê-lo. Como se a rejeição de Laurent não tivesse sido
suficiente, e agora precisava ser esfregada mesmo em um lugar que ele
considerava seu refúgio seguro.

A garota se virou, olhando-a no espelho com um brilho de felicidade no


rosto. Se colocasse um véu nela, iria se parecer com uma noiva sem sequer
colocar um vestido branco.

Jabba mudou seu corpo corpulento e sorriu, olhando para a sua cliente.
— Feliz?

Ela sorriu e balançou os quadris para os lados, fazendo o desenho se


mover junto com seus músculos. — Ele vai ficar tão surpreso.

Laurent pigarreou. — Você não valoriza sua liberdade?

Beast franziu o cenho e olhou pela janela, não querendo ver a tatuagem
de propriedade feita como uma homenagem a um cara, quando ele não
conseguia nem uma em Laurent. Não deveria incomodá-lo tanto, mas sim.
Abria o corte que mal se fechava em seu coração e cutucava-o com espetos.

A garota riu. — Oh vamos lá. Vocês sempre dizem que casamento é como
prisão, mas não é verdade. Vocês são apenas um monte de reclamões. Isso é
grande para mim. Meu homem finalmente me pediu para ser dele para
sempre.

Laurent gemeu, fazendo Beast querer ficar fora dessa conversa


completamente. — Você não pode saber o que isso implicará em alguns anos
— sua voz era dura, como se ele tivesse o direito de repreender um estranho.
— Quando você é propriedade de alguém, ele pode te espancar até a morte,
enterrá-lo e ninguém saberia!

Jabba franziu o cenho para ele. — Whoa ai! Relaxa cara.

Mas a garota ficou ainda mais agitada. — Que merda, idiota? O que você
pode saber sobre o meu relacionamento? Vou me casar, não entrar em um
pacto com o diabo.

Laurent torceu os dedos juntos em frustração. — Vi pessoas serem


punidas sem culpa. Lançados na sarjeta sem meios de sobrevivência depois
de anos vivendo como propriedade, e ainda assim, depois de uma semana ou
duas, eles rastejam de volta para seus senhores, mesmo com um vislumbre
de segurança!

Jabba olhou para Beast. — Ele está alto24?

Beast ouviu Laurent, completamente atordoado pelas coisas que saíam


de sua boca. Seria esse o motivo da rejeição dele? Laurent temia que Beast o
espancasse até a morte e o enterrasse no jardim? Era tão fodido que ele
preferiria não saber as razões por trás da rejeição de Laurent. Foi exatamente
por isso que eles fingiram que a humilhação que Beast tinha experimentado
na festa há quase duas semanas nunca havia acontecido.

— Laurent, acalme-se. Não é isso o que isso significa. Uma


propriedade... É como uma esposa para um motociclista — ele disse no final,
temendo que a garota pudesse atacar Laurent com suas unhas compridas.

Laurent lançou-lhe um olhar cansado. — Não é como um escravo?

A garota assobiou e colocou uma camiseta apesar da tatuagem não estar


coberta ainda. — O que há de errado com você, seu fodido idiota? Não é nada
como ser um escravo! É até mais que uma esposa! É o respeito do clube, é a
proteção e um símbolo de devoção eterna. — Ela vestiu o colete, como se
para deixar seu ponto ainda mais claro. — Onde quer que eu vá, todo mundo
sabe a quem eu pertenço. Quem iria arrancar os dentes se eles me tocassem.
Eu não sou apenas dele. Ele é meu. Eu acabei por aqui.

Ela balançou a cabeça e deixou Laurent sentado lá sem uma resposta.

Beast cruzou os braços sobre o peito, sem saber como desarmar toda
essa situação, mas, enquanto o silêncio prosseguia, ele foi forçado a se
levantar e olhou para Jabba, desculpando-se. — Desculpe, cara, ele não é
daqui.

Todos tiveram que sofrer um silêncio desconfortável, enquanto Jabba


cobria a tatuagem e aceitava o pagamento. A garota então saiu, batendo a
porta com tanta força que o vidro nela tiniu.

— Eu sinto muito. — Laurent murmurou assim que ela se foi, mas


Beast não tinha certeza para quem ele estava se desculpando.

24
Se ele está drogado/chapado.
Jabba acenou com a mão. — Não se preocupe com isso. Não é como se
ela fosse uma cliente fiel. Eu já vi cenas piores do que isso. O que vamos
fazer por você, hein?

Laurent escolheu tatuar as palavras em suas clavículas, no mesmo


lugar que Beast as usava, e não recuou, mesmo quando seus olhos
lacrimejaram no início do processo. Ele segurou a mão de Beast, e às vezes
olhava para Beast com uma expressão tão estranha que Beast não conseguia
decifrar o que estava passando pela cabeça de Laurent. Os três conversaram,
riram e, no entanto, algo pareceu ter mudado.

O peso do conhecimento de que Laurent não queria estar com ele porque
ele tinha medo de Beast o manteve de mau humor, não importava o quão
engraçadas fossem as histórias de Jabba. Beast sentia que ele estava
fingindo o bom humor pelo bem de Laurent, mas ele não podia negar que ver
as palavras aparecerem na pele de Laurent no mesmo lugar que as dele, lhe
dava certa emoção, talvez até um compromisso por parte de Laurent.

Laurent atribuiria o mesmo significado a eles que Beast? Qual foi o seu
paraíso e qual foi o seu inferno? Para Beast, as palavras eram uma expressão
de esperança de que depois do inferno que ele passou, ele iria encontrar a
felicidade novamente um dia, que toda a dor que ele passou com a
recuperação após o incêndio valeria algo.

Quando a tatuagem terminou, Laurent ainda não conseguia sorrir,


respirando fundo e esfregando os olhos repetidamente até ficarem vermelhos.
Ele ficou ainda mais confuso quando descobriu que não tinha dinheiro
suficiente para cobrir todo o preço.

Beast não se importava de pagar.

Quando tinham que sair, a chuva tamborilava periodicamente em um


staccato frenético contra as janelas da sala de estar sempre que o vento
lançava as gotas no prédio. Estava escuro, úmido e desagradável do lado de
fora, mas pelo menos eles tinham uma refeição à disposição. Laurent insistiu
que eles comessem a chinesa no mesmo lugar onde eles comeram na
primeira vez. Beast comprou duas fatias de torta no restaurante nas
proximidades para a sobremesa, e eles saíram, pois ambos estavam ansiando
pelo calor de seu apartamento.

Beast ficou surpreso ao ver quase todas as motos fora da garagem, e até
mesmo alguns dos carros, mas ele optou por não assumir nada e liderou o
caminho pelos corredores vazios. Era estranho ver o clube tão
completamente vazio. Não restava alma alguma na casa, e se alguém tivesse
ficado para trás, provavelmente estava em seu próprio quarto, porque sem
qualquer música ou conversa a ser ouvida, e nem luzes acesas, o vasto prédio
parecia abandonado.

Laurent segurou a mão de Beast, mas eles ficaram em silêncio mais


frequentemente do que não. Hound já estava choramingando atrás da porta
quando chegaram ao apartamento de Beast, e Laurent cumprimentou o
cachorro com ternura, sorrindo para ele e acariciando seu focinho. Era como
se a presença do cão aliviasse a tensão que não os deixava desde a discussão
acalorada de Laurent com a garota no estúdio de tatuagem.

Eles compartilharam a comida em silêncio, mas Laurent manteve-se


perto de Beast, constantemente pressionando seu corpo contra o dele, e
Beast não teve coragem de pedir-lhe um pouco de espaço para usar seus
pauzinhos confortavelmente. O cão estava aos seus pés, tendo adormecido
profundamente assim que percebeu que não conseguiria nada da comida
humana. Era tudo muito caseiro e ainda assim tão estranho. Beast não
conseguia se lembrar de Laurent parecendo tão fraco nas últimas semanas.

O trovão retumbou atrás das janelas e a chuva era um constante ruído


de fundo. Depois de comerem a sobremesa, ficaram abraçados por algum
tempo, mas então Laurent se levantou, olhando o relógio com os lábios
pressionados em uma linha fina.

— Você pode, por favor, esperar aqui por um momento? — Ele


perguntou a Beast, que o observou com um sorriso lentamente aparecendo
em seu rosto.

Laurent provavelmente queria se desculpar pelo horrendo ataque no


estúdio de tatuagem. E se isso incluísse algum tipo de surpresa sexy para o
aniversário de Beast, ele não diria não. — Certo. Diga-me quando — ele disse
com um sorriso largo.

Laurent sorriu de volta, mas então correu para fora do quarto de uma
maneira estranhamente nervosa, o que fez Beast confiante de que ele estava
pronto para um presente de aniversário. Ainda faltavam duas horas para a
meia-noite, então ele estava feliz que Laurent não o estivesse fazendo esperar
mais. Ele pensou na tatuagem na pele de Laurent. Como agora, não importa
o que acontecesse, Laurent teria um pedaço de Beast com ele. Se isso fosse
uma espécie de compromisso por serem namorados e se tornar propriedade
de Beast, Beast poderia aceitar. Claramente, Laurent se importava com ele,
se ele queria comemorá-lo em sua própria carne, então talvez Beast devesse
relaxar e parar de pensar demais em tudo.

Os pés de Laurent bateram contra o chão como se ele estivesse usando


botas, mas quando ele emergiu do corredor, ele estava com a mesma roupa
histórica de quando eles se conheceram - na verdade usando as botas - mas
sem seus óculos. Apesar de estar feliz por tê-lo de volta após a limpeza a
seco, Laurent nunca o usou desde então e apenas o manteve em seu quarto.
Das pontas de suas botas até o colarinho branco de sua camisa, ele parecia
ter saído de um drama de fantasia. Ele estava apertando algo em suas mãos.

Beast observou-o, um pouco surpreso, e ainda assim seu cérebro estava


trabalhando a toda velocidade, imaginando o que Laurent esperava. Ele
queria ser fodido naquelas roupas bonitas que valorizavam sua beleza
natural? — Você está adorável.

Laurent se aproximou ainda que seu sorriso permanecesse tenso. — Eu


gostaria que você tivesse isso. — Ele disse e estendeu o broche que ele
recebeu de sua mãe.

Beast olhou para ele, lentamente ficando frio. Era um presente


inestimável. Um de tal importância para Laurent, que nunca deveria ser
doado, e depois de um dia de clima tenso, a oferta estava levando Beast à
borda. Algo não estava certo, e ele não sabia o que.
Tudo de uma vez, sua mente se encheu de coisas horríveis, como
Laurent indo embora e querendo deixar algo para Beast se lembrar dele. Com
o coração doendo já, Beast perguntou: — O que está acontecendo?

Laurent engoliu em seco e, como Beast estava sentado no sofá, ele o


olhava de baixo pela primeira vez. A roupa parecia deixá-lo mais alto e mais
maduro também, embora fosse apenas uma impressão, pois uma criança de
terno ainda era apenas uma criança em um terno.

— Eu quero me desculpar com você. Onde eu pensei que você queria


me prender, tudo que você estava oferecendo era proteção e afeição. Você
deve entender que eu tinha sido propriedade de alguém antes. Durante anos,
vivi como escravo e tudo o que sonhei foi liberdade.

A cabeça de Beast se sentiu leve quando ele se inclinou para frente e


apertou as mãos de Laurent acima do enorme corpo adormecido de Hound.
Estavam quentes, macias e maravilhosas, e Beast não queria nada mais do
que pegar Laurent em seus braços e mantê-lo assim para sempre.

— Tudo bem. Esse colete será seu sempre que você estiver pronto para
isso. Eu ainda quero vê-lo usando.

As respirações de Laurent estavam pesadas enquanto ele falava. — Eu


não aguento. Eu não mereço isso. Você tem sido tão gentil comigo, você me
deu o dom de olhos saudáveis e eu guardei muitos segredos de você.

Beast exalou e puxou Laurent para mais perto, onde ele finalmente se
estabeleceu ao lado de Beast no sofá. O cão não se mexeu.

— Não diga isso. — Beast suspirou, massageando suavemente as mãos


de Laurent. Elas eram tão pequenas, tão cheios de graça quando comparados
com as patas de Beast, que ele desejava apenas apreciá-las. Ele as levou aos
lábios e beijou cada junta, dominado pela ternura. — Eu também guardo
segredos. Como... Que eu realmente me importo de parecer assim. Que eu
tenho procurado uma maneira de me conectar com seu demônio, porque eu
esperava que se eu fosse meu antigo eu de novo... Assim você não iria querer
ir embora — ele disse suavemente, não se atrevendo a olhar nos olhos de
Laurent e ver o desapontamento. Parecia tão patético, e ainda assim havia
nele uma necessidade visceral de ser sincero, para dizer a Laurent o quanto
ele sentia por ele.

— Oh, Beast... — Laurent se aproximou e correu os dedos perfeitos


sobre os sulcos e cicatrizes no rosto de Beast. — Eu te entendi mal. Você é
perfeito para mim. Eu gostaria de poder tirar toda a sua dor. Se você pudesse
se ver do jeito que eu o vejo, você saberia que nenhuma mudança é
necessária.

O coração de Beast batia tão rápido que ele podia sentir todo o seu
corpo. Seu pescoço estava apertado, e o único alívio veio na forma de Laurent,
que Beast o puxou para perto, para um abraço apertado.

— Eu estive com tantos caras, mas não quero mais ninguém. Eu quero
você. Eu nunca conheci alguém assim.

O profundo suspiro de Laurent fez cócegas no pescoço de Beast. — E


nunca percebi que o amor é o bem mais valioso do que a liberdade. Você é
tudo para mim. Mesmo que tenhamos nascido separados por séculos, tenho
certeza de que nossas almas estão entrelaçadas.

A mente de Beast poderia ter parado naquele momento, estagnada como


se estivesse banhada pelo mais caloroso e cremoso dos pensamentos felizes.
Ele estendeu a mão para Laurent e esfregou os ombros, tão cheio de alegria
que ele não conseguia falar por vários momentos. — Eu-eu também te amo,
Laurent.

Laurent se inclinou para um beijo suave onde apenas seus lábios se


tocaram. — Você não vai gostar do que eu tenho para lhe dizer, mas isso deve
ser feito, ou eu sempre viverei na miséria. Se a minha escolha me deixa preso,
eu escolho isso. Ouça-me com atenção. King... Eu sei que ele é o seu pai,
mas ele é um homem cruel. O acordo que ele fez com o diabo exige que ele
mantenha os Kings of Hell aqui, onde o diabo mora, para que ele possa se
alimentar dos desejos primitivos que as pessoas preenchem. É por isso que
ele é contra a mudança apesar do perigo e do custo.

Beast olhou para ele, completamente atordoado, e mesmo que apenas


algumas semanas antes ele teria descartado divagações de uma pessoa
louca, agora elas faziam sua pele arrepiar.
— Mas isso não é tudo. Ele... — Laurent olhou nos olhos de Beast sem
piscar. — Ele vive com a sua vitalidade, meu amor. Toda vez que você se
machuca, ele recebe mais, e sempre que você está contente, ele é impedido
de retirar sua vitalidade. Hoje à noite, depois da meia-noite, quando você
completar trinta e três anos, ele poderá consumir toda a sua força vital e
acrescentá-la à vida dele. Ele vai te matar para ficar jovem e saudável Beast.

Beast balançou a cabeça em descrença. O súbito ataque de informações


o deixou confuso e mais uma vez preocupado com a sanidade de Laurent. —
Isso é... Ele é um idiota, mas ele é meu pai. Ele não faria isso. Ele está lá
fora, preparando uma festa para mim agora. — Beast disse, gesticulando na
direção geral da cidade, mas sua mente parou apesar de suas melhores
intenções. E se Laurent estivesse certo? E se ele não tivesse simplesmente
uma imaginação hiperativa?

Laurent acariciou o pescoço de Beast, e o pequeno sorriso triste em seus


lábios já estava puxando o coração de Beast. — Ele não está. Eu sei que o
que eu digo é verdade. Eu... O demônio me enviou aqui para ajudá-lo. —
Laurent franziu a testa e Beast sentiu o cheiro de fumaça antes mesmo de
vê-la. Hound também ficou alerta, e ele latiu para Laurent, levantando-se e
recuando ligeiramente. Vapores brancos começaram a penetrar nas roupas
de Laurent. — Eu não tenho tempo. Minha tarefa era garantir que você
estivesse aqui no seu aniversário. Mas eu não sabia o que isso significava.
Você tem que acreditar em mim, Beast! — Ele engasgou com a fumaça saindo
de sua boca.

Beast ficou de pé, puxando Laurent em seus braços em uma tentativa


desesperada de arrastá-lo para o carro mais próximo antes que ele
desmaiasse. Ele estava quente como se a febre estivesse consumindo seu
corpo, e Beast rapidamente o pegou, correndo para a porta. O cheiro de
enxofre penetrou em suas narinas quando ele encostou-se à porta, tentando
em vão pressionar a maçaneta da porta. Hound bateu os pés no chão,
ganindo impotente enquanto observava a cena se desenrolar.

— Laurent, por favor, fique comigo. — Beast sussurrou.


— Eu não tinha permissão para lhe dizer — Laurent disse seu corpo
tornando-se artificialmente leve, como se estivesse desaparecendo,
transformando-se em névoa. — Ele está me levando de volta. Era você ou eu,
e eu não podia mais imaginar uma vida sem você. — Ele passou os braços
ao redor do pescoço de Beast. — Você deve matar King, ou sair agora e nunca
mais chegar perto desta casa novamente. Prometa-me que você vai viver.

Beast caiu de joelhos, embalando o corpo de Laurent contra o peito dele.


Era leve como um bebê, como se a cada segundo uma parte de Laurent
estivesse em chamas. Frenético de medo, Beast segurou as bochechas de
Laurent e olhou em seus olhos. Ele não sabia mais onde estava. Tudo o que
contava era de alguma forma manter Laurent ao seu lado, para ainda segurá-
lo, mesmo que sua pele fosse queimar os dedos de Beast. Se ele pegasse fogo
mais uma vez para tirar Laurent de um carro em chamas, ele o faria,
independentemente das consequências.

— Não, por favor.

— Não deixe que ele tenha sua preciosa vida — as últimas palavras
foram apenas um sussurro, e Laurent pareceu querer falar algo mais, mas
seus lábios se transformaram em fumaça cinza, sua língua entrou em uma
súbita explosão de chamas... E ele se foi.

Beast tentava inutilmente agarrar a nuvem de fumaça que já se


dispersava ao redor dele, e os latidos de Hound surgiram como que por trás
de uma parede, enquanto o cachorro procurava freneticamente por Laurent.

Ele se foi.
Capítulo Vinte e SeteBeast

O quarto fedia a carne queimada. Um horrível odor de revirar o


estômago, que fez Beast se enrolar na porta e agarrar freneticamente a
fumaça pálida, o último remanescente de Laurent. E mesmo isso se
dispersou em segundos, subindo para o teto em nuvens de fumaça branca.
Com a mente embotada pelo choque, Beast tentou agarrar o ar, mas
quaisquer vestígios de Laurent logo desapareceram, deixando-o com um
vazio tão profundo que ele nem sequer conseguia encontrar a voz para gritar
mais. De repente, sua cabeça girou, e ele deslizou mais para baixo da porta,
ofegando enquanto suas articulações e músculos doíam. Ele estremeceu,
nauseado pelo ataque de fraqueza que estava roendo seus ossos.

O gemido suave de Hound foi à única coisa sensata que restou no


mundo de Beast.

Não poderia estar acontecendo. Como era possível que um homem que
ele segurou em seus braços pudesse se dispersar no nada? Ele acordaria de
novo em uma cama vazia, sem Laurent enrolado debaixo do braço? Mas não
importa o quanto Beast tentou não reconhecer o que acabou de acontecer,
suas mãos estavam vazias.

Um brilho de metal chamou sua atenção, e ele viu o alfinete de Laurent


no chão. Ele o pegou e aproximou de seu rosto, superado por um sentimento
de desgraça do qual nunca tinha experimentado antes. Não quando ele
perdeu a mãe. Não quando ele percebeu que nunca mais seria o mesmo
homem. Sua vida estava prestes a terminar, e ele não poderia ter Laurent ao
seu lado quando isso acontecia. Com a garganta inchada de um grito que ele
não podia verbalizar, Beast respirou fundo, esperando que de alguma forma
acalmasse seu corpo machucado. Foi tudo em vão, e a umidade quente
escorreu por sua bochecha e em seu cabelo.
O focinho expressivo de Hound se aproximou. O cão se inclinou,
primeiro afagando Beast com o nariz frio e depois lambendo a bochecha dele.
Ele não recuou quando Beast o puxou para perto para um abraço que ele
precisava desesperadamente. O cachorro continuava fazendo barulhos
confusos e gemidos nos braços de Beast, como se Hound quisesse expressar
o que Beast estava sentindo.

Uma fraqueza espalhou-se pelo corpo de Beast até os ossos,


transformando-se em dor dentro do peito, tão intensa, como se seus pulmões
estivessem entrando em colapso, seu coração prestes a parar. A única pessoa
que podia ver Beast debaixo das cicatrizes e tatuagens, tinha ido embora, e
com o diabo ignorando a petição de Beast, não havia como Beast avançar no
tempo e pegar Laurent antes que ele caísse.

As sobrancelhas de Hound se juntaram em uma expressão preocupada


quando Beast se forçou a levantar-se. Ele não se lembrava de se sentir assim.
A dor da pele queimada tinha sido horrível, tão horrível que seu cérebro
bloqueava Beast de lembrar, mas ele se lembrava que na época ele mal
conseguia se mexer, e até seus dedos permaneceram imóveis para evitar mais
rompimento de pele. A dor surda que Beast estava sentindo agora não era
tão ruim assim, mas era um desconforto constante e latejante que se
espalhava pelo corpo dele como um incêndio. Como ter um caso grave de
gripe, ainda que de alguma forma muito pior, como se seus músculos não
estivessem apenas inflamados, mas tivessem decidido parar de cooperar
completamente.

Andar até o banheiro era uma façanha em si, com os músculos trêmulos
e estranhas dores aparecendo do nada. Ele passou pelo quarto de Laurent, e
ver as roupas dobradas na cama fez Beast doer ainda mais. Mesmo quando
Laurent sabia que ele desapareceria, ele ainda tomava o cuidado de deixar
tudo tão limpo e arrumado.

Beast segurou a pia, ofegando para se firmar. A miséria estava tomando


conta de seu corpo, deixando-o estranhamente pesado e o cérebro de Beast
cozinhando dentro de seu crânio.
— Saia — ele disse engasgando com as palavras quando olhou para o
espelho rachado. Laurent o havia deixado descoberto de manhã, e agora os
próprios olhos de Beast olhavam para ele, molhados, escuros e tingidos de
vermelho. Atrás dele, Hound andava nervosamente pelo corredor, como se
quisesse seguir seu mestre, mas estivesse com muito medo.

Não houve resposta.

Ele levantou a voz, repetindo a mesma coisa várias vezes, mas a criatura
não respondia. Beast podia praticamente sentir cada tique de um relógio
invisível quando as palavras de Laurent afundaram lentamente. King estava
se alimentando dele. Era a força vital de Beast que o manteve jovem e
saudável. Por mais absurdo que isso soasse, não havia como negar que
quanto mais feliz Beast estava, King pior ficava. Depois de ver Laurent se
transformar em fumaça em seus braços minutos atrás, não havia nada que
Beast descartaria imediatamente como ficção. E então ele acreditou em seu
Laurent. Ele acreditou que King o usava há anos. Que ele propositadamente
deixou Beast desperdiçar sua vida.

Beast cerrou os dentes, apertando o alfinete de Laurent com tanta força


que suas pontas afiadas afundaram na carne de sua palma. Ele se inclinou
para frente e agarrou as duas portas do armário do espelho, puxando com
tanta força que a madeira rangeu. — Mostre a si mesmo, ou eu vou te
encontrar. Eu vou te destruir. Você não pode brincar com a minha vida!

Mas nada mudou. Não havia fumaça, nenhum barulho estranho,


nenhuma escuridão consumindo o quarto. O diabo havia decidido que Beast
não tinha importância, e a fúria que consumia o peito de Beast fez com que
ele socasse o espelho repetidamente. Sangue espirrou no seu rosto quando
um fragmento de vidro rasgou sua pele, e Beast tropeçou para longe,
reunindo suas forças, descansando com as costas contra a parede.

Ele deu a seu reflexo mais uma olhada no espelho quebrado e manchado
de sangue.

Se ele morresse esta noite, ele seria incapaz de destruir o ser infernal.
Ele não daria essa satisfação a King; e ele não iria deixar o sacrifício de
Laurent ser desperdiçado. Durante todo esse tempo, Laurent carregava esse
segredo em seu coração, incapaz de compartilhar o fardo. Isso deixou Beast
tão furioso, que apesar de todas as dores que consumiam seu corpo, ele saiu
do banheiro com um rosnado baixo que fez Hound recuar.

Beast olhou para o alfinete e lentamente o prendeu na frente. Se essa


fosse à única coisa que ele teria de Laurent, ele a levaria para a batalha. O
vazio dentro de seu peito estava lentamente sendo substituído pela
determinação, e se o ódio pudesse ser materializado, ele viria na forma do
coração de Beast.

Ele estava exausto demais para chorar ou gritar. Ele carregou duas de
suas pistolas, pegou sua faca favorita e saiu de casa com Hound atrás dele,
visivelmente assustado e sem vontade de abandonar seu mestre.

O clube estava quieto como um túmulo, e Beast agora suspeitava que


King tivesse de alguma forma atraído todos para completar seu trabalho.

Cada um dos passos de Beast ecoou no silêncio, apesar do furioso vento


e da chuva lá fora, como se os corredores vazios fossem um mundo próprio,
de alguma forma associado à tempestade que se estendia além das paredes
espessas.

Beast não se incomodou em acender a luz e marchou pelos corredores


vazios em completo silêncio, sendo interrompido apenas pelo som do clima,
e as batidas das pernas - seu som alto e o de Hound - batendo rapidamente
no chão de resina. As altas janelas eram um borrão de água corrente, e
árvores sombrias agitavam seus braços com cada forte rajada de vento.

Um raio atravessou o céu e, por uma fração de segundo, o corredor à


frente de Beast ficou claro como se fosse dia. Hound deu um gemido
quebrado e empurrou seu corpo pesado perto das pernas de seu mestre, mas
Beast criou raízes no chão. Havia alguém de pé no final do corredor, onde as
fronteiras da mansão histórica começavam. Beast só registrou a figura por
uma fração de segundo, mas ele viu que havia um spray de vermelho
brilhante na frente de um terno claro. Quando outro lampejo de luz trouxe o
corredor de volta à vida, o homem não estava em lugar algum para ser visto.

Beast correu com a sua arma pronta para uso, sua cabeça girando tanto
que estava afetando a precisão por trás dos movimentos de Beast. Mas
quando chegou à porta onde o estranho estava, e o trovão sacudiu as paredes
ao redor dele, não havia nenhum sinal de intruso, nenhum traço de sangue
no chão pálido, e nenhum som de passos se afastando para ser ouvido.

Seu coração tamborilou enquanto tentava lidar com a surrealidade de


tudo quando Hound passou correndo por ele, latindo alto, sem mais medo.
Beast o seguiu.

Os dois desceram as largas escadas como se toda uma cavalgada de


fantasmas estivesse atrás deles. Com a arma firmemente na mão, Beast
bateu na porta da frente com o ombro e abriu-a, atingido pelo cheiro de chuva
que não tinha nada de agradável. Em vez de fresco, parecia de certa forma
obsoleto, como se não fosse água das nuvens, mas os sucos do chão
chovendo sob eles. Séculos do mal - não, de algo primitivo que não conhecia
o bem - sendo absorvidos pelas nuvens acima deles e caindo de volta.

O trovão rolou sobre suas cabeças e, quando um relâmpago espalhou


seus dedos fantasmagóricos sobre o céu escuro, ele viu a moto de King
estacionada na frente das escadas, como se fosse uma carruagem esperando
pelo próprio William Fane. Beast saiu da casa e foi para a chuva que
instantaneamente o encharcou até os ossos, cada gota pesada de água como
um soco destinava-se a drenar suas forças lenta e metodicamente.

A moto com certeza não tinha estado aqui quando ele chegou com
Laurent, e sem uma razão para King ter deixado a máquina à mercê do tempo
horrível, era uma declaração.

Uma provocação.

Beast atirou para ele. Uma vez. Duas vezes. Três vezes. A moto caiu na
lama com um grito doentio de metal ferido, e ele observou sua respiração
superficial e os punhos apertados.

— Onde você está? — Ele perguntou em voz baixa, lentamente se


virando para contemplar as sombras escuras onde King poderia permanecer
escondido da ira de Beast.

Hound circulou a moto caída, cheirando-a mesmo quando o trovão a fez


afundar e eriçar, como se o perigo fosse iminente.
As colunas de árvores forneciam abrigo para sombras escondidas além
dos ramos em forma de arco, e quando Beast se virou confuso com os truques
de luz e escuridão, quase parecia que ele estava cercado pela arquitetura, e
não pela natureza, e cada local que o brilho fraco não tocava, poderia
esconder um monstro prestes a pegá-lo.

Beast ofegou, sentindo seu coração acelerando a cada segundo, e


quando algo brilhou na frente do prédio, ele se virou pronto para lutar. As
luzes estavam acesas nos apartamentos de King no segundo andar. A janela
alta era a moldura perfeita para mostrar os monstros mais bonitos, cuja
silhueta escura se movia languidamente, como se King tivesse todo o tempo
do mundo.

O telefone de Beast tocou.

Ele pegou-o freneticamente, percebendo que já eram onze e meia. Para


onde foi todo esse tempo? Parecia que há apenas um minuto ele tinha duas
horas até a meia-noite.

A linha rangeu, mas a voz baixa que se esgueirou no ouvido de Beast


ficou clara como o dia. Até mesmo a voz de King era de alguma forma mais
profunda, gutural, maculada pela ganância. — Eu esperei por isso por tanto
tempo.

Beast podia sentir seu pulso até em suas gengivas, e ele levantou a
arma, atirando na janela.

A sombra se encolheu para longe do vidro que explodiu em cacos, mas


depois King riu ao telefone como um maníaco. — Eu posso sentir que você
está fraco. Você pode até subir as escadas para me pegar? Você não tem ideia
do quão incrível eu me sinto agora. Eu acho que realmente tenho um tesão.

Beast deu um passo à frente, mas seu corpo balançou, como se


empurrado por mãos invisíveis tão subitamente que quase tropeçou em seu
próprio pé. Recuperando o fôlego, ele se obrigou a correr de volta para a casa,
e ainda o fato de que se segurar em uma parede proporcionava tal conforto
já estava enchendo o coração de Beast com preocupação. A primeira arma
de fogo estava sem munição, então Beast a jogou no chão. Ele não teve tempo
para encontrar balas de reposição.
— Foda-se você. Eu sei o que você é. Você não vai fugir! — Ele rosnou
para o aparelho, passando pela porta. A presença de Hound, cujo corpo
semelhante a um barril passou por ele e esfregou contra os joelhos de Beast,
foi mais um alívio do que ele gostaria que fosse.

Ele poderia fazer isso. A velha escadaria que o levaria diretamente ao


King estava a poucos passos do outro lado do corredor, serpenteando ao
redor da horripilante estátua de gárgula como uma serpente. Respirou fundo
e se obrigou a subir, sabendo que poderia ser observado. Ele não daria a King
à satisfação de vê-lo lutar.

Cada passo foi um desafio para as pernas de Beast, que pareciam ter se
transformado em chumbo. Nunca em sua vida ele se sentiu tão fraco. O chão
gritou para ele, e com a mente ficando cada vez mais nublada, quanto mais
subia as escadas ele mal se movia, uma neblina se instalou em seus olhos.
A última vez que ele sentiu algo parecido com isso foi quando ele acordou de
sua cirurgia e a anestesia geral ainda estava presente em suas veias. Ele
queria apenas se enrolar e descansar, mesmo que por pouco tempo, mas
sabia que no momento em que deixasse perder o foco, um momento de
fraqueza se transformaria em inquietação eterna.

O corrimão pareceu afastar seu corpo preto e agora se parecia com uma
cobra, e quando finalmente chegou ao patamar, quase esperou que sibilasse
para ele. Ele não deixaria este edifício diabólico sugar toda a vontade de viver
dele. O sacrifício de Laurent precisava ter significado. Beast prometera
vingança, e ele a soltaria em todos os monstros escondidos nas paredes,
mesmo se isso o matasse.

King exalou em algum lugar acima de Beast. — Eu tenho que dizer que
manter todos esses segredos para mim foi exaustivo. As constantes
discussões com sua mãe sobre por que não podíamos sair daqui, porque eu
não queria que você fosse para a faculdade, blábláblá. Mas eu sempre faço
do meu jeito, e devo dizer que a energia que eu bebi de você na última hora
passada parece ainda mais forte do que depois que sua mãe morreu, e essa
foi requintada, eu posso disser isso.
Foi como um soco no seu estômago, e a bota molhada de Beast deslizou
para fora da borda do degrau, fazendo-o tropeçar e cair com força em um
joelho. Hound gemeu e empurrou seu focinho macio contra o pescoço de
Beast, inconsciente da profundidade do horror que estava se desdobrando
ao redor deles. Beast sabia que King não tinha sido um bom marido para sua
mãe, mas falar de sua morte de forma tão prazerosa estava além de qualquer
coisa que ele poderia ter imaginado.

— Cala a boca. Cale-se!

— Seu garoto estúpido, os Dark Riders nunca a atacaram! — King riu


tão alto que sua voz fez furos nos ouvidos de Beast enquanto ecoava pelas
paredes antigas. — Eu a matei, porque ela queria te afastar. E eu não poderia
ter meu suprimento vivo de esteróides indo a lugar algum; poderia? E quando
você queimou? Foi inestimável!

A respiração de Beast ofegou, e ele se inclinou para frente, descansando


a testa em um dos degraus enquanto a sua força era drenava para fora dele
como o sangue de uma aorta cortada. Seus olhos ardiam, fechando apesar
de não querer, e a necessidade esmagadora de se deitar - mesmo que por
pouco tempo - pesava o corpo de Beast, fazendo-o afundar na madeira polida
que cheirava a algum tipo de produto de conservação e sujeira. Ele estava
afundando.

Hound não deixaria. O cachorro agarrou a manga de Beast e puxou-a


violentamente, forçando Beast a manter os olhos abertos. No canto do
patamar havia um relógio de pêndulo que Beast tinha certeza de que não
estava lá antes.

Tic tic.

— Você é patético. Pensar que houve uma época em que eu estava com
ciúmes de você, que eu me preocupava que meu sol estivesse morrendo
enquanto o seu estava prestes a subir... — A voz de King soava mais aguçada
agora, e Beast demorou a entender que não havia mais nada bloqueando o
som. Ele abriu os olhos e olhou ao longo das escadas girando em torno de
um espaço vazio no meio, todo o caminho até onde a escada fez outra curva
para subir acima da cabeça de Beast. King estava encostado ao corrimão,
mas quando Beast se movia, King também se escondia parcialmente atrás
da madeira velha. O covarde provavelmente ainda estava cauteloso com a
outra arma de Beast.

A onda de raiva era como a adrenalina fazendo o coração de Beast bater


com firmeza novamente. Arrefecido pela umidade da língua de Hound, ele se
levantou e ficou de quatro quando o corrimão se moveu ligeiramente sob o
seu peso com um rangido feroz. Seu peito era um grande e ardente centro de
dor quando Beast conseguiu se ajoelhar na escada em frente a King,
recuperando o fôlego na esperança de que, apesar da horrenda leveza em sua
cabeça, seu coração batendo freneticamente não desistisse.

Ele estendeu a mão, tentando agarrar King, mas quando ele se moveu,
sua outra arma caiu pelas as escadas. Beast olhou para trás, a imagem
capturada por seus olhos não seguindo seus pensamentos rápidos o
suficiente, e ele uivou de desespero quando percebeu o quão longe a arma
estava. Um lance inteiro de escadas abaixo dele.

O relógio ainda estava correndo. Ele não podia perder tempo para
recuperá-la. Não agora, quando King estava tão perto.

King colocou as mãos no quadril e balançou a cabeça com um sorriso


estampado nos lábios. — Você sabe que seu anjinho estava nisso desde o
começo, certo?

— E agora ele se foi. — Beast sussurrou pegando o alfinete. Queimando


com um calor agradável que fluiu em seu corpo como uma onda de energia
líquida para envolver o coração dolorido de Beast em um luxuoso casulo.
Beast se arrastou mais dois passos para cima, mão firme no corrimão que de
repente não precisava tão desesperadamente quanto momentos antes. Ele o
soltou, antes que o instável corrimão se movesse ainda mais.

A batida frenética da chuva contra o telhado acima escondia um ritmo


marcante para ele seguir. Quando Beast pisou no patamar, na luz que
entrava pela janela alta, ele só tinha olhos para o seu alvo.

— Realmente uma vergonha, porque eu estava planejando manter o


garoto por perto. Lábios covardes como os dele poderiam encontrar utilidade
no clube.
— Ele me amava. — Beast disse com confiança, com os dentes cerrados.

— Você? Você tem sorte que o se seu cão consegue amar esse seu rosto
horrível. — King riu, mas deu alguns passos para trás, assustado quando as
pequenas janelas na parte superior da escada se abriram uma a uma,
deixando entrar o vento uivante e a chuva fria.

A chuva correu para dentro em um jato de água empurrado pela


tempestade. O frio tirou a sonolência da mente de Beast, e ele subiu as
escadas alimentado pela raiva que crescia dentro dele. Ele não estava de
modo algum rápido, e cada movimento parecia que sua pele estava prestes a
se romper, mas seus olhos estavam fixos em um objetivo e, com Laurent fora,
ele não tinha mais nada a perder.

— Ele me amava — ele repetiu, empurrando para frente quando o raio


atingiu uma árvore logo depois da casa. Explodiu com fogo, transformando-
se em uma tocha gigante. No brilho de suas chamas, Beast viu algo se mover
acima de King, na entrada do espaço do sótão, além do velho telhado. O
cheiro de madeira queimada e enxofre se espalharam em nuvens de fumaça
quando a escuridão se expandiu no canto do patamar no topo da escada, o
fogo apagado queimando em torno de uma sombra escura com longos chifres.

O latido do cão rasgou o ar, como se ele estivesse prestes a saltar no


intruso e afundar os dentes na pele chamuscada.

— Eu até acho que ele deve ter tido algum amor por você, mas também
sabemos que ele era tão idiota quanto uma pedra se escolheu voltar para o
mundo dele, em vez de passar um tempo aconchegante no meu pau.
Especialmente se você considerar que ele havia dado a lealdade dele, e não
te salvou de qualquer maneira. — O sorriso de King se alargou quando ele
olhou para o patamar acima dele, onde uma criatura parecendo um gigante
sem gênero mergulhou no alcatrão. — É por isso, Beast! O diabo precisa de
mim, e nenhuma de suas balas pode me tocar. Eu tenho proteção infernal!

— Sério? — Beast sibilou, dando mais dois passos. Ele ficou surpreso
que o ser malévolo que os observava de cima não lhe causava medo. Apenas
observava Beast e King com um interesse calmo, como se fosse um cientista
e eles - dois ratos em uma gaiola. — Dê-me sua arma então, e nós veremos.
King mais uma vez olhou para a criatura que tinha olhos tão quentes
que pareciam brancos. — Por que não? — Ele puxou sua Magnum para fora
do coldre e jogou a arma pelas escadas. Aterrissou três degraus acima de
Beast, com o cano apontando para a cabeça dele. — Você tem... — ele olhou
para o relógio. — Eu não sei. Trinta segundos?

Era como ter um laço finalmente colocado no pescoço de Beast. Não


tinha visto ou ouvido o grande relógio parado correndo alto?

Ele sincronizou com o seu coração, e quando ele correu para pegar a
arma, cada batida dentro de seu peito soava como um número.

14

13

Ele pegou a arma, destravou e atirou.

O corpo de King recuou, e ele deu uma risada alta, encostando-se ao


corrimão, que se moveu ligeiramente sob seu peso. Vermelho se espalhava
na frente de sua camiseta branca, e na luz fraca, com o vento despenteando
seus cabelos e roupas, o sangue encharcando o tecido fazia parecer que algo
estava tentando sair do corpo de King.

O riso de King desapareceu como se nunca tivesse ressoado nas


paredes, e ele subiu alguns degraus das escadas em pânico, passando pela
criatura escura e cornuda. — Você precisa de mim! — Ele gritou. — Proteja-
me!

10

Beast estava perdendo toda a energia, e quando ele tentou atirar


novamente, seu aperto no Magnum vacilou, e caiu nas escadas. — Pegue ele!
— Ele pediu a Hound, e era tudo que o cão precisava para agir.

Os olhos de King se arregalaram, e ele alcançou a parte de trás de sua


calça, onde ele sempre mantinha uma faca, mas o volume pesado de Hound
subia as escadas, como se não pesasse nada, e colidiu com King. O impacto
fez com que ambos tropeçassem no corrimão vacilante. O rangido repugnante
de madeira quebrando fez Beast cair, e na luz brilhante da tempestade ele
viu a parte de trás da cabeça de King encontrando o degrau duro do outro
lado do espaço no meio da escada em espiral. Beast estava com os braços em
volta da forma grossa e peluda de seu animal de estimação, segurando-se
enquanto seu peso fazia pressão na sua coluna, mas King caiu, deixando
para trás uma mancha de sangue e um pouco de cabelo na ponta do degrau.

Beast puxou Hound de volta para a segurança, mas o grito quebrado de


seu pai ecoou na escada como se fosse uma caverna vazia na entrada do
inferno. Um som doentio de algo rachando e um esguicho de uma só vez foi
seguido pelo barulho de madeira quebrando, embora a mente de Beast
sugerisse que pudessem ser ossos quebrados e carne mutilada. E então,
nada.

Hound choramingou, soltando-se do abraço e balançando a cauda tão


rapidamente que o movimento fez todo o seu corpo parecer errático, mas
Beast não lhe deu atenção e voltou para o vazio deixado pela grade quebrada.

Ele olhou para baixo e, no vazio circular no meio da escada, viu King
pendurado sobre a estátua de gárgula como uma marionete cujas cordas
foram cortadas. Uma das asas da estátua estava caída e a camisa cara e nova
de King estava rasgada. O vermelho brilhante lentamente fazia gráficos entre
os dois chifres gêmeos da estátua que agora emergiam do peito de King.

Quando o relógio atrás dele atingiu a meia-noite, seu sino baixo


ressoando através do ar repetidamente, o corpo de Beast começou a queimar.
Ainda olhando para baixo, até o final da escada, ele sentiu suas articulações
pararem de ranger, seus músculos mais fortes a cada minuto. A forma
quebrada dos três andares abaixo estava lentamente segregando sangue por
todo o chão branco, e no momento em que o relógio parou de soar, a mente
de Beast ficou afiada.

Ele estava exultante.

Ele ficou de pé como se não lhe custasse energia alguma.

Nada doía e cada sensação era de prazer.

Nunca em sua vida ele se sentiu tão bem. Ele estava prestes a acreditar
que poderia voar, apesar de toda a miséria ainda em seu coração, ele sufocou
uma risada que não pôde conter.
O monstro diabólico o observou dos poucos degraus acima e não parecia
que estava prestes a vingar a morte de King. Em vez disso, ele inclinou a
cabeça ligeiramente, olhos sem pupila fixandos em Beast.

Deixou escapar um zumbido baixo.

Beast olhou para cima, lentamente virando o corpo para encarar a


criatura. Mesmo com o prazer de superar todos os seus sentidos, ele não
conseguia se livrar da lembrança de que esse era o ser que havia tirado
Laurent dele.

— Você não o protegeu.

— Eu nunca prometi isso a ele. Eu só prometi que você deveria estar


aqui aos trinta e três anos de idade, e que eu permitiria a troca de energia —
ele falou em uma voz que havia deixado os pelos da Beast eriçados. Como se
não se importasse que estivesse dizendo a Beast que estava pronto para
matá-lo apenas alguns segundos atrás.

Beast respirou fundo, tentando limpar a cabeça do ódio, do pesar e do


prazer de uma só vez. O corpo de Hound bateu na lateral de seu joelho e
ficou ali, como se estivesse aterrando Beast na realidade. — Ele não vai
manter o seu negócio agora.

— Ele não vai. — Os lábios negros se espalharam em um sorriso


anormalmente amplo tão rapidamente que pedaços deles caíram, revelando
a pele de lava e fumaça saindo de trás dos dentes de carvão. — Mas eu tenho
você. E você tem me importunado o tempo suficiente. Sente a energia dentro
do seu corpo agora? Eu posso inflamar ainda mais e restaurá-lo à sua antiga
glória, exatamente como você deseja. O que eu preciso de você é uma
promessa que você fará por mim o que seu pai fez. Mantenha os pecadores
satisfazendo sua luxúria nesta casa. Mantenha o conflito aqui, mantenha o
ego vivo e inebriante. Mantenha este lugar ocupado. O mantenha vivo e
encharcado de prazer carnal para mim.

Beast respirou fundo, com sua mente inundada com imagens de seu
passado, com imagens do futuro que ele sonhara quando jovem, quando
tinha um rosto que fazia todo mundo vibrar de luxúria. Se ele tivesse a
chance de se tornar novamente o homem que ele foi uma vez, sua vida seria
completamente diferente. Ninguém o mandaria embora quando ele
escolhesse patrocinar um negócio, as meninas tirariam fotos secretas dele
na praia, ele deixaria as pessoas inquietas com sua aparência atraente, e
todo mundo iria querer ter um pedaço dele.

Laurent nunca iria deixar.

Sua mente parou, e com um rubor quente se espalhando pelo peito, ele
olhou para o alfinete preso em seu colete de couro.

Seu coração se apertou de dor, e ele respirou fundo algumas vezes para
se acalmar. — Não. Não é isso o que eu quero. Eu quero Laurent. Devolva-o
para mim. — Ele disse com firmeza, olhando para o demônio com nova
determinação.

O sorriso do monstro vacilou, e ele assobiou, cuspindo faíscas quentes


vermelhas em Beast. — Ele quebrou nosso acordo!

— É pegar ou largar. Eu não dou a mínima para o seu acordo com ele.
Você tem que me deixar morar com ele, ou este lugar será abandonado
enquanto permanecer nas mãos da minha família. E eu teria filhos só para
manter este lugar vazio.

O demônio bufou e nuvens de fumaça irromperam de mais de um lugar


sob a pele do rosto. — Você está tentando me ameaçar, mortal?

O chão parecia ficar mais quente sob os pés de Beast, e Hound deu um
latido de aviso.

Beast lambeu os lábios. — Sim. E sem truques também. Nada de outros


pactos que visem prejudicar a mim ou a Laurent. — Ele devia estar chegando
a algum lugar, porque a coisa parecia visivelmente agitada.

— Mas você só vai pegá-lo e nada mais! — Ele rugiu, e Beast estava
desconfiado de não dar um passo para trás no abismo, como seu pai tinha
feito.

— Só isso. — Beast disse firmemente, observando a criatura sem medo.


Ele se sentiu imortal. — Eu e Laurent devemos viver nossas vidas juntos em
boa saúde, e em troca vou tornar este lugar ainda mais pecaminoso do que
era no tempo do meu pai.
O demônio recuou e bateu na parede com suas longas garras. O gesso
parecia ondular, e a superfície velha e lascada se transformou em um espelho
tão largo e alto quanto à escada.

— Vá buscá-lo então.
Capítulo Vinte e Oito
Laurent

De trás das barras de madeira da gaiola montada nas costas de uma


carroça puxada por cavalos, a vida com Beast parecia um sonho elaborado.
Enrolado no pequeno espaço atrás dos sacos cheios de milho seco, ele viu o
sol se pôr acima da densa floresta. Um de seus captores conduzia a carroça
enquanto o outro cavalgava ao lado deles em um cavalo branco e magro.

O cheiro de ar fresco não podia acalmar Laurent, nem o sol lindo. Em


poucos dias, ele iria ser enforcado pelo assassinato de William Fane, e não
havia nada que ele pudesse fazer para convencer seus carcereiros que ele
estava agindo em autodefesa uma vez que a governanta de Fane escondeu o
braço de Marcel para esconder o terrível segredo de seu mestre.

As únicas notas que ele encontrara sobre a questão de seu


enforcamento eram vagas, mas falavam muito, mesmo que ele nunca tivesse
encontrado a data exata da execução. Ele tinha sido preso, agora estava
sendo transportado para outro lugar, e logo seria enforcado.

A espera era pior do que a própria morte, que, por mais horripilante que
fosse, seria um breve acontecimento.

As árvores sussurravam suavemente acima de sua cabeça enquanto a


carroça percorria a estrada estreita pela floresta, deixando Laurent respirar
o aroma da vida vegetal livremente pelo que provavelmente fosse à última
vez. O ar frio foi um choque depois de passar o verão com Beast, mas estavam
em abril de 1805, e ele cuidadosamente fechou o casaco em torno de seu
corpo dolorido.

Os criados da casa de Fane a princípio o prenderam, depois vários dos


jovens da casa vieram prestar seus respeitos com punhos. Não importa o
quão cruel Fane fosse como empregador, e sem herdeiro conhecido da
propriedade, o futuro de todos que trabalhavam lá agora estava preso em um
fio solto.

Laurent pressionou as costas frias da mão contra a pele inchada em sua


mandíbula. Ele só podia esperar que, quando enfrentasse a multidão reunida
para sua execução em Portland, ainda tivesse todos os dentes. Mesmo antes
de estar diante do júri em Brecon, não havia absolutamente nenhuma dúvida
em sua mente de que ele morreria por ter a audácia de lutar por sua vida a
todo custo. Sem capital para contratar um advogado decente, um escravo
sem família para ficar ao seu lado, ele estava totalmente sozinho em sua
miséria e não podia contar com a proteção de ninguém.

— Você viu o rosto dele? — Um dos homens disse como se Laurent não
estivesse lá para ouvi-lo. — Ele tem alguns hematomas, mas seus lábios
ainda estão gordos. Vou colocá-los em bom uso hoje à noite.

Os cabelos de Laurent se arrepiaram e seus olhos se arregalaram


quando os dois homens riram. Não haveria fim à sua indignidade? Este era
realmente o preço que ele tinha que pagar para se defender? Ou era um preço
que ele estava pagando por ter feito um acordo com o diabo em primeiro
lugar?

Ele enrolou os ombros e abaixou a cabeça em uma tentativa inútil de se


tornar invisível.

O homem a cavalo bateu a bengala contra as barras da gaiola de


madeira, surpreendendo Laurent ao olhar para ele. — O gato comeu sua
língua? Seja legal, e talvez nós lhe daremos algo além do pão velho.

Falar de comida só lembrava Laurent de como estava com fome. Ele


olhou para o homem, achando difícil reunir suas palavras. Ele se acostumou
tanto a viver em um mundo onde um homem gigante o amava e sempre tinha
suas costas, mas se ele tivesse que trocar sua vida pela a de Beast, então
que assim seja.

— Posso, por favor, tomar um pouco de água?

Os dois guardas se entreolharam. O que estava a cavalo pegou uma


bolsa de água presa à sela e tomou um gole antes de colocá-la no lugar em
que estava. — Está quente. Você precisa merecer ao pararmos a noite.
Laurent suspirou alto e encostou a cabeça nas grossas barras de
madeira. Tudo o que ele tinha para se consolar era o conhecimento de que o
seu amado teve a chance de lutar por sua vida. E ele certamente derrotou
King ou foi embora. Beast era mais inteligente e mais forte do que seu pai
cruel.

Um soluço saiu da garganta de Laurent de repente quando ele se


lembrou da citação de Dante sobre o antebraço de Beast. — Não há tristeza
maior do que recordar a felicidade em tempos de miséria. — Laurent nunca
mais sentiria a alegria que transbordava no coração quando o homem que
amava sorria para ele.

Os homens demoraram dois segundos para começarem a rir, e um deles


o cutucava com um pau o ombro de Laurent, provocando-o como se ele fosse
um animal selvagem, tirado de sua casa para servir de divertimento a uma
turba cruel.

— Olhe para isso. Ele é realmente uma garota por dentro.

Cada pedaço de Laurent queria atacá-los, gritar que eles não sabiam
onde ele estava, e o que ele precisava fazer, mas mesmo que a morte o
esperasse no final da estrada, ele não o fez. Ele não queria ser espancado
novamente. E se esses homens escolhessem, eles poderiam quebrar cada
osso de seu corpo.

Ele esfregou os olhos e empurrou o bastão sem muita convicção.

O sol já estava baixo e os homens pararam de incomodá-lo por um


tempo depois disso, ambos claramente decididos a chegar a uma estalagem
antes que escurecesse. Laurent observou a luz virar um tom laranja escuro,
onde batia em suas mãos amarradas, e ele simplesmente esperou trancado
em sua própria cabeça miserável com mais segurança do que jamais poderia
estar na gaiola.

Alguma coisa sussurrava entre os arbustos entre as grossas árvores que


cresciam dos dois lados da estrada, e o cavaleiro recuou para levar a
montaria até o outro lado da carroça e olhar para a floresta.

— Será um cervo? — Perguntou o condutor.


— O Diabo sabe.

— Pare aí mesmo! — O condutor gritou, tirando Laurent de seus


pensamentos.

Laurent se virou para olhar, mas os sacos de milho obscureceram sua


visão. O estranho tinha a sombra de um gigante, não só longo, mas quase
artificialmente largo no peito e nos ombros. Laurent apertou os olhos quando
o sol machucou seus olhos, mas mesmo assim ele pôde ver que o homem
não usava casaco, e a camisa se agarrava ao corpo dele criando uma silhueta
claramente fora de moda. Fora de moda para 1805.

A garganta de Laurent se apertou quando sua mente lhe disse que


conhecia aquela figura, mas ele se recusou a compreender as esperanças
vazias.

— Afaste-se, eu disse! — O condutor repetiu, e o som de metal


tilintando deixou Laurent com a sensação de alfinetes e agulhas na pele.

— Podemos fazer isso da maneira mais fácil ou difícil. Desista do seu


prisioneiro. — A voz de Beast fez Laurent ficar de pé tão rápido que ele bateu
a cabeça no teto baixo de sua gaiola.

— O que, em nome do demônio, é você? — Perguntou o cavaleiro,


apontando a pistola para Beast. Laurent ofegou e estava prestes a avisar
Beast do perigo quando a pistola mais avançada de 2017 disparou primeiro.
O homem que atormentou Laurent tão cruelmente não há muito tempo deu
um grito abafado e caiu de sua montaria com um rangido tão horrível que
certamente estava morto com o pescoço quebrado, mesmo que a bala de
Beast ainda não tivesse terminado sua vida.

O condutor hesitou, atrapalhando-se com sua própria arma, mas algo


estava errado, e quando o corpo titânico de Beast se aproximou, ele saltou
freneticamente da carroça, com a intenção de se salvar.

Mas Beast era mais forte, maior, mais rápido, um tipo mais desenvolvido
de ser humano criado com carne e super alimentos servidos em plástico, e
ele desceu sobre o homem como uma harpia faminta por sangue.
Laurent gritou quando Beast virou a cabeça do homem para o lado com
um ruído desagradável que fez todas as articulações do corpo de Laurent
doerem. Quando Beast liberou o corpo flácido, caiu sem vida no chão.

Os olhos de Laurent encontraram os de Beast, e a expressão


determinada e furiosa de um homem pronto para fazer qualquer coisa que
precisava ser feito se suavizou, como se houvesse um interruptor de luz para
Beast, que apenas Laurent soubesse como operar.

— Meu Beast... — Laurent sufocou incapaz de encontrar sua voz.

Beast lentamente se levantou, e neste ângulo o sol não poupou Laurent


de qualquer detalhe da forma bonita de seu amante. As citações de latim no
rosto de Beast eram tão claras sobre as cicatrizes, seu peito poderoso inchava
com cada respiração profunda, mas os claros olhos azuis se tornaram o único
foco de Laurent quando Beast deixou o corpo para trás e enfiou as mãos na
gaiola, puxando Laurent para perto da boca dele, entre as barras de madeira.

Se ao menos as mãos de Laurent estivessem livres, ele abraçaria de volta


com tanta força que deixaria hematomas. Em vez disso, ele teve que se
contentar em sentir o toque de Beast e acariciar seu peito com os lados de
suas mãos. Rosto enterrado na frente da camisa de Beast, ele respirou fundo,
e depois de dias de dor, fome e degradação, o cheiro familiar da colônia de
Beast trouxe lágrimas aos seus olhos. Mas, apesar do doloroso desejo de
simplesmente se deixar levar pelo que lhe foi dado, ele não podia condenar
Beast a seu próprio destino.

— O que você está fazendo aqui? Você não deveria estar aqui, Beast.
Esta não é a sua hora, você não vai prosperar aqui. E eu serei um fugitivo.
Isso tudo não é como deveria ser. — Ainda assim, Laurent descansou sua
bochecha contra a cabeça de Beast.

Beast exalou e torceu o pescoço, capturando os lábios de Laurent em


um beijo doce e gentil que fez Laurent desejar esquecer sua razão e se deixar
ser feliz por aqueles poucos segundos a mais.

— Não. Não, Laurent. Vou te levar de volta. Você está voltando para
casa.
Laurent observou-o, estupefato, mas ainda lhe deu outro beijo. — O que
você quer dizer? Você certamente não pode... Eu não entendo.

Beast lambeu os lábios e recuou, soltando Laurent antes de se afastar


dele. A marca na parte de trás do pescoço de Beast fez sua pele parecer couro
finamente trabalhado, a impressão quase perfeita demais para ser real.

As engrenagens do cérebro de Laurent estavam enferrujadas, mas


começaram a se mover. — Você fez… um acordo? Para mim? E quanto King?

Beast apertou os dentes, aproximando-se do corpo do condutor. Ele


enfiou as mãos no casaco do homem e pegou a chave grande usada naquela
manhã para prender Laurent na gaiola.

— Morto. Eu sou o novo Rei.

— Viva o Rei? — Laurent não sentiu dó de nenhum dos cadáveres,


relembrando as coisas terríveis que aqueles homens prometeram fazer a ele
à noite. Assim que Beast destrancou a jaula, Laurent saiu cambaleando e
pressionou seu corpo contra o peito firme de Beast. Em nenhum lugar ele se
sentia tão seguro quanto naqueles braços.

Beast beijou sua têmpora, mas foi rápido em cortar a corda ao redor dos
pulsos de Laurent. Seus dedos eram tão gentis quando deslizavam sobre as
manchas escuras nas partes visíveis do corpo de Laurent. Seus olhos azuis
eram brilhantes e inocentes enquanto olhavam para ele. — Só se você vier
para casa comigo. Você vai ficar comigo para sempre? — Ele perguntou à luz
da morte.

Laurent assentiu ansiosamente e colocou os braços ao redor da cintura


de Beast. Seu coração disparou tão rápido que ele pensou que poderia
romper com a pura felicidade. — Não quero nada mais.

Beast exalou e deslizou sua mochila pelo braço, abrindo-o rapidamente


para pegar um pacote de couro. O rosto de Laurent corou com o calor antes
mesmo de Beast desdobrar o colete bonito que tinha sido feito especialmente
para ele.

— Então eu acho que você deveria ter isso.


Laurent se virou para que Beast pudesse vesti-lo e sorriu quando olhou
por cima do ombro. Ele não precisava ver os remendos na parte de trás da
roupa para saber o que lia. — Seu.

— Para sempre. — Beast disse, pegando a mão de Laurent. Com a


outro, ele tirou algo pequeno do bolso do jeans.

O espelho brilhou na mão de Beast, refletindo o sol da tarde, mas


Laurent ainda conseguiu roubar um beijo antes que a superfície de vidro
explodisse em fumaça e os sugasse para dentro.
Epílogo
Knight

Knight levara muito bem a coisa toda de viagem no tempo. A evidência


estava lá, e tão louca quanto fosse à verdade, ele tinha entrado a bordo assim
que ele foi apresentado com a prova material no túmulo sem marcação ao
lado da pedra. Ver um demônio com chifres aparecendo no espelho e
enchendo a sala toda de fumaça era um novo nível de loucura.

Então, novamente, parecia que todos os membros do clube estavam


completamente certos de que seu novo Prez não estava bem na cabeça
quando ele disse que tinha feito um pacto com o diabo, como seu pai antes
dele, e que o pacto envolvia muita devassidão no clube.

O fato de todos terem realmente visto o demônio era problemático, mas


tornava tudo mais fácil de engolir. Ainda demorou vários segundos para os
homens se encararem com a mesma pergunta em seus olhos: Você também
viu aquilo?

Knight pigarreou e bateu com os dedos na mesa. — Você se lembra de


quando este lugar ainda era um asilo, eles relataram uma alucinação em
massa sobre um demônio andando pelos corredores?

Joker gemeu e massageou suas têmporas. — Então você está dizendo


que eu deveria estar transando aqui mais vezes ou o diabo vai te matar?

Davy bufou, ajustando sua perna onde foi estava levantada em um


banquinho. — Certo? Maldito pesadelo.

Rev deu um tapinha nas costas dele. — Isso dificilmente é um problema.

Fox sacudiu a cabeça com uma carranca. — Nós também temos essa
merda? Como super poderes ou algo assim?
Beast suspirou. — Eu não tenho nenhum poder. Eu tenho Laurent. E
se você quiser negociar com aquela coisa, faça por conta própria, embora eu
não ache que seja uma ótima ideia — ele disse.

Beast não revelou a verdade sobre King a ninguém além de Knight, e


enquanto Knight concordou que seria melhor se os patches acreditassem que
o diabo matou King por causa de um pacto quebrado, ainda assim, ele se
enfureceu ao ver todos os tributos ao seu antigo Prez.

— Estou bem, muito obrigado. — Knight disse e riu do jeito de Joker.


— Vamos apenas ter que foder tanto que mal haverá tempo para mais nada.

Gray parecia contemplativo em seu canto, mas reconheceu o que estava


sendo dito com um aceno de cabeça. Talvez ele reavaliasse seu próprio
celibato prolongado, porque se ele estivesse transando com alguém, nenhum
dos membros sabia disso.

Beast respirou fundo. — Como já disse, não é tudo sobre foder, então
pare de se concentrar nisso como garotos adolescentes. O que isso significa
é que o clube precisa ficar aqui. Nosso futuro está aqui. Nós mantemos festas
e mantemos esse clube como sempre foi planejado. Um lugar para a liberdade
em todos os aspectos. Com o passar do tempo, tenho certeza de que
descobriremos mais sobre essa… Coisa, demônio, o que for, e então
poderemos agir como necessário.

Laurent se sentou ao lado de Beast apesar de não ter permissão técnica


para participar da Igreja, mas ele tinha mais informações sobre o ser secreto
que aparentemente possuía suas bundas, e depois de dizer tudo o que podia,
ele ficou quieto, apenas sentado ao lado de Beast, como o colete de
propriedade dele, um lugar que nunca queria sair.

Beast bateu os dedos contra a mesa e se inclinou para trás, observando


todos os membros. — Agora que vocês sabem de tudo, podemos votar. Vocês
querem que eu assuma no lugar de King? — Ele perguntou, olhando
fixamente para os rostos de seus irmãos. Seu prospecto, Jake não estava
presente por causa de seu status e porque eles não tinham concordado ainda
se ele deveria ser informado sobre o pacto em primeiro lugar. Por enquanto,
havia coisas mais importantes para lidar.
Knight foi o primeiro a declarar seu apoio, e quando cada membro
subsequente votou em Beast para se tornar o presidente do clube, a
atmosfera diminuiu. Gray era o último na fila, e o único dos homens cuja
decisão Knight não tinha certeza, mas ele também apoiou Beast com um
aceno manso.

Os ombros de Beast relaxaram assim que seu status foi confirmado, e


ele pegou o remendo do presidente no meio da mesa. Ele então decidiu que
queria que Rev, o mais velho e o mais confiável dos homens, mantivesse sua
posição de sargento de armas para o clube. Seu olhar, em seguida, vagou,
parando em Knight, que se recostou na cadeira, sem saber o que esperar.

— Você será meu VP? — Beast perguntou.

Calor queimou no peito de Knight. — Vamos escavar mais corpos?

Joker bufou. — Vocês vão trocar votos agora?

Laurent esfregou o rosto. — Não seria melhor deixar esses corpos para
o seu descanso eterno?

Knight franziu a testa. — Há uma história naquela sepultura sem


identificação!

Beast acenou com a mão. — Bem. Nós não temos nenhum carregamento
vindo este mês, e eu precisarei fazer meu próprio acordo com o Sr. Magpie
agora que o King foi embora. Podemos informar as autoridades desses órgãos
nesse meio tempo.

Nem todos estavam a bordo com a polícia farejando o clube, mas no


final do dia, todos sabiam que apenas alguns testes de laboratório
estabeleceriam os esqueletos muito mais velhos do que o clube de
motoqueiros e eliminariam qualquer suspeita.

Knight cruzou os braços no peito com um sorriso. Ele agora


propositadamente se inscreveria no fórum para os fãs de William Fane
colocar todas as evidências em seus rostos estúpidos. Especialmente aquele
Conde maluco, que tinha a porra do rosto de Fane tatuada no peito dele. Ele
mostraria a todos aqueles “Fanáticos” que tipo de homem o ídolo deles
realmente era, então não haveria dúvidas quanto ao papel de Laurent Mercier
nos assassinatos - ou melhor, a falta dele. Seu nome de família seria
finalmente limpo.

Gray olhou ao redor da mesa. — Com o Davy fora do jogo por um longo
tempo, King está morto… não está na hora de pensar em corrigir o status do
nosso prospecto? Apenas seis de nós estão em funcionamento. Há
simpatizantes, mas isso não é nem perto de ser o mesmo.

Knight riu. — Eu não sei. Ele parece amar ser um prospecto.

Joker jogou um isqueiro em Knight. — Você só gosta dele chupando seu


pau.

— Como se você não gostasse!

Beast bateu a mão na mesa. — Um passo de cada vez. Primeiro, o Sr.


Magpie e os negócios, depois um fluxo constante de festas, depois
escavações, e só então podemos pensar em Jake.

Knight poderia viver com isso. — Posso sugerir escavações primeiro


antes das festas, Prez?

— Não.

Knight encolheu os ombros. Valeu à pena tentar.

Fim.
Agradecemos pela Leitura :)

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