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PORTO VELHO
Outubro - 2018.
ANA PAULA PEREIRA
PORTO VELHO
Outubro - 2018.
POLITECNIA E EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA: uma análise do
contexto dos Institutos Federais de Educação Profissional, Científica e Tecnológica do Brasil
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
*
Graduada em Serviço Social pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN e cursando o
Mestrado Profissional ProfEPT do Instituto Federal de Rondônia.
2. BREVE CONCEITO DE POLITECNIA
É possível afirmar, com base em Brunow (2015, p.3) que o denominador comum do
entendimento do que seja Politecnia partiu da teoria marxista. Mesmo que Marx nunca tenha
escrito um livro ou mesmo um texto completo sobre educação, em suas obras estavam
presentes os fundamentos dessa concepção defendida pela perspectiva politécnica, que é a
perspectiva que tem como base o princípio da totalidade, de trabalho como princípio
educativo e da desfragmentação do conhecimento, perspectivas que são à base do pensamento
de Karl Marx.
Moura, et al. (2012, p.1060) reforça que na produção de Marx e Engels o tema
educação, ensino e formação profissional não foram tratados de forma isolada, mas, ao
contrário, as reflexões são direcionadas para a compreensão mais ampla. Assim, devido à
profunda ligação entre educação e trabalho produtivo que Marx estabeleceu que a educação
para a classe trabalhadora deveria compreender:
1. Educação Mental [intelectual];
2. Educação física, tal qual é dada em escolas de ginástica e pelo exercício
militar;
3. Instrução tecnológica, que transmite os princípios gerais de todos os
processos de produção e, simultaneamente, inicia a criança e o jovem no uso prático
e manejo dos instrumentos elementares de todos os ofícios (MOURA, et al, 2012,
p.1060).
Moura, et al. (2012, p.1060) afirma ainda que ao tratar de educação intelectual, física e
tecnológica, Marx está claramente sinalizando para a formação integral do ser humano, em
outras palavras, a formação onilateral.Essa concepção foi incorporada à tradição marxista sob
a denominação de politecnia ou educação politécnica, em virtude das próprias referências do
autor ao termo, assim como de grande parte dos estudiosos de sua obra. (MOURA, et al,
2012, p.1060).
Romão (2010, p. 33), assevera que a educação deve se voltar para a realização do ser
humano em sua omnilateralidade. Ou seja, de acordo com este conceito formulado por Marx,
o ser humano deve ser integralmente desenvolvido em suas potencialidades, por meio de um
processo educacional que leve em consideração a formação científica, a política e a estética.
Somente dessa forma, o ato pedagógico pode ser considerado emancipador e cumprir com o
seu papel de libertar os seres humanos sejam da ignomínia da ignorância e da miséria, ou
ainda da estupidez da dominação.
Já na concepção de Dermeval Saviani (1989, p.13) a noção de politecnia correlaciona-
se para a “superação da dicotomia entre o trabalho manual e o trabalho intelectual, entre a
instrução profissional e a instrução geral”.
Foi a partir desse ajuntamento inicial de artesãos que se deu a gênese da divisão do
trabalho, tendo em vista que ao especializar a produção, ou seja, cada trabalhador produzindo
uma parte do trabalho, possibilitou o aumento significativo da produção. Esse modo de
organização do trabalho ampliou-se e aprofundou-se no capitalismo, permitindo com o tempo
o desenvolvimento da indústria moderna (SAVIANI, 1989, p.14).
É nesse bojo que a ideia de politecnia se esboça, como um meio para corrigir tais
distorções. O termo politecnia, significa múltiplas técnicas, multiplicidade de técnicas, daí a
possibilidade de entendimento, equivocado, de que significa a totalidade das diferentes
técnicas fragmentadas, consideradas autonomamente. Todavia, Saviani explica que a noção de
politecnia
diz respeito ao domínio dos fundamentos científicos das diferentes técnicas que
caracterizam o processo de trabalho produtivo moderno. Diz respeito aos
fundamentos das diferentes modalidades de trabalho. Politecnia, nesse sentido, se
baseia em determinados princípios, determinados fundamentos e a formação
politécnica deve garantir o domínio desses princípios, desses fundamentos.
(SAVIANI, 1989, p. 17).
Saviani, explica ainda que nessa concepção o trabalhador não é ensinado a executar
com perfeição determinada tarefa, para atender os anseios do mercado de trabalho, mas é
assegurado o desenvolvimento multilateral que inclua todo os ângulos da prática produtiva,
assim como seus fundamentos, dominando, ainda, os princípios científicos (Saviani, 1989).
Saviani (1989) cita Pistrak, com base no livro “Fundamentos da Escola do Trabalho”,
no qual afirma que o trabalho com a madeira e com o metal possui um significativo valor
educativo, que em comparação ao trabalho com couro não possui nenhum valor educativo
(SAVIANI, 1989, p.17).
Pistrak afirmava ainda, segundo Saviani (1989, p.18), “que nenhuma fábrica moderna
pode dispensar uma oficina com madeira e metal.”Com base no posicionamento de Pistrak,
Saviani afirma que é possível entender mais claramente o sentido da politecnia. A politecnia
no segundo grau (nível médio) não significa, para Saviani, multiplicar as habilitações para
cobrir todas as formas de atividade, mas articular o trabalho manual ao trabalho intelectual,
possibilitando a assimilação teórica e prática, os princípios científicos e seu funcionamento
prático.
A politecnia, frisa Frigotto (1995), não se destina à formação de mão de obra, pois não
é profissionalizante. A politecnia fornece as bases da ciência para o sujeito produzir a vida de
forma não alienada, mas comprometida com a transformação e superação da exploração.
Auxiliando a desenvolver seres humanos com senso crítico e capacidade de análise. Por isso,
é entendida como formação integral. Para formar um homem novo, a educação não pode se
restringir à formação intelectiva. É preciso que os conceitos relacionados à cultura, ao
trabalho produtivo, ao corpo, devem integrar o currículo.
Portanto, é possível assegurar que a politecnia configura-se como importante meio de
superação da ordem vigente, uma vez que democratiza o conhecimento, tornando-o acessível
às camadas menos privilegiadas da sociedade, ampliando sua visão e compreensão da
realidade que os cerca. Permitindo, com isso, a apropriação do conhecimento pelos
trabalhadores, e consequentemente construir a base para a superação da apropriação privada
dos meios de produção, socializando-os, a serviço da coletividade.
3. EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA NO BRASIL –
CONTEXTUALIZAÇÃO A PARTIR DO DECRETO N.5.154/2004
Com as alterações, segundo Pereira e Passos (2011) passava a vigorar duas concepções
em relação ao vínculo entre educação profissional e ensino médio: uma em que a educação
profissional é parte do ensino médio, devendo realizar-se de forma integrada, constituindo um
mesmo curso, e outra que admite a separação entre eles, como estabelecido no projeto do
governo anterior. Essas distintas posições representavam os interesses em disputa em torno do
novo dispositivo regulamentador: de um lado, o movimento em defesa da politecnia e, por
conseguinte, da integração; do outro, instituições profissionalizantes e estados, em especial
São Paulo, que defendia a posição das Escolas Técnicas Estaduais da Rede Paula Souza, em
favor da manutenção da oferta independe entre as modalidades (PEREIRA e PASSOS,
2011,p.6).
Entretanto, para KUENZER (2010, p.864) o Decreto n. 5.154/2004, além de promover
o retorno da forma integrada, o decreto também vinculou o currículo integrado às concepções
da educação politécnica que, integrando os elementos da cultura geral e do mundo do
trabalho, busca a formação integral do sujeito. A partir daquele momento, os estabelecimentos
de ensino que fizessem a opção pela forma integrada, segundo o parágrafo 2º do Art. 4º,
precisariam “assegurar, simultaneamente, o cumprimento das finalidades estabelecidas para a
formação geral e as condições de preparação para o exercício de profissões técnicas”.
Nesse sentido, em dezembro de 2008, a Lei n. 11.892, instituiu a Rede Federal de
Educação Profissional, Científica e Tecnológica, transformando os Centros Federais de
Educação Tecnológica (CEFETs) em Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia
(IFs). O Art. 2º da Lei n. 11.892, define os Institutos Federais como instituições de educação
superior, básica e profissional, pluricurriculares e multicampi (BRASIL, 2008a, p. 1).
Oliveira e Carneiro (2012), ponderam sobre esse viés
se para o governo federal o sentido político e econômico dos Institutos Federais está
expresso de forma clara, para aqueles que neles atuam (docentes e técnicos
administrativos), essas instituições ainda estão sendo construídas. Um dos grandes
desafios tem sido a articulação da educação profissional, científica e tecnológica
com a educação básica, licenciatura, bacharelado e pós-graduação em uma mesma
instituição. (OLIVEIRA e CARNEIRO, 2012, p. 16)
Apesar da busca constante das equipes que constituem os institutos Federais e dos
teóricos que dão suporte Grabowski e Ribeiro (2010, p.277) constatam que
De uma forma geral, a educação profissional tem servido para preparar mão de obra
(qualificação da força de trabalho) para as relações de produção capitalistas vigentes
no Brasil. Predominou, ao longo da história, uma finalidade instrumental,
operacional, qual seja que o trabalhador fosse capaz de executar as funções
reservadas para ele de forma mecânica e tecnicista. Essa função delegada ao então
denominado ensino profissionalizante (ensino técnico) é resultado de uma sociedade
estruturada de forma dual: proprietários dos meios de produção, detentores do
capital e, trabalhadores, donos de sua força de trabalho a ser transformada em
mercadoria de venda e produção (p. 277).
Assim, criar alternativas desenvolver e oferecer cursos profissionalizantes que atuem
de forma mais ampla, não atendendo apenas as demandas do mercado, mas trabalhando para a
formação de profissionais que possam também ser pessoas melhores, contribuindo para
transformar as suas condições sociais, suas relações e ser protagonista na sociedade,
favorecendo a construção de um novo projeto político, menos desigual.
Entretanto, o cenário político do Brasil após o impeachment da então Presidente da
República Dilma Rousseff e a ascensão do Vice Michel Temer mudaram e propiciaram cortes
de investimentos para educação profissional e tecnológica. Segundo e Martins (2018, p.147)
Com a Emenda Constitucional 95/2016 (EC 95), que congela os investimentos
públicos pelos próximos vinte anos, as preocupações aumentam muito, pois
conseqüências nefastas prejudicarão o bom funcionamento dos IFs. Precarização das
condições de trabalho, sucateamento físico de prédios, laboratórios e outras
estruturas importantes; estrangulamento salarial com todas as suas consequências,
associado à supressão de direitos, como a contrarreforma da previdência, planos de
demissão voluntária, possibilidade de terceirização e contratação de “notório saber”;
aumento abrupto das horas-aula de docentes em detrimento das atividades de
pesquisa e extensão, tão importantes quanto o ensino para a proposta curricular dos
IFs; e extinção do Plano de Carreira dos técnico-administrativos em educação e
consequente possibilidade de ampliação da terceirização no segmento. (SEGUNDO
e MARTINS2018, p.147).
Segundo e Martins (2018), outro desafio imposto aos Institutos Federais se configura
no cumprimento das metas estabelecidas no Plano Nacional de Educação – PNE,
A meta 10 no PNE determina oferecer 25% das matrículas de educação de jovens e
adultos na forma integrada à educação profissional. Esta meta já vinha sendo
ameaçada pelo alto investimento dos governos no Pronatec e, agora, no governo
Temer, a nova ameaça é o MédioTEC, programa que cria uma outra seção dentro do
Pronatec. Em 2014, o governo Dilma transferiu para o Sistema S R$ 5,3 bilhões; em
2015, foram R$ 4,7 bilhões só para implementação do Pronatec; e, em 2016, a
Receita Federal repassou mais R$ 16 bilhões ao Sistema S, uma sangria de verbas
públicas para a educação privada, neste caso de baixíssima qualidade, em detrimento
do PROEJA e outras modalidades em instituições públicas (SEGUNDO e
MARTINS2018, p.147).
Nesse sentido, Segundo e Martins (2018) afirmam que como um dos grandes desafios
da educação se dá nos seus objetivos, isto é, em qualificar simplesmente mão de obra para o
mercado ou gerar pessoas pensantes e críticas e por isso,
para determinada tradição política interessada em transformar a sociedade rumo a
uma situação de maior justiça social, em que não se tenha disparidades de classes
sociais ou até mesmo onde se tenha a inexistência destas, o trabalho como princípio
educativo, educação politécnica e escola unitária são conceitos que têm sido
defendidos como possibilidades educacionais concretas. Nessa visão política,
pedagógica e curricular, o educando vai retomar as características ontológicas do
trabalho, reunificando sua face intelectual com a produtiva, buscando construir uma
sociedade de trabalhadores pensantes, sem as divisões que existem no capitalismo
ou nas sociedades divididas em classes sociais. Nessas classes, há uma separação
entre os trabalhadores produtivos, na maior parte das vezes dominados, e o trabalho
intelectual, na maior parte das vezes relacionado aos detentores de meios de
produção e, portanto, classes dominantes. (SEGUNDO e MARTINS2018, p.150).
O contexto atual sinaliza que os avanços importantes alcançados nos últimos dez anos
poderão retroceder, restabelecendo uma face mais radical do neoliberalismo e prejudicando a
implantação de uma educação pautada na Politecnia e no compromisso com a transformação
social. Essas nuanças reforçam a necessidade de maior comprometimento das classes
trabalhadoras em busca de superar os embates com a classe dominante.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIA
FRIGOTTO, G. Educação e a crise do capitalismo real. São Paulo: Ed. Cortez, 1995, p.240.
GRABOWSKI, G.; RIBEIRO, J. Reforma legislação e financiamento da educação
profissional no Brasil. in: MOOL, Jaqueline. Educação Profissional e Tecnológica no Brasil
Contemporâneo: Desafios, tensões e possibilidades. Porto Alegre, RS: Artmed, 2010. P.271-
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