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INSTITUTO FEDERAL DE RONDÔNIA

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E INOVAÇÃO


MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

ANA PAULA PEREIRA

POLITECNIA E EDUCAÇÃOPROFISSIONAL E TECNOLÓGICA: uma análise do


contexto dos Institutos Federais de Educação Profissional, Científica e Tecnológica do Brasil

PORTO VELHO
Outubro - 2018.
ANA PAULA PEREIRA

POLITECNIA E EDUCAÇÃOPROFISSIONAL E TECNOLÓGICA: uma análise do


contexto dos Institutos Federais de Educação Profissional, Científica e Tecnológica do Brasil

Paper apresentado para fins de avaliação parcial da


Disciplina de Bases Conceituais para a Educação
Profissional e Tecnológica do Mestrado Profissional
em Educação Profissional e Tecnológica –
PROFEPT.

PORTO VELHO
Outubro - 2018.
POLITECNIA E EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA: uma análise do
contexto dos Institutos Federais de Educação Profissional, Científica e Tecnológica do Brasil

Ana Paula Pereira*

RESUMO

A politecnia estabelece a formação integral, como estabelecido por Marx, abrangendo a


educação mental, a educação física e a instrução tecnológica. O presente estudo busca
estabelecer a relação entre o conceito de politecnia e as diretrizes atuais da educação
profissional e tecnológica do Brasil, observando ainda o cenário político atual que reforça a
manutenção do neoliberalismo. Para tanto, foi realizada pesquisa bibliográfica em obras que
tratam da politecnia e da educação profissão e tecnológica do Brasil, tais como Saviani,
Frigotto, e a legislação atual que tratam do tema em tela. Diante do exposto, o Decreto n.
5.154/2004 representou um avanço na possibilidade de implantar a politecnia nos Institutos
Federais no Brasil, entretanto, com o impeachment da Presidente da República Dilma
Rousseff, em 2016, e a ascensão do Vice Michel Temer que alinhou a condução do país, a
partir daí ao projeto neoliberal e os impactos dessas medidas nos Institutos Federais, tais
como: cortes de recursos e, possíveis, privatizações. Impactando, de forma negativa, na busca
do avanço na politecnia nos Institutos Federais no Brasil.

PALAVRAS-CHAVE: Politecnia. Institutos Federais. Conjuntura.

1. INTRODUÇÃO

A politecnia traz em sua acepção o comprometimento com a formação integrada do ser


humano, auxiliando na construção de um olhar crítico sobre o meio em que estar inserido. Sua
conexão a educação profissional e tecnológica permite cumprir com o que estabelecido na
teoria marxista.
Nesse sentido, o presente estudo busca estabelecer a relação entre o conceito de
politecnia e as diretrizes atuais da educação profissional e tecnológica do Brasil, observando
ainda o cenário político atual que reforça a manutenção do neoliberalismo.
Para tanto, realizou-se pesquisas bibliográficas em obras que tratam da politecnia e da
educação profissão e tecnológica do Brasil, tais como Saviani, Frigotto, e a legislação atual
que tratam do tema em tela.

*
Graduada em Serviço Social pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN e cursando o
Mestrado Profissional ProfEPT do Instituto Federal de Rondônia.
2. BREVE CONCEITO DE POLITECNIA

É possível afirmar, com base em Brunow (2015, p.3) que o denominador comum do
entendimento do que seja Politecnia partiu da teoria marxista. Mesmo que Marx nunca tenha
escrito um livro ou mesmo um texto completo sobre educação, em suas obras estavam
presentes os fundamentos dessa concepção defendida pela perspectiva politécnica, que é a
perspectiva que tem como base o princípio da totalidade, de trabalho como princípio
educativo e da desfragmentação do conhecimento, perspectivas que são à base do pensamento
de Karl Marx.
Moura, et al. (2012, p.1060) reforça que na produção de Marx e Engels o tema
educação, ensino e formação profissional não foram tratados de forma isolada, mas, ao
contrário, as reflexões são direcionadas para a compreensão mais ampla. Assim, devido à
profunda ligação entre educação e trabalho produtivo que Marx estabeleceu que a educação
para a classe trabalhadora deveria compreender:
1. Educação Mental [intelectual];
2. Educação física, tal qual é dada em escolas de ginástica e pelo exercício
militar;
3. Instrução tecnológica, que transmite os princípios gerais de todos os
processos de produção e, simultaneamente, inicia a criança e o jovem no uso prático
e manejo dos instrumentos elementares de todos os ofícios (MOURA, et al, 2012,
p.1060).

Moura, et al. (2012, p.1060) afirma ainda que ao tratar de educação intelectual, física e
tecnológica, Marx está claramente sinalizando para a formação integral do ser humano, em
outras palavras, a formação onilateral.Essa concepção foi incorporada à tradição marxista sob
a denominação de politecnia ou educação politécnica, em virtude das próprias referências do
autor ao termo, assim como de grande parte dos estudiosos de sua obra. (MOURA, et al,
2012, p.1060).
Romão (2010, p. 33), assevera que a educação deve se voltar para a realização do ser
humano em sua omnilateralidade. Ou seja, de acordo com este conceito formulado por Marx,
o ser humano deve ser integralmente desenvolvido em suas potencialidades, por meio de um
processo educacional que leve em consideração a formação científica, a política e a estética.
Somente dessa forma, o ato pedagógico pode ser considerado emancipador e cumprir com o
seu papel de libertar os seres humanos sejam da ignomínia da ignorância e da miséria, ou
ainda da estupidez da dominação.
Já na concepção de Dermeval Saviani (1989, p.13) a noção de politecnia correlaciona-
se para a “superação da dicotomia entre o trabalho manual e o trabalho intelectual, entre a
instrução profissional e a instrução geral”.

Por conseguinte, na sociedade moderna, o capitalismo generalizou a exigência do


conhecimento sistematizado para operacionalizar a produção, gerando aí uma contradição.
Tendo em vista, o fato de o capitalismo centrar-se na propriedade privada dos meios de
produção, mas a necessidade de implementar o conhecimento científico no trabalho
produtivo, convertendo-o em força produtiva e, assim, em força de trabalho.

Esse processo ocorre, devido a necessidade de capacitar o trabalhador para


operacionalizar os meios de produção, mas uma vez obtido o conhecimento, pelo trabalhador,
não é possível expropriar o conhecimento do trabalhador. Então, para minimizar essa
apropriação do conhecimento, o capital sistematiza e fragmenta, passando ao trabalhador de
forma parcelada (SAVIANI, 1989, p.13). O taylorismo configura-se num exemplo típico desse
processo.

Quando da constituição do capitalismo, os burgueses serviram-se da habilidade dos


artesãos, reunindo-os em um mesmo local para trabalhar em favor do capitalismo,
empregando os meios de produção de propriedade do Capitalista.

Foi a partir desse ajuntamento inicial de artesãos que se deu a gênese da divisão do
trabalho, tendo em vista que ao especializar a produção, ou seja, cada trabalhador produzindo
uma parte do trabalho, possibilitou o aumento significativo da produção. Esse modo de
organização do trabalho ampliou-se e aprofundou-se no capitalismo, permitindo com o tempo
o desenvolvimento da indústria moderna (SAVIANI, 1989, p.14).

Com o desenvolvimento da indústria moderna foi necessário sistematizar a


compartimentação do trabalho e passar aos trabalhadores somente o conhecimento necessário
para executar seu trabalho – conhecimento parcelado. É nesse cenário que surge a concepção
de profissionalização, ou seja, do ensino profissionalizante.

Saviani (1989) afirma que a burguesia parte do pressuposto da fragmentação do


trabalho em especialidades autônomas, sendo o trabalhador capacitado para executar
determinada tarefa de forma eficiente.

Nesta concepção, que se baseia na divisão entre trabalho manual e trabalho


intelectual, na divisão entre proprietários e não proprietários de meios de produção,
o trabalhador detém apenas a sua força de trabalho. Tal concepção também vai
implicar na divisão entre os que concebem e controlam o processo de trabalho, e
aqueles que executam o processo de trabalho. O ensino profissional é destinado
àqueles que de vem executar, enquanto que o ensino científico-intelectual é
destinado àqueles que devem conceber e controlar o processo (SAVIANI, 1989, p.
14-15).

Saviani afirma que a ideia de politecnia confronta a concepção de fragmentação do


conhecimento, como estabelecido pelo capitalismo. Na politecnia o processo de trabalho é
desenvolvido numa unidade indissolúvel entre os aspectos manuais e intelectuais. Nas
palavras de Saviani (1989, p.15) “não existe trabalho manual puro, e nem trabalho intelectual
puro. Todo trabalho humano envolve concomitância do exercício dos membros, das mãos, e
do exercício mental, intelectual.”

Nesse sentido, Saviani pondera que se o trabalhador é capaz de aprender o


conhecimento para desenvolver o trabalho manual, é devido a aplicação de sua inteligência
para dominar o processo. Nas profissões tidas como eminentemente intelectuais, também
ocorre a prática manual para concretizar o trabalho.

A ideia da politecnia, na concepção de Saviani, é introduzir a compreensão desse


fenômeno, da percepção da contradição que é característica básica da sociedade capitalista e
marca o norte para a busca da superação desse modo de produção. Para tanto, a junção do
trabalho intelectual e manual só será possível por meio “da superação da apropriação privada
dos meios de produção, com a socialização dos meios de produção”, ou seja, tornando os
meios de produção a serviço da coletividade. (Saviani, 1989, p. 15).

O uso da máquina permite realizar o trabalho de forma mais precisa e rápida,


transferindo para a máquina parte d e sua execução, libertando o homem para usufruto de
parte do seu tempo. Possibilitando, assim, maior dedicação ao trabalho intelectual.
Entretanto, o modo de produção capitalista distorce esse processo, se apropriando dos frutos
privadamente.

É nesse bojo que a ideia de politecnia se esboça, como um meio para corrigir tais
distorções. O termo politecnia, significa múltiplas técnicas, multiplicidade de técnicas, daí a
possibilidade de entendimento, equivocado, de que significa a totalidade das diferentes
técnicas fragmentadas, consideradas autonomamente. Todavia, Saviani explica que a noção de
politecnia

diz respeito ao domínio dos fundamentos científicos das diferentes técnicas que
caracterizam o processo de trabalho produtivo moderno. Diz respeito aos
fundamentos das diferentes modalidades de trabalho. Politecnia, nesse sentido, se
baseia em determinados princípios, determinados fundamentos e a formação
politécnica deve garantir o domínio desses princípios, desses fundamentos.
(SAVIANI, 1989, p. 17).
Saviani, explica ainda que nessa concepção o trabalhador não é ensinado a executar
com perfeição determinada tarefa, para atender os anseios do mercado de trabalho, mas é
assegurado o desenvolvimento multilateral que inclua todo os ângulos da prática produtiva,
assim como seus fundamentos, dominando, ainda, os princípios científicos (Saviani, 1989).

Saviani (1989) cita Pistrak, com base no livro “Fundamentos da Escola do Trabalho”,
no qual afirma que o trabalho com a madeira e com o metal possui um significativo valor
educativo, que em comparação ao trabalho com couro não possui nenhum valor educativo
(SAVIANI, 1989, p.17).

Saviani afirma que o exemplo citado por Pistrak se dá devido a necessidade do


domínio dos princípios e dos fundamentos do trabalho moderno que o trabalho com madeira e
metal trazem no seu manuseio. Já o exemplo do trabalho com o couro possui uma ligação com
a forma artesanal de trabalho próprio do feudalismo. Nesse sentido, como o capitalismo
superou o modo de produção feudal, o artesanato subsiste, segundo Saviani, como um registro
cultural, sem condições de competir com a produção industrial (SAVIANI, 1989, p. 17).

À vista disso, o trabalho com o couro proporciona o domínio daquela atividade


limitada, qual seja saber manejar o couro, os instrumentos que transformam o couro em
determinado tipo de objeto. Porém, a madeira e o metal, além de constituírem a matéria-
prima da maioria dos produtos que a sociedade moderna produz, como também são base para
as ferramentas com as quais se produzem esses produtos (SAVIANI, 1989, p. 18).

Pistrak afirmava ainda, segundo Saviani (1989, p.18), “que nenhuma fábrica moderna
pode dispensar uma oficina com madeira e metal.”Com base no posicionamento de Pistrak,
Saviani afirma que é possível entender mais claramente o sentido da politecnia. A politecnia
no segundo grau (nível médio) não significa, para Saviani, multiplicar as habilitações para
cobrir todas as formas de atividade, mas articular o trabalho manual ao trabalho intelectual,
possibilitando a assimilação teórica e prática, os princípios científicos e seu funcionamento
prático.

Saviani destaca a necessidade de superar a fragmentação do conhecimento, e a


necessidade do docente “se imbuir do sentido da politecnia, e pensar globalmente a questão
do trabalho e explicar então, historicamente, geograficamente, e assim por diante, este mesmo
fenômeno” (SAVIANI, 1989, p. 21). Em outras palavras, o profissional que atua no
Politécnico deve auxiliar o aluno a desenvolver uma visão sintética, abrangendo a totalidade
orgânica.
Nessa perspectiva, Saviani alerta

A tarefa de estabelecer essa totalidade orgânica seria relegada ao próprio aluno, ou a


um profissional que fosse destacado para isso, É para esse tipo de problema que
estou chamando a atenção, no sentido de preservar na proposta, assim como nas
formas de sua implementação, a concepção de fundo, a concepção de politecnia, que
preside e que é a novidade desta proposta. Porque do contrário não chegaríamos a
ter aquilo que está sendo chamado um Politécnico da Saúde; teríamos apenas um
curso de habilitação em saúde, ou um curso que ofereça diversas habilitações na área
de saúde, apenas organizado de uma forma mais consistente, com uma qualidade
mais adequada, em condições mais satisfatórias, diferentemente das condições da
nossa rede pública de ensino(...) (SAVIANI, 1989, p. 21).

No entanto, se o objetivo em estabelecer um curso Politécnico na área da Saúde, é


necessário romper com a concepção vigente para assim, concretizar a concepção politécnica.

Gaudêncio Frigotto (1995) argumenta que o desenvolvimento multilateral do ser


humano pode ser considerado uma necessidade histórica. Compreender a sociedade nas suas
mais variadas perspectivas é uma condição humana e, nesse sentido, a escola tem papel
preponderante.
A qualificação humana diz respeito ao desenvolvimento de condições físicas,
mentais, afetivas, estéticas e lúdicas do ser humano (condições omnilaterais) capazes
de ampliar a capacidade de trabalho na produção dos valores de uso em geral como
condição de satisfação das múltiplas necessidades do ser humano, no seu devir
histórico. Está, pois, no plano dos direitos que não podem ser mercantilizados e,
quando isso ocorre, agride-se elementarmente a própria condição humana
(FRIGOTTO, 1995, p. 31-32).

A politecnia, frisa Frigotto (1995), não se destina à formação de mão de obra, pois não
é profissionalizante. A politecnia fornece as bases da ciência para o sujeito produzir a vida de
forma não alienada, mas comprometida com a transformação e superação da exploração.
Auxiliando a desenvolver seres humanos com senso crítico e capacidade de análise. Por isso,
é entendida como formação integral. Para formar um homem novo, a educação não pode se
restringir à formação intelectiva. É preciso que os conceitos relacionados à cultura, ao
trabalho produtivo, ao corpo, devem integrar o currículo.
Portanto, é possível assegurar que a politecnia configura-se como importante meio de
superação da ordem vigente, uma vez que democratiza o conhecimento, tornando-o acessível
às camadas menos privilegiadas da sociedade, ampliando sua visão e compreensão da
realidade que os cerca. Permitindo, com isso, a apropriação do conhecimento pelos
trabalhadores, e consequentemente construir a base para a superação da apropriação privada
dos meios de produção, socializando-os, a serviço da coletividade.
3. EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA NO BRASIL –
CONTEXTUALIZAÇÃO A PARTIR DO DECRETO N.5.154/2004

O Guia para cooperação internacional para a Educação Profissional e Tecnológica


(2015) informa que a educação profissionalizante no Brasil é ofertada em duas modalidades:
ensinos técnico de nível médio e tecnológico de nível superior. O primeiro se configura como
educação secundária voltada para a atuação profissional e se destina a alunos que concluíram
o ensino fundamental. O segundo corresponde aos cursos de nível superior de tecnologia,
direcionados a alunos que já tenham concluído a educação secundária.
A publicação afirma inda que, no Brasil, o ensino técnico é considerado secundário de
nível médio, enquanto o tecnológico é terciário de nível superior.
Em 2004 o governo federal, por meio do Decreto n. 5.154 de 23 de julho de 2004,
revogou o Decreto n. 2.208/97 e restabeleceu a integração curricular dos ensinos médio e
técnico. Pelo novo Decreto (art. 4, §1º), a educação profissional será desenvolvida nas
seguintes formas:
I – integrada, oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino
fundamental, sendo o curso planejado de modo a conduzir o aluno à habilitação
profissional técnica de nível médio, na mesma instituição de ensino, contando com
matrícula única para cada aluno;
II – concomitante, oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino
fundamental ou esteja cursando o ensino médio, na qual a complementaridade entre
a educação profissional técnica de nível médio e o ensino médio pressupõe a
existência de matrículas distintas para cada curso [...];
III – subseqüente, oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino
médio (BRASIL, 2004).

Com as alterações, segundo Pereira e Passos (2011) passava a vigorar duas concepções
em relação ao vínculo entre educação profissional e ensino médio: uma em que a educação
profissional é parte do ensino médio, devendo realizar-se de forma integrada, constituindo um
mesmo curso, e outra que admite a separação entre eles, como estabelecido no projeto do
governo anterior. Essas distintas posições representavam os interesses em disputa em torno do
novo dispositivo regulamentador: de um lado, o movimento em defesa da politecnia e, por
conseguinte, da integração; do outro, instituições profissionalizantes e estados, em especial
São Paulo, que defendia a posição das Escolas Técnicas Estaduais da Rede Paula Souza, em
favor da manutenção da oferta independe entre as modalidades (PEREIRA e PASSOS,
2011,p.6).
Entretanto, para KUENZER (2010, p.864) o Decreto n. 5.154/2004, além de promover
o retorno da forma integrada, o decreto também vinculou o currículo integrado às concepções
da educação politécnica que, integrando os elementos da cultura geral e do mundo do
trabalho, busca a formação integral do sujeito. A partir daquele momento, os estabelecimentos
de ensino que fizessem a opção pela forma integrada, segundo o parágrafo 2º do Art. 4º,
precisariam “assegurar, simultaneamente, o cumprimento das finalidades estabelecidas para a
formação geral e as condições de preparação para o exercício de profissões técnicas”.
Nesse sentido, em dezembro de 2008, a Lei n. 11.892, instituiu a Rede Federal de
Educação Profissional, Científica e Tecnológica, transformando os Centros Federais de
Educação Tecnológica (CEFETs) em Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia
(IFs). O Art. 2º da Lei n. 11.892, define os Institutos Federais como instituições de educação
superior, básica e profissional, pluricurriculares e multicampi (BRASIL, 2008a, p. 1).
Oliveira e Carneiro (2012), ponderam sobre esse viés
se para o governo federal o sentido político e econômico dos Institutos Federais está
expresso de forma clara, para aqueles que neles atuam (docentes e técnicos
administrativos), essas instituições ainda estão sendo construídas. Um dos grandes
desafios tem sido a articulação da educação profissional, científica e tecnológica
com a educação básica, licenciatura, bacharelado e pós-graduação em uma mesma
instituição. (OLIVEIRA e CARNEIRO, 2012, p. 16)

Apesar de manter o elo de qualificar mão de obra para o mercado de trabalho,


acredita-se que as concepções e práticas governamentais no momento da implantação dos
institutos Federais, ainda que possam ser questionadas em alguns de seus aspectos,
notadamente quanto à forte vinculação ao mercado e ao atendimento as demandas
empresariais, diferem das perspectivas neoliberais mais conservadoras que marcaram a gestão
pública dos anos 1990.
Porém, é possível afirmar que a conjuntura voltou às diretrizes semelhantes aos da
década de 1990 com claro apelo ao neoliberalismo e forte tendência a terceirizações.

4. EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA PAUTADA NA POLITECNIA:


ainda é possível?

Apesar da busca constante das equipes que constituem os institutos Federais e dos
teóricos que dão suporte Grabowski e Ribeiro (2010, p.277) constatam que
De uma forma geral, a educação profissional tem servido para preparar mão de obra
(qualificação da força de trabalho) para as relações de produção capitalistas vigentes
no Brasil. Predominou, ao longo da história, uma finalidade instrumental,
operacional, qual seja que o trabalhador fosse capaz de executar as funções
reservadas para ele de forma mecânica e tecnicista. Essa função delegada ao então
denominado ensino profissionalizante (ensino técnico) é resultado de uma sociedade
estruturada de forma dual: proprietários dos meios de produção, detentores do
capital e, trabalhadores, donos de sua força de trabalho a ser transformada em
mercadoria de venda e produção (p. 277).
Assim, criar alternativas desenvolver e oferecer cursos profissionalizantes que atuem
de forma mais ampla, não atendendo apenas as demandas do mercado, mas trabalhando para a
formação de profissionais que possam também ser pessoas melhores, contribuindo para
transformar as suas condições sociais, suas relações e ser protagonista na sociedade,
favorecendo a construção de um novo projeto político, menos desigual.
Entretanto, o cenário político do Brasil após o impeachment da então Presidente da
República Dilma Rousseff e a ascensão do Vice Michel Temer mudaram e propiciaram cortes
de investimentos para educação profissional e tecnológica. Segundo e Martins (2018, p.147)
Com a Emenda Constitucional 95/2016 (EC 95), que congela os investimentos
públicos pelos próximos vinte anos, as preocupações aumentam muito, pois
conseqüências nefastas prejudicarão o bom funcionamento dos IFs. Precarização das
condições de trabalho, sucateamento físico de prédios, laboratórios e outras
estruturas importantes; estrangulamento salarial com todas as suas consequências,
associado à supressão de direitos, como a contrarreforma da previdência, planos de
demissão voluntária, possibilidade de terceirização e contratação de “notório saber”;
aumento abrupto das horas-aula de docentes em detrimento das atividades de
pesquisa e extensão, tão importantes quanto o ensino para a proposta curricular dos
IFs; e extinção do Plano de Carreira dos técnico-administrativos em educação e
consequente possibilidade de ampliação da terceirização no segmento. (SEGUNDO
e MARTINS2018, p.147).
Segundo e Martins (2018), outro desafio imposto aos Institutos Federais se configura
no cumprimento das metas estabelecidas no Plano Nacional de Educação – PNE,
A meta 10 no PNE determina oferecer 25% das matrículas de educação de jovens e
adultos na forma integrada à educação profissional. Esta meta já vinha sendo
ameaçada pelo alto investimento dos governos no Pronatec e, agora, no governo
Temer, a nova ameaça é o MédioTEC, programa que cria uma outra seção dentro do
Pronatec. Em 2014, o governo Dilma transferiu para o Sistema S R$ 5,3 bilhões; em
2015, foram R$ 4,7 bilhões só para implementação do Pronatec; e, em 2016, a
Receita Federal repassou mais R$ 16 bilhões ao Sistema S, uma sangria de verbas
públicas para a educação privada, neste caso de baixíssima qualidade, em detrimento
do PROEJA e outras modalidades em instituições públicas (SEGUNDO e
MARTINS2018, p.147).

Nesse sentido, Segundo e Martins (2018) afirmam que como um dos grandes desafios
da educação se dá nos seus objetivos, isto é, em qualificar simplesmente mão de obra para o
mercado ou gerar pessoas pensantes e críticas e por isso,
para determinada tradição política interessada em transformar a sociedade rumo a
uma situação de maior justiça social, em que não se tenha disparidades de classes
sociais ou até mesmo onde se tenha a inexistência destas, o trabalho como princípio
educativo, educação politécnica e escola unitária são conceitos que têm sido
defendidos como possibilidades educacionais concretas. Nessa visão política,
pedagógica e curricular, o educando vai retomar as características ontológicas do
trabalho, reunificando sua face intelectual com a produtiva, buscando construir uma
sociedade de trabalhadores pensantes, sem as divisões que existem no capitalismo
ou nas sociedades divididas em classes sociais. Nessas classes, há uma separação
entre os trabalhadores produtivos, na maior parte das vezes dominados, e o trabalho
intelectual, na maior parte das vezes relacionado aos detentores de meios de
produção e, portanto, classes dominantes. (SEGUNDO e MARTINS2018, p.150).
O contexto atual sinaliza que os avanços importantes alcançados nos últimos dez anos
poderão retroceder, restabelecendo uma face mais radical do neoliberalismo e prejudicando a
implantação de uma educação pautada na Politecnia e no compromisso com a transformação
social. Essas nuanças reforçam a necessidade de maior comprometimento das classes
trabalhadoras em busca de superar os embates com a classe dominante.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Decreto n. 5.154/2004 representou um avanço no sentindo de possibilitar uma


abertura para a implantação paulatina do conceito de politecnia no âmbito dos Institutos
Federais, os profissionais que atuam na rede buscaram incluir no cotidiano de sua atuação
profissional os propósitos estabelecidos.
Entretanto, as mudanças ocorridas nos últimos dois anos no Brasil, reabriu a demanda
do projeto neoliberal para as políticas públicas, gerando ações do poder executivo federal no
sentido de desmonte do ensino estabelecido nos Institutos Federais. Esse fato, impõe um
desafio ainda maior no intento de implementar uma educação integradora e ampla para as
classes trabalhadoras, e em especial, para os profissionais que atuam na linha de frente da
educação.

REFERÊNCIA

BRASIL. Decreto n. 5.154, de 23 de julho de 2004. Regulamenta o § 2º do art. 36 e os arts. 39


a 41 da lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 26 jul.
2004.

__________. Lei n. 11.892/2008, de 29 de dezembro de 2008. Institui a Rede Federal de


Educação Profissional, Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais de Educação,
Ciência e Tecnologia, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 30 dez.
2008.

BRUNOW,V.O. O histórico das políticas públicas educacionais brasileiras, a partir da


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FRIGOTTO, G. Educação e a crise do capitalismo real. São Paulo: Ed. Cortez, 1995, p.240.
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KUENZER, A.Z. O ensino médio no Plano Nacional de Educação 2011-2020: superando a


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