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Sumário
Resumo
Abstract
autocratic way of governing that was kept almost intact in the beginning of the
1990s. The perpetuation of oligarchic methods and procedures was debated by
him in his several articles on the political impasses that emerged in the year of
the constitutional review (1993). His texts also reflected the political impasses
generated concerning the movement about the referendum, the governability,
the economical plans and the elections of 1994. Faoro's articles were considered
as documents that show an attempt to intervene in the course of the national
political life.
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A circularidade do autoritarismo no Brasil:
A leitura do jurista Raymundo Faoro sobre
alguns impasses políticos vindos à tona na
década de 1990
Introdução
1 Entre as principais obras que marcaram o pensamento social brasileiro na segunda metade do século XX,
estão: Os donos do poder (Faoro, 1989); Dialética do desenvolvimento (Furtado, 1964); Ordem e Progresso
(Freyre, 1962); Revolução Burguesa no Brasil (Fernandes, 1975).
2 A obra Os donos do poder foi publicada pela primeira vez em 1958, todavia, numa segunda edição em 1975,
esta obra foi totalmente reelaborada. As 271 páginas da primeira edição se transformaram em 766.
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Maria José de Rezende / A circularidade do autoritarismo no Brasil: A leitura do jurista Raymundo Faoro sobre alguns impasses políticos vindos à tona na década de 1990
de uma nova Carta Constitucional que colocasse Num quadro que pode ser denominado de
os pilares fundamentais para suplantar o pós-transição5, Faoro que havia se dedicado
autoritarismo arraigado na política e no Estado durante anos a pensar o cotidiano da vida
brasileiro. Ele teceu inúmeras críticas ao modo política brasileira no decorrer da distensão
como, dentro do governo Sarney (1985-1989), se (1973-1979), da abertura (1979-1985) e da Nova
deram tanto a convocação da Assembléia República (1985-1990) via-se, no início da
Constituinte (1987/1988) quanto o processo de década de 1990, diante, de procedimentos
construção da nova Carta Magna, promulgada políticos que confirmavam o seu diagnóstico,
em outubro de 1988, que incorporava diversos exposto no livro Assembléia constituinte: a
resquícios autoritários e antidemocráticos da legitimidade recuperada (1981), de que havia
vida política brasileira. uma enorme dificuldade de emergir, no país,
Desde a promulgação da Carta Constitucional “uma força nova capaz de alterar o sistema
de outubro de 1988, Raymundo Faoro passou a político” (Faoro, 1981, p.71) como um todo.
refletir, em seus textos publicados semanalmente Em 1993, ele vai fazer uma reflexão, ao longo
nas revistas IstoÉ/Senhor, IstoÉ e Carta Capital, de diversos artigos publicados semanalmente,
sobre as alterações nos procedimentos políticos sobre as ações políticas que indicavam que o
indicadores ou não de redefinições do padrão de sistema político em vigor, desde 1964, continuava,
organização social e político brasileiro. Nos anos em muitos aspectos, em pleno funcionamento,
de 1989 e 1990 ele apontava em seus artigos que naquele momento. O arcabouço autoritário
o cotidiano da vida política nacional estava embasava o modo de agir dos setores dirigentes
repleto de dificuldades de desmontar as práticas que compunham o círculo do poder. Tudo indicava
autoritárias sedimentadas nas instituições que nos anos vindouros não seriam desmontadas
políticas brasileiras. as práticas autoritárias em andamento.
Nos anos de 1991 e 1992 ele realizou uma
análise minuciosa do modo de agir do governo O processamento de uma forma de governar
eleito diretamente depois de muitos anos de autocrática no início da década de 1990
governos indicados indiretamente pelo Colégio
Eleitoral3. Suas análises sobre os procedimentos No decorrer da década de 1990, Raymundo Faoro
do governo Collor de Mello (1990-1992) se dedicou a demonstrar que era visível a
esclarecem os modos distintos de manutenção persistência de um núcleo de poder no interior da
de práticas autoritárias que se eternizavam em política brasileira que potencializava uma forma
cada medida tomada pelo governo que se de governar oligárquica que tinha como elemento
instalava no poder após as eleições diretas de central a construção de mecanismos que levassem
1989. Neste artigo, não serão feitas análises de ao impedimento de projeções autônomas da
suas reflexões sobre os anos imediatamente sociedade civil. A prática política autocrática ia se
anteriores a 1993 porque esses períodos já mantendo intacta e iam-se desenvolvendo
foram analisados em outros artigos4 (Rezende, expedientes mantenedores de posições de mando
2006; Rezende, 2006ª, 2006b; 2008). e de decisão reiterativas de ações desencadeadas
No ano de 1993, Faoro assinalava que as ao longo de uma República que foi, no decorrer
principais movimentações políticas se davam em dos tempos, chancelando um projeto de país
torno do plebiscito - ue foi realizado no dia 21 de “entregue aos guardas oligárquicos, projeto que os
abril daquele ano para definição da forma guardas armados, em nome da segurança e do
(República ou Monarquia constitucional) e do desenvolvimento, aprimoraram e levaram ao
sistema de governo (parlamentarismo ou extremo, sem que os constituintes de 1988 se
presidencialismo) que seriam implantados no dessem ao cuidado de demolir e substituir por
país-, da revisão constitucional -em razão de o outro” (Faoro, 1993, p.19).
prazo de revisão da Carta Magna era para As movimentações políticas em torno do
quando completasse 05 anos de sua plebiscito, da revisão constitucional, da busca de
promulgação-, da governabilidade, das eleições governabilidade, dos planos econômicos e da
presidenciais e dos planos econômicos postos sucessão presidencial revelavam uma enorme
sucessivamente em marcha na primeira metade dificuldade, por parte dos setores preponde-
da década de 1990. rantes, de indicar qualquer disponibilidade para
3 Desde 1964 até 1985 as eleições foram indiretas no Brasil. Somente a partir de 1989 é que o presidente da nação passou a ser eleito
diretamente pela população.
4 Sobre as análises de Faoro acerca da década de 1980, ver: (Rezende, 2008ª; 2009).
5 O período após a promulgação da Constituição de 1988 é, comumente, denominado de período pós-transição.
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desprezando várias demandas da sociedade civil Quem era o estrato social com efetivo
organizada que reivindicavam uma assembléia comando político (FAORO, 1989, p.742)
constituinte exclusivamente formada para na estrutura patrimonialista que vigia
produzir a nova Carta. na década de 1990? Era o grupo no
Outro exemplo de procedimento eternizador poder que passa a conduzir o país após
de um método oligárquico de governar, no início as eleições diretas de 1989. O
da década de 1990, podia ser encontrado na patrimonialismo continuava intacto
forma como os setores preponderantes porque a estrutura de mando e a de
empenharam-se, enormemente, para fabricar decisão continuavam a ter como traço
um presidente da República em 1989. O mais importante o fato de o conteúdo do
candidato Collor de Mello era exaltado como a Estado conseguir imprimir uma dada
solução milagrosa para o país, o que era feito fisionomia aos dirigentes. Mesmo
hostilizando-se e desacreditando-se o processo havendo uma insistente tentativa, por
democrático em frágil construção. O que se parte daqueles que chegaram ao poder
passou tanto em 1989 quanto nos anos em 1989, de parecerem empenhados
posteriores demonstrava claramente que a em negar que houvesse em seus
manutenção de práticas oligárquicas interessava propósitos e ações qualquer
a uma parte da sociedade “que gravitava em continuidade da forma de domínio
torno do conservadorismo de seus privilégios, vigente nos anos anteriores, ficava
subsídios, imunidades legais e ilegais, evidente, examinando-se os diversos
concessões e demais riquezas proporcionadas procedimentos dos que estavam a frente
pelo favor do Estado” (Faoro, 1989b, 31). do governo Collor, que permaneciam
A manutenção dos procedimentos imutáveis o autoritarismo do Estado e o
oligárquicos, no início da década de 1990, podia descaso absoluto para com a sociedade
ser observada ainda nas ações do governo Collor civil. Por isso, o governo Collor não
de Mello em relação ao Estado. Partia-se do representava a negação e/ou o
pressuposto de que tudo estava por se fazer e o rompimento com o patrimonialismo
governo que naquele momento assumia o leme vigente há séculos no país, representava
do Estado poderia fazer tudo, do modo como sim a sua reformulação e a sua
bem quisesse, sem dever prestar qualquer readequação aos novos
satisfação para a sociedade, para o Congresso ou tempos(Rezende, 2006, p.36-7).
para a Constituição recém-promulgada. O plano
econômico posto em vigor nas primeiras horas Faoro, no ano de 1993, já no governo Itamar
do governo eleito em 1989 era o exemplo mais Franco (eleito, em 1989, vice de Collor) chamava
contundente disso9. a atenção de seus leitores, nos seus artigos
As posturas governamentais eram semanais nas revistas de circulação nacional em
essencialmente oligárquicas e estamentais que ele colaborava, para que lançassem um olhar
porque ficava estabelecido que “o presidente não atento para os diversos acontecimentos
precisava de nenhuma função constitucional, presentes naquela conjuntura. Isso ajudaria a
institucional e legal. Ele faz, organiza, manda e todos a decifrar as muitas sombras oligárquicas,
desmanda: cria o céu e a terra” (Faoro, 1989c, patrimoniais e estamentais que pairavam sobre
p.29). E o mais grave eram as dificuldades de os encaminhamentos políticos postos em marcha
tornar públicos os efeitos perversos desse modo naquele momento (Faoro, 1993d). Em As
de governar que destruía as possibilidades de sombras do plebiscito (1993b) e em Uma
fortalecimento da democracia e do Estado de história antiga (1993e) ele demonstrava que os
direito. O mais interessante é que o governo debates sobre o parlamentarismo e o
Collor dizia-se incumbido de remodelar o presidencialismo não enfrentavam algumas
Estado brasileiro, mas não parecia questões essenciais, as quais poderiam ser assim
minimamente interessado em enfraquecer o sistematizadas: como conseguir desmantelar
patrimonialismo bem como as práticas tanto em um como no outro a insensibilidade
estamentais. para os principais problemas nacionais, o jogo
9 Uma das medidas norteadoras do Plano Collor foi o seqüestro dos saldos de contas correntes, de poupanças e de outras aplicações
financeiras, os quais foram congelados no Banco Central. O plano criava uma nova moeda - o cruzeiro - a qual iria conviver com o cruzado
novo. Faoro afirmava: “o chamado plano agride a Constituição, a que mal se redigiu, fresca ainda a tinta. Frauda-a na medida em que
instituiu empréstimo compulsório, injuria-a com a apreensão sem o devido processo legal da propriedade, escandaliza-a quando invade e
poda salários. O espírito que anima a legislação dos 'pacotaços' é o mesmo do período em que o poder Executivo tudo podia e tudo ousava.
A presença do Estado de direito, por enquanto mera retórica (...), não atemorizou, não inibiu, não constrangeu os de sempre” (FAORO,
1990, p.31).
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em que sempre os mesmos interesses são distintas. Nada garantiria que eles não fossem
favorecidos, o predomínio tecnoburocrático que também sucumbir a uma mesma lógica de
torna possível a manutenção de uma aliança outrora e de sempre. Pela lógica, as regras de
entre as classes dominantes e alguns segmentos lidar com um partido que saísse da base da
encastelados na máquina estatal, as manobras sociedade deveriam ser distintas do que se havia
corporativas e patrimonialistas do grupo de conhecido até então. Mas isso, somente pela
poder, o desprezo à Carta Constitucional, o lógica. “Aqui todo cuidado é pouco. Cuidado com
conservadorismo aventureiro que exacerbava o a novidade, que é sempre imprevista” (Faoro,
personalismo, a exclusão social e política, a 1993e, p.21).
atuação nefasta dos partidos políticos Talvez no início da década de 1990, Faoro
comprometidos quase somente com interesses estivesse um pouco animado com as
mesquinhos e privados, nunca com qualquer possibilidades de mudanças que seriam
interesse coletivo e/ou da nação? oriundas da emergência de partidos como o PT
As ações políticas voltadas para o atendimento (Partido dos Trabalhadores) na arena política.
de causas próprias estavam no âmago do Numa entrevista no Caderno Mais da Folha de S.
processo em curso na década na década de 1990. Paulo, de 14 de maio de 2000, ele fazia uma
As ações dos partidos políticos davam o subsídio afirmação não tão entusiástica:
fundamental para a manutenção de um padrão
de domínio autoritário. Naquele momento, Faoro “Sempre achei que o trabalhador devia
tecia uma crítica contundente aos partidos que, ter um partido, uma representação. Era
até então, se alimentavam de expedientes necessário à democracia. Não sei se o
fundados em interesses próprios das classes PT é um partido operário, mas é o que
dirigentes. Mas havia ainda algo mais mais se aproximaria. (...) Acho o PT,
preocupante nessa relação dos governantes com como idéia, muito interessante. Como
os partidos políticos, ou seja, muitas vezes o realização, eu não tenho a menor
governo recrutava dentro dos partidos aqueles simpatia. O Lula se tornou
que lhe interessavam por razões das mais simplificador dos problemas, o que não
variadas que iam desde relações pessoais até é bom. Convidou-me para vice-
interesses escusos. Algumas vezes, ao longo da presidente da República, do que não há
história do país, as escolhas eram feitas sem hipótese” (Faoro, 2000, p.12).
consultar os próprios partidos. Havia, naqueles
poucos anos após a instauração do Faoro diz algo que deve ser destacado: o
pluripartidarismo em 1979, o risco de que a embate político que tem de ser travado, no país,
relação entre governantes e partidos para redefinir a prática política, em geral, e os
permanecesse apegada a essa tradição de procedimentos no âmbito do Estado e do
partidos subservientes, em razão de interesses de governo, em particular, não deve estar pautado
alguns, ao um caciquismo que era estimulado em qualquer simplificação dos problemas com
pela própria relação entre partido e governantes. os quais a nação tinha de se debater nos anos
No entanto, Faoro considerava que essa vindouros. Toda simplificação era um desserviço
relação poderia ser transformada nos anos para o país. Para ele, que havia dedicado a vida
vindouros, ou seja, no decorrer da década de toda para demonstrar quão complexos eram os
1990, à medida que fossem formando partidos vícios e os arcaísmos presentes no Brasil, era
que não saíssem somente da “cúpula, mas da inadmissível qualquer simplificação. Os desafios
base da sociedade” (Faoro, 1993e, p.21). Ele que surgiriam no final do século XX e no limiar
tinha uma expectativa razoavelmente positiva em do século XXI eram imensos, pois a nação não
relação aos partidos que emergissem de havia ainda resolvido nenhum de seus impasses
segmentos não tradicionalmente ligados aos (exclusão política, exclusão social, desigualdade,
setores preponderantes. A vigência de partidos pobreza, representatividade política capenga,
dessa natureza poderia colocar desafios ao partidos fragilíssimos, sociedade civil pouco
padrão de domínio vigente, uma vez que organizada, espaço público quase inexistente,
emergiria uma nova forma de relação entre os etc.) que percorriam sua história e ainda se
governantes e os partidos. Mas não se poderia ter depararia com novos desafios tanto internos
certeza disso; por essa razão ele aconselhava quanto externos.
todo cuidado com as novidades que surgiriam Alguns acontecimentos postos em marcha em
desse aparecimento de partidos com bases 1993 davam uma boa dimensão desses desafios.
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Discutindo o fim do governo Collor (1990-1992) superação do passado, mas sim transação,
e a ascensão do governo Itamar Franco (1992- conciliação10. Portanto, não era estranho que os
1994), Faoro dizia que nos primeiros meses governantes abraçassem um suposto
daquele ano as coisas pareciam dúbias. Mas em neoliberalismo mantendo intocadas as práticas
que sentido? No da dificuldade de o governo tutelares, populistas, personalistas e
deixar claro qual caminho seguiria. Seria o da clientelistas.
trilha neoliberal propalada por seu antecessor
ou seria a do paternalismo. Ou haveria uma Por que os planos econômicos revelavam a
combinação dessas duas trilhas? substancialidade de modos de governar
oligárquicos e autoritários?
“Depois de desenhado o perfil da
direção político-social do país, só No Brasil, o neoliberalismo, no início da década
então, poder-se-á prever qual o rumo de 1990, havia sido “vendido como liberalismo
que se vai o que se pretende seguir. social” (Faoro, 1993f, p.21) pelo governo Collor
Esse será o tempo em que se vai ver se de Mello. Mas, de fato, ele tinha que substância?
saímos da trilha neoliberal, em favor de A de “liquidação do Estado”. Tal processo, no
um curso paternalista, agora como rota entanto, não rompia com “a política de
capaz de durar até o termo do mandato laboratório [posta em andamento pelo regime
presidencial. Antes de mais nada, que militar], que usava e abusava das alavancas
vem a ser paternalismo? (...) [Conforme estatais, regulamentando tudo, tudo alterando
diz Sérgio Buarque de Holanda] é o uso em golpes bruscos” (Faoro, 1993f, p.21). Por
de leis ou medidas públicas que, isso, “economicamente, 1989 consolidava 1964.
restringindo a liberdade dos E politicamente 1989 modernizava 1964, com
indivíduos, cuidam de protegê-los” um instrumento tirado de dentro do sistema,
(Faoro, 1993f, p.21). disciplinado pelo sistema, apoiado pelos
financiadores que se fizeram dentro do sistema e
Faoro alertava que tomados em sua forma apoiado pelos agentes que manipulam a opinião”
exata o liberalismo e o paternalismo se excluem. (Faoro, 1990, p.4).
Isto porque este último parte do pressuposto de O autor de Os donos do poder considerava
que os indivíduos não são capazes de acertos que os planos econômicos, todos desastrados,
quando tomam as suas decisões, daí a colocados em marcha a partir de 1979 refletiam
necessidade de restringir-lhes a liberdade e, em o espírito dos pacotaços em que os tecnocratas
seguida, protegê-los e tutelá-los. Aquele tudo podiam e tudo faziam sem qualquer
primeiro -“embora nem todos [os liberais] e nem consideração pela sociedade em geral11. Isso
sempre em todas as circunstâncias” (Faoro, continuava em vigor na década de 1990. Mas
1993f, p.21) - vai sustentar que os indivíduos é enquanto os tecnoburocratas da ditadura
que devem ser os juízes de suas decisões, assim estabeleciam suas medidas econômicas em
o Estado não tem de intervir em suas escolhas, nome de uma necessária regulamentação
sejam elas de qualquer natureza. Em Os estatal, o governo Collor havia apresentado seu
liberalismos, texto publicado em Existe um pacote econômico em nome do neoliberalismo.
pensamento político brasileiro? (1994), Faoro Todavia, na sua essência tais medidas
já havia demonstrado o quão complexa foi a guardavam em comum algo essencial: eram
aplicação dos princípios liberais no país, pois todas elas fruto de uma prática política ultra-
teria ocorrido, desde o século XIX, uma autoritária.
contemporização entre condições (liberalismo e Em O plano e o poder decisório (1993g),
escravidão, por exemplo) que deveriam se Faoro afirmava que era necessário examinar
excluir inteiramente. Conservavam-se antigos historicamente como “a política de
procedimentos, mas davam-se um verniz modernização social”12 havia gerado muitos
supostamente liberal. No Brasil, a tentativa de planos econômicos que tinham como viga
incorporação do liberalismo não significou mestra de seus pressupostos o pensamento
10 Faoro faz uma discussão sobre o debate, produzido desde o século XIX, acerca do desvirtuamento do liberalismo no Brasil (Faoro, 1994a).
11 Observe-se que Faoro não se atinha às disputas entre as Escolas econômicas que lutavam, naquele momento, para comandar as
medidas postas em andamento pelos diversos planos econômicos colocados em marcha nas décadas de 1980 e 1990. Sobre isto ver:
(Moran e Witte, 1993).
12 “Modernização, quer se chame ocidentalização, europeização, industrialização, revolução passiva, via prussiana, revolução do alto,
revolução de dentro - ela é uma só, com um vulto histórico, com muitas máscaras, tantas quantas as das diferentes situações históricas”
(Faoro, 1994b, p.99).
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exacerbadamente dependente do Estado. Todos Raymundo Faoro insistia que o país somente
os segmentos, já acostumados às benesses deste alcançaria mudanças substantivas se os políticos
último, aplaudiram e/ou se calaram diante dos fossem capazes de produzir estratégias
desatinos de um plano que econômicas e sociais viáveis para o país.
Somente assim, não ficaria a nação a mercê de
“Confiscou a propriedade sem o devido alguns membros do Executivo que, na calada da
processo legal, instituiu-se, pela via noite, elaboravam e, no raiar do dia, impunham
oblíqua da ilegalidade, um gigantesco os mais estapafúrdios pacotes de medidas
empréstimo compulsório, tributou-se o visivelmente destrutivas e inúteis para aliviar os
que não podia ser tributado pela forma e problemas que acometiam uma parte expressiva
no tempo escolhido, na marra, da nação brasileira. “Os 11, 12 ou mais planos
autoritariamente. O primeiro abalo se econômicos que por aqui desfilaram não teriam
deu no plano institucional. O Poder sido espetáculos de caçadas, algumas violentas,
Legislativo e o poder Judiciário, este, mas todas inúteis?” (Faoro, 1993h, p.13). Faoro
menos e gravemente, nas instâncias considerava, em 1993, que estava no horizonte a
inferiores do que aquele, se calaram, possibilidade de que outro plano fosse
imóveis, cúmplices, arredios e desfechado nos próximos meses. Tudo indicava
cabisbaixos. Em seguida, a que o próximo plano seria apresentado para a
inconstitucionalidade arrombou a porta população como um verdadeiro milagre capaz de
de todos” (FAORO, 1990c, p.25). “fazer esquecer o triste cotidiano” (Faoro, 1993i,
p.23). A questão era saber quantas luas durariam
Havia, segundo Faoro, uma conjuntura os efeitos desse suposto milagre que estava a
política um pouco diferente no ano de 1993. Era caminho. Faoro estava se referindo ao Plano Real
possível ter a expectativa de que a imobilidade que fora implementado em 1994, o qual, dizia ele
política dos congressistas não era tão alarmante em 1998, havia malogrado, mas esse malogro
quanto foi durante os dois primeiros anos da tinha permanecido encoberto, disfarçado. O
década de 1990. Ele afirmava que, naquele disfarce do fracasso teria sido o maior sucesso do
momento, tinha-se indicação de que os plano em questão (Faoro, 1998, p.40).
congressistas poderiam ir construindo meios e
instrumentos de decisão. Assim poderiam eles 1993: A movimentação política em torno da
rejeitar propostas e oferecer alternativas. reforma constitucional, da governabilidade e
Todavia, o exame mais rigoroso da realidade das eleições presidenciais de 1994
política brasileira indicava que os políticos teriam
grandes dificuldades de tomar decisões capazes Em 1988, conheceram-se, segundo Faoro, as
não só de rejeitar propostas que iam contra os conseqüências da não-convocação de uma
interesses nacionais quanto de propor Constituinte exclusiva (Faoro, 1993d, p.20). Na
alternativas mais condizentes com os interesses verdade, a transformação de um congresso
democráticos do país. constituído em congresso constituinte refletia a
disposição em manter intacto, nos anos
“Não se trata, ao contrário do que se diz seguintes, o oligarquismo. Faoro afirmava que
a todo momento, da capacidade esta disponibilidade transparecia em todos os
subjetiva de decidir, que depende da passos da revisão constitucional. A consulta
sensibilidade e da sabedoria. O que está popular acerca do sistema de governo, da qual o
em causa é algo que pode arquivar a resultado seria incorporado à nova Carta de
tecnocracia, com seu voluntarismo 1988, gerava a expectativa, nos congressistas, de
pirotécnico, ou se a ela, por paralisia que, caso fosse aprovado o parlamentarismo,
voltar. Em palavras mais diretas: tem o este seria enquadrado, rapidamente, nos moldes
político recursos para articular uma oligárquicos. Com uma “insensibilidade forrada
estratégia econômica e social, relegando de malícia” (Faoro, 1993d, p.20), os políticos
o técnico à sua função de auxiliar e brasileiros pareciam muito à vontade com
conselheiro, ou indigente de poder, qualquer resultado que viesse a ocorrer no
quererá ser, como outrora, como há plebiscito de 21 de abril de 1993.
muito tempo, uma flor na botoeira dos Os eleitores teriam de dar uma resposta seca,
que mandam e que pensam que são os ou seja, sim ou não para duas perguntas extre-
que sabem?” (Faoro, 1993g, p.26). mamente abertas sobre a forma e o sistema de
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governo. Uma vez que tais respostas não tinham elementares - não fossem feitas, o país entraria
como precisar o tipo de Monarquia, o tipo de em colapso. Vigorava esse tipo de entendimento,
parlamentarismo, etc., os congressistas estavam entre os segmentos dirigentes, desde o fim do
recebendo um “cheque em branco” que comple- regime militar.
tariam como bem entendessem. Era inimaginá-
vel que este papel em branco seria preenchido de “Desde os tempos de Sarney, nos maus
modo a fortalecer a democracia. Tudo indicava momentos que ocuparam quase todo
que as ações tendiam a ir rumo ao ajustamento seu governo, passando por Collor, com a
da decisão popular ao padrão de domínio políti- chancela parlamentar das loucuras da
co autoritário ainda não desmontado no país. equipe econômica, até os dias atuais, a
Em Governabilidade à brasileira, Faoro governabilidade tomou um significado
chamava a atenção para a necessidade de brasileiro, politicamente brasileiro.
esmiuçar os meandros da vida política nacional Desde 1984, não se diz mais que se está
para compreender o quanto o padrão de domínio apoiando o governo, ainda que com o
autoritário estava ainda se reproduzindo sacrifício e os encargos de nele
cotidianamente nas ações dos segmentos participar, mas o político diz que está a
preponderantes. Isso era visível não somente no serviço da governabilidade. Se
modo pelo qual os congressistas vislumbravam retirarmos o apoio ao governo, grita o
conduzir os resultados do plebiscito de abril de deputado, murmura o senador e segreda
1993, mas o era também no modo como a tese da o ministro, a casa cai, levando, na queda,
governabilidade adentrou a vida política de o regime. É preciso, como conseqüência
maneira totalmente modelada pelas práticas necessária, escorar o presidente, até sua
autoritárias que passavam a ser justificadas em morte. O enfermo deve ser mantido vivo,
nome de um necessário apoio às ações ainda que às custas de instrumentos que
visivelmente antidemocráticas. Uma vez que nas mascarem, nas batidas cardíacas, a
ciências sociais passou-se a se referir como não- vida” (Faoro, 1993j, p.25).
governabilidade aquelas situações, identificadas
como “crises de governo e eventual crise de Havia algo que o exame da vida política
legitimidade” (Faoro, 1993j, p.25), no mundo brasileira, naquele momento, realmente punha
político brasileiro se incorporou em parte essa às claras: a adaptação do oligarquismo, do
noção. Houve, também, em parte, a adaptação da autoritarismo aos novos tempos. Agora, em
noção de governabilidade aos interesses escusos nome da governabilidade se sustentavam
daqueles que comandam o padrão de domínio inúmeras ações que eram justificadas em nome
vigente no país. de um fatalismo. Se as coisas não se
Em muitos momentos, os procedimentos processarem dessa maneira, ou seja, sobre essas
mais disparatados e autoritários eram bases, o país estaria perdido. Todos estariam
justificados em nome de uma suposta condenados ao fracasso da transição e das
governabilidade. Uma definição, bem brasileira instituições que se erguiam das cinzas
desta última, havia adentrado o universo político ditatoriais. Como já alertava Karl Mannheim
e estava sendo utilizada como o remédio para (1986), todo fatalismo é essencialmente
todas as dificuldades geradas pelos embates e conservador20. Quase sempre os fatalistas
pelas alianças políticas postas em andamento. possuem interesses a preservar, a manter dentro
Assim como no Brasil, tinha havido uma de uma dada lógica de poder. Ao dizer: ou
adaptação da noção de liberalismo ás práticas apoiamos o governo, mesmo sendo este
autoritárias, estava havendo também uma perpetuador de medidas que afrontam o estado
adaptação da noção de governabilidade a essas de direito e a democracia, ou perecemos todos,
mesmas práticas. Por isso que, no cotidiano da os políticos se declaravam empenhados a tudo
vida política, tudo que era feito era justificado em fazer em nome de uma suposta governabilidade.
nome de viabilidade do país. Os “vivedores da Segundo Faoro, o efeito mais perverso disso tudo
política”, para utilizar um termo de Manoel era, sem dúvida, a exaltação e a ascensão de
Bomfim (1931), afirmavam que se as alianças - atitudes e indivíduos que estavam “dispostos a
mesmo aquelas mais absurdas e que todos os oportunismos” (Faoro, 1993j, p.25)
sacrificavam os princípios democráticos mais imagináveis e inimagináveis.
20 “O conservadorismo, com sua simpatia pelo princípio de quieta non movere, (...) simplesmente encarando o real como algo que
existe; (...) resulta numa tendência ao fatalismo” (Mannheim, 1986, p.121).
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estagnação e de obstinada inflação, uma brasileira. Muitas vezes, essa ilusão era vendida,
justificativa para que seja reconhecida bem como a de que, num lance eleitoral, as elites
como dominante e como dirigente. A seriam substituídas inteiramente. Alguns
alternativa, ao que adverte, por exempo, candidatos, Collor de Mello, por exemplo, em
Barrington Moore Jr. (em A Injustiça 1989, vendeu esta idéia, a de que, numa bravata,
[1987]) seria a seguinte: ou os líderes da sem qualquer programa político-partidário e sem
classe dominante e dirigentes fracassa- qualquer distanciamento dos métodos das velhas
ram, sem contaminar a ordem social e elites curtidas pelos arranjos oligárquicos, ele
econômica, ou fracassou a base sobre a seria capaz de transmutar a história em curso22.
qual aquela floresce (Faoro, 1993n, Raymundo Faoro (1993n, p.19) afirmava que
p.19). as bravatas eleitorais se faziam sobre um país
“devastado, destroçado e saqueado”. E o mais
O futuro imediato esclareceria a natureza do grave de tudo isso era que não se vislumbrava
fracasso, ou seja, as eleições vindouras, a partir qualquer certeza quanto à possibilidade de
de 1994, indicariam novos governantes que reversão desse quadro no futuro próximo. Os
revelariam, através de suas ações, se o malogro espaços de incertezas eram enormes bem como
da transição política se restringia ou não aos aqueles coalhados de armadilhas e de riscos
últimos anos da década de 1980 e aos primeiros (Faoro, 1993n) que eram realimentados
da década de 1990 e/ou se havia alcançado a cotidianamente tanto pela ação como pela inação
ordem social e econômica como um todo. Seria dos diversos segmentos que compunham os
um fracasso conjuntural e/ou seria mais setores dominantes e dirigentes. Ele dizia que
profundo do que isso? Em 1993, Faoro afirmava era observável que muitos prefeitos, deputados,
que não era possível ainda responder a essa senadores e governadores, diante das eleições
pergunta, à qual ele vai responder na segunda gerais e simultâneas que ocorreriam em 1994,
metade da década de 1990 em seus artigos procuravam manter-se “quietos, sem levantar
analisando o período que se inicia com o governo muitas ondas” (Faoro, 1993º, p.19) para que o
de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002). coro social não viesse a despertar e a perturbar a
Mesmo não sendo possível discutir, no âmbito dança política e social em andamento.
deste artigo, as suas reflexões acerca desse Faoro argumentava que, examinando os
período último citado, o que será feito em outros dados do IBGE (Instituto Brasileiro dfe
artigos subseqüentes, pode-se dizer que Faoro Geografia e Estatística) no início da década de
detectava que o malogro da transição havia 1990, ficava evidente que o país estava
afetado não só governos de modo isolado, mas despencando ladeira abaixo, o que era
também a ordem econômica e social, daí a confirmado, principalmente, pela concentração
dificuldade das eleições sucessivas trazerem de renda detectada pelos dados publicados
remédios para os males em curso. naquela ocasião pelo Anuário Estatístico do
Não havia qualquer dúvida de que os Brasil. A velocidade desse processo de expansão
conservadores que conduziam a política desde a das desigualdades chamava a atenção. “Para só
independência tinham a velha fórmula para todos citar um exemplo: o rendimento médio mensal
os males: manter o autoritarismo e o oligarquismo caiu de cz$ 35.354 em 1989 para 28.774 em
intactos. Todavia, se a ordem econômica e social se 1990 (valores deflacionados). Lembre-se ainda
encontrava fragilizada pelo processamento político que, para uma população ocupada de 62 milhões
em curso, não existia qualquer solução senão de pessoas, só 31 milhões contribuem para os
romper com a estrutura oligárquica que minava a institutos de previdência; entre os empregados
democracia, o Estado de direito e a ampliação do quase a metade não possui carteira de trabalho
espaço público. Essa era a encruzilhada na qual o assinada”23 (Faoro, 1993o, p.19).
país se encontrava: a dificuldade de redefinir O que interessa compreender, dizia Faoro, é o
simultaneamente o padrão de organização social e que esses números significavam para aqueles
o padrão de mando e de domínio político, ambos que pleiteavam cargos políticos nas eleições
sedimentados ao longo da história do país. vindouras? O que esses números queriam dizer
Assinale-se que era inimaginável a possibili- para quem se propunha a assumir a condição de
dade de, “num lance eleitoral”, transmutar signifi- dirigentes nas várias instâncias de poder? Para a
cativamente a organização social e política maioria dos pleiteadores de cargos públicos,
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infelizmente, tais números não queriam dizer CAMATA chora no plenário do Senado e pede
muita coisa, já que os que governam, dentro afastamento do Conselho de Ética (2009b) Folha
desse modelo oligárquico, têm em mente o de S. Paulo, São Paulo, 21 abr. Caderno A, p.4.
seguinte: todos aqueles que são excluídos e têm Castro, Josué de (1961). Geopolítica da fome.
sua cidadania fragilizada pela miséria continuam São Paulo, Brasiliense.
sendo eleitores. Isso é o que lhes interessa, nada CIRO ataca Ministério Público e deputados
mais. “O pobre, isolado e banido [renegado pela (2009e) Folha de S. Paulo, São Paulo, 23, abr.
sociedade], continua a ser um eleitor um eleitor Caderno A, p.6.
expulso da cidadania” (Faoro, 1993º, p.19), mas Cohn, Gabriel (1988). Uma persistência de
com grande potencialidade para ser seduzido geólogo pelas camadas do poder. In O Estado de
por charlatões e demagogos. Em tais condições, S.Paulo, São Paulo, 19 nov. Caderno 2, p.4.
por que os políticos oligárquicos e autoritários se DEPUTADOS querem mais dinheiro por maior
interessariam, de fato, pelos números que transparência (2009). Folha de S. Paulo, São
indicavam aprofundamento da pobreza e das Paulo, 22 abr. Caderno A, p. 4.
desigualdades? E por que se interessariam eles DEPUTADOS usam dinheiro da Câmara para
em propor algo efetivo? Pensam eles: deixemos família passear (2009c,). Folha de S. Paulo, São
tudo para depois. Adiar qualquer solução tem Paulo, 17 abr. Caderno A, p.4.
sido a saída encontrada pelos dirigentes ao longo Faoro, Raymundo (1981). Assembléia
de nossa história. Constituinte: a legitimidade recuperada. São
Enquanto os dirigentes adiam qualquer Paulo: Brasiliense.
solução para os problemas sociais e políticos que Faoro, Raymundo (1988). Machado de Assis: a
assolam o país, a população vai se tornando mais pirâmide e o trapézio. Rio de Janeiro, Globo.
e mais descrente na política. A descrença embota Faoro, Raymundo (1988ª). O subterrâneo do
o desejo da mudança. Conforme afirmava Manoel atraso. IstoÉ/Senhor. São Paulo, n.987, p.27, 17
Bomfim, em 1905, o desejo da mudança é algo ago.
que tem de ser criado socialmente. No Brasil, as Faoro, Raymundo (1989). Os donos do poder.
classes dirigentes, dizia ele, não têm feito outra Porto Alegre, Global.
coisa senão matar esse próprio desejo (Bomfim, Faoro, Raymundo (1989ª). A querela do
1993). “Para a parcela que, acreditando hoje, parlamentarismo. IstoÉ/Senhor, São Paulo,
deixa amanhã de ter esperança, um salvador será n.1023, p.31, 26 abr.
a esperança de quem perdeu todas as Faoro, Raymundo (1989b). As utopias
esperanças. Salvador civil ou militar, impostor eleitorais e eleitoreiras. IstoÉ/Senhor, n.1029,
ou crente, que, alçado ás grandezas pelos que p.31, 07 jun.
sentiram cair a flor das mãos, governa com os de Faoro, Raymundo (1989c). Esses Aires.
cima” (Faoro, 1993p, p.31). IstoÉ/Senhor, São Paulo, n.1037, p.23, 02 ago.
Enfim, pode-se dizer que Raymundo Faoro, Faoro, Raymundo (1990). O Plano: o improviso
em 1993, reafirmava suas principais teses e a incerteza. IstoÉ/Senhor, São Paulo: n. 1071,
longamente discutidas em Os donos do poder. A p.31, 28 mar.
principal delas é a de que o Estado, os Faoro, Raymundo (1990ª). O sonho da ilha
tecnocratas, os detentores dos cargos públicos, fiscal e outros sonhos. IstoÉ/Senhor, São Paulo,
os segmentos que controlam as instituições, etc. n.1069, p.39, 14 mar.
vão muito bem, enquanto a população mais Faoro, Raymundo (1990b). A corte de
pobre vai muito mal. A política das instituições e Henrique IV. IstoÉ/Senhor. São Paulo, n.1078,
a política econômica reafirmavam essa lógica que p.21, 16 maio.
dissocia o Estado da sociedade para, assim, fazer Faoro, Raymundo (1990c). Coerências e
valer melhor os interesses pessoais daqueles que trapalhadas. IstoÉ/Senhor. São Paulo,, n.1080,
estão à frente das instituições que deveriam zelar p.25, 30 maio.
pelo bem público, mas não o fazem. Faoro, Raymundo (1991). Entre o direito e o
torto. IstoÉ/Senhor, São Paulo, n.1133, p.17, 12
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