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ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

EMAP



















Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

SUMÁRIO

SUMÁRIO .............................................................................................. 2
1. RAIO-X DOS EXAMINADORES ......................................................... 7
1.1. Desembargador Lauri Caetano Da Silva (Presidente), ................... 7
1.2. Desembargador Vicente del Prete Misurelli, ................................. 8
1.3. Desembargador Luís Carlos Xavier ................................................ 8
1.4. Doutora Elizabeth Maria de França Rocha e ................................ 10
1.5. Desembargador Luiz Cezar Nicolau (suplente), ........................... 10
1.6. (OAB) Doutor Alexandre Hellender de Quadros (titular) ............. 11
1.7. (OAB) Doutora Estefânia Maria de Queiroz Barboza (suplente) .. 12
2. JULGADOS DOS EXAMINADORES................................................. 14
2.1. Lauri Caetano Da Silva ................................................................. 14
2.1.1. REVISIONAL DE COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA ...................... 14
2.1.2. EMBARGOS MONITÓRIOS – CAUSA MADURA ...................................... 27
2.1.3. CDC – COMPRA E VENDA DE VEÍCULO ZERO – VÍCIO DE QUALIDADE
............................................................................................................................. 30
2.1.4. CONTRATO DE CORRETAGEM ............................................................... 39
2.1.5. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA – RESCISÃO CONTRATUAL E
REINTEGRAÇÃO DE POSSE ............................................................................... 53
2.1.6. AÇÃO DEMARCATÓRIA E EXCEÇÃO DE USUCAPIÃO .......................... 64
2.1.7. COMISSÃO DE CORRETAGEM – DÚVIDA SOBRE O CREDOR ............... 73
2.1.8. DECLARATÓRIA DE ADIMPLEMENTO C/C IMISSÃO NA POSSE ........... 80
2.1.9. REVISIONAL DE CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO – JUROS
COMPOSTOS ...................................................................................................... 93
2.1.10. LEASING – AUSÊNCIA DO CONTRATO REVISANDO ........................... 99
2.1.11. RESCISÃO DE CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE
ESTABELECIMENTO COMERCIAL ................................................................... 104
2.1.12. USO INDEVIDO DE MARCA - DUDALINA ............................................ 109
2.1.13. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO – COMISSÃO DE PERMANÊNCIA
........................................................................................................................... 120
2.1.14. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS E PRODUÇÃO ANTECIPADA DE
PROVAS ............................................................................................................. 130
2.1.15. REVISIONAL BANCÁRIA – TARIFAS DE CONTRATAÇÃO ................... 134
2.1.16. DESCABIMENTO DE CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS – CAUSÍDICO
QUE NÃO PROVOCOU O RESULTADO........................................................... 139
2.1.17. AÇÃO PETITÓRIA APÓS AÇÃO POSSESÓRIA IMPROCEDENTE ........ 141
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2.1.18. CDC – COMPRA E VENDA DE VEÍCULO USADO ................................ 145


2.1.19. REVISIONAL BANCÁRIA – INEXISTÊNCIA DE ABSUIVIDADE DURANTE
O PERÍODO DE EXECUÇÃO DO CONTRATO - MORA DO DEVEDOR .......... 153
2.1.20. BUSCA E APREENSÃO EM ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA –
CONSOLIDAÇÃO DA PROPRIEDADE NAS MÃOS DO CREDOR.................... 157
2.1.21. DEVOLUÇÃO DO VRG ......................................................................... 160
2.1.22. DECLARATÓRIA DE QUITAÇÃO – NOVAÇÃO CONTRATUAL ........... 166
2.1.23. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA – IMPUTAÇÃO AO PAGAMENTO .............. 170
2.1.24. CHEQUE – AÇÃO DE ENRIQUECIMENTO ILÍCITO ............................. 175
2.1.25. PROCESSO ADMINISTRATIVO MOVIDO PELA UNIMED CONTRA
MÉDICO COOPERADO – DANO MORAL ........................................................ 180
2.1.26. RECUPERAÇÃO JUDICIAL E ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA....................... 186
2.2. Vicente del Prete Misurelli ......................................................... 190
2.2.1. DANOS MORAIS – INSCRIÇÃO DEVIDA – DANO NÃO CONFIGURADO
........................................................................................................................... 190
2.2.2. RESPONSABILIDADE CIVIL DO LOCADOR – AUSÊNCIA DE PROVAS . 193
2.2.3. ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO – CAUSA PRIMÁRIA E DETERMINANTE
........................................................................................................................... 196
2.2.4. ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO – VÍTIMA FATAL – “CHAPA”
CONTRATADO PELO MOTORISTA ................................................................. 203
2.2.5. RESPONSABILIDADE SECURITÁRIA HABITACIONAL ........................... 206
2.2.6. ACIDENTE EM RODOVIA SOB CONCESSÃO – DANOS MORAIS ........ 212
2.2.7. DPVAT – PAGAMENTO PARCIAL ........................................................... 217
2.2.8. ACIDENTE – QUEDA EM ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL –
CAUSALIDADE ADEQUADA............................................................................. 219
2.2.9. ACIDENTE – ATROPELAMENTO DE ANIMAL POR MOTOCICLETA –
RESPONSABILIDADE DO DONO DO ANIMAL................................................ 222
2.2.10. ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO – DISCUSSÃO ENTRE OS
ENVOLVIDOS – APEDREJAMENTO DO CARO DE UM DELES – MERO
DISSABOR ......................................................................................................... 225
2.2.11. SEGURO FINANCIAMENTO AGRÍCOLA – FRUSTRAÇÃO DE SAFRA –
DEBATE SOBRE A PRODUTIVIDADE ............................................................... 227
2.2.12. INVALIDEZ PERMANENTE – LER-DORT ............................................... 230
2.2.13. ESPERA EM FILA DE BANCO – INEXISTÊNCIA DE DANO MORAL .... 234
2.2.14. OSCILAÇÃO DE ENERGIA E DANOS A EQUIPAMENTO ELETRÔNICO
........................................................................................................................... 236
2.2.15. RESPONSABILIDADE CIVIL DA EMPRESA E DO EMPREGADO –
PENSIONAMENTO ........................................................................................... 239
2.2.16. SEGURO PRESTAMISTA ....................................................................... 243
2.2.17. TAXAS CONDOMINIAIS E O DEVER DE PAGAMENTO ...................... 246
2.2.18. ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO E CULPA CONCORRENTE ............... 250
2.2.19. DANOS CAUSADOS POR ADVOGADO EM DEMANDA – PERDA DE
UMA CHANCE .................................................................................................. 254

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2.2.20. PLANO DE SAÚDE – TERAPIA OCUPACIONAL ................................... 258


2.2.21. RESPONSABILIDADE ODONTOLÓGICA – TRATAMENTO
INTERROMPIDO PELO PACIENTE ................................................................... 261
2.2.22. CONTRATAÇÃO DE FINANCIAMENTO POR ESTELIONATÁRIO –
TEORIA DO RISCO............................................................................................ 264
2.2.23. QUEDA NO INTERIOR DO ÔNIBUS – RESPONSABILIDADE DO
TRANSPORTADOR............................................................................................ 268
2.2.24. RESPONSABILIDADE CIVIL DA IMPRENSA – IMPUTAÇÃO DE
ADOLESCENTE COMO LADRÃO..................................................................... 274
2.2.25. RESPONSABILIDADE CIVIL AEROVIÁRIO – FORÇA MAIOR................ 277
2.2.26. PLANO DE SAÚDE – FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO ............. 279
2.2.27. OBESIDADE MÓRBIDA – NEGATIVA DE COBERTURA ....................... 282
2.3. Luís Carlos Xavier ....................................................................... 286
2.3.1. REVISÃO CRIMINAL – ALTERAÇÃO DA PENA DE OFÍCIO ................... 286
2.3.2. REINCIDÊNCIA E FIXAÇÃO DE REGIME DE PENA MAIS GRAVOSO ... 296
2.3.3. CRIME AMBIENTAL – SUPRESSÃO DE ARAUCÁRIAS............................ 298
2.3.4. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE E DIREÇÃO SEM HABILITAÇÃO ............. 303
2.3.6. POSSE DE ARMA DE FOGO – INEXISTÊNCIA DE ESTADO DE
NECESSIDADE – CRIME POSTERIOR QUE NÃO PODE SER UTILIZADO PARA
CONFIGURAR MAUS ANTECEDENTES ........................................................... 316
2.3.7. HC – PRISÃO PREVENTIVA – EXISTÊNCIA DE FILHOS MENORES –
PEDIDO DE PRISÃO DOMICILIAR .................................................................... 320
2.3.8. ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA ......................................................................... 325
2.3.9. SONEGAÇÃO DE AUTOS....................................................................... 344
2.3.10. ATO INFRACIONAL – ROUBO CIRCUNSTANCIADO E SEQUESTRO
QUALIFICADO .................................................................................................. 349
2.3.11. EXECUÇÃO PENAL ANTECIPADA – ABSOLVIÇÃO EM PRIMEIRO GRAU
E CONDENAÇÃO EM SEGUNDO GRAU – IMPOSSIBILIDADE ....................... 355
2.3.12. PECULATO-DESVIO – ABSOLVIÇÃO – ATIPICIDADE .......................... 358
2.3.13. RECEPTAÇÃO, ADULTERAÇÃO DE SINAL IDENTIFICADOR,
CORRUPÇÃO ATIVA ......................................................................................... 382
2.3.14. ATO INFRACIONAL – UTILIZAÇÃO DE PROVA EMPRESTADA ........... 390
2.3.15. CALÚNIA – ANIMUS JOCANDI – ABSOLVIÇÃO .................................. 400
2.3.16. FIXAÇÃO INDENIZAÇÃO MÍNIMA – PEDIDO MINISTERIAL NAS
ALEGAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 405
2.3.17. INDENIZAÇÃO MÍNIMA – NECESSIDADE DE CONTRADITÓRIO SOBRE
O VALOR (JULGADO DE 2015) ........................................................................ 415
2.3.18. PECULATO – CRIME CONTINUADO – CRITÉRIO PARA EXASPERAÇÃO
........................................................................................................................... 421
2.3.19. RECEPTAÇÃO E USO DE DOCUMENTO FALSO – DESIGNIOS
AUTÔNOMOS – CONCURSO MATERIAL ........................................................ 439
2.3.20. MAUS ANTECEDENTES – CRIME ANTERIOR COM TRÂNSITO EM
JULGADO POSTERIOR ..................................................................................... 448

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2.3.21. REINCIDÊNCIA – EXASPERAÇÃO ACIMA DE 1/6 – AUSÊNCIA DE


FUNDAMENTAÇÃO ......................................................................................... 463
2.3.22. CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS – CRITÉRIO DE 1/6 DE EXASPERAÇÃO
POR CIRCUNSTÂNCIA – PEDIDO DA DEFESA ................................................ 473
2.3.23. EMBRAGUEZ AO VOLANTE – VERIFICAÇÃO POR OUTROS MEIOS .. 500
2.4. Elizabeth Maria de França Rocha ............................................... 506
2.4.1. CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO EM CONTA CORRENTE ..... 506
2.4.2. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS E REVISÃO DE CLÁUSULAS
CONTRATUAIS.................................................................................................. 510
2.4.3. CONTRATO DE EMPRÉSTIMO – FIADOR – MORA – TAXA DE JUROS
PACTUADA ....................................................................................................... 517
2.4.4. CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO EM CONTA CORRENTE –
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS NÃO PACTUADA ............................................... 529
2.4.5. EMBARGOS À EXECUÇÃO – ESPÓLIO – LEGITIMIDADE ..................... 539
2.4.6. DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO – ERRO NO VALOR
APONTADO – HÁ DÍVIDA EM VALOR DISTINTO ............................................ 543
2.4.7. DECLARATÓRIA INEXISTÊNCIA DE DÉBITO – CDC –
RESPONSABILIDADE OBJETIVA AFASTADA – CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA
........................................................................................................................... 546
2.4.8. PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE.............................................................. 552
2.4.9. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL DE
OUTRO ESTADO – ILEGITIMIDADE ATIVA ...................................................... 555
2.4.10. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE........................................................... 560
2.4.11. BUSCA E APREENSÃO – FALECIMENTO RÉU ANTES DE AJUIZADA A
AÇÃO ................................................................................................................ 566
2.4.12. CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO ..................................................... 569
2.4.13. DECLARATÓRIA DE QUITAÇÃO DE DÉBITO E INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS ............................................................................................... 572
2.4.14. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – PRESCRIÇÃO
........................................................................................................................... 577
2.4.15. HONORÁRIOS PERICIAIS – ACORDO NOS AUTOS – ASSISTÊNCIA
JUDICIÁRIA GRATUITA ..................................................................................... 580
2.4.16. EMBARGOS À ARREMATAÇÃO ........................................................... 583
2.4.17. CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS – AUSÊNCIA DE
REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO ............................................................... 589
2.4.18. IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA – BEM DADO EM
HIPOTECA ......................................................................................................... 592
2.4.19. DANOS MORAIS – INDENIZAÇÃO – RESPONSABILIDADE OBJETIVA
AFASTADA – INEXISTÊNCIA DE DEFEITO NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO .... 597
2.4.20. CONTRATO DE MÚTUO ...................................................................... 601
2.5. Luiz Cezar Nicolau (suplente) ..................................................... 607
2.5.1. IRDR – FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE FORNECIMENTO DE
ÁGUA – ADMISSÃO .......................................................................................... 607

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2.5.2. ACIDENTE – ENGAVETAMENTO ........................................................... 612


2.5.3. ACIDENTE – DANO MORAL PELA INDISPONIBILIDADE DO VEÍCULO –
CRITÉRIOS PARA FIXAÇÃO DE CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS
MORATÓRIOS................................................................................................... 615
2.5.4. AGRAVO DE INSTRUMENTO – CPC/15 – ROL TAXATIVO.................... 618
2.5.5. DANO MORAL DECORRENTE DE OFENSAS VERBAIS – PARÂMETRO
INDENIZATÓRIO ............................................................................................... 620
2.5.6. DIREITOS AUTORAIS .............................................................................. 628
2.5.7. EMBARGOS DE TERCEIRO ..................................................................... 632
2.5.8. JUROS E CORREÇÃO POR DANO MORAL POR INSCRIÇÃO INDEVIDA
........................................................................................................................... 635
2.5.9. RESPONSABILIDADE CIVIL DISSUASÓRIA............................................. 639
2.5.10. AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO – CONVENÇÃO ARBITRAGEM ............... 643
2.5.11. VÍCIO REDIBITÓRIO – DANO MORAL (INEXISTÊNCIA) ...................... 644
2.5.12. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA – DIREITO DE RETENÇÃO . 648
2.5.13. REPRESENTAÇÃO COMERCIAL – EXCLUSIVIDADE DE DISTRIBUIÇÃO
DE BEBIDAS ...................................................................................................... 653
2.5.14. ANULAÇÃO DE COMPRA E VENDA - ERRO ....................................... 661
2.5.15. CONTRATO DE RECOMPRA DE TÍTULOS ........................................... 666
2.5.16. MONITÓRIA – CHEQUE PRESCRITO ................................................... 670
2.5.19. RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL ............... 673
2.5.20. CESSÃO DE DIREITOS ECONÔMICOS DE ATLETA ............................ 676

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1. RAIO-X DOS EXAMINADORES

1.1. DESEMBARGADOR LAURI CAETANO DA SILVA (PRESIDENTE),


Biografia: Lauri Caetano da Silva, filho de Elias Caetano da Silva e de Odete

Marchioratto da Silva, nasceu no dia 25 de novembro de 1950, em Curitiba (PR).

Bacharel em direito pela Universidade Católica do Paraná, turma 1975.

Ingressou na carreira do Ministério Público, em 1977, como promotor de justiça

substituto. Exerceu as funções nas comarcas de Maringá, Iporã, Ubiratã, Formosa do

Oeste, Paraíso do Norte, Mandaguari, Guaíra e Apucarana. Promovido para a comarca

de Curitiba, em 1986, chegou a procurador de justiça e procurador geral do estado

junto ao Tribunal de Contas.

Em 15 de abril de 2002, através da vaga do quinto constitucional destinada ao

Ministério Público, foi nomeado juiz do Tribunal de Alçada e, no dia 31 de dezembro

de 2004, foi promovido ao cargo de desembargador do Tribunal de Justiça.

Câmara Julgadora – Presidente da 17ª Câmara Cível Isolada e em Composição

Integral

Competência Material: a) ações relativas ao domínio e à posse pura, excetuadas

quanto a estas as decorrentes de resolução e nulidade de negócios jurídicos;

b) ações relativas ao Direito Falimentar, exceto a matéria penal;

c) ações decorrentes de dissolução e liquidação de sociedade;

d) ações relativas a arrendamento mercantil;

e) ações relativas a contratos de consórcio de bem móvel ou imóvel;

f) ações e recursos alheios às áreas de especialização. (competência residual)




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1.2. DESEMBARGADOR VICENTE DEL PRETE MISURELLI,

Vicente Del Prete Misurelli, filho de Carlos Del Prete Misurelli e de Leone Caldeira

Misurelli, nasceu em Curitiba (PR), em 19 de abril de 1954. Bacharel pela Faculdade de

Direito de Curitiba, turma 1979.

Ingressou na magistratura após concurso para juiz substituto, sendo nomeado em 4 de

abril de 1989 e exercendo as funções nas comarcas de Ibaití e Tomazina. No dia 6 de

junho de 1990 foi nomeado juiz de direito, atuando nas comarcas de Andirá,

Tomazina, Guaíra, Pitanga, Cascavel e Curitiba.

Foi promovido ao cargo de desembargador do Tribunal de Justiça do Paraná em 10

de abril de 2006.

Especialista em Filosofia do Direito, em Teoria Sociológica e em Estudos de Problemas

Brasileiros. Curso de mestrado em Teoria Crítica do Direito, pela Universidade Íbero-

Americana de Andaluzia (Espanha).

Câmara Julgadora – 8ª Câmara Cível Isolada e em Composição Integral

Competência Material: a) ações relativas a responsabilidade civil, inclusive as

decorrentes de acidente de veículo e de acidente de trabalho, excetuada a

competência prevista na alínea b do inciso I deste artigo (inciso I, b) ações relativas a

responsabilidade civil em que for parte pessoa jurídica de direito público ou

respectivas autarquias, fundações de direito público e entidades paraestatais; );

b) ações relativas a condomínio em edifício;

c) ações relativas a contrato de seguro de qualquer natureza, inclusive as execuções

dele derivadas e as ações decorrentes de plano de saúde;

1.3. DESEMBARGADOR LUIS CARLOS XAVIER


Luís Carlos Xavier, filho de Ernesto Rodrigues Xavier e Stapunha Xavier, nasceu no dia

12 de janeiro de 1953, em Curitiba (PR). Bacharel em Direito pela Universidade

Católica do Paraná, turma 1979.

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Ingressou na magistratura como juiz substituto, após concurso, sendo nomeado em 13

de maio de 1987 para a comarca de Cianorte. Aprovado em concurso para juiz de

direito, a partir de 15 de junho de 1989 judicou nas comarcas de Terra Roxa, Palotina,

Pato Branco, Cascavel e Curitiba.

Em 17 de setembro de 2009 foi promovido ao cargo de desembargador do Tribunal

de Justiça do Paraná.

Mestre em Direito Processual Civil pela PUC-SP, lecionou na Universidade Estadual de

Maringá, no Centro Universitário Campos de Andrade - Uniandrade, na Faculdade

Cenecista de Campo Largo e na Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade

Tuiuti do Paraná.

Dissertação de mestrado https://sapientia.pucsp.br/handle/handle/7285

Câmara Julgadora – Presidente da 2ª Câmara Criminal Isolada e em Composição

Integral

Competência Material:

a) infrações penais atribuídas a Prefeitos Municipais;

b) crimes contra a administração pública;

c) crimes contra a fé pública;

d) crimes contra a honra;

e) crimes contra a incolumidade pública, incluídos os definidos no Estatuto do

Desarmamento;

f) crimes contra a ordem tributária e econômica, contra as relações de consumo e

falimentares;

g) crimes ambientais;

h) demais infrações penais, na proporção de metade do que delas for distribuído,

isoladamente, à Terceira, à Quarta e à Quinta Câmara Criminal (III - à Terceira, à

Quarta e à Quinta Câmara Criminal: a) crimes contra o patrimônio; b) crimes contra a

dignidade sexual; c) crimes contra a paz pública; d) infrações penais relativas a tóxicos

e entorpecentes; e) demais infrações penais que não seja: a) crimes contra a pessoa,

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exceto os contra a honra; b) crimes militares definidos em lei; c) processos oriundos do

Conselho de Justificação da Polícia Militar);

i) atos infracionais previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente, por estes

praticados.

1.4. DOUTORA ELIZABETH MARIA DE FRANÇA ROCHA E


Juíza de Direito Substituta em 2º Grau – atualmente fixa na 15ª Câmara Cível Isolada e

em Composição Integral

Câmara Julgadora – 15ª Câmara Cível Isolada e em Composição Integral

Competência material:

a) execuções fundadas em título extrajudicial e as ações a ele relativas, inclusive

quando cumuladas com pedido de indenização;

b) ações relativas a negócios jurídicos bancários e cartões de crédito, inclusive quando

cumuladas com pedido de indenização, excetuada a competência prevista na alínea d

do inciso VII deste artigo;

1.5. DESEMBARGADOR LUIZ CEZAR NICOLAU (SUPLENTE),


Luiz Cezar Nicolau, nasceu em 18 de novembro de 1962 na cidade de Piraí do Sul/Pr.

Formou-se em Direito pela Universidade Estadual de Ponta Grossa em 1988. É

especialista em Direito Processual Civil pelo Instituto de Ciências Sociais do Paraná

(ICSP) e Instituto Brasileiro de Cursos Jurídicos (IBEJ) – 2001 e em Direito Público pela

Escola da Magistratura do Paraná (EMAP) – 2009. Atuou nos cartórios: 4ª Vara Cível e

2ª Vara Cível da Comarca de Ponta Grossa (1979 a 1987) e exerceu a advocacia entre

1987 e 1991. Ingressou na Magistratura em 1990 e atuou como juiz na 60ª Seção

Judiciária e nas Comarcas de Catanduvas, Santa Mariana, Cornélio Procópio, Pitanga,

Londrina e Ponta Grossa. Foi juiz substituto de 2º Grau no Tribunal de Alçada, Turma

Recursal Única, 6ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça e 4ª Câmara Criminal do

Tribunal de Justiça. Foi juiz auxiliar da Corregedoria Geral de Justiça (2005/2006) e juiz

auxiliar da 1ª Vice-Presidência (2011 a 2013). Coordenador da Escola da Magistratura

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do Paraná – Núcleo de Ponta Grossa (1999 a 2002). Professor orientador de Prática

Processual Civil da Escola da Magistratura do Paraná – Núcleo Ponta Grossa (1998 a

2001), professor de Direito Comercial da Escola da Magistratura – Núcleo Ponta

Grossa (1999 a 2000), supervisor pedagógico da Escola da Magistratura do Paraná

(2004 a 2007), professor orientador de Prática Processual Civil da Escola da

Magistratura do Paraná – Núcleo Curitiba (2007 – 2013).

Em 15 de março de 2013 assumiu o cargo de desembargador do Tribunal de Justiça.

Câmara Julgadora – Presidente da 8ª Câmara Cível Isolada e em Composição Integral

Competência Material: a) ações relativas a responsabilidade civil, inclusive as

decorrentes de acidente de veículo e de acidente de trabalho, excetuada a

competência prevista na alínea b do inciso I deste artigo (inciso I, b) ações relativas a

responsabilidade civil em que for parte pessoa jurídica de direito público ou

respectivas autarquias, fundações de direito público e entidades paraestatais; );

b) ações relativas a condomínio em edifício;

c) ações relativas a contrato de seguro de qualquer natureza, inclusive as execuções

dele derivadas e as ações decorrentes de plano de saúde;

Atualmente integrante da Seção Cível

1.6. (OAB) DOUTOR ALEXANDRE HELLENDER DE QUADROS (TITULAR)


Mestre em Direito Empresarial pela Faculdade de Direito de Curitiba. Possui pós-

graduação lato sensu em Direito Administrativo e em Direito do Trabalho. Graduado

em Direito pela Universidade Federal do Paraná. Atualmente é advogado sócio de

Pereira dos Santos, Quadros & Advogados (PSQA), conselheiro da Ordem dos

Advogados do Brasil - Seção do Paraná, professor do Curso de Direito da

Universidade Positivo, professor convidado da Escola Superior de Advocacia de São

Paulo, da Escola Superior de Advocacia do Paraná e do Instituto Brasileiro de Direito

Desportivo. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Desportivo,

Constitucional e Administrativo. Membro da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção

Paraná, do STJD do Judô (auditor). Presidente da Comissão de Direito Desportivo da


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OAB/PR e Diretor Regional do IBDD. Ex-auditor do STJD do Futebol (auditor indicado

pelo Conselho Federal da OAB), do STJD do Ciclismo (presidente).

Mestrado em DIREITO EMPRESARIAL E CIDADANIA.

FACULDADES INTEGRADAS CURITIBA.

Título: Análise crítica dos fundamentos jurídico-constitucionais e reflexos quanto à

efetividade normativa e social do clube-empresa,Ano de Obtenção: 2007.

specialização em DIREITO ADMINISTRATIVO CONTEMPORÂNEO. (Carga Horária:

440h).

FACULDADES INTEGRADAS CURITIBA.

Título: Metropolização e instrumento urbanísticos: o solo criado e a lei de zoneamento

de Curitiba.

1.7. (OAB) DOUTORA ESTEFÂNIA MARIA DE QUEIROZ BARBOZA (SUPLENTE)


Professora Doutora na UFPR e no programa de Mestrado em Direito da UNINTER.

Menção Honrosa no Prêmio Capes de Tese de 2012 pela tese "Stare Decisis,

Integridade e Segurança Jurídica: reflexões críticas a partir da aproximação dos

sistemas de common law e civil law" Sua tese de doutorado foi escolhida como a

melhor de 2011 do PPGD da PUCPR. Doutora e Mestre em Direito pela PUCPR, com

estágio doutoral (doutorado sanduíche) e bolsa CAPES na Osgoode Hall Law School

(York University). Professora Adjunta do Departamento de Direito Público da

Universidade Federal do Paraná e do Mestrado em Direito do Centro Universitário

Internacional - UNINTER.Vice-Presidente da Associação Ítalo-brasileira de Professores

de Direito Administrativo e de Direito Constitucional. Parecerista da Revista DireitoGV.

Foi professora de direito constitucional do curso mestrado na UniBrasil de março de

2011 a julho de 2015.Foi Coordenadora Geral do Curso de Direito da UniBrasil no

período de fevereiro de 2009 à fevereiro de 2012. Foi professora convidada da

Università degli Studi di Palermo nos anos de 2012, 2013 e 2014. É Vice-Presidente da

Comissão de Estudos Constitucionais da da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção

Paraná. Foi Professora visitante na Faculdade de Direito de Toronto em julho de 2016.

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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Público, atuando

principalmente nos seguintes temas: constitucional, previdência, direitos fundamentais,

direitos humanos, democracia, jurisdição constitucional, judicialização da política,

precedentes e common law.

Doutorado em Direito (Conceito CAPES 5).

Pontifícia Universidade Católica do Paraná, PUC/PR, Brasil.

com período sanduíche em York University (Orientador: Bruce Ryder).

Título: Stare decisis, Integridade e Segurança Jurídica: Reflexões Críticas a Partir da

Aproximação dos Sistemas de Common law e Civil law na Sociedade Contemporânea,

Ano de obtenção: 2011.

Mestrado em Direito (Conceito CAPES 5).

Pontifícia Universidade Católica do Paraná, PUC/PR, Brasil.

Título: A Legitimidade Democrática da Jurisdição Constitucional na Realização dos

Direitos Fundamentais Sociais,Ano de Obtenção: 2005.

Orientador: Katya Kozicki.

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2. JULGADOS DOS EXAMINADORES

2.1. LAURI CAETANO DA SILVA

2.1.1. REVISIONAL DE COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL. PEDIDO JULGADO IMPROCEDENTE.

RECONVENÇÃO JULGADA PROCEDENTE. RECURSO DA AUTORA: COMPROMISSO

PARTICULAR DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL A PRAZO. INADIMPLEMENTO

CONTRATUAL. REVISÃO DO PREÇO AJUSTADO PELO IMÓVEL. IMPOSSIBILIDADE.

ELEMENTO ESSENCIAL DO AJUSTE. ONEROSIDADE EXCESSIVA NÃO

COMPROVADA. REVISÃO QUE SÓ SE JUSTIFICA EM CASOS EXCEPCIONAIS.

NECESSIDADE DE DEMONSTRAÇÃO DE PREMENTE NECESSIDADE OU

INEXPERIÊNCIA E INTENÇÃO DE LOCUPLETAMENTO DA OUTRA PARTE.

CIRCUNSTÂNCIAS NÃO ALEGADAS PELA PARTE AUTORA. LIBERDADE DE

CONTRATAÇÃO QUE DEVE SER RESPEITADA. LAUDO PERICIAL. CORRETA

HOMOLOGAÇÃO. FIXAÇÃO DE ALUGUÉIS PELA UTILIZAÇÃO DO IMÓVEL.

POSSIBILIDADE. COMISSÃO DE CORRETAGEM. INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO

CONTRATUAL. RESTITUIÇÃO DEVIDA. RESP. Nº 1.599.511/SP, SOB O REGIME DO

ART. 1.036 E SEGUINTES DO NCPC. ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL DO

CONTRATO. TEORIA QUE NÃO SE APLICA AO CASO CONCRETO. DISTRIBUIÇÃO

DO ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA MANTIDA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 1.

No contrato de compra e venda as partes livremente negociam o preço e forma de

pagamento. 2. Não há como se avaliar a abusividade ou não do preço ajustado do

imóvel, pois na sua composição integram, além do valor de mercado, a sua flutuação,

gastos com infraestrutura, investimentos, etc. 3. É possível a condenação em perdas e

danos consubstanciada em pagamento de aluguéis, mesmo em contrato de compra e

venda. Embora não haja contrato de locação entre as partes, a indenização deve se

dar pelo uso do imóvel, evitando, por seu lado, o enriquecimento sem causa; para que
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se dê indenização justa, criou-se, para tanto, a forma de aluguel. Assim, tendo os

apelantes se utilizado do imóvel durante a vigência do contrato e tendo dado causa à

sua rescisão pelo não pagamento das prestações, são devidos os aluguéis desde o

inadimplemento. 4. "Validade da cláusula contratual que transfere ao promitente-

comprador a obrigação de pagar a comissão de corretagem nos contratos de

promessa de compra e venda de unidade autônoma em regime de incorporação

imobiliária, desde que previamente informado o preço total da aquisição da unidade

autônoma, com o destaque do valor da comissão de corretagem" (REsp 1599511/SP,

Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em

24/08/2016, DJe 06/09/2016). 5. Não é razoável adotar a teoria do adimplemento

substancial do contrato tendo em conta simplesmente um critério numérico, já que

isso afastaria a perquirição acerca da ocorrência de justo impedimento para o

pagamento das prestações vencidas e da própria boa-fé do devedor; além da

utilidade para o credor do exercício de outra fórmula processual para o recebimento

do crédito. 6. Hipótese, ademais, em que o inadimplemento alcança o equivalente a

mais de 60%% do valor do contrato, não se afigurando razoável a adoção da teoria

debatida, sob pena inclusive de se projetar, no campo da realidade social, condutas

de inadimplemento substancial.

(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1637165-6 - Região Metropolitana de Londrina - Foro

Central de Londrina - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime - J. 14.06.2017)

Inteiro teor

I- RELATÓRIO
1. No dia 10 de abril de 2015 Idelzina de Oliveira ajuizou ação de revisão de contrato
de compra e venda de imóvel em face de HD Empreendimentos S/S Limitada,
aduzindo que (a) a construtora HD firmou, em 30.10.1999, contrato particular de
compromisso de venda e compra com José Carlos Ivalea e Cleusa Pinheiro Ivalea, pelo
valor de R$22.500,00 a serem pagos em 124 prestações de R$180,00. Constou do
contrato que as prestações seriam corrigidas e capitalizadas mensalmente pelo índice
do IGP-M; (b) no dia 01.09.2008, com anuência da construtora, os compromissários
compradores cederam os direitos relativos ao contrato em seu favor; (c) o contrato
encontra-se eivado de abusividades que o tornam nulo de pleno direito; (d) efetuou o
pagamento de 85 prestações das 138 contratadas; (e) encontra-se inadimplente, já
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tendo a requerida lhe encaminhado notificação extrajudicial para o pagamento do


débito no prazo de 07 dias; (f) no ato da assinatura do termo de cessão e transferência
de direitos, não foi informada acerca da taxa de juros incidente no contrato e estaria
assumindo a dívida do compromissário comprador originário; (g) as prestações foram
calculadas com o acréscimo de juros capitalizados e de correção monetária pelo índice
IGP-M; (h) não efetuou nenhuma renegociação da dívida; (i) como desejava
permanecer na posse do imóvel, requereu a concessão de tutela antecipada, para
autorizar o depósito em juízo do valor incontroverso.
2. A ré, HD Empreendimentos S/S Limitada, apresentou defesa em sede de
contestação (mov. 23.1 - f.115/146), refutando os termos da inicial, sustentando, em
especial, a validade de todas as cláusulas contratuais e a mora da autora. Assim, pediu
a improcedência dos pedidos e a aplicação das penalidades por litigância de má-fé.
3. A HD Empreendimentos S/S Limitada ofereceu reconvenção (mov. 23.2 - f.
147/165) denunciando o inadimplemento do compromisso de compra e venda do lote
descrito na inicial. Dessa forma, pediu (i) a resolução do contrato; (ii) a reintegração de
posse do terreno; (iii) o reconhecimento da obrigação da autora/reconvinda de arcar
com o pagamento dos débitos relativos ao IPTU, comissão de corretagem, água
e luz; (iv) a condenação da autora/reconvinda ao pagamento de indenização pelo uso
do bem (aluguel).
4. No despacho saneador (mov. 72.1 - f. 401/402), o magistrado de 1º grau
reconheceu a aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor, com a
consequente inversão do ônus da prova e deferiu a produção da prova pericial. O
laudo pericial foi juntado aos autos (mov. 103.1 e 115.1 ­ f. 492/505 e f. 534/535).
5. O MM. Juiz a quo proferiu sentença (mov. 145.1 - f.598/606), pela qual (i) julgou
improcedentes os pedidos revisionais; (ii) julgou procedentes os pedidos
reconvencionais para (a) decretar a rescisão do contrato firmado entre as partes; (b) em
razão da rescisão do pacto: (b.1) determinar a reintegração da ré/reconvinte na posse
do imóvel, condicionando à restituição dos valores pagos e indenização por eventuais
benfeitorias; (b.2) condenar a ré/reconvinte à restituição dos valores pagos pela
autora/reconvinda, devidamente corrigidos pelos índices da contadoria judicial a partir
dos desembolsos e acrescidos de juros de mora de 1% ao mês, a partir da citação,
descontadas as quantias referentes à comissão de corretagem e aos IPTU’s pendentes;
(b.3) condenar a autora/reconvinda ao pagamento de aluguéis mensais a serem
arbitrados em liquidação de sentença, desde a inadimplência até a efetiva
desocupação, devidamente corrigidos pelos índices da contadoria judicial e acrescidos
de juros de mora de 1% ao mês, ambos a partir dos respectivos vencimentos,
autorizada a compensação de valores com os previstos no item anterior (CC, art. 368);
(b.4) reconhecer o direito da autora/reconvinda de indenização pelas benfeitorias úteis
e necessárias implementadas no imóvel objeto do contrato, cujo valor será apurado
em liquidação de sentença por arbitramento e devidamente compensado com os
valores reciprocamente devidos entre as partes; (c) condenar a autora/reconvinda ao
pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, arbitrados em 20%
sobre o valor da reconvenção (NCPC, art. 85, § 2º), observada a gratuidade judicial
(NCPC, art. 98, § 3º).
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Contra esta decisão, ambas as partes opuseram embargos de declaração (mov. 150.1
e 156.1 ­ f. 612/620 e f. 628/634), sendo acolhido, apenas com efeito integrativo, os
embargos de declaração
opostos pela ré/reconvinte, para suprir a omissão referente à análise do pedido de
concessão de tutela antecipada de reintegração de posse (mov. 152.1 e 158.1 - f. 623
e 637).
6. A autora, Idelzina de Oliveira, interpôs recurso de apelação (mov. 165.1 -
f.645/664), postulando a reforma da sentença, aduzindo que: (a) ao caso se aplicam as
disposições do Código de Defesa do Consumidor; (b) houve ofensa ao princípios
basilares da boa-fé objetiva, proteção, informação, transparência, dentre outros; (c) em
nenhum momento afirmou ter renegociado a dívida, apenas confessou que efetuou o
pagamento em atraso de algumas prestações; (d) não sabia que estava assinando um
contrato antigo e que lhe seria cobrado as prestações vencidas há muito tempo; (e) as
prestações foram calculadas com o acréscimo abusivo de juros, os quais devem ser
expurgados; (f) o laudo pericial deixou de considerar valores que foram pagos, bem
como foi produzido com base em um contrato que apresentava inúmeras
irregularidades; (g) o laudo pericial deve ser interpretado de modo mais favorável ao
consumidor; (h) também não é cabível indenização por perdas e danos, uma vez que
não deu causa à resolução do contrato; (i) é abusiva a cobrança da comissão de
corretagem; (j) houve adimplemento substancial do contrato, sendo improcedente o
pedido da ré/reconvinte de resolução do contrato. Ao final, pediu a redistribuição do
ônus da sucumbência.
Contrarrazões de apelação (mov. 174.1 ­ f. 681/698).
É o relatório.
II- VOTO
Presentes os pressupostos recursais de admissibilidade, intrínsecos e extrínsecos,
merece o recurso ser conhecido.
7. Do cotejo dos autos, observa-se que (i) no dia 30.10.1999, José Carlos Ivalea e
Cleusa Pinheiro Ivalea celebraram com HD Empreendimentos S/S Limitada contrato
particular de compromisso de venda e compra, com objetivo de adquirir o lote nº 22,
da quadra nº 07, com área de
255 m2, da planta do Jardim Atlanta, na cidade de Londrina/PR, pelo valor de
R$22.500,00. Na oportunidade, realizaram o pagamento à vista de R$180,00 e
assumiram a obrigação de pagar 124 prestações mensais de R$180,00, vencendo- se a
primeira em 30.12.1999 e a última 30.03.2010 (mov. 23.6 ­ f. 179/183).
Em virtude de problemas econômicos, no dia 17.09.2001, os compromissários
compradores renegociaram a dívida, comprometendo-se a saldar o débito em 150
parcelas mensais de R$150,00, vencendo-se a primeira em 17.09.2001; (ii)
posteriormente, com anuência da construtora, José Carlos Ivalea e Cleusa Pinheiro
Ivalea cederam os direitos do contrato em favor de Antônio Honório (mov. 23.8 ­ f.
185), que cedeu seus direitos para Pedro Pereira de Araújo Sobrinho (mov. 23.9 ­ f.
186) que, por sua vez, cedeu para Idelzina de Oliveira (mov. 23.10 ­ f. 187); (iii) no
instrumento de cessão do contrato constou que ainda restavam 138 prestações em
aberto, as quais deveriam ser pagas conforme “as normas e condições estabelecidas
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no contrato”; (iv) o último pagamento efetuado pela autora foi em 15.01.2015, da


prestação vencida em 17.01.2008; (v) por considerar o contrato omisso acerca do
modo de correção das prestações, ajuizou a presente demanda revisional.
Entretanto os pedidos foram julgados improcedentes, dando ensejo a interposição do
recurso de apelação.
8. Em primeiro lugar, não restam dúvidas, assim como reconhecido na sentença
atacada, que, no presente caso, têm inteira aplicação as disposições do Código de
Defesa do Consumidor, já que a relação negocial efetivada entre as partes
demandantes é uma relação de consumo, cujo objeto envolve compra e venda de
bem imóvel, ofertado à venda por empresa do ramo de loteamentos, em que é praxe
a fixação de cláusulas predeterminadas e sem possibilidade de discussão.
“A revisão do contrato torna-se ainda mais relevante, quando o vertente desequilíbrio
técnico e/ou econômico de uma das partes fica demonstrado, de modo que as
cláusulas que importem em prejuízo concreto ao consumidor devem, sem sombra de
dúvida, ser objeto de apreciação pelo Poder Judiciário, em homenagem aos princípios
norteadores do Direito encartados na Constituição Federal e, mais especificamente, no
Código de Defesa do Consumidor” (TJPR - 7ª C.Cível - AC - 701587-0 - Fazenda Rio
Grande - Rel.: Dilmari Helena Kessler - Unânime - - J. 08.05.2012).
Sobre o tema, válidos são os ensinamentos de Nelson Nery Junior e Rosa Maria de
Andrade Nery:
“(...) O magistrado irá integrar o contrato, criando as novas circunstâncias contratuais.
Para tanto deverá pesquisar e observar a vontade das partes quando da celebração do
contrato de consumo, qual a dimensão da desproporção da prestação ou da
onerosidade excessiva, de forma a recolocar as partes na situação de igualdade
contratual em que se devem encontrar, desde a formação até a execução completa do
contrato (...)” (NERY JUNIOR, Nelson; ANDRADE NERY, Rosa Maria de. Código civil
comentado e legislação extravagante. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 955).
No entanto, não pode a parte autora confundir onerosidade excessiva com o preço
livremente ajustado pelo imóvel, ainda mais quando estamos diante de compra e
venda de imóvel a prazo, cujo preço sofre alterações decorrentes do custo do dinheiro
tomado. Por conta disso, o preço a prazo ajustado entre as partes não se iguala ao
preço do bem, quando comprado à vista, não havendo desequilíbrio entre prestação e
contraprestação, a justificar a invalidade do negócio jurídico firmado pelas partes.
Aqui é preciso esclarecer que na promessa de compra e venda foram estabelecidas as
cláusulas contratuais relativas ao preço, sua atualização, forma de pagamento, prazo,
incidência de encargos moratórios, previsão de remuneração pelo uso do imóvel na
hipótese de rescisão contratual (cláusula penal - previsão de pagamento de aluguel
mensal). No Termo de Cessão e Transferência de Direitos constou expressamente que,
a partir daquele momento, todas os direitos e responsabilidades oriundas do contrato
nº 96 estavam sendo transferidos à autora. No referido termo também constou o
número de prestações em aberto, bem como que o pagamento das mesmas deveria
ser feito de acordo com as disposições contratuais.
Assim, não vejo fundamento para a alegação da apelante, no sentido de que foi
enganada pela construtora, visto que não teria sido informada do real saldo devedor
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do contrato. Isto porque, na formalização do citado ajuste contratual, com a devida


vênia, não se vislumbra qualquer abusividade em razão da completa
ausência de inexperiência do comprador e da alegada desproporcionalidade das
prestações.
Nesse contexto, deve ser aplicado o princípio do pacta sunt servanda, segundo o qual
as disposições contratuais, livremente pactuadas, fazem lei entre as partes
contratantes. Note-se que o preço não é uma cláusula embutida (adesiva) no contrato,
em que a autora/apelante simplesmente teve que aderir. Ao contrário, para a
formalização do contrato, certamente as partes discutiram o preço do imóvel e o
modo como ele seria pago. Ademais, a apelante deve, ao menos, ter pesquisado, no
mercado, valores de outros imóveis em condições similares, ou, então, aceitou as
parcelas pactuadas, de forma livre e deliberada.
Com efeito, o preço firmado pelas partes é elemento essencial do contrato, devendo
sempre ser hígido, quando aderido de forma livre e espontânea.
É importante frisar que o fato de a apelante não cumprir com suas obrigações
(pagamento), não invalida o contrato e nem o torna abusivo. Ora, tanto o valor como a
forma de pagamento estavam expressamente previstos no contrato de compra e
venda, possibilitando a exata compreensão e livre análise acerca do negócio.
Não pode esquecer a apelante que, nos termos ajustados no contrato, as prestações
deveriam ser corrigidas mensalmente (cláusula 2ª ­ item “C” ­ mov. 1.7 ­ f. 180).
Contudo, nos termos esclarecidos pelo perito judicial, a ré aplicou correção monetária
anual1, o que é plenamente aceitável, uma vez que, tratando-se de contratos de longo
prazo, a correção das parcelas é necessária para
se evitar a perda decorrente da variação inflacionária. Tal correção não torna o
contrato mais oneroso.
A adequada atualização monetária é direito de todo aquele que tem a receber dívida
de valor vencida. Como alega a apelante, realmente no contrato não há previsão de
taxa de juros, mas isso se deu por uma razão muito simples, tal encargo não foi
incorporado ao valor das prestações.
A apelante não foi obrigada a aceitar o preço estabelecido pela apelada, muito
menos, assinar o contrato. Tal conduta foi realizada de livre e espontânea vontade,
não podendo ser alegada, neste caso, ignorância a respeito do fato. Se o preço
exigido não estava condizente com a estrutura oferecida pela unidade residencial
(local, infraestrutura, regularização municipal, etc), ou, ainda, com as condições
financeiras da apelante, cabia a esta se abster de firmar o contrato em questão.
Dessa forma, não tendo a apelante comprovado a existência de defeito no negócio
jurídico, como por exemplo: erro, dolo ou coação, presume-se que houve consenso,
logo, o negócio é plenamente válido e eficaz, não sendo possível a revisão do preço
ajustado.
A respeito do tema, este Tribunal assim decidiu:
APELAÇÃO CÍVEL. REVISÃO DE CONTRATO DE COMPROMISSO DE COMPRA E
VENDA DE IMÓVEL. DILAÇÃO PROBATÓRIA. CERCEAMENTO DE DEFESA.
DISCUSSÃO PRECLUSA.

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IMPOSSIBILIDADE DE SE ALTERAR O VALOR DO OBJETO CONTRATUAL. LIVRE


NEGOCIAÇÃO DAS PARTES. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS NÃO DEMONSTRADA.
ADMISSIBILIDADE DO IGP-M COMO FATOR DE ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA.
SENTENÇA DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA. RECURSO NÃO-PROVIDO. 1. Tendo
o juízo entendido que as provas presentes nos autos seriam suficientes para o
julgamento do feito no estado em que encontra-se, sem qualquer insurgência das
partes, resta preclusa a alegação de cerceamento de defesa por não permitir-se a
produção de provas. 2. Ante ao princípio da intangibilidade do conteúdo dos
contratos, é vedado ao Poder Judiciário alterar o preço da coisa livremente pactuada
entre as partes, em compromisso de compra e venda, sem que haja demonstração de
algum vício de vontade. 3. Não demonstrada a prática de capitalização de juros,
residindo a questão em meras especulações da parte, não há como reconhecer-se
qualquer vício na pactuação ou mesmo na execução do contrato. 4. O IGP-M,
adotado livremente pelas partes consiste em indexador oficial, que não pode ser
alterado unilateralmente, para substituição por outro (INPC), mais benéfico ao
consumidor, por não se visualizar nenhuma ilegalidade na estipulação. 5. Apelação
cível à que se nega provimento. (TJPR - 17ª C.Cível - AC 0509212-6 - Foro Regional de
São José dos Pinhais da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Juiz Subst. 2º G.
Francisco Jorge - Unanime - J. 08.10.2008)
APELAÇÃO CÍVEL - REVISÃO DE CONTRATO - COMPRA E VENDA DE BEM IMÓVEL
- PREÇO INICIAL - REVISÃO INADMISSÍVEL - LIVRE INICIATIVA - CLÁUSULAS QUE
OBEDECEM OS DITAMES LEGAIS - NULIDADES NÃO CONFIGURADAS - SENTENÇA
DE IMPROCEDÊNCIA MANTIDA - RECURSO DESPROVIDO. 1. O preço, nos contratos
de compra e venda, são resultado de convenção entre as partes e não podem ser
objeto de intervenção do Judiciário. Precedentes. 2. Não demonstrada ilicitude no
estabelecimento de cláusulas contratuais, a revisão, mesmo à luz do CDC, deve ser
improcedente. (TJPR - 6ª C.Cível - AC 473654-9 - Foro Regional de Fazenda Rio
Grande da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Prestes Mattar -
Unânime - J. 10.06.2008)
Além do mais, no momento do negócio as partes eram capazes, o objeto era lícito e a
forma utilizada não era defesa em lei. A relação jurídica entabulada entre as partes
envolvia tão- somente direitos patrimoniais (disponíveis). Assim, mesmo com a
mitigação do princípio do pacta sunt servanda, não podemos desconsiderar que o
contrato possui força de lei entre os contratantes. Acolher a pretensão da apelante
seria um risco para as relações jurídicas contratuais, já que não existiria mais segurança
para a consecução dos negócios.
Portanto, não cabe ao Poder Judiciário intervir e autorizar a modificação do preço
livremente ajustado pelos interessados.
9. No que tange a prova pericial, não vejo motivos para a sua desconsideração. A
parte não pode querer, sob o argumento da aplicabilidade do Código de Defesa do
Consumidor, modificar os fatos, a fim de torná-los adequado a sua situação. Como
visto acima, no contrato entabulado entre as partes, não existe nenhuma abusividade
apta a justificar a readequação do preço do imóvel.

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Pelo que se viu da prova pericial, a construtora deixou de aplicar alguns encargos a
fim de “ajudar” a autora, de modo a possibilitar o adimplemento da obrigação.
Vejamos a explicação do Perito Judicial:
Ocorre que, conforme, explicitado no decorrer do processo, os Requeridos realizaram
a atualização monetária anualmente, sendo que o contrato prevê tal atualização de
forma mensal.
Sendo assim, a perícia aplicou tal correção da mesma forma praticada pela Requerida,
ou seja, de forma anual.
Após a apuração dos valores das parcelas devidas, conforme contrato, a perícia
apurou a diferença entre os valores devidos apurados pela perícia e os valores pagos
pela requerente discriminados no mov. 29.15 de 01/06/15, totalizando o montante
pago a menor (devido pela Requerente) de R$ 40.670,14 (quarenta mil seiscentos e
setenta reais e quatorze centavos).
Tal diferença (R$ 40.670,14) atualizada desde a data de sua apuração pelo IGP-
M/FGV, resultou no montante devido pela Requerente atualizado até março/2016
(data do presente laudo) no valor de R$ 58.895,60 (cinquenta e oito mil oitocentos e
noventa e cinco reais e sessenta centavos).
Frisa-se que não houve aplicação de encargos moratórios (multa e juros moratórios)
considerando que a Requerida não aplicou tais encargos (mov. 103.2 ­ f. 496).
Ao contrário do que alega a apelante não houve a desconsideração de nenhum valor
por ela pago. As parcelas de número 135, 148 e 154, apesar dos valores não
constarem da planilha, foram listadas como pagas pelo perito, inclusive com o
apontamento da data do pagamento.
Acerca da renegociação da dívida, esta foi perpetrada pelo compromissário-
comprador originário, razão pela qual, no momento da celebração do termo de
cessão, a dívida já se encontrava renegociada, encontrando-se em aberto 138
prestações, conforme consta do termo de cessão.
Portanto, nos termos postos pelo magistrado de 1º grau, “não há se cogitar no
excesso apontado pela parte autora e, na hipótese, uma vez que a perícia realizada
observou estritamente a determinação judicial no sentido de serem observados os
termos de todos os pactos firmados entre as partes, entendo que sua conclusão não
merece considerações ou reparos”.
10. Com efeito, ao contrário do que alega a apelante, é possível a condenação em
perdas e danos consubstanciada em pagamento de aluguéis, mesmo em contrato de
compra e venda. Embora não haja contrato de locação entre as partes, a indenização
deve se dar pelo uso do imóvel, evitando o enriquecimento sem causa. Para que se dê
indenização justa, criou-se, para tanto, a forma de aluguel. Assim, tendo os recorrentes
utilizado o imóvel durante a vigência do contrato e tendo dado causa à sua rescisão
pelo não pagamento das prestações, são devidos os aluguéis pelo período de uso do
bem.
Nesse sentido, é o entendimento jurisprudencial:
AGRAVO REGIMENTAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. PROCESSUAL CIVIL.

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CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. RESCISÃO POR


CULPA DO COMPRADOR. ARBITRAMENTO DE ALUGUÉIS EM RAZÃO DO USO DO
IMÓVEL. POSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE BIS IN IDEM COM CLÁUSULA PENAL.
1. Não há se falar em bis in idem na condenação ao pagamento dos aluguéis
cumulada com cláusula penal. O pagamento de aluguéis é devido não porque se
enquadram estes na categoria de perdas e danos decorrentes do ilícito, mas por
imperativo legal segundo o qual a ninguém é dado enriquecer-se sem causa à custa
de outrem.
2. Agravo regimental não provido.
(AgRg no AREsp 394.466/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,
julgado em 03/12/2013, DJe 10/12/2013)
APELAÇÃO CÍVEL. PROMESSA DE COMPRA E VENDA. AÇÃO DE RESCISÃO DE
CONTRATO COM PEDIDO DE REINTEGRAÇÃO NA POSSE. ADIMPLEMENTO
SUBSTANCIAL. NÃO OCORRÊNCIA. ALUGUEL PELA UTILIZAÇÃO DO BEM.
CABIMENTO. SENTENÇA MANTIDA. I. Possível reconhecer, com base nos princípios
da boa-fé e da função social do contrato, o adimplemento substancial, com o fim de
preservar o vínculo contratual, nos casos em que haja cumprimento de parte essencial
da obrigação.
Não demonstrado o adimplemento de parte essencial do contrato, é de ser mantida a
sentença que rescindiu o ajuste. II. Em contrato de promessa de compra e venda de
imóvel, verificado o inadimplemento contratual pelo promitente-comprador no tocante
ao pagamento das parcelas ajustadas, impõe-se a rescisão do pacto, com retorno das
partes ao status quo ante. É cabível fixação de alugueis desde a data da posse até
efetiva desocupação do bem. APELO DESPROVIDO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº
70063891428, Décima Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Liege
Puricelli Pires, Julgado em 13/08/2015).
Sendo assim, mantenho a condenação da apelante ao pagamento de aluguel pelo
tempo que estiveram na posse do bem, conforme fixado na sentença. A base de
cálculo é o valor do aluguel do terreno, sem as benfeitorias edificadas.
11. Em relação ao pedido de exclusão da cobrança da taxa de corretagem é
importante trazer à reflexão o conceito do contrato de corretagem que pode ser
abstraído da simples análise do conteúdo do artigo 722 do Código Civil: “Pelo
contrato de corretagem, uma pessoa, não ligada a outra em virtude de mandato, de
prestação de serviços ou por qualquer relação de dependência, obriga-se a obter para
a segunda um ou mais negócios, conforme as instruções recebidas”.
Maria Helena Diniz enumera as características do contrato de corretagem: “1ª)
bilateralidade, por gerar obrigações ao corretor e ao comitente. O corretor deverá
executar certo encargo, e o comitente, remunerá-lo; 2ª) acessoriedade, pois sua
existência está ligada a um outro contrato, que deverá ser concluído; 3ª) onerosidade,
porque há ônus, vantagens e benefícios patrimoniais recíprocos; 4ª) aleatoriedade, já
que o direito do corretor e a obrigação do comitente dependerão da conclusão do
negócio principal, isto é, de um evento futuro e incerto (...); 5ª) consensualidade, por
completar-se pelo simples consenso das partes, manifestado por qualquer forma, pois

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não há forma especial prevista em lei para a sua celebração ou validade, podendo ser
provado por todos os meios admissíveis em direito, inclusive por testemunhas (...)”2.
Feitos estes esclarecimentos preliminares, passamos a análise do caso concreto.
As apelantes sustentam que a comissão de corretagem não foi paga em seu favor, o
que torna totalmente impossível que recaia sobre elas a devolução do referido
importe.
É cediço que a comissão de corretagem, corresponde à remuneração de serviços de
intermediação prestados por terceiro, com vistas à aproximação das partes para a
realização do negócio.
Nada obsta a cobrança de taxa de corretagem em negócios envolvendo a compra e
venda de imóvel. As partes podem livremente pactuar quem ficará obrigado pelo
pagamento destas verbas (art. 724, Código Civil3). No entanto, em observância ao
princípio da informação, tal encargo deve ser devidamente informado ao adquirente
do imóvel. Ou seja, o consumidor deve ser informado que ele arcará com as comissões
daqueles que intermediaram a venda.
Nesse sentindo, foi o entendimento manifestado pelo Superior Tribunal de Justiça, no
julgamento do REsp nº 1.599.511/SP, sob o regime do artigo 1.036 e seguintes do
Código de Processo Civil, com efeito vinculante:
RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR.
INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA. VENDA DE UNIDADES AUTÔNOMAS EM ESTANDE
DE VENDAS. CORRETAGEM. CLÁUSULA DE TRANSFERÊNCIA DA OBRIGAÇÃO AO
CONSUMIDOR. VALIDADE. PREÇO TOTAL. DEVER DE INFORMAÇÃO. SERVIÇO DE
ASSESSORIA TÉCNICO-IMOBILIÁRIA (SATI). ABUSIVIDADE DA COBRANÇA.
I - TESE PARA OS FINS DO ART. 1.040 DO CPC/2015: 1.1. Validade da cláusula
contratual que transfere ao promitente-comprador a obrigação de pagar a comissão
de corretagem nos contratos de promessa de compra e venda de unidade autônoma
em regime de incorporação imobiliária, desde que previamente informado o preço
total da aquisição da unidade autônoma, com o destaque do valor da comissão de
corretagem.
1.2. Abusividade da cobrança pelo promitente-vendedor do serviço de assessoria
técnico- imobiliária (SATI), ou atividade congênere, vinculado à celebração de
promessa de compra e venda de imóvel.
II - CASO CONCRETO: 2.1. Improcedência do pedido de restituição da comissão de
corretagem, tendo em vista a validade da cláusula prevista no contrato acerca da
transferência desse encargo ao consumidor.
Aplicação da tese 1.1.
2.2. Abusividade da cobrança por serviço de assessoria imobiliária, mantendo-se a
procedência do pedido de restituição. Aplicação da tese 1.2.
III - RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO.
(REsp 1599511/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, SEGUNDA
SEÇÃO, julgado em 24/08/2016, DJe 06/09/2016)
No caso em exame, porém, não houve previsão contratual acerca da cobrança da taxa
de corretagem, não podendo, portanto, tal encargo ser repassado ao consumidor,
tendo em vista a flagrante violação dos preceitos do Código de Defesa do
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Consumidor, que exigem informação clara, suficiente e precisa acerca das condições
do negócio, principalmente, de forma discriminada, de todos os encargos a incidir
sobre a transação que seriam de responsabilidade do comprador (artigos 46 e 47 do
CDC4). Ora, se o contrato foi objeto de cessão de direitos interpretada pelo
promitente comprador originário, não é possível imputar ao cessionário o pagamento
da comissão de corretagem, sem expressa previsão contratual.
Assim, indevida a retenção dos valores pagos pela construtora a título de comissão de
corretagem.
12. A pretensão da apelante com relação ao reconhecimento do adimplemento
substancial não merece prosperar.
Não nos parece razoável adotar simplesmente um critério numérico, quantificando o
número de prestações adimplidas e inadimplidas. A adoção pura e simples desse
critério matemático afasta a perquirição se ocorreu um justo impedimento para o
pagamento das prestações vencidas e da própria boa-fé do devedor, além da
utilidade para o credor do exercício de outra fórmula processual para o recebimento
do crédito.
Para exemplificar podemos citar a hipótese do devedor que não dispõe de outros
meios materiais e financeiros para pagar a dívida vencida, senão pelo único bem
objeto do contrato. Se o credor deve proceder de forma menos onerosa para receber
o seu crédito, também não se pode obstar que o mesmo postule pela única forma
capaz de alcançar esse objetivo. No campo da realidade social, adotar esse critério
matemático sem qualquer outro tipo de investigação, projetará condutas de
inadimplemento substancial, pois com o pagamento de 70% ou 80% das prestações
ajustadas, o devedor pode se sentir imune a qualquer pedido de resolução do
contrato, praticando ação negativa de pagamento, ficando no aguardo da iniciativa do
credor.
No caso concreto, mesmo se fosse possível utilizar isoladamente o critério
matemático, vislumbro que a apelante não cumpriu o pressuposto básico para
aplicação da aludida teoria, qual seja, o adimplemento substancial do contrato. Não
podemos concordar com a ideia de que o pagamento de 39,38% do contrato
(conforme reconhecido pelo perito judicial ­ mov. 103.2 ­ f. 504) autorize a aplicação
da teoria do adimplemento substancial.
Com relação ao tema, o entendimento é unânime na 17ª Câmara Cível deste Tribunal
de Justiça:
AGRAVO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO INTERPOSTO CONTRA
DECISÃO DO RELATOR QUE NEGOU SEGUIMENTO AO AGRAVO DE
INSTRUMENTO. AÇÃO COM PEDIDO DE REVISÃO DE CLÁUSULAS FINANCEIRAS
INSERIDAS EM CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL. PEDIDO DE
DEPÓSITO JUDICIAL DAS PRESTAÇÕES EM SEU VALOR INTEGRAL VALOR
AJUSTADO NO CONTRATO. AGRAVANTE QUE ALEGA O ADIMPLEMENTO
SUBSTANCIAL DO CONTRATO. TEORIA QUE NÃO SE APLICA AO CASO
CONCRETO. PAGAMENTO DE 44 PRESTAÇÕES DAS 60 CONTRATADAS.
AUSÊNCIA DE MOTIVOS OU FUNDAMENTOS QUE AUTORIZEM A REFORMA DE
DECISÃO MONOCRÁTICA. RECURSO DESPROVIDO. 1. É direito do devedor
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fiduciante ajuizar ação com pedido de revisão das cláusulas financeiras do contrato de
arrendamento mercantil visando afastar eventuais cláusulas abusivas. 2. Todavia, sem
justa causa, não é razoável o deferimento de liminar incidental para o depósito do
valor integral da prestação, visando afastar a mora e, consequentemente, impedir a
inscrição de seu nome nos cadastros de inadimplentes e eventual ajuizamento de ação
por parte do credor arrendante. 3. Se o devedor pretende afastar a mora basta
promover o pagamento da prestação através do boleto bancário, na data do
vencimento. 4.
Não nos parece razoável adotar a teoria do adimplemento substancial do contrato
tendo em conta simplesmente um critério numérico, já que isso afastaria a perquirição
acerca da ocorrência de justo impedimento para o pagamento das prestações
vencidas e da própria boa-fé do devedor; além da utilidade para o credor do exercício
de outra fórmula processual para recebimento do crédito.
(TJPR - 17ª C.Cível - AR - 1093383-4/01 - Foro Regional de Campo Largo da Comarca
da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime - - J.
17.07.2013)
AGRAVO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO.
LIMINAR DEFERIDA. RECURSO INTERPOSTO SOB A ÓTICA DO ADIMPLEMENTO
SUBSTANCIAL DO CONTRATO, PLEITEANDO A REVOGAÇÃO DA LIMINAR.
DECISÃO DO RELATOR QUE NEGOU SEGUIMENTO AO AGRAVO DE
INSTRUMENTO. PAGAMENTO DE 38 DAS 48 PRESTAÇÕES CONTRATADAS.
TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL DO CONTRATO. INAPLICABILIDADE
NO CASO CONCRETO. RECURSO DESPROVIDO.
(TJPR/Agravo n. 0697439-8/01, 17ª CCível, Rel.Desembargador Lauri Caetano da
Silva, unânime, j. 15.09.2010)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. DECISÃO QUE
INDEFERIU A LIMINAR PRETENDIDA COM FUNDAMENTO NA TEORIA DO
ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL DO CONTRATO. RECONHECIMENTO DE OFÍCIO.
IMPOSSIBILIDADE.
CERCEAMENTO DO DIREITO DE AÇÃO, SEM JUSTA CAUSA COMPROVADA NOS
AUTOS.
INADIMPLEMENTO, ADEMAIS, QUE ALCANÇA O EQUIVALENTE A 25% DO
CONTRATO.
RECURSO PROVIDO PARA CASSAR A DECISÃO AGRAVADA.
1. Não nos parece razoável adotar a teoria do adimplemento substancial do contrato
tendo em conta simplesmente um critério numérico, já que isso afastaria a perquirição
acerca da ocorrência de justo impedimento para o pagamento das prestações
vencidas e da própria boa-fé do devedor; além da utilidade para o credor do exercício
de outra fórmula processual para recebimento do crédito. 2. Hipótese, ademais, em
que o inadimplemento alcança o equivalente a 25% do valor do contrato, não se
afigurando razoável a adoção da teoria debatida, sob pena inclusive de se projetar, no
campo da realidade social, condutas de inadimplemento substancial.
3. Além do critério matemático adotado na decisão agravada, para a aplicação da
tese do adimplemento substancial é necessário perquirir se havia justo motivo para o
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não pagamento e se o ajuizamento da ação de busca e apreensão não era o único


meio para a satisfação do crédito. Assim, nos parece impossível o magistrado
reconhecer tal abuso de ofício, caracterizando verdadeiro cerceamento do direito de
ação, sem justa causa comprovada nos autos. 4. Na ação de busca e apreensão
regulada pelo Decreto-lei 911/69, o indeferimento da liminar provoca
automaticamente a extinção do processo sem resolução de mérito. Nessa vereda,
equivocada se apresenta a decisão agravada também na sua parte final, pois que o
magistrado, apesar de indeferir a liminar de busca e apreensão, determinou a citação
do réu para contestar, como se fosse possível ao final examinar qualquer questão de
mérito que não esteja diretamente vinculada com a consolidação da propriedade e
posse do bem anteriormente apreendido. (TJPR - 17ª C.Cível - AI 858161-1 - Foro
Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva
- Unânime - J. 14.03.2012)
AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE - LIMINAR
INDEFERIDA - TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL DO CONTRATO -
INAPLICABILIDADE - PARTE IMPAGA EQUIVALENTE A 25% (VINTE E CINCO POR
CENTO)
DO DÉBITO - PAGAMENTO DE 36 DAS 48 PRESTAÇÕES CONTRATADAS -
DECISÃO REFORMADA - RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (TJPR - 17ª C.Cível -
AI 819034-1 - Rolândia - Rel.: Fabian Schweitzer - Unânime - J. 07.03.2012)
13. Em face da inexistência de alteração substancial da sentença, mantenho o
disciplinamento da distribuição da sucumbência nela fixada.
14. Diante do exposto, voto no sentido de dar parcial provimento ao recurso de
apelação, para afastar a autorização de retenção dos valores pagos à título de
comissão de corretagem.
III- DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar parcial provimento ao
recurso.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador LAURI CAETANO DA SILVA, relator,
e dele participaram os Desembargadores TITO CAMPOS DE PAULA e RUI BACELLAR
FILHO.
Curitiba, 14 de junho de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--
1 De acordo com a perita, “os Requeridos realizaram a atualização monetária
anualmente, sendo que o contrato prevê tal atualização de forma mensal. Sendo
assim, a perícia aplicou tal correção da mesma forma praticada pela Requerida, ou
seja, de forma anual” (mov. 103.2 ­ f. 496).
2 Maria Helena Diniz - Tratado Teórico e Prático dos Contratos, editora Saraiva, 3º
volume, págs. 423, 427 e 428.
3 Art. 724. A remuneração do corretor, se não estiver fixada em lei, nem ajustada
entre as partes, será arbitrada segundo a natureza do negócio e os usos locais.

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4 Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os


consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de
seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar
a compreensão de seu sentido e alcance.
Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao
consumidor.

2.1.2. EMBARGOS MONITÓRIOS – CAUSA MADURA

AÇÃO MONITÓRIA. TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS. FATURAS NÃO

PAGAS. EMBARGOS MONITÓRIOS JULGADOS IMPROCEDENTES. TÍTULO

EXECUTIVO JUDICIAL CONSTITUÍDO. ART. 1.102-C, §3º DO CPC/1973. RECURSO

DE APELAÇÃO DA RÉ: CERCEAMENTO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. PROVA

TESTEMUNHAL DESNECESSÁRIA. CAUSA MADURA PARA JULGAMENTO. RECURSO

DESPROVIDO. Não há cerceamento do direito de defesa quando a questão sub judice

prescinde de realização de outras provas, além da documental já oferecida, cabendo

ao juiz o julgamento antecipado da lide, nos termos do art. 330 do CPC/73, sem que,

com isso, ocorra a violação aos princípios do contraditório e da ampla defesa.

(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1635249-9 - Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime

- J. 14.06.2017)

Inteiro teor

I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de recurso de apelação interposto em virtude da sentença proferida pelo
MM. Dr. Juiz de Direito da 25ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região
Metropolitana de Curitiba, nos autos nº 0003304-46.2014.8.16.0179 de ação
monitória,
proposta por Braspress Transportes Urgentes Ltda em face de Rinno Motores &
Máquinas Ltda EPP, que julgou improcedentes os embargos monitórios, constituindo
em favor da autora o título executivo judicial no valor de R$11.047,14, corrigidos
monetariamente a partir da data dos vencimentos das faturas pela média entre o INPC
e o IGP- DI até a data do efetivo pagamento, e acrescidos de juros moratórios de 1%
ao mês a partir da citação. Ante a sucumbência, condenou a ré ao pagamento das
custas processuais e dos honorários advocatícios, fixados em R$1.500,001 (mov.76.1 ­
f. 277/283).

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Contra esta decisão, a ré opôs embargos de declaração (mov. 81.1 ­ f. 289/291), os


quais foram rejeitados (mov. 92.1 ­ f.
306/307).
2. A ré Rinno Motores & Máquinas Ltda EPP interpôs recurso de apelação (mov. 97.1 -
f. 313/318), sustentando a nulidade da sentença por cerceamento de seu direito de
defesa em razão do julgamento antecipado da lide.
Contrarrazões de apelação (mov. 103.1 ­ f. 313/318).
É o relatório.
II- VOTO
Presentes os pressupostos recursais de admissibilidade (intrínsecos e extrínsecos)
merece o recurso ser conhecido.
3. A apelante pleiteia a nulidade da sentença, em razão do cerceamento do direito de
defesa provocado pelo julgamento antecipado da lide. Afirma ser necessária a
produção da prova testemunhal requerida.
Pois bem!
3.1. Do cotejo dos autos, observa-se que a Braspress Transportes Urgentes Ltda
ajuizou ação monitória em face de Rinno Motores & Máquinas Ltda EPP, relatando que
a ré usufruiu do serviço de transporte rodoviário de cargas por ela prestado sem,
porém, efetuar o pagamento das quantias devidas à título de retribuição. A dívida já
perfaz a quantia de R$11.047,14, representada pelas faturas de número 1212003248,
1211121800, 1211016008, 1210175903 e 1210064083, nos valores de R$2.773,61,
R$1.750,19, R$2.465,61, R$1.337,07 e R$2.720,66, com vencimento em 21.12.2012,
07.12.2012, 23.11.2012, 09.11.2012 e 26.10.2012. Apesar de sua tentativa de
recebimento do crédito, a requerida se nega a pagá-lo, razão pela qual ajuizou ação
monitória, com fundamento nos artigos 1.102-A e seguintes do Código de Processo
Civil. Dessa forma, diante da comprovação da existência do débito, requereu a
expedição de mandado de pagamento.
A requerida apresentou embargos monitórios (mov. 23.1 ­ f. 189/194), sustentado a
inexistência de documentos essenciais para constituição do crédito. Destacou que a
apresentação dos boletos bancários acompanhados do conhecimento de transporte
rodoviário, sem a emissão de duplicatas, não seria suficiente para comprovar a
existência da transação comercial.
Na fase de especificação de provas, a requerida postulou a produção da prova oral,
“consubstanciada no depoimento pessoal da representante legal da autora, bem
como em oitiva de testemunhas a serem arroladas oportunamente” (mov. 35.1 ­ f.
218). O julgador monocrático posicionou-se pelo julgamento antecipado da lide (mov.
54.1 ­ f. 244).
O magistrado de 1º grau proferiu sentença (mov. 97.1 ­ f. 313/318), pela qual julgou
improcedentes os embargos monitórios, constituindo em favor da autora o título
executivo judicial no valor de R$11.047,14, corrigidos monetariamente a partir da data
dos vencimentos das faturas pela média entre o INPC e o IGP-DI até a
data do efetivo pagamento, e acrescidos de juros moratórios de 1% ao mês a partir
da citação.

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Em que pese os argumentos da apelante, não vejo razão para acolher a insurgência.
Isto porque a questão sub judice prescinde de realização de outras provas, além da
documental já oferecida, cabendo ao juiz o julgamento antecipado da lide, nos termos
do art. 330 do Código Civil de 1973, sem que, com isso, ocorra a violação aos
princípios do contraditório e da ampla defesa.
É perfeitamente possível que sejam dispensados alguns atos instrutórios,
especialmente quando as demais provas autorizam o julgador a entregar a prestação
jurisdicional de forma mais célere e quando a discussão travada nos autos se revela
inadequada.
No caso, em seus embargos monitórios, a requerida limitou-se a alegar a ausência
dos documentos essenciais à propositura da ação monitória, matéria unicamente de
direito, mostrando-se desnecessária a dilação probatória.
Desse modo, diante da prova documental produzida e da sua suficiência para
entender a relação jurídica ultimada pelas partes, podemos afirmar que neste caso não
era necessária a produção de prova testemunhal. Se os documentos apresentados são
suficientes para o magistrado firmar o seu convencimento à luz do princípio da
persuasão racional (art. 131, CPC/1973) pode desprezar a realização de outras provas
por conta da sua inutilidade para a composição do litígio.
A corroborar:
PROCESSUAL CIVIL. OFENSA AO ART. 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA.
ALEGAÇÃO DE CERCEAMENTO DE DEFESA. INEXISTÊNCIA. JULGAMENTO
ANTECIPADO DA LIDE.
PRODUÇÃO DE PROVAS. PRINCÍPIO DO LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO.
REEXAME PROBATÓRIO. INVIABILIDADE. SÚMULA 7/STJ. 1. A solução integral da
controvérsia, suficientemente fundamentada, não caracteriza ofensa ao art. 535 do
CPC. 2. Ao julgador é dado apreciar o pedido formulado com base em provas que
entender suficientes para a formação de seu convencimento, não havendo, portanto,
indícios de nulidade processual na espécie 3.
Segundo a jurisprudência do STJ, “cumpre ao magistrado, destinatário da prova,
valorar sua
necessidade, conforme o princípio do livre convencimento motivado, previsto no art.
131 do CPC.
(...) 5. Agravo Regimental não provido. (STJ, AgRg no AREsp 414.534/DF, Rel.
Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 26/11/2013, DJe
05/12/2013)
“É cediço que não configura cerceamento de defesa o julgamento da causa, sem a
produção de prova, quando o tribunal local entender substancialmente instruído o
feito, declarando a existência de provas suficientes para seu convencimento. (STJ,
AgRg no REsp 1067586/SP, Rel.
Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/10/2013,
DJe 28/10/2013)
“O julgamento antecipado da lide, por si só, não caracteriza cerceamento de defesa,
já que cabe ao magistrado apreciar livremente as provas dos autos, indeferindo
aquelas que considere inúteis ou meramente protelatórias.” (STJ, AgRg no AREsp
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420.011/DF, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 26/11/2013,


DJe 10/12/2013)
“Cerceamento de defesa. Inocorre cerceamento de defesa se a matéria é
eminentemente de direito e as provas contidas nos autos são suficientes para formar o
convencimento do Magistrado, sendo seu dever proceder ao julgamento antecipado
da lide, afastando pretensão de prova desnecessária ou inadmissível na espécie.”
(TJPR - 2ª C.Cível - AC - 1092584-7 - Região Metropolitana de Londrina - Foro Central
de Londrina - Rel.: Jurandyr Souza Junior - Unânime - - J. 05.11.2013)
Logo, não se fazia necessária a produção das outras provas pretendidas, e, como bem
salientou o Ministro Luiz Fux, no Recurso Especial 474.475/SP, “O art. 131, do CPC
consagra o princípio da persuasão racional, habilitando-se o magistrado a valer-se do
seu convencimento, à luz dos fatos, provas, jurisprudência, aspectos pertinentes ao
tema e da legislação que entender aplicável ao caso concreto constantes dos autos,
rejeitando diligências que delongam desnecessariamente o julgamento, atuando em
consonância com o princípio da celeridade processual.” (STJ, 1ª T., REsp 474.475/SP,
DJ 25.02.2004).
Portanto, presentes nos autos elementos suficientes para o convencimento do
julgador, visto que a matéria fática restou incontroversa, desnecessária a realização de
prova testemunhal ou qualquer outro ato instrutório.
6. Diante do exposto, voto no sentido de negar provimento ao recurso de apelação.
III- DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao
recurso de apelação.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador LAURI CAETANO DA SILVA, relator,
e dele participaram os Desembargadores TITO CAMPOS DE PAULA e RUI BACELLAR
FILHO.
Curitiba, 14 de junho de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--
1 Sentença proferida em 10.11.2015 e publicada em 11.11.2015.

2.1.3. CDC – COMPRA E VENDA DE VEÍCULO ZERO – VÍCIO DE QUALIDADE

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. COMPRA E VENDA DE VEÍCULO "ZERO QUILÔMETRO.

VÍCIO DE QUALIDADE. PEDIDOS JULGADOS PARCIALMENTE PROCEDENTES.

RECURSO DE APELAÇÃO DA REQUERIDA: AQUISIÇÃO DE VEÍCULO "ZERO

QUILÔMETRO". PROBLEMA DE EXCESSIVA EMISSÃO DE FUMAÇA AO ACELERAR.

VÍCIO DE QUALIDADE. ART. 18, §1º DO CDC. DEVOLUÇÃO INTEGRAL DO VALOR

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PAGO PELO BEM. ABATIMENTO DA QUANTIA A SER DEVOLVIDA. DEPRECIAÇÃO

DO BEM APÓS A RETIRADA DA CONCESSIONÁRIA. VEDAÇÃO. RISCO

PROVOCADO PELO FORNECEDOR. DISTRIBUIÇÃO DO ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA

MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. 1. Verificando-se ser a coisa imprestável ou

inadequada à sua normal e segura utilização (vício de qualidade), com a eliminação da

expectativa depositada no consumidor de que estaria adquirindo automóvel novo

isento de qualquer avaria, adulteração ou outra alteração, e não sendo o vício sanado

no prazo máximo de 30 (trinta) dias, exsurge para esse a faculdade de exigir,

alternativamente, a substituição do produto, a restituição da quantia paga ou o

abatimento proporcional do preço, não sendo tolerada a ingerência do fornecedor

nessa escolha, na melhor exegese do artigo 18, §1º, do Código de Defesa do

Consumidor (Acórdão n.703634, 20100111786196APC, Relator: FLAVIO ROSTIROLA,

Revisor: SIMONE LUCINDO, 1ª Turma Cível, Data de Julgamento: 14/08/2013,

Publicado no DJE: 19/08/2013. Pág.: 58). 2. Não pode o consumidor ser penalizado

com os efeitos da depreciação do bem, quando não deu causa à resolução do

contrato e não contribuiu para a demora na solução da lide, devendo a concessionária

garantir o retorno ao status quo ante.

(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1640814-9 - Região Metropolitana de Maringá - Foro Central

de Maringá - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime - J. 14.06.2017)

Inteiro Teor

I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de ação de obrigação de fazer cumulada com pedido de indenização por
danos morais (autos nº 0024480- 82.2014.8.16.0017) ajuizada por Aldo Pereira Teixeira
em face de Concessionária Sul Import Veículos e Serviços Limitada, alegando que (a)
No dia 28.03.2013, adquiriu junto a concessionária requerida um veículo I/LR Range
Rover SDV8 VOGUE, 2012/2013, chassi SALGA2HF0DA103976, pelo preço de
R$535.000,00; (b) sempre despendeu ao bem as devidas precauções e os
recomendados cuidados previstos no respectivo Manual de Instruções e Utilização do
veículo, zelando pela sua manutenção, conservação, durabilidade e eficiência; (c) no
dia 09.12.2013, levou o veículo até a concessionária para fazer a primeira revisão e a
correção de defeitos apontados pela fábrica em recall. Contudo, os serviços não foram
finalizados em virtude da falta de peças; (d) no dia 31.03.2014, retornou à

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concessionária para que fosse finalizada a revisão e os reparos necessários referente ao


mencionado recall. Nessa oportunidade, informou a requerida acerca da necessidade
de se proceder a reparos e correções no motor do veículo, o qual expelia forte fumaça
branca quando aumentada a sua rotação, problema este que persistia desde a retirada
do automóvel da revisão iniciada em dezembro de 2013; (e) contudo, o veículo só fora
entregue em 21.05.2014 sem que o problema no motor fosse corrigido; (f) os defeitos
apontados somente foram solucionados no dia 04.06.2014; (g) no dia 09.09.2014,
retornou a concessionária para a realização da segunda revisão, bem como para novos
reparos no motor/ignição do automóvel, haja vista que frequente e repentinamente
desligava durante o trafego nas ruas e rodovias; (h) o veículo foi entregue somente em
26.09.2014 sem que os problemas de desligamento abrupto do motor fossem
reparados, o que o levou a registrar
reclamação junto assistência técnica da fabricante Land Rover, que o orientou a levar
novamente o veículo a concessionária; (i) o veículo permaneceu para reparos durante
todo o mês de outubro de 2014, sendo que, desde 28.10.2014, não recebe nenhuma
informação da requerida acerca do veículo, não restando outra alternativa a não ser
ingressar com a presente ação; (j) ao caso são aplicáveis as normas do Código de
Defesa do Consumidor; (k) nos termos do artigo 18 do CDC o fornecedor responde
pelo vício de qualidade. Nesses termos, pleiteou a restituição do valor pago pelo
automóvel e a condenação da ré ao pagamento de indenização por dano moral.
2. A ré, Concessionária Sul Import Veículos e Serviços Limitada, apresentou resposta
em sede de contestação (mov. 23.6 - f.
124/135), afirmando que (a) os problemas apontados pelo autor foram devidamente
sanados, encontrando-se o veículo apto ao seu regular uso; (b) o defeito foi
plenamente reparado sem ter perdido suas qualidades ou características, tampouco,
sofrera depreciação de valor; (c) eventual determinação no sentido de substituição do
produto ou a restituição imediata da quantia paga infringiria veementemente a norma
consumerista, promovendo o enriquecimento sem causa do requerente; (d) não houve
prejuízo moral causado ao autor. Assim, postulou a improcedência dos pedidos.
3. Em sede de saneador, foi deferida a inversão do ônus da prova e a produção da
prova pericial (mov. 44.1 ­ f. 204/205).
O Laudo pericial foi carreado aos autos (mov. 84.1 ­ f. 277-312).
4. O MM. Dr. Juiz a quo proferiu sentença (mov. 113.1 - f. 423/429), pela qual julgou
parcialmente procedente o pedido formulado na inicial, para condenar a ré a restituir
ao autor o valor por ele pago pelo automóvel, devidamente corrigido monetariamente
pela média do INPC/IGP-DI desde a data do desembolso e acrescido de juros de mora
de 1% ao mês, desde a citação, mediante a devolução, à ré, do bem no estado em
que se encontra, o que deverá ser feito no prazo de 05 dias a contar do trânsito em
julgado, juntamente com a documentação correspondente. Ante a sucumbência
mínima do autor, condenou a ré ao pagamento das custas processuais e
dos honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o valor atualizado da condenação.
5. A ré, Concessionária Sul Import Veículos e Serviços Limitada, interpôs recurso de
apelação (mov. 121. - f. 438/445), alegando que (a) o vício pode ser sanado, razão pela
qual não se justifica a sua condenação à restituição do montante pago; (b) se os
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problemas são passíveis de reparo, não há que se falar em imprestabilidade do


veículo, o que afasta a possibilidade das medidas constantes no art. 18 do CDC; (c) na
hipótese de não ser reformada a sentença, para fins de restituição, deve ser tomado
como base o atual valor de mercado do veículo, ou ao menos, o valor de mercado na
data em que o autor/apelado deixou o veículo na concessionária, considerando-se,
assim, o período de utilização do veículo e seu desgaste natural; (d) o ônus da
sucumbência deve ser redistribuído de forma proporcional, nos termos do art. 86 do
CPC, haja vista ter restado vencido o apelado quanto ao pleito de danos morais.
Contrarrazões de apelação (mov. 129.1 ­ f. 456/477).
É o relatório.
II- VOTO
Presentes os pressupostos recursais de admissibilidade, intrínsecos e extrínsecos,
merece o recurso ser conhecido.
6. Extrai-se dos autos que (i) no dia 28.03.2013, o autor adquiriu junto a
concessionária requerida um veículo I/LR Range Rover SDV8 VOGUE, 2012/2013,
chassi SALGA2HF0DA103976, pelo preço de R$535.000,00; (ii) a requerida, desde que
o requerente deixou o veículo para primeira revisão em 09.12.2013, foi informada
acerca dos problemas apresentados pelo mesmo, tais como, barulho no motor e a
excessiva fumaça branca ao arrancar; (iii) o veículo foi deixado na concessionária, por 6
vezes, sem que houvesse a devida reparação dos problemas; (vi) o veículo encontra-se
na concessionária desde o dia 26.02.2015, após uma pane geral elétrica.
Tais fatos foram devidamente demonstrados pelo autor, através das ordens de serviço
anexadas no curso do processo (mov.
1.12, 23.1, 23.4 e 29.3 ­ f. 47, 116, 121 e 181).
A prova pericial produzida nos autos confirmou as queixas do autor. Vejamos as
respostas fornecidas pelo Perito Judicial (84.1 a 84.3 - f. 377/312):
“Ao arrancar com o veículo em um determinado momento, quando o veículo se
encontrava com temperatura normal de funcionamento, observou-se excesso de
fumaça emitida pelo sistema de exaustão do motor” (mov. 84.2 - f. 295).
“h) Se, pelo diagnóstico apontado nas respectivas ordens de serviços, é possível
apontar se, de fato, o veículo achava-se impossibilitado de dirigibilidade.
Resposta: Considerando principalmente o sintoma “veículo morrendo em baixa
rotação”, deve-se considerar que a dirigibilidade do veículo se encontrava
prejudicada” (quesito h ­ autor ­ mov. 84.2).
i) Se, em relação às ordens de serviços objeto das seguidas entradas do veículo junto
à Requerida, quais foram os períodos nos quais o veículo acabou por permanecer em
poder da concessionária demandada, bem como qual o período total em que o Autor
teve privado seu uso do veículo face aos problemas apresentados;
Resposta: O veículo permaneceu em poder da Concessionária para reparos por
aproximadamente 119 (cento e dezenove) dias sem considerar a última entrada em
01/06/2015 (O.S. 11.863) em que o veículo foi encaminhado para Concessionária e
não foi retirado até o momento pelo Requerente” (quesito i ­ autor ­ mov. 84.2).
“o) Se o veículo ainda apresenta o defeito constatado a partir de dezembro de 2.013,
expelindo forte fumaça branca quando aumentada a rotação de seu motor;
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Resposta: Sim, conforme constatado em teste de rodagem no momento da perícia”


(quesito o ­ autor ­ mov. 84.2).
“s) Se, dado o histórico do veículo junto à própria demandada, e considerando ainda
os reiterados problemas apresentados conforme verifica-se pelas respectivas ordens
de serviços, é possível tê-lo absolutamente com segurança e tranquilidade dentro do
que recomenda o fabricante;
Resposta: Não. O sintoma de excesso de fumaça ao acelerar o veículo não foi
devidamente reparado” (quesito s ­ autor ­ mov. 84.2).
“c) Queira o Sr. Perito informar se os serviços prestados pela concessionária sanaram
os defeitos;
Resposta: Em teste de rodagem, observou-se que o sintoma de excesso de fumaça
saindo pelo escapamento não foi solucionado” (quesito c ­ ré ­ mov. 84.2).
“g) Queira o Sr. Perito informar se houve falha de prestação de serviço pela
concessionária;
Resposta: No caso em tela verificou-se uma grande espera por peças que não se
encontravam disponíveis no estoque da Concessionária e a falta de solução referente
ao sintoma de excesso de fumaça saindo pelo escapamento ao acelerar” (quesito g ­
ré ­ mov. 84.2).
“h) Queira o Sr. Perito informar se o veículo encontra-se impróprio ao consumo ou se
está em perfeitas condições de uso e rodagem.
Resposta: Para que o veículo se encontre em plena condição de uso, é necessária a
solução do sintoma referente ao excesso de fumaça pelo escapamento ao acelerar”
(quesito h ­ ré ­ mov. 84.2).
Da análise da prova pericial, observa-se que, ao contrário do alegado pela apelante, o
defeito no veículo, qual seja, “excesso de fumaça pelo escapamento ao acelerar”, não
foi solucionado pela concessionária, mesmo depois do veículo permanecer em suas
instalações desde o dia 26.02.2015 até a presente data.
Apesar da requerida apontar que o vício é sanável, não conseguiu fazê-lo, em que
pese as diversas ordens de serviço a que o veículo foi submetido.
Dessa maneira, apresentando o veículo zero quilômetro adquirido pelo autor vício de
fabricação não solucionado pela demandada, tampouco se mostrando as tentativas de
conserto aptas a solucionar o problema, a devolução do valor pago pelo bem é um
direito do consumidor.
Ora, é nítido o vício de qualidade do produto (vício oculto - art. 181) apresentado
desde seu primeiro ano de uso. Embora dado a ré a oportunidade de sanar os vícios,
esta não logrou êxito em fazê-lo. Vale destacar que o veículo no estado apresentado
não se encontra adequado ao uso e compromete a segurança do consumidor.
Assim, verificado o vício, abre-se para o consumidor a opção legal de exigir,
alternativamente, e à sua escolha, a substituição do produto por outro, a restituição
imediata da quantia paga ou o abatimento proporcional do preço (art. 18, §§ 1º e 3º,
CDC).
Nessa toada, diante das regras do Código de Defesa do Consumidor, mormente
quanto à escolha do consumidor, entendo adequada a sentença na parte em que

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determinou à restituição da quantia paga. Como já destacado, o autor deve devolver o


veículo.
A corroborar:
“RECURSO ESPECIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. VEÍCULO ZERO. VÍCIO DE
QUALIDADE.
JULGAMENTO ULTRA PETITA. INEXISTÊNCIA. INTELIGÊNCIA DO ART. 18 DO
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - CDC. OPÇÕES ASSEGURADAS AO
CONSUMIDOR.
SUBSTITUIÇÃO DO PRODUTO POR OUTRO DA MESMA ESPÉCIE EM PERFEITAS
CONDIÇÕES DE USO. ESCOLHA QUE CABE AO CONSUMIDOR. INEXISTÊNCIA DE
PRODUTO SEMELHANTE EM ESTOQUE DADA A PASSAGEM DO TEMPO.
INCIDÊNCIA DO DISPOSTO NO ART. 18, § 4º, DO CDC. DANO MORAL. (...) 2. Nos
termos do § 1º do art. 18 do Código de Defesa do Consumidor - CDC, caso o vício de
qualidade do produto não seja sanado no prazo de 30 dias, o consumidor poderá,
sem apresentar nenhuma justificativa, optar entre as alternativas ali contidas, ou seja: (I)
a substituição do produto por outro da
mesma espécie, em perfeitas condições de uso; (II) a restituição imediata da quantia
paga; ou (III) o abatimento proporcional do preço. 3. Assim, a faculdade assegurada no
§ 1º do art.
18 do Estatuto Consumerista permite que o consumidor opte pela substituição do
produto no caso de um dos vícios de qualidade previstos no caput do mesmo
dispositivo, entre eles o que diminui o valor do bem, não exigindo que o vício
apresentado impeça o uso do produto. 4. No presente caso, a substituição do veículo
por outro em perfeitas condições de uso foi a alternativa escolhida pelo consumidor.
Então, não poderia o Juízo de piso alterar essa escolha, ainda que a pretexto de
desonerar o consumidor, sob pena de maltrato ao art. 18, § 1º, do CDC. Precedente.
5. Não havendo outro veículo nas mesmas condições do adquirido pelo autor nos
estoques das recorridas, é de se aplicar o disposto no § 4º do art. 18 do CDC, que
permite a substituição por outro produto de espécie, marca ou modelo diversos,
mediante complementação ou restituição da diferença de preço, permanecendo
abertas as alternativas dos incisos II e III daquele § 1º. (...) (REsp 1016519/PR, Rel.
Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 11/10/2011, DJe 25/05/2012)
DIREITO DO CONSUMIDOR. VEÍCULO NOVO. VÍCIO REDIBITÓRIO. LEGITIMIDADE
PASSIVA DA REVENDEDORA. INTELIGÊNCIA DO ART. 18 DO CDC. DECADÊNCIA
NÃO CONFIGURADA. AGRAVO RETIDO IMPROVIMENTO. RESCISÃO DOS
CONTRATOS DE COMPRA E VENDA E DE FINANCIAMENTO. INTERDEPENDÊNCIA.
DEVOLUÇÃO DOS VALORES PAGOS SEM ABATIMENTO DO VALOR REFERENTE À
DEPRECIAÇÃO E USO DO BEM. DANO MORAL. INOCORRÊNCIA. SENTENÇA
PARCIALMENTE REFORMADA.
1. Nas hipóteses em que se discute vício do produto, aplica-se o disposto no art. 18
do CDC, que prevê responsabilidade solidária entre o fabricante e o comerciante.
Preliminar de ilegitimidade passiva rejeitada.

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2. Registrada a reclamação sobre o vício do produto, o prazo decadencial previsto no


artigo 26 do Código de Defesa do Consumidor só flui após a resposta formal e
inequívoca quanto à reclamação do consumidor. Decadência afastada.
3. Uma vez rescindido o contrato de compra e venda de veículo financiado, por vício
redibitório, o contrato de financiamento do mesmo bem não pode subsistir, ante a
inequívoca interdependência entre as duas avenças.
4. Constatada a existência de defeito no veículo, reclamado no prazo de garantia
contratual, vício não reparado pela concessionária ré no prazo previsto no art. 18, §1.º,
do Código de Defesa do Consumidor, procedente é o pedido de rescisão contratual.
5. Não pode o consumidor ser penalizado com os efeitos da depreciação do bem,
quando não deu causa à resolução do contrato e não contribuiu para a demora na
solução da lide.
6. Meros aborrecimentos decorrentes do descumprimento contratual não configuram
dano moral, sobretudo quando não se efetiva qualquer apontamento desabonador.
7. Recurso da segunda ré não provido. Recurso da primeira ré parcialmente provido.
Unânime.
(TJ/DF, Acórdão n.732364, 20100610052800APC, Relator: FÁTIMA RAFAEL, Revisor:
CARMELITA BRASIL, 2ª Turma Cível, Data de Julgamento: 23/10/2013, Publicado no
DJE: 11/11/2013. Pág.: 192)
7. O pedido de amortização decorrente da depreciação do bem também não
prospera.
Sustenta a apelante que o veículo vem sendo utilizado pelo autor (apelado), desde
2013, e contava com 23.029Km rodados por ocasião da perícia realizada em
26.10.2015 (mov. 84.2 - f. 305), motivo pelo qual a restituição do valor integral pago
pelo veículo consubstanciar-se-ia em enriquecimento ilícito do autor.
No caso, é preciso esclarecer que o veículo, no momento em que apresentou os
problemas (09.12.2013), encontrava-se na garantia, e contava com menos de 1 ano de
uso. O autor tentou solucionar o problema de forma amigável, por mais de 2 anos.
Entretanto, nenhuma atitude apta a solucionar o imbróglio foi tomada pela apelante.
O veículo permanece em suas instalações desde o dia 26.02.2015. Constata-se que,
nos quase 2 anos em que o autor teve a posse do bem, o mesmo ficou na
concessionária por 119 dias (laudo pericial ­ mov. 84.2 ­ f. 300).
Desse modo, não pode o consumidor ser penalizado pelos efeitos da depreciação do
bem, já que não deu causa à resolução do contrato e não contribuiu para a demora na
solução prometida.
Nesse sentido, é o entendimento jurisprudencial:
“PROCESSO CIVIL, CIVIL E CONSUMIDOR. AUSÊNCIA DE SUCUMBÊNCIA DO
BANCO.
RECURSO ADESIVO NÃO CONHECIDO. MÉRITO. RESCISÃO DO CONTRATO DE
COMPRA E VENDA DE AUTOMÓVEL E PEDIDO DE DEVOLUÇÃO DA QUANTIA
PAGA. VÍCIO DE QUALIDADE. PRAZO DE 30 (TRINTA) DIAS PARA O FORNECEDOR
SANAR OS DEFEITOS APRESENTADOS. ART. 18, § 1º, DO CDC. PRAZO
DECADENCIAL. CONTAGEM A PARTIR DA SUA CIÊNCIA. VEDADA A SUA
REABERTURA OU CONTAGEM INTERCALADA.
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PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL DO CONSUMIDOR. ABATIMENTO DA


QUANTIA A SER DEVOLVIDA. DEPRECIAÇÃO DO BEM APÓS A RETIRADA DA
CONCESSIONÁRIA.
VEDAÇÃO. RISCO PROVOCADO PELO FORNECEDOR. DESPESAS TRIBUTÁRIAS.
RESSARCIMENTO. AUSÊNCIA DE NEXO. OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA DO POSSUIDOR
QUE EFETIVAMENTE USUFRUIU DO BEM DANIFICADO. DANOS MORAIS
CONFIGURADOS.
(...) 2. Verificando-se ser a coisa imprestável ou inadequada à sua normal e segura
utilização (vício de qualidade), com a eliminação da expectativa depositada no
consumidor de que estaria adquirindo automóvel novo isento de qualquer avaria,
adulteração ou outra alteração, e não sendo o vício sanado no prazo máximo de 30
(trinta) dias, exsurge para esse a faculdade de exigir, alternativamente, a substituição
do produto, a restituição da quantia paga ou o abatimento
proporcional do preço, não sendo tolerada a ingerência do fornecedor nessa escolha,
na melhor exegese do artigo 18, § 1º, do Código de Defesa do Consumidor.
3. O prazo decadencial de 30 (trinta) dias para o fornecedor sanar o vício conta-se de
forma corrida - e não intercalada -, iniciando-se com a ciência do fornecedor acerca da
irregularidade, prazo esse não passível de automática prorrogação ou reabertura por
ocasião da ausência de solução do problema, sob pena de afronta ao princípio de
proteção integral do consumidor (art. 6º, inciso VI, do CDC).
4. Operada a rescisão do contrato por vício do produto, o consumidor possui direito à
devolução da quantia paga sem o decote do valor referente à depreciação e uso do
automóvel após a retirada da concessionária, sendo o deságio risco inerente à própria
atividade do fornecedor que deu causa à resolução do acordo ao não cumprir com a
sua obrigação nas condições originalmente ajustadas, em flagrante violação ao
Diploma Consumerista.
(...)” (TJ/DF, Acórdão n.703634, 20100111786196APC, Relator: FLAVIO ROSTIROLA,
Revisor: SIMONE LUCINDO, 1ª Turma Cível, Data de Julgamento: 14/08/2013,
Publicado no DJE: 19/08/2013. Pág.: 58 )
DIREITO DO CONSUMIDOR. VEÍCULO NOVO. VÍCIO REDIBITÓRIO. RESCISÃO DO
CONTRATO DE COMPRA E VENDA DEVOLUÇÃO DOS VALORES PAGOS. DANO
MORAL.
INOCORRÊNCIA. SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA.
1.Constatada a existência de defeito no veículo, reclamado no prazo de garantia
contratual, vício não reparado pela concessionária ré no prazo previsto no art. 18, §1.º,
do Código de Defesa do Consumidor, procedente é o pedido de rescisão contratual.
2. Não pode o consumidor ser penalizado com os efeitos da depreciação do bem,
quando não deu causa à resolução do contrato e não contribuiu para a demora na
solução da lide, devendo a concessionária garantir o retorno ao status quo ante.
3. Meros aborrecimentos decorrentes do descumprimento contratual não configuram
dano moral, sobretudo quando não se efetiva qualquer apontamento desabonador.
4. Recurso da primeira ré parcialmente provido.

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(Acórdão n.914101, 20100610052800APC, Relator: LEILA ARLANCH, Revisor:


GISLENE PINHEIRO, 2ª Turma Cível, Data de Julgamento: 16/12/2015, Publicado no
DJE: 22/01/2016.
Pág.: 266)
8. Não vejo razões para a alteração na distribuição do ônus da sucumbência. Isto
porque, operada a sucumbência mínima do autor (improcedência do pedido relativo a
indenização por dano moral), nos termos do artigo 86, parágrafo único do Código de
Processo Civil2, deve a requerida arcar com o pagamento integral das
custas processuais e dos honorários advocatícios devidos ao procurador do autor.
9. Diante do exposto, voto no sentido de negar provimento ao recurso de apelação.
III- DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao
recurso de apelação.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador LAURI CAETANO DA SILVA, relator,
e dele participaram os Desembargadores TITO CAMPOS DE PAULA e RUI BACELLAR
FILHO.
Curitiba, 14 de junho de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--
1 Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis
respondem
solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou
inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como
por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente,
da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações
decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes
viciadas.
§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor
exigir, alternativamente e à sua escolha: I - a substituição do produto por outro da
mesma espécie, em perfeitas condições de uso; II - a restituição imediata da quantia
paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III - o
abatimento proporcional do preço.
(...) § 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1° deste artigo
sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder
comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se
tratar de produto essencial.
(...)
2 Art. 86. Se cada litigante for, em parte, vencedor e vencido, serão
proporcionalmente distribuídas entre eles as despesas.
Parágrafo único. Se um litigante sucumbir em parte mínima do pedido, o outro
responderá, por inteiro, pelas despesas e pelos honorários.

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2.1.4. CONTRATO DE CORRETAGEM

AÇÃO DE COBRANÇA. CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO COMERCIAL. PEDIDOS

JULGADOS IMPROCEDENTES. RECURSO DE APELAÇÃO DO AUTOR: PRESCRIÇÃO

CARACTERIZADA. RESCISÃO UNILATERAL. JUSTA CAUSA DEMONSTRADA. VERBAS

INDENIZATÓRIAS INDEVIDAS. DIFERENÇAS DE COMISSÕES. ACEITAÇÃO TÁCITA.

REDUÇÃO DA ÁREA DE ABRANGÊNCIA. ACORDO REALIZADO ENTRE AS PARTES.

VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM. CLÁUSULA DEL CREDERE. VEDAÇÃO.

BRINDES. INEXISTÊNCIA DE COBRANÇA INDEVIDA. REDISTRIBUIÇÃO DO ÔNUS

DA SUCUMBÊNCIA. PEDIDO DE MINORAÇÃO DA VERBA HONORÁRIA

ADVOCATÍCIA PREJUDICADO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. RECURSO

ADESIVO DO RÉU: INEXISTÊNCIA DE SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. ART. 997, §1º

CPC. RECURSO NÃO CONHECIDO. 1. A representação comercial é contrato formal,

regulado pela Lei n° 4.886/65 e sucessivas alterações, com objetivo de mediar a

realização de negócios mercantis, agenciando propostas ou pedidos, para transmiti-los

aos representados, sem relação hierárquica ou de subordinação. 2. Dispõe o artigo 44,

parágrafo único, da Lei 4886/65, alterada pela Lei n° 8.240/92, que regula as

atividades dos representantes comerciais autônomos, que "prescreve em cinco anos a

ação do representante comercial para pleitear a retribuição que lhe é devido e os

demais direitos que lhe são garantidos por esta Lei". 3. O prazo prescricional deve ser

contado a partir do momento em que é exigível a obrigação, e não da rescisão

contratual. 4. Comprovado o descumprimento das obrigações contratuais pelo autor,

mostra-se legítima a rescisão do contrato de representação comercial, não sendo

devidas as verbas indenizatórias pleiteadas. 5. "O fato de a representada ter reduzido

as comissões não a obriga ao pagamento das diferenças porque houve aceitação

tácita, por parte do representante, que manteve a contratação por mais de quinze

anos sem qualquer manifestação contrária" (Apelação Cível Nº 70036771509, Décima

Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ana Maria Nedel Scalzilli,

Julgado em 27/03/2014). 6. A cláusula del credere é prática vedada pelo art. 43 da Lei

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nº 4.886/65, razão pela qual, comprovada a ocorrência da abusividade, deverá a

demandada proceder na devolução dos valores retidos indevidamente.

(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1626004-1 - Cascavel - Rel.: Lauri Caetano da Silva -

Unânime - J. 14.06.2017)

Inteiro Teor

I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de recurso de apelação e recurso adesivo interpostos em virtude da
sentença proferida pelo MM. Dr. Juiz de Direito da 1ª Vara Cível da Comarca de
Cascavel, nos autos nº 0001381-71.2014.8.16.0021 de ação de cobrança cumulada
com pedido de indenização por danos materiais e morais, proposta por Roman &
Caldas Limitada em face de Garthen Industria e Comércio de Máquinas Limitada, que
julgou improcedentes os pedidos formulados na inicial . Ante a sucumbência,
condenou o autor ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios,
fixados em
R$10.000,00 1 (mov. 113.1 - f. 1618/1629).
2. A autora Roman & Caldas Limitada interpôs recurso de apelação (mov. 121.1 - f.
1638/1665), postulando a reforma integral da sentença, alegando que (i) sua pretensão
não se encontra prescrita; (ii) não deu causa à rescisão do contrato, fazendo jus ao
recebimento das verbas rescisórias; (iii) após a notificação extrajudicial o contrato
continuou vigente por mais 4 meses, não tendo àquela o condão de desfazer o vínculo
contratual; (iv) faz jus ao recebimento das diferenças de comissão; (v) faz jus ao
recebimento das comissões devidas e não quitadas pela ré, referentes aos meses de
outubro de 2010 e novembro de 2010; (vi) qualquer alteração da área de atuação
deveria ser precedida de acordo escrito e assinado pelas partes; (vii) é ilegal a fixação
de cláusula del credere; (viii) foi irregular a cobrança de brindes, amostras, peças de
reposição, garantias e catálogos. Por fim, requer a inversão do ônus da sucumbência
ou a minoração dos honorários advocatícios.
Contrarrazões ao recurso de apelação (mov. 126.1 ­ f.
1675/1684).
3. A ré Garthen Industria e Comércio de Máquinas Limitada interpôs recurso adesivo
(mov. 127.2 - f. 1689/1692), pleiteando a reforma da sentença, para obter declaração
de que nada deve ao recorrido.
Contrarrazões ao recurso adesivo (mov. 134.1 ­ f.
1701/1707).
É o relatório.
II- VOTO
Em primeiro lugar, anoto que o recurso adesivo não merece ser conhecido. Isto
porque o recurso adesivo só é cabível quando há sucumbência recíproca das partes,
nos termos do artigo 997, §1º do Código de Processo Civil.

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No caso, entretanto, os pedidos foram julgados improcedentes e consequentemente,


já houve o reconhecimento de que a requerida nada deve ao autor, mormente quando
estamos diante de uma ação de cobrança.
Com efeito, somente quando houver sucumbência recíproca é possível ao recorrido
que não se conformara com a decisão interpor recurso adesivo. Ausente a
sucumbência recíproca, falta ao recurso adesivo um de seus pressupostos de
admissibilidade.
Sobre a questão, válida é a lição de Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de Andrade
Nery:
“Para que seja admissível o recurso adesivo é preciso que: a) tenha havido
sucumbência recíproca (vencidos parcialmente autor e réu); b) o recorrido não tenha
interposto recurso principal, conformando-se com a decisão que lhe fora parcialmente
adversa; c) o recurso principal seja de apelação, embargos infringentes, RE ou
Resp.”(In, Código de Processo Civil Comentado e Legislação Extravagante, pág. 863).
O recurso adesivo, assim como todos os outros recursos previstos no ordenamento
jurídico pátrio, necessário a presença de seus pressupostos de admissibilidade, sob
pena de não conhecimento.
Não há que se cogitar também pela aplicação do princípio da fungibilidade tendo em
vista a data da interposição do recurso adesivo.
Com a ressalva supra, presentes os pressupostos processuais de admissibilidade,
intrínsecos e extrínsecos, conheço do recurso de apelação.
4. Do cotejo dos autos, depreende-se que:
4.1. a Roman & Caldas Limitada ajuizou ação de cobrança cumulada com pedido de
indenização por danos materiais e morais (nº 0001381- 71.2014.8.16.0021) em face de
Garthen Industria e Comércio de Máquinas Limitada, alegando que (i) celebrou com a
requerida, em 11.07.1994, contrato de Representação Comercial; (ii) o valor das
comissões foi ajustado em 5% do valor líquido das vendas; (iii) a ré enviou-lhe uma
notificação datada de 29.10.2010, rescindindo o contrato de representação comercial,
por justa causa, sob a alegação (falsa) de infração contratual, consistente no
agenciamento de produtos de uma de suas concorrente; (iv) não obstante a referida
notificação, o contrato permaneceu vigente até 30.01.2011, pois continuou, com
autorização da ré, a efetuar a intermediação de vendas, enviando novos pedidos; (v)
diante da continuidade da relação negocial, acreditou que a notificação extrajudicial
tinha perdido sua validade; (vi) em 04.05.2011, a ré depositou em sua conta bancária o
valor líquido de R$66.760,37, identificado sob o título de “RESCISÃO”, sem a
formalização de nenhum instrumento contratual. Destacou que o valor depositado está
muito aquém do valor efetivamente devido, restando diferenças a serem pagas, tanto
a título de verbas rescisórias, como decorrentes de diferenças de comissões, estornos
indevidos e despesas cobradas ilegalmente; (vii) durante o contrato, sua área de
abrangência foi indevidamente reduzida, o que lhe causou diversos prejuízos
financeiros. Assim, postulou a procedência da ação e a condenação da ré ao
pagamento de (a) diferenças devidas em razão das reduções ilegais dos percentuais
de comissão; (b) comissões devidas e não pagas ao longo de todo contrato; (c)
devolução dos valores dos títulos de clientes inadimplentes, que foram cobrados
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ilegalmente (cláusula del credere); (d) indenização pela redução ilegal da área de
abrangência de atuação; (e) indenização dos valores que foram cobrados ilegalmente a
título de brindes, amostras, peças de reposição, garantias, catálogos, etc; (f) despesas
realizadas e não reembolsadas pela ré quando da convocação para reuniões; (g)
indenização compensatória pela formação da clientela e abertura de áreas (perdas e
danos); (h) indenização por danos morais; (i) indenização das verbas rescisórias, tais
como aviso prévio e indenização de 1/12.
4.2. A ré Garthen Industria e Comércio de Máquinas Limitada apresentou resposta em
sede de contestação (mov. 25.1 - f. 1358/1372), alegando, preliminarmente, a
prescrição da pretensão com base no artigo 44 da Lei nº 4.886/95 e a incompetência
absoluta do Juízo, pois deve ser processado e julgado perante a Justiça do Trabalho.
No mérito, discorreu que foi a autora quem deu causa à rescisão do pacto, na medida
em que passou a vender produtos similares de empresas concorrentes. Salientou que,
desde o início da contratação, foi pactuada a alteração das áreas de abrangência.
Também estava previsto contratualmente a possibilidade de redução do percentual
da comissão. Ressaltou que a parte autora avalizava seus clientes para não perder
vendas. Esclareceu que inexistem valores a serem pagos a título de verba rescisória.
Dessa forma, pugnou pela improcedência dos pedidos formulados na inicial.
4.3. No despacho saneador (mov. 51.1 - f. 1487/1490), o magistrado de 1º grau
afastou a preliminar de incompetência do Juízo, fixou os pontos controvertidos e
deferiu a produção da prova testemunhal.
4.4. Em sede de audiência de instrução e julgamento, foi tomado o depoimento
pessoal das partes e inquiridas 06 testemunhas (mov.
74.1 e 105.1 ­ mov. 1538/1544 e 1597/1601).
4.5. O MM. Dr. Juiz a quo julgou improcedentes os pedidos formulados na inicial
(mov. 113.1 - f. 1618/1629). É contra esta decisão que se insurge o autor.
Pois bem!
5. A apelante afirma que não operou a prescrição da sua pretensão, sustentando que
o prazo previsto no artigo 44, parágrafo único, da Lei n° 4.886/65, diz respeito ao
ajuizamento da ação pelo representante comercial para pleitear a retribuição que lhe é
devida. Sustenta que, embora o julgador monocrático tenha reconhecido a prescrição
quinquenal das parcelas anteriores a 16.01.2009, o que prescreve em cinco anos é o
direito de ação, e não o direito à indenização das parcelas.
Contudo, não vejo razão para a modificação da sentença neste aspecto.
Em primeiro lugar, é necessário ressaltar que as relações jurídicas decorrentes do
contrato de representação comercial são regidas pela Lei nº 4.886/65 alterada pela Lei
nº 8420/92. Assim, o prazo prescricional para o exercício de direitos oriundos das
relações de representação comercial deverá obedecer às regras contidas na referida
lei.
Sob esse prisma, é forçoso reconhecer que o prazo prescricional para a cobrança de
direitos decorrentes desse tipo de contrato é de cinco anos.
A Lei 4.886/65, ao regular as atividades dos representantes comerciais autônomos,
assim dispõe no §único do artigo 44:

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“Art. 44. (...) Parágrafo único. Prescreve em cinco anos a ação do representante
comercial para pleitear a retribuição que lhe é devida e os demais direitos que lhe são
garantidos por esta lei.”
Por sua vez, a prescrição para cobrar comissões pagas a menor e obter indenização
por quebra de exclusividade tem termo inicial diverso, pois “o representante comercial
adquire o direito às comissões quando do pagamento dos pedidos ou propostas” (art.
32 da Lei 4.886/65) e “o pagamento das comissões deverá ser efetuado até o dia 15
do mês subsequente ao da liquidação da fatura, acompanhada das respectivas cópias
das notas fiscais” (art. 32, §1º, da Lei 4.886/65).
Ou seja, a pretensão para cobrar as comissões pagas a menor, nasce com o seu não
pagamento no prazo legal.
Assim, a cada mês em que houve comissões pagas a menor e a cada venda feita por
terceiro em sua área de exclusividade, faz surgir para o representante comercial o
direito de obter a devida reparação.
Considerando que a ação foi ajuizada em 16.01.2014 e aplicando-se à hipótese dos
autos a prescrição quinquenal prevista na Lei 4.886/65, deve-se concluir que há a
incidência da prescrição sobre parcelas referentes a comissões não pagas ou pagas a
menor devidas anteriormente a 16.01.2009.
Nesse sentido, é o entendimento jurisprudencial:
Empresarial, civil e processual civil. Recurso especial. Juízo de admissibilidade.
Deficiência na fundamentação. Necessidade de revisão do contexto fático-probatório.
Reexame de cláusulas contratuais. Representação comercial autônoma. Lei de
regência. Prescrição.
Prazo, termo inicial e retroatividade. Correção monetária pelo INPC.
(...) - A pretensão do representante comercial autônomo para cobrar comissões nasce
mês a mês com o seu não pagamento no prazo legal, pois, nos termos do art. 32, §1o,
da Lei 4.886/65, “o pagamento das comissões deverá ser efetuado até o dia 15 do
mês subsequente ao da liquidação da fatura, acompanhada das respectivas cópias das
notas fiscais”. De modo análogo, a pretensão para cobrar indenização nasce com a
efetiva quebra da exclusividade. Assim, a cada mês em que houve comissões pagas a
menor e a cada venda feita por terceiro em sua área de exclusividade, nascia para o
representante comercial o direito de vir a juízo obter a prestação jurisdicional que lhe
assegurasse a devida reparação.
- É quinquenal a prescrição para cobrar comissões, verbas rescisórias e indenizações
por quebra de exclusividade contratual, conforme dispõe o parágrafo único do art. 44
da Lei 4.886/65.
- A prescrição em curso não origina direito adquirido, podendo seu prazo ser
aumentado ou reduzido por norma posterior. No entanto, em prol da segurança
jurídica, não se pode fazer com que o termo inicial do prazo prescricional reduzido
retroaja para uma data anterior à vigência da nova lei. O quinquênio prescricional deve
computar-se desde a vigência da Lei 8.240/92.
- A correção monetária de dívida que, por força de lei, estava atrelada à variação do
BTN passa, com a extinção desse índice, a ter por base o INPC desde o advento da
Lei 8.177/91 (março/91).
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Precedentes.
Recurso especial parcialmente provido.
(REsp 1085903/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
20/08/2009, DJe 30/11/2009)
PROCESSUAL CIVIL E COMERCIAL. RESCISÃO DE CONTRATO. REPRESENTAÇÃO
COMERCIAL. ZONA DE ATUAÇÃO. EXCLUSIVIDADE. OMISSÃO CONTRATUAL.
POSSIBILIDADE DE COMPROVAÇÃO. PAGAMENTO DE COMISSÕES. RESOLUÇÃO
CONTRATUAL. EFEITO EX TUNC. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. APLICABILIDADE.
1. Ação ajuizada em 10/08/2001. Recurso especial interposto em 05/03/2014 e
atribuído a este gabinete em 25/08/2016.
2. É possível presumir a existência de exclusividade em zona de atuação de
representante comercial quando: (i) não for expressa em sentido contrário; e (ii) houver
demonstração por outros meios da existência da exclusividade.
3. A resolução contratual é cabível nos casos de inexecução do contrato, que pode
ocorrer de modo voluntário ou involuntário, gerando efeitos retroativamente (ex tunc).
4. A pretensão do representante comercial autônomo para cobrar comissões nasce
mês a mês com o seu não pagamento no prazo legal, pois, nos termos do art. 32, §1º,
da Lei 4.886/65. Assim, a cada mês em que houve comissões pagas a menor e a cada
venda feita por terceiro em sua área de exclusividade, nasce para o representante
comercial o direito de obter a devida reparação.
5. É quinquenal a prescrição para cobrar comissões, verbas rescisórias e indenizações
por quebra de exclusividade contratual, conforme dispõe o parágrafo único do art. 44
da Lei 4.886/65.
6. Recurso especial parcialmente provido.
(REsp 1634077/SC, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
09/03/2017, DJe 21/03/2017) “PROCESSO CIVIL. REPRESENTAÇÃO COMERCIAL.
PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO DE LIQUIDAÇÃO DO TÍTULO JUDICIAL. LEI 4.886/65,
ALTERADA PELA LEI 8.240/92.
PRAZO QUINQUENAL. SENTENÇA CASSADA.
1. Dispõe o art. 44, parágrafo único, da Lei 4886/65, alterada pela Lei 8240/92, que
regula as atividades dos representantes comerciais autônomos, que “prescreve em
cinco anos a ação do representante comercial para pleitear a retribuição que lhe é
devido e os demais direitos que lhe são garantidos por esta Lei”.
2. “É de cinco anos a prescrição do direito para o representante comercial postular a
retribuição pelos serviços prestados ao representado. (Inteligência do parágrafo único
da Lei 4.886/65). (...).” (Acórdão n.667844, 20090310107865APC, Relator: Gislene
Pinheiro, 3ª Turma Civel, DJE: 25/06/2012. Pág.: 166).
3. Tendo o acórdão transitado em julgado em 22/04/2008, não se verifica a prescrição
da pretensão de liquidação do título judicial, na medida em que a autora requereu a
continuidade processual do feito em 17/02/2012, antes, portanto, do fim do prazo
quinquenal.
4. Recurso provido.” (TJ/DF, Acórdão n.667844, 20120111886134APC, Relator:
JOÃO EGMONT, Revisor: LUCIANO MOREIRA VASCONCELLOS, 5ª Turma Cível, Data
de Julgamento: 20/03/2013, Publicado no DJE: 12/04/2013. Pág.: 142).
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“CIVIL. PROCESSO CIVIL. REPRESENTAÇÃO COMERCIAL. PRESCRIÇÃO. No


contrato de representação comercial a prescrição é quinquenal (art. 44 da Lei
4.886/65) e o termo a quo é o momento em que a obrigação se tornou exigível.
Recurso conhecido e desprovido.” (TJ/DF, Acórdão n.499469, 20070110346526APC,
Relator: Ana Maria Duarte Amarante Brito, 6ª Turma Civel, Publicado no DJE:
05/05/2011. Pág.: 317)
“DIREITO CIVIL. REPRESENTAÇÃO COMERCIAL. AÇÃO DE COBRANÇA DE
COMISSÕES e AVISO PRÉVIO, CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS. LEI N. 4.886/85. 1. O art. 1º da Lei 4.886/65 conceitua o representante
comercial como “... a pessoa jurídica ou a pessoa física, sem relação de emprego, que
desempenha, em caráter não eventual por conta de uma ou mais pessoas, a mediação
para a realização de negócios mercantis, agenciando propostas ou pedidos, para,
transmiti-los aos representados, praticando ou não atos relacionados com a execução
dos negócios”. 2. O parágrafo único do art. 44 da Lei 4.886/65, incluído pela Lei
8.420/92, reza que “prescreve em cinco anos a ação do representante comercial para
pleitear a retribuição que lhe é devida e os demais direitos que lhe são garantidos por
esta lei”. A ação foi ajuizada em 01/08/03; logo, estão prescritos eventuais créditos
anteriores a 01/08/98. (...)” (TJ/DF, Acórdão n.237948, 20030110616962APC, Relator
Designado: Waldir Leôncio Lopes Junior, 2ª Turma Civel, Publicado no DJU Secao 3:
09/03/2006. Pág.: 72).
6. Segundo consta dos autos, a resilição contratual (art. 476, Código Civil) se deu por
justa causa, na medida em que a parte autora passou a, indevidamente, agenciar
produtos análogos aos fabricados pela parte ré para empresas concorrentes.
A Lei nº 4.886/65 entende como justos para a rescisão contratual, os seguintes
motivos:
Art. 27. Do contrato de representação comercial, além dos elementos comuns e
outros a juízo dos interessados, constarão obrigatoriamente: i) exercício exclusivo ou
não da representação a favor do representado;
Art. 35. Constituem motivos justos para rescisão do contrato de representação
comercial, pelo representado: a) a desídia do representante no cumprimento das
obrigações decorrentes do contrato; b) a prática de atos que importem em descrédito
comercial do representado; c) a falta de cumprimento de quaisquer obrigações
inerentes ao contrato de representação comercial; d) a condenação definitiva por
crime considerado infamante; e) força maior.
Nos termos do contrato ­ cláusula segunda ­ “o representante poderá exercer
atividade de representação comercial para outras empresas: desde que não concorram
direta ou indiretamente no ramo de negócio da Representada” (mov. 1.5 ­ f.
28).
Nestes termos, necessário averiguar se houve o apontado descumprimento desse
dever.
O representante da empresa autora esclareceu que:
(...) Que trabalhava na empresa ré desde o ano de 1994; que no ano de 2007 eles
começaram a “podar” a sua área de atuação passando-a para o seu preposto; (...) que
começou a vender betoneiras, produzidas por outra empresa, em 2005; que o fez
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porque a parte ré não fabricava tal produto; que a partir do momento em que a parte
ré passou a fabricar betoneiras, em 2009, poderia começar a haver conflito; (...) que
ingressou com a ação depois que foi mandado embora; que não tinha como discutir as
cláusulas do contrato antes de sua rescisão; (...) que recebeu alguns e-mails da
requerida comunicando a proibição de venda de produtos de empresas concorrentes
similares aos seus; que discutiu a questão por telefone, alertando a empresa de que
não poderia deixar de vender o produto da concorrente enquanto eles não tivessem
uma produção andando; (...) que eles não tinham o produto ainda em escala para ser
vendido; que propôs a eles que ficaria com a Garthen e entregaria a outra empresa
para seu filho; que a proposta não foi aceita; (...) que ao longo do contrato, foi
sofrendo gradualmente uma supressão de sua área de abrangência, sendo que aceitou
receber R$ 10.000,00 como indenização; que entende que merece receber cerca de
R$ 200.000,00 a R$ 250.000,00 (mov.
74.1 ­ f. 1539).
Observa-se, portanto, que o próprio autor confessa que descumpriu os termos do
contrato, ao violar a cláusula de exclusividade. Isto porque, quando a requerida
começou a efetuar a fabricação das betoneiras encaminhou e-mail ao autor, a fim de
adverti-lo da proibição de venda de produtos similares de outras empresas
concorrentes. Entretanto, o requerente insistiu em manter a relação negocial com
estas empresas. Tanto é verdade que mantém a representação comercial das
empresas concorrentes.
As demais testemunhas ouvidas em Juízo também confirmaram que o autor
descumpriu a cláusula de exclusividade prevista no contrato de representação
comercial:
Que a rescisão se deu em razão da parte autora vender produtos similares de outros
concorrentes. A parte ré vende betoneiras desde 2007 e, logo que descobriu a
infração, notificou a parte autora acerca do descumprimento contratual. Quando da
rescisão de contrato, as partes entabularam um acordo como forma de auxiliar e
recompensar a parte ré pelo tempo de trabalho na empresa. Desconhece outros
representantes da parte autora que vendam betoneiras de concorrentes. (Maria Luiza
Infeld Cruz - mov. 74.1 ­ f. 1544)
“Que conhece o contrato havido entre as partes; que sabe que a rescisão ocorreu por
justa causa; que a ré vende betoneiras na região há cerca de 06 ou 07 anos; que a
partir do momento em que passaram a produzir a betoneira, o autor tinha a opção de
ficar com a Garthen ou com o concorrente; que o autor foi notificado de que deveria
fazer a opção; que após a notificação, a parte autora respondeu, via e-mail, que não
venderia betoneiras de empresas concorrentes; que a própria testemunha constatou a
infração pessoalmente depois que o autor falou que não iria vender mais as betoneiras
das concorrentes; que após a intenção de rescindir o contrato, a parte autora
compareceu na sede da empresa ré “choramingando”, ocasião em que entabularam
um acordo e a empresa pagou o valor para ele”.
(Lori Biazus ­ mídia digital - mov. 74.1 ­ f. 1543)
Que é representante comercial, trabalhando para a Metalúrgica Rocha; que venda
dobradiças e ferragens; que nunca vendeu betoneiras; que, no entanto, conhece um
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pouco do mercado das betoneiras, que sabe as marcas que vendem; que a Garthen
tem betoneiras no mercado há pouco tempo; que acredita que a Garthe começou a
comercializar o produto a partir de 2005; que, pelo menos não via nas lojas, inclusive
de Cascavel; que sabe que a rescisão ocorreu, porque dispensaram a parte autora da
região sudoeste, que dê uns tempos pra cá “tiraram dele”; que, no caso, como o autor
já vendia as betoneiras, depois que a Garthen passou a vendê- las deveria ter
notificado o autor que já tinha o produto, entrando as partes em um acordo” (Gilmar
Lázaro Vicente ­ mídia digital - mov. 74.1 ­ f. 1543)
Desse modo, conclui-se pelas provas coligidas aos autos que o autor efetivamente
“descumpriu as obrigações inerentes ao contrato de representação comercial”, já que
passou a realizar vendas de produtos similares de outras empresas, malgrado a
existência de cláusula de exclusividade, o que justifica a rescisão unilateral do contrato
pela ré, por justo motivo, nos termos do artigo 35, alíneas “a” e “c” da Lei nº
4.886/1965.
Ressalta-se que a indenização e o aviso prévio são devidos quando ficar demonstrada
a rescisão contratual imotivada, como bem esclarece Fabio Ulhoa Coelho:
Se o contrato de representação comercial é rescindido por culpa do representante -
como nas hipóteses de desídia no cumprimento das obrigações, prática que leva o
representado a descrédito ou condenação definitiva por crime infamante (art. 35, “a a
d”) -, não estabelece a lei da representação comercial nenhuma indenização. O
ressarcimento dos prejuízos do representado, nesse caso, será demandado com base
nas regras gerais de obrigação fixadas pelo Código Civil (Curso de direito comercial.
São Paulo: Saraiva. 2007.
v. 3, p. 119).
Portanto, justa e motivada a rescisão contratual, não merece prosperar as pretensões
indenizatórias fundamentadas no artigo 27, alínea “j”2, e no artigo 34 da Lei
4.886/19653, as quais tratam de 1/12 de toda a remuneração recebida ao longo do
contrato; de aviso prévio; e do adicional de aviso prévio de 1/3 das comissões
recebidas nos três meses anteriores4.
Por fim, conforme destacou o magistrado de 1º grau, embora tenha havido um acordo
indenizatório entre as partes ­ o que restou sobejamente confirmado por todos os que
foram ouvidos, inclusive a parte autora -, ele não teve o condão de alterar a natureza
do fim da relação jurídica, qual seja, a de resilição contratual unilateral operada pela
parte ré fundada em justa causa.
7. É necessário frisar que não há empecilho legal que impossibilite a alteração do
percentual das comissões a serem percebidas pelo representante comercial no curso
da relação estabelecida com a empresa representada, ainda que tal alteração se dê
tacitamente. Sobre a questão, segue entendimento jurisprudencial:
REPRESENTAÇÃO COMERCIAL. PRESCRIÇÃO. RESCISÃO IMOTIVADA DO
CONTRATO.
COMISSÕES. DIFERENÇA. ALTERAÇÃO TÁCITA. POSSIBILIDADE. VERBAS
INDENIZATÓRIAS. INDEVIDAS. O prazo prescricional de que trata o art. 44, parágrafo
único, da Lei n. 4.886/1965 se refere apenas ao direito de ação, não limitando,
portanto, o período a ser considerado para fins de apreciação do pleito indenizatório.
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Não tendo a representante comercial comprovado justo motivo para a rescisão


contratual, ou seja, configura quaisquer das hipóteses previstas no art. 36 da Lei n.
4.886/65, não há falar em direito às verbas indenizatórias previstas nos arts. 27, j, e 34,
ambos da Lei n. 4.886/65. Considerando-se que a representante anuiu com a redução
do percentual pactuado a título de comissão, bem como com a mudança de sua zona
de atuação, não há falar em indenização por eventual diferença entre os percentuais
de comissão pagos ou diminuição da remuneração auferida pela representante
comercial.
PROVERAM O APELO DA PARTE RÉ. DESPROVERAM O APELO DA AUTORA.
(Apelação Cível Nº 70043359140, Décima Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do
RS, Relator: Paulo Sérgio Scarparo, Julgado em 30/06/2011).
AÇÃO DE COBRANÇA. REPRESENTAÇÃO COMERCIAL. ESCRITURA PÚBLICA
RESCINDINDO CONTRATO VERBAL ENTRE AS PARTES. CELEBRAÇÃO DE
CONTRATO ESCRITO. O valor certo pleiteado na exordial já recebido pela autora,
conforme prova anexada aos autos. De outro lado, quando à diferença de comissão
em face do novo percentual estabelecido no contrato escrito, não procede a
pretensão da autora, na medida em que as partes firmaram escritura pública de
rescisão do contrato verbal, dando-se plena e geral quitação dos valores, sem que
tenha sido demonstrado qualquer vício de vontade. Portanto, em que pese o
percentual da comissão tenha sido minimamente reduzido quando celebrado o
contrato escrito, tal foi com a concordância da partes e dos demais representantes da
ré atendendo mudanças na política comercial desta para operar no mercado sem
prejuízo. Portanto, nenhuma ilegalidade, sendo incabível, também, ressarcimento com
gastos em viagens para participação de feiras, pois não era obrigatoriedade da
empresa demandada. APELAÇÃO DESPROVIDA. (Apelação Cível Nº 70022352033,
Décima Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Paulo Augusto Monte
Lopes, Julgado em 30/01/2008).
Dessa forma, cumpria ao represente comercial comprovar que não anuiu, seja de
forma expressa seja de forma tácita, com a alteração da comissão inicialmente
pactuada entre as partes, nos termos do artigo 373, I do Código de Processo Civil5.
No caso concreto, conforme estabelecido no contrato (item 2, anexo II ­ mov. 1.5 ­ f.
32), o representante receberia, a título de comissão, o percentual 5% “do valor líquido
da nota fiscal-fatura”.
O contrato também previu, expressamente, a possibilidade de diminuição da
comissão devida à representante, nos casos em que concedidos descontos aos
clientes. Vejamos:
“Item 2.7 do anexo II - Para o fechamento de negócios especiais, geralmente de
valores elevados, transacionados entre Representante e cliente,
representante/representada e cliente, de comum acordo entre as partes, poderão
negociar a redução de comissão” (mov. 1.5 ­ f. 32).
Nesse passo, estabelecida entre as partes, expressamente a possibilidade de haver
diminuição da comissão a ser creditada em favor do representante, em caso de
descontos concedidos aos clientes, e não havendo nenhuma prova nos autos que
demonstre a discordância do autor com relação aos valores creditados, não verifico
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

qualquer ilegalidade que possa ensejar a existência de diferenças a serem adimplidas


em favor da representante.
Portanto, inexistem razões para a modificação da sentença neste aspecto.
8. O apelante ainda sustenta não ter recebido as comissões referentes aos meses de
outubro e novembro de 2010.
Contudo, consta da planilha denominada “diferenças de comissões devidas,
atualizadas até fevereiro de 2013”, elaborada pelo próprio autor, diversos valores
pagos a título de comissão nos meses de outubro e novembro de 2010 (mov. 1.7 ­ f.
44/54).
O autor também afirmou que, no dia 04.05.2011, a requerida efetuou um depósito
em sua conta com a denominação “verbas rescisórias”. Entretanto, não especificou ao
que se referia esses valores. Não há nos autos, nenhuma prova que o requerente
tenha cobrado da requeridas estas supostas comissões não pagas, antes do
ajuizamento da presente ação.
Desse modo, carece os autos de elementos probatórios, aptos a embasar a
procedência do referido pedido.
9. Acerca da área de abrangência, é preciso salientar que a própria lei que regula as
atividades dos representantes comerciais autoriza a sua modificação (art. 27, alínea
“g”6).
A ocorrência da redução da área de atuação do autor é fato inconteste nos autos.
Entretanto, nos termos destacados pelo magistrado de 1º grau, “em audiência, restou
esclarecido que a parte autora, além de ter concordado com a redução de sua área,
recebeu indenização no importe de R$10.000,00, dando a devida quitação tácita.
Logo, não pode agora pretender a complementação da quantia, não sem malferir a
boa-fé contratual (art. 422, Código Civil), incorrendo em venire contra factum
proprium.
10. O representante comercial possui atribuições específicas e limitadas, estando
atrelado às disposições contratuais estipuladas com a representada.
A respeito do tema, leciona Rubens Requião:
O representante comercial apenas representa quem o tenha contratado para agenciar
negócios.
Com isso, se resume ele a entabular as negociações, encaminhando, através de
“pedidos”, os contratos cujas conversões inicia. Não tem ele poderes de mandato,
para agir em nome do mandante na conclusão dos negócios que promove7.
Nessa linha, não está inserta, dentre as obrigações decorrentes do contrato de
representação comercial, a obrigatoriedade de que o representante proceda a
cobrança de valores eventualmente inadimplidos, após o faturamento do pedido.
Outrossim, por força da proibição legal, contida no artigo 43, da Lei nº 4.886/658, é
vedada a inclusão de cláusula del credere, nos contratos dessa natureza.
No caso dos autos, embora não tenha havido pactuação expressa, no que se refere à
indigitada cláusula, a prova documental colacionada aos autos demonstra claramente
o desconto efetivado nas comissões do apelante, no que se refere a títulos
inadimplidos pelos clientes (mov. 1.17 ­ f. 481/1063).

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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Não obstante, a documentação colacionada comprova o desconto indevido de


valores, a amparar a tese apresentada pela demandante, no que se refere à retenção
de comissões.
A prova testemunhal produzida, também confirmou a existência de descontos das
comissões em caso de não pagamento dos clientes:
“(...) Que a negociação nas negociação dos produtos a empresa tem um limite de
desconto para dar, chegando no limite o representante fica com a faculdade de
diminuir a sua comissão ou perder o negócio; que livre arbítrio dele; que quando
chega no limite do custa não tem como a empresa dar mais descontos; que, para a
redução da comissão, os representantes informam a empresa que vão reduzir a sua
comissão para não perder o negócio; que isso é feito no pedido ou por e-mail, as
vezes é por telefone, depois mandam o documento; que o pedido é por sistema; que
limite máximo que o representante pode abrir mão é de 2%; que antigamente, tinha
pedido por escrito; que o pedido eletrônico desde de 2005 ou 2006; que a empresa
não pode mexer no percentual de comissão sem a autorização do representante; que
quando a empresa nega o crédito, mas o representante acredita no cliente, ele pede
para o pedido ser liberado sob aval, daí a empresa libera o pedido sob o aval do
representante; que se o cliente não pagar, o valor é descontado do representante e o
título de crédito é enviado para o representante tentar cobrar; (...) que a empresa faz
convenções anuais para os representantes sendo a presença facultativa; que sempre
que eles comparecem a empresa paga as despesas; que não é cobrado os brindes;
que se o representante pede um número maior de brinde do que tem direito, o custo
é repassado; que houve casos em que o autor avalizou clientes que não efetuaram o
pagamento; que, após esgotados todos os meios de recebimento do crédito, se o
comprador não efetuar o pagamento, há o estorno da comissão do representante
somente nos casos em que ele deu o aval; que nos casos em que a empresa avalizou a
venda,
não é cobrado nada do representante; que quando havia a devolução do produto a
comissão também era estornada; (...)” ­ Lori Biazus, mídia digital ­ mov. 105.1.
“Que é representante comercial da Garthen; que já trabalhou na Roman; que
trabalhou na Roman em meados do ano 2000; que nesta época os pedidos eram
emitidos por escrito; que havia a possibilidade do representante negociar a sua
própria comissão; que a redução de comissão só acontecia com o aval do
representante; que era o representante quem fazia a análise de vantagem de reduzir a
sua própria comissão; que essa redução era feito mediante uma observação no próprio
pedido ou mediante o envio de e-mail para a empresa; que a Garthen possui alguns
requisitos para a liberação das venda; que se, por exemplo, o comprador tiver o nome
inscrito no SERASA, ela não libera a venda e consulta o representante, assim, se o
representante quiser ele pode dar seu aval e assumir a reponsabilidade pelo cliente;
que, caso esse cliente não pague é debitado da comissão e enviada a duplicada para
o representante negociar com seu cliente; que a comissão é paga depois que o cliente
efetua o pagamento; (...)” ­ Cláudio Valentini - mídia digital ­ mov. 105.1.
Destarte, comprovada satisfatoriamente a aplicação da cláusula del credere no
contrato entabulado entre as partes, há de ser declarada nula a prática da indigitada
50

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

sistemática, condenando- se a demandada/apelada, ao ressarcimento dos valores


descontados indevidamente. Frise-se que só são devidos os valores cobrados
indevidamente a partir de 16.01.2009, já que reconhecida a prescrição da pretensão
de cobrança das verbas anteriores.
A respeito do tema, segue entendimento jurisprudencial:
APELAÇÃO CÍVEL. REPRESENTAÇÃO COMERCIAL.CLÁUSULA “DEL CREDERE”.
DESCONTOS REALIZADOS NAS COMISSÕES DO REPRESENTANTE DECORRENTES
DA INADIMPLÊNCIA DOS CLIENTES. VEDAÇÃO.CONTRATO FIRMADO APÓS AS
ALTERAÇÕES INSERIDAS PELA LEI 8.420/1992. EXEGESE DO DISPOSTO NO
ARTIGO 43 DA LEI Nº 4.886/1965.RECURSO NÃO PROVIDO. (TJPR - 18ª C.Cível - AC
- 1337329-4 - Região Metropolitana de Londrina - Foro Central de Londrina - Rel.:
Luciane Bortoleto - Unânime - - J.
29.06.2016)
APELAÇÃO CÍVEL. REPRESENTAÇÃO COMERCIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. [...].
V.
Cláusula Del Credere. Comprovação de que os valores correspondentes às
mercadorias devolvidas pelos clientes eram cobrados da representante. Prática vedada
pelo art. 43 da Lei nº 8.420/92, que determina a restituição das importâncias pagas
sob tal rubrica. [...] NEGARAM PROVIMENTO AOS RECURSOS. UNÂNIME. (Apelação
Cível Nº 70040665465, Décima Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Ergio Roque Menine, Julgado em 09/08/2012)
11. No que tange à cobrança de brindes, amostras, peças de reposição, garantias e
catálogos ao que tudo indica os valores eram pagos por mera liberalidade do
representante. A prova testemunhal esclareceu que a representada fornecia aos seus
representantes um determinado número de brindes para o incremento de suas
vendas. Entretanto, os representantes tinham a faculdade de solicitar um número
maior de brindes, mediante o pagamento da diferença. Vejamos:
“(...) que não é cobrado os brindes; que se o representante pede um número maior
de brinde do que tem direito, o custo é repassado; (...)” - Lori Biazus, mídia digital ­
mov.
105.1.
(...) que a empresa distribuiu os brindes, gratuitamente; que, por exemplo, se o
representante quer colocar o seu nome nos brindes, daí ele arca com alguma despesa;
que se tiver mais clientes do que brinde, pode requerer o fornecimento de mais
brindes; (...) ­ Cláudio Valentini - mídia digital ­ mov. 105.1.
Da análise dos documentos anexados aos autos, verifica-se que a parte autora
solicitou alguns brindes (mov. 1.27 ­ f. 1064). Noutras, a natureza da operação
constante da nota fiscal é de “distribuição de brindes” (mov. 1.27 ­ f. 1067), “outras
saídas” (mov. 1.27 ­ f. 1068), “venda e mercadorias adquirida” (mov. 1.27 ­ f.
1070) ou “remessa e garantia” (mov. 1.28 ­ f. 1073).
Não há nos autos nenhuma prova indicando que a requerida tenha compelido a
autora a efetuar o pagamento das citadas verbas. Assim, imperioso se mostra a
manutenção da sentença neste particular.

51

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12. A sucumbência deve ser distribuída na medida da vitória e da derrota dos


litigantes no processo. Analisando os termos da pretensão e o resultado final
proporcionado pelo presente acórdão, verifico a necessidade de redistribuir os ônus
da sucumbência. Assim, condeno as partes, na proporção de 80% para o autor e 20%
para o réu, ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios.
Diante da redistribuição do ônus da sucumbência, fixo os honorários advocatícios em
10% sobre o valor da condenação, nos termos do artigo 85, §2º do Código de
Processo Civil. Prejudicado o pedido de minoração do valor dos honorários
advocatícios.
13. Diante do exposto, voto no sentido de:
a) dar parcial provimento ao recurso de apelação, para (i) reconhecer a ilegalidade da
estipulação da cláusula del credere e condenar a requerida a restituir ao autor o valor
das comissões estornadas e não alcançadas pela prescrição, corrigidos
monetariamente pelo INPC desde cada estorno, até o efetivo pagamento e com juros
moratórios de 1% ao mês desde a citação; (ii) redistribuir o ônus da sucumbência.
b) não conhecer do recurso adesivo.
III- DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar parcial provimento ao
recurso de apelação; e, não conhecer do recurso adesivo.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador LAURI CAETANO DA SILVA, relator,
e dele participaram os Desembargadores TITO CAMPOS DE PAULA e RUI BACELLAR
FILHO.
Curitiba, 14 de junho de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--
1 Sentença proferida no dia 31.05.2016 e publicada no dia 16.06.2016.
2 Art. 27. Do contrato de representação comercial, além dos elementos comuns e
outros
a juízo dos interessados, constarão obrigatoriamente: (...) j) indenização devida ao
representante pela rescisão do contrato fora dos casos previstos no art. 35, cujo
montante não poderá ser inferior a 1/12 (um doze avos) do total da retribuição
auferida durante o tempo em que exerceu a representação.
(...).
3 Art . 34. A denúncia, por qualquer das partes, sem causa justificada, do contrato de
representação, ajustado por tempo indeterminado e que haja vigorado por mais de
seis meses, obriga o denunciante, salvo outra garantia prevista no contrato, à
concessão de pré-aviso, com antecedência mínima de trinta dias, ou ao pagamento de
importância igual a um têrço (1/3) das comissões auferidas pelo representante, nos três
meses anteriores.
4 AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO CUMULADA COM COBRANÇA.
RECONVENÇÃO. CONTRATO VERBAL DE
REPRESENTAÇÃO COMERCIAL. PRELIMINAR REJEITADA. CASO CONCRETO.
MATÉRIA DE FATO.
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OCORRÊNCIA DE RESCISÃO COM JUSTA CAUSA PELA REPRESENTADA.


DESCABIMENTO DE INDENIZAÇÃO POR FALTA DE AVISO PRÉVIO. DIREITO AO
RESSARCIMENTO DO DÉBITO DA CONTA DE REPRESENTAÇÃO. DANOS MORAIS
NÃO COMPROVADOS. APELO PROVIDO EM PARTE.
(Apelação Cível Nº 70056213663, Décima Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça
do RS, Relator: Vicente Barrôco de Vasconcellos, Julgado em 30/10/2013)
5 Art. 373. O ônus da prova incumbe: I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu
direito; (...)
6 Art. 27. Do contrato de representação comercial, além dos elementos comuns e
outros
a juízo dos interessados, constarão obrigatoriamente: (...) g) os casos em que se
justifique a restrição de zona concedida com exclusividade; (...) --
7 REQUIÃO, Rubens. Do representante comercial: Comentários à Lei nº 4.886 de 9 de
dezembro de 1965 e à Lei nº 8.420, de 8 de maio de 1992. Rio de Janeiro: Forense,
2002, p. 19.
8 Art. 43. É vedada no contrato de representação comercial a inclusão de cláusulas
del credere.

2.1.5. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA – RESCISÃO CONTRATUAL E

REINTEGRAÇÃO DE POSSE

AÇÃO COM PEDIDO DE RESCISÃO CONTRATUAL E REINTEGRAÇÃO DE POSSE.

CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. INADIMPLEMENTO DO

PROMITENTE-COMPRADOR. PEDIDO JULGADO PARCIALMENTE PROCEDENTE.

RECURSO DE APELAÇÃO DA AUTORA: 1. HONORÁRIOS CONTRATUAIS.

RESSARCIMENTO. IMPOSSIBILIDADE. 2. BENFEITORIAS E ACESSÕES.

INDENIZAÇÃO DEVIDA. FALTA DE COMPROVAÇÃO DA REGULARIDADE DAS

OBRAS. QUANTUM DEBEATUR QUE DEVE SER APURADO EM FASE DE

LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA. 3. TAXAS E TRIBUTOS QUE DEVEM SER

SUPORTADOS PELO PROMITENTE COMPRADOR ATÉ A DATA DA DESOCUPAÇÃO

DO IMÓVEL. 4. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. MAJORAÇÃO. ÔNUS DA

SUCUMBÊNCIA. REDISTRIBUIÇÃO. RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E

PARCIALMENTE PROVIDO. 1. O fato de o postulante optar pela contratação de

advogado, mediante remuneração, para a defesa de seus interesses em juízo, não

induz responsabilidade do réu pelo seu pagamento (TJMG - Apelação Cível

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1.0686.12.002760-8/001, Relator (a): Des. Valdez Leite Machado, 14ª CÂMARA CÍVEL,

julgamento em 31/01/2013, publicação da sumula em 08/02/2013). 2. Em caso de

rescisão contratual, cabe indenização por benfeitorias úteis e necessárias, além da

retenção do imóvel até o seu pagamento, sendo tais direitos decorrência lógica do

desfazimento da avença. 3. A aferição do valor a ser indenizado a título de benfeitorias

deve ser efetuada em sede de liquidação de sentença.

(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1637815-1 - Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime

- J. 14.06.2017)

Inteiro Teor

I - RELATÓRIO
1. Cuida-se de recurso de apelação interposto em virtude da sentença proferida pelo
MM. Dr. Juiz de Direito 1ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região
Metropolitana de Curitiba, dos autos nº 0013522-22.2013.8.16.0001 de ação de
rescisão de contrato cumulada com pedido de reintegração de posse, proposta por
BMC Construtora de Obras Limitada em face de Márcia Ribeiro de Lima, que julgou
parcialmente procedentes os pedidos formulados na inicial, para (i) declarar a
resolução do contrato celebrado entre as partes; (ii) determinar à parte autora o
pagamento de indenização à ré pelas benfeitorias úteis e necessárias realizadas no
bem objeto da lide, sendo que os valores deverão ser apurados em fase de liquidação
de sentença; (iii) determinar à parte autora a restituição das parcelas pagas pela parte
ré, as quais deverão ser corrigidas monetariamente a partir de cada desembolso pelo
índice do INPC/IBGE, bem como acrescidas de juros moratórios de 1% ao mês,
incidentes a partir do trânsito em julgado da presente decisão; (iv) determinar a
compensação dos débitos existentes entre as partes, nos termos do art. 368 do
Código Civil. Em razão da sucumbência recíproca, condenou a parte autora ao
pagamento de 40% das custas processuais e dos honorários advocatícios de
sucumbência devidos ao procurador da parte ré, arbitrados em R$ 2.400,00; e
condenou a parte ré ao pagamento de 60% das custas processuais e dos honorários
advocatícios de sucumbência devidos ao procurador da parte autora, fixados em R$
3.600,00. Ressaltou que fica vedada a compensação de honorários, nos termos do art.
85, §14 do CPC/2015 (mov. 116.1 ­ f.
283/298).
2. A autora BMC Construtora de Obras Limitada interpôs recurso de apelação (mov.
122.1 - f.305/335), pleiteando a reforma parcial da sentença, para (i) condenar a ré ao
pagamento dos honorários advocatícios contratuais, nos termos da cláusula 15ª do
contrato; (ii) condenar a requerida ao pagamento das despesas que teve com o envio
da notificação extrajudicial, no valor de R$169,54; (iii) afastar o dever de indenizar as
benfeitorias, já que estas foram erigidas em desconformidade com a lei e com o
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contrato; (iv) autorizar a retenção de 17% dos valores pagos; (v) condenar a requerida
ao pagamento de eventuais débitos de condomínio, IPTU e taxas de coleta de lixo e
iluminação pública; (vi) aplicar a ré as penalidades por litigância de má-fé; (vii)
redistribuir o ônus da sucumbência e majorar o valor arbitrado a título de honorários
advocatícios.
Não houve a apresentação de contrarrazões.
É o relatório.
II - VOTO
Não conheço do recurso na parte que trata do pedido de retenção de 17% dos
valores pagos pela promitente compradora, pois tal questão não foi objeto do pedido
inicial. Sendo assim, houve inovação recursal por parte da apelante.
Com a ressalva supra, presentes os pressupostos processuais de admissibilidade,
intrínsecos e extrínsecos, conheço em parte o recurso de apelação.
3. Do cotejo dos autos, depreende-se que (i) a construtora BMC firmou, em
07.03.2009, contrato particular de promessa de compra e venda com Leandro Belizario
Moro (mov. 1.4 ­ f. 19/24); (ii) posteriormente, com anuência da construtora, Leandro
cedeu o contrato a Alessandro Villas Boas que, por sua vez, cedeu para Márcia Ribeiro
de Lima; (iii) a cessão do contrato a Marcia Ribeiro de Lima (mov. 1.4 ­ f. 27/28) foi
firmada por Nivaldo Ribeiro de Lima, que possuía poderes para representa-la no ato,
conforme procuração anexada aos autos (mov. 1.4 ­ f.
29/30); (iv) não tendo acusado o pagamento de nenhuma das contraprestações
ajustadas, a construtora BMC ajuizou ação com pedido de rescisão de contrato c/c
reintegração de posse em face de Márcia Ribeiro de Lima, requerendo a antecipação
dos efeitos da tutela, para ser reintegrada na posse do imóvel; (v) trouxe com a inicial a
notificação extrajudicial (mov. 1.5 ­ f. 31/33), realizada por intermédio do 2º Cartório
de Registro de Títulos e Documentos de Curitiba; (vi) a liminar de reintegração de
posse foi deferida e determinada a citação da ré (mov. 11.1 ­ f. 60/61); (vii) a ré Marcia
Ribeiro de Lima compareceu espontaneamente aos autos, apresentando contestação
(mov. 31.1 - f.92/95), aduzindo, preliminarmente, que não foi notificada para fins de
constituição em mora, na medida em que a notificação extrajudicial foi recebida por
Nivaldo, seu irmão, sem poderes para tanto; pugnou ainda pelo direito de retenção
por benfeitorias; no mérito, requereu a improcedência dos pedidos; (viii) o mandado
de reintegração de posse foi devidamente cumprido (mov. 36.1 - f. 104); (ix) o MM.
Juiz a quo proferiu sentença (mov. 58.1 ­ f. 142/147), pela qual extinguiu o processo,
sem resolução de mérito, nos termos do art. 267, VI do CPC/1973, haja vista a irregular
constituição em mora da devedora; (x) contra essa decisão, a autora BMC Construtora
de Obras Limitada interpôs recurso de apelação (mov.
71.1 ­ f. 168/176), ao qual foi dado provimento para anular a sentença (mov.
106.1 - f.256/264); (xi) após o retorno dos autos ao juízo de origem, o julgador
monocrático proferiu nova sentença, pela qual julgou parcialmente procedentes os
pedidos formulados na inicial, para (i) declarar a resolução do contrato celebrado entre
as partes; (ii) determinar à parte autora o pagamento de indenização à ré pelas
benfeitorias úteis e necessárias realizadas no bem objeto da lide, sendo que os valores
deverão ser apurados em fase de liquidação de sentença; (iii) determinar à parte
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autora a restituição das parcelas pagas pela parte ré, as quais deverão ser corrigidas
monetariamente a partir de cada desembolso pelo índice do INPC/IBGE, bem como
acrescidas de juros moratórios de 1% ao mês, incidentes a partir do trânsito em
julgado da presente decisão; (iv) determinar a compensação dos débitos existentes
entre as partes, nos termos do art. 368 do Código Civil (mov. 116.1 - f.283/298). É
contra esta decisão que se insurge a apelante.
4. A apelante pretende a reforma da sentença, para condenar a ré ao pagamento de
honorários advocatícios, no importe de 20% do valor da compra e venda, nos termos
previstos na cláusula décima quinta do contrato celebrado entre as partes.
A seguir, transcrevo o inteiro teor da aludida cláusula:
“CLAUSULA DÉCIMA QUINTA Fica eleito o foro da Comarca de Curitiba/PR, para
serem dirimidas dúvidas e/ou discutir toda e qualquer ação oriunda deste contrato,
com prévia renúncia a qualquer outro, por mais privilegiado que seja; obrigando-se,
ainda, a parte vencida a pagar, em caso de demanda judicial, as custas e honorários
advocatícios da parte vencedora, na base de 20% (vinte por cento) sobre o total do
presente contrato”.
Com efeito, tendo a autora/apelante optado pela contratação de advogado particular,
incumbe a ela o ônus de arcar com o valor decorrente dessa decisão, não sendo
plausível condenar a parte adversa a indenizá-la pelo valor relativo aos honorários
contratados com o causídico, máxime porque tal relação não pode criar obrigações
para terceiros.
Nos dizeres de Yussef Said Cahali, “não são reembolsáveis a título de honorários de
advogado, as despesas que a parte enfrenta em razão do ajuste com o profissional a
título de honorários, para o patrocínio de sua causa in misura superiore a quella poi
ritenuta côngrua dal giudice”. (Honorários Advocatícios, Editora Revista dos Tribunais,
p. 393)
Não é outro o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. CONTRATAÇÃO DE ADVOGADO.
DANO MATERIAL NÃO CONFIGURADO. QUANTUM INDENIZATÓRIO. REVISÃO.
INVIABILIDADE. VALOR RAZOÁVEL. - A contratação de advogado, por si só, não
enseja danos materiais, sob pena de atribuir ilicitude a qualquer pretensão
questionada judicialmente. (...) (AgRg no REsp 1229482/SP, 3ª Turma, Ministro Paulo
de Tarso Sanseverino, DJe de 23/11/2012).
E de outros Tribunais de Justiça:
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - CONTRATAÇÃO DE
ADVOGADO PARA AJUIZAMENTO DE DEMANDA - OPÇÃO DA PARTE -
INEXISTÊNCIA DO DEVER DE INDENIZAR.
- O fato de o postulante optar pela contratação de advogado, mediante remuneração,
para a defesa de seus interesses em juízo, não induz responsabilidade do réu pelo seu
pagamento. (TJMG - Apelação Cível 1.0686.12.002760-8/001, Relator (a): Des.(a)
Valdez
Leite Machado , 14ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 31/01/2013, publicação da
sumula em 08/02/2013)
RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MATERIAL. HONORÁRIOS CONTRATUAIS.
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RESSARCIMENTO. IMPOSSIBILIDADE. A contratação de profissional para a defesa do


autor decorreu de liberalidade sua, não podendo ser imputada à ré. Ademais, não há
respaldo legal para a cobrança de honorários contratuais da parte adversa.
Precedentes jurisprudenciais. APELAÇÃO DESPROVIDA. (Apelação Cível Nº
70051295525, Décima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Túlio de
Oliveira Martins, Julgado em 28/03/2013)
O apelante ainda sustenta que os honorários contratuais compõem a indenização por
perdas e danos, baseando sua pretensão nos artigos 389, 395 e 404 do Código Civil1.
Acerca do tema, válidos são os esclarecimentos prestados pelo Des. J. S.
Fagundes Cunha, no julgamento da Apelação Cível nº 1.194.800-6:
De plano, os honorários convencionais pactuados entre a parte e o advogado sem
que a parte adversa dela tenha participado, de modo que não pode ser compelida a
arcar com a referida verba.
Assim, os honorários advocatícios pelos quais a parte vencida na demanda deve
responder são, exclusivamente, os decorrentes da sucumbência, não alcançando os
particularmente pactuados entre a parte vencedora e seu procurador. O fato de o
autor ter despendido valores para o pagamento de profissional apto a ingressar com
demanda em juízo não pode ser inserido como dano patrimonial imputável à ré.
Note-se que o autor escolheu livremente um profissional de sua confiança, que
estabeleceu um valor pela prestação de um serviço. Não há qualquer participação da
ré no referido contrato.
Afere-se que, ao aceitar a tese do demandante, estar-se-ia criando elemento surpresa,
alheio a qualquer violação de cunho obrigacional.
(...)
Os supracitados artigos referem-se às relações obrigacionais. A relação obrigacional
possui características específicas e que a diferencia, por exemplo, dos direitos reais. As
obrigações produzem efeitos entre as partes contratantes, não sendo crível estender
para terceiros, obrigação ou responsabilidade oriunda de contrato celebrado entre as
partes contratantes. Não é possível submeter terceiros à cláusula de valor que
depende única e exclusivamente da vontade dos contratantes, exigindo posterior
ressarcimento de valores pagos.
Não se inserem nas perdas e danos os honorários advocatícios desembolsados pelo
constituinte aos advogados que livremente contratou para patrocinar reclamatória
trabalhista.
Como cediço, são pilares do dever de reparação a ocorrência de ato ilícito, nexo
causal e dano ­ requisitos da responsabilidade civil -, nos termos em que estatuídos
nos arts. 927, 186 e 187 do CC.
O acesso ao Judiciário é garantia constitucional assegurada a todo aquele que se
sente ameaçado em seu direito, segundo determina o art. 5º, XXXV, da Constituição
da República, ao dispor que: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário
lesão ou ameaça a direito”.
Com efeito, é lícito a qualquer um que pretenda ver resolvida uma controvérsia,
recorrer ao juízo na busca da tutela jurisdicional; por outro lado, não se pode
considerar ato ilícito a resistência da parte demandada judicialmente.
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Dito isso, não vislumbro a possibilidade de acolher a pretensão formulada na petição


inicial, pois o pedido de ressarcimento formulado decorre de relação obrigacional
entre o autor e seu advogado, possuindo efeito somente entre estas partes.
De se dizer, não se trata de direito real, capaz de originar uma espécie de efeito erga
omnes. O direito obrigacional, não se pode olvidar, é relativo, em comparação com o
direito real que é absoluto, isto é, o seu objeto somente pode ser exigido do devedor.
Tal característica existe porque, a princípio, deve-se respeitar o acordo de vontades,
mas celebrado entre as partes contratantes.
Além do mais, o acolhimento do pedido de indenização formulado, implicaria na
inviabilização do direito postulatório, na medida em que a parte vencida na demanda
teria de arcar tanto com os honorários advocatícios fixados judicialmente, quanto com
aqueles despendidos pela parte adversa para o ajuizamento e patrocínio da ação.
Não bastasse a ausência de ilicitude no caso em tela, há que se registrar que a
postulação perante o Poder Judiciário por intermédio da Defensoria Pública, sendo
rescindível a contratação de advogado particular.
Assim, se a autora apelante preferiu contratar advogado na busca dos seus direitos,
certo é que a ré apelada não pode ser compelida a arcar com tais despesas.
Cabe consignar que a relação negocial em que estipulados os honorários contratuais
devidos ao patrono da ré naquela ação constituiu ato jurídico do qual não participou a
parte autora, sendo inadmissível, nessa demanda impor-lhe os consectários de tal
contratação, cabendo-lhe suportar, tão-somente, os encargos decorrentes da
sucumbência.
(...)
Dessa forma, não há dever de indenizar, razão pela qual estou por manter a sentença
de improcedência, na íntegra (TJPR 8ª C.Cível - AC - 1194800-6 - Guarapuava - Rel.:
José Sebastião Fagundes Cunha - Unânime - - J. 31.07.2014).
Ademais, não se mostra válida a cláusula contratual que estabelece a
responsabilidade do devedor pelas despesas referentes a obrigação de pagamento de
honorários advocatícios em caso de cobrança extrajudicial ou judicial. A construtora
não pode querer transferir à ré/consumidora a obrigação de arcar com os custos
administrativos de seu empreendimento, haja vista expressa proibição no artigo 51 do
Código de Defesa do Consumidor2.
Pelo mesmo motivo, não pode a BMC Construtora de obras Limitada obter o
ressarcimento dos valores que despendeu para o envio da notificação extrajudicial
encaminha à requerida.
5. A autora pretende a modificação da sentença, na parte em que reconheceu devida
a indenização pelas benfeitorias realizadas no imóvel.
A benfeitoria não é sinônimo de acessão. Conforme disserta Washington de Barros
Monteiro, “construções e plantações não se enquadram entre as benfeitorias
propriamente ditas. São acessões, que obedecem a regras especiais, previstas nos
artigos 545 a 549, do Código Civil” e “benfeitorias, como ensina o professor Clóvis
Paulo da Rocha, são despesas feitas com a coisa, ou obras feitas na coisa, com o fito
de conservá-la, melhorá-la ou embelezá-la. Acessões são obras que criam coisas

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novas, diferentes, que vêm aderir à coisa anteriormente existente. Distinguem-se assim
umas das outras”3.
Não obstante, as consequências quase sempre se assemelham, na medida em que
ambas podem dar azo à indenização, sendo comumente equiparadas pela doutrina e
jurisprudência 4. A indenização pelas benfeitorias e acessões tem por fundamento a
vedação do ordenamento jurídico ao enriquecimento sem causa, ou seja, “A
indenização por benfeitoria baseia-se no objetivo de impedir o locupletamento ou o
enriquecimento imotivado” (TJRS, AC nº 588070698). Assim, edificado pelo possuidor,
não seria justo que o proprietário passasse a usufruir destas e tivesse proveito sem a
correspondente reparação. Portanto, para justificar a indenização pelas benfeitorias e
acessões é necessário mensurar um acréscimo de valor ao bem em proveito do
legitimo proprietário.
Nesta toada, pelo conjunto probatório constante dos autos e pelos termos da defesa
apresentada pela ré, é incontroverso que a ré edificou benfeitorias/acessões no
imóvel.
A teor do art. 1.219 do Código Civil, “o possuidor de boa- fé tem direito à
indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se
não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e
poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis”.
Nesse contexto, considerando que as benfeitorias foram implementadas, fato esse
confirmado pela autora, está correta a sentença na parte em que a condenou a
indenizá-las, postergando o cálculo do quantum debeatur para a fase de liquidação de
sentença.
6. A apelante sustenta que a compradora não demonstrou a regularidade
administrativa das benfeitorias (Lei nº 6.766/79, art.
34, parágrafo único5), motivo pelo qual não faz jus ao direito de indenização.
Todavia, tratando-se de rescisão de contrato de compra e venda, como visto
anteriormente, as partes devem retornar ao status quo ante, evitando-se, assim, o
enriquecimento indevido de qualquer um dos contratantes.
No caso em mesa, nem mesmo a autora contesta a existência das
benfeitorias/acessões. Assim, uma vez comprovada a existência da benfeitoria, é firme
o posicionamento desta Corte de que a ausência de provas quanto a regularidade
administrativa das obras, nos termos do disposto no art. 34, parágrafo único, da Lei
6.766/79, não impede o reconhecimento do direito à indenização, sob pena de
privilegiar-se o enriquecimento sem causa do promitente- vendedor.
Neste sentido:
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL C/C REINTEGRAÇÃO DE
POSSE E PERDAS E DANOS - ARGUIÇÃO DE CERCEAMENTO DE DEFESA PELO
JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE - INOCORRÊNCIA - PRINCÍPIO DO LIVRE
CONVENCIMENTO MOTIVADO - INTELIGÊNCIA DOS ARTS. 130 E 330, I, DO CPC -
INADIMPLEMENTO DA OBRIGAÇÃO PELO COMPROMISSÁRIO-COMPRADOR E
EXISTÊNCIA DE CLÁUSULA EXPRESSA LEVAM À RESCISÃO - MORA COMPROVADA
- CONDENAÇÃO EM ALUGUÉIS - POSSIBILIDADE DESDE A IMISSÃO DA POSSE ATÉ
A DATA DA SENTENÇA - PLEITO DE RETENÇÃO DAS BENFEITORIAS ATÉ QUE LHE
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SEJAM INDENIZADAS - REQUERIMENTO EM CONTESTAÇÃO - POSSIBILIDADE -


INOCORRÊNCIA DE LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ - RECURSO CONHECIDO E
PARCIALMENTE PROVIDO (...) 7. A irregularidade da edificação, representada pela
ausência de alvará por parte da Prefeitura Municipal, bem como, pelo não implemento
de eventuais medidas administrativas, não são suficientes para obstaculizar o direito
maior do compromissário- comprador de se ver ressarcido pelas benfeitorias realizadas
no imóvel
adquirido, sob pena de privilegiar-se o enriquecimento sem causa do promitente-
vendedor.
(TJPR, 7ª CC, AC 692.054-5, Rel. Denise Kruger Pereira, J. 30.11.2010)
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE RESCISÃO DE CONTRATO DE COMPROMISSO DE
COMPRA E VENDA - RESCISÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO COM RESTITUIÇÃO DOS
VALORES PAGOS - BENFEITORIAS - AUSÊNCIA DE REGULARIZAÇÃO JUNTO AOS
ÓRGÃOS PÚBLICOS - IRRELEVÂNCIA - CONSTRUÇÕES QUE PODEM SER
REGULARIZADAS POSTERIORMENTE - AUSÊNCIA DE ESPECIFICAÇÃO DAS
MESMAS - POSSIBILIDADE DE TAL PROVIDÊNCIA SER EFETUADA EM FASE DE
LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA. 1. Não há óbice em que a especificação e quantificação
das benfeitorias se proceda na fase de liquidação de sentença. 2.
O fato das benfeitorias não estarem regularizadas perante os órgãos públicos não
impede a sua indenização posto que tal providência pode ser efetuada
posteriormente, porém, as respectivas despesas devem correr por conta da recorrida.
3. Apelação provida parcialmente. (TJPR, 7ª CC, AC 563.952-9, Rel. Guilherme Luiz
Gomes, J. 24.11.2009)
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RESCISÃO DE COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA
DE IMÓVEL, C/C REINTEGRAÇÃO DE POSSE E PERDAS E DANOS. SENTENÇA QUE
CONDENOU OS RÉUS AO PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO PELO TEMPO DE
UTILIZAÇÃO DO BEM, DEVENDO SER DEDUZIDO O VALOR DO SINAL E DAS
PARCELAS PAGAS, BEM COMO O IMPORTE DAS BENFEITORIAS ÚTEIS E
NECESSÁRIAS REALIZADAS. APELO DOS AUTORES. IRRESIGNAÇÃO CONTRA A
INDENIZAÇÃO PELAS ACESSÕES. IRRELEVÂNCIA, NO CASO, POSTO A
VERIFICAÇÃO DE QUE O PROMITENTE COMPRADOR ATUOU DE BOA-FÉ AO
CONSTRUIR NO TERRENO. EDIFICAÇÃO ERGUIDA SEM AUTORIZAÇÃO DA
PREFEITURA. IRREGULARIDADE QUE PODE SER SANADA JUNTO À
ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL. BENFEITORIAS ÚTEIS E NECESSÁRIAS QUE DEVEM
SER INDENIZADAS.
DECISÃO CONFIRMADA. RECURSO NÃO PROVIDO. (TJPR, 6ª CC, AC 603.372-5,
Rel. Sérgio Arenhart, J. 13.10.2009)
Aqui é preciso ressaltar que a autora não trouxe aos autos nenhuma prova da
irregularidade das benfeitorias edificadas sobre o imóvel. Contudo, é evidente que a
regularidade - ou não - da construção repercutirá sobre o valor de eventual crédito a
ser restituído a requerida.
Desse modo, para sanar a celeuma de forma isonômica, necessário se mostra que a
regularidade da obra venha a ser averiguada em sede de liquidação de sentença, bem

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como a possibilidade e, ainda, os custos de eventual regularização, circunstância que


influenciará no valor da construção e devolução de eventual crédito à requerida.
A corroborar:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RESCISÃO DE CONTRATO DE COMPROMISSO DE
COMPRA E VENDA C/C REINTEGRAÇÃO DE POSSE. (...). BENFEITORIA. SUPOSTA
INEXISTÊNCIA DE PEDIDO DE INDENIZAÇÃO. INOCORRÊNCIA. MATÉRIA DE
DEFESA ARGUIDA EM CONTESTAÇÃO. PLEITO DE INDENIZAÇÃO EX-
PRESSAMENTE FORMULADO. ALEGADA AUSÊNCIA DE PROVA ACERCA DA
EXISTÊNCIA, ESPECIFICAÇÃO E VALOR DA BENFEITORIA. ACESSÃO ARTIFICIAL.
CONSTRUÇÃO DE MORADIA. EXISTÊNCIA COMPROVADA POR MEIO DE
IMAGENS QUE INSTRUEM A CONTESTAÇÃO. VALOR A SER APURADO EM FASE DE
LIQUIDAÇÃO. SUPOSTA IRREGULARIDADE DA OBRA E CONSEQUENTE
IMPOSSIBILIDADE DE INDENIZAÇÃO. ART. 34, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI Nº
6.766/79. VÍCIO CUJA EXISTÊNCIA É CONTROVERSA E QUE PODE SER OU NÃO
SANADO. PRECEDENTE DO STJ. CIRCUNSTÂNCIA A SER APURADA POR OCASIÃO
DA LI- QUIDAÇÃO. No caso de rescisão de contrato de compromisso de compra e
venda, o comprador tem direito à indenização por acessão, sendo que eventual
irregularidade na construção deverá ser apurada por ocasião da liquidação de
sentença, notadamente a possibilidade de que o vício venha a ser sanado, sendo que
as despesas daí decorrentes deverão ser deduzidas de eventual crédito que venha a
ser apurado em favor do comprador. (...). Apelação: parcialmente provida Recurso
adesivo: conhecido em parte e parcialmente provido. (TJPR-18ª Câmara Cível, AC
1.449.567-7, rel. Des. Péricles Bellusci de Batista Pereira, j. 27/06/2016)
7. Com relação ao pagamento dos tributos (IPTU), das taxas condominiais, de coleta
de lixo e de iluminação pública é de se fixar a responsabilidade da requerida diante do
disposto na cláusula sexta do contrato (mov. 1.4 - f. 22), segundo a qual a mesma ficou
obrigada a arcar com todos os tributos e taxas que passaram a incidir sobre o imóvel a
partir da realização do contrato. Neste tópico, deve-se também ressaltar o contido no
artigo 31, do CTN, que define “contribuinte do imposto é o proprietário do imóvel, o
titular do seu domínio útil, ou seu possuidor a qualquer título”. Ora, se o proprietário é
responsável perante o Poder Público pelo imposto e despesas de conservação do
imóvel, é justo que o promitente comprador venha a reembolsar tais despesas pelo
período em que deteve a posse.
8. Por fim, pretende a apelante a condenação da requerida ao pagamento de multa
por litigância de má-fé, baseando seu pedido na demora da requerida em devolver os
autos ao Cartório após tê-los pego em carga e no fato de ter questionado a
regularidade da notificação extrajudicial.
Entende o Superior Tribunal de Justiça que “O art. 17 do Código de Processo Civil,
ao definir os contornos dos atos que justificam a aplicação da multa por litigância de
má-fé, pressupõe o dolo da parte no entravamento do trâmite processual, manifestado
por conduta intencionalmente maliciosa e temerária” (STJ, 1ª T., AgRg no Ag
1021049/SP, Rel. Min. Denise Arruda, DJe 05.11.2008).
No caso em apreço, a simples demora na devolução dos autos ao Cartório não pode
ser vista como resistência injustificada, nem conduta desleal e atentatória ao normal
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andamento do processo, capaz de ensejar a imposição de multa por litigância de má-


fé.
Além disso, ao alegar a irregularidade da notificação extrajudicial, a requerida estava
exercendo seu direito de defesa. O direito de defesa não deve ser considerado abuso
de direito ou tentativa de tumulto processual, atendendo aos princípios do
contraditório e a ampla defesa. Neste sentido já se posicionou o Superior Tribunal de
Justiça: “A litigância de má-fé deve ser distinguida da estratégia processual adotada
pela parte que, não estando obrigada a produzir prova contra si, opta, conforme o
caso, por não apresentar em juízo determinados documentos, contrários à suas teses,
assumindo, em contrapartida, os riscos dessa postura. O dever das partes de
colaborarem com a Justiça, previsto no art. 339 do CPC, deve ser confrontado com o
direito do réu à ampla defesa, o qual inclui, também, a escolha da melhor tática de
resistência à pretensão veiculada na inicial. Por isso, o comportamento da parte deve
sempre ser analisado à luz das peculiaridades de cada caso.” (REsp 1286704/SP, Rel.
Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/10/2013, DJe
28/10/2013)
Portanto, não está configurada a apontada litigância de má-fé.
9. Na fixação dos honorários advocatícios deve ser observado um critério objetivo, de
modo que o profissional advogado seja remunerado no limite do trabalho.
Paulo Luiz Neto Lobo, tratando dos limites que deve ser arbitrada a verba honorária,
leciona:
“Não há critérios definitivos que possam delimitar a fixação dos honorários
advocatícios, porque flutuam em função de vários fatores, alguns de forte densidade
subjetiva. (...) Impõe-se sempre a moderação, no entanto, já que o direito não é
ilimitado. Há limites postos pela ética e pela razoabilidade que não podem ser
ultrapassados.” (Comentários ao Novo Estatuto da Advocacia e da OAB, ed. 1994, p.
93).
Assim, à luz do dispositivo processual aplicável a espécie deve a verba honorária ser
arbitrada seguindo os parâmetros relativos ao grau de zelo na atuação do profissional,
o lugar da prestação de serviço, a natureza e importância da causa, o trabalho
realizado, bem assim o tempo exigido para prestação do serviço, devendo ser
suficientes para remunerar condignamente o advogado, sem implicar em valor
excessivamente elevado, ou tão ínfimo que não seja capaz de compensar o trabalho
desempenhado pelo profissional.
Neste particular, embora não se trate de ação que verse sobre matéria complexa, a
representação técnica da autora se deu de modo adequado, dentro do que lhe exigia
o processo. Assim, entendo que a importância fixada pelo juízo a quo não obedece
aos parâmetros exigidos para a espécie.
Desse modo, elevo o valor fixado a título de verba honorária advocatícia para 10% do
valor da condenação, adequando-a aos parâmetros estabelecidos no artigo 85, §2º do
CPC/2015.
10. A sucumbência deve ser distribuída na medida da vitória e da derrota dos
litigantes no processo. Analisando os termos da pretensão e o resultado final

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proporcionado pelo presente acórdão, verifico a necessidade de redistribuir os ônus


da sucumbência. Assim, condeno as partes, na proporção de 80%
para a ré e 20% para a autora, ao pagamento das custas processuais e dos honorários
advocatícios.
11. Diante do exposto, voto no sentido de conhecer em parte do recurso e, na parte
conhecida, dar parcial provimento para (i) condenar a ré (promitente compradora) ao
pagamento dos tributos (IPTU), das taxas condominiais, de coleta de lixo e de
iluminação pública até a data da desocupação da unidade residencial; (ii) determinar
que, em sede de liquidação de sentença, seja calculado o valor necessário para a
regularização das benfeitorias. Após proceda-se o desconto desses valores do
montante a ser restituído; (iii) majorar o valor fixado a título de honorários advocatícios;
(iv) redistribuir o ônus da sucumbência.
III- DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em conhecer em parte do
recurso, e na parte conhecida, dar parcial provimento.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador LAURI CAETANO DA SILVA, relator,
e dele participaram os Desembargadores TITO CAMPOS DE PAULA e RUI BACELLAR
FILHO.
Curitiba, 14 de junho de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--
1 Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais
juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e
honorários de advogado.
Art. 395. Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros,
atualização dos valores monetários segundo índices oficiais regularmente
estabelecidos, e honorários de advogado.
Parágrafo único. Se a prestação, devido à mora, se tornar inútil ao credor, este poderá
enjeitá-la, e exigir a satisfação das perdas e danos.
Art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, serão pagas
com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos,
abrangendo juros, custas e honorários de advogado, sem prejuízo da pena
convencional.
2 Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao
fornecimento de produtos e serviços que: (...) XII - obriguem o consumidor a ressarcir
os custos de cobrança de sua obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido
contra o fornecedor.
3 Curso de Direito Civil, Direito das Coisas. 3o. volume. Saraiva, pg. 120/121
4 STJ ­ 4ª T. ­ REsp 430810/MS ­ Min. Ruy Rosado de Aguiar ­ j. em 0/20/2002, DJ de
18/11/2002, p. 226; STJ ­ 3ª T - REsp 565483/SP ­ Rel. Min. Carlos Alberto Menezes
Direito ­ DJ 20.03.2006, p. 264; STJ ­ 3ª T. ­ REsp 98191/SP ­ Rel. Min. Waldemar
Zveiter ­ j. em 04/12/1997, DJ de 09/03/1998, p. 88; TJPR ­ 19ª CC ­ 27620-6 ­ Rel.
Macedo Pacheco ­ j. em 17/02/2005.
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5 Art. 34. Em qualquer caso de rescisão por inadimplemento do adquirente, as


benfeitorias necessárias ou úteis por ele levadas a efeito no imóvel deverão ser
indenizadas, sendo de nenhum efeito qualquer disposição contratual em contrário.
Parágrafo único - Não serão indenizadas as benfeitorias feitas em desconformidade
com o contrato ou com a lei.

2.1.6. AÇÃO DEMARCATÓRIA E EXCEÇÃO DE USUCAPIÃO

ão da instrução processual. Recurso de apelação prejudicado. EMENTA: APELAÇÃO

CÍVEL. AÇÃO DEMARCATÓRIA C/C PEDIDO DE RESTITUIÇÃO DE ÁREA. EXCEÇÃO

DE USUCAPIÃO ACOLHIDA. PEDIDO JULGADO IMPROCEDENTE. AUTOR QUE

RECORRE DO DECISUM. PERDA DE PARTE DA ÁREA EM RAZÃO DA AQUISIÇÃO

ORIGINÁRIA DO DOMÍNIO POR UM DOS CONFRONTANTES QUE NÃO AFASTA O

DIREITO DE DEMARCAÇÃO DOS IMÓVEIS. DEMARCAÇÃO QUE, ENTÃO, DEVE

RESPEITAR A ÁREA DE POSSE. PROCESSO, TODAVIA, QUE NÃO SE ENCONTRA

MADURO PARA JULGAMENTO. LAUDO PERICIAL INCOMPLETO E INADEQUADO.

SOBREPOSIÇÃO DE ÁREAS. NECESSIDADE DE PRODUÇÃO DE PROVA

ABRANGENTE. SENTENÇA ANULADA. RECURSO PREJUDICADO. Ao julgador é lícito

a determinação de produção de provas ex officio sempre que o conjunto probatório se

mostrar contraditório, confuso ou incompleto e puder a prova a ser produzida influir na

formação de sua convicção.

(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1656490-6 - Terra Rica - Rel.: Lauri Caetano da Silva -

Unânime - J. 14.06.2017)

Inteiro Teor

I- RELATÓRIO
1. Adair Elpidio Pedro ajuizou (25.04.2011) Ação Demarcatória (autos nº 810-
55.2011.8.16.0167) em face de Devanir Pereira dos Santos e Neuzinha Serafina dos
Santos, aduzindo que a) é proprietário dos lotes nº 03 e nº 4-B, da quadra nº 103, com
áreas de 600,00m2 e 300,00m2, situados na cidade de Guairaçá, objeto das matrículas
nº 21.106 do Registro de Imóveis da Comarca de Paranavaí e nº 5.920 do Registro de
Imóveis da Comarca de Terra Rica; b) os imóveis confrontam com terreno dos réus,
cujos limites não estão perfeitamente assinalados; c) pretende construir um muro
divisório entre os terrenos; d) conforme parecer técnico, os réus invadiram uma área

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de 220,00m2 dos terrenos do autor; e) a ação demarcatória é o instrumento cabível


para a demarcação entre os imóveis, bem como à restituição da área invadida.
2. Devanir Pereira dos Santos e Neuzinha Serafina dos Santos ofereceram defesa em
sede de contestação (mov. 1.5 - f. 21/25) alegando que a) não houve invasão do
terreno dos autores; b) a medição realizada pelos autores é equivocada, pois por ela a
casa dos réus deveria ser demolida e não considera a possibilidade da invasão ter sido
perpetrada por outros vizinhos; c) exerce, por si e seus antecessores, a posse mansa,
pacífica, ininterrupta, sem oposição e com animus domini sobre a área há mais de 40
anos, fazendo jus a aquisição do domínio pela usucapião.
3. O magistrado singular deferiu a produção de prova oral (mov. 1.7 ­ f.45) e foi
realizada audiência de instrução e julgamento (mov. 1.10 ­ f. 51). Na sequência o
magistrado nomeou arbitradores na forma do disposto no art. 959 do CPC/73 (mov.
1.10 ­ f. 54). O Laudo Pericial foi apresentado no mov. 1.14 (f. 68/74). O MM. Juiz a
quo anulou o Laudo, determinando nova elaboração da prova (mov. 1.17 ­ f. 101/102).
O novo laudo foi apresentado no mov. 1.24 (f.
122/125). O magistrado saneou o processo designando nova audiência de instrução e
julgamento em razão da falha de gravação da primeira audiência (mov. 1.27 ­
133/136). Na audiência de instrução e julgamento foi constatada a ausência da ré,
motivo pelo qual os autores dispensaram a oitiva das testemunhas que haviam
arrolado (mov. 11.1 ­ f. 154).
4. O magistrado singular converteu o feito em diligência, intimando os réus para que
se manifestassem sobre a prova a ser produzida a fim de demonstrar eventual
usucapião (mov.
27.1 - 183). Os réus manifestaram-se no mov. 32.1 (f. 189) informando que não
possuíam outras provas a produzir, pois as fotografias e documentos comprovariam os
fatos alegados.
5. O MM. Juiz a quo proferiu sentença (mov. 34.1 ­ mov.
192/199) acolhendo a exceção de usucapião e julgou improcedente o pedido inicial.
Pelo princípio da sucumbência, condenou os autores ao pagamento das custas
processuais e honorários advocatícios, fixados em R$800,00.
6. Inconformado, o autor Adair Elpidio Pedro interpôs recurso de apelação (mov. 43.1
­ f. 209/220), em cujas razões pleiteia a reforma da sentença, aduzindo que a) o MM.
Juiz a quo reconheceu que o imóvel dos apelados invade o imóvel do autor, nos
termos da prova pericial produzida; b) não existe direito dos réus à aquisição originária
do domínio; c) todos os lotes da quadra pertenciam à José Amadeu, pai de José
Carlos Amadeu; d) não há muros divisórios, razão pela qual não se pode falar em
exercício de posse; e) os réus não comprovaram fatos impeditivos ou extintivos do
direito; f) o não comparecimento da ré em audiência importou em confissão.
Contrarrazões de apelação no mov. 43.1 (f. 234/237).
É o relatório.
II- VOTO
Presentes os pressupostos processuais de admissibilidade, intrínsecos e extrínsecos,
merece o recurso de apelação ser conhecido.

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7. No caso concreto, Adair Elpidio Pedro ajuizou a presente Ação Demarcatória em


face de Devanir Pereira dos Santos e Neuzinha Serafina dos Santos, pleiteando a
demarcação dos lotes nº 03 e nº 04-B, da quadra nº 103, com áreas de 600,00m2 e
300,00m2, respectivamente, situados na cidade de Guairaçá, objeto das matrículas nº
21.106 do Cartório do Registro de Imóveis da Comarca de Paranavaí e nº 5.920 do
Registro de Imóveis da Comarca de Terra Rica (mov. 1.2 ­ f. 11 e f. 12,
respectivamente), bem como a reintegração na posse da área invadida pelos réus.
O MM. Juiz a quo proferiu sentença, pela qual acolheu a exceção de usucapião
arguida pelos réus, julgado improcedente o pedido inicial de demarcação e
reintegração de posse, condenando a parte autora ao pagamento das custas
processuais e dos honorários advocatícios fixados em R$800,00. Consignou o
magistrado que a prova documental comprovou a aquisição do imóvel pela ré
Neuzinha no dia 10.03.2004, e por seu antecessor no dia 28.01.2002, sendo que antes
disso a posse era exercida por José Carlos Amadeu, desde mais ou menos o ano de
1986.
8. Não obstante o posicionamento adotado pelo magistrado singular, entendo que a
controvérsia apresentada pelas partes se revela bastante complexa, e a solução
abraçada pela sentença objurgada não se revela adequada para solucionar não só o
conflito inter partes, como também para solucionar em definitivo a inadequação
registral dos imóveis em debate. Explico.
9. Dispõe o artigo 946 do CPC/73:
“Art. 946. Cabe: I - a ação de demarcação ao proprietário para obrigar o seu
confinante a estremar os respectivos prédios, fixando-se novos limites entre eles ou
aviventando-se os já apagados; II - a ação de divisão, ao condômino para obrigar os
demais consortes, a partilhar a coisa comum.”
A demarcação objetiva evitar esbulhos e contestações que a falta de sinais visíveis dos
limites da propriedade imobiliária possam acarretar aos proprietários de imóveis
limítrofes. Em síntese, o objetivo especial da demarcatória é o de estabelecer os sinais
materiais capazes de discriminar a propriedade privada e, secundariamente, o de
recuperar toda e qualquer parcela do imóvel que, indo além da divisa assinalada,
esteja na posse indevida do confinante (exceto quando já operado a prescrição
aquisitiva).
Assim, a ação demarcatória poderá ser admitida: 1º) nas hipóteses em que, entre os
prédios confinantes, não há e nem nunca houve a fixação da linha demarcatória; 2º)
nas hipóteses em que, os marcos foram destruídos em virtude da ação do tempo ou
tenham desaparecido ou tenham se tornado confusos, impossibilitando- se, com isso,
a sua perfeita identificação; 3º) nas hipóteses em que, quando constarem descrições
divergentes a respeito da linha demarcatória, nos documentos dos prédios
confinantes, de modo que surja a necessidade de estabelecer, por sentença, qual
delas corresponde à verdadeira linha de limite entre os imóveis1.
Orlando Gomes2 ensina que:
“O direito de demarcar é privativo do proprietário. Não se estende ao possuidor
direto.

66

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Pode ser exercido a qualquer tempo. É, com efeito, imprescritível, e, também,


irrenunciável.
A simples demarcação consiste apenas na sinalização de limites incontroversos, como
acontece quando a linha divisória passa ser assinalada com marcos. No caso de
controvérsia ou confusão, torna-se necessário determinar os limites, o que se faz de
conformidade com a posse. Visa, pois, a ação de demarcação fixar ou restabelecer os
marcos da linha divisória de dois prédios confinantes. Seu objetivo é a fixação de
rumos novos ou aviventados dos existentes.
O proprietário que quer demarcar exerce seu direito por meio dessa ação, na qual
obriga o dono do prédio contíguo a proceder com ele a demarcação. As despesas são
repartidas proporcionalmente à linha de testada dos prédios confinantes. A
demarcação
não se confunde com a divisão. O fim da demarcatória é obrigar o confinante a
estremar, com o autor, os respectivos prédios, fixando novos limites ou aviventando os
apagados. O fim da ação de divisão é obrigar os condôminos a partilhar a coisa
comum.
Pode ser total ou parcial, conforme se proceda em todo o perímetro do prédio, ou em
parte.
Faz-se também com o simples propósito de fixação ou aviventação de rumos e ainda
o de obter a restituição de terrenos ocupados pelo proprietário do prédio lindeiro.
Quando a demarcatória não se limita ao seu fim específico de levantamento da linha
divisória dos prédios, chama-se demarcatória qualificada. Apresenta esse feitio quando
o pedido é cumulado com a queixa de esbulho ou com a de reivindicação.
Admite-se, pois, que a ação demarcatória não tem o fim exclusivo de fixar a linha de
separação entre dois prédios, mas, ainda, o de obter a restituição da porção de terras
que esteja na posse indevida do dono do prédio confinante, se o interessado não
preferir, antes de propor a ação, recorrer diretamente aos interditos possessórios.
Embora controvertida, a cumulação da demarcatória com a reivindicatória é admitida,
possível, como é, a comprovação de que parte do terreno, sem área determinada,
esteja integrando indevidamente a propriedade do vizinho. Essa porção não
delimitada de terreno pode ser reivindicada por aquele que se julga seu proprietário
ao mesmo tempo em que pede a demarcação mediante a qual obterá igualmente a
delimitação. Não é certo, assim, como pensam alguns, que exista incompatibilidade
entre a demarcação e a reivindicação.
A demarcatória qualificada, que se cumula com a reivindicatória, é julgada por
sentença que faz coisa julgada em relação ao domínio quando a questão relativa a
este houver sido resolvida contenciosamente.
Na demarcação simples, a sentença que a homologa tem efeito meramente
declaratório.”
10. Como visto, a ação demarcatória visa não só aviventar marcos já existentes, como
traçar novos rumos a imóveis contíguos. Ainda, como no presente caso, pode ser
acumulada com pretensão reivindicatória.
O autor narrou em sua exordial que seus terrenos possuem áreas de 600,00m2 e
300,00m2, os quais foram invadidos pelos réus em 220,00m2. Afirmou que as áreas
67

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

nunca tiveram qualquer muro ou cerca entre elas, razão pela qual requereu a
demarcação dos imóveis e a restituição da área invadida. Em sua defesa, os réus
alegaram exceção de usucapião, afirmando que as benfeitorias foram edificadas há
mais de 40 anos.
10.1. Especificamente quanto à ação demarcatória e a exceção de usucapião,
Benedito Silvério Ribeiro ensina que:
“A ação demarcatória compte ao proprietário, que pode obrigar o seu confinante a
proceder com ele à demarcação entre os dois prédios, a aviventar rumos apagados e a
renovar marcos destruídos ou arruinados, repartindo-se proporcionalmente entre os
interessados as respectivas despesas (CC, art. 1.297).
Enquanto perdurar o título de proprietário é possível proceder à demarcação do
imóvel. Uma vez perdido o domínio, não mais será cabível à demarcatória.
A ação em foco é imprescritível, no sentido de permanecer a confusão de limites. O
direito somente se perde quando o dominus sofre os efeitos da prescrição aquisitiva.
A ação de demarcação dos limites (actio finium regundorum) pode ser cumulada com
a reivindicatória e a possessória, sendo exigência que os limites correspondam aos
títulos.
É cabível a alegação de usucapião como defesa na ação de demarcação.
Todavia, tal como na divisória, é na primeira fase do processo, considerado de
conhecimento, que deve ser oposta a defesa fundada em usucapião, já que na fase
executiva apenas se complementará o feito com as operações demarcatórias.”3
10.2. Desta forma, mesmo que se reconheça eventual direito à usucapião do réu, tal
fato não retira do autor da demarcatória a legitimidade para a propositura da ação ou
conduz à improcedência do pedido inicial. O interesse processual e a legitimidade
ativa persistem, eis que a área a ser demarcada observará as divisas apuradas in loco,
ou seja, observará a efetiva área de posse dos autores e dos réus, com posterior
retificação do título de domínio.
11. Todavia, no caso em análise, independentemente da exceção de usucapião,
entendo que a prova produzida nos autos não foi suficiente para que se possa dar
solução definitiva ao conflito.
11.1. No que se refere aos lotes de terreno do autor, conforme matrícula nº 21.106 do
Registro de Imóveis da Comarca de Paranavaí4 (mov. 1.2 ­ aberta no dia 30.09.1986),
o lote nº 03, da quadra nº 103, situado na cidade de Guairaçá, contendo uma casa de
madeira com área de 42,00m2, pertencia à José Amadeu e Abélia
Crapista Amadeu. O imóvel foi transmitido a Adair Elpidio Pedro e sua mulher Maria
Arseno Pedro no dia 20.11.1986 (R-1-21.106).
Ainda, conforme a matrícula nº 5.920 do Registro de Imóveis da Comarca de Terra
Rica (mov. 1.2) aberta no dia 19.05.2010, Adair Elpidio Pedro e sua mulher Maria
Arseno Pedro são proprietários do lote nº 04-B, subdivisão dos lotes nº 04 e 05,
oriundo da unificação dos lotes nº 04 e 05, da quadra nº 103, com área de 300,00m2.
Segundo consta na matrícula, o imóvel anteriormente era objeto da matrícula nº
21.107 do 1º Ofício do Registro de Imóveis da Comarca de Paranavaí e nº 9.918 do
Registro de Imóveis da Comarca de Terra Rica.

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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Com relação ao lote de terreno pertencente à parte ré, verifica-se pela matrícula nº
12.869 do Registro de Imóveis da Comarca de Paranavaí (mov. 1.14 ­ f. 88/89 ­ aberta
no dia 06.04.1981), o lote nº 06, da quadra nº 103, com área de 600,00m 2 pertencia à
Sociedade Imobiliária e Colonizadora Guairaçá Ltda, e foi vendido à José Carlos
Amadeu e sua mulher Delma Parra Amadeu no dia 12.03.1981 (R-1-12.869). No dia
06.02.2002 foi averbada anotação (AV-2-12.869), apontando que o lote nº 14, que
fazia divisa de fundos com o lote nº 06, foi incorporado à BR-376, passando esta a
fazer fundos com o terreno. No dia 06.02.2002 foi averbado o desmembramento do
terreno em duas unidades autônomas, cada uma com área de 300,00m2,
denominadas lote nº 06-A e lote nº 06-B (AV-3.12.869).
Conforme matrícula nº 31.396 do 1º Ofício do Registro de Imóveis da Comarca de
Paranavaí, aberta no dia 06.02.2002, o lote nº 06-A, com área de 300,00m2, de
propriedade de José Carlos Amadeu e Delma Parra Amadeu foi vendido (no dia
28.01.2002) à José Macedo dos Santos (R-1-31.936). Por sua vez, conforme matrícula
nº 31.937 do 1º Ofício do Registro de Imóveis da Comarca de Paranavaí, no dia
28.01.2002, o lote nº 06-B foi transmitido por José Carlos Amadeu e Delma Parra
Amadeu para Donizete Borges da Silva e sua mulher Maria de Lourdes da Silva (R-1-
31.937).
Para demonstrar seu direito sobre o terreno, os réus colacionaram recibo de
pagamento emitido por Donizete Borges da Silva no dia 10.03.2004, referente ao
“pagamento integral pela venda que lhe fiz do lote nº 06-B, da subdivisão do lote nº
06, da quadra nº 103, com área de 300,00m2, contendo uma casa de madeira coberta
com telhas, com 6 cômodos, localizado em Guairaçá”.
11.2. Ocorre que, durante a instrução do processo, a prova pericial concluiu que o
lote 6-B, de propriedade dos réus Devanir e Neuzinha, sobrepõe-se aos lotes nº 03
(96,29m2) e nº 4-B (68,20m2), de propriedade do autor Adair Elpídio Pedro. Ainda,
afirmou que o Lote 6-B é sobreposto pelo Lote vizinho nº 07, existindo um
deslocamento de lotes.
Outrossim, concluiu que o Lote nº 03, de propriedade do autor Adair Elpídio Pedro,
deve ser objeto de retificação, pois em razão do novo traçado da Estrada Oficial que
margeava o Loteamento, o terreno passou a ter área total de 434,95m2 (e não os
600,00m2 descritos no título dominial, havendo uma perda de área correspondente a
165,05m2).
Isto porque, conforme item 3 e respectivos subitens do Laudo apresentado no mov.
1.14 (posteriormente ratificado), o lote nº 03 era descrito com área de 600,00m2
(20,00m x 30,00m). A transcrição primitiva do imóvel é anterior a 1954, e foi registrada
sob nº 06, do Livro nº 08, de Registros Especiais do Cartório de Registro de Imóveis da
Comarca de Mandaguari. Todavia, no dia 05.01.1961, em virtude de sentença exarada
no dia 26.12.1960, nos autos nº 978/60, de Pedido de Alteração de Loteamento, a
modificação do Loteamento “Cidade de Guairaçá”, foi registrado sob nº 45, do Livro
nº 08 de Registros Especiais de Paranavaí, certificando que o novo traçado da Estrada
Oficial que margeia o Loteamento, incluído na Planta Oficial arquivada em cartório no
dia 03.11.1966, alterou as quadras L, 23, 43, 63, 83, 103, 123, 143, 163 e 183.

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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

11.3. Não obstante, a prova pericial não indicou de que forma a alteração da quadra
nº 103 pelo novo traçado da Estrada Oficial afetou os lotes que a compunham. A
perícia é incompleta na medida em não aponta por qual razão somente o lote nº 03
teve sua área alterada, e como chegou à conclusão de que a área perdida foi de
165,05m2, eis que tal informação não consta de qualquer documento juntado aos
autos.
A conclusão de que o lote 6-B sobrepõe os lotes nº 03 (96,29m2) e nº 4-B (68,20m2),
e é sobreposto pelo Lote vizinho nº 07, demonstra que a celeuma a ser resolvida não
pode ser solucionada apenas com a medição pontual dos terrenos das partes,
devendo envolver, globalmente, toda a quadra nº 103 e as frações que a compõem.
Nas circunstâncias demonstradas pelos títulos dominiais de cada uma das partes, não
há como demarcar apenas a fração de terra pretendida pelos autores, pois ambas as
partes possuem títulos equivalentes.
Desta maneira, diante da complexa situação de fato e direito posta em mesa,
somente será possível a solução definitiva da controvérsia por meio de um estudo
amplo da área que compõe a quadra nº 103, comparando as descrições imobiliárias
com a realidade fática das edificações. Vale apontar que diferentemente do que
sustenta o apelante, a ausência de um muro ou uma cerca não significa ausência do
exercício de posse exclusiva. Uma área indivisa, pode, materialmente, estar dividida
pelo exercício da posse limitada. É evidente que, mesmo sem a existência de um muro
(que os autores pretendem construir), as partes respeitavam uma determinada área
como limite de suas respectivas propriedades.
Por enquanto não é possível afirmar a existência de esbulho praticado pela ré, que
tem posse desde a aquisição do lote nº 06-B de Donizate Borges da Silva. Outrossim,
é preciso relevar que o autor é proprietário do lote nº 03 desde 1986. Todavia, como
anteriormente apontado, desde o ano de 1960 o lote nº 03 já não dispunha da área
de 600,00m2. Desta forma, evidentemente não poderia reivindicar qualquer área que
excedesse 434,95m2.
Frise-se, por fim, que o Código Civil, em seu art.
1.298 dispõe que:
“Sendo confusos, os limites, em falta de outro meio, se determinarão de
conformidade com a posse justa; e não se achando ela provada, o terreno contestado
se dividirá por partes iguais entre os prédios, ou, não sendo possível a divisão
cômoda, se adjudicará a um deles, mediante indenização ao outro”.
Nesta toada, não pode o magistrado abster-se da demarcação dos imóveis, pois a lei
civil prevê a partilha ou a adjudicação da área confusa como último critério para
encerrar a “actio finium regundorum”.
12. O magistrado moderno deve exercer a prerrogativa de gestor do processo e da
prova. O processo é instrumento de busca da verdade real e das informações
necessárias para solucionar a controvérsia de forma justa e sem causar “danos”
desnecessários ou evitáveis às partes.
A iniciativa do julgador para a produção das provas necessárias ao julgamento está
perfeitamente delineada pelo direito moderno, senão vejamos:

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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

“Vislumbrando o julgador a necessidade da produção da prova, não deve quedar-se


silente, contentando-se com uma verdade formal, a qual, no mais das vezes, pode
levar a injustiças.
Acerca do chamado princípio dispositivo, o autor Cândido Dinamarco e demais
processualistas de renome nacional, teceram as seguintes lições, de lapidar
importância: Tem dito a doutrina que o mais sólido fundamento do princípio
dispositivo parece ser a necessidade de salvaguardar a imparcialidade do juiz. O
princípio é de inegável sentido liberal, porque a cada um dos sujeitos envolvidos no
conflito sub judice é que deve caber o primeiro e mais relevante juízo sobre a
conveniência ou inconveniência de demonstrar a verdade dos fatos alegados. Acrescer
excessivamente os poderes do juiz significaria, em última análise, atenuar a distinção
entre processo dispositivo e processo inquisitivo. Todavia, diante da colocação
publicista do processo, não é mais possível manter o juiz como mero expectador da
batalha judicial. Afirmada a autonomia do direito processual e enquadrado como ramo
do direito
público, e verificada sua finalidade preponderantemente sócio-política, a função
jurisdicional evidencia-se como um poder-dever do Estado, em torno do qual e
reúnem os interesses dos particulares e os do próprio Estado. Assim, a partir do último
quartel do século XX, os poderes do juiz foram paulatinamente aumentados: passando
de expectador inerte à posição ativa, coube-lhe não só impulsionar o andamento da
causa, mas também determinar provas, conhecer ex officio das circunstâncias que até
então dependiam de alegação das partes, dialogar com elas, reprimir-lhes eventuais
condutas irregulares, etc.
(Antonio Carlos de Araújo Cintra, 15ª ed., Malheiros, 1999, p. 64)” (TAPR, Ap.Civ.
268022-0,Ac.
nº 6232, 10ª C.Civ., j. 28.10.04)
Além do aspecto formal que deve ser obedecido por meio do conjunto das garantias
processuais fundamentais, necessário o apego ao aspecto substancial que destaca
uma outra faceta do princípio do devido processo legal, que perquire o controle do
conteúdo das decisões. Vale dizer, não se busca apenas o processo formalmente
devido, mas, sobretudo, o substancialmente devido, onde as decisões não podem
denotar abusividade, carência de razoabilidade, arbitrariedade, etc.
Desta forma, entendo que o processo não está maduro para atingir seu desfecho,
sendo imprescindível a continuidade da fase instrutória. Os laudos da presente ação
demarcatória não são suficientemente claros para a regularização do direito das
partes.
Somente após a adequada instrução do processo, poderá ser proferido novo
julgamento.
A prova pericial deve ser realizada abrangendo toda a quadra nº 103, de forma a
esclarecer qual foi a alteração gerada pelo novo traçado da Estrada Oficial que
margeia o loteamento (autos nº 978/60) e qual o impacto em cada um de seus lotes.
Ainda, é preciso que a perícia informe a idade aproximada das construções edificadas
nos imóveis e realize a coleta de informações junto aos antigos moradores sobre a

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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

divisão dos terrenos e a existência de muros, cercas ou outros meios de delimitação


dos lotes (CPC/73, arts. 956 e seguintes ­ CPC/2015, arts.
580 e seguintes).
Neste sentido:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DEMARCATÓRIA. CERCEAMENTO DE DEFESA.
OCORRÊNCIA.
GLEBA DE TERRAS COM MAPEAMENTO DO COMEÇO DO SÉCULO XX. A
OPERAÇÃO DE DEMARCAÇÃO DEVE INDIVIDUAR E PRECISAR O OBJETO DA
PROPRIEDADE. ALEGAÇÃO DE SOBREPOSIÇÃO DE ÁREAS, TRAZIDA PELA DEFESA,
AINDA NÃO ESCLARECIDA DEVIDAMENTE. NECESSIDADE DE REALIZAÇÃO DE
NOVA PROVA PERICIAL. DADOS TÉCNICOS E PERICIAIS EXISTENTES
INCONCLUSIVOS. SENTENÇA CASSADA.RECURSO PROVIDO. (TJPR - 18ª C.Cível -
AC - 1537187-0 - Rel.: Denise Antunes - Unânime - - J.
23.11.2016)
A existência de sobreposição de matrículas pressupõe a produção de prova cabal e
irrefutável de que a situação jurídica exposta no Registro de Imóveis apresentado pelo
reivindicante se encontra incorreta. A ausência de tais provas, principalmente a
pericial, não pode produzir o efeito de se reconhecer que ambos os registros
pertencem à mesma área. (TJ-PR - AC 490.110- 6, 18ª Câmara Cível, Relator: Ruy
Muggiati, Data de Julgamento: 24/09/2008, DJ: 7723)
13. Diante do exposto, voto no sentido de anular a sentença de mov. 34.1,
determinando a complementação da instrução processual. Recurso prejudicado.
III- DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em anular a sentença de mov.
34.1, determinando a complementação da instrução processual. Recurso de apelação
prejudicado.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador LAURI CAETANO DA SILVA, relator,
e dele participaram os Desembargadores TITO CAMPOS DE PAULA e RUI BACELLAR
FILHO.
Curitiba, 14 de junho de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--
1 Silva, Ovídio A B. da., Curso de Processo Civil. v.2. p. 397
2 Direitos Reais, 21ª ed. rev. e atual. / por Luiz Edson Fachin - Rio de Janeiro: Forense,
2012, pág. 214/215.
3 Tratado de Usucapião, volume 2, 8ª ed. rev. e atual. com a usucapião familiar ­ São
Paulo: Saraiva, 2012, pág. 1.597.
4 Anteriormente objeto da Transcrição nº 27.247, do Livro 3-AB de Transcrição das
Transmissões do Registro de Imóveis da Comarca de Paranavaí.

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2.1.7. COMISSÃO DE CORRETAGEM – DÚVIDA SOBRE O CREDOR

AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO. COMISSÃO DE CORRETAGEM.

DÚVIDA ACERCA DE SEU BENEFICIÁRIO. PEDIDO JULGADO PROCEDENTE.

AGRAVO RETIDO DE F. 210/213: NÃO CONHECIDO. FALTA DE INTERESSE

RECURSAL. RECURSO DE APELAÇÃO Nº 1: AUSÊNCIA DE PROVA EFETIVA DA

INTERMEDIAÇÃO DA COMPRA E VENDA. CONTRATO DE EXCLUSIVIDADE

INEXISTENTE. VENDA PERPETRADA POR CORRETOR PERTENCENTE A OUTRA

IMOBILIÁRIA. COMISSÃO DE CORRETAGEM INDEVIDA. RECURSO DESPROVIDO.

RECURSOS ADESIVOS NºS 1 E 2: HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. MAJORAÇÃO.

RECURSOS PROVIDOS. 1. O contrato de corretagem, tem por objetivo a

intermediação de partes interessadas na efetivação de determinado negócio, cuja

comissão, a título de pagamento, somente será devida no caso de concretização útil

do acordo. 2. Inexistente nos autos prova suficiente de que a requerida Bidese Imóveis

tenha promovido a intermediação da venda do imóvel de propriedade dos autores, a

improcedência do pedido de pagamento de comissão é medida que se impõe.

(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1640841-6 - Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime

- J. 14.06.2017)

Inteiro Teor

I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de ação de consignação em pagamento (autos nº 0006250-
40.2014.8.16.0001) proposta por Fernando José Strobel e Giselle Schinzel de Souza
Strobel em face de Bidese Imóveis ­ Incorporação, Locação, Compra e Venda Limitada
ME e Sevilha Imóveis Limitada alegando que (a) eram proprietários do imóvel
localizado na Rua Geraldo Lipka, nº 65, no município de Curitiba; (b) em 06.06.2013,
firmaram com a requerida Bidese Imóveis ­ Incorporação, Locação, Compra e Venda
Limitada ME “autorização para venda de imóvel”, com exclusividade, pelo prazo de 90
dias; (c) decorrido o prazo sem a concretização de qualquer negócio, mantiveram a
intenção de vender o imóvel, sem dar, entretanto, exclusividade de venda a nenhum
corretor; (d) os representantes de ambas as requeridas compareceram no imóvel, no
dia 18.12.2013, acompanhados de um cliente apresentado pela Sevilha Imóveis
Limitada; (e) no dia seguinte, o corretor de imóveis da requerida Sevilha Imóveis
Limitada retornou ao apartamento com seu cliente, Walber Pydd, e, em 24.12.2013, foi
apresentada proposta de compra com recibo de sinal de negócio; (e) aceita a proposta

73

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

e firmada a escritura pública de compra e venda, foram surpreendidos com o


recebimento de notificação extrajudicial encaminhada pela requerida Bidese Imóveis ­
Incorporação, Locação, Compra e Venda Limitada ME, reivindicando o pagamento da
comissão de corretagem. Nesse contexto, diante da dúvida sobre o beneficiário
legítimo da comissão de corretagem, propôs a presente demanda.
2. Através da decisão de movimento 8.1 (f. 44) foi autorizado o depósito da quantia.
Os autores efetuaram o depósito da integralidade do valor da comissão de
corretagem (mov. 9.1 ­ f.
46/47).
3. A ré, Sevilha Imóveis Limitada, apresentou defesa em sede de contestação (mov.
30.1 ­ f. 83/94), alegando fazer jus ao recebimento da comissão de corretagem, por ter
apresentado o cliente que concretizou a compra e ter formalizado o negócio. Defende,
ainda, que a requerida Bidese Imóveis não contribuiu para a celebração do negócio,
inexistindo exclusividade de venda. Assim, pediu a improcedência dos pedidos
formulados na inicial.
4. A ré, Bidese Imóveis ­ Incorporação, Locação, Compra e Venda Limitada ME,
ofereceu contestação (mov. 34.1 - f.
122/128), alegando que (a) em 06.06.2013, celebrou com os autores “Autorização
para Venda de Imóvel”, com exclusividade e pelo prazo de 90 dias úteis, para a venda
do apartamento nº 1.401, da Rua Geraldo Lipka, nº 65, do Edifício Terrasse Ecoville,
bem como suas respectivas vagas de garagem, matriculados sob os nº 113.934 e
113.935, junto ao Cartório do Registro de Imóveis da 8ª Circunscrição Imobiliária de
Curitiba/PR; (b) nos termos acordados, a referida autorização dispunha de prazo de 90
dias úteis com exclusividade. No dia 18.12.2013, o corretor de imóveis Ederson
Geraldo Camargo, proprietário da Sevilha Imóveis, a contatou propondo parceria para
a venda daquele imóvel, uma vez que dispunha de interessados na sua aquisição; (c)
em 19.12.2013, os corretores de ambas as requeridas compareceram no imóvel para
uma visita; (d) contudo, tomou ciência de que, no dia seguinte, os compradores
retornaram ao apartamento para nova visita e, posteriormente, formalizaram o
negócio; (e) por conta disso encaminharam Notificação Extrajudicial aos requerentes,
bem como à Sevilha Imóveis pleiteando o pagamento da devida comissão de
corretagem; (f) diante da alegada dúvida sobre a quem pagar a dita comissão, os
requerentes ingressaram com a presente demanda. Desse modo, considerando que foi
igualmente responsável pela intermediação da venda, e tendo em vista que não houve
distrato da autorização de venda com exclusividade firmada pelos autores, pugna pelo
levantamento dos valores depositados a título de comissão de corretagem.
5. Em sede de despacho saneador, foram fixados os pontos controvertidos e deferida
a produção de prova oral (mov. 59.1 ­ f. 186/187). Contra esta decisão, os autores
interpuseram recurso de agravo retido (mov. 80.1 ­ f. 210/213), postulando a reforma
da
decisão, a fim de serem desonerados da obrigação, em face do pagamento,
prosseguindo o feito exclusivamente entre os requeridos.
6. Na audiência de instrução e julgamento (mov. 130.1 ­ f. 290/295), foi tomado o
depoimento pessoal da parte autora e ouvidas 3 testemunhas e 1 informante.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

7. O MM. Juiz a quo proferiu sentença (mov. 141.1 ­ f.


327/333), pela qual julgou procedente o pedido inicial, para (a) declarar extinta a
obrigação dos consignantes Fernando José Strobel e Giselle Schinzel de Souza Strobel
quanto à comissão de corretagem devida pela venda do imóvel localizado na Rua
Geraldo Lipka, nº 65, na cidade de Curitiba; (b) declarar a requerida, Sevilha Imóveis
Limitada, como beneficiária exclusiva e única legitimada ao recebimento da comissão
de corretagem; (c) condenar a ré Bidese Imóveis Limitada ao pagamento das custas
processuais e dos honorários advocatícios, arbitrados em R$500,001.
8. A requerida, Bidese Imóveis ­ Incorporação, Locação, Compra e Venda Limitada
ME, interpôs recurso de apelação (mov. 153.1 - f.346/352), postulando a reforma da
sentença, para reconhecer seu direito ao recebimento da comissão de corretagem
pela intermediação de venda do imóvel dos autores.
Contrarrazões de apelação (mov. 164.1 e mov. 171.1 ­ f.
365/372 e f. 385/394).
9. Os autores Fernando José Strobel e Giselle Schinzel de Souza Strobel interpuseram
recurso de apelação (mov. 166.1 ­ f.
375/378), sustentando, preliminarmente, a necessidade de análise do agravo retido.
No mérito, pleiteou a reforma da sentença para majorar o valor arbitrado a título de
honorários advocatícios.
Não houve a apresentação de contrarrazões.
10. A ré Sevilha Imóveis Limitada interpôs recurso adesivo (mov. 172.1 ­ f. 396/405),
pleiteando a reforma da sentença para majorar o valor fixado a título de honorários
advocatícios.
Não houve a apresentação de contrarrazões.
É o relatório.
II- VOTO
Em primeiro lugar, deixo de conhecer o agravo retido interposto pela parte autora
(mov. 80.1 ­ f. 210/213), pois o magistrado de 1º grau julgou procedente o seu
pedido, para reconhecer a extinção da obrigação. Desse modo, os autores carecem de
interesse recursal.
Com a ressalva supra, presentes os pressupostos recursais, intrínsecos e extrínsecos,
conheço dos recursos.
Do recurso de apelação interposto pela ré Bidese Imóveis ­ Incorporação, Locação,
Compra e Venda Limitada ME.
11. Do cotejo dos autos, observa-se que: (i) em 06.06.2013, os autores celebraram
com a Bidese Imóveis “autorização para venda de imóvel”, com exclusividade, pelo
prazo de 90 dias; (ii) decorrido o prazo sem a venda do imóvel, os autores mantiveram
a intenção de vender o bem, sem dar, entretanto, exclusividade de venda a qualquer
corretor; (iii) no dia 18.12.2013, os representantes de ambas as requeridas
compareceram no imóvel, para demonstrar o imóvel para um cliente apresentado pela
Sevilha Imóveis Limitada; (iv) em 24.12.2013, o cliente da Sevilha Imóveis, formalizou a
proposta para a compra do apartamento, tendo assinado a escritura pública em
14.02.2014; (v) após o recebimento de notificação extrajudicial encaminhada pela

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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Bidese Imóveis reivindicando o pagamento da comissão de corretagem e diante da


dúvida acerca de seu legítimo beneficiário, a autora propôs a presente demanda.
A Sevilha Imóveis apresentou contestação afirmando ser a legítima beneficiária da
comissão de corretagem, uma vez que apresentou o cliente que concretizou o
negócio.
Por outro lado, a Bidese Imóveis defende a necessidade de distrato para a revogação
da cláusula de exclusividade firmada com a parte autora e, considerando que não há
qualquer registro formal de distrato, a autorização de venda com exclusividade teria
sido prorrogada automaticamente por prazo indeterminado, sendo devida a
remuneração ao seu corretor.
O magistrado de 1º grau julgou procedente o pedido inicial, para declarar extinta a
obrigação dos autores, reconhecendo como beneficiária exclusiva da comissão de
corretagem a Sevilha Imóveis.
Pois bem!
12. Efetivamente, ajustada a exclusividade, o corretor tem direito à remuneração
integral, ainda que o negócio tenha sido iniciado e concluído sem a mediação, salvo
comprovada sua inércia ou ociosidade.
Assim reza o artigo 726, do Código Civil vigente:
“Art. 726. Iniciado e concluído o negócio diretamente entre as partes, nenhuma
remuneração será devida ao corretor; mas se, por escrito, for ajustada a corretagem
com exclusividade, terá o corretor direito à remuneração integral, ainda que realizado
o negócio sem a sua mediação, salvo se comprovada sua inércia ou ociosidade”.
Sobre o tema, válidos os ensinamentos de Arnaldo Rizzardo, quando refere:
“Mesmo havendo contrato, se as partes diretamente iniciam e concluem o negócio
não repercute em indenização a favor do corretor, o que se revela normal.
Entrementes, se acertada e reservada a exclusividade em favor do corretor, assiste-lhe
a integral remuneração, a menos que se prove a sua inércia ou ociosidade (...).
Normalmente, a
exclusividade está condicionada a prazo determinado, além de se exigirem a
atividade plena e o esforço eficaz do corretor, sob pena de falecer qualquer direito
remuneratório”2.
Neste particular, é preciso salientar que a cláusula de exclusividade é excepcional no
contrato de corretagem, devendo a mesma ser fixada por escrito e por prazo
determinado, sob pena de violação abusiva do direito de propriedade.
Do cotejo dos autos, observa-se que os autores concederam à Bidese Imóveis, em
06.06.2013, autorização de venda (mov. 1.5 ­ f. 14) com exclusividade pelo prazo de
90 dias, com a possibilidade de renovação automática, desde que consistisse na
vontade das partes. Dessa forma, entendo que a prorrogação da cláusula de
exclusividade somente seria possível através de manifestação expressa da parte
autora, com a realização de nova disposição contratual garantidora da exclusividade na
intermediação, o que não foi demonstrado nos autos.
Ao contrário, em seu depoimento pessoal, a parte autora afirmou que, expirado o
prazo de exclusividade de 90 dias, concedeu opção de venda sem exclusividade à

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diversas imobiliárias, inclusive para as duas requeridas, alegação esta que é


corroborada pelos anúncios de venda de diversas imobiliárias, juntados no mov.
1.6 (f. 15/22).
Nesse contexto, conclui-se que, na data da celebração da compra e venda do imóvel,
24.12.2013, a cláusula de exclusividade concedida à Bidese Imóveis não se encontrava
vigente. Sendo assim, não houve a violação da cláusula de exclusividade denunciada
pela apelante.
Diante desse cenário, necessário se mostra perquirir qual das requeridas faz jus ao
recebimento da comissão de corretagem.
13. O contrato de corretagem, ainda que informal, tem por objetivo a intermediação
de partes interessadas na efetivação de determinado negócio, cuja comissão, a título
de pagamento, somente será devida no caso de concretização útil do acordo, nos
termos dos artigos 725 e 726 do Código Civil:
“Art. 725. A remuneração é devida ao corretor uma vez que tenha conseguido o
resultado previsto no contrato de mediação, ou ainda que este não se efetive em
virtude de arrependimento das partes”.
“Art. 726. Iniciado e concluído o negócio diretamente entre as partes, nenhuma
remuneração será devida ao corretor; mas se, por escrito, for ajustada a corretagem
com exclusividade, terá o corretor direito à remuneração integral, ainda que realizado
o negócio sem a sua mediação, salvo se comprovada sua inércia ou ociosidade”.
A ilustre Professora Maria Helena Diniz é clara ao registrar que o corretor é
considerado como um conciliador, que conduz os interessados a efetivarem um
contrato, “garantindo ao cliente o resultado do serviço de mediação: a obtenção do
acordo volitivo para a conclusão do negócio”.
E continua:
“Trata-se de obrigação de fazer, que se desenvolve mediante esforços empregados
para a convergência de interesses opostos ou mesmo coincidentes de outras pessoas.
Não terá culpa se o acordo obtido malograr, posteriormente à mediação, fazendo jus à
remuneração que lhe é devida. O Supremo Tribunal Federal decidiu a respeito que: `É
inconfundível o contrato de mediação com aquele que visa proporcionar. Destarte,
ainda que rescindido ou desfeito o último, razão inexiste para a devolução da
percentagem recebida (2ª Turma, RE 83.974-RJ)’’3.
Nesse contexto, depreende-se que, resultado útil, nos contratos de corretagem,
consiste na obtenção do acordo de vontades entre vendedor e comprador. Alcançado
esse acordo, faz jus o
corretor à comissão, mesmo que o negócio tenha se concretizado sem a sua
participação.
Da narrativa das partes, verifica-se que ambas as imobiliárias rés estiveram presentes
na primeira visita do comprador Walber Pydd ao imóvel, ocorrida em 18.12.2013.
Entretanto, apesar do promitente comprador ter sido acompanhado por ambas as
requeridas nessa primeira visita, quem efetivamente intermediou a compra e venda foi
o corretor da requerida Sevilha Imóveis, conforme relatado pelo próprio adquirente do
imóvel. Observe:

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“Que conhece o Sr. Eder da Sevilha Imóveis; que foi o comprador do imóvel; que o
Sr. Eder já havia vendido o apartamento que morava; que como estava interessado na
região do Ecoville, o Sr. Eder agendou algumas visitas, inclusive, no Condomínio
Terrasse; que no dia compareceu o Sr. Eder, e o pessoal de uma outra imobiliária; que,
em pesquisa na internet, verificou que haviam outros apartamentos à venda no mesmo
edifício; que também haviam anúncios, do mesmo apartamento, em pelo menos 3
outras imobiliárias; que no outro dia fez uma outra visita; que olhou outros
apartamentos da região; após tudo isso, entrou em contato com o Sr. Eder e disse que
podia fechar negócio; que não se recorda se foi na primeiro ou na segunda visita, mas
viu um apartamento no mesmo prédio; que só teve contato com o Sr. Eder e com o
pessoal da Sevilha; que junto com o Sr. Eder visitou outro apartamento (...) ­ Walber
pydd ­ mídia digital ­ mov. 130.1.
O próprio autor confirma que a celebração do pacto só possível diante do trabalho
desenvolvido pela Sevilha Imóveis, pois o promitente comprador já era cliente antigo
da referida imobiliária. Vejamos:
“Que colocou esse imóvel à venda em setembro de 2012 com outra empresa
estranha à lide, com contrato de 60 dias; que, depois disso, foi procurado pela Bidese
Imóveis, através de sua funcionária Rosana, assim, em 06.06.13, firmou com a Bidese
Imóveis, uma autorização de venda, que se findava em 06.10.13; que a Bidese não
obteve êxito na venda; que após, esse período, autorizou outras imobiliárias, inclusive,
a Bidese, a continuar a proceder a venda do imóvel, contudo, sem exclusividade; (...)
em 18.12.2013, a Bidese solicitou uma visita no imóvel; que quem acompanhou a
visita, foi sua empregada; que, na oportunidade, estavam o Sr. Walber e os corretores
da Bidese e da Sevilha Imóveis; que, no dia 20.12.2013, foi contatado pela Sevilha,
que lhe perguntou se o imóvel estava à venda e se havia exclusividade de alguma
imobiliária; que respondeu que não e a visita efetivou-se na parte da tarde do mesmo
dia; que o atual proprietário visitou o imóvel acompanhado do Eder, da Sevilha
Imóveis; que neste dia estava presente; que, no outro
dia, o corretor da Sevilha Imóveis lhe contatou lhe fazendo uma proposta; que ficou
de pensar; que, dia 23.12.13, fez um contraproposta; que o promitente comprador
aceitou; que, no dia 24.12.13, assinaram a proposta de compra e venda; que entre
natal e ano novo, a Bidese entrou em contato para agendar uma visita; que lhe
informaram acerca da venda do imóvel; que, no dia 07.01.14, a Bidese Imóveis entrou
em contato, dizendo que havia apresentado o comprador para o imóvel; (...) que, em
seu entendimento, a Sevilha tinha um comprador que já havia sido seu cliente em
outras oportunidades; que verificando que o outra imobiliária estava vendendo o
imóvel entrou em contato para agendar uma visita; que a Sevilha não tinha
conhecimento acerca da cláusula de exclusividade, tanto que, na segunda visita,
perguntou acerca da sua existência, e disse que não existia; (...) que as imobiliárias não
entraram em acordo acerca de quem era devido a comissão de corretagem; que,
diante da dúvida, ingressou com a presente ação ­ Fernando José Strobel ­ mídia
digital ­ mov. 130.1.
Ademais, o “recibo de sinal de negócio” (mov. 1.9 ­ f.

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25) fora emitido, exclusivamente, pela Sevilha Imóveis, inexistindo nos autos,
nenhuma prova de que o corretor da apelante tenha contribuído para celebração do
pacto, razão pela que entendo correto do posicionamento do julgador monocrático,
ao considerar a requerida Sevilha Imóveis única e exclusiva beneficiária da comissão
de corretagem.
A corroborar:
“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA DE COMISSÃO DE CORRETAGEM.
ÔNUS DA PROVA. CASO CONCRETO. AUSÊNCIA DE PROVA EFETIVA DA
INTERMEDIAÇÃO DA COMPRA E VENDA. CONTRATO DE EXCLUSIVIDADE
INEXISTENTE. POSTERIOR ALIENAÇÃO DO IMÓVEL ATRAVÉS DE OUTRO
CORRETOR. A comissão de corretagem é devida quando demonstrada, pelo
profissional, a efetiva intermediação imobiliária, com atos concretos de intermediação
das partes de forma que as negociações tendentes à realização do ato alcancem o seu
objetivo, ou seja, que as negociações produzam o resultado útil desejado. NEGADO
PROVIMENTO AO RECURSO. UNÂNIME (Apelação Cível Nº 70041925249, Décima
Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Otávio Augusto de Freitas
Barcellos, Julgado em 20/07/2011)”.
Dos recursos adesivos nº 1 e nº 2 interpostos pelos autores Fernando José Strobel e
Giselle Schinzel de Souza Strobel e pela requerida Sevilha Imóveis Limitada.
14. Os recorrentes pretendem a majoração do valor arbitrado a título de honorários
advocatícios.
Na fixação dos honorários advocatícios deve ser observado um critério objetivo, de
modo que o profissional advogado seja remunerado no limite do trabalho.
Paulo Luiz Neto Lobo, tratando dos limites que deve ser arbitrada a verba honorária,
leciona:
“Não há critérios definitivos que possam delimitar a fixação dos honorários
advocatícios, porque flutuam em função de vários fatores, alguns de forte densidade
subjetiva. (...) Impõe-se sempre a moderação, no entanto, já que o direito não é
ilimitado. Há limites postos pela ética e pela razoabilidade que não podem ser
ultrapassados.” (Comentários ao Novo Estatuto da Advocacia e da OAB, ed. 1994, p.
93).
Assim, à luz do dispositivo processual aplicável a espécie deve a verba honorária ser
arbitrada seguindo os parâmetros relativos ao grau de zelo na atuação do profissional,
o lugar da prestação de serviço, a natureza e importância da causa, o trabalho
realizado, bem assim o tempo exigido para prestação do serviço, devendo ser
suficientes para remunerar condignamente o advogado, sem implicar em valor
excessivamente elevado, ou tão ínfimo que não seja capaz de compensar o trabalho
desempenhado pelo profissional.
Neste particular, embora não se trate de ação que verse sobre matéria complexa, a
representação técnica dos autores e da requerida Sevilha Imóveis se deu de modo
adequado, dentro do que lhe exigia o processo. Além do mais, é preciso levar em
conta o tempo de tramitação do processo, ou seja, mais de 3 anos. Assim, entendo
que a importância fixada pelo juízo a quo não obedece aos parâmetros exigidos para a
espécie.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Desse modo, elevo o valor fixado a título de verba honorária advocatícia para 20% do
valor atualizado da causa, nos termos do artigo 85, §2º e §11 do Código de Processo
Civil, os quais devem ser divididos entres os procuradores dos autores e da ré Sevilha
Imóveis.
15. Diante do exposto, voto no sentido de:
a) não conhecer o agravo retido (mov. 80.1 ­ f.
210/213); b) negar provimento ao recurso de apelação nº1 interposto por Bidese
Imóveis ­ Incorporação, Locação, Compra e Venda Limitada ME.
c) dar provimento ao recurso adesivo nº 1 interposto pelos autores Fernando José
Strobel e Giselle Schinzel de Souza Strobel, para majorar a verba honorária
advocatícia.
d) dar provimento ao recurso adesivo nº 2 interposto pela requerida Sevilha Imóveis
Limitada, para majorar a verba honorária advocatícia.
III- DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em não conhecer o agravo
retido de f. 210/213; negar provimento ao recurso de apelação e dar provimento aos
recursos adesivos nºs 1 e 2.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador LAURI CAETANO DA SILVA, relator,
e dele participaram os Desembargadores TITO CAMPOS DE PAULA e RUI BACELLAR
FILHO.
Curitiba, 14 de junho de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--
1 Sentença proferida no dia 10.03.2016 e publicada no dia 22.03.2016.
--
2 RIZZARDO, Arnaldo. Contratos. 6ª ed.. Editora Forense, 2006, p. 784.
--
3 Tratado Teórico e Prático dos Contratas, Saraiva, 6ª ed., 2006, v. 3, p. 42.

2.1.8. DECLARATÓRIA DE ADIMPLEMENTO C/C IMISSÃO NA POSSE

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO COM PEDIDO DE IMISSÃO DE POSSE (LEIA-SE AÇÃO

DECLARATÓRIA DE ADIMPLEMENTO DE CONTRATO COM PEDIDO DE IMISSÃO

NA POSSE). CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. RECONVENÇÃO.

COBRANÇA DOS VALORES EM ABERTO DECORRENTES DA INCIDÊNCIA DA

CORREÇÃO MONETÁRIA PELO INCC E DOS JUROS DE OBRA. PEDIDO JULGADO

PROCEDENTE. PEDIDO RECONVENCIONAL JULGADO IMPROCEDENTE. RECURSO

DE APELAÇÃO DA RÉ: INCC. PREVISÃO CONTRATUAL. POSSIBILIDADE. VALORES


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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

EM ABERTO. PERÍODO ENTRE A CELEBRAÇÃO DO CONTRATO DE COMPRA E

VENDA E A ASSINATURA DO CONTRATO DE FINANCIAMENTO. VALIDADE DA

COBRANÇA. TAXA DE JUROS DA OBRA. COBRANÇA PERPETRADA PELA CAIXA

ECONÔMICA FEDERAL. CONSTRUTORA QUE EFETUOU O PAGAMENTO NA

QUALIDADE DE FIADORA DA PROMITENTE-COMPRADORA. RESTITUIÇÃO DEVIDA.

IMISSÃO DE POSSE MANTIDA. ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL. TAXAS

CONDOMINIAIS. PAGAMENTO. RESPONSABILIDADE DA CONSTRUTORA ATÉ A

EFETIVA ENTREGA DAS CHAVES. REDISTRIBUIÇÃO DO ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA.

RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 1. É permitida a aplicação do INCC aos

contratos de promessa de compra e venda de imóvel em construção como índice de

atualização do valor devido pelo promissário-comprador até a data prevista para a

entrega da obra. (TJ-MG, Relator: Evandro Lopes da Costa Teixeira, Data de

Julgamento: 11/06/2014, Câmaras Cíveis / 17ª CÂMARA CÍVEL) 2. "A teoria do

adimplemento substancial consiste na impossibilidade da resolução do contrato nas

ocasiões em que o pacto já esteja com uma considerável quantidade de parcelas

quitadas, estando tal teoria consubstanciada nos princípios da boa-fé objetiva, da

função social dos contratos, bem como da vedação ao enriquecimento sem causa".

(Apelação Cível Nº 70057449951, Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,

Relator: Walda Maria Melo Pierro, Julgado em 09/04/2014) 3. Como as taxas

condominiais têm natureza propter rem, ou seja, aderem à coisa e não à pessoa, e não

havendo averbação do Habite-se ou entrega das chaves do imóvel, tais despesas

devem ser de responsabilidade da promitente vendedora. (TJ-DF - APC:

20130710225168 DF 0021829-93.2013.8.07.0007, Relator: SANDOVAL OLIVEIRA,

Data de Julgamento: 11/03/2015, 5ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no

DJE : 19/03/2015 . Pág.: 209)

(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1640115-1 - Região Metropolitana de Londrina - Foro

Central de Londrina - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime - J. 14.06.2017)

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Inteiro Teor

I- RELATÓRIO
1. Gisele Aparecida da Silva ajuizou ação de imissão de posse c/c perdas e danos
(autos nº 16252-93.2015.8.16.0014 - PROJUDI) em face de Terra Nova Rodobens
Incorporadora Imobiliária Londrina II SPE Limitada aduzindo, em síntese, que a) por
meio do programa Minha Casa Minha Vida adquiriu da empresa ré a unidade nº 37-U,
da quadra nº 110, do Condomínio Moradas Londrina, pelo valor de R$86.813,76; b)
após a assinatura do contrato de financiamento junto à Caixa Econômica Federal, a ré
era obrigada a lhe entregar a posse do imóvel; c) a ré negou-se a entregar o imóvel,
justificando que existem débitos pendentes, sem prestar qualquer outro
esclarecimento; d) foi obrigada a alugar um imóvel para residir (danos materiais); e)
mesmo não tendo recebido o imóvel, estão sendo cobrados os valores relativos à
contribuição condominial da unidade residencial, o que é indevido; f) não há
inadimplência, razão pela qual faz jus à imissão na posse do imóvel; g) a ré age de má-
fé e retém injustamente a posse do imóvel; h) a ré deve ser condenada ao pagamento
de indenização
por danos materiais e morais; i) tratando-se de relação de consumo, é permitida a
inversão do ônus da prova (CDC, art. 6º, VIII). Como consequência dos fatos alegados
requereu, liminarmente, a expedição do mandado de imissão de posse, e ao final a
procedência dos pedidos.
2. A antecipação dos efeitos da tutela foi deferida (mov. 7.1 - f. 132). O mandado de
imissão de posse foi cumprido no dia 08.04.2015 (mov. 15.2 ­ f. 146).
3. A ré Terra Nova Rodobens Marajó Incorporadora Imobiliária Londrina II ­ SPE
Limitada ofereceu defesa em sede de contestação (mov. 18.1 ­ f. 151/184) alegando,
em síntese, que a) o negócio firmado entre as partes reveste-se de condições
especiais, mediante o sistema denominado “TERRA NOVA”; b) a autora obrigou-se a
efetuar o pagamento do preço do imóvel (R$86.813,76), divido em duas partes: PARTE
A no valor de R$4.813,76; e a PARTE B no valor de R$82.000,00, a ser paga à vista,
com recursos próprios ou mediante obtenção de financiamento no âmbito do Sistema
Brasileiro de Poupança e Empréstimo ou do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço,
conforme item 4.1 e 4.2 do “Quadro Resumo” e cláusula 2ª do contrato; c) a autora
possui débito no valor de R$12.230,44, referente à correção do saldo devedor pelo
INCC e juros da obra; d) a posse do imóvel está condicionada ao pagamento integral
dos valores avençados no contrato (cláusula 7ª); e) não houve descumprimento
contratual no que concerne à entrega da posse do imóvel; f) a autora tinha
conhecimento de que seu saldo devedor sofreria correção monetária; g) a pretensão
da autora implicaria na redução do preço do imóvel, o que não pode se admitir; h) a
responsabilidade pelo pagamento referente a correção monetária pelo INCC está
especificada na cláusula 2.5.5. do contrato; i) não tem qualquer ingerência quanto à
concessão ou não do financiamento para pagamento do preço previsto no contrato,
eis que o financiamento é realizado pela Caixa Econômica Federal; j) a correção
monetária e a taxa de juros foram expressamente pactuadas e sua cobrança durante a
fase de construção é autorizada pela Lei nº 9.514/1997; k) a cobrança dos chamados

82

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

“Juros de Obra” é feita pela Caixa Econômica Federal, tendo em vista que decorre do
contrato de financiamento imobiliário firmado entre ela e a compradora (autora); l)
figurou como fiadora da autora, e em razão de sua inadimplência perante a CEF, foi
obrigada a realizar o pagamento; m) a confissão de dívida assinada pela autora é
válida e eficaz; n) não existem danos materiais ou morais a serem
indenizados; o) a autora é responsável pelo pagamento das taxas de condomínio da
unidade adquirida desde sua disponibilização, o que ocorreu no mês de novembro de
2012; p) inaplicável no caso concreto a inversão do ônus da prova prevista no Código
de Defesa do Consumidor.
4. A sociedade Terra Nova Rodobens Marajó Incorporadora Imobiliária Londrina II ­
SPE Limitada ajuizou reconvenção (mov. 19.1 ­ f. 256/264), pleiteando a condenação
da autora ao pagamento de (i) R$9.232,72, referente a correção do saldo devedor pelo
INCC; e, (ii) R$2.997,72, referente aos juros da obra dos meses de junho/2012 a
maio/2013, que quitou junto à Caixa Econômica Federal na condição de fiadora.
5. Gisele Aparecida da Silva apresentou contestação à reconvenção (mov. 41.1 ­ f.
370/380), refutando integralmente a pretensão da ré/reconvinte.
6. O MM. Juiz a quo julgou parcialmente procedentes os pedidos formulados na
inicial da ação de imissão de posse, para (i) confirmar a liminar anteriormente
concedida e determinar a imissão definitiva da autora na posse do imóvel; (ii) condenar
a ré ao pagamento de indenização por danos morais, no valor de R$10.000,00, a
serem corrigidos pelo INPC a partir da data em que o imóvel deveria ter sido
entregue; (ii) declarar inexigível o valor cobrado a título de contribuição condominial
do imóvel; (iii) declarar inexigível o valor da dívida cobrada pela ré a título de juros de
obra e diferença de correção monetária pelo INCC; (iv) afastar a pretensão de
pagamento de indenização por danos materiais. Diante da sucumbência recíproca,
condenou as partes, na proporção de 80% para autora e 20% para a ré, ao pagamento
das custas processuais. Ainda, na proporção inversa, condenou as partes ao
pagamento de honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o valor da condenação
e dos débitos considerados indevidos, observando-se que a autora é beneficiária da
assistência judiciária gratuita. Por fim, julgou improcedentes os pedidos formulados
em sede de reconvenção, condenando a parte reconvinte ao pagamento das custas
processuais e honorários advocatícios, fixados em R$800,00 (mov. 75.1 ­ f. 435/444).
7. A autora Gisele Aparecida da Silva opôs Embargos de Declaração (mov. 80.1 ­ f.
450/451), os quais foram acolhidos para modificar o dispositivo da sentença e
“condenar a ré/embargada, também a indenizar a título de danos materiais os
prejuízos suportados pela parte autora a título de pagamento de cotas condominiais”
(mov. 94.1 ­ f. 504/505).
8. Inconformada, a ré Terra Nova Rodobens Marajó Incorporadora Imobiliária
Londrina II ­ SPE Limitada interpôs recurso de apelação (mov. 85.1 ­ f. 457/484),
pugnando pela reforma da sentença. Argumentou que a entrega da posse do imóvel,
de acordo com a cláusula 7ª do contrato, estava condicionada ao pagamento integral
do preço do imóvel, o que não ocorreu, tendo em vista que a autora/reconvinda
deixou de pagar a importância de R$12.230,44, relativa ao saldo devedor corrigido
pelo INCC e aos juros de obra.
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Sustentou a legalidade da cobrança de correção monetária durante o período de


construção do imóvel (Leis nº 4.864/65 e nº 9.514/97) e dos juros estipulados em
contrato. Por fim, afirmou que a autora/reconvinda é responsável pelo pagamento da
taxa condominial e pediu a redistribuição do ônus da sucumbência.
Não foram apresentadas contrarrazões de apelação.
É o relatório.
II- VOTO
Presentes os pressupostos processuais de admissibilidade, intrínsecos e extrínsecos,
conheço do recurso.
9. No caso dos autos, em 25.06.2010, a autora celebrou com a ré, aderindo ao
programa Minha Casa Minha Vida, Instrumento Particular de Compromisso de Venda e
Compra, por meio do qual adquiriu a unidade nº 37-U, da quadra nº 110, do
Condomínio Moradas Londrina, pelo preço de R$86.813,76. Restou acordado que o
preço ajustado seria pago da seguinte forma: (1) R$4.813,76 pagos diretamente
a construtora (parte A); (2) R$12.000,00 de subsídio pelo programa “Minha Casa
Minha Vida”; e, (3) R$70.588,24 mediante financiamento obtido perante a Caixa
Econômica Federal (parte B). É preciso destacar que os apontados valores já foram
adimplidos pela promitente compradora.
Nos termos do contrato ­ cláusula 06 -, a entrega do imóvel deveria ocorrer “em, no
mínimo, 12 meses contados da data de assinatura do Contrato de Financiamento à
Produção de Imóveis ­ Pessoa Jurídica, entre a VENDEDORA e o AGENTE
FINANCEIRO (Gestor do “Programa Minha Casa Minha Vida”), cuja contratação é
destinada à execução do Empreendimento (...)”. “O comprador será comunicado por
escrito do início do prazo aqui fixado” (mov. 1.4 ­ f. 24).
A ré/reconvinte encaminhou à autora/reconvinda aviso, informando que a data
prevista para entrega do imóvel era 14.06.2012.
Entretanto, a parte autora somente foi imitida na posse do imóvel em 08.04.2015, em
razão de cumprimento de liminar de antecipação de tutela proferida nos presentes
autos (mov. 15.2 ­ f.
146). O atraso na entrega do bem decorre do fato da requerida apontar que existem
valores não pagos, decorrentes da incidência do INCC e do não pagamento da taxa
de juros da obra, devida a Caixa Econômica Federal. Salienta que, conforme se verifica
no contrato acostado aos autos, a posse do imóvel está condicionada ao pagamento
integral dos valores avençados no contrato firmado conforme se verifica na cláusula 7ª,
com o seguinte teor: “a VENDEDORA apenas transmitirá ao COMPRADOR a posse
sobre a Unidade, nos termos pactuados neste contrato, após o COMPRADOR ter
cumprido todas as suas obrigações decorrentes deste Contrato, exigíveis para a
transmissão da posse. Desta forma, o COMPRADOR se não tiver cumprido todas as
referidas obrigações não poderá exigir da VENDEDORA qualquer tipo de
contraprestação, compensação ou indenização a qualquer título, por força da não
transmissão da posse da Unidade”.
Nesses termos, mostra-se prudente analisar se efetivamente existem valores
pendentes de pagamento.

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10. No que se refere a correção monetária, é preciso esclarecer que a mesma possui a
finalidade de manutenção do poder de compra da moeda diante da inflação. Desse
modo, por força dos princípios da boa-fé e do não enriquecimento sem causa, a
correção monetária deve ser aplicada nas prestações mensais devidas pelo comprador
desde a data da celebração do contrato até a entrega das “chaves”.
A correção foi prevista pelo índice INCC (Índice Nacional de Construção Civil ­
contrato ­ cláusula 2.3.1 ­ f. 29 ­ mov.
1.4), que é uma das três variações que compõe o Índice Geral de Preços (IGP) e
reflete o aquecimento do setor de construção civil, não havendo qualquer ilegalidade
da sua cobrança até a conclusão da obra, conforme entendimento do STJ:
“CIVIL E PROCESSUAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO.
PROMESSA DE COMPRA E VENDA. IMÓVEL. EXEQUIBILIDADE DO TÍTULO.
QUESTÃO DEPENDENTE E REEXAME REFLEXO DE MATÉRIA CONTRATUAL E
FÁTICA (SÚMULAS 5 E 7 DO STJ). INCC. INEXISTÊNCIA DE CLÁUSULA
POTESTATIVA. PRECEDENTES.
SISTEMÁTICA DE APLICAÇÃO DOS JUROS. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO.
MULTA. REDUÇÃO DO PERCENTUAL. IMPOSSIBILIDADE. CONTRATO ANTERIOR À
LEI 9.298/96.
1. A reforma da vinculação das notas promissórias executadas ao contrato afirmado
expressamente no acórdão recorrido depende de reexame de matéria contratual e
fática da lide, o que encontra óbice nas Súmulas 5 e 7 do STJ.
2. Não é potestativa a cláusula que prevê a aplicação do INCC aos contratos de
promessa de compra e venda de imóvel em construção. Precedentes. (...). (STJ. AgRg
no REsp 591798 / DF.
Relator (a) Ministra Maria Isabel Gallotti. Órgão Julgador Quarta Turma. DJe
31/08/2011).
Destaquei.
“Embora seja válida a correção do saldo devedor durante a construção, quando
ocorrer o seu atraso por culpa da construtora-vendedora, deverá sua incidência ser
afastada, tendo em vista que a mora em entregar os imóveis não pode gerar maiores
custos e prejuízos aos compradores, o que abrange a incidência do INCC após o prazo
que deveria ter sido entregue o imóvel, ante a possibilidade de dificultar o pagamento
do bem” (TJPR - 6ª C.Cível - AC - 1363721-1 - Curitiba - Rel.: Roberto Portugal
Bacellar - Unânime - - J. 06.10.2015).
No caso, é preciso ter-se em mente que, entre a data da formalização do Contrato de
Compra e Venda (25.06.2010) e a data da assinatura do Contrato de Financiamento
com a Caixa Econômica Federal (12.07.2011), existe o lapso temporal de mais de um
ano, no qual, segundo consta expressamente do contrato, “o valor da PARTE A e da
PARTE B, será acrescido de atualização monetária mensal acumulada, calculada pelo
INCC-DI/FGV a partir da data base até a data do efetivo pagamento”.
E ainda, “caso o valor financiado pelo AGENTE FINANCEIRO não seja suficiente para
satisfazer o valor referente a PARTE B do Quadro Resumo ou o saldo devedor total
deste contrato, acrescido das atualizações monetárias contratadas e mesmo dos
encargos moratórios contratualmente estipulados, deverá o COMPRADOR efetuar o
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pagamento à vista da diferença verificada no ato da disponibilidade da unidade


autônoma, sob pena de não o fazendo receber a posse dessa unidade autônoma”
(Cláusula 2.5.5 ­ mov. 1.4 ­ f. 31).
Desse modo, a requerida estava autorizada pelo contrato a efetuar a cobrança do
INCC até a efetiva assinatura do contrato de financiamento. Contudo, o valor
financiado, serviu apenas para cobrir o pagamento do valor ajustado pelo imóvel
(R$86.813,76), sem o cômputo das devidas correções. Note-se que a própria parte
autora admitiu ser devedora da quantia referente a correção monetária pelo INCC,
tanto que celebrou com a ré Contrato de Confissão de Dívida. Além disso, a Confissão
de Dívida foi celebrada em 08.08.2012, próximo da data prevista para a entrega das
chaves (habite-se concedido no dia 06.11.2012), o que corrobora com o fato de que
só houve a incidência do INCC até a data da assinatura do contrato de financiamento,
conforme relatado pela apelante.
Ademais, a requerida, em relação ao INCC, só postula a cobrança dos valores
declaradamente confessados pela autora, conforme Confissão de Dívida (mov. 19.5 ­ f.
307/313). Após a conclusão do empreendimento, ao contrário do que entendeu o
magistrado de 1º grau, não houve a incidência do INCC.
Sendo assim, imperiosa se mostra a reforma da sentença, a fim de reconhecer que a
autora deve os valores correspondentes à correção monetária pelo INCC, no período
decorrente entre a data da assinatura do Contrato de Compra (25.06.2010) e a data da
assinatura do Contrato de financiamento com a Caixa Econômica Federal (12.07.2011).
11. Em relação à taxa de juros da obra, é preciso esclarecer que a cobrança é
perpetrada pela Caixa Econômica Federal, já que é encargo previsto no Contrato de
Financiamento celebrado com a referida instituição financeira. Vejamos:
Na fase de execução do empreendimento, até a efetiva entrega da unidade
habitacional, a construtora/requerida figurou no contrato de financiamento como
fiadora da promitente-compradora.
Observe:
Nestes termos, sobrevindo eventual inadimplemento pelo adquirente do imóvel em
relação à remuneração pactuada, admissível sua cobrança diretamente do fiador,
consoante regra determinada pelo artigo 818 do Código Civil1. E, uma vez executada
a garantia, concretizando-se o adimplemento da dívida pelo fiador, surge a este, à luz
do artigo 831 do Código Civil2, o direito de sub-rogar-se nos direitos do credor.
Daí que, tendo a construtora efetuado o pagamento de R$2.997,72 a título de “Taxa
de Evolução de Obra”, originalmente assumidas pela adquirente do imóvel, justifica-se
as cobranças extrajudiciais realizadas.
Não se alegue ausência de demonstração de aludido pagamento, pois, a própria
Caixa Econômica confirmou os pagamentos realizados pela construtora, conforme
Ofício encaminhado ao Juízo de Origem (mov. 59.1 - f. 411/412).
Aqui é preciso mencionar que, a abusividade dos valores cobrados a título de juros de
obra, deve ser suscitada em ação própria ajuizada em face da Caixa Econômica
Federal. Na presente ação, discute-se, apenas, se a requerida faz jus ao reembolso dos
valores que pagou na qualidade de fiadora da autora.

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Sendo assim, considerando que o pagamento da integralidade do preço ajustado


pelo bem era condição para a entrega do imóvel (cláusula 7ª), e considerando que a
autora não cumpriu adequadamente tal encargo, dando ensejo ao atraso na entrega
do bem, faz jus à construtora ao ressarcimento do montante que pagou a título de
juros da obra.
12. Aqui é preciso ressaltar que a ação proposta, apesar da denominação dada pela
autora, possui características de ação declaratória de adimplemento contratual com
consequente pedido de imissão na posse.
Como se viu, o inadimplemento da autora era inquestionável. No entanto, diante das
peculiaridades do caso, principalmente, pelo fato de ter havido o adimplemento
substancial do contrato e da autora se encontrar na posse do imóvel desde 09.04.2015
(mov. 15.2 ­ f. 146), não merece reforma a sentença na parte em que autorizou a
autora a imitir-se na posse do imóvel.
O novo Código Civil inovou em diversos aspectos, incorporando alguns avanços que
já estavam consagrados pela doutrina e pela jurisprudência. No tocante ao direito
contratual, a mais significativa inovação se encontra no campo da boa-fé objetiva. O
código vigente prevê cláusula geral de boa-fé objetiva, pela qual estabeleceu um
padrão objetivo de conduta a ser seguido pelos contratantes, realçando a necessidade
do comportamento probo, leal e verdadeiro, repelindo posições e estratégias que
culminam em regras desproporcionais.
Como qualquer princípio, a boa-fé objetiva encerra grande abstração, necessitando
diálogo com outras regras jurídicas e até com o sistema do ordenamento para lhe dar
concretude. A respeito do tema leciona Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald
3 que a boa-fé é afirmativa e abusivo o exercício de um direito que excede a sua
função social e econômica. Como a ordem econômica constitucional é submetida aos
princípios da justiça e solidariedade é possível intervir na liberdade contratual se o
contratante agir de forma lesiva ao bem comum. O exercício de um direito de modo
contrário ao interesse geral é antijurídico, caracterizando o abuso do direito.
Embora os institutos ­ boa-fé e abuso de direito ­ sejam distintos e perfeitamente
individualizados, os dois se relacionam quando analisamos se a conduta dos
contratantes é jurídica ou antijurídica. Nessa linha de raciocínio é que a doutrina e a
jurisprudência têm reconhecido a possibilidade de limitar o exercício de direitos
subjetivos contratualmente ajustados para equilibrar a relação jurídica negocial.
Nesse contexto, nasceu a teoria do adimplemento substancial do contrato, que em
análise sumária se traduz em considerar antijurídica a pretensão do contratado que
postula a resolução de um contrato quando o seu inadimplemento é mínimo,
obrigando o credor a se valer de outros meios processuais para obter a tutela jurídica
almejada.
Adimplemento substancial, na visão de Clóvis do Couto e Silva é “um adimplemento
tão próximo do resultado final, que, tendo-se em vista a conduta das partes, exclui-se
o direito de resolução, permitindo tão somente o pedido de indenização” 4.
Sob este prisma o credor sofre uma limitação no seu direito subjetivo obrigando-se a
ajuizar a ação adequada para o recebimento do crédito (execução, monitória ou de
cobrança).
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A propósito da temática, os magistérios de Nelson Nery Junior e Rosa Maria Andrade


Nery ao comentarem o artigo 421 do Código Civil:
“Adimplemento substancial. Jornada IV DirCiv STJ 361: “O adimplemento substancial
decorre dos princípios gerais contratuais, de modo a fazer preponderar a função social
do contrato e o princípio da boa-fé objetiva, balizando a aplicação do CC 475”
(Código Civil Comentado, p. 797, item 21, ed. Revista dos Tribunais, 11ª edição).
No mesmo diapasão doutrinário é o ensinamento de Lucas Gaspar de Oliveira
Martins, in verbis:
“Diante do exposto, cumpre asseverar que a teoria do adimplemento substancial
opera como um limite ao direito formativo extintivo de resolver os contratos, obstando
que um irrelevante descumprimento causado por uma das partes seja considerado
causa suficiente para o desfazimento do vínculo. Por conta dessa teoria, não se
extingue o vínculo contratual, mantendo- se todos os direitos e obrigações
estabelecidas, oferecendo-se ao credor a via do ressarcimento das perdas e danos,
uma vez que o descumprimento de escassa importância autoriza tão somente a
permanência do vínculo, mas não admite o afastamento da responsabilidade da parte
inadimplente” (Martins, Lucas Gaspar de Oliveira; Mora, inadimplemento absoluto e
adimplemento substancial das obrigações, São Paulo: Saraiva 2011, Coleção
Agostinho Alvim, p.
88).
No caso, restou ajustado que a autora pagaria pelo imóvel a quantia de R$86.813,76.
É inconteste que a referida quantia já foi paga, restando em aberto somente os valores
referentes à correção monetária pelo INCC e aos juros de obra, que totalizam o
montante de R$12.230,44.
Nessa toada, considerando que o valor em aberto representa apenas 14,22% do valor
do contrato, mostra-se prudente a aplicação da teoria do adimplemento substancial,
com a consequente manutenção da autora na posse do bem.
Nesse sentido, é o posicionamento do Superior Tribunal de Justiça:
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DE
RESCISÃO PARCIAL - CONTRATO DE COMPRA E VENDA - SALDO DEVEDOR
DIMINUTO - ENTENDIMENTO OBTIDO DA ANÁLISE DO CONJUNTO FÁTICO-
PROBATÓRIO - IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME - INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS 5 E 7
DESTA CORTE - TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL - APLICAÇÃO -
POSSIBILIDADE - PRECEDENTES - AGRAVO IMPROVIDO.
(AgRg no AREsp 155.885/MS, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA,
julgado em 16/08/2012, DJe 24/08/2012)”.
“DIREITO CIVIL. CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL PARA AQUISIÇÃO
DE VEÍCULO (LEASING). PAGAMENTO DE TRINTA E UMA DAS TRINTA E SEIS
PARCELAS DEVIDAS. RESOLUÇÃO DO CONTRATO. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE
POSSE. DESCABIMENTO. MEDIDAS DESPROPORCIONAIS DIANTE DO DÉBITO
REMANESCENTE. APLICAÇÃO DA TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL.
1. É pela lente das cláusulas gerais previstas no Código Civil de 2002, sobretudo a da
boa- fé objetiva e da função social, que deve ser lido o art. 475, segundo o qual “[a]
parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir
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exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e


danos”.
2. Nessa linha de entendimento, a teoria do substancial adimplemento visa a impedir
o uso desequilibrado do direito de resolução por parte do credor, preterindo
desfazimentos desnecessários em prol da preservação da avença, com vistas à
realização dos princípios da boa-fé e da função social do contrato.
3. No caso em apreço, é de se aplicar a da teoria do adimplemento substancial dos
contratos, porquanto o réu pagou: “31 das 36 prestações contratadas, 86% da
obrigação total (contraprestação e VRG parcelado) e mais R$ 10.500,44 de valor
residual garantido”.
O mencionado descumprimento contratual é inapto a ensejar a reintegração de posse
pretendida e, consequentemente, a resolução do contrato de arrendamento mercantil,
medidas desproporcionais diante do substancial adimplemento da avença.
4. Não se está a afirmar que a dívida não paga desaparece, o que seria um convite a
toda sorte de fraudes. Apenas se afirma que o meio de realização do crédito por que
optou a instituição financeira não se mostra consentâneo com a extensão do
inadimplemento e, de resto, com os ventos do Código Civil de 2002. Pode,
certamente, o credor valer-se de meios menos gravosos e proporcionalmente mais
adequados à persecução do crédito remanescente, como, por exemplo, a execução
do título.
5. Recurso especial não conhecido.
(REsp 1051270/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado
em 04/08/2011, DJe 05/09/2011)”
Ademais, vale frisar que, o reconhecimento do adimplemento substancial, não afasta
o dever da requerida de efetuar o pagamento do saldo devedor remanescente do
contrato, nos termos reconhecidos por essa decisão.
A corroborar:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROMESSA DE COMPRA E VENDA. OUTORGA DE
ESCRITURA PÚBLICA. IMISSÃO DE POSSE. ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL DO
CONTRATO. No caso concreto, tendo o agravante cumprido praticamente a
totalidade das obrigações contratadas, impõe-se a reforma da decisão para permitir a
posse do imóvel.
Outrossim, ao que se constata dos autos, a escritura pública não foi lavrada devido a
falta de apresentação de documentos pelos vendedores, ora agravados. AGRAVO DE
INSTRUMENTO PROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 70055812945, Décima Sétima
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Gelson Rolim Stocker, Julgado em
31/10/2013).
APELAÇÃO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E
VENDA DE IMÓVEL. ATRASO DA AUTORA NO PAGAMENTO DE SALDO DEVEDOR.
IMISSÃO NA POSSE DA UNIDADE IMOBILIÁRIA. ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL.
APLICABILIDADE. FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO. APELO NÃO PROVIDO.
(Classe: Apelação, Número do Processo: 0529064-92.2014.8.05.0001, Relator (a):
Emílio Salomão Pinto Resedá, Quarta Câmara Cível, Publicado em: 24/11/2016).

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AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C


INDENIZAÇÃO - COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL -
ANTECIPAÇÃO DE TUTELA INDEFERIDA - ART. 273, CAPUT E INCISO I, DO CPC -
REQUISITOS PRESENTES - ENTREGA DAS CHAVES E IMISSÃO NA POSSE -
CONDIÇÃO DE PRÉVIA QUITAÇÃO DO CONTRATO - ADIMPLEMENTO
SUBSTANCIAL - DÉBITOS CONDOMINIAIS IMPUTADOS À COMPRADORA - FALTA
DE RAZOABILIDADE - RECURSO PROVIDO.
Presentes as condições necessárias para a concessão da antecipação de tutela,
mostra-se razoável a entrega das chaves e imissão na posse do imóvel, máxime se
verificado o adimplemento substancial do contrato, em quase sua totalidade, bem
como se a compradora já responde por dívidas oriundas de deveres condominiais. (AI
125029/2015, DES. GUIOMAR TEODORO BORGES, SEXTA CÂMARA CÍVEL, Julgado
em 11/11/2015, Publicado no DJE 18/11/2015).
13. A taxa condominial é obrigação de natureza propter rem, pois decorre do direito
real de propriedade, respondendo por ela o proprietário ou quem estiver na sua
posse.
Todavia, nos casos de compromisso de compra e venda de unidade imobiliária na
planta, a jurisprudência consolidada do Superior Tribunal de Justiça e dos Tribunais
Pátrios têm possibilitado a modulação dos efeitos da natureza propter rem da
obrigação condominial, no sentido de impor a responsabilidade ao adquirente pelo
pagamento dos encargos condominiais apenas a partir da efetiva posse direta do
imóvel, ou seja, da entrega das chaves.
Com efeito, as obrigações relativas aos encargos condominiais são transferidas ao
promitente comprador de unidade autônoma somente quando este passa a ter a
disponibilidade da posse, do uso e do gozo do imóvel.
Na esteira desse raciocínio, confiram-se os seguintes precedentes do Superior
Tribunal de Justiça e dos Tribunais Pátrios:
“EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. LEGITIMIDADE PASSIVA.
AÇÃO DE COBRANÇA DE COTAS CONDOMINIAIS. POSSE EFETIVA. EMBARGOS
DE DIVERGÊNCIA ACOLHIDOS. 1. A efetiva posse do imóvel, com a entrega das
chaves, define o momento a partir do qual surge para o condômino a obrigação de
efetuar o pagamento das despesas condominiais. 2. No caso vertente, é incontroverso
que o embargante está sofrendo cobrança de duas cotas condominiais referentes a
período anterior à entrega das chaves. 3. Embargos de divergência providos. (EREsp
489.647/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
25/11/2009, DJe 15/12/2009)”
PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. APELAÇÃO. PRELIMINAR DE NULIDADE DA SENTENÇA
POR CERCEAMENTO DE DEFESA. REJEITADA. COMPRA E VENDA DE IMÓVEL.
INADIMPLEMENTO. RESCISÃO CONTRATUAL. DANO MORAL NÃO
CONFIGURADO.
RESPONSABILIDADE PELAS TAXAS CONDOMINIAIS ANTES DA ENTREGA DAS
CHAVES DE IMÓVEL EM CONSTRUÇÃO. ÔNUS SUCUMBENCIAIS. ARTIGO 21 DO
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. 1. É pacífico o entendimento jurisprudencial de que o
julgamento antecipado da lide não implica cerceamento de defesa no caso em que as
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provas requeridas são prescindíveis para o julgamento da lide, estando os autos


devidamente aparelhados com todos os elementos de convicção necessários para o
julgamento do feito. 2. A consequência natural do inadimplemento contratual e a
rescisão do contrato. Como os contratantes não realizaram os pagamentos previstos
nos contratos por aproximadamente dois anos antes da rescisão do contrato levada a
efeito pela construtora, não podem agora pleitear indenização por perdas e danos ou
multas contratuais. 3. Eventuais inconvenientes oriundos do contrato firmado entre as
partes não
ensejam danos aos direitos da personalidade, tais como violação à honra, à imagem,
à intimidade dos Requerentes, como esses querem fazer crer. Conquanto gerem
aborrecimentos, dissabores, contratempos, inerentes à vida em sociedade, não
consubstanciam danos morais. 4. Nos casos em que há promessa de compra e venda
de unidade imobiliária nova, a jurisprudência consolidada do c. Superior Tribunal de
Justiça e deste Egrégio admitem a possibilidade de modulação dos efeitos da
natureza propter rem da obrigação condominial, devendo o adquirente ser
responsabilizado pelo pagamento dos encargos condominiais apenas a partir da
efetiva posse direta do imóvel, com a entrega das chaves. 5. Não havendo prova nos
autos da entrega das chaves ao promitente comprador, deve a empresa responsável
pela execução, gestão, e exploração do empreendimento arcar com a obrigação de
pagar as cotas condominiais. 6. Segundo o Código de Processo Civil, mediante as
disposições insertas em seu artigo 20, ao vencido caberá o ônus do pagamento das
verbas de sucumbência. 7. Nos termos do artigo 21 do Código de Processo Civil, se
cada litigante for em parte vencedor e vencido, serão recíproca e proporcionalmente
distribuídos e compensados entre eles os honorários e as despesas 8. Preliminar
rejeitada. Negou-se provimento aos recursos.
(TJ-DF - APC: 20140110989639, Relator: FLAVIO ROSTIROLA, Data de Julgamento:
16/12/2015, 3ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE : 29/01/2016 .
Pág.: 184)
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE COBRANÇA. CONDOMÍNIO. DESPESAS
CONDOMINIAIS. OBRIGAÇÃO PROPTER REM. PROMESSA DE COMPRA E VENDA
DO IMÓVEL A TERCEIRO. RESPONSABILIZAÇÃO ADQUIRENTE ANTES DA EFETIVA
ENTREGA DAS CHAVES. IMPOSSIBILIDADE. RESPONSABILIDADE DA
CONSTRUTORA/INCORPORADORA. HNORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. SENTENÇA
MANTIDA.
1. As taxas e despesas condominiais possuem natureza de obrigações propter rem,
podendo ser exigidas do proprietário, do promissário comprador ou do cessionário.
2. Embora reconhecida a natureza propter rem da obrigação condominial, tratando-se
de imóvel adquirido na planta, o Superior Tribunal de Justiça, por ocasião do
julgamento do EREsp 489.647, já consolidou o entendimento segundo o qual a efetiva
posse do imóvel, com a entrega das chaves, define o momento a partir do qual surge
para o condômino a obrigação de efetuar o pagamento das despesas condominiais.
3. É de responsabilidade da construtora/incorporadora suportar as taxas condominiais
geradas pelo imóvel, mormente porque o promitente comprador sequer entrou na

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posse do imóvel, haja vista a rescisão do contrato de promessa de compra e venda de


imóvel.
4. Nas causas em que não houver condenação, a verba honorária deve guardar justa
proporção com os parâmetros previstos nas alíneas a, b e c, do § 3º, art. 20, Código
de Processo Civil. Nestes termos, em caso de improcedência do pedido, aplica-se,
quanto aos honorários, o critério estabelecido no art. 20, § 4º, do Código de Processo
Civil, razão pela qual o seu valor é fixado consoante apreciação equitativa do juiz, que
levará em conta o grau de zelo profissional, o lugar da prestação do serviço, a natureza
da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço.
Apelação cível desprovida.
(TJ/DF, Acórdão n.938096, 20150111033822APC, Relator: HECTOR VALVERDE
SANTANNA, 6ª TURMA CÍVEL, Data de Julgamento: 27/04/2016, Publicado no DJE:
10/05/2016. Pág.: 350/399)
AGRAVO DE INSTRUMENTO ­ COMPRA E VENDA ­ RESCISÃO CONTRATUAL -
RETARDAMENTO DA ENTREGA DO IMÓVEL - TAXAS CONDOMINIAIS DEVIDAS
APENASMENTE EMPÓS ENTREGA DAS CHAVES ­ CLÁUSULA EM CONTRÁRIO
HAVIDA POR ABUSIVA ­ DECISÃO MANTIDA ­ RECURSO NÃO PROVIDO.
(TJ-SP - AI: 21983533020158260000 SP 2198353-30.2015.8.26.0000, Relator: Giffoni
Ferreira, Data de Julgamento: 06/10/2015, 2ª Câmara de Direito Privado, Data de
Publicação: 08/10/2015)
Desse modo, correta a sentença na parte em que declarou a inexigibilidade das taxas
condominiais.
14. A sucumbência deve ser distribuída na medida da vitória e da derrota dos
litigantes no processo. Analisando os termos da pretensão e o resultado final
proporcionado pelo presente acórdão, verifico a necessidade de redistribuir os ônus
da sucumbência. Assim, condeno as partes, na proporção de 40% para a ré e 60%
para a autora, ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios.
Diante da redistribuição da sucumbência, fixo os honorários advocatícios em 15%
sobre o valor da condenação, nos termos do artigo 85, §2º do Código de Processo
Civil.
15. Diante do exposto, voto no sentido de dar parcial provimento ao recurso de
apelação, para (i) julgar procedente os pedidos reconvencionais, a fim de condenar a
autora a pagar à os valores em aberto, referente a correção do saldo devedor pelo
INCC - R$9.232,72 -, e aos juros de obra - R$ 2.997,72 -, acrescidos de correção
monetária pelo INPC desde o momento em que os valores tornaram-se exigíveis e
acrescidos de juros de mora de 1% ao mês desde a citação; (ii) redistribuir o ônus da
sucumbência.
III- DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar parcial provimento ao
recurso.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador LAURI CAETANO DA SILVA, relator,
e dele participaram os Desembargadores TITO CAMPOS DE PAULA e RUI BACELLAR
FILHO.
92

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Curitiba, 14 de junho de 2017.


DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--
1 Art. 818. Pelo contrato de fiança, uma pessoa garante satisfazer ao credor uma
obrigação assumida pelo devedor, caso este não a cumpra.
2 Art. 831. O fiador que pagar integralmente a dívida fica sub-rogado nos direitos do
credor; mas só poderá demandar a cada um dos outros fiadores pela respectiva quota.
--
3 Direito Civil, Teoria Geral. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 8º Ed. 2º Tiragem. p. 599.
4 SILVA, C. V. do C. e. Apud: BECKER, A. A doutrina do adimplemento substancial no
direito brasileiro e em perspectiva comparativista. Revista da Faculdade de Direito da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Livraria dos Advogados, n.
1, v. 9, nov. 1993, p.60.

2.1.9. REVISIONAL DE CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO – JUROS COMPOSTOS

AÇÃO REVISIONAL. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO COM GARANTIA

FIDUCIÁRIA. PEDIDOS JULGADOS PARCIALMENTE PROCEDENTES. RECURSO DO

AUTOR: 1. COMPENSAÇÃO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. AUSÊNCIA DE

INTERESSE RECURSAL. 2. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. SÚMULAS 539 E 541 DO STJ.

CONTRATO DE FINANCIAMENTO COM PRESTAÇÕES PREFIXADAS. VALOR

APURADO NO MOMENTO DA CONTRATAÇÃO. MÉTODO DE CÁLCULO VÁLIDO.

VALORES DAS PRESTAÇÕES QUE NÃO ADICIONAM JUROS SOBRE JUROS

VENCIDOS. 3. TAXA DE JUROS REMUNERATÓRIOS. AUSÊNCIA DE ABUSIVIDADE.

4. REPETIÇÃO DO INDÉBITO SEM A DOBRA DO ART. 42 DO CDC. 5. ÔNUS DA

SUCUMBÊNCIA MANTIDO. RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E

DESPROVIDO. 1. É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior a um

ano em contratos celebrados após 31/3/2000, data da publicação da Medida

Provisória nº 1.96317/2000, em vigor como MP nº 2.170-01, desde que expressamente

pactuada; 2. A capitalização dos juros em periodicidade inferior à anual deve vir

pactuada de forma expressa e clara. A previsão no contrato bancário de taxa de juros

anual superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa

efetiva anual contratada. 3. Quando o contrato de financiamento estabelece o

93

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

pagamento de parcelas prefixadas não há juro vencido a ser pago, de modo que a

taxa efetiva anual divergente da taxa mensal, na verdade, evidencia que, no processo

de formação da taxa efetiva de juros do contrato, o banco utilizou-se de método

matemático que não é vedado pela legislação. O método de cálculo da prestação

pelo sistema de juros compostos não pode ser confundido com anatocismo. O valor

de cada prestação a ser paga é composto pela fração do capital mais o juro

remuneratório. 4. A taxa de juros pode ser livremente pactuada, admitindo- se sua

revisão somente em situações excepcionais quando ficar demonstrado que são

evidentemente abusivas.

(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1656602-6 - Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime

- J. 24.05.2017)

Inteiro Teor

I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de recurso de apelação interposto em virtude da sentença1 proferida pelo
MM. Dr. Juiz da 15ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana
de Curitiba, às f. 231/238 (mov. 20.1) dos autos nº 9167-76.2007.8.16.0001 de ação
com pedido de revisão das cláusulas financeiras de cédula de crédito bancário com
garantia fiduciária (f. 123/124 ­ mov. 1.22), proposta por Alex Krik Silvestre em face de
Omni S/A Crédito, Financiamento e Investimento, pela qual julgou parcialmente
procedentes os pedidos formulados na inicial para determinar a incidência exclusiva da
comissão de permanência para o período de inadimplemento. Por fim, condenou as
partes, na proporção de 70% para o autor e 30% para o réu, ao pagamento das custas
processuais e dos honorários advocatícios, fixados em R$1.000,00.
2. O autor interpôs recurso de apelação (f. 245/264 ­ mov. 25.1), pleiteando a reforma
da sentença para (i) expurgar a capitalização de juros do cálculo das prestações; (ii)
limitar a taxa de juros remuneratórios; e, (iii) determinar a repetição em dobro dos
valores cobrados indevidamente. Ao final, pediu a redistribuição do ônus da
sucumbência e o afastamento da compensação dos honorários advocatícios.
Contrarrazões às f. 271/280 (mov. 30.1).
É o relatório.
II- VOTO
Não conheço do recurso na parte que trata da compensação dos honorários
advocatícios, pois a sentença não a determinou. Portanto, o apelante carece de
interesse recursal.
Com a ressalva supra, presentes os pressupostos processuais de admissibilidade,
intrínsecos e extrínsecos, conheço em parte do recurso.

94

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

3. A respeito da capitalização de juros e da respectiva taxa, o Superior Tribunal de


Justiça autorizou a incidência de juros compostos em todos os contratos firmados após
a edição da Medida Provisória nº 1.963-17/2000 (em vigor como MP nº
2.170/36/2001), quando expressamente pactuada, bem como admitiu como válida a
taxa de juros anual contratada, fixando as seguintes súmulas:
“Súmula 539: É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior à anual
em contratos celebrados com instituições integrantes do Sistema Financeira Nacional a
partir de 31/3/200 (MP n. 1.963-17/2000, reeditada como MP n. 2.170- 36/2001),
desde que expressamente pactuada”.
“Súmula 541: A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao
duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual
contratada”.
No contrato de financiamento com prestações prefixadas é possível calcular o seu
valor pelo método matemático empregado pelo contratado. O direito brasileiro,
desde a edição do Decreto 22.626, de 1933, proíbe a incidência de juros
remuneratórios sobre juros vencidos. Tal prática passou a ser conhecida como
“capitalização”, “juros compostos” ou “anatocismo”. A orientação é no sentido de
impedir que o credor, após o vencimento do crédito, possa adicionar novos juros
sobre os juros já vencidos em decorrência do inadimplemento da obrigação. Esse é o
fenômeno do anatocismo proibido pela legislação brasileira. Por outro lado, a
legislação nunca proibiu a utilização de método de cálculo composto para determinar,
no momento da contratação, o valor prefixado da prestação. Quando a taxa de juros é
integrada no valor prefixado da prestação antes de iniciar o cumprimento da
obrigação, não é possível falar em incidência de juros sobre juros vencidos. A
utilização do método de juros compostos não se confunde com anatocismo, pois o
valor de cada prestação é composto pela fração do capital (divisão do valor inicial da
operação de crédito pelo número de meses) mais o juro remuneratório e eventual
outro encargo contratado (imposto). O valor agregado ao capital integra a composição
do débito assumido, ou seja, o valor da operação de crédito contratada. Assim, o
devedor assume a obrigação de pagar, na data do vencimento, o valor prefixado de
uma prestação. Segundo o entendimento esposado, não encontra lógica reconhecer
que, quando da prefixação do valor das prestações foram incluídos juros sobre juros
vencidos ou juros computados de forma exponencial.
A Medida provisória nº 2.170-36/2001 já foi declarada constitucional, conforme o
julgamento proferido no Recurso Extraordinário nº 5923772.
Também não é razoável questionar a capitalização com base na súmula nº 121 do
Supremo Tribunal Federal. A orientação ditada pelo Superior Tribunal de Justiça no
julgamento do REsp nº 973.827-RS, sob o regime do artigo 543-C do Código de
Processo Civil, para os contratos bancários, suplantou a mencionada súmula.
No caso em concreto, ao contrário do que afirma o apelante, não houve ofensa ao
dever de informação ou ainda a nenhum outro preceito do Código de Defesa do
Consumidor. O contrato foi redigido em termos claros e com caracteres legíveis,
consoante estabelece o artigo 54, parágrafo terceiro do Código de Defesa do
Consumidor.
95

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4. Sobre os juros remuneratórios, o Superior Tribunal de Justiça firmou a seguinte


orientação (REsp 1.061.530-RS):
ORIENTAÇÃO 1 - JUROS REMUNERATÓRIOS a) As instituições financeiras não se
sujeitam à limitação dos juros remuneratórios estipulada na Lei de Usura (Decreto
22.626/33), Súmula 596/STF; b) A estipulação de juros remuneratórios superiores a
12% ao ano, por si só, não indica abusividade; c) São inaplicáveis aos juros
remuneratórios dos contratos de mútuo bancário as disposições do art. 591 c/c o art.
406 do CC/02; d) É admitida a revisão das taxas de juros remuneratórios em situações
excepcionais, desde que caracterizada a relação de consumo e que a abusividade
(capaz de colocar o consumidor em desvantagem exagerada ­ art. 51, §1º, do CDC)
fique cabalmente demonstrada, ante às peculiaridades do julgamento em concreto.
Como parâmetro para aferir a existência de abusividade foi estabelecido no voto
condutor o seguinte: “Todavia, esta perquirição acerca da abusividade não é
estanque, o que impossibilita a adoção de critérios genéricos e universais. A taxa
média de mercado, divulgada pelo Banco Central, constitui um valioso referencial, mas
cabe somente ao juiz, no exame das peculiaridades do caso concreto, avaliar se os
juros contratados foram ou não abusivos.”
Dessa forma, infere-se que a taxa de juros pode ser livremente pactuada (inclusive em
patamar superior a 12% ao ano), admitindo-se sua revisão somente em situações
excepcionais quando ficar demonstrado que são evidentemente abusivas.
No presente caso, observa-se que a taxa de juros remuneratórios foi fixada em 3,68%
ao mês (f. 123 ­ mov. 1.22), portanto, dentro dos limites da taxa média de mercado
(2,54% a.m.)3.
Assim, não há razão para sua modificação, mantendo-se o percentual fixado no
contrato.
Além do mais, conforme dicção da Súmula 382 do STJ 4, não se pode considerar
presumidamente abusiva taxa acima de 12% ano, sem que tal fato esteja cabalmente
comprovado nos autos. O entendimento jurisprudencial é de que para ser considerada
abusiva a taxa de juros remuneratórios contratada deve representar uma vez e meia,
ao dobro ou ao triplo da taxa média de mercado.
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE REVISÃO DE CONTRATO - CONTRATO DE
FINANCIAMENTO CELEBRADO EM 16.09.2011 - CARÊNCIA DE AÇÃO - AUSÊNCIA
DE INTERESSE DE AGIR - COMISSÃO DE PERMANÊNCIA NÃO CONTRATADA -
MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA - CONHECIMENTO DE OFÍCIO - ARTIGO 267,
INCISO VI E § 3º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL - INVERSÃO DO ÔNUS DA
PROVA - DESNECESSIDADE, IN CASU - PROVAS DOCUMENTAIS CONSTANTES
NOS AUTOS - JUROS CAPITALIZADOS - EXPRESSA PREVISÃO NO CONTRATO -
POSSIBILIDADE - PARCELAS PREFIXADAS - AUSÊNCIA DE ANATOCISMO -
MÉTODO COMPOSTO DE JUROS PARA A FORMAÇÃO DO CÁLCULO - TAXA DE
JUROS REMUNERATÓRIOS - ABUSIVIDADE NÃO CONFIGURADA - AVALIAÇÃO
CONFORME A TAXA MÉDIA DE JUROS DIVULGADA PELO BACEN - LIMITAÇÃO À
TAXA SELIC - INADMISSIBILIDADE - PRECEDENTES STJ - TARIFA DE CADASTRO -
RECURSOS ESPECIAIS REPRESENTATIVOS DA CONTROVÉRSIA Nº 1.251.331/RS E
1.255.573/RS - MANUTENÇÃO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.1. As matérias
96

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

de ordem pública referidas no art. 267, §3º, do Código de Processo Civil, podem ser
reconhecidas de ofício pelo Juiz em qualquer grau de Jurisdição.2. Considerando que
as questões debatidas estão devidamente provadas pelos documentos constantes dos
autos, especificamente o contrato celebrado, bem como, há decisões acerca do mérito
da discussão, é desnecessária a inversão do ônus da prova.3. Sob a égide dos
Recursos Repetitivos, o Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento segundo o
qual “A capitalização dos juros em periodicidade inferior à anual deve vir
pactuada de forma expressa e clara. A previsão no contrato bancário de taxa de juros
anual superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa
efetiva anual contratada” (REsp 973827/RS, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti, 2ª
Seção, DJe 24/09/2012).4. A previsão contratual de parcelas prefixadas demonstra a
utilização de método composto de formação dos juros, situação admitida em nosso
ordenamento jurídico, que difere do anatocismo.5. No tocante à taxa de juros, é
preciso ter em vista, em primeiro lugar, a orientação da Súmula nº 382, do Superior
Tribunal de Justiça, segundo a qual “a estipulação de juros remuneratórios superiores
a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade”.6. Somente se configuram abusivos
os juros remuneratórios quando fixados em dissonância com a média praticada pelo
mercado em cada período e que exceda a uma vez e meia, ao dobro ou ao triplo da
taxa referencial estimada pelo Banco Central do Brasil. Precedentes do STJ.
7. É inviável a adoção da Taxa Selic como parâmetro de limitação dos juros
remuneratórios, pois não representa a taxa média praticada pelo mercado.
Precedentes STJ.8. A cobrança de tarifa de cadastro já teve sua legalidade declarada
pelo Superior Tribunal de Justiça em Recursos Especiais Representativos da
Controvérsia (REsp nº 1.251.331/RS e 1.255.573/RS) e por esta Corte no Enunciado nº
02, das 17ª e 18ª Câmaras Cíveis.9. Os honorários sucumbenciais fixados devem ser
mantidos por atenderem os parâmetros dispostos no art. 20 do Código de Processo
Civil. EXTINÇÃO PARCIAL DO FEITO, EX OFFICIO, POR AUSÊNCIA DE INTERESSE
DE AGIR.RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. (TJPR - 17ª C. Cível - AC -
1226143-5 - Curitiba - Rel.: Rosana Amara Girardi Fachin - Unânime - - J. 08.07.2015)
5. A repetição de eventuais valores pagos e reconhecidos como abusivos é
consequência lógica da sentença.
Todavia, a repetição não deve comportar a dobra prevista no artigo 42 do CDC, na
medida em que decorre de cláusula de contrato livremente pactuada. Se a cobrança
está amparada em cláusula contratual não podemos reconhecer empiricamente que
houve má-fé.
Este é o posicionamento majoritário no Superior Tribunal de Justiça:
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO.
CONTRATO BANCÁRIO. REPETIÇÃO DO INDÉBITO EM DOBRO. MESMAS TAXAS.
INADMISSIBILIDADE.
CORREÇÃO MONETÁRIA. JUROS DE MORA. ARTIGOS 1.062 DO CC/16 E 406 DO
CC/02.
PROVIMENTO. I. A repetição do indébito de valores cobrados por instituição
financeira, quando concernente a taxas e índices objeto de controvérsia mesmo no
âmbito do Poder Judiciário, há ser feita na forma simples, salvo inequívoca prova da
97

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

má-fé, aqui inocorrente. (...) Precedentes do STJ. III. Agravo regimental provido. (AgRg
no Ag 390688/MG, Min. ALDIR PASSARINHO JUNIOR, Quarta Turma, DJ 2011)
AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.
INOCORRÊNCIA. CONTRATO BANCÁRIO. AÇÃO REVISIONAL. COBRANÇA DE
ENCARGOS ABUSIVOS. REPETIÇÃO DE INDÉBITO NA FORMA SIMPLES. (...) 3. “O
pagamento
resultante de cláusula contratual mais tarde declarada nula em sede judicial deve ser
devolvido de modo simples, e não em dobro; age no exercício regular de direito
quem recebe a prestação prevista em contrato” (EREsp 328.338/MG, Rel. Min. ARI
PARGENDLER, DJ, 01.02.2006). 4. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no Ag 1136936/PR, Min.
VASCO DELLA GIUSTINA, Terceira Turma, DJ 14.09.2010)
PROCESSUAL CIVIL E DIREITO BANCÁRIO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL. POSSIBILIDADE. SUCUMBÊNCIA
RECÍPROCA. REPETIÇÃO DE INDÉBITO EM DOBRO. MÁ-FÉ. CIRCUNSTÂNCIA NÃO
RECONHECIDA NAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. DESCABIMENTO. COMISSÃO DE
PERMANÊNCIA. CÉDULA DE CRÉDITO INDUSTRIAL. IMPOSSIBILIDADE.
SUBSTITUIÇÃO. MULTA CONTRATUAL. REDUÇÃO ADMITIDA SOMENTE PARA
CONTRATOS CELEBRADOS ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI 9.286/96. (...) 3. A
repetição em dobro do indébito pressupõe o pagamento indevido e a má- fé do
credor. Não comprovada essa conduta nas instâncias ordinárias, a repetição deve ser
simples. (...) Agravo regimental desprovido. (EDcl no REsp 1093802/SP, Min. JOÃO
OTÁVIO DE NORONHA, Quarta Turma, DJ 05.05.2011)
CIVIL E PROCESSUAL. AGRAVO REGIMENTAL. CONTRATOS DE FINANCIAMENTO.
COMPENSAÇÃO/RESTITUIÇÃO SIMPLES DO INDÉBITO. IMPROVIMENTO. I. A
repetição do indébito de valores cobrados por instituição financeira, quando
concernente a taxas e índices objeto de controvérsia mesmo no âmbito do Poder
Judiciário, há ser feita na forma simples, salvo inequívoca prova da má-fé, aqui
inocorrente. II. Agravo regimental improvido.
(AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.226.286/MS, Min. ALDIR PASSARINHO JUNIOR,
2010)
No particular, a sentença determinou a incidência exclusiva da comissão de
permanência para o período de anormalidade contratual. Assim, se comprovada a
cobrança da comissão de permanência cumulada com outros encargos de mora, o
excedente deve ser devolvido na forma simples, com o acréscimo de juros de mora de
1% ao mês desde a citação e correção monetária pela média dos índices INPC/IGP-DI
a partir do desembolso. Fica permitida a compensação com eventual débito nos
termos do artigo 368 do Código Civil. O quantum deve ser apurado em sede de
liquidação de sentença.
No cálculo deve ser expurgado para fins de repetição somente o valor que exceder
ao índice da comissão de permanência cobrado sobre o valor das prestações pagas
após a data do respectivo vencimento. Observo que a comissão de permanência é
encargo moratório e como tal não foi computado no valor prefixado da prestação.
98

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Assim, na hipótese de o devedor ter efetuado o pagamento de prestação após a data


do vencimento e ter sido cobrado como
acréscimo moratório índice que supere os juros moratórios de 1% + multa de 2% +
juros remuneratórios no limite da taxa contratada, o excedente deve ser repetido. O
acréscimo acima referido deve ser discriminado na fase de liquidação pelo autor.
6. O ônus da sucumbência deve ser mantido conforme disciplinado na sentença.
7. Diante do exposto, voto no sentido de conhecer em parte do recurso e, na parte
conhecida, negar provimento.
III- DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em conhecer em parte do
recurso e, na parte conhecida, negar provimento.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador RUI BACELLAR FILHO, com voto, e
dele participaram os Desembargadores LAURI CAETANO DA SILVA e TITO CAMPOS
DE PAULA.
Curitiba, 24 de maio de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--
1 Sentença proferida no dia 10.08.2016 e publicada no dia 06.09.2016.
2 Julgamento em 04.02.2015.
3 Referência obtida no site do Banco Central:
www.bcb.gov.br/ftp/depec/NITJ200812.xls --
4 “A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não
indica abusividade”.

2.1.10. LEASING – AUSÊNCIA DO CONTRATO REVISANDO

AÇÃO REVISIONAL. CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL. PEDIDOS

JULGADOS PARCIALMENTE PROCEDENTES. RECURSO DO RÉU: 1. TAXA DE JUROS

REMUNERATÓRIOS. AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL. 2. FALTA DO

CONTRATO REVISANDO. IMPOSSIBILIDADE DA APRESENTAÇÃO DO CONTRATO

RECONHECIDO PELAS PARTES. DOCUMENTO QUE FOI EXTRAVIADO.

JULGAMENTO COM OS ELEMENTOS DE PROVA ENCONTRADOS NOS AUTOS. 3.

CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. SÚMULAS 539 E 541 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE

JUSTIÇA. CONTRATO DE LEASING COM CONTRAPRESTAÇÕES PREFIXADAS.

VALOR APURADO NO MOMENTO DA CONTRATAÇÃO. MÉTODO DE CÁLCULO

VÁLIDO. VALORES DAS CONTRAPRESTAÇÕES QUE NÃO ADICIONAM JUROS

SOBRE JUROS VENCIDOS. 4. REPETIÇÃO DO INDÉBITO PREJUDICADA.


99

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

INEXISTÊNCIA DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS ILEGAIS OU ABUSIVAS. 5. MORA

DEBENDI CONFIGURADA. INEXISTÊNCIA DE COBRANÇA DE ENCARGOS

ABUSIVOS NO PERÍODO DA NORMALIDADE CONTRATUAL. RECURSO

CONHECIDO EM PARTE E, NA PARTE CONHECIDA, PROVIDO. 1. É permitida a

capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano em contratos celebrados

após 31/3/2000, data da publicação da Medida Provisória nº 1.96317/2000, em vigor

como MP nº 2.170-01, desde que expressamente pactuada. 2. A capitalização dos

juros em periodicidade inferior à anual deve vir pactuada de forma expressa e clara. A

previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da

mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada. 3.

Quando o contrato de arrendamento mercantil estabelece o pagamento de parcelas

prefixadas não há juro vencido a ser pago ou capitalizado, de modo que a taxa efetiva

anual divergente da taxa mensal, na verdade, evidencia que, no processo de formação

da taxa efetiva de juros do contrato, o banco utilizou-se de método matemático que

não é vedado pela legislação. O método de cálculo da prestação pelo sistema de juros

compostos não pode ser confundido com anatocismo. O valor de cada

contraprestação a ser paga é composto pela fração do capital mais o juro

remuneratório.

(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1644751-3 - Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime

- J. 24.05.2017)

Inteiro Teor

I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de recurso de apelação interposto em virtude da sentença1 proferida pelo
MM. Dr. Juiz de Direito da 17ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região
Metropolitana de Curitiba, às f. 205/213 dos autos nº 29420-17.2009.8.16.0001 de
ação com pedido de revisão das cláusulas financeira de contrato de arrendamento
mercantil, proposta por Cesar Soares Alves em face de Santander Leasing S/A
Arrendamento Mercantil, que julgou parcialmente procedente os pedidos formulados
na inicial para afastar a capitalização de juros do cálculo das contraprestações e
condenar o réu a repetir os valores cobrados a maior na forma simples,
consequentemente, descaracterizou os efeitos da mora, impedindo a incidência de

100

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

encargos moratórios em caso de inadimplemento. O pedido referente à taxa de juros


remuneratórios foi julgado improcedente. Por fim, condenou cada uma das partes ao
pagamento de 50% das custas processuais e dos honorários advocatícios, fixados em
R$500,00.
2. O réu interpôs recurso de apelação (f. 217/224-v), pleiteando a reforma da
sentença na parte que expurgou a capitalização de juros, limitou a taxa de juros
remuneratórios e afastou a incidência dos encargos moratórios, em razão da
descaracterização da mora. Alegou a licitude do contrato e ausência de cláusulas
contratuais abusivas.
Nas contrarrazões de f. 230/235, o autor apenas refuta os argumentos do recurso.
É o relatório.
II- VOTO
Não conheço do recurso na parte que trata da taxa de juros remuneratórios, pois tal
questão foi julgada improcedente.
Portanto, o apelante carece de interesse recursal.
Com a ressalva supra, presentes os pressupostos processuais de admissibilidade,
intrínsecos e extrínsecos, conheço em parte do recurso.
3. É perfeitamente possível promover a revisão dos contratos, através da intervenção
do Estado, sem ofensa dos princípios que orientam a liberdade de contratar. Diz a
doutrina que “(...) A vontade das partes não é mais a única fonte de interpretação que
possuem os juízes para interpretar um instrumento contratual. A evolução doutrinária
do direito dos contratos já pleiteava uma interpretação teleológica do contrato, um
respeito maior pelos interesses sociais envolvidos, pelas expectativas legítimas das
partes, especialmente das partes que só tiveram a liberdade de aderir ou não aos
termos pré-elaborados”. (Cláudia Lima Marques em “Contratos no Código de Defesa
do Consumidor”, 4ª ed., Ed. RT, p. 227).
No caso, a relação jurídica é regulada pela legislação consumerista2. Assim,
comprovada a onerosidade excessiva e a hipossuficiência do consumidor, fica
autorizada a revisão das cláusulas contratuais, independentemente do contrato ser
“pré” ou “pós” fixado. A vulnerabilidade fática ou socioeconômica do contratante
diante da instituição financeira se presume, uma vez que essa por sua posição impõe
sua superioridade a todos que com ela contratam.
Com efeito, o princípio da força obrigatória dos contratos - pacta sunt servanda - foi
mitigado para se coadunar com a sistemática do Código de Defesa do Consumidor, e
também para atender a função social dos contratos, agora expressamente prevista no
artigo 421 do Código Civil, “a liberdade de contratar será exercida em razão e nos
limites da função social do contrato”.
4. Inicialmente, é importante esclarecer que o entendimento deste Órgão Julgador é
no sentido de que a apresentação de cópia integral do contrato é indispensável para
definir a pretensão de direito material (STJ, 4ª Turma, AgRg no Ag 979.541/DF, Rel.
Min. Adir Passarinho Junior, DJe 25.08.2008), sem a qual a inicial não pode ser
recebida.

101

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Isso porque, sem ele, não é possível definir a natureza da relação jurídica firmada, o
valor do negócio e a ilegalidade ou abusividade dos encargos financeiros
computados.
Portanto, a apresentação do contrato revisando é imprescindível para o
processamento do pedido. A sua falta conduz para a inépcia da inicial, por ausência de
causa de pedir3.
Todavia, no presente caso estamos diante de situação que reclama solução diversa.
Anoto que o instrumento contratual alvo da revisão se perdeu, conforme afirmado pela
parte ré (f. 196), o que inviabiliza qualquer tentativa prévia da parte autora em obter a
respectiva cópia para fins de ajuizamento da ação revisional.
Considerando que não é possível exigir do autor a apresentação de cópia do contrato
que se perdeu, não é razoável impor à instituição financeira multa pelo
descumprimento da mesma ordem. Em verdade, na impossibilidade da apresentação
do documento, o pedido formulado pelo autor deve ser processado e julgado com os
elementos disponíveis, em especial a planilha de f. 197, cópia do Certificado de
Registro e Licenciamento de Veículo (f. 35) e cópia dos boletos de pagamento
juntados aos autos (f. 38/50).
5. A respeito da capitalização de juros e da respectiva taxa, o Superior Tribunal de
Justiça autorizou a incidência de juros compostos em todos os contratos firmados após
a edição da Medida Provisória nº 1.963-17/2000 (em vigor como MP nº
2.170/36/2001), quando expressamente pactuada, bem como admitiu como válida a
taxa de juros anual contratada, fixando as seguintes súmulas:
“Súmula 539: É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior à anual
em contratos celebrados com instituições integrantes do Sistema Financeira Nacional a
partir de 31/3/200 (MP n. 1.963-17/2000, reeditada como MP n. 2.170- 36/2001),
desde que expressamente pactuada”.
“Súmula 541: A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao
duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual
contratada”.
No contrato de leasing com contraprestações prefixadas é possível calcular o seu
valor pelo método matemático empregado pelo contratado. O direito brasileiro,
desde a edição do Decreto 22.626, de 1933, proíbe a incidência de juros
remuneratórios sobre juros vencidos. Tal prática passou a ser conhecida como
“capitalização”, “juros compostos” ou “anatocismo”. A orientação é no sentido de
impedir que o credor, após o vencimento do crédito, possa adicionar novos juros
sobre os juros já vencidos em decorrência do inadimplemento da obrigação. Esse é o
fenômeno do anatocismo proibido pela legislação brasileira. Por outro lado, a
legislação nunca proibiu a utilização de método de cálculo composto para determinar,
no momento da contratação, o valor prefixado da contraprestação. Quando a taxa de
juros é integrada no valor prefixado da contraprestação antes de iniciar o cumprimento
da obrigação, não é possível falar em incidência de juros sobre juros vencidos. A
utilização do método de juros compostos não se confunde com anatocismo, pois o
valor de cada prestação é composto pela fração do capital (divisão do valor inicial da
operação de crédito pelo número de meses) mais o juro remuneratório e eventual
102

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

outro encargo contratado (imposto). O valor agregado ao capital integra a composição


do débito assumido, ou seja, o valor da operação de crédito contratada. Assim, o
devedor assume a obrigação de pagar, na data do vencimento, o valor prefixado de
uma contraprestação.
Segundo o entendimento esposado, não encontra lógica reconhecer que, quando da
prefixação do valor das contraprestações foram incluídos juros sobre juros vencidos ou
juros computados de forma exponencial.
6. Apenas a cobrança de encargos abusivos no período da normalidade contratual,
leia-se juros remuneratórios e capitalização, afasta a mora, segundo orientação do
Superior Tribunal de Justiça4. Assim, subsistente a mora debendi, não é possível
impedir a incidência dos encargos moratórios.
7. No particular, como houve a reforma da sentença, resultando na improcedência
dos pedidos, não há que se falar em repetição do indébito ou compensação de
valores.
8. Ante o reexame da divergência apresentada, e sopesando o alcance dos efeitos do
presente julgamento, verifico que o autor sucumbiu totalmente na sua pretensão,
razão pela qual deve arcar com o pagamento das custas processuais e dos honorários
advocatícios pelo valor fixado na sentença (R$500,00). O autor é beneficiário da
assistência judiciária gratuita (f. 65).
9. Diante do exposto, voto no sentido de dar provimento ao recurso de apelação para
manter o valor da contraprestação na forma prefixada no contrato, declarar a
inexistência de valores a serem repetidos e manter os efeitos da mora debendi.
III- DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento ao
recurso de apelação.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador RUI BACELLAR FILHO, com voto, e
dele participaram os Desembargadores LAURI CAETANO DA SILVA e TITO CAMPOS
DE PAULA.
Curitiba, 24 de maio de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--
1 Sentença proferida 09.08.2016 e publicada no dia 02.09.2016.
2 “O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras” (Súmula
nº 297).
--
3 Nesse sentido: “PROCESSO CIVIL. AÇÃO DE REVISÃO DE CONTRATO
BANCÁRIO. PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE NULIDADE DE CLÁUSULAS APONTADAS
COMO ABUSIVAS. INSTRUMENTO CONTRATUAL QUE NÃO FOI JUNTADO AOS
AUTOS. PROCESSO EXTINTO, SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO (CPC, ART. 267, I).
DECISÃO ESCORREITA. CONTRATO REVISANDO É DOCUMENTO INDISPENSÁVEL
PARA DEFINIR A PRETENSÃO DE DIREITO MATERIAL. FACULTADA A EMENDA DA
INICIAL. DETERMINAÇÃO NÃO ATENDIDA. RECURSO DESPROVIDO. É inepta a

103

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

petição inicial de ação revisional de contrato bancário que não vem acompanhada de
cópia do contrato revisando”.
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1424250-1 - Ponta Grossa - Rel.: Lauri Caetano da Silva -
Unânime - - J. 03.02.2016)
4 Orientação 2, consolidada pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do REsp
1.061.530-RS.

2.1.11. RESCISÃO DE CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE ESTABELECIMENTO

COMERCIAL

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RESCISÃO DE CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE

ESTABELECIMENTO COMERCIAL. INADIMPLEMENTO CONTRATUAL.

RECONVENÇÃO. PEDIDO DE COMPENSAÇÃO DE CRÉDITOS, COBRANÇA E

INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. PEDIDO PRINCIPAL JULGADO

IMPROCEDENTE E PEDIDO RECONVENCIONAL JULGADO PARCIALMENTE

PROCEDENTE. AUTORES/RECONVINDOS QUE APELAM DO DECISUM.

COMPENSAÇÃO. ART. 368 DO CÓDIGO CIVIL. POSSIBILIDADE NO CASO

CONCRETO. RESPONSABILIDADE DOS VENDEDORES POR DÍVIDAS ANTERIORES À

DATA DA ASSINATURA DO CONTRATO. CÁLCULO QUE DEVE SER APURADO EM

SEDE DE LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA. ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA.

REDISTRIBUIÇÃO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.

(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1634381-8 - Campo Mourão - Rel.: Lauri Caetano da Silva -

Unânime - J. 24.05.2017)

Inteiro Teor

I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de ação com pedido de rescisão de contrato de compra e venda
cumulada com pedido de indenização (autos nº 2391- 83.2007.8.16.0058) ajuizada por
Delmar José de Lima e Maria José Covalski em face de João Batista de Mendonça e
Irenice Viana Lage
aduzindo, em síntese, que (a) no dia 01.06.2006 celebraram com os réus o contrato de
compra e venda do estabelecimento comercial denominado “Centro de Condutores
de Veículos Kamilla Ltda ME”, pelo valor de R$122.000,00; (b) restou ajustado que o
preço acordado seria pago da seguinte forma: (i) entrega da data nº 8-A, subdivisão da
data nº 8, da quadra nº 2, da Planta do Parque São João, pelo valor de R$35.000,00;
104

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

(ii) entrega do veículo camionete/c.aberta dupla, VMMCL200 4x4, ano 1996, modelo
1997, placa AHD- 6259, pelo valor de R$28.000,00; (iii) R$59.000,00 em moeda
nacional, sendo R$20.000,00 entregue no ato da assinatura do contrato, R$7.000,00 a
serem pagos no dia 01.08.2006 e R$32.000,00 a serem pagos através de um saldo de
FGTS dos compradores, que seria transferido para a compra de um imóvel, a ser
indicado pelos vendedores; (c) mesmo tendo indicado o imóvel a ser adquirido, os
compradores não cumpriram o pagamento previsto na alínea “d” da cláusula 4º do
contrato (transferência de FGTS); (d) no dia 02.05.2007 os compradores enviaram
notificação extrajudicial requerendo o reembolso de valores supostamente pagos em
favor da pessoa jurídica, que encontravam-se em aberto anteriormente à assinatura do
contrato de compra e venda; (e) encaminharam contranotificação extrajudicial
concordando com parte das dívidas apontadas pelos compradores e exigindo a
quitação do contrato, eis que o pagamento previsto na alínea d, da cláusula 3 não
ficou condicionado ao cumprimento de qualquer obrigação; (f) considerando o
inadimplemento contratual, faz-se necessária a rescisão do contrato; (g) os réus devem
ser condenados ao pagamento de indenização por perdas e danos, a serem apurados
em liquidação de sentença. Ao final, requereram a procedência dos pedidos, com a
rescisão do contrato e o retornO das partes ao status quo ante, além da indenização
por perdas e danos.
2. Os réus João Batista de Mendonça e Irenice Viana Lage apresentaram resposta em
sede de contestação (mov. 1.7 - f. 52/70), sustentando, preliminarmente, a falta de
interesse processual dos autores e a exceptio non adimpleti contractus. No mérito,
alegaram que (a) a cláusula 6ª do contrato de compra e venda previa que todos os
impostos, taxas, encargos trabalhistas, ações trabalhistas, rescisões, contribuições
fiscais, financiamentos e empréstimos, anteriores à data da assinatura do contrato,
deveriam ser pagos pelos vendedores; (b) logo após a celebração do contrato, os
vendedores indicaram um imóvel para ser adquirido com o saldo do FGTS dos
compradores, mas não houve liberação do FGTS pela Caixa Econômica Federal
porque o imóvel não foi aprovado na vistoria; (c) entrementes, tiveram conhecimento
de diversos débitos da
sociedade, contraídos anteriormente à aquisição, e que deveriam ser quitados pelos
vendedores; (d) um levantamento das dívidas apontou que os débitos ultrapassavam a
importância de R$32.000,00, quitando o contrato por compensação dos créditos; (e)
conforme previsão do art. 476 do CC, nenhum dos contratantes, antes de cumprir sua
obrigação, pode exigir o implemento da do outro; (f) é aplicável o instituto da
compensação, previsto no art.
368 do CC; (g) não há qualquer dano a ser reparado; (h) os autores utilizaram-se de
expressão injuriosa (CPC/73, art. 15); (i) os autores litigam de má-fé.
3. Os réus João Batista de Mendonça e Irenice Viana Lage apresentaram reconvenção
(mov. 1.11 ­ f. 136/150), pleiteando (i) a compensação dos débitos, na forma do
disposto no art. 368 do Código Civil; (ii) a condenação dos autores/reconvindos ao
reembolso dos valores pagos relativamente à obrigações de sua responsabilidade,
alcançando a importância de R$32.000,00, a ser compensada; (iii) a condenação dos
autores/reconvindos ao pagamento de indenização por danos morais.
105

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

4. Na audiência de conciliação o MM. Juiz a quo saneou o processo, fixando os


pontos controvertidos e deferindo a produção de prova oral e pericial (mov. 1.26 ­ f.
293). O Laudo Pericial foi apresentado no mov. 1.34 (f. 314/362) e foram respondidos
questionamentos nos mov. 1.42, mov. 1.47 e mov. 1.72. Na audiência de instrução e
julgamento, foi colhido o depoimento pessoal das partes e da testemunha Darci
Casarin (mov. 40.1 ­ f. 288/292).
5. O MM. Dr. Juiz a quo proferiu a sentença1 de mov.
59.1 (f. 575/582) pela qual julgou improcedente o pedido inicial, e condenou os
autores/reconvindos ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios,
fixados em R$3.000,00. Ainda, julgou procedente em parte a reconvenção, para o fim
de: a) declarar a compensação de dívidas, extinguindo-se a obrigação das partes até
onde se compensarem, observado os parâmetros fixados pelo laudo pericial acostado
nos autos; b) condenar os autores/reconvindos a restituírem eventual saldo
remanescente de todas as dívidas suportadas pelos réus/reconvintes que foram
contraídas antes da celebração do contrato de compra e venda (01/06/2006),
desde a data do desembolso até a data do efetivo pagamento e acrescido de juros
de mora a partir do recebimento da notificação extrajudicial, à razão de 1% ao mês, a
ser apurado em sede de liquidação de sentença. Por fim, julgou improcedente o
pedido de indenização por danos morais formulado na reconvenção. Considerando
que os réus/reconvintes decaíram minimamente do pedido, condenou os
autores/reconvintes ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios,
fixados em R$3.000,00, observando que são beneficiários da assistência judiciária
gratuita.
6. Inconformados, os autores/reconvindos Delmar José de Lima e Maria José Covalski,
interpuseram recurso de apelação (mov. 59.1 ­ f. 575/582), afirmando que os valores a
serem compensados foram incorretamente calculados pelos apelados. Apontaram que
os valores das verbas trabalhistas incluem período posterior à assinatura do contrato
de compra e venda, cujo pagamento não é de sua responsabilidade. Assim, afirmaram
ainda serem credores dos réus/reconvintes, postulando que a compensação de valores
se restrinja ao período anterior à data da assinatura do contrato de compra e venda.
7. Os réus/reconvintes apresentaram contrarrazões de apelação no mov. 85.1 (f.
624/638), pugnando pelo não conhecimento do apelo por ofensa ao disposto no art.
1.010 do CPC/2015.
É o relatório.
II- VOTO
Preliminarmente assinalo que, no caso em mesa, não há que se falar em ofensa ao
princípio da dialeticidade.
O princípio da dialeticidade recursal deve ser compreendido como o ônus atribuído
ao recorrente de evidenciar os motivos de fato e de direito para a reforma da decisão
recorrida, segundo interpretação conferida ao art. 1.010, incisos II e III, do
Código de Processo Civil (regra anteriormente prevista no art. 514 do CPC/73).
Da leitura das razões de recurso de apelação interposto por Delmar José de Lima e
Maria José Covalski extrai-se perfeitamente a contraposição aos fundamentos da
sentença quanto à compensação de valores.
106

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Neste diapasão, já se posicionou o Superior Tribunal de Justiça no sentido de que “se


os motivos de irresignação do apelante acham-se suficientemente fundamentados,
viola o art. 514, III, do CPC o acórdão que não conhece da apelação a pretexto de não
achar-se preenchida a referida exigência legal” (STJ, 1ª T., REsp 179.822/ES, Rel. Min.
Antônio de Pádua Ribeiro, DJ de 11.03.02).
Desta forma, presentes os pressupostos recursais de admissibilidade, intrínsecos e
extrínsecos, o recurso merece ser conhecido.
8. Os apelantes pleiteiam a reforma da sentença na parte em que julgou procedente
o pedido de compensação de créditos e débitos formulado pelos réus em sede de
reconvenção. Aduzem que os valores foram erroneamente calculados pelos apelados,
especialmente em relação aos débitos trabalhistas, devendo eventual compensação
limitar-se aos débitos anteriores à assinatura do contrato de compra e venda
(01.06.2006).
8.1. Assim dispõe o artigo 368 do Código Civil:
“Art. 368. Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra,
as duas obrigações extinguem-se, até onde se compensarem.”
Desta forma, a compensação consiste em forma especial de extinção da obrigação, a
qual ocorre quando as partes de uma relação obrigacional são ao mesmo tempo
credoras e devedoras uma da outra.
8.2. No caso dos autos, as partes firmaram contrato de compra e venda tendo como
objeto a sociedade empresária denominada “Centro de Condutores de Veículos
Kamilla Ltda ME”.
Conforme disposto na cláusula 6ª do contrato (mov. 1.3 ­ f. 20/23), os vendedores
Delmar José de Lima e Maria José Covalski assumiram a obrigação de arcar com o
pagamento de “todos os impostos, taxas, encargos trabalhistas, ações trabalhistas,
rescisões, contribuições fiscais, financiamentos, empréstimos ou troca de duplicatas
em bancos ou instituições financeiras, de qualquer natureza incidentes sobre a
empresa citada na cláusula primeira”, anteriores à data da assinatura do contrato
(01.06.2011).
Por outro lado, caberiam aos compradores João Batista de Mendonça e Irenice Viana
Lage o pagamento do preço ajustado, conforme cláusula 3ª do contrato. Do preço
combinado, não houve o pagamento da importância de R$32.000,00 prevista na alínea
“d” da cláusula terceira, que seria liquidado através de um saldo de FGTS que seria
transferido aos vendedores para a compra de um imóvel.
8.3. Segundo restou comprovado nos autos, o não pagamento do valor de
R$32.000,00 se deu por circunstancias alheias à vontade dos compradores João
Batista de Mendonça e Irenice Viana Lage. Isto porque, iniciado o procedimento de
aquisição do imóvel indicado pelos vendedores para a utilização do saldo de FGTS,
não houve aprovação por parte da Caixa Econômica Federal (mov. 1.8 ­ f.
73/75).
Ainda, restou comprovado e admitido pelos próprios apelantes Delmar José de Lima
e Maria José Covalski, que haviam diversos débitos contraídos pela sociedade
empresária anteriormente ao contrato de compra e venda, cujo pagamento seria de
sua responsabilidade.
107

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

A prova pericial apurou que até o dia 01.06.2006 (data do contrato), haviam débitos
da pessoa jurídica vencidos e não pagos, que englobavam tributos, contribuições
previdenciárias e débitos trabalhistas. Em resposta ao quesito nº 2, formulado pelos
autores, ora apelantes, o Sr. Perito calculou as dívidas pendentes (conforme anexos nº
1, nº 2 e nº 3):
Natureza Valor Tributárias e Previdenciárias R$10.429,34 Trabalhistas R$25.283,78
Outros Passivos R$1.318,23 Total: R$35.031,35
Os apelantes discordam dos valores relativos às verbas de natureza trabalhista,
sustentando que a responsabilidade pelo pagamento de tais débitos somente pode
lhes ser imputada até o dia 01.06.2006 (data da assinatura do contrato). Afirmam que
houve continuidade nos contratos de trabalho, e que as verbas trabalhistas posteriores
à 01.06.2006 são de responsabilidade dos réus/reconvintes.
Conforme petição inicial indexada no mov. 1.9 e 1.10, a reclamatória trabalhista
ajuizada por Gislaine Aparecida Francisco abrangia o período de 06.12.2004 (data da
contratação) até 30.09.2006 (data da demissão sem justa causa). Assim, assiste razão
aos apelantes quando afirmam que parte das verbas trabalhistas não era de sua
responsabilidade. Gislaine Aparecida Francisco e a sociedade empresária Centro de
Formação de Condutores de Veículo Kamila Ltda firmaram acordo no montante de
R$10.000,00 (mov. 1.10), o qual foi considerado pelo Sr. Perito como sendo
integralmente devido pelos autores/reconvindos, o que, como visto, mostra-se
inadequado, devendo o cálculo ser realizado proporcionalmente ao período de
responsabilidade de cada uma das partes.
Ainda, com relação à reclamatória trabalhista ajuizada por Sueli Marques, observa-se
que o Sr. Perito lançou como devido o valor de R$4.993,78, observando que o
processo se encontrava em fase recursal. Todavia, conforme se verifica do acórdão de
mov. 1.40, o recurso ordinário interposto pela sociedade empresária Centro de
Formação de Condutores de Veículos Kamilla Ltda ­ ME foi parcialmente provido. O
Sr. Perito, ao manifestar-se acerca do julgamento do recurso (mov. 1.42 ­ f. 385/386),
asseverou que o cálculo do débito deveria ser elaborado por calculista nomeado pelo
Juízo Trabalhista, devendo aguardar sua elaboração. Ora, tratando-se de dívida
ilíquida, nos parece evidente que não poderia ter sido considerada para fins de
compensação imediata.
8.4. Todavia, as discrepâncias apontadas no cálculo realizado pelo Sr. Perito não têm
o condão de modificar o julgamento do pedido dos réus/reconvintes. Isto porque,
considerando a existência de créditos e débitos entre as partes, é plenamente possível
a compensação, na forma disposta no art. 368 do CC.
Frise-se que o dispositivo da sentença julgou procedentes os pedidos dos
réus/reconvintes para “a) declarar a compensação de dívidas, extinguindo-se a
obrigação das partes até onde se compensarem, observado os parâmetros fixados
pelo laudo pericial acostado nos autos; b) condenar os Reconvindos/Autores a
restituírem eventual saldo remanescente a ser apurado em sede de liquidação de
sentença, de todas as dívidas arcadas pelos Reconvintes/Réus, e que foram contraídas
antes da celebração do contrato de compra e venda (01/06/2006), desde a data do
desembolso até a data do efetivo pagamento e com juros de mora a partir do
108

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recebimento da notificação extrajudicial, à razão de 1% (um por cento) ao mês, nos


termos do art. 406 do Có- digo Civil, conjugado com o art. 161 do CTN”
Assim, considerando que a sentença objurgada remeteu às partes à fase de
liquidação de sentença, o cálculo a ser elaborado deve considerar, para fins de
compensação, tão somente os débitos da pessoa jurídica até o dia da assinatura do
contrato (01.06.2006).
9. A sucumbência deve ser distribuída na medida da vitória e da derrota dos litigantes
no processo. Analisando os termos da pretensão e o resultado final proporcionado
pelo presente acórdão, verifico a necessidade de redistribuir os ônus da sucumbência
da reconvenção. Assim, condeno as partes, na proporção de 50% para cada uma, ao
pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios fixados da sentença
para a reconvenção. Observe-se que os autores/reconvindos são beneficiários da
assistência judiciária gratuita.
10. Diante do exposto, voto no sentido de dar parcial provimento ao recurso de
apelação, para que os cálculos relativos à compensação de valores sejam realizados
em sede de liquidação de sentença, observado a data da assinatura do contrato
(01.06.2006).
III- DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar parcial provimento ao
recurso de apelação.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador RUI BACELLAR FILHO, com voto, e
dele participaram os Desembargadores LAURI CAETANO DA SILVA e TITO CAMPOS
DE PAULA.
Curitiba, 24 de maio de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--
1 Sentença proferida no dia 01.06.2016 e publicada no dia 05.06.2016.

2.1.12. USO INDEVIDO DE MARCA - DUDALINA

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER CUMULADA COM PEDIDO DE

PERDAS E DANOS. PEDIDOS JULGADOS PROCEDENTES. RECURSO DE APELAÇÃO

DA RÉ. USO INDEVIDO DE MARCA. CONCORRÊNCIA DESLEAL. VENDA DE

PRODUTOS FALSIFICADOS. DANO MATERIAL PRESUMIDO. DANOS MORAIS

CARACTERIZADOS. VALOR ARBITRADO A TÍTULO DE DANOS MORAIS. FIXAÇÃO

QUE DEVE OBSERVAR OS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA

PROPORCIONALIDADE. VALOR QUE DEVE SER CORRESPONDENTE AO

CONSTRANGIMENTO SOFRIDO E DANO EXPERIMENTADO. MINORAÇÃO DO

109

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

QUANTUM INDENIZATÓRIO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 1. A reparação

não está condicionada à prova efetiva do dano, pois os atos de concorrência desleal e

o consequente desvio de clientela provocam, por si sós, perda patrimonial à vítima

(REsp 978.200/PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em

19/11/2009, DJe 02/12/2009). 2. O dano sofrido em decorrência de concorrência

desleal alcança ainda outra dimensão. É que se coloca a marca e o produto em

ambiente não adequado ao padrão de consumo desejado e praticado pelo seu titular,

desvalorizando o signo em face dos seus consumidores. É o que ocorre no caso,

quando há indicativo de que o público-alvo da autora se volta às classes econômicas

mais abastadas, enquanto que a ré busca direcionar seus produtos às camadas mais

jovens da sociedade e, por isso, sem alto poder aquisitivo (TJ/SP Relator(a): Carlos

Alberto Garbi; Comarca: São Paulo; Órgão julgador: 2ª Câmara Reservada de Direito

Empresarial; Data do julgamento: 13/02/2017; Data de registro: 15/02/2017). 3. O

valor da indenização por danos morais deve atender ao princípio da razoabilidade,

limitando-se a amenizar o prejuízo causado, tendo um cunho pedagógico e servindo

de desestímulo à repetição do ato ilícito.

(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1632952-9 - Dois Vizinhos - Rel.: Lauri Caetano da Silva -

Unânime - J. 24.05.2017)

Inteiro Teor

I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de ação de obrigação de não fazer cumulada com pedido de perdas e
danos (autos nº 0001052-79.2014.8.16.0079) ajuizada por Dudalina S/A em face de
Terezinha Marchi - ME, aduzindo, em síntese, que: (a) é empresa idônea e
conceituada, e tem como função precípua fabricação e comercialização de artigos do
vestuário em geral; (b) ao longo de sua história, investiu fortemente no
desenvolvimento de sua marca, seja através da propaganda ou na elaboração de
produtos de extrema qualidade e refinamento, tornando-se uma peça de status social
e objeto de desejo de um consumidor muito distinto e de alto poder aquisitivo.
A partir do ano de 2010, notadamente, o sucesso alcançado refletiu no mercado
informal, o qual passou a “piratear” seus produtos; (c) aproveitando-se do alto valor
agregado à sua marca, a empresa ré vem comercializando camisas de péssima
qualidade, identificando-as como se originais fossem. Porém, por meio de simples
comparação, logo se vê diferenças na cor e nos detalhes de tecido, forro, acabamento,
110

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botões, dentre outros; (d) a prova trazida aos autos, consistente em uma camisa
adquirida no estabelecimento comercial da requerida, cupom de compra e laudo
elaborado por responsável técnico, demonstram que a ré utiliza a logomarca, a
etiqueta interna e a etiqueta removível de modo a identificar um produto falsificado
como se fosse um de seus produtos. Todavia, não possui os padrões mínimos de
qualidade, não atendendo nem aos requisitos do INMETRO, causando severos danos
à imagem de sua marca, construída e mantida a elevado custo; (e) deve ser indenizada
pelos danos materiais e morais sofridos em virtude da prática da concorrência desleal.
Assim, requereu a antecipação dos efeitos da tutela, para determinar a busca e
apreensão de todas as mercadorias, produtos, objetos, embalagens, etiquetas da
empresa ré que utilizam a sua LOGOMARCA.
2. A tutela antecipada almejada foi deferida (mov. 15.1 ­ f. 65/66), para determinar à
requerida que se abstenha de comercializar e distribuir peças de vestuário com as
mesmas características dos modelos em litígio, bem como anunciar e expor a venda,
através de qualquer meio, sob pena de multa diária a ser fixada oportunamente.
Também autorizou a apreensão de todos os exemplares com marcas análogas às
expostas na inicial, de titularidade da parte autora, bem como dos contrafeitos nos
estabelecimentos das demandadas situados na Comarca de Dois Vizinhos.
3. A ré Terezinha Marchi - ME apresentou resposta em sede de contestação (mov.
28.1 - f. 100/116), sustentando, preliminarmente, a inépcia da petição inicial. No
mérito, afirma que (a) não é responsável pela fabricação dos produtos, apenas revende
aqueles adquiridos de vendedores; (b) inexistem provas dos apontados danos sofridos;
(c) não estão presentes os pressupostos necessários à responsabilização.
4. O MM. Dr. Juiz a quo proferiu a sentença1 (mov. 71.1 ­ f. 186/192) pela qual julgou
procedentes os pedidos formulados na inicial para condenar a ré Terezinha Marchi ­
Me a (i) abster-se de fabricar, adquirir ou comercializar produtos ou objetos que
contenham a marca de propriedade da autora, sem sua autorização expressa; (ii) pagar
à autora indenização a título de danos morais fixada em R$ 10.000,00; (iii) pagar à
autora indenização pelos danos materiais, consistente no valor médio de cada uma das
peças apreendidas em poder da ré, que deve ser apurado em fase de liquidação de
sentença. Destacou que sobre o valor da condenação pecuniária incidirá correção
monetária, pela média do INPC/IGP-DI a partir da data do arbitramento (Súmula nº
362 do STJ) e serão acrescidos de juros de mora de um por cento ao mês a contar da
data do evento danoso (Súmula nº 54 do STJ). Ante a sucumbência, condenou a ré ao
pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, fixados em 10%
sobre o valor da condenação.
Contra esta decisão, a autora opôs embargos de declaração (mov. 75.1 ­ f. 197/198),
os quais foram rejeitados (mov.
90.1 ­ f. 221/222).
5. A ré Terezinha Marchi - ME interpôs recurso de apelação (mov. 96.1 ­ f. 229/249),
postulando a reforma da sentença para afastar a sua condenação ao pagamento de
indenização a título de danos materiais e morais, afirmando, em síntese, que a autora
não comprovou a efetiva existência dos danos. Alternativamente, pediu a minoração

111

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do valor arbitrado a título de danos morais. Por fim, postulou a inversão do ônus da
sucumbência.
Contrarrazões de apelação (mov. 134.1 ­ f. 401/410).
É o relatório.
II- VOTO
Presentes os pressupostos processuais de admissibilidade, intrínsecos e extrínsecos,
conheço do recurso.
6. Em primeiro lugar, cumpre destacar que a Constituição Federal ao dispor sobre a
proteção à criação industrial, estabeleceu em seu artigo 5º, XXIX que: “a lei assegurará
aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como
proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e
a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento
tecnológico e econômico do País”.
Nessa seara a propriedade industrial tem proteção constitucional, visando estimular o
progresso técnico e científico, considerando o interesse social e econômico do país.
Assim, para uma maior proteção ao autor da criação industrial, bem como a
especificação e desenvolvimento da matéria, foi editada a Lei nº9.279/96, conhecida
como Lei de Propriedade Industrial, na qual é
delimitado o âmbito de atuação da proteção aos direitos relativos à propriedade
industrial, nos seus artigos 2º e 3º2.
No que tange ao uso da marca, a Lei de Propriedade Industrial determina que a
propriedade da marca se adquire pelo registro validamente expedido, o qual garante
ao titular o seu uso exclusivo em todo o território nacional. O mesmo diploma legal
estabelece a proteção conferida pelo registro, assegurando ao titular a possibilidade
de zelar pela sua integridade material ou reputação3:
Art. 129. A propriedade da marca adquire-se pelo registro validamente expedido,
conforme as disposições desta Lei, sendo assegurado ao titular seu uso exclusivo em
todo o território nacional, observado quanto às marcas coletivas e de certificação o
disposto nos arts. 147 e 148.
(...)
Art. 130. Ao titular da marca ou ao depositante é ainda assegurado o direito de: I -
ceder seu registro ou pedido de registro; II - licenciar seu uso; III - zelar pela sua
integridade material ou reputação.
Acerca da proteção conferida ao titular da marca, ensina Carla Eugênia Barros4:
“Os atos contrafeitos poderão ser apurados e declarados em ação judicial de natureza
tanto penal como civil. A proteção ao titular, ao cessionário ou ao licenciado exclusivo
da marca é oponível já quando efetuado o depósito do registro, uma vez que é a partir
desse instante que marca se torna sujeita a ataques como reprodução e imitação, além
de outras violações não explicitadas pela lei, mas caracterizáveis como tal de modo
bem específico.
São esses ataques que geram oportunidade para defesa de direitos. Por conseguinte,
é a partir da publicação do pedido do registro que o depositante pode acionar o
contrafator.
Isso pode ser por ação de natureza penal, quanto civil.
112

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Na esfera civil, o fórum competente é o da justiça comum ou, no caso de o INPI ser
parte interessada, o da Justiça Federal. Como a ação de contrafação, no caso, se
circunstancia na reparação de perdas e danos, são aplicáveis as regras do Código Civil,
sendo irrelevantes as questões sobre a ignorância, a boa ou má-fé do contrafator,
diferentemente da penal. As provas da contrafação são por todos os meios admitidos
em direito e um só elemento da marca, desde que distintivo, já pode ser suficiente
para caracterizar a contrafação.
Na ação civil, enfim, o que importa é a apuração dos prejuízos materiais e, inclusive,
imateriais causados aos proprietários da marca e, mesmo, aos consumidores
alcançados pelo ato vicioso.
No caso, conforme auto de busca e apreensão (mov. 27.1 e 27.2 ­ f. 91/98), restou
demonstrado que a requerida colocava à venda em seu estabelecimento comercial,
camisas identificadas com a logomarca da autora, as quais eram provenientes de
falsificação, nos termos atestado pelo laudo técnico anexado aos autos (mov. 1.8 ­
f.42/44).
A requerida em nenhum momento nega que os produtos colocados à venda eram
“falsificados”, limitando-se a argumentar que os adquiria de “vendedores viajantes”.
Entretanto, não trouxe aos autos nenhuma prova da culpa exclusiva de terceiros, apta
a afastar a sua responsabilidade (art. 333, II do CPC/1973). Nos termos destacados
pelo magistrado de 1º grau, “o fato de terceiro depende da produção de prova
idônea, indicando concretamente que o terceiro foi responsável por si mesmo pelo
evento danoso, o que não fez a interessada”. Além do mais, não se mostra plausível o
argumento da requerida de que vendia os produtos recebidos em consignação de
terceiros sem saber a sua procedência.
Não se pode ignorar que a venda de produtos falsificados gera prejuízos ao detentor
da marca, seja por causar confusão no consumidor, seja por desvio de clientela ou,
ainda, por denegri-la. Tal conduta configura claramente a prática de concorrência
desleal, prevista no artigo 195 da Lei nº 9.279/965, decorrendo o dano diretamente da
conduta praticada pela parte ­ de violação de direitos de propriedade industrial da
requerente ­, razão pela qual o dano é presumível, sendo desnecessária a produção de
outras provas.
Nesse sentido é o entendimento manifestado pelo Superior Tribunal de Justiça:
“Direito comercial e processual civil. Recurso especial. Concorrência desleal e desvio
de clientela. Embargos declaratórios. Omissão. Ausência. Reexame de provas.
Inadmissibilidade.
Inépcia da inicial. Inocorrência. Danos materiais. Comprovação. Presunção - Ausentes
os vícios do art. 535 do CPC, rejeitam-se os embargos de declaração.
- É inadmissível o reexame de fatos e provas em recurso especial.
- Verificada a existência de causa de pedir, não há reconhecer-se a inépcia da inicial
na presente hipótese.
- O art. 209 da Lei 9.279/96 autoriza a reparação por danos materiais advindos de
atos de concorrência desleal que importem desvio de clientela pela confusão causada
aos consumidores.

113

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- A reparação não está condicionada à prova efetiva do dano, pois os atos de


concorrência desleal e o consequente desvio de clientela provocam, por si sós, perda
patrimonial à vítima.
Recurso especial não provido.” (REsp 978.200/PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 19/11/2009, DJe 02/12/2009).
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PROPRIEDADE INDUSTRIAL. USO
INDEVIDO DE MARCA. COLIDÊNCIA RECONHECIDA. SETEX E SEDEX.
SEMELHANÇA GRÁFICA E FONÉTICA. SERVIÇOS. MESMO SEGMENTO
MERCADOLÓGICO.
IMPOSSIBILIDADE DE COEXISTÊNCIA ENTRE AS MARCAS. CONFUSÃO AO
CONSUMIDOR.
INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS. COMPROVAÇÃO. APURAÇÃO EM
LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA. REEXAME DE PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA
Nº 7/STJ. SÚMULA 83/STJ.
1. Consoante a jurisprudência desta Corte, em se tratando de direito de marcas, o
dano material pode ser presumido, pois a violação desse direito é inequivocamente
capaz de gerar severas lesões à atividade empresarial do legítimo titular da marca, tais
como, por exemplo, o desvio de clientela e a confusão entre as empresas.
2. As conclusões da Corte de origem - no sentido de (i) ser indevida a utilização pela
demandada da marca SETEX, (ii) ser impossível a coexistência da referida marca com a
marca SEDEX (de titularidade da autora, a ECT) e (iii) ser necessária a apuração do
montante indenizatório devido em liquidação de sentença - resultaram do exame do
acervo fático-probatório carreado nos autos e, por isso, inviável se torna modificá-las,
nesta via especial, dada a inafastável incidência da Súmula nº 7/STJ.
3. Estando o acórdão recorrido em consonância com a jurisprudência pacífica desta
Corte, tem incidência a Súmula nº 83/STJ.
4. Agravo regimental não provido.
(AgRg no REsp 1536128/CE, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA
TURMA, julgado em 17/03/2016, DJe 31/03/2016)
O referido entendimento encontra respaldo no artigo 209 da Lei nº 9.279/96, o qual
preceitua que são passíveis de reparação os danos materiais advindos de prejuízos
causados pela prática de violação de direitos de propriedade industrial e atos de
concorrência desleal. Vejamos:
“Art. 209. Fica ressalvado ao prejudicado o direito de haver perdas e danos em
ressarcimento de prejuízos causados por atos de violação de direitos de propriedade
industrial e atos de concorrência desleal não previstos nesta Lei, tendentes a
prejudicar a reputação ou os negócios alheios, a criar confusão entre estabelecimentos
comerciais, industriais ou prestadores de serviço, ou entre os produtos e serviços
postos no comércio”.
A esse respeito, o artigo 2086 do mencionado diploma legal prevê que a indenização
será determinada pelos benefícios que o prejudicado teria auferido se a violação não
tivesse ocorrido. Em face da dificuldade na aferição dos prejuízos, o próprio legislador
estabeleceu critérios objetivos para apuração dos lucros cessantes, conforme disciplina
o artigo 210 da Lei de Propriedade Industrial (Lei nº 9.279/96):
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“Art. 210. Os lucros cessantes serão determinados pelo critério mais favorável ao
prejudicado, dentre os seguintes: I - os benefícios que o prejudicado teria auferido se
a violação não tivesse ocorrido; ou II - os benefícios que foram auferidos pelo autor da
violação do direito; ou III - a remuneração que o autor da violação teria pago ao titular
do direito violado pela concessão de uma licença que lhe permitisse legalmente
explorar o bem.”
Neste viés, a indenização por danos materiais deverá ser calculada segundo os
critérios previstos nos dispositivos legais acima mencionados, em sede de liquidação
de sentença, conforme entendimento manifestado pelo Julgador Monocrático.
A corroborar:
CONCORRÊNCIA DESLEAL. CONFIGURAÇÃO. DANO MATERIAL PRESUMIDO.
QUANTUM DEBEATUR. CRITÉRIOS DO ART. 210 DA LEI N° 9279/96. ESCOLHA NA
FASE DE LIQUIDAÇÃO. SENTENÇA MANTIDA.
1 - A questão suscitada pela Apelante como preliminar de cerceamento de defesa
confunde-se com o mérito, razão pela qual deverá ser com ele analisado.
2 - É fato incontroverso, nos presentes autos, por ter sido decretado a revelia da Ré,
que esta vendeu e distribuiu produtos falsificados, destacando-se que os originais são
produzidos e comercializadas pela Autora, tendo praticado, portanto concorrência
desleal e atos de violação de direitos de propriedade industrial. Tal conduta é definida
como crime, nos termos da Lei nº 9.279/96, a qual regula direitos e obrigações
relativos à propriedade industrial.
3 - Configurada a violação ao Art. 209, da Lei nº 9.279/96, patente é a obrigação de
indenizar, pois o dano material (lucros cessantes) decorrente de concorrência desleal é
presumido.
4 - O valor a ser reparado a título de lucros cessantes deve ser aferido em
procedimento de liquidação de sentença para que sejam evitados danos fictícios.
5 ­ A Autora, na petição inicial da fase de liquidação de sentença, deve escolher um
dos critérios para aferição dos lucros cessantes previstos no art. 210 da Lei nº
9.279/96, sob pena de indeferimento da mesma.
Preliminar rejeitada.
Apelação Cível provida.
(Acórdão n.980402, 20130910304703APC, Relator: ANGELO PASSARELI 5ª TURMA
CÍVEL, Data de Julgamento: 09/11/2016, Publicado no DJE: 01/12/2016. Pág.:
229/237).
RECURSO DE APELAÇÃO. DIREITO COMERCIAL E PROCESSO CIVIL. AÇÃO
ORDINÁRIA DE ABSTENÇÃO DE ATO CUMULADA COM PEDIDO DE INDENIZAÇÃO
POR DANOS MATERIAIS. APELADA QUE UTILIZOU DE CONJUNTO-IMAGEM DO
PRODUTO “ROLHITAS” MUITO SEMELHANTE AO UTILIZADO PELA APELANTE EM
RELAÇÃO AO PRODUTO “PAÇOQUITAS”. LAUDO PERICIAL.CONCORRÊNCIA
DESLEAL CONFIGURADA. DESVIO DE CLIENTELA PRESUMIDO. INTELIGÊNCIA DA
LEI DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL (ART. 208, 209 E 210 DA LEI 9.279/96). DANOS
MATERIAIS PRESUMIDOS. PERDA DE CLIENTELA. QUANTUM DEBEATUR QUE DEVE
SER APURADO EM LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA POR ARBITRAMENTO. MULTA
DIÁRIA COMINATÓRIA DE R$ 1.500,00. MAJORAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. VALOR
115

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QUE SE ADEQUA À RAZOABILIDADE E À PROPORCIONALIDADE.RECURSO A QUE


SE DÁ PARCIAL PROVIMENTO PARA O FIM DE CONDENAR A REQUERIDA AO
PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E INVERTER O ÔNUS DA
SUCUMBÊNCIA, QUE DEVERÁ SER INTEGRALMENTE SUPORTADO PELA
REQUERIDA. APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA. (TJPR - 7ª C.Cível - AC -
1461963-3 - Região Metropolitana de Maringá - Foro Central de Maringá - Rel.:
Anderson Ricardo Fogaça - Unânime - - J.
24.05.2016).
7. A situação narrada, além de causar prejuízos materiais decorrentes do desvio de
clientela, acarreta consequentemente desconfiança no mercado em relação à marca,
afetando sua confiabilidade, tendo em vista a disseminação de produtos similares ­
dos quais não se sabe a qualidade ­ com sua utilização, caracterizando-se desse modo
abalo à honra objetiva da empresa.
Nesse sentido:
“Direito empresarial. Contrafação de marca. Produto falsificado cuja qualidade, em
comparação com o original, não pôde ser aferida pelo Tribunal de Justiça. Violação da
marca que atinge a identidade do fornecedor. Direito de personalidade das pessoas
jurídicas. Danos morais reconhecidos.
- O dano moral corresponde, em nosso sistema legal, à lesão a direito de
personalidade, ou seja, a bem não suscetível de avaliação em dinheiro.
- Na contrafação, o consumidor é enganado e vê subtraída, de forma ardil, sua
faculdade de escolha. O consumidor não consegue perceber quem lhe fornece o
produto e, como consequência, também o fabricante não pode ser identificado por
boa parte de seu público alvo. Assim, a contrafação é verdadeira usurpação de parte
da identidade do fabricante. O contrafator cria confusão de produtos e, nesse passo,
se faz passar pelo legítimo fabricante de bens que circulam no mercado.
- Certos direitos de personalidade são extensíveis às pessoas jurídicas, nos termos do
art.
52 do CC/02 e, entre eles, se encontra a identidade.
- Compensam-se os danos morais do fabricante que teve seu direito de identidade
lesado pela contrafação de seus produtos.
Recurso especial provido.” (STJ, REsp 1032014/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 26/05/2009, DJe 04/06/2009).
8. A apelante se insurge quanto ao valor da indenização por danos morais fixada pelo
magistrado a quo.
Quanto ao arbitramento do dano moral, ensina Sergio Cavalieri Filho7:
“Uma das objeções que se fazia à reparabilidade do dano moral era a dificuldade
para se apurar o valor desse dano, ou seja, para quantificá-lo. A dificuldade, na
verdade, era menor do que se dizia, porquanto em inúmeros casos a lei manda que se
recorra ao arbitramento (Código Civil de 1916, art. 1.536, §1º; arts.950, parágrafo
único, e 953, parágrafo único, do novo Código). E tal é o caso do dano moral. Não há,
realmente, outro meio mais eficiente para se fixar o dano moral a não ser pelo
arbitramento judicial. Cabe ao juiz, de acordo com o seu prudente arbítrio, atentando

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para a repercussão do dano e a possibilidade econômica do ofensor, estimar uma


quantia a título de reparação pelo dano moral.
(...) Mas estou igualmente convencido de que, se o juiz não fixar com prudência e
bom sendo o dano moral, vamos torná-lo injusto e insuportável, o que, de resto, já
vem ocorrendo em alguns países, comprometendo a imagem da Justiça.
(...) Creio que na fixação do quantum debeatur da indenização, mormente tratando-se
de lucro cessante e dano moral, deve o juiz ter em mente o princípio de que o dano
não pode ser fonte de lucro. A indenização, não há dúvida, deve ser suficiente para
reparar o dano, o mais completamente possível, nada mais. Qualquer quantia maior
importará enriquecimento sem causa, ensejador de novo dano.
Creio, também, que este é outro ponto onde o princípio da lógica do razoável deve
ser a bússola norteadora do julgador. Razoável é aquilo que é sensato, comedido,
moderado; que guarda uma certa proporcionalidade. A razoabilidade é o critério que
permite cotejar meios e fins, causas e consequências, de modo a aferir a lógica da
decisão. Para que a decisão seja razoável é necessário que a conclusão nela
estabelecida seja adequada aos motivos que a determinaram; que os meios escolhidos
sejam compatíveis com os fins visados; que a sanção seja proporcional ao dano.
Importa dizer que o juiz, ao valorar o dano mora, deve arbitrar uma quantia que, de
acordo com o seu prudente arbítrio, seja compatível com a reprovabilidade da
conduta ilícita, a intensidade e duração do sofrimento experimentado pela vítima,
capacidade econômica do causador do dano, as condições sociais do ofendido, e
outras circunstâncias mais que se fizerem presentes.”
O julgador singular condenou a requerida ao pagamento de indenização pelos danos
morais no montante total de R$10.000,00.
Assim, conforme lição acima exposta, em se tratando de dano moral, o magistrado,
ao fixar a indenização, deve estipular um valor que não seja insignificante, a ponto de
não se compor o prejuízo sofrido, e que não seja tão elevado, a ponto de provocar o
enriquecimento sem causa da vítima.
Deve, pois, o valor da indenização, atender ao princípio de razoabilidade, limitando-
se a amenizar o prejuízo causado, tendo um cunho pedagógico e servindo de
desestímulo à repetição do ato ilícito, mas jamais como um prêmio ao ofendido.
Neste diapasão, tenho que o julgador monocrático procedeu com desacerto ao fixar
o valor de R$10.000,00 a título indenizatório, eis que desproporcional a ofensa
suportada. Avaliando o caso concreto e as agruras sofridas pela autora, vejo que o
valor da verba indenizatória deve ser minorada, de forma que a reduzo para
R$5.000,00, valor que entendo suficiente a amenizar o prejuízo causado, tendo um
cunho pedagógico e servindo de desestímulo à repetição do ato ilícito. Não se pode
ignorar que a requerida é empresa de pequeno porte, não sendo adequada a fixação
de indenização correspondente à metade de seu capital social nominal (R$20.000,00 -
mov.28.2 ­ f. 117).
É a jurisprudência desta Corte:
PROPRIEDADE INDUSTRIAL. CONCORRÊNCIA DESLEAL. USO DE IMAGEM DE
PRODUTO LICENCIADO PELA AUTORA EM CONCURSO PROMOVIDO PELA RÉ.

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INSERÇÕES INDEVIDAS DE PROPAGANDA EM ANÚNCIOS PUBLICITÁRIOS DA


AUTORA. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS.
Houve concorrência desleal e, por isso, não se acolhe a alegação de litigância de má-
fé da autora. Contudo, a deslealdade está restrita ao uso indevido de fotografia
pertencente à autora da “Cadeira Paulistano” e promoção de concurso cultural pela ré
nos mesmos moldes de certame antes realizado pela autora, com inserções
publicitárias indevidas pela ré. Assim, as reparações concedidas por concorrência
desleal devem se limitar a estes fatos reconhecidos, e não na extensão pretendida
pela autora.
Danos materiais. Diante da evidente concorrência desleal, justifica-se a concessão de
reparação por danos materiais, que deve ser objeto de liquidação de sentença, nos
termos do art. 210, da Lei nº 9.279/96. Caberá à autora a escolha do critério de
liquidação do dano, considerando-se a obrigação alternativa estabelecida no referido
dispositivo legal (REsp nº 1.316.149/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, dj
03.06.14).
Danos morais. O dano sofrido em decorrência de concorrência desleal alcança ainda
outra dimensão. É que se coloca a marca e o produto em ambiente não adequado ao
padrão de consumo desejado e praticado pelo seu titular, desvalorizando o signo em
face dos seus consumidores. É o que ocorre no caso, quando há indicativo de que o
público-alvo da autora se volta às classes econômicas mais abastadas, enquanto que a
ré busca direcionar seus produtos às camadas mais jovens da sociedade e, por isso,
sem alto poder aquisitivo.
Recurso da ré parcialmente provido para determinar a liquidação da sentença no que
tange à indenização por danos materiais, bem como para reduzir o valor da
indenização por danos morais e afastar a retratação pública determinada pela
sentença.
(Relator(a): Carlos Alberto Garbi; Comarca: São Paulo; Órgão julgador: 2ª Câmara
Reservada de Direito Empresarial; Data do julgamento: 13/02/2017; Data de registro:
15/02/2017)
APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. EMPRESAS
QUE ATUAM NO RAMO DE TURISMO. FUNCIONÁRIOS DA AUTORA QUE SE
UTILIZARAM DA ESTRUTURA E INFORMAÇÕES DESTA PARA CRIAR UMA FILIAL DA
DEMANDADA, CONCORRENTES NO RAMO EM QUE ATUAVAM.CONCORRÊNCIA
DESLEAL CARACTERIZADA. PROVAS QUE SÃO HÁBEIS A DEMONSTRAR O ILÍCITO.
DANOS MATERIAIS. VALOR FIXADO QUE JÁ CONSIDEROU APENAS O
FATURAMENTO LÍQUIDO DA EMPRESA. QUANTUM DOS DANOS MORAIS.
RAZOABILIDADE. RECURSO DESPROVIDO. (TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1101673-0 -
Curitiba - Rel.: Sérgio Roberto N Rolanski - Unânime - - J. 06.08.2015)
9. Diante do exposto, voto no sentido de dar parcial provimento ao recurso de
apelação, para minorar o valor fixado a título de indenização por danos morais,
fixando-o em R$5.000,00.
III- DECISÃO

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ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de


Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar parcial provimento ao
recurso de apelação.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador RUI BACELLAR FILHO, com voto, e
dele participaram os Desembargadores LAURI CAETANO DA SILVA e TITO CAMPOS
DE PAULA.
Curitiba, 24 de maio de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--
1 Sentença proferida no dia 05.05.2015 e publicada no dia 05.05.2015.
2 Art. 2º A proteção dos direitos relativos à propriedade industrial, considerado o seu
interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País, efetua-se
mediante: I - concessão de patentes de invenção e de modelo de utilidade; II -
concessão de registro de desenho industrial; III - concessão de registro de marca; IV -
repressão às falsas indicações geográficas; e V - repressão à concorrência desleal.
Art. 3º Aplica-se também o disposto nesta Lei: I - ao pedido de patente ou de registro
proveniente do exterior e depositado no País por quem tenha proteção assegurada
por tratado ou convenção em vigor no Brasil; e II - aos nacionais ou pessoas
domiciliadas em país que assegure aos brasileiros ou pessoas domiciliadas no Brasil a
reciprocidade de direitos iguais ou equivalentes.
3 Apelação Cível Nº 70061997730, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Jorge Luiz Lopes do Canto, Julgado em 25/03/2015.
4 BARROS, Carla Eugênia Caldas. Manual de Direito da Propriedade Intelectual.
Aracalu, Evocati, 2007.
5 Art. 195. Comete crime de concorrência desleal quem: I - publica, por qualquer
meio, falsa afirmação, em detrimento de concorrente, com o fim de obter vantagem; II
- presta ou divulga, acerca de concorrente, falsa informação, com o fim de obter
vantagem; III - emprega meio fraudulento, para desviar, em proveito próprio ou alheio,
clientela de outrem; IV - usa expressão ou sinal de propaganda alheios, ou os imita, de
modo a criar confusão entre os produtos ou estabelecimentos; V - usa, indevidamente,
nome comercial, título de estabelecimento ou insígni a alheios ou vende, expõe ou
oferece à venda ou tem em estoque produto com essas referências; VI - substitui, pelo
seu próprio nome ou razão social, em produto de outrem, o nome ou razão social
deste, sem o seu consentimento; VII - atribui-se, como meio de propaganda,
recompensa ou distinção que não obteve; VIII - vende ou expõe ou oferece à venda,
em recipiente ou invólucro de outrem, produto adulterado ou falsificado, ou dele se
utiliza para negociar com produto da mesma espécie, embora não adulterado ou
falsificado, se o fato não constitui crime mais grave; IX - dá ou promete dinheiro ou
outra utilidade a empregado de concorrente, para que o empregado, faltando ao
dever do emprego, lhe proporcione vantagem; X - recebe dinheiro ou outra utilidade,
ou aceita promessa de paga ou recompensa, para, faltando ao dever de empregado,
proporcionar vantagem a concorrente do empregador; XI - divulga, explora ou utiliza-
se, sem autorização, de conhecimentos, informações ou dados confidenciais, utilizáveis
na indústria, comércio ou prestação de serviços, excluídos aqueles que sejam de
119

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

conhecimento público ou que sejam evidentes para um técnico no assunto, a que teve
acesso mediante relação contratual ou empregatícia, mesmo após o término do
contrato; XII - divulga, explora ou utiliza-se, sem autorização, de conhecimentos ou
informações a que se refere o inciso anterior, obtidos por meios ilícitos ou a que teve
acesso mediante fraude; ou XIII - vende, expõe ou oferece à venda produto,
declarando ser objeto de patente depos itada, ou concedida, ou de desenho industrial
registrado, que não o seja, ou menciona-o, em anúncio ou papel comercial, como
depositado ou patenteado, ou registrado, sem o ser; XIV - divulga, explora ou utiliza-
se, sem autorização, de resultados de testes ou outros dados não divulgados, cuja
elaboração envolva esforço considerável e que tenham sido apresentados a entidades
governamentais como condição para aprovar a comercialização de produtos.
6 Art. 208. A indenização será determinada pelos benefícios que o prejudicado teria
auferido se a violação não tivesse ocorrido.
7 Programa de Responsabilidade Civil, 5ª ed., São Paulo: Malheiros, 2004, item 19.5,
pág.106/110.

2.1.13. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO – COMISSÃO DE PERMANÊNCIA

AÇÃO REVISIONAL. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO COM GARANTIA

FIDUCIÁRIA. PEDIDOS JULGADOS PARCIALMENTE PROCEDENTES. RECURSO DE

APELAÇÃO - DA RÉ: 1. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. EXIGIBILIDADE. SÚMULA

472 DO STJ. IMPOSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO COM OUTROS ENCARGOS DE

MORA. 2. REPETIÇÃO SIMPLES DOS VALORES EFETIVAMENTES PAGOS A MAIOR.

RECURSO PROVIDO. RECURSO ADESIVO ­ DO AUTOR: 3. JUROS

REMUNERATÓRIOS INCIDENTES SOBRE O IMPOSTO SOBRE OPERAÇÕES

FINANCEIRAS. AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL. 4. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS

EXPRESSAMENTE CONTRATADA. 5. TAXA DE JUROS REMUNERATÓRIOS.

AUSÊNCIA DE ABUSIVIDADE. 6. MORA DEBENDI CONFIGURADA. INEXISTÊNCIA

DE COBRANÇA DE ENCARGOS ABUSIVOS NO PERÍODO DA NORMALIDADE

CONTRATUAL. 7. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ CARACTERIZADA. QUESTÕES DECIDIDAS

EM AÇÃO ANTERIORMENTE AJUIZADA NO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL. ARTIGO 80,

V DO CPC. DESNECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DE DANO OU PREJUÍZO. 8.

ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA MANTIDO. RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E,

NA PARTE CONHECIDA, DESPROVIDO. 1. De acordo com a súmula 472 do STJ, para

o período de anormalidade contratual, deve ser mantida a cláusula contratual na parte


120

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

em que estabelece a cobrança de comissão de permanência, afastando a incidência

de outros encargos moratórios, sob pena de caracterizar bis in idem. O cálculo da

comissão de permanência tem como limite a somatória dos juros remuneratórios, dos

juros moratórios e da multa. 2. É possível computar no cálculo da prestação do

contrato juros capitalizados mensalmente, desde que as partes tenham expressamente

pactuado cláusula nesse sentido, a teor do artigo 28, §1º, inciso I da Lei nº

10.931/2004, aplicável para a cédula de crédito bancário. 3. A taxa de juros pode ser

livremente pactuada, admitindo- se sua revisão somente em situações excepcionais

quando ficar demonstrado que são evidentemente abusivas.

(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1631642-4 - Região Metropolitana de Maringá - Foro Central

de Maringá - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime - J. 24.05.2017)

Inteiro Teor

I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de recurso de apelação e recurso adesivo interpostos em virtude da
sentença1 proferida pelo MM. Dr. Juiz da 3ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da
Região Metropolitana de Maringá, às f. 299/307 (mov. 57.1) dos autos nº 14913-
27.2014.8.16.0017 de ação com pedido de revisão das cláusulas financeiras de cédula
de crédito bancário com garantia fiduciária (f. 62/65 ­ mov. 1.7), proposta por João
Mayk de Araujo Pereira em face de Omni S/A Crédito, Financiamento e Investimento,
pela qual julgou parcialmente procedentes os pedidos formulados na inicial para
afastar a cobrança da comissão de permanência. Julgou improcedentes os pedidos
referentes à capitalização de juros e à taxa de juros remuneratórios. Julgou extinto,
sem resolução de mérito, os pedidos referentes às tarifas de registro e de outros e aos
juros remuneratórios incidentes sobre o Imposto sobre Operações Financeiras, ante a
existência da coisa julgada. Ainda, condenou o
autor ao pagamento de multa por litigância de má-fé, no valor de R$1.000,00, nos
termos do artigo 81, §1º do Código de Processo Civil/2015, considerando a potencial
intensão do autor em duplicar a possibilidade de um resultado financeiro, por decisões
distintas (fundamentos de f. 300/301 ­ mov. 57.1). Por fim, condenou o autor ao
pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, fixados em
R$2.000,00.
2. A ré interpôs recurso de apelação (f. 313/316 ­ mov.
62.1), pleiteando a reforma da sentença na parte que afastou a comissão de
permanência. Alegou que devem prevalecer os princípios da autonomia da vontade e
da força obrigatória dos contratos.
Contrarrazões às f. 364/370 (mov. 68.1).

121

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

3. O autor interpôs recurso adesivo (f. 330/362 ­ mov.


67.1), pleiteando a reforma da sentença para (i) afastar os juros remuneratórios
incidentes sobre o Imposto sobre Operações Financeiras; (ii) limitar a taxa de juros
remuneratórios; (iii) expurgar a capitalização de juros do cálculo das prestações; (iv)
descaracterizar a mora; (v) afastar a multa por litigância de má-fé.
Ao final, pediu a redistribuição do ônus da sucumbência.
Contrarrazões às f. 376/381 (mov. 72.1).
É o relatório.
II- VOTO
Do recurso de apelação interposto pela ré.
Presentes os pressupostos recursais de admissibilidade, intrínsecos e extrínsecos,
conheço do recurso de apelação.
3 4. É perfeitamente possível promover a revisão dos contratos, através da
intervenção do Estado, sem ofensa dos princípios que orientam a liberdade de
contratar. Diz a doutrina que “(...) A vontade das partes não é mais a única fonte de
interpretação que possuem os juízes para interpretar um instrumento contratual. A
evolução doutrinária do direito dos contratos já pleiteava uma interpretação
teleológica do contrato, um respeito maior pelos interesses sociais envolvidos, pelas
expectativas legítimas das partes, especialmente das partes que só tiveram a liberdade
de aderir ou não aos termos pré-elaborados”. (Cláudia Lima Marques em “Contratos
no Código de Defesa do Consumidor”, 4ª ed., Ed. RT, p. 227).
No caso, a relação jurídica é regulada pela legislação consumerista2; assim,
comprovada a onerosidade excessiva e a hipossuficiência do consumidor, fica
autorizada a revisão das cláusulas contratuais, independentemente do contrato ser
“pré” ou “pós” fixado. A vulnerabilidade fática ou socioeconômica do contratante
diante da instituição financeira se presume, uma vez que essa por sua posição impõe
sua superioridade a todos que com ela contratam.
Com efeito, o princípio da força obrigatória dos contratos - pacta sunt servanda - foi
mitigado para se coadunar com a sistemática do Código de Defesa do Consumidor, e
também para atender a função social dos contratos, agora expressamente prevista no
artigo 421 do Código Civil, “a liberdade de contratar será exercida em razão e nos
limites da função social do contrato”.
5. Para o período de anormalidade contratual as partes ajustaram a cláusula nº 5 com
o seguinte teor: “05. Em caso de mora no pagamento de quaisquer valores devidos
nos termos desta Cédula, inclusive principal ou juros, sem prejuízo do disposto nas
demais cláusulas da presente, incidirão sobre o saldo devedor devidamente atualizado
os seguintes encargos: i) juros de mora de 1% (um por cento) ao mês ou fração de
mês; ii) comissão de permanência à taxa de mercado, nunca inferior aos encargos
pactuados nesta Cédula; iii) multa não compensatória de 2% (dois por cento) sobre o
montante do débito e encargos; e iv) na hipótese do Credor vir a ser compelido a
recorrer a meios administrativos ou judiciais para receber o
seu crédito, honorários advocatícios fixados em 10% do valor do saldo devedor, além
de tarifas e despesas de cobrança, inclusive custas.”

122

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Analisando tal cláusula verificamos que foi prevista para o período da anormalidade
contratual a incidência da comissão de permanência cumulada com juros moratórios e
multa contratual de 2%, ferindo a orientação do Superior Tribunal de Justiça fixada no
REsp 1.058.114-RS, sob o rito do artigo 543-C do Código de Processo Civil, com a
seguinte ementa:
DIREITO COMERCIAL E BANCÁRIO. CONTRATOS BANCÁRIOS SUJEITOS AO
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA.
COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. VALIDADE DA CLÁUSULA. VERBAS INTEGRANTES.
DECOTE DOS EXCESSOS. PRINCÍPIO DA CONSERVAÇÃO DOS NEGÓCIOS
JURÍDICOS. ARTIGOS 139 E 140 DO CÓDIGO CIVIL ALEMÃO. ARTIGO 170 DO
CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO. 1. O princípio da boa-fé objetiva se aplica a todos os
participes da relação obrigacional, inclusive daquela originada de relação de consumo.
No que diz respeito ao devedor, a expectativa é a de que cumpra, no vencimento, a
sua prestação. 2. Nos contratos bancários sujeitos ao Código de Defesa do
Consumidor, é válida a cláusula que institui comissão de permanência para viger após
o vencimento da divida. 3. A importância cobrada a título de comissão de
permanência não poderá ultrapassar a soma dos encargos remuneratórios e
moratórios previstos no contrato, ou seja: a) juros remuneratórios à taxa média de
mercado, não podendo ultrapassar o percentual contratado para o período de
normalidade da operação; b) juros moratórios até o limite de 12% ao ano; e c) multa
contratual limitada a 2% do valor da prestação, nos termos do art. 52, § 1º do CDC. 4.
Constatada abusividade dos encargos pactuados na cláusula de comissão de
permanência, deverá o juiz decotá- los, preservando, tanto quanto possível, a vontade
das partes manifestada na celebração do contrato, em homenagem ao princípio da
conservação dos negócios jurídicos consagrado no arts. 139 e 140 do Código Civil
alemão e reproduzido no art.. 170 do Código Civil brasileiro. 5. A decretação de
nulidade de cláusula contratual é medida excepcional, somente adotada se impossível
o seu aproveitamento. 6. Recurso especial conhecido e parcialmente provido.
Frise-se que tal entendimento foi consolidado com a edição da Súmula 472 do
Superior Tribunal de Justiça: “A cobrança de comissão de permanência - cujo valor
não pode ultrapassar a soma dos encargos remuneratórios e moratórios previstos no
contrato ­ exclui a exigibilidade dos juros remuneratórios, moratórios e da multa
contratual”.
5 Esse posicionamento corrobora o que havia sido assentado no voto da lavra do
eminente Ministro Ari Pargendler, no julgamento do REsp 834968/RS, de 14.03.2007:
a comissão de permanência abarca, ao mesmo tempo, as características de correção
monetária, vez que atualiza monetariamente os valores inadimplidos; juros
remuneratórios, já que configura remuneração pelo capital disponibilizado; juros
moratórios, pois compensa o lapso de tempo de inadimplente; e de multa contratual,
visto que representa também uma sanção pelo inadimplemento.
Portanto, quando analisamos a cláusula contratual que estabelece as penalidades para
a hipótese de inadimplemento da obrigação na data do vencimento, devemos
aproveitar a cláusula estabelecida pelas partes contratantes, mantendo-a quanto à
possibilidade de cobrança da comissão de permanência, declarando-a inválida na
123

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

parte em que, além desta, estabelece a possibilidade de cobrança de outros encargos


de natureza moratória, sob pena de bis in idem.
É importante frisar que o percentual exigível a título de comissão de permanência não
pode ultrapassar a somatória de: juros moratórios de 12% ao ano + multa de 2% do
valor da prestação + juros remuneratórios limitados ao percentual contratado.
6. Quando a sentença declara ilegal ou abusiva uma determinada cláusula financeira
de contrato de mútuo, a repetição dos valores pagos a maior é consequência lógica
da parte declaratória do provimento jurisdicional. Dessa forma, a devolução dos
valores cobrados a maior deve ser na forma simples e independe da prova do erro.
AGRAVO REGIMENTAL. CONTRATO BANCÁRIO. AÇÃO REVISIONAL.
POSSIBILIDADE.
CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS. PACTUAÇÃO EXPRESSA. NECESSIDADE.
SÚMULAS N. 5 E 7/STJ. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. LICITUDE DA COBRANÇA.
JUROS MORATÓRIOS. MULTA CONTRATUAL. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. REPETIÇÃO DO INDÉBITO E COMPENSAÇÃO.
POSSIBILIDADE. COMPENSAÇÃO DE HONORÁRIOS.
FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. SÚMULA N. 284/STF. (...) 4. Segundo a
jurisprudência do STJ, é permitida a compensação de valores e a repetição do
indébito sempre que constatada a
6 cobrança indevida do encargo exigido, sem que, para tanto, haja necessidade de
ser comprovado erro no pagamento. 5. Agravo regimental desprovido. (AgRg no Ag
1345010 / SC, Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Quarta Turma, DJ 07.04.2011)
AGRAVO REGIMENTAL. CONTRATO BANCÁRIO. AÇÃO REVISIONAL.
MANUTENÇÃO DO BEM NA POSSE DO DEVEDOR. DESCARACTERIZAÇÃO DA
MORA. SÚMULA N. 182/STJ.
COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. LICITUDE. REPETIÇÃO E COMPENSAÇÃO DE
VALORES.
POSSIBILIDADE. (...) 3. A jurisprudência do STJ está consolidada no sentido de
permitir a compensação de valores e a repetição do indébito sempre que constatada a
cobrança indevida do encargo exigido, sem que, para tanto, haja necessidade de se
comprovar erro no pagamento. 4. Agravo regimental parcialmente provido. (STJ -
AgRg no REsp 942883 / RS - QUARTA TURMA - Ministro JOÃO OTÁVIO DE
NORONHA ­ J. 0402.2010)
PROCESSUAL CIVIL E BANCÁRIO. AGRAVO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO
REVISIONAL.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE.
NÃO OCORRÊNCIA. TAXA DE JUROS REMUNERATÓRIOS. CAPITALIZAÇÃO
MENSAL DE JUROS. COMPENSAÇÃO DE VALORES. POSSIBILIDADE. HARMONIA
ENTRE O ACÓRDÃO RECORRIDO E A JURISPRUDÊNCIA DO STJ. REEXAME DE
FATOS. INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS. INADMISSIBILIDADE.
MORA. CARACTERIZAÇÃO. (...) - Admite-se a repetição do indébito,
independentemente da prova de que o pagamento tenha sido realizado por erro, com
o objetivo de vedar o enriquecimento ilícito do banco em detrimento do devedor. (...)

124

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

(AgRg no REsp 844405 / RS, Min. NANCY ANDRIGHI, Terceira Turma, DJe
28/09/2010)
No particular, o extrato de pagamento de f. 182 (mov.
25.6) demonstra que algumas prestações foram pagas em atraso. Assim, caso
comprovada a cobrança da comissão de permanência cumulada com outros encargos
de mora, o excedente deve ser devolvido na forma simples, com o acréscimo de juros
de mora de 1% ao mês desde a citação e correção monetária pela média dos índices
INPC/IGP-DI a partir do desembolso. Fica permitida a compensação com eventual
débito nos termos do artigo 368 do Código Civil. O quantum deve ser apurado em
sede de liquidação de sentença.
No cálculo deve ser expurgado para fins de repetição somente o valor que exceder
ao índice da comissão de permanência cobrado sobre o valor das prestações pagas
após a data do respectivo vencimento. Observo que a comissão de permanência é
encargo moratório e como tal não foi computado no valor prefixado da prestação.
Assim, na hipótese do devedor ter efetuado o pagamento de prestação após a data
do vencimento e ter sido cobrado como
7 acréscimo moratório índice que supere os juros moratórios de 1% + multa de 2% +
juros remuneratórios no limite da taxa contratada, o excedente deve ser repetido. O
acréscimo acima referido deve ser discriminado na fase de liquidação pelo autor.
Do recurso adesivo interposto pelo autor.
Não conheço do recurso na parte que trata da incidência dos juros remuneratórios
sobre o Imposto sobre Operações Financeiras, pois tal questão foi julgada extinta, sem
resolução de mérito, ante a existência da coisa julgada. Portanto, o apelante carece de
interesse recursal.
Com a ressalva supra, presentes os pressupostos processuais de admissibilidade,
intrínsecos e extrínsecos, conheço em parte do recurso.
7. Analisando o contrato que serve de supedâneo à demanda revisional, observa-se
que se trata de cédula de crédito bancário (f. 62/65 ­ mov. 1.7), regulada pela Lei nº
10.931/2004.
Assim, no que tange à modalidade contratual em questão, anoto que o artigo 28, §1º,
inciso I3 prevê a possibilidade de capitalização dos juros, desde que expressamente
pactuada. Nesse sentido, já se manifestou o STJ no REsp 979.224/RS4. A questão foi
regulada por lei específica, não havendo espaço para a aplicação da súmula 121 do
STF. Inclusive, pelo mesmo motivo, não há que se falar em declaração incidental de
institucionalidade da Medida Provisória nº 2170-36/01.
No caso em tela, pela leitura do contrato (f. 63 ­ mov.
1.7), depreende-se que a aludida capitalização de juros foi expressamente pactuada5
na cláusula nº 1, razão pela qual sua cobrança deve ser mantida.
Ainda, ao contrário do que afirma o recorrente, não houve ofensa ao dever de
informação ou ainda a nenhum outro preceito do Código de Defesa do Consumidor.
O contrato foi redigido em termos claros e com caracteres legíveis, consoante
estabelece o artigo 54, parágrafo terceiro do Código de Defesa do Consumidor.
8. Sobre os juros remuneratórios, o Superior Tribunal de Justiça firmou a seguinte
orientação (REsp 1.061.530-RS):
125

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

ORIENTAÇÃO 1 - JUROS REMUNERATÓRIOS a) As instituições financeiras não se


sujeitam à limitação dos juros remuneratórios estipulada na Lei de Usura (Decreto
22.626/33), Súmula 596/STF; b) A estipulação de juros remuneratórios superiores a
12% ao ano, por si só, não indica abusividade; c) São inaplicáveis aos juros
remuneratórios dos contratos de mútuo bancário as disposições do art. 591 c/c o art.
406 do CC/02; d) É admitida a revisão das taxas de juros remuneratórios em situações
excepcionais, desde que caracterizada a relação de consumo e que a abusividade
(capaz de colocar o consumidor em desvantagem exagerada ­ art. 51, §1º, do CDC)
fique cabalmente demonstrada, ante às peculiaridades do julgamento em concreto.
Como parâmetro para aferir a existência de abusividade foi estabelecido no voto
condutor o seguinte: “Todavia, esta perquirição acerca da abusividade não é
estanque, o que impossibilita a adoção de critérios genéricos e universais. A taxa
média de mercado, divulgada pelo Banco Central, constitui um valioso referencial, mas
cabe somente ao juiz, no exame das peculiaridades do caso concreto, avaliar se os
juros contratados foram ou não abusivos.”
Dessa forma, infere-se que a taxa de juros pode ser livremente pactuada (inclusive em
patamar superior a 12% ao ano), admitindo-se sua revisão somente em situações
excepcionais quando ficar demonstrado que são evidentemente abusivas.
No presente caso, observa-se que a taxa de juros remuneratórios foi fixada em 48,5%
ao ano (f. 62 ­ mov. 1.7), portanto, dentro dos limites da taxa média de mercado
(19,7% a.a.)6, assim, não há razão para sua modificação, mantendo-se o percentual
fixado no contrato.
Além do mais, conforme dicção da Súmula 382 do Superior Tribunal de Justiça7, não
se pode considerar presumidamente abusiva taxa acima de 12% ano, sem que tal fato
esteja cabalmente comprovado nos autos. O entendimento jurisprudencial é de que
para ser considerada abusiva a taxa de juros remuneratórios contratada deve
representar uma vez e meia, ao dobro ou ao triplo da taxa média de mercado.
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE REVISÃO DE CONTRATO - CONTRATO DE
FINANCIAMENTO CELEBRADO EM 16.09.2011 - CARÊNCIA DE AÇÃO - AUSÊNCIA
DE INTERESSE DE AGIR - COMISSÃO DE PERMANÊNCIA NÃO CONTRATADA -
MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA - CONHECIMENTO DE OFÍCIO - ARTIGO 267,
INCISO VI E § 3º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL - INVERSÃO DO ÔNUS DA
PROVA - DESNECESSIDADE, IN CASU - PROVAS DOCUMENTAIS CONSTANTES
NOS AUTOS - JUROS CAPITALIZADOS - EXPRESSA PREVISÃO NO CONTRATO -
POSSIBILIDADE - PARCELAS PREFIXADAS - AUSÊNCIA DE ANATOCISMO -
MÉTODO COMPOSTO DE JUROS PARA A FORMAÇÃO DO CÁLCULO - TAXA DE
JUROS REMUNERATÓRIOS - ABUSIVIDADE NÃO CONFIGURADA - AVALIAÇÃO
CONFORME A TAXA MÉDIA DE JUROS DIVULGADA PELO BACEN - LIMITAÇÃO À
TAXA SELIC - INADMISSIBILIDADE - PRECEDENTES STJ - TARIFA DE CADASTRO -
RECURSOS ESPECIAIS REPRESENTATIVOS DA CONTROVÉRSIA Nº 1.251.331/RS E
1.255.573/RS - MANUTENÇÃO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.1. As matérias
de ordem pública referidas no art. 267, §3º, do Código de Processo Civil, podem ser
reconhecidas de ofício pelo Juiz em qualquer grau de Jurisdição.2. Considerando que
as questões debatidas estão devidamente provadas pelos documentos constantes dos
126

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

autos, especificamente o contrato celebrado, bem como, há decisões acerca do mérito


da discussão, é desnecessária a inversão do ônus da
prova.3. Sob a égide dos Recursos Repetitivos, o Superior Tribunal de Justiça firmou
entendimento segundo o qual “A capitalização dos juros em periodicidade inferior à
anual deve vir pactuada de forma expressa e clara. A previsão no contrato bancário de
taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a
cobrança da taxa efetiva anual contratada” (REsp 973827/RS, Rel. Ministra Maria Isabel
Gallotti, 2ª Seção, DJe 24/09/2012).4. A previsão contratual de parcelas prefixadas
demonstra a utilização de método composto de formação dos juros, situação admitida
em nosso ordenamento jurídico, que difere do anatocismo.5. No tocante à taxa de
juros, é preciso ter em vista, em primeiro lugar, a orientação da Súmula nº 382, do
Superior Tribunal de Justiça, segundo a qual “a estipulação de juros remuneratórios
superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade”.6. Somente se configuram
abusivos os juros remuneratórios quando fixados em dissonância com a média
praticada pelo mercado em cada período e que exceda a uma vez e meia, ao dobro
ou ao triplo da taxa referencial estimada pelo Banco Central do Brasil. Precedentes do
STJ.
7. É inviável a adoção da Taxa Selic como parâmetro de limitação dos juros
remuneratórios, pois não representa a taxa média praticada pelo mercado.Precedentes
STJ.8. A cobrança de tarifa de cadastro já teve sua legalidade declarada pelo Superior
Tribunal de Justiça em Recursos Especiais Representativos da Controvérsia (REsp nº
1.251.331/RS e 1.255.573/RS) e por esta Corte no Enunciado nº 02, das 17ª e 18ª
Câmaras Cíveis.9. Os honorários sucumbenciais fixados devem ser mantido por
atenderem os parâmetros dispostos no art. 20 do Código de Processo
Civil.EXTINÇÃO PARCIAL DO FEITO, EX OFFICIO, POR AUSÊNCIA DE INTERESSE DE
AGIR.RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. (TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1226143-5
- Curitiba - Rel.: Rosana Amara Girardi Fachin - Unânime - - J. 08.07.2015)
9. Apenas a cobrança de encargos abusivos no período da normalidade contratual,
leia-se juros remuneratórios e capitalização, afasta a mora, segundo orientação do
Superior Tribunal de Justiça8. Assim, restou prejudicado o pedido de
descaracterização da mora.
10. O autor pede para que seja afastada a multa por litigância de má-fé, alegando a
inexistência de fatos distorcidos.
Nos termos do artigo 80 do Código de Processo Civil/2015, reputa-se litigante de má-
fé aquele que:
“I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso; II -
alterar a verdade dos fatos; III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal; IV -
opuser resistência injustificada ao andamento do processo;
V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo; VI -
provocar incidente manifestamente infundado; VII - interpuser recurso com intuito
manifestamente protelatório. “
Não há dúvidas de que é dever das partes proceder com lealdade e boa-fé, na defesa
de seus interesses.

127

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

No caso concreto restou assente a litigância de má-fé praticada pelo autor ao formular
pedido referente às tarifas de registro e de “outros” e aos juros remuneratórios
incidentes sobre o Imposto sobre Operações Financeiras, quando tais pedidos já
foram julgados no âmbito do Juizado Especial Cível (autos nº 9894-
37.2014.8.16.0018). Esclareço que os pedidos foram julgados parcialmente
procedentes para reconhecer a abusividade/ilegalidade das tarifas. O autor não logrou
êxito em relação aos juros remuneratórios incidentes sobre o Imposto sobre
Operações Financeiras, que inclusive foi objeto do presente recurso.
Entende o Superior Tribunal de Justiça que “O art. 17 do Código de Processo Civil
(art. 80, CPC/2015), ao definir os contornos dos atos que justificam a aplicação da
multa por litigância de má-fé, pressupõe o dolo da parte no entravamento do trâmite
processual, manifestado por conduta intencionalmente maliciosa e temerária” (STJ,
1ªT., AgRg no Ag 1021049/SP, Rel. Min. Denise Arruda, DJe 05.11.2008). Quanto a
isso, é de se destacar que nem o dispositivo em comento, e nem os demais que
tratam da matéria, exigem a ocorrência de “dano” à parte adversa para que se possa
aplicar a multa punitiva. Aliás, pela própria redação do artigo 81, caput do Código de
Processo Civil/20159 (art.
18 do CPC/1973), pode-se verificar que a multa não se confunde com eventual
indenização por prejuízos causados ao outro litigante. De mais a mais, é de se
considerar que a litigância de má-fé, muito embora nem sempre ocasione perdas
patrimoniais, representa sempre um
“dano” à atividade jurisdicional, afetando inevitavelmente a lealdade e boa-fé
processual. E foi exatamente este tipo de conduta que o legislador quis coibir.
Acerca do tema, valho-me dos precedentes a seguir:
JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS. RECURSO INOMINADO. PROCESSO CIVIL. NULIDADE
DE TAXAS ILEGAIS. REEMBOLSO DE DESPESAS EFETIVADAS. QUESTÃO DECIDIDA
E JULGADA NA AÇÃO ANTERIORMENTE AJUIZADA. CONTINÊNCIA DE AÇÕES.
LITISPENDÊNCIA. EXTINÇÃO. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. RECURSO CONHECIDO E
IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. 1. Trata-se de ação de nulidade de cobrança de
taxas contratuais com pedido de repetição de indébito, cujos pedidos foram julgados
improcedentes em razão da litispendência, originada pela ação nº 2013.01.1.163851-
2, que tramitou na 4ª Vara Cível de Brasília. A autora recorreu pedindo a reforma da
sentença para afastar a sua condenação por litigância de má-fé e pelas despesas
processuais, ao argumento de que não estaria configurada sua má-fé, haja vista que
não ajuizou ação idêntica à que tramitou na 4ª Vara Cível. Aduziu que aqui a discussão
se referia às tarifas bancárias e não ao contrato como um todo. 2. Cada ação tem uma
individualidade que a identifica, que se infere dos elementos que a compõem. Nos
termos do art. 301, § 3º, do CPC, há litispendência quando se repete ação que está
em curso que, na hipótese, restou configurada. 3. Os pedidos feitos neste processo
estão entre aqueles feitos na ação nº 2013.01.1.163851-2, que tramitou na 4ª Vara
Cível de Brasília, que além do pedido de revisão de outras cláusulas, abarcava a
exclusão das cláusulas que lhe impunham o pagamento de taxa de serviços de
terceiro, tarifa de cadastro e registro do contrato, sendo que na sentença julgou-se
ilegal apenas a tarifa denominada TAC, e, em 2º grau reconheceu-se, também, a
128

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

ilegalidade da tarifa de registro de contrato (Acórdão n.787421, 20130111638512APC,


Relator: GISLENE PINHEIRO, Revisor: ANGELO CANDUCCI PASSARELI, 5ª Turma
Cível, Data de Julgamento: 07/05/2014, Publicado no DJE: 14/05/2014.
Pág.: 168). 4. Não socorre a recorrente sua tese de que não teria havido má-fé na
propositura de outra ação, uma vez que, quando interpôs esta ação, em 09/12/2014,
já havia idêntica ação no juízo comum, com sentença proferida em 05/02/2014,
negando parte dos seus pedidos, aqui repetidos. Não há que se falar em direito
subjetivo de ação, uma vez que a autora-recorrente já o havia exercido e, inclusive a
jurisdição já lhe havia sido entregue. 5. A busca de manifestação judicial sobre a
mesma pretensão em vários juízos, no caso concreto na Vara Cível e nos Juizados
Especiais, usando o Judiciário para obter dois provimentos e naturalmente escolher o
que mais lhe conviesse, configura deslealdade processual da autora-recorrente.
6. Recurso conhecido e improvido. Sentença mantida pelos próprios fundamentos,
com súmula de julgamento servindo de acórdão, na forma do artigo 46 da Lei nº
9.099/95. 7. Condenada a parte recorrente vencida ao pagamento das custas
processuais adicionais, se houver, e honorários advocatícios fixados em R$ 500,00
(quinhentos reais) (art. 20 § 4.º do CPC c/c art. 55 da Lei n.º 9.099/95). (TJ-DF - ACJ:
20140020319279, Relator: ANA MARIA FERREIRA DA SILVA, Data de Julgamento:
02/06/2015, 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal, Data de
Publicação: Publicado no DJE : 08/06/2015 . Pág.: 288)
13 11. A sucumbência deve ser distribuída na medida da vitória e da derrota dos
litigantes no processo. Analisando os termos da pretensão e o resultado final
proporcionado pelo presente acórdão, verificamos que a parte ré sucumbiu
minimamente na sua pretensão (art. 86, parágrafo único do CPC), razão pela qual o
autor deve arcar com a integralidade do pagamento das custas processuais e dos
honorários advocatícios pelo valor fixado na sentença.
12. Diante do exposto, voto no sentido de:
a) dar provimento ao recurso de apelação para determinar a incidência exclusiva da
comissão de permanência para o período de anormalidade contratual.
b) conhecer em parte do recurso adesivo e, na parte conhecida, negar provimento.
III- DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento ao
recurso de apelação e conhecer em parte do recurso adesivo e, na parte conhecida,
negar provimento.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador RUI BACELLAR FILHO, com voto, e
dele participaram os Desembargadores LAURI CAETANO DA SILVA e TITO CAMPOS
DE PAULA.
Curitiba, 24 de maio de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--
1 Sentença proferida no dia 05.07.2016 e publicada no dia 13.07.2016.
2 “O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras” (Súmula
nº 297).
129

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

3”Art. 28: A Cédula de Crédito Bancário é título executivo extrajudicial e representa


dívida em dinheiro, certa, líquida e exigível, seja pela soma nela indicada, seja pelo
saldo devedor demonstrado em planilha de cálculo, ou nos extratos da conta corrente,
elaborados conforme previsto no § 2o.
§ 1º Na Cédula de Crédito Bancário poderão ser pactuados: I - os juros sobre a dívida,
capitalizados ou não, os critérios de sua incidência e, se for o caso, a periodicidade de
sua capitalização, bem como as despesas e os demais encargos decorrentes da
obrigação;” --
4 “A capitalização dos juros é admissível quando pactuada e desde que haja
legislação específica que a autorize”.
5 “1. O Emitente pagará por Cédula de Crédito Bancário à Omni ou à sua ordem, na(s)
data(s) de vencimento indicada(s) no Quadro IV do preâmbulo, em moeda corrente,
nacional, a quantia nele indicada, acrescida dos juros capitalizados mensalmente dos
“Pagamentos Autorizados” e demais encargos ajustados nesta Cédula, nos termos da
Lei nº 10.931/04 e das cláusulas e condições enuncias a seguir.”
6 Referência obtida no site do Banco Central:
www.bcb.gov.br/ftp/depec/NITJ200812.xls --
7 “A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não
indica abusividade”.
8 Orientação 2, consolidada pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do REsp
1.061.530-RS.
9 CPC/1973. “Art. 18. O juiz ou tribunal, de ofício ou a requerimento, condenará o
litigante de má-fé a pagar multa não excedente a um por cento sobre o valor da causa
e a indenizar a parte contrária dos prejuízos que esta sofreu, mais os honorários
advocatícios e todas as despesas que efetuou”.
CPC/2016. “Art. 81. De ofício ou a requerimento, o juiz condenará o litigante de má-
fé a pagar multa, que deverá ser superior a um por cento e inferior a dez por cento do
valor corrigido da causa, a indenizar a parte contrária pelos prejuízos que esta sofreu e
a arcar com os honorários advocatícios e com todas as despesas que efetuou”.

2.1.14. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS E PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVAS

AÇÃO CAUTELAR. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO. NATUREZA PREPARATÓRIA.

PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVA. DOCUMENTO EXIBIDO. PEDIDO NÃO

RESISTIDO. AUSÊNCIA DE LITIGIOSIDADE. CONDENAÇÃO DO RÉU AO

PAGAMENTO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO

PROVIDO. 1. Na medida cautelar de exibição de documentos, de natureza

preparatória, quando a parte ré promove a juntada do documento solicitado, não deve

assumir qualquer responsabilidade pelos ônus da sucumbência. As despesas realizadas

130

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

pelo autor podem ser recuperadas na ação principal. 2. A exibição de documentos

assemelha-se a cautelar de produção antecipada de provas. Quando o documento é

exibido sem resistência é dispensável a sentença por ausência de litigiosidade

(ausência de mérito) e os autos devem ser disponibilizados para as partes interessadas

solicitarem cópia ou certidão visando instruir a ação desejada. Inteligência do art. 383

do NCPC.

(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1668906-0 - Centenário do Sul - Rel.: Lauri Caetano da Silva

- Unânime - J. 24.05.2017)

Inteiro Teor

I- RELATÓRIO
1. Trata-se de recurso de apelação interposto por BV Financeira S/A Crédito,
Financiamento e Investimento contra sentença1 (f.57/63) dos autos da ação de
exibição de documentos nº 1155-33.2011.8.16.0066, pela qual o Juiz a quo julgou
procedente o pedido inicial, extinguindo o processo nos termos do artigo 269, II do
CPC/73. Consignou que o documento pleiteado foi exibido. Por fim, condenou a parte
ré ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios fixados em
R$100,00.
2. O réu interpôs recurso de apelação (f.69/75), pleiteando o afastamento da
condenação ao pagamento de honorários advocatícios.
Contrarrazões não apresentadas.
É o relatório.
II- VOTO
Presentes os pressupostos processuais de admissibilidade, intrínsecos e extrínsecos,
conheço do recurso.
3. A ação cautelar de exibição de documentos é de natureza preparatória e equivale,
no caso concreto, ao pedido de produção antecipada de prova.
A doutrina e a jurisprudência reconhecem que a parte vencida deve arcar com as
despesas e os honorários advocatícios nas ações cautelares de natureza satisfativa e de
natureza preparatória.
Para justificar tal posicionamento realçam a autonomia e a contenciosidade da ação
cautelar de modo a sujeitá-la aos princípios comuns da sucumbência. Assim, temos
como regra geral que a ação
cautelar tem natureza de ação, sujeitando-se o sucumbente aos honorários
advocatícios da parte contrária.
A jurisprudência, contudo, não é pacífica quando a ação cautelar é de natureza
preparatória e dependente da ação principal, posicionando-se alguns julgados que
nestes casos não cabe condenação em honorários advocatícios. Quando a ação
cautelar ou simples medida cautelar não recebe contestação ou a pretensão direta não
131

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

é resistida, parcela significativa dos operadores do direito reconhece que não cabe a
condenação em honorários advocatícios. A respeito do tema adverte Humberto
Theodoro Junior in Processo Cautelar, p. 132/133, que a ação cautelar pressupõe
litigiosidade enquanto a medida cautelar visa cumprir uma tarefa preventiva sem
contestação ou oposição, como ocorre com a produção antecipada de prova. Se não
existe lide cautelar não podemos falar em ação cautelar, mas simples medida,
projetando pela falta de contestação a impossibilidade de reconhecimento da
sucumbência.
No tocante a medida cautelar de exibição de documento, o Prof. Yussef Said Cahali,
in Honorários Advocatícios, 3ª edição, p. 343/344, assevera que o vencido somente
responde por honorários de advogado na hipótese de existência de litígio, ou seja, a
pretensão for resistida.
Esta questão já foi enfrentada nesta Câmara através do acórdão proferido no agravo
em agravo de instrumento nº 730.278- 1/01, em que foi Relator o Desembargador
Mário Helton Jorge, assinalando que quando a pretensão não é resistida e o
documento é apresentado no prazo da defesa, não devemos imputar ao réu a
obrigação de pagar honorários advocatícios. Para sedimentar esse posicionamento
citou julgado do Superior Tribunal de Justiça que diz:
“RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE
DOCUMENTOS. NÃO CONFIGURAÇÃO DE PRETENSÃO RESISTIDA. INCABÍVEL
FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS. PROVIMENTO
NEGADO. 1. Pela aplicação dos princípios da sucumbência e da causalidade em ações
cautelares administrativas,
para haver condenação a honorários advocatícios pela sucumbência do feito, deve
estar caracterizada nos autos a resistência à exibição dos documentos pleiteados. 2.
Impossível conhecimento do recurso pela alínea “c” tendo em vista a ausência de
similitude fática dos acórdãos paradigmas e o aresto vergastado. 3. Recurso especial
improvido” (REsp 1077000/PR, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,
SEXTA TURMA, julgado em 20.08.2009, DJe 08.09.2009)
Pois bem! No caso em exame, pelos fatos já narrados, o réu exibiu a cópia dos
documentos solicitados (f.49/53). Portanto, podemos afirmar que a cautelar não
ultrapassa os limites de uma medida sem litigiosidade. Se o pedido foi prontamente
atendido pela parte requerida, que sequer ofereceu contestação, o processo deveria
ter sido extinto sem resolução de mérito. Na ausência de lide em razão do
atendimento da pretensão deduzida também não há que se falar em condenação do
réu em honorários advocatícios.
A respeito do tema, o Superior Tribunal de Justiça no AgRg no REsp 934.260-RS, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, 4ª Turma, em julgamento de 10.04.2012, publicado no DJe
13.04.2012 assentou o seguinte:
“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. EXTRATO DE CADERNETA
POUPANÇA.
EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO. AUSÊNCIA PRETENSÃO RESISTIDA. INCABÍVEL
FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS. JUSTIÇA GRATUITA. FALTA DE
ELEMENTOS COMPROVANDO A IMPOSSIBILIDADE DO RECORRENTE ARCAR COM
132

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

AS DESPESAS PROCESSUAIS. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. Pela aplicação dos


princípios da sucumbência e da causalidade em ações cautelares de exibição de
documentos, para haver condenação a honorários advocatícios deve estar
caracterizada nos autos a resistência à exibição dos documentos pleiteados. 2. O
Tribunal de origem consignou a ausência de pretensão resistida, diante da falta de
pedido administrativo, bem como pelo fornecimento dos extratos bancários em juízo,
após o fornecimento dos dados necessários. 3. (...). 4. (...)”.
Nesse passo é importante realçar que a resistência ao pedido deve ser analisada no
aspecto endoprocessual, ou seja, pela análise dos atos praticados pela parte no
processo. A jurisprudência reconhece de forma uniforme que o contratante tem
interesse de agir na exibição do documento, através de medida autônoma. O direito
brasileiro não obriga o interessado a esgotar procedimentos administrativos para
promover as ações que entende cabíveis para a
proteção de eventual direito material ou para viabilizar o ajuizamento da ação que
entende cabível.
“Recurso Especial. Processual Civil. Instituição bancária. Exibição de documentos.
Custo de localização e reprodução dos documentos. Ônus do pagamento. - O dever
de informação e, por conseguinte, o de exibir a documentação que a contenha é
obrigação decorrente de lei, de integração contratual compulsória. Não pode ser
objeto de recusa nem de condicionantes, face ao princípio da boa-fé objetiva. - Se
pode o cliente a qualquer tempo requerer da instituição financeira prestação de
contas, pode postular a exibição dos extratos de suas contas correntes, bem como as
contas gráficas dos empréstimos efetuados, sem ter que adiantar para tanto os custos
dessa operação. (REsp 330.261/SC, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 06.12.2001, DJ 08.04.2002 p. 212)”
A corroborar:
“(...) A ação de exibição de documentos não exige o esgotamento da via
administrativa como condição da ação (art. 267, VI, do CPC), sob pena de
comprometer o direito fundamental à inafastabilidade da apreciação pelo Poder
Judiciário (art. 5º, XXXV, CF) de alegada lesão de direito subjetivo. A independência
entre as instâncias jurisdicional e administrativa, consagrada na doutrina e na
jurisprudência, permite à parte que se sentir lesada invocar diretamente a tutela
jurisdicional do Estado, no caso, pretendendo a exibição de documentos na forma do
art. 844 e seguintes, do Código de Processo Civil, mesmo que ausente requerimento
administrativo neste sentido.(...)” (TJPR - 6ª C.Cível - AC 0436658-7 - Foro Central da
Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Juiz Conv. Luiz Cezar Nicolau - Unanime - J.
06.05.2008)
Quando o contratante ajuíza ação autônoma de natureza cautelar preparatória
postulando a exibição de documento, o réu pode se posicionar em dois sentidos:
exibir o documento comum ou apresentar resistência ao pedido formulado.
Se o réu oferece resistência à pretensão, o processo apresenta contornos de
litigiosidade, exigindo uma sentença de mérito com as consequências dela
decorrentes, ou seja, condenação da parte vencida em custas e honorários.

133

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Por outro lado, se o réu não oferece resistência e desde logo exibe o documento
comum, fica afastada a litigiosidade, razão pela qual diante da natureza de produção
antecipada de prova fica dispensado o julgamento do mérito e os autos devem ser
disponibilizados para a parte obter cópia ou certidão de inteiro
teor visando atender ao propósito de ajuizar a ação principal.
Nestes casos, o réu não deve ser condenado em custas e honorários advocatícios. As
despesas realizadas pelo autor podem ser recuperadas na ação principal, caso a
pretensão lá deduzida seja julgada procedente.
A orientação foi mantida pelo NCPC, conjugando as regras dos artigos 383 e 396, 397
e 398. O procedimento deve ser encerrado, mediante sentença homologatória, caso o
requerido, sem resistência, apresente o documento ou coisa (Primeiros Comentários
ao Novo Código de Processo Civil, Tereza Arruda Alvim Wambier e outros, Revista dos
Tribunais, p.663).
4. Diante do exposto, voto pelo provimento do recurso, para afastar da r. sentença a
condenação do réu ao pagamento das custas processuais e dos honorários
advocatícios. O autor é beneficiário da assistência judiciária gratuita (f.35).
III- DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal Justiça
do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador RUI BACELLAR FILHO, com voto, e
dele participaram os Desembargadores LAURI CAETANO DA SILVA e TITO CAMPOS
DE PAULA.
Curitiba, 24 de maio de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--
1 Sentença proferida em 12.11.2015 e publicada em 21.07.2016.

2.1.15. REVISIONAL BANCÁRIA – TARIFAS DE CONTRATAÇÃO

AÇÃO REVISIONAL. CONTRATO DE MÚTUO COM GARANTIA FIDUCIÁRIA.

PEDIDOS JULGADOS IMPROCEDENTES. 1. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. SÚMULAS

539 E 541 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. CONTRATO DE FINANCIAMENTO

COM PRESTAÇÕES PREFIXADAS. VALOR APURADO NO MOMENTO DA

CONTRATAÇÃO. MÉTODO DE CÁLCULO VÁLIDO. VALORES DAS PRESTAÇÕES

QUE NÃO ADICIONAM JUROS SOBRE JUROS VENCIDOS. 2. TARIFAS DE

CADASTRO E DE COBRANÇA. PACTUAÇÃO VÁLIDA. CONTRATO FIRMADO ANTES

DA VIGÊNCIA DA RESOLUÇÃO DO CMN 3518/2007. VALOR NÃO ABUSIVO.

SÚMULA 565 DO STJ. 4. TARIFAS DE SERVIÇOS DE TERCEIROS, DE REGISTRO E DE

134

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

AVALIAÇÃO. ENCARGOS NÃO CONTRATADOS. AUSÊNCIA DE PROVA DE

PAGAMENTO. DECLARAÇÃO DE ABUSIVIDADE EM TESE. FALTA DE INTERESSE

PROCESSUAL. 5. ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA MANTIDO. RECURSO DESPROVIDO. 1.

É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano em contratos

celebrados após 31/3/2000, data da publicação da Medida Provisória nº

1.96317/2000, em vigor como MP nº 2.170-01, desde que expressamente pactuada; 2.

A capitalização dos juros em periodicidade inferior à anual deve vir pactuada de forma

expressa e clara. A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao

duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual

contratada. 3. Quando o contrato de financiamento estabelece o pagamento de

parcelas prefixadas não há juro vencido a ser pago, de modo que a taxa efetiva anual

divergente da taxa mensal, na verdade, evidencia que, no processo de formação da

taxa efetiva de juros do contrato, o banco utilizou-se de método matemático que não

é vedado pela legislação. O método de cálculo da prestação pelo sistema de juros

compostos não pode ser confundido com anatocismo. O valor de cada prestação a ser

paga é composto pela fração do capital mais o juro remuneratório. 4. A cobrança das

tarifas de cadastro e de cobrança, também denominadas pelas financeiras como tarifas

de abertura de crédito e de emissão de boleto, é legítima quando prevista no contrato

firmado antes da vigência da Resolução nº 3.518/2007 do Conselho Monetário

Nacional.

(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1625463-6 - Região Metropolitana de Londrina - Foro

Regional de Cambé - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime - J. 24.05.2017)

Inteiro Teor

I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de recurso de apelação interposto em virtude da sentença1 proferida pelo
MM. Dr. Juiz de Direito da 1ª Vara Cível do Foro Regional de Cambé da Comarca da
Região Metropolitana de Londrina, às f. 382/405 (mov. 111.1) dos autos nº 4126-
84.2012.8.16.0056 de ação com pedido de revisão de contrato de mútuo com garantia
fiduciária (f. 355/356 ­ mov. 91.1), proposta por Ronaldo Adriano Toneto em face de
Aymoré Crédito, Financiamento e Investimento S/A, que julgou improcedentes os

135

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

pedidos formulados na inicial. Consequentemente, condenou o autor ao pagamento


das custas processuais e dos honorários advocatícios, fixado em R$3.000,00.
2. O autor interpôs recurso de apelação (f. 413/422 - mov. 117.1), pleiteando a
reforma da sentença para expurgar a capitalização de juros do cálculo das prestações
e afastar a cobrança da das tarifas de cadastro, de cobrança e de serviços de terceiros,
de registro e de avaliação.
Nas contrarrazões (f. 430/475 ­ mov. 123.1), a ré alega ofensa ao disposto no artigo
514, II do Código de Processo Civil/1973 e refuta os argumentos do recurso.
É o relatório.
II- VOTO
Presentes os pressupostos processuais de admissibilidade, intrínsecos e extrínsecos,
conheço do recurso.
3. Ao contrário do que aduz a instituição financeira ré em sede de contrarrazões (f.
430/475 ­ mov. 123.1), nas razões de apelação de f. 413/422 (mov. 117.1) estão
presentes de forma clara e precisa os motivos de fato e direito que embasam o pedido
de reforma da sentença. O apelante defende que foi computada a capitalização de
juros no cálculo das prestações do financiamento, sem constar no contrato cláusula
expressa autorizando a cobrança de juros compostos, o que é vedado pela legislação
e a abusividade da cobrança das tarifas administrativas. Portanto, não houve ofensa ao
artigo 514, II do Código de Processo Civil/1973.
4. É perfeitamente possível promover a revisão dos contratos, através da intervenção
do Estado, sem ofensa dos princípios que orientam a liberdade de contratar. Diz a
doutrina que “(...) A vontade das partes não é mais a única fonte de interpretação que
possuem os juízes para interpretar um instrumento contratual. A evolução doutrinária
do direito dos contratos já pleiteava uma interpretação teleológica do contrato, um
respeito maior pelos interesses sociais envolvidos, pelas expectativas legítimas das
partes, especialmente das partes que só tiveram a liberdade de
aderir ou não aos termos pré-elaborados”. (Cláudia Lima Marques em “Contratos no
Código de Defesa do Consumidor”, 4ª ed., Ed. RT, p. 227).
No caso, a relação jurídica é regulada pela legislação consumerista2; assim,
comprovada a onerosidade excessiva e a hipossuficiência do consumidor, fica
autorizada a revisão das cláusulas contratuais, independentemente do contrato ser
“pré” ou “pós” fixado. A vulnerabilidade fática ou socioeconômica do contratante
diante da instituição financeira se presume, uma vez que essa por sua posição impõe
sua superioridade a todos que com ela contratam.
Com efeito, o princípio da força obrigatória dos contratos - pacta sunt servanda - foi
mitigado para se coadunar com a sistemática do Código de Defesa do Consumidor, e
também para atender a função social dos contratos, agora expressamente prevista no
artigo 421 do Código Civil, “a liberdade de contratar será exercida em razão e nos
limites da função social do contrato”.
5. A respeito da capitalização de juros e da respectiva taxa, o Superior Tribunal de
Justiça autorizou a incidência de juros compostos em todos os contratos firmados após
a edição da Medida Provisória nº 1.963-17/2000 (em vigor como MP nº

136

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

2.170/36/2001), quando expressamente pactuado, bem como admitiu como válida a


taxa de juros anual contratada, fixando as seguintes súmulas:
“Súmula 539: É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior à anual
em contratos celebrados com instituições integrantes do Sistema Financeira Nacional a
partir de 31/3/2000 (MP n. 1.963-17/2000, reeditada como MP n. 2.170- 36/2001),
desde que expressamente pactuada”.
“Súmula 541: A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao
duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual
contratada”.
No contrato de financiamento com prestações prefixadas é possível calcular o seu
valor pelo método matemático empregado pelo contratado. O direito brasileiro,
desde a edição do Decreto 22.626, de 1933, proíbe a incidência de juros
remuneratórios sobre juros vencidos. Tal prática passou a ser conhecida como
“capitalização”, “juros compostos” ou “anatocismo”. A orientação é no sentido de
impedir que o credor, após o vencimento do crédito, possa adicionar novos juros
sobre os juros já vencidos em decorrência do inadimplemento da obrigação. Esse é o
fenômeno do anatocismo proibido pela legislação brasileira. Por outro lado, a
legislação nunca proibiu a utilização de método de cálculo composto para determinar,
no momento da contratação, o valor prefixado da prestação. Quando a taxa de juros é
integrada no valor prefixado da prestação antes de iniciar o cumprimento da
obrigação, não é possível falar em incidência de juros sobre juros vencidos. A
utilização do método de juros compostos não se confunde com anatocismo, pois o
valor de cada prestação é composto pela fração do capital (divisão do valor inicial da
operação de crédito pelo número de meses) mais o juro remuneratório e eventual
outro encargo contratado (imposto). O valor agregado ao capital integra a composição
do débito assumido, ou seja, o valor da operação de crédito contratada. Assim, o
devedor assume a obrigação de pagar, na data do vencimento, o valor prefixado de
uma prestação. Segundo o entendimento esposado, não encontra lógica reconhecer
que, quando da prefixação do valor das prestações foram incluídos juros sobre juros
vencidos ou juros computados de forma exponencial.
Portanto, restou prejudicado o pedido de declaração incidental de
inconstitucionalidade da Medida Provisória nº 1.963- 17/2000, em vigor como MP nº
2.170-36/2001.
Também não é razoável questionar a capitalização com base na súmula nº 121 do
Supremo Tribunal Federal. A orientação ditada pelo Superior Tribunal de Justiça no
julgamento do REsp nº 973.827-RS, sob o regime do artigo 543-C do Código de
Processo Civil, para os contratos bancários, suplantou a mencionada súmula.
6. A cobrança de tarifas administrativas é fiscalizada pelo Banco Central conforme
estabelece os comandos editados por ordem do Conselho Monetário Nacional.
O Conselho Monetário Nacional ­ CMN, fazendo uso das atribuições outorgadas pela
Lei 4.959/1964 regulamentou a cobrança das tarifas bancárias. A primeira delas
(Resolução 2.303/1996) proibiu a cobrança pelos seguintes serviços: fornecimento de
cartão e talonário de cheques, substituição de cartão magnético, devolução de

137

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cheques salvo por insuficiência de fundos, manutenção de conta poupança e


depósitos à ordem do Poder Judiciário e extrato mensal.
Todos os demais serviços prestados e contratados pelo correntista ou cliente estavam
autorizados. Tanto é verdade que o Banco Central tarifou o preço de todos esses
serviços. Esta resolução foi revogada pela Resolução nº 3.518/2007, que por sua vez
condicionou a cobrança das tarifas, desde que prevista no contrato ou tenha sido o
respectivo serviço previamente solicitado e autorizado.
Posteriormente, em 25.11.2010, a Resolução nº 3.518/2007 foi revogada pela
Resolução 3.919/2010, porém foi mantida a cobrança das tarifas quando houver a
previsão contratual.
Diante dessa regulamentação o Superior Tribunal de Justiça editou a súmula 565:
“A pactuação das tarifas de abertura de crédito (TAC) e de emissão de carnê (TEC),
ou outra denominação para o mesmo fato gerador, é válida apenas nos contratos
bancários anteriores ao início da vigência da Resolução-CMN n. 3.518/2007, em
30/4/2008”.
6.1. No caso em comento, o contrato foi celebrado no dia 28 de maio de 2007,
portanto, sob a égide da Resolução nº 2.303/96 do Conselho Monetário Nacional3. A
tarifa de abertura de crédito ou cadastro foi pactuada no valor de R$350,00 e a tarifa
de emissão de boleto ou cobrança foi contratada no valor de R$4,00 por boleto
bancário (f. 355 ­ mov. 91.1), de modo que o consumidor consentiu com tais
cobranças. Os valores estão na média do mercado,
razão pela qual não visualizamos qualquer abusividade. Ademais, o autor da revisional
sequer apontou no que consistia a abusividade para pedir a exclusão da cobrança e
consequente repetição do que foi pago. Somente é possível afastar a cobrança dessas
tarifas quando o autor pedir e comprovar a sua abusividade. Não é o caso dos
presentes autos.
6.2. Por outro lado, verifico que não houve a contratação das tarifas de serviços de
terceiros, de registro e de avaliação e não foi apresentada qualquer prova no sentido
de demonstrar que foram computados valores a tais títulos na operação de crédito. Se
as tarifas não foram contratadas, carece o autor de interesse processual.
7. No particular, como houve a manutenção da sentença, com a improcedência dos
pedidos, não há que se falar em repetição do indébito ou compensação de valores.
8. O ônus da sucumbência deve ser mantido conforme disciplinado na sentença.
9. Diante do exposto, voto no sentido de negar provimento ao recurso de apelação.
III- DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao
recurso de apelação.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador RUI BACELLAR FILHO, com voto, e
dele participaram os Desembargadores LAURI CAETANO DA SILVA e TITO CAMPOS
DE PAULA.
Curitiba, 24 de maio de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--
138

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1 Sentença proferida e publicada no dia 23.05.2016.


2 “O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras” (Súmula
nº 297).
3 Sessão realizada 25/07/1996.

2.1.16. DESCABIMENTO DE CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS – CAUSÍDICO

QUE NÃO PROVOCOU O RESULTADO

AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. PROCESSO EXTINTO, SEM RESOLUÇÃO DE

MÉRITO. ART. 485, III DO CPC/15. RÉU NÃO CITADO. COMPARECIMENTO

ESPONTÂNEO. TRABALHO DO CAUSÍDICO QUE NÃO INFLUENCIOU NO DECISUM.

CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS. DESCABIMENTO. SENTENÇA MANTIDA.

RECURSO DESPROVIDO. "O comparecimento espontâneo do réu aos autos, sem que

seu advogado tenha efetivamente laborado no processo, não garante ao causídico

direito a honorários na hipótese de extinção do feito sem julgamento do mérito" (TJ-

DF - AC: 20120610100209, Rel.: Sebastião Coelho, 5ª T.Cív., DJE: 13/04/2015).

(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1649091-2 - Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime

- J. 24.05.2017)

Inteiro Teor

I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de recurso de apelação interposto por Marcia Regina Pereira, em virtude
da sentença de f. 82, dos autos nº 36919-81.2011.8.16.0001, de ação de reintegração
de posse, pela qual o MM. Juiz a quo julgou extinto o processo, sem resolução de
mérito, com fundamento no art. 485, III do Código de Processo Civil/15,
reconhecendo o abandono da causa. Condenou o autor ao pagamento das custas
processuais.
2. Inconformada, a ré interpôs recurso de apelação (f.85/90), pleiteando a condenação
da autora ao pagamento de honorários sucumbenciais.
Contrarrazões não apresentadas.
É o relatório.
II- VOTO
Presentes os pressupostos recursais, objetivos e subjetivos, merece o recurso ser
conhecido.

139

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3. Como é cediço, nas ações de reintegração de posse decorrentes de


inadimplemento de contrato de arrendamento mercantil, a citação ocorre apenas após
o cumprimento do mandado.
No caso em tela, o mandado de reintegração de posse não foi cumprido e,
logicamente, não foi promovida a citação. A ré compareceu espontaneamente ao
processo às f. 29/31, informando que havia ajuizado ação revisional e celebrado
acordo com o autor naqueles autos.
Pois bem. A jurisprudência vem entendendo que é possível a condenação do autor ao
pagamento de honorários ao patrono da parte ré quando esta comparece
espontaneamente ao processo. Para tanto, contudo, é necessário que o trabalho do
advogado tenha conduzido ao resultado final, seja com a resolução de mérito ou sem.
Confira-se:
PROCESSO CIVIL. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA. BUSCA E APREENSÃO.
AUSÊNCIA DE CITAÇÃO. EXTINÇÃO DO FEITO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO.
APELAÇÕES. AUSÊNCIA DE VÍCIOS. DESPROVIMENTO. 1. A extinção do feito por
ausência de pressuposto de constituição e desenvolvimento válido e regular do
processo (CPC, art. 267, IV) não exige a prévia intimação pessoal da parte. 2. Apenas
nas hipóteses de abandono da causa (CPC, art. 267, II e III), é imprescindível a prévia
intimação pessoal da parte, conforme prescreve o Código de Processo Civil, artigo
267, § 1º. 3. O comparecimento espontâneo do réu aos autos, sem que seu advogado
tenha efetivamente laborado no processo, não
garante ao causídico direito a honorários na hipótese de extinção do feito sem
julgamento do mérito. 4. Apelações conhecidas e desprovidas. (TJ-DF - AC:
20120610100209, Rel.: Sebastião Coelho, 5ª T.Cív., DJE : 13/04/2015)
AÇÃO REINTEGRAÇÃO DE POSSE. PROCESSO EXTINTO, SEM RESOLUÇÃO DE
MÉRITO.
PEDIDO DE DESISTÊNCIA. EXTINÇÃO COM BASE NO ART. 267, III, DO CPC.
CONDENAÇÃO DO AUTOR EM HONORÁRIOS DE SUUMBÊNCIA.
IMPOSSIBILIDADE.
AUSÊNCIA DE CITAÇÃO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. “É descabida a
condenação alusiva ao pagamento da verba honorária, considerando que não ocorreu
a citação da parte executada, assim como despesas com a contratação de advogado
para patrocinar a sua defesa.” (TRF-5 - AC: 301070 PE, Rel.: Luiz Alberto Gurgel de
Faria, 4ªT, J.: 20/05/2003). (TJPR ­ AC nº 1.262.379-1, Rel.: Des. Lauri Caetano da Silva,
17ª CC, J.: 28.01.2015).
AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. PROCESSO EXTINTO,
SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO. ART. 267, III DO CPC. RÉU NÃO CITADO.
COMPARECIMENTO ESPONTÂNEO. TRABALHO DO CAUSÍDICO QUE NÃO
INFLUENCIOU NO DECISUM.
CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS. DESCABIMENTO. SENTENÇA MANTIDA.
RECURSO DESPROVIDO. “O comparecimento espontâneo do réu aos autos, sem que
seu advogado tenha efetivamente laborado no processo, não garante ao causídico
direito a honorários na hipótese de extinção do feito sem julgamento do mérito” (TJ-

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DF - AC: 20120610100209, Rel.: Sebastião Coelho, 5ª T.Cív., DJE: 13/04/2015). (TJPR ­


AC nº 1.364.110-2, Rel.: Des. Lauri Caetano da Silva, 17ª CC, J.: 04.11.2015)
No caso concreto, verifica-se que o processo foi extinto por abandono do autor, ou
seja, em virtude de sua própria inércia. Note-se que sequer houve requerimento ou
consulta à ré para a extinção do processo. Ademais, sequer foi apresentada defesa,
tendo a ré juntado apenas manifestações e documentos. Assim, à luz da
jurisprudência, não é possível afirmar que o trabalho do advogado tenha influenciado
o magistrado quando da prolação da sentença não se podendo, portanto, falar em
condenação do autor ao pagamento de honorários advocatícios.
4. Ante o exposto, voto no sentido de negar provimento ao recurso.
III- DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao
recurso.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador RUI BACELLAR FILHO, com voto, e
dele participaram os Desembargadores LAURI CAETANO DA SILVA e TITO CAMPOS
DE PAULA.
Curitiba, 24 de maio de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator

2.1.17. AÇÃO PETITÓRIA APÓS AÇÃO POSSESÓRIA IMPROCEDENTE

CIVIL E PROCESSO CIVIL. AÇÃO REIVINDICATÓRIA. PEDIDO JULGADO

PROCEDENTE. RÉ QUE RECORRE DO DECISUM. AÇÃO PETITÓRIA

FUNDAMENTADA NO JUS POSSIDENDI. INEXISTÊNCIA DE COISA JULGADA COM

AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE ANTERIORMENTE AJUIZADA E JULGADA

IMPROCEDENTE. CAUSA DE PEDIR DIVERSA. AUTOR QUE COMPROVA O DOMÍNIO

SOBRE O IMÓVEL. IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE ACERCA DA NULIDADE DO

TÍTULO DE DOMÍNIO. POSSE INJUSTA EVIDENCIADA. SENTENÇA ESCORREITA.

RECURSO DESPROVIDO.

(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1629860-1 - Foz do Iguaçu - Rel.: Lauri Caetano da Silva -

Unânime - J. 24.05.2017)

141

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Inteiro Teor

I - RELATÓRIO
1. Lourenço Martinez ajuizou ação reivindicatória (autos nº 2444-36.2016.8.16.0030 ­
PROJUDI) em face de Leila Aparecida Bencke aduzindo, em síntese, que a) é o
legítimo proprietário do imóvel objeto da matrícula nº 32.182, situado no quadrante
10, quadrícula 01, setor 32, quadra 32, lote nº 119, no Loteamento denominado
Jardim Manaus, com a área de 402,00m²; b) adquiriu o imóvel de Sonia Beckmann
Haacke, mediante Escritura Pública de Compra e Venda, lavrada no dia 09 de julho de
2013; c) permitiu que sua tia, Sonia Beckmann Haacke, residisse no imóvel, até a data
de seu
falecimento; d) a ré está indevidamente ocupando o imóvel. Diante de tais fatos,
pleiteou a concessão liminar de ordem de desocupação e, ao final, a procedência do
pedido, com a condenação da ré ao pagamento de indenização pelo uso indevido do
imóvel.
2. Leila Aparecida Bencke apresentou resposta em sede de contestação (mov. 12.1 - f.
83/86) alegando, preliminarmente a litispendência com a Ação de Reintegração de
Posse nº 00017828- 44.2013.8.16.0030, em trâmite perante a 2ª Vara Cível da
Comarca de Foz do Iguaçu, a qual foi julgada improcedente, tendo a sentença sido
confirmada no julgamento da Apelação Cível nº 1.287.978-0. No mérito, pugnou pela
improcedência do pedido e a condenação do autor ao pagamento de multa por
litigância de má-fé.
3. O MM. Juiz a quo saneou o processo, afastando as preliminares suscitadas e
fixando os pontos controvertidos (mov. 17.1 ­ f. 131/133).
4. Na audiência de instrução e julgamento (mov. 45.1 ­ f. 336/343), foi tomado o
depoimento pessoal do autor Lourenço Martinez e ouvidas as testemunhas Sonia
Beckmann Haacke, Daiane Aparecida Maas, Ildo Ivo Sommerfelt, Felipe Guimarães
Peixoto, Luis Pasini e Simone Passini.
5. O MM. Juiz a quo proferiu sentença (mov. 51.1 - f.
385/391), julgando procedentes os pedidos formulados na petição inicial, para imitir o
autor na posse do imóvel, concedendo à ré o prazo de 30 dias para a desocupação
voluntária. Pelo princípio da sucumbência, condenou a ré ao pagamento das custas
processuais e honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o valor atualizado da
causa, nos termos do §2º, do art. 85 do NCPC.
6. Inconformada, a ré Leila Aparecida Bencke interpôs recurso de apelação (mov. 56.1
- f. 397/428) pleiteando a reforma da sentença, alegando que houve ofensa à coisa
julgada, pois foi reconhecido nos autos de Ação de Reintegração de Posse nº
00017828-
44.2013.8.16.0030 que a sua posse era justa. Afirma, ainda, que adquiriu o imóvel por
meio de Contrato Particular de Compra e Venda (mov. 33.16) e a prova oral
comprovou a irregularidade da Escritura Pública de Compra e Venda que lhe transferiu
o domínio, a qual deve ser declarada nula.
Contrarrazões de apelação no mov. 63.1 (f. 437/461).
É o relatório.

142

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II- VOTO
7. Anoto que o benefício da assistência judiciária gratuita já foi deferido pelo
magistrado a quo na sentença. Assim, não há necessidade de nova confirmação no 2º
grau, pois as custas processuais e os honorários advocatícios só se tornam exigíveis se
for comprovada a modificação da condição econômico-financeira do beneficiário.
8. Conforme a regra inserta no artigo 1.228 do Código Civil, o proprietário tem a
faculdade de reaver a coisa do poder de quem quer que injustamente a possua ou
detenha.
A faculdade de reivindicar é, portanto, a prerrogativa do proprietário de excluir a
ingerência alheia injusta sobre coisa sua. A ação reivindicatória, espécie de ação
petitória, com fundamento no jus possidendi, é ajuizada pelo proprietário sem posse,
contra o possuidor sem propriedade. Irrelevante, pois, a prova da posse anterior do
proprietário, pois a ação se funda no ius possidendi e não no ius possessionis.
Esse é o ensinamento de Silvio de Salvo Venosa:
“A ação reivindicatória é a ação petitória por excelência. É direito elementar e
fundamental do proprietário a sequela; ir buscar a coisa onde se encontra e em poder
de quem se encontra. Deflui daí a faculdade de o proprietário recuperar a coisa.
Escuda-se no direito de
propriedade para reivindicar a coisa do possuidor não proprietário, que a detém
indevidamente”. (Direito Civil, v. 5. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 265).
Sobre o mesmo tema J. M. Carvalho Santos assevera que:
“A ação reivindicatória pode ser intentada contra qualquer possuidor, não só o de
má- fé, mas também o de boa-fé, e contra qualquer detentor, qualquer que seja a
causa pela qual possua a coisa, pouco importando que a possua ou detenha por conta
própria ou por conta de outrem. Porque o proprietário é autorizado a reivindicar a
coisa que lhe pertence de qualquer pessoa que a tenha em seu poder, não sendo
justo que se exigisse dele, para exercitar esse seu direito, fosse pesquisar por qual
título o objeto se encontra nas mãos do detentor ou possuidor. Tanto mais quanto o
domínio é um direito real, vale dizer - exequível contra qualquer em poder de quem
esteja a coisa, seja a que título for” (Código Civil interpretado, vol. VII, p. 287).
Também Orlando Gomes explica essa espécie de ação:
“Um dos direitos elementares do domínio é a faculdade do seu titular de reaver a
coisa do poder de quem quer que injustamente a detenha, ou possua. Essa pretensão
se exerce mediante a ação de reinvindicação, que, segundo conhecida fórmula,
compete ao proprietário não-possuidor contra o possuidor não-proprietário. O
fundamento da ação reivindicatória é o direito de sequela, esse poder de seguir a
coisa onde quer que esteja, que é um dos atributos dos direitos reais (Direito reais,
16.ed., Rio de Janeiro: Forense, p.
256/257).
8.1. Nesta toada, como bem apontou o magistrado singular, a improcedência da
Ação de Reintegração de Posse nº 00017828-44.2013.8.16.003, anteriormente
ajuizada por Lourenço Martinez em face de Leila Aparecida Bencke, não influencia no
julgamento da presente ação reivindicatória, fundada no domínio.

143

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Portanto, não se pode falar em ofensa à coisa julgada, eis que a causa de pedir e o
pedido são diversos.
Como leciona Marcus Vinícius Rios Gonçalves1, a garantia da coisa julgada “decorre
da necessidade de que as decisões judiciais não possam mais ser alteradas, a partir de
um determinando ponto. Do contrário, a segurança jurídica sofreria grave ameaça.
É função do Poder Judiciário solucionar conflitos de interesse, buscando a pacificação
social. Ora, se a
solução pudesse ser eternamente questionada e revisada, a paz ficaria definitivamente
prejudicada. A função da coisa julgada é assegurar que os efeitos decorrentes das
sentenças judiciais não possam mais ser modificados, se torne definitivos. É fenômeno
diretamente associado à segurança jurídica, quando o conflito ou a controvérsia é
definitivamente solucionada.”
As ações possessórias estão fundadas exclusivamente no direito de posse, não
importando se a parte autora é ou não proprietário do bem, mas se a sua posse está
sendo violada injustamente, havendo para tanto que demonstrar a presença dos
requisitos elencados no artigo 927 do CPC/ 1973, quais sejam: I ­ sua posse; II ­ a
ocorrência de esbulho; III ­ a data desse esbulho; IV ­ a consequente perda da posse.
Por outro lado, as ações petitórias buscam a defesa da posse, com fundamento no
direito de propriedade.
Na Ação de Reintegração de Posse nº 00017828- 44.2013.8.16.003 a causa de pedir
era diversa e a improcedência do pedido deu-se pelo fato de o autor Lourenço
Martinez não ter comprovado o exercício de posse anterior sobre o imóvel. Tal
requisito é despiciendo tratando-se, agora, de pedido fundado no domínio.
8.2. E o domínio do autor sobre o imóvel está devidamente comprovado pelo registro
na matrícula nº 32.182 da 2ª Circunscrição do Cartório do Registro de Imóveis da
Comarca de Foz do Iguaçu (R-4-32.182 ­ f. 14).
É preciso frisar que, muito embora a apelante alegue na fase recursal que o título de
domínio apresentado pelo autor é nulo, tal questão não foi por ela suscitada seja em
contestação, seja com o oferecimento de reconvenção.
Ora, o artigo 1.245, §2º do Código Civil prevê que, “enquanto não se promover, por
meio de ação própria, a declaração de invalidade do registro, e o respectivo
cancelamento, o adquirente continua a ser havido como dono do imóvel”.
Não é possível, portanto, nessa fase processual, a análise da eventual nulidade do
título dominial, pois se trata de matéria estranha e que não foi objeto de análise pelo
magistrado a quo, tratando-se de verdadeira inovação recursal.
8.3. Frise-se que em se tratando de ação reivindicatório, o conceito de posse injusta,
prescinde dos quesitos de violência, precariedade ou clandestinidade, configurando-
se, tão somente, na demonstração de que a parte ré não possui título de domínio ou
qualquer outro que justifique juridicamente sua ocupação. A detenção injusta se há de
entender, então, como sem título de propriedade, ou sem o caráter de posse direta
através das vias adequadas, o que se verifica nos autos2.
9. Diante do exposto, voto no sentido de negar provimento ao recurso.
III- DECISÃO

144

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ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de


Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao
recurso.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador RUI BACELLAR FILHO, com voto, e
dele participaram os Desembargadores LAURI CAETANO DA SILVA e TITO CAMPOS
DE PAULA.
Curitiba, 24 de maio de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--
1 Direito Processual Civil Esquematizado, 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012, pág. 435.
2 “A justidade da posse (Código Civil de 2002, artigo 1.200, verbo: “É justa a posse
que não for violenta, clandestina ou precária”), ou sua injustidade, tem pertinência se a
ação de direito material de que se trata é a ação executiva de reivindicação, mas não
tem relevância jurídica se a pretensão do legitimado ativo foi deduzida em ação
executiva de imissão de posse.” ALVES, Vilson Rodrigues. Ação de imissão na posse
de bem imóvel. 2. ed. Leme: Distribuidora, 2005. p. 83/84.

2.1.18. CDC – COMPRA E VENDA DE VEÍCULO USADO

AÇÃO OBRIGAÇÃO DE FAZER CUMULADA COM PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR

DANOS MORAIS. COMPRA E VENDA DE VEÍCULO. PEDIDO JULGADO

PARCIALMENTE PROCEDENTE. RECURSO ADESIVO DA RÉ. CONTRATO DE

COMPRA E VENDA. VEÍCULO USADO. ALEGAÇÃO DE VÍCIO DO PRODUTO. ART.

18 DO CDC. INEXISTÊNCIA. NEGLIGÊNCIA DA ADQUIRENTE QUANTO À VISTORIA

DO VEÍCULO NO MOMENTO DE SUA AQUISIÇÃO. RISCO ASSUMIDO. DIREITO À

REPARAÇÃO INEXISTENTE. SENTENÇA REFORMADA. PEDIDO JULGADO

IMPROCEDENTE. DISTRIBUIÇÃO DA SUCUMBÊNCIA. RECURSO PROVIDO.

RECURSO DE APELAÇÃO DA AUTORA. ANÁLISE PREJUDICADA. 1. A prova dos

autos não evidencia a existência de vícios ocultos, mas sim defeito natural decorrente

do uso da coisa. Há que se considerar, também, que a questão dos vícios da coisa

usada não se coloca da mesma forma como quando se trata de produto novo (TJ-RS,

Quinta Câmara Cível, Rel. Jorge Luiz Lopes do Canto, j. 28.09.2011). 2. Quem adquire

veículo usado deve ter a cautela de bem examiná-lo, inclusive por mecânico de sua

confiança, pois é natural que o automóvel apresente desgaste em seus diversos

componentes.

145

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1630843-7 - Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime

- J. 26.04.2017)

Inteiro Teor

I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de recursos de apelação e adesivo interpostos em virtude da sentença
proferida pelo MM. Dr. Juiz da 23ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região
Metropolitana de Curitiba, nos autos nº 0022621-16.2013.8.16.0001 de ação de
obrigação de fazer cumulada com pedido de indenização por danos morais, ajuizada
por Adriana Jucelia Gonçalves dos Santos em face de Etoile Distribuidora de Veículos
Limitada ­ Citroen Granville, que julgou parcialmente procedentes os pedidos
formulados na inicial, para condenar a ré a restituir à autora o valor pago pelo produto
(sinal do negócio, mais as parcelas quitadas do financiamento) atualizado pela média
do INPC/IGP-DI a partir do desembolso e acrescidos de juros de mora, a taxa de 1%
ao mês (art. 161 do CTN e 406 do CC), a partir da citação, bem como a promover o
pagamento do saldo remanescente do contrato de financiamento bancário do veículo.
Julgou improcedente o pedido relativo a condenação da ré ao pagamento de
indenização a título de dano moral. Ante a sucumbência recíproca, condenou as
partes, na proporção 30% para a autora e 70% para a ré, ao pagamento das custas
processuais e dos honorários advocatícios, fixados em 15% sobre o valor total e
atualizado da condenação (mov. 239.1 - f.509/516).
2. A autora Adriana Jucelia Gonçalves dos Santos, interpôs recurso de apelação (mov.
244.1 - f.522/528), pleiteando a reforma parcial da sentença, para que a ré seja
condenada ao pagamento de indenização a título de dano moral.
Contrarrazões ao recurso de apelação (mov. 254.1 - f.
557/564).
3. A ré Etoile Distribuidora de Veículos Limitada ­ Citroen Granville interpôs recurso
adesivo (mov. 255.1 - f. 566/573), alegando que (i) a autora tinha plena ciência das
condições do veículo no momento de sua entrega; (ii) embora a perícia realizada tenha
indicado que o veículo havia sido recuperado, é certo que, os defeitos constatados
não justificam a rescisão contratual, pois o mesmo foi adquirido com alguns anos de
uso; (iii) apesar de conter algumas peças recuperadas/repintadas, tais questões não
impedem o seu uso e são absolutamente naturais em se tratando de usado; (iv)
alternativamente, caso a sentença não seja reformada para afastar a ordem de
restituição dos valores pagos, pede que seja descontado do valor a ser restituído,
montante proporcional ao tempo em que a autora usufruiu do veículo.
Contrarrazões ao recurso adesivo (mov. 259.1 - f.
582/588).
É o relatório.
II- VOTO
Presentes os pressupostos recursais de admissibilidade, intrínsecos e extrínsecos,
merecem os recursos serem conhecidos.
146

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4. Antes de apreciar o mérito dos recursos, é necessário contextualizar os fatos. No


dia 04.01.2013, a autora Adriana Jucelia Gonçalves dos Santos celebrou com a ré
Etoile Distribuidora de Veículos Limitada ­ Citroen Granville contrato de compra e
venda do veículo marca Citroen, modelo Xsara Picasso/2.0, 16 V, ano de fabricação
2009, modelo 2010, Chassi AB524616, placas BEL-8687, pelo valor de R$34.900,00
(mov. 28.4 ­ f. 122). Efetuou o pagamento à vista de R$15.000,00 e para pagamento
do restante do preço ajustado (R$24.035,55) celebrou com a BV Financeira S/A
contrato de mútuo, assumindo a obrigação de liquidá-lo em 60 prestações mensais de
R$648,84.
Em fevereiro de 2013, um mês após a compra, a autora precisou realizar a troca dos
pneus. Como o referido serviço não era coberto pela garantia, procurou um serviço
terceirizado, momento em que foi advertida acerca das avarias e/ou reparações que o
veículo havia sofrido. Diante do seu desconhecimento técnico, em 18.02.2013,
contratou um perito, de quem recebeu um laudo de vistoria cautelar, reprovando a
qualidade do produto, haja vista a existência de reparos de funilaria e pintura no
painel frontal superior e inferior sem substituição de peça, reparo nos para-lamas
direito e esquerdo e reparo de funilaria e pintura no painel traseiro inferior e
substituição de folha lateral lado esquerdo com caixa de ar.
Assim, requereu, na via extrajudicial, a substituição do veículo por outro de mesma
marca, modelo e ano, não obtendo êxito, razão pela qual ajuizou a presente ação.
A requerida apresentou resposta em sede de contestação (mov. 28.1 ­ f. 85/96),
afirmando que, no momento da celebração do pacto, a autora não fez qualquer tipo
de observação quanto à existência de avarias; pelo contrário, afirmou que o bem
estaria em perfeitas condições de uso, externando sua satisfação com seu estado de
conservação. Sustenta que não possui responsabilidade por eventuais danos causados
ao veículo após a entrega à autora. Diz, ainda, que o veículo já possuía anos de uso e
a existência de eventuais peças recuperadas/repintadas não impediriam sua utilização.
Dessa forma, postulou a improcedência dos pedidos.
Do recurso adesivo interposto pela ré Etoile Distribuidora de Veículos Limitada ­
Citroen Granville.
5. Observa-se da análise dos autos que a controvérsia se cinge em apurar se o veículo
objeto do contrato de compra e venda firmado entre as partes continha vício de
qualidade, apto a ensejar
a responsabilização da revendedora, nos termos do artigo 18 do Código de Defesa
do Consumidor1.
5.1. A autora afirmou que, após a análise do veículo por um perito especializado,
constatou os seguintes vícios no veículo:
“O Veículo examinado apresentava avaria e/ou reparo na região dianteira da
carroceria.
O veículo examinado possui irregularidade passível de não aceitação em
COMPANHIA DE SEGURO.
Sendo necessária a Inspeção de Segurança Veicular pelo INMETRO.
(...) O veículo encontrava-se com reparos na funilaria e pintura no painel frontal
superior e inferior sem substituição de peça e reparo nos paralamas direito e
147

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esquerdo. Reparo de funilaria e pintura no painel traseiro inferior e substituição de


folha lateral lado esquerdo com caixa de ar” (mov. 1.10 - f. 25/28).
No decorrer do processo anexou outro “Laudo de Vistoria Cautelar”, no qual apontou
que o veículo apresentava as seguintes avarias (mov. 81.2 - f. 225/227):
“Painel e travessa dianteira recuperada, folha lateral traseira esquerda trocada junto
com parte da caixa de ar lado direito, painel traseiro e assoalho do porta-malas
recuperada”.
Todavia, nenhum dos “vícios” discriminados é capaz de justificar a rescisão do
contrato, considerando-se que se trata de veículo usado, fabricado no ano de 2009, o
qual já sofrera o desgaste natural do uso.
Outrossim, os defeitos apontados quanto à pintura, assoalho do veículo, para-lamas,
entre outros, são facilmente identificáveis e não comprometem o regular uso do bem.
Ademais, vale apontar que em consulta a Tabela Fipe no mês de janeiro de 2013
(aquisição do veículo pela autora), o veículo estava avaliado em R$40.265,00. Confira-
se:
Ora, se a autora pagou pelo veículo a importância de R$34.900,00, ou seja, abaixo do
preço médio indicado pela Tabela Fipe, certamente tinha conhecimento do estado do
veículo, razão pela qual teve um abatimento no preço.
5.2. De outro lado, na perícia realizada em 11 de novembro de 2014 (Laudo Pericial ­
mov. 151.1 - f.346/373), o Sr. Perito concluiu que:
“1 ­ as evidencias que existem defeitos no veículo Citroën Xsara Picasso 2.0 16V BVA
de placa BEL 8687 e: A) indica que a parte dianteira sofreu um abalroamento frontal
de frente para trás e não sendo possível definir, quando ocorreu o sinistro e por que
foi realizada a recuperação.
B) indica que a parte traseira sofreu uma abalroamento traseiro obliquo de trás para a
frente do lado direito para a esquerda, e pelo estado geral da pintura da porta traseira
aspecto de que foi pintada a muito tempos atrás), é possível afirmar que a pintura foi
realizada anteriormente a negociação do antigo proprietário com a Requerida”.
Em respostas aos quesitos elaborados pela parte, afirmou que:
1. Pergunta-se ao Sr. Perito qual o estado geral de conservação do automóvel.
Resposta: O estado geral é regular, existe a necessidade de realização de uma
manutenção, no motor que tem vazamento de óleo lubrificante, estado geral da
pintura que não foi aplicado verniz, e algumas peças que necessitam ser substituídas.
2. Pergunta-se ao Sr. Perito se o veículo tem algum defeito na pintura. É possível
afirmar se e quando o carro foi repintado e reparado, bem como quem fez esse
serviço? Resposta: a) Sim b) O veículo sofreu reparações na parte dianteira e traseira
do veículo Citroën Xsara Picasso 2.0 16V BVA de placa BEL 8687.
A evidencia indica que a parte dianteira sofreu um abalroamento frontal central e não
foi possível identificar quando os reparos foram realizados, pode ter sido realizadas
anterior ou posterior a compra do veículo Citroën Xsara Picasso 2.0 16V BVA de placa
BEL 8687 pela Requerente.
As evidencias indicam que a parte traseira sofreu um abalroamento traseiro obliquo,
pelo aspecto da tinta aplicada que tem características de pintura velha, é possível
afirmar que a recuperação realizada na parte traseira é anterior a entrada do veículo
148

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Citroën Xsara Picasso 2.0 16V BVA de placa BEL 8687 na negociação de troca do
cliente com a Requerida.
3. Caso o carro tenha sido repintado, pergunta-se ao Sr. perito se isso impede o uso
do automóvel. Do mesmo modo, pergunta-se se é comum que carros vendidos como
usados apresentem um ou outro retoque em sua pintura ou ainda mesmo desgaste na
pintura.
Resposta: a) Não b) Sim.
Como visto, é possível que veículos usados apresentem retoque ou desgaste na
pintura, sendo importante que tais vícios não comprometam o regular uso do bem e
nem coloquem em risco a segurança do consumidor, o que não se verificou no
presente caso.
Além disso, alguns dos “defeitos” apontados poderiam ter sido constados pela autora
no momento da aquisição do veículo, conforme destacado pelo perito judicial:
1. A repintura do veículo e as avarias no carro verificadas poderiam ser constatas no
momento da compra do veículo pela Sra. Adriana, ou seja, a olho nu? Resposta: As
evidencias indicam que, mesmo a Autora tivesse realizando uma vistoria no veículo
Citroën Xsara Picasso 2.0 16V BVA de placa BEL 8687 antes da compra, para uma
pessoa leiga ao observar a olho nu poderia perceber que: Pintura ­ somente
sobreposição de tinta entre a aplicação plástica e lataria da porta traseira do veículo
Citroën Xsara Picasso 2.0 16V BVA de placa BEL 8687 poderia ser observado; - no
restante da pintura do veículo Citroën Xsara Picasso 2.0 16V BVA de placa BEL 8687, a
Autora não poderia perceber a repintura e a falta de verniz, porque na perícia foi
constatado que a Autora não tem conhecimentos sobre pintura automotiva; Avarias ­
as avarias na parte frontal e traseira do veículo Citroën Xsara Picasso 2.0 16V BVA de
placa BEL 8687, a Autora não teria condições de percebes as avarias; - o
desalinhamento do capo em relação aos pára-lamas/faróis dianteiro esquerdo e direito
do veículo Citroën Xsara Picasso 2.0 16V BVA de placa BEL 8687, é perceptível para
qualquer pessoa.
Dessa forma, não há que se falar em vício de qualidade ou vício oculto. A percepção
do defeito aparente, por si só, conduz o “homem médio” a procurar pessoa
especializada na área para avaliar o defeito. O vício oculto (qualidade) não requer que
o contratante tenha conhecimento exato do defeito, mas sim que ele seja perceptível
a ponto de gerar dúvida. No dizer de Nelson Nery Junior,
“consideram-se aqueles que não impressionam diretamente os sentidos”2. Não é o
que ocorre nos autos.
Vale lembrar que, quem adquire veículo usado (Xsara Picasso/2.0 ano 09/10), em face
do natural desgaste das peças, deve ter a cautela de, no momento da compra, realizar
prévia avaliação com mecânico/perito de sua confiança, para ter ciência das reais
condições e dos riscos e prejuízos que a aquisição pode oferecer.
No caso em tela, conforme se depreende do “termo de Garantia de Veículo Usado
(mov. 28.3 ­ f. 117), a autora atestou que estava satisfeita com o estado de
conservação e desempenho do veículo”. Embora alegue na petição inicial que não
detinha o conhecimento técnico necessário para a avaliação do real estado de

149

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conservação do bem, não tomou o cuidado de chamar um mecânico/perito de sua


confiança para realizar uma prévia vistoria.
Ora, se a autora decidiu realizar o negócio, mesmo sabendo que se tratava de um
veículo usado e com alguns anos de uso, deixando de realizar o exame por alguém
com conhecimento técnico, não pode agora, alegar vício de qualidade do produto,
pretendendo o reembolso dos valores pagos e a rescisão do contrato de compra e
venda.
Além disso, não se deve confundir o tratamento dado aos veículos usados com aquele
dado aos novos. Não se pode ignorar o desgaste natural do veículo, além do fato
deste continuar na posse da autora desde sua aquisição. O Sr. Perito informou que a
autora utiliza regularmente o veículo.
A corroborar:
APELAÇÃO CÍVEL INTERPOSIÇÃO CONTRA SENTENÇA QUE JULGOU
IMPROCEDENTE AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL C/C REPARAÇÃO DE DANOS.
AQUISIÇÃO DE VEÍCULO (MOTOCICLETA) USADO. ALEGAÇÃO DE EXISTÊNCIA DE
VÍCIO REDIBITÓRIO OU OCULTO. INEXISTÊNCIA. VEÍCULO ADQUIRIDO NO
ESTADO EM QUE SE ENCONTRA.
RISCO ASSUMIDO PELO ADQUIRENTE. SENTENÇA MANTIDA. (TJPR, 7ª C. Cível,
AC 1093357-4, Rel.: Victor Martim Batschke, j. 10.12.2013)
RECURSO INOMINADO. COMPRA E VENDA DE VEÍCULO USADO ENTRE
PARTICULARES.
VÍCIO REDIBITÓRIO. RESPONSABILIDADE DO VENDEDOR INEXISTENTE.
NEGLIGÊNCIA DA COMPRADORA AO NÃO SOLICITAR PREVIAMENTE, O EXAME
DO BEM POR MECÂNICO DE SUA CONFIANÇA. ABATIMENTO NO VALOR DA
COMPRA. SENTENÇA MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. RECURSO
DESPROVIDO. (Recurso Cível Nº 71005563572, Terceira Turma Recursal Cível, Turmas
Recursais, Relator: Glaucia Dipp Dreher, Julgado em 22/10/2015).
RECURSO INOMINADO. COMPRA E VENDA DE VEÍCULO USADO. CONSUMIDOR.
VÍCIO OCULTO NÃO COMPROVADO. DANO MATERIAL INOCORRENTE. DANO
MORAL NÃO CONFIGURADO. (...) TRATANDO-SE DE VEÍCULO COM LARGO
TEMPO DE FABRICAÇÃO E USO, DEVERIA TER O AUTOR SE CERTIFICADO DAS
EXATAS CONDIÇÕES DO CAMINHÃO, INCLUSIVE COM VISTORIA MAIS
MINUCIOSA. AO CONTRÁRIO, MESMO COM OS APONTAMENTOS DE SEU
MECÂNICO DE CONFIANÇA, OPTOU POR REALIZAR O NEGÓCIO COM VALOR
ABAIXO DO MERCADO E, AINDA, COM DESCONTO. DESSA FORMA, ASSUMIU O
RISCO POR EVENTUAIS DEFEITOS FUTUROS.
DANO MORAL INOCORRENTE. NÃO CONFIGURADA SITUAÇÃO DE AFRONTA
AOS ATRIBUTOS DE PERSONALIDADE DA PARTE AUTORA. MEROS DISSABORES
DECORRENTES DO ENTENDIMENTO DIVERSO DAS PARTES SOBRE O FATO.
NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO SENTENÇA MANTIDA (TJRS, RECURSO
CÍVEL Nº 71004940755, SEGUNDA TURMA RECURSAL CÍVEL, TURMAS RECURSAIS,
RELATOR: ANA CLÁUDIA CACHAPUZ SILVA RAABE, JULGADO EM 17/12/2014)
BEM MÓVEL. COMPRA E VENDA DE VEÍCULO USADO. AÇÃO REDIBITÓRIA C.C.

150

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INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. CRITÉRIO DA VIDA ÚTIL DO


BEM DURÁVEL. DESGASTES NORMAIS E APARENTES DO VEÍCULO DEVIDO AO
TEMPO DE USO. NEGLIGÊNCIA DA ADQUIRENTE QUANTO À VISTORIA DO
VEÍCULO. VÍCIO NÃO CONSTATADO. DIREITO À REPARAÇÃO INEXISTENTE. OS
PROBLEMAS MECÂNICOS DE VEÍCULO COM VÁRIOS ANOS DE USO E
QUILOMETRAGEM ELEVADA NÃO CONSTITUEM VÍCIOS OCULTOS, MAS, SIM,
DESGASTES NORMAIS E APARENTES DO VEÍCULO DEVIDO AO TEMPO DE USO.
AUSÊNCIA DE VÍCIO OCULTO QUE AFASTA A APLICAÇÃO DO ART. 18 DO CDC.
IMPROCEDÊNCIA DA PRETENSÃO INICIAL. RECURSO PROVIDO.
(TJ/SP, REL.: GILBERTO LEME; COMARCA: SOROCABA; ÓRGÃO JULGADOR: 27ª
CÂMARA DE DIREITO PRIVADO; DATA DO JULGAMENTO: 16/04/2013; DATA DE
REGISTRO: 18/04/2013)
APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR
DANOS MATERIAIS E MORAIS. VEÍCULO USADO. ALEGAÇÃO DE VÍCIO OCULTO.
SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA MANTIDA. 1. A prova dos autos não evidencia a
existência de vícios ocultos, mas sim defeito natural decorrente do uso da coisa. Há
que se considerar, também, que a
questão dos vícios da coisa usada não se coloca da mesma forma como quando se
trata de produto novo. 2. Trata-se de veículo usado, com cerca de vinte e cinco anos
de fabricação, sendo presumível o desgaste natural quando da compra daquele
caminhão, pois há a assunção de certos riscos em razão do tempo de uso do veículo.
3. Cumpre ao adquirente, portanto, se certificar, previamente à aquisição das
condições gerais do veículo, bem como da extensão e da forma de obtenção de
eventual garantia adicional a ser concedida pelo vendedor do automóvel. 4. Desta
forma, não houve por parte da demandada conduta ilícita, nem ao menos nexo causal
entre esta e os supostos danos suportados pela parte autora, de sorte que não há o
dever de reparar no caso em tela. Inteligência do art. 186 do CC. Negado provimento
ao recurso. (TJ-RS, Quinta Câmara Cível, Rel. Jorge Luiz Lopes do Canto, j.
28.09.2011).
Desse modo, entendo que não ficou configurada a culpa da ré pelos defeitos do
produto e, por conseguinte, inaplicável o disposto no artigo 18 do Código de Defesa
do Consumidor.
Do recurso de apelação interposto pela autora Adriana Jucelia Gonçalves dos Santos.
6. Diante da reforma da sentença, afastando-se a responsabilidade da concessionária
pelos defeitos do produto, ficou prejudicada a análise do recurso de apelação
interposto pela autora, visando a reforma da sentença na parte em que reconheceu o
da moral.
7. Em face do reexame da divergência apresentada, e sopesando o alcance dos
efeitos do presente julgamento (improcedência dos pedidos formulados pela autora),
condeno a autora ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios.
Com fundamento no artigo 85, §2º do Código de Processo Civil arbitro os honorários
em 15% sobre o valor da causa.
8. Ante o exposto, voto no sentido de:
a) declarar prejudicada a análise do recurso de apelação;
151

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b) dar provimento ao recurso adesivo interposto pela ré, para julgar improcedentes os
pedidos formulados na inicial.
Redistribuição do ônus da sucumbência, nos termos do item 7.
III- DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em declarar prejudicada a
análise do recurso de apelação; e, dar provimento ao recurso adesivo.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador LAURI CAETANO DA SILVA, relator,
e dele participaram os Desembargadores TITO CAMPOS DE PAULA e RUI BACELLAR
FILHO.
Curitiba, 26 de abril de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--
1 Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis
respondem
solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou
inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como
por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente,
da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações
decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes
viciadas.
§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor
exigir, alternativamente e à sua escolha: I - a substituição do produto por outro da
mesma espécie, em perfeitas condições de uso; II - a restituição imediata da quantia
paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III - o
abatimento proporcional do preço.
§ 2° Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo previsto no
parágrafo anterior, não podendo ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta
dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em
separado, por meio de manifestação expressa do consumidor.
§ 3º O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1º deste artigo
sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder
comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se
tratar de produto essencial.
§ 4° Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do § 1° deste artigo, e
não sendo possível a substituição do bem, poderá haver substituição por outro de
espécie, marca ou modelo diversos, mediante complementação ou restituição de
eventual diferença de preço, sem prejuízo do disposto nos incisos II e III do § 1° deste
artigo.
§ 5° No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o
consumidor o fornecedor imediato, exceto quando identificado claramente seu
produtor.
§ 6° São impróprios ao uso e consumo: I - os produtos cujos prazos de validade
estejam vencidos; II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados,
152

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda,


aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou
apresentação; III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao
fim a que se destinam.
2 Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery, 10ª ed., São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2013, pág. 667.

2.1.19. REVISIONAL BANCÁRIA – INEXISTÊNCIA DE ABSUIVIDADE DURANTE O

PERÍODO DE EXECUÇÃO DO CONTRATO - MORA DO DEVEDOR

AÇÃO REVISIONAL. CONTRATO DE FINANCIAMENTO COM GARANTIA

FIDUCIÁRIA. IMÓVEL. PEDIDOS JULGADOS PARCIALMENTE PROCEDENTES.

RECURSO DO RÉU: 1. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS EXPRESSAMENTE CONTRATADA.

POSSIBILIDADE. FINANCIAMENTO PARA AQUISIÇÃO DE IMÓVEL. CONTRATO

REGULADO PELA LEI Nº 4.380/1964 DO SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO

FIRMADO APÓS A ALTERAÇÃO TRAZIDA PELA 11.977/2009 QUE ACRESCENTOU O

ART. 15-A. 2. MORA DEBENDI CONFIGURADA. INEXISTÊNCIA DE COBRANÇA DE

ENCARGOS ABUSIVOS NO PERÍODO DA NORMALIDADE CONTRATUAL. 3.

REPETIÇÃO DO INDÉBITO PREJUDICADA. AUSÊNCIA DE CLAUSULAS

CONTRATUAIS ABUSIVAS. 4. ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA. DISTRIBUIÇÃO. RECURSO

PROVIDO. "É permitida a pactuação de capitalização de juros com periodicidade

mensal nas operações realizadas pelas entidades integrantes do Sistema Financeiro da

Habitação - SFH somente após a publicação da Lei n. 11.977, de 7 de julho de 2009, a

qual acrescentou o art. 15-A à Lei n. 4.380/64. "

(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1623137-3 - Nova Londrina - Rel.: Lauri Caetano da Silva -

Unânime - J. 26.04.2017)

Inteiro Teor

I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de recurso de apelação interposto em virtude da sentença1 proferida pelo
MM. Dr. Juiz da Vara Cível da Comarca de Nova Londrina, às f. 259/268 (mov. 58.1)
dos autos nº 625- 24.2012.8.16.0121 de ação com pedido de revisão das cláusulas
financeiras de contrato de financiamento com garantia fiduciária (f.

153

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

22/53 ­ mov. 1.3), proposta por Adilson Faganello em face de Banco Bradesco S/A,
pela qual julgou parcialmente procedentes os pedidos formulados na inicial para
afastar a capitalização de juros do cálculo das prestações, determinar a repetição em
dobro dos valores cobrados a maior e descaracterizar a mora. Julgou improcedente o
pedido referente à venda casada do seguro. Por fim, condenou o réu ao pagamento
de custas processuais e dos honorários advocatícios, fixados em R$1.000,00.
Contra essa decisão o autor opôs embargos de declaração (f. 274/276 ­ mov. 63.1), os
quais foram rejeitados (decisão de f. 300 ­ mov. 70.1).
2. O réu interpôs recurso de apelação (f. 279/288 ­ mov.
65.1), pleiteando a reforma da sentença na parte que afastou a capitalização de juros
do cálculo das prestações, determinou a repetição do indébito em dobro e
descaracterizou a mora. Por fim, pediu a redistribuição do ônus da sucumbência.
O autor não apresentou contrarrazões.
É o relatório.
II- VOTO
Presentes os pressupostos processuais de admissibilidade, intrínsecos e extrínsecos,
conheço do recurso.
3. Analisando o contrato que serve de supedâneo à demanda revisional, observa-se
que se trata de “instrumento particular de financiamento para aquisição de imóvel” (f.
22/53­ mov.
1.3), regulado pela Lei nº 4.380/1964 do Sistema Financeiro da Habitação.
Assim, no que tange à modalidade contratual em questão, anoto que o artigo 15-A,
com redação dada pela lei nº 11.977/20092 prevê a possibilidade de capitalização dos
juros nas operações realizadas pelas entidades integrantes do Sistema Financeiro da
Habitação - SFH. Nesse sentido, já se manifestou o STJ no REsp nº 1.070.297/PR3, sob
o rito do artigo 543-C. Frise-se que o contrato em questão foi firmado no dia 15 de
julho de 2011. A questão foi regulada por lei específica, não havendo espaço para a
aplicação da súmula 121 do STF. Inclusive, pelo mesmo motivo, não há que se falar
em declaração incidental de institucionalidade da Medida Provisória nº 2170-36/01.
No caso em tela, pela leitura do contrato (f. 47 ­ mov.
1.3), depreende-se que a aludida capitalização de juros foi expressamente pactuada4
no item nº 23 do “quadro resumo”, razão pela qual sua cobrança deve ser mantida e,
consequentemente reformada a sentença.
Nesse sentido é o entendimento jurisprudencial:
APELAÇÃO CÍVEL. PROMESSA DE COMPRA E VENDA. SISTEMA FINANCEIRO DE
HABITAÇÃO. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. É permitida a pactuação de capitalização
de juros com periodicidade mensal nas operações realizadas pelas entidades
integrantes do Sistema Financeiro da Habitação - SFH somente após a publicação da
Lei n. 11.977, de 7 de julho de 2009, a qual acrescentou o art. 15-A à Lei n. 4.380/64.
No caso concreto, vedada a capitalização de juros em qualquer periodicidade, pois o
contrato foi firmado antes da vigência da referida lei, incidindo os exatos termos do
recurso repetitivo REsp 1070297/PR. TABELA PRICE.
Inexistindo prova da capitalização de juros, a amortização do débito pela Tabela Price
não implica abusividade. DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA. O reconhecimento da
154

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

abusividade contratual implica descaracterização da mora. PLANO DE


COMPROMETIMENTO DE RENDA - PCR. Legítima a adoção do Plano de
Comprometimento de Renda - PCR nos contratos regidos pelo Sistema Financeiro de
Habitação - SFH firmados após a vigência da Lei n. 8.692/93.
Ademais, inexistindo efetiva comprovação de qualquer ilegalidade ou abusividade no
plano de reajustamento contratado, ônus processual que lhe incumbia a teor do inciso
I do artigo 333 do CPC, impõe-se a manutenção do percentual máximo definido no
contrato (30%). HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. COMPENSAÇÃO. ASSISTÊNCIA
JUDICIÁRIA GRATUITA. A sucumbência recíproca determina a compensação dos
honorários advocatícios, ainda que uma das partes seja beneficiária da... AJG.
APELAÇÕES PARCIALMENTE PROVIDAS. (Apelação Cível Nº 70062204490, Décima
Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Marco Antonio Angelo,
Julgado em 11/06/2015). (TJ-RS - AC: 70062204490 RS, Relator: Marco Antonio
Angelo, Data de Julgamento: 11/06/2015, Décima Nona Câmara Cível, Data de
Publicação: Diário da Justiça do dia 15/06/2015)
DIREITO CIVIL, BANCÁRIO E PROCESSUAL CIVIL.EMBARGOS À EXECUÇÃO.
CONTRATO DE FINANCIAMENTO HABITACIONAL. 1. ENTIDADE DE PREVIDÊNCIA
PRIVADA. CDC.
APLICABILIDADE. 2.CORREÇÃO MONETÁRIA. ILEGALIDADE DOS PERCENTUAIS
PRATICADOS NÃO EVIDENCIADA.SUBSTITUIÇÃO. DESCABIMENTO. 3.
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. MÚTUO VINCULADO AO SFH FIRMADO
ANTERIORMENTE À VIGÊNCIA DA LEI 11.977/2009. VEDAÇÃO EM QUALQUER
PERIODICIDADE. OCORRÊNCIA COMPROVADA.
EXPURGO. MANUTENÇÃO. 1. “O Código de Defesa do Consumidor é aplicável à
relação jurídica entre a entidade de previdência privada e seus participantes” (STJ,
Súmula 321, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 23/11/2005, DJ 05/12/2005, p. 410).2.
Não evidenciado pelo mutuário que os percentuais aplicados pelo mutuante a título
de correção monetária desobedeceram ao contrato, derivaram de índices ilegais ou
denotaram-se abusivos perante as perdas inflacionárias nos períodos discutidos,
afigura-se despropositado o provimento de recálculo da atualização, devendo ser
mantidos aqueles percentuais. 3. “Nos contratos celebrados no âmbito do Sistema
Financeiro da Habitação, antes da Lei n. 11.977/2009, que acrescentou o art. 15-A à
Lei n. 4.380/1964, é vedada a capitalização de juros em qualquer periodicidade (...)”
(EDcl no REsp 1238506/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,
julgado em 18/08/2015, DJe 25/08/2015). APELAÇÃO PROVIDA EM PARTE (TJPR -
15ª C.Cível - AC - 1482887-8 - União da Vitória - Rel.: Hayton Lee Swain Filho -
Unânime - - J. 02.03.2016) (TJ-PR - APL: 14828878 PR 1482887-8 (Acórdão), Relator:
Hayton Lee Swain Filho, Data de Julgamento: 02/03/2016, 15ª Câmara Cível, Data de
Publicação: DJ: 1758 11/03/2016)
4. Consequentemente, os efeitos da mora do devedor fiduciante devem ser mantidos,
pois apenas a cobrança de encargos abusivos no período da normalidade contratual,
leia-se juros remuneratórios e capitalização, afasta a mora, segundo orientação do
Superior Tribunal de Justiça5.

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5. No particular, como houve a reforma da sentença, resultando na improcedência


dos pedidos, não há que se falar em repetição do indébito ou compensação de
valores.
6. Ante o reexame da divergência apresentada, e sopesando o alcance dos efeitos do
presente julgamento, verifico que o autor sucumbiu totalmente na sua pretensão,
razão pela qual deve arcar com o pagamento das custas processuais e dos honorários
advocatícios pelo valor fixado na sentença (R$1.000,00).
7. Diante do exposto, voto no sentido de dar provimento ao recurso para (i) admitir a
cobrança taxa mensal capitalizada conforme foi expressamente contratado; (ii) declarar
a inexistência de valores a serem repetidos; (iii) manter os efeitos da mora debendi; e,
(iv) redisciplinar a distribuição do ônus da sucumbência.
III- DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento ao
recurso.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador LAURI CAETANO DA SILVA, relator,
e dele participaram os Desembargadores TITO CAMPOS DE PAULA e RUI BACELLAR
FILHO.
Curitiba, 26 de abril de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--
1 Sentença proferida no dia 09.03.2016 e publicada no dia 11.03.2016.
--
2 Art. 15-A. É permitida a pactuação de capitalização de juros com periodicidade
mensal nas operações realizadas pelas entidades integrantes do Sistema Financeiro da
Habitação - SFH.
--
3 “(...)
Os contratos celebrados para aquisição da casa própria, no âmbito do Sistema
Financeiro da Habitação, são regidos por leis próprias, notadamente a Lei nº 4.380/64,
a qual, somente em recente alteração legislativa (Lei nº 11.977 de 7 de julho de 2009),
previu o cômputo capitalizado de juros em periodicidade mensal.
(...)”.
--
4 “23. Sistema de amortização: Tabela Price”.
--
5 Orientação 2, consolidada pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do REsp
1.061.530-RS.

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2.1.20. BUSCA E APREENSÃO EM ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA – CONSOLIDAÇÃO

DA PROPRIEDADE NAS MÃOS DO CREDOR

AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. CONTRATO DE MÚTUO COM GARANTIA

FIDUCIÁRIA. PROCESSO EXTINTO. ART. 267, VI DO CPC/73 (ART. 485, VI DO

CPC/15). DEPÓSITO DAS PARCELAS VENCIDAS E VINCENDAS REALIZADO DEPOIS

DO TRANSCURSO DO PRAZO DE 5 DIAS APÓS O CUMPRIMENTO DA LIMINAR.

POSSE DO BEM CONSOLIDADA NAS MÃOS DO CREDOR. ART. 3º, §1º DO DEC. LEI

Nº 911/69. RESP 1.418.539/MS. SENTENÇA CASSADA. RECURSO PROVIDO.

PROCESSO APTO AO JULGAMENTO DE MÉRITO. ART. 515, §3º DO CPC/73. ART.

1.013, §3º DO CPC/15. EQUAÇÃO FINANCEIRA DO CONTRATO PARA APURAÇÃO

DE SALDO DEVEDOR OU CREDOR E EVENTUAL DEVOLUÇÃO DE VALORES.

PEDIDO JULGADO PROCEDENTE. 1. "No caso de inadimplemento ou mora nas

obrigações contratuais garantidas mediante alienação fiduciária, o proprietário

fiduciário ou credor poderá vender a coisa a terceiros, independentemente de leilão,

hasta pública, avaliação prévia ou qualquer outra medida judicial ou extrajudicial, salvo

disposição expressa em contrário prevista no contrato, devendo aplicar o preço da

venda no pagamento de seu crédito e das despesas decorrentes e entregar ao

devedor o saldo apurado, se houver" (Decreto-Lei 911/69). 2. "Para fins do art. 543-C

do Código de Processo Civil: `Nos contratos firmados na vigência da Lei n.

10.931/2004, compete ao devedor, no prazo de 5 (cinco) dias após a execução da

liminar na ação de busca e apreensão, pagar a integralidade da dívida - entendida esta

como os valores apresentados e comprovados pelo credor na inicial -, sob pena de

consolidação da propriedade do bem móvel objeto de alienação fiduciária' (STJ ­ REsp

nº 1.418.593/MS, Rel.: Min. Luis Felipe Salomão, 2ª Seção, J.: 14.05.2014).

(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1626135-1 - Região Metropolitana de Maringá - Foro Central

de Maringá - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime - J. 19.04.2017)

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Inteiro Teor

I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de ação de busca e apreensão ajuizada por Aymoré C.F.I. S/A em face de
Ideuza Aparecida Frameschi Honório, denunciando o inadimplemento de contrato de
mútuo com garantia fiduciária. Afirma que o inadimplemento se deu a partir da
contraprestação nº 31 das 36 contratadas, vencida no dia 30.05.2015.
A liminar de busca e apreensão foi deferida (f.41/42) e o bem foi apreendido no dia
22.10.2015 (f.69).
2. A ré compareceu ao processo (f.63) requerendo a remessa dos autos à contadoria
judicial para apuração dos valores devidos. O magistrado deferiu tal pedido (f.66).
O réu comunicou o depósito da importância de R$8.277,62, realizado em 03.11.2015
(f.92/95), tomando como referência os valores apresentados pelo Contador do juízo
em 27.10.2015 (f.84/85).
3. O MM. Dr. Juiz a quo proferiu a r. sentença de f.
133/137, julgando extinto o processo, sem resolução de mérito, nos termos do artigo
267, VI do Código De Processo Civil, diante do pagamento integral do contrato.
Revogou a liminar anteriormente concedida e determinou a restituição do bem, no
prazo de 5 dias,
fixando multa no valor de R$500,00 por dia de atraso, limitada ao valor de 45 dias
multa.
4. O autor interpôs recurso de apelação (f.143/152) pleiteando a reforma da sentença.
Contrarrazões às f. 167/179.
É o relatório.
II- VOTO
Presentes os pressupostos recursais de admissibilidade, extrínsecos e intrínsecos,
conheço do recurso.
5. Cinge-se a controvérsia recursal em definir se deve o autor restituir o automóvel ao
devedor em virtude do depósito de f. 95.
5.1. O Decreto Lei nº 911/69, no seu artigo 3º, § 1º, prevê expressamente que cinco
dias após a execução da liminar, a propriedade do bem fica consolidada com o credor
fiduciário, obrigando o devedor, neste ínterim, a pagar a integralidade do débito
remanescente para que o bem lhe seja restituído livre do ônus. Consta ainda que “No
caso de inadimplemento ou mora nas obrigações contratuais garantidas mediante
alienação fiduciária, o proprietário fiduciário ou credor poderá vender a coisa a
terceiros, independentemente de leilão, hasta pública, avaliação prévia ou qualquer
outra medida judicial ou extrajudicial, salvo disposição expressa em contrário prevista
no contrato, devendo aplicar o preço da venda no pagamento de seu crédito e das
despesas decorrentes e entregar ao devedor o saldo apurado, se houver”.
Nesse mesmo sentido apontou o Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp
nº 1.418.593/MS, sob o rito do artigo 543-C do Código de Processo Civil/73 (1.036
CPC/15) ­ e, portanto, com efeito vinculante:

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ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO


DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO.
DECRETO-LEI N.
911/1969. ALTERAÇÃO INTRODUZIDA PELA LEI N. 10.931/2004. PURGAÇÃO DA
MORA.
IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE PAGAMENTO DA INTEGRALIDADE DA
DÍVIDA NO PRAZO DE 5 DIAS APÓS A EXECUÇÃO DA LIMINAR.
1. Para fins do art. 543-C do Código de Processo Civil: “Nos contratos firmados na
vigência da Lei n. 10.931/2004, compete ao devedor, no prazo de 5 (cinco) dias após a
execução da liminar na ação de busca e apreensão, pagar a integralidade da dívida -
entendida esta como os valores apresentados e comprovados pelo credor na inicial -,
sob pena de consolidação da propriedade do bem móvel objeto de alienação
fiduciária”.
2. Recurso especial provido.
(STJ ­ REsp nº 1.418.593/MS, Rel.: Min. Luis Felipe Salomão, 2ª Seção, J.: 14.05.2014)
Assim, por imperativo legal, corroborado por precedente obrigatório do STJ, após o
cumprimento da liminar, o devedor tem cinco dias para efetuar o depósito integral da
dívida, compreendendo as prestações vencidas, encargos moratórios, além das
vincendas e atualizações, sob pena de consolidação da posse e propriedade do bem
apreendido nas mãos do credor. A atualização deve ser feita pelo próprio devedor,
com base nos valores indicados na inicial. A lei e o precedente não trazem qualquer
hipótese de prorrogação desse prazo.
Pois bem. No caso em tela, o veículo foi apreendido em 22.10.2015, conforme auto
de f. 69. O depósito do valor tido como devido foi realizado somente em 03.11.2015,
fora, portanto, do prazo estabelecido pelo Decreto Lei nº 911/69 e pelo REsp. nº
1.418.593/MS.
A decisão de f. 66 sequer mencionou a prorrogação do prazo para o depósito. E nem
poderia, vez que estaria contrariando disposição expressa de texto legal e de
precedente vinculante. O pedido de envio dos autos à contadoria judicial (f.63) foi
realizado por conta e risco da própria devedora, na medida em que os valores
para depósito já estão descritos no cálculo trazido com a inicial (f.24), dependendo
somente das devidas atualizações.
Assim, não é possível reconhecer a quitação da dívida e determinar a restituição do
veículo apreendido, na medida em que o depósito de f. 95 foi realizado após o prazo
de cinco dias contados a partir da data do cumprimento da liminar, e a posse e
propriedade do bem apreendido já se encontravam consolidados nas mãos do autor.
6. Portanto, a sentença que julgou extinto o processo sem resolução de mérito, nos
termos do artigo 267, VI do Código de Processo Civil (art. 485, VI do CPC/15), deve
ser revogada.
Uma vez comprovado o inadimplemento e a regular constituição em mora do
devedor, e diante da ausência de contestação, com fundamento no artigo 515, §3º do
Código de Processo Civil (art. 1.013, §3º do CPC/15), julgo procedente o pedido,
confirmando os termos da liminar de f. 41/42, para consolidar nas mãos do credor a
posse definitiva do bem arrendado.
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Fica o réu responsável pelo pagamento das custas processuais e dos honorários
advocatícios, conforme fixado na sentença, e já pagos conforme depósito de f. 95.
Para eventual devolução de valores à ré, deverá ser realizada a equação financeira do
contrato, apurando-se o montante devido, o depósito realizado e o valor de venda do
bem em leilão.
7. Diante do exposto, voto no sentido de dar provimento ao recurso, para revogar a
sentença de f. 133/137 e, com fundamento no art. 515, § 3º do CPC (art. 1.013, § 3º
do CPC/15), julgar procedente o pedido formulado na inicial, para confirmar a liminar
de f. 41/42 e consolidar o credor na posse e propriedade definitiva do bem
apreendido.
III- DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento ao
recurso e, com fundamento no artigo 515, §3º do Código de Processo Civil (art. 1.013,
§3º do CPC/15), julgar procedente o pedido formulado na inicial.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador LAURI CAETANO DA SILVA, relator,
e dele participaram os Desembargadores TITO CAMPOS DE PAULA e RUI BACELLAR
FILHO.
Curitiba, 19 de abril de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator

2.1.21. DEVOLUÇÃO DO VRG

CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL. AÇÃO COM PEDIDO DE

DEVOLUÇÃO DOS VALORES PAGOS A TÍTULO DE VRG. PEDIDO JULGADO

PROCEDENTE. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE AUTÔNOMA (AUTOS Nº

282/98). LIMINAR DEFERIDA. MANDADO CUMPRIDO. VRG. RELAÇÃO DE DÉBITOS

E CRÉDITOS DA OPERAÇÃO FINANCEIRA. PRECEDENTE DO STJ NO RESP

1.099.212-RJ, SOB O RITO DO ART. 543-C DO CPC. APURAÇÃO DE SALDO

CREDOR OU DEVEDOR NA FASE DE LIQUIDAÇÃO. ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA.

REDISTRIBUIÇÃO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. Quando o credor

arrendante retoma a posse do bem arrendado, operando a rescisão do contrato, o

direito do arrendatário obter a devolução dos valores antecipados a título de VRG,

depende da apuração do saldo credor ou devedor do contrato, nos termos da

orientação preconizada pelo STJ no julgamento do REsp nº 1.099.212-RJ, sob o rito

do art. 543-C do CPC. A apuração do saldo devedor ou credor do contrato pode ser

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realizada em sede de liquidação de sentença, constituindo em favor do autor ou do

réu um título executivo, consoante precedente do STJ no REsp nº 1.300.213-RS.

(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1630926-1 - Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime

- J. 19.04.2017)

Inteiro Teor

I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de ação com pedido de devolução dos valores pagos a título de VRG
(autuada sob nº 21609-35.2011.8.16.0001) ajuizada por Passoni e Passoni Limitada em
face de HSBC Bank Brasil S/A ­ Banco Múltiplo (f. 03/11 ­ mov. 1.1).
2. O réu apresentou resposta em sede de contestação (f. 131/141 ­ mov. 36.1),
refutando integralmente o pedido do autor.
3. Foi proferida sentença de extinção do processo, sem resolução do mérito (f.
264/268 ­ mov. 104.1), a qual foi anulada no julgamento da apelação cível nº
1.062.687-4 (f. 587/591 ­ mov. 120.9).
Nova sentença foi proferida e declarou a ocorrência da prescrição (f. 606/608 ­ mov.
129-1). No entanto, no julgamento da apelação cível nº 1.363.514-6 a prescrição foi
afastada (f. 661/664 ­ mov. 149.2).
4. O MM. Dr. Juiz a quo proferiu sentença1 (f. 727/730 ­ mov. 178.1), pela qual julgou
procedente o pedido formulado na inicial para condenar o réu à devolução dos valores
pagos a título de VRG, no importe de R$10.262,00, acrescidos de juros de mora de 1%
ao mês desde a citação e correção monetária pelo índice INPC/IGP a partir do
desembolso. Ante a sucumbência, condenou o réu ao pagamento das custas
processuais e dos honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o valor atualizado da
causa.
5. O réu interpôs recurso de apelação (f. 737/750 ­ mov.
184.1), pleiteando a reforma da sentença, alegando (i) a inexistência de valores a
serem restituídos a título de VRG; (ii) a possibilidade de compensação dos valores
pagos a título de VRG com o saldo devedor do contrato inadimplido; (iii) deve ser
apurado o saldo devedor ou credor do contrato nos termos do REsp nº 1.099.212-RJ.
Alega ainda que o termo inicial para incidência da correção monetária deve ser a
data do ajuizamento da ação, conforme disposto no artigo 1º da Lei 6.899/81. Por fim,
pediu a redistribuição do ônus da sucumbência.
Nas contrarrazões de f. 755/766 (mov. 186.1), a autora apenas refuta os argumentos
do recurso.
É o relatório.
II- VOTO
Presentes os pressupostos processuais de admissibilidade, intrínsecos e extrínsecos,
conheço do recurso.

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6. A pretensão da autora se traduz na possibilidade de devolução dos valores


adiantados a título de VRG, uma vez que houve a rescisão do contrato e a reintegração
do réu na posse do veículo arrendando.
Convém esclarecer que, anteriormente a presente ação, o credor arrendante ajuizou
ação de reintegração de posse (autos nº 282/1998), denunciando o inadimplemento
do contrato. A liminar foi deferida e o respectivo mandado foi cumprido no dia
07.10.1998 (f.
40/44 ­ mov. 1.3). O MM. Dr. Juiz a quo julgou procedente o pedido para reintegrar o
autor na posse definitiva do veículo arrendado (f.
47/49 ­ mov. 1.3).
7. O Superior Tribunal de Justiça já pacificou entendimento a respeito da
possibilidade da cobrança antecipada ou diluída nas contraprestações do valor
residual e sobre os seus efeitos em relação ao contrato de arrendamento, quando
editou a Súmula 293, com o seguinte enunciado: “A cobrança antecipada do valor
residual garantido (VRG) não descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil”.
As companhias de leasing para concretizar o negócio sob o enfoque estritamente
financeiro utilizam o capital para adquirir o bem ou pagar ao vendedor conforme o
pedido formulado pelo
proponente do arrendamento. O valor pago pela aquisição do bem corresponde ao
valor inicial da operação de crédito. Sobre o valor inicial é adicionado os encargos
financeiros, cujo resultado final tem como variáveis o prazo ajustado, a taxa de juros e
as despesas realizadas para a finalização do negócio. Quando examinamos o contrato
de arrendamento mercantil verificamos que o valor inicial do negócio ­ valor de
compra do bem ­ está equacionado no pagamento do chamado valor residual de
garantia - VRG. Em outras palavras: o valor do bem é igual ao valor inicial da operação,
que por sua vez corresponde ao valor total do VRG. Quando o arrendatário antecipa
valores a título de VRG, está saldando o valor inicial da operação de crédito sem os
encargos financeiros incidentes sobre o capital empregado pela instituição de crédito.
A teoria consequencialista orienta que ao aplicar determinado instituto jurídico é
necessário entender a realidade financeira do negócio, bem como os efeitos
econômicos decorrentes, sob pena de impor prejuízos e inviabilizar futuros negócios
da mesma natureza. É o que ocorre com o chamado leasing financeiro, cuja primeira
causa das divergências reside na falta de uma legislação específica para dar adequado
tratamento a este importante instrumento no mundo dos negócios.
O exame da realidade econômica frente à doutrina proporciona ensinamentos como
de Arnaldo Rizzardo quando diz:
“A opção de compra é estabelecida em favor do arrendatário, não ocorrendo o
mesmo quanto ao valor residual garantido, que é uma quantia mínima que deve
receber o arrendador. A definição do valor residual garantido é dada por Jorge G.
Cardoso: `O VRG (valor residual garantido) é, portanto, uma obrigação assumida pelo
arrendatário, quando da contratação do arrendamento mercantil, no sentido de
garantir que o arrendador receba, ao final do contrato, a quantia mínima final de
liquidação do negócio, em caso de o arrendatário optar por não exercer seu direito de

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compra e, também, não desejar que o contrato seja prorrogado”. (Leasing


Arrendamento Mercantil no Direito Brasileiro, 3ª edição, f. 80)
Seguindo essa linha de raciocínio, uma vez rescindido o contrato antes do prazo é
preciso compor créditos e débitos, para promover a sua equação financeira. Para a
apuração da existência de saldo devedor ou credor devemos promover um cálculo
simples de adição e subtração dos seguintes componentes: (A) valor de compra do
bem arrendado que equivale ao valor total do VRG inicialmente contratado - (B) valor
efetivamente pago a título de VRG até a data da rescisão do contrato (retomada do
bem) + (C) valor obtido com a venda do bem = (D) valor do saldo positivo ou negativo
da operação de crédito . É evidente que para tal operação é indispensável que o
arrendante apresente a nota de venda do veículo. Na sua falta podemos utilizar o
preço de venda do bem no mercado geral à época da retomada da posse.
A equação pode ser formulada da seguinte forma: A ­ (B + C) = X (valor do saldo
positivo ou negativo do contrato). A companhia de leasing pode adicionar as
contraprestações inadimplidas até a data da rescisão do contrato e os acréscimos
decorrentes da mora, além das tarifas e outros encargos financeiros contratados.
Tal orientação foi consagrada pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do
REsp nº 1.099.212-RJ2 consolidando tese para os efeitos do artigo 543-C do Código
de Processo Civil, com a seguinte dicção: “nas ações de reintegração de posse
motivadas por inadimplemento de arrendamento mercantil financeiro, quando o
produto soma do VRG quitado com o valor da venda do bem for maior que o total
pactuado como VRG na contratação, será direito do arrendatário receber a diferença,
cabendo, porém, se estipulado no contrato, o prévio desconto de outras despesas ou
encargos contratuais.”
É o que leciona o professor Arnold Wald, quando diz:
“(...) diante da ocorrência de inadimplemento por parte do arrendatário, a retomada
do bem tem como único objetivo o ressarcimento, pois, não sendo a arrendante um
empresário do ramo de comércio dos bens, este não lhe oferece qualquer utilidade,
tendo sido comprado especificamente para o leasing pactuado. Assim, o destino do
bem é a venda para terceiros, e o preço obtido deve destinar-se a assegurar o
equilíbrio contratual. Se houver saldo devedor do arrendatário, caber-lhe-á fazer o
respectivo pagamento. Se o saldo for credor, haverá restituição do valor
correspondente.
Não fosse assim, o arrendatário estaria se beneficiando da situação. Afinal de contas,
na equação econômica do contrato, as prestações dele cobradas foram menores em
razão de ter assumido a obrigação de garantir um valor mínimo de revenda do bem,
caso não viesse a adquiri-lo. Estando inadimplente quanto à obrigação de pagar as
parcelas, se não subsistisse a obrigação por ele assumida no momento da contratação
quanto ao VRG, estaria fraudada a boa- fé objetiva”. (Inexistência de Direito Líquido e
Certo à Restituição do Valor Residual Garantido no Contrato de Arrendamento
Mercantil ­ Princípio da boa-fé objetiva, in Revista de Direito Bancário e do Mercado
de Capitais, volume 31, Editora Revista dos Tribunais)

163

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Portanto, a simples devolução dos valores pagos a título de VRG, sem equacionar o
saldo devedor ou credor do contrato, pode proporcionar enriquecimento sem causa
para qualquer das partes.
No presente caso concreto, segundo o contrato de f.
22/35 (mov. 1.2), a instituição financeira disponibilizou a importância de R$45.000,00.
O arrendatário assumiu a obrigação de pagar 36 contraprestações de R$450,00 a título
de valor residual garantido (fundamento de f. 5), com vencimento da 1ª parcela em
05.10.1994. O autor pagou somente 12 contraprestações e renegociou a dívida,
conforme aditivo de renegociação de operação de f. 36/37 (mov. 1.3), assumindo a
obrigação de pagar 48 contraprestações de R$243,10 a título de valor residual
garantido e de R$1.820,03 de encargos financeiros incidentes sobre o valor
disponibilizado. O autor pagou 20 contraprestações (até a vencida em 05.01.1998 ­
fundamentos de f. 5). O bem foi apreendido no dia 07.10.1998 (f. 44 ­ mov. 1.3). A
diferença entre o valor inicial contratado e os valores efetivamente pagos a título de
VRG somado ao valor de venda do bem, indica a existência de saldo credor ou
devedor. Nessa operação devem ser computados os encargos moratórios de
prestações inadimplidas até a data da retomada da posse do bem.
Assim, o caso exige a prova do preço de venda do veículo e se o produto da venda
foi suficiente para a recuperação do capital inicial mais os encargos financeiros devidos
até a data da entrega do bem. Não é razoável apresentar soluções jurídicas aos
conflitos sem questionar os efeitos econômicos que vai proporcionar para qualquer
das partes envolvidas na relação jurídica negocial. O saldo credor ou devedor do
contrato deve ser apurado na fase de
liquidação, oportunidade em que se fará a prova do preço de venda do veículo ou de
negócio no mês da apreensão do bem pelo credor arrendante, segundo o valor da
Tabela Fipe.
O valor da condenação prefixado na sentença em R$10.262,00 não tem respaldo na
equação financeira do contrato, razão pela qual fica revogada. O magistrado não pode
pré-fixar o valor da condenação quando o cálculo depende de variáveis a serem
identificadas na fase de liquidação.
8. Uma vez apurado em sede de liquidação de sentença o saldo positivo ou negativo
da equação financeira do contrato é perfeitamente possível constituir título executivo
para pagar quantia certa remanescente em favor do autor ou do réu. Tal entendimento
tem como precedente o voto condutor do julgamento do REsp 1.300.213-RS, de 12
de abril de 2012, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, com a seguinte ementa:
“PROCESSUAL CIVIL. EXECUTIVIDADE DE SENTENÇA. IMPROCEDÊNCIA DE AÇÃO
DECLARATÓRIA NEGATIVA. RECONHECIMENTO, EM FAVOR DO DEMANDADO,
DA EXISTÊNCIA DE OBRIGAÇÃO DE PAGAR. INCIDÊNCIA DO ART. 475-N, I, DO
CPC.
MATÉRIA DECIDIDA PELA 1ª SEÇÃO, SOB O REGIME DO ART. 543-C DO CPC.
ESPECIAL EFICÁCIA VINCULATIVA. (CPC, ART. 543-C, § 7º). 1. Nos termos do art.
475- N, I do CPC, é título executivo judicial “a sentença proferida no processo civil que
reconheça a existência da obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar
quantia”.
164

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Antes mesmo do advento desse preceito normativo, a uníssona jurisprudência do STJ,


inclusive em julgamento de recurso representativo de controvérsia (Resp 1.114.404, 1ª
Seção, Min. Mauro Campbell Marques, DJ de 01.03.10), já atestara a eficácia executiva
da sentença que traz definição integral da norma jurídica individualizada. Não há razão
alguma, lógica ou jurídica, para submeter tal sentença, antes da sua execução, a um
segundo juízo de certificação, cujo resultado seria necessariamente o mesmo, sob
pena de ofensa à coisa julgada. 2. Nessa linha de entendimento, o art. 475-N, I do
CPC se aplica também à sentença que, julgando improcedente (parcial ou totalmente)
o pedido de declaração de inexistência de relação jurídica obrigacional, reconhece a
existência de obrigação do demandante para com o demandado. Essa sentença, como
toda a sentença de mérito, tem eficácia de lei entre as partes (CPC, art. 468) e,
transitada em julgado, torna-se imutável e indiscutível (CPC, art. 471), salvo em ação
rescisória, se for o caso. Precedente da 1ª Seção, julgado sob o regime do art. 543-C
do CPC: REsp 1.261.888-RS, Min. Mauro Campbell Marques, DJe de 18/11/2011. 3.
Recurso especial provido.”
A 17ª Câmara Cível adotou esse posicionamento no julgamento do agravo de
instrumento nº 918.802-7, relatado pelo Juiz Substituto em 2º grau Francisco Jorge.
9. Diante do reexame da divergência apresentada, e sopesando o alcance dos efeitos
do presente julgamento, verifico a necessidade de redistribuir os ônus da
sucumbência. Assim, condeno cada uma das partes ao pagamento de 50% das custas
processuais e dos honorários advocatícios pelo valor fixado na sentença (10% sobre o
valor atualizado da causa). A autora é beneficiária da assistência judiciária gratuita (f.
101/104 ­ mov. 24.2).
10. Diante do exposto, voto no sentido de dar parcial provimento ao recurso de
apelação para (i) determinar a apuração do saldo credor ou devedor do contrato,
conforme exposto no item 7 do presente acórdão e a orientação ditada pelo STJ no
julgamento do REsp nº 1.099.212-RJ sob o rito do art. 543-C do CPC, na fase de
liquidação, constituindo-se em favor do arrendante ou do arrendatário título executivo;
(ii) redisciplinar a distribuição do ônus da sucumbência. Consequentemente fica sem
efeito o valor pré-fixado pelo juiz na sentença.
III- DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar parcial provimento ao
recurso de apelação.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador LAURI CAETANO DA SILVA, relator,
e dele participaram os Desembargadores TITO CAMPOS DE PAULA e RUI BACELLAR
FILHO.
Curitiba, 19 de abril de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--
1 Sentença proferida e publicada no dia 22.08.2016.
2 REsp 1099212/RJ, Rel. Min. Massami Uyeda, Rel. p/ Acórdão Ministro Ricardo Villas
Bôas Cueva, 2ª SEÇÃO, julgado em 27.02.2013, DJe 04.04.2013.

165

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

2.1.22. DECLARATÓRIA DE QUITAÇÃO – NOVAÇÃO CONTRATUAL

COHAPAR. REVISIONAL E DECLARATÓRIA DE QUITAÇÃO DO DÉBITO. PEDIDO

JULGADO PARCIALMENTE PROCEDENTE. DECLARAÇÃO DE QUITAÇÃO. PERÍCIA

QUE DETECTA VALORES PAGOS A MAIOR EM VIRTUDE DE DESCONTO

CONCEDIDO AO AUTOR EM 05.01.2001. PERITO QUE, NO ENTANTO,

DESCONSIDERA A NOVAÇÃO. ANTIGO CONTRATO EXTINTO, INAUGURANDO

NOVA RELAÇÃO NEGOCIAL. VALORES PAGOS REFERENTES AO NOVO

CONTRATO E QUE, PORTANTO, NÃO CONFIGURAM PAGAMENTO INDEVIDO.

AUSÊNCIA DE VALORES A SEREM RESTITUÍDOS. CONTRATO ORIGINAL QUE NÃO

CONTÉM ILEGALIDADES. SENTENÇA REFORMADA. IMPROCEDÊNCIA DOS

PEDIDOS. ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA REDISTRIBUÍDO. RECURSO PROVIDO.

"Novação significa modificação ou substituição de uma obrigação por outra. Como tal

não se entende a tolerância ou prorrogação de prazo para o recebimento de dívida. É

a transformação de uma obrigação por outra [...] Novação é o negócio jurídico por

meio do qual se cria uma nova obrigação, com o objetivo precípuo de extinguir-se

obrigação anterior" (NERY, 2013).

(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1539639-7 - Cornélio Procópio - Rel.: Lauri Caetano da Silva

- Unânime - J. 19.04.2017)

Inteiro Teor

I- RELATÓRIO
1. Arthur Martins ajuizou, perante a Justiça Federal, “ação para quitação total de
contrato de financiamento habitacional c/c revisão contratual e repetição de indébito
com pedido liminar” em face de Cohapar Companhia de Habitação do Paraná e da
Caixa Econômica Federal, alegando, em síntese, que: a) é mutuário de um imóvel
adquirido junto à Cohapar, com recursos financiados pela Caixa Econômica Federal; b)
o contrato de compromisso de compra e venda teve como plano de financiamento o
de equivalência salarial (PES), que obedece ao limite de 30% da renda familiar do
mutuário, com quitação, ao final do contrato, do saldo devedor residual coberto pelo
FCVS (Fundo Compensado de Variações Salariais); c) os agentes do sistema financeirO
de habitação se encontravam em débito com diversos fundos, entre eles o FCVS; d)
com a edição da Lei nº 10.150/00, os agentes financeiros e companhias de habitação
obtiveram uma novação da dívida; e) a COHAPAR aderiu ao plano e anunciou que
perdoaria a dívida de cerca de 35.000 mutuários, bastando que este estivesse em dia
166

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

com as prestações e ter o contrato em seu nome, para, em 31.12.2000, solicitar a


quitação; f) na data combinada, entretanto, foi informado sobre a necessidade de
depuração do contrato ou termo de novação da dívida, em razão de saldo paralelo; g)
a publicidade veiculada deve prevalecer, de acordo com o CDC; h) deve ser
reconhecida a quitação do contrato, sem a cobrança de quaisquer diferenças de
prestações ou que seja demonstrado o saldo devedor remanescente para
compensação e devolução dos valores pagos a maior; i) alternativamente, deve ser
determinado o recálculo das prestações devidas, utilizando-se os índices e reajustes
aplicados ao salário base da categoria profissional do autor; j) a correção, quando da
implementação do plano real, deve ser revista; l) deve ser afastada a incidência do
Coeficiente de Equiparação Salarial ­ CES; m) o valor de percentual de seguros sobre a
prestação deve ser constante e igual ao inicialmente pactuado; n) os valores cobrados
a maior a título de Fundo de Compensação de Variações Salariais ­ FCVS ­ deve ser
restituído.
2. Os réus apresentaram defesa em sede de contestação (f.247/271 e f.303/326). Às f.
385/386, foi determinada a produção de prova pericial para maior elucidação dos
fatos controvertidos.
Formulados os quesitos pelas partes e pelo próprio magistrado e
indicado assistente técnico pela Cohapar, foi apresentado o laudo de f. 410/431.
3. O MM. Dr. Juiz da 3ª Vara Federal de Londrina proferiu a sentença de f. 495/504,
pela qual julgou parcialmente procedentes os pedidos formulados na inicial, para
declarar quitado o contrato em 05.01.2001 e condenar a Cohapar a restituir aos
autores o saldo credor de R$2.801,32. Por fim, condenou as rés ao pagamento, pro
rata, das custas processuais e dos honorários advocatícios fixados em 10% sobre o
valor a ser restituído.
4. A ré Cohab interpôs recurso de apelação às f.
507/517. Da mesma forma, a Caixa Econômica Federal interpôs recurso de apelação
às f. 523/534. O autor interpôs recurso adesivo (f.562/565).
5. Os desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região decidiram, por
maioria de votos, anular a sentença, reconhecendo a ilegitimidade passiva da Caixa
Econômica Federal, extinguindo o processo em relação a ela, nos termos do artigo
267, VI do Código de Processo Civil, e determinaram a remessa dos autos à Justiça
Estadual (f.581/587).
6. Remetidos os autos à Justiça Estadual, o MM. Juiz da Vara Cível da Comarca de
Cornélio Procópio concedeu a gratuidade judiciária, bem como a tutela antecipada
pleiteada e determinou a citação da ré Cohapar para apresentar defesa.
Citada, a ré Cohapar apresentou contestação às f.
619/635. O autor requereu a utilização da prova pericial produzida perante a Justiça
Federal, por razões de economia e celeridade processual.
7. Em sede de saneador (f.668/670), foi afastada a preliminar de falta de interesse
processual e admitida a utilização de prova emprestada, qual seja, a perícia realizada
perante o juízo federal. Contra essa decisão foi interposto o agravo retido de f.
677/678.

167

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8. Foi proferida sentença (f. 706/715), pela qual o magistrado de primeiro grau julgou
parcialmente procedentes os pedidos contidos na inicial para declarar quitado o
contrato na data de 05.01.2001 e condenar a ré a restituir ao autor o saldo de
R$2.801,32, apurado na perícia. Por fim, condenou a ré ao pagamento das custas
processuais e honorários advocatícios fixados em 20% sobre o valor da condenação.
9. A ré interpôs recurso de apelação às f. 746/750, postulando preliminarmente o
conhecimento do agravo retido interposto contra a decisão saneadora. No mérito,
alegou a impossibilidade da utilização da perícia realizada na Justiça Federal, pois o
perito não possuía conhecimentos técnicos na área do sistema financeiro habitacional.
Contrarrazões às f. 763/774.
É o relatório.
II­ VOTO
Presentes os pressupostos processuais de admissibilidade, merece o recurso de
apelação ser conhecido. Da mesma forma, conheço do agravo retido de f. 677/678.
10. Da leitura dos termos do processo, podem ser extraídas as seguintes informações:
(i) Arthur Martins e seu filho Lucas Martins firmaram, em 1º de janeiro de 1984,
compromisso de compra e venda com a Companhia de Habitação do Paraná
(f.286/287), para a aquisição de um imóvel situado na cidade de Cornélio Procópio,
transcrição nº 3.086/87. O ajuste previa que o preço do imóvel seria pago em 300
prestações, no valor de Cr$63.305,72, com reajuste nos meses de julho e o primeiro
vencimento agendado para 28.01.84.
O rejustamento seria feito conforme o Plano de Equivalência Salarial.
(ii) no dia 20.11.2000 foi firmada a “transferência de promessa de compra e venda” de
f. 291/293, na qual não houve alteração das partes do contrato, mas somente a
modificação de algumas cláusulas e o reconhecimento da dívida de R$32.405,87. O
contrato seria quitado pelo pagamento de 97 prestações de R$50,15, com reajuste da
prestação previsto para os meses de maio.
(iii) posteriormente, no dia 05.01.2001, foi firmado o “Termo de Renegociação com
Aditamento e Rerratificação de Dívida Originária de Contrato de Financiamento
Habitacional” de f. 183/186, pelo qual houve a redução da dívida para R$2.009,12 e
da taxa de juros efetiva para 1,0046. A dívida seria quitada em 35 prestações de
R$63,75.
11. Pois bem. O pedido autoral foi julgado parcialmente procedente vez que a perícia
considerou que o saldo devedor teria sido quitado em 05.01.2001 em virtude do
desconto concedido às f. 226, sendo indevidas, portanto, as cobranças a partir dessa
data.
No entanto, de uma leitura mais atenta do documento de f. 226, é facilmente
verificável o equívoco do perito. No referido documento, com mesma data do
contrato de f. 297/300, foi informado um saldo devedor de R$30.761,99, além de
Juros Contratuais, no valor de R$48,29, Seguro, no montante de R$9,25 e “Diferenças
de Prestações”, no valor de R$2.089,82. Ainda foi previsto um desconto de 100% com
relação ao campo “Saldo devedor” (R$30.761,99). Restou expressamente consignado
que a obrigação seria quitada em virtude da novação, substituindo-se antigo contrato
substituído pelo instrumento de f. 297/300.
168

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Assim sendo, é evidente que o contrato anterior foi quitado, não configurando os
valores pagos após 05.01.2001 pagamentos a maior, pois se referem ao novo contrato
(f.297/300), que surgiu com a novação.
A respeito da novação, o Código Civil dispõe em seu artigo 360:
Art. 360. Dá-se novação: I ­ quando o devedor contrai com o credor nova dívida para
extinguir e substituir a anterior.
Sobre o tema, ensina Carlos Roberto Gonçalves1:
Novação é a criação de obrigação nova, para extinguir uma anterior. É a substituição
de uma dívida por outra, extinguindo-se a primeira. [...] a novação não extingue uma
obrigação preexistente para criar outra nova, mas cria apenas uma nova relação
obrigacional, para extinguir a anterior (Direito Civil Brasileiro. 6. ed. São Paulo: Saraiva,
2009. p. 315).
No mesmo sentido, Nelson Nery Junior2 conceitua:
Novação significa modificação ou substituição de uma obrigação por outra. Como tal
não se entende a tolerância ou prorrogação de prazo para o recebimento de dívida. É
a transformação de uma obrigação por outra [...] Novação é o negócio jurídico por
meio do qual se cria uma nova obrigação, com o objetivo precípuo de extinguir-se
obrigação anterior.
Neste viés, depreende-se que para a concretização de tal instituto é essencial a
presença de alguns requisitos: existência de uma obrigação anterior (obrigação
antiga), existência de uma nova obrigação e intenção de novar (animus novandi)3.
Assim, presentes os requisitos, restou inequívoca a novação perpetrada entre as
partes, extinguindo-se o contrato antigo, que foi substituído pelo instrumento de f.
297/300.
É oportuno salientar que, com a novação, afasta-se a discussão de qualquer
ilegalidade com relação ao contrato anterior, vez que a Súmula 297 do STJ é aplicável
somente aos contratos bancários. Ainda assim, a perícia não detectou nenhuma
ilegalidade ou prejuízo ao autor no contrato original.
Se o contrato anterior não continha qualquer ilegalidade e foi extinto em virtude da
novação, sendo substituído pelo instrumento de f. 297/300, se referindo os valores
pagos após 05.01.2001 a este último contrato, é evidente a inexistência de valores
pagos a maior, pelo que deve ser reformada a sentença, julgando-se improcedentes
os pedidos formulados na inicial.
12. Diante da reforma da sentença, resultando na improcedência dos pedidos, deve
também ser reformada a sentença no que diz respeito à distribuição do ônus
sucumbencial. Assim, fica o autor responsável pelo pagamento das custas processuais
e honorários advocatícios. Como a sentença fixou o valor dos honorários com base na
condenação, promovo sua condenação, e fixo o montante a ser pago a esse título em
R$2.500,00, com base no art. 85, §1º e §8º do NCPC, considerando que o advogado
do réu exerceu seu trabalho dentro do que se exigia para a espécie, com interposição
de diversos recursos, em processo que tramita há mais de dez anos. O autor é
beneficiário da gratuidade judiciária.

169

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

13. Ante o exposto, voto no sentido de dar provimento ao recurso, para reformar a
sentença, julgando improcedentes os pedidos contidos na inicial e redistribuindo o
ônus da sucumbência.
III ­ DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento ao
recurso.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador LAURI CAETANO DA SILVA, com
voto, e dele participaram os Desembargadores TITO CAMPOS DE PAULA e RUI
BACELLAR FILHO.
Curitiba, 19 de abril de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--
1 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 6ª Ed. São Paulo: Saraiva,
2009. p. 315.
2 NERY JUNIOR, Nelson. Código Civil Comentado. 10ª. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2013. p. 575.
3 TARTUCE, Flavio. Manual de direito civil, volume único. 4ª Ed. rev., atual. e ampl. Rio
de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2014. p. 396/397.

2.1.23. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA – IMPUTAÇÃO AO PAGAMENTO

AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. LIMINAR DEFERIDA. BEM APREENDIDO. PEDIDO

JULGADO IMPROCEDENTE. RECURSO DA AUTORA: PAGAMENTO DAS

PRESTAÇÕES NÚMEROS 4, 5, 6, 7, 8, 12, 14, 16 E 17 NÃO COMPROVADO. RÉU

QUE EFETUOU O PAGAMENTO DE PRESTAÇÕES COM DATAS ADIANTADAS.

INSTITUIÇÃO FINANCEIRAS QUE UTILIZOU DESSES VALORES PARA DAR

QUITAÇÃO NAS PRESTAÇÕES MAIS ATRASADAS. MORA COMPROVADA. PEDIDO

DE BUSCA E APREENSÃO JULGADO PROCEDENTE. CREDOR CONSOLIDADO NA

POSSE E PROPRIEDADE DEFINITIVA DO BEM. ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA.

REDISTRIBUIÇÃO. RECURSO PROVIDO. A mora e o inadimplemento de obrigações

contratuais garantidas por alienação fiduciária faculta ao credor considerar vencidas

todas as obrigações contratuais, independentemente de aviso ou notificação judicial

ou extrajudicial nos termos do §3º do artigo 2º do Decreto-Lei nº 911/69.

(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1620978-2 - Campina Grande do Sul - Rel.: Lauri Caetano da

Silva - Unânime - J. 05.04.2017)

170

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Inteiro Teor

I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de ação de busca e apreensão ajuizada por BV Financeira S/A ­ Crédito,
Financiamento e Investimento em face de Osvaldo Generoso da Silva (autos nº 2703-
49.2012.8.16.0037), denunciando o inadimplemento da cédula de crédito bancário
com garantia fiduciária a partir da prestação de número 15, vencida no dia 19.02.2012,
totalizando um saldo devedor de R$17.617,54, conforme se infere às f. 32 (mov. 1.8).
2. Comprovada a constituição em mora do devedor fiduciante (f. 25/27 ­ mov. 1.5), o
juiz singular deferiu a liminar de busca e apreensão e determinou a citação do réu para
apresentar defesa ou adimplir a dívida pendente no prazo de 5 dias (f. 46 ­ mov.
6.1).
A autora pediu a suspensão do processo pelo prazo de 60 dias em razão de estar em
tratativa de acordo com o réu (f. 59 ­ mov. 11.1). O pedido foi deferido (f. 63 ­ mov.
14.1). Transcorrido o prazo a autora requereu a suspensão por mais 60 dias (f. 68 ­
mov.
18.1) e o processo foi suspenso (f. 70 ­ mov. 19.1).
Transcorrido o prazo de suspensão a autora deu prosseguimento ao feito, recolhendo
as despesas processuais do Oficial de Justiça (f. 84/85 ­ mov. 30.1/30.2). O bem não
foi apreendido ante a resistência do réu, conforme informou o Oficial de Justiça
através da certidão de f. 89 (mov. 32.1).
3. A autora informou que durante o tramite do processo transacionou com o réu e
restaram quitadas as prestações de nº 15 a nº 25, nº 29 a nº 43. No entanto, o réu
permanece em mora, pois as parcelas números 26, 27 e 28 estão em atraso há
aproximadamente 537 dias. Pediu a readequação do saldo devedor para R$11.329,00
e a expedição de novo mandado de busca e apreensão (f. 97 ­ mov. 38.1).
Juntou nova notificação extrajudicial (98/101 ­ mov. 38.2/38.3).
O juiz singular acolheu a emenda da inicial e determinou a expedição de novo
mandado de busca e apreensão. O bem foi apreendido no dia 07.08.2014.
4. O réu apresentou resposta em sede contestação (f.
116/131 ­ 47.1), refutando integralmente a pretensão inicial, informando que a
prestação nº 15 fora paga antes do ajuizamento da ação1 e as prestações de números
26, 27 e 28 foram pagas antes do vencimento, conforme os comprovantes juntados
(135/181 ­ mov. 47.7).
Na impugnação à contestação (f. 245/261 ­ mov. 78.1), a autora sustentou que não
houve a efetiva comprovação de pagamento de todas as prestações, pois o réu juntou
apenas as folhas do carnê das prestações números 4, 5, 6, 7, 8, 12, 13, 16 e 17 sem os
comprovantes de pagamento. Afirma que conforme foram sendo pagas as prestações
com data adiantada, deu quitação nas prestações mais atrasadas, no intuito de evitar
que a dívida ficasse ainda maior em virtude da incidência dos encargos moratórios.
5. O MM. Dr. Juiz a quo proferiu a sentença2 de f.
284/290 (mov. 83.1), pela qual julgou improcedente o pedido inicial, reconhecendo a
inexistência de mora, ante os comprovantes de pagamentos apresentados. Condenou
171

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

a autora ao pagamento da multa prevista no §6º do artigo 3º do Decreto-Lei nº 911/69


e da multa por litigância de má-fé de 1% sobre o valor da causa. Revogou a liminar e
determinou a restituição do veículo apreendido. Por fim, condenou a autora
pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, fixados em
R$5.000,00.
6. A autora interpôs recurso de apelação (f. 297/302 ­ mov. 89.1) alegando que não
houve a comprovação do pagamento das parcelas de números 4, 5, 6, 7, 8, 12, 13, 16
e 17, pois o réu se limitou em juntar apenas o boleto, sem o comprovante de
pagamento.
Na medida em que foram sendo pagas prestações mais adiantadas, deu quitação nas
prestações mais atrasadas, visando evitar que a dívida ficasse ainda maior. Pediu o
afastamento da multa por litigância de má-fé e a redistribuição do ônus da
sucumbência.
O réu afirma que não é preciso juntar os comprovantes de pagamentos das parcelas
números 4, 5, 6, 7, 8, 12, 13, 16 e 17 pois constavam como pagas nas planilhas de
débito juntadas pela autora (f. 310/319 - mov. 94.1).
É o relatório.
II- VOTO
Presentes os pressupostos recursais de admissibilidade, intrínsecos e extrínsecos,
conheço do recurso.
7. A autora pede a reforma da sentença que julgou improcedente o pedido de busca
e apreensão, alegando que não houve o pagamento das prestações números 4, 5, 6,
7, 8, 12, 13, 16 e 17.
No presente caso, é necessário analisar os comprovantes de pagamento juntados
pelo réu:
VALOR DA DATA DO VALOR PARCELA Nº DATA DO PAGAMENTO FLS.
PARCELA VENCIMENTO PAGO 01 R$460,21 19.12.2010 19.12.2010 R$460,21 166 02
R$460,21 19.01.2011 31.01.2011 R$491,49 167 03 R$460,21 19.02.2011 04.03.2011
R$493,33 168 04 R$460,21 19.03.2011 Sem comprovante -- 169 05 R$460,21
19.04.2011 Sem comprovante -- 170 06 R$460,21 19.05.2011 Sem comprovante -- 171
07 R$460,21 19.06.2011 Sem comprovante -- 172 08 R$460,21 19.07.2011 Sem
comprovante -- 173
09 R$460,21 19.08.2011 Ilegível Ilegível 174 10 R$460,21 19.09.2011 30.09.2011
R$489,65 175 11 R$460,21 19.10.2011 01.12.2011 R$535,39 176 12 R$460,21
19.11.2011 Sem comprovante -- 177 13 R$460,21 19.12.2011 07.02.2012 R$528,00
178/179 14 R$460,21 19.01.2012 Sem comprovante -- 179 15 R$460,21 19.02.2012
05.04.2012 R$506,23 180 16 R$460,21 19.03.2012 Sem comprovante -- 181 17
R$460,21 19.04.2012 Sem comprovante -- 138 18 R$460,21 19.05.2012 04.06.2012
R$498,85 139 19 R$460,21 19.06.2012 06.07.2012 R$500,60 140 20 R$460,21
19.07.2012 Ilegível Ilegível 141 21 R$460,21 19.08.2012 19.08.2012 R$460,21 142 22
R$460,21 19.09.2012 19.09.2012 R$460,21 143 23 R$460,21 19.10.2012 19.10.2012
R$460,21 144 24 R$460,21 19.11.2012 19.11.2012 R$460,21 145 25 R$460,21
19.12.2012 17.12.2012 R$460,21 146 26 R$460,21 19.01.2013 19.01.2013 R$460,21
147 27 R$460,21 19.02.2013 15.02.2013 R$460,21 148 28 R$460,21 19.03.2013
172

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

15.03.2013 R$460,21 149 29 R$460,21 19.04.2013 01.04.2013 R$460,21 150 30


R$460,21 19.05.2013 16.05.2013 R$460,21 151 31 R$460,21 19.06.2013 17.06.2013
R$460,21 152 32 R$460,21 19.07.2013 Ilegível Ilegível 153 33 R$460,21 19.08.2013
16.08.2013 R$460,21 154 34 R$460,21 19.09.2013 16.09.2013 R$460,21 155 35
R$460,21 19.10.2013 01.10.2013 R$460,21 156 36 R$460,21 19.11.2013 10.11.2013
R$460,21 157 37 R$460,21 19.12.2013 16.12.2013 R$460,21 158 38 R$460,21
19.01.2014 15.01.2014 R$460,21 159 39 R$460,21 19.02.2014 17.02.2014 R$460,21
160 40 R$460,21 19.03.2014 17.03.2014 R$460,21 161 41 R$460,21 19.04.2014
16.04.2014 R$460,21 162 42 R$460,21 19.05.2014 16.05.2014 R$460,21 163 43
R$460,21 19.06.2014 16.06.2014 R$460,21 164 44 R$460,21 19.07.2014 15.07.2014
R$460,21 165 45 R$460,21 19.08.2014 Ilegível Ilegível 225 46 R$460,21 19.09.2014
15.09.2014 R$460,21 226 47 R$460,21 19.10.2014 13.10.2014 R$460,21 227 48
R$460,21 19.11.2014 10.11.2014 R$460,21 228 49 R$460,21 19.12.2014 16.12.2014
R$460,21 229 50 R$460,21 19.01.2015 16.01.2015 R$460,21 230 51 R$460,21
19.02.2015 Ilegível Ilegível 231 52 R$460,21 19.03.2015 17.03.2015 R$460,21 269 53
R$460,21 19.04.2015 17.04.2015 R$460,21 270
54 R$460,21 19.05.2015 15.05.2015 R$460,21 271 55 R$460,21 19.06.2015
19.06.2015 R$460,21 272 56 R$460,21 19.07.2015 10.07.2015 R$460,21 273 57
R$460,21 19.08.2015 14.08.2015 R$460,21 274 58 R$460,21 19.09.2015 03.09.2015
R$460,21 281 59 R$460,21 19.10.2015 03.09.2015 R$460,21 281 60 R$460,21
19.11.2015 03.09.2015 R$460,21 282
Pois bem!
8. No presente caso, assiste razão ao apelante, pois embora a ação de busca e
apreensão tenha sido proposta em razão do inadimplemento da prestação nº 15, é
possível constatar que o réu não comprovou o pagamento das prestações números 4,
5, 6, 7, 8, 12, 14, 16 e 17 e houve o pagamento em atraso das prestações números 2,
3, 10, 11, 13, 15, 18 e 19.
É perfeitamente plausível a alegação da instituição financeira de que o réu foi
efetuando o pagamento das prestações com datas adiantadas, utilizou-se desses
valores para quitação das prestações que se encontravam vencidas e por esse motivo
constam como pagas na planilha de pagamento. Ademais, o réu alega em sede
contrarrazões a desnecessidade de juntada dos respectivos comprovantes de
pagamento. Ora, se o réu realmente tivesse efetuado o pagamento de todas as
prestações, não haveria motivos para não apresenta-los.
Além disso, é importante esclarecer que segundo disposição do §3º do artigo 2º do
Decreto-Lei nº 911/69, “a mora e o inadimplemento de obrigações contratuais
garantidas por alienação fiduciária, ou a ocorrência legal ou convencional de algum
dos casos de antecipação de vencimento da dívida, facultarão ao credor considerar,
de pleno direito, vencidas todas as obrigações contratuais, independentemente de
aviso ou notificação judicial ou extrajudicial”.
Assim, apesar do autor da ação de busca e apreensão ter denunciado o
inadimplemento da prestação nº 15, as demais prestações (vincendas) também devem
ser consideradas vencidas, assim como todas as obrigações contratuais. Em corolário,
a única hipótese na qual o bem haveria de ser devolvido ao devedor fiduciante seria
173

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

por força do pagamento da integralidade do débito remanescente 3, dentro dos cinco


dias imediatamente seguintes à apreensão do veículo, na forma do §1º do artigo 3º do
mencionado Decreto-Lei4.
Aliás, vale lembrar que a legislação prevê expressamente que verificado o
inadimplemento ou mora nas obrigações contratuais garantidas por alienação
fiduciária, “o proprietário fiduciário ou credor poderá vender a coisa a terceiros,
independentemente de leilão, hasta pública, avaliação prévia, ou qualquer outra
medida judicial ou extrajudicial, salvo disposição expressa em contrário prevista no
contrato, devendo aplicar o preço da venda no pagamento de seu crédito e das
despesas decorrentes e entregar ao devedor o saldo apurado, se houver, com a
devida prestação de contas5”.
Ademais, é preciso entender a relação jurídica obrigacional e as fórmulas processuais
disponibilizadas para a resolução de eventual conflito no cumprimento do contrato de
financiamento. Quando o mutuário busca o financiamento para aquisição de bem
durável firma dois contratos. O primeiro é o contrato de mútuo pelo qual recebe uma
determinada quantia em dinheiro, assumindo a obrigação de liquidá-lo através do
pagamento de certo número de prestações prefixadas. Para a garantia do
cumprimento da obrigação assumida no contrato de mútuo, firma o contrato acessório
de natureza fiduciária, transferindo a
propriedade do bem adquirido até a implementação da cláusula resolutiva. Quando o
devedor não cumpre a obrigação assumida no contrato de mútuo, o credor pode
promover a cobrança de diversas formas: execução de título extrajudicial voltada para
o contrato de mútuo, ajuizar ação de cobrança ou ajuizar ação de execução da
garantia por meio da busca e apreensão regulada pelo decreto-lei 911/69. Quando
promove a execução no sentido lato da garantia através da ação de busca e
apreensão, o credor fica obrigado a vender o bem e utilizar o produto da venda para
quitar totalmente ou parcialmente o contrato de mútuo. Se o produto da venda for
superior ao saldo devedor do contrato deve devolver ao contratante o excedente.
Portanto, a execução da garantia através da ação de busca e apreensão visa resolver a
questão do inadimplemento do devedor e no seu benefício, pois o produto da venda
do bem após a sua apreensão deve ser obrigatoriamente utilizado para compensar o
saldo devedor. Assim, todo o sistema está voltado para a liquidação do contrato de
financiamento. Tanto é verdade que o devedor tem o prazo de cinco dias contados da
apreensão do bem para promover o pagamento do saldo devedor do contrato e obter
a sua devolução livre de qualquer ônus, ou seja, com a quitação do contrato aplica a
cláusula resolutiva e a propriedade fica consolidada em favor do contratante.
Convém constar que a liminar de busca e apreensão foi cumprida e o veículo
apreendido no dia 07.08.2014 (f. 188 ­ mov.
49.1).
8. Diante do exposto, voto no sentido de dar provimento ao recurso de apelação para
julgar procedente o pedido de busca e apreensão, consolidando a posse e
propriedade do bem nas mãos da instituição financeira credora. Consequentemente,
afasto a condenação da autora na multa do §6º, do artigo 3º do Decreto-Lei 911/69 e

174

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

na multa por litigância de má-fé. Por conseguinte, condeno o réu ao pagamento das
custas processuais e dos honorários advocatícios pelo valor fixado na sentença.
III- DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento ao
recurso de apelação para julgar procedente o pedido de busca e apreensão.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador LAURI CAETANO DA SILVA, relator,
e dele participaram os Desembargadores TITO CAMPOS DE PAULA e RUI BACELLAR
FILHO.
Curitiba, 05 de abril de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--

1 Data do vencimento da prestação nº 15: 19.02.2012; Data do pagamento:

05.04.2012;

Data da distribuição: 25.06.2012.

2 Sentença proferida e publicada no dia 24.11.2015.

3 Neste sentido: STJ, AgRg no REsp 1183477/DF, Rel. Ministro VASCO DELLA

GIUSTINA, julgado em 03/05/2011, DJe 10/05/2011.

4 Art. 3º, §1º, Decreto Lei nº 911/69. Cinco dias após executada a liminar mencionada

no caput, consolidar-se-ão a propriedade e a posse plena e exclusiva do bem no

patrimônio do credor fiduciário, cabendo às repartições competentes, quanto for o

caso, expedir novo certificado de registro de propriedade em nome do credor, ou de

terceiro por ele indicado, livre do ônus da propriedade fiduciária.

5 Artigo 2º do Decreto Lei nº 911/69.

2.1.24. CHEQUE – AÇÃO DE ENRIQUECIMENTO ILÍCITO

AÇÃO DE LOCUPLETAMENTO ILÍCITO. PEDIDO JULGADO PROCEDENTE.

RECURSO DE APELAÇÃO DO RÉU: PRESCRIÇÃO. INCIDÊNCIA DO PRAZO DE 2

ANOS ESTABELECIDO NO ARTIGO 61 DA LEI Nº 7.357/85, CONTADOS A PARTIR

DO DIA EM QUE SE CONSUMAR O PRAZO PREVISTO NO ART. 59 DA LEI Nº

7.357/85 (6 MESES). INTERRUPÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL EM VIRTUDE DO

ENCAMINHAMENTO DE NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL. IMPOSSIBILIDADE.

175

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

INAPLICABILIDADE DO DISPOSTO NO ART. 202, INCISO V DO CÓDIGO CIVIL.

DÍVIDA LÍQUIDA E COM TERMO CERTO. MORA EX RE. PRETENSÃO PRESCRITA.

RECURSO PROVIDO. 1. A ação de locupletamento ilícito tem prazo prescricional de 2

anos, cuja contagem somente se inicia depois da perda da força executiva do cheque,

nos exatos termos do art. 61 da Lei nº 7.357/85: "A ação de enriquecimento contra o

emitente ou outros obrigados, que se locupletaram injustamente com o não-

pagamento do cheque, prescreve em 2 (dois) anos, contados do dia em que se

consumar a prescrição prevista no art. 59 e seu parágrafo desta Lei". 2. A notificação

extrajudicial não interrompe a prescrição porque não possui o condão de constituir o

devedor em mora, levando à inaplicabilidade do artigo 202, inciso V do Código Civil.

(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1617217-9 - Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime

- J. 05.04.2017)

Inteiro Teor

I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de recurso de apelação interposto em virtude da sentença proferida pelo
MM. Dr. Juiz da 20ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana
de Curitiba, nos autos nº 0007976-83.2013.8.16.0001 de ação de locupletamento
ilícito, ajuizada por Mauro Cesar Rodrigues da Silva em face de Vagner Rojo da Rosa ­
ME, que julgou procedente o pedido inicial, para condenar o requerido ao pagamento
dos títulos apresentados com a exordial, acrescidos de correção monetária pela
variação do INPC/IGPDI desde a data da emissão e de juros de mora de 1%, ao mês,
nos termos do artigo 406 do CC, combinado com o artigo 161, do CTN, a partir do dia
da apresentação (artigo 52, II, da Lei 7.357/1985).
Ante a sucumbência, condenou o réu ao pagamento das custas processuais e dos
honorários advocatícios, fixados em 15% sobre valor da condenação (mov. 77.1 - f.
156/160).
2. O réu, Vagner Rojo Da Rosa ­ ME, interpôs recurso de apelação (mov. 84.1 -
f.168/172), alegando que (i) a prescrição da pretensão de cobrança da dívida; (ii)
restou comprovada a má-fé do requerido ao receber os títulos de terceiro, na medida
em que tinha conhecimento da sustação dos mesmos.
Contrarrazões de apelação (mov. 89.1 ­ f. 179/186).
II- VOTO
Presentes os pressupostos recursais de admissibilidade, intrínsecos e extrínsecos, o
recurso merece ser conhecido.
3. Do cotejo dos autos observa-se que:

176

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

(a) Mauro Cesar Rodrigues da Silva ajuizou ação de locupletamento ilícito em face de
Vagner Rojo da Rosa ­ ME aduzindo, em síntese, que (i) é credor do requerido na
importância de R$ 1.980,00, representada pelos cheques por ele emitidos; (ii) os títulos
de crédito foram apresentados para pagamento em 15.09.2009 e 13.10.2009.
Entretanto, foram devolvidos pelo banco sacado pelo “motivo 21” - sustado; (iii)
mesmo após notificado extrajudicialmente, em 05.04.2012, o réu se recusa a efetuar o
pagamento do débito, não lhe restando outra opção a não ser ingressar com a
presente ação. Assim, requereu a condenação do requerido ao pagamento do débito
atualizado (R$3.719,04).
(b) O réu Vagner Rojo da Rosa ­ ME apresentou resposta em sede de contestação
(mov. 51.3 ­ f. 113/119), sustentando, preliminarmente, a prescrição da pretensão do
autor e a impossibilidade jurídica do pedido. No mérito, aduziu que (i) são necessários
alguns esclarecimentos acerca da operação comercial que deu ensejo a emissão dos
cheques; (ii) no ano de 2009, foi procurada por Valdemir Rodrigues Waltrick, que
efetuava a intermediação de contratação de veiculação de propagandas de seus
produtos junto à Radio Gospel Limitada.
Após negociação e fechamento do contrato, emitiu diversos cheques pré- datados
para pagamento da obrigação pactuada com a Rádio Gospel Limitada.
Destacou que os cheques foram entregues para Valdemir Rodrigues Waltrick; (iii)
entretanto, a Rádio Gospel Limitada cobrou-lhe o preço ajustado pelos serviços
prestados de veiculação de propagandas; foi quando veio a saber que os cheques não
haviam sido entregues à rádio, o que o levou a proceder a sustação dos títulos; (iv) o
autor é sujeito estranho a relação negocial; (v) nunca realizou qualquer negócio jurídico
com o requerente; (vi) não reconhece o débito descrito na inicial. Nestes termos,
postulou a improcedência dos pedidos.
(c) No despacho saneador foram afastadas as preliminares de prescrição e
impossibilidade jurídica do pedido, bem como fixados os pontos controvertidos (mov.
56.1 - f. 129/130).
(d) O magistrado de 1º grau proferiu sentença (mov.
77.1 ­ f. 156/160), pela qual julgou procedente o pedido inicial, para condenar o
requerido ao pagamento dos títulos apresentados com a exordial, acrescidos de
correção monetária pela variação do INPC/IGPDI desde a data da emissão e de juros
de mora de 1% ao mês, nos termos do artigo 406 do CC, combinado com o artigo
161, do CTN, a partir do dia da apresentação (artigo 52, II, da Lei 7.357/1985). É
contra esta decisão que se insurge o apelante.
4. A ação de locupletamento ilícito tem prazo prescricional de 2 anos, cuja contagem
somente se inicia depois da perda da força executiva do cheque, nos exatos termos
do artigo 61 da Lei nº 7.357/85: “A ação de enriquecimento contra o emitente ou
outros obrigados, que se locupletaram injustamente com o não-pagamento do
cheque, prescreve em 2 (dois) anos, contados do dia em que se consumar a prescrição
prevista no art. 59 e seu parágrafo desta Lei”.
No caso, os cheques que embasam a presente ação foram emitidos em 30.09.2009 e
25.10.2009, em praça diversa de pagamento (mov. 1.6 e 1.7 ­ f. 14/17), de modo que
o prazo de apresentação era de 60 dias, nos termos do artigo 34 da Lei nº 7.357/851.
177

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Após o encerramento do prazo de apresentação (30.11.2009 e 25.12.2009), começou


a fluir o prazo para execução de 6 meses (art. 59 Lei nº 7.357/852), que encerrou-se
em 30.05.2010 e 25.06.2010. Somente a partir destas datas é que se iniciou a
contagem do prazo para ingresso da ação de locupletamento ilícito, nos termos do
artigo 61 da Lei nº 7.357/85. Nestes termos, considerando que a prescrição se
implementaria em 30.05.2012 e 25.06.2012, respectivamente, e que a ação somente
foi proposta em 25.02.2013, inequívoca é a prescrição da pretensão do autor.
Ademais, não se pode considerar que a notificação extrajudicial encaminhada ao
devedor, com data de recebimento em 05.04.2012 (mov. 1.8 e 1.9 ­ f. 18/20), teria o
condão de interromper o prazo prescricional, nos termos previsto no artigo 202, inciso
V do Código Civil3. Isto porque o artigo 397 do Código Civil estabelece que: “O
inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno
direito em mora o devedor”. Portanto, haverá inadimplemento de obrigação líquida e
positiva no momento (termo certo) em que se deixou de cumpri-la, ou seja, a partir do
dia do vencimento a mora do devedor se constituiu de forma automática (mora ex re),
sem que fosse necessário qualquer ato por parte do credor: dies interpellat por
homine (o dia do vencimento interpela a pessoa).
Nestes termos, por se tratar de cheque, com natureza de ordem de pagamento à vista
(emissão), com termo certo, deve-se aplicar a regra do caput do artigo 397 do Código
Civil, ou seja, cuida-se de mora ex re, sem a necessidade de qualquer ato por parte do
credor para constituir o devedor em mora. No momento da emissão o crédito se
tornou exigível e nasceu ao credor a pretensão de cobrança. A consequência disso
(mora ex re), é que a notificação extrajudicial não possui o condão de constituir o
devedor em mora, levando à inaplicabilidade do artigo 202, inciso V do Código Civil4.
Desse modo, equivocado o posicionamento do magistrado de 1º grau ao considerar
que a notificação extrajudicial interrompeu o prazo prescricional de 2 anos, previsto no
artigo 61 da Lei nº 7.357/85, sendo necessária a reforma da sentença, para reconhecer
a prescrição da pretensão do autor.
Não é outro o entendimento jurisprudencial:
APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSO CIVIL. CIVIL.AÇÃO MONITÓRIA. CHEQUES SEM
EFICÁCIA EXECUTIVA. SENTENÇA QUE ACOLHEU PREJUDICIAL ALEGADA NOS
EMBARGOS MONITÓRIOS, JULGANDO EXTINTO O PROCESSO COM RESOLUÇÃO
DE MÉRITO, NOS TERMOS DO ART. 269, INCISO IV, DO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL DE 1973.
PRESCRIÇÃO - INCIDÊNCIA DO PRAZO DE 05 (CINCO) ANOS ESTABELECIDO NO
ART.
206, § 5º, INCISO I, DO CÓDIGO CIVIL DE 2002, CONTADO A PARTIR DA SUA
ENTRADA EM VIGOR, EM CONFORMIDADE COM O ART. 2.028 - ALEGAÇÃO DO
APELANTE DE INTERRUPÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL EM VIRTUDE DA
NOTIFICAÇÃO JUDICIAL DOS APELADOS EM 07/01/2008, CONFORME O PREVISTO
NO ART. 202, INCISO V, DO CÓDIGO CIVIL DE 2002 - IMPOSSIBILIDADE - DÍVIDA
Apelação Cível nº 1.572.506-7 fl.
2LÍQUIDA E COM TERMO CERTO - MORA EX RE - DECURSO DE PRAZO SUPERIOR
A 05 (CINCO) ANOS ENTRE 11/01/2003, DATA DA ENTRADA EM VIGOR DO
178

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

CÓDIGO CIVIL DE 2002, E O AJUIZAMENTO DA AÇÃO EM 18/02/2012 -


PRETENSÃO PRESCRITA. SENTENÇA MANTIDA.RECURSO DESPROVIDO.
(TJPR - 6ª C.Cível - AC - 1572506-7 - Ivaiporã - Rel.: Roberto Portugal Bacellar -
Unânime - - J.
07.02.2017)
AÇÃO DE COBRANÇA. CHEQUE SEM FORÇA DE TÍTULO EXECUTIVO.
PRESCRIÇÃO.
OCORRÊNCIA.PRAZO QUINQUENAL. REGRAS DE TRANSIÇÃO DO NOVO CÓDIGO
CIVIL.
NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL.INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE.APELAÇÃO DESPROVIDA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
VALOR ADEQUADO. MAJORAÇÃO.DESNECESSIDADE. RECURSO ADESIVO
DESPROVIDO.RECURSO VOLUNTÁRIO DESPROVIDO.AGRAVO RETIDO DO
APELANTE PREJUDICADO AGRAVO RETIDO DO APELADO NÃO CONHECIDO -
AUSÊNCIA DE REITERAÇÃO.
(TJPR - 6ª C.Cível - AC - 884987-8 - Paranaguá - Rel.: Alexandre Barbosa Fabiani -
Unânime - - J. 25.09.2012)
5. Diante do exposto, voto no sentido de dar provimento ao recurso de apelação,
para reformar a sentença, a fim de reconhecer a prescrição da pretensão do autor e
julgar extinto o processo, com resolução do mérito, nos termos do artigo 487, inciso II
do CPC/2015.
Ante a sucumbência, condeno o autor ao pagamento das custas processuais e dos
honorários advocatícios, estes fixados em 15% sobre o valor atualizado da causa, nos
termos do artigo 85, §2º do CPC/2015. O autor é beneficiário da assistência judiciária
gratuita (mov. 12.1 ­ f. 41).
III- DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento ao
recurso de apelação.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador LAURI CAETANO DA SILVA, relator,
e dele participaram os Desembargadores TITO CAMPOS DE PAULA e RUI BACELLAR
FILHO.
Curitiba, 05 de abril de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--
1 Art. 33 O cheque deve ser apresentado para pagamento, a contar do dia da
emissão,
no prazo de 30 (trinta) dias, quando emitido no lugar onde houver de ser pago; e de
60 (sessenta) dias, quando emitido em outro lugar do País ou no exterior.
2 Art. 59 Prescrevem em 6 (seis) meses, contados da expiração do prazo de
apresentação, a ação que o art. 47 desta Lei assegura ao portador.
Parágrafo único - A ação de regresso de um obrigado ao pagamento do cheque
contra outro prescreve em 6 (seis) meses, contados do dia em que o obrigado pagou
o cheque ou do dia em que foi demandado.
179

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

3 Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-
á: (...) V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; (...).
4 TJPR - 6ª C.Cível - AC - 1572506-7 - Ivaiporã - Rel.: Roberto Portugal Bacellar -
Unânime - - J. 07.02.2017

2.1.25. PROCESSO ADMINISTRATIVO MOVIDO PELA UNIMED CONTRA MÉDICO

COOPERADO – DANO MORAL

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER CUMULADA COM PEDIDO DE

INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. PEDIDOS JULGADOS IMPROCEDENTES.

RECURSO DE APELAÇÃO DOS AUTORES: PROCESSO ADMINISTRATIVO

INSTAURADO PELA UNIMED EM FACE DOS MÉDICOS CONVENIADOS. APURAÇÃO

DE PRODUÇÃO SUPERIOR À MEDIA DA ESPECIALIDADE. PROCEDIMENTO

REGULAR AMPARADO POR SEU REGIMENTO INTERNO. QUESTIONAMENTOS

FEITOS AOS CLIENTES QUE NÃO FORAM APTOS A ENSEJAR DÚVIDA ACERCA DO

PROFISSIONALISMO DOS AUTORES. DANO MORAL. INEXISTÊNCIA. RECURSO

DESPROVIDO. 1. A instauração de procedimento administrativo não configura ato

ilícito capaz de ensejar a reparação por danos morais, quando ausente a intenção de

ofender e havendo motivos determinantes suficientes para a investigação. 2. "Para que

haja a obrigação de indenizar é preciso que se trate de ato injusto com a finalidade de

macular a honra do associado, o que não se verificou no presente caso" (TJ/PR - AC nº

90517-7 - 3ª Câm. Cív. - Rel. Des. Jesus Sarrão - J. em 13/02/2001).

(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1617336-9 - Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime

- J. 29.03.2017)

Inteiro Teor

I- RELATÓRIO
1. Leda Maria Rabelo e Paulo César Pereira Thomaz ajuizaram ação com pedido de
não fazer cumulada com indenização a título de danos morais e materiais (autos nº
0027385-11.2014.8.16.0001) em face de Unimed Curitiba ­ Sociedade Cooperativa de
Médicos, afirmando que (a) são médicos formados pela UFPR ­ Universidade Federal
do Paraná, sendo que, em meados de 1997 e final do ano de 1998, filiaram-se à ré
com o intuito de atenderem os beneficiários dos planos de saúde que a mesma

180

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

comercializa; (b) a relação transcorreu normalmente até meados de 2013, quando


foram surpreendidos pela requerida com a assertiva de que haviam apresentado
produção acima da média de suas especialidades, motivo pelo qual suas atividades
seriam analisadas pelos órgãos estatutários; (c) não deram maior importância ao
comunicado. Foram informados algum tempo depois que o mencionado processo
administrativo tinha sido arquivado; (d) todavia, tomaram conhecimento de que,
durante o processo investigatório e sem sua participação, a ré agiu de forma
totalmente ilícita e discricionária, violando os seus direitos constitucionais e
interferindo diretamente na sua liberdade profissional, assim como na relação médico-
paciente, porquanto, no intuito de averiguar a sua produção , telefonou para os seus
pacientes e os questionou acerca das consultas/procedimentos realizados, o que se
deu mediante perguntas insidiosas que findaram por gerar dúvidas nos pacientes
acerca da idoneidade profissional e moral de ambos; (e) dentre os questionamentos,
destacaram perguntas acerca das características dos consultórios, quem efetivamente
teria realizado o atendimento, o tempo de duração da consulta, se o paciente era
efetivamente examinado durante a consulta, entre outras; (f) em virtude dessa postura
da ré, vários pacientes lhes indagaram acerca das razões da investigação e outros
acabaram por abandonar o tratamento, o que culminou por denegrir a imagem e
reputação; (g) defenderam que as perguntas formuladas pela ré acabaram por violar a
autonomia e a liberdade profissional, ferindo o Código de Ética Médica, em especial
os itens VII e VIII do capítulo I. Diante desses fatos, pediram a condenação da ré ao
pagamento de indenização por danos morais e materiais, assim como a se abster de
praticar quaisquer atos que interfiram, prejudiquem ou comprometam a relação
médico paciente.
2. A ré Unimed Curitiba ­ Sociedade Cooperativa de Médicos apresentou contestação
(mov. 23.1 - f. 199/214) discorrendo acerca da regularidade dos procedimentos
administrativos instaurados em face dos autores, os quais estariam embasados em
disposições do seu estatuto social e do regimento interno. Assegurou que as
perguntas feitas aos pacientes são formuladas por assistentes sociais devidamente
treinadas e que, em nenhum momento, colocaram em dúvida a capacidade
profissional dos médicos, mas somente se limitaram a apurar se o paciente está
satisfeito com o atendimento médico que recebeu. Afirmou que os autores foram
cientificados do início dos procedimentos administrativos, os quais foram arquivados
diante da conclusão da ausência de ilegalidades. Finalizou dizendo que inexiste dano
material ou moral a ser reparado.
3. Na audiência de instrução e julgamento (mov. 61.1 ­ f. 646/649) foi tomado o
depoimento pessoal do autor Paulo César Pereira Thomaz e foi inquirida uma
testemunha arrolada pela ré.
4. O MM Dr. Juiz proferiu sentença1 (mov. 78.1 ­ f.
693/698) julgando improcedentes os pedidos formulados na inicial.
Destacou que não restou comprovado a prática de ato ilícito pela ré, uma vez que o
processo administrativo instaurado observou todas as regras previstas em seu
Regimento Interno. Ante a sucumbência, condenou os autores ao pagamento das

181

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

custas processuais e dos honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o valor


atualizado da causa.
5. Os autores Leda Maria Rabelo e Paulo César Pereira Thomaz interpuseram recurso
de apelação (mov. 86.1 ­ f. 707/717) alegando que (i) inexiste qualquer previsão legal
que autorize a ré a contatar/entrevistar os pacientes de seus cooperados, tratando-se
de uma tentativa “maquiada”, sob a forma de uma pesquisa de satisfação, visando
obter informações que pudessem incriminá-los; (ii) é falsa a afirmativa de que, durante
a pesquisa, o médico não é identificado; (iii) não é válido o processo administrativo
instaurado, tendo em vista a falta do contraditório e da ampla defesa. Também
destacou que o procedimento adotado não encontra previsão no Estatuto Social e no
Regimento Interno da requerida. Assim, postularam a reforma da sentença, a fim de
determinar que a requerida se abstenha de reincidir na prática ilícita noticiada e
condená-la ao pagamento de indenização pelos danos materiais e morais.
Contrarrazões de apelação (mov. 96.1 ­ f. 731/732).
É o relatório.
II- VOTO
Presentes os pressupostos recursais de admissibilidade, intrínsecos e extrínsecos,
conheço do recurso.
6. Os apelantes sustentam que teriam sofrido danos à sua imagem como médicos, em
virtude de processo administrativo contra eles instaurado pela requerida, para
apuração de eventual ilegalidade, visto que apresentaram produção acima da média
de suas especialidades. Sustentam que os atos praticados pela requerida
comprometeram a relação médico-paciente, uma vez que telefonou para os seus
pacientes e os questionou acerca das consultas/procedimentos realizados, o que se
deu mediante perguntas insidiosas que findaram por gerar dúvidas nos pacientes
acerca da idoneidade profissional e moral de ambos.
A Unimed, por sua vez, sustentou a regularidade do procedimento administrativo,
cujo desenvolvimento observou as regras contidas em seu estatuto social e regimento
interno.
Pois bem!
Dá análise dos autos, não vejo razões para a modificação da sentença. Isto porque a
simples instauração de procedimento administrativo não pode ser tida como ato hábil
a gerar prejuízos indenizáveis, sobretudo quando revestido das formalidades legais.
O Regimento Interno da requerida prevê a possibilidade de abertura de
procedimento administrativo em face dos cooperados visando apurar a suposta prática
de infração administrativa, como a descrita na inicial (arts. 135/156 ­ mov. 1.17). Não
há nos autos qualquer indicativo de irregularidade nos atos administrativos praticados.
Apesar de alegarem que houve ofensa aos princípios do contraditório e da ampla
defesa, os próprios autores afirmaram que foram cientificados da abertura do
procedimento administrativo, entretanto, “não deram maior importância ao
comunicado”. Do cotejo dos autos (mov. 59 ­ f. 266/642), observa-se que os
requerentes foram cientificados de todos os atos desde de sua abertura até seu
encerramento.

182

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Também consta dos autos os questionamentos feitos aos pacientes dos autores, que
se resumiram na qualidade do consultório, na qualidade do atendimento, na facilidade
do agendamento da consulta e na frequência das consultas (mov. 59.3 ­ f. 280/383; e
mov.
59.24 ­ f. 472/605). Não se vislumbra nenhuma atitude da ré que comprometesse a
integridade profissional dos requerentes, pois as perguntas não induziam os pacientes
à conclusão de que os mesmos não
seriam médicos qualificados e éticos, posto que englobavam o grau de satisfação dos
pacientes com os serviços prestados.
Tal assertiva é corroborada pelo relato da testemunha arrolada pela requerida:
“Que trabalha na Unimed desde 1992; que exerce a função de supervisora do serviço
social; que na época dos fatos já exercia essa função; que a assistente social que
efetuou o trabalho no processo administrativo em questão não trabalha mais na
Unimed, mas a depoente é responsável pela supervisão dos serviços; que o processo
chega no setor; que é efetuada uma conferência dos documentos; que o serviço social
não inicia o processo se não tiver a carta anexa com o AR assinado pelo médico,
dando-lhe ciência que o serviço social vai manter contato com os seus pacientes por
um certo período de tempo; nessa carta é explicitado o modo de atuação do serviço
social; que o processo já vem pronto para o serviço social; que quem faz o envio da
carta é a Comissão de Ato Cooperativista; (...) que ao efetuar uma ligação para um
beneficiário, é perguntado, primeiramente, se ele possui a disponibilidade de
responder algumas questões, depois é dito que estão fazendo uma pesquisa de
satisfação em determinada especialidade, que não pode entrar diretamente com o
nome específico do médico, até mesmo porque tem que preservar o nome dele, daí,
durante a abordagem é perguntado se o beneficiário confirma as consultas realizadas
com “fulano de tal”, porque ela tem que confirmar as consultas, checar se ela foram
executadas, depois perguntar como foi o atendimento, daí, como a pesquisa é aberta,
quem faz o relato é o próprio beneficiário; que nesta conversa, o nome do médico é
inserido, “em nossos registros, consta que efetuou consultas, nessa especialidade,
com o médico tal”, daí a pessoa vai detalhando, se efetuou consultas com outros
médicos nessa especialidade, ou não; que a pergunta é feita como se fosse feita nessa
especialidade, não é focada no médico; (...) que também são efetuadas
questionamentos acerta da própria Unimed; que não é de rotina fazer perguntas cerca
da qualidade de estrutura do consultório; que é perguntado como foi o atendimento;
que não é perguntado como foi o atendimento médico; (...) que não são feitos
questionamentos acerca das características físicas do médico, até porque não são
relevantes; que só existe a confirmação da consulta naquela data; (...) que no curso do
processo administrativo não teve contato com os autores; que não conhecia os
autores; que não sabe dizer o número de beneficiários contatados; que não há um
número prefixado; (...) que no material que recebe, já vem uma planilha de pacientes
para que seja efetuada as ligações, se ligam para, por exemplo, 30 pacientes, e eles já
confirmam as consultas, já encerram o processo; (...) que no início do processo é
encaminhada uma carta aos médicos, dando-lhes o direito de resposta; que não há
uma entrevista com eles diretamente; que pelo que conhece do fluxo da comissão, os
183

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

autores participaram do processo; que tem absoluta certeza que a comunicação acerca
da abertura do processo foi encaminhada aos médicos, porque recebe cópia do AR;
que as entrevistas não são iniciadas sem a prova de comunicação ao médico; (...) que
não vão ao consultório verificar as instalações e a forma como é dado o atendimento
médico; (Jaqueline Costa Krebsbach ­ mídia digital ­ mov. 61.1 - f. 649)
A instauração do procedimento circunscreve-se no exercício de um direito da
administradora do plano de saúde e, portanto, não é capaz de macular a honra do
médico. Ao contrário, demonstra a conduta diligente em apurar fatos que possam
causar descontentamento aos usuários do plano de saúde por ela ofertado.
Além disso, não vejo como a instauração do procedimento administrativo possa ter
comprometido a imagem profissional dos médicos, visto que é confidencial e sigiloso,
impossibilitando qualquer repercussão dos fatos na forma como apresentada. Frise-se
que o procedimento administrativo foi arquivado sem aplicação de qualquer
penalidade.
Os fatos narrados não chegam a configurar violação ou ofensa aos direitos da
personalidade, afastando o pretendido dano moral.
A jurisprudência consagra que o mero dissabor ou aborrecimento não é suficiente
para ensejar indenização por dano moral, senão vejamos:
Indenização. Danos materiais e morais. Defeito do veículo. Precedentes da Corte. 1.
Já assentou a Corte em diversas oportunidades que em casos como o presente existe
solidariedade entre fabricante e fornecedor. 2. Não há dano moral quando os fatos
narrados estão no contexto de meros dissabores, sem abalo à honra do autor. 3. Os
juros legais devem ser calculados em 0,5% ao mês até a entrada do novo Código Civil
e a partir daí de acordo com o respectivo art. 406. 4.
Recursos especiais conhecidos e providos, em parte. (STJ - REsp 664.115/AM, Rel.
Min. Carlos Alberto Menezes Direito, 3ªT, J.: 02/05/2006).
APELAÇÃO CÍVEL. CONTRATOS DE CARTÃO DE CRÉDITO. AÇÃO DECLARATÓRIA.
INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO E REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS. VENDA
CASADA.
SEGURO. ABUSIVIDADE. A denominada venda casada é prática abusiva vedada nas
relações de consumo conforme dispõe o inciso I do artigo 39 do CDC. Presume-se
venda casada o contrato de seguro realizado na mesma data do contrato de cartão de
crédito. REPETIÇÃO EM DOBRO. Demonstrado o prejuízo advindo da falha na
prestação dos serviços, a instituição financeira deve restituir, de forma simples, a
quantia indevidamente paga. DANOS MORAIS.
Simples transtornos e dissabores nas relações econômicas e sociais não têm
relevância suficiente para caracterizar o dano moral. APELAÇÃO PARCIALMENTE
PROVIDA. (TJ-RS - AC Nº 70051788503, Rel.: Marco Antonio Angelo, 4ªCC, J.:
30/01/2013).
As provas produzidas não demonstram o efetivo abalo psíquico, comportamental ou
repercussão, capaz de gerar constrangimento e humilhação no meio social.
Nesse sentido, seguem julgados deste Tribunal:

184

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

“COOPERATVA DE TRABALHO MÉDICO. ADVERTÊNCIA AO COOPERADO.


PENALIDADE IMPOSTA SEM QUE PREVIAMENTE FOSSE ASSEGURADA DEFESA.
NULIDADE DO ATO.
INDENIZAÇÃO DE DANOS MORAIS PEDIDOS PELO ASSOCIADO. AUSÊNCIA DE
POTENCIAL OFENSIVO À HONRA E BOA FAMA. APELAÇÃO DA RÉ PARCIALMENTE
PROVIDA. 1. Se não foi dada oportunidade de defesa ao associado, é nulo o ato de
advertência formal que lhe fez o Conselho de Administração, decorrente de artigo
publicado em revista e jornal dirigido à classe, pondo em dúvida o cumprimento das
finalidades da cooperativa. Tal ato, entretanto, materializado em expediente interno
dirigido ao associado e sua anotação nos registros deste, não constitui ofensa à sua
honra. Para que haja a obrigação de indenizar é preciso que se trate de ato injusto
com a finalidade de macular a honra do associado, o que não se verificou no presente
caso.”(TJ/PR - Ap nº 90517-7 - 3ª Câm. Cív. - Rel. Des. Jesus Sarrão - J.
em 13/02/2001).
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS JULGADA PROCEDENTE -
PROCESSO ADMINISTRATIVO INSTAURADO PELA UNIMED EM FACE DE MÉDICO
CONVENIADO - AGRAVO RETIDO - CERCEAMENTO DE DEFESA INOCORRENTE -
APELAÇÃO CÍVEL PROCEDENTE, EIS QUE A CONDUTA LEVADA A EFEITO PELA
REQUERIDA NÃO TEVE A INTENÇÃO DE OFENDER E, POR CONSEGUINTE, NÃO
ENSEJOU OS DANOS MORAIS - AGRAVO RETIDO DESPROVIDO E APELAÇÃO
CÍVEL PROVIDA, POR MAIORIA. 1. Acertado o julgamento antecipado da lide quando,
além de atendidos os requisitos do artigo 330, do CPC, a prova requerida pela parte
não influenciaria no julgamento da demanda. Ademais, não há que se falar em ofensa
ao princípio do contraditório se todos os documentos juntados pela parte Autora já
constavam dos autos quando da oportunidade de apresentação da contestação; 2. A
simples instauração de processo administrativo não configura ato ilícito capaz de
ensejar a reparação por danos morais, eis que ausente a intenção de ofender. “Para
que haja a obrigação de indenizar é preciso que se trate de ato injusto com a
finalidade de macular a honra do associado, o que não se verificou no presente caso.”
(TJ/PR - Ap nº 90517-7 - 3ª Câm. Cív. - Rel. Des. Jesus Sarrão - J. em 13/02/2001).
A instauração de procedimento investigativo não configura ato ilícito quando
observada as regras procedimentais regulamentadas pela entidade processante. Se o
ato não é ilegal nos aspectos formal ou material, não é capaz de proporcionar dano
indenizável a qualquer título. No tocante ao apontado dano material, sequer subsiste
indício de qualquer nexo de causalidade entre a instauração do procedimento e o
resultado financeiro decorrente do atendimento dos médicos reclamantes. A
obrigação de indenizar depende da culpa, da conduta ilícita e do nexo de causalidade.
7. Diante do exposto, voto no sentido de negar provimento ao recurso de apelação.
III- DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao
recurso de apelação.

185

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

O julgamento foi presidido pelo Desembargador LAURI CAETANO DA SILVA, com


voto, e dele participaram os Desembargadores e TITO CAMPOS DE PAULA e
FERNANDO PAULINO DA SILVA WOLFF FILHO.
Curitiba, 29 de março de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--

1 Sentença proferida no dia 14.07.2016 e publicada no dia 15.07.2016.

2.1.26. RECUPERAÇÃO JUDICIAL E ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. DECRETO-LEI Nº

911/69. SUSPENSÃO DO PROCESSO EM RAZÃO DO PROCESSAMENTO DE

RECUPERAÇÃO JUDICIAL DA DEVEDORA. PEDIDO INDEFERIDO. ART. 6º, §4º, LEI

Nº 11.101/2005. IMPOSSIBILIDADE. BEM APREENDIDO. AÇÃO JULGADA

PROCEDENTE. SENTENÇA COM TRÂNSITO EM JULGADO. TRANSCURSO,

ADEMAIS, DO PRAZO DE 180 DIAS. RECURSO DESPROVIDO. A recuperação judicial

não suspende o processo e os efeitos da sentença transitada em julgado, proferida

nos autos da ação de busca e apreensão fundada no Decreto-Lei 911/69.

(TJPR - 17ª C.Cível - AI - 1619818-4 - Telêmaco Borba - Rel.: Lauri Caetano da Silva -

Unânime - J. 29.03.2017)

Inteiro Teor

I ­ RELATÓRIO
1. Cuida-se de Agravo de Instrumento ­ com pedido de efeito suspensivo - interposto
por Transproença Transportes Rodoviários Ltda, em virtude da decisão de sequência
59.1 (f. 266- TJ), proferida nos autos nº 840-23.2016.8.16.0165 (PROJUDI), de ação de
busca e apreensão, fundada no Decreto-Lei nº 911/69, ajuizada por
Banco Itaú S/A, que indeferiu o pedido de suspensão do processo, tendo em vista o
processamento de recuperação judicial da autora/agravante.
Consta assim na decisão agravada:
1. Da análise detida dos autos, verifica-se que a presente ação foi julgada procedente
conforme sentença prolatada (mov. 32.1), consolidando o bem apreendido nas mãos
do requerente.
A requerida foi declarada revel, por não apresentar defesa, tampouco, purgar a mora
no prazo estabelecido.

186

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Por meio de sua petição (mov. 34.1), a requerida requereu a suspensão do presente
processo, tendo em vista que foi deferido processo de recuperação judicial da
empresa requerida.
Não há o que se falar em suspensão da presente execução, pois já foi prolatada
sentença nos autos, inclusive antes de ser deferido o processo de recuperação judicial
da empresa requerida, não havendo motivos para suspensão nessa fase processual.
Diante do exposto, indefiro o pedido de suspensão.
2. Em suas razões, a agravante sustenta que, conforme disposição do artigo 6º, §4º da
Lei nº 11.101/2005, as ações e execuções em que a recuperanda for ré e que versarem
sobre quantias ilíquidas, devem ser suspensas pelo período de 180 dias. Afirma, ainda,
que em se tratando de empresa que atua no ramo de transportes, é evidente a
essencialidade do bem objeto da busca e apreensão. Destarte, pugna pela atribuição
de efeito suspensivo ao recurso e, posteriormente, o seu provimento para reformar a
decisão agravada, determinando a suspensão do processo da ação de busca e
apreensão.
3. Pela decisão de f. 323/327-TJ foi indeferido o almejado efeito suspensivo.
4. O agravado apresentou contrarrazões às f. 329/333- TJ alegando, preliminarmente,
o não cabimento do recurso de agravo de instrumento.
É o relatório.
II ­ VOTO
5. Do exame dos documentos trasladados aos autos, depreende-se que:
5.1 Transproença Transportes Rodoviários Ltda firmou com o Banco Itaú S/A cédula
de crédito bancário ­ FINAME para aquisição de um caminhão trator Scania, modelo
R440 A 6x2 NA 3E REB. D2B, ano 2013/2013, placa AWO 2524, pelo valor total de
R$340.000,00, que seria quitado mediante o pagamento de 56 prestações mensais e
consecutivas, sendo a primeira com vencimento em 15.05.2013 (sequência 1.6, f.
58/61-TJ).
5.2 Ante o inadimplemento do contrato a partir da prestação 29/56, com vencimento
em 16.11.2015, a instituição financeira credora ajuizou a competente ação de busca e
apreensão (sequência 1.1, f. 28/30-TJ).
Juntou aos autos cópia da notificação extrajudicial encaminhada à ré para fins de
constituição em mora (sequência 1.7, f. 62/63-TJ).
5.3 A liminar de busca e apreensão foi deferida (sequência 21.1, f. 100/102-TJ) e
devidamente cumprida em 08.03.2016 (sequência 24.1, f.
110-TJ).
5.4 A ré não apresentou contestação, tampouco efetuou o pagamento da dívida, de
modo que, no dia 06.05.2016, o MM. Dr. Juiz a quo proferiu sentença julgando
procedente o pedido consolidando a posse e propriedade plena em favor do credor
(sequência 32.1, f. 122/123-TJ).
5.5 Na sequência, a ré peticionou nos autos informando o processamento de
recuperação judicial a seu favor (sequência 34.2, f. 128/132- TJ). Disse, ainda, que o
MM. Dr. Juiz determinou a suspensão das ações e execuções pelo prazo de 180 dias,
inclusive aquelas relativas a créditos executados na forma do artigo 49, §3º e §4º da
Lei nº 11.101/2005 (sequência 34.1, f. 126/127). Sendo assim, pugnou pela suspensão
187

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

do processo. O pedido foi indeferido (sequência 59.1, f. 266-TJ) e é dessa decisão que
se insurge a agravante.
3 6. Inicialmente, no que diz respeito ao cabimento do recurso de agravo de
instrumento, entendo que a hipótese dos autos se enquadra no parágrafo único do
artigo 1.015 do Código de Processo Civil, segundo o qual cabe agravo de instrumento
contra decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou
cumprimento de sentença, no processo de execução ou no processo de inventário.
Lembro que a ação de busca e apreensão, fundada no Decreto-Lei nº 911/69, se
caracteriza como execução no sentido lato do contrato acessório de alienação
fiduciária.
7. No mais, a controvérsia diz respeito à necessidade de suspensão da ação de busca
e apreensão, em razão do processamento da recuperação judicial da devedora
Transproença Transportes Rodoviários Ltda, deferido em 12.05.2016 (art. 6º, §4º, Lei
nº 11.101/2005). Sustenta a agravante que o bem objeto da busca e apreensão é
essencial às suas atividades, razão pela qual deve permanecer sob a sua posse até o
transcurso do prazo, na forma do artigo 49, §3º da Lei nº 11.101/2005.
Nesse contexto, cumpre esclarecer que a Lei nº 11.101/2005, em seu artigo 49, §3º,
prevê expressamente que o credor titular da posição de proprietário fiduciário de bem
móvel ou imóvel ou de arrendador mercantil não está sujeito aos efeitos da
recuperação judicial.
Em comentário ao mencionado dispositivo, Fabio Ulhoa Coelho registra que “esses
credores excluídos da recuperação judicial não são minimamente atingidos pela
medida, e podem continuar exercendo seus direitos reais e contratuais nos termos da
lei própria”, e continua, “os titulares de determinadas garantias reais ou posições
financeiras (fiduciário, leasing, etc.) e os bancos que anteciparem recursos ao
exportador em função de contrato de câmbio excluem-se dos efeitos da recuperação
judicial para que possam praticar juros menores (com spreads não impactados pelo
risco associado à recuperação judicial), contribuindo a lei, desse modo, com
4 a criação do ambiente propício à retomada do desenvolvimento econômico1”.
Mesmo assim, visando viabilizar a recuperação com a manutenção da atividade do
empresário2, a legislação falimentar impossibilita a retirada, do estabelecimento do
devedor, dos bens essenciais a sua atividade empresarial, pelo prazo de 180 dias que
alude o artigo 6º, §4º da lei de regência, in verbis:
Art. 49, §3º. Tratando-se de credor titular da posição de proprietário fiduciário de
bens móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou promitente
vendedor de imóvel cujos respectivos contratos contenham cláusula de
irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, ou de
proprietário em contrato de venda com reserva de domínio, seu crédito não se
submeterá aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os direitos de
propriedade sobre a coisa e as condições contratuais, observada a legislação
respectiva, não se permitindo, contudo, durante o prazo de suspensão a que se refere
o §4º do art. 6º desta Lei, a venda ou a retirada do estabelecimento do devedor dos
bens de capital essenciais a sua atividade empresarial.
Ainda a respeito do tema:
188

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

AGRAVO REGIMENTAL EM CONFLITO DE COMPETÊNCIA. RECUPERAÇÃO


JUDICIAL.
BUSCA E APREENSÃO. BENS OFERECIDOS EM GARANTIA MEDIANTE ALIENAÇÃO
FIDUCIÁRIA. NÃO SUBMISSÃO AOS EFEITOS DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL.
CONTINUIDADE DA EXECUÇÃO. POSSIBILIDADE. 1. O credor titular da posição de
proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis não se sujeita aos efeitos da
recuperação judicial (art. 49, § 3º, da Lei 11.101/2005). 2. Não ocorrência, na hipótese,
de peculiaridade apta a recomendar o afastamento circunstancial da regra, porquanto
não demonstrado que o objeto da busca e apreensão envolva bens de capital
essenciais à atividade empresarial, de maneira a atrair a exceção contida no § 3º do
art. 49 da Lei 11.101/2005. 3. Agravo regimental desprovido. (STJ, AgRg no CC
128.658/MG, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
27/08/2014, DJe 06/10/2014)
8. No entanto, a tese não é aplicável ao caso concreto.
Isto porque o bem objeto da busca e apreensão não se encontra sob a posse da
agravante, não se justificando a suspensão do cumprimento da liminar, tampouco do
processo, conforme requerido pela devedora. Note-se que a liminar foi deferida e o
bem apreendido no dia 08.03.2016, conforme mandado de sequência 24.1 (f. 110-TJ).
A ausência de contestação pelo réu, bem como a inexistência de depósito do valor da
dívida com a finalidade de retomada do bem, ensejaram a consolidação da
propriedade em favor da instituição financeira (art. 3º, §1º, Decreto-Lei nº 911/69),
sendo que a sentença de procedência do pedido inicial, irrecorrida e transitada em
julgado, confirmou tal situação. A recuperação judicial não é meio para suspender o
processo e os efeitos da sentença de mérito com transito em julgado. Ademais, o
prazo de 180 dias já se esgotou.
9. Diante do exposto, voto no sentido de negar provimento ao recurso.
III ­ DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao
recurso.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador LAURI CAETANO DA SILVA, relator,
e dele participaram os Desembargadores TITO CAMPOS DE PAULA e RUI BACELLAR
FILHO.
Curitiba, 29 de março de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--
1 COELHO, Fabio Ulhoa. Comentários à Nova Lei de Falências e de Recuperação de
Empresas. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 132.
2 ANDREY, Marcos. In Comentários à Nova Lei de Recuperação de Empresas e de
Falências. Coord. LUCCA, Newton de; SIMÃO FILHO, Adalberto. São Paulo: Quartier
Latin do Brasil, 2005. p. 236.

189

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

2.2. VICENTE DEL PRETE MISURELLI

2.2.1. DANOS MORAIS – INSCRIÇÃO DEVIDA – DANO NÃO CONFIGURADO

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. INSCRIÇÃO.CADASTRO DE

INADIMPLENTES. PRELIMINAR. COISA JULGADA. INEXISTÊNCIA. PEDIDO E CAUSA

DE PEDIR.DISTINTOS. NULIDADE DA SENTENÇA. AUSÊNCIA DE

FUNDAMENTAÇÃO. INOCORRÊNCIA. REQUISITOS DO ART.458, CPC/73.

PREENCHIDOS. APLICAÇÃO DO CÓDIGO CONSUMERISTA. AFASTADO. RELAÇÃO

DE CONSUMO.INEXISTÊNCIA. TEORIA FINALISTA. HIPOSSUFICIÊNCIA.NÃO

DEMONSTRADA. INVERSÃO DO ÔNUS PROBATÓRIO.INVIÁVEL. INSCRIÇÃO EM

CADASTRO DE INADIMPLENTES.EXERCÍCIO REGULAR DO DIREITO. PAGAMENTO

DO DÉBITO. NÃO COMPROVADO. DANO MORAL. NÃO CONFIGURADO. ATO

ILÍCITO. INEXISTENTE. INVERSÃO SUCUMBENCIAL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.

FIXAÇÃO.ART. 85, §8º, CPC/15. SENTENÇA REFORMADA. APELO PROVIDO

(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1599968-1 - Barracão - Rel.: Vicente Del Prete Misurelli -

Unânime - J. 23.03.2017)

Inteiro Teor

Trata-se de apelação cível, nos autos da Ação Indenizatória, nº 168-05.2012.8.16.0052,


contra sentença que julgou procedente o pedido inicial e condenou a ré ao
pagamento de indenização por danos morais em R$ 15.000,00, corrigido
monetariamente e acrescido de juros de mora em 1% ao mês, a contar da intimação
da fixação. Ao final, condenou a ré ao pagamento das custas processuais e honorários
advocatícios, fixadas em 20% sobre o valor da condenação (fls. 235/240).
Dessa sentença, recorre VOLVO ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIOS LTDA (fls.
245/279), alegando, preliminarmente, que o pedido da autora já foi objeto de
julgamento, havendo, portanto, coisa julgada.
Ademais, sustenta que há ausência de fundamentação na sentença, requerendo sua
anulação. Pugna, ainda, pela inaplicabilidade do CDC, ante a ausência de relação de
consumo entre as partes. No mérito, aduz que a inscrição da autora no cadastro de
inadimplentes é legítima, inexistindo, portanto, danos morais a serem indenizados.
Não sendo este o entendimento, requer a minoração do valor fixado, inclusive em
relação aos honorários. Assim, requer a reforma da sentença.
Contrarrazões (fls. 304/313).
190

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

É o relatório.
Voto.
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conhece- se do apelo.
Inicialmente, não há falar-se em coisa julgada, uma vez que, embora os autos nº
0001276-06.2011.8.16.0052 (AC 1.258.383-6), tenham os mesmos litigantes desta
ação, não guardam relação quanto ao pedido/causa de pedir, vez que nos citados
autos, a lide versava a respeito da demora para liberação da carta de crédito, não
havendo, portanto, naqueles autos, discussão quanto à inscrição no cadastro de
inadimplentes (fls. 283/302).
Ainda em sede preliminar, aduz o recorrente, que há ausência de fundamentação na
sentença, pugnando, assim, por sua anulação. Todavia, sem razão.
Em análise aos autos, verifica-se que a sentença atacada preenche todos os requisitos
do art. 458 do CPC/73, vigente à época. Caso assim não fosse, caberia ao insurgente,
recorrer mediante o recurso cabível, previsto no art. 535 do CPC/73, o que não fez.
Assim sendo, não há falar-se em nulidade da sentença por ausência de
fundamentação.
Prosseguindo, pugna o recorrente pela inaplicabilidade da inversão do ônus da prova
à luz do código de defesa do consumidor, por não haver relação de consumo entre as
partes, bem como, por não ser a apelada, hipossuficiente perante a parte ré. Razão lhe
assiste.
Tem-se, efetivamente, que não há relação de consumo entre as partes nos termos da
teoria finalista, eis que a parte autora, não é a consumidora final do produto adquirido.
Ademais, não restou demonstrada hipossuficiência da apelada perante à apelante,
razão pela qual, não se pode falar em aplicação do código de defesa do consumidor,
no presente caso.
Sobre o tema:
AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO. CERCEAMENTO DE DEFESA. INEXISTÊNCIA.
AUSÊNCIA DE JUSTIFICATIVA PARA A PRODUÇÃO DE PROVA TESTEMUNHAL.
QUESTÃO DE MÉRITO UNICAMENTE DE DIREITO. APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR. IMPOSSIBILIDADE. AUTORA QUE NÃO É
CONSUMIDORA. SERVIÇO PRESTADO QUE SE COLOCA COMO INSUMO EM SUA
CADEIA DE PRODUÇÃO. AUTORA QUE TAMPOUCO DEMONSTROU
VULNERABILIDADE OU HIPOSSUFICIÊNCIA TÉCNICA EM FACE DA RÉ. NEGÓCIO
REALIZADO ENTRE EMPRESAS. LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA INAPLICÁVEL.
(...).(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1548158-6 - Curitiba - Rel.: Fernando Paulino da Silva
Wolff Filho - Unânime - - J. 14.12.2016).
No mérito, alega o recorrente, que a inscrição da apelada no cadastro de
inadimplentes, se deu mediante exercício regular de seu direito, uma vez que a parte
ré não demonstrou ter adimplido o contrato realizado entre as partes. Ademais,
sustenta que não houve dano moral indenizável, por ter, a inscrição, se tratado de
mero dissabor.
Pois bem.
Em análise aos autos, tem-se que, a parte autora firmou um contrato de consórcio
com a apelante, para a aquisição de um “cavalo mecânico” se comprometendo ao
191

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

pagamento de 100 parcelas de valor não fixos (fls.14/24). As parcelas iniciaram-se no


valor de R$ 1.500,10, sendo que a partir da 71ª parcela, o apelado se insurgiu quanto
ao aumento do pagamento, que passou de R$ 3.730,23 na 70ª, para R$6.729,46 na
parcela seguinte, fatos estes, corroborados pelo depoimento da testemunha Jairo
Scherback, ouvida em audiência (fls. 14/15-TJ). Ademais, verifica-se que o autor pagou
as demais parcelas desde a 71ª à 89ª, vindo os boletos de nº 90, 91 e 92, com o valor
de R$ 0,00, sendo o valor total adimplido pelo apelado, de R$ 251.939,07 (fls.23).
Ocorre, contudo, que posteriormente aos boletos no valor de R$ 0,00, vieram os
boletos referentes às parcelas 93,94 e 95, que não foram pagos pela apelada, não
havendo nos autos, qualquer comprovativo hábil a afastar a obrigação ao pagamento
destas prestações.
Desse modo, posteriormente ao inadimplemento destes boletos, o nome da apelada
fora inscrito no cadastro de inadimplentes (fls. 36), mediante o exercício regular do
direito da parte ré.
Cumpre ressaltar, que, como o cerne que ensejou a presente demanda, diz respeito à
comprovação pagamento, a produção da prova depende somente da parte autora,
não se podendo exigir da apelada, que comprove a ausência de pagamento, mais um
motivo pelo qual, é inviável a inversão do ônus da prova, senão vejamos:
APELAÇÃO CÍVEL. DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C
INDENIZATÓRIA POR DANOS MORAIS.
1.CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE TELEFONIA MÓVEL. INVERSÃO
DO ÔNUS DA PROVA. INCABÍVEL.PAGAMENTO. PROVA DE FATO NEGATIVO.
INSCRIÇÃO EM CADASTRO RESTRITIVO DE CRÉDITO. INADIMPLEMENTO DA
FATURA DE UM MÊS. FATO CONSTITUTIVO DO DIREITO DO AUTOR NÃO
COMPROVADO.
2. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. PLEITO DE REDUÇÃO. NÃO ACOLHIMENTO.
(...). (TJPR - 9ª C.Cível - AC - 1494320-9 - Curitiba - Rel.: Coimbra de Moura - Unânime
- - J. 23.06.2016).
Assim sendo, não há nos autos qualquer comprovativo do pagamento referente aos
débitos que originou a inscrição da autora no cadastro de inadimplentes, qual seja, R$
7.292,06 e 7.289,77 (fls. 36).
Desse modo, considerando que a autora não se desincumbiu do seu ônus
comprobatório, conforme prevê o art. 333, I, do CPC/73 (vigente à época), tem-se que
a apelada agiu no seu exercício regular do direito, art. 188, I, do Código Civil, ao
inscrever a recorrida no cadastro de inadimplentes.
A propósito:
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO
CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - INSCRIÇÃO EM
CADASTROS DE INADIMPLENTES - ALEGAÇÃO DE REALIZAÇÃO DE ACORDO -
INOVAÇÃO RECURSAL - NÃO CONHECIMENTO - ATO ILÍCITO NÃO
CONFIGURADO - EXISTÊNCIA DE DÍVIDA - EXERCÍCIO REGULAR DO DIREITO -
AUSÊNCIA DO DEVER DE INDENIZAR - RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E
DESPROVIDO.

192

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1469052-7 - Terra Rica - Rel.: Marcos S. Galliano Daros -


Unânime - - J. 16.06.2016).
Dessa forma, a sentença deve ser reformada, para que se afaste o dever indenizatório
fixado, não havendo falar-se em danos morais, uma vez que não houve comprovação
da quitação do débito que ensejou a inscrição da apelada, no cadastro de
inadimplentes.
Por fim, tendo em vista a procedência do recurso, bem como que o apelante se
sagrou vencedor em seu pedido principal, condeno a recorrida na totalidade dos ônus
da sucumbência. Quanto aos honorários advocatícios, considerando a ausência de
condenação, bem como o ínfimo valor dado à causa, fixo-os em R$ 1.500,00, nos
termos do art. 85, §8º do CPC/15.
Diante do exposto, dou provimento ao apelo, para o fim de afastar a fixação de
indenização por danos morais, bem como, inverter os ônus de sucumbência e, por fim,
fixar os honorários advocatícios.
ACORDAM os Desembargadores da 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento ao apelo, nos
termos do voto do relator.
Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luis Sérgio Swiech e
acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luiz Cezar
Nicolau.
Curitiba, 23 de março de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI

2.2.2. RESPONSABILIDADE CIVIL DO LOCADOR – AUSÊNCIA DE PROVAS

APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZATÓRIA. LOCADOR.PRODUÇÃO DE NOVAS PROVAS.

PRECLUSÃO.DESCUMPRIMENTO DE DEVER LEGAL E CONTRATUAL DO LOCADOR.

INOBSERVÂNCIA. DANOS MATERIAIS.NEXO DE CAUSALIDADE ENTRE CONDUTA E

DANO. INEXISTÊNCIA. DANO MORAL E LUCROS CESSANTES.NÃO

COMPROVADOS. RESPONSABILIDADE CIVIL DO LOCADOR. NÃO CONFIGURADA.

HONORÁRIOS.MANUTENÇÃO. SENTENÇA MANTIDA INTEGRALMENTE.APELO

NÃO PROVIDO.

(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1619546-3 - Curitiba - Rel.: Vicente Del Prete Misurelli -

Unânime - J. 23.03.2017)

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Inteiro Teor

Em ação indenizatória, autos nº 11003- 74.2013.8.16.0001, a MMª Juíza de Direito da


10ª Vara Cível de Curitiba julgou improcedente a pretensão inicial, condenando os
autores nos ônus da sucumbência, fixando honorários em R$ 2.100,00 (fls. 275/280).
Inconformados, apelam Edison Luis de Almeida e outros (fls. 294/305), defendendo a
necessidade de condenação da apelada em danos morais, materiais e lucros
cessantes. Para tanto, afirmam que o apelado descumpriu suas obrigações legais de
locador, bem como que as provas nos autos são insuficientes para comprovar a sua
ciência de existência de litigio sobre o imóvel, requerendo a produção de novas
provas.
Contrarrazões (fls. 224/229).
É o relatório.
Voto.
Presentes os pressupostos, conheço do recurso.
Em primeiro lugar, a alegação de insuficiência de provas é extemporânea, visto que se
desejasse a produção de prova pericial ou de nova prova documental, deveria o
recorrente tê-lo feito em momento oportuno, durante a instrução processual. Assim, a
alegação encontra-se preclusa.
No mais, afirma o apelante, que o apelado descumpriu sua obrigação legal de
entregar o imóvel em condições de uso, assim como que não garantiu o uso pacífico
durante o período de locação. Não tem razão.
Isto porque, a testemunha Débora Gonzales, atestou que o recorrente já havia
alugado o imóvel em questão, e que, portanto, tinha consciência das pendências
judiciais existentes sobre o mesmo.
Nesta perspectiva, do que ficou comprovado nos autos, é que o locador não omitiu o
fato da existência das pendências e de que havia uma terceira pessoa ocupando
parcela do imóvel, sendo que o locatário anuiu com tais condições.
Desse modo, tem-se que o apelante assumiu o risco de sofrer eventuais prejuízos,
tendo sido alertado pelo apelado, locador do imóvel, conforme também confirmam as
testemunhas.
Além disso, a própria petição inicial (fls. 06) e as provas testemunhais comprovam que
o locador, quando solicitado pelo locatário, realizou diligencias visando a resolução
dos problemas, o que comprova a sua boa-fé.
Assim, não se vislumbra o descumprimento do dever legal e contratual, de entrega do
imóvel em estado a servir para o uso a que se destina, bem como de garantir o uso
pacífico do imóvel.
Prosseguindo, vale consignar que a indenização por responsabilidade civil, tanto
objetiva, quanto subjetiva, é condicionada à existência de dano, assim como ao nexo
de causalidade entre a conduta praticada e o dano sofrido.
Veja-se:
“[...] à luz do nosso sistema normativo da responsabilidade civil, é requisito básico e
essencial observar a presença do nexo de causalidade. Ou seja, ‘a imputação de
responsabilidade civil, objetiva ou subjetiva, supõe a presença de dois elementos de

194

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

fato (a conduta do agente e o resultado danoso) e um elemento lógico- normativo, o


nexo causal (que é lógico, porque consiste num elo referencial, numa relação de
pertencialidade, entre os elementos de fato; e é normativo, porque tem contornos e
limites impostos pelo sistema de direito)’ [...]”. (AgInt no REsp 1554466/RJ, Rel.
Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA, julgado em 09/08/2016, DJe
22/08/2016).
Dessa forma, em que pese a discussão sobre a objetividade ou subjetividade da
responsabilidade civil do locador, certo é que ausente o nexo de causalidade, não há
o que se falar em responsabilização civil do locador.
Ademais, observa-se que de fato os pertences do recorrente foram danificados, por
terem sido expostos ao tempo e chuva.
Todavia, conforme exposto, não há qualquer prova nos autos, que ateste a culpa do
recorrido pelos danos gerados. Sendo assim, não há nexo de causalidade entre
conduta e dano, que possa ensejar a indenização por danos tanto morais, quanto
materiais e lucros cessantes.
Além disso, especificamente quanto aos danos morais, sabe-se que esta, é
condicionada à existência de dano capaz de gerar abalo psicológico na vítima, assim
como à mesma existência de nexo de causalidade entre a conduta praticada e o dano
causado.
Contudo, inexistem provas nos autos de qualquer ato praticado pelo recorrido, que
tenha sido capaz de gerar abalo de cunho moral aos recorrentes.
Cabe frisar que as testemunhas confirmaram a ocorrência de discussão, que
eventualmente poderia configurar causa de dano moral. Porém, as discussões
relatadas ocorreram entre uma das partes apelantes e uma terceira pessoa, que não o
recorrido.
Dessa forma, conclui-se que o apelante não se prestou a comprovar a existência de
danos morais e tampouco, comprovou nexo de causalidade entre os danos materiais,
os eventuais lucros cessantes e a conduta do apelado. A propósito:
“APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS -
RESPONSABILIDADE CIVIL - AGRESSÃO VERBAL - OFENSA À HONRA E À IMAGEM -
SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA - RECURSO DO AUTOR - AUTOR QUE NÃO
COMPROVOU OS FATOS ALEGADOS - ÔNUS QUE LHE INCUMBIA - EXEGESE DO
ART. 333, INCISO I, DO CPC - IMPOSSIBILIDADE DE JUÍZO SEGURO PARA A
CONDENAÇÃO - ATO ILÍCITO E DANOS NÃO CARACTERIZADOS - INDENIZAÇÃO
INDEVIDA - SENTENÇA MANTIDA - PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS -
APELAÇÃO DESPROVIDA”. (TJPR APC 1415575-4 9ª C. Cível Rel.: Luiz Osorio Moraes
Panza D.J. 08.10.2015)
Tendo em vista a manutenção integral da sentença, os ônus da sucumbência também
devem ser mantidos na forma fixada, para que o apelante arque com a totalidade de
seus ônus.
Mantenho o valor fixado a título de honorários, uma vez que a sentença é anterior à
vigência do novo CPC, bem como que o valor fixado bem atende aos requisitos
elencados no art. 20 do CPC/73.
Diante do exposto, nego provimento ao apelo, nos termos da fundamentação supra.
195

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ACORDAM os Desembargadores da 3ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do


Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao apelo, nos
termos do voto do relator.
Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luis Sérgio Swiech e
acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luiz Cezar
Nicolau.
Curitiba, 23 de março de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI

2.2.3. ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO – CAUSA PRIMÁRIA E DETERMINANTE

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. ACIDENTE DE TRÂNSITO. TRAVESSIA

DE VIA PRINCIPAL. COLISÃO COM MOTOCICLETA QUE VINHA PELA

PREFERENCIAL. CAUSA PRIMÁRIA. DEVER DE CAUTELA INOBSERVADO. ART. 44

DO CTB. CULPA EXCLUSIVA DO MOTORISTA. ALEGAÇÃO DE EXCESSO DE

VELOCIDADE E DE DIREÇÃO PRÓXIMA AO CANTEIRO. NÃO COMPROVAÇÃO.

LESÕES GRAVES.INTERNAÇÃO HOSPITALAR. AMPUTAÇÃO DE MEMBRO

INFERIOR. DANO MORAL. CABIMENTO. FILHAS MENORES.DANO MORAL

REFLEXO. ARBITRAMENTO RAZOÁVEL E PROPORCIONAL. MANUTENÇÃO. DANOS

ESTÉTICOS.REDUÇÃO PARA ATENDER À PROPORCIONALIDADE E À

JURISPRUDÊNCIA ANÁLOGA. PENSÃO MENSAL TEMPORÁRIA. LAUDO MÉDICO

QUE ATESTA REDUÇÃO DE CAPACIDADE PARA O TRABALHO. CUMULAÇÃO COM

BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. POSSIBILIDADE.PRECEDENTES DO STJ.

ABATIMENTO DPVAT. RECURSO PROVIDO EM PARTE.

(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1614865-3 - Paranavaí - Rel.: Vicente Del Prete Misurelli -

Unânime - J. 01.06.2017)

Inteiro Teor

Certificado digitalmente por: VICENTE DEL PRETE MISURELLI


Trata-se de Apelação Cível nos autos de Ação de Indenização nº 0004965-
18.2011.8.16.0130, contra sentença que julgou parcialmente procedentes os pedidos
iniciais para o fim de condenar o apelante e a seguradora HDI, esta até o limite do
contrato de seguro, ao pagamento de danos materiais no valor de R$ 3.825,76,
pensão mensal em 1 salário mínimo vigente desde o evento danoso até 5 anos após a

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data da sentença, danos morais de R$ 30.000,00 para o apelado Vanderlei e de R$


5.000,00 para as apeladas Camila e Carolaine, e danos estéticos no valor de R$
100.000,00. De consequência, condenou o apelante em custas e honorários, estes
fixados em 20% do valor da condenação (fls. 686/698 e 719/720).
Dessa sentença recorre ROBERTO YUJI UEDA (fls. 723/755), alegando que deve haver
desconto na indenização dos valores recebidos a título de DPVAT (súmula 246/STJ).
Aduz que não houve comprovação de sua culpa pelo evento danoso e que houve
culpa exclusiva da vítima ou, ao mesmo, culpa concorrente. Menciona a testemunha
Vagner Cavazin, alega que o boletim de ocorrência não é prova idônea para a
descrição do acidente, diz que foi a moto que bateu na caminhonete do apelante, que
não houve qualquer equívoco e que não adentrou na pista, que o apelado vinha em
alta velocidade e estava perto do canteiro central e reafirma a culpa concorrente.
Defende o afastamento da pensão mensal, porque não houve prejuízo para o
apelado, que já houve o pagamento de auxílio doença e que o apelado trabalhava à
época dos fatos como vigia, recebendo salário mínimo. Alega que as filhas do autor
são partes ilegítimas e pede a redução do dano moral e do dano estético, para evitar
enriquecimento ilícito. Pede a redução dos honorários advocatícios.
O apelado apresentou contrarrazões (fls. 773/786) e também recorreu adesivamente
(fls. 784/796) pedindo a majoração dos danos morais.
A Procuradoria Geral de Justiça, intervindo em razão de interesse de menor,
manifestou-se pelo não provimento do recurso.
É o relatório.
Voto.
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conhece- se dos recursos.
Trata-se de pretensão indenizatória fundada em acidente automobilístico ocorrido em
05/01/2011 e envolvendo a motocicleta Honda Titan pilotada por Vanderlei Fernandes
de Souza e a caminhonete Ford F250 dirigida por Roberto Yuji Ueda (fls. 11/15).
Do acidente resultou para o apelado a amputação de sua perna esquerda (fls. 16/18 e
19/80) e o pedido abrange também a pretensão indenizatória deduzida por suas duas
filhas menores.
Deixo de conhecer a parte das razões recursais do apelante que versam sobre a
ilegitimidade das filhas da vítima, porque essa questão já foi julgada nos autos por
ocasião do saneamento do feito (fls. 274/275) sem que as partes tenham apresentado
recurso.
Ora, tendo havido coisa julgada sobre a questão não é mais possível à parte
ressuscitar o debate, em virtude da preclusão ocorrida (nesse sentido: STJ - AgRg
1260497/MG ­ 5ª Turma ­ Rel. Min. Jorge Mussi ­ DJ 17/03/2011).
Lembrando que a coisa julgada importa em preclusão consumativa inclusive para
matéria de ordem pública:
“Consoante jurisprudência desta Corte, ainda que a questão seja de ordem pública,
há preclusão consumativa se a matéria tiver sido objeto de decisão anterior
definitivamente julgada.” (STJ - AgRg no AREsp 630587/SP ­ 4ª Turma ­ Rel. Min.
Antônio Carlos Ferreira ­ DJ 01/07/2016)
Pois bem.
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A prova constante nos autos atesta inequivocamente a responsabilidade exclusiva do


apelante Roberto Yuji Ueda, condutor da caminhonete Ford, pelo evento danoso.
O Boletim de Ocorrência, efetuado segundo as declarações prestadas no local pelo
próprio apelante, aponta que (fls. 13): “O veículo 1 (caminhonete) transitava na
Avenida Presidente Tancredo Neves, sentido rua Manoel Ribas, ao fazer conversão à
esquerda para adentrar na rua Pernambuco envolveu-se em abalroamento transversal
com o veículo 2 (moto) que transitava na Avenida Presidente Tancredo Neves sentido
Av. Heitor Alencar Furtado.”
Ou seja, a motocicleta pilotada por Vanderlei Fernandes de Souza trafegava
normalmente pela pista da Av. Tancredo Neves sentido Av. Heitor Alencar Furtado
quando, ao se aproximar do cruzamento com a rua Pernambuco, teve sua via
preferencial obstruída pela caminhonete Ford, conduzida por Roberto Yuji Ueda, a
qual pretendia efetuar o cruzamento da pista principal da Tancredo Neves e entrar na
rua Pernambuco (fls. 13/14).
O croqui realizado pela polícia militar e anexado no boletim de ocorrência mostra
claramente a dinâmica do evento, com o apelante Roberto Yuji Ueda fazendo
conversão à esquerda e, ao realizar a manobra, obstruiu a via preferencial em que
vinha a motocicleta, abalroando-a (fls. 14).
Consigne-se, a propósito, que o Boletim de Ocorrência goza de presunção relativa de
veracidade (STJ - AgRg no AREsp 209262/SC), presunção esta que não foi ilidida nos
autos por qualquer outra prova. Além do mais, o policial militar que atendeu a
ocorrência reafirmou em Juízo o conteúdo e a exatidão do croqui (fls. 649).
A declaração do apelante à autoridade policial no boletim de ocorrência também
comprova que a batida se deu quando convergiu à esquerda, invadindo a pista em
que transitava o autor, dando causa ao sinistro (fls. 15).
A prova testemunhal produzida pelo autor corrobora integralmente a documentação
dos autos, com destaque para o depoimento de Vergílio Albino Peters, que estava no
canteiro no exato momento do acidente, tendo sido, portanto, testemunha presencial
(fls. 626):
“(...) eu atravessei a rua, a primeira pista, eu estava em cima daquele canteiro, aí
desceu a caminhonete, e o Vanderlei vinha subindo com a moto, e a caminhonete
desceu de vez e virou de uma vez assim, que não deu tempo do Vanderlei parar (...),
do jeito que bateu ali jogo a moto longe, porque não foi a moto que entrou na
caminhonete, foi a caminhonete que entrou na moto. (...) o motorista da caminhonete
falou: `eu não vi a moto’, mas ali dava pra ver, (...), a moto vinha mais ou menos no
meio da pista (...).”
Essa testemunha presencial disse que a caminhonete fez a conversão de forma
abrupta e em alta velocidade e disse que motocicleta trafegava a uns 50 Km/h.
O depoimento de Wagner Cassio Cavazin (fls. 633), única testemunha do apelante, é
contrário às demais testemunhas e contrário também à prova documental dos autos,
pelo que, isolado, não pode servir como prova segura e idônea.
Ele diz que a moto veio e bateu na caminhonete, que estava parada para fazer a
conversão. Ora, a colisão se deu já dentro da pista da Avenida Tancredo Neves, no
sentido Heitor Alencar Furtado, como deixa evidente o croqui e o boletim de
198

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ocorrência (fls. 13/14), logo, era impossível que a caminhonete estivesse parada no
canteiro no momento da batida, como afirma essa testemunha.
Note-se que o próprio croqui feito pela polícia militar (fls. 14) foi feito apenas com
base nas declarações do apelante (fls. 13) e mostra dinâmica totalmente diversa. Nem
em sua declaração no dia dos fatos o apelante afirmou estar parado (fls. 15).
Além de confrontar com a prova documental, esse depoimento confronta com as
demais provas testemunhais, especialmente a da outra testemunha presencial, senhor
Vergílio Albino Peters.
Consigne-se que mesmo nessa versão isolada de Wagner Cassio Cavazin, e
contraditória aos demais elementos dos autos, conclui-se pela ação culposa exclusiva
do apelante Roberto Yuji Ueda, eis que a caminhonete teria invadido parte da pista
preferencial com a sua frente, tendo com isso causado a batida na lateral esquerda (fls.
633):
“Eu vi que a caminhonete entrou e teve a colisão (...); a caminhonete não estava pra
dentro da pista, ela pode ter invadido alguma coisinha, porque pegou no parachoque
da caminhonete”.
A alegação de que o apelado conduzia sua moto muito próxima do canteiro, além de
não ter sido provada pelo apelante nos autos (art. 373, II do CPC), também é contrária
à prova documental, eis que o boletim de ocorrência atesta que a moto estava
trafegando pela direita a meio metro da borda da pista, fato que foi corroborado pelo
depoimento de Vergílio Albino Peters.
Nesse ponto, as alegações da testemunha Wagner Cassio Cavazin novamente
restaram isoladas e sem nenhum apoio nas provas documentais.
A alegação de que a motocicleta trafegava em alta velocidade igualmente não
encontra suporte probatório nos autos, tendo sido desmentida pela testemunhal
presencial Vergílio Albino Peters.
Ademais, em caso de responsabilidade civil por acidente de trânsito, vigora a teoria
da causalidade adequada, na qual se perquire a causa primária do acidente. E a causa
primária deste caso, como bem evidenciado pelas provas, foi a invasão da pista
preferencial sem adotar as cautelas mínimas necessárias para efetuar a travessia, sem
que a vítima tenha contribuído em nada para a realização desta causa primária e,
portanto, sem se falar em culpa concorrente: “A teoria da causalidade adequada, que
prevalece hoje em tema de responsabilidade civil, impõe que perquira qual das culpas
foi a causa primária e eficiente para a ocorrência.” (TJPR ­ ApCiv 1039060-2 ­ 9ª
CâmCív. ­ Rel. Dartagnan Serpa Sá ­ DJ 24/04/2014)
E sobre a invasão de preferencial ser causa primária que torna irrelevante a discussão
sobre eventual excesso de velocidade de quem transita na preferencial:
APELAÇÃO CÍVEL - ACIDENTE DE TRÂNSITO - INVASÃO DE VIA PREFERENCIAL -
CAUSA PRIMÁRIA DA COLISÃO - DILAÇÃO PROBATÓRIA DESNECESSÁRIA ANTE A
IRRELEVÂNCIA DE EVENTUAL EXCESSO DE VELOCIDADE DO VEÍCULO
INTERCEPTADO (...) - CULPA EXCLUSIVA DO REQUERIDO CONFIGURADA - DEVER
DE INDENIZAR ­ (...). “A invasão de via preferencial constitui causa primária do
acidente, que não é afastada por eventual excesso de velocidade, e fluência do

199

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trânsito nas outras pistas da via preferencial.” (TJPR ­ ApCiv 501404-2 ­ 10ª CâmCiv ­
Rel. Des. Astrid Maranhão de Carvalho Ruthes ­ DJ 22/08/2008).
Portanto, além de não haver qualquer prova de excesso de velocidade, essa discussão
é irrelevante para o estabelecimento da culpa exclusiva pelo acidente neste caso.
A preferência de tráfego era toda do motociclista, que estava na pista preferencial e
em sentido reto, cabendo ao apelante motorista respeitar essa preferencial e adotar as
cautelas necessárias para efetuar a travessia, de forma que possa deter o veículo com
segurança em face dos demais que transitam na preferencial (art. 44 do CTB), o que
evidentemente não foi feito. Sobre o tema:
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS -
ACIDENTE DE TRÂNSITO - (...) - CRUZAMENTO DA PISTA QUE DEVE DAR
PREFERÊNCIA AOS VEÍCULOS QUE TRANSITAM NO SENTIDO DA VIA - CAUSA
PRIMÁRIA PARA A OCORRÊNCIA DO ACIDENTE ORIGINADA INDUBITAVELMENTE
PELO APELANTE (...). (TJPR ­ ApCiv 1318668-4 ­ 9ª CâmCív ­ Rel. Des. José Augusto
Gomes Aniceto ­ DJ 06/09/2016)
Resta, enfim, provada nos autos a responsabilidade extracontratual subjetiva exclusiva
de Roberto Yuji Ueda (art. 186 e 927 do CCB), eis que sua conduta culposa na
travessia da preferencial deu causa ao evento danoso.
Em razão do acidente causado pelo motorista, o motociclista sofreu graves lesões e
foi encaminhado ao Hospital Santa Casa de Paranavaí, tendo havido amputação da
perna esquerda, como comprovam a documentação encartada e o laudo médico
pericial (fls. 16/80 e 562/573).
Diante de tais provas, resta evidenciado o abalo psicológico sofrido pelo autor em
razão do acidente, tendo de permanecer dias internada e de se submeter a cirurgia de
amputação, com afastamento de suas atividades laborais, restando, por fim,
acometido de incapacidade permanente (fls. 518). Sobre a existência de dano moral
em tais situações:
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL, MORAL E ESTÉTICO. ACIDENTE
DE TRÂNSITO. (...). DANO MORAL.
SUBMISSÃO A CIRURGIA, SESSÕES DE FISIOTERAPIA E AFASTAMENTO DO
TRABALHO POR DELONGADO PERÍODO EM DECORRÊNCIA DO EVENTO
DANOSO. (...). (TJPR ­ ApCiv 1588149-9 ­ 8ª CãmCív ­ Rel. Des. Luiz Cezar Nicolau ­
DJ 14/03/2017)
O valor para dano moral arbitrado na sentença (R$ 30.000,00) deve ser mantido,
porque razoável e proporcional à reparação da grave extensão dos danos causados, à
dissuasão da conduta culposa no trânsito, à conduta dos envolvidos, à capacidade
econômica das partes e, principalmente, à jurisprudência estadual para casos análogos
(ApCiv 1445117-1 ­ 10ª Câm.Cív ­ DJ 10/03/2016 e ApCiv 1161250-5 ­ 8ª CâmCív ­ DJ
24/04/2014).
Esse valor bem cumpre a função reparatória e pedagógica do dano moral e não
representa de forma alguma o enriquecimento ilícito da vítima.
Além do autor, a sentença fixou danos morais de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) para
suas 2 filhas menores, que tinham 6 e 2 anos à época dos fatos (fls. 08/09) e moravam
com o autor e sua esposa, tendo, portanto, vivenciado de perto as consequências
200

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psicológicas do acidente, como o trauma familiar e a redução de ganhos pelo


afastamento laboral.
Esse valor é razoável e proporcional ao evidente abalo psíquico reflexo (indireto ou
por ricochete) sofrido pelas filhas menores e, além de guardar consonância com a
jurisprudência análoga (TJPR ­ ApCiv 1398156-3 ­ 8ª CâmCív ­ Rel. Des. Themis
Furquim Cortes ­ DJ 07/04/2016), não implica em enriquecimento ilícito:
“Trata-se de hipótese de danos morais reflexos, ou seja, embora o ato tenha sido
praticado diretamente contra determinada pessoa, seus efeitos acabam por atingir,
indiretamente, a integridade moral de terceiros. É o chamado dano moral por
ricochete, cuja reparação constitui direito personalíssimo e autônomo dos referidos
autores.” (STJ - AgRg no REsp 1212322/SP ­ 1ª Turma ­ Rel. Min. Napoleão Nunes
Maia Filho ­ DJ 10/06/2014)
A pensão mensal de 1 salário mínimo vigente à época dos fatos pelo tempo de 5 anos
merece ser mantida.
O laudo médico pericial constatou efetivamente que as lesões implicaram em
diminuição da capacidade de trabalho, condição necessária para a fixação de pensão
mensal (art. 950 do CCB).
Embora não esteja registrado em sua carteira de trabalho, a prova testemunhal
comprovou satisfatoriamente que o autor trabalhava na construção civil como mestre
de obras percebendo renda mensal aproximada de R$ 2.000,00.
Neste sentido são os depoimentos de Everton Ozeas da Silva, de Hélio Carlos Ferreira
Costa, Francisco Carneiro dos Santos Soares, Claudecir Bernardo Sanchez e João
Batista Alves de Sá, além do depoimento do Fábio Porto dos Santos.
Também a prova documental trazida pelo INSS informa como profissão do autor o
ofício de mestre de obras (fls. 347/349).
E o laudo médico apontou inequivocamente a perda de capacidade de trabalho para
atividade de mestre de obras até que haja a obtenção de próteses (fls. 567/569),
sendo que a outra função laboral também desempenhada pelo autor, a de vigilante,
“não poderá mais ser exercida” (fls. 567).
O laudo também atestou que atualmente o autor é incapaz para qualquer trabalho
(fls. 571) e que eventual retorno à atividade de mestre de obras está condicionado às
próteses (fls. 570).
Tendo em vista essa possibilidade futura de reinserção no mercado de trabalho, a
sentença afastou a pensão vitalícia e determinou pensão por 5 anos, no que está
correta, porque atende proporcionalmente ao dano havido e a prova médica dos
autos.
Conforme o entendimento dominante das Câmaras indenizatórias desta Corte, o
recebimento de benefício previdenciário não impede a fixação de pensão mensal a
favor da vítima, eis que são verbas de natureza jurídica distinta, uma securitária e outra
indenizatória, não havendo, portanto, bis in idem: AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS
E DENUNCIAÇÃO DA LIDE - ACIDENTE DE TRÂNSITO ­ (...) - CUMULAÇÃO DE
PENSÃO MENSAL POR ILÍCITO CIVIL E BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DO INSS -
POSSIBILIDADE ­ (...). “ O benefício pago pelo INSS

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tem caráter previdenciário, ou seja, possui natureza securitária, enquanto que a


pensão mensal ostenta natureza indenizatória decorrente da responsabilidade civil,
sendo possível, para a jurisprudência do STJ, a cumulação das verbas, porquanto têm
origens distintas.” (TJPR ­ ApCiv 1411226-0 ­ 8ª CâmCív ­ Rel. Des. Gilberto Ferreira ­
DJ 26/01/2017).
É neste sentido o entendimento do STJ: ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL.
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. (...). POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO
COM PENSÃO PREVIDENCIÁRIA. (...). “A jurisprudência desta Corte é disposta no
sentido de que o benefício previdenciário é diverso e independente da indenização
por danos materiais ou morais, porquanto têm origens distintas. O primeiro
assegurado pela Previdência; e a segunda, pelo direito comum. A indenização por ato
ilícito é autônoma em relação a qualquer benefício previdenciário que a vítima receba.
Precedentes. (STJ - AgRg no REsp 1388266/SC ­ 2ª Turma ­ Rel. Min. Humberto
Martins ­ DJ 16/05/2016)
Para a fixação do valor da pensão mensal, o Juízo considerou os valores recebidos
pelo autor pelo INSS e os que sua esposa aufere (fls. 693), cálculo que deve ser
mantido, porque evita o enriquecimento ilícito.
O pleito de redução dos danos estéticos, todavia, merece provimento.
É que o valor arbitrado de R$ 100.00,00 (cem mil reais) mostra-se excessivo em
relação ao entendimento desta Corte para
casos análogos, devendo portanto ser reduzido para R$ 65.000,00 (sessenta e cinco
mil reais), valor que se afigura mais razoável e proporcional à jurisprudência e ao
desagravo ao dano permanente sofrido (neste sentido: TJPR ­ ApCiv 773117-7 ­ 10ª
CâmCív ­ Rel. Des. Albino Jacomel Guerios ­ DJ 02/06/2011).
Tal valor não implica em enriquecimento ilícito e está num patamar razoável de
indenização estética (conforme: STJ - AgRg no AREsp 510181/RJ ­ 4ª Turma ­ Rel. Min.
Raul Araújo ­ DJ 01/06/2015).
Por fim, deve ser aplicada a súmula 246/STJ, que determina a dedução do valor
indenizatório da quantia paga a título de DPVAT.
Assim, dos valores indenizatórios aqui fixados para o autor Vanderlei Fernandes de
Souza deve ser abatido a quantia de R$ 9.450,00 paga em 15/08/2011 (fls. 359).
A redução do dano estético, cuja pleito é meramente estimativo, e o abatimento do
DPVAT não alteram a constatação de sucumbência mínima dos autores.
Em relação aos honorários advocatícios, o ganho obtido neste recurso já está
contemplado pela aplicação de percentual sobre o valor da condenação.
A fixação do percentual de 20% sobre o valor da condenação deve ser mantida,
porque razoável e proporcional ao trabalho exigido pela demanda, ao tempo de
tramitação da ação, à natureza e complexidade da causa, bem como os demais
critérios do art. 85, § 2º do CPC.
Diante do exposto, dou parcial provimento ao recurso
para o fim de reduzir o dano estético para R$ 65.000,00 (sessenta e cinco mil reais) e
determinar o abatimento do DPVAT dos valores indenizatório, mantida no mais a
sentença recorrida.

202

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ACORDAM os Desembargadores da 8º Câmara Cível do Tribunal de Justiça do


Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar parcial provimento ao recurso,
nos termos do voto relator.
Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz Cezar Nicolau (com voto) e
acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 01 de junho de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI

2.2.4. ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO – VÍTIMA FATAL – “CHAPA” CONTRATADO

PELO MOTORISTA

APELAÇÕES CÍVEIS. INDENIZATÓRIA. ACIDENTE DE TRANSITO. VITIMA FATAL.

CAMINHÃO QUE AGUARDAVA EM FRENTE À EMPRESA PARA

DESCARREGAR.CONTRATAÇÃO DO SERVIÇO DE "CHAPA" PELO CONDUTOR.

CONTRATADO QUE ESPERA EMBAIXO DO VEÍCULO. CULPA EXCLUSIVA DA

VÍTIMA. CONFIGURADA.EXISTÊNCIA DE SALA DE ESPERA NO LOCAL. CONDUTOR

QUE NÃO TERIA SIDO AVISADO PREVIAMENTE. AÇÃO IMPRUDENTE. SENTENÇA

MANTIDA. HONORÁRIOS.MAJORADOS. APELO NÃO PROVIDO.

(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1656703-8 - Curitiba - Rel.: Vicente Del Prete Misurelli -

Unânime - J. 08.06.2017)

Inteiro Teor

Trata-se de Apelação Cível, em face de sentença que reconheceu a culpa exclusiva da


vítima e julgou improcedente os pedidos iniciais, condenando os autores ao
pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, fixados em R$ 1.000,00
para os patronos de cada réu (fls. 639/642).
Inconformados, os autores sustentam que a conduta do motorista foi culposa, pois
amplamente conhecedor do fato de que os “chapas”, contratados para auxiliar na
descarga do caminhão, permanecem embaixo do veículo enquanto aguardam ordens
para entrar no pátio da empresa, demonstrando evidente imprudência ao avançar o
caminhão sem se ater a tal fato, devendo ser considerada as provas documentais e os
depoimentos colhidos nos autos que comprovam a habitualidade de tal prática,
devendo ser reconhecida a culpa exclusiva do apelado (fls. 656/660).
Contrarrazões (fls., 683/691 e 693/699)
É o relatório.
Voto.

203

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Presentes os pressupostos de admissibilidade, conhece- se do recurso.


Extrai-se dos autos que no dia 10/01/2012, o requerido João Hélio Patussi,
conduzindo caminhão de propriedade da requerida Ademar Cestonaro ­ ME,
contratou os serviços de “chapa” do sr. Newton Dias Batista para auxiliá-lo na
descarga do veículo junto a empresa Alltech do Brasil Agroindustrial.
Ocorre que, antes de adentrar ao pátio da empresa, o motorista passou por cima do
corpo de Newton, que aguardava embaixo do caminhão, resultando em sua morte.
Em face disto, sua companheira e seus filhos ingressaram com a presente medida
visando serem reparados pelos danos materiais e morais decorrentes do acidente.
Entretanto, o magistrado julgou improcedente a lide, considerando ter havido culpa
exclusiva da vítima.
Por sua vez, os autores sustentam que a conduta do motorista foi culposa, pois
amplamente conhecedor do fato de que os “chapas”, contratados para auxiliar na
descarga do caminhão, permanecem embaixo do veículo enquanto aguardam ordens
para entrar no pátio da empresa, demonstrando evidente imprudência ao avançar o
caminhão sem se ater a tal fato, devendo ser considera as provas documentais e os
depoimentos colhidos nos autos que comprovam a habitualidade de tal prática.
Cumpre extrair a prova oral colhida nos autos:
A testemunha Paulo Roberto de Cristo, que trabalha como “chapa” há 38 anos e que
conhecia a vítima há 14, afirmou que apesar de ter feito poucas vezes, é de costume
que os chapas descansem embaixo do veículo para descansar na sombra e que não
avisava o motorista antes de realizar tal prática. Afirmou que já esteve na empresa em
que ocorreu os fatos e que lá há uma sala de espera, não sabendo dizer se tal ato era
habitual do sr. Newton, mas que considera um ato imprudente.
Já a testemunha Cleiton, que também é “chapa,” afirmou que é comum a prática de
dormir embaixo do caminhão já que muitas vezes são proibidos de ficar na cabine ou
dentro do estabelecimento e que avisam o motorista antes de deitar e que mesmo
não sendo seguro, não possuem outra alternativa.
Na oitiva de Claudio Cesar que também desempenha a função de “chapa”, este
afirmou que é costume descansar embaixo do veículo, mas que depois do que
aconteceu não fez mais, e, que isso ocorre, pois, às vezes são obrigados a esperar por
longo período de tempo embaixo de sol e que a única sombra disponível fica embaixo
do veículo e, que geralmente o motorista é avisado previamente, mas não soube
precisar se a vítima avisou ou não, e, que na frente do local do fato não existe lugar
para descanso, mas que nunca prestou nenhum serviço lá, não sabendo afirmar se
existe sala de espera.
Por outro lado, o requerido João Hélio Patussi, condutor do caminhão, afirmou que já
havia trabalhado com a vítima anteriormente e que estacionou o veículo as 10h na
frente da empresa aguardando para que pudesse entrar e descarregar, após parar o
veículo os dois voltaram para dentro da cabine do caminhão descansar, em seguida,
após cochilar por um instante foi informado pelo funcionário da empresa, por volta das
13h30m, que “poderia entrar que os rapazes tão te esperando”, nisso, percebeu que a
porta do passageiro estava aberta e pediu para que o funcionário da empresa a

204

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fechasse. Após dar a partida e aguardar por cerca de dois minutos, engatou o
caminhão e acabou passando por cima da vítima.
Afirmou que nenhum funcionário viu que o “chapa” tinha deitado embaixo do veículo
e que ao ser informado que os rapazes estavam esperando ele lá dentro achou que o
sr. Newton também estivesse, pois nunca imaginou que ele pudesse estar sob o
veículo, já que tal prática não é comum, afirmando que a vítima nunca tinha feito isso
nas vezes anteriores em que trabalhavam juntos.
Por sua vez, a testemunha Carlos Rogério que é técnico de segurança da empresa
Alltech, local onde ocorreram os fatos, disse que viu o condutor e o chapa antes do
acontecido quando estavam parados em frente a portaria fazendo a identificação.
Também afirmou que é conduta da empresa orientar que tanto os motoristas quanto
os chapas, ou até mesmo os familiares que estão acompanhando, aguardem na sala
de espera, mas que a maioria prefere voltar aos seu veículos, reforçando o fato da
existência de sala de espera no local à época dos fatos.
Afirmou que após o acontecimento passaram a bloquear o trabalho do chapa e que
nunca presenciou ninguém deitado embaixo do caminhão e que se tivesse visto, a
primeira coisa que faria seria solicitar para que saísse, contou que o sr. João Hélio
entrou em pânico no momento e que precisou acalmá-lo, dando a perceber que não
tinha a menor noção de que o chapa estava embaixo do veículo, não sendo de
costume que os motoristas olhem antes de dar a partida.
Pois bem, nota-se que as testemunhas arroladas pelos autores, companheiros de
profissão da vítima, apesar de reconhecerem como habitual tal prática não afastaram
seu risco.
Ainda, deve-se levar em consideração que de acordo com os testemunhos, tal prática
era necessária somente nos locais onde inexistia local de espera adequado, sendo sob
o veículo, o único local de sombra que dispunham.
Ocorre que tal necessidade não se verifica no presente caso vez que restou
comprovada existência de sala de espera adequada no interior da empresa, tendo
sido inclusive aconselhado por seu funcionário a utilizar, todavia, não o fez.
Também merece destaque o depoimento do requerido e condutor do veículo, sr.
João Hélio Patussi, que afirmou ter cochilado no momento em que esperava a
liberação para entrar na empresa e que ao acordar foi informado pelo funcionário da
empresa que “poderia entrar que os rapazes tão te esperando”, fazendo crer que o
chapa também estava no interior da empresa, vindo a testemunha Carlos Rogério,
confirmar o estado de pavor em que o motorista ficou ao perceber os fatos.
Portanto, a imprudência restou verificada na conduta da vítima, que se deitou sob
veículo extremamente pesado, sem ao menos informar o condutor, sendo que possuía
local adequado para a espera.
Por fim, necessário se faz majorar os honorários advocatícios pelo trabalho
desempenhado em grau recursal, os quais fixo em R$ 1.200,00, nos termos do art. 85,
§11, CPC.
Diante do exposto, nego provimento ao apelo.

205

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ACORDAM os Desembargadores da 8º Câmara Cível do Tribunal de Justiça do


Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao apelo, nos
termos do voto relator.
Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz Cezar Nicolau (com voto) e
acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 08 de junho de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI

2.2.5. RESPONSABILIDADE SECURITÁRIA HABITACIONAL

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RESPONSABILIDADE SECURITÁRIA HABITACIONAL.

VÍCIOS CONSTRUTIVOS.INTERVENÇÃO DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL,

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL, APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO

CONSUMIDOR E INVERSÃO DO ÕNUS DA PROVA. QUESTÕES JÁ DECIDIDAS EM

RECURSOS ANTERIORES. PRECLUSÃO. INÉPCIA DA INICIAL E FALTA DE INTERESSE

DE AGIR.INOCORRÊNCIA. CONTRATOS QUE SE TORNARAM INATIVOS APÓS A

PROPOSITURA DA AÇÃO.IRRELEVÂNCIA. DANOS OCORRIDOS NA VIGÊNCIA DO

CONTRATO. PRESCRIÇÃO ÂNUA. INEXISTÊNCIA. LAUDO PERICIAL. DANOS

PROGRESSIVOS E PRESENÇA DE RISCO DE DESMORONAMENTO. COBERTURA

SECURITÁRIA DEVIDA. PAGAMENTO EM PECÚNIA.POSSIBILIDADE.

RESSARCIMENTO PELOS REPAROS.VIABILIDADE. MULTA DECENDIAL.

INCIDÊNCIA.HONORÁRIOS RECURSAIS. SENTENÇA MANTIDA.RECURSO NÃO

PROVIDO.

(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1679914-9 - Cianorte - Rel.: Vicente Del Prete Misurelli -

Unânime - J. 08.06.2017)

Inteiro Teor

Trata-se de Apelação Cível nos autos de Ação de Indenização Securitária nº 0005064-


45.2009.8.16.0069, contra sentença que julgou parcialmente procedentes os pedidos
iniciais e condenou a apelante ao pagamento de indenização referente aos vícios de
construção declinados no laudo pericial. De consequência, condenou a apelante em

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70% das custas e honorários advocatícios, estes fixados em 10% do valor da


condenação (fls. 680/688).
Dessa sentença recorre COMPANHIA EXCELSIOR DE SEGUROS S/A (fls. 682/771)
pedindo o conhecimento e julgamento do agravo retido interposto. Alega que
migração posterior para o ramo privado não afasta a utilização pretérita dos recursos
do FCVS, defende a inépcia da inicial por falta de documentos indispensáveis à
propositura da ação e não comprovação do aviso de sinistro. Aduz que há falta de
interesse de agir porque os contratos estão inativos. Argui a prescrição ânua e a
impossibilidade de aplicação do CDC e da inversão do ônus da prova.
Defende a incompetência da justiça estadual e a necessidade de intervenção da CEF.
Afirma que não há cobertura contratual para vícios de construção e que a COHAPAR
deve integrar a lide como litisconsórcio necessário. Assevera que a perícia afastou o
risco de desmoronamento, pede afastamento da multa decendial e que seu termo
inicial deve ser o prazo para cumprimento espontâneo da sentença condenatória.
Aduz que deve ser afastada a condenação ao ressarcimento e que não houve prova
dos gastos.
Contrarrazões (fls. 913/957).
É o relatório.
Voto.
Presentes os pressupostos conheço do recurso.
Trata-se de pretensão de cobrança de seguro habitacional em decorrência de vícios
construtivos havidos em imóvel construído pela COHAPAR e financiado no âmbito do
Sistema Financeira de Habitação.
As questões sobre a aplicação do Código de Defesa do Consumidor e a inversão do
ônus da prova já foram analisadas e julgadas por esta 8ª Câmara Cível no Agravo de
Instrumento nº 597.657-4 (fls. 366/379), cuja decisão pela aplicação do CDC com
inversão do ônus probatório já transitou em julgado (fls. 380). Assim, tais temas estão
preclusos e não podem ser mais ressuscitados na apelação.
De igual, as questões sobre a intervenção da Caixa Econômica Federal e da
competência da Justiça Federal também já foram resolvidas pela Câmara no Agravo
de Instrumento nº 672.653-2, que fixou a competência da Justiça Estadual e afastou a
necessidade de intervenção da CEF em decisão já transitada em julgado, pelo que
todas as alegações da apelante sobre o tema não têm mais qualquer pertinência em
razão da preclusão consumativa.
O agravo retido (fls. 327/342), interposto contra decisão saneadora, pede a
declaração de competência da Justiça Federal, a inépcia da inicial, a carência de ação,
a prescrição e o afastamento da inversão do ônus da prova.
Como já visto, a competência e a inversão já foram julgados e são temas preclusos
nos autos.
A inicial não é inepta. Todos os documentos necessários à propositura da ação e
compreensão da lide pela seguradora acompanharam a petição inicial, bem como a
descrição dos danos e a apresentação da apólice (fls. 33/66), dando, portanto,
cumprimento integral aos requisitos da inicial (art. 320 e 330, I do CPC).

207

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

A falta de indicação precisa da data de início dos danos não é requisito legalmente
previsto para constar na petição inicial e nem prejudica o entendimento dos fatos e
fundamentos jurídicos ou do pedido (neste sentido: TJPR ­ ApCiv 1632477-1 ­ 8ª
CâmCív ­ Rel. Des. Clayton de Albuquerque Maranhão ­ DJ 18/04/2017).
Além disso, a perícia atestou serem os danos progressivos no tempo, sem
possibilidade de precisar a data de início (item 6, fls. 609; e item 25, fls. 611)), motivo
pelo qual não haveria como os autores indicarem na inicial data que não pode ser
determinada, o que também é fundamento para afastar a alegação de inépcia (Neste
sentido: TJPR ­ ApCiv 1601619-6 ­ 8ª CâmCív ­ Rel. Alexandre Barbosa Fabiani ­ DJ
03/04/2017).
O sinistro foi devidamente comunicado pelos autores (fls. 29/32) e, ainda que não
tivesse sido, tal fato não representa inépcia da inicial em razão da inafastabilidade da
jurisdição (veja-se: TJPR ­ ApCiv 1490106-3 ­ 8ª CâmCív ­ Rel. Des. Luiz Cezar Nicolau ­
DJ 25/10/2016).
Não há carência de ação por falta de interesse de agir, eis que a apelante resistiu e
vem resistindo judicialmente à pretensão, fato que comprova o interesse de agir
(confira-se: STF - RE 631240/MG - Tribunal Pleno ­ Rel. Min. Roberto Barroso ­ DJ
10/11/2014).
Não prospera, ainda, a alegação de falta de interesse de agir em razão de contrato
inativo a partir de 2011, porque os contratos estavam vigendo e ativos no momento da
propositura da ação (fevereiro/2009).
Ademais, os danos constatados na perícia ocorreram na vigência do contrato de
financiamento, e não depois da inatividade, motivo pelo qual persiste o dever
acessório da indenização securitária:
APELAÇÕES CÍVEIS - RESPONSABILIDADE OBRIGACIONAL - SEGURO
HABITACIONAL ­ (...) - CONTRATO INATIVO QUE NÃO AFASTA O DEVER DE
INDENIZAR ­ (...). “Sem razão a alegação de carência de ação pela inatividade dos
contratos, pois os vícios dos quais reclamam os autores surgiram no decorrer da
vigência das apólices securitárias atinentes aos contratos de financiamento em
questão. Desse modo, o fato dos contratos estarem liquidados ou quitados não afasta
o dever de indenizar, porquanto o término do financiamento não acarreta a extinção
automática da cobertura securitária, justamente porque, em regra, os vícios se iniciam
no período da vigência contratual” (TJPR ­ ApCiv 1557740-3 ­ 8ª CãmCív ­ Rel. Des.
Gilberto Ferreira ­ DJ 13/02/2017)
Inexiste ofensa, portanto, aos art. 17, 332, 337, 485, 757 do CPC, art. 771 e 1457 do
CCB, tampouco aos itens 15.2 e 10.2 do contrato.
A alegação de prescrição também deve ser afastada.
Os contratos tornaram-se inativos em outubro/2011 (fls.
696), quando a ação já havia sido proposta, em fevereiro/2009 (fls. 01), logo, não
havia transcorrido 1 ano da data de quitação ou inatividade, conforme art. 206, § 1º, II,
“b” do Código Civil:
APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA. SEGURO HABITACIONAL. VÍCIOS
DE CONSTRUÇÃO. PRESCRIÇÃO.
CONTRATO DE FINANCIAMENTO. QUITAÇÃO. PRAZO ÂNUO.
208

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

DECURSO. Aplica-se o prazo prescricional ânuo à pretensão de recebimento de


indenização do seguro habitacional, cujo termo inicial, por se tratar de contrato
quitado, deve ser a data em que se findou o pacto securitário adjeto. (TJPR - 9ª
C.Cível - AC - 1541171-1 Rel.: Coimbra de Moura - Unânime - - J. 13.10.2016).
Além disso, a perícia constatou que os danos foram surgindo ao longo dos anos e não
têm data específica inicial (item 6; fls. 609), portanto, são danos contínuos que
renovam seguidamente o fato segurador da pretensão do beneficiário (Neste sentido:
STJ ­ Resp 1143962/SP), logo, não há que se falar em decurso do prazo ânuo:
“No tocante à alegação de prescrição da pretensão autoral, é importante esclarecer
que, na linha dos julgados desta Corte, os danos decorrentes de vício da construção
se protraem no tempo e, por isso, não permitem a fixação de marco temporal certo, a
partir do qual se possa contar, com segurança, o termo inicial do prazo prescricional
para a ação indenizatória correspondente a ser intentada contra a seguradora. Logo,
deve ser afastada a prejudicial de prescrição.” (STJ - AgRg no REsp 1297557/SP ­ 4ª
Turma ­ Rel. Min. Raul Araújo ­ DJ 02/03/2016)
Inexiste, assim, ofensa às cláusulas 15, 16 e 35 do contrato ou ao capítulo XIII da
Circular Susep 111/99.
Afasto também a denunciação da lide ao construtor e ao agente financeiro por
eventual responsabilidade pelos danos.
A pretensão é securitária e o construtor não tem responsabilidade securitária, logo,
não há liame objetivo que albergue a pretensão de denunciar parte que não tem
obrigação securitária.
Em relação ao agente financeiro, não há qualquer discussão envolvendo os termos do
contrato de financiamento, a liberação do empréstimo, prazos ou a cobrança de
encargos, atos que atrairiam a responsabilidade do agente financeiro.
Como a lide versa apenas sobre a relação securitária, a responsabilidade para
responder a demanda é exclusiva da seguradora:
“Nas hipóteses em que atua na condição de agente financeiro em sentido estrito, não
ostenta a CEF legitimidade para responder por pedido decorrente de vícios de
construção na obra financiada. Sua responsabilidade contratual diz respeito apenas ao
cumprimento do contrato de financiamento, ou seja, à liberação do empréstimo, nas
épocas acordadas, e à cobrança dos encargos estipulados no contrato. A previsão
contratual e regulamentar da fiscalização da obra pelo agente financeiro justifica-se em
função de seu interesse em que o empréstimo seja utilizado para os fins descritos no
contrato de mútuo, sendo de se ressaltar que o imóvel lhe é dado em garantia
hipotecária.” (STJ - REsp 1163228/AM ­ 4ª Turma ­ rel. Min. Maria Isabel Gallotti ­ DJ
31/10/2012)
Ainda:
“A responsabilidade securitária in casu é exclusiva das seguradoras e, por tal razão,
desnecessária a presença da COHAPAR e do construtor no polo passivo da
demanda.” (TJPR ­ AgInst 1468355-9 ­ 10ª CâmCív ­ Rel. Des. Luiz
Lopes ­ DJ 22/06/2016)

209

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No mérito, a perícia foi categórica ao afirmar reiteradamente que há sim risco de


desmoronamento por decorrência dos vícios constatados (item 32, fls. 602; item 47,
fls. 604; item 08; fls. 607; item 14, fls. 610; e “considerações finais”, fls. 613):
“(...) [os] danos irão evoluir para ameaça de desmoronamento se não forem
executadas as devidas correções e substituição dos materiais afetados.”
Não se trata, portanto, de risco futuro e incerto, mas de risco progressivamente
iminente.
Ora, nos termos da apólice para danos físicos, a cobertura exige comprovação do
risco de desmoronamento (cláusula 3, 3.1 “e”; fls. 804), vale dizer, comprovado o risco
de desmoronamento por perícia judicial, a indenização securitária é consequência
contratual.
Assim, restam afastadas as afirmações da apelante de que os vícios decorrem de
modificações feitas pelos apelados ou qualquer comprometimento que possa levar a
edificação ao desabamento e de que os vícios são decorrentes de falta de
conservação, porque o laudo pericial negou expressamente todas essas afirmações,
afirmando que as modificações não causaram nenhum dano e não são as responsáveis
pelo perigo de desmoronamento constatado (item 46, fls. 604; item 15, fls. 610) e que
a conservação foi normal (item 3, fls. 607; item 8, fls. 609), motivo pelo qual não há
incidência das cláusulas 13 e 16 do contrato.
A afirmação de que a apólice não cobre vícios construtivos não prospera, porque,
dado o caráter social do seguro obrigatório habitacional no âmbito do SFH, a
exigência de proteção à moradia e à pessoa do consumidor e a necessidade de
interpretação mais benéfica, os vícios construtivos devem ser entendidos como
inseridos na cobertura para danos físicos, sem que isso afronte os art. 757, 760 e 784
do CCB. Essa é a jurisprudência do STJ:
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. SEGURO HABITACIONAL. VÍCIOS
CONSTRUTIVOS.
RESPONSABILIDADE DA SEGURADORA. QUALIFICAÇÃO JURÍDICA DOS FATOS.
IMPOSSIBILIDADE DE EXCLUSÃO DO CONCEITO DE DANOS FÍSICOS AO IMÓVEL
EM RELAÇÃO AOS PREJUÍZOS ADVINDOS DE VÍCIOS CONSTRUTIVOS. (...). “Esta
Corte Superior, quando se colocou a interpretar a cobertura de tais danos ao imóvel
em sede de contrato de seguro habitacional, respondeu positivamente, no sentido da
existência de responsabilidade contratual da seguradora em cobrir os vícios
construtivos.” (STJ - AgRg no REsp 1540894/SP ­ 3ª Turma _ Rel. Min Paulo de Tarso
Sanseverino ­ DJ 12/04/2016)
Ainda:
“É orientação pacífica nesta Corte que a seguradora é responsável quando presentes
vícios decorrentes da construção, (...).” (STJ - REsp 186571/SC ­ 4ª Turma ­ Rel. Min.
Luis Felipe Salomão ­ DJ 01/12/2008)
A cláusula 3.2 que declara que a cobertura somente abrange danos decorrentes de
forças externas contradiz a cláusula 3.1, “e”, que prevê cobertura para ameaça de
desmoronamento sem qualquer ressalva de causa externa, frisando novamente que o
laudo pericial constatou a ameaça de desmoronamento.

210

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Desse modo, a referida cláusula 3.2 deve ser declarada abusiva, porque contradiz
cláusula expressa anterior e restringe direitos e obrigações fundamentais inerentes à
natureza do contrato de seguro de imóvel que visa a resguardar a garantia última do
financiamento concedido, o próprio imóvel:
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. (...). COBRANÇA DE SEGURO HABITACIONAL.
VICIOS CONSTRUTIVOS. APÓLICE QUE EXCLUI A POSSIBILIDADE DE
INDENIZAÇÃO/COBERTURA PARA OS CASOS DE DANOS NOS IMÓVEIS.
CONTRADIÇÃO.
INVOCAÇÃO DO CDC. RESTABELECIMENTO DO EQUILIBRIO CONTRATUAL. (...).
“tais normas contratuais (3ª e 3.1) são inquestionavelmente contraditórias, situação
que impõe o restabelecimento da relação contratual pelo julgador, em observâncias as
normas legais aplicáveis à espécie. (...).
Logicamente, não pode o mesmo contrato, em determinado momento excluir a
cobertura e, e em outra oportunidade, reconhecer a cobertura anteriormente excluída,
sob pena de afrontar diretamente o direito dos consumidores.” (TJPR ­ ApCiv 975875-
6/01 ­ 8ª CâmCív ­ Rel. Des. José Sebastião Fagundes Cunha ­ DJ 17/03/2014)
Não há nenhuma inviabilidade de que a reparação securitária se realize em pecúnia,
porque é a melhor forma de restabelecer o direito do consumidor (nesse sentido: TJPR
­ ApCiv 1266596-8 ­ 8ª CâmCív ­ Rel. Des. José Laurindo de Souza Netto ­ DJ
28/05/2015).
É devido também o ressarcimento pelos reparos realizados pelos mutuários, já
devidamente individualizados pela perícia (fls. 612/624), não sendo razoável exigir que
esperem por anos até realizar reparos urgentes e necessários, nem que tenham
guardado notas fiscais, haja vista que a perícia foi capaz de apontar os valores (nesse
sentido: TJPR ­
ApCiv 1413963-6 ­ 8ª CâmCív ­ Rel. Des. Gilberto Ferreira ­ DJ 02/03/2016).
De igual modo, é devida a multa decendial aos mutuários, limitada ao valor da
obrigação principal, como bem determinou a sentença, porque há previsão expressa
na cláusula 17.3 da apólice (fls. 39) de incidência dessa multa (nesse sentido: STJ -
AgRg no REsp 1433439/PR ­ 4ª Turma ­Rel. Min. Raul Araújo ­ DJ 18/12/2015).
Não prospera a alegação de que a multa é limitada apenas em casos de morte e
invalidez, porque a cláusula 16.2 não traz expressa essa limitação, ao contrário, refere-
se genericamente a todos os sinistros cobertos, portanto, englobando os decorrentes
de vícios construtivos.
A multa é devida pela seguradora, conforme expressa previsão contratual (cláusula
17.3) e a mora está comprovada pelo aviso de sinistro realizado por intermédio do
financiador (fls. 29/32), nos exatos termos da exigência contratual (cláusula 11; fls. 38).
Não prospera o pleito de fixação do termo inicial da mora a partir do cumprimento
espontâneo da sentença, porque o inadimplemento é de natureza contratual,
subsumindo-se à regra do art. 394 do CCB.
Em razão do não provimento do recurso, aplico o art. 85, § 11º do CPC e majoro os
honorários advocatícios devidos pela apelante para 12% do valor da condenação,
mantida a proporção fixada na sentença.

211

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Diante do exposto, nego provimento ao recurso e mantenho íntegra a sentença


recorrida.
ACORDAM os Desembargadores da 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso, nos
termos do voto do relator.
Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz Cezar Nicolau (com voto) e
acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 08 de junho de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI

2.2.6. ACIDENTE EM RODOVIA SOB CONCESSÃO – DANOS MORAIS

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. ACIDENTE DE TRÂNSITO EM RODOVIA.

AGRAVO RETIDO. PRESCRIÇÃO TRIENAL. INOCORRÊNCIA. CITAÇÃO VÁLIDA.

RETROAÇÃO A DATA DE PROPOSITURA DA DEMANDA. RECURSO NÃO PROVIDO.

APELAÇÃO. FALECIMENTO DA MÃE DOS AUTORES. DANOS MORAIS.

CONFIGURADOS.INDENIZAÇÃO. MANUTENÇÃO. CRITÉRIOS DE RAZOABILIDADE

E PROPORCIONALIDADE. OBSERVADOS.CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA. NÃO

COMPROVADO.SINALIZAÇÃO DA MOTOCICLETA. FUNCIONAMENTO ATESTADO

POR LAUDO PERICIAL. BAIXA VELOCIDADE.NÃO COMPROVADO. ACIDENTE

OCORRIDO POR CULPA DO MOTORISTA. VIOLAÇÃO DO DEVER DE

CUIDADO.RESPONSABILIDADE CIVIL CONFIGURADA. DENUNCIAÇÃO DA LIDE.

OBRIGAÇÃO SECURITÁRIA. CONTRATAÇÃO DE COBERTURA PARA DANOS

MATERIAIS E CORPORAIS.RISCOS EXCLUÍDOS. INDENIZAÇÃO POR DANOS

MORAIS.VERIFICADO. GARANTIA ADICIONAL POR DANOS MORAIS NÃO

CONTRATADA. CLÁUSULA INDEPENDENTE.IMPOSSIBILIDADE DE INCLUSÃO NA

COBERTURA POR DANOS CORPORAIS. SENTENÇA MANTIDA. APELO NÃO

PROVIDO.

(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1661913-7 - Cambará - Rel.: Vicente Del Prete Misurelli -

Unânime - J. 08.06.2017)

212

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Inteiro Teor

Nos autos da Ação Indenizatória nº 0000773- 73.2011.8.16.0055, o MM. Juiz da Vara


Cível de Cambará julgou procedente a lide principal, condenando o réu ao
pagamento de indenização por danos morais, no valor de R$ 16.500,00 (dezesseis mil
e quinhentos reais), em razão de sua culpa no acidente de trânsito que resultou no
falecimento da mãe dos autores. A quantia deve ser acrescida de correção monetária e
juros moratórios de 1% ao mês, contados desde o evento danoso. Condenou o
sucumbente ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, estes
fixados em R$ 1.5000,00 (mil e quinhentos reais).
A denunciação da lide formulada pelo réu foi julgada improcedente e foram fixados
honorários advocatícios em favor do patrono da denunciada, no montante de R$
1.500,00 (mil e quinhentos reais) (fls. 803/810 ­ 824/825).
Da sentença recorre o réu ANDRÉ TOLEDO DE CAMPOS (fls. 834/854).
Preliminarmente, requer a apreciação do agravo retido interposto às fls. 505/508. No
mérito, sustenta a excludente de responsabilidade civil por culpa exclusiva da vítima,
vez que trafegava em meio a rodovia, com velocidade reduzida, sem sinalização
traseira. Assim, pleiteia pelo afastamento da indenização fixada ou a sua minoração.
Além disto, na lide secundária sustenta ser devida a inclusão da indenização por
danos morais no capital segurado por danos corporais, vez que não há distinção entre
as espécies na apólice do seguro contratado.
Contrarrazões (fls. 865/877 ­ 887/890).
É o relatório.
Voto.
AGRAVO RETIDO
Inicialmente, conheço do agravo retido interposto às fls. 505/508, vez que é
tempestivo e há pedido para a sua apreciação no recurso de apelação interposto,
conforme art. 523 do CPC/73, vigente à época dos fatos.
Sustenta o agravante a ocorrência de prescrição da pretensão autoral, em vista do
decurso do prazo trienal entre a data do falecimento da genitora, 10.04.2008 (fls. 432),
e a data que foi determinada a citação do réu, 11.04.2011 (fls. 86).
Não prosperam as alegações do agravante.
Prevê o art. 219, § 1º do CPC/73, vigente à época dos fatos, que a citação válida
interrompe a prescrição, retroagindo-se à data da propositura da ação, a qual, por sua
vez, ocorreu em 08.04.2011 (fls. 05).
Confira-se o REsp Repetitivo nº 1120295/SP: (REsp 1120295/SP, Rel. Ministro LUIZ
FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 12/05/2010, DJe 21/05/2010).
Desta forma, a presente demanda foi ajuizada dois dias antes da ocorrência da
prescrição da pretensão autoral, conforme decidido pelo juízo originário às fls.
262/266.
Quanto ao sobrestamento do feito até o julgamento da ação criminal que versa sobre
o mesmo fato, a questão se encontra prejudicada, vez que aquela demanda foi julgada
(fls. 760/784).

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De igual forma, não é possível à nomeação a autora do coparticipe do acidente, vez


que se encontra encerrada a instrução processual. (TJPR - 8ª C.Cível - AI - 1415696-8 -
Paranaguá - Rel.: Marco Antônio Massaneiro - Unânime - - J. 03.12.2015).
Por fim, a juntada em destempo da certidão de óbito da genitora dos autos não
configura prejuízo à instrução processual, visto que, não obstante a sua apresentação
posterior, há nos autos outras provas que evidenciam o seu falecimento e suas
circunstâncias.
Desta forma, deve ser negado provimento ao agravo retido interposto.
RECURSO DE APELAÇÃO
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conhece- se do apelo.
Sustenta o apelante que o acidente ocorreu por culpa exclusiva da vítima, vez que
trafegava de moto em baixa velocidade, sem a sinalização adequada, considerando
que o abalroamento ocorreu a noite sob chuva, com visibilidade prejudicada.
Em que pese as alegações do apelante, por certo que a sua autoria acerca do
acidente já foi reconhecida na esfera criminal, através dos autos nº 688-
92.2008.16.0055 (fls. 760/784), em que o apelante foi condenando por homicídio
culposo na direção de veículo automotor.
Em que pese o art. 935 do Código Civil prever que a responsabilidade civil é
independente da criminal, não se pode questionar quem seja o seu autor, quando
estas questões se acharem discutidas no juízo criminal:
Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo
questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando
estas questões se acharem decididas no juízo criminal.
Sobre o tema:
[...] 1. “A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo
questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o autor, quando estas
questões se acharem decididas no juízo criminal” (art. 935 do Código Civil).
2. A sentença penal condenatória decorrente da mesma situação fática geradora da
responsabilidade civil provoca incontornável dever de indenizar, não podendo o aresto
impugnado reexaminar os fundamentos do julgado criminal, sob pena de afronta
direta ao art. 91, I, do CP.
3. Apesar da impossibilidade de discussão sobre os fatos e sua autoria, nada obsta
que o juízo cível, após o exame dos autos e das circunstâncias que envolveram as
condutas do autor e da vítima, conclua pela existência de concorrência de culpa em
relação ao evento danoso. [...] (REsp 1354346/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 17/09/2015, DJe 26/10/2015).
Desta forma, a apreciação da questão irá se limitar se houve concorrência da vítima no
acidente de trânsito.
Conforme relatado pelo próprio apelante no momento do acidente, este não
visualizou a motocicleta que trafegava a sua frente, vindo a colidir com ela. Afirma que
a moto estava com os faróis traseiros apagados e em baixa velocidade.
Pelo que consta do “LAUDO DE EXAME DE DANOS EM VEÍCULO”, elaborado pelo
Instituto de Criminalística da Polícia Científica do Estado do Paraná, “o sistema de
iluminação e frenagem e direção [da motocicleta] encontravam-se em funcionamento”.
214

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Tal informação prevalece sobre as fotos juntadas às fls. 681/685, vez que foram tiradas
posteriormente ao acidente, momento em que a parte traseira da moto já havia sido
abalroada.
Eventual discordância quanto a conclusão do laudo pericial deveria ter sido aduzida
na fase instrutória, requerendo a realização de uma nova perícia. Tendo em vista que
isto não ocorreu, não há como desconstituir a prova pericial apresentada pelo autor.
Cumpre ressaltar que o juiz é o destinatário das provas, devendo pautar-se nos
elementos constantes nos autos na formação de seu juízo cognitivo:
EMBARGOS À EXECUÇÃO ­ [...]- AGRAVO RETIDO - JUIZ DESTINATÁRIO DAS
PROVAS QUE POSSUI AMPLO PODER PARA INDEFERIR PRODUÇÃO PROBATÓRIA
INÓCUA ­ [...] (TJPR - 16ª C.Cível - AC - 1482469-0 - Curitiba - Rel.: Maria Mercis
Gomes Aniceto - Unânime - - J. 29.03.2017).
Além disto, não há qualquer comprovação nos autos da velocidade em que a
motocicleta se encontrava no momento do acidente. A alegação de fatos
desacompanhada de provas não possui o condão de atribuir veracidade à defesa:
[...] ALLEGATIO ET NON PROBATIO QUASI NON ALLEGATIO [...] (TJPR - 14ª C.Cível
- AI - 1553347-6 - Curitiba - Rel.: Themis Furquim Cortes - Unânime - - J. 21.09.2016).
Em verdade, o que se observa nos autos é a ausência de cuidado e cautela do
apelante, ao não observar a moto que trafegava a sua frente, violando o art. 28 do
Código de Trânsito Brasileiro.
A colisão traseira presume a culpa de quem conduz à retaguarda, vez que deve
manter distância e velocidade segura, possibilitando a frenagem e desvio de eventuais
obstáculos que possam surgir repentinamente em seu caminho. Confira-se:
APELAÇÃO CÍVEL - INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS - ACIDENTE
DE TRÂNSITO - COLISÕES MÚLTIPLAS - BATIDA TRASEIRA - PRESUNÇÃO RELATIVA
DE CULPA ­ [...] - VIOLAÇÃO DAS NORMAS DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO
- RECURSO DESPROVIDO. (TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1301270-3 - Curitiba - Rel.: Marcos
S. Galliano Daros - Unânime - - J. 14.05.2015)
Assim, correta a sentença ao reconhecer a responsabilidade civil do apelante no
acidente ocorrido e consequente dever de indenizar.
Em relação ao valor da indenização por danos morais fixada em sentença (R$
30.000,00), pleiteia o apelante pela sua redução.
Ante a ausência específica de parâmetros, a doutrina e a jurisprudência vem
considerando as circunstâncias do caso concreto, o alcance da ofensa e a capacidade
econômica do ofensor e do ofendido.
Além disso, a quantia não pode configurar enriquecimento indevido, devendo servir
precipuamente para compensar a vítima pelo dano sofrido e sancionar o causador do
prejuízo, de modo a evitar futuros desvios. Sobre o tema ensina Sergio Cavalieri Filho
que:
(...) a partir do momento em que alguém, mediante conduta culposa, viola direito de
outrem e causa-lhe dano, está-se diante de um ato ilícito, e deste ato deflui o
inexorável dever de indenizar, consoante o art. 927 do Código Civil. Por violação de
direito deve-se entender todo e qualquer direito subjetivo, (...), nestes incluídos o
direito à vida, à saúde, à liberdade, à honra, à intimidade, ao nome e à imagem”.
215

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

(Programa de Responsabilidade Civil. 10 ed. São Paulo: Atlas S.A, 2012. pg.19).
Por certo que a dor de perder um ente familiar é irreparável, contudo a indenização
busca compensar de certa forma os danos sofridos, observada a sua finalidade punitiva
e educativa. A fixação da indenização em quantia excessiva transpassa tais desígnios.
Nessa linha, atendendo os princípios da razoabilidade e proporcionalidade,
cumprindo, ainda, o caráter reparatório e pedagógico da condenação, entende-se que
o valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), não comporta minoração frente ao caso
concreto, estando, inclusive, de acordo com o entendimento deste Tribunal. (TJPR - 8ª
C.Cível - AC - 1553789-4 - Faxinal - Rel.: Luis Sérgio Swiech - Unânime - - J.
08.12.2016); (TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1564943-5 - Palotina - Rel.: Gilberto Ferreira -
Unânime - - J. 01.12.2016).
Cumpre ressaltar que desta quantia será abatida a indenização pelo seguro DPVAT,
no valor de R$ 13.500,00, conforme consta da sentença.
Na lide secundária, o apelante sustenta que os danos morais estão abrangidos pela
cobertura por danos corporais, vez que não há exclusão contratual expressa.
A questão se encontra pacificada pelo STJ através da Súmula 402:
Súmula 402/STJ: O contrato de seguro por danos pessoais compreende os danos
morais, salvo cláusula expressa de exclusão.
Ainda:
[...] 2. A previsão contratual de cobertura dos danos pessoais (corporais) abrange os
danos morais apenas se estes não forem objeto de expressa exclusão ou não
figurarem no contrato como cláusula contratual independente (Súmula nº 402/STJ).[...]
(AgInt no AREsp 148.474/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA
TURMA, julgado em 04/08/2016, DJe 12/08/2016).
No caso em tela, a apólice contratada pelo apelante possui cobertura básica de
“RESP CIVIL FACULTATIVO DANOS MATERIAIS” e “RESP CIVIL FACULTATIVO
DANOS CORPORAIS”, ambas no valor de R$ 50.000,00 (fls. 156/157).
Nas condições gerais do seguro apresentadas pela seguradora às fls. 310/404, consta
expressamente na pág. 41 (fls. 386), que estão excluídas da cobertura básica as
condenações judiciais por danos morais e estéticos, salvo quando houver contratação
desta garantia.
Além disto, a cobertura por danos morais é módulo de contratação adicional,
figurando nas condições gerais do seguro como cláusula independente (2.2.2, fls. 384).
A referida exclusão de cobertura contratual está redigida de forma clara e destacada.
Ademais, a cobertura por danos morais está evidenciada como uma garantia adicional
da cobertura básica. Diante de tais elementos, não prospera a alegação de que há
abusividade na limitação do seguro contratado pelo apelante.
Além disto, a apólice de seguro juntada pelo próprio autor (fls. 156/157) faz
referências por diversas vezes às condições gerais.
Inclusive, disponibiliza canal de comunicação direto com o corretor de seguro e com a
própria seguradora LIBERTY, através de e-mail corporativo, para sanar eventuais
dúvidas, não podendo o segurado se eximir de sua responsabilidade de tomar ciência
acerca das especificidades do serviço contratado.
Sobre o tema, segue a jurisprudência:
216

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA DE SEGURO DE VIDA.


ACIDENTE DE TRÂNSITO. [...] 2. CLÁUSULA CONTRATUAL LIMITADORA DE
COBERTURA. VALIDADE. SEGURADO QUE TINHA CIÊNCIA DA EXISTÊNCIA DE
CONDIÇÕES GERAIS DA APÓLICE. POSSIBILIDADE DE CONSULTA NO SITE DA
SEGURADORA. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO DIREITO DO CONSUMIDOR À
INFORMAÇÃO. [...] (TJPR 8ª C.Cível AC 1517327-8 Rel.: Luis Sérgio Swiech Unânime J.
09.06.2016).
Assim, não se verifica ilegalidade ou abusividade na recusa da cobertura da
condenação do apelante ao pagamento de indenização por danos morais.
Em vista do contido no art. 85, § 11º do CPC, majoro os honorários devidos ao
patrono da seguradora para R$ 1.700,00, em razão do trabalho recursal realizado.
Deixo de majorar os honorários do advogado do autor, vez que deixou de apresentar
contrarrazões.
Diante do exposto, nego provimento ao agravo retido e ao recurso de apelação, nos
termos da fundamentação supra.
ACORDAM os Desembargadores da 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao agravo retido e
ao recurso de apelação, nos termos do voto do relator.
Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz Cezar Nicolau (com voto) e
acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 08 de junho de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI

2.2.7. DPVAT – PAGAMENTO PARCIAL

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. DPVAT.COMPLEMENTAÇÃO.

PAGAMENTO ADMINISTRATIVO.QUITAÇÃO. INOCORRÊNCIA. CORREÇÃO

MONETÁRIA.TERMO INICIAL. EVENTO DANOSO. RESP REPETITIVO nº

1.483.620/SC. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO NÃO PROVIDO.

(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1674302-9 - Pinhais - Rel.: Vicente Del Prete Misurelli -

Unânime - J. 08.06.2017)

Inteiro Teor

Trata-se de Apelação Cível nos autos de Ação de Cobrança nº 0002877-


36.2013.8.16.0033, contra sentença julgou parcialmente procedente o pedido inicial,
determinando a correção monetária sobre a verba securitária, pelo índice INPC/IBGE,
desde a data do evento danoso até o efetivo cumprimento da obrigação, acrescido de
217

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

juros de mora em 1% ao mês. Ante a sucumbência mínima da ré, condenou a


requerente ao pagamento das custas processuais e honorários, fixados em 15% sobre
o valor atualizado da causa. (fls. 179/188).
CONSÓRCIOS DO SEGURO DPVAT S/A (fls. 199/203), alegando que a verba
pleiteada foi integralmente quitada, sendo o pagamento administrativo feito a apelada
causa extintiva do direito. Em seguida, pleiteia que a correção incida apenas a partir
data do ajuizamento da ação.
Contrarrazões (fls. 216/220).
É o relatório.
Voto.
Presentes os pressupostos conheço do apelo, que serão julgados nos termos do
CPC/15.
Trata-se de pretensão de complementação de valores recebidos a título de seguro
DPVAT, julgada parcialmente procedente, apenas para o fim de determinar a correção
monetária do valor pago na via administrativa.
Inicialmente, ao contrário da sustentação do apelante, a quitação se refere e é causa
extinta daquilo que foi recebido na via administrativa, e não do que efetivamente é
devido pela obrigação, sendo perfeitamente possível o ajuizamento de ação para
recebimento de eventuais diferenças devidas.
Sobre o tema:
“O recibo de quitação outorgado pelo beneficiário restringe- se ao valor recebido
administrativamente e não à integralidade do valor indenizatório. Não se está,
portanto, diante de renúncia do quantum indenizatório legalmente assegurado. É
pacífico o entendimento nos Tribunais Superiores de que `o recibo de quitação
outorgado de forma plena e geral, mas relativo à satisfação parcial do quantum
legalmente assegurado pelo art. 3º da Lei n. 6194/74, não se traduz em renúncia a
este, sendo admissível postular em juízo a sua complementação. Precedentes (STJ
Resp 363604 3ª Turma Min. Nancy Andrigui DJ. 17.06.2002).’”
Galliano Daros ­ DJ 03/12/2015
Quanto a alegação de que a correção monetária deveria incidir a partir do mês de
ajuizamento da ação, também não merece prosperar, face entendimento pacificado
pelo STJ no recurso repetitivo nº 1483620/SC que fixou o termo inicial como sendo a
data do evento danoso. Conforme:
RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. CIVIL. SEGURO DPVAT.
INDENIZAÇÃO. ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA. TERMO ‘A QUO’.
DATA DO EVENTO DANOSO. ART. 543-C DO CPC. “Para os fins do art. 543-C do
CPC: A incidência de atualização monetária nas indenizações por morte ou invalidez
do seguro DPVAT, prevista no § 7º do art. 5º da Lei n. 6194/74, redação dada pela Lei
n. 11.482/2007, opera-se desde a data do evento danoso.” (STJ ­ RESP 1483620/SC ­
2ª Seção ­ Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino ­ DJ 02/06/2015)
Deixo de fixar os honorários recursais previstos no §11, do art. 85, CPC, tendo em
vista que os honorários em primeiro grau foram fixados em favor da apelante, que
sucumbiu em grau recursal. Caso contrário se estaria afrontado a finalidade de tal

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instituto, qual seja, coibir recursos meramente protelatórios, já que seria possível sua
interposição visando apenas a majoração dos honorários.
Diante do exposto, nego provimento ao apelo.
ACORDAM os Desembargadores da 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso, nos
termos do voto do relator.
Luiz Cezar Nicolau (com voto) e acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo
Senhor Desembargador Luis Sérgio Swiech.
Curitiba, 08 de junho de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI

2.2.8. ACIDENTE – QUEDA EM ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL –

CAUSALIDADE ADEQUADA

APELAÇÃO CIVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA.RESPONSABILIDADE CIVIL. QUEDA EM

ESTABELECIMENTO COMERCIAL. TRÂNSITO EM LOCAL INADEQUADO. CULPA

EXCLUSIVA DA VÍTIMA.CONSTATAÇÃO. NEXO DE CAUSALIDADE QUE DEVE SER

DIRETO E IMEDIATO. TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA. APLICABILIDADE.

NEXO AFASTADO.RESPONSABILIDADE DA EMPRESA. INOBSERVÂNCIA.SENTENÇA

MANTIDA. APELO NÃO PROVIDO.

(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1660245-0 - Foz do Iguaçu - Rel.: Vicente Del Prete Misurelli -

Unânime - J. 08.06.2017)

Inteiro Teor

Trata-se de apelação cível, nos autos da Ação Indenizatória nº 1360-


68.2014.8.16.0030, contra sentença que julgou improcedente a pretensão inicial, por
entender que o acidente se deu por culpa exclusiva da vítima. Por fim, condenou a
autora nos ônus da sucumbência, fixando honorários em 10% sobre o valor da causa
(fls. 397/401).
Inconformada, apela a autora (fls. 408/415), defendendo preliminarmente, a
ocorrência de cerceamento de defesa, em vista do indeferimento da realização de
prova pericial. Aduz que inexistiu culpa exclusiva, asseverando que apenas transitou
pelo local do acidente, em razão de prestação de socorro a uma criança, que havia se
acidentado por falha do estabelecimento. Ainda, sustenta que está devidamente
comprovado nos autos, o nexo de causalidade entre os dois eventos. Segue,
afirmando que o trânsito de pessoas no local do ocorrido não é proibido e que a

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responsabilidade do apelado é objetiva. Por fim, diz que a empresa apelada omitiu-se
em prestar socorro à vítima acidentada.
Contrarrazões (fls. 425/437).
É o relatório.
Voto.
Presentes os pressupostos, conheço do recurso.
Trata-se de apelo em ação indenizatória, em que a recorrente requer a condenação
da recorrida em danos morais, estéticos e materiais.
De início, afasto alegação de cerceamento de defesa, visto que inexiste qualquer
necessidade de produção de prova pericial no feito. Não há qualquer questão técnica
que dependa de avaliação de especialista, sendo que as provas testemunhais e
documentais produzidas nos autos são suficientes para o julgamento da causa:
(...) Com efeito, cabe destacar que o juiz tem certa margem de liberdade para aferir
acerca da colheita de provas, em homenagem ao princípio da persuasão racional
adotado pelo Código de Processo Civil, de forma que, somente a ele compete avaliar
sob a necessidade, ou não, da sua realização para a formação de seu convencimento
em torno dos fatos trazidos ao Poder Judiciário, sem, contudo, desatender aos
reclamos do processo. (...) (TJPR - 4ª C.Cível - AC - 1577493-5 - Telêmaco Borba - Rel.:
Hamilton Rafael Marins Schwartz - Unânime - J. 21.03.2017).
Aduz a apelante que o acidente ocorreu, no momento em que tentava prestar socorro
a uma criança, afirmando que no caso do acidente envolvendo o menor, houve
negligência da recorrida.
Por este motivo, sustenta que a suposta conduta omissiva da empresa no primeiro
evento, configura nexo de causalidade com o dano experimentado em sua queda.
Não tem razão.
Isto porque, conforme assente entendimento doutrinário e jurisprudencial, o nexo de
causalidade deve ser averiguado pelo fato imediato que deu causa ao dano. É dizer, a
análise é restrita à relação entre as partes, sendo que o nexo não se configura de
forma indireta e mediata, transplantando-se de evento danoso causado a terceiro:
(...) II. Consoante a jurisprudência desta Corte, “na aferição do nexo de causalidade, a
doutrina majoritária de Direito Civil adota a teoria da causalidade adequada ou do
dano direto e imediato, de maneira que somente se considera existente o nexo causal
quando o dano é efeito necessário e adequado de uma causa (ação ou omissão). (...)
(AgInt no AREsp 754.859/GO, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, SEGUNDA
TURMA, julgado em 02/06/2016, DJe 13/06/2016).
Portanto, conforme bem posto em sentença, aplica-se ao caso a teoria da causalidade
adequada.
A propósito:
(...) 4. À aferição do nexo de causalidade, à luz do ordenamento jurídico brasileiro
(artigo 1.060 do Código Civil de 1916 e artigo 403 do Código Civil de 2002),
destacam-se os desenvolvimentos doutrinários atinentes à teoria da causalidade
adequada e àquela do dano direto e imediato.
Considera-se, assim, existente o nexo causal quando o dano é efeito necessário e/ou
adequado de determinada causa.
220

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(REsp 1067332/RJ, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em


05/11/2013, DJe 05/05/2014)
Ainda, aduz a recorrente que houve omissão de socorro por parte da apelada. Porém,
dos depoimentos testemunhais não se observa tal omissão.
De acordo com a testemunha Isabel, que acompanhava recorrente, esta optou por
esperar para que seu esposo chegasse ao local e a levasse ao pronto socorro,
afirmando, inclusive, que o recorrido transportou a testemunha ao seu local de
trabalho.
Além do mais, os depoimentos comprovam que a apelante tinha condições físicas de
permanecer no local e aguardar atendimento, sem que isso lhe gerasse danos
irreparáveis, de maneira que não existiu omissão de socorro por parte da apelada.
A alegação de que o trânsito no local não é proibido, também não tem o condão de
gerar responsabilidade do estabelecimento, uma vez que a recorrente transitou de
maneira imprudente em local não destinado à circulação de pessoas, configurando-se
sua culpa exclusiva pelo acidente.
Portanto, não se observa o nexo de causalidade entre a alegada conduta omissiva da
apelada e o dano experimentado.
Sendo assim, não havendo nexo de causalidade, torna- se irrelevante discutir se a
responsabilidade é objetiva ou subjetiva, visto que para que se configure a
responsabilidade nos dois casos, é imprescindível a presença do nexo causal. Nesse
sentido:
“[...] à luz do nosso sistema normativo da responsabilidade civil, é requisito básico e
essencial observar a presença do nexo de causalidade. Ou seja, ‘a imputação de
responsabilidade civil, objetiva ou subjetiva, supõe a presença de dois elementos de
fato (a conduta do agente e o resultado danoso) e um elemento lógico- normativo, o
nexo causal (que é lógico, porque consiste num elo referencial, numa relação de
pertencialidade, entre os elementos de fato; e é normativo, porque tem contornos e
limites impostos pelo sistema de direito)’ [...]”. (AgInt no REsp 1554466/RJ, Rel.
Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA, julgado em 09/08/2016, DJe
22/08/2016)
Por fim, a sentença deve ser mantida integralmente, inclusive no que se refere aos
ônus da sucumbência. Fixo honorários advocatícios em 12% sobre o valor da causa, já
incluídos os honorários recursais.
Diante do exposto, nego provimento ao apelo, nos termos da fundamentação supra.
ACORDAM os Desembargadores da 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao apelo, nos
termos do voto do relator.
Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz Cezar Nicolau (com voto) e
acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 08 de junho de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI

221

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2.2.9. ACIDENTE – ATROPELAMENTO DE ANIMAL POR MOTOCICLETA –

RESPONSABILIDADE DO DONO DO ANIMAL

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. ACIDENTE DE TRÂNSITO. COLISÃO DE

MOTOCICLETA COM ANIMAL ATROPELADO EM MEIO À VIA PÚBLICA. QUEDA DO

MOTOCICLISTA. TRAUMATISMO CRANIANO, ESCORIAÇÕES E FRATURAS.

RESPONSABILIDADE CIVIL DO DONO DO ANIMAL. NÃO

CONFIGURADA.PROPRIEDADE NÃO COMPROVADA. DEVER DE INDENIZAR.

AFASTADO. ÔNUS SUCUMBENCIAIS.REDISTRIBUÍDOS. SENTENÇA REFORMADA.

APELO PROVIDO. RECURSO ADESIVO. NÃO CONHECIDO.

(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1673549-8 - Barracão - Rel.: Vicente Del Prete Misurelli -

Unânime - J. 08.06.2017)

Inteiro Teor

Nos autos da Ação Indenizatória nº 0001438- 25.2016.8.16.0052, a MM. Juíza da Vara


da Comarca de Barracão julgou parcialmente procedentes os pedidos iniciais,
condenando o réu ao pagamento de indenização por danos materiais, no valor de R$
578,00 (quinhentos e setenta e oito reais), e por danos morais, na quantia de R$
3.000,00 (três mil reais), além das custas processuais e honorários
advocatícios, estes fixados em 10% sobre o valor da condenação, observado o
benefício da justiça gratuita concedido ao réu (fls. 154/160.
Da sentença recorre o réu ALTAMIRO DE BRITO (fls.
168/172), sustentando a ausência de responsabilidade civil na ocorrência do evento.
Afirma que o cachorro atropelado, que ocasionou a queda do autor de sua
motocicleta, não era de sua propriedade, devendo ser afastada a condenação fixada
em sentença.
Contrarrazões (fls. 189/201).
De igual forma, recorre adesivamente o autor EMERSON LUIZ DRESCH (fls. 178/187),
pleiteando pela majoração da indenização por danos morais fixada em sentença, para
patamar não inferior a dez mil reais, além da fixação de pensão em favor do autor, em
razão da perda da capacidade laboral.
Contrarrazões (fls. 207/214).
É o relatório.
Voto.
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do apelo do réu.
Em breve síntese, o apelado trafegava com sua motocicleta pela linha São Roque, na
cidade de Barracão/PR, quando veio a colidir com um cachorro, que se encontrava

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atropelado em meio a pista. O choque com o animal levou à queda do motociclista,


sofrendo escoriações, traumatismo craniano e a fratura de ossos.
O autor alega que o animal é de propriedade do réu,
ora apelante, motivo pelo qual este deve se responsabilizar pelos danos causados.
Diante de tais fatos, a questão deve ser analisada sob a ótica do art. 936 do Código
Civil, assim enunciado:
Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não
provar culpa da vítima ou força maior.
Trata-se de hipótese de responsabilização por fato ou ato de outrem, em que o dono
do animal se responsabiliza pelos danos causados, em vista do dever de guarda e
cuidado. É requisito essencial para a configuração da responsabilidade civil do dono
do animal, a comprovação da propriedade deste. Confira-se: (TJPR - 8ª C.Cível - AC -
1564324-0 - Paranavaí - Rel.: Gilberto Ferreira - Unânime - - J. 01.12.2016).
Depreende-se dos depoimentos prestados pelas testemunhas arroladas aos autos,
conforme transcrito na sentença (fls.
156/157), não é possível aferir com exatidão que o cachorro atropelado era de
propriedade do réu.
A testemunha DIRCEU GODOI SILVEIRA afirmou que, apesar do ALTAMIRO
[apelante] afirmar no momento do acidente que o cachorro não era dele, o viu sair de
sua casa por várias vezes.
A testemunha RENI SALINI CIVA, afirmou que o cachorro sempre lhe acompanhava
todas as noites e que viu o cachorro na entrada da propriedade do apelante,
“andando no asfalto”.
ANTONIO LIUFRITZEN afirmou que sempre que passava na frente da propriedade do
apelante, um cachorro parecido com o que foi atropelado o atacava.
De outro lado, a testemunha DOUGLAS TOMAZI disse que faz dois anos que realiza
“inseminação na propriedade deles [ALTAMIRO, apelante]” e nunca viu este cachorro
por lá.
Por fim, HILARIO DALAVEGUI disse que o apelante possui cinco cachorros, porém
não sabe afirmar se o animal é de sua propriedade.
Nenhuma das testemunhas arroladas aos autos afirmou categoricamente que o animal
é de propriedade do apelante. Pelo contrário, foram diversas as afirmações que o
animal sempre estava na rua, andando pelo asfalto e até atacando as pessoas que ali
transitavam.
A partir dos depoimentos prestados, não há qualquer elemento probatório de que o
animal atropelado é de propriedade do apelante. O simples fato de ele estar na frente
de sua residência não significa que o apelante é seu dono, sendo frágil o argumento
aduzido pelo apelado neste sentido.
Verifica-se que o apelado não se desincumbiu de seu ônus probatório acerca dos
fatos constitutivos de seu direito, nos termos do art. 373, I do CPC. Exigir que o réu
comprove a inexistência de propriedade do animal atropelado em meio a via pública
representa prova negativa, que é prática vedada pelo nosso ordenamento jurídico.
Em casos semelhantes, segue a jurisprudência desta Corte:
CÍVEL. APELAÇÃO. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS.
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ATROPELAMENTO DE ANIMAL NA PISTA DE ROLAMENTO DE RODOVIA.


SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. AUSÊNCIA DE PROVA ACERCA DA
PROPRIEDADE DO ANIMAL E, CONSEQUENTEMENTE, DA RESPONSABILIDADE DO
REQUERIDO PELO OCASIONAMENTO DO ACIDENTE. [...].
CONJUNTO PROBATÓRIO FRÁGIL QUANTO À PROPRIEDADE DO ANIMAL
CAUSADOR DO ACIDENTE. SENTENÇA CONFIRMADA. RECURSO NÃO PROVIDO.
(TJPR 10ª C.Cível AC - 1373875-7 - Região Metropolitana de Maringá Foro Central de
Maringá - Rel.: Lilian Romero - Unânime - - J. 08.10.2015).
APELAÇÃO. INDENIZAÇÃO. ACIDENTE. ANIMAL NA PISTA.
AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO SOBRE A PROPRIEDADE DO ANIMAL. AUTOR QUE
NÃO LOGROU COMPROVAR OS FATOS CONSTITUTIVOS DE SEU DIREITO.
INEXISTÊNCIA DO DEVER DE INDENIZAR. RECURSO NÃO PROVIDO. (TJPR 10ª
C.Cível AC - 1435142-1 Rel.: Ângela Khury - Unânime J. 10.03.2016).
Portanto, não se configurou a responsabilidade civil do apelante em seus elementos,
devendo ser afastada a obrigação de indenizar fixada em sentença e julgada
improcedente a pretensão inicial, na forma do art. 487, I do CPC.
Condeno o apelado [autor] ao pagamento das custas processuais e honorários
advocatícios, os quais fixo em R$ 800,00 (oitocentos reais), observado o trabalho
realizado pelo patrono do apelante, o tempo exigido para o serviço, a complexidade
da matéria e as provas produzidas nos autos. A fixação dos honorários deve se dar de
forma equitativa, em vista do valor da causa ser de pequena monta, conforme art.
85, § 8º do CPC.
A exigibilidade de tais valores fica suspensa, em razão da concessão do benefício da
justiça gratuita, nos termos do art. 98 do CPC.
Em vista da ausência da responsabilidade civil do réu, resta prejudicado o pleito
recursal do autor, para a majoração da indenização por danos morais e a fixação de
pensionamento, motivo pelo qual deixo de conhecer do recurso.
Diante do exposto, não conheço do recurso adesivo do autor e dou provimento ao
apelo do réu, para afastar a condenação imposta em sentença e julgar improcedente o
pedido inicial, nos termos do art. 487, I do CPC. Condeno o autor ao pagamento das
custas processuais e honorários advocatícios, estes fixados em R$ 800,00 (oitocentos
reais), observado o benefício da justiça gratuita concedido, nos termos da
fundamentação supra.
ACORDAM os Desembargadores da 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Paraná, por unanimidade de votos, em não conhecer do recurso adesivo do autor e
dar provimento ao apelo do réu, nos termos do voto relator.
Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz Cezar Nicolau (com voto) e
acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 08 de junho de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI

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2.2.10. ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO – DISCUSSÃO ENTRE OS ENVOLVIDOS –

APEDREJAMENTO DO CARO DE UM DELES – MERO DISSABOR

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA.DESENTENDIMENTO ENTRE AS PARTES.

AGRESSÕES FÍSICAS E VERBAIS. APEDREJAMENTO DO CARRO DO AUTOR.

DANOS MORAIS. NÃO DEMONSTRADOS.AUSÊNCIA DE ABALO PSICOLÓGICO.

SITUAÇÃO QUE NÃO EXTRAPOLA A ESFERA DO ABORRECIMENTO E DISSABOR.

REVELIA DO RÉU QUE NÃO INDUZ A PRESUNÇÃO DE OCORRÊNCIA DE DANOS

MORAIS.NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO. SENTENÇA MANTIDA.APELO NÃO

PROVIDO.

(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1674333-4 - Pinhais - Rel.: Vicente Del Prete Misurelli -

Unânime - J. 08.06.2017)

Inteiro Teor

Nos autos da Ação Indenizatória nº 0009170- 51.2015.8.16.0033, o MM. Juiz da Vara


Cível do Foro Regional de Pinhais julgou parcialmente procedentes os pedidos iniciais,
condenando o réu ao pagamento de indenização por danos materiais, no valor de R$
3.170,00, atualizado monetariamente, além das custas processuais e honorários
advocatícios, estes fixados em 10% sobre o valor da condenação (fls. 87/92).
Da sentença recorre o autor MURILO NERIS VELOZO (fls. 97/105), pleiteando pela
condenação do réu ao pagamento de indenização por danos morais, em razão de ter
sido ofendido, agredido e ameaçado de morte, além de ter seu carro apedrejado.
Afirma que tais fatos devem ser presumidos como verdadeiros, em razão da revelia do
réu.
Sem contrarrazões.
É o relatório.
Voto.
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do apelo.
Cinge-se a controvérsia acerca da ocorrência de danos morais, em razão do
enfretamento ocorrido entre as partes, no qual o apelante alega ter sofrido agressões,
ofensas e ameaça de morte, além de ter seu carro apedrejado.
Os danos morais devem ser indenizados quando extrapolarem a esfera do dissabor e
aborrecimento, abalando de forma contundente a moral do ofendido, causando-lhe
prejuízo a sua imagem e abalo psicológico, cujos sentimentos devem ser
compensados, nos termos do art. 5º, V da Constituição Federal.
Sobre o tema, leciona Sergio Cavalieri Filho que:
225

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

“(...) a partir do momento em que alguém, mediante conduta


culposa, viola direito de outrem e causa-lhe dano, está-se diante de um ato ilícito, e
deste ato deflui o inexorável dever de indenizar, consoante o art. 927 do Código Civil.
Por violação de direito deve-se entender todo e qualquer direito subjetivo, (...)
principalmente os absolutos, reais e personalíssimos, nestes incluídos o direito à vida,
à saúde, à liberdade, à honra, à intimidade, ao nome e à imagem”.
(Programa de Responsabilidade Civil. 10 ed. São Paulo: Atlas S.A, 2012. pg.19).
No caso em tela, em que pese ser reprovável a conduta praticada pelo apelado, não
se vislumbra a ocorrência de danos de ordem psicológica que tenham se prolongado
pelo tempo. Os danos decorrentes do conflito são de ordem material, os quais estão
devidamente resguardados pela sentença proferida. Os danos extrapatrimoniais
alegados não foram comprovados, motivo pelo qual é indevido o pagamento da
indenização.
Sobre o tema:
[...] A tutela ao dano moral é um direito constitucional que deve ser analisado caso a
caso, não sendo devido incondicionalmente, caracterizando-se por uma agressão
exacerbada à honra e moral do indivíduo, capaz de causar aflição e angústia
desproporcionadas ao espírito, de tal sorte que o mero incômodo, inconveniente ou
contratempo, a que estão sujeitas as pessoas, em sua vida em sociedade, não são
causas para a reparação extrapatrimonial. (TJPR - 10ª C.Cível - AC - 512027-2 - Toledo
- Rel.: Luiz Lopes - Unânime - - J. 11.09.2008).
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS E MORAIS - ACIDENTE OCORRIDO NAS DEPENDÊNCIAS DE POUSADA
- LESÃO CORPORAL - DANO MORAL NÃO CONFIGURADO - MERO DISSABOR -
RECURSO DESPROVIDO (TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1477517-8 - Curitiba - Rel.: Marcos
S. Galliano Daros - Unânime - - J. 29.04.2016)
APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL.
RESPONSABILIDADE CIVIL. BRIGA NO TRÂNSITO. OFENSAS RECÍPROCAS. MERO
DISSABOR. DANO MORAL. NÃO CONFIGURADO. RECURSO CONHECIDO E NÃO
PROVIDO. (TJPR - 10ª C.Cível - AC - 1249231-8 - Região Metropolitana de Londrina -
Foro Central de Londrina - Rel.: Ângela Khury - Unânime - - J. 02.07.2015).
O fato do réu ter sido revel na demanda não acarreta a presunção de veracidade
absoluta dos fatos narrados pelo autor. A revelia induz presunção relativa dos fatos
alegados na exordial, admitindo a produção de provas em contrário, com o fito do réu
comprovar fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. Confira-se o
teor do art. 349 do CPC:
Art. 349. Ao réu revel será lícita a produção de provas, contrapostas às alegações do
autor, desde que se faça representar nos autos a tempo de praticar os atos processuais
indispensáveis a essa produção.
Pelo que consta dos autos, o apelante não produziu qualquer prova quanto a
ocorrência dos danos morais, não se desincumbindo de seu ônus probatório, previsto
no art. 373, I do CPC.
Sobre o tema:
AGRAVO INTERNO. [...] REVELIA. PRESUNÇÃO RELATIVA.
226

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

ENTENDIMENTO ADOTADO NESTA CORTE. [...] 2. A revelia enseja a presunção


relativa da veracidade dos fatos narrados pelo autor da ação, podendo ser infirmada
pelas demais provas dos autos, motivo pelo qual não determina a imediata
procedência do pedido. [...] 4. Como destinatário final da prova, cabe ao magistrado,
respeitando os limites adotados pelo Código de Processo Civil, a interpretação da
produção probatória, necessária à formação do seu convencimento.
[...] (AgRg no Ag 1237848/SP, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, 4º T, julgado
em 11/10/2016, DJe 21/10/2016).
As ofensas dirigidas ao apelante, bem como o apedrejamento de seu carro não
representam, por si só, a ocorrência de danos morais, os quais demandam
comprovação.
Deste modo, em razão da não comprovação do dano moral sofrido, não restou
caracterizada a responsabilidade civil do réu, devendo a sentença ser mantida em seus
termos.
Quanto aos ônus sucumbenciais, se verifica que a sentença condenou o réu ao
pagamento da integralidade das custas processuais e honorários advocatícios.
Entretanto, o autor, ora apelante, não obteve êxito na totalidade de seus pedidos,
devendo ser redistribuídos os encargos processuais, conforme art. 86 do CPC.
Assim, visto que o autor obteve êxito quanto aos danos materiais, porém sucumbiu
quanto aos materiais, as custas e honorários devem ser pagos na mesma proporção
entre as partes, sendo que a verba honorária deve ser majorada para 20% sobre o
valor da condenação, considerando o trabalho realizado pelas partes, a ausência de
complexidade da matéria e de provas e o labor recursal realizado, conforme art. 85 do
CPC.
Diante do exposto, nego provimento ao apelo e redistribuo os ônus sucumbenciais,
nos termos da fundamentação supra.
ACORDAM os Desembargadores da 8º Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao apelo, nos
termos do voto relator.
Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz Cezar Nicolau (com voto) e
acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 08 de junho de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI

2.2.11. SEGURO FINANCIAMENTO AGRÍCOLA – FRUSTRAÇÃO DE SAFRA –

DEBATE SOBRE A PRODUTIVIDADE

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO DE FINANCIAMENTO

AGRÍCOLA. LAVOURA DE MILHO.ASSOLAÇÃO POR CONDIÇÕES CLIMÁTICAS

227

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

ADVERSAS.DISCORDÂNCIA DO SEGURADO QUANTO O VALOR DA

PRODUTIVIDADE ESPERADA INDICADA NA APÓLICE.INSURGÊNCIA QUE DEVERIA

TER SIDO ADUZIDA NO MOMENTO DA CONTRATAÇÃO DO

SEGURO.IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO APÓS A OCORRÊNCIA DO SINISTRO.

AUSÊNCIA DE IRREGULARIDADE OU ABUSIVIDADE. PRODUTIVIDADE DO PERÍODO

SUPERIOR À PRODUTIVIDADE SEGURADA. INDENIZAÇÃO INDEVIDA.SENTENÇA

MANTIDA. APELO NÃO PROVIDO.

(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1358393-4 - Francisco Beltrão - Rel.: Vicente Del Prete

Misurelli - Unânime - J. 08.06.2017)

Inteiro Teor

Nos autos da Ação de Cobrança nº 0003286- 61.2010.8.16.0083, a MM. Juíza da 1ª


Vara Cível de Francisco Beltrão julgou improcedentes os pedidos iniciais, condenando
o autor ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, estes fixados
em R$ 3.000,00 (fls. 236/248).
Da sentença recorre o autor MAURO ADRIANO COELHO (fls. 251/255), sustentando a
obrigatoriedade de cobertura securitária da lavoura perdida, em razão de condições
climáticas adversas. Afirma que a produtividade da plantação de milho esperada para
o período era superior à que constou na apólice de seguro. Afirma que o valor
segurado não é suficiente para cobrir os prejuízos sofridos, devendo ser pago o valor
do capital segurado em sua integralidade.
Contrarrazões (fls. 262/267 ­ 268/272).
É o relatório.
Voto.
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conhece- se do apelo.
Trata-se de ação de cobrança, em que se pretende o pagamento da cobertura
securitária agrícola, pela perda de lavoura de milho, assolada por condições climáticas
adversas.
Pelo que consta dos autos, o apelante firmou contrato de financiamento para o
custeio do plantio de milho, ocasião em que contratou as apólices de seguro nº 71.174
(fls. 32) e 71.175 (fls. 46).
A primeira se refere à cultura de milho no Município de Salgado Filho, na qual consta
produtividade esperada para o período de 3.474 Kg/Ha, sendo segurado 65% desta
quantia. A segunda trata do plantio no Município de Dionísio Cerqueira, em que a
produtividade esperada era de 2.909 Kg/Há, sendo segurada a quantia de 50%.
As referidas plantações foram assoladas pela seca do período e a produtividade das
referidas lavouras foi de 2.400 kg/ha na plantação do Município Salgado Filho (fls. 40)

228

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

e de 3.050 kg/ha na plantação do Município de Dionísio Cerqueira (fls. 58), conforme


laudo pericial realizado pelo perito da seguradora.
Em face disto, alega o apelante que as apólices de seguro não representam a
produtividade esperada para o período. Afirma que para a apólice 71.174 (Salgado
Filho), a produtividade esperada era de 8.000 kg/ha ao invés de 3.474 kg/ha e, para a
apólice 71.175 (Dionísio Cerqueira), a produtividade esperada era de 9.000 kg/ha ao
invés de 2.909 kg/ha. Assim, os percentuais acima referidos deveriam incidir sobre os
valores indicados pelo apelante e não sobre aqueles previstos na apólice.
Inicialmente, cumpre esclarecer tais termos, partir das condições gerais do seguro,
apresentada juntamente com a inicial pelo autor (fls. 33 e 47 ­ fls. 15/16 do manual):
“PRODUTIVIDADE ESPERADA: A produtividade da cultura expressa em quilogramas,
sacas ou arrobas por hectare, determinada pela Seguradora e indicada na proposta de
seguro.”
“PRODUTIVIDADE SEGURADA: É a produtividade indicada na Proposta e na
Apólice/Certificado de seguro, sendo igual ao produto da multiplicação da
Produtividade Esperada pelo nível de Cobertura, sendo obrigatoriamente expressa da
mesma forma que a Produtividade Esperada.”
Ainda, consta na cláusula 2.1.2 das condições especiais (fls. 45 do manual:
“Quando a “Produtividade Obtida”, determinada pelo perito da Seguradora em
laudo de Inspeção de Danos, for inferior à “Produtividade Segurada” [...] será devida
ao Segurado indenização a ser paga pela Seguradora”.
As condições pactuadas no contrato de seguro firmado entre as partes (fls. 32 ­ 46)
foram redigidas de forma clara e compreensível, não pairando dúvidas acerca da
produtividade esperada para a lavoura do período e a produtividade segurada.
No contrato de seguro, o valor do prêmio está vinculado diretamente com os riscos
pré-determinados, nos termos do art. 757 do Código Civil, mostrando-se inviável
alargar a quantia segurada, sem que isto tenha sido previamente consentido pela
seguradora. À propósito:
Art. 765. O segurado e o segurador são obrigados a guardar na conclusão e na
execução do contrato, a mais estrita boa- fé e veracidade, tanto a respeito do objeto
como das circunstâncias e declarações a ele concernentes.
Diante da ausência de qualquer suporte fático probatório nos autos, que demonstre a
contratação do seguro com base na produtividade alegada pelo apelante, se deve
considerar os valores constantes na apólice juntada aos autos.
Para a plantação no Município de Salgado Filho, a cobertura securitária seria devida
somente se a produtividade fosse abaixo de 2.258,10 kg/ha (65% de 3.474 kg/ha) (fls.
32). Visto que a produtividade do período foi de 2.400 kg/ha (fls. 40), não deve ser
pago o capital segurado.
Para a cultura no Município de Dionísio Cerqueira, a cobertura securitária seria devida
somente se a produtividade fosse abaixo de 1.454,50 kg/ha (50% de 2.909 Kg/ha) (fls.
46). Visto que a produtividade do período foi de 3.050 kg/ha (fls. 58), não deve ser
pago o capital segurado.
Assim, no caso em tela, a seguradora está desobrigada do pagamento da cobertura
securitária, vez que a produtividade do período foi superior à produtividade segurada.
229

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Eventual discordância com tais valores deveria ter sido dirimida na ocasião da
contratação do seguro, perante a seguradora, não sendo possível alterar as condições
contratadas posteriormente à ocorrência do sinistro.
Além disso, se verifica que o apelante tinha plena ciência das informações constantes
na apólice, bem como das condições gerais do seguro, vez que juntou tais
documentos à inicial.
Caso idêntico já foi julgado por esta Corte, confira-se:
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE COBRANÇA - SEGURO AGRÍCOLA FIRMADO POR
OCASIÃO DO FINANCIAMENTO DA LAVOURA DE MILHO - FORTES GEADAS NA
REGIÃO DE PLANTAÇÃO - RESPONSABILIDADE DA SEGURADORA EM RESSARCIR
ATÉ O LIMITE PREVISTO NA APÓLICE - INDENIZAÇÃO A SER PAGA COM BASE NA
PRODUTIVIDADE SEGURADA E NÃO A ESPERADA PELO AGRICULTOR - AUSÊNCIA
DE ABUSIVIDADE - SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. (TJPR - 10ª
C.Cível - AC - 1424384-2 - Campo Mourão - Rel.: Luiz Lopes - Unânime - - J.
03.12.2015).
Ainda: (TJPR - 10ª C.Cível - AC - 1023071-8 - Jandaia do Sul - Rel.: Carlos Henrique
Licheski Klein - Unânime - - J. 23.07.2015); (TJPR - 10ª C. Cível - AC - 553967-7 -
Maringá - Rel.: Arquelau Araújo Ribas - Unânime - J. 19.11.2009).
Desta forma, por inexistir qualquer elemento que revele irregularidade na contratação
do seguro, bem como por não se verificar abusividade em seus termos, mostra-se
indevido o pagamento da cobertura securitária, visto que a produtividade do período
se mostrou superior a produtividade segurada.
Deixo de aplicar o art. 85, § 11º do CPC, vez que a sentença foi publicada na vigência
do CPC/73, conforme enunciado administrativo n. 07 do STJ.
Diante do exposto, nego provimento ao apelo, nos termos da fundamentação supra.
ACORDAM os Desembargadores da 8º Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao apelo, nos
termos do voto relator.
Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz Cezar Nicolau (com voto) e
acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 08 de junho de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI

2.2.12. INVALIDEZ PERMANENTE – LER-DORT

APELAÇÕES CÍVEIS. COBRANÇA SECURITÁRIA.INVALIDEZ PERMANENTE. DOENÇA

DE TRABALHO. LER- DORT. EQUIPARAÇÃO A ACIDENTE PESSOAL. DEVIDA.ART.

2º, §1º, I DA LEI 6.367/76. ARTS 19 E 20, DA LEI 8.213/91. PRECEDENTES DO STJ.

DEVER DE INFORMAÇÃO. NÃO CUMPRIDO. ART. 6º, III, 36 E 54, § 3º DO CDC.

230

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

LIMITAÇÃO. AFASTADA. COBERTURA. DEVIDA.AUTOS (:1) PARCIAL. CIENCIA DAS

CONDIÇÕES GERAIS.AUTOS (:2). INTEGRAL. ÔNUS SUCUMBENCIAIS.INVERTIDOS.

HONORÁRIOS. MAJORADOS. SENTENÇA REFORMADA. APELOS PROVIDOS.

(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1644187-3 - Ponta Grossa - Rel.: Vicente Del Prete Misurelli -

Unânime - J. 01.06.2017)

Inteiro Teor

Trata-se de Apelações Cíveis em face de sentença que julgou improcedente os


pedidos iniciais formulados nos autos nº 25927- 65.2015.8.16.0019, apensados aos
autos nº 25820-21.2015.8.16.0019, nos termos do art. 487, I, CPC, condenando a
autora ao pagamento das custas processuais e honorários, fixados em 10% sobre o
valor da causa, em Cível nº 1.656.239-3-e 1.644.187-3 fl. 2 ambas as ações
(fls.192/206(:1) e 299/313 (:2)).
Inconformada, a autora defende, em síntese, que não teve ciência das condições
gerais do seguro contratado e que tal contrato deve ser analisado sob a ótica do CDC,
sendo nula a clausula que afasta as doenças profissionais do conceito de acidente
pessoal, por não estar em conformidade com o art. 54, CDC, não merecendo
prosperar a fundamentação exarada na sentença de que existem dois conceitos de
acidente do trabalho, um aplicável às relações previdenciárias e outro em relação ao
direito securitário, sendo devida sua equiparação, nos termos do art. 20, I, da Lei
8.213/91 (fls. 213/221 (:1) e 319/327(:2)).
Contrarrazões (fls. 230/247 (:1) e 337/348(:2).
É o relatório.
Voto.
Presentes os pressupostos de admissibilidade conhece-se do recurso.
Considerando que todos os fatos que integram as causas de pedir são incontroversos,
as questões a serem resolvidas nestes incidentes recursais são exclusivamente de
direito, bastando verificar se a doença que a autora adquiriu, devido à sua atividade
laboral pode ou não ser equiparada à categoria de acidente pessoal, e, a validade da
cláusula contratual que exclui a cobertura de tal patologia.
A Lei n. 6.367/76, por meio de seu art. 2º, § 1º, I, estabelece que:
Art. 2º. Acidente do trabalho é aquele que ocorrer pelo
Cível nº 1.656.239-3-e 1.644.187-3 fl. 3 exercício do trabalho a serviço da empresa
provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, ou perda, ou
redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.
§ 1º Equiparam-se ao acidente de trabalho, para os fins desta lei: I - a doença
profissional ou do trabalho, assim entendida a inerente ou peculiar a determinado
ramo de atividade e constante de relação organizada pelo Ministério da Previdência e
Assistência Social (MPAS).

231

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Já a Lei que disciplina os Planos de Benefícios da Previdência (Lei n. 8.213/91) reforça


o fato de que “doença” é equiparável a “acidente”:
Art. 19. Acidente de trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da
empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11
desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a
perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.
Art. 20. Consideram-se acidente de trabalho, nos termos do artigo anterior, as
seguintes entidades mórbidas: I - Doença profissional, assim entendida a produzida ou
desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante
da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social;
Cível nº 1.656.239-3-e 1.644.187-3 fl. 4 II - Doença do trabalho, assim entendida a
adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é
realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no
inciso I; (...).
Pela simples leitura dos dispositivos em comento, conclui-se que as doenças de
trabalho (como aquelas de que padece a apelada) são, sim, equiparáveis a “acidente
de trabalho”, cuja consequência, no caso, foi a perda permanente da capacidade
laboral.
Ora, sendo tais institutos equiparados para fins previdenciários, por certo que
também deverão ser para fins securitários, conforme já restou decidido pelo STJ:
SEGURO DE VIDA EM GRUPO E ACIDENTES PESSOAIS.
MICROTRAUMAS. LESÕES POR ESFORÇOS REPETITIVOS E HÉRNIA DISTAL.
INCAPACITAÇÃO PARCIAL E PERMANENTE DE 50%. Os microtraumas sofridos pelo
operário, quando exposto a esforços repetitivos no ambiente de trabalho, incluem-se
no conceito de acidente pessoal definido no contrato de seguro.
Precedentes. Recurso especial conhecido e provido.
(REsp 324.197/SP, Rel. Min. Barros Monteiro, 4ª Turma, julgado em 23/11/2004, DJ
14/03/2005, p. 340).
O argumento de que as duas categorias não são equiparáveis devido às cláusulas
contratuais, não merece prosperar, visto que estas não têm o potencial de desnaturar
a realidade das coisas, tampouco, contrariar expressa disposição legal, face princípio
da hierarquia
Cível nº 1.656.239-3-e 1.644.187-3 fl. 5 das normas e a função social do contrato de
seguro, que é garantir o interesse legítimo do segurado, nos termos do art. 757, CC.
Deve se ter em mente também que o CDC é perfeitamente aplicável ao presente
caso, ante a nítida relação de consumo entre as partes (art. 3º, §2º, CDC), devendo as
cláusulas contratuais serem interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor
(art. 47, CDC). Conforme: (TJPR ­ ApCiv 1405583-3 ­ 9ª CâmCív ­ Rel. Des. José
Augusto Gomes Aniceto ­ DJ 08/10/2015).
Assim, tais cláusulas deveriam conter informação ostensiva, clara e adequada,
permitindo ao aderente a fácil compreensão do que está sendo contratado, conforme
os art. 6º, III, 36 e 54, § 3º do CDC, sendo que as seguradoras sequer comprovaram
ter enviado as condições gerais da apólice, em que constam as cláusulas restritivas e

232

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

limitativas, no momento da contratação, descumprindo seu dever de informação


exigido pelo Código consumerista.
Em caso análogo este Tribunal Já decidiu:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CONDENATÓRIA. - CONTRATO DE SEGURO. INVALIDEZ
PARCIAL PERMANENTE.
DOENÇA PROFISSIONAL.LER/DORT. EQUIPARAÇÃO A ACIDENTE PESSOAL.
COBERTURA SECURITÁRIA.PAGAMENTO DEVIDO. CÁLCULO DA INDENIZAÇÃO
MANTIDO. - RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO.- A invalidez permanente
decorrente de doença profissional é equiparada a acidente de trabalho, incluindo-se
nas coberturas securitárias.- Cláusula excludente de responsabilidade ou limitativa
Cível nº 1.656.239-3-e 1.644.187-3 fl. 6 de direito deve ser redigida em destaque no
contrato, dando-se inequívoca ciência de seu conteúdo ao consumidor, sob pena de
sua exclusão por considerar- se abusiva.- A tendinopatia não pode ser equiparada à
anquilose de ombro para fins de cálculo do valor da indenização devida. O percentual
da incapacidade apurado pela perícia deve incidir sobre o percentual segurado para
perda de um dos membros. TRIBUNAL DE JUSTIÇAESTADO DO PARANÁ (TJPR - 9ª
C.Cível - AC - 1364616-9 - Cascavel - Rel.: Rafael Vieira de Vasconcellos Pedroso -
Unânime - - J. 11.06.2015)
Desse modo, tendo em vista os dispositivos legais e a orientação jurisprudencial, no
sentido de que doença profissional se equipara a acidente pessoal para fins de
pagamento de indenização securitária, além do fato que os contratos de seguro
devem ser interpretados à luz da legislação consumerista, se entende como devida a
indenização securitária negada pelas seguradoras.
No que se refere ao quantum a ser indenizado, as ações merecem soluções distintas.
Nota-se que a apólice firmada com a ré Liberty Seguros (fls. 10/13 (:2)), consta a
informação de que a Invalidez Permanente Total ou Parcial por Acidente terá Capital
segurado de R$90.000,00, sem qualquer menção à proporcionalidade ou restrição ao
grau da perda funcional.
A redação e a forma das coberturas apresentada pelo certificado dá a entender que
todas as coberturas teriam indenização no Cível nº 1.656.239-3-e 1.644.187-3 fl. 7
valor de forma integral, sendo ela total, ou parcial, sem qualquer proporção ao grau
de perda funcional ou à aplicação da Tabela Susep.
Em lugar algum desse instrumento se vê menção à proporção, Tabela Susep ou à
Circular nº 029/91 ou 17/92, tampouco, existe comprovação de que o apelante teve
conhecimento prévio e inequívoco sobre as condições gerais do seguro (ônus que era
da seguradora), descumprindo, mais uma vez, com seu dever de informação, sendo
devida a indenização no valor integral contratado. Nesse sentido: (TJPR - 9ª C.Cível -
AC - 1449609-0 - Região Metropolitana de Londrina - Foro Central de Londrina - Rel.:
Juiz de Direito Subst. em 2º Grau Sérgio Luiz Patitucci - Unânime - - J. 31.03.2016).
Portanto, no apelo nº 1.656.239-3, a segurada deverá ser indenizada pela Liberty
Seguros pelo valor integral contratado (R$ 90.000,00 (:2)), corrigidos pela média do
índice INPC/IGP-DI desde a data do efetivo prejuízo, ou seja, a data em que houve a
negativa por parte da seguradora (13.07.2015 (:2)), acrescidos de juros de mora de 1%
ao mês a partir da citação.
233

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Com relação a apólice firmada com a ré Caixa Seguradora S/A (fls. 23 (:1), nota-se que
há declaração assinada pela segurada de que “TOMOU CONHECIMENTO DO TEOR
DAS CONDIÇÕES GERAIS E ESPECIAIS DO CONTRATO, que fazem parte integrante
desta Proposta, não tendo dúvidas sobre as mesmas”.
Portanto, como a segurada exarou que detinha pleno conhecimento das condições
gerais que acompanham a apólice, perfeitamente aplicável a Tabela Para Cálculo de
Indenização (fls.116/117(:1)) que prevê percentual de 20% para “Anquilose total de um
Cível nº 1.656.239-3-e 1.644.187-3 fl. 8 dos punhos”. Veja-se: (TJPR - 8ª C.Cível - AC -
1583768-4 - Umuarama - Rel.: Ademir Ribeiro Richter - Unânime - - J. 09.03.2017).
Como a autora não teve perda total dos movimentos, mas sim parcial, conforme se
extrai do Aviso de Sinistro, preenchido pelo seu Médico Assistente (fls. 204 (:2)), deve
ser aplicado o percentual máximo indicado de 50%, sobre os 20% do teto.
Assim, no apelo nº 1.644.187-3, a segurada deverá ser indenizada pela Caixa
Seguradora S/A, no valor R$ 2.000,00, corrigidos pela média do índice INPC/IGP-DI
desde a data do efetivo prejuízo, ou seja, a data em que houve a negativa por parte
da seguradora 03/06/2015, acrescidos de juros de mora de 1% ao mês a partir da
citação.
Tendo em vista o resultado dos presentes recursos, necessário se faz inverter os ônus
sucumbenciais de ambas as ações, devendo as requeridas arcarem com a
integralidade das custas processuais e honorários advocatícios, os quais majoro para
15% sobre o valor da condenação, nos termos do art. 85, §11, CPC.
Diante do exposto, dou provimento aos recursos para reformar a sentença e julgar
procedente as lides, condenando as requeridas ao pagamento dos prêmios conforme
expostos na fundamentação, devidamente corrigido e acrescidos de juros de mora,
além das custas processuais e honorários advocatícios, fixados em 15% sobre o valor
de cada condenação.
ACORDAM os Desembargadores da 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento aos recursos, nos
termos do voto do relator.
Cível nº 1.656.239-3-e 1.644.187-3 fl. 9
Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz Cezar Nicolau (com voto) e
acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 01 de junho de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI

2.2.13. ESPERA EM FILA DE BANCO – INEXISTÊNCIA DE DANO MORAL

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. ESPERA EM FILA DE BANCO. DANO

MORAL. NÃO COMPROVADO.NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DE EFETIVO

ABALO PSICOLÓGICO OU MORAL. LEI ESTADUAL Nº 13.400/2001. NATUREZA

ADMINISTRATIVA. SENTENÇA MANTIDA. APELO NÃO PROVIDO.


234

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1649245-0 - Região Metropolitana de Londrina - Foro Central

de Londrina - Rel.: Vicente Del Prete Misurelli - Unânime - J. 01.06.2017)

Inteiro Teor

Trata-se de Apelação Cível nos autos de Ação Indenizatória nº 0073403-


17.2015.8.16.0014, contra sentença que julgou improcedente a pretensão inicial.
Condenou o autor ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios,
estes fixados em 10% sob o valor da pretensão econômica buscada nos autos,
observado o benefício da justiça gratuita (fls. 107).
Sustenta o apelante que os danos morais são presumidos, quando a espera da fila de
atendimento do banco torna-se excessiva. Assim, afirma que o banco deve ser
condenando, de forma a
coibir tal prática abusiva (fls. 115/127).
Sem contrarrazões.
É o relatório.
Voto.
Trata-se de pretensão de indenização, em razão de espera prolongada em fila
bancária (01h12min). Cinge-se controvérsia acerca da possibilidade de configurar dano
moral indenizável a espera em fila de banco, por tempo superior ao limite de 20
minutos, previsto na Lei Municipal nº 3110/2005, de Foz do Iguaçu.
Ocorre que, a espera prolongada acima do previsto em lei, por si só, não tem o
condão de configurar dano moral indenizável, sendo necessária a comprovação do
dano passível de reparação. Nesse sentindo é o atual entendimento Superior Tribunal
de Justiça:
1. Apenas a invocação de legislação municipal ou estadual que estabelece tempo
máximo de espera em fila de banco não é suficiente para fundamentar o direito a
indenização, devendo ser demonstrada a situação fática provocadora do dano” (STJ,
AResp nº 393798/SE, Rel. Min. João Otávio de Noronha, publicado em 17.05.2016).
E ainda, desta Câmara: (TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1444606-9 - Região Metropolitana de
Londrina - Foro Central de Londrina - Rel.: Gilberto Ferreira - Unânime - - J.
19.05.2016).
Partindo dessa premissa, no caso em questão, o abalo moral não foi comprovado,
pois o apelante se limitou a juntar, apenas, o extrato de atendimento bancário (fls.
09/10), deixando de demonstrar que, da espera na fila do banco, resultou-lhe algum
dano ou que, eventualmente, sofreu algum tipo de constrangimento, angústia ou
humilhação.
Alinhando-me a recente jurisprudência do STF (AO 2063 AgR/CE) e levando em
consideração o trabalho recursal do apelado, os honorários advocatícios devem ser
majorados para 12% sobre o valor do proveito econômico obtido, conforme artigo 85
§ 11º do CPC.
Diante do exposto, nego provimento ao apelo.

235

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

ACORDAM os Desembargadores da 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do


Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao apelo, nos
termos do voto do relator.
Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz Cezar Nicolau (com voto) e
acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 01 de junho de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI

2.2.14. OSCILAÇÃO DE ENERGIA E DANOS A EQUIPAMENTO ELETRÔNICO

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RESSARCIMENTO.SEGURADORA QUE PLEITEIA

DEVOLUÇÃO DE VALORES PAGOS EM RAZÃO DE DANOS EM EQUIPAMENTOS

ELETRÔNICOS. OSCILAÇÃO NA ENERGIA ELÉTRICA.CÓDIGO DE DEFESA DO

CONSUMIDOR.APLICABILIDADE. SUBROGAÇÃO LEGAL.

PRECEDENTES.RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO

PÚBLICO. AUSÊNCIA DE PROVA DE CONDUTA DANOSA E DE NEXO CAUSAL.

RELATÓRIOS DE CONTROLE QUE APONTAM PELA INOCORRÊNCIA DE

OSCILAÇÃO NA REDE ELÉTRICA. FATO CONSTITUTIVO DO DIREITO NÃO

COMPROVADO. HONORÁRIOS RECURSAIS. RECURSO NÃO PROVIDO.

(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1647181-3 - Curitiba - Rel.: Vicente Del Prete Misurelli -

Unânime - J. 25.05.2017)

Inteiro Teor

Trata-se de Apelação Cível nos autos de Ação de Ressarcimento nº 0003010-


63.2016.8.16.0004, contra sentença que julgou
improcedentes os pedidos de ressarcimento, por falta de comprovação do nexo
causal, e condenou a seguradora ao pagamento das custas e honorários advocatícios
de 10% sobre o valor da causa (fls. 337/341).
Dessa sentença recorre ZURICH MINAS BRASIL SEGUROS S/A (fls. 349/365) alegando
que, por falha na prestação de serviços da apelada, houve descarga elétrica na rede
que abastecia a residência de alguns de seus segurados, de modo que teve de arcar
com a cobertura securitária de equipamentos eletrônicos e, agora, pretende ver- se
ressarcida dos prejuízos em face da Copel, alegada causadora dos danos. Aduz que há
laudo nos autos comprovando que a queima dos equipamentos se deu

236

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

exclusivamente pela variação de energia na rede elétrica, mencionando a


responsabilidade objetiva da apelada. Reitera que a apelada é a única distribuidora de
energia na região e que fez prova do nexo de causalidade. Pede pela aplicação do
CDC ao caso, eis que está sub-rogada nos direitos de seus segurados consumidores.
Contrarrazões (fls. 394/406).
É o relatório.
Voto.
Presentes os pressupostos conheço do recurso.
Trata-se de pretensão de ressarcimento de valores securitários pagos pela apelante
aos consumidores Leandro Peregrino, Vanderlei Cavichon, Everton Everaldo de Vargas
e MMA Materiais de Construção Ltda por supostas descargas elétricas ocorridas,
respectivamente, em 15/11/2013, 12/06/2014, 31/08/2014 e 29/09/2014 nas cidades
de Cascavel e Cafelândia (fls. 80/136).
O seguro pelos danos havidos nos equipamentos eletrônicos foi devidamente pago
pela seguradora (fls. 147/150), que agora busca ressarcimento em regresso contra o
suposto causador do evento danoso (súmula 188/STF), na condição de sub-rogada
legal do direito (art. 786, caput do CCB).
Ao operar-se a sub-rogação legal, a seguradora incorpora direitos, ações, privilégios e
garantias dos segurados consumidores (art. 349 do CCB), pelo que aplica-se em seu
favor, aqui, as disposições do CDC. Sobre o tema:
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. (...).
APLICAÇÃO DO CDC. AÇÃO REGRESSIVA. SUB-ROGAÇÃO DA SEGURADORA NOS
DIREITOS DO CONSUMIDOR. “Havendo pago a indenização securitária, a seguradora
subroga-se nos direitos e ações que competiriam ao segurado contra o autor do dano,
fabricante do produto defeituoso, nos limites do contrato de seguro, cabendo, no
caso, a aplicação de todos os institutos previstos no CDC.” (STJ - REsp 802442/SP ­ 4ª
Turma ­ Rel. Min. Luis Felipe Salomão ­ DJ 22/02/2010)
No mesmo sentido, dentre outros: STJ - REsp 1085178/RS ­ Rel. Min. Marco Buzzi ­ DJ
30/09/2015.
Em se tratando de concessionária de serviço público, a responsabilidade civil da
apelada Copel Distribuição S/A é objetiva, nos termos do art. 25, da Lei 8.987/95 e art.
37, § 6º da CF, de modo que subordina-se à comprovação de ato/fato administrativo
danoso, nexo causal e dano.
Pois bem.
Houve o julgamento antecipado do feito em razão da
apelante ter dispensado a produção de outras provas além das já encartadas nos
autos (fls. 330).
Nos avisos de sinistros enviados à seguradora, Leandro Peregrino informa que a
oscilação na rede ocorreu por “descarga de raios” (fls. 72), Vanderlei Cavichon alega
que houve “curto circuito” (fls. 74), Everton Everaldo de Vargas avisa que houve
“queda de raios” (fls. 76) e a MMA Materiais de Construção alega que o dano
decorreu de “fortes chuvas” (fls. 78).
A vistoria técnica não constatou nenhum vestígio de queda de raios (fls. 82, 88, 108 e
132), apenas que houve forte chuva no dia 31/08/2014 (fls. 107).
237

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Na sindicância feita na residência de Everton Everaldo de Vargas constou que “diante


das divergências, (...), é praticamente certo que esteja ocorrendo uma tentativa de
fraude” (fls. 109), ainda assim a indenização foi paga.
Embora a apelante afirme que há laudo técnico abalizado nos autos, não é isso que se
constata.
A regulação dos sinistros, em todos os casos analisados, ampara-se em meros
pareceres descritos por lojas de conserto, como a “SOS do Lar” (fls. 81), “Eletrônica
Cobra” (fls. 88 e 95/100), “Eletrônica Video Line” (fls. 107 e 117), “World Tec” e
“Infoelétrica Consolata” (fls. 131 e 137/139).
Nestas avaliações, a conclusão é de que os danos decorreram de “pico de tensão”,
“alteração de energia na rede de alimentação”, “descarga elétrica” e “oscilação
elétrica”, sem nenhuma prova que possa ser aferida por terceiros ou indício técnico
que ligue isso à prestação de serviço da Copel.
Ora, esses documentos não servem para atestar que tais oscilações e descargas
decorreram de falha na prestação de serviço, inclusive porque descargas elétricas
podem advir de problemas na instalação interna ou de evento da natureza, como foi
alegado nos avisos de sinistro, os quais configuram excludentes de responsabilidade
objetiva:
“O princípio da responsabilidade objetiva não se reveste de caráter absoluto, eis que
admite o abrandamento e, até mesmo, a exclusão da própria responsabilidade civil do
Estado, nas hipóteses excepcionais configuradoras de situações liberatórias - como o
caso fortuito e a força maior - ou evidenciadoras de ocorrência de culpa atribuível à
própria vítima” (STF - RE 109615/RJ ­ 1ª Turma ­ Rel. Min. Celso de Mello ­ Dj
02/08/1996)
No mesmo sentido: STF - AI 855343 AgR/MG e STJ - REsp 1327778/SP.
Em contrapartida, a apelada Copel trouxe aos autos os relatórios de controle de
interrupções, nos quais se observa que não houve nenhuma oscilação ou sobrecarga
de energia elétrica nas unidades consumidoras em análise para as datas afirmadas na
inicial (fls. 217, 219, 221 e 223/224).
Como se nota, não foi provado nem o ato danoso praticado pela Copel e nem o nexo
de causalidade entre ato e dano, inviabilizando qualquer imputação de
responsabilidade civil à apelada.
Sobre o tema:
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE RESSARCIMENTO - SEGURADORA QUE PLEITEIA A
DEVOLUÇÃO DOS VALORES
PAGOS À SEGURADA EM RAZÃO DE DANOS NOS EQUIPAMENTOS EM VIRTUDE
DE OSCILAÇÃO NA ENERGIA ELÉTRICA - RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA
CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO - EXEGESE DO ART.
37, §6º, DA CF/88 - AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO NEXO DE CAUSALIDADE -
INEXISTÊNCIA DO DEVER DE INDENIZAR ­ (...). (TJPR ­ ApCiv 1118200-8 ­ 9ª CâmCív
­ Rel. Des. Luiz Osorio Moraes Panza ­ Julg.: 05/12/2013)
Em razão do não provimento do recurso, aplico o art. 85, § 11º do CPC e majoro os
honorários advocatícios devidos pela apelante para 12% do valor da causa.
Diante do exposto, nego provimento ao recurso.
238

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

ACORDAM os Desembargadores da 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do


Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso, nos
termos do voto do relator.
Participaram da sessão presidida pelo Desembargador Vicente Del Prete Misurelli
(com voto) e acompanharam o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Juiz Subst.
2ºG. Alexandre Barbosa Fabiani e o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 25 de maio de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI

2.2.15. RESPONSABILIDADE CIVIL DA EMPRESA E DO EMPREGADO –

PENSIONAMENTO

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS, MATERIAIS E

ESTÉTICOS. AGRAVO RETIDO.AUSÊNCIA DE INTIMAÇAO PARA A AUDIÊNCIA DE

INSTRUÇÃO E JULGAMENTO. NÃO VERIFICADA.INTIMAÇÃO REALIZADA.

CERCEAMENTO DE DEFESA.AFASTADO. AGRAVO NÃO PROVIDO. MÉRITO.

ACIDENTE DE TRÂNSITO. VEÍCULO DO DONO DA EMPRESA CEDIDO AO

EMPREGADO PARA A PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS EM NOME DA PESSOA

JURÍDICA. RESPONSABILIDADE MANTIDA EM RELAÇÃO A TODOS. PENSÃO

ALIMENTÍCIA.RENDA COMPROVADA. CRITÉRIO DE CÁLCULO.MANTIDO.TERMO

FINAL. EXPECTATIVA DE VIDA DA VÍTIMA. FILHO MENOR. PRESUNÇÃO DE

DEPENDÊNCIA ECONÔMICA ATÉ OS 25 ANOS IDADE. SENTENÇA

INTEGRALMENTE MANTIDA. PRECEDENTES DO STJ E DESTA CORTE. APELO NÃO

PROVIDO.

(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1638813-1 - Umuarama - Rel.: Vicente Del Prete Misurelli -

Unânime - J. 25.05.2017)

Inteiro Teor

Trata-se de Apelação Cível contra a sentença que, nos autos de Ação Indenizatória nº
0006104-41.2009.8.16.0173, julgou procedente o pedido inicial, condenando os
requeridos ao pagamento de indenização por danos materiais no valor de R$ 417,96,
danos morais no valor de R$ 70.000,00 para a esposa do falecido e R$ 100.000,00

239

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

para a filha, danos estéticos no valor de R$ 20.000,00 em favor da filha, além de


pensão alimentícia às autoras. Pela sucumbência, condenou os réus ao pagamento das
custas processuais e honorários advocatícios, estes fixados em 20% da condenação
(fls. 1647/1685).
Em suas razões, pedem os recorrentes, inicialmente, o provimento do agravo retido,
para que a audiência de instrução e julgamento seja declarada nula em razão da falta
de intimação dos apelantes para comparecerem ao ato, o que teria lhes acarretado
prejuízo.
Pedem a realização de nova audiência, com oitiva das partes e testemunhas, agora
com a sua participação. Além disso, argumentam que, ou o veículo era da empresa ou
da pessoa física, e, pelo raciocínio apresentado na sentença, apenas o proprietário
poderia ser responsabilizado, e não ambos. Pedem a declaração de ilegitimidade de
um dos dois. Sucessivamente, defendem que ficou comprovado que o proprietário do
veículo era o réu Maurilio Piveta, pelo que são partes ilegítimas para responderem a
ação. No mais, insurgem-se em relação ao valor da pensão alimentícia fixada em favor
das autoras, pedindo a redução para 1,48 salários mínimos mensais, bem como contra
a data limite de recebimento da pensão, dizendo que deve ser de 65 anos para a viúva
e 18 para a filha (fls. 1695/1701).
Contrarrazões (fls. 1713/1716).
É o relatório.
Voto.
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do agravo retido interposto às
fls. 1302/1305.
No entanto, no mérito, nego-lhe provimento.
Alegam os réus Antonio Olivio Fernandes Borsato e A. F. Borsato & Cia Ltda que
tiveram seu direito de defesa cerceado, uma vez que não foram intimados para a
audiência de instrução e julgamento realizada nos autos.
Sem razão. Observa-se dos autos que, além das intimações para a constituição de
novo advogado (fls. 1017 e 1073), houve a expedição de carta de intimação em nome
de Antonio Olivio Fernandes Borsato (fl. 1090) e mandado de intimação em nome da
pessoa jurídica (fl. 1088) dando conta data da audiência designada para 02/07/2014 (fl.
1065).
Embora a carta de intimação da pessoa física tenha voltado negativa (fl. 1107), a
empresa fora devidamente intimada, por meio do próprio Sr. Antonio O. F. Borsato,
representante legal da pessoa jurídica, ficando cientificado, portanto, da realização do
ato (fls. 1122/1123).
Desse modo, uma vez que a intimação cumpriu sua finalidade, não há que se falar em
nulidade, devendo ser negado provimento ao agravo retido, para afastar a alegação
de cerceamento de defesa.
Passando-se ao apelo, infere-se que Cleuza Francisco da Silva Souza e Neylla Thalita
da Silva Souza ajuizaram ação indenizatória em face de Maurilio Piveta, Antonio Olivio
Fernandes Borsato e da empresa A. F. Borsato & Cia Ltda, por conta de acidente de
trânsito que vitimou Cilas de Souza, marido da primeira e pai da segunda autora.
Pois bem.
240

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Em primeiro lugar, ante a prejudicialidade da questão,


deve ser analisada a alegação dos apelantes de que ficou comprovado que o réu
Maurilio Piveta era o proprietário do veículo causador do acidente.
Sem razão os recorrentes.
Como se observa dos autos, o veículo causador do acidente estava registrado em
nome de Antonio Olivio Fernandes Borsato, sendo que a prova testemunhal produzida
nos autos não é forte o suficiente para afastar os indícios documentais de que o
contrato de compra e venda do carro não possui validade, por ter sido fruto de
coação, tal como afirma o réu Maurilio Piveta.
Veja-se que réu Antonio O. F. Borsato reside em Umuarama-PR (fl. 466), enquanto
que o réu Maurilio Piveta, condutor do veículo, reside em Assis Chateaubriand-PR (fls.
456), sendo que a firma deste foi reconhecida por semelhança no cartório de Bom
Progresso, Comarca de Arapongas, ou seja, em localidade estranha a ambos e sem a
presença de Maurilio.
Além disso, o selo de fiscalização utilizado pelo cartório no reconhecimento da firma
também apresenta inconsistências, fato reconhecido pelos próprios recorrentes nas
razões recursais (fl. 1699).
Por outro lado, as testemunhas Ronaldo Biló e Dorival Fernandes Camara, também
funcionários de Antonio O. F. Borsato, não são assertivos naquilo que trouxeram de
contribuição. O primeiro sequer sabe informar de quem era o carro, ao passo que
Dorival Fernandes Camara faz apenas suposições sobre a propriedade do veículo.
Sendo assim, ante a não comprovação de que o veículo era, de fato, de propriedade
de Maurilio Piveta antes do acidente, a sentença deve ser mantida.
No que toca à responsabilização tanto de Antonio Olivio Fernandes Borsato, em
nome de quem o veículo causador do acidente estava registrado, quanto da empresa
A. F. Borsato & Cia Ltda, também não há o que se alterar na sentença.
Como a parte autora afirma em contrarrazões, a empresa foi incluída no feito e
condenada “(...) como sendo a pessoa jurídica que contratou para seus serviços o
condutor do veículo que causou o acidente noticiado nos autos e Antonio Olivio
Fernandes Borsato, na condição de proprietário do veículo que causou o acidente.” (fl.
1715).
Assim, embora o veículo estivesse registrado em nome do réu Antonio Olivio
Fernandes Borsato (fl. 88), já que a suposta compra e venda noticiada nos autos não
foi tida como válida, foi cedido ao empregado pelo patrão, na qualidade de
representante da pessoa jurídica, para o exercício das atividades da empresa.
Portanto, mesmo que se possa falar que o acidente tenha ocorrido enquanto o
motorista não desempenhava seu trabalho, deu- se em razão do emprego, o que atrai
a responsabilidade também da pessoa jurídica, nos termos do art. 932, III, do CC.
Nesse sentido:
1. A responsabilidade do empregador depende da apreciação quanto à
responsabilidade antecedente do preposto no dano causado - que é subjetiva - e a
responsabilidade consequente do preponente, que independe de culpa, observada a
exigência de o preposto estar no exercício do trabalho ou o fato ter ocorrido em razão
dele.
241

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

2. Tanto em casos regidos pelo Código Civil de 1916 quanto nos regidos pelo Código
Civil de 2002, responde o empregador pelo ato ilícito do preposto se este, embora
não estando efetivamente no exercício do labor que lhe foi confiado ou mesmo fora
do horário de trabalho, vale-se das circunstâncias propiciadas pelo trabalho para agir,
se de tais circunstâncias resultou facilitação ou auxílio, ainda que de forma incidental,
local ou cronológica, à ação do empregado (REsp 1072577/PR, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 12/04/2012, DJe 26/04/2012).
Note-se que o próprio réu Antonio Olivio Fernandes Borsato confirma em sua
contestação que o veículo foi repassado ao réu para a prestação de serviços da
empresa (fl. 467).
Desse modo, mostra-se correta a responsabilização do proprietário do veículo, assim
como pessoa jurídica empregadora do motorista, ficando mantida a sentença também
nesse ponto.
Quanto ao valor da pensão alimentícia fixada em favor das recorridas, o fato de não
existir comprovante de pagamento de todos os meses trabalhados como pintor, a
prova testemunhal, aliada aos comprovantes existentes, aponta no sentido de que o
falecido recebia em média nesse ofício o valor de R$ 700,00 por mês, como bem
entendeu a sentença, não havendo, portanto, o que se alterar.
Por fim, no que toca ao termo final do pensionamento, afigura-se correta a sentença
ao utilizar a expectativa de vida da vítima, inclusive em razão do pedido inicial nesse
sentido.
Sobre o tema:
Quanto ao termo final do pensionamento mensal, ao contrário do que defende a
parte agravante, o Superior Tribunal de Justiça, em recentes julgamentos concluiu que
deve ser levado em conta os dados atuais sobre a expectativa de vida do brasileiro
com base nos dados estatísticos do IBGE. (AgInt no AREsp 909.204/GO, Rel.
Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 23/08/2016, DJe
02/09/2016)
De igual modo, a pensão é devida à filha até que ela complete 25 anos, idade em que
se presume que deixaria de ser dependente do pai (AgInt no REsp 1554466/RJ, Rel.
Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA, julgado em 09/08/2016, DJe
22/08/2016).
Nesse sentido, já julgou esta Câmara:
APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL.ACIDENTE DE TRÂNSITO. MORTE
DO MOTORISTA. ALEGAÇÃO DE CULPA EXCLUSIVA DE TERCEIRO. ESTADO DE
NECESSIDADE.NEXO CAUSAL CONFIGURADO. CONDUTA DO OFENSOR QUE
CONTRIBUIU PARA O EVENTO DANOSO. PERSISTÊNCIA DO DEVER DE INDENIZAR.
DIREITO DE REGRESSO CONTRA O TERCEIRO. PENSIONAMENTO. PRESUNÇÃO DE
DEPENDÊNCIA ECONÔMICA DO FILHO ATÉ OS 25 ANOS DE IDADE. RATEIO
ENTRE OS DEMAIS DEPENDENTES. NATUREZA ALIMENTAR DA PENSÃO. PARCELA
ÚNICA INDEVIDA.PAGAMENTO DE PRESTAÇÕES MENSAIS. ART.948, II, CC/02.
DANOS MORAIS.
MANUTENÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO. RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO. PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇAAPELAÇÃO CÍVEL Nº
242

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

1.507.616-7 (TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1507616-7 - Guarapuava - Rel.: Clayton de


Albuquerque Maranhão - Unânime - - J. 22.09.2016)
Portanto, diante de todas estas considerações a sentença deve ser integralmente
mantida, sem, contudo, a majoração da verba honorária de sucumbência em favor dos
patronos da parte recorrida, diante do limite estabelecido pelo §11, do art. 85, do
NCPC.
Diante do exposto, nego provimento ao recurso, nos termos da fundamentação supra.
ACORDAM os Desembargadores da 8º Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao apelo, nos
termos do voto do relator.
Participaram da sessão presidida pelo Desembargador Vicente Del Prete Misurelli
(com voto) e acompanharam o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Juiz Subst.
2ºG. Alexandre Barbosa Fabiani e o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 25 de maio de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI

2.2.16. SEGURO PRESTAMISTA

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA. SEGURO PRESTAMISTA. CÉDULA DE

CRÉDITO BANCÁRIO. CONTRATAÇÃO EVIDENCIADA. CONTRATO

ASSINADO.MANIFESTAÇÃO DE VONTADE. CLÁUSULA REDIGIDA DE FORMA

CLARA E DESTACADA. OBJETO E PREÇO DISCRIMINADOS EM QUADRO DO

CONTRATO. ART. 758.NORMA NÃO EXAUSTIVA. ADMISSÃO DE PROVA DO

CONTRATO DE SEGURO POR OUTROS MEIOS IDÔNEOS.PRECEDENTES DO STJ E

DESTE TRIBUNAL. COBRANÇA LEGÍTIMA. DEVOLUIÇÃO DE PRÊMIOS

INDEVIDA.SENTENÇA REFORMADA. AÇÃO IMPROCEDENTE.RECURSO PROVIDO.

(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1644317-1 - Barracão - Rel.: Vicente Del Prete Misurelli -

Unânime - J. 25.05.2017)

Inteiro Teor

Trata-se de Apelação Cível nos autos de Ação Declaratória nº 0006206-


96.2013.8.16.0052, contra sentença que julgou procedentes os pedidos para o fim de
declarar inexistente a relação contratual de seguro e determinar a devolução em
dobro dos valores cobrados, condenando o apelante em custas e honorários
advocatícios, estes fixados em 20% do valor da condenação (fls. 119/123).
243

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Dessa sentença recorre BANCO BRADESCO S/A (fls. 133/142), alegando que o
apelado contratou Cédula de Crédito Bancário para financiamento de bens, conforme
demonstra a documentação dos autos, e que houve pacto expresso de contrato de
seguro nesta Cédula.
Aduz que a cláusula é clara e destacada e que, portanto, a cobrança realizada foi
legítima. Defende que não deve haver repetição de indébito e pede o afastamento da
devolução em dobro. Pede que a correção monetária flua a partir da sentença e os
juros a partir da citação.
Contrarrazões (fls. 153/157).
É o relatório.
Voto.
Trata-se de pretensão declaratória de inexistência de contratação de seguro
prestamista no bojo de Cédula de Crédito Bancário para financiamento de bens.
Embora o apelado tenha afirmado que não contratou o seguro nem assinou nada (fls.
03), consta nos autos a Cédula de Crédito Bancário por ele devidamente assinada (fls.
56/63).
E nesta Cédula, há a cláusula 4ª, redigida de forma clara, inequívoca e destacada em
negrito, na qual as partes acordam pela contratação do seguro prestamista (fls. 25).
E tanto o seguro foi contratado na forma da citada cláusula, que tal ato constou
claramente no quadro II. 17, além de ter sido novamente mencionado, com o
respectivo valor, no quadro de pagamentos autorizados (quando III, item 1.2). Tudo
devidamente assinado pelo apelado (fls. 57).
Ora, resta evidente que o seguro prestamista foi contratado pelo apelado, do
contrário, não deveria ter aposto sua assinatura no contrato demonstrando anuência
com essa manifestação de vontade (art. 110 do CCB), inclusive em razão da boa-fé
que deve permear a interpretação dos negócios jurídicos (art. 113 do CCB).
Consigne-se, ainda, que o contrato foi pactuado em 07/2011 (fls. 57), mas apenas em
03/2013 (fls. 28) o apelado insurgiu-se contra a cobrança, vale dizer, após quase 2
anos depois da contratação.
A alegação de que apenas a apólice ou o bilhete seriam capazes de provar a
contratação (art. 758, do CCD) não prospera.
É que “embora o art. 758 do Código Civil faça alusão à apólice, bilhete ou
pagamento do prêmio como meios de prova do contrato de seguro, é certo também
que não exclui outras formas aptas à comprovação da relação securitária” (STJ - REsp
1130704/MG ­ 4ª Turma ­ Rel. Min. Luis Felipe Salomão ­ DJ 17/04/2013).
Logo, em se tratando o seguro de negócio jurídico consensual, aperfeiçoa-se tão logo
as partes acordem quanto ao objeto e preço, não havendo, assim, alguma “prova
tarifária” exclusivamente apta para atestar a existência do negócio, que pode então
ser comprovada por qualquer meio idôneo, como a anuência aqui dada e assinada na
Cédula de Crédito. Sobre o tema:
DIREITO CIVIL. DIREITO DOS CONTRATOS. SEGURO.
CONTRATO CONSENSUAL. MOMENTO EM QUE É CONSIDERADO PERFEITO E
ACABADO. MANIFESTAÇÃO DE VONTADE, AINDA QUE TÁCITA. (...). 1. O seguro é
contrato consensual e aperfeiçoa-se tão logo haja manifestação de vontade,
244

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

independentemente de emissão da apólice - ato unilateral da seguradora -, de sorte


que a existência da avença não pode ficar a mercê exclusivamente da vontade de um
dos contratantes, sob pena de ter-se uma conduta puramente potestativa, o que é, às
expressas, vedado pelo art. 122 do Código Civil. 2. O art. 758 do Código Civil não
confere à emissão da apólice a condição de requisito de existência do contrato de
seguro, tampouco eleva tal documento ao degrau de prova tarifada ou única capaz de
atestar a celebração da avença. (...). (STJ - REsp 1306367/SP ­ 4ª Turma ­ Rel. Min. Luis
Felipe Salomão ­ DJ 05/05/2014)
E no mesmo sentido, julgado desta Corte:
APELAÇÃO. (...). CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO. INCLUSÃO NO DÉBITO DE
PRÊMIO DE SEGURO ALEGADAMENTE NÃO CONTRATADO. 1. CONTRATO DE
SEGURO.
CONSENSUAL.APERFEIÇOAMENTO SIMULTÂNEO AO ACORDO DE VONTADES.
DESNECESSIDADE DE OUTRO ATO OU FORMALIDADE. 2. ART. 758 DO CC. ROL
EXEMPLIFICATIVO.
POSSIBILIDADE DE COMPROVAÇÃO DA RELAÇÃO SECURITÁRIA POR OUTROS
MEIOS ESCRITOS. 3. FATO NOTÓRIO. PRAXE DE AUSÊNCIA DE MANIFESTAÇÃO
EXPRESSA DAS SEGURADORAS ACERCA DA CONCORDÂNCIA COM A PROPOSTA
FORMULADA PELO CLIENTE. INÉRCIA POR PERÍODO RAZOÁVEL. CONCORDÂNCIA
TÁCITA. ARTS. 111 E 432 DO CC. APERFEIÇOAMENTO DA AVENÇA. 4.
CONTRATAÇÃO DO SEGURO. COMPROVAÇÃO. INCIDÊNCIA DA COBERTURA
SECURITÁRIA. COBRANÇA DO PRÊMIO.
LEGALIDADE. RESTITUIÇÃO. DESCABIMENTO. 1. O contrato de seguro é
consensual, aperfeiçoando-se, desse modo, tão logo acordem as partes quanto ao
objeto e, se houver, ao preço, não se exigindo, para tal perfectibilização, a prática de
nenhum outro ato ou formalidade pelos contratantes.2. O rol do artigo 758 do CC é
exemplificativo, podendo a existência do contrato de seguro ser comprovada por
outros meios, exigindo-se unicamente, pela importância do negócio, que se trate de
prova escrita.3. É notório que ordinariamente a celebração do contrato de seguro
ocorre entre o corretor e o segurado, não sendo de praxe a formalização de
concordância expressa pela seguradora, a qual se limita a comunicar a recusa ou
diretamente emitir a apólice, encaminhando-a posteriormente ao executado,
conjuntamente com o instrumento contentor das intituladas “condições gerais”. Com
base nessa realidade e na regra dos artigos 111 e 432 do CC, há de, no caso de a
seguradora manter-se silente por período razoável acerca da proposta formulada pelo
cliente, reputar- se que esta foi tacitamente aceita, estando, consequentemente,
aperfeiçoada a avença.4. Evidenciada a contratação do seguro, a cobrança do prêmio
afigura-se legítima, mesmo porque o mutuário, ao adimplir as parcelas do
financiamento, nas quais aquele prêmio se encontrava diluído, fez jus,
independentemente de não emissão da apólice, à respectiva cobertura
securitária.RECURSO PROVIDO. (TJPR ­ ApCiv 1602149-3 ­ 15ª CâmCív ­ Rel. Des.
Hayton Lee Swain Filho ­ DJ 08/12/2016)

245

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Assim, restou provada a contratação do seguro prestamista, pelo que as cobranças


efetuadas são legítimas, não havendo qualquer inexistência de relação a ser declarada
no ponto, tampouco devolução dos prêmios cobrados.
Como consequência do provimento deste recurso, a ação é improcedente e o
apelado deve arcar com as custas e honorários advocatícios, estes fixados em R$
1.000,00 (mil reais), na forma do art. 85, § 8º do CPC, eis que a aplicação do § 2º
implicaria em remuneração irrisória ao causídico do apelante.
Diante do exposto, dou provimento ao recurso para o fim de reconhecer a
contratação do seguro prestamista e julgar improcedente a pretensão declaratória de
inexistência de relação jurídica e a pretensão de devolução dos prêmios.
ACORDAM os Desembargadores da 8º Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso, nos
termos do voto relator.
Participaram da sessão presidida pelo Desembargador Vicente Del Prete Misurelli
(com voto) e acompanharam o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Juiz Subst.
2ºG. Alexandre Barbosa Fabiani e o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 25 de maio de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI

2.2.17. TAXAS CONDOMINIAIS E O DEVER DE PAGAMENTO

APELAÇÃO CÍVEL. DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE C/C DANOS E CAUTELAR.

TAXAS CONDOMINIAIS.EMPRESA QUE PRESTA COBRANÇA. LEGITIMIDADE

PASSIVA. CONFIGURADA. CONTRATO NÃO JUNTADO.CONDOMINIO DE FATO

INSTITUIDO EM 03/07/1999.AUTOR QUE RECEBE 8 APARTAMENTOS INACABADOS

EM 25/04/2005. FINALIZAÇÃO DA OBRA EM 2009.INDIFERENÇA. PROPRIETÁRIO

DE FRAÇÃO IDEAL QUE DEVE CONTRIBUIR COM DESPESAS DE MANUTENÇÃO E

CONSERVAÇÃO INDEPENDENTEMENTE DE HABITAR O IMÓVEL. COBRANÇAS.

DEVIDAS. ÔNUS SUCUMBENCIAIS. INVERTIDOS. HONORÁRIOS.

FIXADOS.SENTENÇA REFORMADA. APELO PROVIDO.

(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1656681-7 - Curitiba - Rel.: Vicente Del Prete Misurelli -

Unânime - J. 18.05.2017)

246

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Inteiro Teor

Trata-se de Apelação Cível em face de sentença que, no tocante a ação principal


(0021652-40.2009.8.16.0001), julgou extinto o processo nos termos do art. 485, VI,
CPC, declarando a ilegitimidade passiva da ré Jane Beatriz Binda, condenando o autor
ao pagamento de 1/3 das custas processuais e dos honorários sucumbenciais, fixados
em 12% sobre o valor da causa e julgou parcialmente procedente, declarando a
inexigibilidade da participação das unidades do Bloco 08, dos rateios condominiais
anteriores a 05/11/2008. Ante a sucumbência recíproca, distribuiu os ônus
sucumbenciais em 35% ao autor e 65% aos réus, fixando os honorários em 15% sobre
o proveito econômico obtido. Quanto à ação cautelar (0019638-83.2009.8.16.0001),
também declarou a ilegitimidade passiva da ré Jane Beatriz Binda, condenando o
autor ao pagamento de 1/3 das custas processuais e dos honorários sucumbenciais,
fixados em 12% sobre o valor da causa e a julgou parcialmente procedente,
declarando a inexigibilidade de qualquer prestação condominial anterior a
05/11/2008, devendo os réus emitirem declaração de quitação dos débitos posteriores
a essa data e efetivamente pagos. Ante a sucumbência mínima do autor, condenou os
réus em custas processuais e honorários, fixados em 15% sobre o valor da causa (fls.
363/370-v).
Inconformado, o réu CONDOMÍNIO CONJUNTO RESIDENCIAL JARDIM DAS
PALMEIRAS II, sustenta que há convenção condominial datada de 03/07/1999, o que
constitui de fato um condomínio de direito, sendo legitima as cobranças efetuadas, já
que teve despesas com a manutenção, conservação e segurança do bloco 08, que se
encontra dentro da sua propriedade, não podendo ser afastado seu dever de
contribuição, sendo que suas unidades eram vendidas pelo autor como parte
integrante do condomínio.
Em sede preliminar, defende a ilegitimidade passiva da empresa Assiscon, que
apenas auxilia na cobrança de taxas condominiais, não sendo responsável por
qualquer consequência sofrida no interior do mesmo.
No mérito, afirma que deve ser reconhecido como condomínio de fato a situação
vivificada, já que necessitou de auto- organização própria, face a iminência de falência
da Construtora Cidadela, constituindo-se de forma não convencional, não podendo
ser aceita a convenção condominial própria firmada pelo Bloco 08, principalmente no
tocante a extirpar débitos pretéritos devidos.
Assim, ao aceitar o bloco 08 inteiro, como parte do seu pagamento, o autor aceitou
recebe-lo nas condições pré-existentes, isto é, já integrado ao condomínio, sendo
devido os custeios das despesas comuns, mesmo em caso de obra inacabada,
conforme art. 9º da Lei 4.591/64 (fls. 373/391).
Não foram apresentadas contrarrazões (fls. 411-v).
É o relatório.
Voto.
Presentes os pressupostos de admissibilidade conhece-se do recurso.
Extrai-se dos autos que o autor recebeu da empresa Cidadela S/A, como dação em
pagamento, na data de 25/04/2005, 08 apartamentos que compunham o bloco 08,

247

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

ainda inacabado e pertencente ao condomínio Conjunto Residencial Jardim das


Palmeiras II.
Nota-se que o conjunto residencial já tinha sido instituído em 03/07/1999, conforme
Convenção Condominial e Regimento Interno (fls.43/57), mesmo sem o término das
obras do referido bloco, que se encerraram apenas em 03/07/2009.
Assim ,em apertada síntese, a divergência consiste em verificar a existência, ou não,
de direitos e deveres condominiais do bloco 08, referentes ao período entre o
recebimento das unidades pelo autor (25/04/2005) e o término das obras
(03/07/2009), já que o magistrado em primeira instância declarou como indevidas as
cobranças anteriores a 05/11/2008.
A apelante, em sede preliminar, defende a ilegitimidade passiva da empresa Assiscon
Serviços de Digitação S/S Ltda ­ ME, já que foi contratada pelo requerido apenas para
auxiliar o síndico em sua gestão administrativa, sendo este o responsável pelo
condomínio, conforme art. 22,§ 1º, “a”, §2º, da Lei 4.591/64.
Ora, a presente lide versa sobre a legalidade ou não das cobranças de taxas
condominiais, assim, sendo a referida empresa legitima para figurar no polo ativo da
demanda de cobrança, por certo, que será legitima para figurar no polo passivo das
ações que questionem sua legalidade.
Além disso, não foi juntado os autos o contrato firmado entre as partes, de modo que
não há como presumir seus limites, devendo ser mantida no polo passivo.
No mérito, afirma que deve ser reconhecido como condomínio de fato a situação
vivificada, já que necessitou de auto- organização própria, face a iminência de falência
da Construtora Cidadela, constituindo-se de forma não convencional, não podendo
ser aceita a convenção condominial própria firmada pelo Bloco 08, principalmente no
tocante a extirpar débitos pretéritos devidos.
Com razão.
Primeiramente, deve-se ter em mente que as despesas condominiais não decorrem da
efetiva utilização por parte do condômino, mas sim, da propriedade de fração ideal no
solo da qual cada condômino tem direito, conforme artigos 1315 e 1316, CC.
O fato do bloco, ao qual pertencem as unidades do autor, não estar finalizado, não
pode ser imputado ao condomínio, mas tão somente à construtora, sendo certo que o
autor ao receber os imóveis em questão tinha plena ciência de seu estágio de
construção.
Por mais que os apartamentos não estivessem em condições de moradia, fato é que
já integravam o condomínio Conjunto Residencial Jardim das Palmeiras II e possuíam
obrigações no rateio de despesas comuns com sua manutenção e conservação.
Nesse sentido:
AÇÃO DE COBRANÇA DE TAXA DE CONDOMÍNIO (...) FATO DE NÃO RESIDIR NO
IMÓVEL OU DE ESTAR ELE INACABADO QUE NÃO AFASTA O DEVER DE ARCAR
NO RATEIO DAS DESPESAS COM A SUA MANUTENÇÃO E CONSERVAÇÃO.
PAGAMENTO DE SOMENTE 20% DO TOTAL DOS GASTOS COMPROVADOS DO
CONDOMÍNIO.

248

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

PEDIDO DESCABIDO. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL OU CONTRATUAL.


RECURSO NÃO PROVIDO. (TJPR - 10ª C.Cível - AC - 645989-0 - Foz do Iguaçu - Rel.:
Valter Ressel - Unânime - - J. 06.05.2010)
Ainda:
AÇÃO DE COBRANÇA. TAXAS DE CONDOMÍNIO.
PRESCRIÇÃO. AUSÊNCIA. INCIDÊNCIA DO PRAZO GERAL. UNIDADES
INACABADAS. IRRELEVÂNCIA.
FORÇA DA CONVENÇÃO. DEVER DO CONDÔMINO DE PARTICIPAR DO RATEIO
DAS DESPESAS COMUNS. (...) (TJPR - 10ª C.Cível - AC - 590653-8 - Guaratuba - Rel.:
Vitor Roberto Silva - Unânime - - J. 03.12.2009)
Entendimento análogo é extraído dos casos onde a construtora é quem atrasa a
entrega da obra, sendo ela responsável pelas taxas condominiais no período até a
entrega do imóvel. Conforme: (TJPR - 7ª C.Cível - AC - 1472418-0 - Rio Branco do Sul -
Rel.: Victor Martim Batschke - Unânime - - J. 10.05.2016)
Portanto, como o apelado aceitou receber da construtora os imóveis ainda
inacabados, aceitou também a obrigação de adimplir com as taxas condominiais.
O fato da constituição do condomínio ter sido feita antes de finalizadas todas as
obras, não afasta sua existência, tampouco as despesas que teve, sendo devido o
pagamento por parte do apelado, sob pena de configurar enriquecimento sem causa.
Conforme:
“APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE COBRANÇA - TAXAS DE MANUTENÇÃO -
CONDOMÍNIO DE FATO - POSSIBILIDADE. Aquele que adquire um terreno que é
parte integrante de um condomínio, regular ou irregular, tem a obrigação de contribuir
com sua quota para as despesas com serviços realizados em benefício e proveito de
todos, sob pena de ensejar o enriquecimento sem causa” (TJMG. Apelação Cível nº
1.0090.12.002514-4/001. Relator: Des.(a) Edison Feital Leite. DJ: 27/11/2015).
Aliás, não é defeso pelo ordenamento jurídico a obrigação de custear as despesas
comuns do condomínio no caso de obra inacabada, o que se depreende claramente
do teor do artigo 9º da Lei 4.591/64.
Além disso, a respectiva convenção do condomínio foi feita observando os ditames
legais, sendo perfeitamente válida, obrigando todos os condôminos, sem distinção, a
contribuir para o custeio das despesas comuns de todo o empreendimento.
Posto isso, ambas as ações, cautelar e principal, devem ser julgadas improcedentes,
devendo ser invertido os ônus sucumbenciais para que o autor arque com sua
integralidade, além dos honorários advocatícios, os quais fixo e 10% sobre o valor da
causa de ambos os processos, nos termos do art. 85, §2º, CPC, devendo ser mantida a
sucumbência do apelante fixada em favor da ré Jane Beatriz Binda.
Diante do exposto, dou provimento ao recurso, para reformar a sentença,
reconhecendo como devidos os débitos condominiais e julgando improcedente as
demandas, invertendo os ônus sucumbenciais.
ACORDAM os Desembargadores da 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso, nos
termos do voto do relator.

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Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz Cezar Nicolau (com voto) e
acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 18 de maio de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI

2.2.18. ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO E CULPA CONCORRENTE

APELAÇÕES CÍVEIS. INDENIZATÓRIA. ACIDENTE DE TRANSITO. CRUZAMENTO.

CAMINHÃO DO REQUERIDO TRAFEGAVA NA VIA PRINCIPAL EM ALTA

VELOCIDADE.AUTORA QUE NÃO TOMOU A DEVIDA CAUTELA NA MANOBRA DE

TRANPOSIÇÃO DA PISTA. CULPA CONCORRENTE. CONFIGURADA.

REDSITRIBUIDA. 70% À AUTORA E 30% AO REQUERIDO. DANOS

MORAIS.AFASTADOS. LESÕES INEXPRESSIVAS. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA

GRATUITA. MANTIDA. ÔNUS SUCUMBENCIAIS.REDISTRIBUIDOS. HONORÁRIOS.

MAJORADOS.SENTENÇA REFORMADA. APELO DOS REQUERIDOS.PARCIALMENTE

PROVIDO. APELO DAS AUTORAS. NÃO PROVIDO.

(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1656298-2 - Francisco Beltrão - Rel.: Vicente Del Prete

Misurelli - Unânime - J. 18.05.2017)

Inteiro Teor

Trata-se de Apelações Cíveis em face de sentença que julgou parcialmente


procedente os pedidos dos autores, condenando os requeridos, solidariamente ao
pagamento de R$ 27.520,00 à primeira autora a título de danos materiais,
devidamente corrigidos pela SELIC, desde o evento danoso, e, R$ 10.000,00, para
cada uma das autoras a título de danos morais, devidamente corrigidos e acrescidos
de juros de reconhecimento da culpa concorrente.
Outrossim, julgou parcialmente procedente o pedido contraposto, condenando a
primeira requerida ao pagamento de R$ 9.650,21 a título de danos materiais,
corrigidos pela SELIC desde o evento danoso e reduzida à metade ante a culpa
concorrente. Ao final, ante a sucumbência recíproca, distribuiu equitativamente os
ônus sucumbenciais, fixando os honorários em 10% sobre a condenação (fls. 383/393).
Inconformados, os requeridos sustentam que houve culpa exclusiva da autora que
invadiu a via preferencial em trecho de trevo, sendo que não restou comprovado, de
forma segura, seu excesso de velocidade, já que de acordo com os arts. 34 e 44, CTB,

250

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

a responsabilidade de tal manobra é de quem ingressa na via preferencial, ainda mais


em tal ponto, onde se tinha grande visibilidade, superior a 500 metros.
Sucessivamente, pleiteia o redimensionamento da culpa concorrente para a
proporção de 70/30, e o afastamento, ou redução dos danos morais, pleiteando a
revisão do benefício de assistência judiciária, com relação a autora Juliana Biasin (fls.
401/417).
Por sua vez, as autoras também defendem a ocorrência de culpa exclusiva do
recorrido, que desrespeitou as sinalizações do local, empregando velocidade
incompatível com a via, e que colidiu com o veículo da autora já na contramão após
uma marca de frenagem de 40,20metros, violando os artigos 43 e 44, CTB, (fls.
425/434)
Contrarrazões (fls. 446/455 e 457/468).
É o relatório.
Voto.
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conhece- se dos recursos, os quais
serão analisados conjuntamente.
A divergência consiste em verificar de quem foi a culpa, ou se houve culpa
concorrente pelo acidente descrito nos autos.
De acordo com o do Boletim de Ocorrência (fls. 54/60), o requerido, condutor do
Caminhão, trafegava no sentido Dois Vizinhos ao Entroncamento da PR-493 e ao
atingir o KM 533+850m da rodovia estadual de prefixo PR-281, abalroou-se
transversalmente com o veículo da autora que cruzava a pista no trevo (fls. 56).
A sinalização no local indicava ao veículo dos requeridos “Placa de devagar trevo a
300m, devagar trevo a 100m e marcação viária” e ao veículo das autoras “devagar
trevo a 200m, devagar trevo a 100m, pare, e marcação viária” (fls. 56).
Em que pese a existência de sinalização para ambos os sentidos, no sentido de ter
cuidado com o trevo que se aproximava, por certo que a obrigação de parar o veículo
totalmente e aguardar o melhor momento para atravessar a via era exclusivamente das
autoras, vez que os requeridos se encontravam na pista preferencial, conforme art. 44,
CTB:
Art. 44 ­ Ao aproximar-se de qualquer tipo de cruzamento, o condutor do veículo
deve demonstrar prudência especial, transitando em velocidade moderada, de forma
que possa deter seu veículo com segurança para dar passagem a pedestre e a veículos
que tenham o direito de preferência.
Na descrição do fato o requerido informou que “transitava com o caminhão pela
rodovia PR-281, no sentido Dois Vizinhos a São Jorge do Oeste, quando passava pelo
trevo, um veículo que vinha do VERE, atravessou a rodovia no trevo, sem parar,
segurei o caminhão no freio, mas acabei batendo no lado esquerdo desse veículo “
(fls. 60).
Ao analisarmos o local exato do acidente através do site google maps:
(https://www.google.com.br/maps/@-25.7907188,-
53.0345118,3a,75y,249.95h,81.25t/data=!3m6!1e1!3m4!1sHdjD7yOIA5ZEt
S4GNWNEgQ!2e0!7i13312!8i6656), em conjunto com as informações obtidas pelas
testemunhas e pelo boletim de ocorrência, constata-se que as autoras possuíam amplo
251

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

campo de visão, além do fato que o veículo do requerido estava em uma subida, o
que comprova ainda mais sua desatenção ao efetuar a manobra.
O fato das testemunhas terem afirmado que a colisão ocorreu na contramão, não
imputa maior culpa ao requerido, já que isto ocorreu ao tentar desviar do veículo da
autora que já ingressara na via, todavia, deve ser levado em consideração sua conduta
culposa ao trafegar em velocidade acima do permitido e sem a atenção devida nos
trechos onde há cruzamento de veículos.
Tal situação restou suficientemente comprovada pelo boletim de ocorrência que
atestou que o veículo deixou uma marca de frenagem de 40,20 metros até o ponto de
impacto, mais 17,65 metros após a colisão, sendo que a velocidade máxima da via era
de 60 km/h e estava em um trecho de subida, não sendo crível que não conseguiria
parar o veículo pesado e na subida se estivesse na velocidade permitida.
Além disso, o depoimento do policial rodoviário militar Isacar Floriano de Freitas,
afirmou que na época do acidente não existiam quebra-molas no local, e, a
testemunha Noeli Maffessoni, também afirmou que foi ultrapassada pelo caminhão em
questão quando estava a 80km/h há uns 2km do acidente, concluindo-se assim que o
caminhão vinha embalado da descida que antecede a subida onde o acidente ocorreu,
não conseguindo parar o veículo a tempo.
Posto isso, é possível afirmar que as autoras tiveram culpa no acidente ao promover a
manobra sem a atenção devida, bem como, os requeridos ao não empregar a direção
defensiva recomendada nos trechos onde há cruzamento, bastando fixar a
porcentagem de cada um.
Não há como negar que a conduta principal para ocorrência do sinistro partiu da
desatenção das autoras, já que senão tivessem ingressado a via naquele momento,
nada teria acontecido, e, o caminhão, mesmo em alta velocidade, seguiria sua viagem
normalmente.
Nesses casos, esta colenda câmara de justiça vem entendendo que o veículo que
ingressa a preferencial sem o devido cuidado, responde por 70% da culpa, enquanto
que o veículo que trafega pela via preferencial acima do limite de velocidade contribui
com os 30% restantes. Nesse sentido:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO COM PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS E MORAIS. ACIDENTE DE TRÂNSITO.TREVO RODOVIÁRIO. SENTENÇA
DE IMPROCEDÊNCIA. TESE DE CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA. IRRESIGNAÇÃO DOS
AUTORES.
(I) PROVAS QUE DEMONSTRAM A OCORRÊNCIA DE CULPA CONCORRENTE.
MOTORISTA DO CAMINHÃO QUE CONFESSOU À POLÍCIA QUE TRAFEGAVA A 80
KM/H, O DOBRO DA VELOCIDADE MÁXIMA PERMITIDA. VÍTIMA QUE NÃO TOMOU
A DEVIDA CAUTELA E ATENÇÃO NA EXECUÇÃO DA MANOBRA DE
TRANSPOSIÇÃO DE PISTA. CULPA PREPONDERANTE DESTA, NA PROPORÇÃO DE
70% (...) (TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1459809-3 - Marmeleiro - Rel.: Osvaldo Nallim Duarte
Unânime - - J. 04.08.2016).
Assim, a culpa concorrente deve ser redistribuída para 70% a cargo das autoras e 30%
aos requeridos.

252

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

No que se refere a indenização a título de danos morais, importante se ter em mente


que esta não é inerente ao acidente automobilístico, sendo devida somente nos casos
em que restar comprovado que o evento danoso gerou sequelas ou complicações
para a vida da vítima, capazes de afetar seu foro íntimo.
Extrai-se dos autos que a autora Juliana Biasin apresentou trauma torácico, trauma de
ombro direito e ferimentos diversos, sendo submetida somente a exames radiológicos,
não sendo necessária qualquer intervenção cirúrgica ou internamento (fls. 28/29)
Assim como, a autora Juliana Regina de Carli, que apresentou trauma e hematoma de
quadril e ferimentos diversos, sendo submetida somente a exames radiológicos, não
sendo necessária qualquer intervenção cirúrgica ou internamento (fls. 34/35).
O fato de terem sido socorridas e enviadas ao hospital com lesões leves, por si só não
enseja a condenação por danos morais, vez que são procedimentos inerentes ao
acidente automobilístico.
Nota-se que as autoras sequer permaneceram um dia no hospital em questão,
tampouco, comprovaram terem ficado afastadas de suas atividades por certo período
de tempo, sendo liberadas para seus afazeres no mesmo dia.
Portanto, as autoras não tiveram nenhuma sequela que pudesse diminuir sua
autoestima ou que pudesse abalar sua moral, sendo indevida qualquer condenação a
título de danos morais.
Por fim, os requeridos pleiteiam o afastamento da assistência judiciária gratuita
deferida à autora Juliana Biasin, afirmando que esta adquiriu veículo zero quilometro a
vista e é proprietária de uma clínica estética, chamada Revitá Fotodepilação e Estética,
que aluga equipamentos de última geração nesta área.
Ora, o simples fato de ser proprietária de uma clínica de estética e ter adquirido o
veículo a vista, não enseja o afastamento do benefício concedido anteriormente, vez
que em nada comprova sua situação econômica atual.
Tendo em vista o resultado do presente recurso, necessário se faz redistribuir os ônus
sucumbenciais, vez que a autora decaiu em grande parte dos pedidos iniciais, de
modo que deverá arcar com 70% das custas processuais e honorários, os quais fixo em
15% sobre o valor da condenação, nos termos do art. 85, § 11, CPC, ficando os 30%
restantes a cargo dos requeridos.
Diante do exposto, dou parcial provimento ao apelo dos requeridos, para reformar a
sentença e reconhecer a culpa concorrente pelo acidente na proporção de 70% as
autoras e 30% aos requeridos, afastando os danos morais, redistribuindo os ônus
sucumbenciais e majorando os honorários e nego provimento ao apelo das autoras.
ACORDAM os Desembargadores da 8º Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar parcial provimento ao recurso
dos requeridos e negar provimento ao recurso das autoras, nos termos do voto relator.
Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz Cezar Nicolau (com voto) e
acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 18 de maio de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI

253

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

2.2.19. DANOS CAUSADOS POR ADVOGADO EM DEMANDA – PERDA DE UMA

CHANCE

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. PERDA DE UMA CHANCE. DANOS

CAUSADOS POR ATUAÇÃO DE ADVOGADO EM DEMANDA TRABALHISTA.

AGRAVO RETIDO. DESNECESSIDADE DE PROVA ORAL. AGRAVO NÃO PROVIDO.

MÉRITO. RESPONSABILIDADE CIVIL DE ADVOGADO. SUBJETIVA. RECLAMANTE

QUE NÃO FOI À AUDIÊNCIA INAUGURAL GERANDO O ARQUIVAMENTO DO

PROCESSO E POSTERIOR PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO. ALEGADA AUSÊNCIA DE

NOTIFICAÇÃO DO CLIENTE ACERCA DA DATA DO ATO E DO ARQUIVAMENTO,

BEM COMO DE MEDIDAS TENDENTES A IMPEDIR A PRESCRIÇÃO. NEGLIGÊNCIA

NÃO VERIFICADA. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO NÃO PROVIDO.

(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1656667-7 - Curitiba - Rel.: Vicente Del Prete Misurelli -

Unânime - J. 18.05.2017)

Inteiro Teor

Trata-se de Apelação Cível interposta contra a sentença que, nos autos da Ação
Indenizatória nº 0002105- 63.1999.8.16.0001, julgou improcedente o pedido inicial,
condenando o apelante ao pagamento das custas processuais e honorários
advocatícios, estes fixados em 10% sobre o valor da causa.
Em suas razões, pede o recorrente, preliminarmente, o provimento do agravo retido
de fls. 1633/1635, sob o fundamento de que a produção de provas em audiência é de
extrema importância, uma vez que o dano alegado na inicial não pode ser presumido.
Em segundo lugar, diz que, ante a impossibilidade de provar que não foi notificado da
data da audiência no seu processo trabalhista, por se tratar de prova negativa, o ônus
da prova cabia aos apelados, nos termos do art. 333, II, do CPC, do qual não se
desincumbiram. Afirma que é dever do patrono constituído cientificar o cliente acerca
dos atos processuais, pelo que deveriam os apelados ter provado nos autos que
notificaram o apelante para comparecimento na Justiça Federal. No mérito, defende
que a sua ausência em três audiências não pode ser tida como fruto de negligência,
pois foram todas justificadas e acolhidas pelo Juízo Trabalhista. Alega que se tivesse
sido notificado da quarta audiência certamente compareceria ou comprovaria a
impossibilidade. Argumenta que não existem provas de que não arcava com as
despesas de viagem dos advogados responsáveis pelo processo trabalhista. Defende

254

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

que os apelados foram negligentes ao não informar a data da quarta audiência,


restando caracterizado o ato ilícito.
Assevera que a sua irmã era mera estudante de direito e não trabalhava no escritório
contratado, pelo que o julgador de primeiro grau não poderia supor que ela tinha
ciência da data do ato se sequer existiam indícios nesse sentido. Ainda, defende que
nem mesmo os apelados comparecem à audiência para ao menos informar o Juiz do
Trabalho que não tinham mais contato com o cliente e que renunciavam ao mandato.
Ressalta, também, que não foi informado do arquivamento do feito trabalhista em
razão da ausência na audiência, nem da possibilidade de retomada da demanda.
Afirma que os recorridos foram notificados do retorno do processo trabalhista para o
arquivo em 23/07/1996, mas não tomaram qualquer medida para evitar a prescrição
do direito do recorrente, configurando-se o dever de indenizar por negligência.
Sustenta que contratou novos advogados para ingressar com outra demanda, sem
qualquer relação com o processo trabalhista, até porque na época não tinha ciência do
arquivamento do feito na Justiça do Trabalho. Ressalta que os apelados nunca
renunciaram ao mandato, sendo os responsáveis pelo processo trabalhista, motivo
pelo qual não podem se escusar pelo fato de o apelante ter contratado outros
patronos. Assevera existir nexo de causalidade entre a conduta culposa dos recorridos
(ausência de informação) e o dano sofrido (perda do direito trabalhista).
Contrarrazões (fls. 1688/1702 e 1711/1713).
É o relatório.
Voto.
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço tanto do apelo quanto do
agravo retido interposto pelo autor ainda sob a égide do CPC/73.
Depreende-se das razões do retido que o autor pretendia a designação de audiência
de instrução para que os requeridos prestassem depoimento pessoal, bem como para
que fossem ouvidas testemunhas (fls. 1633/1635 e 1580).
Ocorre que a realização de prova oral em nada acrescentaria para a solução do caso,
apenas atrasando ainda mais o trâmite do processo, que se arrasta por quase 18 anos.
Veja-se que a fundamentação acerca da necessidade das provas pleiteadas é
genérica, sendo que sequer foram indicadas as testemunhas e aquilo que poderiam
efetivamente comprovar.
Não bastasse isso, todos os requeridos que foram mantidos no polo passivo do
processo apresentaram suas razões de defesa, tornando-se desnecessária a colheita
oral destes argumentos.
Vale ressaltar, além do mais, que anteriormente ao pedido de provas, o próprio autor,
em duas oportunidades, pediu o julgamento antecipado da lide, afirmando estar
satisfeito com as provas existentes nos autos (fls. 1407 e 1433).
Dessa forma, e considerando que as provas constantes nos autos são suficientes para
a solução adequada da demanda, nego provimento ao agravo retido.
Quanto ao mérito, observa-se dos autos que o apelante Marcos Roberto Gomes
ajuizou a presente ação indenizatória em 14/05/1999, em face do espólio de João
Régis Fassbender Teixeira, pedindo a condenação da parte ré ao pagamento de
indenização por perdas e danos decorrentes de serviços de advocacia.
255

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Narra o recorrente na inicial que contratou os serviços do escritório do Dr. João Régis
Fassbender Teixeira para o ajuizamento de reclamatória trabalhista contra a empresa
General Eletric do Brasil S.A no ano de 1992.
Contudo, por negligência da banca de advogados, não foi notificado para
comparecer em audiência designada no processo trabalhista, tampouco informado
sobre o arquivamento do feito, o que acarretou a prescrição da ação e, por
consequência, a perda da chance de ter sua pretensão analisada, devendo ser
indenizado.
Pois bem.
Como se sabe, nos termos dos arts. 32, do Estatuto da Ordem dos Advogados do
Brasil, e 14, §4º, do CDC, a responsabilidade civil do advogado é subjetiva,
dependendo da comprovação do dolo ou da culpa do profissional nos atos praticados
durante o exercício da profissão.
Sobre o tema: TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1461219-0 - Curitiba - Rel.: Osvaldo Nallim
Duarte - Unânime - - J. 14.04.2016.
Nesse caminho, confrontando as teses e provas produzidas pelas partes, entende-se
que não ficou caracterizada a alegada negligência dos advogados na condução do
processo trabalhista, que teria acarretado a suposta prescrição da pretensão na justiça
especializada.
Pelo contrário, os fatos narrados pelo apelante demonstram que os causídicos foram
diligentes e até mesmo eficientes no acompanhamento do processo, devendo se dizer
que as circunstâncias criadas pelo próprio recorrente tiveram papel determinante para
o arquivamento do feito e perda da pretensão.
Na justiça do trabalho, o comparecimento de autor e réu na audiência inaugural é
fundamental para a continuidade da demanda.
É o que dispõe o art. 844, da CLT: O não comparecimento do reclamante à audiência
importa o arquivamento da reclamação, e o não comparecimento do reclamado
importa revelia, além de confissão quanto à matéria de fato.
No caso dos autos, ajuizada a ação trabalhista em 10/08/1992 (fls. 17/21), foi
designada audiência inaugural para 18/11/1992.
No dia marcado, o apelante não pode comparecer porque estava em Portugal, tendo
a advogada do escritório por ele contratado, Dra. Gisele Mattner, pedido o adiamento
da audiência, o que foi deferido pelo Juiz do Trabalho, sob a condição de que o
motivo da ausência fosse justificado.
Ressalte-se que o processo só não foi arquivado naquele momento porque, além da
advogada, fez-se presente o tesoureiro do sindicato da categoria do apelante o
representando (fls. 78/79).
Justificada a ausência, a audiência foi redesignada para 03/05/1993, porém, mais uma
vez, não ocorreu, em razão da ausência do apelante.
Então, outro advogado do escritório, Dr. Carlos Eduardo Bley, em acordo com a
empresa reclamada, pediu a remessa dos autos à uma das Varas do Trabalho do
Estado de São Paulo, o que foi deferido pelo Juiz do Trabalho (fl. 87).

256

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Já em São Paulo, a audiência inaugural foi designada para 27/08/1993, todavia, teve
de ser adiada pela 3ª vez consecutiva, uma vez que novamente o recorrente estava
fora do país estudando, impossibilitando o prosseguimento da ação.
Veja-se que no pedido de adiamento, o advogado do apelante, Dr. João Régis
Fassbender Teixeira, solicitou que a nova audiência fosse marcada para depois de 13
meses, contados de setembro de 1993 (fl. 89/90), período supostamente ligado ao
término do curso do recorrente no exterior.
Tal pedido foi acolhido pelo Juiz do Trabalho e a audiência marcada para 04/11/1994,
tendo sido dirigida carta de intimação ao escritório, aos cuidados do advogado Dr.
Marcelo Alessi, em data de 02/09/1993 (fl. 91).
No dia da audiência (04/11/1994), ante o não comparecimento do apelante, foi
arquivada a reclamatória trabalhista (fl. 92).
Pois bem. De acordo com a narrativa acima, não é crível a tese de que os advogados
contratados pelo apelante atuaram de forma negligente, permitindo que a ação fosse
arquivada e declarada prescrita por falha na prestação dos serviços de advocacia.
A todo momento os causídicos foram diligentes, conseguindo o adiamento da
audiência inaugural por 03 vezes, tudo em razão de situações criadas pelo próprio
apelante, o qual, durante o tramitar inicial do processo (aproximadamente 02 anos),
encontrava-se fora do país, dificultando, por óbvio, a atuação dos patronos.
Outra circunstância que deve ser levada em consideração, e que foi omitida pelo
recorrente na inicial, é a de que o patrocínio da causa foi intermediado pela sua irmã
Adriana Regina Upitis Gomes.
Muito embora Adriana alegue que não trabalhava no escritório contratado pelo
apelante, tendo captado a ação na condição de aluna de direito do advogado Dr.
João Régis Fassbender Teixeira (fls. 1290/1293), toda a prova documental produzida
nos autos aponta que ela era a responsável direta por receber informações do trâmite
do processo e repassa-las ao irmão.
Veja-se que na procuração outorgada pelo recorrente para a propositura da
reclamatória trabalhista consta o nome de Adriana (fls. 14 e 96). A petição inicial da
reclamatória, assim como a ficha para cadastro do processo na Justiça do Trabalho,
foram assinadas por ela, inclusive como se fosse advogada, pois indicou números de
inscrições na OAB/PR (fls. 20 e 99).
Adriana também recebeu e assinou a notificação da audiência inaugural datada para
18/11/1992 como se advogada fosse (fl. 94). Além de tudo isso, há prova de que as
comunicações feitas pelo escritório eram dirigidas tanto para o autor quanto para sua
irmã (fl. 80/82).
Logo, tudo indica que o recorrente sempre foi assistido por sua irmã, sabendo de
todo o desenrolar do processo ajuizado na Justiça Trabalhista.
Estranha-se, ainda, o fato de que nas três primeiras audiências, os pedidos de
adiamento tinham como justificativa a ausência do recorrente no país. Ou seja, de
alguma forma o cliente informava aos advogados que não poderia comparecer aos
atos, pedindo que fossem adiados.
Acontece que o apelante não trouxe qualquer documento capaz de mostrar que, em
relação a essas audiências, foi notificado pelo escritório, fator que que faz perder força
257

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

a alegação de que não foi cientificado para a audiência em que houve o arquivamento
do processo ou, ainda, acerca do retorno dos autos ao arquivo geral.
Não bastasse isso, em nenhum momento ficou comprovada a data da prescrição da
pretensão trabalhista nos autos, inexistindo qualquer declaração formal nesse sentido
por parte da Justiça do Trabalho.
Mesmo assim, note-se que antes mesmo de encerrado o prazo prescricional de 02
anos, hipoteticamente contado da data do arquivamento do processo em 04/11/1994
(art. 7º, XXIX, da CF, e súmula 268, do TST), o recorrente havia constituído novos
patronos (22/03/1996 ­ fl. 39), com poderes para atuação inclusive em juntas de
conciliação.
Ou seja, como bem pontou o magistrado de primeiro grau, se houve a prescrição da
pretensão, a desídia do apelante contribuiu para tanto, vez que, da data do
arquivamento, tinha um longo período para evitar o perecimento do seu direito, não
podendo, assim, beneficiar-se da própria inércia.
Enfim, todas essas circunstâncias afastam a tese de que a suposta prescrição da ação
trabalhista decorreu de conduta negligente dos advogados trabalhista. Assim sendo,
tendo os réus se desincumbido a contento do ônus que lhe impunha o inciso II, do art.
333, do CPC/73, a manutenção da improcedência da ação é medida que se impõe.
Diante do exposto, nego provimento ao apelo, mantendo a sentença como lançada,
nos termos da fundamentação supra.
ACORDAM os Desembargadores da 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao apelo, nos
termos do voto do relator.
Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz Cezar Nicolau (com voto) e
acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 18 de maio de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI

2.2.20. PLANO DE SAÚDE – TERAPIA OCUPACIONAL

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER.PLANO DE SAÚDE. CUSTEIO E

REEMBOLSO DE TERAPIAS.EQUOTERAPIA E MUSICOTERAPIA. PRESCRIÇÃO

MÉDICA.EXCLUSÃO CONTRATUAL. NÃO VERIFICADA. ROL ANS MERAMENTE

EXEMPLIFICATIVO. NEGATIVA. ABUSIVA.OBRIGATORIEDADE DE COBERTURA.

TERAPIA OCUPACIONAL. TRATAMENTO DE PROFISSIONAL DO PLANO DE SÁUDE

QUE NÃO SURTIA EFEITO. NÃO COMPROVAÇÃO. APELANTE QUE PREFERIU

258

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

MÉDICO PARTICULAR. REEMBOLSO DESNECESSÁRIO. SENTENÇA MODIFICADA

EM PARTE. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.

(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1571507-0 - Cascavel - Rel.: Vicente Del Prete Misurelli -

Unânime - J. 18.05.2017)

Inteiro Teor

Trata-se de apelação cível nos autos de Ação de Obrigação de Fazer nº 0014938-


28.2014.8.16.0021, contra a sentença que julgou improcedentes os pedidos iniciais,
condenando o autor ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios,
fixados em R$2.000,00 (fls. 533/537).
Dessa sentença recorre RICARDO ROMANO JUNIOR, (representado) (fls. 544/564),
pleiteando, inicialmente, a aplicação do Código de Defesa do Consumidor e a
cobertura da Terapia Ocupacional, Musicoterapia e Equoterapia, além dó reembolso
dos valores gastos com estes tratamentos. Requer ainda, ser indenizado no montante
de R$30.000,00 a título de danos morais, em razão da negativa de cobertura.
Por fim, busca a redução dos honorários advocatícios fixados, caso não seja dado
provimento ao presente recurso.
A requerida apresentou contrarrazões de apelação (572/591), e a Procuradoria Geral
de Justiça se manifestou pelo conhecimento e parcial provimento do recurso (fls.
33/44-TJ).
É o relatório.
Voto.
Presentes os pressupostos de admissibilidade o recurso deve ser conhecido.
Cuida-se de pretensão de cobertura e ressarcimento das terapias prescritas pelo
médico do apelante diagnosticado com Síndrome de Down, que visam a melhora da
qualidade de vida (fl. 51-TJ), são elas, terapia ocupacional, musicoterapia e
equoterapia.
Inicialmente, cabe salientar, que os contratos de plano de saúde devem ser analisados
sob à luz do Condigo de Defesa do Consumidor, conforme determina a Súmula 469
do STJ.
Alega o apelante que, embora não tenha havido a negativa da cobertura da terapia
ocupacional, o tratamento disponibilizado pelo plano de saúde não estava surtindo os
mesmos efeitos que os obtidos pelo profissional particular.
Em que pese tal alegação, não há nos autos qualquer prova de que os métodos
empregados pelo profissional disponibilizado pelo plano de saúde, não estivesse
surtindo efeitos ou causando a piora do quadro do apelante, ônus que cabia ao
recorrente do qual não se desincumbiu, conforme disposto no art. 373, I do CPC.
No tocante a cobertura da musicoterapia e equoterapia, o contrato pactuado não
possue exclusão expressa destes tratamentos (fls. 35/37), o que é óbice para a
negativa de cobertura, levando em conta que o rol da ANS é apenas exemplificativo,
garantido apenas a cobertura mínima aos beneficiários.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Em casos análogos:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. PLANO DE SAÚDE. CUSTEIO
DE TRATAMENTOS MULTIDISCIPLINARES.
[...]. TERAPIA OCUPACIONAL, FISIOTERAPIA, PSICOMOTRICIDADE,
MUSICOTERAPIA, EQUOTERAPIA E HIDROTERAPIA. NECESSIDADE EVIDENCIADA.
AUSÊNCIA DE PREVISÃO NO ROL DA ANS. ELENCO DE PROCEDIMENTOS
ESPECÍFICOS MERAMENTE EXEMPLIFICATIVO. EXCLUSÃO CONTRATUAL.
DOENÇA ABRANGIDA PELO PLANO CONTRATADO. OBRIGATORIEDADE DE
COBERTURA.
INTERPRETAÇÃO MAIS FAVORÁVEL AO CONSUMIDOR.
LIMITAÇÕES DE DIREITOS QUE DEVEM SER EXPRESSAS.
MÉTODOS NÃO EXCLUÍDOS EXPLICITAMENTE. MELHOR
TRATAMENTO QUE NÃO PODE SER DEFINIDO PELA RÉ.
ATRIBUIÇÃO DO MÉDICO. NEGATIVA ABUSIVA.
JURISPRUDÊNCIA DO STJ E DESTE TRIBUNAL. SENTENÇA MANTIDA.RECURSO A
QUE SE NEGA PROVIMENTO. (TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1585810-1 - Rel.: Clayton de
Albuquerque Maranhão - J. 02.02.2017).
E ainda: (TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1531006-6-Rel.: Gilberto Ferreira - J. 01.09.2016).
Portanto, a operadora é responsável pela cobertura e o ressarcimento dos valores
gastos com estas terapias (fls. 05), que serão corrigidos monetariamente pelo
INPC/IGP-DI, desde o desembolso até o efetivo pagamento, e juros de mora a contar
da citação (art. 405 do CC).
Com relação ao dano moral, configurar-se-ia caso houvesse a interrupção das terapias
em razão da negativa de cobertura e reembolso. Contudo, as terapias tiveram
continuidade, conforme demonstrado pelo apelante (fl. 05), não havendo, portanto,
dano passível de reparação.
Tendo em vista o êxito do apelante, redistribuo a sucumbência na proporção de 60%
para a apelada e 40% ao apelante. Fixo os honorários advocatícios em 15% sobre o
valor da condenação, a serem rateados conforme supra definido.
Diante do exposto, dou parcial provimento ao apelo, para determinar que a apelada
arque com as terapias necessárias e o reembolso a elas referente.
ACORDAM os Desembargadores da 8º Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar parcial provimento ao recurso,
nos termos do voto relator.
Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz Cezar Nicolau (com voto) e
acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 18 de maio de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI

260

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

2.2.21. RESPONSABILIDADE ODONTOLÓGICA – TRATAMENTO INTERROMPIDO

PELO PACIENTE

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA.PROCEDIMENTO ODONTOLÓGICO.

IMPLANTE DE PRÓTESES DENTÁRIAS. OBRIGAÇÃO DE RESULTADO.INTERRUPÇÃO

DO TRATAMENTO PELA PACIENTE.INCONTROVERSO. FALHA NA PRESTAÇÃO

DOS SERVIÇOS. NÃO COMPROVADO. LAUDO PERICIAL QUE APONTA A

UTILIZAÇÃO DE MATERIAIS ADEQUADOS.TEMPO DE CONCLUSÃO DO

PROCEDIMENTO. REGULAR.LESÃO DE NERVO NÃO VERIFICADA. QUANTIA PAGA

EQUIVALENTE AO TRABALHO REALIZADO.IMPOSSIBILIDADE DE DEVOLUÇÃO.

DANOS MORAIS. NÃO COMPROVADO. RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA.NÃO

CARACTERIZADA. DEVER DE INDENIZAR.AFASTADO. JUSTIÇA GRATUITA.

MANTIDA. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE ALTERAÇÃO DA SITUAÇÃO

ECONÔMICA DA PARTE. SENTENÇA REFORMADA. APELO PROVIDO.

(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1623297-4 - Curitiba - Rel.: Vicente Del Prete Misurelli -

Unânime - J. 18.05.2017)

Inteiro Teor

Nos autos da Ação Indenizatória nº 0028866- 77.2012.8.16.0001, a MM. Juíza da 2ª


Vara Cível do Foro central da Comarca da Curitiba julgou parcialmente procedentes os
pedidos iniciais, condenando o réu ao pagamento de indenização por danos materiais
no valor de R$ 13.690,00 (treze mil seiscentos e noventa reais) e danos morais no valor
de R$ 8.000,00 (oito mil reais), em razão da falha na prestação de serviços
odontológicos, além das custas processuais e honorários advocatícios, estes fixados
em 10% sobre o valor da condenação (fls. 296/304 ­ 333/334).
Da sentença recorre o réu CARLOS ROBERTO RABELLO (fls. 340/357), sustentando
que o procedimento de implante dentário não foi concluído em razão do abandono
do tratamento pela autora, sem que apresentasse qualquer justificativa. Afirma que
não foram comprovados os valores pagos, sendo indevida a devolução da quantia de
R$ 13.690,00 (treze mil seiscentos e noventa reais). Alega a nulidade da prova
testemunhal produzida nos autos, pois as testemunhas não presenciaram os fatos. Por
fim, impugna a concessão do benefício da justiça gratuita a autora.
Contrarrazões (fls. 367/378).
É o relatório.
Voto.
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do apelo.

261

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Trata-se de pretensão indenizatória movida em face do apelante, em que se busca o


reembolso dos valores pagos pelo tratamento de implante dentário de oito próteses e
a reparação dos danos morais sofridos, pela falha na prestação do serviço.
É incontroverso nos autos a contratação verbal dos serviços odontológicos e que o
tratamento foi interrompido antes de sua conclusão, em razão do abandono deste
pela autora. Entretanto, reside a polêmica na regularidade do procedimento realizado,
bem como os termos do contrato, especialmente o valor acordado e o prazo para
execução.
Por meio da sentença, o magistrado de origem entendeu que o réu não atingiu o
resultado pretendido pela autora no tratamento dentário e não comprovou a ausência
de culpa por isto. Assim, determinou a devolução dos pagamentos comprovados nos
autos, no montante de R$ 13.690,00 (treze mil seiscentos e noventa reais).
Em que pese o posicionamento adotado em sentença, pelos fatos narrados e
documentos juntados aos autos, tem-se que foi devidamente comprovado que a falha
na prestação dos serviços odontológicos decorreu do abandono do tratamento pela
apelada.
Na petição inicial, a autora alega que acordou o valor de R$ 18.000,00 (dezoito mil
reais) para o implante de 8 (oito) próteses dentárias.
A perícia odontológica realizada nos autos (fls. 201/205) constatou, com base na
radiografia panorâmica realizada em 2010, época do abandono do tratamento, que
“[...] a paciente apresentava (06 (seis) implantes osseointegrados nas regiões dos
dentes 14, 15, 25, 26 36, 37, 46, 47” (fls. 204).
Ainda, conforme afirmado na exordial, a apelada havia pago a quantia de R$
13.690,00 (treze mil seiscentos e noventa reais) quando decidiu por interromper o
tratamento odontológico.
Diante deste panorama, é possível aferir com clareza que: se de um lado o
ortodontista não concluiu o tratamento, realizando o implante de somente 6 (seis) das
8 (oito) próteses, de outro lado a paciente também não realizou o pagamento da
integralidade do valor acordado.
Não há como imputar a falha na conclusão dos implantes dentários ao apelante,
quando sequer lhe foi oportunizada a sua conclusão. O fato do tratamento ter
demorado mais que o esperado não representa, por si só, o erro procedimental, vez
que a recuperação da intervenção cirúrgica depende da reação biológica da paciente,
na integração óssea e cicatrização.
O laudo pericial afirmou expressamente que o “[...] modelo de implante pode ser
indicado no caso desta paciente” (fls. 201), que “a paciente já está com as próteses
instaladas sobre os implantes” (fls. 202), que “no exame clínico a paciente apresentou-
se com sensibilidade normal á à palpação” e “o exame tomográfico realizado em
16.06.2015 não revela nenhuma lesão no nervo alveolar inferior” (fls. 203), que “a
instalação de implantes pode trazer um desconforto temporário imediato para o
paciente pois é um ato cirúrgico” (fls. 204/205).
De outro lado, não foi constatada qualquer irregularidade no procedimento
odontológico. De igual forma, as testemunhas arroladas na audiência de instrução e

262

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julgamento não presenciaram os fatos, não servindo para embasar as alegações


iniciais.
Nos termos do art. 373, I do CPC: “o ônus de prova incumbe ao autor, quanto ao fato
constitutivo de seu direito” e no inciso II: “ao réu, quanto à existência de fato
impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor”.
Em que pese a incidência do Código de Defesa do Consumidor no presente caso,
entende-se que o apelante comprovou que agiu em conformidade com o
procedimento padrão de implante dentário, sendo esta a conclusão extraída pela
leitura do laudo pericial.
Não havendo qualquer prova que agiu de forma irregular, imprudente, negligente ou
imperita (art. 14, § 4º do CDC), não restou configurada a sua responsabilidade civil
acerca dos fatos. Confira-se a jurisprudência acerca do tema:
APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS E MATERIAIS. [...] TRATAMENTO ODONTOLÓGICO. EXODONTIA
E COLOCAÇÃO DE PRÓTESE. OBRIGAÇÃO DE RESULTADO. TRATAMENTO QUE
NÃO FOI CONCLUÍDO POR ABANDONO DA PACIENTE.
OPÇÃO POR OUTRO PROFISSIONAL. CULPA DO PROFISSIONAL NÃO
DEMONSTRADA [...] (TJPR 8ª C.C. AC 1491768-7 Região Metropolitana de Londrina
Foro Central de Londrina Rel.: Clayton de Albuquerque Maranhão Unânime J.
05.05.2016).
Quanto aos valores despendidos, não é devido o reembolso. A quantia paga
corresponde ao serviço realizado. Inicialmente, foi acordado o valor de R$ 18.000,00
para a realização dos serviços, desta quantia foi pago R$ 13.690,00, porém realizou-se
o implante de 6 das 8 próteses, bem como não foi realizada a etapa final do
tratamento.
Portanto, a devolução dos valores pagos corresponderia em enriquecimento ilícito da
apelada, pois não há como desconsiderar que foi realizado parcialmente o serviço
contratado.
Em relação ao excedente de R$ 18.000,00 que a apelada alegou ter sido cobrada
para a continuidade do tratamento, não há qualquer prova nos autos neste sentido,
motivo pelo qual deve ser considerado inexistente tal episódio, não possuindo o
condão de influir da solução da controvérsia. Confira-se: “ALLEGATIO ET NON
PROBATIO QUASI NON ALLEGATIO” (TJPR - 14ª C.Cível - AI - 1553347-6 - Curitiba -
Rel.: Themis Furquim Cortes - Unânime - - J. 21.09.2016).
Quanto aos danos morais alegados, estes não prosperam, visto que não foi
comprovada qualquer ofensa a honra da apelada, nem demonstrou ter passado por
situação desabonadora de sua conduta. Não se vislumbra atraso excessivo no
tratamento, vez que desde o primeiro pagamento, data em que o tratamento foi
iniciado, até o último decorreram 12 (doze) meses (fls. 07/08).
Tal prazo não é excessivo frente ao período normal indicado pela perita: no mínimo
de 8 (oito) meses (fls. 202), principalmente em se considerado que se trata de
intervenção cirúrgica, que a recuperação varia conforme cada paciente.

263

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Deste modo, em razão da ausência de responsabilidade civil do apelante acerca dos


fatos alegados na petição inicial, deve ser afastada a indenização por danos materiais e
morais fixada em sentença, devendo ser julgada improcedente a pretensão inicial.
Condeno a apelada (autora) ao pagamento das custas processuais e honorários
advocatícios, os quais fixo em 10% sobre o valor da causa, nos termos do art. 85, § 2º
do CPC.
Mantenho o benefício da justiça gratuita inicialmente concedido, vez que o apelante
não comprovou que a apelada possui condições que arcar com os ônus
sucumbenciais, bem como não observou o procedimento previsto no art. 100 do CPC.
Sobre o tema: (TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1598284-6 - Curitiba - Rel.: Luciane Bortoleto -
Unânime - - J. 15.03.2017).
Diante do exposto, dou provimento ao recurso, para afastar a indenização por danos
materiais e morais fixada em sentença e julgar improcedente a pretensão inicial, nos
termos do art. 487, I do CPC.
Condeno a autora ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios,
estes fixados em 10% sobre o valor da causa, observado o benefício da justiça gratuita
concedido, nos termos da fundamentação supra.
ACORDAM os Desembargadores da 8º Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso, nos
termos do voto relator.
Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz Cezar Nicolau (com voto) e
acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 18 de maio de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI

2.2.22. CONTRATAÇÃO DE FINANCIAMENTO POR ESTELIONATÁRIO – TEORIA

DO RISCO

APELAÇÃO CÍVEL. OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C DANOS MORAIS. FINANCIAMENTO

CONTRATADO POR ESTELIONATÁRIO. FALHA NA PRESTAÇÃO DE

SERVIÇO.TEORIA DO RISCO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA.DEVER DE

INDENIZAR. CONFIGURADO. OFICIO A SER EXPEDIDO AO DETRAN. INCLUSÃO DA

ORDEM DE RESTRIÇÃO E BLOQUEIO. CULPA CONCORRENTE PELA DEMORA NA

REGULARIZAÇÃO. DANOS MORAIS.MINORADOS. HONORÁRIOS. MAJORADOS.

SENTENÇA REFORMADA. APELO PARCIALMENTE PROVIDO

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(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1650315-4 - Curitiba - Rel.: Vicente Del Prete Misurelli -

Unânime - J. 18.05.2017)

Inteiro Teor

Trata-se de Apelação Cível em face de sentença que julgou procedente os pedidos


iniciais, reconhecendo a inexistência de propriedade do autor para com o veículo,
objeto da ação, determinando expedição de ofício ao DETRAN/SP e condenando o
requerido ao pagamento de R$ 15.000,00 a título de danos morais, devidamente
corrigidos e acrescidos de juros de mora, além das custas processuais e honorários
advocatícios, fixados em 10% sobre o valor da condenação (fls. 245/250).
Inconformado, o réu afirma que não foi observada a
Cível nº 1.650.315-4 fl. 2 atual condição do veículo, já que este foi objeto de fraude e
não se encontra em sua posse, não podendo ser responsabilizada pelos débitos
originados por terceira pessoa, devendo ser acrescentado no oficio a ordem de
restrição a circulação e bloqueio, adiante, afirma que não agiu com culpa, inexistindo o
dever de indenizar, já que também foi vítima da fraude.
Sucessivamente, pleiteia sua minoração (fls. 287/299).
Contrarrazões (fls. 311/318).
É o relatório.
Voto.
Presentes os pressupostos de admissibilidade conhece-se do recurso.
Extrai-se dos autos que o autor teve seus documentos pessoais roubados na data de
08/04/2003, conforme Boletim de Ocorrência (fls.17/19) e, posteriormente, em
outubro do mesmo ano ao tentar realizar uma compra a crédito foi informado que seu
nome estava negativado em decorrência do não pagamento de um financiamento,
referente a um veículo Ford KA de placa CSW-4111, junto a instituição ré (fls.22), que
não havia contratado, registrando a ocorrência de estelionato (fls.19).
Após entrar em contato com a requerida e explicar a situação, esta desvinculou o
autor do financiamento e retirou seu nome dos órgãos de proteção ao crédito (fls.33),
entretanto, não promoveu a regularização junto ao órgão de trânsito, vindo o autor a
ser surpreendido com cobranças de IPVA e multas (fls. 34/42) e inscrito em dívida ativa
(fls.217/219).
Cível nº 1.650.315-4 fl. 3 Ao julgar a lide procedente, o magistrado em primeira
instância considerou que a inscrição indevida do nome do autor gerou danos morais,
fixando a quantia em R$ 15.000,00, determinando a expedição de ofício ao
DETRAN/SP para que transfira a propriedade do veículo ao requerido desde a data de
08/08/2003, bem como, todos os débitos que o acompanham.
Por sua vez, o apelante defende que a sentença não observou a atual condição do
veículo, que se encontra em posse de terceiro em local incerto, devendo ser
acrescentado, no ofício a ser expedido ao DETRAN/SP a ordem de restrição a
circulação do veículo e ordem de bloqueio por estelionato, devendo ser excluído os

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débitos, multas e o gravame em nome do financiado, já que é impossibilitado de


proceder tal medida, conforme art. 123, CTB.
Parcial razão lhe assiste.
Conforme bem expôs, o veículo continua em local incerto sob a posse de terceiro,
devendo ser incluído no ofício a ser expedido ao DETRAN/SP, as ordens de restrição a
circulação do veículo e bloqueio por estelionato.
Entretanto, não há o que se alterar no ofício com relação a transferência de sua
propriedade ao apelante desde a data de 08/08/2003, bem como, todos os gravames
fiscais, já que quem deu causa ao evento danoso, ao falhar com seu dever de
vigilância, permitindo a contratação por estelionatário foi a própria apelante, devendo
arcar com todas as despesas originadas. Conforme: (TJPR - 9ª C.Cível - AI - 1574588-7
- Região Metropolitana de Londrina - Foro Central de Londrina - Rel.: Vilma Régia
Ramos de Rezende - Unânime - - J. 24.11.2016).
Cível nº 1.650.315-4 fl. 4 Prosseguindo, o apelante defende a inocorrência de danos
morais já que não houve culpa por sua parte, já que também foi vítima da ação
perpetrada por falsificadores.
Ocorre que o CDC nos moldes do §único do art. 927 do Código Civil, adotou a teoria
do risco do empreendimento, não sendo necessária a comprovação da culpa da
instituição bancária na configuração do evento danoso, uma vez que a
responsabilidade decorre justamente do risco da sua atividade econômica. Conforme
(TJPR - 14ª C.Cível - AC - 1556044-2 - Altônia - Rel.: Fernando Antonio Prazeres -
Unânime - - J. 03.08.2016).
Também não há como afastar a falha na prestação do serviço e a culpa in vigilando ao
não conferir adequadamente os documentos, com fotografia e assinatura,
apresentados no momento da contratação, permitindo que pessoa estranha
contratasse o financiamento em nome do autor e sua inscrição indevida nos órgãos de
proteção ao crédito.
Com relação ao quantum fixado a título de danos morais, por certo que não existem
parâmetros objetivos para fixação do quantum indenizatório, sendo necessário levar
em consideração alguns aspectos, como capacidade econômica do ofensor e da
vítima, as particularidades do caso concreto, como a extensão do dano, observados
sob a ótica do princípio da razoabilidade e proporcionalidade, dentro da finalidade à
qual se destina, punir o ofensor, compensar a vítima e dissuadir nova prática, sem que
isso cause enriquecimento ilícito da parte.
Conforme abaixo:
Cível nº 1.650.315-4 fl. 5 “(...) A fixação do valor da compensação pelos danos morais
deve balizar-se entre a justa composição e a vedação do enriquecimento ilícito,
levando-se em consideração o critério da proporcionalidade, bem como as
peculiaridades de cada espécie”. (STJ - REsp 1034302 / RS Terceira Turma Rel.
Ministra NANCY ANDRIGHI - DJe 27/04/2011).
Pois bem, não há nos autos elementos que comprovem a capacidade econômica do
autor, simplesmente o fato de que não litigou pelo manto da justiça gratuita, por sua
vez, o requerido é instituição financeira de grande porte e elevada capacidade
econômica.
266

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Quanto as particularidades, nota-se que por mais que a apelante tenha negativado o
nome do autor em função do financiamento contratado por estelionatário,
prontamente reparou seu equivoco ao ser informado pelo apelado sobre a ocorrência
de fraude, promovendo o fim do financiamento e baixa da inscrição indevida, ainda
em sede administrativa, o que certamente fez diminuir a extensão do dano.
Ocorre que após a regularização do financiamento, nenhuma das partes promoveu a
transferência de propriedade junto ao órgão de trânsito, originando dividas
decorrentes dos IPVAs não pagos em nome do autor, e sua inscrição em dívida ativa.
Cumpre observar que nenhuma das partes poderia promover a transferência de
propriedade do veículo, vez que não detinham sua posse, tampouco os documentos
exigidos, mas deve-se considerar que o interesse, da transferência e a regularização da
propriedade junto ao DETRAN/SP, era inteiramente do autor, que deveria ter
ingressado com demanda judicial requerendo a expedição de ofício para regularização
cadastral.
Cível nº 1.650.315-4 fl. 6 Assim, ao não diligenciar em tempo oportuno, deixando
transcorrer longo período para o ajuizamento da ação, o autor agiu em culpa
concorrente para o longo período que o veículo originou dividas em seu nome e a
futura inscrição em dívida ativa pelo não pagamento dos IPVAs.
Assim, observadas tais particularidades, em conjunto com os parâmetros utilizados
por esta Câmara de Justiça, entende-se que a indenização deve ser minorada para R$
5.000,00, assegurando ao autor, de forma suficiente, a justa reparação pelo dano
sofrido sem lhe causar enriquecimento ilícito, nem mesmo provocar ínfimo decréscimo
do patrimônio da lesante, sendo adequado ainda a reprimir que tais condutas se
repitam.
Por fim, quanto aos honorários advocatícios, não há o que se falar em sua minoração,
conforme pretende a apelante, vez que aplicados no menor patamar possível, sendo
inclusive, o caso de majoração, conforme o exposto no art. 85, § 11, CPC, de modo
que fixo em 12% sobre o valor da condenação.
Diante do exposto, dou parcial provimento ao recurso para incluir no oficio a ser
expedido ao DETRAN/SP as ordens de restrição a circulação do veículo e de bloqueio
por estelionato, majorando os honorários.
ACORDAM os Desembargadores da 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar parcial provimento ao recurso,
nos termos do voto do relator.
Cível nº 1.650.315-4 fl. 7 Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz
Cezar Nicolau (com voto) e acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor
Desembargador Luis Sérgio Swiech.
Curitiba, 18 de maio de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI

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2.2.23. QUEDA NO INTERIOR DO ÔNIBUS – RESPONSABILIDADE DO

TRANSPORTADOR

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. DANOS MATERIAIS, MORAIS E

ESTÉTICOS. QUEDA NO INTERIOR DE ÔNIBUS. PESSOA JURÍDICA DE DIREITO

PRIVADO PRESTADORA DE SERVIÇO PÚBLICO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA.

FORTUITO INTERNO. CARACTERIZADO. FATO DE TERCEIRO CONEXO A

ATIVIDADE DE TRANSPORTE E LIGADO AOS RISCOS DO PRÓPRIO NEGÓCIO.

CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA NÃO CONFIGURADA. CLÁUSULA DE

INCOLUMIDADE. VIOLADA. DEVER DE INDENIZAR.MANTIDO. CONDENAÇÃO

SOLIDÁRIA. SEGURADORA E SEGURADO. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES DO

STJ.DANOS MORAIS. REDUZIDOS. JUROS DE MORA. TERMO INICIAL. CITAÇÃO.

SENTENÇA ALTERADA DE OFÍCIO. LUCROS CESSANTES. NÃO

COMPROVADOS.RESPONSABILIDADE AFASTADA. CLÁUSULA ESPECIAL DE

FREADA BRUSCA. CONTRATADA. APLICAÇÃO DEVIDA.SUCUMBÊNCIA.

REDISTRIBUÍDA. APELOS PARCIALMENTE PROVIDOS.

(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1654529-4 - Cascavel - Rel.: Vicente Del Prete Misurelli -

Unânime - J. 18.05.2017)

Inteiro Teor

Trata-se de Apelações Cíveis interpostas contra a sentença que, nos autos de Ação
Indenizatória n. 0030405- 81.2013.8.16.0021, julgou procedente em parte o pedido
inicial, condenando os apelantes solidariamente ao pagamento de indenização por
danos morais no valor de R$ 30.000,00 e lucros cessantes no valor de R$ 3.600,00,
abatido o valor do DPVAT recebido pela apelada. Pela sucumbência, condenou as
recorrentes ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, estes
fixados em 10% sobre a condenação (fls. 441/449).
Em suas razões, CIA MUTUAL DE SEGUROS pede, em primeiro lugar, a concessão
dos benefícios da gratuidade da justiça, por estar em processo de liquidação
extrajudicial. No mérito, defende a inexistência de nexo de causalidade entre a
conduta do motorista e os danos sofridos pela apelada em razão da queda.
Sucessivamente, diz que houve culpa exclusiva da vítima. Ainda, diz ser incabível
indenização por danos morais, pedindo, caso contrário, a redução do valor. Afirma que
os lucros cessantes devem ser comprovados, ônus do qual não se desincumbiu a
apelada. Sucessivamente, assevera que não há no contrato de seguro cláusula

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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

expressa de cobertura para lucros cessantes, não podendo ser responsabilizada.


Defende que a apólice prevê cláusula especial de cobertura para quedas decorrentes
de frenagem brusca, devendo ser aplicada mediante o pagamento/desconto da
franquia contratada. Aduz inexistir solidariedade entre denunciante e denunciada, mas
apenas obrigação contratual da denunciada de reembolso de eventual condenação,
nos limites da apólice. No mais, diz que a decretação de liquidação extrajudicial da
seguradora impõe a suspensão da ação após o trânsito em julgado e da fluência dos
juros e correção monetária. Por fim, alega que o termo inicial dos juros de mora deve
ser a data da sentença e que o seguro DPVAT recebido pela apelada deve ser
integralmente abatido da condenação (fls. 472/498).
Por sua vez, a apelante VIAÇÃO CAPITAL DO OESTE LTDA defende que o acidente
ocorreu por culpa exclusiva de terceiro e da própria vítima. No mais, diz que o fato da
recorrida ter sido internada por alguns dias e ter se afastado do trabalho não geral
dano moral, tratando-se de mero aborrecimento. Sucessivamente, pede a redução da
indenização.
Quanto aos lucros cessantes, alega que ficou comprovado que o afastamento do
trabalho se deu por 30 dias e não 6 meses, pedindo a redução da indenização para R$
600,00. Defende que a cláusula especial de frenagem brusca não pode ser aplicada
porque não foi contratada, devendo ser declarada a responsabilidade de indenizar da
seguradora até os limites fixados na apólice para danos morais, corporais e materiais.
Por fim, aduz que houve sucumbência recíproca, devendo a apelada arcar com 50%
das custas processuais e honorários advocatícios (fls. 577/589).
Contrarrazões (fls. 603/613 e 619/628).
É o relatório.
Voto.
1. Gratuidade da Justiça.
Inicialmente, concedo à apelante COMPANHIA MUTUAL DE SEGUROS os benefícios
da gratuidade da justiça, vez que, além de se encontrar em processo de liquidação
extrajudicial, comprovou insuficiência de recursos por meio de relatórios técnicos de
2015 e 2016 que apontam patrimônio líquido negativo de mais de 39 milhões (fls.
510/523 e 537/564).
Desse modo, presentes os pressupostos de admissibilidade, conhece-se dos recursos.
2. Responsabilidade da empresa ré.
Trata-se de ação indenizatória movida por ROSELI FACENDA PADILHA, em face da
empresa VIAÇÃO CAPITAL DO OESTE LTDA, por conta de queda ocorrida dentro de
ônibus de propriedade da ré, que presta serviços em nome do Município de Cascavel.
Pelo que consta dos autos, enquanto a autora se preparava para pagar a passagem
logo após embarcar, foi arremessada contra o painel dianteiro do veículo em razão de
frenagem brusca do motorista do ônibus, sofrendo lesões que a levaram a
internamento de 8 dias e afastamento do trabalho por 6 meses.
Na contestação, houve denunciação da lide à seguradora, sobrevindo sentença de
parcial procedência.
Ambas as rés recorrem a esta Corte.
Pois bem.
269

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O Superior Tribunal de Justiça possui jurisprudência consolidada no sentido de que a


responsabilidade no transporte de pessoas é objetiva, somente podendo ser afastada
caso o transportador demonstre a quebra do nexo de causal entre o serviço prestado
e os danos sofridos pela vítima.
Nesse sentido:
Conforme concordam doutrina e jurisprudência, a responsabilidade decorrente do
contrato de transporte de pessoas é objetiva, sendo obrigação do transportador a
reparação do dano causado ao passageiro quando demonstrado o nexo causal entre a
lesão e a prestação do serviço, pois o contrato de transporte acarreta para o
transportador a assunção de obrigação de resultado, impondo ao concessionário ou
permissionário do serviço público o ônus de levar o passageiro incólume ao seu
destino. É a chamada cláusula de incolumidade, que garante que o transportador irá
empregar todos os expedientes que são próprios da atividade para preservar a
integridade física do passageiro, contra os riscos inerentes ao negócio, durante todo o
trajeto, até o destino final da viagem (EREsp 1318095/MG, Rel. Ministro RAUL
ARAÚJO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 22/02/2017, DJe 14/03/2017).
No caso dos autos, como bem entendeu a sentença, a contribuição do terceiro para o
acidente é incapaz de autorizar o afastamento da responsabilidade civil da empresa de
transporte, vez que caracteriza fortuito interno.
Ou seja, a invasão e parada repentina de outro veículo na pista em que o ônibus
trafegava, gerando a necessidade de freada brusca, é situação conexa com a atividade
desenvolvida pelo transportador e relacionada com os riscos do negócio, não
possuindo o condão de elidir o liame de causalidade entre a prestação do serviço e as
lesões sofridas pela vítima.
Sobre o tema, confira-se:
O fato de um terceiro ser o causador do dano, por si só, não configura motivo
suficiente para elidir a responsabilidade do transportador, sendo imprescindível aferir
se a conduta danosa pode ser considerada independente (equiparando-se a caso
fortuito externo) ou se é conexa à própria atividade econômica e aos riscos inerentes à
sua exploração (REsp 1136885/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 28/02/2012, DJe 07/03/2012)
Na linha dos precedentes desta Corte, acidentes ocorridos em auto-estradas, mesmo
por culpa exclusiva de terceiros, são considerados fortuitos internos, incapazes, por
isso, de afastar a responsabilidade Civil do transportador (AgRg nos EDcl no REsp
1318095/MG, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em
19/06/2012, DJe 27/06/2012)
De igual modo, da forma como narrada a situação por ambas as partes, e
complementada pela prova oral, não há como atribuir culpa exclusiva à vítima (fls.
03/05, 122, 425).
Não havia como a recorrida se apoiar com segurança e, ao mesmo tempo, efetuar o
pagamento da passagem ao cobrador, vez que necessitava retirar o dinheiro/vale-
transporte de sua bolsa para poder passar a roleta, sendo que o motorista arrancou o
veículo sem se certificar que a vítima estava devidamente segura, descumprindo a
cláusula de incolumidade inerente ao contrato de transporte.
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A respeito da questão, ensina Sérgio Cavalieri Filho1:


Sem dúvida, a característica mais importante do contrato de transporte é a cláusula de
incolumidade que nele está implícita. A obrigação do transportador não é apenas de
meio, e não só de resultado, mas também de segurança (...) Em suma, entende-se por
cláusula de incolumidade a obrigação que tem o transportador de conduzir o
passageiro são e salvo ao lugar de destino.
Assim, diante destas circunstâncias, inexistindo culpa exclusiva de terceiro ou da
vítima, não há como afastar a responsabilidade da empresa de transporte, devendo a
apelada ser indenizada pelos danos sofridos.
3. Danos morais.
Com relação aos danos morais, entende-se que a situação vivenciada pela apelada
transborda os limites do mero aborrecimento, demandando reparação.
Note-se que em razão do acidente ocorrido em 13/10/2011 a recorrida foi levada ao
pronto socorro de uma Unidade de Pronto Atendimento Municipal e, posteriormente,
a hospital credenciado pelo SUS, onde ficou internada até o dia 20/10/2011, ou seja,
por 7 dias, submetendo-se a inúmeros atendimentos e exames.
Sofreu lesões na coluna e na mão, tendo de utilizar colar cervical por 90 dias e se
afastar do trabalho por, no mínimo, 30 dias (fls. 17/61 e 134/135). Além do mais,
necessitou do cuidado de terceiros, inclusive para as necessidades básicas, e não teve
qualquer auxílio por parte da empresa de ônibus, tudo colhido da prova oral.
Desse modo, inquestionável o sofrimento psicológico da vítima com toda essa
situação vivenciada, impondo-se a manutenção da responsabilidade de indenizar das
apelantes.
Quanto ao valor da indenização, ambas as recorrentes pedem redução, alegando ser
excessivo. Ante a ausência específica de parâmetros, a doutrina e a jurisprudência vem
considerando as circunstâncias do caso concreto, o alcance da ofensa e a capacidade
econômica do ofensor e do ofendido, para fins do arbitramento.
Além disso, desataca-se que a quantia não pode configurar enriquecimento indevido,
devendo servir precipuamente para compensar a vítima pelo dano sofrido e sancionar
o causador do prejuízo de modo a evitar futuros desvios.
Nessa linha, atendendo aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade,
cumprindo, ainda, o caráter reparatório e pedagógico da condenação, entende-se que
o valor de R$ 30.000,00 é excessivo, devendo ser reduzido para R$ 20.000,00, valor
capaz de reparar o sofrimento da vítima e que se amolda a caso semelhante julgado
por esta Câmara.
Confira-se:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS.
CONTRATO DE TRANSPORTE. QUEDA DE PASSAGEIRO AO INGRESSAR NO
ÔNIBUS COLETIVO.1.
DANO MORAL. IN RE IPSA. VALOR. MAJORAÇÃO.
POSSIBILIDADE. ANÁLISE DO CASO CONCRETO.
OBSERVÂNCIA DOS PARÂMETROS DE PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE.
QUANTIA QUE MELHOR ATENDE À TRÍPLICE FUNÇÃO. INDENIZAÇÃO MAJORADA
PARA R$20.000,00 (VINTE MIL REAIS).2. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
271

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

SUCUMBENCIAIS MANTIDOS.RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO


(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1402604-5 - Curitiba - Rel.: Luis Sérgio Swiech - Unânime - - J.
01.10.2015)
Portanto, dá-se provimento a ambos os recursos interpostos, para o fim de reduzir a
indenização por danos morais.
4. Lucros cessantes.
Quanto aos lucros cessantes, embora a recorrida tenha demonstrado que exercia a
atividade de diarista na época do acidente, não comprovou nos autos aquilo que
efetivamente deixou de lucrar durante o período de recuperação do acidente,
sugerindo o valor da condenação.
Sem prova daquilo que objetiva e concretamente
deixou de ganhar, não há que se falar em lucros cessantes, que não compreende
lucro imaginário, hipotético ou dano remoto (Nesse sentido: STJ - REsp 1129538/PA ­
4ª Turma ­ Rel. Min. Honildo Amaral de Mello Castro ­ DJ 14/12/2009).
Logo, há que se dar provimento ao recurso da seguradora neste ponto, a fim de se
afastar a indenização por lucros cessantes, restando prejudicados os demais
argumentos relacionados a este tópico.
5. Responsabilidade da seguradora denunciada à lide.
Defende a seguradora que não existe solidariedade entre denunciante e denunciada,
mas apenas a obrigação desta de reembolsar eventual indenização a que venha a ser
condenada aquela, nos limites da apólice.
Sem razão.
De acordo com entendimento firmado pelo STJ, é perfeitamente possível a
condenação solidária da seguradora em casos como o dos autos, veja-se:
“É possível a condenação da seguradora, direta e solidariamente com o segurado, a
pagar indenização devida à vítima de acidente de trânsito, nos limites contratados na
apólice, na hipótese em que a seguradora comparece em juízo aceitando a
denunciação da lide feita pelo segurado” (AgInt no AREsp 890.215/SP, Rel. Ministra
MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 16/03/2017, DJe
21/03/2017)
Outro não é o entendimento desta Câmara: TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1547324-6 - Foz
do Iguaçu - Rel.: Gilberto Ferreira - Unânime - - J. 29.09.2016. Assim, fica mantida a
sentença neste ponto.
6. Denunciação da lide ­ Da Cláusula especial de frenagem brusca.
Defende a apelante COMPANHIA MUTUAL DE SEGUROS que a apólice prevê
cláusula especial de cobertura para quedas decorrentes de frenagem brusca, que deve
ser aplicada mediante o pagamento/desconto da franquia contratada.
Por outro lado, a recorrente VIAÇÃO CAPITAL DO OESTE LTDA sustenta que essa
cláusula não pode ser aplicada porque não foi contratada, devendo ser declarada a
responsabilidade de indenizar da seguradora até os limites fixados na apólice para
danos morais, corporais e materiais.
Como se observa das condições gerais do seguro aderido pela empresa de transporte
(fls. 170/191), referida cláusula somente pode ser aplicada se tiver sido expressamente
contratada e os danos não tenham sido decorrentes de acidente de trânsito (fl. 191).
272

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

No presente caso, entende-se que houve essa contratação, tal como se pode ver da
especificação de seguro trazida pela própria VIAÇÃO CAPITAL DO OESTE LTDA (fls.
120 e 167). E, muito embora se trate de relação de consumo, não se verifica qualquer
nulidade ou abusividade nessa diferenciação de eventos cobertos, estando a cláusula
redigida de forma clara e destacada das demais.
Aliás, veja-se que nas condições gerais a franquia estipulada para essa cobertura
adicional é de R$ 2.000,00, sendo que a franquia estipulada para a empresa segurada
é de R$ 1.000,00, o que faz presumir ter havido a negociação dessa cobertura e, por
consequência, a ciência inequívoca da segurada acerca dessa especificidade do
seguro.
Assim, por não se tratar de acidente de trânsito, mas de incidente de decorrente de
freada brusca, perfeitamente possível a aplicação da cláusula específica, mediante o
desconto da franquia contratada, devendo ser observado o limite definido para danos
decorrentes de fatos desta natureza, como bem entendeu a sentença.
7. Do termo inicial dos juros de mora.
Relativamente ao termo inicial dos juros de mora dos danos morais, não merece
acolhida a argumentação da seguradora. No entanto, por se tratar de matéria de
ordem pública, registra-se que deve ser considerada a data da citação, nos termos do
art. 405, do CC, e não o evento danoso, já se trata de responsabilidade contratual,
restando a sentença alterada de ofício (TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1276279-5 - Curitiba -
Rel.: José Laurindo de Souza Netto - Unânime - - J. 17.03.2016).
8. Demais questões.
Deixa-se de conhecer do pedido de desconto do seguro DPVAT, por ausência de
interesse recursal.
Note-se que os embargos de declaração opostos pela empresa VIAÇÃO CAPITAL DO
OESTE LTDA foram acolhidos pelo julgador de primeiro grau para determinar o
desconto do valor integral recebido pela vítima a título de DPVAT, restando
prejudicada a pretensão da apelante (fls.
458/460 e 531/532).
Com relação às implicações do deferimento do pedido de recuperação judicial, não
merecem acolhida os argumentos da seguradora. Por estar o processo ainda em fase
de conhecimento, inexiste
risco de constrição do patrimônio da massa liquidanda, motivo pelo qual não se faz
necessário suspender a demanda neste momento. Sobre o tema:
“RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL. AÇÃO
INDENIZATÓRIA. AJUIZAMENTO APÓS O DECRETO DE LIQUIDAÇÃO.
POSSIBILIDADE. EXEGESE DO ART.18, “A”, DA LEI N. 6.024/1974. 1. A exegese do
art. 18, “a”, da Lei n. 6.024/1974 induz a que a suspensão de ações ajuizadas em
desfavor de entidades sob regime de liquidação extrajudicial e o veto à propositura de
novas demandas após o decreto de liquidação não alcançam as ações de
conhecimento voltadas à obtenção de provimento judicial relativo à certeza e liquidez
do crédito. Isso porque, em tais hipóteses, inexiste risco de qualquer ato de constrição
judicial de bens da massa. 2. Recurso especial conhecido e provido.” (STJ - REsp

273

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

1298237/DF, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado


em 19/05/2015, DJe 25/05/2015).
Quanto à incidência de juros de mora e correção monetária, deve ser mantida, tendo
em vista se tratar de consequência legal da condenação, ressalvada a possibilidade de
discussão acerca da exigibilidade dessas verbas na fase de execução (TJPR - 8ª C.Cível
- AC - 1550218-8 - Cambará - Rel.: Gilberto Ferreira - Unânime - - J. 24.11.2016).
Por fim, relativamente à sucumbência da lide principal, assiste razão à VIAÇÃO
CAPITAL DO OESTE LTDA, tendo em vista que de todos os pedidos feitos pela
recorrida (dano moral, estético, lucros cessantes e pensionamento mensal), apenas a
reparação por danos morais foi acolhida.
Logo, as custas processuais e honorários advocatícios, os quais majoro para 12%
sobre a condenação (art. 85, §11, NCPC), devem ser distribuídos de forma
proporcional, passando a apelada a arcar com 75%
deste montante, ao passo que a empresa de transporte arcará com os 25% restantes.
No que se refere à lide secundária, ante a aceitação da denunciação e aplicação da
apólice conforme interpretação da seguradora, deixo de fixar honorários advocatícios
em desfavor da denunciada.
Diante do exposto, dou parcial provimento aos apelos, alterando a sentença, de
ofício, quanto ao termo inicial dos juros de mora, nos termos da fundamentação supra.
ACORDAM os Desembargadores da 8º Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar parcial provimento aos apelos,
alterando a sentença, de ofício, quanto ao termo inicial dos juros de mora, nos termos
do voto relator.
Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz Cezar Nicolau (com voto) e
acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 18 de maio de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI
--
1 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil ­ 11ª ed. ­ São
Paulo: Atlas, 2014, p. 357

2.2.24. RESPONSABILIDADE CIVIL DA IMPRENSA – IMPUTAÇÃO DE

ADOLESCENTE COMO LADRÃO

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DIVULGAÇÃO DE NOTÍCIA POLICIAL

EM SITE. NOME COMPLETO E FOTOGRAFIA DE ADOLESCENTE ENVOLVIDO EM

SUPOSTO ATO INFRACIONAL, DESCREVENDO-LHE COMO "LADRÃO". OFENSA À

PROTEÇÃO INTEGRAL. VIOLAÇÃO AO ART. 143 DO ECA. ATO

274

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

CULPOSO.RESPONSABILIDADE CIVIL CARACTERIZADA. DANOS MORAIS.

MANUTENÇÃO. ARBITRAMENTO RAZOÁVEL E PROPORCIONAL. HONORÁRIOS

RECURSAIS. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO NÃO PROVIDO.

(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1653182-7 - Goioerê - Rel.: Vicente Del Prete Misurelli -

Unânime - J. 18.05.2017)

Inteiro Teor

Trata-se de Apelação Cível nos autos de Ação de Indenização nº 0000875-


32.2016.8.16.0084, contra sentença que julgou procedentes os pedidos para o fim de
condenar a apelante ao pagamento de R$ 7.000,00 a título de danos morais, em razão
de publicação de foto e nome completo de menor morto em confronto com a polícia.
De consequência, condenou a apelante em custas e honorários advocatícios, estes
fixados em 10% do valor da condenação (fls. 213/216).
Dessa sentença recorre GUIA GOIOERÊ EVENTOS E PRODUÇÕES ­ EIRELI (fls.
424/434), alegando que não houve abuso no exercício do direito de informação e que
apenas reproduziu matéria jornalística postada por outro site. Aduz que a notícia já
estava divulgada, que não houve adulteração e nem intenção de difamar alguém,
motivo pelo qual a indenização deve ser afastada. Pede a redução dos danos morais.
Contrarrazões (fls. 241/244).
É o relatório.
Voto.
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conhece- se do apelo.
Trata-se de pretensão indenizatória fundada em publicação de notícia policial no site
da apelante, na qual há narração de tentativa de invasão em pátio da Policia
Rodoviária Federal de Colorado/PR, na qual houve suposto confronto, terminando
com a morte de adolescente de 17 anos, filho dos apelados.
A responsabilidade civil aqui é ancorada no fato de que o site da apelante divulgou a
foto do corpo do menor e o seu nome completo, além de descrevê-lo como “ladrão”
(fls. 66/67).
Pois bem.
A norma constitucional principiológica que determina a proteção integral à criança e
ao adolescente (art. 227 da CF) desdobra-se, entre outras manifestações legislativas,
no Estatuto da Criança e do Adolescente, que em seu art. 143 assim dispõe para o
que aqui se discute:
Art. 143. É vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e administrativos que
digam respeito a crianças e adolescentes a que se atribua autoria de ato infracional.
Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato não poderá identificar a criança
ou adolescente, vedando-se fotografia, referência a nome, apelido, filiação,
parentesco, residência e, inclusive, iniciais do nome e sobrenome.

275

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Logo, a proteção da imagem do adolescente abrange o direito de não ser


identificado por nome ou fotografia, inclusive em notícias relacionadas a eventuais
atos infracionais.
A indenização buscada pelos autores nesta ação decorre do dano reflexo, no qual a
violação ao direito de seu filho implicou em dano para seus pais, eis que puderam ser
identificados por ato culposo da apelante veiculadora da notícia, agravando-lhes o
sofrimento psíquico, a dor e a angústia pela divulgação em rede do nome completo e
da imagem do adolescente morto, taxando-lhe de “ladrão”.
Ademais, os pais do adolescente têm legitimidade para pleitear reparação a danos
causados à imagem do falecido (art. 12, § único do CCB)
Para casos como este, de violação ao art. 143 do ECA, a responsabilidade civil
independe de prova de culpa (art. 927, § único do CCB), conforme precedente do STJ
para caso idêntico:
RESPONSABILIDADE CIVIL. IMPRENSA. NOTÍCIA PUBLICADA EM JORNAL E
PROGRAMA DE TELEVISÃO APRESENTANDO O NOME E A IMAGEM DE MENOR
MORTO COM ATRIBUIÇÃO DA AUTORIA DE ATO INFRACIONAL. FATO VEDADO E
TIPIFICADO COMO CRIME PELO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
(ECA). PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL COMO EXCEÇÃO AO PRINCÍPIO DA
LIBERDADE DE INFORMAÇÃO. OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR. (...).
“Caracterização automática do abuso do direito de informar na hipótese de
publicação do nome e da imagem de menor morto, atribuindo-lhe autoria de ato
infracional, violando o
princípio da proteção integral da criança e adolescente, positivado nos artigos 143 e
247 do ECA. (STJ - AgRg no REsp 1354696/PR ­ 3ª Turma ­ Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino ­ DJ 31/10/2014)
É evidente, portanto, o abuso no direito de informar, pouco importando que se trate
de reprodução de outro veículo de informação ou ausência do intuito de difamar,
porque a obrigação decorre do descumprimento da proteção integral à imagem
manifestada no art. 143 do ECA:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL.
EDITORA DE JORNAL. PUBLICAÇÃO DE FOTO DE MENOR SUSPEITO DE
INFRAÇÃO. POSSIBILIDADE DE IDENTIFICAÇÃO NO MEIO EM QUE VIVE E POR
CONHECIDOS. AFRONTA À CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA E AO ECA.
INVIOLABILIDADE DA IMAGEM. ARTS. 17, 143 E 247 ECA. POSSIBILIDADE DE SE
COGITAR A TEORIA DO RISCO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA.
INTELIGÊNCIA DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 927 DO CPC.
(...). CERTA A OCORRÊNCIA DE DANO MORAL. IN RE IPSA.
AINDA, REGRAS DO ECA SÃO RÍGIDAS. MERA DIVULGAÇÃO DE FOTOGRAFIA DE
MENOR DE IDADE CONFIGURA DANO INDENIZAÇÃO DEVIDA. RECURSO NÃO
PROVIDO. (TJPR ­ ApCiv 837781-3 ­ 10ª CâmCív ­ Rel. Des. Denise Antunes ­ DJ
02/07/2012)
Em relação ao valor arbitrado (R$ 7.000,00), nada há que ser alterado, porque
razoável e proporcional ao ato danoso que se quer coibir e reparar, bem atendendo
aos critérios da gravidade do fato, da repercussão na esfera jurídica das vítimas, das
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

condições econômicas das partes e, principalmente, por estar em consonância à


jurisprudência estadual para casos análogos (TJPR ­ ApCiv 837781-3 ­ 10ª CâmCív ­
Rel. Des.
Denise Antunes ­ DJ 02/07/2012).
Em razão do não provimento do recurso, aplico o art. 85, § 11º do CPC e majoro os
honorários advocatícios devidos pela apelante para 12% do valor da condenação.
Diante do exposto, nego provimento ao recurso e mantenho íntegra a sentença
atacada.
ACORDAM os Desembargadores da 8º Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso, nos
termos do voto relator.
Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz Cezar Nicolau (com voto) e
acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 18 de maio de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI

2.2.25. RESPONSABILIDADE CIVIL AEROVIÁRIO – FORÇA MAIOR

APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZATÓRIA. DANOS MORAIS. NÃO CONFIGURADOS. VOO

CANCELADO. AEROPORTO FECHADO. CASO FORTUITO E FORÇA MAIOR. MAU

TEMPO. TRAJETO FEITO DE ÔNIBUS. ART. 393 E 741, CC.AUSÊNCIA DE DESÍDIA

PELO PRESTADOR DE SERVIÇO.HONORÁRIOS. MAJORADOS EM FAVOR DOS

APELADOS.SENTENÇA MANTIDA. APELO NÃO PROVIDO.

(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1653340-9 - Região Metropolitana de Londrina - Foro Central

de Londrina - Rel.: Vicente Del Prete Misurelli - Unânime - J. 18.05.2017)

Inteiro Teor

Trata-se de apelação cível em face de sentença proferida na Ação Indenizatória nº


00709000-23.2015.8.16.0014, que julgou improcedente os pedidos descritos na
petição inicial, condenando o autor ao pagamento das custas processuais e honorários
advocatícios, fixados em 10% sobre o valor atualizado da causa (fls. 218/221)
O autor em suas razões discorre sobre o histórico dos fatos e defende a
responsabilidade solidária dos requeridos, com a aplicação do CDC, sendo devida a
condenação a título de danos morais, já que inexiste qualquer excludente de
responsabilidade civil (fls. 229/240).
Contrarrazões (fls.253/264 e 267/276)

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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

É o relatório.
Voto.
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conhece-se do apelo.
O autor adquiriu da 2ª requerida (Lufthansa) passagem aérea de nº 220
6561127867/68, com destino à Roma/Itália, sendo que o primeiro voo seria operado
pela 1ª requerida (Gol) e sairia de Londrina, no dia 07/07/2015 às 05h05, com destino
ao aeroporto de Congonhas/SP, realizaria o translado até o aeroporto de Guarulhos,
onde tomaria o voo internacional as 18h10 do mesmo dia.
Ocorre que o aeroporto de Londrina estava fechado, tendo o autor que realizar o
deslocamento até São Paulo por meio de ônibus, o que quase ocasionou na perda do
2º voo, vez que chegou no aeroporto de destino com menos de 44 minutos de
antecedência, tendo que implorar para passar na frente dos outros passageiros e
aceitar fazer o “embarque condicional”, onde existia a probabilidade de não embarcar
na aeronave, caso o comandante ordenasse o fechamento das portas, e, a certeza de
que chegaria ao destino final sem as suas bagagens, que seriam enviadas no próximo
voo.
Negar que tais fatos geraram desconforto e incômodo na vida do autor, seria
equivocado, já que viveu momentos de apreensão ao imaginar que perderia seu voo
para a Europa, sem falar de toda a correria que teve que enfrentar para conseguir
embarcar a tempo na aeronave, entretanto, verificando as particularidades do
presente caso, não se torna possível a condenação da requerida em danos morais.
Nota-se que toda as dificuldades experimentadas pelo autor tiveram como causa
inicial o fato do aeroporto Governador José Richa estar fechado no período entre
01h40m a 10h53m do dia 07/07/2015, em razão de chuvas e forte neblina, conforme
demonstrou a primeira apelada (fls. 111).
Não merece prosperar a alegação da apelante de que inexistiu qualquer excludente
da responsabilidade civil, já que os fenômenos naturais, como os que ocorreram no
presente caso, são exemplos clássicos de caso fortuito e força maior, previsto no art.
393, CC.
Entretanto, apesar de não possuir gerência sobre as condições climáticas, o simples
fato de ter ocorrido motivo de força maior não é suficiente para afastar o dever de
indenizar, já que sua responsabilidade é objetiva, nos termos do art. 14, CDC,
devendo ser verificado se houve defeito na prestação do serviço e se a requerida agiu
com desídia, ou descumpriu com suas obrigações com o passageiro.
Pois bem, após ter a ciência de que não conseguiria operar o voo contratado pelo
apelante, a apelada VRG providenciou o transporte do passageiro através de ônibus
até o local contratado, cumprindo assim com o art. 741, CC.
Por certo que o passageiro anuiu com tal deslocamento pela via terrestre, já que não
havia certeza de que o aeroporto iria reabrir, sendo indiferente o fato de que poderia
ter sido realocado em outro voo no período da tarde.
Cumpre informar que não há nos autos qualquer documento que comprove, com
exatidão, o horário em que o ônibus saiu de Londrina, nem o horário de sua chegada
no aeroporto de Congonhas, tampouco, o tempo de deslocamento até o aeroporto
de Guarulhos e o prazo que teve para fazer o check-in, não sendo possível imputar
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

qualquer conduta desidiosa à apelada, no que se refere a pagamento de hospedagem


e alimentação.
Importante se ter em mente que ao adquirir trechos em aeroportos diversos, o
passageiro assume os riscos inerentes ao deslocamento.
Quanto aos fatos que supostamente seriam imputados a segunda requerida também
não se verifica qualquer conduta desidiosa, já que o passageiro chegou ao terminal
quando já encerrado o check-in convencional e o despacho de malas, tendo o mesmo,
concordado com as situações de risco inerentes ao “embarque condicional”, sendo
informado previamente de que mesmo que conseguisse embarcar na aeronave, sua
bagagem chegaria ao destino no próximo voo algumas horas depois, não havendo
como classificar tal episódio como extravio de bagagem.
Posto isso, a ação deve ser julgada improcedente vez que o cancelamento no voo se
deu por motivo de força maior, inexistindo desídia por parte do prestador de serviço.
Conforme (TJPR, 3ª TR - 0010558-59.2014.8.16.0021/0 - Cascavel - Rel.: Vivian
Cristiane Eisenberg de Almeida Sobreiro, DJ. 21.08.2015)
Tendo em vista o resultado do presente recurso, necessário se faz majorar os
honorários advocatícios em favor dos procuradores dos apelados para 12% sobre o
valor da causa atualizado, nos termos do art. 85, §11, CPC.
Diante do exposto, nego provimento ao apelo, majorando os honorários
sucumbenciais.
ACORDAM os Desembargadores da 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao apelo, nos
termos do voto relator.
Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz Cezar Nicolau (com voto) e
acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 18 de maio de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI

2.2.26. PLANO DE SAÚDE – FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PLANO DE SAÚDE.

APLICAÇÃO DO CDC. SÚMULA 469/STJ.TROMBOFILIA. PRESCRIÇÃO DO

MEDICAMENTO CLEXANE. NEGATIVA DE COBERTURA. LICITUDE.MEDICAMENTO

DE USO DOMICILIAR. ART. 12, VI DA LEI 9.656/98 E CLÁUSULA 10.1.4 DO

CONTRATO. AUSÊNCIA DE URGÊNCIA E DE CONTINUAÇÃO DE TRATAMETNO

HOSPITALAR. RECUSA JUSTIFICADA. DANOS MATERIAIS E MORAIS AFASTADOS.

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SUCUMBÊNCIA. REARBITRAMENTO.RECURSO DE UNIMED PROVIDO. RECURSO DA

CONSUMIDORA PREJUDICADO.

(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1654700-9 - Região Metropolitana de Londrina - Foro Central

de Londrina - Rel.: Vicente Del Prete Misurelli - Unânime - J. 18.05.2017)

Inteiro Teor

Trata-se de Apelação Cível nos autos de Ação de Obrigação de Fazer com


Indenização nº 0004798-82.2016.8.16.0014, contra sentença que julgou procedentes
os pedidos iniciais para o fim de determinar à operadora do plano de saúde que
proceda ao fornecimento do medicamento Clexane 40mg, condenando-a ao
pagamento de danos materiais no valor de R$ 1.057,86 e danos morais no valor de R$
5.000,00, bem como ao pagamento das custas e honorários advocatícios, estes fixados
em 15% da condenação (fls. 247/251).
Dessa sentença recorre UNIMED MARINGÁ (fls. 257/273), alegando que o
medicamento Clexane 40mg é de uso domiciliar, o que é vedado pela cláusula 10.1.4
do contrato e pelo art. 10, VI da Lei 9.656/98, portanto, a recusa de cobertura foi
legítima. Assevera que o medicamento é vendido em farmácias e não necessita de
ministração clínica, ou seja, a cobertura contratual abrange apenas os medicamentos
que necessitem de procedimento médico em nível ambulatorial. Pede o afastamento
dos danos materiais e morais e, sucessivamente, pede a minoração do dano moral.
Da sentença também recorre SANDRA MARIA DA SILVA MARIANI (fls. 279/292)
pedindo a majoração do dano moral.
Contrarrazões (fls. 301/315 e 317/328).
É o relatório.
Voto.
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço dos recursos.
Trata-se de pretensão indenizatória fundada na negativa de cobertura de
fornecimento do medicamento Clexane 40mg, sob a justificativa por parte do plano de
saúde de que se trata de medicamento de uso domiciliar.
Conforme atestou o médico responsável (fls. 39), a apelada está grávida e apresenta
quadro de trombofilia, já tendo tido dois abortos anteriores, e o medicamento
prescrito visa assegurar a gestação da autora, haja vista que a trombofilia pode
provocar abortos, pré-eclâmpsia e parto prematuro.
De pronto, ressalta-se que a interpretação das cláusulas contratuais será realizada
tanto à luz das normas imperativas do Estatuto Consumerista como as da Lei 9.656/98,
nos termos da Súmula nº 469/STJ.
Estão comprovados nos autos documentalmente, a prescrição do medicamento
Clexane 40mg por médico ginecologista responsável (fls. 32/39) e a negativa de
cobertura sob alegação de que se trata de medicamento de uso domiciliar (fls. 30/31).

280

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Também resta comprovado o fato de que a Unimed tinha autorizado e estava


disponibilizando o remédio pretendido nos meses de outubro a dezembro/2015,
sendo que a partir de janeiro/2016 apresentou a negativa de cobertura (fls. 40/42).
O medicamento Clexane 40mg, prescrito para a apelada, é efetivamente de uso
domiciliar, sendo aplicado pela própria consumidora, como se depreende das
prescrições (fls. 32/36). E é vendido em qualquer farmácia (fls. 49).
Nestas condições há previsão legal afastando a obrigatoriedade de cobertura de
fornecimento de medicamento de uso domiciliar, conforme o art. 12, VI da Lei
9.656/98:
Art. 10. É instituído o plano-referência de assistência à saúde, com cobertura
assistencial médico-ambulatorial e hospitalar, compreendendo partos e tratamentos,
realizados exclusivamente no Brasil, com padrão de enfermaria, centro de terapia
intensiva, ou similar, quando necessária a internação hospitalar, das doenças listadas
na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a
Saúde, da Organização Mundial de Saúde, respeitadas as exigências mínimas
estabelecidas no art. 12 desta Lei, exceto: (...).
VI - fornecimento de medicamentos para tratamento domiciliar, ressalvado o disposto
nas alíneas `c’ do inciso I e `g’ do inciso II do art. 12.
O caso da autora não é de tratamento antineoplásico, logo, não entra nas exceções
previstas no inciso VI do art. 12 acima transcrito. Observe-se a posição do STJ:
“Estão excluídos das exigências mínimas de cobertura assistencial a ser oferecida
pelas operadoras de plano de saúde o fornecimento de medicamentos importados
não nacionalizados e o fornecimento de medicamentos para tratamento domiciliar,
salvo se for o caso, nessa última hipótese, de tratamentos antineoplásicos (art. 10, V e
VI, da Lei nº 9.656/1998).” (STJ - REsp 1481089/SP ­ 3ª Turma ­ Rel. Min. Ricardo Villas
Boas Cueva ­ DJ 09/12/2015)
Consigne-se que nada há nos autos que indique estar a gravidez da autora passando
atualmente por complicações, portanto, também não se trata de caso de cobertura
obrigatória por urgência (art. 35- C, II da Lei 9.656/98).
Também é necessário frisar que não se trata de medicamento para continuidade de
tratamento hospitalar, caso que descaracteriza o uso meramente domiciliar (conforme:
TJPR ­ ApCiv 690860-5 ­ 8ª CâmCív ­ Rel. Des. Jorge de Oliveira Vargas ­ J.
13/01/2011).
Por fim registre-se que a exclusão de cobertura para fornecimento de medicamento
de uso domiciliar consta expressamente na cláusula 10.1.4 do contrato (fls. 111), cuja
redação é clara e inequívoca.
Diante dessas circunstâncias, a negativa de cobertura foi justificada e, de
consequência, não pode ser considerada abusiva.
Confira-se a jurisprudência estadual para caso análogo envolvendo o Clexane:
OBRIGAÇÃO DE FAZER - RELAÇÃO DE CONSUMO - APLICAÇÃO DO CDC
(SÚMULA 469, DO STJ) - PLANO DE SAÚDE - NULIDADE DA SENTENÇA POR
CERCEAMENTO DE PRODUÇÃO DE PROVAS - PRELIMINAR AFASTADA - NEGATIVA
DE FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO ENOXAPARINA SÓDICA (CLEXANE 60
MG), SOB ALEGAÇÃO DE EXCLUSÃO DA COBERTURA CONTRATUAL PARA
281

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

MEDICAMENTOS DE USO DOMICILIAR - EXISTÊNCIA DE CLÁUSULA DE EXCLUSÃO


- RECUSA JUSTIFICADA ­ (...). (TJPR ­ ApCiv 1565649-6 ­ 9ª CâmCív ­ Rel. Des.
Francisco Luiz Macedo Junior ­ DJ 27/01/2017)
No mesmo sentido, ainda para o Clexane: TJPR ­ AgInst 1466575-3 ­ 8ª CâmCív. Rel.
Des. Marco Antônio Massaneiro ­ DJ 07/03/2016.
Em razão da licitude da recusa aqui reconhecida, restam afastadas as condenações
em danos materiais e morais determinadas na sentença e prejudicado o recurso da
autora.
Como corolário, julgo a ação improcedente e condeno a autora ao pagamento
integral das custas e honorários advocatícios, estes fixados em 10% do valor atualizado
da causa, na forma do art. 85, § 2º do CPC, observada a gratuidade já deferida.
Diante do exposto, dou provimento ao recurso para o fim de reconhecer lícita a
negativa de cobertura e afastar as condenações em danos materiais e morais, restando
prejudicado o apelo da autora.
ACORDAM os Desembargadores da 8º Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso de
Unimed Maringá e em julgar prejudicado o recurso da consumidora, nos termos do
voto relator.
Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz Cezar Nicolau (com voto) e
acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 18 de maio de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI

2.2.27. OBESIDADE MÓRBIDA – NEGATIVA DE COBERTURA

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. PLANO DE SAÚDE. APLICAÇÃO DO

CDC. SÚMULA 469/STJ.OBESIDADE MÓRBIDA GRAU II. GASTROPLASTIA (CIRURGIA

BARIÁTRICA). NEGATIVA DE COBERTURA.RESOLUÇÃO NORMATIVA Nº 211/2010

DA ANS. NÃO PREENCHIMENTO DAS CONDIÇÕES. COMORBIDADE.INEXISTENTE.

AUSÊNCIA DE CARÁTER EMERGENCIAL.ART. 35, C, I DA LEI 9.656/98. RECUSA

LEGÍTIMA.PRECEDENTES. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO NÃO PROVIDO.

(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1632421-9 - Laranjeiras do Sul - Rel.: Vicente Del Prete

Misurelli - Unânime - J. 04.05.2017)

Inteiro Teor

Certificado digitalmente por: VICENTE DEL PRETE MISURELLI


282

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1632421-9, DE LARANJEIRAS DO SUL - VARA CÍVEL, DA


FAZENDA PÚBLICA, ACIDENTES DO TRABALHO, REGISTROS PÚBLICOS E
CORREGEDORIA DO FORO EXTRAJUDICIAL, JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E JUIZADO
ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA APELANTE : SILMERY FRANZONI MINSKI
APELADO : UNIMED CURITIBA - SOCIEDADE COOPERATIVA DE MÉDICOS
RELATOR : DES. VICENTE DEL PRETE MISURELLI APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE
INDENIZAÇÃO. PLANO DE SAÚDE. APLICAÇÃO DO CDC. SÚMULA 469/STJ.
OBESIDADE MÓRBIDA GRAU II. GASTROPLASTIA (CIRURGIA BARIÁTRICA).
NEGATIVA DE COBERTURA. RESOLUÇÃO NORMATIVA Nº 211/2010 DA ANS. NÃO
PREENCHIMENTO DAS CONDIÇÕES. COMORBIDADE. INEXISTENTE. AUSÊNCIA
DE CARÁTER EMERGENCIAL. ART. 35, C, I DA LEI 9.656/98. RECUSA LEGÍTIMA.
PRECEDENTES. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO NÃO PROVIDO.
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1632421-9, de
Laranjeiras do Sul - Vara Cível, da Fazenda Pública, Acidentes do Trabalho, Registros
Públicos e Corregedoria do Foro Extrajudicial, Juizado Especial Cível e Juizado
Especial da Fazenda Pública, em que é Apelante SILMERY FRANZONI MINSKI e
Apelado UNIMED CURITIBA - SOCIEDADE COOPERATIVA DE MÉDICOS.
Nos autos de Ação Indenizatória nº 0002666- 10.2015.8.16.0104, a MMª Juíza de
Direito da Vara Cível e anexos de Laranjeiras do Sul julgou improcedentes os pedidos
iniciais e condenou a
autora ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, fixados em
10% sobre o valor da causa (fls. 298/305).
Da sentença recorre SILMERY FRANZONI MINSKI (fls.
311/329), alegando, em síntese, que preenchia os requisitos necessários para a
liberação da cirurgia bariátrica, requerida junto ao plano de saúde, cuja negativa, aduz
ser abusiva. Assim, pugna pela condenação da apelada ao pagamento de indenização
por danos materiais e morais, ante aos gastos despendidos para a realização do
procedimento de forma particular, bem como, pelo abalo emocional suportado ante a
recusa injustificada para a liberação do procedimento requerido. Desse modo, requer
a reforma da sentença com a consequente inversão sucumbencial.
Sem contrarrazões.
É o relatório.
Voto.
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conhece- se do apelo.
Trata-se de pretensão indenizatória fundada na negativa de cobertura de
procedimento chamado gastroplastia (cirurgia bariátrica) por videolaparoscopia, para
caso de obesidade mórbida, sob a justificativa de inexistir consenso quanto à
indicação do procedimento, ante a não comprovação de comorbidades associadas ao
IMC da paciente.
Não há controvérsia alguma sobre a contratação do plano de saúde junto à apelada
(fls. 40/41, 47/63 e 205/242), a existência de obesidade mórbida grau II + artropatia
atestada por médico responsável (fls. 243) e a negativa de cobertura (fls. 245/251).

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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

A questão aqui é saber apenas se a negativa de cobertura foi ou não correta à luz da
legislação e jurisprudência. De pronto, friso que o caso será analisado sob as
disposições da Lei 9.656/98 e também do CDC, nos termos da súmula nº 469/STJ.
Pois bem.
O procedimento de gastroplastia para obesidade mórbida está no rol de
procedimentos listados pela ANS e o Anexo II da Resolução Normativa nº 211/2010
traz as seguintes condições para a cobertura obrigatória:
41. GASTROPLASTIA (CIRURGIA BARIÁTRICA) POR VIDEOLAPAROSCOPIA OU POR
VIA LAPAROTÔMICA
1. Cobertura obrigatória para pacientes com idade entre 18 e 65 anos, com falha no
tratamento clínico realizado por, pelo menos, 2 anos e obesidade mórbida instalada há
mais de cinco anos, quando preenchido pelo menos um dos critérios listados no grupo
I e nenhum dos critérios listados no grupo II.
No entanto, em que pese a previsão da cirurgia bariátrica no rol da ANS, no presente
caso, a recusa pela apelada, não foi indevida. Isto porque, os médicos que
acompanhavam o processo clínico da autora, não entraram em consenso acerca da
necessidade de realização do procedimento cirúrgico.
Veja-se às fls. 250, que o médico, Dr. Sérgio Luiz Rocha, afirma ser a autora portadora
de obesidade mórbida grau II, sem, contudo, apresentar comorbidade que justifique a
indicação de cirurgia.
Ademais, aponta não evidenciar artropatia grave, não indicando, assim, tratamento
cirúrgico para a obesidade da autora, naquele momento.
No mais, o médico assistente da autora, apresentou justificativa ao plano de saúde
(fls.246), no sentido de que, embora houvesse indicação da cirurgia bariátrica em razão
do laudo ortopédico associado ao IMC, não havia indicação nenhuma de
comorbidade, ou seja, doenças agravadas pela obesidade e que melhoram quando a
mesma é tratada de forma eficaz e que ameacem a vida.
Portanto, em que pese a autora preenche-se à época requisitos que justificassem a
realização do procedimento bariátrico, não apresentava doenças que pudessem ser
agravadas pela obesidade, não
sendo indicado naquele momento, a realização do procedimento cirúrgico.
Não há nos autos nenhum outro relatório médico indicando a cirurgia bariátrica ou
apontando os motivos para a imediata gastroplastia, tampouco há nos autos prova de
que o procedimento era de emergência por implicar em risco imediato de vida para o
paciente (art. 35- C, I da Lei 9.656/98). Enfim, a recusa de cobertura foi legítima, eis
que não se tratava de cirurgia em caráter de urgência e emergência.
Confira-se a posição desta Corte para casos análogos:
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS - PLANO DE SAÚDE - NEGATIVA DE LIBERAÇÃO DE CIRURGIA
BARIÁTRICA POR VIDEOLAPAROSCOPIA - OBRIGATORIEDADE DO
PROCEDIMENTO DE ACORDO COM OS REQUISITOS DA ANS NÃO
DEMONSTRADA - INEXISTÊNCIA DE SITUAÇÃO DE URGÊNCIA OU DE RISCO À
SAÚDE DA PACIENTE - AUSÊNCIA DE COMORBIDADE - DEVER DE COBERTURA
NÃO EVIDENCIADO - RECUSA LEGÍTIMA DA OPERADORA DO PLANO DE SAÚDE -
284

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IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO ­ (...). “Não há prova alguma de que anteriormente a


2012 a autora tenha passado por outro tipo de tratamento para combater o excesso
de peso, (...), pelo que, não restou demonstrada a realização de tratamento clínico
infrutífero pelo período mínimo de 02 (dois) anos, como também exigido pela ANS.”
(TJPR ­ ApCiv 1420710-6 ­ 9ª Câm.Cív ­ Rel. Des. Domingos José Perfetto ­ DJ
10/12/2015).
E também:
EMBARGOS INFRINGENTES - AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER CUMULADA COM
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - PLANO DE SAÚDE - RECUSA DE
COBERTURA DE CIRURGIA BARIÁTRICA - REQUISITOS PREVISTOS NAS
RESOLUÇÕES Nº 338/2003 DA ANS E Nº 1942/2010 DO CONSELHO FEDERAL DE
MEDICINA, ACOLHIDOS PELA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA BARIÁTRICA,
NÃO PREENCHIDOS - AUTORA COM
IMC DE 36,25KG/M² (OBESIDADE MÓRBIDA EM GRAU II) NÃO ASSOCIADA À CO-
MORBIDADES - AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE TRATAMENTO CLÍNICO, SEM
SUCESSO, HÁ MAIS DE DOIS ANOS - PROCEDIMENTO SEM CARÁTER DE
URGÊNCIA OU EMERGÊNCIA - LEGÍTIMA RECUSA DA OPERADORA DE PLANO DE
SAÚDE - PREPONDERÂNCIA DO VOTO VENCEDOR. EMBARGOS INFRINGENTES
REJEITADOS.
“No caso, não estão presentes os critérios exigidos, pois apesar da autora apresentar
IMC de 36,25kg/m² e obesidade mórbida grau II, não está associada à co-morbidades
que ameacem a vida. Também não restou demonstrado que a autora se submeteu a
tratamento clínico, sem sucesso, há pelos menos dois anos e nem mesmo que o
procedimento era medida de caráter urgente ou emergencial.” (TJPR ­ Emb.Inf
1296094-8/01 ­ 10ª Câm.Cív Integral ­ Rel. Des.
Luiz Lopes ­ DJ 01/12/2015)
Diante do exposto, nego provimento ao recurso, mantendo íntegra a sentença
atacada.
ACORDAM os Desembargadores da 8º Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso, nos
termos do voto relator.
Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz Cezar Nicolau (com voto) e
acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 04 de maio de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI

285

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

2.3. LUÍS CARLOS XAVIER

2.3.1. REVISÃO CRIMINAL – ALTERAÇÃO DA PENA DE OFÍCIO

REVISÃO CRIMINAL – PECULATO (ART. 312, §1°, DO CP) – 1. CONSTRANGIMENTO

ILEGAL POR CERCEAMENTO DE DEFESA – NÃO CABIMENTO – AUSÊNCIA DE

PROVA DE PREJUÍZO PARA O RÉU – SÚMULA 523, DO SUPREMO TRIBUNAL

FEDERAL – TESTEMUNHAS ARROLADAS PELA DEFESA QUE APESAR DE NÃO

OUVIDAS EM JUÍZO, PRESTARAM DEPOIMENTO NO PROCESSO ADMINISTRATIVO

DISCIPLINAR, CONFIRMANDO OS FATOS NARRADOS NA DENÚNCIA - NÃO

CARACTERIZAÇÃO DE DEFICIÊNCIA DA DEFESA TÉCNICA POR AUSÊNCIA DE

INTERPOSIÇÃO DE APELAÇÃO, ANTE O PRINCÍPIO DA VOLUNTARIEDADE

RECURSAL - 2. INEXISTÊNCIA DE TERMO DE RECURSO – DESNECESSIDADE –

ACUSADO QUE NÃO MANIFESTOU INTERESSE EM RECORRER – 3. CONCESSÃO

DE TUTELA ANTECIPADA PARA SUSPENDER OS EFEITOS DO TRÂNSITO EM

JULGADO DA SENTENÇA CONDENATÓRIA – NÃO CABIMENTO – EXECUÇÃO DE

SENTENÇA DEFINITIVA COM TRÂNSITO EM JULGADO – NÃO DEMONSTRAÇÃO

DO RISCO DA DEMORA OU RAZOÁVEL PROBABILIDADE DE GRAVAME A DIREITO

DO REQUERENTE – 4. DOSIMETRIA DA PENA – REVISÃO DE OFÍCIO - MAJORAÇÃO

DA PENA BASE – AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA – OFENSA AO ART.

93, IX, DA CF/88 – 5. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA – QUESTÃO A SER

APRECIADA PELO JUÍZO DA EXECUÇÃO – REVISÃO PARCIALMENTE CONHECIDA,

E NA PARTE CONHECIDA JULGADA IMPROCEDENTE, REVISANDO-SE, DE OFÍCIO,

A PENA FIXADA.

1. Súmula 523, do STF: “No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade

absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houve prova de prejuízo para o réu.”

No caso dos autos, não se verifica que a ausência de oitiva das testemunhas arroladas

pela defesa causou qualquer prejuízo ao requerente, não se contatando igualmente a

deficiência de defesa por ausência de interposição de apelação, ante o princípio da

voluntariedade recursal.
286

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

2. De acordo com o item 6.13.2 do Código de Normas, será lavrado o Termo de

Recurso quando o réu responder afirmativamente que deseja recorrer. Assim, não há

que se falar em nulidade pela falta de juntada de Termo de Recurso quando o Sr.

Oficial de Justiça certifica que o acusado não manifestou interesse em recorrer.

3. Em que pese não haja previsão no Código de Processo Penal quanto à

possibilidade de concessão de tutela antecipada no procedimento da revisão criminal,

a doutrina pátria entende pela excepcional possibilidade do pedido quando presentes

o fumus boni iuris e o periculim in mora, aplicando por analogia o poder geral de

cautela previsto do processo civil. Todavia, no caso em tela, não se verifica o

preenchimento dos requisitos necessários para o pretendido efeito suspensivo.

4. Inexistindo motivação idônea para valorar negativamente a conduta social, a

majoração da pena base encontra-se em ofensa ao art. 93, IX, da CF/88.

5. Compete ao Juízo da Execução apreciar o pedido de concessão do benefício da

assistência judiciária gratuita.

(TJPR - 2ª C.Criminal - RC - 5000080-33.2015.8.16.0000 - Rel.: LUIS CARLOS XAVIER -

J. 12.07.2016)

InteiroTeor

RELATÓRIO
Trata-se de Revisão Criminal proposta por Marcos Terra Santana, com amparo no art.
621, inciso I, II e III, do CPP, em face da sentença proferida na Ação Penal n°
2008.0000023-7, transitada em julgado em 03.09.2013, que julgou procedente o
pedido formulado na denúncia, para condenar Marcos Terra Santana como incurso nas
sanções previstas no art. 312, §1°, do CP, à pena de 02 (dois) anos e 03 (três) meses de
reclusão, em regime inicial aberto, substituída por duas restritivas de direito, além de
30 (trinta) dias-multa, no valor de 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente ao
tempo do fato.
Inconformado, o requerente Marcos Terra Santana assevera, em síntese, pelo
constrangimento ilegal por cerceamento de defesa, posto que durante toda instrução
criminal não foram ouvidas nenhuma das testemunhas arroladas pela defesa, causando
grande prejuízo ao requerente, ocasionando a sua condenação. Aduz pela incidência
da Súmula 523, do Supremo Tribunal Federal. Sustenta que a deficiência de defesa
deverá ser reconh ecida de ofício não somente nos casos específicos do art. 497, V, do
CPP, mas em qualquer situação, uma vez que se trata de uma questão de ordem
pública.
287

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Assevera que a deficiência de defesa não deve ser considerada uma nulidade relativa,
mas sim uma nulidade absoluta, sob pena de ofensa ao art. 5°, XXXV, LIV e LV, da
CF/88. Defende que a inércia do defensor em se manifestar sobre as testemunhas
arroladas na defesa preliminar, bem como não apresentar recurso contra a sentença
condenatória, caracteriza cerceamento de defesa de cunho absoluto, com grave
prejuízo ao requerente diante de sua condenação criminal.
Sustenta pela inexistência do Termo de Recurso, que era necessário para comprovar
que foi disponibilizado ao réu o direito de se manifestar-se expressamente sobre o
recurso previsto em lei, conforme art. 600, §4°, do CPP, e item 6.13.2 do Código de
Normas, havendo nulidade material da intimação do réu em relação a sentença
condenatória. Pugna pela concessão dos efeitos da tutela antecipada para suspender
os efeitos do trânsito em julgado da sentença condenatória, com a possibilidade de
apelar da decisão.
Requer o deferimento de assistência judiciária gratuita, com fulcro no art. 5º, inciso
LXXIV, da CF e Lei n° 1.060/50.
A douta Procuradoria Geral de Justiça exarou parecer, manifestando pela
admissibilidade e improcedência da revisão criminal de sentença.
É o relatório.
Voto do relator
Presentes parcialmente os pressupostos de admissibilidade é de se conhecer em
parte da revisão criminal de sentença.
Convém destacar que Marcos Terra Santana foi condenado pela prática do delito de
peculato (art. 312, §1°, do CP), em razão dos seguintes fatos:
“No dia 19 de junho de 2008, por volta das 9 horas, tendo por local a Delegacia de
Polícia Civil desta cidade e Comarca de Tomazina-PR, localizada na Rua Xavier da
Silva, n° 705, Centro, o denunciado MARCOS TERRA SANTANA , servidor policial
ocupante do cargo de Investigador de Polícia, com consciência e vontade para a
realização do ilícito, valendo-se da facilidade que lhe proporcionava o cargo público,
pois trabalhava na referida Delegacia e estava de plantão no dia dos fatos, subtraiu em
proveito próprio , um motor de veículo marca ‘Fiat’, modelo ‘Uno Mille SX’, cor cinza,
ano 1997, chassi com numeração 9BD146048V5917147, sendo oportuno esclarecer
que o referido automóvel, de propriedade particular encontrava-se no pátio da
instituição policial, e fora apreendido pela polícia militar por não estar regularmente
cadastrado junto ao órgão de trânsito competente, conforme evidencia o Boletim de
Ocorrência de fls. 05/07.”
Do cerceamento de defesa
Alega o requerente pela existência de constrangimento ilegal por cerceamento de
defesa, posto que durante toda instrução criminal não foram ouvidas nenhuma das
testemunhas arroladas pela defesa, causando grande prejuízo ao requerente,
ocasionando a sua condenação. Aduz pela incidência da Súmula 523, do Supremo
Tribunal Federal. Sustenta que a deficiência de defesa deverá ser reconh ecida de
ofício não somente nos casos específicos do art. 497, V, do CPP, mas em qualquer
situação, uma vez que se trata de uma questão de ordem pública.

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Assevera que a deficiência de defesa não deve ser considerada uma nulidade relativa,
mas sim uma nulidade absoluta, sob pena de ofensa ao art. 5°, XXXV, LIV e LV, da
CF/88. Defende que a inércia do defensor em se manifestar sobre as testemunhas
arroladas na defesa preliminar, bem como não apresentar recurso contra a sentença
condenatória do requerente, caracteriza cerceamento de defesa de cunho absoluto,
com grave prejuízo ao requerente diante de sua condenação criminal.
Em relação ao constrangimento ilegal por cerceamento de defesa, vale dizer que em
matéria de nulidade respeita-se o princípio do pas de nullité sans grief , concluindo-se
não haver nulidade sem prejuízo, ou seja, somente se proclama a nulidade de um ato
processual quando houver a efetiva demonstração de prejuízo, à luz do contido no art.
563 do CPP.
Especificamente em relação à deficiência de defesa no processo penal, a Súmula 523
do Supremo Tribunal Federal consagrou que:
Súmula 523, do STF: No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta,
mas a sua deficiência só o anulará se houve prova de prejuízo para o réu.
De tal forma, a defesa técnica deficiente só gerará a anulação do feito se for
demonstrada a prova do prejuízo para o réu.
Observa-se que na Defesa Preliminar de Marcos Terra Santana, seu advogado
constituído (Num. 4753 – Pág. 16) arrolou duas testemunhas de defesa (Num. 4753 –
Pág. 15):
1) José Aparecido de Oliveira
2) José Lairço de Oliveira
No decorrer do feito, a Defesa requereu a substituição da testemunha de defesa
falecida José Aparecido de Oliveira pela testemunha Luís Carlos dos Santos, já
arrolada pela acusação (Num. 4755 - Pág. 11).
Em que pese não seja possível visualizar entre os documentos constantes nos autos os
depoimentos em juízo das testemunhas arroladas pela defesa, estas prestaram
depoimento perante o Processo Administrativo Disciplinar, confirmando os fatos
narrados na denúncia.
José Lairço de Oliveira, perante a Delegacia de Polícia de Tomazina, declarou que
“(...) o depoente é proprietário do veículo FIAT/UNO, cujas placas ignora a qual seja,
veículo este, o qual encontra-se registrado em nome de terceiros, bem como, o
veículo encontra-se aprendido junto a Delegacia de Tomazina Pr há mais de dois anos;
(...) que em data a qual não se recorda, há cerca de um ano, o depoente fora
procurado pelo investigado junto a área rural onde trabalha, o qual mostrou
interessado em fazer a aquisição do motor do veículo FIAT UNO do depoente; que a
princípio o depoente disse que tinha a intenção de vender todo o veículo, para que
finalmente fosse solucionado o problema de sua apreensão, entretendo o processado
insistiu em comprar apenas o motor do veículo; que pelo fato do depoente possuir
pouco conhecimento, veio a indagar ao Policial Marcos Terra, ora processado, se não
havia problemas em vender apenas o motor, tendo então o processado frisado ao
depoente que poderia vender qualquer peça do veículo, sendo importante tão apenas
o chassi do veículo, o qual deveria ficar junto a Delegacia; (...)” (Num. 4759 – Págs.
12/13)
289

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Luís Carlos dos Santos prestou depoimento perante a Delegacia de Pinhalão,


asseverando: “(...) que o declarante na data de 19/06/2008 estava junto com a pessoa
conhecida por ‘Peleguinho’; que por volta das 09:00 hs o policial Marco Terra pediu
para o declarante e o ‘Peleguinho’ trocaram o motor de um veículo que estava na
Delegacia de Tomazina, pelo motor de seu carro; (...) que no local Marcos estava
esperando eles e mostrou um veículo Fiat/Uno que estava no pátio daquela Delegacia,
para ser retirado o motor; (...) que o declarante e ‘Peleguinho’ tiraram o motor original
do veículo de Marcos terra e colocaram o motor trazido de Tomazina; que Marcos
pediu para Valdecir guardar o seu motor e deixou marcado com o declarante e
‘Peleguinho’ para retornarem no sábado dia 21/06/2008 na Delegacia de Tomazina;
que no sábado iriam colocar o motor original do veículo de Marcos no veículo que
ficou sem motor na Delegacia de Tomazina; (...)” (Num. 4761 – Pág. 6).
Convém observar que a própria testemunha substituída, José Aparecido de Oliveira,
confirmou a prática delitiva perante a autoridade policial de Pinhalão, dispondo: “(...)
que o declarante estava junto com a pessoa de Luís Carlos na data de 19/06/2008;
que aproximadamente às 09:00 h o policial civil Marcos Terra encontrou o declarante e
Luís Carlos; que nesta ocasião ele pediu para que trocassem o motor de um veículo
que estava na Delegacia de Tomazina, pelo motor de seu carro; (...) que naquela
Unidade Policial Marcos estava lhe esperando; que após Marcos mostrar o veículo que
era para ser retirado o motor, Luís Carlos com a ajuda do declarante efetuaram o
serviço; (...)” (Num. 4761 – Pág. 17).
Mesmo considerando que José Lairço de Oliveira confirmou perante a autoridade
policial a versão do acusado de que adquiriu do particular o motor do carro, tal
situação foi devidamente ponderada pelo Juízo ao proferir a sentença condenatória,
destacando que (Num. 5233 – Pág. 18):
“Dessa forma, mesmo que o acusado tivesse efetuado a compra do motor não
poderia tê-lo retirado, pois o bem encontrava-se sob a responsabilidade do Estado,
somente sendo possível a retirada do motor quando o veículo retornasse para a posse
do dono.”
Assim, não se demonstra que a ausência de oitiva em juízo das testemunhas arroladas
pela defesa causou qualquer prejuízo ao acusado, posto que estas confirmaram os
fatos narrados na denúncia perante a autoridade policial.
Nesse mesmo sentido, em relação a não apresentação de recurso contra a sentença
condenatória, convém relembrar que incide sobre a teoria geral dos recursos o
princípio da voluntariedade, previsto no art. 574, do CPP, o qual dispõe que os
recursos serão voluntários.
De tal forma, a interposição de recurso não se faz imperativa, não evidenciando
cerceamento de defesa ou deficiência da defesa técnica pela ausência de interposição
de apelo pelo procurador.
É nesse sentido o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:
“RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA.
DEFICIÊNCIA DA DEFESA TÉCNICA NÃO COMPROVADA. TRÂNSITO EM JULGADO
DA CONDENAÇÃO. VOLUNTARIEDADE RECURSAL. RECURSO NÃO PROVIDO.

290

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

1. Nos termos da Súmula n. 523 do Supremo Tribunal Federal, “no processo penal, a
falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se
houver prova de prejuízo para o réu”.
2. A alegação de deficiência da defesa deve vir acompanhada de prova de inércia ou
desídia do defensor, causadora de prejuízo concreto à regular defesa do réu.
3. Não há falar em carência de defesa quando o patrocínio da causa, tanto o público
quanto o particular, não foi de tal ordem precário a ponto de considerar a recorrente
desassistida, pois a Defensoria Pública apresentou resposta à acusação e o advogado
particular, de sua livre escolha, acompanhou a audiência de instrução e ofereceu
alegações finais orais.
4. O fato de o defensor, no desempenho autônomo de sua tarefa e ante a
conveniência do caso concreto, ter deixado de arrolar testemunhas, de interferir na
colheita da prova oral com reperguntas e de recorrer não implica, de forma
automática, nulidade do processo por violação objetiva da defesa, pois tais atos não
são obrigatórios e a recorrente olvidou de demonstrar o real prejuízo sofrido e a
existência de tese recursal que pudesse ensejar a provável alteração do julgamento.
5. Não está caracterizada a deficiência da defesa técnica pela ausência, por si só, de
interposição de apelação criminal no prazo legal, pois, ante o princípio da
voluntariedade recursal, previsto no art. 574 do CPP, o defensor constituído não está
obrigado a recorrer e as partes, pessoalmente intimadas da sentença em audiência,
mantiveram-se inertes, não manifestando qualquer inconformismo com a condenação.
6. Recurso ordinário não provido. (STJ, RHC 39.788/SP, Rel. Ministro ROGERIO
SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julg. 12.02.2015, DJe 25.02.2015) (grifo nosso).
Destarte, não se verifica nenhuma prova eficaz do prejuízo do acusado, não havendo
que se falar em reconhecimento de nulidade do processo criminal, ou em ofensa aos
princípios do devido processo legal, direito de acesso à justiça, contraditório e ampla
defesa ou ofensa ao princípio da comunhão das provas.
Do Termo de Recurso
Sustenta pela inexistência do Termo de Recurso, que era necessário para comprovar
que foi disponibilizado ao réu o direito de se manifestar-se expressamente sobre o
recurso previsto em lei, conforme art. 600, §4°, do CPP, e item 6.13.2 do Código de
Normas, havendo nulidade material da intimação do réu em relação a sentença
condenatória.
Sobre o Termo de Recurso, o item 6.13.2 do Código de Normas da Corregedoria-
Geral da Justiça do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, Foro Judicial, dispõe
que:
“ 6.13.2 – No ato da intimação será perguntado ao réu se deseja recorrer e, sendo
afirmativa a resposta, lavrar-se-á o respectivo termo. ”
Da leitura do supracitado item, extrai-se que o Termo de Recurso será lavrado quando
o réu se manifestar afirmativamente que deseja recorrer.
Entretanto, na certidão constante nos autos, (Num. 5230 – Pág. 11), o Sr. Oficial de
Justiça certifica que procedeu a intimação de Marcos Terra Santana do conteúdo da
sentença, o qual ouviu e bem ciente ficou, não manifestando interesse em recorrer.

291

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Não há que se olvidar que a certidão exarada pelo Sr. Oficial de Justiça possui fé
pública, conforme já destacado por este E. Tribunal de Justiça:
“APELAÇÃO CRIME. SENTENÇA CONDENATÓRIA. CRIME DE POSSE ILEGAL DE
ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO E PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO
PERMITIDO. ALEGADA NULIDADE DA INTIMAÇÃO DO RÉU DA SENTENÇA
CONDENATÓRIA. OFICIAL DE JUSTIÇA POSSUIDOR DE FÉ PÚBLICA. AUSÊNCIA DE
PREJUÍZO. DIREITO A AMPLA DEFESA PRESERVADO.PEDIDO DE
DESCLASSIFICAÇÃO DA CONDUTA PARA O ARTIGO 14 DA LEI 10.826/03.
IMPOSSIBILIDADE. ARMA DE USO RESTRITO. PRÁTICA DELITUOSA CONFESSADA
PELO RÉU. AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS. PLEITO DE APLICAÇÃO
DO PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. CRIMES PRATICADOS EM
CONTEXTOS FÁTICOS DISTINTOS.IMPOSSIBILIDADE DE SUBSTITUIÇÃO DA PENA
PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVA DE DIREITOS. INTELIGÊNCIA DO
ARTIGO 44 DO CÓDIGO PENAL. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. ” (TJPR,
2ª C.Criminal, AC 1225071-0, Curitiba, Rel. José Carlos Dalacqua, Unânime, J.
10.12.2015).
De tal forma, não há qualquer elemento nos autos apto a afastar a fé pública a
declaração do Sr. Oficial de Justiça, não se verificando qualquer nulidade na Certidão
constante no Nº 5230, Pág.11.
Deste modo, a sentença condenatória, ao enquadrar o ora requerente como incurso
no art. 312, §1°, do CP, não contradiz o texto expresso da lei penal ou à evidencia dos
autos, igualmente não se fundamenta em depoimentos, exames ou documentos
comprovadamente falsos e inexiste provas novas, não merecendo ser revisada.
Da tutela antecipada
Pugna pela concessão dos efeitos da tutela antecipada para suspender os efeitos do
trânsito em julgado da sentença condenatória, com a possibilidade de apelar da
decisão.
Em que pese o procedimento da revisão criminal não possua previsão legal quanto a
concessão de antecipação de tutela, esta é admitida excepcionalmente.
Sobre o tema, a doutrina pátria assevera que:
“O CPP não prevê a possibilidade de concessão de liminar no procedimento da
revisão criminal. Normalmente, não teria cabimento a concessão de liminar, pois é
difícil uma situação em que se possa demonstrar o fumus boni iuris. Entre a afirmação
contida na petição inicial da revisão criminal e a sentença penal condenatória
transitada em julgado, em princípio, deve se dar prevalência à última.
Excepcionalmente, contudo, será cabível o pedido liminar, se presentes o fumus boni
iuris e o periculim in mora, aplicando-se, por analogia, as disposições do CPC sobre o
poder geral de cautela (CPC, art. 798), ou mesmo a antecipação de tutela (CPC, art.
273). ” [1]
Nesse sentido:
“REVISÃO CRIMINAL DE ACÓRDÃO. CRIME DE HOMICÍDIO QUALIFICADO (ART.
121, § 2º, INCISO IV, DO CP). CONDENAÇÃO PELO TRIBUNAL DO JÚRI,
CONFIRMADA EM GRAU DE RECURSO POR ESTE TRIBUNAL. ALEGAÇÃO DE
JULGAMENTO CONTRÁRIO À EVIDÊNCIA DOS AUTOS. PRETENSÃO DE
292

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RESTABELECER O DEBATE ACERCA DO CONJUNTO PROBATÓRIO. DECISÃO DO


JÚRI QUE SÓ PODE SER ABALADA QUANDO O VEREDICTO FOR VISIVELMENTE
CONTRÁRIO À PROVA DOS AUTOS.NÃO CARACTERIZAÇÃO. DELIBERAÇÃO DO
CONSELHO DE SENTENÇA APOIADO NO CONJUNTO PROBATÓRIO. AUSÊNCIA
DE PROVAS NOVAS. PLEITO LIMINAR DE SUSPENSÃO DO CUMPRIMENTO DA
PENA ATÉ O JULGAMENTO FINAL DA REVISÃO CRIMINAL. INVIABILIDADE.
EXISTÊNCIA DE CONDENAÇÃO DEFINITIVA, COM TRÂNSITO EM JULGADO.
POSSIBILIDADE DE CONCESSÃO DESDE QUE DEMONSTRADO O RISCO DE
DEMORA DO PROVIMENTO E A RAZOÁVEL PROBABILIDADE DE GRAVAME A
DIREITO DO REQUERENTE. HIPÓTESE, TODAVIA, QUE NÃO SE SUBSOME AOS
AUTOS. RECURSO NÃO CONHECIDO. Tratando-se de decisão do Júri, a revisão é
pertinente quando a sentença se apresente manifesta e indiscutivelmente contrária à
prova dos autos. Primeiro, porque o veredicto do Júri, por se revestir da garantia
constitucional da soberania, só poderá ser anulado quando proferido de forma
arbitrária, absolutamente distorcida de prova. Segundo, porque a própria natureza da
revisão sempre pressupõe julgamento contrário à evidência da prova.” (TJPR, 2ª C.
Criminal em Comp.Int., RCACI 1321209-0, Curitiba, Rel. José Mauricio Pinto de
Almeida, Unânime, J. 07.05.2015) (grifo nosso).
Entretanto, no caso em tela, não se verifica os requisitos necessários para concessão
de tutela antecipada para suspender os efeitos do trânsito em julgado da sentença
condenatória ante a ausência de verossimilhança das alegações.
Isto, pois, o requerente foi condenado por sentença transitada em julgado, após
regular tramitação processual, sendo observado o devido processo legal, bem como
os princípios da ampla defesa e contraditório, estando a decisão devidamente
fundamentada para condenar o ora requerente como incurso nas sanções do art. 312,
§1°, do CP.
Da pena
Em que pese não tenha sido objeto de pedido de revisão criminal o quantum da pena
imposta deve ser revisado de ofício.
Da análise da sentença, extrai-se que foi valorada negativamente a conduta social sem
que houvesse a devida fundamentação, sendo destacado tão somente que (Num.
5233 – Pág. 19):
“c) o acusado não apresenta boa CONDUTA SOCIAL, conforme se verifica nos
autos;”
A conduta social deve ser entendida como o comportamento do agente no meio
social, familiar ou profissional, não podendo ser confundida com os antecedentes ou a
reincidência. De tal forma, a majoração da pena em 03 (três) meses de reclusão pela
valoração negativa da circunstância judicial da conduta social encontra-se em ofensa
ao artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal, não mostrando o magistrado os
motivos que levaram a considerar que o acusado apresenta mal relacionamento social.
Sobre o tema, este E. Tribunal de Justiça já se manifestou pela possibilidade de se
afastar de ofício em revisão criminal circunstância judicial valorada negativamente
erroneamente. Veja-se:

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“ REVISÃO CRIMINAL DE ACÓRDÃO - HOMICÍDIO QUALIFICADO (ARTIGO 121,


§2º, INCISOS I E IV, DO CÓDIGO PENAL) E CORRUPÇÃO DE MENORES (ARTIGO
244-B DA LEI Nº 8.069/90) - ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO DA
SENTENÇA QUANTO À DOSIMETRIA - INOCORRÊNCIA - DECISÃO
CORRETAMENTE FUNDAMENTADA - DOSIMETRIA DA PENA - PLEITO DE
AFASTAMENTO DA CIRCUNSTÂNCIA JUDICIAL DOS ANTECEDENTES -
POSSIBILIDADE - ACOLHIMENTO E, DE OFÍCIO, EXCLUÍDA A CONDUTA SOCIAL
DESFAVORÁVEL E A ATENUANTE DA MENORIDADE RELATIVA PARA AMBOS OS
CRIMES - AFASTADA A CIRCUNSTÂNCIA JUDICIAL DA CULPABILIDADE QUANTO
AO CRIME DE CORRUPÇÃO DE MENORES - IMPOSSIBILIDADE DE SE UTILIZAR DOS
ELEMENTOS DO PRÓPRIO CONCEITO DE CRIME PARA O AGRAVAMENTO DA
PENA - DOSIMETRIA DA PENA REFORMADA - PEDIDO REVISIONAL CONHECIDO E
JULGADO PARCIALMENTE PROCEDENTE.” (TJPR, 2ª C.Criminal em Comp.Int.,
RCACI 1275984-7, Cornélio Procópio, Rel. José Carlos Dalacqua, Unânime, J.
04.12.2014) (grifo nosso).
“REVISÃO CRIMINAL - CONDENAÇÃO POR ROUBO MAJORADO PELO
CONCURSO DE AGENTES E USO DE ARMA DE FOGO - ART.157, §2º, INCS. I E II,
DO CP - PRETENSÃO DE AFASTAMENTO DA AGRAVANTE DA REINCIDÊNCIA SOB
O FUNDAMENTO DE INCONSTITUCIONALIDADE DO INSTITUTO -
INADMISSIBILIDADE - NÃO OCORRÊNCIA DE BIS IN IDEM - PLEITO PELO
DESBASTE DO AUMENTO REFERENTE ÀS CONSEQUÊNCIAS DO CRIME -
FUNDAMENTAÇÃO INSUFICIENTE QUANTO AO IMPACTO DA NÃO
RECUPERAÇÃO DA RES NO PATRIMÔNIO DA VÍTIMA - PENA-BASE FIXADA NO
MÍNIMO LEGAL - TERCEIRA FASE DA DOSIMETRIA PENAL - ALTERAÇÃO EX
OFFICIO - CÔMPUTO INDEVIDO - CAUSAS ESPECIAIS DE AUMENTO - FALTA DE
FUNDAMENTAÇÃO - REDUÇÃO NECESSÁRIA - REVISÃO JULGADA PARCIALMENTE
PROCEDENTE, COM DIMINUIÇÃO, DE OFÍCIO DA PENA FIXADA. a). Reconhecida a
reincidência, a sua não aplicação implicaria em negar vigência ao artigo 61, inciso I, do
Código Penal, dispositivo plenamente recepcionado pelo ordenamento jurídico
vigente, além de ofensa aos princípios da isonomia e da individualização da pena, pois
se estaria igualando situações pessoais desiguais, ou seja, criminoso contumaz (que
possui condenação transitada em julgado), ao criminoso primário (que nunca
delinquiu).” (TJPR, 3ª C.Criminal em Comp.Int., RCACI 1130994-9, Santo Antônio da
Platina, Rel. José Cichocki Neto, Unânime, J. 15.10.2015) (grifo nosso).
Portanto, faz necessário efetuar a correção da pena de ofício, ante a ausência de
motivação idônea para a elevação da pena base, restando, por consequência, a pena
privativa de liberdade em 02 (dois) anos de reclusão.
Da assistência judiciária gratuita
Requer o deferimento de assistência judiciária gratuita, com fulcro no art. 5º, inciso
LXXIV, da CF e Lei n° 1.060/50.
Contudo, o presente pedido não merece ser conhecido.
O pedido do benefício deve ser feito ao Juízo da Execução, o qual é o competente
para apreciar as condições financeiras do ora requerente, e a possibilidade de arcar ou

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não com as despesas processuais sem o prejuízo do sustento próprio ou da sua


família.
Nesse sentido:
“ REVISÃO CRIMINAL - HOMICÍDIO DUPLAMENTE QUALIFICADO - APLICAÇÃO DA
PENA - SEGUNDA QUALIFICADORA QUE PODE SER CONSIDERADA COMO
AGRAVANTE, VEZ QUE PREVISTA COMO TAL - MAUS ANTECEDENTES E
REINCIDÊNCIA VALORADOS EM DECORRÊNCIA DE PROCESSOS DISTINTOS -
INEXISTÊNCIA DE BIS IN IDEM - COMPENSAÇÃO DA AGRAVANTE DA
REINCIDÊNCIA E A ATENUANTE DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA - POSSIBILIDADE -
REDUÇÃO DA REPRIMENDA - BENEFÍCIO DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA -
VIA IMPRÓPRIA - QUESTÃO A SER APRECIADA PELO JUÍZO DA EXECUÇÃO -
PEDIDO PARCIALMENTE CONHECIDO E JULGADO PARCIALMENTE PROCEDENTE
NA PARTE QUE CONHECE.1. Presentes duas qualificadoras, uma deve ser utilizada
para qualificar o delito e a outra poderá ser considerada, na primeira fase de aplicação
da pena, como circunstância negativa ou, na segunda fase dosimétrica, como
agravante, quando prevista no art. 61 do CP.2. Existindo duas condenações transitadas
em julgado, é permitido ao julgador utilizar-se da primeira no exame das
circunstâncias judiciais, como maus antecedentes, e a outra para reconhecer a
agravante da reincidência, sem que isso importe em bis in idem. 3. É possível a
compensação entre a agravante da reincidência e a atenuante da confissão
espontânea. Precedentes do E. Superior Tribunal de Justiça. ” (TJPR, 1ª C.Criminal em
Comp.Int., RCS 1332812-4, Campina da Lagoa, Rel. Campos Marques, Unânime, J.
13.08.2015) (grifo nosso).
“ REVISÃO CRIMINAL DE SENTENÇA - TRÁFICO DE DROGAS - ART. 33 DA LEI Nº
11.343/06 - INTENÇÃO DE REVISÃO DE PENA - MAJORAÇÃO DA PENA-BASE EM
RAZÃO DA NATUREZA E QUANTIDADE DE DROGA APREENDIDA - INTELIGÊNCIA
DO ART. 42 DA LEI Nº 11.343/06 - FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA - PLEITO DE
APLICAÇÃO DA CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA DO §4º DO ART. 33 DA LEI Nº
11.343/06 - REQUERENTE QUE SE DEDICA A ATIVIDADE CRIMINOSA -
IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DO BENEFÍCIO - REGIME INICIAL DE
CUMPRIMENTO DE PENA QUE COMPORTA ALTERAÇÃO - PEDIDO DE
ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA QUE DEVE SER APRECIADO DIANTE O JUÍZO
DA EXECUÇÃO - AÇÃO PARCIALMENTE PROCEDENTE.” (TJPR, 3ª C.Criminal em
Comp.Int., RCS 1271376-9, Região Metropolitana de Londrina - Foro Regional de
Ibiporã, Rel. José Cichocki Neto, Unânime, J. 04.12.2014).
Assim, não merece ser conhecido o presente pedido.
Nestas condições, impõe-se conhecer parcialmente do pedido, e na parte conhecida
julgar improcedente, revisando-se, de ofício, a pena imposta, para afastar a
circunstância judicial da conduta social.
ANTE O EXPOSTO , acordam os Desembargadores integrantes da 2ª Câmara
Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em
conhecer parcialmente da revisão criminal, e na parte conhecida julgar improcedente o
pedido, e de ofício readequar a pena definitiva.

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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

O julgamento foi presidido pelo Desembargador Laertes Ferreira Gomes (sem voto) e
dele participou o Desembargador José Mauricio Pinto de Almeida e José Carlos
Dalacqua e o Juiz Substitutos Segundo Grau Marcio José Tokars.
Curitiba, 30 de junho de 2016.
Des. Luís Carlos Xavier - Relator
[1] BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy. Processo Penal. 2. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2014, p. 700/701

2.3.2. REINCIDÊNCIA E FIXAÇÃO DE REGIME DE PENA MAIS GRAVOSO

APELAÇÃO CRIME - ARTIGOS 330 DO CÓDIGO PENAL E 309 DO CÓDIGO DE

TRÂNSITO - REGIME INICIAL DE SEMIABERTO DE CUMPRIMENTO DE PENA -

ALTERAÇÃO PARA O REGIME ABERTO - NÃO CABIMENTO - ACUSADO

REINCIDENTE - ART. 33, § 2°, "C", DO CÓDIGO PENAL - RECURSO

DESPROVIDO.Considerando a reincidência do acusado, não admite reparo a sentença

que fixou o regime semiaberto para início de cumprimento da pena, nos termos do

artigo 33, § 2°, "c", do Código Penal.

(TJPR - 2ª C.Criminal - AC - 1645365-1 - Matelândia - Rel.: Luís Carlos Xavier -

Unânime - J. 29.06.2017)

Inteiro Teor

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Crime nº 1645365-1, de


Matelândia - Vara Criminal, Família e Sucessões, Infância e Juventude e Juizado
Especial Criminal, em que é Apelante Valter de Freitas Rodrigues e Apelado o
Ministério Público do Estado do Paraná.
Trata-se de recurso de Apelação interposto contra a sentença (mov. 18.1) proferida
nos autos 0000168-39.2014.8.16.0115 de Ação Penal que julgou procedente a
denúncia, condenando Valter de Freitas Rodrigues como incurso nas sanções do artigo
330 do Código Penal e artigo 309 da Lei 9.503/97, fixando-lhe a pena definitiva de 07
(sete) meses, 17 (dezessete) dias de detenção e 22 (vinte e dois) dias- multa, em
regime semiaberto.
Inconformado, Valter de Freitas Rodrigues interpôs recurso de Apelação (mov. 43.1),
pleiteando a reforma da sentença, para o fim de aplicar o regime inicial aberto de
cumprimento de pena.
Em contrarrazões, o Apelado pugnou pelo desprovimento do recurso (mov. 46.1).

296

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

A douta Procuradoria Geral de Justiça opinou pelo desprovimento do recurso (fls.


10/15).
É o relatório.
VOTO
O Apelante assevera que deve incidir o regime inicial aberto para o cumprimento da
pena.
A pretensão recursal não admite acolhimento.
A propósito do regime de cumprimento de pena, o artigo 33 do Código Penal
estabelece que:
“Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou
aberto. A de detenção, em regime semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de
transferência a regime fechado.
(...) § 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma
progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes critérios e
ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso:
a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime
fechado;
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não
exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semiaberto;
c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos,
poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto”.
Extrai-se das informações processuais (mov. 4.1) que o Apelante é reincidente, não
sendo, portanto, admitida a fixação do regime aberto, nos termos do art. 33, § 2º,
alínea “c”, do Código Penal.
Neste sentido:
“PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO
EM RECURSO ESPECIAL.
EMBRIAGUEZ AO VOLANTE. ART. 306, CAPUT, DO CÓDIGO DE TRÂNSITO
BRASILEIRO. CRIME DE PERIGO ABSTRATO.
DESNECESSIDADE DE DEMONSTRAÇÃO DE POTENCIALIDADE LESIVA NA
CONDUTA. COMPROVADA A CONCENTRAÇÃO DE ÁLCOOL MAIOR QUE A
PERMITIDA POR LEI. RECONHECIDA A TIPICIDADE DA CONDUTA.
CONDENADO REINCIDENTE. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DO REGIME
ABERTO PARA CUMPRIMENTO INICIAL DA PENA. AGRAVO IMPROVIDO.
(...) 2. O entendimento adotado pela Corte a quo de que, para os fatos dos autos, que
datam de 2010, basta o perigo abstrato para a incidência do tipo previsto no art. 306
do CTB não destoa da orientação jurisprudencial do STJ.
Precedentes.
3. Conquanto ao réu, condenado pela prática do crime de embriaguez ao volante,
tenha sido aplicada pena inferior a 4 anos de reclusão, o fato de ser reincidente
impede a aplicação do regime aberto para início de cumprimento da pena.
4. Agravo regimental improvido.” (STJ, AgRg nos EDcl no AREsp 607.973/SP, Rel.
Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, DJe 29.06.2015).

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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

“APELAÇÃO CRIME. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE (ART. 306, §1º, I, DA LEI N.º


9.503/97). PLEITO PELA ALTERAÇÃO DO REGIME APLICADO EM SENTENÇA.
DESCABIMENTO. PEDIDO DE COMPENSAÇÃO ENTRE A ATENUANTE DA
CONFISSÃO ESPONTÂNEA E A AGRAVANTE DA REINCIDÊNCIA.
IMPOSSIBILIDADE. COMPENSAÇÃO JÁ OPERADA EM PRIMEIRO GRAU.
PLURALIDADE DE REINCIDÊNCIAS.
REQUERIMENTO DE NÃO SUSPENSÃO DA HABILITAÇÃO PARA DIRIGIR VEÍCULO
AUTOMOTOR, SOB O ESTEIO DE QUE É DA FUNÇÃO DE MOTORISTA QUE
PROVÉM O SUSTENTO DA FAMÍLIA DO RÉU.NÃO ACOLHIMENTO.
MEDIDA PREVISTA NO TIPO PENAL, DEVENDO SER APLICADA
CUMULATIVAMENTE À PENA CORPORAL.
RECURSO DESPROVIDO.1. É correta a aplicação do regime semiaberto ao réu
reincidente condenado à pena inferior a quatro anos, nos termos da lei e da
jurisprudência. (...)” (TJPR, 2ª C.Criminal, AC 1373242-8, Região Metropolitana de
Maringá, Foro Central de Maringá, Rel. Marcio José Tokars, Unânime, J. 17.09.2015).
Portanto, impõe-se manter o regime inicial semiaberto de cumprimento da pena,
conforme estabelecido na sentença condenatória.
Nestas condições, nega-se provimento ao recurso, nos termos da fundamentação.
ANTE O EXPOSTO, acordam os Desembargadores integrantes da 2ª Câmara Criminal
do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar
provimento ao recurso.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador Luís Carlos Xavier (com voto) e dele
participaram os Juízes Substitutos em Segundo Grau Mauro Bley Pereira Junior e
Marcel Guimarães Rotoli de Macedo.
Curitiba, 29 de junho de 2017.
Des. Luís Carlos Xavier ­ Relator

2.3.3. CRIME AMBIENTAL – SUPRESSÃO DE ARAUCÁRIAS

APELAÇÃO CRIMINAL - CRIME AMBIENTAL - SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO NATIVA

EM ESTAGIO AVANÇADO DE REGENERAÇÃO DO BIOMA MATA ATLÂNTICA,

DANIFICAR ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (ARTS. 38, 38-A C/C 53, II, "C",

TODOS DA LEI 9605/98) - PROCEDÊNCIA PARCIAL.APELO DO ACUSADO - 1.

ATIPICIDADE DA CONDUTA - INOCORRÊNCIA - COMPROVAÇÃO DE SUPRESSÃO

DE ARAUCÁRIAS POR PARTE DO ACUSADO SEM AUTORIZAÇÃO - RECURSO

DESPROVIDO.1. No caso restou incontroverso o corte dos 14 pinheiros, fato este

corroborado pela prova testemunhal acostadas aos autos e demais provas produzidas.

E a negativa de autoria é prova isolada nos autos, vez que o conjunto probatório
298

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

comprova que foi o acusado o responsável pelo corte dos pinheiros descritos na

denúncia. Apelação Crime nº 1.642.038-72

(TJPR - 2ª C.Criminal - AC - 1642038-7 - Imbituva - Rel.: Luís Carlos Xavier - Unânime -

J. 29.06.2017)

Inteiro Teor

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Crime nº 1642038-7, de


Imbituva - Juízo Único, em que é Apelante Renato Scheidt e Apelado Ministério
Público do Estado do Paraná.
Trata-se de Apelação interposta contra a sentença (fls. 292/302, mov. 94.1) proferida
nos autos n° 0001138- 11.2014.8.16.0092 de Ação Penal que julgou parcialmente
procedente a denúncia para CONDENAR o réu RENATO SCHEIDT, já qualificado, nas
sanções do artigo 38-A c/c 53, inciso II, alínea “c” e ABSOLVÊ-LO do artigo 38, todos
da Lei nº 9.605/1998, nos termos do art. 386, II, do CPP.
Fixando a pena para o delito previsto no artigo 38-A, c/c 53, ambos da Lei 9.605/1998
em 1 (um) ano, 4 (quatro) meses e 10 (dez) dias de detenção e 12 (doze) dias-multa, no
valor o dia de 1/30 do salário mínimo vigente à época do fato, a ser cumprida em
regime semiaberto.
Condenando o acusado ao pagamento das custas processuais.
O apelante Renato Scheidt, inconformado com a sentença interpôs recurso de
apelação (fls. 330/337, mov. 113.1) alegando que restou comprovado nos autos a clara
atipicidade da conduta, não podendo ser responsável pelo delito disposto no Fato 01,
vez que o recorrente era irmão da real proprietária do imóvel onde os cortes foram
efetivados, a qual faleceu em data de 24.12.2012.
Relata que em momento algum, efetivou qualquer corte de araucárias, uma porque
tem plena ciência da proibição do referido corte, e outra, porque foi ele mesmo quem
solicitou o corte e vistoria das árvores para a COPEL, tendo tomado todos os cuidados
possíveis para a efetivação do corte, o qual foi feito pela própria COPEL
DISTRIBUIÇÃO S/A, destacando-se que o acusado, não teve qualquer contato ou
participação para com esse referido corte.
Requer seja conhecido e provido o recurso, reconhecendo-se a atipicidade da
conduta relativa ao Fato 01, nos moldes do artigo 386, III do Código de Processo
Penal.
O representante do Ministério Público do Estado do Paraná apresentou contrarrazões
(fls. 341/345, mov. 116.1), postulando o conhecimento e desprovimento do recurso.
Nesta instância, a Douta Procuradoria Geral de Justiça exarou parecer (fls. 10/15-TJ)
pelo conhecimento e desprovimento do apelo.
É o relatório.
VOTO
Presentes os pressupostos de admissibilidade é de se conhecer o recurso.
O recurso não merece provimento.
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Da conduta
Alega que restou comprovado nos autos a clara atipicidade da conduta, não podendo
ser responsável pelo delito disposto no Fato 01.
Sem razão.
Inicialmente necessário consignar-se que não se questiona a materialidade delitiva,
sendo esta incontroversa, insurgindo-se apenas o apelante quanto a autoria dos fatos.
Consta na denúncia quanto ao 1º Fato no qual o acusado foi condenado:
“1º Fato:
No dia 23 de junho de 2013, por volta das 14:30 horas, em propriedade situada na
localidade de Povoado Floresta ­ Km 12 (coordenadas 22J05400449 UTM 7198894),
zona rural do Município e Imbituva ­ Estado do Paraná, a fiscalização ambiental
constatou que o ora denunciado RENATO SCHEIDT, consciente da ilicitude e
reprovabilidade de sua conduta, suprimiu vegetação nativa em estágio avançado de
regeneração, do Bioma Mata Atlântica, procedendo ao corte de 14 (quatorze)
pinheiros araucária angustifolia, espécie protegida por lei e ameaçada de extinção, nos
termos da Portaria nº 37/92, expedida pelo IBAMA ­ Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis sem autorização do órgão ambiental
competente e em desacordo com determinação legal e regulamentar (conforme
Boletim de Ocorrência nº 2013/614934 ­ fls.
06/08 e fotografias de fls. 10).”
Os artigos 38-A e 53, ambos da Lei nº 9.605/98 estabelecem que:
“Art. 38-A. Destruir ou danificar vegetação primária ou secundária, em estágio
avançado ou médio de regeneração, do Bioma Mata Atlântica, ou utilizá-la com
infringência das normas de proteção:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, ou multa, ou ambas as penas
cumulativamente.
Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.
Art. 53. Nos crimes previstos nesta Seção, a pena é aumentada de um sexto a um
terço se: (...)
II - o crime é cometido: (...)
c) contra espécies raras ou ameaçadas de extinção, ainda que a ameaça ocorra
somente no local da infração; (...)”
Assim, tem-se que para a configuração dos delitos é necessário que haja destruição e
danificação de vegetação primária ou secundária, em estágio avançado ou médio de
regeneração (art. 38-A), e ainda que as espécies afetadas sejam raras ou ameaçadas
de extinção (art. 53).
No presente caso, consoante descrito no Boletim de Ocorrência (mov. 1.5), verifica-se
a narrativa de ocorrência de dano ao meio ambiente, consubstanciado no corte de 14
pinheiros araucária angustifólia (espécie protegida por lei e ameaçada de extinção, nos
termos da Portaria nº 37/92 do IBAMA ­ Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis).
Assim, restou incontroverso o corte dos 14 pinheiros, fato este corroborado pela
prova testemunhal acostadas aos autos e demais provas produzidas. Esclarece-se que
por se tratar do corte de árvores de espécie conhecida (araucária angustifólia), a
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perícia neste caso, revela-se desnecessária, na medida em que não seria possível
confundir-se acerca da espécie que foi efetivamente cortada. E ainda por este mesmo
motivo, perfeitamente aplicável ao caso a causa de aumento prevista no artigo 53, II,
“c” da Lei 9.605/98, que diz respeito ao corte de espécies raras ou ameaçadas de
extinção, como é o caso da araucária angustifólia.
No tocante a autoria esta também é certa e recai sobre o apelante.
Em seu depoimento extrajudicial o acusado afirma que é responsável pela
propriedade situada no KM 12, que pertence a sua falecida irmã, e que os funcionários
da Copel cortaram 14 pinheiros que estavam debaixo do fio de luz (fls. 23, mov. 1.7).
Em juízo em seu interrogatório afirma que: “Que os pinheiros foram cortados embaixo
da linha da Copel; que o terreno era da sua irmã; que a COPEL cortou estes pinheiros;
que os fiscais ambientais foram até a casa do declarante; que a irmã do declarante é
falecida; que o declarante mora no terreno; que existe uma vertente de água apenas
quando chove muito; que não é o curso de uma nascente; que existe uma `sanga’;
questionado sobre as fotos de mov. 1.5 relatou que as fotos são dos pinheiros abaixo
dos fios da COPEL (...); (...) Que a COPEL corta os pinheiros bem `baixos’ quase no
`toco’; que fazem aproximadamente cinco ou seis anos que o corte foi efetuado; que
foi até a COPEL pedir um relatório de como estes cortes foram feitos.” (sentença, fls.
295)
O policial Jonas Luiz Grossi em juízo declarou que: “(...) a partir de denúncia
ambiental, deslocou-se até o local onde foi constatado o corte de pinheiros (...); que
foi elaborado o Boletim de Ocorrência, que cópia deste boletim foi encaminhado a
Promotoria de Imbituva e também elaborado ofício ao IAP; (...) que o Sr. Renato teria
dito que era o responsável pelo local e pelo dano; que foi a primeira vez que atendeu
uma ocorrência relacionada ao denunciado.” (sentença, fls.
296)
Por sua vez oficiada a Copel esta informou que “foi executada limpeza de faixa sob a
rede de distribuição de energia na região de Floresta no Município de Imbituva. Foram
cortados arvores de madeira branca e pinheiro que estavam próximo a rede e
poderiam causar acidentes.” (fls. 67, mov. 1.26) e depois de questionada para
esclarecer melhor o que tinha acontecido na data dos fatos novamente a Copel
esclareceu que: “Conforme solicitado, através do ofício nº 2415/2014, informamos que
estivemos realizando limpeza de faixa sob a rede de distribuição de energia elétrica
que passa pela propriedade do sr. Renato Scheidt, sendo que o serviço foi realizado
em 2013. O que foi realizado na propriedade? Limpeza de mata nativa, madeira
branca, corte de dois (02) pinheiros araucária e limpeza de vegetação rasteira, sendo
que a faixa de limpeza, conforme estabelecido pela legislação, é de 7,5 metros para
cada lado da rede, partindo do centro da mesma.
Ainda em 2013, o proprietário Sr. Renato, entrou em contato solicitando uma
averiguação no local devido ao serviço realizado, deslocamos ao local uma equipe da
Copel para averiguar a situação e constatamos que fora da faixa de 15 metros, haviam
outros pinheiros derrubados, em grande número. Desta forma, foi emitida uma ATA
de visita com o levantamento das quantidades que estavam derrubadas, isso na
presença do proprietário; data da visita 26.06.2013. Já no ano de 2014 o proprietário
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esteve em nosso escritório solicitando que a Copel expedisse carta ao Instituto


Ambiental do Paraná ­ IAP. Então emitimos uma correspondência sendo que na
mesma constava que fizemos a limpeza apenas dentro dos limites legais, sendo que as
árvores fora da faixa não foram derrubadas pela Copel.” (fls. 135, mov. 28.1)
E o IAP também informou que no local dos fatos não foi encontrado vestígios do
corte dos pinheiros uma vez que já se passou mais de um ano da data da constatação
pela Polícia Ambiental, existindo atualmente (16.12.2014) uma área agrícola
consolidada. E ainda que não encontraram em seus sistemas autorização para o corte
de pinheiros em nome de Renato Scheidt. (fls. 147, mov. 35.1)
Desta feita verifica-se que a negativa de autoria é prova isolada nos autos, vez que o
conjunto probatório comprova que foi o acusado o responsável pelo corte dos
pinheiros descritos na denúncia. Destaque-se que o acusado não nega que era o
responsável pela área na época dos fatos, afirmando apenas que a proprietária de fato
era sua falecida irmã.
A sentença bem esclareceu a questão:
“(...) em resposta ao Ofício n° 2415/2014, a Companhia Paranaense de Energia
(COPEL), informou que, em 2013, foi feita a limpeza de faixa sob a rede de distribuição
de energia elétrica que passa pela propriedade do Sr. Renato Scheidt, sendo realizado
limpeza de mata nativa, madeira branca, corte de 02 (dois) pinheiros araucária e
limpeza de vegetação rasteira.
Ainda, em averiguação no local, constatou-se que fora da faixa de 15 metros, haviam
outros pinheiros derrubados, em grande número, razão pela qual elaborou-se uma
ATA, na presença do proprietário, com o levantamento das quantidades derrubadas.
Frise-se, ainda, que foi emitido pela Companhia Paranaense de Energia, uma
correspondência ao Instituto Ambiental do Paraná - IAP, informando acerca da limpeza
de faixa realizada dentro dos limites legais, bem como da existência de árvores fora da
faixa, não derrubadas pela COPEL.
Assim, não merece prosperar a tese arguida pela defesa acerca da atipicidade da
conduta do agente, haja vista que restou demonstrado o corte de 12 pinheiros
araucárias na propriedade do acusado.
Desta forma, não restam dúvidas que o réu Renato Scheidt, praticou o crime previsto
no artigo 38-A, “caput”, c/c artigo 53, inciso II, alínea “c” da Lei n° 9.605/1998 (1°
Fato) (...).” (fls. 296)
Desta maneira não há que se falar em atipicidade da conduta, tampouco em
insuficiência probatória, eis que a prova dos autos é adequada a comprovar que o
apelante praticou o crime de supressão de vegetação nativa em estágio avançado de
regeneração do Bioma Mata Atlântica (art. 38-A, da Lei 9.605/1998), mormente que
nos termos do artigo 156, primeira parte, do Código de Processo Penal, a prova da
alegação incumbirá a quem a fizer, não tendo a defesa logrado êxito em comprovar a
veracidade de suas afirmações, ao passo que a acusação logrou comprovar a autoria e
materialidade do delito pelo qual o acusado foi denunciado.
Do cumprimento imediato da pena
Conforme o entendimento do Ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Savaski, a
manutenção da sentença penal pela segunda instância encerra a análise de fatos e
302

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provas que assentaram a culpa dos condenados, o que autoriza o início da execução
da pena.
Pelo que para ele, até que seja prolatada a sentença penal, confirmada em segundo
grau, deve-se presumir a inocência do réu. Mas, após esse momento, exaure-se o
princípio da não culpabilidade, até porque os recursos cabíveis da decisão de segundo
grau ao Superior Tribunal de Justiça ou Supremo Tribunal Federal não se prestam a
discutir fatos e provas, mas apenas matéria de direito.
Assim, é de se determinar após o decurso do prazo do recurso ordinário nesta
instância, de imediato, o início da execução da pena, de acordo com o entendimento
proclamado pelo colendo Supremo Tribunal Federal, ao julgar o Habeas Corpus nº
126.292/SP.
Nestas condições, nega-se provimento ao recurso, tudo nos termos da
fundamentação.
ANTE O EXPOSTO, acordam os Desembargadores integrantes da 2ª Câmara Criminal
do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar
provimento ao recurso.
Determinando-se, após o decurso do prazo do recurso ordinário nesta instância, a
imediata expedição de mandado de prisão do condenado, pelo juiz do processo, para
o início da execução provisória da pena imposta, podendo a Seção Criminal
encaminhar as peças necessárias à expedição de guia de recolhimento, com a
imediata remessa de cópia deste acórdão via Mensageiro ao prolator da sentença.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador Luís Carlos Xavier (com voto) e dele
participaram os Juízes Substitutos em Segundo Grau Mauro Bley Pereira Junior e
Marcel Guimarães Rotoli de Macedo.
Curitiba, 29 de junho de 2017.
Des. Luís Carlos Xavier ­ Relator

2.3.4. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE E DIREÇÃO SEM HABILITAÇÃO

APELAÇÃO CRIMINAL - EMBRIAGUEZ AO VOLANTE E DIREÇÃO INABILITADA -

PARCIAL PROCEDÊNCIA DA DENÚNCIA - CONDENAÇÃO NAS SANÇÕES DO

ART.306, C/C ART. 298, III, DO CTB - APELO DA DEFESA - 1.PLEITO ABSOLUTÓRIO -

INVIABILIDADE - AUTORIA E MATERIALIDADE SOBEJAMENTE COMPROVADAS -

ESTADO DE EMBRIAGUEZ EVIDENCIADO - EXAME BAFOMÉTRICO

CORROBORADO PELA CONFISSÃO DO ACUSADO E PALAVRAS DOS POLICIAIS -

CRIME PREVISTO NO ART. 306 DO CTB PRATICADO NA VIGÊNCIA DA LEI

12.760/2012 - INCIDÊNCIA DA AGRAVANTE DO ART. 298, III, DO CTB - 2. PEDIDO

DE REDUÇÃO DA REPRIMENDA PROVISÓRIA EM RAZÃO DA ATENUANTE DA

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CONFISSÃO ESPONTÂNEA - IMPOSSIBILIDADE DE DIMINUIÇÃO EM MAIOR

PATAMAR DO QUE O JÁ APLICADO - 3. SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE

LIBERDADE POR DUAS RESTRITIVAS DE DIREITOS - COMPARECIMENTO MENSAL

EM JUÍZO - MODALIDADE NÃO PREVISTA EM LEI - INOBSERVÂNCIA AO CONTIDO

NO ART. 43 DO CP - AFASTAMENTO, EX OFFICIO - PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À

COMUNIDADE - SANÇÃO IGUAL A 06 (SEIS) MESES - INTELIGÊNCIA DO Apelação

Crime nº 1.640.950-02ART. 46 DO CP - FIXAÇÃO, DE OFÍCIO, DE PRESTAÇÃO

PECUNIÁRIA - 4. DEFERIMENTO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS EM RAZÃO DA

APRESENTAÇÃO DO RECURSO DE APELAÇÃO - DEFENSOR DATIVO - CABIMENTO

- 5. ISENÇÃO DAS CUSTAS PROCESSUAIS - JUSTIÇA GRATUITA - NÃO

CONHECIMENTO - COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA EXECUÇÃO - RECURSO

PARCIALMENTE CONHECIDO, E NA PARTE CONHECIDA, DESPROVIDO,

DEFERINDO-SE OS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS PELA APRESENTAÇÃO DAS

RAZÕES RECURSAIS, ADEQUANDO-SE, DE OFÍCIO, A PENA RESTRITIVA DE

DIREITOS.1. Em tendo o conjunto probatório revelado que o acusado conduzia

veículo automotor em via pública com concentração de 0,68 miligramas de álcool por

litro de ar alveolar, a manutenção da condenação pelo delito previsto no art. 306 do

CTB é medida que se impõe.1.1. "O crime do artigo 306 do Código de Trânsito

Brasileiro é de perigo abstrato, dispensando-se a demonstração da efetiva

potencialidade lesiva da conduta daquele que conduz veículo em via pública com a

concentração de álcool por litro de sangue maior do que a admitida pelo tipo penal"

(STJ - 5ª T., HC 302.545/DF, Rel. Ministro Jorge Mussi, DJe 14.10.2014).2. "O debate

sobre a redução da pena aquém do mínimo legal restou superado pela pacificação do

tema com a edição da Súmula 231 do Superior Tribunal de Justiça. Apelação Crime nº

1.640.950-03Fixadas as margens mínima e máxima pelo legislador, e estabelecida a

pena em seu grau mínimo, não pode ela ser reduzida aquém do quantum punitivo

previsto, não obstante a existência de atenuantes, sob pena de se incorrer em ofensa

ao princípio da legalidade" (TJPR - 2ª C.Criminal, AC 1259430-4, Curitiba, Rel. José

Mauricio Pinto de Almeida, Unânime, J. 26.02.2015).3. Na substituição da pena

304

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privativa de liberdade por restritiva de direitos, há que ser observado o rol descrito no

art. 43, do CP, sob pena de se ferir o princípio da legalidade, diante de sua natureza

taxativa.3.1. O art. 46 do CP estabelece que a prestação de serviços à comunidade é

aplicável às condenações superiores a 06 (seis) seis meses de privação de liberdade.

De tal forma, tendo em vista que a sanção aplicada é igual a 06 (seis) meses, deve ser

substituída, de ofício, a pena restritiva de direito para a modalidade de prestação

pecuniária.4. O Estado deve arcar com o pagamento de honorários advocatícios ao

defensor dativo nomeado pelo juiz à parte, juridicamente necessitada, para

apresentação das razões recursais.5. Não há que ser conhecido o pedido de isenção

das custas processuais e benefício da justiça gratuita, em razão de serem as matérias

de competência do Juízo da Execução. Apelação Crime nº 1.640.950-04

(TJPR - 2ª C.Criminal - AC - 1640950-0 - Ampére - Rel.: Luís Carlos Xavier - Unânime -

J. 29.06.2017)

Inteiro Teor

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Crime nº 1640950-0, de


Ampére ­ Juízo Único, em que é apelante Albino Carneiro da Cunha e apelado o
Ministério Público do Estado do Paraná.
O Ministério Público do Estado do Paraná ofereceu denúncia em face de Albino
Carneiro da Cunha (mov. 1.2 dos autos nº 0000158-73.2014.8.16.0186), imputando-lhe
a prática dos crimes previstos nos arts. 306 e 309, ambos da Lei nº 9.503/97, em razão
das seguintes condutas delituosas:
“1º FATO
No dia 07 de fevereiro de 2014, por volta das 23h30min, em via pública, mais
precisamente na Avenida Rio Branco, bairro São Francisco, no Município e Comarca de
Ampére/PR, o denunciado ALBINO CARNEIRO DA CUNHA, ciente da ilicitude e
reprovabilidade de sua conduta, dolosamente, sem autorização para dirigir, após
receber voz de abordagem pela Polícia Militar, empreendeu fuga com o veículo
Fiat/Uno Eletronic, cor vermelha, placa CAZ-3110, gerando perigo de dano,
consistente em avançar em alta velocidade, sendo que os policiais esquivaram-se para
não serem atingidos, além de ter desrespeitado diversas preferenciais. Somente parou
quando os pneus traseiros do carro foram atingidos por disparos da Polícia.
2º FATO
Nas mesmas condições de tempo e lugar, o denunciado ALBINO CARNEIRO DA
CUNHA, ciente da ilicitude e reprovabilidade de sua conduta, dolosamente, conduzia
o veículo Fiat/Uno Eletronic, cor vermelha, placa CAZ-3110, com concentração de

305

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álcool por litro de sangue em dosagem superior a 6 (seis) decigramas de álcool por
litro de sangue, detectada pela quantidade de 0,68 miligramas de álcool por litro de ar
indicados pelo teste de alcoolemia (`bafômetro’) realizado, o que resulta, após a
conversão, na concentração de 13,6 decigramas de álcool por litro de sangue”.
Finda a instrução, o magistrado a quo, julgando parcialmente procedente a inicial
acusatória (mov. 51.1), condenou o réu pela prática do crime previsto no art. 306, § 1º,
I, c/c art. 298, III, ambos do CTB, fixando-lhe a pena-base em 06 (seis) meses de
detenção e 10 (dez) dias-multa. Na 2ª fase, entendeu pela compensação da atenuante
da confissão espontânea com a agravante prevista no art. 298, III, do CTB. Diante da
inexistência de causas especiais de aumento/diminuição de pena, tornou-a definitiva
em 06 (seis) meses de detenção e 10 (dez) dias-multa, no valor unitário equivalente a
1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente à época dos fatos, e, “tendo em vista
que, conforme Decreto 8.166/2013, o salário mínimo nacional à época do delito era
de era de R$ 724,00 (setecentos e vinte e quatro reais), fica a multa valorada em R$
241,30 (duzentos e quarenta e um reais e trinta centavos)”.
Ainda, aplicou a pena de suspensão da habilitação para dirigir veículo automotor pelo
prazo de 02 (dois) meses.
O regime fixado foi o aberto, a ser cumprido mediante as seguintes condições: “a)
não mudar de residência e não se ausentar da cidade onde reside por mais de 15
(quinze) dias sem prévia autorização judicial, mantendo atualizado o endereço
residencial; b) recolhimento domiciliar nos finais de semana e dias de folga, podendo
sair para o trabalho, devendo retornar à sua residência logo após o expediente; c)
comparecer em Juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades”.
Na sequência, substituiu a pena privativa de liberdade por duas restritivas de direitos,
consistentes em: “a) prestação de serviços à comunidade, mediante trabalho gratuito
por 7 (sete) horas semanais, sem prejuízo ao itinerário de trabalho, em instituição a ser
indicada pelo Conselho da Comunidade, observada e respeitada às aptidões
profissionais do sentenciado, pelo prazo da pena privativa de liberdade (artigo 43,
inciso IV; artigo 44, incisos I, II e III, § 2º, e art. 46, todos do Código Penal) e; b)
comparecer em Juízo, a fim de justificar suas atividades, devendo se apresentar à
Secretaria Criminal até o dia 10 de cada mês, prorrogável para o primeiro dia útil
subsequente quando o dia 10 cair em data que não houver expediente forense”.
A título de honorários advocatícios, houve condenação do Estado do Paraná a pagar
ao defensor dativo nomeado, Dr. Antônio Luiz Pazin (OAB/PR nº 60.862), a quantia de
R$ 1.800,00 (um mil e oitocentos reais).
Inconformada com a decisão, a defesa do acusado interpôs recurso de apelação, e
em suas razões recursais (mov. 67.1), afirma que “em nenhum momento o apelante
gerou perigo de dano, eis que não estava em alta velocidade, não estava em
ziguezague, não estava fazendo nada de anormal; estava, simplesmente, conduzindo
veículo (...) sem habilitação e, assim procedendo, cometeu apenas uma infração
administrativa”. Pleiteia, assim, seja aplicado um decreto absolutório.
Alternativamente, sustenta pela redução da pena em razão da atenuante da confissão
espontânea, bem como “seja aplicada a substituição da pena por uma mais branda”.

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Por fim, requer sejam aplicados os benefícios da assistência judiciária gratuita, além
da fixação de honorários advocatícios pela atuação do defensor em grau recursal.
A d. representante ministerial, no mov. 72.1, apresentou as contrarrazões ao recurso,
postulando pelo conhecimento e parcial provimento do apelo “exclusivamente para o
fim de excluir a não prevista pena substituída (comparecimento mensal em Juízo para
informar e justificar suas atividades), mantendo-se atendido o disposto no art. 44, § 2º,
primeira parte, do Código Penal, a pena restritiva de direitos de prestação de serviços
à comunidade, prevista no art. 43 do Código Penal”.
A d. Procuradoria Geral de Justiça manifestou-se às fls.
10/20­TJ, opinando pelo parcial conhecimento e parcial provimento do recurso,
“apenas para excluir a pena restritiva de direito não prevista em lei e arbitrar
honorários advocatícios ao defensor dativo” (fl. 24).
É o relatório.
VOTO
Da autoria e materialidade delitivas
Postula a defesa pela absolvição do recorrente. Alega que “em nenhum momento o
apelante gerou perigo de dano, eis que não estava em alta velocidade, não estava em
ziguezague, não estava fazendo nada de anormal; estava, simplesmente, conduzindo
veículo (...) sem habilitação e, assim procedendo, cometeu apenas uma infração
administrativa”.
Todavia, razão não lhe assiste.
Ao que se vê, os fatos imputados ao apelante ocorreram em 07.02.2014, e, portanto,
quando já vigorava o § 1º, II, e § 2º do artigo 306 do CTB, com a redação dada pela
Lei 12.760/2012, de modo que admite-se a prova da embriaguez por diversos meios.
Referido artigo traz a seguinte redação:
“Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em
razão da influência de álcool ou de substância psicoativa que determine dependência.
Penas ­ detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, multa e suspensão ou proibição de
se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
§ 1º. As condutas previstas no caput serão constatas por:
I. concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou
igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar; ou II sinais que
indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade psicomotora.
§ 2º. A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de
alcoolemia, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova
em direito admitidos, observando o direito à contraprova.
§ 3º. O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos testes de alcoolemia
para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo”.
Há nos presentes autos produção probatória pertinente a corroborar a autoria e
materialidade do crime em análise, aa quais restaram devidamente demonstradas pelo
auto de prisão em flagrante delito (mov. 1.3), boletim de ocorrência (mov. 1.4), teste
de alcoolemia (mov. 1.5), bem como pela prova oral colhida no presente caderno
processual.

307

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O recorrente ALBINO CARNEIRO DA CUNHA, ao ser ouvido na Delegacia (mov. 1.8),


disse: “confirmo ter bebido um pouco, mas só peguei o carro para abastecer, não
parei porque eu tava com pressa, se tivesse parado, eu não tenho habilitação”.
Por sua vez, em juízo, tal como destacado em sede de contrarrazões ministeriais (mov.
72.1), o apelante reafirmou: “que não jogou o veículo contra os policiais; alegou que
estava vindo devagar, e não viu que os carros parados eram da polícia, embora
estivesse a 20 ou 30 km/h. Aduziu que não viu os policiais perseguindo seu carro.
Confessou que havia bebido `umas duas cervejas’. Negou ter desrespeitado as vias
preferenciais. Assumiu que não possui habilitação para dirigir, e que tem
conhecimento de que não poderia dirigir. Que já respondeu penalmente por
embriaguez ao volante, e `pagou uma cesta básica’ (seq. 38.1 e CD-Rom)”.
Ademais, a parcial confissão do acusado não se mostra isolada, encontrando amparo
nos demais elementos probatórios colhidos nos autos. Observa-se, na hipótese, que as
palavras dos policiais responsáveis pela abordagem, somadas às demais provas
acostadas, também são hábeis a apontar a autoria e materialidade delitivas.
Com efeito, o Policial Militar Jonatan Elias Martins (mov. 1.6), asseverou: “por volta
das 22h30min do dia 07.02.2014, durante operação policial, foi realizada abordagem
na Avenida Rio Branco; foi avistado o veículo Fiat/Uno Eletronic de cor vermelha, placa
CAZ-3110, de Ampére/PR, sendo que no interior do veículo estavam duas pessoas; foi
dado voz de abordagem ao condutor, e o mesmo não acatou tal ordem e acelerou
ainda mais o veículo, passando em alta velocidade, sendo que foi necessário os
policiais esquivarem-se para não serem atingidos; neste momento, iniciou-se um
acompanhamento tático, a fim de abordar o veículo, no entanto, o mesmo avançou
várias preferenciais, colocando em risco a vida de terceiros; que em certo momento, a
fim de parar o veículo em fuga, foram efetuados 04 (quatro) disparos de arma de fogo
contra os pneus do veículo; que foram atingidos os dois pneus traseiros; que então o
condutor perdeu o controle da direção, vindo a parar em cima do passeio localizado
na estrada vicinal Municipal Frei Ângelo Caru; foram abordadas as duas pessoas do
veículo, sendo que o condutor, identificado como Albino Carneiro da Cunha, não
possui CNH. Em consulta ao sistema, foi constatado que o referido veículo encontra-se
com o licenciamento e seguro obrigatório em atraso. Foi realizado o teste de
alcoolemia no condutor Albino, sendo aferida a quantia de 0,68 mg/l, ocasionando a
prisão em flagrante do condutor”.
Em idêntico sentido se deram as declarações do miliciano Thiago Alves Cristaldo no
mov. 1.7.
Por sua vez, ao serem ouvidos na fase judicial, de acordo com excerto extraído da
sentença, “Thiago Alves Cristaldo, um dos policiais militares responsáveis pela prisão
do acusado, afirmou que estava ocorrendo operação conjunta com a polícia civil, e
estava sendo feita a abordagem em um bar, localizado na Avenida Rio Branco, quando
os policiais viram um veículo atravessando a via em alta velocidade e deram voz de
abordagem, a qual não foi obedecida pelo condutor. Disse que os policiais tiveram
que se esquivar para não serem atingidos pelo carro, porque o veículo estava em alta
velocidade e não parou. Afirmou que o condutor avançou vias preferenciais e havia
uma grande movimentação na avenida. Narrou que foi realizado acompanhamento
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tático e efetuados disparos nos pneus do veículo, quando esse já estava próximo de
uma área rural, sendo que o condutor colidiu com o seu veículo contra um canteiro e
teve que parar. Disse que na sequência o condutor foi submetido a exame de
alcoolemia, sendo confirmada a embriaguez, constatando-se ainda que ele dirigia sem
CNH, e com licenciamento do veículo em débito.
Na mesma linha, o policial Jonatan Elias Martins confirmou as declarações prestadas
por Thiago, acrescentando que no local da abordagem inicial era perto de um bar, e
havia pedestres nas proximidades, assim como durante todo o trajeto percorrido pelo
réu, com exceção da estrada rural. Ressaltou que o réu apresentava sinais de
embriaguez, como odor etílico e olhos avermelhados, e então foi submetido ao exame
de alcoolemia”.
Nesse passo, as declarações dos agentes públicos merecem credibilidade, até porque
não há nos autos evidência de que tivessem interesse em incriminar indevidamente o
apelante ou que tenham faltado com a verdade.
Neste sentido, a jurisprudência de nossos Tribunais:
“(...) CONDENAÇÃO FUNDAMENTADA NO DEPOIMENTO DE POLICIAIS ­ MEIO DE
PROVA IDÔNEO ­ FRAGILIDADE DO CONJUNTO PROBATÓRIO NÃO
DEMONSTRADA.
(...) 2. Conforme entendimento desta Corte, o depoimento de policiais constitui meio
de prova idôneo a embasar o édito condenatório, mormente quando prestado ou
corroborado em Juízo, no âmbito do devido processo legal.
Precedentes” (STJ ­ HC 261.170/SP, Rel. Min. JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, j.
01.04.2014, DJe 10.04.2014).
Ademais, como já salientado, com o advento da Lei 12.760/2012 o legislador previu a
possibilidade de constatação do delito por sinais que indiquem a alteração da
capacidade psicomotora, bem como a comprovação do crime por diversos meios de
prova, conforme se infere da redação do inciso II do § 1º e § 2º incluídos no artigo
306, do Código de Trânsito Brasileiro. E como se vê no presente caso, as provas
constantes no feito evidenciam que o acusado conduzia o veículo automotor
alcoolizado, fato este corroborado pelo exame do bafômetro (mov. 1.5), o qual aponta
a concentração de 0,68 miligramas de álcool por litro de ar alveolar, valor este que
corresponde a 13,6 decigramas de álcool por litro de sangue, sendo, portanto, acima
do limite previsto em lei, não havendo que se falar em ausência de comprovação da
ocorrência do crime ou atipicidade da conduta.
Vale lembrar que, in casu, além de o exame de alcoolemia ter sido conclusivo, tendo
sido, portanto, a prova técnica indiscutível, juntamente com os demais elementos
probantes, restou cabalmente demonstrada a prática delitiva referente ao crime
previsto no art. 306 do CTB, afastando-se, assim, o pleito pelo decreto absolutório.
Ao mesmo tempo, ao contrário do quer fazer crer a defesa, não se trata o presente
caso de hipótese de infração administrativa. Como analisado, o apelante não atendeu
à voz de abordagem dada pelos milicianos, o qual, no mesmo contexto fático, em
estado de embriaguez e em alta velocidade, seguiu com o veículo, avançando em vias
preferenciais, tendo sido necessário que os policiais efetuassem 04 (quatro) disparos
contra os pneus do automóvel, a fim de que parasse, evidenciando ainda mais o
309

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perigo empregado em seus atos, tendo causado sérios riscos à incolumidade pública,
restando evidente, portanto, a prática do delito previsto no art. 306 do CTB, e não
mero fato punível administrativamente.
Assim sendo, a aventada absolvição não se aplica ao caso.
Da atenuante da confissão espontânea
Pleiteia a defesa, ainda, pela redução da pena provisória em razão da atenuante da
confissão espontânea.
Não prospera tal alegação.
Isto porque, para o crime pelo qual foi condenado o apelante, na 2ª fase da operação
dosimétrica, foi devidamente reduzida a pena em razão da atenuante da confissão
espontânea, mostrando-se escorreita a r. sentença ao tê-la compensado com a
agravante do art.
298, III, do CTB, quedando-se, assim, a pena provisória no mínimo legal, não havendo
como reduzi-la, portanto, ainda mais, nesta fase.
De acordo com a orientação desta Colenda Câmara:
“APELAÇÃO CRIME ­ PRESTAR INFORMAÇÕES FALSAS A AUTORIDADES
FAZENDÁRIAS (ART. 1º, INCISO I, DA LEI Nº 8.137/90) ­ CONDENAÇÃO ­ PLEITO
RECURSAL ABSOLUTÓRIO POR INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA QUE NÃO SE
SUSTENTA ­ EXISTÊNCIA DE ELEMENTOS APTOS E COMPETENTES A ENSEJAR O
DECRETO CONDENATÓRIO ­ ALEGADA AUSÊNCIA DE DOLO ­ INOCORRÊNCIA ­
INSERÇÃO DE INFORMAÇÕES FALSAS NOS LIVROS FISCAIS ­ AGENTE QUE,
COMO SÓCIO-GERENTE E ADMINISTRADOR DE FATO DA EMPRESA, OMITIU O
DEVIDO RECOLHIMENTO DO ICMS ­ DOSIMETRIA ­ PLEITO DE REDUÇÃO DA PENA
EM VIRTUDE DO RECONHECIMENTO DA ATENUANTE PREVISTA NO ART. 65, INC.
I, DO CP ­ APELANTE QUE CONTAVA COM MAIS DE 70 (SETENTA) ANOS À ÉPOCA
DA PROLAÇÃO DA SENTENÇA ­ INVIABILIDADE ­ REPRIMENDA FIXADA EM SEU
PATAMAR MÍNIMO ­ PACIFICAÇÃO DO TEMA COM A EDIÇÃO DA SÚMULA Nº 231
DO STJ ­ RECURSO DESPROVIDO.
(...) 2. O debate sobre a redução da pena aquém do mínimo legal restou superado
pela pacificação do tema com a edição da Súmula 231 do Superior Tribunal de Justiça.
Fixadas as margens mínima e máxima pelo legislador, e estabelecida a pena em seu
grau mínimo, não pode ela ser reduzida aquém do quantum punitivo previsto, não
obstante a existência de atenuantes, sob pena de se incorrer em ofensa ao princípio
da legalidade” (TJPR ­ 2ª C.Criminal, AC 1259430-4, Curitiba, Rel. José Mauricio Pinto
de Almeida, Unânime, J. 26.02.2015).
Trata-se, inclusive, de matéria já amplamente debatida e decidida no âmbito
jurisprudencial, tanto assim que foi sumulada sob nº 231 do Superior Tribunal de
Justiça:
“A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena
abaixo do mínimo legal”.
Ainda, neste aspecto:
“(...) DOSIMETRIA ­ MENORIDADE ­ ATENUANTE GENÉRICA CONFIGURADA ­
PENA-BASE FIXADA NO MÍNIMO LEGAL ­ IMPOSSIBILIDADE DE REDUÇÃO AQUÉM

310

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DO MÍNIMO LEGALMENTE PREVISTO ­ SÚMULA 231 DESTA CORTE SUPERIOR DE


JUSTIÇA ­ AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE.
1. Inviável acoimar de ilegal o acórdão objurgado no ponto em que, embora
reconhecida a menoridade do acusado, não reduziu a sua pena aquém do mínimo
legalmente previsto em lei na segunda fase da dosimetria, em estrita observância à
Súmula 231 desta Corte Superior de Justiça (...)” (STJ ­ 5ª T., HC 298123/SP, Rel. Min.
Jorge Mussi, DJe 01.10.2014).
Rechaça-se, portanto, a aventada redução.
Da pena restritiva de direito
Na r. sentença, fixou-se a pena definitiva em 06 (seis) meses de detenção e 10 (dez)
dias-multa, e 02 (dois) meses de proibição de se obter permissão ou a habilitação para
dirigir veículo automotor.
Na sequência, foi aplicado o regime aberto, tendo havido a substituição da
reprimenda corporal por duas penas restritivas de direito, consistentes em prestação
de serviços à comunidade e comparecimento mensal em Juízo.
Pois bem.
In casu, há que ser procedido o afastamento, de ofício, da pena restritiva de direitos
concernente ao comparecimento mensal do sentenciado em Juízo para informar e
justificar suas atividades.
Tal modalidade de pena não consta no rol elencado no art. 43 do CP como espécie
de sanção restritiva de direitos, não cabendo ao julgador criar, discricionariamente,
novas sanções substitutivas.
Neste particular, como devidamente apontado no parecer lançado pela d.
Procuradoria Geral de Justiça às fls. 18/19, “da análise da r. sentença é possível
constatar literal violação ao disposto no art. 44, § 2º, do CP, posto que o d. Juiz impôs
ao acusado uma pena supostamente intitulada de restritiva de direito, entretanto, que
não consta do rol taxativo do artigo 43 do Código Penal.
Nessa seara, não existe campo para criações do Juiz `a quo’, ou seja, não poderá o
Magistrado, ao seu bel prazer, inovar e estabelecer novas hipóteses de penas
restritivas de direito que não estejam previstas em lei.
Nesse sentido:
`APELAÇÃO CRIMINAL ­ ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO ­ PLEITO ABSOLUTÓRIO ­
DESCABIMENTO ­ AUTORIA E MATERIALIDADE DEVIDAMENTE COMPROVADAS ­
RÉU QUE EXERCIA FUNÇÃO DETERMINADA NA ASSOCIAÇÃO ­ PROVA DO
VÍNCULO ESTÁVEL E PERMANENTE ­ DE OFÍCIO, EXCLUSÃO DO
COMPARECIMENTO MENSAL, PESSOAL E OBRIGATÓRIO EM JUÍZO PARA DAR
CONTA DE SUAS ATIVIDADES COMO FORMA DE PENA SUBSTITUTIVA ­
MODALIDADE NÃO PREVISTA EM LEI ­ ARTIGO 43 DO CP ­ ROL TAXATIVO ­
RECURSO A QUE SE CONHECE E NEGA-SE PROVIMENTO E, DE OFÍCIO, AFASTA-
SE A SANÇÃO RESTRITIVA DE DIREITOS CONSISTENTE NO COMPARECIMENTO
MENSAL, PESSOAL E OBRIGATÓRIO EM JUÍZO PARA DAR CONTA DE SUAS
ATIVIDADES POR FALTA DE PREVISÃO LEGAL’ (TJPR ­ 5ª C.Criminal ­ AC ­ 1299839-
9 ­ Paranavaí ­ Rel.: Marcus Vinicius de Lacerda Costa ­ Unânime ­ J. 19.02.2015).

311

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`PENAL ­ APELAÇÃO ­ PORTE DE MUNIÇÃO DE USO PERMITIDO ­ ARTIGO 14 DA


LEI Nº 10.826/2003 ­ SENTENÇA CONDENATÓRIA ­ RECURSO DO RÉU ­
PRESCRIÇÃO ANTECIPADA ­ NÃO ADMISSÃO PELO ORDENAMENTO JURÍDICO
PÁTRIO ­ SÚMULA Nº 438, STJ ­ CASO EM QUE JÁ HÁ SENTENÇA CONDENATÓRIA
COM FIXAÇÃO DE PENA ­ PRESCRIÇÃO RETROATIVA ­ INOCORRÊNCIA ­
CONDENAÇÃO CONFIRMADA ­ APLICAÇÃO DE PENA SUBSTITUTIVA NÃO
ELENCADA NO ART. 43 DO CP ­ ADEQUAÇÃO QUE SE IMPÕE, DE OFÍCIO ­
RECURSO NÃO PROVIDO’ (TJPR ­ 2ª C.Criminal ­ AC ­ 786757-6 ­ São Miguel do
Iguaçu ­ Rel.: Lilian Romero ­ Unânime ­ J.
19.01.2012)”.
Ainda, na hipótese, tendo em vista o quantum de pena privativa de liberdade
aplicada (06 meses de detenção), inviável ainda que a substituição se faça por
prestação de serviços à comunidade.
O Código Penal, em seu artigo 46, estabelece que a prestação de serviços à
comunidade é aplicável às condenações acima de 06 (seis) meses de privação de
liberdade, devendo, pois, o Magistrado, ao promover a substituição, optar por
modalidades diversas de restrição de direitos para as penas iguais ou inferiores a este
patamar:
“Art. 46. A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas é aplicável às
condenações superiores a seis meses de privação da liberdade”.
De acordo com entendimento jurisprudencial:
“APELAÇÃO CRIMINAL ­ CRIME DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE (ART. 306 DO CTB)
­ CONDENAÇÃO ­ INSURGÊNCIA ­ PRELIMINARES ­ ALEGAÇÃO DE INFRINGÊNCIA
AO DIREITO CONSTITUCIONAL DE NÃO PRODUZIR PROVAS CONTRA SI MESMO E
NULIDADE DA SENTENÇA POR AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO ­ NÃO
ACOLHIMENTO ­ MÉRITO ­ PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO ­ IMPOSSIBILIDADE ­
CONJUNTO PROBATÓRIO APTO A DELINEAR A AUTORIA E A MATERIALIDADE
DELITIVA ­ RÉU QUE SE RECUSOU A SE SUBMETER AO TESTE DO ETILÔMETRO ­
SINAIS DE ALTERAÇÃO DA CAPACIDADE PSICOMOTORA COMPROVADOS PELO
TERMO DE CONSTATAÇÃO DE SINAIS DE EMBRIAGUEZ ­ MEIO PROBATÓRIO
VÁLIDO ­ CONDENAÇÃO MANTIDA ­ PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE
SUBSTITUÍDA POR PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE ­ IMPOSSIBILIDADE
­ SANÇÃO IGUAL A SEIS MESES ­ INTELIGÊNCIA DO ART. 46 DO CÓDIGO PENAL ­
FIXAÇÃO, DE OFÍCIO, DA PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA ­ RECURSO DESPROVIDO”
(TJPR ­ 2ª C.Criminal, AC 1395176- 3, Curitiba, Rel. Laertes Ferreira Gomes, Unânime,
J. 03.03.2016).
Isto posto, deve ser procedido, de ofício, o afastamento da pena restritiva de direito
no que se refere ao comparecimento mensal em Juízo, bem como a substituição da
pena restritiva de direito de prestação de serviços à comunidade por prestação
pecuniária, no valor de 01 (um) salário mínimo, com base no art. 45, § 1º, do CP,
destinado à entidade social a ser designada pelo Juízo da Execução.
Dos honorários advocatícios
Postula o arbitramento dos honorários advocatícios pela atuação do defensor em 2º
Grau.
312

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Com razão.
Da leitura dos autos, observa-se que o Dr. Antônio Luiz Pazin (OAB/PR nº 60.862) foi
nomeado como defensor dativo para atuar no feito (mov. 19.1), tendo apresentado
resposta à acusação (mov. 23.1), alegações finais por memoriais (mov. 49.1) e o
recurso de apelação e suas respectivas razões (mov. 67.1)
Assim, tendo em vista que a apresentação das razões do recurso de apelação é
essencial para promover a ampla defesa do acusado, cabe, aqui, deferir a fixação de
honorários advocatícios para remunerar o trabalho desempenhado pelo nobre
causídico em grau recursal.
Nesse sentido:
“EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ­ APELAÇÃO CRIMINAL DESPROVIDA ­
ACLARATÓRIOS ­ OMISSÃO NO ACÓRDÃO ­ OCORRÊNCIA ­ FIXAÇÃO DE
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS EM FAVOR DO DEFENSOR DATIVO ­ PEDIDO
EXPRESSO REALIZADO NAS RAZÕES RECURSAIS ­ OMISSÃO VERIFICADA ­
FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS QUE SE IMPÕE ­ EMBARGOS ACOLHIDOS.
`O advogado nomeado defensor dativo, em processos em que figure como parte
pessoa economicamente necessitada, faz jus a honorários, cabendo à Fazenda o ônus
pelo pagamento. Precedentes: REsp nº 493.003/RS, Rel. Min. JOÃO OTÁVIO DE
NORONHA, DJ de 14/08/06; REsp nº 602.005/RS, Rel. Min. LUIZ FUX, DJ de
26/04/04; RMS nº 8.713/MS, Rel. Min. HAMILTON CARVALHIDO, DJ de 19/05/03 e
AgRg no REsp nº 159.974/MG, Rel. Min.
FRANCISCO FALCÃO, DJ de 15/12/03’ (STJ, AgRg no REsp 1041532/ES, Rel.
Ministro FRANCISCO FALCÃO, 1ª T., julg.
em 05/06/2008, DJe 25/06/2008) (STJ, AgRg no REsp 1350442/ES, Rel. Ministro
JORGE MUSSI, 5ª T., julg. em 18/12/2012, DJe 01/02/2013)” (TJPR ­ 2ª C.Criminal,
EDC 1108828-3/01, Ponta Grossa, Rel. Laertes Ferreira Gomes, Unânime, J.
28.08.2014).
“APELAÇÃO CRIMINAL ­ DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR, EM VIA PÚBLICA,
ESTANDO COM CONCENTRAÇÃO DE ÁLCOOL POR LITRO DE SANGUE IGUAL OU
SUPERIOR A 6 (SEIS) DECIGRAMAS (ART. 306, DO CÓDIGO DE TRÂNSITO
BRASILEIRO) ­ PLEITO DE ABSOLVIÇÃO PORQUANTO AUSENTE TABELA QUE
DEMONSTRE A CORRESPONDENTE VALORAÇÃO ENTRE O EXAME DE SANGUE E
O AR ALVEOLAR (BAFÔMETRO) ­ INVIABILIDADE ­ CÁLCULO EXECUTADO PELA LEI
DE HENRY, ADOTADA PELO LEGISLADOR PARA O CÓDIGO DE TRÂNSITO
BRASILEIRO ­ PERCENTUAL AFERIDO PELO EXAME BAFOMÉTRICO QUE DENOTA
INCONTESTE EMBRIAGUEZ ­ PROVAS EFICIENTES A CONFIRMAR O ESTADO
ETÍLICO ­ ROGATIVA DE FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS ­ DEFENSOR
DATIVO NOMEADO PARA APRESENTAR RAZÕES DE APELAÇÃO ­ POSSIBILIDADE ­
RECURSO NÃO PROVIDO E DEFERIDO O PLEITO DE ARBITRAMENTO DE
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS (...)” (TJPR ­ 2ª C.Criminal, AC 1120723-7, Ponta , Rel.
Lidio José Rotoli de Macedo, , J. 30.01.2014).
Cabe ser acrescentado que a Tabela de Custas da Ordem dos Advogados do Brasil é
uma referência da remuneração paga aos advogados pelos atos que praticarem,
porém não vinculam a fixação da verba honorária pelos magistrados.
313

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Portanto, impõe-se deferir a fixação de honorários advocatícios ao defensor nomeado,


Dr. Antônio Luiz Pazin (OAB/PR nº 60.862), no valor de R$ 800,00 (oitocentos reais),
em razão da apresentação da apelação, compatível com o trabalho desenvolvido pelo
procurador e o grau de complexidade da causa, o grau e o zelo do profissional e o
lugar da prestação do serviço (CPC, art. 85), atualizáveis e corrigidos a partir da data
deste julgamento.
Da justiça gratuita
Requer a concessão dos benefícios da justiça gratuita.
O pedido não merece ser conhecido.
A possibilidade de pagamento ou não dos ônus processuais deve ser analisada
somente na fase executória, momento propício para averiguação da situação
econômica do condenado e viabilidade de sua efetivação.
Nesse sentido:
“APELAÇÃO CRIME ­ EMBRIAGUEZ AO VOLANTE (ART. 306 DO CÓDIGO DE
TRÂNSITO BRASILEIRO) ­ CONDENAÇÃO ­ AUTORIA E MATERIALIDADE
INCONTESTES ­ DOSIMETRIA ­ PENA DE MULTA FIXADA NO MÍNIMO LEGAL ­
IMPOSSIBILIDADE DE REDUÇÃO OU DE EXCLUSÃO, AINDA QUE O CONDENADO
POSSUA CONDIÇÃO FINANCEIRA PRECÁRIA ­ ISENÇÃO DAS CUSTAS
PROCESSUAIS ­ MATÉRIA AFETA AO JUÍZO DA EXECUÇÃO PENAL ­ RECURSO
PARCIALMENTE CONHECIDO E, NA PARTE CONHECIDA, NÃO PROVIDO.
1. Para aplicação da pena de multa, o juiz deve atender, mormente, à situação
econômica do réu. Verificado, no caso concreto, que a multa foi aplicada de maneira
acertada pelo magistrado, no mínimo legal, não há que se falar em redução.
2. O pleito de afastamento da condenação ao pagamento das custas processuais é
matéria que deve ser apreciada pelo Juízo da Execução” (TJPR ­ 2ª C.Criminal, AC ­
1215785-6 ­ Foro Regional de Almirante Tamandaré da Comarca da Região
Metropolitana de Curitiba ­ Rel.: José Mauricio Pinto de Almeida ­ Unânime ­ J.
04.09.2014).
“APELAÇÃO CRIMINAL ­ POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE USO
PERMITIDO E CRIME CONTRA A FAUNA (ARTIGO 12 DA LEI N° 10.826/03 E ARTIGO
29 DA LEI N° 9.605/98) ­ PLEITO PARA REDUZIR A PENA RESTRITIVA DE DIREITO DE
PRESTAÇÃO DE SERVIÇO À COMUNIDADE PARA UM ANO E ISENÇÃO DAS
CUSTAS PROCESSUAIS ­ COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA EXECUÇÃO ­
IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE DO PEDIDO ­ RECURSO NÃO CONHECIDO NESTA
PARTE ­ ACOLHIDO REQUERIMENTO PARA CORRIGIR ERRO MATERIAL DA
SENTENÇA ­ ALTERAÇÃO DA PENA DE RECLUSÃO PARA DE DETENÇÃO ­ PEDIDO
DE REDUÇÃO DO VALOR DA PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA ­ SENTENÇA NÃO
FUNDAMENTOU O MOTIVO PELO QUAL O VALOR DA PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA
FOI ARBITRADO ACIMA DO SALÁRIO MÍNIMO ­ PEDIDO ACOLHIDO PARA REDUZIR
O VALOR PARA UM SALÁRIO MÍNIMO ­ REQUERIMENTO PARA DIMINUIR OS
COMPARECIMENTOS EM JUÍZO COMO CONDIÇÃO PARA O REGIME ABERTO DE
SEMANAL PARA MENSAL ­ ALTERAÇÃO RAZOÁVEL DEVIDO A DISTÂNCIA ENTRE O
JUÍZO E A RESIDÊNCIA DO APELANTE ­ PENDÊNCIA DE FIXAÇÃO DE
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS AO PROCURADOR DATIVO NOMEADO AO
314

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RECORRENTE ­ ACOLHIMENTO PARCIAL ­ RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO


E, NESTA PARTE, PARCIALMENTE PROVIDO” (TJPR ­ 2ª C.Criminal ­ AC ­ 1271221-9 ­
Antonina ­ Rel.: José Carlos Dalacqua ­ Unânime ­ J. 06.11.2014).
“APELAÇÃO CRIME ­ POSSE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO COM
NUMERAÇÃO SUPRIMIDA (ART. 16, “CAPUT”, DA LEI 10.826/03) ­ ROGATIVA
ABSOLUTÓRIA ­ PRETENSA DESCONSTITUIÇÃO DOS DEPOIMENTOS PRESTADOS
PELOS POLICIAS MILITARES ­ INVIABILIDADE ­ AUSÊNCIA DE QUALQUER INDÍCIO
DE PARCIALIDADE ­ PROVAS SUFICIENTES A ENSEJAR DECRETO CONDENATÓRIO
­ PLEITO ALTERNATIVO DE SUBSTITUIÇÃO DA PENA CORPORAL POR RESTRITIVAS
DE DIREITOS ­ PLEITO INÓCUO ­ SUBSTITUIÇÃO JÁ OPERADA EM SENTENÇA ­
PRETENSÃO DA ISENÇÃO DAS CUSTAS PROCESSUAIS COM A CONCESSÃO DO
BENEFÍCIO DA JUSTIÇA GRATUITA ­ NÃO CONHECIMENTO ­ ANÁLISE DE
COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA EXECUÇÃO ­ RECURSO PARCIALMENTE
CONHECIDO, E NA PARTE CONHECIDA, DESPROVIDO” (TJPR ­ 2ª C.Criminal, AC
1380465-2, Guaratuba, Rel. Marcio José Tokars, Unânime, J.
22.10.2015).
Por esta razão, não se conhece do presente pedido.
Nestas condições, conhece-se, em parte, do recurso, e na parte conhecida, nega-lhe
provimento, deferindo-se a fixação de honorários advocatícios ao defensor nomeado
Dr. Antônio Luiz Pazin (OAB/PR nº 60.862), no valor de R$ 800,00 (oitocentos reais), e,
ex officio, afasta-se a pena restritiva de direitos concernente ao comparecimento
mensal do recorrente em juízo, substituindo-se, ainda, de ofício, a pena restritiva de
direitos de prestação de serviços à comunidade por prestação pecuniária, no valor de
01 (um) salário mínimo, tudo nos termos da fundamentação.
ANTE O EXPOSTO, acordam os Desembargadores integrantes da 2ª Câmara Criminal
do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em conhecer,
em parte, do recurso, e na parte conhecida, em negar-lhe provimento, deferindo-se a
fixação de honorários advocatícios ao defensor nomeado, afastando-se, ex officio, a
pena restritiva de direitos concernente ao comparecimento mensal do recorrente em
juízo, substituindo-se, ainda, de ofício, a pena restritiva de direitos de prestação de
serviços à comunidade por prestação pecuniária, no valor de 01 (um) salário mínimo.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador Luís Carlos Xavier (com voto) e dele
participaram os Juízes Substitutos em Segundo Grau Mauro Bley Pereira Junior e
Marcel Guimarães Rotoli de Macedo.
Curitiba, 29 de junho de 2017.
Des. Luís Carlos Xavier ­ Relator

315

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2.3.6. POSSE DE ARMA DE FOGO – INEXISTÊNCIA DE ESTADO DE

NECESSIDADE – CRIME POSTERIOR QUE NÃO PODE SER UTILIZADO PARA

CONFIGURAR MAUS ANTECEDENTES

APELAÇÃO CRIME - POSSE DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO (ART. 12 DA

LEI 10.826/2003) - PROCEDÊNCIA.APELO DO ACUSADO - 1. ESTADO DE

NECESSIDADE - NÃO CARACTERIZAÇÃO - SITUAÇÃO QUE NÃO ERA DE PERIGO

ATUAL E DE OUTRO MODO NÃO PODIA EVITAR - 2. DOSIMETRIA DA PENA -

FIXAÇÃO DA PENA-BASE - ANTECEDENTES CONSIDERADOS NEGATIVAMENTE -

IMPOSSIBILIDADE - CRIME POSTERIOR QUE NÃO PODE SER UTILIZADO COMO

MAUS ANTECEDENTES - 3.REINCIDÊNCIA VERIFICADA - AUMENTO DA PENA

JUSTIFICADO - 4. REGIME INICIAL DE SEMIABERTO DE CUMPRIMENTO DE PENA -

ALTERAÇÃO PARA O REGIME ABERTO - NÃO CABIMENTO - ACUSADO

REINCIDENTE - ART. 33, § 2°, "C", DO CÓDIGO PENAL - RECURSO PARCIALMENTE

PROVIDO.1. O estado de necessidade somente se configura quando o sujeito não

poder afastar o perigo atual, que não foi provocado pelo próprio agente, sem causar

lesão a bem jurídico de terceiro. Apelação Crime nº 1.650.743-822. É de se realizar a

adequação da pena base, eis que o acusado não possui maus antecedentes, como

considerado na sentença, eis que referido crime foi praticado em data posterior a do

presente delito.3. Tendo sido reconhecida a prescrição da pretensão executória da

pena, em crime cometido anteriormente e com transito em julgado anterior,

caracterizada a reincidência do acusado.4. Considerando a reincidência do acusado,

não admite reparo a sentença que fixou o regime semiaberto para início de

cumprimento da pena, nos termos do artigo 33, § 2°, "c", do Código Penal.

(TJPR - 2ª C.Criminal - AC - 1650743-8 - Região Metropolitana de Maringá - Foro

Regional de Sarandi - Rel.: Luís Carlos Xavier - Unânime - J. 29.06.2017)

Inteiro Teor

Trata-se de Apelação interposta contra a sentença (mov. 50.1) proferida nos autos n°
0003551-55.2012.8.16.0160 de Ação Penal que julgou procedente o pedido contido
na denúncia para o fim condenar o acusado Edmilson Sabino de Lira como incurso nas

316

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sanções do artigo 12 da Lei 10.826/03, bem como ao pagamento das custas


processais. Fixando a pena definitiva em 1 (um) ano e 1 (um) mês de detenção e ao
pagamento de 11 (onze) dias multa, cada um no valor equivalente a 1/30 do salário
mínimo vigente ao tempo do fato delituoso. Estabelecendo o regime semiaberto para
cumprimento inicial da pena aplicada.
O apelante Edmilson Sabino de Lira, inconformado com a sentença interpôs recurso
de apelação (fls. 354/365, mov. 64.1) alegando que deve ser reconhecido no caso o
estado de necessidade, pois o apelante somente mantinha a referida arma de fogo
para proteger sua vida e de sua família, já que trazia para casa dinheiro que auferia em
sua distribuidora.
Argumenta que seve ser readequada apena base, eis que a pratica de delitos
posteriores, não pode ser considerado para majorar a pena base, ainda que exista
sentença condenatória com trânsito em julgado.
Sustenta inexistir reincidência, vez que foi reconhecida a ocorrência da prescrição nos
autos nº 0000064- 34.1999.8.16.0160, devendo a pena ser fixada no mínimo legal.
Enfatiza que tendo em vista que o acusado não é reincidente, cabível a fixação do
regime aberto para o início do cumprimento da pena.
Requer seja conhecido e provido o recurso, absolvendo-se o acusado, haja vista a
existência da excludente de ilicitude do Estado de Necessidade, com fulcro no artigo
23, I, c/c 24 do Código Penal. Supletivamente, requer: Seja desconsiderado os efeitos
da reincidência, na dosimetria da pena, pois as certidões juntadas ao feito
demonstram que o Apelante teve extinta a sua punibilidade, reduzindo-se a
reprimenda no seu mínimo legal e alterando-se o regime inicial, para o aberto, para o
seu cumprimento.
O representante do Ministério Público do Estado do Paraná apresentou contrarrazões
(fls. 382/389, mov. 68.1), postulando o conhecimento e desprovimento ao recurso.
Nesta instância, a Douta Procuradoria Geral de Justiça exarou parecer (fls. 9/18-TJ)
pelo conhecimento e desprovimento do recurso.
É o relatório.
VOTO
Presentes os pressupostos de admissibilidade é de se conhecer o recurso.
O recurso merece parcial provimento.
Do estado de necessidade
Alega que deve ser reconhecido no caso o estado de necessidade, pois o apelante
somente mantinha a referida arma de fogo para proteger sua vida e de sua família, já
que trazia para casa dinheiro que auferia em sua distribuidora.
Sem razão.
O artigo 24, do Código Penal, conceitua o instituto do estado de necessidade,
dispondo que:
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de
perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar,
direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar
o perigo.
317

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá


ser reduzida de um a dois terços.”
De tal forma, o estado de necessidade é subsidiário, ou seja, somente pode se
configurar quando restar demonstrado que o sujeito não poderia afastar o perigo
atual, que não foi provocado pelo próprio agente, sem causar lesão ao bem jurídico
de terceiro.
Todavia, no caso dos autos, não se verifica que o Apelante tenha agido em situação
de perigo atual que não podia de outro modo evitar.
Extrai-se que o estado do agente possuía certo grau de estabilidade, não havendo o
caráter emergencial necessário para se caracterizar o perigo atual ou iminente exigidos
pelo estado de necessidade.
Além do mais, por mais que este tivesse por objetivo a proteção de sua vida e de sua
família, tendo em vista que transportava para casa dinheiro que auferia em sua
distribuidora, este deveria ter observado as exigências legais para aquisição de uma
arma para sua defesa pessoal, vez que ao cidadão é permitida a posse e porte de
arma de fogo desde que obedecidos os trâmites legais.
De tal forma, uma vez que a conduta do Apelante não foi determinada por motivo
insuperável, não há como se reconhecer o estado de necessidade.
Da pena
Argumenta que seve ser readequada apena base, eis que a pratica de delitos
posteriores, não pode ser considerado para majorar a pena base, ainda que exista
sentença condenatória com trânsito em julgado. E ainda que inexiste reincidência, vez
que foi reconhecida a ocorrência da prescrição nos autos nº 0000064-
34.1999.8.16.0160, devendo a pena ser fixada no mínimo legal.
Com razão em partes.
Na fixação da pena base, considerou a magistrada singular que o acusado ostentava
maus antecedentes, em razão de sua condenação nos autos de nº 5008035-
64.2014.4.04.7002 ­ 5ª Vara Federal de Foz do Iguaçu/PR, ocorre que este
entendimento não pode ser mantido, eis que referido crime foi praticado em
24.4.2013, portanto, em data posterior a do presente delito, que ocorreu em
30.5.2012.
Desta feita, é de se realizar a adequação da pena base, eis que o acusado não possui
maus antecedentes, como considerado na sentença, fixando-se a pena base em seu
mínimo legal, de 1 (um) ano de detenção e 10 (dez) dias-multa.
E, considerando que o acusado possui somente uma condenação por fato anterior ao
presente delito, com trânsito em julgado também anteriormente ao presente delito
(autos nº 0000064-34.1999.8.16.0160), esta se enquadra ao conceito de reincidência.
Destaque-se que ao contrário do alegado pelo acusado não há que se falar em
prescrição da pretensão punitiva no caso dos autos nº 0000064-34.1999.8.16.0160,
que afastaria a reincidência do condenado, vez que nos autos acima indicados, houve
apenas o reconhecimento da prescrição da pretensão executória, pelo que
caracterizada a reincidência do mesmo.

318

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Assim, considerando-se a reincidência do acusado e também sua confissão


espontânea, as circunstâncias devem ser compensadas, mantendo-se a reprimenda no
patamar estabelecido na pena base.
E, ausentes causas de aumento ou de diminuição da pena, resulta esta fixada
definitivamente em 1 (um) ano de detenção e 10 (dez) dias-multa, no valor unitário de
1/30 do salário mínimo vigente à época dos fatos.
Quanto ao regime inicial de cumprimento da pena, A propósito do regime de
cumprimento de pena, o artigo 33 do Código Penal estabelece que:
“Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou
aberto. A de detenção, em regime semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de
transferência a regime fechado.
(...) § 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma
progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes critérios e
ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso:
a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime
fechado;
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não
exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semiaberto;
c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos,
poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto”.
Assim, considerando-se que o acusado é reincidente, não é, portanto, admitida a
fixação do regime aberto, nos termos do art.
33, § 2º, alínea “c”, do Código Penal.
Neste sentido:
“PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO
EM RECURSO ESPECIAL.
EMBRIAGUEZ AO VOLANTE. ART. 306, CAPUT, DO CÓDIGO DE TRÂNSITO
BRASILEIRO. CRIME DE PERIGO ABSTRATO.
DESNECESSIDADE DE DEMONSTRAÇÃO DE POTENCIALIDADE LESIVA NA
CONDUTA. COMPROVADA A CONCENTRAÇÃO DE ÁLCOOL MAIOR QUE A
PERMITIDA POR LEI. RECONHECIDA A TIPICIDADE DA CONDUTA.
CONDENADO REINCIDENTE. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DO REGIME
ABERTO PARA CUMPRIMENTO INICIAL DA PENA. AGRAVO IMPROVIDO.
(...) 2. O entendimento adotado pela Corte a quo de que, para os fatos dos autos, que
datam de 2010, basta o perigo abstrato para a incidência do tipo previsto no art. 306
do CTB não destoa da orientação jurisprudencial do STJ.
Precedentes.
3. Conquanto ao réu, condenado pela prática do crime de embriaguez ao volante,
tenha sido aplicada pena inferior a 4 anos de reclusão, o fato de ser reincidente
impede a aplicação do regime aberto para início de cumprimento da pena.
4. Agravo regimental improvido.” (STJ, AgRg nos EDcl no AREsp 607.973/SP, Rel.
Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, DJe 29.06.2015).
“APELAÇÃO CRIME. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE (ART. 306, §1º, I, DA LEI N.º
9.503/97). PLEITO PELA ALTERAÇÃO DO REGIME APLICADO EM SENTENÇA.
319

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DESCABIMENTO. PEDIDO DE COMPENSAÇÃO ENTRE A ATENUANTE DA


CONFISSÃO ESPONTÂNEA E A AGRAVANTE DA REINCIDÊNCIA.
IMPOSSIBILIDADE. COMPENSAÇÃO JÁ OPERADA EM PRIMEIRO GRAU.
PLURALIDADE DE REINCIDÊNCIAS.
REQUERIMENTO DE NÃO SUSPENSÃO DA HABILITAÇÃO PARA DIRIGIR VEÍCULO
AUTOMOTOR, SOB O ESTEIO DE QUE É DA FUNÇÃO DE MOTORISTA QUE
PROVÉM O SUSTENTO DA FAMÍLIA DO RÉU.NÃO ACOLHIMENTO.
MEDIDA PREVISTA NO TIPO PENAL, DEVENDO SER APLICADA
CUMULATIVAMENTE À PENA CORPORAL.
RECURSO DESPROVIDO.1. É correta a aplicação do regime semiaberto ao réu
reincidente condenado à pena inferior a quatro anos, nos termos da lei e da
jurisprudência. (...)” (TJPR, 2ª C.Criminal, AC 1373242-8, Região Metropolitana de
Maringá, Foro Central de Maringá, Rel. Marcio José Tokars, Unânime, J. 17.09.2015).
Portanto, impõe-se manter o regime inicial semiaberto de cumprimento da pena,
conforme estabelecido na sentença condenatória. Incabível a substituição da pena,
assim como o sursis penal, em razão do não preenchimento dos requisitos legais.
Nestas condições, dá-se parcial provimento ao recurso, tudo nos termos da
fundamentação.
ANTE O EXPOSTO, acordam os Desembargadores integrantes da 2ª Câmara Criminal
do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar parcial
provimento ao recurso.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador Luís Carlos Xavier (com voto) e dele
participaram os Juízes Substitutos em Segundo Grau Mauro Bley Pereira Junior e
Marcel Guimarães Rotoli de Macedo.
Curitiba, 29 de junho de 2017.
Des. Luís Carlos Xavier ­ Relator

2.3.7. HC – PRISÃO PREVENTIVA – EXISTÊNCIA DE FILHOS MENORES – PEDIDO

DE PRISÃO DOMICILIAR

HABEAS CORPUS - DELITOS DE FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO -

PRISÃO PREVENTIVA - DECISÃO FUNDAMENTADA - GARANTIA DA ORDEM

PÚBLICA - DEFESA PELA APLICAÇÃO DE PRISÃO DOMICILIAR EM RAZÃO DA

EXISTÊNCIA DE FILHOS MENORES - ART. 318, V, DO CPP - AUSÊNCIA DE

COMPROVAÇÃO DE QUE AS PACIENTES SÃO IMPRESCINDÍVEIS AOS CUIDADOS

DAS CRIANÇAS - AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL - ORDEM

DENEGADA.Não há constrangimento ilegal quando a decisão que decreta a prisão

preventiva está fundamentada em fatos concretos a evidenciar a necessidade da


320

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manutenção da custódia cautelar para a garantia da ordem pública. Habeas Corpus

Crime nº 1.688.123-72

(TJPR - 2ª C.Criminal - HCC - 1688123-7 - Curitiba - Rel.: Luís Carlos Xavier - Unânime

- J. 29.06.2017)

Inteiro Teor

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Habeas Corpus Crime nº 1688123-7, de


Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba - 10ª Vara Criminal, em
que são Impetrantes Alessandro Maurici e Wilson Roberto do Amaral Filho e Pacientes
Patricia do Rocio Carvalho e Sueley Lemos de Souza.
Trata-se de habeas corpus, com pedido liminar, impetrado por ALESSANDRO
MAURICI e WILSON ROBERTO DO AMARAL FILHO, em favor PATRICIA DO ROCIO
CARVALHO e SUELY LEMOS DE SOUZA, contra suposto ato ilegal perpetrado pela
MMª. Juíza de Direito da 10ª Vara Criminal do Foro Central da Comarca da Região
Metropolitana de Curitiba nos autos nº 0011466-38.2017.8.16.0013 que indeferiu o
pedido de substituição da prisão preventiva por prisão domiciliar. (fls. 82/84-TJ)
As pacientes foram presas preventivamente em razão de terem, supostamente,
praticado o crime de adulteração de sinal de veículo automotor em associação
criminosa, as quais foram apreendidas no momento em que iriam entregar placas
adulteradas a terceira pessoa.
Inconformados, os impetrantes sustentam que as pacientes são mães de duas
crianças, razão pela qual a defesa pleiteou, em primeiro grau, a substituição da prisão
preventiva pela prisão domiciliar, nos termos do art. 318, inciso V, do Código Penal,
pedido este que foi denegado pela Magistrada a quo.
Requereram, assim, seja concedida medida liminar, com a substituição da prisão
preventiva pela prisão domiciliar, até julgamento final do presente feito, por
entenderem estarem presentes o fumus boni iuris e o periculum in mora.
A liminar foi indeferida às fls. 92/97.
As informações foram prestadas às fls. 102/103.
Nesta instância, a douta Procuradoria Geral de Justiça manifestou pela denegação da
ordem (fls. 107/111).
É o relatório.
VOTO
Trata-se de habeas corpus, com pedido liminar, impetrado por ALESSANDRO
MAURICI e WILSON ROBERTO DO AMARAL FILHO, em favor PATRICIA DO ROCIO
CARVALHO e SUELY LEMOS DE SOUZA, contra suposto ato ilegal perpetrado pela
MMª. Juíza de Direito da 10ª Vara Criminal do Foro Central da Comarca da Região
Metropolitana de Curitiba nos autos nº 0011466-38.2017.8.16.0013 que indeferiu o
pedido de substituição da prisão preventiva por prisão domiciliar. (fls. 82/84-TJ)
A ordem deve ser denegada.

321

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Em relação à prisão preventiva, o artigo 312, do Código de Processo Penal,


estabelece que a prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem
pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para
assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e
indício suficiente de autoria.
Por sua vez, para analisar o decreto de prisão preventiva é necessário verificar o fumus
commissi delicti, ou seja, prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e
o periculum libertatis, risco que o agente em liberdade pode criar à garantia da ordem
pública, econômica, conveniência da instrução e à aplicação da lei penal.
Pela análise dos autos, não se constata o alegado constrangimento ilegal, porque o
decreto de prisão preventiva foi motivado em razão do fumus commissi delicti
(materialidade e indícios de autoria), bem como pelo periculum libertatis, derivado da
garantia da ordem pública, representada pela possibilidade de reiteração delitiva,
evidenciando a insuficiência das medidas cautelares diversas da prisão.
Consoante esclarecido quando do despacho que negou a liminar, a decisão que
decretou a prisão preventiva das pacientes foi assim proferida:
“Ocorre que, na hipótese dos autos, há dados concretos que autorizam a custódia
cautelar. Isso porque, os elementos presentes demonstram claramente a existência de
materialidade e indícios de autoria delitiva dos crimes de adulteração de sinal
identificador de veículo automotor e associação criminosa, os quais recaem sobre as
pessoas das custodiadas PATRICIA DO ROCIO CARVALHO e SUELY LEMOS DE
SOUZA.
[...]
A gravidade da conduta praticada é patente, pois há fortes indícios de que as
custodiadas fazem parte de grande esquema de adulteração de placas para veículos
objetos de roubo.
Neste ponto, destaca-se que, no momento da abordagem, Patricia do Rocio Carvalho
conduzia o veículo Jetta placa LUL 4667, o qual afirmou ser de propriedade de seu
namorado Humberto, o qual está preso pelo crime de roubo de cargas, de modo que
a ligação entre as custodiadas com Humberto deve ser melhor apurada.
[...]
Desta forma, a prisão preventiva das indiciadas mostra-se necessária para a garantia
da ordem pública e para a conveniência da instrução criminal, vez que a soltura, no
momento, poderia implicar no retorno às atividades delituosas, pois, ao que parece,
mesmo a prisão de outros supostos integrantes da quadrilha não foi suficiente para
que abandonassem as práticas delitivas. (fls. 70/71)”
Além disso, ressaltou a Juíza a quo que as custodiadas foram detidas na posse de
placas adulteradas, bem como na posse de um aparelho celular em que continham
mensagens de texto com outras “encomendas”. Ainda, na residência da paciente
PATRÍCIA, foram localizados outros pares de placas, módulos de ignição e o contrato
de locação do imóvel utilizado para a fabricação do material ilícito, o qual estava em
nome da paciente SUELY, local onde foram utilizados instrumentos de fabricação, tais
como prensas, placas virgens, tarjetas, matrizes, rolos de aplicação de tinta e fôrmas.

322

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Portanto, por certo que inexiste ilegalidade a ser sanada na decisão ora guerreada,
que negou o pedido de revogação da prisão preventiva (fls. 82-84), sobretudo tendo
em vista que a Juíza a quo registrou a necessidade da medida para evitar que as
pacientes retornem às práticas criminosas.
A Magistrada também asseverou, igualmente, que, embora as acusadas tenham filhos,
não restou demonstrado nos autos que as pacientes são as únicas responsáveis pelos
cuidados das crianças, sendo que a prisão domiciliar visa a proteção do direito das
destas, e não dos autores de crimes.
Ademais, ressaltou que “o fato de possuírem filhos não as impediu de manter
verdadeira `fábrica’ de placas adulteradas dentro de suas próprias residências, fato
este que demonstra que a prisão domiciliar, no presente caso, não seria suficiente para
impedir a continuidade do delito”.
Destaque-se que para a substituição da prisão preventiva pela domiciliar, além da
comprovação de que a paciente possui filhos menores, deve restar comprovado que
esta é a única responsável pelo cuidado da criança, situação não evidenciada no
presente writ.
Assim, não merece prosperar o pedido de prisão domiciliar.
Nesse sentido:
“HABEAS CORPUS. IMPUTAÇÃO, EM TESE, DOS CRIMES PREVISTOS NO ART. 14,
CAPUT , DA LEI Nº 10.826/03, ART.
180, CAPUT , ART.330 E ART. 329, §1º, TODOS DO CÓDIGO PENAL. PRISÃO
PREVENTIVA DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA NA GARANTIA DA ORDEM
PÚBLICA.
REITERAÇÃO NA PRÁTICA DELITIVA. PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DA INOCÊNCIA
QUE NÃO SE MOSTRA INCOMPATÍVEL COM A SEGREGAÇÃO CAUTELAR.
DESCABIMENTO DA PRISÃO DOMICILIAR COM O USO DE TORNOZELEIRA
ELETRÔNICA. INEXISTÊNCIA DE COMPROVAÇÃO QUE ESTEJA O PACIENTE
EXTREMAMENTE DEBILITADO POR MOTIVO DE DOENÇA GRAVE (ART. 318, INC. II
DO CPP) E QUE O RESPECTIVO TRATAMENTO NÃO POSSA SER REALIZADO NA
UNIDADE PRISIONAL.
INVIABILIDADE DE APLICAÇÃO DAS MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DO ART.
319, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE PROVAS
QUANTO A PRÁTICA DOS DELITOS.INVIABILIDADE DE EXAME NA VIA
ELEITA.CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS QUE NÃO 2 TÊM O CONDÃO DE, POR
SI SÓS, DESCONSTITUÍREM A CUSTÓDIA ANTECIPADA, CASO ESTEJAM
PRESENTES OS FUNDAMENTOS E REQUISITOS QUE AUTORIZEM A DECRETAÇÃO
DA MEDIDA EXTREMA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO CONFIGURADO.
ORDEM DENEGADA.” (TJPR, 2ª C.Criminal, HCC 1544087-6, Região Metropolitana de
Maringá - Foro Central de Maringá, Rel. Laertes Ferreira Gomes, Unânime, J.
28.07.2016).
Pelo exposto, verifica-se que decisão que decretou as prisões preventivas das
pacientes não configura constrangimento ilegal, notadamente porque fundamentada
em dados concretos evidenciados nos autos, demonstrando o preenchimento dos
artigos 312, 313 e 321, todos do Código de Processo Penal.
323

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A propósito, os seguintes precedentes do Superior Tribunal de Justiça:


“A garantia da ordem pública, para fazer cessar a reiteração criminosa, é fundamento
suficiente para a decretação e manutenção da prisão preventiva, quando há notícia de
que o acusado registra envolvimento em outros delitos da mesma natureza,
circunstância que revela a propensão a atividades ilícitas, demonstrando
periculosidade social e a real possibilidade de reiteração.” (RHC 44.857/MS, Rel. Min.
Jorge Mussi, 5ª Turma, Dje 12.06.2014).
“PROCESSO PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE
DROGAS. PRISÃO EM FLAGRANTE CONVERTIDA EM PRISÃO PREVENTIVA.
GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. PERICULOSIDADE. GRAVIDADE CONCRETA DO
DELITO.
1. A validade da segregação cautelar está condicionada à observância, em decisão
devidamente fundamentada, aos requisitos insertos no art. 312 do Código de
Processo Penal, revelando-se indispensável a demonstração do que consiste o
periculum libertatis.
2. No caso, a decisão que impôs a prisão preventiva apontou a periculosidade do
recorrente, evidenciada pela notícia de que responde a outros dois inquéritos por
crimes de mesma natureza e de que seria o chefe do tráfico na região do Bairro Vila
Oeste. Impende destacar, ainda, a gravidade concreta da conduta que lhe é imputada,
consubstanciada no fato de ter sido apreendida significativa quantidade de
entorpecente (315g de maconha) e de se valer de menores para a prática delitiva.
Assim, faz-se necessária a segregação provisória como forma de acautelar a ordem
pública. 3. Recurso ordinário desprovido.” (STJ, RHC 77.525/MG, Rel. Ministro
ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julg. 15.12.2016, DJe 02.02.2017).
No mesmo sentido esta Segunda Câmara já assentou que:
“HABEAS CORPUS - PACIENTE PRESO EM FLAGRANTE PELA PRÁTICA, EM TESE,
DO CRIME DE COMÉRCIO ILEGAL DE ARMAS E MUNIÇÕES (ART. 17, PARÁGRAFO
ÚNICO, C/C ART. 19, DA LEI 10.826/03) - ALEGAÇÃO DE CONSTRANGIMENTO
ILEGAL DECORRENTE DA FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO DO DECRETO DE PRISÃO
PREVENTIVA - DESCABIMENTO - DECISÃO SUFICIENTEMENTE FUNDAMENTADA
NA NECESSIDADE DE GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA - MATERIALIDADE
COMPROVADA E INDÍCIOS VEEMENTES DE AUTORIA - ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA
DOS MOTIVOS DETERMINANTES DA CUSTÓDIA PREVENTIVA - DESCABIMENTO -
GRAVIDADE CONCRETA DO DELITO EVIDENCIADA PELO MODUS OPERANDI -
PRISÃO COMO FORMA DE COIBIR A REITERAÇÃO DELITIVA - CONDIÇÕES
PESSOAIS FAVORÁVEIS NÃO SÃO GARANTIDORAS DE EVENTUAL DIREITO
SUBJETIVO À LIBERDADE PROVISÓRIA - PRECEDENTES.ORDEM DENEGADA.”
(TJPR, 2ª C.Criminal, HCC 1541026-1, Lapa, Rel. Roberto De Vicente, Unânime, J.
07.07.2016).
Assim, verifica-se que decisão que decretou e manteve a prisão preventiva das
pacientes, negando-lhes o direito à prisão domiciliar, não configura constrangimento
ilegal, notadamente porque fundamentada em dados concretos evidenciados nos
autos.

324

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Portanto, não há constrangimento ilegal a ser reparado, razão pela qual se impõe
denegar a ordem impetrada, nos termos da fundamentação.
ANTE O EXPOSTO, acordam os Desembargadores integrantes da 2ª Câmara Criminal
do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em denegar a
ordem.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador Luís Carlos Xavier (com voto) e dele
participaram os Juízes Substitutos em Segundo Grau Mauro Bley Pereira Junior e
Marcel Guimarães Rotoli de Macedo.
Curitiba, 29 de junho de 2017.
Des. Luís Carlos Xavier ­ Relator

2.3.8. ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA

APELAÇÃO CRIME - EX-PREFEITO E EX-SECRETÁRIOS MUNICIPAIS DE FOZ DO

IGUAÇU/PR ABSOLVIDOS SUMARIAMENTE EM PRIMEIRA INSTÂNCIA - 1. RECURSO

DE APELAÇÃO PENDENTE DE JULGAMENTO PERANTE ESTE TRIBUNAL -

DIPLOMAÇÃO DE UM DOS RÉUS COMO DEPUTADO ESTADUAL - PRERROGATIVA

DE FORO QUE IMPÕE DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA PARA O ÓRGÃO

ESPECIAL - PROSSEGUIMENTO DA AÇÃO A PARTIR DO ESTADO EM QUE SE

ENCONTRA, SENDO LEGÍTIMOS OS ATOS ANTERIORMENTE PRATICADOS -

2.MANUTENÇÃO DA UNIDADE DO PROCESSO - JULGAMENTO CONJUNTO -

SÚMULA 704 DO STF - CELERIDADE E ECONOMIA PROCESSUAL. 3. DELITO DE

NOMEAÇÃO DE SERVIDOR CONTRA EXPRESSA PREVISÃO DE LEI (ART. 1º, INC. XIII,

DO DL 201/67) - NÃO CONFIGURAÇÃO - EXISTÊNCIA DE NORMAS MUNICIPAIS

AUTORIZADORAS - ART. 37, II E V DA CF QUE NÃO COMPLEMENTA A ELEMENTAR

DO TIPO "EXPRESSA DISPOSIÇÃO DE LEI" - DIREITO PENAL - PRINCÍPIOS DA

LEGALIDADE ESTRITA - CARÁTER SUBISDIÁRIO - HERMENÊUTICA PENAL -

PECULIARIDADES - TIPICIDADE CONGLOBANTE - ATIPICIDADE DA CONDUTA

EVIDENCIADA - PRECEDENTES DO STJ E DO STF - 4. ORDENAÇÃO DE DESPESA

NÃO AUTORIZADA POR LEI (ART. 359-D DO CP) - AFASTAMENTO DO CRIME

COMO DECORRÊNCIA LÓGICA DA ABSOLVIÇÃO EM RELAÇÃO AO DELITO

ANTERIOR - NORMA PENAL EM BRANCO - TIPO PENAL EXIGE QUE A

DEMONSTRAÇÃO DA INOBSERVÂNCIA DAS REGRAS INSCULPIDAS NA LEI DE

325

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

RESPONSABILIDADE FISCAL - PEÇA ACUSATÓRIA QUE NÃO NARRA QUE A

DESPESA CONTRARIOU OS NORMATIVOS DA LEI Nº 101/2000 - LEI MUNICIPAL

AUTORIZANDO O PAGAMENTO DA VERBA DE REPRESENTAÇÃO - ATIPICIDADE

DAS CONDUTAS EVIDENCIADA - 5. DILAÇÃO PROBATÓRIA DESPICIENDA -

DECRETO DE ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA MANTIDO - APELAÇÃO DESPROVIDA.1.

Incumbe ao Órgão Especial deste Tribunal de Justiça, nos termos do art. 101, VII, "a",

da Constituição Estadual e art.84, II, "a", do RITJPR, processar e julgar

originariamente, nas infrações penais comuns e de responsabilidade, os Deputados

Estaduais desde o momento em que passam a ter direito a assento na cadeira

parlamentar, com a expedição do diploma (art. 53, § 1º, da Constituição Federal

aplicado por simetria). Nestes termos, manifestando-se a prerrogativa de foro após a

sentença proferida pelo juízo de primeiro grau e pendente de julgamento o recurso de

apelação, passa a causa à jurisdição deste Órgão Especial, para aqui ter seu

prosseguimento a partir do estado em que se encontra, legítimos os atos

anteriormente nela praticados.2. Nos termos da Súmula n° 704 do STF: "não viola as

garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por

continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de

um dos denunciados". Desta forma, o julgamento conjunto de todos os apelados é

medida que se impõe, pois eventual cisão do feito trará, tão somente, prejuízo à

prestação jurisdicional, em detrimento da economia processual, bem como a

possibilidade de decisões contraditórias - situação inexplicável aos olhos dos

jurisdicionados e da sociedade em geral. Precedentes do STF.3. Evidenciado que as

nomeações realizadas pelos apelados tiveram amparo em normas municipais, cumpre

reconhecer a atipicidade da conduta, uma vez que o tipo penal inserto no art. 1.º,

inciso XIII, do Decreto-Lei nº 201/67 exige a nomeação, admissão ou designação

servidor, contra expressa disposição de lei, o que não ocorreu na espécie.Ainda, o art.

37, incisos II e V, da Constituição Federal não podem servir de complemento à

elementar constante do art.1º, inc. XIII, do Decreto-Lei nº 201/67 ("afronta à expressa

disposição de lei"), por falta de certeza, o que implicaria em lesão ao princípio da

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legalidade estrita, e, em que pese tais condutas possam eventualmente caracterizar

ilícitos civis ou administrativos, não possuem o condão de tipificar a conduta, pois

"não se deve, em nome de exagerado rigorismo formal, atribuir a uma mera

irregularidade administrativa o ‘status’ de crime".1 Outrossim, existe autorização no

ordenamento municipal para as nomeações tal como ocorreram, o que as legitima e,

segundo a teoria da tipicidade conglobante, afasta-se a tipicidade das condutas.4.

Tratando-se o tipo penal do art. 359-D de "Lei Penal em Branco", cuja disciplina

integrativa deve ser dada pelas disposições da LC nº 101/2000, cumpria ao órgão

ministerial indicar quais as prescrições contidas na Lei de Responsabilidade Fiscal,

notadamente as relativas à autorização legal para a ordenação da despesa (arts. 15, 16

e 17), ou mesmo em outras leis de natureza fiscal, que teriam sido violadas na

concessão das verbas de representação, o que não ocorreu na espécie.5. Se os fatos

descritos na peça acusatória evidentemente não se amoldam às figuras penais nela

capituladas, forçoso é o reconhecimento do acerto do decreto absolutório expedido

pelo juízo "a quo" com fundamento no art. 397, III, do CPP eis que na espécie afigura-

se injustificável a perpetuação do processo penal para fins de desnecessária dilação

probatória.1 Denúncia Crime 140899-1, 1ª C.Criminal, Rel. Des. José Mauricio Pinto de

Almeida, julg.05.08.2004. Apelação Crime n° 1.379.622-05

(TJPR - Órgão Especial - AC - 1379622-0 - Foz do Iguaçu - Rel.: Luís Carlos Xavier -

Unânime - J. 01.02.2016)

Inteiro Teor

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Crime (OE) nº 1379622-0, de


Foz do Iguaçu ­ 1ª Vara Criminal, em que é Apelante Ministério Público do Estado do
Paraná e Apelados Francisco Lacerda Brasileiro (Deputado Estadual), Lincoln Barros de
Souza, Paulo Mac Donald Ghisi, Elenice Nurnberg e Emerson Roberto Castilha.
Trata-se de Apelação Criminal interposta pelo Ministério Público do Estado do Paraná
(fls. 507/525) em face da sentença que absolveu sumariamente os réus, ora apelados,
Francisco Lacerda Brasileiro (Deputado Estadual), Lincoln Barros de Souza, Paulo Mac
Donald Ghisi, Elenice Nurnberg e Emerson Roberto Castilha, com fundamento no art.
397, III, do CPP (atipicidade das condutas), proferida nos autos de Ação Penal nº
25918-41.2013.8.16.0030, proveniente da 2ª Vara Criminal da Comarca de Foz do
Iguaçu (fls. 485/488).
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Alega o apelante que o decreto absolutório foi precipitado ante à necessidade de


dilação probatória para aferir de forma cabal a existência dos crimes narrados na
inicial, e, ainda, porque vige nesta fase de admissibilidade o princípio do “in dubio pro
societate” em detrimento do “in dubio pro reo”.
Sustenta que restou caracterizada a prática da infração prevista no artigo 1º, inciso
XIII, do Decreto-Lei nº 201/67, uma vez que a nomeação dos servidores Glauce Helena
Valiente, Luis Carlos dos Santos, Sérgio Augusto Baldin e Nauha Pansani Grillo,
promovida pelos apelados, está em dissonância com o disposto no artigo 37, incisos II
e V, da Constituição Federal, uma vez que os mencionados servidores não exerciam
atribuições de direção, chefia ou assessoramento, mas sim de: i) assessoria do
Superintendente da FOZTRANS, ii) elaboração de documentação de entrada e
posterior liberação de veículos apreendidos na FOZTRANS, iii) realização de trabalhos
externos, verificação de multas, cadastrar infrações de trânsito, manutenção de
equipamentos de trânsito e relatório de fluxo de veículos na FOZTRANS; iv) prestação
de informações ao público em geral e fiscalizar do cumprimento dos horários dos
ônibus na FOZTRANS, respectivamente. Alega, ainda, que por exercerem suas funções
naquele órgão não poderia receber a verba de representação de gabinete, restando
configurada também a prática da infração prevista no artigo 359-D do Código Penal.
As contrarrazões foram apresentadas pelos apelados, oportunidade em que
pugnaram pelo desprovimento da apelação (fls.
529/560, 567/646 e 649/652).
Em razão da diplomação do corréu Francisco Lacerda Brasileiro no cargo de
Deputado Estadual, para o qual se impõe o reconhecimento do foro privilegiado (art.
57, § 4º, da CE), o Juízo “a quo” declinou a competência do feito a este Tribunal de
Justiça (fl. 653).
Tendo o processo tramitado inicialmente na 2ª Câmara Criminal, recebeu
pronunciamento da Procuradoria-Geral de Justiça pelo aproveitamento dos atos
realizados em 1º grau, ratificação do apelo e seu provimento para cassação da decisão
de absolvição sumária (fls. 662/705).
Todavia, o feito acabou por ser encaminhado a este C. Órgão Especial, com
fundamento no artigo 84, inciso II, alínea “a”, do Regimento Interno deste Tribunal de
Justiça ((fl. 708).
É o relatório.
VOTO.
1. Foro por prerrogativa de função de um dos apelados ­ Superveniente
deslocamento de competência ­ Aproveitamento dos atos processuais realizados em
primeiro grau.
Preliminarmente, observa-se que um dos apelados, Francisco Lacerda Brasileiro, foi
diplomado no cargo de Deputado Estadual em 17.12.2014 (fl. 708), cuja informação
vem confirmada em consulta ao Tribunal Regional Eleitoral do Paraná.2
Em que pese tal fato (diplomação) tenha ocorrido após a prolação da sentença, em
atenção aos precedentes do Supremo Tribunal Federal3, deste Órgão Especial4, bem
como ao disposto no artigo 84, do Código de Processo Penal, artigo 84, inciso II,

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alínea ‘a’, do RITJPR e artigo 53, §1°, da Constituição Federal5 ­ aplicado por simetria
­, entende-se que compete a este Órgão Especial o julgamento da presente apelação.
Quanto aos atos processuais realizados em primeiro grau de jurisdição, razão assiste a
Procuradoria Geral de Justiça. Isso porque se denota dos autos que a presente ação
teve início quando o réu Francisco Lacerda Brasileiro ainda não gozava de foro por
prerrogativa de função, e já em 24.02.2015, isto é, no primeiro contato da magistrada
“a quo” com os autos após a diplomação do acusado no cargo de Deputado Estadual,
a i. Juíza de Direito declinou da competência para o julgamento do feito a este E.
Tribunal de Justiça (fl. 653).
Verifica-se, outrossim, que nenhum ato processual foi praticado após a diplomação do
corréu no cargo de Deputado Estadual, assim, é de rigor concluir que todos aqueles
existentes até aquela data foram praticados por juiz detentor de plena competência.
A propósito:
“RECURSO ORDINÁRIO EM “HABEAS CORPUS” - DENÚNCIA RECEBIDA POR
MAGISTRADO DE PRIMEIRO GRAU - SUPERVENIENTE INVESTIDURA DO
DENUNCIADO COMO PREFEITO MUNICIPAL - VALIDADE JURÍDICA DA DECISÃO
QUE ADMITIU A PEÇA ACUSATÓRIA, EIS QUE PROFERIDA POR AUTORIDADE
JUDICIÁRIA QUE DISPUNHA, À ÉPOCA, DE PLENA COMPETÊNCIA - APLICAÇÃO,
AO CASO, DO POSTULADO SEGUNDO O QUAL “TEMPUS REGIT ACTUM” -
CONSEQUENTE DESNECESSIDADE DE RENOVAÇÃO DE TAL ATO PROCESSUAL -
PRECEDENTES - (...) RECURSO DE AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.” (STF,
RHC 120332 AgR, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julg. 26.08.2014,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-220 DIVULG 07.11.2014 PUBLIC 10.11.2014) (grifo
nosso).
Logo, tendo em vista que os atos processuais foram realizados por magistrados
dotado de competência plena, devem ser aproveitados independente de ratificação.
2. Corréus não detentores de foro por prerrogativa de função. Julgamento conjunto.
Súmula n° 704 do STF. Princípios da celeridade e economia processual.
Prefacialmente ao exame do recurso, de ofício, impõe- se o reconhecimento da
aplicação dos termos da Súmula n° 704 do STF ao presente caso, haja vista que um
dos apelados possui prerrogativa de foro.
Pois bem. Em que pese apenas Francisco Lacerda Brasileiro seja detentor de foro
privilegiado, dentre o total de 05 (cinco) réus, entendo pelo julgamento conjunto e
unidade do processo ante a aplicação da Súmula n° 704 do STF, segundo a qual:
“Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a
atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de
função de um dos denunciados”.
Eventual cisão do feito tão somente trará prejuízo à prestação jurisdicional, em
detrimento da almejada economia processual, pois não há número elevado de
acusados que justifique tal medida e já houve a prolação de decreto absolutório em
relação a todos os apelados, de forma que se está a aguardar, tão somente, o
julgamento deste recurso.

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Outrossim, deve ser mencionada a possibilidade de decisões contraditórias em caso


de eventual desmembramento do feito, situação inexplicável aos olhos dos
jurisdicionados e da sociedade em geral.
Inclusive, destaque-se que esta mesma conclusão foi adotada pelo Pretório Excelso
no julgamento da Ação Penal n° 470 (caso “Mensalão”) e assim ficou ementado o
acórdão da questão de ordem:
“QUESTÃO DE ORDEM. INQUÉRITO. DESMEMBRAMENTO.
ARTIGO 80 DO CPP. CRITÉRIO SUBJETIVO AFASTADO.
CRITÉRIO OBJETIVO. INADEQUAÇÃO AO CASO CONCRETO.
MANUTENÇÃO INTEGRAL DO INQUÉRITO SOB JULGAMENTO DA CORTE.
Rejeitada a proposta de adoção do critério subjetivo para o desmembramento do
inquérito, nos termos do artigo 80 do CPP, resta o critério objetivo, que, por sua vez, é
desprovido de utilidade no caso concreto, em face da complexidade do feito.
Inquérito não desmembrado.
Questão de ordem resolvida no sentido da permanência, sob a jurisdição do Supremo
Tribunal Federal, de todas as pessoas denunciadas”. (STF - Inq-QO-QO 2245, Rel.
Min.
JOAQUIM BARBOSA, julg. 06.12.2006, publ. 09.11.2007, Tribunal Pleno) (grifo
nosso).
Registre-se que da mesma forma como foi decidido no caso do “Mensalão”, há
outros precedentes do Pretório Excelso determinando o julgamento em conjunto de
todos os réus, a exemplo das seguintes decisões: Inq 2601 QO, julgado em
20.10.2011; Inq 2704, julgado em 17.10.2012; AP 674 AgR, julgado em 04.04.2013.
Além disso, possui precedentes no sentido de que, em nome da economia processual,
nos casos de absolvição dos acusados, tal como ocorre in casu, não se justifica o
desmembramento, a exemplo da fundamentação complementar apresentada pelo
Min. Roberto Barroso na AP n° 347-CE.6
Oportuna é a citação das razões de decidir aplicadas no AgReg na AP n° 674. In
verbis:
“Preleciona José Frederico Marques, forte na lição de Hélie, que o princípio da
indivisibilidade do processo e da junção dos procedimentos conexos resulta não da
lei, mas da necessidade das coisas, contribuindo para a economia processual e para
evitar decisões divergentes ou contraditórias e constituindo, enquanto possibilita uma
visão mais completa dos fatos e da causa, fator de melhor aplicação jurisdicional do
direito (Tratado de Direito Processual Penal. Ed. Saraiva: 1980, São Paulo, p. 371)”.7
Ainda, merece destaque a seguinte decisão:
6 Conforme extrai-se do voto da Reatora na AP 347, Rel. Min. ROSA WEBER, Primeira
Turma, julg. 16.12.2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-036 DIVULG 24.02.2015
PUBLIC 25.02.2015, ocasião em que assentou-se a competência do STF para o
julgamento de todos os réus. In verbis: “Competente o Supremo Tribunal Federal para
julgar o presente feito, nos termos do art. 102, I, b, da Constituição Federal, tendo em
vista que o denunciado Aníbal Gomes exerce mandato de Deputado Federal,
devendo os demais co-acusados também ser julgados nesta instância originária”.
Ainda, na ocasião, o Min.
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Roberto Barroso assim asseverou: “(...) e temos precedentes aqui da Turma - que, no
caso de julgamento de improcedência da ação penal e, consequentemente, da
absolvição dos acusados, não temos desmembrado por entender que, em nome da
economia processual, se justifica o não desmembramento. Portanto estou
acompanhando a Relatora”.
7 AP 674 AgR, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Tribunal Pleno, julgado em 04/04/2013,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-081 DIVULG 30-04-2013 PUBLIC 02-05-2013.
“EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. RECEBIMENTO DA DENÚNCIA.
FORO PRIVILEGIADO. REJEIÇÃO. (...). 4. “Não viola as garantias do juiz natural, da
ampla defesa e do devido processo legal a atração por continência ou conexão do
processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados”
(Súmula 704 do Supremo Tribunal Federal). A decisão pela manutenção da unidade de
processo e de julgamento perante o Supremo Tribunal Federal ou pelo
desmembramento da ação penal está sujeita a questões de conveniência e
oportunidade, como permite o art. 80 do Código de Processo Penal. 5.
Embargos de declaração rejeitados”. (Inq 3412 ED, Rel. ROSA WEBER, Tribunal
Pleno, julg. 11.09.2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-196 DIVULG 07.10.2014
PUBLIC 08.10.2014).
Nestes termos, em atenção aos princípios da economia processual e da celeridade da
prestação jurisdicional, o julgamento conjunto é a medida que se impõe no presente
caso.
Finalmente, depreende-se dos autos que o termo de recurso foi apresentado
concomitantemente com a ciência pelo órgão ministerial, sendo, portanto, tempestivo
(fls. 492/492-v). Assim, presentes os requisitos de admissibilidade, conheço do recurso.
Passo ao exame da causa.
Mérito.
No mérito, o recurso não merece provimento, visto que a decisão recorrida não
merece reparos.
Na peça acusatória Imputa-se aos apelados a prática dos delitos previstos no artigo 1°,
XIII, do Decreto-Lei n° 201/67, de forma continuada, em concurso material com o
contido no artigo 359-D do Código Penal, também de forma continuada, por terem
realizado nomeações de servidores em desconformidade com a lei, bem como por
terem ordenado despesa não autorizada por lei (concessão de verba de gratificação
de gabinete).
Sobre as imputações formuladas aos apelados, assim consta na decisão ora recorrida.
“Narra a denúncia que os réus:
a) PAULO e EMERSON, nas condições de Prefeito e Secretário Municipal da
Administração de Foz do Iguaçu/PR, respectivamente, nomearam Glauce Helena
Valiente, Luis Carlos dos Santos, para exercer o cargo de provimento em comissão,
símbolo CC-3, de assessor I junto a Autarquia Municipal denominada “FOZTRANS”
(Instituto de Transportes e Trânsito de Foz do Iguaçu/PR), Sérgio Luiz Baldin, para
exercer o cargo de provimento em comissão, símbolo CC-4, de assessor II junto a
Autarquia Municipal denominada “FOZTRANS”;

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b) PAULO e FRANCISCO, nas condições de Prefeito e Secretário Municipal da


Administração de Foz do Iguaçu/PR, respectivamente, nomearam Luis Carlos dos
Santos, para exercer o cargo de provimento em comissão, símboloCC-4, de assessor I
junto a Autarquia Municipal denominada “FOZTRANS”, Sérgio Augusto Baldin, para
exercer o cargo de provimento em comissão, símbolo CC-3, de assessor I junto a
Autarquia Municipal denominada “FOZTRANS”; e,
c) PAULO, ELENICE e L1NCOLN, nas condições de Prefeito Municipal, Secretária
Municipal de Gestão de Pessoas e Políticas de Recursos Humanos e Secretário
Municipal da Administração de Foz do Iguaçu/PR, respectivamente, nomearam Nauha
Pansani Grillo, para exercer o cargo de provimento em comissão, símboloCC-3, de
assessor I junto a Autarquia Municipal denominada “FOZTRANS”.
Assim, teriam os réus nomeados servidores para cargos em comissão, contra expressa
disposição do art. 37, 11 e V, CF, visto que, em verdade, deveriam tratar-se de cargos
de provimento efetivo, os quais são preenchidos por prévia aprovação em concurso
público e, não, por simples nomeação, enquadrando-se dessa forma no art. 1°, XIII,
Decreto- Lei201/1967.
Da mesma forma, teriam os réus violado oart.6º, Lei Municipal n.2.116/1997, visto que
teriam nomeado servidores para trabalhar na Administração Direta, tendo sido estes
cedidos à Autarquia Municipal denominada “FOZTRANS’, o que configuraria desvio
de finalidade” (fl. 02).
O juízo de primeiro grau absolveu sumariamente os acusados, com fundamento no
art. 397, III, do CPP quanto aos crimes previstos no art. 1°, XIII, do Decreto-Lei n°
201/67 e art. 359-D do CP.
Pois bem. Consoante o art. 397, inc. III, do CPP o juiz deverá absolver sumariamente o
acusado quando verificar “que o fato narrado evidentemente não constitui crime”.
É o que ocorre no presente caso, em que as imputações narradas na peça acusatória,
de forma inequívoca, não constituem crime.
Explica-se.
3. Quanto ao delito do artigo 1°, XIII, do Decreto-Lei n° 201/67:
Quanto os fatos 1-A, 2-A, 3-A, 4-A, 5-A e 6-A, contidos na exordial acusatória, imputa-
se aos apelados o seguinte delito:
“Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipal, sujeitos ao
julgamento do Poder Judiciário, independentemente do pronunciamento da Câmara
dos Vereadores: XIII ­ Nomear, admitir ou designar servidor, contra expressa
disposição de lei; §1º. Os crimes definidos neste artigo são de ação pública, punidos
os dos itens I e II, com a pena de reclusão, de dois a doze anos, e os demais, com a
pena de detenção, de três meses a três anos”.
O ato imputado aos apelados é a nomeação dos servidores Glauce Helena Valiente
Doldan, Luis Carlos dos Santos, Nauha Pansani Grillo e Sergio Luiz Baldin para
exercerem suas funções junto à FOZTRANS (autarquia municipal), sob fundamento de
que tais nomeações importaram em afronta ao artigo 6°, da Lei Municipal n° 2.116/97
­ o qual determina que esta pessoa jurídica deve possuir quadro de pessoal e plano de
carreira próprios ­, e violação ao art. 37, II e V da Constituição Federal, visto que os

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cargos ocupados por tais servidores deveriam dar-se mediante provimento efetivo e
não simples nomeação.
O núcleo do tipo penal imputado aos apelados é o ato de Nomear, que consiste em
chamar alguém para o exercício de um cargo público, por meio de ato administrativo
formal. Assim, exige-se que o elemento normativo ­ afronta à expressa disposição de
lei ­, consume-se com a edição do ato administrativo de nomeação.
Pois bem, de fato, o artigo 6°, da Lei Municipal n° 2.116/97 prevê que a referida
autarquia terá quadro próprio de pessoal.
Todavia, in casu, no plano municipal, o artigo 2° da Lei n° 2.062/97 autoriza a cessão
de servidores. E mais especificamente assim prevê o artigo 15 do Regulamento Interno
da FOZTRANS:
“Art. 15. Para o desenvolvimento de suas atividades meio, até adoção do quadro de
pessoal e do provimento de vagas, ou em qualquer época, se assim jugado necessário
e conveniente, a FOZTRANS poderá se utilizar dos servidores municipais colocados à
sua disposição, sem prejuízo de seus vencimentos e vantagens.”
Além disso, a Lei Complementar Municipal n° 97/20058 autoriza a nomeação de
comissionados, o que, inclusive, foi reconhecido
pelo próprio agente ministerial em suas razões de apelação: “é evidente que os
agentes públicos de valeram da Lei Complementar Municipal n° 97/2005 para
nomearem os comissionados e isto não se questiona, até mesmo porque ao
administrador só é dado fazer o que a lei autoriza” (fl. 517).
Assim, levando em conta que tais nomeações ocorreram apoiadas em expressa
disposição legal, e não existindo proibição expressa, não há como não concluir pela
atipicidade da conduta. Em outras palavras, não há sequer de se cogitar eventual
conduta delituosa, porque havendo lei autorizando a nomeação de servidores tal
como ocorreu, a conduta é legítima, e sob qualquer ângulo que se olhe, não se
enquadra no disposto no art. 1°, XIII, do DL n° 201/67.
Neste aspecto, é oportuna a lição do Ministro Gilmar Mendes proferida no bojo do
HC 104078 em que se discutiu conduta semelhante praticada pelo então Prefeito de
Santa Fé do Sul-SP, cujo entendimento, mutatis mutandis, aplica-se ao presente caso.
In verbis:
“Por fim, acrescento que mesmo que se possa discutir a constitucionalidade no
preceito previsto no art. 2°, VIII, da Lei Municipal n° 1.631/90 é certo que sua eventual
inconstitucionalidade ­ e aqui estamos no campo das conjecturas ­ não tem como
corolário tornar típica a conduta praticada pelo paciente, na medida em que as
nomeações questionadas foram amparadas em seus preceitos, portanto
de Foz do Iguaçu e dá outras providências”. Disponível em: <
http://www.ceaam.net/foz/legislacao/index.php>. Acesso em 31 ago. 2015.
O Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça, respectivamente,
possuem diversos precedentes neste sentido:
“Habeas Corpus. 2. Ação Penal. 3. Prefeito. Contratação de servidores sem concurso
público. Art. 1º, XIII, do Decreto-Lei 201/67. 3. Lei municipal autorizadora (Lei
municipal 1.631/90, art. 2º, VIII). 4. Conduta atípica. Precedentes. 5.

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Ausência de justa causa caracterizada. Trancamento da ação penal. 6. Ordem


concedida” (STF, HC 104078, Rel. Min.
GILMAR MENDES, Segunda Turma, julg. 07.06.2011, DJe- 150, DIVULG 04.08.2011,
PUBLIC 05.08.2011) (grifo nosso).
“PENAL. CRIME DE RESPONSABILIDADE. DECRETO-LEI 201/67. PREFEITO
MUNICIPAL. CONTRATAÇÃO DE SERVIDORES SEM CONCURSO PÚBLICO.
EXISTÊNCIA DE LEI AUTORIZADORA. ATIPICIDADE DA CONDUTA. SÚMULA 283 DO
STF. AGRAVO IMPROVIDO. I - A contratação de servidores temporários para atender
necessidade de excepcional interesse público, amparada em lei municipal
autorizadora, afasta a tipicidade da conduta descrita no art. 1º, XIII, do Decreto-Lei
201/67. Precedentes (...) Agravo regimental improvido” (STF, RE 593058 AgR, Rel.
Min. RICARDO
9 STF, HC 104078, Rel. Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julg. 07.06.2011,
DJe-150 DIVULG 04.08.2011 PUBLIC 05.08.2011.
LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julg. 25.08.2009, DJe-176, DIVULG 17.09.2009,
PUBLIC 18.09.2009) (grifo nosso).
“HABEAS CORPUS. ART. 1º, INCISO XIII, DO DECRETO-LEI Nº 201/67. NOMEAÇÃO
DE SERVIDORES CONTRA EXPRESSA DISPOSIÇÃO LEGAL NÃO CONFIGURADA.
EXISTÊNCIA DE LEI MUNICIPAL AUTORIZADORA. ATIPICIDADE DA CONDUTA
EVIDENCIADA. PRECEDENTES DO STJ E DO STF. ORDEM DE HABEAS CORPUS
CONCEDIDA PARA TRANCAR A AÇÃO PENAL. 1. Evidenciado que as contratações
realizadas pelo Paciente, na condição de Prefeito Municipal, tiveram amparo legal na
Lei Municipal n.º 467/97, cumpre reconhecer a atipicidade da conduta, uma vez que o
tipo penal inserto no art. 1.º, inciso XIII, do Decreto-Lei n.º 201/67 exige a nomeação,
admissão ou designação servidor, contra expressa disposição de lei. 2. Ausente justa
causa para a ação penal, não se pode admitir que a máquina judiciária seja acionada,
envolvendo um cidadão na chamada persecução criminal, acompanhada de todos os
inconvenientes dela decorrentes e sobejamente conhecidos.
3. Ordem de habeas corpus concedida para trancar a ação penal”. (STJ, HC
238.192/PB, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julg. 07.08.2012, DJe
13.08.2012) (grifo nosso).
“RECURSO ESPECIAL. PENAL E PROCESSUAL CRIMINAL.
FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. INOCORRÊNCIA. MATÉRIA APRECIADA PELO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA (...). PREFEITO.
CRIME PREVISTO NO ART. 1º, INCISO XIII, DO DECRETO-LEI 201/67.
CONTRATAÇÃO DE AGENTES. AUSÊNCIA DE CONCURSO PÚBLICO. LEI
MUNICIPAL AUTORIZADORA.
NECESSIDADE EXCEPCIONAL DE INTERESSE PÚBLICO.
INEXISTÊNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A AÇÃO PENAL.
AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO DOS ARTS. 41 e 43 DO CPP E ART.
6º, DA LEI 8.038/1990. IMPROVIMENTO. 1. A existência de lei municipal autorizando
a contratação temporária de agentes para atender necessidade de excepcional
interesse público afasta a tipicidade da conduta referente ao art. 1º, inciso XIII, do
Decreto-lei 201/67, inexistindo justa causa para a ação penal; assim, não resta
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configurada a alegada contrariedade aos arts. 41 e 43 do Código de Processo Penal e


ao art. 6º da Lei 8.038/1990. Precedentes do STF e do STJ. 2. Recurso especial
conhecido em parte e, nesta extensão, improvido”.
(STJ, REsp 920.510/MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julg.
05.02.2009, DJe 09.03.20090) (grifo nosso).
“PENAL. RECURSO ESPECIAL. ART. 1º, INCISO XIII, DO DECRETO-LEI Nº 201/67.
ALEGADA VIOLAÇÃO AO ART. 619 DO CPP. INOCORRÊNCIA. EX-PREFEITO.
CONTRATAÇÃO DE PRESTADORES DE SERVIÇO. AUSÊNCIA DE CONCURSO
PÚBLICO. LEIS MUNICIPAIS AUTORIZADORAS. ATIPICIDADE.
REJEIÇÃO DA DENÚNCIA. (...) II - A existência de leis municipais autorizando a
contratação temporária de agentes públicos, para atender necessidade de excepcional
interesse público, afasta a tipicidade da conduta referente ao art. 1º, inciso XIII, do
Decreto-lei nº 201/67, que exige a nomeação, admissão ou designação de servidor
contra expressa disposição de lei (Precedentes do STJ e do STF).
Recurso especial desprovido” (STJ, REsp 849.174/RS, Rel.
Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julg. 17.04.2007, DJ 04.06.2007, p. 419)
(grifo nosso).
“CRIMINAL. CRIME DE RESPONSABILIDADE DE PREFEITO MUNICIPAL.
CONTRATAÇÃO CONTRA EXPRESSA DISPOSIÇÃO LEGAL. INOCORRÊNCIA.
ALEGAÇÃO DE OFENSA AO ART. 619 CPP. AUSÊNCIA DE OMISSÃO NO JULGADO.
EXISTÊNCIA DE LEI MUNICIPAL AUTORIZATIVA. ATIPICIDADE DA CONDUTA.
AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A AÇÃO PENAL. RECURSO DESPROVIDO. I.
Hipótese em que ex-Prefeito municipal foi denunciado como incurso no art. 1º, XIII, do
Decreto-lei porque teria realizado contratações contra expressa disposição legal. II. Se
o Tribunal referiu a existência de lei municipal nos moldes previstos pelo dispositivo
constitucional, isto é, enunciando o excepcional interesse público necessário à
contratação temporária, incabível a hipótese de ofensa ao art. 619 do CPP. III. Se a
contratação de servidores foi precedida de lei municipal autorizativa, a conduta não se
enquadra ao tipo penal em comento. IV.
Hipótese clara de ausência de justa causa para a ação penal por atipicidade da
conduta. V. Recurso desprovido.” (STJ, REsp 823055/RS, 5ª Turma, Rel. Min. Gilson
Dipp, DJU de 19.06.2006).
Nestes termos, registre-se que segundo Eugenio Raúl Zaffaroni, a tipicidade penal é
composta pela tipicidade legal ­ subsunção do fato à norma em análise formal ­ e
tipicidade conglobante ­ adequação conglobada do fato em face a todas as normas
jurídicas, inclusive as extrapenais, servindo esta como corretivo da tipicidade legal.
Assim, para Zaffaroni, mesmo as condutas que aparentemente violem normas penais
proibitivas, se estiverem de acordo com o Direito considerado como um todo, passam
a ser tratadas como fatos atípicos.
É o que leciona Luiz Flávio Gomes:
“O juízo de tipicidade deve ser concretizado de acordo com o sistema normativo
considerado em sua globalidade. Se uma norma permite, fomenta ou determina uma
conduta, o que está permitido, fomentado ou determinado por uma norma não pode
estar proibido por outra”.10
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In casu, os normativos acima mencionados (Lei Complementar Municipal nº 97/2005,


art. 2° da Lei n° 2.062/97 e o art.
15 do Regulamento Interno da FOZTRANS), pertencentes ao ordenamento jurídico
municipal, permitem a cessão de servidores, o que afasta a tipicidade.
Por outro lado, defende o órgão ministerial que as nomeações dos servidores Luis
Carlos dos Santos, Nauha Pansani Grillo e Sergio Luiz Baldin também contrariou o
disposto nos incisos II e V, do artigo 37 da Constituição Federal, por entender que
estes não exerciam funções típicas de assessoramento, cujos preenchimentos dos
cargos deveriam dar-se mediante concurso público e não por simples nomeação, o
que segundo sua ótica configura desvio de finalidade.
Neste aspecto pontuou o Ministério Público que “pretende demonstrar o evidente
desvirtuamento das atribuições do cargo comissionado por parte dos recorridos, que
entenderam por bem preencher os quadros da Administração afastando a exigência
constitucional de Concurso público” (fl. 518).
A denúncia expressou que as atividades desempenhadas pelos referidos
comissionados seriam ofensivas aos ditames constitucionais porque embora nomeados
para cargos de assessor, na realidade, executavam outras atividades: a) Luis Carlos dos
Santos tinha a função de “elaborar a documentação de entrada e posterior libração de
veículos apreendidos (parte administrativa) conforme termo de declaração” (fls. 10 e
13), b) as atribuições de Nauha Pansani Grillo “consistiam em prestar informações ao
público em geral e fiscalizar o cumprimento de horários dos ônibus” (fl. 16), c) Sergio
Luiz Baldin “tinha como atribuições a realização de trabalhos externos, verificação de
multas, cadastramentos de infrações de trânsito (conferia se o veículo era o mesmo
que havia sido multado pelo equipamento eletrônico), zelava pela manutenção de
equipamentos de trânsito (redutores de velocidade), fazia relatórios de fluxo de
veículos” (fl. 19/20).
Todavia, a Constituição Federal e a Lei Complementar Municipal nº 97/2005 não
definiram um conceito para a atividade de assessoramento, própria de cargo em
comissão.
Logo, não há um conceito legal preestabelecido quanto às atribuições que condizem
ou não com o cargo em comissão, mas tão somente entendimento pretoriano quanto
às funções que não se enquadram em tal conceito, consoante se depreende da
decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal:
“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 37, II E V.
CRIAÇÃO DE CARGO EM COMISSÃO. LEI 15.224/2005 DO ESTADO DE GOIÁS.
INCONSTITUCIONALIDADE. É inconstitucional a criação de cargos em comissão que
não possuem caráter de assessoramento, chefia ou direção e que não demandam
relação de confiança entre o servidor nomeado e o seu superior hierárquico, tais como
os cargos de Perito Médico-Psiquiátrico, Perito Médico-Clínico, Auditor de Controle
Interno, Produtor Jornalístico, Repórter Fotográfico, Perito Psicológico, Enfermeiro e
Motorista de Representação. Ofensa ao artigo 37, II e V da Constituição federal. Ação
julgada procedente para declarar a inconstitucionalidade dos incisos XI, XII, XIII, XVIII,
XIX, XX, XXIV e XXV do art. 16-A da lei 15.224/2005 do Estado de Goiás, bem como
do Anexo I da mesma lei, na parte em que cria os cargos em comissão mencionados.”.
336

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Todavia, no campo do Direito Penal aplica-se o princípio da estrita legalidade ou


reserva legal, exigindo-se que a lei penal seja certa, o que condiz “com a clareza dos
tipos, que não devem deixar margens a dúvidas nem abusar do emprego de normas
muito gerais ou tipos incriminadores genéricos, vazios”12, razão pela qual a “lei penal
deve ser indiscutível em seus termos, taxativa (princípio da taxatividade)”, de modo
que “não pode descrever o crime de forma vaga, aberta, lacunosa”13.
Tem-se, portanto, que o artigo 37, incisos II e V, da Constituição Federal não podem
servir de complemento à elementar constante do artigo 1º, inciso XIII, do Decreto-Lei
201/67 ­ “afronta à expressa disposição de lei” ­, por falta de certeza.
Nessa quadra, sendo o ato de nomeação hígido, afigura-se inexorável a conclusão de
que a conduta imputada aos réus (NOMEAÇÃO CONTRA EXPRESSA DISPOSIÇÃO
LEGAL) não se amolda ao tipo penal descrito no artigo 1°, inciso XIII, do Decreto-Lei
n° 201/67, pois despida da elementar retro.
E conforme afirmado por Gilmar Mendes, em situação análoga, “não se trata, como
alegado pelo Parquet, de reducionismo interpretativo, mas de observância do
princípio da legalidade estrita, uma garantia em matéria penal”14. Afinal, a
hermenêutica na seara penal possui contornos próprios e não admite “contorcionismo
interpretativo” para a tipificação de condutas sob pena de afronta ao referido
princípio.
Destaque-se que, em que pese tais fatos possam eventualmente caracterizar ilícitos
civis ou administrativos ­ como ato de improbidade pública, a serem apuradas nos
órgãos e instâncias competentes, ou nos demais ramos do direito, não possuem o
condão de tipificar a conduta, e tal como já decidido por esta Corte de Justiça em
caso análogo, “não se deve, em nome de exagerado rigorismo formal, atribuir a uma
mera irregularidade administrativa o `status’ de crime”.15
Inclusive, é o que lecionam Luiz Flávio Gomes e Alice Bianchini, ou seja: “quando
devidamente justificada a defesa, deslegitimada encontra-se a possibilidade de se
punir a conduta, ao menos penalmente”.16
Ora, se o direito penal é fundado no princípio da intervenção mínima, ínsito ao caráter
fragmentário deste ordenamento em relação aos demais, não se admite o
prosseguimento de um processo em que os bens já são objeto de tutela na seara
administrativa, civil, dentre outras, até mesmo porque, consta nos autos que houve
deflagração de procedimento administrativo perante o TCE-PR em face das condutas
objeto das imputações penais (fls. 32/142).
Neste aspecto, corrobora Claus Roxin:
“A proteção de bens jurídicos não se realiza somente mediante o Direito Penal, senão
que nessa missão cooperam todo o instrumental do ordenamento jurídico. O Direito
Penal é, inclusive, a última dentre todas as medidas protetoras que devem ser
consideradas, quer dizer que somente se pode intervir quando falhem outros meios de
solução social do problema ­ como a ação civil, os regulamentos de polícia, as sanções
não penais, etc. Por isso se denomina a pena como a `ultima ratio da política social’ e
se define sua missão como proteção subsidiária de bens jurídicos.”17
Inclusive, fruto do procedimento administrativo levado a efeito pela Corte de Contas
do Estado, constam inúmeras recomendações quanto ao “achado 23 ­ Provimento de
337

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Cargos em Comissão em Afronta à Constituição por autarquia Municipal ­ FOZTRANS”


(fl. 34), dentre elas: - “exoneração dos ocupantes de cargos comissionários em afronta
à Constituição; - adequação da lei que trata dos cargos comissionários, com a extinção
dos cargos que não satisfazem a exigência constitucional (...); - imposição de 85
(oitenta e cinco) multas ao Gestor por infringência ao comando constitucional (...)” (fl.
35).
Além disso, verifica-se que a partir deste procedimento administrativo o Ministério
Público instaurou Inquérito Civil (fl. 145) e a respectiva Ação Civil Pública 0024984-
83.2013.8.16.0030, visando a responsabilização por improbidade administrativa, em
face dos
mesmos réus e dos mesmos fatos aqui sob julgamento (fls. 550/560), atualmente em
grau de recurso perante este Tribunal.18
Desta forma, houve uma resposta estatal em face de tais condutas, em que pese sob
a ótica dos demais ramos do direito.
Por tais razões, resta evidente a atipicidade da conduta atribuída aos apelados (no
tocante aos fatos 1­A, 2-A, 3-A, 4-A, 5-A e 6-A), não merecendo reparos a sentença
combatida.
4. Quanto ao delito do art. 359-D do CP:
Quanto aos fatos 1-B, 2-B, 3-B, 4-B, 5-B e 6-B, consoante se depreende da narrativa
fática, os servidores Glauce Helena Valiente Doldan, Luis Carlos dos Santos, Nauha
Pansani Grillo e Sergio Luiz Baldin foram designados para exercerem suas funções
junto à FOZTRANS e passaram a receber verba de representação.
Desta forma, defende o apelante que estes não possuíam função de representação de
gabinete, de modo que os apelados teriam ordenado despesa não autorizada por lei,
“tendo em vista que sobredita verba somente é devida para aqueles servidores que
efetivamente fazem tal representação, o que não ocorre no presente caso, conforme
previsto no artigo 7º, inciso IV, da Lei Complementar nº 97/2005” (fl. 08), o que violaria
as prescrições do artigo 359-D do Código Penal, cuja redação é a seguinte:
“Art. 359-D. Ordenar despesa não autorizada por lei:
Pena ­ reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.”
Ainda, nas razões do apelo o órgão ministerial sustenta que por não representarem o
gabinete do Chefe do Executivo tal despesa não estaria autorizada, pois conforme o
disposto no artigo 7º, inciso IV, da Lei Complementar Municipal nº 97/2005, a
gratificação é devida nos seguintes termos:
“Art. 7º. Além do vencimento do cargo, o ocupante de cargo em comissão terá, na
forma da lei, as seguintes vantagens:
IV ­ gratificação por representação do Gabinete.”
Todavia, não merece acolhimento o apelo, em primeiro lugar porque consoante
apontado na sentença recorrida, tendo sido reconhecida a legalidade dos atos de
nomeação aqui questionados ­ e respectiva absolvição em relação ao delito do artigo
1°, XIII, do Decreto-Lei n° 201/61 ­, o afastamento do crime do artigo 359-D do
Código Penal é decorrência lógica da improcedência do pedido anterior, pois uma vez
reconhecida a legalidade do ato de nomeação “não há que se falar que o pagamento

338

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da verba de representação à ocupante do cargo em comissão também se revista de


ilegalidade patente” (fl. 488-v.).
Além disso, registre-se que a conduta incriminada é a ordenação de despesa não
autorizada por lei, cujo tipo penal do artigo 359-D é classificado como norma penal
em branco, “uma vez que o rol das despesas permitidas e das não-autorizadas se dá
por acréscimo de normas legais diversas”.
E por estar inserido no Código Penal no Capítulo “DOS CRIMES CONTRA AS
FINANÇAS PÚBLICAS”, a respectiva disciplina integrativa deve ser dada pelas
disposições da Lei Complementar n.º 101/2000, que regula a responsabilidade fiscal
na Administração Pública.
É o que leciona Cezar Roberto Bittencourt:
“Para a configuração do crime, no entanto, é necessária a existência de lei
disciplinando a gestão financeira e, principalmente, estabelecendo as vedações. Em
verdade essa lei já existe, ou seja, há a LC n. 101/2000, que em seus arts. 15, 16 e 17,
constantes no Capítulo IV, relacionam as despesas que a lei considera não autorizadas;
os arts. 18 a 24 do mesmo capítulo complementam as vedações” (destacado).
TRF4, ACR 2007.72.12.000241-4, Sétima Turma, Relator Néfi Cordeiro, D.E.
22/04/2010.
“O delito de ordenação de despesa não autorizada encontra- se tipificado no art. 359-
D do Código Penal. Cuida-se de norma penal em branco, cujo complemento poderá
ser encontrado nos arts. 15, 16 e 17 da Lei de Responsabilidade Fiscal.
A Lei de Responsabilidade Fiscal, portanto, será utilizada como complemento para
interpretação e aplicação do art. 359-D do Código Penal” (destacado).21
No mesmo sentido é o entendimento de Luiz Regis Prado:
“Constitui o tipo do artigo 359-D do Código Penal lei penal em branco, que
necessita, para exata compreensão de seu preceito, complementação por norma de
Direito Financeiro que determine as hipóteses em que as despesas restam autorizadas.
De acordo com a Lei Complementar 101/2000, que regula a responsabilidade fiscal
dos agentes públicos.
Serão consideradas não autorizadas, irregulares e lesivas ao patrimônio público a
geração de despesa ou assunção de obrigação que não atendam o disposto nos arts.
16 e 17 (art. 15)” (destacado)22
E, finalmente, corroborado as lições doutrinárias retro, assim explica Fernando Capez:
“De acordo com a Lei de Responsabilidade Fiscal, em seu art. 15, Seção I, Capítulo IV,
serão consideradas não autorizadas, irregulares e lesivas ao patrimônio público a
geração de despesa ou a assunção de obrigação que não atenda ao disposto nos arts.
16 e 17.
Assim, por exemplo, deve a geração de despesa vir acompanhada da `declaração do
ordenador de despesa de que o aumento tem adequação orçamentária anual e
compatibilidade com o plano plurianual e com a lei de diretrizes orçamentárias’. A falta
de preenchimento deste requisito torna a despesa desautorizada nos termos da Lei de
Responsabilidade Fiscal” (destacado).23
A jurisprudência compartilha do mesmo entendimento:
“PENAL E PROCESSUAL PENAL. INQUÉRITO. DENÚNCIA. ART.
339

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319 E ART. 359-D, AMBOS DO CP. PREVARICAÇÃO E ORDENAÇÃO DE DESPESA


NÃO AUTORIZADA. ART. 41, CPP.
ATIPICIDADE DOS FATOS. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. FALTA DE SUPORTE
PROBATÓRIO MÍNIMO A ENSEJAR A PERSECUSÃO PENAL. REJEIÇÃO.
(...) O dolo é consubstanciado pela vontade deliberada e consciente do agente de
ordenar despesa não autorizada em lei, tratando o tipo penal disposto no art. 359-D
de norma penal em branco. O rol das despesas permitidas e das não- autorizadas se
dá por acréscimo de normas de direito financeiro, as quais integram o tipo penal”.
(STF, Inq: 3393 PB, Rel, Min. LUIZ FUX, Julg. 23.09.2014, Primeira Turma, DJe-224
DIVULG 13.11.2014 PUBLIC 14.11.2014).
“PENAL E PROCESSO PENAL. ART. 359-D DO CÓDIGO PENAL.
ORDENAÇÃO DE DESPESA NÃO AUTORIZADA POR LEI.
NORMA PENAL EM BRANCO. COMPRA DE MATERIAL COM VERBAS PÚBLICAS
SEM A COMPROVAÇÃO DE ENTREGA.
MATERIALIDADE E AUTORIA DEMONSTRADAS. DOLO. NÃO CONFIGURAÇÃO.
ABSOLVIÇÃO. 1. O art 359-D do Código Penal, segundo o qual é crime “ordenar
despesa não autorizada por lei”, consiste em norma penal em branco, uma vez que o
rol das despesas permitidas e das não- autorizadas se dá por acréscimo de normas
legais diversas.
(...)”. (TRF-4, Rel. NÉFI CORDEIRO, SÉTIMA TURMA, Julg.
13.04.2010).
“Ocorre que doutrina e jurisprudência entendem que referido tipo penal constitui
norma penal em branco, cujo complemento seria encontrado na Lei de
Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000), integrando
tal delito o que se convencionou chamar ‘tutela penal da responsabilidade na gestão
fiscal.
(...) A Corte Especial deste Superior Tribunal de Justiça, em mais de uma
oportunidade, já entendeu que o art. 359-D, segundo o qual é crime ‘ordenar despesa
não autorizada por lei’, consiste em norma penal em branco, uma vez que o rol das
despesas permitidas e das não autorizadas há de constar em outros textos legais,
entre os quais o da Lei Complementar nº 101/2000 (vide, v.g., a APN nº 389/ES, Min.
Nilson Naves).
É atípica, ao menos do ponto de vista penal, a conduta dos indiciados, pois as
contratações por eles levadas a efeito, durante os períodos em que cada um deles
esteve a frente do Tribunal de Contas do Estado de Goiás, não se enquadram na
moldura legal constante da Lei de Responsabilidade Fiscal” (STJ, INQUÉRITO 432 -
GO (2003/0067320-9), Decisão Monocrática, Rel. Min. Paulo Galotti, publ. 04.09.2007)
(grifo nosso).
Nestes termos, partindo-se do entendimento acima alinhavado, para efeito do tipo
penal de “despesa não autorizada”, diz a Lei de Responsabilidade Fiscal:
Art. 15. Serão consideradas não autorizadas, irregulares e lesivas ao patrimônio
público a geração de despesa ou assunção de obrigação que não atendam o disposto
nos arts.
16 e 17.
340

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Art. 16. A criação, expansão ou aperfeiçoamento de ação governamental que acarrete


aumento da despesa será acompanhado de:
I ­ estimativa do impacto orçamentário-financeiro no exercício em que deva entrar em
vigor e nos dois subseqüentes;
II ­ declaração do ordenador da despesa de que o aumento tem adequação
orçamentária e financeira com a lei orçamentária anual e compatibilidade com o plano
plurianual e com a lei de diretrizes orçamentárias.
§ 1º Para os fins desta Lei Complementar, considera-se:
I ­ adequada com a lei orçamentária anual, a despesa objeto de dotação específica e
suficiente, ou que esteja abrangida por crédito genérico, de forma que somadas todas
as despesas da mesma espécie, realizadas e a realizar, previstas no programa de
trabalho, não sejam ultrapassados os limites estabelecidos para o exercício;
II ­ compatível com o plano plurianual e a lei de diretrizes orçamentárias, a despesa
que se conforme com as diretrizes, objetivos, prioridades e metas previstos nesses
instrumentos e não infrinja qualquer de suas disposições.
§ 2º A estimativa de que trata o inciso I do caput será acompanhada das premissas e
metodologia de cálculo utilizadas.
§ 3º Ressalva-se do disposto neste artigo a despesa considerada irrelevante, nos
termos em que dispuser a lei de diretrizes orçamentárias.
§ 4º As normas do caput constituem condição prévia para:
I ­ empenho e licitação de serviços, fornecimento de bens ou execução de obras;
II ­ desapropriação de imóveis urbanos a que se refere o § 3º do art. 182 da
Constituição.
Art. 17. Considera-se obrigatória de caráter continuado a despesa corrente derivada
de lei, medida provisória ou ato administrativo normativo que fixem para o ente a
obrigação legal de sua execução por um período superior a dois exercícios.
§ 1o Os atos que criarem ou aumentarem despesa de que trata o caput deverão ser
instruídos com a estimativa prevista no inciso I do art. 16 e demonstrar a origem dos
recursos para seu custeio.
§ 2o Para efeito do atendimento do § 1o, o ato será acompanhado de comprovação
de que a despesa criada ou aumentada não afetará as metas de resultados fiscais
previstas no anexo referido no § 1o do art. 4o, devendo seus efeitos financeiros, nos
períodos seguintes, ser compensados pelo aumento permanente de receita ou pela
redução permanente de despesa.
§ 3o Para efeito do § 2o, considera-se aumento permanente de receita o proveniente
da elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração ou criação de
tributo ou contribuição.
§ 4o A comprovação referida no § 2o, apresentada pelo proponente, conterá as
premissas e metodologia de cálculo utilizadas, sem prejuízo do exame de
compatibilidade da despesa com as demais normas do plano plurianual e da lei de
diretrizes orçamentárias.
§ 5o A despesa de que trata este artigo não será executada antes da implementação
das medidas referidas no § 2o, as quais integrarão o instrumento que a criar ou
aumentar.
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§ 6o O disposto no § 1o não se aplica às despesas destinadas ao serviço da dívida


nem ao reajustamento de remuneração de pessoal de que trata o inciso X do art. 37
da Constituição.
§ 7o Considera-se aumento de despesa a prorrogação daquela criada por prazo
determinado”.
Pois bem. Tecidas tais considerações e revolvendo o caso concreto, verifica-se que a
exordial acusatória não indicou quais prescrições contidas na Lei nº 101/2000,
notadamente as relativas à autorização legal para a ordenação da despesa (arts. 15, 16
e 17), ou mesmo em outras leis de natureza fiscal, teriam sido violadas na concessão
das verbas de representação.
Deste modo, no âmbito penal não se admite interpretação ampliativa para fins de
abarcar normas outras que não aquelas relacionadas às despesas públicas.
Assim já decidiu o Superior Tribunal de Justiça, cuja lição, mutatis mutandis, plica-se
ao presente caso:
“Tem-se, assim, que a conduta típica, no que tange a despesa de pessoal e, pois, à
norma legal necessária que a complementa, requisita, para o seu aperfeiçoamento, o
enquadramento nos artigos 16, 17 e 21 da Lei Complementar nº 101/2000, sendo-lhe
estranha o que o Ministério Público chama de proibição constitucional, a condição da
aprovação prévia em concurso de provas ou provas e títulos para a investidura em
cargo ou emprego público (Constituição Federal, artigo 37, inciso II), que faria
irregulares os atos mediatos de provimentos dos cargos públicos.
Tal regressus ad remotum - e o é porque reclama alcançar não só o ato mediato
passado, mas, sobretudo, o seu título legal, para então mais regridir e afirmá-lo
inconstitucional -, mostra-se, de modo evidente, primus ictus oculi, inadmissível e
insustentável, na precisa e peremptória razão de que o complemento legal necessário
do tipo inserto no artigo 359-D do Código Penal, por força de sua própria letra, há de
dizer direta e imediatamente da despesa proibida, em nada se identificando com
norma jurídica outra, mesmo se referente a ato mediato que possa ser relacionado
com a despesa pública, como seu antecedente, ainda que 24 necessário”.
Além disso, conforme retro mencionado, a própria Lei Complementar Municipal nº
97/2005, que regulamenta a matéria no Executivo Municipal, determina que a verba
de representação seja percebida pelos servidores que ocupem cargo em comissão na
administração municipal (art. 7, IV), e, desta forma, legitima a concessão da referida
vantagem na forma como determinado nas Portarias nº 33.857 (fls. 166/167), 33.858
(fl. 178-v), 44.126 (fl. 180), 46.150 (fl. 196), 44.125 (fl. 200) e 33.870 (fl. 201), razão pela
qual não se está, in casu, diante de uma despesa que tenha sido ordenada sem
específica autorização legal.
Ainda, deve ser acrescido que a Lei Complementar Municipal também não vedou a
percepção da referida verba para aqueles que, porventura, não estejam lotados no
Gabinete da Prefeitura, caso dos comissionados, e também não conceituou quais as
atividades que corresponderiam, ou não, à função de representação de gabinete, daí
porque não pode considerar, para fins penais, que as atividades desempenhadas por
Glauce Helena Valiente Doldan, Luis Carlos dos Santos, Nauha Pansani Grillo e Sergio
Luiz Baldin tenham desatendido alguma regulamentação inerente aos cargos.
342

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E aqui valem as mesmas considerações tecidas no item anterior sobre a hermenêutica


na seara penal, a qual não admite ampliações e conceitos vagos fim de abarcar certas
condutas e tipificá- las como crime.
Destarte, tem-se como não demonstrada a tipicidade das condutas narradas na peça
inicial (fatos 1-B, 2-B, 3-B, 4-B, 5-B e 6- B), não tendo sido narrado que a atribuição de
tal gratificação deixou de cumprir as normas previstas na Lei de Responsabilidade
Fiscal, tampouco, que tal atribuição seja vedada pelo ordenamento, não merecendo
reparos a sentença também ponto.
Outrossim, ao contrário do afirmado pelo apelante não há que se falar em
“dilapidação do patrimônio público” (fl. 524), pois “a efetiva prestação do serviço, em
contrapartida à nomeação para cargo em comissão, por si só afasta a ocorrência de
prejuízo ao erário”.25
Havendo manifesta atipicidade nas condutas descritas na exordial, razão não há para
postergar o fim do processo e, muito menos submeter indevidamente os indivíduos
aos malefícios de um processo penal, até mesmo porque, conforme afirma Eugênio
Pacelli de Oliveira: “só o ajuizamento da ação penal condenatória já seria suficiente
para atingir o estado de dignidade do acusado, de modo a provocar graves
repercussões na órbita de seu patrimônio moral, partilhando socialmente com a
comunidade em que desenvolve suas atividades”.26
Nestes termos, conforme já decidido por este Tribunal de Justiça, trata-se o art. 397
do CPP da “consagração do julgamento antecipado do processo no âmbito do
contexto criminal, que permite, mediante juízo de certeza, o abreviamento do
procedimento sem a necessidade da instrução criminal, porém, depois de dada a
oportunidade ao acusado de apresentar resposta preliminar”27.
Assim, inexistindo dúvida acerca da atipicidade do delito, não há que se falar no
princípio do “in dubio pro societate” ou precipitação quanto à prolação do decreto
absolutório, devendo ser mantido o decreto absolutório exarado em 1º grau.
25 STJ, REsp 1434296/PR, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, PRIMEIRA TURMA, julg.
16.06.2014, DJe 01.09.2014.
26 OLIVIERA, Eugênio Pacelli. Curso de Processo Penal. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2010, p. 132.
27 TJPR 8453945 PR, 845394-5, Rel. Miguel Pessoa, Julg.: 02.08.2012, 4ª C. Criminal.
O julgamento foi presidido pelo Senhor Desembargador Renato Braga Bettega (1º
Vice-Presidente, sem voto) e dele participaram os Senhores Desembargadores José
Sebastião Fagundes Cunha, Renato Lopes de Paiva, Guilherme Freire de Barros
Teixeira, Fernando Antonio Prazeres, D´artagnan Serpa Sá, José Carlos Dalacqua,
Telmo Cherem, Regina Afonso Portes, Ruy Cunha Sobrinho, Prestes Mattar, Rogério
Coelho, Marques Cury, Maria José de Toledo Marcondes Teixeira, Jorge Wagih
Massad, Sônia Regina de Castro, Rogério Kanayama, Lauro Laertes de Oliveira e
Eugênio Achille Grandinetti.
Curitiba, 01 de fevereiro de 2016.
Des. Luís Carlos Xavier ­ Relator

343

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

2.3.9. SONEGAÇÃO DE AUTOS

APELAÇÃO CRIME - SONEGAÇÃO DE PAPEL OU OBJETO DE VALOR PROBATÓRIO

(ART. 356, DO CP) - 1.SONEGAÇÃO DE AUTOS POR ADVOGADO - PLEITO

ABSOLUTÓRIO - NÃO CABIMENTO - AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADOS

- ACUSADO QUE POSSUÍA CIÊNCIA INEQUÍVOCA DA INTIMAÇÃO PARA A

RESTITUIÇÃO DOS AUTOS - COBRANÇA VIA LIGAÇÃO TELEFÔNICA - DOLO

DEMONSTRADO ANTE A AUSÊNCIA DE RESTITUIÇÃO - 2. PENA DE MULTA -

REDUÇÃO DE OFÍCIO - RECURSO DESPROVIDO, REDUZINDO, DE OFÍCIO, A PENA

DE MULTA.1. Possuindo o agente ciência inequívoca do pedido de restituição dos

autos, e não o restitui no prazo devido, resta configurado o dolo da conduta descrita

no artigo 356, do Código Penal.2. Deve ser a pena de multa reduzida, de ofício, para

conservar proporcionalidade com a reprimenda corporal. Apelação Crime nº

1.626.504-62

(TJPR - 2ª C.Criminal - AC - 1626504-6 - Cerro Azul - Rel.: Luís Carlos Xavier - Unânime

- J. 08.06.2017)

Inteiro Teor

Trata-se de Apelação Crime interposta em face da r.


sentença (mov. 104.1) proferida nos autos de Ação Penal n° 1521- 64.2014.8.16.0067,
que julgou procedente a denúncia, para o fim de condenar Fernando Elias Assunção
de Carvalho nas sanções do art. 356, do CP.
Fixou a pena em 08 (oito) meses de detenção, a ser cumprido inicialmente no regime
aberto, e 14 (quatorze) dias-multa, no valor de 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo
nacional. Substituiu a pena privativa de liberdade por uma restritiva de direito,
consistente em prestação pecuniária.
Fixou honorários advocatícios em favor do defensor nomeado, Dr. Ronaldo Anselmo
de Assis, em R$1.800,00 (mil e oitocentos reais), a serem suportados pelo Estado do
Paraná.
Inconformado, Fernando Elias Assunção de Carvalho interpôs recurso de apelação
(mov. 125.1) alegando, em síntese, pela ausência de dolo na conduta do réu, impondo
a sua absolvição. Defende que a cobrança dos autos não obedeceu ao procedimento
adequado, posto que o acusado somente foi intimado para a devolução através do
Diário da Justiça, sendo que de acordo com o entendimento do Superior Tribunal de
Justiça, há a necessidade de que a intimação pessoal do advogado seja feita através
de mandado.

344

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Sustenta pela absolvição do acusado, em razão da ausência de provas robustas de ter


ele agido dolosamente, ou então pela flagrante fragilidade probatória, pela aplicação
do princípio in dubio pro reo.
O representante do Ministério Público do Estado do Paraná apresentou contrarrazões
(mov. 128.1), defendendo pelo conhecimento e não provimento do recurso.
Nesta instância, a douta Procuradoria Geral de Justiça exarou parecer (fls. 10/17),
manifestando pelo desprovimento do apelo.
É o relatório.
VOTO
Presentes os pressupostos de admissibilidade, passo a análise do mérito do recurso.
Alega o apelante pela ausência de dolo na conduta do réu, impondo a sua
absolvição. Defende que a cobrança dos autos não obedeceu ao procedimento
adequado, posto que o acusado somente foi intimado para a devolução através do
Diário da Justiça, sendo que de acordo com o entendimento do Superior Tribunal de
Justiça, há a necessidade de que a intimação pessoal do advogado seja feita através
de mandado.
Sustenta pela absolvição do acusado, em razão da ausência de provas robustas de ter
ele agido dolosamente, ou então pela flagrante fragilidade probatória, pela aplicação
do princípio in dubio pro reo.
O delito de sonegação de papel ou objeto de valor probatório encontra-se previsto
no artigo 359, do Código Penal, o qual dispõe que:
“Sonegação de papel ou objeto de valor probatório Art. 356 - Inutilizar, total ou
parcialmente, ou deixar de restituir autos, documento ou objeto de valor probatório,
que recebeu na qualidade de advogado ou procurador: Pena - detenção, de seis
meses a três anos, e multa. “
Assim, o crime em questão restará configurado em sua forma omissiva quando o
agente deixar de restituir os autos, documento ou objeto de valor probatório, que
tenha recebido na qualidade de advogado ou procurador.
O tipo subjetivo do crime em tela, na sua modalidade omissiva, exige o dolo de
deixar de restituir os autos, não havendo previsão de dolo específico.
No caso em análise, o Dr. Fernando Elias Assunção de Carvalho, na qualidade de
advogado, em 18 de novembro de 2011, retirou em carga os autos n° 73/2002
(manutenção de posse), bem como os apensos sob nº 42/2003 (oposição), 51/2005
(atentado), 87/2006 (nulidade) e 45/2003 (nulidade), consoante livro de carga de autos.
Conforme certificado pela Vara Cível de Cerro Azul em 21 de janeiro de 2016, até a
referida data não havia sido retornado os autos que se encontram em poder do Dr.
Fernando Elias Assunção de Carvalho desde 18 de novembro de 2011 (mov. 25.3),
declarando que:
“(...) a serventia contatou telefonicamente com o Dr.
Fernando Elias Assunção de Carvalho no dia 28 de fevereiro de 2.013, para que
fossem devolvidos os autos, bem como efetuou a cobrança pelo Diário de Justiça n°
823, de 14 de março de 2.012, sendo que até a presente data não foram devolvidos
os autos números 0073/02 e os respectivos apensos 0042/03, 0051/05, 0087/06 e

345

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

0045/03 que encontram em poder do Dr. Fernando Elias Assunção de Carvalho desde
o dia 18 de novembro 2.011. “
Nesse mesmo sentido, o Escrivão Alcides Antônio Adamante, certificou que foi
conversado com o Dr. Fernando por telefone em 28.02.2013, ficando de retornar os
autos em cartório (mov.
4.3).
A testemunha Alcides Antônio Adamante relatou em juízo que o denunciado realizou
carga dos autos, tendo sido efetuada a cobrança destes quando decorrido o prazo
para devolução, por meio de Diário de Justiça, a qual foi reforçada, de forma pessoal,
por meio de ligação telefônica. Declarou que o acusado se comprometeu a realizar a
devolução dos cadernos processuais pelo correio, tendo permanecido inerte,
afirmando que “ele tinha noção, tinha ideia sim, que tinha que ser devolvido”. Narrou
que “teve uma época que veio uma herdeira do espólio aqui, dizendo que ele ligou
para ela lá em uma cidade de São Paulo, que eu não lembro qual que é, e ele queria
R$ 950,00 (novecentos e cinquenta reais) para devolver o processo, aí ela foi no
Ministério Público daqui e foi orientada que ela fosse até lá, para que fosse tentado
fazer flagrante no dia”. Declarou que fora realizada a tentativa de busca e apreensão
dos autos, a qual resultou infrutífera.
Apontou que “existe processo em andamento de restauração; que envolve uma área
grande de 500 mil alqueires e tem um depósito judicial de quase R$ 300.000,00
(trezentos mil reais) “ (...). (Mov. 75.1)
A testemunha Marcos Aurélio de Oliveira Paiva afirmou perante a autoridade judicial
que: “na época, eu estava fazendo digitalização dos autos e o Alcides pediu para eu
fazer um levantamento no livro de cargas de autos de advogados e verificar quais os
advogados que estavam com autos em cargas; havia mais ou menos 10 advogados
que eu fiz a cobrança e houve retorno e devolveram, com exceção desse advogado,
que além de eu tentar contato com ele várias vezes, eu conversei duas vezes, por
telefone, com o Dr. Fernando, mais três ou quatro vezes, entrei contato com o sócio
dele, porque ele não me atendia mais e o sócio se encarregou de entrar em contato
com ele para devolver, pois a carga estava em nome dele e do sócio, o sócio sempre
falava que iria entrar em contato com ele e efetuar a devolução dos autos; (...)”. (Grifos
nossos) (Mov. 75.1)
O réu não compareceu à audiência de instrução e julgamento, sendo decretada a sua
revelia (mov. 75.1).
Nota-se que no caso em análise resta comprovada a ciência inequívoca da intimação
para a restituição dos autos, por meio das certidões expedidas pela Vara Cível de
Cerro Azul, bem como pelo depoimento em juízo de Alcides Antônio Adamante e
Marcos Aurélio de Oliveira Paiva, que declararam que foi entrado em contato via
telefone com Dr. Fernando Elias Assunção de Carvalho, cobrando a restituição dos
autos retirados em carga.
Destarte, resta comprovado a materialidade e autoria delitiva do crime de sonegação
de papel ou objeto de valor probatório, bem como o dolo da conduta.
A respeito do dolo, cabe destacar que esse pode ser definido como a consciência e
vontade de realizar os elementos descritos no tipo. Assim, o Código Penal define em
346

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

seu artigo 18, inciso I, a conduta dolosa como sendo aquela em que o agente quis o
resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.
No delito em questão, o dolo consiste na vontade livre o consciente de inutilizar ou
deixar de restituir os autos, documento ou objeto de valor probatório, inexistindo para
a sua caracterização a necessidade de presença de dolo específico.
Conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça sobre o tema, o dolo do
crime previsto no art. 356, do CP, restará configurado quando o causídico,
devidamente intimado e ciente da necessidade de devolução dos autos, optar pela
retenção.
Veja-se:
“PENAL E PROCESSUAL PENAL. ART. 356 DO CÓDIGO PENAL. PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. ATIPICIDADE MATERIAL DA CONDUTA. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS NS. 282 E 356 DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. RETENÇÃO INJUSTIFICADA DE AUTOS. INTIMAÇÃO PARA DEVOLUÇÃO.
NECESSIDADE.
ALEGADA AUSÊNCIA DE DOLO NÃO CONFIGURADA.
IMPOSSIBILIDADE DE RESTITUIÇÃO. SÚMULA N.º 7/STJ.
1. Aplicam-se, mutatis mutandi, os óbices contidos nos verbetes sumulares ns. 282 e
256 do Supremo Tribunal Federal quando a matéria infraconstitucional não restou
analisada pelo Tribunal de Origem.
2. In casu, a aplicabilidade do princípio da insignificância à conduta perpetrada pelo
agente pela devolução dos autos antes do oferecimento da denúncia, não restou
sequer ventilada pela defesa perante a Corte a quo, o que impede o exame da
referida tese defensiva por ausência de prequestionamento.
3. Para configuração do crime tipificado no art. 356 do Estatuto Penalista é
imprescindível a intimação do advogado para a devolução dos autos.
4. Na espécie, as instâncias ordinárias afirmaram que o causídico fora devidamente
intimado quanto à necessidade de devolução dos autos, inclusive através de contato
telefônico, logrando êxito a devolução apenas quando do cumprimento de mandado
de busca e apreensão, restando, pois, configurado o dolo a partir do momento em
que, ciente da necessidade de devolução, optara o agente pela retenção.
5. Inviável a este Superior Tribunal de Justiça proceder à afirmação quanto à
impossibilidade fática de restituição dos autos pelo Agravante, eis que, para tanto,
seria necessário revolvimento do material fático/probatório, inviável na presente seara
recursal.
6. Agravo regimental a que se nega provimento.” (STJ, AgRg no REsp 1319888/RS,
Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julg. 04.09.2012, DJe 14.09.2012) (grifo
nosso)
Esse E. Tribunal de Justiça igualmente se manifestou sobre o tema:
“APELAÇÃO CRIME. DENÚNCIA PELO CRIME DE SONEGAÇÃO DE PAPEL OU
OBJETO DE VALOR PROBATÓRIO (ART. 356, CÓDIGO PENAL). ABSOLVIÇÃO DO
ACUSADO.
INSURGÊNCIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO. PROCEDÊNCIA DO
APELO.MATERIALIDADE E AUTORIA DO DELITO SUFICIENTEMENTE
347

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DEMONSTRADAS. ABSOLVIÇÃO POR ATIPICIDADE DA CONDUTA INADMISSÍVEL


NO CASO, TENDO EM VISTA A CLARA CONSTATAÇÃO DO DOLO DO ACUSADO,
DECORRENTE DA NÃO RESTITUIÇÃO DOS AUTOS EM JUÍZO, MESMO APÓS A SUA
INTIMAÇÃO PESSOAL. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.” (TJPR, 2ª C.Criminal,
AC 1008019-2, Região Metropolitana de Maringá - Foro Regional de Mandaguaçu,
Rel. Lidia Maejima, Unânime, J.
19.09.2013) (grifo nosso).
“APELAÇÃO-CRIME. IMPUTAÇÃO DE SONEGAÇÃO DE AUTOS (ART. 356 DO
CÓDIGO PENAL). ABSOLVIÇÃO, POR AUSÊNCIA DE PROVAS DO DOLO DELITIVO.
APELO DO MINISTÉRIO PÚBLICO, PARA QUEM AS PROVAS CONSTANTES NOS
AUTOS SERIAM SUFICIENTES À CONDENAÇÃO. INACOLHIMENTO. AUSÊNCIA DE
NOTIFICAÇÃO PESSOAL. RÉU QUE DETINHA VÁRIOS AUTOS COM DEVOLUÇÃO
EM ATRASO, TODOS COBRADOS POR VIA DE EDITAL E INFORMALMENTE, NO
BALCÃO DO CARTÓRIO.POSSIBILIDADE DE O ACUSADO NÃO TER ATENTADO
PARA ESTE ATRASO EM ESPECÍFICO.NÃO- COMPROVAÇÃO DE MÁ-FÉ, MALÍCIA
OU CONTUMÁCIA.
IRRESPONSABILIDADE DO CAUSÍDICO QUE, POR SI SÓ, NÃO CONFIGURA CRIME.
RECURSO DESPROVIDO.1. “(...) Para consumação desse delito é indispensável que
ocorra a intimação e esta não seja atendida pelo advogado.
Entende-se como intimação o contato feito, via telefone ou pessoalmente, pela Vara
da qual o advogado retirou os autos.(...) Entretanto, ao verificar-se dos autos, só há
prova de intimações feitas via diário de justiça eletrônico, bem como de expedição de
mandados de busca e apreensão, que não foram devidamente cumpridos; não
havendo, portanto, comprovação do dolo na conduta do agente.” (TRF-1, Relator:
DESEMBARGADOR FEDERAL HILTON QUEIROZ, Data de Julgamento: 28/01/2014,
QUARTA TURMA). (...)” (TJPR - 2ª C.Criminal - AC - 1350473-5 - Primeiro de Maio -
Rel.: José Mauricio Pinto de Almeida - Unânime - - J. 02.07.2015) (Grifos nossos)
Portanto, estando comprovada a materialidade e autoria delitiva da conduta dolosa
de sonegação de autos, não há que se falar em aplicação do princípio in dubio pro
reo.
Da pena de multa
De ofício, impõe-se reduzir a pena de multa aplicada, tendo em vista que esta deixou
de conservar a necessária proporcionalidade com a reprimenda privativa de liberdade.
Da análise da r. sentença condenatória, observa-se que a pena privativa de liberdade
restou fixada em 08 (oito) meses de detenção. Todavia, a pena de multa foi fixada em
14 (quatorze) dias- multa, desproporcionalmente em relação a pena privativa de
liberdade.
Portanto, de ofício, impõe-se diminuir a pena de multa para o equivalente a um dia-
multa a cada mês acrescido na pena privativa de liberdade, totalizando 12 (doze) dias-
multa, mantendo-se o valor do dia-multa fixado na sentença.
Nestas condições, nego provimento ao apelo, reduzindo-se, de ofício, a pena de
multa aplicada, tudo nos termos da fundamentação.

348

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ANTE O EXPOSTO, acordam os Desembargadores integrantes da 2ª Câmara Criminal


do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar
provimento ao recurso, reduzindo-se, de ofício, a pena de multa.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador Luís Carlos Xavier (com voto) e dele
participou o Juiz Substituto em Segundo Grau Marcel Guimarães Rotoli de Macedo e o
Desembargador Roberto De Vicente.
Curitiba, 8 de junho de 2017.
Des. Luís Carlos Xavier ­ Relator

2.3.10. ATO INFRACIONAL – ROUBO CIRCUNSTANCIADO E SEQUESTRO

QUALIFICADO

RECURSO DE APELAÇÃO ­ ECA ­ ATOS INFRACIONAIS ­ CONDUTAS ANÁLOGAS

AOS DELITOS PREVISTOS NO ARTIGO 157, § 2º, INCISOS I E II, E ARTIGO 148, § 1º,

INCISO IV, AMBOS DO CÓDIGO PENAL (ROUBO MAJORADO E SEQUESTRO

QUALIFICADO PELA MENORIDADE DA VÍTIMA) ­ PLEITO DE IMPROCEDÊNCIA DA

REPRESENTAÇÃO POR INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA ­ DESCABIMENTO ­

MATERIALIDADE E AUTORIA EVIDENCIADAS ­ SENTENÇA MANTIDA ­ RECURSO

DESPROVIDO. Havendo provas suficientes da materialidade e autoria com relação ao

ato infracional análogo ao crime de sequestro qualificado pela menoridade da vítima,

bem assim, não restando dúvidas de que, agindo em concurso de agentes, aderindo a

conduta dos demais coautores, a adolescente praticou o ato infracional análogo ao

crime de roubo majorado, impõe-se manter a sentença que julgou procedente a

representação.

Inteiro Teor

Trata-se de Apelação (fls. 335/337-CD-ROM) interposta por Dioice Clara da Silva


contra a sentença (fls. 299/312-CD- ROM) proferida nos autos n° 0007809-
77.2016.8.16.0028 de Apuração de Ato Infracional que assim decidiu: “julgo
procedente a pretensão contida na representação a fim de aplicar a medida
socioeducativa de internação, com a possibilidade de desenvolver atividades externas,
a critério do Juízo da execução, à representada Dioice Clara da Silva pela prática de
atos infracionais equiparados aos crimes previstos no artigo 148, §1º, IV e 157, §2º, I e
II todos do Código Penal.” (mov. 107.1)

349

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A defesa da Apelante argumenta pela ausência de provas de autoria, em razão da


inexistência de provas concretas e suficientes de qualquer participação da
representada nos atos infracionais que lhes são imputados.
Ao final, requer seja reformada a sentença, com o provimento do recurso.
O agente ministerial, apresentou contrarrazões (fls.
351/362-CD-ROM), postulando o desprovimento do recurso.
Nesta instância, a douta Procuradoria Geral de Justiça exarou parecer pelo
desprovimento do recurso (fls. 11/26-TJ).
É o relatório.
VOTO
Presentes os pressupostos de admissibilidade é de se conhecer do recurso.
O apelo não comporta provimento.
Da alegação de insuficiência de provas
A defesa da Apelante argumenta pela ausência de provas de autoria, em razão da
inexistência de provas concretas e suficientes de qualquer participação da
representada nos atos infracionais que lhes são imputados.
A tese apresentada pela defesa da Apelante não merece amparo, porque
desassociada do conjunto probatório.
Segundo a representação oferecida pelo Ministério Público:
Fato 1:
“No dia 15 de setembro de 2016, por volta das 20h50min, na Casa de Acolhimento
`Tia Sula”, localizada na Rua Alipio Melo Falavinha, n. 100, nesta Cidade e Comarca de
Colombo/PR, a representada, previamente ajustada com MOISES DOS SANTOS e
outras DIOICE CLARA DA SILVA duas pessoas ainda não identificadas, um aderindo
subjetivamente a conduta do outro, com consciência e vontade voltadas para as
condutas a seguir delineadas, portando arma de fogo (não apreendida nos autos),
passou a privar de liberdade, mediante sequestro, a criança Davy de Oliveira
Gonçalves, nascido em 05/06/2016 (com 03meses de idade na data dos fatos), filho de
Cristiane de Oliveira e João Maria Gonçalves.
De acordo com o boletim de ocorrência circunstanciado juntado aos autos, a
adolescente passou a se relacionar com o adulto MOISES DOS SANTOS, o qual seria
o suposto pai da DIOICE criança Davy. Após o nascimento da criança, MOISES
descobriu que Davy não era seu filho e, motivado por vingança ao descobrir a traição
da genitora do bebê, decidiram, juntos, ele e DIOICE, sequestrarem o infante e o
privarem de sua liberdade.
No dia do fato, MOISES e as outras duas pessoas ainda não identificada se dirigiram à
DIOICE casa de acolhimento e, portando arma de fogo, invadiram o local, renderam o
segurança que fazia a vigia, tendo se dirigido ao quarto onde se encontrava a criança,
retirado-a do berço, e levado DIOICE consigo e seus comparsas.
Consta dos autos que a criança Davy não foi localizada, tendo a adolescente e Moises
se recusado a dar informações sobre o paradeiro daquele”.
Fato 2:
“No dia 15 de setembro de 2016, por volta das 20h55min, na Casa de Acolhimento
`Tia Sula”, localizada na Rua Alipio Melo Falavinha, n. 100, nesta Cidade e Comarca de
350

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Colombo/PR, a representada, previamente ajustada com MOISES DOS SANTOS e


outras DIOICE CLARA DA SILVA duas pessoas ainda não identificadas, um aderindo
subjetivamente a conduta do outro, com consciência e vontade voltadas para as
condutas a seguir delineadas, após sequestrarem a criança Davy, mediante grave
ameaça exercida por uso de arma de fogo (não apreendida nos autos), subtraíram para
si uma televisão de 32 polegadas e um telefone sem fio, que pertenciam à entidade
de acolhimento, e um veículo modelo Ford/Escort cinza, placas AAX-1059, de
propriedade da vítima Marcia Terezinha Maia Ventura.
No dia do fato, DIOICE, MOISES e as outras duas pessoas ainda não identificadas se
dirigiram à DIOICE casa de acolhimento e, portando arma de fogo, invadiram o local,
renderam o segurança que fazia a vigia, tendo se dirigido ao quarto onde se
encontrava a criança que todos sequestraram.
Enquanto DIOICE pegava a criança, as duas pessoas ainda não identificadas retiraram
a televisão e o telefone sem fio da casa de acolhimento.
No momento da fuga, enquanto MOISES aguardava todos os comparsas, o marido de
Marcia Terezinha Maia Ventura chegou ao local dos fatos no veículo Ford/Escort,
tendo os dois elementos não identificados e DIOICE abordado ele e subtraído o
veículo mediante grave ameaça exercida pelo uso de arma de fogo (não apreendida
nos autos)”.
In casu, verifica-se que os atos infracionais análogos aos delitos de roubo majorado e
sequestro qualificado pela menoridade da vítima, restaram efetivamente
demonstrados pelos depoimentos realizados nos autos.
A materialidade da infração encontra-se consubstanciada nos elementos de prova
produzidos durante o inquérito policial, especialmente Boletim de Ocorrência (mov.
31.1), Auto de Exibição e Apreensão (mov. 50.2), Auto de Reconhecimento (mov.
31.1), bem como nas provas orais colhidas no decorrer da instrução processual.
A autoria também é certa e recai sobre a pessoa da representada, ora apelante.
Oportuno, portanto, trazer à colação trecho relevante das contrarrazões apresentadas
pelo Dr. Wagner Zouain Vargas - 1º Promotor da 2ª Promotoria de Justiça do Foro
Regional de Colombo/PR, que bem esclarecem os fatos, in verbis:
“(...)
Inicialmente verifica-se que em sua primeira oitiva, ainda, na Delegacia, a adolescente
confessa que sequestrou a criança.
Nessa oportunidade alegou que Moises acreditava inicialmente ser o pai da criança,
fruto do relacionamento que teve com a pessoa de “Nani” (Cristiane de Oliveira) e
quando descobriu que não seria o verdadeiro genitor do infante passou a ficar agitado
e disse que iria se vingar de “Nani”. A adolescente aduziu, ainda, que no dia dos fatos
foi abordada por Moises e mais duas pessoas e levada a instituição “tia Sula”, onde
estaria acolhida a criança. No local, afirma que teriam rendido os presentes e, a mando
de Moises, identificou e retirou o bebê Davy do local, entrando no veículo Celta.
Disse, por fim, que deixou a criança com Moises no carro e foi para casa a pé, não
sabendo o que aconteceu com ela posteriormente (mov. 31.1).
Contudo, quando ouvida na oitiva informal e posteriormente na audiência de
apresentação, a representada negou que tivesse participado do ato, justificando que o
351

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depoimento constante da Delegacia era mentiroso. Na oitiva informal disse que deu a
versão confessando na Delegacia porque estavam “encendo seu saco”. Já na
audiência de apresentação afirma que falou o que consta do referido depoimento por
ter sido agredida pelos policiais.
Registre-se que no relatório técnico juntado aos autos consta que a adolescente teria
confessado na Delegacia por “amor” a Moises.
Em complementação, a prova oral colhida na instrução é suficiente para o
reconhecimento do ato infracional.
O longo depoimento de Moises não ajuda a esclarecer os fatos, até mesmo porque,
estando denunciado na Vara Criminal pelos mesmos fatos atribuídos a representada,
seu depoimento consistiu em uma tentativa apenas de se defender. Relatou, em suma,
o atrito existente entre Cristiane (mãe do bebê levado da casa lar) e a DIOICE em
razão da sua pessoa e dos relacionamentos que teve com as duas, bem como indicou
que a adolescente teria saído de casa sem explicação em horário coincidente com os
dos fatos em apuração, aparecendo mais tarde na posse de uma sacola e um
edredom.
Já a funcionária da instituição Tia Sula, sra. Verônica, afirmou em juízo que estava na
sala da casa lar quando chegou uma pessoa armada com o segurança já rendido,
ordenando que ficassem quietos. Afirmou que entrou mais um rapaz e uma moça e
essa foi direto para o berçário (um dos cômodos da casa). Afirmou que após um curto
tempo essa moça saiu com um bebê no colo e quando todos se retiraram do local,
saiu da casa gritando por socorro. Importante destacar que em juízo a testemunha
afirmou ter reconhecido a adolescente representada como sendo a moça que retirou o
bebê da casa, quando a viu na Delegacia de Polícia, ocasião em que lá estava para
prestar o seu depoimento.
Afirmou que a reconheceu pela compleição física e pelo modo de andar (”gingado”).
A outra testemunha, Sra. Marcia, também funcionária na casa lar Tia Sula, afirmou que
estava preparando para jantar quando foi surpreendida por um rapaz com uma arma
de fogo a rendendo.
Disse que em um primeiro momento achou até que fosse brincadeira porque nunca
esperava uma situação dessa. Disse que foi levada para o interior da casa e lá estando
chegou mais um rapaz e uma moça e essa foi ao berçário. Em determinado momento
essa moça suspeitou de um telefone celular tocando e foi em direção à testemunha.
Disse que foi levada até o berçário para terminar de arrumar a criança que seria
levada. Como havia dois bebês de nome Davi, indagou se aquele bebê era mesmo o
Davi porque esse tinha mãe, pai e familiares que sempre visitavam. Percebendo o erro,
a moça, a que a testemunha se referiu, pegou o Davy que foi buscar e pediu para ela
aprontar ele para levá-lo. Não tendo alternativas, relatou a testemunha que fez o que
foi mandada. Disse, ainda, que a moça dizia que “iria sangrá-la” e outras ameaças.
Afirmou, também, que a moça chegou falando no nome Davy, entendendo que seria
algo direcionado para aquela criança. Por fim, afirmou que no momento em que
estava na Delegacia reconheceu sem dúvida a adolescente aqui representada como a
moça que retirou o bebê da casa. Atenta-se também que, em juízo, apresentado o

352

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video do depoimento da adolescente quando da audiência de apresentação, a


testemunha reconheceu-a, também, pela voz.
Importante destacar a fala da testemunha Verônica no sentido de que já teria
reconhecido a DIOICE na Delegacia quando ouviu da Conselheira Tutelar Marina que
no momento da apreensão da adolescente essa a ameaçou com os dizeres de que
“iria sangrá- la”, mesma expressão utilizada pela pessoa que levou o bebê da casa lar.
Depois disso afirma que teve mais certeza ainda de que seria ela.
O irmão do bebê sequestrado, Lucas Gabriel, relatou que a Dioice falava há tempo
que pegaria o bebê da sua mãe e em uma oportunidade disse que mataria o
declarante e seus irmãos.
O investigador de polícia, Cassio, afirmou em juízo que tomou conhecimento dos
fatos somente na manhã do dia seguinte e participou das investigações a partir desse
momento. Relatou que presenciou a confissão do Moises e também ouviu
informalmente a adolescente DIOiCE dizer que teria sequestrado o bebê.
Por fim, ainda foi ouvida em juízo a adolescente Isabele Camilo Moreira que afasta
qualquer dúvida eventualmente existente. Após investigações, descobriu que a criança
retirada da Casa lar estava com a referida adolescente, e ao ser ouvida, esclareceu que
a representada Dioice foi a executora do sequestro, juntamente com terceiros, bem
como foi a pessoa que entregou a criança para ela, a mando da genitora do infante.
Isabele foi enfática ao apontar que viu o rosto da pessoa conhecida pela alcunha de
“quietinha”, quando esta entregou Davy, bem como que na
Delegacia de Polícia reconheceu a pessoa de Dioice Clara da Silva como sendo
“quietinha”.
Diante disso, não há dúvida que recaia sobre a prova dos autos, sendo uníssona em
apontar a Apelante como autora do ato infracional de sequestro.
(...)
- Ato Infracional Análogo ao crime de roubo majorado
No mesmo sentido não há dúvidas da ocorrência do ato infracional, bem como a
coautoria da adolescente representada. A materialidade do ato infracional encontra-se
evidenciada pelos depoimentos testemunhas e pelos boletins de ocorrência de mov.
31.1. Na situação foram subtraídos pertences da instituição, sendo uma televisão e um
telefone, e das funcionárias, sendo um telefone celular e um veículo Ford/Escort.
A autoria também resta inconteste. Apesar da adolescente negar o fato, conforme já
mencionado acima, ela esteve no local levando o bebê Davy do interior da casa. Na
ocasião estaria na companhia de mais duas pessoas que entraram na casa e ao menos
mais uma outra que estaria no veículo do lado de fora.
As funcionárias ouvidas como testemunhas, Sras. Marcia e Verônica, relataram que as
pessoas entraram na casa e as renderam, estando ao menos uma delas com arma de
fogo.
Inclusive a sra. Marcia relata que em determinado momento a Dioice pega a arma de
fogo e ostenta fazendo ameaças.
Relatam que enquanto ela ia buscar o bebê, os outros iam retirando pertences da
casa. Na fuga, relatam as testemunhas, ainda, que o marido de Marcia chegava ao
local e foi rendido por eles, na saída da casa, ocasião em que foi levado o seu veículo,
353

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

saindo junto com o outro veículo que os aguardava na via pública.” (fls. 351/362-CD-
ROM)
Portanto, pelos fatos acima expostos e verificados nos autos, conclui-se haver provas
com relação ao ato infracional análogo ao crime de sequestro qualificado pela
menoridade da vítima.
Bem assim, não restam dúvidas de que, agindo em concurso de agentes, aderindo a
conduta dos demais coautores, a adolescente praticou o ato infracional análogo ao
crime de roubo majorado.
Cumpre ressaltar que na coautoria não há necessidade de todos os agentes
manifestarem idêntico comportamento, podendo haver divisão quanto aos atos
executórios relevantes para o objetivo criminoso, bastando, para tanto, o encontro de
vontades para a prática do fato punível.
Desta maneira, a apelante é igualmente responsável pela prática dos atos infracionais,
vez que sua participação foi de vital importância na pratica destes.
Neste sentido:
“4. Por oportuno, registre-se, ao contrário do que sustenta a impetração, mesmo que
o paciente não tenha sido o responsável pela efetuação dos disparos de arma de fogo
que culminaram no óbito de uma das vítimas, deve responder como coautor pelo
roubo seguido de morte. 5.
Isso porque ficou bem demonstrada, na espécie, a existência de liame subjetivo e
ajuste prévio do paciente com os demais agentes, assumindo ele também o risco, com
a participação na empreitada delituosa, de que alguma vítima fosse morta em virtude
de disparo de arma.
[...]” (STJ, 6ª Turma, HC 185.167/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, j. 15.03.2011,
DJe 08.02.2012).
“PENAL. RECURSO ESPECIAL. LATROCÍNIO. CONCURSO DE AGENTES.
PARTICIPAÇÃO DOLOSAMENTE DISTINTA.
INAPLICABILIDADE. I - O roubo com morte é delito qualificado pelo resultado, sendo
que este plus, na melhor dicção da doutrina, pode ser imputado na forma de dolo ou
de culpa. II - No roubo, mormente praticado com arma de fogo, respondem, de regra,
pelo resultado morte, situado evidentemente em pleno desdobramento causal da
ação delituosa, todos que, mesmo não agindo diretamente na execução da morte,
contribuíram para a execução do tipo fundamental (Precedentes). Se assumiram o
risco, pelo evento respondem. Recurso provido.” (STJ, 5ª Turma, REsp 418183/DF,
Rel. Ministro FELIX FISCHER, j.03.06.2003, DJ 04.08.2003, p. 362).
Desta maneira, percebe-se no presente caso, que as provas produzidas apontam de
forma categórica e detalhada a participação da apelante na prática dos atos
infracionais, não havendo que se falar em absolvição.
Desta maneira, a prova dos autos é adequada a comprovar que a apelante praticou os
atos infracionais descritos na representação, inexistindo dúvidas sobre a
reprovabilidade de sua conduta, mormente que nos termos do artigo 156, primeira
parte, do Código de Processo Penal, a prova da alegação incumbirá a quem a fizer,
não tendo a defesa logrado êxito em comprovar a veracidade de suas afirmações, ou
seja, de que a representado é inocente da imputação que lhe foi feita.
354

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Portanto, as condições em que se desenvolveram os fatos convergem pela tipificação


da conduta equiparada aos crimes previstos nos artigos 148, § 1º, inc. IV e 157, § 2º,
incs. I e II, ambos do Código Penal, motivo pelo qual a sentença não admite reforma.
Nestas condições, nega-se provimento ao recurso, mantendo-se inalterada a sentença
impugnada, nos termos da fundamentação.
ANTE O EXPOSTO, acordam os Desembargadores integrantes da 2ª Câmara Criminal
do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar
provimento ao recurso.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador Luís Carlos Xavier (com voto) e dele
participou o Juiz Substituto em Segundo Grau Marcel Guimarães Rotoli de Macedo e o
Desembargador Roberto De Vicente.
Curitiba, 8 de junho de 2017.
Des. Luís Carlos Xavier ­ Relator

2.3.11. EXECUÇÃO PENAL ANTECIPADA – ABSOLVIÇÃO EM PRIMEIRO GRAU E

CONDENAÇÃO EM SEGUNDO GRAU – IMPOSSIBILIDADE

HABEAS CORPUS - CRIME CONTRA ORDEM TRIBUTÁRIA (ART. 1º, I E II, C/C ART.

11, AMBOS DA LEI 8.137/90) - 1. CUMPRIMENTO IMEDIATO DA PENA

IMPOSSIBILIDADE - SENTENÇA ABSOLUTÓRIA, CONDENAÇÃO EM SEGUNDO

GRAU - INAPLICABILIDADE DO ENTENDIMENTO DO SUPREMO TRIBUNAL

FEDERAL - CONCESSÃO DA ORDEM.1. No caso não se aplica o atual entendimento

acerca da possibilidade de determinação do imediato cumprimento da pena em

segundo grau, isto porque no mesmo não houve confirmação da condenação em

segundo grau, e sim, condenação somente nesta instância, situação diversa daquela

que autoriza o cumprimento imediato da pena.

(TJPR - 2ª C.Criminal - HCC - 1627091-8 - Foz do Iguaçu - Rel.: Luís Carlos Xavier -

Unânime - J. 16.02.2017)

Inteiro Teor

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Habeas Corpus Crime nº 1627091-8, de


Foz do Iguaçu - 2ª Vara Criminal, em que é Impetrante Estevão Ruchinski e Paciente
Rosalvo Tavares da Silva.

355

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Trata-se de Habeas Corpus impetrado por ESTEVÃO RUCHINSKI em favor de


ROSALVO TAVARES DA SILVA, contra decisão proferida nos autos n° 2007.2847-4,
que determinou: “1. Diante do v.
acórdão condenatório e da fixação do regime inicial semiaberto para cumprimento da
pena privativa de liberdade de reclusão, expeça-se mandado de prisão em desfavor
do réu Rosalvo Tavares da Silva. 2 Expeça-se guia de recolhimento provisória e
remeta-se à VEP competente.” (fls. 116).
Relata o impetrante que o paciente foi processado e ao final condenado ao
cumprimento de pena de 4 (quatro) anos e 2 (dois) meses de reclusão em regime
semiaberto, sendo que o acórdão não determinou o imediato recolhimento à prisão.
Argumenta que resta pendente de decisão REsp, que está sendo processado junto ao
STJ sob nº 201501505592, desde a data 26.6.2015.
Argumenta que no dia 29.7.2015 sob a lavra da Chefe da Seção da 2ª Câmara
Criminal do TJPR, foi o feito baixado para que aguardasse o julgamento definitivo do
processamento, e em 6.12.2016, o Juízo da 2ª Vara Criminal de Foz do Iguaçu
determinou a expedição de mandado de prisão em desfavor do paciente.
Enfatiza que ainda não foi expedida a Guia de Recolhimento provisória para o Juízo
da Execução de Pena de Foz do Iguaçu ou Cascavel.
Justifica que o paciente ainda não se encontra preso, apesar de tomado pela
intranquilidade, pois ainda não possui nenhum juízo definitivo para processar e julgar
pedidos ou benefícios, e ainda que seja provisória a execução, de acordo com o artigo
2º da LEP, já pode ter benefícios concedidos, em especial ao que se diz sobre o
artigo66.
Sustenta que o paciente está na iminência de ser preso e permanecer preso em
regime mais gravoso, por falta de juízo formado, ou até mesmo, na falta de vagas
adequadas ao regime imposto, razão pela qual postula a concessão de liminar.
Requer a concessão da liminar para fins de afastar a Ordem Prisional, ou suspender a
mesma até que se defina um juízo adequado e competente para processar e julgar a
Execução de Pena do Paciente; e no mérito garantir e manter o direito da regular
execução de pena, adequado e moldando de forma harmonizada o regime semiaberto
com regras pertinentes ao aberto até ulterior deliberação ou possibilidade de
cumprimento da reprimenda na forma e regra adequada ao regime, sem excesso ou
desvio executório.
A liminar foi deferida (fls. 129/130-verso).
A autoridade apontada como coatora prestou as informações solicitadas às fls. 136.
Nesta instância, a douta Procuradoria Geral de Justiça apresentou parecer às fls.
141/145 pelo conhecimento e denegação da ordem.
É o relatório.
VOTO
Trata-se de Habeas Corpus impetrado por ESTEVÃO RUCHINSKI em favor de
ROSALVO TAVARES DA SILVA, contra decisão proferida nos autos n° 2007.2847-4
(0003492-45.2007.8.16.0030), que determinou: “1. Diante do v. acórdão condenatório
e da fixação do regime inicial semiaberto para cumprimento da pena privativa de
liberdade de reclusão, expeça-se mandado de prisão em desfavor do réu Rosalvo
356

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Tavares da Silva. 2 Expeça-se guia de recolhimento provisória e remeta-se à VEP


competente.” (fls. 116).
A ordem deve ser concedida.
Na hipótese, consoante esclarecido quando do despacho inicial, verifica-se a
presença do alegado constrangimento ilegal, haja vista que inicialmente o acusado foi
absolvido por sentença, tendo sido interposto recurso pelo Ministério Público,
advindo, somente daí sua condenação.
Assim, tem-se que no caso o acórdão que condenou o paciente ao cumprimento de
pena de 4 (quatro) anos e 2 (dois) meses de reclusão em regime semiaberto, e ao
pagamento de 21 (vinte um) dias-multa (fls. 50/65), ainda não transitou em julgado
para a defesa, eis que pendente de julgamento do REsp nº 732132/PR interposto pelo
ora paciente junto ao STJ (consoante se verificou em consulta ao site do STJ), pelo
que não há que se falar em confirmação de sentença em segundo grau, encerrando o
juízo de culpabilidade do denunciado.
Conforme o entendimento do Ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Savaski, no
julgamento do Habeas Corpus nº 126.292, a manutenção da sentença penal pela
segunda instância encerra a análise de fatos e provas que assentaram a culpa dos
condenados, o que autoriza o início da execução da pena. Pelo que para ele, até que
seja prolatada a sentença penal, confirmada em segundo grau, deve-se presumir a
inocência do réu. Mas, após esse momento, exaure-se o princípio da não
culpabilidade, até porque os recursos cabíveis da decisão de segundo grau ao
Superior Tribunal de Justiça ou Supremo Tribunal Federal não se prestam a discutir
fatos e provas, mas apenas matéria de direito.
Veja o teor da referida ementa:
“CONSTITUCIONAL. HABEAS CORPUS. PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA
PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA (CF, ART.
5º, LVII). SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA CONFIRMADA POR TRIBUNAL DE
SEGUNDO GRAU DE JURISDIÇÃO.
EXECUÇÃO PROVISÓRIA. POSSIBILIDADE. 1. A execução provisória de acórdão
penal condenatório proferido em grau de apelação, ainda que sujeito a recurso
especial ou extraordinário, não compromete o princípio constitucional da presunção
de inocência afirmado pelo artigo 5º, inciso LVII da Constituição Federal. 2. Habeas
corpus denegado.” (HC 126292, Rel. Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julg.
17.02.2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-100 DIVULG 16-05-2016 PUBLIC
17.05.2016) (grifo nosso).
Desta feita, entendo que não se aplica ao caso o atual entendimento acerca da
possibilidade de determinação do imediato cumprimento da pena em segundo grau,
isto porque no mesmo não houve confirmação da condenação em segundo grau, e
sim, condenação somente nesta instância e ainda em razão do acórdão acima referido
ter sido proferido em 11.9.2014, em data anterior ao atual entendimento e no mesmo
inexiste tal determinação.
Isto posto, tendo em vista que no caso inexiste confirmação de sentença condenatória
em segundo grau, inaplicável o entendimento acerca da possibilidade de
cumprimento imediato da pena, devendo desta feita, ser suspensa a decisão ora
357

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

impugnada, até o trânsito em julgado da ação penal nº 2007.2847-4 (0003492-


45.2007.8.16.0030) em trâmite na 2ª Vara Criminal de Foz do Iguaçu.
Nestas condições, concede-se a ordem, tudo nos termos da fundamentação.
ANTE O EXPOSTO, acordam os Desembargadores integrantes da 2ª Câmara Criminal
do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em conceder
a ordem.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador Luís Carlos Xavier (com voto) e dele
participaram os Juízes Substitutos Segundo Grau Marcel Guimarães Rotoli de Macedo
e Mauro Bley Pereira Junior.
Curitiba, 16 de fevereiro de 2017.
Des. Luís Carlos Xavier ­ Relator

2.3.12. PECULATO-DESVIO – ABSOLVIÇÃO – ATIPICIDADE

APELAÇÃO CRIMINAL - PECULATO-DESVIO E INSERÇÃO DE DADOS FALSOS EM

SISTEMA DE INFORMAÇÕES (ART. 312 E 313-A, AMBOS DO CP) -

ABSOLVIÇÃO.APELO DO MINISTÉRIO PÚBLICO - 1. PLEITO DE CONDENAÇÃO

DOS RÉUS - IMPOSSIBILIDADE - DENUNCIADOS NOMEADOS PARA CARGO EM

COMISSÃO QUE RECEBIAM REMUNERAÇÃO EM RAZÃO DO SERVIÇO QUE

PRESTAVAM - ATIPICIDADE DA CONDUTA - ABSOLVIÇÃO MANTIDA - RECURSO

DESPROVIDO.1. No caso não existe a adequação da conduta praticada ao tipo penal,

pelo que não restou configurada a ocorrência do crime de peculato, confirmando-se

apenas que os denunciados foram regularmente nomeados para exercerem cargo em

comissão, recebendo a respectiva remuneração, não havendo que se falar em

apropriação ou Apelação Crime nº 1.588.979-72desvio indevido de valores em

proveito próprio ou alheio, tampouco em omissão por parte dos Vereadores no

controle de seus assessores.

(TJPR - 2ª C.Criminal - AC - 1588979-7 - Região Metropolitana de Maringá - Foro

Central de Maringá - Rel.: Luís Carlos Xavier - Unânime - J. 01.06.2017)

Inteiro Teor

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Crime nº 1588979-7, de


Região Metropolitana de Maringá - Foro Central de Maringá - 1ª Vara Criminal, em que

358

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é Apelante Ministério Público do Estado do Paraná e Apelados Mário Sergio Verri,


Arlindo Alvas, Olavo Luis da Cruz, Carlos Eduardo Saboia Gomes, Belino Bravin Filho,
Aparecido Domingos Regini, João Beraldo, João Glacia Macedo e Ronaldo Henrique
Marques.
Trata-se de Apelação interposta contra a sentença (fls. 2985/2991) proferida nos autos
n° 0017205-24.2010.8.16.0017 de Ação Penal julgou improcedente a pretensão
punitiva do Estado para o fim de absolver os réus João Glacia Macedo, Olavo Luis da
Cruz, Arlindo Alvas, Ronaldo Henrique Marques, Belino Bravin Filho, Mário Sergio
Verri, Carlos Eduardo Saboia Gomes, Aparecido Domingos Regini, João Beraldo das
sanções dos artigos 312 e 313-A do Código Penal, com base no artigo 386, inciso III
do Código de Processo Penal. Declarando extinta a punibilidade do acusado João
Beraldo, nos termos do artigo 107, inciso I do Código Penal.
O apelante Ministério Público do Estado do Paraná, inconformado com a sentença
interpôs recurso de apelação (fls. 3003/3073) alegando que a sentença desconheceu
todo conjunto probatório produzido e a argumentação expedida pelo apelante,
preferindo o caminho mais fácil da absolvição dos apelados sem aprofundamento no
exame das provas produzidas.
Destaca que restou comprovado no presente caso que os apelados que exerciam
cargo público de assessor parlamentar dos apelados vereadores se dedicavam a
atividades particulares no momento em que deveriam estar prestando serviço público,
vez que estavam sendo remunerados para isso.
Quanto ao 1º fato que destaca que restou comprovado que o apelado João Glacia
Macedo (assessor parlamentar AP8, do denunciado Belino Bravin Filho) somente batia
o ponto no início da manhã, saía para resolver assuntos particulares e somente
retornava no fim do horário de expediente para bater novamente o ponto e ir embora.
Estando assim caracterizado o cometimento dos delitos de peculato desvio (art. 312,
caput, 2ª figura, CP) e peculato eletrônico: inserção (art. 313-A, CP), devendo o mesmo
ser condenado.
Quanto ao 2º fato, imputado ao apelado Belino Bravin Filho sustenta não haver
dúvidas de que o mesmo concorreu para a prática delituosa mencionada no 1º fato,
vez que apesar deste alegar não ter conhecimento dos atos praticados por seu
assessor João seria impossível que ele não percebesse a ausência de seu subordinado
em dois ou três dias na semana. Ressaltando estar caracterizada a pratica delitiva pelo
mesmo na modalidade omissiva, vez que permitia e tolerava a conduta de seu
assessor em se ausentar das atividades para as quais foi nomeado, omitindo-se em seu
dever legal de fidelidade para com a Administração Pública Municipal, conforme regra
do artigo 29, c/c artigo 13, § 2º, alínea `a’, ambos do Código Penal, concorrendo para
que seu assessor inserisse os dados falsos no sistema informatizado para que o mesmo
obtivesse vantagens dos cofres públicos, recebendo os vencimentos/salário sem a
regular e efetiva contraprestação laborativa e, portanto, desviando dinheiro público
em proveito próprio.
Quanto ao 3º Fato, destaca que restou comprovado que o apelado Olavo Luiz da
Cruz (assessor parlamentar AP2, do denunciado Mario Sergio Verri) somente batia o
ponto no início da manhã, saía para resolver assuntos particulares e somente retornava
359

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

no fim do horário de expediente para bater novamente o ponto e ir embora. Estando


assim caracterizado o cometimento dos delitos de peculato desvio (art. 312, caput, 2ª
figura, CP) e peculato eletrônico: inserção (art. 313-A, CP), devendo o mesmo ser
condenado.
Quanto ao 4º Fato, destaca que restou comprovado que o apelado Arlindo Alvas
(assessor parlamentar AP1, do denunciado Mario Sergio Verri) somente batia o ponto
no início da manhã, saía para resolver assuntos particulares e somente retornava no fim
do horário de expediente para bater novamente o ponto e ir embora. Estando assim
caracterizado o cometimento dos delitos de peculato desvio (art. 312, caput, 2ª figura,
CP) e peculato eletrônico: inserção (art. 313-A, CP), devendo o mesmo ser condenado.
Quanto ao 5º fato, imputado ao apelado Mario Sérgio Verri sustenta não haver
dúvidas de que o mesmo concorreu para a prática delituosa mencionada no 3º e 4º
fatos, vez que apesar deste alegar não ter conhecimento dos atos praticados por seus
assessores Olavo e Arlindo Alvas, as provas nos autos demonstram que na verdade o
apelado Mario não apenas sabia como autorizava que seus subordinados não
comparecessem diariamente à Câmara Municipal, ou seja, ele não apenas tinha
conhecimento dos fatos como também era ele quem permitia a ausência injustificada
de seus assessores, que realizavam atividades particulares durante o horário de sua
jornada de trabalho. Ressaltando estar caracterizada a pratica delitiva pelo mesmo na
modalidade omissiva, vez que permitia e tolerava a conduta de seu assessor em se
ausentar das atividades para as quais foi nomeado, omitindo-se em seu dever legal de
fidelidade para com a Administração Pública Municipal, conforme regra do artigo 29,
c/c artigo 13, § 2º, alínea `a’, ambos do Código Penal, concorrendo para que seu
assessor inserisse os dados falsos no sistema informatizado para que o mesmo
obtivesse vantagens dos cofres públicos, recebendo os vencimentos/salário sem a
regular e efetiva contraprestação laborativa e, portanto, desviando dinheiro público
em proveito próprio.
Quanto ao 7º Fato, informa que estes estão relacionados ao 6º fato narrado na
denúncia, ou seja, os fatos praticados pela pessoa de João Abelardo (já falecido), que
na época era assessor parlamentar de Carlos Eduardo, o qual, à semelhança dos
assessores acima indicados também somente comparecia à Câmara Municipal para
registrar o ponto. Destaca não haver dúvidas de que o apelado Carlos Eduardo
concorreu para prática delituosa praticada por João, vez que seria impossível que ele
não percebesse a ausência de seu subordinado em dois ou três dias na semana.
Ressaltando estar caracterizada a pratica delitiva pelo mesmo na modalidade omissiva,
vez que permitia e tolerava a conduta de seu assessor em se ausentar das atividades
para as quais foi nomeado, omitindo-se em seu dever legal de fidelidade para com a
Administração Pública Municipal, conforme regra do artigo 29, c/c artigo 13, § 2º,
alínea `a’, ambos do Código Penal, concorrendo para que seu assessor inserisse os
dados falsos no sistema informatizado para que o mesmo obtivesse vantagens dos
cofres públicos, recebendo os vencimentos/salário sem a regular e efetiva
contraprestação laborativa e, portanto, desviando dinheiro público em proveito
próprio.

360

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Quanto ao 8º fato destaca que restou comprovado que o apelado Ronaldo Henrique
Marques (assessor parlamentar AP3, do denunciado Aparecido Domingos Regini)
somente batia o ponto no início da manhã, saía para resolver assuntos particulares e
somente retornava no fim do horário de expediente para bater novamente o ponto e ir
embora. Estando assim caracterizado o cometimento dos delitos de peculato desvio
(art. 312, caput, 2ª figura, CP) e peculato eletrônico: inserção (art. 313-A, CP), devendo
o mesmo ser condenado.
Quanto ao 9º fato, imputado ao apelado Aparecido Domingos Regini sustenta não
haver dúvidas de que o mesmo concorreu para a prática delituosa mencionada no 8º
fato, vez que apesar deste alegar não ter conhecimento dos atos praticados por seu
assessor João seria impossível que ele não percebesse a ausência de seu subordinado
em dois ou três dias na semana. Ressaltando estar caracterizada a pratica delitiva pelo
mesmo na modalidade omissiva, vez que permitia e tolerava a conduta de seu
assessor em se ausentar das atividades para as quais foi nomeado, omitindo-se em seu
dever legal de fidelidade para com a Administração Pública Municipal, conforme regra
do artigo 29, c/c artigo 13, § 2º, alínea `a’, ambos do Código Penal, concorrendo para
que seu assessor inserisse os dados falsos no sistema informatizado para que o mesmo
obtivesse vantagens dos cofres públicos, recebendo os vencimentos/salário sem a
regular e efetiva contraprestação laborativa e, portanto, desviando dinheiro público
em proveito próprio.
Postula, a aplicabilidade do princípio da consunção, pois entende que o delito de
inserção de dados falsos no sistema de controle de ponto da Câmara Municipal de
Maringá (peculato eletrônico ­ art. 313-A do CP) foi meio para a prática do crime-fim
de peculato (art. 312, caput, 2ª figura, do CP ­ peculato desvio), devendo ser por este
absorvido.
Enfatiza que a sentença absolutória é carente de fundamentação, na medida em que
não desceu ao exame da prova carreada aos autos pelo apelante, além de ser
contraditória, pois embora tenha reconhecido que existe prova cabal acerca do fato de
que os assessores saíam após registro do ponto para exercerem atividades
particulares, entendeu que a prova é igualmente cabal no sentido de que por outras
diversas vezes desempenharam seus papéis de assessores (fls. 2989), acabando por
absolver os apelados.
Justifica ainda que o Acórdão de fls. 2971/2983 que rejeitou a denuncia contra os
denunciados Evandro Buquera de Freitas Oliveira Junior e Gustavo de Freitas Ferraz
de Oliveira, não pode servir de parâmetro para a absolvição dos ora apelados, vez que
naquele caso entendeu-se que, em relação ao assessor Gustavo, não estava
comprovado que estava exercendo atividade particular no horário de expediente (o
que não é o caso dos ora apelados). Ressaltando ser imprescindível que os fatos e as
provas sejam apreciados caso a caso em relação a cada um dos apelados.
Requer seja conhecido e provido o recurso, reformando a sentença condenando os
apelados réus João Glacia Macedo, Olavo Luis da Cruz, Arlindo Alvas, Ronaldo
Henrique Marques, nas sanções do artigo 312, caput, 2ª figura (peculato desvio),
combinado com o artigo 71, caput, ambos do Código Penal e os apelados Belino
Bravin Filho, Mário Sergio Verri, Carlos Eduardo Saboia Gomes, Aparecido Domingos
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Regini nas sanções do artigo 312, caput, 2ª figura (peculato desvio), combinado com
os artigos 29, caput e 71, caput, todos do Código Penal.
Os apelados Mário Sergio Verri, Olavo Luis da Cruz, Arlindo Alvas, apresentaram
contrarrazões (fls. 3093/3120) postulando seja desprovido o recurso.
Os apelados Carlos Eduardo Saboia Gomes, Belino Bravin Filho, Aparecido Domingos
Regini, João Beraldo, João Glacia Macedo e Ronaldo Henrique Marques,
apresentaram contrarrazões (fls.
3121/3176) postulando seja desprovido o recurso.
Nesta instância, a Douta Procuradoria Geral de Justiça 8
exarou parecer (fls. 3182/3191) pelo conhecimento e desprovimento do recurso
É o relatório.
VOTO
Presentes os pressupostos de admissibilidade é de se conhecer o recurso.
O recurso não merece provimento.
Inicialmente necessário esclarecer-se que a sentença, apesar de sucinta não carece de
fundamentação tal como alegado, tendo enfrentado devidamente a questão posta a
apreciação, restando justificado o porque da absolvição dos acusados.
Destaque-se ademais que o parecer da d. Procuradoria Geral de Justiça também é
pelo desprovimento do recurso.
Das condutas
O delito de peculato está previsto no artigo 312, do Código Penal, o qual estabelece
que:
“Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro
bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-
lo, em proveito próprio ou alheio:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.”
E, o delito de Inserção de dados falsos em sistema de informações está previsto no
artigo 313-A, do Código Penal, o qual estabelece que:
“Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos,
alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos
de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou
para outrem ou para causar dano:
Pena ­ reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.”
Por sua vez, cabe destacar que as condutas delitivas ora questionadas restaram assim
narradas na denúncia:
“FATO 1:
“De fato, apurou-se que o primeiro denunciado JOÃO MACEDO (Matrícula n° 4749)
por indicação do segundo denunciado, o vereador BELINO BRAVIN FILHO, que era
quem deveria controlar sua assiduidade e regularidade ao trabalho, foi nomeado para
o cargo/função de Assessor Parlamentar de Gabinete AP8, cujas atribuições
especificadas no referido ANEXO I, da Lei 8.320/2009, eram de atuar com assessor
coordenador e controlador das atividades diárias do Gabinete, promovendo o ajuste
das atividades ao plano de ações, atividades e programas, e para tanto percebia

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contraprestação pecuniária no importe de R$ 2.277,88 (dois mil duzentos e setenta e


sete reais e oitenta e oito centavos ­ doc. de fls.
163/168). Todavia, conforme cabalmente comprovado nos autos, o referido assessor
não cumpria regularmente sua jornada, como se infere das seguintes ocorrências;
“Consta da Informação 004-10 e 005-10 (fls. 69), que em data de 18/06/10 por volta
das 07h5Omin, adentrou à Câmara Municipal de Maringá/PR, e saiu por volta das
08h1Omin, tendo se deslocado, com seu veículo VW/GOL de cor branca, placas AEZ-
2595, registrado em nome próprio, até à Rua Vitória, Vila Esperança, n°. 520, local este
que funciona uma empresa de panificação, com razão social Lully Indústria de
Alimentos Ltda., CNPJ 03.058.772/0001-72. Ademais, por volta das 10h3Omin, o ora
denunciado JOÃO MACEDO saiu vestido com uniforme branco e de avental e tudo,
com o logotipo da empresa BIG BOY, trajando uma toca na cabeça, daquelas utilizada
para manipular alimentos, protegendo contra eventual queda de cabelos. Convém
salientar que nesta data supra, comprovou-se que permaneceu até 11h10min, tendo o
denunciado JOÃO MACEDO permanecido no interior do local (vídeos e fotografias
constantes do DVD no ANEXO I)”.
“Apenas a título de ilustração, convém esclarecer que em data de 21/06/2010, por
volta do mesmo horário, ou seja, às 07h5Omin, o ora denunciado JOÃO MACEDO,
novamente realizou o mesmo trajeto e percurso, revelando habitualidade e
continuidade, indicando que o seu comparecimento na Câmara Municipal se dava
única e exclusivamente com o propósito de registrar falsamente a sua presença no
horário de entrada e de saída do respectivo expediente laboral, por meio biométrico,
quando, na verdade, realizava atividades particulares”.
“Obviamente que o Assessor ora denunciado JOÃO MACEDO gozava da confiança e
prestígio do vereador denunciado BELINO BRAVIN FILHO, além do que tinha relativa
influência político- administrativa, tanto é verdade que a empresa Lully Indústria de
Alimentos Ltda., com o logotipo BIG BOY (Contrato em anexo), cuja juntada requer-se,
foi contemplada com incentivos previstos na Lei Municipal n° 6.936/2005 (PRODEM
EMPRESA), consistente no beneficio de doação de imóvel Lote 2/1-D/C-1 da Gleba
Ribeirão Paissandu, com 1.500,06 m2, além dos benefícios de isenção de IPTU pelo
período de 10 (dez) anos, de ISS incidente sobre construção civil, da realização de
terraplanagem com movimentação interna de terra e desconto de 50% (cinqüenta por
cento) no valor do ITBI, referentes ao mencionado imóvel da Prefeitura Municipal de
Maringá (Doc. de fls. 74/75), cuja empresa tem como sócios ninguém menos que LUIZ
APARECIDO VIEIRA e IRENY BARBOSA DE FREITAS (Contrato em anexo), parentes do
referido Assessor denunciado conforme ele próprio declarou no GAECO
(Interrogatório de fls. 291). Exatamente neste estabelecimento comercial que o
denunciado JOÃO MACEDO era visto diária e freqüentemente trabalhando
devidamente uniformizado”.
“Além disso, a ilicitude se vê positivada, dentre outros, pelos seguintes
monitoramentos e registros de mídia digital contidos no DVD encartado às fls. 418 nos
Autos de Medida Cautelar Sigilosa n°. 2010.2791-0, 2° Volume, a saber:
· Arquivo 1: “13072010 0820 EMPRESA DE PANIFICAÇÃO NA RUA VITÓRIA”.
· Arquivo 2: “13072010 0820 EMPRESA DE PANIFICAÇÃO NA RUA VITÓRIA 2”.
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· Arquivo 3: “17062010 CONDUTOR DO GOL BRANCO AEZ-2595 MEXENDO NO


VEÍCULO AO LADO DE FUNCIONÁRIOS DO ESTABELECIMENTO”.
· Arquivo 4: “17062010 CONDUTOR DO GOL BRANCO AEZ-2595”.
· Arquivo 5: “17062010 EMPRESA PADEIRO 3”.
· Arquivo 6: “ 17062010 FUNCIONÁRIOS DO ESTABELECIMENTO COMERCIAL DA
RUA VITORIA 520”.
“Há, outrossim, a captação de sinais ópticos armazenados na pasta ‘JOÃO GLACIA
MACEDO’, subpasta `VIDEOS’ (DVD de fls.
418)”:
· Arquivo 1: “06072010 PADEIRO’ E OUTROS NA FRENTE DA CAMARA, GOLF
BRANCO”. Interessam às investigações, neste ponto, as imagens registradas até os 35
segundos.
· Arquivo 2: “08072010 PADEIRO SAINDO DA CAMARA, MOT SENHOR DO ONIBUS
VEICULO JOÃO BERALDO ESTACIONADO E GOLF B”. Interessam as imagens
colhidas até os 45 segundos.
· Arquivo 3: “13072010 JOAO GLACIA SAINDO DA CAMARA”. Interessa às
investigações o vídeo em sua integralidade.
· Arquivo 4: “16072010 JOAO GLACIA MACEDO SAINDO DA CAMARA”.
Interessa às investigações o vídeo em sua integralidade.
· Arquivo 5: “18062010 JOAO GLACIA MACEDO COM UNIFORME DE PADEIRO DA
EMPRESA BIG BOY”. Interessa às investigações o vídeo em sua integralidade.
· Arquivo 6: “19082010 JOAO GLACIA SAINDO DA CAMARA “. Interessa às
investigações o vídeo em sua integralidade.
· Arquivo 7: “25082010 JOAO GLACIA SAINDO DA CAMARA”. Interessa às
investigações o vídeo em sua integralidade.
· Arquivo 8: “26072010 JOAO GLACL4 E EDUARDO FERREIRA SAINDO DA
CAMARA”. No ponto, de relevo são as imagens constantes a partir dos 52 segundos.
· Arquivo 9: “27072010 BIZ PRATA E PADEIRO SALVDO”. Interessa às investigações o
vídeo em sua integralidade.
· Arquivo 10: “27072010 BIZ PRATA E PADEIRO SAINDO 4”. Interessa às
investigações o vídeo em sua integralidade.
· Arquivo 11: “JOAO GLACIA AL4CEDO CHEGANDO E SAINDO, RONALDO
CHEGANDO E SAINDO E ARLINDO ALVAS”. Interessam, neste ponto, as imagens
registradas até os 35 segundos; e, dos intervalos entre 1m28s e 2m08s; e, 5m36s até o
final. .
· Arquivo 12: “JOÃO GLACIA MACEDO SAINDO DÁ CAMARÁ”. De interesse todo o
vídeo.
· Arquivo 13: “RONALDO CHEGANDO A CAMARA, JOAO GLACIA SAINDO E
RONALDO SAINDO”. Vale o acompanhamento de todo o vídeo.
· Arquivo 14: “SDV 0209 11082010 JOÃO GLACIA CHEGANDO APÓS ALMOÇO”.
Este vídeo merece acompanhamento até os 14 segundos.
· Arquivo 15: “SDV 0220 16082010 0741 DAYANE CHEGANDO E ARLNIDO ALVAS E
JOÃO GLACIA SAINDO DA CAMARA”. Interessa, neste ponto, o intervalo de
gravação compreendido entre os 45 segundos e 1m22s.
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· Arquivo 16: “SDV 0248 18082010 0750 JOAO GLACIA SAINDO DA CAMARA
MUNICIPAL”. Todo o vídeo guarda relação com o investigado.
· Arquivo 17: “VEICULO AEZ-2595 ESTACIONADO NA EMPRESA DE PANIFICAÇÃO
NA RUA VITORIA”. O vídeo registra o automóvel do investigado no local onde, em
tese, desempenha o oficio de padeiro.
“Corroborando essa ilicitude e improbidade, extrai-se da análise de ERB’s, carreada às
fls. 259 a 295, que durante o período abril de 2010 a agosto de 2010, o telefone
celular (44) 9996- 9157(TIM) utilizado pelo denunciado JOÃO MACEDO, registrou
chamadas efetuadas, recebidas e perdidas em sua quase totalidade, durante o horário
de expediente e jornada de trabalho, porém, sempre partindo ou originando de
lugares distantes do prédio da Câmara Municipal de Maringá onde deveria estar”.
“Assim agindo, com vontade livre e consciente, o ora denunciado JOÃO MACEDO,
na função pública de assessor AP8, portanto, como funcionário público autorizado,
inseriu dados falsos (impressão digital própria) no sistema informatizado ou banco de
dados da Administração Pública da Câmara Municipal de Maringá, com o fim de obter
vantagem indevida para si, dentre outras, o `status’ de funcionário público; a contagem
de tempo de serviço público indevidamente; a qualidade de segurado da Previdência
Social, gerando direito ou expectativa de direito quanto ao eventual recebimento de
benefícios do INSS, a que viesse a fazer jus (auxílio doença, auxílio acidente, pecúlio
etc.), mediante esta fraudulenta situação ideológica de falsa presença no serviço
público, tendo em vista que perante o sistema informatizado e o banco de dados da
Câmara Municipal de Maringá, constava falsamente a sua presença fisica em plena
prestação de atividade laborativa que, na verdade, não existia”.
“Com efeito, além destas vantagens elementares do fato criminoso, anteriormente
narrado, com esta mesma conduta e idêntico proceder doloso, o denunciado JOÃO
MACEDO consequentemente desviava, em proveito próprio, dinheiro e valor 15
pertencente ao erário público, posto que, recebia vencimentos/salário sem a regular e
correspondente contraprestação laborativa, violando dever funcional”.
FATO 02:
“Tudo isso somente era possível graças à conivência’ do vereador contratante e ora
denunciado BELINO BRAVIN FILHO, eis que tinha pleno conhecimento das ausências
do aludido assessor parlamentar, pois que com vontade livre e consciente, tolerava a
conduta do assessor em se ausentar das atividades para as quais havia sido nomeado,
omitindo-se em seu dever legal de fidelidade para com a Administração Pública
Municipal, conforme a regra do artigo 29 c/c. o artigo 13 § 2°, alínea ‘a’, ambos do
Código Penal, por conseguinte concorrendo, de qualquer modo, para que seu
assessor e denunciado JOÃO MACEDO inserisse os dados falsos (impressão digital
própria) no sistema informatizado ou banco de dados da Administração Pública da
Câmara Municipal de Maringá, para que, o mesmo obtivesse as referidas vantagens
dos cofres públicos, recebendo os vencimentos/salário sem a regular e efetiva
contraprestação laborativa e, portanto, desviando dinheiro público em proveito
próprio”.
FATO 03:

365

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“Apurou-se, também, que no dia 01/07/2010, por volta das 08h0Omin o terceiro
denunciado OLAVO LUIZ DA CRUZ (Matrícula n° 4445), por indicação do quinto
denunciado, o vereador MÁRIO SERGIO VERRI, que era quem deveria controlar sua
assiduidade e regularidade ao trabalho, foi nomeado para o cargo/função de Assessor
Parlamentar de Gabinete AP5, cujas atribuições especificadas no referido ANEXO I, da
Lei 8.320/2009, eram de efetuar serviços de recepção, digitação em geral, redação e
organização de arquivos; verificar e acompanhar a tramitação de assuntos junto a
repartições públicas e órgãos da Câmara de interesse do Gabinete, efetuar serviços
burocráticos gerais, sob orientação superior, e para tanto percebia contraprestação
pecuniária no importe de R$ 1.138,93 (um mil, cento e trinta e oito reais e noventa e
três centavos ­ doc. de fls. 163/168), conduziu uma moto SundownfWeb 100, prata
placas DYM¬1557, deslocando-se da Câmara Municipal até uma residência localizada
na Rua Ernesto Volpato, no. 130, Parque das Laranjeiras, sendo avistado, que por volta
das 13h25min saiu da residência supramencionada e se deslocou à Câmara Municipal
de Maringá/PR”.
“Ademais, em outra diligência realizada o denunciado OLAVO DA CRUZ foi avistado
chegando à Câmara conduzindo sua motocicleta e logo após se deslocou até a
residência supra, onde permaneceu por aproximadamente 30m. quando saiu com sua
motocicleta levando alguns papéis, até chegar ao estabelecimento Mandacaru Carnes,
para fazer colagem de propaganda de uma dupla sertaneja, sendo que após não foi
possível continuar a diligência devido o fluxo no trânsito”.
“Com o escopo de se evidenciar a reiteração da conduta apontada na acusação em
desfavor deste denunciado, comprovou- se, mediante registro de imagens públicas
que OLAVO DA CRUZ afastava-se de seu local de trabalho durante o expediente. Tais
registros estão consignados na mídia digital que acompanha os presentes autos, nos
seguintes arquivos, armazenados na pasta
‘EDUARDO FERREIRA’, subpasta ‘FOTOS’, porque o denunciado OLAVO DA CRUZ
inicialmente foi confundido por EDUARDO:
· Arquivo 1: “09072010 0807 RESIDENCIA DO SENHOR EDUARDO FERREIRA 2”.
· Arquivo 2: “09072010 0818 RESIDENCIA DO SENHOR EDUARDO FERREIRA”.
· Arquivo 3: “09072010 0818 RESIDENCIA DO SENHOR EDUARDO FERREIRA 2”.
· Arquivo 4: “09072010 0848 RESIDENCIA DO SENHOR EDUARDO FERREIRA 2”.
“Consta imagem do cartaz afixado pelo investigado, onde se dá publicidade ao show
da dupla ‘Pedro Henrique & Fabiano, no dia 16 de julho de 2010, no estabelecimento
Estância Gaúcha, onde trabalha o investigado “.
· Arquivo 5: “28072010 0823 RESIDENCIA DO SENHOR EDUARDO FERREIRA”.
· Arquivo 6: “28072010 0823 RESIDENCIA DO SENHOR EDUARDO FERREIRA 2”.
· Arquivo 7: “28072010 0843 RESIDENCIA DO SENHOR EDUARDO FERREIRA”.
· Arquivo 8: “28072010 0901 RESIDENCIA DO SENHOR EDUARDO FERREIRA 3”.
“Há, bem assim, a captação de sinais ópticos acerca do denunciado OLAVO DA CRUZ
armazenados na pasta ‘EDUARDO FERREIRA’, pois pensava-se que essa fosse sua
identidade, na subpasta `V1DEOS’”:

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· Arquivo 1: “01072010 SUNDOWN PRATA CHEGANDO A CAMARA, CASAL COM


CRIANÇA CHEGANDO, JOÃO BERALDO CHEGANDO, DOIS”. Interessam às’
investigações, neste ponto, o intervalo compreendido entre os 13 segundos e 1m25s.
· Arquivo 2: “09072010 0838 EDUARDO SAINDO PARA PANFLETAR”.
Recomenda-se a análise do vídeo na íntegra.
· Arquivo 3: “09072010 EDUARDO FERREIRA COLANDO PROPAGANDA DE DUPLA
SERTANEJA”. Vale a análise do vídeo na íntegra.
· Arquivo 4: “09072010 EDUARDO FERREIRA SAINDO DA RESIDENCIA COM
PANFLETOS NA MAO”. De interesse às investigações é a análise do vídeo em sua
integralidade.
· Arquivo 5: “20072010 BIZ PRATA SAINDO 2”. Sugere-se a análise do vídeo em sua
integralidade.
· Arquivo 6: “20072010 SUNDOWN PRATA NA FRENTE DA RESIDENCIA”.
Ver na íntegra.
· Arquivo 7: “23072010 MULHERES CHEGAM COM O VEICULO AHG3703 E BIZ
PRATA DESLOCA”. Interessam às investigações as imagens registradas a partir de
1m29s.
· Arquivo 8: “26072010 JOAO GLACIA MACEDO E EDUARDO FERREIRA SAINDO
DA CAMARA”. Interessam às investigações as imagens registradas às partir dos 58
segundos.
· Arquivo 9: “27072010 EDUARDO E JOAO GLACIA SAINDO DÁ CAMRA 3”.
Ver na íntegra.
· Arquivo 10: “28072010 EDUARDO CHEGANDO NA RESIDENCIA”.
· Arquivo 11: “280720101 SUNDOWN PRATA ESTACIONADA NA RESIDENCIA AS
NOVE HORAS DA MANHA”.
· Arquivo 12: “EDUARDO FERREIRA CHEGA EM CASA APÓS SAIR DA CAMARA
MUNICIPAL”.
“A exemplo do que se comprovou em relação aos demais denunciados, essa ilicitude
e improbidade do denunciado OLAVO DA CRUZ, poderá ser melhor materializada e
facilmente corroborada pela análise de ERB’s, caso venha a ser deferida a nossa
modesta promoção formulada na COTA de oferecimento da presente denúncia, no
item 7 - às fls. 418/420, do 2° Volume dos Autos de Inquérito Policial”.
“Assim agindo, com vontade livre e consciente, o ora denunciado OLAVO DA CRUZ,
na função pública de assessor AP8, portanto, como funcionário público autorizado,
inseriu dados falsos (impressão digital própria) no sistema informatizado ou banco de
dados da Administração Pública da Câmara Municipal de Maringá, com o fim de obter
vantagem indevida para si, dentre outras, o `status’ de funcionário público; a contagem
de tempo de serviço público indevidamente; a qualidade de segurado da Previdência
Social, gerando direito ou expectativa de direito quanto ao eventual recebimento de
benefícios do INSS, a que viesse a fazer jus (auxílio doença, auxílio acidente, pecúlio
etc.), mediante esta fraudulenta situação ideológica de falsa presença no serviço
público, tendo em vista que perante o sistema informatizado e o banco de dados da
Câmara Municipal de Maringá, constava falsamente a sua presença física em plena
prestação de atividade laborativa que, na verdade, não existia”.
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“Com efeito, além destas vantagens elementares do fato criminoso, anteriormente


narrado, com esta mesma conduta e idêntico proceder doloso, o denunciado OLAVO
DA CRUZ desviava, em proveito próprio, dinheiro e valor pertencente ao erário
público, posto que, recebia vencimentos/salário sem a regular e correspondente
contraprestação laborativa, violando dever funcional”.
FATO 04:
“Consta dos autos, também, que o quarto denunciado ARLINDO ALVAS, (Matrícula n°
4739), também por indicação do quinto denunciado, o vereador MARIO SERGIO
VERRI, que era quem deveria controlar sua assiduidade e regularidade ao trabalho, foi
nomeado para o cargo/função de Assessor Parlamentar de Gabinete AP1, cujas
atribuições especificadas no referido ANEXO I, da Lei 8.320/2009, eram de catalogar
os pedidos de informações e as respectivas respostas; controlar prazos e diligenciar
respostas as proposições, indicações e pedidos do Vereador; colaborar na agenda
política do parlamentar; manter arquivo de documentos e papéis que em caráter
particular sejam interessados ao Vereador; auxiliar nas programações solenes, expedir
convites e anotar todas as providências necessárias ao assessoramento do
parlamentar, e para tanto percebia contraprestação pecuniária no importe de R$
569,43 (quinhentos e sessenta e nove reais e quarenta e três centavos ­ doc.
de fls. 163/168). Contudo, em diligência realizada no dia 17/06/10, foi avistado saindo
à pé da Câmara Municipal e se dirigir até o terminal urbano, onde embarcou no ônibus
linha ‘20’, tendo desembarcado na Avenida São Domingos, próximo ao Supermercado
Canção. Destarte, em outras ocasiões observou-se o ora denunciado ARLINDO
conduzindo o veículo Ford/Escort de cor vermelha, placas BQK-3674 para assuntos
alheios à sua função pública”.
“Por conseguinte, em 21/06/10, por volta das 08h0Omin fora observado e nesta
identificado o ora denunciado como sendo ARLINDO, que saindo da Câmara
Municipal se dirigiu até o Terminal Urbano e embarcou no mesmo ônibus, ou seja,
linha ‘20’ e se deslocou até a Igreja Sagrado Coração de Jesus, tendo permanecido
em um velório, onde foi possível através do livro de registro de visitantes, identificá-lo.
Ademais, por volta das 13h5Omin o ora denunciado ARLINDO se dirigiu à Câmara
Municipal e por volta das 14h03min saiu e caminhou para o Cemitério Municipal para
acompanhou um sepultamento (imagens e fotografias anexadas)”.
“Adotados os mesmos métodos de comprovação, objetivando constatar que o
comportamento do investigado era freqüente e continuado, registrou-se imagens que
demonstraram que realmente ARLINDO ALVAS ausentava-se sempre da Câmara
durante o seu horário de expediente. Tais registros estão evidenciados na mídia digital
que acompanha os presentes autos, nos seguintes arquivos, armazenados na pasta
`ARLINDO ALVAS’, subpasta `VÍDEOS’”:
· Arquivo 1: “062010 ARLINDO ALVAS ACOMPANHADO NO INTERIOR DO
COLETIVO A CAMINHO DE CASA”.
· Arquivo 2: “08072010 PADEIRO SAINDO DA CAMARA, MOT SENHOR DO ONIBUS
VEICULO JOAO BERALDO ESTACIONADO E GOLF B”. Interessam às investigações,
neste ponto, o intervalo compreendido entre 1 minuto e lmlOs.

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· Arquivo 3: “09062010. 10062010, 11062010 APÓS ALMOÇO SENHOR ARLINDO


ALVAS, RONALDO CHEGANDO E SAINDO JOÃO GLA”. Interessam às investigações,
neste ponto, o intervalo compreendido entre os 45 segundos e 1m21s.
· Arquivo 4: “21072010 ARLINDO ALVAS SAINDO DA CAMARA”.
· Arquivo 5: “23072010 ARLINDO ALVAS SAINDO DA CAMARA MUNICIPAL”.
· Arquivo 6: “26072010 ARLINDO ALVAS SAINDO CAMARA MUNICIPAL”.
Interessam às investigações, neste ponto, as imagens registradas a partir dos 42
segundos.
· Arquivo 7: “27072010 ARLINDO ALVAS CHEGANDO A CAMARA APÓS O
ALMOÇO”.
· Arquivo 8: “27072010 ARLINDO ALVAS SAINDO DA CAMARA MUNICIPAL”.
· Arquivo 9: “28072010 EDUARDO CHEGANDO E ARLINDO ALVAS SAINDO DA
CAMARA”. Interessam às investigações, neste ponto, as imagens registradas a partir
dos 36 segundos.
· Arquivo 10: “JOÃO GLACIA MACEDO CHEGANDO E SAINDO, RONALDO
CHEGANDO E SAINDO E ARLINDO ALVAS”. Interessa às investigações, neste ponto,
o intervalo compreendido entre os 4 minutos e 4m30s.
· Arquivo 11: “SDV 0187 11082010 ARLINDO ALVAS SAINDO DA CAMARA
MUNICIPAL”.
· Arquivo 12: “SDV­ 0220 16082010 0741 DAYANE CHEGANDO E ARLINDO ALVAS
E JOÃO GLACIA SAINDO DA CAMARA”. De interesse, neste ponto, as imagens
registradas no intervalo entre os 43 segundos e 1m23s.
“Corroborando essa ilicitude e improbidade, extrai-se da análise de ERB’s, carreada
às fls. 296 a 340, que durante o período de abril de 2010 a agosto de 2010, o telefone
celular (44) 9961- 1910(TIM) utilizado pelo denunciado ARLINDO ALVAS, registrou
chamadas efetuadas, recebidas e perdidas em sua quase totalidade, durante o horário
de expediente e jornada de trabalho, porém, sempre partindo ou originando de
lugares distantes do prédio da Câmara Municipal de Maringá onde deveria estar
trabalhando”.
“Assim agindo, com vontade livre e consciente, o ora denunciado ARLINDO ALVAS,
na função pública de assessor AP8, portanto, como funcionário público autorizado,
inseriu dados falsos (impressão digital própria) no sistema informatizado ou banco de
dados da Administração Pública da Câmara Municipal de Maringá, com o fim de obter
vantagem indevida para si, dentre outras, o `status’ de funcionário público; a contagem
de tempo de serviço público indevidamente; a qualidade de segurado da Previdência
Social, gerando direito ou expectativa de direito quanto ao eventual recebimento de
benefícios do INSS, a que viesse a ,fazer jus (auxílio doença, auxílio acidente, pecúlio
etc.), mediante esta fraudulenta situação ideológica de falsa presença no serviço
público, tendo em vista que perante o sistema informatizado e o banco de dados da
Câmara Municipal de Maringá, constava falsamente a sua presença física em plena
prestação de atividade laborativa que, na verdade, não existia”.
“Com efeito, além destas vantagens elementares do fato criminoso, anteriormente
narrado, com esta mesma conduta e idêntico proceder doloso, o denunciado
ARLINDO ALVAS desviava, em proveito próprio, dinheiro e valor, pertencente ao
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erário público, posto que, recebia vencimentos/salário sem a regular e correspondente


contraprestação laborativa, violando dever funcional”.
FATO 05:
“Os crimes descritos anteriormente nos FATOS 3 e 4- supra, somente era possível
graças à conivência do vereador e ora denunciado MÁRIO SÉRGIO VERRI, eis que
tinha pleno conhecimento das ausências do aludido assessor parlamentar, pois que
com vontade livre e consciente, tolerava a conduta do assessor em se ausentar das
atividades para as quais havia sido nomeado, omitindo- se em seu dever legal de
fidelidade para com a Administração Pública, conforme a regra do artigo 29 c/c. o
artigo 13 § 2°, alínea ‘a’, ambos do Código Penal, por conseguinte concorrendo, de
qualquer modo, para que seus assessores e denunciados OLAVO DA CRUZ (FATO 03)
e ARLINDO ALVAS (FATO 4) dolosamente inserissem dados falsos (impressão digital
própria) no sistema informatizado ou banco de dados da Administração Pública da
Câmara Municipal de Maringá, para que os mesmos obtivessem as referidas vantagens
dos cofres públicos, recebendo vencimentos/salário sem a regular e efetiva
contraprestação laborativa e, portanto, desviando dinheiro público em proveito
próprio”.
FATO 06:
“Por seu turno, consta dos Autos a comprovação de que o sexto denunciado JOÃO
BERALDO (Matrícula n° 4815), por indicação do sétimo denunciado, o vereador
CARLOS EDUARDO SABÓIA, que era quem deveria controlar sua assiduidade e
regularidade ao trabalho, foi nomeado para o cargo/função de Assessor Parlamentar
de Gabinete AP9, cujas atribuições especificadas no referido ANEXO I, da Lei
8.320/2009, eram de executar, segundo diretrizes e orientação superior, serviços
técnicos de interesse do Gabinete; prestar assessoramente e aconselhamento técnico
ao Vereador junto ao qual exercia as atribuições do seu cargo, relacionados com os
trabalhos desenvolvidos no Gabinete, e para tanto percebia contraprestação
pecuniária no importe de R$ 2.562,60 (dois mil, quinhentos e sessenta e dois reais e
sessenta centavos ­ docs. de fls. 163/168). Em diligências realizadas comprovou-se
que no dia 11/07/10, saiu da Câmara Municipal por volta das 07h39min, conduzindo
seu veículo VW/Gol de cor vermelha, placas AQI-5040.
No percurso o ora denunciado JOÃO BERALDO parou na Panificadora Real,
localizada na Avenida Mandacaru, onde efetuou uma pequena compra e logo em
seguida se deslocou até uma residência localizada à Rua Jaspe, n° 233, Jardim Brasil,
sendo constatado que até às 09h3Omin o ora denunciado JOÃO BERALDO ainda
permaneceu no interior da referida residência. Ademais, por volta das 13h45min, fora
avistado o denunciado chegando à Câmara Municipal”.
“Dias após, em data de 16/07/10, em outra diligência, comprovou-se que o
denunciado JOÃO BERALDO novamente se deslocou da Câmara Municipal por volta
das 08h05min, com seu supramencionado veículo, até uma residência localizada na
Rua Joaquim Mendes Sobrinho, n° 82. Convém salientar, que após vigilância no local
até as 09h15min o referido denunciado ainda permaneceu no interior do imóvel”.
“Seguindo o mesmo estilo de investigação, com a finalidade de demonstrar que a
conduta do assessor parlamentar era freqüente e continuadamente, registraram-se
370

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

imagens que comprovam a ausência de JOÃO BERALDO do âmbito interno da


Câmara durante seu turno de trabalho. Tais registros estão evidenciados na mídia
digital que acompanha os presentes autos, nos seguintes arquivos, armazenados na
pasta ‘JOÃO BERALDO’, subpasta `FOTOS’:
· Arquivo 1: “11082010 0841 RESIDENCL4 DO SENHOR JOÃO BERALDO”.
· Arquivo 2: “11082010 0842 RESIDENCIA DO SENHOR JOÃO BERALDO 2”.
· Arquivo 3: “11082010 0842 RESIDENCL4 DO SENHOR JOÃO BERALDO 3”.
· Arquivo 4: “11082010 0922 PADARIA QUE O SENHOR JOÃO BERALDO PAROU
APÓS DESLOCAR DA CAMARA MUNICIPAL”.
· Arquivo 5: “RESIDENCIA DA RUA JOAQUIM MENDES SOBRINHO”.
“Há, ainda, a captação de sinais ópticos acerca de JOÃO BERALDO armazenados na
pasta ‘JOÃO BERALDO’, subpasta `VIDEOS’”:
· Arquivo 1: “11082010 0739 JOÃO BERALDO DESLOCANDO DA CAMARA.
· Arquivo 2: “11082010 0838 AINDA NA RESIDENCIA”.
· Arquivo 3: “11082010 0840 AINDA ESTACIONADO NA RUA JASPE 233”.
· Arquivo 4: “11082010 0915 AINDA NA RESIDENCIA”.
· Arquivo 5: “11082010 1345 SENHOR NÃO IDENTIFICADO SAINDO E JOÃO
BERALDO CHEGANDO APÓS O ALMOÇO”. De interesse às investigações as imagens
registradas às partir dos 41 segundos.
· Arquivo 6: “11082010 JOÃO BERALDO ESTACIONOU NA RUA JASPE APÓS
DESLOCAR DA CAMARA MUNICIPAL”.
· Arquivo 7: “11082010 RESIDENCIA DA RUA JASPE COM FUSCA NA GARAGEM”.
· Arquivo 8: “16072010 0840 GOL VERMELHO PLACAS AQI-5040 JOÃO BERALDO
AINDA PRÓXIMO DAS 09 HORAS”.
· Arquivo 9: “16072010 0816 VEICULO DO JOÃO BERALDO ESTACIONADO EM
UMA RESIDENCL4 PRÓXIMO DELEGACIA”.
· Arquivo 10: “19082010 0823 JOÃO BERALDO SAINDO DA CAMARA MUNICIPAL”.
· Arquivo 11: “27072010 JOÃO BERALDO SAINDO”.
· Arquivo 12: “27072010 JOÃO BERALDO NA LOJA PORTAS E BATENTES NO
BORBA GATO”.
· Arquivo 13: “27072010 JOÃO BERALDO NO SUP BEM BOM DO BORBA GATO”.
· Arquivo 14: “SDV 0226 16082010 DAYANE NA FRENTE DA CAMARA E JOÃO
BERALDO SAINDO”. De interesse às investigações as imagens registradas a partir de
01 minuto.
· Arquivo 15: “SDV 0234 16082010 1358 JOÃO BERALDO CHEGANDO NA
CAMARA”.
· Arquivo 16: “SDV 0245 1 7082010 081 7 JOÃO BERALDO SAINDO DA CAMARA
MUNICIPAL”.
“Corroborando essa ilicitude e improbidade, extrai-se da análise de ERB’s, carreada
às fls. 341 a 417, que durante o período de abril de 2010 a agosto de 2010, o telefone
celular (44) 9109- 5486(VIVO) utilizado pelo denunciado JOÃO BERALDO, registrou
chamadas efetuadas, recebidas e perdidas em sua quase totalidade, durante o horário
de expediente e jornada de trabalho, porém, sempre partindo ou originando de

371

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

lugares distantes do prédio da Câmara Municipal de Maringá onde deveria estar


trabalhando”.
“Assim agindo, com vontade livre e consciente, o ora denunciado JOÃO BERALDO,
na função pública de assessor AP9, portanto, como funcionário público autorizado,
inseriu dados falsos (impressão digital própria) no sistema informatizado ou banco de
dados da Administração Pública da Câmara Municipal de Maringá, com o fim de obter
vantagem indevida para si, dentre outras, o `status’ de funcionário público; a contagem
de tempo de serviço público indevidamente; a qualidade de segurado da Previdência
Social, gerando direito ou expectativa de direito quanto ao eventual recebimento de
benefícios do INSS, a que viesse a fazer jus (auxílio doença, auxílio acidente, pecúlio
etc.), mediante esta fraudulenta situação ideológica de falsa presença no serviço
público, tendo em vista que perante o sistema informatizado e o banco de dados da
Câmara Municipal de Maringá, constava falsamente a sua presença ‘física em plena
prestação de atividade laborativa que, na verdade, não existia”.
“Com efeito, além destas vantagens elementares do fato criminoso anteriormente
narrado, com esta mesma conduta e idêntico proceder doloso, o denunciado JOÃO
BERALDO desviava, em proveito próprio, dinheiro e valor pertencente ao erário
público, posto que, recebia vencimentos/salário sem a regular e correspondente
contraprestação laborativa, violando dever funcional”.
FATO 7:
“Tudo isso somente era possível graças à conivência do vereador e ora denunciado
CARLOS EDUARDO SABOTA GOMES, eis que tinha pleno conhecimento das
ausências do aludido assessor parlamentar, pois que com vontade livre e consciente,
tolerava a conduta do assessor em se ausentar das atividades para as quais havia sido
nomeado, omitindo-se em seu dever legal de fidelidade para com a Administração
Pública, conforme a regra do artigo 29 c/c. o artigo 13 § 2°, alínea “a”, ambos do
Código Penal; por conseguinte concorrendo, de qualquer modo, para que seu
assessor e denunciado JOÃO BERALDO inserisse dados falsos (impressão digital
própria) no sistema informatizado ou banco de dados da Administração Pública da
Câmara Municipal de Maringá, para que o mesmo obtivesse as referidas vantagens
dos cofres públicos, recebendo vencimentos/salário sem a regular e efetiva
contraprestação laborativa e, portanto, desviando dinheiro público em proveito
próprio”.
FATO 08:
“Consta dos Autos, outrossim, que o oitavo denunciado RONALDO HENRIQUE
MARQUES (Matrícula n° 4782), por indicação do nono denunciado, o vereador
APARECIDO DOMINGOS REGINI, que era quem deveria controlar sua assiduidade e
regularidade ao trabalho, foi nomeado para o cargo/função de Assessor Parlamentar
de Gabinete AP3, cujas atribuições especificadas no referido ANEXO I, da Lei
8.320/2009, eram de dar os encaminhamentos que couber a proposições de autoria
do Vereador; diligenciar a formalização e que participe o Vereador; responsabilizar-se
pelo recebimento e encaminhamento de pareceres de comissões que o parlamentar
integre; colaborar na organização de audiências públicas ou reuniões que devam ser
promovidas pelo Vereador, e para tanto percebia contraprestação pecuniária no
372

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

importe de R$ 854,19 (oitocentos e cinquenta e quatro reais e dezenove centavos --


docs.
de fls. 163/168). No entanto, em diligências realizadas por Agentes Especiais do
GAECO, constatou-se que o denunciado costumava conduzir o veiculo VW/Gol, placas
MOT-2611, e que foi avistado por diversas vezes entrar e logo em seguida sair da
Câmara Municipal 30
de Maringá-PR. Então, após acompanhamento realizado no dia 29/06/2010, por volta
das 07h5Omin, o ora denunciado RONALDO foi observado se deslocando até o
Parque Alfredo Niffler, Vila Morangueira, e logo em seguida dirigiu-se até o Conjunto
Habitacional Rodolfo e deixou uma criança. Na sequência, deslocou- se até uma
residência localizada na Rua Evaristo da Veiga, n° 2.432, onde lá permaneceu (fotos e
vídeos em anexo)”.
“A fim de se demonstrar nos autos a reiteração e continuidade da conduta apontada
nas suspeitas lançadas em desfavor deste denunciado, comprovou-se pelo registro de
imagens que RONALDO MARQUES frequentemente ausentava-se de seu local de
trabalho durante o expediente. Tais registros estão evidenciados na mídia digital que
acompanha os presentes autos, nos seguintes arquivos, armazenados na pasta
`RONALDO HENRIQUE MARQUES’, subpasta `VIDEOS’”:
· Arquivo 1: “08072010 RONALDO SAINDO DA CAM_ARA”. Interessa às
investigações, neste ponto, o intervalo compreendido entre os 48 segundos e 1
minuto de gravação.
· Arquivo 2: “09062010.10062010.11062010 APÓS ALMOÇO SENHOR ARLINDO
ALVAS, RONALDO CHEGANDO E SAINDO JOÃO GLA”. Interessam às investigações,
neste ponto, os intervalos compreendidos entre 1m38s e 1m52s; 3m45s e 4m45s;
10m4Os e 12m25s; 13m e 13m59s.
· Arquivo 3: “20072010 JOÃO GLACIA MACEDO, RONALDO HENRIQUE SAINDO”.
Interessam às investigações, neste ponto, o intervalo compreendido entre 4mI8s e
5m32s.
· Arquivo 4: “23072010 RONALDO CHEGA A CAMARA COM MULHER E CRIANÇA”.
Interessa às investigações o vídeo em sua integralidade.
· Arquivo5: “26072010 RONALDO CHEGANDO NA CAMARA”. Interessa às
investigações o vídeo em sua integralidade.
· Arquivo 6: “27072010 SAINDO DA CÂMARA E RONALDO CHEGANDO”.
Interessa às investigações a partir dos 13 segundos.
· Arquivo 7: “27072010 RONALDO CHEGANDO (2)”. Interessa às investigações o
vídeo em sua integralidade.
· Arquivo 8: “27072010 RONALDO SAINDO DA CAMARA”. Interessa às investigações
o vídeo em sua integralidade.
· Arquivo 9: “230820101 0807 RONALDO SAINDO DA CAMARA MUNICIPAL COM
UMA CRIANÇA”. Interessa às investigações o vídeo em sua integralidade.
· Arquivo 10: “JOAO GLACIA MACEDO CHEGANDO E SAINDO, RONALDO
CHEGANDO E SAINDO E ARLINDO ALVAS”. Interessam às investigações, neste
ponto, os intervalos compreendidos entre 1m38s e 1m52s; 3m45s e 4m45s; 10m4Os e
12m25s; 13m e 13m59s.
373

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

· Arquivo 11: “RONALDO CHEGANDO”. Interessam às investigações as imagens


registradas às partir dos 50 segundos.
· Arquivo 12: “RONALDO CHEGANDO A CAMARA, JOÃO GLACIA SAINDO E
RONALDO SAINDO”. Interessam às investigações as imagens registradas até o 36
segundos; e, a partir dos 6m25s, até o término.
· Arquivo 13: “SDV 0229 16082010 0758 RONALDO SAINDO DA CAMARA”.
Interessa às investigações o vídeo em sua integralidade.
· Arquivo 14: “SDV 0241 17082010 0806 RONALDO SAINDO DA CAMARA
MUNICIPAL”. Interessa às investigações o vídeo em sua integralidade.
· Arquivo 15: “SDV 0254 18082010 RONALDO NA RESIDÊNCIA DO VEREADOR
ZEBRAO”. Interessa às investigações o vídeo em sua integralidade.
· Arquivo 16: “SDV 0255 18082010 RONALDO DESLOCANDO DA RESIDENCIA DO
VEREADOR ZEBRAO”. Interessa às investigações o vídeo em sua integralidade.
· Arquivo 17: “SDV 0256 18082010 0845 RONALDO ESTACIONA EM UMA
RESIDENCIA NA RUA RIO GRANDE DO NORTE”. Interessa às investigações o vídeo
em sua integralidade.
· Arquivo 18: “SDV 0260 18082010 0905 VEICULO DE RONALDO AINDA NA FRENTE
DA RESIDENCIA NA -12-UA RIO GRANDE DO NORT”. Interessa às investigações o
vídeo em sua integralidade.
· Arquivo 19: “SDV 0261 18082010 0908 VEICULO NA RESIDENCIA “.
Interessa às investigações o vídeo em sua integralidade.
“Corroborando essa ilicitude e improbidade, extrai-se da análise de ERB’s, carreada
às fls. 211 a 258, que durante o período de abril de 2010 a agosto de 2010, o telefone
celular (44) 9966- 1762(TIM) utilizado pelo denunciado RONALDO MARQUES registrou
chamadas efetuadas, recebidas e perdidas em sua quase totalidade, durante o horário
de expediente e jornada de trabalho, porém, sempre partindo ou originando de
lugares distantes do prédio da Câmara Municipal de Maringá onde deveria estar
trabalhando”.
“Assim agindo, com vontade livre e consciente, o ora denunciado RONALDO
MARQUES, na função pública de assessor AP8, portanto, como funcionário público
autorizado, inseriu dados falsos (impressão digital própria) no sistema informatizado ou
banco de dados da Administração Pública da Câmara Municipal de Maringá, com o
fim de obter vantagem indevida para si, dentre outras, o `status’ de funcionário
público; a contagem de tempo de serviço público indevidamente; a qualidade de
segurado da Previdência Social, gerando direito ou expectativa de direito quanto ao
eventual recebimento de benefícios do INSS, a que viesse a fazer jus (auxílio doença,
auxílio acidente, pecúlio etc.), mediante esta fraudulenta situação, tendo em vista que
perante o sistema informatizado e o banco de dados da Câmara Municipal de
Maringá, constava a sua presença física e a prestação de atividade laborativa que, na
verdade, não existia”.
“Com efeito, além destas vantagens elementares do fato criminoso anteriormente
narrado, com esta mesma conduta e idêntico proceder doloso, o denunciado
RONALDO MARQUES desviava, em proveito próprio, dinheiro e valor pertencente ao

374

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

erário público, posto que, recebia vencimentos/salário sem a regular e correspondente


contraprestação laborativa”.
FATO 09:
“Tudo isso somente era possível graças à conivência do vereador contratante e ora
denunciado APARECIDO DOMINGOS REGINI, eis que tinha pleno conhecimento das
ausências do aludido assessor parlamentar, pois que com vontade livre e consciente,
tolerava a conduta do assessor em se ausentar das atividades para as quais havia sido
nomeado, omitindo-se em seu dever legal de fidelidade para com a Administração
Pública, conforme a regra do artigo 29 c/c. o artigo 13 § 2°, alínea “a”, ambos do
Código Penal, por conseguinte concorrendo, de qualquer modo, para que seu
assessor e denunciado RONALDO MARQUES inserisse dados falsos (impressão digital
própria) no sistema informatizado ou banco de dados da Administração Pública da
Câmara Municipal de Maringá, para que o mesmo obtivesse as referidas vantagens
dos cofres públicos, recebendo vencimentos/salário sem a regular e efetiva
contraprestação laborativa e, portanto, desviando dinheiro público em proveito
próprio”.
Assim estando e agindo, os assessores denunciados JOÃO GLACIA MACEDO,
OLAVO LUIZ DA CRUZ, ARLINDO ALVAS, JOÃO BERALDO, RONALDO HENRIQUE
MARQUES e GUSTAVO DE FREITAS FERRAZ DE OLIVEIRA, acima epigrafados e
qualificados, violaram e incorreram nas disposições do artigo 312, caput, 2’ figura
(peculato desvio), e do artigo 313-A (peculato eletrônico: inserção) c/c. o artigo 71,
caput (continuidade delitiva), na forma do artigo 70, caput (concurso formal), todos do
Código Penal; ao passo que os vereadores denunciados BELINO BRAVIN FILHO,
MARIO SERGIO VERRI, CARLOS EDUARDO SABÓIA GOMES, APARECIDO
DOMINGOS REGINI e EVANDRO BUQUERA DE FREITAS OLIVEIRA JÚNIOR, também
epigrafados e qualificados, violaram e incorreram nas disposições do artigo 312, caput,
2ª figura (peculato desvio), e do artigo 313-A (peculato eletrônico: inserção falsa) c/c. o
artigo 29, caput (concurso de pessoas) e artigo 13, § 2°, alínea “a” (omissão relevante),
segundo a regra do artigo 71, caput (continuidade delitiva) e na forma do artigo 70,
caput (concurso formal), todos do Código Penal, razão pela qual contra eles é
oferecida a presente denúncia (...)” (fls. 5/21)
Pois bem.
O delito de peculato caracteriza-se pela apropriação pelo funcionário público de
dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a
posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio.
Para configuração do peculato é indispensável ainda a comprovação do dolo, ou seja,
necessária a presença do elemento subjetivo específico, consistente na vontade de se
apossar, definitivamente, do bem ou valor, em benefício próprio ou de terceiro.
E, no presente caso observa-se que os denunciados João Glacia Macedo, Olavo Luis
da Cruz, Arlindo Alvas, Ronaldo Henrique Marques foram legalmente nomeados para
exercerem Cargo em Comissão de Assessor Parlamentar dos Vereadores Belino Bravin
Filho, Mario Sergio Verri, Carlos Eduardo Saboia Gomes e Aparecido Domingos
Regini, e este fato restou incontroverso nos autos.

375

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Com relação ao Fato 1, verifica-se que a própria denúncia ao descrever os fatos


imputados ao denunciado João Macedo, consigna que este “não cumpria
regularmente sua jornada”, reconhecendo, no entanto, que este registrava seu ponto
no início e final do expediente.
Quanto ao Fato 2 descreve a denúncia que o Vereador Belino Bravin Filho tinha
conhecimento das ausências de seu assessor, consentindo com tal conduta.
Com relação ao Fato 3, verifica-se que a própria denúncia ao descrever os fatos
imputados ao denunciado Olavo da Cruz, consigna que este “afastava-se de seu local
de trabalho durante o expediente”, reconhecendo, no entanto, que este registrava seu
ponto no início e final do expediente.
Com relação ao Fato 3, verifica-se que a própria denúncia ao descrever os fatos
imputados ao denunciado Arlindo Alvas, consigna que este “ausentava-se sempre da
Câmara durante o seu horário de expediente”, reconhecendo, no entanto, que este
registrava seu ponto no início e final do expediente.
Quanto ao Fato 5 descreve a denúncia que o Vereador Mario Sergio Verri tinha
conhecimento das ausências de seus assessores, consentindo com tais condutas.
Com relação ao Fato 7, descreve a denúncia que o Vereador Carlos Eduardo Saboia
Gomes tinha conhecimento das ausências de seus assessores, consentindo com tais
condutas.
Com relação ao Fato 8, verifica-se que a própria denúncia ao descrever os fatos
imputados ao denunciado Ronaldo Henrique Marques, consigna que este “afastava-se
de seu local de trabalho durante o expediente”, reconhecendo, no entanto, que este
registrava seu ponto no início e final do expediente.
Com relação ao Fato 9, descreve a denúncia que o Vereador Aparecido Domingos
Regini tinha conhecimento das ausências de seu assessor, consentindo com tal
conduta.
Após regular tramite processual, foram ouvidas testemunhas de acusação e defesa,
assim como interrogados os acusados.
Ao ser ouvida em juízo a testemunha de acusação Agnaldo Cortez afirma que
acompanhou o dia a dia dos assessores da Câmara por determinado período e que
notou que alguns deles somente iam bater ponto no início da manhã e depois
retornavam para bater ponto ao final do expediente, que acompanhou pessoalmente
alguns deles por alguns dias, mas que não tinha como acompanhar diariamente todos
para saber o que efetivamente faziam todos os dias depois que saiam da Câmara; que
realizou a filmagem deles e viu que alguns se dirigiam à suas casas, outro (João
Macedo) foi visto por ele se dirigindo a uma panificadora; mas ressalta que não tinha
como acompanhar todos. (CD, fls. 2755).
A testemunha de defesa Cláudia Hoffmann em seu depoimento prestado em juízo
afirma que trabalhava na Câmara e que assessores faziam serviço externo e que não
havia controle acerca das saídas, que não tem conhecimento dos fatos narrados na
denúncia. (CD, fls. 2755)
A testemunha de acusação Damaris Gonçalves Josepetti, funcionária da Câmara,
afirma em juízo que o controle dos assessores era feito por meio de ponto, que
somente ficou sabendo dos fatos através da imprensa, que na Câmara ninguém
376

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

comentava nada; que não sabia se ele tinha outra profissão, que não via João Macedo
saindo da Câmara, assim como Olavo também não, Arlindo Alvas igualmente; que
conhecia os assessores, mas frisa que somente ficou sabendo dos fatos através da
imprensa; que eles todos registravam ponto todos os dias, e isto ela sempre
acompanhou; que não foi instaurado nenhum procedimento para apurar os fatos, pois
para a Câmara nada havia de irregular, que todos batiam ponto, que atividades
externas são regulamentadas e podem ser feitas pelos assessores; que somente são
permitidas atividades externas relacionadas ao cargo; que os vereadores não precisam
ir todos os dias na Câmara; que para os Vereadores também é difícil o controle do
ponto; que antes do ponto digital era feito o livro ponto, de responsabilidade dos
gabinetes. (CD, fls. 2755)
A testemunha de acusação Mario Massao Hossokawa, Presidente da Câmara na época
dos fatos, afirma em juízo que ao tomar conhecimento dos fatos através do GAECO se
reuniu com os Vereadores e decidiram que o melhor seria exonerar respectivos
assessores; que não pode afirmar que eles não trabalhassem, pois o controle cabia aos
Vereadores; que foi implantado o ponto biométrico para fins de facilitar a identificação
e colheita do ponto, para fins de segurança e fiscalização dos funcionários; que após
os fatos narrados na denúncia afirma que foi implantado o sistema de catracas com
filmagens, para evitar que acontecessem outras irregularidades; que não conhecia
pessoalmente todos os assessores indicados na denúncia; que é comum aos
assessores saírem para resolverem problemas e atendimento à população; que por
conta das filmagens mostradas pelo GAECO é que achou prudente a demissão dos
assessores; que alguns Vereadores fazem atendimento fora do horário de expediente,
acompanhado de seus assessores e que não existe nenhum tipo de controle,
tampouco pagamento de horas extras; que cruzou por diversas vezes com os 39
assessores, que os via com frequência lá na Câmara; que os Vereadores não precisam
fazer expediente diário, tendo somente que comparecer às sessões; que os assessores
eram de responsabilidade dos Vereadores; afirma ser possível ao Vereador possuir
outro trabalho, desde que comparecesse às sessões da Câmara; que a função dos
vereadores e assessores é a ligação, elo entre a comunidade e os poderes
constituídos; é função dos assessores fazer função fora da Câmara, junto à população;
que os próprios vereadores quem faziam o controle da frequência de seus assessores;
que os Vereadores Bravin, Verri, Sabioa e Regini são bem conceituados perante a
população, vez que já foram eleitos para exerceram diversos mandatos, o que
demonstra que a população acha que os mesmos são bons Vereadores.
(CD, fls. 2755)
A testemunha de defesa Adailton Francisco Rocha, em juízo, diz que conhece o
acusado Aparecido e que não tinha conhecimento dos fatos, nem pela imprensa; que
ele é boa pessoa, tida como séria e responsável, que não conhece Ronaldo. (CD, fls.
2755)
A testemunha de defesa André Pinheiro ao ser ouvida em juízo, afirma que soube dos
fatos pelo jornal; que teve contato com João Beraldo quando este fazia pesquisas a
pedido do Vereador Saboia, que ele cumpria seu papel como assessor. (CD, fls. 2755)

377

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A testemunha de defesa Anizio Conceição Pereira (indicada por Olavo), ouvida em


juízo afirma que participou de algumas reuniões da comunidade, organizadas pelo
acusado Olavo em finais de semana e à noite para discussão de temas de interesse da
população, para melhoria. (CD, fls. 2755)
A testemunha de defesa Ariovaldo Gustavo da Costa, afirmou em juízo que trabalha
na Câmara (indicado por Mario Sergio Verri), que Olavo e Arlindo tinham que realizar
trabalho externo perante a comunidade, que quem definia o trabalho era o gabinete,
que cada Vereador indicava seus assessores; que cada Vereador é quem definia qual o
trabalho a ser realizado por seus assessores. (CD, fls. 2755)
A testemunha de defesa Carlos Alberto Pereira de Souza informa em juízo que cada
assessor saía para um bairro para atender os pedidos do Vereador e que faz parte da
rotina atender ao Vereador 24 horas por dia, que os assessores trabalham mais do que
consta no seus pontos; que João Macedo trabalhava para o Vereador Bravin; que o
Vereador não precisa comparecer todos os dias, basta que vá nas sessões; que não
tem como o Vereador saber se o trabalho externo está ou não sendo realizado; que
não tinham autorização para realizar trabalhos particulares no horário de expediente;
que fazem revezamento no gabinete, de quem fica e quem vai fazer trabalho externo;
que Bravin somente ia à Câmara nos dias de sessão; que não tem conhecimento de
que João tivesse outro trabalho e que depois dos fatos ele foi exonerado. (CD, fls.
2755)
Foram ouvidas ainda outras testemunhas de defesa, porém os depoimentos das
mesmas não diferem muito dos acima relatado, ou seja, afirmam ser comum o trabalho
externo por parte dos assessores e que os Vereadores não precisam comparecer todos
os dias à Câmara.
Desta feita verifica-se que no caso não existe a adequação da conduta praticada ao
tipo penal, pelo que não restou configurada a ocorrência do crime de peculato-desvio,
tampouco de inserção de dados falsos em sistema de informações eis que restou
comprovado que os acusados eram assessores regularmente nomeados, registrando
ponto no início e final do horário de expediente, realizando por vezes trabalhos
externos, sozinhos ou em companhia dos Vereadores, e por vezes fora do horário de
trabalho, à noite ou até mesmo nos finais de semana.
Por sua vez o Ministério Público somente logrou comprovar que os denunciados
assessores não permaneciam o tempo todo dentro do gabinete, ausentando-se em
alguns períodos, bem como realizando atividades particulares em horário de
expediente.
Assim, tem-se que no presente caso, o que confirmou-se é que os denunciados foram
regularmente nomeados para exercerem cargo em comissão, recebendo a respectiva
remuneração, não havendo que se falar em apropriação ou desvio indevido de valores
em proveito próprio ou alheio, tampouco em inserção de dados falsos em sistema de
informações, eis que os denunciados registravam seu ponto na entrada e saída do
expediente a fim de comprovarem o cumprimento de seus expedientes.
Isto posto, contata-se que não restou configurado que tenha havido o crime de
peculato-desvio tendo em vista a regularidade da conduta perpetrada pelos

378

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

denunciados, de perceberem os salários correspondentes aos cargos aos quais foram


nomeados, tampouco de inserção de dados falsos em sistema de informações.
Destaque-se que as imagens anexadas aos autos apenas demonstram que os
assessores denunciados não permaneciam tempo integral dentro dos gabinetes,
realizando, por vezes atividades particulares, o que configura, em tese, desvio de
função, mas não é suficiente para caracterização do peculato e sim eventualmente um
ato que afronta a moralidade, eficiência e eficácia do serviço por ele prestado.
Desta maneira, a prova dos autos não é adequada a comprovar que o apelante
praticou o crime de peculato, mormente que nos termos do artigo 156, primeira parte,
do Código de Processo Penal, a prova da alegação incumbirá a quem a fizer, tendo a
defesa logrado êxito em comprovar a veracidade de suas afirmações, ao passo que a
acusação não logrou comprovar a autoria e materialidade do delito pelo qual os
acusados foram denunciados.
Assim, não restou configurado que tenha havido o crime de peculato, tendo em vista
a regularidade da conduta perpetrada pelos denunciados João Glacia Macedo, Olavo
Luis da Cruz, Arlindo Alvas, Ronaldo Henrique Marques de perceber o salário
correspondente aos cargos ao quais foram nomeados, e de consequência não se
verifica a ocorrência da conduta de peculato na modalidade omissiva pelo qual Belino
Bravin Filho, Mario Sergio Verri, Carlos Eduardo Saboia Gomes e Aparecido Domingos
Regini foram denunciados, eis que comprovado que seus assessores exerciam os
cargos para os quais foram nomeados.
Neste sentido é a jurisprudência:
“APELAÇÃO CRIMINAL - INSURGÊNCIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO CONTRA
SENTENÇA QUE ABSOLVEU OS ACUSADOS DA PRÁTICA DE CRIME DE PECULATO
- ALEGAÇÃO DE QUE EXISTEM PROVAS SUFICIENTES DA AUTORIA E
MATERIALIDADE DO DELITO - DESCABIMENTO - PROVA DOS AUTOS
INSUFICIENTES PARA EMBASAR DECRETO CONDENATÓRIO - VEREADOR
ACUSADO, JUNTAMENTE COM ASSESSORES, DE RECEBIMENTO EM PROVEITO
PRÓPRIO DE VALORES INDEVIDOS, COMO SALÁRIOS DO CARGO DE ASSESSOR
SEM A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS - ACOLHIDO O PARECER DA PROCURADORIA
GERAL DE JUSTIÇA: (”Claro, não há duvida de que a autorização para que os
assessores parlamentares prestem serviços externos não lhes permite realizar
atividades absolutamente desvinculadas às finalidades da Câmara.
Contudo, caberia ao Ministério Público comprovar ao longo do processo penal que os
réus nomeados assessores parlamentares não exerceram efetivamente o cargo e,
assim, desviaram os proventos que receberam enquanto funcionários públicos. Porém,
o que consta nos autos são apenas indícios de desvio de função dos assessores, o que
é insuficiente para confirmar que os apelados praticaram os crimes previstos nos arts.
288 e 312 do Código penal”.
RECURSO DESPROVIDO.” (TJPR, 2ª C.Criminal, AC 1370268-0, Foz do Iguaçu, Rel.
Roberto De Vicente, Unânime, J. 24.09.2015).
A sentença bem esclareceu a questão:
“2.3. QUANTO AOS ACUSADOS JOÃO GLACIA MACEDO, BELINO BRAVIN FILHO,
OLAVO LUIZ DA CRUZ, ARLINDO ALVAS, MÁRIO SÉRGIO VERRI, CARLOS EDUARDO
379

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

SABÓIA GOMES, RONALDO HENRIQUE MARQUES e APARECIDO DOMINGOS


REGINI
De plano, diga-se que não prospera a pretensão condenatória estatal.
De início, insta se analisar a conduta atribuída aos denunciados contratados como
Assessores Parlamentares, a saber: JOÃO GLACIA MACEDO, OLAVO LUIZ DA CRUZ,
ARLINDO ALVAS e RONALDO HENRIQUE MARQUES.
Pois bem, a testemunha ANIZIO CONCEIÇÃO PEREIRA (fl. 2770) afirmou que
realmente o denunciado OLAVO era Assessor Parlamentar, qualidade na qual
organizava e participava de reuniões na comunidade, tratando de assuntos de
interesse comum.
A testemunha TÂNIA FÁTIMA CALVI TAIT (fl. 2760) asseverou que o acusado Arlindo
era Assessor do Vereador Mario Verri e que, inclusive, foi convidada pelo próprio
ARLINDO para participar de reuniões de interesse da comunidade, sendo que, em tais
ocasiões, o nominado denunciado anotava o que se revelava pertinente para que o
Vereador Mario Verri pudesse se pautar em prol das reivindicações dos cidadãos.
A testemunha FERNANDO ROCHA (fl. 2741) salientou que viu o denunciado
RONALDO HENRIQUE MARQUES na companhia do Vereador APARECIDO
DOMINGOS REGINI (”Zebrão”) em reuniões de bairro, “à noite”. Já a testemunha
OTAIR CLÉBER DA SILVA (fl. 2740) declarou que via o acusado RONALDO no recinto
da própria Câmara Municipal.
O acusado JOÃO GLACIA MACEDO dispensou a oitiva das testemunhas que arrolou,
como consta à fl. 2753, mas há elementos nos autos comprobatórios de que
efetivamente trabalhava como Assessor do Vereador BELINO BRAVIM FILHO, seja
porque ele. JOÃO, assim informou (fls. 314/316 e 2776), seja porque o próprio edil
confirmou sua contratação (fls. 2777).
Destarte, ainda que haja prova cabal nos autos de que todos os Assessores acima
citados, nas datas especificadas na inicial, registraram entrada no controle de
frequência da Câmara Municipal, porém, saíram em seguida para exercerem atividades
particulares, a prova é igualmente cabal no sentido de que, por outras diversas vezes,
desempenharam seus papéis de Assessores.
É como se, em algumas ocasiões, “batessem o ponto” para não trabalharem,
enquanto que, em outras, desempenharam suas atividades normalmente (inclusive em
horários não registrados em “ponto” -- período noturno e fins de semana).
Com isso, pode-se concluir que (a) havia uma odiosa prática que enoja a todos os
cidadãos de bem, que é a de se ganhar dinheiro público sem trabalhar; todavia, (b)
igualmente existia o exercício das funções do cargo de confiança, com a participação
em reuniões na comunidade, quer na companhia ou não dos Vereadores a que
estavam subordinados.
Nesta linha de raciocínio, inexistiu a prática de crimes narrada na exordial, porquanto
os acusados em questão não eram “servidores fantasmas” e, consequentemente,
faziam jus a obter remuneração na forma da lei. Não obstante, na esfera administrativa,
cabia à Casa de Leis averiguar os dias efetivamente não trabalhados e proceder ao
desconto dos vencimentos.

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Como se percebe, a fiscalização na Câmara não funcionou a contento (o que é


lamentável, diga-se de passagem), gerando-se um sentimento de repugnância muito
grande na sociedade, mas não é possível se concluir que os acusados incorreram em
crime de peculato, seja qual for a modalidade tipificada no artigo 312 do Código
Penal, tampouco ocorreu, a meu sentir, a inserção de dados falsos no sistema de
controle de frequência da Câmara, não se caracterizando a violação à norma do artigo
313-A do mesmo Diploma. Ora, se o assessor anotou registro de entrada, mas saiu,
em algumas ocasiões, para tratar de assunto particular, não incorreu na prática do
crime invocado na inicial (não inseriu “dados falsos”), mas violou princípios da
administração pública -- da moralidade, por exemplo -, o que deveria ter sido
solucionado na própria Câmara, interna corporis, o que, aliás, ocorreu, pois é
incontroverso que todos os acusados que eram Assessores foram exonerados quando
o fato veio à tona, graças ao diligente e importantíssimo trabalho investigativo.
E lembre-se que o ressarcimento aos cofres públicos deve ocorrer por outra via, que
não o presente processo penal.
Considerando que nenhum dos Assessores supranominados merece condenação por
infração aos dispositivos de lei declinados na Denúncia, os demais acusados,
Vereadores que os indicaram, também não o merecem, vale dizer, os Vereadores
BELINO BRAVIN FILHO, MÁRIO SÉRGIO VERRI, CARLOS EDUARDO SABÓIA GOMES
e APARECIDO DOMINGOS REGINI não incorreram em qualquer prática criminosa.
Por outras palavras, se não há dúvida de que os Assessores trabalharam em prol dos
interesses dos seus chefes (Vereadores), ainda que tenham exercido atividade de
cunho particular em certas ocasiões, os referidos Edis não podem ser condenados por
contratação de “servidores fantasmas” ou de terem praticado delito de peculato, pois
de nada se apropriaram ou desviaram, em proveito próprio ou alheio.
Neste sentido, por sinal, por brevidade, faz-se remissão ao v. Acórdão de fls.
2971/2983, que julgou as mesmas condutas atribuídas aos codenunciados EVANDRO
BUQUERA DE FREITAS OLIVEIRA JUNIOR e GUSTAVO DE FREITAS FERRAZ DE
OLIVEIRA, em face do já narrado desmembramento do processo (concluiu o Colendo
Tribunal de Justiça que o Assessor Gustavo não perpetrou os ilícitos lhe atribuídos na
inicial e, por corolário, o então Vereador EVANDRO JÚNIOR igualmente era
merecedor de decisão absolutória).” (fls. 2989/2991)
Destarte, ante a não configuração do crime de peculato deve ser mantida a
absolvição dos mesmos, nos termos do artigo 386, III do Código de Processo Penal.
Resta assim prejudicado o pleito de reconhecimento da aplicabilidade do princípio do
princípio da consunção quanto aos delitos de inserção de dados falsos no sistema de
controle de ponto da Câmara Municipal de Maringá (peculato eletrônico ­ art. 313-A
do CP) foi meio para a prática do crime-fim de peculato (art. 312, caput, 2ª figura, do
CP ­ peculato desvio), devendo ser por este absorvido, tendo em vista a manutenção
da absolvição dos apelados.
Nestas condições, nega-se provimento ao recurso, tudo nos termos da
fundamentação.

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ANTE O EXPOSTO, acordam os Desembargadores integrantes da 2ª Câmara Criminal


do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar
provimento ao recurso.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador Luís Carlos Xavier (com voto) e dele
participou o Desembargador José Maurício Pinto de Almeida e o Juiz Substituto em
Segundo Grau Marcel Guimarães Rotoli de Macedo.
Curitiba, 1 de junho de 2017.
Des. Luís Carlos Xavier ­ Relator

2.3.13. RECEPTAÇÃO, ADULTERAÇÃO DE SINAL IDENTIFICADOR, CORRUPÇÃO

ATIVA

APELAÇÃO CRIME - 1. DELITO DE RECEPTAÇÃO - ARTIGO 180 DO CÓDIGO PENAL

- SENTENÇA CONDENATÓRIA - ABSOLVIÇÃO - NÃO CABIMENTO -

MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS - 2.ADULTERAÇÃO DE SINAL

IDENTIFICADOR DE VEÍCULO AUTOMOTOR - ARTIGO 311 DO CÓDIGO PENAL -

PROVA INSUFICIENTE DA AUTORIA - ABSOLVIÇÃO - ARTIGO 386, VII, DO CÓDIGO

DE PROCESSO PENAL - 3. CORRUPÇÃO ATIVA - ARTIGO 333 DO CÓDIGO PENAL -

ABSOLVIÇÃO - IMPOSSIBILIDADE - PRÁTICA DELITIVA CONFIGURADA - RECURSO

PARCIALMENTE PROVIDO.1. As provas constantes nos autos demonstram que o

acusado tinha ciência de que o bem adquirido era produto de crime, razão pela qual

não prospera o pedido de absolvição quanto ao delito de receptação.2. Não havendo

provas suficientes a demonstrar a autoria do delito de adulteração de sinal

identificador de veículo automotor, impõe-se acolher a pretensão absolutória, nos

termos do artigo 386, inciso VII, do Código de Processo Apelação Crime nº 1.553.408-

42Penal.3. Sendo incontroverso que o acusado ofereceu vantagem indevida a policiais

militares, para que omitissem prática de ato de ofício, deve-se manter a sentença

condenatória.

(TJPR - 2ª C.Criminal - AC - 1553408-4 - Curitiba - Rel.: Luís Carlos Xavier - Unânime -

J. 01.06.2017)

382

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Inteiro Teor

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Crime nº 1553408-4, de Foro


Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba - 5ª Vara Criminal, em que é
Apelante Jean Carlos Fragoso da Rosa e Apelado o Ministério Público do Estado do
Paraná.
Trata-se de Apelação interposta contra a sentença (mov. 106.1) proferida nos autos n°
0022090-20.2015.8.16.0013 de Ação Penal, que julgou procedente a pretensão
punitiva estatal, para o fim de condenar Jean Carlos Fragoso da Rosa pela prática dos
crimes previstos nos artigos 180, caput, 311 e 333, todos do Código Penal, com pena
definitiva fixada em 06 (seis) anos de reclusão e 30 (trinta) dias- multa, em regime
inicial semiaberto.
Inconformado, Jean Carlos Fragoso da Rosa interpôs recurso de apelação (mov.
117.0), alegando, com relação à receptação, que está equivocada a inversão do ônus
da prova asseverada na sentença, pois o ônus é de quem acusa.
Sustenta que é pessoa humilde, morador da periferia, as compras de produtos e bens
são marcadas por absoluta informalidade, muitas vezes passando por vários donos em
curtos intervalos de tempo e o fato de um acusado estar de posse de um veículo
apontado como furtado ser suficiente para subsumir a conduta ao crime de receptação
é virar as costas ao mundo fático e jurídico.
Assevera que não sabia que o velho e mal cuidado Monza tratava-se de veículo
furtado, não havendo prova neste sentido.
Com relação ao crime de adulteração de sinal identificador de veículo, alega que as
informações contidas no interrogatório de que o veículo foi adquirido com as placas
da forma como apreendido restaram ignoradas, parecendo que, em desarmonia com
o sustentado pelo Promotor de Justiça, só pelo fato de que o veículo Monza estava
com placas diferentes, o réu teria que ser o responsável pela troca, não havendo
provas suficientes para a acusação.
Quanto à corrupção ativa, argumenta que pelos depoimentos carreados nos autos,
verifica-se que não foi demonstrada a intenção em efetivamente corromper os
policiais, haja vista que, por se tratar de garoto jovem, primário, de poucas letras e
baixos recursos financeiros, a situação criada pela ação policial fez com que em um
momento de desespero, com medo de ir preso e não poder visitar o seu filho recém-
nascido, optasse por abrir mão de tudo que possuía naquele momento.
Alega que não havendo intenção de corromper os policiais, exclui-se o dolo do tipo
penal, não havendo a possibilidade de se caracterizar o crime.
Afirma que o crime pressupõe licitude da atuação estatal e no caso é possível
observar que a atitude da autoridade não se encontra amparada pela legalidade,
sendo possível constatar pelo reconhecimento do próprio Ministério Público quanto à
inexistência do crime de adulteração de veículo automotor.
Aduz que se não há adulteração de veículo, também não se configura o crime de
receptação e mesmo que tivesse oferecido vantagem indevida aos policiais, isso não
pode adequar ao tipo penal do artigo 333 do Código Penal, pois a absolvição das

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duas condutas mostra que a ação dos policiais não tinha respaldo legal, não havendo
que se alar em corrupção ativa.
Ao final, requer a reforma da sentença, com a respectiva absolvição dos crimes
narrados na denúncia
O Ministério Público apresentou contrarrazões (fls.
26/31), postulando o parcial provimento do recurso.
Nesta instância, a douta Procuradoria Geral de Justiça exarou parecer (fls. 34/46),
manifestando pelo parcial provimento do recurso manejado.
É o relatório.
VOTO
Presentes os pressupostos recursais de admissibilidade, impõe-se conhecer do
recurso interposto.
O recurso comporta parcial provimento.
Do delito de receptação
Com relação à receptação, o Apelante assevera que o ônus da prova é de quem
acusa e não sabia que o veículo Monza era furtado, não havendo prova neste sentido.
Conforme a inicial acusatória:
“Fato 02: Em data, horário e local não precisamente delimitados nos autos de
investigação preliminar que embasam a presente exordial acusatória, mas certo que no
período temporal compreendido entre as datas de 19 de agosto de 2015 (quartafeira)
e 21 de agosto de 2015 (sexta-feira), e certo também que neste município e Foro
Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba/PR, o denunciado JEAN
CARLOS FRAGOSO DA ROSA, agindo dolosamente, vale dizer, com conhecimento
(elemento intelectual, no sentido de representação psíquica) e vontade (elemento
volitivo, no sentido de querer realizar ­ `decisão de agir’ ­ as circunstâncias do tipo
legal), plenamente ciente da reprovabilidade de seu comportamento, adquiriu em
proveito próprio o veículo automotor marca/modelo GM Monza, cor verde, chassi
9BGJK11SPNB006737, placas originais ADZ-2222 e placas aplicadas BWP-8519,
plenamente ciente de que o referido automóvel, de propriedade do ofendido NADIR
GUILHERME DA SILVA (vítima do crime patrimonial antecedente), havia sido
criminosamente subtraída mediante furto na data de 19 de agosto de 2015 (quarta-
feira), conforme se denota do Boletim de ocorrência sob nº 2015/866895, de mov.
34.3. Infere-se dos autos em epígrafe que uma equipe da Polícia Militar do Estado do
Paraná com atribuições nesta Capital flagrou o denunciado JEAN CARLOS FRAGOSO
DA ROSA, enquanto ele mantinha sob seu poder o aludido veículo subtraído, em
frente ao imóvel residencial situado na Rua Baldur Magnus Grubba nº 49, Bairro Novo
Mundo, neste município e Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de
Curitiba/PR, após tê-lo acompanhado até o local em virtude da informação, fornecida
pelo próprio denunciado durante a abordagem policial acima descrita (Fato nº 01),
que havia adquirido um veículo automotor de origem ilícita”.
Em Juízo, o Apelante declarou que:
“Estava saindo de um terreno baldio pouco antes de ser abordado porque havia
urinado no terreno e assim que saiu do local foi abordado e não correu da polícia,
sendo que os policiais encontraram dinheiro e maconha, bem como viram as fotos de
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seu celular. Ofereceu o dinheiro que tinha aos policiais porque estava com medo de
ser preso `por nada’, apenas queria ficar com o seu filho, e disse `para levarem o que
quiserem’, referindo-se ao dinheiro que tinham apreendido. Mostrou fotos de seu filho
que estavam no celular, onde também havia uma foto do documento do carro, que
pretendia mostrar a um amigo para que verificasse a procedência do veículo. Como
não tinha nada de errado, levou os policiais até o veículo que estava estacionado na
frente de sua casa e contou que a chave do carro estava guardada dentro de sua casa
e o documento estava no carro, e ficou sabendo posteriormente que a placa do carro
era diferente da constante no documento. Pagou R$ 350,00 pelo veículo, não lembra
do ano do carro e que o comprou com as placas já aplicadas”.
Com relação aos fatos, o policial militar Alessandro da Cruz, declarou em Juízo que:
“Estava em patrulhamento pela Rua João Bettega, e assim que virou na Avenida das
Indústrias, avistou o denunciado saindo de um terreno baldio, sendo que assim que
viu a equipe, começou a correr, razão pela qual a abordagem foi realizada. Disse que
no bolso do acusado foram encontrados 05 gramas de maconha, além de dinheiro,
cerca de R$ 350,00, valores que entregou ao denunciado após a revista. Que o réu
alegou que se tratava de usuário de maconha, sendo que lhe informou que teria que
ser encaminhado para a elaboração de Termo Circunstanciado, razão pela qual ele
ficou assustado e explicou que teria que visitar o seu filho recém-nascido no hospital.
Que o réu ofereceu o dinheiro que possuía no momento para a equipe a fim de ser
liberado e poder ir até o hospital. Que o réu mostrou à equipe todas as fotos que
tinha gravadas no celular de sua filha. Que entre as fotografias, havia a imagem de um
documento de carro, sendo que o seu companheiro de equipe visualizou a fotografia e
lembrou-se que no dia anterior a mesma equipe havia sido parada por um rapaz
dando conta do furto de seu veículo Monza. Explicou que ao conferir suas anotações
realizadas no dia anterior, a placa repassada pelo rapaz era a mesma constante na
fotografia do documento existente no celular do réu. Que indagado sobre o carro, o
réu disse que o havia comprado de um colega e estava estacionado na sua casa.
Contou que chegando à casa do réu, encontrou o veículo furtado, porém estava com
outras placas de identificação aplicadas.”
Referidas informações foram ratificadas pela policial militar Hozia Hoffman Elias e as
informantes Celia da Rosa e Gleyce dos Santos, prestaram apenas informações
abonatórias.
A negativa de autoria revela-se isolada do conjunto probatório, havendo provas aptas
a revelar que o Apelante comprou o veículo Monza cor verde, chassi
9BGJK11SPNB006737, placas originais ADZ-2222 e placas aplicadas BWP-8519,
sabendo tratar-se de objeto de origem criminosa.
Com efeito, a materialidade restou evidenciada pelo Auto de Prisão em Flagrante
(mov. 1.1), auto de exibição e apreensão (mov. 1.2), auto de entrega (mov. 1.3),
Boletim de Ocorrência (mov.
1.3), auto de avaliação (mov. 34.7) e Laudo de Exame em Placas de Licenciamento
(mov. 66.1).
A autoria também é manifesta, pois há grande disparidade entre o valor de compra,
R$ 350,00 (trezentos e cinquenta reais) e o preço de mercado do automóvel, avaliado
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em R$ 6.000,00 e, não obstante, a origem ilícita do veículo também se confirma a


partir da circunstância de que o Apelante não informou de quem comprou o
automóvel, não possuía comprovante da transação comercial e estava sem os
documentos do carro.
A propósito da matéria, oportuno observar os seguintes precedentes jurisprudenciais:
“APELAÇÃO CRIMINAL. RECEPTAÇÃO (ART. 180, CAPUT DO CP) E PORTE
IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO (ART. 16, CAPUT DA LEI
10.826/03).
CONDENAÇÃO. RECURSO. PLEITO DE ABSOLVIÇÃO ANTE A INSUFICIÊNCIA DE
PROVAS. IN DUBIO PRO REO.
DESCONHECIMENTO QUANTO A ORIGEM ILÍCITA DO BEM.
PLEITO DE DESCLASSIFICAÇÃO PARA O DELITO DE RECEPTAÇÃO CULPOSA.
IMPOSSIBILIDADE. APREENSAO DE VEÍCULO ROUBADO COM PLACAS
ADULTERADAS EM PODER DO AGENTE. RÉU QUE NÃO SE DESINCUMBIU DO
ÔNUS DE PROVAR SUA INOCÊNCIA. PROVAS SUFICIENTES A ENSEJAR UM
DECRETO CONDENATÓRIO. SENTENÇA MANTIDA.RECURSO DESPROVIDO.”
(TJPR, 2ª C.Criminal, AC 1377165-2, Foz do Iguaçu, Rel. Laertes Ferreira Gomes,
Unânime, J. 10.09.2015).
“APELAÇÃO CRIME. RECEPTAÇÃO SIMPLES E QUALIFICADA.
ART. 180, CAPUT, E § 1º, DO CÓDIGO PENAL.
PLEITO DE ABSOLVIÇÃO. AFASTAMENTO. MATERIALIDADE E AUTORIA
COMPROVADAS. BENS APREENDIDOS NA RESIDÊNCIA DO ACUSADO. ALEGAÇÃO
DE DESCONHECIMENTO DA ORIGEM ILÍCITA. PROVA.
AUSÊNCIA. ÔNUS DO RÉU. CONDENAÇÃO MANTIDA.
1. Não há que se falar em absolvição pela prática do delito de receptação na hipótese
em que os bens objeto de furto/roubo são apreendidos na residência do acusado, e
não há prova contundente nos autos de que ele desconhecia a origem ilícita desses
bens.
2. “Na receptação, a apreensão da coisa subtraída em poder do agente gera a
presunção de sua responsabilidade, invertendo-se o ônus da prova, impondo-se
justificativa inequívoca, assim, se esta for dúbia e inverossímil, transmuda- se a
presunção em certeza, autorizando, assim, a condenação.” (TJPR, AC nº 902.276-5,
Rel. Desª. Maria José de Toledo Marcondes Teixeira, 5ª C. Crim., unânime, DJ
10/08/2012). 3. Apelação crime conhecida e não provida.” (TJPR, 5ª C.Criminal, AC
1126305-3, Rel. Luiz Carlos Gabardo, j. 27.02.2014).
Portanto, tendo em vista que o conjunto probatório evidencia que o Apelante tinha
pleno conhecimento da origem ilícita do automóvel, não prospera o pedido de
absolvição formulado nas razões recursais.
Do delito de adulteração de sinal de veículo automotor.
Com relação ao crime de adulteração de sinal identificador de veículo, o Apelante
alega que as informações contidas no interrogatório de que o veículo foi adquirido
com as placas da forma como apreendido restaram ignoradas, parecendo que, em
desarmonia com o sustentado pelo Promotor de Justiça, só pelo fato de que o veículo

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Monza estava com placas diferentes, o réu teria que ser o responsável pela troca, não
havendo provas suficientes para a acusação.
Segundo a denúncia:
Fato nº 03: “Em data, horário e local não precisamente delimitados no procedimento
investigatório policial que embasa a presente exordial acusatória, mas certo que no
período temporal compreendido entre as datas de 19 de agosto de 2015 (quarta-feira)
e 21 de agosto de 2015 (sexta-feira), e certo também que neste município e Foro
Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba/PR, o denunciado JEAN
CARLOS FRAGOSO DA ROSA, agindo dolosamente, vale dizer, com conhecimento
(elemento intelectual, no sentido de representação psíquica) e vontade (elemento
volitivo, no sentido de querer realizar ­ `decisão de agir’ ­ as circunstâncias do tipo
legal), plenamente ciente da reprovabilidade de seu comportamento, adulterou sinal
identificador do veículo automotor marca/modelo GM Monza, cor verde, placas
originais ADZ-2222, chassis sob o nº 9BGJK11SPNB006737, inserindo (em substituição
às originais) no automóvel as placas BWP-8519, falsas, conforme se infere do Auto de
Exibição e Apreensão de mov. 1.2, Boletim de Ocorrência nº 2015/872318 de mov.
1.5 e Auto de Entrega de mov. 1.3”.
A pretensão recursal merece acolhimento, porque pela análise dos autos não se pode
evidenciar a prática pelo acusado da conduta narrada na inicial acusatória, consistente
em adulterar sinal identificador de veículo automotor.
Apesar da materialidade estar evidenciada, não há prova suficiente com relação à
autoria, porque o automóvel já estava com as placas adulteradas e não foi encontrado
na residência do acusado qualquer material indicativo de adulteração de sinal
identificador do veículo apreendido.
A propósito da insuficiência probatória, a douta Procuradoria Geral de Justiça
asseverou que:
“De fato, não se olvidando de que o mesmo detinha pleno conhecimento da origem
ilícita do bem, o mesmo não se pode dizer quanto a ter adulterado sinal identificador
do veículo automotor, consubstanciado na troca das placas pelas de veículo diverso.
Isso porque não foi encontrado com o apelante, tampouco em sua residência ou no
interior do veículo, qualquer instrumento ou elemento de convicção que pudesse
apontar para o apelante como autor do delito sob análise, o que enseja a
pronunciação do non liquet”
Destarte, verifica-se a fragilidade do conjunto probatório no que se refere à
adulteração de sinal identificador de veículo automotor, motivo pelo qual, em atenção
ao princípio in dubio pro reo, impõe-se acolher o pleito de absolvição, com amparo no
artigo 386, inciso VII, do Código de Processo Penal.
Da corrupção ativa.
O Apelante alega que não foi demonstrado o dolo de efetivamente corromper os
policiais, haja vista que, por se tratar de garoto jovem, primário, de poucas letras e
baixos recursos financeiros, a situação criada pela ação policial fez com que em um
momento de desespero, com medo de ir preso e não poder visitar o seu filho recém-
nascido, optasse por abrir mão de tudo que possuía naquele momento.

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Afirma ainda que se não houve adulteração de veículo e receptação, mesmo que
tivesse oferecido vantagem indevida, isso não pode adequar ao tipo penal de
corrupção, pois a absolvição das duas condutas mostra que a ação dos policiais não
tinha respaldo legal.
O delito de corrupção ativa, descrito no artigo 333, do Código Penal, estabelece que:
“Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para
determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício: Pena ­ reclusão, de 2 (dois) a
12 (doze) anos, e multa.”
Para a caracterização do delito é necessário que o acusado ofereça ou prometa
vantagem indevida a funcionário público e o tipo penal exige ainda uma especial
finalidade do agente, de oferecer ou prometer a vantagem para determinar que o
funcionário pratique, omita ou retarde ato de ofício. Trata-se de crime formal, havendo
a consumação mesmo que o agente público recuse a vantagem.
Segundo a denúncia:
“Fato nº 01: Na data de 21 de agosto de 2015 (sexta- feira), por volta das 10hs50min,
em via pública, mais precisamente na Avenida das Indústrias, próximo ao imóvel sob
numeral 2.420, Bairro Cidade Industrial (CIC), neste município e Foro Central da
Comarca da Região Metropolitana de Curitiba/PR, o denunciado JEAN CARLOS
FRAGOSO DA ROSA, agindo dolosamente, vale dizer, com conhecimento (elemento
intelectual, no sentido de representação psíquica) e vontade (elemento volitivo, no
sentido de querer realizar ­ `decisão de agir’ ­ as circunstâncias do tipo legal),
plenamente ciente da reprovabilidade de seu comportamento, prometeu vantagem
indevida a funcionário público, ao oferecer aos policiais militares ALESSANDRO DA
CRUZ e HOZIA MILENA HOFFMANN a quantia de R$ 349,75 (trezentos e quarenta e
nove reais e setenta e cinco centavos), para determiná-los a omitir ato de ofício,
consistente em deixar de realizar os atos necessários para a promoção de sua prisão
em flagrante delito, tendo em vista a existência de indícios verificados por aqueles
policiais de envolvimento do ora denunciado com a prática de crimes de receptação e
posse de drogas para consumo pessoal, conforme se infere do Boletim de Ocorrência
nº 2015/872318 de mov. 1.5 e do Comprovante de Depósito de Valores Apreendidos
de mov. 34.2”.
Em Juízo, o Apelante declarou que ofereceu o dinheiro que tinha aos policiais porque
estava com medo de ser preso por nada e queria apenas ficar com o seu filho.
A propósito do fato, o policial militar Alessandro da Cruz, declarou em Juízo que na
Avenida das Indústrias avistou o denunciado saindo de um terreno baldio e que após
ver a equipe começou a correr, razão pela qual a abordagem foi realizada, tendo sido
encontrados cinco gramas de maconha e R$ 350,00 (trezentos e cinquenta reais).
Esclareceu ainda que o réu alegou que era usuário de maconha, sendo que lhe
informou que teria que ser encaminhado para a elaboração de Termo Circunstanciado,
razão pela qual ele ficou assustado e explicou que teria que visitar o seu filho recém-
nascido no hospital e, na sequência, ofereceu o dinheiro que possuía para a equipe a
fim de ser liberado.
A policial militar Hozia Milena Hoffmann Elias, declarou em Juízo que estava fazendo
patrulhamento quando avistou um indivíduo em atitude suspeita, tentando
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empreender fuga, tendo sido realizada a abordagem e encontrada certa quantidade


de droga e R$ 349,00 (trezentos e quarenta e nove reais). Informou que o acusado
ficou muito nervoso e alegou que tinha um filho recém-nascido e precisava ir ao
Hospital, oportunidade em que ofereceu certo valor em dinheiro a equipe policial.
Relatou ainda que o acusado mostrou as fotos de seu filho recém-nascido existente
em seu aparelho celular e junto com as fotos havia um documento de veículo, o qual
constataram ser de um automóvel subtraído no dia anterior à data dos fatos.
Assim, apesar do acusado asseverar que não teve a intenção de praticar o delito, os
depoimentos dos policiais revelaram o dolo, ou seja, consciência e vontade de praticar
o delito, pois ele ofereceu vantagem indevida aos funcionários públicos para não
realizarem ato de ofício, consistente em providenciar a lavratura do Termo
Circunstanciado referente ao uso de substância entorpecente.
No que se refere à valoração do depoimento dos policiais, importante citar o seguinte
precedente desta Câmara:
“APELAÇÃO CRIMINAL. - CORRUPÇÃO ATIVA (ART. 333, DO CÓDIGO PENAL). -
PLEITO DE ABSOLVIÇÃO. - ARGUIÇÃO DE INSUFICIÊNCIA DE PROVAS. -
DEPOIMENTO POLICIAL. - PROVA TESTEMUNHAL COESA, SUFICIENTE A EMBASAR
DECRETO CONDENATÓRIO. - RECURSO NÃO PROVIDO.I. O delito de corrupção
ativa em regra ocorre sempre às ocultas, de forma que a palavra do funcionário
público, no caso em tela o policial militar que recebeu a proposta de vantagem
indevida, deve ser valorada de forma desfavorável ao réu.” (TJPR, 2ª C.Criminal, AC
1191127-0, Curitiba, Rel. Marcio José Tokars, Unânime, J. 30.10.2014).
Assim, diante do conjunto probatório que demonstra a prática do crime de corrupção
ativa por parte do recorrente, não há como reconhecer a absolvição.
Regime de cumprimento de pena.
Tendo em vista a absolvição quanto ao delito de adulteração de sinal identificador de
veículo automotor, a pena definitiva resta fixada em 03 (três) anos de reclusão e 20
(vinte) dias- multa.
Nos termos do art. 33, § 2º, alínea “c”, do Código Penal, o regime inicial para
cumprimento da pena deverá ser o aberto, mediante as condições previstas nos
incisos I a IV do artigo 115 da Lei 7210/84.
Substituição da pena privativa de liberdade.
Presentes os requisitos do artigo 44 do Código Penal, substitui-se a pena privativa de
liberdade por duas penas restritivas de direito, consistentes em prestação de serviços
à comunidade, à razão de uma hora por dia de condenação segundo as aptidões do
condenado e prestação pecuniária, no valor de 01 (um) salário mínimo, a ser pago a
entidade com destinação social fixada pelo Juízo da Execução.
Consoante o artigo 77, inciso III do Código Penal, mostra-se inaplicável o sursis.
Nestas condições, dá-se parcial provimento ao recurso, para o fim de absolver-se o
acusado do delito de adulteração de sinal identificador de veículo automotor, com
amparo no artigo 386, inciso VII, do Código de Processo Penal, mantendo sua
condenação pelos delitos de receptação e corrupção ativa, nos termos da
fundamentação.

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ANTE O EXPOSTO, acordam os Desembargadores integrantes da 2ª Câmara Criminal


do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar parcial
provimento ao recurso, para o fim de absolver-se o acusado do delito de adulteração
de sinal identificador de veículo automotor, com amparo no artigo 386, inciso VII, do
Código de Processo Penal, mantendo sua condenação pelos delitos de receptação e
corrupção ativa.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador Luís Carlos Xavier (com voto) e dele
participou o Desembargador José Maurício Pinto de Almeida e o Juiz Substituto em
Segundo Grau Marcel Guimarães Rotoli de Macedo.
Curitiba, 1 de junho de 2017.
Des. Luís Carlos Xavier ­ Relator

2.3.14. ATO INFRACIONAL – UTILIZAÇÃO DE PROVA EMPRESTADA

RECURSO DE APELAÇÃO ­ 1. ATO INFRACIONAL ­ CONDUTA ANÁLOGA AO

DELITO DE HOMICÍDIO DUPLAMENTE QUALIFICADO (ART. 121, § 2º, INCISO II E IV,

DO CÓDIGO PENAL) ­ PROCEDÊNCIA. PRELIMINAR: 1. NULIDADE DA SENTENÇA

EM RAZÃO DA UTILIZAÇÃO DE PROVA EMPRESTADA DOS AUTOS DE APURAÇÃO

CRIMINAL EM QUE O COAUTOR É PARTE ­ INOCORRÊNCIA ­ PROVA SUBMETIDA

AO CONTRADITÓRIO ­ VALIDADE ­ MÉRITO: 2. PLEITO DE IMPROCEDÊNCIA DA

REPRESENTAÇÃO POR INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA ­ DESCABIMENTO ­

MATERIALIDADE E AUTORIA EVIDENCIADAS ­ SENTENÇA MANTIDA ­ 3. MEDIDA

SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO ­ PEDIDO DE FIXAÇÃO DO PRAZO EM 6 (SEIS)

MESES ­ NÃO CABIMENTO ­ EX VI DO ARTIGO 121, PARÁGRAFOS 2º E 3º, DA LEI

8.069/90 ­ RECURSO DESPROVIDO. 1. A prova emprestada é aquela colhida em um

processo e trasladada para outro, sendo que em razão da observância do devido

processo legal, tal prova está condicionada ao crivo do contraditório para ter validade

e, no caso, como foi oportunizado o contraditório não há que se falar em ilicitude da

mesma. 2. Havendo provas suficientes da materialidade e autoria do ato infracional

análogo ao delito de homicídio duplamente qualificado, impõe-se manter a sentença

que julgou procedente a representação. 3. O artigo 121, §§ 2º e 3º, da Lei 8.069/90,

estabelece que a medida socioeducativa de internação não tem prazo determinado,

390

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não podendo, contudo, ultrapassar três anos, sendo, outrossim, imperiosa a sua

reavaliação no máximo a cada seis meses.

Inteiro Teor

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Recurso de Apelação - ECA nº 1638952-


3, de Assis Chateaubriand - Vara Criminal, Família e Sucessões, Infância e Juventude e
Juizado Especial Criminal, em que é Apelante Gabriel Henrique da Silva e Apelado
Ministério Público do Estado do Paraná.
Trata-se de Apelação (fls. 432/440-CD-ROM) interposta por Gabriel Henrique da Silva
contra a sentença (fls. 381/388- CD-ROM) proferida nos autos n° 0004091-
46.2015.8.16.0048 de Apuração de Ato Infracional que julgou procedente a
representação para o fim de aplicar ao Apelante a medida socioeducativa de
internação, pela prática do ato infracional equiparado ao delito previsto no artigo 121,
§2º, II e IV, do Código Penal.
Segundo a representação oferecida pelo Ministério Público:
“No dia 28 de setembro de 2015, por volta das 23h30m, na Avenida Industrial, nº
1904, no bairro Jardim Progresso, nesta Cidade e Comarca de Assis
Chateaubriand/PR, o representado GABRIEL HENRIQUE DA SILVA, com vontade livre
e consciente, ciente da ilicitude e reprovabilidade de sua conduta, dolosamente,
agindo com inegável animus necandi, em concurso com o imputável Wellington Felipe
Barboza Rufino, de posse de uma arma de fogo não apreendida nos autos, efetuou 02
(dois) disparos contra a vítima Cleber Colaço, causando-lhe os ferimentos descritos no
Laudo de Exame de Necropsia (mov. 14.1), que foram a causa eficiente de sua morte.
Colhe-se dos autos que o representado praticou o ato infracional impelido por motivo
fútil, uma vez que ceifou a vida da vítima por ter ela, supostamente, se envolvido com
a ex-namorada de seu amigo e comparsa Wellington Felipe Barboza Rufino, bem
como que se utilizou de recurso que dificultou a defesa da vítima, haja vista que, de
forma premeditada, valendo-se de relação de amizade que mantinha com a vítima, foi
até a casa dela e a chamou para que saísse até a via pública, momento em que o
imputável Wellington, de inopino, efetuou 02 (dois) disparos de arma de fogo contra
ela.”(fls. 381-CD-ROM)
Pois bem.
No recurso, a defesa, pleiteia, preliminarmente, a declaração de nulidade do feito, eis
que lastreado em provas emprestadas, não submetidas ao contraditório e da ampla
defesa, pleiteando a consequente determinação de realização de nova instrução
processual e libertação do recorrente.
No mérito, assevera pela ausência de provas suficientes de autoria, devendo ser
aplicado o princípio in dubio pro reo, em razão da inexistência de provas de
participação do representado no ato que lhe é imputado.
Pleiteia, subsidiariamente, para que a medida de internação seja fixada em 6 (seis)
meses, haja vista ter o apelante agido amparado pela atenuante do motivo de
relevante valor social ou moral, e ser a vítima traficante.
391

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O Apelado apresentou contrarrazões (fls. 3447/454- CD-ROM), postulando o


desprovimento do recurso.
Nesta instância, a douta Procuradoria Geral de Justiça exarou parecer pelo
desprovimento do recurso (fls. 10/23-TJ).
É o relatório.
VOTO
Presentes os pressupostos de admissibilidade é de se conhecer do recurso.
O apelo não comporta provimento.
Preliminar
Da prova emprestada
A defesa, pleiteia, preliminarmente, a declaração de nulidade do feito, eis que
lastreado em provas emprestadas, não submetidas ao contraditório e da ampla defesa,
pugnando pela realização de nova instrução processual e libertação do recorrente.
Sem razão.
A prova emprestada é aquela colhida em um processo e trasladada para outro, sendo
que em razão da observância do devido processo legal, tal prova está condicionada ao
crivo do contraditório para ter validade e, no caso, como foi oportunizado o
contraditório não há que se falar em ilicitude da mesma.
No presente feito, verifica-se que a juntada de referidas provas, consubstanciadas nos
depoimentos das testemunhas Nathan de Lucena Colaço, Marizete Nunes Barbosa e
Maria Carolina Aleluia, foram requeridas pelo representante ministerial de primeiro
grau em audiência em continuação e devidamente anuídas pela defesa.
Oportuno trazer à colação, trecho consignado em ata (mov. 142.1):
“(...) O Ministério Público requereu a utilização dos depoimentos das testemunhas
Nathan de Lucena Colaço, Marizete Nunes Barbosa e Maria Carolina Aleluia prestados
na Vara Criminal desta Comarca, como prova emprestada e, em caso de deferimento,
a dispensa da oitiva de referidas pessoas nesse Juízo. Ainda requereu que fosse
juntado aos autos, o relatório reservado, contido na seq. 9.2 dos autos 0003983-
17.2015.8.16.0048. A defesa foi consultada e concordou com a utilização da prova
emprestada e dispensa das testemunhas.”
Nesta linha, o parecer da douta Procuradoria Geral de Justiça, verbis:
“Referidos depoimentos, cumpre elucidar ­ conforme já previamente apontado -,
foram prestados em procedimento referente ao coautor imputável, Wellington Felipe
Barbosa Rufino, cujo escopo é a apuração dos mesmos fatos imputados ao
adolescente, de forma que a prova ali produzida possui, inegavelmente, relação com
este processo.
Verifica-se, ainda, inexistir violação às garantias constitucionais do adolescente, uma
vez que quando da audiência em continuação realizada, oportunidade em que estava
devidamente amparado pelo advogado Dr. Rubens José da Costa, concordou com a
utilização das provas emprestadas e a conseguinte dispensa das testemunhas, visando
a celeridade do procedimento.
Os princípios da ampla defesa e do contraditório foram, portanto, devidamente
observados, porquanto o apelante, propriamente assistido por defesa técnica durante

392

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toda a instrução processual, fora instado a se manifestar acerca de sua utilização.” (fls.
15-TJ)
Assim, verifica-se que após a juntada aos autos da prova emprestada, a Defesa teve
oportunidade de tomar conhecimento da existência da mesma e do seu teor, tendo
concordado com esta, pelo que não há que se falar em ausência de contraditório.
Destaque-se ademais que a sentença proferida naqueles autos se deu após o devido
processo legal, no qual se observou o contraditório e ampla defesa dos acusados, pelo
que não há que se falar em ilicitude de tal prova trazida aos autos.
Desta feita, possível a utilização de prova emprestada em conjunto com os demais
elementos de prova no processo criminal.
Neste sentido a jurisprudência:
“APELAÇÕES CÍVEIS ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA E PORTE ILEGAL DE ARMA DE
FOGO PROCEDÊNCIA. APELO DO RÉU ANTONIO PRELIMINARES - 1. NULIDADE
DA SENTENÇA EM RAZÃO DA UTILIZAÇÃO DE PROVA EMPRESTADA DE OUTRO
PROCESSO CRIME EM QUE O ACUSADO É PARTE INOCORRÊNCIA PROVA
SUBMETIDA AO CONTRADITÓRIO VALIDADE 2. TESTEMUNHO DO POLICIAL QUE
SE RECUSA A DIZER O NOME DAS VÍTIMAS QUE PROCEDERAM A IDENTIFICAÇÃO
DOS ACUSADOS SOB O ARGUMENTO DE QUE TEMIA PELA INTEGRIDADE FÍSICAS
DESTAS VALIDADE 3. VALIDADE DAS CONFISSÕES FEITAS NO INQUÉRITO
POLICIAL QUANDO VALORADAS EM CONJUNTO COM AS DEMAIS PROVAS
SUBMETIDAS AO CONTRADITÓRIO MÉRITO 4. AUTORIA E MATERIALIDADE
DEVIDAMENTE COMPROVADAS NOS AUTOS PARA AMBOS OS DELITOS RECURSO
DESPROVIDO. 1. A prova emprestada é aquela colhida em um processo e trasladada
para outro, sendo que em razão da observância do devido processo legal, tal prova
está condicionada ao crivo do contraditório para ter validade e no caso como foi
oportunizado o contraditório não há que se falar em ilicitude da mesma. 2. O
depoimento prestado em juízo pelo policial que efetuou o flagrante é válido, tendo
este justificado o porquê de não revelar a identidade das vítimas que fizeram a
identificação dos acusados, vez que faz parte do ofício do policial manter sigilo em
relação as pessoas que colaboram com as investigações quando exista receio de que
estas possam sofrer represálias se identificadas, como ocorreu no presente caso. 3. As
provas colhidas quando do inquérito policial não podem servir como base para
condenação, mas isto não significa dizer que as mesmas não possam ser valoradas em
conjunto com as provas colhidas em juízo quando harmônicas com aquelas produzidas
sob o crivo do contraditório. 4. O conjunto probatório acostado aos autos é suficiente
para comprovação da prática pelo apelante dos delitos descritos na denúncia, assim
como da materialidade. APELO DO RÉU JUNIOR 5. AUTORIA E MATERIALIDADE
DEVIDAMENTE COMPROVADAS NOS AUTOS PARA AMBOS OS DELITOS 6.
REDUÇÃO DA PENA IMPOSSIBILIDADE RECURSO DESPROVIDO. 5. O conjunto
probatório acostado aos autos é suficiente para comprovação da prática pelo apelante
dos delitos descritos na denúncia, assim como da materialidade. 2 6. É de se manter a
pena imposta ao acusado, pois que adequadamente fixada.” (TJPR, AC 131.7253-9, 2ª
C.Criminal, de nossa relatoria, acórdão nº 1603, publ.
10.07.2015)
393

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Portanto, não há que se reconhecer a aventada nulidade.


Mérito
Da alegação de insuficiência de provas
A defesa do Apelante assevera pela ausência de provas suficientes de autoria,
devendo ser aplicado o princípio in dubio pro reo.
A tese apresentada pelo Apelante não merece amparo, porque desassociada do
conjunto probatório.
Pela análise dos autos verifica-se que a materialidade e autoria do ato infracional
análogo ao delito de homicídio duplamente qualificado (art. 121. §2º, incisos II e IV, do
CP) restou efetivamente demonstrado pela prova documental colhida durante o
inquérito (mov. 1.1), dentre as quais o Boletim de Ocorrência (mov. 1.2), o laudo de
exame de necropsia (mov. 14.1) e a certidão de óbito da vítima (mov.
14.1), bem como pelos depoimentos realizados no decorrer da instrução processual.
A respeito, extrai-se da sentença vergastada, o seguinte:
“O representado, quando ouvido em juízo, negou qualquer participação no homicídio
da vítima, aduzindo apenas que um colega lhe ligou após Cleber Colaço os fatos para
dizer que havia praticado o crime e todos estavam pensando que era ele o autor,
consoante se vê em suas declarações no CD de mídia de mov.
123.2:
“Que no dia dos fatos, por volta da meia noite, Yuri, um rapaz que conhece do Jardim
Progresso, lhe ligou dizendo que tinha acabado de matar um cara e que estavam
dizendo que era o depoente o autor do crime; que estava em casa no momento e
acordou seus pais; que na mesma hora seus pais levaram o depoente até a casa de sua
avó e acionaram a polícia militar; que a polícia militar o buscou e levou até a polícia
civil para interroga-lo; que até hoje não sabe porque disseram que era o autor do
crime; que conhece Wellington Felipe Barbosa Rufino; que ele não é seu amigo, só
jogaram bola juntos uma vez; que não sabe se Wellington tinha motivo para matar a
vítima; que nunca foi amigo da vítima, só o conhecia de vista; (...) que conhecia
Wellington há uns três anos, mas não saiam juntos; que Wellington não estava na
cidade no dia 28/09; que ele estava vendendo livro no estado do Mato Grosso; que
conhecia a vítima Cleber Colaço de vista, mas não tinha amizade com ele; que
também conhecia Joyce de vista; que não sabe se ela tinha algum relacionamento
com Wellington ou Cleber; que não está envolvido no homicídio de Cleber; que nega
ter chamado Cleber para Wellington atirar nele; que não possuía nenhuma dívida com
Wellington”.
Todavia, não obstante a negativa de participação engendrada pelo representado,
tenho como certa a autoria do ato infracional capitulado no art. 121, II e IV, do Código
Penal, devendo a mesma recair sobre a sua pessoa.
Isso porque analisando o painel probatório encartado nos autos, temos o depoimento
da testemunha Nathan de Lucena Colaço, que presenciou os fatos, e inquirida perante
a autoridade policial no mov. 1.2, informou:
“Diz que estava morando com seu pai de nome Cleber Colaço vítima do crime de
homicídio na data de 28/09/2015; Diz que seu pai estava tendo um relacionamento
com a pessoa de nome Joice Valiente dos Santos; Diz que sabe que faz cerca de duas
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semanas que seu pai estava relacionando com Joice; Diz que Joice não frequentava a
casa onde morava; Diz que Joice era ex namorada de Welington Felipe conhecido
como “TETA”; Diz que sabe que seu pai sabia que Joice estava sendo ameaçada de
morte por Wellington; Diz que na noite do dia 28/09/2015 por volta das vinte e três
horas duas pessoas chegaram em sua casa e chamaram seu pai pelo apelido
“Passarinho”; Diz que seu pai não ouviu e o declarante avisou seu pai; Diz que neste
momento estava com seu irmão de um ano nos braços; Diz que seu pai saiu para fora
da casa e o declarante ouviu os disparos; Diz que saiu e viu dois elementos correndo
em direção ao Colégio Nelita Ramos; Diz que saiu correndo atrás dos criminosos
sendo que viu e reconhece os mesmos; Diz que os criminosos se chama Gabriel
conhecido como pelo como “Carrerinha” e Wellington Felipe conhecido como “Teta;
Diz que durante a perseguição chamou pelo nome de Carrerinha e o mesmo olhou
para trás e viu que era o declarante pois o declarante conhece os autores do
homicídio; Diz que conhece Gabriel a mais de cinco anos e “teta” a mais de dois anos;
Diz que não tem dúvidas que foram Gabriel e Welington as pessoas que chegaram e
chamaram seu pai e depois efetuaram os disparos de arma de fogo que o matou; Diz
que seu pai não devia dinheiro para Wellington e nem para Gabriel; Diz que não tem
certeza mas acha que Gabriel conhecido como “Carrerinha” devia dinheiro para seu
pai; Diz que não sabe o motivo da dívida se caso houvesse; Diz que viu mensagens
amorosa de Joice para o telefone de seu pai; Diz que no momento dos disparos
estavam na casa o declarante, seu pai, vítima, seu irmão de um ano e um tio deficiente
e sua avó que estava dormindo; Diz que reconheceu a voz de “Carrerinha” chamando
seu pai; Diz que viu “Teta” atirando em seu Pai; Diz que no momento dos disparos
“Teta” não disse nada apenas atirou; Que tem certeza que foi Wellington Felipe
conhecido pelo Alcunha de “Teta” a pessoa que atirou em seu pai.”
E, em juízo (mov. 144) disse:
“Que Cleber Colaço era seu pai; que moraram na residência o depoente, seu pai, sua
vó e seus tios; que seu pai era tranquilo e ajudava no sustento da casa; que fazia
pouco mais de uma semana que Cleber havia se separado da esposa; que no dia dos
fatos, por volta das 19 horas, foi com seu pai buscar espetinhos para janta; que depois
da refeição, foram dar uma volta com o seu irmão mais novo, que tinha onze meses à
época; que assim que retornaram para casa, pegou o celular e ficou conversando com
sua namorada na frente de casa e pôde ver dois rapazes sentados, bem na esquina;
que não deu bola para os rapazes e entrou em casa para conversar com seu pai; que
então escutou uma voz chamando seu pai na frente de casa; que ele lhe entregou a
criança e saiu; que assim que ele desceu os degraus esse rapaz moreno, com a
aparência do Wellington o alvejou com disparos de arma de fogo; que o outro rapaz
era Gabriel; que o reconheceu, pois já o conhecia; que deixou seu irmão no chão,
gritou para sua avó que haviam matado seu pai e saiu correndo atrás dos meliantes;
que constatou que era “carreirinha” e um rapaz de blusa vermelha; que reconheceu a
voz do Gabriel; que Joyce é ex-namorada de Wellington; que seu pai era amigo de
Joyce e ele não tinha nenhum relacionamento amoroso com ela; que seu pai
comentou que Joyce estava sendo ameaçada de morte por Wellington; (...) que uns
dias antes seu pai havia recebido uma ligação dizendo “que seria feito”, mas ele não
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ficou com medo da ameaça; (...)que Gabriel vivia na esquina da casa do depoente;
que acredita que Gabriel e seu pai se cumprimentavam somente, não tendo uma
relação de amizade; que não sabe de nenhuma dívida de seu pai tanto com relação a
Wellington quanto a Gabriel; que confirma ter visto conversas no celular de seu pai
remetidas por Joyce; (...) que viu o rapaz de blusa vermelha atirando em Cleber; que o
indivíduo já saiu de trás do muro atirando; que junto a ele estava ; que conhecia
Wellington de vista; que Gabriel as características físicas do atirador são as mesmas de
Wellington; (...) que o comentário no enterro era de que a motivação do crime foi
passional; que ouviu cinco ou seis disparos, sendo que três atingiram seu pai; que seu
pai não teve nenhuma possibilidade de defesa, pois eles já chegaram atirando; que
foram um tiro na cabeça, outro no tórax e o último na espinha; (...)
Conforme se observa, o depoimento da testemunha ocular foi bastante fiel ao
prestado na fase inquisitorial, divergindo somente na informação a respeito do
relacionamento da vítima e de Joice. Todavia, tal circunstância não faz desacreditar no
reconhecimento de Gabriel, especialmente porque a testemunha já o conhecia há
mais de cinco anos.
Ademais, corroborando a palavra do filho da vítima, o policial Eduardo Domingues
Polizel relatou em juízo que Nathan reconheceu Gabriel, com certeza, como aquele
que atraiu a vítima para a emboscada (mov. 144.1).
Não obstante, embora Gabriel sustente que não possuía relação de amizade com
Wellington, a informante Joice Valiente dos Santos, ex-companheira daquele, e
Marizete Nunes Barbosa, mãe do mesmo, confirmaram que o representado
frequentava regularmente a residência de Wellington, restando, claro, portanto, que
ambos possuíam uma relação de amizade entre eles (mov. 144.1):
Joice Valiente dos Santos - que tinha um relacionamento com Cleber na época dos
fatos; que no dia dos fatos, seus pais ficaram sabendo que Wellington estava na
cidade e pretendia matar a depoente e Cleber, sendo que por esse motivo foram
buscar a depoente no colégio; que um amigo da depoente viu Wellington passando
de carro e foi avisar, pois sabia que a depoente já tinha sido ameaçada por
Wellington; que Wellington lhe ameaçou de morte porque a depoente estava se
relacionando com outra pessoa; (...) que assim que chegaram em casa ouviram o
barulho dos tiros; que residia próximo da casa de Cleber; (...) que ficou sabendo por
terceiros que os autores do crime foram Wellington e Gabriel, vulgo “carreirinha”; que
quando era casada com Wellington, Gabriel era amigo de seu esposo e frequentava
sua casa regularmente; (...) que acha que Gabriel conhecia a vítima; que Wellington era
ciumento; que quando Wellington descobriu que estava com Cleber, ele ligou e
ameaçou, dizendo que iria matar a depoente e Cleber; (...) que estava grávida de
Wellington; que seu relacionamento com Wellington durou cerca de cinco ou seis
anos; que estava separada de Wellington há uns quatro meses quando começou a se
relacionar com Cleber; que Wellington descobriu o relacionamento com Cleber uma
semana antes do homicídio; que pelo que ficou sabendo, Gabriel foi o responsável por
chamar Cleber e o autor dos disparos foi Wellington.
Marizete Nunes Barboza - confirmou o relacionamento amoroso entre Joyce e
Wellington; que o motivo do término foi porque Joyce queria ter sua própria casa; que
396

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Joyce estava grávida de Wellington; que o relacionamento era bom; que conhecia
Gabriel de vista, pois ele tinha mais contato com seu filho mais velho, Diego; que não
conhecia Gabriel já frequentou sua casa Cleber e não sabe dizer se ele se relacionava
com Joyce; (...)
Por fim, Osvaldenir Lenardon relatou a ocorrência e confirmou a reiteração de atos
infracionais envolvendo Gabriel (mov. 144.1).
Diante deste cenário, observa-se que o representado, em concurso com o imputável
Wellington Felipe Barboza Rufino, de posse de uma arma de fogo não apreendida nos
autos, efetuaram 02 (dois) disparos contra a vítima Cleber Colaço, causando-lhe os
ferimentos descritos no Laudo de Exame de Necropsia (mov. 14.1), que foram a causa
eficiente de sua morte.
Da mesma forma, restou comprovado que o ato infracional foi impelido por motivo
fútil, eis que motivado por ciúmes, por ter a vítima se envolvido com a ex-companheira
do coautor Wellington.
Ademais, a testemunha presencial dos fatos foi convicta ao afirmar que foram dois os
autores do ato infracional descrito na representação, sendo que Gabriel foi o
responsável por atrair a vítima, Cleber Colaço, para a emboscada, e que Wellington
imediatamente saiu de trás do muro e desferiu os tiros, dificultando, portanto,
qualquer defesa da vítima.
Desse modo, o fato de Gabriel ter sido denunciado como responsável por atrair a
vítima para o local da emboscada é pertinente ao instituto da coautoria, adotado pelo
Código Penal (artigo 29), que imputa pena a todos que concorreram para o crime, e
não apenas a quem pratica o ato executório.
Por tudo isso, tenho como certo que GABRIEL HENRIQUE DA SILVA foi o autor do
ato infracional equiparado ao delito tipificado no art. 121, II e IV, do Código Penal, não
havendo como se acolher a sua tese defensiva, sob o argumento de negativa de
autoria, em razão dos fundamentos já expostos.
E passando-se as coisas dessa maneira, impõe-se sua responsabilização pelo ato
infracional praticado.” (fls. 383/386-CD- ROM)
Com efeito, o filho da vítima que testemunhou presencialmente o homicídio foi coeso
e convicto ao afirmar que Gabriel foi o responsável por atrair a seu pai, Cleber Colaço,
para fora da sua residência, ao passo que Wellington desferiu os tiros que ceifaram sua
vida, restando as declarações das demais testemunhas arroladas ao feito uníssonas
neste sentido.
Este quadro, já configura a coautoria delitiva, considerada a “teoria do domínio
funcional do fato”, que dispensa a prática do verbo núcleo do tipo pelo agente.
Cumpre ressaltar que na coautoria não há necessidade de todos os agentes
manifestarem idêntico comportamento, podendo haver divisão quanto aos atos
executórios relevantes para o objetivo criminoso, bastando, para tanto, o encontro de
vontades para a prática do fato punível, como na espécie.
Desta maneira, o apelante é igualmente responsável, vez que sua participação foi de
vital importância na pratica do ato infracional a que foi responsabilizado.
Neste sentido:

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“4. Por oportuno, registre-se, ao contrário do que sustenta a impetração, mesmo que
o paciente não tenha sido o responsável pela efetuação dos disparos de arma de fogo
que culminaram no óbito de uma das vítimas, deve responder como coautor pelo
roubo seguido de morte. 5.
Isso porque ficou bem demonstrada, na espécie, a existência de liame subjetivo e
ajuste prévio do paciente com os demais agentes, assumindo ele também o risco, com
a participação na empreitada delituosa, de que alguma vítima fosse morta em virtude
de disparo de arma.
[...]” (STJ, 6ª Turma, HC 185.167/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, j. 15.03.2011,
DJe 08.02.2012).
“PENAL. RECURSO ESPECIAL. LATROCÍNIO. CONCURSO DE AGENTES.
PARTICIPAÇÃO DOLOSAMENTE DISTINTA.
INAPLICABILIDADE. I - O roubo com morte é delito qualificado pelo resultado, sendo
que este plus, na melhor dicção da doutrina, pode ser imputado na forma de dolo ou
de culpa. II - No roubo, mormente praticado com arma de fogo, respondem, de regra,
pelo resultado morte, situado evidentemente em pleno desdobramento causal da
ação delituosa, todos que, mesmo não agindo diretamente na execução da morte,
contribuíram para a execução do tipo fundamental (Precedentes). Se assumiram o
risco, pelo evento respondem. Recurso provido.” (STJ, 5ª Turma, REsp 418183/DF,
Rel. Ministro FELIX FISCHER, j.03.06.2003, DJ 04.08.2003, p. 362).
Desta maneira, percebe-se no presente caso, que as provas produzidas apontam de
forma categórica e detalhada a participação do apelante na prática do ato infracional,
não havendo que se falar em absolvição.
Da medida socioeducativa de internação
Pleiteia, subsidiariamente, para que a medida de internação seja fixada em 6 (seis)
meses, haja vista ter o apelante agido amparado pela atenuante do motivo de
relevante valor social ou moral, e ser a vítima traficante.
Sem razão.
A douta Procuradoria Geral de Justiça, cujos fundamentos adoto, assim se pronunciou
a respeito do pedido de fixação de prazo determinado para o cumprimento da
respectiva medida, verbis:
“No que concerne ao pleito de fixação de prazo determinado para cumprimento da
medida de internação aplicada, sob o argumento de que o homicídio em tela deu-se
por motivo relevante valor moral e social ­ haja vista tratar-se a vítima de traficante de
drogas ­ tem-se igualmente carecer de razão a defesa.
O artigo 121, §§ 2º e 3º, da Lei 8.069/90, estabelece que a medida socioeducativa de
internação não tem prazo determinado, não podendo, contudo, ultrapassar três anos,
sendo, outrossim, imperiosa a sua reavaliação no máximo a cada seis meses.
Desse modo, uma vez que a delimitação de lapso temporal para sua aplicação é
obstada por lei, não há que se falar em fixação de prazo mínimo.” (fls. 23-TJ)
Portanto, a sentença não merece reforma também neste aspecto, eis que, em
verdade, o texto legal do Estatuto da Criança e do Adolescente prevê, no §2º do
artigo 121, que aludida medida socioeducativa tem prazo indeterminado:

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“§ 2º A medida não comporta prazo determinado, devendo sua manutenção ser


reavaliada, mediante decisão fundamentada, no máximo a cada seis meses”
Neste sentido:
“RECURSO DE APELAÇÃO ECA Nº 1.567.711-5, DA COMARCA DE SANTA HELENA
(Juízo Único). Apelante: WESLEY DE OLIVEIRA DIAS. Apelado: MINISTÉRIO PÚBLICO
DO ESTADO DO PARANÁ. Relator: Des. JOSÉ MAURÍCIO PINTO DE ALMEIDA.
RECURSO DE APELAÇÃO. ECA.
APURAÇÃO DOS ATOS INFRACIONAIS CORRESPONDENTES AO CRIME DE
TENTATIVA DE HOMICÍDIO QUALIFICADO POR MOTIVO FÚTIL E À
CONTRAVENÇÃO PENAL DE VIAS DE FATO (ART. 121, § 2º, INCISO II, C/C ART. 14,
INCISO II, AMBOS DO CÓDIGO PENAL E ART. 21 DO DECRETO-LEI N.º 3688/41).
PLEITO PELO RECEBIMENTO DO RECURSO NO DUPLO EFEITO NÃO CONHECIDO.
MM. JULGADOR SINGULAR QUE O RECEBEU TÃO SOMENTE NO EFEITO
DEVOLUTIVO.
REQUERIDA REFORMA DA SENTENÇA, A FIM DE SE JULGAR IMPROCEDENTE A
REPRESENTAÇÃO QUANTO AO ATO INFRACIONAL NARRADO NO FATO 01.
IMPOSSIBILIDADE.
AUTORIA E MATERIALIDADE INFRACIONAIS IRREFRAGÁVEIS.
PALAVRA DOS POLICIAIS DOTADA DE FÉ-PÚBLICA, RELEVANTE E CORROBORADA
PELOS DEPOIMENTOS PRESTADOS NA FASE INQUISITORIAL. PLEITO PELA
SUBSTITUIÇÃO DA MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO POR OUTRA
MENOS GRAVOSA. NÃO ACOLHIMENTO. MEDIDA APLICADA DE ACORDO COM
AS NECESSIDADES PEDAGÓGICAS DO ADOLESCENTE E CONSOANTE O
PRECEITO DO ARTIGO 122, INCISO I, DO ECA. ATO INFRACIONAL DOTADO DE
VIOLÊNCIA E DE GRAVE AMEAÇA. RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E, NA
PARTE CONHECIDA, DESPROVIDO, COM A EXCLUSÃO, EX OFFICIO, DO PRAZO
MÍNIMO DE 01 (UM) MÊS IMPOSTO EM SENTENÇA PARA A MEDIDA DE
INTERNAÇÃO. Diante da vulnerabilidade pessoal e social do recorrente, tem-se que a
medida de internação é providência que se impõe. I.” (TJPR, RAECA 1567711-5, 2ª
C.Criminal, relator Des. José Maurício Pinto de Almeida, j. 10.11.2016)
Ademais, observa-se que a medida de internação é a mais recomendada para atender
às necessidades psicopedagógicas do apelante, para que tenha consciência da
consequência dos seus atos.
Nestas condições, nega-se provimento ao recurso, mantendo-se inalterada a sentença
impugnada, nos termos da fundamentação.
ANTE O EXPOSTO, acordam os Desembargadores integrantes da 2ª Câmara Criminal
do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar
provimento ao recurso.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador Luís Carlos Xavier (com voto) e dele
participaram os Desembargadores José Maurício Pinto de Almeida e Roberto De
Vicente.
Curitiba, 11 de maio de 2017.
Des. Luís Carlos Xavier - Relator

399

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2.3.15. CALÚNIA – ANIMUS JOCANDI – ABSOLVIÇÃO

APELAÇÃO CRIME - DELITO CONTRA A HONRA - CALÚNIA (ART. 138, C/C ART.

141, II, AMBOS DO CP) - DEFESA PELA ABSOLVIÇÃO - CABIMENTO - RÉU QUE

AFIRMA TER PRATICADO A CONDUTA COM ANIMUS JOCANDI - EXISTÊNCIA DE

RIXA POLÍTICA ENTRE ACUSADO E A VÍTIMA - AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO

QUANTO AO DOLO ESPECÍFICO - ACOLHIDO PARECER DA DOUTA

PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA - RECURSO PROVIDO."O crime de calúnia só

se configura quando o agente, sabedor que seu ato não corresponde à verdade,

atribui conscientemente ao ofendido a prática de um ato delituoso. (...) Porquanto o

dolo faz parte do tipo penal (calúnia), cabe à acusação demonstrá-lo estreme de

dúvidas; não o fazendo, a absolvição se impõe com base no art. 386, VII, do CPP"

(TJPR - 2ª C.Criminal, AC 1228562-8, Pato Branco, Rel. José Mauricio Pinto de

Almeida, Unânime, J. 20.08.2015). Apelação Crime nº 1.619.342-52

(TJPR - 2ª C.Criminal - AC - 1619342-5 - Cianorte - Rel.: Luís Carlos Xavier - Unânime -

J. 04.05.2017)

Inteiro Teor

Trata-se de Apelação Crime interposta em face da r. sentença de fls. 159/169,


proferida nos autos de Ação Penal n° 5869- 56.2013.8.16.0069, que julgou procedente
a denúncia, para condenar Germiniano Gonçalves de Souza Neto, nas sanções do
artigo 138, caput, c/c artigo 141, inciso II, ambos do Código Penal.
Fixou a pena em 08 (oito) meses de detenção, a ser cumprida inicialmente no regime
aberto, e 13 (treze) dias-multa.
Substituiu a pena privativa de liberdade por duas restritivas de direito, consistente
prestação de serviços à comunidade, e recolhimento em sua residência nos finais de
semana pelo tempo que perdurar a pena.
Inconformado, Germiniano Goncalves de Souza Neto interpôs recurso de apelação
(fls. 178/188) alegando, em síntese, que as frases foram proferidas pelo recorrente com
animus jocandi, não possuindo intuito ofensivo, bem como foi dirigida à pessoa
diversa da vítima.
Defende que os fatos narrados na peça acusatória relatam uma rixa política. Sustenta
pela ausência de crime, ante a inexistência de prova robusta de que a vítima foi de
fato destinatária das palavras proferidas pelo acusado. Alega pela necessidade de
400

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dolo para a configuração do delito, sendo necessária a intenção consciente de ofender


alguém, bem como o dolo específico de macular a honra alheia.
Ao final, pugna pelo provimento do recurso, com a absolvição do apelante.
O representante do Ministério Público do Estado do Paraná apresentou contrarrazões
(fls. 193/203), defendendo pelo conhecimento e desprovimento do recurso.
Nesta instância, a douta Procuradoria Geral de Justiça exarou parecer (fls. 209/215),
manifestando e provimento do apelo.
É o relatório.
VOTO
Presentes os pressupostos de admissibilidade é de se conhecer o recurso.
Da absolvição
Alega o apelante que as frases foram proferidas pelo recorrente com animus jocandi,
não possuindo intuito ofensivo, bem como foi dirigida à pessoa diversa da vítima.
Defende que os fatos narrados na peça acusatória relatam uma rixa política. Sustenta
pela ausência de crime, ante a inexistência de prova robusta de que a vítima foi de
fato destinatária das palavras proferidas pelo acusado. Alega pela necessidade de
dolo para a configuração do delito, sendo necessária a intenção consciente de ofender
alguém, bem como o dolo específico de macular a honra alheia.
O crime de calúnia, descrito no artigo 138, do Código Penal, estabelece que: “Art.
138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: Pena -
detenção, de seis meses a dois anos, e multa.”
Assim, o delito de calúnia tutela a honra objetiva, devendo ser imputado fato
determinado ou específico.
Acerca do elemento subjetivo do artigo 138 do CP, aponta-se que o tipo em questão
exige um elemento subjetivo específico, implícito na norma incriminadora, que
consiste na especial intenção de ofender, ou seja, possuir o animus caluniandi. A esse
respeito, verifica-se que quando a conduta descrita no tipo penal é praticada sem esse
intuito específico de macular a honra alheia, essa carece de tipicidade subjetiva em
relação ao delito de calúnia, sendo, portanto, atípica em relação ao crime em questão.
Com efeito, o pleito absolutório merece acolhimento, porque, como se viu, para a
caracterização do delito de calúnia, é necessário que o acusado tenha consciência de
que a imputação do fato definido como crime seja falsa, possuindo o dolo consistente
no firme propósito de macular a honra objetiva da vítima.
A propósito de ser imprescindível a consciência da falsidade da imputação do fato
definido como crime, oportuno registrar o seguinte precedente desta colenda Câmara:
“APELAÇÃO CRIMINAL ­ CALÚNIA E INJÚRIA POR MEIO QUE FACILITOU A
PROPAGAÇÃO ­ E-MAIL (ARTS. 138 E 140, CAPUT, C/C ART. 141, INCISO III, AMBOS
DO CP) ­ CRIME DE CALÚNIA ­ QUERELADA QUE PARECIA ACREDITAR SEREM
VERDADEIROS OS FATOS NARRADOS ­ AUSÊNCIA DE PROVAS QUANTO À
ELEMENTAR DO TIPO IMPUTAR FALSAMENTE A PRÁTICA DE UM CRIME ­
ABSOLVIÇÃO ESCORREITA CALCADA NO INC. VII DO ART. 386 DO CPP ­ CRIME DE
INJÚRIA CONFIGURADO ­ DOLO EM PROPALAR A INCOMPETÊNCIA DO
QUERELANTE COMO MÉDICO, FERINDO SUA DIGNIDADE E DECORO ­ SENTENÇA
REFORMADA ­ RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
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1. O crime de calúnia só se configura quando o agente, sabedor que seu ato não
corresponde à verdade, atribui conscientemente ao ofendido a prática de um ato
delituoso.
2. Porquanto o dolo faz parte do tipo penal (calúnia), cabe à acusação demonstrá-lo
estreme de dúvidas; não o fazendo, a absolvição se impõe com base no art. 386, VII,
do CPP” (TJPR ­ 2ª C.Criminal, AC 1228562-8, Pato Branco, Rel.
José Mauricio Pinto de Almeida, Unânime, J. 20.08.2015).
“Os crimes contra a honra exigem, além do dolo genérico, o elemento subjetivo
especial do tipo consubstanciado no propósito de ofender a honra da vítima. Assim, a
peça inicial deve estampar a existência de dolo específico necessário à sua
configuração, sob pena de faltar-lhe justa causa, sendo que a mera intenção de caçoar
(`animus jocandi’), de narrar (`animus narrandi’), de defender (`animus defendendi’), de
informar ou aconselhar (`animus consulendi’), de criticar (`animus criticandi’) ou de
corrigir (`animus corrigendi’) exclui o elemento subjetivo e, por conseguinte, afasta a
tipicidade desses crimes” (TJPR ­ 2ª C.Criminal, RSE 1168068-5, Ponta Grossa, Rel.:
José Mauricio Pinto de Almeida, Unânime, J. 11.12.2014).
Nesse sentido, aponta-se o entendimento de Guilherme de Souza Nucci:
“Pune-se o crime [de calúnia] quando o agente agir dolosamente. Não há forma
culposa. Entretanto, exige-se, majoritariamente (doutrina e jurisprudência), o elemento
subjetivo do tipo específico, que é a especial intenção de ofender, magoar, macular a
honra alheia. Este elemento intencional está implícito no tipo. É possível que uma
pessoa fale a outra de um fato falsamente atribuído a terceiro como crime, embora
assim esteja agindo com `animus jocandi’, ou seja, fazendo uma brincadeira. Embora a
atitude de mau gosto, não se pode dizer que tenha havido calúnia. O preenchimento
do tipo aparentemente houve (o dolo existiu), mas não a específica vontade de
macular a honra alheia (o que tradicionalmente se chama de `dolo específico’)”.1
Em mesmo sentido também é a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:
“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL ­ REQUISITOS DE
ADMISSIBILIDADE PREENCHIDOS QUANTO A ALÍNEA `A’ DO PERMISSIVO
CONSTITUCIONAL ­ CONHECIMENTO PARCIAL DO RECURSO ­ AÇÃO PENAL ­
DELITOS DE CALÚNIA E DIFAMAÇÃO SUPOSTAMENTE COMETIDOS CONTRA
MINISTRO DO STJ ­ REPASSE DE CORREIO ELETRÔNICO COM MENSAGEM
CONSIDERADA OFENSIVA ­ DOLO ESPECÍFICO DE OFENDER ­ NÃO OCORRÊNCIA
­ AUSÊNCIA DO `ANIMUS DIFFAMANDI’ E `ANIMUS CALUNIANDI’ ­ ATIPICIDADE
DA CONDUTA ­ RESTABELECIMENTO DA DECISÃO QUE REJEITOU A DENÚNCIA ­
AGRAVO REGIMENTAL PROVIDO.
1. Para a caracterização dos crimes de calúnia e difamação é imprescindível que se
verifique, além do dolo genérico de realizar os elementos do tipo, um fim específico,
isto é, o propósito de ofender ou macular a honra da vítima, consistente no `animus
caluniandi’ ou `animus diffamandi’.
2. Na hipótese, a recorrente, servidora pública pertencente ao quadro do Superior
Tribunal de Justiça, recebeu o correio eletrônico tido por ofensivo e o repassou a
algumas secretarias do Tribunal, sem efetuar qualquer modificação em seu texto ou
acrescentar sequer um comentário à mensagem, evidenciando, assim, sem a
402

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necessidade de incursão no conjunto fático-probatório, que o seu propósito não era


de ofender a honra do Ministro do STJ, mas apenas de dar conhecimento dos fatos a
outros servidores do Tribunal, revelando-se atípica a sua conduta.
3. Agravo regimental provido” (STJ ­ 5ª T., AgRg no REsp 1286531-DF, Rel. Min.
Adilson Vieira Macabu (Des.
Convocado do TJ/RJ), Rel. para Acórdão Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
02.08.2012, DJe 21.09.2012).
No caso em análise, Germiniano Goncalves de Souza Neto foi denunciado pelos
seguintes fatos (fls. 02/03):
“No dia 31 de Dezembro de 2012, por volta das 12h00min, na Rua Normindo José
dos Santos, n° 65, Departamento da Educação, na cidade de São Tomé, nesta
comarca, o denunciado Germiniano Gonçalves de Souza, ciente da ilicitude e
reprovabilidade de sua conduta, caluniou a vítima Rosangela Marinato, na qualidade
de Secretária Municipal da Educação e em razão de sua função, imputando-lhe
falsamente o crime de peculato.
Segundo consta dos autos, na véspera de entregar seu cargo para o prefeito eleito
que assumiria o mandato no dia seguinte, a vítima estava retirando produtos
alimentícios do interior do Departamento Municipal de Educação para levar, em seu
veículo, para a Escola Municipal de 25 de Julho, momento em que o denunciado
começou a dizer publicamente e em alto e bom som palavras como: `vocês vão deixar
pelo menos o prédio no lugar’, fazendo crer que a vítima e as outras pessoas que a
auxiliavam estavam apropriando-se indevidamente, na condição de funcionários
públicos, dos produtos que transportavam.”
Quando ouvida em juízo, a vítima Rosangela Marinato declarou que os fatos
ocorreram em 31 de dezembro, quando ainda era secretária de educação. Relatou que
haviam alguns mantimentos da escola no freezer da Secretaria de Educação, uma vez
que o da escola estava queimado. Asseverou que como os carros da prefeitura
estavam todos lavados para serem entregues no dia seguinte, utilizou de seu próprio
carro e mais a ajuda de outros dois funcionários da prefeitura para levar esses
mantimentos de volta à escola. Asseverou que na última viagem, o acusado estava na
calçada, e disse à depoente e aos outros “vocês vão deixar pelo menos o prédio aí
né”. Narrou que procurou a polícia para fazer um boletim de ocorrência porque o
acusado gritou no meio da rua, tendo ficado temerosa de que as pessoas achassem
que estava roubando alguma coisa. Não sabe dizer quantas pessoas ouviu ele falando.
Questionada porque na véspera da assunção do novo prefeito foi feito esse
remanejamento de mantimentos, respondeu que era porque não queriam deixar nada
fora de lugar. Negou que tenha percebido antes qualquer brincadeira entre João, que
estava ajudando a depoente, e a pessoa do acusado. (CD-ROM de fl. 129).
A testemunha Suziley Aparecida Souza Cardozo asseverou perante a autoridade
judicial que no dia dos fatos estava com o acusado, e que as pessoas estavam
retirando algumas coisas da Secretaria da Educação, que fica vizinha de sua casa.
Declarou que o acusado acabou brincando com a pessoa de Joãozinho, para que
deixasse ao menos o prédio ali. Afirmou que a vítima não escutou o que o acusado
falou, sendo que quem teria escutado seria apenas o Joãozinho. (CD-ROM de fl. 129).
403

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

A testemunha João Custódio de Araújo declarou em juízo que no dia dos fatos
estavam pegando alguns congelados que eram da escola 25 de Julho que estavam na
Secretaria de Educação.
Relatou que naquele momento estariam dando a última viagem quando o acusado
falou que era para deixarem pelo menos o prédio.
Acrescentou que estavam entrando na camioneta quando o acusado falou, sendo que
a vítima também estava ali, além de Naira. Esclareceu que escutou o acusado, mas
“deixou quieto”, mas não levou na brincadeira. Quando perguntado se não teve
interesse em registrar também uma queixa por ter se sentido ofendido, respondeu que
como a secretária de educação era a Rosangela, e que estava no local apenas para
ajudá-la, entendeu que o acusado estivesse se dirigindo a ela, e não a ele. (CD-ROM
de fl. 129).
A testemunha de defesa Valdir Silva Lima nada soube esclarecer sobre a elucidação
dos fatos. (CD-ROM de fl. 129).
Em seu interrogatório judicial, Germiniano Gonçalves de Souza Neto declarou em
juízo que mora em frente a Secretaria de Educação, e se recorda de terem dado várias
viagens com a camionete.
Narrou que na última viagem, Joãozinho estaria encima da carroceria, e ele teria
falado para o acusado “como está o coração”, isso em razão de terem trabalhado de
lados opostos na eleição, quando então teria igualmente brincado com ele dizendo
“larga pelo menos o prédio aí”.
Alegou que depois Rosangela teria voltado ali e falado ao interrogado que é pessoa
idosa, e deveria estar ajudando. Asseverou que praticou a conduta em tom de
brincadeira, e com a pessoa do “Joãozinho”, não tendo dito nada para a Rosangela,
nem falado nada que estivessem roubando. Afirmou que não sabia para onde as
coisas estavam sendo levadas. (CD-ROM de fl. 129).
Da análise das provas constantes nos autos não evidenciam que o acusado tenha
atuando com o dolo de macular a honra alheia, mas sim agindo com um animus
jocandi, não individualizando a suposta imputação falsa de crime a alguém, falando,
consoante descrito na denúncia, “vocês vão deixar pelo menos o prédio no lugar”.
De tal forma, não restou indubitavelmente comprovado nos autos que o acusado,
sabendo que a vítima Rosangela não praticava o delito de peculato, tenha imputado
falsamente o crime, visando macular a sua honra.
Nesse sentido também foi o entendimento da douta Procuradoria Geral de Justiça
(fls. 212):
“As provas colacionadas aos autos não conferem a segurança necessária para
fundamentar um édito condenatório, principalmente porque não foi possível aferir,
com a devida certeza, a presenta do animus caluniandi por parte do acusado.
Deveras, o que exsurge do processado é que o apelante, ao proferir o seguinte
comentário `vocês vão deixar pelo menos o prédio no lugar’, tinha por objetivo, tão
somente, fazer uma brincadeira com os presentes, os quais estavam removendo alguns
objetos do local. “

404

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Assim, impõe-se dar provimento ao apelo, para absolver Germiniano Goncalves de


Souza Neto, do delito lhe imputado na denúncia, com fulcro no artigo 386, VII, do
Código de Processo Penal, ante a ausência de comprovação do dolo do acusado.
Nestas condições, dá-se provimento ao recurso, tudo nos termos da fundamentação.
ANTE O EXPOSTO, acordam os Desembargadores integrantes da 2ª Câmara Criminal
do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar
provimento ao recurso.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador Luís Carlos Xavier (com voto) e dele
participaram os Desembargadores José Maurício Pinto de Almeida e Roberto De
Vicente.
Curitiba, 4 de maio de 2017.
Des. Luís Carlos Xavier - Relator
--
1NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal comentado. 13. ed. rev., atual. e ampl.
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p. 716.

2.3.16. FIXAÇÃO INDENIZAÇÃO MÍNIMA – PEDIDO MINISTERIAL NAS

ALEGAÇÕES FINAIS

APELAÇÃO CRIMINAL - 1. ADULTERAÇÃO DE SINAL DE VEÍCULO AUTOMOTOR -

ARTIGO 311, CAPUT, DO CÓDIGO PENAL - ABSOLVIÇÃO - NÃO CABIMENTO -

CONDUTA TÍPICA - MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS - 2. FIXAÇÃO DA

INDENIZAÇÃO À VÍTIMA - PEDIDO EXPRESSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DE

PRIMEIRO GRAU, EM SEDE DE MEMORIAIS - MANTIDA A INDENIZAÇÃO IMPOSTA

NA SENTENÇA POR FORÇA DO ART.387, IV, CPP - RECURSO DESPROVIDO.1.

Havendo provas suficientes a demonstrar a materialidade e autoria do delito de

adulteração de sinal de veículo automotor, impõe-se manter o decreto condenatório.2.

"(...) e) "Com a alteração trazida pela Lei 11.719/2008 o magistrado deverá

estabelecer um valor mínimo de indenização no caso de sentença condenatória,

independente de pedido da Promotoria de Justiça ou da vítima. Somente poderá

deixar de assim proceder se dos elementos de informação contidos nos autos não for

possível qualquer aferição a respeito dessa quantificação.Não há violação ao princípio

do devido processo legal Apelação Crime nº 1.546.851-42porque essa exigência

decorre de expressa previsão legal, devendo se preocupar, também, quando de sua


405

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defesa, com essa realidade." (TJPR - 4ª C.Criminal - AC - 918407-2 - Foro Regional de

Campo Largo da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Luiz Cezar

Nicolau - Unânime - J.08.11.2012)." (TJPR, 3ª C.Criminal, AC 1370079-3, Colombo,

Rel. Rogério Kanayama, Unânime, J.10.12.2015).

(TJPR - 2ª C.Criminal - AC - 1546851-4 - Ponta Grossa - Rel.: Luís Carlos Xavier -

Unânime - J. 02.03.2017)

Inteiro Teor

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Crime nº 1546851-4, de Ponta


Grossa - 2ª Vara Criminal, em que é Apelante Renaclo Stenzowski e Apelado Ministério
Público do Estado do Paraná.
Trata-se de Apelação interposta contra a sentença (fls. 215/222-CD-ROM) proferida
nos autos n° 0036163- 13.2014.8.16.0019 de Ação Penal que julgou procedente a
pretensão punitiva contra Renaclo Stenzowski, para o fim de condená-lo como incurso
no art. 311, caput, do Código Penal, à pena privativa de liberdade de 03 (três) anos de
reclusão e 10 (dez) dias-multa, atribuindo o valor a um trigésimo do salário mínimo
vigente à época dos fatos a cada dia-multa, em regime aberto, restando a pena
privativa de liberdade substituída por duas restritivas de direitos, consistentes em
prestação de serviços à comunidade e prestação pecuniária.
Inconformada a defesa de Renaclo Stenzowski interpôs recurso de Apelação (fls.
316/328), asseverando que é imputada ao apelante uma conduta para a qual não se
produziu qualquer prova capaz de tornar concreta a acusação, pelo que deve ser
inocentado da acusação, com a aplicabilidade do princípio in dubio pro reo.
Pugna pela retificação da parte inicial do dispositivo da sentença recorrida, apontando
que não houve legítima fundamentação acerca do motivo pelo qual a vítima deve ser
indenizada. Ainda, indica que não houve fundamentação idônea sobre a valoração do
quantum arbitrado.
Ao final, requer o conhecimento e provimento do recurso, para o fim de reformar a
decisão, com a consequente absolvição das acusações. Ainda, em caso de
entendimento diverso, pugna, pela revogação do dispositivo no tocante ao
arbitramento da indenização e quantum.
O representante do Ministério Público do Estado do Paraná apresentou contrarrazões
(fls. 332/339), postulando o desprovimento do recurso.
Nesta instância, a douta Procuradoria Geral de Justiça exarou parecer pelo
desprovimento do recurso (fls. 9/13).
É o relatório.
VOTO
Presentes os pressupostos de admissibilidade é de se conhecer do recurso.
O recurso não comporta provimento.
Do pedido de absolvição
406

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A defesa do apelante assevera que é imputada a este uma conduta para a qual não se
produziu qualquer prova capaz de tornar concreta a acusação, pelo que deve ser
inocentado da acusação, com a aplicabilidade do princípio in dubio pro reo.
O pleito absolutório não admite amparo, porque as provas produzidas revelam de
forma incontroversa a prática do delito previsto no artigo 311, caput, do Código Penal:
“Art. 311 - Adulterar ou remarcar número de chassi ou qualquer sinal identificador de
veículo automotor, de seu componente ou equipamento:
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.”
Com efeito, a materialidade está devidamente comprovada além dos testemunhos
prestados em juízo, está sobejamente comprovada no boletim de ocorrência de mov.
4.3, no auto de exibição e apreensão de mov. 4.9, no laudo pericial de mov.
4.10, no aditamento do laudo de mov. 4.14, no termo de restituição de mov. 4.15, no
boletim de ocorrência de mov.4.16, todos constantes no inquérito policial de nº
0029296-04.2014.8.16.0019 (em apenso).
Por outro lado, a autoria incide sobre a pessoa do Apelante.
A propósito, em seu depoimento, em Juízo, a vítima Moacir Correa, afirmou: “que
mandou reformar seu caminhão na oficina de Aníbal e Renaclo. Destacou que por
causa do serviço que seria realizado, foi preciso colocar o veículo para fora da oficina,
tendo que movimentá-lo e, como o caminhão possuía um segredo, teve que repassá-
lo a Aníbal. O veículo em questão foi furtado do pátio da associação dos
caminhoneiros em Faxinal, cerca de 30 dias após o término do conserto. Somente
localizou o veículo cerca de 5 ou 6 meses após o furto. Passados uns 60 dias após o
furto, começou a desconfiar de Aníbal, haja vista que foi até Londrina em sua
companhia, pois teria lhe dito que um terceiro queria comprar o “documento”, mas na
verdade Aníbal só queria saber o que ainda reconhecia do veículo, caso o encontrasse,
pois, após ter falado todos os detalhes, Aníbal os alterou.
Declarou que devido a estes fatos, desconfiou que Aníbal e Renaclo furtaram o
caminhão. Dessa forma, começou a monitorá-los. Percebeu que o apelante Renaclo
não se encontrava mais na oficina, desocupando a casa em que morava e deixando
seus pertences no local. Disse que investigou o paradeiro de Renaclo, sendo que
Aníbal lhe informou que o apelante estava em Curitiba.
Foi atrás de Renaclo, mas descobriu que não teria ido para Curitiba. Ao monitorar os
passos de Aníbal, descobriu que o caminhão estava em Ponta Grossa. Foi até Ponta
Grossa seguindo Aníbal e, ao constatar que estava sozinho, foi até uma oficina onde
encontrou seu caminhão, reconhecendo-o na hora. Relatou que havia sido alterado o
documento do veículo, a placa, que foi retirado o câmbio, pneu e motor e que no
momento em que foi até a oficina lá estavam Aníbal e Renaclo. Chegou a iniciar uma
tratativa de valores com Aníbal, mas a polícia não permitiu. Recuperou seu caminhão,
mas teve prejuízos no total de R$ 105.000,00, sendo R$ 55.000,00 somente da carreta,
que não apareceu.” (fls. 216/217-CD-ROM)
O Policial Militar Paulo Marcelo Supren declarou, em Juízo, que: “Via COPOM, foi
repassado que uma vítima de furto de caminhão havia encontrado o veículo em um
estabelecimento de mecânica e lataria, na Av. Souza Naves. Declarou que assim, se
deslocando ao local, foi conversado com o ofendido, o qual apontou seu caminhão,
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constatando-se a presença de dois indivíduos dentro do veículo, sendo que um deles


tentou se evadir no momento em que avistou a viatura. Acentuou que foi realizada
revista no interior do caminhão, sendo localizado alguns pertences que possuíam o
nome de Moacir, o qual alegou ser de sua propriedade. Ressaltou que foi averiguado
no sistema que a placa do caminhão apreendido não coincidia com a sua numeração
de fato e também a numeração do motor havia sido retirada do veículo. Aduziu que
não se recorda qual dos dois acusados levou o caminhão até a mecânica, mas que
haviam levado para mudar a cor do veículo.
Discorreu que Renaclo afirmou estar apenas na companhia de Aníbal, prestando
serviço para este. Falou que Aníbal e Moacir já se conheciam e que este teria
suspeitado da pessoa de Aníbal motivo pelo qual o seguiu. Contou que Renaclo
estava na condução do veículo e disse que apenas prestaria um serviço a Aníbal,
sendo que este dizia ser de sua propriedade o caminhão,” (fls. 217-CD-ROM)
No mesmo sentido, o depoimento do Policial Militar Rodrigo de Almeida Lopes,
esclarecendo que: “Moacir afirmou ser proprietário do caminhão encontrado, mas que
havia sido alterado o modelo do veículo de 112 para 113. Disse que ao verificar no
sistema a cor que constava era vermelha, mas o caminhão apresentava cor branca.
Acentuou que o chassi também havia sido adulterado. Esclareceu que no dia dos fatos
chegaram a conversar com o proprietário da mecânica e que se recorda do mesmo ter
falado que o veículo estava no estabelecimento para fazer alguns reparos. Mencionou
que o ofendido havia dito que suspeitava de Aníbal por ele ser seu vizinho e que
anteriormente ao furto do caminhão Aníbal fez algumas perguntas suspeitas à vítima, o
que fez gerar a desconfiança em Moacir.
Destacou que a vítima ainda falou para Aníbal que havia alguns detalhes em seu
caminhão que o distinguiam dos demais, fato que fez com que Aníbal levasse o
veículo para não ser reconhecido pelo ofendido. Ressalvou que no momento da
abordagem o acusado Renaclo não tentou se evadir e que este havia dito que estava
apenas a serviço de Aníbal. Destacou que o dono da oficina falou que estava cedendo
alimentação para Renaclo, diante da falta de recurso financeiro para comprar comida.”
(fls. 217/218-CD-ROM)
Por fim a testemunha Valdomiro de Souza Kolecza afirmou que: “trabalhava na oficina
onde foi encontrado o caminhão, mas alega não ter tomado conhecimento dos fatos.
Relatou que Aníbal e Renaclo levaram o caminhão até a mecânica uns 15 dias antes da
apreensão, a fim de mudar o para-choque do veículo para 113, e alterar os
“tanquinhos de ar”.
Frisou que foi Aníbal que se apresentou como proprietário do caminhão, tendo dito
que Renaclo era apenas motorista. Declarou que o primeiro a chegar foi Aníbal e que
um dia depois Renaclo trouxe o caminhão até a oficina, sendo que permanecia ali a
tarde toda, sendo que levava o caminhão a noite até um posto de gasolina, onde
dormia no interior do veículo. Esclareceu que Renaclo não comentou de quem seria o
caminhão, mas que não chegou a afirmar que seria seu. Destacou que era um dos
proprietários da oficina. Acentuou que Renaclo permanecia no local para supervisionar
o serviço. Falou que Aníbal se dispôs a pagar pelo serviço realizado no caminhão,
sendo ele o responsável pelas mudanças que deveriam ser feitas, ao passo em que
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Renaclo apenas era “cuidador” do veículo. Ratificou o depoimento prestado na fase


policial.” (fls.
218-CD-ROM)
No que se refere à valoração do depoimento de policiais, importante aludir o
seguinte precedente desta Câmara:
“APELAÇÃO CRIME. RECEPTAÇÃO E PORTE ILEGAL DE MUNIÇÃO DE ARMA DE
FOGO DE USO PERMITIDO (ART.
180, CAPUT, DO CÓDIGO PENAL E ART. 14 DA LEI Nº 10.826/03). CONDENAÇÃO.
PLEITO ABSOLUTÓRIO. ALEGAÇÃO DE FRAGILIDADE PROBATÓRIA.
INVIABILIDADE.
AUTORIA E MATERIALIDADE INCONTESTES. TESTEMUNHOS SEGUROS E
HARMÔNICOS DOS POLICIAIS MILITARES.
VALIDADE. RECURSO DESPROVIDO. “ (TJPR, AP 1177664-6, Rel. José Mauricio Pinto
de Almeida, public. 24.07.2014).
No mesmo sentido a orientação emanada do Superior Tribunal de Justiça:
“HABEAS CORPUS. ROUBO CIRCUNSTANCIADO. SENTENÇA CONDENATÓRIA.
FRAGILIDADE DO CONJUNTO PROBATÓRIO. DECISÃO QUE ENCONTRA APOIO
EM ELEMENTOS COLHIDOS SOB O CRIVO DO CONTRADITÓRIO.
DECISÃO FUNDAMENTADA. DECLARAÇÕES DA VÍTIMA.
CRIME COMETIDO NA CLANDESTINIDADE. DEPOIMENTO DE POLICIAIS
MILITARES. MEIOS DE PROVA IDÔNEOS.
PRINCÍPIO DO LIVRE CONVENCIMENTO. ABSOLVIÇÃO.
NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO APROFUNDADO DE MATÉRIA FÁTICO-
PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE NA VIA ESTREITA DO WRIT. 1. (...) 4. Conforme
entendimento desta Corte, o depoimento de policiais responsáveis pela prisão em
flagrante do acusado constitui meio de prova idôneo a embasar o édito condenatório,
mormente quando corroborado em Juízo, no âmbito do devido processo legal.
(...) (HC 217.475/DF, Rel. Min. Jorge Mussi, 5ª Turma, DJe 09.11.2011).
Vai daí que não restam dúvidas acerca da autoria e materialidade do delito.
Inicialmente porque fora constatada a troca dos sinais identificadores externos do
veículo, o que por si só já teria o condão de ferir o bem jurídico tutelado, qual seja: a
fé pública.
Neste sentido:
“APELAÇÃO CRIME. ADULTERAÇÃO DE SINAL IDENTIFICADOR DE VEÍCULO
AUTOMOTOR (ART.311, CAPUT, DO CP). ABSOLVIÇÃO EM VIRTUDE DA
ATIPICIDADE DA CONDUTA. TROCA DE PLACAS. PLEITO MINISTERIAL DE
CONDENAÇÃO.TESE ACOLHIDA. DISPOSITIVO LEGAL QUE IMPUTA COMO CRIME
A ADULTERAÇÃO DE QUALQUER SINAL IDENTIFICADOR DO VEÍCULO, NÃO
FAZENDO DISTINÇÃO ENTRE SINAL EXTERNO E INTERNO.
ENTENDIMENTO 2 PACÍFICO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. AUTORIA E
MATERIALIDADE EVIDENCIADAS.CONJUNTO PROBATÓRIO SUFICIENTE PARA A
CONDENAÇÃO. RECURSO PROVIDO. Não remanescem dúvidas de que a
adulteração dolosa das placas de um veículo automotor ofende a fé pública,
dificultando não só a atuação dos agentes públicos como também dos particulares
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que, eventualmente e por razões diversas, necessitem identificar um veículo utilizado


no trânsito.I.” (TJPR, 2ª C.Criminal, AC 1176455-3, Pitanga, Rel.: José Mauricio Pinto
de Almeida, Unânime, J. 07.08.2014)
“REVISÃO CRIMINAL. DELITOS DOS ART. 157, §2º, I E II, ART. 157, §2º, I, ART. 311,
DO CÓDIGO PENAL, ART. 14, DA LEI N.º 10.826/03, E ART. 34, DA LEI N.º
11.343/06.
DECISÕES CONDENATÓRIAS CONTRÁRIAS À EVIDÊNCIA DOS AUTOS (ART. 621, I,
CPP). NÃO OCORRÊNCIA. PROVAS SUFICIENTES DA MATERIALIDADE E DA
AUTORIA DELITIVAS.
MAJORANTES DO EMPREGO DE ARMA E CONCURSO DE AGENTES.
CONFIGURAÇÃO. ALEGAÇÃO DE INIMPUTABILIDADE PELO USO DE SUBSTÂNCIA
ENTORPECENTE. NÃO-ACOLHIMENTO. CIRCUNSTÂNCIAS APTAS A DEMONSTRAR
PLENO DISCERNIMENTO NO MOMENTO DO ROUBO. PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO
QUANTO AO DELITO DE ADULTERAÇÃO DE SINAL IDENTIFICADOR DE VEÍCULO.
TROCA DE PLACAS. CRIME CARACTERIZADO NA FORMA CONSUMADA. DELITO
DE PORTE DE ARMA DE FOGO. PLEITO DE EXCLUSÃO DA CONDENAÇÃO ANTE O
PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO. INAPLICABILIDADE NO CASO.
PORTE QUE NÃO CONSISTIU EM MEIO PARA A PRÁTICA DO ROUBO. DELITO DO
ART. 34, DA LEI N.º 11.343/06. PROVAS HÁBEIS A INDICAR A MATERIALIDADE E A
AUTORIA.
MANUTENÇÃO DAS CONDENAÇÕES POR TODOS OS CRIMES. DOSIMETRIA
PENAL. REDUÇÃO, DE OFÍCIO, DAS PENAS-BASES. PERSONALIDADE
DESFAVORÁVEL EM RAZÃO DA CONDIÇÃO DE USUÁRIO E DA PRESENÇA DE
INQUÉRITOS E AÇÕES PENAIS EM ANDAMENTO.
FUNDAMENTOS INIDÔNEOS. SÚMULA 444, DO STJ.
COMPORTAMENTO DA VÍTIMA. CIRCUNSTÂNCIA NEUTRA.
IMPOSSIBILIDADE DE ELEVAR A PENA. PEDIDO IMPROCEDENTE COM A
REDUÇÃO, DE OFÍCIO, DAS PENAS.
a) É de se manter as condenações pelos delitos porquanto devidamente apoiadas nas
provas produzidas, não havendo falar em decisão contrária à evidência dos autos. (...)
d) “(...) A substituição das placas originais do automóvel tipifica o ilícito constituindo
nítida adulteração de sinal identificador de veículo automotor.(...)”. (STJ REsp n.º
1189081 5 ª T. Rel. Min. Gilson Dipp DJ de 16.05.2011).
(...)” (TJPR, 3ª C.Criminal em Comp.Int., RC 818537-3, Campo Mourão, Rel. Rogério
Kanayama, Unânime, J.
02.02.2012).
Noutro momento, porque os réus foram mais longe, adulteraram também as
sequências relacionadas ao chassi do caminhão, conforme já evidenciado. E mais,
fizeram com que o modelo do caminhão, de maneira semelhante, fosse adulterado, eis
que originalmente o caminhão tratava-se de um modelo T112, porém quando
apreendido aparentava ser um modelo T113.
No caso em tela, lendo atentamente a sentença objurgada, observa-se que o
magistrado singular enfrentou adequadamente todas as questões, tendo motivado seu
entendimento com base em elementos concretos e vinculados aos autos, in verbis:
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“Pois bem. A autoria do crime narrado na inicial acusatória é indubitável e pertence


ao acusado, conforme análise das provas trazidas aos autos, as quais são fortes o
suficiente para embasar uma condenação.
Note-se que a vítima logrou apurar que Aníbal, sempre na companhia e Renato,
demonstrou interesse em seu caminhão desde o momento em que o veículo esteve
em sua oficina para conserto.
Obteve os segredos do caminhão para poder manobrá-lo e fez questionamentos à
vítima acerca de características específicas do caminhão, visando alterá-las para
posteriormente garantir a impunidade do delito. Diante da desconfiança que tais
atitudes causaram, após o furto, a vítima monitorou os passos de Anibal e Renaclo,
flagrando ambos na posse do caminhão subtraído, já com as placas e chassis
adulterados.
Por outro lado, Aníbal, após estar na posse do caminhão, incumbiu Renaclo de
supervisionar todas as alterações realizadas no caminhão, inclusive as de sinal
identificador, conforme se verifica no depoimento do responsável pela oficina onde o
veículo foi localizado. De se notar que Renaclo está envolvido com a prática delituosa
desde o início, eis que deixou a cidade de Faxinal, local em que trabalhava, logo após
o furto do caminhão, sendo localizado na oficina em Ponta Grossa, onde também foi
apreendido o veículo em questão. Portanto, não há como negar que Renaclo sabia da
prática delituosa e supervisionava as alterações que eram feitas na mecânica e lataria
do caminhão, ainda que não se possa precisar o local em que foram efetivamente
realizadas as alterações do chassis e placa.
Não se pode olvidar ainda que o bem objeto de furto anterior foi apreendido na
posse do acusado, operando-se a inversão do ônus probatório em seu desfavor.
Ou seja, cabia ao acusado esclarecer o motivo pelo qual o caminhão, com sinais
adulterados e cuja propriedade sabia ser da vítima, estava na sua posse.
A alteração clandestina das características originais do veículo com a adulteração de
componente seu (placas e chassi, conforme laudo de movs. 4.10 e 4.14 e documento
de mov. 4.4), configura o delito previsto no art. 311 do Código Penal. Neste sentido:
“Apelação Crime. Roubo. Adulteração de sinal identificador de veículo (Art. 157, § 2º,
incisos I e II, e art.
311, ambos do Código Penal). Condenação. Insurgência recursal absolutória. Autoria
e materialidade comprovadas. Confissão do corréu. Palavra da vítima.
Conjunto probatório eficaz. Impossibilidade de absolvição.
Dosimetria. Critério quantitativo. Aplicação do critério qualitativo. Recurso conhecido
ao qual se nega provimento com adequação da pena, de ofício. (...) O veículo é
identificado externamente por meio das placas dianteira e traseira, cujos caracteres o
acompanharão até a baixa do registro. Qualquer que seja a modificação nelas
empregada, caracteriza o crime previsto no art. 311 do Código Penal. (...) (TAPR -
Apelação Criminal 0227661-1 - Curitiba - Relator Juiz Tufi Maron Filho - 4ª Câmara
Criminal - Revisor Juiz Marcus Vinícius de Lacerda Costa - Julg.: 05/06/03 - DJ:
08/08/03). “Crime de adulteração de sinal identificador de veículo automotor (art. 311
do Código Penal, com o conteúdo introduzido pela Lei nº 9.426-96). Tipifica, em tese,
a sua prática, a adulteração de placa numerada dianteira ou traseira do veículo, não
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apenas da numeração do chassi ou monobloco (STF - HC 79780/SP - 1ª Turma -


Relator Min. Octávio Gallotti - DJU: 18/08/2000)”. “Na aplicação das causas de
aumento e diminuição da pena, consideradas na terceira fase da dosimetria, deve ser
aplicado o critério qualitativo, que permite considerar o caso concreto, relevando
fatores que justifiquem a majoração ou diminuição da pena de forma diversa do
critério matemático.”” (TJPR AC nº 558.011-0 Rel. Des. Marcus Vinicius de Lacerda
Costa 5ª C. Crim DJ 28/08/2009) (TJPR - 5ª C.Criminal - AC 657678-3 - Ibaiti - Rel.:
Rogério Etzel - Unânime - J. 10.02.2011) (grifei)
Registre-se que art. 311 do Código Penal configura crime formal, que se consuma
com a simples conduta de adulterar ou remarcar o chassi ou qualquer outro sinal
identificador do veículo, componente ou equipamento, sem exigir dolo específico. O
veículo automotor é identificado pelas suas características físicas, numeração gravada
no chassi ou monobloco e pelas placas, que constituem sinais identificadores externos
(art. 114 do Código de Trânsito Brasileiro). A adulteração consistente em trocar uma
placa por outra é suficiente para configurar o delito.
Não procede a alegação de que o acusado simplesmente trabalhava e seguia ordens
de Aníbal. Ora, Renaclo se fez presente desde o início da empreitada criminosa, ou
seja, quando a vítima deixou seu caminhão para conserto na oficina em que o acusado
trabalhava. Deixou a cidade de Faxinal e veio a Ponta Grossa para supervisionar
alterações na estética do caminhão, sendo que certo que também assim agiu quando
das alterações de chassis e placa, eis que as provas demonstram que nunca se afastou
da empreitada criminosa.
Destarte, não restam dúvidas quanto à materialidade e autoria dos fatos descritos da
denúncia. As provas produzidas são suficientes para a condenação do acusado. Uma
vez demonstradas as tipicidades objetiva e subjetiva, cumpre ressaltar que não se
vislumbram causas excludentes da antijuricidade e da culpabilidade.
Ademais, verifica-se a tipicidade material consistente na lesão significativa aos bens
jurídicos tutelados pelas normas penais correspondentes (fé pública).” (fls. 218/220-
CD-ROM)
Assim sendo, a sentença não merece reforma, porque a autoria é certa e recai sobre o
Apelante, havendo nos autos elementos suficientes para confirmar a condenação pela
prática do delito imputado na inicial acusatória.
Do quantum da indenização
O apelante pugna pela retificação da parte inicial do dispositivo da sentença
recorrida, apontando que não houve legítima fundamentação acerca do motivo pelo
qual a vítima deve ser indenizada. Ainda, indica que não houve fundamentação idônea
sobre a valoração do quantum arbitrado.
Com relação a este tópico recursal, melhor sorte não socorre ao apelante.
A decisão recorrida assim motivou e fundamentou o quantum arbitrado para a
indenização em favor da vítima:
“Considerando o prejuízo relatado pela vítima, fixo o valor da indenização mínima
devida pelo acusado à vítima Moacir Correia em R$ 50.000,00, acrescido de correção
monetária (INPC) incidente desde a data do evento danoso (16/06/2014) e juros de
mora também devidos desde a data do evento danoso (16/06/2014) na razão de 1%
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ao mês, nos termos dos arts. 398 e 406 do Código Civil, na forma as Súmulas 43 e 54
do Superior Tribunal de Justiça. Note-se que o valor decorrente do furto da carreta
não pode ser atribuído ao acusado, visto que não lhe foi imputado tal crime.”
Neste passo, como obtemperado pela douta Procuradoria Geral de Justiça, cujos
fundamentos adoto, verbis:
“Importante ressaltar que houve pedido expresso do Ministério Público de primeiro
grau, em sede de memoriais, da fixação da indenização à vítima, nos termos do art.
387, inc. IV, do Código de Processo Penal.
Outrossim, não há que se falar em fundamentação inidônea do quantum arbitrado, eis
que respaldado no valor do prejuízo suportado pela vítima, bem como nos art. 398 e
art. 406, ambos do Código Civil, na forma das súmulas 43 e 54, do Superior Tribunal
de Justiça.
Por fim, vale registrar que a resposta penal não merece qualquer correção, posto que
fixada no mínimo legal e, principalmente, porque ausente inconformismo do Ministério
Público objetivando seu agravamento.” (fls. 12-TJ)
Neste sentido a jurisprudência pátria:
“APELAÇÃO CRIMINAL. PENAL E PROCESSO PENAL. ROUBO DUPLAMENTE
MAJORADO (ART. 157, § 2º, I E II, DO CÓDIGO PENAL). APELANTE 2.
MANUTENÇÃO DA MAJORANTE DA ARMA DE FOGO. CAUSA DE AUMENTO
CONFIGURADA.
PRESCINDIBILIDADE DA APREENSÃO DA ARMA. DOSIMETRIA. PENA-BASE.
CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DESFAVORÁVEIS. CULPABILIDADE DO
RÉU.AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. CIRCUNSTÂNCIAS E CONSEQUÊNCIAS DO
DELITO. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA.APELANTE 1.
INCIDÊNCIA DA AGRAVANTE DA REINCIDÊNCIA E DA ATENUANTE DA
CONFISSÃO ESPONTÂNEA. INVIABILIDADE DE COMPENSAÇÃO. PRECEDENTES
DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.APELANTE 2. TERCEIRA FASE. READEQUAÇÃO
DO PERCENTUAL REFERENTE ÀS CAUSAS DE AUMENTO.CRITÉRIO
QUANTITATIVO. CONTRARIEDADE À SÚMULA Nº 443, DO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA.
APELANTE 1. REPARAÇÃO DO DANO. FIXAÇÃO QUE INDEPENDE DE PEDIDO
EXPRESSO. RECURSO 1 PROVIDO E APELAÇÃO 2 PARCIALMENTE PROVIDA. a) “(...)
e) “Com a alteração trazida pela Lei 11.719/2008 o magistrado deverá estabelecer um
valor mínimo de indenização no caso de sentença condenatória, independente de
pedido da Promotoria de Justiça ou da vítima. Somente poderá deixar de assim
proceder se dos elementos de informação contidos nos autos não for possível
qualquer aferição a respeito dessa quantificação. Não há violação ao princípio do
devido processo legal porque essa exigência decorre de expressa previsão legal,
devendo se preocupar, também, quando de sua defesa, com essa realidade.” (TJPR -
4ª C.Criminal - AC - 918407-2 - Foro Regional de Campo Largo da Comarca da Região
Metropolitana de Curitiba - Rel.: Luiz Cezar Nicolau - Unânime - - J.08.11.2012).”
(TJPR, 3ª C.Criminal, AC 1370079-3, Colombo, Rel. Rogério Kanayama, Unânime, J.
10.12.2015).

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“1. RECURSO DO RÉU CHRISTIAN INTEMPESTIVIDADE NÃO CONHECIMENTO. 2.


RECURSO DO RÉU THIAGO CONDENAÇÃO PELOS CRIMES DE ROUBOS
MAJORADOS PELO EMPREGO DE ARMA (CP, ART. 157, § 2°, INC. I, C. C. O ART. 71
2° E 3° FATOS); ADULTERAÇÃO DE SINAL IDENTIFICADOR DE VEÍCULO
AUTOMOTOR (CP, ART. 311, C.
C. O ART. 71 5° E 8° FATOS); - RECEPTAÇÃO (CP, ART. f. 2 180, C. C. ART. 71 4°, 6°
E 7° FATOS); PORTE ILEGAL DE ARMAS DE FOGO DE USO PERMITIDO, RESTRITO E
COM NUMERAÇÃO RASPADA (LEI 10.826/03, ARTS. 14 E 16, CAPUT, E 16,
PARÁGRAFO ÚNICO, INC. IV, C. C. O ART. 70 DO CÓDIGO PENAL 9° FATO);
DESENVOLVIMENTO CLANDESTINO DE ATIVIDADES DE TELECOMUNICAÇÃO (LEI
9.472/97, ART. 183, PARÁGRAFO ÚNICO 10° FATO) PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO
RELATIVAMENTE AOS CRIMES DESCRITOS NOS 2°, 4°, 5°, 7°, 8°, 9° E 10° FATOS
DESCRITOS NA DENÚNCIA, POR AUSÊNCIA DE PROVAS QUANTO À AUTORIA
APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA PARA: (a) ABSOLVÊ-LO DO CRIME DO ART.
183, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 9.472/97; (b) EXCLUIR O AUMENTO DE PENA DO
CRIME DE POSSE DE ARMAS DE FOGO PELO RECONHECIMENTO DE CONCURSO
FORMAL, AO INVÉS DE CRIME ÚNICO. A palavra da vítima aliada a delação do corréu
em sintonia com as demais provas, constituem f. 3 provas relevante para sustentação
de sentença condenatória, descabendo, em tal caso, a alegação de insuficiência de
provas para se postular a absolvição. “...A transmissão realizada em frequência
conhecida e por meio de equipamentos de retransmissão licenciados afasta a idéia de
clandestinidade e eventual ofensa ao Sistema de Telecomunicações. Processo CC
101440 / PR CONFLITO DE COMPETENCIA2008/0266005-3 Relator(a) Ministro
NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO (1133) Órgão Julgador S3 - TERCEIRA SEÇÃO Data
do Julgamento 10/03/2010 Data da Publicação/Fonte DJe 06/04/2010” “(...). 2. O
agente que substitui as placas originais de um automóvel pelas de um outro pratica a
conduta vedada no art. 311 do Código Penal, em razão da adulteração dos sinais
identificadores do veículo. (...)” (HC 195.519/MS, 5ª T., Relª. Minª. Laurita Vaz, DJe
29.6.11) Segundo a jurisprudência da 5ª Turma deste STJ, o crime de porte de mais de
uma arma de fogo, acessório ou munição não configura crime formal ou material, mas
crime único, se ocorrido no mesmo f. 4 contexto, porque há uma única ação, com
lesão de um único bem jurídico: a segurança coletiva. Precedentes: HC 105.910/SP,
Rel. Min. Jorge Mussi, DJU 28.10.08; 3. EXTENSÃO, DE OFÍCIO, AO CORRÉU
CHRISTIAN, DA ABSOLVIÇÃO PELO CRIME DA LEI 9.472/97, E, TAMBÉM,
EXCLUSÃO DO AUMENTO DE PENA DO CRIME DE POSSE DE ARMA DE FOGO.
4.PLEITO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DE EXCLUSÃO DA INDENIZAÇÃO PREVISTA NO
ARTIGO 387 DO CPP, SOB ARGUMENTO DE VIOLAÇÃO DO CONTRADITÓRIO E
AMPLA DEFESA. IMPOSSIBILIDADE.
EFEITO AUTOMÁTICO, SECUNDÁRIO DA SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA.
MERO CONSECTÁRIO. “A fixação na sentença de valor mínimo para a reparação dos
danos sofridos pela vítima não importou em violação aos
princípios do contraditório e da ampla defesa, pois se trata de efeito automático da
própria decisão condenatória, nos termos do que preconiza o artigo 387, IV do f. 5
CPP, com a nova redação que lhe foi dada pela lei 11.719/2.008, pouco importando
414

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

não ter havido qualquer pedido nesse sentido.” (TJMG, 2ª C.Criminal, proc.
1.0223.09.271368-2/001, Rel. Beatriz Pinheiro Caires, j. 10.12.2009, unânime., DJe
24.02.2010).
Deste modo, não merece acolhimento a irresignação do apelante, devendo ser
mantido o quantum fixado na r. sentença.
Nestas condições, nega-se provimento ao recurso, nos termos da fundamentação.
ANTE O EXPOSTO, acordam os Desembargadores integrantes da 2ª Câmara Criminal
do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar
provimento ao recurso.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador Luís Carlos Xavier (com voto) e dele
participaram o Desembargador José Mauricio Pinto de Almeida e o Juiz Substituto
Segundo Grau Marcel Guimarães Rotoli de Macedo.
Curitiba, 02 de março de 2017.
Des. Luís Carlos Xavier ­ Relator

2.3.17. INDENIZAÇÃO MÍNIMA – NECESSIDADE DE CONTRADITÓRIO SOBRE O

VALOR (JULGADO DE 2015)

APELAÇÃO CRIME - EMBRIAGUEZ AO VOLANTE (ART.306, DA LEI N° 9.503/07),

FALTA DE HABILITAÇÃO PARA CONDUZIR VEÍCULO AUTOMOTOR (ART. 309, DA

LEI N° 9.503/07) E RESISTÊNCIA (ART. 329, DO CP) - 1.FIXAÇÃO DO VALOR MÍNIMO

PARA A REPARAÇÃO DOS DANOS CAUSADOS - NECESSIDADE DE PEDIDO

EXPRESSO - PEDIDO EFETUADO NA COTA MINISTERIAL ANTERIOR AO

OFERECIMENTO DA DENÚNCIA, E NA ALEGAÇÃO FINAL - ALEGAÇÃO FINAL DO

RÉU APRESENTADA, EQUIVOCADAMENTE, ANTES DAS ALEGAÇÕES DO PARQUET

- AUSÊNCIA DE CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA ACERCA DO VALOR MÍNIMO

PARA A REPARAÇÃO DOS DANOS - IMPOSSIBILIDADE DE FIXAÇÃO - 2. PEDIDO

EFETUADO NAS CONTRARRAZÕES DE CONCESSÃO DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA

GRATUITA - PLEITO NÃO CONHECIDO - COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA EXECUÇÃO

- RECURSO DESPROVIDO, NÃO CONHECENDO O PEDIDO EFETUADO EM

CONTRARRAZÕES.1. Para haver a fixação do valor mínimo para a reparação dos

danos causados pela infração, o Ministério 2Público deverá realizar pedido expresso,

podendo o pedido também partir do ofendido, por seu advogado, durante a instrução

criminal, de modo a oportunizar o direito de contraditório e ampla defesa do réu.


415

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Todavia, observa-se que no caso em tela não foi observado tais princípios,

impossibilitando a fixação do valor.2. Não há que ser conhecido o pedido de

concessão do benefício da assistência judiciária gratuita, em razão de ser a matéria de

competência do Juízo da Execução.

(TJPR - 2ª C.Criminal - AC - 1392493-7 - Ponta Grossa - Rel.: Luís Carlos Xavier -

Unânime - J. 22.10.2015)

Inteiro Teor

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Crime nº 1392493-7, de Ponta


Grossa - 2ª Vara Criminal, em que é Apelante Ministério Público do Estado do Paraná,
e Apelado Renato Ribeiro de Freitas.
Trata-se de Apelação Crime interposta em face da sentença de págs. 263/275,
proferida nos autos n° 0029526- 17.2012.8.16.0019 de Ação Penal, que julgou
procedente a denúncia para condenar Renato Ribeiro de Freitas como incurso nas
sanções dos artigos 306 e 309, ambos da Lei n° 9.503/97 e do art. 329, caput, do
Código Penal. Fixou a pena definitiva em 01 (um) ano e 02 (dois) meses de detenção e
17 (dezessete) dias-multa, no valor de 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente à
época dos fatos, a ser cumprido inicialmente em regime aberto.
Determinou a proibição do réu obter permissão ou habilitação para dirigir veículo
automotor por 03 (três) meses. Substituiu a pena privativa de liberdade por duas penas
restritivas de direitos, consistente na prestação de serviços à comunidade, bem como
limitação de final de semana pelo período da pena.
O representante do Ministério Público do Estado do Paraná opôs embargos de
declaração (págs. 286/287), que foi acolhido em parte, reconhecendo a omissão
quanto ao pedido de fixação de valor mínimo para reparação dos danos causados pela
infração, deixando de fixar indenização mínima à vítima por ausência de prova
suficiente do prejuízo suportado por conta do evento (fl. 291).
O representante do Ministério Público do Estado do Paraná interpôs recurso de
apelação (págs. 332/334) alegando, em síntese, que do delito praticado pelo acusado
houve dano concreto à vítima Paulo de Oliveira Horst, constante da fundamentação da
sentença, de R$1.150,00 (um mil, cento e cinquenta reais). Sustenta não ter sido
contraditada a existência de prejuízo e os valores, sendo a prova feita através das
declarações do ofendido, sob o crivo do contraditório, não sendo exigindo prova
documental.
Pugna pela fixação do valor mínimo para a reparação dos danos causados pelo delito,
com base no art. 387, inciso IV, do Código de Processo Penal.
Renato Ribeiro de Freitas apresentou contrarrazões (págs. 339/342) defendendo pela
concessão do pedido de justiça gratuita, e pelo não provimento do recurso interposto.

416

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Nesta instância, a douta Procuradora Geral de Justiça exarou parecer (fls. 9/20-TJPR),
manifestando-se pelo conhecimento e provimento do recurso, a fim de que seja fixado
o valor mínimo para reparação do dano.
É o relatório.
VOTO
Presentes os pressupostos de admissibilidade, é de se conhecer o recurso.
Do valor mínimo para a reparação dos danos causados pelo delito
Defende que do delito praticado pelo acusado houve dano concreto à vítima Paulo
de Oliveira Horst, constante da fundamentação da sentença, de R$1.150,00 (um mil,
cento e cinquenta reais). Aduz que na cota de oferecimento da denúncia, destacou-se
o art. 387, IV, do CPP, instaurando o contraditório acerca da reparação dos danos,
sendo renovado o pedido nas alegações finais. Sustenta não ter sido contraditada a
existência de prejuízo e os valores, sendo a prova feita através das declarações do
ofendido, sob o crivo do contraditório, não sendo exigindo prova documental.
O pedido não merece prosperar.
Não há que se negar que o artigo 91, inciso I, do Código Penal estabelece que a
condenação possui como efeito tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado
pelo crime.
De tal forma, a Lei n° 11.719/2008 modificou o inciso IV do artigo 387, do Código de
Processo Penal, estabelecendo que o magistrado ao proferir sentença condenatória,
fixará valor mínimo para a reparação dos danos causados pela infração.
Todavia, de modo a respeitar o direito de contraditório e ampla defesa do acusado,
para se fixar o valor mínimo de indenização deverá o Ministério Publico realizar pedido
expresso no momento do oferecimento da denúncia, podendo o pedido também
partir do ofendido, por seu advogado, durante a instrução criminal.
O Superior Tribunal de Justiça já se manifestou nesse sentido:
“PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ROUBO
CIRCUNSTANCIADO. REPARAÇÃO POR DANO MATERIAL. AUSÊNCIA DE PEDIDO
EXPRESSO.
VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO. SÚMULA
83/STJ.
1. Não há falar em fixação de valor mínimo de indenização à vítima se o Ministério
Público não requereu, tampouco o fez o ofendido, a fixação desse quantum no
momento do oferecimento da denúncia, sob pena de violação dos princípios
constitucionais da ampla defesa, do contraditório e do devido processo legal. Súmula
83/STJ.
2. Agravo regimental improvido.” (STJ, AgRg no AREsp 352.104/RJ, Rel. Ministro
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julg. 19.11.2013, DJe 06.12.2013) (grifo
nosso).
“PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ROUBO.
ESTUPRO. EXTORSÃO. FIXAÇÃO DE INDENIZAÇÃO MÍNIMA. DENÚNCIA.
AUSÊNCIA DE PEDIDO.
IMPOSSIBILIDADE. ACÓRDÃO RECORRIDO NO MESMO SENTIDO DA
ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL. SÚMULA 83/STJ.
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1. Para que seja fixado, na sentença, o valor mínimo para reparação dos danos
causados à vítima (art. 387, IV, do CP), necessário o pedido formal, sob pena de
violação dos princípios da ampla defesa e do contraditório.
2. Agravo regimental improvido.” (STJ, AgRg no AREsp 311.784/DF, Rel. Ministro
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julg. 05.08.2014, DJe 28.10.2014) (grifo
nosso).
Esse E. Tribunal de Justiça igualmente já se manifestou sobre o tema, destacando que
a parte que fizer o pedido deverá indicar os valores e provas suficientes para sustentá-
lo, havendo instrução específica para se apurar o valor mínimo para o dano:
“APELAÇÃO CRIME. CONDENAÇÃO POR LESÃO CORPORAL CULPOSA NA
DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR E POR EMBRIAGUEZ AO VOLANTE (ARTIGOS
303, PARÁGRAFO ÚNICO, E 306, AMBOS DO CTB). PLEITO RECURSAL
ABSOLUTÓRIO FUNDADO NA AUSÊNCIA DE PROVAS DA MATERIALIDADE DO
CRIME DE EMBRIAGUEZ E DA CULPA NO CRIME DE LESÃO CORPORAL CULPOSA
NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR.REJEIÇÃO. APELANTE QUE SE SUBMETEU
AO BAFÔMETRO LOGO APÓS TER ATROPELADO PEDESTRE. RESULTADO DO
EXAME QUE ACUSOU TEOR ALCOÓLICO ACIMA DO PERMITIDO.EXTRATO DO
ETILÔMETRO QUE BASTA À COMPROVAÇÃO DA EMBRIAGUEZ, SENDO
DESNECESSÁRIO QUALQUER OUTRO TIPO DE LAUDO PERICIAL. NEGATIVA, POR
PARTE DO CONDENADO, DE TER INGERIDO BEBIDA ALCOÓLICA, QUE SE
ENCONTRA ISOLADA NOS AUTOS, FACE AO ROBUSTO ACERVO PROBATÓRIO
CONTRÁRIO. PRESUMIDA A CORRETUDE NO AGIR DO POLICIAL QUE REALIZOU O
EXAME BAFOMÉTRICO E ELABOROU O CROQUI DO ACIDENTE, POR ESTAR ELE
IMBUÍDO DE FUNÇÃO PÚBLICA.
SENTENCIADO QUE NÃO APRESENTOU PROVAS CAPAZES DE ABALAR TAL
PRESUNÇÃO.EXTENSÃO DAS LESÕES FÍSICAS CAUSADAS À VÍTIMA QUE
CONFIRMA A ALTA VELOCIDADE COM QUE O MOTORISTA PILOTAVA A
MOTOCICLETA NO MOMENTO DO ATROPELAMENTO.
CONFLUÊNCIA DE ALTA VELOCIDADE E EMBRIAGUEZ SUFICIENTE À
CONFIGURAÇÃO DA CULPA. EVIDENTE DESCUMPRIMENTO DO DEVER DE
CUIDADO OBJETIVO.
PLEITO DE AFASTAMENTO DA FIXAÇÃO DE VALOR MÍNIMO À REPARAÇÃO DO
DANO. ACOLHIMENTO. AUSÊNCIA DE PEDIDO EXPRESSO POR PARTE DA VÍTIMA
OU DO MINISTÉRIO PÚBLICO. RECORRENTE QUE NÃO PÔDE EXERCER AMPLA
DEFESA E CONTRADITÓRIO NESTE PONTO.
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO, PARA AFASTAR DA CONDENAÇÃO O VALOR
MÍNIMO FIXADO A TÍTULO DE REPARAÇÃO DE DANOS (ART. 387, INC. IV, CPP) (...)
4. “(...) admitindo-se que o magistrado possa fixar um valor mínimo para a reparação
dos danos causados pela infração penal, é fundamental haver, durante a instrução
criminal, um pedido formal para que se apure o montante civilmente devido. Esse
pedido deve partir do ofendido, por seu advogado (assistente de acusação), ou do
Ministério Público. A parte que o fizer precisa indicar valores e provas suficientes a
sustentá-los. A partir daí, deve-se proporcionar ao réu a possibilidade de se defender
e produzir contraprova, de modo a indicar valor diverso ou mesmo a apontar que
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

inexistiu prejuízo material ou moral a ser reparado. Se não houver formal pedido e
instrução específica para apurar o valor mínimo para o dano, é defeso ao julgador
optar por qualquer cifra, pois seria nítida a infringência ao princípio da ampla defesa”.
NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado.
10ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011, p. 736.1. “ (TJPR - 2ª C.
Criminal, AC 1202047-6, Umuarama, Rel. Roberto Antônio Massaro, Unânime, J.
29.01.2015) (grifo nosso).
No presente caso, observa-se que a denúncia de págs. 4/6 nada mencionou sobre a
fixação do valor mínimo para a reparação dos danos causados pela infração penal,
sendo o pedido efetuado na cota ministerial de pág. 82.
Contudo, a referida cota ministerial foi realizada nos autos de Inquérito Policial, antes
do oferecimento da denúncia, ou seja, quando ainda não tinha se dado início ao
processo.
O pedido foi efetuado novamente apenas na alegação final de págs. 238/250. Porém,
por equívoco, a alegação final do Ministério Público foi apresentada depois da
alegação final do réu Renato Ribeiro de Freitas de págs. 233/236, a qual foi ratificada à
pág.260, sem o acréscimo de qualquer fundamentação.
De tal forma, observa-se que no caso em tela não foi observado os princípios do
contraditório e ampla defesa do réu em relação à fixação do valor mínimo de
reparação dos danos.
Outrossim, o valor apontado como devido foi apresentado unilateralmente pela vítima
no Termo de Declaração de fl. 73, onde afirmou que: “Informa ainda que devido a
colisão teve um prejuízo estimado em R$1150,00 (hum mil cento e cinquenta reais) em
dinheiro para a troca do eixo, um pneu, uma roda, lataria, pintura e mão de obra “, e
novamente na audiência de instrução.
Nessa esteira, cabe destacar que em que pese o representante do Ministério Público
defenda em seu recurso que a sentença destacou à fl. 05 que o dano foi de
R$1.150,00 (um mil, cento e cinquenta reais), a r. sentença apenas destaca que a
vítima, na qualidade de informante, defendeu ser esse o valor aproximado devido.
Veja-se (pág. 267):
“Paulo de Oliveira Horst, ouvido em Juízo na qualidade de informante (mov. 74.1),
relatou que (...) Informou que consertou seu automóvel despendendo
aproximadamente R$ 1.150,00. “
Assim, extrai-se que o único elemento de prova acerca do valor estimado do prejuízo
constante nos autos é a quantia aproximada apontada pela vítima, a qual não foi
contraditada pelo réu no decorrer da instrução processual, posto que o pedido de
fixação do valor mínimo ocorreu ou antes da denúncia, ou somente em alegações
finais.
Portanto, impõe-se negar provimento ao recurso.
Do pedido de justiça gratuita efetuado nas contrarrazões
Em sede de contrarrazões, Renato Ribeiro de Freitas pugnou pela concessão do
pedido de justiça gratuita.
Contudo, o presente pedido não merece ser conhecido.

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O pedido do benefício deve ser feito ao Juízo da Execução, o qual é o competente


para apreciar as condições financeiras do ora apelado, e a possibilidade de arcar ou
não com as despesas processuais sem o prejuízo do sustento próprio ou da sua
família.
Nesse sentido:
“APELAÇÃO CRIME. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO COM NUMERAÇÃO
SUPRIMIDA (ART. 16, § ÚNICO, INCISO IV, DA LEI 10.826/2003).
INCONSTITUCIONALIDADE POR SE TRATAR DE UM CRIME DE MERA CONDUTA.
INOCORRÊNCIA.PRECEDENTES. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
OU DA BAGATELA. NÃO ACOLHIMENTO. DOSIMETRIA DA PENA.MANUTENÇÃO
NO MÍNIMO LEGAL. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA E DETRAÇÃO
PENAL.QUESTÕES NÃO CONHECIDAS.
COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA EXECUÇÃO. APELAÇÃO PARCIALMENTE
CONHECIDA E NA PARTE CONHECIDA NÃO PROVIDA.” (TJPR, 2ª C.Criminal, AC
1017595-6, Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba.
Rel. José Carlos Dalacqua, Unânime, J. 31.07.2014).
“RECURSO DE APELAÇÃO CRIMINAL.CRIME DE DESACATO - ARTIGO 331 DO
CÓDIGO PENAL. PRELIMINAR - CARÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO NA SENTENÇA -
REJEITADA. MÉRITO - MATERIALIDADE E AUTORIA DELETIVAS DEVIDAMENTE
COMPROVADAS.PALAVRA DOS POLICIAIS EM HARMONIA.CONJUNTO
PROBATÓRIO SUFICIENTE A EMBASAR A CONDENAÇÃO. PLEITO DE CONCESSÃO
DO BENEFÍCIO DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA.PEDIDO A SER
PERQUIRIDO NA FASE DE EXECUÇÃO DO JULGADO.REQUERIMENTO DE
ARBITRAMENTO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS AO DEFENSOR DATIVO
NOMEADO.POSSIBILIDADE. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.” (TJPR, 2ª
C.Criminal, AC 917360-0, Cascavel, Rel. Marcel Guimarães Rotoli de Macedo,
Unânime, J. 24.04.2014).
Nestas condições, nega-se provimento ao recurso, e não conhece o pedido efetuado
em contrarrazões, tudo nos termos da fundamentação.
ANTE O EXPOSTO, acordam os Desembargadores integrantes da 2ª Câmara Criminal
do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar
provimento ao recurso e não conhecer do pedido efetuado em contrarrazões.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador Laertes Ferreira Gomes (sem voto) e
dele participaram os Desembargadores José Mauricio Pinto de Almeida e Roberto de
Vicente.
Curitiba, 22 de outubro de 2015.
Des. Luís Carlos Xavier - Relator

420

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2.3.18. PECULATO – CRIME CONTINUADO – CRITÉRIO PARA EXASPERAÇÃO

APELAÇÃO CRIMINAL - APELO1 - 1. INVESTIGAÇÃO REALIZADA PELO MINISTÉRIO

PÚBLICO - POSSIBILIDADE - NULIDADE NÃO EVIDENCIADA - 2.NULIDADE

PROCESSUAL - CERCEAMENTO DE DEFESA - NÃO OCORRÊNCIA - ACESSO AOS

AUTOS DE QUEBRA DE SIGILO - 3. PECULATO - ARTIGO 312, "CAPUT" E § 1º, DO

CÓDIGO PENAL - ABSOLVIÇÃO - NÃO CABIMENTO - CONFIGURAÇÃO DO DELITO

- RECURSO DESPROVIDO.1. "O Ministério Público possui a prerrogativa de instaurar

procedimento administrativo de investigação e conduzir diligências investigatórias

cíveis e criminais" (STJ, HC 351.763/AP, Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca,

Quinta Turma, DJe 01.06.2016).2. Tendo em vista que restou evidenciado nos autos

que a defesa do acusado teve acesso aos autos de Pedido de Quebra de Sigilo, não

há que se cogitar em nulidade processual por cerceamento de defesa.3. O conjunto

probatório revela a autoria e materialidade do delito de peculato, sendo cogente a

manutenção da sentença condenatória pela prática do delito tipificado no artigo 312,

"caput" e § 1º do Código Penal. 2APELO2 - 4. FALSIDADE DE ASSINATURA -

PRESCINDIBILIDADE DA PERÍCIA - NULIDADE NÃO EVIDENCIADA - 5. PECULATO -

ABSOLVIÇÃO - NÃO CABIMENTO - AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS -

6. DESCLASSIFICAÇÃO DO DELITO PARA A MODALIDE CULPOSA -

IMPOSSIBILIDADE - DOLO EVIDENCIADO - 7. CRIME CONTINUADO - REDUÇÃO DA

FRAÇÃO DE AUMENTO - CABIMENTO - 8.DIMINUIÇÃO DA PENA PELA

PRIMARIEDADE - IMPOSSIBILIDADE - AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL - 9.

RESTIUIÇÃO DOS VALORES - PEDIDO DE AFASTAMENTO DA CONDENAÇÃO -

NÃO CABIMENTO - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.4. Sendo prescindível a

realização de perícia para se concluir pela falsidade da assinatura, não há que se

reconhecer a nulidade processual.5. Havendo provas suficientes a demonstrar que o

acusado praticou o delito de peculato, impõe-se manter a condenação pela prática do

delito tipificado no artigo 312, "caput" e § 1º, do Código Penal.6. Evidenciado o dolo

na conduta do acusado, não procede o pleito de desclassificação do delito para a

modalidade culposa.7. "Relativamente à exasperação da reprimenda procedida em

421

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razão do crime continuado, é imperioso salientar que esta Corte Superior de Justiça

possui o entendimento consolidado de que, cuidando-se do aumento de pena

3referente à continuidade delitiva, aplica-se a fração de aumento de 1/6 pela prática

de 2 infrações; 1/5 para 3 infrações; 1/4 para 4 infrações; 1/3 para 5 infrações; 1/2 para

6 infrações e 2/3 para 7 ou mais infrações". (AgRg no AREsp 398.516/RN, Rel. Ministro

Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe 01.08.2016).8. A pretensão de reduzir a pena

em razão da primariedade não admite acolhimento, por ausência de previsão legal.9.

A coautoria restou evidenciada e a indenização pelo dano causado pelo crime constitui

efeito da condenação, motivo pelo qual não há que se cogitar em afastar a

determinação de restituição de valores prevista na sentença.

(TJPR - 2ª C.Criminal - AC - 1469098-3 - Curitiba - Rel.: Luís Carlos Xavier - Unânime -

J. 01.06.2017)

Inteiro Teor

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Crime nº 1469098-3, de Foro


Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba - 1ª Vara Criminal, em que
são Apelantes Fabiano dos Santos, Aparecido Custodio da Silva e Apelado o
Ministério Público do Estado do Paraná.
Trata-se de Apelação interposta contra a sentença (mov. 52.1 ­ CD fls. 03) proferida
nos autos n° 0003827- 47.2009.8.16.0013 de Ação Penal que julgou improcedente a
pretensão punitiva para o fim de condenar os acusados Aparecido Custódio da Silva e
Fabiano dos Santos pela prática do crime tipificado no artigo 312, caput e § 1º,
combinado com o artigo 71, ambos do Código Penal.
Aparecido Custódio da Silva interpôs recurso de Apelação (fls. 11/24), alegando
inicialmente pela impossibilidade do Ministério Público presidir e conduzir inquérito
policial, devendo ser declarada a nulidade do procedimento investigativo, sendo o
processo nulo desde sua essência.
Assevera cerceamento de defesa, porque o acesso aos autos 0031185-
45.2013.8.0013 de Pedido de Quebra de Sigilo não foi disponibilizado, com violação
ao princípio da ampla defesa e contraditório, devendo ser decretada a nulidade do
processo.
No mérito, argumenta que o único responsável pelos supostos desvios e a pessoa do
Sr. Fabiano dos Santos, pessoa de confiança do Recorrente, que por longo período foi
responsável pela contabilidade e controle financeiro de seus assuntos.
Afirma que Fabiano dos Santos aproveitou-se da confiança e perpetrou atos ilícitos
envolvendo o Recorrente e a única conduta do Recorrente foi atender a sua solicitação

422

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

e lhe indicar a assembleia legislativa para que obtivesse ajuda a entidades que ele
mesmo auxiliava.
Aduz que não detinha a respectiva verba, a qual não era destinada ao seu gabinete,
não era responsável e tampouco intervinha em sua liberação e até tomar
conhecimento da ação, nunca teve conhecimento das respectivas liberações.
Alega que nenhuma testemunha disse conhecer o Recorrente, mas com relação ao Sr.
Fabiano, são inúmeros os relatos revoltantes quanto a sua única participação dos
desvios e ele realizava a contabilidade de todas as instituições envolvidas, inclusive das
empresas cujas notas foram apresentadas na prestação de contas.
Assevera que o único envolvimento que o Ministério Público viu em relação ao
Recorrente foi o fato de haver depósitos na conta da Sra. Aparecida Soares que
coincidem com os valores que deveriam ter sido remetidos às instituições, mas ela
sequer foi ouvida durante a instrução e se tivesse sido fatalmente confirmaria que os
valores não teriam relação com os supostos desvios.
Alega que a conduta é atípica, porque não agiu em proveito próprio ou alheio, não
tendo envolvimento com a destinação concedida pela Assembleia Legislativa, sendo
vítima das ações de seu contador Sr. Fabiano dos Santos.
Sustenta ausência de provas, porque o valor semelhante que foi depositado na conta
da Sra. Aparecida Soares refere-se a um acordo trabalhista firmado entre eles, pois ela
era empregada do Recorrente, não havendo sequer indícios de prática criminosa,
sendo lídima a absolvição.
Ao final, requer o provimento do recurso para que seja decretada a nulidade do
processo e, caso não acolhidas as teses preliminares, seja reconhecida a absolvição.
O acusado Fabiano dos Santos também interpôs recurso de Apelação (fls. 31/52),
alegando preliminarmente cerceamento de defesa, porque não foi realizada perícia
para averiguar a suposta falsificação de assinatura da presidente da Associação
Wesleyana, Sra. Maria Julia Ruthes, oposta no verso do cheque recebido, vinculado à
prestação e contas e balancete financeiro de 2001, devendo o processo ser anulado e
os autos remetidos ao primeiro grau para a realização da perícia.
Assevera que sua participação ocorreu pelo fato de querer ajudar as entidades
assistenciais mencionadas nos autos, nunca participou do desvio das verbas e sequer
sabia da real intenção de Aparecido Custódio da Silva de apropriar-se do numerário
destinado às entidades.
Argumenta que agiu na boa-fé e que somente recebia pelas prestações de contas
que fazia, nunca foi servidor da Assembleia ou nomeado em comissão para tratar de
assuntos referentes às verbas assistenciais.
Afirma que ajudou a justiça, pois trouxe provas de que o numerário foi parar nas
contas de Aparecido Custódio, via empresa Centro de Informações Políticas Ltda. e de
sua empregada, ou seja, ajudou para a condenação de Aparecido Custódio, pois
sempre acreditou estar fazendo a coisa correta.
Aduz que não se beneficiou de nenhum valor, desconhecia a vontade de Aparecido
Custódio da Silva e foi usado por ele, não havendo dolo, não podendo prosperar o
caráter de coautoria.

423

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Por outro lado, pela ausência de dolo, pleiteia a desclassificação para peculato
culposo, nos termos do artigo 312, parágrafo 2º, do Código Penal, devendo ser
recalculada a pena aplicada.
Com relação à dosimetria da pena, argumenta que a pena final no tocante a
continuidade delitiva deve ser corrigida para ser utilizada a proporção de 1/5 e não
1/4 conforme realizada na sentença.
Alega que a pena deve ser reduzida em razão da atenuante da primariedade.
Assevera que deve ser reconhecida a inexigência de restituição de valores, porque
este assunto veio à tona somente com a sentença, não tendo sido assegurada a ampla
defesa, e também pelo fato de que não apropriou quantia alguma, tendo sido os
valores depositados na conta do réu Aparecido Custódio da Silva.
Ao final, requer o provimento do recurso para o fim de reformar a decisão, nos termos
da fundamentação.
O Apelado apresentou contrarrazões, postulando o desprovimento dos recursos (fls.
55/60 e 90/96).
Nesta instância, a douta Procuradoria Geral de Justiça exarou parecer pelo
desprovimento dos recursos manejados (fls. 100/120).
É o relatório.
VOTO
Presentes os pressupostos de admissibilidade é de se conhecer os recursos.
Cinge-se a controvérsia à análise da sentença que condenou Aparecido Custódio da
Silva e Fabiano dos Santos pela prática do crime de peculato, tipificado no artigo 312,
caput e § 1º, combinado com o artigo 71, ambos do Código Penal.
Segundo a denúncia oferecida pelo Ministério Público:
“Durante o ano de 2001, em Curitiba, Aparecido Custódio da Silva, então Deputado
Estadual, e seu assecla Fabiano dos Santos, um aderindo ao propósito delitivo do
outro, somando esforços e dividindo tarefas, agindo em continuidade delitiva,
lograram desviar, subtrair e apropriar-se de R$ 58.500,00 (cinquenta e oito mil e
quinhentos reais) de verbas públicas da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná,
mediante os expedientes fraudulentos a seguir descritos:
1. ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL WESLEVANA DA VILA SÃO PEDRO -
Desvio de R$ 19.500,00 (dezenove mil e quinhentos reais).
Por volta de abril ou maio de 2001, FABIANO DOS SANTOS entrou em contato
telefônico com a Sra. MARIA JULlA RUGHES (in memoriam desde 21 de dezembro de
2001), então Presidente da ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIASOCIAL WESLEYANA DA
VILA SÃO PEDRO, e lhe ofereceu a doação de R$ 500,00 (quinhentos reais) em verba
de assistência social do Gabinete do Deputado Estadual APARECIDO CUSTÓDIO DA
SILVA. Nesta oportunidade, FABIANO DOSSANTOS solicitou da Presidente da
entidade cópia dos documentos da Associação, como o estatuto social, a ata de posse
da atual diretoria, o cartão CNPJ. Documentação esta que deveria ser levada ao seu
escritório de contabilidade, sito na Rua Primeiro de Maio, 817, Xaxim, Curitiba, Paraná,
para as formalidades necessárias à liberação da verba de subvenção social. Os
documentos foram encaminhados à FABIANO, conforme solicitado.

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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

De posse destes documentos, FABIANO e então Deputado APARECIDO CUSTÓDIO


DA SILVA, no exercício financeiro de 2001, obtiveram da Administração da
ASSEMBLÉIA LEGISLATIVADO ESTADO DO PARANÁ a quantia de R$ 20.000,00 (vinte
mil reais) para ser destinada, a título de subvenção social, à ASSOCIAÇÃO E
ASSISTÊNClA SOCIAL WESLEVANA. Segundo informação prestada pelo Diretor
Financeiro da Assembléia Legislativa, foram entregues ao Deputado APARECIDO
CUSTÓDIO DA SILVA dois cheques destinados à referida Associação: o de n. 065240
(conta 2613-3 do Banco 038), datado de 09 de agosto de 2001, no valor de R$
10.000,00 (dez mil reais), e o de números 718554 (mesma conta bancária), datado de
12 de dezembro de 2001, também no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais).
Ocorre que FABIANO e CUSTÓDIO repassaram para a ASSOCIAÇÃO WESLEVANA
apenas a quantia de R$ 500,00 (quinhentos reais), mediante entrega de outro cheque,
de titularidade de terceiro, o de n. LG-234093-3, referente à conta 13255-5, da
agência 0273 do Banco Itaú (341), de “titularidade de Transpizzatto Transp C. Rod
Ltda”, o qual foi depositado na conta corrente da entidade assistencial, a n. 8869-2 da
agência 1432- X do Banco do Brasil.
Logo, recebendo R$ 20.000,00, mas repassando apenas R$ 500,00, FABIANO e
CUSTÓDIO se apropriaram indevidamente do saldo de R$ 19.500,00 (dezenove mil e
quinhentos reais), enriquecendo-se ilicitamente.
O Ministério Público obteve autorização judicial para ter acesso às microfilmagens dos
cheques, após compensados pela Instituição Financeira. Tais cópias encontra às fls.
515 a 531 do apenso 1, volume 3, dos Autos n. 76/2002-A. A microfilmagem revela
que, para liquidar o cheque 065240, FABIANO e CUSTÓDIO inseriram no verso do
cheque assinatura “falsa, como se fosse da Presidente da ASSOCIAÇÃO WESLEYANA,
a Sra. MARIA JULlA RUTHES. Quanto ao cheque 718554, o mesmo foi depositado na
conta 0145306, da agência 321 do Banestado.
Contudo, era necessário dissimular o crime, eis que seria preciso formalizar prestação
de contas para o Tribunal de Contas do Estado. Com efeito, FABIANO e CUSTÓDIO,
confeccionaram documentos falsos, montaram uma prestação de contas forjada e a
encaminharam ao Tribunal de Contas do Estado do Paraná.
A fraude e o crime de apropriação indébita só vieram a tona porque a Diretoria
Revisora de Contas do Tribunal de Contas encaminhou à ASSOCIAÇÃO WESLEYANA
o ofício n. 0485/02 solicitando o encaminhamento dos documentos comprobatórios
dos gastos efetivados com a doação dos R$ 20.000,00 (vinte mil reais) feita pela
Assembléia Legislativa do Estado do Paraná.
Apontam-se as seguintes evidências, que comprovam a natureza de produto de
falsidade da prestação de contas encaminhada por FABIANO e CUSTÓDIO ao TC-PR:
1) A assinatura que consta no documento de encaminhamento da prestação de contas
ao TC, datado de 31 de janeiro de 2002 não é da Sra. Maria Júlia Ruthes, eis que
falecida em 21 de dezembro de 2001;
2) O cabeçalho do referido documento não corresponde ao impresso efetivamente
utilizado pela ASSOCIAÇÃO em suas manifestações escritas;

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3) A assinatura constante no documento “balancete financeiro de 2001”, também


datado de 31 de janeiro de 2002, também é falsa, porque Maria Julia Ruthes, pois ela
já estava morta;
4) o carimbo colocado no balancete financeiro 2001 é falso porque não corresponde
ao utilizado pela Associação, indicando um nome incompleto, além de utilizar “de Vila
São Pedro” ao invés de “da Vila São Pedro”;
5) as mesmas inconsistências e falsidades se repetem no documento denominado -
“Relação de Pagamentos;
6) as notas fiscais de fls. 20/26 são falsas porque FARMÁCIA REUNIDAS (Munhoz &
Fernandes Ltda.) - notas 5606 e 5604, LOJA ANDERSONS (Shirlene da Silva) - notas
189 e 175, MERCADO NOSSASENHORAAPARECIDA (Sizinando de Campos,
estabelecido em Figueira-PR) - notas 097 e 093, ENXOVAIS PRIMEIRO DE MAIO
(Adriana Soares de Oliveira Luz) - notas 025 e 018 ­ não são e nunca foram
fornecedores da ASSOCIAÇÃO WESLEYANA;
7) inclusive a nota fiscal 025 - Enxovais Primeiro de Maio está preenchida em nome de
outra associação - a ASSOCIAÇÃO CRISTÃ LAR DONA NENÊ;
7.1) e aqui não se trata apenas de um equívoco de juntada de um nota de uma
entidade na prestação de contas de outra, pois a presidente da mencionada
Associação Cristã, Sra. Neira Carmem Araújo da Silva, em depoimento prestado ao
Ministério Público, esclareceu que nunca se comprou qualquer mercadoria da loja
denominada Enxovais Primeiro de Maio, que nem sabe onde esta loja fica e que não
comprou os materiais que constam na nota fiscal n. 025, no valor de R$ 2.002,75
(como 100 sabões em pó Minerva, 100 Veja Multiuso, 100 Desinfetantes Sanitários,
100 amaciantes de roupas Fofo, etc.) esclarecendo que nem mesmo as roupas das
crianças atendidas pela Associação são lavadas na entidade, razão pela qual não teria
necessidade de adquirir esse material
7.2) bem pelo contrário, esse lapso dos falsários revelou que também a prestação de
contas de verbas desviadas de outras entidades também foram forjadas com notas
fiscais das mesmas empresas, coincidentemente, empresas para as quais FABIANO
DOS SANTOS era contador;
8) A empresa MUNHOZ & FERNANDESLTDA. (FARMÁCIA REUNIDAS) encerrou suas
atividades em maio de 2000, conforme informações prestadas pela Receita Estadual,
logo, não poderia ter realizado as vendas registradas nas notas fiscais n. 5606, datada
de 12/12/01 e n. 5604, datada de 19/10/01;
9) A empresa SIZINANDO DE CAMPOS (MERCADO NOSSA SENHORA APARECIDA)
encerrou suas atividades em outubro de 1997, conforme informado pela Receita
Estadual, logo, não poderia ter realizado as vendas registras nas notas fiscais n. 097,
datada de 19/12/01 e n. 093, datada de 17/10/0124;
10) A empresa ADRIANA SOARES DE OLIVEIRA LUZ (ENXOVAIS PRIMEIRO DE
MAIO) encerrou suas atividades em janeiro de 2001, conforme informado pela Receita
Estadual, logo, não poderia ter realizado as vendas registras nas notas fiscais n. 18,
datada de 17/10/01 e n. 025, datada de 21/12/0126;

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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

10.1) JAMES DA LUZ, marido de Adriana Soares de Oliveira Luz, e quem efetivamente
geria a empresa ENXOVAIS PRIMEIRO DE MAIO, prestou declarações ao Ministério
Público em duas oportunidades. Primeiro em 13/08/200227. Depois em 15/08/2002.
Nesta segunda ocasião, ele acabou esclarecendo que: “resolveu falar a verdade, que
não quer mais mentir e que não sabe porque acabou falando tudo o que disse da
primeira vez; que da primeira oportunidade o declarante acabou procurando Fabiano
dos Santos para saber do que se tratava a intimação que havia recebido do Ministério
Público; que Fabiano lhe convenceu a mentir nesta Promotoria pedindo ao declarante
que dissesse nesta Promotoria que a nota fiscal era de sua empresa e que realmente
havia sido expedida para a entidade de assistencialismo Associação Dona Nenê,
conforme se infere da mesma; que o declarante esclarece que Fabiano acabou lhe
dizendo que quem teria precisado das notas fiscais da empresa do declarante teria sito
o ex-Deputado Estadual Aparecido Custódio da Silva; que, no entanto, o declarante
agora esclarece que nunca emitiu nenhuma das notas fiscais da empresa Enxovais
Primeiro de Maio, de nQs025, 018, 013, 014, 109 e 021, nem tampouco nunca teve
material de limpeza para vender, conforme havia inventado antes; que na verdade não
sabe quem preencheu tais notas fiscais, todas, coincidentemente, no valor unitário de
R$ 2.002,75 (dois mil e dois reais e setenta e cinco centavos); que, como disse
anteriormente, sua empresa Enxovais Primeiro de Maio realmente estava parada,
sendo Fabiano dos Santos o contador da mesma e as notas fiscais da referida empresa
estavam de posse de Fabiano”.
11) as notas fiscais da FARMÁCIA REUNIDAS e da LOJA ANDERSEN, embora de
empresas diferentes, apresentam a mesma caligrafia, indicando que foram preenchidas
por uma única pessoa;
12) todas as notas fiscais apresentadas ao Tribunal de Contas são de empresas para
os quais FABIANO DOS SANTOS trabalhava como contador;
13) SHIRlENE DA SIlVA, dona do estabelecimento comercial LOJA ANDERSON nas
declarações que prestou ao Ministério Público, em 23/09/200230 e 26/09/2002,
esclareceu que as notas de sua empresa que foram apresentadas na prestação de
contas ao TC-PR, são notas “frias”. Vejamos o teor do seu depoimento: “a declarante
é proprietária da loja Anderson há cerca de cinco anos aproximadamente; que o
contador da loja da declarante é a pessoa de Fabiano dos Santos; que na loja da
declarante ficam ela, seu marido e seu filho; que a declarante vende produtos
importados, como baldes, bacias, tapetes, no sistema de “tudo por R$ 1,99”,
variando, às vezes, com produtos no valor apenas um real, mas em média, quase tudo
no valor de um real e noventa e nove centavos; que apenas perto do Natal e dia das
Crianças é que insere produtos mais caros; que também vende material escolar,
também no valor de R$ 1,99 (um real e noventa e nove centavos) a unidade; que
também vende kits escolares como bolsa; que a declarante vende os kits escolares,
mas não no valor de R$ 25,00 (vinte e cinco reais) a unidade; que a declarante informa
que as vendas que constam das notas fiscais n. 189 e 175, encartadas nos presentes
autos, estão muito altos, caros, e não foram vendidos pela empresa da declarante; que
a declarante informa que Fabiano dos Santos também trabalhou em política para o
Deputado Custódio da Silva; que a declarante acha que Fabiano, como era seu
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

contador também, deve ter utilizado notas fiscais da empresa da declarante, sem seu
consentimento; que a declarante esclarece que suas vendas são de valores baixos, em
torno de dez reais por venda, sendo que o máximo que chega é em torno de cento e
poucos reais; que não vende valores como os das notas fiscais nºs 189 e 175, ou seja,
não emite notas fiscais em valores unitários em torno de R$ 2.000,00 (dois mil reais)
cada, até porque, como dito, jamais efetuou vendas nestes valores; que inclusive,
compulsando as referidas notas, cujas cópias estão encartadas nos autos em tela, a
declarante informa que não sabe de quem é a letra, podendo afirmar que não é sua,
nem de seu marido, nem tampouco de seu filho de nome Anderson.
A declarante afirma que aproximadamente em abril/maio do ano passado (2001) foi
solicitada a confecção de blocos de notas fiscais ao contador Fabiano dos Santos, as
quais encontravam-se em poder do mesmo (...) que a declarante esclarece que do
bloco de notas em uso, de Nº 04 Série D-l, NF’s numeradas de 151 a 200, a primeira
nota fiscal foi emitida em 10.08.2002 e a última, de número 160, em 15.09.2002; que
soube, porém no dia 23 último, que as notas de nº 175 e 189 foram usadas em
falsificações destinadas a favorecer o Vereador CUSTÓDIO em ilícitos na Câmara
Municipal, inclusive com datas falsas anteriores, do ano de 2001; que ao conferir o
antedito bloco, constatou que das 3 vias constantes para cada nota fiscal, apenas
encontravam-se 2 vias relativas às NF’s 175 e 189, sendo a via faltante a primeira, de
coloração branca, que normalmente é destinada ao consumidor; que a declarante
afirma que na Loja em que trabalha junto com seu marido e seu filho não haveria
possibilidade de extravio, uma vez que somente estes é que atuam junto à mesma,
bem como tomam os cuidados de praxe com documentação; que acrescenta residir
no mesmo endereço do comércio, bem como possui alarme nas dependências; que
tem certeza, portanto, que o bloco veio irregular do contador Fabiano dos Santos”.
Em face do exposto, conclui-se que FABIANO DOS SANTOS e APARECIDO
CUSTÓDIO DA SILVA, empregando fraude, desviaram R$ 19.500,00 (dezenove mil e
quinhentos reais), que a ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO PARANÁ destinou à
ASSOCIAÇÃO E ASSISTÊNCIA SOCIAL WESLEVANA DA VILA SÃO PEDRO, e se
apropriaram indevidamente destes recursos, enriquecendo-se ilicitamente.
2. ASSOCIAÇÃO CRISTÃ LAR DONA NENÊ - desvio de R$ 19.500,00 (dezenove mil e
quinhentos reais) - o mesmo golpe foi praticado contra outra associação de filantropia,
a ASSOCIAÇÃO CRISTÃ LAR DONA NENÊ, para a qual a Assembléia Legislativa do
Estado do Paraná destinou, no exercício financeiro de 2001, em verbas de subvenção
social, a quantia de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), por indicação do então Deputado
Aparecido Custódio da Silva. Contudo, FABIANO DOS SANTOS e APARECIDO
CUSTÓDIO DA SILVA só entregaram à entidade R$ 500,00 (quinhentos reais), ficando
com os outros R$ 19.500,00 (dezenove mil e quinhentos reais).
O modus operandi foi o mesmo.
FABIANO DOS SANTOS assediou a Presidente da ASSOCIAÇÃO CRISTÃ LAR DONA
NENÊ, Sra. NEIRA CARMEM ARAÚJO DA SILVA, por volta de outubro ou novembro
de 2001 e, oferecendo verbas de subvenção social do Deputado APARECIDO
CUSTÓDIO, solicitou cópia da documentação da entidade.

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Uma semana depois, FABIANO telefonou para a Sra. NEIRA informando que já tinha
feito um depósito de R$ 500,00 (quinhentos reais) diretamente na conta da
ASSOCIAÇÃO CRISTÃ LAR DONA NENÊ, no Banco Itaú, Agência 3834 (Portão), conta
corrente 08380- 4. 34.
Ocorre que o Deputado APARECIDO CUSTÓDIO obteve da Assembléia Legislativa
do Estado do Paraná a quantia de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) para ser destinada
integralmente à ASSOCIAÇÃOCRISTÃLAR DONA NENÊ, conforme cópia dos cheques
e informações prestadas pela Diretoria Financeira da Assembléia Legislativa, quais
sejam: o cheque 718123, da conta 0261303 do banco 38 (Banestado), datado de 28
de novembro de 2001, no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), e o cheque 718832, da
mesma conta, datado de 18 de dezembro de 2001, no valor de R$ 10.000,00 (dez mil
reais) .
Contudo, CUSTÓDIO e FABIANO entregaram à ASSOCIAÇÃO CRISTÃ LAR DONA
NENÊ apenas R$ 500,00 (quinhentos reais) à entidade, de modo que se apropriaram
indevidamente dos outros R$ 19.500,00 (dezenove mil e quinhentos reais).
A microfilmagem dos cheques, depois de liquidados, mostra que o cheque 718832 foi
saldado mediante aposição de carimbo e assinatura falsa no seu verso, como se
tivesse sido endossado por representante legal da ASSOCIAÇÃO CRISTÃ LAR DONA
NENÊ.
O cheque 718123 foi pago, ao que consta, sem endosso.
Para dissimular o golpe, FABIANO DOS SANTOS confeccionou e apresentou ao
Tribuna de Contas prestação de contas forjada, instruída com notas fiscais falsas,
coincidentemente, das mesmas empresas FARMÁCIA REUNIDAS (Munhoz &
Fernandes Ltda.), LOJA ANDERSON (Shirlene da Silva), MINI MERCADO NOSSA
SENHORA APARECIDA (Sizinando de Campos), ENXOVAIS PRIMEIRO DE MAIO
(Adriana Soares de Oliveira Luz).
Em face do exposto, conclui-se que FABIANO DOS SANTOS e APARECIDO
CUSTÓDIO DA SILVA, empregando fraude, desviaram R$ 19.500,00 (dezenove mil e
quinhentos reais), que a ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO PARANÁ destinou à
ASSOCIAÇÃO CRISTÃ LAR DONA NENÊ, e se apropriaram indevidamente destes
recursos, enriquecendo-se ilicitamente.
3. ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO À INFÂNCIA VOVÔ VITORINO - Desvio de R$
19.500,00 (dezenove mil e quinhentos reais).
Com relação ao desvio de verbas públicas destinadas à ASSOCIAÇÃO DE
PROTEÇÃOÀ INFÂNCIA VOVÔ VITORINO, o modus operandi variou um pouco,
porém mantendo a sua essência criminosa.
Em meados de maio ou junho de 2001, APARECIDO CUSTÓDIO DA SILVA
compareceu à ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO À INFÂNCIA VOVÔ VITORINO e se
comprometeu perante a Presidente desta, Sra. MARIA JULlA XAVIER RODRIGUES, a
ajudar financeiramente a entidade. Passado alguém tempo, FABIANO DOS SANTOS
procurou a Sra. MARIA JÚLlA XAVIER RODRIGUES e lhe disse que a ASSEMBLÉIA
LEGISLATIVA iria liberar verbas para serem divididas entre vinte associações, de modo
que cada mês a verba deveria sair em nome de uma determinada Associação. Assim,
para que todo mês todas as vinte associações recebessem, FABIANO e CUSTÓDIO
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adotariam o seguinte expediente: Pagar a cada associação vinte parcelas mensais de


R$ 500,00 (quinhentos reais).
Mas para que isso fosse possível, cada mês uma associação deveria assinar a
documentação como se tivesse recebido integralmente os R$ 10.000,00 (dez mil reais).
Sendo assim, FABIANO buscou a Sra. MARIA JÚLlA XAVIER RODRIGUES levou a até
a ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA, ocasião em que ela pegou o cheque de R$ 10.000,00
(dez mil reais), assinou no verso do cheque e o entregou a FABIANO.
De fato, segundo informou a Diretoria Financeira da Assembléia Legislativa do Paraná,
em 12 de junho de 2001 foi emitido o cheque 64510 da conta 2613-3 da agência 125
do Banestado, no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) em favor da ASSOCIAÇÃO
PROTEÇÃOA MATERN. E A INFANCIA VOVÔ VITORINO - CURITIBA.
A microfilmagem desse cheque, após compensação bancária, também revela que
este cheque foi sacado mediante endosso, formalizado mediante assinatura da Sra.
Maria Júlia Xavier Rodrigues em seu verso.
No dia seguinte, FABIANO voltou à ASSOCIAÇÃOVOVÔ VITORINO e entregou à Sra.
MARIA JÚLlA um cheque no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais) para ser sacado da
conta do Centro de Informações Políticas - entidade privada do Deputado
APARECIDO CUSTÓDIODA SILVA.
Ocorre que CUSTÓDIO e FABIANO não cumpriram o combinado e não repassaram
as outras 19 (dezenove parcelas) de R$ 500,00 (quinhentos reais) para a ASSOCIAÇÃO
VOVÔ VITORINO.
Procurado por MARIA JÚLlA, FABIANO “enrolou”, dizendo que a verba não havia
sido liberado, de modo que somente eram os R$ 500,00 (quinhentos reais) já pagos
que seriam destinados pelo Deputado CUSTÓDIO àquela entidade.
Assim, CUSTÓDIO e FABIANO se apropriaram indevidamente de R$ 9.500,00 (nove
mil e quinhentos reais), mediante desvio de verbas de subvenção social destinadas
pela ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO PARANÁ à ASSOCIAÇÃO VOVÔ VITORINO.
Contudo, houve continuidade delitiva e, assim, CUSTÓDIO e FABIANO conseguiram
desviar e se apropriar de mais R$ 10.000,00 (dez mil reais). É que, conforme informou
o Diretor Financeiro da ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA, outro cheque foi emitido à
entidade VOVÔ VITORINO, por indicação do Deputado APARECIDO CUSTÓDIO DA
SILVA: o de n. 717340, da conta 2613-3 da agência 125 do Banestado no valor de R$
10.000,00 (dez mil reais), datado de 04 de outubro de 2001.
Cheque este que foi sacado mediante inserção no seu verso, para fins de endosso, de
assinatura falsa da Presidente da Associação, Sra. MARIA JÚLlA.
Para ocultar o ilícito, os denunciados apresentaram ao Tribunal de Contas prestação
de contas forjada do uso dos R$ 20.000,00 (vinte mil reais) pela ASSOCIAÇAO VOVO
VITORINO. Esta prestação de contas está repleta de documentos e notas fiscais falsas.
Em depoimento prestado à Promotoria de Justiça, MARIA JÚLlA XAVIER RODRIGUES
afirmou que as assinaturas que constam da prestação de contas não são suas, isto é,
são falsificadas, o que fica patente ao observar a letra “J” de “Júlia” e a letra “R” de
“Rodrigues” em comparação com a assinatura presente no termo de declaração de fI.
376 e na cópia do seu documento de identidade - fI. 377.

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Disse também que a ASSOCIAÇÃOVOVÔ VITORINO não efetivou compras nas


LOJAS ANDERSOS (notas fiscais 171 e 173), nem na FARMÁCIA REUNIDAS (notas
fiscais n. 5601 e 5603), localizada em São José dos Pinhais, nem no MINI MERCADO
NOSSA SENHORA APARECIDA (notas fiscais 089 e 092), localizado na cidade de
Figueira, nem nos ENXOVAIS PRIMEIRO DE MAIO (notas fiscais 013 e 014).
Logo mediante estes expedientes fraudulentos, FABIANO DOS SANTOS e
APARECIDO CUSTÓDIO DA SILVA desviaram R$ 19.500,00 (dezenove mil e
quinhentos reais) de verbas públicas que a ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA destinou à
ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃOÀ INFÂNCIA VOVÔ VITORINO, delas se apropriando
ilicitamente.
É a acusação.
Em face do exposto, FABIANO DOS SANTOS e APARECIDO CUSTÓDIO DA SILVA
devem ser processados criminalmente pelo rito dos artigos 513 a 518 do Código de
Processo Penal, como incursos nas penas do artigo 312, caput e §1º, do Código Penal,
em continuidade delitiva (artigo 71 do Código Penal) e em concurso de agentes (artigo
29, caput e artigo 30 do Código Penal).”
Matérias Preliminares.
Nulidade do procedimento investigativo.
O Apelante Aparecido Custódio da Silva assevera pela impossibilidade do Ministério
Público presidir e conduzir inquérito policial, devendo ser declarada a nulidade do
procedimento investigativo, sendo o processo nulo desde sua essência.
No caso concreto, verifica-se que o Ministério Público vinculado à Promotoria de
Justiça e Proteção ao Patrimônio Público da Comarca de Curitiba, instaurou a Portaria
nº 015/2002 (mov. 1.2), a partir de notícia crime apresentada por Regina Lúcia Ruthes
Ribeiro Primo e Adauto Ribeiro Primo, representantes da Associação de Assistência
Social Wesleyana da Vila São Pedro de Curitiba, com o fim de promover diligências
visando à apuração dos fatos narrados pelos noticiantes acerca de peculato derivado
do desvio de verbas públicas de assistencialismo da Assembleia Legislativa do Estado
do Paraná.
A irresignação é descabida, porque o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do
Recurso Extraordinário nº 593.727/MG, assentou ser legítima a investigação de
natureza penal realizada pelo Ministério Público.
Neste sentido:
“É perfeitamente possível que o órgão do Ministério Público promova a colheita de
determinados elementos de prova que demonstrem a existência da autoria e da
materialidade de determinado delito. Tal conclusão não significa retirar da Polícia
Judiciária as atribuições previstas constitucionalmente, mas apenas harmonizar as
normas constitucionais (arts. 129 e 144) de modo a compatibilizá- las para permitir não
apenas a correta e regular apuração dos fatos supostamente delituosos, mas também
a formação da opinio delicti. O art. 129, inciso I, da CF, atribui ao Parquet a
privatividade na promoção da ação penal pública. Do seu turno, o CPP estabelece que
o inquérito policial é dispensável, já que o Ministério Público pode embasar seu
pedido em peças de informação que concretizem justa causa para a denúncia. Ora, é
princípio basilar da hermenêutica constitucional o dos ‘poderes implícitos’ segundo o
431

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

qual, quando a CF concede os fins, dá os meios. Se a atividade fim ‘promoção da ação


penal pública’ foi outorgada ao Parquet em foro de privatividade, não se concebe
como não lhe oportunizar a colheita de prova para tanto, já que o CPP autoriza que
‘peças de informação’ embasem a denúncia. Cabe ressaltar, que, no presente caso, os
delitos descritos na denúncia teriam sido praticados por policiais, o que, também,
justifica a colheita dos depoimentos das vítimas pelo Ministério Público.” (STF, HC
91.661, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, DJE 03.04.2009).
Ainda neste sentido, o seguinte precedente do Superior Tribunal de Justiça:
“PENAL E PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. 1. AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA.
INVESTIGAÇÃO REALIZADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. LEGALIDADE. RE
593.727/STF. 2. ILEGALIDADE NA COLHEITA DE PROVAS PELO MP. NÃO
VERIFICAÇÃO. ALEGAÇÕES RELATIVAS A OUTRO PROCESSO. EVENTUAIS
IRREGULARIDADES QUE NÃO CONTAMINAM A AÇÃO PENAL. 3. ORDEM
DENEGADA.
1. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Recurso Extraordinário n.
593.727/MG, assentou ser legítima a investigação de natureza penal realizada pelo
parquet. A legitimidade do poder investigatório do órgão é extraída da Constituição, a
partir de cláusula que outorga o monopólio da ação penal pública e o controle externo
sobre a atividade policial. Observância das hipóteses de reserva constitucional de
jurisdição.
2. Em suma, a colheita de elementos probatórios para informar uma ação penal não é
atividade exclusiva da polícia e sequer necessário seja precedida a ação penal de
investigações preliminares. Precedentes do STF e do STJ.
3. Além de o inquérito não ser procedimento obrigatório, eventual vício ocorrido
antes da propositura da ação penal constitui, em regra, mera irregularidade, que não
tem o condão de contaminá-la.
4. Ordem denegada.” (STJ, HC 312.046/AP, Rel. Ministro Reynaldo Soares da
Fonseca, Quinta Turma, DJe 19.05.2016).
Portanto, o pedido de nulidade não comporta acolhimento.
Cerceamento de defesa.
O Apelante Aparecido Custódio da Silva alega cerceamento de defesa, porque o
acesso aos autos 0031185- 45.2013.8.0013 de Pedido de Quebra de Sigilo não foi
disponibilizado, com violação ao princípio da ampla defesa e contraditório, devendo
ser decretada a nulidade do processo.
A pretensão não procede, porque o Juízo a quo, a fim de evitar arguição de nulidade,
solicitou informação acerca da disponibilização de acesso aos referidos autos (mov.
49.1) e conforme certidão proferida pela Chefe de Secretaria da 1ª Vara Criminal de
Curitiba, “o acesso aos defensores do denunciado Aparecido Custódio da Silva aos
autos de Pedido de Quebra de Sigilo nº 0031185- 45.2013.8.16.0013 se deu em data
de 06 de Abril de 2015, conforme seq. 56, em razão da petição constante da seq. 55
daqueles autos.” (mov. 50.1).
Ademais, a pedido da douta Procuradoria de Justiça, o CD contendo a quebra de
sigilo foi anexado aos autos (fls. 86) e pela mídia verifica-se que o acesso pela defesa

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ocorreu em 06.04.2015, motivo pelo qual não há que se cogitar em nulidade


processual.
Nulidade processual.
O Apelante Fabiano dos Santos assevera cerceamento de defesa, porque não foi
realizada perícia para averiguar a suposta falsificação de assinatura da presidente da
Associação Wesleyana, Sra. Maria Julia Ruthes, oposta no verso do cheque recebido,
vinculado à prestação e contas e balancete financeiro de 2001, devendo o processo
ser anulado e os autos remetidos ao primeiro grau para a realização da perícia.
A tese preliminar não admite amparo, porque a perícia não era imprescindível para o
reconhecimento da falsidade, haja vista que as assinaturas que constam nos
documentos de encaminhamento da prestação de contas ao Tribunal de Contas,
balancete financeiro e relação de pagamento, são de 30 e 31 de janeiro de 2002 (mov.
1.8) e a Sra. Maria Julia Ruthes faleceu em 21.12.2001, conforme certidão de óbito
anexada aos autos (mov. 1.8).
Ademais, a testemunha Regina Lucio Ruthes Ribeiro afirmou em Juízo que a
presidente da Associação Wesleyana era sua mãe Maria Julia Ruthes, que faleceu em
21.12.2001 e que decidiram procurar o Ministério Público em razão das falsificações de
assinaturas da sua mãe e que era tesoureira na época e não lembra de ter recebido um
centavo, menos ainda os R$500,00 (quinhentos reais).
Assim, a circunstância dos documentos possuírem data posterior à do óbito, em
conjunto com os depoimentos prestados nos autos, comprovam a falsidade das
assinaturas.
Rejeita-se, portanto, a tese preliminar.
Mérito.
O Apelante Aparecido Custódio da Silva alega que o único responsável pelos
supostos desvios é a pessoa do Sr. Fabiano dos Santos, pessoa que por longo período
foi responsável pela contabilidade e controle financeiro de seus assuntos. Afirma que
Fabiano dos Santos aproveitou-se da confiança e perpetrou os atos ilícitos, mas a
única conduta do Recorrente foi atender a sua solicitação e lhe indicar a assembleia
legislativa para que obtivesse ajuda a entidades que ele mesmo auxiliava.
Por outro lado, o Apelante Fabiano dos Santos assevera que sua participação ocorreu
pelo fato de querer ajudar as entidades assistenciais mencionadas nos autos, nunca
participou do desvio das verbas e sequer sabia da real intenção de Aparecido
Custódio da Silva de apropriar-se do numerário destinado às entidades.
Argumenta que agiu na boa-fé e que somente recebia pelas prestações de contas
que fazia, nunca foi servidor da Assembleia ou nomeado em comissão para tratar de
assuntos referentes às verbas assistenciais.
O tipo penal de peculato estabelece que:
“Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro
bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-
lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse
do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito

433

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próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de


funcionário.”
As versões dos Apelantes estão isoladas do conjunto probatório e a participação de
ambos nos delitos, em coautoria, extrai- se dos documentos anexos aos autos e dos
depoimentos dos representantes das entidades assistenciais prestados perante o
Ministério Público e em Juízo.
A materialidade e a autoria são derivados da portaria lavrada pelo Ministério Público,
da documentação proveniente do Tribunal de Contas do Estado do Paraná, dos
documentos anexados aos autos e da prova oral realizada nos autos.
Neste aspecto, Regina Lucio Ruthes Ribeiro asseverou em Juízo que:
“Regina Lucio Ruthes Ribeiro afirmou que a presidente da Associação Wesleyana era
sua mãe; que sua mãe faleceu no dia 21.12.2001; que tudo o que tinha sobre este
processo sumiu da Associação; que em maio chegou uma prestação de contas e
ficaram surpresos, porque o dinheiro não foi recebido pela associação; que Fabiano foi
contador da associação por muitos anos; que naquele momento Fabiano não era mais;
que abriram a prestação de contas e ficaram horrorizados, porque estavam fazendo
compras no dia que sua mãe estava no caixão; que decidiram procurar o Ministério
Público em razão da morte de sua mãe e das falsificações de assinaturas da mesma;
que procuraram o Ministério Público que atua na área do patrimônio público; que era
tesoureira na época e não lembra de ter recebido um centavo, menos ainda R$500,00
(quinhentos reais); que pelo caixa este dinheiro não passou; que esta prestação de
contas era do Tribunal de Contas; que a prestação de contas foi recusada e enviada
para o endereço, então foi parar na associação; que as assinaturas de sua mãe foram
falsificadas; que não tem conhecimento de terem sido procurados para receber algum
benefício pela Assembleia; que sua mãe não tinha relacionamento com as empresas
que forneceram notas fiscais; que Fabiano faltou com sua mãe, por serem amigos e da
mesma igreja; que as assinaturas de sua mãe, constantes da prestação de contas, são
falsas; que esta questão machuca toda a família, porque sua mãe doou a vida para a
associação; que nunca contatou o réu Aparecido; que sua mãe não contatou o
deputado Aparecido; que nunca tiveram qualquer relação com Aparecido; que nunca
foi ao gabinete de Aparecido; que Fabiano não era mais o contador da associação
dois ou três anos antes de sua mãe falecer; que isto foi uma surpresa para eles, porque
nunca contataram ninguém para receber auxílio; que ficou perplexa quando recebeu a
documentação da prestação de contas; e que não sabe se Fabiano era funcionário da
Assembleia Legislativa.”
A testemunha Neira Carmem Araújo da Silva, representante da Associação Cristã Lar
Dona Nenê, declarou em juízo que:
“Em um primeiro momento, quando Fabiano chegou na entidade, o fez com a
intenção de ajudar. Que Fabiano pediu documentos e depois sumiu; que
posteriormente chegou uma documentação; que foi ao Tribunal de Contas e constou
em certidão este valor que a entidade “nunca viu a cor”; que não recebeu nenhum
centavo; que Fabiano mora na região e procurou a entidade; que Fabiano nunca
prestou atendimento à entidade; que sua assinatura, assim como o papel timbrado da
entidade, foram falsificados; que as notas fiscais foram falsificadas; que o material que
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consta das notas fiscais nem é usado na creche; que não conheceu Aparecido; que
nunca teve contato com Aparecido; que Fabiano falou que trabalhava com Aparecido
e poderia conseguir uma ajuda para a creche; que teve apenas este contato com
Fabiano; que a entidade não recebeu nada; que confirma que suas assinaturas foram
falsificadas; que não sabe se Aparecido recebeu estas verbas para repassar para
entidades; e que não endossou nenhum cheque.” (grifamos)
Maria Julia Xavier Rodrigues, que presidia a Associação de Proteção à Infância Vovô
Vitorino, embora não tenha sido ouvida em Juízo, relatou perante a autoridade policial
que:
“(...) não é verdade que sua Associação tenha recebido os dez mil reais, como havia
dito anteriormente; que, em verdade, a declarante esclarece que o então Deputado
Estadual Aparecido Custódio da Silva realmente foi até sua Associação, ocasião em
que a declarante o indagou se ele não poderia ajudar; que realmente passado algum
tempo, Fabiano procurou a declarante para dizer que a Assembleia Legislativa iria
liberar uma verba de dez mil reais, e que tal verba seria dividida entre vinte
associações, sendo que cada mês a verba deveria sair em nome de determinada
associação, que o dinheiro seria de R$500,00 (quinhentos reais) mensais, cada mês
assinado uma verba total no valor de dez mil reais, mas, como dito, cada mês uma
associação deveria assinar a documentação como se tivesse recebido integralmente os
dez mil reais; que, assim, Fabiano foi buscar a declarante, pessoalmente, em sua
Associação e a declarante com ele foi até a Assembleia Legislativa, ocasião em que
pegou o cheque de dez mil reais e assinou no verso, entregando-o a Fabiano; que no
dia seguinte, Fabiano voltou à Associação da declarante, entregando-lhe um cheque
no valor de R$500,00 (quinhentos reais), sendo que tal cheque era de titularidade do
Centro de Informações Políticas, entidade privada do então Deputado Estadual
Aparecido Custódio da Silva (...) que a declarante somente recebeu estes R$500,00
(quinhentos reais), nada mais, e nem sabia que o valor total era de R$20.000,00 (vinte
mil reais), tendo assinado no verso somente um dos cheques e não os dois (...) que
somente assinou no verso do cheque n. 064540, sendo que as duas assinaturas no
verso do cheque n. 717340, apesar de uma ser parecida, não são suas e, assim, são
falsas; que mostrado à declarante a assinatura constante da prestação de contas de
sua entidade junto ao Tribunal de Contas, a declarante esclarece que também não é
sua, sendo falsa (...)”. (grifamos)
Cumpre observar também que na tentativa de encobrir os desvios dos valores que
deveriam ter sido encaminhados às entidades assistenciais, os acusados utilizaram
notas fiscais ilegais de empresas clientes do corréu Fabiano dos Santos.
Neste aspecto, a testemunha Shirlene da Silva declarou em Juízo que Fabiano era seu
contador e que foram usadas notas fiscais de sua empresa indevidamente.
Ainda, a testemunha James da Luz relatou em Juízo que Fabiano era seu contador e
que ele ficava com as notas fiscais e que não sabia o motivo pelo qual ele usou as
notas fiscais de sua firma.
A autoria dos delitos e o dolo ­ consciência e vontade de praticar o crime ­ em relação
ao Apelante Fabiano dos Santos, estão devidamente evidenciados nos autos, pois as
testemunhas informaram que ele comparecia nas entidades e oferecia verba
435

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assistencial da Assembleia Legislativa que seria viabilizada pelo então Deputado e


corréu Aparecido Custódio, recolhendo os documentos necessários e providenciando,
posteriormente, falsas prestações de contas ao Tribunal de Contas do Estado,
mediante notas fiscais ilegais de empresas para as quais exercia a função de contador.
Inadmissíveis, portanto, os pedidos de absolvição e desclassificação para a
modalidade culposa do delito de peculato formulados por Fabiano dos Santos.
Por outro lado, a autoria do Apelante Aparecido Custódio da Silva também é
incontroversa, haja vista que por intermédio da quebra de sigilo bancário (autos
0031185- 45.2013.8.16.0013) foram constatados dois depósitos, no valor de R$
10.000,00 (dez mil reais), realizados em 29.11.2001 e outro em 13.12.2001 na conta de
Aparecida Soares (mov. 1.22), empregada do acusado, utilizada como laranja para
dificultar o rastreamento, cujos valores e datas correspondem aos que deveriam ter
sido encaminhados à Associação Cristã Lar Dona Nenê em 29.11.01 (cheque n.
718123) e para a Associação Wesleyana em 12.12.2001 (cheque n. 718554).
Também foram encontrados três depósitos, no valor de R$10.000,00 (dez mil reais)
cada, nas datas de 12.06.2001, 09.08.2001 e 19.12.2001, na conta bancária da
empresa Centro de Informações Políticas Ltda., entidade privada de propriedade da
irmã e do cunhado do acusado, conforme cópia do contrato social anexado aos autos
(mov. 1.111), em valores idênticos aos que caberiam à Associação Vovô Vitorino em
12.06.2001 (cheque 064510), para a Associação Wesleyana em 09.08.2001 (cheque
065240) e para a associação Dona Nenê em 18.12.2001 (cheque 718832).
É importante registrar também que ao contrário do que alega o Apelante Aparecido
Custódio acerca de que nenhuma testemunha disse conhecê-lo, Maria Julia Xavier
Rodrigues, que presidia a Associação de Proteção à Infância Vovô Vitorino, relatou
perante a autoridade policial que “ (...) o então Deputado Estadual Aparecido
Custódio da Silva realmente foi até sua Associação, ocasião em que a declarante o
indagou se ele não poderia ajudar; que realmente passado algum tempo, Fabiano
procurou a declarante para dizer que a Assembleia Legislativa iria liberar uma verba de
dez mil reais, e que tal verba seria dividida entre vinte associações, sendo que cada
mês a verba deveria sair em nome de determinada associação, que o dinheiro seria de
R$500,00 (quinhentos reais) mensais”.
Com relação à coautoria, oportunas as ponderações consignadas na sentença
condenatória:
“Assim, a confirmação em Juízo dos indícios colhidos durante a fase investigatória
demonstra, estreme de dúvidas, que os acusados uniram-se no propósito de desviar
verbas do Poder Legislativo do Paraná.
Como bem apontado pela representante do Ministério Público, a proximidade entre
os réus ficou muito clara, assim como o trabalho prestado por Fabiano junto ao
gabinete de Aparecido na Assembleia Legislativa, tendo sido comprovado que o
primeiro procurava as entidades oferecendo uma verba pública que seria
disponibilizada pelo segundo, bem como que estas verbas não foram repassadas
integralmente a quem de direito.
Por outro lado, as prestações de contas enviadas ao Tribunal de Contas pelo corréu
Fabiano ­ acostadas aos autos ­ reforçam a parceria existente entre os acusados,
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restando nítido que os dois aproveitaram-se do cargo exercido por Aparecido para
locupletarem-se ilicitamente.
Ainda no que toca à participação do acusado Aparecido, a quebra de sigilo bancário
revelou dois depósitos feitos em conta de Aparecida Soares, empregada do então
deputado estadual, os quais correspondem aos valores que deveriam ter sido
entregues à Associação Cristã Lar Dona Nenê, dinheiro este que foi integralmente
sacado, assim como três depósitos feitos na conta da empresa Centro de Informações
Políticas LTDA, também correspondentes aos valores que caberiam às entidades
assistenciais.
Portanto, considerando todo o conjunto probatório, notadamente os depoimentos
testemunhais, as versões contraditórias dos réus e a cópia dos extratos bancários das
associações, assim como de empresa ligada aos acusados e de laranja utilizada para
concretizar os desvios, a negativa de autoria não pode vingar, sendo a condenação
dos acusados Aparecido Custódio da Silva e Fabiano dos Santos medida que se
impõe”.
Portanto, resta incontroverso que os Apelantes agiram com liame subjetivo, havendo,
desta forma, subsunção das condutas ao tipo penal de peculato, descrito no artigo
312, caput e § 1º, ambos do Código Penal, em continuidade delitiva, sendo
improcedente, portanto, a pretensão de reforma da sentença.
Dosimetria da pena.
Do crime continuado.
Com relação à dosimetria da pena, o Apelante Fabiano dos Santos argumenta que a
pena final no tocante a continuidade delitiva deve ser corrigida para ser utilizada a
proporção de 1/5 e não 1/4 conforme realizada na sentença.
Inicialmente, impende notar que o delito continuado evidencia-se quando o agente,
mediante mais de uma ação ou omissão, comete mais de um crime da mesma espécie
e as condições de tempo, lugar, maneira de execução e outros parâmetros
semelhantes fazem presumir a continuidade delitiva.
Neste aspecto, o Superior Tribunal de Justiça estabelece que: “Relativamente à
exasperação da reprimenda procedida em razão do crime continuado, é imperioso
salientar que esta Corte Superior de Justiça possui o entendimento consolidado de
que, cuidando-se do aumento de pena referente à continuidade delitiva, aplica-se a
fração de aumento de 1/6 pela prática de 2 infrações; 1/5 para 3 infrações; 1/4 para 4
infrações; 1/3 para 5 infrações; 1/2 para 6 infrações e 2/3 para 7 ou mais infrações”.
(AgRg no AREsp 398.516/RN, Rel. Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe
01.08.2016).
Assim, o pleito admite amparo, porque foram praticados três delitos em continuidade
delitiva, devendo ser a pena reduzida e aplicada, portanto, a fração de aumento de
1/5 pela prática das infrações evidenciadas nos autos.
A redução da reprimenda referente à continuidade delitiva estende-se a ambos os
acusados, nos termos do artigo 580 do Código de Processo Penal.
Quanto ao acusado Aparecido Custódio da Silva, verifica-se que a pena previamente
fixada em 04 (quatro) anos e 06 (seis) meses de reclusão e 37 (trinta e sete) dias-multa,
foi majorada em 1/4 pela continuidade delitiva, tornando-se definitiva em 05 (cinco)
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anos, 07 (sete) meses e 15 (quinze) dias de reclusão e 46 (quarenta e seis) dias-multa,


cada um no mínimo legal de 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo em vigor ao tempo
dos fatos.
Aplicando a fração de aumento de 1/5, a pena definitiva resta fixada em 05 (cinco)
anos, 04 (quatro) meses, 24 (vinte e quatro) dias de reclusão e 44 (quarenta e quatro)
dias-multa, mantendo o valor do dia-multa fixado na sentença.
Com relação ao acusado Fabiano dos Santos, verifica-
35
se que a pena previamente fixada em 03 (três) anos e 06 (seis) meses de reclusão e 25
(vinte e cinco) dias-multa, foi majorada em 1/4 pela continuidade delitiva, tornando-se
definitiva em 04 (quatro) anos, 04 (quatro) meses e 15 (quinze) dias de reclusão e 31
(trinta e um) dias- multa, cada um no mínimo legal de 1/30 (um trigésimo) do salário
mínimo em vigor ao tempo dos fatos.
Aplicando-se a fração de aumento de 1/5, a pena definitiva resta fixada em 04
(quatro) anos, 02 (dois) meses, 12 (doze) dias de reclusão e 30 (trinta) dias-multa,
mantendo o valor do dia-multa fixado na sentença.
Circunstância atenuante.
O Apelante Fabiano dos Santos alega que a pena deve ser reduzida em razão da
atenuante da primariedade.
A pretensão não admite acolhimento, porque não há previsão, no artigo 65 do
Código Penal, para atenuar a pena por ser o acusado primário e não houve
exasperação da pena por maus antecedentes e tampouco reincidência.
Restituição de valores.
O Apelante Fabiano dos Santos argumenta que deve ser reconhecida a inexigência
de restituição de valores, porque este assunto veio à tona somente com a sentença,
não tendo sido assegurada a ampla defesa, e também pelo fato de que não apropriou
quantia alguma, tendo sido os valores depositados na conta do réu Aparecido
Custódio da Silva.
O pedido não procede, porque a coautoria restou
36
evidenciada nos autos e a indenização pelo dano causado pelo crime constitui efeito
da condenação, motivo pelo qual não há que se cogitar em ofensa à ampla defesa e
tampouco em afastar a determinação de restituição prevista na sentença.
Nestas condições, nega-se provimento ao recurso interposto por Aparecido Custódio
da Silva e dá-se parcial provimento ao recurso interposto por Fabiano dos Santos,
estendendo-se os efeitos da redução da pena no que se refere ao crime continuado ao
acusado Aparecido Custódio da Silva, nos termos da fundamentação.
ANTE O EXPOSTO, acordam os Desembargadores integrantes da 2ª Câmara Criminal
do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar
provimento ao recurso interposto por Aparecido Custódio da Silva e dar parcial
provimento ao recurso de Fabiano dos Santos.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador Luís Carlos Xavier (com voto) e dele
participou o Desembargador José Maurício Pinto de Almeida e o Juiz Substituto em
Segundo Grau Marcel Guimarães Rotoli de Macedo.
438

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Curitiba, 1 de junho de 2017.


Des. Luís Carlos Xavier ­ Relator

2.3.19. RECEPTAÇÃO E USO DE DOCUMENTO FALSO – DESIGNIOS

AUTÔNOMOS – CONCURSO MATERIAL

APELAÇÃO CRIME - RECEPTAÇÃO E USO DE DOCUMENTO FALSO, EM

CONCURSO MATERIAL - ART.180, "CAPUT" (1º FATO) E ARTS. 304 C/C 297 (2º

FATO), NA FORMA DO ART. 69, TODOS DO CP - CONDENAÇÃO - RECURSO DA

DEFESA - PLEITO ABSOLUTÓRIO - DESCABIMENTO - RECEPTAÇÃO EVIDENCIADA -

CONJUNTO PROBATÓRIO HÁBIL A ENSEJAR UM DECRETO CONDENATÓRIO -

DOLO DO AGENTE - CIRCUNTÂNCIAS DO CASO QUE DEMONSTRAM A CIÊNCIA

DA ORIGEM ILÍCITA DO OBJETO - ELEMENTO SUBJETIVO DEMONSTRADO -

APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO - NÃO CABIMENTO -

IMPOSSIBILIDADE DE ABSORÇÃO DO DELITO DE USO DE DOCUMENTO FALSO

PELO CRIME DE RECEPTAÇÃO - DESÍGNIOS AUTÔNOMOS - CASO DE CONCURSO

MATERIAL - CONDENAÇÃO ESCORREITA - RECURSO DESPROVIDO.1. Somadas as

circunstâncias do caso à ausência de produção de provas pela defesa para

fundamentar o alegado desconhecimento da origem ilícita do bem, não restam

dúvidas de que o apelante praticou a receptação Apelação Crime nº 1.500.993-

12denunciada, sendo inaplicável o princípio in dubio pro reo.2. "A apreensão de bem

em poder do agente gera a presunção de culpabilidade pelo crime de receptação,

invertendo-se o ônus da prova, impondo-se justificativa convincente a respeito da

origem lícita do bem ou a demonstração clara acerca de seu desconhecimento" (TJPR

- 4ª Câm. Crim., AC 1261524-2, rel. Des. Carvilio da Silveira Filho, j. 23.07.2015).3.

Tendo em vista que os delitos de receptação e uso de documento falso foram

cometidos em contextos fáticos diferentes, com desígnios autônomos, inexiste

consunção, encontrando-se escorreita a aplicabilidade ao caso do concurso material

de crimes.

439

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(TJPR - 2ª C.Criminal - AC - 1500993-1 - Região Metropolitana de Maringá - Foro

Central de Maringá - Rel.: Luís Carlos Xavier - Unânime - J. 04.08.2016)

Inteiro Teor

Trata-se de Apelação interposta contra a sentença (mov. 79.1, autos nº 0023778-


39.2014.8.16.0017), que julgou procedente a denúncia para condenar o réu
Wellington Vinicius de Oliveira como incurso nas sanções dos arts. 180, caput (1º Fato)
e 304 (2º fato) c/c art. 297, na forma do art. 69, todos do Código Penal.
Para o crime de Receptação (art. 180, caput, do CP), foi fixada a pena definitiva em 01
(um) ano e 02 (dois) meses de reclusão e 11 (onze) dias-multa, no valor unitário de R$
24,13 (vinte e quatro reais e treze centavos). Posteriormente, “exclusivamente para fins
de fixação de regime inicial, DETRAIO do total da pena definitiva 06 (seis) meses e 04
(quatro) dias de reclusão” (fl. 111). Fixou-se o regime aberto, substituindo a pena
privativa de liberdade por “duas penas restritivas de direitos, consistentes em
prestação de serviços à comunidade pelo prazo da condenação (CP, art. 55), em
instituição a ser designada pelo Juízo da Execução e em prestação pecuniária,
restando esta fixada em R$ 788,00 (setecentos e oitenta e oito reais), cujo valor deverá
ser corrigido monetariamente a partir da fluência do prazo (dez dias) da intimação do
sentenciado para efetuar o pagamento em questão” (fl. 110).
Já no tocante ao crime de Documento Falso (art. 304 do CP), foi fixada a pena
definitiva em 02 (dois) anos e 04 (quatro) meses de reclusão e 11 (onze) dias-multa, no
valor de 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo à época dos fatos, no valor unitário de
R$ 24,13 (vinte e quatro reais e treze centavos). Posteriormente, “exclusivamente para
fins de fixação de regime inicial, DETRAIO do total da pena definitiva 06 (seis) meses e
04 (quatro) dias de reclusão” (fl.
110). Fixou-se o regime aberto, substituindo a pena privativa de liberdade por “duas
penas restritivas de direitos, consistentes em prestação de serviços à comunidade pelo
prazo da condenação (CP, art.
55), em instituição a ser designada pelo Juízo da Execução e em prestação pecuniária,
restando esta fixada em R$ 788,00 (setecentos e oitenta e oito reais), cujo valor deverá
ser corrigido monetariamente a partir da fluência do prazo (dez dias) da intimação do
sentenciado para efetuar o pagamento em questão” (fl. 111).
Em seguida, aplicou-se o concurso material de crimes (art. 69 do CP), restando a pena
totalizada em 03 (três) anos e 06 (seis) meses de reclusão e 22 (vinte e dois) dias-multa,
no valor de R$ 24,13 (vinte e quatro reais e treze centavos). Posteriormente,
“exclusivamente para fins de fixação de regime inicial, DETRAIO do total da pena
definitiva 06 (seis) meses e 04 (quatro) dias de reclusão” (fl.
112). Fixou-se o regime aberto, substituindo a pena privativa de liberdade por “duas
penas restritivas de direitos, consistentes em prestação de serviços à comunidade pelo
prazo da condenação (CP, art.
55), em instituição a ser designada pelo Juízo da Execução e em prestação pecuniária,
restando esta fixada em R$ 788,00 (setecentos e oitenta e oito reais), cujo valor deverá
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

ser corrigido monetariamente a partir da fluência do prazo (dez dias) da intimação do


sentenciado para efetuar o pagamento em questão” (fl. 112).
Inconformada, a defesa de Wellington Vinicius de Oliveira interpôs recurso de
apelação, e em suas razões (mov. 99.1), sustenta, quanto ao crime de receptação, que
deve ser absolvido, aplicando-se ao caso o princípio in dubio pro reo, uma vez que
inexistem nos autos elementos hábeis a demonstrar o dolo de receptar, bem como de
que o mesmo tivesse conhecimento de que se tratava de veículo de procedência
ilícita.
Ainda, afirma que o automóvel por ele adquirido na data dos fatos não apresentava
qualquer adulteração visível aos olhos, e que não o adquiriu por preço vil; que foi
vítima de um golpe, e que “apesar de conhecer de vista o sujeito que lhe vendeu o
veículo, o apelante não teria agido de forma dolosa, pois teria sido ludibriado e
enganado, por acreditar que o veículo estaria com a documentação em perfeito
estado” (fl. 124, mov. 99.1).
Na sequência, quanto ao crime de uso de documento falso, aduz que tal delito deve
ser absorvido pelo crime de receptação, aplicando-se o princípio da consunção.
A representante do Ministério Público do Estado do Paraná apresentou contrarrazões
(mov. 102.1), manifestando-se pelo conhecimento e desprovimento do recurso.
Nesta instância, a douta Procuradoria Geral de Justiça exarou parecer (fls. 15/25 ­ TJ)
no sentido de ser conhecido e desprovido o recurso da defesa.
É o relatório.
VOTO
Presentes os pressupostos de admissibilidade, é de se conhecer o recurso.
Recorre o réu Wellington buscando sua absolvição no tocante ao crime de
receptação, alegando que desconhecia a origem ilícita do veículo. Ainda, pugna seja o
delito previsto no art. 304 do CP absorvido pela receptação, afirmando que o uso de
documento falso se trata de conduta acessória.
Sem razão, todavia.
Quanto aos delitos pelos quais se viu o apelante condenado, há que se dizer que a
autoria e materialidade delitivas restaram devidamente demonstradas pelo Auto de
Prisão em Flagrante Delito (fls. 05/20-IP, mov. 1.4), Auto de Exibição e Apreensão (fls.
14/15- IP, mov. 1.6), Boletim de Ocorrência (fls. 26/36-IP, mov. 15.1), Laudo de Exame
Documentoscópico (mov. 28.1 autos 0023778- 39.2014.8.16.0017, fls. 28/29), Auto de
Entrega (mov. 47.1 autos 0023778-39.2014.8.16.0017, fls. 35/36), Laudo de Exame de
Veículo a Motor (mov. 47.1 dos mesmos autos, fl. 37), demais documentos juntados ao
mov. 47.1 (fls. 38 e ss,), bem como pela prova oral colhida no presente caderno
processual.
O apelante Wellington, na delegacia (mov. 1.7-IP, fls.
16/19), assevera:
“A respeito dos fatos, perguntado de quem comprou o carro apreendido em sua
posse, respondeu que trocou um carro que lhe pertencia, um veículo Gol, pela
camioneta Tucson com a pessoa de Valmir, o qual conheceu na pedra há cerca de dois
ou três meses.

441

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Informa que Valmir é de Campo Mourão, mas não sabe prestar maiores informações
sobre ele. Informa que não pagou diferença pelo veículo, pois sabia que era
financiado, e sua intenção era usar o carro e não pagar mais prestações, sendo que os
documentos também foram fornecidos por Valmir. Informa que desconhecia que o
chassi do veículo, após consultado, dá em pertence a um veículo roubado em Curitiba,
sendo que nega ter sido o responsável por romper o lacre, pois alega que quando
comprou o carro não observou se o lacre estava rompido, bem como nega que tenha
sido o responsável por dobrar as placas. Alega que como desconhecia que o veículo
era roubado, quando apresentou os documentos aos policiais, acreditava que tais
documentos eram verdadeiros, pois desconhecia que o chassi do carro apreendido
não pertence de fato às placas que estão instaladas nele. Finalmente, informa que
tinha conhecimento do mandado de prisão expedido contra o interrogado em uma
acusação de homicídio”.
Em juízo, tal como trazido na sentença, às fls.
102/103 (mov. 79.1), o recorrente Wellington disse:
“Que comprou o veículo mencionado na Denúncia no local conhecido como `pedra’,
nesta cidade e Comarca de Maringá, e acabou trocando seu antigo veículo na Tucson,
não sabendo que a documentação estava irregular. Afirmou, além disso, que não sabia
que as placas estavam dobradas e que foi informado de tal situação pelos policiais
civis quando lhe abordaram em sua residência, conforme se verifica dos termos
adiante: `Que tinha um gol e acabou trocando na Tucson; que acabou assumindo
algumas parcelas, porque era financiada; que no decorrer dos dias, o antigo dono iria
acertando as parcelas; que estava comprando os direitos da caminhonete; que não
tinha conhecimento que ela tinha alterações nas placas e chassis; que não levou para
lugar nenhum para fazer perícia; que iria ser feito depois, quando da transferência; que
viu a placa dobrada quando os policiais bateram na porta; que o lacre estava rompido;
que tem vinte e oito anos; que não é casado e tem dois filhos; que não usa drogas;
que estava trabalhando com encanamentos; que um ex-funcionário do acusado, o
Fábio Badaró, foi acusado de homicídio; que na noite desse homicídio estava em uma
boate, ele passou pelo local e algumas pessoas até viram; que ele trabalhava com o
acusado; que está nos autos que foi uma briga de posto; que está respondendo
processo por esse homicídio; que comprou esse carro na `pedra’; que não se lembra
do nome do rapaz de quem comprou; que trocou em outro carro; que trocou nos
direitos dela; que o gol valia em torno de treze mil; que queriam quinze mil reais pelos
direitos e terminar de assumir as parcelas; que era para dar três mil de troca; que
dentro de dois a quatro meses ficou com esse carro; que no dia em que foi preso a
caminhonete estava estacionada na rua; que o carro passou a noite na rua; que
quando chegou, as placas não estavam entortadas; que estava na fazenda; que fazia
pouco tempo que estava morando naquele local; que a placa estava com lacre, mas
não tinha puxado para ver se estava normal; que comprou o carro sem fazer vistoria e
depois não tinha feito ainda; que os documentos estavam dentro da caminhonete no
quebra sol e a chave estava dentro da sua casa; que atendeu os policiais sem
problemas; que foi dirigindo até a delegacia”.

442

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Por sua vez, o Investigador de polícia Allan Deivis Pinto de Moraes, na delegacia
(mov. 1.5-IP, fls. 08/10), afirmou:
“Que (...) na data de hoje estava em diligência da Delegacia de homicídios, quando
por volta das 11h00min foi abordado por um popular relatando que havia um veículo
estacionado, com as placas dobradas e muito sujo, o que achou muito suspeito; Que o
Depoente diz que foi até o local informado pelo popular (Av. Paranavaí, 510, Zona 05,
Maringá/PR), sendo que encontrou o veículo I/HYUNDAI TUCSON GL 2.0 L, placas
AQP, sendo que verificou que as placas realmente estavam dobradas e com o lacre
rompido; Que o Depoente diz que questionou os vizinhos do local se sabiam quem
era o proprietário do veículo, sendo que foi informado que o proprietário residia
naquele endereço, em uma casa dos fundos na sobreloja; Que o Depoente diz que
enquanto seu parceiro MARCELO DA SILVA GANCEDO foi verificar o proprietário do
veículo, o Depoente ficou com o veículo e ligou para esta 9ª SDP para que checassem
a placa do veículo, momento em que foi informado que a numeração da placa não
batia com a numeração do chassi gravado nos vidros do veículo; Que o Depoente diz
que o proprietário do veículo foi identificado como sendo WELLINGTON VINICIUS DE
OLIVEIRA, sendo que ao ser questionado sobre a procedência do veículo, este disse
que havia comprado na `pedra’, não mencionando a pessoa de quem adquiriu; disse
que tinha um GOL 2002, tendo trocado pela TUCSON, mas não informou o valor; Que
o Depoente diz que WELLINGTON apresentou um documento que ele dizia ser do
veículo, mas que nesta delegacia, ao verificar tal documento, foi constatado que o
número do chassi bateu com o de um veículo roubado na cidade de Curitiba/PR,
conforme o BO 2014/535842; Que o Depoente diz que a placa que estava no veículo
é AQP-1945, mas esta placa é de um veículo do mesmo modelo, porém, com chassi
diferente, desta forma, aparentando o carro ser clonado; Que o Depoente diz que o
documento apresentado por WELLINGTON possui dados falsificados, tendo em vista
que o chassi constante no documento não é referente ao veículo de placa AQP- 1945,
como consta no documento; Que o Depoente diz que o chassi constante no
documento apresentado por WELLINGTON é do veículo de placas AVA-3113,
roubado na cidade de Curitiba/PR, como dito anteriormente; Que o Depoente diz que
diante dos fatos deu voz de prisão a WELLINGTON VINICIUS DE OLIVEIRA e o
encaminhou a esta 9ª SDP para prestar esclarecimentos; Que o Depoente diz ainda
que WELLINGTON possui mandado de prisão preventiva por homicídio em aberto,
mas este não foi cumprido até o presente momento, tendo em vista a Lei Eleitoral,
mas que será oportunamente cumprido”.
Em idêntico sentido se apresentam as palavras do sobredito policiai na fase judicial,
como se vê do d. Parecer ministerial de 2º Grau (fls. 20 e ss.):
“O investigador da polícia civil ALLAN DEIVIS PINTO DE MORAIS disse em juízo: `que
estavam fazendo diligências para localizar uma motocicleta na zona sete; que um
veículo parou e falou que viu um carro na Avenida Paranavaí que estava muito sujo de
barro e com a placa dobrada; que chegaram a ver a foto no celular; que chegaram no
local e viram esse carro parado, com placa dobrada e bem sujo; que começaram a
perguntar no comércio quem era o proprietário do veículo; que informaram que o
dono morava em um apartamento `da escada’; que enquanto ficou verificando o
443

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veículo, ligando para a delegacia para consultar placa e chassi, o investigador Marcelo
subiu e bateu à porta do acusado, e perguntou se o veículo era desse; que o acusado
falou que sim e pegou o documento do carro que estava dentro do veículo; que
quando verificou na delegacia, a placa estava regular, mas não coincidia com o chassi
marcado no vidro; que já começaram a achar estranho; que o lacre estava rompido;
que levaram o carro até a delegacia junto com Vinicius; que quando chegaram para
verificar o chassi, o carro estava marcado como sendo furto ou roubo na cidade de
Curitiba; que no nome do acusado constava um mandado de prisão em aberto por
homicídio; que fora a placa que estava irregular também; que já conhecia o acusado
por conta do homicídio; que o acusado falou que comprovasse veículo na `pedra’; que
não sabia quem tinha lhe vendido o veículo; que não se recorda se ele disse quanto
pagou; que o acusado tinha um documento, mas a placa que constava não batia com
o chassi; que foi feito um clone; que colocaram a placa de um veículo que não tinha
queixa de furto ou roubo, mas não substituíram no documento a numeração do chassi;
que no documento continuou com a numeração do chassi do carro roubado, mas a
placa do carro quente; que foi esse documento apresentado; que essa Tucson tinha
registro de roubo/furto na cidade de Curitiba; que constataram no sistema pelo
número do chassi; que pediram para o acusado esse documento, o qual pegou dentro
do veículo; que o acusado foi até delegacia conduzindo o veículo (...)’.
No mesmo sentido foi o depoimento prestado em juízo pelo investigador da polícia
civil MARCELO DA SILVA GANCEDO: `que naquele dia tinha saído para fazer
investigação de um homicídio; que estavam andando com a viatura na região da zona
sete, na rua Rui Barbosa; que foram parados por uma pessoa que estava passando de
carro e informou que na Avenida Paranavaí tinha um carro Tucson com as placas
dobradas; que deslocaram-se até lá e verificaram que este carro realmente estava com
as placas dobradas; que conversando com os vizinhos foram informados que o
proprietário do veículo morava em uma sobreloja; que bateram palmas e pediram para
que ele apresentasse os documentos do carro; que pegaram o documento,
desdobraram as placas na frente, ligaram para a central e verificaram que a numeração
do vidro do chassi não estava batendo com a documentação; que diante disso o
conduziram até a delegacia e descobriram que tinha um mandado de prisão em
desfavor dele, e que esse carro havia sido roubado ou furtado na região de Curitiba;
que o acusado tinha mandado de prisão por envolvimento em um homicídio; que não
o conhecia de outras ocorrências; que o réu alegou que comprara o automóvel na
`pedra’; que trocou o carro naquela `pedra’, sabendo que o cara era enrolado; que
sabia que o carro tinha problema, mas não sabia quais; que chegou a confessar que o
carro estava com prestações atrasadas; que o documento a princípio parecia ser
original, mas foi verificada depois a adulteração; que o acusado não soube explicar o
motivo de as placas estarem dobradas; que o acusado falou que alguém deve ter
passado e dobrado a placa; que as placas estavam sem o lacre e dobradas’ (fl. 72)”.
Ao que se vê, a justificativa de que o sentenciado Wellington não sabia que o veículo
tinha origem ilícita não prevalece, até porque o mesmo sequer fez qualquer prova de
suas alegações. Suas declarações prestadas nos autos, além de fantasiosas, encontram

444

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inúmeros pontos controversos, sendo estas, pois, insuficientes a elidir sua


responsabilidade criminal.
O fato de ter adquirido o veículo descrito na denúncia de uma maneira bastante
informal, em um local no qual há comércio de automóveis de procedência duvidosa, e
por um valor bem abaixo do preço de mercado, aliado ao conjunto probatório deste
caderno processual, gera a presunção de sua responsabilidade, sendo-lhe exigida uma
justificativa inequívoca acerca da procedência do bem, não tendo o mesmo, pois, se
desincumbido do ônus de provar não ter sido o autor do crime de receptação, não
restando dúvidas acerca do dolo do acusado.
Diante do quadro fático, a negativa de autoria não encontra o mínimo respaldo, haja
vista que ninguém seria tão ingênuo a ponto de comprar um automóvel de uma
pessoa que mal conhece, e ainda, nas condições as quais adquiriu referido veículo,
sem ao menos desconfiar que havia algo de errado neste contexto todo.
Por certo que um homem médio, nas mesmas condições, com base em sua
experiência de vida comum, desconfiaria da situação ora aventada. Não se infere dos
autos que se trate o denunciado de pessoa inocente e despreparada, capaz de ser
iludido tão facilmente, razão por que a conduta deste denota que sabia muito bem o
que adquiria. A surrada versão de que não tinha ciência sobre a origem ilícita do
automóvel e o desconhecimento de que o certificado de licenciamento que
apresentou aos policiais se tratava de documento falso é absolutamente descabida,
restando em palavra isolada, dissociada de todos os demais elementos probantes
coligidos nos autos, tendo subsistido em explicações desprovidas de nexo, no claro
desígnio de impedir a apuração da verdade.
A propósito, cumpre trasladar excerto da narrativa muito bem lançada pelo ilustre
Procurador de Justiça:
“De fato, trata-se de uma caminhonete avaliada em mais de trinta mil reais que
supostamente foi negociada por quinze mil reais. Inclusive, o acusado afirma que
sequer sabe o nome do vendedor, muito embora alegue ter assumido as parcelas do
veículo que ainda estava financiado. Ainda, o próprio apelante afirmou em sede
inquisitorial (fls. 16/19) que sabia que o veículo era financiado e sua intenção era usá-lo
sem pagar as prestações, bem como o policial Marcelo declarou que o réu confessara
na delegacia que `sabia que o veículo era enrolado, que tinha problemas mesmo’, o
que demonstra que o réu agiu dolosamente. Ademais, quando apreendido, o
automóvel estava com placas de outro carro e dobradas ­ isso reforça que o réu sabia
que o carro era proveniente de crime, tanto que buscou evitar fiscalizações” (fl. 22).
Como é cediço, nos delitos de receptação, nos quais o tipo subjetivo é de difícil
aferição, é assente na jurisprudência o entendimento de que a apreensão de coisa
subtraída em poder do agente gera a presunção de sua responsabilidade, invertendo-
se o ônus da prova, impondo-se, assim, justificativa inequívoca se esta for dúbia e
inverossímil.
Já decidiu este Areópago;
“CRIME DE RECEPTAÇÃO (ARTIGO 180, `CAPUT’, DO CÓDIGO PENAL) ­
SENTENÇA CONDENATÓRIA ­ APELAÇÃO ­ PLEITO DE ABSOLVIÇÃO ­
MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS ­ CONJUNTO PROBATÓRIO
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SUFICIENTE PARA MATER A CONDENAÇÃO ­ SUPOSTA AUSÊNCIA DE DOLO ­


CIRCUNSTÂNCIAS E HISTÓRICO DO RÉU QUE COMPROVAM SUA CIÊNCIA
ACERCA DA ILICITUDE DO FATO ­ APELO DESPROVIDO.
1. A apreensão de bem em poder do agente gera a presunção de culpabilidade pelo
crime de receptação, invertendo-se o ônus da prova, impondo-se justificativa
convincente a respeito da origem lícita do bem ou a demonstração clara acerca de seu
desconhecimento” (4ª C.Criminal, AC 1261524-2, Rel. Carvilio da Silveira Filho, j.
23.07.2015).
“APELAÇÃO CRIME ­ RECEPTAÇÃO ­ CHEQUE ­ AUTORIA E MATERIALIDADE
COMPROVADAS ­ ABSOLVIÇÃO ­ IMPOSSIBILIDADE ­ INVERSÃO DO ÔNUS DA
PROVA ­ CIRCUNTÂNCIAS DO CASO EM CONCRETO QUE DEMONSTRAM A
CIÊNCIA DA ORIGEM ILÍCITA DO OBJETO ­ DOSIMETRIA ESCORREITA E NÃO
QUESTIONADA ­ SENTENÇA INTEGRALMENTE MANTIDA ­ RECURSO NÃO
PROVIDO.
A apreensão do bem subtraído em poder do agente ocasiona a presunção de sua
responsabilidade, operando- se a inversão do ônus probatório, cabendo a ele justificar
a sua posse” (3ª C.Criminal, AC 1316587-6, Rel. Gamaliel Seme Scaff, j. 14.07.2015).
Assim, pela prova amealhada, temos que o ânimo de adquirir bem proveniente de
ilícito encontra-se plenamente evidenciado quando da análise dos elementos trazidos
nos presentes autos.
Além disso, quanto ao crime previsto no art. 304 do CP, não há que se falar em
absolvição pela incidência do princípio da consunção à espécie.
Isto porque o apelante WELLINGTON, em um primeiro momento, adquiriu o veículo
que sabia se tratar de produto de crime e, em outra oportunidade, em contexto
completamente distinto, fez uso de documento falso quando abordado pelos policiais,
tratando-se, assim, de delitos autônomos.
Não restam dúvidas que ambos os delitos foram praticados em momentos e
circunstâncias diversos, de modo que, no caso em apreço, a receptação não pode
absorver o crime de uso de documento falso.
Isto posto, considerando que os delitos em tese, foram cometidos em contextos
fáticos diferentes, com desígnios autônomos, inexiste consunção, devendo ser
aplicado ao caso o concurso material, conforme feito pela sentença.
Segundo destacado pela douta Procuradoria Geral de Justiça à fl. 24:
“(...) a tese de defesa não merece prosperar, visto que os fatos descritos na denúncia
e comprovados ao longo de toda a persecução penal se enquadram perfeitamente na
descrição típica do art. 304 do Código Penal.
Em breves palavras, aplica-se o princípio da consunção/absorção se um crime
constitui meio necessário ou fase normal (etapa) de preparação ou execução de outro
crime. Não é o que se depreende destes autos, pois as condutas ilícitas se deram em
contextos fáticos distintos e têm objetos diversos.
Com efeito, o crime de receptação se consumou no momento em que o apelante
adquiriu o veículo que já era produto de roubo anterior. Posteriormente, acreditando
que poderia se esquivar de sua responsabilidade penal, o acusado apresentou durante
a abordagem policial o Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo falsificado
446

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(conforme atestado no Laudo de Exame Documentoscópico às fls. 28/29), cometendo


o delito de uso de documento falso, conduta independente em relação ao crime
anterior.
Assim, incabível a absorção pleiteada” (fl. 24).
Nessa toada, merecem destaque os precedentes jurisprudenciais:
“APELAÇÃO CRIMINAL ­ RECEPTAÇÃO E ADULTERAÇÃO (ARTS. 180 E 311 DO
CÓDIGO PENAL) ­ CONDENAÇÃO DO RÉU SEBASTIÃO POR AMBOS OS CRIMES ­
CONDENAÇÃO DO RÉU VAGNER POR ADULTERAÇÃO E ABSOLVIÇÃO POR
RECEPTAÇÃO ­ PLEITO ABSOLUTÓRIO ­ ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE LASTRO
PROBATÓRIO ­ INOCORRÊNCIA ­ AUTORIA E MATERIALIDADE DEVIDAMENTE
COMPROVADAS ­ APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO ­ NÃO
ACOLHIMENTO ­ ADULTERAÇÃO NÃO CONSTITUI FASE REGULAR PARA A
PRÁTICA DA RECEPTAÇÃO ­ FIXAÇÃO DO CONCURSO FORMAL ­ NÃO
ACOLHIMENTO ­ HIPÓTESE EVIDENTE DE CONCURSO MATERIAL ­ DUAS
CONDUTAS RESULTANTES E DOIS CRIMES DISTINTOS ­ AFASTAMENTO DA
CIRCUNSTÂNCIA DE MAUS ANTECEDENTES ­ NÃO ACOLHIMENTO ­
CIRCUNSTÂNCIA NÃO APLICADA ­ ALTERAÇÃO DO REGIME INICIAL DE
CUMPRIMENTO DE
17
PENA DO FECHADO PARA O SEMIABERTO ­ SUPERIOR A QUATRO ANOS ­
SENTENÇA MANTIDA ­ RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO” (TJPR, 2ª
C.Criminal, AC 1248608-5, Rel. Roberto Antônio Massaro, J. 06.08.2015).
“APELAÇÃO CRIMINAL ­ CONDENAÇÃO ­ RECEPTAÇÃO E USO DE DOCUMENTO
FALSO (ART. 180, CABEÇA E ART. 304 C/C ART. 297, CABEÇA) (TRÊS VEZES) ­
RECURSO ­ JUÍZO DE PRELIBAÇÃO POSITIVO ­ AUTORIA E MATERIALIDADE NÃO
QUESTIONADAS ­ PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO ­ PLEITO DE ABSORÇÃO DO
DELITO DE USO DE DOCUMENTO FALSO PELO CRIME DE RECEPTAÇÃO ­
IMPOSSIBILIDADE ­ DESÍGNIOS AUTÔNOMOS ­ INEXISTÊNCIA DE NEXO DE
DEPENDÊNCIA ENTRE OS CRIMES ­ SENTENÇA MANTIDA ­ RECURSO
CONHECIDO, TODAVIA, NO MÉRITO, NÃO PROVIDO.
1. Em não sendo o uso de documento falso meio necessário à prática de receptação,
não há que se falar em aplicabilidade do princípio da consunção, pois para isso é
necessário que os crimes tenham um nexo de subordinação entre si, o que não se
verifica. Portanto, deve o réu responder por ambos os crimes” (TJPR, 5ª C.Criminal, AC
970382-6, Rel. Rogerio Etzel, J. 14.03.2013).
Nestas condições, nega-se provimento ao recurso, nos termos da fundamentação,
mantendo-se a r. sentença por seus
18
próprios e jurídicos fundamentos.
ANTE O EXPOSTO, acordam os Desembargadores integrantes da 2ª Câmara Criminal
do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar
provimento ao recurso.

447

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O julgamento foi presidido pelo Desembargador Luís Carlos Xavier (com voto) e dele
participaram o Desembargador Roberto de Vicente e o Juiz Substituto Segundo Grau
Marcel Guimarães Rotoli de Macedo.
Curitiba, 04 de agosto de 2016.
Des. Luís Carlos Xavier - Relator

2.3.20. MAUS ANTECEDENTES – CRIME ANTERIOR COM TRÂNSITO EM

JULGADO POSTERIOR

APELAÇÃO CRIMINAL - EMBRIAGUEZ AO VOLANTE E DIREÇÃO INABILITADA

(ARTS. 306 E 309, AMBOS DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO, C/C ART. 69 DO

CÓDIGO PENAL) - PROCEDÊNCIA DA DENÚNCIA - APELO DA DEFESA - 1. PLEITO

ABSOLUTÓRIO - INVIABILIDADE - PROVAS SUFICIENTES A DEMONSTRAR A

PRÁTICA DOS FATOS - TESTEMUNHO DE POLICIAIS - VALIDADE E RELEVÂNCIA -

CRIME PREVISTO NO ART. 306 PRATICADO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 12.760/2012 -

POSSIBILIDADE DE AFERIÇÃO DA EMBRIAGUEZ POR OUTROS MEIOS DE PROVA -

AGENTE QUE VEIO A COLIDIR COM OUTRO VEÍCULO QUE TRAFEGAVA NA VIA,

GERANDO PERIGO DE DANO - 2. AFASTAMENTO DAS SANÇÕES DO ART. 309, DO

CTB - DELITO QUE É ABSORVIDO PELO TIPIFICADO NO ART. 306 DO MESMO

CÓDIGO - INCIDÊNCIA DA AGRAVANTE DO ART. 298, III, DO CTB - SENTENÇA

REFORMADA NESTE ASPECTO - 3.PENA-BASE - FIXAÇÃO ACIMA DO MÍNIMO

LEGAL DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA, RESTANDO ATENDIDO O PRINCÍPIO DA

PROPORCIONALIDADE E Apelação Crime nº 1.600.966-62RAZOABILIDADE. 3.1.

MAUS ANTECEDENTES - UTILIZAÇÃO DE CONDENAÇÕES POR FATOS

ANTERIORES COM TRÂNSITO EM JULGADO POSTERIOR - POSSIBILIDADE - 4.

PENA PROVISÓRIA - REINCIDÊNCIA - AFASTAMENTO - CONDENAÇÃO POR FATO

ANTERIOR, COM TRANSITO EM JULGADO POSTERIOR, QUE CARACTERIZA MAU

ANTECEDENTE - 5. PENA DE MULTA AO DELITO PREVISTO NO ART. 306 DO CTB -

REDUÇÃO, DE OFÍCIO - 6. DEFERIMENTO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS EM

RAZÃO DA APRESENTAÇÃO DO RECURSO DE APELAÇÃO - DEFENSOR DATIVO -

CABIMENTO - 7. ISENÇÃO DAS CUSTAS PROCESSUAIS - JUSTIÇA GRATUITA - NÃO


448

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CONHECIMENTO - COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA EXECUÇÃO -

8.PREQUESTIONAMENTO DA MATÉRIA - RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO,

E NA PARTE CONHECIDA, PARCIALMENTE PROVIDO, REDUZINDO-SE, EX OFFICIO,

A PENA DE MULTA, E DEFERINDO-SE OS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS PELA

APRESENTAÇÃO DAS RAZÕES RECURSAIS.1. Havendo provas suficientes a

demonstrar a materialidade e autoria do delito previsto no art. 306 do CTB, a

manutenção da condenação é medida que se impõe.1.1. O pleito absolutório quanto

ao delito previsto no art.309 do CTB não prospera, haja vista que as provas produzidas

nos autos revelam a prática, pelo apelante, do contido no referido tipo penal, uma vez

que o mesmo Apelação Crime nº 1.600.966-63conduzia o veículo de maneira

efetivamente perigosa, causando sérios riscos à incolumidade pública, vindo a se

envolver, inclusive, em acidente de trânsito, ao ter colidido com uma motocicleta.1.2.

Tendo em vista a confissão do acusado e os depoimentos dos policiais militares que

efetuaram a prisão em flagrante, apresentando-se estes coerentes e harmônicos entre

si, e diante das demais provas carreadas aos autos, resta demonstrada a autoria e

materialidade delitivas previstas nos artigos 306 e 309, ambos da Lei nº 9.503/97.1.3.

Com o advento da Lei 12.760/2012, o legislador previu a possibilidade de

comprovação do crime de embriaguez ao volante por diversos meios de prova,

conforme se infere da redação do § 2º incluído no artigo 306 do Código de Trânsito

Brasileiro.2. Na ocasião em que o agente pratica o delito previsto no art. 306 do CTB

sem possuir habilitação para conduzir veículo automotor, é produzida apenas uma

situação de risco, não sendo criados perigos diversos ao bem jurídico, de modo a

ocorrer a consunção, absorvendo-se o delito previsto no art. 309 pelo delito do art.

306, ambos do CTB, e agravando-se a pena com fulcro no art. 298, III, do mesmo

diploma legal.3. Na aplicação da pena-base, o recrudescimento se mostrou

devidamente fundamentado, atendendo os princípios da proporcionalidade e

razoabilidade, razão pela qual deve ser mantido. Apelação Crime nº 1.600.966-643.1.

"(...) III - Condenações por fatos anteriores ao apurado na ação penal em destaque,

ainda que com trânsito em julgado posterior, podem fundamentar a exasperação da

449

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

pena-base como maus antecedentes (...)" (STJ - 5ª T., HC 319.498-SP, Rel. Ministro

FELIX FISCHER, DJe 19.06.2015).4. Ao contrário do que acontece com os maus

antecedentes, para configurar a agravante da reincidência, torna-se necessário o

trânsito em julgado do crime cometido em momento anterior ao dos fatos em

análise.5. Há que se operar a redução da pena de multa, de ofício, para que a mesma

conserve proporcionalidade com a reprimenda corporal.6. O Estado deve arcar com o

pagamento de honorários advocatícios ao defensor dativo nomeado pelo juiz à parte,

juridicamente necessitada, para apresentação das razões recursais.7. Não há que ser

conhecido o pedido de isenção das custas processuais, bem como ao pleito relativo

ao benefício da justiça gratuita, em razão de serem as matérias de competência do

Juízo da Execução.8. Dá-se por prequestionada a matéria.

(TJPR - 2ª C.Criminal - AC - 1600966-6 - Curitiba - Rel.: Luís Carlos Xavier - Unânime -

J. 27.04.2017)

Inteiro Teor

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Crime nº 1600966-6, do Foro


Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba ­ 1ª Vara de Delitos de
Trânsito, em que é apelante Josias Pereira e apelado o Ministério Público do Estado
do Paraná.
O Ministério Público do Estado do Paraná ofereceu denúncia em face de Josias
Pereira (mov. 1.1 dos autos nº 0007036- 14.2015.8.16.0013), em razão da prática das
seguintes condutas delituosas:
“No dia 10 de janeiro 2015, por volta das 22h01min, no cruzamento da Rua Antônio
Moreira Lopes, nº 00 e a Rodovia BR 277, Bairro Cajuru, nesta Cidade e Comarca de
Curitiba/PR, o denunciado JOSIAS PEREIRA, com vontade livre e consciente da
ilicitude de sua conduta, conduzia o veículo automotor VW/Quantum, placas APG-
9009, com o direito de dirigir cassado (cf. fl. 27) e com a capacidade psicomotora
alterada em razão da influência de álcool, conforme Laudo de Exame de Alcoolemia,
promovido por meio de etilômetro (vulgarmente conhecido como `bafômetro’), cujo
resultado indicou a presença de 1,15 mg/l de álcool por litro de ar expelido dos
pulmões (fl. 10,verso ­ 23 dg/l), tanto que ocasionou acidente de trânsito, colidindo
com uma motocicleta, a qual não pôde ser identificada, sem vítimas, conforme consta
do boletim de ocorrência n. 2015/34872 de fls. 10/14 e boletim de acidente de
trânsito eletrônico unificado ­ BATEU n. 242487/6 de fls. 42/46”.

450

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Finda a instrução, o magistrado a quo, julgando procedente a inicial acusatória (mov.


69.1), condenou o réu pela prática dos crimes previstos nos arts. 306, § 1º, I, e 309,
ambos do CTB.
Para o delito de embriaguez ao volante (art. 306 do CTB), foi fixada a pena-base em
09 (nove) meses e 22 (vinte e dois) dias de detenção e 53 (cinquenta e três) dias-multa.
Na 2ª fase, entendeu pela presença da atenuante da confissão espontânea, bem como
da agravante da reincidência (AP nº 0002740-51.2012.8.16.0013 da 2ª Vara de Delitos
de Trânsito), aumentando, assim, “a pena-base em 1/6 (um sexto) ante a reincidência,
cálculo que resulta em 11 (onze) meses e 10 (dez) dias de detenção e 61 (sessenta e
um) dias-multa. Na sequência, tendo em vista a preponderância da agravante em
questão sobre a atenuante da confissão espontânea, reduzo a sanção de 1/8 (um
oitavo), o que conduz à pena provisória de 9 (nove) meses e 27 (vinte e sete) dias de
detenção, e 53 (cinquenta e três) dias-multa”, no valor unitário equivalente a 1/30 (um
trigésimo) do salário mínimo vigente à época dos fatos, tornando-a definitiva neste
patamar, em razão da inexistência de causas especiais de aumento/diminuição de
pena. Ainda, aplicou-se a pena de “03 (três) meses e 09 (nove) dias de suspensão da
habilitação para dirigir veículo automotor”.
Já para o delito previsto no art. 309 do CTB, foi fixada a pena-base em 06 (seis) meses
e 22 (vinte e dois) dias de detenção e 53 (cinquenta e três) dias-multa. Na 2ª fase,
entendeu pela presença da atenuante da confissão espontânea, bem como da
agravante da reincidência (AP nº 0002740-51.2012.8.16.0013 da 2ª Vara de Delitos de
Trânsito), aumentando, assim, “a pena-base em 1/6 (um sexto) ante a reincidência,
cálculo que resulta em 07 (sete) meses e 25 (vinte e cinco) dias de detenção e 61
(sessenta e um) dias-multa. Na sequência, tendo em vista a preponderância da
agravante em questão sobre a atenuante da confissão espontânea, reduzo a sanção de
1/8 (um oitavo), o que conduz à pena provisória de 6 (seis) meses e 25 (vinte e cinco)
dias de detenção, e 53 (cinquenta e três) dias-multa”, no valor unitário equivalente a
1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente à época dos fatos, tornando-a definitiva
neste patamar, em razão da inexistência de causas especiais de aumento/diminuição
de pena.
Na sequência, incidindo a regra do concurso material de crimes (art. 69 do CP), restou
a pena definitiva em 01 (um) ano, 04 (quatro) meses e 22 (vinte e dois) dias de
detenção, 106 (cento e seis) dias-multa, e 03 (três) meses e 09 (nove) dias de proibição
de obtenção de habilitação para dirigir veículo automotor pelo prazo da condenação.
O regime fixado foi o semiaberto.
A título de honorários advocatícios, houve condenação do Estado do Paraná a pagar
ao defensor dativo nomeado, Dr. Benhur Baptista (OAB/PR nº 67.968), a quantia de R$
1.200,00 (um mil e duzentos reais).
Inconformada com a decisão, a defesa do acusado interpôs recurso de apelação, e
em suas razões recursais (mov. 77.1), afirma que as condutas praticadas quanto aos
delitos previstos nos arts.
306 e 309, ambos do CTB, são atípicas, devendo, assim, ser o recorrente absolvido.
No tocante ao crime descrito no art. 306 do CTB, defende não ter restado
comprovada a alteração da capacidade psicomotora em razão da influência de álcool;
451

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que o etilômetro se limita apenas a demonstrar “se o condutor está ou não sob efeito
de álcool, mas não da alteração de sua capacidade psicomotora”.
Quanto ao delito previsto no art. 309 do CTB, defende que o mesmo “exige, para sua
configuração, duas elementares: a primeira consubstanciada na direção inabilitada e a
segunda que esta direção gere perigo de dano, devendo este perigo ser um perigo
real ou concreto”; que não restou efetivamente demonstrado que o acusado dirigia o
veículo de forma anormal, a ponto de expor a incolumidade pública a danos
potenciais, não gerando, assim, perigo de dano à segurança viária; que “muito
embora o acusado tenha colidido o veículo que conduzia com uma motocicleta,
sopese-se que o que consuma o crime de direção inabilitada gerando perigo de dano
não é o dano efetivo, mas sim o perigo de dano”, e que “o episódio da colisão não se
trata de risco de lesão, mas de lesão concreta, o que torna a conduta do acusado
atípica”.
Ainda, pleiteia seja aplicado o princípio da consunção, haja vista que “a embriaguez e
a inabilitação deram-se num mesmo contexto fático, gerando, pois, o mesmo perigo”.
Alternativamente, quanto às dosimetrias das penas de ambos os delitos, afirma, no
que se refere às penas-base, que a fração de aumento deve ser cominada em menor
patamar, e que “a exasperação deve ser minorada para 1/6 (1 mês), redimensionando-
se, por conseguinte, a pena dos dias-multa e a pena da suspensão ou proibição de se
obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor”.
Concernente ainda às reprimendas básicas, arrazoa que o aumento alusivo à
circunstância judicial “antecedentes” deve ser afastado, uma vez que o processo
utilizado para tanto teve seu trânsito em julgado em data posterior à prática dos fatos
relativos aos presentes autos; que “o crime deste processo deu-se em 10.01.2015,
antes da data do trânsito em julgado do processo utilizado como mau antecedente em
seu desfavor (autos nº 0006809-24.2015.8.16.0013), eis que o mesmo transitou em
julgado em 16.03.2015)”.
Na aplicação das penas provisórias, afirma ter sido a reprimenda aumentada em razão
da agravante da reincidência, pleiteando também seja extirpado tal recrudescimento,
uma vez que o trânsito em julgado da decisão que embasou referido aumento ocorreu
após os fatos narrados na presente denúncia.
Na sequência, defende que deve haver a compensação da agravante da reincidência
com a atenuante da confissão espontânea.
Ademais, aduz que os honorários fixados na sentença devem ser majorados,
pleiteando também que sejam fixados honorários pela apresentação das razões do
recurso. Prequestiona a matéria.
Por fim, requer sejam aplicados os benefícios da assistência judiciária gratuita.
O douto representante ministerial, no mov. 83.1, apresentou as contrarrazões ao
recurso, postulando pelo conhecimento e parcial provimento do apelo “apenas no
que diz respeito ao afastamento da agravante da reincidência e consequente
adequação das penas a esse respeito”.
A d. Procuradoria Geral de Justiça manifestou-se às fls.
09/24­TJ, opinando pelo conhecimento e parcial provimento do recurso, “apenas
para que seja excluída a agravante da reincidência, com recálculo da pena, e
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incidência da circunstância atenuante da confissão, e corrigida a pena de multa” (fl.


24).
É o relatório.
VOTO
Da autoria e materialidade delitivas
Postula a defesa pela absolvição do recorrente quanto aos delitos pelo qual se viu
denunciado. Todavia, razão não lhe assiste.
Ao que se vê, os fatos imputados ao apelante ocorreram em 10.01.2015, e, portanto,
quando já vigorava o § 1º, II, e § 2º do artigo 306 do CTB, com a redação dada pela
Lei 12.760/2012, de modo que admite-se a prova da embriaguez por diversos meios.
Referido artigo traz a seguinte redação:
“Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em
razão da influência de álcool ou de substância psicoativa que determine dependência.
Penas ­ detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, multa e suspensão ou proibição de
se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
§ 1º. As condutas previstas no caput serão constatas por:
I. concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou
igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar; ou II sinais que
indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade psicomotora.
§ 2º. A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de
alcoolemia, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova
em direito admitidos, observando o direito à contraprova.
§ 3º. O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos testes de alcoolemia
para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo”.
Há nos presentes autos produção probatória pertinente a corroborar a autoria e
materialidade dos crimes em análise, as quais restaram devidamente demonstradas
pelo auto de prisão em flagrante delito (mov. 1.1, autos nº 0000391-
70.2015.8.16.0013), boletim de ocorrência (movs. 1.5 e 21.1-IP), consulta de histórico
de pontuação (mov. 1.7), extrato consolidado de acidente (mov. 1.8), bem como pela
prova oral colhida no presente caderno processual.
O recorrente JOSIAS, ao ser ouvido na Delegacia (mov. 1.3-IP), disse: “Quanto às
acusações que lhe foram proferidas, tem a informar que estava saindo da BR 277 e um
motoqueiro estava entrando para BR 277, quando foi para cima do interrogado,
causando o acidente. Que quando foi prestar socorro, verificou que o motociclista era
mudo. Que não conseguindo se comunicar direito com o motociclista, que saiu do
local, sendo que não se machucou e sua moto estava funcionando. Que então
aguardou a chegada da polícia militar no local. Que antes do ocorrido ingeriu meia
lata de cerveja e uma caipirinha. Que sendo convidado a realizar o bafômetro aceitou,
o que acusou que havia bebido (...)”.
Por sua vez, em juízo, tal como destacado na r.
sentença (mov. 69.1), o apelante assumiu a prática delituosa, confirmando que “estava
dirigindo a Santana Quantum; que comprou o carro, mas faltava transferir; que é
motorista de caminhão; que estava voltando da casa de seu irmão que mora na Rui
Barbosa; que deu seta para sair da BR e entrar sentido bairro; que avistou o
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motoqueiro; que a moto estava na via e o motoqueiro estava arrumando o capacete;


que tinha bebido em um churrasco na casa do irmão; que era sábado à tarde; que
bebeu cerveja; que acusou no bafômetro que ele teria bebido; que já teve outros
problemas com direção e bebida cerca de três vezes; que a CNH do interrogado
estava suspensa; que era um trajeto perto de casa; que não está dirigindo mais; que
não teve dano na moto; que não teve vítima; que está andando de bicicleta; que tinha
problema com álcool, mas parou com a bebida; que o rapaz da moto subiu na moto e
foi embora; que a SETRAN dispensou o rapaz da moto; que o rapaz da moto era surdo
e mudo; que não houve ferimento de ninguém; que estava a 10 km/h quando saiu da
BR para entrar sentido bairro; que trabalha de servente atualmente; que não tinha
dinheiro pra pagar a passagem; que mora na divisa de São José dos Pinhais com
Curitiba; que bebeu e dirigiu no dia dos fatos”.
Ademais, a confissão do acusado não se mostra isolada, encontrando amparo nos
demais elementos probatórios colhidos nos autos. Observa-se, na hipótese, que as
palavras dos policiais responsáveis pela abordagem, somadas às demais provas
acostadas, também são hábeis a apontar a autoria e materialidade delitivas.
Com efeito, a Policial Militar Yasmin Soraia das Neves (mov. 1.2-IP), asseverou: “Em
atendimento de acidente de trânsito sem vítimas (BATEU nº 242487/6), esta equipe se
deslocou para o endereço rua Antônio Moreira Lopes, Cajuru, Curitiba/PR. No local
verificado envolvendo o veículo VW/QUANTUM de Placas APG-9009, que era
conduzido pelo Sr. JOSIAS PEREIRA, RG 3748192-0. Sendo constatado que o Sr.
Josias apresentava visíveis sinais de embriaguez, como fala enrolada, olhos vermelhos
e odor etílico, foi oferecido ao mesmo o etilômetro marca DRAGER equipamento
número ARAD 0490 para realizar o teste etilométrico; este aceitou, sendo auferido
resultado de 1,15 mg/l no visor; o mesmo ainda encontra-se com sua CNH cassada
(...)”.
Em idêntico sentido se deram as declarações do miliciano Rodrigo de Freitas Santos
no mov. 1.2-IP.
Por sua vez, ao serem ouvidos na fase judicial, de acordo com excerto extraído da
sentença, “em sede de audiência de instrução e julgamento, o Policial Militar Rodrigo
de Freitas Santos relatou: `Que não se recorda da ocorrência; que reconhece a grafia e
assinatura no croqui do BATEU; que provavelmente a viatura em que estava o
depoente não tinha o etilômetro e foi chamada a viatura do supervisor para dar apoio
e realizar o teste; que sempre foi do BPTran; que reconhece a assinatura no termo de
oitiva; que não se recorda dos fatos porque atendem várias situações idênticas durante
o plantão; que a assinatura no termo de oitiva é do depoente; que o texto do termo
de oitiva reflete o que o depoente presenciou’.
A Policial Militar Yasmin Soares das Neves informou: `Que foram acionados para
atender o acidente; que aconteceu na saída na BR; que o Josias ainda estava dentro
do veículo; que não se recorda se o condutor da motocicleta foi conduzido ao
hospital; que ofereceram o etilômetro ao réu e o equipamento acusou teor alcoólico;
que desconfiou que Josias podia estar embriagado porque apresentava hálito elítico,
estava um pouco confuso e cambaleou ao descer do carro; que era visível o estado de
embriaguez do réu; que Josias estava com a CNH cassada”.
454

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Vale lembrar que o fato de os policiais não se lembrarem especificamente de todos os


detalhes não afasta a credibilidade de suas palavras. Com efeito, natural é que o
decurso do tempo havido entre a data dos fatos e a oitiva judicial dos milicianos leve
as autoridades policiais a não se recordarem de forma precisa dos detalhes relativos
aos episódios trazidos aos autos.
Assim, ainda que a defesa procure desconstituir tais testemunhos, reitera-se ser
normal que o decurso do tempo apague detalhes sobre os fatos, notadamente em se
tratando do delito em comento, cujas ocorrências são inúmeras e com similar modus
operandi. O que importa, pois, é que, no essencial, os milicianos foram uníssonos em
suas afirmações.
Nesse passo, as declarações dos agentes públicos merecem credibilidade, até porque
não há nos autos evidência de que tivessem interesse em incriminar indevidamente o
apelante ou que tenham faltado com a verdade.
Neste sentido, a jurisprudência de nossos Tribunais:
“(...) CONDENAÇÃO FUNDAMENTADA NO DEPOIMENTO DE POLICIAIS ­ MEIO DE
PROVA IDÔNEO ­ FRAGILIDADE DO CONJUNTO PROBATÓRIO NÃO
DEMONSTRADA.
(...) 2. Conforme entendimento desta Corte, o depoimento de policiais constitui meio
de prova idôneo a embasar o édito condenatório, mormente quando prestado ou
corroborado em Juízo, no âmbito do devido processo legal.
Precedentes” (STJ ­ HC 261.170/SP, Rel. Min. JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, j.
01.04.2014, DJe 10.04.2014).
Ademais, como já salientado, com o advento da Lei 12.760/2012, o legislador previu
a possibilidade de constatação do delito em análise por sinais que indiquem a
alteração da capacidade psicomotora, bem como a comprovação do crime por
diversos meios de prova, conforme se infere da redação do inciso II do § 1º e § 2º
incluídos no artigo 306, do Código de Trânsito Brasileiro, havendo que ser ressaltado
que o crime em referência é de perigo abstrato, dispensando-se, portanto, a
demonstração da efetiva potencialidade lesiva da conduta daquele que conduz veículo
em via pública com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool.
O Superior Tribunal de Justiça disciplina:
“PROCESSUAL E PENAL ­ RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL EM HABEAS
CORPUS ­ EMBRIAGUEZ AO VOLANTE ­ ART. 306 DA LEI Nº 9.503/97 ­ (1) FATO
POSTERIOR À ALTERAÇÃO NORMATIVA CRISTALIZADA NA LEI Nº 12.760/12 ­ (2)
ESTADO DE EMBRIAGUEZ APURADO POR OUTROS MEIOS DE PROVA ­
POSSIBILIDADE ­ (3) TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL ­ REVOLVIMENTO FÁTICO-
PROBATÓRIO ­ CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO ­ (4) RECURSO
ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS DESPROVIDO.
1. A Lei nº 12.760/12 modificou o artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro, a fim
de dispor ser despicienda a avaliação realizada para atestar a gradação alcóolica,
acrescentando ser viável a verificação da embriaguez mediante vídeo, prova
testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos, observado o direito à
contraprova, de modo a corroborar a alteração da capacidade psicomotora.

455

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2. No caso em apreço, praticado o delito na vigência da última modificação


normativa, fato ocorrido em 12.12.2013, torna-se possível apurar o estado de
embriaguez da acusada por outros meios de prova em direito admitidos (...)” (STJ ­ 6ª
T., RHC 49.296/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, DJe 17.12.2014).
Além disso, quanto à demonstração de ter o recorrente conduzido de veículo
automotor com o direito de dirigir cassado, tal fato também restou devidamente
comprovado.
Como se viu, em juízo, o recorrente admitiu que no dia dos fatos estava com a CNH
cassada. Além do que, ao que se vê, o apelante conduzia o veículo de maneira
efetivamente perigosa, causando sérios riscos à incolumidade pública, vindo a se
envolver, inclusive, em acidente de trânsito, ao ter colidido com uma motocicleta.
Como destacado pelo representante do Parquet em 2º Grau à fl. 17, “o réu estava
com a CNH cassada por ter se envolvido em delitos de embriaguez ao volante,
admitiu ter ingerido bebida durante um churrasco, (...) e chegou a colidir com uma
motocicleta, ficando mais que demonstrado o perigo que expunha à coletividade”.
Neste aspecto, tal qual apontado pelo d.
representante ministerial em sede de contrarrazões (mov. 83.1), oportuno destacar
que “se extrai do Boletim de Ocorrência e demais documentos colhidos durante a
instrução processual de que o Apelante conduzia seu veículo sem CNH, gerando
perigo de dano, tanto que deu causa a acidente de trânsito, conforme infere-se de sua
oitiva judicial.
Não há o que duvidar da ocorrência do perigo de dano, pois, conforme a defesa em
seus termos de Apelação menciona, `necessária a efetiva demonstração que o acusado
conduzia o veículo de forma anormal’, cabe aqui salientar que colidir contra outros
veículos automotores não está dentro da normalidade de direção. (...) Desta forma,
diante da realidade dos fatos é possível observar que o acusado gerou perigo de
danos a um número indeterminado de pessoas, pois o simples fato de ter colidido seu
carro sem a ação de nenhum outro agente externo já demonstra sua inabilidade na
condução de automóvel, enquanto que a anormalidade está demonstrada justamente
pelo fato de envolver-se em uma colisão com outro veículo automotor que trafegava
regularmente pela via”.
Segundo precedentes, denota-se que o legislador não teve como finalidade punir o
condutor de veículo automotor somente pelo fato de não possuir permissão ou
habilitação legal para dirigir ­ fato punível administrativamente ­, mas sim, a de creditar
como ato delitivo a direção sem habilitação que cause perigo de dano aos demais
motoristas e transeuntes.
E, no caso em apreço, repisa-se, é evidente o perigo causado pelo recorrente de
modo concreto, o qual dirigiu de maneira imprudente, se envolvendo em acidente
automobilístico, em via pública.
Nesse sentido:
“APELAÇÃO CRIME ­ CRIMES PREVISTOS NOS ARTIGOS 306 E 309, AMBOS DA LEI
9.503/1997 ­ CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO ­ SENTENÇA CONDENATÓRIA. 1)
INSURGÊNCIA QUANTO AO DELITO DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE ­ ALEGADA
AUSÊNCIA DE PROVAS ­ ACOLHIMENTO ­ APARELHO DE ETILÔMETRO QUE NÃO
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PASSOU PELA VERIFICAÇÃO ANUAL DO INMETRO ­ PROVA OBJETIVA QUE DEVE


SEGUIR OS REQUISITOS DISPOSTOS NO ARTIGO 4º, DA RESOLUÇÃO Nº 432 DO
CONTRAN ­ EXTRATO DE TESTE DE ETILÔMETRO QUE APRESENTA DATA DE
VERIFICAÇÃO `VENCIDA’ ­ DELITO DE TRÂNSITO COMETIDO SOBRE A ÉGIDE DA
LEI 12.760/2012 ­ POSSIBILIDADE DE VERIFICAÇÃO DE SINAIS DE ALTERAÇÃO DA
CAPACIDADE PSICOMOTORA POR PROVA SUBJETIVA, REGULADA PELO ARTIGO
5º E ANEXO II DA RESOLUÇÃO Nº 432 DO CONTRAN ­ INEXISTÊNCIA NOS AUTOS
DE TERMO DE CONSTATAÇÃO OU DE AUTO DE CONSTATAÇÃO CONTENDO AS
INFORMAÇÕES MÍNIMAS EXIGIDAS PELO ANEXO II DA RESOLUÇÃO Nº 432 DO
CONTRAN ­ AUSÊNCIA DE PROVAS HÁBEIS DE MATERIALIDADE ­ ABSOLVIÇÃO
QUE SE IMPÕE.
2) ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE PROVA DE PERIGO CONCRETO A CARACTERIZAR
O DELITO DO ARTIGO 309 DO CTB ­ APELANTE QUE DIRIGIA VEÍCULO
AUTOMOTOR SEM HABILITAÇÃO E CAUSOU ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO ­
PERIGO DE DANO EVIDENCIADO. 3) APELANTE QUE APRESENTA DUAS
CONDENAÇÕES COM TRÂNSITO EM JULGADO. UMA UTILIZADA COMO MAUS
ANTECEDENTES E OUTRA COMO REINCIDÊNCIA ­ NÃO CONFIGURAÇÃO DE BIS
IN IDEM ­ PRECEDENTE DO STJ. 4) REINCIDÊNCIA CONFIGURADA ­
IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DO REGIME ABERTO ­ SÚMULA 269 DO STJ ­
RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO” (TJPR ­ 2ª C.Crim., AP
1504512-2, Rel. José Carlos Dalacqua, J.
19.05.2016) (grifamos).
Assim sendo, afasta-se o pleito absolutório quanto aos delitos em análise.
Da absorção do delito do art. 309 pelo tipificado no art. 306, ambos do CTB
Neste ponto, o apelo da defesa merece ser provido.
In casu, conclui-se pela impossibilidade de aplicar os delitos de forma concomitante
ao presente caso (artigos 306 e 309 do CTB), considerando que o fato de, num mesmo
contexto fático, dirigir sem permissão ou habilitação agrava a penalidade do crime de
embriaguez ao volante, nos moldes do art. 298, inc. III, do Código de Trânsito
Brasileiro.
Como se vê, o artigo 298, III, do CTB estabelece que sempre agravará a penalidade
dos crimes de trânsito a circunstância de ter o condutor do veículo cometido a infração
“sem possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação”.
No caso dos autos, observa-se uma relação consuntiva entre os delitos, posto que, na
ocasião, num mesmo contexto fático, foi produzida apenas uma situação de risco, não
sendo criados perigos diversos ao bem jurídico, mas tão somente o seu agravamento
pela ausência de habilitação. De tal forma, a condenação em relação ao delito de
direção de veículo automotor sem habilitação não pode ser considerada como
conduta autônoma, posto que o próprio Código de Trânsito Brasileiro a prevê, quando
cometida em conjunto com outra infração, como situação agravante.
Esse E. Tribunal de Justiça possui entendimento neste sentido:
“APELAÇÃO CRIMINAL ­ CONDENAÇÃO PELA PRÁTICA DOS CRIMES DE
EMBRIAGUEZ AO VOLANTE E DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR SEM A DEVIDA
HABILITAÇÃO ­ AUTORIA E MATERIALIDADE INQUESTIONÁVEIS ­ RÉU CONFESSO ­
457

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ALEGAÇÃO DE QUE NÃO HÁ COMO PRESUMIR, MESMO COM O TESTE COM O


ETILÔMETRO REALIZADO, QUE A CAPACIDADE PSICOMOTORA DO CONDUTOR
ESTAVA ALTERADA ­ DESCABIMENTO ­ CASO EM QUE O RÉU, QUE NÃO TINHA
HABILITAÇÃO PARA CONDUZIR VEÍCULO AUTOMOTOR E TESTOU POSITIVO NO
TESTE COM O ETILÔMETRO, ENVOLVEU-SE EM ACIDENTE DE TRÂNSITO ­
SENTENÇA CORRETA ­ RECURSO DESPROVIDO E, DE OFÍCIO, SE AFASTA AS
SANÇÕES DO ARTIGO 309 DO CTB, INCIDINDO EM SEU LUGAR A AGRAVANTE
DO ARTIGO 298, INCISO III DO MESMO DIPLOMA LEGAL” (TJPR ­ 2ª C.Criminal, AC
1362905- 3, Curitiba, Rel. Roberto De Vicente, Unânime, J.
30.07.2015).
“APELAÇÃO CRIMINAL ­ CONDENAÇÃO PELA PRÁTICA DO CRIME PREVISTO NO
ARTIGO 306 C/C O ARTIGO 298, III, DO CTB ­ PRETENSÃO DO MINISTÉRIO
PÚBLICO DE CONDENAÇÃO PELO CRIME DO ARTIGO 309 DO CTB ­
DESCABIMENTO ­ CORRETA A APLICAÇÃO DO ARTIGO 298, III, DO CTB, VEZ QUE
O ARTIGO 309 DO MESMO CÓDIGO SÓ PODE SER APLICADO QUANDO
PRATICADO ISOLADAMENTE ­ RECURSO DESPROVIDO ­ CASO DE SE PROCEDER,
`EX OFFICIO’, À REVISÃO DA DOSIMETRIA DA PENA, COM NOVA ANÁLISE DAS
CIRCUNSTANCIAS JUDICIAIS, COMPENSANDO- SE A AGRAVANTE DA
REINCIDÊNCIA COM A ATENUANTE DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA, MANTENDO-
SE O REGIME SEMIABERTO, MAS PROCEDENDO Á SUBSTITUIÇÃO DA PENA
PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVAS DE DIREITOS, COM APLICAÇÃO DA
SUMULA 269 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA” (TJPR ­ 2ª C.Criminal, AC
1403700-6, Capanema, Rel. Roberto De Vicente, Unânime, J. 03.12.2015).
Portanto, o delito de direção de veículo automotor sem habilitação deve ser
absorvido pelo crime de embriaguez ao volante, incidindo, deste modo, a agravante
prevista no art. 298, III, do CTB, razão pela qual há que ser efetuada a modificação na
pena imposta na r. sentença, a qual será alterada adiante.
Do apenamento
Assim restaram fixadas na sentença as reprimendas para os delitos dos arts. 306 e 309
do CTB:
“Para o delito de embriaguez ao volante (art. 306 do CTB), foi fixada a pena-base em
09 (nove) meses e 22 (vinte e dois) dias de detenção e 53 (cinquenta e três) dias-multa.
Na 2ª fase, entendeu pela presença da atenuante da confissão espontânea, bem como
da agravante da reincidência (AP nº 0002740-51.2012.8.16.0013 da 2ª Vara de Delitos
de Trânsito), aumentando, assim, “a pena-base em 1/6 (um sexto) ante a reincidência,
cálculo que resulta em 11 (onze) meses e 10 (dez) dias de detenção e 61 (sessenta e
um) dias-multa.
Na sequência, tendo em vista a preponderância da agravante em questão sobre a
atenuante da confissão espontânea, reduzo a sanção de 1/8 (um oitavo), o que conduz
à pena provisória de 9 (nove) meses e 27 (vinte e sete) dias de detenção, e 53
(cinquenta e três) dias- multa”, no valor unitário equivalente a 1/30 (um trigésimo) do
salário mínimo vigente à época dos fatos, tornando-a definitiva neste patamar, em
razão da inexistência de causas especiais de aumento/diminuição de pena. Ainda,

458

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

aplicou-se a pena de “03 (três) meses e 09 (nove) dias de suspensão da habilitação


para dirigir veículo automotor”.
Já para o delito previsto no art. 309 do CTB, foi fixada a pena-base em 06 (seis) meses
e 22 (vinte e dois) dias de detenção e 53 (cinquenta e três) dias-multa. Na 2ª fase,
entendeu pela presença da atenuante da confissão espontânea, bem como da
agravante da reincidência (AP nº 0002740-51.2012.8.16.0013 da 2ª Vara de Delitos de
Trânsito), aumentando, assim, “a pena-base em 1/6 (um sexto) ante a reincidência,
cálculo que resulta em 07 (sete) meses e 25 (vinte e cinco) dias de detenção e 61
(sessenta e um) dias-multa. Na sequência, tendo em vista a preponderância da
agravante em questão sobre a atenuante da confissão espontânea, reduzo a sanção de
1/8 (um oitavo), o que conduz à pena provisória de 6 (seis) meses e 25 (vinte e cinco)
dias de detenção, e 53 (cinquenta e três) dias- multa”, no valor unitário equivalente a
1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente à época dos fatos, tornando-a definitiva
neste patamar, em razão da inexistência de causas especiais de aumento/diminuição
de pena.
Na sequência, incidindo a regra do concurso material de crimes (art. 69 do CP), restou
a pena definitiva em 01 (um) ano, 04 (quatro) meses e 22 (vinte e dois) dias de
detenção, 106 (cento e seis) dias-multa, e 03 (três) meses e 09 (nove) dias de proibição
de obtenção de habilitação para dirigir veículo automotor pelo prazo da condenação”.
Pois bem.
A princípio, quanto à fração de aumento adotada na 1ª fase, pleiteia a defesa por sua
aplicação em menor patamar.
Sem razão, haja vista que tal recrudescimento se mostrou devidamente fundamentado,
atendendo aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade.
Neste cariz, manifestou-se a d. Procuradoria Geral de Justiça, in verbis: “A valoração
da circunstância desfavorável também foi realizada de maneira correta. Para o cálculo
das circunstâncias judiciais desfavoráveis, utiliza-se o intervalo entre a pena mínima e a
máxima abstratamente cominada para o crime, dividindo esse número por 08, sendo
essa a quantidade de circunstâncias judiciais previstas no artigo 59 do Código Penal
Brasileiro.
O crime previsto no artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro prevê detenção de 06
(seis) meses a 03 (três) anos. O intervalo entre os apenamentos previstos resta em 30
(trinta) meses, que dividido por 08 (oito), resulta em 03 (três) meses e 22 (vinte e dois)
dias. A pena-base do réu restou justificadamente estabelecida em 09 (nove) meses e
22 (vinte e dois) dias de detenção” (fl. 21).
Na sequência, ainda quanto à pena-base, pleiteia o afastamento alusivo à
circunstância judicial “antecedentes”, uma vez que o processo utilizado para tanto
teve seu trânsito em julgado em data posterior à prática dos fatos relativos aos
presentes autos, e que “o crime deste processo deu-se em 10.01.2015, antes da data
do trânsito em julgado do processo utilizado como mau antecedente em seu desfavor
(autos nº 0006809-24.2015.8.16.0013), eis que o mesmo transitou em julgado em
16.03.2015)”.
Neste aspecto, não há correções a fazer.

459

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Considerando que o acusado possui uma condenação por fato anterior ao presente
delito, mas com trânsito em julgado posterior, possível considerá-la como
circunstância judicial negativa, a título de antecedente criminal.
A respeito:
“PENAL ­ HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL ­ NÃO-
CABIMENTO ­ FURTO QUALIFICADO ­ FIXAÇÃO DO REGIME INICIAL SEMIABERTO
­ MAUS ANTECEDENTES ­ UTILIZAÇÃO DE CONDENAÇÕES POR FATOS
ANTERIORES COM TRÂNSITO EM JULGADO POSTERIOR ­ POSSIBILIDADE ­
PRECEDENTES ­ WRIT NÃO CONHECIDO.
(...) III ­ Condenações por fatos anteriores ao apurado na ação penal em destaque,
ainda que com trânsito em julgado posterior, podem fundamentar a exasperação da
pena-base como maus antecedentes. Habeas corpus não conhecido” (STJ ­ 5ª T., HC
319.498-SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, DJe 19.06.2015).
Quanto à pena provisória, pleiteia a defesa seja afastado o aumento efetuado em
razão da reincidência, uma vez que o trânsito em julgado da decisão que embasou
referido aumento ocorreu após os fatos narrados na presente denúncia.
Razão lhe assiste neste particular. De fato, verifica-se ter havido equívoco do julgador
singular ao realizar a majoração da pena em razão da reincidência.
Como muito bem anotado às fls. 21/22, “ao contrário do que acontece com os maus
antecedentes, para configurar reincidência torna-se necessário o trânsito em julgado
do crime cometido em momento anterior. Na ocasião da sentença, o processo nº
0002740- 51.2012.8.16.0013 ainda não estava com trânsito em julgado, de forma que
não havia reincidência, até então.
Deste modo, com base na Súmula 444 do STJ, necessária a exclusão, em relação às
duas condutas delituosas, do acréscimo da pena decorrente da agravante da
reincidência”.
Pleiteia o apelante, ainda, a compensação da agravante da reincidência com a
atenuante da confissão espontânea.
Todavia, tal questão resta prejudicada, diante no afastamento da aplicação da
agravante da reincidência, realizado logo acima.
Na sequência, em razão da incidência do princípio da consunção, reconhecendo-se,
nesta ocasião, o afastamento pela condenação nas sanções do crime previsto no art.
309 do CTB, aplicando- se, portanto, ao delito do art. 306 a agravante descrita no art.
298, III, ambos do CTB, passa-se à alteração da reprimenda:
Quanto ao crime do art. 306 do CTB, mantém-se a pena-base tal qual fixada na r.
sentença (09 (nove) meses e 22 (vinte e dois) dias de detenção). Na 2ª fase, aplicando-
se a agravante prevista no art. 298, inc. III, do CTB, bem como a atenuante da
confissão espontânea, operando-se a compensação entre ambas, fixa-se a pena
definitiva em 09 (nove) meses e 22 (vinte e dois) dias de detenção, em razão da
inexistência de causas especiais de aumento e/ou diminuição da pena.
Da pena de multa
Quanto à pena de multa referente ao delito do art.
306 do CTB, esta restou fixada na sentença em 53 (cinquenta e três) dias-multa.
Entretanto, faz-se necessário reduzi-la, para que seja proporcional à pena corporal.
460

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Desta forma, de ofício, impõe-se ajustar para o equivalente a um dia-multa a cada


mês acrescido na pena privativa de liberdade, totalizando, portanto, 13 (treze) dias-
multa, mantendo-se o valor do dia-multa fixado na sentença.
Dos honorários advocatícios
Postula a majoração dos honorários advocatícios fixados em 1º Grau, assim como o
arbitramento de novos honorários em 2º Grau.
Com razão, em partes.
Da leitura dos autos, observa-se que o Dr. Benhur Baptista (OAB/PR 67.968) foi
nomeado como defensor dativo para atuar no feito (mov. 35.1), tendo apresentado
resposta à acusação (mov. 38.1) e alegações finais por memoriais (mov. 67.1).
A sentença ficou honorários advocatícios em R$ 1.200,00 (um mil e duzentos reais),
valor este compatível com o trabalho desenvolvido pelo procurador e o grau de
complexidade da causa, o grau e o zelo do profissional e o lugar da prestação do
serviço, de acordo com o artigo 85, do Código de Processo Civil.
Assim, considerando já terem sido arbitrados honorários advocatícios pela sentença, e
sendo estes compatíveis com o trabalho desenvolvido, entende-se não ser possível a
majoração dos mesmos.
Noutro cariz, tendo em vista que a apresentação das razões do recurso de apelação é
essencial para promover a ampla defesa do acusado, cabe, aqui, deferir a fixação de
honorários advocatícios para remunerar o trabalho desempenhado pelo nobre
causídico em grau recursal.
Nesse sentido:
“EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ­ APELAÇÃO CRIMINAL DESPROVIDA ­
ACLARATÓRIOS ­ OMISSÃO NO ACÓRDÃO ­ OCORRÊNCIA ­ FIXAÇÃO DE
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS EM FAVOR DO DEFENSOR DATIVO ­ PEDIDO
EXPRESSO REALIZADO NAS RAZÕES RECURSAIS ­ OMISSÃO VERIFICADA ­
FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS QUE SE IMPÕE ­ EMBARGOS ACOLHIDOS.
`O advogado nomeado defensor dativo, em processos em que figure como parte
pessoa economicamente necessitada, faz jus a honorários, cabendo à Fazenda o ônus
pelo pagamento. Precedentes: REsp nº 493.003/RS, Rel. Min. JOÃO OTÁVIO DE
NORONHA, DJ de 14/08/06; REsp nº 602.005/RS, Rel. Min. LUIZ FUX, DJ de
26/04/04; RMS nº 8.713/MS, Rel. Min. HAMILTON CARVALHIDO, DJ de 19/05/03 e
AgRg no REsp nº 159.974/MG, Rel. Min. FRANCISCO FALCÃO, DJ de 15/12/03’ (STJ,
AgRg no REsp 1041532/ES, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, 1ª T., julg. em
05/06/2008, DJe 25/06/2008) (STJ, AgRg no REsp 1350442/ES, Rel. Ministro JORGE
MUSSI, 5ª T., julg. em 18/12/2012, DJe 01/02/2013)” (TJPR ­ 2ª C.Criminal, EDC
1108828-3/01, Ponta Grossa, Rel. Laertes Ferreira Gomes, Unânime, J. 28.08.2014).
“APELAÇÃO CRIMINAL ­ DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR, EM VIA PÚBLICA,
ESTANDO COM CONCENTRAÇÃO DE ÁLCOOL POR LITRO DE SANGUE IGUAL OU
SUPERIOR A 6 (SEIS) DECIGRAMAS (ART. 306, DO CÓDIGO DE TRÂNSITO
BRASILEIRO) ­ PLEITO DE ABSOLVIÇÃO PORQUANTO AUSENTE TABELA QUE
DEMONSTRE A CORRESPONDENTE VALORAÇÃO ENTRE O EXAME DE SANGUE E
O AR ALVEOLAR (BAFÔMETRO) ­ INVIABILIDADE ­ CÁLCULO EXECUTADO PELA LEI
DE HENRY, ADOTADA PELO LEGISLADOR PARA O CÓDIGO DE TRÂNSITO
461

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BRASILEIRO ­ PERCENTUAL AFERIDO PELO EXAME BAFOMÉTRICO QUE DENOTA


INCONTESTE EMBRIAGUEZ ­ PROVAS EFICIENTES A CONFIRMAR O ESTADO
ETÍLICO ­ ROGATIVA DE FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS ­ DEFENSOR
DATIVO NOMEADO PARA APRESENTAR RAZÕES DE APELAÇÃO ­ POSSIBILIDADE ­
RECURSO NÃO PROVIDO E DEFERIDO O PLEITO DE ARBITRAMENTO DE
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS (...)” (TJPR ­ 2ª C.Criminal, AC 1120723-7, Ponta , Rel.
Lidio José Rotoli de Macedo, , J. 30.01.2014).
Cabe ser acrescentado que a Tabela de Custas da Ordem dos Advogados do Brasil é
uma referência da remuneração paga aos advogados pelos atos que praticarem,
porém não vinculam a fixação da verba honorária pelos magistrados.
Portanto, impõe-se deferir a fixação de honorários advocatícios ao defensor nomeado,
Dr. Benhur Baptista, OAB/PR 67.968, no valor de R$ 800,00 (oitocentos reais), em
razão da apresentação da apelação, compatível com o trabalho desenvolvido pelo
procurador e o grau de complexidade da causa, o grau e o zelo do profissional e o
lugar da prestação do serviço (CPC, art. 85), atualizáveis e corrigidos a partir da data
deste julgamento.
Da justiça gratuita
Requer a concessão dos benefícios da justiça gratuita.
Contudo, o presente pleito não merece ser conhecido.
O pedido do benefício em análise deve ser feito ao Juízo da Execução, o qual é o
competente para apreciar as condições financeiras do ora apelante, bem como a
possibilidade de arcar ou não com as despesas processuais sem o prejuízo do sustento
próprio ou de sua família.
Nesse sentido:
“APELAÇÃO CRIME ­ POSSE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO COM
NUMERAÇÃO SUPRIMIDA (ART. 16, “CAPUT”, DA LEI 10.826/03) ­ ROGATIVA
ABSOLUTÓRIA ­ PRETENSA DESCONSTITUIÇÃO DOS DEPOIMENTOS PRESTADOS
PELOS POLICIAS MILITARES ­ INVIABILIDADE ­ AUSÊNCIA DE QUALQUER INDÍCIO
DE PARCIALIDADE ­ PROVAS SUFICIENTES A ENSEJAR DECRETO CONDENATÓRIO
­ PLEITO ALTERNATIVO DE SUBSTITUIÇÃO DA PENA CORPORAL POR RESTRITIVAS
DE DIREITOS ­ PLEITO INÓCUO ­ SUBSTITUIÇÃO JÁ OPERADA EM SENTENÇA ­
PRETENSÃO DA ISENÇÃO DAS CUSTAS PROCESSUAIS COM A CONCESSÃO DO
BENEFÍCIO DA JUSTIÇA GRATUITA ­ NÃO CONHECIMENTO ­ ANÁLISE DE
COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA EXECUÇÃO ­ RECURSO PARCIALMENTE
CONHECIDO, E NA PARTE CONHECIDA, DESPROVIDO” (TJPR ­ 2ª C.Criminal, AC
1380465-2, Guaratuba, Rel. Marcio José Tokars, Unânime, J. 22.10.2015).
Por esta razão, não se conhece do presente pedido.
Dá-se por prequestionada a matéria.
Nestas condições, conhece-se, em parte, do recurso, e na parte conhecida, dá-se
parcial provimento ao mesmo, mantendo-se a condenação do recorrente nas sanções
previstas no art. 306 do CTB (agravado pelo contido no art. 298, III, do CTB), de modo
a fixar-lhe a reprimenda definitiva em 09 (nove) meses e 22 (vinte e dois) dias de
detenção, deferindo-se a fixação de honorários advocatícios ao defensor nomeado,
Dr. Benhur Baptista, OAB/PR 67.968, no valor de R$ 800,00 (oitocentos reais), em
462

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

razão da apresentação da apelação, e, de ofício, reduzir a pena de multa para 13


(treze) dias-multa, tudo nos termos da fundamentação.
ANTE O EXPOSTO, acordam os Desembargadores integrantes da 2ª Câmara Criminal
do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em conhecer,
em parte, do recurso, e na parte conhecida, em dar-lhe parcial provimento, mantendo-
se a condenação do recorrente nas sanções previstas no art. 306 do CTB (agravado
pelo contido no art. 298, III, do CTB), de modo a fixar-lhe a reprimenda definitiva em
09 (nove) meses e 22 (vinte e dois) dias de detenção, deferindo-se a fixação de
honorários advocatícios ao defensor nomeado, Dr. Benhur Baptista, OAB/PR 67.968,
no valor de R$ 800,00 (oitocentos reais), em razão da apresentação da apelação, e, de
ofício, reduzir a pena de multa para 13 (treze) dias-multa, tudo nos termos da
fundamentação.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador Luís Carlos Xavier (com voto) e dele
participaram os Desembargadores José Maurício Pinto de Almeida e Roberto De
Vicente.
Curitiba, 27 de abril de 2017.
Des. Luís Carlos Xavier - Relator

2.3.21. REINCIDÊNCIA – EXASPERAÇÃO ACIMA DE 1/6 – AUSÊNCIA DE

FUNDAMENTAÇÃO

APELAÇÃO CRIME - 1. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA - PLEITO NÃO

CONHECIDO - COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA EXECUÇÃO - 2. EMBRIAGUEZ AO

VOLANTE - ARTIGO 306 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO - ABSOLVIÇÃO - NÃO

CABIMENTO - CRIME PRATICADO NA VIGÊNCIA DA LEI 12.760/2012 -

POSSIBILIDADE DE AFERIÇÃO DA EMBRIAGUEZ POR OUTROS MEIOS DE PROVA -

3. DELITO DE DESOBEDIÊNCIA - ATIPICIDADE DA CONDUTA - NÃO CABIMENTO -

PRÁTICA DELITIVA CONFIGURADA - 4. DOSIMETRIA DA PENA - EMBRIAGUEZ AO

VOLANTE - PREPONDERÂNCIA DA ATENUANTE DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA EM

DETRIMENTO DA AGRAVANTE DA REINCIDÊNCIA - IMPOSSIBILIDADE -

COMPENSAÇÃO - 5. REINCIDÊNCIA - DELITO DE DESOBEDIÊNCIA -AUMENTO

ACIMA DE 1/6 - AUSÊNCIA DE MOTIVAÇÃO - IMPOSSIBILIDADE - 6. REGIME

INICIAL DE CUMPRIMENTO DA PENA - APLICAÇÃO DO REGIME ABERTO - NÃO

CABIMENTO - ACUSADO REINCIDENTE - 7. PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE -

REPRIMENDA INFERIOR A UM ANO - SUBSTITUIÇÃO POR UMA PENA RESTRITIVA


463

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

DE Apelação Crime nº 1.588.435-02DIREITOS - RECURSO PARCIALMENTE

CONHECIDO E, NESTA PARTE, PARCIALMENTE PROVIDO.1. Não há que ser

conhecido o pedido de concessão do benefício da assistência judiciária gratuita, em

razão de ser a matéria de competência do Juízo da Execução.2. Com o advento da Lei

12.760/2012, o legislador previu a possibilidade de comprovação do crime de

embriaguez ao volante por diversos meios de prova, conforme se infere da redação do

§ 2º incluído no artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro. Tendo em vista os

depoimentos coerentes e harmônicos dos policiais que efetuaram a prisão em

flagrante e diante as demais provas carreadas nos autos, resta demonstrada a prática

do delito previsto no artigo 306 da Lei nº 9.503/97.3. Restando incontroverso que o

acusado desobedeceu à ordem legal de policial militar no exercício de suas funções,

resta configurado o crime de desobediência, tipificado no artigo 330 do Código

Penal.4. "É possível, na segunda fase da dosimetria da pena, a compensação da

atenuante da confissão espontânea com a agravante da reincidência". (STJ, REsp

1341370/MT, Rel.Ministro Sebastião Reis Júnior, Terceira Seção, DJe 17.04.2013).5.

No aumento da pena em razão da reincidência, a aplicação de fração superior a 1/6

exige motivação concreta.6. Considerando a reincidência do acusado, correta a

Apelação Crime nº 1.588.435-03sentença que fixou o regime semiaberto para início de

cumprimento da pena.7. Nos termos do art. 44, § 2°, do Código Penal, na condenação

igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por multa ou por uma pena

restritiva de direitos.

(TJPR - 2ª C.Criminal - AC - 1588435-0 - Ponta Grossa - Rel.: Luís Carlos Xavier -

Unânime - J. 06.04.2017)

Inteiro Teor

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Crime nº 1588435-0, de Ponta


Grossa - 3ª Vara Criminal, em que é Apelante Leornes Alves dos Santos e Apelado o
Ministério Público do Estado do Paraná.
Trata-se de recurso de Apelação interposto contra a sentença (mov. 87.1) proferida
nos autos de Ação Penal nº 0004822- 32.2015.8.16.0019 que julgou procedente a
denúncia condenando Leornes Alves dos Santos como incurso nas sanções do artigo

464

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

330 do Código Penal e artigo 306 da Lei 9.503/97, fixando-lhe a pena definitiva de 09
(nove) meses, 12 (doze) dias e 100 (cem) dias-multas e suspensão ou proibição de se
obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor, pelo prazo de 02
(dois) meses e 15 (quinze) dias, em regime semiaberto, tendo sido substituída por duas
restritivas de direito, sendo prestação pecuniária, no valor de um salário mínimo, e
prestação de serviços à comunidade, à razão de uma hora por dia de condenação.
Inconformado, Leornes Alves dos Santos interpôs recurso de Apelação (mov. 100.1),
sustentando que deve ser absolvido, uma vez que não restou demonstrada a
subsunção da conduta ao modelo abstrato previsto no Código de Trânsito Brasileiro e
o Ministério Público não conseguiu comprovar a alteração do estado psicomotor,
devendo ser reconhecida a atipicidade da conduta descrita na denúncia.
Alega que se faz necessário, além da comprovação da ingestão de álcool, que o
agente esteja dirigindo o veículo de forma anormal, produzindo perigo concreto à
coletividade, pois somente nesta hipótese é que estará violando o bem jurídico
protegido pelo tipo penal.
Argumenta que não há provas de que o acidente se deu em razão da bebida, não foi
realizado o teste do etilômetro e apenas há a versão dos policiais sustentando que se
encontrava com sinais de embriaguez, tais como hálito etílico, fala enrolada, desordem
nas vestes, exaltação, agitação, mas tais sintomas se confundem com os sintomas de
uma hipoglicemia, pois é diabético, devendo ser reconhecida a atipicidade da
conduta.
Subsidiariamente, assevera pela absolvição por insuficiência de provas, porque os
depoimentos dos policiais militares que realizaram a abordagem não devem ser
considerados, pois dotados de parcialidade, sendo que apesar da menção à falha
mecânica na camionete, os policiais sequer foram verificar o estado do veículo a fim de
se confirmar a versão do réu, o que por si só demonstra a parcialidade referida.
Afirma que não devem ser considerados o termo de constatação de sinais de
alteração da capacidade psicomotora e o boletim de ocorrência, no sentido da
interpretação dada pelos policiais, porque os sinais somente podem ser considerados
como manifestação de uma hipoglicemia, já que é diabético, devendo ser absolvido
nos termos do artigo 386, VII, do CPP.
Com relação ao delito de desobediência, requer a absolvição por ausência de
elemento subjetivo do tipo, uma vez que deixou claro em seu depoimento que em
virtude da hipoglicemia não teve plena consciência da voz de prisão e suas atitudes
ocorreram de forma involuntária, já que seus ânimos estavam afetados pelos sintomas
da hipoglicemia.
Aduz que não houve vontade livre e consciente de desobedecer à ordem de
autoridade policial e em nenhum momento tentou fugir, ou se livrar da situação,
queria apenas, antes de adentrar na viatura, esperar a chegada de seus familiares que
poderiam ajudá-lo naquele incidente.
Quanto à dosimetria da pena, argumenta que a confissão e a reincidência devem ser
compensadas na segunda fase da fixação da pena, e, subsidiariamente, que o
aumento pela reincidência não ultrapasse 1/6 (um sexto).

465

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Alega que deve ser fixado regime inicial aberto para o cumprimento da pena e, na
sequência a substituição da pena privativa de liberdade por apenas uma pena restritiva
de direito, nos termos do art. 44, § 2°, do Código Penal.
Assevera que deve haver a reforma da decisão condenatória em relação aos 100
(cem) dias-multas fixados, desproporcionalmente à sua situação econômica.
Aduz que a fixação da pena acessória prevista na parte final do preceito secundário do
artigo 306, da Lei nº 9.503/97, deve ter duração máxima de 02 (dois) meses, porque
todas as circunstâncias judiciais o favorecem e diante da necessária compensação
integral da atenuante da confissão espontânea com a agravante da reincidência.
Postula seja garantida a gratuidade da Justiça, isentando-o de eventuais custas
judiciais.
Ao final, requer: 1) a absolvição, em relação ao crime previsto no artigo 306, da Lei nº
9.503/97, pela atipicidade conduta; 2) a absolvição, diante da insuficiência probatória;
3) a absolvição do delito previsto no artigo 330 do CP, pela atipicidade da conduta e
subsidiariamente pela insuficiência de provas; 4) na dosimetria da pena, a adequação
da pena final, considerando que a atenuante da confissão espontânea e a agravante
da reincidência são igualmente preponderantes; com a fixação do regime inicial aberto
e adequação da substituição para apenas uma pena restritiva de direitos; a adequação
da pena acessória para 2 (dois) meses, em proporção com a pena da reprimenda
detentiva; o redimensionamento da pena pecuniária; 5) seja concedida a justiça
gratuita.
Em contrarrazões, o Apelado pugnou pelo desprovimento do recurso (mov. 106.1).
A douta Procuradoria Geral de Justiça opinou pelo parcial conhecimento e, na parte
conhecida, o parcial provimento do recurso (fls. 09/29).
É o relatório.
VOTO
Presentes em parte os pressupostos recursais de admissibilidade, impõe-se conhecer
parcialmente do recurso interposto.
Na parte conhecida, a pretensão recursal admite parcial acolhimento.
Da assistência judiciária gratuita.
O Apelante requer a concessão do benefício da assistência judiciária gratuita.
Contudo, o presente pedido não merece ser conhecido.
O pedido do benefício deve ser feito ao Juízo da Execução, o qual é o competente
para apreciar as condições financeiras do ora apelante, e a possibilidade de arcar ou
não com as despesas processuais sem o prejuízo do sustento próprio ou da sua
família.
Nesse sentido:
“APELAÇÃO CRIME. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO COM NUMERAÇÃO
SUPRIMIDA (ART. 16, § ÚNICO, INCISO IV, DA LEI 10.826/2003).
INCONSTITUCIONALIDADE POR SE TRATAR DE UM CRIME DE MERA CONDUTA.
INOCORRÊNCIA.PRECEDENTES. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
OU DA BAGATELA. NÃO ACOLHIMENTO. DOSIMETRIA DA PENA.MANUTENÇÃO
NO MÍNIMO LEGAL. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA E DETRAÇÃO PENAL.
QUESTÕES NÃO CONHECIDAS. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA EXECUÇÃO.
466

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

APELAÇÃO PARCIALMENTE CONHECIDA E NA PARTE CONHECIDA NÃO


PROVIDA.” (TJPR, 2ª C.Criminal, AC 1017595-6, Foro Central da Comarca da Região
Metropolitana de Curitiba.
Rel. José Carlos Dalacqua, Unânime, J. 31.07.2014).
Portanto, não se conhece do pedido formulado pela defesa.
Do delito tipificado no artigo 306 do Código de Trânsito.
O Apelante assevera que deve ser absolvido, uma vez que o Ministério Público não
conseguiu comprovar a alteração do estado psicomotor, devendo ser reconhecida a
atipicidade da conduta descrita na denúncia.
Argumenta ainda que não há provas de que o acidente se deu em razão da bebida,
não foi realizado o teste do etilômetro e os sinais de embriaguez indicados pelos
policiais se confundem com os sintomas de uma hipoglicemia, pois é diabético.
Subsidiariamente, assevera pela absolvição por insuficiência de provas, porque os
depoimentos dos policiais militares que realizaram a abordagem não devem ser
considerados, pois dotados de parcialidade.
A pretensão recursal não admite acolhimento.
Segundo a inicial acusatória, em 27.02.2015, à 01h, na Avenida Bonifácio Vilela, nº
1390, Jardim Carvalho, em Ponta Grossa- PR, o denunciado conduzia a caminhonete
GM/Chevy, placas AEC 9433, com a capacidade psicomotora alterada em razão da
influência de álcool, apresentando visíveis sinais de embriaguez como fala enrolada,
hálito etílico, arrogância e agressividade, tendo se recusado a realizar o teste
etilométrico.
A propósito do delito imputado ao Apelante, o artigo 306 da Lei nº 9.503/97 (Código
de Trânsito Brasileiro) estabelece que:
“Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em
razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine
dependência.
Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se
obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
§ 1º As condutas previstas no caput serão constatadas por:
I - concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou
igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar; ou
II - sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade
psicomotora.
§ 2º A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de
alcoolemia, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova
em direito admitidos, observado o direito à contraprova.
§ 3º O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos testes de alcoolemia
para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo”.
Acerca dos fatos, o acusado declarou em Juízo que:
“(...) no momento em que tomou conhecimento dos fatos estava hiperglicêmico, é
insulinodependente e em determinados horários entre em pico, e neste dia trabalhou
até a meia noite e neste trabalho faz esforço físico. No momento do acidente, o
veículo apagou; seu coma não foi devido ao álcool, mas foi devido a hipoglicemia.
467

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Neste dia tomou um dedo de whisky. Reagiu a ordem policial devido a situação; bateu
o veículo em uma palmeira, saiu do carro e foi juntando gente. O álcool aumenta a
hipoglicemia; não reagiu, mas não tinha consciência plena do que era a ordem de
prisão, porque discutia com populares. Não chegou a entrar na viatura, eles tentaram
o colocar. Não ficou no interior da viatura porque não estava com o entendimento
perfeito, as pessoas estavam zombando dele. Na hora da batida atravessava a Avenida
Ernesto Vilela, quando o carro morreu; o carro morreu quando começou a passar mal”.
A materialidade dos crimes está comprovada pelo Auto de Prisão em Flagrante (mov.
1.1), Termo de Constatação de Sinais de Alteração da Capacidade Psicomotora (mov.
11.1), Boletim de Ocorrência (mov. 11.5), bem como pela prova oral, sendo que a
autoria é certa e recai sobre o acusado, consoante se extrai do conjunto probatório.
Em Juízo, o policial militar Marcos James de Matos afirmou que:
“Foram acionados para dar atendimento a um acidente de trânsito na Avenida Ernesto
Vilela; onde um veículo Chev havia colidido com uma palmeira da rua. O condutor
apresentava visíveis sinais de embriaguez, como ato etílico, fala enrolada, estava
arrogante, discutindo com populares. Tentaram acalmar a situação e pediram para que
ele ficasse na viatura, até para evitar que eles entrassem em vias de fato com os
populares, ele não quis, tiveram então que fazer uso moderado de força para algemá-
lo e colocá-lo no camburão. Ele foi convidado a realizar o teste do etilômetro, mas se
recusou a fazê-lo. O carro dele apresentou problema mecânico e ele tentou dar um
tranco de ré e colidiu com a palmeira. Ele estava bastante agitado, não se recorda se
ele confessou ter ingerido bebida alcoólica. Acredita que havia 10 pessoas no local,
eles questionavam a embriaguez do réu. Os familiares do réu chegaram pouco tempo
depois. Ele não relatou problema de saúde nenhum.”
No mesmo sentido foi o depoimento do policial militar Thiago Rafael Estevam, o qual
relatou em Juízo que: (...) durante a abordagem policial sentiu o hálito etílico do Réu;
os integrantes da equipe policial determinaram que ele permanecesse no interior da
viatura policial, mas ele desobedeceu tal ordem; foi necessário o uso de força; ele
disse tomar remédio para diabetes e não tentou fugir”.
Com relação à eficácia probatória do depoimento de policiais, oportuno relacionar os
seguintes procedentes jurisprudenciais:
“(...) CONDENAÇÃO FUNDAMENTADA NO DEPOIMENTO DE POLICIAIS. MEIO DE
PROVA IDÔNEO. FRAGILIDADE DO CONJUNTO PROBATÓRIO NÃO
DEMONSTRADA. (...) 2. Conforme entendimento desta Corte, o depoimento de
policiais constitui meio de prova idôneo a embasar o édito condenatório, mormente
quando prestado ou corroborado em Juízo, no âmbito do devido processo legal.
Precedentes.” (STJ, HC 261.170/SP, Rel. Min. JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julg.
01.04.2014, DJe 10.04.2014).
“PENAL. TRÁFICO DE ENTORPECENTE. (...). MATERIALIDADE E AUTORIA
DEVIDAMENTE COMPROVADAS. TESTEMUNHO DE POLICIAIS. VALIDADE E
RELEVÂNCIA. CONDENAÇÃO MANTIDA. (...). APELO NÃO PROVIDO. (...) a)
Mantém-se a sentença condenatória quando devidamente comprovadas a
materialidade e a autoria delitivas. b) ‘O valor do depoimento testemunhal de
servidores policiais - especialmente quando prestado em juízo, sob a garantia do
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contraditório - reveste-se de inquestionável eficácia probatória, não se podendo


desqualificá-lo pelo só fato de emanar de agentes estatais incumbidos, por dever de
ofício, da repressão penal’ (STF - HC n° 73.518-5/SP)” (TJPR, AC 383298-2, Rel.
Rogério Kanayama, Dje 23.03.2007).
O informante André Luiz Caetano Pereira, relatou em Juízo que:
“Chegou no local do acidente e viram o réu um pouco alterado, devido as pessoas
que zombavam dele naquele momento.
Não sabe dizer se o carro apresentou problemas mecânicos. As pessoas zombavam
das condições do carro. Não viram os policias determinando que entrassem na viatura.
Ele estava perturbado em razão das humilhações que sofria. Ele tem hipoglicemia e
diabetes.
Ele não é de beber, mas pode ser que ele tenha bebido. Ele bateu com a traseira do
veículo. Ele sabia que não poderia beber, devido aos medicamentos. No momento ele
se recusou a ficar dentro da viatura policial.”
A mulher do Apelante, ouvida como informante, relatou em Juízo que: “(...) ele estava
bastante nervoso em razão das pessoas que zombavam dele. Quando chegou lá, os
policiais já o haviam convidado para entrar na viatura, mas ele se recusou a entrar, pois
sabia que eu e meu filho estávamos a caminho; ele não agrediu ninguém, apenas se
defendia de boca. Ele é diabético e hipertenso, toma insulina. Sabe que ele bebeu
uma dose de whisky”.
É importante registrar que a Lei 12.720/12 ampliou as formas de aferição dos sinais de
embriaguez, acrescentando ser possível a verificação mediante vídeo, prova
testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos, de modo a corroborar a
alteração da capacidade psicomotora.
Neste sentido, o seguinte precedente do Superior Tribunal de Justiça:
“PENAL. HABEAS CORPUS. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE. ART.
306 DA LEI N.º 9.503/97. 1. APELAÇÃO CRIMINAL.
PRESENTE WRIT SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL. VIA INADEQUADA. 2.
DOSAGEM ALCÓOLICA. AFERIÇÃO. FATO POSTERIOR À ALTERAÇÃO NORMATIVA
CRISTALIZADA NA LEI N.º 12.760/12. 3. CONSTATADA A INFLUÊNCIA DE ÁLCOOL
DIANTE DOS SINAIS CLÍNICOS E MANIFESTAÇÕES FÍSICAS E PSÍQUICAS DO
AVALIADO. IMPOSSIBILIDADE.
TIPICIDADE. INOCORRÊNCIA. 4. ESTADO DE EMBRIAGUEZ APURADO POR PROVA
TESTEMUNHAL. POSSIBILIDADE. 5.
DIGRESSÕES SOBRE O CONTEÚDO E A QUALIFICAÇÃO DOS DEPOIMENTOS
TESTEMUNHAIS. ANÁLISE FÁTICO- PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. 6. HABEAS
CORPUS NÃO CONHECIDO.
1. Por se tratar de habeas corpus substitutivo de recurso especial, inviável o seu
conhecimento, restando apenas a avaliação de flagrante ilegalidade.
2. A Lei n.º 12.760/12 modificou o artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro, a fim
de dispor ser despicienda a avaliação realizada para atestar a gradação alcóolica,
acrescentando ser viável a verificação da embriaguez ao volante mediante vídeo,
prova testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos, observado o direito
à contraprova, de modo a corroborar a alteração da capacidade psicomotora.
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4. No caso em apreço, praticado o delito em 20.10.2013, ou seja, na vigência da


última modificação normativa, possível se mostra o reconhecimento da tipicidade da
conduta mediante os depoimentos testemunhais.
5. Demais digressões sobre o conteúdo e a qualificação dos depoimentos
testemunhais demandam revolvimento fático-probatório, não condizente com a
angusta via do remédio heroico.
6. Habeas corpus não conhecido.” (HC 328.516/RS, Rel. Ministra Maria Thereza de
Assis Moura, Sexta Turma, DJe 22.10.2015).
Trata-se de crime de mera conduta e de perigo abstrato, bastando, para que o
comportamento se ajuste ao tipo penal, prova de que o agente conduzia veículo
automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool, em
concentração superior à permitida em lei ou que indiquem alteração da capacidade
psicomotora, circunstâncias efetivamente demonstradas nos autos, pelo Termo de
Constatação de Sinais de Alteração da Capacidade Psicomotora (mov. 11.1), confissão
do acusado e prova testemunhal.
Por outro lado, embora o receituário médico anexado às alegações finais tenha
revelado que o acusado necessita utilizar insulina e fazer testes de glicose (mov. 85.7),
não há informação acerca de qual o tipo de diabetes e tampouco foi produzida prova
acerca de que o acusado estava de fato em estado de hipoglicemia no momento do
acidente.
Embora o uso de álcool possa, dependendo das circunstâncias, levar à hipoglicemia,
o acusado reconheceu ter ingerido bebida alcoólica antes de dirigir, circunstância que
caracteriza o delito, tendo assumido o risco de reduzir os níveis de açúcar na corrente
sanguínea e desenvolver os sintomas característicos da hipoglicemia na condição de
diabético.
Neste aspecto, conforme observado na sentença, “(...) a crise hipoglicêmica do réu foi
ocasionada diretamente pelo fato de ter ele ingerido bebida alcoólica, sendo esta,
portanto, causa primeira do acidente”.
Portanto, impõe-se reconhecer a consumação do delito e rejeitar a pretensão recursal
de absolvição, sendo improcedentes as teses de atipicidade da conduta e insuficiência
probatória.
2. Do delito de desobediência.
O Apelante alega ausência de elemento subjetivo do tipo, uma vez que deixou claro
em seu depoimento que em virtude da hipoglicemia não teve plena consciência da
voz de prisão e suas atitudes ocorreram de forma involuntária, e que em nenhum
momento tentou fugir, queria esperar a chegada de seus familiares que poderiam
ajudá-lo naquele incidente.
Segundo a denúncia, na mesma oportunidade, o denunciado, voluntariamente e
consciente da ilicitude e reprovabilidade da própria conduta, após ser abordo,
recusou-se a permanecer do interior da viatura policial, desobedecendo a ordem legal,
sendo necessário o uso de força moderada e algemas para contê-lo.
A pretensão recursal absolutória não admite acolhimento.
A propósito da desobediência, o policial militar Marcos James de Matos afirmou em
Juízo que: “(...) O condutor apresentava visíveis sinais de embriaguez, como ato etílico,
470

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fala enrolada, estava arrogante, discutindo com populares. Tentaram acalmar a


situação e pediram para que ele ficasse na viatura, até para evitar que eles entrassem
em vias de fato com os populares, ele não quis, tiveram então que fazer uso moderado
de força para algemá-lo e colocá-lo no camburão”.
No mesmo sentido foi o depoimento do policial militar Thiago Rafael Estevam, o qual
relatou em Juízo que: (...) os integrantes da equipe policial determinaram que ele
permanecesse no interior da viatura policial, mas ele desobedeceu tal ordem; foi
necessário o uso de força”.
Assim, tendo em vista que o Apelante desrespeitou a ordem de permanecer na
viatura, emanada pelos policiais, no exercício de suas funções, houve a adequação da
conduta ao tipo penal de desobediência, previsto no artigo 330 do Código Penal.
Ademais, é desassociada do conjunto provatório a tese de que em virtude da
hipoglicemia não teve plena consciência da voz de prisão, pois em seu interrogatório o
acusado revelou ter ciência das demais circunstâncias que envolveram o fato e deixou
de obedecer à ordem policial que tinha por objetivo a sua segurança e das demais
pessoas que estavam no local do acidente.
Portanto, a sentença não merece reforma, porque a autoria é certa e recai sobre o
Apelante, havendo nos autos elementos suficientes para confirmar a condenação pela
prática do delito imputado na inicial acusatória.
Dosimetria da pena.
Delito de embriaguez ao volante.
O Apelante argumenta que a confissão e a reincidência devem ser compensadas na
segunda fase da fixação da pena, e, subsidiariamente, que o aumento pela
reincidência não ultrapasse 1/6 (um sexto).
A pretensão admite acolhimento.
Ocorre que, com relação ao delito de embriaguez ao volante, o magistrado a quo
considerou a reincidência como preponderante sobre a confissão, elevando a pena, o
que não pode ser mantido, tendo em vista que deve haver a compensação, em razão
da inexistência de preponderância entre ambas, devendo, assim, a revisão das penas
ser operada, segundo o entendimento do Superior Tribunal de Justiça (HC
291.237/SP, Rel. Ministro Gurgel De Faria, Quinta Turma, julgado em 16.12.2014, DJe
02.02.2015; AgRg no HC 276.663/SP, Rel.
Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe 04.02.2015).
Referida matéria já foi inclusive objeto de julgamento segundo o rito dos recursos
repetitivos:
“RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA (ART. 543-C DO CPC).
PENAL. DOSIMETRIA. CONFISSÃO ESPONTÂNEA E REINCIDÊNCIA.
COMPENSAÇÃO.
POSSIBILIDADE.
1. É possível, na segunda fase da dosimetria da pena, a compensação da atenuante
da confissão espontânea com a agravante da reincidência.
2. Recurso especial provido.” (REsp 1341370/MT, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior,
Terceira Seção, DJe 17.04.2013)

471

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Assim, com relação ao delito de embriaguez ao volante, operando-se a compensação


entre a reincidência e a confissão espontânea, fixa-se a pena definitiva no mínimo legal
de 06 (seis) meses de detenção, 10 (dez) dias-multa e suspensão ou proibição de se
obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor, pelo prazo de 02
(dois) meses.
Delito de desobediência.
A pena ao delito de desobediência é de detenção de quinze dias a seis meses e
multa, nos termos do artigo 330 do Código Penal.
Na sentença, verifica-se que o magistrado a quo fixou a pena-base no mínimo legal
de 15 (quinze) dias de detenção e aumentou em 27 (vinte e sete) dias em razão da
reincidência, totalizando 01 (um) mês e 12 (doze) dias de detenção e 67 (sessenta e
sete) dias-multa.
Entretanto, o aumento revela-se desproporcional, impondo-se o ajuste na proporção
de 1/6 (um sexto) da pena mínima, devendo ser fixada a pena definitiva, portanto, em
17 (dezessete) dias de detenção e 12 dias-multa, devendo a pena de multa conservar
proporcionalidade com a reprimenda privativa de liberdade.
Considerando a regra do concurso material, a pena definitiva resta fixada em 06 (seis)
meses, 17 (dezessete) dias de detenção e 22 (vinte e dois) dias-multa, com a
suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo
automotor pelo prazo de 02 (dois) meses.
Regime inicial de cumprimento de pena.
O Apelante alega que deve ser fixado regime inicial aberto para o cumprimento da
pena.
Neste aspecto, verifica-se que o acusado é reincidente, razão pela qual não há como
se fixar o regime inicial aberto, em atenção à regra do artigo 33, §2º, do Código Penal.
Neste sentido:
“APELAÇÃO CRIMINAL - CONDENAÇÃO PELA PRÁTICA DO CRIME DO ARTIGO 16
DA LEI 10826/03 - AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS - ALEGAÇÃO DE
ATIPICIDADE DESCABIDA - RÉU DENUNCIADO POR CRIME ÚNICO - PORTE
CONFESSO DE ACESSÓRIO DE USO PROIBIDO (LUNETA) - ALEGAÇÃO DE QUE
NÃO SABIA QUE O ACESSÓRIO ERA DE USO PROIBIDO - DESCABIMENTO -
CORRETO REGIME SEMIABERTO DE CUMPRIMENTO DA PENA PRIVATIVA DE
LIBERDADE, VEZ QUE O RÉU É REINCIDENTE - SENTENÇA MANTIDA - RECURSO
DESPROVIDO” (TJPR, 2ª C.Criminal, AC 1543973-3, Chopinzinho, Rel. Roberto De
Vicente, Unânime, J. 24.11.2016).
Ainda neste particular, o Superior Tribunal de Justiça consolidou entendimento,
através da Súmula 269, no sentido de ser “admissível a adoção do regime prisional
semiaberto aos reincidentes condenados a pena igual ou inferior a quatro anos se
favoráveis as circunstâncias judiciais”.
Portanto, não merece reparo a sentença que fixou o regime semiaberto para início de
cumprimento da pena.
Substituição da pena privativa de liberdade.
O Apelante argumenta que deve ser realizada a substituição da pena privativa de
liberdade por apenas uma pena restritiva de direito.
472

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A pretensão admite acolhimento, porque nos termos do art. 44, § 2°, do Código
Penal, na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por
multa ou por uma pena restritiva de direitos, devendo ser afastada, portanto, a
prestação pecuniária e mantida a prestação de serviço à comunidade imposta na
sentença, sendo relevante registrar que a pena restritiva de direitos converte-se em
privativa de liberdade na hipótese de descumprimento injustificado da restrição
imposta.
Nestas condições, conhece-se, em parte, do recurso, e na parte conhecida, dar-lhe
parcial provimento, nos termos da fundamentação.
ANTE O EXPOSTO, acordam os Desembargadores integrantes da 2ª Câmara Criminal
do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, por
unanimidade de votos, em conhecer parcialmente do recurso, e na parte conhecida,
em dar-lhe parcial provimento.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador Luís Carlos Xavier (com voto) e dele
participaram os Desembargadores José Maurício Pinto de Almeida e Roberto De
Vicente.
Curitiba, 06 de abril de 2017.
Des. Luís Carlos Xavier - Relator

2.3.22. CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS – CRITÉRIO DE 1/6 DE EXASPERAÇÃO POR

CIRCUNSTÂNCIA – PEDIDO DA DEFESA

APELAÇÃO CRIMINAL - PRELIMINAR - 1. GRAVAÇÃO TELEFÔNICA - PROVA LÍCITA -

INTERLOCUÇÃO REGULAR - 2. CORRUPÇÃO PASSIVA - ABSOLVIÇÃO - NÃO

CABIMENTO - AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS - 3. FALSIDADE

IDEOLÓGICA - ABSOLVIÇÃO - NÃO CABIMENTO - PRÁTICA DELITIVA

CONFIGURADA - 4. PREVARICAÇÃO - ABSOLVIÇÃO - IMPOSSIBILIDADE - 5.

APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO - NÃO CABIMENTO - DELITOS

AUTÔNOMOS - CONDENAÇÃO MANTIDA - 6.DOSIMETRIA DA PENA - PENA BASE

- CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS - VALORAÇÃO NEGATIVA MOTIVADA - AUMENTO

DESPROPORCIONAL - ADEQUAÇÃO NECESSÁRIA - 7. PENA DE MULTA - REDUÇÃO

PROPORCIONAL À REPRIMENDA PRIVATIVA DE LIBERDADE - 8. CRIME

CONTINUADO - NÃO CONFIGURAÇÃO - LAPSO TEMPORAL NÃO EVIDENCIADO -

9. DELITO DE CORRUPÇÃO PASSIVA - CAUSA ESPECIAL DE AUMENTO

EVIDENCIADA - ART.317, § 1º, CP - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.1. Como o

473

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fato não se ajusta às hipóteses de proteção constitucional do sigilo das comunicações,

a gravação Apelação Crime nº 1.533.560-32telefônica realizada por um dos

interlocutores é lícita e pode ser utilizada como meio de prova.2. Tendo em vista que

o acusado recebeu vantagem indevida em razão da função, impõe-se manter a

condenação pela prática do delito previsto no art. 317 do Código Penal.3. Havendo

provas suficientes a demonstrar a materialidade e autoria do delito de falsificação

ideológica, impõe-se manter o decreto condenatório.4. Como o acusado deixou de

praticar ato de ofício para satisfazer interesse pessoal, resta caracterizado o delito de

prevaricação, tipificado no artigo 319 do Código Penal, sendo descabida a tese de

absolvição.5. Considerando que os delitos de falsidade ideológica e prevaricação

foram praticados com desígnios autônomos e não como instrumentos necessários ao

delito de corrupção passiva, não há que se reconhecer o princípio da consunção.6.

Tendo sido as circunstâncias judiciais analisadas de maneira escorreita, é legítimo o

aumento da pena-base realizado na sentença. Entretanto, revelando-se

desproporcional o exasperamento, impõe-se acolher a pretendida redução da pena-

base.7. Deve ser reduzida a pena de multa, conservando-se a necessária

proporcionalidade com a reprimenda privativa de liberdade.8. Apesar de evidenciadas

condutas nas mesmas condições Apelação Crime nº 1.533.560-33de lugar e maneira

de execução, não se aplica o aumento de pena derivado da continuidade delitiva,

porque não restou esclarecido o lapso temporal entre os delitos.9. Aplica-se a causa

de aumento de pena prevista no artigo 317, § 1º, do Código Penal, quando em

consequência da vantagem o funcionário deixa de praticar ato de ofício ou o pratica

infringindo dever funcional.

(TJPR - 2ª C.Criminal - AC - 1533560-3 - Castro - Rel.: Luís Carlos Xavier - Por maioria -

J. 23.03.2017)

Inteiro Teor

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Crime nº 1533560-3, de


Castro - Vara Criminal, em que é Apelante Honório Tomas de Souza e Apelado o
Ministério Público do Estado do Paraná.

474

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Trata-se de Apelação interposta contra a sentença (mov. 155.1) proferida nos autos n°
0003997-50.2015.8.16.0064 de Ação Penal que julgou parcialmente procedente a
pretensão punitiva contra Honório Tomas de Souza, para o fim de absolvê-lo das
sanções previstas no artigo 351, §3º do Código Penal (fato 02) e condená-lo nas
sanções previstas no artigo 317, §1º (fato 01), artigo 299, parágrafo único (fato 03) e
artigo 319 (fato 04), todos do Código Penal, a uma pena total de 12 (doze) anos e 03
(três) meses de reclusão e 570 (quinhentos e setenta) dias-multa e 05 (cinco) meses de
detenção e 30 (trinta) dias-multa, sendo o valor do dia-multa em 1/30 do salário
mínimo vigente à época dos fatos, em regime fechado, tendo sido determinada a
perda do cargo público.
Inconformado, Honório Tomas de Souza interpôs recurso de Apelação (mov. 160.1),
asseverando preliminarmente que a gravação de conversa telefônica sem a
participação e conhecimento dos interlocutores, sem prévia autorização judicial,
consiste em prova obtida por meio ilícito, devendo ser declarada nula a gravação da
conversa telefônica e desentranhados o CD-ROM e o auto de exame de constatação
de gravação de áudio em aparelho celular.
No mérito, em relação à condenação por corrupção passiva, prevista no artigo 317,
§1º do Código Penal, alega que não consta nos autos comprovante de que tenha
recebido vantagem indevida ou prova que demonstre ter solicitado vantagem
indevida ou ainda que tenha aceitado promessa de receber alguma espécie de
vantagem.
Assevera que todas as testemunhas ouvidas em Juízo descrevem que ouviram falar
que o Apelante passava aparelho celular para dentro da unidade prisional, mas
nenhum afirmou ter presenciado tal situação.
Afirma que há nos autos declarações da autoridade policial e do diretor da cadeia
pública, os quais ficaram sabendo através das declarações prestadas pelos presos na
fase extrajudicial.
Aduz que a palavra do policial, por si só, não constitui argumento de convicção a
fundamentar a condenação.
Sustenta que mesmo sendo validada a interceptação telefônica clandestina, não se
observa em nenhum momento da interceptação qualquer indício de cometimento do
delito, em nenhum momento o mesmo solicita, recebe ou aceita promessa de
vantagem indevida, carecendo os autos de provas para ensejar um edito
condenatório, devendo ser absolvido com fulcro no artigo 386, incisos, II, IV, V e VII,
do Código de Processo Penal.
Assevera que a qualificadora do § 1º do artigo 317 do Código Penal é o exaurimento
do delito de corrupção passiva, e neste ponto, não encontra-se demonstrado nos
autos qual foi o ato de oficio que o Apelante retardou, deixou de praticar ou praticou
infringindo dever funcional.
Alega que não obstante a falta de provas de que tenha solicitado reiteradas vezes,
quantia monetária aos presos, o lapso temporal dessas infrações não está esclarecido,
havendo a necessidade de determinar quando iniciou-se, como requisito para
reconhecer a continuidade delitiva prevista no artigo 71 do Código Penal, pois o lapso

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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

superior a trinta dias entre o cometimento dos delitos impossibilita o reconhecimento


da continuidade delitiva.
Com relação ao delito de falsidade ideológica, tipificado no artigo 299, parágrafo
único, do Código Penal, por ter omitido em documento público declaração que dele
devia constar, argumenta que o anexo juntado as sequências 135.1 dos autos nº.
0003997-50.2015.8.16.0064, não indica tratar-se de um documento público, pois não
demonstra ser padrão das repartições públicas, as quais possuem livros de registro das
ocorrências devidamente identificados e números.
Afirma que não há que se denominar esses relatórios diários como documentos
públicos, pois eram anotações internas dos agentes prisionais, não tendo causado
prejuízo ao erário, muito menos a terceiros.
Aduz que a testemunha de acusação Ewerton Babi, ao ser ouvido em Juízo, relatou
“Que o depoente realmente foi para o castigo; que quem levou o depoente para o
castigo foi o senhor Walter”, razão pela qual quem deveria ter procedido a anotação
seria o agente penitenciário Walter e não o Apelante, devendo ser absolvido, nos
termos do artigo 386, incisos II, III, IV e VII do Código de Processo Penal.
Por outro lado, em relação ao delito de prevaricação, descrito no artigo 319 do
Código Penal (deixar de praticar ato de ofício para satisfazer interesse pessoal), alega
que a conduta é atípica, porque o ato de revistar o preso ao movimentá-lo dentro da
própria unidade prisional não é obrigatório, ao menos não consta anexo aos autos a
portaria, resolução ou normas gerais de ação e procedimentos dos agentes na
unidade prisional, devendo ser absolvido com fulcro no artigo 386, incisos III e VII do
Código de Processo Penal.
Argumenta que havendo simultaneidade entre as condutas, na qual a ação
subsequente se apresenta unida à anterior por um curtíssimo espaço de tempo, além
de serem correlatas, da mesma natureza, há que ser aplicado o princípio da consunção
em relação ao 3º e 4º fato narrado na denúncia, pois própria magistrada reconheceu
que houve simultaneidade entre as condutas, afinal, afirmou que para satisfazer o
interesse pessoal, restou demonstrado a vontade do agente em permitir a utilização e
negociação de aparelhos celulares entre os presos.
Com relação à dosimetria da pena, no que se refere ao crime de corrupção passiva,
afirma que foram consideradas duas circunstâncias judiciais desfavoráveis e para cada
uma a magistrada aumentou a pena em 2 (dois) anos.
Argumenta que a fundamentação utilizada para considerar desfavorável a
culpabilidade, faz parte da reprovabilidade inserida no próprio tipo penal e as
circunstâncias consignadas na sentença não possuem fundamentação idônea para
elevar a pena, pois são elementos que fazem parte da estrutura do tipo penal.
Alternativamente, requer seja aplicado para cada circunstancia judicial a fração de 1/6
de aumento, sobre a pena mínima, e não a fração de 1/1 conforme aplicado na
sentença.
Quanto à falsidade ideológica, foram consideradas desfavoráveis a culpabilidade e as
circunstâncias do crime e aumentada a pena em 1 (um) ano e 6 (seis) meses sem
critério e sem fundamentar a fração utilizada para se chegar aquela quantidade de
aumento em cada circunstância.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Aduz que a fundamentação utilizada para considerar desfavorável a culpabilidade, faz


parte da reprovabilidade inserida no próprio tipo penal e quanto às circunstâncias
consignadas na sentença, estas não possuem fundamentação idônea para elevar a
pena base e não sendo este o entendimento, deve ser aplicada para cada
circunstancia judicial a fração de 1/6 de aumento, sobre a pena mínima e não a fração
de ½ e de 1/1, conforme aplicado na sentença.
Assevera que na análise do delito de prevaricação foi considerado negativamente o
vetor das circunstâncias do crime, mas a fundamentação consigna elementos que
fazem parte da estrutura do tipo penal, devendo ser excluída e estabelecida a pena
base no mínimo legal.
Ao final, requer o conhecimento e o provimento do recurso, para o fim de reconhecer
a absolvição quanto aos delitos imputados na sentença e, alternativamente, seja
aplicado o princípio da consunção, uma vez que a violação ao artigo 319 e artigo 299
ambos do Código Penal, foram meio de execução e exaurimento da violação ao artigo
317, § 1 º do mesmo diploma legal; bem como seja excluído o aumento de pena das
circunstâncias judiciais consideradas desfavoráveis, devido à falta de fundamentação e
devido à falta de critério objetivo para aumentar a fração de 1/1 cada circunstância
judicial.
O representante do Ministério Público do Estado do Paraná apresentou contrarrazões
(mov. 185.1), postulando o improvimento do recurso.
Nesta instância, a douta Procuradoria Geral de Justiça exarou parecer pelo
provimento parcial do recurso (fls. 11/40).
É o relatório.
VOTO Presentes os pressupostos de admissibilidade é de se conhecer do recurso.
Cinge-se a controvérsia na análise da sentença proferida pelo magistrado a quo que
condenou o Apelante pela prática do delito tipificado no artigo 317, §1º (fato 01),
artigo 299, parágrafo único (fato 03) e artigo 319 (fato 04), todos do Código Penal, a
uma pena total de 12 (doze) anos e 03 (três) meses de reclusão e 570 (quinhentos e
setenta) dias-multa e 05 (cinco) meses de detenção e 30 (trinta) dias-multa, sendo o
valor do dia-multa em 1/30 do salário mínimo vigente à época dos fatos, em regime
fechado, tendo sido determinada a perda do cargo público.
O recurso comporta parcial provimento.
Matéria preliminar ­ da gravação telefônica.
O Apelante alega que a gravação de conversa telefônica sem participação,
conhecimento dos interlocutores e prévia autorização judicial, consiste em prova
obtida por meio ilícito, devendo ser declarada nula e desentranhados o CD-ROM e o
auto de exame de constatação de gravação de áudio em aparelho celular.
Inicialmente, cumpre registrar que a hipótese evidenciada nos autos não constitui
interceptação (gravação da conversa alheia) ou escuta (captação de conversa realizada
por terceiro, com o conhecimento de um dos interlocutores).
Trata-se de gravação telefônica evidenciada em um aparelho celular apreendido em
operação realizada na Cadeia Pública de Castro-PR, entre o segregado Eliton Ferreira
da Cruz e o Apelante.

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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

A propósito, Eliton Ferreira da Cruz declarou em Juízo que sabia que no celular havia
um aplicativo que gravava conversas, mas não que a conversa estava sendo gravada.
Todavia, a mudança de versão do segregado acerca de que não sabia que a conversa
estava sendo gravada não é plausível e está desassociada do conjunto probatório.
Neste aspecto, o detento Rosney Oliveira Carneiro, perante a autoridade policial
(mov. 1.15 ­ IP), declarou que “(...) os detentos apenas gravaram a ligação se o agente
Tomas os colocassem de castigo e que a gravação seria um argumento para conseguir
tirar Tomas do DEPEN para não receberem mais castigos”.
Em juízo, referida testemunha declarou que “o delegado mostrou uma gravação para
o declarante em que aparecia a voz do réu; que não sabe se o réu passava celulares
ou outros objetos para os presos; que com relação ao seu depoimento anterior, afirma
que havia outro rapaz junto com o declarante; que afirmou o que está no depoimento,
mas que o declarante não falou aquilo, porém o delegado queria que o declarante
concordasse, mas que assinou de livre e espontânea vontade; que nunca comprou
nada do réu.”
Acerca da gravação, o segregado Jonathan da Cunha Passos relatou perante a
autoridade policial que:
“(...) as pessoas de fora da cadeia corriam com o dinheiro para o agente Tomas pelos
celulares que entraram. Que inclusive os presos com este celular Galaxy Note 3
gravaram uma conversa que tiveram com o agente Tomas onde ele dá a ideia para os
presos do que falar se os celulares que ele está passando fossem encontrados; que
Tomas, dentre as ideias diz para os presos que as gradinhas das celas devem ser
cortadas “fazer buracos”, e que os celulares encontrados teriam ingressado por eles,
ou pescados. Na conversa se observa ainda que as coisas vão parar de ingressar no
presídio para dar uma baixada na poeira. Que na conversa ainda se escuta uma
negociação para ingresso de comidas e bebidas na cadeia de modo irregular. Que em
relação a fuga ocorrida no domingo dia 05 de julho de 2015, acredita que ela foi
facilitada pelo agente Tomas, pois foi ele que fez os corres das serras e das brocas
utilizados para fazer o buraco no teto da cela”.
Em juízo, Jonathan afirmou que nunca presenciou o acusado facilitar a entrada de
objetos e declarou que falou isso na fase inquisitorial porque queria ser transferido.
Entretanto, embora referida testemunha também tenha mudado a versão dos fatos
em Juízo, os depoimentos de ambos os detentos são harmônicos perante a autoridade
policial e foi em razão das informações fornecidas por Jonathan que a autoridade
policial localizou o aparelho celular com as gravações.
Como bem observado pelo representante do Ministério Público em sede de
contrarrazões:
“Cumpre destacar que, compulsando os autos, em relação às provas testemunhais,
em especial as consistentes nos depoimentos dos detentos, evidencia-se uma
substancial, mas não surpreendente, mudança de versão sobre os fatos.
Diz-se substancial, uma vez que as testemunhas/detentos que na fase inquisitorial
confirmaram a conduta criminosa do apelante, na fase judicial alteraram
completamente seus depoimentos, passando a inocentar o apelante. Ainda, diz-se de
modo não surpreendente, pois tal situação não é incomum, sendo verificada a
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alteração de declarações por presos que prestam depoimentos em processos


criminais, principalmente em feitos que buscam a apuração de delitos cometidos no
interior das cadeias.
Deste modo, levando em conta a súbita mudança no depoimento do segregado
Eliton Ferreira da Cruz, resta evidente sua intenção de ludibriar o juízo, tentando
afastar a credibilidade da gravação.
Ademais, não se pode aceitar que Eliton, o qual utilizava o celular com os outros
segregados não soubesse da existência do aplicativo, e menos ainda, que ele não
soubesse que tal aplicativo estava ativo no momento da ligação. Ora, não é crível que
algum outro preso tenha ativado tal aplicativo sem o conhecimento de Eliton, o qual
efetuou a chamada, e estava com o telefone em suas mãos. Deste modo, não há que
se falar em ilegalidade da prova obtida, já que fora obtida com o conhecimento de um
dos interlocutores, qual seja o segregado Eliton.”
A ilicitude se caracteriza quando a gravação é realizada por terceiro que intercepta a
conversa sem o conhecimento dos interlocutores e tampouco autorização judicial, em
desacordo com as regras previstas na Lei 9.296/96.
Como o fato não se ajusta às hipóteses de proteção constitucional do sigilo das
comunicações, a gravação deve ser acolhida como prova.
A propósito da possibilidade de se levar em consideração a gravação telefônica
nestas condições, oportuna a jurisprudência deste egrégio Tribunal:
“APELAÇÃO CRIMINAL. CONCUSSÃO (ARTIGO 316 DO CÓDIGO PENAL).
NULIDADE PROCESSUAL ARGUIDA SOB O FUNDAMENTO DE QUE A PEÇA
ACUSATÓRIA ESTARIA EMBASADA EM PROVA ILÍCITA. GRAVAÇÃO TELEFÔNICA
DA CONVERSA DA VÍTIMA COM A APELANTE, SEM AUTORIZAÇÃO DESTA.
INTERLOCUÇÃO REGULAR QUE NÃO CONFIGURA PROVA ILÍCITA E SE DIFERE DA
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. AUTORIZAÇÃO DA VÍTIMA COM O
ACOMPANHAMENTO DA PIC. AUSÊNCIA DE IRREGULARIDADES A ENSEJAR A
NULIDADE DA DECISÃO DO JUIZO SINGULAR. SENTENÇA DEVIDAMENTE
FUNDAMENTADA NOS DOCUMENTOS QUE COMPROVAM A CONDUTA DELITIVA.
FATO TÍPICO. ANÁLISE COERENTE DAS CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DESCRITAS
NO ARTIGO 59 DO CÓDIGO PENAL. PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS.
SENTENÇA MANTIDA. RECURSO NÃO PROVIDO.
I. É pacífico o entendimento no sentido de que a gravação clandestina, feita por um
dos interlocutores, sem a anuência do outro, como meio de prova é possível, e in casu,
deve-se levar em consideração ainda, que o agente que esta a apurar infringência a
lei, é quem justamente deveria zelar pelo seu cumprimento, pois se trata de uma
Policial Civil.
II. Desta feita, a própria vítima procurou se resguardar e fazer prova da prática ilícita
que sofria, obtendo sucesso na gravação da conversa com a apelante, policial civil, a
qual lhe exigia valores em dinheiro, ou seja, a prova consistente nas gravações feitas
pela vítima não só podem ser consideradas lícitas, como podem ainda ser
regularmente utilizada para a formação do convencimento do magistrado. (...).” (TJPR,
2ª C.Criminal, AC 730401-0, Rel. Lidio José Rotoli de Macedo, J. 24.11.2011).
Também neste aspecto, o seguinte precedente do Superior Tribunal de Justiça:
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“A gravação telefônica feita por um dos interlocutores ­ o vitimizado ­, sem


autorização judicial, nada tem de ilícita, e pode ser validamente utilizada como
elemento processual.” (HC 94.945/SP, Ministra Laurita Vaz, Quinta turma, DJe
23.08.2010).
Portanto, afasta-se a arguição preliminar de nulidade da gravação anexada aos autos.
Mérito.
Do delito de corrupção passiva.
O Apelante alega que não consta nos autos comprovante de que tenha recebido
vantagem indevida ou prova que demonstre ter solicitado vantagem indevida ou ainda
que tenha aceitado promessa de receber alguma espécie de vantagem, pois todas as
testemunhas ouvidas em Juízo declararam que ouviram falar que o Apelante passava
aparelho celular para dentro da unidade prisional, mas nenhum afirmou ter
presenciado tal situação, devendo ser absolvido, com fulcro no artigo 386, incisos, II,
IV, V e VII, do Código de Processo Penal.
Segundo a inicial acusatória:
“1º FATO - Em data e hora não especificadas nos autos, mas certo que no ano de
2015, aproximadamente a partir do mês de abril. Na Cadeia Pública da Comarca de
Castro/PR, localizada nas dependências da Delegacia de Polícia Civil de Castro/PR, na
Rua Tiradentes, n. 120, Centro, neste Município e Comarca de Castro/PR, por diversas
vezes, o denunciado HONÓRIO TOMAS DE SOUZA, voluntariamente e ciente da
ilicitude de sua conduta, de maneira dolosa, solicitou para si, diretamente aos
segregados lá insertos, vantagem indevida, consistente em quantia monetária, a fim
de praticar ato com infringência de dever funcional, prevalecendo-se, para tanto, da
função pública de Agente de Cadeia Pública.
Apurou-se que o denunciado HONÓRIO TOMAS DE SOUZA, na função de Agente de
Cadeia Pública lotado na Cadeia Pública de Castro/PR, ou seja, competente para
controlar o ingresso de materiais naquele estabelecimento, solicitou, reiteradas vezes,
quantia monetária aos presos, valor este recebido de pessoas alheias à Cadeia Pública
de Castro/PR - inclusive amigos dos segregados - a fim de que o funcionário
promovesse, sem autorização legal, o ingresso de aparelhos celulares no
estabelecimento prisional e os entregasse aos presos lá recolhidos.
Para o ingresso e entrega de cada aparelho telefônicos de comunicação móvel era
solicitada e recebida a quantia monetária de aproximadamente R$ 1300,00 (hum mil e
trezentos reais) a R$ 1500,00 (hum mil e quinhentos reais). Nas mesmas condições de
tempo, lugar e modo, o denunciado também solicitou e recebeu, por reiteradas vezes,
quantia monetária para permitir, de maneira irregular, o ingresso na Cadeia Pública de
Castro/PR e entrega aos presos lá segregados, de materiais, dentre eles, comidas,
bebidas, instrumentos artesanais nominados de “estoques”, barras de ferro, lâminas e
inclusive medicamentos de uso controlado (cf. auto de exibição e apreensão fis. 61 e
72, auto de exame de constatação de gravação de áudio em aparelho celulares fls. 74
e declarações de fls. 62/71 e fl. 82/94, auto de destruição fI. 101/105).
Tal empreitada era realizada preferencialmente nos finais de semana, dias de menos
movimento no estabelecimento prisional.

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Relativamente aos aparelhos celulares, o denunciado ainda instruía os presos sobre a


forma de dissimular a posse e o que afirmar caso fossem perguntados sobre a forma
de aquisição dos mesmos.”
O tipo penal de corrupção passiva atribuído ao Apelante estabelece que:
“Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda
que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou
aceitar promessa de tal vantagem: Pena ­ reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e
multa.
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou
promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o
pratica infringindo dever funcional.”
O pleito absolutório não admite amparo, porque as provas produzidas revelam de
forma incontroversa a prática do delito de corrupção passiva.
A propósito, a materialidade está comprovada pela Portaria instaurada (mov. 1.1 dos
autos de inquérito), Boletins de Ocorrência (movs. 1.3 e 1.4 ­ IP), Ofício (mov. 1.5 ­ IP),
Informação (mov. 1.6 ­ IP), Autos de Exibição e Apreensão (mov. 1.8 e 1.16 ­ IP), Auto
de Exame de Constatação de gravação de áudio em aparelho celular (mov. 1.18 ­ IP),
Laudo de Exame e Levantamento em Local de fuga de presos (mov. 1.25 ­ IP), Fotos
(mov. 1.28 ­ IP), Cópias dos Registros Diários (mov. 135.1), bem como pela prova
testemunhal realizada nos autos.
Em Juízo, o acusado negou a prática do delito e declarou que:
“Que a ligação que recebeu é verdadeira, sempre eram pressionados pelos presos a
passarem algum tipo de adianto; que desde que começou a trabalhar na DEPEN
sempre coibiram isso, tanto que retiravam aparelhos, estoques, barras de ferro, em
várias gerais que o interrogado tirou esse tipo de aparelho; que o interrogado não
sabe como conseguiram o número de telefone dele; que ligaram para o interrogado e
solicitaram celular, alimento; que eles alegavam para o interrogado que a comida às
vezes estava azeda, que estavam com fome, que gostariam de receber um alimento;
que o interrogado sempre enrolava, pois sabe que é algo ilícito e ia tentando enrolar,
tentando verificar de onde partia a situação, temendo sua segurança, sempre
procurava conversar, enrolar, pra ver se partia uma desistência deles ou descobrir
quem eram as pessoas; que os presos não se identificavam, só solicitavam; que o
interrogado desconfiou da voz, que era de alguém que estava no seguro; que trabalha
como agente de cadeia pública desde 2012; que essas ligações foram algumas vezes,
tanto que depois excluiu o celular, pra não ter mais esse tipo de ligação, pois eles
ligavam ameaçando inclusive; que já foi ameaçado várias vezes dentro da cadeia por
sua postura de trabalho, por trabalhar corretamente e exigir o que é pra ser feito; que
quando começou a receber essas ligações ficou em choque, como sabiam seu
número, se havia chego algum tipo de informação a respeito dele ou de sua família;
que sua intenção era a de enrolar pra saber de onde estava partindo isso, se estavam
tentando armar para o interrogado, como já fizeram com outro agente; que não
recebeu ameaças de alguém em específico, não chegou a relatar porque não sabia de
onde partiam; que não chegou a anotar os números de celular que entravam em
contato com o interrogado, mudou de número e não pode acessar; que foram feitos
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vários pedidos para o chefe de cadeia Marcos relatando os detentos com celulares,
inclusive a abertura da tela que cita na gravação já existia a tela, já havia citado em RD
que a tela estava aberta, que já havia comunicado a direção para haver uma geral, a
retirada; que viu o vídeo que aparecia o réu orientando os presos e que sua explicação
é que já existia aquele corte na tela, estava perguntando e incitando os presos a
abrirem a tela, mas já existia o buraco, o interrogado queria ouvir a resposta, o que
eles iam falar referente a isso; que o interrogado inclusive contatou o conselho da
comunidade, ela foi lá junto com o serralheiro, o interrogado mostrou; que na ligação
comentou do repasse de celulares dos presos pra que eles declarassem se tinha
alguma situação, o que estava acontecendo; que não sabe quem teria feito a
gravação, teve conhecimento dela hoje, pôde ouvi-la vagamente hoje; que quando
ligaram a princípio era pedido de comida, mas confessa o seu erro de ter enrolado a
situação de uma maneira que viesse a prejudicá-lo; que a intenção era ver quem
estava por trás disso, se era armação ou não; que a postura do interrogado era de
rigidez, mas ele se preocupava com os presos, pois todos são seres humanos; que não
tinha tratamento mais caridoso, o tratamento era o que devia ser; que uma das
ligações que lembra foi o pedido de comida, teve outra ligação pedindo celulares
também, que foi desconversado, falado que não passaria; que nunca passaria nada
que prejudicasse os colegas de trabalho ou facilitasse alguma fuga; que em relação
aos presos que foram ouvidos, o interrogado não tinha nenhum problema com eles,
de maneira alguma, tratamento de custodiado e agente; que o agente penitenciário é
sempre muito perseguido no sistema prisional em razão do trabalho, mas não sabe
dizer de quem é; que a maior parte dos celulares eles arremessavam pelo muro, em
dias de visitas; que o material pra facilitar a fuga provavelmente entrava da mesma
forma, inclusive em tubos de pasta de dente já foi encontrada broca; que toda a
delegacia tem câmeras de monitoramento; que mesmo nos finais de semana os
agentes não tinham acesso à carceragem sozinhos, não pode, estavam sempre
acompanhados; que inclusive às vezes precisavam pedir apoio dos presos que
trabalhavam lá fora pra retirar um preso da cela; que nunca entrou sozinho e teve
contato; que quando recebeu as ligações adotou a postura de tentar entender por que
elas estavam sendo feitas; que nega que tenha passado celular ou qualquer objeto;
que trabalhava há 3 anos na delegacia; que quando o DEPEN assumiu, foram retirados
mais de 40 celulares, mais estoques e barras de ferro, o interrogado participou da
maioria das gerais onde eram retirados esses aparelhos, então diminuiu drasticamente
o número de aparelhos depois que o DEPEN assumiu, em gerais tiravam 6 ou 7
aparelhos; que encontravam muitos aparelhos na época em que 3 agentes estavam
trabalhando de forma irregular; que nega que tenha passado os celulares e nas
ligações estava tentando investigar e foi um erro da parte do interrogado ter
prolongado e levado a situação até onde chegou; que de maneira alguma facilitou a
fuga; que em relação à transferência do Ewerton, no dia em questão teve um tumulto
na galeria onde ele estava, no seguro, no X onde ele estava com os outros detentos;
que o pessoal estava gritando e chamando a atenção do funcionário; que chegando
no local, o preso estava entrando em vias de fato com outro detento; que o
interrogado estava acompanhado do soldado Barbosa, da polícia militar, ele ajudou o
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interrogado na condução do preso, pois é um momento tenso quando tá tendo uma


briga; que Ewerton foi tirado e algemado, conduzido ao parlatório onde foi revistado e
foi conduzido ao isolamento pra averiguação do que estava acontecendo, pois não
podem isolar um preso sem um motivo, uma justificativa, pois é feito um comunicado,
uma declaração do preso e das testemunhas; que durante o plantão teve outras
ocorrências, foi um plantão bastante movimentado, teve um preso que tinha acabado
de chegar com a polícia militar, por isso o soldado Barbosa estava acompanhando;
que o preso Marcelo Espírito Santo chegou alegando que o preso Ewerton estava no
isolamento porque queria conversar com sua irmã que estava do lado lá, que não tinha
acontecido briga; que foram averiguar a situação e o preso estava mesmo, pois o
isolamento era do lado do X onde estavam as mulheres; que por isso não houve
motivo para o preso ficar no isolamento e retornou ao convívio; que o soldado é o
Barbosa, do Batalhão, mas ele não acompanhou a revista, somente a retirada do
preso, que foi colocado no parlatório, pois na revista o detento tem que tirar a roupa,
o Barbosa acompanhou do lado de fora; que é falsa afirmação de que o preso estaria
com o celular, pois ele foi revistado; que teve uma fuga, houve de fato a conversa com
o preso e a Autoridade Policial tomou conhecimento da gravação; que o interrogado
não soube de nada, quando chegou lá já estava a preventiva com seu nome e dali 10
min toda a imprensa já estava lá, deu 10 min do delegado pedir a prisão e toda
imprensa já estava lá; que na opinião do interrogado tudo se deu pra justificar a fuga,
dizer que não foi culpa do delegado, que não foi falta de segurança, que foi um
agente que facilitou a fuga, por isso se utilizaram da gravação e dos relatos dos
detentos; que o interrogado acredita que foi uma armação, particularmente considera
uma armação; que nunca recebeu nada, inclusive coloca suas contas à disposição, até
teve que vender sua moto por causa da situação financeira; que a respeito do RD, no
livro a maioria dos agentes da cadeia pública, se não todos, colocam fatos relevantes
no livro; que os presos que chegam encaminhados pela polícia militar na delegacia em
razão de flagrante são registrados, quando vai embora relatavam, se houve
atendimento médico, se houve escolta pra audiência, mas o fato do Ewerton, que foi
retirado pra averiguação e
21
voltou à sua cela de origem, não é um fato relevante; que tem câmeras, tem um
policial civil de plantão que viu toda a movimentação, tem os presos que ficam
andando no pátio e viram, o interrogado, não tem por que esconder essa situação,
esse fato; que foi o próprio interrogado quem voltou o preso pra cela; que a maioria
dos agentes colocam no RD “S/A, sem alteração, passo o plantão com todas as ordens
em vigor”; que em razão do número de detentos, somente anotam fatos relevantes;
que as movimentações só precisam ser registradas quando o preso permanece em
nova cela, pois o agente seguinte tem que saber que ele não está mais na outra; que o
soldado Barbosa presenciou a gritaria; que ele estava lá em uma ocorrência policial e
foi pedido um apoio e o policial militar ficou na porta fechado, enquanto o interrogado
retirava o preso; que referente ao dia em que o preso Eder alegou que Ewerton estava
com um celular, no outro dia, no plantão do interrogado alguns agentes amigos seus
vieram conversar dizer que o preso estava falando que o outro estava com um celular,
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perguntaram para o interrogado se ele tinha feito a revista e o interrogado disse que
sim, que tinha feito; [...] que tem câmeras, então não tem como o interrogado
esconder fato nenhum de que foi revistado ou que deixou de colocar em livros; [...]
que não foi feito nenhum depósito na conta do interrogado, pode ver todas as contas,
inclusive ele fez empréstimo; que não chegou a receber nenhum valor a qualquer
título, se não, não se desfaria dos bens, inclusive de uma moto sua; que tem dívidas,
dois filhos, esposa, tá inscrito no SERASA; que em relação aos RD’s, anotava os fatos
apensas relevantes, entrada e sápida de presos; que lá no CMP tem o RD eletrônico e
o RD nos livros; que só no RD eletrônico é que comunicam quando os presos recebem
visitas dos advogados, no livro não comunicam as movimentações diárias; que houve
uma briga entre o Babi e o Medeiro; que o interrogado foi criado por sua mãe e irmã e
elas lhe ensinaram valores que o interrogado traz até hoje, não é o monstro que
pintaram nos jornais, que falaram nas declarações, colocaram muitas inverdades.”
A alegação do Apelante em seu interrogatório de que nas ligações com os detentos
estava apenas tentando investigar e que sua intenção era a de enrolar para ver se
partia uma desistência deles ou descobrir quem eram as pessoas não merece
acolhimento, porque pela gravação telefônica anexada aos autos, percebe-se
claramente que o acusado sabia com quem estava falando e orientava o detento
acerca de como proceder caso alguém perguntasse sobre os celulares.
A propósito dos fatos, o Delegado Emmanoel Aschidamini David, responsável pelo
inquérito policial que instruiu a denúncia oferecida pelo Ministério Público, declarou
em Juízo que:
“Que naquela data dos fatos, junho/julho, estavam acontecendo muitas fugas na
cadeia e o Choque estava encontrando muitos celulares nas suas visitas, que estavam
sendo quase semanais; que o Choque é o Batalhão de Choque de Ponta Grossa que
vai fazer vistorias quando tem alguma situação anormal na cadeia; que as equipes da
polícia civil que auxiliam o DEPEN começaram a desconfiar e o próprio DEPEN
começou a desconfiar da situação e o depoente começou a chamar alguns presos pra
saber o que estava acontecendo; que alguns presos que foram ouvidos começaram a
relatar que um agente estaria ajudando na entrega de alguns aparelhos celulares e
indicaram o Tomas, o Honório; que isso foi após a segunda fuga, houve uma antes de
julho e outra em julho mesmo, muito próximas; que alguns presos começaram a relatar
que um agente penitenciário estava ajudando com os celulares; que no momento, o
depoente falou que era pouco, que a palavra dos presos isolada não ia fazer ele tomar
uma medida mais drástica referente aos fatos; que um dos presos informou que tinha
um aparelho celular que havia sido apreendido nas vistorias do Choque que dentro
teria uma gravação onde os presos teriam gravado esse agente penitenciário
solicitando alguma espécie de vantagem, falando de celulares, de comida, de pizza,
com os presos; que o celular já havia sido apreendido pelo depoente estava na sua
mesa, o preso mostrou qual seria a gravação e na gravação escutam uma voz falando
com os presos dando dicas para os presos de como eles deveriam proceder para que
não desconfiassem dessa ajuda que estaria sendo dada para os ingressos de celulares
na cadeia; que a gravação dizia mais ou menos assim “corte a ventana pra parecer que
os celulares tão vindo de fora”, algo assim; que nesse primeiro momento, pela
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experiência, o depoente já desconfiava que havia algum tipo de facilitação, pelo


número de apreensões, só pelas visitas não entrariam tantos aparelhos celulares,
estavam pegando de 10 a 15 aparelhos celulares cada vez que o choque entrava lá,
muitos aparelhos, um número acima do comum; que com toda certeza, não era só
parentes que estariam levando; que num primeiro momento, ouviram alguns presos,
que citaram o agente e falaram que estaria acontecendo isso, de ingressos de
aparelhos celulares, falaram de valores que estavam sendo cobrados pelo agente pra
ingressar os aparelhos celulares e eles começaram a citar que talvez estivesse entrando
serras pra ajudar a situação dos presos; que a situação ficou mais grave quando um
dos presos falou que tinha gravado um conversa entre o agente e o preso; que na
conversa constataram que tem uma voz semelhante com voz do Tomas; que na
gravação específica ele não pede dinheiro, não há valores, mas há um contexto de
conversa onde ele fala de como ludibriar os colegas pra que não ingresse celulares e
falam algumas coisas de entrar a comida, cerveja, alguns benefícios que não seriam
permitidos pela direção da cadeia; o depoente tomou oitiva de alguns detentos antes
e posteriormente a essa gravação, alguns presos de confiança e eles trouxeram alguns
fatos que seriam irregulares ali na cadeia, como levar presos pra dentro de outros
cubículos sem revistar, eventualmente não colocar no livro de plantão do DEPEN que
tal preso não foi movimentado; que o preso podia estar com celulares, precisar de um
lugar mais reservado pra conversar com alguém; que mexe na dinâmica, toda
movimentação de presos deve ser registrada no livro porque você tem que ter uma
explicação plausível pra fazer isso, pra evitar situações que possam gerar privilégios ou
outras situações; que salvo engano, foi um preso de confiança quem relatou que em
um determinado dia foi pego o Ewerton Babi e foi levado numa outra alocação lá da
cadeia e depois foi constatado que o réu deixou de inserir isso no livro do DEPEN; que
não se recorda se essa situação foi posterior ou anterior à data da fuga; que se recorda
que esse preso informou que não foi realizada a revista tanto na hora de ingressar no
xadrez, quanto pra retirar do xadrez; que a data de 08 de julho foi a segunda fuga,
logo após a anterior; que na situação, com o depoimento dos presos, conjugado com
a escuta, concluíram que de alguma forma ele ajudava no ingresso de aparelhos
telefônicos no interior da cadeia; que com a gravação não ficou claro se ele cobrava
ou não, mas os testemunhos dizem que ele cobrava; que o depoente não identificou
quem foi o primeiro que iniciou essa relação promíscua, se foram os presos, ou se foi
ele, mas que o réu tem muito contato com os detentos, diariamente; que não se
recorda se os detentos ficavam em locais distintos; que pela menção dos presos, não
conseguiu fixar um lapso temporal em que o réu atuava nesse sentido, mas quanto ao
ingresso de celulares, parece que foram em várias oportunidades, mais de uma vez;
que no início da assunção do depoente na delegacia, não lidava tanto com situações
envolvendo celulares e estoques, houve um aumento significativo do número de
celulares encontrados de abril a julho de 2015, mas antes a situação era até tranquila;
que não sabe precisar o motivo, mas algo de diferente aconteceu naquele período;
que na gravação que foi realizada pelo preso não constava valor nenhum, mas os
outros presos acabaram comentando que ele cobrava um valor pra ingresso do celular;
que imputar a fuga para o acusado foi um processo de dedução da equipe policial, é
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uma cogitação, pois foram encontrados celulares e alguns presos disseram que ele
ajudou também com estoques e serras; que na gravação não há nada referente a
estoques e etc., fala em pizza e bebidas e dando a entender de ajudas de celulares;
que o depoimento de um ou dois presos citaram que ele tinha ajudado com ingresso e
serra, mas é o depoimento do preso, só foi mencionado pelo preso; que a serra
utilizada para fuga só pode entrar de modo externo, ou por familiar ou por agente;
que todos os presos são problemáticos e geram problema; que especificamente o
Ewerton Babi o depoente não tem nada, pois seu contato com os presos era o mínimo
possível, já que o DEPEN tem mais contato que o depoente em seu trabalho de
polícia judiciária; que salvo engano, o Ewerton Babi ficava na parte de trás, junto no
convívio, e o depoente acha que o celular não era nem do Ewerton, era de um outro
detento, do Pablo Stockler se não se engana; que não existe espaço físico do setor da
carceragem com o seguro, não há ligação ou janela; que há possibilidade de entrada
de objetos pelas ventanas eventualmente, se tiver rasgada, alguma coisa, poderia; que
nessa investigação não ficou demonstrado nada nesse sentido; que desde que
chegaram as denúncias a respeito do Tomas, o depoente não notou nenhum avanço
patrimonial, ele era um ótimo funcionário, ajudava muito na delegacia, era prestativo,
tanto é que causou espanto quando descobriram, principalmente por causa da
gravação, antes disso ninguém estava acreditando que estava havendo esse tipo de
conduta por parte dele lá na cadeia; que os presos até falaram que ele estava
ajudando com alguns celulares e até citaram alguns valores que eventualmente
estavam sendo cobrados pra entrada; que a gravação que o próprio preso fez não
trouxe isso de dinheiro, mas dá pra entender que ele ajudava com o celular; que pelo
que apuraram não houve aumento patrimonial, pelo contrário, ele sempre se queixava
de estar sofrendo com problemas de dinheiro; que sabe que o réu vendeu uma moto
pro Walter; que sobre a entrada de brocas, tudo foi uma dedução, ele ajudava com
celular, alguns presos relataram que ele ajudou com a entrada de serra,
consequentemente o réu poderia supor que poderiam haver fugas e foi nesse sentido
que ele foi indiciado pelo crime de facilitação de fuga; que não se recorda de quem
foram os presos que citaram no sentido das brocas; que o livro é específico do
DEPEN, mas como ouviram o preso e foi dito que foi feita uma movimentação e
estavam suspeitando de algumas condutas, inquiriram o chefe do DEPEN se existia
algum livro específico pra movimentação dos presos e ele falou que existia; que como
foi feita a movimentação faticamente e não foi colocada no livro, tiveram que reportar
essa situação; que devem ser tratados com reservas os depoimentos de presos em
relação a agentes penitenciários e policiais e o depoente tratou com reservas em um
primeiro momento a denúncia; que com certeza há animosidade entre os detentos e
os agentes, com toda certeza; que o que foi feito foi corroborado com o depoimento
dos presos e a parte dos celulares e pizza e bebidas naquela gravação; que não se
recorda especificamente do preso Jonathan da Cunha Passos, mas se recorda que de
todas as oitivas que fizeram, um ou dois presos citaram a questão de serras e brocas,
foi falado.” (grifamos)
Antonio Marcos de Oliveira, agente da Cadeia Pública na época dos fatos, declarou
em Juízo que:
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“Que na época, exercia a função de agente de cadeia pública, a mesma do réu; que
faziam revista nas celas para retirada de aparelhos celulares e outros objetos e sempre
acabavam encontrando de novo mais objetos e mais objetos; que teve também a fuga
de uns presos e teve uns presos que chamaram eles pra conversar e começaram a falar
quem estava vendendo os celulares na cadeia e até mesmo serras e outros materiais;
que era o funcionário Tomas, que eles chamavam de Ricardo na verdade, os presos
conhecem ele como funcionário Ricardo, que foi o nome que ele usou no começo pra
desviar o foco; que chegaram no réu através de uma gravação no celular; que a
situação de que o réu estava passando celulares, barras de ferro, serras, foram
relatadas para o depoente e para o delegado; que a entrada desses objetos através
do réu seria possível somente da forma como os presos falavam, que entravam pela
porta da frente, durante o plantão ele recolhia os materiais, os celulares; que o plantão
é mais finais de semana, que tinha pouco movimentação; que em algumas conversas
que o depoente teve com o delegado e os presos, eles mencionaram valores, que era
1300, 1500, depende do que era, acha que 500 reais para serras, alguma coisa assim;
que no período descrito da denúncia teve um aumento, eles perceberam que estava
entrando; que inicialmente trabalhavam 12h por 26h ou 24h por 72h; que teve uma
época que ficavam dois agentes, mas foram saindo e teve período que ficava só um
agente trabalhando; que de cabeça não lembra se entre abril e agosto se era só um
funcionário trabalhando ou dois; que nos finais de semana acontecia de os agentes
ficarem sozinhos sim; que o depoente já chegou a ficar sozinho fazendo o trabalho de
agente, a noite, e isso também acontecia com o réu e com os demais agentes; que na
época em que o réu foi preso o depoente tinha ficado pra administrar a cadeia e por
isso ficava só no expediente, não ficava no plantão; que os presos informaram para o
depoente que havia o envolvimento de funcionários na passagem dos celulares e dos
materiais; que o depoente ficava do lado e os presos falavam “tem coisa errada aí seu
Marcos, tem gente fazendo coisa errada pelas costas do senhor”, aí que o depoente
comunicou o delegado e o delegado com o depoente chamaram os presos para saber
o que era e eles começaram a contar; que quanto à facilitação da primeira fuga, junto
com o relato dos presos do celular, chegou o relato também de brocas e serras; que
essas brocas usadas pra fuga, segundo relato dos presos foi trazida de fora da cadeia;
que foram realizadas obras ali, mas os agentes revistam antes dos pedreiros irem
embora; que os presos relatavam que o réu trazia, repassava, mas o depoente não
sabe a forma; que ele podia ir até o solário, colocar em um ponto cego onde os presos
não vissem, na hora de abrir ou fechar a cadeia, colocavam no ponto cego e depois
eles pegavam os materiais; que relataram de outros agentes também que foram
afastados; que ouviu o áudio que foi gravado e reconheceu a voz do Honório; que as
dicas que o réu repassou não deu tempo de os presos seguirem; que antes dos fatos
os presos não diziam como conseguiam os objetos, só depois que decidiram falar
sobre o assunto; que um preso que trabalhava pra fora informou que o Honório tinha
movimentado presos da cadeia, que tinha tirado, colocado no parlatório, conversado,
colocado na solitária, voltado pra dentro; que o depoente foi verificar no RD se
constava alguma coisa, mas não constava nada; que essa informação é importante pra
ter controle do preso, onde ele entra, onde sai, o que acontece, se passa mal, pra
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deixar escrito e saberem o que tá acontecendo na cadeia; que a movimentação de


Ewerton Babi da cela para a solitária não constava no livro; que a ausência dessa
informação, se o preso não tivesse relatado, impediria de saber que o preso seria
movimentado; que dependendo da situação, o agente pode entrar na solitária pra ver
se tem algo no corpo dele; que o preso Ewerton Babi tem uma irmã que está presa,
naquele momento não se recorda se ela estava; que durante o período narrado pela
denúncia, houve um alerta, mas a questão do celular, desde que o DEPEN assumiu a
administração da cadeia, eles sempre entravam pra olhar, tentar tirar, foram retirados
bastante celulares, mas na visão do depoente foi pouco aumento no período narrado
na denúncia, houve mais uma atenção mesmo; [...] que até a primeira fuga em julho
suspeitavam que alguma coisa de errado estava acontecendo, até mesmo dos
próprios presos que trabalhavam com ele; que quando o réu começou a trabalhar, às
vezes os presos manifestavam raiva do réu, mas depois acabou ficando mais tranquilo;
que não havia animosidade que chamava atenção no sentido de os presos quererem
prejudicar o réu; que tudo foi após a fuga, nunca chegou nenhuma informação em
relação ao réu, foi citado o nome dele quando o depoente e do delegado estavam
conversando com os presos; que o RD é um papel que vai os dados de quem está
trabalhando e das ocorrências que ocorrem; que é rotina, obrigatório constar no papel
a movimentação pra saber o que tá acontecendo, às vezes esquecem uma coisa ou
outra, mas é cobrado; que não sabe se foi feito um levantamento da rotina em que os
celulares eram repassados, não tem investigações de quando iniciou e terminou, isso
tem que ver com o delegado; que Ewerton Babi era um preso mais ou menos
complicado, nada no sentido de montar alguma coisa contra o Tomas, do ponto de
vista do depoente não tem como falar; que do seguro para convivência não tem
nenhuma ligação, tem as ventanas que usavam, até conseguiram tampar; que não
notou nenhum avanço patrimonial em Honório nesses meses antes de ser preso; que
soube que ele vendeu uma moto pra um outro funcionário, o Walter; que no dia em
que estavam com o delegado em uma sala, os presos comentaram que compraram
serras e brocas do réu ; que não se recorda qual preso específico foi, foram vários; que
depois que o réu foi preso, teve mais fugas, a apreensão de celulares, a rotina é a
mesma; que atualmente eles tem mais informações e controle do que tem lá dentro,
parece que tem só um ou dois celulares, mas não conseguem tirar porque eles
escondem muito bem, mas isso é informação de que os outros presos passam; que
nesse final de semana evitaram de entrar 11 celulares pelos familiares, eles cerram as
ventanas e tentam arremessar de fora pra dentro; que depois da prisão do réu foram
feitas novas apreensões de serras e brocas; que os presos no geral tinham
comportamento agressivo com o réu, em razão de cobranças do agente, mas depois
acabou sendo tranquilo; que se recorda de o réu ter feito apreensões de celulares; que
não sabe se essas apreensões estão registradas, pois assumiu a administração da
cadeia tem pouco tempo.” (grifamos)
A testemunha Valdinei Farias dos Santos, que trabalhava na área externa da Cadeia
Pública, declarou em Juízo que:
“Que trabalhava pra fora; que estava preso em Castro; que conhece o réu, não tem
nada contra ele e só estava ali pra fazer o serviço dele; que era preso de confiança e
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

tinha com o réu um relacionamento como com todos os agentes, respeito às ordens;
que conhece os agentes Pablo e Marcelo também; que sobre a entrada de celulares, a
coisa que viu foi da vez que o depoente foi entregar comida com o réu para os presos;
que entregou comida e faltou algumas, sendo que o depoente foi buscar mais duas,
que tinha faltado; que quando chegou o réu estava entregando o carregador pra
dentro, pro preso, pro preso conhecido por “Grilo”; que o réu viu que o depoente viu
e disse para o depoente que ele não tinha visto nada e não era pra falar nada se não ia
ser pior para o depoente; que o depoente sempre escutava os presos falando que o
Honório passava os celulares, eles comentando, pedindo celular, pra passar celular,
carregador; que pediam pro réu pra passar o celular; que o depoente viu, no mesmo X
em que o réu passou o carregador, um preso usando o celular; que outros presos o
depoente não viu usando o celular, só esse; que além de celulares, o depoente não
viu o réu passar serras e brocas, mas saía boato dos presos de que ele passava; que o
réu passava os celulares, serras e brocas só no plantão dele mesmo, que ficava só ele;
que isso acontecia mais facilmente nos finais de semana, porque daí era menor
movimento; que ouviu a gravação do celular que o réu orientava que, caso caísse a
informação de que ele passava os objetos, era pra jogar nos gordinhos que
trabalhavam pra fora, que era o depoente e os outros que trabalhavam ali fora, se
caísse era pra jogar que eram eles que estavam passando, o réu instruía os presos a
dizerem isso; que teve fuga de presos e fugiram oito, da primeira e da segunda vez;
[...] que no dia da fuga foi chamado o policial civil Marcelo para impedir que mais
presos fugissem e o Pablo também; que teve disparo de arma de fogo só da parte do
policial civil; que se não fosse a atuação deles, mais presos teriam fugido; [...] que em
relação a Ewerton Babi, segundo o réu ele foi retirado da cela pra cumprir o castigo,
mas ele só foi e voltou, não ficou tempo lá; que o depoente viu a movimentação,
estava trabalhando; que quem levou Ewerton da cela pro isolamento foi o Honório;
que não viu o réu tirar o preso da cela, mas viu a hora que estava passando no pátio
que dá visão, pra ir para o castigo; que o depoente estava solto, trabalhando pra fora;
que não viu o réu tirar o Ewerton da cela, mas viu colocar no castigo e viu tirar do
castigo; que o preso não foi revistado; que não viu se o réu anotou a movimentação
no livro; que não sabe se o Ewerton usou celular no castigo, mas sabe que não foi
revistado e que não teve anotação por parte do réu da movimentação do Ewerton;
que o próprio réu comentou com o depoente, chamou ele no canto e falou que os
celulares que passava era em torno de mil, mil e quinhentos reais; que de serra e broca
ele não comentou o preço, mas cobrava também; que conviveu seis meses com o
Tomas, trabalhando pra fora ; que o depoente viu o réu entregando só o carregador,
celular, broca e ferramenta não; que sobre as brocas, ouviu só comentários, mas que
nenhum preso disse diretamente para o depoente; que no dia do carregador foi o
preso Carneirinho, o Grilo também falou, eles comentavam, mas o depoente não viu
passar; que em relação aos valores, foi o próprio réu quem falou com o depoente,
dizendo quanto ele cobrava, ele falou que estava em uma crise e chegou conversar
com o depoente; que o dinheiro chegava até o réu quando os piá saíam de noite e
ficava sozinha a carceragem; que não sabe responder como o dinheiro chegava até as
mãos do réu; que nenhuma vez algum preso falou que tinha pago alguma coisa e não
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tinha recebido; que em relação à situação do Ewerton Babi, primeiro ele estava no
convívio, aconteceu umas desavenças e ele saiu, foi lá pro seguro; que o depoente
estava no seguro e lá tem duas alas só; que não tem acesso externo do seguro pro
convívio e não tem como passar nada do seguro pro convívio, pois não conversam,
são separados, só através do castigo que tinha; que antes de descobrirem tudo,
cumprimentavam o réu normal, coisa de trabalho; que o réu era bem rigoroso nas
revistas; que no castigo tinha como receber o celular, pois tinha um buraco pra passar,
quem estava no castigo podia receber de fora o celular.” (grifo nosso)
Além das informações das testemunhas Antonio Marcos de Oliveira e Valdinei Faria
dos Santos, acerca de que o acusado cobrava pelos celulares o valor de R$ 1.000,00 a
R$ 1.500,00, na gravação anexada aos autos o acusado afirmou que iria informar o
valor para os presos, tendo declarado inclusive que “não tem ideia de quanto é o
corre, o problema é o risco, o perigo, isso que quebra as pernas, não é nem tanto por
passar, mais é a questão do risco que tô correndo né”.
Portanto, a versão apresentada pelo Apelante é contraposta pelas provas vinculadas
aos autos, tendo sido a autoria e materialidade devidamente esclarecidas na instrução
processual, motivo pelo qual deve ser mantida a sentença condenatória.
Do delito de falsidade ideológica.
O Apelante argumenta que o anexo juntado às sequências 135.1 dos autos nº.
0003997-50.2015.8.16.0064, não indica tratar-se de um documento público, pois não
demonstra ser padrão das repartições públicas, as quais possuem livros de registro das
ocorrências devidamente identificados e números.
Ainda neste aspecto, afirma que não há que se denominar esses relatórios diários
como documentos públicos, pois eram anotações internas dos agentes prisionais, não
tendo causado prejuízo ao erário, muito menos a terceiros.
Assevera também que a testemunha de acusação Ewerton Babi, ao ser ouvido em
Juízo, relatou “Que o depoente realmente foi para o castigo; que quem levou o
depoente para o castigo foi o senhor Walter”, razão pela qual quem deveria ter
procedido a anotação seria o agente penitenciário Walter e não o Apelante, devendo
ser absolvido, nos termos do artigo 386, incisos II, III, IV e VII do Código de Processo
Penal.
Segundo a inicial acusatória:
“3° Fato - No dia 28 de julho de 2015, em horário não especificado nos autos, na
Cadeia Pública da Comarca de Castro/PR, localizada nas dependências da Delegacia
de Polícia Civil de Castro/PR, na Rua Tiradentes, n. 120, Centro, neste Município e
Comarca de Castro/PR, o denunciado HONÓRIO TOMAS DE SOUZA, voluntariamente
e ciente da ilicitude de sua conduta, de maneira dolosa, omitiu em documento público
declaração que dele devia constar, com o fim específico de alterar a verdade sobre
fato juridicamente relevante. Na ocasião, prevalecendo-se da função de Agente de
Cadeia Pública, omitiu do Livro de Registros e dos Registros Diários (RD), a
movimentação do preso Everton Babi, apesar de tê-lo retirado da sua cela e
conduzido para o isolamento, levando-o posteriormente de volta ao seu cubículo.
Fazendo isso, com dolo especifico de alterar a verdade sobre fato juridicamente
relevante, fez deixar de constar informação em documento público, causando
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potencial dano para a ordem da Cadeia Pública local, uma vez que impossibilitou que
o próximo agente plantonista soubesse as ocorrências havidas antes da sua assunção
(cf. informações fls. 49/53 e declarações de fls. 67/69).”
O tipo penal de falsidade ideológica atribuído ao Apelante estabelece que:
“Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia
constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser
escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato
juridicamente relevante: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento
é público, e reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular.
Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-
se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil,
aumenta-se a pena de sexta parte.”
O pleito absolutório não admite amparo, porque o Livro de Registro de Atividades é
documento público e de uso obrigatório, previsto na Deliberação nº 853/2009, do
Conselho da Polícia Civil do Estado do Paraná, que estabelece normas procedimentais
de Polícia Judiciária Investigativa.
Não obstante, a movimentação de qualquer detento, qualquer que seja o motivo,
deve ser registrada e o Apelante omitiu em documento público (Livro de Registros e
dos Registros Diários), a transferência realizada do preso Everton Babi para o
isolamento e posterior encaminhamento para a sua cela, causando lesão ao bem
jurídico tutelado, qual seja a fé pública, prevalecendo-se do cargo de agente
penitenciário, configurando-se a circunstância de aumento de pena prevista no
parágrafo único do tipo penal em análise.
O registro da movimentação é essencial para que o agente que sucede o turno tome
ciência do ocorrido e providencie, caso necessário, as medidas administrativas
pertinentes.
A testemunha Ewerton Babi Ribeiro negou os fatos em Juízo, tendo declarado que foi
transferido para o isolamento por outro agente, de nome Walter e que foi coagido
pelo Delegado a mentir.
Entretanto, a versão diverge do depoimento detalhado prestado no inquérito policial,
ocasião em que referida testemunha esclareceu que:
“Que data de 28/06/15, um domingo do mês passado, pela manhã, o declarante
pediu para o Agente Tomas (tratado corno “Ricardo” pelos presos) para ir para a
solitária para poder entregar um celular que o declarante ia entregar para sua irmã na
feminina.
Que levou o celular na cintura e um carregador: era um celular Samsung grande, tipo
tablet, que já estava corno declarante. Que o Tomas sabia que o declarante estava
com o celular, mas o declarante não foi revistado nem quando entrou na solitária nem
quando voltou, na parte da tarde, para a cela. Que foi o próprio Tomas quem colocou
esse celular na cadeia pro declarante, tendo cobrado R$1300,00 cada um, pago pelos
amigos da rua que devem para o preso. Que fazem uns três meses que o agente está
negociando com os presos.”

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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Não obstante, a materialidade está consubstanciada na cópia parcial do Livro de


Registros (mov. 134.1), em que se verifica que o acusado não registrou a
movimentação do preso.
Em Juízo, o acusado negou a prática do delito, porém, reconheceu a transferência do
detento e a ausência do registro da movimentação:
“(...) que a respeito do RD, no livro a maioria dos agentes da cadeia pública, se não
todos, colocam fatos relevantes no livro; que os presos que chegam encaminhados
pela polícia militar na delegacia em razão de flagrante são registrados, quando vai
embora relatavam, se houve atendimento médico, se houve escolta pra audiência, mas
o fato do Ewerton, que foi retirado pra averiguação e voltou à sua cela de origem, não
é um fato relevante; que tem câmeras, tem um policial civil de plantão que viu toda a
movimentação, tem os presos que ficam andando no pátio e viram o interrogado, não
tem por que esconder essa situação, esse fato; que foi o próprio interrogado quem
voltou o preso pra cela; que a maioria dos agentes colocam no RD “S/A, sem
alteração, passo o plantão com todas as ordens em vigor”; que em razão do número
de detentos, somente anotam fatos relevantes; que as movimentações só precisam ser
registradas quando o preso permanece em nova cela, pois o agente seguinte tem que
saber que ele não está mais na outra; que o soldado Barbosa presenciou a gritaria;
que ele estava lá em uma ocorrência policial e foi pedido um apoio e o policial militar
ficou na porta fechado, enquanto o interrogado retirava o preso; (...) que em relação
aos RD’s, anotava os fatos apensas relevantes, entrada e saída de presos; que lá no
CMP tem o RD eletrônico e o RD nos livros; que só no RD eletrônico é que comunicam
quando os presos recebem visitas dos advogados, no livro não comunicam as
movimentações diárias; que houve uma briga entre o Babi e o Medeiro (...)”
Com relação ao dever de registrar a movimentação dos presos, a testemunha Pablo
Cordeiro Bueno esclareceu em Juízo que “(...) era dever dos funcionários colocar no
relatório a movimentação dos presos, inclusive como ele foi levado pro isolamento,
teria que colocar; que essa informação era importante porque futuramente seria usado
se desse algum problema; que o procedimento padrão de retirada do preso e a
colocação no isolamento é a retirada com apoio policial, não entrar sozinho,
infelizmente aquela época trabalhavam sozinhos, com um policial civil, mas precisava
do apoio, dava uma geral no preso e colocava no isolamento”.
A propósito, o Delegado Emmanoel Aschidamini David, declarou em Juízo que:
“(...) que salvo engano, foi um preso de confiança quem relatou que em um
determinado dia foi pego o Ewerton Babi e foi levado numa outra alocação lá da
cadeia e depois foi constatado que o réu deixou de inserir isso no livro do DEPEN (...);
que o livro é específico do DEPEN, mas como ouviram o preso e foi dito que foi feita
uma movimentação e estavam suspeitando de algumas condutas, inquiriram o chefe
do DEPEN se existia algum livro específico pra movimentação dos presos e ele falou
que existia; que como foi feita a movimentação faticamente e não foi colocada no
livro, tiveram que reportar essa situação”.
Portanto, afasta-se a pretensão de absolvição quanto à prática do delito de falsidade
ideológica.
Do delito de prevaricação.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

O Apelante afirma que em relação ao delito de prevaricação, descrito no artigo 319


do Código Penal (deixar de praticar ato de ofício para satisfazer interesse pessoal), a
conduta é atípica, porque o ato de revistar o preso ao movimentá-lo dentro da própria
unidade prisional não é obrigatório.
Segundo a denúncia:
“4° Fato - No dia 28 de julho de 2015, em horário não especificado nos autos, na
Cadeia Pública da Comarca de Castro/PR, localizada nas dependências da Delegacia
de Polícia Civil de Castro/PR, na Rua Tiradentes, n. 120, Centro, neste Município e
Comarca de Castro/P R, o denunciado HONÓRIO TOMAS DE SOUZA,
voluntariamente e ciente da ilicitude de sua conduta, de maneira dolosa, deixou de
praticar indevidamente ato de ofício para satisfazer interesse pessoal. Na ocasião
descrita no 3° Fato, o preso Everton Babi foi conduzido para o isolamento pelo
denunciado HONÓRIO TOMAS DE SOUZA portando um aparelho telefônico de
comunicação móvel. Apesar disso, não foi revistado pelo denunciado nem na entrada
na nova cela (vulgo isolamento), nem mesmo na saída para o retorno ao seu cubículo
de origem (cf. declarações acostadas nas fl. 66 e 68). Omitindo-se do dever de oficio
de revistar o preso quando é movimentado, satisfazendo interesse pessoal de que o
acesso aos segregados a aparelhos de comunicação móvel fosse mantido.”
Em Juízo, o Apelante negou a prática do delito e declarou que o preso foi revistado
quando colocado e também retirado do isolamento.
O pleito não merece acolhimento, porque as provas produzidas revelaram que o
acusado efetivamente deixou de revistar o preso Ewerton Babi ao trocá-lo de cela,
para satisfazer interesse pessoal, retratado na intenção do acusado em permitir a
utilização e negociação de aparelhos celulares entre os detentos.
Note-se que a função do agente é exercer vigilância e a revista do detento constitui
ato de ofício previsto no caderno de práticas de segurança nas unidades penais do
Paraná, organizado pelo Departamento Penitenciário do Paraná (DEPEN), vinculado à
Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania, cuja atribuição pode ser aferida no site
www.espen.pr.gov.br.
Conforme observado pela douta Procuradoria Geral de Justiça:
“Como o apelante exercia a função de agente de cadeia pública, suas funções são
equiparadas às de agente penitenciário, cabendo-lhe as mesmas obrigações.
De forma que, ao deslocar o preso de uma cela ao isolamento, o mesmo deveria ser
revistado tanto na inda quanto em seu retorno para apurar se carregava qualquer
objeto inadequado ou de uso velado no interior do presídio, evitando assim fugas
que, como relatado pelo Delegado, eram frequentes durante a permanência do
apelante como agente da cadeia pública”
Neste aspecto, a testemunha Valdinei Farias dos Santos, preso de confiança que
trabalhava na área externa da Cadeia Pública, declarou em Juízo que:
“(...) que em relação a Ewerton Babi, segundo o réu ele foi retirado da cela pra
cumprir o castigo, mas ele só foi e voltou, não ficou tempo lá; que o depoente viu a
movimentação, estava trabalhando; que quem levou Ewerton da cela pro isolamento
foi o Honório; que não viu o réu tirar o preso da cela, mas viu a hora que estava
passando no pátio que dá visão, pra ir para o castigo; que o depoente estava solto,
493

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trabalhando pra fora; que não viu o réu tirar o Ewerton da cela, mas viu colocar no
castigo e viu tirar do castigo; que o preso não foi revistado; que não viu se o réu
anotou a movimentação no livro; que não sabe se o Ewerton usou celular no castigo,
mas sabe que não foi revistado e que não teve anotação por parte do réu da
movimentação do Ewerton (...); que pelo que sabe, o próximo agente que tomou as
funções do Honório não tomou conhecimento dessa movimentação na cadeia, pois
eles conversavam entre eles, cada um passava o que aconteceu pro outro; que
quando chegou a pessoa pra substituir o réu, ele não falou que movimentou o
Ewerton (...)”.
Outrossim, a testemunha Marcelo Espírito Santo de Souza, também preso de
confiança que trabalhava na área externa da Cadeia Pública, esclareceu em Juízo que:
“(...) Que na época dos fatos, estava detido na cadeia Pública desta Comarca, agora
não está mais preso; que conhecia o réu, que era o carcereiro; que o depoente,
pessoalmente, nunca viu o réu facilitando a entrada de brocas e serras, favorecendo o
ingresso de celulares na cadeia; que somente teve um domingo em que o réu pediu
ajuda para o depoente para retirar um preso da solitária, o Ewerton Babi; que não
lembra a data específica, mas foi um domingo à tarde; que o réu pediu ajuda, o
depoente foi lá, tiraram o preso, levaram até o cubículo 602; que depois de deixarem
o preso na cela, ao retornar, o depoente questionou o réu, perguntou “Sr. Tomas, o
que aconteceu que ele foi parar na solitária?”, sendo que o réu respondeu “Não, era
um desembolo de um celular que tinha com a feminina”; que foi a única coisa que o
réu respondeu; que tinha um problema de celular na ala feminina e a solitária e a
feminina ficam uma do lado da outra a cela, daí segundo o que o réu falou para o
depoente, ele levou esse preso pra acertar esse negócio do celular; que o réu não fez
revista no Ewerton ao retornar, na saída da cela o depoente não estava junto, não
presenciou; que o depoente não sabe informar quando tempo Ewerton ficou no
isolamento, porque não viu a hora que o réu retirou o preso, só viu a hora que
retornou; que o réu pediu ajuda para o depoente pra retirar o Ewerton da solitária e
retornar para o cubículo dele, mas não pra sair do cubículo para a solitária, só ao
retornar que o depoente ajudou o réu; que nesse trajeto da solitária até a cela não foi
feita revista no preso (...)”.
Portanto, a manutenção da condenação é medida de rigor.
Da aplicação do princípio da consunção.
O Apelante argumenta que deve ser aplicado o princípio da consunção em relação ao
3º e 4º fato narrado na denúncia, uma vez que a violação ao artigo 319 (prevaricação)
e artigo 299 (falsidade ideológica) ambos do Código Penal, foram meio de execução e
exaurimento da violação ao artigo 317, § 1 º (corrupção passiva) do mesmo diploma
legal.
Inicialmente, cumpre observar que a hipótese prevista no § 1º do artigo 317 do
Código Penal e denominada pela doutrina de corrupção exaurida, em que a
reprimenda é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou
promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o
pratica infringindo dever funcional. Trata-se de causa de aumento de pena e não um
tipo penal específico.
494

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Não há que se falar em consunção entre os crimes de falsidade ideológica,


prevaricação e o de corrupção passiva, na medida em que a falsidade ideológica,
evidenciada por deixar de fazer registro no livro de movimentação de presos e a
prevaricação, caracterizada pelo acusado não revistar o preso quando na condução ao
isolamento, não são meios necessários para a configuração do crime de corrupção
passiva, o qual pode ser praticado sem a necessidade do cometimento dos delitos
anteriores, constituindo-se, portanto, em condutas distintas.
Portanto, constituindo referidas condutas em delitos autônomos, rejeita-se a
pretensão de absorção.
Dosimetria da pena
Corrupção passiva.
a) Pena-base.
Com relação à pena-base, o Apelante afirma que foram consideradas duas
circunstâncias judiciais desfavoráveis e para cada uma a magistrada aumentou a pena
em 2 (dois) anos.
Ainda, argumenta que a fundamentação utilizada para considerar desfavorável a
culpabilidade, faz parte da reprovabilidade inserida no próprio tipo penal e as
circunstâncias consignadas na sentença não possuem fundamentação idônea para
elevar a pena, pois são elementos que fazem parte da estrutura do tipo penal.
Extrai-se da sentença que referidas circunstâncias judiciais foram consideradas
desfavoráveis pelos seguintes motivos:
“Culpabilidade: deve ser considerada desfavorável, pois o réu agiu de modo deveras
meticuloso e organizado, com vistas a satisfazer seu objetivo. O acusado inspirava a
confiança dos demais funcionários e, prevalecendo-se de sua função e da precária
condição de funcionamento da Cadeia Pública local, estabeleceu de modo reiterado
verdadeira mercancia de objetos não autorizados pela administração do ergástulo.
Ademais, além desta audácia e organização no modo de agir, o acusado,
reiteradamente, causou prejuízo à imagem das Autoridades Públicas, em especial dos
servidores do DEPEN responsáveis pela fiscalização da Cadeia Pública e o descrédito
na capacidade do Estado, por intermédio de seus servidores, de exercer
adequadamente a custódia dos detentos.”
“Circunstâncias: deve ser considerada desfavorável, pois o réu era agente
penitenciário, cujo dever funcional era justamente a obrigação de fiscalizar e manter a
ordem e a segurança do estabelecimento prisional e, ao contrário disso, o acusado
colocou em risco a segurança de todos os servidores que exerciam suas funções na
Cadeia Pública e na Delegacia de Polícia de Castro/PR (órgão anexo), quando permitiu
o ingresso dos produtos não autorizados.
Ainda, é de considerar que o réu dissimuladamente instruía os presos acerca do que
responder caso fossem indagados a respeito dos bens proibidos, tendo dito, inclusive,
para que imputassem o ingresso dos objetos aos detentos que trabalhavam na
carceragem.
Por fim, restou evidenciado que o acusado aguardava seu plantão nos finais de
semana para que pudesse agir com maior liberdade e, assim, obter sucesso na
empreitada, vez que era justamente o momento em que a cadeia tinha menos
495

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movimento, numa nítida intenção de se esquivar sua conduta reprovável da incidência


dos ditames legais.”
A culpabilidade, como circunstância judicial na primeira fase de fixação da pena, é
conceituada como “maior ou menor reprovabilidade da conduta, de acordo com as
condições pessoais do agente e das características do crime” (Estefan, André. Direito
Penal Esquematizado: parte geral. São Paulo: Saraiva, 2012, pag. 533).
Neste aspecto, a motivação é idônea e apta a justificar a exasperação da pena-base,
porque de fato o Apelante, prevalecendo-se da precária condição de funcionamento
da Cadeia Pública, causou prejuízo à imagem dos servidores responsáveis pela
fiscalização e também o descrédito na capacidade do Estado de exercer a custódia
dos detentos, gerando maior grau de reprovabilidade da conduta.
Por outro lado, a doutrina conceitua o vetor das circunstâncias do crime da seguinte
forma:
“Refere-se o dispositivo à maior ou menor gravidade do delito em razão do modus
operandi no que diz respeito aos instrumentos do crime, tempo de sua duração, forma
de abordagem, comportamento do acusado em relação às vítimas, local da infração
etc.” (Estefan, André. Direito Penal Esquematizado: parte geral. São Paulo: Saraiva,
2012, pag. 535).
No pertinente às circunstâncias do crime, a motivação exposta na sentença também
se revela válida, porque a pena foi exasperada levando-se em consideração o modo
de agir do Apelante e as especificidades do caso concreto.
Com relação ao aumento da pena, caso mantidas as circunstâncias desfavoráveis, o
Apelante pleiteia seja aplicada, para cada circunstancia judicial, a fração de 1/6 de
aumento sobre a pena mínima, não a fração de 1/1 aplicada na sentença.
A pretensão merece acolhimento, porque o aumento em dois anos para cada
circunstância, por “serem demasiadamente gravosas”, revela-se exacerbado,
desproporcional, razão pela qual se impõe reduzir para a fração de 1/6, cada vetor
desfavorável, estabelecendo a pena-base em 02 (dois) anos, 08 (oito) meses, 20 (vinte)
dias de reclusão.
A pena pecuniária é de ser modificada porque se deve conservar proporcionalidade
com a reprimenda privativa de liberdade, devendo-se aplicar a cada mês majorado o
equivalente a um dia-multa, reduzindo-se, portanto, para 18 (dezoito) dias-multa,
mantendo seu valor unitário em 1/30 do salário mínimo, consoante fixado na sentença.
b) Do crime continuado.
O Apelante alega que não obstante a falta de provas de que tenha solicitado
reiteradas vezes quantia monetária aos presos, o lapso temporal dessas infrações não
está esclarecido, havendo a necessidade de determinar quando iniciou-se, como
requisito para reconhecer a continuidade delitiva prevista no artigo 71 do Código
Penal, pois o lapso superior a trinta dias entre o cometimento dos delitos impossibilita
o reconhecimento da continuidade delitiva.
Neste aspecto, restou consignado na sentença que:
“Conforme exposto, as ações do acusado ocorreram em continuidade delitiva, vez
que Honório Tomas de Souza solicitou para si, por pelo menos três vezes (quais sejam,
a entrada do celular que continha a gravação, a entrada de bebida alcoólica
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transparente nas garrafas de água e a negociação da entrada da pizza), diretamente e


em razão de sua função, vantagem indevida, e, em consequência desta vantagem,
praticou ato de ofício infringindo dever funcional. Assim, mediante mais de uma ação,
praticou crimes da mesma espécie e de modo a autorizar que os delitos subsequentes
sejam considerados como continuação do primeiro.
Portanto, aplicando-se a regra do artigo 71 do Código Penal, a pena do réu deve ser
aumentada em 1/6, ou seja, em um ano e quatro meses.”
Acerca da matéria, é importante registar que “Para a caracterização da continuidade
delitiva é imprescindível o preenchimento dos requisitos previstos no art. 71 do CP,
quais sejam, cometimento de crimes da mesma espécie, perpetrados nas mesmas
condições de tempo, lugar e maneira de execução, devendo os subsequentes ser
havidos como continuação do primeiro”. (HC 306.658/DF, Rel. Ministro Jorge Mussi,
Quinta Turma, DJe 11.11.2015).
Na hipótese, embora evidenciada a entrada indevida de objetos na cadeia pública,
não se aplica o aumento de pena derivado da continuidade delitiva, uma vez que não
restou esclarecido nos autos o lapso temporal entre os delitos.
Neste aspecto, segundo entendimento do Superior Tribunal de Justiça, “o lapso de
tempo superior a trinta dias entre o cometimento dos delitos impossibilita o
reconhecimento da continuidade delitiva, porquanto descaracteriza o requisito
temporal, que impõe a existência de uma certa periodicidade entre as ações
sucessivas”. (AgRg no AREsp 263.296/DF, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta
Turma, DJe 12.09.2013).
Neste sentido também se posiciona este egrégio Tribunal:
“RECURSO DE APELAÇÃO CRIMINAL - ROUBOS MAJORADOS - NULIDADE -
INOCORRÊNCIA - MINORANTE DO ART. 46 DA LEI 11.343/06 - INVIABILIDADE -
CONTINUIDADE DELITIVA - APLICAÇÃO ESCORREITA - ISENÇÃO DE CUSTAS
PROCESSUAIS E DA PENA DE MULTA - IMPOSIÇÃO LEGAL - IMPOSSIBILIDADE -
CONDENAÇÃO MANTIDA - RECURSO NÃO PROVIDO. (...). Segundo entendimento
do Superior Tribunal de Justiça, a aplicação da continuidade delitiva só é possível aos
crimes praticados em intervalo de tempo inferior a 30 dias, além de outras
peculiaridades. (...)” (TJPR, 5ª C.Criminal, AC 1281366-6, Curitiba, Rel. Jorge Wagih
Massad, Unânime, J. 14.05.2015) (grifo nosso).
Afasta-se, portanto, o aumento de 1/6 relativo à continuidade delitiva.
c) Da causa de aumento de pena.
O Apelante assevera que a qualificadora do § 1º do artigo 317 do Código Penal é o
exaurimento do delito de corrupção passiva e, neste ponto, não se encontra
demonstrado qual foi o ato de oficio que o Apelante retardou, deixou de praticar ou
praticou infringindo dever funcional.
A alegação não procede, porque restou evidenciado pela gravação telefônica
realizada com um dos detentos, bem como pela prova oral, que o acusado promoveu
o ingresso de aparelhos celulares e demais objetos (carregadores e brocas) para o
interior da carceragem, infringindo assim seu dever funcional.
Portanto, a pena definitiva ao delito em análise resta fixada em 03 (três) anos, 07 (sete)
meses, 16 (dezesseis) dias de reclusão e 29 (vinte e nove) dias-multa, conservando-se a
497

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proporcionalidade com a reprimenda privativa de liberdade e mantendo-se o valor


unitário em 1/30 do salário mínimo, consoante fixado na sentença.
2.5.2. Quanto à falsidade ideológica.
Com relação ao delito de falsidade ideológica, o Apelante alega que foram
consideradas desfavoráveis a culpabilidade e as circunstâncias do crime e aumentada a
pena em 1 (um) ano e 6 (seis) meses sem critério e sem fundamentar a fração utilizada
para se chegar aquela quantidade de aumento em cada circunstância.
No caso, a exasperação da pena-base pelo vetor da culpabilidade não merece reparo,
porque amparada em elementos concretos, tendo por fundamento o fato de que os
reclusos se encontravam sob a responsabilidade do Estado e o réu era agente
penitenciário, cujo dever funcional era justamente a obrigação de fiscalizar e manter a
ordem e a segurança do estabelecimento prisional, as quais restaram seriamente
prejudicadas com a omissão de dados realizada, fatos que de fato geram significativo
desvalor quanto à culpabilidade do agente.
Quanto ao aumento da pena-base pelas circunstâncias do crime, a dosimetria não
admite reparo, pois as o modo de agir do acusado autoriza o exasperamento da pena,
considerando os argumentos expostos na sentença acerca de que:
“(...) o réu movimentou o detento sozinho, sem o auxílio de força policial, retirou o
recluso de uma cela que continha aproximadamente quatorze presos, durante o fim de
semana, oportunidade em que o movimento dos funcionários era bastante restrito.
Assim, considerando que eventuais problemas dificilmente seriam contidos de
imediato em razão do fato de que o acusado movimentava a carceragem sozinho, é de
se concluir que sua atitude colocou em risco a segurança de todos os servidores que
exerciam suas funções na Cadeia Pública e na Delegacia de Polícia de Castro/PR
(órgão anexo) e até dos demais presos, de modo a concluir que as circunstâncias em
que se deram os fatos suplantaram a normalidade do tipo, merecendo ser valorada
negativamente.”
O Apelante assevera ainda que para cada circunstância judicial deve ser aplicada a
fração de 1/6 de aumento sobre a pena mínima e não a fração de ½ e de 1/1, como
aplicado na sentença.
Neste aspecto, verifica-se da sentença que o aumento foi realizado da seguinte forma:
“Diante da existência de duas circunstâncias judiciais desfavoráveis, por serem
demasiadamente gravosas, para a culpabilidade aumento a pena privativa de
liberdade em seis meses e em 25 dias-multa e para as circunstâncias aumento a pena
privativa de liberdade em um ano e em 50 dias-multa e fixo a pena- base em 02 (dois)
anos e 06 (seis) anos de reclusão e 85 dias- multa.”
O pleito de diminuição da pena base admite acolhimento, porque o aumento
realizado a cada vetor desfavorável, por “serem demasiadamente gravosas”, revela-se
desproporcional, razão pela qual se impõe reduzir para a fração de 1/6, cada vetor
desfavorável, estabelecendo a pena definitiva para o delito em 01 (um) ano, 04
(quatro) meses e 10 (dez) dias de reclusão.
A pena de multa é de ser modificada porque se deve conservar proporcionalidade
com a reprimenda privativa de liberdade, devendo-se aplicar a cada mês majorado o

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equivalente a um dia-multa, reduzindo-se, portanto, para 14 (quatorze) dias-multa,


mantendo seu valor unitário em 1/30 do salário mínimo.
2.5.3. Quanto à prevaricação.
O Apelante assevera que na análise do delito de prevaricação foi considerado
negativamente o vetor das circunstâncias do crime, mas a fundamentação consigna
elementos que fazem parte da estrutura do tipo penal, devendo ser excluída e
estabelecida a pena base no mínimo legal.
Referida circunstância judicial foi considerada desfavorável pelos seguintes motivos:
“Circunstâncias: deve ser considerada desfavorável, pois constituía atribuição
funcional do réu a obrigação de fiscalizar e manter a ordem e a segurança do
estabelecimento prisional, as quais restaram seriamente prejudicadas com a ausência
de revista por ele realizada, já que tal situação deu suporte à continuidade do acesso a
aparelhos celulares por parte dos detentos. Ademais, é de se reconhecer também em
relação a este delito que o agir do acusado causou prejuízo à imagem das Autoridades
Públicas, em especial dos servidores do DEPEN responsáveis pela fiscalização da
Cadeia Pública, e o descrédito na capacidade do Estado, por intermédio de seus
servidores, de exercer adequada e diligentemente suas funções.”
Note-se que a fundamentação é idônea, tendo sido a pena exasperada levando-se
em consideração o modo de agir do Apelante, ultrapassando as características ínsitas
ao tipo penal.
Todavia, considerando que a pena mínima atribuída ao delito é de três meses de
detenção, o aumento em dois meses e 20 dias-multa, por “ser gravosa”, mostra-se
desproporcional, razão pela qual se impõe reduzir para a fração de 1/6, estabelecendo
a pena definitiva em 03 (três) meses, 15 (quinze) dias de detenção e 11 (onze) dias-
multa, adequada para conservar a proporcionalidade com a reprimenda privativa de
liberdade, mantendo seu valor unitário em 1/30 do salário mínimo, consoante fixado
na sentença.
2.5.4. Do concurso material.
Tendo em vista o concurso material de crimes, a pena definitiva resta fixada em 04
(quatro) anos, 11 (onze) meses, 26 (vinte e seis) dias de reclusão, 43 (quarenta e três)
dias-multa e 03 (três) meses, 15 (quinze) dias de detenção e 11 (onze) dias-multa.
2.5.5. Do regime de cumprimento de pena.
Em razão do montante da pena aplicada e sendo o acusado primário, impõe-se fixar o
regime inicial semiaberto para cumprimento da pena, nos termos do artigo 33, §2º,
alínea “b” do Código Penal.
Considerando não preenchidos os requisitos do art.
44 do Código Penal, deixa-se de substituir a pena privativa de liberdade por restritivas
de direitos.
Mantém-se as demais determinações impostas na sentença condenatória.
Nestas condições, dá-se parcial provimento ao recurso, nos termos da
fundamentação. Divergindo o Des. José Maurício Pinto de Almeida na aplicação de
multa, para reduzir, declarando voto.

499

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ANTE O EXPOSTO, acordam os Desembargadores integrantes da 2ª Câmara Criminal


do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por maioria de votos, em dar parcial
provimento ao recurso.
Divergindo o Des. José Maurício Pinto de Almeida na aplicação de multa, para
reduzir, declarando voto.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador Luís Carlos Xavier (com voto) e dele
participaram os Desembargadores José Mauricio Pinto de Almeida e Roberto De
Vicente.
Curitiba, 23 de março de 2017.
Des. Luís Carlos Xavier ­ Relator
Des. José Maurício Pinto de Almeida ­ revisor, com declaração de voto

2.3.23. EMBRAGUEZ AO VOLANTE – VERIFICAÇÃO POR OUTROS MEIOS

APELAÇÃO CRIME - EMBRIAGUEZ AO VOLANTE (ARTIGO 306 DO CTB) -

PROCEDÊNCIA DA DENÚNCIA - APELO DA DEFESA - 1. ALEGAÇÃO DE INÉPCIA

DA DENÚNCIA - INOCORRÊNCIA - OBSERVÂNCIA AOS REQUISITOS DO ARTIGO 41

DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL - 2. PLEITO ABSOLUTÓRIO - INVIABILIDADE -

PROVAS SUFICIENTES A DEMONSTRAR A AUTORIA E MATERIALIDADE DELITIVAS -

CRIME PRATICADO NA VIGÊNCIA DA LEI 12.760/2012 - POSSIBILIDADE DE

AFERIÇÃO DA EMBRIAGUEZ POR OUTROS MEIOS DE PROVA - TESTEMUNHO DE

POLICIAIS - VALIDADE E RELEVÂNCIA - 3. REDUÇÃO, DE OFÍCIO, DA PENA DE

SUSPENSÃO DA HABILITAÇÃO PARA DIRIGIR VEÍCULO AUTOMOTOR -

REPRIMENDA QUE DEVE GUARDAR PROPORCIONALIDADE COM A PENA

PRIVATIVA DE LIBERDADE - RECURSO DESPROVIDO, COM A REDUÇÃO, DE

OFÍCIO, DA PENA DE SUSPENSÃO DA HABILITAÇÃO PARA DIRIGIR VEÍCULO

AUTOMOTOR.1. Não é inepta a denúncia que apresenta a qualificação do acusado, a

classificação do crime, o rol das testemunhas, bem como a exposição do fato

criminoso com todas as suas circunstâncias, permitindo o livre exercício do Apelação

Crime nº 1.616.001-72contraditório e da ampla defesa.2. "A Lei nº 12.760/12

modificou o artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro, a fim de dispor ser

despicienda a avaliação realizada para atestar a gradação alcóolica, acrescentando ser

viável a verificação da embriaguez mediante vídeo, prova testemunhal ou outros meios

500

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de prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova, de modo a

corroborar a alteração da capacidade psicomotora. 2. No caso em apreço, praticado o

delito na vigência da última modificação normativa, fato ocorrido em 12.12.2013,

torna-se possível apurar o estado de embriaguez da acusada por outros meios de

prova em direito admitidos (...)" (STJ - RHC 49.296/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA

DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julg.04.12.2014, DJe 17.12.2014).3. A penalidade

de suspensão da habilitação para conduzir veículo automotor deve ser fixada na

mesma proporção da pena privativa de liberdade aplicada.

(TJPR - 2ª C.Criminal - AC - 1616001-7 - Tibagi - Rel.: Luís Carlos Xavier - Unânime - J.

20.04.2017)

Inteiro Teor

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Crime nº 1616001-7, da


Comarca de Tibagi ­ Juízo Único, em que é Apelante Osvaldo Banks e Apelado o
Ministério Público do Estado do Paraná.
O Ministério Público do Estado do Paraná ofereceu denúncia em face de Osvaldo
Banks (mov. 1.1, autos nº 0000404- 86.2015.8.16.0169), imputando-lhe a prática do
crime previsto no art. 306, § 1º, inc. II, da Lei nº 9.503/97, em razão da seguinte
conduta delituosa:
“No dia 20 de dezembro de 2014, aproximadamente às 20h10min, na esquina das
Ruas Cel. Telêmaco Borba e Frei Gaudêncio, neste município e Comarca de Tibagi/PR,
o denunciado OSVALDO BANKS ­ agindo dolosamente, com consciência, vontade e
intenção orientadas à prática delitiva a seguir descrita, além de plena ciência da
reprovabilidade de sua conduta ­ conduzia o veículo VW Parati, cor verde, placas BKG-
1332, com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool,
conforme termo de constatação de sinais de alteração de capacidade psicomotora de
fls. 08/10”.
Finda a instrução, o magistrado a quo julgou procedente a inicial acusatória (mov.
57.1) para o fim de condenar o apelante como incurso nas sanções do artigo 306, § 1º,
II, do Código de Trânsito Brasileiro, fixando-lhe a pena-base em 06 (seis) meses de
detenção e 10 (dez) dias-multa. Na 2ª fase, diante da existência da circunstância
agravante da reincidência, bem como da atenuante da confissão espontânea,
entendeu pela manutenção da pena provisória em 06 (seis) meses de detenção e 10
(dez) dias-multa, no valor unitário equivalente a 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo
vigente à época dos fatos, tornando a reprimenda definitiva neste patamar em razão
da inexistência de causas especiais de aumento e/ou diminuição de pena.
Ainda, aplicou a pena de suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a
habilitação para dirigir veículo automotor pelo período de 06 (seis) meses.
501

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O regime estabelecido foi o semiaberto. Os honorários advocatícios foram arbitrados


em R$ 2.300,00 (dois mil e trezentos reais).
Inconformada com a sentença, a defesa do denunciado OSVALDO interpôs recurso
de apelação, e em suas razões recursais (mov. 111.1), alega inépcia da denúncia,
afirmando ser ela “imprecisa, mormente quando deixou de especificar qual o grau de
comprometimento da capacidade psicomotora do acusado, se é que pelo menos
existiu”.
Requer, ainda, seja o denunciado absolvido, em razão da fragilidade dos elementos
probatórios, e que “em que pese o réu tenha confirmado a ingestão da bebida
alcoólica, tal consumo foi mínimo, sendo incapaz de alterar sua capacidade de
raciocinar e dirigir prudentemente”.
Devidamente intimado, o Ministério Público do Estado do Paraná apresentou
contrarrazões (mov. 114.1), defendendo pelo conhecimento e desprovimento do
apelo.
Nesta instância, a douta Procuradoria Geral de Justiça exarou parecer (fls. 10/13­TJ),
manifestando-se pelo conhecimento e desprovimento do recurso.
É o relatório.
VOTO
Presentes os pressupostos de admissibilidade é de se conhecer o recurso.
O recurso não merece provimento.
PRELIMINAR
Da inépcia da denúncia
Alega inépcia da denúncia, afirmando ser a mesma “imprecisa, mormente quando
deixou de especificar qual o grau de comprometimento da capacidade psicomotora
do acusado, se é que pelo menos existiu”.
Sem razão.
A respeito dos requisitos para o oferecimento da denúncia, o artigo 41 do Código de
Processo Penal estabelece que:
“Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as
suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa
identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas”.
Da análise da denúncia de mov. 1.1, extrai-se que esta preenche todos os requisitos
legais. Isto, pois, a exordial acusatória apresenta a qualificação do acusado, a
classificação do crime, o rol das testemunhas, bem como a exposição do fato
criminoso com todas as suas circunstâncias.
Assim sendo, da exposição narrativa depreende-se a individualização da conduta
praticada pelo apelante, se enquadrando no artigo 306 da Lei 9.503/97, não havendo
que se falar em inépcia da denúncia.
Ademais, extrai-se da denúncia que esta possibilitou o pleno exercício do
contraditório e da ampla defesa pelo apelante, não se visualizando ser a peça
acusatória genérica.
Afasta-se, assim, a preliminar arguida, passando-se, pois, ao exame do mérito
recursal.
MÉRITO
502

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Da autoria e materialidade delitivas


Postula a defesa pela absolvição do recorrente, ante a inexistência de prova do crime.
Todavia, razão não lhe assiste.
Do teor da denúncia, extrai-se que em 20 de dezembro de 2014, por volta das
20h10min, em via pública, o denunciado conduziu veículo automotor com capacidade
psicomotora alterada em razão da influência de álcool.
A materialidade e autoria delitivas restaram devidamente demonstradas pelo auto de
prisão em flagrante delito (mov. 1.1, IP 0002359-89.2014.8.16.0169), boletim de
ocorrência (mov. 1.1), termo de constatação de sinais de alteração de capacidade
psicomotora (mov. 25.2), bem como pela prova oral colhida no presente caderno
processual.
O recorrente OSVALDO, ao ser ouvido na Delegacia (mov. 1.1), permaneceu calado.
Por sua vez, em juízo (CD-Rom de fl. 03), como destacado na sentença (mov. 57.1), o
apelante confessou a prática delitiva, senão vejamos: “que já teve outros processos;
que os fatos são verdadeiros; que o réu ingeriu duas latas de cerveja no dia dos fatos;
que os policiais não conversaram com o réu anteriormente; que trouxe uma menina
que tinha machucado o pé em casa; que na hora que chegou na casa da menina, os
policiais o abordou parado; que os milicianos viram o réu no bar; que não sabe porque
chamaram o réu para levar a menina embora; que trouxe a menina fazendo um favor;
que em seu entendimento não estava alterado; que não tinha sinal de embriaguez”.
Observa-se, ainda, na hipótese, que as palavras dos policiais responsáveis pela
abordagem, somadas às demais provas acostadas aos autos, são hábeis a apontar a
autoria e materialidade delitivas.
Com efeito, o policial militar TIAGO DA SILVA LOPES (mov. 1.1 ­ IP), afirmou que “na
data de 20.12.2014, por volta das 20h10min, durante patrulhamento, abordaram o
veículo VW Parati, de cor verde, de placas BKG-1332, que era conduzido pelo Sr.
Osvaldo Banks, (...) que apresentava visível estado de embriaguez, apresentando odor
etílico, fala alterada, soluço, dificuldade de equilíbrio, e olhos vermelhos. (...) Que o
próprio condutor relatou que ingeriu bebida alcoólica (cerveja) momentos antes da
abordagem. (...) Que o condutor se recusou a realizar o teste do etilômetro, mas
diante da constatação descrita acima, foi confeccionado o termo de constatação de
alteração de capacidade psicomotora e a certidão de recusa (...)”.
Em idêntico sentido se deram as declarações do miliciano RICARDO MENARIM DE
LIMA no mov. 1.1 ­ IP.
Por sua vez, na fase judicial, tal como observado na r. sentença (mov. 57.1), o policial
TIAGO declarou: “Que o réu foi abordado próximo ao fórum; que o veículo já havia
sido avistado próximo aos bares; que já tinha orientado o réu; que quando detido, o
mesmo confessou ter ingerido bebida alcoólica; que se recusou a fazer o teste de
bafômetro; que dizia na delegacia que tinha dinheiro para pagar a fiança; que tinha
andar cambaleante, odor alcoólico, olhos avermelhados; que não lembra qual bebida
o réu ingeriu; que abordaram o réu; que o veículo sempre estava nos bares; que o
veículo estava rodando na abordagem”.

503

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Como se vê, as declarações dos agentes públicos merecem credibilidade, até porque
não há nos autos evidência de que tivessem interesse em incriminar indevidamente o
apelante ou que tenham faltado com a verdade.
Neste sentido, a jurisprudência de nossos Tribunais:
“(...) CONDENAÇÃO FUNDAMENTADA NO DEPOIMENTO DE POLICIAIS ­ MEIO DE
PROVA IDÔNEO ­ FRAGILIDADE DO CONJUNTO PROBATÓRIO NÃO
DEMONSTRADA.
(...) 2. Conforme entendimento desta Corte, o depoimento de policiais constitui meio
de prova idôneo a embasar o édito condenatório, mormente quando prestado ou
corroborado em Juízo, no âmbito do devido processo legal.
Precedentes” (STJ ­ HC 261.170/SP, Rel. Min. JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julg.
01.04.2014, DJe 10.04.2014).
“HABEAS CORPUS ­ ROUBO CIRCUNSTANCIADO ­ SENTENÇA CONDENATÓRIA ­
FRAGILIDADE DO CONJUNTO PROBATÓRIO ­ DECISÃO QUE ENCONTRA APOIO
EM ELEMENTOS COLHIDOS SOB O CRIVO DO CONTRADITÓRIO ­ DECISÃO
FUNDAMENTADA ­ DECLARAÇÕES DA VÍTIMA ­ CRIME COMETIDO NA
CLANDESTINIDADE ­ DEPOIMENTO DE POLICIAIS MILITARES ­ MEIOS DE PROVA
IDÔNEOS ­ PRINCÍPIO DO LIVRE CONVENCIMENTO ­ ABSOLVIÇÃO ­
NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO APROFUNDADO DE MATÉRIA FÁTICO-
PROBATÓRIA ­ IMPOSSIBILIDADE NA VIA ESTREITA DO WRIT” (STJ ­ 5ª T., HC
217.475/DF, Rel. Min. Jorge Mussi, DJe 09.11.2011).
Ademais, cabe destacar que os fatos imputados ao apelante ocorreram quando já
vigorava o § 1º, II, e § 2º do artigo 306 do CTB, com a redação dada pela Lei
12.760/2012, de modo que, diante da recusa do acusado em se submeter ao teste
bafométrico, admite-se a prova da embriaguez por meio de sinais que identifiquem
alteração da capacidade psicomotora.
Destaque-se que no Termo de Constatação de Sinais de Alteração de Capacidade
Psicomotora trazido no mov. 25.2 ­ IP, a demonstrar a embriaguez do ora denunciado,
verificou-se, quanto à sua aparência, a presença de sonolência, olhos vermelhos,
soluço e odor de álcool; quanto à atitude, o mesmo se mostrou falante, e ainda,
quanto à capacidade motora e verbal, demonstrou dificuldade no equilíbrio e fala
alterada.
Sobre o tema, o Superior Tribunal de Justiça disciplina que:
“PROCESSUAL E PENAL ­ RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL EM HABEAS
CORPUS ­ EMBRIAGUEZ AO VOLANTE ­ ART. 306 DA LEI Nº 9.503/97 ­ (1) FATO
POSTERIOR À ALTERAÇÃO NORMATIVA CRISTALIZADA NA LEI Nº 12.760/12 ­ (2)
ESTADO DE EMBRIAGUEZ APURADO POR OUTROS MEIOS DE PROVA ­
POSSIBILIDADE ­ (3) TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL ­ REVOLVIMENTO FÁTICO-
PROBATÓRIO ­ CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO ­ (4) RECURSO
ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS DESPROVIDO.
1. A Lei nº 12.760/12 modificou o artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro, a fim
de dispor ser despicienda a avaliação realizada para atestar a gradação alcóolica,
acrescentando ser viável a verificação da embriaguez mediante vídeo, prova

504

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos, observado o direito à


contraprova, de modo a corroborar a alteração da capacidade psicomotora.
2. No caso em apreço, praticado o delito na vigência da última modificação
normativa, fato ocorrido em 12.12.2013, torna-se possível apurar o estado de
embriaguez da acusada por outros meios de prova em direito admitidos (...)” (STJ ­ 6ª
T., RHC 49.296/RJ, Rel.
Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, DJe 17.12.2014).
Reforça-se que a constatação da alteração psicomotora do recorrente se deu com
fulcro no art. 306, § 1º, inc. II, do CTB, o qual, a partir da Lei 12.760/2012, admitiu a
prova da embriaguez por meio de sinais que identifiquem alteração da capacidade
psicomotora. Ademais, o crime em referência é de perigo abstrato, dispensando-se a
demonstração da efetiva potencialidade lesiva da conduta daquele que conduz veículo
em via pública com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool.
Assim sendo, a aventada absolvição não se aplica ao caso.
Da dosimetria da pena
A r. sentença fixou, para o crime de embriaguez ao volante (art. 306 da Lei nº
9.503/97), a pena definitiva em 06 (seis) meses de detenção, ou seja, em seu mínimo
legal, e a suspensão do direito de dirigir em 06 (seis) meses.
Todavia, a penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou a
habilitação para dirigir veículo automotor deve ser fixada na mesma proporção da
pena privativa de liberdade aplicada, consoante entendimento do Superior Tribunal de
Justiça:
“AGRAVO REGIMENTAL ­ `HABEAS CORPUS’ ­ DELITOS DE TRÂNSITO ­
SUSPENSÃO DA HABILITAÇÃO PARA CONDUZIR VEÍCULO AUTOMOTOR ­
VIABILIDADE DA ANÁLISE DO TEMA NA VIA ELEITA ­ REPRIMENDA CUMULATIVA ­
OFENSA À LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO EM SEU SENTIDO AMPLO ­ APLICAÇÃO
DA PENA ­ DESPROPORCIONALIDADE DO QUANTUM EM RELAÇÃO À PRIVATIVA
DE LIBERDADE ­ OFENSA AO ART. 293 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO ­
SANÇÃO REDIMENSIONADA ­ DECISÃO AGRAVADA EM CONFORMIDADE COM
ENTENDIMENTO FIRMADO NO STJ ­ MANTIDO O DECISUM PELOS PRÓPRIOS
FUNDAMENTOS. (...) 2. A pena de suspensão ou de proibição de se obter habilitação
ou permissão para dirigir veículo automotor, por se cuidar de sanção cumulativa, e não
alternativa, deve guardar proporcionalidade com a detentiva aplicada, observados os
limites fixados no art. 293 do Código de Trânsito Brasileiro. (...)” (STJ ­ 5ª T., AgRg no
HC 271.383/RJ, Rel. Ministro JORGE MUSSI, julg. 11.02.2014, DJe 25.02.2014). (grifo
nosso)
Esta Corte também já se posicionou sobre o tema:
“APELAÇÃO CRIME ­ EMBRIAGUEZ AO VOLANTE (ART. 306 DO CÓDIGO DE
TRÂNSITO BRASILEIRO) ­ AUTORIA E MATERIALIDADE DEVIDAMENTE
COMPROVADAS ­ ALTERAÇÃO DA CAPACIDADE PSICOMOTORA COMPROVADA
PELO LAUDO QUE ATESTA A PRESENÇA DE SINAIS DE EMBRIAGUEZ ­ NÃO
COMPROVAÇÃO DA DIREÇÃO PERIGOSA PELO RÉU ­ DESNECESSIDADE ­ CRIME
DE PERIGO ABSTRATO ­ CRIME CONFIGURADO ­ MANUTENÇÃO DA
CONDENAÇÃO ­ DOSIMETRIA DA PENA ­ SUSPENSÃO DA PERMISSÃO DE
505

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

HABILITAÇÃO PARA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR FIXADA


DESPROPORCIONALMENTE À PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE ­ REDUÇÃO, DE
OFÍCIO ­ RECURSO DESPROVIDO.
1. A partir da vigência da Lei nº 12.760/12, que alterou o art. 306 do Código de
Trânsito Brasileiro, pode-se constatar a alteração da capacidade psicomotora,
decorrente de embriaguez, por sinais que demonstrem essa situação, e não
necessariamente pelo teste do bafômetro.
2. O crime de embriaguez ao volante é de perigo abstrato e não exige que o agente
conduza o veículo de maneira anormal, para que caracterize o delito, bastando que
haja comprovação do estado de embriaguez, que no caso dos autos, ocorreu por
meios de constatação de sinais, tais como fala enrolada, odor etílico, agressividade,
dentre outros.
3. `A suspensão da habilitação deve ser fixada de modo proporcional com a sanção
privativa de liberdade’ (TJPR ­ 1ª C.Criminal ­ AC ­ 1375852-2 ­ Paraíso do Norte ­ Rel.
Des. Campos Marques ­ Unânime ­ J. 20.08.2015)” (TJPR ­ 2ª C.Criminal, AC 1454767-
0, Paranavaí, Rel. José Mauricio Pinto de Almeida, Unânime, J. 31.03.2016).
Assim sendo, merece reparo a r. sentença, para reformar a penalidade de suspensão
da habilitação para dirigir veículo automotor, devendo esta também ser fixada, de
ofício, no seu mínimo legal, ou seja, em 02 (dois) meses, em atenção ao princípio da
proporcionalidade e ao artigo 293 do Código de Trânsito Brasileiro.
ANTE O EXPOSTO, acordam os Desembargadores integrantes da 2ª Câmara Criminal
do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar
provimento ao recurso, e de ofício, reduzir a pena de suspensão da habilitação para
dirigir veículo automotor.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador Luís Carlos Xavier (com voto) e dele
participaram os Desembargadores José Maurício Pinto de Almeida e Roberto De
Vicente.
Curitiba, 20 de abril de 2017.
Des. Luís Carlos Xavier - Relator

2.4. ELIZABETH MARIA DE FRANÇA ROCHA

2.4.1. CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO EM CONTA CORRENTE

AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO EM CONTA

CORRENTE - SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA - AUSÊNCIA DE

SIGNIFICATIVA DISCREPÂNCIA DOS JUROS REMUNERATÓRIOS APLICADOS

FRENTE À TAXA MÉDIA DE MERCADO, CAPAZ DE COLOCAR O CORRENTISTA EM

506

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

DESVANTAGEM EXAGERADA - MANUTENÇÃO DOS JUROS REMUNERATÓRIOS

NAS TAXAS COBRADAS NA CONTA CORRENTE - CLÁUSULA CONTRATUAL QUE

PREVÊ A COBRANÇA DE COMISSÃO DE PERMANÊNCIA CUMULADA COM JUROS

DE MORA E MULTA - PRÁTICA CONSTATADA PELA PERÍCIA - ABUSIVIDADE

CONFIGURADA (SÚMULA 472 DO STJ) - DEVOLUÇÃO SIMPLES DO INDÉBITO E

NÃO EM DOBRO - REDISTRIBUIÇÃO PROPORCIONAL DO ÔNUS DE

SUCUMBÊNCIA. Apelação parcialmente provida.

(TJPR - 15ª C.Cível - AC - 1672171-6 - Região Metropolitana de Londrina - Foro

Central de Londrina - Rel.: Elizabeth M F Rocha - Unânime - J. 28.06.2017)

Inteiro Teor

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1672171- 6, da 8ª Vara


Cível do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Londrina, em que
figuram, como Apelante, Banco do Brasil S/A e, como Apelado, J.C.W.
Comércio de Veículos Ltda.
1. Trata-se de recurso de apelação cível interposto por Banco do Brasil S/A, da
sentença que julgou parcialmente procedente a ação revisional movida por J.C.W.
Comércio de Veículos Ltda, para o fim de determinar a limitação dos juros
remuneratórios à taxa média de mercado, a exclusão da cobrança tanto da comissão
de permanência como de valores considerados indevidos, com a condenação do réu
na restituição em dobro do indébito reconhecido e ao pagamento de custas e
honorários advocatícios, estes fixados em 10% sobre o valor da condenação.
Em suas razões recursais, o Apelante sustenta, em síntese: a) a legalidade das taxas
de juros praticadas; b) a legalidade na cobrança de comissão de permanência
cumulada com multa moratória; c) a impossibilidade de restituição em dobro de
valores ao correntista.
Processado o recurso e apresentadas as contrarrazões, os autos foram remetidos a
este Tribunal.
2. Presentes os pressupostos de admissibilidade, o recurso comporta conhecimento.
3. O presente recurso merece parcial provimento, conforme análise a seguir.
3.1. Juros remuneratórios O Apelante requer a manutenção da taxa de juros
praticada, sustentando a sua legalidade.
Pois bem.
No tocante aos juros remuneratórios em contrato de conta corrente, a jurisprudência
do Superior Tribunal de Justiça é assente no sentido de que tais juros cobrados pelas
instituições financeiras não sofrem a limitação imposta pelo Decreto nº 22.626/33 (Lei
de Usura), a teor do disposto na Súmula 596/STF.

507

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Com efeito, a abusividade da taxa de juros aplicada deve ser cabalmente


demonstrada em cada caso, com a comprovação do desequilíbrio contratual ou de
lucros excessivos, sendo insuficiente o só fato de a cobrança ultrapassar 12% ao ano
ou de haver estabilidade inflacionária no período. A propósito:
“4. Quanto aos juros remuneratórios, as instituições financeiras não se sujeitam aos
limites impostos pela Lei de Usura (Decreto 22.626/1933), em consonância com a
Súmula 596/STF, sendo inaplicáveis, também, os arts. 406 e 591 do CC/2002. Além
disso, a simples estipulação dos juros compensatórios em patamar superior a 12% ao
ano não indica abusividade. Para tanto, é necessário estar efetivamente comprovado
nos autos a exorbitância das taxas cobradas em relação à taxa média do mercado
específica para a operação efetuada, oportunidade na qual a revisão judicial é
permitida, pois demonstrados o desequilíbrio contratual do consumidor e a obtenção
de lucros excessivos pela instituição financeira”.1
Assim, conclui-se que a pretensão de alteração da referida taxa, com fulcro na
abusividade, deve ser devidamente demonstrada, levando-se em consideração a taxa
média para as operações da espécie, divulgadas pelo Banco Central do Brasil.
No caso, a perícia técnica reconheceu que houve a aplicação de taxa superior à média
de mercado em alguns meses e inferior em outros, conforme se verifica do anexo 5 do
laudo (mov. 117.8).
Ocorre que para que seja aplicável a taxa média de mercado é necessária que se
demonstre excessiva onerosidade no decorrer de boa parte da relação contratual e
não apenas a constatação de que em alguns meses a instituição financeira cobrou
juros acima da taxa média de mercado, devendo também ficar comprovado que as
taxas de juros praticadas pela instituição financeira superaram significativamente
àquelas, capaz de deixar o correntista em desvantagem exagerada.
Assim, no caso dos autos não se verifica abuso capaz de permitir a alteração das taxas
de juros praticadas. Isso porque “A jurisprudência ... tem considerado abusivas taxas
superiores a uma vez e meia (voto proferido pelo Min. Ari Pargendler no REsp
271.214/RS, Rel. p. Acórdão Min. Menezes Direito, DJ de
1 STJ. AgRg no REsp 1052866/MS, Rel. Ministro Vasco Della Giustina
(Desembargador Convocado Do Tj/Rs), Terceira Turma, julgado em 23/11/2010, DJe
03/12/2010, ao dobro (Resp. 1.036.818, Terceira Turma, minha relatoria, DJe
20.06.2008) ou ao triplo (REsp 971.853/RS, Quarta Turma, Min. Pádua Ribeiro, DJ de
24.09.2007) da média” (STJ ­ Recurso Repetitivo, REsp n° 1.061.530/RS, rel.
Ministra Nancy Andrighi, j. 22/10/2008).
Logo, conclui-se que na espécie não houve excesso significativo capaz de colocar o
correntista em desvantagem exagerada, sopesando o confronto com as taxas
aplicadas em relação às taxas médias de mercado que passaram a ser divulgadas pelo
Bacen; daí o provimento do recurso neste tópico, para manutenção dos juros
remuneratórios nas taxas praticadas.
3.2. Comissão de permanência A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça
consolidou entendimento no sentido de que a cobrança da comissão de permanência
no período de inadimplência reveste-se de legalidade desde que devidamente

508

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

pactuada e dentro dos parâmetros estabelecidos com a edição da Súmula n.º 472, a
saber:
“A cobrança de comissão de permanência - cujo valor não pode ultrapassar a soma
dos encargos remuneratórios e moratórios previstos no contrato - exclui a
exigibilidade dos juros remuneratórios, moratórios e da multa contratual.”
No caso, observa-se que da cláusula 4.2 do contrato em análise consta que o atraso
no pagamento “(...) passando a incidir sobre o saldo devedor (...): a) comissão de
permanência (...); b) juros moratórios a taxa efetiva de 1% (um por cento) ao ano, (...);;
c) multa de 2% (...)”.
Como se vê, a comissão de permanência foi contratada para o período de
inadimplência, prevendo-se a sua cumulação com multa e juros de mora.
Portanto, sem razão o Apelante em sua alegação de legalidade desta cláusula
contratual.
Ainda, conforme apontado pela perícia, foi constatada a cobrança da comissão de
permanência cumulada com os encargos moratórios:
“A Perícia apurou portanto cumulação dos encargos por inadimplência; Correção
monetária + Juros de mora + Juros Remun.+ Comissão de perman.+ Multa.” (mov.
117.4)
Portanto, restando clara a abusividade com a cobrança de comissão de permanência
cumulada com os encargos moratórios, juros remuneratórios e correção monetária,
merece manutenção este tópico da sentença.
3.3. Restituição em dobro Uma vez que o parágrafo único do art. 42 do Código de
Defesa do Consumidor tem aplicabilidade excepcional, somente se justifica nos casos
em que haja comprovada má-fé na conduta do credor, o que não ocorre na espécie.
Assim, não cabe a restituição em dobro do indébito resultante da cobrança da
comissão de permanência cumulada com outros encargos, como também de débitos
considerados indevidos. O expurgo dessa cobrança resulta da adequação e revisão
contratual, de modo que não está configurada a má-fé da instituição financeira ao
exigir tal excesso.
Confira-se entendimento desta 15ª Câmara Cível:
“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO.
FINANCIAMENTO DE VEÍCULO. (...) 6. REPETIÇÃO DO INDÉBITO EM DOBRO.
IMPOSSIBILIDADE. MÁ-FÉ NÃO CONFIGURADA. PERMITIDA DEVOLUÇÃO
SIMPLES.” (TJPR, 15ª Câm. Cív., Ap. Cível nº 1525147-5, Rel. Des. Jucimar
Novochadlo, j.
08/06/2016)
No corpo deste julgado, foi reforçado que “esta Câmara perfilha do entendimento
segundo o qual, reconhecida a ilegalidade da cobrança de valores, fica o banco
obrigado à restituição nos termos do artigo 872, do Código Civil (correspondente ao
art. 964, do Código Civil/1916). Assim, o que não pode prevalecer é o enriquecimento
sem causa de qualquer das partes” e que “e a cobrança indevida decorrer de um
equívoco não atribuível à má-fé do fornecedor, como no caso dos autos, em que não
restou ela comprovada, não se permite a exigência da restituição em dobro,

509

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

porquanto configurada a excludente prevista na parte final do parágrafo único do


artigo em comento”.
Ainda:
“PROCESSUAL CIVIL. RECURSO. APELAÇÃO. AÇÃO ORDINÁRIA DE REVISÃO
CONTRATUAL. (...) REPETIÇÃO DE INDÉBITO. ART. 42, § ÚNICO, CDC.
INAPLICABILIDADE. REPETIÇÃO SIMPLES. VEDAÇÃO AO ENRIQUECIMENTO
ILÍCITO. (...) Repetição do indébito. A jurisprudência já é pacífica no sentido de que a
regra do artigo 42, parágrafo único, do CDC, incide unicamente naquelas hipóteses
em que se evidencia que o fornecedor agiu de má-fé, não sendo aplicável aos casos
como o presente, em que a cobrança se deu com fundamento em cláusulas ajustadas.
(...).” (15ª Câm. Cív. do TJPR, Ap. Cív. nº 620496- 4, Rel. Jurandyr Souza Junior, j.
11/11/2009).
Dessa forma, não se verificando nos autos a má-fé do Banco/réu, merece reforma a
sentença na parcela em que determinou a devolução do indébito de forma dobrada.
3.4. Sucumbência Com o parcial provimento do recurso de Apelação interposto pelo
Banco/Réu, necessária a redistribuição das verbas de sucumbência.
Frente à medida de sucesso e derrota de cada uma das partes, as verbas de
sucumbência (despesas processuais e honorários advocatícios) são ora distribuídas na
proporção de 30% ao Banco/réu e 70% ao Autor.
Quanto aos honorários advocatícios, estes são fixados em 15% sobre o valor da
condenação, em observância ao disposto no §2º do art. 85 do CPC/15, sopesados o
tempo dispendido na causa, o grau de zelo dos profissionais que atuaram na causa, o
local de prestação do serviço, bem como a natureza, importância e simplicidade da
causa.
De conseguinte, conclui-se pelo parcial provimento da apelação para, em reforma da
sentença, determinar a manutenção dos juros remuneratórios aplicados e que a
restituição dos valores considerados indevidos seja simples, e não dobrada, com a
redistribuição proporcional do ônus de sucumbência.
Diante do exposto, ACORDAM os integrantes da Décima Quinta Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar parcial
provimento à apelação, nos termos da fundamentação.
Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Desembargador Luiz Carlos Gabardo, com
voto, e dele também participou, com voto, o Excelentíssimo Desembargador Shiroshi
Yendo.
Curitiba, 28 de junho de 2017.
Elizabeth M. F. Rocha, Juíza de Direito Substituta em Segundo Grau.

2.4.2. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS E REVISÃO DE CLÁUSULAS

CONTRATUAIS

AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS - SEGUNDA FASE - CONTRATO DE CARTÃO

DE CRÉDITO - PARCIAL CONHECIMENTO DO RECURSO - ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA


510

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GRATUITA - PEDIDO JÁ DEFERIDO EM PRIMEIRO GRAU - AUSÊNCIA DE

ALTERAÇÃO DA SITUAÇÃO ECONÔMICA - DESNECESSIDADE DE REITERAÇÃO DE

CONCESSÃO DA BENESSE - APLICAÇÃO DO CDC - TÓPICO NÃO DEDUZIDO NA

PETIÇÃO INICIAL - INOVAÇÃO RECURSAL - IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE DO

PEDIDO, SOB PENA DE SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA - NÃO CONFIGURAÇÃO DE

CERCEAMENTO DE DEFESA - PROVA PERICIAL DESNECESSÁRIA - SENTENÇA QUE

ACOLHEU AS CONTAS DO BANCO - APLICAÇÃO DO ENTENDIMENTO DO STJ

CONSOLIDADO NO RESP Nº 1497831/PR, REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA -

IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS, ALTERAÇÃO DAS

TAXAS DE JUROS COBRADAS, EXPURGO DE JUROS CAPITALIZADOS E DISCUSSÃO

SOBRE TARIFAS BANCÁRIAS EM SEDE DE AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS -

INCOMPATIBILIDADE DE RITOS PROCESSUAIS - INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA -

MANUTENÇÃO DA SENTENÇA - AUSÊNCIA DE VALORES A SEREM RESTITUÍDOS -

MAJORAÇÃO DA VERBA HONORÁRIA - EXEGESE DO ART. 85, PAR. 11º DO

CPC/2015.Apelação cível parcialmente conhecida e desprovida. Apelação Cível nº

1694452-0

(TJPR - 15ª C.Cível - AC - 1694452-0 - Curitiba - Rel.: Elizabeth M F Rocha - Unânime -

J. 28.06.2017)

Inteiro Teor

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1694452- 0, da 20ª Vara
Cível do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba, em que
figuram, como Apelante, Jacinda Regina Knapik Kichilevcz e, como Apelado, Itaú
Unibanco S/A.
1. Trata-se de apelação cível interposta por Jacinda Regina Knapik Kichilevcz, da
sentença que, na segunda fase da ação de prestação de contas movida em face de
Banco Bradesco S/A, julgou boas as contas prestadas pelo Banco. No que se refere à
sucumbência, condenou o Autor ao pagamento das custas e dos honorários
advocatícios arbitrados em 10% sobre o valor da causa.
Em suas razões recursais, o Apelante/autor suscita, em síntese: a) a ocorrência do
cerceamento de defesa, ante a não produção de prova pericial; b) a aplicação do
CDC; c) a cobrança ilegal de taxas e tarifas não contratadas; d) a necessidade de
restituição dos valores em dobro.

511

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Recebido o recurso e oferecidas as contrarrazões, os autos foram remetidos a este


Tribunal.
2. Primeiramente, não merece ser conhecida a parcela do recurso que requer a
extensão da assistência judiciária gratuita ao âmbito recursal, uma vez que tal benesse
já foi concedida em sede de primeiro grau na decisão de mov. 1.4, e não houve sua
revogação na sentença.
Dessa maneira, inexistindo comprovação da alteração de sua situação econômica, não
há subsiste interesse recursal para reiteração do pedido de assistência judiciária
anteriormente concedida.
Do mesmo modo, a apelação não comporta conhecimento no tocante ao pedido de
aplicação do Código de Defesa do Consumidor, por configurar inovação recursal. Isso
porque tal pedido não fora deduzido em primeira instância, de modo que não foi
apreciado pelo juízo a quo. Assim, a sua análise neste momento configuraria supressão
de instância, ferindo o princípio do duplo grau de jurisdição; daí a impossibilidade de
conhecimento deste tópico, por configurar inovação recursal.
Superado isso e presentes os pressupostos de admissibilidade, o recurso comporta
parcial conhecimento.
3. A apelação não merece provimento, conforme análise a seguir.
3.1. Cerceamento de defesa Não há que se falar em cerceamento de defesa pela não
produção de prova pericial.
Em não se tratando de matéria fática, há que se reconhecer desnecessária a realização
de perícia, uma vez que para a solução da demanda a prova documental é suficiente.
Da análise dos autos, infere-se que a Apelante se insurge contra a cobrança de taxas e
tarifas não contratadas, o que revela desnecessária a realização de perícia, já que a
matéria em discussão pode ser resolvida a partir da documentação acostada até
então.
3.2. Taxas e tarifas Não subsiste a pretensão da Apelante em afastar a cobrança de
taxas e tarifas supostamente não contratadas.
Isso porque no recente julgamento do recurso especial representativo de controvérsia
nº 1.497.831/PR, ocorrido em 14/09/2016, com voto da Relatora Convocada Ministra
Maria Isabel Gallotti, a Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça firmou
entendimento no sentido de que “O rito especial da ação de prestação de contas não
comporta a pretensão de alterar ou revisar cláusula contratual, em razão das limitações
ao contraditório e à ampla defesa”.
Assim, concluiu pela “impossibilidade de se proceder à revisão de cláusulas
contratuais diz respeito a todo o procedimento da prestação de contas, ou seja, não
pode o autor da ação deduzir pretensões revisionais na petição inicial (primeira fase),
conforme a reiterada jurisprudência do STJ, tampouco é admissível tal formulação em
impugnação às contas prestadas pelo réu (segunda fase)”. O julgado foi assim
ementado:
“PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE
CONTAS. SEGUNDA FASE. CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO EM CONTA
CORRENTE. JUROS REMUNERATÓRIOS E CAPITALIZAÇÃO DOS JUROS.
IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO DOS ENCARGOS CONTRATUAIS, QUE DEVEM SER
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MANTIDOS NOS TERMOS EM QUE PRATICADOS NO CONTRATO BANCÁRIO SEM


PREJUÍZO DA POSSIBILIDADE DE AJUIZAMENTO DE AÇÃO REVISIONAL.
1. Tese para os efeitos do art. 543-C do Código de Processo Civil de 1973: -
Impossibilidade de revisão de cláusulas contratuais em ação de prestação de contas.
2. O titular da conta-corrente bancária tem interesse processual para propor ação de
prestação de contas, a fim de exigir do banco que esclareça qual o destino do dinheiro
que depositou, a natureza e o valor dos créditos e débitos efetivamente ocorridos em
sua conta, apurando-se, ao final, o saldo credor ou devedor. Exegese da Súmula 259.
3. O rito especial da ação de prestação de contas não comporta a pretensão de
alterar ou revisar cláusula contratual, em razão das limitações ao contraditório e à
ampla defesa.
4. Essa impossibilidade de se proceder à revisão de cláusulas contratuais diz respeito
a todo o procedimento da prestação de contas, ou seja, não pode o autor da ação
deduzir pretensões revisionais na petição inicial (primeira fase), conforme a reiterada
jurisprudência do STJ, tampouco é admissível tal formulação em impugnação às
contas prestadas pelo réu (segunda fase).
5. O contrato de conta-corrente com abertura de limite de crédito automático
(cheque especial) é negócio jurídico complexo. Se o cliente não utiliza o limite de
crédito, não há dúvida de que o banco está empregando o dinheiro do correntista na
compensação dos cheques, ordens de pagamento e transferências por ele autorizadas.
Havendo utilização do limite do cheque especial, concretiza-se contrato de
empréstimo, cuja possibilidade era apenas prevista no contrato de abertura da conta.
6. A taxa de juros do empréstimo tomado ao banco não diz respeito à administração
dos recursos depositados pelo autor da ação. Ela compreende a remuneração do
capital emprestado e flutua, conforme as circunstâncias do mercado e as vicissitudes
particulares, em cada momento, da instituição financeira e do cliente. A taxa de juros
em tal tipo de empréstimo é informada por meios diversos, como extratos, internet e
atendimento telefônico.
7. Não se sendo a ação de prestação de contas instrumento processual adequado à
revisão de contrato de mútuo (REsp. 1.293.558/PR, julgado sob o rito do art. 543-C do
CPC/1973, relator Ministro Luís Felipe Salomão), da mesma forma não se presta esse
rito especial para a revisão de taxas de juros e demais encargos de empréstimos
obtidos por meio de abertura de limite de crédito em conta-corrente.
8. O contrato bancário que deve nortear a prestação de contas e o respectivo
julgamento - sem que caiba a sua revisão no rito especial - não é o simples formulário
assinado no início do relacionamento, mas todo o conjunto de documentos e práticas
que alicerçaram a relação das partes ao longo dos anos. Esse feixe de obrigações e
direitos não cabe alterar no exame da ação de prestação de contas.
9. Caso concreto: incidência do óbice da Súmula n. 283 do STF, no tocante à
alegação de decadência quanto ao direito de impugnar as contas. No mérito o
Tribunal de origem, ao decidir substituir a taxa de juros remuneratórios aplicada ao
longo da relação contratual e excluir a capitalização dos juros, ao fundamento de que
não houve comprovação da pactuação de tais encargos, efetuou, na realidade, revisão

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do contrato de abertura de crédito em conta corrente, o que não é compatível com o


rito da prestação de contas.
10. Recurso especial a que se dá parcial provimento para manter os juros
remuneratórios e a capitalização nos termos em que praticados no contrato em exame,
sem prejuízo da possibilidade de ajuizamento de ação revisional” (grifo)
Desse modo, é possível concluir que o novo entendimento perfilhado pelo Superior
Tribunal de Justiça é no sentido de que a ação de prestação de contas não é
considerada o instrumento processual adequado para a revisão das cláusulas
contratuais ou das taxas e encargos derivados de contrato de cartão de crédito.
Ou seja, o rito especial da ação de prestação, na primeira fase se presta apenas para
decidir o dever da instituição financeira em prestar contas. Uma vez reconhecido e
prestadas as contas, na segunda fase caberá ponderar se estas foram devidamente
apresentadas na forma mercantil, conforme estabelece o art. 551 do CPC/15.
Convém a reprodução das palavras da E. Ministra Maria Isabel Gallotti sobre o
assunto:
“O rito é especial, muito mais célere do que o ordinário, sendo o réu citado para, no
prazo de cinco dias, apresentar as contas ou contestar a obrigação de prestar contas
(CPC/73, art. 915).
Julgada procedente a primeira fase, a sentença “condenará o réu a prestar contas no
prazo de quarenta e oito horas, sob pena de não lhe ser lícito impugnar as que o autor
apresentar” (CPC/73, art. 915, §2º).
Tendo em vista a especialidade do rito, não se comporta no âmbito da prestação de
contas a pretensão de alterar ou revisar cláusula contratual. As contas devem ser
prestadas, com a exposição, de forma mercantil, das receitas e despesas, e o
respectivo saldo (CPC/73, art. 917). A apresentação das contas e o respectivo
julgamento devem ter por base os pressupostos assentados ao longo da relação
contratual existente entre as partes.
Nas palavras de Humberto Theodoro Júnior:
(...) O objeto do procedimento especial, no entanto, não abrange definição de
situações complexas como as de decretação de rescisão ou resolução contratual ou de
anulação de negócios jurídicos, e tampouco a condenação por atos ilícitos. Esses
acertamentos hão de ser realizados pelas vias ordinárias, relegando-se à ação especial
de prestação de contas apenas as questões de puro levantamento de débitos e
créditos gerados durante a gestão de bens e negócios alheios. (Curso de Direito
Processual Civil, Volume III, Procedimentos Especiais, 46ª edição, Rio de Janeiro -
Editora Forense, 2014, p. 87).
Em se tratando de contrato de conta corrente, o banco deverá demonstrar os créditos
(depósitos em favor do correntista) e os débitos efetivados em sua conta corrente
(cheques pagos, débitos de contas, tarifas e encargos, transferências, saques etc) em
relação ao período cuja prestação de contas se pede, para que, ao final, se apure se o
saldo da conta corrente é positivo ou negativo, e se o correntista tem crédito ou, ao
contrário, se está em débito.
Não será possível, todavia, a alteração das bases do contrato mantido entre as partes,
pois, como visto, o rito especial da prestação de contas é incompatível com a
514

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pretensão de revisar contrato, em razão das limitações ao contraditório e à ampla


defesa.
(...) Essa impossibilidade de se proceder à revisão de cláusulas contratuais diz respeito
a todo o procedimento da prestação de contas, ou seja, não pode o autor da ação
deduzir pretensões revisionais na petição inicial (primeira fase), conforme a reiterada
jurisprudência do STJ, tampouco é admissível tal formulação em impugnação às
contas prestadas pelo réu (segunda fase).
Isso ocorre porque, repita-se, o procedimento especial da prestação de contas não
abrange a análise de situações complexas, mas tão somente o mero levantamento de
débitos e créditos gerados durante a gestão de bens e negócios do cliente bancário.
A ação de prestação de contas não é, portanto, o meio hábil a dirimir conflitos no
tocante a cláusulas de contrato, nem em caráter secundário, uma vez que tal ação
objetiva, tão somente, a exposição dos componentes de crédito e débito resultantes
de determinada relação jurídica, concluindo pela apuração de saldo credor ou
devedor” (grifo)
Ora, veja-se que o presente caso se enquadra exatamente no que foi tratado no
mencionado julgado de recursos repetitivos. O Autor esclareceu, já em sua petição
inicial, que “firmou, junto à instituição ré, contrato pelo qual lhe foi disponibilizado o
cartão de crédito pessoal sob o nº 4002 4790 1853 2115. Utilizou-se de tais serviços
prestados, pagando sem qualquer oposição todos os encargos que lhe eram impostos
(taxas, tarifas, impostos e demais cobranças) “ (mov. 1.2).
Em posterior manifestação, alegou que “mediante a ausência de comprovação de
aceite dos termos do contrato, bem como a efetiva contratação de taxas, tarifas, juros
e capitalização de juros, requerer que o juiz julgue a ação, expurgando-se taxa, tarifas
e capitalização de juros e por fim adequando-se ao juro legal” (mov. 32.1).
Ocorre que, como a presente ação de prestação de contas teve por objeto
justamente um contrato de abertura de crédito em conta corrente, na qual discute, em
suas próprias palavras, `taxa, tarifas e capitalização de juros’, não restam dúvidas de
que não é possível a modificação das cláusulas contratuais supostamente abusivas,
como almejado pela parte autora.
Isso justamente pelo fato do rito processual da ação de prestação de contas ser
incompatível com a pretensão de ter cláusulas contratuais ou encargos supostamente
abusivos modificados após a pactuação da relação contratual. Assim, conclui-se que o
autor não possuir interesse em ver as contas revisadas em sede desta segunda fase da
ação de prestação de contas, para fins de verificação de “correta aplicação das
cláusulas contratuais”, uma vez que, como já elucidado, caberia apenas analisar se as
contas foram devidamente prestadas na forma mercantil.
Como bem esclareceu o E. Desembargador Luiz Carlos Gabardo, no julgamento da
Apelação Cível nº 1562877-8 em 23/11/2016, julgado por unanimidade nesta 15ª
Câmara Cível:
“(...) independentemente da existência de contrato escrito, não se admite, na ação de
prestação de contas, modificar a taxa de juros praticada, a periodicidade da
capitalização ou os demais encargos cobrados, mas tão somente analisar se o banco
prestou contas de forma mercantil, com consequente `verificação da compatibilidade
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das contas apresentadas entre os créditos, os débitos e o posterior saldo, sem


promover a alteração nos encargos contratuais vigentes durante a relação contratual’”
Tal julgado conta com a seguinte ementa:
“APELAÇÃO CÍVEL 2. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. SEGUNDA FASE.
CONTA CORRENTE. ATRIBUIÇÃO DE CARÁTER REVISIONAL. IMPOSSIBILIDADE.
RECURSO ESPECIAL REPETITIVO N.º 1.497.831/PR. DISCUSSÃO LIMITADA AO
CARÁTER MERCANTIL DAS CONTAS. CASO CONCRETO.CONTAS PRESTADAS
PELA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. REGULARIDADE. ACOLHIMENTO. ENCARGOS
SUCUMBENCIAIS. REDISTRIBUIÇÃO. 1. De acordo com o entendimento firmado pelo
Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do recurso especial repetitivo n.º
1.497.831/PR, “após prestadas as contas, cabe ao julgador, na sentença da segunda
fase da ação, analisar se tais contas foram prestadas na forma 2mercantil e fazer a
verificação da compatibilidade das contas apresentadas entre os créditos, os débitos e
o posterior saldo, sem promover a alteração nos encargos contratuais vigentes durante
a relação contratual”.2. Impõe-se a condenação da parte autora ao pagamento da
integralidade das custas, despesas processuais e honorários advocatícios, na hipótese
em que rejeitada a impugnação por ela apresentada, com consequente acolhimento
das contas prestadas pela instituição financeira.3. Apelação cível conhecida e provida.
APELAÇÃO CÍVEL 1. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. SEGUNDA FASE. CONTA
CORRENTE. DISCUSSÃO. TAXAS E TARIFAS.”NHOC”. REPETIÇÃO DE INDÉBITO.
RECURSO PREJUDICADO. 1. O provimento do recurso interposto pela instituição
financeira, para reconhecer a impossibilidade de revisão em ação de prestação de
contas, prejudica o exame do apelo da parte autora, em que se discutem encargos
cobrados no decorrer da relação contratual.2. Apelação cível conhecida e julgada
prejudicada” (TJPR, 15ª C.Cív., AC 1562877-8, Rel. Des. Luiz Carlos Gabardo, j.
23/11/2016, p. 01/12/2016)
Logo, desmerece acolhimento este tópico do recurso para o fim de reconhecer a
impossibilidade da pretensão inicial de revisão de cláusulas contratuais e a incidência
de tarifas e encargos nesta ação de prestação de contas e julgar boas as contas
prestadas pela instituição financeira na forma mercantil.
3.3. Restituição Com o desprovimento do recurso de apelação e manutenção da
sentença, não resta valores devidos ao Autor. Portanto, é indevida a repetição de
indébito pelo apelante.
4. Sucumbência Por fim, tendo em vista a manutenção da sentença proferida na
vigência do CPC/2015, impõe-se majorar a verba honorária em favor do Apelado para
20% sobre o valor da causa, em conformidade com o disposto no art. 85, par. e 11º do
CPC/15.
5. De conseguinte, conclui-se pelo parcial conhecimento e desprovimento da
apelação, mantendo-se integralmente a sentença que julgou boas as contas
apresentadas pelo Banco, com a majoração da verba honorária de sucumbência em
favor deste.
Diante do exposto, ACORDAM os integrantes da Décima Quinta Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em conhecer em
parte e negar provimento à apelação, nos termos da fundamentação.
516

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Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Desembargador Luiz Carlos Gabardo, com


voto, e dele também participou, com voto, o Excelentíssimo Desembargador Shiroshi
Yendo.
Curitiba, 28 de junho de 2017.
Elizabeth M. F. Rocha, Juíza de Direito Substituta em Segundo Grau.

2.4.3. CONTRATO DE EMPRÉSTIMO – FIADOR – MORA – TAXA DE JUROS

PACTUADA

EMBARGOS À EXECUÇÃO - CONTRATO DE EMPRÉSTIMO - SENTENÇA DE

IMPROCEDÊNCIA - RECURSOS DOS EMBARGANTES - AGRAVO RETIDO

INTERPOSTO CONTRA A DECISÃO QUE INDEFERE EFEITO SUSPENSIVO AOS

EMBARGOS À EXECUÇÃO - OPOSIÇÃO DOS EMBARGOS QUE NÃO ATENDE AOS

REQUISITOS CONTIDOS NO PARÁGRAFO 1º DO ARTIGO 739- A DO CÓDIGO DE

PROCESSO CIVIL/73 - INEXISTÊNCIA DE RELEVÂNCIA DOS FUNDAMENTOS -

AUSÊNCIA DE RISCO DE GRAVE DANO DE DIFÍCIL OU INCERTA REPARAÇÃO -

PRECEDENTES - DECISÃO MANTIDA - CARÊNCIA DA AÇÃO EXECUTIVA NÃO

CONFIGURADA - ALEGADA ILEGITIMIDADE PASSIVA DO FIADOR -

DESNECESSIDADE DE CONSTITUIÇÃO EM MORA - MANUTENÇÃO DOS JUROS

REMUNERATÓRIOS NAS TAXAS APLICADAS - AUSÊNCIA DE DISCREPÂNCIA COM

A TAXA MÉDIA DE MERCADO - ALEGAÇÃO DE CAPITALIZAÇÃO ILEGAL DE JUROS

- INSTRUMENTO CONTRATUAL FIRMADO COM TAXA DE JUROS ANUAL SUPERIOR

AO DUODÉCUPLO DA MENSAL - PARCELAS MENSAIS FIXAS - ACEITAÇÃO PELO

MUTUÁRIO E BOA-FÉ CONTRATUAL - CAPITALIZAÇÃO DE JUROS

EXPRESSAMENTE PACTUADA - ABUSIVIDADE NÃO CARACTERIZADA -

INEXISTÊNCIA DE VALORES A SEREM DEVOLVIDOS AOS EMBARGANTES - MORA

CARACTERIZADA DIANTE DO INADIMPLEMENTO DA OBRIGAÇÃO, BEM COMO

DA NÃO CONSTATAÇÃO DE ABUSIVIDADES NO CONTRATO - PRECEDENTES -

SENTENÇA MANTIDA - MAJORAÇÃO DA VERBA HONORÁRIA - EXEGESE DO ART.

85, PAR. 11º DO CPC/2015 Agravo retido desprovido. Apelação desprovida.

517

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(TJPR - 15ª C.Cível - AC - 1676634-4 - Palotina - Rel.: Elizabeth M F Rocha - Unânime -

J. 28.06.2017)

Inteiro Teor

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1676634-4, da Vara


Cível e Anexos da Comarca de Palotina, em que figuram, como Apelante, CR Arte em
Móveis Ltda. e Outros, e, como Apelado, Cooperativa de Crédito de Livre Admissão
Vale do Piquiri ABCD - Sicredi.
1. Trata-se de apelação cível interposta por CR Arte em Móveis Ltda. e Outros, da
sentença de mov. 18.1 que julgou improcedentes seus embargos à execução movida
por Cooperativa de Crédito de Livre Admissão Vale do Piquiri ABCD - Sicredi,
condenando-o ao pagamento das despesas processuais e dos honorários advocatícios
fixados em R$ 1.500,00.
Em suas razões recursais, os Apelantes defendem, em síntese: a) preliminarmente, o
conhecimento do agravo retido, “a fim de que seja proporcionada a concessão de
efeito suspensivo” aos embargos; b) a carência de ação, uma vez que “a cédula de
empréstimo, para abertura de crédito em conta corrente, não pode ser considerada
título executivo hábil a instruir a presente execução”; c) a ilegitimidade passiva do
fiador Jacir Mariase Ruiz, pois ele “sequer foi interpelado extrajudicialmente” acerca
da existência da dívida; d) a nulidade do “contrato por exequendo por desvio de
finalidade, por não preencher os requisitos dispostos nos artigo 783 e 803, I, ambos
do Código de Processo Civil”; e) a ilegalidade na cobrança de juros remuneratórios, os
quais devem ser limitados à taxa média de mercado ou a 12% ao ano; f) a restituição
em dobro do que foi pago em excesso, conforme art. 42 do CDC; g) a cobrança ilegal
de juros capitalizados, o que somente é permitido “em casos expressamente previstos
em lei e desde que haja expressa previsão contratual, o que não existe no contrato
conforme laudo pericial”; h) a descaracterização da mora, ante a suposta cobrança de
encargos ilegais durante o período de normalidade do contrato.
Recebido o recurso, o Apelado apresentou contrarrazões. Na sequência, os autos
foram remetidos a este Tribunal.
2. Agravo Retido O recurso merece ser conhecido, porquanto devidamente ratificado
nas razões de apelação. Contudo, não comporta provimento.
Insurge-se a parte recorrente contra a decisão de mov. 1.7 que, na vigência do
Código de Processo Civil/1973, indeferiu seu pedido de atribuição de efeito
suspensivo aos embargos opostos na execução movida por Cooperativa de Crédito de
Libre Admissão Vale do Piquiri ABCD - Sicredi.
Argumenta, em síntese, que a decisão deve ser reformada para o fim de atribuir efeito
suspensivo aos embargos à execução.
Contudo, sem razão.
Isso porque o § 1º do artigo 739-A do CPC/73 prevê que o efeito suspensivo aos
embargos do devedor só será deferido quando o Embargante o tiver requerido e
demonstrar serem “relevantes seus fundamentos”, na hipótese em que “o
518

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prosseguimento da execução manifestamente possa causar ao executado grave dano


de difícil ou incerta reparação, e desde que a execução já esteja garantida por
penhora, depósito ou caução suficientes”.
Não por outra razão é assente na orientação jurisprudencial que: “Após a entrada em
vigor da Lei 11.382/2006, que incluiu no CPC o art. 739-A, os embargos do devedor
poderão ser recebidos com efeito suspensivo somente se houver requerimento do
embargante e, cumulativamente, estiverem preenchidos os seguintes requisitos: a)
relevância da argumentação; b) grave dano de difícil ou incerta reparação; e c) garantia
integral do juízo.” (2ª Turma do STJ, AgRg no Ag. nº 1190402/PR, Rel. Min. Herman
Benjamin, j. 24/11/2009).
Nesse mesmo sentido:
“PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. AUSÊNCIA DE EFEITO
SUSPENSIVO. ART. 739-A DO CPC. APLICABILIDADE. REEXAME DE PROVAS.
SÚMULA 07/STJ. DIVERGÊNCIA NÃO DEMONSTRADA. 1. A orientação adotada pelo
Corte de origem harmoniza-se com a jurisprudência desta Corte no sentido de que
embargos do devedor poderão ser recebidos com efeito suspensivo somente se
houver requerimento do embargante e, cumulativamente, estiverem preenchidos os
seguintes requisitos: a) relevância da argumentação; b) grave dano de difícil ou incerta
reparação; e c) garantia integral do juízo”. (2ª Turma do STJ, AgRg no Ag. nº
1276180/RS, Rel. Min. Castro Meira, j. 06/04/2010)
“EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. EMBARGOS DO DEVEDOR.
ATRIBUIÇÃO DE EFEITO SUSPENSIVO. IMPOSSIBILIDADE. NÃO PREENCHIMENTO
DOS REQUISITOS LEGAIS CUMULATIVOS: RELEVÂNCIA DA FUNDAMENTAÇÃO,
PERIGO DE LESÃO GRAVE E DE DIFÍCIL REPARAÇÃO E GARANTIA DA DÍVIDA,
MEDIANTE PENHORA, DEPÓSITO OU CAUÇÃO. O artigo 739-A, § 1º, do Código de
Processo Civil, estabelece três requisitos cumulativos a autorizar a suspensividade dos
embargos à execução de título extrajudicial: “fumus boni iuris”, “periculum in mora” e
garantia do juízo. NEGATIVA DE SEGUIMENTO AO RECURSO”.
(TJPR ­ decisão monocrática, Agr. Instr. nº 668153-8, Rel. Edgard Fernando Barbosa, j.
13/08/2010)
“Com o advento da Lei 11.382/2006 restou assentado pelo legislador que os
Embargos do Executado não terão efeito suspensivo (CPC, art. 739-A, caput) ficando
ao alvedrio do juiz __ desde que a execução esteja garantida por penhora, depósito
ou caução suficientes __ atribuir tal excepcional medida (efeito suspensivo) quando,
diante de relevantes fundamentos, entender que o prosseguimento da execução pode
(manifestadamente __ atenção para a ênfase) causar ao executado grave dano de
difícil ou incerta reparação (CPC, § 1º do art. 739)”. (TJPR ­ decisão monocrática, Agr.
Instr. nº 694004-3, Rel.
Guido Döbeli, j. 28/07/2010)
“O art. 739-A, introduzido ao Código de Processo Civil pela Lei nº cabe efeito
suspensivo. Contudo, o seu parágrafo 1º abre exceção, estabelecendo que: “O juiz
poderá, a requerimento do embargante, atribuir efeito suspensivo aos embargos
quando, sendo relevantes seus fundamentos, o prosseguimento da execução
manifestamente possa causar ao executado grave dano de difícil ou incerta reparação,
519

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e desde que a execução já esteja garantida por penhora, depósito ou caução


suficientes”. A disposição legal acima autoriza o juiz, a requerimento do embargante, a
conceder efeito suspensivo aos embargos, desde que sejam demonstrados: a) a
relevância dos fundamentos; b) o prosseguimento da execução manifestamente poder
causar ao executado prejuízo de difícil ou incerta reparação; c) estar a execução
garantida por penhora, depósito ou caução suficientes”. (TJPR ­ decisão monocrática,
Agr. Instr. nº 667158-9, Rel. Celso Seikiti Saito, j. 21/07/2010)
Nos embargos à execução os ora Agravantes, dentre outros pontos, limitaram-se a
sustentar o excesso da execução, “que será provado por perícia técnica contábil”
(mov. 1.1, f. 33).
Ocorre que tais alegações não trazem em si relevância capaz de impor a suspensão
da execução. Deveras, ela não é suficiente para formar a convicção de plausibilidade,
vez que não configuram indícios de inexistência de débito. Pelo contrário, infere-se
dos autos que os Agravantes não negam em absoluto a existência do débito, mas
argumentam que há excesso.
Ora, para que seja viabilizada a atribuição do almejado efeito suspensivo não basta a
genérica assertiva dada pelo Agravantes sobre os requisitos da relevância da
argumentação e a ocorrência de danos irreversíveis.
No caso, além da ausência de relevância na argumentação dos Agravantes, não se
vislumbra a possibilidade de dano grave de difícil ou incerta reparação, devendo
prevalecer a regra do caput do artigo 739-A do Código de Processo Civil, inclusive
porque o feito sequer está garantido por penhora ou caução.
Nesse sentido, é certo que “a expropriação de bem é uma consequência natural da
execução, não servindo, por si só, para justificar a concessão de efeito suspensivo aos
embargos, que só deve ser deferido em casos excepcionais. Caso se entendesse que a
intervenção no patrimônio do devedor, que é uma simples decorrência do processo
de execução, configurasse o grave dano previsto como necessário para a atribuição do
efeito suspensivo aos embargos, ele sempre estaria configurado, sendo desnecessário
prevê-lo como condição” (STJ ­ decisão monocrática, Ag. nº 1180395, Rel. Min. Castro
Meira, j. 29/10/2009).
De conseguinte, conclui-se pelo desprovimento do agravo retido interposto pelos
Embargantes, vez que não demonstrados os requisitos necessários à concessão do
pretendido efeito suspensivo aos embargos.
3. Apelação Presentes os pressupostos recursais, o recurso de apelação merece ser
conhecido, conforme análise a seguir.
3.1. Carência de ação A execução embargada está lastreada na cédula de
empréstimo nº A60630143-7, emitida no valor de R$ 9.850,00, para pagamento em 18
parcelas mensais de R$ 644,36, com vencimento a partir de 10/05/2006 e a fixação de
juros à taxa mensal de 1,8% e anual de 23,87%, calculados de acordo com a Tabela
Price.
Logo, essa cédula preenche todos os pressupostos de executividade, nela constando
os nomes do credor e dos devedores, o valor da dívida e a forma de pagamento,
restando caracterizada a certeza do título. Ademais, resta demonstrada a sua liquidez

520

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

pelo fato de nela estarem explicitados os parâmetros para o cálculo da dívida, os


percentuais de juros aplicados e os prazos para pagamento.
Ou seja, a execução versa sobre Cédula de Crédito Bancário, que foi incluída pela Lei
nº 10.931/2004, em seu art. 28, no rol dos títulos executivos extrajudiciais:
“Art. 28. A cédula de Crédito Bancário é título executivo extrajudicial e representa
dívida em dinheiro, certa, líquida e exigível, seja pela soma nela indicada, seja pelo
saldo devedor demonstrado em planilha de cálculo, ou nos extratos da conta corrente,
elaborados conforme previsto no §2º”.
Ademais, a execução veio acompanhada da memória de cálculo, a qual aponta
discriminadamente os índices utilizados para atualizar o débito executado.
Desse modo, o contrato executado preenche todos os requisitos para a
executividade, de modo que não prospera a alegação recursal de carência de ação e
de iliquidez do título.
Nesse passo, tampouco assiste razão aos Apelantes ao suscitarem a nulidade do
contrato “por desvio de finalidade, por não preencher os requisitos dispostos nos
artigos 783 e 803, I, ambos do Código de Processo Civil”.
Como já esclarecido, o contrato preenche todas as condições de exigibilidade, e, ao
firmarem o contrato, as partes tiveram plena ciência das condições do objeto do
pacto:
“OBJETO - A cooperativa fornece um crédito, com recursos próprios, para livre
destinação /aplicação, no valor de R$ 9.850,00... que será liberado mediante crédito
na conta de depósitos à vista nela mantida pela(s) associada(s)”.
PRAZO E FORMA DE PAGAMENTO ­ O prazo deste contrato é o de 545 dias, e será
pago em parcelas fixas de R$ 644,36... cada uma, nas seguintes datas:..., ficando
expressamente autorizado o débito na conta de depósitos à vista de titularidade da(s)
devedora(s), que se comprometem a manter disponibilidade suficiente para tal” (grifos
no original)
Logo, não há que se falar em qualquer nulidade no contrato por “desvio de
finalidade”, visto que nele houve expressa previsão de que o valor seria liberado em
conta de titularidade da empresa embargante, e que o pagamento das parcelas seria
realizado mediante débito na referida conta.
Assim, impõe-se o desprovimento do recurso nestes pontos.
3.2. Ilegitimidade passiva do fiador Jacir Mariase Ruiz
Os Apelantes defendem a ilegitimidade passiva de Jacir Mariase Ruiz, sob o
argumento de que não foi notificado extrajudicialmente sobre a existência do débito.
Entretanto, não lhes assiste razão.
Dispõe o artigo 397 do Código Civil que, nas obrigações positivas e líquidas, a
constituição em mora do devedor se dá no seu termo, independente de notificação ou
citação do devedor.
Assim, tratando-se de obrigação líquida, descabe qualquer interpelação do devedor,
por parte do credor, já que aquele tem ciência da data em que deve adimplir com a
obrigação que assumiu.

521

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

O devedor solidário, por sua vez, equipara-se ao devedor principal, na medida em


que, considerando o caráter acessório da fiança, adquire as obrigações assumidas por
este, solidariamente.
No contrato em questão, o Sr. Jacir e mais três pessoas assinaram na “qualidade de
fiador(es) e principal(is) pagador(es) solidariamente responsável(is) por todas as
obrigações neste previstas..., o(s) qual(is) declara(m) aceitar este compromisso,
responsabilizando-se ilimitada e solidariamente pelo fiel e integral cumprimento de
todas as obrigações assumidas pela(s) associada(s)...” (mov. 1.3, f. 12).
Constou, ainda, que os fiadores se responsabilizaram por todas as obrigações devidas
“exclusivamente em razão das condições pactuadas contratualmente, renunciando
expressamente aos benefícios de ordem e divisão previstos nos artigos 826 e 829,
respectivamente, do Código Civil Brasileiro” (grifos no original - mov. 1.3, f. 12/13).
Nesse passo, ante a expressa renúncia ao benefício de ordem, os fiadores se
equipararam ao devedor principal, sendo desnecessária a notificação prévia do fiador
para constitui-lo em mora.
Confira-se a jurisprudência:
“EMBARGOS À EXECUÇÃO. CONTRATO DE MÚTUO GARANTIDO POR NOTA
PROMISSÓRIA. 1. EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO.
ILEGITIMIDADE PASSIVA DOS AVALISTAS. AFASTAMENTO. AVAL.
TITULO DE CRÉDITO VINCULADO AO CONTRATO. OBRIGAÇÃO SOLIDÁRIA.
SÚMULA 26 DO STJ. 2. INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL. AUSENCIA DE
DOCUMENTOS ESSENCIAIS. CONTRATO SOCIAL. DOCUMENTO DISPENSÁVEL. 3.
VALIDADE DAS TESTEMUNHAS. 4. FALTA DE CONSTITUIÇÃO DA MORA.
AFASTAMENTO. SENTENÇA MANTIDA. 1. O aval prestado em título de crédito
vinculado a contrato de mútuo, em que conste expressamente a solidariedade entre o
garantidor e o contratante, deve ser interpretado como garantia do contrato, e não se
restringe à cambial. (TJPR. 15ª C.Cível. Apelaçao Cível n° 701954-1. Rel. Des.
Luiz Carlos Gabardo). 2. Nos termos do enunciado n° 26, da Súmula do Superior
Tribunal de Justiça, “O avalista do título de crédito vinculado a contrato de mútuo
também responde pelas obrigações pactuadas, quando no contrato figurar como
devedor solidário”. 3. Já está pacificado no Superior Tribunal de Justiça, que a
outorga do mandato por instrumento público desobriga o mandatário a juntar o
contrato social da pessoa jurídica para comprovar a regularidade da representação,
haja vista que referida procuração goza de fé pública. 4.
O simples fato das testemunhas serem funcionárias da exequente, o que também não
foi comprovado nos autos, não as torna necessariamente suspeitas. Assim, não
restando evidenciado interesse das testemunhas no litígio, não é de acolher a
alegação de apelante. 5.
No caso dos autos, sendo pactuado entre as partes o termo (prazo) para pagamento
da dívida, e, não sendo adimplido o combinado naquele prazo, incorreu em mora,
automaticamente, o devedor, independentemente, de qualquer interpelação ou
notificação, sendo aplicável ao caso às regras da mora ex re, na qual vige o brocardo
“Dies interpellat pro hominis”.Apelação Cível não provida.” (TJPR - 15ª C.Cível - AC -
1075677-3 - Curitiba - Rel.: Jucimar Novochadlo - Unânime - J. 03.07.2013)
522

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“APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. AVALISTA EM CONTRATO DE


COMPRA E VENDA. AVAL EM NOTAS PROMISSÓRIAS. CONSTITUIÇÃO EM MORA.
ART. 960 DO C.C. DE 1916. ART. 219 DO CPC. AVAL. DEVEDOR SOLIDÁRIO.
VALIDADE.
BEM PENHORADO. PATRIMÔNIO DO DEVEDOR. VALIDADE. 1. É desnecessária a
interpelação ou notificação do devedor solidário quando a obrigação é positiva e
líquida, bastando o seu termo para a respectiva constituição em mora. Art. 960 do
Código Civil de 1916. 2. A citação constitui em mora o devedor, de acordo com o art.
219 do CPC.
3. O aval é instituto único dos títulos de crédito, não podendo ser firmado em
contrato de compra e venda. Contudo, a sua pactuação neste tipo de contrato impõe
o reconhecimento da responsabilidade solidária entre o devedor originário e o
avalista. 4. A insuficiência do valor do bem nomeado à penhora para garantir a
execução torna válida a recusa da nomeação pelo credor, conforme o disposto no art.
656, inciso V. Não há irregularidade na penhora de bem do patrimônio do devedor,
realizada de acordo com o art. 659, do Código de Processo Civil. 5. Apelação
conhecida e não-provida.” (TJPR - 15ª C.Cível - AC - 408851-7 - Chopinzinho - Rel.:
Luiz Carlos Gabardo - Unânime - J. 06.06.2007)
“APELAÇÃO CÍVEL 2. EMBARGOS À EXECUÇÃO. CONTRATO DE ABERTURA DE
LIMITE DE DESCONTO ROTATIVO DE TÍTULOS. 1. NOTA PROMISSÓRIA DADA EM
GARANTIA. SUPOSTA PERDA DA NATUREZA CAMBIAL. DISCUSSÃO IRRELEVANTE.
TÍTULO EXEQÜENDO. PRÓPRIO CONTRATO GARANTIDO. ART. 585, II, DO CPC. 2.
AUSÊNCIA DE PROTESTO DESIMPORTANTE.
RESPONSABILIDADE RESULTANTE DO CONTRATO. 3. JUROS REMUNERATÓRIOS.
AUSÊNCIA DE ESTIPULAÇÃO. AJUSTE PRESENTE NO CONTRATO. PROVA EM
SENTIDO CONTRÁRIO.
INOCORRÊNCIA. 4. JUROS MORATÓRIOS. INCIDÊNCIA A PARTIR DO
VENCIMENTO. OBRIGAÇÃO POSITIVA E LÍQUIDA.
NOTIFICAÇÃO DO DEVEDOR SOLIDÁRIO. DESNECESSIDADE. (...).
4. É desnecessária a notificação do devedor solidário quando a obrigação é positiva e
líquida, bastando o seu termo para a respectiva constituição em mora. RECURSO NÃO
PROVIDO (...)” (TJPR - 15ª C.Cível - AC - 441549-6 - Londrina - Rel.: Hayton Lee Swain
Filho - Unânime - J. 24.10.2007)
Desse modo, não resta dúvida quanto à legitimidade do fiador Sr. Jacir Mariase Ruiz
para integrar o polo passivo da presente ação de cobrança, o qual se responsabilizou
de maneira expressa pelo pagamento de todas as obrigações assumidas pelo
financiado.
3.3. Taxa de juros Os Embargantes/apelantes defendem, ainda, que os juros
remuneratórios devem ser fixados em 1% ao mês ou, sucessivamente, limitados à taxa
média de mercado.
Sabe-se que na esteira da atual orientação jurisprudencial consolidada perante o
Superior Tribunal de Justiça, adiciona-se que “os juros remuneratórios cobrados nos
empréstimos bancários são devidos à taxa contratada; salvo se comprovado, in
concreto, que são abusivos, assim entendidos aqueles que discrepem
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significativamente da média praticada no mercado” (STJ - decisão monocrática, REsp.


nº 904432/RN, Rel. Vasco Della Giustina, j. 10/05/2010).
E ainda nesse sentido:
“ORIENTAÇÃO 1 - JUROS REMUNERATÓRIOS a) As instituições financeiras não se
sujeitam à limitação dos juros remuneratórios estipulada na Lei de Usura (Decreto
22.626/33), Súmula 596/STF; b) A estipulação de juros remuneratórios superiores a
12% ao ano, por si só, não indica abusividade; c) São inaplicáveis aos juros
remuneratórios dos contratos de mútuo bancário as disposições do art. 591 c/c o art.
406 do CC/02; d) É admitida a revisão das taxas de juros remuneratórios em situações
excepcionais, desde que caracterizada a relação de consumo e que a abusividade
(capaz de colocar o consumidor em desvantagem exagerada ­ art. 51, §1º, do CDC)
fique cabalmente demonstrada, ante às peculiaridades do julgamento em concreto”
(STJ ­ Recurso Repetitivo, REsp nº 1.061.530/RS, rel. Ministra Nancy Andrighi, j.
22/10/2008)
A incidência de juros remuneratórios é inerente à operação entabulada pelas partes, e
é possível a alteração das taxas praticadas somente quando demonstrado por prova
cabal que houve excesso significativo em relação à taxa média de mercado, o que não
ocorre no presente feito.
De fato, conforme se extrai do mencionado recurso repetitivo:
“A taxa média apresenta vantagens porque é calculada segundo as informações
prestadas por diversas instituições financeiras e, por isso, representa as forças do
mercado. Ademais, traz embutida em si o custo médio das instituições financeiras e
seu lucro médio, ou seja, um ‘spread’ médio. É certo, ainda, que o cálculo da taxa
média não é completo, na medida em que não abrange todas as modalidades de
concessão de crédito, mas, sem dúvida, presta-se como parâmetro de tendência das
taxas de juros. Assim, dentro do universo regulatório atual, a taxa média constitui o
melhor parâmetro para a elaboração de um juízo sobre abusividade.
Como média, não se pode exigir que todos os empréstimos sejam feitos segundo
essa taxa. Se isto ocorresse, a taxa média deixaria de ser o que é, para ser um valor
fixo. Há, portanto, que se admitir uma faixa razoável para a variação dos juros.
A jurisprudência, conforme registrado anteriormente, tem considerado abusivas taxas
superiores a uma vez e meia (voto proferido pelo Min. Ari Pargendler no REsp
271.214/RS, Rel. p. Acórdão Min. Menezes Direito, DJ de 04.08.2003), ao dobro (Resp
1.036.818, Terceira Turma, minha relatoria, DJe de 20.06.2008) ou ao triplo (REsp
971.853/RS, Quarta Turma, Min. Pádua Ribeiro, DJ de 24.09.2007) da média.
Todavia, esta perquirição acerca da abusividade não é estanque, o que impossibilita a
adoção de critérios genéricos e universais. A taxa média de mercado, divulgada pelo
Banco Central, constitui um valioso referencial, mas cabe somente ao juiz, no exame
das peculiaridades do caso concreto, avaliar se os juros contratados foram ou não
abusivos”.
Logo, a alteração das taxas de juros praticadas somente é admitida em situações
excepcionais, desde que configurada a abusividade expressiva da instituição
financeira, de forma a deixar o mutuário em desvantagem exagerada.

524

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Nesse sentido, “é admitida a revisão das taxas de juros remuneratórios em situações


excepcionais, desde que caracterizada a relação de consumo e que a abusividade
(capaz de colocar o consumidor em desvantagem exagerada art. 51, § 1º, do CDC)
fique cabalmente demonstrada, ante às peculiaridades do julgamento em concreto”
(2ª Seção do STJ, REsp 1.061.530/RS, Rel. Ministra Nancy Andrighi, j. 22/10/2008).
Assim, sendo imperiosa para a verificação da abusividade da pactuação dos juros
remuneratórios a demonstração cabal do desequilíbrio contratual ou dos lucros
excessivos, o que não ocorre na espécie, devem prevalecer os juros cobrados pela
instituição financeira.
Este é o entendimento desta 15ª Câmara Cível:
“CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. REVISIONAL. CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO
EM CONTA CORRENTE.1. JUROS REMUNERATÓRIOS.
ABUSIVIDADE NÃO DEMONSTRADA. MANUTENÇÃO DAS TAXAS PRATI- CADAS.
2. CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS. ALE- GAÇÕES GENÉRICAS. 3. INVERSÃO
DO ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA.1. Aplica-se a taxa média de mercado somente quando
demonstrada a abusividade daquela adotada pelo banco. Não havendo prova nesse
sentido, mantem- se a praticada.2. Tendo a parte autora formulado alegações
genéricas e abstratas em relação à eventual prática de capitalização de juros, impõe-se
o julgamento em desfavor da mesma, presumindo-se que não houve a cobrança de
juros sobre juros.3. O provimento integral da apelação cível, impõe a inversão do ônus
da sucumbência Apelação Cível provida”.
(TJPR, 15ª C.Cív., AC 1494755-2, Rel. Des. Jucimar Novochadlo, j. 30/03/2016)
“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL.CONTRATOS DE CONTA CORRENTE E
VINCULADOS. CONTRATOS NÃO ESPECIFICADOS. INÉPCIA
PARCIAL.RECONHECIMENTO DE OFÍCIO. ART. 359, DO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL. APLICABILIDADE. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS.
ALEGAÇÕES GENÉRICAS. EXPURGO. IMPOSSIBILIDADE. JUROS
REMUNERATÓRIOS. ABUSIVIDADE. PARÂMETRO. MÉDIA DE MERCADO.
EXCESSO CONSIDERÁVEL. NÃO DEMONSTRAÇÃO. ENCARGOS SUCUMBENCIAIS.
INVERSÃO. SUCUMBÊNCIA MÍNIMA.
CARACTERIZAÇÃO. (...) 3. Não procede o pedido de expurgo da capitalização
mensal de juros se, a respeito do tema, a parte limita-se a tecer alegações genéricas,
sem qualquer vinculação ao caso examinado.4. A limitação dos juros remuneratórios à
média de mercado divulgada pelo BACEN exige a comprovação de que as taxas
praticadas pela instituição financeira excederam de forma considerável esse patamar, o
que não se dá quando a parte autora limita-se a pleitear a limitação da taxa de juros à
taxa legal.5.
Verificada a sucumbência mínima da parte ré, os encargos sucumbenciais devem ser
suportados com exclusividade pela pare autora.6. Apelação cível conhecida e
parcialmente provida, com reconhecimento, de ofício, de inépcia parcial da inicial”.
(TJPR, 15ª C.Cív, AC 1467165-1, Rel. Des. Luiz Carlos Gabardo, j. 16/03/2016)
“Revisional. Contrato bancário. Conta corrente. Julgamento “citra petita”.
Aplicação do parágrafo 1º, do art. 515, do CPC. Questão suscitada e discutida no
processo. Tarifas bancárias. Legalidade. Alegações genéricas insuficientes para
525

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

justificar o seu estorno. Juros remuneratórios. Manutenção. Pretensão de cobrança


pela taxa média. Impossibilidade. Discrepância com a de mercado não demonstrada.
Capitalização de juros. Prática não provada no processo. Alegações genéricas da parte
autora. Exclusão descabida. Sentença mantida com correção de parte “citra petita”.
Apelação desprovida”. (TJPR, 15ª C.Cív., AC 1475473-3, Rel. Des. Hamilton Mussi
Corrêa, j. 09/03/2016)
“AÇÃO REVISIONAL C/C PEDIDO DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS.
CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO EM CONTA CORRENTE.
digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.°
09/2008, JUROS.
Documento assinado DIVERSOS CONTRATOS FIRMADOS. 1.CAPITALIZAÇÃO DE do
TJPR/OE
JUROS REMUNERATÓRIOS.JUROS DE MORA. TAXAS E TARIFAS.
COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. Alegações genéricas e abstratas, desprovidas de
qualquer correlação com o caso concreto, feitas pela correntista em relação à eventual
cobrança de capitalização mensal de juros, abusividade dos juros remuneratórios e
cobrança indevida de encargos moratórios, sem indicação dos valores supostamente
indevidos, impõem o julgamento do pedido revisional em desfavor do autor,
presumindo-se que não houve a cobrança dos referidos encargos em desacordo com
o contrato ou com a legislação. RECURSO CONHECIDO, EM PARTE, E NÃO
PROVIDO”. (TJPR, 15ª C.Cív., AC 1463789-5, Rel. Des.
Hayton Lee Swain Filho, j. 16/12/2015)
Por conseguinte, não demonstrada a abusividade das taxas de juros contratadas, não
há que se falar em nulidade da cláusula contratual que as estabelece, tampouco na
fixação desses juros em 1% ao mês.
Assim, o recurso de apelação não merece provimento neste aspecto, devendo ser
mantida a taxa de juros remuneratórios na forma contratada.
3.4. Capitalização de juros Defendem haver cobrança ilegal de juros capitalizados, o
que somente é permitido “em casos expressamente previstos em lei e desde que haja
expressa previsão contratual, o que não existe no contrato conforme laudo pericial”.
Sem razão.
Da petição inicial verifica-se que a ação de execução recai sobre o contrato de
empréstimo pessoal, no qual foram estipulados os juros remuneratórios às taxas de
1,80% ao mês e 23,87% ao ano.
Ora, como visto, no respectivo contrato houve a estipulação do pagamento do valor
mutuado por meio de parcelas mensais pré-fixadas, com a fixação dos juros
remuneratórios em taxa anual superior ao duodécuplo da taxa de juros mensal, de
modo a evidenciar a expressa pactuação da capitalização em periodicidade inferior à
anual, conforme verificado na via contratual juntada aos autos de execução em
apenso, razão pela qual considera-se a previsão da incidência de juros capitalizados .
Foi estipulado no contrato em questão que o pagamento do valor mutuado seria
efetuado por meio de parcelas mensais pré-fixadas, com encargos pré-fixados (taxas
mensal e anual de juros remuneratórios).

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Ou seja, a despeito da insurgência manifestada contra a forma de incidência dos juros


pactuados, os Embargantes/apelantes tiveram, antes da assinatura do contrato, acesso
ao montante incidente a título de encargos, operação que não depende de
conhecimento técnico e que ali se encontra explicitada. O valor de cada uma das
parcelas mensais fixas que haveria de pagar está previsto no contrato, de modo que o
contratante sabia antecipadamente o montante final que pagaria a título de juros
remuneratórios ao assumir as obrigações definidas no financiamento, optando
livremente por fazê-lo.
Assim, ao contrário do que alegou a parte apelante, não há que se falar em
abusividade na forma de incidência dos juros pactuados, acerca dos quais o tinha
inegável conhecimento, inclusive do reflexo sobre o valor das parcelas mensais já
antecipadamente calculadas, de forma que prepondera a boa-fé contratual.
Nesse sentido, é o entendimento desta Câmara:
“PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO
BANCÁRIO (EMPRÉSTIMO). 1.PRELIMINAR DE CONTRARRAZÕES. NÃO
CONHECIMENTO DO APELO POR VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE E
INOVAÇÃO RECURSAL.
ACOLHIMENTO PARCIAL. RECURSO NÃO CONHECIDO QUANTO À LIMITAÇÃO
DOS JUROS REMUNERATÓRIOS.2. APLICAÇÃO DO ART. 359 DO CPC. PRESUNÇÃO
RELATIVA. NECESSÁRIA ANÁLISE DO CONJUNTO PROBATÓRIO. 3.
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. INOCORRÊNCIA.
PARCELAS PREFIXADAS. PRÍNCÍPIO DA BOA-FÉ CONTRATUAL. 4.
REPETIÇÃO EM DOBRO. IMPROCEDÊNCIA. SENTENÇA MANTIDA. 1.(...).
3. Nos contratos de empréstimo com prazo fixo, onde o consumidor aceita o valor das
parcelas fixas preestabelecidas, não é possível a alteração dos juros ou de sua forma
de incidência, em observância ao princípio da boa-fé contratual (art. 422 do Código
Civil).4. O pleito de restituição de indébito é vinculado à efetiva cobrança de encargos
ilegais. Inexistindo a alegada capitalização de juros, não há que se falar em devolução
de valores. Apelação Cível parcialmente conhecida e não provida”. (TJPR - 15ª C.Cível
- AC - 1582709-1 - Dois Vizinhos - Rel.: Jucimar Novochadlo - Unânime - - J.
09.11.2016)
“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL C/C TUTELA ANTECIPADA.
CONTRATO DE FINANCIAMENTO PARA AQUISIÇÃO DE VEÍCULO.
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. I - TAXAS E TARIFAS. COBRANÇA INDEVIDA.
INOVAÇÃO RECURSAL. MATÉRIA NÃO ALEGADA NA INICIAL. NÃO
CONHECIMENTO. II - REVISÃO CONTRATUAL. POSSIBILIDADE.
RELATIVIZAÇÃO DO PACTA SUNT SERVANDA. III - CAPITALIZAÇÃO DE JUROS.
PACTUAÇÃO EXPRESSA. TAXA ANUAL SUPERIOR AO DUODÉCUPLO DA MENSAL.
EMPRÉSTIMO COM PARCELAS FIXAS.COBRANÇA DEVIDA. PRECEDENTES DO STJ.
IV - RESTITUIÇÃO DO INDÉBITO. INEXISTÊNCIA DE VALORES A SEREM
REPETIDOS.I - “Não merece apreciação em sede recursal as matérias que não foram
oportunamente postuladas, e que, por consequência, não se submeteram ao crivo do
contraditório e do devido processo legal” (TJPR - 15ª CCív. - ApCív.

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648277- 7 - Rel. Des. Jurandyr Souza Junior - j. 21.07.2010 - DJ 02.08.2010).II - No


caso de serem estabelecidas cláusulas que afrontem a igualdade entre as partes ou o
ordenamento jurídico, há que se autorizar a revisão contratual, de forma que se
reestabeleça a equiparação entre as partes. III - Estando em discussão contrato de
empréstimo com pagamento em parcelas fixas, é irrelevante a discussão sobre a
ocorrência ou não da capitalização mensal dos juros, pois, independentemente das
taxas incidentes, o valor e a quantidade das prestações foram esclarecidos à parte
embargante, pouco importando na prática a nomenclatura dos encargos. E, mesmo
que assim não o fosse estando a taxa anual de juros superior ao duodécuplo da taxa
mensal, tem-se que foi expressamente pactuada a capitalização mensal de juros. IV -
Inexistindo valores cobrados indevidamente, não há que se falar em restituição do
indébito, muito menos na forma dobrada. APELAÇÃO CÍVEL PARCIALMENTE
CONHECIDA E, NESTA PARTE, NÃO PROVIDA”. (TJPR - 15ª C.Cível - AC - 1561743-3
- Curitiba - Rel.: Shiroshi Yendo - Unânime - - J. 19.10.2016)
Além disso, prevê a Súmula nº 541 do STJ que “A previsão no contrato bancário de
taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a
cobrança da taxa efetiva anual contratada”.
Ademais, consoante “jurisprudência pacífica do Superior Tribunal de Justiça, é
possível a cobrança da capitalização mensal de juros, desde que pactuada, nos
contratos bancários celebrados após a edição da Medida Provisória nº 1.963-17, de 30
de março de 2000 (MP n. 2.170-36/2001) (cf. AgRg no REsp 1.028.327/MS, Rel. Min.
CARLOS FERNANDO MATHIAS (JUIZ FEDERAL CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO),
DJe 26.02.2009 e AgRg no REsp 995.990/RS, Rel. Min. JOÃO OTÁVIO DE
NORONHA, DJe 02.02.2009) ...” (STJ - decisão monocrática, REsp. nº 990995, Rel.
Vasco Della Giustina, J. 15/03/2011).
No julgamento de Incidente de Inconstitucionalidade pelo Órgão Especial deste
Tribunal, autuado sob o nº 806337-2/01, entendeu esta Corte por afastar “a alegada
inconstitucionalidade formal do art. 5º, caput da Medida Provisória nº 2170-36/2001”,
e declarar a constitucionalidade material do art. 5º da Medida Provisória nº 2170-
36/2001 (Órgão Especial do TJPR, Incidente Declaratório de Inconstitucionalidade nº
806337-2/01, Rel. Des. Jesus Sarrão, j. 03/12/2012).
Assim, frente à legalidade na forma de incidência capitalizada de juros no contrato em
questão, tendo em vista a expressa previsão contratual, não prospera o recurso do
Embargante, devendo ser mantida a sentença que considerou legal a incidência de
capitalização de juros no contrato.
3.5. Repetição do indébito e descaracterização da mora Considerando que tanto as
taxas de juros pactuadas quanto a forma de incidência desses juros foram mantidas,
não há que se falar em indébito a ser devolvido aos Embargantes, tampouco na
descaracterização da mora; daí o desprovimento dos tópicos recursais que tratam
desses temas.
Por conseguinte, não merece prosperar o recurso interposto pelo Embargante, motivo
pelo qual não há que se falar em inversão do ônus sucumbencial.

528

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Enfim, tendo em vista a manutenção da sentença, impõe-se majorar a verba honorária


em favor do Apelada para R$ 2.000,00 (dois mil reais), em conformidade com o
disposto no art. 85, par. 11º, do CPC/15.
4. De conseguinte, conclui-se pelo desprovimento do agravo retido e da apelação,
mantendo-se a sentença em sua integralidade.
Diante do exposto, ACORDAM os integrantes da Décima Quinta Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar
provimento ao agravo retido e à apelação, nos termos da fundamentação.
Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Desembargador Luiz Carlos Gabardo, com
voto, e dele também participou, com voto, o Excelentíssimo Desembargador Shiroshi
Yendo.
Curitiba, 28 de junho de 2017.
Elizabeth M. F. Rocha, Juíza de Direito Substituta em Segundo Grau.

2.4.4. CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO EM CONTA CORRENTE –

CAPITALIZAÇÃO DE JUROS NÃO PACTUADA

AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO DE ABERTURA DE CONTA CORRENTE E DE

CRÉDITO DIRETO AO CONSUMIDOR - SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA -

POSSIBILIDADE DE REVISÃO CONTRATUAL - MITIGAÇÃO DO PRINCÍPIO DO

PACTA SUNT SERVANDA - APLICABILIDADE DO CDC NA ESPÉCIE -

CAPITALIZAÇÃO DE JUROS - PRÁTICA CONSTATADA NA CONTA CORRENTE PELA

PERÍCIA - IMPOSSIBILIDADE DE COBRANÇA NA CONTA CORRENTE ANTE A

AUSÊNCIA DE PREVISÃO CONTRATUAL - CAPITALIZAÇÃO DE JUROS

CONTRATADA EM PERIODICIDADE MENSAL NOS CONTRATOS DE EMPRÉSTIMO -

EMPRÉSTIMO CONTRAÍDO COM TAXA DE JUROS ANUAL SUPERIOR AO

DUODÉCUPLO DA MENSAL - CONTRATOS PACTUADOS EM 2008, APÓS INÍCIO DA

VIGÊNCIA DA MP 2.170-36/01 - EMPRÉSTIMO O OBTIDO EM VALOR CERTO, COM

ENCARGOS PRÉ-FIXADOS - PARCELAS MENSAIS FIXAS - ACEITAÇÃO PELO

MUTUÁRIO E BOA-FÉ CONTRATUAL - AUSÊNCIA DE ABUSIVIDADE - TAC E TEC -

CONTRATO CELEBRADO ANTES DE 30/04/2008 - RESP Nº 1.251.331/RS -

COBRANÇA LEGAL - INSURGÊNCIA CONTRA A COMISSÃO DE PERMANÊNCIA -

AUSÊNCIA DE PROVA DE SUA COBRANÇA - RESTIUIÇÃO SIMPLES DOS VALORES

529

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

COBRADOS INDEVIDAMENTE REFERENTES À CAPITALIZAÇÃO DE JUROS -

REFORMA PARCIAL DA SENTENÇA E REDISTRIBUIÇÃO PROPORCIONAL DO ÔNUS

DE SUCUMBÊNCIA. Apelação parcialmente provida. Apelação Cível n° 1677592-5

(TJPR - 15ª C.Cível - AC - 1677592-5 - Curitiba - Rel.: Elizabeth M F Rocha - Unânime -

J. 21.06.2017)

Inteiro Teor

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1677592- 5, da 7ª Vara


Cível do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba, em que
figuram, como Apelante, Banco do Brasil S/A e, como Apelada, Luiz Carlos
Cachoroski.
1. Trata-se de apelação cível interposta por Banco do Brasil S/A, da sentença que ao
julgar parcialmente procedente a ação revisional movida por Luiz Carlos Cachoroski
para afastar a cobrança de juros capitalizados, de comissão de permanência e das
tarifas TAC e TEC, condenou-o na devolução simples dos valores pagos
indevidamente pela parte autora. Por fim, condenou ambas as partes ao pagamento
do ônus sucumbencial na proporção de 70% para o autor e 30% para o Banco/réu,
com a fixação dos honorários advocatícios em R$ 1.000,00 (mil reais).
Em suas razões recursais, o Banco/Apelante sustenta a impossibilidade de revisão
contratual, ante a legalidade de todas as disposições contratuais. Ademais, defende a
inaplicabilidade do CDC, a possibilidade de capitalização de juros e cobrança de
comissão de permanência e tarifas administrativas (TAC e TEC). Por fim, requer a
inversão do pagamento dos honorários advocatícios ou, alternativamente, sua
minoração.
Recebido o recurso e apresentadas as contrarrazões, os autos foram remetidos a este
Tribunal.
2. Presentes os pressupostos de admissibilidade, o recurso merece ser conhecido,
conforme análise a seguir.
3. O recurso merece parcial provimento.
3.1. Boa-fé e impossibilidade de revisão contratual Primeiramente, quanto à alegada
impossibilidade de revisão do contrato, não merece guarida o apelo.
Na petição inicial, a autora informa que realizou contrato de abertura de conta
corrente e empréstimos com o Banco. Nesse aspecto, o princípio do pacta sunt
servanda, apesar de continuar a regular as relações entre particulares, não é absoluto
porquanto é possível a modificação de cláusulas excessivamente onerosas. A força
obrigatória dos contratos não se compatibiliza com cláusulas nulas, mas a nulidade é
limitada às cláusulas abusivas, independentemente da natureza jurídica do contrato.
Em outras palavras, é perfeitamente lícita a mitigação do princípio da força obrigatória
dos contratos quando suas cláusulas denotem obrigações abusivas, incompatíveis
coma boa-fé ou a equidade, motivo pelo qual o autor pode fazer uso do direito de

530

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

ação e postular a tutela jurisdicional a fim de que o equilíbrio contratual venha a ser
estabelecido por intermédio da pretensa revisão. Assim, não assiste razão ao Banco
em alegar a inexistência de fatores que justifiquem a revisão do contrato.
3.2. Inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor Concernente à alegação
de inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor, também não assiste razão
ao Apelante.
Da análise dos autos, verifica-se que a relação jurídica decorre de operação bancária,
firmada entre as partes, concretizada por intermédio de crédito de abertura de conta
corrente e crédito direto ao consumidor.
Nesse contexto, adotando-se uma interpretação finalista ou subjetiva das normas do
Código de Defesa do Consumidor, pode-se concluir que o emitente das cédulas se
insere no conceito previsto em seu artigo 2º, nos seguintes termos:
“Art. 2º. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou
serviço como destinatário final.
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que
indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo”
Para melhor compreensão a respeito da adoção da teoria finalista na interpretação do
Código de Defesa do Consumidor, oportuna é transcrição dos fundamentos expostos
pela Excelentíssima Senhora Ministra Nancy Andrighi, quando do julgamento do
Recurso Especial n.º 733.560/RJ:
“É fato inconteste que os legisladores, quando da redação da Lei 8.078/90, não
fizeram nenhuma distinção entre pessoas física e jurídica para se beneficiarem do
Código de Defesa do Consumidor. Ao contrário, em seu artigo 2.º foram claros ao
estabelecer que ambas podem utilizar-se da proteção conferida pelo CDC, bastando
que, para tanto, os bens ou serviços adquiridos sejam provenientes de um fornecedor
e que a pessoa que os adquiriu seja `destinatário final’ dos mesmos.
Portanto, para se saber se determinada pessoa pode ou não ser considerada
consumidora nos termos do art. 2.º do CDC, deve-se verificar se ela se enquadra na
definição de `destinatário final’.
A este respeito, a Segunda Seção deste STJ superou discussão acerca do alcance da
expressão `destinatário final’, constante do art. 2º do CDC, consolidando a teoria
subjetiva (ou finalista) como aquela que indica a melhor diretriz para a interpretação do
conceito de consumidor (REsp n.° 541.867/BA, Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro,
Rel. para o acórdão Min. Barros Monteiro, DJ 16.05.2005).
Segundo a teoria preferida, a aludida expressão deve ser interpretada restritivamente.
Com isso, o conceito de consumidor deve ser subjetivo e entendido como tal aquele
que ocupa um nicho específico da estrutura de mercado - o de ultimar a atividade
econômica com a retirada de circulação (econômica) do bem ou serviço, a fim de
consumi-lo, de forma a suprir uma necessidade ou satisfação eminentemente pessoal.
Para se caracterizar o consumidor, portanto, não basta ser, o adquirente ou utente,
destinatário final fático do bem ou serviço: deve ser também o seu destinatário final
econômico; isto é, a utilização deve romper a atividade econômica para o atendimento
de necessidade privada, pessoal, não podendo ser reutilizado, o bem ou serviço, no
processo produtivo, ainda que de forma indireta.
531

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Nesse sentido é também o entendimento de Cláudia Lima Marques, Antônio Herman


V. Benjamin e Bruno Miragem, para quem: `Destinatário final é aquele destinatário
fático e econômico do bem ou serviço, seja ele pessoa jurídica ou física. Logo,
segundo esta interpretação teleológica, não basta ser destinatário fático do produto,
retirá-lo da cadeia de produção, levá-lo para o escritório ou residência ­ é necessário
ser destinatário final econômico do bem, não adquiri- lo para revenda, não adquiri-lo
para uso profissional, pois o bem seria novamente instrumento de produção cujo
preço será incluído no preço final do profissional que o adquiriu’. (Comentários ao
código de defesa do consumidor: arts. 1.º a 74, aspectos materiais, São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2004, p.
71)”
Em que pese a adoção de forma dominante da teoria finalista no Superior Tribunal de
Justiça, esta Décima Quinta Câmara Cível, ao apreciar o tema, em casos anteriores, o
fez com ponderação, adotando com abrandamento essa teoria, conforme o que foi
sugerido pelo Excelentíssimo Senhor Ministro Jorge Scartezzini, quando do
julgamento do Recurso Especial n.º541867. Como consequência, entendeu-se que,
para que a teoria finalista seja excepcionalmente mitigada, é necessária a
demonstração in concreto da vulnerabilidade técnica, jurídica ou econômica da parte
aderente. Confira-se:
“[...] APELAÇÃO CÍVEL (2). CÉDULAS DE CRÉDITO COMERCIAL. 1.
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. PESSOA JURÍDICA. CONSUMO
INTERMEDIÁRIO. VULNERABILIDADE. NÃO DEMONSTRADA. LEI ESPECIAL.
INAPLICABILIDADE. [...] 1. A aquisição de bens ou a utilização de serviços, por pessoa
natural ou jurídica, com o escopo de implementar ou incrementar a sua atividade
negocial, não se reputa como relação de consumo e, sim, como atividade de consumo
intermediária, aplicando-se o Código de Defesa do Consumidor somente se restar
evidenciada vulnerabilidade fática, jurídica ou técnica. Precedentes do Superior
Tribunal de Justiça [...]” (REsp 541867/BA, Min. Antônio de Pádua Ribeiro, DJ
16.05.2005, p. 227).
No caso em apreço, observa-se que o emitente das cédulas, pela teoria finalista, de
fato, é destinatário final econômico do produto adquirido - vale dizer, do crédito
obtido -, pois há entre as partes típica relação de consumo.
Isso porque a condição socioeconômica ou jurídica do emitente das cédulas, pessoa
física contratante, revela-se demasiadamente inferior à da instituição financeira,
presumindo-se, assim, que não possui o mesmo conhecimento técnico e jurídico para
firmar um contrato.
Assim, plenamente aplicável o Código de Defesa do Consumidor ao caso em tela.
3.3. Capitalização de juros Já no tocante à capitalização de juros, o Banco sustenta
que o contrato foi firmado posteriormente à vigência da MP n° 2.170-36/2001, a qual
autoriza a incidência de juros capitalizados mediante expressa previsão contratual.
Ocorre que, da análise das peças contratuais acostadas aos autos, extrai-se dos autos
que a pretensão revisional recai sobre um Contrato Abertura de Conta corrente e dois
contratos de empréstimo, de modalidade de crédito direto ao consumidor.

532

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

3.3.1. Contrato de conta corrente A sentença determinou o expurgo da capitalização


de juros no contrato de conta corrente, ao fundamento de que “Analisando o contrato
anexado aos autos, verifica-se que, de fato, não há informação das taxas de juros
aplicadas e de capitalização. Ressalta-se que, nos termos do entendimento do
Superior Tribunal de Justiça e do egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, a
capitalização é lícita desde que prevista no contrato” (mov. 122.1).
O Banco/Apelante, por sua vez, defende que a capitalização foi devidamente prevista
no contrato, razão pela qual a sua cobrança é permitida.
No entanto, sem razão.
Apesar de alegar a expressa pactuação da capitalização de juros no contrato em
análise, respeitante à conta corrente, o Banco/Apelante não trouxe aos autos
documento contratual que demonstrasse tal previsão. Aliás, da análise do contrato
constante no processo às f. 43/49 do mov. 1.4, não é possível extrair qualquer cláusula
prevendo a incidência de juros capitalizados.
Ademais, o laudo pericial constatou a incidência da capitalização de juros na
periodicidade mensal na conta corrente, ou seja, juros sobre juros. Vejamos: “Na conta
em estudo, os juros foram computados de forma capitalizada, ou seja, os juros foram
lançados a débito da conta, agregando-se ao saldo devedor quando este era
negativo, ou seja, o saldo da conta não era positivo na mesma data, mantendo-se
somados ao saldo devedor para servir de base para cálculos futuros de novos juros” (f.
mov. 86.1).
Ora, se o perito afirmou a ocorrência da capitalização mensal de juros, com
embasamento nos documentos que acompanharam a ação revisional, resta clara a
cobrança indevida. Isso porque, considerando a ausência da previsão das taxas de
juros no contrato, bem como da incidência de juros sobre juros, não é possível afirmar
que a sua capitalização fora expressamente pactuada, razão pela qual tal prática é
considerada indevida.
É o que define a jurisprudência desta Câmara:
“APELAÇÃO CÍVEL AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS SEGUNDA FASE (...)
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS AUSÊNCIA DE EXPRESSA PACTUAÇÃO
IMPOSSIBILIDADE INCIDÊNCIA DO ART. 354 DO CÓDIGO CIVIL ACOLHIMENTO
REGRA DE IMPUTAÇÃO DE PAGAMENTO REPETIÇÃO DE INDÉBITO DEVOLUÇÃO
DE VALORES QUE SE MOSTRA DEVIDA DIANTE DA COBRANÇA DE VALORES
INDEVIDOS. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
(...) para a cobrança da capitalização de juros, é necessária a presença cumulativa dos
seguintes requisitos: legislação específica possibilitando a pactuação e a expressa
previsão contratual quanto à periodicidade.
No caso dos autos, a instituição financeira não comprovou a contratação expressa da
capitalização em qualquer periodicidade, não tendo juntado aos autos o contrato
celebrado e, consequentemente, não preenchendo os requisitos exigidos por decisão
do Superior Tribunal de Justiça” (TJPR, 14ª C. Cív., Ap. Cív. 1263698-5, Rel. Des. Gil
Francisco de Paula Xavier F Guerra, j.
03/02/2016)

533

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“APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS - CONTA


CORRENTE E EMPRÉSTIMOS - REDUÇÃO DA MULTA MORATÓRIA E CONCESSÃO
DE JUSTIÇA GRATUITA - PLEITOS NÃO CONHECIDOS POR OFENSA À
DIALETICIDADE E INTERESSE RECURSAL, RESPECTIVAMENTE - CERCEAMENTO DE
DEFESA - INOCORRÊNCIA - CONTRATO DE CONTA CORRENTE - CAPITALIZAÇÃO
DE JUROS - POSSIBILIDADE DE COBRANÇA MEDIANTE PACTUAÇÃO -
INOCORRÊNCIA QUE IMPEDE A COBRANÇA EM QUALQUER PERIODICIDADE (...)
ÔNUS SUCUMBENCIAIS - READEQUAÇÃO - SENTENÇA REFORMADA EM PARTE -
RECURSO DE APELAÇÃO CONHECIDO EM PARTE E, NA PARTE CONHECIDA,
PARCIALMENTE PROVIDO” (TJPR, 14ª C. Cív., Ap. Cív. 1408929-1, Rel. Des. José
Hipólito Xavier da Silva, j. 25/11/2015)
“APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. SENTENÇA QUE JULGOU
PARCIALMENTE PROCEDENTES OS PEDIDOS A FIMD E AFASTAR A COBRANÇA DA
CPAITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS NO CONTRATO, CONDENANDO AMBAS AS
PARTES AO PAGAMENTO DOS ÔNUS DE SUCUMBENCIA. INSURGÊNCIA DA
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA.
CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS. COBRANÇA. IMPOSSIBILIDADE.
AUSÊNCIA DE PACTUAÇÃO EXPRESSA.APLICAÇÃO DO RESP 973.827/RS COM
EFEITOS DO ART.543-C DO CPC.PEDIDO DE MINORAÇÃO DOS HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. DESCABIMENTO.
VALOR COMPATÍVEL AS PECULIARIDADES DO CASO.SENTENÇA MANTIDA.
RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO” (TJPR, 14ª C.Cív., AC 1343808-7, Rel. Desª.
Sandra Bauermann, j. 21/10/2015)
Por conseguinte, tem-se que o Banco/réu não logrou em demonstrar a pactuação da
capitalização de juros na conta corrente, vez que o contrato acostado aos autos não
aponta as taxas de juros a serem aplicadas, ou sequer a possibilidade de incidência de
juros de forma capitalizada, daí a manutenção da sentença neste tópico.
3.3.2. Contratos de crédito direto ao consumidor A sentença também afastou a
cobrança de juros capitalizados em relação aos contratos de empréstimo (crédito
direto ao consumidor).
Porém, sem razão.
Nos respectivos instrumentos (f. 77 e 78 do mov. 1.1), houve a estipulação do
pagamento do valor mutuado por meio de parcelas mensais pré-fixadas, com a fixação
dos juros remuneratórios em taxa anual de 30,75% e taxa mensal de 2,26% no
primeiro, e 33,54% a.a. e 2,44% a.m. no segundo, de modo a evidenciar a expressa
pactuação da capitalização em periodicidade inferior à anual, razão pela qual é
mantida a capitalização de juros.
Nesse sentido decidiu o egrégio Superior Tribunal de Justiça no julgamento do REsp
973.827-RS, conforme notícia extraída do informativo 0500 (18 a 29 de junho de 2012):
“RECURSO REPETITIVO. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. PERIODICIDADE INFERIOR A
UM ANO. PACTUAÇÃO. CONTRATO BANCÁRIO. Trata-se de REsp sob o regime do
art. 543-C do CPC e Res. n. 8/2008- STJ no qual a Seção, ratificando a sua
jurisprudência, entendeu que é permitida a capitalização de juros com periodicidade
inferior a um ano em contratos celebrados após 31 de março de 2000, data da
534

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

publicação da MP 1.963-17/2000, em vigor como MP 2.170-36/2001, desde que


expressamente pactuada, bem como, por maioria, decidiu que a previsão no contrato
bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para
permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada. A Min. Maria Isabel Gallotti, em
seu voto- vista, esclareceu que, na prática, isso significa que os bancos não precisam
incluir nos contratos cláusula com redação que expresse o termo “capitalização de
juros” para cobrar a taxa efetiva contratada, bastando explicitar com clareza as taxas
cobradas. A cláusula com o termo “capitalização de juros” será necessária apenas para
que, após vencida a prestação sem o devido pagamento, o valor dos juros não pagos
seja incorporado ao capital para o efeito de incidência de novos juros. Destacando
que cabe ao Judiciário analisar a cobrança de taxas abusivas que consistem no
excesso de taxa de juros em relação ao cobrado no mercado financeiro.” (REsp
973.827-RS, Rel. originário Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para o acórdão Min. Maria
Isabel Gallotti, julgado em 27/6/2012).
Ora, como bem apontou o Banco/Apelante, os contratos foram pactuados em
08/02/2008 e 03/11/2008, ou seja, após o início da vigência da MP 2.170-36/01, e
consoante “jurisprudência pacífica do Superior Tribunal de Justiça, é possível a
cobrança da capitalização mensal de juros, desde que pactuada, nos contratos
bancários celebrados após a edição da Medida Provisória nº 1.963-17, de 30 de março
de 2000 (MP n. 2.170-36/2001) (cf. AgRg no REsp 1.028.327/MS, Rel. Min. CARLOS
FERNANDO MATHIAS (JUIZ FEDERAL CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), DJe
26.02.2009 e AgRg no REsp 995.990/RS, Rel. Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,
DJe 02.02.2009) ...” (STJ - decisão monocrática, REsp. nº 990995, Rel. Vasco Della
Giustina, J. 15/03/2011).
Ressalte-se que em julgamento de Incidente de Inconstitucionalidade pelo Órgão
Especial deste Tribunal, autuado sob o nº 806337-2/01, entendeu esta Corte por
afastar “a alegada inconstitucionalidade formal do art. 5º, caput da Medida Provisória
nº 2170-36/2001”, e declarar a constitucionalidade material do art. 5º da Medida
Provisória nº 2170-36/2001 (Órgão Especial do TJPR, Incidente Declaratório.
de Inconstitucionalidade nº 806337-2/01, Rel. Des. Jesus Sarrão, j. 03/12/2012).
Ademais, nos contratos em questão foi estipulado que o pagamento do valor
mutuado seria efetuado por meio de parcelas mensais pré-fixadas, com encargos pré-
fixados (taxas mensal e anual de juros remuneratórios).
A despeito da insurgência manifestada contra a forma de incidência dos juros
pactuados, a parte autora teve acesso ao montante incidente a título de encargos,
operação que não depende de conhecimento técnico e que ali se encontra
explicitada.
O valor de cada uma das parcelas mensais fixas que haveria de pagar está previsto no
contrato, de modo que o Autor sabia antecipadamente o montante final que pagaria
ao assumir as obrigações definidas no financiamento, optando livremente por fazê-lo.
Assim, não há que se falar em abusividade na forma de incidência dos juros
pactuados em relação aos empréstimos, acerca dos quais a Autora tinha inegável
conhecimento, inclusive do reflexo sobre o valor das parcelas mensais já
antecipadamente calculadas, de forma que prepondera a boa-fé contratual.
535

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Enfim, o Autor aceitou as disposições pactuadas ao contrair esse financiamento, não


podendo se eximir do pagamento nos moldes contratados, em observância ao
princípio da boa-fé contratual. Como o contrato fixou claramente os valores das
prestações para pagamento a fim de dar prévio conhecimento dos acréscimos
incidentes sobre o financiamento, não merece acolhimento a pretensão revisional da
parte autora quanto à forma de incidência dos juros.
Este é o entendimento consolidado por esta Câmara:
“AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO. EMBARGOS À EXECUÇÃO. AÇÃO
ORDINÁRIA DE COBRANÇA.CONTRATO DE CRÉDITO EM CONTA CORRENTE,
CÉDULAS RURAIS E CRÉDITO DIRETO AO CONSUMIDOR.APELAÇÃO CÍVEL 01
(CLIENTE). NULIDADE DA SENTENÇA. INOCORRÊNCIA. CERCEAMENTO DE
DEFESA NÃO VERIFICADO. (...) RECURSO CONHECIDO E NÃO
PROVIDO.APELAÇÃO CÍVEL 02 (BANCO). 1) TAXA DE JUROS.LIMITAÇÃO À TAXA
MÉDIA DE MERCADO.AFASTADA. ABUSIVIDADE NÃO COMPROVADA NOS AUTOS.
2) CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS. CRÉDITO DIRETO AO
CONSUMIDOR.POSSIBILIDADE. MP Nº 2.170-36/2001. EXPRESSA CONTRATAÇÃO.
DISCREPÂNCIA DA TAXA EFETIVA MENSAL E TAXA EFETIVA ANUAL.SENTENÇA
REFORMADA. CONTA CORRENTE.EXPURGO DEVIDO. 1) Não havendo prova da
abusividade de juros remuneratórios praticados, sua manutenção é medida que se
impõe.2) Com base na decisão proferida no Incidente Declaratório de
Inconstitucionalidade nº 806.337-2/01, onde se reexaminou a matéria relativa à
constitucionalidade da norma do art. 5º da MP 2.170-36, firmou-se novo entendimento
deste e. Tribunal de Justiça (de aplicabilidade obrigatória em casos análogos - art.272,
do RITJ) no sentido de - à luz da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça -
permitir-se a capitalização de juros remuneratórios, com periodicidade inferior à anual,
nos contratos bancários celebrados após a data de 31/03/2000 (data em que o
dispositivo foi introduzido na MP nº 1.963-17) e desde que expressamente pactuada.
No caso, houve a contratação de juros capitalizados, a qual deve ser mantida, nas
operações de Crédito Direto ao Consumidor. Todavia, na conta corrente deve ser
expurgada, pois não contratada. APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E PARCIALMENTE
PROVIDA.” (TJPR, 15ª C. Cív., Ap. Cív. Nº 1131611-9, Rel.
Des. Shiroshi Yendo, j. 08/07/2014)
“DIREITO PROCESSUAL CIVIL. REVISÃO CONTRATUAL C/C REPETIÇÃO DE
INDÉBITO. CONTRATO DE FINANCIAMENTO. PARCELAS PRÉ- FIXADAS.
1.CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. 2. JUROS REMUNERATÓRIOS. 3.IOF. 4.
DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA.1. A capitalização de juros somente é permitida
quando o contrato foi firmado após a vigência da MP 1.963- 17/2000 (atual MP 2.170-
36/2001) e desde que nele conste a sua pactuação expressa, o que se observa no
presente caso. Ademais, considerando que o anatocismo consiste na cobrança de
juros sobre juros vencidos e não pagos, resta descartada a capitalização dos juros na
composição do valor das parcelas fixas com vencimento futuro do financiamento com
encargos prefixados, além de se considerar a cláusula que prevê taxa de juros anual
superior ao duodécuplo (...) APELAÇÃO NÃO PROVIDA” (TJPR, 15ª C.Cív., AC
1485194- 0, Rel. Des. Hayton Lee Swain Filho, j. 16/03/2016)
536

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“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO. EMPRÉSTIMO


CONSIGNADO.CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. MEDIDA PROVISÓRIA N.º
2.170/2001.CONSTITUCIONALIDADE. RECURSO EXTRAODINÁRIO N.º 592.377/RS
(TESE 33, DO STF). PREVISÃO DE TAXA ANUAL SUPERIOR AO DUODÉCUPLO DA
TAXA MENSAL.PACTUAÇÃO. LEGALIDADE. PARCELAS FIXAS. VALOR DA
PRESTAÇÃO. CÁLCULO.FASE PRÉ-CONTRATUAL.
PROPOSTA.ACEITAÇÃO. BOA-FÉ.1. De acordo com entendimento sedimentado
pelo Supremo Tribunal Federal, sob o rito da repercussão geral (tese 33), no
julgamento do Recurso Extraordinário n.º 592.377/RS, é constitucional a Medida
Provisória n.º 2.170/2001.2. Consoante pacificado pelo Superior Tribunal de 2Justiça,
no julgamento do recurso especial representativo de controvérsia n.º 973.827-RS, em
contratos bancários com previsão de taxa anual de juros superior ao duodécuplo da
taxa mensal, considera-se expressamente contratada a capitalização de juros.3.
Admite-se a capitalização mensal de juros na cédula de crédito bancário
expressamente contratada, a teor do art. 28, §1º, I, da Lei n.º 10.931/2004.4. Nos
contratos de empréstimo em que o consumidor aceita as parcelas fixas
preestabelecidas pelo banco não é possível a alteração da forma de incidência dos
juros, em função do princípio da boa-fé contratual, previsto no art. 422, do Código
Civil.5. Apelação cível conhecida e não provida” (TJPR, 15ª C.Cív., AC 1489272-5, Rel.
Des. Luiz Carlos Gabardo, j. 16/03/2016)
“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO BANCÁRIO.
CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS.CONTRATO DE MÚTUO PARCELAS PRÉ
FIXADAS. NÃO CONFIGURAÇÃO. Tratando-se de parcelas fixas, é irrelevante a
discussão sobre a ocorrência ou não da capitalização mensal dos juros, pois,
independentemente das taxas incidentes, o valor e a quantidade das prestações foram
esclarecidos ao autor, pouco importando na prática a nomenclatura dos encargos.
APELAÇÃO CONHECIDA E DESPROVIDA” (TJPR, 15ª C.Cív., AC 1484147-7, Rel. Des.
Shiroshi Yendo, j.
16/03/2016)
“Revisional. Contrato de empréstimo. Capitalização de juros pactuada. Encargo
previsto no mútuo para pagamento em parcelas fixas. Exclusão descabida.
Pactuação. Possibilidade. Aplicação das Súmulas 539 e 541 do STJ. Apelação não
provida” (TJPR, 15ª C.Cív., AC 1468970-6, Rel. Des. Hamilton Mussi Correa, j.
16/03/2016)
Em relação aos contratos de empréstimo, o recurso merece provimento para manter a
cobrança de juros capitalizados, diante da sua expressa pactuação.
3.4. Taxas administrativas (TAC E TEC) Importante destacar que a sentença, baseada
no resultado da perícia, reconheceu que não houve cobrança das referidas tarifas nos
contratos de empréstimo.
O Banco/Apelante também se insurge contra a parcela da sentença que determina o
expurgo da cobrança das tarifas administrativas denominadas TAC (tarifa de abertura
de crédito) e TEC (tarifa de emissão de boleto) da conta corrente.
E com razão.

537

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Isso porque, conforme restou pacificado no julgamento do recurso especial


representativo de controvérsia nº 1.251.331/RS, a cobrança das tarifas TAC e TEC são
autorizadas nos contratos celebrados até 30/04/2008, confira-se:
“CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE
FINANCIAMENTO COM GARANTIA DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA.
DIVERGÊNCIA. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. JUROS COMPOSTOS.
MEDIDA PROVISÓRIA 2.170-36/2001. RECURSOS REPETITIVOS. CPC, ART. 543- C.
TARIFAS ADMINISTRATIVAS PARA ABERTURA DE CRÉDITO (TAC), E EMISSÃO DE
CARNÊ (TEC). EXPRESSA PREVISÃO CONTRATUAL. COBRANÇA. LEGITIMIDADE.
PRECEDENTES. MÚTUO ACESSÓRIO PARA PAGAMENTO PARCELADO DO
IMPOSTO SOBRE OPERAÇÕES FINANCEIRAS (IOF). POSSIBILIDADE. (...) 6. A
cobrança de tais tarifas (TAC e TEC) é permitida, portanto, se baseada em contratos
celebrados até 30.4.2008, ressalvado abuso devidamente comprovado caso a caso,
por meio da invocação de parâmetros objetivos de mercado e circunstâncias do caso
concreto, não bastando a mera remissão a conceitos jurídicos abstratos ou à convicção
subjetiva do magistrado. (..) 9. Teses para os efeitos do art. 543-C do CPC: - 1ª Tese:
Nos contratos bancários celebrados até 30.4.2008 (fim da vigência da Resolução CMN
2.303/96) era válida a pactuação das tarifas de abertura de crédito (TAC) e de emissão
de carnê (TEC), ou outra denominação para o mesmo fato gerador, ressalvado o
exame de abusividade em cada caso concreto. - 2ª Tese: Com a vigência da Resolução
CMN 3.518/2007, em 30.4.2008, a cobrança por serviços bancários prioritários para
pessoas físicas ficou limitada às hipóteses taxativamente previstas em norma
padronizadora expedida pela autoridade monetária. Desde então, não mais tem
respaldo legal a contratação da Tarifa de Emissão de Carnê (TEC) e da Tarifa de
Abertura de Crédito (TAC), ou outra denominação para o mesmo fato gerador.
Permanece válida a Tarifa de Cadastro expressamente tipificada em ato normativo
padronizador da autoridade monetária, a qual somente pode ser cobrada no início do
relacionamento entre o consumidor e a instituição financeira. (...) 10. Recurso especial
parcialmente provido.” (STJ, 2ª Seção, REsp nº 1.251.331/RS, Rel. Min. Maria Isabel
Gallotti, p. 24/10/2013)
Sendo assim, considerando que o contrato de abertura de conta corrente foi firmado
em 13/04/2007, é permitida a cobrança de TAC e TEC no presente caso.
3.5. Cobrança de comissão de permanência A sentença condiciona à liquidação a
apuração sobre a cobrança ou não de comissão de permanência nos contratos de
empréstimo, o que não é permitido.
Ora, realmente não há qualquer indicativo nos autos sobre a cobrança de comissão
de permanência, tanto que o perito alegou que “no período em que as prestações
foram pagas com atraso, o banco informou os valores brutos cobrados. Ou seja, não
discriminou os encargos de mora aplicados. Assim, não é possível afirmar quais foram
os encargos de inadimplência cobrados, pelo mesmo” (mov. 86.1).
Logo, não demonstrada a prática da cobrança ou de qualquer ilegalidade imputada
pelo Autor ao Banco envolvendo a comissão de permanência, impositivo o provimento
do recurso para, em reforma da sentença, dela excluir a condenação deste na
restituição da cobrança desse encargo.
538

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

3.6. Restituição de valores Diante o parcial provimento do presente recurso, tem-se


que a parte Autora prosperou apenas no ponto acerca do expurgo da capitalização de
juros na conta corrente. Portanto, é devida a restituição simples dos valores cobrados
indevidamente.
3.7. Sucumbência Vez que parcialmente provido o recurso de Apelação interposto
pelo Banco/Réu para, em reforma parcial da sentença, reconhecer a legalidade na
cobrança de juros capitalizados no contrato de empréstimo, de taxas administrativas
TAC e TEC e de comissão de permanência, necessária a redistribuição das verbas de
sucumbência.
Frente à medida de sucesso e derrota de cada uma das partes, as verbas de
sucumbência (despesas processuais e honorários advocatícios) são ora distribuídas na
proporção de 10% (dez por cento) a serem suportados pelo Banco/réu e os 90%
(noventa por cento) remanescentes suportados pelas Autora.
Quanto aos honorários advocatícios, devem ser ora fixados em R$ 1500,00 (mil e
quinhentos reais), atendendo ao disposto no §2º do art. 85 do CPC/15, sopesados o
tempo dispendido na causa, o grau de zelo dos profissionais que atuaram na causa, o
local de prestação do serviço, bem como a natureza, importância e simplicidade da
causa, ressalvado o disposto pelos art. 98 e ss do CPC/15 e pela Lei 1.060/50.
De conseguinte, conclui-se pelo parcial provimento do recurso para julgar
improcedente a pretensão revisional envolvendo a cobrança de juros capitalizados nos
contratos de empréstimo, taxas administrativas TAC e TEC na conta corrente e
comissão de permanência, com a redistribuição proporcional do ônus de
sucumbência.
Diante do exposto, ACORDAM os integrantes da Décima Quinta Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar parcial
provimento à apelação, nos termos da fundamentação.
Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Desembargador Luiz Carlos Gabardo, com
voto, e dele também participou, com voto, o Excelentíssimo Desembargador Hayton
Lee Swain Filho.
Curitiba, 21 de junho de 2017.
Elizabeth M. F. Rocha, Juíza de Direito Substituta em Segundo Grau.

2.4.5. EMBARGOS À EXECUÇÃO – ESPÓLIO – LEGITIMIDADE

APELAÇÃO CÍVEL - EMBARGOS À EXECUÇÃO - SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA -

RECURSO CONHECIDO - EXEGESE DO ART.197 DO CPC/15 - INEXISTÊNCIA DE

OFENSA AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE - LEGITIMIDADE AD CAUSAM DO

ESPÓLIO - ILEGITIMIDADE PASSIVA DO HERDEIRO PARA RESPONDER PELA DÍVIDA

CONTRAÍDA PELO DE CUJUS - REFORMA DA SENTENÇA.Apelação provida.

539

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

(TJPR - 15ª C.Cível - AC - 1669802-1 - Foz do Iguaçu - Rel.: Elizabeth M F Rocha -

Unânime - J. 21.06.2017)

Inteiro Teor

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1669802- 1, da 4ª Vara


Cível da Comarca de Foz do Iguaçu, em que figuram, como Apelante, Marcelo
Eduardo Bragança Larrusa e, como Apelado, Cooperativa de Crédito de Livre
Admissão da Região das Cataratas do Iguaçu e do Vale do Paraíba ­ SICREDI.
1. Trata-se de apelação cível interposta por Marcelo Eduardo Bragança Larrusa, da
sentença que, ao julgar improcedentes os embargos à execução opostos em face de
Cooperativa de Crédito de Livre Admissão da Região das Cataratas do Iguaçu e do
Vale do Paraíba ­ SICREDI, condenou-o ao pagamento das custas processuais e dos
honorários advocatícios arbitrados em 11% sobre o valor do débito.
Em suas razões recursais, o Apelante requer o reconhecimento da sua ilegitimidade
passiva, “posto que não existe herança deixada pela sua falecida mãe, a sra. Marcia de
Oliveira Bragança” (mov. 49.1), que foi quem contraiu o empréstimo com a
Cooperativa.
Argumenta, ainda, que “o devedor no caso é o espólio (patrimônio) da sua falecida
mãe, mas como a mesma não deixou herança, não há o que se falar em pagamento de
dívida nos limites da herança, pois o Apelante não pode sair prejudicado nos seus
próprios bens se não foi ele que contraiu a dívida”, não havendo justificativa para que
o Apelante Marcelo seja “mantido na ação de execução como principal devedor e o
espólio de Marcia de Oliveira Bragança como terceiro interessado”.
Assim, “como não há partilha, tampouco herança, não há fundamento para manter o
Apelante no polo passivo da ação de execução”, requer a extinção da execução, e,
por conseguinte, “que mantenha somente o espólio de Marcia de Oliveira Bragança
como parte no processo e não como terceiro interessado, como outrora inserido,
retirando de uma vez por todas o Apelante como devedor principal”.
Por fim, pugna pela redistribuição do ônus de sucumbência.
Apresentadas as contrarrazões (mov. 58.1), a Apelada aduz que o recurso de apelação
não deve ser conhecido, sob o argumento de que viola o princípio da dialeticidade.
Após, foram os autos remetidos a este Tribunal.
2. Inicialmente, importa ressaltar que o recurso merece ser conhecido, não obstante a
interposição extemporânea do recurso, já que configurada a justa causa, conforme
disposto no art. 197, par. único, do CPC/15.
Ademais, não merece acolhimento a insurgência preliminar manifestada pelo Apelado
em sede de contrarrazões. Isso porque, da leitura da peça recursal é possível perceber
que o Apelante ataca a sentença, impugnando especificamente os fundamentos dos
quais discorda.
Logo, conclui-se que não houve ofensa ao princípio da dialeticidade, na medida em
que o Apelante atacou os fundamentos utilizados na sentença.

540

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Superado isso, e presentes os pressupostos recursais da apelação, o recurso comporta


conhecimento, conforme análise a seguir.
3. Em 31/10/2014, a Cooperativa/Apelada propôs ação de execução1 em face de
Espólio de Márcia de Oliveira Bragança, para cobrança do valor de R$ 14.000,00
decorrente da Cédula de Crédito Bancário nº B34630534-7, a ser pago em 48 parcelas
de R$ 518,10, com vencimento da primeira parcela em 01/04/2013 e da última em
01/03/2017.
Em 18/11/2014, o juiz a quo determinou que “deverá o exequente demonstrar a
existência ou não de inventário dos bens da executada e, em caso negativo, adequar o
polo passivo da ação, indicando para nele constar todos os herdeiros da falecida”
(mov. 11.1 dos autos de execução).
Ante a informação de inexistência de Ação de Inventário (mov. 50.2 dos autos
de execução) , o Exequente requereu a habilitação de Marcelo Eduardo Bragança
Larrussa, “para que responda ao feito nos limites da herança que lhe cabe pelo
falecimento da de cujus” (mov. 50.1 dos autos de execução), o que foi deferido pelo
juízo na decisão de mov. 52.1 dos autos de execução.
Por fim, a sentença prolatada concluiu, no que percute, que: “(...) Por certo que o
prosseguimento da execução não deve representar um risco ao patrimônio próprio do
embargante, não herdado de Marcia de Oliveira Bragança, consoante expressamente
argumenta o embargado em sede de impugnação aos embargos (evento 21.1 ­ fl. 01).
Assim sendo, improcedem os presentes embargos, devendo prosseguir a execução
em apenso visando a constrição exclusivamente do patrimônio deixado por Marcia de
Oliveira Bragança” (mov. 40.1).
Pois bem.
Em observância ao Princípio da Saisine, sabe-se que com a morte abre- se
automaticamente a sucessão e, por conseguinte, transmite-se aos herdeiros legítimos
a herança, compreendida como sendo os bens, obrigações e direitos que compõem o
patrimônio do de cujus, consoante estabelece o artigo 1.784 do Código Civil. Apenas
com a efetivação da partilha, é que haverá a individualização das quotas pertencentes
a cada herdeiro. Até lá, é a herança que responde por eventual obrigação deixada
pelo de cujus.
Com efeito, dispõe o art. 796 do CPC/2015 que “O espólio responde pelas dívidas
do falecido, mas, feita a partilha, cada herdeiro responde por elas dentro das forças da
herança e na proporção da parte que lhe coube” (correspondente ao art.
597 do CPC/1973).
Nesse sentido, já se pronunciou o Superior Tribunal de Justiça, de que “o espólio,
que também pode ser conceituado como a universalidade de bens deixada pelo de
cujus, assume, por expressa determinação legal, o viés jurídico-formal, que lhe confere
legitimidade ad causam para demandar e ser demandado em todas aquelas ações em
que o de cujus integraria o pólo ativo ou passivo da demanda, se vivo fosse.
Feito tais apontamentos, pode-se concluir que o fato de inexistir, até o momento da
prolação do acórdão recorrido, inventário aberto (e, portanto, inventariante nomeado),
não faz dos herdeiros, individualmente considerados, partes legítimas para responder
pela obrigação, objeto da ação de cobrança, pois, como assinalado, enquanto não há
541

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

partilha, é a herança que responde por eventual obrigação deixada pelo de cujus e é o
espólio, como parte formal, que detém legitimidade passiva ad causam para integrar a
lide” (REsp 1125510/RS, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado
em 06/10/2011, DJe 19/10/2011).
Deveras, ainda que não exista inventário aberto, isso “não faz dos herdeiros ­
individualmente considerados ­ partes legítimas para responder pelas obrigações, visto
que, conforme supra mencionado, é a herança que responde por eventuais obrigações
deixadas pelo de cujus enquanto não efetivada a partilha, cabendo a legitimidade ad
causam ao espólio, nesse período.
Conclui-se, assim, que a inexistência de inventariante ­ porquanto ainda não aberto o
inventário ­ não afasta a legitimidade passiva ad causam do espólio, que poderá ser
representado nesse período pelo administrador provisório, como se extrai da
interpretação conjunta dos artigos 75, VII e 613, ambos do CPC/2015 (artigos 12 e 985
do Código de Processo Civil/73)” (TJPR - 15ª C.Cível - AC - 1627208-3 - Rel.: Hayton
Lee Swain Filho - Unânime - J. 05.04.2017).
Confira-se, ainda, os seguintes precedentes deste Tribunal:
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL.
FALECIMENTO DE UMA DAS EXECUTADAS.
SUBSTITUIÇÃO DO POLO PASSIVO PELOS HERDEIROS E CÔNJUGE
SOBREVIVENTE.CÔNJUGE CASADO SOB O REGIME DE COMUNHÃO DE BENS
QUE SEQUER É HERDEIRO. ILEGITIMIDADE PASSIVA RECONHECIDA.
NECESSIDADE DE QUE O ESPÓLIO VENHA À LIDE.
ADMINISTRADOR PROVISÓRIO QUE REPRESENTA O ESPÓLIO ATÉ A NOMEAÇÃO
DE INVENTARIANTE. RECURSO ACOLHIDO PARA EXTINÇÃO DO FEITO EM
RELAÇÃO AO CÔNJUGE. DEMAIS TEMAS EM DISCUSSÃO PREJUDICADOS -
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.” (TJPR - 15ª C.Cível - AI - 1435654-6 - Francisco
Beltrão - Rel.: Marco Antonio Antoniassi - Unânime - J. 18.11.2015)
“DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. ESCRITURA
DE CONFISSÃO E ASSUNÇÃO DE DÍVIDA COM GARANTIA
HIPOTECÁRIA.APELAÇÃO DO BANCO. FALECIMENTO DO EXECUTADO.
AUSÊNCIA DE INVENTÁRIO.SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL. ESPÓLIO.
REPRESENTAÇÃO PELO ADMINISTRADOR PROVISÓRIO. ART. 1.797 DO CÓDIGO
CIVIL ILEGITIMIDADE PASSIVA DO HERDEIRO.APELAÇÃO DA EMBARGANTE.
PLEITO DE MAJORAÇÃO DA VERBA HONORÁRIA. ACOLHIMENTO. ART. 85, §2º. E
11º DO CPC/2015.O valor da causa deve ser levado em conta na fixação dos
honorários advocatícios, o qual sopesado com o grau de zelo do profissional que
atuou com eficiência nas duas instâncias, fatores que conjugados justificam a
majoração do valor arbitrado em primeiro grau, sem que se cogite de exorbitância, na
medida em que observados os parâmetros constantes do art. 85, §§2º e 11º do
CPC/2015. APELAÇÃO (01) DO BANCO NÃO PROVIDA.APELAÇÃO (02) DA
EMBARGANTE PROVIDA.” (TJPR - 15ª C.Cível - AC - 1627208-3 - Região
Metropolitana de Londrina - Foro Central de Londrina - Rel.: Hayton Lee Swain Filho -
Unânime - J. 05.04.2017)
“APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSO CIVIL. CIVIL.AÇÃO MONITÓRIA.
542

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

DEFERIMENTO DO PEDIDO DE GRATUIDADE DA JUSTIÇA PARA QUE OS


APELANTES DEIXEM DE ARCAR COM OS CUSTOS DE PREPARO RECURSAL.
ARGUIÇÃO DE ILEGITIMIDADE PASSIVA DOS HERDEIROS ACOLHIDA - DE CUJOS
QUE DEIXOU BENS A INVENTARIAR - LEGITIMIDADE PASSIVA DO ESPÓLIO,
MESMO NA HIPÓTESE DE AUSÊNCIA DE ABERTURA DO INVENTÁRIO -
NECESSIDADE DE READEQUAÇÃO DO POLO PASSIVO - SUCESSÃO PROCESSUAL
PELO ESPÓLIO - BAIXA DOS AUTOS PARA SE DAR CONTINUIDADE AO FEITO COM
A CORREÇÃO DO POLO PASSIVO. RECURSO PROVIDO.” (TJPR - 6ª C.Cível - AC -
1437614-0 - Região Metropolitana de Londrina - Foro Central de Londrina - Rel.:
Roberto Portugal Bacellar - Unânime - J. 29.11.2016)
Logo, conclui-se ser ilegítimo o Apelante Marcelo Eduardo Bragança Larrusa para
figurar no polo passivo da execução, cabendo constar no polo passivo da demanda
apenas o Espólio de Marcia de Oliveira Bragança; daí o provimento do recurso de
apelação.
Por fim, com o provimento da Apelação, para adequação do polo passivo, impõe-se a
inversão do ônus de sucumbência para condenar a parte autora ao pagamento das
custas processuais e dos honorários advocatícios.
Diante do exposto, ACORDAM os integrantes da Décima Quinta Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar
provimento à apelação, nos termos da fundamentação.
Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Desembargador Luiz Carlos Gabardo, com
voto, e dele também participou, com voto, o Excelentíssimo Desembargador Hayton
Lee Swain Filho.
Curitiba, 21 de junho de 2017.
Elizabeth M. F. Rocha, Juíza de Direito Substituta em Segundo Grau

2.4.6. DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO – ERRO NO VALOR

APONTADO – HÁ DÍVIDA EM VALOR DISTINTO

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO - SENTENÇA DE PARCIAL

PROCEDÊNCIA - RECURSO DO BANCO - ERRO NO VALOR CONSTANTE NA

COMUNICAÇÃO DE FUTURA NEGATIVAÇÃO - INEXISTÊNCIA DO DÉBITO

NAQUELE VALOR - VALIDADE DO DÉBITO REFERENTE AO CONTRATO, DE VALOR

CORRETO - REDISTRIBUIÇÃO DO ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA. Apelação parcialmente

provida.

(TJPR - 15ª C.Cível - AC - 1676170-5 - Região Metropolitana de Londrina - Foro

Central de Londrina - Rel.: Elizabeth M F Rocha - Unânime - J. 21.06.2017)

543

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Inteiro Teor

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1676170- 5, da 1ª Vara


Cível do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Londrina, em que
figuram como Apelante, Banco Itaú Unibanco S/A e, como Apelado, Luis Gustavo da
Silva Oliveira.
1. Trata-se de recurso de apelação interposto por Banco Itaú Unibanco S/A, da
sentença que ao julgar parcialmente procedente a ação declaratória de inexistência de
débito c/c indenização por danos morais movida por Luis Gustavo da Silva Oliveira,
declarou a “inexistente o débito indicado no comunicado de sequência 1.8, no valor
de R$ 56.039,89, com data de vencimento em 30.10.2015” (mov. 39.1).
Diante da sucumbência recíproca, condenou ambas as partes ao pagamento das
verbas de sucumbência, na proporção de 20% para o Autor e 80% para o Banco/réu.
Em relação aos honorários advocatícios, os arbitrou em 10% sobre o valor atualizado
da causa.
Em suas razões recursais, o Apelante pugna pela reforma da sentença, alegando que
“não houve qualquer abuso, ou irregularidade na cobrança do valor questionado, pois
referida comunicação de possível inserção do nome da apelada junto aos órgãos de
proteção ao crédito, figura como pleno exercício de direito de crédito do Apelante”
(mov. 54.1). Ainda, alternativamente, caso a sentença seja mantida, requer a
minoração dos honorários advocatícios.
Recebido o recurso e apresentadas as contrarrazões, os autos foram remetidos a este
Tribunal.
2. Presentes os pressupostos de admissibilidade, o recurso comporta conhecimento.
3. O recurso merece parcial provimento, conforme análise a seguir.
Primeiramente, para melhor compreensão da controvérsia, oportuna uma narrativa
fática processual.
Trata-se de ação declaratória de inexistência de débito c/c indenização por danos
morais, na qual o Autor alegou que, por ser cliente da instituição financeira ré, recebeu
comunicado do Serasa referente à suposta dívida no valor de R$ 56.039,89 (cinquenta
e seis mil trinta e nove reais e oitenta e nove centavos).
Afirmou o Autor que não reconhece tal débito e que nunca o contratou.
Requereu a retirada de seu nome do banco de dados do Serasa e a condenação do
Banco ao pagamento de indenização por danos morais.
Na contestação, o Réu/Apelante defendeu a legitimidade do comunicado de futura
negativação, porém admitiu erro no valor indicado, por conta de falha sistêmica.
Afirmou que o valor constante na efetiva negativação foi o de R$ 219,40 (duzentos e
dezenove reais e quarenta centavos).
A sentença julgou parcialmente procedentes os pedidos do Autor, para “declarar
inexistente o débito indiciado no comunicado de sequência 1.8, no valor de R$
56.039,89” (mov. 39.1). Ainda, por considerar que a negativação do débito indicado
na comunicação não chegou a acontecer, não condenou o Banco ao pagamento de
indenização por danos morais.

544

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

O Apelante se insurge contra a parcela da sentença que declarou inexistente o débito


referente à comunicação de negativação, sob o argumento de que “não houve
qualquer abuso, ou irregularidade na cobrança do valor questionado, pois referida
comunicação de possível inserção do nome da apelada junto aos órgãos de proteção
ao crédito, figura como pleno exercício de direito de crédito do Apelante” (mov.
54.1).
Pois bem.
Assim dispôs o dispositivo da sentença:
“Pelo exposto, com fundamento no artigo 487, I, do Código de Processo Civil, julgo
parcialmente procedentes os pedidos veiculados na inicial, tão somente para o fim de
declarar inexistente o débito indicado no comunicado de sequência 1.8, no valor de
R$ 56.039,89, com data de vencimento em 30.10.2015. “
Ocorre que, apesar do equívoco do valor contido no comunicado, o número do
contrato constante remete à dívida de R$ 219,40, que é válida.
Isso porque o Banco, na contestação, demonstrou a validade de respectiva
contratação e que o valor de R$ 56.039,89 nunca foi efetivamente cobrado ou incluído
nos cadastros de inadimplentes, uma vez que a negativação ocorreu com o valor
correto.
Portanto, merece parcial provimento o apelo do Banco, para o fim de, afastando a
ambiguidade da sentença, declarar inexistente apenas a dívida do valor de R$
56.039,89, reconhecendo a validade do débito de R$ 219,40 referente ao contrato nº
000010900805796.
Com o parcial provimento do recurso de Apelação interposto pelo Banco/Réu,
necessária a redistribuição das verbas de sucumbência.
Frente à medida de sucesso e derrota de cada uma das partes, as verbas de
sucumbência (despesas processuais e honorários advocatícios) são ora distribuídas na
proporção de 50% (cinquenta por cento) a serem suportados por cada uma as partes.
Quanto aos honorários advocatícios, estes devem ser mantidos como fixados na
sentença, visto que atendeu ao disposto no §2º do art. 85 do CPC/15, sopesados o
tempo dispendido na causa, o grau de zelo dos profissionais que atuaram na causa, o
local de prestação do serviço, bem como a natureza, importância e simplicidade da
causa, ressalvado o disposto pelos art. 98 e ss do CPC/15 e pela Lei 1.060/50.
4. De conseguinte, conclui-se pelo conhecimento e parcial provimento do recurso
para declarar inexistente apenas a dívida de R$ 56.039,89, mantendo a validade do
débito de R$ 219,40 referente ao contrato nº 000010900805796, com a redistribuição
proporcional do ônus de sucumbência.
Diante do exposto, ACORDAM os integrantes da Décima Quinta Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar parcial
provimento ao recurso de apelação, nos termos da fundamentação.
Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Desembargador Luiz Carlos Gabardo, com
voto, e dele também participou, com voto, o Excelentíssimo Desembargador Hayton
Lee Swain Filho.
Curitiba, 21 de junho de 2017.
Elizabeth M. F. Rocha, Juíza de Direito Substituta em Segundo Grau.
545

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

2.4.7. DECLARATÓRIA INEXISTÊNCIA DE DÉBITO – CDC – RESPONSABILIDADE

OBJETIVA AFASTADA – CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR

DANOS MORAIS - SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA - RECURSOS DE APELAÇÃO

INTERPOSTOS POR AMBAS AS PARTES - RECURSO (01) DA INSTITUIÇÃO

FINANCEIRA - ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE ELEMENTOS PARA ENSEJAR

INDENIZAÇÃO - BOLETO PARA PAGAMENTO EMITIDO POR TERCEIRO -

COMPROVADA FRAUDE NA EMISSÃO DO TÍTULO - AUSÊNCIA DE PARTICIPAÇÃO

DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA - RESPONSABILIDADE OBJETIVA AFASTADA -

EXÊGESE DO PAR. 3º DO ART. 14 DO CDC - CULPA EXCLUSIVA DO CONSUMIDOR -

REGULARIDADE NA INSCRIÇÃO DO NOME DO AUTOR EM CADASTROS

RESTRITIVOS DE CRÉDITO - REFORMA DA SENTENÇA PARA JULGAR

IMPROCEDENTE A DEMANDA - APELAÇÃO (02) DO AUTOR PREJUDICADA.

Apelação 01 provida; apelação 02 prejudicada. Apelação Cível n° 1681483-0

(TJPR - 15ª C.Cível - AC - 1681483-0 - Reserva - Rel.: Elizabeth M F Rocha - Unânime -

J. 14.06.2017)

Inteiro Teor

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1681483-0, do Juízo


Único da Comarca de Reserva, em que figuram, como Apelantes e reciprocamente
Apelados, BV Financeira S/A ­ Crédito, Financiamento e Investimento, e José Cincinato
Aires Correia.
1. Trata-se de apelações cíveis interpostas por ambas as partes, da sentença que, nos
autos de ação declaratória de inexistência de débito c/c indenização por danos
materiais e morais movida por José Cincinato Aires Correia em face de BV Financeira
S/A ­ Crédito, Financiamento e Investimento, julgou procedentes os pedidos iniciais
para o fim de:
“- DECLARAR a inexistência dos débitos cobrados pela ré BV Financeira, referente às
três últimas parcelas do contrato nº 3510164128/12025000141547; - DETERMINAR o
cancelamento definitivo da inscrição realizada nos órgãos de proteção ao crédito, em
discussão na presente ação, confirmando os efeitos da tutela antecipada; e -
CONDENAR a ré BV Financeira ao pagamento de indenização por danos morais ao

546

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autor, no valor de R$ 8.000,00 (oito mil reais), pelos danos morais sofridos, com fulcro
no artigo 5º, inciso X, da Constituição Federal e artigo 186, do Código Civil, acrescidos
de juros de 1% (um por cento) ao mês, a partir do evento danoso (Súmula 54 do
Superior Tribunal de Justiça) e a correção monetária a partir da fixação (Súmula 362 do
STJ)” (f. 04 do mov. 90.1).
- Condenar a ré ao pagamento das despesas processuais e dos honorários
advocatícios de sucumbência, arbitrados em 15% sobre o valor da condenação.
Nas razões de seu apelo (1), a empresa Ré defende, em suma: a) a inexistência de
elementos que justifiquem a indenização por dano moral, sob o argumento de que a
parte autora fora vítima de uma fraude e que, “embora a financeira seja fornecedora
de serviços, no caso em comento não incide a ela qualquer responsabilidade pela
fraude efetuada por terceiros, pois foram realizadas por pessoas alheias à financeira, o
que demonstra a exclusão de qualquer responsabilidade da financeira”; b) a
regularidade da inscrição do nome do Autor em cadastros restritivos de crédito, uma
vez que, “frente ao não recebimento do valor das parcelas, a financeira deu início aos
atos de cobrança, informando os órgãos de proteção ao crédito acerca do débito”; c)
a ausência de configuração de dano à parte autora, pois “não se pode olvidar que a
parte recorrida com ele contribuiu circunstancialmente, pois ao efetuar o pagamento,
deveria ter informado a sua ocorrência ao setor competente da recorrente, bem como,
aos órgãos de restrição ao crédito, entretanto ficou inerte, dando causa à manutenção
da inscrição discutida”; d) a necessidade de minoração do quantum indenizatório; e) a
incidência de juros moratórios a partir de seu arbitramento na sentença; f) o
descabimento de aplicação de multa por descumprimento de ordem de exclusão do
nome da parte autora dos cadastros restritivos de crédito ou, sucessivamente, a sua
minoração.
Por sua vez, na apelação (2) o Autor pugna pela majoração do valor arbitrado à título
de indenização por danos morais.
Apresentadas contrarrazões pelo Autor (mov. 103.1), os autos foram encaminhados a
este Tribunal.
2. Presentes os pressupostos recursais, conheço do recurso de apelação (01)
interposto pela ré, conforme análise a seguir.
3. Versam os autos a respeito de um débito do Autor junto à empresa Ré, oriundo de
03 (três) parcelas decorrentes do contrato de empréstimo nº 510164128 /
12025000141547, firmado entre a instituição financeira e José Cincinato Aires Correia,
para pagamento em 36 parcelas fixas no valor de R$ 679,41. Afirma o Autor ter
efetuado o pagamento das três últimas parcelas, mediante boleto enviado ao seu e-
mail pela instituição financeira. Contudo, por não ter computado este pagamento, a
Ré inscreveu o seu nome em cadastros restritivos de crédito; daí o pedido do Autor
pela condenação da Ré ao pagamento de indenização por danos morais e declaração
de inexigibilidade do débito.
No decorrer do processo, o juízo a quo determinou a expedição de ofício ao Banco
Santander, a fim de que este informasse sobre “a titularidade da agência/Código
Beneficiário n 1538/6946798, se esta pertence a BV FINANCEIRA S/A - CRÉDITO,
FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO” (mov. 75.1), conforme mencionado no boleto
547

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

encaminhado ao Autor, que seria referente ao pagamento das três parcelas restantes
do contrato de financiamento. Em resposta, o Banco Santander S/A informou tratar-se
da “única conta corrente localizada em nome da empresa” (mov. 77.1), e que
correspondia ao:
Assim, reconhecendo a ocorrência de fraude por terceiro, a sentença declarou a
inexistência de débitos em desfavor do Autor, confirmando a liminar para a Ré retirar
seu nome dos cadastros restritivos de crédito definitivamente, sob pena de incidência
de multa diária de R$ 200,00, limitado a R$ 5.000,00, além de também condená-la ao
pagamento de indenização por danos morais no importe de R$ 8.000,00 (oito mil
reais).
4. Apelação (1) da instituição financeira
Em suas razões de recurso (mov. 95.1), a Ré/Apelante principal defende a inexistência
de elementos que ensejem a sua condenação à indenização por danos morais ao
Autor, sob argumento de que o boleto “não foi emitido pela BV Financeira, tratando-
se de um boleto montado, emitido por site não autorizado,... não havendo qualquer
convênio entre a BV Financeira S/A e o Banco Santander”.
Assim, alega que, “no caso em questão a parte ora recorrida fora vítima de uma
fraude, tendo em vista que o boleto que lhe fora fornecido para pagamento não fora
emitido pela BV Financeira, mas por estelionatário, motivo pelo qual os valores
atinentes ao suposto pagamento não foram recebidos pela recorrente”.
E com razão.
Em sua petição inicial, o Autor mencionou ter entrado “em contato com a requerida,
pelo site da empresa, e solicitou a liquidação antecipada. Na mesma oportunidade foi
informado que lhe seria enviado um boleto com o desconto de antecipação. Dias
depois, recebeu, via email, um boleto no valor de R$ 1. 323,80 (mil trezentos e vinte e
três reais e oitenta centavos), com vencimento em 12/05/2015, referente as três
últimas parcelas” (mov. 1.1).
Contudo, em que pese a alegação do Autor de que tenha recebido o boleto por e-
mail, não há nos autos comprovação de que o documento que chegou em sua caixa
de mensagens fora efetivamente remetido pela instituição financeira, de modo a
demonstrar que não agiu com imprudência, para assim poder ser imputada à
instituição financeira a responsabilidade pela fraude praticada por terceiro. Aliás, o
Autor também não trouxe aos autos a noticiada solicitação feita por e-mail à Ré para
liquidação antecipada do financiamento.
Somado a isso, restou evidenciado que, conforme resposta do Banco Santander S/A,
o código da agência/beneficiário mencionado no boleto não correspondia à Ré, ainda
que o título apontasse como beneficiário “BV Financeira ­ CFI CNPJ: 01.149.953/0001-
89” e que mencionasse que o pagamento se refere às parcelas 34 a 36 do contrato em
questão; constatou-se, assim, que o Autor fora vítima de uma fraude praticada por
terceiro que emitiu boleto falso para pagamento e quitação do contrato de
empréstimo em questão.
Nesse passo, vê-se que o Autor não tomou as precauções mínimas ao se valer de
boleto recebido por e-mail, para pagamento de parcelas de financiamento, sem prévia
confirmação de sua origem.
548

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Logo, inexistem elementos suficientes nos autos que evidenciem que a fraude
perpetrada com a emissão do boleto tenha decorrido da falha na prestação de
serviços pela Ré, de modo que não lhe pode ser imputada tal prática fraudulenta; daí a
inexistência de ato ilícito por parte da instituição financeira, já que o Autor não
comprovou que tenha realizado o pedido de emissão de boleto em ambiente próprio
da instituição.
Sabe-se que para que a demanda indenizatória seja julgada procedente, a causa de
pedir e os pedidos formulados devem estar embasados ao menos em indícios
probatórios, aspecto não configurado na espécie. Diversamente, no caso vê-se que as
situações fáticas verificadas desfavorecem a versão narrada na petição inicial; daí a
ausência de qualquer indício de que houve falha na segurança do sistema bancário da
ré com a emissão do título impugnado.
Ressalta-se que a responsabilidade da instituição financeira não pode se sobrepor a
necessidade de prova, ou pelo menos indício probatório de que houve falha na
prestação do serviço ou de que o erro não tenha decorrido por culpa exclusiva do
consumidor. Deveras, não obstante a instituição financeira tenha responsabilidade
objetiva (Súmula 297 do Superior Tribunal de Justiça), a qual prescinde de
comprovação de culpa, ela poderá ser afastada desde que demonstrada uma das
hipóteses do §3º do art. 14, do CDC, in verbis:
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de
culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à
prestação do serviço, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre
sua fruição e riscos. [...] § 3.º O fornecedor de serviços só não será responsabilizado
quando provar: I ­ que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; II ­ a culpa
exclusiva do consumidor ou de terceiro;
Logo, não basta a configuração da conduta, senão também do nexo causal com o
dano causado.
No caso, infere-se dos elementos carreados aos autos que não está sequer
configurado o nexo causal com a empresa ré. Deveras, se a emissão do título foi
realizada por terceiro, impõe-se a incidência do mencionado dispositivo, o que afasta
a responsabilidade objetiva da Ré, já que configurada a culpa exclusiva do consumidor
que não se atentou às precauções mínimas quando recebeu boleto de pagamento,
sem conferir se era efetivamente originário da instituição ré.
A propósito é a Jurisprudência:
“RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS E
MATERIAIS. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO. BOLETO PARA LIQUIDAÇÃO DO
CONTRATO TENDO COMO BENEFICIÁRIO TERCEIRO.
AUTOR VÍTIMA DE FRAUDE. AUSÊNCIA DE QUALQUER PARTICIPAÇÃO DA
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO BANCÁRIO NÃO
CONSTATADA. CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA.
AUSÊNCIA DE DEVER DE INDENIZAR. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO.”
(TJPR - 10ª C.Cível - AC - 1434722-5 - Ponta Grossa - Rel.: Carlos Henrique Licheski
Klein - Unânime - J. 07.07.2016)

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“APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL.PRETENSÃO POR DANO MORAL.


SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. FRAUDE NO PAGAMENTO DE BOLETO BANCÁRIO.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS. NECESSIDADE
DE AFERIÇÃO DO NEXO DE CAUSALIDADE. AUTOR QUE TRANSACIONOU POR
TELEFONE COM AGENTE QUE SE PASSOU POR PRESPOSTO DE OUTRA
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. RECEBIMENTO DE BOLETO POR E-MAIL NÃO
INSTITUCIONAL E PAGAMENTO DA QUANTIA. AUTOR QUE NÃO SE UTILIZOU DO
SISTEMA ELETRÔNICO DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA REQUERIDA. AUSÊNCIA DE
NEXO DE CAUSALIDADE. DANO MORAL AFASTADO. SENTENÇA REFORMADA.
RECURSO PROVIDO”. (TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1598420-2 - Ponta Grossa - Rel.:
Clayton de Albuquerque Maranhão - Unânime - J. 16.03.2017)
E ainda, mutatis mutandis:
“Ação declaratória de inexistência de negócio jurídico cumulada com repetição de
indébito e indenização por danos morais. Contratação de serviços bancários por meio
do caixa eletrônico. Inserção pelo correntista de sua senha pessoal.
Inexistência de falha na prestação de serviço bancário. Culpa exclusiva do
consumidor. Responsabilidade objetiva afastada. Art. 14, § 3º, II, CDC. Apelação
provida”. (TJPR ­ 15ª C. Civ. - Apelação Cível nº 1670720-1, Rel. Des. Hamilton Mussi
Corrêa, j. 31/05/2017)
“Reparação de danos morais e materiais. Golpe. Confirmação de dados pessoais e
fornecimento de senha de token pela correntista a golpista se passando pela
instituição financeira em ligação telefônica. Pagamento indevido de títulos. Culpa
exclusiva da vítima. Quebra do nexo de causalidade entre a conduta da instituição
financeira e dos danos sofridos. Excludente de responsabilidade civil objetiva. Art. 14,
§ 3º, II, CDC. Rejeição integral aos pedidos de indenização por danos materiais e
morais.
Nos termos do art. 14, § 3º, II, do Código de Defesa do Consumidor, a
responsabilidade civil objetiva do fornecedor é afastada quando demonstrado que o
dano somente ocorreu em razão da culpa exclusiva da vítima, como no caso em que a
correntista fornece senha gerada por token a golpista em ligação telefônica, sem se
certificar da origem do telefonema. Apelação 1 conhecida e não provida. Apelação 2
conhecida e provida.” (TJPR ­ 15ª C. Cív. - Apelação Cível nº 1671570-5, Rel. Des.
Hamilton Mussi Corrêa, j. 31/05/2017)
“AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTENCIA DE DEBITO C/C INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS E MATERIAIS.SAQUES E COMPRAS EFETUADAS POR TERCEIRO
COM CARTÃO DE CRÉDITO DA CORRENTISTA. INSCRIÇÃO DO NOME NOS
CADASTROS DE INADIMPENTES. AGRAVO RETIDO. AUSÊNCIA DE PEDIDO
EXPRESSO DE CONHECIMENTO. ART. 523, §1º, DO CPC/73 (VIGENTE NA ÉPOCA).
DESCUMPRIMENTO. NÃO- CONHECIMENTO.APELAÇÃO CÍVEL I - 2. AUSÊNCIA DE
FUNDAMENTAÇÃO.INOCORRÊNCIA. NULIDADE DA SENTENÇA AFASTADA. 3.
RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA. AFASTADA. EXCLUDENTE CONFIGURADA
(ART. 14, § 3º, II, CDC). CONFIRMAÇÃO DE DADOS PESSOAIS POR TELEFONE E
ENTREGA VOLUNTÁRIA DO CARTÃO MAGNÉTICO A TERCEIRO. TRANSAÇÕES

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BANCÁRIAS REALIZADAS POR TERCEIRO POR CULPA EXCLUSIVA DO


CORRENTISTA.APELAÇÃO CÍVEL II - PREJUDICADA.
1. Inexistindo expresso pedido nesse sentido pela agravante nas suas razões ou
contrarrazões, o Agravo Retido por ela interposto não comporta conhecimento, por
força da norma do artigo 523, §1º, do Código de Processo Civil, vigente na ocasião.
2. Descabe falar em nulidade da sentença por ausência de fundamentação quando o
magistrado consignou expressamente os fundamentos pelos quais entende inexigível
o débito e devida a indenização por danos materiais e morais.
3. A responsabilidade civil objetiva do fornecedor, prevista no artigo 14, do Código
de Defesa do Consumidor é afastada quando demonstrado que o dano somente
ocorreu em razão da culpa exclusiva da vítima (§ 3º, II); como no caso concreto, em
que a correntista confirmou todos os dados pessoais e entregou seu cartão magnético
a terceiro, sem se certificar se era funcionário do banco.
Agravo retido não conhecido.
Apelação Cível 1 provida.
Apelação cível 2 prejudicada.” (TJPR - 15ª C.Cível - AC - 1604837-6 - Curitiba - Rel.:
Jucimar Novochadlo - Unânime - J. 22.02.2017)
Assim, segundo a exegese dos incs. I e II do par. 3º do art. 14 do CDC, o fornecedor
de serviços não será responsabilizado quando provar que, tendo prestado o serviço, o
defeito inexiste ou que “a culpa é exclusiva do consumidor ou de terceiro”; daí a
reforma da sentença, para julgar improcedente a demanda, ante a conclusão de que
houve culpa exclusiva do Autor/consumidor ao realizar pagamento de boleto emitido
por terceiro.
Por fim, com o acolhimento do recurso de apelação do Banco, impõe-se a reforma da
sentença e a inversão do ônus da sucumbência, devendo a parte autora arcar com o
pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, ora fixados em 15%
sobre o valor atualizado da causa, levando em conta as peculiaridades da demanda.
5. Apelação (2) do Autor Consequentemente, ante o acolhimento do recurso da
instituição financeira, resta prejudicada a apelação da parte autora (Apelação 02).
6. De conseguinte, conclui-se pelo provimento da Apelação 01, interposta pela
Instituição Financeira para, em reforma da sentença, julgar improcedente a demanda e
condenar a parte autora ao pagamento das verbas de sucumbência, ante a culpa
exclusiva desta, além de revogar os efeitos da decisão liminar que determinou a
exclusão do nome do Autor dos cadastros restritivos de crédito, sob pena de multa.
Diante do exposto, ACORDAM os integrantes da Décima Quinta Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar
provimento à Apelação (01), restando prejudicada a Apelação (02), nos termos da
fundamentação.
Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Desembargado Luiz Carlos Gabardo, com
voto, e dele também participou, com voto, o Excelentíssimo Desembargador Hayton
Lee Swain Filho.
Curitiba, 14 de junho de 2017.
Elizabeth M. F. Rocha, Juíza de Direito Substituta em Segundo Grau.

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2.4.8. PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE

EMBARGOS À ARREMATAÇÃO - SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA - AUSÊNCIA DE

IMPUGNAÇÃO AOS FUNDAMENTOS ADOTADOS PELA SENTENÇA - OFENSA AO

PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE - NÃO CONHECIMENTO QUE SE IMPÕE -

LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ NÃO CONFIGURADA - MANUTENÇÃO DA

SENTENÇA.Apelação cível não conhecida.

(TJPR - 15ª C.Cível - AC - 1672980-5 - Região Metropolitana de Maringá - Foro Central

de Maringá - Rel.: Elizabeth M F Rocha - Unânime - J. 14.06.2017)

Inteiro Teor

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1672980-5, da 6ª Vara


Cível do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Maringá, em que
figuram, como Apelante, Paulo Freitas Noronha e Outros e, como Apelado,
Cooperativa de Poupança e Crédito de Livre Admissão da Região de Maringá ­ Sicoob
Metropolitano.
1. Trata-se de apelação cível interposta por Paulo Freitas Noronha e Outros, da
sentença que ao julgar improcedentes os embargos à arrematação (mov.
132.1) opostos em face de Cooperativa de Poupança e Crédito de Livre Admissão da
Região de Maringá ­ Sicoob Metropolitano, condenou-os ao pagamento de custas e
despesas processuais, além de honorários advocatícios fixados em R$ 1.500,00.
Em suas razões recursais, os Apelantes pugnam pela reforma da sentença,
sustentando, em síntese, que “deve haver a suspensão da lide, como requerido desde
o início, pois, levando em conta que os valores arrematados, podem ser caracterizados
como de preço vil, necessário se faz novo cálculo, com atualização monetária, para
que assim, se for o entendimento de Vossas Excelências, haja o prosseguimento da
Execução de forma justa”. Ademais, requerem a redistribuição do ônus sucumbencial.
Intimada, a parte Embargada apresentou contrarrazões, apontando, preliminarmente,
ofensa ao princípio da dialeticidade, e o pedido de condenação dos Apelantes ao
pagamento de 5% sobre o valor atualizado do débito, por litigância de má-fé (mov.
147.1 dos embargos à arrem atação).
Após, os autos foram remetidos a este Tribunal.
2. O recurso não merece conhecimento, por ofensa ao princípio da dialeticidade,
sendo-lhe aplicável o contido no inc. III do art. 932 do Código de Processo Civil de
2015, que prevê que “Incumbe ao relator ... não conhecer de recurso inadmissível,
prejudicado ou que não tenha impugnado especificamente os fundamentos da
decisão recorrida”.
Isso porque as razões do recurso de apelação interposto pelos Embargantes estão
totalmente dissociadas da conclusão da sentença de extinção do feito.

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Deveras, o juízo a quo julgou improcedentes os presentes embargos à arrematação,


após apreciar cada um dos tópicos elencados na petição inicial.
Ocorre que, da leitura do recurso de apelação interposto, não foi possível extrair
qualquer alegação que rebatesse os fundamentos utilizados na sentença.
Diversamente, insurgiram-se os Apelantes contra a sentença, com “a consequente
suspensão da Arrematação de preço vil, tendo em vista o dano irreparável que sofrerá
o Apelante”.
Com efeito, segundo se depreende dos pontos recorridos no apelo, os
Apelantes/embargantes em momento algum rebateram cada motivação de que se
valeu o magistrado para decidir, mas apenas teceram argumentações dissociadas das
questões decididas na sentença, uma vez que somente apontam para a necessidade
de atribuição de efeito suspensivo aos embargos à arrematação. Ora, esta questão já
foi apreciada e, inclusive, julgada por este Tribunal de Justiça no recurso de agravo de
instrumento, autuado sob o nº 1553634-4, de relatoria do Des. Hamilton Mussi
Corrêa.
Nesse contexto, é possível visualizar que nenhum dos assuntos tratados no recurso diz
respeito à sentença proferida nos presentes autos. Resta claro que, ao formular as
razões recursais, a parte apelante não cuidou de impugnar os fundamentos adotados
pelo decisum recorrido, que, após apreciar os pontos elencados nos embargos,
julgou-os improcedentes.
Diante disso, os Embargantes/apelantes não atenderam ao ônus decorrente do
princípio da dialeticidade, qual seja, de impugnar precisamente os fundamentos da
decisão recorrida, sob pena de não conhecimento do recurso.
Sob outro ângulo, necessário registrar que a ausência de impugnação precisa dos
fundamentos da decisão equivale à ausência de razões para a sua reforma, já que seu
alicerce não é infirmado, conduzindo ao não conhecimento do recurso, nos termos do
inciso III do art. 932 do Código de Processo Civil de 2015.
A propósito, colaciona-se os recentíssimos julgados do Superior Tribunal de Justiça,
mutatis mutandis:
“PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL.
RECEBIMENTO COMO AGRAVO REGIMENTAL. SÚMULA N.
207/STJ. NÃO INCIDÊNCIA. DIALETICIDADE RECURSAL.
INOBSERVÂNCIA. EMBARGOS DECLARATÓRIOS. EFEITOS INFRINGENTES.
INTIMAÇÃO DA PARTE CONTRÁRIA. NECESSIDADE.
DECISÃO MANTIDA. (...) 3. Há afronta ao princípio da dialeticidade recursal quando
as razões do regimental estão dissociadas dos fundamentos da decisão agravada,
circunstância que impede o conhecimento dos argumentos apresentados. Precedentes
do STJ. (...) 5. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental, ao qual se
nega provimento” (4ª Turma, EDcl no REsp 1443984/BA, Rel. Min. Antonio Carlos
Ferreira, j. 07/06/2016, DJe 27/06/2016)
“AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE ADIMPLEMENTO CONTRATUAL. 1. AUSÊNCIA DE
IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA AOS FUNDAMENTOS DA DECISÃO DE
ADMISSIBILIDADE DO RECURSO ESPECIAL. (...) 4. AGRAVO IMPROVIDO. 1. “Em
553

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obediência ao princípio da dialeticidade, deve o agravante demonstrar o desacerto da


decisão agravada, não sendo suficiente a impugnação genérica ao decisum
combatido.” (AgRg no Ag 1414927/SC, Rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino,
Terceira Turma, julgado em 27/03/2012, DJe 3/4/2012). (...) 4. Agravo regimental a
que se nega provimento” (3ª Turma, AGRg nos EDcl no AREsp 759860/PR, Rel.
Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 14/06/2016, DJe 22/06/2016)
Oportuno colacionar também a jurisprudência desta Corte:
“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE ANULAÇÃO DE ATO JURÍDICO. LEILÃO
EXTRAJUDICIAL. ARREMATAÇÃO.SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO. OFENSA
AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE. RAZÕES RECURSAIS DISSOCIADAS DO
CONTEÚDO DA SENTENÇA. RECURSO NÃO CONHECIDO. SENTENÇA
MANTIDA.1. Não tendo a parte impugnado especificamente os fundamentos da
decisão recorrida, deixa-se de conhecer do recurso. Apelação Cível não conhecida”
(15ª C.Cív. AC 1496261-3, Rel.
Des. Jucimar Novochadlo, j. 27/04/2016)
“APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO ANULATÓRIA DE LANÇAMENTO FISCAL C/C
RESTITUIÇÃO DE INDÉBITO - FALTA DO REQUISITO DA REGULARIDADE FORMAL -
ART. 514, II, CPC - AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA ÀS CONCLUSÕES DA
SENTENÇA - OFENSA AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE RECURSAL -
PRECEDENTES DO STJ - APELO NÃO CONHECIDO” (3ª C.Cív. AC 1419124-3, Rel.
Des. Cláudio de Andrade, j.
08/03/2016)
“APELAÇÃO CÍVEL. OBRIGAÇÃO DE FAZER. PLANO DE SAÚDE. DOENÇA PRÉ-
EXISTENTE. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. 1. INOVAÇÃO RECURSAL. FATOS
(MIGRAÇÃO DE PLANO - PRAZO DE CARÊNCIA ANTERIORMENTE ATENDIDO)
ARGUÍDOS TÃO SÓ NO APELO. OFENSA AO ARTIGO 515 DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL. 2. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA AOS
FUNDAMENTOS DA SENTENÇA.
ALEGAÇÕES GENÉRICAS. OFENSA AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE.
ARTIGO 514, II, CPC. RECURSO NÃO CONHECIDO” (10ª C.Cív. AC 1427226-7, Rel.
Juíza Elizabeth de F. N. C. de Passos, j. 03/03/2016)
“DECISÃO MONOCRÁTICA. APELAÇÃO CÍVEL.DIREITO PREVIDENCIÁRIO. PEDIDO
DE CONCESSÃO DE PENSÃO POR MORTE.SENTENÇA QUE RECONHECEU A
OCORRÊNCIA DA PRESCRIÇÃO DO FUNDO DE DIREITO.PRETENSÃO RECURSAL
VOLTADA À DISCUSSÃO DO MÉRITO. AUSENTE QUALQUER IMPUGNAÇÃO
ESPECÍFICA AOS FUNDAMENTOS MANEJADOS NO “DECISUM”. OFENSA AO
PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE.
PRECEDENTES.RECURSO INADMISSÍVEL. APELO A QUE SE NEGA SEGUIMENTO
NOS TERMOS DO ARTIGO 557, “CAPUT”, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL” (7ª
C.Cív. AC 1400869-8, Rel. Des. Clayton Camargo, j.
16/02/2016)
“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA DE TAXAS CONDOMINIAIS.
SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA DA PRETENSÃO DO AUTOR.RECURSO DE
APELAÇÃO. RAZÕES RECURSAIS DISSOCIADAS DA FUNDAMENTAÇÃO EXPOSTA
554

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

NA SENTENÇA. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA. OFENSA AO ART. 514,


INCISO II, DO CPC.
PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE. RECURSO NÃO CONHECIDO” (9ª C.Cív.
AC 1462592-8, Rel. Des. Francisco Luiz Macedo Junior, j. 17/12/2016)
Assim sendo, o recurso de apelação interposto pelos Embargantes não merece
conhecimento, ante a ausência de impugnação específica aos fundamentos da
sentença recorrida, resultando na inexistência de motivação consentânea para
embasar o pedido recursal de inversão do ônus de sucumbência.
Por fim, não é caso de se reconhecer a litigância de má-fé por parte dos Apelantes,
conforme requerido pelo Apelado. Isso porque, “O artigo 17 do Código de Processo
Civil, ao definir os contornos dos atos que justificam a aplicação da multa por litigância
de má-fé, pressupõe o dolo da parte no entravamento do trâmite processual,
manifestado por conduta intencionalmente maliciosa e temerária” (1ª Turma do STJ,
AgReg no Ag 1021049/SP, Rel. Min. Denise Arruda, j. 16/10/2008, DJU 05/11/2008), o
que não é verificado no caso em apreço.
3. De conseguinte, conclui-se pelo não conhecimento do recurso de apelação.
Diante do exposto, ACORDAM os integrantes da Décima Quinta Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em não conhecer
do recurso de apelação, nos termos da fundamentação.
Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Desembargado Luiz Carlos Gabardo, com
voto, e dele também participou, com voto, o Excelentíssimo Desembargador Hayton
Lee Swain Filho.
Curitiba, 14 de junho de 2017.
Elizabeth M. F. Rocha, Juíza de Direito Substituta em Segundo Grau.

2.4.9. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL DE OUTRO

ESTADO – ILEGITIMIDADE ATIVA

APELAÇÃO CÍVEL - CUMPRIMENTO DE SENTENÇA ORIUNDO DE AÇÃO CIVIL

PÚBLICA PROMOVIDA PELO INSTITUTO DE DEFESA DO CONSUMIDOR (IDEC) NA

COMARCA DE SÃO PAULO/SP - TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL QUE NÃO POSSUI

DISPOSIÇÃO EXPRESSA DE QUE A ABRANGÊNCIA DA DECISÃO É NACIONAL -

NECESSÁRIA APLICAÇÃO DO ARTIGO 16 DA LEI N.º 7.347/1985 - EFICÁCIA DA

DECISÃO LIMITADA À JURISDIÇÃO DO FORO ONDE FOI PROLATADA A

SENTENÇA DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA - SÃO LEGÍTIMOS OS POUPADORES

RESIDENTES NA CIDADE DE SÃO PAULO E/OU QUE POSSUAM VÍNCULO COM O

IDEC - AUTOR QUE NÃO SE ENCAIXA EM QUALQUER DAS SITUAÇÕES -

EXECUÇÃO INDIVIDUAL PROMOVIDA EM COMARCA DO PARANÁ - MANUTENÇÃO


555

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

DA SENTENÇA QUE EXTINGUIU O FEITO EM RAZÃO DA ILEGITIMIDADE ATIVA -

PRECEDENTES DO STJ E DESTA CORTE - SENTENÇA EXTINTIVA

MANTIDA.Apelação cível desprovida. Apelação Cível nº 1682186-0

(TJPR - 15ª C.Cível - AC - 1682186-0 - São José dos Pinhais - Rel.: Elizabeth M F Rocha

- Unânime - J. 14.06.2017)

Inteiro Teor

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1682186-0, da 2ª Vara


Cível do Foro Regional de São José dos Pinhais da Comarca da Região Metropolitana
de Curitiba, em que figuram, como Apelante, Pedro Tavares da Silva e, como
Apelado, HSBC Bank Brasil S/A ­ Banco Múltiplo.
1. Trata-se de recurso de apelação cível interposto por Pedro Tavares da Silva, da
sentença proferida nestes autos de Cumprimento de Sentença que julgou extinto o
feito, sem julgamento do mérito, em razão da ilegitimidade ativa, condenando a parte
autora ao pagamento de custas processuais e honorários advocatícios sucumbenciais,
estes fixados em 15% sobre o valor atualizado da causa.
Em suas razões recursais, o Apelante sustenta, em síntese, sua legitimidade ativa, “por
força da abrangência nacional concedida à referida decisão”, uma vez que “a sentença
coletiva de consumo em questão não teve seus efeitos adstritos a somente aos seus
associados, mas todos os consumidores que possuíam caderneta de poupança junto
ao Banco ora APELADO, no período de janeiro de fevereiro de 1989”. Acrescenta,
ainda, que “a abrangência nacional do julgado e a extensão dos efeitos da sentença a
todos os poupadores que mantiveram caderneta de poupança junto ao BANCO
APELADO nos períodos abrangidos pela condenação dispensam ao poupador
demonstrar sua vinculação à associação proponente da ação coletiva (IDEC),
inexistindo assim, carência de ação”. Por fim, pugna pela minoração da verba
honorária.
Apresentadas contrarrazões, os autos vieram conclusos a este Tribunal.
2. Cuida-se de cumprimento de sentença decorrente da Ação Civil Pública nº
400/1993 (583.00.1993.808239-4), proposta pelo Instituto Brasileiro de Defesa do
Consumidor ­ IDEC em face do Banco Bamerindus do Brasil S/A, perante a 19ª Vara
Cível da Comarca de São Paulo/SP.
Na sentença recorrida, o douto magistrado singular extinguiu a ação ante o
reconhecimento da ilegitimidade ativa de Pedro Tavares da Silva, de modo que, em
seu recurso, este sustenta que a sentença deve ser reformada, a fim de dar andamento
regular ao feito, e consequente, procedência do cumprimento de sentença.
Pois bem.
Ao analisar o título objeto do cumprimento de sentença, nota-se que não houve
decisão expressa, tanto em primeiro grau quanto nas instâncias superiores, acerca de
eventual abrangência nacional da decisão. Não constou, no julgamento da referida

556

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

ação civil pública, qualquer ressalva no sentido de que o direito aos expurgos
inflacionários, discutido naquele feito, seria extensível a todos os poupadores em
âmbito nacional, como ocorreu na ação civil pública nº 1998.01.1.016798-9, ajuizada
pelo IDEC contra o Banco do Brasil S/A.
Observe-se que, enquanto a ação civil pública do Banco do Brasil S/A foi distribuída
perante a 19ª Vara Cível da Comarca de São Paulo/SP e, posteriormente, remetida à
12ª Vara Cível da Circunscrição Especial Judiciária de Brasília/DF, em razão do
reconhecimento de seu alcance nacional em exceção de incompetência, a Ação Civil
Pública do Banco Bamerindus S/A permaneceu na Comarca de São Paulo/SP,
justamente em virtude da ausência de qualquer disposição sobre eventual amplitude
nacional.
Nesse contexto, não há dúvida de que a sentença exarada na Ação Civil Pública nº
400/1993 (583.00.1993.808239-4), ajuizada pelo IDEC em face do Banco Bamerindus
S/A, da qual decorre a presente demanda, é completamente genérica quanto à sua
abrangência, circunstância que conduz à aplicação da regra prevista no artigo 16, da
Lei n.º 7.347/1985:
A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial
do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de
provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico
fundamento, valendo-se de nova prova.
Sobre o assunto, o seguinte precedente do Superior Tribunal de Justiça:
“EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL.
RECEBIMENTO COMO AGRAVO REGIMENTAL. FUNGIBILIDADE RECURSAL.
EXPURGOS INFLACIONÁRIOS. PLANO VERÃO. IPC DE JANEIRO DE 1989 (42,72%).
OMISSÃO. CONTRADIÇÃO.
OCORRÊNCIA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. EFICÁCIA. LIMITES.
JURISDIÇÃO DO ÓRGÃO PROLATOR. 1. Embargos de declaração conhecidos como
agravo regimental, tendo em vista os princípios da fungibilidade recursal e economia
processual. 2. Verificada contradição entre a fundamentação do “decisum” recorrido e
a parte dispositiva, acolhe-se o recurso para corrigir o julgado, evitando-se, assim,
interpretação errônea acerca de seu comando. 3. Consoante entendimento
consignado nesta Corte, a sentença proferida em ação civil pública fará coisa julgada
“erga omnes” nos limites da competência do órgão prolator da decisão, nos termos
do art. 16 da Lei n. 7.347/85, alterado pela Lei n.
9.494/97. 4. Embargos de declaração recebidos como regimental para,
reconsiderando a decisão anteriormente proferida, conhecer do recurso especial e lhe
dar provimento.” (STJ ­ EDcl no REsp n.º 167.328/SP, Rel.
Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em
01/03/2011, DJe 16/03/2011)
No mesmo sentido, recentes julgados desta 15ª Câmara Cível:
“Agravo de instrumento. Cumprimento de sentença. Ação Civil Pública do Instituto
Brasileiro de Defesa do Consumidor - IDEC. Ilegitimidade ativa.
Abrangência do título. Poupadores do Estado do Paraná. Art. 16 da LACP.

557

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Eficácia. Limites. Jurisdição do órgão prolator. Falta legitimidade ativa aos


poupadores para ajuizarem cumprimento de sentença em local diverso do Estado
onde foi processada a demanda coletiva, pois a sentença proferida em ação civil
pública faz coisa julgada erga omnes nos limites da competência do órgão prolator da
decisão, nos termos do art. 16 da Lei n.
7.347/85.Ilegitimidade ativa reconhecida de ofício, ficando prejudicado o
conhecimento do agravo de instrumento.” (TJPR, 15ª Câmara Cível ­ Agravo de
Instrumento n.º 1.298.529-4 ­ Campo Largo ­ Rel.: Hamilton Mussi Correa ­ Unânime ­
J. 28/01/2015)
“AGRAVO DE INSTRUMENTO - CUMPRIMENTO DE SENTENÇA PROFERIDA EM
AÇÃO CIVIL PÚBLICA MOVIDA PELO IDEC NO ESTADO DE SÃO PAULO - ALCANCE
OBJETIVO E SUBJETIVO DA SENTENÇA COLETIVA, NOS LIMITES DA COISA
JULGADA, COM EXTENSÃO DE SEUS EFEITOS À COMPETÊNCIA TERRITORIAL DO
FORO DO JULGAMENTO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA E SOMENTE ÀQUELES QUE
SEJAM ASSOCIADOS AO IDEC - INCOMPETÊNCIA TERRITORIAL E ILEGITIMIDADE
ATIVA DO POUPADOR RECONHECIDAS DE OFÍCIO - RECENTES PRECEDENTES DO
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA E DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - EXTINÇÃO
DO FEITO ORIGINÁRIO. Agravo de Instrumento conhecido e prejudicado, com
extinção de ofício do cumprimento de sentença ante o reconhecimento de
incompetência territorial e ilegitimidade ativa.” (TJPR, 15ª Câmara Cível ­ Agravo de
Instrumento n.º 1.284.320-2 ­ Terra Rica ­ Rel.: Elizabeth M F Rocha ­ Unânime ­ J.
28/01/2015)
“APELAÇÃO CÍVEL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.AÇÃO CIVIL PÚBLICA N.º
400/1993 (583.00.1993.808239-4). IDEC X BANCO BAMERINDUS DO BRASIL S/A. 19ª
VARA CÍVEL DA COMARCA DE SÃO PAULO/SP. ABRANGÊNCIA NACIONAL DO
TÍTULO. DISPOSIÇÃO EXPRESSA NESSE SENTIDO.INEXISTÊNCIA. EFICÁCIA DA
COISA JULGADA.LIMITE TERRITORIAL. ÓRGÃO PROLATOR DA SENTENÇA
COLETIVA. ART. 16, DA LEI N.º 7.347/1985. CASO CONCRETO.
AUTORES.RESIDÊNCIA. ESTADO DO PARANÁ.ILEGITIMIDADE ATIVA.
INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL. ART. 295, II, DO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL. SENTENÇA MANTIDA.1. Segundo orientação do Superior Tribunal de Justiça,
em cumprimento de sentença decorrente de ação civil pública, no qual se postula o
recebimento de expurgos inflacionários, a 2 legitimidade das partes deve ser
estabelecida de acordo com a coisa julgada formada em cada título judicial.2. Na
sentença exarada na ação civil pública n.º 400/1993 (583.00.1993.808239-4), proposta
pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) em face do Banco
Bamerindus do Brasil S/A, perante a 19ª Vara Cível da Comarca de São Paulo/SP,
inexiste disposição expressa acerca de eventual abrangência nacional do julgado,
razão pela qual, nos cumprimentos de sentença propostos com base nessa sentença
coletiva, aplica-se a regra do art. 16, da Lei n.º 7.347/1985.3. Delimitada a eficácia da
coisa julgada à competência territorial do órgão prolator da sentença coletiva, o
poupador residente em outra localidade é parte ilegítima para ajuizar cumprimento de
sentença.4. Apelação cível conhecida e não provida.” (TJPR, 15ª Câmara Cível ­

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Apelação Cível n.º 1.256.439-5 ­ Francisco Beltrão ­ Rel.: Luiz Carlos Gabardo ­
Unânime ­ J. 26/11/2014)
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA N.º 400/1993 (583.00.1993.808239-4). IDEC X BANCO BAMERINDUS DO
BRASIL S/A. 19ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE SÃO PAULO/SP.ABRANGÊNCIA
NACIONAL DO TÍTULO.DISPOSIÇÃO EXPRESSA NESSE SENTIDO.INEXISTÊNCIA.
EFICÁCIA DA COISA JULGADA. LIMITE TERRITORIAL. ÓRGÃO PROLATOR DA
SENTENÇA COLETIVA. ART.16, DA LEI N.º 7.347/1985. CASO
CONCRETO.ILEGITIMIDADE ATIVA. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO
DE MÉRITO.ART. 267, VI, CPC.1. Segundo orientação do Superior Tribunal de Justiça,
em cumprimento de sentença decorrente de ação civil pública, no qual se postula o
recebimento de expurgos inflacionários, a legitimidade das partes deve ser
estabelecida de acordo com a coisa julgada formada em cada título judicial.2. Na
sentença exarada na ação civil pública n.º 400/1993 (583.00.1993.808239-4), proposta
pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) em face do Banco
Bamerindus do Brasil S/A, perante a 19ª Vara Cível da Comarca de São Paulo/SP,
inexiste disposição expressa acerca de eventual abrangência nacional do julgado,
razão pela qual, nos cumprimentos de sentença propostos com base nessa sentença
coletiva, aplica-se a regra do art. 16, da Lei n.º 7.347/1985.3. Delimitada a eficácia da
coisa julgada à competência territorial do órgão prolator da sentença coletiva, o
poupador residente em outra localidade é parte ilegítima para ajuizar cumprimento de
sentença.4. Reconhecida a ilegitimidade ativa, impõe-se a extinção do processo, sem
resolução de mérito, nos termos do art. 267, VI, do Código de Processo Civil, com a
condenação da parte autora ao pagamento dos encargos sucumbenciais.5. Agravo de
instrumento conhecido e provido.” (TJPR, 15ª Câmara Cível ­ Agravo de Instrumento
n.º 1.435.807-7 ­ Sertanópolis ­ Rel.: Luiz Carlos Gabardo ­ Unânime ­ J. 24/02/2016)
Nesse passo, presume-se mantida a aplicação da regra do art. 16, da Lei n.º
7.347/1985, dada a sua especialidade. Não se mostra mais possível, em sede de
cumprimento de sentença, afastar a incidência dessa norma de modo a ampliar a
abrangência do título, sob pena de ofensa à coisa julgada.
Anote-se, ainda, que inobstante tal questão não tenha sido levantada pela parte, não
há que se falar em aplicação do Código de Defesa do Consumidor nem da Súmula n.º
45 deste Tribunal ao caso em apreço, pois, repita-se, o parâmetro adotado atualmente
pelo Superior Tribunal de Justiça para a determinação da legitimidade ativa em casos
como o presente é o limite subjetivo delineado no título judicial. Em conclusão, como
a sentença executada foi exarada pelo juízo da 19ª Vara Cível da Comarca de São
Paulo/SP, o autor não tem legitimidade para ajuizar o presente cumprimento de
sentença, eis que reside no Estado do Paraná.
Para que não restem dúvidas, imperioso explicar que a legitimidade do autor, nesse
caso, é restrita pelo limite territorial da decisão, que, por ser genérica e nada
mencionar em sentido contrário, legitima somente os poupadores residentes em São
Paulo para a propositura de execução individual decorrente da sentença proferida na
referida Ação Civil Pública.

559

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Dessa forma, os poupadores residentes no Estado do Paraná ­ bem como em


qualquer outra localidade do país ­, mesmo que se encaixem na situação tratada na
ação de conhecimento, não possuem legitimidade para propor o cumprimento de
sentença em razão da limitação que lhes foi imposta pela restrição territorial da
sentença, que não possui abrangência nacional.
Nesse passo, impõe-se o desprovimento do recurso de apelação a fim de manter a
sentença que julgou extinto o cumprimento de sentença sem resolução do mérito, em
razão da ilegitimidade ativa.
Diante do exposto, ACORDAM os integrantes da Décima Quinta Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar
provimento ao recurso de apelação, nos termos da fundamentação.
Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Desembargado Luiz Carlos Gabardo, com
voto, e dele também participou, com voto, o Excelentíssimo Desembargador Hayton
Lee Swain Filho.
Curitiba, 14 de junho de 2017.
Elizabeth M. F. Rocha, Juíza de Direito Substituta em Segundo Grau.

2.4.10. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA PROFERIDA NA AÇÃO MONITÓRIA - SENTENÇA

QUE RECONHECEU A PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE - PARALISAÇÃO DO

PROCESSO POR DESÍDIA DO EXEQUENTE - CUMPRIMENTO AO PAR. ÚNICO DO

ART. 487 DO CPC/2015 - PEDIDO PARA FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS

SUCUMBENCIAIS DEDUZIDO NAS CONTRARRAZÕES - DESCABIMENTO -

MANUTENÇÃO INTEGRAL DA SENTENÇA. Apelação cível desprovida.

(TJPR - 15ª C.Cível - AC - 1673307-0 - Barbosa Ferraz - Rel.: Elizabeth M F Rocha -

Unânime - J. 07.06.2017)

Inteiro Teor

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1673307-0, do Juízo


Único da Comarca de Barbosa Ferraz, em que figuram, como Apelante, Banco do
Brasil S/A e, como Apelados, Auto Posto Adriana Ltda. e Outros.
1. Trata-se de apelação interposta por Banco do Brasil S/A, da sentença que, nos
autos da ação monitória movida em face de Auto Posto Adriana Ltda. e Outros,
reconheceu a prescrição intercorrente e, por consequência, julgou extinto o feito, com
fundamento no art. 487, inc. II, do Código de Processo Civil.

560

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Em suas razões recursais, o Apelante pugna pela reforma da sentença, argumentando


que não foi intimado pessoalmente para dar andamento ao feito, acrescentando que
“a execução será suspensa quando o devedor não possuir bens penhoráveis, situação
em que não corre prescrição da pretensão executória”.
Acrescenta que “ocorreu a ausência de intimação pessoal da parte credora para o
prosseguimento do feito, requisito indispensável e previsto no art.
487, II do CPC para que possa vir a ser reconhecida e declarada a inércia do
Apelante” (mov. 72.1). Ademais, prequestiona a matéria recorrida.
Processado o recurso, os Apelados ofereceram contrarrazões, requerendo ainda o
arbitramento de honorários advocatícios em 20% sobre o valor da causa.
Após, vieram os autos conclusos a este Tribunal.
2. Presentes os pressupostos de admissibilidade, o recuso de apelação comporta
conhecimento.
3. O recurso merece provimento, conforme análise a seguir.
De início, importa relatar a seguinte sucessão fática-processual, no que percute: a) o
Banco do Brasil S/A propôs ação monitória em face de Auto Posto Adriana Ltda.,
Sebastião Félix da Silva e Maria Aparecida Félix, os quais foram citados via carta
precatória encaminhada ao Juízo de Maringá (mov. 1.1, f. 75) . A sentença foi
prolatada em 23/11/2001, com o julgamento de parcial procedência da demanda (f.
mov. 1.2, f. 1/17); b) com o trânsito em julgado da sentença, em 14/02/2002 o banco
requereu o início da fase de execução do título judicial, de modo que, depois de
apresentados os cálculos pelo contador judicial (mov. 1.3, f. 06/09), foi determinada a
expedição de carta precatória para citação dos executados, conforme cópia juntada à
f. 10 do mov. 1.3, em 18/03/2002; c) solicitadas informações ao juízo deprecado, este
informou que, “revendo em cartório, os livros e registros de feitos Cíveis, nos mesmos
constatou não haver sido, nesta Comarca, até a presente data, distribuído nenhuma C.
Prec. (Ação Monitória) tendo como requerente Banco do Brasil e requerido Auto Posto
Adriana Ltda., na data aproximada mencionada no presente ofício” (mov. 1.6, f. 07); d)
instado a se manifestar, o Banco requereu a expedição de nova carta precatória ao
Juízo de Maringá, já que aquela primeira deprecata restou extraviada.
Deferido tal pedido, em 01/11/2004, o juiz a quo determinou a expedição de nova
carta precatória ao juízo de Maringá, a fim de citar os executados para efetuarem o
pagamento da quantia de R$ 12.600,89 (mov. 1.8, f. 01); e) solicitadas posteriores
informações pelo juízo da comarca de Barbosa Ferraz, o juízo deprecado informou, em
21/06/2006, “não haver sido distribuído nenhuma carta precatória oriunda desta
Comarca, no período de 05/11/2004, tendo como requerente Banco do Brasil S/A e
como requeridos Auto Posto Adriana Ltda. e Outros” (mov. 1.09, f. 11); f) intimado
para se manifestar sobre a informação prestada pelo juízo distribuidor de Maringá, em
10/01/2007 o Exequente informou não ter distribuído a Carta Precatória em razão da
“mudança de endereço dos executados, estando os mesmos em lugar incerto e não
sabido”. Por isso, requereu o sobrestamento do feito, “até que sejam encontrados os
executados, bem como bens em nome dos mesmos para a prossecução da presente
ação” (mov. 1.11, f. 03), o que foi deferido pelo prazo de

561

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

6 (seis) meses, em 12/01/2007 (mov. 1.12, f. 01); g) decorrido este prazo em


18/07/2007, seguiram-se quatro intimações (mov. 1.13, f. 01; mov. 1.14, f. 01, f. 07 e f.
09) para que o Banco se manifestasse sobre o prosseguimento do feito, o que
somente veio a se acontecer em 25/04/2008, com a dedução de pedido de
sobrestamento do feito, “a fim de promover diligências em busca do paradeiro de
bens em nome dos Requeridos” (mov. 1.14, f. 15), o que foi
deferido pelo prazo de 30 (trinta) dias (mov. 1.14, f. 20); h) novamente decorrido o
prazo assinalado, o Exequente requereu nova suspensão do feito, além da solicitação,
via sistema BacenJud, do bloqueio e penhora de ativos financeiros em nome dos
executados; i) em 08/08/2008, o juiz verificou que, até aquela data, a parte executada
ainda não havia sido citada. Por isso, determinou que, “em razão da modificação
introduzida pela Lei 11.232/2005, deve a parte exequente requerer o prosseguimento
da presente, observando o contido no art. 475-J, do CPC, no prazo de 10 dias” (mov.
1.15, f. 06); j) assim, em 01/10/2008, o Exequente requereu a remessa dos autos ao
contador judicial, além da intimação do devedor, nos termos do art. 475-J, do CPC/73
(mov. 1.16, f. 01);
k) publicada intimação do executado na pessoa de seu procurador (mov.
1.16, f. 08), e decorrido o prazo de 15 (quinze) dias sem pagamento (12/12/2008), foi
expedido mandado de penhora e avaliação, o qual não foi cumprido, ante a
informação do sr. oficial de justiça de que “as matrículas todas estão com penhora”
(mov. 1.17, f. 11);
l) em 04/09/2009, o Banco requereu a expedição de ofício à Receita Federal, de
modo que em 22/10/2009 foram solicitadas àquele órgão cópias das últimas cinco
declarações de imposto de renda dos executados (mov. 1.18, f. 03); m) certificado pela
escrivania do Cartório que desde 04/09/2009 até 02/09/2010 (mov. 1.18, f. 17) a parte
autora não se manifestava nos autos, fora
determinada sua intimação para se pronunciar no feito, “sob pena de extinção” (mov.
1.18, f. 18) ;
n) reiterada a intimação do exequente, este requereu a suspensão do feito por 30
(trinta) dias (mov. 1.18, f. 27), e deferido (mov. 1.19, f. 01); o) decorrido o prazo, fora
intimado pessoalmente o exequente, por carta com aviso de recebimento, “para dar
andamento no processo, no prazo de cinco dias, sob pena de extinção” (mov. 1.19, f.
05); p) em 13/07/2012, foi determinada nova intimação pessoal da parte Exequente
para, “no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, manifestar-se sobre o prosseguimento
do feito, sob pena extinção e arquivamento dos autos” (mov. 1.20, f. 01).
Em resposta, o Banco requereu a citação dos réus para efetuar o pagamento no prazo
de três dias, bem como a penhora de bens ou de ativos financeiros em nome dos
executados (mov. 1.21); q) em 28/11/2012 foi constatado o falecimento do executado
Sebastião Felix da Silva pela serventia do Cartório (f. 04, mov. 1.22), razão pela qual o
Banco então foi intimado para se manifestar, sobrevindo sua resposta somente em
12/06/2013,
para requerer apenas a regularização de sua representação processual (mov. 1.23) .
Passados três meses, o Banco postulou a suspensão do feito “até o deslinde das
pesquisas extrajudiciais em busca das informações necessárias à habilitação dos
562

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

herdeiros do de cujus” (mov. 1.23, f. 12). Em 25/09/2013, o Banco pugnou pela


inclusão dos herdeiros do executado Sebastião no polo passivo da demanda, o que foi
deferido em 29/05/2014 (mov. 1.23, f. 22), para incluir José Augusto Felix e Maria
Antonieta Feliz Frade; r) intimados os herdeiros José e Maria Antonieta,
respectivamente, em 26/09/2014 e 27/04/2015 (mov. 1.24 e mov. 1.28), os quais não
apresentaram imediata resposta ao feito, o juízo a quo deferiu a penhora online de
ativos financeiros em seus nomes; s) ainda que em 07/10/2015 o Banco tenha
colacionado a matrícula atualizada dos imóveis de propriedade do executado
Sebastião e de seus herdeiros, tendo requerido a sua respectiva penhora (mov. 1.31 e
1.32), o juízo a quo indeferiu seu pedido, já que a ordem do juiz era para que juntasse
cálculo atualizado do débito.
Assim, em 18/11/2015, foi determinada nova intimação do Exequente, “por
derradeira vez, para que junte aos autos planilha atualizada dos débitos, na forma
determinada à f. 357, em 02.07.2015 e até agora pendente de cumprimento” (mov.
1.32, f. 10).
t) deferido o pedido do Banco para que novamente fosse dilatado seu prazo para dar
cumprimento àquela ordem, na sequência foi juntada aos autos a memória de cálculo
atualizada do débito (mov. 37), além de seu pedido de bloqueio de
valores junto ao sistema BacenJud, o qual foi parcialmente cumprido (mov. 44); u) em
20/06/2016, os executados se manifestaram pugnando pela extinção do feito, sob o
argumento de ter ocorrido a prescrição intercorrente (mov. 43).
Intimado, o Banco apresentou resposta (mov. 49), sobrevindo a sentença que julgou
extinto o feito, pelo reconhecimento da prescrição intercorrente (mov. 51).
Pois bem.
Dispõem os arts. 487, par. único e 485, par. 1º, do Código de Processo Civil, que a
intimação do advogado da parte para se manifestar acerca da ocorrência da prescrição
intercorrente e dar prosseguimento ao feito é requisito essencial antes de ser extinto o
processo. No caso, tal requisito foi atentamente observado, conforme mov. 46-Projudi,
da qual sobreveio resposta do Exequente no mov. 49.1-Projudi.
Superado isso, extrai-se de todos os fatos acima relatados que, após o trânsito em
julgado da sentença da fase de conhecimento, o Exequente requereu o início da
execução da sentença então prolatada. Não obstante tenha indicado endereço para
citação do executado na comarca de Maringá, o Exequente deixou de agir
diligentemente para promover tal providência, restando incontestável a sua inércia no
presente feito.
Deveras, passaram-se 04 anos e 10 meses entre o início da execução e o primeiro
pedido de suspensão do feito, isto é, de março/2002 a janeiro/2007, sendo que o
Exequente sequer chegou a distribuir as duas primeiras cartas precatórias ao Juízo
deprecado neste ínterim. Somente depois disso, quando intimado para dar
andamento do feito, requereu a suspensão do processo por seis meses, o que foi
deferido em 12/01/2007.
Apenas em 25/04/2008, ou seja, bem depois do lapso temporal de seis meses de
suspensão do processo, e somente depois de quatro intimações seguidas, é que o
banco voltou a se manifestar nos autos, mas apenas para requerer a suspensão do
563

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

feito por mais trinta dias. Ou seja, neste intervalo, passaram-se mais nove meses sem
que o banco impulsionasse o feito de alguma maneira.
Com efeito, em meio a alguns pedidos de suspensão do feito e para que fosse
regularizada sua representação processual, o Exequente foi intimado várias vezes,
inclusive pessoalmente, para dar prosseguimento à demanda, “sob pena de extinção
do feito”.
Depois disso, com a entrada em vigência da nova regra processual com previsão do
art. 475-J, do CPC, sobreveio a intimação do executado na pessoa de seu procurador,
em 12/12/2008, quando só então pode se falar em interrupção da contagem do prazo
prescricional.
Nesse passo, infere-se que o lapso temporal entre o início da fase de execução da
sentença e a efetiva intimação do executado transcorreu com desídia do Exequente, já
que, no transcurso do processo, o feito permaneceu parado por mais do que o prazo
prescricional de cinco anos.
Ora, prevê o artigo 206, §5º, inciso I, do Código Civil que a pretensão de cobrança de
dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular prescreve em cinco
anos, o que é aplicável na espécie em que a ação monitória foi lastreada em contrato
de abertura de crédito em conta corrente. Por sua vez, a Súmula 150 do Supremo
Tribunal Federal dispõe que “prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição da
ação”. No caso, considerando cumulativamente os períodos em que o feito
permaneceu parado sem qualquer provocação do exequente, transcorreram mais de
cinco anos e sete meses, no mínimo.
Logo, conclui-se que existem nos autos elementos que demonstram a inércia por
parte do Exequente, os quais são suficientes para reconhecer a prescrição
intercorrente, porquanto houve conduta negligente e violação da segurança jurídica
pelo Exequente.
A propósito, percucientes a seguintes ementas:
“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO MONITÓRIA EM FASE DE CUMPRIMENTO DE
SENTENÇA. 1. POSSIBILIDADE DE RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO
INTERCORRENTE NA VIGÊNCIA DO CPC/73 EM ATENÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA
RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO, DA SEGURANÇA JURÍDICA, DA
ORIENTAÇÃO CONSTITUCIONAL DE NÃO ETERNIZAÇÃO DAS PENDÊNCIAS
JUDICIAIS E, POR FIM, PARA CUMPRIR COM A FUNÇÃO JURISDICIONAL DE
PACIFICAÇÃO DOS CONFLITOS SOCIAIS.
SÚMULA Nº 150 DO STF. 2. DESNECESSIDADE DE PRÉVIA INTIMAÇÃO DA PARTE
EXEQUENTE PARA DAR PROSSEGUIMENTO AO PROCESSO.
ENTENDIMENTO DO STJ E DESTA CORTE DE JUSTIÇA. 3. FIXAÇÃO
JURISPRUDENCIAL DO TERMO INICIAL DO PRAZO PRESCRICIONAL EM UM ANO
APÓS A SUSPENSÃO SINE DIE DA EXECUÇÃO. PROCESSO QUE FICOU
PARALISADO POR APROXIMADAMENTE 07 ANOS.
EVIDENTE DESÍDIA DO CREDOR POR LAPSO TEMPORAL MUITO SUPERIOR AO
PRAZO PRESCRICIONAL PREVISTO PARA HIPÓTESE. 4.
PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE QUE NÃO SE CONFUNDE COM ABANDONO DE
CAUSA. INAPLICABILIDADE DO ART. 485, § 1º, DO CPC/15. PRESCRIÇÃO
564

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

INTERCORRENTE MANTIDA. 4. NÃO HAVENDO QUALQUER ATO, ATUAÇÃO OU


SEQUER CONSTITUIÇÃO DE PROCURADOR POR PARTE DOS EXECUTADOS,
INCABÍVEL IMPOR À PARTE EXEQUENTE, AINDA QUE TENHA RESTADO VENCIDA,
O PAGAMENTO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS RECURSAIS. RECURSO
CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJPR - 14ª C.Cível - AC - 1645756-2 - Colorado - Rel.:
Themis Furquim Cortes - Unânime - J. 19.04.2017)
“APELAÇÃO CÍVEL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. AÇÃO MONITÓRIA.
DEMANDA EXTINTA AO RECONHECER A PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE DO
FEITO. INSURGÊNCIA.NECESSIDADE DE PRÉVIA E PESSOAL INTIMAÇÃO DA PARTE
CREDORA PARA DAR PROSSEGUIMENTO DO FEITO. DESNECESSIDADE. INÉRCIA
DO CREDOR PROCESSO QUE SE MANTEVE PARALISADO POR MAIS DE 05 (CINCO)
ANOS, SEM QUALQUER MANIFESTAÇÃO. APELAÇÃO CONHECIDA E NÃO-
PROVIDA” (TJPR - 7ª C.Cível - AC - 1458406-8 - Rel.: Ana Lúcia Lourenço - Unânime -
J. 08.03.2016)
“APELAÇÃO CÍVEL 1. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. MAJORAÇÃO. PRETENSÃO. VALOR ADEQUADO.
MANUTENÇÃO. 1. Mediante apreciação equitativa e proporcional do art. 20, §4º, do
Código de Processo Civil de 1973, vigente à época do julgamento, deve ser mantido o
valor dos honorários advocatícios, quando fixado de acordo com o trabalho
desenvolvido pelos profissionais atuantes nos autos. 2. Apelação cível conhecida e não
provida. APELAÇÃO CÍVEL 2. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. CÉDULA DE
CRÉDITO RURAL. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. 2CASO CONCRETO.
VERIFICAÇÃO. PARALISAÇÃO DO FEITO POR DESÍDIA DO EXEQUENTE.
1. Arquivado o feito por desídia da parte exequente, compete a ela dar
prosseguimento independentemente de nova intimação, sob pena de início da
contagem do prazo de prescrição intercorrente. 2. Evidenciado o desinteresse da
parte exequente no prosseguimento do feito, ante a ausência de qualquer
manifestação nos autos por prazo muito superior ao prescricional, impõe-se
reconhecer a prescrição intercorrente. 3. Apelação cível conhecida e não provida.”
(TJPR - 15ª C.Cível - AC - 1611674-0 - Cornélio Procópio - Rel.: Luiz Carlos Gabardo -
Unânime - J. 08.02.2017)
“PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. DECISÃO EM AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. EXECUÇÃO. CONTRATO DE CONFISSÃO DE DÍVIDA. PRESCRIÇÃO
INTERCORRENTE. AUSÊNCIA DE DESÍDIA DO CREDOR. NÃO OCORRÊNCIA.
CRITÉRIO DE CONTAGEM. REEXAME DE MATÉRIA DE FATO. VERBETE SUMULAR 7
DO STJ.
1. A prescrição intercorrente pressupõe desídia do credor que, intimado a diligenciar,
se mantém inerte, hipótese, segundo as instâncias ordinárias, não verificada no caso
dos autos.
2. As circunstâncias fáticas que interferiram no cômputo do prazo prescricional,
suficientes para obstar a prescrição intercorrente do título de crédito em execução,
não podem ser reexaminadas nesta Corte, sob pena de infringência do obstáculo
processual do enunciado 7 da Súmula do STJ.

565

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3. Agravo regimental a que se nega provimento.” (AgRg no AREsp 144.978/RJ, Rel.


Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 04/06/2013, DJe
19/06/2013).
“PROCESSO CIVIL. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE.
A desídia do credor constitui, a teor da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça,
causa para a prescrição intercorrente.
Agravo regimental não provido.” (AgRg no Ag 169.842/PR, Rel. Ministro ARI
PARGENDLER, TERCEIRA TURMA, julgado em 15/05/2000, DJ 01/08/2000, p. 260).
4. Por fim, não assiste razão ao Apelado, no que toca ao seu pedido deduzido nas
contrarrazões de apelação, para que seja fixado em seu favor valor referente aos
honorários sucumbenciais.
Isso porque tal pedido não configura a hipótese prevista no §1º do art.
1009 do CPC/15, qual seja, a impugnação de qualquer decisão interlocutória
proferida no curso do processo. Deveras, a questão diz respeito à sua discordância
com a sentença prolatada, a qual foi omissa ao deixar de fixar a verba honorária de
sucumbência. Desse modo, deveria o Apelado ter se utilizado dos meios adequados
para buscar a correção do ponto omisso da sentença, a fim de que fosse fixada
quantia respeitante à verba honorária a seu favor, o que não ocorreu.
5. Por conseguinte, conclui-se pelo desprovimento da apelação.
Diante do exposto, ACORDAM os integrantes da Décima Quinta Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar
provimento ao recurso, nos termos da fundamentação.
Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Desembargador Luiz Carlos Gabardo, com
voto, e dele também participou, com voto, o Excelentíssimo Desembargador Shiroshi
Yendo.
Curitiba, 07 de junho de 2017.
Elizabeth M. F. Rocha, Juíza de Direito Substituta em Segundo Grau

2.4.11. BUSCA E APREENSÃO – FALECIMENTO RÉU ANTES DE AJUIZADA A

AÇÃO

AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO - SENTENÇA DE EXTINÇÃO DO FEITO PELA

AUSÊNCIA DE UM DOS PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS - FALECIMENTO DA RÉ

ANTES DO AJUIZAMENTO DA DEMANDA - EXTINÇÃO DA CAPACIDADE

PROCESSUAL - IMPOSSIBILIDADE DE SUCESSÃO PROCESSUAL QUANDO A MORTE

OCORRE ANTES DA PROPOSITURA DA AÇÃO - SENTENÇA MANTIDA.Apelação

desprovida.

566

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

(TJPR - 15ª C.Cível - AC - 1675180-7 - Região Metropolitana de Londrina - Foro

Regional de Rolândia - Rel.: Elizabeth M F Rocha - Unânime - J. 07.06.2017)

Inteiro Teor

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1675180- 7, da Vara


Cível e Anexos do Foro Regional de Rolândia da Comarca da Região Metropolitana de
Londrina, em que figuram, como Apelante, Itaucard S/A e, como Apelada, Ilda Maria
de Moura.
1. Trata-se de apelação cível interposta por Banco Itaucard S/A, da sentença que
julgou extinta a ação de busca e apreensão movida em face de Ilda Maria de Moura,
sob o fundamento de que “ao tempo em que a notificação premonitória foi
encaminhada para a devedora (seq. 1.8), esta já havia falecido (seq. 19.3), de tal modo,
afinal, que aquela não atingiu seu desiderato, que era constitui-la em mora (a ação de
busca e apreensão possui caráter personalíssimo)” (mov. 30.1 ­ f. 01).
Assim, o Banco/autor foi condenado ao pagamento das custas processuais e
honorários advocatícios fixados em 10% sobre o valor da causa.
Em suas razões recursais, o Apelante alega, em síntese, que “a notificação
extrajudicial foi devidamente encaminhada ao endereço indicado pela devedora na
celebração do contrato, sendo possível inferir-se que um dos herdeiros teve plena
ciência da constituição em mora”. Além disso, acrescenta, que “não houve qualquer
comunicação do falecimento do de cujus à credora fiduciária antes do ajuizamento da
ação, dever este incumbido aos herdeiros do falecido” (mov. 39.1 ­ f. 04).
Por fim, aduz que “a atual prevalência dos princípios da instrumentalidade,
efetividade e economia processuais, com a adoção, cada vez mais ampla, pelos órgãos
julgadores da consciência plena de que o seu fim precípuo é aquele de propiciar o
aproveitamento dos atos processuais, sempre que se apresentem úteis, desde que não
acarretem prejuízos às partes, como se verifica in casu” (mov. 39.1 ­ f. 06).
Recebido o recurso e apresentadas as contrarrazões, os autos foram remetidos a este
Tribunal.
2. Presentes os pressupostos de admissibilidade, o recurso merece ser conhecido,
conforme análise a seguir.
3. O Autor/apelante requer a reforma da sentença que extinguiu o processo de ação
de busca e apreensão, sob o argumento de que não foi cientificado a respeito do
falecimento da Ré, bem como que a notificação extrajudicial foi devidamente
encaminhada e recebida no endereço constante no instrumento contratual. Ademais,
sustenta a possibilidade de prosseguimento do feito, em atendimento aos princípios
da economia processual e instrumentalidade das formas.
Sem razão.
Sabe-se que a capacidade é um dos pressupostos processuais, de maneira que a sua
ausência impede a formação da ação. De fato, a notificação extrajudicial foi enviada
pelo Banco em 10/03/2016 e recebida no endereço da Apelada apontado no contrato
que originou a presente busca e apreensão em 14/03/2016 (mov. 1.8). Contudo, em
567

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

sede de contestação, restou comprovado que a Ré faleceu em 03/12/2014 (mov. 19.3),


ou seja, anos antes da notificação ser enviada para sua casa e, portanto, anteriormente
à propositura desta ação em 12/04/2016.
Ora, diante dessa situação verifica-se que a Ré falecida não pode mais ser titular de
direitos e obrigações, na medida em que perdeu sua capacidade processual, de modo
que a ação não poderia ter sido ajuizada em seu desfavor.
Nesse sentido:
“APELAÇÃO CÍVEL. BUSCA E APREENSÃO. CONTRATO DE FINANCIAMENTO
GARANTIDO POR ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL
POSTERIOR AO FALECIMENTO DO DEVEDOR. EXTINÇÃO DO FEITO. AUSÊNCIA
DE PRESSUPOSTO DE CONSTITUIÇÃO E DESENVOLVIMENTO VÁLIDO E REGULAR
DO PROCESSO. SENTENÇA MANTIDA APELAÇÃO NÃO PROVIDA”. (TJPR - 15ª
C.Cível - AC - 1611463-7 - Rio Branco do Sul - Rel.: Hayton Lee Swain Filho - Unânime
- J. 14.12.2016)
“PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO.
FALECIMENTO DO RÉU ANTERIORMENTE AO AJUIZAMENTO DA AÇÃO.
INAPTIDÃO PARA A PRÁTICA DE ATOS PROCESSUAIS. AUSÊNCIA DE CAPACIDADE
PROCESSUAL. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO.
Comprovado que a pessoa demandada em ação judicial já era falecida à época da
propositura da ação, extingue-se o processo, em razão da ausência de um dos
pressupostos processuais de existência, qual seja, a capacidade de ser parte. Recurso
desprovido”. (TJPR - 15ª C.Cível - AC - 1611720-7 - Curitiba - Rel.: Jucimar
Novochadlo - Unânime - J. 08.02.2017)
“Apelação Cível. Busca e apreensão. Falecimento do devedor fiduciário anterior à
propositura da ação. Extinção da ação, recurso prejudicado. Se a ação é ajuizada após
o óbito do réu, impossível a constituição e desenvolvimento regular do processo
porque este não chegou a se estabelecer, devendo ser extinto sem julgamento do
mérito, com base no artigo 267, IV do CPC”. (TJPR - 15ª C.Cível - AC - 323383-8 -
Curitiba - Rel.: Hamilton Mussi Corrêa - Unânime - J. 16.08.2006)
Nesse contexto, não merece acolhida o pedido de prosseguimento do feito em
decorrência dos princípios da economia processual e instrumentalidade das formas,
pois no momento da interposição da ação a Apelada não detinha mais capacidade
para figurar como parte no processo, fato que impede a formação do processo.
Inclusive, a hipótese legal que trata da sucessão processual incide apenas nos casos
em que o falecimento da parte ocorre durante o processo.
A respeito, prevê o Código de Processo Civil de 2015, vigente quando da propositura
da presente ação:
“Art. 110. Ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a sucessão pelo seu
espólio ou pelos seus sucessores, observando o disposto no art. 313, §§1º e 2º”.
“Art. 313. Suspende-se o processo: I - pela morte ou pela perda da capacidade
processual de qualquer das partes, de seu representante legal ou de seu procurador;
(...) § 1o Na hipótese do inciso I, o juiz suspenderá o processo, nos termos do art.
689.

568

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

§ 2o Não ajuizada ação de habilitação, ao tomar conhecimento da morte, o juiz


determinará a suspensão do processo e observará o seguinte: I - falecido o réu,
ordenará a intimação do autor para que promova a citação do respectivo espólio, de
quem for o sucessor ou, se for o caso, dos herdeiros, no prazo que designar, de no
mínimo 2 (dois) e no máximo 6 (seis) meses; II - falecido o autor e sendo transmissível o
direito em litígio, determinará a intimação de seu espólio, de quem for o sucessor ou,
se for o caso, dos herdeiros, pelos meios de divulgação que reputar mais adequados,
para que manifestem interesse na sucessão processual e promovam a respectiva
habilitação no prazo designado, sob pena de extinção do processo sem resolução de
mérito”.
Desse modo, resta prejudicada a alegação do Banco de que não foi informado a
respeito do falecimento da Ré, pois o simples desconhecimento desse fato não valida
a existência de uma ação proposta contra alguém que já não detinha capacidade
processual; daí o desprovimento deste recurso.
4. Por conseguinte, não merece reparo a sentença que extinguiu o feito, sem a
resolução do mérito, nos termos do artigo 485, IV do CPC/2015, vez que ausente um
dos pressupostos processuais.
Diante do exposto, ACORDAM os integrantes da Décima Quinta Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar
provimento à Apelação, nos termos da fundamentação.
Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Desembargador Luiz Carlos Gabardo, com
voto, e dele também participou, com voto o Excelentíssimo Desembargador Shiroshi
Yendo.
Curitiba, 07 de junho de 2017.
Elizabeth M. F. Rocha, Juíza de Direito Substituta em Segundo Grau.

2.4.12. CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO

AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO - COMPRA E VENDA DE BOVINO -

PARCELA ÚNICA - EXISTÊNCIA DA PROVA DA RECUSA DO RECEBIMENTO DE

VALORES PELO CREDOR - SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA QUE

DETERMINOU A COMPLEMENTAÇÃO DO VALOR INICIALMENTE DEPOSITADO

PELO AUTOR - POSSIBILIDADE - RECURSO DO RÉU - PROPOSITURA DA DEMANDA

EM RESPEITO AS NORMAS CONTIDAS NOS ARTIGOS 890 E 893 DO CPC/73 -

AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO A RESPEITO DO PESO DO PRODUTO EM SEDE DE

CONTESTAÇÃO - MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. Apelação desprovida.

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(TJPR - 15ª C.Cível - AC - 1673415-7 - Pato Branco - Rel.: Elizabeth M F Rocha -

Unânime - J. 31.05.2017)

Inteiro Teor

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1673415-7, da 2ª Vara


Cível da Comarca de Pato Branco, em que figuram, como Apelante, Oswaldo Telles e,
como Apelado, Cooperativa Agropecuária Novicarnes.
1. Trata-se de apelação cível interposta por Oswaldo Telles, da sentença que ao julgar
parcialmente procedente a ação de consignação em pagamento movida por
Cooperativa Agropecuária Novicarnes, reconheceu como devido ao Réu, o valor de R$
14.371,48, acrescido de “juros de mora, a contar do vencimento da obrigação (240 do
NCPC), e correção monetária pelo INPC a partir do efetivo desembolso, valor este que
valerá como título executivo judicial, nos moldes do art. 545, § 2º, do NCPC” (mov.
225.1). Em relação às verbas de sucumbência, as partes foram condenadas ao
pagamento das custas processuais e honorários advocatícios fixados em 20% sobre o
valor total da condenação, na proporção de 20% ao Réu e 80% à Autora.
Em suas razões recursais, o Réu/apelante sustenta, preliminarmente, que “a presente
ação foi interposta após os 30 dias da recusa do apelante e receber e ainda a
determinação de que o devedor deve até o prazo de 5 dias após o ingresso da ação
realizar o depósito não fora cumprido pela apelada, tornando a presente sentença nula
de pleno direito” (mov. 242.1 ­ f. 10).
Acrescenta que não houve depósito judicial de quaisquer valores, bem como que o
juízo a quo não teria se atentado ao fato de que a nota fiscal juntada aos autos indica
que “os semoventes vendidos pelo apelante totalizaram 2.398 quilos, sendo este peso
morto” (mov. 242.1 ­ f. 12/13), situação que resultaria em um valor devido equivalente
a R$ 16.786,00.
Ao final, requer a condenação da Autora ao pagamento de multa por locupletamento
ilícito.
Recebido o recurso e apresentadas as contrarrazões, os autos foram remetidos a este
Tribunal.
2. Presentes os pressupostos de admissibilidade, o recurso merece conhecimento,
conforme análise a seguir.
3. A Apelada propôs a presente ação de consignação em pagamento com o objetivo
de quitar a dívida resultante da compra de 2.398,00KG de boi. Essa negociação
ocasionou a emissão da nota fiscal nº 000.077.161 (mov. 1.2), na qual é apontado
como valor total dos produtos a quantia de R$ 14.371,48 e como valor total da nota a
importância de R$ 14.040,93, sendo o vencimento previsto para 13/12/2013.
Da análise dos autos, verifica-se que a Autora realizou um depósito extrajudicial em
28/11/2013, no valor de R$ 14.057,93, com o intuito de quitar a negociação acima
descrita, valor que foi recusado pelo Réu em 29/11/2013, conforme documento
emitido pelo Banco do Brasil em 02/12/2013 (mov. 1.9).
Pois bem.

570

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Sobre o tema, prevê o Código de Processo Civil de 1973, vigente à época a


interposição desta ação:
“Art. 890. Nos casos previstos em lei, poderá o devedor ou terceiro requerer, com
efeito de pagamento, a consignação da quantia ou da coisa devida.
§ 1o Tratando-se de obrigação em dinheiro, poderá o devedor ou terceiro optar pelo
depósito da quantia devida, em estabelecimento bancário, oficial onde houver,
situado no lugar do pagamento, em conta com correção monetária, cientificando-se o
credor por carta com aviso de recepção, assinado o prazo de 10 (dez) dias para a
manifestação de recusa.
(...) § 3o Ocorrendo a recusa, manifestada por escrito ao estabelecimento bancário, o
devedor ou terceiro poderá propor, dentro de 30 (trinta) dias, a ação de consignação,
instruindo a inicial com a prova do depósito e da recusa.
(...) Art. 893. O autor, na petição inicial, requererá: I - o depósito da quantia ou da
coisa devida, a ser efetivado no prazo de 5 (cinco) dias contados do deferimento,
ressalvada a hipótese do § 3o do art.
890; II - a citação do réu para levantar o depósito ou oferecer resposta”.
A respeito:
“Consignação em pagamento. Cédula de produto rural financeira. Revelia.
Prova de recusa do credor no recebimento da quantia devida. Procedência da ação
consignatória. Sucumbência. Honorários advocatícios.1. Provada a recusa do credor no
recebimento da quantia devida, acrescida dos encargos moratórios, é cabível a ação
de consignação em pagamento.2. Ao vencido imputa-se o ônus da sucumbência.3.
Nas causas em que não haja condenação, aplica- se o § 4º do artigo 20, do CPC, em
atenção às alíneas `a’, `b’ e `c’ do parágrafo anterior, na fixação dos honorários
advocatícios. Apelação 1 não provida, apelação 2 provida”. (TJPR - 15ª C.Cível - AC -
1017146-3 - Ribeirão do Pinhal - Rel.: Hamilton Mussi Correa - Unânime - - J.
24.04.2013)
“APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL E DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE
CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO. REQUISITO AUTORIZADOR DA AÇÃO
PRESENTE. RECUSA DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA EM RECEBER O PAGAMENTO
DA PARCELA DO FINANCIAMENTO CARACTERIZADA.
RECURSO NEGADO.1. Havendo recusa injusta do recebimento em atraso por parte
da instituição financeira, é permitido o ajuizamento da ação em consignação em
pagamento, nos termos do art. 890/CPC.2. Apelação Cível à que se nega
provimento”. (TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1139116-1 - Cascavel - Rel.: Francisco Jorge -
Unânime - - J. 23.07.2014)
Nesse passo, oportuno ressaltar que a Autora realizou um depósito extrajudicial,
respeitando o valor apontado como total da nota, antes mesmo de vencida a
obrigação. Além disso, a recusa do recebimento desse valor pelo credor foi
comprovada, sendo inclusive fato incontroverso nos autos.
Assim, a propositura da ação de consignação em pagamento deve respeitar o prazo
contido no par. 3º do art. 890 do CPC/73.
No caso, a Autora foi notificada a respeito da recusa do pagamento em 02/12/2013
(mov. 1.9) e ajuizou a presente ação em 29/01/2014, de modo que, considerando a
571

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

suspensão dos prazos processuais entre os dias 20/12/2013 e 20/01/2014, não há que
se falar em propositura extemporânea da presente demanda, vez que respeitado o
prazo legal de 30 dias; daí a rejeição da preliminar de nulidade arguida pelo Apelante.
Da mesma forma, não é necessário que haja depósito judicial do valor da dívida no
prazo de 05 dias, contados do deferimento da consignação, vez que o próprio
dispositivo legal que prevê esse prazo ressalva os casos em que houver a recusa do
depósito extrajudicial.
Superado isso, alega o Apelante que o valor devido pela Apelada é superior ao da
condenação, na medida em que o cálculo deve aplicar o valor da arroba considerado
na sentença, mas considerar que se trata do boi morto. Sem razão.
Isso porque, da leitura da contestação é possível observar que o Réu se insurgiu
somente quanto ao valor da arroba, aduzindo que como o pagamento não ocorreu
dentro do prazo deveria ser computado o valor atualizado da arroba comercializada.
Ora, esse novo valor de R$ 16.786,00 resultou de um cálculo apresentado somente
em fase recursal, pois em sede de contestação somente o valor da arroba foi
impugnado.
Ademais, fato é que o depósito extrajudicial ocorreu antes do vencimento da
obrigação, sendo que o próprio Réu admitiu que recusou o pagamento em razão do
desconto do valor faltante que era de apenas R$ 330,54, respeitante ao FUNRURAL.
Assim, não merece prosperar a alegação de que o valor devido pelo Apelante é
superior aquele reconhecido pela sentença, motivo pelo qual resta prejudicado o
pedido de fixação de multa por locupletamento ilícito.
4. Por conseguinte, não merece provimento o presente recurso.
Diante do exposto, ACORDAM os integrantes da Décima Quinta Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar
provimento ao recurso, nos termos da fundamentação.
Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Desembargador Hamilton Mussi Corrêa, sem
voto, e dele participaram, com voto, o Excelentíssimo Desembargador Shiroshi Yendo
e o Eminente Juiz Substituto em Segundo Grau Marco Antônio Antoniassi.
Curitiba, 31 de maio de 2017.
Elizabeth M. F. Rocha, Juíza de Direito Substituta em Segundo Grau.

2.4.13. DECLARATÓRIA DE QUITAÇÃO DE DÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS

MORAIS

AÇÃO DECLARATÓRIA DE QUITAÇÃO DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS

MORAIS - SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA - FINANCIAMENTO CONTRAÍDO PARA

CUSTEIO AGRÍCOLA - CONTRATAÇÃO DO SEGURO PROAGRO - INCLUSÃO DO

NOME DA APELADA E DOS AVALISTAS NOS CADASTROS DE RESTRIÇÃO AO

572

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

CRÉDITO - RESPONSABILIDADE DA COOPERATIVA PELA NEGATIVAÇÃO

DECORRENTE DA DEMORA NO PROCESSAMENTO DO RECURSO ENCAMINHADO

À PROAGRO - ILICITUDE QUE RESULTA NO DEVER DE INDENIZAÇÃO - SENTENÇA

MANTIDA.Apelação desprovida.

(TJPR - 15ª C.Cível - AC - 1675305-4 - Realeza - Rel.: Elizabeth M F Rocha - Unânime -

J. 31.05.2017)

Inteiro Teor

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1675305- 4, da Vara


Única da Comarca de Realeza, em que figuram, como Apelante, Cooperativa de
Crédito Rural com Interação Solidária de Realeza ­ Cresol Realeza e, como Apelada,
Kauana Camilla Corrêa.
1. Trata-se de apelação interposta por Cooperativa de Crédito Rural com Interação
Solidária de Realeza ­ Cresol Realeza, da sentença que ao julgar procedente a ação
declaratória de quitação de débito c/c indenização por danos morais, declarou quitado
o débito apontado na inicial e condenou a Ré/apelante “ao pagamento de danos
morais com fulcro no artigo 5º, inciso X, da Constituição Federal e artigo 186, do
Código Civil no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) devidamente acrescidos de
correção monetária pela média do INPC e IGP/DI, a partir da data desta sentença que
fixou o quantum indenizatório (Súmula 362 do Superior Tribunal de Justiça) e juros de
mora legais em 1% ao mês (artigo 406) a partir da citação” (mov. 77.1 ­ f. 03). Diante
da sucumbência, a Ré foi condenada, ainda, ao pagamento das custas processuais e
honorários advocatícios fixados em 10% sobre o valor da condenação.
Em suas razões recursais, a Apelante sustenta, em síntese, que “não é responsável
pelo julgamento dos Recursos de PROAGRO”, de modo que “a sócia aguarda assim
como a cooperativa a decisão desta Comissão, podendo obviamente tal decisão
demorar, tendo que o sócio adimplir os débitos até a decisão final” (mov. 83.1 ­ f. 04).
Assim, acrescenta que “a inclusão nos órgãos de proteção ao crédito foi medida
automática do próprio sistema e legítima já que não havia motivo que justificasse sua
não inclusão, posto que havia crédito em atraso” (mov. 83.1 ­ f. 06).
Recebido o recurso, a Apelada apresentou contrarrazões, arguindo que a apelação
não pode ser recebida por inovação recursal.
Na sequência, os autos foram remetidos a este Tribunal.
2. Primeiramente, não merece acolhimento a preliminar de inovação recursal invocada
pela Apelada, na medida em que a Apelante já sustentava à época de sua contestação
que não poderia ser responsabilizada pela demora no julgamento dos recursos da
PROAGRO.
Superado isso e presentes os requisitos de admissibilidade, conheço do presente
recurso, conforme análise a seguir.

573

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Versa a controvérsia a respeito de um contrato de financiamento firmado pela


Apelada para custeio de sua atividade, o qual contou com a cobertura do seguro da
PROAGRO.
Aduz a Cooperativa/apelante que não pode ser condenada ao pagamento de
indenização por danos morais, vez que não é responsável pela demora do deferimento
dos recursos da PROAGRO, fato que gerou a inclusão do nome da Apelada nos
cadastros de restrição ao crédito.
Relata que expirado o prazo de vencimento e não quitada a obrigação, ainda que
pendente o recurso encaminhado à PROAGRO, é legítima a negativação do nome da
sócia nos cadastros restritivos, uma vez que inadimplente.
Por fim, conclui que tão logo liberados os valores pela PROAGRO, a Apelada quitou
sua obrigação, sendo determinada a exclusão da negativação ocorrida em seu nome,
motivo pelo qual está carente de causa de pedir.
Sem razão.
Embora a Apelante não seja diretamente responsável pelo julgamento do recurso
encaminhado à PROAGRO, verifica-se que figura como agente desta última. Conforme
narrado no próprio recurso de Apelação, indeferido o recurso pelo agente financeiro,
o produtor poderá recorrer à Comissão Especial de Recursos (mov.
83.1 ­ f. 04), procedimento que foi adotado no presente caso.
Assim, o que se pode concluir é que além de a Apelante ser um agente da
PROAGRO, deu causa à demora na liberação dos valores solicitados pela Apelada, na
medida em que indeferiu o pedido de cobertura em primeira instância.
Não se está a dizer que essa medida é ilegal, até mesmo porque prevista no contrato
celebrado entre as partes, mas ciente da existência do recurso à PROAGRO, deveria a
Apelante ter aguardado um indeferimento desse pedido para só então considerar a
Apelada inadimplente.
A propósito:
“PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE
INEXIGIBILIDADE DE TÍTULO COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA
CUMULADA COM REPETIÇÃO DE INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS. LEGITIMIDADE PASSIVA DO AGENTE FINANCEIRO.
CONFIGURAÇÃO. CARÊNCIA DE AÇÃO. INOCORRÊNCIA.
ENCAMINHAMENTO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO QUE BUSCAVA A
COBERTURA DO SEGURO PROAGRO. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO.
FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. INEXIGIBILIDADE DO DÉBITO.
DANO MORAL. OCORRÊNCIA. INSCRIÇÃO INDEVIDA DO NOME DO AUTOR NOS
CADASTROS DE RETRIÇÃO AO CRÉDITO. REPETIÇÃO DE INDÉBITO. AUSÊNCIA DE
INTERESSE RECURSAL.1. Patente a legitimidade passiva do agente financeiro, pois na
qualidade de Agente do PROAGRO, errou na condução do processo, dando causa à
falta de cobertura do seguro a que tem direito o Autor, bem como na inscrição do seu
nome nos cadastros de restrição ao crédito. 2. Como competia ao banco demonstrar
ao menos o registro do procedimento administrativo para cobertura do seguro, mas
assim não o fez, deve o ser responsabilizado pela inexistência da cobertura do
PROAGRO, declarando-se judicialmente a inexigibilidade do saldo devedor da cédula
574

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

rural.3. O dano moral decorrente da inscrição indevida no cadastro de inadimplentes é


considerado “in reipsa”, não sendo necessária, portanto, a prova do prejuízo. 4. O
pressuposto recursal do interesse em recorrer exsurge da sucumbência, sendo,
ademais, configurado no binômio necessidade- utilidade. Não merece conhecimento
o recurso quando ausente a sucumbência do recorrente na matéria em que se
pretende a reforma. Recurso de apelação parcialmente conhecido e desprovido”.
(TJPR - 15ª C.Cível - AC - 1430898-8 - Terra Roxa - Rel.: Jucimar Novochadlo -
Unânime - - J. 18.11.2015)
“AÇÃO ORDINÁRIA DE COBRANÇA. EMBARGOS À EXECUÇÃO.
PROPOSTA SIMPLES DE CUSTEIO AGRÍCOLA. PERDA TOTAL DA SAFRA EM RAZÃO
DE SINISTRO. TROMBA D’ÁGUA. SEGURO PROAGRO.
DEVIDO. REQUISITOS PARA A CONCESSÃO DO SEGURO DEVIDAMENTE
OBSERVADOS PELO PROPONENTE. NEGLIGÊNCIA DA COOPERATIVA QUANTO ÀS
DILIGÊNCIAS PARA O ENCAMINHAMENTO DO PEDIDO DE SEGURO.ATRASO
IMPUTÁVEL À COOPERATIVA. DANOS MORAIS E MATERIAIS CONFIGURADOS.
INDEVIDA COMPENSAÇÃO DE VALORES (DÍVIDA E VALOR DA SAFRA).
INOCORRÊNCIA DE COMERCIALIZAÇÃO DA MERCADORIA. PERDA TOTAL.
SENTENÇA MANTIDA.APELAÇÃO CONHECIDA E NÃO PROVIDA”. (TJPR - 15ª
C.Cível - AC - 1145918-2 - Corbélia - Rel.: Shiroshi Yendo - Unânime - - J. 28.05.2014)
Desse modo, verifica-se que a inclusão do nome da Apelada em cadastros de
restrição ao crédito foi indevida, situação que dá causa a indenização fixada na
sentença.
A orientação da jurisprudência, em casos como o dos autos, é no sentido de que tão
somente a verificação do evento danoso retrata a necessidade da reparação, sequer
exigindo a prova do prejuízo. Provado o fato (a inscrição indevida em cadastro
restritivo ao crédito) e as circunstâncias para o reconhecimento do dano
extrapatrimonial, não se exige a prova do desconforto, da dor ou da aflição, que são
admitidos por meio de um juízo de experiência, pois a mera inscrição indevida, por si
só, mostra-se suficiente a justificar o dever de indenizar, já que nestes casos se está
protegendo o patrimônio abstrato do indivíduo, vale dizer, sua honra e imagem.
Segundo a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, a simples comprovação de
que a inscrição é indevida é suficiente para a configuração do dano moral, já que este
é um dano presumido, nomeado de dano “in re ipsa”. Trata-se de um dano puro,
exclusivamente moral, que independe de provas ou reflexos patrimoniais.
Nesse sentido:
“AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSUAL CIVIL.
RESPONSABILIDADE CIVIL. INSCRIÇÃO INDEVIDA EM CADASTRO DE
INADIMPLENTES. ATO ILÍCITO. DEVER DE INDENIZAR. REEXAME DE PROVAS.
DANO MORAL ‘IN RE IPSA’. OCORRÊNCIA. VALOR. REVISÃO.
IMPOSSIBILIDADE. FIXAÇÃO COM BASE NO CRITÉRIO DA RAZOABILIDADE.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. REVISÃO.
DESCABIMENTO. SUMULA 07/STJ. INCIDÊNCIA. [...] 2. Nos casos de protesto
indevido de título ou inscrição irregular em cadastros de inadimplentes, o dano moral

575

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

configura-se ‘in re ipsa’, prescindindo de prova”. (STJ. AgRg no Ag 1387520 / SC, 3ª


Turma, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 20/03/2012)
“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.
PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULA Nº 211/STJ. APLICAÇÃO.
RESPONSABILIDADE DO SERVIÇO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO PELA INSCRIÇÃO
INDEVIDA NO CADASTRO DE INADIMPLENTES.
VERIFICAÇÃO. DANO MORAL. DESNECESSIDADE DE DEMONSTRAÇÃO DO
PREJUÍZO. IN RE IPSA. VALOR EXORBITANTE DA INDENIZAÇÃO. NÃO
VERIFICAÇÃO. PADRÃO JURISPRUDENCIAL. [...] 3. O dano moral decorrente da
inscrição indevida no cadastro de inadimplentes é considerado “in re ipsa”, não sendo
necessária, portanto, a prova do prejuízo. Precedentes”.
(STJ. AgRg no REsp 957880 / SP, 3ª T., Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe
14/03/2012)
Percuciente, ainda, a transcrição de jurisprudência desta Corte:
“PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS. INSCRIÇÃO INDEVIDA DO NOME DO AUTOR NOS CADASTROS DE
PROTEÇÃO AO CRÉDITO. ACORDO CELEBRADO NOS AUTOS DE EXECUÇÃO.
COMPROVAÇÃO DO CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO. DEVER DE INDENIZAR.
DANO MORAL CONFIGURADO. PROVA DESNECESSÁRIA. VALOR DA
INDENIZAÇÃO. FIXAÇÃO DE ACORDO COM O PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE.1. A
inscrição indevida em cadastros de inadimplentes, em razão de obrigação paga, gera
o dever de indenizar da instituição financeira.2. Para a configuração do dano moral não
é necessária a prova do prejuízo.3. O arbitramento de indenização por danos morais
deve levar em consideração as circunstâncias do caso, a gravidade do dano, a situação
do ofensor e a condição do lesado, pautando-se na razoabilidade e
proporcionalidade. Recurso desprovido” (TJPR, 15ª C.Cív., AC 1455243-9, Rel. Des.
Jucimar Novochadlo, j. 03/02/2016)
“Indenização por danos morais. Indevida inscrição em cadastros de restrição ao
crédito após a extinção da dívida. Ato ilícito verificado. Dano “in re ipsa”. Danos
morais presentes. Valor da indenização. Manutenção. Apelação não provida” (TJPR,
15ª C.Cív., AC 1430965-4, Rel. Des. Hamilton Mussi Correa, j.
11/11/2015)
“APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.DÉBITO INEXISTENTE.
DESCONTOS EM CONTA CORRENTE.INSCRIÇÃO DO NOME EM CADASTROS
RESTRITIVOS.INSCRIÇÃO INDEVIDA. QUANTUM INDENIZATÓRIO. JUROS DE
MORA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.1. A jurisprudência do STJ encontra-se
pacificada no sentido de que a inscrição indevida nos cadastros restritivos de crédito é
suficiente para a configuração dos danos morais.2. Sob o prisma da diretriz de
razoabilidade, o quantum fixado afigura- se suficiente para compensar a vítima pela
manutenção indevida que pendeu sobre o nome, mesmo após a declaração judicial de
inexigibilidade do débito, bem como se presta a punir a instituição financeira pela
conduta negligente da não retirada do nome dos cadastros.(...) APELAÇÃO
PARCIALMENTE PROVIDA” (TJPR, 15ª C.Cív., AC 1426880-7, Rel. Des. Hayton Lee
Swain Filho, j. 21/10/2015)
576

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Por tais razões, correta a sentença que reconheceu a inexistência do débito e o dever
da Cooperativa/apelante em indenizar a Autora/apelada pelo dano moral sofrido,
decorrente de indevida inscrição de seu nome em cadastro de inadimplentes; daí o
desprovimento do recurso.
Diante do exposto, ACORDAM os integrantes da Décima Quinta Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar
provimento ao recurso, nos termos da fundamentação.
Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Desembargador Hamilton Mussi Corrêa, sem
voto, e dele participaram, com voto, o Excelentíssimo Desembargador Shiroshi Yendo
e o Eminente Juiz Substituto em Segundo Grau Marco Antônio Antoniassi.
Curitiba, 31 de maio de 2017.
Elizabeth M. F. Rocha, Juíza de Direito Substituta em Segundo Grau.

2.4.14. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – PRESCRIÇÃO

AÇÃO DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA - AÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº 38.765 -

SENTENÇA QUE RECONHECE A OCORRÊNCIA DE PRESCRIÇÃO - CONSOLIDAÇÃO

DO ENTENDIMENTO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA PELO JULGAMENTO

DO RESP Nº 1.273.643/PR - PRAZO PRESCRICIONAL CONTADO A PARTIR DO

TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA COLETIVA - PRAZO PRESCRICIONAL

QUINQUENAL - INVOCAÇÃO DE TESES SOBRE INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO -

INEXISTÊNCIA DE ANTERIOR CONTROVÉRSIA ENVOLVENDO O DISPOSTO NO

ART. 94 DO CDC - AJUIZAMENTO DE RESCISÓRIA QUE NÃO INCORRE EM

INTERRUPÇÃO DE PRAZO PRESCRICIONAL - MANUTENÇÃO DA SENTENÇA, COM

CONDENAÇÃO DO AUTOR AO PAGAMENTO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.

Apelação desprovida.

(TJPR - 14ª C.Cível - AC - 1152498-6 - Região Metropolitana de Londrina - Foro

Central de Londrina - Rel.: Elizabeth M F Rocha - Unânime - J. 31.05.2017)

Inteiro Teor

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1152498-6, da 8ª Vara


Cível do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Londrina, em que
figuram, como Apelantes, Tereza Lucas Bacarin e Outros e, como Apelado, Banco Itaú
Unibanco S/A.
577

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Trata-se de apelação cível interposta por Tereza Lucas Bacarin e Outros, da sentença
que, nos autos de cumprimento de sentença individual da ação civil pública nº
38.765/1998, reconheceu a prescrição da pretensão dos exequentes, julgando-a
extinta e condenando os Apelantes ao pagamento de custas processuais e honorários
advocatícios fixados em 5% do valor da causa.
Nas razões do recurso, os Apelantes defendem, em síntese, a anulação da sentença,
pugnando pelo afastamento da prescrição da pretensão executiva no presente caso.
Processado o recurso e apresentadas as contrarrazões, os autos foram remetidos a
este Tribunal.
2. Presentes os pressupostos de admissibilidade, o recurso comporta conhecimento.
3. Não merece provimento a pretensão manejada pelos Apelantes, conforme análise a
seguir.
O presente feito trata de ação de execução por quantia certa proferida na ação civil
pública nº 38.765/1998, que teve curso perante a 1ª Vara da Fazenda Pública,
Falências e Concordatas do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de
Curitiba.
Pois bem.
Em 21/09/2011, o Superior Tribunal de Justiça reconheceu a repercussão geral da
matéria abordada no REsp nº 1.273.643/PR, isto é, a tese de que o prazo prescricional
das execuções individuais de julgamento de ações coletivas seria o mesmo prazo
prescricional destas, ou seja, de cinco anos. Por essa razão, aquela Egrégia Corte
proferiu decisão que determinou a suspensão de todos os processos que se
enquadrassem na matéria daquele recurso repetitivo.
Ocorrido o julgamento desse recurso, o Superior Tribunal de Justiça consolidou o
entendimento acerca da questão, com a seguinte tese: “No âmbito do Direito Privado,
é de cinco anos o prazo prescricional para ajuizamento da execução individual em
pedido de cumprimento de sentença proferida em Ação Civil Pública”.
Confira-se sua ementa na íntegra:
“DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL
DA EXECUÇÃO INDIVIDUAL. PRESCRIÇÃO VINTENÁRIA DO PROCESSO DE
CONHECIMENTO TRANSITADA EM JULGADO.
INAPLICABILIDADE AO PROCESSO DE EXECUÇÃO. RECURSO ESPECIAL
REPETITIVO. ART. 543-C DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. PROVIMENTO DO
RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. TESE CONSOLIDADA.
1.- Para os efeitos do art. 543-C do Código de Processo Civil, foi fixada a seguinte
tese: “No âmbito do Direito Privado, é de cinco anos o prazo prescricional para
ajuizamento da execução individual em pedido de cumprimento de sentença proferida
em Ação Civil Pública”.
2.- No caso concreto, a sentença exequenda transitou em julgado em 3.9.2002 (e-STJ
fls. 28) e o pedido de cumprimento de sentença foi protocolado em 30.12.2009 (e-STJ
fls. 43/45), quando já transcorrido o prazo de 5 (cinco) anos, estando, portanto,
prescrita a pretensão executória.

578

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

3.- Recurso Especial provido: a) consolidando-se a tese supra, no regime do art. 543-C
do Código de Processo Civil e da Resolução 08/2008 do Superior Tribunal de Justiça;
b) no caso concreto, julgando-se prescrita a execução em cumprimento de sentença.”
No caso, verifica-se que a ação de “cumprimento de sentença” foi proposta em
31/08/2010, quando já transcorrido mais de 5 (cinco) anos do trânsito em julgado da
sentença proferida na Ação Civil Pública nº 38.765, que se deu em 03/09/2002.
Assim, acertada a sentença que extinguiu a execução em virtude da ocorrência da
prescrição quinquenal da pretensão executiva. Nesse sentido, inclusive, passou a ser o
entendimento desta Corte:
“Agravo interno. Ação Civil Pública. Cumprimento de sentença. Prescrição.
Prazo de cinco anos consolidado em recurso especial repetitivo. Art. 543-C do CPC.
“No âmbito do Direito Privado, é de cinco anos o prazo prescricional para
ajuizamento da execução individual em pedido de cumprimento de sentença proferida
em Ação Civil Pública” (tese fixada para efeitos do art. 543-C do CPC no Recurso
Especial Repetitivo n. 1.273.643-PR).
No caso, tendo a sentença exequenda transitado em julgado em 3.9.2002 e o
ajuizamento do cumprimento sido protocolado em 29.10.2010, quando já decorrido o
prazo de cinco anos, está prescrita a pretensão executória.
Prescrição reconhecida de ofício, ficando prejudicado o conhecimento do agravo de
instrumento.” (Ag. nº 824874-8/01, Rel. Des. Hamilton Mussi Corrêa, j. 03/04/2013)
“AGRAVO REGIMENTAL. EXECUÇÃO INDIVIDUAL DE SENTENÇA PROFERIDA EM
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PRAZO PRESCRICIONAL. TESE DE PRESCRIÇÃO
QUINQUENAL CONSOLIDADA EM SEDE DE RECURSO REPRESENTATIVO DE
CONTROVÉRSIA. ART. 543-C, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. PRESCRIÇÃO
PRONUNCIADA DE OFÍCIO.
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA EXTINTO. RECURSO PREJUDICADO.” (Ag. Reg. nº
830016-3/01, Rel. Des. Hayton Lee Swain Filho, j. 03/04/2013)
Ademais, afirma a parte Apelante que com a citação pessoal do devedor, ora
apelado, na ação Civil Pública proposta pelo IDEC na Comarca de São Paulo, houve
interrupção da prescrição, bem como o início de novo prazo prescricional. Ainda,
sustenta que a ação rescisória proposta contra a sentença proferida na ação civil
pública da APADECO também interrompeu o prazo prescricional. Por fim, defende a
inocorrência da prescrição, tendo em vista que não houve publicação do edital, para a
ciência dos interessados, conforme artigo 94 do Código de defesa do Consumidor.
Ressalta-se que a presente demanda tem por objeto a sentença proferida na ação civil
pública movida pela Associação Paranaense de Consumidores, e não pelo Instituto
Brasileiro de Defesa ao Consumidor, desta forma, sem razão o argumento de que o
ajuizamento de demanda coletiva com objetivo idêntico ao da sentença executada
interrompe o prazo prescricional.
Nesse sentido já se manifestou o eminente Desembargador Hayton Lee Swain Filho:
“(...) O ajuizamento de ação civil pública com objeto idêntico ao da ação que ora se
pretende executar, mas por outra associação, não enseja a pretendida interrupção,
nem tampouco o ajuizamento de ação rescisória contra a sentença que ora se executa.

579

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Isso porque, a ação rescisória só é cabível após o trânsito em julgado da sentença,


data na qual começa a transcorrer o prazo prescricional (...)” (TJPR, Emb. de Decl. de
nº 1260007-2/01, 15ª Câmara Cível, j. 03.11.2014, DJ 1452, 11.11.2014).
Além disso, mencionada ação rescisória foi julgada improcedente e o seu mero
ajuizamento não é causa de interrupção da prescrição.
Por fim, não tem êxito a pretendida discussão o sobre o termo inicial do prazo
prescricional, considerando a inexistência de anterior controvérsia pois tal tema veio a
ser invocado somente neste recurso, o que configura a vedada inovação.
De qualquer forma, a Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça concluiu em
recente julgamento de recurso repetitivo (REsp 1388000) que “a invocação do artigo
94 não tem pertinência com a definição do início do prazo prescricional para o
ajuizamento da execução singular”, definindo que “o prazo prescricional para a
execução individual é contado do trânsito em julgado da sentença coletiva, sendo
desnecessária a providência de que trata a Lei 8.078/90 (CDC)”, conforme noticiado
no respectivo site em 28/08/2015.
Assim, não há que se falar em interrupção do prazo prescricional, nem tampouco em
outro motivo que impeça a aplicação do entendimento adotado pelo Superior Tribunal
de Justiça em recurso repetitivo, daí o desprovimento do recurso.
Enfim, ante a extinção do feito em razão do reconhecimento da prescrição
quinquenal, pelo julgamento do recurso no âmbito do STJ, não há que se falar em
reforma da sentença.
4. De conseguinte, merece desprovimento o presente recurso de apelação.
Diante do exposto, ACORDAM os integrantes da Décima Quarta Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar
provimento ao recurso de apelação, nos termos da fundamentação.
Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Desembargador Francisco Rabello Filho, com
voto, e dele também participou, com voto, o Excelentíssimo Desembargador
Fernando Antônio Prazeres.
Curitiba, 31 de maio de 2017.
Elizabeth M. F. Rocha, Juíza de Direito Substituta em Segundo Grau.

2.4.15. HONORÁRIOS PERICIAIS – ACORDO NOS AUTOS – ASSISTÊNCIA

JUDICIÁRIA GRATUITA

AGRAVO DE INSTRUMENTO - DECISÃO QUE DETERMINA O PAGAMENTO DOS

HONORÁRIOS PERICIAIS PELOS AUTORES, DIANTE DOS TERMOS DA TRANSAÇÃO

CELEBRADA NO CURSO DA LIDE, INDEPENDENTEMENTE DO BENEFÍCIO DA

ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA QUE LHES FORA CONCEDIDO ANTERIORMENTE -

PACTUAÇÃO NO ACORDO DE PAGAMENTO DAS CUSTAS DO PROCESSO PELOS


580

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

AUTORES - VONTADE DAS PARTES QUE DEVE PREVALECER - DECISÃO MANTIDA.

Agravo de instrumento desprovido.

(TJPR - 15ª C.Cível - AI - 1647327-9 - Curitiba - Rel.: Elizabeth M F Rocha - Unânime -

J. 24.05.2017)

Inteiro Teor

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº 1647327-9, da


7ª Vara Cível do Foro Central da Região Metropolitana de Curitiba, em que figuram,
como Agravante, Walmir Pinto Montenegro e Outro e, como Agravado, Banco Itaú
S/A.
1. Trata-se de agravo de instrumento interposto por Walmir Pinto Montenegro e
Outro, da decisão que, nos autos da ação revisional movida em face de Banco Itaú
S/A, determinou a intimação da parte autora para pagamento dos honorários periciais
e das custas remanescentes, diante do acordo firmado entre as partes
“independentemente do benefício da gratuidade de justiça anteriormente concedido”
(f. 24-TJ).
Em suas razões recursais, os Agravantes sustentam, em síntese, que são detentores do
benefício da assistência judiciária, matéria que já foi inclusive objeto de decisão pelo
Tribunal, sendo que “o Sr. Perito é parte ilegítima para apresentar impugnação à
justiça gratuita” (f. 09-TJ).
Acrescentam que sua concordância com os honorários periciais “não acarreta
imediatamente o dever de pagamento, mas sim o dever de pagar consoante termos
da Lei da Assistência Judiciária” (f. 11-TJ), ressaltando que o acordo homologado fazia
expressa menção ao benefício concedido.
Aduzem, ainda, que “a revogação do benefício (ou ausência de restabelecimento) não
poderia ter efeito se não alterada a situação econômica da parte recorrente (e nada
sobre isso está nos autos ou na decisão combatida), e nem mesmo poderia gerar
efeito retroativo” (f. 12-TJ).
Deferido o processamento do recurso, ao qual fora atribuído o almejado efeito
suspensivo, a parte agravada deixou de oferecer resposta, vindo os autos conclusos.
2. Presentes os pressupostos recursais, o recurso merece ser conhecido, conforme
análise a seguir.
3. Consta nos autos a seguinte sucessão fática-processual.
Em 14/01/2010, Walmir Pinto Montenegro e Maria de Lourdes Galio Montenegro
propuseram a ação revisional em face do Banco Itaú Unibanco, pretendendo a revisão
do contrato de financiamento imobiliário, sendo que em 28/06/2010 foi deferido o
benefício da assistência judiciária aos autores (f. 31-TJ).
Nomeado o perito judicial em 16/04/2012, foi determinado que os respectivos
honorários periciais seriam pagos ao final da demanda, conforme homologado pelo
juiz a quo em decisão de mov. 1.54; Em 24/06/2014, as partes informaram o juízo
sobre a formalização de acordo, o qual foi devidamente homologado em 10/09/2014
581

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

(f. 36-TJ), constando que as custas deveriam ser pagas conforme pactuado entre as
partes.
O referido acordo contou com a seguinte redação:
“ITAU UNIBANCO e WALMIR PINTO MONTENEGRO E MARIA DE LOURDES GALIO
MONTENEGRO ... vêm ... requerer homologação da composição amigável que
efetuaram nas seguintes condições: 1. Os mutuários se confessam devedores do
Banco no montante equivalente a R$ 154.667,23..., valor este atualizado na data de
05/12/2011, decorrente do contrato de financiamento concedido através do
Instrumento Particular de Venda e Compra de Bem Imóvel, com Garantia Hipotecária e
Outras Avenças, contrato nº 8020436960.
(...) 4.Fica pactuado, ainda, que o pagamento das custas judiciais despendidas nas
ações que tenham por objeto o contrato de financiamento em questão são de
responsabilidade dos autores de cada demanda.
5.Em decorrência do acordo, fica estabelecido que cada parte arcará com os
honorários contratuais de seus patronos. (...)” (f. 33/35-TJ).
Depois disso, em 19/08/2015, a concessão do benefício da justiça gratuita foi
impugnada pela serventia do Juízo, argumento que foi acatado pelo juízo singular,
acarretando na interposição do Agravo de Instrumento nº 1455828-2. O recurso, de
relatoria do Desembargador Hayton Lee Swain Filho, foi julgado procedente, sob o
fundamento de que “falta à escrivania legitimidade para impugnar a concessão do
benefício da assistência judiciária gratuita. Isso porque, a teor do art.
7º, da Lei nº 1.060/50, somente a parte contrária poderá requerer a revogação dos
benefícios da assistência” (f. 51-TJ).
Na sequência, o perito requereu a quitação de seus honorários, sustentando que a
parte autora deveria ser condenada ao pagamento do valor de R$.4.162,64,
devidamente atualizado em 19/12/2016 (f. 57/61-TJ). Tal pedido foi deferido pela
decisão ora objurgada.
Pois bem.
Sabe-se que o detentor dos benefícios da assistência judiciária não está isento do
pagamento das verbas de sucumbência, na medida em que a cobrança desses valores
apenas fica suspensa pelo prazo máximo de cinco anos, findo o qual estará prescrita a
obrigação, conforme disposto no artigo 12 da Lei n.º 1.060/50 vigente à época da
concessão do benefício.
Ocorre que no presente caso houve a celebração de um acordo entre as partes, no
qual restou pactuado que a parte autora deveria arcar com as custas desse processo,
que são devidas nesse momento, considerando a extinção do feito.
Além disso, diversamente do que foi alegado pelos Agravantes, não há no acordo
celebrado entre as partes qualquer ressalva a respeito do referido benefício.
Assim, ainda que a parte autora fosse beneficiária da justiça gratuita, celebrou um
acordo posterior à concessão da benesse, pelo qual se obrigou ao pagamento das
custas processuais ao final do processo.
Não se trata de impugnação à assistência judiciária concedida aos Autores, mas sim
do cumprimento do acordo celebrado entre as partes e devidamente homologado
pelo juízo.
582

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Nesse sentido:
“AGRAVO DE INSTRUMENTO - HOMOLOGAÇÃO DE ACORDO QUE AFASTA A
ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA CONCEDIDA À AUTORA - INSURGÊNCIA -
REFORMULAÇÃO DO PLEITO PARA DEFERIMENTO DO BENEFÍCIO - INEXISTÊNCIA
DE FUNDAMENTOS PARA DESCONSTITUIR A DECISÃO - RECORRENTE QUE AO
CELEBRAR ACORDO, CONSENTIU COM O ADIMPLEMENTO DOS ENCARGOS
JUDICIAIS, EM COMPORTAMENTO CONTRADITÓRIO AOS SEUS INTERESSES -
PRECEDENTE - RECURSO INFUNDADO - AGRAVO DESPROVIDO.” (TJPR - 17ª
C.Cível - AI - 1532510-9 - Curitiba - Rel.: Fabian Schweitzer - Unânime - - J. 08.03.2017)
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO.
CELEBRAÇÃO DE ACORDO. HOMOLOGAÇÃO. ESTIPULAÇÃO DE CLÁUSULA QUE
IMPUTA O PAGAMENTO DAS CUSTAS PROCESSUAIS REMANESCENTES PELA
PARTE AUTORA/BENEFICIÁRIA DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA.
REVOGAÇÃO DO BENEFÍCIO. CESSAÇÃO DA PRESUNÇÃO DA CONDIÇÃO DE
MISERABILIDADE. ISENÇÃO QUE NÃO PODE PREJUDICAR O DIREITO DE
TERCEIROS. EXERCÍCIO DO CONTROLE DE AVALIAÇÃO PELO MAGISTRADO
QUANTO À REAL NECESSIDADE DO BENEFÍCIO. ELEMENTOS DE CONVICÇÃO
QUE AFASTAM A PRESUNÇÃO RELATIVA DE NECESSIDADE DO BENEFÍCIO.
RECURSO NÃO PROVIDO.” (TJPR - 18ª C.Cível - AI - 1533481-7 - Curitiba - Rel.:
Espedito Reis do Amaral - Unânime - - J. 23.11.2016)
Desse modo, não merece provimento o presente recurso, sendo mantida incólume a
decisão agravada.
Diante do exposto, ACORDAM os integrantes da Décima Quinta Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar
provimento ao agravo de instrumento, nos termos da fundamentação.
Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Desembargador Luiz Carlos Gabardo, sem
voto, e dele participaram, com voto, o Excelentíssimo Desembargador Jucimar
Novochadlo e o Eminente Juiz Substituto em Segundo Grau Marco Antônio
Antoniassi.
Curitiba, 24 de maio de 2017.
Elizabeth M. F. Rocha, Juíza de Direito Substituta em Segundo Grau.

2.4.16. EMBARGOS À ARREMATAÇÃO

EMBARGOS À ARREMATAÇÃO - SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA - NÃO

CONHECIMENTO DE TÓPICO RECURSAL QUE TRATA DE INTERESSE DE TERCEIRO,

ESTRANHO À CAUSA - EXISTÊNCIA DE COISA JULGADA A RESPEITO DO VALOR

DA AVALIAÇÃO DO BEM ARREMATADO - PRECLUSÃO DESSA MATÉRIA -

POSSIBILIDADE DE SEPARAÇÃO DO IMÓVEL PERTENCENTE AO DEVEDOR DAS

583

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

DEMAIS PROPRIEDADES - DEMARCAÇÃO QUE DEVERÁ OCORRER EM

CONFORMIDADE COM O LAUDO DE AVALIAÇÃO - MANUTENÇÃO DA SENTENÇA

- MAJORAÇÃO DA VERBA HONORÁRIA - EXEGESE DO ART. 85, §11º DO

CPC/2015.Apelação parcialmente conhecida e desprovida. EMBARGOS DE TERCEIRO

- SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA - AUSÊNCIA DE OFENSA AO CONTIDO NO

ARTIGO 698 DO CPC/1973 - BEM ARREMATADO QUE É DE ÚNICA E EXCLUSIVA

PROPRIEDADE DO DEVEDOR - EVENTUAL DIREITO DE PREFERÊNCIA DOS

EMBARGANTES RESPEITADO COM SUA INTIMAÇÃO A RESPEITO DA SEGUNDA

HASTA PÚBLICA - SENTENÇA MANTIDA - MAJORAÇÃO DA VERBA HONORÁRIA -

EXEGESE DO ART. 85, §11º DO CPC/2015.Apelação desprovida.

(TJPR - 15ª C.Cível - AC - 1599714-3 - Região Metropolitana de Maringá - Foro Central

de Maringá - Rel.: Elizabeth M F Rocha - Unânime - J. 19.04.2017)

Inteiro Teor

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelações Cíveis nº 1599714-3 e nº


1619208-8, da 6ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de
Maringá, em que figuram, como Apelantes, Orandir Martins (Apelação 01) e Airton
Quessada Rodrigues Romero e Outros (Apelação 02) e, como Apelado, José Elalio
Zago.
1. Trata-se de apelações cíveis interpostas por Orandir Martins (Apelação 01) e Airton
Quessada Rodrigues Romero e Outros (Apelação 02), das sentenças que julgaram
improcedentes tanto os embargos à arrematação quanto os embargos de terceiro,
ambos opostos em face de José Elalio Zago. Em razão da sucumbência, os Apelantes
foram condenados ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios,
estes fixados em 10% sobre o valor atualizado da causa, em ambos os processos.
Na Apelação 01, interposta nos autos de embargos à arrematação, o Apelante
Orandir Martins sustenta, em síntese: a) a nulidade do leilão realizado, tendo em vista
que “o laudo de avaliação judicial apresentado na ação de execução em apenso foi
elaborado em erro, dando ao bem avaliado valor aquém do que comporta na
realidade, caracterizando-o como vil” (mov. 49.1 ­ f. 10/11); b) a nulidade da
arrematação, devido ao “descumprimento do preceito legal do art. 698” do CPC (f.
12); c) a falta de delimitação física da área penhorada; d) a necessidade de inversão do
ônus sucumbencial.
Na Apelação 02, interposta nos autos de embargos de terceiro, os Apelantes alegam,
em suma, a nulidade da arrematação, devido ao descumprimento do preceito legal do
art. 698, correspondente ao art. 889 do CPC/2015.

584

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Acrescentam que “não se pode dar validade à intimação dos Apelantes por meio de
edital, uma vez que, conforme demonstrado, os mesmos não se enquadram em
nenhuma das situações excepcionais disciplinadas pelo art. 231, do CPC, sob pena de
se caracterizar sua nulidade, conforme dispõe o art. 280 do NCPC” (m ov. 127.1 ­ f.
07).
Por fim, aduzem que não houve preclusão da matéria, como decidido na sentença,
porque diz respeito ao mérito da demanda. Recebidos os recursos, a parte embargada
apresentou contrarrazões, apontando, preliminarmente, ofensa ao princípio da
dialeticidade (mov. 55.1 dos embargos à
arrematação e mov. 130.1 dos embargos de terceiro).
Na sequência, os autos foram remetidos a este Tribunal.
2. De início, não prospera a preliminar trazida nas contrarrazões de ambos os recursos,
de não conhecimento das apelações, por violação ao princípio da dialeticidade. Por
mais que as matérias deduzidas no âmbito recursal possam repetir o que já fora dito
em outras peças formuladas pelos Embargantes, houve ataque aos fundamentos da
sentença, o que é suficiente para a satisfação do requisito da regularidade formal
previsto no art. 1010 do CPC/2015.
Assim, passo à análise das Apelações.
Apelação 01 ­ interposta pelo devedor nos autos de Embargos à Arrematação 3. Não
merece conhecimento a parte do recurso em que o Embargante/apelante alega a
nulidade da arrematação por ofensa ao contido no artigo 698 do CPC. Primeiro,
porque no decorrer deste acórdão restará demonstrado que o imóvel penhorado não
possui coproprietários. Segundo, porque o devedor, ora Apelante, não tem
legitimidade para defender eventual direito de terceiros.
Superado isso, o recurso comporta conhecimento, conforme análise a seguir.
3.1. Laudo de avaliação judicial Na apelação 01, o Embargante alega que o leilão
realizado é nulo, na medida em que o laudo de avaliação apresentado nos autos de
execução em apenso atribuiu ao bem preço vil.
Sem razão. Isso porque, como bem ressaltado pelo juízo a quo na sentença, nos autos
de execução em apenso há decisão transitada em julgado a respeito do valor atribuído
ao bem leiloado pelo laudo de avaliação judicial.
Da análise dos autos verifica-se que o ora Apelante Orandir Martins interpôs agravo
de instrumento da decisão que, nos autos de execução em apenso, homologou o
valor do bem apresentado no laudo pericial realizado, determinando o seu
praceamento (mov. 1.62 dos autos de execução).
Esse Agravo de Instrumento foi autuado neste Tribunal sob o nº 1277939-0 e contou
com a seguinte fundamentação:
“Como é cediço, o laudo elaborado pelo Avaliador Judicial não é infirmado pela
simples apresentação de outra avaliação por valor superior ao da avaliação judicial,
trazida pelo agravante. Desse modo, preenchendo os requisitos técnicos exigidos pelo
ordenamento jurídico, e fazendo referência às peculiaridades do bem, deve prevalecer
o laudo elaborado pelo expert judicial submetido ao contraditório.

585

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Isso porque, a regra geral existente no Código de Processo Civil brasileiro prescreve a
não realização de nova avaliação, comportando apenas três hipóteses de exceção.
Estabelece o art. 683 do Código de Processo Civil:
`É admitida nova avaliação quando: (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
I - qualquer das partes arguir, fundamentadamente, a ocorrência de erro na avaliação
ou dolo do avaliador; II - se verificar, posteriormente à avaliação, que houve majoração
ou diminuição no valor do bem; ou III - houver fundada dúvida sobre o valor atribuído
ao bem (art. 668, parágrafo único, inciso V)’.
Pois bem, inexistindo a configuração de uma das hipóteses previstas no texto legal
não há justificativa para a realização de nova diligência.
Veja-se que o agravante não afirmou a existência de dolo, ou seja, da intenção de
prejudicar, limitando-se a insinuar deficiências no trabalho do auxiliar do juízo e
defasagem de tempo: “há uma série de questões que colocam em dúvida o valor
atribuído pelo Sr. Avaliador ao imóvel penhorado como v.g. ausência de descrição
pormenorizada da área avaliada e quais foram os critérios utilizados para atribuir o seu
valor; além da ausência de qualquer justificativa, quando intimado do despacho de
fl.143, de como os preços se mantiveram congelados decorridos 2 (dois) anos da
avaliação realizada na data de 04/10/2012 (fls. 70), e ainda, sem ter apresentado com
tecnicidade os parâmetros utilizados para se chegar ao valor que o mesmo entende
como correto para a área em questão” (fl. 8-TJ).
Contudo, a avaliação apresentada pelo agravante, realizada por um corretor de
imóveis (a pedido da pessoa interessada) ­ fl. 176-TJ -, em que consta valor superior ao
do avaliador judicial, não se traduz em prova suficiente de que houve erro ou dolo no
laudo avaliatório do perito judicial.
É de se observar que, ao contrário do sustentado pelo agravante, o auto de avaliação
realizada em 14.04.2014 preenche os requisitos exigidos em lei (art. 681, do CPC e
item 3.15.4, do CN/CGJ: “3.15.4 ­ O laudo de avaliação descreverá
pormenorizadamente o bem avaliado, enunciando as suas características e o estado
em que se encontra, bem como os critérios utilizados para a avaliação e as indicações
de pesquisas de mercado efetuadas”).
Da leitura do referido auto (fls. 178-TJ), extrai-se a descrição do bem a ser avaliado,
indicação de sua localização, e considerações gerais sobre sua topografia. Ainda, da
informação elaborada pelo Sr. Avaliador, ao contrário do alegado pelo agravante,
constam informações atualizadas (”Terreno situado em estrada secundária sem
asfalto”) e o apontamento das pesquisas de mercado efetuadas (”Pesquisa realizada
na Estrada do Cunha, Estrada Morangueira e no acervo desta escrivania”) tendo o
Avaliador considerado como valor de mercado o montante de R$ 350.000,00 o
alqueire, e R$ 700.000,00 a parte ideal de 2 alqueires -- tudo a afastar a tese de estar
equivocado o laudo elaborado.
Ademais, não prospera a alegação do agravante de que o Sr. Avaliador deixou de se
manifestar quando intimado do despacho de fl. 143. Verifica do traslado que o douto
Juízo, atento às divergências relativas à avaliação do imóvel ­ determinou a abertura
de vista dos autos ao avaliador judicial para que informasse qual é o valor atual de
mercado do alqueire paulista na região gleba Morangueiro (fl.
586

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143, 177-TJ).
Por fim, não prospera a alegação de que há dúvida sobre o valor atribuído ao bem em
decorrência do auto de avaliação ter o mesmo do valor do laudo anterior, elaborado
há mais de dois anos.
Observa-se que o douto Magistrado, como dito, determinou a intimação do Avaliador
para informar o valor atual de mercado do alqueire paulista na região do imóvel (gleba
Ribeirão Morangueiro), o que foi atendido pelo Sr. Avaliador à fl.178, e não
impugnado pelo executado/agravante (fl. 182-TJ).
Por derradeiro, não demonstrando o agravante, como lhe competia, qualquer
daquelas hipóteses para justificar sua pretensão, mas ao contrário, insurgindo-se
contra a avaliação alegando que há disparidade de valores entre a avaliação de
imobiliária que juntou aos autos e aquele elaborado pelo avaliador do Juízo, não há
como se acatar o pedido de nova avaliação fulcrado no artigo 683, inciso I, II ou III do
CPC.
Assim, não havendo prova concreta de que a avaliação judicial está incorreta, é
inadmissível na hipótese dos autos o acolhimento do pedido de reavaliação feito pelo
agravante.
Por fim, o segundo pedido do agravante ­ de cancelamento do praceamento ­ tem
por fundamento tão-somente o equívoco na avaliação do bem, de modo que o não
acolhimento do primeiro pedido (de nova avaliação) acarreta do indeferimento
também do segundo”.
Desse modo, como já houve decisão definitiva a respeito do valor do bem praceado,
apontado no laudo de avaliação homologado pelo juízo a quo, não prospera o recurso
neste ponto, ante a preclusão configurada.
3.2. Delimitação da área penhorada Argumenta o Apelante que “embora os 2
alqueires penhorados de um total de 8 alqueires, sejam do Apelante, este com os
demais coproprietários administram a área total em conjunto, não havendo uma
delimitação física do espaço ao qual caberia a cada um, ou seja, são todos possuidores
e proprietários do todo, dividindo frutos e prejuízos proporcionalmente, tornando-se o
imóvel, por vontade das partes, em razão de administrarem conjuntamente o bem,
indivisível, conforme dispõe o art. 88, caput, parte final do Código Civil” (mov. 49.1 ­ f.
13).
Primeiramente, da análise da matrícula nº 56.832 (mov. 23.3, 23.4 e 23.5) é possível
perceber que com o falecimento da esposa do Embargante ocorreu a divisão dos 8
alqueires paulistas situados na Gleba Ribeirão Morangueiro, sendo atribuída ao
Embargante a propriedade de 2 desses alqueires.
Ora, em que pese não existir delimitação física da parte do terreno pertencente ao
Apelante, fato é que a parte do imóvel arrematada deverá respeitar a avaliação
ocorrida nos autos. Assim, caso alguma localidade desse imóvel possua valor superior
ao da avaliação, como sustenta o Apelante, não deverá integrar a parte arrematada.
Ademais, o Embargante não comprovou sua alegação de que todos os proprietários
da outra parte trabalham em conjunto na totalidade do terreno, considerando que sua
parte ideal não está separada do restante do terreno; daí a constatação de que se
trata de bem divisível.
587

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Nesse passo, oportuno destacar que não bastam simples alegações a respeito de
eventual indivisibilidade do terreno em questão, sendo necessária a comprovação de
que a finalidade atribuída ao bem o torna indivisível.
Desse modo, não prospera a alegação de nulidade da arrematação por ausência de
delimitação da área penhorada e indivisibilidade do terreno no qual está incluída essa
área.
Por conseguinte, impõe-se a manutenção da sentença que julgou improcedentes os
embargos à arrematação, subsistindo a condenação do Embargante ao pagamento
das verbas sucumbenciais.
Apelação 02 ­ interposta pelos coproprietários nos autos de Embargos de terceiro 4.
Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço do presente recurso.
Alegam os Embargantes que “houve flagrante violação ao interstício mínimo de 10
(dez) dias, conforme dispõe o art. 698 do CPC/73, atual art. 889 do NCPC, para a
intimação dos coproprietários, dentre eles os ora Apelantes, acerca das datas
designadas para a hasta pública de seu imóvel” (mov. 127.1 ­ f. 11).
Pois bem.
Primeiramente deve-se esclarecer que a arrematação do bem em discussão ocorreu
ainda na vigência do Código de Processo Civil de 1973, motivo pelo qual não há que
se falar em incidência do CPC/2015 neste caso.
Dito isso, estabelece o artigo 698 do CPC/73 que “Não se efetuará a adjudicação ou
alienação de bem do executado sem que da execução seja cientificado, por qualquer
modo idôneo e com pelo menos 10 (dez) dias de antecedência, o senhorio direto, o
credor com garantia real ou com penhora anteriormente averbada, que não seja de
qualquer modo parte na execução”.
Como visto, embora os Embargantes sustentem que o bem arrematado pertence a
um condomínio familiar, não houve a comprovação da sua indivisibilidade.
Além disso, restou demonstrado que os dois alqueires arrematados são de única e
exclusiva propriedade do devedor.
Assim, a adjudicação dessa parte ideal do imóvel causaria injustificado prejuízo aos
Embargantes apenas se estes fossem impedidos de exercer seu direito de preferência.
Ocorre que da análise dos autos é possível perceber que os ora Apelantes foram
devidamente intimados da segunda hasta pública, momento em que poderiam
inclusive arrematar o bem por valor inferior ao da avaliação. Contudo, eventual
interesse na arrematação do bem sequer foi mencionado no decorrer da demanda,
limitando-se os Embargantes a sustentar que a arrematação é nula porque não foram
intimados da primeira hasta.
Desse modo, como não restou comprovado o prejuízo sofrido pelos Embargantes
com a arrematação do bem de propriedade de terceiro, necessária a manutenção da
sentença que negou provimento aos Embargos de Terceiro.
5. Por fim, tendo em vista a manutenção das sentenças proferidas na vigência do
CPC/2015, impõe-se majorar a verba honorária em favor do Apelado José Elalio Zago
para 20% sobre o valor atualizado da causa, em ambos os processos, em
conformidade com o disposto no art. 85, §11º do CPC/15.

588

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6. De conseguinte, conclui-se pelo parcial conhecimento e desprovimento da


Apelação 01 e pelo desprovimento da Apelação 02, mantendo-se integralmente as
sentenças que julgaram improcedentes os embargos à arrematação e os embargos de
terceiro, com a majoração da verba honorária de sucumbência em ambos os
processos.
Diante do exposto, ACORDAM os integrantes da Décima Quinta Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em conhecer em
parte da Apelação 01 e negar-lhe provimento e, em conhecer e negar provimento à
Apelação 02, nos termos da fundamentação.
Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Desembargador Luiz Carlos Gabardo, com
voto, e dele também participou, com voto o Excelentíssimo Desembargador Shiroshi
Yendo.
Curitiba, 19 de abril de 2017.
Elizabeth M. F. Rocha, Juíza de Direito Substituta em Segundo Grau.

2.4.17. CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS – AUSÊNCIA DE

REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO

AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS - SENTENÇA DE EXTINÇÃO DO

PROCESSO POR FALTA DE INTERESSE DE AGIR - NTERPOSIÇÃO DE RECURSO

PELA PARTE AUTORA - AUSÊNCIA DE PRÉVIO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO -

NÃO ATENDIMENTO À ORIENTAÇÃO FIRMADA NO RESP Nº 1349453/MS -

SENTENÇA MANTIDA. Apelação desprovida.

(TJPR - 15ª C.Cível - AC - 1609714-8 - Laranjeiras do Sul - Rel.: Elizabeth M F Rocha -

Unânime - J. 19.04.2017)

Inteiro Teor

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n.º 1609714- 8, da Vara
Cível e Anexos da Comarca de Laranjeiras do Sul, em que figuram, como Apelante,
Dilmar de Oliveira e, como Apelado, Banco Bradesco S/A.
1. Trata-se de recurso de apelação cível interposta por Dilmar de Oliveira, da sentença
que, nos autos de ação cautelar de exibição de documentos movida em face do Banco
Bradesco S/A, extinguiu o feito sem resolução de mérito, reconhecendo a carência de
ação da parte autora pela falta de interesse de agir. Ainda, condenou-a ao pagamento
de custas e honorários advocatícios fixados em R$ 1.000,00 (mil reais).

589

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Em suas razões recursais, o Apelante/autor pugna pela anulação da sentença, a fim de


devolver a matéria para o juízo de origem para a sua devida apreciação.
Recebido o recurso e apresentadas as contrarrazões, os autos foram remetidos a este
Tribunal.
2. Presentes os pressupostos de admissibilidade, o recurso merece ser conhecido,
conforme análise a seguir.
3. O Apelante/autor sustenta que o interesse recursal se verifica na demonstração da
necessidade de obter o documento do qual não dispõe e com fundamento no qual
pretende manejar eventual demandas futuras, além de entender como desnecessário
o prévio requerimento administrativo para exibição de documentos, podendo postular
o seu direito diretamente em juízo.
No entanto, sem razão.
Isso porque, para impor ao banco a obrigação de exibir os documentos pleiteados
pela parte autora, é necessário que seja feita a prévia solicitação
administrativa/extrajudicial ao banco, em conformidade com a orientação firmada no
julgamento do mencionado recurso repetitivo, bem como o pagamento das eventuais
custas de emissão dos documentos.
Consoante entendimento sedimentado pelo Superior Tribunal de Justiça, no
julgamento do Recurso Especial n.º 1349453/MS, pelo rito do art. 543-C, do Código
de Processo Civil, é pressuposto ao ajuizamento da demanda a “demonstração da
existência de relação jurídica entre as partes, a comprovação de prévio pedido à
instituição financeira não atendido em prazo razoável, e o pagamento do custo do
serviço”. Confira-se:
“PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA.
ART. 543-C DO CPC. EXPURGOS INFLACIONÁRIOS EM CADERNETA DE
POUPANÇA. EXIBIÇÃO DE EXTRATOS BANCÁRIOS. AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO
DE DOCUMENTOS. INTERESSE DE AGIR. PEDIDO PRÉVIO À INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA E PAGAMENTO DO CUSTO DO SERVIÇO. NECESSIDADE. 1. Para
efeitos do art. 543-C do CPC, firma- se a seguinte tese: A propositura de ação cautelar
de exibição de documentos bancários (cópias e segunda via de documentos) é cabível
como medida preparatória a fim de instruir a ação principal, bastando a demonstração
da existência de relação jurídica entre as partes, a comprovação de prévio pedido à
instituição financeira não atendido em prazo razoável, e o pagamento do custo do
serviço conforme previsão contratual e normatização da autoridade monetária. 2. No
caso concreto, recurso especial provido”. (REsp 1349453/MS, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 10/12/2014, DJe 02/02/2015)
Todavia, no caso em questão, o requerimento administrativo não foi feito pela parte
autora, de forma que não se atendeu ao pressuposto referido.
Neste sentido:
“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS. RELAÇÃO
JURÍDICA. INDÍCIOS. INEXISTÊNCIA. ART. 356, I, DO CPC. DESCUMPRIMENTO.
PETIÇÃO INICIAL. INÉPCIA. REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO PRÉVIO. CASO
CONCRETO. NÃO VERIFICAÇÃO. INTERESSE PROCESSUAL. AUSÊNCIA. EXTINÇÃO
DO FEITO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO.ENCARGOS SUCUMBENCIAIS.
590

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

REDISTRIBUIÇÃO. 1. A demonstração, ainda que indiciária, acerca da existência da


relação jurídica sobre a qual versa o pedido de exibição de documentos constitui
requisito indispensável da ação cautelar de exibição de documentos (art.
356, I, do CPC) e a sua ausência enseja a extinção do processo, por inépcia da inicial.
2. “A propositura de ação cautelar de exibição de documentos bancários (cópias e
segunda via de documentos) é cabível como medida preparatória a fim de instruir a
ação principal, bastando a demonstração da existência de relação jurídica entre as
partes, a comprovação de prévio pedido à instituição financeira não atendido em
prazo razoável, e o pagamento do custo do serviço conforme previsão contratual e
normatização da autoridade monetária” (REsp 1349453/MS, Rel.Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 10/12/2014, DJe 02/02/2015). 3.
Reconhecidas a inépcia da inicial e a ausência de interesse processual e, via de
consequência, julgado extinto o processo sem resolução de mérito, os encargos
sucumbenciais devem ser suportados pela parte autora. 4. Apelação cível conhecida e
provida.
“ (TJPR - 15ª C.Cível - AC - 1466443-6 - Curitiba - Rel.: Luiz Carlos Gabardo - Unânime
- - J. 03.02.2016)
“APELAÇÃO CÍVEL. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS. NÃO DEMONSTRAÇÃO DOS
REQUISITOS NECESSÁRIOS DO RESP 1349453/MS. RECURSO ESPECIAL
REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C. EXTINÇÃO DO PROCESSO
ANTE A INÉPCIA DA INICIAL. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO PROVIDO.
Segundo o atual entendimento, proferido por meio do recurso repetitivo Resp.
1349453/MS, embora seja cabível o ajuizamento da medida cautelar de exibição de
documentos bancários como medida preparatória a fim de instruir a ação principal, é
necessário que o requerente demonstre a existência de relação jurídica entre as
partes, a comprovação de prévio pedido à instituição financeira não atendido em
prazo razoável e o pagamento do custo do serviço. Apelação Cível provida” (TJPR, 15ª
C.Cív., AC 1471792-7, Rel. Des. Jucimar Novochadlo, j. 17/02/2016)
Logo, ante a ausência de prévio pedido administrativo, nos termos da jurisprudência
consolidada na Corte Superior, não se encontram preenchidos os requisitos
necessários ao ajuizamento da ação de exibição de documentos, razão pela qual se
configura a ausência de interesse processual e deve ser mantida a sentença do juízo a
quo.
Por conseguinte, conclui-se pelo desprovimento do recurso, tendo em vista que a
sentença apelada está em consonância com o entendimento sedimentado pelo
Superior Tribunal de Justiça.
Diante do exposto, ACORDAM os integrantes da Décima Quinta Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar
provimento à Apelação, nos termos da fundamentação.
Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Desembargador Luiz Carlos Gabardo, com
voto, e dele também participou, com voto o Excelentíssimo Desembargador Shiroshi
Yendo.
Curitiba, 19 de abril de 2017.
Elizabeth M. F. Rocha, Juíza de Direito Substituta em Segundo Grau.
591

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

2.4.18. IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA – BEM DADO EM HIPOTECA

AGRAVO DE INSTRUMENTO - DECISÃO QUE INDEFERE PEDIDO DE

RECONHECIMENTO DE IMPENHORABILIDADE DE IMÓVEL - PENHORA SOBRE

IMÓVEL RURAL DO PATRIMÔNIO PESSOAL DOS DEVEDORES - CONSTRIÇÃO

SOBRE IMÓVEL DADO EM GARANTIA HIPOTECÁRIA - EXCEÇÃO À

IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA - INC. V DO ART. 3º DA LEI Nº 8.009/90

- AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE QUE SEJA A ÚNICA PROPRIEDADE E

ESSENCIAL AO SUSTENTO DA FAMÍLIA - NÃO CABIMENTO DA PROTEÇÃO

INVOCADA - PRECEDENTES.Agravo de instrumento desprovido.

(TJPR - 15ª C.Cível - AI - 1620145-3 - Toledo - Rel.: Elizabeth M F Rocha - Unânime -

J. 19.04.2017)

Inteiro Teor

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº 1620145-3, da


2ª Vara Cível e da Fazenda Pública da Comarca de Toledo, em que figuram, como
Agravantes, Vitor Dalposso e Outros, e, como Agravado, Banco do Brasil S/A.
1. Trata-se de agravo de instrumento interposto por Vitor Dalposso e Outros, da
decisão de mov. 78.1 que, nos autos de execução de título extrajudicial movida por
Banco do Brasil S/A, indeferiu o pedido de reconhecimento de impenhorabilidade do
imóvel, determinando, inclusive, a realização de hasta pública.
Em suas razões recursais, os Agravantes sustentam, em síntese, que o imóvel em
questão tem finalidade residencial, no qual a família exerce atividade agrícola de
subsistência, além de ser “o único de propriedade dos executados, portanto,
considerado bem de família e impenhorável, conforme disposto no art. 1º da Lei
8.009/90” (f.24 -TJ).
Por fim, pugnaram pela assistência judiciária gratuita, bem como de efeito suspensivo
ao recurso. Intimados para comprovar sua condição de hipossuficiência, os agravantes
juntaram os documentos de f. 80/88-TJ.
Concedido o benefício da gratuidade da justiça em sede recursal, foi deferido o
processamento do agravo de instrumento com a concessão do postulado efeito
suspensivo (f. 91/94-TJ). Intimada, a parte agravada não apresentou resposta ao
recurso, vindo os autos conclusos.
2. Presentes os pressupostos de admissibilidade recursal, o recurso merece ser
conhecido.

592

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

3. Os Agravantes defendem a impenhorabilidade do imóvel penhorado, ao


argumento de que se trata de único bem de sua propriedade, além de ser pequena
propriedade rural trabalhada sob regime de economia familiar.
Pois bem.
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça consolidou-se no sentido de que o
oferecimento, de forma voluntária, do único imóvel pertencente à entidade familiar em
garantia de dívida assumida em benefício próprio ou familiar, revela circunstância
suficiente ao afastamento da proteção legal inserida na Lei nº 8.099/1990, através da
aplicação do inciso V do seu art. 3º.
No caso, os Agravantes admitem ter firmado o contrato de empréstimo em benefício
próprio, o qual se destinou “única e exclusivamente ao pagamento do saldo devedor
da minha dívida, valor este reconhecido como líquido, certo e exigível, com a intenção
de novar, concernente às operações de crédito contratadas anteriormente com o
Banco do Brasil”, tendo como garantia “a) em alienação fiduciária, veículo, máquinas e
implementos agrícolas de minha propriedade (...), b) em hipoteca cedular de oitavo
grau e sem concorrência de terceiros, o imóvel de minha propriedade (...), conforme
matrícula 3170, 2º ofício, CRI de Toledo (PR)”, conforme se depreende da própria
cédula rural hipotecária de mov. 1.1-Projudi.
Contudo, os documentos juntados pelos Agravantes não evidenciam que o bem em
questão se trate de único imóvel destinado à sua residência, nem que se destine à
atividade agrícola familiar.
Deveras, além de terem juntado aos autos a pesquisa junto a cartórios imobiliários de
uma única Comarca (f. 52/65-TJ), os demais documentos não são suficientes para
comprovar cabalmente que se trate de único bem de família.
Assim, não subsistem as alegações recursais, até porque o Superior Tribunal de
Justiça já pronunciou que “A impenhorabilidade do imóvel único residencial, nas
hipóteses em que oferecido como garantia hipotecária de dívida contraída por
empresa familiar, somente é oponível quando seus proprietários demonstrarem que a
família não se beneficiou do ato de disposição” (REsp nº 1.421.140/PR, Relatora a
Ministra Nancy Andrighi, DJe 20/6/2014). Nos casos de sociedade empresária cujos
únicos sócios são marido e mulher, como na hipótese dos autos, há presunção de que
os integrantes da família se beneficiaram do contrato” (STJ, 3ª Turma, AgRg no AREsp
1480892/RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 01/09/2015, DJe 16/09/2015).
Nesse sentido:
“PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO. RECURSO ESPECIAL. DIREITO REAL DE GARANTIA. CÉDULA RURAL
HIPOTECÁRIA. IMÓVEL DADO EM GARANTIA. BEM DE FAMÍLIA.
IMPENHORABILIDADE. NÃO INCIDÊNCIA. DÍVIDA CONSTITUÍDA EM FAVOR DA
ENTIDADE FAMILIAR. ART. 3º, V, DA LEI N. 8.009/90. AGRAVO DESPROVIDO.
1. O benefício conferido pela Lei n. 8.009/90 ao instituto do bem de família constitui
princípio de ordem pública que não admite a renúncia pelo titular, podendo ser
elidido somente se caracterizada qualquer das hipóteses previstas nos incisos do art.
3º e no caput do art. 4º da referida lei. 2. Segundo a regra prescrita no art. 3º, V, da Lei
n.
593

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

8.009/90, sobre o imóvel dado em garantia hipotecária não incide o benefício da


impenhorabilidade do bem de família no caso de dívida constituída em favor da
entidade familiar. Iterativos precedentes do STJ. 3. Decisão agravada mantida por seus
próprios fundamentos. 4. Agravo regimental desprovido” (STJ, 3ª Turma, AgRg nos
EDcl no REsp 1463694/MS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j.
06/08/2015, DJe 13/08/2015)
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
AFRONTA AO ART. 535, II, DO CPC. ... EXECUÇÃO. BEM DE FAMÍLIA. GARANTIA
HIPOTECÁRIA. DÍVIDA QUE REVERTEU EM BENEFÍCIO DA ENTIDADE FAMILIAR.
HIPÓTESE DE EXCEÇÃO À REGRA DA IMPENHORABILIDADE. PRECEDENTES
DESTA CORTE. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADA.
AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. (...) 2. O Superior Tribunal de Justiça tem
jurisprudência firmada no sentido de que a penhora do bem de família hipotecado só
é admissível quando a garantia foi prestada em benefício da própria entidade familiar,
e não para assegurar empréstimo obtido por terceiro. 3. O dissídio jurisprudencial não
foi demonstrado, pois a parte agravante não comprovou as similitudes fáticas e
divergências decisórias entre os casos confrontados. 4. Agravo regimental a que se
nega provimento” (STJ, 3ª Turma, AgRg no AREsp 654284/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, j. 28/04/2015, DJe 01/06/2015)
“AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. CIVIL. DIREITO REAL DE GARANTIA.
HIPOTECA. VALIDADE. AVERBAÇÃO NO CARTÓRIO DE REGISTRO DE IMÓVEIS.
NÃO OCORRÊNCIA. BEM DE FAMÍLIA. IMPENHORABILIDADE. HIPÓTESE NÃO
CONFIGURADA. ACÓRDÃO RECORRIDO EM CONSONÂNCIA COM A
JURISPRUDÊNCIA DO STJ. SÚMULA N. 83/STJ. 1. É penhorável o bem de família de
propriedade de sócio dado em garantia de contrato celebrado por pessoa jurídica se o
imóvel foi oferecido como garantia real em benefício da entidade familiar, hipótese
que se subsume à exceção prevista no art. 3º, V, da Lei n. 8.009/90. (...) 3.
Decisão mantida por seus fundamentos. 4. Agravo regimental desprovido” (STJ, 3ª
Turma, AgRg no REsp 1449423/SP, Rel. Min.
João Otávio de Noronha, j. 05/03/2015, DJe 31/03/2015)
Cumpre salientar que também não subsiste a aplicação do inciso XXVI do art. 5º da
Constituição Federal quanto à impenhorabilidade de pequena propriedade rural. Isso
porque, para que seja assim considerada, a propriedade deve ser trabalhada pela
família.
Tal entendimento é reforçado por meio da definição de “Propriedade Familiar” pelo
inciso II do art. 4º da Lei 4.504/64 (Estatuto da Terra), ali disposta como “o imóvel rural
que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua família, lhes absorva toda a
força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o progresso social e econômico,
com área máxima fixada para cada região e tipo de exploração, e eventualmente
trabalho com a ajuda de terceiros”.
O Código de Processo Civil também trata da questão no art. 649, inc.
VIII (correspondente ao artigo 833, VIII, do CPC/15), dispondo que é impenhorável “a
pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família”.

594

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Infere-se que a norma, com a redação dada pela Lei 11.382/06, sujeita a
impenhorabilidade à verificação de dois requisitos apenas: a - tratar-se de pequena
propriedade rural; e b - trabalhada pela família.
Como se vê, nos dois dispositivos legais mencionados, há a necessidade de que a
pequena propriedade rural seja trabalhada pela família, o que não restou comprovado
no caso em apreço.
Os Agravantes não trouxeram aos autos qualquer documento hábil a comprovar que
o sustento de sua família provém daquele imóvel, já que as declarações de f. 66/67-TJ
não são suficientes para tanto. Tampouco há comprovação da existência de
construção, plantações ou benfeitorias sobre o imóvel penhorado, nem prova da
compra de insumos e outros produtos para o cultivo da propriedade, não restando
demonstrado, portanto, que retiram do bem o seu sustento e de sua família.
Destarte, carece de conjunto probatório a tese arguida pelos Agravantes de
realização de atividade em regime de economia familiar, afastando- se desta o
conceito de “propriedade familiar”, estabelecido pelo artigo 4º, inciso II, da Lei de n.º
4.504/64.
Assim, como o imóvel não cumpre com os requisitos para ser considerado pequena
propriedade rural impenhorável de acordo com o disposto na Carta Magna, pela qual
o imóvel deve absorver “toda a força de trabalho”, e garantir a sua subsistência, não
assiste razão aos executados/agravantes ao invocar a sua proteção constitucional.
Conclui-se, portanto, que a alegada impenhorabilidade do bem de família não é
aplicável ao caso, porquanto o imóvel foi dado em garantia de hipoteca para contrato
firmado em favor da entidade familiar, enquadrando-se nos termos do inciso V do art.
3º da Lei. 8.009/90. Ademais, o imóvel rural não pode ser considerado pequena
propriedade rural essencial ao sustento da família, razão pela qual a
impenhorabilidade advinda da Constituição Federal não pode ser invocada.
Vale ressaltar que o ônus da prova da impenhorabilidade do imóvel competia aos
Executados/Agravantes, nos termos do art. 373, II do CPC/15, do qual não se
desincumbiram.
Portanto, considerando a inexistência de comprovação de que o imóvel, objeto da
constrição, preenche os requisitos legais estabelecidos no art. 5º, XXVI da CF e art.
649, VIII, do CPC/73, não há que se falar em impenhorabilidade do imóvel rural objeto
da controvérsia.
A propósito, a jurisprudência:
“Embargos do devedor. Contrato de confissão de dívida assinado por duas
testemunhas. Alegação de excesso de execução. Ausência de juntada de memória de
cálculo do valor tido como correto. Desatenção ao art. 739- A, § 5º, CPC. Pequena
propriedade rural oferecida em garantia hipotecária. Impenhorabilidade. Constrição
mantida.1.
Conforme disposto no parágrafo quinto do artigo 739-A, do CPC, com redação dada
pela Lei 11.382, de 06.12.2006, quando o excesso de execução for fundamento dos
embargos, o embargante deverá declarar na petição inicial o valor que entende
correto, apresentando memória do cálculo, sob pena de rejeição liminar dos embargos
ou de não conhecimento desse fundamento.2. Para o reconhecimento da
595

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

impenhorabilidade de imóvel rural com fundamento nos artigos 649, VIII, do CPC, e
5º, XXVI, da CF, incumbe ao executado a prova de que a propriedade rural penhorada
era trabalhada pela família e que a dívida executada tem origem na atividade
produtiva, sob pena da proteção não poder ser deferida.Apelação provida.”(TJPR -
15ª C.Cível - AC - 1190171-4 - Cambará - Rel.: Hamilton Mussi Correa - Unânime - - J.
30.04.2014)
“PROCESSUAL CIVIL. RECURSO. APELAÇÃO. EXECUÇÃO DE TÍTULO
EXTRAJUDICIAL.EMBARGOS DO DEVEDOR. CÉDULA DE CRÉDITO RURAL
PIGNORATÍCIA/HIPOTECÁRIA. PEDIDO DE IMPENHORABILIDADE. AUSÊNCIA DA
PROVA DE QUE SE TRATA DE BEM DE FAMÍLIA OU DE QUE CONSTITUI PEQUENA
PROPRIEDADE RURAL TRABALHADA PELO DEVEDOR E SUA FAMÍLIA. EXEGESE DO
ART. 5º, XXVI, DA CF E ART. 649, VIII, DO CPC. ÔNUS DA PROVA DOS
EXECUTADOS. ART. 333, II, DO CPC. IMÓVEL DADO EM GARANTIA HIPOTECÁRIA.
ART. 3º, V DA LEI Nº 8.009/90. CONSTRIÇÃO MANTIDA. PRINCÍPIO DA
SUCUMBÊNCIA. DESPROVIMENTO DO RECURSO. MANUTENÇÃO DO ÔNUS. 1.
Impenhorabilidade. Pequena propriedade rural. Ônus da prova. O ônus da prova da
impenhorabilidade do imóvel competia aos executados, nos termos do art. 333, II do
CPC, na medida em que aquele que invoca a questão tem o ônus de comprovar sua
alegação. Diante da inexistência de comprovação de que o imóvel, objeto da
constrição preenche os requisitos legais de pequena propriedade rural (art. 649, VIII
do CPC), para que seja declarada a impenhorabilidade do bem, impõe-se a
manutenção da decisão recorrida. 2. Princípio da sucumbência. A sucumbência deve
ser sopesada tanto pelo aspecto quantitativo quanto pelo jurídico, em que cada parte
decai de suas pretensões e resistências, respectivamente impostas. Recurso de
apelação desprovido” (TJPR - 15ª C.Cível - AC - 979181-5 - Nova Esperança - Rel.:
Jurandyr Souza Junior - Unânime - - J. 27.02.2013)
4. De conseguinte, conclui-se pelo desprovimento do recurso, e consequente
revogação da anterior concessão de efeito suspensivo ao feito originário.
Diante do exposto, ACORDAM os integrantes da Décima Quinta Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar
provimento ao agravo de instrumento, nos termos da fundamentação.
Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Desembargador Luiz Carlos Gabardo, sem
voto, e dele participaram, com voto, os Excelentíssimos Desembargadores Hamilton
Mussi Corrêa e Hayton Lee Swain Filho.
Curitiba, 19 de abril de 2017.
Elizabeth M. F. Rocha, Juíza de Direito Substituta em Segundo Grau.

596

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2.4.19. DANOS MORAIS – INDENIZAÇÃO – RESPONSABILIDADE OBJETIVA

AFASTADA – INEXISTÊNCIA DE DEFEITO NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO

Apelação Cível nº 1595040-2 da 22ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região

Metropolitana de Curitiba.Apelantes: 1. Analice Rodrigues da Silva.2. Banco Itaú

Unibanco S/A.Apelados: Os mesmos.Relatora: Juíza Elizabeth M. F. Rocha, em

substituição ao Des. Hayton Lee Swain Filho.AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS

MORAIS E MATERIAIS - SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA - RECURSOS DE AMBAS AS

PARTES - OPERAÇÕES REALIZADAS EM CAIXAS DE AUTOATENDIMENTO COM O

USO DE CARTÃO COM CHIP E SENHA PESSOAL - INEXISTÊNCIA DE DEFEITO NA

PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS BANCÁRIOS - RESPONSABILIDADE OBJETIVA

AFASTADA - EXEGESE DO INC. I DO PAR. 3º DO ART. 14 DO CDC -

IMPROCEDÊNCIA DA DEMANDA - REFORMA DA SENTENÇA E INVERSÃO DO

ÔNUS SUCUMBENCIAL.Apelação 02 provida. Apelação 01 prejudicada.

(TJPR - 15ª C.Cível - AC - 1595040-2 - Curitiba - Rel.: Elizabeth M F Rocha - Unânime -

J. 12.04.2017)

Inteiro Teor

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1595040-2, da 22ª Vara
Cível do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba, em que
figuram como Apelantes e reciprocamente Apelados, Analice Rodrigues da Silva
(Apelação 01) e Banco Itaú Unibanco S/A (Apelação 02).
1. Trata-se de apelações cíveis interpostas por ambas as partes, da sentença que
julgou procedente a ação de indenização por dano moral e material movida por
Analice Rodrigues da Silva em face de Banco Itaú Unibanco S/A, para: “(a) declarar a
inexistência dos débitos alusivos ao adiantamento para parcelamento de seq.
1.9 e ao Contrato de Empréstimo Consignado nº 0061763044720140408; (b)
condenar o réu BANCO ITAUCARD S/A a pagar à autora indenização por dano
material, correspondente à repetição em dobro de todos os valores descontados da
sua conta corrente e de seu benefício previdenciário, acrescidos de correção
monetária pelo INPC/IBGE e de juros moratórios de 1% ao mês, a contar de cada
desconto indevido. (c) condenar o réu, ainda, ao pagamento à autora, a título de dano
moral, de indenização no valor de R$ 12.000,00 (doze mil reais), acrescido de correção
monetária pelo INPC/IBGE a partir da data da presente sentença e de juros moratórios
de 1% ao mês a contar da data dos respectivos ilícitos, ou seja, de cada desconto”

597

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(mov. 88.1). O Banco/réu foi condenado ainda ao pagamento de custas processuais e


honorários advocatícios fixados em 15% sobre o valor atualizado da condenação.
Na Apelação 01, a Autora requer, inicialmente, a condenação do Banco ao
pagamento da multa diária arbitrada na decisão que deferiu seu pedido liminar, na
medida em que foram realizados diversos descontos em sua aposentadoria, além dos
débitos ocorridos a título de tarifas em sua conta corrente.
Busca, ainda, a reforma da sentença “para que seja deferida a devolução em dobro
ou sucessivamente de forma simples os descontos efetuados a título de LIS/JUROS e
TARIFA ADIANTAMENTO DEPOSITANTE na conta do benefício da autora desde
08/04/2014” (mov. 104.1 ­ f. 08).
Por fim, alega que o Banco deve ser compelido a retirar seu nome dos cadastros de
restrição ao crédito, sob pena de multa diária no valor de R$500,00.
Na Apelação 02, o Banco/réu sustenta, preliminarmente, a nulidade da sentença, vez
que não analisou “efetivamente, a inexistência de ato ilícito pratico pelo Apelante,
uma vez que o MM. Juiz não observou que a parte apelada foi negligente quanto aos
cuidados necessários para com seus cartões” (mov. 108.1 - 03).
Argumenta que “Seria indevido impor ao Apelante o dever de provar que foi a parte
Apelada pessoalmente quem realizou as transações, porque sua autorização não está
condicionada à verificação da identidade física do consumidor, mas sim à autenticação
do CHIP e validação da senha, especialmente pelo fato de o consumidor ter a
liberdade de transacionar nos mais diferentes ambientes, sejam eles de propriedade
do Apelante ou de terceiros, como restaurantes, lojas, ou caixas eletrônicos de outras
empresas (24Horas)” (mov. 108.1 ­ f. 09).
Por fim, requer a reforma da sentença para: a) afastar o dano material reconhecido em
favor da Autora, acrescentando “ser incabível a restituição em dobro dos valores
pagos com base no art. 42, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor,
uma vez que somente a cobrança de má-fé, que exponha o devedor à situação
vexatória e ofensiva, autoriza a devolução em dobro daquilo que pagou, hipótese não
configurada no caso” (mov. 108.1 ­ f. 12) ; b) reconhecer a inexistência de dano moral
indenizável ou, alternativamente, reduzir o valor arbitrado; c) que a correção monetária
e os juros de mora incidam a partir da decisão que os fixar.
Recebidos os recursos e apresentadas as contrarrazões, os autos foram remetidos a
este Tribunal.
2. Inicialmente, oportuno esclarecer que em que pese o contido na decisão de f. 26-
TJ, a assistência judiciária foi concedida à parte autora pelo juízo a quo, motivo pelo
qual seu recurso deve ser conhecido.
Assim, presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço dos recursos
interpostos, sendo possível a sua análise conjunta conforme análise a seguir.
3. Consta na petição inicial a narrativa de que no dia 08/04/2014 a Autora teve sua
carteira com seus documentos e cartões de banco extraviada, motivo pelo qual na
mesma data foi até a delegacia e realizou um Boletim de Ocorrência, bem como
solicitou ao Banco/réu o bloqueio de seu cartão.
Contudo, em “16/04/2014 relatou em outros Boletim de Ocorrência (anexo), que
usaram seu cartão do Banco Itaú para fazer quatro saques totalizando o valor de R$
598

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

2.000 (dois mil reais) e que a gerente também informou que foi feito um empréstimo
de 60 vezes de R$ 23,42 (vinte e três reais e quarenta e dois centavos)” (mov.
1.6 ­ f. 02).
Assim, a Autora requereu a condenação do Banco ao pagamento de indenização por
danos morais e materiais, estes últimos no valor equivalente ao dobro dos saques e do
empréstimo realizados em sua conta por terceira pessoa.
Em sua contestação, a instituição financeira enunciou que as operações questionadas
foram realizadas em caixa eletrônico mediante o uso de cartão magnético com chip e
senha pessoal, sendo impossível lhe ser imputada qualquer responsabilidade pelo
ocorrido, pois é dever da parte autora cercar-se das cautelas necessárias para que
terceiros não utilizassem indevidamente o cartão e a respectiva senha pessoal.
Sobreveio então a sentença que julgou procedentes os pedidos iniciais, sob o
fundamento de que “Apesar da adoção, pela autora, das medidas necessárias e
possíveis para impedir a utilização do seu cartão de crédito extraviado, inclusive
promovendo o bloqueio do cartão, o réu a compeliu a parcelar o saldo devedor
decorrente dos saques efetuados, emitindo o adiantamento para parcelamento de
seq.
1.9, cujas parcelas são descontadas de sua conta corrente (seq. 38.2), bem como
permanece descontando as parcelas do empréstimo não contraído pela autora (seq.
38.3)” (mov. 88.1 - f.05).
Pois bem.
Não obstante os argumentos reiterados pela Autora em suas contrarrazões, entende-
se que não ocorreu falha do Banco na prestação de serviço, motivo pelo qual não há
que se falar em dano moral e material indenizável.
Explica-se.
Em sua petição inicial, a Autora asseverou que mesmo tendo postulado junto ao Réu
o bloqueio de seu cartão no dia em que foi extraviado (08/04/2014), “no dia
16/04/2014 usaram seu cartão do Banco Itaucard para fazer quatro saques totalizando
o valor de R$ 2.000 (dois mil reais)”, sendo-lhe informado nesta data, pela gerente de
sua conta, sobre a realização de “um empréstimo de 60 vezes de R$ 23,42 (vinte e três
reais e quarenta e dois centavos), sem sua assinatura” (mov. 1.6 ­ f. 06).
Ora, a Autora relatou em seu depoimento que tão logo percebeu o extravio de sua
carteira, dirigiu-se à uma delegacia de polícia para lavrar um Boletim de Ocorrência,
sendo que só depois se preocupou em bloquear seu cartão. Para isso, dirigiu-se até a
sua agência, na qual chegou várias horas depois do ocorrido, momento em que foi
informada a respeito da realização dos saques e do empréstimo.
Tal depoimento difere da narrativa fática constante na petição inicial, pois segundo o
que consta nessa última, a Autora teria tido ciência dos saques e do empréstimo
apenas em 16/04/2014, quando foi lavrado um novo Boletim de Ocorrência.
Já em seu depoimento, a Autora afirmou que teve ciência dessas operações no
momento em que solicitou o bloqueio do seu cartão à gerente de sua conta bancária.
Somado a isso, os documentos juntados pelo Banco (mov. 31.3 e 31.5) também
demonstram que o bloqueio do cartão foi solicitado depois de realizadas as operações
em questão.
599

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Além disso, diversamente do que foi reconhecido no julgamento monocrático,


merece atenção a existência de uma compra no valor de R$ 75,00 não impugnada
pela Autora, a qual foi realizada com o cartão extraviado depois de efetuado o
primeiro saque questionado.
Sabe-se que para que a demanda indenizatória seja julgada procedente, a causa de
pedir e os pedidos formulados devem estar embasados ao menos em indícios
probatórios, aspecto não configurado na espécie. Diversamente, no caso vê-se que as
situações fáticas verificadas desfavorecem a versão narrada na petição inicial; daí a
ausência de qualquer indício de que houve falha na segurança do sistema bancário
com a realização das operações impugnadas.
Como bem exposto pelo Des. Hamilton Mussi Corrêa, no julgamento da Apelação nº
1234485-3 por esta 15ª Câmara Cível, o “uso do cartão magnético com sua respectiva
senha é exclusivo do correntista, presumindo-se sua regularidade salvo se houver pelo
menos indícios sérios de falha no serviço de segurança na operação bancária discutida.
Do contrário, estar-se-ia dando margem a ações fraudulentas, bastando ao correntista
alegar que não fez uso do cartão para obter ressarcimento”.
Ressalta-se que a responsabilidade do Banco não pode se sobrepor a necessidade de
prova, ou pelo menos indício probatório de que houve falha na prestação do serviço,
na medida em que as operações realizadas ocorreram antes da comunicação do
extravio do cartão ao Banco. Caso prevaleça o entendimento da sentença, a prestação
de serviço bancário por meio de caixas de autoatendimento estaria comprometida,
pois bastaria a impugnação de saque ocorrido com o uso de cartão e senha pessoal
para obter ressarcimento, caso não exista a filmagem comprovando que a operação foi
feita pelo próprio correntista.
A propósito é a Jurisprudência:
“Ação de indenização. Saques realizados mediante uso de cartão e senha pessoal.
Extravio do cartão magnético não percebido e nem comunicado até exceder o limite
de crédito. Culpa exclusiva do consumidor. Art. 14, § 3º, II, CDC. A negligência da
correntista na guarda de seu cartão demonstra sua culpa exclusiva pelos saques
realizados mediante uso do cartão e senha pessoal, não caracterizando defeito na
prestação do serviço bancário. Apelação não provida.” (TJPR - 15ª C. Cível - AC -
1051383-4 - Ponta Grossa - Rel.: Hamilton Mussi Correa - Unânime - - J.
18.09.2013)
“DIREITO CIVIL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO E
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. CARTÃO DE CRÉDITO. NÃO DEMONSTRAÇÃO
DE NEGLIGÊNCIA DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA.
DANOS MORAIS. NÃO CONFIGURAÇÃO. É dever do correntista de instituição
bancária cuidar e zelar pessoalmente da guarda de seu cartão magnético e do sigilo
de sua senha pessoal, não podendo jamais cedê-los a quem quer que seja. Agindo de
maneira contrária e desatendendo tais regras, o correntista assume os riscos de facilitar
a ação de fraudadores e estelionatários. APELAÇÃO NÃO PROVIDA.” (TJPR - 15ª C.
Cível - AC - 1207984-4 - Foz do Iguaçu - Rel.: Hayton Lee Swain Filho - Unânime - - J.
06.08.2014)

600

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Segundo a exegese dos incs. I e II do par. 3º do art. 14 do CDC, o fornecedor de


serviços não será responsabilizado quando provar “que, tendo prestado o serviço, o
defeito inexiste” ou que a culpa é exclusiva do consumidor ou de terceiro; daí a
reforma da sentença, para julgar improcedente a demanda, ante a inexistência de
defeito nos serviços bancários prestados com a realização de saques e empréstimo,
por meio de cartão com chip e senha pessoal, em caixas de autoatendimento.
Consequentemente, resta prejudicada a apelação da autora (Apelação 01) e os
demais pedidos do Banco/réu.
Nesse passo, oportuno ressaltar que o único empréstimo impugnado na petição inicial
foi aquele realizado no terminal eletrônico, que independe de assinatura da
correntista, de modo que eventual negociação do saldo devedor da conta corrente
não pode ser objeto de análise, na medida em que não integrou o pedido inicial.
Por fim, com o acolhimento do recurso de apelação do Banco, impõe-se a reforma da
sentença e a inversão do ônus da sucumbência, devendo a parte Autora arcar com o
pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, ora fixados em R$
1.000,00 (mil reais), levando em conta as peculiaridades da demanda.
3. De conseguinte, conclui-se pelo provimento da Apelação 02, interposta pelo Banco
para, em reforma da sentença, julgar improcedente a demanda e condenar a parte
autora ao pagamento das verbas de sucumbência, ante a inexistência de defeito nos
serviços bancários prestados com a realização de saques e empréstimo por meio de
cartão com chip e senha pessoal em caixas de autoatendimento.
Diante do exposto, ACORDAM os integrantes da Décima Quinta Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar
provimento ao recurso de Apelação 02, restando prejudicada a análise da Apelação
01, nos termos da fundamentação.
Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Desembargador Luiz Carlos Gabardo, com
voto, e dele também participou, com voto, o Excelentíssimo Desembargador Shiroshi
Yendo.
Curitiba, 12 de abril de 2017.
Elizabeth M. F. Rocha, Juíza de Direito Substituta em Segundo Grau.

2.4.20. CONTRATO DE MÚTUO

EMBARGOS À EXECUÇÃO - CONTRATO DE MÚTUO - SENTENÇA DE PARCIAL

PROCEDÊNCIA - INTERPOSIÇÃO DE RECURSO PELOS EMBARGANTES - AGRAVO

RETIDO INTERPOSTO CONTRA A DECISÃO QUE DETERMINOU A EXIBIÇÃO

INCIDENTAL DE DOCUMENTOS, SOB PENA DE APLICAÇÃO DO ARTIGO 359 DO

CPC/73 - EMBARGANTES QUE INTEGRAM O MESMO GRUPO ECONÔMICO QUE A

EXECUTADA - POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA PRESUNÇÃO DE VERACIDADE


601

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

DOS FATOS - MANUTENÇÃO DA DECISÃO AGRAVADA - APELAÇÃO CÍVEL -

ALEGAÇÃO DE FALTA DE INTERESSE PROCESSUAL - CONTRATO RESCINDIDO

PELO INADIMPLEMENTO - SITUAÇÃO QUE IMPEDE A RENOVAÇÃO AUTOMÁTICA

- NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL ENCAMINHADA AOS DEVEDORES COM O

INTUITO DE CONSTITUÍ- LOS EM MORA - VALOR APONTADO COMO DEVIDO QUE

ABRANGE TODO O DÉBITO INADIMPLIDO - EXECUÇÃO INSTRUÍDA COM

DOCUMENTOS QUE EVIDENCIAM A LIBERAÇÃO DO VALOR MUTUADO NA

CONTA CORRENTE DA EXECUTADA, BEM COMO A EVOLUÇÃO DO DÉBITO

INADIMPLIDO - TÍTULO REVESTIDO DE CERTEZA, LIQUIDEZ E EXIGIBILIDADE -

IMPOSSIBILIDADE DE DISCUSSÃO A RESPEITO DOS MOTIVOS QUE LEVARAM À

FIXAÇÃO DE MULTA E INCLUSÃO DOS EMBARGANTES NO POLO PASSIVO DA

EXECUÇÃO - DECISÃO QUE APLICOU MULTA, RECONHECEU A FORMAÇÃO DE

GRUPO ECONÔMICO E DESCONSIDEROU A PERSONALIDADE JURÍDICA DA

EXECUTADA QUE JÁ FOI OBJETO DE RECURSO NOS AUTOS DE EXECUÇÃO -

MATÉRIA PRECLUSA - MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. Agravo retido conhecido e

desprovido. Apelação desprovida.

(TJPR - 15ª C.Cível - AC - 1612153-0 - Curitiba - Rel.: Elizabeth M F Rocha - Unânime -

J. 05.04.2017)

Inteiro Teor

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1612153-0, da 13ª Vara
Cível do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba, em que
figuram como Apelantes, Apoio Consultoria Assessoria Ltda. e Outros e, como
Apelada, Lawrence Investimentos Imobiliários Ltda.
1. Trata-se de apelação cível interposta por Apoio Consultoria Assessoria Ltda. e
Outros, da sentença que julgou parcialmente procedentes os embargos opostos à
execução movida por Lawrence Investimentos Imobiliários Ltda., para “reduzir os juros
da cláusula 3.2 do contrato de mútuo a 1% (um por cento) ao mês, devendo a parte
exequente apresentar novos cálculos nos autos de execução, permanecendo os
demais termos do contrato” (mov. 213.1 ­ f. 03). Diante da sucumbência recíproca, as
partes foram condenadas ao rateio das custas processuais e ao pagamento de
honorários advocatícios em favor da parte adversa fixados em 10% sobre o valor da
causa, autorizada a compensação.

602

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Em suas razões recursais, os Apelantes/embargantes requerem, preliminarmente, o


conhecimento de seu agravo retido. No mais, sustentam, em síntese, a falta de
interesse processual da Exequente, na medida em que “somente aquela manifestação
realizada trinta dias antes de 04/07/2012, por qualquer um dos mutuários, poderia
importar em obstáculo à automática prorrogação do contrato em tela” (mov. 230.1 ­ f.
07).
Acrescentam que o contrato firmado entre as partes não pode ser objeto de
execução, pois “trata-se de contrato de abertura de crédito maquiado como se de
mútuo fosse” (f. 16). Além disso, alegam que a sentença deve ser reformada “para fins
de, ante a existência de rendimentos de Support suficientes ao adimplemento do
mútuo executado (indevidamente retidos e manipulados pelo representante da
Embargada), negar-se a formação de grupo econômico, bem como a desconsideração
da personalidade jurídica da lide, excluindo os ora Recorrentes da lide executiva” (f.
26).
Por fim, insurgem-se contra sua condenação ao pagamento da multa fixada por ato
atentatório à dignidade da justiça, sob o argumento de que não faziam parte da
execução quando da condenação.
Processado o recurso, os autos foram remetidos a este Tribunal.
2. Agravo retido Os Agravantes/executados requerem, preliminarmente, o
conhecimento do Agravo Retido de mov. 99.1, pelo qual se insurgiram contra a
decisão que determinou a exibição dos documentos requeridos pela parte contrária na
petição de mov. 85.1, sob pena de incidência do disposto no artigo 359 do CPC/73.
Pois bem.
Nas razões do recurso, os Agravantes argumentaram, em suma, que “os documentos
exigidos pela parte Embargada se tratam de documentos expedidos por Morada Bella
Ltda., empresa completamente estranha aos presentes Embargos” (mov. 99.1 ­ f. 05).
Acrescentam que “A venda praticada, cujos documentos são postulados pelo
Agravado, trata-se de objeto de discussão da ação de n.º 0033913-
95.2013.8.16.0001, em trâmite perante a 16ª Vara Cível da Comarca de Curitiba.
Quer-se dizer que referida documentação não haverá de servir para resolver questões
acerca da inexigibilidade do título, ou do excesso de execução praticado” (f.
06).
Sem razão.
Isso porque, embora os Agravantes/executados sustentem que os documentos
requeridos pertencem à Morada Bella Ltda., empresa que não faz parte dos presentes
autos, verifica-se da análise dos autos de execução em apenso que houve o
reconhecimento da formação de grupo econômico entre a empresa inicialmente
executada e a ora Embargante, sendo inclusive desconsiderada sua personalidade
jurídica.
Nesse passo, oportuno ressaltar que não houve qualquer reforma dessa decisão, de
modo que as partes subsistem no polo passivo da execução.
Ademais, no que se refere à incidência do artigo 359 do CPC/73 ao caso, como
ensina Antônio Carlos Marcato, a exibição regulada nos artigos 355 a 363, do Código
de Processo Civil de 1973, é sempre incidental, pressupondo a utilização do resultado
603

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

da prova no âmbito do processo em curso. 1 O artigo 359 do Código de Processo


Civil prevê a sanção para a hipótese de não atendimento à determinação judicial,
estabelecendo, quanto à parte, a relativa admissão da veracidade dos fatos que se
pretendiam provar com a exibição.
Assim, deve ser mantida a decisão que determinou a exibição de documentos, sob
pena de presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor.
Nesse sentido, destacam-se os seguintes precedentes do STJ:
“CIVIL. PROCESSO CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS. EXTRATOS BANCÁRIOS. SUSPENSÃO DO
PROCESSO. DESCABIMENTO. INTERESSE DE AGIR. VERACIDADE FICTA.
PRESUNÇÃO. POSSIBILIDADE. DECISÃO MANTIDA.
(...) 3. O STJ pacificou o entendimento segundo o qual, em exibição incidental de
documentos, cabe a presunção de veracidade ficta dos fatos que a parte adversa
pretendia comprovar com a juntada dos documentos solicitados (art.
359 do CPC), cujas consequências serão avaliadas, pelo juízo de origem, em conjunto
com as demais provas produzidas nos autos.
4. Agravo regimental a que se nega provimento.” (STJ, 4ª Turma, AgRg no AREsp
424698/SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, j. 09/12/2014, DJe 16/12/2014)
“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE
FAZER. RECONHECIMENTO DE CONTRATO DE DISTRIBUIÇÃO DE CARTÕES
TELEFÔNICOS COM CLÁUSULA DE EXCLUSIVIDADE.
1 MARCATO, Antônio Carlos. Código de Processo Civil Interpretado. 2ª ed. São
Paulo: Atlas, 2005, p. 1127. INCIDENTE DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS.
PRESUNÇÃO DE VERACIDADE. SÚMULA N. 83 DO STJ. (...) 1. Em ação de exibição
incidental de documentos, ante a não apresentação de documento, é possível
presumir a veracidade ficta do fato que se pretendia comprovar, a teor do art. 359 do
CPC, cujos efeitos serão analisados pelo juiz da causa com base no conjunto de provas
constantes dos autos. Incidência da Súmula n. 83/STJ. (...)” (STJ, 3ª Turma, AgRg no
AREsp 1391525/PE, Rel.
Min. João Otávio de Noronha, j. 25/11/2014, DJe 12/12/2014)
“AGRAVO REGIMENTAL EM MEDIDA CAUTELAR - PRESENÇA CONCOMITANTE
DOS CORRELATOS REQUISITOS - DEFERIMENTO A FIM DE CONFERIR EFEITO
SUSPENSIVO AO RECURSO ESPECIAL. INSURGÊNCIA DO REQUERIDO.
(...) 4. Em relação à sanção de desobediência (art. 362, do CPC), cabe destacar que
esta Corte de Uniformização reputa ser passível sua aplicação quando os documentos
pretendidos se encontram em poder de terceiros, estranhos à lide, e não à própria
parte, porquanto, em tais casos, incide a busca e apreensão (exibição cautelar) ou a
presunção de veracidade dos fatos lastreados no instrumento cuja apresentação se
almejava (exibição incidental - art. 359 do CPC). Precedente: REsp 1279081, Rel.
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, DJe de 07/12/2012. (...)” (STJ, 4ª Turma, AgRg na
MC 20827/PR, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 21/08/2014, DJe 08/09/2014)
“AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS
(EXTRATOS). OBRIGAÇÃO NÃO CUMPRIDA. MULTA COMINATÓRIA. AUSÊNCIA DE

604

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PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS 83, 211 E 372 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE


JUSTIÇA. ENUNCIADOS 282 E 356 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
1. Segundo a jurisprudência do STJ, na ação de exibição de documentos não cabe
aplicar multa cominatória (Súmula 372). Esse entendimento aplica-se, pelos mesmos
fundamentos, para afastar a cominação de multa diária para forçar a parte a exibir
documentos em medida incidental no curso de ação ordinária. Nesta, ao contrário do
que sucede na ação cautelar, cabe a presunção ficta de veracidade dos fatos que a
parte adversária pretendia comprovar com o documento (CPC, art. 359), cujas
consequências serão avaliadas pelo juízo em conjunto com as demais provas
constantes dos autos, sem prejuízo da possibilidade de busca e apreensão, nos casos
em que a presunção ficta do art. 359 não for suficiente, ao prudente critério judicial.
Incidência da Súmula 83 do STJ. (...)” (STJ, 4ª Turma, AgRg no REsp 1409428/MS, Rel.
Min. Maria Isabel Gallotti, j. 05/08/2014, DJe 15/08/2014)
O feito ora analisado consiste em embargos à execução, no qual foi determinado a
exibição incidental de documentos, medida cabível nesta modalidade, valendo
salientar que o art. 359 do Código de Processo Civil cuida de presunção ficta de
veracidade; daí o desprovimento do presente recurso.
3. Apelação Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso
interposto.
3.1. Falta de interesse processual Sustentam os Apelantes a falta de interesse
processual da Embargada, diante da previsão expressa no instrumento contratual a
respeito da renovação automática do mútuo celebrado entre as partes.
Sem razão.
Da análise do contrato executado é possível perceber que foi estipulado entre as
partes o período de um ano para pagamento do valor mutuado, que se encerraria em
04/07/2012 (cláusula 2.1 mov. 1.4 dos autos de execução).
Da mesma forma, consta expressamente na cláusula 3.1 do referido contrato que “O
valor principal cedido a título de mútuo pelo MUTUANTE à MUTUÁRIA deverá ser
restituído integralmente ao final do contrato, ou seja, até 04/07/2012, ou quando as
partes pactuarem”.
Dito isso, percebe-se com bastante clareza que a cláusula que estipula a prorrogação
automática do contrato somente será válida para o caso de cumprimento das
obrigações nele estabelecidas.
Assim, como os Apelantes não cumpriram com sua obrigação de quitar o valor
mutuado até a data estipulada, não há que se falar em renovação do contrato por
descumprimento desse instrumento por parte da mutuária.
Ademais, a rescisão do contrato ocorreu pela inadimplência da mutuária e não pela
notificação juntada no mov. 1.6 dos autos de execução como sustentam os Apelantes,
sendo que esta serviu apenas para fins de constituição em mora, de acordo com a
legislação vigente.
Aliás, sobre esse tema alegam os Apelantes que a notificação acima citada “exigia tão
somente o adimplemento dos juros que se venceram até a data em que expedida,
juros estes que, conforme sentença agora combatida, foram declarados abusivos e
limitados ao percentual de 1% ao mês” (mov. 230.1 ­ f. 08).
605

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Seguindo esse raciocínio, concluíram que “quando do recebimento de notificação


extrajudicial (1.6 dos autos de n.º 58109-66.2012), encontrava-se a mutuária na
condição de adimplente para com a Recorrida, porquanto confessado, por este, o
adimplemento de R$ 127.534,08 (cento e vinte e sete mil quinhentos e trinta e quatro
reais e oito centavos)” (f. 10).
O que se verifica, na verdade, é que os Apelantes buscam alterar a realidade dos
fatos, na medida em que a notificação extrajudicial encaminhada pela Exequente é
bastante clara ao relatar que o valor devido pela executada perfaz o “montante total
de R$ 1.078.877,47 (um milhão, setenta e oito mil, oitocentos e setenta e sete reais e
quarenta e sete centavos)” (mov. 1.6 dos autos de execução). Essa mesma notificação
relaciona as parcelas inadimplidas e os juros sobre elas incidentes, não existindo
dúvidas de que o valor cobrado se refere ao total mutuado e não pago até o
vencimento estipulado, restando prejudicada toda a argumentação recursal nesse
sentido.
Desse modo, o recurso não merece provimento neste aspecto.
3.2. Exigibilidade do título Os Embargantes/apelantes argumentam, ainda, sobre a
ausência de exigibilidade do título executado, tendo em vista se tratar de contrato de
abertura de crédito em conta corrente, “cujo objeto é a concessão de crédito rotativo
até o limite de R$ 1.000.000,000 (um milhão de reais)” (f. mov. 230.1 ­ f. 14).
Primeiramente, oportuno destacar que não houve qualquer comprovação nesse
sentido, sobretudo diante dos documentos juntados no mov. 1.5 dos autos de
execução, que demonstram a transferência de valores diretamente da Exequente para
a Executada, com a finalidade de crédito em conta corrente, entre 12/07/2011 a
21/09/2011, totalizando o valor mutuado; daí a formalização do contrato de mútuo em
execução.
Além disso, a credora poderia executar esse contrato, desde que acompanhado de
demonstrativos e documentos que comprovassem a evolução do débito. E, da análise
dos documentos que instruíram a petição inicial da execução (mov. 1.8), verifica-se que
a Exequente demonstrou a evolução da dívida, não deixando qualquer dúvida a
respeito da forma como se chegou ao quantum exequendo.
Assim, não há que se falar em incerteza ou iliquidez do título, pois os documentos que
instruem a execução cumprem os requisitos legalmente previstos; daí o desprovimento
do recurso neste tópico.
3.3. Formação de grupo econômico e desconsideração da personalidade jurídica ­
multa de 1% aplicada na execução Os Apelantes insurgem-se, ainda, contra a parte da
sentença que considerou preclusa a discussão a respeito da desconsideração da
personalidade jurídica e formação de grupo econômico, sob o fundamento de que
essas questões foram objeto de uma decisão proferida nos autos de execução, já
recorrida “conforme item 153 dos autos n. 58109-66.2012, sendo que a parte tenta
rediscutir o tema nestes autos, o que não é permitido, tentando obter nova decisão de
tema que já teve decisão e está em grau recursal” (mov. 213.1 ­ f. 02).
Pois bem.
Em que pese a argumentação de que os Embargantes tiveram ciência da decisão que
desconsiderou a personalidade jurídica da executada e reconheceu a formação de
606

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grupo econômico apenas quando intimados para apresentarem seus embargos à


execução, verifica-se que houve a interposição de agravo de instrumento contra essa
decisão, o qual restou desprovido (mov. 709.1 dos autos de execução).
Aliás, referida decisão ainda aplicou a multa por ato atentatório à jurisdição, matéria
que também é objeto de insurreição recursal, sendo que houve a interposição de
outro agravo de instrumento, cujo julgamento manteve a multa aplicada, conforme
pode se observar da decisão de mov. 18.2.
Desse modo, tendo em vista que as insurgências aqui manifestadas já foram objeto
de recurso, correta a sentença que considerou preclusa a discussão a respeito da
inclusão dos Apelantes no polo passivo da execução, mesmo fundamento para não
adentrar na questão sobre a multa por ato atentatório à dignidade da justiça.
Sendo assim, a existência de devedores com rendimentos suficientes à satisfação do
débito não impede que o mesmo seja cobrado dos Embargantes, eis que legítimos
para figurarem como devedores na execução.
4. De conseguinte, conclui-se pelo conhecimento e desprovimento do agravo retido,
bem como pelo conhecimento parcial e desprovimento do recurso de apelação
interposto pelos Embargantes.
Diante do exposto, ACORDAM os integrantes da Décima Quinta Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar
provimento ao agravo retido e à apelação, nos termos da fundamentação.
Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Desembargador Luiz Carlos Gabardo, com
voto, e dele também participou, com voto, o Excelentíssimo Desembargador Shiroshi
Yendo.
Curitiba, 05 de abril de 2017.
Elizabeth M. F. Rocha, Juíza de Direito Substituta em Segundo Grau.

2.5. LUIZ CEZAR NICOLAU (SUPLENTE)

2.5.1. IRDR – FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE FORNECIMENTO DE

ÁGUA – ADMISSÃO

INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS. DANO MORAL

FUNDADO NA FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE FORNECIMENTO DE

ÁGUA.MUNICÍPIO DE INAJÁ. COMARCA DE PARANACITY. ANÁLISE DOS

REQUISITOS PARA ADMISSÃO DO INCIDENTE. ARTIGOS 976 E 977 DO CPC/2015.

PRESSUPOSTOS LEGAIS PREENCHIDOS. EFETIVA REPETIÇÃO DE PROCESSOS QUE

607

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CONTÊM CONTROVÉRSIA SOBRE AS MESMAS QUESTÕES UNICAMENTE DE

DIREITO. RISCO DE OFENSA À ISONOMIA E À SEGURANÇA JURÍDICA

CONSTATADO. SUSPENSÃO DOS PROCESSOS VERSANDO SOBRE A MESMA

MATÉRIA NA FORMA E PELO PRAZO DO ART. 980 DO CPC/2015. JUÍZO DE

ADMISSIBILIDADE POSITIVO.

(TJPR - Seção Cível Ordinária - IRDR - 1676846-4 - Paranacity - Rel.: Luiz Cezar Nicolau

- Unânime - J. 23.06.2017)

Inteiro Teor

1) RELATÓRIO:
Trata-se de Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas suscitado por este
relator, com fulcro nos arts. 976 e seguintes do Código de Processo Civil/2015, nos
autos de Apelação 1.636.200-6, em que é apelante Francisco da Conceição e apelada
Companhia de Saneamento do Paraná.
O incidente foi suscitado com base na efetiva repetição de questão unicamente de
direito referente a ocorrência de dano moral decorrente da falha na prestação de
serviço público de fornecimento de água no Município de Inajá, pertencente a
Comarca de Paranacity.
O pedido de instauração foi apreciado pela 1ª Vice-Presidência, nos termos do art.
261, cabeça, do Regimento Interno desta Corte, que assim deliberou: “Por meio do
procedimento supra referido, o Desembargador Luiz Cezar Nicolau, integrante da 8ª
Câmara Cível, encaminhou a solicitação de instauração de Incidente de Resolução de
Demandas Repetitivas tendo em vista a Apelação Cível sob o nº 1.636.200-6, oriunda
do Juízo Único da Comarca de Paranacity, em que são partes como Apelante
Francisco da Conceição e como Apelada a empresa Companhia de Saneamento do
Paraná - SANEPAR. (...).
O Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas uma vez recebido no âmbito das
atribuições da Presidência deste Tribunal e, submetido à apreciação inicial pela 1ª
Vice-Presidência na forma do art. 15, § 3º, inc. VIII, do Regimento Interno, ante a
delegação conferida pelo Decreto Judiciário 024- DM, tem sua verificação restrita as
circunstâncias do art. 261, § 2º, do RITJPR.
Quanto à existência de processo de competência originária em tramitação no 2º grau
não há nenhuma dúvida a respeito, eis que as certidões acostadas informam a
propositura de centenas de Apelações Cíveis tramitando em diversas Câmaras desta
Corte de Justiça, referentes a mesma questão de direito.
Conforme bem observado pelo subscritor do pedido, além da multiplicidade de feitos
com repetição de demandas absolutamente idênticas, o que fundamenta a existência
dos pressupostos previstos no artigo 976 do CPC/2015, não se pode ignorar que há
um número expressivo de divergências entre as Câmaras de Responsabilidade Civil e

608

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as Câmaras especializadas em Prestação de Serviços, com dissenso manifestado em


várias dúvidas de competência encaminhadas para esta 1ª Vice-Presidência, consoante
explicitado na exposição inicial.
Ante o exposto, determino: a) A admissibilidade do presente Incidente de Resolução
de Demandas Repetitivas, na forma dos artigos 261, §§ 1º e 2º do Regimento Interno
desta Corte de Justiça, com o regular encaminhamento à egrégia Seção Cível,
constando como Relator, o Desembargador Luiz Cezar Nicolau, que também integra o
referido órgão colegiado. (...).” (sic, fl. 34/35-TJ).
Admitido o processamento do Incidente pela 1ª Vice-Presidência, na forma do art.
261, §§ 3º e 4º, do Regimento Interno, com sua submissão à Seção Cível, passa-se ao
exame da admissibilidade, em conformidade com o art. 262, § 1º, do Regimento
Interno, e o art. 981 do Código de Processo Civil/2015.
2) FUNDAMENTAÇÃO E VOTO:
2.1) Estabelece o art. 976 do CPC/15 que é admissível a instauração do Incidente de
Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR) quando houver, a um só tempo: (a) efetiva
repetição de processos que contenham controvérsia sobre a mesma questão
unicamente de direito; (b) risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica.
2.2) Quanto a efetiva repetição dos processos.
Restou devidamente comprovada por meio da Certidão do Departamento Judiciário,
setor de distribuição e autuação deste Tribunal (fl. 13/33-TJ), o seguinte:
“Diante do relatório disponibilizado em 16 de março de 2017 pelo Departamento de
Tecnologia da Informação e Comunicação, verificou- se contar o montante de 861
(oitocentos e sessenta e um) processos autuados neste Egrégio Tribunal de Justiça,
tendo como comarca de origem, Paranacity e como parte, Companhia de Saneamento
do Paraná ­ SANEPAR. (...). Dentre os processos autuados, 358 (trezentos e cinquenta
e oito) estão distribuídos e conclusos com seus respectivos Relatores, e 503
(quinhentos e três) processos aguardam sorteio e distribuição” (sic).
2.3) Quanto a controvérsia sobre a mesma questão.
A controvérsia sobre a mesma questão unicamente de direito resta caracterizada,
consistindo na deliberação se ocorre dano moral nos casos de falha na prestação de
serviço de fornecimento de água.
Os usuários do Município de Inajá aduzem, em síntese, que: (a) embora adimplam
regularmente com suas obrigações, a Sanepar descumpre com seu dever de
fornecimento contínuo e adequado de água às residências, eis que recorrentemente
há falta no abastecimento de água e, quando do retorno do serviço, a água carrega
consigo impurezas, ficando temporariamente inadequada ao uso; (b) a despeito da má
prestação de serviços, Sanepar cobra uma “taxa mínima” mensal de 10 m³; (c) não
obstante as reclamações constantes perante a Companhia de Saneamento, inclusive
por parte de órgãos públicos (como a Câmara Municipal de Inajá), esta permanece
inerte; (d) em razão das constantes falhas na prestação de serviços (ato ilícito), têm sua
saúde, alimentação, bem-estar e higiene tolhidos (dano e nexo de causalidade), o que
dá ensejo a indenização por dano moral.
A SANEPAR afirma, em síntese, que: (a) a legitimidade ativa apenas se configura nos
casos em que haja demonstração de que os autores residem no imóvel e pagam as
609

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

respectivas contas de água; (b) nunca houve descontinuidade no serviço de


fornecimento de água no Distrito de Inajá, excetuada a única data de 01/01/2014, por
volta das 1:00h da madrugada, em que houve pane elétrica no quadro de comando da
bomba do poço tubular profundo, o que demandou manutenção elétrica para
substituição de peças, que foi concluída às 13:12h do mesmo dia; (c) no âmbito
estadual, o art. 35 do Decreto Estadual 3.926/1988 prevê a legitimidade das
interrupções para fim de manutenção, e nas hipóteses de caso fortuito ou força maior;
(d) no âmbito federal, a Lei 8.987/1995 dispõe que não caracteriza a descontinuidade
do serviço a interrupção oriunda de situações de emergência motivadas por razões de
ordem técnica ou de segurança; (e) a Lei de Saneamento (Lei 11.445/2007) prevê a
possibilidade de interrupção dos serviços quando houver necessidade de efetuar
reparos, modificações ou melhorias nos sistemas; (f) é obrigatória, em todas as
edificações no Estado do Paraná, a instalação de reservatórios com capacidade mínima
de um dia de consumo (art. 23 do Decreto Estadual 3.926/1988); (g) caso os usuários
cumpram com seu dever de manter reservatórios (caixa d’água) com capacidade
adequada (mínimo de 500 litros), eventuais períodos de manutenção não ensejarão a
falta de água; (h) os casos de Paranacity e Inajá são distintos quanto a eventuais falhas
na distribuição de água; (i) o sistema de distribuição atual atende adequadamente a
demanda, e as obras já realizadas ou em fase de planejamento e execução se
destinam a melhoria da capacidade de atendimento futura, conforme a estimativa de
crescimento da demanda nos próximos anos; (j) a cobrança mínima de 10m³ é
autorizada mediante o Decreto Estadual 3.926/1988; (l) a cidade de Inajá nunca
enfrentou e nem enfrenta problema de falta d’água, tendo sido abastecida
ininterruptamente durante todos os anos; (m) não houve ato ilícito nas interrupções
decorrentes da necessidade de manutenção, o que impede a pretensão indenizatória;
(n) ainda que se admita, a título argumentativo, a interrupção do serviço, não haveria
dano moral, mas mero aborrecimento
quotidiano; (o) eventuais condenações comprometeriam o funcionamento da empresa
e o adequado funcionamento do sistema de distribuição de água.
Não há controvérsia sobre o fato de que ao menos nos dias 31/12/2013 e 01/01/2014
houve interrupção na prestação do serviço para todos os usuários do Município de
Inajá, como reconhecido pela própria SANEPAR.
As controvérsias, portanto, consistem em determinar: (i) se a legitimidade ativa requer
a demonstração de que os autores residem no imóvel e são usuários regulares do
serviço; (ii) o que caracteriza a interrupção na prestação de serviço; (iii) a interrupção na
prestação de serviço para fim de manutenção configura ato ilícito, (iv) a cobrança da
taxa mínima configura cobrança abusiva; (v) a interrupção no fornecimento de água,
por si só e por qualquer lapso temporal, enseja dano moral, (vi) a presença de
impurezas na água, por si só, causa dano moral.
2.3.1) Quanto aos fatos deve ser ressaltado que o Incidente de Resolução de
Demandas Repetitivas não serve ao propósito de dirimir a controvérsia sobre em quais
dias efetivamente houve a interrupção do serviço na região. Conforme estabelece o
inciso I do art. 976 do CPC/15, o incidente se presta a solucionar controvérsias sobre a
mesma questão unicamente de direito.
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2.4) Quanto ao risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica.


Conforme ressaltado, há atualmente 861 (oitocentos e sessenta e um) recursos
autuados nesta Corte envolvendo os mesmos fatos, sem que haja até o momento
orientação jurisprudencial uniforme, o que, por si só, gera grave risco de ofensa à
isonomia e à segurança jurídica.
Outrossim, destaque-se que, dentre os recursos, alguns foram distribuídos e
apreciados pelas Câmaras com competência para julgar ações
relativas a prestação de serviços (11ª e 12ª Câmaras Cíveis), outros às Câmaras com
competência para julgar ações relativas a responsabilidade civil (8ª, 9ª e 10ª Câmaras
Cíveis), o que sobreleva os riscos mencionados.
2.5) Resta preenchido o requisito imposto pelo art. 976, § 4º, do CPC/15, eis que não
há no âmbito dos Tribunais Superiores recurso afetado para definição de tese sobre a
questão de direito material aqui debatida.
2.6) Quanto às questões unicamente de direito a serem afetadas.
Devem ser submetidas à deliberação desta Seção Cível as seguintes questões, com a
finalidade de estabelecer teses cuja aplicação se dará a todos os casos que envolvam
idêntico ponto de direito: (a) Se a aferição da legitimidade ativa requer a
demonstração de que os autores residem no imóvel e são usuários regulares do
serviço de fornecimento de água perante a Sanepar; (b) Quais elementos caracterizam
a efetiva interrupção na prestação de serviço de fornecimento de água; (c) Se a
paralização temporária no fornecimento de água, para fim de manutenção ou reparo
na rede, configura ato ilícito; (d) Se a cobrança da taxa mínima configura cobrança
abusiva; (e) Se a interrupção no fornecimento de água, caso comprovada, por si só e
por qualquer lapso temporal, enseja dano moral; (f) Se reiteradas interrupções no
fornecimento de água, caso comprovadas, e ainda que motivadas por força maior,
caso fortuito ou necessidades de manutenção ou reparo na rede, ensejaram dano
moral; (g) Se a presença de impurezas na água, por si só, causa dano moral.
2.7) Devem ser suspensos os processos que tramitam em primeiro e segundo grau no
Estado versando sobre a mesma questão de direito, na forma e pelo prazo
estabelecido no art. 980, parágrafo único, do CPC/15.
2.8) Diante do exposto, voto no sentido de admitir o incidente de resolução de
demandas repetitivas, para afetar as questões unicamente de direito acima delineadas,
e determinar a suspensão de todos os processos em tramitação nos Juizados Especiais
e nos Juízos de primeiro e segundo grau de jurisdição do Estado, considerando-se a
Apelação 1.636.200-6, de minha relatoria, como representativa da controvérsia.
3) DISPOSITIVO:
ACORDAM os magistrados integrantes da Seção Cível, por unanimidade, em admitir
o incidente de resolução de demandas repetitivas, na forma e para os fins acima
estabelecidos.
Participaram do julgamento os Desembargadores Mário Luiz Ramidoff, Sigurd Roberto
Bengtsson, Fernando Ferreira de Moraes, Ramon de Medeiros Nogueira, Domingos
Ribeiro da Fonseca, Shiroshi Yendo, Abrahan Lincoln Calixto, Stewalt Camargo Filho,
Salvatore Antônio Astuti, Francisco Luiz Macedo Junior, José Sebastião Fagundes
Cunha, Espedito Reis do Amaral, José Hipólito Xavier da Silva e Tito Campos de Paula.
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Curitiba 23 junho 2017.


(assinado digitalmente) Des. Luiz Cezar Nicolau, relator

2.5.2. ACIDENTE – ENGAVETAMENTO

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL.ACIDENTE DE TRÂNSITO.

ENGAVETAMENTO DE VEÍCULOS.PEDIDO PARCIALMENTE PROCEDENTE.

INSURGÊNCIA DA RÉ.REDUÇÃO DA VERBA INDENIZATÓRIA. NÃO

CABIMENTO.ACOLHIMENTO DO VALOR CALCULADO NO ORÇAMENTO MENOS

ONEROSO PARA CONSERTO DO VÉICULO. MONTANTE QUE NÃO SE REVELA

DESPROPOCIONAL AO QUE O AUTOR EFETIVAMENTE DEIXOU DE ANGARIAR

PELA VENDA DO VEÍCULO NAQUELE ESTADO DE AVARIA. VALOR MERAMENTE

ESTIMATIVO E ABSTRATO DA TABELA FIPE. SENTENÇA ESCORREITA. RECURSO

NÃO PROVIDO.

(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1661093-0 - Curitiba - Rel.: Luiz Cezar Nicolau - Unânime - J.

22.06.2017)

Inteiro Teor

1) RELATÓRIO:
Trata-se de recurso de apelação interposto pela ré contra sentença em cujo
dispositivo está assim consignado: “Diante do exposto, julgo parcialmente
procedentes os pedidos formulados nesta ação de indenização por danos materiais
proposta por Sebastião Ferreira Santiago em face de Cleonice Goudart, para o fim de
condenar a requerida ao pagamento de indenização por dano material no valor de R$
9.143,00 (nove mil, cento e quarenta e três reais), corrigido monetariamente pela
média do INPC/IGP-DI e acrescido de juros de mora de 1% (um por cento) ao mês
desde a data do evento danoso até o efetivo pagamento.
Como o autor sucumbiu em parte mínima do pedido, na forma do art. 86, parágrafo
único, condeno a requerida ao pagamento das custas, despesas processuais e
honorários advocatícios ao procurador do requerente. Fixo os honorários em 15%
(quinze por cento) sobre o valor da condenação, considerando o grau de zelo do
profissional, o tempo de trâmite do processo, com a necessidade de produção de
prova pericial e realização de audiência de instrução, bem como pela complexidade da
causa (CPC, art. 85, § 2º).

612

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Considerando que a requerida é beneficiária da justiça gratuita (mov. 39.1, item II),
suas obrigações decorrentes da sucumbência ficarão sob condição suspensiva e
somente poderão ser executadas se, nos 5 (cinco) anos subsequentes ao trânsito em
julgado, o credor demonstrar que deixou de inexistir a situação de insuficiência,
extinguindo-se, passado esse prazo, as obrigações do beneficiário (CPC, art. 98, § 5º).
Por fim, julgo extinto o processo, com resolução de mérito, com fundamento no
artigo 487, I, do Código de Processo Civil” (sic, mov. 100.1).
Sustenta, em síntese, que: (a) “os valores apresentados a título de orçamentos para
conserto do veículo exorbitam e bastante da realidade a não ser que seja considerado
um veículo em péssimo estado de conservação capaz de gerar um orçamento de R$
9.143,00 (nove mil cento e quarenta e três reais)” (sic); (b) não é justo que seja
condenada ao pagamento equivalente a um veículo novo, eis que não houve perda
total do veículo avariado; (c) a soma do valor da venda do veículo avariado com o valor
indenizatório é superior ao valor do veículo previsto na Tabela Fipe, havendo, assim,
enriquecimento sem causa do autor, devendo o valor excessivo ser excluído da
condenação. Pede o provimento do recurso para que haja “redução proporcional do
menor orçamento ou haja minoração para patamar que melhor atenda à hipótese
descrita no caso concreto” (sic).
O apelo foi contrariado (mov. 110.1), com o encaminhamento dos autos a este
Tribunal.
2) FUNDAMENTAÇÃO E VOTO:
2.1) Conheço do recurso porque adequado, tempestivo e isento de preparo ante a
concessão da gratuidade.
2.2) Cuida-se de ação de indenização por dano material ajuizada em razão do
acidente de trânsito ocorrido as 12h20m do dia 05/10/2014, na Rua dos Pioneiros, em
Curitiba, em que o veículo conduzido pela ré
Cleonice colidiu contra a traseira do veículo pertencente ao autor Sebastião,
provocando engavetamento.
O sentenciante consignou que “a indenização referente ao valor para conserto do
veículo deve ser concedida nos termos em que postulada.
O pedido está fundamentado em três orçamentos (mov. 1.5), sendo que o autor
pretende receber conforme o de menor valor, no importe de R$ 9.143,00, o que
corrobora com a afirmação deste juízo, por ocasião do saneamento do processo, que a
apuração do prejuízo deve levar em conta três orçamentos de empresas idôneas,
como feito pelo autor (mov. 39.1). O valor pretendido pelo autor é inferior ao valor de
mercado do veículo pela cotação da Tabela FIPE à época do acidente (mov. 30.1), o
que denota a ausência de pretensão de enriquecimento ilícito. Por outro lado, a venda
do veículo, no mesmo mês do acidente, pelo valor de R$ 5.500,00, conforme descrito
na declaração de imposto de renda do autor (mov. 45.2), não faz com que este
montante seja abatido do valor da indenização porque, de uma forma ou outra, o
autor efetivamente suportou perdas. A venda do veículo aconteceu no mesmo mês do
acidente (outubro de 2014) e por preço muito inferior à cotação da Tabela FIPE (R$
13.355,00), o que dá a entender que o veículo fora alienado no estado em que estava
e que o autor, por isso, suportou prejuízo de R$ 7.855,00 pela diferença com a média
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de mercado. Ora, não tivesse avariado o veículo, certamente a venda seria pelo valor
médio de mercado ou em quantia próxima a isso, e não por montante correspondente
a 41% do valor de mercado. Note-se que a diferença resultante da perda do autor é
bem próxima do valor pretendido a título de indenização, o que demonstra a venda
por preço reduzido justamente porque o veículo estava batido” (sic).
2.3) O pedido da apelante para que seja reduzido o valor da indenização por dano
material não merece ser acolhido.
O autor efetivamente demonstrou que vendeu o veículo avariado naquele mesmo
estado por R$ 5.500,00 (mov. 42.5), ao passo que o preço do bem em condições
normais de uso calculado de acordo com a Tabela Fipe equivaleria a R$ 13.555,00
naquela época (mov. 30.1). Sob essa realidade, a ré alega que o valor da condenação
(R$ 9.143,00) é superior ao efetivo prejuízo, que deveria ser calculado de acordo com
a diferença entre o valor de mercado e o da venda.
Ocorre que, como reconheceu a própria apelante, a Tabela Fipe constitui mera
estimativa abstrata do valor do veículo, de forma que o método pleiteado por ela para
cálculo do prejuízo sofrido pelo autor de acordo com aquele instrumento de referência
não se revela inarredável no caso concreto, eis que há outra fonte (site iCarros) que
avaliou o modelo em R$ 14.524,63 (mov. 30.1).
A propósito, ao contrário do que alegou a apelante, as fotos do veículo sinistrado
logo após o evento danoso possibilitam reconhecer que não se tratava de bem em
péssimo estado de conservação, razão pela qual não há outros fatores hábeis a
relativizar a conclusão retratada na decisão recorrida.
Assim, como adequadamente ressaltou a sentenciante, o valor pretendido pelo autor
a título de indenização por dano material, que se limitou ao montante calculado no
orçamento menos oneroso, revela-se adequado a ressarcir o prejuízo sofrido, sem que
importe em enriquecimento indevido da vítima, eis que proporcional ao que deixou de
aferir com a venda do veículo em condições normais.
2.4) Por imposição do § 11 do art. 85 do CPC há necessidade de elevar os honorários
de sucumbência, que foram arbitrados em 15% (quinze por cento) da condenação. O
fator objetivo especificado pelo legislador, para tanto, foi “o trabalho adicional
realizado em grau de recurso” (sic), que não exigiu dos procuradores do vencedor da
demanda excessivo esforço intelectivo na elaboração das contrarrazões, ante a relativa
simplicidade da matéria, razão pela qual se eleva a verba honorária de sucumbência
para dezessete por cento da condenação.
2.5) Diante do exposto, voto no sentido de negar provimento a apelação da ré e
manter a sentença, com majoração da verba honorária para dezessete por cento sobre
o valor da condenação.
3) DISPOSITIVO:
ACORDAM os Magistrados integrantes da 8ª Câmara Cível, à unanimidade de votos,
em não prover o recurso e ratificar o pronunciamento atacado, com elevação dos
honorários de sucumbência para dezessete por cento.
Participaram do julgamento o Juiz de Direito Substituto em 2º Grau Ademir Ribeiro
Richter e o Desembargador Gilberto Ferreira.
Curitiba 22 junho 2017.
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(assinado digitalmente) Des. Luiz Cezar Nicolau, relator

2.5.3. ACIDENTE – DANO MORAL PELA INDISPONIBILIDADE DO VEÍCULO –

CRITÉRIOS PARA FIXAÇÃO DE CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS MORATÓRIOS

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL E MORAL. ACIDENTE DE

TRÂNSITO. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO.INSURGÊNCIA DO RÉU. ALEGAÇÃO DE

QUE OS FATOS NARRADOS CONFIGURAM MERO DISSABOR NÃO

INDENIZÁVEL.NÃO OCORRÊNCIA. ACIDENTE SOBRE BEM QUE NÃO PERFAZ

PEQUENA MONTA, ACARRETANDO NA SUA INDISPONIBILIDADE POR CERCA DE

DUAS SEMANAS. DANO MORAL CONFIGURADO.FIXAÇÃO EM TRÊS MIL REAIS.

QUANTIA QUE NÃO SE MOSTRA EXAGERADA, E SIM ADEQUADA E COMPATÍVEL

COM O ABALO PSÍQUICO EMOCIONAL PELO QUAL PASSOU O AUTOR. JUROS

MORATÓRIOS SOBRE O VALOR DA INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. TERMO

INICIAL. DATA DO EVENTO DANOSO.CORREÇÃO MONETÁRIA A INCIDIR DESDE

O ARBITRAMENTO DA INDENIZAÇÃO. HONORÁRIOS DE SUMBÊNCIA ARBITRADO

EM VINTE POR CENTO SOBRE O VALOR ATUALIZADO DA CONDENAÇÃO ANTE A

REALIDADE DO CASO CONCRETO.RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. Estado do

Paraná Apelação 1.661.201-2 - 8ª Câmara Cível 2

(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1661201-2 - Curitiba - Rel.: Luiz Cezar Nicolau - Unânime - J.

22.06.2017)

Inteiro Teor

1) RELATÓRIO:
Trata-se de recurso de apelação interposto pelo réu contra sentença em cujo
dispositivo está assim consignado: “Diante do exposto, em relação à segunda
requerida, julgo procedente o pedido inicial, condenando solidariamente os
requeridos ao pagamento de R$ 1.055,40 (um mil, cinquenta e cinco reais e quarenta
centavos), referente à franquia paga pelo requerente e a conversão do vídeo de
segurança, acrescidos de juros moratórios de 1% (um por cento) ao mês e correção
monetária pelo INPC, ambos contados desde a citação.

615

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Condeno o primeiro requerido ao pagamento de R$ 3.000,00 (três mil reais) a título


de indenização por danos morais, acrescidos de juros moratórios de 1% (um por cento)
ao mês e correção monetária pelo INPC, o primeiro incidindo a partir o evento danoso
e o segundo da citação.
Por fim, condeno solidariamente os requeridos ao pagamento de despesas
processuais e honorários advocatícios os quais fixo em R$ 2.000,00 (dois mil reais),
com base no art. 85 § 8º do CPC, considerando o trabalho produzido, a complexidade
da causa, bem como a duração do processo” (sic, mov. 20.1)).
Sustenta, em síntese, que: (a) a colisão de trânsito ocorrida não foi capaz de gerar
abalo moral ao autor, sendo que a própria sentenciante reconheceu que acarretou em
“certo dissabor” (sic); (b) assim, inexistem elementos caracterizadores do dever de
indenizar, eis que o autor não se desincumbiu de comprová-los; (c) caso contrário, o
valor da indenização
por dano moral deve ser reduzido a quantia proporcional ao prejuízo sofrido, sob pena
de gerar enriquecimento sem causa ao autor; (d) os juros moratórios e a correção
monetária a incidir sobre a indenização por dano moral devem ser contados desde a
data do arbitramento da verba indenizatória; (e) os honorários devem ser fixados entre
dez e vinte por cento do valor da causa, eis que ao tempo da prolação da sentença já
era vigente o novo Código de Processo Civil. Pede, assim, o provimento do recurso
para esses fins.
O apelo foi contrariado (mov. 37.1), com o encaminhamento dos autos a este
Tribunal.
2) FUNDAMENTAÇÃO E VOTO:
2.1) Conheço do recurso porque adequado, tempestivo e preparado.
2.2) Cuida-se de ação de reparação de dano material e moral ajuizada ante o acidente
de trânsito ocorrido as 19h00m do dia 25/09/2010, na Rua Ângelo Sampaio, em
Curitiba, em que o veículo conduzido pelo réu Paulo colidiu contra a região da roda
traseira do veículo VW Crossfox 2008, pertencente ao autor Ronaldo, que se
encontrava estacionado, sem ocupantes, em área permitida.
2.3) Não há insurgência do réu quanto ao reconhecimento da prática do ato ilícito
causador do dano e a consequência responsabilização sua pelo ressarcimento dos
prejuízos dele decorrentes.
2.4) Quanto ao dano moral e o valor respectivo.
É inequívoco que o apelado experimentou abalo emocional em decorrência do
acidente de trânsito, eis que o prejuízo material adveio sobre veículo que não perfazia
pouca monta especialmente à época dos fatos, ao passo que foi privado de sua
utilização por cerca de duas semanas, conforme demonstram os comprovantes de
pagamento de serviço de taxi (mov. 1.1).
Essa realidade não se constitui mero aborrecimento ou desconforto. Causa abalo
psíquico em qualquer pessoa, especialmente considerando ainda que o autor não
cooperou de qualquer forma para ressarcir a vítima. Não há dúvida alguma, portanto,
que é devida indenização a esse título.

616

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

O ordenamento jurídico adota o sistema aberto ­ não tarifado ­ para sua fixação, de
modo que fica ao prudente critério do juiz a estipulação, em conformidade com as
circunstâncias e particularidades do caso concreto.
Deve servir a indenização como um lenitivo, um consolo e conforto ao lesado pelo
dano causado e, ao agente, de advertência para que não volte a proceder de tal
maneira, não podendo, portanto, ser ínfima a ponto de nada representar, nem
exagerada a ponto de se constituir fator de enriquecimento sem causa.
E a magistrada adequadamente consignou que “o critério da fixação da indenização
deve ser fixada levando-se em conta tanto a qualidade do atingido, como a
capacidade financeira do ofensor, de modo a inibi-lo a futuras reincidências,
ensejando-lhe expressivo, mas suportável, gravame patrimonial. O objetivo da
indenização é tentar, de modo aproximado, minimizar ao prejudicado o agravo
sofrido, porém jamais servir de meio para enriquecimento fácil de quem a requer.
Deve ser considerado, no pedido do valor da indenização, a extensão dos danos
efetivos e potenciais, mas também, por uma questão de bom senso, a capacidade
econômica do requerido em pagar a indenização. De pouco ou nada adianta avaliar a
própria imagem em cifras astronômicas, quando o autor do dano é economicamente
frágil e incapaz de suprir a demanda a contento. A condenação serve também, de
modo oblíquo, como lição a terceiros sobre o risco de praticar atos danosos ao
patrimônio ou imagem de terceiros, e como atestado de idoneidade da imagem
prejudicada pelo autor do ilícito. Tendo em vista, portanto, a extensão do dano
causado, a capacidade econômica da requerida e o caráter de repreensão pela
conduta praticada, arbitro a indenização a título de danos morais em R$ 3.000,00 (três
mil reais)” (sic).
A valoração pecuniária deve subsistir. E isso porque não é possível considerar que a
extensão do dano foi menor que aquela já estimada pela sentenciante a ponto de
justificar a redução do montante arbitrado, considerando ainda a impossibilidade de
se arbitrar quantia ínfima sob pena de tornar inócua a indenização de acordo com os
propósitos aos quais ela se destina.
Assim, considerando (a) o grau de reprovabilidade da conduta do réu; (b) a extensão
dos danos sofridos pelo autor; (c) o potencial econômico do réu; (d) que o valor
arbitrado pela sentenciante a título de dano moral se coaduna com as circunstâncias
evidenciadas nos autos; (e) que o valor indenizatório deve ser o mais adequado
possível a trazer um lenitivo ao lesado e consistir em efetiva punição pedagógica ao
causador do dano, sem que seja ínfima ou exagerada, o caso em análise não comporta
redução do montante arbitrado.
2.5) Quanto aos juros de mora e a correção monetária.
A responsabilidade é extracontratual. Incidem aqueles, portanto, desde o evento
danoso, como determinado na sentença, e que está em conformidade com a
orientação do Superior Tribunal de Justiça (Súmula 54).
A atualização monetária sobre o valor do dano moral deve incidir desde a fixação
(Súmula 362 da Corte Superior), e não da citação como consignado na decisão
recorrida.
2.6) Quanto aos honorários de sucumbência.
617

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Foram arbitrados em dois mil reais. Pugna o réu sejam estabelecidos entre dez a vinte
por cento da condenação. A sentença é condenatória. Aplica-se, portanto, a hipótese
prevista na primeira parte do § 2º do art. 85 do Código de Processo Civil, ou seja, “os
honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre
o valor da condenação”.
O dano material foi especificado em R$ 1.055,40 e o dano moral em R$ 3.000,00,
totalizando R$ 4.055,40 (sem considerar atualização monetária e juros de mora em
ambas as verbas).
A quantia de R$ 2.000,00 corresponde a quase a praticamente a metade do valor da
condenação imposta (que é, também, o proveito econômico postulado e obtido pelo
autor), o que se mostra, efetivamente, excessivo.
Portanto, considerando, a relativa simplicidade da matéria debatida, o zeloso trabalho
desenvolvido pelos patronos do autor, a realização de audiência instrutória, o tempo
decorrido desde o ajuizamento da ação até a sentença (cinco anos), a verba honorária
deve ser fixada em 20% (vinte por cento) sobre o valor atualizado da condenação.
2.7) Diante do exposto, voto no sentido de dar parcial provimento a apelação do réu
para (a) estabelecer que a correção monetária deve ser calculada a partir da data da
fixação do valor da
indenização por dano moral, (b) arbitrar os honorários de sucumbência em 20% (vinte
por cento) sobre o valor atualizado da condenação imposta e (c) manter, quanto aos
demais termos, a sentença.
3) DISPOSITIVO:
ACORDAM os Magistrados integrantes da 8ª Câmara Cível, à unanimidade de votos,
em prover parcialmente o recurso e determinar a incidência da correção monetária
desde a data do arbitramento da indenização por dano moral, fixar os honorários
decorrentes da sucumbência em vinte por cento do valor total atualizado da
condenação, e ratificar, no mais, o pronunciamento atacado.
Participaram do julgamento o Juiz de Direito Substituto em 2º Grau Ademir Ribeiro
Richter e o Desembargador Gilberto Ferreira.
Curitiba 22 junho 2017.
(assinado digitalmente) Des. Luiz Cezar Nicolau, relator

2.5.4. AGRAVO DE INSTRUMENTO – CPC/15 – ROL TAXATIVO

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA. DECISÃO QUE DETERMINOU O

DESMEMBRAMENTO DO PROCESSO COM DECLINAÇÃO DA COMPETÊNCIA PARA

A JUSTIÇA FEDERAL.INSURGÊNCIA DOS AUTORES. DECISÃO PROFERIDA NA

VIGÊNCIA DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO

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RESTRITO ÀS HIPÓTESES CONTEMPLADAS NO ART. 1.015. ROL TAXATIVO QUE

NÃO CONTEMPLA A DELIBERAÇÃO ATACADA. RECURSO NÃO CONHECIDO.

(TJPR - 8ª C.Cível - AI - 1561491-4 - Curitiba - Rel.: Luiz Cezar Nicolau - Unânime - J.

22.06.2017)

Inteiro Teor

1) RELATÓRIO:
Trata-se de recurso de agravo de instrumento interposto pela ré contra decisão
proferida nos autos 17938-72.2009.8.16.0001, de ação de responsabilidade
obrigacional securitária, ajuizada por Daniel Souza Belo e outros (33), que, com
exceção ao pleito da autora Ludmila Slavik, declinou da competência para processar e
julgar a demanda para a Justiça Federal (fl. 452, 654/655, e 686).
Sustentam, em síntese, a falta de interesse da Caixa Econômica Federal no feito e,
consequentemente, a competência do Juízo Estadual para com todos, ante à
aplicação do Recurso Especial 1.091.393/SC, representativo da controvérsia (fl. 04/71).
O pedido de efeito suspensivo foi indeferido (fl. 1.256-vº).
Intimadas, tanto a agravada quanto a interessada apresentaram resposta ao recurso (fl.
1.263/1.287, 1.296/1.322).
2) FUNDAMENTAÇÃO E VOTO:
Por ocasião do pronunciamento inaugural, em 25/07/2016 (fl.
1247-vº), não conheci do agravo de instrumento por não estar a deliberação do juízo
de origem sujeita a revisão deste recurso.
Exerci, na sequência, juízo de retratação em razão do agravo interno interposto (fl.
1256-vº), porque havia na Câmara posicionamento minoritário em sentido oposto,
justamente em razão da alteração legislativa processual recente.
Ocorre, no entanto, que após intensos debates e por ocasião do julgamento do
Agravo Interno em Agravo de Instrumento 1.571.284-2/01, de relatoria do Des. Luis
Sérgio Swiech, julgado em 09/02/2017, formou-se no colegiado entendimento
uniforme no sentido de não é cabível agravo de instrumento quando há declinação de
competência, em ação de responsabilidade securitária, em razão do interesse da Caixa
Econômica Federal.
Efetivamente o recurso de agravo de instrumento ficou restrito às hipóteses
contempladas no art. 1.015, cabeça, e nas situações especificadas no seu parágrafo
único. Trata-se de numerus clausus. A matéria objeto da deliberação pelo magistrado
não faz parte desse rol.
O pronunciamento recorrido não versou sobre a admissão ou inadmissão da
intervenção de terceiros, tampouco excluiu litisconsorte ou rejeitou pedido de
limitação do litisconsórcio, mas, tão somente, declinou parcialmente da competência
para a Justiça Federal, ante a manifestação de interesse da Caixa Econômica Federal,
hipótese em que não cabe agravo de instrumento conforme deliberação deste
Colegiado.
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Ademais, o Juízo Federal é quem irá deliberar acerca da ocorrência ou não do


interesse da CEF a justificar o deslocamento da competência.
Diante do exposto, voto no sentido de não conhecer do recurso de agravo de
instrumento interposto pelos autores, por sua manifesta inadmissibilidade.
3) DISPOSITIVO:
ACORDAM os Magistrados integrantes da 8ª Câmara Cível, à unanimidade de votos,
em não conhecer do recurso na forma e como acima consignado.
Participaram do julgamento o Juiz de Direito Substituto em 2º Grau Ademir Ribeiro
Richter e o Desembargador Gilberto Ferreira.
Curitiba 22 junho 2017.
(assinado digitalmente) Des. Luiz Cezar Nicolau, relator

2.5.5. DANO MORAL DECORRENTE DE OFENSAS VERBAIS – PARÂMETRO

INDENIZATÓRIO

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL.PRETENSÃO FUNDADA EM OFENSA

VERBAL. PARCIAL PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. INSURGÊNCIA DAS PARTES.(A)

DANO MORAL. CONFIGURAÇÃO. AGRESSÕES VERBAIS PROFERIDAS POR SÓCIO

AO PROCURADOR DA EMPRESA, PELA VIA ELETRÔNICA, COM

ENCAMINHAMENTO DAS MENSAGENS A TERCEIROS SEM CORRELAÇÃO COM O

ÂMBITO SOCIETÁRIO. OFENSAS COM ESPECÍFICA INTENÇÃO DESABONADORA,

QUE EXCEDEM A MERA CRÍTICA AO PROFISSIONAL. DANO CONFIGURADO (ART.

186 DO CÓDIGO CIVIL E ART. 5º, INCISO X, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL). ABALO

MORAL E PSICOLÓGICO EXPERIMENTADO PELO AUTOR QUE, PELAS

CIRCUNSTÂNCIAS EVIDENCIADAS, ENSEJA O DEVER DE INDENIZAÇÃO.

SITUAÇÃO QUE ULTRAPASSOU OS LIMITES DO DISSABOR E DO

ABORRECIMENTO.(B) VALOR DA INDENIZAÇÃO. ARBITRAMENTO EM QUINZE MIL

REAIS QUE NÃO COMPORTA ALTERAÇÃO. VALOR PROPORCIONAL E RAZOÁVEL

FRENTE A REALIDADE DO CASO E A ORIENTAÇÃO DESTA CORTE EM CASOS

ENVOLVENDO OS MESMOS FATOS.(C) A PUBLICIDADE É CARACTERÍSTICA

INERENTE AOS ATOS PROCESSUAIS EM GERAL, SENDO DESNECESSÁRIA A

DECLARAÇÃO DA PUBLICIDADE DA SENTENÇA, NOTADAMENTE PORQUE NÃO A

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AÇÃO NÃO TRAMITA EM SEGREDO DE JUSTIÇA.RECURSO DO AUTOR

CONHECIDO EM PARTE E NÃO PROVIDO. RECURSO DO RÉU NÃO PROVIDO.

(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1644156-8 - Foz do Iguaçu - Rel.: Luiz Cezar Nicolau -

Unânime - J. 22.06.2017)

Inteiro Teor

1) RELATÓRIO:
Trata-se de recursos de apelação interpostos pelas partes contra sentença em cujo
dispositivo está assim consignado: “Diante do exposto, na forma do artigo 487, I do
Código de Processo Civil, julgo parcialmente procedentes os pedidos para condenar o
réu no pagamento de indenização por danos morais ao autor, no valor de R$
15.000,00 (quinze mil reais), corrigidos monetariamente pelo INPC (IBGE) e acrescidos
de juros de 1% (um por cento) ao mês, a partir da data desta sentença (cf. Correção
Monetária de Condenação Judicial em Ação
de Responsabilidade Civil, Arnaldo Wald, Revista de Processo nº 104, Ed.
RT, p. 143), o que faço com resolução do mérito.
De acordo com o artigo 87, § 1º, os vencidos respondem proporcionalmente pelas
despesas e pelos honorários.
Houve sucumbência recíproca. Com fundamento no artigo 86 do CPC, condeno o réu
no pagamento de 80% das custas e despesas processuais, e condeno o autor no
pagamento de 20% das custas e despesas processuais.
Fixo os honorários advocatícios em favor do advogado do autor em 15% do valor
atualizado da condenação, com base no artigo 85, § 2º, do Código de Processo Civil,
observado o grau de zelo, o lugar da prestação de serviço, que não exigiu significante
deslocamento, a natureza e a importância da causa, bem como sua complexidade, o
trabalho realizado e o tempo de tramitação do processo.
Fixo os honorários advocatícios em favor da advogada do réu em 10% do valor
atualizado da condenação, com base no artigo 85, § 2º, do Código de Processo Civil,
observado o grau de zelo, o lugar da prestação de serviço, que não exigiu significante
deslocamento, a natureza e a importância da causa, bem como sua complexidade, o
trabalho realizado e o tempo de tramitação do processo.
Não há compensação de honorários, conforme dispõe o § 14 do artigo 85 do CPC”
(sic, mov. 116.1).
Sustenta o réu, em síntese, que: (a) o próprio autor deu causa às eventuais ofensas
proferidas, tendo em vista sua atuação profissional inadequada; (b) houve
reciprocidade nas ofensas, que decorreram de desentendimento profissional entre as
partes; (c) a estrita crítica ao autor não constitui ato ilícito; (d) as expressões
empregadas não tiveram o intuito de ferir ou macular a imagem do autor, mas apenas
emitir juízos de valor acerca dos fatos; (e) as expressões mencionadas foram proferidas

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em ambiente societário específico, em que já pairavam discussões acaloradas; (f) as


listas de e-mail para quem foram copiadas as mensagens eletrônicas foram criadas
pelo próprio autor, sendo o encaminhamento das mensagens a terceiros mera
decorrência do uso da ferramenta “responder para todos”; (g) a indenização foi fixada
em valor exacerbado e comporta minoração. Pede, assim, a reforma da sentença para
que a pretensão seja julgada improcedente ou para reduzir o valor arbitrado (mov.
121.1).
Sustenta o autor, em síntese, que: (a) a indenização por dano moral foi fixada em valor
ínfimo, comportando majoração para R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais); (b) deve ser
autorizada a divulgação da sentença para “todas as pessoas que tiverem
conhecimento das ofensas” (sic). Pede a reforma da decisão para esses fins e também
para responsabilizar o réu pela integralidade dos ônus da sucumbência (mov. 124.1).
O autor apresentou contrarrazões sustentando, em suma, que: (a) a intenção do réu
em ofendê-lo restou caracterizada pelos termos empregados nos e-mails, que foram
encaminhados a diversas pessoas (integrantes da sociedade empresarial e terceiros);
(b) eventuais expressões hostis de sua parte foram apenas respostas aos sete meses de
ataques perpetrados pelo réu, não se podendo alegar “reciprocidade” nas agressões;
(c) não desempenhou a advocacia inadequadamente em momento algum, sendo
imotivadas as ofensas proferidas pelo réu; (d) o teor das agressões verbais e a
publicidade destas excede o mero aborrecimento, caracterizando o dano moral; (e) o
valor da indenização se demonstra reduzido ante a gravidade das agressões e o
potencial econômico do réu, não comportando minoração (mov. 129.1).
O réu apresentou resposta aduzindo, em resumo, que: (a) não houve dano nos fatos
narrados; (b) em todas as demais ações ajuizadas contra si, pelos mesmos fatos, ou
houve improcedência, ou o valor indenizatório foi fixado em no máximo R$ 5.000,00
(cinco mil reais), demonstrando ser incabível a pretensão de majoração; (c) é inviável a
pretensão de retratação, porque as expressões empregadas são estrito exercício do
direito de liberdade de expressão, sendo que o pleito foi indeferido em todos os
demais processos (mov. 131.1).
2) FUNDAMENTAÇÃO E VOTO:
2.1) Conheço dos recursos porque adequados, tempestivos e preparados.
2.2) Cuida-se de ação de indenização ajuizada ante supostas injúrias dirigidas pelo réu
ao autor. Aduz-se na inicial que: (i) o autor é advogado do Centro Educacional das
Américas (CEA) desde 2011, sendo também advogado do réu à época; (ii) o réu era
sócio majoritário e diretor-presidente do CEA; (iii) em meados de 2013 se iniciaram
tratativas informais entre o réu, a Universidade Federal da Integração Latino Americana
(UNILA) e a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) para uma possível
adjudicação dos imóveis da CEA, com participação do autor como advogado;
(iv) houve desentendimentos entre autor e réu quanto ao modo de operação da
adjudicação negociada, em que o réu supostamente buscava obter vantagens ilícitas
através da omissão de informações perante os demais sócios; (v) sendo o autor
advogado da sociedade empresarial, informou a situação aos demais sócios em
agosto/2014, momento a partir do qual o réu passou a proferir reiteradas ofensas à
sua honra, questionando a ética da sua atuação profissional; (vi) o réu proferiu diversas
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

agressões verbais via e-mail, sendo as mensagens eletrônicas encaminhadas aos sócios
do CEA, aos advogados destes e a terceiros (Procuradores da Fazenda Nacional,
Procuradores Federais da UNILA, representantes da UNILA, dentre outros); (vii)
também houveram agressões verbais em assembleia de sócios do CEA (mov. 1.1).
Pleiteia-se indenização por dano moral e a imposição do dever de retratação do réu
perante o autor.
O réu contestou afirmando que: (i) o autor foi antiético em sua atuação profissional,
beneficiando apenas alguns sócios (com os quais estava em conluio) em detrimento
dos interesses dos demais e da própria sociedade empresarial; (ii) “as discussões,
muitas vezes ríspidas e acaloradas ­ de ambas as partes ­, desenrolaram-se em
ambiente restrito e foram motivadas exclusivamente pela postura do Autor, na
qualidade de advogado do CEA” (sic) (mov. 25.1).
A pretensão foi julgada parcialmente procedente, consignando-se na sentença o
seguinte: “O autor afirma que prestou serviços se assessoria jurídica ao Centro
Educacional das Américas e que o réu, à época atuando como sócio
presidente da Sociedade, não concordou com condutas praticadas pelo autor, motivo
pelo qual encaminhou e-mails ofensivos para diversos contatos, o que resultou em
danos de ordem pessoal e profissional à imagem do autor.
Pela prova trazida ao processo percebe-se que estas ofensas foram além do âmbito
interno das relações havidas entre autor e réu.
Note-se que o réu não se limitou a encaminhar as comunicações eletrônicas somente
ao autor e aos sócios das sociedades envolvidas, mas enviou referidos e-mails a
terceiros, conforme se verifica com os e-mails juntados aos autos, eventos 1.6 a 1.18;
30.9 a 30.12.
Pelo teor das correspondências fica evidente a intenção do réu de ofender a honra
subjetiva do autor. A honra é um atributo inerente à personalidade cujo respeito à sua
essência reflete a observância do princípio da dignidade da pessoa humana. (...).
Portanto, quando o réu, referindo-se ao autor utilizou adjetivos negativos, tais como
`sem vergonha, safado, mau caráter, antiético, mentiroso, covarde, imoral’, deixou
clara sua intenção de ofender-lhe a honra.
Tal intenção fica evidenciada pelo fato de as correspondências eletrônicas terem sido
encaminhadas a terceiras pessoas estranhas ao processo de adjudicação discutido pela
Sociedade e aos respectivos quadros societários das empresas envolvidas. (...).
Quanto ao pedido de condenação do réu a retratar-se mediante pedido de desculpas
a ser veiculado entre as mesmas pessoas que tomaram parte no momento em que
cada agressão verbal foi propalada, bem como pelo mesmo meio de comunicação,
tenho que deve ser julgado improcedente.
Ainda que reprovável a atitude de réu, não se pode abordar o assunto como direito
de resposta previsto no artigo 5º, inciso V, da CR, pois não se trata de matéria relativa
a `direito de imprensa’” (sic).
Cinge-se a controvérsia em determinar (i) se houve dano moral, (ii) a quantificação da
indenização, e (iii) a possibilidade de tornar a sentença pública aos demais envolvidos.
2.3) Quanto ao dano moral.

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São fatos incontroversos que: (a) autor e réu foram advogado e diretor-presidente,
respectivamente, do Centro Educacional das Américas (CEA); (b) no período houve
desavenças entre estes, iniciadas em 2014; (c) o réu enviou e-mails ao autor com
expressões ofensivas, sempre copiando a mensagem eletrônica aos demais sócios e a
terceiros.
Aduz o réu que a indenização não é devida porque (i) as ofensas foram proferidas em
contexto de acaloradas discussões comerciais, sendo que as mensagens foram
transferidas apenas às pessoas relacionadas ao CEA, (ii) o autor deu causa às
agressões diante de sua atuação inadequada, sendo as expressões meras críticas aos
fatos, sem intenção de macular a imagem alheia, (iii) houve ofensas recíprocas entre as
partes, (iv) as expressões mencionadas são incapazes de ensejar dano moral, havendo
mero aborrecimento, (v) eventual publicidade dada às mensagens decorreu da função
“responder a todos” do sistema de e-mail, sem que haja intenção de tornar pública a
discussão.
Sem razão. Conquanto alegue que as mensagens circularam em meio restrito,
envolvendo apenas pessoas relacionadas ao âmbito empresarial, o próprio réu
reconheceu em audiência que, dentre as pessoas que recebiam os e-mails, estava
João Jabur, amigo pessoal sem nenhuma relação com o CEA (cd-rom 2’06”). O
mesmo se verifica nos e-mails de movs. 9.2, 25.5, 30.9, dentre outros, em que as
ofensas ao autor foram remetidas ao endereço “joão@jabur.com.br”.
Também se constata nas cópias dos e-mails que as mensagens foram enviadas para
pessoas evidentemente estranhas ao âmbito empresarial, como integrantes da UNILA,
da Advocacia Geral da União, da Uniamerica e da Procuradoria-Geral da Fazenda
Nacional (mov. 1.7/1.15/25.5).
Ainda que não houvesse a referida publicidade, esta Corte já decidiu, em casos
envolvendo o mesmo debate fático, que “é irrelevante, na hipótese, que o réu tenha
manifestado sua opinião por meio de correspondência eletrônica, enviada apenas aos
sócios do CEA, aos advogados e aos familiares, pois a configuração da
responsabilidade civil por injúria independe do conhecimento de terceiros acerca do
conteúdo dos e-mails” (AP 1.569.398-0, 9ª CCív, Rel. Des. Francisco Luiz Macedo
Junior, DJe 12/04/2017).
Nos mencionados e-mails se verifica o emprego de termos como “desprovido de
moral” (mov. 1.6/1.7), “imoral”, “safado”, “mau caráter”, “antiético” (mov. 9.3),
praticante de “bandidagens”, “safadezas” e “golpes”, “desprovido de caráter”,
“canalha” (mov. 25.5), “mentiroso”, “imoral”, “falso”, “sem caráter”, “bandido” (mov.
30.9), dentre outros.
O réu reconheceu, em audiência, a veracidade dos e-mails enviados (cd-rom 37”), e
que encaminhou cópias dos e-mails a terceiros (54”).
Não há evidência de que a atuação profissional do autor tenha sido inadequada ou
antiética, de modo a supostamente justificar as agressões proferidas. Ao contrário.
Denota-se que as ofensas foram ensejadas tão somente pela discordância entre as
partes quanto aos rumos da sociedade e as atuações de seus profissionais.
Nada obstante, ainda que se reconhecesse que a atuação profissional do autor fora
inadequada, tal fato não legitimaria as agressões verbais praticadas, sobretudo porque
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proferidas por meio eletrônico encaminhado a terceiros sem qualquer relação com o
ambiente empresarial.
As expressões acima destacadas excedem a “crítica” possível e tolerável, sem
intenção desabonadora, não podendo ser consideradas mero aborrecimento, pois
proferidas com evidente finalidade de macular a imagem do autor, a quem o réu se
referiu como “bandido”, “canalha”, “mau caráter”, dentre outros adjetivos.
Embora o réu alegue que houve ofensas recíprocas entre as partes, há nos autos
apenas um e-mail, datado de 21/05/2015, em que o autor disse ao réu: “Se comporte
Fouad. O senhor parece aquela criança birrenta querendo chamar atenção no
supermercado quando a mãe não deixa comprar chocolate. Por favor, pare de fazer
escândalos desnecessários e passar vergonha” (sic, mov. 25.5).
A referida mensagem, enviada após diversas ofensas recebidas pelo autor, não
configura efetiva “reciprocidade”, porque os termos nela empregados se revelam
moderados e sem intenção desabonadora ou ofensiva, não havendo indicação de que
outros e-mails similares tenham sido encaminhados pelo autor ao réu.
Quanto a alegação de que os e-mails “não foram copiados a terceiros
indiscriminadamente, ou seja, partiu dele [autor] os destinatários copiados, o réu
apenas usava a ferramenta `responder para todos’” (sic), não merece acolhimento. E
isso porque há indicação de que a remessa das mensagens a terceiros externos à
sociedade foi intencional e partiu do réu, como se verifica no e-mail de mov. 1.15,
onde consta: “Diz o ditado, `roupa suja se lava em casa’, mas considerando a
importância do assunto e a sua falta de caráter neste processo, assim como, a do
jurídico do CEA, e as pretensões descabidas dos donos da Angels, cabe a mim o
dever de levar ao conhecimento de todos os interessados no processo de adjudicação
o que está passando e como o assunto está sendo tratado pela sua administração
interina” (sic).
Os elementos de informação existentes nos autos permitem concluir que o réu
proferiu ofensas ao autor que excedem a mera crítica (ato ilícito), com a finalidade
específica de denegrir a honra deste (culpa), maculando indevidamente sua imagem
perante terceiros estranhos a relação societária (dano e nexo de causalidade).
Assim, caracterizados os requisitos configuradores da responsabilidade civil subjetiva
(ato ilícito, culpa, dano e nexo de causalidade), deve o réu responder pelas ofensas
proferidas perante o autor, na forma dos arts. 186 e 927 do Código Civil.
No mesmo sentido é a orientação deste Tribunal em casos similares, envolvendo o
mesmo debate fático perante o mesmo réu: “APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS.
OFENSA A HONRA. ENVIO DE CORRESPONDÊNCIA ELETRÔNICA COM
CONTEÚDO OFENSIVO. PALAVRAS NEGATIVAS A RESPEITO DO AUTOR
PROFERIDAS EM ASSEMBLEIA GERAL DOS SÓCIOS DE PESSOA JURÍDICA. ABUSO
DO DIREITO DE LIVRE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO. DANO MORAL
PRESUMIDO. RETRATAÇÃO. NÃO CABIMENTO. RECURSOS CONHECIDOS E NÃO
PROVIDOS. 1.Restando evidenciado que o réu proferiu palavras desabonadoras,
excedendo aos limites do direito à liberdade de expressão e ofendendo a honra e o
bom nome do autor, é devida a indenização por danos morais. 2. A retratação só é
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cabível quando houver prova de que a qualificação atribuída ao ofendido era indevida
e inverídica, circunstância que não foi objeto de investigação nestes autos” (AP
1.569.398-0, 9ª CCív, Rel. Des. Francisco Luiz Macedo Junior, DJe 12/04/2017).
“APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
OFENSA A HONRA. ENVIO DE CORRESPONDÊNCIA ELETRÔNICA COM
CONTEÚDO OFENSIVO. PALAVRAS NEGATIVAS A RESPEITO DO AUTOR
PROFERIDAS EM ASSEMBLEIA GERAL DOS SÓCIOS DE PESSOA JURÍDICA. ABUSO
DO DIREITO DE LIVRE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO. DANO MORAL
PRESUMIDO. QUANTUM INDENIZATÓRIO ARBITRADO DE ACORDO COM AS
CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO CONCRETO. RETRATAÇÃO. NÃO CABIMENTO.
REDISTRIBIÇÃO DA SUCUMBÊNCIA. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.
1. Restando evidenciado que o réu proferiu palavras desabonadoras, excedendo aos
limites do direito à liberdade de expressão e ofendendo a honra e o bom nome do
autor, é devida a indenização por danos morais. 2.
A fixação do quantum indenizatório é tarefa do juiz, devendo o arbitramento operar-se
com razoabilidade, proporcionalmente ao grau de culpa, aos níveis socioeconômicos
da parte ofendida e do ofensor e, ainda, levando-se em conta as circunstâncias do
caso.3. A retratação só é cabível quando houver prova de que a qualificação atribuída
ao ofendido era indevida e inverídica, circunstância que não foi objeto de investigação
nestes autos” (AP 1.486.756-4, 9ª CCív, Rel. Des. Francisco Luiz Macedo Junior, DJe
28/11/2016).
2.3.1) Aduz o autor que a indenização de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) é ínfima e
comporta majoração para R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), ao passo que o réu
pleiteia sua redução.
Conquanto o ordenamento jurídico tenha adotado o critério aberto (não tarifado), a
orientação do Superior Tribunal de Justiça recomenda o emprego do método bifásico
para fixação, assim estabelecendo: (a) na primeira fase se apura o valor básico da
indenização, considerando-se os julgados acerca da matéria (técnica do grupo de
casos); (b) na segunda fase se arbitra o valor definitivo da indenização a partir do valor
básico, ajustando-se às circunstâncias particulares do caso (AgRg no AREsp
809.951/RJ, Terceira Turma, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, DJe 07/03/2016).
A jurisprudência deste Tribunal converge para o valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais)
a R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais) como indenização para o mesmo caso fático,
envolvendo os mesmos e-mails e o mesmo réu: AP 1.531.875-1, 10ª CCív, Rel. Des.
Luiz Lopes, julgado em 30/03/2017 (vinte e cinco mil reais); AP 1.569.398-0, 9ª CCív,
Rel. Des. Francisco Luiz Macedo Junior, DJe 12/04/2017 (cinco mil reais); AP
1.486.756-4, 9ª CCív, Rel. Des. Francisco Luiz Macedo Junior, DJe 28/11/2016 (cinco
mil reais).
No presente caso o valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) se apresenta adequado à
realidade fática e não comporta alteração, considerando-se a média das indenizações
fixadas nos casos análogos e as circunstâncias da causa, quais sejam: (a) a exposição
das ofensas a terceiros externos ao âmbito societário, o que sobreleva a mácula a

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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

honra do autor; (b) a gravidade das ofensas e a específica intenção de denegrir a


imagem;
(c) a ausência de reciprocidade nas ofensas; (c) que o réu manteve a conduta ofensiva
mesmo após iniciada a tramitação processual; (d) o considerável potencial econômico
do réu; (e) a finalidade pedagógico- punitiva da indenização.
2.4) O autor desistiu do pedido de retratação em suas alegações finais (mov. 114.1),
pleiteando que “conste na sentença a possibilidade de o autor tornar a sentença
pública a todas as pessoas que tiveram conhecimento das ofensas” (sic).
Todos os atos processuais são, por sua natureza, públicos (art. 5º, LX, da Constituição
Federal e art. 189 do Código de Processo Civil), não havendo interesse de agir no
pleito de “tornar a sentença pública”.
2.5) Tendo em vista a sucumbência recíproca e o não provimento de ambos os
recursos, por imposição do § 11 do art. 85 do CPC há necessidade de majorar os
honorários de sucumbência, que foram arbitrados em 15% (quinze por cento) do valor
atualizado da condenação ao autor, e 10% (dez por cento) do valor atualizado da
condenação em favor da procuradora do réu.
O fator objetivo especificado pelo legislador, para tanto, foi “o trabalho adicional
realizado em grau de recurso” (sic), que, no presente caso, não exigiu das partes
excessivo esforço intelectivo ante a ausência de complexidade da matéria, razão pela
qual se elava a verba honorária para 17% (dezessete por cento) em favor do autor (que
advoga em causa própria) e 12% (doze por cento) em favor da procuradora do réu.
2.6) Diante do exposto, voto no sentido de (a) conhecer em parte e negar provimento
a apelação do autor, (b) negar provimento a apelação do réu, e (c) manter a sentença,
com majoração dos honorários de sucumbência ao autor para 17% (dezessete por
cento) do valor atualizado da condenação e à procuradora do réu para 12% (doze por
cento) do valor atualizado da condenação.
3) DISPOSITIVO:
ACORDAM os Magistrados integrantes da 8ª Câmara Cível, por unanimidade, em
conhecer em parte e negar provimento a apelação do autor, negar provimento a
apelação do réu e ratificar o pronunciamento atacado, com majoração dos honorários
de sucumbência para dezessete por cento do valor atualizado da condenação em
favor do autor e doze por cento do valor atualizado da condenação em favor da
procuradora do réu.
Participaram do julgamento o Juiz de Direito Substituto em 2º Grau Ademir Ribeiro
Richter e o Desembargador Gilberto Ferreira.
Curitiba 22 junho 2017.
(assinado digitalmente) Des. Luiz Cezar Nicolau, relator

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2.5.6. DIREITOS AUTORAIS

AÇÃO DE COBRANÇA. DIREITOS AUTORAIS. PEDIDO PARCIALMENTE

PROCEDENTE. INSURGÊNCIA DOS RÉUS. (A) LEGITIMIDADE PASSIVA DOS SÓCIOS-

PROPRIETÁRIOS.CONFIGURAÇÃO. ART. 110 DA LEI DE DIREITOS

AUTORAIS.ORIENTAÇÃO DESTE TRIBUNAL. (B) CRITÉRIOS DE FIXAÇÃO DOS

VALORES REFERENTES A COBRANÇA DE DIREITOS AUTORAIS. CONFORME

ORIENTAÇÃO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA E DESTA CORTE, O ECAD

POSSUI LEGITIMIDADE PARA FIXAR CRITÉRIOS RELATIVOS AO MONTANTE

DEVIDO A TÍTULO DE DIREITOS AUTORAIS, DEFINIDOS NO REGULAMENTO DE

ARRECADAÇÃO ELABORADO E APROVADO EM ASSEMBLEIA GERAL, COMPOSTA

PELOS REPRESENTANTES DAS ASSOCIAÇÕES QUE O INTEGRAM, COM TABELA

ESPECIFICADA DE PREÇOS. ELEMENTOS DE INFORMAÇÃO QUE DEMONSTRAM A

REALIZAÇÃO DE SHOWS E O EMPREGO DE SONORIZAÇÃO AMBIENTE, BEM

COMO A INCLUSÃO ESTABELECIMENTO RÉU NO CADASTRO DE USUÁRIOS DE

MÚSICA, SEM O PAGAMENTO DOS RESPECTIVOS DIREITOS AUTORAIS.

REQUISITOS DE EXIGIBILIDADE PREENCHIDOS.VALORES PLEITEADOS PELO

AUTOR DEVIDOS. RECURSO NÃO PROVIDO.

(TJPR - 12ª C.Cível - AC - 1361758-0 - Curitiba - Rel.: Luiz Cezar Nicolau - Unânime -

J. 21.06.2017)

Inteiro Teor

1) RELATÓRIO:
Trata-se de apelação interposta pelos réus contra sentença que julgou parcialmente
procedente o pedido de cobrança de direitos autorais e os condenou ao pagamento
de R$ 29.053,32 (vinte e nove mil e cinquenta e três reais e trinta e dois centavos), com
juros de mora de um por cento ao mês a contardesde a citação e correção monetária
com base na variação nominal da TR desde o evento danoso (violação do direito
autoral), bem assim das custas e dos honorários de 10% (dez por cento) do valor da
condenação (mov.63.1/81.1).
Sustentam, em síntese, que: (a) em preliminar, os sócios da empresa são parte
ilegítima; (b) o ECAD não demonstrou as datas referentes às cobranças e nem seus
critérios, apenas demonstrando em uma

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planilha os valores cobrados, incluindo dias em que o estabelecimento sequer estava


aberto; (c) há sentença da 12ª Vara Cível em favor da ABRABAR (Associação Brasileira
de Bares e Casas Noturnas) anulando todas as multas e cobranças realizadas pelo
ECAD nos últimos 12 (doze) anos com relação aos seus associados, o que também
abrange os valores pleiteados nestes autos. Pedem, assim, a reforma da sentença, com
a extinção do feito sem resolução de mérito com relação aos sócios da empresa, e o
julgamento de improcedência com relação ao estabelecimento comercial (mov. 93.1).
O apelo foi recebido em ambos os efeitos (mov. 100.1), contrariado (mov. 96.1), com
encaminhamento dos autos a este Tribunal.
2) FUNDAMENTAÇÃO E VOTO:
2.1) Conheço do recurso porque adequado, tempestivo e preparado.
2.2) Trata-se de ação de cobrança de direitos autorais ajuizada com fundamento na
execução de obras musicais, nas formas mecânica e ao vivo, sem autorização ou
pagamento dos respectivos direitos de autor. A pretensão foi julgada parcialmente
procedente, condenando-se a empresa e os sócios ao recolhimento dos valores
pleiteados.
Cinge-se a controvérsia em determinar (i) a legitimidade passiva dos sócios e (ii) a
exigibilidade dos valores cobrados.
2.3) Quanto a legitimidade passiva dos sócios.
Estabelece o art. 110 da Lei de Direitos Autorais (Lei 9.610/98) que “pela violação de
direitos autorais nos espetáculos e audições públicas, realizados nos locais ou
estabelecimentos a que alude o art. 68, seus proprietários, diretores, gerentes,
empresários e arrendatários respondem solidariamente com os organizadores dos
espetáculos”. Dentre os locais aludidos pelo art. 68 estão as boates e os bares. Assim,
é inconteste a solidariedade dos sócios quanto a violação de direitos autorais,
conforme orientação desta Corte: “AÇÃO DE COBRANÇA. DIREITOS AUTORAIS
SOBRE AS OBRAS MUSICAIS, LÍTERO-MUSICAIS E FONOGRAMAS INSERIDAS EM
FILMES E OUTRAS OBRAS AUDIOVISUAIS TRANSMITIDAS POR TV A CABO EM
QUARTOS DE HOTEL. ECAD. APELO Nº 1, DO AUTOR. 1. PROPRIETÁRIOS DO
HOTEL. SOLIDARIEDADE. ART. 110 DA LEI 9.610/98. LEGITIMIDADE PASSIVA
RECONHECIDA. (...).
RECURSO PROVIDO. APELO Nº 2, DOS RÉUS PREJUDICADO” (AP 1.506.910-6, 17ª
CCív, Rel. Des. Lauri Caetano da Silva, DJe 25/05/2016).
2.4) Quanto aos valores pleiteados.
Aduzem os réus que os valores não são exigíveis porque (i) não contêm informações
precisas acerca dos critérios de cobrança, além de serem pleiteados valores sobre dias
em que o estabelecimento estava fechado, e (ii) há sentença da 12ª Vara Cível em
favor da ABRABAR (Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas) anulando todas
as multas e cobranças realizadas pelo ECAD nos últimos 12 (doze) anos com relação
aos seus associados, o que também abrange os valores pleiteados nestes autos.
2.4.1) Quanto aos critérios de cobrança o autor apresentou Regulamento de
Arrecadação (mov. 1.7/1.8), Tabela de Preços (mov. 1.9/1.12) e os critérios de
cobrança empregados (1.42).

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Constata-se que os critérios de cobrança se basearam na execução de diversos shows


no período de 09/2011 a 01/2013, bem assim nos valores mensais cobrados conforme
a taxa média de utilização de sonorização ambiente, baseada em cálculo empreendido
pelo ECAD.
A realização dos shows restou cabalmente demonstrada por meio de informações
obtidas perante a própria empresa ré, bem como de Termos de Verificação de
Utilização de Obras Musicais (mov. 1.24/1.38).
O cálculo da média de utilização seguiu os parâmetros estabelecidos pelo
Regulamento de Arrecadação (mov. 1.41).
Os réus não contestaram especificamente nenhum destes elementos de informação.
Assim, há demonstração suficiente dos requisitos de exigibilidade fixados pela Lei
9.610/1998.
Também foi juntado Cadastro de Usuário de Música (mov. 1.16/1.17), em que se
verifica que os réus são cadastrados perante o ECAD como “usuário de música”,
apontando-se a realização de shows ao vivo, emprego de música por aparelhos para
sonorização ambiente e renda bruta média, elementos sobre os quais o réu
estabeleceu seus critérios de cobrança.
Embora os réus tenham alegado que o estabelecimento ficou fechado por inúmeras
vezes, inclusive para férias coletivas, tal afirmação foi apresentada de forma genérica,
sem apontar quais períodos são indevidos e por quê. Assim, esse argumento não
merece guarida.
Conforme entendimento consolidado pelo Superior Tribunal de Justiça, cumpre ao
ECAD estabelecer os critérios de cobrança dos direitos autorais, a serem definidos no
regulamento de arrecadação elaborado e aprovado em assembleia geral, composta
pelos representantes das associações que o integram, conforme tabela de preços
especificada: “RECURSO ESPECIAL. DIREITO AUTORAL. INTERNET.
DISPONIBILIZAÇÃO DE OBRAS MUSICAIS. TECNOLOGIA STREAMING.
SIMULCASTING E WEBCASTING. EXECUÇÃO PÚBLICA. CONFIGURAÇÃO.
COBRANÇA DE DIREITOS AUTORAIS.
ECAD. POSSIBILIDADE. SIMULCASTING. MEIO AUTÔNOMO DE UTILIZAÇÃO DE
OBRAS INTELECTUAIS. COBRANÇA DE DIREITOS AUTORAIS. NOVO FATO
GERADOR. TABELA DE PREÇOS. FIXAÇÃO PELO ECAD. VALIDADE. (...). 9. Está no
âmbito de atuação do ECAD a fixação de critérios para a cobrança dos direitos
autorais, que serão definidos no regulamento de arrecadação elaborado e aprovado
em Assembleia Geral, composta pelos representantes das associações que o integram,
e que contém uma tabela especificada de preços. Inteligência do art. 98 da Lei nº
9.610/1998. 10. Recurso especial provido” (REsp 1.559.264/RJ, Segunda Seção, Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 15/02/2017).
No mesmo sentido: AgRg no AREsp 61.148/MA, Quarta Turma, Rel. Min. Maria Isabel
Gallotti, DJE 26/06/2015; REsp 1.160.483/RS, Quarta Turma, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, DJe 01/08/2014; REsp 1.331.103/RJ, Terceira Turma, Min. Nancy Andrighi,
DJe 16/05/2013; AgRg nos EDcl no Ag 599.001/RJ, Terceira Turma, Rel. Min. Ricardo
Villas Bôas Cueva, DJe 15/08/2011.

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Outro não é o entendimento desta Câmara: “RECURSOS DE APELAÇÃO. AÇÃO


DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE E AÇÃO RECONVENCIONAL. SENTENÇA
QUE RECONHECEU A LEGALIDADE DA COBRANÇA, DETERMINANDO A
ABSTENÇÃO DO USO DE OBRAS MUSICAIS SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DO ECAD
E CONDENANDO A REQUERENTE AO PAGAMENTO DOS DIREITOS AUTORAIS
VENCIDOS E VINCENDOSRECURSO DE APELAÇÃO 1. PARTE
AUTORA/RECONVINDA. CERCEAMENTO DE DEFESA.
INOCORRÊNCIA. PROVAS DOS AUTOS SUFICIENTES À RESOLUÇÃO DA
CONTROVÉRSIA. A SIMPLES DISPONIBILIZAÇÃO DE APARELHOS RADIOFÔNICOS E
TELEVISORES EM QUARTOS DE HOTÉIS, MOTÉIS, CLÍNICAS E HOSPITAIS
AUTORIZA A COBRANÇA, PELO ECAD, DOS DIREITOS AUTORAIS DE TODOS OS
TITULARES FILIADOS ÀS ASSOCIAÇÕES QUE O INTEGRAM. NOS TERMOS DA
JURISPRUDÊNCIA DO E. STJ, O ECAD POSSUI LEGITIMIDADE PARA FIXAR
CRITÉRIOS RELATIVOS AO MONTANTE DEVIDO A TÍTULO DE DIREITOS AUTORAIS.
MANUTENÇÃO DA CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DOS VALORES VENCIDOS E
VINCENDOS. APELO DESPROVIDO. RECURSO DE APELAÇÃO 2. PARTE
REQUERIDA/RECONVINTE. PRETENSÃO DE EXTENSÃO DA CONDENAÇÃO ÁS
PARCELAS VINCENDAS. AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL. SENTENÇA QUE JÁ
ABARCA A PRETENSÃO RECURSAL. APELO NÃO CONHECIDO” (AP 1.412.548-5,
Rel. Des. Denise Kruger Pereira, DJe 12/08/2016).
Estando presentes os requisitos para a cobrança dos valores pleiteados, o autor faz jus
aos valores pleiteados.
2.4.2) Quanto a sentença proferida nos autos 59795- 30.2011.8.16.0001, de ação
declaratória, em trâmite perante o Juízo da 12ª Vara Cível do Foro Central da Comarca
da Região Metropolitana de Curitiba, consta em seu dispositivo: “Julgo procedente o
pedido aforado por Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas ­ ABRABAR em
face de ECAD ­ Escritório Central de Arrecadação e Distribuição para declarar a
nulidade de todos os autos de infração praticados pelo requerido sem as devidas
formalidades legais” (sic, mov. 1.88 daqueles autos).
A decisão foi confirmada por este Tribunal (AP 1.205.519-9, 6ª CCív, Rel. Des. Carlos
Eduardo A. Espínola, DJe 27/08/2014, cuja cópia está à fl. 36/41), a qual transitou em
julgado (certidão de fl. 35).
Extrai-se da leitura do dispositivo desse pronunciamento que não houve anulação de
absolutamente todos os autos de infração do ECAD, mas somente daqueles
“praticados pelo requerido sem as devidas formalidades legais” (sic).
Como já delineado acima, os valores pleiteados pelo autor no presente caso
preencheram as formalidades legais, não sendo o caso de sua anulação.
2.5) Diante do exposto, voto no sentido de negar provimento a apelação dos réus e
manter a sentença.
3) DISPOSITIVO:
ACORDAM os Magistrados integrantes da 12ª Câmara Cível, por unanimidade, em
não prover o recurso e ratificar o pronunciamento atacado.
Participaram do julgamento os Desembargadores Luis Espíndola e Roberto Antônio
Massaro.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Curitiba 21 junho 2017.


(assinado digitalmente) Des. Luiz Cezar Nicolau, relator

2.5.7. EMBARGOS DE TERCEIRO

EMBARGOS DE TERCEIRO. SUSPENSÃO DAS MEDIDAS CONSTRITIVAS SOBRE OS

BENS LITIGIOSOS OBJETO DOS EMBARGOS.INDEFERIMENTO. INSURGÊNCIA DA

EMBARGANTE. DOMÍNIO E POSSE SUFICIENTEMENTE DEMONSTRADOS. EFEITO

SUSPENSIVO QUE INDEPENDE DA PRESTAÇÃO DE CAUÇÃO NA HIPÓTESE EM

QUE NÃO HÁ PEDIDO DE MANUTENÇÃO OU REINTEGRAÇÃO DE POSSE. ART.

678, CABEÇA E PARÁGRAFO ÚNICO, DO CÓDIGO DE PROCESSO

CIVIL/15.PRESTAÇÃO VOLUNTÁRIA DE CAUÇÃO IDÔNEA. ALEGAÇÃO DE FRAUDE

A EXECUÇÃO QUE NÃO OBSTA A CONCESSÃO DA SUSPENSÃO, POR

CONSUBSTANCIAR O PRÓPRIO MÉRITO DOS EMBARGOS. RECURSO PROVIDO.

(TJPR - 8ª C.Cível - AI - 1615951-8 - Cascavel - Rel.: Luiz Cezar Nicolau - Unânime - J.

08.06.2017)

Inteiro Teor

1) RELATÓRIO:
Trata-se de agravo de instrumento interposto contra decisão proferida nos autos
25932-47.2016.8.16.0021, de embargos de terceiro, que que indeferiu a caução
ofertada e determinou o prosseguimento da execução com realização dos atos de
constrição do imóvel objeto dos embargos (fl. 243/244-TJ).
Sustenta a agravante, em síntese, que a caução não é necessária para concessão do
efeito suspensivo da execução na hipótese, e ainda que o fosse, o bem ofertado é
suficiente e adequado à garantia do juízo. Pede, por isso, a concessão de efeito
suspensivo, o regular processamento do recurso e o seu provimento para “o fim de
reste aceita a caução oferecida pela agravante e mantido o efeito suspensivo aos
embargos de terceiro; ou então dispensada a prestação de caução, uma vez que não
se verificam as hipóteses previstas no CPC, 674 e 678, parágrafo único, mantendo-se
igualmente o efeito suspensivo aos embargos de terceiro” (sic, fl. 4/17-TJ).
A liminar foi concedida (fl. 269/270-TJ) e os agravados apresentaram contrariedade,
afirmando, em suma, que: (a) a data apontada no contrato particular de compra e
venda (15/06/2001) é duvidosa e não corrobora com a data da escritura pública de
compra e venda (22/12/2014) e do registro (14/12/2005); (b) a aquisição da

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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

propriedade imobiliária se dá pelo registro, que foi posterior à data do acidente


(27/06/2002); (c) há fortes indicativos da ocorrência de fraude à execução, sendo
inadequada a atribuição de efeito suspensivo, sobretudo diante da longa tramitação
do feito (quatorze anos). Pedem a manutenção do pronunciamento recorrido (fl.
276/280- TJ).
2) FUNDAMENTAÇÃO E VOTO:
2.1) Conheço do recurso porque adequado, tempestivo e preparado.
2.2) Cuida-se de embargos de terceiro opostos a ação de indenização por dano
material e moral em fase de cumprimento de sentença.
A embargante aduz, em síntese, que é proprietária do imóvel de matrícula 692 do
Cartório de Registro de Imóveis de Catanduvas/PR, objeto de penhora nos autos
5312-68.2003.8.16.0021, tendo adquirido o referido bem antes do acidente
mencionado, o que torna ilegítima a penhora realizada (fl. 25/35-TJ). Pleiteia a
concessão de efeito suspensivo aos embargos, obstando a ordem de averbação da
penhora na matrícula do imóvel, e o julgamento de procedência para reconhecer sua
propriedade e afastar a penhora.
A magistrada ao analisar os requisitos necessários para a concessão do efeito
suspensivo da execução reconheceu a presença de todos eles e deferiu “efeito
suspensivo a estes embargos para o fim exclusivo de suspender, provisoriamente, os
atos de constrição patrimonial que estão sendo promovidos em desfavor do imóvel
detentor da matrícula de n. 692 do CRI da Comarca de Catanduvas ­ PR” (sic), tendo,
no entanto, condicionado “o efeito suspensivo acima concedido a prestação de
caução, conforme alude o art. 678, parágrafo único, do NCPC, podendo a mesma ser
prestada mediante a averbação da existência da ação no corpo da matrícula do
imóvel, ou outra garantia suficiente que seja capaz de garantir o valor total da
execução” (sic, fl. 113/114-TJ).
Foi oferecida em caução uma nota promissória emitida pela embargante no valor de
R$ 620.000,00 (seiscentos e vinte mil reais) ­ fl. 122/123-TJ.
A juíza assim deliberou a respeito: “1. Rejeito a garantia que foi oferecida no evento
23.2, pois (1) a nota promissória deveria ter sido emitida em favor do (a) embargado e
não deste juízo; (2) não foi noticiado o depósito do título de crédito em cartório; (3)
não há nos autos quaisquer elementos de convicção hábeis a permitir que se constate,
com segurança, a autenticidade da rubrica que foi registrada no sobredito título; e (4)
não foram apresentadas quaisquer provas a respeito da solvibilidade do (a)
embargante. 2. Intime-se. 3. No mais, cumpra-se aquilo que foi determinado no
evento 17.1” (sic, fl. 127-TJ).
A embargante, então, ofereceu o imóvel penhorado em caução e postulou fosse
reduzido a termo (fl. 133-TJ), o que foi indeferido ao argumento de que: “A garantia
estabelecida pela caução tem por objetivo garantir a liberação do bem objeto da
penhora, de modo que o embargante passará a usufruir integralmente do bem,
podendo até mesmo aliená-lo. Dessa maneira, torna-se absolutamente inviável e
ineficaz que a caução seja prestada com o próprio bem que se o pretende isentar da
constrição, pois o resultado seria o desaparecimento da garantia do juízo” (sic, fl.
243/244-TJ). Ainda, foi determinado o prosseguimento dos atos executórios.
633

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Cinge-se a controvérsia recursal em determinar viabilidade de atribuir efeito


suspensivo aos embargos de terceiro.
2.3) Dispõe o art. 678 do Código de Processo Civil que “a decisão que reconhecer
suficientemente provado o domínio ou a posse determinará a suspensão das medidas
constritivas sobre os bens litigiosos objeto dos embargos, bem como a manutenção
ou a reintegração provisória da posse, se o embargante a houver requerido”.
Em sede de cognição não exauriente, inerente a concessão de tutelas de urgência, há
elementos de informação suficientes à demonstração do domínio e da posse pela
embargante, consubstanciados pelos seguintes documentos em que a consta como
adquirente do imóvel: (a) contrato particular de compra e venda de 15/06/2001 (fl.
37/39-TJ); (b) escritura pública de compra e venda de 22/12/2004 (fl. 44/47); (c)
registro na circunscrição imobiliária em 14/12/2005.
Conquanto se alegue que o registro, ato mediante o qual se adquire a propriedade
imobiliária, é posterior ao acidente e ao ajuizamento do feito, é inequívoco que a
oposição de embargos de terceiro é viável através da mera apresentação de
compromisso de compra e venda, ainda que não haja registro.
Nesse sentido enuncia a Súmula 84 do Superior Tribunal de Justiça: “É admissível a
oposição de embargos de terceiro fundados em alegação de posse advinda do
compromisso de compra e venda de imóvel, ainda que desprovido do registro”.
A prestação de caução apenas constitui requisito à concessão das ordens de
manutenção ou reintegração da posse em embargos de terceiro, conforme prevê o
parágrafo único do art. 678 do Código de Processo Civil: “O juiz poderá condicionar a
ordem de manutenção ou de reintegração provisória de posse à prestação de caução
pelo requerente, ressalvada a impossibilidade da parte economicamente
hipossuficiente”.
No presente caso não há pedido de manutenção ou reintegração provisória de posse,
porque sequer a posse da agravante foi turbada ou esbulhada. Por conseguinte, não é
adequado condicionar a concessão da suspensão à prestação de caução.
Ademais, o registro da penhora já foi efetuado na matrícula do imóvel, de modo que
inexiste perigo de que o bem venha a ser alienado. Ainda que pudesse isso ocorrer
seu efeito seria absolutamente ineficaz entre as partes e também junto a eventuais
terceiros.
A alegação pelo agravado de que há indícios de fraude à execução não obsta a
concessão da suspensão, porque não há elementos suficientes para tal constatação em
sede de cognição não exauriente, e porquanto esse debate consubstancia-se no
próprio mérito dos embargos, sobre o qual é indevida a deliberação nesta ocasião.
2.4) Conquanto não obrigatória a caução, deve ser mantida na presente hipótese, eis
que ofertada pela agravante em seus pedidos (fl. 16-TJ), representando medida de
salvaguarda aos interesses dos embargados, não havendo prejuízo a nenhuma das
partes.
2.5) Diante do exposto, voto no sentido de dar provimento ao agravo de instrumento
da embargante para confirmar a liminar concedida e determinar a suspensão dos atos
executórios sobre o imóvel até a decisão definitiva dos embargos de terceiro,

634

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reconhecendo como válida a caução oferecida sobre o imóvel, devendo ser lavrado o
termo respectivo.
3) DISPOSITIVO:
ACORDAM os Magistrados integrantes da 8ª Câmara Cível, à unanimidade de votos,
em prover o recurso na forma e para os fins acima especificados.
Participaram do julgamento o Juiz de Direito Substituto em 2º Grau Alexandre
Barbosa Fabiani e o Desembargador Gilberto Ferreira.
Curitiba 08 junho 2017.
(assinado digitalmente) Des. Luiz Cezar Nicolau, relator

2.5.8. JUROS E CORREÇÃO POR DANO MORAL POR INSCRIÇÃO INDEVIDA

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANO

MORAL. INSCRIÇÃO INDEVIDA EM ÓRGÃO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. PEDIDO

PARCIALMENTE PROCEDENTE.INSURGÊNCIA DO AUTOR.(A) CAUSA DE PEDIR QUE

POSSIBILITA RECONHECER A PRETENSÃO DE DECLARAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE

RELAÇÃO JURÍDICA E NÃO APENAS DE UMA DAS DÍVIDAS. RECONHECIMENTO

DA FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO.(B) INSCRIÇÃO INDEVIDA DO NOME EM

SERVIÇO DE RESTRIÇÃO AO CRÉDITO. DANO MORAL PRESUMIDO. O

ORDENAMENTO JURÍDICO ADOTOU O CRITÉRIO ABERTO, NÃO TARIFADO, PARA

A FIXAÇÃO DO VALOR DA INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL, DEVENDO O

MAGISTRADO ANALISAR AS CIRCUNSTÂNCIAS E PECULIARIDADES EXISTENTES

PARA ASSIM PROCEDER, DE MODO QUE A QUANTIA NÃO SEJA NEM ÍNFIMA E

NEM EXCESSIVAMENTE ELEVADA, E SIM PROPORCIONAL E RAZOÁVEL À OFENSA

PRATICADA. CASO CONCRETO QUE ENSEJA ARBITRAMENTO DE QUINZE MIL

REAIS.(B.2) JUROS MORATÓRIOS DE UM POR CENTO AO MÊS.TERMO INICIAL.

DATA DO EVENTO DANOSO (DATA INSCRIÇÃO).CORREÇÃO MONETÁRIA DESDE

ESTA DATA PELA MÉDIA INPC/IGPD-I. Estado do Paraná Apelação 1.608.872-1 - 8ª

Câmara Cível 2(C) RESPONSABILIZAÇÃO DO RÉU PELO PAGAMENTO DAS CUSTAS

E HONORÁRIOS DE QUINZE POR CENTO DA CONDENAÇÃO.SUCUMBÊNNCIA A

SER SUPORTADA PELO RÉU.RECURSO PROVIDO.

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(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1608872-1 - Curitiba - Rel.: Luiz Cezar Nicolau - Unânime - J.

16.03.2017)

Inteiro Teor

1) RELATÓRIO:
Trata-se de apelação interposta pelo autor contra sentença que julgou parcialmente
procedente o pedido declaratório de inexistência de débito cumulado com
indenização por dano moral apenas para declarar a inexistência do débito no valor de
R$ 4.582,11 (quatro mil quinhentos e oitenta e dois reais e onze centavos),
condenando ambas as partes ao pagamento pro rata das custas e honorários de
sucumbência de dez por cento sobre o valor atualizado da causa.
Sustenta, em síntese, que: (a) a improcedência do pedido indenizatório não merece
prosperar porque a aplicação da Súmula 385 do Superior Tribunal de Justiça só se
justifica nos casos em que a pretensão indenizatória for deduzida diretamente contra o
órgão de proteção ao crédito por ter deixado de notificar previamente o devedor, nos
termos do art. 43, § 2º, do Código de Defesa do Consumidor, o que não se trata da
hipótese em discussão; (b) a própria jurisprudência da Corte Superior esclarece essa
circunstância, conforme entendimento consignado em decisões mais recentes em
relação a referida orientação sumular; (c) “Outrossim, como bem destacou o
magistrado, a negativação pré-existente advém do mesmo contrato, ou seja, a ré deu
causa há duas negativações e em ambas não conseguiu provar ser regular e legítimas
tais cobranças, sequer provou a existência de relação jurídica” (sic); (d) pretende
discutir a inexistência da relação contratual e não apenas a inexigibilidade dos valores
inscritos isoladamente considerados, razão pela qual o réu deve ser condenado ao
pagamento de indenização por dano moral em decorrência das duas anotações
irregulares. Pede, assim, o provimento do recurso para que a pretensão indenizatória
seja acolhida com a responsabilização do réu pela integralidade da verba da
sucumbência.
O apelo foi contrariado (mov. 64.1), com o encaminhamento dos autos a este
Tribunal.
2) FUNDAMENTAÇÃO E VOTO:
2.1) Conheço do recurso porque adequado, tempestivo e isento de preparo ante a
concessão da gratuidade.
2.2) Cuida-se de ação de declaratória de inexigibilidade de débito e indenização por
dano moral ajuizada em razão da inscrição indevida do nome do autor em cadastro de
restrição ao crédito.
O sentenciante reconheceu a inexigibilidade da dívida e por ocasião da análise do
pedido indenizatório consignou que “embora a anotação anterior tenha sido realizada
também pela ré, bem como, ao que parece, pelo mesmo contrato, não há pedido de
inexistência de tal débito. Por consequência, o pedido indenizatório não merece
acolhimento, fazendo jus a parte autora tão-somente ao cancelamento definitivo da
inscrição” (sic).
636

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Constata-se no extrato juntado com a inicial (mov. 1.8), que há duas dívidas originárias
do mesmo contrato bancário RE31366210182, sendo que a primeira, no valor de R$
1.179,62 foi anotada no SCPC na data de 15/07/2011, e a segunda, que perfaz R$
4.582,11, foi anotada em 17/10/2012.
O autor apresentou a seguinte causa de pedir: “A inclusão indevida que deverá ser
excluída do cadastro restritivo de crédito é: Banco Bradesco S/A, no valor de R$
4.582,11, incluída no SCPC em 17 de outubro de 2012, cujo contrato possui nº.
RE31366210182. Inclusive, é importante frisar que não se aplica ao presente caso a
súmula 385 do Egrégio Superior Tribunal de Justiça por ser esta a única inclusão em
seu nome (por serem irregulares todas as anotações em seu nome)”.
É possível concluir da petição inicial que o autor pretende a declaração de
inexigibilidade do débito total e não apenas do segundo débito, porquanto reputa
inexistente a relação jurídica que lhes deu origem.
Tanto é assim que na contestação o réu formulou um tópico específico acerca da
existência e da validade do contrato, contudo sem comprovar sua versão, o que
ensejou o reconhecimento da inexistência da dívida.
A propósito, o art. 322, § 2º do Código de Processo Civil determina que “a
interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação e observará o princípio
da boa-fé”, ou seja, deverá ser analisada a causa de pedir para fins da exata
compreensão dos limites da pretensão, e no caso concreto é possível vislumbrar que o
autor objetiva seja declarada a inexistência da relação contratual e não apenas da
segunda dívida anotada no SCPC.
Assim, deve ser acolhido o pedido para que seja reconhecida a inexistência de
relação contratual entre as partes, porquanto invertido ônus da prova - porquanto se
trata de relação de consumo - e ante a impossibilidade de o autor constituir prova
negativa, o réu deixou de comprovar sua origem, configurando a prática de ato ilícito
a inscrição do nome do autor no cadastro de proteção ao crédito por ambos os
débitos.
Ainda, consoante pacífica orientação da jurisprudência da Corte Superior, “a
inscrição/manutenção indevida do nome do devedor no cadastro de inadimplente
enseja o dano moral in re ipsa, ou seja, dano vinculado a própria existência do ato
ilícito, cujos resultados são presumidos” (AgRg no AREsp 346.089/PR, Quarta Turma,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/08/2013).
É impositivo, pois, que se reconheça a falha na prestação do serviço em decorrência
da inscrição indevida do nome do autor no cadastro restritivo, bem como a ocorrência
de dano moral, ensejando no dever de indenização com base na teoria do risco da
atividade prevista no art. 14 do Código de Defesa do Consumidor.
Frente a essa realidade tem-se que não se aplica a orientação da Súmula 385 do
Superior Tribunal de Justiça, porquanto a restrição negativa decorre do mesmo ato
praticado pelo réu.
2.3) Em relação ao valor da indenização por dano moral o ordenamento jurídico
nacional adotou o critério aberto (não tarifado), cabendo ao magistrado, com
prudência e parcimônia, atendendo as peculiaridades do caso concreto, arbitrá-lo.
Essa quantia não deve ser irrisória a ponto de nada representar ao agente causador do
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dano nem excessivamente elevada a ensejar enriquecimento sem causa ao lesado,


servindo como um lenitivo, um consolo e conforto ao lesado pelo dano causado e, ao
agente, de advertência para que não volte a proceder de tal maneira, não podendo,
portanto, ser ínfima a ponto de nada representar, nem exagerada capaz de se
constituir fator de enriquecimento sem causa.
Ainda, considerando (i) a extensão do dano na esfera psíquica do autor, que afirmou
ter sido informado da negativação quando tentou realizar uma compra no crediário,
sendo possível reconhecer a veracidade da alegação porquanto não foi
especificamente impugnada pelo réu, (ii) o reconhecido potencial econômico do réu,
(iii) o grau de reprovabilidade da conduta do réu que possibilitou a aparente fraude
perpetrada por terceiro e a inscrição de duas dívidas no nome do autor, o caso em
análise comporta o arbitramento da verba indenizatória em quinze mil reais.
Sobre esse valor deverá incidir correção monetária pela média INPC/IGP-DI desde
esta data, nos termos da Súmula 362 do Superior Tribunal de Justiça.
Em relação aos juros de mora devem incidir em 1% (um por cento) ao mês desde a
data do evento danoso, ou seja, a data da primeira inscrição, nos termos da Súmula 54
do Superior Tribunal de Justiça, porquanto se trata de responsabilidade
extracontratual.
2.4) O Banco réu dever arcar com a integralidade da sucumbência.
As custas em conformidade com a tabela regimental. Quanto aos honorários o art. 85
do Código de Processo Civil estabelece que quando houver condenação serão
arbitrados entre 10% a 20% sobre o valor daquela, havendo a necessidade de se
discorrer de maneira pormenorizada sobre as orientações dos incisos I a IV do § 2º,
bem como da norma prevista no § 11.
Assim, apresenta-se justa e adequada a fixação da verba em quinze por cento do
valor da condenação, considerando: (a) o trabalho desenvolvido pelo patrono do
autor, que se revelou zeloso no exercício da atividade; (b) a tramitação eletrônica do
processo, facilitando seu acompanhamento, reduzindo e racionalizando o tempo de
acompanhamento pelo profissional; (c) o lapso de duração do processo desde o
ajuizamento até a sentença (aproximadamente dezoito meses); (d) a natureza e a
pouca complexidade da causa; (e) o trabalho adicional realizado em grau recursal.
2.5) Diante do exposto, voto no sentido de dar provimento a apelação do autor para
(a) declarar a inexistência de relação contratual entre as partes, (b) determinar a
exclusão de ambas as dívidas inscritas no órgão de proteção ao crédito, (c) condenar o
réu ao pagamento de indenização por dano moral no valor de quinze mil reais, com a
incidência de correção monetária média do INPC/IGP-DI desde esta data e de juros de
mora de um por cento ao mês desde o evento danoso (data inscrição) e (d) condenar o
réu ao pagamento das custas e honorários de quinze por cento sobre o valor da
condenação.
3) DISPOSITIVO:
ACORDAM os Magistrados integrantes da 8ª Câmara Cível, à unanimidade de votos,
em prover o recurso do autor e declarar a inexistência de relação contratual entre as
partes, determinar a exclusão de ambas as dívidas inscritas no órgão de proteção ao
crédito, condenar o réu ao pagamento de indenização por dano moral no valor de
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quinze mil reais, com a incidência de correção monetária média pela médica do
INPC/IGP-DI desde esta data e de juros de mora de um por cento ao mês desde o
evento danoso (data inscrição) e condenar o réu ao pagamento das custas e
honorários de quinze por cento sobre o valor da condenação.
Participaram do julgamento os Desembargadores Clayton de Albuquerque Maranhão
e Gilberto Ferreira.
Curitiba 16 março 2017.
(assinado digitalmente) Des. Luiz Cezar Nicolau, relator

2.5.9. RESPONSABILIDADE CIVIL DISSUASÓRIA

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE COBRANÇA CUMULADA COM

REPETIÇÃO DE INDÉBITO, DANO MORAL E RESPONSABILIDADE CIVIL

DISSUASÓRIA. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. TELEFONIA. RECURSO

DA AUTORA. A situação fático-jurídica envolvendo as partes diz respeito a relação

contratual cujos efeitos da divergência não extrapolaram os limites do seu

descumprimento. Somente se a conduta da ré tivesse resultado em lesão aos atributos

inerentes ao direito de personalidade da autora é que se poderia exigir indenização

por dano moral. RECURSO DA RÉ. (A) Ausente demonstração efetiva de que a autora

se utilizou de números de protocolos inexistentes com o fim de alterar a verdade dos

fatos, não se apresenta possível responsabilizá-la por litigância de má-fé. (B) Tendo a

autora usufruído, por longo período de tempo, de serviços disponibilizados pela ré,

mesmo que não formalmente contratados, não pode postular a restituição do que

pagou a esse título, sob pena de se caracterizar enriquecimento sem causa e também

violar o princípio da boa fé objetiva.Recurso da autora, à unanimidade, não

provido.Recurso da ré provido em parte, por maioria.

(TJPR - 12ª C.Cível - AC - 1402308-8 - Santa Helena - Rel.: Luiz Cezar Nicolau -

Unânime - J. 11.11.2015)

1) RELATÓRIO:
Trata-se de recursos de apelação interpostos pelas partes contra sentença que julgou
parcialmente procedente o pedido da autora para o fim de “condenar a requerida, OI
S.A. a devolver, de forma simples, os valores cobrados e efetivamente pagos dos
639

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serviços denominados de: “CHAMADA EM ESPERA, SOS FONE, ARREC TERC DOAC
LBV ­ ATEND AO COLAB, ARREC TERC DOAÇÃO FUND PRÓ-RENAL e PLANO
CONTA COMPLETA”, devendo ser corrigido monetariamente pelo INPC a partir de
cada desembolso a acrescido de juros de mora de 1% ao mês a partir da citação, na
forma da fundamentação acima e declarar indevidos os seguintes serviços, inseridos na
conta telefônica da autora: “CHAMADA EM ESPERA, SOS FONE, ARREC TERC DOAC
LBV ­ ATEND AO COLAB, ARREC TERC DOAÇÃO FUND PRÓ-RENAL e PLANO
CONTA COMPLETA”, devendo a demandada se abster de efetuar a cobrança desses
valores nas posteriores faturas telefônicas, sob pena de multa diária de R$ 1.000,00
(mil reais) por cobrança indevida, a teor do artigo 461, §5º, do CPC”, confirmando-se
“os termos da liminar anteriormente concedida (evento de nº 7.1), com a ressalva de
que a proibição da inscrição do nome da autora nos órgãos arquivistas, somente
ocorre caso mantidas pagas as faturas pela autora, na forma determinada nesse
decisum”, e reconhecendo- se a sucumbência recíproca a fim de que as partes
recolham as custas processuais e honorários advocatícios de R$ 200,00 (duzentos reais)
para cada patrono, sendo possível a compensação dos honorários, com a ressalva do
deferimento dos benefícios da a assistência judiciária gratuita à autora (mov. 42.1).
Sustenta a autora, em síntese, que: (a) é devida devolução dos valores indevidamente
pagos em dobro nos termos do art. 42 do CDC; (b) a ré deve ser condenada ao
pagamento de indenização a título de dano moral, em valor não inferior a 50
(cinquenta) salários mínimos, em razão do sucessivo desrespeito para com o
consumidor; (c) a sucumbência deve ser redimensionada, condenando somente a
empresa apelada ao pagamento.
Pede o provimento do apelo para esses fins (mov. 47.1).
Sustenta a ré, em síntese, que: (a) a autora apresenta no seu pedido números de
protocolos inventados, e com fundamento no art. 17, II, do Código de Processo Civil
deve ser condenada por litigância de má-fé; (b) a contratação e as cobranças foram
regulares, e apesar dos números de protocolos informados, em seu sistema não consta
qualquer reclamação da autora, tendo usufruído dos serviços questionados por anos;
(c) os protocolos de atendimento fornecidos pela autora são inexistentes, o que torna
impossível a apresentação das gravações das ligações, as quais nunca aconteceram;
(d) não há hipossuficiência da parte autora para o questionamento dos valores que
entende indevidamente cobrados, haja vista ter recebido mensalmente as faturas,
levando-se em consideração que não houve a inversão do ônus da prova; (e) ante a
ausência de má-fé, descabe a restituição em dobro. Pede a reforma da sentença com a
improcedência da pretensão formulada (mov. 48.1).
Os apelos foram recebidos em ambos os efeitos (mov. 61.1), contrariados (movs. 54.1,
55.1) e os autos encaminhados a este Tribunal.
2) FUNDAMENTAÇÃO E VOTO:
2.1) Conheço dos recursos porque adequados, tempestivos, preparado o da ré e
isento de preparo o da autora ante a concessão dos benefícios da gratuidade.
2.2) Da apelação da ré.

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2.2.1) Sustenta que a autora litiga de má-fé porque “em sua inicial informa números
de protocolo que descaradamente foram inventados, sendo que a apelante não os
encontrou em seus sistemas” (sic).
A ausência de localização dos referidos protocolos nos bancos de dados da ré não
imporá em presunção de falsidade dos numerais indicados.
Ausente qualquer prova no sentido de ter efetivamente a requerente “inventado” os
números dos referidos protocolos, inviabiliza o reconhecimento de que tenha
efetivamente agido de má-fé com o propósito de alterar a verdade dos fatos.
2.2.2) A autora afirma que desde o início das cobranças efetuadas por serviços de
telefonia não contratados tentou resolver a questão diretamente com a ré. Diz ter
entrado em contato com a empresa, em diversas oportunidades, para solucionar o
problema e retirar os valores ilegais da sua fatura. Informa para o período de
aproximadamente 05 (cinco) anos de reclamações, 05 (cinco) números de protocolos
(mov. 1.1).
As provas produzidas são suficientes para demonstrar a inexistência da contratação
entre as partes quanto aos pacotes adicionais.
O ônus do fato impeditivo, extintivo ou modificativo ao direito da autora era da ré,
nos termos do inciso II do artigo 333 do Código de Processo Civil, do qual não se
desincumbiu.
Portanto, não tendo sido contratados os serviços, devem os mesmos ser suspensos,
assim como sua cobrança.
Ainda que a ré não tenha conseguido fazer prova da contratação, apresenta-se
incontroverso o fato de que os serviços (Chamada em espera, SOS fone, Arrec terc.
Doac LBV ­ atend ao colab, Arrec terc Doação fund Pró-Renal e Plano Conta
Completa) foram prestados, utilizados e cobrados
por longo período (de agosto de 2008 até o ajuizamento da ação em 01/10/2013)
segundo afirmado pela própria autora.
Não obstante a apresentação de alguns protocolos de atendimento, estes dão conta
de que foram poucas (e bastante espaçadas) as tentativas de solucionar a questão no
âmbito administrativo.
Como um elemento de interpretação da boa-fé objetiva, destaca- se a sua função
limitadora, que leva em conta a teoria dos atos próprios. Se uma das partes
contratantes agiu de determinada forma durante qualquer fase do contrato, torna-se
inadmissível que em momento posterior venha agir em total contradição com a
conduta antes praticada.
Neste sentido o entendimento do Superior Tribunal de Justiça: “O princípio da boa-fé
objetiva proíbe que a parte assuma comportamentos contraditórios no
desenvolvimento da relação processual, o que resulta na vedação do venire contra
factum proprium, aplicável também ao direito processual” (AgRg no REsp
1.280.482/SC, Segunda Turma, Rel. Min.
Herman Benjamin, julgado em 07/02/2012).
Resta evidenciado que a autora aderiu aos serviços ofertados, ainda que tacitamente,
tanto é que efetuou os respectivos pagamentos, mês após mês. Tal situação não se

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mostra adequada com a de quem está se sentindo lesada com a cobrança de serviços
que nunca foram solicitados.
É impositivo, pois, que seja tida como legal a cobrança efetuada pelo serviço
prestado (e usufruído pela autora) até o ajuizamento da demanda, não cabendo,
assim, qualquer restituição de valores pagos.
2.3) Da apelação da autora.
Objetiva a responsabilização da ré por dano moral.
O sentenciante, a esse propósito, assim deliberou: “O pedido de dano moral deve ser
julgado improcedente. Com efeito, é entendimento assentado na jurisprudência que o
simples inadimplemento contratual, por si só, não gera dano moral. E nem poderia ser
diferente. É cediço que o dano moral traduz-se em ato ilícito que afeta direito da
personalidade da parte lesada (...). No caso em mesa, a autora para substanciar seu
pedido de dano moral cinge-se a apontar para a cobrança indevida, sem sequer
mencionar em que este fato ofenderia sua personalidade”.
São juridicamente adequadas e precisas as ponderações do juiz.
Efetivamente para a caracterização do dano moral (ou imaterial) há necessidade de
violação ao direito da personalidade do indivíduo, não sendo suficiente aborrecimento
do dia a dia e nem eventual descumprimento de regras contratuais.
O fato de a ré ter fornecido serviço que a autora não contratou (mas que acabou
utilizando pelo período prestado) e efetuado o respectivo pagamento mensal pelo
uso, não se constituiu situação de anormalidade que tivesse atingido sua honra e
credibilidade perante a sociedade ou muito menos perturbado de modo inabalável
sua paz interior, causando-lhe sofrimento e angustia.
Inacolhível, pois, o pleito no sentido de ser a ré condenada a indenizar a autora por
dano moral porque a situação fática retratada nos autos não enseja tal
responsabilização pecuniária.
2.4) O reconhecimento de que não é devida qualquer restituição a autora pelos
serviços prestados e por ela utilizados, não importar em alteração da decisão singular
no tocante à distribuição dos ônus da sucumbência, que já estabeleceu
adequadamente a sucumbência recíproca e equânime.
2.5) Diante do exposto voto no sentido de (a) dar provimento parcial a apelação da ré
para afastar a condenação de devolução de valores pagos no período em que o
serviço foi disponibilizado e utilizado pela autora, (b) negar provimento a apelação da
autora.
3) DISPOSITIVO:
ACORDAM os Magistrados integrantes da 12ª Câmara Cível, à unanimidade de votos,
em negar provimento ao recurso da autora, e, por maioria, prover parcialmente o
recurso da ré e excluir a condenação de restituir valores a autora, vencida a Desª
Ivanise com declaração de voto.
Participaram do julgamento os Desembargadores Mário Helton Jorge e Ivanise Maria
Traz Martins.
Curitiba 11 novembro 2015.
(assinado digitalmente) Des. Luiz Cezar Nicolau, relator

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2.5.10. AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO – CONVENÇÃO ARBITRAGEM

AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO. CONTRATO DE LOCAÇÃO DE

IMÓVEL RESIDENCIAL. PEDIDO EXTINTO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO, ANTE A

EXISTÊNCIA DE CLAÚSULA COMPROMISSÓRIA DE ARBITRAGEM. INSURGÊNCIA

DA AUTORA. RÉ QUE APRESENTOU CONTROVÉRSIA QUANTO AO VALOR DO

SALDO DEVEDOR CALCULADO NA INICIAL REALIDADE CONSTANTE NOS AUTOS

QUE ATESTA A EXISTÊNCIA DE CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA CHEIA, A QUAL

SELECIONA A INSTITUIÇÃO DE ARBITRAGEM.IMPOSSIBILIDADE DO PODER

ESTATAL DE ANALISAR O MÉRITO DA PRETENSÃO. SENTENÇA ESCORREITA.

RECURSO NÃO PROVIDO.

Inteiro Teor

1) RELATÓRIO:
Trata-se de recurso de apelação interposto pela autora contra sentença que,
acolhendo preliminar arguida na contestação, extinguiu o processo, sem resolução de
mérito, nos termos do art. 267, incisos IV e VI, do Código de Processo Civil, ante a
existência de cláusula de compromisso arbitral (mov. 50.1).
Sustenta, em síntese, que: (a) está demonstrado a existência de pressupostos para a
constituição e desenvolvimento válido do processo, até porque o magistrado singular
autorizou a consignação de valores no início da lide, reconhecendo a extinção do
contrato; (b) restou comprovado pela juntada dos recibos que a apelante realizou a
manutenção do imóvel locado e que a ré recebeu as chaves do imóvel; (c) inexiste
interesse em proceder a mediação junto à CMA-PR, eis que o contrato já foi extinto;
(d) todos os documentos foram elaborados com a participação da apelada, não sendo
verossímil as questões controvertidas pela ré; (e) o magistrado singular “não somente
desconsiderou a inexistência do contrato de locação, como deixou a apreciar e julgar
fatos e documentos importantes, que por não terem sido apreciados redundaram em
flagrante prejuízo para a apelante que, nada mais devia para a apelada além dos
alugueres e acessórios, não recebidos por recusa da mesma, deixando, inclusive, em
poder da apelada, o valor referente ao FCI que deveria ser devolvido, ante a resolução
do contrato de locação” (sic).
Pede, assim, o provimento do recurso para que “seja reformada a decisão
monocrática, com o fim de serem objeto de análise as provas juntadas e requeridas
pela apelante”, com a procedência do pedido inicial.

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O apelo foi recebido no efeito devolutivo e suspensivo na própria sentença,


contrariado (mov. 61.1), com encaminhamento dos autos a este Tribunal.
2) DECIDINDO:
Conheço do recurso porque adequado, tempestivo e preparado.
Cuida-se de ação consignatória ajuizada ante a alegada recusa da ré em receber os
pagamentos dos alugueres.
Constata-se que as partes pactuaram cláusula compromissória de arbitragem,
prevendo o ente mediador de eventuais controvérsias acerca do contrato, qual seja, a
Câmara de Mediação e Arbitragem do Paraná - CMA-PR (item 12, mov. 1.7).
Essa realidade impossibilita o julgamento de mérito da pretensão da autora,
porquanto o art. 5º da Lei de Arbitragem estabelece que “reportando-se as partes, na
cláusula compromissória, às regras de algum órgão arbitral institucional ou entidade
especializada, a arbitragem será instituída e processada de acordo com tais regras,
podendo, igualmente, as partes estabelecer na própria cláusula, ou em outro
documento, a forma convencionada para a instituição da arbitragem”.
O Superior Tribunal de Justiça possui entendimento no sentido de que “a convenção
de arbitragem, tanto na modalidade do compromisso arbitral quanto na modalidade
de cláusula compromissória, é suficiente e vinculante, afastando definitivamente a
jurisdição estatal” (REsp 1.389.763/PR, Terceira Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 12/11/2013).
Ainda: “A cláusula compromissória “cheia”, ou seja, aquela que contém, como
elemento mínimo a eleição do órgão convencional de solução de conflitos, tem o
condão de afastar a competência estatal para apreciar a questão relativa à validade da
cláusula arbitral na fase inicial do procedimento (parágrafo único do art. 8º, c/c o art.
20 da LArb)” (REsp 1.278.852/MG, Quarta Turma, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 21/05/2013).
A alegada “extinção do contrato” não altera essa realidade. E isso porque a pretensão
deduzida diz respeito justamente a esse pacto, tanto que a ação de consignação em
pagamento tem efeito liberatório em relação aos valores dos alugueres decorrentes da
relação locatícia.
Diante do exposto, nego provimento a apelação da autora e mantenho a sentença.
Precedidas das úteis anotações restituam-se os autos ao Juízo de origem. Intimem-se.
Curitiba 12 dezembro 2016.
(assinado digitalmente) Des. Luiz Cezar Nicolau, relator

2.5.11. VÍCIO REDIBITÓRIO – DANO MORAL (INEXISTÊNCIA)

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL E MORAL.VÍCIO REDIBITÓRIO.

VEÍCULO SINISTRADO. PEDIDO PARCIALMENTE PROCEDENTE. INSURGÊNCIA DAS

RÉS. DANO MORAL. DEFEITOS CONSISTENTES NA MERA PRODUÇÃO DE RUÍDOS

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E VIBRAÇÕES.DISSABOR QUOTIDIANO QUE NÃO CARACTERIZA O DANO

MORAL.IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO. RECURSOS PROVIDOS.

(TJPR - 12ª C.Cível - AC - 1319642-4 - Medianeira - Rel.: Luiz Cezar Nicolau - Unânime

- J. 23.11.2016)

Inteiro Teor

1) RELATÓRIO:
Trata-se de recurso de apelação interposto pelas rés contra sentença que julgou
parcialmente procedente pedido de rescisão de contrato cumulado com indenização
por dano material e moral para: (a) condenar as rés solidariamente ao pagamento de
R$ 10.000,00 (dez mil reais) a título de indenização por dano moral, com correção
monetária pelo INPC desde o arbitramento e com juros de mora de 1% (um por cento
ao mês) desde a data do evento danoso (data do negócio); (b) em decorrência da
sucumbência recíproca, responsabilizar ambas as partes pelo recolhimento das custas,
meio-a-meio, e ao pagamento de honorários aos patronos adversos de quinze por
cento sobre o valor da causa, compensando-se (fl. 133/137).
Sustenta a ré Denuzzi, em síntese, que: (a) não está caracterizado o dano moral
porque houve negligência do autor na verificação do veículo e não há elementos que
indiquem a ocorrência de dano; (b) o valor de dez mil reais é excessivo; (c) os juros de
mora devem incidir desde a citação, porque se trata de relação contratual. Pede,
assim, o provimento do recurso para que a pretensão indenizatória seja julgada
improcedente ou reduzida a indenização, com incidência de juros moratórios desde a
citação (fl. 141/147).
Sustenta a ré Andreia, em síntese, que: (a) não agiu com negligência ao alienar seu
veículo; (b) as mesmas razões que lhe imputam responsabilidade ensejam a
responsabilização do autor pela aquisição de veículo sinistrado; (c) não houve dano
moral, mas mero dissabor; (d) o valor de dez mil reais é excessivo; (e) há erro na
redação da sentença quanto a sucumbência. Pede, assim, o provimento do recurso
para que a pretensão indenizatória seja julgada improcedente ou reduzida a
indenização, com a correção da redação da sentença (fl. 152/159).
Os apelos foram recebidos em ambos os efeitos (fl. 169), contrariados (fl.
171/175/194/199), com o encaminhamento dos autos a este Tribunal.
2) FUNDAMENTAÇÃO E VOTO:
2.1) Conheço dos recursos porque adequados, tempestivos e preparados.
2.2) Trata-se de ação de rescisão contratual cumulada com indenização por dano
material e moral. Funda-se a pretensão na alegação de que o autor em 24/01/2008
adquiriu de boa-fé veículo que padecia de vício redibitório, de propriedade de
Andreia Rovaris, por intermédio da empresa Denuzzi Takahashi & Cia Ltda.
Aduz que o veículo Chevrolet S10 placa GQS-1992 apresenta vibrações nas portas,
forro e outros ruídos estranhos, e que após buscar informação acerca destes sintomas,
descobriu que o veículo sofreu sinistro com perda total.
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Embora tenha denominado a ação “ordinária de rescisão de contrato, perdas e danos


materiais morais e lucros cessantes” (sic), apenas há pedido de indenização por dano
material e moral, sem pedido de rescisão contratual.
O sentenciante consignou que (i) não há prova do dano material emergente, de modo
que este restou afastado, (ii) não há prova tampouco especificação dos lucros
cessantes, também não acolhidos, (iii) caracterizado o dano moral “pois é
inquestionável os dissabores, transtornos, constrangimentos pelos quais passou o
autor, que adquiriu o bem em janeiro de 2008 e descobriu que ele havia sido
recuperado de perda total, que não caracteriza mero aborrecimento ou fato simples
do cotidiano, mas grave ofensa à honra e dignidade da pessoa humana”.
Cinge-se a controvérsia recursal em determinar a caracterização ou não do dano
moral e o valor da sua indenização.
2.3) Os únicos defeitos narrados na inicial consistem em “vibrações das portas, forro e
outros ruídos estranhos” (sic, fl. 04). Não há sequer alegação de vícios para além de
ruídos e vibrações, que tenham causado falhas graves ou exigido consertos
recorrentes.
Em consonância com os fatos explicitados não há indicativos de que tenham
decorrido defeitos de maior gravidade do sinistro anterior. Pelo contrário, há
indicativos de que o veículo serve adequadamente aos seus fins, estando em plenas
condições de uso, visto que sequer a rescisão contratual foi pleiteada e o autor
permanece utilizando normalmente do bem.
A simples existência de ruídos e vibrações nas peças do veículo é fato comum do dia-
a-dia, máxime se considerado o tipo de veículo (camionete a diesel) e seu ano de
fabricação (2002), caracterizando-se como mero dissabor quotidiano.
Ante a inexistência de elementos de convicção suficientes que demonstrem quaisquer
efeitos deletérios de maior gravidade, é inconteste a não caracterização do elemento
dano, de modo a afastar a responsabilização civil das rés.
Tal é a orientação dos precedentes desta e das demais Câmaras desse Tribunal:
“AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS.
VÍCIO REDIBITÓRIO CARACTERIZADO. VEÍCULO SINISTRADO. AUSÊNCIA DE
CIÊNCIA DA ADQUIRENTE QUANDO DA CELEBRAÇÃO DO NEGÓCIO.
SENTENÇA QUE JULGOU PARCIALMENTE PROCEDENTES OS PEDIDOS INICIAIS.
INCONFORMISMO DE AMBAS AS PARTES. RESPONSABILIDADE DO ALIENANTE,
INDEPENDENTE DO CONHECIMENTO DO VÍCIO. DEVER DE INDENIZAR
CARACTERIZADO. APELAÇÃO 01 - INCONFORMISMO DA PARTE AUTORA.
ALEGAÇÃO DE DIMINUIÇÃO DO VALOR DE MERCADO DO VEÍCULO SINISTRADO.
PLEITO DE RESTITUIÇÃO DOS VALORES JÁ PAGOS.
MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. PEDIDO DE INDENIZAÇÃO PELOS DANOS
MORAIS SOFRIDOS. INCONGRUIDADE. MERO ABORRECIMENTO NEGOCIAL.
DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.
APELAÇÃO 02 - INCONFORMISMO DA PARTE RÉ. PLEITO DE ANULAÇÃO DA
SENTENÇA. AUSÊNCIA DE CONFISSÃO DAS PARTES. DEPOIMENTOS QUE
CORROBORAM A PETIÇÃO INICIAL. ALEGAÇÃO DESCABIDA. RECURSO

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CONHECIDO E DESPROVIDO” (AP 1.261.330-0, 8ª CCív, Rel. Juiz Marco Antônio


Massaneiro, DJe 11/12/2014).
“AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS.
CONTRATO DE COMPRA E VENDA. AQUISIÇÃO DE VEÍCULO USADO.
DEFEITOS MECÂNICOS. CONHECIMENTO POSTERIOR DE QUE SE TRATAVA DE
CARRO SINISTRADO. VÍCIO OCULTO CARACTERIZADO. RESSARCIMENTO PELOS
PREJUÍZOS MATERIAIS. NÃO ACOLHIMENTO DOS DANOS MORAIS.
PROCEDÊNCIA PARCIAL DOS PEDIDOS. INCONFORMISMOS
FORMALIZADOS.APELAÇÃO CÍVEL. VICENTE MONTEIRO DOS SANTOS -
ALIENANTE. INAPLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
CONGRUIDADE.NEGOCIAÇÃO ENTRE PARTICULARES. AFASTAMENTO DOS
DANOS MATERIAIS. IMPERTINÊNCIA. VÍCIO REDIBITÓRIO CARACTERIZADO.
VEÍCULO SINISTRADO. AUSÊNCIA DE CIÊNCIA DA ADQUIRENTE QUANDO DA
CELEBRAÇÃO DA COMPRA E VENDA. RESPONSABILIDADE DO ALIENANTE,
INDEPENDENTE DO CONHECIMENTO DO VÍCIO. DEVER DE INDENIZAR
CARACTERIZADO. DANOS MATERIAIS ADVINDOS DA NEGOCIAÇÃO EFETUADA.
RECURSO NÃO PROVIDO. RECURSO ADESIVO.
KELLY VALÉRIA DE OLIVEIRA SILVA - ADQUIRENTE. INDENIZAÇÃO PELOS DANOS
MORAIS SOFRIDOS. INCONGRUIDADE. MERO ABORRECIMENTO NEGOCIAL.
DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. RECURSO NÃO PROVIDO” (AP 967.139-0, 8ª
CCív, Rel. Des. Guimarães da Costa, DJe 06/05/2013).
“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS.
DECADÊNCIA AFASTADA. APLICAÇÃO DO ARTIGO 445, § 1º, DO CÓDIGO CIVIL.
PRAZO DECADENCIAL DE 180 DIAS, CONTADOS DA CIÊNCIA INEQUÍVOCA DO
VÍCIO. APRECIAÇÃO DO FEITO.
DESNECESSIDADE DE PRODUÇÃO DE OUTRAS PROVAS. ARTIGO 515, § 1º, DO
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DA INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA. VÍCIO REDIBITÓRIO EVIDENCIADO. VEÍCULO PROVENIENTE DE
LEILÃO DE AUTOMÓVEIS BATIDOS. CONDIÇÃO QUE DIMINUI O VALOR DE
MERCADO DO BEM. INDENIZAÇÃO CORRESPONDENTE À DEPRECIAÇÃO E
DEMAIS PERDAS E DANOS. DEVIDA - DANO MORAL. NÃO-CARACTERIZADO.
MERO DISSABOR. ADEQUAÇÃO DO ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA. (...) 4. As frustrações
cotidianas e o mero aborrecimento não são passíveis de indenização, por se tratarem
de eventos suportáveis para a média das pessoas, não ultrapassando os limites
razoáveis do desconforto e da contrariedade. 5. Com a reforma da sentença, ante a
parcial procedência dos pedidos iniciais, os ônus da sucumbência devem ser arcados
integralmente pelos Requeridos.
Recurso conhecido e parcialmente provido” (AP 1.432.726-5, 17ª CCív, Rel. Des.
Rosana Amara Girardi Fachin, DJe 30/03/2016).
“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REDIBITÓRIA COM PEDIDO INDENIZATÓRIO.
APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE
OBJETIVA DA FORNECEDORA E PRESTADORA DE SERVIÇOS. EXEGESE DO
ARTIGO 14 DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. DANO MORAL. NÃO
CONFIGURADO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (...). 3. A mera frustração pela
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aquisição de automóvel com vícios de acabamento que não comprometem a


funcionalidade do veículo não enseja, por si só, direito à indenização por dano moral.
(...)” (AP 1.429.639-2, 17ª CCív, Rel. Des. Rosana Amara Girardi, DJe 07/03/2016).
Ausente o elemento dano é imperioso afastar a responsabilização das rés por dano
moral.
2.4) Com a reforma da decisão e consequente julgamento de improcedência do
pedido o autor deve arcar com as custas processuais, conforme tabela regimental em
vigor, e com os honorários de sucumbência de R$ 1.000,00 (mil reais) para o patrono
de cada uma das rés, considerando a relativa simplicidade da matéria, o zeloso
trabalho desenvolvido pelos patronos das rés, a desnecessidade de dilação probatória
e o considerável tempo de duração do processo (iniciado em 18/07/2008).
2.5) Diante do exposto, voto no sentido de dar provimento a apelação das rés e julgar
improcedente o pedido de indenização por dano moral aduzido pelo autor,
condenando-o ao pagamento das custas e honorários de sucumbência de um mil reais
para o patrono de cada uma das rés.
3) DISPOSITIVO:
ACORDAM os Magistrados integrantes da 12ª Câmara Cível, por unanimidade, em
prover os recursos para afastar a condenação por dano moral, responsabilizando-se o
autor pelo recolhimento das custas e honorários de sucumbência de um mil reais para
o patrono de cada uma das rés.
Participaram do julgamento o Desembargador Mário Helton Jorge e o Juiz Substituto
Mauro Bley Pereira Junior.
Curitiba 23 novembro 2016.
(assinado digitalmente) Des. Luiz Cezar Nicolau, relator

2.5.12. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA – DIREITO DE RETENÇÃO

AÇÃO DE RESOLUÇÃO CONTRATUAL CUMULADA COM REINTEGRAÇÃO DE

POSSE E INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL.INADIMPLEMENTO DE CONTRATO

DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL.PEDIDO PARCIALMENTE PROCEDENTE.

INSURGÊNCIA DAS PARTES.(A) NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL POR

EDITAL.VALIDADE. IMPOSSIBILIDADE DE LOCALIZAÇÃO DO DEVEDOR NO

ENDEREÇO DISPONÍVEL. ORIENTAÇÃO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.(B)

POSSUIDOR DE BOA-FÉ. DIREITO DE RETENÇÃO DO IMÓVEL. RETENÇÃO

LEGÍTIMA ATÉ O EFETIVO PAGAMENTO DA INDENIZAÇÃO REFERENTE ÀS

BENFEITORIAS ÚTEIS E NECESSÁRIAS.ART. 1.219 DO CÓDIGO CIVIL E

PRECEDENTES DESTA CORTE.(C) DEVOLUÇÃO DOS VALORES PAGOS PELOS

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RÉUS.RETENÇÃO DE DEZ POR CENTO. JULGAMENTO ALÉM DO

PEDIDO.PRINCÍPIO DA CONGRUÊNCIA. RETENÇÃO AFASTADA.(D)

RESSARCIMENTO DE ALUGUERES NÃO AUFERIDOS.VALOR FIXADO EM MEIO POR

CENTO DO VALOR DE MERCADO DO IMÓVEL, LEVANDO-SE EM CONSIDERAÇÃO

APENAS O OBJETO DO Estado do Paraná Apelação 1.338.640-2 - 12ª Câmara Cível

2CONTRATO (TERRENO SEM BENFEITORIAS). BENFEITORIAS REALIZADAS PELOS

RÉUS. VEDAÇÃO AO ENRIQUECIMENTO ILÍCITO.(E) TERMO INICIAL DO

RESSARCIMENTO DE ALUGUERES.DATA DA CONSTITUIÇÃO EM MORA.

ESTIPULAÇÃO CONTRATUAL.RECURSOS PARCIALMENTE PROVIDOS.

(TJPR - 12ª C.Cível - AC - 1338640-2 - Fazenda Rio Grande - Rel.: Luiz Cezar Nicolau -

Unânime - J. 23.11.2016)

Inteiro Teor

1) RELATÓRIO:
Trata-se de recurso de apelação e adesivo interpostos pelos réus e autora,
respectivamente, contra sentença que julgou parcialmente procedente pedido de
resolução de contrato cumulado com reintegração de posse e indenização por dano
material para: “a) declarar rescindido o contrato de compromisso de compra e venda
entabulado entre as partes; b) determinar a reintegração de posse do imóvel, objeto
do contrato de compromisso de compra e venda em favor da parte demandante, com
prazo de desocupação voluntária de 30 dias a contar da publicação desta sentença e,
esgotado o prazo, expedindo-se mandado de reintegração de posse, concedendo a
antecipação de tutela parcial, mas não podendo a parte autora alterar as eventuais
benfeitorias feitas até a apuração do valor mencionado no item “e”;
c) condenar as partes demandadas, a título de perdas e danos, aos valores das
despesas pendentes de água, Luz, IPTU, se houver, bem como a pagar para a parte
demandante os aluguéis, desde a imissão na posse até a efetiva desocupação do
imóvel, no valor de 0,5% do valor venal de registrado no cadastro municipal para fins
de IPTU, por mês, corrigidos monetariamente pela média aritmética do INPC e IGP-DI
a partir de quando deveria ser paga cada prestação, bem como juros de mora de 1% a
partir da citação; d) determinar que a parte demandante devolva para as partes
demandadas os valores pagos a título de mensalidades, podendo aquela
(demandante) reter o percentual de 10% (dez por cento) sobre o valor a devolver,
corrigidos monetariamente pela média aritmética do INPC e IGP-DI a partir de quando
foi paga cada prestação; e) determinar que a parte demandante indenize as partes
demandadas nas benfeitorias úteis e necessárias por esta construídas, as quais
deverão ser apuradas em liquidação de sentença, por avaliação do oficial de justiça e,

649

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havendo divergência, por perícia a ser paga pelo contestante da avaliação”, bem
como condenar os réus ao pagamento das custas e honorários de sucumbência, estes
arbitrados em 10% da condenação, suspensa a cobrança dessas verbas na forma e
pelo prazo previsto no art. 12 da Lei 1.060/50 (mov. 86.1/99.1).
Sustentam os réus, em síntese, que: (a) não foram notificados validamente, o que
enseja improcedência da pretensão; (b) há necessidade de dilação probatória para que
se averigue o valor das benfeitorias; (c) a sentença julgou além do pedido ao
determinar a retenção de dez por cento dos valores pagos; (d) houve dupla
penalização pelo mesmo fato; (e) o termo inicial dos eventuais alugueres devidos deve
ser a citação válida. Pede, assim, o provimento do recurso para que a pretensão seja
julgada improcedente, ou anulada a sentença para realização de prova pericial, ou,
ainda, readequados os valores condenatórios (mov. 106.1).
Sustenta a autora, adesivamente, que a reparação pelos alugueres não auferidos foi
fixada aquém da orientação jurisprudencial. Pede o provimento do recurso para a
fixação daqueles em 1% (um por cento) do valor de mercado do imóvel (mov. 119.2).
Os apelos foram recebidos em ambos os efeitos (mov. 110/125), contrariados (mov.
119.1/132.1), com o encaminhamento dos autos a este Tribunal.
2) FUNDAMENTAÇÃO E VOTO:
2.1) Conheço dos recursos porque adequados, tempestivos, preparado o da autora e
isento de preparo o dos réus ante a concessão dos benefícios da gratuidade.
2.2) Trata-se de ação de resolução de contrato cumulada com reintegração de posse
e indenização por dano material. Funda-se a pretensão na alegação de que os réus
adquiriram imóvel da autora, em 25/10/2004, tendo aqueles inadimplido com as
obrigações pactuadas a partir de 30/11/2010. Os réus não questionaram a contratação
e a inadimplência (mov. 61.1), sendo estes fatos incontroversos.
Cinge-se a controvérsia recursal em determinar (i) a validade da notificação
extrajudicial realizada, (ii) a necessidade de dilação probatória, (iii) o limite do pedido
das partes quanto a restituição dos valores, (iv) a ocorrência de dupla penalização, (v) o
valor dos alugueres e seu termo inicial.
2.3) Quanto a notificação.
A autora notificou os réus extrajudicialmente, através da publicação de edital em
jornal de grande circulação (mov. 1.7), fazendo constar expressamente os nomes das
partes (”Elias Oliveira dos Santos e seu cônjuge”), o período de inadimplência e o
prazo para pagamento para fins de constituição em mora e resolução contratual.
Os réus alegam que a notificação é invalida porque não foi enviada pessoalmente,
não há expressa menção do nome de Aurea Barbosa Leite dos Santos e não há
discriminação das parcelas vencidas mês a mês.
Segundo a orientação do Superior Tribunal de Justiça, a notificação extrajudicial pode
ser realizada por edital quando seja inviável a notificação pessoal: “Admite-se, ainda,
que a comprovação da mora do devedor seja efetuada pelo protesto do título por
edital, quando, esgotados os meios de localizar o devedor, seja inviável a notificação
pessoal, em razão de não ter sido o réu encontrado no endereço indicado no
contrato” (AgInt no AgRg no AREsp 664.661/MS, Quarta Turma, Rel.
Min. Raul Araújo, DJe 10/06/2016).
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Consta na certidão do Ofício de Registro de Títulos e Documentos de São José dos


Pinhais que o notificado não foi encontrado no endereço disponível (Rua Jacas, 110,
Uberaba, Curitiba/PR). Este endereço era o constante no contrato celebrado pelas
partes (mov. 1.4). Dessa forma, há razão legítima para a realização da notificação por
edital.
Não se pode afirmar que a autora agiu de má-fé ao selecionar o endereço constante
no contrato, máxime porque há indicativo de que os réus alteraram seus endereços
por reiteradas vezes (mov. 26.1), não havendo elementos que demonstrem a
comunicação daqueles a autora acerca da mudança.
A falta de menção expressa do nome do cônjuge não invalida o ato, eis que consta no
contrato como cessionário dos direitos apenas Elias Oliveira dos Santos (mov. 1.4),
figurando Aurea Barbosa tão somente como seu cônjuge. A discriminação dos valores,
como já mencionado, foi adequada, porque houve
indicação do exato da inadimplência. Assim, reputa-se válida a notificação
extrajudicial realizada.
2.4) Quanto a dilação probatória e o direito de retenção.
Aduzem os réus que é necessária a realização de perícia para apurar o valor das
benfeitorias realizadas, sob pena de tolher seu direito de retenção.
Foi consignado na sentença que os réus são possuidores de boa-fé, de modo que “é
devida a indenização pelas benfeitorias úteis e necessárias construídas sobre o mesmo
(terreno), nos termos do Código Civil, art. 1.219, os quais devem ser apurados em
sede de liquidação de sentença”.
A sentença previu a apuração do valor das benfeitorias em liquidação por artigos, não
sendo o caso de sua anulação para o fim de realização da prova pericial.
Todavia, o direito de retenção do imóvel pelo possuidor de boa-fé em relação ao
valor das benfeitorias necessárias e úteis decorre da lei (art. 1.219 do Código Civil),
devendo ser resguardado. A mesma orientação se extrai de julgados desta Corte:
“APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSO CIVIL. CIVIL. AÇÃO DE RESCISÃO DE CONTRATO
C/C REINTEGRAÇÃO DE POSSE. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA DE
IMÓVEL. LOTE URBANO. DIREITO À INDENIZAÇÃO PELAS BENFEITORIAS
NECESSÁRIAS E ÚTEIS E RETENÇÃO DO IMÓVEL ATÉ O EFETIVO PAGAMENTO
DECORRENTE DE LEI. POSSIBILIDADE DE COMPROVAÇÃO EM SEDE DE
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. PLEITO DE FIXAÇÃO DE PERDAS E DANOS
EQUIVALENTES A ALUGUERES COM BASE EM PARECER DO MERCADO. LAUDO
UNILATERAL. VALOR QUE NÃO VINCULA O JUÍZO. PEDIDO DE EXCLUSÃO DOS
JUROS DE MORA INCIDENTE SOBRE OS VALORES A SEREM RESTITUÍDOS AO RÉU.
ACOLHIMENTO. MORA DO RÉU-COMPRADOR. IMPOSSIBILIDADE DE
CONDENAÇÃO DA VENDEDORA-APELANTE NESSE SENTIDO. INCIDÊNCIA
APENAS DE CORREÇÃO MONETÁRIA. MODIFICAÇÃO PARCIAL DA SENTENÇA.
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (...)” (AP 1.414.360-9, 6ª CCív, Rel. Des.
Roberto Portugal Bacellar, DJe 29/03/2016).
“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE EXTINÇÃO DE CONDOMÍNIO.
INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA DO JUÍZO DE ORIGEM. NÃO ACOLHIMENTO.

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IRRELEVÂNCIA, NA DEMANDA EM APREÇO, DE O BEM TER SIDO ADQUIRIDO


DURANTE A CONSTÂNCIA DE UNIÃO ESTÁVEL MANTIDA ENTRE AS PARTES.
INEXISTÊNCIA DE JUSTIFICATIVA PARA ATRAIR A COMPETÊNCIA MATERIAL DA
VARA DE FAMÍLIA. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO INICIAL. MANTENÇA. PRESUNÇÃO
DE VERACIDADE DAS ALEGAÇÕES DEDUZIDAS NA EXORDIAL. INEXISTÊNCIA DE
SITUAÇÃO QUE POSSA EXCEPCIONAR TAL EFEITO DA REVELIA. DIREITO À
INDENIZAÇÃO PELAS BENFEITORIAS NECESSÁRIAS E ÚTEIS E RETENÇÃO DO
IMÓVEL ATÉ O EFETIVO PAGAMENTO DECORRENTE DE LEI. POSSIBILIDADE DE
COMPROVAÇÃO EM SEDE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. (...) RECURSO
PARCIALMENTE CONHECIDO E, NA PARTE CONHECIDA, DESPROVIDO” (AP
1.397.591-8, 6ª CCív, Rel. Des. Carlos Eduardo Andersen Espínola, DJe 28/01/2016).
Portanto, deverá ser resguardado o direito de retenção do bem pelos réus até o
efetivo pagamento das benfeitorias pela autora.
2.5) Quanto a retenção de dez por cento dos valores pagos.
Os réus contrapuseram pedido de devolução dos valores pagos, não havendo
qualquer insurgência da autora, tampouco pedido de retenção de dez por cento
daqueles. Assim, prospera a insurgência quanto ao julgamento além do pedido.
Este Tribunal, em caso análogo, decidiu pela inviabilidade de retenção de 10% dos
valores pagos ante a inexistência de pedido expresso: “APELAÇÕES CÍVEIS.
PROCESSO CIVIL. CIVIL.AÇÃO DE RESCISÃO DE CONTRATO C/C REINTEGRAÇÃO
DE POSSE. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. LOTE URBANO.
NÃO CONHECIMENTO DOS PEDIDOS DE RESSARCIMENTO DE IPTU E ÁGUA POR
FALTA DE INTERESSE RECURSAL. PEDIDOS RECONHECIDOS EM SENTENÇA.
SENTENÇA QUE DETERMINA A RETENÇÃO DE 10% SOBRE AS PARCELAS A
SEREM DEVOLVIDAS. INEXISTÊNCIA DE PEDIDO NESSE SENTIDO. DECISÃO EXTRA
PETITA. NULIDADE DECLARADA DE OFÍCIO. POSSIBILIDADE DE READEQUAÇÃO
NESTA INSTÂNCIA. (...)” (AP 1.243.723-7, 6ª CCív, Rel. Des.
Roberto Portugal Bacellar, DJe 14/08/2015).
Não pode subsistir, destarte, o direito de retenção pela autora de dez por cento dos
valores pagos pelos réus, restando prejudicada, em consequência, a insurgência
quanto a dupla punição.
2.6) Quanto ao pagamento de alugueres.
2.6.1) A autora aduz que a indenização pelos alugueres não auferidos fixada em 0,5%
(meio por cento) do valor venal do imóvel não é adequada a recomposição do
prejuízo. Pleiteia sua readequação para 1% (um por cento) sobre o valor de mercado
do imóvel.
Como já decidiu esta Câmara os alugueres devem ser arbitrados em 0,5% (meio por
cento) do valor do imóvel: “Inexiste parâmetro pré-estabelecido para fixação dos
alugueres em casos análogos, ficando a incumbência ao prudente arbítrio do julgador.
No caso em apreço, razoável o arbitramento em 0,5%” (AP 1.085.175-7, Rel. Des.
Ivanise Maria Tratz Martins, julgado em 30/07/2014).
Deve-se empregar como base o valor de mercado do imóvel, visto que este melhor
expressa o valor real do bem. Isso porque vige no sistema de responsabilidade civil o
princípio da reparação integral (art. 944 do Código Civil), sendo imperativo que a
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tutela do direito se volte a máxima aproximação com o estado de coisas anterior à


violação.
É de esclarecer que o contrato de compra e venda teve como objeto o terreno nu
(mov. 1.5), sendo as benfeitorias realizadas pelos réus. Dessa forma, não se pode levar
em consideração o valor do imóvel como um todo para fins de indenização, sob pena
de enriquecimento ilícito. A mesma compreensão se extrai da AP 1.243.723-7, 6ª CCív,
Rel. Des. Roberto Portugal Bacellar, DJe 14/08/2015.
Assim, o valor referente a indenização pelos alugueres não auferidos deve ser fixado
em 0,5% (meio por cento) sobre o valor de mercado do terreno sem benfeitorias, a ser
apurado em liquidação de sentença.
2.6.2) O termo inicial para o pagamento dos alugueres é a data da constituição em
mora, perdurando até a efetiva restituição do imóvel, conforme previsto na cláusula
11ª, § 1º, do contrato de compra e venda (mov. 1.5).
2.7) Diante do exposto, voto no sentido de (a) dar parcial provimento a apelação das
rés para (a.1) declarar o direito de retenção do imóvel até a indenização pelas
benfeitorias úteis e necessárias, (a.2) afastar o direito de retenção de 10% (dez por
cento) sobre valores a serem restituídos pela autora, (a.3) fixar o termo inicial para
pagamento dos alugueres como a data da constituição em mora; (b) dar parcial
provimento a apelação adesiva da autora para fixar o valor dos alugueres em 0,5%
(meio por cento) do valor de mercado do imóvel, levando-se em consideração o
terreno sem benfeitorias; e (c) manter, quanto aos demais termos, a sentença.
3) DISPOSITIVO:
ACORDAM os Magistrados integrantes da 12ª Câmara Cível, por unanimidade, em
prover em parte o recurso das rés para declarar o direito de retenção do imóvel pelas
benfeitorias úteis e necessárias, afastar a retenção de dez por cento dos valores pagos
e que devem ser restituídos, estabelecer o termo inicial para pagamento dos
alugueres, e prover em parte o recurso adesivo da autora para fixar o valor dos
alugueres em meio por cento do valor de mercado do imóvel sem benfeitorias,
ratificando, no mais, o pronunciamento atacado.
Participaram do julgamento o Desembargador Mário Helton Jorge e o Juiz Substituto
Mauro Bley Pereira Junior.
Curitiba 23 novembro 2016.
(assinado digitalmente) Des. Luiz Cezar Nicolau, relator

2.5.13. REPRESENTAÇÃO COMERCIAL – EXCLUSIVIDADE DE DISTRIBUIÇÃO DE

BEBIDAS

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. QUEBRA DO CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO

COMERCIAL COM EXCLUSIVIDADE DE DISTRIBUIÇÃO REGIONAL DE BEBIDAS.

PEDIDO IMPROCEDENTE. SENTENÇA QUE NÃO RECONHECEU A EXISTÊNCIA DE

653

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

EXCLUSIVIDADE. ELEMENTOS DE INFORMAÇÕES EXISTENTES NOS AUTOS QUE

COMPROVAM NÃO SÓ A EXISTÊNCIA, MAS, TAMBÉM, A EXECUÇÃO DO

CONTRATO DE DISTRIBUIÇÃO COM EXCLUSIVIDADE DE ÁREA. FRUSTAÇÃO DO

ACORDO ENTABULADO ENTRE AS PARTES QUE, POR SI SÓ, NÃO ENSEJA DEVER

DE REPARAÇÃO. DANOS MATERIAIS. NÃO CARACTERIZAÇÃO.AUSÊNCIA DE

PROVA QUANTO AOS ALEGADOS DANOS EMERGENTES E LUCROS CESSANTES.

DANO MORAL. INOCORRÊNCIA. SOMENTE QUANDO A PESSOA JURÍDICA

DEMONSTRA QUE SUA HONRA OBJETIVA, SEU BOM NOME E O CONCEITO

EMPRESARIAL FORAM ATINGIDOS POR ATO ILÍCITO É QUE SE MOSTRA CABÍVEL

SER INDENIZADA POR DANO MORAL. CASO CONCRETO QUE NÃO REVELA ESSA

HIPÓTESE.REDISTRIBUIÇÃO SUCUMBÊNCIA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.

Estado do Paraná Apelação 1.421.247-2 - 12ª Câmara Cível 2

(TJPR - 12ª C.Cível - AC - 1421247-2 - Região Metropolitana de Londrina - Foro

Central de Londrina - Rel.: Luiz Cezar Nicolau - Unânime - J. 23.11.2016)

Inteiro Teor

1) RELATÓRIO:
Trata-se de apelação interposta pela autora contra sentença que julgou improcedente
seu pedido de indenização por danos materiais e morais, condenando-a ao
pagamento das custas e dos honorários de sucumbência de R$ 1.500,00 (um mil e
quinhentos reais) (mov. 78.1).
Sustenta, em síntese, que: (a) a sentença é nula porquanto: (a.1) está maculada por
erro de fato ou, então, está carente de requisito essencial, qual seja, a fundamentação,
deixando de levar em consideração as provas produzidas, principalmente a oral; (a.2)
afronta o art. 535, inciso II, do Código de Processo Civil, pois mesmo após a oposição
de embargos de declaração não houve manifestação sobre pontos relevantes
arguidos; (b) em que pese não exista um instrumento escrito, as provas colacionadas
evidenciam que as partes celebraram contrato verbal de representação comercial com
exclusividade de distribuição regional da cerveja e chopp da marca Colônia; (c) as rés
inadimpliram com o avençado, vez que fizeram vendas diretas a pontos de venda
dentro da região de Londrina, gerando concorrência desleal, em total
descumprimento ao pactuado, quebrando, assim, com o dever de lealdade e de boa-
fé; (d) como consequência do descumprimento contratual, imperiosa a reparação dos
prejuízos suportados com a indenização pelos lucros cessantes, danos emergentes e
dano moral.

654

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Pede, assim, a nulidade da sentença ou a sua reforma para que “a) seja declarada a
existência do Contrato de Distribuição de cervejas (lata, latão, 600ml e litro) e chopp
entre as partes, assim como seja declarada ainda, a existência de cláusula de
Exclusividade para distribuição regional dos respectivos produtos fabricados e
distribuídos pelas Apeladas; b) seja declarada que a aludida Cláusula de Exclusividade
garantia à Recorrente a distribuição exclusiva dos produtos fornecidos pelas Empresas
Apeladas da seguinte forma: a. A Cerveja Colônia (lata, latão, 600ml e litro) para a
região de: Londrina, Cambé, Sertanópolis, Primeiro de Maio, Bela Vista do Paraíso,
Alvorada, Tamarana, Lerrovile, Paiquerê e Guaravera da; b. O Chopp Colônia para a
região de: Jataizinho, Ibiporã, Assaí, Uraí, Cornélio Procópio, Londrina, Cambé,
Sertanópolis, Primeiro de Maio, Bela Vista do Paraíso.
c) E diante do inadimplemento do contrato de distribuição com cláusula de
exclusividade, sejam as Apeladas condenadas ao pagamento das perdas e danos”
(sic), acrescidos de correção monetária e juros de mora a partir do evento danoso, ou
seja, o dia 07/04/2014, e apuração em sede liquidação de sentença (mov. 87.1).
O apelo foi recebido em ambos os efeitos (mov. 93.1), contrariado (mov. 98.1), com o
encaminhamento dos autos a este Tribunal.
2) FUNDAMENTAÇÃO E VOTO:
2.1) Conheço do recurso porque adequado, tempestivo e preparado.
2.2) Ajuizou a apelante a presente demanda visando o reconhecimento da existência
de contrato de representação com exclusividade de distribuição regional da cerveja e
chopp da marca Colônia, fabricada pela segunda ré e distribuída pela primeira, bem
como sua resolução por culpa destas por terem descumprido o que restou avençado,
atuando simultaneamente na região ofertada para exploração.
Consignou o sentenciante que as tratativas para uma venda exclusiva realmente
aconteceram, porém, não chegaram as partes a efetivamente estabelecer um acordo
desta natureza, logo, não haveria lastro jurídico para se pleitear indenização pelo não
cumprimento de uma obrigação inexistente.
2.2.1) Ocorre que os elementos de informações existentes nos autos indicam,
justamente o oposto, ou seja, que as partes efetivamente celebraram contrato de
exclusividade, mesmo que de forma precária.
Isso porque, quando perquiridas, via SAC, informaram as rés que a autora era a única
distribuidora de suas bebidas na cidade de Londrina (mov. 1.16).
O e-mail enviado à autora, no dia 10/06/2013, por Alcimar Giollo, funcionário à época
da INAB e hoje da Bebasul, evidencia o início das tratativas com relação à distribuição
das cervejas: “Boa Tarde, Distribuição dos produtos Colônia na região de Cambé,
Londrina, Sertanópolis, Bela Vista. Bonificação de duas garrafas por caixa para ação de
preço e introdução de produtos, Pilsen 600. Troca de 100% dos produtos vencidos ou
danificados em rota durante 30 dias, Poderá permanecer com multi marcas, ou seja,
venda de outras cervejas na mesma distribuidora, Venda direto de fábrica nas grandes
redes, Muffato /Condor /etc. Att.” (sic).
Importante observar que a permanência da autora como distribuidora de outras
bebidas (multimarcas) foi expressamente autorizada pelas rés, o que, por si só é
suficiente pra afastar a fundamentação do sentenciante de que “não parece comercial
655

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ou juridicamente sensato, que uma empresa entregue exclusividade, sem exigir,


também exclusividade” (sic).
A única restrição imposta seria com relação à venda para as grandes redes de
mercado da região, hipótese que seria realizada diretamente pela fábrica.
Em resposta ao aludido e-mail, ainda no mesmo dia, a autora delimitou o território da
exclusividade: “Conforme conversa estarei sendo exclusivo na distribuição da cerveja
colonia nas seguintes cidades: londrina. cambé.
sertanópolis. 1º maio, bela vista paraiso. alvorada do sul. tamarana, lerroville. irere.
paiquere e distrito guaravera!” (sic).
Em seguida, no dia 11/06/2013, manifestou-se o representante das rés: “OK quanto
as cidades”. Replicou a autora: “quanto as cidades?? e quanto a
exclusividade!!!!??”(sic).
No dia subsequente, 12/06/2013, Alcimar respondeu: “Pablo. Ok quanto as cidades e
exclusividade ok, porém só podemos fazer contrato com você, após fazermos o
distrato com o Jaqueta, pois não podemos ter dois contratos de distribuição na
mesma área Já estamos providenciando esse documento.
Abraço”(sic).
Questionou, então, a autora no dia 14/06/2013: “Boa tarde! como ficou a questão do
Jaqueta, ele já parou de comprar colônia?? outra coisa meu barris de chopp foi
enviado para fabrica da inab! preciso que vc deixe tudo certo até o final do mês, pra
que eu possa já fazer o pedido! pois o distribuidor de chopp seu lá de londrina ainda
esta tendo chopp colônia!!! quanto a questão dos 2 pontos que tem la no mufato da
Tiradentes, eu que vou prestar atendimento né!! Abraços” (sic).
No mesmo dia respondeu Alcimar: “Boa tarde, Sim o Jaqueta já parou de vender em
Londrina e região. Mas ele tem um supervisor na rua cobrando as contas que ele tem
pra receber e vasilhames emprestados. Quanto aos barris, eles vão por transportadora
e tão logo seja confirmado que chegaram em Toledo eu dou o ok. Quanto ao disk
chopp ele está sim vendendo chopp, pois você não começou a operação e ele foi
comunicado essa semana que vamos ter outro distribuidor. Não gostou, mas
entendeu. Quanto aos pontos de vendas em Londrina que trabalham como nosso
chopp, possivelmente ele vai continuar atendendo com o chopp dele, pois as
chopeiras são dele. Mas se esses clientes quiserem comprar chopp Colônia, terá que
ser com você. Abraços” (sic).
Quanto à distribuição de chopp, o e-mail encaminhado no dia 10/06/2013 também
por Alcimar define as diretrizes do contrato: “Boa tarde, Conforme falamos segue
acerto chopp Colônia: Bonificação de 100% do volume puxado durante 90 dias a
contar da primeira puxada. Comodato imediato de 05 chopeiras, Negociação com a
fábrica para mais 05 chopeiras comodadatas, Exclusividade na área, Municípios
atendidos, Cambé, Londrina, Sertanópolis, Bela Vista. Participação nos investimento
em rádio / jornal por períodos a serem negociados, Att.” (sic).
Manifestou-se a autora: “Boa tarde! só para acrescentar pelo chopp estarei atendendo
as seguintes cidades: jataizinho, ibiporã, assai, urai, cornelio procopio, londrina,
cambé, sertanopolis, primeiro de maio,bela vista paraiso! preciso que confirme no
contrato as seguinte cidades como exclusividade! abraço” (sic).
656

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Respondeu a INAB, por meio de Alcimar, seu representante à época: “OK quanto às
cidades, porém também exigimos a exclusividade na venda do chopp. Abraço” (sic).
Nota-se que com relação ao chopp, especificamente, foi cobrada exclusividade de
mão dupla, ou seja, somente a autora poderia distribuí-lo na região, desde que
vendesse exclusivamente chopp Colônia, exigência que, conforme prova testemunhal,
foi devidamente cumprida.
Ainda, sobre as provas documentais, juntou a autora e-mail datado de 12/03/2014,
enviado por Alcimar, estipulando metas e bonificações: “Bom dia Pablo, Seguem
objetivos do mês e março. São os volumes que combinamos na nossa reunião no mês
passado. E alguma coisa de mim. Lembro que acertamos preço para os meses de
fevereiro e março. Estamos no final do prazo. Quero ver com você também sobre o
vasilhame do litrão. São 100 caixas. Peço que veja quanto dele que você pode nos
devolver, visto que estragamos em outubro. Semana que vem, segunda ou terça feira
vou até você para acertarmos as bonificações. Pode confiar.
Combinamos também que nós lhe emprestaríamos 10 chopeiras, 5 para seis meses e
5 para um ano. Sei que não foram enviadas todas, apenas 8. Portanto pelo que para o
mês que vem, você possa nos devolver 3 chopeiras. As outras 5 ficarão para quando
completarmos 1 ano. Abraços” (sic).
Constata-se que os e-mails trocados entre as partes (movs. 1.13 e 1.9) evidenciam,
não apenas as condições do negócio, mas a sua execução, inclusive com cobrança de
metas, situação esta que se revela incompatível com uma relação de simples compra e
venda.
Não se mostra crível sustentar, pois, que a exclusividade não passou de mera
expectativa, até mesmo porque é incontroverso nos autos que o contrato escrito só
não foi celebrado em razão de problemas com o antigo distribuidor, todavia, não se
pode ignorar a existência e execução/implemento do contrato verbal.
Existência esta que foi devidamente corroborada pelo testemunho de Carlos
Henrique Garcia, ex-gerente de distribuição da INAB e Bebasul, que afirmou: a) a
autora tinha exclusividade de distribuição dos produtos Colônia na região de Londrina
mesmo sendo multimarcas; b) é possível ter exclusividade da marca e vender outras,
situação esta que, inclusive, era praticada em outras regiões em que trabalhou, como
Arapongas; c) tomou conhecimento sobre o contrato com a autora presenciando
reuniões entre o seu gerente, Alcimar Giollo, e o proprietário da autora, Pablo, nas
quais restou acertado que a exclusividade seria imediata e não futura.
Assim, com base nos elementos de prova existentes, imperioso o reconhecimento da
existência do contrato verbal de distribuição e representação com exclusividade,
conforme orientação do Superior Tribunal de Justiça: “PROCESSUAL CIVIL E
COMERCIAL. RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO. EMBARGOS
DECLARATÓRIOS. OMISSÃO.
INOCORRÊNCIA. RESCISÃO IMOTIVADA. EXCLUSIVIDADE. CONTRATO VERBAL.
POSSIBILIDADE. INTERPRETAÇÃO DE CLÁSULAS CONTRATUAIS E REEXAME DE
PROVA. 1. (...). 2. Possibilidade da demonstração da existência de cláusula de
exclusividade mesmo em contratos de representação firmados verbalmente,
admitindo-se a respectiva prova por todos os meios em direito admitidos. Aplicação
657

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do art. 212 do CC/02 c/c os arts. 400 e segs. do CPC. Doutrina e jurisprudência desta
Corte acerca do tema. 3. Estabelecida, no caso concreto, pelo acórdão recorrido a
premissa de que o ajuste de representação comercial vigorava com cláusula de
exclusividade, confirmada por prova testemunhal, inarredável a conclusão de que
houve rescisão imotivada do contrato, pela contratação de novo representante par
atuar na mesma zona anteriormente conduzida pela recorrida. 4.
Inviável a análise da pretensão relativa ao afastamento das conclusos acerca da
exclusividade da representação, por óbice das Súmulas 5 e 7/STJ. 5. Recurso Especial
conhecido, porém não provido” (RESp 846.543/RS, Terceira Turma, Rel.Min. Paulo de
Tarso Sanseverino, julgado em 05/04/2011, DJe 11/04/2011).
Reconhecida a condição de exclusividade, tem-se que incontroverso o
inadimplemento e a rescisão imotivada e unilateral do contrato por parte das rés que,
assumidamente, começaram a realizar vendas diretamente da fábrica, sem a
intervenção/participação da parte autora.
Todavia, o descumprimento e a resolução contratual não justificam, por si sós, as
indenizações pleiteadas, sendo necessária a análise de cada um dos pedidos
individualmente, o que se passa a fazer.
2.3) Quanto aos danos materiais emergentes sustenta ser devida a condenação da ré
ao ressarcimento dos gastos obtidos com: (a) aquisição de equipamentos apetrechos,
no valor de R$ 135.250,15 (cento e trinta e cinco mil duzentos e cinquenta reais e
quinze centavos); (b) locação de um segundo barracão por trinta e seis vezes, no valor
mensal de R$ 4.250,00 (quatro mil duzentos e cinquenta reais), totalizando R$
153.000,00 (cento e cinquenta e três mil reais); (c) salários dos funcionários do
departamento dos produtos Colônia pela período de vigência do pacto entre as partes
(onze meses), no valor total de R$ 61.000,00 (sessenta e um mil reais); (d) aquisição de
veículos no valor de R$ 89.745,62 (oitenta e nove mil setecentos e quarenta e cinco
reais e sessenta e dois centavos); (e) combustível na média mensal de R$ 1.500,00 (um
mil e quinhentos reais); (f) energia elétrica com a câmara fria para o armazenamento do
chopp em torno de R$ 400,00 (quatrocentos reais) mensais; (g) catálogos novos com a
inserção dos produtos das rés na importância de R$ 3.000,00 (três mil reais).
Todavia, mesmo que a apelante tenha agido com zelo e dedicação, e tenha realizado
maciços investimentos no desenvolvimento da marca Colônia no mercado regional,
não se pode olvidar sua atuação como distribuidora e revendedora multimarcas,
circunstâncias estas que, por si só, afastam sua pretensão à indenização.
A uma, porque não restou comprovado nos autos que os investimentos e custos
acima elencados se deram exclusivamente em razão da comercialização dos produtos
Colônia. Ademais, mesmo que assim fosse, não se vislumbra qualquer perda material,
especialmente no tocante aos valores gastos com aquisição de equipamentos,
apetrechos e automóveis, haja vista a possibilidade de utilização dos bens na revenda
e distribuição de outras marcas e/ou de alienação destes.
A duas, porque conforme entendimento sedimentado por esta Câmara, “a expansão
dos negócios é objetivo comum do representante comercial ou de qualquer empresa,
o que implica necessariamente em investir em sua estrutura para que haja implemento
dos negócios. Logo, os investimentos realizados se deram na expectativa inerente ao
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seu objeto, em essência, pelo que não foi o autor iludido ou induzido em erro, até
porque investiu no implemento da sua própria atividade mercantil, que continua a
exercer, sendo que a sua empresa preexistia com larga experiência no ramo de seu
negócio” (AP 1.358.239-5, Rel. Des. Mario Helton Jorge, julgada em 20/05/2015).
A três, porque tais dispêndios são inerentes à atividade comercial da autora, que,
incontroversamente, atuou por onze meses como distribuidora exclusiva das bebidas
Colônia na região, tirando proveito de tal situação.
A quatro, porque, ante à precariedade do acordo celebrado e a ausência de pacto
quanto a condições primárias e essenciais, como o prazo de duração da exclusividade,
por exemplo, não há que se falar em rescisão antecipada, de forma que todos os
investimentos representam, em verdade, mero risco assumido pela autora por sua
própria liberalidade.
E, em se tratando de contrato de representação comercial com exclusividade de
distribuição regional por prazo indeterminado, não merece igualmente guarida o
pleito de indenização pelos supostos lucros cessantes, sobretudo porque: (a) como já
elucidado, o acordo poderia ser rescindido a qualquer tempo; (b) não consiste o lucro
cessante em dano imaginário ou hipotético, mas sim em probabilidade objetiva e
razoável de que eventual fato danoso tenha interferido nos lucros regularmente
auferidos, o que, todavia, não se verifica, até mesmo porque, como por diversas vezes
afirmado pela própria apelante, a marca Colônia “não detém uma parcela satisfatória
no mercado”.
Não havendo, portanto, ato ilícito ou outros elementos objetivos que corroborem a
tese de dano material aventada pela autora, tem-se que esta não se desincumbiu do
ônus que lhe cabia, adequado, pois, o indeferimento do pedido de indenização pelos
danos materiais, consoante disposição do art. 402 do Código Civil e art. 333, inciso I,
do Código de Processo Civil de 1973.
2.4) Não obstante a possibilidade de a pessoa jurídica sofrer dano moral, nos termos
da Súmula 227 do Superior Tribunal de Justiça, a jurisprudência da própria Corte
Superior se consolidou no sentido de reconhecer que a ofensa somente é possível se
praticada contra sua honra objetiva, porquanto a honra subjetiva é inerente, apenas, à
pessoa natural.
Ocorre que não há nos autos a menor comprovação de que a apelante tenha sofrido
qualquer prejuízo a sua honra subjetiva, ou seja, a sua imagem e/ou nome comercial.
O inadimplemento e a rescisão injustificada pelas rés do contrato de representação
comercial com exclusividade de distribuição de bebidas, embora evidentemente típico
da frustração de um negócio comercial, quando muito, pode ter trazido algum
transtorno aos seus sócios, o que não significa (e efetivamente não restou
demonstrado) qualquer prejuízo à sociedade empresarial.
Nesse sentido orienta a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça: “AGRAVO
REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO.
TRANSFERÊNCIA DE VALORES DE CONTA CORRENTE.
HACKER. PESSOA JURÍDICA. DANOS MORAIS SUBJETIVOS. NÃO CABIMENTO. 1.
A pessoa jurídica somente poderá ser indenizada por dano moral quando violada sua
honra objetiva. Hipótese em que não são alegados fatos que permitam a conclusão de
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que a pessoa jurídica autora tenha sofrido dano à sua honra objetiva, vale dizer, tenha
tido atingidos o conceito, a reputação, a credibilidade, de que goza perante terceiros.
2. Agravo regimental a que se nega provimento” (AgRg no AREsp 149.523/GO,
Quarta Turma, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 06/02/2014).
Outro não é o entendimento deste Tribunal: “APELAÇÃO CÍVEL.
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. CONTRATO VERBAL
DE REPRESENTAÇÃO COMERCIAL. RESCISÃO INJUSTIFICADA. 1. CLÁUSULA DE
EXCLUSIVIDADE DE REPRESENTAÇÃO. NÃO COMPROVADA.
2. DANOS MATERIAIS. INVESTIMENTOS DECORRENTES DA ATIVIDADE
EMPRESARIAL. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO COM A RESCISÃO CONTRATUAL. 3.
DANO MORAL. DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AOS
DIREITOS DA PERSONALIDADE. MEROS DISSABORES. 4. MAJORAÇÃO DA VERBA
HONORÁRIA NA RECONVENÇÃO. IMPOSSIBILIDADE 5. RECURSO DESPROVIDO”
(AP 1.358.239-5, desta Câmara, Rel. Des. Mário Helton Jorge, julgada em 20/05/2015).
Ainda: “APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ORDINÁRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
COBRANÇA INDEVIDA DE VALORES. AUSÊNCIA DE INSCRIÇÃO DO NOME DO
CONSUMIDOR NOS ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO OU DE QUAISQUER
OUTROS ABALOS MORAIS. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO À HONRA OBJETIVA DA
PESSOA JURÍDICA. MEROS ABORRECIMENTOS. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL
NÃO DEVIDA. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO NÃO PROVIDO” (AP 1.177.480-0,
11ª CCív, Rel. Des. Gamaliel Seme Scaff, julgada em 20/08/2014).
Assim, tem-se que o episódio aqui retratado não é capaz de gerar indenização por
dano moral, razão pela qual a insurgência não comporta acolhimento também neste
ponto.
2.5) A autora formulou dois pedidos: declaratório de existência do contrato de
representação e condenatório por dano material e moral. Obteve vitória somente
quanto a um deles. Há, portanto, sucumbência recíproca. Ficam, assim, as partes
condenadas ao pagamento das custas processuais, meio-a-meio, em conformidade
com a tabela regimental em vigor, em a verba honorária aos patronos respectivos de
R$ 5.000,00 (cinco mil reais), considerando a relativa simplicidade da causa, o zeloso
trabalho desenvolvido pelos profissionais, a realização de audiência de instrução, e o
tempo decorrido desde o ajuizamento até a prolação da sentença (sete meses).
2.6) Diante do exposto, voto no sentido de dar parcial provimento a apelação da
autora para julgar parcialmente procedente seu pedido declarando a existência de
contrato de representação comercial com as rés e responsabilizar as partes ao
recolhimento das custas processuais na proporção de cinquenta por cento para cada
uma e ao pagamento de verba honorária aos respectivos patronos adversos de cinco
mil reais.
3) DISPOSITIVO:
ACORDAM os Magistrados integrantes da 12ª Câmara Cível, à unanimidade de votos,
em prover em parte o recurso da autora e julgar parcialmente procedente seu pedido
declarando a existência de contrato de representação comercial com as rés,
responsabilizando as partes ao recolhimento das custas processuais na proporção de
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cinquenta por cento para cada uma e ao pagamento de verba honorária aos
respectivos patronos adversos de cinco mil reais.
Participaram do julgamento o Desembargador Mário Helton Jorge e o Juiz Substituto
Mauro Bley Pereira Junior.
Curitiba 23 novembro 2016.
(assinado digitalmente) Des. Luiz Cezar Nicolau, relator

2.5.14. ANULAÇÃO DE COMPRA E VENDA - ERRO

AÇÃO DE ANULAÇÃO DE ATO JURÍDICO. COMPRA E VENDA DE IMÓVEL.

INDUÇÃO DA OUTORGANTE EM ERRO.COMPROVADA INTENÇÃO DE DOAÇÃO

DO IMÓVEL SOB CONDIÇÃO. CONJUNTO PROBATÓRIO APTO AO

ACOLHIMENTO DA PRETENSÃO. SENTENÇA ESCORREITA. RECURSO NÃO

PROVIDO.

(TJPR - 12ª C.Cível - AC - 1280658-5 - Prudentópolis - Rel.: Luiz Cezar Nicolau -

Unânime - J. 03.02.2016)

Inteiro Teor

1) RELATÓRIO:
Trata-se de apelação interposta pelos réus contra sentença que julgou procedente
pedido da autora para “declarar a anulação da escritura pública de compra e venda,
datada de 04/06/2008, lavrada no livro 248-C, fls. 107, do Tabelionato desta Comarca,
com a consequente anulação do respectivo registro na matrícula de nº 9.975, do
Registro de Imóveis desta Comarca” (sic), e os condenou “a arcarem de forma
solidária com as custas e despesas processuais, além de honorários advocatícios que
fixo em R$ 2.000,00 (dois mil reais) em atenção ao art. 20, § 4º, do CPC,
considerando o grau de zelo profissional, o trabalho apresentado, o tempo exigido
para o feito e a natureza da demanda” (sic, fl. 169/173).
Sustentam, em síntese, o seguinte: a) não foram analisados, pelo magistrado singular,
os argumentos e provas trazidas aos autos e, se fossem considerados, favoreceria a
tese dos apelantes, pois as testemunhas afirmaram que o imóvel foi comprado com
dinheiro de outro imóvel anteriormente vendido; b) não foi levado em conta a
expressa vontade dos apelantes por ocasião da assinatura da escritura pública, a qual
explicitamente trata das condições do negócio jurídico entabulado pelas partes; c) a
prova testemunhal é falha, pois as testemunhas da apelada afirmaram que foi a própria
apelada que lhes teria contado sobre tal condição de doação do imóvel; d) não se
pode anular uma escritura pública com base em argumentos sem qualquer prova

661

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material; a escritura lavrada por tabelião comprova a regularidade do ato e desfruta de


veracidade presumida. Pedem, assim, a reforma da decisão com a improcedência da
pretensão deduzida pela autora (fl. 175/184).
O apelo foi recebido em ambos os efeitos (fl. 187), contrariado (fl. 188/193), com o
encaminhamento dos autos a este Tribunal.
2) FUNDAMENTAÇÃO E VOTO:
2.1) Conheço do recurso porque adequado, tempestivo e preparado.
2.2) A apelada ajuizou ação de anulação de ato jurídico em face dos apelantes (que
são seu cunhado e irmã, respectivamente), argumentando o seguinte: (a) é pessoa com
baixo grau de instrução e possui deficiência física há mais de vinte anos;
(b) em 23/03/2000, com a venda de um imóvel rural recebido por herança, e com as
economias que conseguiu juntar, adquiriu um lote situado na rua dos Mendes, quadra,
119, com área de 695,22m²; (c) com o prêmio que ganhou na Tele Sena e com a
venda de outro imóvel rural também recebido por herança, construiu uma casa no
referido lote; (d) passou a morar no imóvel com sua mãe, sendo que nos últimos anos
“esteve e está tendo sérias complicações em seu quadro de saúde, os quais lhe estão
retirando a capacidade de manter uma vida segura sem auxílio de terceiro, o mesmo
estaria ocorrendo com sua mãe, que reside junto” (sic, fl. 03); (e) em razão disso a sua
irmã e o seu cunhado (réus na ação) “aproximaram-se da mesma (em 06/2008),
sempre muito prestativos e generosos, mascarando seu real intuito. Na verdade,
estavam preparando o golpe para apoderar do imóvel da requerente, já que estava
proposta a doá- lo para alguém que se comprometesse a cuidá-la até seus últimos dias
de vida, visto que não possuía esposo nem filhos para arcar com tais cuidados.
Assim, utilizando-se do inocente intuito de doação do imóvel pela requerente sob
certas condições, quais sejam, assumir os cuidados com a mesma, em todos os
aspectos, até o final de sua vida doação por meio de escritura de doação com cláusula
de usufruto vitalício, o plano dos requeridos foi tomando forma, conseguiram o que
desejavam, apossar-se do bem aqui discutido de maneira mais fácil e ardilosa. Sua
dissimulação foi tamanha, que chegaram ao extrema de fazerem uma escritura de
compra e venda do referido imóvel, simulando a aquisição deste bem pelo meio mais
simples, ou seja, pela compra e venda” (sic, fl. 03); (f) os réus nessa ocasião residiam na
Linha Rio dos Patos, em uma casa da empresa Agibert Madeiras e Derivados Ltda, pois
não possuíam imóvel; chegaram a levá-la para morar em sua companhia nessa
localidade, sendo que a sua genitora foi residir com o filho Slauko; (g) nessa ocasião
levaram-na até o Tabelionato para que assinasse a escritura de doação, “alegando que
com este documento estariam se comprometendo a cuidá-la na forma em que fora
combinado, iludindo a mesma para que assinasse tal documentação sem fazer
questionamentos” (sic, fl. 04); (h) o valor consignado na escritura (R$ 27.864,18) não
corresponde ao preço do imóvel e jamais foi pagou pelos réus e recebidos; (i) tão logo
os réus se apossaram do imóvel iniciaram reformas para embelezá-lo, “trocando o
assoalho de madeira por piso cerâmico, divisórias fazendo algumas calçadas entre
outras benfeitorias totalmente desnecessárias. Depois que voltaram para residir na
casa da requerente, inicialmente, trataram a mesma de forma normal, como pessoas
civilizadas, ou seja, sem problema algum. Neste período a requerente fazia os serviços
662

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

da casa, ajudava financeiramente nas despesas com alimentação entre outros, mesmo
tendo os requeridos, assumido todos estes encargos.
Passado algum tempo, a requerente, devido a problemas de saúde, necessitou fazer
uma cirurgia de cataratas, onde neste momento iniciaram os problemas. A requerente
necessitava fazer referida cirurgia na cidade de Curitiba, isso devido ao
encaminhamento feito por seu médico. Os requeridos alegavam que tal cirurgia não
era necessária e que se fosse feita iria gerar muitos gastos, onde dessa forma a mesma
não poderia ajudar mais ambos financeiramente durante o período de tratamentos
nem tampouco fazer suas tarefas domésticas” (sic, fl. 04); (l) essa situação fez com que
deixasse a sua casa e fosse morar em companhia de seu irmão; “descobriu
recentemente o golde dos requeridos, isso devido ao fato dos requeridos ameaçarem
vender o imóvel em questão, momento em que buscou auxílio para poder reaver seu
único bem” (sic, fl. 05); (m) o ato jurídico de compra e venda do imóvel não pode
subsistir porque presente erro substancial que autoria a sua anulação, com base nos
arts. 138, 139, 145 do Código Civil, sendo que sua intenção sempre foi doar o imóvel,
mediante usufruto, a quem lhe prestasse cuidados permanentes, tendo sido enganada
pelos réus.
Os réus apresentaram contestação sustentando, em síntese, que: (a) possuíam um
imóvel localizado no loteamento Santo Antonio (matrícula 16.819) “o qual foi vendido
justamente para comprar o imóvel da requerente” (sic, fl. 40); (b) a autora “tinha plena
noção e consciência do que estava fazendo, assinou a escritura de compra e venda e,
ainda, recebeu a quantia relativa ao negócio entabulado” (sic, fl. 40), não cabendo
falar em erro substancial e sim em arrependimento daquela na concretização do
negócio, o que não se constitui causa suficiente para a sua anulação; (c) a autora “não
fez a menor prova do suposto vício que importasse na anulação da escritura pública
celebrada entre ela e os requeridos e não se vislumbra o emprego de nenhum
expediente, na compra e venda, que induzisse a requerente em erro” (sic, fl. 41),
sendo que “o mero fato, portanto, de receber uma quantia abaixo do que valia o
imóvel, da parte possuir baixo grau de instrução, da parte estar passando por
dificuldades financeiras, ou de ter gasto o prêmio da tele sena não possui o condão de
determinar a invalidade do negócio” (sic, fl. 42); (d) consta na escritura pública de
compra e venda declaração da autora de ter recebido em moeda corrente o preço
ajustando dando plena e geral quitação, sendo que tal documento foi formalmente
elaborado, e “no que se refere a declaração de vontade, não existe prova que permita
concluir pela existência de erro substancial, o que demonstra que são totalmente
inverídicos os argumentos trazidos pela requerente, a qual não demonstra sequer um
indício da presença de vício de consentimento capaz de embasar a anulação do
negócio jurídico” (sic, fl. 43); (e) impõe-se, assim, a improcedência da pretensão
“devendo subsistir o negócio jurídico entabulado entre as partes, consistente na
compra e venda do imóvel registrado na matrícula nº 9575 do Cartório de Registro de
Imóveis desta Comarca, conforme escritura pública de compra e venda, lavrada no
tabelionato de notas da Comarca de Prudentópolis, no livro 248 C, folhas 107” (sic, fl.
45).
Os réus são, como já consignado, cunhado e irmã, respectivamente, da autora.
663

Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ

Adelia Pastch Rossa disse que ficou sabendo pela autora que esta teria doado o
imóvel para os réus com o objetivo de que cuidassem dela (depoimento armazenado
em cd-rom).
Helena Kriyuyl, que é prima da autora e da ré, relatou que aquele morava com sua
mãe na casa que construiu; que a mãe da autora foi mora com o um filho porque
estava adoentada e o estado de saúde da autora também era precário; que a intenção
da autora, conforme várias vezes lhe relatou, era doar o imóvel para alguma pessoa
que se comprometesse em cuidar da mesma “para o resto de sua vida”; que acabou
doando o imóvel para os réus sob as promessas de que prestariam esses cuidados;
que a autora lhe disse que não recebeu nenhum dinheiro dos réus pela transferência
do imóvel; que também a autora se queixava de que os réus passaram a lhe maltratar,
fazendo com que se retirasse da casa e fosse morar com seu irmão; que a autora foi
operada de catarata; que a autora disse, também, que assinou a escritura pensando
que fosse doação (depoimento armazenado em cd-rom).
Maria Kraskovski, que também é parente das partes, declarou que a mãe da autora e
da ré frequentava a sua casa, tendo afirmado que a autora iria doar o imóvel para os
réus para que eles cuidassem dela “para o resto da vida”; que a autora possui
problema de saúde, tendo sido, inclusive, operada de catarata; que não sabe qual o
motivo de ter sido elaborada escritura de compra e venda ao invés de escritura de
doação; que a autora, pelo que lhe informou, não recebeu nenhum dinheiro dos réus
pela transferência do imóvel; que os réus chegaram a se mudar para a casa da autora;
que no início a autora era bem tratada pelos réus, situação que começou a se alterar
no passar do tempo, o que levou a autora a deixar o imóvel e a ir morar em
companhia de um irmão (depoimento armazenado em cd-rom).
Rosangela Suchodolak Pereira informou que conhece a autora há muitos anos; que foi
a autora quem construiu a casa sobre o lote de terreno, onde morava em companhia
de sua mãe; que tanto a autora quanto a sua mãe eram pessoas doentes, sendo que a
mãe da autora justamente por causa da debilitação física e porque a autora não possui
condição de cuidar da genitora foi morar com outro filho; que a autora sempre
comentou que sua intenção era doar o imóvel para quem “lhe cuidasse para o resto
da vida”; que a autora fez doação do imóvel para os réus porque estes teriam
prometido cuidar dela “para sempre”, conforme lhe relatou a própria autora; que a
autora acabou indo morar com um irmão seu porque os réus depois de um tempo
passaram a lhe tratar mal (depoimento armazenado em cd-rom).
Maria Isabel de Souza dos Santos afirmou que conhece os réus e que ficou sabendo
pela ré que compraram o imóvel da autora por vinte e sete mil reais; que não
presenciou o negócio realizado; que também por intermédio da ré que o casal vende
um lote que possuíam para adquirir o imóvel da autora, não sabendo, no entanto, qual
foi o valor dessa venda; que não conhece a autora; que nada sabe a respeito de
doação do imóvel da autora para os réus (depoimento armazenado em cd-rom).
Carlos Davi Zanzeluk foi contratado pelos réus para fazer uma reforma interna na casa;
que ficou sabendo pelo réu varão que teria comprado o imóvel, não sabendo por qual
preço; que os réus tinham um lote de terreno onde ia ser edificada uma casa; que
venderam esse lote e compraram a casa da autora (depoimento em cd-rom).
664

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Os elementos de prova alinhavados nos autos conferem maior credibilidade a versão


apresentada pela autora.
Embora a transferência do imóvel tenha sido feita por meio de escritura pública de
compra e venda, é nítido que a intenção da autora não era essa.
Impõe-se considerar que a negociação foi realizada em ambiente familiar. E é com
base nessa realidade que se deve analisar a controvérsia estabelecida.
Todas as testemunhas arroladas pela autora (Adelia Pastuch Rossa, Helena Kriyuyl,
Maria Kraskosvski e Rosangela Suchodolak Pereira) foram unânimes em afirmar que a
autora em razão de seu precário estado de saúde sempre teve a intenção de doar o
imóvel para alguma pessoa que assumisse o compromisso de cuidar dela até o fim de
seus dias, já que vivia sozinha (a mãe da autora chegou a morar em sua companhia,
porém, porque também era pessoa doente, acabou tendo que ir morar com um outro
filho que tinha melhores condições de lhe prestar auxílio).
Os depoimentos dessas pessoas, por conta da convivência que possuíam e possuem
com a autora e com a ré (duas testemunhas, inclusive, são parentes suas) revelam que
efetivamente o que pretendia a autora era transferir seu único imóvel para quem
assumisse o compromisso de lhe prestar auxílio até o fim de sua vida.
Os depoimentos das testemunhas arroladas pelos réus (Maria Isabel de Souza dos
Santos e Carlos Davi Zanzeluk) não guardam a mesma densidade informativa e
probatória.
Maria Isabel disse que ficou sabendo pela ré que o casal adquiriu o imóvel da autora,
informando, inclusive, o preço. Já com relação ao valor pelo qual teriam eles vendido
um terreno que possuíam, ainda segundo o que lhe esclareceu a ré, não soube
informar.
Carlos Davi relatou que foi contratado pelos réus para fazer a reforma do interior da
casa, sequer indicando, com precisão, qual o valor recebido pelo trabalho que teria
realizado. Ficou sabendo pelo réu que
este teria comprado o imóvel da autora, desconhecendo, no entanto, detalhes a
respeito da transação.
Impõe-se considerar, ademais, que inexiste qualquer resquício mínimo de lógica para
que a autora, pessoa humilde, sozinha, e com sérios problemas de saúde, vendesse o
imóvel e ficasse desabrigada, à mercê da sorte.
Como adequadamente consignado pelo sentenciante que “não fora apresentado
qualquer indício de pagamento no valor de R$ 27.864,18 (vinte e sete mil oitocentos e
sessenta e quatro reais e dezoito centavos) indicado na escritura de compra e venda,
sendo sequer mencionada a forma de pagamento. Além da não apresentação de
recibo, da análise dos extratos das contas da requerente e dos requeridos, verifica-se
que aquela nunca recebeu nenhuma quantia relevante no período em que fora
realizada a escritura de compra e venda que possa justificar o pagamento por um
imóvel (fls. 91/92). Igualmente, nas contas dos requeridos não existe nenhum débito
no período que possa demonstrar a retirada de um valor expressivo demonstrando o
pagamento do valor mencionado na escritura (fls. 94/97 e 99/102)” (sic, fl. 171).

665

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O ato retratado na escritura pública de compra e venda, portanto, não pode subsistir.
E isso porque a intenção da autora não era vender o seu imóvel e sim doá-lo a quem
se comprometesse em lhe prestar auxílio e cuidado.
O art. 139, inciso I, do Código Civil estabelece que “o erro é substancial quando:
interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou alguma das
qualidades a ele essenciais”.
Lecionam, a propósito, Gustavo Tepedino, Heloisa Helena Barbosa e Maria Celina
Bodin de Moraes, que “o negócio jurídico só será anulável por erro quando a
declaração de vontade emanar de erro substancial (art. 139). Na definição de Caio
Mário, “substancial é o erro que diz respeito à natureza do ato, ao objeto principal da
declaração, ou a algumas qualidades a ele essenciais (...). Em suma, para ser
considerado como defeito viciador da vontade, o erro há de constituir uma opinião
errada sobre as condições essenciais determinantes da manifestação de vontade, cujas
consequências não são realmente queridas pelo agente (Instituições, vol. p 520)”
(Código Civil Interpretado, 3ª ed., Renovar, pág. 272).
Estando comprovado o vício na manifestação da vontade, eis que foi a apelada
induzida em erro, correta está a decretação da nulidade do compromisso de compra e
venda.
2.3) Diante do exposto, voto no sentido de negar provimento a apelação dos réus e
manter a sentença.
3) DISPOSITIVO:
ACORDAM os Magistrados integrantes da 12ª Câmara Cível, à unanimidade de votos,
em não prover o recurso e ratificar a decisão atacada.
Participaram do julgamento o Desembargador Mário Helton Jorge e a Juíza Substituta
Suzana Massako Hirama Loreto de Oliveira.
Curitiba 03 fevereiro 2016.
(assinado digitalmente) Des. Luiz Cezar Nicolau, relator

2.5.15. CONTRATO DE RECOMPRA DE TÍTULOS

AÇÃO COMINATÓRIA CUMULADA COM ENTREGA DE COISA CERTA E

INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS.CONTRATO DE RECOMPRA DE TÍTULOS

DE CRÉDITO. PEDIDO JULGADO PARCIALMENTE PROCEDENTE. INSURGÊNCIA DE

AMBAS AS PARTES.RECURSO DA AUTORA (1). REITERAÇÃO DO PEDIDO DE

INDENIZAÇÃO ANTE A IMPOSSIBILIDADE DE PAGAMENTO DOS TÍTULOS PELA

EMPRESA SACADA, EIS QUE JÁ FOI DESATIVADA. AUSÊNCIA DE PROVA MÍNIMA

ACERCA DA DESATIVAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE RECONHECER EVENTUAL

DEVER DE INDENIZAR DA RÉ SOB ESTE ARGUMENTO.RECURSO DA RÉ (2).

666

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CONTRATO BILATERAL.OBRIGAÇÕES RECÍPROCAS. PAGAMENTO PARCIAL DO

DÉBITO.RETENÇÃO INJUSTIFICADA PELA RÉ DE TODOS OS TÍTULOS PAGOS.

OBRIGAÇÃO DE DEVOLVÊ-LOS NÃO CUMPRIDA DE IMEDIATO. JUROS

UTILIZADOS COMO CRITÉRIO PARA A FIXAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO,

EQUIPARANDO-OS A JUROS REMUNERATÓRIOS. TERMO INICIAL. DATA DA

ASSINATURA DO CONTRATO. INOCORRÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ART. 405 DO

CÓDIGO CIVIL.RECURSOS NÃO PROVIDOS. Estado do Paraná Apelação 1.393.915-2

- 12ª Câmara Cível 2

(TJPR - 12ª C.Cível - AC - 1393915-2 - Arapongas - Rel.: Luiz Cezar Nicolau - Unânime

- J. 03.02.2016)

Inteiro Teor

1) RELATÓRIO:
Trata-se de recurso de apelação interposto por ambas as partes contra sentença que
julgou parcialmente procedente o pedido cominatório para (a) determinar que a ré
devolva os títulos de n. 2364/10, 2364/11, 2364/12, 2364/13,2364/14, 2364/07 e
2364/06, se já não o tiver feito, confirmando a liminar concedida; (b) condenar a parte
ré ao pagamento de juros legais mensais, no importe de 1% ao mês, capitalizados de
forma simples, sobre o valor dos títulos de n. 2364/10, 2364/11, 2364/12, 2364/13,
2364/14, 2364/07 e 2364/06 (valores estes atualizados pela média INPC e IGP-DI a
partir de cada vencimento), sendo tais juros contados a partir da assinatura do contrato
(14.7.2009) até a devolução em 7.12.2010 (fI. 91); (c) determinar a compensação do
importe de R$ 5.000,00, atualizados na forma da fundamentação, devidos pela autora
à ré com o objeto da condenação do item b, com a retenção ou devolução do título n.
2364/08; Em razão da sucumbência recíproca, sem equivalência das derrotas,
considerando que a parte demandante obteve maior êxito (observado não só o caráter
quantitativo, mas também qualitativo de suas pretensões), condeno a parte autora ao
pagamento de 30% das custas processuais e honorários advocatícios à demandada no
importe de R$ 800,00 (oitocentos reais) e parte ré ao pagamento de 70% das custas
processuais e honorários advocatícios ao patrono da parte adversa, os quais fixo em
R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais), autorizada a compensação nos termos do
enunciado n.
306 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça, a qual deve ser realizada em
momento anterior à suspensão a que alude o art. 12 da Lei n. 1.060/50”.
Sustenta, a autora, em síntese, que: a) objetiva a condenação da parte contrária ao
pagamento de indenização por dano moral no valor dos títulos, que atualmente estão
imprestáveis para recebimento; b) a sentença negou esse direito ao argumento de que
implicaria em bis in idem ante a probabilidade de receber o mesmo valor duas vezes,
667

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uma do devedor do título e outro da apelada; c) esse entendimento é equivocado


porque impossível receber qualquer quantia do devedor originário pois não está mais
em atividade, e esse impasse se deve à demora da apelada em devolver os títulos.
Pede, assim, o provimento do recurso para que o pleito indenizatório seja julgado
procedente.
Sustenta a ré que os juros de 1% (um por cento) ao mês devem ser aplicados desde a
data da citação e não da data de assinatura do contrato, conforme prescreve o art. 405
do Código Civil e o entendimento do Superior Tribunal de Justiça. Pede, assim, o
provimento do recurso para esse fim.
Os apelos foram recebidos em ambos os efeitos (fl. 178), contrariados (fl. 180/182 e
183/185), com o encaminhamento dos autos a este Tribunal.
2) FUNDAMENTAÇÃO E VOTO:
2.1) Conheço dos recursos porque adequados, tempestivos e preparados.
2.2) Cuida-se de ação cominatória cumulada com indenizatória por dano material e
dano moral ajuizada ante a alegada não devolução dos títulos de créditos cedidos
onerosamente à ré, eis que esta não pagou a contraprestação.
Infere-se do acervo probatório que a autora José Natal Ferrari - Madeiras Ltda,
enquanto credora da firma Agrícola Líder Serviços Rurais S/C Ltda, cedeu de forma
onerosa os títulos representativos desse crédito à ré A.M. Cred Factoring Fomento
Mercatnil Ltda. Não pagos os títulos pela sacada, a autora os recomprou da ré
mediante a dação em pagamento de três maquinários e mais cinco cheques.
Sob a alegação de que os títulos não lhes foram devolvidos pela ré, a autora ajuizou a
presente ação, pedindo, em suma, que ela fosse condenada a devolver-lhe os títulos;
reparar os danos materiais no valor desses títulos, com juros e correção monetária da
data de cada vencimento, desde a data da assinatura do instrumento da recompra; ou
a efetuar o pagamento atualizado dos títulos desde a data da assinatura do referido
instrumento (fl. 16).
A sentença recorrida entendeu que com a dação em pagamento ficou pago o
percentual de noventa por cento da obrigação assumida pela autora, restando
inadimplidos R$ 5.000,00 (cinco mil reais) alusivos aos cheques, não se justificando, em
consequência, a retenção integral dos títulos por parte da ré. Mas concluiu que era
“descabida a obrigação de pagamento da totalidade do valor das cártulas atualizado e
acrescido de juros, porquanto de tal forma a parte autora seria duplamente
compensada com o ressarcimento do valor integral e o direito à obtenção do mesmo
crédito junto ao sacado, o que geraria enriquecimento indevido” (fl. 148).
Contra essa parte da decisão é que se insurge a autora, insistindo na indenização por
dano material.
2.3) Assinale-se, de início, que o pedido é de indenização por dano material, como
formulado na petição inicial, e a menção equivocada a dano moral feita no apelo é
irrelevante porque a pretensão recursal deve ser analisada em seu conteúdo e não em
sua mera nomenclatura.
Assim, contrariamente ao sustentado pela recorrida (fl.172), não se trata de inovação
e, por isso, o recurso é suscetível de ser conhecido.

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2.4) Para se contrapor ao entendimento da sentença a apelante sustenta que não


haverá o risco de ser “duplamente compensada com o ressarcimento do valor integral
e o direito à obtenção do mesmo crédito junto ao sacado, o que geraria
enriquecimento indevido” (fl. 148), porque a
empresa sacada não está mais em atividade, daí a impossibilidade de demandá-la
judicialmente (fl. 154).
No entanto, não foi essa a causa de pedir deduzida na petição inicial, pois o
fundamento apresentado foi no sentido de que que a retenção dos títulos teria
inviabilizado a sua cobrança em face da empresa sacada.
Nada foi dito sobre a agora alegada desativação da sacada. Se antes a causa de pedir
foi a retenção indevida dos títulos, agora passou a ser a paralização das atividades da
sacada! De qualquer modo, nenhuma prova foi produzida a respeito dessa nova causa
de pedir, tendo a recorrente, aliás, dispensado a produção de outras provas e
requerido o julgamento antecipado da lide (fl. 135).
Ressalte-se, por fim, que pela retenção indevida dos títulos a sentença condenou a
apelada a pagar indenização “por meio da cominação de juros, porquanto
impossibilitou a cobrança antecipada de tais cártulas pela autora (...) no importe de 1%
ao mês, capitalizados de forma simples, sobre o valor dos títulos (...) (valores estes
atualizados pela média INPC e IGP-DI a partir de cada vencimento), sendo tais juros
contados a partir da assinatura do contrato (14.7.2009) até a devolução em 7.12.2010
(fl. 91)” (fl.148/148-vº), descontado o valor dos cheques dados em pagamento pela
recompra, e que não foram honrados.
Impõe-se, pois, o não acolhimento da pretensão recursal da autora, eis que é
impossível reconhecer o dever de indenizar da ré sob esse argumento.
2.5) Quanto ao recurso da ré (para que os juros de mora sejam contados a partir da
citação) não merece acolhimento.
E isso porque a sentença não os deferiu como acessório de qualquer condenação
(juros de mora), mas como forma de ressarcir os danos decorrentes da indevida
retenção dos títulos por parte da ora apelante.
O magistrado singular a condenou a pagar, a título de indenização, o equivalente a
1% (um por cento) sobre o valor de cada título desde a data do vencimento de cada
um deles, contados a partir da assinatura do contrato (14/7/2009) até a devolução em
7/12/2010, equiparando-os a juros remuneratórios que a autora deixou de aferir com o
atraso na devolução dos títulos.
Assim, tais encargos foram adotados como mero critério para a fixação do quantum
indenizatório. Tanto é que consignou que o valor de cinco mil reais deve ser
descontado “do valor desta restituição (...)” (sic).
Portanto, também deve ser desacolhida a pretensão recursal da ré.
2.6) Diante do exposto, voto no sentido de negar provimento às apelações e manter a
sentença.
3) DISPOSITIVO:
ACORDAM os Magistrados integrantes da 12ª Câmara Cível, à unanimidade de votos,
em não prover os recursos e ratificar a decisão atacada.

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Participaram do julgamento o Desembargador Mário Helton Jorge e a Juíza Substituta


Suzana Massako Hirama Loreto de Oliveira.
Curitiba 03 fevereiro 2016.
(assinado digitalmente) Des. Luiz Cezar Nicolau, relator

2.5.16. MONITÓRIA – CHEQUE PRESCRITO

AÇÃO MONITÓRIA. CHEQUE PRESCRITO.IMPROCEDÊNCIA DOS EMBARGOS.

INSURGÊNCIA DO RÉU/EMBARGANTE. CERCEAMENTO DE DIREITO DE

DEFESA.NÃO CARACTERIZAÇÃO. DESNECESSIDADE DE PRODUÇÃO DE PROVA

ORAL. ELEMENTOS PROBATÓRIOS SUFICIENTES PARA A RESOLUÇÃO DA

CONTROVÉRSIA. ILEGITIMIDADE PASSIVA. NÃO OCORRÊNCIA. CHEQUE EMITIDO

POR EMPRESA INDIVIDUAL QUE NÃO CONFIGURA ÓBICE A OBRIGATORIEDADE

DE SEU TITULAR EM EFETUAR O PAGAMENTO DA DÍVIDA.DESNECESSIDADE DE

COMPROVAÇÃO DA CAUSA DEBENDI.JUROS MORATÓRIOS. POSSIBILIDADE DE

FIXAÇÃO, DE OFICIO, DO TERMO INICIAL. NÃO OCORRENCIA DE JULGAMENTO

ULTRA- PETITA. SENTENÇA ESCORREITA. RECURSO NÃO PROVIDO.

(TJPR - 12ª C.Cível - AC - 1412552-9 - Francisco Beltrão - Rel.: Luiz Cezar Nicolau -

Unânime - J. 03.02.2016)

Inteiro Teor

1) RELATÓRIO:
Trata-se de recurso de apelação interposto pelo réu contra sentença que julgou
improcedentes os embargos monitórios que opôs em face do autor e procedente o
pedido monitório “para o fim de constituir o título executivo judicial em desfavor da
requerida, no valor correspondente ao cheque apresentado (R$ 100.000,00) e
despesas com cartório” (sic), condenando-o ao pagamento das custas processuais e
honorários de três mil reais (mov. 50.1).
Sustenta, em síntese, que: a) deve ser reconhecida a nulidade da sentença por
cerceamento de direito defesa ante o julgamento antecipado da lide; b) é parte
ilegítima, porquanto o cheque foi emitido pela pessoa jurídica Elair José Ozório ­ ME;
c) deve ser comprovada a origem do débito, porquanto a desconhece; d) houve
julgamento ultra-petita porque o autor requereu o pagamento de juros moratórios
desde a citação, mas o magistrado singular determinou sua incidência desde a
emissão do cheque. Pede, assim, o provimento do recurso para esses fins (mov. 55.1).
670

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O apelo foi recebido nos efeitos devolutivo e suspensivo (mov. 58.1), contrariado
(mov. 61.1), com o encaminhamento dos autos a este Tribunal.
2) FUNDAMENTAÇÃO E VOTO:
2.1) Conheço do recurso porque adequado, tempestivo e preparado.
2.2) Havendo elementos de informação suficientes nos autos para a resolução da
controvérsia não há que se falar em cerceamento de defesa. O julgamento na fase em
que se encontra o feito está previsto no art.
330, inciso I, do Código de Processo Civil. É o caso em análise. O apelante, aliás,
sequer indica em suas razões recusais qual o efetivo prejuízo que teve com a não
produção de prova em audiência.
2.3) Não há, também, qualquer hipótese que enseja o reconhecimento da alegada
ilegitimidade passiva. Isso porque o cheque apresentado contempla expressamente a
assinatura do réu enquanto titular da empresa individual que o emitiu, não podendo a
ficção quanto à sua personalidade jurídica ser imposta como motivo para o não
pagamento da dívida.
Nesse sentido o seguinte precedente: “DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO
MONITÓRIA. CHEQUES PRESCRITOS.
PROVA DO PAGAMENTO. PROVA TESTEMUNHAL INADEQUADA.
CERCEAMENTO DE DEFESA INEXISTENTE. LEGITIMIDADE PASSIVA.
CHEQUES EMITIDOS POR EMPRESÁRIO INDIVIDUAL. PESSOA FÍSICA. PARTE
LEGÍTIMA PARA A CAUSA. CAUSA DE PEDIR.
DESNECESSIDADE DA DESCRIÇÃO DA ORIGEM DAS CÁRTULAS.
ÔNUS DA PROVA QUANTO AO PAGAMENTO DOS TÍTULOS. FATO EXTINTIVO DO
DIREITO DO AUTOR. ÔNUS DA PROVA DO EMITENTE. (...) IV. O empresário
individual corresponde à pessoa física que desempenha pessoalmente atividade
empresarial na modalidade de microempresa ou de empresa de pequeno porte. V.
Não há distinção entre o empresário individual e a pessoa física que exerce a atividade
empresarial.
Não se verifica o discrímen próprio das sociedades empresárias entre a pessoa
jurídica e seus membros. VI. Se a própria pessoa física titulariza a empresa e, por
conseguinte, todos os negócios jurídicos realizados mediante a “firma individual”, não
há como recusar sua legitimidade ad causam para a ação que tem como objeto a
cobrança de cheques emitidos pelo empresário individual. (...). Recurso conhecido e
desprovido” (TJDF, 4ª Turma Cível, Rel. Des. James Eduardo Oliveira, julgada em
23/10/2013).
2.4) Instruiu o apelado seu pedido monitório com um cheque emitido pelo apelante,
sacado contra o Banco HSBC, agência 0047, de Francisco Beltrão/Pr, no valor total de
R$ 100.000,00 (cem mil reais).
O embargante não nega a emissão do cheque e tampouco comprova a
inexigibilidade do débito. Limita-se a dizer que o apelado não comprovou a origem da
dívida e que isso inviabiliza a pretensão formulada.
O autor da ação monitória não precisa, na inicial, declinar a relação causal que deu
origem à emissão do cheque prescrito.

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O Superior Tribunal de Justiça já assentou entendimento nesse sentido:


“PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA.
ART. 543-C DO CPC. AÇÃO
MONITÓRIA APARELHADA EM CHEQUE PRESCRITO. DISPENSA DA MENÇÃO À
ORIGEM DA DÍVIDA. 1. Para fins do art. 543-C do CPC: Em ação monitória fundada
em cheque prescrito, ajuizada em face do emitente, é dispensável menção ao negócio
jurídico subjacente à emissão da cártula.
2. No caso concreto, recurso especial parcialmente provido” (REsp 1.094.571/SP, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em 04/02/2013).
No entanto, nada impede que o réu, em embargos, discuta a causa debendi,
cabendo-lhe a iniciativa do contraditório e o ônus da prova, mediante a apresentação
de fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito do autor, nos termos do
art. 333, inciso II, do Código de Processo Civil.
Conforme leciona Eduardo Talamini “ao conceder a tutela monitória, o magistrado
formula juízo de verossimilhança em favor do autor. A partir de então e em qualquer
caso - considerem-se os embargos ‘ação’ ou ‘contestação’ -, passa a ser ônus do réu
destruir o juízo de verossimilhança inicialmente estabelecido. Há entendimento
assente em direito probatório de que, quando se forma presunção em favor de uma
das partes, cabe à adversária demonstrar o desacerto dessa presunção (conferir, por
todos: Barbosa Moreira, As Presunções..., p. 60, e Dinamarco, A instrumentalidade...,
p. 245). Essa noção igualmente é aplicável aos juízos de probabilidade: é ônus do réu
no procedimento monitório provar que as coisas não ocorreram como parecem ter
ocorrido (o que não exclui que ele se desincumba desse encargo através de ‘provas
indiretas)” (Tutela Monitória, Ed. Revista dos Tribunais, pág. 128).
Tendo o apelado apresentado o cheque emitido pelo apelante, inexistindo por parte
deste qualquer demonstração de que os valores ali consignados não são devidos, por
quaisquer motivos que sejam, nenhum reparo merece o pronunciamento recorrido.
2.5) A questão referente ao termo inicial de incidência dos consectários legais perfaz
matéria de ordem pública, não representado, assim, julgamento ultra-petita sua livre
apreciação pelo magistrado singular.
Nesse sentido o entendimento consolidado do Superior Tribunal de Justiça:
“RECURSO ESPECIAL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. ALTERAÇÃO EX OFFICIO DO
TERMO INICIAL DOS JUROS DE MORA.
POSSIBILIDADE. TERMO INICIAL DOS JUROS DE MORA. CITAÇÃO. 1. A alteração
do termo inicial pode ser analisada, de ofício, posto que se trata de matéria de ordem
pública. 2. Tratando-se de responsabilidade contratual, os juros moratórios incidem a
partir da citação. 3. Recurso Especial parcialmente provido” (REsp 1.481.163/SP, Rel.
Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 18/06/2015).
2.6) Diante do exposto, voto no sentido de negar provimento a apelação do réu e
manter a sentença.
3) DISPOSITIVO:
ACORDAM os Magistrados integrantes da 12ª Câmara Cível, à unanimidade de votos,
em não prover o recurso e ratificar a decisão atacada.

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Participaram do julgamento o Desembargador Mário Helton Jorge e a Juíza Substituta


Suzana Massako Hirama Loreto de Oliveira.
Curitiba 03 fevereiro 2016.
(assinado digitalmente) Des. Luiz Cezar Nicolau, relator

2.5.19. RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL

AÇÃO DE RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL CUMULADA

COM PARTILHA DE BENS E ALIMENTOS. FIXAÇÃO DE ALIMENTOS PROVISÓRIOS

EM FAVOR DA AUTORA. INSURGÊNCIA DO RÉU. DISPENSA PELA AUTORA NOS

ACORDOS REALIZADOS DE ALIMENTOS. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO EFETIVA

ACERCA DA NECESSIDADE DE AUXÍLIO MATERIAL DO RÉU. ADEMAIS,

INEXISTÊNCIA DE VÍNCULO LEGAL ENTRE AS PARTES CAPAZ DE ENSEJAR A

IMPOSIÇÃO DA OBRIGAÇÃO RECLAMADA DE PLANO. RECURSO PROVIDO.

(TJPR - 12ª C.Cível - AI - 1397420-4 - Curitiba - Rel.: Luiz Cezar Nicolau - Unânime - J.

03.02.2016)

Inteiro Teor

1) RELATÓRIO:
Trata-se de recurso de agravo de instrumento interposto contra decisão proferida nos
autos 1113-64.2015.8.16.0188, de ação de reconhecimento e dissolução de união
estável cumulada partilha de bens e alimentos, ajuizada por M.D.L.P.A. em face de
N.G., que fixou alimentos
provisórios em favor da agravada no valor de R$ 1.000,00 por mês (fl.
414/415-TJ).
Sustenta o agravante, em síntese, que: (a) apesar de habitarem a mesma residência
por determinado período de tempo e de terem sido casados, não existem provas
cabais que atestem a existência da união estável afirmada pela agravada, porquanto
não preenchidos os requisitos elencados no art. 1.723 do Código Civil; (b) a agravada
omite o fato de que trabalha há mais de quatro anos como monitora de van escolar e
com encomendas de doces e salgados, conforme fotografias e vídeos colacionados
aos autos; (c) os exames e atestados médicos que acompanham a petição inicial são
defasados, antigos e não retratam o atual estado de saúde da agravada, que,
portanto, demonstra condições de exercer as referidas atividades laborais; (d) durante
aproximadamente oito meses ­ intervalo de tempo entre a saída da residência por
força de medida protetiva e a presente data ­ a agravada se manteve sem qualquer

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tipo de ajuda ou auxílio, sendo que não possui renda mensal bruta de R$ 9.000,00 por
mês como afirmado por aquela; (e) a decisão agravada comprometerá a sua
subsistência, uma vez que tem custos de aluguel, plano de saúde da genitora
(atualmente com 80 anos), funcionária da atividade comercial de transporte escolar
etc.; (f) as declarações apresentadas nos autos são assinadas por amigos do filho da
agravada que, dada a intimidade e convivência que possuem, “declarariam qualquer
coisa para ajudá-la, conforme informação extraída da rede social Facebook”.
Pede, assim, a suspensão imediata da decisão e o provimento do recurso para o fim
de “revogação da decisão interlocutória que fixou um valor exacerbado a título de
alimentos” (sic).
Deferi liminar para suspender o pronunciamento recorrido até o julgamento do mérito
da insurgência pela Câmara (fl. 442/443-vº).
A agravada apresentou resposta afirmando, em resumo, que deve ser mantida a
decisão que fixou alimentos provisórios, pois necessita do auxílio alimentar do
agravante porque se encontra fisicamente debilitada, sendo “vítima de agressão
doméstica, doente e sem qualquer capacidade de labor (aliás, os autos de medida
protetiva anexados pelo próprio agravante demonstram a necessidade da medida em
face das agressões perpetradas). Cabendo ao ex-cônjuge suprir as suas necessidades,
o qual se não for pela moral, que seja com amparo na legislação civil juntamente com
os dispositivos constitucionais. Sendo inadequado o filho resultante do relacionamento
arcar com o ônus que cada ao agravante” (sic, fl. 454).
2) FUNDAMENTAÇÃO E VOTO:
O pronunciamento recorrido está assim sintetizado: “4. O entendimento de que o
dever de mútua assistência imposto aos cônjuges ­ interpretação do artigo 1.694, do
Código Civil ­ origina a obrigação alimentar, a qual persiste mesmo após a dissolução
do vínculo matrimonial, tem sido objeto de inúmeras reflexões. 5. Recentemente, o
Superior Tribunal de Justiça manifestou-se sobre o assunto, decidindo no sentido de
que os alimentos entre ex-cônjuges são excepcionais e temporários. Ou seja, uma
exceção à regra, incidente apenas quando configurada a dependência do outro ou a
carência de assistência alheia. Tal entendimento vai ao encontro das paulatinas
alterações da sociedade brasileira, na qual a mulher não se dedica mais
exclusivamente à família, não necessitando, ab initio, de uma pensão alimentícia para
poder conseguir sobreviver após o término da relação conjugal 6. No caso dos autos,
a autora fundamenta sua pretensão, basicamente, na discrepância entre seus
rendimentos e os rendimentos do réu e na sua atual condição de saúde. 7. Analisando
os documentos juntados aos autos, em especial aqueles que confirmam o quadro de
saúde da requerente, e considerando que ela já recebe proventos oriundos de
aposentadoria, por ora, fixo os alimentos provisórios no importe de R$ 1.000,00 (um
mil reais) mensais, valor este a ser depositado até o dia 10 de todo mês em conta
corrente de titularidade da autora, a ser informada nos autos no prazo de 48 horas,
iniciando-se os depósitos no mês de junho do corrente ano”.
Diferentemente do que ocorre nas obrigações que envolvem alimentados incapazes,
onde a necessidade destes é presumida, a prestação de alimentos entre cônjuges
e/ou conviventes se funda no dever de mútua assistência (CC, art. 1.566, inciso III
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combinado com art. 1.724) e deve ser fixada “na proporção das necessidades do
reclamante e dos recursos da pessoa obrigada” (CC, art. 1.694, § 1º).
Ainda que o agravante afirme ter renda bruta de aproximadamente R$ 7.000,00 por
mês, observa-se que o mesmo tem despesas de plano de saúde, universidade do filho
e aluguel (fl. 73/75-TJ), além de serem presumíveis as demais despesas básicas
inerentes à moradia e de alimentação, por exemplo.
Acrescenta-se, ainda, a verossimilhança das alegações no tocante à tese de que a
agravada exerce atividade remunerada, especialmente como monitora de van escolar
e como vendedora informal de salgados, aquela conforme fotografias colacionadas (fl.
34/36-TJ) e esta conforme vídeo constante em mídia de CD-ROM e declaração de
profissão de “salgadeira” em determinado prontuário médico (fl. 29 e fl. 349-TJ).
Por fim, cabe observar que em ambas das composições realizadas pelas partes ­
separação judicial no ano de 2003 (fl. 146/149-TJ) e conversão da separação em
divórcio no ano de 2012 (fl. 95/96-TJ) ­ houve dispensa de prestação de alimentos e,
ainda, o razoável período de tempo em que a agravada promoveu a sua subsistência,
em tese, sem qualquer auxílio de terceiros (maio/2014 a janeiro/2015, intervalo entre a
medida protetiva concedida nos autos 1856-57.2014.8.16.0011 e a propositura da
ação originária, fl. 135/136 e fl. 79-TJ).
Apresentam-se relevantes, pois, os fundamentos lançados pelo agravante, porque a
manutenção da decisão agravada ­ neste momento de cognição sumária ­ certamente
poderá resultar em lesão grave e de difícil reparação, sobretudo em razão de que
representa montante significativo da sua renda líquida e da concreta possibilidade de
prejuízo do sustento próprio e da sua família.
A agravada por ocasião da apresentação da resposta invoca o princípio da
solidariedade para justificar a manutenção da pensão provisória, não demonstrando,
no entanto, sua efetiva e real necessidade material, inviabilizando-se, assim, a fixação
de plano dessa obrigação, o que pode restar modificado durante a fase de instrução.
Diante do exposto, voto no sentido de dar provimento ao agravo de instrumento para
ratificar a liminar concedida e suspender o pronunciamento recorrido que fixou
alimentos provisórios de um mil reais em favor da agravada.
3) DISPOSITIVO:
ACORDAM os Magistrados integrantes da 12ª Câmara Cível, à unanimidade de votos,
em prover o recurso na forma e para o fim acima estabelecido.
Participaram do julgamento o Desembargador Mário Helton Jorge e a Juíza Substituta
Suzana Massako Hirama Loreto de Oliveira.
Curitiba 03 fevereiro 2016.
(assinado digitalmente) Des. Luiz Cezar Nicolau, relator

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2.5.20. CESSÃO DE DIREITOS ECONÔMICOS DE ATLETA

AÇÃO ORDINÁRIA. CESSÃO DE DIREITOS ECONÔMICOS DE ATLETA. CLÁUSULA

DE REPASSE DE PERCENTUAL SOBRE VENDA EM PERÍODO DE

VINCULAÇÃO.PEDIDO JULGADO PROCEDENTE. INSURGÊNCIA DO

RÉU.POSTERIOR CESSÃO TEMPORÁRIA E GRATUITA DO JOGADOR, QUE EMBORA

POSSA TER IMPORTADO EM BENEFÍCIO ECONÔMICO AO RÉU NÃO

CONFIGUROU VENDA DO ATLETA, ÚNICA SITUAÇÃO ESTABELECIDA NO

CONTRATO A ENSEJAR OBRIGAÇÃO POSTULADA. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

SENTENÇA REFORMADA. RECURSO (1) PROVIDO. RECURSO (2) PREJUDICADO.

(TJPR - 12ª C.Cível - AC - 1389720-4 - Região Metropolitana de Londrina - Foro

Central de Londrina - Rel.: Luiz Cezar Nicolau - Unânime - J. 02.03.2016)

Inteiro Teor

1) RELATÓRIO:
Trata-se de apelação interposta pelo réu e pelo escritório de advocacia que
patrocinou a causa pela parte autora contra sentença que julgou procedente o pedido
desta para o fim de “condenar o réu a pagar ao autor o correspondente a 10% (dez
por cento) sobre o benefício financeiro obtido pelo réu, nos termos da
fundamentação” a ser apurado mediante liquidação por artigos (CPC, art. 475-E),
incidindo juros de mora no importe de 1% (um por cento) sobre o benefício financeiro
obtido pelo réu e correção monetária pelo INPC/IGP-DI, bem assim ao pagamento das
custas processuais e de honorários de sucumbência de um mil e quinhentos reais
(mov.86.1).
Sustenta o réu, em síntese, que: a) celebrou contrato de cessão de atleta com o autor,
temporário e gratuito pelo período de 02/05/2012 a 30/11/2012, onde constou
cláusula estipulando que se ao final do empréstimo ou até 03 (três) meses
subsequentes ao seu término, o cedente efetuasse a venda do atleta a um terceiro
clube, repassaria ao autor cessionário “10% (dez por cento) do valor da venda
celebrada” (mov. 1.3, cláusula terceira, parágrafo primeiro); b) após o vencimento do
empréstimo e com o retorno do atleta Clube réu, o apelante negociou novo
empréstimo, gratuito, com o Coritiba Foot Ball Club para o período de 06/01/2013 a
31/05/2013 (mov. 19.3, cláusula 2.1), depois prorrogado, novamente de forma
gratuita, para o período de 01/06/2013 a 31/12/2013 (mov. 19.4, cláusula 2.1); c) os
empréstimos que o Coritba fez ao apelante dos atletas Dirceu e Vinicius não têm
qualquer relação com o de Arthur; d) houvesse a relação, o atleta Dirceu não poderia
estar hoje atuando no Londrina uma vez que Arthur foi devolvido pelo Coritiba tão
logo encerrou seu período de empréstimo; e) os salários dos atletas Dirceu e Vinicius

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continuaram a ser pagos pelo Coritiba, ante seus altos valores. Pede, assim, o
provimento do recurso com a improcedência da pretensão formulada (mov.
98.1).
Sustenta o escritório de advocacia, em síntese, que os honorários foram fixados em
valor irrisório a título de sucumbência, pelo que devem ser majorados (mov. 108.1).
Os apelos foram recebidos em ambos os efeitos (mov. 110.1 e 123.1), contrariado o
do réu (mov. 134.1) e os autos encaminhados a este Tribunal.
2) FUNDAMENTAÇÃO E VOTO:
2.1) Do recurso do réu. Conheço porque adequado, tempestivo e preparado.
Cinge-se a controvérsia à existência do dever do réu de pagar ao autor 10% (dez por
cento) sobre o valor obtido com a cessão temporária do atleta Arthur Caike do
Nascimento Cruz ao Coritiba Foot Ball Club.
Pelos termos do Instrumento Particular de Cessão Temporária de Atleta de Futebol
(mov. 1.3) o apelante, detentor dos direitos federativos do atleta, cedeu-os, em caráter
temporário e gratuito, ao cessionário apelado, pelo prazo de 02/05/2012 a
30/11/2012.
Em sua cláusula terceira, parágrafo primeiro, constou que: “Fica desde já estabelecido
entre as partes que caso o CEDENTE obtenha proposta de qualquer clube estrangeiro
ou nacional para a cessão temporária ou definitiva do ATLETA até 28.02.2013, e caso
o CESSIONÁRIO não exerça seus direitos estipulados no caput da Cláusula Terceira, o
CEDENTE se compromete a repassar ao CESSIONÁRIO 10% (dez por cento) do valor
da venda celebrada, ficando o CEDENTE plenamente livre e desimpedido para aceitar
ou não a proposta, bastando apresentar a proposta oficial do terceiro clube ao
CESSIONÁRIO, o qual fica obrigado a liberar o ATLETAem 02 (dois) dias a contar da
data da referida notificação” Em janeiro de 2013 o apelante entabulou novo
Instrumento Particular de Cessão Temporária de Atleta de Futebol e outras avenças
(mov.
19.3), agora com o Coritiba Foot Ball Club, transferindo temporária e gratuitamente
os direitos federativos do mesmo atleta.
Sentenciando, entendeu o magistrado: “Logo, à luz de uma interpretação segundo a
boa-fé contratual, pode-se afirmar que sobre qualquer cessão do atleta Arthur Caike
do Nascimento Cruz, seja temporária ou definitiva, a qualquer clube nacional ou
estrangeiro, até a data de 28/02/13, o cessionário (autor) possui direito ao equivalente
a 10% sobre o valor da venda, venda esta que deve ser entendida, neste contexto,
como benefício econômico em proveito do cedente (réu)” (sic).
Afirma o apelante que “não vendeu os direitos econômicos que detinha sobre o atleta
Arthur, limitando-se a transferir o jogador temporária e gratuitamente ao cessionário
Coritba, sem receber qualquer importância pela cessão (mov. 19.3 e mov. 19.4,
cláusula segunda, item 2.1), tal qual fizera anteriormente, quando do empréstimo do
mesmo atleta ao próprio autor/apelado (mov. 1.3, cláusula primeira), daí porque
entende o apelante ser inaplicável à espécie o dispositivo contratual indicado na r.
sentença ora hostilizada”.
Inobstante a discussão operada, de se tratar ou não de operação de troca de
jogadores ou de simples cessão temporária e gratuita, ou da existência ou não de
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benefício econômico havido pelo apelante, restou incontroverso nos autos que não foi
realizada a venda do atleta Arthur no período de vinculação existente no contrato
firmado entre os litigantes.
O art. 113 do Código Civil realça a boa-fé e os costumes que devem nortear a
interpretação dos negócios jurídicos em geral: “Os negócios jurídicos devem ser
interpretados conforme a boa-fé e os usos e costumes do lugar da celebração”.
Deve ser respeitada a livre contratação efetivada pelas partes.
Apenas em casos excepcionais é possível ao juiz intervir no que foi livremente
pactuado entre os litigantes, pois prevalece nesse tipo de contrato, em regra, o
princípio da força obrigatória.
A cláusula contratual que estabeleceu o percentual de repasse é de clareza ímpar,
descrevendo que a obrigação, o dever de pagamento do percentual, incidiria em caso
de venda do jogador Arthur, não sendo possível interpretá-la extensivamente de forma
a alcançar qualquer “benefício econômico”.
Portanto, em não tendo ocorrido a venda do atleta de futebol, Arthur Caike do
Nascimento Cruz dentro do período compreendido entre o término da cessão
temporária e a data de 28/02/2013, não tem o apelado direito ao percebimento de
qualquer quantia, devendo ser julgada improcedente a pretensão inicial, invertendo-se
o ônus da sucumbência.
2.2) Do recurso do escritório Tetto, Macedo, Mees & Tisi Advogados. Conheço
porque adequado, tempestivo e preparado.
No entanto, como objetiva a majoração da verba honorária de sucumbência, e como
foi provido o apelo do réu com a improcedência do pedido formulado pela parte
autora, constituída do apelante, resta prejudicado de análise e deliberação a
insurgência deduzida.
2.3) Diante do exposto, voto no sentido de dar provimento a apelação de Londrina
Esporte Clube para reformar a sentença e julgar improcedente a pretensão de Paraná
Clube, invertendo-se o ônus sucumbência, restando prejudicado o recurso do
escritório de advocatícia.
3) DISPOSITIVO:
ACORDAM os Magistrados integrantes da 12ª Câmara Cível, à unanimidade de votos,
em prover o recurso do réu para julgar improcedente o pedido do autor, com a
inversão da sucumbência, e prejudicado o recurso do escritório de advocacia.
Participaram do julgamento a Juíza Substituta Luciane Bortoleto e a Desembargadora
Joeci Machado Camargo.
Curitiba 02 março 2016.
(assinado digitalmente) Des. Luiz Cezar Nicolau, relator

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