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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
SUMÁRIO
SUMÁRIO .............................................................................................. 2
1. RAIO-X DOS EXAMINADORES ......................................................... 7
1.1. Desembargador Lauri Caetano Da Silva (Presidente), ................... 7
1.2. Desembargador Vicente del Prete Misurelli, ................................. 8
1.3. Desembargador Luís Carlos Xavier ................................................ 8
1.4. Doutora Elizabeth Maria de França Rocha e ................................ 10
1.5. Desembargador Luiz Cezar Nicolau (suplente), ........................... 10
1.6. (OAB) Doutor Alexandre Hellender de Quadros (titular) ............. 11
1.7. (OAB) Doutora Estefânia Maria de Queiroz Barboza (suplente) .. 12
2. JULGADOS DOS EXAMINADORES................................................. 14
2.1. Lauri Caetano Da Silva ................................................................. 14
2.1.1. REVISIONAL DE COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA ...................... 14
2.1.2. EMBARGOS MONITÓRIOS – CAUSA MADURA ...................................... 27
2.1.3. CDC – COMPRA E VENDA DE VEÍCULO ZERO – VÍCIO DE QUALIDADE
............................................................................................................................. 30
2.1.4. CONTRATO DE CORRETAGEM ............................................................... 39
2.1.5. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA – RESCISÃO CONTRATUAL E
REINTEGRAÇÃO DE POSSE ............................................................................... 53
2.1.6. AÇÃO DEMARCATÓRIA E EXCEÇÃO DE USUCAPIÃO .......................... 64
2.1.7. COMISSÃO DE CORRETAGEM – DÚVIDA SOBRE O CREDOR ............... 73
2.1.8. DECLARATÓRIA DE ADIMPLEMENTO C/C IMISSÃO NA POSSE ........... 80
2.1.9. REVISIONAL DE CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO – JUROS
COMPOSTOS ...................................................................................................... 93
2.1.10. LEASING – AUSÊNCIA DO CONTRATO REVISANDO ........................... 99
2.1.11. RESCISÃO DE CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE
ESTABELECIMENTO COMERCIAL ................................................................... 104
2.1.12. USO INDEVIDO DE MARCA - DUDALINA ............................................ 109
2.1.13. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO – COMISSÃO DE PERMANÊNCIA
........................................................................................................................... 120
2.1.14. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS E PRODUÇÃO ANTECIPADA DE
PROVAS ............................................................................................................. 130
2.1.15. REVISIONAL BANCÁRIA – TARIFAS DE CONTRATAÇÃO ................... 134
2.1.16. DESCABIMENTO DE CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS – CAUSÍDICO
QUE NÃO PROVOCOU O RESULTADO........................................................... 139
2.1.17. AÇÃO PETITÓRIA APÓS AÇÃO POSSESÓRIA IMPROCEDENTE ........ 141
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Integral
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Vicente Del Prete Misurelli, filho de Carlos Del Prete Misurelli e de Leone Caldeira
junho de 1990 foi nomeado juiz de direito, atuando nas comarcas de Andirá,
de abril de 2006.
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direito, a partir de 15 de junho de 1989 judicou nas comarcas de Terra Roxa, Palotina,
de Justiça do Paraná.
Tuiuti do Paraná.
Integral
Competência Material:
Desarmamento;
falimentares;
g) crimes ambientais;
dignidade sexual; c) crimes contra a paz pública; d) infrações penais relativas a tóxicos
e entorpecentes; e) demais infrações penais que não seja: a) crimes contra a pessoa,
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praticados.
em Composição Integral
Competência material:
(ICSP) e Instituto Brasileiro de Cursos Jurídicos (IBEJ) – 2001 e em Direito Público pela
Escola da Magistratura do Paraná (EMAP) – 2009. Atuou nos cartórios: 4ª Vara Cível e
2ª Vara Cível da Comarca de Ponta Grossa (1979 a 1987) e exerceu a advocacia entre
1987 e 1991. Ingressou na Magistratura em 1990 e atuou como juiz na 60ª Seção
Londrina e Ponta Grossa. Foi juiz substituto de 2º Grau no Tribunal de Alçada, Turma
Tribunal de Justiça. Foi juiz auxiliar da Corregedoria Geral de Justiça (2005/2006) e juiz
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Pereira dos Santos, Quadros & Advogados (PSQA), conselheiro da Ordem dos
440h).
de Curitiba.
Menção Honrosa no Prêmio Capes de Tese de 2012 pela tese "Stare Decisis,
sistemas de common law e civil law" Sua tese de doutorado foi escolhida como a
melhor de 2011 do PPGD da PUCPR. Doutora e Mestre em Direito pela PUCPR, com
estágio doutoral (doutorado sanduíche) e bolsa CAPES na Osgoode Hall Law School
Università degli Studi di Palermo nos anos de 2012, 2013 e 2014. É Vice-Presidente da
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imóvel, pois na sua composição integram, além do valor de mercado, a sua flutuação,
venda. Embora não haja contrato de locação entre as partes, a indenização deve se
dar pelo uso do imóvel, evitando, por seu lado, o enriquecimento sem causa; para que
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sua rescisão pelo não pagamento das prestações, são devidos os aluguéis desde o
de inadimplemento substancial.
Inteiro teor
I- RELATÓRIO
1. No dia 10 de abril de 2015 Idelzina de Oliveira ajuizou ação de revisão de contrato
de compra e venda de imóvel em face de HD Empreendimentos S/S Limitada,
aduzindo que (a) a construtora HD firmou, em 30.10.1999, contrato particular de
compromisso de venda e compra com José Carlos Ivalea e Cleusa Pinheiro Ivalea, pelo
valor de R$22.500,00 a serem pagos em 124 prestações de R$180,00. Constou do
contrato que as prestações seriam corrigidas e capitalizadas mensalmente pelo índice
do IGP-M; (b) no dia 01.09.2008, com anuência da construtora, os compromissários
compradores cederam os direitos relativos ao contrato em seu favor; (c) o contrato
encontra-se eivado de abusividades que o tornam nulo de pleno direito; (d) efetuou o
pagamento de 85 prestações das 138 contratadas; (e) encontra-se inadimplente, já
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Contra esta decisão, ambas as partes opuseram embargos de declaração (mov. 150.1
e 156.1 f. 612/620 e f. 628/634), sendo acolhido, apenas com efeito integrativo, os
embargos de declaração
opostos pela ré/reconvinte, para suprir a omissão referente à análise do pedido de
concessão de tutela antecipada de reintegração de posse (mov. 152.1 e 158.1 - f. 623
e 637).
6. A autora, Idelzina de Oliveira, interpôs recurso de apelação (mov. 165.1 -
f.645/664), postulando a reforma da sentença, aduzindo que: (a) ao caso se aplicam as
disposições do Código de Defesa do Consumidor; (b) houve ofensa ao princípios
basilares da boa-fé objetiva, proteção, informação, transparência, dentre outros; (c) em
nenhum momento afirmou ter renegociado a dívida, apenas confessou que efetuou o
pagamento em atraso de algumas prestações; (d) não sabia que estava assinando um
contrato antigo e que lhe seria cobrado as prestações vencidas há muito tempo; (e) as
prestações foram calculadas com o acréscimo abusivo de juros, os quais devem ser
expurgados; (f) o laudo pericial deixou de considerar valores que foram pagos, bem
como foi produzido com base em um contrato que apresentava inúmeras
irregularidades; (g) o laudo pericial deve ser interpretado de modo mais favorável ao
consumidor; (h) também não é cabível indenização por perdas e danos, uma vez que
não deu causa à resolução do contrato; (i) é abusiva a cobrança da comissão de
corretagem; (j) houve adimplemento substancial do contrato, sendo improcedente o
pedido da ré/reconvinte de resolução do contrato. Ao final, pediu a redistribuição do
ônus da sucumbência.
Contrarrazões de apelação (mov. 174.1 f. 681/698).
É o relatório.
II- VOTO
Presentes os pressupostos recursais de admissibilidade, intrínsecos e extrínsecos,
merece o recurso ser conhecido.
7. Do cotejo dos autos, observa-se que (i) no dia 30.10.1999, José Carlos Ivalea e
Cleusa Pinheiro Ivalea celebraram com HD Empreendimentos S/S Limitada contrato
particular de compromisso de venda e compra, com objetivo de adquirir o lote nº 22,
da quadra nº 07, com área de
255 m2, da planta do Jardim Atlanta, na cidade de Londrina/PR, pelo valor de
R$22.500,00. Na oportunidade, realizaram o pagamento à vista de R$180,00 e
assumiram a obrigação de pagar 124 prestações mensais de R$180,00, vencendo- se a
primeira em 30.12.1999 e a última 30.03.2010 (mov. 23.6 f. 179/183).
Em virtude de problemas econômicos, no dia 17.09.2001, os compromissários
compradores renegociaram a dívida, comprometendo-se a saldar o débito em 150
parcelas mensais de R$150,00, vencendo-se a primeira em 17.09.2001; (ii)
posteriormente, com anuência da construtora, José Carlos Ivalea e Cleusa Pinheiro
Ivalea cederam os direitos do contrato em favor de Antônio Honório (mov. 23.8 f.
185), que cedeu seus direitos para Pedro Pereira de Araújo Sobrinho (mov. 23.9 f.
186) que, por sua vez, cedeu para Idelzina de Oliveira (mov. 23.10 f. 187); (iii) no
instrumento de cessão do contrato constou que ainda restavam 138 prestações em
aberto, as quais deveriam ser pagas conforme “as normas e condições estabelecidas
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Pelo que se viu da prova pericial, a construtora deixou de aplicar alguns encargos a
fim de “ajudar” a autora, de modo a possibilitar o adimplemento da obrigação.
Vejamos a explicação do Perito Judicial:
Ocorre que, conforme, explicitado no decorrer do processo, os Requeridos realizaram
a atualização monetária anualmente, sendo que o contrato prevê tal atualização de
forma mensal.
Sendo assim, a perícia aplicou tal correção da mesma forma praticada pela Requerida,
ou seja, de forma anual.
Após a apuração dos valores das parcelas devidas, conforme contrato, a perícia
apurou a diferença entre os valores devidos apurados pela perícia e os valores pagos
pela requerente discriminados no mov. 29.15 de 01/06/15, totalizando o montante
pago a menor (devido pela Requerente) de R$ 40.670,14 (quarenta mil seiscentos e
setenta reais e quatorze centavos).
Tal diferença (R$ 40.670,14) atualizada desde a data de sua apuração pelo IGP-
M/FGV, resultou no montante devido pela Requerente atualizado até março/2016
(data do presente laudo) no valor de R$ 58.895,60 (cinquenta e oito mil oitocentos e
noventa e cinco reais e sessenta centavos).
Frisa-se que não houve aplicação de encargos moratórios (multa e juros moratórios)
considerando que a Requerida não aplicou tais encargos (mov. 103.2 f. 496).
Ao contrário do que alega a apelante não houve a desconsideração de nenhum valor
por ela pago. As parcelas de número 135, 148 e 154, apesar dos valores não
constarem da planilha, foram listadas como pagas pelo perito, inclusive com o
apontamento da data do pagamento.
Acerca da renegociação da dívida, esta foi perpetrada pelo compromissário-
comprador originário, razão pela qual, no momento da celebração do termo de
cessão, a dívida já se encontrava renegociada, encontrando-se em aberto 138
prestações, conforme consta do termo de cessão.
Portanto, nos termos postos pelo magistrado de 1º grau, “não há se cogitar no
excesso apontado pela parte autora e, na hipótese, uma vez que a perícia realizada
observou estritamente a determinação judicial no sentido de serem observados os
termos de todos os pactos firmados entre as partes, entendo que sua conclusão não
merece considerações ou reparos”.
10. Com efeito, ao contrário do que alega a apelante, é possível a condenação em
perdas e danos consubstanciada em pagamento de aluguéis, mesmo em contrato de
compra e venda. Embora não haja contrato de locação entre as partes, a indenização
deve se dar pelo uso do imóvel, evitando o enriquecimento sem causa. Para que se dê
indenização justa, criou-se, para tanto, a forma de aluguel. Assim, tendo os recorrentes
utilizado o imóvel durante a vigência do contrato e tendo dado causa à sua rescisão
pelo não pagamento das prestações, são devidos os aluguéis pelo período de uso do
bem.
Nesse sentido, é o entendimento jurisprudencial:
AGRAVO REGIMENTAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. PROCESSUAL CIVIL.
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não há forma especial prevista em lei para a sua celebração ou validade, podendo ser
provado por todos os meios admissíveis em direito, inclusive por testemunhas (...)”2.
Feitos estes esclarecimentos preliminares, passamos a análise do caso concreto.
As apelantes sustentam que a comissão de corretagem não foi paga em seu favor, o
que torna totalmente impossível que recaia sobre elas a devolução do referido
importe.
É cediço que a comissão de corretagem, corresponde à remuneração de serviços de
intermediação prestados por terceiro, com vistas à aproximação das partes para a
realização do negócio.
Nada obsta a cobrança de taxa de corretagem em negócios envolvendo a compra e
venda de imóvel. As partes podem livremente pactuar quem ficará obrigado pelo
pagamento destas verbas (art. 724, Código Civil3). No entanto, em observância ao
princípio da informação, tal encargo deve ser devidamente informado ao adquirente
do imóvel. Ou seja, o consumidor deve ser informado que ele arcará com as comissões
daqueles que intermediaram a venda.
Nesse sentindo, foi o entendimento manifestado pelo Superior Tribunal de Justiça, no
julgamento do REsp nº 1.599.511/SP, sob o regime do artigo 1.036 e seguintes do
Código de Processo Civil, com efeito vinculante:
RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR.
INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA. VENDA DE UNIDADES AUTÔNOMAS EM ESTANDE
DE VENDAS. CORRETAGEM. CLÁUSULA DE TRANSFERÊNCIA DA OBRIGAÇÃO AO
CONSUMIDOR. VALIDADE. PREÇO TOTAL. DEVER DE INFORMAÇÃO. SERVIÇO DE
ASSESSORIA TÉCNICO-IMOBILIÁRIA (SATI). ABUSIVIDADE DA COBRANÇA.
I - TESE PARA OS FINS DO ART. 1.040 DO CPC/2015: 1.1. Validade da cláusula
contratual que transfere ao promitente-comprador a obrigação de pagar a comissão
de corretagem nos contratos de promessa de compra e venda de unidade autônoma
em regime de incorporação imobiliária, desde que previamente informado o preço
total da aquisição da unidade autônoma, com o destaque do valor da comissão de
corretagem.
1.2. Abusividade da cobrança pelo promitente-vendedor do serviço de assessoria
técnico- imobiliária (SATI), ou atividade congênere, vinculado à celebração de
promessa de compra e venda de imóvel.
II - CASO CONCRETO: 2.1. Improcedência do pedido de restituição da comissão de
corretagem, tendo em vista a validade da cláusula prevista no contrato acerca da
transferência desse encargo ao consumidor.
Aplicação da tese 1.1.
2.2. Abusividade da cobrança por serviço de assessoria imobiliária, mantendo-se a
procedência do pedido de restituição. Aplicação da tese 1.2.
III - RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO.
(REsp 1599511/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, SEGUNDA
SEÇÃO, julgado em 24/08/2016, DJe 06/09/2016)
No caso em exame, porém, não houve previsão contratual acerca da cobrança da taxa
de corretagem, não podendo, portanto, tal encargo ser repassado ao consumidor,
tendo em vista a flagrante violação dos preceitos do Código de Defesa do
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Consumidor, que exigem informação clara, suficiente e precisa acerca das condições
do negócio, principalmente, de forma discriminada, de todos os encargos a incidir
sobre a transação que seriam de responsabilidade do comprador (artigos 46 e 47 do
CDC4). Ora, se o contrato foi objeto de cessão de direitos interpretada pelo
promitente comprador originário, não é possível imputar ao cessionário o pagamento
da comissão de corretagem, sem expressa previsão contratual.
Assim, indevida a retenção dos valores pagos pela construtora a título de comissão de
corretagem.
12. A pretensão da apelante com relação ao reconhecimento do adimplemento
substancial não merece prosperar.
Não nos parece razoável adotar simplesmente um critério numérico, quantificando o
número de prestações adimplidas e inadimplidas. A adoção pura e simples desse
critério matemático afasta a perquirição se ocorreu um justo impedimento para o
pagamento das prestações vencidas e da própria boa-fé do devedor, além da
utilidade para o credor do exercício de outra fórmula processual para o recebimento
do crédito.
Para exemplificar podemos citar a hipótese do devedor que não dispõe de outros
meios materiais e financeiros para pagar a dívida vencida, senão pelo único bem
objeto do contrato. Se o credor deve proceder de forma menos onerosa para receber
o seu crédito, também não se pode obstar que o mesmo postule pela única forma
capaz de alcançar esse objetivo. No campo da realidade social, adotar esse critério
matemático sem qualquer outro tipo de investigação, projetará condutas de
inadimplemento substancial, pois com o pagamento de 70% ou 80% das prestações
ajustadas, o devedor pode se sentir imune a qualquer pedido de resolução do
contrato, praticando ação negativa de pagamento, ficando no aguardo da iniciativa do
credor.
No caso concreto, mesmo se fosse possível utilizar isoladamente o critério
matemático, vislumbro que a apelante não cumpriu o pressuposto básico para
aplicação da aludida teoria, qual seja, o adimplemento substancial do contrato. Não
podemos concordar com a ideia de que o pagamento de 39,38% do contrato
(conforme reconhecido pelo perito judicial mov. 103.2 f. 504) autorize a aplicação
da teoria do adimplemento substancial.
Com relação ao tema, o entendimento é unânime na 17ª Câmara Cível deste Tribunal
de Justiça:
AGRAVO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO INTERPOSTO CONTRA
DECISÃO DO RELATOR QUE NEGOU SEGUIMENTO AO AGRAVO DE
INSTRUMENTO. AÇÃO COM PEDIDO DE REVISÃO DE CLÁUSULAS FINANCEIRAS
INSERIDAS EM CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL. PEDIDO DE
DEPÓSITO JUDICIAL DAS PRESTAÇÕES EM SEU VALOR INTEGRAL VALOR
AJUSTADO NO CONTRATO. AGRAVANTE QUE ALEGA O ADIMPLEMENTO
SUBSTANCIAL DO CONTRATO. TEORIA QUE NÃO SE APLICA AO CASO
CONCRETO. PAGAMENTO DE 44 PRESTAÇÕES DAS 60 CONTRATADAS.
AUSÊNCIA DE MOTIVOS OU FUNDAMENTOS QUE AUTORIZEM A REFORMA DE
DECISÃO MONOCRÁTICA. RECURSO DESPROVIDO. 1. É direito do devedor
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fiduciante ajuizar ação com pedido de revisão das cláusulas financeiras do contrato de
arrendamento mercantil visando afastar eventuais cláusulas abusivas. 2. Todavia, sem
justa causa, não é razoável o deferimento de liminar incidental para o depósito do
valor integral da prestação, visando afastar a mora e, consequentemente, impedir a
inscrição de seu nome nos cadastros de inadimplentes e eventual ajuizamento de ação
por parte do credor arrendante. 3. Se o devedor pretende afastar a mora basta
promover o pagamento da prestação através do boleto bancário, na data do
vencimento. 4.
Não nos parece razoável adotar a teoria do adimplemento substancial do contrato
tendo em conta simplesmente um critério numérico, já que isso afastaria a perquirição
acerca da ocorrência de justo impedimento para o pagamento das prestações
vencidas e da própria boa-fé do devedor; além da utilidade para o credor do exercício
de outra fórmula processual para recebimento do crédito.
(TJPR - 17ª C.Cível - AR - 1093383-4/01 - Foro Regional de Campo Largo da Comarca
da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime - - J.
17.07.2013)
AGRAVO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO.
LIMINAR DEFERIDA. RECURSO INTERPOSTO SOB A ÓTICA DO ADIMPLEMENTO
SUBSTANCIAL DO CONTRATO, PLEITEANDO A REVOGAÇÃO DA LIMINAR.
DECISÃO DO RELATOR QUE NEGOU SEGUIMENTO AO AGRAVO DE
INSTRUMENTO. PAGAMENTO DE 38 DAS 48 PRESTAÇÕES CONTRATADAS.
TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL DO CONTRATO. INAPLICABILIDADE
NO CASO CONCRETO. RECURSO DESPROVIDO.
(TJPR/Agravo n. 0697439-8/01, 17ª CCível, Rel.Desembargador Lauri Caetano da
Silva, unânime, j. 15.09.2010)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. DECISÃO QUE
INDEFERIU A LIMINAR PRETENDIDA COM FUNDAMENTO NA TEORIA DO
ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL DO CONTRATO. RECONHECIMENTO DE OFÍCIO.
IMPOSSIBILIDADE.
CERCEAMENTO DO DIREITO DE AÇÃO, SEM JUSTA CAUSA COMPROVADA NOS
AUTOS.
INADIMPLEMENTO, ADEMAIS, QUE ALCANÇA O EQUIVALENTE A 25% DO
CONTRATO.
RECURSO PROVIDO PARA CASSAR A DECISÃO AGRAVADA.
1. Não nos parece razoável adotar a teoria do adimplemento substancial do contrato
tendo em conta simplesmente um critério numérico, já que isso afastaria a perquirição
acerca da ocorrência de justo impedimento para o pagamento das prestações
vencidas e da própria boa-fé do devedor; além da utilidade para o credor do exercício
de outra fórmula processual para recebimento do crédito. 2. Hipótese, ademais, em
que o inadimplemento alcança o equivalente a 25% do valor do contrato, não se
afigurando razoável a adoção da teoria debatida, sob pena inclusive de se projetar, no
campo da realidade social, condutas de inadimplemento substancial.
3. Além do critério matemático adotado na decisão agravada, para a aplicação da
tese do adimplemento substancial é necessário perquirir se havia justo motivo para o
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ao juiz o julgamento antecipado da lide, nos termos do art. 330 do CPC/73, sem que,
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1635249-9 - Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime
- J. 14.06.2017)
Inteiro teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de recurso de apelação interposto em virtude da sentença proferida pelo
MM. Dr. Juiz de Direito da 25ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região
Metropolitana de Curitiba, nos autos nº 0003304-46.2014.8.16.0179 de ação
monitória,
proposta por Braspress Transportes Urgentes Ltda em face de Rinno Motores &
Máquinas Ltda EPP, que julgou improcedentes os embargos monitórios, constituindo
em favor da autora o título executivo judicial no valor de R$11.047,14, corrigidos
monetariamente a partir da data dos vencimentos das faturas pela média entre o INPC
e o IGP- DI até a data do efetivo pagamento, e acrescidos de juros moratórios de 1%
ao mês a partir da citação. Ante a sucumbência, condenou a ré ao pagamento das
custas processuais e dos honorários advocatícios, fixados em R$1.500,001 (mov.76.1
f. 277/283).
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Em que pese os argumentos da apelante, não vejo razão para acolher a insurgência.
Isto porque a questão sub judice prescinde de realização de outras provas, além da
documental já oferecida, cabendo ao juiz o julgamento antecipado da lide, nos termos
do art. 330 do Código Civil de 1973, sem que, com isso, ocorra a violação aos
princípios do contraditório e da ampla defesa.
É perfeitamente possível que sejam dispensados alguns atos instrutórios,
especialmente quando as demais provas autorizam o julgador a entregar a prestação
jurisdicional de forma mais célere e quando a discussão travada nos autos se revela
inadequada.
No caso, em seus embargos monitórios, a requerida limitou-se a alegar a ausência
dos documentos essenciais à propositura da ação monitória, matéria unicamente de
direito, mostrando-se desnecessária a dilação probatória.
Desse modo, diante da prova documental produzida e da sua suficiência para
entender a relação jurídica ultimada pelas partes, podemos afirmar que neste caso não
era necessária a produção de prova testemunhal. Se os documentos apresentados são
suficientes para o magistrado firmar o seu convencimento à luz do princípio da
persuasão racional (art. 131, CPC/1973) pode desprezar a realização de outras provas
por conta da sua inutilidade para a composição do litígio.
A corroborar:
PROCESSUAL CIVIL. OFENSA AO ART. 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA.
ALEGAÇÃO DE CERCEAMENTO DE DEFESA. INEXISTÊNCIA. JULGAMENTO
ANTECIPADO DA LIDE.
PRODUÇÃO DE PROVAS. PRINCÍPIO DO LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO.
REEXAME PROBATÓRIO. INVIABILIDADE. SÚMULA 7/STJ. 1. A solução integral da
controvérsia, suficientemente fundamentada, não caracteriza ofensa ao art. 535 do
CPC. 2. Ao julgador é dado apreciar o pedido formulado com base em provas que
entender suficientes para a formação de seu convencimento, não havendo, portanto,
indícios de nulidade processual na espécie 3.
Segundo a jurisprudência do STJ, “cumpre ao magistrado, destinatário da prova,
valorar sua
necessidade, conforme o princípio do livre convencimento motivado, previsto no art.
131 do CPC.
(...) 5. Agravo Regimental não provido. (STJ, AgRg no AREsp 414.534/DF, Rel.
Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 26/11/2013, DJe
05/12/2013)
“É cediço que não configura cerceamento de defesa o julgamento da causa, sem a
produção de prova, quando o tribunal local entender substancialmente instruído o
feito, declarando a existência de provas suficientes para seu convencimento. (STJ,
AgRg no REsp 1067586/SP, Rel.
Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/10/2013,
DJe 28/10/2013)
“O julgamento antecipado da lide, por si só, não caracteriza cerceamento de defesa,
já que cabe ao magistrado apreciar livremente as provas dos autos, indeferindo
aquelas que considere inúteis ou meramente protelatórias.” (STJ, AgRg no AREsp
29
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
isento de qualquer avaria, adulteração ou outra alteração, e não sendo o vício sanado
Publicado no DJE: 19/08/2013. Pág.: 58). 2. Não pode o consumidor ser penalizado
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de ação de obrigação de fazer cumulada com pedido de indenização por
danos morais (autos nº 0024480- 82.2014.8.16.0017) ajuizada por Aldo Pereira Teixeira
em face de Concessionária Sul Import Veículos e Serviços Limitada, alegando que (a)
No dia 28.03.2013, adquiriu junto a concessionária requerida um veículo I/LR Range
Rover SDV8 VOGUE, 2012/2013, chassi SALGA2HF0DA103976, pelo preço de
R$535.000,00; (b) sempre despendeu ao bem as devidas precauções e os
recomendados cuidados previstos no respectivo Manual de Instruções e Utilização do
veículo, zelando pela sua manutenção, conservação, durabilidade e eficiência; (c) no
dia 09.12.2013, levou o veículo até a concessionária para fazer a primeira revisão e a
correção de defeitos apontados pela fábrica em recall. Contudo, os serviços não foram
finalizados em virtude da falta de peças; (d) no dia 31.03.2014, retornou à
31
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parágrafo único, da Lei 4886/65, alterada pela Lei n° 8.240/92, que regula as
demais direitos que lhe são garantidos por esta Lei". 3. O prazo prescricional deve ser
tácita, por parte do representante, que manteve a contratação por mais de quinze
Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ana Maria Nedel Scalzilli,
Julgado em 27/03/2014). 6. A cláusula del credere é prática vedada pelo art. 43 da Lei
39
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Unânime - J. 14.06.2017)
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de recurso de apelação e recurso adesivo interpostos em virtude da
sentença proferida pelo MM. Dr. Juiz de Direito da 1ª Vara Cível da Comarca de
Cascavel, nos autos nº 0001381-71.2014.8.16.0021 de ação de cobrança cumulada
com pedido de indenização por danos materiais e morais, proposta por Roman &
Caldas Limitada em face de Garthen Industria e Comércio de Máquinas Limitada, que
julgou improcedentes os pedidos formulados na inicial . Ante a sucumbência,
condenou o autor ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios,
fixados em
R$10.000,00 1 (mov. 113.1 - f. 1618/1629).
2. A autora Roman & Caldas Limitada interpôs recurso de apelação (mov. 121.1 - f.
1638/1665), postulando a reforma integral da sentença, alegando que (i) sua pretensão
não se encontra prescrita; (ii) não deu causa à rescisão do contrato, fazendo jus ao
recebimento das verbas rescisórias; (iii) após a notificação extrajudicial o contrato
continuou vigente por mais 4 meses, não tendo àquela o condão de desfazer o vínculo
contratual; (iv) faz jus ao recebimento das diferenças de comissão; (v) faz jus ao
recebimento das comissões devidas e não quitadas pela ré, referentes aos meses de
outubro de 2010 e novembro de 2010; (vi) qualquer alteração da área de atuação
deveria ser precedida de acordo escrito e assinado pelas partes; (vii) é ilegal a fixação
de cláusula del credere; (viii) foi irregular a cobrança de brindes, amostras, peças de
reposição, garantias e catálogos. Por fim, requer a inversão do ônus da sucumbência
ou a minoração dos honorários advocatícios.
Contrarrazões ao recurso de apelação (mov. 126.1 f.
1675/1684).
3. A ré Garthen Industria e Comércio de Máquinas Limitada interpôs recurso adesivo
(mov. 127.2 - f. 1689/1692), pleiteando a reforma da sentença, para obter declaração
de que nada deve ao recorrido.
Contrarrazões ao recurso adesivo (mov. 134.1 f.
1701/1707).
É o relatório.
II- VOTO
Em primeiro lugar, anoto que o recurso adesivo não merece ser conhecido. Isto
porque o recurso adesivo só é cabível quando há sucumbência recíproca das partes,
nos termos do artigo 997, §1º do Código de Processo Civil.
40
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
ilegalmente (cláusula del credere); (d) indenização pela redução ilegal da área de
abrangência de atuação; (e) indenização dos valores que foram cobrados ilegalmente a
título de brindes, amostras, peças de reposição, garantias, catálogos, etc; (f) despesas
realizadas e não reembolsadas pela ré quando da convocação para reuniões; (g)
indenização compensatória pela formação da clientela e abertura de áreas (perdas e
danos); (h) indenização por danos morais; (i) indenização das verbas rescisórias, tais
como aviso prévio e indenização de 1/12.
4.2. A ré Garthen Industria e Comércio de Máquinas Limitada apresentou resposta em
sede de contestação (mov. 25.1 - f. 1358/1372), alegando, preliminarmente, a
prescrição da pretensão com base no artigo 44 da Lei nº 4.886/95 e a incompetência
absoluta do Juízo, pois deve ser processado e julgado perante a Justiça do Trabalho.
No mérito, discorreu que foi a autora quem deu causa à rescisão do pacto, na medida
em que passou a vender produtos similares de empresas concorrentes. Salientou que,
desde o início da contratação, foi pactuada a alteração das áreas de abrangência.
Também estava previsto contratualmente a possibilidade de redução do percentual
da comissão. Ressaltou que a parte autora avalizava seus clientes para não perder
vendas. Esclareceu que inexistem valores a serem pagos a título de verba rescisória.
Dessa forma, pugnou pela improcedência dos pedidos formulados na inicial.
4.3. No despacho saneador (mov. 51.1 - f. 1487/1490), o magistrado de 1º grau
afastou a preliminar de incompetência do Juízo, fixou os pontos controvertidos e
deferiu a produção da prova testemunhal.
4.4. Em sede de audiência de instrução e julgamento, foi tomado o depoimento
pessoal das partes e inquiridas 06 testemunhas (mov.
74.1 e 105.1 mov. 1538/1544 e 1597/1601).
4.5. O MM. Dr. Juiz a quo julgou improcedentes os pedidos formulados na inicial
(mov. 113.1 - f. 1618/1629). É contra esta decisão que se insurge o autor.
Pois bem!
5. A apelante afirma que não operou a prescrição da sua pretensão, sustentando que
o prazo previsto no artigo 44, parágrafo único, da Lei n° 4.886/65, diz respeito ao
ajuizamento da ação pelo representante comercial para pleitear a retribuição que lhe é
devida. Sustenta que, embora o julgador monocrático tenha reconhecido a prescrição
quinquenal das parcelas anteriores a 16.01.2009, o que prescreve em cinco anos é o
direito de ação, e não o direito à indenização das parcelas.
Contudo, não vejo razão para a modificação da sentença neste aspecto.
Em primeiro lugar, é necessário ressaltar que as relações jurídicas decorrentes do
contrato de representação comercial são regidas pela Lei nº 4.886/65 alterada pela Lei
nº 8420/92. Assim, o prazo prescricional para o exercício de direitos oriundos das
relações de representação comercial deverá obedecer às regras contidas na referida
lei.
Sob esse prisma, é forçoso reconhecer que o prazo prescricional para a cobrança de
direitos decorrentes desse tipo de contrato é de cinco anos.
A Lei 4.886/65, ao regular as atividades dos representantes comerciais autônomos,
assim dispõe no §único do artigo 44:
42
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
“Art. 44. (...) Parágrafo único. Prescreve em cinco anos a ação do representante
comercial para pleitear a retribuição que lhe é devida e os demais direitos que lhe são
garantidos por esta lei.”
Por sua vez, a prescrição para cobrar comissões pagas a menor e obter indenização
por quebra de exclusividade tem termo inicial diverso, pois “o representante comercial
adquire o direito às comissões quando do pagamento dos pedidos ou propostas” (art.
32 da Lei 4.886/65) e “o pagamento das comissões deverá ser efetuado até o dia 15
do mês subsequente ao da liquidação da fatura, acompanhada das respectivas cópias
das notas fiscais” (art. 32, §1º, da Lei 4.886/65).
Ou seja, a pretensão para cobrar as comissões pagas a menor, nasce com o seu não
pagamento no prazo legal.
Assim, a cada mês em que houve comissões pagas a menor e a cada venda feita por
terceiro em sua área de exclusividade, faz surgir para o representante comercial o
direito de obter a devida reparação.
Considerando que a ação foi ajuizada em 16.01.2014 e aplicando-se à hipótese dos
autos a prescrição quinquenal prevista na Lei 4.886/65, deve-se concluir que há a
incidência da prescrição sobre parcelas referentes a comissões não pagas ou pagas a
menor devidas anteriormente a 16.01.2009.
Nesse sentido, é o entendimento jurisprudencial:
Empresarial, civil e processual civil. Recurso especial. Juízo de admissibilidade.
Deficiência na fundamentação. Necessidade de revisão do contexto fático-probatório.
Reexame de cláusulas contratuais. Representação comercial autônoma. Lei de
regência. Prescrição.
Prazo, termo inicial e retroatividade. Correção monetária pelo INPC.
(...) - A pretensão do representante comercial autônomo para cobrar comissões nasce
mês a mês com o seu não pagamento no prazo legal, pois, nos termos do art. 32, §1o,
da Lei 4.886/65, “o pagamento das comissões deverá ser efetuado até o dia 15 do
mês subsequente ao da liquidação da fatura, acompanhada das respectivas cópias das
notas fiscais”. De modo análogo, a pretensão para cobrar indenização nasce com a
efetiva quebra da exclusividade. Assim, a cada mês em que houve comissões pagas a
menor e a cada venda feita por terceiro em sua área de exclusividade, nascia para o
representante comercial o direito de vir a juízo obter a prestação jurisdicional que lhe
assegurasse a devida reparação.
- É quinquenal a prescrição para cobrar comissões, verbas rescisórias e indenizações
por quebra de exclusividade contratual, conforme dispõe o parágrafo único do art. 44
da Lei 4.886/65.
- A prescrição em curso não origina direito adquirido, podendo seu prazo ser
aumentado ou reduzido por norma posterior. No entanto, em prol da segurança
jurídica, não se pode fazer com que o termo inicial do prazo prescricional reduzido
retroaja para uma data anterior à vigência da nova lei. O quinquênio prescricional deve
computar-se desde a vigência da Lei 8.240/92.
- A correção monetária de dívida que, por força de lei, estava atrelada à variação do
BTN passa, com a extinção desse índice, a ter por base o INPC desde o advento da
Lei 8.177/91 (março/91).
43
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Precedentes.
Recurso especial parcialmente provido.
(REsp 1085903/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
20/08/2009, DJe 30/11/2009)
PROCESSUAL CIVIL E COMERCIAL. RESCISÃO DE CONTRATO. REPRESENTAÇÃO
COMERCIAL. ZONA DE ATUAÇÃO. EXCLUSIVIDADE. OMISSÃO CONTRATUAL.
POSSIBILIDADE DE COMPROVAÇÃO. PAGAMENTO DE COMISSÕES. RESOLUÇÃO
CONTRATUAL. EFEITO EX TUNC. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. APLICABILIDADE.
1. Ação ajuizada em 10/08/2001. Recurso especial interposto em 05/03/2014 e
atribuído a este gabinete em 25/08/2016.
2. É possível presumir a existência de exclusividade em zona de atuação de
representante comercial quando: (i) não for expressa em sentido contrário; e (ii) houver
demonstração por outros meios da existência da exclusividade.
3. A resolução contratual é cabível nos casos de inexecução do contrato, que pode
ocorrer de modo voluntário ou involuntário, gerando efeitos retroativamente (ex tunc).
4. A pretensão do representante comercial autônomo para cobrar comissões nasce
mês a mês com o seu não pagamento no prazo legal, pois, nos termos do art. 32, §1º,
da Lei 4.886/65. Assim, a cada mês em que houve comissões pagas a menor e a cada
venda feita por terceiro em sua área de exclusividade, nasce para o representante
comercial o direito de obter a devida reparação.
5. É quinquenal a prescrição para cobrar comissões, verbas rescisórias e indenizações
por quebra de exclusividade contratual, conforme dispõe o parágrafo único do art. 44
da Lei 4.886/65.
6. Recurso especial parcialmente provido.
(REsp 1634077/SC, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
09/03/2017, DJe 21/03/2017) “PROCESSO CIVIL. REPRESENTAÇÃO COMERCIAL.
PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO DE LIQUIDAÇÃO DO TÍTULO JUDICIAL. LEI 4.886/65,
ALTERADA PELA LEI 8.240/92.
PRAZO QUINQUENAL. SENTENÇA CASSADA.
1. Dispõe o art. 44, parágrafo único, da Lei 4886/65, alterada pela Lei 8240/92, que
regula as atividades dos representantes comerciais autônomos, que “prescreve em
cinco anos a ação do representante comercial para pleitear a retribuição que lhe é
devido e os demais direitos que lhe são garantidos por esta Lei”.
2. “É de cinco anos a prescrição do direito para o representante comercial postular a
retribuição pelos serviços prestados ao representado. (Inteligência do parágrafo único
da Lei 4.886/65). (...).” (Acórdão n.667844, 20090310107865APC, Relator: Gislene
Pinheiro, 3ª Turma Civel, DJE: 25/06/2012. Pág.: 166).
3. Tendo o acórdão transitado em julgado em 22/04/2008, não se verifica a prescrição
da pretensão de liquidação do título judicial, na medida em que a autora requereu a
continuidade processual do feito em 17/02/2012, antes, portanto, do fim do prazo
quinquenal.
4. Recurso provido.” (TJ/DF, Acórdão n.667844, 20120111886134APC, Relator:
JOÃO EGMONT, Revisor: LUCIANO MOREIRA VASCONCELLOS, 5ª Turma Cível, Data
de Julgamento: 20/03/2013, Publicado no DJE: 12/04/2013. Pág.: 142).
44
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
porque a parte ré não fabricava tal produto; que a partir do momento em que a parte
ré passou a fabricar betoneiras, em 2009, poderia começar a haver conflito; (...) que
ingressou com a ação depois que foi mandado embora; que não tinha como discutir as
cláusulas do contrato antes de sua rescisão; (...) que recebeu alguns e-mails da
requerida comunicando a proibição de venda de produtos de empresas concorrentes
similares aos seus; que discutiu a questão por telefone, alertando a empresa de que
não poderia deixar de vender o produto da concorrente enquanto eles não tivessem
uma produção andando; (...) que eles não tinham o produto ainda em escala para ser
vendido; que propôs a eles que ficaria com a Garthen e entregaria a outra empresa
para seu filho; que a proposta não foi aceita; (...) que ao longo do contrato, foi
sofrendo gradualmente uma supressão de sua área de abrangência, sendo que aceitou
receber R$ 10.000,00 como indenização; que entende que merece receber cerca de
R$ 200.000,00 a R$ 250.000,00 (mov.
74.1 f. 1539).
Observa-se, portanto, que o próprio autor confessa que descumpriu os termos do
contrato, ao violar a cláusula de exclusividade. Isto porque, quando a requerida
começou a efetuar a fabricação das betoneiras encaminhou e-mail ao autor, a fim de
adverti-lo da proibição de venda de produtos similares de outras empresas
concorrentes. Entretanto, o requerente insistiu em manter a relação negocial com
estas empresas. Tanto é verdade que mantém a representação comercial das
empresas concorrentes.
As demais testemunhas ouvidas em Juízo também confirmaram que o autor
descumpriu a cláusula de exclusividade prevista no contrato de representação
comercial:
Que a rescisão se deu em razão da parte autora vender produtos similares de outros
concorrentes. A parte ré vende betoneiras desde 2007 e, logo que descobriu a
infração, notificou a parte autora acerca do descumprimento contratual. Quando da
rescisão de contrato, as partes entabularam um acordo como forma de auxiliar e
recompensar a parte ré pelo tempo de trabalho na empresa. Desconhece outros
representantes da parte autora que vendam betoneiras de concorrentes. (Maria Luiza
Infeld Cruz - mov. 74.1 f. 1544)
“Que conhece o contrato havido entre as partes; que sabe que a rescisão ocorreu por
justa causa; que a ré vende betoneiras na região há cerca de 06 ou 07 anos; que a
partir do momento em que passaram a produzir a betoneira, o autor tinha a opção de
ficar com a Garthen ou com o concorrente; que o autor foi notificado de que deveria
fazer a opção; que após a notificação, a parte autora respondeu, via e-mail, que não
venderia betoneiras de empresas concorrentes; que a própria testemunha constatou a
infração pessoalmente depois que o autor falou que não iria vender mais as betoneiras
das concorrentes; que após a intenção de rescindir o contrato, a parte autora
compareceu na sede da empresa ré “choramingando”, ocasião em que entabularam
um acordo e a empresa pagou o valor para ele”.
(Lori Biazus mídia digital - mov. 74.1 f. 1543)
Que é representante comercial, trabalhando para a Metalúrgica Rocha; que venda
dobradiças e ferragens; que nunca vendeu betoneiras; que, no entanto, conhece um
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
pouco do mercado das betoneiras, que sabe as marcas que vendem; que a Garthen
tem betoneiras no mercado há pouco tempo; que acredita que a Garthe começou a
comercializar o produto a partir de 2005; que, pelo menos não via nas lojas, inclusive
de Cascavel; que sabe que a rescisão ocorreu, porque dispensaram a parte autora da
região sudoeste, que dê uns tempos pra cá “tiraram dele”; que, no caso, como o autor
já vendia as betoneiras, depois que a Garthen passou a vendê- las deveria ter
notificado o autor que já tinha o produto, entrando as partes em um acordo” (Gilmar
Lázaro Vicente mídia digital - mov. 74.1 f. 1543)
Desse modo, conclui-se pelas provas coligidas aos autos que o autor efetivamente
“descumpriu as obrigações inerentes ao contrato de representação comercial”, já que
passou a realizar vendas de produtos similares de outras empresas, malgrado a
existência de cláusula de exclusividade, o que justifica a rescisão unilateral do contrato
pela ré, por justo motivo, nos termos do artigo 35, alíneas “a” e “c” da Lei nº
4.886/1965.
Ressalta-se que a indenização e o aviso prévio são devidos quando ficar demonstrada
a rescisão contratual imotivada, como bem esclarece Fabio Ulhoa Coelho:
Se o contrato de representação comercial é rescindido por culpa do representante -
como nas hipóteses de desídia no cumprimento das obrigações, prática que leva o
representado a descrédito ou condenação definitiva por crime infamante (art. 35, “a a
d”) -, não estabelece a lei da representação comercial nenhuma indenização. O
ressarcimento dos prejuízos do representado, nesse caso, será demandado com base
nas regras gerais de obrigação fixadas pelo Código Civil (Curso de direito comercial.
São Paulo: Saraiva. 2007.
v. 3, p. 119).
Portanto, justa e motivada a rescisão contratual, não merece prosperar as pretensões
indenizatórias fundamentadas no artigo 27, alínea “j”2, e no artigo 34 da Lei
4.886/19653, as quais tratam de 1/12 de toda a remuneração recebida ao longo do
contrato; de aviso prévio; e do adicional de aviso prévio de 1/3 das comissões
recebidas nos três meses anteriores4.
Por fim, conforme destacou o magistrado de 1º grau, embora tenha havido um acordo
indenizatório entre as partes o que restou sobejamente confirmado por todos os que
foram ouvidos, inclusive a parte autora -, ele não teve o condão de alterar a natureza
do fim da relação jurídica, qual seja, a de resilição contratual unilateral operada pela
parte ré fundada em justa causa.
7. É necessário frisar que não há empecilho legal que impossibilite a alteração do
percentual das comissões a serem percebidas pelo representante comercial no curso
da relação estabelecida com a empresa representada, ainda que tal alteração se dê
tacitamente. Sobre a questão, segue entendimento jurisprudencial:
REPRESENTAÇÃO COMERCIAL. PRESCRIÇÃO. RESCISÃO IMOTIVADA DO
CONTRATO.
COMISSÕES. DIFERENÇA. ALTERAÇÃO TÁCITA. POSSIBILIDADE. VERBAS
INDENIZATÓRIAS. INDEVIDAS. O prazo prescricional de que trata o art. 44, parágrafo
único, da Lei n. 4.886/1965 se refere apenas ao direito de ação, não limitando,
portanto, o período a ser considerado para fins de apreciação do pleito indenizatório.
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REINTEGRAÇÃO DE POSSE
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
1.0686.12.002760-8/001, Relator (a): Des. Valdez Leite Machado, 14ª CÂMARA CÍVEL,
retenção do imóvel até o seu pagamento, sendo tais direitos decorrência lógica do
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1637815-1 - Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime
- J. 14.06.2017)
Inteiro Teor
I - RELATÓRIO
1. Cuida-se de recurso de apelação interposto em virtude da sentença proferida pelo
MM. Dr. Juiz de Direito 1ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região
Metropolitana de Curitiba, dos autos nº 0013522-22.2013.8.16.0001 de ação de
rescisão de contrato cumulada com pedido de reintegração de posse, proposta por
BMC Construtora de Obras Limitada em face de Márcia Ribeiro de Lima, que julgou
parcialmente procedentes os pedidos formulados na inicial, para (i) declarar a
resolução do contrato celebrado entre as partes; (ii) determinar à parte autora o
pagamento de indenização à ré pelas benfeitorias úteis e necessárias realizadas no
bem objeto da lide, sendo que os valores deverão ser apurados em fase de liquidação
de sentença; (iii) determinar à parte autora a restituição das parcelas pagas pela parte
ré, as quais deverão ser corrigidas monetariamente a partir de cada desembolso pelo
índice do INPC/IBGE, bem como acrescidas de juros moratórios de 1% ao mês,
incidentes a partir do trânsito em julgado da presente decisão; (iv) determinar a
compensação dos débitos existentes entre as partes, nos termos do art. 368 do
Código Civil. Em razão da sucumbência recíproca, condenou a parte autora ao
pagamento de 40% das custas processuais e dos honorários advocatícios de
sucumbência devidos ao procurador da parte ré, arbitrados em R$ 2.400,00; e
condenou a parte ré ao pagamento de 60% das custas processuais e dos honorários
advocatícios de sucumbência devidos ao procurador da parte autora, fixados em R$
3.600,00. Ressaltou que fica vedada a compensação de honorários, nos termos do art.
85, §14 do CPC/2015 (mov. 116.1 f.
283/298).
2. A autora BMC Construtora de Obras Limitada interpôs recurso de apelação (mov.
122.1 - f.305/335), pleiteando a reforma parcial da sentença, para (i) condenar a ré ao
pagamento dos honorários advocatícios contratuais, nos termos da cláusula 15ª do
contrato; (ii) condenar a requerida ao pagamento das despesas que teve com o envio
da notificação extrajudicial, no valor de R$169,54; (iii) afastar o dever de indenizar as
benfeitorias, já que estas foram erigidas em desconformidade com a lei e com o
54
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
contrato; (iv) autorizar a retenção de 17% dos valores pagos; (v) condenar a requerida
ao pagamento de eventuais débitos de condomínio, IPTU e taxas de coleta de lixo e
iluminação pública; (vi) aplicar a ré as penalidades por litigância de má-fé; (vii)
redistribuir o ônus da sucumbência e majorar o valor arbitrado a título de honorários
advocatícios.
Não houve a apresentação de contrarrazões.
É o relatório.
II - VOTO
Não conheço do recurso na parte que trata do pedido de retenção de 17% dos
valores pagos pela promitente compradora, pois tal questão não foi objeto do pedido
inicial. Sendo assim, houve inovação recursal por parte da apelante.
Com a ressalva supra, presentes os pressupostos processuais de admissibilidade,
intrínsecos e extrínsecos, conheço em parte o recurso de apelação.
3. Do cotejo dos autos, depreende-se que (i) a construtora BMC firmou, em
07.03.2009, contrato particular de promessa de compra e venda com Leandro Belizario
Moro (mov. 1.4 f. 19/24); (ii) posteriormente, com anuência da construtora, Leandro
cedeu o contrato a Alessandro Villas Boas que, por sua vez, cedeu para Márcia Ribeiro
de Lima; (iii) a cessão do contrato a Marcia Ribeiro de Lima (mov. 1.4 f. 27/28) foi
firmada por Nivaldo Ribeiro de Lima, que possuía poderes para representa-la no ato,
conforme procuração anexada aos autos (mov. 1.4 f.
29/30); (iv) não tendo acusado o pagamento de nenhuma das contraprestações
ajustadas, a construtora BMC ajuizou ação com pedido de rescisão de contrato c/c
reintegração de posse em face de Márcia Ribeiro de Lima, requerendo a antecipação
dos efeitos da tutela, para ser reintegrada na posse do imóvel; (v) trouxe com a inicial a
notificação extrajudicial (mov. 1.5 f. 31/33), realizada por intermédio do 2º Cartório
de Registro de Títulos e Documentos de Curitiba; (vi) a liminar de reintegração de
posse foi deferida e determinada a citação da ré (mov. 11.1 f. 60/61); (vii) a ré Marcia
Ribeiro de Lima compareceu espontaneamente aos autos, apresentando contestação
(mov. 31.1 - f.92/95), aduzindo, preliminarmente, que não foi notificada para fins de
constituição em mora, na medida em que a notificação extrajudicial foi recebida por
Nivaldo, seu irmão, sem poderes para tanto; pugnou ainda pelo direito de retenção
por benfeitorias; no mérito, requereu a improcedência dos pedidos; (viii) o mandado
de reintegração de posse foi devidamente cumprido (mov. 36.1 - f. 104); (ix) o MM.
Juiz a quo proferiu sentença (mov. 58.1 f. 142/147), pela qual extinguiu o processo,
sem resolução de mérito, nos termos do art. 267, VI do CPC/1973, haja vista a irregular
constituição em mora da devedora; (x) contra essa decisão, a autora BMC Construtora
de Obras Limitada interpôs recurso de apelação (mov.
71.1 f. 168/176), ao qual foi dado provimento para anular a sentença (mov.
106.1 - f.256/264); (xi) após o retorno dos autos ao juízo de origem, o julgador
monocrático proferiu nova sentença, pela qual julgou parcialmente procedentes os
pedidos formulados na inicial, para (i) declarar a resolução do contrato celebrado entre
as partes; (ii) determinar à parte autora o pagamento de indenização à ré pelas
benfeitorias úteis e necessárias realizadas no bem objeto da lide, sendo que os valores
deverão ser apurados em fase de liquidação de sentença; (iii) determinar à parte
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
autora a restituição das parcelas pagas pela parte ré, as quais deverão ser corrigidas
monetariamente a partir de cada desembolso pelo índice do INPC/IBGE, bem como
acrescidas de juros moratórios de 1% ao mês, incidentes a partir do trânsito em
julgado da presente decisão; (iv) determinar a compensação dos débitos existentes
entre as partes, nos termos do art. 368 do Código Civil (mov. 116.1 - f.283/298). É
contra esta decisão que se insurge a apelante.
4. A apelante pretende a reforma da sentença, para condenar a ré ao pagamento de
honorários advocatícios, no importe de 20% do valor da compra e venda, nos termos
previstos na cláusula décima quinta do contrato celebrado entre as partes.
A seguir, transcrevo o inteiro teor da aludida cláusula:
“CLAUSULA DÉCIMA QUINTA Fica eleito o foro da Comarca de Curitiba/PR, para
serem dirimidas dúvidas e/ou discutir toda e qualquer ação oriunda deste contrato,
com prévia renúncia a qualquer outro, por mais privilegiado que seja; obrigando-se,
ainda, a parte vencida a pagar, em caso de demanda judicial, as custas e honorários
advocatícios da parte vencedora, na base de 20% (vinte por cento) sobre o total do
presente contrato”.
Com efeito, tendo a autora/apelante optado pela contratação de advogado particular,
incumbe a ela o ônus de arcar com o valor decorrente dessa decisão, não sendo
plausível condenar a parte adversa a indenizá-la pelo valor relativo aos honorários
contratados com o causídico, máxime porque tal relação não pode criar obrigações
para terceiros.
Nos dizeres de Yussef Said Cahali, “não são reembolsáveis a título de honorários de
advogado, as despesas que a parte enfrenta em razão do ajuste com o profissional a
título de honorários, para o patrocínio de sua causa in misura superiore a quella poi
ritenuta côngrua dal giudice”. (Honorários Advocatícios, Editora Revista dos Tribunais,
p. 393)
Não é outro o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. CONTRATAÇÃO DE ADVOGADO.
DANO MATERIAL NÃO CONFIGURADO. QUANTUM INDENIZATÓRIO. REVISÃO.
INVIABILIDADE. VALOR RAZOÁVEL. - A contratação de advogado, por si só, não
enseja danos materiais, sob pena de atribuir ilicitude a qualquer pretensão
questionada judicialmente. (...) (AgRg no REsp 1229482/SP, 3ª Turma, Ministro Paulo
de Tarso Sanseverino, DJe de 23/11/2012).
E de outros Tribunais de Justiça:
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - CONTRATAÇÃO DE
ADVOGADO PARA AJUIZAMENTO DE DEMANDA - OPÇÃO DA PARTE -
INEXISTÊNCIA DO DEVER DE INDENIZAR.
- O fato de o postulante optar pela contratação de advogado, mediante remuneração,
para a defesa de seus interesses em juízo, não induz responsabilidade do réu pelo seu
pagamento. (TJMG - Apelação Cível 1.0686.12.002760-8/001, Relator (a): Des.(a)
Valdez
Leite Machado , 14ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 31/01/2013, publicação da
sumula em 08/02/2013)
RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MATERIAL. HONORÁRIOS CONTRATUAIS.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
novas, diferentes, que vêm aderir à coisa anteriormente existente. Distinguem-se assim
umas das outras”3.
Não obstante, as consequências quase sempre se assemelham, na medida em que
ambas podem dar azo à indenização, sendo comumente equiparadas pela doutrina e
jurisprudência 4. A indenização pelas benfeitorias e acessões tem por fundamento a
vedação do ordenamento jurídico ao enriquecimento sem causa, ou seja, “A
indenização por benfeitoria baseia-se no objetivo de impedir o locupletamento ou o
enriquecimento imotivado” (TJRS, AC nº 588070698). Assim, edificado pelo possuidor,
não seria justo que o proprietário passasse a usufruir destas e tivesse proveito sem a
correspondente reparação. Portanto, para justificar a indenização pelas benfeitorias e
acessões é necessário mensurar um acréscimo de valor ao bem em proveito do
legitimo proprietário.
Nesta toada, pelo conjunto probatório constante dos autos e pelos termos da defesa
apresentada pela ré, é incontroverso que a ré edificou benfeitorias/acessões no
imóvel.
A teor do art. 1.219 do Código Civil, “o possuidor de boa- fé tem direito à
indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se
não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e
poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis”.
Nesse contexto, considerando que as benfeitorias foram implementadas, fato esse
confirmado pela autora, está correta a sentença na parte em que a condenou a
indenizá-las, postergando o cálculo do quantum debeatur para a fase de liquidação de
sentença.
6. A apelante sustenta que a compradora não demonstrou a regularidade
administrativa das benfeitorias (Lei nº 6.766/79, art.
34, parágrafo único5), motivo pelo qual não faz jus ao direito de indenização.
Todavia, tratando-se de rescisão de contrato de compra e venda, como visto
anteriormente, as partes devem retornar ao status quo ante, evitando-se, assim, o
enriquecimento indevido de qualquer um dos contratantes.
No caso em mesa, nem mesmo a autora contesta a existência das
benfeitorias/acessões. Assim, uma vez comprovada a existência da benfeitoria, é firme
o posicionamento desta Corte de que a ausência de provas quanto a regularidade
administrativa das obras, nos termos do disposto no art. 34, parágrafo único, da Lei
6.766/79, não impede o reconhecimento do direito à indenização, sob pena de
privilegiar-se o enriquecimento sem causa do promitente- vendedor.
Neste sentido:
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL C/C REINTEGRAÇÃO DE
POSSE E PERDAS E DANOS - ARGUIÇÃO DE CERCEAMENTO DE DEFESA PELO
JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE - INOCORRÊNCIA - PRINCÍPIO DO LIVRE
CONVENCIMENTO MOTIVADO - INTELIGÊNCIA DOS ARTS. 130 E 330, I, DO CPC -
INADIMPLEMENTO DA OBRIGAÇÃO PELO COMPROMISSÁRIO-COMPRADOR E
EXISTÊNCIA DE CLÁUSULA EXPRESSA LEVAM À RESCISÃO - MORA COMPROVADA
- CONDENAÇÃO EM ALUGUÉIS - POSSIBILIDADE DESDE A IMISSÃO DA POSSE ATÉ
A DATA DA SENTENÇA - PLEITO DE RETENÇÃO DAS BENFEITORIAS ATÉ QUE LHE
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(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1656490-6 - Terra Rica - Rel.: Lauri Caetano da Silva -
Unânime - J. 14.06.2017)
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Adair Elpidio Pedro ajuizou (25.04.2011) Ação Demarcatória (autos nº 810-
55.2011.8.16.0167) em face de Devanir Pereira dos Santos e Neuzinha Serafina dos
Santos, aduzindo que a) é proprietário dos lotes nº 03 e nº 4-B, da quadra nº 103, com
áreas de 600,00m2 e 300,00m2, situados na cidade de Guairaçá, objeto das matrículas
nº 21.106 do Registro de Imóveis da Comarca de Paranavaí e nº 5.920 do Registro de
Imóveis da Comarca de Terra Rica; b) os imóveis confrontam com terreno dos réus,
cujos limites não estão perfeitamente assinalados; c) pretende construir um muro
divisório entre os terrenos; d) conforme parecer técnico, os réus invadiram uma área
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
nunca tiveram qualquer muro ou cerca entre elas, razão pela qual requereu a
demarcação dos imóveis e a restituição da área invadida. Em sua defesa, os réus
alegaram exceção de usucapião, afirmando que as benfeitorias foram edificadas há
mais de 40 anos.
10.1. Especificamente quanto à ação demarcatória e a exceção de usucapião,
Benedito Silvério Ribeiro ensina que:
“A ação demarcatória compte ao proprietário, que pode obrigar o seu confinante a
proceder com ele à demarcação entre os dois prédios, a aviventar rumos apagados e a
renovar marcos destruídos ou arruinados, repartindo-se proporcionalmente entre os
interessados as respectivas despesas (CC, art. 1.297).
Enquanto perdurar o título de proprietário é possível proceder à demarcação do
imóvel. Uma vez perdido o domínio, não mais será cabível à demarcatória.
A ação em foco é imprescritível, no sentido de permanecer a confusão de limites. O
direito somente se perde quando o dominus sofre os efeitos da prescrição aquisitiva.
A ação de demarcação dos limites (actio finium regundorum) pode ser cumulada com
a reivindicatória e a possessória, sendo exigência que os limites correspondam aos
títulos.
É cabível a alegação de usucapião como defesa na ação de demarcação.
Todavia, tal como na divisória, é na primeira fase do processo, considerado de
conhecimento, que deve ser oposta a defesa fundada em usucapião, já que na fase
executiva apenas se complementará o feito com as operações demarcatórias.”3
10.2. Desta forma, mesmo que se reconheça eventual direito à usucapião do réu, tal
fato não retira do autor da demarcatória a legitimidade para a propositura da ação ou
conduz à improcedência do pedido inicial. O interesse processual e a legitimidade
ativa persistem, eis que a área a ser demarcada observará as divisas apuradas in loco,
ou seja, observará a efetiva área de posse dos autores e dos réus, com posterior
retificação do título de domínio.
11. Todavia, no caso em análise, independentemente da exceção de usucapião,
entendo que a prova produzida nos autos não foi suficiente para que se possa dar
solução definitiva ao conflito.
11.1. No que se refere aos lotes de terreno do autor, conforme matrícula nº 21.106 do
Registro de Imóveis da Comarca de Paranavaí4 (mov. 1.2 aberta no dia 30.09.1986),
o lote nº 03, da quadra nº 103, situado na cidade de Guairaçá, contendo uma casa de
madeira com área de 42,00m2, pertencia à José Amadeu e Abélia
Crapista Amadeu. O imóvel foi transmitido a Adair Elpidio Pedro e sua mulher Maria
Arseno Pedro no dia 20.11.1986 (R-1-21.106).
Ainda, conforme a matrícula nº 5.920 do Registro de Imóveis da Comarca de Terra
Rica (mov. 1.2) aberta no dia 19.05.2010, Adair Elpidio Pedro e sua mulher Maria
Arseno Pedro são proprietários do lote nº 04-B, subdivisão dos lotes nº 04 e 05,
oriundo da unificação dos lotes nº 04 e 05, da quadra nº 103, com área de 300,00m2.
Segundo consta na matrícula, o imóvel anteriormente era objeto da matrícula nº
21.107 do 1º Ofício do Registro de Imóveis da Comarca de Paranavaí e nº 9.918 do
Registro de Imóveis da Comarca de Terra Rica.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Com relação ao lote de terreno pertencente à parte ré, verifica-se pela matrícula nº
12.869 do Registro de Imóveis da Comarca de Paranavaí (mov. 1.14 f. 88/89 aberta
no dia 06.04.1981), o lote nº 06, da quadra nº 103, com área de 600,00m 2 pertencia à
Sociedade Imobiliária e Colonizadora Guairaçá Ltda, e foi vendido à José Carlos
Amadeu e sua mulher Delma Parra Amadeu no dia 12.03.1981 (R-1-12.869). No dia
06.02.2002 foi averbada anotação (AV-2-12.869), apontando que o lote nº 14, que
fazia divisa de fundos com o lote nº 06, foi incorporado à BR-376, passando esta a
fazer fundos com o terreno. No dia 06.02.2002 foi averbado o desmembramento do
terreno em duas unidades autônomas, cada uma com área de 300,00m2,
denominadas lote nº 06-A e lote nº 06-B (AV-3.12.869).
Conforme matrícula nº 31.396 do 1º Ofício do Registro de Imóveis da Comarca de
Paranavaí, aberta no dia 06.02.2002, o lote nº 06-A, com área de 300,00m2, de
propriedade de José Carlos Amadeu e Delma Parra Amadeu foi vendido (no dia
28.01.2002) à José Macedo dos Santos (R-1-31.936). Por sua vez, conforme matrícula
nº 31.937 do 1º Ofício do Registro de Imóveis da Comarca de Paranavaí, no dia
28.01.2002, o lote nº 06-B foi transmitido por José Carlos Amadeu e Delma Parra
Amadeu para Donizete Borges da Silva e sua mulher Maria de Lourdes da Silva (R-1-
31.937).
Para demonstrar seu direito sobre o terreno, os réus colacionaram recibo de
pagamento emitido por Donizete Borges da Silva no dia 10.03.2004, referente ao
“pagamento integral pela venda que lhe fiz do lote nº 06-B, da subdivisão do lote nº
06, da quadra nº 103, com área de 300,00m2, contendo uma casa de madeira coberta
com telhas, com 6 cômodos, localizado em Guairaçá”.
11.2. Ocorre que, durante a instrução do processo, a prova pericial concluiu que o
lote 6-B, de propriedade dos réus Devanir e Neuzinha, sobrepõe-se aos lotes nº 03
(96,29m2) e nº 4-B (68,20m2), de propriedade do autor Adair Elpídio Pedro. Ainda,
afirmou que o Lote 6-B é sobreposto pelo Lote vizinho nº 07, existindo um
deslocamento de lotes.
Outrossim, concluiu que o Lote nº 03, de propriedade do autor Adair Elpídio Pedro,
deve ser objeto de retificação, pois em razão do novo traçado da Estrada Oficial que
margeava o Loteamento, o terreno passou a ter área total de 434,95m2 (e não os
600,00m2 descritos no título dominial, havendo uma perda de área correspondente a
165,05m2).
Isto porque, conforme item 3 e respectivos subitens do Laudo apresentado no mov.
1.14 (posteriormente ratificado), o lote nº 03 era descrito com área de 600,00m2
(20,00m x 30,00m). A transcrição primitiva do imóvel é anterior a 1954, e foi registrada
sob nº 06, do Livro nº 08, de Registros Especiais do Cartório de Registro de Imóveis da
Comarca de Mandaguari. Todavia, no dia 05.01.1961, em virtude de sentença exarada
no dia 26.12.1960, nos autos nº 978/60, de Pedido de Alteração de Loteamento, a
modificação do Loteamento “Cidade de Guairaçá”, foi registrado sob nº 45, do Livro
nº 08 de Registros Especiais de Paranavaí, certificando que o novo traçado da Estrada
Oficial que margeia o Loteamento, incluído na Planta Oficial arquivada em cartório no
dia 03.11.1966, alterou as quadras L, 23, 43, 63, 83, 103, 123, 143, 163 e 183.
69
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
11.3. Não obstante, a prova pericial não indicou de que forma a alteração da quadra
nº 103 pelo novo traçado da Estrada Oficial afetou os lotes que a compunham. A
perícia é incompleta na medida em não aponta por qual razão somente o lote nº 03
teve sua área alterada, e como chegou à conclusão de que a área perdida foi de
165,05m2, eis que tal informação não consta de qualquer documento juntado aos
autos.
A conclusão de que o lote 6-B sobrepõe os lotes nº 03 (96,29m2) e nº 4-B (68,20m2),
e é sobreposto pelo Lote vizinho nº 07, demonstra que a celeuma a ser resolvida não
pode ser solucionada apenas com a medição pontual dos terrenos das partes,
devendo envolver, globalmente, toda a quadra nº 103 e as frações que a compõem.
Nas circunstâncias demonstradas pelos títulos dominiais de cada uma das partes, não
há como demarcar apenas a fração de terra pretendida pelos autores, pois ambas as
partes possuem títulos equivalentes.
Desta maneira, diante da complexa situação de fato e direito posta em mesa,
somente será possível a solução definitiva da controvérsia por meio de um estudo
amplo da área que compõe a quadra nº 103, comparando as descrições imobiliárias
com a realidade fática das edificações. Vale apontar que diferentemente do que
sustenta o apelante, a ausência de um muro ou uma cerca não significa ausência do
exercício de posse exclusiva. Uma área indivisa, pode, materialmente, estar dividida
pelo exercício da posse limitada. É evidente que, mesmo sem a existência de um muro
(que os autores pretendem construir), as partes respeitavam uma determinada área
como limite de suas respectivas propriedades.
Por enquanto não é possível afirmar a existência de esbulho praticado pela ré, que
tem posse desde a aquisição do lote nº 06-B de Donizate Borges da Silva. Outrossim,
é preciso relevar que o autor é proprietário do lote nº 03 desde 1986. Todavia, como
anteriormente apontado, desde o ano de 1960 o lote nº 03 já não dispunha da área
de 600,00m2. Desta forma, evidentemente não poderia reivindicar qualquer área que
excedesse 434,95m2.
Frise-se, por fim, que o Código Civil, em seu art.
1.298 dispõe que:
“Sendo confusos, os limites, em falta de outro meio, se determinarão de
conformidade com a posse justa; e não se achando ela provada, o terreno contestado
se dividirá por partes iguais entre os prédios, ou, não sendo possível a divisão
cômoda, se adjudicará a um deles, mediante indenização ao outro”.
Nesta toada, não pode o magistrado abster-se da demarcação dos imóveis, pois a lei
civil prevê a partilha ou a adjudicação da área confusa como último critério para
encerrar a “actio finium regundorum”.
12. O magistrado moderno deve exercer a prerrogativa de gestor do processo e da
prova. O processo é instrumento de busca da verdade real e das informações
necessárias para solucionar a controvérsia de forma justa e sem causar “danos”
desnecessários ou evitáveis às partes.
A iniciativa do julgador para a produção das provas necessárias ao julgamento está
perfeitamente delineada pelo direito moderno, senão vejamos:
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
do acordo. 2. Inexistente nos autos prova suficiente de que a requerida Bidese Imóveis
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1640841-6 - Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime
- J. 14.06.2017)
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de ação de consignação em pagamento (autos nº 0006250-
40.2014.8.16.0001) proposta por Fernando José Strobel e Giselle Schinzel de Souza
Strobel em face de Bidese Imóveis Incorporação, Locação, Compra e Venda Limitada
ME e Sevilha Imóveis Limitada alegando que (a) eram proprietários do imóvel
localizado na Rua Geraldo Lipka, nº 65, no município de Curitiba; (b) em 06.06.2013,
firmaram com a requerida Bidese Imóveis Incorporação, Locação, Compra e Venda
Limitada ME “autorização para venda de imóvel”, com exclusividade, pelo prazo de 90
dias; (c) decorrido o prazo sem a concretização de qualquer negócio, mantiveram a
intenção de vender o imóvel, sem dar, entretanto, exclusividade de venda a nenhum
corretor; (d) os representantes de ambas as requeridas compareceram no imóvel, no
dia 18.12.2013, acompanhados de um cliente apresentado pela Sevilha Imóveis
Limitada; (e) no dia seguinte, o corretor de imóveis da requerida Sevilha Imóveis
Limitada retornou ao apartamento com seu cliente, Walber Pydd, e, em 24.12.2013, foi
apresentada proposta de compra com recibo de sinal de negócio; (e) aceita a proposta
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
“Que conhece o Sr. Eder da Sevilha Imóveis; que foi o comprador do imóvel; que o
Sr. Eder já havia vendido o apartamento que morava; que como estava interessado na
região do Ecoville, o Sr. Eder agendou algumas visitas, inclusive, no Condomínio
Terrasse; que no dia compareceu o Sr. Eder, e o pessoal de uma outra imobiliária; que,
em pesquisa na internet, verificou que haviam outros apartamentos à venda no mesmo
edifício; que também haviam anúncios, do mesmo apartamento, em pelo menos 3
outras imobiliárias; que no outro dia fez uma outra visita; que olhou outros
apartamentos da região; após tudo isso, entrou em contato com o Sr. Eder e disse que
podia fechar negócio; que não se recorda se foi na primeiro ou na segunda visita, mas
viu um apartamento no mesmo prédio; que só teve contato com o Sr. Eder e com o
pessoal da Sevilha; que junto com o Sr. Eder visitou outro apartamento (...) Walber
pydd mídia digital mov. 130.1.
O próprio autor confirma que a celebração do pacto só possível diante do trabalho
desenvolvido pela Sevilha Imóveis, pois o promitente comprador já era cliente antigo
da referida imobiliária. Vejamos:
“Que colocou esse imóvel à venda em setembro de 2012 com outra empresa
estranha à lide, com contrato de 60 dias; que, depois disso, foi procurado pela Bidese
Imóveis, através de sua funcionária Rosana, assim, em 06.06.13, firmou com a Bidese
Imóveis, uma autorização de venda, que se findava em 06.10.13; que a Bidese não
obteve êxito na venda; que após, esse período, autorizou outras imobiliárias, inclusive,
a Bidese, a continuar a proceder a venda do imóvel, contudo, sem exclusividade; (...)
em 18.12.2013, a Bidese solicitou uma visita no imóvel; que quem acompanhou a
visita, foi sua empregada; que, na oportunidade, estavam o Sr. Walber e os corretores
da Bidese e da Sevilha Imóveis; que, no dia 20.12.2013, foi contatado pela Sevilha,
que lhe perguntou se o imóvel estava à venda e se havia exclusividade de alguma
imobiliária; que respondeu que não e a visita efetivou-se na parte da tarde do mesmo
dia; que o atual proprietário visitou o imóvel acompanhado do Eder, da Sevilha
Imóveis; que neste dia estava presente; que, no outro
dia, o corretor da Sevilha Imóveis lhe contatou lhe fazendo uma proposta; que ficou
de pensar; que, dia 23.12.13, fez um contraproposta; que o promitente comprador
aceitou; que, no dia 24.12.13, assinaram a proposta de compra e venda; que entre
natal e ano novo, a Bidese entrou em contato para agendar uma visita; que lhe
informaram acerca da venda do imóvel; que, no dia 07.01.14, a Bidese Imóveis entrou
em contato, dizendo que havia apresentado o comprador para o imóvel; (...) que, em
seu entendimento, a Sevilha tinha um comprador que já havia sido seu cliente em
outras oportunidades; que verificando que o outra imobiliária estava vendendo o
imóvel entrou em contato para agendar uma visita; que a Sevilha não tinha
conhecimento acerca da cláusula de exclusividade, tanto que, na segunda visita,
perguntou acerca da sua existência, e disse que não existia; (...) que as imobiliárias não
entraram em acordo acerca de quem era devido a comissão de corretagem; que,
diante da dúvida, ingressou com a presente ação Fernando José Strobel mídia
digital mov. 130.1.
Ademais, o “recibo de sinal de negócio” (mov. 1.9 f.
78
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25) fora emitido, exclusivamente, pela Sevilha Imóveis, inexistindo nos autos,
nenhuma prova de que o corretor da apelante tenha contribuído para celebração do
pacto, razão pela que entendo correto do posicionamento do julgador monocrático,
ao considerar a requerida Sevilha Imóveis única e exclusiva beneficiária da comissão
de corretagem.
A corroborar:
“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA DE COMISSÃO DE CORRETAGEM.
ÔNUS DA PROVA. CASO CONCRETO. AUSÊNCIA DE PROVA EFETIVA DA
INTERMEDIAÇÃO DA COMPRA E VENDA. CONTRATO DE EXCLUSIVIDADE
INEXISTENTE. POSTERIOR ALIENAÇÃO DO IMÓVEL ATRAVÉS DE OUTRO
CORRETOR. A comissão de corretagem é devida quando demonstrada, pelo
profissional, a efetiva intermediação imobiliária, com atos concretos de intermediação
das partes de forma que as negociações tendentes à realização do ato alcancem o seu
objetivo, ou seja, que as negociações produzam o resultado útil desejado. NEGADO
PROVIMENTO AO RECURSO. UNÂNIME (Apelação Cível Nº 70041925249, Décima
Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Otávio Augusto de Freitas
Barcellos, Julgado em 20/07/2011)”.
Dos recursos adesivos nº 1 e nº 2 interpostos pelos autores Fernando José Strobel e
Giselle Schinzel de Souza Strobel e pela requerida Sevilha Imóveis Limitada.
14. Os recorrentes pretendem a majoração do valor arbitrado a título de honorários
advocatícios.
Na fixação dos honorários advocatícios deve ser observado um critério objetivo, de
modo que o profissional advogado seja remunerado no limite do trabalho.
Paulo Luiz Neto Lobo, tratando dos limites que deve ser arbitrada a verba honorária,
leciona:
“Não há critérios definitivos que possam delimitar a fixação dos honorários
advocatícios, porque flutuam em função de vários fatores, alguns de forte densidade
subjetiva. (...) Impõe-se sempre a moderação, no entanto, já que o direito não é
ilimitado. Há limites postos pela ética e pela razoabilidade que não podem ser
ultrapassados.” (Comentários ao Novo Estatuto da Advocacia e da OAB, ed. 1994, p.
93).
Assim, à luz do dispositivo processual aplicável a espécie deve a verba honorária ser
arbitrada seguindo os parâmetros relativos ao grau de zelo na atuação do profissional,
o lugar da prestação de serviço, a natureza e importância da causa, o trabalho
realizado, bem assim o tempo exigido para prestação do serviço, devendo ser
suficientes para remunerar condignamente o advogado, sem implicar em valor
excessivamente elevado, ou tão ínfimo que não seja capaz de compensar o trabalho
desempenhado pelo profissional.
Neste particular, embora não se trate de ação que verse sobre matéria complexa, a
representação técnica dos autores e da requerida Sevilha Imóveis se deu de modo
adequado, dentro do que lhe exigia o processo. Além do mais, é preciso levar em
conta o tempo de tramitação do processo, ou seja, mais de 3 anos. Assim, entendo
que a importância fixada pelo juízo a quo não obedece aos parâmetros exigidos para a
espécie.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Desse modo, elevo o valor fixado a título de verba honorária advocatícia para 20% do
valor atualizado da causa, nos termos do artigo 85, §2º e §11 do Código de Processo
Civil, os quais devem ser divididos entres os procuradores dos autores e da ré Sevilha
Imóveis.
15. Diante do exposto, voto no sentido de:
a) não conhecer o agravo retido (mov. 80.1 f.
210/213); b) negar provimento ao recurso de apelação nº1 interposto por Bidese
Imóveis Incorporação, Locação, Compra e Venda Limitada ME.
c) dar provimento ao recurso adesivo nº 1 interposto pelos autores Fernando José
Strobel e Giselle Schinzel de Souza Strobel, para majorar a verba honorária
advocatícia.
d) dar provimento ao recurso adesivo nº 2 interposto pela requerida Sevilha Imóveis
Limitada, para majorar a verba honorária advocatícia.
III- DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em não conhecer o agravo
retido de f. 210/213; negar provimento ao recurso de apelação e dar provimento aos
recursos adesivos nºs 1 e 2.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador LAURI CAETANO DA SILVA, relator,
e dele participaram os Desembargadores TITO CAMPOS DE PAULA e RUI BACELLAR
FILHO.
Curitiba, 14 de junho de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--
1 Sentença proferida no dia 10.03.2016 e publicada no dia 22.03.2016.
--
2 RIZZARDO, Arnaldo. Contratos. 6ª ed.. Editora Forense, 2006, p. 784.
--
3 Tratado Teórico e Prático dos Contratas, Saraiva, 6ª ed., 2006, v. 3, p. 42.
função social dos contratos, bem como da vedação ao enriquecimento sem causa".
condominiais têm natureza propter rem, ou seja, aderem à coisa e não à pessoa, e não
81
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Gisele Aparecida da Silva ajuizou ação de imissão de posse c/c perdas e danos
(autos nº 16252-93.2015.8.16.0014 - PROJUDI) em face de Terra Nova Rodobens
Incorporadora Imobiliária Londrina II SPE Limitada aduzindo, em síntese, que a) por
meio do programa Minha Casa Minha Vida adquiriu da empresa ré a unidade nº 37-U,
da quadra nº 110, do Condomínio Moradas Londrina, pelo valor de R$86.813,76; b)
após a assinatura do contrato de financiamento junto à Caixa Econômica Federal, a ré
era obrigada a lhe entregar a posse do imóvel; c) a ré negou-se a entregar o imóvel,
justificando que existem débitos pendentes, sem prestar qualquer outro
esclarecimento; d) foi obrigada a alugar um imóvel para residir (danos materiais); e)
mesmo não tendo recebido o imóvel, estão sendo cobrados os valores relativos à
contribuição condominial da unidade residencial, o que é indevido; f) não há
inadimplência, razão pela qual faz jus à imissão na posse do imóvel; g) a ré age de má-
fé e retém injustamente a posse do imóvel; h) a ré deve ser condenada ao pagamento
de indenização
por danos materiais e morais; i) tratando-se de relação de consumo, é permitida a
inversão do ônus da prova (CDC, art. 6º, VIII). Como consequência dos fatos alegados
requereu, liminarmente, a expedição do mandado de imissão de posse, e ao final a
procedência dos pedidos.
2. A antecipação dos efeitos da tutela foi deferida (mov. 7.1 - f. 132). O mandado de
imissão de posse foi cumprido no dia 08.04.2015 (mov. 15.2 f. 146).
3. A ré Terra Nova Rodobens Marajó Incorporadora Imobiliária Londrina II SPE
Limitada ofereceu defesa em sede de contestação (mov. 18.1 f. 151/184) alegando,
em síntese, que a) o negócio firmado entre as partes reveste-se de condições
especiais, mediante o sistema denominado “TERRA NOVA”; b) a autora obrigou-se a
efetuar o pagamento do preço do imóvel (R$86.813,76), divido em duas partes: PARTE
A no valor de R$4.813,76; e a PARTE B no valor de R$82.000,00, a ser paga à vista,
com recursos próprios ou mediante obtenção de financiamento no âmbito do Sistema
Brasileiro de Poupança e Empréstimo ou do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço,
conforme item 4.1 e 4.2 do “Quadro Resumo” e cláusula 2ª do contrato; c) a autora
possui débito no valor de R$12.230,44, referente à correção do saldo devedor pelo
INCC e juros da obra; d) a posse do imóvel está condicionada ao pagamento integral
dos valores avençados no contrato (cláusula 7ª); e) não houve descumprimento
contratual no que concerne à entrega da posse do imóvel; f) a autora tinha
conhecimento de que seu saldo devedor sofreria correção monetária; g) a pretensão
da autora implicaria na redução do preço do imóvel, o que não pode se admitir; h) a
responsabilidade pelo pagamento referente a correção monetária pelo INCC está
especificada na cláusula 2.5.5. do contrato; i) não tem qualquer ingerência quanto à
concessão ou não do financiamento para pagamento do preço previsto no contrato,
eis que o financiamento é realizado pela Caixa Econômica Federal; j) a correção
monetária e a taxa de juros foram expressamente pactuadas e sua cobrança durante a
fase de construção é autorizada pela Lei nº 9.514/1997; k) a cobrança dos chamados
82
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
“Juros de Obra” é feita pela Caixa Econômica Federal, tendo em vista que decorre do
contrato de financiamento imobiliário firmado entre ela e a compradora (autora); l)
figurou como fiadora da autora, e em razão de sua inadimplência perante a CEF, foi
obrigada a realizar o pagamento; m) a confissão de dívida assinada pela autora é
válida e eficaz; n) não existem danos materiais ou morais a serem
indenizados; o) a autora é responsável pelo pagamento das taxas de condomínio da
unidade adquirida desde sua disponibilização, o que ocorreu no mês de novembro de
2012; p) inaplicável no caso concreto a inversão do ônus da prova prevista no Código
de Defesa do Consumidor.
4. A sociedade Terra Nova Rodobens Marajó Incorporadora Imobiliária Londrina II
SPE Limitada ajuizou reconvenção (mov. 19.1 f. 256/264), pleiteando a condenação
da autora ao pagamento de (i) R$9.232,72, referente a correção do saldo devedor pelo
INCC; e, (ii) R$2.997,72, referente aos juros da obra dos meses de junho/2012 a
maio/2013, que quitou junto à Caixa Econômica Federal na condição de fiadora.
5. Gisele Aparecida da Silva apresentou contestação à reconvenção (mov. 41.1 f.
370/380), refutando integralmente a pretensão da ré/reconvinte.
6. O MM. Juiz a quo julgou parcialmente procedentes os pedidos formulados na
inicial da ação de imissão de posse, para (i) confirmar a liminar anteriormente
concedida e determinar a imissão definitiva da autora na posse do imóvel; (ii) condenar
a ré ao pagamento de indenização por danos morais, no valor de R$10.000,00, a
serem corrigidos pelo INPC a partir da data em que o imóvel deveria ter sido
entregue; (ii) declarar inexigível o valor cobrado a título de contribuição condominial
do imóvel; (iii) declarar inexigível o valor da dívida cobrada pela ré a título de juros de
obra e diferença de correção monetária pelo INCC; (iv) afastar a pretensão de
pagamento de indenização por danos materiais. Diante da sucumbência recíproca,
condenou as partes, na proporção de 80% para autora e 20% para a ré, ao pagamento
das custas processuais. Ainda, na proporção inversa, condenou as partes ao
pagamento de honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o valor da condenação
e dos débitos considerados indevidos, observando-se que a autora é beneficiária da
assistência judiciária gratuita. Por fim, julgou improcedentes os pedidos formulados
em sede de reconvenção, condenando a parte reconvinte ao pagamento das custas
processuais e honorários advocatícios, fixados em R$800,00 (mov. 75.1 f. 435/444).
7. A autora Gisele Aparecida da Silva opôs Embargos de Declaração (mov. 80.1 f.
450/451), os quais foram acolhidos para modificar o dispositivo da sentença e
“condenar a ré/embargada, também a indenizar a título de danos materiais os
prejuízos suportados pela parte autora a título de pagamento de cotas condominiais”
(mov. 94.1 f. 504/505).
8. Inconformada, a ré Terra Nova Rodobens Marajó Incorporadora Imobiliária
Londrina II SPE Limitada interpôs recurso de apelação (mov. 85.1 f. 457/484),
pugnando pela reforma da sentença. Argumentou que a entrega da posse do imóvel,
de acordo com a cláusula 7ª do contrato, estava condicionada ao pagamento integral
do preço do imóvel, o que não ocorreu, tendo em vista que a autora/reconvinda
deixou de pagar a importância de R$12.230,44, relativa ao saldo devedor corrigido
pelo INCC e aos juros de obra.
83
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10. No que se refere a correção monetária, é preciso esclarecer que a mesma possui a
finalidade de manutenção do poder de compra da moeda diante da inflação. Desse
modo, por força dos princípios da boa-fé e do não enriquecimento sem causa, a
correção monetária deve ser aplicada nas prestações mensais devidas pelo comprador
desde a data da celebração do contrato até a entrega das “chaves”.
A correção foi prevista pelo índice INCC (Índice Nacional de Construção Civil
contrato cláusula 2.3.1 f. 29 mov.
1.4), que é uma das três variações que compõe o Índice Geral de Preços (IGP) e
reflete o aquecimento do setor de construção civil, não havendo qualquer ilegalidade
da sua cobrança até a conclusão da obra, conforme entendimento do STJ:
“CIVIL E PROCESSUAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO.
PROMESSA DE COMPRA E VENDA. IMÓVEL. EXEQUIBILIDADE DO TÍTULO.
QUESTÃO DEPENDENTE E REEXAME REFLEXO DE MATÉRIA CONTRATUAL E
FÁTICA (SÚMULAS 5 E 7 DO STJ). INCC. INEXISTÊNCIA DE CLÁUSULA
POTESTATIVA. PRECEDENTES.
SISTEMÁTICA DE APLICAÇÃO DOS JUROS. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO.
MULTA. REDUÇÃO DO PERCENTUAL. IMPOSSIBILIDADE. CONTRATO ANTERIOR À
LEI 9.298/96.
1. A reforma da vinculação das notas promissórias executadas ao contrato afirmado
expressamente no acórdão recorrido depende de reexame de matéria contratual e
fática da lide, o que encontra óbice nas Súmulas 5 e 7 do STJ.
2. Não é potestativa a cláusula que prevê a aplicação do INCC aos contratos de
promessa de compra e venda de imóvel em construção. Precedentes. (...). (STJ. AgRg
no REsp 591798 / DF.
Relator (a) Ministra Maria Isabel Gallotti. Órgão Julgador Quarta Turma. DJe
31/08/2011).
Destaquei.
“Embora seja válida a correção do saldo devedor durante a construção, quando
ocorrer o seu atraso por culpa da construtora-vendedora, deverá sua incidência ser
afastada, tendo em vista que a mora em entregar os imóveis não pode gerar maiores
custos e prejuízos aos compradores, o que abrange a incidência do INCC após o prazo
que deveria ter sido entregue o imóvel, ante a possibilidade de dificultar o pagamento
do bem” (TJPR - 6ª C.Cível - AC - 1363721-1 - Curitiba - Rel.: Roberto Portugal
Bacellar - Unânime - - J. 06.10.2015).
No caso, é preciso ter-se em mente que, entre a data da formalização do Contrato de
Compra e Venda (25.06.2010) e a data da assinatura do Contrato de Financiamento
com a Caixa Econômica Federal (12.07.2011), existe o lapso temporal de mais de um
ano, no qual, segundo consta expressamente do contrato, “o valor da PARTE A e da
PARTE B, será acrescido de atualização monetária mensal acumulada, calculada pelo
INCC-DI/FGV a partir da data base até a data do efetivo pagamento”.
E ainda, “caso o valor financiado pelo AGENTE FINANCEIRO não seja suficiente para
satisfazer o valor referente a PARTE B do Quadro Resumo ou o saldo devedor total
deste contrato, acrescido das atualizações monetárias contratadas e mesmo dos
encargos moratórios contratualmente estipulados, deverá o COMPRADOR efetuar o
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
pagamento de parcelas prefixadas não há juro vencido a ser pago, de modo que a
taxa efetiva anual divergente da taxa mensal, na verdade, evidencia que, no processo
pelo sistema de juros compostos não pode ser confundido com anatocismo. O valor
de cada prestação a ser paga é composto pela fração do capital mais o juro
evidentemente abusivas.
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1656602-6 - Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime
- J. 24.05.2017)
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de recurso de apelação interposto em virtude da sentença1 proferida pelo
MM. Dr. Juiz da 15ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana
de Curitiba, às f. 231/238 (mov. 20.1) dos autos nº 9167-76.2007.8.16.0001 de ação
com pedido de revisão das cláusulas financeiras de cédula de crédito bancário com
garantia fiduciária (f. 123/124 mov. 1.22), proposta por Alex Krik Silvestre em face de
Omni S/A Crédito, Financiamento e Investimento, pela qual julgou parcialmente
procedentes os pedidos formulados na inicial para determinar a incidência exclusiva da
comissão de permanência para o período de inadimplemento. Por fim, condenou as
partes, na proporção de 70% para o autor e 30% para o réu, ao pagamento das custas
processuais e dos honorários advocatícios, fixados em R$1.000,00.
2. O autor interpôs recurso de apelação (f. 245/264 mov. 25.1), pleiteando a reforma
da sentença para (i) expurgar a capitalização de juros do cálculo das prestações; (ii)
limitar a taxa de juros remuneratórios; e, (iii) determinar a repetição em dobro dos
valores cobrados indevidamente. Ao final, pediu a redistribuição do ônus da
sucumbência e o afastamento da compensação dos honorários advocatícios.
Contrarrazões às f. 271/280 (mov. 30.1).
É o relatório.
II- VOTO
Não conheço do recurso na parte que trata da compensação dos honorários
advocatícios, pois a sentença não a determinou. Portanto, o apelante carece de
interesse recursal.
Com a ressalva supra, presentes os pressupostos processuais de admissibilidade,
intrínsecos e extrínsecos, conheço em parte do recurso.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
de ordem pública referidas no art. 267, §3º, do Código de Processo Civil, podem ser
reconhecidas de ofício pelo Juiz em qualquer grau de Jurisdição.2. Considerando que
as questões debatidas estão devidamente provadas pelos documentos constantes dos
autos, especificamente o contrato celebrado, bem como, há decisões acerca do mérito
da discussão, é desnecessária a inversão do ônus da prova.3. Sob a égide dos
Recursos Repetitivos, o Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento segundo o
qual “A capitalização dos juros em periodicidade inferior à anual deve vir
pactuada de forma expressa e clara. A previsão no contrato bancário de taxa de juros
anual superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa
efetiva anual contratada” (REsp 973827/RS, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti, 2ª
Seção, DJe 24/09/2012).4. A previsão contratual de parcelas prefixadas demonstra a
utilização de método composto de formação dos juros, situação admitida em nosso
ordenamento jurídico, que difere do anatocismo.5. No tocante à taxa de juros, é
preciso ter em vista, em primeiro lugar, a orientação da Súmula nº 382, do Superior
Tribunal de Justiça, segundo a qual “a estipulação de juros remuneratórios superiores
a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade”.6. Somente se configuram abusivos
os juros remuneratórios quando fixados em dissonância com a média praticada pelo
mercado em cada período e que exceda a uma vez e meia, ao dobro ou ao triplo da
taxa referencial estimada pelo Banco Central do Brasil. Precedentes do STJ.
7. É inviável a adoção da Taxa Selic como parâmetro de limitação dos juros
remuneratórios, pois não representa a taxa média praticada pelo mercado.
Precedentes STJ.8. A cobrança de tarifa de cadastro já teve sua legalidade declarada
pelo Superior Tribunal de Justiça em Recursos Especiais Representativos da
Controvérsia (REsp nº 1.251.331/RS e 1.255.573/RS) e por esta Corte no Enunciado nº
02, das 17ª e 18ª Câmaras Cíveis.9. Os honorários sucumbenciais fixados devem ser
mantidos por atenderem os parâmetros dispostos no art. 20 do Código de Processo
Civil. EXTINÇÃO PARCIAL DO FEITO, EX OFFICIO, POR AUSÊNCIA DE INTERESSE
DE AGIR.RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. (TJPR - 17ª C. Cível - AC -
1226143-5 - Curitiba - Rel.: Rosana Amara Girardi Fachin - Unânime - - J. 08.07.2015)
5. A repetição de eventuais valores pagos e reconhecidos como abusivos é
consequência lógica da sentença.
Todavia, a repetição não deve comportar a dobra prevista no artigo 42 do CDC, na
medida em que decorre de cláusula de contrato livremente pactuada. Se a cobrança
está amparada em cláusula contratual não podemos reconhecer empiricamente que
houve má-fé.
Este é o posicionamento majoritário no Superior Tribunal de Justiça:
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO.
CONTRATO BANCÁRIO. REPETIÇÃO DO INDÉBITO EM DOBRO. MESMAS TAXAS.
INADMISSIBILIDADE.
CORREÇÃO MONETÁRIA. JUROS DE MORA. ARTIGOS 1.062 DO CC/16 E 406 DO
CC/02.
PROVIMENTO. I. A repetição do indébito de valores cobrados por instituição
financeira, quando concernente a taxas e índices objeto de controvérsia mesmo no
âmbito do Poder Judiciário, há ser feita na forma simples, salvo inequívoca prova da
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
má-fé, aqui inocorrente. (...) Precedentes do STJ. III. Agravo regimental provido. (AgRg
no Ag 390688/MG, Min. ALDIR PASSARINHO JUNIOR, Quarta Turma, DJ 2011)
AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.
INOCORRÊNCIA. CONTRATO BANCÁRIO. AÇÃO REVISIONAL. COBRANÇA DE
ENCARGOS ABUSIVOS. REPETIÇÃO DE INDÉBITO NA FORMA SIMPLES. (...) 3. “O
pagamento
resultante de cláusula contratual mais tarde declarada nula em sede judicial deve ser
devolvido de modo simples, e não em dobro; age no exercício regular de direito
quem recebe a prestação prevista em contrato” (EREsp 328.338/MG, Rel. Min. ARI
PARGENDLER, DJ, 01.02.2006). 4. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no Ag 1136936/PR, Min.
VASCO DELLA GIUSTINA, Terceira Turma, DJ 14.09.2010)
PROCESSUAL CIVIL E DIREITO BANCÁRIO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL. POSSIBILIDADE. SUCUMBÊNCIA
RECÍPROCA. REPETIÇÃO DE INDÉBITO EM DOBRO. MÁ-FÉ. CIRCUNSTÂNCIA NÃO
RECONHECIDA NAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. DESCABIMENTO. COMISSÃO DE
PERMANÊNCIA. CÉDULA DE CRÉDITO INDUSTRIAL. IMPOSSIBILIDADE.
SUBSTITUIÇÃO. MULTA CONTRATUAL. REDUÇÃO ADMITIDA SOMENTE PARA
CONTRATOS CELEBRADOS ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI 9.286/96. (...) 3. A
repetição em dobro do indébito pressupõe o pagamento indevido e a má- fé do
credor. Não comprovada essa conduta nas instâncias ordinárias, a repetição deve ser
simples. (...) Agravo regimental desprovido. (EDcl no REsp 1093802/SP, Min. JOÃO
OTÁVIO DE NORONHA, Quarta Turma, DJ 05.05.2011)
CIVIL E PROCESSUAL. AGRAVO REGIMENTAL. CONTRATOS DE FINANCIAMENTO.
COMPENSAÇÃO/RESTITUIÇÃO SIMPLES DO INDÉBITO. IMPROVIMENTO. I. A
repetição do indébito de valores cobrados por instituição financeira, quando
concernente a taxas e índices objeto de controvérsia mesmo no âmbito do Poder
Judiciário, há ser feita na forma simples, salvo inequívoca prova da má-fé, aqui
inocorrente. II. Agravo regimental improvido.
(AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.226.286/MS, Min. ALDIR PASSARINHO JUNIOR,
2010)
No particular, a sentença determinou a incidência exclusiva da comissão de
permanência para o período de anormalidade contratual. Assim, se comprovada a
cobrança da comissão de permanência cumulada com outros encargos de mora, o
excedente deve ser devolvido na forma simples, com o acréscimo de juros de mora de
1% ao mês desde a citação e correção monetária pela média dos índices INPC/IGP-DI
a partir do desembolso. Fica permitida a compensação com eventual débito nos
termos do artigo 368 do Código Civil. O quantum deve ser apurado em sede de
liquidação de sentença.
No cálculo deve ser expurgado para fins de repetição somente o valor que exceder
ao índice da comissão de permanência cobrado sobre o valor das prestações pagas
após a data do respectivo vencimento. Observo que a comissão de permanência é
encargo moratório e como tal não foi computado no valor prefixado da prestação.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
juros em periodicidade inferior à anual deve vir pactuada de forma expressa e clara. A
prefixadas não há juro vencido a ser pago ou capitalizado, de modo que a taxa efetiva
não é vedado pela legislação. O método de cálculo da prestação pelo sistema de juros
remuneratório.
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1644751-3 - Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime
- J. 24.05.2017)
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de recurso de apelação interposto em virtude da sentença1 proferida pelo
MM. Dr. Juiz de Direito da 17ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região
Metropolitana de Curitiba, às f. 205/213 dos autos nº 29420-17.2009.8.16.0001 de
ação com pedido de revisão das cláusulas financeira de contrato de arrendamento
mercantil, proposta por Cesar Soares Alves em face de Santander Leasing S/A
Arrendamento Mercantil, que julgou parcialmente procedente os pedidos formulados
na inicial para afastar a capitalização de juros do cálculo das contraprestações e
condenar o réu a repetir os valores cobrados a maior na forma simples,
consequentemente, descaracterizou os efeitos da mora, impedindo a incidência de
100
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
101
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Isso porque, sem ele, não é possível definir a natureza da relação jurídica firmada, o
valor do negócio e a ilegalidade ou abusividade dos encargos financeiros
computados.
Portanto, a apresentação do contrato revisando é imprescindível para o
processamento do pedido. A sua falta conduz para a inépcia da inicial, por ausência de
causa de pedir3.
Todavia, no presente caso estamos diante de situação que reclama solução diversa.
Anoto que o instrumento contratual alvo da revisão se perdeu, conforme afirmado pela
parte ré (f. 196), o que inviabiliza qualquer tentativa prévia da parte autora em obter a
respectiva cópia para fins de ajuizamento da ação revisional.
Considerando que não é possível exigir do autor a apresentação de cópia do contrato
que se perdeu, não é razoável impor à instituição financeira multa pelo
descumprimento da mesma ordem. Em verdade, na impossibilidade da apresentação
do documento, o pedido formulado pelo autor deve ser processado e julgado com os
elementos disponíveis, em especial a planilha de f. 197, cópia do Certificado de
Registro e Licenciamento de Veículo (f. 35) e cópia dos boletos de pagamento
juntados aos autos (f. 38/50).
5. A respeito da capitalização de juros e da respectiva taxa, o Superior Tribunal de
Justiça autorizou a incidência de juros compostos em todos os contratos firmados após
a edição da Medida Provisória nº 1.963-17/2000 (em vigor como MP nº
2.170/36/2001), quando expressamente pactuada, bem como admitiu como válida a
taxa de juros anual contratada, fixando as seguintes súmulas:
“Súmula 539: É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior à anual
em contratos celebrados com instituições integrantes do Sistema Financeira Nacional a
partir de 31/3/200 (MP n. 1.963-17/2000, reeditada como MP n. 2.170- 36/2001),
desde que expressamente pactuada”.
“Súmula 541: A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao
duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual
contratada”.
No contrato de leasing com contraprestações prefixadas é possível calcular o seu
valor pelo método matemático empregado pelo contratado. O direito brasileiro,
desde a edição do Decreto 22.626, de 1933, proíbe a incidência de juros
remuneratórios sobre juros vencidos. Tal prática passou a ser conhecida como
“capitalização”, “juros compostos” ou “anatocismo”. A orientação é no sentido de
impedir que o credor, após o vencimento do crédito, possa adicionar novos juros
sobre os juros já vencidos em decorrência do inadimplemento da obrigação. Esse é o
fenômeno do anatocismo proibido pela legislação brasileira. Por outro lado, a
legislação nunca proibiu a utilização de método de cálculo composto para determinar,
no momento da contratação, o valor prefixado da contraprestação. Quando a taxa de
juros é integrada no valor prefixado da contraprestação antes de iniciar o cumprimento
da obrigação, não é possível falar em incidência de juros sobre juros vencidos. A
utilização do método de juros compostos não se confunde com anatocismo, pois o
valor de cada prestação é composto pela fração do capital (divisão do valor inicial da
operação de crédito pelo número de meses) mais o juro remuneratório e eventual
102
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
103
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
petição inicial de ação revisional de contrato bancário que não vem acompanhada de
cópia do contrato revisando”.
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1424250-1 - Ponta Grossa - Rel.: Lauri Caetano da Silva -
Unânime - - J. 03.02.2016)
4 Orientação 2, consolidada pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do REsp
1.061.530-RS.
COMERCIAL
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1634381-8 - Campo Mourão - Rel.: Lauri Caetano da Silva -
Unânime - J. 24.05.2017)
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de ação com pedido de rescisão de contrato de compra e venda
cumulada com pedido de indenização (autos nº 2391- 83.2007.8.16.0058) ajuizada por
Delmar José de Lima e Maria José Covalski em face de João Batista de Mendonça e
Irenice Viana Lage
aduzindo, em síntese, que (a) no dia 01.06.2006 celebraram com os réus o contrato de
compra e venda do estabelecimento comercial denominado “Centro de Condutores
de Veículos Kamilla Ltda ME”, pelo valor de R$122.000,00; (b) restou ajustado que o
preço acordado seria pago da seguinte forma: (i) entrega da data nº 8-A, subdivisão da
data nº 8, da quadra nº 2, da Planta do Parque São João, pelo valor de R$35.000,00;
104
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
(ii) entrega do veículo camionete/c.aberta dupla, VMMCL200 4x4, ano 1996, modelo
1997, placa AHD- 6259, pelo valor de R$28.000,00; (iii) R$59.000,00 em moeda
nacional, sendo R$20.000,00 entregue no ato da assinatura do contrato, R$7.000,00 a
serem pagos no dia 01.08.2006 e R$32.000,00 a serem pagos através de um saldo de
FGTS dos compradores, que seria transferido para a compra de um imóvel, a ser
indicado pelos vendedores; (c) mesmo tendo indicado o imóvel a ser adquirido, os
compradores não cumpriram o pagamento previsto na alínea “d” da cláusula 4º do
contrato (transferência de FGTS); (d) no dia 02.05.2007 os compradores enviaram
notificação extrajudicial requerendo o reembolso de valores supostamente pagos em
favor da pessoa jurídica, que encontravam-se em aberto anteriormente à assinatura do
contrato de compra e venda; (e) encaminharam contranotificação extrajudicial
concordando com parte das dívidas apontadas pelos compradores e exigindo a
quitação do contrato, eis que o pagamento previsto na alínea d, da cláusula 3 não
ficou condicionado ao cumprimento de qualquer obrigação; (f) considerando o
inadimplemento contratual, faz-se necessária a rescisão do contrato; (g) os réus devem
ser condenados ao pagamento de indenização por perdas e danos, a serem apurados
em liquidação de sentença. Ao final, requereram a procedência dos pedidos, com a
rescisão do contrato e o retornO das partes ao status quo ante, além da indenização
por perdas e danos.
2. Os réus João Batista de Mendonça e Irenice Viana Lage apresentaram resposta em
sede de contestação (mov. 1.7 - f. 52/70), sustentando, preliminarmente, a falta de
interesse processual dos autores e a exceptio non adimpleti contractus. No mérito,
alegaram que (a) a cláusula 6ª do contrato de compra e venda previa que todos os
impostos, taxas, encargos trabalhistas, ações trabalhistas, rescisões, contribuições
fiscais, financiamentos e empréstimos, anteriores à data da assinatura do contrato,
deveriam ser pagos pelos vendedores; (b) logo após a celebração do contrato, os
vendedores indicaram um imóvel para ser adquirido com o saldo do FGTS dos
compradores, mas não houve liberação do FGTS pela Caixa Econômica Federal
porque o imóvel não foi aprovado na vistoria; (c) entrementes, tiveram conhecimento
de diversos débitos da
sociedade, contraídos anteriormente à aquisição, e que deveriam ser quitados pelos
vendedores; (d) um levantamento das dívidas apontou que os débitos ultrapassavam a
importância de R$32.000,00, quitando o contrato por compensação dos créditos; (e)
conforme previsão do art. 476 do CC, nenhum dos contratantes, antes de cumprir sua
obrigação, pode exigir o implemento da do outro; (f) é aplicável o instituto da
compensação, previsto no art.
368 do CC; (g) não há qualquer dano a ser reparado; (h) os autores utilizaram-se de
expressão injuriosa (CPC/73, art. 15); (i) os autores litigam de má-fé.
3. Os réus João Batista de Mendonça e Irenice Viana Lage apresentaram reconvenção
(mov. 1.11 f. 136/150), pleiteando (i) a compensação dos débitos, na forma do
disposto no art. 368 do Código Civil; (ii) a condenação dos autores/reconvindos ao
reembolso dos valores pagos relativamente à obrigações de sua responsabilidade,
alcançando a importância de R$32.000,00, a ser compensada; (iii) a condenação dos
autores/reconvindos ao pagamento de indenização por danos morais.
105
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
A prova pericial apurou que até o dia 01.06.2006 (data do contrato), haviam débitos
da pessoa jurídica vencidos e não pagos, que englobavam tributos, contribuições
previdenciárias e débitos trabalhistas. Em resposta ao quesito nº 2, formulado pelos
autores, ora apelantes, o Sr. Perito calculou as dívidas pendentes (conforme anexos nº
1, nº 2 e nº 3):
Natureza Valor Tributárias e Previdenciárias R$10.429,34 Trabalhistas R$25.283,78
Outros Passivos R$1.318,23 Total: R$35.031,35
Os apelantes discordam dos valores relativos às verbas de natureza trabalhista,
sustentando que a responsabilidade pelo pagamento de tais débitos somente pode
lhes ser imputada até o dia 01.06.2006 (data da assinatura do contrato). Afirmam que
houve continuidade nos contratos de trabalho, e que as verbas trabalhistas posteriores
à 01.06.2006 são de responsabilidade dos réus/reconvintes.
Conforme petição inicial indexada no mov. 1.9 e 1.10, a reclamatória trabalhista
ajuizada por Gislaine Aparecida Francisco abrangia o período de 06.12.2004 (data da
contratação) até 30.09.2006 (data da demissão sem justa causa). Assim, assiste razão
aos apelantes quando afirmam que parte das verbas trabalhistas não era de sua
responsabilidade. Gislaine Aparecida Francisco e a sociedade empresária Centro de
Formação de Condutores de Veículo Kamila Ltda firmaram acordo no montante de
R$10.000,00 (mov. 1.10), o qual foi considerado pelo Sr. Perito como sendo
integralmente devido pelos autores/reconvindos, o que, como visto, mostra-se
inadequado, devendo o cálculo ser realizado proporcionalmente ao período de
responsabilidade de cada uma das partes.
Ainda, com relação à reclamatória trabalhista ajuizada por Sueli Marques, observa-se
que o Sr. Perito lançou como devido o valor de R$4.993,78, observando que o
processo se encontrava em fase recursal. Todavia, conforme se verifica do acórdão de
mov. 1.40, o recurso ordinário interposto pela sociedade empresária Centro de
Formação de Condutores de Veículos Kamilla Ltda ME foi parcialmente provido. O
Sr. Perito, ao manifestar-se acerca do julgamento do recurso (mov. 1.42 f. 385/386),
asseverou que o cálculo do débito deveria ser elaborado por calculista nomeado pelo
Juízo Trabalhista, devendo aguardar sua elaboração. Ora, tratando-se de dívida
ilíquida, nos parece evidente que não poderia ter sido considerada para fins de
compensação imediata.
8.4. Todavia, as discrepâncias apontadas no cálculo realizado pelo Sr. Perito não têm
o condão de modificar o julgamento do pedido dos réus/reconvintes. Isto porque,
considerando a existência de créditos e débitos entre as partes, é plenamente possível
a compensação, na forma disposta no art. 368 do CC.
Frise-se que o dispositivo da sentença julgou procedentes os pedidos dos
réus/reconvintes para “a) declarar a compensação de dívidas, extinguindo-se a
obrigação das partes até onde se compensarem, observado os parâmetros fixados
pelo laudo pericial acostado nos autos; b) condenar os Reconvindos/Autores a
restituírem eventual saldo remanescente a ser apurado em sede de liquidação de
sentença, de todas as dívidas arcadas pelos Reconvintes/Réus, e que foram contraídas
antes da celebração do contrato de compra e venda (01/06/2006), desde a data do
desembolso até a data do efetivo pagamento e com juros de mora a partir do
108
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
não está condicionada à prova efetiva do dano, pois os atos de concorrência desleal e
ambiente não adequado ao padrão de consumo desejado e praticado pelo seu titular,
mais abastadas, enquanto que a ré busca direcionar seus produtos às camadas mais
jovens da sociedade e, por isso, sem alto poder aquisitivo (TJ/SP Relator(a): Carlos
Alberto Garbi; Comarca: São Paulo; Órgão julgador: 2ª Câmara Reservada de Direito
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1632952-9 - Dois Vizinhos - Rel.: Lauri Caetano da Silva -
Unânime - J. 24.05.2017)
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de ação de obrigação de não fazer cumulada com pedido de perdas e
danos (autos nº 0001052-79.2014.8.16.0079) ajuizada por Dudalina S/A em face de
Terezinha Marchi - ME, aduzindo, em síntese, que: (a) é empresa idônea e
conceituada, e tem como função precípua fabricação e comercialização de artigos do
vestuário em geral; (b) ao longo de sua história, investiu fortemente no
desenvolvimento de sua marca, seja através da propaganda ou na elaboração de
produtos de extrema qualidade e refinamento, tornando-se uma peça de status social
e objeto de desejo de um consumidor muito distinto e de alto poder aquisitivo.
A partir do ano de 2010, notadamente, o sucesso alcançado refletiu no mercado
informal, o qual passou a “piratear” seus produtos; (c) aproveitando-se do alto valor
agregado à sua marca, a empresa ré vem comercializando camisas de péssima
qualidade, identificando-as como se originais fossem. Porém, por meio de simples
comparação, logo se vê diferenças na cor e nos detalhes de tecido, forro, acabamento,
110
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
botões, dentre outros; (d) a prova trazida aos autos, consistente em uma camisa
adquirida no estabelecimento comercial da requerida, cupom de compra e laudo
elaborado por responsável técnico, demonstram que a ré utiliza a logomarca, a
etiqueta interna e a etiqueta removível de modo a identificar um produto falsificado
como se fosse um de seus produtos. Todavia, não possui os padrões mínimos de
qualidade, não atendendo nem aos requisitos do INMETRO, causando severos danos
à imagem de sua marca, construída e mantida a elevado custo; (e) deve ser indenizada
pelos danos materiais e morais sofridos em virtude da prática da concorrência desleal.
Assim, requereu a antecipação dos efeitos da tutela, para determinar a busca e
apreensão de todas as mercadorias, produtos, objetos, embalagens, etiquetas da
empresa ré que utilizam a sua LOGOMARCA.
2. A tutela antecipada almejada foi deferida (mov. 15.1 f. 65/66), para determinar à
requerida que se abstenha de comercializar e distribuir peças de vestuário com as
mesmas características dos modelos em litígio, bem como anunciar e expor a venda,
através de qualquer meio, sob pena de multa diária a ser fixada oportunamente.
Também autorizou a apreensão de todos os exemplares com marcas análogas às
expostas na inicial, de titularidade da parte autora, bem como dos contrafeitos nos
estabelecimentos das demandadas situados na Comarca de Dois Vizinhos.
3. A ré Terezinha Marchi - ME apresentou resposta em sede de contestação (mov.
28.1 - f. 100/116), sustentando, preliminarmente, a inépcia da petição inicial. No
mérito, afirma que (a) não é responsável pela fabricação dos produtos, apenas revende
aqueles adquiridos de vendedores; (b) inexistem provas dos apontados danos sofridos;
(c) não estão presentes os pressupostos necessários à responsabilização.
4. O MM. Dr. Juiz a quo proferiu a sentença1 (mov. 71.1 f. 186/192) pela qual julgou
procedentes os pedidos formulados na inicial para condenar a ré Terezinha Marchi
Me a (i) abster-se de fabricar, adquirir ou comercializar produtos ou objetos que
contenham a marca de propriedade da autora, sem sua autorização expressa; (ii) pagar
à autora indenização a título de danos morais fixada em R$ 10.000,00; (iii) pagar à
autora indenização pelos danos materiais, consistente no valor médio de cada uma das
peças apreendidas em poder da ré, que deve ser apurado em fase de liquidação de
sentença. Destacou que sobre o valor da condenação pecuniária incidirá correção
monetária, pela média do INPC/IGP-DI a partir da data do arbitramento (Súmula nº
362 do STJ) e serão acrescidos de juros de mora de um por cento ao mês a contar da
data do evento danoso (Súmula nº 54 do STJ). Ante a sucumbência, condenou a ré ao
pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, fixados em 10%
sobre o valor da condenação.
Contra esta decisão, a autora opôs embargos de declaração (mov. 75.1 f. 197/198),
os quais foram rejeitados (mov.
90.1 f. 221/222).
5. A ré Terezinha Marchi - ME interpôs recurso de apelação (mov. 96.1 f. 229/249),
postulando a reforma da sentença para afastar a sua condenação ao pagamento de
indenização a título de danos materiais e morais, afirmando, em síntese, que a autora
não comprovou a efetiva existência dos danos. Alternativamente, pediu a minoração
111
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
do valor arbitrado a título de danos morais. Por fim, postulou a inversão do ônus da
sucumbência.
Contrarrazões de apelação (mov. 134.1 f. 401/410).
É o relatório.
II- VOTO
Presentes os pressupostos processuais de admissibilidade, intrínsecos e extrínsecos,
conheço do recurso.
6. Em primeiro lugar, cumpre destacar que a Constituição Federal ao dispor sobre a
proteção à criação industrial, estabeleceu em seu artigo 5º, XXIX que: “a lei assegurará
aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como
proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e
a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento
tecnológico e econômico do País”.
Nessa seara a propriedade industrial tem proteção constitucional, visando estimular o
progresso técnico e científico, considerando o interesse social e econômico do país.
Assim, para uma maior proteção ao autor da criação industrial, bem como a
especificação e desenvolvimento da matéria, foi editada a Lei nº9.279/96, conhecida
como Lei de Propriedade Industrial, na qual é
delimitado o âmbito de atuação da proteção aos direitos relativos à propriedade
industrial, nos seus artigos 2º e 3º2.
No que tange ao uso da marca, a Lei de Propriedade Industrial determina que a
propriedade da marca se adquire pelo registro validamente expedido, o qual garante
ao titular o seu uso exclusivo em todo o território nacional. O mesmo diploma legal
estabelece a proteção conferida pelo registro, assegurando ao titular a possibilidade
de zelar pela sua integridade material ou reputação3:
Art. 129. A propriedade da marca adquire-se pelo registro validamente expedido,
conforme as disposições desta Lei, sendo assegurado ao titular seu uso exclusivo em
todo o território nacional, observado quanto às marcas coletivas e de certificação o
disposto nos arts. 147 e 148.
(...)
Art. 130. Ao titular da marca ou ao depositante é ainda assegurado o direito de: I -
ceder seu registro ou pedido de registro; II - licenciar seu uso; III - zelar pela sua
integridade material ou reputação.
Acerca da proteção conferida ao titular da marca, ensina Carla Eugênia Barros4:
“Os atos contrafeitos poderão ser apurados e declarados em ação judicial de natureza
tanto penal como civil. A proteção ao titular, ao cessionário ou ao licenciado exclusivo
da marca é oponível já quando efetuado o depósito do registro, uma vez que é a partir
desse instante que marca se torna sujeita a ataques como reprodução e imitação, além
de outras violações não explicitadas pela lei, mas caracterizáveis como tal de modo
bem específico.
São esses ataques que geram oportunidade para defesa de direitos. Por conseguinte,
é a partir da publicação do pedido do registro que o depositante pode acionar o
contrafator.
Isso pode ser por ação de natureza penal, quanto civil.
112
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Na esfera civil, o fórum competente é o da justiça comum ou, no caso de o INPI ser
parte interessada, o da Justiça Federal. Como a ação de contrafação, no caso, se
circunstancia na reparação de perdas e danos, são aplicáveis as regras do Código Civil,
sendo irrelevantes as questões sobre a ignorância, a boa ou má-fé do contrafator,
diferentemente da penal. As provas da contrafação são por todos os meios admitidos
em direito e um só elemento da marca, desde que distintivo, já pode ser suficiente
para caracterizar a contrafação.
Na ação civil, enfim, o que importa é a apuração dos prejuízos materiais e, inclusive,
imateriais causados aos proprietários da marca e, mesmo, aos consumidores
alcançados pelo ato vicioso.
No caso, conforme auto de busca e apreensão (mov. 27.1 e 27.2 f. 91/98), restou
demonstrado que a requerida colocava à venda em seu estabelecimento comercial,
camisas identificadas com a logomarca da autora, as quais eram provenientes de
falsificação, nos termos atestado pelo laudo técnico anexado aos autos (mov. 1.8
f.42/44).
A requerida em nenhum momento nega que os produtos colocados à venda eram
“falsificados”, limitando-se a argumentar que os adquiria de “vendedores viajantes”.
Entretanto, não trouxe aos autos nenhuma prova da culpa exclusiva de terceiros, apta
a afastar a sua responsabilidade (art. 333, II do CPC/1973). Nos termos destacados
pelo magistrado de 1º grau, “o fato de terceiro depende da produção de prova
idônea, indicando concretamente que o terceiro foi responsável por si mesmo pelo
evento danoso, o que não fez a interessada”. Além do mais, não se mostra plausível o
argumento da requerida de que vendia os produtos recebidos em consignação de
terceiros sem saber a sua procedência.
Não se pode ignorar que a venda de produtos falsificados gera prejuízos ao detentor
da marca, seja por causar confusão no consumidor, seja por desvio de clientela ou,
ainda, por denegri-la. Tal conduta configura claramente a prática de concorrência
desleal, prevista no artigo 195 da Lei nº 9.279/965, decorrendo o dano diretamente da
conduta praticada pela parte de violação de direitos de propriedade industrial da
requerente , razão pela qual o dano é presumível, sendo desnecessária a produção de
outras provas.
Nesse sentido é o entendimento manifestado pelo Superior Tribunal de Justiça:
“Direito comercial e processual civil. Recurso especial. Concorrência desleal e desvio
de clientela. Embargos declaratórios. Omissão. Ausência. Reexame de provas.
Inadmissibilidade.
Inépcia da inicial. Inocorrência. Danos materiais. Comprovação. Presunção - Ausentes
os vícios do art. 535 do CPC, rejeitam-se os embargos de declaração.
- É inadmissível o reexame de fatos e provas em recurso especial.
- Verificada a existência de causa de pedir, não há reconhecer-se a inépcia da inicial
na presente hipótese.
- O art. 209 da Lei 9.279/96 autoriza a reparação por danos materiais advindos de
atos de concorrência desleal que importem desvio de clientela pela confusão causada
aos consumidores.
113
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
“Art. 210. Os lucros cessantes serão determinados pelo critério mais favorável ao
prejudicado, dentre os seguintes: I - os benefícios que o prejudicado teria auferido se
a violação não tivesse ocorrido; ou II - os benefícios que foram auferidos pelo autor da
violação do direito; ou III - a remuneração que o autor da violação teria pago ao titular
do direito violado pela concessão de uma licença que lhe permitisse legalmente
explorar o bem.”
Neste viés, a indenização por danos materiais deverá ser calculada segundo os
critérios previstos nos dispositivos legais acima mencionados, em sede de liquidação
de sentença, conforme entendimento manifestado pelo Julgador Monocrático.
A corroborar:
CONCORRÊNCIA DESLEAL. CONFIGURAÇÃO. DANO MATERIAL PRESUMIDO.
QUANTUM DEBEATUR. CRITÉRIOS DO ART. 210 DA LEI N° 9279/96. ESCOLHA NA
FASE DE LIQUIDAÇÃO. SENTENÇA MANTIDA.
1 - A questão suscitada pela Apelante como preliminar de cerceamento de defesa
confunde-se com o mérito, razão pela qual deverá ser com ele analisado.
2 - É fato incontroverso, nos presentes autos, por ter sido decretado a revelia da Ré,
que esta vendeu e distribuiu produtos falsificados, destacando-se que os originais são
produzidos e comercializadas pela Autora, tendo praticado, portanto concorrência
desleal e atos de violação de direitos de propriedade industrial. Tal conduta é definida
como crime, nos termos da Lei nº 9.279/96, a qual regula direitos e obrigações
relativos à propriedade industrial.
3 - Configurada a violação ao Art. 209, da Lei nº 9.279/96, patente é a obrigação de
indenizar, pois o dano material (lucros cessantes) decorrente de concorrência desleal é
presumido.
4 - O valor a ser reparado a título de lucros cessantes deve ser aferido em
procedimento de liquidação de sentença para que sejam evitados danos fictícios.
5 A Autora, na petição inicial da fase de liquidação de sentença, deve escolher um
dos critérios para aferição dos lucros cessantes previstos no art. 210 da Lei nº
9.279/96, sob pena de indeferimento da mesma.
Preliminar rejeitada.
Apelação Cível provida.
(Acórdão n.980402, 20130910304703APC, Relator: ANGELO PASSARELI 5ª TURMA
CÍVEL, Data de Julgamento: 09/11/2016, Publicado no DJE: 01/12/2016. Pág.:
229/237).
RECURSO DE APELAÇÃO. DIREITO COMERCIAL E PROCESSO CIVIL. AÇÃO
ORDINÁRIA DE ABSTENÇÃO DE ATO CUMULADA COM PEDIDO DE INDENIZAÇÃO
POR DANOS MATERIAIS. APELADA QUE UTILIZOU DE CONJUNTO-IMAGEM DO
PRODUTO “ROLHITAS” MUITO SEMELHANTE AO UTILIZADO PELA APELANTE EM
RELAÇÃO AO PRODUTO “PAÇOQUITAS”. LAUDO PERICIAL.CONCORRÊNCIA
DESLEAL CONFIGURADA. DESVIO DE CLIENTELA PRESUMIDO. INTELIGÊNCIA DA
LEI DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL (ART. 208, 209 E 210 DA LEI 9.279/96). DANOS
MATERIAIS PRESUMIDOS. PERDA DE CLIENTELA. QUANTUM DEBEATUR QUE DEVE
SER APURADO EM LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA POR ARBITRAMENTO. MULTA
DIÁRIA COMINATÓRIA DE R$ 1.500,00. MAJORAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. VALOR
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conhecimento público ou que sejam evidentes para um técnico no assunto, a que teve
acesso mediante relação contratual ou empregatícia, mesmo após o término do
contrato; XII - divulga, explora ou utiliza-se, sem autorização, de conhecimentos ou
informações a que se refere o inciso anterior, obtidos por meios ilícitos ou a que teve
acesso mediante fraude; ou XIII - vende, expõe ou oferece à venda produto,
declarando ser objeto de patente depos itada, ou concedida, ou de desenho industrial
registrado, que não o seja, ou menciona-o, em anúncio ou papel comercial, como
depositado ou patenteado, ou registrado, sem o ser; XIV - divulga, explora ou utiliza-
se, sem autorização, de resultados de testes ou outros dados não divulgados, cuja
elaboração envolva esforço considerável e que tenham sido apresentados a entidades
governamentais como condição para aprovar a comercialização de produtos.
6 Art. 208. A indenização será determinada pelos benefícios que o prejudicado teria
auferido se a violação não tivesse ocorrido.
7 Programa de Responsabilidade Civil, 5ª ed., São Paulo: Malheiros, 2004, item 19.5,
pág.106/110.
comissão de permanência tem como limite a somatória dos juros remuneratórios, dos
pactuado cláusula nesse sentido, a teor do artigo 28, §1º, inciso I da Lei nº
10.931/2004, aplicável para a cédula de crédito bancário. 3. A taxa de juros pode ser
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de recurso de apelação e recurso adesivo interpostos em virtude da
sentença1 proferida pelo MM. Dr. Juiz da 3ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da
Região Metropolitana de Maringá, às f. 299/307 (mov. 57.1) dos autos nº 14913-
27.2014.8.16.0017 de ação com pedido de revisão das cláusulas financeiras de cédula
de crédito bancário com garantia fiduciária (f. 62/65 mov. 1.7), proposta por João
Mayk de Araujo Pereira em face de Omni S/A Crédito, Financiamento e Investimento,
pela qual julgou parcialmente procedentes os pedidos formulados na inicial para
afastar a cobrança da comissão de permanência. Julgou improcedentes os pedidos
referentes à capitalização de juros e à taxa de juros remuneratórios. Julgou extinto,
sem resolução de mérito, os pedidos referentes às tarifas de registro e de outros e aos
juros remuneratórios incidentes sobre o Imposto sobre Operações Financeiras, ante a
existência da coisa julgada. Ainda, condenou o
autor ao pagamento de multa por litigância de má-fé, no valor de R$1.000,00, nos
termos do artigo 81, §1º do Código de Processo Civil/2015, considerando a potencial
intensão do autor em duplicar a possibilidade de um resultado financeiro, por decisões
distintas (fundamentos de f. 300/301 mov. 57.1). Por fim, condenou o autor ao
pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, fixados em
R$2.000,00.
2. A ré interpôs recurso de apelação (f. 313/316 mov.
62.1), pleiteando a reforma da sentença na parte que afastou a comissão de
permanência. Alegou que devem prevalecer os princípios da autonomia da vontade e
da força obrigatória dos contratos.
Contrarrazões às f. 364/370 (mov. 68.1).
121
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
122
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Analisando tal cláusula verificamos que foi prevista para o período da anormalidade
contratual a incidência da comissão de permanência cumulada com juros moratórios e
multa contratual de 2%, ferindo a orientação do Superior Tribunal de Justiça fixada no
REsp 1.058.114-RS, sob o rito do artigo 543-C do Código de Processo Civil, com a
seguinte ementa:
DIREITO COMERCIAL E BANCÁRIO. CONTRATOS BANCÁRIOS SUJEITOS AO
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA.
COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. VALIDADE DA CLÁUSULA. VERBAS INTEGRANTES.
DECOTE DOS EXCESSOS. PRINCÍPIO DA CONSERVAÇÃO DOS NEGÓCIOS
JURÍDICOS. ARTIGOS 139 E 140 DO CÓDIGO CIVIL ALEMÃO. ARTIGO 170 DO
CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO. 1. O princípio da boa-fé objetiva se aplica a todos os
participes da relação obrigacional, inclusive daquela originada de relação de consumo.
No que diz respeito ao devedor, a expectativa é a de que cumpra, no vencimento, a
sua prestação. 2. Nos contratos bancários sujeitos ao Código de Defesa do
Consumidor, é válida a cláusula que institui comissão de permanência para viger após
o vencimento da divida. 3. A importância cobrada a título de comissão de
permanência não poderá ultrapassar a soma dos encargos remuneratórios e
moratórios previstos no contrato, ou seja: a) juros remuneratórios à taxa média de
mercado, não podendo ultrapassar o percentual contratado para o período de
normalidade da operação; b) juros moratórios até o limite de 12% ao ano; e c) multa
contratual limitada a 2% do valor da prestação, nos termos do art. 52, § 1º do CDC. 4.
Constatada abusividade dos encargos pactuados na cláusula de comissão de
permanência, deverá o juiz decotá- los, preservando, tanto quanto possível, a vontade
das partes manifestada na celebração do contrato, em homenagem ao princípio da
conservação dos negócios jurídicos consagrado no arts. 139 e 140 do Código Civil
alemão e reproduzido no art.. 170 do Código Civil brasileiro. 5. A decretação de
nulidade de cláusula contratual é medida excepcional, somente adotada se impossível
o seu aproveitamento. 6. Recurso especial conhecido e parcialmente provido.
Frise-se que tal entendimento foi consolidado com a edição da Súmula 472 do
Superior Tribunal de Justiça: “A cobrança de comissão de permanência - cujo valor
não pode ultrapassar a soma dos encargos remuneratórios e moratórios previstos no
contrato exclui a exigibilidade dos juros remuneratórios, moratórios e da multa
contratual”.
5 Esse posicionamento corrobora o que havia sido assentado no voto da lavra do
eminente Ministro Ari Pargendler, no julgamento do REsp 834968/RS, de 14.03.2007:
a comissão de permanência abarca, ao mesmo tempo, as características de correção
monetária, vez que atualiza monetariamente os valores inadimplidos; juros
remuneratórios, já que configura remuneração pelo capital disponibilizado; juros
moratórios, pois compensa o lapso de tempo de inadimplente; e de multa contratual,
visto que representa também uma sanção pelo inadimplemento.
Portanto, quando analisamos a cláusula contratual que estabelece as penalidades para
a hipótese de inadimplemento da obrigação na data do vencimento, devemos
aproveitar a cláusula estabelecida pelas partes contratantes, mantendo-a quanto à
possibilidade de cobrança da comissão de permanência, declarando-a inválida na
123
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
(AgRg no REsp 844405 / RS, Min. NANCY ANDRIGHI, Terceira Turma, DJe
28/09/2010)
No particular, o extrato de pagamento de f. 182 (mov.
25.6) demonstra que algumas prestações foram pagas em atraso. Assim, caso
comprovada a cobrança da comissão de permanência cumulada com outros encargos
de mora, o excedente deve ser devolvido na forma simples, com o acréscimo de juros
de mora de 1% ao mês desde a citação e correção monetária pela média dos índices
INPC/IGP-DI a partir do desembolso. Fica permitida a compensação com eventual
débito nos termos do artigo 368 do Código Civil. O quantum deve ser apurado em
sede de liquidação de sentença.
No cálculo deve ser expurgado para fins de repetição somente o valor que exceder
ao índice da comissão de permanência cobrado sobre o valor das prestações pagas
após a data do respectivo vencimento. Observo que a comissão de permanência é
encargo moratório e como tal não foi computado no valor prefixado da prestação.
Assim, na hipótese do devedor ter efetuado o pagamento de prestação após a data
do vencimento e ter sido cobrado como
7 acréscimo moratório índice que supere os juros moratórios de 1% + multa de 2% +
juros remuneratórios no limite da taxa contratada, o excedente deve ser repetido. O
acréscimo acima referido deve ser discriminado na fase de liquidação pelo autor.
Do recurso adesivo interposto pelo autor.
Não conheço do recurso na parte que trata da incidência dos juros remuneratórios
sobre o Imposto sobre Operações Financeiras, pois tal questão foi julgada extinta, sem
resolução de mérito, ante a existência da coisa julgada. Portanto, o apelante carece de
interesse recursal.
Com a ressalva supra, presentes os pressupostos processuais de admissibilidade,
intrínsecos e extrínsecos, conheço em parte do recurso.
7. Analisando o contrato que serve de supedâneo à demanda revisional, observa-se
que se trata de cédula de crédito bancário (f. 62/65 mov. 1.7), regulada pela Lei nº
10.931/2004.
Assim, no que tange à modalidade contratual em questão, anoto que o artigo 28, §1º,
inciso I3 prevê a possibilidade de capitalização dos juros, desde que expressamente
pactuada. Nesse sentido, já se manifestou o STJ no REsp 979.224/RS4. A questão foi
regulada por lei específica, não havendo espaço para a aplicação da súmula 121 do
STF. Inclusive, pelo mesmo motivo, não há que se falar em declaração incidental de
institucionalidade da Medida Provisória nº 2170-36/01.
No caso em tela, pela leitura do contrato (f. 63 mov.
1.7), depreende-se que a aludida capitalização de juros foi expressamente pactuada5
na cláusula nº 1, razão pela qual sua cobrança deve ser mantida.
Ainda, ao contrário do que afirma o recorrente, não houve ofensa ao dever de
informação ou ainda a nenhum outro preceito do Código de Defesa do Consumidor.
O contrato foi redigido em termos claros e com caracteres legíveis, consoante
estabelece o artigo 54, parágrafo terceiro do Código de Defesa do Consumidor.
8. Sobre os juros remuneratórios, o Superior Tribunal de Justiça firmou a seguinte
orientação (REsp 1.061.530-RS):
125
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
No caso concreto restou assente a litigância de má-fé praticada pelo autor ao formular
pedido referente às tarifas de registro e de “outros” e aos juros remuneratórios
incidentes sobre o Imposto sobre Operações Financeiras, quando tais pedidos já
foram julgados no âmbito do Juizado Especial Cível (autos nº 9894-
37.2014.8.16.0018). Esclareço que os pedidos foram julgados parcialmente
procedentes para reconhecer a abusividade/ilegalidade das tarifas. O autor não logrou
êxito em relação aos juros remuneratórios incidentes sobre o Imposto sobre
Operações Financeiras, que inclusive foi objeto do presente recurso.
Entende o Superior Tribunal de Justiça que “O art. 17 do Código de Processo Civil
(art. 80, CPC/2015), ao definir os contornos dos atos que justificam a aplicação da
multa por litigância de má-fé, pressupõe o dolo da parte no entravamento do trâmite
processual, manifestado por conduta intencionalmente maliciosa e temerária” (STJ,
1ªT., AgRg no Ag 1021049/SP, Rel. Min. Denise Arruda, DJe 05.11.2008). Quanto a
isso, é de se destacar que nem o dispositivo em comento, e nem os demais que
tratam da matéria, exigem a ocorrência de “dano” à parte adversa para que se possa
aplicar a multa punitiva. Aliás, pela própria redação do artigo 81, caput do Código de
Processo Civil/20159 (art.
18 do CPC/1973), pode-se verificar que a multa não se confunde com eventual
indenização por prejuízos causados ao outro litigante. De mais a mais, é de se
considerar que a litigância de má-fé, muito embora nem sempre ocasione perdas
patrimoniais, representa sempre um
“dano” à atividade jurisdicional, afetando inevitavelmente a lealdade e boa-fé
processual. E foi exatamente este tipo de conduta que o legislador quis coibir.
Acerca do tema, valho-me dos precedentes a seguir:
JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS. RECURSO INOMINADO. PROCESSO CIVIL. NULIDADE
DE TAXAS ILEGAIS. REEMBOLSO DE DESPESAS EFETIVADAS. QUESTÃO DECIDIDA
E JULGADA NA AÇÃO ANTERIORMENTE AJUIZADA. CONTINÊNCIA DE AÇÕES.
LITISPENDÊNCIA. EXTINÇÃO. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. RECURSO CONHECIDO E
IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. 1. Trata-se de ação de nulidade de cobrança de
taxas contratuais com pedido de repetição de indébito, cujos pedidos foram julgados
improcedentes em razão da litispendência, originada pela ação nº 2013.01.1.163851-
2, que tramitou na 4ª Vara Cível de Brasília. A autora recorreu pedindo a reforma da
sentença para afastar a sua condenação por litigância de má-fé e pelas despesas
processuais, ao argumento de que não estaria configurada sua má-fé, haja vista que
não ajuizou ação idêntica à que tramitou na 4ª Vara Cível. Aduziu que aqui a discussão
se referia às tarifas bancárias e não ao contrato como um todo. 2. Cada ação tem uma
individualidade que a identifica, que se infere dos elementos que a compõem. Nos
termos do art. 301, § 3º, do CPC, há litispendência quando se repete ação que está
em curso que, na hipótese, restou configurada. 3. Os pedidos feitos neste processo
estão entre aqueles feitos na ação nº 2013.01.1.163851-2, que tramitou na 4ª Vara
Cível de Brasília, que além do pedido de revisão de outras cláusulas, abarcava a
exclusão das cláusulas que lhe impunham o pagamento de taxa de serviços de
terceiro, tarifa de cadastro e registro do contrato, sendo que na sentença julgou-se
ilegal apenas a tarifa denominada TAC, e, em 2º grau reconheceu-se, também, a
128
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
130
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
solicitarem cópia ou certidão visando instruir a ação desejada. Inteligência do art. 383
do NCPC.
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1668906-0 - Centenário do Sul - Rel.: Lauri Caetano da Silva
- Unânime - J. 24.05.2017)
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Trata-se de recurso de apelação interposto por BV Financeira S/A Crédito,
Financiamento e Investimento contra sentença1 (f.57/63) dos autos da ação de
exibição de documentos nº 1155-33.2011.8.16.0066, pela qual o Juiz a quo julgou
procedente o pedido inicial, extinguindo o processo nos termos do artigo 269, II do
CPC/73. Consignou que o documento pleiteado foi exibido. Por fim, condenou a parte
ré ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios fixados em
R$100,00.
2. O réu interpôs recurso de apelação (f.69/75), pleiteando o afastamento da
condenação ao pagamento de honorários advocatícios.
Contrarrazões não apresentadas.
É o relatório.
II- VOTO
Presentes os pressupostos processuais de admissibilidade, intrínsecos e extrínsecos,
conheço do recurso.
3. A ação cautelar de exibição de documentos é de natureza preparatória e equivale,
no caso concreto, ao pedido de produção antecipada de prova.
A doutrina e a jurisprudência reconhecem que a parte vencida deve arcar com as
despesas e os honorários advocatícios nas ações cautelares de natureza satisfativa e de
natureza preparatória.
Para justificar tal posicionamento realçam a autonomia e a contenciosidade da ação
cautelar de modo a sujeitá-la aos princípios comuns da sucumbência. Assim, temos
como regra geral que a ação
cautelar tem natureza de ação, sujeitando-se o sucumbente aos honorários
advocatícios da parte contrária.
A jurisprudência, contudo, não é pacífica quando a ação cautelar é de natureza
preparatória e dependente da ação principal, posicionando-se alguns julgados que
nestes casos não cabe condenação em honorários advocatícios. Quando a ação
cautelar ou simples medida cautelar não recebe contestação ou a pretensão direta não
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
é resistida, parcela significativa dos operadores do direito reconhece que não cabe a
condenação em honorários advocatícios. A respeito do tema adverte Humberto
Theodoro Junior in Processo Cautelar, p. 132/133, que a ação cautelar pressupõe
litigiosidade enquanto a medida cautelar visa cumprir uma tarefa preventiva sem
contestação ou oposição, como ocorre com a produção antecipada de prova. Se não
existe lide cautelar não podemos falar em ação cautelar, mas simples medida,
projetando pela falta de contestação a impossibilidade de reconhecimento da
sucumbência.
No tocante a medida cautelar de exibição de documento, o Prof. Yussef Said Cahali,
in Honorários Advocatícios, 3ª edição, p. 343/344, assevera que o vencido somente
responde por honorários de advogado na hipótese de existência de litígio, ou seja, a
pretensão for resistida.
Esta questão já foi enfrentada nesta Câmara através do acórdão proferido no agravo
em agravo de instrumento nº 730.278- 1/01, em que foi Relator o Desembargador
Mário Helton Jorge, assinalando que quando a pretensão não é resistida e o
documento é apresentado no prazo da defesa, não devemos imputar ao réu a
obrigação de pagar honorários advocatícios. Para sedimentar esse posicionamento
citou julgado do Superior Tribunal de Justiça que diz:
“RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE
DOCUMENTOS. NÃO CONFIGURAÇÃO DE PRETENSÃO RESISTIDA. INCABÍVEL
FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS. PROVIMENTO
NEGADO. 1. Pela aplicação dos princípios da sucumbência e da causalidade em ações
cautelares administrativas,
para haver condenação a honorários advocatícios pela sucumbência do feito, deve
estar caracterizada nos autos a resistência à exibição dos documentos pleiteados. 2.
Impossível conhecimento do recurso pela alínea “c” tendo em vista a ausência de
similitude fática dos acórdãos paradigmas e o aresto vergastado. 3. Recurso especial
improvido” (REsp 1077000/PR, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,
SEXTA TURMA, julgado em 20.08.2009, DJe 08.09.2009)
Pois bem! No caso em exame, pelos fatos já narrados, o réu exibiu a cópia dos
documentos solicitados (f.49/53). Portanto, podemos afirmar que a cautelar não
ultrapassa os limites de uma medida sem litigiosidade. Se o pedido foi prontamente
atendido pela parte requerida, que sequer ofereceu contestação, o processo deveria
ter sido extinto sem resolução de mérito. Na ausência de lide em razão do
atendimento da pretensão deduzida também não há que se falar em condenação do
réu em honorários advocatícios.
A respeito do tema, o Superior Tribunal de Justiça no AgRg no REsp 934.260-RS, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, 4ª Turma, em julgamento de 10.04.2012, publicado no DJe
13.04.2012 assentou o seguinte:
“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. EXTRATO DE CADERNETA
POUPANÇA.
EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO. AUSÊNCIA PRETENSÃO RESISTIDA. INCABÍVEL
FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS. JUSTIÇA GRATUITA. FALTA DE
ELEMENTOS COMPROVANDO A IMPOSSIBILIDADE DO RECORRENTE ARCAR COM
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Por outro lado, se o réu não oferece resistência e desde logo exibe o documento
comum, fica afastada a litigiosidade, razão pela qual diante da natureza de produção
antecipada de prova fica dispensado o julgamento do mérito e os autos devem ser
disponibilizados para a parte obter cópia ou certidão de inteiro
teor visando atender ao propósito de ajuizar a ação principal.
Nestes casos, o réu não deve ser condenado em custas e honorários advocatícios. As
despesas realizadas pelo autor podem ser recuperadas na ação principal, caso a
pretensão lá deduzida seja julgada procedente.
A orientação foi mantida pelo NCPC, conjugando as regras dos artigos 383 e 396, 397
e 398. O procedimento deve ser encerrado, mediante sentença homologatória, caso o
requerido, sem resistência, apresente o documento ou coisa (Primeiros Comentários
ao Novo Código de Processo Civil, Tereza Arruda Alvim Wambier e outros, Revista dos
Tribunais, p.663).
4. Diante do exposto, voto pelo provimento do recurso, para afastar da r. sentença a
condenação do réu ao pagamento das custas processuais e dos honorários
advocatícios. O autor é beneficiário da assistência judiciária gratuita (f.35).
III- DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal Justiça
do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador RUI BACELLAR FILHO, com voto, e
dele participaram os Desembargadores LAURI CAETANO DA SILVA e TITO CAMPOS
DE PAULA.
Curitiba, 24 de maio de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--
1 Sentença proferida em 12.11.2015 e publicada em 21.07.2016.
134
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
A capitalização dos juros em periodicidade inferior à anual deve vir pactuada de forma
parcelas prefixadas não há juro vencido a ser pago, de modo que a taxa efetiva anual
taxa efetiva de juros do contrato, o banco utilizou-se de método matemático que não
compostos não pode ser confundido com anatocismo. O valor de cada prestação a ser
paga é composto pela fração do capital mais o juro remuneratório. 4. A cobrança das
Nacional.
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de recurso de apelação interposto em virtude da sentença1 proferida pelo
MM. Dr. Juiz de Direito da 1ª Vara Cível do Foro Regional de Cambé da Comarca da
Região Metropolitana de Londrina, às f. 382/405 (mov. 111.1) dos autos nº 4126-
84.2012.8.16.0056 de ação com pedido de revisão de contrato de mútuo com garantia
fiduciária (f. 355/356 mov. 91.1), proposta por Ronaldo Adriano Toneto em face de
Aymoré Crédito, Financiamento e Investimento S/A, que julgou improcedentes os
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
RECURSO DESPROVIDO. "O comparecimento espontâneo do réu aos autos, sem que
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1649091-2 - Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime
- J. 24.05.2017)
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de recurso de apelação interposto por Marcia Regina Pereira, em virtude
da sentença de f. 82, dos autos nº 36919-81.2011.8.16.0001, de ação de reintegração
de posse, pela qual o MM. Juiz a quo julgou extinto o processo, sem resolução de
mérito, com fundamento no art. 485, III do Código de Processo Civil/15,
reconhecendo o abandono da causa. Condenou o autor ao pagamento das custas
processuais.
2. Inconformada, a ré interpôs recurso de apelação (f.85/90), pleiteando a condenação
da autora ao pagamento de honorários sucumbenciais.
Contrarrazões não apresentadas.
É o relatório.
II- VOTO
Presentes os pressupostos recursais, objetivos e subjetivos, merece o recurso ser
conhecido.
139
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
RECURSO DESPROVIDO.
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1629860-1 - Foz do Iguaçu - Rel.: Lauri Caetano da Silva -
Unânime - J. 24.05.2017)
141
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Inteiro Teor
I - RELATÓRIO
1. Lourenço Martinez ajuizou ação reivindicatória (autos nº 2444-36.2016.8.16.0030
PROJUDI) em face de Leila Aparecida Bencke aduzindo, em síntese, que a) é o
legítimo proprietário do imóvel objeto da matrícula nº 32.182, situado no quadrante
10, quadrícula 01, setor 32, quadra 32, lote nº 119, no Loteamento denominado
Jardim Manaus, com a área de 402,00m²; b) adquiriu o imóvel de Sonia Beckmann
Haacke, mediante Escritura Pública de Compra e Venda, lavrada no dia 09 de julho de
2013; c) permitiu que sua tia, Sonia Beckmann Haacke, residisse no imóvel, até a data
de seu
falecimento; d) a ré está indevidamente ocupando o imóvel. Diante de tais fatos,
pleiteou a concessão liminar de ordem de desocupação e, ao final, a procedência do
pedido, com a condenação da ré ao pagamento de indenização pelo uso indevido do
imóvel.
2. Leila Aparecida Bencke apresentou resposta em sede de contestação (mov. 12.1 - f.
83/86) alegando, preliminarmente a litispendência com a Ação de Reintegração de
Posse nº 00017828- 44.2013.8.16.0030, em trâmite perante a 2ª Vara Cível da
Comarca de Foz do Iguaçu, a qual foi julgada improcedente, tendo a sentença sido
confirmada no julgamento da Apelação Cível nº 1.287.978-0. No mérito, pugnou pela
improcedência do pedido e a condenação do autor ao pagamento de multa por
litigância de má-fé.
3. O MM. Juiz a quo saneou o processo, afastando as preliminares suscitadas e
fixando os pontos controvertidos (mov. 17.1 f. 131/133).
4. Na audiência de instrução e julgamento (mov. 45.1 f. 336/343), foi tomado o
depoimento pessoal do autor Lourenço Martinez e ouvidas as testemunhas Sonia
Beckmann Haacke, Daiane Aparecida Maas, Ildo Ivo Sommerfelt, Felipe Guimarães
Peixoto, Luis Pasini e Simone Passini.
5. O MM. Juiz a quo proferiu sentença (mov. 51.1 - f.
385/391), julgando procedentes os pedidos formulados na petição inicial, para imitir o
autor na posse do imóvel, concedendo à ré o prazo de 30 dias para a desocupação
voluntária. Pelo princípio da sucumbência, condenou a ré ao pagamento das custas
processuais e honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o valor atualizado da
causa, nos termos do §2º, do art. 85 do NCPC.
6. Inconformada, a ré Leila Aparecida Bencke interpôs recurso de apelação (mov. 56.1
- f. 397/428) pleiteando a reforma da sentença, alegando que houve ofensa à coisa
julgada, pois foi reconhecido nos autos de Ação de Reintegração de Posse nº
00017828-
44.2013.8.16.0030 que a sua posse era justa. Afirma, ainda, que adquiriu o imóvel por
meio de Contrato Particular de Compra e Venda (mov. 33.16) e a prova oral
comprovou a irregularidade da Escritura Pública de Compra e Venda que lhe transferiu
o domínio, a qual deve ser declarada nula.
Contrarrazões de apelação no mov. 63.1 (f. 437/461).
É o relatório.
142
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II- VOTO
7. Anoto que o benefício da assistência judiciária gratuita já foi deferido pelo
magistrado a quo na sentença. Assim, não há necessidade de nova confirmação no 2º
grau, pois as custas processuais e os honorários advocatícios só se tornam exigíveis se
for comprovada a modificação da condição econômico-financeira do beneficiário.
8. Conforme a regra inserta no artigo 1.228 do Código Civil, o proprietário tem a
faculdade de reaver a coisa do poder de quem quer que injustamente a possua ou
detenha.
A faculdade de reivindicar é, portanto, a prerrogativa do proprietário de excluir a
ingerência alheia injusta sobre coisa sua. A ação reivindicatória, espécie de ação
petitória, com fundamento no jus possidendi, é ajuizada pelo proprietário sem posse,
contra o possuidor sem propriedade. Irrelevante, pois, a prova da posse anterior do
proprietário, pois a ação se funda no ius possidendi e não no ius possessionis.
Esse é o ensinamento de Silvio de Salvo Venosa:
“A ação reivindicatória é a ação petitória por excelência. É direito elementar e
fundamental do proprietário a sequela; ir buscar a coisa onde se encontra e em poder
de quem se encontra. Deflui daí a faculdade de o proprietário recuperar a coisa.
Escuda-se no direito de
propriedade para reivindicar a coisa do possuidor não proprietário, que a detém
indevidamente”. (Direito Civil, v. 5. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 265).
Sobre o mesmo tema J. M. Carvalho Santos assevera que:
“A ação reivindicatória pode ser intentada contra qualquer possuidor, não só o de
má- fé, mas também o de boa-fé, e contra qualquer detentor, qualquer que seja a
causa pela qual possua a coisa, pouco importando que a possua ou detenha por conta
própria ou por conta de outrem. Porque o proprietário é autorizado a reivindicar a
coisa que lhe pertence de qualquer pessoa que a tenha em seu poder, não sendo
justo que se exigisse dele, para exercitar esse seu direito, fosse pesquisar por qual
título o objeto se encontra nas mãos do detentor ou possuidor. Tanto mais quanto o
domínio é um direito real, vale dizer - exequível contra qualquer em poder de quem
esteja a coisa, seja a que título for” (Código Civil interpretado, vol. VII, p. 287).
Também Orlando Gomes explica essa espécie de ação:
“Um dos direitos elementares do domínio é a faculdade do seu titular de reaver a
coisa do poder de quem quer que injustamente a detenha, ou possua. Essa pretensão
se exerce mediante a ação de reinvindicação, que, segundo conhecida fórmula,
compete ao proprietário não-possuidor contra o possuidor não-proprietário. O
fundamento da ação reivindicatória é o direito de sequela, esse poder de seguir a
coisa onde quer que esteja, que é um dos atributos dos direitos reais (Direito reais,
16.ed., Rio de Janeiro: Forense, p.
256/257).
8.1. Nesta toada, como bem apontou o magistrado singular, a improcedência da
Ação de Reintegração de Posse nº 00017828-44.2013.8.16.003, anteriormente
ajuizada por Lourenço Martinez em face de Leila Aparecida Bencke, não influencia no
julgamento da presente ação reivindicatória, fundada no domínio.
143
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Portanto, não se pode falar em ofensa à coisa julgada, eis que a causa de pedir e o
pedido são diversos.
Como leciona Marcus Vinícius Rios Gonçalves1, a garantia da coisa julgada “decorre
da necessidade de que as decisões judiciais não possam mais ser alteradas, a partir de
um determinando ponto. Do contrário, a segurança jurídica sofreria grave ameaça.
É função do Poder Judiciário solucionar conflitos de interesse, buscando a pacificação
social. Ora, se a
solução pudesse ser eternamente questionada e revisada, a paz ficaria definitivamente
prejudicada. A função da coisa julgada é assegurar que os efeitos decorrentes das
sentenças judiciais não possam mais ser modificados, se torne definitivos. É fenômeno
diretamente associado à segurança jurídica, quando o conflito ou a controvérsia é
definitivamente solucionada.”
As ações possessórias estão fundadas exclusivamente no direito de posse, não
importando se a parte autora é ou não proprietário do bem, mas se a sua posse está
sendo violada injustamente, havendo para tanto que demonstrar a presença dos
requisitos elencados no artigo 927 do CPC/ 1973, quais sejam: I sua posse; II a
ocorrência de esbulho; III a data desse esbulho; IV a consequente perda da posse.
Por outro lado, as ações petitórias buscam a defesa da posse, com fundamento no
direito de propriedade.
Na Ação de Reintegração de Posse nº 00017828- 44.2013.8.16.003 a causa de pedir
era diversa e a improcedência do pedido deu-se pelo fato de o autor Lourenço
Martinez não ter comprovado o exercício de posse anterior sobre o imóvel. Tal
requisito é despiciendo tratando-se, agora, de pedido fundado no domínio.
8.2. E o domínio do autor sobre o imóvel está devidamente comprovado pelo registro
na matrícula nº 32.182 da 2ª Circunscrição do Cartório do Registro de Imóveis da
Comarca de Foz do Iguaçu (R-4-32.182 f. 14).
É preciso frisar que, muito embora a apelante alegue na fase recursal que o título de
domínio apresentado pelo autor é nulo, tal questão não foi por ela suscitada seja em
contestação, seja com o oferecimento de reconvenção.
Ora, o artigo 1.245, §2º do Código Civil prevê que, “enquanto não se promover, por
meio de ação própria, a declaração de invalidade do registro, e o respectivo
cancelamento, o adquirente continua a ser havido como dono do imóvel”.
Não é possível, portanto, nessa fase processual, a análise da eventual nulidade do
título dominial, pois se trata de matéria estranha e que não foi objeto de análise pelo
magistrado a quo, tratando-se de verdadeira inovação recursal.
8.3. Frise-se que em se tratando de ação reivindicatório, o conceito de posse injusta,
prescinde dos quesitos de violência, precariedade ou clandestinidade, configurando-
se, tão somente, na demonstração de que a parte ré não possui título de domínio ou
qualquer outro que justifique juridicamente sua ocupação. A detenção injusta se há de
entender, então, como sem título de propriedade, ou sem o caráter de posse direta
através das vias adequadas, o que se verifica nos autos2.
9. Diante do exposto, voto no sentido de negar provimento ao recurso.
III- DECISÃO
144
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
autos não evidencia a existência de vícios ocultos, mas sim defeito natural decorrente
do uso da coisa. Há que se considerar, também, que a questão dos vícios da coisa
usada não se coloca da mesma forma como quando se trata de produto novo (TJ-RS,
Quinta Câmara Cível, Rel. Jorge Luiz Lopes do Canto, j. 28.09.2011). 2. Quem adquire
veículo usado deve ter a cautela de bem examiná-lo, inclusive por mecânico de sua
componentes.
145
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1630843-7 - Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime
- J. 26.04.2017)
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de recursos de apelação e adesivo interpostos em virtude da sentença
proferida pelo MM. Dr. Juiz da 23ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região
Metropolitana de Curitiba, nos autos nº 0022621-16.2013.8.16.0001 de ação de
obrigação de fazer cumulada com pedido de indenização por danos morais, ajuizada
por Adriana Jucelia Gonçalves dos Santos em face de Etoile Distribuidora de Veículos
Limitada Citroen Granville, que julgou parcialmente procedentes os pedidos
formulados na inicial, para condenar a ré a restituir à autora o valor pago pelo produto
(sinal do negócio, mais as parcelas quitadas do financiamento) atualizado pela média
do INPC/IGP-DI a partir do desembolso e acrescidos de juros de mora, a taxa de 1%
ao mês (art. 161 do CTN e 406 do CC), a partir da citação, bem como a promover o
pagamento do saldo remanescente do contrato de financiamento bancário do veículo.
Julgou improcedente o pedido relativo a condenação da ré ao pagamento de
indenização a título de dano moral. Ante a sucumbência recíproca, condenou as
partes, na proporção 30% para a autora e 70% para a ré, ao pagamento das custas
processuais e dos honorários advocatícios, fixados em 15% sobre o valor total e
atualizado da condenação (mov. 239.1 - f.509/516).
2. A autora Adriana Jucelia Gonçalves dos Santos, interpôs recurso de apelação (mov.
244.1 - f.522/528), pleiteando a reforma parcial da sentença, para que a ré seja
condenada ao pagamento de indenização a título de dano moral.
Contrarrazões ao recurso de apelação (mov. 254.1 - f.
557/564).
3. A ré Etoile Distribuidora de Veículos Limitada Citroen Granville interpôs recurso
adesivo (mov. 255.1 - f. 566/573), alegando que (i) a autora tinha plena ciência das
condições do veículo no momento de sua entrega; (ii) embora a perícia realizada tenha
indicado que o veículo havia sido recuperado, é certo que, os defeitos constatados
não justificam a rescisão contratual, pois o mesmo foi adquirido com alguns anos de
uso; (iii) apesar de conter algumas peças recuperadas/repintadas, tais questões não
impedem o seu uso e são absolutamente naturais em se tratando de usado; (iv)
alternativamente, caso a sentença não seja reformada para afastar a ordem de
restituição dos valores pagos, pede que seja descontado do valor a ser restituído,
montante proporcional ao tempo em que a autora usufruiu do veículo.
Contrarrazões ao recurso adesivo (mov. 259.1 - f.
582/588).
É o relatório.
II- VOTO
Presentes os pressupostos recursais de admissibilidade, intrínsecos e extrínsecos,
merecem os recursos serem conhecidos.
146
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Citroën Xsara Picasso 2.0 16V BVA de placa BEL 8687 na negociação de troca do
cliente com a Requerida.
3. Caso o carro tenha sido repintado, pergunta-se ao Sr. perito se isso impede o uso
do automóvel. Do mesmo modo, pergunta-se se é comum que carros vendidos como
usados apresentem um ou outro retoque em sua pintura ou ainda mesmo desgaste na
pintura.
Resposta: a) Não b) Sim.
Como visto, é possível que veículos usados apresentem retoque ou desgaste na
pintura, sendo importante que tais vícios não comprometam o regular uso do bem e
nem coloquem em risco a segurança do consumidor, o que não se verificou no
presente caso.
Além disso, alguns dos “defeitos” apontados poderiam ter sido constados pela autora
no momento da aquisição do veículo, conforme destacado pelo perito judicial:
1. A repintura do veículo e as avarias no carro verificadas poderiam ser constatas no
momento da compra do veículo pela Sra. Adriana, ou seja, a olho nu? Resposta: As
evidencias indicam que, mesmo a Autora tivesse realizando uma vistoria no veículo
Citroën Xsara Picasso 2.0 16V BVA de placa BEL 8687 antes da compra, para uma
pessoa leiga ao observar a olho nu poderia perceber que: Pintura somente
sobreposição de tinta entre a aplicação plástica e lataria da porta traseira do veículo
Citroën Xsara Picasso 2.0 16V BVA de placa BEL 8687 poderia ser observado; - no
restante da pintura do veículo Citroën Xsara Picasso 2.0 16V BVA de placa BEL 8687, a
Autora não poderia perceber a repintura e a falta de verniz, porque na perícia foi
constatado que a Autora não tem conhecimentos sobre pintura automotiva; Avarias
as avarias na parte frontal e traseira do veículo Citroën Xsara Picasso 2.0 16V BVA de
placa BEL 8687, a Autora não teria condições de percebes as avarias; - o
desalinhamento do capo em relação aos pára-lamas/faróis dianteiro esquerdo e direito
do veículo Citroën Xsara Picasso 2.0 16V BVA de placa BEL 8687, é perceptível para
qualquer pessoa.
Dessa forma, não há que se falar em vício de qualidade ou vício oculto. A percepção
do defeito aparente, por si só, conduz o “homem médio” a procurar pessoa
especializada na área para avaliar o defeito. O vício oculto (qualidade) não requer que
o contratante tenha conhecimento exato do defeito, mas sim que ele seja perceptível
a ponto de gerar dúvida. No dizer de Nelson Nery Junior,
“consideram-se aqueles que não impressionam diretamente os sentidos”2. Não é o
que ocorre nos autos.
Vale lembrar que, quem adquire veículo usado (Xsara Picasso/2.0 ano 09/10), em face
do natural desgaste das peças, deve ter a cautela de, no momento da compra, realizar
prévia avaliação com mecânico/perito de sua confiança, para ter ciência das reais
condições e dos riscos e prejuízos que a aquisição pode oferecer.
No caso em tela, conforme se depreende do “termo de Garantia de Veículo Usado
(mov. 28.3 f. 117), a autora atestou que estava satisfeita com o estado de
conservação e desempenho do veículo”. Embora alegue na petição inicial que não
detinha o conhecimento técnico necessário para a avaliação do real estado de
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
b) dar provimento ao recurso adesivo interposto pela ré, para julgar improcedentes os
pedidos formulados na inicial.
Redistribuição do ônus da sucumbência, nos termos do item 7.
III- DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em declarar prejudicada a
análise do recurso de apelação; e, dar provimento ao recurso adesivo.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador LAURI CAETANO DA SILVA, relator,
e dele participaram os Desembargadores TITO CAMPOS DE PAULA e RUI BACELLAR
FILHO.
Curitiba, 26 de abril de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--
1 Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis
respondem
solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou
inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como
por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente,
da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações
decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes
viciadas.
§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor
exigir, alternativamente e à sua escolha: I - a substituição do produto por outro da
mesma espécie, em perfeitas condições de uso; II - a restituição imediata da quantia
paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III - o
abatimento proporcional do preço.
§ 2° Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo previsto no
parágrafo anterior, não podendo ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta
dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em
separado, por meio de manifestação expressa do consumidor.
§ 3º O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1º deste artigo
sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder
comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se
tratar de produto essencial.
§ 4° Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do § 1° deste artigo, e
não sendo possível a substituição do bem, poderá haver substituição por outro de
espécie, marca ou modelo diversos, mediante complementação ou restituição de
eventual diferença de preço, sem prejuízo do disposto nos incisos II e III do § 1° deste
artigo.
§ 5° No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o
consumidor o fornecedor imediato, exceto quando identificado claramente seu
produtor.
§ 6° São impróprios ao uso e consumo: I - os produtos cujos prazos de validade
estejam vencidos; II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados,
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1623137-3 - Nova Londrina - Rel.: Lauri Caetano da Silva -
Unânime - J. 26.04.2017)
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de recurso de apelação interposto em virtude da sentença1 proferida pelo
MM. Dr. Juiz da Vara Cível da Comarca de Nova Londrina, às f. 259/268 (mov. 58.1)
dos autos nº 625- 24.2012.8.16.0121 de ação com pedido de revisão das cláusulas
financeiras de contrato de financiamento com garantia fiduciária (f.
153
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
22/53 mov. 1.3), proposta por Adilson Faganello em face de Banco Bradesco S/A,
pela qual julgou parcialmente procedentes os pedidos formulados na inicial para
afastar a capitalização de juros do cálculo das prestações, determinar a repetição em
dobro dos valores cobrados a maior e descaracterizar a mora. Julgou improcedente o
pedido referente à venda casada do seguro. Por fim, condenou o réu ao pagamento
de custas processuais e dos honorários advocatícios, fixados em R$1.000,00.
Contra essa decisão o autor opôs embargos de declaração (f. 274/276 mov. 63.1), os
quais foram rejeitados (decisão de f. 300 mov. 70.1).
2. O réu interpôs recurso de apelação (f. 279/288 mov.
65.1), pleiteando a reforma da sentença na parte que afastou a capitalização de juros
do cálculo das prestações, determinou a repetição do indébito em dobro e
descaracterizou a mora. Por fim, pediu a redistribuição do ônus da sucumbência.
O autor não apresentou contrarrazões.
É o relatório.
II- VOTO
Presentes os pressupostos processuais de admissibilidade, intrínsecos e extrínsecos,
conheço do recurso.
3. Analisando o contrato que serve de supedâneo à demanda revisional, observa-se
que se trata de “instrumento particular de financiamento para aquisição de imóvel” (f.
22/53 mov.
1.3), regulado pela Lei nº 4.380/1964 do Sistema Financeiro da Habitação.
Assim, no que tange à modalidade contratual em questão, anoto que o artigo 15-A,
com redação dada pela lei nº 11.977/20092 prevê a possibilidade de capitalização dos
juros nas operações realizadas pelas entidades integrantes do Sistema Financeiro da
Habitação - SFH. Nesse sentido, já se manifestou o STJ no REsp nº 1.070.297/PR3, sob
o rito do artigo 543-C. Frise-se que o contrato em questão foi firmado no dia 15 de
julho de 2011. A questão foi regulada por lei específica, não havendo espaço para a
aplicação da súmula 121 do STF. Inclusive, pelo mesmo motivo, não há que se falar
em declaração incidental de institucionalidade da Medida Provisória nº 2170-36/01.
No caso em tela, pela leitura do contrato (f. 47 mov.
1.3), depreende-se que a aludida capitalização de juros foi expressamente pactuada4
no item nº 23 do “quadro resumo”, razão pela qual sua cobrança deve ser mantida e,
consequentemente reformada a sentença.
Nesse sentido é o entendimento jurisprudencial:
APELAÇÃO CÍVEL. PROMESSA DE COMPRA E VENDA. SISTEMA FINANCEIRO DE
HABITAÇÃO. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. É permitida a pactuação de capitalização
de juros com periodicidade mensal nas operações realizadas pelas entidades
integrantes do Sistema Financeiro da Habitação - SFH somente após a publicação da
Lei n. 11.977, de 7 de julho de 2009, a qual acrescentou o art. 15-A à Lei n. 4.380/64.
No caso concreto, vedada a capitalização de juros em qualquer periodicidade, pois o
contrato foi firmado antes da vigência da referida lei, incidindo os exatos termos do
recurso repetitivo REsp 1070297/PR. TABELA PRICE.
Inexistindo prova da capitalização de juros, a amortização do débito pela Tabela Price
não implica abusividade. DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA. O reconhecimento da
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
POSSE DO BEM CONSOLIDADA NAS MÃOS DO CREDOR. ART. 3º, §1º DO DEC. LEI
hasta pública, avaliação prévia ou qualquer outra medida judicial ou extrajudicial, salvo
devedor o saldo apurado, se houver" (Decreto-Lei 911/69). 2. "Para fins do art. 543-C
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de ação de busca e apreensão ajuizada por Aymoré C.F.I. S/A em face de
Ideuza Aparecida Frameschi Honório, denunciando o inadimplemento de contrato de
mútuo com garantia fiduciária. Afirma que o inadimplemento se deu a partir da
contraprestação nº 31 das 36 contratadas, vencida no dia 30.05.2015.
A liminar de busca e apreensão foi deferida (f.41/42) e o bem foi apreendido no dia
22.10.2015 (f.69).
2. A ré compareceu ao processo (f.63) requerendo a remessa dos autos à contadoria
judicial para apuração dos valores devidos. O magistrado deferiu tal pedido (f.66).
O réu comunicou o depósito da importância de R$8.277,62, realizado em 03.11.2015
(f.92/95), tomando como referência os valores apresentados pelo Contador do juízo
em 27.10.2015 (f.84/85).
3. O MM. Dr. Juiz a quo proferiu a r. sentença de f.
133/137, julgando extinto o processo, sem resolução de mérito, nos termos do artigo
267, VI do Código De Processo Civil, diante do pagamento integral do contrato.
Revogou a liminar anteriormente concedida e determinou a restituição do bem, no
prazo de 5 dias,
fixando multa no valor de R$500,00 por dia de atraso, limitada ao valor de 45 dias
multa.
4. O autor interpôs recurso de apelação (f.143/152) pleiteando a reforma da sentença.
Contrarrazões às f. 167/179.
É o relatório.
II- VOTO
Presentes os pressupostos recursais de admissibilidade, extrínsecos e intrínsecos,
conheço do recurso.
5. Cinge-se a controvérsia recursal em definir se deve o autor restituir o automóvel ao
devedor em virtude do depósito de f. 95.
5.1. O Decreto Lei nº 911/69, no seu artigo 3º, § 1º, prevê expressamente que cinco
dias após a execução da liminar, a propriedade do bem fica consolidada com o credor
fiduciário, obrigando o devedor, neste ínterim, a pagar a integralidade do débito
remanescente para que o bem lhe seja restituído livre do ônus. Consta ainda que “No
caso de inadimplemento ou mora nas obrigações contratuais garantidas mediante
alienação fiduciária, o proprietário fiduciário ou credor poderá vender a coisa a
terceiros, independentemente de leilão, hasta pública, avaliação prévia ou qualquer
outra medida judicial ou extrajudicial, salvo disposição expressa em contrário prevista
no contrato, devendo aplicar o preço da venda no pagamento de seu crédito e das
despesas decorrentes e entregar ao devedor o saldo apurado, se houver”.
Nesse mesmo sentido apontou o Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp
nº 1.418.593/MS, sob o rito do artigo 543-C do Código de Processo Civil/73 (1.036
CPC/15) e, portanto, com efeito vinculante:
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Fica o réu responsável pelo pagamento das custas processuais e dos honorários
advocatícios, conforme fixado na sentença, e já pagos conforme depósito de f. 95.
Para eventual devolução de valores à ré, deverá ser realizada a equação financeira do
contrato, apurando-se o montante devido, o depósito realizado e o valor de venda do
bem em leilão.
7. Diante do exposto, voto no sentido de dar provimento ao recurso, para revogar a
sentença de f. 133/137 e, com fundamento no art. 515, § 3º do CPC (art. 1.013, § 3º
do CPC/15), julgar procedente o pedido formulado na inicial, para confirmar a liminar
de f. 41/42 e consolidar o credor na posse e propriedade definitiva do bem
apreendido.
III- DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento ao
recurso e, com fundamento no artigo 515, §3º do Código de Processo Civil (art. 1.013,
§3º do CPC/15), julgar procedente o pedido formulado na inicial.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador LAURI CAETANO DA SILVA, relator,
e dele participaram os Desembargadores TITO CAMPOS DE PAULA e RUI BACELLAR
FILHO.
Curitiba, 19 de abril de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
do art. 543-C do CPC. A apuração do saldo devedor ou credor do contrato pode ser
160
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1630926-1 - Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime
- J. 19.04.2017)
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de ação com pedido de devolução dos valores pagos a título de VRG
(autuada sob nº 21609-35.2011.8.16.0001) ajuizada por Passoni e Passoni Limitada em
face de HSBC Bank Brasil S/A Banco Múltiplo (f. 03/11 mov. 1.1).
2. O réu apresentou resposta em sede de contestação (f. 131/141 mov. 36.1),
refutando integralmente o pedido do autor.
3. Foi proferida sentença de extinção do processo, sem resolução do mérito (f.
264/268 mov. 104.1), a qual foi anulada no julgamento da apelação cível nº
1.062.687-4 (f. 587/591 mov. 120.9).
Nova sentença foi proferida e declarou a ocorrência da prescrição (f. 606/608 mov.
129-1). No entanto, no julgamento da apelação cível nº 1.363.514-6 a prescrição foi
afastada (f. 661/664 mov. 149.2).
4. O MM. Dr. Juiz a quo proferiu sentença1 (f. 727/730 mov. 178.1), pela qual julgou
procedente o pedido formulado na inicial para condenar o réu à devolução dos valores
pagos a título de VRG, no importe de R$10.262,00, acrescidos de juros de mora de 1%
ao mês desde a citação e correção monetária pelo índice INPC/IGP a partir do
desembolso. Ante a sucumbência, condenou o réu ao pagamento das custas
processuais e dos honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o valor atualizado da
causa.
5. O réu interpôs recurso de apelação (f. 737/750 mov.
184.1), pleiteando a reforma da sentença, alegando (i) a inexistência de valores a
serem restituídos a título de VRG; (ii) a possibilidade de compensação dos valores
pagos a título de VRG com o saldo devedor do contrato inadimplido; (iii) deve ser
apurado o saldo devedor ou credor do contrato nos termos do REsp nº 1.099.212-RJ.
Alega ainda que o termo inicial para incidência da correção monetária deve ser a
data do ajuizamento da ação, conforme disposto no artigo 1º da Lei 6.899/81. Por fim,
pediu a redistribuição do ônus da sucumbência.
Nas contrarrazões de f. 755/766 (mov. 186.1), a autora apenas refuta os argumentos
do recurso.
É o relatório.
II- VOTO
Presentes os pressupostos processuais de admissibilidade, intrínsecos e extrínsecos,
conheço do recurso.
161
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Portanto, a simples devolução dos valores pagos a título de VRG, sem equacionar o
saldo devedor ou credor do contrato, pode proporcionar enriquecimento sem causa
para qualquer das partes.
No presente caso concreto, segundo o contrato de f.
22/35 (mov. 1.2), a instituição financeira disponibilizou a importância de R$45.000,00.
O arrendatário assumiu a obrigação de pagar 36 contraprestações de R$450,00 a título
de valor residual garantido (fundamento de f. 5), com vencimento da 1ª parcela em
05.10.1994. O autor pagou somente 12 contraprestações e renegociou a dívida,
conforme aditivo de renegociação de operação de f. 36/37 (mov. 1.3), assumindo a
obrigação de pagar 48 contraprestações de R$243,10 a título de valor residual
garantido e de R$1.820,03 de encargos financeiros incidentes sobre o valor
disponibilizado. O autor pagou 20 contraprestações (até a vencida em 05.01.1998
fundamentos de f. 5). O bem foi apreendido no dia 07.10.1998 (f. 44 mov. 1.3). A
diferença entre o valor inicial contratado e os valores efetivamente pagos a título de
VRG somado ao valor de venda do bem, indica a existência de saldo credor ou
devedor. Nessa operação devem ser computados os encargos moratórios de
prestações inadimplidas até a data da retomada da posse do bem.
Assim, o caso exige a prova do preço de venda do veículo e se o produto da venda
foi suficiente para a recuperação do capital inicial mais os encargos financeiros devidos
até a data da entrega do bem. Não é razoável apresentar soluções jurídicas aos
conflitos sem questionar os efeitos econômicos que vai proporcionar para qualquer
das partes envolvidas na relação jurídica negocial. O saldo credor ou devedor do
contrato deve ser apurado na fase de
liquidação, oportunidade em que se fará a prova do preço de venda do veículo ou de
negócio no mês da apreensão do bem pelo credor arrendante, segundo o valor da
Tabela Fipe.
O valor da condenação prefixado na sentença em R$10.262,00 não tem respaldo na
equação financeira do contrato, razão pela qual fica revogada. O magistrado não pode
pré-fixar o valor da condenação quando o cálculo depende de variáveis a serem
identificadas na fase de liquidação.
8. Uma vez apurado em sede de liquidação de sentença o saldo positivo ou negativo
da equação financeira do contrato é perfeitamente possível constituir título executivo
para pagar quantia certa remanescente em favor do autor ou do réu. Tal entendimento
tem como precedente o voto condutor do julgamento do REsp 1.300.213-RS, de 12
de abril de 2012, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, com a seguinte ementa:
“PROCESSUAL CIVIL. EXECUTIVIDADE DE SENTENÇA. IMPROCEDÊNCIA DE AÇÃO
DECLARATÓRIA NEGATIVA. RECONHECIMENTO, EM FAVOR DO DEMANDADO,
DA EXISTÊNCIA DE OBRIGAÇÃO DE PAGAR. INCIDÊNCIA DO ART. 475-N, I, DO
CPC.
MATÉRIA DECIDIDA PELA 1ª SEÇÃO, SOB O REGIME DO ART. 543-C DO CPC.
ESPECIAL EFICÁCIA VINCULATIVA. (CPC, ART. 543-C, § 7º). 1. Nos termos do art.
475- N, I do CPC, é título executivo judicial “a sentença proferida no processo civil que
reconheça a existência da obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar
quantia”.
164
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
165
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
"Novação significa modificação ou substituição de uma obrigação por outra. Como tal
a transformação de uma obrigação por outra [...] Novação é o negócio jurídico por
meio do qual se cria uma nova obrigação, com o objetivo precípuo de extinguir-se
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1539639-7 - Cornélio Procópio - Rel.: Lauri Caetano da Silva
- Unânime - J. 19.04.2017)
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Arthur Martins ajuizou, perante a Justiça Federal, “ação para quitação total de
contrato de financiamento habitacional c/c revisão contratual e repetição de indébito
com pedido liminar” em face de Cohapar Companhia de Habitação do Paraná e da
Caixa Econômica Federal, alegando, em síntese, que: a) é mutuário de um imóvel
adquirido junto à Cohapar, com recursos financiados pela Caixa Econômica Federal; b)
o contrato de compromisso de compra e venda teve como plano de financiamento o
de equivalência salarial (PES), que obedece ao limite de 30% da renda familiar do
mutuário, com quitação, ao final do contrato, do saldo devedor residual coberto pelo
FCVS (Fundo Compensado de Variações Salariais); c) os agentes do sistema financeirO
de habitação se encontravam em débito com diversos fundos, entre eles o FCVS; d)
com a edição da Lei nº 10.150/00, os agentes financeiros e companhias de habitação
obtiveram uma novação da dívida; e) a COHAPAR aderiu ao plano e anunciou que
perdoaria a dívida de cerca de 35.000 mutuários, bastando que este estivesse em dia
166
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
167
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
8. Foi proferida sentença (f. 706/715), pela qual o magistrado de primeiro grau julgou
parcialmente procedentes os pedidos contidos na inicial para declarar quitado o
contrato na data de 05.01.2001 e condenar a ré a restituir ao autor o saldo de
R$2.801,32, apurado na perícia. Por fim, condenou a ré ao pagamento das custas
processuais e honorários advocatícios fixados em 20% sobre o valor da condenação.
9. A ré interpôs recurso de apelação às f. 746/750, postulando preliminarmente o
conhecimento do agravo retido interposto contra a decisão saneadora. No mérito,
alegou a impossibilidade da utilização da perícia realizada na Justiça Federal, pois o
perito não possuía conhecimentos técnicos na área do sistema financeiro habitacional.
Contrarrazões às f. 763/774.
É o relatório.
II VOTO
Presentes os pressupostos processuais de admissibilidade, merece o recurso de
apelação ser conhecido. Da mesma forma, conheço do agravo retido de f. 677/678.
10. Da leitura dos termos do processo, podem ser extraídas as seguintes informações:
(i) Arthur Martins e seu filho Lucas Martins firmaram, em 1º de janeiro de 1984,
compromisso de compra e venda com a Companhia de Habitação do Paraná
(f.286/287), para a aquisição de um imóvel situado na cidade de Cornélio Procópio,
transcrição nº 3.086/87. O ajuste previa que o preço do imóvel seria pago em 300
prestações, no valor de Cr$63.305,72, com reajuste nos meses de julho e o primeiro
vencimento agendado para 28.01.84.
O rejustamento seria feito conforme o Plano de Equivalência Salarial.
(ii) no dia 20.11.2000 foi firmada a “transferência de promessa de compra e venda” de
f. 291/293, na qual não houve alteração das partes do contrato, mas somente a
modificação de algumas cláusulas e o reconhecimento da dívida de R$32.405,87. O
contrato seria quitado pelo pagamento de 97 prestações de R$50,15, com reajuste da
prestação previsto para os meses de maio.
(iii) posteriormente, no dia 05.01.2001, foi firmado o “Termo de Renegociação com
Aditamento e Rerratificação de Dívida Originária de Contrato de Financiamento
Habitacional” de f. 183/186, pelo qual houve a redução da dívida para R$2.009,12 e
da taxa de juros efetiva para 1,0046. A dívida seria quitada em 35 prestações de
R$63,75.
11. Pois bem. O pedido autoral foi julgado parcialmente procedente vez que a perícia
considerou que o saldo devedor teria sido quitado em 05.01.2001 em virtude do
desconto concedido às f. 226, sendo indevidas, portanto, as cobranças a partir dessa
data.
No entanto, de uma leitura mais atenta do documento de f. 226, é facilmente
verificável o equívoco do perito. No referido documento, com mesma data do
contrato de f. 297/300, foi informado um saldo devedor de R$30.761,99, além de
Juros Contratuais, no valor de R$48,29, Seguro, no montante de R$9,25 e “Diferenças
de Prestações”, no valor de R$2.089,82. Ainda foi previsto um desconto de 100% com
relação ao campo “Saldo devedor” (R$30.761,99). Restou expressamente consignado
que a obrigação seria quitada em virtude da novação, substituindo-se antigo contrato
substituído pelo instrumento de f. 297/300.
168
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Assim sendo, é evidente que o contrato anterior foi quitado, não configurando os
valores pagos após 05.01.2001 pagamentos a maior, pois se referem ao novo contrato
(f.297/300), que surgiu com a novação.
A respeito da novação, o Código Civil dispõe em seu artigo 360:
Art. 360. Dá-se novação: I quando o devedor contrai com o credor nova dívida para
extinguir e substituir a anterior.
Sobre o tema, ensina Carlos Roberto Gonçalves1:
Novação é a criação de obrigação nova, para extinguir uma anterior. É a substituição
de uma dívida por outra, extinguindo-se a primeira. [...] a novação não extingue uma
obrigação preexistente para criar outra nova, mas cria apenas uma nova relação
obrigacional, para extinguir a anterior (Direito Civil Brasileiro. 6. ed. São Paulo: Saraiva,
2009. p. 315).
No mesmo sentido, Nelson Nery Junior2 conceitua:
Novação significa modificação ou substituição de uma obrigação por outra. Como tal
não se entende a tolerância ou prorrogação de prazo para o recebimento de dívida. É
a transformação de uma obrigação por outra [...] Novação é o negócio jurídico por
meio do qual se cria uma nova obrigação, com o objetivo precípuo de extinguir-se
obrigação anterior.
Neste viés, depreende-se que para a concretização de tal instituto é essencial a
presença de alguns requisitos: existência de uma obrigação anterior (obrigação
antiga), existência de uma nova obrigação e intenção de novar (animus novandi)3.
Assim, presentes os requisitos, restou inequívoca a novação perpetrada entre as
partes, extinguindo-se o contrato antigo, que foi substituído pelo instrumento de f.
297/300.
É oportuno salientar que, com a novação, afasta-se a discussão de qualquer
ilegalidade com relação ao contrato anterior, vez que a Súmula 297 do STJ é aplicável
somente aos contratos bancários. Ainda assim, a perícia não detectou nenhuma
ilegalidade ou prejuízo ao autor no contrato original.
Se o contrato anterior não continha qualquer ilegalidade e foi extinto em virtude da
novação, sendo substituído pelo instrumento de f. 297/300, se referindo os valores
pagos após 05.01.2001 a este último contrato, é evidente a inexistência de valores
pagos a maior, pelo que deve ser reformada a sentença, julgando-se improcedentes
os pedidos formulados na inicial.
12. Diante da reforma da sentença, resultando na improcedência dos pedidos, deve
também ser reformada a sentença no que diz respeito à distribuição do ônus
sucumbencial. Assim, fica o autor responsável pelo pagamento das custas processuais
e honorários advocatícios. Como a sentença fixou o valor dos honorários com base na
condenação, promovo sua condenação, e fixo o montante a ser pago a esse título em
R$2.500,00, com base no art. 85, §1º e §8º do NCPC, considerando que o advogado
do réu exerceu seu trabalho dentro do que se exigia para a espécie, com interposição
de diversos recursos, em processo que tramita há mais de dez anos. O autor é
beneficiário da gratuidade judiciária.
169
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
13. Ante o exposto, voto no sentido de dar provimento ao recurso, para reformar a
sentença, julgando improcedentes os pedidos contidos na inicial e redistribuindo o
ônus da sucumbência.
III DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento ao
recurso.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador LAURI CAETANO DA SILVA, com
voto, e dele participaram os Desembargadores TITO CAMPOS DE PAULA e RUI
BACELLAR FILHO.
Curitiba, 19 de abril de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--
1 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 6ª Ed. São Paulo: Saraiva,
2009. p. 315.
2 NERY JUNIOR, Nelson. Código Civil Comentado. 10ª. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2013. p. 575.
3 TARTUCE, Flavio. Manual de direito civil, volume único. 4ª Ed. rev., atual. e ampl. Rio
de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2014. p. 396/397.
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1620978-2 - Campina Grande do Sul - Rel.: Lauri Caetano da
170
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de ação de busca e apreensão ajuizada por BV Financeira S/A Crédito,
Financiamento e Investimento em face de Osvaldo Generoso da Silva (autos nº 2703-
49.2012.8.16.0037), denunciando o inadimplemento da cédula de crédito bancário
com garantia fiduciária a partir da prestação de número 15, vencida no dia 19.02.2012,
totalizando um saldo devedor de R$17.617,54, conforme se infere às f. 32 (mov. 1.8).
2. Comprovada a constituição em mora do devedor fiduciante (f. 25/27 mov. 1.5), o
juiz singular deferiu a liminar de busca e apreensão e determinou a citação do réu para
apresentar defesa ou adimplir a dívida pendente no prazo de 5 dias (f. 46 mov.
6.1).
A autora pediu a suspensão do processo pelo prazo de 60 dias em razão de estar em
tratativa de acordo com o réu (f. 59 mov. 11.1). O pedido foi deferido (f. 63 mov.
14.1). Transcorrido o prazo a autora requereu a suspensão por mais 60 dias (f. 68
mov.
18.1) e o processo foi suspenso (f. 70 mov. 19.1).
Transcorrido o prazo de suspensão a autora deu prosseguimento ao feito, recolhendo
as despesas processuais do Oficial de Justiça (f. 84/85 mov. 30.1/30.2). O bem não
foi apreendido ante a resistência do réu, conforme informou o Oficial de Justiça
através da certidão de f. 89 (mov. 32.1).
3. A autora informou que durante o tramite do processo transacionou com o réu e
restaram quitadas as prestações de nº 15 a nº 25, nº 29 a nº 43. No entanto, o réu
permanece em mora, pois as parcelas números 26, 27 e 28 estão em atraso há
aproximadamente 537 dias. Pediu a readequação do saldo devedor para R$11.329,00
e a expedição de novo mandado de busca e apreensão (f. 97 mov. 38.1).
Juntou nova notificação extrajudicial (98/101 mov. 38.2/38.3).
O juiz singular acolheu a emenda da inicial e determinou a expedição de novo
mandado de busca e apreensão. O bem foi apreendido no dia 07.08.2014.
4. O réu apresentou resposta em sede contestação (f.
116/131 47.1), refutando integralmente a pretensão inicial, informando que a
prestação nº 15 fora paga antes do ajuizamento da ação1 e as prestações de números
26, 27 e 28 foram pagas antes do vencimento, conforme os comprovantes juntados
(135/181 mov. 47.7).
Na impugnação à contestação (f. 245/261 mov. 78.1), a autora sustentou que não
houve a efetiva comprovação de pagamento de todas as prestações, pois o réu juntou
apenas as folhas do carnê das prestações números 4, 5, 6, 7, 8, 12, 13, 16 e 17 sem os
comprovantes de pagamento. Afirma que conforme foram sendo pagas as prestações
com data adiantada, deu quitação nas prestações mais atrasadas, no intuito de evitar
que a dívida ficasse ainda maior em virtude da incidência dos encargos moratórios.
5. O MM. Dr. Juiz a quo proferiu a sentença2 de f.
284/290 (mov. 83.1), pela qual julgou improcedente o pedido inicial, reconhecendo a
inexistência de mora, ante os comprovantes de pagamentos apresentados. Condenou
171
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
174
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
na multa por litigância de má-fé. Por conseguinte, condeno o réu ao pagamento das
custas processuais e dos honorários advocatícios pelo valor fixado na sentença.
III- DECISÃO
ACORDAM os Desembargadores integrantes da 17ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento ao
recurso de apelação para julgar procedente o pedido de busca e apreensão.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador LAURI CAETANO DA SILVA, relator,
e dele participaram os Desembargadores TITO CAMPOS DE PAULA e RUI BACELLAR
FILHO.
Curitiba, 05 de abril de 2017.
DES. LAURI CAETANO DA SILVA Relator
--
05.04.2012;
3 Neste sentido: STJ, AgRg no REsp 1183477/DF, Rel. Ministro VASCO DELLA
4 Art. 3º, §1º, Decreto Lei nº 911/69. Cinco dias após executada a liminar mencionada
175
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
anos, cuja contagem somente se inicia depois da perda da força executiva do cheque,
nos exatos termos do art. 61 da Lei nº 7.357/85: "A ação de enriquecimento contra o
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1617217-9 - Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime
- J. 05.04.2017)
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Cuida-se de recurso de apelação interposto em virtude da sentença proferida pelo
MM. Dr. Juiz da 20ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana
de Curitiba, nos autos nº 0007976-83.2013.8.16.0001 de ação de locupletamento
ilícito, ajuizada por Mauro Cesar Rodrigues da Silva em face de Vagner Rojo da Rosa
ME, que julgou procedente o pedido inicial, para condenar o requerido ao pagamento
dos títulos apresentados com a exordial, acrescidos de correção monetária pela
variação do INPC/IGPDI desde a data da emissão e de juros de mora de 1%, ao mês,
nos termos do artigo 406 do CC, combinado com o artigo 161, do CTN, a partir do dia
da apresentação (artigo 52, II, da Lei 7.357/1985).
Ante a sucumbência, condenou o réu ao pagamento das custas processuais e dos
honorários advocatícios, fixados em 15% sobre valor da condenação (mov. 77.1 - f.
156/160).
2. O réu, Vagner Rojo Da Rosa ME, interpôs recurso de apelação (mov. 84.1 -
f.168/172), alegando que (i) a prescrição da pretensão de cobrança da dívida; (ii)
restou comprovada a má-fé do requerido ao receber os títulos de terceiro, na medida
em que tinha conhecimento da sustação dos mesmos.
Contrarrazões de apelação (mov. 89.1 f. 179/186).
II- VOTO
Presentes os pressupostos recursais de admissibilidade, intrínsecos e extrínsecos, o
recurso merece ser conhecido.
3. Do cotejo dos autos observa-se que:
176
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
(a) Mauro Cesar Rodrigues da Silva ajuizou ação de locupletamento ilícito em face de
Vagner Rojo da Rosa ME aduzindo, em síntese, que (i) é credor do requerido na
importância de R$ 1.980,00, representada pelos cheques por ele emitidos; (ii) os títulos
de crédito foram apresentados para pagamento em 15.09.2009 e 13.10.2009.
Entretanto, foram devolvidos pelo banco sacado pelo “motivo 21” - sustado; (iii)
mesmo após notificado extrajudicialmente, em 05.04.2012, o réu se recusa a efetuar o
pagamento do débito, não lhe restando outra opção a não ser ingressar com a
presente ação. Assim, requereu a condenação do requerido ao pagamento do débito
atualizado (R$3.719,04).
(b) O réu Vagner Rojo da Rosa ME apresentou resposta em sede de contestação
(mov. 51.3 f. 113/119), sustentando, preliminarmente, a prescrição da pretensão do
autor e a impossibilidade jurídica do pedido. No mérito, aduziu que (i) são necessários
alguns esclarecimentos acerca da operação comercial que deu ensejo a emissão dos
cheques; (ii) no ano de 2009, foi procurada por Valdemir Rodrigues Waltrick, que
efetuava a intermediação de contratação de veiculação de propagandas de seus
produtos junto à Radio Gospel Limitada.
Após negociação e fechamento do contrato, emitiu diversos cheques pré- datados
para pagamento da obrigação pactuada com a Rádio Gospel Limitada.
Destacou que os cheques foram entregues para Valdemir Rodrigues Waltrick; (iii)
entretanto, a Rádio Gospel Limitada cobrou-lhe o preço ajustado pelos serviços
prestados de veiculação de propagandas; foi quando veio a saber que os cheques não
haviam sido entregues à rádio, o que o levou a proceder a sustação dos títulos; (iv) o
autor é sujeito estranho a relação negocial; (v) nunca realizou qualquer negócio jurídico
com o requerente; (vi) não reconhece o débito descrito na inicial. Nestes termos,
postulou a improcedência dos pedidos.
(c) No despacho saneador foram afastadas as preliminares de prescrição e
impossibilidade jurídica do pedido, bem como fixados os pontos controvertidos (mov.
56.1 - f. 129/130).
(d) O magistrado de 1º grau proferiu sentença (mov.
77.1 f. 156/160), pela qual julgou procedente o pedido inicial, para condenar o
requerido ao pagamento dos títulos apresentados com a exordial, acrescidos de
correção monetária pela variação do INPC/IGPDI desde a data da emissão e de juros
de mora de 1% ao mês, nos termos do artigo 406 do CC, combinado com o artigo
161, do CTN, a partir do dia da apresentação (artigo 52, II, da Lei 7.357/1985). É
contra esta decisão que se insurge o apelante.
4. A ação de locupletamento ilícito tem prazo prescricional de 2 anos, cuja contagem
somente se inicia depois da perda da força executiva do cheque, nos exatos termos
do artigo 61 da Lei nº 7.357/85: “A ação de enriquecimento contra o emitente ou
outros obrigados, que se locupletaram injustamente com o não-pagamento do
cheque, prescreve em 2 (dois) anos, contados do dia em que se consumar a prescrição
prevista no art. 59 e seu parágrafo desta Lei”.
No caso, os cheques que embasam a presente ação foram emitidos em 30.09.2009 e
25.10.2009, em praça diversa de pagamento (mov. 1.6 e 1.7 f. 14/17), de modo que
o prazo de apresentação era de 60 dias, nos termos do artigo 34 da Lei nº 7.357/851.
177
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
3 Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-
á: (...) V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; (...).
4 TJPR - 6ª C.Cível - AC - 1572506-7 - Ivaiporã - Rel.: Roberto Portugal Bacellar -
Unânime - - J. 07.02.2017
FEITOS AOS CLIENTES QUE NÃO FORAM APTOS A ENSEJAR DÚVIDA ACERCA DO
ilícito capaz de ensejar a reparação por danos morais, quando ausente a intenção de
haja a obrigação de indenizar é preciso que se trate de ato injusto com a finalidade de
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1617336-9 - Curitiba - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime
- J. 29.03.2017)
Inteiro Teor
I- RELATÓRIO
1. Leda Maria Rabelo e Paulo César Pereira Thomaz ajuizaram ação com pedido de
não fazer cumulada com indenização a título de danos morais e materiais (autos nº
0027385-11.2014.8.16.0001) em face de Unimed Curitiba Sociedade Cooperativa de
Médicos, afirmando que (a) são médicos formados pela UFPR Universidade Federal
do Paraná, sendo que, em meados de 1997 e final do ano de 1998, filiaram-se à ré
com o intuito de atenderem os beneficiários dos planos de saúde que a mesma
180
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Também consta dos autos os questionamentos feitos aos pacientes dos autores, que
se resumiram na qualidade do consultório, na qualidade do atendimento, na facilidade
do agendamento da consulta e na frequência das consultas (mov. 59.3 f. 280/383; e
mov.
59.24 f. 472/605). Não se vislumbra nenhuma atitude da ré que comprometesse a
integridade profissional dos requerentes, pois as perguntas não induziam os pacientes
à conclusão de que os mesmos não
seriam médicos qualificados e éticos, posto que englobavam o grau de satisfação dos
pacientes com os serviços prestados.
Tal assertiva é corroborada pelo relato da testemunha arrolada pela requerida:
“Que trabalha na Unimed desde 1992; que exerce a função de supervisora do serviço
social; que na época dos fatos já exercia essa função; que a assistente social que
efetuou o trabalho no processo administrativo em questão não trabalha mais na
Unimed, mas a depoente é responsável pela supervisão dos serviços; que o processo
chega no setor; que é efetuada uma conferência dos documentos; que o serviço social
não inicia o processo se não tiver a carta anexa com o AR assinado pelo médico,
dando-lhe ciência que o serviço social vai manter contato com os seus pacientes por
um certo período de tempo; nessa carta é explicitado o modo de atuação do serviço
social; que o processo já vem pronto para o serviço social; que quem faz o envio da
carta é a Comissão de Ato Cooperativista; (...) que ao efetuar uma ligação para um
beneficiário, é perguntado, primeiramente, se ele possui a disponibilidade de
responder algumas questões, depois é dito que estão fazendo uma pesquisa de
satisfação em determinada especialidade, que não pode entrar diretamente com o
nome específico do médico, até mesmo porque tem que preservar o nome dele, daí,
durante a abordagem é perguntado se o beneficiário confirma as consultas realizadas
com “fulano de tal”, porque ela tem que confirmar as consultas, checar se ela foram
executadas, depois perguntar como foi o atendimento, daí, como a pesquisa é aberta,
quem faz o relato é o próprio beneficiário; que nesta conversa, o nome do médico é
inserido, “em nossos registros, consta que efetuou consultas, nessa especialidade,
com o médico tal”, daí a pessoa vai detalhando, se efetuou consultas com outros
médicos nessa especialidade, ou não; que a pergunta é feita como se fosse feita nessa
especialidade, não é focada no médico; (...) que também são efetuadas
questionamentos acerta da própria Unimed; que não é de rotina fazer perguntas cerca
da qualidade de estrutura do consultório; que é perguntado como foi o atendimento;
que não é perguntado como foi o atendimento médico; (...) que não são feitos
questionamentos acerca das características físicas do médico, até porque não são
relevantes; que só existe a confirmação da consulta naquela data; (...) que no curso do
processo administrativo não teve contato com os autores; que não conhecia os
autores; que não sabe dizer o número de beneficiários contatados; que não há um
número prefixado; (...) que no material que recebe, já vem uma planilha de pacientes
para que seja efetuada as ligações, se ligam para, por exemplo, 30 pacientes, e eles já
confirmam as consultas, já encerram o processo; (...) que no início do processo é
encaminhada uma carta aos médicos, dando-lhes o direito de resposta; que não há
uma entrevista com eles diretamente; que pelo que conhece do fluxo da comissão, os
183
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
autores participaram do processo; que tem absoluta certeza que a comunicação acerca
da abertura do processo foi encaminhada aos médicos, porque recebe cópia do AR;
que as entrevistas não são iniciadas sem a prova de comunicação ao médico; (...) que
não vão ao consultório verificar as instalações e a forma como é dado o atendimento
médico; (Jaqueline Costa Krebsbach mídia digital mov. 61.1 - f. 649)
A instauração do procedimento circunscreve-se no exercício de um direito da
administradora do plano de saúde e, portanto, não é capaz de macular a honra do
médico. Ao contrário, demonstra a conduta diligente em apurar fatos que possam
causar descontentamento aos usuários do plano de saúde por ela ofertado.
Além disso, não vejo como a instauração do procedimento administrativo possa ter
comprometido a imagem profissional dos médicos, visto que é confidencial e sigiloso,
impossibilitando qualquer repercussão dos fatos na forma como apresentada. Frise-se
que o procedimento administrativo foi arquivado sem aplicação de qualquer
penalidade.
Os fatos narrados não chegam a configurar violação ou ofensa aos direitos da
personalidade, afastando o pretendido dano moral.
A jurisprudência consagra que o mero dissabor ou aborrecimento não é suficiente
para ensejar indenização por dano moral, senão vejamos:
Indenização. Danos materiais e morais. Defeito do veículo. Precedentes da Corte. 1.
Já assentou a Corte em diversas oportunidades que em casos como o presente existe
solidariedade entre fabricante e fornecedor. 2. Não há dano moral quando os fatos
narrados estão no contexto de meros dissabores, sem abalo à honra do autor. 3. Os
juros legais devem ser calculados em 0,5% ao mês até a entrada do novo Código Civil
e a partir daí de acordo com o respectivo art. 406. 4.
Recursos especiais conhecidos e providos, em parte. (STJ - REsp 664.115/AM, Rel.
Min. Carlos Alberto Menezes Direito, 3ªT, J.: 02/05/2006).
APELAÇÃO CÍVEL. CONTRATOS DE CARTÃO DE CRÉDITO. AÇÃO DECLARATÓRIA.
INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO E REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS. VENDA
CASADA.
SEGURO. ABUSIVIDADE. A denominada venda casada é prática abusiva vedada nas
relações de consumo conforme dispõe o inciso I do artigo 39 do CDC. Presume-se
venda casada o contrato de seguro realizado na mesma data do contrato de cartão de
crédito. REPETIÇÃO EM DOBRO. Demonstrado o prejuízo advindo da falha na
prestação dos serviços, a instituição financeira deve restituir, de forma simples, a
quantia indevidamente paga. DANOS MORAIS.
Simples transtornos e dissabores nas relações econômicas e sociais não têm
relevância suficiente para caracterizar o dano moral. APELAÇÃO PARCIALMENTE
PROVIDA. (TJ-RS - AC Nº 70051788503, Rel.: Marco Antonio Angelo, 4ªCC, J.:
30/01/2013).
As provas produzidas não demonstram o efetivo abalo psíquico, comportamental ou
repercussão, capaz de gerar constrangimento e humilhação no meio social.
Nesse sentido, seguem julgados deste Tribunal:
184
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
185
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
(TJPR - 17ª C.Cível - AI - 1619818-4 - Telêmaco Borba - Rel.: Lauri Caetano da Silva -
Unânime - J. 29.03.2017)
Inteiro Teor
I RELATÓRIO
1. Cuida-se de Agravo de Instrumento com pedido de efeito suspensivo - interposto
por Transproença Transportes Rodoviários Ltda, em virtude da decisão de sequência
59.1 (f. 266- TJ), proferida nos autos nº 840-23.2016.8.16.0165 (PROJUDI), de ação de
busca e apreensão, fundada no Decreto-Lei nº 911/69, ajuizada por
Banco Itaú S/A, que indeferiu o pedido de suspensão do processo, tendo em vista o
processamento de recuperação judicial da autora/agravante.
Consta assim na decisão agravada:
1. Da análise detida dos autos, verifica-se que a presente ação foi julgada procedente
conforme sentença prolatada (mov. 32.1), consolidando o bem apreendido nas mãos
do requerente.
A requerida foi declarada revel, por não apresentar defesa, tampouco, purgar a mora
no prazo estabelecido.
186
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Por meio de sua petição (mov. 34.1), a requerida requereu a suspensão do presente
processo, tendo em vista que foi deferido processo de recuperação judicial da
empresa requerida.
Não há o que se falar em suspensão da presente execução, pois já foi prolatada
sentença nos autos, inclusive antes de ser deferido o processo de recuperação judicial
da empresa requerida, não havendo motivos para suspensão nessa fase processual.
Diante do exposto, indefiro o pedido de suspensão.
2. Em suas razões, a agravante sustenta que, conforme disposição do artigo 6º, §4º da
Lei nº 11.101/2005, as ações e execuções em que a recuperanda for ré e que versarem
sobre quantias ilíquidas, devem ser suspensas pelo período de 180 dias. Afirma, ainda,
que em se tratando de empresa que atua no ramo de transportes, é evidente a
essencialidade do bem objeto da busca e apreensão. Destarte, pugna pela atribuição
de efeito suspensivo ao recurso e, posteriormente, o seu provimento para reformar a
decisão agravada, determinando a suspensão do processo da ação de busca e
apreensão.
3. Pela decisão de f. 323/327-TJ foi indeferido o almejado efeito suspensivo.
4. O agravado apresentou contrarrazões às f. 329/333- TJ alegando, preliminarmente,
o não cabimento do recurso de agravo de instrumento.
É o relatório.
II VOTO
5. Do exame dos documentos trasladados aos autos, depreende-se que:
5.1 Transproença Transportes Rodoviários Ltda firmou com o Banco Itaú S/A cédula
de crédito bancário FINAME para aquisição de um caminhão trator Scania, modelo
R440 A 6x2 NA 3E REB. D2B, ano 2013/2013, placa AWO 2524, pelo valor total de
R$340.000,00, que seria quitado mediante o pagamento de 56 prestações mensais e
consecutivas, sendo a primeira com vencimento em 15.05.2013 (sequência 1.6, f.
58/61-TJ).
5.2 Ante o inadimplemento do contrato a partir da prestação 29/56, com vencimento
em 16.11.2015, a instituição financeira credora ajuizou a competente ação de busca e
apreensão (sequência 1.1, f. 28/30-TJ).
Juntou aos autos cópia da notificação extrajudicial encaminhada à ré para fins de
constituição em mora (sequência 1.7, f. 62/63-TJ).
5.3 A liminar de busca e apreensão foi deferida (sequência 21.1, f. 100/102-TJ) e
devidamente cumprida em 08.03.2016 (sequência 24.1, f.
110-TJ).
5.4 A ré não apresentou contestação, tampouco efetuou o pagamento da dívida, de
modo que, no dia 06.05.2016, o MM. Dr. Juiz a quo proferiu sentença julgando
procedente o pedido consolidando a posse e propriedade plena em favor do credor
(sequência 32.1, f. 122/123-TJ).
5.5 Na sequência, a ré peticionou nos autos informando o processamento de
recuperação judicial a seu favor (sequência 34.2, f. 128/132- TJ). Disse, ainda, que o
MM. Dr. Juiz determinou a suspensão das ações e execuções pelo prazo de 180 dias,
inclusive aquelas relativas a créditos executados na forma do artigo 49, §3º e §4º da
Lei nº 11.101/2005 (sequência 34.1, f. 126/127). Sendo assim, pugnou pela suspensão
187
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
do processo. O pedido foi indeferido (sequência 59.1, f. 266-TJ) e é dessa decisão que
se insurge a agravante.
3 6. Inicialmente, no que diz respeito ao cabimento do recurso de agravo de
instrumento, entendo que a hipótese dos autos se enquadra no parágrafo único do
artigo 1.015 do Código de Processo Civil, segundo o qual cabe agravo de instrumento
contra decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou
cumprimento de sentença, no processo de execução ou no processo de inventário.
Lembro que a ação de busca e apreensão, fundada no Decreto-Lei nº 911/69, se
caracteriza como execução no sentido lato do contrato acessório de alienação
fiduciária.
7. No mais, a controvérsia diz respeito à necessidade de suspensão da ação de busca
e apreensão, em razão do processamento da recuperação judicial da devedora
Transproença Transportes Rodoviários Ltda, deferido em 12.05.2016 (art. 6º, §4º, Lei
nº 11.101/2005). Sustenta a agravante que o bem objeto da busca e apreensão é
essencial às suas atividades, razão pela qual deve permanecer sob a sua posse até o
transcurso do prazo, na forma do artigo 49, §3º da Lei nº 11.101/2005.
Nesse contexto, cumpre esclarecer que a Lei nº 11.101/2005, em seu artigo 49, §3º,
prevê expressamente que o credor titular da posição de proprietário fiduciário de bem
móvel ou imóvel ou de arrendador mercantil não está sujeito aos efeitos da
recuperação judicial.
Em comentário ao mencionado dispositivo, Fabio Ulhoa Coelho registra que “esses
credores excluídos da recuperação judicial não são minimamente atingidos pela
medida, e podem continuar exercendo seus direitos reais e contratuais nos termos da
lei própria”, e continua, “os titulares de determinadas garantias reais ou posições
financeiras (fiduciário, leasing, etc.) e os bancos que anteciparem recursos ao
exportador em função de contrato de câmbio excluem-se dos efeitos da recuperação
judicial para que possam praticar juros menores (com spreads não impactados pelo
risco associado à recuperação judicial), contribuindo a lei, desse modo, com
4 a criação do ambiente propício à retomada do desenvolvimento econômico1”.
Mesmo assim, visando viabilizar a recuperação com a manutenção da atividade do
empresário2, a legislação falimentar impossibilita a retirada, do estabelecimento do
devedor, dos bens essenciais a sua atividade empresarial, pelo prazo de 180 dias que
alude o artigo 6º, §4º da lei de regência, in verbis:
Art. 49, §3º. Tratando-se de credor titular da posição de proprietário fiduciário de
bens móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou promitente
vendedor de imóvel cujos respectivos contratos contenham cláusula de
irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, ou de
proprietário em contrato de venda com reserva de domínio, seu crédito não se
submeterá aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os direitos de
propriedade sobre a coisa e as condições contratuais, observada a legislação
respectiva, não se permitindo, contudo, durante o prazo de suspensão a que se refere
o §4º do art. 6º desta Lei, a venda ou a retirada do estabelecimento do devedor dos
bens de capital essenciais a sua atividade empresarial.
Ainda a respeito do tema:
188
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
189
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Unânime - J. 23.03.2017)
Inteiro Teor
É o relatório.
Voto.
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conhece- se do apelo.
Inicialmente, não há falar-se em coisa julgada, uma vez que, embora os autos nº
0001276-06.2011.8.16.0052 (AC 1.258.383-6), tenham os mesmos litigantes desta
ação, não guardam relação quanto ao pedido/causa de pedir, vez que nos citados
autos, a lide versava a respeito da demora para liberação da carta de crédito, não
havendo, portanto, naqueles autos, discussão quanto à inscrição no cadastro de
inadimplentes (fls. 283/302).
Ainda em sede preliminar, aduz o recorrente, que há ausência de fundamentação na
sentença, pugnando, assim, por sua anulação. Todavia, sem razão.
Em análise aos autos, verifica-se que a sentença atacada preenche todos os requisitos
do art. 458 do CPC/73, vigente à época. Caso assim não fosse, caberia ao insurgente,
recorrer mediante o recurso cabível, previsto no art. 535 do CPC/73, o que não fez.
Assim sendo, não há falar-se em nulidade da sentença por ausência de
fundamentação.
Prosseguindo, pugna o recorrente pela inaplicabilidade da inversão do ônus da prova
à luz do código de defesa do consumidor, por não haver relação de consumo entre as
partes, bem como, por não ser a apelada, hipossuficiente perante a parte ré. Razão lhe
assiste.
Tem-se, efetivamente, que não há relação de consumo entre as partes nos termos da
teoria finalista, eis que a parte autora, não é a consumidora final do produto adquirido.
Ademais, não restou demonstrada hipossuficiência da apelada perante à apelante,
razão pela qual, não se pode falar em aplicação do código de defesa do consumidor,
no presente caso.
Sobre o tema:
AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO. CERCEAMENTO DE DEFESA. INEXISTÊNCIA.
AUSÊNCIA DE JUSTIFICATIVA PARA A PRODUÇÃO DE PROVA TESTEMUNHAL.
QUESTÃO DE MÉRITO UNICAMENTE DE DIREITO. APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR. IMPOSSIBILIDADE. AUTORA QUE NÃO É
CONSUMIDORA. SERVIÇO PRESTADO QUE SE COLOCA COMO INSUMO EM SUA
CADEIA DE PRODUÇÃO. AUTORA QUE TAMPOUCO DEMONSTROU
VULNERABILIDADE OU HIPOSSUFICIÊNCIA TÉCNICA EM FACE DA RÉ. NEGÓCIO
REALIZADO ENTRE EMPRESAS. LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA INAPLICÁVEL.
(...).(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1548158-6 - Curitiba - Rel.: Fernando Paulino da Silva
Wolff Filho - Unânime - - J. 14.12.2016).
No mérito, alega o recorrente, que a inscrição da apelada no cadastro de
inadimplentes, se deu mediante exercício regular de seu direito, uma vez que a parte
ré não demonstrou ter adimplido o contrato realizado entre as partes. Ademais,
sustenta que não houve dano moral indenizável, por ter, a inscrição, se tratado de
mero dissabor.
Pois bem.
Em análise aos autos, tem-se que, a parte autora firmou um contrato de consórcio
com a apelante, para a aquisição de um “cavalo mecânico” se comprometendo ao
191
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
NÃO PROVIDO.
Unânime - J. 23.03.2017)
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Inteiro Teor
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Unânime - J. 01.06.2017)
Inteiro Teor
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
ocorrência (fls. 13/14), logo, era impossível que a caminhonete estivesse parada no
canteiro no momento da batida, como afirma essa testemunha.
Note-se que o próprio croqui feito pela polícia militar (fls. 14) foi feito apenas com
base nas declarações do apelante (fls. 13) e mostra dinâmica totalmente diversa. Nem
em sua declaração no dia dos fatos o apelante afirmou estar parado (fls. 15).
Além de confrontar com a prova documental, esse depoimento confronta com as
demais provas testemunhais, especialmente a da outra testemunha presencial, senhor
Vergílio Albino Peters.
Consigne-se que mesmo nessa versão isolada de Wagner Cassio Cavazin, e
contraditória aos demais elementos dos autos, conclui-se pela ação culposa exclusiva
do apelante Roberto Yuji Ueda, eis que a caminhonete teria invadido parte da pista
preferencial com a sua frente, tendo com isso causado a batida na lateral esquerda (fls.
633):
“Eu vi que a caminhonete entrou e teve a colisão (...); a caminhonete não estava pra
dentro da pista, ela pode ter invadido alguma coisinha, porque pegou no parachoque
da caminhonete”.
A alegação de que o apelado conduzia sua moto muito próxima do canteiro, além de
não ter sido provada pelo apelante nos autos (art. 373, II do CPC), também é contrária
à prova documental, eis que o boletim de ocorrência atesta que a moto estava
trafegando pela direita a meio metro da borda da pista, fato que foi corroborado pelo
depoimento de Vergílio Albino Peters.
Nesse ponto, as alegações da testemunha Wagner Cassio Cavazin novamente
restaram isoladas e sem nenhum apoio nas provas documentais.
A alegação de que a motocicleta trafegava em alta velocidade igualmente não
encontra suporte probatório nos autos, tendo sido desmentida pela testemunhal
presencial Vergílio Albino Peters.
Ademais, em caso de responsabilidade civil por acidente de trânsito, vigora a teoria
da causalidade adequada, na qual se perquire a causa primária do acidente. E a causa
primária deste caso, como bem evidenciado pelas provas, foi a invasão da pista
preferencial sem adotar as cautelas mínimas necessárias para efetuar a travessia, sem
que a vítima tenha contribuído em nada para a realização desta causa primária e,
portanto, sem se falar em culpa concorrente: “A teoria da causalidade adequada, que
prevalece hoje em tema de responsabilidade civil, impõe que perquira qual das culpas
foi a causa primária e eficiente para a ocorrência.” (TJPR ApCiv 1039060-2 9ª
CâmCív. Rel. Dartagnan Serpa Sá DJ 24/04/2014)
E sobre a invasão de preferencial ser causa primária que torna irrelevante a discussão
sobre eventual excesso de velocidade de quem transita na preferencial:
APELAÇÃO CÍVEL - ACIDENTE DE TRÂNSITO - INVASÃO DE VIA PREFERENCIAL -
CAUSA PRIMÁRIA DA COLISÃO - DILAÇÃO PROBATÓRIA DESNECESSÁRIA ANTE A
IRRELEVÂNCIA DE EVENTUAL EXCESSO DE VELOCIDADE DO VEÍCULO
INTERCEPTADO (...) - CULPA EXCLUSIVA DO REQUERIDO CONFIGURADA - DEVER
DE INDENIZAR (...). “A invasão de via preferencial constitui causa primária do
acidente, que não é afastada por eventual excesso de velocidade, e fluência do
199
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
trânsito nas outras pistas da via preferencial.” (TJPR ApCiv 501404-2 10ª CâmCiv
Rel. Des. Astrid Maranhão de Carvalho Ruthes DJ 22/08/2008).
Portanto, além de não haver qualquer prova de excesso de velocidade, essa discussão
é irrelevante para o estabelecimento da culpa exclusiva pelo acidente neste caso.
A preferência de tráfego era toda do motociclista, que estava na pista preferencial e
em sentido reto, cabendo ao apelante motorista respeitar essa preferencial e adotar as
cautelas necessárias para efetuar a travessia, de forma que possa deter o veículo com
segurança em face dos demais que transitam na preferencial (art. 44 do CTB), o que
evidentemente não foi feito. Sobre o tema:
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS -
ACIDENTE DE TRÂNSITO - (...) - CRUZAMENTO DA PISTA QUE DEVE DAR
PREFERÊNCIA AOS VEÍCULOS QUE TRANSITAM NO SENTIDO DA VIA - CAUSA
PRIMÁRIA PARA A OCORRÊNCIA DO ACIDENTE ORIGINADA INDUBITAVELMENTE
PELO APELANTE (...). (TJPR ApCiv 1318668-4 9ª CâmCív Rel. Des. José Augusto
Gomes Aniceto DJ 06/09/2016)
Resta, enfim, provada nos autos a responsabilidade extracontratual subjetiva exclusiva
de Roberto Yuji Ueda (art. 186 e 927 do CCB), eis que sua conduta culposa na
travessia da preferencial deu causa ao evento danoso.
Em razão do acidente causado pelo motorista, o motociclista sofreu graves lesões e
foi encaminhado ao Hospital Santa Casa de Paranavaí, tendo havido amputação da
perna esquerda, como comprovam a documentação encartada e o laudo médico
pericial (fls. 16/80 e 562/573).
Diante de tais provas, resta evidenciado o abalo psicológico sofrido pelo autor em
razão do acidente, tendo de permanecer dias internada e de se submeter a cirurgia de
amputação, com afastamento de suas atividades laborais, restando, por fim,
acometido de incapacidade permanente (fls. 518). Sobre a existência de dano moral
em tais situações:
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL, MORAL E ESTÉTICO. ACIDENTE
DE TRÂNSITO. (...). DANO MORAL.
SUBMISSÃO A CIRURGIA, SESSÕES DE FISIOTERAPIA E AFASTAMENTO DO
TRABALHO POR DELONGADO PERÍODO EM DECORRÊNCIA DO EVENTO
DANOSO. (...). (TJPR ApCiv 1588149-9 8ª CãmCív Rel. Des. Luiz Cezar Nicolau
DJ 14/03/2017)
O valor para dano moral arbitrado na sentença (R$ 30.000,00) deve ser mantido,
porque razoável e proporcional à reparação da grave extensão dos danos causados, à
dissuasão da conduta culposa no trânsito, à conduta dos envolvidos, à capacidade
econômica das partes e, principalmente, à jurisprudência estadual para casos análogos
(ApCiv 1445117-1 10ª Câm.Cív DJ 10/03/2016 e ApCiv 1161250-5 8ª CâmCív DJ
24/04/2014).
Esse valor bem cumpre a função reparatória e pedagógica do dano moral e não
representa de forma alguma o enriquecimento ilícito da vítima.
Além do autor, a sentença fixou danos morais de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) para
suas 2 filhas menores, que tinham 6 e 2 anos à época dos fatos (fls. 08/09) e moravam
com o autor e sua esposa, tendo, portanto, vivenciado de perto as consequências
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
PELO MOTORISTA
Unânime - J. 08.06.2017)
Inteiro Teor
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
fechasse. Após dar a partida e aguardar por cerca de dois minutos, engatou o
caminhão e acabou passando por cima da vítima.
Afirmou que nenhum funcionário viu que o “chapa” tinha deitado embaixo do veículo
e que ao ser informado que os rapazes estavam esperando ele lá dentro achou que o
sr. Newton também estivesse, pois nunca imaginou que ele pudesse estar sob o
veículo, já que tal prática não é comum, afirmando que a vítima nunca tinha feito isso
nas vezes anteriores em que trabalhavam juntos.
Por sua vez, a testemunha Carlos Rogério que é técnico de segurança da empresa
Alltech, local onde ocorreram os fatos, disse que viu o condutor e o chapa antes do
acontecido quando estavam parados em frente a portaria fazendo a identificação.
Também afirmou que é conduta da empresa orientar que tanto os motoristas quanto
os chapas, ou até mesmo os familiares que estão acompanhando, aguardem na sala
de espera, mas que a maioria prefere voltar aos seu veículos, reforçando o fato da
existência de sala de espera no local à época dos fatos.
Afirmou que após o acontecimento passaram a bloquear o trabalho do chapa e que
nunca presenciou ninguém deitado embaixo do caminhão e que se tivesse visto, a
primeira coisa que faria seria solicitar para que saísse, contou que o sr. João Hélio
entrou em pânico no momento e que precisou acalmá-lo, dando a perceber que não
tinha a menor noção de que o chapa estava embaixo do veículo, não sendo de
costume que os motoristas olhem antes de dar a partida.
Pois bem, nota-se que as testemunhas arroladas pelos autores, companheiros de
profissão da vítima, apesar de reconhecerem como habitual tal prática não afastaram
seu risco.
Ainda, deve-se levar em consideração que de acordo com os testemunhos, tal prática
era necessária somente nos locais onde inexistia local de espera adequado, sendo sob
o veículo, o único local de sombra que dispunham.
Ocorre que tal necessidade não se verifica no presente caso vez que restou
comprovada existência de sala de espera adequada no interior da empresa, tendo
sido inclusive aconselhado por seu funcionário a utilizar, todavia, não o fez.
Também merece destaque o depoimento do requerido e condutor do veículo, sr.
João Hélio Patussi, que afirmou ter cochilado no momento em que esperava a
liberação para entrar na empresa e que ao acordar foi informado pelo funcionário da
empresa que “poderia entrar que os rapazes tão te esperando”, fazendo crer que o
chapa também estava no interior da empresa, vindo a testemunha Carlos Rogério,
confirmar o estado de pavor em que o motorista ficou ao perceber os fatos.
Portanto, a imprudência restou verificada na conduta da vítima, que se deitou sob
veículo extremamente pesado, sem ao menos informar o condutor, sendo que possuía
local adequado para a espera.
Por fim, necessário se faz majorar os honorários advocatícios pelo trabalho
desempenhado em grau recursal, os quais fixo em R$ 1.200,00, nos termos do art. 85,
§11, CPC.
Diante do exposto, nego provimento ao apelo.
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PROVIDO.
Unânime - J. 08.06.2017)
Inteiro Teor
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A falta de indicação precisa da data de início dos danos não é requisito legalmente
previsto para constar na petição inicial e nem prejudica o entendimento dos fatos e
fundamentos jurídicos ou do pedido (neste sentido: TJPR ApCiv 1632477-1 8ª
CâmCív Rel. Des. Clayton de Albuquerque Maranhão DJ 18/04/2017).
Além disso, a perícia atestou serem os danos progressivos no tempo, sem
possibilidade de precisar a data de início (item 6, fls. 609; e item 25, fls. 611)), motivo
pelo qual não haveria como os autores indicarem na inicial data que não pode ser
determinada, o que também é fundamento para afastar a alegação de inépcia (Neste
sentido: TJPR ApCiv 1601619-6 8ª CâmCív Rel. Alexandre Barbosa Fabiani DJ
03/04/2017).
O sinistro foi devidamente comunicado pelos autores (fls. 29/32) e, ainda que não
tivesse sido, tal fato não representa inépcia da inicial em razão da inafastabilidade da
jurisdição (veja-se: TJPR ApCiv 1490106-3 8ª CâmCív Rel. Des. Luiz Cezar Nicolau
DJ 25/10/2016).
Não há carência de ação por falta de interesse de agir, eis que a apelante resistiu e
vem resistindo judicialmente à pretensão, fato que comprova o interesse de agir
(confira-se: STF - RE 631240/MG - Tribunal Pleno Rel. Min. Roberto Barroso DJ
10/11/2014).
Não prospera, ainda, a alegação de falta de interesse de agir em razão de contrato
inativo a partir de 2011, porque os contratos estavam vigendo e ativos no momento da
propositura da ação (fevereiro/2009).
Ademais, os danos constatados na perícia ocorreram na vigência do contrato de
financiamento, e não depois da inatividade, motivo pelo qual persiste o dever
acessório da indenização securitária:
APELAÇÕES CÍVEIS - RESPONSABILIDADE OBRIGACIONAL - SEGURO
HABITACIONAL (...) - CONTRATO INATIVO QUE NÃO AFASTA O DEVER DE
INDENIZAR (...). “Sem razão a alegação de carência de ação pela inatividade dos
contratos, pois os vícios dos quais reclamam os autores surgiram no decorrer da
vigência das apólices securitárias atinentes aos contratos de financiamento em
questão. Desse modo, o fato dos contratos estarem liquidados ou quitados não afasta
o dever de indenizar, porquanto o término do financiamento não acarreta a extinção
automática da cobertura securitária, justamente porque, em regra, os vícios se iniciam
no período da vigência contratual” (TJPR ApCiv 1557740-3 8ª CãmCív Rel. Des.
Gilberto Ferreira DJ 13/02/2017)
Inexiste ofensa, portanto, aos art. 17, 332, 337, 485, 757 do CPC, art. 771 e 1457 do
CCB, tampouco aos itens 15.2 e 10.2 do contrato.
A alegação de prescrição também deve ser afastada.
Os contratos tornaram-se inativos em outubro/2011 (fls.
696), quando a ação já havia sido proposta, em fevereiro/2009 (fls. 01), logo, não
havia transcorrido 1 ano da data de quitação ou inatividade, conforme art. 206, § 1º, II,
“b” do Código Civil:
APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA. SEGURO HABITACIONAL. VÍCIOS
DE CONSTRUÇÃO. PRESCRIÇÃO.
CONTRATO DE FINANCIAMENTO. QUITAÇÃO. PRAZO ÂNUO.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Desse modo, a referida cláusula 3.2 deve ser declarada abusiva, porque contradiz
cláusula expressa anterior e restringe direitos e obrigações fundamentais inerentes à
natureza do contrato de seguro de imóvel que visa a resguardar a garantia última do
financiamento concedido, o próprio imóvel:
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. (...). COBRANÇA DE SEGURO HABITACIONAL.
VICIOS CONSTRUTIVOS. APÓLICE QUE EXCLUI A POSSIBILIDADE DE
INDENIZAÇÃO/COBERTURA PARA OS CASOS DE DANOS NOS IMÓVEIS.
CONTRADIÇÃO.
INVOCAÇÃO DO CDC. RESTABELECIMENTO DO EQUILIBRIO CONTRATUAL. (...).
“tais normas contratuais (3ª e 3.1) são inquestionavelmente contraditórias, situação
que impõe o restabelecimento da relação contratual pelo julgador, em observâncias as
normas legais aplicáveis à espécie. (...).
Logicamente, não pode o mesmo contrato, em determinado momento excluir a
cobertura e, e em outra oportunidade, reconhecer a cobertura anteriormente excluída,
sob pena de afrontar diretamente o direito dos consumidores.” (TJPR ApCiv 975875-
6/01 8ª CâmCív Rel. Des. José Sebastião Fagundes Cunha DJ 17/03/2014)
Não há nenhuma inviabilidade de que a reparação securitária se realize em pecúnia,
porque é a melhor forma de restabelecer o direito do consumidor (nesse sentido: TJPR
ApCiv 1266596-8 8ª CâmCív Rel. Des. José Laurindo de Souza Netto DJ
28/05/2015).
É devido também o ressarcimento pelos reparos realizados pelos mutuários, já
devidamente individualizados pela perícia (fls. 612/624), não sendo razoável exigir que
esperem por anos até realizar reparos urgentes e necessários, nem que tenham
guardado notas fiscais, haja vista que a perícia foi capaz de apontar os valores (nesse
sentido: TJPR
ApCiv 1413963-6 8ª CâmCív Rel. Des. Gilberto Ferreira DJ 02/03/2016).
De igual modo, é devida a multa decendial aos mutuários, limitada ao valor da
obrigação principal, como bem determinou a sentença, porque há previsão expressa
na cláusula 17.3 da apólice (fls. 39) de incidência dessa multa (nesse sentido: STJ -
AgRg no REsp 1433439/PR 4ª Turma Rel. Min. Raul Araújo DJ 18/12/2015).
Não prospera a alegação de que a multa é limitada apenas em casos de morte e
invalidez, porque a cláusula 16.2 não traz expressa essa limitação, ao contrário, refere-
se genericamente a todos os sinistros cobertos, portanto, englobando os decorrentes
de vícios construtivos.
A multa é devida pela seguradora, conforme expressa previsão contratual (cláusula
17.3) e a mora está comprovada pelo aviso de sinistro realizado por intermédio do
financiador (fls. 29/32), nos exatos termos da exigência contratual (cláusula 11; fls. 38).
Não prospera o pleito de fixação do termo inicial da mora a partir do cumprimento
espontâneo da sentença, porque o inadimplemento é de natureza contratual,
subsumindo-se à regra do art. 394 do CCB.
Em razão do não provimento do recurso, aplico o art. 85, § 11º do CPC e majoro os
honorários advocatícios devidos pela apelante para 12% do valor da condenação,
mantida a proporção fixada na sentença.
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PROVIDO.
Unânime - J. 08.06.2017)
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Tal informação prevalece sobre as fotos juntadas às fls. 681/685, vez que foram tiradas
posteriormente ao acidente, momento em que a parte traseira da moto já havia sido
abalroada.
Eventual discordância quanto a conclusão do laudo pericial deveria ter sido aduzida
na fase instrutória, requerendo a realização de uma nova perícia. Tendo em vista que
isto não ocorreu, não há como desconstituir a prova pericial apresentada pelo autor.
Cumpre ressaltar que o juiz é o destinatário das provas, devendo pautar-se nos
elementos constantes nos autos na formação de seu juízo cognitivo:
EMBARGOS À EXECUÇÃO [...]- AGRAVO RETIDO - JUIZ DESTINATÁRIO DAS
PROVAS QUE POSSUI AMPLO PODER PARA INDEFERIR PRODUÇÃO PROBATÓRIA
INÓCUA [...] (TJPR - 16ª C.Cível - AC - 1482469-0 - Curitiba - Rel.: Maria Mercis
Gomes Aniceto - Unânime - - J. 29.03.2017).
Além disto, não há qualquer comprovação nos autos da velocidade em que a
motocicleta se encontrava no momento do acidente. A alegação de fatos
desacompanhada de provas não possui o condão de atribuir veracidade à defesa:
[...] ALLEGATIO ET NON PROBATIO QUASI NON ALLEGATIO [...] (TJPR - 14ª C.Cível
- AI - 1553347-6 - Curitiba - Rel.: Themis Furquim Cortes - Unânime - - J. 21.09.2016).
Em verdade, o que se observa nos autos é a ausência de cuidado e cautela do
apelante, ao não observar a moto que trafegava a sua frente, violando o art. 28 do
Código de Trânsito Brasileiro.
A colisão traseira presume a culpa de quem conduz à retaguarda, vez que deve
manter distância e velocidade segura, possibilitando a frenagem e desvio de eventuais
obstáculos que possam surgir repentinamente em seu caminho. Confira-se:
APELAÇÃO CÍVEL - INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS - ACIDENTE
DE TRÂNSITO - COLISÕES MÚLTIPLAS - BATIDA TRASEIRA - PRESUNÇÃO RELATIVA
DE CULPA [...] - VIOLAÇÃO DAS NORMAS DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO
- RECURSO DESPROVIDO. (TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1301270-3 - Curitiba - Rel.: Marcos
S. Galliano Daros - Unânime - - J. 14.05.2015)
Assim, correta a sentença ao reconhecer a responsabilidade civil do apelante no
acidente ocorrido e consequente dever de indenizar.
Em relação ao valor da indenização por danos morais fixada em sentença (R$
30.000,00), pleiteia o apelante pela sua redução.
Ante a ausência específica de parâmetros, a doutrina e a jurisprudência vem
considerando as circunstâncias do caso concreto, o alcance da ofensa e a capacidade
econômica do ofensor e do ofendido.
Além disso, a quantia não pode configurar enriquecimento indevido, devendo servir
precipuamente para compensar a vítima pelo dano sofrido e sancionar o causador do
prejuízo, de modo a evitar futuros desvios. Sobre o tema ensina Sergio Cavalieri Filho
que:
(...) a partir do momento em que alguém, mediante conduta culposa, viola direito de
outrem e causa-lhe dano, está-se diante de um ato ilícito, e deste ato deflui o
inexorável dever de indenizar, consoante o art. 927 do Código Civil. Por violação de
direito deve-se entender todo e qualquer direito subjetivo, (...), nestes incluídos o
direito à vida, à saúde, à liberdade, à honra, à intimidade, ao nome e à imagem”.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
(Programa de Responsabilidade Civil. 10 ed. São Paulo: Atlas S.A, 2012. pg.19).
Por certo que a dor de perder um ente familiar é irreparável, contudo a indenização
busca compensar de certa forma os danos sofridos, observada a sua finalidade punitiva
e educativa. A fixação da indenização em quantia excessiva transpassa tais desígnios.
Nessa linha, atendendo os princípios da razoabilidade e proporcionalidade,
cumprindo, ainda, o caráter reparatório e pedagógico da condenação, entende-se que
o valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), não comporta minoração frente ao caso
concreto, estando, inclusive, de acordo com o entendimento deste Tribunal. (TJPR - 8ª
C.Cível - AC - 1553789-4 - Faxinal - Rel.: Luis Sérgio Swiech - Unânime - - J.
08.12.2016); (TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1564943-5 - Palotina - Rel.: Gilberto Ferreira -
Unânime - - J. 01.12.2016).
Cumpre ressaltar que desta quantia será abatida a indenização pelo seguro DPVAT,
no valor de R$ 13.500,00, conforme consta da sentença.
Na lide secundária, o apelante sustenta que os danos morais estão abrangidos pela
cobertura por danos corporais, vez que não há exclusão contratual expressa.
A questão se encontra pacificada pelo STJ através da Súmula 402:
Súmula 402/STJ: O contrato de seguro por danos pessoais compreende os danos
morais, salvo cláusula expressa de exclusão.
Ainda:
[...] 2. A previsão contratual de cobertura dos danos pessoais (corporais) abrange os
danos morais apenas se estes não forem objeto de expressa exclusão ou não
figurarem no contrato como cláusula contratual independente (Súmula nº 402/STJ).[...]
(AgInt no AREsp 148.474/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA
TURMA, julgado em 04/08/2016, DJe 12/08/2016).
No caso em tela, a apólice contratada pelo apelante possui cobertura básica de
“RESP CIVIL FACULTATIVO DANOS MATERIAIS” e “RESP CIVIL FACULTATIVO
DANOS CORPORAIS”, ambas no valor de R$ 50.000,00 (fls. 156/157).
Nas condições gerais do seguro apresentadas pela seguradora às fls. 310/404, consta
expressamente na pág. 41 (fls. 386), que estão excluídas da cobertura básica as
condenações judiciais por danos morais e estéticos, salvo quando houver contratação
desta garantia.
Além disto, a cobertura por danos morais é módulo de contratação adicional,
figurando nas condições gerais do seguro como cláusula independente (2.2.2, fls. 384).
A referida exclusão de cobertura contratual está redigida de forma clara e destacada.
Ademais, a cobertura por danos morais está evidenciada como uma garantia adicional
da cobertura básica. Diante de tais elementos, não prospera a alegação de que há
abusividade na limitação do seguro contratado pelo apelante.
Além disto, a apólice de seguro juntada pelo próprio autor (fls. 156/157) faz
referências por diversas vezes às condições gerais.
Inclusive, disponibiliza canal de comunicação direto com o corretor de seguro e com a
própria seguradora LIBERTY, através de e-mail corporativo, para sanar eventuais
dúvidas, não podendo o segurado se eximir de sua responsabilidade de tomar ciência
acerca das especificidades do serviço contratado.
Sobre o tema, segue a jurisprudência:
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Unânime - J. 08.06.2017)
Inteiro Teor
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instituto, qual seja, coibir recursos meramente protelatórios, já que seria possível sua
interposição visando apenas a majoração dos honorários.
Diante do exposto, nego provimento ao apelo.
ACORDAM os Desembargadores da 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso, nos
termos do voto do relator.
Luiz Cezar Nicolau (com voto) e acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo
Senhor Desembargador Luis Sérgio Swiech.
Curitiba, 08 de junho de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI
CAUSALIDADE ADEQUADA
(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1660245-0 - Foz do Iguaçu - Rel.: Vicente Del Prete Misurelli -
Unânime - J. 08.06.2017)
Inteiro Teor
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responsabilidade do apelado é objetiva. Por fim, diz que a empresa apelada omitiu-se
em prestar socorro à vítima acidentada.
Contrarrazões (fls. 425/437).
É o relatório.
Voto.
Presentes os pressupostos, conheço do recurso.
Trata-se de apelo em ação indenizatória, em que a recorrente requer a condenação
da recorrida em danos morais, estéticos e materiais.
De início, afasto alegação de cerceamento de defesa, visto que inexiste qualquer
necessidade de produção de prova pericial no feito. Não há qualquer questão técnica
que dependa de avaliação de especialista, sendo que as provas testemunhais e
documentais produzidas nos autos são suficientes para o julgamento da causa:
(...) Com efeito, cabe destacar que o juiz tem certa margem de liberdade para aferir
acerca da colheita de provas, em homenagem ao princípio da persuasão racional
adotado pelo Código de Processo Civil, de forma que, somente a ele compete avaliar
sob a necessidade, ou não, da sua realização para a formação de seu convencimento
em torno dos fatos trazidos ao Poder Judiciário, sem, contudo, desatender aos
reclamos do processo. (...) (TJPR - 4ª C.Cível - AC - 1577493-5 - Telêmaco Borba - Rel.:
Hamilton Rafael Marins Schwartz - Unânime - J. 21.03.2017).
Aduz a apelante que o acidente ocorreu, no momento em que tentava prestar socorro
a uma criança, afirmando que no caso do acidente envolvendo o menor, houve
negligência da recorrida.
Por este motivo, sustenta que a suposta conduta omissiva da empresa no primeiro
evento, configura nexo de causalidade com o dano experimentado em sua queda.
Não tem razão.
Isto porque, conforme assente entendimento doutrinário e jurisprudencial, o nexo de
causalidade deve ser averiguado pelo fato imediato que deu causa ao dano. É dizer, a
análise é restrita à relação entre as partes, sendo que o nexo não se configura de
forma indireta e mediata, transplantando-se de evento danoso causado a terceiro:
(...) II. Consoante a jurisprudência desta Corte, “na aferição do nexo de causalidade, a
doutrina majoritária de Direito Civil adota a teoria da causalidade adequada ou do
dano direto e imediato, de maneira que somente se considera existente o nexo causal
quando o dano é efeito necessário e adequado de uma causa (ação ou omissão). (...)
(AgInt no AREsp 754.859/GO, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, SEGUNDA
TURMA, julgado em 02/06/2016, DJe 13/06/2016).
Portanto, conforme bem posto em sentença, aplica-se ao caso a teoria da causalidade
adequada.
A propósito:
(...) 4. À aferição do nexo de causalidade, à luz do ordenamento jurídico brasileiro
(artigo 1.060 do Código Civil de 1916 e artigo 403 do Código Civil de 2002),
destacam-se os desenvolvimentos doutrinários atinentes à teoria da causalidade
adequada e àquela do dano direto e imediato.
Considera-se, assim, existente o nexo causal quando o dano é efeito necessário e/ou
adequado de determinada causa.
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Inteiro Teor
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Eventual discordância com tais valores deveria ter sido dirimida na ocasião da
contratação do seguro, perante a seguradora, não sendo possível alterar as condições
contratadas posteriormente à ocorrência do sinistro.
Além disso, se verifica que o apelante tinha plena ciência das informações constantes
na apólice, bem como das condições gerais do seguro, vez que juntou tais
documentos à inicial.
Caso idêntico já foi julgado por esta Corte, confira-se:
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE COBRANÇA - SEGURO AGRÍCOLA FIRMADO POR
OCASIÃO DO FINANCIAMENTO DA LAVOURA DE MILHO - FORTES GEADAS NA
REGIÃO DE PLANTAÇÃO - RESPONSABILIDADE DA SEGURADORA EM RESSARCIR
ATÉ O LIMITE PREVISTO NA APÓLICE - INDENIZAÇÃO A SER PAGA COM BASE NA
PRODUTIVIDADE SEGURADA E NÃO A ESPERADA PELO AGRICULTOR - AUSÊNCIA
DE ABUSIVIDADE - SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. (TJPR - 10ª
C.Cível - AC - 1424384-2 - Campo Mourão - Rel.: Luiz Lopes - Unânime - - J.
03.12.2015).
Ainda: (TJPR - 10ª C.Cível - AC - 1023071-8 - Jandaia do Sul - Rel.: Carlos Henrique
Licheski Klein - Unânime - - J. 23.07.2015); (TJPR - 10ª C. Cível - AC - 553967-7 -
Maringá - Rel.: Arquelau Araújo Ribas - Unânime - J. 19.11.2009).
Desta forma, por inexistir qualquer elemento que revele irregularidade na contratação
do seguro, bem como por não se verificar abusividade em seus termos, mostra-se
indevido o pagamento da cobertura securitária, visto que a produtividade do período
se mostrou superior a produtividade segurada.
Deixo de aplicar o art. 85, § 11º do CPC, vez que a sentença foi publicada na vigência
do CPC/73, conforme enunciado administrativo n. 07 do STJ.
Diante do exposto, nego provimento ao apelo, nos termos da fundamentação supra.
ACORDAM os Desembargadores da 8º Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao apelo, nos
termos do voto relator.
Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz Cezar Nicolau (com voto) e
acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 08 de junho de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI
2º, §1º, I DA LEI 6.367/76. ARTS 19 E 20, DA LEI 8.213/91. PRECEDENTES DO STJ.
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(TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1644187-3 - Ponta Grossa - Rel.: Vicente Del Prete Misurelli -
Unânime - J. 01.06.2017)
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Com relação a apólice firmada com a ré Caixa Seguradora S/A (fls. 23 (:1), nota-se que
há declaração assinada pela segurada de que “TOMOU CONHECIMENTO DO TEOR
DAS CONDIÇÕES GERAIS E ESPECIAIS DO CONTRATO, que fazem parte integrante
desta Proposta, não tendo dúvidas sobre as mesmas”.
Portanto, como a segurada exarou que detinha pleno conhecimento das condições
gerais que acompanham a apólice, perfeitamente aplicável a Tabela Para Cálculo de
Indenização (fls.116/117(:1)) que prevê percentual de 20% para “Anquilose total de um
Cível nº 1.656.239-3-e 1.644.187-3 fl. 8 dos punhos”. Veja-se: (TJPR - 8ª C.Cível - AC -
1583768-4 - Umuarama - Rel.: Ademir Ribeiro Richter - Unânime - - J. 09.03.2017).
Como a autora não teve perda total dos movimentos, mas sim parcial, conforme se
extrai do Aviso de Sinistro, preenchido pelo seu Médico Assistente (fls. 204 (:2)), deve
ser aplicado o percentual máximo indicado de 50%, sobre os 20% do teto.
Assim, no apelo nº 1.644.187-3, a segurada deverá ser indenizada pela Caixa
Seguradora S/A, no valor R$ 2.000,00, corrigidos pela média do índice INPC/IGP-DI
desde a data do efetivo prejuízo, ou seja, a data em que houve a negativa por parte
da seguradora 03/06/2015, acrescidos de juros de mora de 1% ao mês a partir da
citação.
Tendo em vista o resultado dos presentes recursos, necessário se faz inverter os ônus
sucumbenciais de ambas as ações, devendo as requeridas arcarem com a
integralidade das custas processuais e honorários advocatícios, os quais majoro para
15% sobre o valor da condenação, nos termos do art. 85, §11, CPC.
Diante do exposto, dou provimento aos recursos para reformar a sentença e julgar
procedente as lides, condenando as requeridas ao pagamento dos prêmios conforme
expostos na fundamentação, devidamente corrigido e acrescidos de juros de mora,
além das custas processuais e honorários advocatícios, fixados em 15% sobre o valor
de cada condenação.
ACORDAM os Desembargadores da 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento aos recursos, nos
termos do voto do relator.
Cível nº 1.656.239-3-e 1.644.187-3 fl. 9
Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz Cezar Nicolau (com voto) e
acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 01 de junho de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI
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PENSIONAMENTO
PROVIDO.
Unânime - J. 25.05.2017)
Inteiro Teor
Trata-se de Apelação Cível contra a sentença que, nos autos de Ação Indenizatória nº
0006104-41.2009.8.16.0173, julgou procedente o pedido inicial, condenando os
requeridos ao pagamento de indenização por danos materiais no valor de R$ 417,96,
danos morais no valor de R$ 70.000,00 para a esposa do falecido e R$ 100.000,00
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2. Tanto em casos regidos pelo Código Civil de 1916 quanto nos regidos pelo Código
Civil de 2002, responde o empregador pelo ato ilícito do preposto se este, embora
não estando efetivamente no exercício do labor que lhe foi confiado ou mesmo fora
do horário de trabalho, vale-se das circunstâncias propiciadas pelo trabalho para agir,
se de tais circunstâncias resultou facilitação ou auxílio, ainda que de forma incidental,
local ou cronológica, à ação do empregado (REsp 1072577/PR, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 12/04/2012, DJe 26/04/2012).
Note-se que o próprio réu Antonio Olivio Fernandes Borsato confirma em sua
contestação que o veículo foi repassado ao réu para a prestação de serviços da
empresa (fl. 467).
Desse modo, mostra-se correta a responsabilização do proprietário do veículo, assim
como pessoa jurídica empregadora do motorista, ficando mantida a sentença também
nesse ponto.
Quanto ao valor da pensão alimentícia fixada em favor das recorridas, o fato de não
existir comprovante de pagamento de todos os meses trabalhados como pintor, a
prova testemunhal, aliada aos comprovantes existentes, aponta no sentido de que o
falecido recebia em média nesse ofício o valor de R$ 700,00 por mês, como bem
entendeu a sentença, não havendo, portanto, o que se alterar.
Por fim, no que toca ao termo final do pensionamento, afigura-se correta a sentença
ao utilizar a expectativa de vida da vítima, inclusive em razão do pedido inicial nesse
sentido.
Sobre o tema:
Quanto ao termo final do pensionamento mensal, ao contrário do que defende a
parte agravante, o Superior Tribunal de Justiça, em recentes julgamentos concluiu que
deve ser levado em conta os dados atuais sobre a expectativa de vida do brasileiro
com base nos dados estatísticos do IBGE. (AgInt no AREsp 909.204/GO, Rel.
Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 23/08/2016, DJe
02/09/2016)
De igual modo, a pensão é devida à filha até que ela complete 25 anos, idade em que
se presume que deixaria de ser dependente do pai (AgInt no REsp 1554466/RJ, Rel.
Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA, julgado em 09/08/2016, DJe
22/08/2016).
Nesse sentido, já julgou esta Câmara:
APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL.ACIDENTE DE TRÂNSITO. MORTE
DO MOTORISTA. ALEGAÇÃO DE CULPA EXCLUSIVA DE TERCEIRO. ESTADO DE
NECESSIDADE.NEXO CAUSAL CONFIGURADO. CONDUTA DO OFENSOR QUE
CONTRIBUIU PARA O EVENTO DANOSO. PERSISTÊNCIA DO DEVER DE INDENIZAR.
DIREITO DE REGRESSO CONTRA O TERCEIRO. PENSIONAMENTO. PRESUNÇÃO DE
DEPENDÊNCIA ECONÔMICA DO FILHO ATÉ OS 25 ANOS DE IDADE. RATEIO
ENTRE OS DEMAIS DEPENDENTES. NATUREZA ALIMENTAR DA PENSÃO. PARCELA
ÚNICA INDEVIDA.PAGAMENTO DE PRESTAÇÕES MENSAIS. ART.948, II, CC/02.
DANOS MORAIS.
MANUTENÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO. RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO. PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇAAPELAÇÃO CÍVEL Nº
242
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Unânime - J. 25.05.2017)
Inteiro Teor
Dessa sentença recorre BANCO BRADESCO S/A (fls. 133/142), alegando que o
apelado contratou Cédula de Crédito Bancário para financiamento de bens, conforme
demonstra a documentação dos autos, e que houve pacto expresso de contrato de
seguro nesta Cédula.
Aduz que a cláusula é clara e destacada e que, portanto, a cobrança realizada foi
legítima. Defende que não deve haver repetição de indébito e pede o afastamento da
devolução em dobro. Pede que a correção monetária flua a partir da sentença e os
juros a partir da citação.
Contrarrazões (fls. 153/157).
É o relatório.
Voto.
Trata-se de pretensão declaratória de inexistência de contratação de seguro
prestamista no bojo de Cédula de Crédito Bancário para financiamento de bens.
Embora o apelado tenha afirmado que não contratou o seguro nem assinou nada (fls.
03), consta nos autos a Cédula de Crédito Bancário por ele devidamente assinada (fls.
56/63).
E nesta Cédula, há a cláusula 4ª, redigida de forma clara, inequívoca e destacada em
negrito, na qual as partes acordam pela contratação do seguro prestamista (fls. 25).
E tanto o seguro foi contratado na forma da citada cláusula, que tal ato constou
claramente no quadro II. 17, além de ter sido novamente mencionado, com o
respectivo valor, no quadro de pagamentos autorizados (quando III, item 1.2). Tudo
devidamente assinado pelo apelado (fls. 57).
Ora, resta evidente que o seguro prestamista foi contratado pelo apelado, do
contrário, não deveria ter aposto sua assinatura no contrato demonstrando anuência
com essa manifestação de vontade (art. 110 do CCB), inclusive em razão da boa-fé
que deve permear a interpretação dos negócios jurídicos (art. 113 do CCB).
Consigne-se, ainda, que o contrato foi pactuado em 07/2011 (fls. 57), mas apenas em
03/2013 (fls. 28) o apelado insurgiu-se contra a cobrança, vale dizer, após quase 2
anos depois da contratação.
A alegação de que apenas a apólice ou o bilhete seriam capazes de provar a
contratação (art. 758, do CCD) não prospera.
É que “embora o art. 758 do Código Civil faça alusão à apólice, bilhete ou
pagamento do prêmio como meios de prova do contrato de seguro, é certo também
que não exclui outras formas aptas à comprovação da relação securitária” (STJ - REsp
1130704/MG 4ª Turma Rel. Min. Luis Felipe Salomão DJ 17/04/2013).
Logo, em se tratando o seguro de negócio jurídico consensual, aperfeiçoa-se tão logo
as partes acordem quanto ao objeto e preço, não havendo, assim, alguma “prova
tarifária” exclusivamente apta para atestar a existência do negócio, que pode então
ser comprovada por qualquer meio idôneo, como a anuência aqui dada e assinada na
Cédula de Crédito. Sobre o tema:
DIREITO CIVIL. DIREITO DOS CONTRATOS. SEGURO.
CONTRATO CONSENSUAL. MOMENTO EM QUE É CONSIDERADO PERFEITO E
ACABADO. MANIFESTAÇÃO DE VONTADE, AINDA QUE TÁCITA. (...). 1. O seguro é
contrato consensual e aperfeiçoa-se tão logo haja manifestação de vontade,
244
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Unânime - J. 18.05.2017)
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Inteiro Teor
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz Cezar Nicolau (com voto) e
acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 18 de maio de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI
Inteiro Teor
250
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
campo de visão, além do fato que o veículo do requerido estava em uma subida, o
que comprova ainda mais sua desatenção ao efetuar a manobra.
O fato das testemunhas terem afirmado que a colisão ocorreu na contramão, não
imputa maior culpa ao requerido, já que isto ocorreu ao tentar desviar do veículo da
autora que já ingressara na via, todavia, deve ser levado em consideração sua conduta
culposa ao trafegar em velocidade acima do permitido e sem a atenção devida nos
trechos onde há cruzamento de veículos.
Tal situação restou suficientemente comprovada pelo boletim de ocorrência que
atestou que o veículo deixou uma marca de frenagem de 40,20 metros até o ponto de
impacto, mais 17,65 metros após a colisão, sendo que a velocidade máxima da via era
de 60 km/h e estava em um trecho de subida, não sendo crível que não conseguiria
parar o veículo pesado e na subida se estivesse na velocidade permitida.
Além disso, o depoimento do policial rodoviário militar Isacar Floriano de Freitas,
afirmou que na época do acidente não existiam quebra-molas no local, e, a
testemunha Noeli Maffessoni, também afirmou que foi ultrapassada pelo caminhão em
questão quando estava a 80km/h há uns 2km do acidente, concluindo-se assim que o
caminhão vinha embalado da descida que antecede a subida onde o acidente ocorreu,
não conseguindo parar o veículo a tempo.
Posto isso, é possível afirmar que as autoras tiveram culpa no acidente ao promover a
manobra sem a atenção devida, bem como, os requeridos ao não empregar a direção
defensiva recomendada nos trechos onde há cruzamento, bastando fixar a
porcentagem de cada um.
Não há como negar que a conduta principal para ocorrência do sinistro partiu da
desatenção das autoras, já que senão tivessem ingressado a via naquele momento,
nada teria acontecido, e, o caminhão, mesmo em alta velocidade, seguiria sua viagem
normalmente.
Nesses casos, esta colenda câmara de justiça vem entendendo que o veículo que
ingressa a preferencial sem o devido cuidado, responde por 70% da culpa, enquanto
que o veículo que trafega pela via preferencial acima do limite de velocidade contribui
com os 30% restantes. Nesse sentido:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO COM PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS E MORAIS. ACIDENTE DE TRÂNSITO.TREVO RODOVIÁRIO. SENTENÇA
DE IMPROCEDÊNCIA. TESE DE CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA. IRRESIGNAÇÃO DOS
AUTORES.
(I) PROVAS QUE DEMONSTRAM A OCORRÊNCIA DE CULPA CONCORRENTE.
MOTORISTA DO CAMINHÃO QUE CONFESSOU À POLÍCIA QUE TRAFEGAVA A 80
KM/H, O DOBRO DA VELOCIDADE MÁXIMA PERMITIDA. VÍTIMA QUE NÃO TOMOU
A DEVIDA CAUTELA E ATENÇÃO NA EXECUÇÃO DA MANOBRA DE
TRANSPOSIÇÃO DE PISTA. CULPA PREPONDERANTE DESTA, NA PROPORÇÃO DE
70% (...) (TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1459809-3 - Marmeleiro - Rel.: Osvaldo Nallim Duarte
Unânime - - J. 04.08.2016).
Assim, a culpa concorrente deve ser redistribuída para 70% a cargo das autoras e 30%
aos requeridos.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
CHANCE
Unânime - J. 18.05.2017)
Inteiro Teor
Trata-se de Apelação Cível interposta contra a sentença que, nos autos da Ação
Indenizatória nº 0002105- 63.1999.8.16.0001, julgou improcedente o pedido inicial,
condenando o apelante ao pagamento das custas processuais e honorários
advocatícios, estes fixados em 10% sobre o valor da causa.
Em suas razões, pede o recorrente, preliminarmente, o provimento do agravo retido
de fls. 1633/1635, sob o fundamento de que a produção de provas em audiência é de
extrema importância, uma vez que o dano alegado na inicial não pode ser presumido.
Em segundo lugar, diz que, ante a impossibilidade de provar que não foi notificado da
data da audiência no seu processo trabalhista, por se tratar de prova negativa, o ônus
da prova cabia aos apelados, nos termos do art. 333, II, do CPC, do qual não se
desincumbiram. Afirma que é dever do patrono constituído cientificar o cliente acerca
dos atos processuais, pelo que deveriam os apelados ter provado nos autos que
notificaram o apelante para comparecimento na Justiça Federal. No mérito, defende
que a sua ausência em três audiências não pode ser tida como fruto de negligência,
pois foram todas justificadas e acolhidas pelo Juízo Trabalhista. Alega que se tivesse
sido notificado da quarta audiência certamente compareceria ou comprovaria a
impossibilidade. Argumenta que não existem provas de que não arcava com as
despesas de viagem dos advogados responsáveis pelo processo trabalhista. Defende
254
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Narra o recorrente na inicial que contratou os serviços do escritório do Dr. João Régis
Fassbender Teixeira para o ajuizamento de reclamatória trabalhista contra a empresa
General Eletric do Brasil S.A no ano de 1992.
Contudo, por negligência da banca de advogados, não foi notificado para
comparecer em audiência designada no processo trabalhista, tampouco informado
sobre o arquivamento do feito, o que acarretou a prescrição da ação e, por
consequência, a perda da chance de ter sua pretensão analisada, devendo ser
indenizado.
Pois bem.
Como se sabe, nos termos dos arts. 32, do Estatuto da Ordem dos Advogados do
Brasil, e 14, §4º, do CDC, a responsabilidade civil do advogado é subjetiva,
dependendo da comprovação do dolo ou da culpa do profissional nos atos praticados
durante o exercício da profissão.
Sobre o tema: TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1461219-0 - Curitiba - Rel.: Osvaldo Nallim
Duarte - Unânime - - J. 14.04.2016.
Nesse caminho, confrontando as teses e provas produzidas pelas partes, entende-se
que não ficou caracterizada a alegada negligência dos advogados na condução do
processo trabalhista, que teria acarretado a suposta prescrição da pretensão na justiça
especializada.
Pelo contrário, os fatos narrados pelo apelante demonstram que os causídicos foram
diligentes e até mesmo eficientes no acompanhamento do processo, devendo se dizer
que as circunstâncias criadas pelo próprio recorrente tiveram papel determinante para
o arquivamento do feito e perda da pretensão.
Na justiça do trabalho, o comparecimento de autor e réu na audiência inaugural é
fundamental para a continuidade da demanda.
É o que dispõe o art. 844, da CLT: O não comparecimento do reclamante à audiência
importa o arquivamento da reclamação, e o não comparecimento do reclamado
importa revelia, além de confissão quanto à matéria de fato.
No caso dos autos, ajuizada a ação trabalhista em 10/08/1992 (fls. 17/21), foi
designada audiência inaugural para 18/11/1992.
No dia marcado, o apelante não pode comparecer porque estava em Portugal, tendo
a advogada do escritório por ele contratado, Dra. Gisele Mattner, pedido o adiamento
da audiência, o que foi deferido pelo Juiz do Trabalho, sob a condição de que o
motivo da ausência fosse justificado.
Ressalte-se que o processo só não foi arquivado naquele momento porque, além da
advogada, fez-se presente o tesoureiro do sindicato da categoria do apelante o
representando (fls. 78/79).
Justificada a ausência, a audiência foi redesignada para 03/05/1993, porém, mais uma
vez, não ocorreu, em razão da ausência do apelante.
Então, outro advogado do escritório, Dr. Carlos Eduardo Bley, em acordo com a
empresa reclamada, pediu a remessa dos autos à uma das Varas do Trabalho do
Estado de São Paulo, o que foi deferido pelo Juiz do Trabalho (fl. 87).
256
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Já em São Paulo, a audiência inaugural foi designada para 27/08/1993, todavia, teve
de ser adiada pela 3ª vez consecutiva, uma vez que novamente o recorrente estava
fora do país estudando, impossibilitando o prosseguimento da ação.
Veja-se que no pedido de adiamento, o advogado do apelante, Dr. João Régis
Fassbender Teixeira, solicitou que a nova audiência fosse marcada para depois de 13
meses, contados de setembro de 1993 (fl. 89/90), período supostamente ligado ao
término do curso do recorrente no exterior.
Tal pedido foi acolhido pelo Juiz do Trabalho e a audiência marcada para 04/11/1994,
tendo sido dirigida carta de intimação ao escritório, aos cuidados do advogado Dr.
Marcelo Alessi, em data de 02/09/1993 (fl. 91).
No dia da audiência (04/11/1994), ante o não comparecimento do apelante, foi
arquivada a reclamatória trabalhista (fl. 92).
Pois bem. De acordo com a narrativa acima, não é crível a tese de que os advogados
contratados pelo apelante atuaram de forma negligente, permitindo que a ação fosse
arquivada e declarada prescrita por falha na prestação dos serviços de advocacia.
A todo momento os causídicos foram diligentes, conseguindo o adiamento da
audiência inaugural por 03 vezes, tudo em razão de situações criadas pelo próprio
apelante, o qual, durante o tramitar inicial do processo (aproximadamente 02 anos),
encontrava-se fora do país, dificultando, por óbvio, a atuação dos patronos.
Outra circunstância que deve ser levada em consideração, e que foi omitida pelo
recorrente na inicial, é a de que o patrocínio da causa foi intermediado pela sua irmã
Adriana Regina Upitis Gomes.
Muito embora Adriana alegue que não trabalhava no escritório contratado pelo
apelante, tendo captado a ação na condição de aluna de direito do advogado Dr.
João Régis Fassbender Teixeira (fls. 1290/1293), toda a prova documental produzida
nos autos aponta que ela era a responsável direta por receber informações do trâmite
do processo e repassa-las ao irmão.
Veja-se que na procuração outorgada pelo recorrente para a propositura da
reclamatória trabalhista consta o nome de Adriana (fls. 14 e 96). A petição inicial da
reclamatória, assim como a ficha para cadastro do processo na Justiça do Trabalho,
foram assinadas por ela, inclusive como se fosse advogada, pois indicou números de
inscrições na OAB/PR (fls. 20 e 99).
Adriana também recebeu e assinou a notificação da audiência inaugural datada para
18/11/1992 como se advogada fosse (fl. 94). Além de tudo isso, há prova de que as
comunicações feitas pelo escritório eram dirigidas tanto para o autor quanto para sua
irmã (fl. 80/82).
Logo, tudo indica que o recorrente sempre foi assistido por sua irmã, sabendo de
todo o desenrolar do processo ajuizado na Justiça Trabalhista.
Estranha-se, ainda, o fato de que nas três primeiras audiências, os pedidos de
adiamento tinham como justificativa a ausência do recorrente no país. Ou seja, de
alguma forma o cliente informava aos advogados que não poderia comparecer aos
atos, pedindo que fossem adiados.
Acontece que o apelante não trouxe qualquer documento capaz de mostrar que, em
relação a essas audiências, foi notificado pelo escritório, fator que que faz perder força
257
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
a alegação de que não foi cientificado para a audiência em que houve o arquivamento
do processo ou, ainda, acerca do retorno dos autos ao arquivo geral.
Não bastasse isso, em nenhum momento ficou comprovada a data da prescrição da
pretensão trabalhista nos autos, inexistindo qualquer declaração formal nesse sentido
por parte da Justiça do Trabalho.
Mesmo assim, note-se que antes mesmo de encerrado o prazo prescricional de 02
anos, hipoteticamente contado da data do arquivamento do processo em 04/11/1994
(art. 7º, XXIX, da CF, e súmula 268, do TST), o recorrente havia constituído novos
patronos (22/03/1996 fl. 39), com poderes para atuação inclusive em juntas de
conciliação.
Ou seja, como bem pontou o magistrado de primeiro grau, se houve a prescrição da
pretensão, a desídia do apelante contribuiu para tanto, vez que, da data do
arquivamento, tinha um longo período para evitar o perecimento do seu direito, não
podendo, assim, beneficiar-se da própria inércia.
Enfim, todas essas circunstâncias afastam a tese de que a suposta prescrição da ação
trabalhista decorreu de conduta negligente dos advogados trabalhista. Assim sendo,
tendo os réus se desincumbido a contento do ônus que lhe impunha o inciso II, do art.
333, do CPC/73, a manutenção da improcedência da ação é medida que se impõe.
Diante do exposto, nego provimento ao apelo, mantendo a sentença como lançada,
nos termos da fundamentação supra.
ACORDAM os Desembargadores da 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao apelo, nos
termos do voto do relator.
Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz Cezar Nicolau (com voto) e
acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 18 de maio de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI
258
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Unânime - J. 18.05.2017)
Inteiro Teor
Em casos análogos:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. PLANO DE SAÚDE. CUSTEIO
DE TRATAMENTOS MULTIDISCIPLINARES.
[...]. TERAPIA OCUPACIONAL, FISIOTERAPIA, PSICOMOTRICIDADE,
MUSICOTERAPIA, EQUOTERAPIA E HIDROTERAPIA. NECESSIDADE EVIDENCIADA.
AUSÊNCIA DE PREVISÃO NO ROL DA ANS. ELENCO DE PROCEDIMENTOS
ESPECÍFICOS MERAMENTE EXEMPLIFICATIVO. EXCLUSÃO CONTRATUAL.
DOENÇA ABRANGIDA PELO PLANO CONTRATADO. OBRIGATORIEDADE DE
COBERTURA.
INTERPRETAÇÃO MAIS FAVORÁVEL AO CONSUMIDOR.
LIMITAÇÕES DE DIREITOS QUE DEVEM SER EXPRESSAS.
MÉTODOS NÃO EXCLUÍDOS EXPLICITAMENTE. MELHOR
TRATAMENTO QUE NÃO PODE SER DEFINIDO PELA RÉ.
ATRIBUIÇÃO DO MÉDICO. NEGATIVA ABUSIVA.
JURISPRUDÊNCIA DO STJ E DESTE TRIBUNAL. SENTENÇA MANTIDA.RECURSO A
QUE SE NEGA PROVIMENTO. (TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1585810-1 - Rel.: Clayton de
Albuquerque Maranhão - J. 02.02.2017).
E ainda: (TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1531006-6-Rel.: Gilberto Ferreira - J. 01.09.2016).
Portanto, a operadora é responsável pela cobertura e o ressarcimento dos valores
gastos com estas terapias (fls. 05), que serão corrigidos monetariamente pelo
INPC/IGP-DI, desde o desembolso até o efetivo pagamento, e juros de mora a contar
da citação (art. 405 do CC).
Com relação ao dano moral, configurar-se-ia caso houvesse a interrupção das terapias
em razão da negativa de cobertura e reembolso. Contudo, as terapias tiveram
continuidade, conforme demonstrado pelo apelante (fl. 05), não havendo, portanto,
dano passível de reparação.
Tendo em vista o êxito do apelante, redistribuo a sucumbência na proporção de 60%
para a apelada e 40% ao apelante. Fixo os honorários advocatícios em 15% sobre o
valor da condenação, a serem rateados conforme supra definido.
Diante do exposto, dou parcial provimento ao apelo, para determinar que a apelada
arque com as terapias necessárias e o reembolso a elas referente.
ACORDAM os Desembargadores da 8º Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar parcial provimento ao recurso,
nos termos do voto relator.
Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz Cezar Nicolau (com voto) e
acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luis Sérgio
Swiech.
Curitiba, 18 de maio de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI
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PELO PACIENTE
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DO RISCO
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Quanto as particularidades, nota-se que por mais que a apelante tenha negativado o
nome do autor em função do financiamento contratado por estelionatário,
prontamente reparou seu equivoco ao ser informado pelo apelado sobre a ocorrência
de fraude, promovendo o fim do financiamento e baixa da inscrição indevida, ainda
em sede administrativa, o que certamente fez diminuir a extensão do dano.
Ocorre que após a regularização do financiamento, nenhuma das partes promoveu a
transferência de propriedade junto ao órgão de trânsito, originando dividas
decorrentes dos IPVAs não pagos em nome do autor, e sua inscrição em dívida ativa.
Cumpre observar que nenhuma das partes poderia promover a transferência de
propriedade do veículo, vez que não detinham sua posse, tampouco os documentos
exigidos, mas deve-se considerar que o interesse, da transferência e a regularização da
propriedade junto ao DETRAN/SP, era inteiramente do autor, que deveria ter
ingressado com demanda judicial requerendo a expedição de ofício para regularização
cadastral.
Cível nº 1.650.315-4 fl. 6 Assim, ao não diligenciar em tempo oportuno, deixando
transcorrer longo período para o ajuizamento da ação, o autor agiu em culpa
concorrente para o longo período que o veículo originou dividas em seu nome e a
futura inscrição em dívida ativa pelo não pagamento dos IPVAs.
Assim, observadas tais particularidades, em conjunto com os parâmetros utilizados
por esta Câmara de Justiça, entende-se que a indenização deve ser minorada para R$
5.000,00, assegurando ao autor, de forma suficiente, a justa reparação pelo dano
sofrido sem lhe causar enriquecimento ilícito, nem mesmo provocar ínfimo decréscimo
do patrimônio da lesante, sendo adequado ainda a reprimir que tais condutas se
repitam.
Por fim, quanto aos honorários advocatícios, não há o que se falar em sua minoração,
conforme pretende a apelante, vez que aplicados no menor patamar possível, sendo
inclusive, o caso de majoração, conforme o exposto no art. 85, § 11, CPC, de modo
que fixo em 12% sobre o valor da condenação.
Diante do exposto, dou parcial provimento ao recurso para incluir no oficio a ser
expedido ao DETRAN/SP as ordens de restrição a circulação do veículo e de bloqueio
por estelionato, majorando os honorários.
ACORDAM os Desembargadores da 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar parcial provimento ao recurso,
nos termos do voto do relator.
Cível nº 1.650.315-4 fl. 7 Participou da sessão presidida pelo Desembargador Luiz
Cezar Nicolau (com voto) e acompanhou o voto do Relator o Excelentíssimo Senhor
Desembargador Luis Sérgio Swiech.
Curitiba, 18 de maio de 2017.
Des. VICENTE DEL PRETE MISURELLI
267
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TRANSPORTADOR
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Inteiro Teor
Trata-se de Apelações Cíveis interpostas contra a sentença que, nos autos de Ação
Indenizatória n. 0030405- 81.2013.8.16.0021, julgou procedente em parte o pedido
inicial, condenando os apelantes solidariamente ao pagamento de indenização por
danos morais no valor de R$ 30.000,00 e lucros cessantes no valor de R$ 3.600,00,
abatido o valor do DPVAT recebido pela apelada. Pela sucumbência, condenou as
recorrentes ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, estes
fixados em 10% sobre a condenação (fls. 441/449).
Em suas razões, CIA MUTUAL DE SEGUROS pede, em primeiro lugar, a concessão
dos benefícios da gratuidade da justiça, por estar em processo de liquidação
extrajudicial. No mérito, defende a inexistência de nexo de causalidade entre a
conduta do motorista e os danos sofridos pela apelada em razão da queda.
Sucessivamente, diz que houve culpa exclusiva da vítima. Ainda, diz ser incabível
indenização por danos morais, pedindo, caso contrário, a redução do valor. Afirma que
os lucros cessantes devem ser comprovados, ônus do qual não se desincumbiu a
apelada. Sucessivamente, assevera que não há no contrato de seguro cláusula
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
No presente caso, entende-se que houve essa contratação, tal como se pode ver da
especificação de seguro trazida pela própria VIAÇÃO CAPITAL DO OESTE LTDA (fls.
120 e 167). E, muito embora se trate de relação de consumo, não se verifica qualquer
nulidade ou abusividade nessa diferenciação de eventos cobertos, estando a cláusula
redigida de forma clara e destacada das demais.
Aliás, veja-se que nas condições gerais a franquia estipulada para essa cobertura
adicional é de R$ 2.000,00, sendo que a franquia estipulada para a empresa segurada
é de R$ 1.000,00, o que faz presumir ter havido a negociação dessa cobertura e, por
consequência, a ciência inequívoca da segurada acerca dessa especificidade do
seguro.
Assim, por não se tratar de acidente de trânsito, mas de incidente de decorrente de
freada brusca, perfeitamente possível a aplicação da cláusula específica, mediante o
desconto da franquia contratada, devendo ser observado o limite definido para danos
decorrentes de fatos desta natureza, como bem entendeu a sentença.
7. Do termo inicial dos juros de mora.
Relativamente ao termo inicial dos juros de mora dos danos morais, não merece
acolhida a argumentação da seguradora. No entanto, por se tratar de matéria de
ordem pública, registra-se que deve ser considerada a data da citação, nos termos do
art. 405, do CC, e não o evento danoso, já se trata de responsabilidade contratual,
restando a sentença alterada de ofício (TJPR - 8ª C.Cível - AC - 1276279-5 - Curitiba -
Rel.: José Laurindo de Souza Netto - Unânime - - J. 17.03.2016).
8. Demais questões.
Deixa-se de conhecer do pedido de desconto do seguro DPVAT, por ausência de
interesse recursal.
Note-se que os embargos de declaração opostos pela empresa VIAÇÃO CAPITAL DO
OESTE LTDA foram acolhidos pelo julgador de primeiro grau para determinar o
desconto do valor integral recebido pela vítima a título de DPVAT, restando
prejudicada a pretensão da apelante (fls.
458/460 e 531/532).
Com relação às implicações do deferimento do pedido de recuperação judicial, não
merecem acolhida os argumentos da seguradora. Por estar o processo ainda em fase
de conhecimento, inexiste
risco de constrição do patrimônio da massa liquidanda, motivo pelo qual não se faz
necessário suspender a demanda neste momento. Sobre o tema:
“RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL. AÇÃO
INDENIZATÓRIA. AJUIZAMENTO APÓS O DECRETO DE LIQUIDAÇÃO.
POSSIBILIDADE. EXEGESE DO ART.18, “A”, DA LEI N. 6.024/1974. 1. A exegese do
art. 18, “a”, da Lei n. 6.024/1974 induz a que a suspensão de ações ajuizadas em
desfavor de entidades sob regime de liquidação extrajudicial e o veto à propositura de
novas demandas após o decreto de liquidação não alcançam as ações de
conhecimento voltadas à obtenção de provimento judicial relativo à certeza e liquidez
do crédito. Isso porque, em tais hipóteses, inexiste risco de qualquer ato de constrição
judicial de bens da massa. 2. Recurso especial conhecido e provido.” (STJ - REsp
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Unânime - J. 18.05.2017)
Inteiro Teor
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Inteiro Teor
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
É o relatório.
Voto.
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conhece-se do apelo.
O autor adquiriu da 2ª requerida (Lufthansa) passagem aérea de nº 220
6561127867/68, com destino à Roma/Itália, sendo que o primeiro voo seria operado
pela 1ª requerida (Gol) e sairia de Londrina, no dia 07/07/2015 às 05h05, com destino
ao aeroporto de Congonhas/SP, realizaria o translado até o aeroporto de Guarulhos,
onde tomaria o voo internacional as 18h10 do mesmo dia.
Ocorre que o aeroporto de Londrina estava fechado, tendo o autor que realizar o
deslocamento até São Paulo por meio de ônibus, o que quase ocasionou na perda do
2º voo, vez que chegou no aeroporto de destino com menos de 44 minutos de
antecedência, tendo que implorar para passar na frente dos outros passageiros e
aceitar fazer o “embarque condicional”, onde existia a probabilidade de não embarcar
na aeronave, caso o comandante ordenasse o fechamento das portas, e, a certeza de
que chegaria ao destino final sem as suas bagagens, que seriam enviadas no próximo
voo.
Negar que tais fatos geraram desconforto e incômodo na vida do autor, seria
equivocado, já que viveu momentos de apreensão ao imaginar que perderia seu voo
para a Europa, sem falar de toda a correria que teve que enfrentar para conseguir
embarcar a tempo na aeronave, entretanto, verificando as particularidades do
presente caso, não se torna possível a condenação da requerida em danos morais.
Nota-se que toda as dificuldades experimentadas pelo autor tiveram como causa
inicial o fato do aeroporto Governador José Richa estar fechado no período entre
01h40m a 10h53m do dia 07/07/2015, em razão de chuvas e forte neblina, conforme
demonstrou a primeira apelada (fls. 111).
Não merece prosperar a alegação da apelante de que inexistiu qualquer excludente
da responsabilidade civil, já que os fenômenos naturais, como os que ocorreram no
presente caso, são exemplos clássicos de caso fortuito e força maior, previsto no art.
393, CC.
Entretanto, apesar de não possuir gerência sobre as condições climáticas, o simples
fato de ter ocorrido motivo de força maior não é suficiente para afastar o dever de
indenizar, já que sua responsabilidade é objetiva, nos termos do art. 14, CDC,
devendo ser verificado se houve defeito na prestação do serviço e se a requerida agiu
com desídia, ou descumpriu com suas obrigações com o passageiro.
Pois bem, após ter a ciência de que não conseguiria operar o voo contratado pelo
apelante, a apelada VRG providenciou o transporte do passageiro através de ônibus
até o local contratado, cumprindo assim com o art. 741, CC.
Por certo que o passageiro anuiu com tal deslocamento pela via terrestre, já que não
havia certeza de que o aeroporto iria reabrir, sendo indiferente o fato de que poderia
ter sido realocado em outro voo no período da tarde.
Cumpre informar que não há nos autos qualquer documento que comprove, com
exatidão, o horário em que o ônibus saiu de Londrina, nem o horário de sua chegada
no aeroporto de Congonhas, tampouco, o tempo de deslocamento até o aeroporto
de Guarulhos e o prazo que teve para fazer o check-in, não sendo possível imputar
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CONSUMIDORA PREJUDICADO.
Inteiro Teor
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Inteiro Teor
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A questão aqui é saber apenas se a negativa de cobertura foi ou não correta à luz da
legislação e jurisprudência. De pronto, friso que o caso será analisado sob as
disposições da Lei 9.656/98 e também do CDC, nos termos da súmula nº 469/STJ.
Pois bem.
O procedimento de gastroplastia para obesidade mórbida está no rol de
procedimentos listados pela ANS e o Anexo II da Resolução Normativa nº 211/2010
traz as seguintes condições para a cobertura obrigatória:
41. GASTROPLASTIA (CIRURGIA BARIÁTRICA) POR VIDEOLAPAROSCOPIA OU POR
VIA LAPAROTÔMICA
1. Cobertura obrigatória para pacientes com idade entre 18 e 65 anos, com falha no
tratamento clínico realizado por, pelo menos, 2 anos e obesidade mórbida instalada há
mais de cinco anos, quando preenchido pelo menos um dos critérios listados no grupo
I e nenhum dos critérios listados no grupo II.
No entanto, em que pese a previsão da cirurgia bariátrica no rol da ANS, no presente
caso, a recusa pela apelada, não foi indevida. Isto porque, os médicos que
acompanhavam o processo clínico da autora, não entraram em consenso acerca da
necessidade de realização do procedimento cirúrgico.
Veja-se às fls. 250, que o médico, Dr. Sérgio Luiz Rocha, afirma ser a autora portadora
de obesidade mórbida grau II, sem, contudo, apresentar comorbidade que justifique a
indicação de cirurgia.
Ademais, aponta não evidenciar artropatia grave, não indicando, assim, tratamento
cirúrgico para a obesidade da autora, naquele momento.
No mais, o médico assistente da autora, apresentou justificativa ao plano de saúde
(fls.246), no sentido de que, embora houvesse indicação da cirurgia bariátrica em razão
do laudo ortopédico associado ao IMC, não havia indicação nenhuma de
comorbidade, ou seja, doenças agravadas pela obesidade e que melhoram quando a
mesma é tratada de forma eficaz e que ameacem a vida.
Portanto, em que pese a autora preenche-se à época requisitos que justificassem a
realização do procedimento bariátrico, não apresentava doenças que pudessem ser
agravadas pela obesidade, não
sendo indicado naquele momento, a realização do procedimento cirúrgico.
Não há nos autos nenhum outro relatório médico indicando a cirurgia bariátrica ou
apontando os motivos para a imediata gastroplastia, tampouco há nos autos prova de
que o procedimento era de emergência por implicar em risco imediato de vida para o
paciente (art. 35- C, I da Lei 9.656/98). Enfim, a recusa de cobertura foi legítima, eis
que não se tratava de cirurgia em caráter de urgência e emergência.
Confira-se a posição desta Corte para casos análogos:
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS - PLANO DE SAÚDE - NEGATIVA DE LIBERAÇÃO DE CIRURGIA
BARIÁTRICA POR VIDEOLAPAROSCOPIA - OBRIGATORIEDADE DO
PROCEDIMENTO DE ACORDO COM OS REQUISITOS DA ANS NÃO
DEMONSTRADA - INEXISTÊNCIA DE SITUAÇÃO DE URGÊNCIA OU DE RISCO À
SAÚDE DA PACIENTE - AUSÊNCIA DE COMORBIDADE - DEVER DE COBERTURA
NÃO EVIDENCIADO - RECUSA LEGÍTIMA DA OPERADORA DO PLANO DE SAÚDE -
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A PENA FIXADA.
1. Súmula 523, do STF: “No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade
absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houve prova de prejuízo para o réu.”
No caso dos autos, não se verifica que a ausência de oitiva das testemunhas arroladas
voluntariedade recursal.
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Recurso quando o réu responder afirmativamente que deseja recorrer. Assim, não há
que se falar em nulidade pela falta de juntada de Termo de Recurso quando o Sr.
o fumus boni iuris e o periculim in mora, aplicando por analogia o poder geral de
J. 12.07.2016)
InteiroTeor
RELATÓRIO
Trata-se de Revisão Criminal proposta por Marcos Terra Santana, com amparo no art.
621, inciso I, II e III, do CPP, em face da sentença proferida na Ação Penal n°
2008.0000023-7, transitada em julgado em 03.09.2013, que julgou procedente o
pedido formulado na denúncia, para condenar Marcos Terra Santana como incurso nas
sanções previstas no art. 312, §1°, do CP, à pena de 02 (dois) anos e 03 (três) meses de
reclusão, em regime inicial aberto, substituída por duas restritivas de direito, além de
30 (trinta) dias-multa, no valor de 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente ao
tempo do fato.
Inconformado, o requerente Marcos Terra Santana assevera, em síntese, pelo
constrangimento ilegal por cerceamento de defesa, posto que durante toda instrução
criminal não foram ouvidas nenhuma das testemunhas arroladas pela defesa, causando
grande prejuízo ao requerente, ocasionando a sua condenação. Aduz pela incidência
da Súmula 523, do Supremo Tribunal Federal. Sustenta que a deficiência de defesa
deverá ser reconh ecida de ofício não somente nos casos específicos do art. 497, V, do
CPP, mas em qualquer situação, uma vez que se trata de uma questão de ordem
pública.
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Assevera que a deficiência de defesa não deve ser considerada uma nulidade relativa,
mas sim uma nulidade absoluta, sob pena de ofensa ao art. 5°, XXXV, LIV e LV, da
CF/88. Defende que a inércia do defensor em se manifestar sobre as testemunhas
arroladas na defesa preliminar, bem como não apresentar recurso contra a sentença
condenatória, caracteriza cerceamento de defesa de cunho absoluto, com grave
prejuízo ao requerente diante de sua condenação criminal.
Sustenta pela inexistência do Termo de Recurso, que era necessário para comprovar
que foi disponibilizado ao réu o direito de se manifestar-se expressamente sobre o
recurso previsto em lei, conforme art. 600, §4°, do CPP, e item 6.13.2 do Código de
Normas, havendo nulidade material da intimação do réu em relação a sentença
condenatória. Pugna pela concessão dos efeitos da tutela antecipada para suspender
os efeitos do trânsito em julgado da sentença condenatória, com a possibilidade de
apelar da decisão.
Requer o deferimento de assistência judiciária gratuita, com fulcro no art. 5º, inciso
LXXIV, da CF e Lei n° 1.060/50.
A douta Procuradoria Geral de Justiça exarou parecer, manifestando pela
admissibilidade e improcedência da revisão criminal de sentença.
É o relatório.
Voto do relator
Presentes parcialmente os pressupostos de admissibilidade é de se conhecer em
parte da revisão criminal de sentença.
Convém destacar que Marcos Terra Santana foi condenado pela prática do delito de
peculato (art. 312, §1°, do CP), em razão dos seguintes fatos:
“No dia 19 de junho de 2008, por volta das 9 horas, tendo por local a Delegacia de
Polícia Civil desta cidade e Comarca de Tomazina-PR, localizada na Rua Xavier da
Silva, n° 705, Centro, o denunciado MARCOS TERRA SANTANA , servidor policial
ocupante do cargo de Investigador de Polícia, com consciência e vontade para a
realização do ilícito, valendo-se da facilidade que lhe proporcionava o cargo público,
pois trabalhava na referida Delegacia e estava de plantão no dia dos fatos, subtraiu em
proveito próprio , um motor de veículo marca ‘Fiat’, modelo ‘Uno Mille SX’, cor cinza,
ano 1997, chassi com numeração 9BD146048V5917147, sendo oportuno esclarecer
que o referido automóvel, de propriedade particular encontrava-se no pátio da
instituição policial, e fora apreendido pela polícia militar por não estar regularmente
cadastrado junto ao órgão de trânsito competente, conforme evidencia o Boletim de
Ocorrência de fls. 05/07.”
Do cerceamento de defesa
Alega o requerente pela existência de constrangimento ilegal por cerceamento de
defesa, posto que durante toda instrução criminal não foram ouvidas nenhuma das
testemunhas arroladas pela defesa, causando grande prejuízo ao requerente,
ocasionando a sua condenação. Aduz pela incidência da Súmula 523, do Supremo
Tribunal Federal. Sustenta que a deficiência de defesa deverá ser reconh ecida de
ofício não somente nos casos específicos do art. 497, V, do CPP, mas em qualquer
situação, uma vez que se trata de uma questão de ordem pública.
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Assevera que a deficiência de defesa não deve ser considerada uma nulidade relativa,
mas sim uma nulidade absoluta, sob pena de ofensa ao art. 5°, XXXV, LIV e LV, da
CF/88. Defende que a inércia do defensor em se manifestar sobre as testemunhas
arroladas na defesa preliminar, bem como não apresentar recurso contra a sentença
condenatória do requerente, caracteriza cerceamento de defesa de cunho absoluto,
com grave prejuízo ao requerente diante de sua condenação criminal.
Em relação ao constrangimento ilegal por cerceamento de defesa, vale dizer que em
matéria de nulidade respeita-se o princípio do pas de nullité sans grief , concluindo-se
não haver nulidade sem prejuízo, ou seja, somente se proclama a nulidade de um ato
processual quando houver a efetiva demonstração de prejuízo, à luz do contido no art.
563 do CPP.
Especificamente em relação à deficiência de defesa no processo penal, a Súmula 523
do Supremo Tribunal Federal consagrou que:
Súmula 523, do STF: No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta,
mas a sua deficiência só o anulará se houve prova de prejuízo para o réu.
De tal forma, a defesa técnica deficiente só gerará a anulação do feito se for
demonstrada a prova do prejuízo para o réu.
Observa-se que na Defesa Preliminar de Marcos Terra Santana, seu advogado
constituído (Num. 4753 – Pág. 16) arrolou duas testemunhas de defesa (Num. 4753 –
Pág. 15):
1) José Aparecido de Oliveira
2) José Lairço de Oliveira
No decorrer do feito, a Defesa requereu a substituição da testemunha de defesa
falecida José Aparecido de Oliveira pela testemunha Luís Carlos dos Santos, já
arrolada pela acusação (Num. 4755 - Pág. 11).
Em que pese não seja possível visualizar entre os documentos constantes nos autos os
depoimentos em juízo das testemunhas arroladas pela defesa, estas prestaram
depoimento perante o Processo Administrativo Disciplinar, confirmando os fatos
narrados na denúncia.
José Lairço de Oliveira, perante a Delegacia de Polícia de Tomazina, declarou que
“(...) o depoente é proprietário do veículo FIAT/UNO, cujas placas ignora a qual seja,
veículo este, o qual encontra-se registrado em nome de terceiros, bem como, o
veículo encontra-se aprendido junto a Delegacia de Tomazina Pr há mais de dois anos;
(...) que em data a qual não se recorda, há cerca de um ano, o depoente fora
procurado pelo investigado junto a área rural onde trabalha, o qual mostrou
interessado em fazer a aquisição do motor do veículo FIAT UNO do depoente; que a
princípio o depoente disse que tinha a intenção de vender todo o veículo, para que
finalmente fosse solucionado o problema de sua apreensão, entretendo o processado
insistiu em comprar apenas o motor do veículo; que pelo fato do depoente possuir
pouco conhecimento, veio a indagar ao Policial Marcos Terra, ora processado, se não
havia problemas em vender apenas o motor, tendo então o processado frisado ao
depoente que poderia vender qualquer peça do veículo, sendo importante tão apenas
o chassi do veículo, o qual deveria ficar junto a Delegacia; (...)” (Num. 4759 – Págs.
12/13)
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1. Nos termos da Súmula n. 523 do Supremo Tribunal Federal, “no processo penal, a
falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se
houver prova de prejuízo para o réu”.
2. A alegação de deficiência da defesa deve vir acompanhada de prova de inércia ou
desídia do defensor, causadora de prejuízo concreto à regular defesa do réu.
3. Não há falar em carência de defesa quando o patrocínio da causa, tanto o público
quanto o particular, não foi de tal ordem precário a ponto de considerar a recorrente
desassistida, pois a Defensoria Pública apresentou resposta à acusação e o advogado
particular, de sua livre escolha, acompanhou a audiência de instrução e ofereceu
alegações finais orais.
4. O fato de o defensor, no desempenho autônomo de sua tarefa e ante a
conveniência do caso concreto, ter deixado de arrolar testemunhas, de interferir na
colheita da prova oral com reperguntas e de recorrer não implica, de forma
automática, nulidade do processo por violação objetiva da defesa, pois tais atos não
são obrigatórios e a recorrente olvidou de demonstrar o real prejuízo sofrido e a
existência de tese recursal que pudesse ensejar a provável alteração do julgamento.
5. Não está caracterizada a deficiência da defesa técnica pela ausência, por si só, de
interposição de apelação criminal no prazo legal, pois, ante o princípio da
voluntariedade recursal, previsto no art. 574 do CPP, o defensor constituído não está
obrigado a recorrer e as partes, pessoalmente intimadas da sentença em audiência,
mantiveram-se inertes, não manifestando qualquer inconformismo com a condenação.
6. Recurso ordinário não provido. (STJ, RHC 39.788/SP, Rel. Ministro ROGERIO
SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julg. 12.02.2015, DJe 25.02.2015) (grifo nosso).
Destarte, não se verifica nenhuma prova eficaz do prejuízo do acusado, não havendo
que se falar em reconhecimento de nulidade do processo criminal, ou em ofensa aos
princípios do devido processo legal, direito de acesso à justiça, contraditório e ampla
defesa ou ofensa ao princípio da comunhão das provas.
Do Termo de Recurso
Sustenta pela inexistência do Termo de Recurso, que era necessário para comprovar
que foi disponibilizado ao réu o direito de se manifestar-se expressamente sobre o
recurso previsto em lei, conforme art. 600, §4°, do CPP, e item 6.13.2 do Código de
Normas, havendo nulidade material da intimação do réu em relação a sentença
condenatória.
Sobre o Termo de Recurso, o item 6.13.2 do Código de Normas da Corregedoria-
Geral da Justiça do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, Foro Judicial, dispõe
que:
“ 6.13.2 – No ato da intimação será perguntado ao réu se deseja recorrer e, sendo
afirmativa a resposta, lavrar-se-á o respectivo termo. ”
Da leitura do supracitado item, extrai-se que o Termo de Recurso será lavrado quando
o réu se manifestar afirmativamente que deseja recorrer.
Entretanto, na certidão constante nos autos, (Num. 5230 – Pág. 11), o Sr. Oficial de
Justiça certifica que procedeu a intimação de Marcos Terra Santana do conteúdo da
sentença, o qual ouviu e bem ciente ficou, não manifestando interesse em recorrer.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Não há que se olvidar que a certidão exarada pelo Sr. Oficial de Justiça possui fé
pública, conforme já destacado por este E. Tribunal de Justiça:
“APELAÇÃO CRIME. SENTENÇA CONDENATÓRIA. CRIME DE POSSE ILEGAL DE
ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO E PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO
PERMITIDO. ALEGADA NULIDADE DA INTIMAÇÃO DO RÉU DA SENTENÇA
CONDENATÓRIA. OFICIAL DE JUSTIÇA POSSUIDOR DE FÉ PÚBLICA. AUSÊNCIA DE
PREJUÍZO. DIREITO A AMPLA DEFESA PRESERVADO.PEDIDO DE
DESCLASSIFICAÇÃO DA CONDUTA PARA O ARTIGO 14 DA LEI 10.826/03.
IMPOSSIBILIDADE. ARMA DE USO RESTRITO. PRÁTICA DELITUOSA CONFESSADA
PELO RÉU. AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS. PLEITO DE APLICAÇÃO
DO PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. CRIMES PRATICADOS EM
CONTEXTOS FÁTICOS DISTINTOS.IMPOSSIBILIDADE DE SUBSTITUIÇÃO DA PENA
PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVA DE DIREITOS. INTELIGÊNCIA DO
ARTIGO 44 DO CÓDIGO PENAL. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. ” (TJPR,
2ª C.Criminal, AC 1225071-0, Curitiba, Rel. José Carlos Dalacqua, Unânime, J.
10.12.2015).
De tal forma, não há qualquer elemento nos autos apto a afastar a fé pública a
declaração do Sr. Oficial de Justiça, não se verificando qualquer nulidade na Certidão
constante no Nº 5230, Pág.11.
Deste modo, a sentença condenatória, ao enquadrar o ora requerente como incurso
no art. 312, §1°, do CP, não contradiz o texto expresso da lei penal ou à evidencia dos
autos, igualmente não se fundamenta em depoimentos, exames ou documentos
comprovadamente falsos e inexiste provas novas, não merecendo ser revisada.
Da tutela antecipada
Pugna pela concessão dos efeitos da tutela antecipada para suspender os efeitos do
trânsito em julgado da sentença condenatória, com a possibilidade de apelar da
decisão.
Em que pese o procedimento da revisão criminal não possua previsão legal quanto a
concessão de antecipação de tutela, esta é admitida excepcionalmente.
Sobre o tema, a doutrina pátria assevera que:
“O CPP não prevê a possibilidade de concessão de liminar no procedimento da
revisão criminal. Normalmente, não teria cabimento a concessão de liminar, pois é
difícil uma situação em que se possa demonstrar o fumus boni iuris. Entre a afirmação
contida na petição inicial da revisão criminal e a sentença penal condenatória
transitada em julgado, em princípio, deve se dar prevalência à última.
Excepcionalmente, contudo, será cabível o pedido liminar, se presentes o fumus boni
iuris e o periculim in mora, aplicando-se, por analogia, as disposições do CPC sobre o
poder geral de cautela (CPC, art. 798), ou mesmo a antecipação de tutela (CPC, art.
273). ” [1]
Nesse sentido:
“REVISÃO CRIMINAL DE ACÓRDÃO. CRIME DE HOMICÍDIO QUALIFICADO (ART.
121, § 2º, INCISO IV, DO CP). CONDENAÇÃO PELO TRIBUNAL DO JÚRI,
CONFIRMADA EM GRAU DE RECURSO POR ESTE TRIBUNAL. ALEGAÇÃO DE
JULGAMENTO CONTRÁRIO À EVIDÊNCIA DOS AUTOS. PRETENSÃO DE
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
O julgamento foi presidido pelo Desembargador Laertes Ferreira Gomes (sem voto) e
dele participou o Desembargador José Mauricio Pinto de Almeida e José Carlos
Dalacqua e o Juiz Substitutos Segundo Grau Marcio José Tokars.
Curitiba, 30 de junho de 2016.
Des. Luís Carlos Xavier - Relator
[1] BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy. Processo Penal. 2. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2014, p. 700/701
que fixou o regime semiaberto para início de cumprimento da pena, nos termos do
Unânime - J. 29.06.2017)
Inteiro Teor
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
DANIFICAR ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (ARTS. 38, 38-A C/C 53, II, "C",
corroborado pela prova testemunhal acostadas aos autos e demais provas produzidas.
E a negativa de autoria é prova isolada nos autos, vez que o conjunto probatório
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comprova que foi o acusado o responsável pelo corte dos pinheiros descritos na
J. 29.06.2017)
Inteiro Teor
Da conduta
Alega que restou comprovado nos autos a clara atipicidade da conduta, não podendo
ser responsável pelo delito disposto no Fato 01.
Sem razão.
Inicialmente necessário consignar-se que não se questiona a materialidade delitiva,
sendo esta incontroversa, insurgindo-se apenas o apelante quanto a autoria dos fatos.
Consta na denúncia quanto ao 1º Fato no qual o acusado foi condenado:
“1º Fato:
No dia 23 de junho de 2013, por volta das 14:30 horas, em propriedade situada na
localidade de Povoado Floresta Km 12 (coordenadas 22J05400449 UTM 7198894),
zona rural do Município e Imbituva Estado do Paraná, a fiscalização ambiental
constatou que o ora denunciado RENATO SCHEIDT, consciente da ilicitude e
reprovabilidade de sua conduta, suprimiu vegetação nativa em estágio avançado de
regeneração, do Bioma Mata Atlântica, procedendo ao corte de 14 (quatorze)
pinheiros araucária angustifolia, espécie protegida por lei e ameaçada de extinção, nos
termos da Portaria nº 37/92, expedida pelo IBAMA Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis sem autorização do órgão ambiental
competente e em desacordo com determinação legal e regulamentar (conforme
Boletim de Ocorrência nº 2013/614934 fls.
06/08 e fotografias de fls. 10).”
Os artigos 38-A e 53, ambos da Lei nº 9.605/98 estabelecem que:
“Art. 38-A. Destruir ou danificar vegetação primária ou secundária, em estágio
avançado ou médio de regeneração, do Bioma Mata Atlântica, ou utilizá-la com
infringência das normas de proteção:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, ou multa, ou ambas as penas
cumulativamente.
Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.
Art. 53. Nos crimes previstos nesta Seção, a pena é aumentada de um sexto a um
terço se: (...)
II - o crime é cometido: (...)
c) contra espécies raras ou ameaçadas de extinção, ainda que a ameaça ocorra
somente no local da infração; (...)”
Assim, tem-se que para a configuração dos delitos é necessário que haja destruição e
danificação de vegetação primária ou secundária, em estágio avançado ou médio de
regeneração (art. 38-A), e ainda que as espécies afetadas sejam raras ou ameaçadas
de extinção (art. 53).
No presente caso, consoante descrito no Boletim de Ocorrência (mov. 1.5), verifica-se
a narrativa de ocorrência de dano ao meio ambiente, consubstanciado no corte de 14
pinheiros araucária angustifólia (espécie protegida por lei e ameaçada de extinção, nos
termos da Portaria nº 37/92 do IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis).
Assim, restou incontroverso o corte dos 14 pinheiros, fato este corroborado pela
prova testemunhal acostadas aos autos e demais provas produzidas. Esclarece-se que
por se tratar do corte de árvores de espécie conhecida (araucária angustifólia), a
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perícia neste caso, revela-se desnecessária, na medida em que não seria possível
confundir-se acerca da espécie que foi efetivamente cortada. E ainda por este mesmo
motivo, perfeitamente aplicável ao caso a causa de aumento prevista no artigo 53, II,
“c” da Lei 9.605/98, que diz respeito ao corte de espécies raras ou ameaçadas de
extinção, como é o caso da araucária angustifólia.
No tocante a autoria esta também é certa e recai sobre o apelante.
Em seu depoimento extrajudicial o acusado afirma que é responsável pela
propriedade situada no KM 12, que pertence a sua falecida irmã, e que os funcionários
da Copel cortaram 14 pinheiros que estavam debaixo do fio de luz (fls. 23, mov. 1.7).
Em juízo em seu interrogatório afirma que: “Que os pinheiros foram cortados embaixo
da linha da Copel; que o terreno era da sua irmã; que a COPEL cortou estes pinheiros;
que os fiscais ambientais foram até a casa do declarante; que a irmã do declarante é
falecida; que o declarante mora no terreno; que existe uma vertente de água apenas
quando chove muito; que não é o curso de uma nascente; que existe uma `sanga’;
questionado sobre as fotos de mov. 1.5 relatou que as fotos são dos pinheiros abaixo
dos fios da COPEL (...); (...) Que a COPEL corta os pinheiros bem `baixos’ quase no
`toco’; que fazem aproximadamente cinco ou seis anos que o corte foi efetuado; que
foi até a COPEL pedir um relatório de como estes cortes foram feitos.” (sentença, fls.
295)
O policial Jonas Luiz Grossi em juízo declarou que: “(...) a partir de denúncia
ambiental, deslocou-se até o local onde foi constatado o corte de pinheiros (...); que
foi elaborado o Boletim de Ocorrência, que cópia deste boletim foi encaminhado a
Promotoria de Imbituva e também elaborado ofício ao IAP; (...) que o Sr. Renato teria
dito que era o responsável pelo local e pelo dano; que foi a primeira vez que atendeu
uma ocorrência relacionada ao denunciado.” (sentença, fls.
296)
Por sua vez oficiada a Copel esta informou que “foi executada limpeza de faixa sob a
rede de distribuição de energia na região de Floresta no Município de Imbituva. Foram
cortados arvores de madeira branca e pinheiro que estavam próximo a rede e
poderiam causar acidentes.” (fls. 67, mov. 1.26) e depois de questionada para
esclarecer melhor o que tinha acontecido na data dos fatos novamente a Copel
esclareceu que: “Conforme solicitado, através do ofício nº 2415/2014, informamos que
estivemos realizando limpeza de faixa sob a rede de distribuição de energia elétrica
que passa pela propriedade do sr. Renato Scheidt, sendo que o serviço foi realizado
em 2013. O que foi realizado na propriedade? Limpeza de mata nativa, madeira
branca, corte de dois (02) pinheiros araucária e limpeza de vegetação rasteira, sendo
que a faixa de limpeza, conforme estabelecido pela legislação, é de 7,5 metros para
cada lado da rede, partindo do centro da mesma.
Ainda em 2013, o proprietário Sr. Renato, entrou em contato solicitando uma
averiguação no local devido ao serviço realizado, deslocamos ao local uma equipe da
Copel para averiguar a situação e constatamos que fora da faixa de 15 metros, haviam
outros pinheiros derrubados, em grande número. Desta forma, foi emitida uma ATA
de visita com o levantamento das quantidades que estavam derrubadas, isso na
presença do proprietário; data da visita 26.06.2013. Já no ano de 2014 o proprietário
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provas que assentaram a culpa dos condenados, o que autoriza o início da execução
da pena.
Pelo que para ele, até que seja prolatada a sentença penal, confirmada em segundo
grau, deve-se presumir a inocência do réu. Mas, após esse momento, exaure-se o
princípio da não culpabilidade, até porque os recursos cabíveis da decisão de segundo
grau ao Superior Tribunal de Justiça ou Supremo Tribunal Federal não se prestam a
discutir fatos e provas, mas apenas matéria de direito.
Assim, é de se determinar após o decurso do prazo do recurso ordinário nesta
instância, de imediato, o início da execução da pena, de acordo com o entendimento
proclamado pelo colendo Supremo Tribunal Federal, ao julgar o Habeas Corpus nº
126.292/SP.
Nestas condições, nega-se provimento ao recurso, tudo nos termos da
fundamentação.
ANTE O EXPOSTO, acordam os Desembargadores integrantes da 2ª Câmara Criminal
do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar
provimento ao recurso.
Determinando-se, após o decurso do prazo do recurso ordinário nesta instância, a
imediata expedição de mandado de prisão do condenado, pelo juiz do processo, para
o início da execução provisória da pena imposta, podendo a Seção Criminal
encaminhar as peças necessárias à expedição de guia de recolhimento, com a
imediata remessa de cópia deste acórdão via Mensageiro ao prolator da sentença.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador Luís Carlos Xavier (com voto) e dele
participaram os Juízes Substitutos em Segundo Grau Mauro Bley Pereira Junior e
Marcel Guimarães Rotoli de Macedo.
Curitiba, 29 de junho de 2017.
Des. Luís Carlos Xavier Relator
ART.306, C/C ART. 298, III, DO CTB - APELO DA DEFESA - 1.PLEITO ABSOLUTÓRIO -
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veículo automotor em via pública com concentração de 0,68 miligramas de álcool por
CTB é medida que se impõe.1.1. "O crime do artigo 306 do Código de Trânsito
potencialidade lesiva da conduta daquele que conduz veículo em via pública com a
concentração de álcool por litro de sangue maior do que a admitida pelo tipo penal"
(STJ - 5ª T., HC 302.545/DF, Rel. Ministro Jorge Mussi, DJe 14.10.2014).2. "O debate
sobre a redução da pena aquém do mínimo legal restou superado pela pacificação do
tema com a edição da Súmula 231 do Superior Tribunal de Justiça. Apelação Crime nº
pena em seu grau mínimo, não pode ela ser reduzida aquém do quantum punitivo
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privativa de liberdade por restritiva de direitos, há que ser observado o rol descrito no
art. 43, do CP, sob pena de se ferir o princípio da legalidade, diante de sua natureza
De tal forma, tendo em vista que a sanção aplicada é igual a 06 (seis) meses, deve ser
apresentação das razões recursais.5. Não há que ser conhecido o pedido de isenção
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Inteiro Teor
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álcool por litro de sangue em dosagem superior a 6 (seis) decigramas de álcool por
litro de sangue, detectada pela quantidade de 0,68 miligramas de álcool por litro de ar
indicados pelo teste de alcoolemia (`bafômetro’) realizado, o que resulta, após a
conversão, na concentração de 13,6 decigramas de álcool por litro de sangue”.
Finda a instrução, o magistrado a quo, julgando parcialmente procedente a inicial
acusatória (mov. 51.1), condenou o réu pela prática do crime previsto no art. 306, § 1º,
I, c/c art. 298, III, ambos do CTB, fixando-lhe a pena-base em 06 (seis) meses de
detenção e 10 (dez) dias-multa. Na 2ª fase, entendeu pela compensação da atenuante
da confissão espontânea com a agravante prevista no art. 298, III, do CTB. Diante da
inexistência de causas especiais de aumento/diminuição de pena, tornou-a definitiva
em 06 (seis) meses de detenção e 10 (dez) dias-multa, no valor unitário equivalente a
1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente à época dos fatos, e, “tendo em vista
que, conforme Decreto 8.166/2013, o salário mínimo nacional à época do delito era
de era de R$ 724,00 (setecentos e vinte e quatro reais), fica a multa valorada em R$
241,30 (duzentos e quarenta e um reais e trinta centavos)”.
Ainda, aplicou a pena de suspensão da habilitação para dirigir veículo automotor pelo
prazo de 02 (dois) meses.
O regime fixado foi o aberto, a ser cumprido mediante as seguintes condições: “a)
não mudar de residência e não se ausentar da cidade onde reside por mais de 15
(quinze) dias sem prévia autorização judicial, mantendo atualizado o endereço
residencial; b) recolhimento domiciliar nos finais de semana e dias de folga, podendo
sair para o trabalho, devendo retornar à sua residência logo após o expediente; c)
comparecer em Juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades”.
Na sequência, substituiu a pena privativa de liberdade por duas restritivas de direitos,
consistentes em: “a) prestação de serviços à comunidade, mediante trabalho gratuito
por 7 (sete) horas semanais, sem prejuízo ao itinerário de trabalho, em instituição a ser
indicada pelo Conselho da Comunidade, observada e respeitada às aptidões
profissionais do sentenciado, pelo prazo da pena privativa de liberdade (artigo 43,
inciso IV; artigo 44, incisos I, II e III, § 2º, e art. 46, todos do Código Penal) e; b)
comparecer em Juízo, a fim de justificar suas atividades, devendo se apresentar à
Secretaria Criminal até o dia 10 de cada mês, prorrogável para o primeiro dia útil
subsequente quando o dia 10 cair em data que não houver expediente forense”.
A título de honorários advocatícios, houve condenação do Estado do Paraná a pagar
ao defensor dativo nomeado, Dr. Antônio Luiz Pazin (OAB/PR nº 60.862), a quantia de
R$ 1.800,00 (um mil e oitocentos reais).
Inconformada com a decisão, a defesa do acusado interpôs recurso de apelação, e
em suas razões recursais (mov. 67.1), afirma que “em nenhum momento o apelante
gerou perigo de dano, eis que não estava em alta velocidade, não estava em
ziguezague, não estava fazendo nada de anormal; estava, simplesmente, conduzindo
veículo (...) sem habilitação e, assim procedendo, cometeu apenas uma infração
administrativa”. Pleiteia, assim, seja aplicado um decreto absolutório.
Alternativamente, sustenta pela redução da pena em razão da atenuante da confissão
espontânea, bem como “seja aplicada a substituição da pena por uma mais branda”.
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Por fim, requer sejam aplicados os benefícios da assistência judiciária gratuita, além
da fixação de honorários advocatícios pela atuação do defensor em grau recursal.
A d. representante ministerial, no mov. 72.1, apresentou as contrarrazões ao recurso,
postulando pelo conhecimento e parcial provimento do apelo “exclusivamente para o
fim de excluir a não prevista pena substituída (comparecimento mensal em Juízo para
informar e justificar suas atividades), mantendo-se atendido o disposto no art. 44, § 2º,
primeira parte, do Código Penal, a pena restritiva de direitos de prestação de serviços
à comunidade, prevista no art. 43 do Código Penal”.
A d. Procuradoria Geral de Justiça manifestou-se às fls.
10/20TJ, opinando pelo parcial conhecimento e parcial provimento do recurso,
“apenas para excluir a pena restritiva de direito não prevista em lei e arbitrar
honorários advocatícios ao defensor dativo” (fl. 24).
É o relatório.
VOTO
Da autoria e materialidade delitivas
Postula a defesa pela absolvição do recorrente. Alega que “em nenhum momento o
apelante gerou perigo de dano, eis que não estava em alta velocidade, não estava em
ziguezague, não estava fazendo nada de anormal; estava, simplesmente, conduzindo
veículo (...) sem habilitação e, assim procedendo, cometeu apenas uma infração
administrativa”.
Todavia, razão não lhe assiste.
Ao que se vê, os fatos imputados ao apelante ocorreram em 07.02.2014, e, portanto,
quando já vigorava o § 1º, II, e § 2º do artigo 306 do CTB, com a redação dada pela
Lei 12.760/2012, de modo que admite-se a prova da embriaguez por diversos meios.
Referido artigo traz a seguinte redação:
“Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em
razão da influência de álcool ou de substância psicoativa que determine dependência.
Penas detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, multa e suspensão ou proibição de
se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
§ 1º. As condutas previstas no caput serão constatas por:
I. concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou
igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar; ou II sinais que
indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade psicomotora.
§ 2º. A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de
alcoolemia, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova
em direito admitidos, observando o direito à contraprova.
§ 3º. O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos testes de alcoolemia
para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo”.
Há nos presentes autos produção probatória pertinente a corroborar a autoria e
materialidade do crime em análise, aa quais restaram devidamente demonstradas pelo
auto de prisão em flagrante delito (mov. 1.3), boletim de ocorrência (mov. 1.4), teste
de alcoolemia (mov. 1.5), bem como pela prova oral colhida no presente caderno
processual.
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tático e efetuados disparos nos pneus do veículo, quando esse já estava próximo de
uma área rural, sendo que o condutor colidiu com o seu veículo contra um canteiro e
teve que parar. Disse que na sequência o condutor foi submetido a exame de
alcoolemia, sendo confirmada a embriaguez, constatando-se ainda que ele dirigia sem
CNH, e com licenciamento do veículo em débito.
Na mesma linha, o policial Jonatan Elias Martins confirmou as declarações prestadas
por Thiago, acrescentando que no local da abordagem inicial era perto de um bar, e
havia pedestres nas proximidades, assim como durante todo o trajeto percorrido pelo
réu, com exceção da estrada rural. Ressaltou que o réu apresentava sinais de
embriaguez, como odor etílico e olhos avermelhados, e então foi submetido ao exame
de alcoolemia”.
Nesse passo, as declarações dos agentes públicos merecem credibilidade, até porque
não há nos autos evidência de que tivessem interesse em incriminar indevidamente o
apelante ou que tenham faltado com a verdade.
Neste sentido, a jurisprudência de nossos Tribunais:
“(...) CONDENAÇÃO FUNDAMENTADA NO DEPOIMENTO DE POLICIAIS MEIO DE
PROVA IDÔNEO FRAGILIDADE DO CONJUNTO PROBATÓRIO NÃO
DEMONSTRADA.
(...) 2. Conforme entendimento desta Corte, o depoimento de policiais constitui meio
de prova idôneo a embasar o édito condenatório, mormente quando prestado ou
corroborado em Juízo, no âmbito do devido processo legal.
Precedentes” (STJ HC 261.170/SP, Rel. Min. JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, j.
01.04.2014, DJe 10.04.2014).
Ademais, como já salientado, com o advento da Lei 12.760/2012 o legislador previu a
possibilidade de constatação do delito por sinais que indiquem a alteração da
capacidade psicomotora, bem como a comprovação do crime por diversos meios de
prova, conforme se infere da redação do inciso II do § 1º e § 2º incluídos no artigo
306, do Código de Trânsito Brasileiro. E como se vê no presente caso, as provas
constantes no feito evidenciam que o acusado conduzia o veículo automotor
alcoolizado, fato este corroborado pelo exame do bafômetro (mov. 1.5), o qual aponta
a concentração de 0,68 miligramas de álcool por litro de ar alveolar, valor este que
corresponde a 13,6 decigramas de álcool por litro de sangue, sendo, portanto, acima
do limite previsto em lei, não havendo que se falar em ausência de comprovação da
ocorrência do crime ou atipicidade da conduta.
Vale lembrar que, in casu, além de o exame de alcoolemia ter sido conclusivo, tendo
sido, portanto, a prova técnica indiscutível, juntamente com os demais elementos
probantes, restou cabalmente demonstrada a prática delitiva referente ao crime
previsto no art. 306 do CTB, afastando-se, assim, o pleito pelo decreto absolutório.
Ao mesmo tempo, ao contrário do quer fazer crer a defesa, não se trata o presente
caso de hipótese de infração administrativa. Como analisado, o apelante não atendeu
à voz de abordagem dada pelos milicianos, o qual, no mesmo contexto fático, em
estado de embriaguez e em alta velocidade, seguiu com o veículo, avançando em vias
preferenciais, tendo sido necessário que os policiais efetuassem 04 (quatro) disparos
contra os pneus do automóvel, a fim de que parasse, evidenciando ainda mais o
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perigo empregado em seus atos, tendo causado sérios riscos à incolumidade pública,
restando evidente, portanto, a prática do delito previsto no art. 306 do CTB, e não
mero fato punível administrativamente.
Assim sendo, a aventada absolvição não se aplica ao caso.
Da atenuante da confissão espontânea
Pleiteia a defesa, ainda, pela redução da pena provisória em razão da atenuante da
confissão espontânea.
Não prospera tal alegação.
Isto porque, para o crime pelo qual foi condenado o apelante, na 2ª fase da operação
dosimétrica, foi devidamente reduzida a pena em razão da atenuante da confissão
espontânea, mostrando-se escorreita a r. sentença ao tê-la compensado com a
agravante do art.
298, III, do CTB, quedando-se, assim, a pena provisória no mínimo legal, não havendo
como reduzi-la, portanto, ainda mais, nesta fase.
De acordo com a orientação desta Colenda Câmara:
“APELAÇÃO CRIME PRESTAR INFORMAÇÕES FALSAS A AUTORIDADES
FAZENDÁRIAS (ART. 1º, INCISO I, DA LEI Nº 8.137/90) CONDENAÇÃO PLEITO
RECURSAL ABSOLUTÓRIO POR INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA QUE NÃO SE
SUSTENTA EXISTÊNCIA DE ELEMENTOS APTOS E COMPETENTES A ENSEJAR O
DECRETO CONDENATÓRIO ALEGADA AUSÊNCIA DE DOLO INOCORRÊNCIA
INSERÇÃO DE INFORMAÇÕES FALSAS NOS LIVROS FISCAIS AGENTE QUE,
COMO SÓCIO-GERENTE E ADMINISTRADOR DE FATO DA EMPRESA, OMITIU O
DEVIDO RECOLHIMENTO DO ICMS DOSIMETRIA PLEITO DE REDUÇÃO DA PENA
EM VIRTUDE DO RECONHECIMENTO DA ATENUANTE PREVISTA NO ART. 65, INC.
I, DO CP APELANTE QUE CONTAVA COM MAIS DE 70 (SETENTA) ANOS À ÉPOCA
DA PROLAÇÃO DA SENTENÇA INVIABILIDADE REPRIMENDA FIXADA EM SEU
PATAMAR MÍNIMO PACIFICAÇÃO DO TEMA COM A EDIÇÃO DA SÚMULA Nº 231
DO STJ RECURSO DESPROVIDO.
(...) 2. O debate sobre a redução da pena aquém do mínimo legal restou superado
pela pacificação do tema com a edição da Súmula 231 do Superior Tribunal de Justiça.
Fixadas as margens mínima e máxima pelo legislador, e estabelecida a pena em seu
grau mínimo, não pode ela ser reduzida aquém do quantum punitivo previsto, não
obstante a existência de atenuantes, sob pena de se incorrer em ofensa ao princípio
da legalidade” (TJPR 2ª C.Criminal, AC 1259430-4, Curitiba, Rel. José Mauricio Pinto
de Almeida, Unânime, J. 26.02.2015).
Trata-se, inclusive, de matéria já amplamente debatida e decidida no âmbito
jurisprudencial, tanto assim que foi sumulada sob nº 231 do Superior Tribunal de
Justiça:
“A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena
abaixo do mínimo legal”.
Ainda, neste aspecto:
“(...) DOSIMETRIA MENORIDADE ATENUANTE GENÉRICA CONFIGURADA
PENA-BASE FIXADA NO MÍNIMO LEGAL IMPOSSIBILIDADE DE REDUÇÃO AQUÉM
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Com razão.
Da leitura dos autos, observa-se que o Dr. Antônio Luiz Pazin (OAB/PR nº 60.862) foi
nomeado como defensor dativo para atuar no feito (mov. 19.1), tendo apresentado
resposta à acusação (mov. 23.1), alegações finais por memoriais (mov. 49.1) e o
recurso de apelação e suas respectivas razões (mov. 67.1)
Assim, tendo em vista que a apresentação das razões do recurso de apelação é
essencial para promover a ampla defesa do acusado, cabe, aqui, deferir a fixação de
honorários advocatícios para remunerar o trabalho desempenhado pelo nobre
causídico em grau recursal.
Nesse sentido:
“EMBARGOS DE DECLARAÇÃO APELAÇÃO CRIMINAL DESPROVIDA
ACLARATÓRIOS OMISSÃO NO ACÓRDÃO OCORRÊNCIA FIXAÇÃO DE
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS EM FAVOR DO DEFENSOR DATIVO PEDIDO
EXPRESSO REALIZADO NAS RAZÕES RECURSAIS OMISSÃO VERIFICADA
FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS QUE SE IMPÕE EMBARGOS ACOLHIDOS.
`O advogado nomeado defensor dativo, em processos em que figure como parte
pessoa economicamente necessitada, faz jus a honorários, cabendo à Fazenda o ônus
pelo pagamento. Precedentes: REsp nº 493.003/RS, Rel. Min. JOÃO OTÁVIO DE
NORONHA, DJ de 14/08/06; REsp nº 602.005/RS, Rel. Min. LUIZ FUX, DJ de
26/04/04; RMS nº 8.713/MS, Rel. Min. HAMILTON CARVALHIDO, DJ de 19/05/03 e
AgRg no REsp nº 159.974/MG, Rel. Min.
FRANCISCO FALCÃO, DJ de 15/12/03’ (STJ, AgRg no REsp 1041532/ES, Rel.
Ministro FRANCISCO FALCÃO, 1ª T., julg.
em 05/06/2008, DJe 25/06/2008) (STJ, AgRg no REsp 1350442/ES, Rel. Ministro
JORGE MUSSI, 5ª T., julg. em 18/12/2012, DJe 01/02/2013)” (TJPR 2ª C.Criminal,
EDC 1108828-3/01, Ponta Grossa, Rel. Laertes Ferreira Gomes, Unânime, J.
28.08.2014).
“APELAÇÃO CRIMINAL DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR, EM VIA PÚBLICA,
ESTANDO COM CONCENTRAÇÃO DE ÁLCOOL POR LITRO DE SANGUE IGUAL OU
SUPERIOR A 6 (SEIS) DECIGRAMAS (ART. 306, DO CÓDIGO DE TRÂNSITO
BRASILEIRO) PLEITO DE ABSOLVIÇÃO PORQUANTO AUSENTE TABELA QUE
DEMONSTRE A CORRESPONDENTE VALORAÇÃO ENTRE O EXAME DE SANGUE E
O AR ALVEOLAR (BAFÔMETRO) INVIABILIDADE CÁLCULO EXECUTADO PELA LEI
DE HENRY, ADOTADA PELO LEGISLADOR PARA O CÓDIGO DE TRÂNSITO
BRASILEIRO PERCENTUAL AFERIDO PELO EXAME BAFOMÉTRICO QUE DENOTA
INCONTESTE EMBRIAGUEZ PROVAS EFICIENTES A CONFIRMAR O ESTADO
ETÍLICO ROGATIVA DE FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DEFENSOR
DATIVO NOMEADO PARA APRESENTAR RAZÕES DE APELAÇÃO POSSIBILIDADE
RECURSO NÃO PROVIDO E DEFERIDO O PLEITO DE ARBITRAMENTO DE
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS (...)” (TJPR 2ª C.Criminal, AC 1120723-7, Ponta , Rel.
Lidio José Rotoli de Macedo, , J. 30.01.2014).
Cabe ser acrescentado que a Tabela de Custas da Ordem dos Advogados do Brasil é
uma referência da remuneração paga aos advogados pelos atos que praticarem,
porém não vinculam a fixação da verba honorária pelos magistrados.
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poder afastar o perigo atual, que não foi provocado pelo próprio agente, sem causar
adequação da pena base, eis que o acusado não possui maus antecedentes, como
considerado na sentença, eis que referido crime foi praticado em data posterior a do
não admite reparo a sentença que fixou o regime semiaberto para início de
cumprimento da pena, nos termos do artigo 33, § 2°, "c", do Código Penal.
Inteiro Teor
Trata-se de Apelação interposta contra a sentença (mov. 50.1) proferida nos autos n°
0003551-55.2012.8.16.0160 de Ação Penal que julgou procedente o pedido contido
na denúncia para o fim condenar o acusado Edmilson Sabino de Lira como incurso nas
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DE PRISÃO DOMICILIAR
Crime nº 1.688.123-72
(TJPR - 2ª C.Criminal - HCC - 1688123-7 - Curitiba - Rel.: Luís Carlos Xavier - Unânime
- J. 29.06.2017)
Inteiro Teor
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Portanto, por certo que inexiste ilegalidade a ser sanada na decisão ora guerreada,
que negou o pedido de revogação da prisão preventiva (fls. 82-84), sobretudo tendo
em vista que a Juíza a quo registrou a necessidade da medida para evitar que as
pacientes retornem às práticas criminosas.
A Magistrada também asseverou, igualmente, que, embora as acusadas tenham filhos,
não restou demonstrado nos autos que as pacientes são as únicas responsáveis pelos
cuidados das crianças, sendo que a prisão domiciliar visa a proteção do direito das
destas, e não dos autores de crimes.
Ademais, ressaltou que “o fato de possuírem filhos não as impediu de manter
verdadeira `fábrica’ de placas adulteradas dentro de suas próprias residências, fato
este que demonstra que a prisão domiciliar, no presente caso, não seria suficiente para
impedir a continuidade do delito”.
Destaque-se que para a substituição da prisão preventiva pela domiciliar, além da
comprovação de que a paciente possui filhos menores, deve restar comprovado que
esta é a única responsável pelo cuidado da criança, situação não evidenciada no
presente writ.
Assim, não merece prosperar o pedido de prisão domiciliar.
Nesse sentido:
“HABEAS CORPUS. IMPUTAÇÃO, EM TESE, DOS CRIMES PREVISTOS NO ART. 14,
CAPUT , DA LEI Nº 10.826/03, ART.
180, CAPUT , ART.330 E ART. 329, §1º, TODOS DO CÓDIGO PENAL. PRISÃO
PREVENTIVA DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA NA GARANTIA DA ORDEM
PÚBLICA.
REITERAÇÃO NA PRÁTICA DELITIVA. PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DA INOCÊNCIA
QUE NÃO SE MOSTRA INCOMPATÍVEL COM A SEGREGAÇÃO CAUTELAR.
DESCABIMENTO DA PRISÃO DOMICILIAR COM O USO DE TORNOZELEIRA
ELETRÔNICA. INEXISTÊNCIA DE COMPROVAÇÃO QUE ESTEJA O PACIENTE
EXTREMAMENTE DEBILITADO POR MOTIVO DE DOENÇA GRAVE (ART. 318, INC. II
DO CPP) E QUE O RESPECTIVO TRATAMENTO NÃO POSSA SER REALIZADO NA
UNIDADE PRISIONAL.
INVIABILIDADE DE APLICAÇÃO DAS MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DO ART.
319, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE PROVAS
QUANTO A PRÁTICA DOS DELITOS.INVIABILIDADE DE EXAME NA VIA
ELEITA.CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS QUE NÃO 2 TÊM O CONDÃO DE, POR
SI SÓS, DESCONSTITUÍREM A CUSTÓDIA ANTECIPADA, CASO ESTEJAM
PRESENTES OS FUNDAMENTOS E REQUISITOS QUE AUTORIZEM A DECRETAÇÃO
DA MEDIDA EXTREMA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO CONFIGURADO.
ORDEM DENEGADA.” (TJPR, 2ª C.Criminal, HCC 1544087-6, Região Metropolitana de
Maringá - Foro Central de Maringá, Rel. Laertes Ferreira Gomes, Unânime, J.
28.07.2016).
Pelo exposto, verifica-se que decisão que decretou as prisões preventivas das
pacientes não configura constrangimento ilegal, notadamente porque fundamentada
em dados concretos evidenciados nos autos, demonstrando o preenchimento dos
artigos 312, 313 e 321, todos do Código de Processo Penal.
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Portanto, não há constrangimento ilegal a ser reparado, razão pela qual se impõe
denegar a ordem impetrada, nos termos da fundamentação.
ANTE O EXPOSTO, acordam os Desembargadores integrantes da 2ª Câmara Criminal
do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em denegar a
ordem.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador Luís Carlos Xavier (com voto) e dele
participaram os Juízes Substitutos em Segundo Grau Mauro Bley Pereira Junior e
Marcel Guimarães Rotoli de Macedo.
Curitiba, 29 de junho de 2017.
Des. Luís Carlos Xavier Relator
NOMEAÇÃO DE SERVIDOR CONTRA EXPRESSA PREVISÃO DE LEI (ART. 1º, INC. XIII,
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Incumbe ao Órgão Especial deste Tribunal de Justiça, nos termos do art. 101, VII, "a",
apelação, passa a causa à jurisdição deste Órgão Especial, para aqui ter seu
anteriormente nela praticados.2. Nos termos da Súmula n° 704 do STF: "não viola as
garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por
medida que se impõe, pois eventual cisão do feito trará, tão somente, prejuízo à
reconhecer a atipicidade da conduta, uma vez que o tipo penal inserto no art. 1.º,
servidor, contra expressa disposição de lei, o que não ocorreu na espécie.Ainda, o art.
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Tratando-se o tipo penal do art. 359-D de "Lei Penal em Branco", cuja disciplina
e 17), ou mesmo em outras leis de natureza fiscal, que teriam sido violadas na
pelo juízo "a quo" com fundamento no art. 397, III, do CPP eis que na espécie afigura-
probatória.1 Denúncia Crime 140899-1, 1ª C.Criminal, Rel. Des. José Mauricio Pinto de
(TJPR - Órgão Especial - AC - 1379622-0 - Foz do Iguaçu - Rel.: Luís Carlos Xavier -
Unânime - J. 01.02.2016)
Inteiro Teor
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alínea ‘a’, do RITJPR e artigo 53, §1°, da Constituição Federal5 aplicado por simetria
, entende-se que compete a este Órgão Especial o julgamento da presente apelação.
Quanto aos atos processuais realizados em primeiro grau de jurisdição, razão assiste a
Procuradoria Geral de Justiça. Isso porque se denota dos autos que a presente ação
teve início quando o réu Francisco Lacerda Brasileiro ainda não gozava de foro por
prerrogativa de função, e já em 24.02.2015, isto é, no primeiro contato da magistrada
“a quo” com os autos após a diplomação do acusado no cargo de Deputado Estadual,
a i. Juíza de Direito declinou da competência para o julgamento do feito a este E.
Tribunal de Justiça (fl. 653).
Verifica-se, outrossim, que nenhum ato processual foi praticado após a diplomação do
corréu no cargo de Deputado Estadual, assim, é de rigor concluir que todos aqueles
existentes até aquela data foram praticados por juiz detentor de plena competência.
A propósito:
“RECURSO ORDINÁRIO EM “HABEAS CORPUS” - DENÚNCIA RECEBIDA POR
MAGISTRADO DE PRIMEIRO GRAU - SUPERVENIENTE INVESTIDURA DO
DENUNCIADO COMO PREFEITO MUNICIPAL - VALIDADE JURÍDICA DA DECISÃO
QUE ADMITIU A PEÇA ACUSATÓRIA, EIS QUE PROFERIDA POR AUTORIDADE
JUDICIÁRIA QUE DISPUNHA, À ÉPOCA, DE PLENA COMPETÊNCIA - APLICAÇÃO,
AO CASO, DO POSTULADO SEGUNDO O QUAL “TEMPUS REGIT ACTUM” -
CONSEQUENTE DESNECESSIDADE DE RENOVAÇÃO DE TAL ATO PROCESSUAL -
PRECEDENTES - (...) RECURSO DE AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.” (STF,
RHC 120332 AgR, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julg. 26.08.2014,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-220 DIVULG 07.11.2014 PUBLIC 10.11.2014) (grifo
nosso).
Logo, tendo em vista que os atos processuais foram realizados por magistrados
dotado de competência plena, devem ser aproveitados independente de ratificação.
2. Corréus não detentores de foro por prerrogativa de função. Julgamento conjunto.
Súmula n° 704 do STF. Princípios da celeridade e economia processual.
Prefacialmente ao exame do recurso, de ofício, impõe- se o reconhecimento da
aplicação dos termos da Súmula n° 704 do STF ao presente caso, haja vista que um
dos apelados possui prerrogativa de foro.
Pois bem. Em que pese apenas Francisco Lacerda Brasileiro seja detentor de foro
privilegiado, dentre o total de 05 (cinco) réus, entendo pelo julgamento conjunto e
unidade do processo ante a aplicação da Súmula n° 704 do STF, segundo a qual:
“Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a
atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de
função de um dos denunciados”.
Eventual cisão do feito tão somente trará prejuízo à prestação jurisdicional, em
detrimento da almejada economia processual, pois não há número elevado de
acusados que justifique tal medida e já houve a prolação de decreto absolutório em
relação a todos os apelados, de forma que se está a aguardar, tão somente, o
julgamento deste recurso.
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Roberto Barroso assim asseverou: “(...) e temos precedentes aqui da Turma - que, no
caso de julgamento de improcedência da ação penal e, consequentemente, da
absolvição dos acusados, não temos desmembrado por entender que, em nome da
economia processual, se justifica o não desmembramento. Portanto estou
acompanhando a Relatora”.
7 AP 674 AgR, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Tribunal Pleno, julgado em 04/04/2013,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-081 DIVULG 30-04-2013 PUBLIC 02-05-2013.
“EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. RECEBIMENTO DA DENÚNCIA.
FORO PRIVILEGIADO. REJEIÇÃO. (...). 4. “Não viola as garantias do juiz natural, da
ampla defesa e do devido processo legal a atração por continência ou conexão do
processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados”
(Súmula 704 do Supremo Tribunal Federal). A decisão pela manutenção da unidade de
processo e de julgamento perante o Supremo Tribunal Federal ou pelo
desmembramento da ação penal está sujeita a questões de conveniência e
oportunidade, como permite o art. 80 do Código de Processo Penal. 5.
Embargos de declaração rejeitados”. (Inq 3412 ED, Rel. ROSA WEBER, Tribunal
Pleno, julg. 11.09.2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-196 DIVULG 07.10.2014
PUBLIC 08.10.2014).
Nestes termos, em atenção aos princípios da economia processual e da celeridade da
prestação jurisdicional, o julgamento conjunto é a medida que se impõe no presente
caso.
Finalmente, depreende-se dos autos que o termo de recurso foi apresentado
concomitantemente com a ciência pelo órgão ministerial, sendo, portanto, tempestivo
(fls. 492/492-v). Assim, presentes os requisitos de admissibilidade, conheço do recurso.
Passo ao exame da causa.
Mérito.
No mérito, o recurso não merece provimento, visto que a decisão recorrida não
merece reparos.
Na peça acusatória Imputa-se aos apelados a prática dos delitos previstos no artigo 1°,
XIII, do Decreto-Lei n° 201/67, de forma continuada, em concurso material com o
contido no artigo 359-D do Código Penal, também de forma continuada, por terem
realizado nomeações de servidores em desconformidade com a lei, bem como por
terem ordenado despesa não autorizada por lei (concessão de verba de gratificação
de gabinete).
Sobre as imputações formuladas aos apelados, assim consta na decisão ora recorrida.
“Narra a denúncia que os réus:
a) PAULO e EMERSON, nas condições de Prefeito e Secretário Municipal da
Administração de Foz do Iguaçu/PR, respectivamente, nomearam Glauce Helena
Valiente, Luis Carlos dos Santos, para exercer o cargo de provimento em comissão,
símbolo CC-3, de assessor I junto a Autarquia Municipal denominada “FOZTRANS”
(Instituto de Transportes e Trânsito de Foz do Iguaçu/PR), Sérgio Luiz Baldin, para
exercer o cargo de provimento em comissão, símbolo CC-4, de assessor II junto a
Autarquia Municipal denominada “FOZTRANS”;
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cargos ocupados por tais servidores deveriam dar-se mediante provimento efetivo e
não simples nomeação.
O núcleo do tipo penal imputado aos apelados é o ato de Nomear, que consiste em
chamar alguém para o exercício de um cargo público, por meio de ato administrativo
formal. Assim, exige-se que o elemento normativo afronta à expressa disposição de
lei , consume-se com a edição do ato administrativo de nomeação.
Pois bem, de fato, o artigo 6°, da Lei Municipal n° 2.116/97 prevê que a referida
autarquia terá quadro próprio de pessoal.
Todavia, in casu, no plano municipal, o artigo 2° da Lei n° 2.062/97 autoriza a cessão
de servidores. E mais especificamente assim prevê o artigo 15 do Regulamento Interno
da FOZTRANS:
“Art. 15. Para o desenvolvimento de suas atividades meio, até adoção do quadro de
pessoal e do provimento de vagas, ou em qualquer época, se assim jugado necessário
e conveniente, a FOZTRANS poderá se utilizar dos servidores municipais colocados à
sua disposição, sem prejuízo de seus vencimentos e vantagens.”
Além disso, a Lei Complementar Municipal n° 97/20058 autoriza a nomeação de
comissionados, o que, inclusive, foi reconhecido
pelo próprio agente ministerial em suas razões de apelação: “é evidente que os
agentes públicos de valeram da Lei Complementar Municipal n° 97/2005 para
nomearem os comissionados e isto não se questiona, até mesmo porque ao
administrador só é dado fazer o que a lei autoriza” (fl. 517).
Assim, levando em conta que tais nomeações ocorreram apoiadas em expressa
disposição legal, e não existindo proibição expressa, não há como não concluir pela
atipicidade da conduta. Em outras palavras, não há sequer de se cogitar eventual
conduta delituosa, porque havendo lei autorizando a nomeação de servidores tal
como ocorreu, a conduta é legítima, e sob qualquer ângulo que se olhe, não se
enquadra no disposto no art. 1°, XIII, do DL n° 201/67.
Neste aspecto, é oportuna a lição do Ministro Gilmar Mendes proferida no bojo do
HC 104078 em que se discutiu conduta semelhante praticada pelo então Prefeito de
Santa Fé do Sul-SP, cujo entendimento, mutatis mutandis, aplica-se ao presente caso.
In verbis:
“Por fim, acrescento que mesmo que se possa discutir a constitucionalidade no
preceito previsto no art. 2°, VIII, da Lei Municipal n° 1.631/90 é certo que sua eventual
inconstitucionalidade e aqui estamos no campo das conjecturas não tem como
corolário tornar típica a conduta praticada pelo paciente, na medida em que as
nomeações questionadas foram amparadas em seus preceitos, portanto
de Foz do Iguaçu e dá outras providências”. Disponível em: <
http://www.ceaam.net/foz/legislacao/index.php>. Acesso em 31 ago. 2015.
O Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça, respectivamente,
possuem diversos precedentes neste sentido:
“Habeas Corpus. 2. Ação Penal. 3. Prefeito. Contratação de servidores sem concurso
público. Art. 1º, XIII, do Decreto-Lei 201/67. 3. Lei municipal autorizadora (Lei
municipal 1.631/90, art. 2º, VIII). 4. Conduta atípica. Precedentes. 5.
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autos, e não o restitui no prazo devido, resta configurado o dolo da conduta descrita
no artigo 356, do Código Penal.2. Deve ser a pena de multa reduzida, de ofício, para
1.626.504-62
(TJPR - 2ª C.Criminal - AC - 1626504-6 - Cerro Azul - Rel.: Luís Carlos Xavier - Unânime
- J. 08.06.2017)
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0045/03 que encontram em poder do Dr. Fernando Elias Assunção de Carvalho desde
o dia 18 de novembro 2.011. “
Nesse mesmo sentido, o Escrivão Alcides Antônio Adamante, certificou que foi
conversado com o Dr. Fernando por telefone em 28.02.2013, ficando de retornar os
autos em cartório (mov.
4.3).
A testemunha Alcides Antônio Adamante relatou em juízo que o denunciado realizou
carga dos autos, tendo sido efetuada a cobrança destes quando decorrido o prazo
para devolução, por meio de Diário de Justiça, a qual foi reforçada, de forma pessoal,
por meio de ligação telefônica. Declarou que o acusado se comprometeu a realizar a
devolução dos cadernos processuais pelo correio, tendo permanecido inerte,
afirmando que “ele tinha noção, tinha ideia sim, que tinha que ser devolvido”. Narrou
que “teve uma época que veio uma herdeira do espólio aqui, dizendo que ele ligou
para ela lá em uma cidade de São Paulo, que eu não lembro qual que é, e ele queria
R$ 950,00 (novecentos e cinquenta reais) para devolver o processo, aí ela foi no
Ministério Público daqui e foi orientada que ela fosse até lá, para que fosse tentado
fazer flagrante no dia”. Declarou que fora realizada a tentativa de busca e apreensão
dos autos, a qual resultou infrutífera.
Apontou que “existe processo em andamento de restauração; que envolve uma área
grande de 500 mil alqueires e tem um depósito judicial de quase R$ 300.000,00
(trezentos mil reais) “ (...). (Mov. 75.1)
A testemunha Marcos Aurélio de Oliveira Paiva afirmou perante a autoridade judicial
que: “na época, eu estava fazendo digitalização dos autos e o Alcides pediu para eu
fazer um levantamento no livro de cargas de autos de advogados e verificar quais os
advogados que estavam com autos em cargas; havia mais ou menos 10 advogados
que eu fiz a cobrança e houve retorno e devolveram, com exceção desse advogado,
que além de eu tentar contato com ele várias vezes, eu conversei duas vezes, por
telefone, com o Dr. Fernando, mais três ou quatro vezes, entrei contato com o sócio
dele, porque ele não me atendia mais e o sócio se encarregou de entrar em contato
com ele para devolver, pois a carga estava em nome dele e do sócio, o sócio sempre
falava que iria entrar em contato com ele e efetuar a devolução dos autos; (...)”. (Grifos
nossos) (Mov. 75.1)
O réu não compareceu à audiência de instrução e julgamento, sendo decretada a sua
revelia (mov. 75.1).
Nota-se que no caso em análise resta comprovada a ciência inequívoca da intimação
para a restituição dos autos, por meio das certidões expedidas pela Vara Cível de
Cerro Azul, bem como pelo depoimento em juízo de Alcides Antônio Adamante e
Marcos Aurélio de Oliveira Paiva, que declararam que foi entrado em contato via
telefone com Dr. Fernando Elias Assunção de Carvalho, cobrando a restituição dos
autos retirados em carga.
Destarte, resta comprovado a materialidade e autoria delitiva do crime de sonegação
de papel ou objeto de valor probatório, bem como o dolo da conduta.
A respeito do dolo, cabe destacar que esse pode ser definido como a consciência e
vontade de realizar os elementos descritos no tipo. Assim, o Código Penal define em
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seu artigo 18, inciso I, a conduta dolosa como sendo aquela em que o agente quis o
resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.
No delito em questão, o dolo consiste na vontade livre o consciente de inutilizar ou
deixar de restituir os autos, documento ou objeto de valor probatório, inexistindo para
a sua caracterização a necessidade de presença de dolo específico.
Conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça sobre o tema, o dolo do
crime previsto no art. 356, do CP, restará configurado quando o causídico,
devidamente intimado e ciente da necessidade de devolução dos autos, optar pela
retenção.
Veja-se:
“PENAL E PROCESSUAL PENAL. ART. 356 DO CÓDIGO PENAL. PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. ATIPICIDADE MATERIAL DA CONDUTA. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS NS. 282 E 356 DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. RETENÇÃO INJUSTIFICADA DE AUTOS. INTIMAÇÃO PARA DEVOLUÇÃO.
NECESSIDADE.
ALEGADA AUSÊNCIA DE DOLO NÃO CONFIGURADA.
IMPOSSIBILIDADE DE RESTITUIÇÃO. SÚMULA N.º 7/STJ.
1. Aplicam-se, mutatis mutandi, os óbices contidos nos verbetes sumulares ns. 282 e
256 do Supremo Tribunal Federal quando a matéria infraconstitucional não restou
analisada pelo Tribunal de Origem.
2. In casu, a aplicabilidade do princípio da insignificância à conduta perpetrada pelo
agente pela devolução dos autos antes do oferecimento da denúncia, não restou
sequer ventilada pela defesa perante a Corte a quo, o que impede o exame da
referida tese defensiva por ausência de prequestionamento.
3. Para configuração do crime tipificado no art. 356 do Estatuto Penalista é
imprescindível a intimação do advogado para a devolução dos autos.
4. Na espécie, as instâncias ordinárias afirmaram que o causídico fora devidamente
intimado quanto à necessidade de devolução dos autos, inclusive através de contato
telefônico, logrando êxito a devolução apenas quando do cumprimento de mandado
de busca e apreensão, restando, pois, configurado o dolo a partir do momento em
que, ciente da necessidade de devolução, optara o agente pela retenção.
5. Inviável a este Superior Tribunal de Justiça proceder à afirmação quanto à
impossibilidade fática de restituição dos autos pelo Agravante, eis que, para tanto,
seria necessário revolvimento do material fático/probatório, inviável na presente seara
recursal.
6. Agravo regimental a que se nega provimento.” (STJ, AgRg no REsp 1319888/RS,
Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julg. 04.09.2012, DJe 14.09.2012) (grifo
nosso)
Esse E. Tribunal de Justiça igualmente se manifestou sobre o tema:
“APELAÇÃO CRIME. DENÚNCIA PELO CRIME DE SONEGAÇÃO DE PAPEL OU
OBJETO DE VALOR PROBATÓRIO (ART. 356, CÓDIGO PENAL). ABSOLVIÇÃO DO
ACUSADO.
INSURGÊNCIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO. PROCEDÊNCIA DO
APELO.MATERIALIDADE E AUTORIA DO DELITO SUFICIENTEMENTE
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QUALIFICADO
AOS DELITOS PREVISTOS NO ARTIGO 157, § 2º, INCISOS I E II, E ARTIGO 148, § 1º,
bem assim, não restando dúvidas de que, agindo em concurso de agentes, aderindo a
representação.
Inteiro Teor
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depoimento constante da Delegacia era mentiroso. Na oitiva informal disse que deu a
versão confessando na Delegacia porque estavam “encendo seu saco”. Já na
audiência de apresentação afirma que falou o que consta do referido depoimento por
ter sido agredida pelos policiais.
Registre-se que no relatório técnico juntado aos autos consta que a adolescente teria
confessado na Delegacia por “amor” a Moises.
Em complementação, a prova oral colhida na instrução é suficiente para o
reconhecimento do ato infracional.
O longo depoimento de Moises não ajuda a esclarecer os fatos, até mesmo porque,
estando denunciado na Vara Criminal pelos mesmos fatos atribuídos a representada,
seu depoimento consistiu em uma tentativa apenas de se defender. Relatou, em suma,
o atrito existente entre Cristiane (mãe do bebê levado da casa lar) e a DIOICE em
razão da sua pessoa e dos relacionamentos que teve com as duas, bem como indicou
que a adolescente teria saído de casa sem explicação em horário coincidente com os
dos fatos em apuração, aparecendo mais tarde na posse de uma sacola e um
edredom.
Já a funcionária da instituição Tia Sula, sra. Verônica, afirmou em juízo que estava na
sala da casa lar quando chegou uma pessoa armada com o segurança já rendido,
ordenando que ficassem quietos. Afirmou que entrou mais um rapaz e uma moça e
essa foi direto para o berçário (um dos cômodos da casa). Afirmou que após um curto
tempo essa moça saiu com um bebê no colo e quando todos se retiraram do local,
saiu da casa gritando por socorro. Importante destacar que em juízo a testemunha
afirmou ter reconhecido a adolescente representada como sendo a moça que retirou o
bebê da casa, quando a viu na Delegacia de Polícia, ocasião em que lá estava para
prestar o seu depoimento.
Afirmou que a reconheceu pela compleição física e pelo modo de andar (”gingado”).
A outra testemunha, Sra. Marcia, também funcionária na casa lar Tia Sula, afirmou que
estava preparando para jantar quando foi surpreendida por um rapaz com uma arma
de fogo a rendendo.
Disse que em um primeiro momento achou até que fosse brincadeira porque nunca
esperava uma situação dessa. Disse que foi levada para o interior da casa e lá estando
chegou mais um rapaz e uma moça e essa foi ao berçário. Em determinado momento
essa moça suspeitou de um telefone celular tocando e foi em direção à testemunha.
Disse que foi levada até o berçário para terminar de arrumar a criança que seria
levada. Como havia dois bebês de nome Davi, indagou se aquele bebê era mesmo o
Davi porque esse tinha mãe, pai e familiares que sempre visitavam. Percebendo o erro,
a moça, a que a testemunha se referiu, pegou o Davy que foi buscar e pediu para ela
aprontar ele para levá-lo. Não tendo alternativas, relatou a testemunha que fez o que
foi mandada. Disse, ainda, que a moça dizia que “iria sangrá-la” e outras ameaças.
Afirmou, também, que a moça chegou falando no nome Davy, entendendo que seria
algo direcionado para aquela criança. Por fim, afirmou que no momento em que
estava na Delegacia reconheceu sem dúvida a adolescente aqui representada como a
moça que retirou o bebê da casa. Atenta-se também que, em juízo, apresentado o
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saindo junto com o outro veículo que os aguardava na via pública.” (fls. 351/362-CD-
ROM)
Portanto, pelos fatos acima expostos e verificados nos autos, conclui-se haver provas
com relação ao ato infracional análogo ao crime de sequestro qualificado pela
menoridade da vítima.
Bem assim, não restam dúvidas de que, agindo em concurso de agentes, aderindo a
conduta dos demais coautores, a adolescente praticou o ato infracional análogo ao
crime de roubo majorado.
Cumpre ressaltar que na coautoria não há necessidade de todos os agentes
manifestarem idêntico comportamento, podendo haver divisão quanto aos atos
executórios relevantes para o objetivo criminoso, bastando, para tanto, o encontro de
vontades para a prática do fato punível.
Desta maneira, a apelante é igualmente responsável pela prática dos atos infracionais,
vez que sua participação foi de vital importância na pratica destes.
Neste sentido:
“4. Por oportuno, registre-se, ao contrário do que sustenta a impetração, mesmo que
o paciente não tenha sido o responsável pela efetuação dos disparos de arma de fogo
que culminaram no óbito de uma das vítimas, deve responder como coautor pelo
roubo seguido de morte. 5.
Isso porque ficou bem demonstrada, na espécie, a existência de liame subjetivo e
ajuste prévio do paciente com os demais agentes, assumindo ele também o risco, com
a participação na empreitada delituosa, de que alguma vítima fosse morta em virtude
de disparo de arma.
[...]” (STJ, 6ª Turma, HC 185.167/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, j. 15.03.2011,
DJe 08.02.2012).
“PENAL. RECURSO ESPECIAL. LATROCÍNIO. CONCURSO DE AGENTES.
PARTICIPAÇÃO DOLOSAMENTE DISTINTA.
INAPLICABILIDADE. I - O roubo com morte é delito qualificado pelo resultado, sendo
que este plus, na melhor dicção da doutrina, pode ser imputado na forma de dolo ou
de culpa. II - No roubo, mormente praticado com arma de fogo, respondem, de regra,
pelo resultado morte, situado evidentemente em pleno desdobramento causal da
ação delituosa, todos que, mesmo não agindo diretamente na execução da morte,
contribuíram para a execução do tipo fundamental (Precedentes). Se assumiram o
risco, pelo evento respondem. Recurso provido.” (STJ, 5ª Turma, REsp 418183/DF,
Rel. Ministro FELIX FISCHER, j.03.06.2003, DJ 04.08.2003, p. 362).
Desta maneira, percebe-se no presente caso, que as provas produzidas apontam de
forma categórica e detalhada a participação da apelante na prática dos atos
infracionais, não havendo que se falar em absolvição.
Desta maneira, a prova dos autos é adequada a comprovar que a apelante praticou os
atos infracionais descritos na representação, inexistindo dúvidas sobre a
reprovabilidade de sua conduta, mormente que nos termos do artigo 156, primeira
parte, do Código de Processo Penal, a prova da alegação incumbirá a quem a fizer,
não tendo a defesa logrado êxito em comprovar a veracidade de suas afirmações, ou
seja, de que a representado é inocente da imputação que lhe foi feita.
354
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
HABEAS CORPUS - CRIME CONTRA ORDEM TRIBUTÁRIA (ART. 1º, I E II, C/C ART.
segundo grau, e sim, condenação somente nesta instância, situação diversa daquela
(TJPR - 2ª C.Criminal - HCC - 1627091-8 - Foz do Iguaçu - Rel.: Luís Carlos Xavier -
Unânime - J. 16.02.2017)
Inteiro Teor
355
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Inteiro Teor
358
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
360
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Quanto ao 8º fato destaca que restou comprovado que o apelado Ronaldo Henrique
Marques (assessor parlamentar AP3, do denunciado Aparecido Domingos Regini)
somente batia o ponto no início da manhã, saía para resolver assuntos particulares e
somente retornava no fim do horário de expediente para bater novamente o ponto e ir
embora. Estando assim caracterizado o cometimento dos delitos de peculato desvio
(art. 312, caput, 2ª figura, CP) e peculato eletrônico: inserção (art. 313-A, CP), devendo
o mesmo ser condenado.
Quanto ao 9º fato, imputado ao apelado Aparecido Domingos Regini sustenta não
haver dúvidas de que o mesmo concorreu para a prática delituosa mencionada no 8º
fato, vez que apesar deste alegar não ter conhecimento dos atos praticados por seu
assessor João seria impossível que ele não percebesse a ausência de seu subordinado
em dois ou três dias na semana. Ressaltando estar caracterizada a pratica delitiva pelo
mesmo na modalidade omissiva, vez que permitia e tolerava a conduta de seu
assessor em se ausentar das atividades para as quais foi nomeado, omitindo-se em seu
dever legal de fidelidade para com a Administração Pública Municipal, conforme regra
do artigo 29, c/c artigo 13, § 2º, alínea `a’, ambos do Código Penal, concorrendo para
que seu assessor inserisse os dados falsos no sistema informatizado para que o mesmo
obtivesse vantagens dos cofres públicos, recebendo os vencimentos/salário sem a
regular e efetiva contraprestação laborativa e, portanto, desviando dinheiro público
em proveito próprio.
Postula, a aplicabilidade do princípio da consunção, pois entende que o delito de
inserção de dados falsos no sistema de controle de ponto da Câmara Municipal de
Maringá (peculato eletrônico art. 313-A do CP) foi meio para a prática do crime-fim
de peculato (art. 312, caput, 2ª figura, do CP peculato desvio), devendo ser por este
absorvido.
Enfatiza que a sentença absolutória é carente de fundamentação, na medida em que
não desceu ao exame da prova carreada aos autos pelo apelante, além de ser
contraditória, pois embora tenha reconhecido que existe prova cabal acerca do fato de
que os assessores saíam após registro do ponto para exercerem atividades
particulares, entendeu que a prova é igualmente cabal no sentido de que por outras
diversas vezes desempenharam seus papéis de assessores (fls. 2989), acabando por
absolver os apelados.
Justifica ainda que o Acórdão de fls. 2971/2983 que rejeitou a denuncia contra os
denunciados Evandro Buquera de Freitas Oliveira Junior e Gustavo de Freitas Ferraz
de Oliveira, não pode servir de parâmetro para a absolvição dos ora apelados, vez que
naquele caso entendeu-se que, em relação ao assessor Gustavo, não estava
comprovado que estava exercendo atividade particular no horário de expediente (o
que não é o caso dos ora apelados). Ressaltando ser imprescindível que os fatos e as
provas sejam apreciados caso a caso em relação a cada um dos apelados.
Requer seja conhecido e provido o recurso, reformando a sentença condenando os
apelados réus João Glacia Macedo, Olavo Luis da Cruz, Arlindo Alvas, Ronaldo
Henrique Marques, nas sanções do artigo 312, caput, 2ª figura (peculato desvio),
combinado com o artigo 71, caput, ambos do Código Penal e os apelados Belino
Bravin Filho, Mário Sergio Verri, Carlos Eduardo Saboia Gomes, Aparecido Domingos
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Regini nas sanções do artigo 312, caput, 2ª figura (peculato desvio), combinado com
os artigos 29, caput e 71, caput, todos do Código Penal.
Os apelados Mário Sergio Verri, Olavo Luis da Cruz, Arlindo Alvas, apresentaram
contrarrazões (fls. 3093/3120) postulando seja desprovido o recurso.
Os apelados Carlos Eduardo Saboia Gomes, Belino Bravin Filho, Aparecido Domingos
Regini, João Beraldo, João Glacia Macedo e Ronaldo Henrique Marques,
apresentaram contrarrazões (fls.
3121/3176) postulando seja desprovido o recurso.
Nesta instância, a Douta Procuradoria Geral de Justiça 8
exarou parecer (fls. 3182/3191) pelo conhecimento e desprovimento do recurso
É o relatório.
VOTO
Presentes os pressupostos de admissibilidade é de se conhecer o recurso.
O recurso não merece provimento.
Inicialmente necessário esclarecer-se que a sentença, apesar de sucinta não carece de
fundamentação tal como alegado, tendo enfrentado devidamente a questão posta a
apreciação, restando justificado o porque da absolvição dos acusados.
Destaque-se ademais que o parecer da d. Procuradoria Geral de Justiça também é
pelo desprovimento do recurso.
Das condutas
O delito de peculato está previsto no artigo 312, do Código Penal, o qual estabelece
que:
“Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro
bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-
lo, em proveito próprio ou alheio:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.”
E, o delito de Inserção de dados falsos em sistema de informações está previsto no
artigo 313-A, do Código Penal, o qual estabelece que:
“Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos,
alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos
de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou
para outrem ou para causar dano:
Pena reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.”
Por sua vez, cabe destacar que as condutas delitivas ora questionadas restaram assim
narradas na denúncia:
“FATO 1:
“De fato, apurou-se que o primeiro denunciado JOÃO MACEDO (Matrícula n° 4749)
por indicação do segundo denunciado, o vereador BELINO BRAVIN FILHO, que era
quem deveria controlar sua assiduidade e regularidade ao trabalho, foi nomeado para
o cargo/função de Assessor Parlamentar de Gabinete AP8, cujas atribuições
especificadas no referido ANEXO I, da Lei 8.320/2009, eram de atuar com assessor
coordenador e controlador das atividades diárias do Gabinete, promovendo o ajuste
das atividades ao plano de ações, atividades e programas, e para tanto percebia
362
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
· Arquivo 16: “SDV 0248 18082010 0750 JOAO GLACIA SAINDO DA CAMARA
MUNICIPAL”. Todo o vídeo guarda relação com o investigado.
· Arquivo 17: “VEICULO AEZ-2595 ESTACIONADO NA EMPRESA DE PANIFICAÇÃO
NA RUA VITORIA”. O vídeo registra o automóvel do investigado no local onde, em
tese, desempenha o oficio de padeiro.
“Corroborando essa ilicitude e improbidade, extrai-se da análise de ERB’s, carreada às
fls. 259 a 295, que durante o período abril de 2010 a agosto de 2010, o telefone
celular (44) 9996- 9157(TIM) utilizado pelo denunciado JOÃO MACEDO, registrou
chamadas efetuadas, recebidas e perdidas em sua quase totalidade, durante o horário
de expediente e jornada de trabalho, porém, sempre partindo ou originando de
lugares distantes do prédio da Câmara Municipal de Maringá onde deveria estar”.
“Assim agindo, com vontade livre e consciente, o ora denunciado JOÃO MACEDO,
na função pública de assessor AP8, portanto, como funcionário público autorizado,
inseriu dados falsos (impressão digital própria) no sistema informatizado ou banco de
dados da Administração Pública da Câmara Municipal de Maringá, com o fim de obter
vantagem indevida para si, dentre outras, o `status’ de funcionário público; a contagem
de tempo de serviço público indevidamente; a qualidade de segurado da Previdência
Social, gerando direito ou expectativa de direito quanto ao eventual recebimento de
benefícios do INSS, a que viesse a fazer jus (auxílio doença, auxílio acidente, pecúlio
etc.), mediante esta fraudulenta situação ideológica de falsa presença no serviço
público, tendo em vista que perante o sistema informatizado e o banco de dados da
Câmara Municipal de Maringá, constava falsamente a sua presença fisica em plena
prestação de atividade laborativa que, na verdade, não existia”.
“Com efeito, além destas vantagens elementares do fato criminoso, anteriormente
narrado, com esta mesma conduta e idêntico proceder doloso, o denunciado JOÃO
MACEDO consequentemente desviava, em proveito próprio, dinheiro e valor 15
pertencente ao erário público, posto que, recebia vencimentos/salário sem a regular e
correspondente contraprestação laborativa, violando dever funcional”.
FATO 02:
“Tudo isso somente era possível graças à conivência’ do vereador contratante e ora
denunciado BELINO BRAVIN FILHO, eis que tinha pleno conhecimento das ausências
do aludido assessor parlamentar, pois que com vontade livre e consciente, tolerava a
conduta do assessor em se ausentar das atividades para as quais havia sido nomeado,
omitindo-se em seu dever legal de fidelidade para com a Administração Pública
Municipal, conforme a regra do artigo 29 c/c. o artigo 13 § 2°, alínea ‘a’, ambos do
Código Penal, por conseguinte concorrendo, de qualquer modo, para que seu
assessor e denunciado JOÃO MACEDO inserisse os dados falsos (impressão digital
própria) no sistema informatizado ou banco de dados da Administração Pública da
Câmara Municipal de Maringá, para que, o mesmo obtivesse as referidas vantagens
dos cofres públicos, recebendo os vencimentos/salário sem a regular e efetiva
contraprestação laborativa e, portanto, desviando dinheiro público em proveito
próprio”.
FATO 03:
365
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
“Apurou-se, também, que no dia 01/07/2010, por volta das 08h0Omin o terceiro
denunciado OLAVO LUIZ DA CRUZ (Matrícula n° 4445), por indicação do quinto
denunciado, o vereador MÁRIO SERGIO VERRI, que era quem deveria controlar sua
assiduidade e regularidade ao trabalho, foi nomeado para o cargo/função de Assessor
Parlamentar de Gabinete AP5, cujas atribuições especificadas no referido ANEXO I, da
Lei 8.320/2009, eram de efetuar serviços de recepção, digitação em geral, redação e
organização de arquivos; verificar e acompanhar a tramitação de assuntos junto a
repartições públicas e órgãos da Câmara de interesse do Gabinete, efetuar serviços
burocráticos gerais, sob orientação superior, e para tanto percebia contraprestação
pecuniária no importe de R$ 1.138,93 (um mil, cento e trinta e oito reais e noventa e
três centavos doc. de fls. 163/168), conduziu uma moto SundownfWeb 100, prata
placas DYM¬1557, deslocando-se da Câmara Municipal até uma residência localizada
na Rua Ernesto Volpato, no. 130, Parque das Laranjeiras, sendo avistado, que por volta
das 13h25min saiu da residência supramencionada e se deslocou à Câmara Municipal
de Maringá/PR”.
“Ademais, em outra diligência realizada o denunciado OLAVO DA CRUZ foi avistado
chegando à Câmara conduzindo sua motocicleta e logo após se deslocou até a
residência supra, onde permaneceu por aproximadamente 30m. quando saiu com sua
motocicleta levando alguns papéis, até chegar ao estabelecimento Mandacaru Carnes,
para fazer colagem de propaganda de uma dupla sertaneja, sendo que após não foi
possível continuar a diligência devido o fluxo no trânsito”.
“Com o escopo de se evidenciar a reiteração da conduta apontada na acusação em
desfavor deste denunciado, comprovou- se, mediante registro de imagens públicas
que OLAVO DA CRUZ afastava-se de seu local de trabalho durante o expediente. Tais
registros estão consignados na mídia digital que acompanha os presentes autos, nos
seguintes arquivos, armazenados na pasta
‘EDUARDO FERREIRA’, subpasta ‘FOTOS’, porque o denunciado OLAVO DA CRUZ
inicialmente foi confundido por EDUARDO:
· Arquivo 1: “09072010 0807 RESIDENCIA DO SENHOR EDUARDO FERREIRA 2”.
· Arquivo 2: “09072010 0818 RESIDENCIA DO SENHOR EDUARDO FERREIRA”.
· Arquivo 3: “09072010 0818 RESIDENCIA DO SENHOR EDUARDO FERREIRA 2”.
· Arquivo 4: “09072010 0848 RESIDENCIA DO SENHOR EDUARDO FERREIRA 2”.
“Consta imagem do cartaz afixado pelo investigado, onde se dá publicidade ao show
da dupla ‘Pedro Henrique & Fabiano, no dia 16 de julho de 2010, no estabelecimento
Estância Gaúcha, onde trabalha o investigado “.
· Arquivo 5: “28072010 0823 RESIDENCIA DO SENHOR EDUARDO FERREIRA”.
· Arquivo 6: “28072010 0823 RESIDENCIA DO SENHOR EDUARDO FERREIRA 2”.
· Arquivo 7: “28072010 0843 RESIDENCIA DO SENHOR EDUARDO FERREIRA”.
· Arquivo 8: “28072010 0901 RESIDENCIA DO SENHOR EDUARDO FERREIRA 3”.
“Há, bem assim, a captação de sinais ópticos acerca do denunciado OLAVO DA CRUZ
armazenados na pasta ‘EDUARDO FERREIRA’, pois pensava-se que essa fosse sua
identidade, na subpasta `V1DEOS’”:
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
comentava nada; que não sabia se ele tinha outra profissão, que não via João Macedo
saindo da Câmara, assim como Olavo também não, Arlindo Alvas igualmente; que
conhecia os assessores, mas frisa que somente ficou sabendo dos fatos através da
imprensa; que eles todos registravam ponto todos os dias, e isto ela sempre
acompanhou; que não foi instaurado nenhum procedimento para apurar os fatos, pois
para a Câmara nada havia de irregular, que todos batiam ponto, que atividades
externas são regulamentadas e podem ser feitas pelos assessores; que somente são
permitidas atividades externas relacionadas ao cargo; que os vereadores não precisam
ir todos os dias na Câmara; que para os Vereadores também é difícil o controle do
ponto; que antes do ponto digital era feito o livro ponto, de responsabilidade dos
gabinetes. (CD, fls. 2755)
A testemunha de acusação Mario Massao Hossokawa, Presidente da Câmara na época
dos fatos, afirma em juízo que ao tomar conhecimento dos fatos através do GAECO se
reuniu com os Vereadores e decidiram que o melhor seria exonerar respectivos
assessores; que não pode afirmar que eles não trabalhassem, pois o controle cabia aos
Vereadores; que foi implantado o ponto biométrico para fins de facilitar a identificação
e colheita do ponto, para fins de segurança e fiscalização dos funcionários; que após
os fatos narrados na denúncia afirma que foi implantado o sistema de catracas com
filmagens, para evitar que acontecessem outras irregularidades; que não conhecia
pessoalmente todos os assessores indicados na denúncia; que é comum aos
assessores saírem para resolverem problemas e atendimento à população; que por
conta das filmagens mostradas pelo GAECO é que achou prudente a demissão dos
assessores; que alguns Vereadores fazem atendimento fora do horário de expediente,
acompanhado de seus assessores e que não existe nenhum tipo de controle,
tampouco pagamento de horas extras; que cruzou por diversas vezes com os 39
assessores, que os via com frequência lá na Câmara; que os Vereadores não precisam
fazer expediente diário, tendo somente que comparecer às sessões; que os assessores
eram de responsabilidade dos Vereadores; afirma ser possível ao Vereador possuir
outro trabalho, desde que comparecesse às sessões da Câmara; que a função dos
vereadores e assessores é a ligação, elo entre a comunidade e os poderes
constituídos; é função dos assessores fazer função fora da Câmara, junto à população;
que os próprios vereadores quem faziam o controle da frequência de seus assessores;
que os Vereadores Bravin, Verri, Sabioa e Regini são bem conceituados perante a
população, vez que já foram eleitos para exerceram diversos mandatos, o que
demonstra que a população acha que os mesmos são bons Vereadores.
(CD, fls. 2755)
A testemunha de defesa Adailton Francisco Rocha, em juízo, diz que conhece o
acusado Aparecido e que não tinha conhecimento dos fatos, nem pela imprensa; que
ele é boa pessoa, tida como séria e responsável, que não conhece Ronaldo. (CD, fls.
2755)
A testemunha de defesa André Pinheiro ao ser ouvida em juízo, afirma que soube dos
fatos pelo jornal; que teve contato com João Beraldo quando este fazia pesquisas a
pedido do Vereador Saboia, que ele cumpria seu papel como assessor. (CD, fls. 2755)
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ATIVA
acusado tinha ciência de que o bem adquirido era produto de crime, razão pela qual
termos do artigo 386, inciso VII, do Código de Processo Apelação Crime nº 1.553.408-
militares, para que omitissem prática de ato de ofício, deve-se manter a sentença
condenatória.
J. 01.06.2017)
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Inteiro Teor
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duas condutas mostra que a ação dos policiais não tinha respaldo legal, não havendo
que se alar em corrupção ativa.
Ao final, requer a reforma da sentença, com a respectiva absolvição dos crimes
narrados na denúncia
O Ministério Público apresentou contrarrazões (fls.
26/31), postulando o parcial provimento do recurso.
Nesta instância, a douta Procuradoria Geral de Justiça exarou parecer (fls. 34/46),
manifestando pelo parcial provimento do recurso manejado.
É o relatório.
VOTO
Presentes os pressupostos recursais de admissibilidade, impõe-se conhecer do
recurso interposto.
O recurso comporta parcial provimento.
Do delito de receptação
Com relação à receptação, o Apelante assevera que o ônus da prova é de quem
acusa e não sabia que o veículo Monza era furtado, não havendo prova neste sentido.
Conforme a inicial acusatória:
“Fato 02: Em data, horário e local não precisamente delimitados nos autos de
investigação preliminar que embasam a presente exordial acusatória, mas certo que no
período temporal compreendido entre as datas de 19 de agosto de 2015 (quartafeira)
e 21 de agosto de 2015 (sexta-feira), e certo também que neste município e Foro
Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba/PR, o denunciado JEAN
CARLOS FRAGOSO DA ROSA, agindo dolosamente, vale dizer, com conhecimento
(elemento intelectual, no sentido de representação psíquica) e vontade (elemento
volitivo, no sentido de querer realizar `decisão de agir’ as circunstâncias do tipo
legal), plenamente ciente da reprovabilidade de seu comportamento, adquiriu em
proveito próprio o veículo automotor marca/modelo GM Monza, cor verde, chassi
9BGJK11SPNB006737, placas originais ADZ-2222 e placas aplicadas BWP-8519,
plenamente ciente de que o referido automóvel, de propriedade do ofendido NADIR
GUILHERME DA SILVA (vítima do crime patrimonial antecedente), havia sido
criminosamente subtraída mediante furto na data de 19 de agosto de 2015 (quarta-
feira), conforme se denota do Boletim de ocorrência sob nº 2015/866895, de mov.
34.3. Infere-se dos autos em epígrafe que uma equipe da Polícia Militar do Estado do
Paraná com atribuições nesta Capital flagrou o denunciado JEAN CARLOS FRAGOSO
DA ROSA, enquanto ele mantinha sob seu poder o aludido veículo subtraído, em
frente ao imóvel residencial situado na Rua Baldur Magnus Grubba nº 49, Bairro Novo
Mundo, neste município e Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de
Curitiba/PR, após tê-lo acompanhado até o local em virtude da informação, fornecida
pelo próprio denunciado durante a abordagem policial acima descrita (Fato nº 01),
que havia adquirido um veículo automotor de origem ilícita”.
Em Juízo, o Apelante declarou que:
“Estava saindo de um terreno baldio pouco antes de ser abordado porque havia
urinado no terreno e assim que saiu do local foi abordado e não correu da polícia,
sendo que os policiais encontraram dinheiro e maconha, bem como viram as fotos de
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seu celular. Ofereceu o dinheiro que tinha aos policiais porque estava com medo de
ser preso `por nada’, apenas queria ficar com o seu filho, e disse `para levarem o que
quiserem’, referindo-se ao dinheiro que tinham apreendido. Mostrou fotos de seu filho
que estavam no celular, onde também havia uma foto do documento do carro, que
pretendia mostrar a um amigo para que verificasse a procedência do veículo. Como
não tinha nada de errado, levou os policiais até o veículo que estava estacionado na
frente de sua casa e contou que a chave do carro estava guardada dentro de sua casa
e o documento estava no carro, e ficou sabendo posteriormente que a placa do carro
era diferente da constante no documento. Pagou R$ 350,00 pelo veículo, não lembra
do ano do carro e que o comprou com as placas já aplicadas”.
Com relação aos fatos, o policial militar Alessandro da Cruz, declarou em Juízo que:
“Estava em patrulhamento pela Rua João Bettega, e assim que virou na Avenida das
Indústrias, avistou o denunciado saindo de um terreno baldio, sendo que assim que
viu a equipe, começou a correr, razão pela qual a abordagem foi realizada. Disse que
no bolso do acusado foram encontrados 05 gramas de maconha, além de dinheiro,
cerca de R$ 350,00, valores que entregou ao denunciado após a revista. Que o réu
alegou que se tratava de usuário de maconha, sendo que lhe informou que teria que
ser encaminhado para a elaboração de Termo Circunstanciado, razão pela qual ele
ficou assustado e explicou que teria que visitar o seu filho recém-nascido no hospital.
Que o réu ofereceu o dinheiro que possuía no momento para a equipe a fim de ser
liberado e poder ir até o hospital. Que o réu mostrou à equipe todas as fotos que
tinha gravadas no celular de sua filha. Que entre as fotografias, havia a imagem de um
documento de carro, sendo que o seu companheiro de equipe visualizou a fotografia e
lembrou-se que no dia anterior a mesma equipe havia sido parada por um rapaz
dando conta do furto de seu veículo Monza. Explicou que ao conferir suas anotações
realizadas no dia anterior, a placa repassada pelo rapaz era a mesma constante na
fotografia do documento existente no celular do réu. Que indagado sobre o carro, o
réu disse que o havia comprado de um colega e estava estacionado na sua casa.
Contou que chegando à casa do réu, encontrou o veículo furtado, porém estava com
outras placas de identificação aplicadas.”
Referidas informações foram ratificadas pela policial militar Hozia Hoffman Elias e as
informantes Celia da Rosa e Gleyce dos Santos, prestaram apenas informações
abonatórias.
A negativa de autoria revela-se isolada do conjunto probatório, havendo provas aptas
a revelar que o Apelante comprou o veículo Monza cor verde, chassi
9BGJK11SPNB006737, placas originais ADZ-2222 e placas aplicadas BWP-8519,
sabendo tratar-se de objeto de origem criminosa.
Com efeito, a materialidade restou evidenciada pelo Auto de Prisão em Flagrante
(mov. 1.1), auto de exibição e apreensão (mov. 1.2), auto de entrega (mov. 1.3),
Boletim de Ocorrência (mov.
1.3), auto de avaliação (mov. 34.7) e Laudo de Exame em Placas de Licenciamento
(mov. 66.1).
A autoria também é manifesta, pois há grande disparidade entre o valor de compra,
R$ 350,00 (trezentos e cinquenta reais) e o preço de mercado do automóvel, avaliado
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Monza estava com placas diferentes, o réu teria que ser o responsável pela troca, não
havendo provas suficientes para a acusação.
Segundo a denúncia:
Fato nº 03: “Em data, horário e local não precisamente delimitados no procedimento
investigatório policial que embasa a presente exordial acusatória, mas certo que no
período temporal compreendido entre as datas de 19 de agosto de 2015 (quarta-feira)
e 21 de agosto de 2015 (sexta-feira), e certo também que neste município e Foro
Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba/PR, o denunciado JEAN
CARLOS FRAGOSO DA ROSA, agindo dolosamente, vale dizer, com conhecimento
(elemento intelectual, no sentido de representação psíquica) e vontade (elemento
volitivo, no sentido de querer realizar `decisão de agir’ as circunstâncias do tipo
legal), plenamente ciente da reprovabilidade de seu comportamento, adulterou sinal
identificador do veículo automotor marca/modelo GM Monza, cor verde, placas
originais ADZ-2222, chassis sob o nº 9BGJK11SPNB006737, inserindo (em substituição
às originais) no automóvel as placas BWP-8519, falsas, conforme se infere do Auto de
Exibição e Apreensão de mov. 1.2, Boletim de Ocorrência nº 2015/872318 de mov.
1.5 e Auto de Entrega de mov. 1.3”.
A pretensão recursal merece acolhimento, porque pela análise dos autos não se pode
evidenciar a prática pelo acusado da conduta narrada na inicial acusatória, consistente
em adulterar sinal identificador de veículo automotor.
Apesar da materialidade estar evidenciada, não há prova suficiente com relação à
autoria, porque o automóvel já estava com as placas adulteradas e não foi encontrado
na residência do acusado qualquer material indicativo de adulteração de sinal
identificador do veículo apreendido.
A propósito da insuficiência probatória, a douta Procuradoria Geral de Justiça
asseverou que:
“De fato, não se olvidando de que o mesmo detinha pleno conhecimento da origem
ilícita do bem, o mesmo não se pode dizer quanto a ter adulterado sinal identificador
do veículo automotor, consubstanciado na troca das placas pelas de veículo diverso.
Isso porque não foi encontrado com o apelante, tampouco em sua residência ou no
interior do veículo, qualquer instrumento ou elemento de convicção que pudesse
apontar para o apelante como autor do delito sob análise, o que enseja a
pronunciação do non liquet”
Destarte, verifica-se a fragilidade do conjunto probatório no que se refere à
adulteração de sinal identificador de veículo automotor, motivo pelo qual, em atenção
ao princípio in dubio pro reo, impõe-se acolher o pleito de absolvição, com amparo no
artigo 386, inciso VII, do Código de Processo Penal.
Da corrupção ativa.
O Apelante alega que não foi demonstrado o dolo de efetivamente corromper os
policiais, haja vista que, por se tratar de garoto jovem, primário, de poucas letras e
baixos recursos financeiros, a situação criada pela ação policial fez com que em um
momento de desespero, com medo de ir preso e não poder visitar o seu filho recém-
nascido, optasse por abrir mão de tudo que possuía naquele momento.
387
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Afirma ainda que se não houve adulteração de veículo e receptação, mesmo que
tivesse oferecido vantagem indevida, isso não pode adequar ao tipo penal de
corrupção, pois a absolvição das duas condutas mostra que a ação dos policiais não
tinha respaldo legal.
O delito de corrupção ativa, descrito no artigo 333, do Código Penal, estabelece que:
“Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para
determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício: Pena reclusão, de 2 (dois) a
12 (doze) anos, e multa.”
Para a caracterização do delito é necessário que o acusado ofereça ou prometa
vantagem indevida a funcionário público e o tipo penal exige ainda uma especial
finalidade do agente, de oferecer ou prometer a vantagem para determinar que o
funcionário pratique, omita ou retarde ato de ofício. Trata-se de crime formal, havendo
a consumação mesmo que o agente público recuse a vantagem.
Segundo a denúncia:
“Fato nº 01: Na data de 21 de agosto de 2015 (sexta- feira), por volta das 10hs50min,
em via pública, mais precisamente na Avenida das Indústrias, próximo ao imóvel sob
numeral 2.420, Bairro Cidade Industrial (CIC), neste município e Foro Central da
Comarca da Região Metropolitana de Curitiba/PR, o denunciado JEAN CARLOS
FRAGOSO DA ROSA, agindo dolosamente, vale dizer, com conhecimento (elemento
intelectual, no sentido de representação psíquica) e vontade (elemento volitivo, no
sentido de querer realizar `decisão de agir’ as circunstâncias do tipo legal),
plenamente ciente da reprovabilidade de seu comportamento, prometeu vantagem
indevida a funcionário público, ao oferecer aos policiais militares ALESSANDRO DA
CRUZ e HOZIA MILENA HOFFMANN a quantia de R$ 349,75 (trezentos e quarenta e
nove reais e setenta e cinco centavos), para determiná-los a omitir ato de ofício,
consistente em deixar de realizar os atos necessários para a promoção de sua prisão
em flagrante delito, tendo em vista a existência de indícios verificados por aqueles
policiais de envolvimento do ora denunciado com a prática de crimes de receptação e
posse de drogas para consumo pessoal, conforme se infere do Boletim de Ocorrência
nº 2015/872318 de mov. 1.5 e do Comprovante de Depósito de Valores Apreendidos
de mov. 34.2”.
Em Juízo, o Apelante declarou que ofereceu o dinheiro que tinha aos policiais porque
estava com medo de ser preso por nada e queria apenas ficar com o seu filho.
A propósito do fato, o policial militar Alessandro da Cruz, declarou em Juízo que na
Avenida das Indústrias avistou o denunciado saindo de um terreno baldio e que após
ver a equipe começou a correr, razão pela qual a abordagem foi realizada, tendo sido
encontrados cinco gramas de maconha e R$ 350,00 (trezentos e cinquenta reais).
Esclareceu ainda que o réu alegou que era usuário de maconha, sendo que lhe
informou que teria que ser encaminhado para a elaboração de Termo Circunstanciado,
razão pela qual ele ficou assustado e explicou que teria que visitar o seu filho recém-
nascido no hospital e, na sequência, ofereceu o dinheiro que possuía para a equipe a
fim de ser liberado.
A policial militar Hozia Milena Hoffmann Elias, declarou em Juízo que estava fazendo
patrulhamento quando avistou um indivíduo em atitude suspeita, tentando
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389
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
processo legal, tal prova está condicionada ao crivo do contraditório para ter validade
390
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
não podendo, contudo, ultrapassar três anos, sendo, outrossim, imperiosa a sua
Inteiro Teor
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
toda a instrução processual, fora instado a se manifestar acerca de sua utilização.” (fls.
15-TJ)
Assim, verifica-se que após a juntada aos autos da prova emprestada, a Defesa teve
oportunidade de tomar conhecimento da existência da mesma e do seu teor, tendo
concordado com esta, pelo que não há que se falar em ausência de contraditório.
Destaque-se ademais que a sentença proferida naqueles autos se deu após o devido
processo legal, no qual se observou o contraditório e ampla defesa dos acusados, pelo
que não há que se falar em ilicitude de tal prova trazida aos autos.
Desta feita, possível a utilização de prova emprestada em conjunto com os demais
elementos de prova no processo criminal.
Neste sentido a jurisprudência:
“APELAÇÕES CÍVEIS ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA E PORTE ILEGAL DE ARMA DE
FOGO PROCEDÊNCIA. APELO DO RÉU ANTONIO PRELIMINARES - 1. NULIDADE
DA SENTENÇA EM RAZÃO DA UTILIZAÇÃO DE PROVA EMPRESTADA DE OUTRO
PROCESSO CRIME EM QUE O ACUSADO É PARTE INOCORRÊNCIA PROVA
SUBMETIDA AO CONTRADITÓRIO VALIDADE 2. TESTEMUNHO DO POLICIAL QUE
SE RECUSA A DIZER O NOME DAS VÍTIMAS QUE PROCEDERAM A IDENTIFICAÇÃO
DOS ACUSADOS SOB O ARGUMENTO DE QUE TEMIA PELA INTEGRIDADE FÍSICAS
DESTAS VALIDADE 3. VALIDADE DAS CONFISSÕES FEITAS NO INQUÉRITO
POLICIAL QUANDO VALORADAS EM CONJUNTO COM AS DEMAIS PROVAS
SUBMETIDAS AO CONTRADITÓRIO MÉRITO 4. AUTORIA E MATERIALIDADE
DEVIDAMENTE COMPROVADAS NOS AUTOS PARA AMBOS OS DELITOS RECURSO
DESPROVIDO. 1. A prova emprestada é aquela colhida em um processo e trasladada
para outro, sendo que em razão da observância do devido processo legal, tal prova
está condicionada ao crivo do contraditório para ter validade e no caso como foi
oportunizado o contraditório não há que se falar em ilicitude da mesma. 2. O
depoimento prestado em juízo pelo policial que efetuou o flagrante é válido, tendo
este justificado o porquê de não revelar a identidade das vítimas que fizeram a
identificação dos acusados, vez que faz parte do ofício do policial manter sigilo em
relação as pessoas que colaboram com as investigações quando exista receio de que
estas possam sofrer represálias se identificadas, como ocorreu no presente caso. 3. As
provas colhidas quando do inquérito policial não podem servir como base para
condenação, mas isto não significa dizer que as mesmas não possam ser valoradas em
conjunto com as provas colhidas em juízo quando harmônicas com aquelas produzidas
sob o crivo do contraditório. 4. O conjunto probatório acostado aos autos é suficiente
para comprovação da prática pelo apelante dos delitos descritos na denúncia, assim
como da materialidade. APELO DO RÉU JUNIOR 5. AUTORIA E MATERIALIDADE
DEVIDAMENTE COMPROVADAS NOS AUTOS PARA AMBOS OS DELITOS 6.
REDUÇÃO DA PENA IMPOSSIBILIDADE RECURSO DESPROVIDO. 5. O conjunto
probatório acostado aos autos é suficiente para comprovação da prática pelo apelante
dos delitos descritos na denúncia, assim como da materialidade. 2 6. É de se manter a
pena imposta ao acusado, pois que adequadamente fixada.” (TJPR, AC 131.7253-9, 2ª
C.Criminal, de nossa relatoria, acórdão nº 1603, publ.
10.07.2015)
393
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
semanas que seu pai estava relacionando com Joice; Diz que Joice não frequentava a
casa onde morava; Diz que Joice era ex namorada de Welington Felipe conhecido
como “TETA”; Diz que sabe que seu pai sabia que Joice estava sendo ameaçada de
morte por Wellington; Diz que na noite do dia 28/09/2015 por volta das vinte e três
horas duas pessoas chegaram em sua casa e chamaram seu pai pelo apelido
“Passarinho”; Diz que seu pai não ouviu e o declarante avisou seu pai; Diz que neste
momento estava com seu irmão de um ano nos braços; Diz que seu pai saiu para fora
da casa e o declarante ouviu os disparos; Diz que saiu e viu dois elementos correndo
em direção ao Colégio Nelita Ramos; Diz que saiu correndo atrás dos criminosos
sendo que viu e reconhece os mesmos; Diz que os criminosos se chama Gabriel
conhecido como pelo como “Carrerinha” e Wellington Felipe conhecido como “Teta;
Diz que durante a perseguição chamou pelo nome de Carrerinha e o mesmo olhou
para trás e viu que era o declarante pois o declarante conhece os autores do
homicídio; Diz que conhece Gabriel a mais de cinco anos e “teta” a mais de dois anos;
Diz que não tem dúvidas que foram Gabriel e Welington as pessoas que chegaram e
chamaram seu pai e depois efetuaram os disparos de arma de fogo que o matou; Diz
que seu pai não devia dinheiro para Wellington e nem para Gabriel; Diz que não tem
certeza mas acha que Gabriel conhecido como “Carrerinha” devia dinheiro para seu
pai; Diz que não sabe o motivo da dívida se caso houvesse; Diz que viu mensagens
amorosa de Joice para o telefone de seu pai; Diz que no momento dos disparos
estavam na casa o declarante, seu pai, vítima, seu irmão de um ano e um tio deficiente
e sua avó que estava dormindo; Diz que reconheceu a voz de “Carrerinha” chamando
seu pai; Diz que viu “Teta” atirando em seu Pai; Diz que no momento dos disparos
“Teta” não disse nada apenas atirou; Que tem certeza que foi Wellington Felipe
conhecido pelo Alcunha de “Teta” a pessoa que atirou em seu pai.”
E, em juízo (mov. 144) disse:
“Que Cleber Colaço era seu pai; que moraram na residência o depoente, seu pai, sua
vó e seus tios; que seu pai era tranquilo e ajudava no sustento da casa; que fazia
pouco mais de uma semana que Cleber havia se separado da esposa; que no dia dos
fatos, por volta das 19 horas, foi com seu pai buscar espetinhos para janta; que depois
da refeição, foram dar uma volta com o seu irmão mais novo, que tinha onze meses à
época; que assim que retornaram para casa, pegou o celular e ficou conversando com
sua namorada na frente de casa e pôde ver dois rapazes sentados, bem na esquina;
que não deu bola para os rapazes e entrou em casa para conversar com seu pai; que
então escutou uma voz chamando seu pai na frente de casa; que ele lhe entregou a
criança e saiu; que assim que ele desceu os degraus esse rapaz moreno, com a
aparência do Wellington o alvejou com disparos de arma de fogo; que o outro rapaz
era Gabriel; que o reconheceu, pois já o conhecia; que deixou seu irmão no chão,
gritou para sua avó que haviam matado seu pai e saiu correndo atrás dos meliantes;
que constatou que era “carreirinha” e um rapaz de blusa vermelha; que reconheceu a
voz do Gabriel; que Joyce é ex-namorada de Wellington; que seu pai era amigo de
Joyce e ele não tinha nenhum relacionamento amoroso com ela; que seu pai
comentou que Joyce estava sendo ameaçada de morte por Wellington; (...) que uns
dias antes seu pai havia recebido uma ligação dizendo “que seria feito”, mas ele não
395
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
ficou com medo da ameaça; (...)que Gabriel vivia na esquina da casa do depoente;
que acredita que Gabriel e seu pai se cumprimentavam somente, não tendo uma
relação de amizade; que não sabe de nenhuma dívida de seu pai tanto com relação a
Wellington quanto a Gabriel; que confirma ter visto conversas no celular de seu pai
remetidas por Joyce; (...) que viu o rapaz de blusa vermelha atirando em Cleber; que o
indivíduo já saiu de trás do muro atirando; que junto a ele estava ; que conhecia
Wellington de vista; que Gabriel as características físicas do atirador são as mesmas de
Wellington; (...) que o comentário no enterro era de que a motivação do crime foi
passional; que ouviu cinco ou seis disparos, sendo que três atingiram seu pai; que seu
pai não teve nenhuma possibilidade de defesa, pois eles já chegaram atirando; que
foram um tiro na cabeça, outro no tórax e o último na espinha; (...)
Conforme se observa, o depoimento da testemunha ocular foi bastante fiel ao
prestado na fase inquisitorial, divergindo somente na informação a respeito do
relacionamento da vítima e de Joice. Todavia, tal circunstância não faz desacreditar no
reconhecimento de Gabriel, especialmente porque a testemunha já o conhecia há
mais de cinco anos.
Ademais, corroborando a palavra do filho da vítima, o policial Eduardo Domingues
Polizel relatou em juízo que Nathan reconheceu Gabriel, com certeza, como aquele
que atraiu a vítima para a emboscada (mov. 144.1).
Não obstante, embora Gabriel sustente que não possuía relação de amizade com
Wellington, a informante Joice Valiente dos Santos, ex-companheira daquele, e
Marizete Nunes Barbosa, mãe do mesmo, confirmaram que o representado
frequentava regularmente a residência de Wellington, restando, claro, portanto, que
ambos possuíam uma relação de amizade entre eles (mov. 144.1):
Joice Valiente dos Santos - que tinha um relacionamento com Cleber na época dos
fatos; que no dia dos fatos, seus pais ficaram sabendo que Wellington estava na
cidade e pretendia matar a depoente e Cleber, sendo que por esse motivo foram
buscar a depoente no colégio; que um amigo da depoente viu Wellington passando
de carro e foi avisar, pois sabia que a depoente já tinha sido ameaçada por
Wellington; que Wellington lhe ameaçou de morte porque a depoente estava se
relacionando com outra pessoa; (...) que assim que chegaram em casa ouviram o
barulho dos tiros; que residia próximo da casa de Cleber; (...) que ficou sabendo por
terceiros que os autores do crime foram Wellington e Gabriel, vulgo “carreirinha”; que
quando era casada com Wellington, Gabriel era amigo de seu esposo e frequentava
sua casa regularmente; (...) que acha que Gabriel conhecia a vítima; que Wellington era
ciumento; que quando Wellington descobriu que estava com Cleber, ele ligou e
ameaçou, dizendo que iria matar a depoente e Cleber; (...) que estava grávida de
Wellington; que seu relacionamento com Wellington durou cerca de cinco ou seis
anos; que estava separada de Wellington há uns quatro meses quando começou a se
relacionar com Cleber; que Wellington descobriu o relacionamento com Cleber uma
semana antes do homicídio; que pelo que ficou sabendo, Gabriel foi o responsável por
chamar Cleber e o autor dos disparos foi Wellington.
Marizete Nunes Barboza - confirmou o relacionamento amoroso entre Joyce e
Wellington; que o motivo do término foi porque Joyce queria ter sua própria casa; que
396
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Joyce estava grávida de Wellington; que o relacionamento era bom; que conhecia
Gabriel de vista, pois ele tinha mais contato com seu filho mais velho, Diego; que não
conhecia Gabriel já frequentou sua casa Cleber e não sabe dizer se ele se relacionava
com Joyce; (...)
Por fim, Osvaldenir Lenardon relatou a ocorrência e confirmou a reiteração de atos
infracionais envolvendo Gabriel (mov. 144.1).
Diante deste cenário, observa-se que o representado, em concurso com o imputável
Wellington Felipe Barboza Rufino, de posse de uma arma de fogo não apreendida nos
autos, efetuaram 02 (dois) disparos contra a vítima Cleber Colaço, causando-lhe os
ferimentos descritos no Laudo de Exame de Necropsia (mov. 14.1), que foram a causa
eficiente de sua morte.
Da mesma forma, restou comprovado que o ato infracional foi impelido por motivo
fútil, eis que motivado por ciúmes, por ter a vítima se envolvido com a ex-companheira
do coautor Wellington.
Ademais, a testemunha presencial dos fatos foi convicta ao afirmar que foram dois os
autores do ato infracional descrito na representação, sendo que Gabriel foi o
responsável por atrair a vítima, Cleber Colaço, para a emboscada, e que Wellington
imediatamente saiu de trás do muro e desferiu os tiros, dificultando, portanto,
qualquer defesa da vítima.
Desse modo, o fato de Gabriel ter sido denunciado como responsável por atrair a
vítima para o local da emboscada é pertinente ao instituto da coautoria, adotado pelo
Código Penal (artigo 29), que imputa pena a todos que concorreram para o crime, e
não apenas a quem pratica o ato executório.
Por tudo isso, tenho como certo que GABRIEL HENRIQUE DA SILVA foi o autor do
ato infracional equiparado ao delito tipificado no art. 121, II e IV, do Código Penal, não
havendo como se acolher a sua tese defensiva, sob o argumento de negativa de
autoria, em razão dos fundamentos já expostos.
E passando-se as coisas dessa maneira, impõe-se sua responsabilização pelo ato
infracional praticado.” (fls. 383/386-CD- ROM)
Com efeito, o filho da vítima que testemunhou presencialmente o homicídio foi coeso
e convicto ao afirmar que Gabriel foi o responsável por atrair a seu pai, Cleber Colaço,
para fora da sua residência, ao passo que Wellington desferiu os tiros que ceifaram sua
vida, restando as declarações das demais testemunhas arroladas ao feito uníssonas
neste sentido.
Este quadro, já configura a coautoria delitiva, considerada a “teoria do domínio
funcional do fato”, que dispensa a prática do verbo núcleo do tipo pelo agente.
Cumpre ressaltar que na coautoria não há necessidade de todos os agentes
manifestarem idêntico comportamento, podendo haver divisão quanto aos atos
executórios relevantes para o objetivo criminoso, bastando, para tanto, o encontro de
vontades para a prática do fato punível, como na espécie.
Desta maneira, o apelante é igualmente responsável, vez que sua participação foi de
vital importância na pratica do ato infracional a que foi responsabilizado.
Neste sentido:
397
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
“4. Por oportuno, registre-se, ao contrário do que sustenta a impetração, mesmo que
o paciente não tenha sido o responsável pela efetuação dos disparos de arma de fogo
que culminaram no óbito de uma das vítimas, deve responder como coautor pelo
roubo seguido de morte. 5.
Isso porque ficou bem demonstrada, na espécie, a existência de liame subjetivo e
ajuste prévio do paciente com os demais agentes, assumindo ele também o risco, com
a participação na empreitada delituosa, de que alguma vítima fosse morta em virtude
de disparo de arma.
[...]” (STJ, 6ª Turma, HC 185.167/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, j. 15.03.2011,
DJe 08.02.2012).
“PENAL. RECURSO ESPECIAL. LATROCÍNIO. CONCURSO DE AGENTES.
PARTICIPAÇÃO DOLOSAMENTE DISTINTA.
INAPLICABILIDADE. I - O roubo com morte é delito qualificado pelo resultado, sendo
que este plus, na melhor dicção da doutrina, pode ser imputado na forma de dolo ou
de culpa. II - No roubo, mormente praticado com arma de fogo, respondem, de regra,
pelo resultado morte, situado evidentemente em pleno desdobramento causal da
ação delituosa, todos que, mesmo não agindo diretamente na execução da morte,
contribuíram para a execução do tipo fundamental (Precedentes). Se assumiram o
risco, pelo evento respondem. Recurso provido.” (STJ, 5ª Turma, REsp 418183/DF,
Rel. Ministro FELIX FISCHER, j.03.06.2003, DJ 04.08.2003, p. 362).
Desta maneira, percebe-se no presente caso, que as provas produzidas apontam de
forma categórica e detalhada a participação do apelante na prática do ato infracional,
não havendo que se falar em absolvição.
Da medida socioeducativa de internação
Pleiteia, subsidiariamente, para que a medida de internação seja fixada em 6 (seis)
meses, haja vista ter o apelante agido amparado pela atenuante do motivo de
relevante valor social ou moral, e ser a vítima traficante.
Sem razão.
A douta Procuradoria Geral de Justiça, cujos fundamentos adoto, assim se pronunciou
a respeito do pedido de fixação de prazo determinado para o cumprimento da
respectiva medida, verbis:
“No que concerne ao pleito de fixação de prazo determinado para cumprimento da
medida de internação aplicada, sob o argumento de que o homicídio em tela deu-se
por motivo relevante valor moral e social haja vista tratar-se a vítima de traficante de
drogas tem-se igualmente carecer de razão a defesa.
O artigo 121, §§ 2º e 3º, da Lei 8.069/90, estabelece que a medida socioeducativa de
internação não tem prazo determinado, não podendo, contudo, ultrapassar três anos,
sendo, outrossim, imperiosa a sua reavaliação no máximo a cada seis meses.
Desse modo, uma vez que a delimitação de lapso temporal para sua aplicação é
obstada por lei, não há que se falar em fixação de prazo mínimo.” (fls. 23-TJ)
Portanto, a sentença não merece reforma também neste aspecto, eis que, em
verdade, o texto legal do Estatuto da Criança e do Adolescente prevê, no §2º do
artigo 121, que aludida medida socioeducativa tem prazo indeterminado:
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
APELAÇÃO CRIME - DELITO CONTRA A HONRA - CALÚNIA (ART. 138, C/C ART.
141, II, AMBOS DO CP) - DEFESA PELA ABSOLVIÇÃO - CABIMENTO - RÉU QUE
se configura quando o agente, sabedor que seu ato não corresponde à verdade,
dolo faz parte do tipo penal (calúnia), cabe à acusação demonstrá-lo estreme de
dúvidas; não o fazendo, a absolvição se impõe com base no art. 386, VII, do CPP"
J. 04.05.2017)
Inteiro Teor
1. O crime de calúnia só se configura quando o agente, sabedor que seu ato não
corresponde à verdade, atribui conscientemente ao ofendido a prática de um ato
delituoso.
2. Porquanto o dolo faz parte do tipo penal (calúnia), cabe à acusação demonstrá-lo
estreme de dúvidas; não o fazendo, a absolvição se impõe com base no art. 386, VII,
do CPP” (TJPR 2ª C.Criminal, AC 1228562-8, Pato Branco, Rel.
José Mauricio Pinto de Almeida, Unânime, J. 20.08.2015).
“Os crimes contra a honra exigem, além do dolo genérico, o elemento subjetivo
especial do tipo consubstanciado no propósito de ofender a honra da vítima. Assim, a
peça inicial deve estampar a existência de dolo específico necessário à sua
configuração, sob pena de faltar-lhe justa causa, sendo que a mera intenção de caçoar
(`animus jocandi’), de narrar (`animus narrandi’), de defender (`animus defendendi’), de
informar ou aconselhar (`animus consulendi’), de criticar (`animus criticandi’) ou de
corrigir (`animus corrigendi’) exclui o elemento subjetivo e, por conseguinte, afasta a
tipicidade desses crimes” (TJPR 2ª C.Criminal, RSE 1168068-5, Ponta Grossa, Rel.:
José Mauricio Pinto de Almeida, Unânime, J. 11.12.2014).
Nesse sentido, aponta-se o entendimento de Guilherme de Souza Nucci:
“Pune-se o crime [de calúnia] quando o agente agir dolosamente. Não há forma
culposa. Entretanto, exige-se, majoritariamente (doutrina e jurisprudência), o elemento
subjetivo do tipo específico, que é a especial intenção de ofender, magoar, macular a
honra alheia. Este elemento intencional está implícito no tipo. É possível que uma
pessoa fale a outra de um fato falsamente atribuído a terceiro como crime, embora
assim esteja agindo com `animus jocandi’, ou seja, fazendo uma brincadeira. Embora a
atitude de mau gosto, não se pode dizer que tenha havido calúnia. O preenchimento
do tipo aparentemente houve (o dolo existiu), mas não a específica vontade de
macular a honra alheia (o que tradicionalmente se chama de `dolo específico’)”.1
Em mesmo sentido também é a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:
“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL REQUISITOS DE
ADMISSIBILIDADE PREENCHIDOS QUANTO A ALÍNEA `A’ DO PERMISSIVO
CONSTITUCIONAL CONHECIMENTO PARCIAL DO RECURSO AÇÃO PENAL
DELITOS DE CALÚNIA E DIFAMAÇÃO SUPOSTAMENTE COMETIDOS CONTRA
MINISTRO DO STJ REPASSE DE CORREIO ELETRÔNICO COM MENSAGEM
CONSIDERADA OFENSIVA DOLO ESPECÍFICO DE OFENDER NÃO OCORRÊNCIA
AUSÊNCIA DO `ANIMUS DIFFAMANDI’ E `ANIMUS CALUNIANDI’ ATIPICIDADE
DA CONDUTA RESTABELECIMENTO DA DECISÃO QUE REJEITOU A DENÚNCIA
AGRAVO REGIMENTAL PROVIDO.
1. Para a caracterização dos crimes de calúnia e difamação é imprescindível que se
verifique, além do dolo genérico de realizar os elementos do tipo, um fim específico,
isto é, o propósito de ofender ou macular a honra da vítima, consistente no `animus
caluniandi’ ou `animus diffamandi’.
2. Na hipótese, a recorrente, servidora pública pertencente ao quadro do Superior
Tribunal de Justiça, recebeu o correio eletrônico tido por ofensivo e o repassou a
algumas secretarias do Tribunal, sem efetuar qualquer modificação em seu texto ou
acrescentar sequer um comentário à mensagem, evidenciando, assim, sem a
402
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
A testemunha João Custódio de Araújo declarou em juízo que no dia dos fatos
estavam pegando alguns congelados que eram da escola 25 de Julho que estavam na
Secretaria de Educação.
Relatou que naquele momento estariam dando a última viagem quando o acusado
falou que era para deixarem pelo menos o prédio.
Acrescentou que estavam entrando na camioneta quando o acusado falou, sendo que
a vítima também estava ali, além de Naira. Esclareceu que escutou o acusado, mas
“deixou quieto”, mas não levou na brincadeira. Quando perguntado se não teve
interesse em registrar também uma queixa por ter se sentido ofendido, respondeu que
como a secretária de educação era a Rosangela, e que estava no local apenas para
ajudá-la, entendeu que o acusado estivesse se dirigindo a ela, e não a ele. (CD-ROM
de fl. 129).
A testemunha de defesa Valdir Silva Lima nada soube esclarecer sobre a elucidação
dos fatos. (CD-ROM de fl. 129).
Em seu interrogatório judicial, Germiniano Gonçalves de Souza Neto declarou em
juízo que mora em frente a Secretaria de Educação, e se recorda de terem dado várias
viagens com a camionete.
Narrou que na última viagem, Joãozinho estaria encima da carroceria, e ele teria
falado para o acusado “como está o coração”, isso em razão de terem trabalhado de
lados opostos na eleição, quando então teria igualmente brincado com ele dizendo
“larga pelo menos o prédio aí”.
Alegou que depois Rosangela teria voltado ali e falado ao interrogado que é pessoa
idosa, e deveria estar ajudando. Asseverou que praticou a conduta em tom de
brincadeira, e com a pessoa do “Joãozinho”, não tendo dito nada para a Rosangela,
nem falado nada que estivessem roubando. Afirmou que não sabia para onde as
coisas estavam sendo levadas. (CD-ROM de fl. 129).
Da análise das provas constantes nos autos não evidenciam que o acusado tenha
atuando com o dolo de macular a honra alheia, mas sim agindo com um animus
jocandi, não individualizando a suposta imputação falsa de crime a alguém, falando,
consoante descrito na denúncia, “vocês vão deixar pelo menos o prédio no lugar”.
De tal forma, não restou indubitavelmente comprovado nos autos que o acusado,
sabendo que a vítima Rosangela não praticava o delito de peculato, tenha imputado
falsamente o crime, visando macular a sua honra.
Nesse sentido também foi o entendimento da douta Procuradoria Geral de Justiça
(fls. 212):
“As provas colacionadas aos autos não conferem a segurança necessária para
fundamentar um édito condenatório, principalmente porque não foi possível aferir,
com a devida certeza, a presenta do animus caluniandi por parte do acusado.
Deveras, o que exsurge do processado é que o apelante, ao proferir o seguinte
comentário `vocês vão deixar pelo menos o prédio no lugar’, tinha por objetivo, tão
somente, fazer uma brincadeira com os presentes, os quais estavam removendo alguns
objetos do local. “
404
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
ALEGAÇÕES FINAIS
deixar de assim proceder se dos elementos de informação contidos nos autos não for
Unânime - J. 02.03.2017)
Inteiro Teor
A defesa do apelante assevera que é imputada a este uma conduta para a qual não se
produziu qualquer prova capaz de tornar concreta a acusação, pelo que deve ser
inocentado da acusação, com a aplicabilidade do princípio in dubio pro reo.
O pleito absolutório não admite amparo, porque as provas produzidas revelam de
forma incontroversa a prática do delito previsto no artigo 311, caput, do Código Penal:
“Art. 311 - Adulterar ou remarcar número de chassi ou qualquer sinal identificador de
veículo automotor, de seu componente ou equipamento:
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.”
Com efeito, a materialidade está devidamente comprovada além dos testemunhos
prestados em juízo, está sobejamente comprovada no boletim de ocorrência de mov.
4.3, no auto de exibição e apreensão de mov. 4.9, no laudo pericial de mov.
4.10, no aditamento do laudo de mov. 4.14, no termo de restituição de mov. 4.15, no
boletim de ocorrência de mov.4.16, todos constantes no inquérito policial de nº
0029296-04.2014.8.16.0019 (em apenso).
Por outro lado, a autoria incide sobre a pessoa do Apelante.
A propósito, em seu depoimento, em Juízo, a vítima Moacir Correa, afirmou: “que
mandou reformar seu caminhão na oficina de Aníbal e Renaclo. Destacou que por
causa do serviço que seria realizado, foi preciso colocar o veículo para fora da oficina,
tendo que movimentá-lo e, como o caminhão possuía um segredo, teve que repassá-
lo a Aníbal. O veículo em questão foi furtado do pátio da associação dos
caminhoneiros em Faxinal, cerca de 30 dias após o término do conserto. Somente
localizou o veículo cerca de 5 ou 6 meses após o furto. Passados uns 60 dias após o
furto, começou a desconfiar de Aníbal, haja vista que foi até Londrina em sua
companhia, pois teria lhe dito que um terceiro queria comprar o “documento”, mas na
verdade Aníbal só queria saber o que ainda reconhecia do veículo, caso o encontrasse,
pois, após ter falado todos os detalhes, Aníbal os alterou.
Declarou que devido a estes fatos, desconfiou que Aníbal e Renaclo furtaram o
caminhão. Dessa forma, começou a monitorá-los. Percebeu que o apelante Renaclo
não se encontrava mais na oficina, desocupando a casa em que morava e deixando
seus pertences no local. Disse que investigou o paradeiro de Renaclo, sendo que
Aníbal lhe informou que o apelante estava em Curitiba.
Foi atrás de Renaclo, mas descobriu que não teria ido para Curitiba. Ao monitorar os
passos de Aníbal, descobriu que o caminhão estava em Ponta Grossa. Foi até Ponta
Grossa seguindo Aníbal e, ao constatar que estava sozinho, foi até uma oficina onde
encontrou seu caminhão, reconhecendo-o na hora. Relatou que havia sido alterado o
documento do veículo, a placa, que foi retirado o câmbio, pneu e motor e que no
momento em que foi até a oficina lá estavam Aníbal e Renaclo. Chegou a iniciar uma
tratativa de valores com Aníbal, mas a polícia não permitiu. Recuperou seu caminhão,
mas teve prejuízos no total de R$ 105.000,00, sendo R$ 55.000,00 somente da carreta,
que não apareceu.” (fls. 216/217-CD-ROM)
O Policial Militar Paulo Marcelo Supren declarou, em Juízo, que: “Via COPOM, foi
repassado que uma vítima de furto de caminhão havia encontrado o veículo em um
estabelecimento de mecânica e lataria, na Av. Souza Naves. Declarou que assim, se
deslocando ao local, foi conversado com o ofendido, o qual apontou seu caminhão,
407
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
ao mês, nos termos dos arts. 398 e 406 do Código Civil, na forma as Súmulas 43 e 54
do Superior Tribunal de Justiça. Note-se que o valor decorrente do furto da carreta
não pode ser atribuído ao acusado, visto que não lhe foi imputado tal crime.”
Neste passo, como obtemperado pela douta Procuradoria Geral de Justiça, cujos
fundamentos adoto, verbis:
“Importante ressaltar que houve pedido expresso do Ministério Público de primeiro
grau, em sede de memoriais, da fixação da indenização à vítima, nos termos do art.
387, inc. IV, do Código de Processo Penal.
Outrossim, não há que se falar em fundamentação inidônea do quantum arbitrado, eis
que respaldado no valor do prejuízo suportado pela vítima, bem como nos art. 398 e
art. 406, ambos do Código Civil, na forma das súmulas 43 e 54, do Superior Tribunal
de Justiça.
Por fim, vale registrar que a resposta penal não merece qualquer correção, posto que
fixada no mínimo legal e, principalmente, porque ausente inconformismo do Ministério
Público objetivando seu agravamento.” (fls. 12-TJ)
Neste sentido a jurisprudência pátria:
“APELAÇÃO CRIMINAL. PENAL E PROCESSO PENAL. ROUBO DUPLAMENTE
MAJORADO (ART. 157, § 2º, I E II, DO CÓDIGO PENAL). APELANTE 2.
MANUTENÇÃO DA MAJORANTE DA ARMA DE FOGO. CAUSA DE AUMENTO
CONFIGURADA.
PRESCINDIBILIDADE DA APREENSÃO DA ARMA. DOSIMETRIA. PENA-BASE.
CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DESFAVORÁVEIS. CULPABILIDADE DO
RÉU.AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. CIRCUNSTÂNCIAS E CONSEQUÊNCIAS DO
DELITO. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA.APELANTE 1.
INCIDÊNCIA DA AGRAVANTE DA REINCIDÊNCIA E DA ATENUANTE DA
CONFISSÃO ESPONTÂNEA. INVIABILIDADE DE COMPENSAÇÃO. PRECEDENTES
DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.APELANTE 2. TERCEIRA FASE. READEQUAÇÃO
DO PERCENTUAL REFERENTE ÀS CAUSAS DE AUMENTO.CRITÉRIO
QUANTITATIVO. CONTRARIEDADE À SÚMULA Nº 443, DO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA.
APELANTE 1. REPARAÇÃO DO DANO. FIXAÇÃO QUE INDEPENDE DE PEDIDO
EXPRESSO. RECURSO 1 PROVIDO E APELAÇÃO 2 PARCIALMENTE PROVIDA. a) “(...)
e) “Com a alteração trazida pela Lei 11.719/2008 o magistrado deverá estabelecer um
valor mínimo de indenização no caso de sentença condenatória, independente de
pedido da Promotoria de Justiça ou da vítima. Somente poderá deixar de assim
proceder se dos elementos de informação contidos nos autos não for possível
qualquer aferição a respeito dessa quantificação. Não há violação ao princípio do
devido processo legal porque essa exigência decorre de expressa previsão legal,
devendo se preocupar, também, quando de sua defesa, com essa realidade.” (TJPR -
4ª C.Criminal - AC - 918407-2 - Foro Regional de Campo Largo da Comarca da Região
Metropolitana de Curitiba - Rel.: Luiz Cezar Nicolau - Unânime - - J.08.11.2012).”
(TJPR, 3ª C.Criminal, AC 1370079-3, Colombo, Rel. Rogério Kanayama, Unânime, J.
10.12.2015).
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
não ter havido qualquer pedido nesse sentido.” (TJMG, 2ª C.Criminal, proc.
1.0223.09.271368-2/001, Rel. Beatriz Pinheiro Caires, j. 10.12.2009, unânime., DJe
24.02.2010).
Deste modo, não merece acolhimento a irresignação do apelante, devendo ser
mantido o quantum fixado na r. sentença.
Nestas condições, nega-se provimento ao recurso, nos termos da fundamentação.
ANTE O EXPOSTO, acordam os Desembargadores integrantes da 2ª Câmara Criminal
do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar
provimento ao recurso.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador Luís Carlos Xavier (com voto) e dele
participaram o Desembargador José Mauricio Pinto de Almeida e o Juiz Substituto
Segundo Grau Marcel Guimarães Rotoli de Macedo.
Curitiba, 02 de março de 2017.
Des. Luís Carlos Xavier Relator
danos causados pela infração, o Ministério 2Público deverá realizar pedido expresso,
podendo o pedido também partir do ofendido, por seu advogado, durante a instrução
Todavia, observa-se que no caso em tela não foi observado tais princípios,
Unânime - J. 22.10.2015)
Inteiro Teor
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Nesta instância, a douta Procuradora Geral de Justiça exarou parecer (fls. 9/20-TJPR),
manifestando-se pelo conhecimento e provimento do recurso, a fim de que seja fixado
o valor mínimo para reparação do dano.
É o relatório.
VOTO
Presentes os pressupostos de admissibilidade, é de se conhecer o recurso.
Do valor mínimo para a reparação dos danos causados pelo delito
Defende que do delito praticado pelo acusado houve dano concreto à vítima Paulo
de Oliveira Horst, constante da fundamentação da sentença, de R$1.150,00 (um mil,
cento e cinquenta reais). Aduz que na cota de oferecimento da denúncia, destacou-se
o art. 387, IV, do CPP, instaurando o contraditório acerca da reparação dos danos,
sendo renovado o pedido nas alegações finais. Sustenta não ter sido contraditada a
existência de prejuízo e os valores, sendo a prova feita através das declarações do
ofendido, sob o crivo do contraditório, não sendo exigindo prova documental.
O pedido não merece prosperar.
Não há que se negar que o artigo 91, inciso I, do Código Penal estabelece que a
condenação possui como efeito tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado
pelo crime.
De tal forma, a Lei n° 11.719/2008 modificou o inciso IV do artigo 387, do Código de
Processo Penal, estabelecendo que o magistrado ao proferir sentença condenatória,
fixará valor mínimo para a reparação dos danos causados pela infração.
Todavia, de modo a respeitar o direito de contraditório e ampla defesa do acusado,
para se fixar o valor mínimo de indenização deverá o Ministério Publico realizar pedido
expresso no momento do oferecimento da denúncia, podendo o pedido também
partir do ofendido, por seu advogado, durante a instrução criminal.
O Superior Tribunal de Justiça já se manifestou nesse sentido:
“PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ROUBO
CIRCUNSTANCIADO. REPARAÇÃO POR DANO MATERIAL. AUSÊNCIA DE PEDIDO
EXPRESSO.
VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO. SÚMULA
83/STJ.
1. Não há falar em fixação de valor mínimo de indenização à vítima se o Ministério
Público não requereu, tampouco o fez o ofendido, a fixação desse quantum no
momento do oferecimento da denúncia, sob pena de violação dos princípios
constitucionais da ampla defesa, do contraditório e do devido processo legal. Súmula
83/STJ.
2. Agravo regimental improvido.” (STJ, AgRg no AREsp 352.104/RJ, Rel. Ministro
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julg. 19.11.2013, DJe 06.12.2013) (grifo
nosso).
“PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ROUBO.
ESTUPRO. EXTORSÃO. FIXAÇÃO DE INDENIZAÇÃO MÍNIMA. DENÚNCIA.
AUSÊNCIA DE PEDIDO.
IMPOSSIBILIDADE. ACÓRDÃO RECORRIDO NO MESMO SENTIDO DA
ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL. SÚMULA 83/STJ.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
1. Para que seja fixado, na sentença, o valor mínimo para reparação dos danos
causados à vítima (art. 387, IV, do CP), necessário o pedido formal, sob pena de
violação dos princípios da ampla defesa e do contraditório.
2. Agravo regimental improvido.” (STJ, AgRg no AREsp 311.784/DF, Rel. Ministro
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julg. 05.08.2014, DJe 28.10.2014) (grifo
nosso).
Esse E. Tribunal de Justiça igualmente já se manifestou sobre o tema, destacando que
a parte que fizer o pedido deverá indicar os valores e provas suficientes para sustentá-
lo, havendo instrução específica para se apurar o valor mínimo para o dano:
“APELAÇÃO CRIME. CONDENAÇÃO POR LESÃO CORPORAL CULPOSA NA
DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR E POR EMBRIAGUEZ AO VOLANTE (ARTIGOS
303, PARÁGRAFO ÚNICO, E 306, AMBOS DO CTB). PLEITO RECURSAL
ABSOLUTÓRIO FUNDADO NA AUSÊNCIA DE PROVAS DA MATERIALIDADE DO
CRIME DE EMBRIAGUEZ E DA CULPA NO CRIME DE LESÃO CORPORAL CULPOSA
NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR.REJEIÇÃO. APELANTE QUE SE SUBMETEU
AO BAFÔMETRO LOGO APÓS TER ATROPELADO PEDESTRE. RESULTADO DO
EXAME QUE ACUSOU TEOR ALCOÓLICO ACIMA DO PERMITIDO.EXTRATO DO
ETILÔMETRO QUE BASTA À COMPROVAÇÃO DA EMBRIAGUEZ, SENDO
DESNECESSÁRIO QUALQUER OUTRO TIPO DE LAUDO PERICIAL. NEGATIVA, POR
PARTE DO CONDENADO, DE TER INGERIDO BEBIDA ALCOÓLICA, QUE SE
ENCONTRA ISOLADA NOS AUTOS, FACE AO ROBUSTO ACERVO PROBATÓRIO
CONTRÁRIO. PRESUMIDA A CORRETUDE NO AGIR DO POLICIAL QUE REALIZOU O
EXAME BAFOMÉTRICO E ELABOROU O CROQUI DO ACIDENTE, POR ESTAR ELE
IMBUÍDO DE FUNÇÃO PÚBLICA.
SENTENCIADO QUE NÃO APRESENTOU PROVAS CAPAZES DE ABALAR TAL
PRESUNÇÃO.EXTENSÃO DAS LESÕES FÍSICAS CAUSADAS À VÍTIMA QUE
CONFIRMA A ALTA VELOCIDADE COM QUE O MOTORISTA PILOTAVA A
MOTOCICLETA NO MOMENTO DO ATROPELAMENTO.
CONFLUÊNCIA DE ALTA VELOCIDADE E EMBRIAGUEZ SUFICIENTE À
CONFIGURAÇÃO DA CULPA. EVIDENTE DESCUMPRIMENTO DO DEVER DE
CUIDADO OBJETIVO.
PLEITO DE AFASTAMENTO DA FIXAÇÃO DE VALOR MÍNIMO À REPARAÇÃO DO
DANO. ACOLHIMENTO. AUSÊNCIA DE PEDIDO EXPRESSO POR PARTE DA VÍTIMA
OU DO MINISTÉRIO PÚBLICO. RECORRENTE QUE NÃO PÔDE EXERCER AMPLA
DEFESA E CONTRADITÓRIO NESTE PONTO.
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO, PARA AFASTAR DA CONDENAÇÃO O VALOR
MÍNIMO FIXADO A TÍTULO DE REPARAÇÃO DE DANOS (ART. 387, INC. IV, CPP) (...)
4. “(...) admitindo-se que o magistrado possa fixar um valor mínimo para a reparação
dos danos causados pela infração penal, é fundamental haver, durante a instrução
criminal, um pedido formal para que se apure o montante civilmente devido. Esse
pedido deve partir do ofendido, por seu advogado (assistente de acusação), ou do
Ministério Público. A parte que o fizer precisa indicar valores e provas suficientes a
sustentá-los. A partir daí, deve-se proporcionar ao réu a possibilidade de se defender
e produzir contraprova, de modo a indicar valor diverso ou mesmo a apontar que
418
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
inexistiu prejuízo material ou moral a ser reparado. Se não houver formal pedido e
instrução específica para apurar o valor mínimo para o dano, é defeso ao julgador
optar por qualquer cifra, pois seria nítida a infringência ao princípio da ampla defesa”.
NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado.
10ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011, p. 736.1. “ (TJPR - 2ª C.
Criminal, AC 1202047-6, Umuarama, Rel. Roberto Antônio Massaro, Unânime, J.
29.01.2015) (grifo nosso).
No presente caso, observa-se que a denúncia de págs. 4/6 nada mencionou sobre a
fixação do valor mínimo para a reparação dos danos causados pela infração penal,
sendo o pedido efetuado na cota ministerial de pág. 82.
Contudo, a referida cota ministerial foi realizada nos autos de Inquérito Policial, antes
do oferecimento da denúncia, ou seja, quando ainda não tinha se dado início ao
processo.
O pedido foi efetuado novamente apenas na alegação final de págs. 238/250. Porém,
por equívoco, a alegação final do Ministério Público foi apresentada depois da
alegação final do réu Renato Ribeiro de Freitas de págs. 233/236, a qual foi ratificada à
pág.260, sem o acréscimo de qualquer fundamentação.
De tal forma, observa-se que no caso em tela não foi observado os princípios do
contraditório e ampla defesa do réu em relação à fixação do valor mínimo de
reparação dos danos.
Outrossim, o valor apontado como devido foi apresentado unilateralmente pela vítima
no Termo de Declaração de fl. 73, onde afirmou que: “Informa ainda que devido a
colisão teve um prejuízo estimado em R$1150,00 (hum mil cento e cinquenta reais) em
dinheiro para a troca do eixo, um pneu, uma roda, lataria, pintura e mão de obra “, e
novamente na audiência de instrução.
Nessa esteira, cabe destacar que em que pese o representante do Ministério Público
defenda em seu recurso que a sentença destacou à fl. 05 que o dano foi de
R$1.150,00 (um mil, cento e cinquenta reais), a r. sentença apenas destaca que a
vítima, na qualidade de informante, defendeu ser esse o valor aproximado devido.
Veja-se (pág. 267):
“Paulo de Oliveira Horst, ouvido em Juízo na qualidade de informante (mov. 74.1),
relatou que (...) Informou que consertou seu automóvel despendendo
aproximadamente R$ 1.150,00. “
Assim, extrai-se que o único elemento de prova acerca do valor estimado do prejuízo
constante nos autos é a quantia aproximada apontada pela vítima, a qual não foi
contraditada pelo réu no decorrer da instrução processual, posto que o pedido de
fixação do valor mínimo ocorreu ou antes da denúncia, ou somente em alegações
finais.
Portanto, impõe-se negar provimento ao recurso.
Do pedido de justiça gratuita efetuado nas contrarrazões
Em sede de contrarrazões, Renato Ribeiro de Freitas pugnou pela concessão do
pedido de justiça gratuita.
Contudo, o presente pedido não merece ser conhecido.
419
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Quinta Turma, DJe 01.06.2016).2. Tendo em vista que restou evidenciado nos autos
que a defesa do acusado teve acesso aos autos de Pedido de Quebra de Sigilo, não
delito tipificado no artigo 312, "caput" e § 1º, do Código Penal.6. Evidenciado o dolo
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
razão do crime continuado, é imperioso salientar que esta Corte Superior de Justiça
de 2 infrações; 1/5 para 3 infrações; 1/4 para 4 infrações; 1/3 para 5 infrações; 1/2 para
6 infrações e 2/3 para 7 ou mais infrações". (AgRg no AREsp 398.516/RN, Rel. Ministro
Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe 01.08.2016).8. A pretensão de reduzir a pena
A coautoria restou evidenciada e a indenização pelo dano causado pelo crime constitui
J. 01.06.2017)
Inteiro Teor
422
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
e lhe indicar a assembleia legislativa para que obtivesse ajuda a entidades que ele
mesmo auxiliava.
Aduz que não detinha a respectiva verba, a qual não era destinada ao seu gabinete,
não era responsável e tampouco intervinha em sua liberação e até tomar
conhecimento da ação, nunca teve conhecimento das respectivas liberações.
Alega que nenhuma testemunha disse conhecer o Recorrente, mas com relação ao Sr.
Fabiano, são inúmeros os relatos revoltantes quanto a sua única participação dos
desvios e ele realizava a contabilidade de todas as instituições envolvidas, inclusive das
empresas cujas notas foram apresentadas na prestação de contas.
Assevera que o único envolvimento que o Ministério Público viu em relação ao
Recorrente foi o fato de haver depósitos na conta da Sra. Aparecida Soares que
coincidem com os valores que deveriam ter sido remetidos às instituições, mas ela
sequer foi ouvida durante a instrução e se tivesse sido fatalmente confirmaria que os
valores não teriam relação com os supostos desvios.
Alega que a conduta é atípica, porque não agiu em proveito próprio ou alheio, não
tendo envolvimento com a destinação concedida pela Assembleia Legislativa, sendo
vítima das ações de seu contador Sr. Fabiano dos Santos.
Sustenta ausência de provas, porque o valor semelhante que foi depositado na conta
da Sra. Aparecida Soares refere-se a um acordo trabalhista firmado entre eles, pois ela
era empregada do Recorrente, não havendo sequer indícios de prática criminosa,
sendo lídima a absolvição.
Ao final, requer o provimento do recurso para que seja decretada a nulidade do
processo e, caso não acolhidas as teses preliminares, seja reconhecida a absolvição.
O acusado Fabiano dos Santos também interpôs recurso de Apelação (fls. 31/52),
alegando preliminarmente cerceamento de defesa, porque não foi realizada perícia
para averiguar a suposta falsificação de assinatura da presidente da Associação
Wesleyana, Sra. Maria Julia Ruthes, oposta no verso do cheque recebido, vinculado à
prestação e contas e balancete financeiro de 2001, devendo o processo ser anulado e
os autos remetidos ao primeiro grau para a realização da perícia.
Assevera que sua participação ocorreu pelo fato de querer ajudar as entidades
assistenciais mencionadas nos autos, nunca participou do desvio das verbas e sequer
sabia da real intenção de Aparecido Custódio da Silva de apropriar-se do numerário
destinado às entidades.
Argumenta que agiu na boa-fé e que somente recebia pelas prestações de contas
que fazia, nunca foi servidor da Assembleia ou nomeado em comissão para tratar de
assuntos referentes às verbas assistenciais.
Afirma que ajudou a justiça, pois trouxe provas de que o numerário foi parar nas
contas de Aparecido Custódio, via empresa Centro de Informações Políticas Ltda. e de
sua empregada, ou seja, ajudou para a condenação de Aparecido Custódio, pois
sempre acreditou estar fazendo a coisa correta.
Aduz que não se beneficiou de nenhum valor, desconhecia a vontade de Aparecido
Custódio da Silva e foi usado por ele, não havendo dolo, não podendo prosperar o
caráter de coautoria.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Por outro lado, pela ausência de dolo, pleiteia a desclassificação para peculato
culposo, nos termos do artigo 312, parágrafo 2º, do Código Penal, devendo ser
recalculada a pena aplicada.
Com relação à dosimetria da pena, argumenta que a pena final no tocante a
continuidade delitiva deve ser corrigida para ser utilizada a proporção de 1/5 e não
1/4 conforme realizada na sentença.
Alega que a pena deve ser reduzida em razão da atenuante da primariedade.
Assevera que deve ser reconhecida a inexigência de restituição de valores, porque
este assunto veio à tona somente com a sentença, não tendo sido assegurada a ampla
defesa, e também pelo fato de que não apropriou quantia alguma, tendo sido os
valores depositados na conta do réu Aparecido Custódio da Silva.
Ao final, requer o provimento do recurso para o fim de reformar a decisão, nos termos
da fundamentação.
O Apelado apresentou contrarrazões, postulando o desprovimento dos recursos (fls.
55/60 e 90/96).
Nesta instância, a douta Procuradoria Geral de Justiça exarou parecer pelo
desprovimento dos recursos manejados (fls. 100/120).
É o relatório.
VOTO
Presentes os pressupostos de admissibilidade é de se conhecer os recursos.
Cinge-se a controvérsia à análise da sentença que condenou Aparecido Custódio da
Silva e Fabiano dos Santos pela prática do crime de peculato, tipificado no artigo 312,
caput e § 1º, combinado com o artigo 71, ambos do Código Penal.
Segundo a denúncia oferecida pelo Ministério Público:
“Durante o ano de 2001, em Curitiba, Aparecido Custódio da Silva, então Deputado
Estadual, e seu assecla Fabiano dos Santos, um aderindo ao propósito delitivo do
outro, somando esforços e dividindo tarefas, agindo em continuidade delitiva,
lograram desviar, subtrair e apropriar-se de R$ 58.500,00 (cinquenta e oito mil e
quinhentos reais) de verbas públicas da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná,
mediante os expedientes fraudulentos a seguir descritos:
1. ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL WESLEVANA DA VILA SÃO PEDRO -
Desvio de R$ 19.500,00 (dezenove mil e quinhentos reais).
Por volta de abril ou maio de 2001, FABIANO DOS SANTOS entrou em contato
telefônico com a Sra. MARIA JULlA RUGHES (in memoriam desde 21 de dezembro de
2001), então Presidente da ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIASOCIAL WESLEYANA DA
VILA SÃO PEDRO, e lhe ofereceu a doação de R$ 500,00 (quinhentos reais) em verba
de assistência social do Gabinete do Deputado Estadual APARECIDO CUSTÓDIO DA
SILVA. Nesta oportunidade, FABIANO DOSSANTOS solicitou da Presidente da
entidade cópia dos documentos da Associação, como o estatuto social, a ata de posse
da atual diretoria, o cartão CNPJ. Documentação esta que deveria ser levada ao seu
escritório de contabilidade, sito na Rua Primeiro de Maio, 817, Xaxim, Curitiba, Paraná,
para as formalidades necessárias à liberação da verba de subvenção social. Os
documentos foram encaminhados à FABIANO, conforme solicitado.
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10.1) JAMES DA LUZ, marido de Adriana Soares de Oliveira Luz, e quem efetivamente
geria a empresa ENXOVAIS PRIMEIRO DE MAIO, prestou declarações ao Ministério
Público em duas oportunidades. Primeiro em 13/08/200227. Depois em 15/08/2002.
Nesta segunda ocasião, ele acabou esclarecendo que: “resolveu falar a verdade, que
não quer mais mentir e que não sabe porque acabou falando tudo o que disse da
primeira vez; que da primeira oportunidade o declarante acabou procurando Fabiano
dos Santos para saber do que se tratava a intimação que havia recebido do Ministério
Público; que Fabiano lhe convenceu a mentir nesta Promotoria pedindo ao declarante
que dissesse nesta Promotoria que a nota fiscal era de sua empresa e que realmente
havia sido expedida para a entidade de assistencialismo Associação Dona Nenê,
conforme se infere da mesma; que o declarante esclarece que Fabiano acabou lhe
dizendo que quem teria precisado das notas fiscais da empresa do declarante teria sito
o ex-Deputado Estadual Aparecido Custódio da Silva; que, no entanto, o declarante
agora esclarece que nunca emitiu nenhuma das notas fiscais da empresa Enxovais
Primeiro de Maio, de nQs025, 018, 013, 014, 109 e 021, nem tampouco nunca teve
material de limpeza para vender, conforme havia inventado antes; que na verdade não
sabe quem preencheu tais notas fiscais, todas, coincidentemente, no valor unitário de
R$ 2.002,75 (dois mil e dois reais e setenta e cinco centavos); que, como disse
anteriormente, sua empresa Enxovais Primeiro de Maio realmente estava parada,
sendo Fabiano dos Santos o contador da mesma e as notas fiscais da referida empresa
estavam de posse de Fabiano”.
11) as notas fiscais da FARMÁCIA REUNIDAS e da LOJA ANDERSEN, embora de
empresas diferentes, apresentam a mesma caligrafia, indicando que foram preenchidas
por uma única pessoa;
12) todas as notas fiscais apresentadas ao Tribunal de Contas são de empresas para
os quais FABIANO DOS SANTOS trabalhava como contador;
13) SHIRlENE DA SIlVA, dona do estabelecimento comercial LOJA ANDERSON nas
declarações que prestou ao Ministério Público, em 23/09/200230 e 26/09/2002,
esclareceu que as notas de sua empresa que foram apresentadas na prestação de
contas ao TC-PR, são notas “frias”. Vejamos o teor do seu depoimento: “a declarante
é proprietária da loja Anderson há cerca de cinco anos aproximadamente; que o
contador da loja da declarante é a pessoa de Fabiano dos Santos; que na loja da
declarante ficam ela, seu marido e seu filho; que a declarante vende produtos
importados, como baldes, bacias, tapetes, no sistema de “tudo por R$ 1,99”,
variando, às vezes, com produtos no valor apenas um real, mas em média, quase tudo
no valor de um real e noventa e nove centavos; que apenas perto do Natal e dia das
Crianças é que insere produtos mais caros; que também vende material escolar,
também no valor de R$ 1,99 (um real e noventa e nove centavos) a unidade; que
também vende kits escolares como bolsa; que a declarante vende os kits escolares,
mas não no valor de R$ 25,00 (vinte e cinco reais) a unidade; que a declarante informa
que as vendas que constam das notas fiscais n. 189 e 175, encartadas nos presentes
autos, estão muito altos, caros, e não foram vendidos pela empresa da declarante; que
a declarante informa que Fabiano dos Santos também trabalhou em política para o
Deputado Custódio da Silva; que a declarante acha que Fabiano, como era seu
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
contador também, deve ter utilizado notas fiscais da empresa da declarante, sem seu
consentimento; que a declarante esclarece que suas vendas são de valores baixos, em
torno de dez reais por venda, sendo que o máximo que chega é em torno de cento e
poucos reais; que não vende valores como os das notas fiscais nºs 189 e 175, ou seja,
não emite notas fiscais em valores unitários em torno de R$ 2.000,00 (dois mil reais)
cada, até porque, como dito, jamais efetuou vendas nestes valores; que inclusive,
compulsando as referidas notas, cujas cópias estão encartadas nos autos em tela, a
declarante informa que não sabe de quem é a letra, podendo afirmar que não é sua,
nem de seu marido, nem tampouco de seu filho de nome Anderson.
A declarante afirma que aproximadamente em abril/maio do ano passado (2001) foi
solicitada a confecção de blocos de notas fiscais ao contador Fabiano dos Santos, as
quais encontravam-se em poder do mesmo (...) que a declarante esclarece que do
bloco de notas em uso, de Nº 04 Série D-l, NF’s numeradas de 151 a 200, a primeira
nota fiscal foi emitida em 10.08.2002 e a última, de número 160, em 15.09.2002; que
soube, porém no dia 23 último, que as notas de nº 175 e 189 foram usadas em
falsificações destinadas a favorecer o Vereador CUSTÓDIO em ilícitos na Câmara
Municipal, inclusive com datas falsas anteriores, do ano de 2001; que ao conferir o
antedito bloco, constatou que das 3 vias constantes para cada nota fiscal, apenas
encontravam-se 2 vias relativas às NF’s 175 e 189, sendo a via faltante a primeira, de
coloração branca, que normalmente é destinada ao consumidor; que a declarante
afirma que na Loja em que trabalha junto com seu marido e seu filho não haveria
possibilidade de extravio, uma vez que somente estes é que atuam junto à mesma,
bem como tomam os cuidados de praxe com documentação; que acrescenta residir
no mesmo endereço do comércio, bem como possui alarme nas dependências; que
tem certeza, portanto, que o bloco veio irregular do contador Fabiano dos Santos”.
Em face do exposto, conclui-se que FABIANO DOS SANTOS e APARECIDO
CUSTÓDIO DA SILVA, empregando fraude, desviaram R$ 19.500,00 (dezenove mil e
quinhentos reais), que a ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO PARANÁ destinou à
ASSOCIAÇÃO E ASSISTÊNCIA SOCIAL WESLEVANA DA VILA SÃO PEDRO, e se
apropriaram indevidamente destes recursos, enriquecendo-se ilicitamente.
2. ASSOCIAÇÃO CRISTÃ LAR DONA NENÊ - desvio de R$ 19.500,00 (dezenove mil e
quinhentos reais) - o mesmo golpe foi praticado contra outra associação de filantropia,
a ASSOCIAÇÃO CRISTÃ LAR DONA NENÊ, para a qual a Assembléia Legislativa do
Estado do Paraná destinou, no exercício financeiro de 2001, em verbas de subvenção
social, a quantia de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), por indicação do então Deputado
Aparecido Custódio da Silva. Contudo, FABIANO DOS SANTOS e APARECIDO
CUSTÓDIO DA SILVA só entregaram à entidade R$ 500,00 (quinhentos reais), ficando
com os outros R$ 19.500,00 (dezenove mil e quinhentos reais).
O modus operandi foi o mesmo.
FABIANO DOS SANTOS assediou a Presidente da ASSOCIAÇÃO CRISTÃ LAR DONA
NENÊ, Sra. NEIRA CARMEM ARAÚJO DA SILVA, por volta de outubro ou novembro
de 2001 e, oferecendo verbas de subvenção social do Deputado APARECIDO
CUSTÓDIO, solicitou cópia da documentação da entidade.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Uma semana depois, FABIANO telefonou para a Sra. NEIRA informando que já tinha
feito um depósito de R$ 500,00 (quinhentos reais) diretamente na conta da
ASSOCIAÇÃO CRISTÃ LAR DONA NENÊ, no Banco Itaú, Agência 3834 (Portão), conta
corrente 08380- 4. 34.
Ocorre que o Deputado APARECIDO CUSTÓDIO obteve da Assembléia Legislativa
do Estado do Paraná a quantia de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) para ser destinada
integralmente à ASSOCIAÇÃOCRISTÃLAR DONA NENÊ, conforme cópia dos cheques
e informações prestadas pela Diretoria Financeira da Assembléia Legislativa, quais
sejam: o cheque 718123, da conta 0261303 do banco 38 (Banestado), datado de 28
de novembro de 2001, no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), e o cheque 718832, da
mesma conta, datado de 18 de dezembro de 2001, no valor de R$ 10.000,00 (dez mil
reais) .
Contudo, CUSTÓDIO e FABIANO entregaram à ASSOCIAÇÃO CRISTÃ LAR DONA
NENÊ apenas R$ 500,00 (quinhentos reais) à entidade, de modo que se apropriaram
indevidamente dos outros R$ 19.500,00 (dezenove mil e quinhentos reais).
A microfilmagem dos cheques, depois de liquidados, mostra que o cheque 718832 foi
saldado mediante aposição de carimbo e assinatura falsa no seu verso, como se
tivesse sido endossado por representante legal da ASSOCIAÇÃO CRISTÃ LAR DONA
NENÊ.
O cheque 718123 foi pago, ao que consta, sem endosso.
Para dissimular o golpe, FABIANO DOS SANTOS confeccionou e apresentou ao
Tribuna de Contas prestação de contas forjada, instruída com notas fiscais falsas,
coincidentemente, das mesmas empresas FARMÁCIA REUNIDAS (Munhoz &
Fernandes Ltda.), LOJA ANDERSON (Shirlene da Silva), MINI MERCADO NOSSA
SENHORA APARECIDA (Sizinando de Campos), ENXOVAIS PRIMEIRO DE MAIO
(Adriana Soares de Oliveira Luz).
Em face do exposto, conclui-se que FABIANO DOS SANTOS e APARECIDO
CUSTÓDIO DA SILVA, empregando fraude, desviaram R$ 19.500,00 (dezenove mil e
quinhentos reais), que a ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO PARANÁ destinou à
ASSOCIAÇÃO CRISTÃ LAR DONA NENÊ, e se apropriaram indevidamente destes
recursos, enriquecendo-se ilicitamente.
3. ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO À INFÂNCIA VOVÔ VITORINO - Desvio de R$
19.500,00 (dezenove mil e quinhentos reais).
Com relação ao desvio de verbas públicas destinadas à ASSOCIAÇÃO DE
PROTEÇÃOÀ INFÂNCIA VOVÔ VITORINO, o modus operandi variou um pouco,
porém mantendo a sua essência criminosa.
Em meados de maio ou junho de 2001, APARECIDO CUSTÓDIO DA SILVA
compareceu à ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO À INFÂNCIA VOVÔ VITORINO e se
comprometeu perante a Presidente desta, Sra. MARIA JULlA XAVIER RODRIGUES, a
ajudar financeiramente a entidade. Passado alguém tempo, FABIANO DOS SANTOS
procurou a Sra. MARIA JÚLlA XAVIER RODRIGUES e lhe disse que a ASSEMBLÉIA
LEGISLATIVA iria liberar verbas para serem divididas entre vinte associações, de modo
que cada mês a verba deveria sair em nome de uma determinada Associação. Assim,
para que todo mês todas as vinte associações recebessem, FABIANO e CUSTÓDIO
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
consta das notas fiscais nem é usado na creche; que não conheceu Aparecido; que
nunca teve contato com Aparecido; que Fabiano falou que trabalhava com Aparecido
e poderia conseguir uma ajuda para a creche; que teve apenas este contato com
Fabiano; que a entidade não recebeu nada; que confirma que suas assinaturas foram
falsificadas; que não sabe se Aparecido recebeu estas verbas para repassar para
entidades; e que não endossou nenhum cheque.” (grifamos)
Maria Julia Xavier Rodrigues, que presidia a Associação de Proteção à Infância Vovô
Vitorino, embora não tenha sido ouvida em Juízo, relatou perante a autoridade policial
que:
“(...) não é verdade que sua Associação tenha recebido os dez mil reais, como havia
dito anteriormente; que, em verdade, a declarante esclarece que o então Deputado
Estadual Aparecido Custódio da Silva realmente foi até sua Associação, ocasião em
que a declarante o indagou se ele não poderia ajudar; que realmente passado algum
tempo, Fabiano procurou a declarante para dizer que a Assembleia Legislativa iria
liberar uma verba de dez mil reais, e que tal verba seria dividida entre vinte
associações, sendo que cada mês a verba deveria sair em nome de determinada
associação, que o dinheiro seria de R$500,00 (quinhentos reais) mensais, cada mês
assinado uma verba total no valor de dez mil reais, mas, como dito, cada mês uma
associação deveria assinar a documentação como se tivesse recebido integralmente os
dez mil reais; que, assim, Fabiano foi buscar a declarante, pessoalmente, em sua
Associação e a declarante com ele foi até a Assembleia Legislativa, ocasião em que
pegou o cheque de dez mil reais e assinou no verso, entregando-o a Fabiano; que no
dia seguinte, Fabiano voltou à Associação da declarante, entregando-lhe um cheque
no valor de R$500,00 (quinhentos reais), sendo que tal cheque era de titularidade do
Centro de Informações Políticas, entidade privada do então Deputado Estadual
Aparecido Custódio da Silva (...) que a declarante somente recebeu estes R$500,00
(quinhentos reais), nada mais, e nem sabia que o valor total era de R$20.000,00 (vinte
mil reais), tendo assinado no verso somente um dos cheques e não os dois (...) que
somente assinou no verso do cheque n. 064540, sendo que as duas assinaturas no
verso do cheque n. 717340, apesar de uma ser parecida, não são suas e, assim, são
falsas; que mostrado à declarante a assinatura constante da prestação de contas de
sua entidade junto ao Tribunal de Contas, a declarante esclarece que também não é
sua, sendo falsa (...)”. (grifamos)
Cumpre observar também que na tentativa de encobrir os desvios dos valores que
deveriam ter sido encaminhados às entidades assistenciais, os acusados utilizaram
notas fiscais ilegais de empresas clientes do corréu Fabiano dos Santos.
Neste aspecto, a testemunha Shirlene da Silva declarou em Juízo que Fabiano era seu
contador e que foram usadas notas fiscais de sua empresa indevidamente.
Ainda, a testemunha James da Luz relatou em Juízo que Fabiano era seu contador e
que ele ficava com as notas fiscais e que não sabia o motivo pelo qual ele usou as
notas fiscais de sua firma.
A autoria dos delitos e o dolo consciência e vontade de praticar o crime em relação
ao Apelante Fabiano dos Santos, estão devidamente evidenciados nos autos, pois as
testemunhas informaram que ele comparecia nas entidades e oferecia verba
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
restando nítido que os dois aproveitaram-se do cargo exercido por Aparecido para
locupletarem-se ilicitamente.
Ainda no que toca à participação do acusado Aparecido, a quebra de sigilo bancário
revelou dois depósitos feitos em conta de Aparecida Soares, empregada do então
deputado estadual, os quais correspondem aos valores que deveriam ter sido
entregues à Associação Cristã Lar Dona Nenê, dinheiro este que foi integralmente
sacado, assim como três depósitos feitos na conta da empresa Centro de Informações
Políticas LTDA, também correspondentes aos valores que caberiam às entidades
assistenciais.
Portanto, considerando todo o conjunto probatório, notadamente os depoimentos
testemunhais, as versões contraditórias dos réus e a cópia dos extratos bancários das
associações, assim como de empresa ligada aos acusados e de laranja utilizada para
concretizar os desvios, a negativa de autoria não pode vingar, sendo a condenação
dos acusados Aparecido Custódio da Silva e Fabiano dos Santos medida que se
impõe”.
Portanto, resta incontroverso que os Apelantes agiram com liame subjetivo, havendo,
desta forma, subsunção das condutas ao tipo penal de peculato, descrito no artigo
312, caput e § 1º, ambos do Código Penal, em continuidade delitiva, sendo
improcedente, portanto, a pretensão de reforma da sentença.
Dosimetria da pena.
Do crime continuado.
Com relação à dosimetria da pena, o Apelante Fabiano dos Santos argumenta que a
pena final no tocante a continuidade delitiva deve ser corrigida para ser utilizada a
proporção de 1/5 e não 1/4 conforme realizada na sentença.
Inicialmente, impende notar que o delito continuado evidencia-se quando o agente,
mediante mais de uma ação ou omissão, comete mais de um crime da mesma espécie
e as condições de tempo, lugar, maneira de execução e outros parâmetros
semelhantes fazem presumir a continuidade delitiva.
Neste aspecto, o Superior Tribunal de Justiça estabelece que: “Relativamente à
exasperação da reprimenda procedida em razão do crime continuado, é imperioso
salientar que esta Corte Superior de Justiça possui o entendimento consolidado de
que, cuidando-se do aumento de pena referente à continuidade delitiva, aplica-se a
fração de aumento de 1/6 pela prática de 2 infrações; 1/5 para 3 infrações; 1/4 para 4
infrações; 1/3 para 5 infrações; 1/2 para 6 infrações e 2/3 para 7 ou mais infrações”.
(AgRg no AREsp 398.516/RN, Rel. Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe
01.08.2016).
Assim, o pleito admite amparo, porque foram praticados três delitos em continuidade
delitiva, devendo ser a pena reduzida e aplicada, portanto, a fração de aumento de
1/5 pela prática das infrações evidenciadas nos autos.
A redução da reprimenda referente à continuidade delitiva estende-se a ambos os
acusados, nos termos do artigo 580 do Código de Processo Penal.
Quanto ao acusado Aparecido Custódio da Silva, verifica-se que a pena previamente
fixada em 04 (quatro) anos e 06 (seis) meses de reclusão e 37 (trinta e sete) dias-multa,
foi majorada em 1/4 pela continuidade delitiva, tornando-se definitiva em 05 (cinco)
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
CONCURSO MATERIAL - ART.180, "CAPUT" (1º FATO) E ARTS. 304 C/C 297 (2º
12denunciada, sendo inaplicável o princípio in dubio pro reo.2. "A apreensão de bem
de crimes.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Inteiro Teor
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Informa que Valmir é de Campo Mourão, mas não sabe prestar maiores informações
sobre ele. Informa que não pagou diferença pelo veículo, pois sabia que era
financiado, e sua intenção era usar o carro e não pagar mais prestações, sendo que os
documentos também foram fornecidos por Valmir. Informa que desconhecia que o
chassi do veículo, após consultado, dá em pertence a um veículo roubado em Curitiba,
sendo que nega ter sido o responsável por romper o lacre, pois alega que quando
comprou o carro não observou se o lacre estava rompido, bem como nega que tenha
sido o responsável por dobrar as placas. Alega que como desconhecia que o veículo
era roubado, quando apresentou os documentos aos policiais, acreditava que tais
documentos eram verdadeiros, pois desconhecia que o chassi do carro apreendido
não pertence de fato às placas que estão instaladas nele. Finalmente, informa que
tinha conhecimento do mandado de prisão expedido contra o interrogado em uma
acusação de homicídio”.
Em juízo, tal como trazido na sentença, às fls.
102/103 (mov. 79.1), o recorrente Wellington disse:
“Que comprou o veículo mencionado na Denúncia no local conhecido como `pedra’,
nesta cidade e Comarca de Maringá, e acabou trocando seu antigo veículo na Tucson,
não sabendo que a documentação estava irregular. Afirmou, além disso, que não sabia
que as placas estavam dobradas e que foi informado de tal situação pelos policiais
civis quando lhe abordaram em sua residência, conforme se verifica dos termos
adiante: `Que tinha um gol e acabou trocando na Tucson; que acabou assumindo
algumas parcelas, porque era financiada; que no decorrer dos dias, o antigo dono iria
acertando as parcelas; que estava comprando os direitos da caminhonete; que não
tinha conhecimento que ela tinha alterações nas placas e chassis; que não levou para
lugar nenhum para fazer perícia; que iria ser feito depois, quando da transferência; que
viu a placa dobrada quando os policiais bateram na porta; que o lacre estava rompido;
que tem vinte e oito anos; que não é casado e tem dois filhos; que não usa drogas;
que estava trabalhando com encanamentos; que um ex-funcionário do acusado, o
Fábio Badaró, foi acusado de homicídio; que na noite desse homicídio estava em uma
boate, ele passou pelo local e algumas pessoas até viram; que ele trabalhava com o
acusado; que está nos autos que foi uma briga de posto; que está respondendo
processo por esse homicídio; que comprou esse carro na `pedra’; que não se lembra
do nome do rapaz de quem comprou; que trocou em outro carro; que trocou nos
direitos dela; que o gol valia em torno de treze mil; que queriam quinze mil reais pelos
direitos e terminar de assumir as parcelas; que era para dar três mil de troca; que
dentro de dois a quatro meses ficou com esse carro; que no dia em que foi preso a
caminhonete estava estacionada na rua; que o carro passou a noite na rua; que
quando chegou, as placas não estavam entortadas; que estava na fazenda; que fazia
pouco tempo que estava morando naquele local; que a placa estava com lacre, mas
não tinha puxado para ver se estava normal; que comprou o carro sem fazer vistoria e
depois não tinha feito ainda; que os documentos estavam dentro da caminhonete no
quebra sol e a chave estava dentro da sua casa; que atendeu os policiais sem
problemas; que foi dirigindo até a delegacia”.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Por sua vez, o Investigador de polícia Allan Deivis Pinto de Moraes, na delegacia
(mov. 1.5-IP, fls. 08/10), afirmou:
“Que (...) na data de hoje estava em diligência da Delegacia de homicídios, quando
por volta das 11h00min foi abordado por um popular relatando que havia um veículo
estacionado, com as placas dobradas e muito sujo, o que achou muito suspeito; Que o
Depoente diz que foi até o local informado pelo popular (Av. Paranavaí, 510, Zona 05,
Maringá/PR), sendo que encontrou o veículo I/HYUNDAI TUCSON GL 2.0 L, placas
AQP, sendo que verificou que as placas realmente estavam dobradas e com o lacre
rompido; Que o Depoente diz que questionou os vizinhos do local se sabiam quem
era o proprietário do veículo, sendo que foi informado que o proprietário residia
naquele endereço, em uma casa dos fundos na sobreloja; Que o Depoente diz que
enquanto seu parceiro MARCELO DA SILVA GANCEDO foi verificar o proprietário do
veículo, o Depoente ficou com o veículo e ligou para esta 9ª SDP para que checassem
a placa do veículo, momento em que foi informado que a numeração da placa não
batia com a numeração do chassi gravado nos vidros do veículo; Que o Depoente diz
que o proprietário do veículo foi identificado como sendo WELLINGTON VINICIUS DE
OLIVEIRA, sendo que ao ser questionado sobre a procedência do veículo, este disse
que havia comprado na `pedra’, não mencionando a pessoa de quem adquiriu; disse
que tinha um GOL 2002, tendo trocado pela TUCSON, mas não informou o valor; Que
o Depoente diz que WELLINGTON apresentou um documento que ele dizia ser do
veículo, mas que nesta delegacia, ao verificar tal documento, foi constatado que o
número do chassi bateu com o de um veículo roubado na cidade de Curitiba/PR,
conforme o BO 2014/535842; Que o Depoente diz que a placa que estava no veículo
é AQP-1945, mas esta placa é de um veículo do mesmo modelo, porém, com chassi
diferente, desta forma, aparentando o carro ser clonado; Que o Depoente diz que o
documento apresentado por WELLINGTON possui dados falsificados, tendo em vista
que o chassi constante no documento não é referente ao veículo de placa AQP- 1945,
como consta no documento; Que o Depoente diz que o chassi constante no
documento apresentado por WELLINGTON é do veículo de placas AVA-3113,
roubado na cidade de Curitiba/PR, como dito anteriormente; Que o Depoente diz que
diante dos fatos deu voz de prisão a WELLINGTON VINICIUS DE OLIVEIRA e o
encaminhou a esta 9ª SDP para prestar esclarecimentos; Que o Depoente diz ainda
que WELLINGTON possui mandado de prisão preventiva por homicídio em aberto,
mas este não foi cumprido até o presente momento, tendo em vista a Lei Eleitoral,
mas que será oportunamente cumprido”.
Em idêntico sentido se apresentam as palavras do sobredito policiai na fase judicial,
como se vê do d. Parecer ministerial de 2º Grau (fls. 20 e ss.):
“O investigador da polícia civil ALLAN DEIVIS PINTO DE MORAIS disse em juízo: `que
estavam fazendo diligências para localizar uma motocicleta na zona sete; que um
veículo parou e falou que viu um carro na Avenida Paranavaí que estava muito sujo de
barro e com a placa dobrada; que chegaram a ver a foto no celular; que chegaram no
local e viram esse carro parado, com placa dobrada e bem sujo; que começaram a
perguntar no comércio quem era o proprietário do veículo; que informaram que o
dono morava em um apartamento `da escada’; que enquanto ficou verificando o
443
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
veículo, ligando para a delegacia para consultar placa e chassi, o investigador Marcelo
subiu e bateu à porta do acusado, e perguntou se o veículo era desse; que o acusado
falou que sim e pegou o documento do carro que estava dentro do veículo; que
quando verificou na delegacia, a placa estava regular, mas não coincidia com o chassi
marcado no vidro; que já começaram a achar estranho; que o lacre estava rompido;
que levaram o carro até a delegacia junto com Vinicius; que quando chegaram para
verificar o chassi, o carro estava marcado como sendo furto ou roubo na cidade de
Curitiba; que no nome do acusado constava um mandado de prisão em aberto por
homicídio; que fora a placa que estava irregular também; que já conhecia o acusado
por conta do homicídio; que o acusado falou que comprovasse veículo na `pedra’; que
não sabia quem tinha lhe vendido o veículo; que não se recorda se ele disse quanto
pagou; que o acusado tinha um documento, mas a placa que constava não batia com
o chassi; que foi feito um clone; que colocaram a placa de um veículo que não tinha
queixa de furto ou roubo, mas não substituíram no documento a numeração do chassi;
que no documento continuou com a numeração do chassi do carro roubado, mas a
placa do carro quente; que foi esse documento apresentado; que essa Tucson tinha
registro de roubo/furto na cidade de Curitiba; que constataram no sistema pelo
número do chassi; que pediram para o acusado esse documento, o qual pegou dentro
do veículo; que o acusado foi até delegacia conduzindo o veículo (...)’.
No mesmo sentido foi o depoimento prestado em juízo pelo investigador da polícia
civil MARCELO DA SILVA GANCEDO: `que naquele dia tinha saído para fazer
investigação de um homicídio; que estavam andando com a viatura na região da zona
sete, na rua Rui Barbosa; que foram parados por uma pessoa que estava passando de
carro e informou que na Avenida Paranavaí tinha um carro Tucson com as placas
dobradas; que deslocaram-se até lá e verificaram que este carro realmente estava com
as placas dobradas; que conversando com os vizinhos foram informados que o
proprietário do veículo morava em uma sobreloja; que bateram palmas e pediram para
que ele apresentasse os documentos do carro; que pegaram o documento,
desdobraram as placas na frente, ligaram para a central e verificaram que a numeração
do vidro do chassi não estava batendo com a documentação; que diante disso o
conduziram até a delegacia e descobriram que tinha um mandado de prisão em
desfavor dele, e que esse carro havia sido roubado ou furtado na região de Curitiba;
que o acusado tinha mandado de prisão por envolvimento em um homicídio; que não
o conhecia de outras ocorrências; que o réu alegou que comprara o automóvel na
`pedra’; que trocou o carro naquela `pedra’, sabendo que o cara era enrolado; que
sabia que o carro tinha problema, mas não sabia quais; que chegou a confessar que o
carro estava com prestações atrasadas; que o documento a princípio parecia ser
original, mas foi verificada depois a adulteração; que o acusado não soube explicar o
motivo de as placas estarem dobradas; que o acusado falou que alguém deve ter
passado e dobrado a placa; que as placas estavam sem o lacre e dobradas’ (fl. 72)”.
Ao que se vê, a justificativa de que o sentenciado Wellington não sabia que o veículo
tinha origem ilícita não prevalece, até porque o mesmo sequer fez qualquer prova de
suas alegações. Suas declarações prestadas nos autos, além de fantasiosas, encontram
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
O julgamento foi presidido pelo Desembargador Luís Carlos Xavier (com voto) e dele
participaram o Desembargador Roberto de Vicente e o Juiz Substituto Segundo Grau
Marcel Guimarães Rotoli de Macedo.
Curitiba, 04 de agosto de 2016.
Des. Luís Carlos Xavier - Relator
JULGADO POSTERIOR
AGENTE QUE VEIO A COLIDIR COM OUTRO VEÍCULO QUE TRAFEGAVA NA VIA,
ao delito previsto no art.309 do CTB não prospera, haja vista que as provas produzidas
nos autos revelam a prática, pelo apelante, do contido no referido tipo penal, uma vez
si, e diante das demais provas carreadas aos autos, resta demonstrada a autoria e
materialidade delitivas previstas nos artigos 306 e 309, ambos da Lei nº 9.503/97.1.3.
Brasileiro.2. Na ocasião em que o agente pratica o delito previsto no art. 306 do CTB
sem possuir habilitação para conduzir veículo automotor, é produzida apenas uma
situação de risco, não sendo criados perigos diversos ao bem jurídico, de modo a
ocorrer a consunção, absorvendo-se o delito previsto no art. 309 pelo delito do art.
306, ambos do CTB, e agravando-se a pena com fulcro no art. 298, III, do mesmo
razoabilidade, razão pela qual deve ser mantido. Apelação Crime nº 1.600.966-643.1.
"(...) III - Condenações por fatos anteriores ao apurado na ação penal em destaque,
449
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
pena-base como maus antecedentes (...)" (STJ - 5ª T., HC 319.498-SP, Rel. Ministro
análise.5. Há que se operar a redução da pena de multa, de ofício, para que a mesma
juridicamente necessitada, para apresentação das razões recursais.7. Não há que ser
conhecido o pedido de isenção das custas processuais, bem como ao pleito relativo
J. 27.04.2017)
Inteiro Teor
450
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
que o etilômetro se limita apenas a demonstrar “se o condutor está ou não sob efeito
de álcool, mas não da alteração de sua capacidade psicomotora”.
Quanto ao delito previsto no art. 309 do CTB, defende que o mesmo “exige, para sua
configuração, duas elementares: a primeira consubstanciada na direção inabilitada e a
segunda que esta direção gere perigo de dano, devendo este perigo ser um perigo
real ou concreto”; que não restou efetivamente demonstrado que o acusado dirigia o
veículo de forma anormal, a ponto de expor a incolumidade pública a danos
potenciais, não gerando, assim, perigo de dano à segurança viária; que “muito
embora o acusado tenha colidido o veículo que conduzia com uma motocicleta,
sopese-se que o que consuma o crime de direção inabilitada gerando perigo de dano
não é o dano efetivo, mas sim o perigo de dano”, e que “o episódio da colisão não se
trata de risco de lesão, mas de lesão concreta, o que torna a conduta do acusado
atípica”.
Ainda, pleiteia seja aplicado o princípio da consunção, haja vista que “a embriaguez e
a inabilitação deram-se num mesmo contexto fático, gerando, pois, o mesmo perigo”.
Alternativamente, quanto às dosimetrias das penas de ambos os delitos, afirma, no
que se refere às penas-base, que a fração de aumento deve ser cominada em menor
patamar, e que “a exasperação deve ser minorada para 1/6 (1 mês), redimensionando-
se, por conseguinte, a pena dos dias-multa e a pena da suspensão ou proibição de se
obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor”.
Concernente ainda às reprimendas básicas, arrazoa que o aumento alusivo à
circunstância judicial “antecedentes” deve ser afastado, uma vez que o processo
utilizado para tanto teve seu trânsito em julgado em data posterior à prática dos fatos
relativos aos presentes autos; que “o crime deste processo deu-se em 10.01.2015,
antes da data do trânsito em julgado do processo utilizado como mau antecedente em
seu desfavor (autos nº 0006809-24.2015.8.16.0013), eis que o mesmo transitou em
julgado em 16.03.2015)”.
Na aplicação das penas provisórias, afirma ter sido a reprimenda aumentada em razão
da agravante da reincidência, pleiteando também seja extirpado tal recrudescimento,
uma vez que o trânsito em julgado da decisão que embasou referido aumento ocorreu
após os fatos narrados na presente denúncia.
Na sequência, defende que deve haver a compensação da agravante da reincidência
com a atenuante da confissão espontânea.
Ademais, aduz que os honorários fixados na sentença devem ser majorados,
pleiteando também que sejam fixados honorários pela apresentação das razões do
recurso. Prequestiona a matéria.
Por fim, requer sejam aplicados os benefícios da assistência judiciária gratuita.
O douto representante ministerial, no mov. 83.1, apresentou as contrarrazões ao
recurso, postulando pelo conhecimento e parcial provimento do apelo “apenas no
que diz respeito ao afastamento da agravante da reincidência e consequente
adequação das penas a esse respeito”.
A d. Procuradoria Geral de Justiça manifestou-se às fls.
09/24TJ, opinando pelo conhecimento e parcial provimento do recurso, “apenas
para que seja excluída a agravante da reincidência, com recálculo da pena, e
452
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Considerando que o acusado possui uma condenação por fato anterior ao presente
delito, mas com trânsito em julgado posterior, possível considerá-la como
circunstância judicial negativa, a título de antecedente criminal.
A respeito:
“PENAL HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL NÃO-
CABIMENTO FURTO QUALIFICADO FIXAÇÃO DO REGIME INICIAL SEMIABERTO
MAUS ANTECEDENTES UTILIZAÇÃO DE CONDENAÇÕES POR FATOS
ANTERIORES COM TRÂNSITO EM JULGADO POSTERIOR POSSIBILIDADE
PRECEDENTES WRIT NÃO CONHECIDO.
(...) III Condenações por fatos anteriores ao apurado na ação penal em destaque,
ainda que com trânsito em julgado posterior, podem fundamentar a exasperação da
pena-base como maus antecedentes. Habeas corpus não conhecido” (STJ 5ª T., HC
319.498-SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, DJe 19.06.2015).
Quanto à pena provisória, pleiteia a defesa seja afastado o aumento efetuado em
razão da reincidência, uma vez que o trânsito em julgado da decisão que embasou
referido aumento ocorreu após os fatos narrados na presente denúncia.
Razão lhe assiste neste particular. De fato, verifica-se ter havido equívoco do julgador
singular ao realizar a majoração da pena em razão da reincidência.
Como muito bem anotado às fls. 21/22, “ao contrário do que acontece com os maus
antecedentes, para configurar reincidência torna-se necessário o trânsito em julgado
do crime cometido em momento anterior. Na ocasião da sentença, o processo nº
0002740- 51.2012.8.16.0013 ainda não estava com trânsito em julgado, de forma que
não havia reincidência, até então.
Deste modo, com base na Súmula 444 do STJ, necessária a exclusão, em relação às
duas condutas delituosas, do acréscimo da pena decorrente da agravante da
reincidência”.
Pleiteia o apelante, ainda, a compensação da agravante da reincidência com a
atenuante da confissão espontânea.
Todavia, tal questão resta prejudicada, diante no afastamento da aplicação da
agravante da reincidência, realizado logo acima.
Na sequência, em razão da incidência do princípio da consunção, reconhecendo-se,
nesta ocasião, o afastamento pela condenação nas sanções do crime previsto no art.
309 do CTB, aplicando- se, portanto, ao delito do art. 306 a agravante descrita no art.
298, III, ambos do CTB, passa-se à alteração da reprimenda:
Quanto ao crime do art. 306 do CTB, mantém-se a pena-base tal qual fixada na r.
sentença (09 (nove) meses e 22 (vinte e dois) dias de detenção). Na 2ª fase, aplicando-
se a agravante prevista no art. 298, inc. III, do CTB, bem como a atenuante da
confissão espontânea, operando-se a compensação entre ambas, fixa-se a pena
definitiva em 09 (nove) meses e 22 (vinte e dois) dias de detenção, em razão da
inexistência de causas especiais de aumento e/ou diminuição da pena.
Da pena de multa
Quanto à pena de multa referente ao delito do art.
306 do CTB, esta restou fixada na sentença em 53 (cinquenta e três) dias-multa.
Entretanto, faz-se necessário reduzi-la, para que seja proporcional à pena corporal.
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FUNDAMENTAÇÃO
flagrante e diante as demais provas carreadas nos autos, resta demonstrada a prática
cumprimento da pena.7. Nos termos do art. 44, § 2°, do Código Penal, na condenação
igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por multa ou por uma pena
restritiva de direitos.
Unânime - J. 06.04.2017)
Inteiro Teor
464
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330 do Código Penal e artigo 306 da Lei 9.503/97, fixando-lhe a pena definitiva de 09
(nove) meses, 12 (doze) dias e 100 (cem) dias-multas e suspensão ou proibição de se
obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor, pelo prazo de 02
(dois) meses e 15 (quinze) dias, em regime semiaberto, tendo sido substituída por duas
restritivas de direito, sendo prestação pecuniária, no valor de um salário mínimo, e
prestação de serviços à comunidade, à razão de uma hora por dia de condenação.
Inconformado, Leornes Alves dos Santos interpôs recurso de Apelação (mov. 100.1),
sustentando que deve ser absolvido, uma vez que não restou demonstrada a
subsunção da conduta ao modelo abstrato previsto no Código de Trânsito Brasileiro e
o Ministério Público não conseguiu comprovar a alteração do estado psicomotor,
devendo ser reconhecida a atipicidade da conduta descrita na denúncia.
Alega que se faz necessário, além da comprovação da ingestão de álcool, que o
agente esteja dirigindo o veículo de forma anormal, produzindo perigo concreto à
coletividade, pois somente nesta hipótese é que estará violando o bem jurídico
protegido pelo tipo penal.
Argumenta que não há provas de que o acidente se deu em razão da bebida, não foi
realizado o teste do etilômetro e apenas há a versão dos policiais sustentando que se
encontrava com sinais de embriaguez, tais como hálito etílico, fala enrolada, desordem
nas vestes, exaltação, agitação, mas tais sintomas se confundem com os sintomas de
uma hipoglicemia, pois é diabético, devendo ser reconhecida a atipicidade da
conduta.
Subsidiariamente, assevera pela absolvição por insuficiência de provas, porque os
depoimentos dos policiais militares que realizaram a abordagem não devem ser
considerados, pois dotados de parcialidade, sendo que apesar da menção à falha
mecânica na camionete, os policiais sequer foram verificar o estado do veículo a fim de
se confirmar a versão do réu, o que por si só demonstra a parcialidade referida.
Afirma que não devem ser considerados o termo de constatação de sinais de
alteração da capacidade psicomotora e o boletim de ocorrência, no sentido da
interpretação dada pelos policiais, porque os sinais somente podem ser considerados
como manifestação de uma hipoglicemia, já que é diabético, devendo ser absolvido
nos termos do artigo 386, VII, do CPP.
Com relação ao delito de desobediência, requer a absolvição por ausência de
elemento subjetivo do tipo, uma vez que deixou claro em seu depoimento que em
virtude da hipoglicemia não teve plena consciência da voz de prisão e suas atitudes
ocorreram de forma involuntária, já que seus ânimos estavam afetados pelos sintomas
da hipoglicemia.
Aduz que não houve vontade livre e consciente de desobedecer à ordem de
autoridade policial e em nenhum momento tentou fugir, ou se livrar da situação,
queria apenas, antes de adentrar na viatura, esperar a chegada de seus familiares que
poderiam ajudá-lo naquele incidente.
Quanto à dosimetria da pena, argumenta que a confissão e a reincidência devem ser
compensadas na segunda fase da fixação da pena, e, subsidiariamente, que o
aumento pela reincidência não ultrapasse 1/6 (um sexto).
465
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Alega que deve ser fixado regime inicial aberto para o cumprimento da pena e, na
sequência a substituição da pena privativa de liberdade por apenas uma pena restritiva
de direito, nos termos do art. 44, § 2°, do Código Penal.
Assevera que deve haver a reforma da decisão condenatória em relação aos 100
(cem) dias-multas fixados, desproporcionalmente à sua situação econômica.
Aduz que a fixação da pena acessória prevista na parte final do preceito secundário do
artigo 306, da Lei nº 9.503/97, deve ter duração máxima de 02 (dois) meses, porque
todas as circunstâncias judiciais o favorecem e diante da necessária compensação
integral da atenuante da confissão espontânea com a agravante da reincidência.
Postula seja garantida a gratuidade da Justiça, isentando-o de eventuais custas
judiciais.
Ao final, requer: 1) a absolvição, em relação ao crime previsto no artigo 306, da Lei nº
9.503/97, pela atipicidade conduta; 2) a absolvição, diante da insuficiência probatória;
3) a absolvição do delito previsto no artigo 330 do CP, pela atipicidade da conduta e
subsidiariamente pela insuficiência de provas; 4) na dosimetria da pena, a adequação
da pena final, considerando que a atenuante da confissão espontânea e a agravante
da reincidência são igualmente preponderantes; com a fixação do regime inicial aberto
e adequação da substituição para apenas uma pena restritiva de direitos; a adequação
da pena acessória para 2 (dois) meses, em proporção com a pena da reprimenda
detentiva; o redimensionamento da pena pecuniária; 5) seja concedida a justiça
gratuita.
Em contrarrazões, o Apelado pugnou pelo desprovimento do recurso (mov. 106.1).
A douta Procuradoria Geral de Justiça opinou pelo parcial conhecimento e, na parte
conhecida, o parcial provimento do recurso (fls. 09/29).
É o relatório.
VOTO
Presentes em parte os pressupostos recursais de admissibilidade, impõe-se conhecer
parcialmente do recurso interposto.
Na parte conhecida, a pretensão recursal admite parcial acolhimento.
Da assistência judiciária gratuita.
O Apelante requer a concessão do benefício da assistência judiciária gratuita.
Contudo, o presente pedido não merece ser conhecido.
O pedido do benefício deve ser feito ao Juízo da Execução, o qual é o competente
para apreciar as condições financeiras do ora apelante, e a possibilidade de arcar ou
não com as despesas processuais sem o prejuízo do sustento próprio ou da sua
família.
Nesse sentido:
“APELAÇÃO CRIME. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO COM NUMERAÇÃO
SUPRIMIDA (ART. 16, § ÚNICO, INCISO IV, DA LEI 10.826/2003).
INCONSTITUCIONALIDADE POR SE TRATAR DE UM CRIME DE MERA CONDUTA.
INOCORRÊNCIA.PRECEDENTES. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
OU DA BAGATELA. NÃO ACOLHIMENTO. DOSIMETRIA DA PENA.MANUTENÇÃO
NO MÍNIMO LEGAL. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA E DETRAÇÃO PENAL.
QUESTÕES NÃO CONHECIDAS. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA EXECUÇÃO.
466
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Neste dia tomou um dedo de whisky. Reagiu a ordem policial devido a situação; bateu
o veículo em uma palmeira, saiu do carro e foi juntando gente. O álcool aumenta a
hipoglicemia; não reagiu, mas não tinha consciência plena do que era a ordem de
prisão, porque discutia com populares. Não chegou a entrar na viatura, eles tentaram
o colocar. Não ficou no interior da viatura porque não estava com o entendimento
perfeito, as pessoas estavam zombando dele. Na hora da batida atravessava a Avenida
Ernesto Vilela, quando o carro morreu; o carro morreu quando começou a passar mal”.
A materialidade dos crimes está comprovada pelo Auto de Prisão em Flagrante (mov.
1.1), Termo de Constatação de Sinais de Alteração da Capacidade Psicomotora (mov.
11.1), Boletim de Ocorrência (mov. 11.5), bem como pela prova oral, sendo que a
autoria é certa e recai sobre o acusado, consoante se extrai do conjunto probatório.
Em Juízo, o policial militar Marcos James de Matos afirmou que:
“Foram acionados para dar atendimento a um acidente de trânsito na Avenida Ernesto
Vilela; onde um veículo Chev havia colidido com uma palmeira da rua. O condutor
apresentava visíveis sinais de embriaguez, como ato etílico, fala enrolada, estava
arrogante, discutindo com populares. Tentaram acalmar a situação e pediram para que
ele ficasse na viatura, até para evitar que eles entrassem em vias de fato com os
populares, ele não quis, tiveram então que fazer uso moderado de força para algemá-
lo e colocá-lo no camburão. Ele foi convidado a realizar o teste do etilômetro, mas se
recusou a fazê-lo. O carro dele apresentou problema mecânico e ele tentou dar um
tranco de ré e colidiu com a palmeira. Ele estava bastante agitado, não se recorda se
ele confessou ter ingerido bebida alcoólica. Acredita que havia 10 pessoas no local,
eles questionavam a embriaguez do réu. Os familiares do réu chegaram pouco tempo
depois. Ele não relatou problema de saúde nenhum.”
No mesmo sentido foi o depoimento do policial militar Thiago Rafael Estevam, o qual
relatou em Juízo que: (...) durante a abordagem policial sentiu o hálito etílico do Réu;
os integrantes da equipe policial determinaram que ele permanecesse no interior da
viatura policial, mas ele desobedeceu tal ordem; foi necessário o uso de força; ele
disse tomar remédio para diabetes e não tentou fugir”.
Com relação à eficácia probatória do depoimento de policiais, oportuno relacionar os
seguintes procedentes jurisprudenciais:
“(...) CONDENAÇÃO FUNDAMENTADA NO DEPOIMENTO DE POLICIAIS. MEIO DE
PROVA IDÔNEO. FRAGILIDADE DO CONJUNTO PROBATÓRIO NÃO
DEMONSTRADA. (...) 2. Conforme entendimento desta Corte, o depoimento de
policiais constitui meio de prova idôneo a embasar o édito condenatório, mormente
quando prestado ou corroborado em Juízo, no âmbito do devido processo legal.
Precedentes.” (STJ, HC 261.170/SP, Rel. Min. JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julg.
01.04.2014, DJe 10.04.2014).
“PENAL. TRÁFICO DE ENTORPECENTE. (...). MATERIALIDADE E AUTORIA
DEVIDAMENTE COMPROVADAS. TESTEMUNHO DE POLICIAIS. VALIDADE E
RELEVÂNCIA. CONDENAÇÃO MANTIDA. (...). APELO NÃO PROVIDO. (...) a)
Mantém-se a sentença condenatória quando devidamente comprovadas a
materialidade e a autoria delitivas. b) ‘O valor do depoimento testemunhal de
servidores policiais - especialmente quando prestado em juízo, sob a garantia do
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
A pretensão admite acolhimento, porque nos termos do art. 44, § 2°, do Código
Penal, na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por
multa ou por uma pena restritiva de direitos, devendo ser afastada, portanto, a
prestação pecuniária e mantida a prestação de serviço à comunidade imposta na
sentença, sendo relevante registrar que a pena restritiva de direitos converte-se em
privativa de liberdade na hipótese de descumprimento injustificado da restrição
imposta.
Nestas condições, conhece-se, em parte, do recurso, e na parte conhecida, dar-lhe
parcial provimento, nos termos da fundamentação.
ANTE O EXPOSTO, acordam os Desembargadores integrantes da 2ª Câmara Criminal
do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, por
unanimidade de votos, em conhecer parcialmente do recurso, e na parte conhecida,
em dar-lhe parcial provimento.
O julgamento foi presidido pelo Desembargador Luís Carlos Xavier (com voto) e dele
participaram os Desembargadores José Maurício Pinto de Almeida e Roberto De
Vicente.
Curitiba, 06 de abril de 2017.
Des. Luís Carlos Xavier - Relator
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
interlocutores é lícita e pode ser utilizada como meio de prova.2. Tendo em vista que
condenação pela prática do delito previsto no art. 317 do Código Penal.3. Havendo
praticar ato de ofício para satisfazer interesse pessoal, resta caracterizado o delito de
porque não restou esclarecido o lapso temporal entre os delitos.9. Aplica-se a causa
(TJPR - 2ª C.Criminal - AC - 1533560-3 - Castro - Rel.: Luís Carlos Xavier - Por maioria -
J. 23.03.2017)
Inteiro Teor
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Trata-se de Apelação interposta contra a sentença (mov. 155.1) proferida nos autos n°
0003997-50.2015.8.16.0064 de Ação Penal que julgou parcialmente procedente a
pretensão punitiva contra Honório Tomas de Souza, para o fim de absolvê-lo das
sanções previstas no artigo 351, §3º do Código Penal (fato 02) e condená-lo nas
sanções previstas no artigo 317, §1º (fato 01), artigo 299, parágrafo único (fato 03) e
artigo 319 (fato 04), todos do Código Penal, a uma pena total de 12 (doze) anos e 03
(três) meses de reclusão e 570 (quinhentos e setenta) dias-multa e 05 (cinco) meses de
detenção e 30 (trinta) dias-multa, sendo o valor do dia-multa em 1/30 do salário
mínimo vigente à época dos fatos, em regime fechado, tendo sido determinada a
perda do cargo público.
Inconformado, Honório Tomas de Souza interpôs recurso de Apelação (mov. 160.1),
asseverando preliminarmente que a gravação de conversa telefônica sem a
participação e conhecimento dos interlocutores, sem prévia autorização judicial,
consiste em prova obtida por meio ilícito, devendo ser declarada nula a gravação da
conversa telefônica e desentranhados o CD-ROM e o auto de exame de constatação
de gravação de áudio em aparelho celular.
No mérito, em relação à condenação por corrupção passiva, prevista no artigo 317,
§1º do Código Penal, alega que não consta nos autos comprovante de que tenha
recebido vantagem indevida ou prova que demonstre ter solicitado vantagem
indevida ou ainda que tenha aceitado promessa de receber alguma espécie de
vantagem.
Assevera que todas as testemunhas ouvidas em Juízo descrevem que ouviram falar
que o Apelante passava aparelho celular para dentro da unidade prisional, mas
nenhum afirmou ter presenciado tal situação.
Afirma que há nos autos declarações da autoridade policial e do diretor da cadeia
pública, os quais ficaram sabendo através das declarações prestadas pelos presos na
fase extrajudicial.
Aduz que a palavra do policial, por si só, não constitui argumento de convicção a
fundamentar a condenação.
Sustenta que mesmo sendo validada a interceptação telefônica clandestina, não se
observa em nenhum momento da interceptação qualquer indício de cometimento do
delito, em nenhum momento o mesmo solicita, recebe ou aceita promessa de
vantagem indevida, carecendo os autos de provas para ensejar um edito
condenatório, devendo ser absolvido com fulcro no artigo 386, incisos, II, IV, V e VII,
do Código de Processo Penal.
Assevera que a qualificadora do § 1º do artigo 317 do Código Penal é o exaurimento
do delito de corrupção passiva, e neste ponto, não encontra-se demonstrado nos
autos qual foi o ato de oficio que o Apelante retardou, deixou de praticar ou praticou
infringindo dever funcional.
Alega que não obstante a falta de provas de que tenha solicitado reiteradas vezes,
quantia monetária aos presos, o lapso temporal dessas infrações não está esclarecido,
havendo a necessidade de determinar quando iniciou-se, como requisito para
reconhecer a continuidade delitiva prevista no artigo 71 do Código Penal, pois o lapso
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
A propósito, Eliton Ferreira da Cruz declarou em Juízo que sabia que no celular havia
um aplicativo que gravava conversas, mas não que a conversa estava sendo gravada.
Todavia, a mudança de versão do segregado acerca de que não sabia que a conversa
estava sendo gravada não é plausível e está desassociada do conjunto probatório.
Neste aspecto, o detento Rosney Oliveira Carneiro, perante a autoridade policial
(mov. 1.15 IP), declarou que “(...) os detentos apenas gravaram a ligação se o agente
Tomas os colocassem de castigo e que a gravação seria um argumento para conseguir
tirar Tomas do DEPEN para não receberem mais castigos”.
Em juízo, referida testemunha declarou que “o delegado mostrou uma gravação para
o declarante em que aparecia a voz do réu; que não sabe se o réu passava celulares
ou outros objetos para os presos; que com relação ao seu depoimento anterior, afirma
que havia outro rapaz junto com o declarante; que afirmou o que está no depoimento,
mas que o declarante não falou aquilo, porém o delegado queria que o declarante
concordasse, mas que assinou de livre e espontânea vontade; que nunca comprou
nada do réu.”
Acerca da gravação, o segregado Jonathan da Cunha Passos relatou perante a
autoridade policial que:
“(...) as pessoas de fora da cadeia corriam com o dinheiro para o agente Tomas pelos
celulares que entraram. Que inclusive os presos com este celular Galaxy Note 3
gravaram uma conversa que tiveram com o agente Tomas onde ele dá a ideia para os
presos do que falar se os celulares que ele está passando fossem encontrados; que
Tomas, dentre as ideias diz para os presos que as gradinhas das celas devem ser
cortadas “fazer buracos”, e que os celulares encontrados teriam ingressado por eles,
ou pescados. Na conversa se observa ainda que as coisas vão parar de ingressar no
presídio para dar uma baixada na poeira. Que na conversa ainda se escuta uma
negociação para ingresso de comidas e bebidas na cadeia de modo irregular. Que em
relação a fuga ocorrida no domingo dia 05 de julho de 2015, acredita que ela foi
facilitada pelo agente Tomas, pois foi ele que fez os corres das serras e das brocas
utilizados para fazer o buraco no teto da cela”.
Em juízo, Jonathan afirmou que nunca presenciou o acusado facilitar a entrada de
objetos e declarou que falou isso na fase inquisitorial porque queria ser transferido.
Entretanto, embora referida testemunha também tenha mudado a versão dos fatos
em Juízo, os depoimentos de ambos os detentos são harmônicos perante a autoridade
policial e foi em razão das informações fornecidas por Jonathan que a autoridade
policial localizou o aparelho celular com as gravações.
Como bem observado pelo representante do Ministério Público em sede de
contrarrazões:
“Cumpre destacar que, compulsando os autos, em relação às provas testemunhais,
em especial as consistentes nos depoimentos dos detentos, evidencia-se uma
substancial, mas não surpreendente, mudança de versão sobre os fatos.
Diz-se substancial, uma vez que as testemunhas/detentos que na fase inquisitorial
confirmaram a conduta criminosa do apelante, na fase judicial alteraram
completamente seus depoimentos, passando a inocentar o apelante. Ainda, diz-se de
modo não surpreendente, pois tal situação não é incomum, sendo verificada a
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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vários pedidos para o chefe de cadeia Marcos relatando os detentos com celulares,
inclusive a abertura da tela que cita na gravação já existia a tela, já havia citado em RD
que a tela estava aberta, que já havia comunicado a direção para haver uma geral, a
retirada; que viu o vídeo que aparecia o réu orientando os presos e que sua explicação
é que já existia aquele corte na tela, estava perguntando e incitando os presos a
abrirem a tela, mas já existia o buraco, o interrogado queria ouvir a resposta, o que
eles iam falar referente a isso; que o interrogado inclusive contatou o conselho da
comunidade, ela foi lá junto com o serralheiro, o interrogado mostrou; que na ligação
comentou do repasse de celulares dos presos pra que eles declarassem se tinha
alguma situação, o que estava acontecendo; que não sabe quem teria feito a
gravação, teve conhecimento dela hoje, pôde ouvi-la vagamente hoje; que quando
ligaram a princípio era pedido de comida, mas confessa o seu erro de ter enrolado a
situação de uma maneira que viesse a prejudicá-lo; que a intenção era ver quem
estava por trás disso, se era armação ou não; que a postura do interrogado era de
rigidez, mas ele se preocupava com os presos, pois todos são seres humanos; que não
tinha tratamento mais caridoso, o tratamento era o que devia ser; que uma das
ligações que lembra foi o pedido de comida, teve outra ligação pedindo celulares
também, que foi desconversado, falado que não passaria; que nunca passaria nada
que prejudicasse os colegas de trabalho ou facilitasse alguma fuga; que em relação
aos presos que foram ouvidos, o interrogado não tinha nenhum problema com eles,
de maneira alguma, tratamento de custodiado e agente; que o agente penitenciário é
sempre muito perseguido no sistema prisional em razão do trabalho, mas não sabe
dizer de quem é; que a maior parte dos celulares eles arremessavam pelo muro, em
dias de visitas; que o material pra facilitar a fuga provavelmente entrava da mesma
forma, inclusive em tubos de pasta de dente já foi encontrada broca; que toda a
delegacia tem câmeras de monitoramento; que mesmo nos finais de semana os
agentes não tinham acesso à carceragem sozinhos, não pode, estavam sempre
acompanhados; que inclusive às vezes precisavam pedir apoio dos presos que
trabalhavam lá fora pra retirar um preso da cela; que nunca entrou sozinho e teve
contato; que quando recebeu as ligações adotou a postura de tentar entender por que
elas estavam sendo feitas; que nega que tenha passado celular ou qualquer objeto;
que trabalhava há 3 anos na delegacia; que quando o DEPEN assumiu, foram retirados
mais de 40 celulares, mais estoques e barras de ferro, o interrogado participou da
maioria das gerais onde eram retirados esses aparelhos, então diminuiu drasticamente
o número de aparelhos depois que o DEPEN assumiu, em gerais tiravam 6 ou 7
aparelhos; que encontravam muitos aparelhos na época em que 3 agentes estavam
trabalhando de forma irregular; que nega que tenha passado os celulares e nas
ligações estava tentando investigar e foi um erro da parte do interrogado ter
prolongado e levado a situação até onde chegou; que de maneira alguma facilitou a
fuga; que em relação à transferência do Ewerton, no dia em questão teve um tumulto
na galeria onde ele estava, no seguro, no X onde ele estava com os outros detentos;
que o pessoal estava gritando e chamando a atenção do funcionário; que chegando
no local, o preso estava entrando em vias de fato com outro detento; que o
interrogado estava acompanhado do soldado Barbosa, da polícia militar, ele ajudou o
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perguntaram para o interrogado se ele tinha feito a revista e o interrogado disse que
sim, que tinha feito; [...] que tem câmeras, então não tem como o interrogado
esconder fato nenhum de que foi revistado ou que deixou de colocar em livros; [...]
que não foi feito nenhum depósito na conta do interrogado, pode ver todas as contas,
inclusive ele fez empréstimo; que não chegou a receber nenhum valor a qualquer
título, se não, não se desfaria dos bens, inclusive de uma moto sua; que tem dívidas,
dois filhos, esposa, tá inscrito no SERASA; que em relação aos RD’s, anotava os fatos
apensas relevantes, entrada e sápida de presos; que lá no CMP tem o RD eletrônico e
o RD nos livros; que só no RD eletrônico é que comunicam quando os presos recebem
visitas dos advogados, no livro não comunicam as movimentações diárias; que houve
uma briga entre o Babi e o Medeiro; que o interrogado foi criado por sua mãe e irmã e
elas lhe ensinaram valores que o interrogado traz até hoje, não é o monstro que
pintaram nos jornais, que falaram nas declarações, colocaram muitas inverdades.”
A alegação do Apelante em seu interrogatório de que nas ligações com os detentos
estava apenas tentando investigar e que sua intenção era a de enrolar para ver se
partia uma desistência deles ou descobrir quem eram as pessoas não merece
acolhimento, porque pela gravação telefônica anexada aos autos, percebe-se
claramente que o acusado sabia com quem estava falando e orientava o detento
acerca de como proceder caso alguém perguntasse sobre os celulares.
A propósito dos fatos, o Delegado Emmanoel Aschidamini David, responsável pelo
inquérito policial que instruiu a denúncia oferecida pelo Ministério Público, declarou
em Juízo que:
“Que naquela data dos fatos, junho/julho, estavam acontecendo muitas fugas na
cadeia e o Choque estava encontrando muitos celulares nas suas visitas, que estavam
sendo quase semanais; que o Choque é o Batalhão de Choque de Ponta Grossa que
vai fazer vistorias quando tem alguma situação anormal na cadeia; que as equipes da
polícia civil que auxiliam o DEPEN começaram a desconfiar e o próprio DEPEN
começou a desconfiar da situação e o depoente começou a chamar alguns presos pra
saber o que estava acontecendo; que alguns presos que foram ouvidos começaram a
relatar que um agente estaria ajudando na entrega de alguns aparelhos celulares e
indicaram o Tomas, o Honório; que isso foi após a segunda fuga, houve uma antes de
julho e outra em julho mesmo, muito próximas; que alguns presos começaram a relatar
que um agente penitenciário estava ajudando com os celulares; que no momento, o
depoente falou que era pouco, que a palavra dos presos isolada não ia fazer ele tomar
uma medida mais drástica referente aos fatos; que um dos presos informou que tinha
um aparelho celular que havia sido apreendido nas vistorias do Choque que dentro
teria uma gravação onde os presos teriam gravado esse agente penitenciário
solicitando alguma espécie de vantagem, falando de celulares, de comida, de pizza,
com os presos; que o celular já havia sido apreendido pelo depoente estava na sua
mesa, o preso mostrou qual seria a gravação e na gravação escutam uma voz falando
com os presos dando dicas para os presos de como eles deveriam proceder para que
não desconfiassem dessa ajuda que estaria sendo dada para os ingressos de celulares
na cadeia; que a gravação dizia mais ou menos assim “corte a ventana pra parecer que
os celulares tão vindo de fora”, algo assim; que nesse primeiro momento, pela
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uma cogitação, pois foram encontrados celulares e alguns presos disseram que ele
ajudou também com estoques e serras; que na gravação não há nada referente a
estoques e etc., fala em pizza e bebidas e dando a entender de ajudas de celulares;
que o depoimento de um ou dois presos citaram que ele tinha ajudado com ingresso e
serra, mas é o depoimento do preso, só foi mencionado pelo preso; que a serra
utilizada para fuga só pode entrar de modo externo, ou por familiar ou por agente;
que todos os presos são problemáticos e geram problema; que especificamente o
Ewerton Babi o depoente não tem nada, pois seu contato com os presos era o mínimo
possível, já que o DEPEN tem mais contato que o depoente em seu trabalho de
polícia judiciária; que salvo engano, o Ewerton Babi ficava na parte de trás, junto no
convívio, e o depoente acha que o celular não era nem do Ewerton, era de um outro
detento, do Pablo Stockler se não se engana; que não existe espaço físico do setor da
carceragem com o seguro, não há ligação ou janela; que há possibilidade de entrada
de objetos pelas ventanas eventualmente, se tiver rasgada, alguma coisa, poderia; que
nessa investigação não ficou demonstrado nada nesse sentido; que desde que
chegaram as denúncias a respeito do Tomas, o depoente não notou nenhum avanço
patrimonial, ele era um ótimo funcionário, ajudava muito na delegacia, era prestativo,
tanto é que causou espanto quando descobriram, principalmente por causa da
gravação, antes disso ninguém estava acreditando que estava havendo esse tipo de
conduta por parte dele lá na cadeia; que os presos até falaram que ele estava
ajudando com alguns celulares e até citaram alguns valores que eventualmente
estavam sendo cobrados pra entrada; que a gravação que o próprio preso fez não
trouxe isso de dinheiro, mas dá pra entender que ele ajudava com o celular; que pelo
que apuraram não houve aumento patrimonial, pelo contrário, ele sempre se queixava
de estar sofrendo com problemas de dinheiro; que sabe que o réu vendeu uma moto
pro Walter; que sobre a entrada de brocas, tudo foi uma dedução, ele ajudava com
celular, alguns presos relataram que ele ajudou com a entrada de serra,
consequentemente o réu poderia supor que poderiam haver fugas e foi nesse sentido
que ele foi indiciado pelo crime de facilitação de fuga; que não se recorda de quem
foram os presos que citaram no sentido das brocas; que o livro é específico do
DEPEN, mas como ouviram o preso e foi dito que foi feita uma movimentação e
estavam suspeitando de algumas condutas, inquiriram o chefe do DEPEN se existia
algum livro específico pra movimentação dos presos e ele falou que existia; que como
foi feita a movimentação faticamente e não foi colocada no livro, tiveram que reportar
essa situação; que devem ser tratados com reservas os depoimentos de presos em
relação a agentes penitenciários e policiais e o depoente tratou com reservas em um
primeiro momento a denúncia; que com certeza há animosidade entre os detentos e
os agentes, com toda certeza; que o que foi feito foi corroborado com o depoimento
dos presos e a parte dos celulares e pizza e bebidas naquela gravação; que não se
recorda especificamente do preso Jonathan da Cunha Passos, mas se recorda que de
todas as oitivas que fizeram, um ou dois presos citaram a questão de serras e brocas,
foi falado.” (grifamos)
Antonio Marcos de Oliveira, agente da Cadeia Pública na época dos fatos, declarou
em Juízo que:
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“Que na época, exercia a função de agente de cadeia pública, a mesma do réu; que
faziam revista nas celas para retirada de aparelhos celulares e outros objetos e sempre
acabavam encontrando de novo mais objetos e mais objetos; que teve também a fuga
de uns presos e teve uns presos que chamaram eles pra conversar e começaram a falar
quem estava vendendo os celulares na cadeia e até mesmo serras e outros materiais;
que era o funcionário Tomas, que eles chamavam de Ricardo na verdade, os presos
conhecem ele como funcionário Ricardo, que foi o nome que ele usou no começo pra
desviar o foco; que chegaram no réu através de uma gravação no celular; que a
situação de que o réu estava passando celulares, barras de ferro, serras, foram
relatadas para o depoente e para o delegado; que a entrada desses objetos através
do réu seria possível somente da forma como os presos falavam, que entravam pela
porta da frente, durante o plantão ele recolhia os materiais, os celulares; que o plantão
é mais finais de semana, que tinha pouco movimentação; que em algumas conversas
que o depoente teve com o delegado e os presos, eles mencionaram valores, que era
1300, 1500, depende do que era, acha que 500 reais para serras, alguma coisa assim;
que no período descrito da denúncia teve um aumento, eles perceberam que estava
entrando; que inicialmente trabalhavam 12h por 26h ou 24h por 72h; que teve uma
época que ficavam dois agentes, mas foram saindo e teve período que ficava só um
agente trabalhando; que de cabeça não lembra se entre abril e agosto se era só um
funcionário trabalhando ou dois; que nos finais de semana acontecia de os agentes
ficarem sozinhos sim; que o depoente já chegou a ficar sozinho fazendo o trabalho de
agente, a noite, e isso também acontecia com o réu e com os demais agentes; que na
época em que o réu foi preso o depoente tinha ficado pra administrar a cadeia e por
isso ficava só no expediente, não ficava no plantão; que os presos informaram para o
depoente que havia o envolvimento de funcionários na passagem dos celulares e dos
materiais; que o depoente ficava do lado e os presos falavam “tem coisa errada aí seu
Marcos, tem gente fazendo coisa errada pelas costas do senhor”, aí que o depoente
comunicou o delegado e o delegado com o depoente chamaram os presos para saber
o que era e eles começaram a contar; que quanto à facilitação da primeira fuga, junto
com o relato dos presos do celular, chegou o relato também de brocas e serras; que
essas brocas usadas pra fuga, segundo relato dos presos foi trazida de fora da cadeia;
que foram realizadas obras ali, mas os agentes revistam antes dos pedreiros irem
embora; que os presos relatavam que o réu trazia, repassava, mas o depoente não
sabe a forma; que ele podia ir até o solário, colocar em um ponto cego onde os presos
não vissem, na hora de abrir ou fechar a cadeia, colocavam no ponto cego e depois
eles pegavam os materiais; que relataram de outros agentes também que foram
afastados; que ouviu o áudio que foi gravado e reconheceu a voz do Honório; que as
dicas que o réu repassou não deu tempo de os presos seguirem; que antes dos fatos
os presos não diziam como conseguiam os objetos, só depois que decidiram falar
sobre o assunto; que um preso que trabalhava pra fora informou que o Honório tinha
movimentado presos da cadeia, que tinha tirado, colocado no parlatório, conversado,
colocado na solitária, voltado pra dentro; que o depoente foi verificar no RD se
constava alguma coisa, mas não constava nada; que essa informação é importante pra
ter controle do preso, onde ele entra, onde sai, o que acontece, se passa mal, pra
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tinha com o réu um relacionamento como com todos os agentes, respeito às ordens;
que conhece os agentes Pablo e Marcelo também; que sobre a entrada de celulares, a
coisa que viu foi da vez que o depoente foi entregar comida com o réu para os presos;
que entregou comida e faltou algumas, sendo que o depoente foi buscar mais duas,
que tinha faltado; que quando chegou o réu estava entregando o carregador pra
dentro, pro preso, pro preso conhecido por “Grilo”; que o réu viu que o depoente viu
e disse para o depoente que ele não tinha visto nada e não era pra falar nada se não ia
ser pior para o depoente; que o depoente sempre escutava os presos falando que o
Honório passava os celulares, eles comentando, pedindo celular, pra passar celular,
carregador; que pediam pro réu pra passar o celular; que o depoente viu, no mesmo X
em que o réu passou o carregador, um preso usando o celular; que outros presos o
depoente não viu usando o celular, só esse; que além de celulares, o depoente não
viu o réu passar serras e brocas, mas saía boato dos presos de que ele passava; que o
réu passava os celulares, serras e brocas só no plantão dele mesmo, que ficava só ele;
que isso acontecia mais facilmente nos finais de semana, porque daí era menor
movimento; que ouviu a gravação do celular que o réu orientava que, caso caísse a
informação de que ele passava os objetos, era pra jogar nos gordinhos que
trabalhavam pra fora, que era o depoente e os outros que trabalhavam ali fora, se
caísse era pra jogar que eram eles que estavam passando, o réu instruía os presos a
dizerem isso; que teve fuga de presos e fugiram oito, da primeira e da segunda vez;
[...] que no dia da fuga foi chamado o policial civil Marcelo para impedir que mais
presos fugissem e o Pablo também; que teve disparo de arma de fogo só da parte do
policial civil; que se não fosse a atuação deles, mais presos teriam fugido; [...] que em
relação a Ewerton Babi, segundo o réu ele foi retirado da cela pra cumprir o castigo,
mas ele só foi e voltou, não ficou tempo lá; que o depoente viu a movimentação,
estava trabalhando; que quem levou Ewerton da cela pro isolamento foi o Honório;
que não viu o réu tirar o preso da cela, mas viu a hora que estava passando no pátio
que dá visão, pra ir para o castigo; que o depoente estava solto, trabalhando pra fora;
que não viu o réu tirar o Ewerton da cela, mas viu colocar no castigo e viu tirar do
castigo; que o preso não foi revistado; que não viu se o réu anotou a movimentação
no livro; que não sabe se o Ewerton usou celular no castigo, mas sabe que não foi
revistado e que não teve anotação por parte do réu da movimentação do Ewerton;
que o próprio réu comentou com o depoente, chamou ele no canto e falou que os
celulares que passava era em torno de mil, mil e quinhentos reais; que de serra e broca
ele não comentou o preço, mas cobrava também; que conviveu seis meses com o
Tomas, trabalhando pra fora ; que o depoente viu o réu entregando só o carregador,
celular, broca e ferramenta não; que sobre as brocas, ouviu só comentários, mas que
nenhum preso disse diretamente para o depoente; que no dia do carregador foi o
preso Carneirinho, o Grilo também falou, eles comentavam, mas o depoente não viu
passar; que em relação aos valores, foi o próprio réu quem falou com o depoente,
dizendo quanto ele cobrava, ele falou que estava em uma crise e chegou conversar
com o depoente; que o dinheiro chegava até o réu quando os piá saíam de noite e
ficava sozinha a carceragem; que não sabe responder como o dinheiro chegava até as
mãos do réu; que nenhuma vez algum preso falou que tinha pago alguma coisa e não
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tinha recebido; que em relação à situação do Ewerton Babi, primeiro ele estava no
convívio, aconteceu umas desavenças e ele saiu, foi lá pro seguro; que o depoente
estava no seguro e lá tem duas alas só; que não tem acesso externo do seguro pro
convívio e não tem como passar nada do seguro pro convívio, pois não conversam,
são separados, só através do castigo que tinha; que antes de descobrirem tudo,
cumprimentavam o réu normal, coisa de trabalho; que o réu era bem rigoroso nas
revistas; que no castigo tinha como receber o celular, pois tinha um buraco pra passar,
quem estava no castigo podia receber de fora o celular.” (grifo nosso)
Além das informações das testemunhas Antonio Marcos de Oliveira e Valdinei Faria
dos Santos, acerca de que o acusado cobrava pelos celulares o valor de R$ 1.000,00 a
R$ 1.500,00, na gravação anexada aos autos o acusado afirmou que iria informar o
valor para os presos, tendo declarado inclusive que “não tem ideia de quanto é o
corre, o problema é o risco, o perigo, isso que quebra as pernas, não é nem tanto por
passar, mais é a questão do risco que tô correndo né”.
Portanto, a versão apresentada pelo Apelante é contraposta pelas provas vinculadas
aos autos, tendo sido a autoria e materialidade devidamente esclarecidas na instrução
processual, motivo pelo qual deve ser mantida a sentença condenatória.
Do delito de falsidade ideológica.
O Apelante argumenta que o anexo juntado às sequências 135.1 dos autos nº.
0003997-50.2015.8.16.0064, não indica tratar-se de um documento público, pois não
demonstra ser padrão das repartições públicas, as quais possuem livros de registro das
ocorrências devidamente identificados e números.
Ainda neste aspecto, afirma que não há que se denominar esses relatórios diários
como documentos públicos, pois eram anotações internas dos agentes prisionais, não
tendo causado prejuízo ao erário, muito menos a terceiros.
Assevera também que a testemunha de acusação Ewerton Babi, ao ser ouvido em
Juízo, relatou “Que o depoente realmente foi para o castigo; que quem levou o
depoente para o castigo foi o senhor Walter”, razão pela qual quem deveria ter
procedido a anotação seria o agente penitenciário Walter e não o Apelante, devendo
ser absolvido, nos termos do artigo 386, incisos II, III, IV e VII do Código de Processo
Penal.
Segundo a inicial acusatória:
“3° Fato - No dia 28 de julho de 2015, em horário não especificado nos autos, na
Cadeia Pública da Comarca de Castro/PR, localizada nas dependências da Delegacia
de Polícia Civil de Castro/PR, na Rua Tiradentes, n. 120, Centro, neste Município e
Comarca de Castro/PR, o denunciado HONÓRIO TOMAS DE SOUZA, voluntariamente
e ciente da ilicitude de sua conduta, de maneira dolosa, omitiu em documento público
declaração que dele devia constar, com o fim específico de alterar a verdade sobre
fato juridicamente relevante. Na ocasião, prevalecendo-se da função de Agente de
Cadeia Pública, omitiu do Livro de Registros e dos Registros Diários (RD), a
movimentação do preso Everton Babi, apesar de tê-lo retirado da sua cela e
conduzido para o isolamento, levando-o posteriormente de volta ao seu cubículo.
Fazendo isso, com dolo especifico de alterar a verdade sobre fato juridicamente
relevante, fez deixar de constar informação em documento público, causando
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
potencial dano para a ordem da Cadeia Pública local, uma vez que impossibilitou que
o próximo agente plantonista soubesse as ocorrências havidas antes da sua assunção
(cf. informações fls. 49/53 e declarações de fls. 67/69).”
O tipo penal de falsidade ideológica atribuído ao Apelante estabelece que:
“Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia
constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser
escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato
juridicamente relevante: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento
é público, e reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular.
Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-
se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil,
aumenta-se a pena de sexta parte.”
O pleito absolutório não admite amparo, porque o Livro de Registro de Atividades é
documento público e de uso obrigatório, previsto na Deliberação nº 853/2009, do
Conselho da Polícia Civil do Estado do Paraná, que estabelece normas procedimentais
de Polícia Judiciária Investigativa.
Não obstante, a movimentação de qualquer detento, qualquer que seja o motivo,
deve ser registrada e o Apelante omitiu em documento público (Livro de Registros e
dos Registros Diários), a transferência realizada do preso Everton Babi para o
isolamento e posterior encaminhamento para a sua cela, causando lesão ao bem
jurídico tutelado, qual seja a fé pública, prevalecendo-se do cargo de agente
penitenciário, configurando-se a circunstância de aumento de pena prevista no
parágrafo único do tipo penal em análise.
O registro da movimentação é essencial para que o agente que sucede o turno tome
ciência do ocorrido e providencie, caso necessário, as medidas administrativas
pertinentes.
A testemunha Ewerton Babi Ribeiro negou os fatos em Juízo, tendo declarado que foi
transferido para o isolamento por outro agente, de nome Walter e que foi coagido
pelo Delegado a mentir.
Entretanto, a versão diverge do depoimento detalhado prestado no inquérito policial,
ocasião em que referida testemunha esclareceu que:
“Que data de 28/06/15, um domingo do mês passado, pela manhã, o declarante
pediu para o Agente Tomas (tratado corno “Ricardo” pelos presos) para ir para a
solitária para poder entregar um celular que o declarante ia entregar para sua irmã na
feminina.
Que levou o celular na cintura e um carregador: era um celular Samsung grande, tipo
tablet, que já estava corno declarante. Que o Tomas sabia que o declarante estava
com o celular, mas o declarante não foi revistado nem quando entrou na solitária nem
quando voltou, na parte da tarde, para a cela. Que foi o próprio Tomas quem colocou
esse celular na cadeia pro declarante, tendo cobrado R$1300,00 cada um, pago pelos
amigos da rua que devem para o preso. Que fazem uns três meses que o agente está
negociando com os presos.”
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
trabalhando pra fora; que não viu o réu tirar o Ewerton da cela, mas viu colocar no
castigo e viu tirar do castigo; que o preso não foi revistado; que não viu se o réu
anotou a movimentação no livro; que não sabe se o Ewerton usou celular no castigo,
mas sabe que não foi revistado e que não teve anotação por parte do réu da
movimentação do Ewerton (...); que pelo que sabe, o próximo agente que tomou as
funções do Honório não tomou conhecimento dessa movimentação na cadeia, pois
eles conversavam entre eles, cada um passava o que aconteceu pro outro; que
quando chegou a pessoa pra substituir o réu, ele não falou que movimentou o
Ewerton (...)”.
Outrossim, a testemunha Marcelo Espírito Santo de Souza, também preso de
confiança que trabalhava na área externa da Cadeia Pública, esclareceu em Juízo que:
“(...) Que na época dos fatos, estava detido na cadeia Pública desta Comarca, agora
não está mais preso; que conhecia o réu, que era o carcereiro; que o depoente,
pessoalmente, nunca viu o réu facilitando a entrada de brocas e serras, favorecendo o
ingresso de celulares na cadeia; que somente teve um domingo em que o réu pediu
ajuda para o depoente para retirar um preso da solitária, o Ewerton Babi; que não
lembra a data específica, mas foi um domingo à tarde; que o réu pediu ajuda, o
depoente foi lá, tiraram o preso, levaram até o cubículo 602; que depois de deixarem
o preso na cela, ao retornar, o depoente questionou o réu, perguntou “Sr. Tomas, o
que aconteceu que ele foi parar na solitária?”, sendo que o réu respondeu “Não, era
um desembolo de um celular que tinha com a feminina”; que foi a única coisa que o
réu respondeu; que tinha um problema de celular na ala feminina e a solitária e a
feminina ficam uma do lado da outra a cela, daí segundo o que o réu falou para o
depoente, ele levou esse preso pra acertar esse negócio do celular; que o réu não fez
revista no Ewerton ao retornar, na saída da cela o depoente não estava junto, não
presenciou; que o depoente não sabe informar quando tempo Ewerton ficou no
isolamento, porque não viu a hora que o réu retirou o preso, só viu a hora que
retornou; que o réu pediu ajuda para o depoente pra retirar o Ewerton da solitária e
retornar para o cubículo dele, mas não pra sair do cubículo para a solitária, só ao
retornar que o depoente ajudou o réu; que nesse trajeto da solitária até a cela não foi
feita revista no preso (...)”.
Portanto, a manutenção da condenação é medida de rigor.
Da aplicação do princípio da consunção.
O Apelante argumenta que deve ser aplicado o princípio da consunção em relação ao
3º e 4º fato narrado na denúncia, uma vez que a violação ao artigo 319 (prevaricação)
e artigo 299 (falsidade ideológica) ambos do Código Penal, foram meio de execução e
exaurimento da violação ao artigo 317, § 1 º (corrupção passiva) do mesmo diploma
legal.
Inicialmente, cumpre observar que a hipótese prevista no § 1º do artigo 317 do
Código Penal e denominada pela doutrina de corrupção exaurida, em que a
reprimenda é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou
promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o
pratica infringindo dever funcional. Trata-se de causa de aumento de pena e não um
tipo penal específico.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
prova em direito admitidos (...)" (STJ - RHC 49.296/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA
20.04.2017)
Inteiro Teor
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Como se vê, as declarações dos agentes públicos merecem credibilidade, até porque
não há nos autos evidência de que tivessem interesse em incriminar indevidamente o
apelante ou que tenham faltado com a verdade.
Neste sentido, a jurisprudência de nossos Tribunais:
“(...) CONDENAÇÃO FUNDAMENTADA NO DEPOIMENTO DE POLICIAIS MEIO DE
PROVA IDÔNEO FRAGILIDADE DO CONJUNTO PROBATÓRIO NÃO
DEMONSTRADA.
(...) 2. Conforme entendimento desta Corte, o depoimento de policiais constitui meio
de prova idôneo a embasar o édito condenatório, mormente quando prestado ou
corroborado em Juízo, no âmbito do devido processo legal.
Precedentes” (STJ HC 261.170/SP, Rel. Min. JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julg.
01.04.2014, DJe 10.04.2014).
“HABEAS CORPUS ROUBO CIRCUNSTANCIADO SENTENÇA CONDENATÓRIA
FRAGILIDADE DO CONJUNTO PROBATÓRIO DECISÃO QUE ENCONTRA APOIO
EM ELEMENTOS COLHIDOS SOB O CRIVO DO CONTRADITÓRIO DECISÃO
FUNDAMENTADA DECLARAÇÕES DA VÍTIMA CRIME COMETIDO NA
CLANDESTINIDADE DEPOIMENTO DE POLICIAIS MILITARES MEIOS DE PROVA
IDÔNEOS PRINCÍPIO DO LIVRE CONVENCIMENTO ABSOLVIÇÃO
NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO APROFUNDADO DE MATÉRIA FÁTICO-
PROBATÓRIA IMPOSSIBILIDADE NA VIA ESTREITA DO WRIT” (STJ 5ª T., HC
217.475/DF, Rel. Min. Jorge Mussi, DJe 09.11.2011).
Ademais, cabe destacar que os fatos imputados ao apelante ocorreram quando já
vigorava o § 1º, II, e § 2º do artigo 306 do CTB, com a redação dada pela Lei
12.760/2012, de modo que, diante da recusa do acusado em se submeter ao teste
bafométrico, admite-se a prova da embriaguez por meio de sinais que identifiquem
alteração da capacidade psicomotora.
Destaque-se que no Termo de Constatação de Sinais de Alteração de Capacidade
Psicomotora trazido no mov. 25.2 IP, a demonstrar a embriaguez do ora denunciado,
verificou-se, quanto à sua aparência, a presença de sonolência, olhos vermelhos,
soluço e odor de álcool; quanto à atitude, o mesmo se mostrou falante, e ainda,
quanto à capacidade motora e verbal, demonstrou dificuldade no equilíbrio e fala
alterada.
Sobre o tema, o Superior Tribunal de Justiça disciplina que:
“PROCESSUAL E PENAL RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL EM HABEAS
CORPUS EMBRIAGUEZ AO VOLANTE ART. 306 DA LEI Nº 9.503/97 (1) FATO
POSTERIOR À ALTERAÇÃO NORMATIVA CRISTALIZADA NA LEI Nº 12.760/12 (2)
ESTADO DE EMBRIAGUEZ APURADO POR OUTROS MEIOS DE PROVA
POSSIBILIDADE (3) TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL REVOLVIMENTO FÁTICO-
PROBATÓRIO CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO (4) RECURSO
ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS DESPROVIDO.
1. A Lei nº 12.760/12 modificou o artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro, a fim
de dispor ser despicienda a avaliação realizada para atestar a gradação alcóolica,
acrescentando ser viável a verificação da embriaguez mediante vídeo, prova
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Inteiro Teor
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pactuada e dentro dos parâmetros estabelecidos com a edição da Súmula n.º 472, a
saber:
“A cobrança de comissão de permanência - cujo valor não pode ultrapassar a soma
dos encargos remuneratórios e moratórios previstos no contrato - exclui a
exigibilidade dos juros remuneratórios, moratórios e da multa contratual.”
No caso, observa-se que da cláusula 4.2 do contrato em análise consta que o atraso
no pagamento “(...) passando a incidir sobre o saldo devedor (...): a) comissão de
permanência (...); b) juros moratórios a taxa efetiva de 1% (um por cento) ao ano, (...);;
c) multa de 2% (...)”.
Como se vê, a comissão de permanência foi contratada para o período de
inadimplência, prevendo-se a sua cumulação com multa e juros de mora.
Portanto, sem razão o Apelante em sua alegação de legalidade desta cláusula
contratual.
Ainda, conforme apontado pela perícia, foi constatada a cobrança da comissão de
permanência cumulada com os encargos moratórios:
“A Perícia apurou portanto cumulação dos encargos por inadimplência; Correção
monetária + Juros de mora + Juros Remun.+ Comissão de perman.+ Multa.” (mov.
117.4)
Portanto, restando clara a abusividade com a cobrança de comissão de permanência
cumulada com os encargos moratórios, juros remuneratórios e correção monetária,
merece manutenção este tópico da sentença.
3.3. Restituição em dobro Uma vez que o parágrafo único do art. 42 do Código de
Defesa do Consumidor tem aplicabilidade excepcional, somente se justifica nos casos
em que haja comprovada má-fé na conduta do credor, o que não ocorre na espécie.
Assim, não cabe a restituição em dobro do indébito resultante da cobrança da
comissão de permanência cumulada com outros encargos, como também de débitos
considerados indevidos. O expurgo dessa cobrança resulta da adequação e revisão
contratual, de modo que não está configurada a má-fé da instituição financeira ao
exigir tal excesso.
Confira-se entendimento desta 15ª Câmara Cível:
“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO.
FINANCIAMENTO DE VEÍCULO. (...) 6. REPETIÇÃO DO INDÉBITO EM DOBRO.
IMPOSSIBILIDADE. MÁ-FÉ NÃO CONFIGURADA. PERMITIDA DEVOLUÇÃO
SIMPLES.” (TJPR, 15ª Câm. Cív., Ap. Cível nº 1525147-5, Rel. Des. Jucimar
Novochadlo, j.
08/06/2016)
No corpo deste julgado, foi reforçado que “esta Câmara perfilha do entendimento
segundo o qual, reconhecida a ilegalidade da cobrança de valores, fica o banco
obrigado à restituição nos termos do artigo 872, do Código Civil (correspondente ao
art. 964, do Código Civil/1916). Assim, o que não pode prevalecer é o enriquecimento
sem causa de qualquer das partes” e que “e a cobrança indevida decorrer de um
equívoco não atribuível à má-fé do fornecedor, como no caso dos autos, em que não
restou ela comprovada, não se permite a exigência da restituição em dobro,
509
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
CONTRATUAIS
1694452-0
J. 28.06.2017)
Inteiro Teor
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1694452- 0, da 20ª Vara
Cível do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba, em que
figuram, como Apelante, Jacinda Regina Knapik Kichilevcz e, como Apelado, Itaú
Unibanco S/A.
1. Trata-se de apelação cível interposta por Jacinda Regina Knapik Kichilevcz, da
sentença que, na segunda fase da ação de prestação de contas movida em face de
Banco Bradesco S/A, julgou boas as contas prestadas pelo Banco. No que se refere à
sucumbência, condenou o Autor ao pagamento das custas e dos honorários
advocatícios arbitrados em 10% sobre o valor da causa.
Em suas razões recursais, o Apelante/autor suscita, em síntese: a) a ocorrência do
cerceamento de defesa, ante a não produção de prova pericial; b) a aplicação do
CDC; c) a cobrança ilegal de taxas e tarifas não contratadas; d) a necessidade de
restituição dos valores em dobro.
511
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
PACTUADA
517
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J. 28.06.2017)
Inteiro Teor
520
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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J. 21.06.2017)
Inteiro Teor
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
ação e postular a tutela jurisdicional a fim de que o equilíbrio contratual venha a ser
estabelecido por intermédio da pretensa revisão. Assim, não assiste razão ao Banco
em alegar a inexistência de fatores que justifiquem a revisão do contrato.
3.2. Inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor Concernente à alegação
de inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor, também não assiste razão
ao Apelante.
Da análise dos autos, verifica-se que a relação jurídica decorre de operação bancária,
firmada entre as partes, concretizada por intermédio de crédito de abertura de conta
corrente e crédito direto ao consumidor.
Nesse contexto, adotando-se uma interpretação finalista ou subjetiva das normas do
Código de Defesa do Consumidor, pode-se concluir que o emitente das cédulas se
insere no conceito previsto em seu artigo 2º, nos seguintes termos:
“Art. 2º. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou
serviço como destinatário final.
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que
indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo”
Para melhor compreensão a respeito da adoção da teoria finalista na interpretação do
Código de Defesa do Consumidor, oportuna é transcrição dos fundamentos expostos
pela Excelentíssima Senhora Ministra Nancy Andrighi, quando do julgamento do
Recurso Especial n.º 733.560/RJ:
“É fato inconteste que os legisladores, quando da redação da Lei 8.078/90, não
fizeram nenhuma distinção entre pessoas física e jurídica para se beneficiarem do
Código de Defesa do Consumidor. Ao contrário, em seu artigo 2.º foram claros ao
estabelecer que ambas podem utilizar-se da proteção conferida pelo CDC, bastando
que, para tanto, os bens ou serviços adquiridos sejam provenientes de um fornecedor
e que a pessoa que os adquiriu seja `destinatário final’ dos mesmos.
Portanto, para se saber se determinada pessoa pode ou não ser considerada
consumidora nos termos do art. 2.º do CDC, deve-se verificar se ela se enquadra na
definição de `destinatário final’.
A este respeito, a Segunda Seção deste STJ superou discussão acerca do alcance da
expressão `destinatário final’, constante do art. 2º do CDC, consolidando a teoria
subjetiva (ou finalista) como aquela que indica a melhor diretriz para a interpretação do
conceito de consumidor (REsp n.° 541.867/BA, Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro,
Rel. para o acórdão Min. Barros Monteiro, DJ 16.05.2005).
Segundo a teoria preferida, a aludida expressão deve ser interpretada restritivamente.
Com isso, o conceito de consumidor deve ser subjetivo e entendido como tal aquele
que ocupa um nicho específico da estrutura de mercado - o de ultimar a atividade
econômica com a retirada de circulação (econômica) do bem ou serviço, a fim de
consumi-lo, de forma a suprir uma necessidade ou satisfação eminentemente pessoal.
Para se caracterizar o consumidor, portanto, não basta ser, o adquirente ou utente,
destinatário final fático do bem ou serviço: deve ser também o seu destinatário final
econômico; isto é, a utilização deve romper a atividade econômica para o atendimento
de necessidade privada, pessoal, não podendo ser reutilizado, o bem ou serviço, no
processo produtivo, ainda que de forma indireta.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Unânime - J. 21.06.2017)
Inteiro Teor
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
partilha, é a herança que responde por eventual obrigação deixada pelo de cujus e é o
espólio, como parte formal, que detém legitimidade passiva ad causam para integrar a
lide” (REsp 1125510/RS, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado
em 06/10/2011, DJe 19/10/2011).
Deveras, ainda que não exista inventário aberto, isso “não faz dos herdeiros
individualmente considerados partes legítimas para responder pelas obrigações, visto
que, conforme supra mencionado, é a herança que responde por eventuais obrigações
deixadas pelo de cujus enquanto não efetivada a partilha, cabendo a legitimidade ad
causam ao espólio, nesse período.
Conclui-se, assim, que a inexistência de inventariante porquanto ainda não aberto o
inventário não afasta a legitimidade passiva ad causam do espólio, que poderá ser
representado nesse período pelo administrador provisório, como se extrai da
interpretação conjunta dos artigos 75, VII e 613, ambos do CPC/2015 (artigos 12 e 985
do Código de Processo Civil/73)” (TJPR - 15ª C.Cível - AC - 1627208-3 - Rel.: Hayton
Lee Swain Filho - Unânime - J. 05.04.2017).
Confira-se, ainda, os seguintes precedentes deste Tribunal:
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL.
FALECIMENTO DE UMA DAS EXECUTADAS.
SUBSTITUIÇÃO DO POLO PASSIVO PELOS HERDEIROS E CÔNJUGE
SOBREVIVENTE.CÔNJUGE CASADO SOB O REGIME DE COMUNHÃO DE BENS
QUE SEQUER É HERDEIRO. ILEGITIMIDADE PASSIVA RECONHECIDA.
NECESSIDADE DE QUE O ESPÓLIO VENHA À LIDE.
ADMINISTRADOR PROVISÓRIO QUE REPRESENTA O ESPÓLIO ATÉ A NOMEAÇÃO
DE INVENTARIANTE. RECURSO ACOLHIDO PARA EXTINÇÃO DO FEITO EM
RELAÇÃO AO CÔNJUGE. DEMAIS TEMAS EM DISCUSSÃO PREJUDICADOS -
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.” (TJPR - 15ª C.Cível - AI - 1435654-6 - Francisco
Beltrão - Rel.: Marco Antonio Antoniassi - Unânime - J. 18.11.2015)
“DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. ESCRITURA
DE CONFISSÃO E ASSUNÇÃO DE DÍVIDA COM GARANTIA
HIPOTECÁRIA.APELAÇÃO DO BANCO. FALECIMENTO DO EXECUTADO.
AUSÊNCIA DE INVENTÁRIO.SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL. ESPÓLIO.
REPRESENTAÇÃO PELO ADMINISTRADOR PROVISÓRIO. ART. 1.797 DO CÓDIGO
CIVIL ILEGITIMIDADE PASSIVA DO HERDEIRO.APELAÇÃO DA EMBARGANTE.
PLEITO DE MAJORAÇÃO DA VERBA HONORÁRIA. ACOLHIMENTO. ART. 85, §2º. E
11º DO CPC/2015.O valor da causa deve ser levado em conta na fixação dos
honorários advocatícios, o qual sopesado com o grau de zelo do profissional que
atuou com eficiência nas duas instâncias, fatores que conjugados justificam a
majoração do valor arbitrado em primeiro grau, sem que se cogite de exorbitância, na
medida em que observados os parâmetros constantes do art. 85, §§2º e 11º do
CPC/2015. APELAÇÃO (01) DO BANCO NÃO PROVIDA.APELAÇÃO (02) DA
EMBARGANTE PROVIDA.” (TJPR - 15ª C.Cível - AC - 1627208-3 - Região
Metropolitana de Londrina - Foro Central de Londrina - Rel.: Hayton Lee Swain Filho -
Unânime - J. 05.04.2017)
“APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSO CIVIL. CIVIL.AÇÃO MONITÓRIA.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
provida.
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Inteiro Teor
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J. 14.06.2017)
Inteiro Teor
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
autor, no valor de R$ 8.000,00 (oito mil reais), pelos danos morais sofridos, com fulcro
no artigo 5º, inciso X, da Constituição Federal e artigo 186, do Código Civil, acrescidos
de juros de 1% (um por cento) ao mês, a partir do evento danoso (Súmula 54 do
Superior Tribunal de Justiça) e a correção monetária a partir da fixação (Súmula 362 do
STJ)” (f. 04 do mov. 90.1).
- Condenar a ré ao pagamento das despesas processuais e dos honorários
advocatícios de sucumbência, arbitrados em 15% sobre o valor da condenação.
Nas razões de seu apelo (1), a empresa Ré defende, em suma: a) a inexistência de
elementos que justifiquem a indenização por dano moral, sob o argumento de que a
parte autora fora vítima de uma fraude e que, “embora a financeira seja fornecedora
de serviços, no caso em comento não incide a ela qualquer responsabilidade pela
fraude efetuada por terceiros, pois foram realizadas por pessoas alheias à financeira, o
que demonstra a exclusão de qualquer responsabilidade da financeira”; b) a
regularidade da inscrição do nome do Autor em cadastros restritivos de crédito, uma
vez que, “frente ao não recebimento do valor das parcelas, a financeira deu início aos
atos de cobrança, informando os órgãos de proteção ao crédito acerca do débito”; c)
a ausência de configuração de dano à parte autora, pois “não se pode olvidar que a
parte recorrida com ele contribuiu circunstancialmente, pois ao efetuar o pagamento,
deveria ter informado a sua ocorrência ao setor competente da recorrente, bem como,
aos órgãos de restrição ao crédito, entretanto ficou inerte, dando causa à manutenção
da inscrição discutida”; d) a necessidade de minoração do quantum indenizatório; e) a
incidência de juros moratórios a partir de seu arbitramento na sentença; f) o
descabimento de aplicação de multa por descumprimento de ordem de exclusão do
nome da parte autora dos cadastros restritivos de crédito ou, sucessivamente, a sua
minoração.
Por sua vez, na apelação (2) o Autor pugna pela majoração do valor arbitrado à título
de indenização por danos morais.
Apresentadas contrarrazões pelo Autor (mov. 103.1), os autos foram encaminhados a
este Tribunal.
2. Presentes os pressupostos recursais, conheço do recurso de apelação (01)
interposto pela ré, conforme análise a seguir.
3. Versam os autos a respeito de um débito do Autor junto à empresa Ré, oriundo de
03 (três) parcelas decorrentes do contrato de empréstimo nº 510164128 /
12025000141547, firmado entre a instituição financeira e José Cincinato Aires Correia,
para pagamento em 36 parcelas fixas no valor de R$ 679,41. Afirma o Autor ter
efetuado o pagamento das três últimas parcelas, mediante boleto enviado ao seu e-
mail pela instituição financeira. Contudo, por não ter computado este pagamento, a
Ré inscreveu o seu nome em cadastros restritivos de crédito; daí o pedido do Autor
pela condenação da Ré ao pagamento de indenização por danos morais e declaração
de inexigibilidade do débito.
No decorrer do processo, o juízo a quo determinou a expedição de ofício ao Banco
Santander, a fim de que este informasse sobre “a titularidade da agência/Código
Beneficiário n 1538/6946798, se esta pertence a BV FINANCEIRA S/A - CRÉDITO,
FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO” (mov. 75.1), conforme mencionado no boleto
547
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
encaminhado ao Autor, que seria referente ao pagamento das três parcelas restantes
do contrato de financiamento. Em resposta, o Banco Santander S/A informou tratar-se
da “única conta corrente localizada em nome da empresa” (mov. 77.1), e que
correspondia ao:
Assim, reconhecendo a ocorrência de fraude por terceiro, a sentença declarou a
inexistência de débitos em desfavor do Autor, confirmando a liminar para a Ré retirar
seu nome dos cadastros restritivos de crédito definitivamente, sob pena de incidência
de multa diária de R$ 200,00, limitado a R$ 5.000,00, além de também condená-la ao
pagamento de indenização por danos morais no importe de R$ 8.000,00 (oito mil
reais).
4. Apelação (1) da instituição financeira
Em suas razões de recurso (mov. 95.1), a Ré/Apelante principal defende a inexistência
de elementos que ensejem a sua condenação à indenização por danos morais ao
Autor, sob argumento de que o boleto “não foi emitido pela BV Financeira, tratando-
se de um boleto montado, emitido por site não autorizado,... não havendo qualquer
convênio entre a BV Financeira S/A e o Banco Santander”.
Assim, alega que, “no caso em questão a parte ora recorrida fora vítima de uma
fraude, tendo em vista que o boleto que lhe fora fornecido para pagamento não fora
emitido pela BV Financeira, mas por estelionatário, motivo pelo qual os valores
atinentes ao suposto pagamento não foram recebidos pela recorrente”.
E com razão.
Em sua petição inicial, o Autor mencionou ter entrado “em contato com a requerida,
pelo site da empresa, e solicitou a liquidação antecipada. Na mesma oportunidade foi
informado que lhe seria enviado um boleto com o desconto de antecipação. Dias
depois, recebeu, via email, um boleto no valor de R$ 1. 323,80 (mil trezentos e vinte e
três reais e oitenta centavos), com vencimento em 12/05/2015, referente as três
últimas parcelas” (mov. 1.1).
Contudo, em que pese a alegação do Autor de que tenha recebido o boleto por e-
mail, não há nos autos comprovação de que o documento que chegou em sua caixa
de mensagens fora efetivamente remetido pela instituição financeira, de modo a
demonstrar que não agiu com imprudência, para assim poder ser imputada à
instituição financeira a responsabilidade pela fraude praticada por terceiro. Aliás, o
Autor também não trouxe aos autos a noticiada solicitação feita por e-mail à Ré para
liquidação antecipada do financiamento.
Somado a isso, restou evidenciado que, conforme resposta do Banco Santander S/A,
o código da agência/beneficiário mencionado no boleto não correspondia à Ré, ainda
que o título apontasse como beneficiário “BV Financeira CFI CNPJ: 01.149.953/0001-
89” e que mencionasse que o pagamento se refere às parcelas 34 a 36 do contrato em
questão; constatou-se, assim, que o Autor fora vítima de uma fraude praticada por
terceiro que emitiu boleto falso para pagamento e quitação do contrato de
empréstimo em questão.
Nesse passo, vê-se que o Autor não tomou as precauções mínimas ao se valer de
boleto recebido por e-mail, para pagamento de parcelas de financiamento, sem prévia
confirmação de sua origem.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Logo, inexistem elementos suficientes nos autos que evidenciem que a fraude
perpetrada com a emissão do boleto tenha decorrido da falha na prestação de
serviços pela Ré, de modo que não lhe pode ser imputada tal prática fraudulenta; daí a
inexistência de ato ilícito por parte da instituição financeira, já que o Autor não
comprovou que tenha realizado o pedido de emissão de boleto em ambiente próprio
da instituição.
Sabe-se que para que a demanda indenizatória seja julgada procedente, a causa de
pedir e os pedidos formulados devem estar embasados ao menos em indícios
probatórios, aspecto não configurado na espécie. Diversamente, no caso vê-se que as
situações fáticas verificadas desfavorecem a versão narrada na petição inicial; daí a
ausência de qualquer indício de que houve falha na segurança do sistema bancário da
ré com a emissão do título impugnado.
Ressalta-se que a responsabilidade da instituição financeira não pode se sobrepor a
necessidade de prova, ou pelo menos indício probatório de que houve falha na
prestação do serviço ou de que o erro não tenha decorrido por culpa exclusiva do
consumidor. Deveras, não obstante a instituição financeira tenha responsabilidade
objetiva (Súmula 297 do Superior Tribunal de Justiça), a qual prescinde de
comprovação de culpa, ela poderá ser afastada desde que demonstrada uma das
hipóteses do §3º do art. 14, do CDC, in verbis:
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de
culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à
prestação do serviço, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre
sua fruição e riscos. [...] § 3.º O fornecedor de serviços só não será responsabilizado
quando provar: I que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; II a culpa
exclusiva do consumidor ou de terceiro;
Logo, não basta a configuração da conduta, senão também do nexo causal com o
dano causado.
No caso, infere-se dos elementos carreados aos autos que não está sequer
configurado o nexo causal com a empresa ré. Deveras, se a emissão do título foi
realizada por terceiro, impõe-se a incidência do mencionado dispositivo, o que afasta
a responsabilidade objetiva da Ré, já que configurada a culpa exclusiva do consumidor
que não se atentou às precauções mínimas quando recebeu boleto de pagamento,
sem conferir se era efetivamente originário da instituição ré.
A propósito é a Jurisprudência:
“RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS E
MATERIAIS. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO. BOLETO PARA LIQUIDAÇÃO DO
CONTRATO TENDO COMO BENEFICIÁRIO TERCEIRO.
AUTOR VÍTIMA DE FRAUDE. AUSÊNCIA DE QUALQUER PARTICIPAÇÃO DA
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO BANCÁRIO NÃO
CONSTATADA. CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA.
AUSÊNCIA DE DEVER DE INDENIZAR. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO.”
(TJPR - 10ª C.Cível - AC - 1434722-5 - Ponta Grossa - Rel.: Carlos Henrique Licheski
Klein - Unânime - J. 07.07.2016)
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Inteiro Teor
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(TJPR - 15ª C.Cível - AC - 1682186-0 - São José dos Pinhais - Rel.: Elizabeth M F Rocha
- Unânime - J. 14.06.2017)
Inteiro Teor
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
ação civil pública, qualquer ressalva no sentido de que o direito aos expurgos
inflacionários, discutido naquele feito, seria extensível a todos os poupadores em
âmbito nacional, como ocorreu na ação civil pública nº 1998.01.1.016798-9, ajuizada
pelo IDEC contra o Banco do Brasil S/A.
Observe-se que, enquanto a ação civil pública do Banco do Brasil S/A foi distribuída
perante a 19ª Vara Cível da Comarca de São Paulo/SP e, posteriormente, remetida à
12ª Vara Cível da Circunscrição Especial Judiciária de Brasília/DF, em razão do
reconhecimento de seu alcance nacional em exceção de incompetência, a Ação Civil
Pública do Banco Bamerindus S/A permaneceu na Comarca de São Paulo/SP,
justamente em virtude da ausência de qualquer disposição sobre eventual amplitude
nacional.
Nesse contexto, não há dúvida de que a sentença exarada na Ação Civil Pública nº
400/1993 (583.00.1993.808239-4), ajuizada pelo IDEC em face do Banco Bamerindus
S/A, da qual decorre a presente demanda, é completamente genérica quanto à sua
abrangência, circunstância que conduz à aplicação da regra prevista no artigo 16, da
Lei n.º 7.347/1985:
A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial
do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de
provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico
fundamento, valendo-se de nova prova.
Sobre o assunto, o seguinte precedente do Superior Tribunal de Justiça:
“EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL.
RECEBIMENTO COMO AGRAVO REGIMENTAL. FUNGIBILIDADE RECURSAL.
EXPURGOS INFLACIONÁRIOS. PLANO VERÃO. IPC DE JANEIRO DE 1989 (42,72%).
OMISSÃO. CONTRADIÇÃO.
OCORRÊNCIA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. EFICÁCIA. LIMITES.
JURISDIÇÃO DO ÓRGÃO PROLATOR. 1. Embargos de declaração conhecidos como
agravo regimental, tendo em vista os princípios da fungibilidade recursal e economia
processual. 2. Verificada contradição entre a fundamentação do “decisum” recorrido e
a parte dispositiva, acolhe-se o recurso para corrigir o julgado, evitando-se, assim,
interpretação errônea acerca de seu comando. 3. Consoante entendimento
consignado nesta Corte, a sentença proferida em ação civil pública fará coisa julgada
“erga omnes” nos limites da competência do órgão prolator da decisão, nos termos
do art. 16 da Lei n. 7.347/85, alterado pela Lei n.
9.494/97. 4. Embargos de declaração recebidos como regimental para,
reconsiderando a decisão anteriormente proferida, conhecer do recurso especial e lhe
dar provimento.” (STJ EDcl no REsp n.º 167.328/SP, Rel.
Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em
01/03/2011, DJe 16/03/2011)
No mesmo sentido, recentes julgados desta 15ª Câmara Cível:
“Agravo de instrumento. Cumprimento de sentença. Ação Civil Pública do Instituto
Brasileiro de Defesa do Consumidor - IDEC. Ilegitimidade ativa.
Abrangência do título. Poupadores do Estado do Paraná. Art. 16 da LACP.
557
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Apelação Cível n.º 1.256.439-5 Francisco Beltrão Rel.: Luiz Carlos Gabardo
Unânime J. 26/11/2014)
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA N.º 400/1993 (583.00.1993.808239-4). IDEC X BANCO BAMERINDUS DO
BRASIL S/A. 19ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE SÃO PAULO/SP.ABRANGÊNCIA
NACIONAL DO TÍTULO.DISPOSIÇÃO EXPRESSA NESSE SENTIDO.INEXISTÊNCIA.
EFICÁCIA DA COISA JULGADA. LIMITE TERRITORIAL. ÓRGÃO PROLATOR DA
SENTENÇA COLETIVA. ART.16, DA LEI N.º 7.347/1985. CASO
CONCRETO.ILEGITIMIDADE ATIVA. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO
DE MÉRITO.ART. 267, VI, CPC.1. Segundo orientação do Superior Tribunal de Justiça,
em cumprimento de sentença decorrente de ação civil pública, no qual se postula o
recebimento de expurgos inflacionários, a legitimidade das partes deve ser
estabelecida de acordo com a coisa julgada formada em cada título judicial.2. Na
sentença exarada na ação civil pública n.º 400/1993 (583.00.1993.808239-4), proposta
pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) em face do Banco
Bamerindus do Brasil S/A, perante a 19ª Vara Cível da Comarca de São Paulo/SP,
inexiste disposição expressa acerca de eventual abrangência nacional do julgado,
razão pela qual, nos cumprimentos de sentença propostos com base nessa sentença
coletiva, aplica-se a regra do art. 16, da Lei n.º 7.347/1985.3. Delimitada a eficácia da
coisa julgada à competência territorial do órgão prolator da sentença coletiva, o
poupador residente em outra localidade é parte ilegítima para ajuizar cumprimento de
sentença.4. Reconhecida a ilegitimidade ativa, impõe-se a extinção do processo, sem
resolução de mérito, nos termos do art. 267, VI, do Código de Processo Civil, com a
condenação da parte autora ao pagamento dos encargos sucumbenciais.5. Agravo de
instrumento conhecido e provido.” (TJPR, 15ª Câmara Cível Agravo de Instrumento
n.º 1.435.807-7 Sertanópolis Rel.: Luiz Carlos Gabardo Unânime J. 24/02/2016)
Nesse passo, presume-se mantida a aplicação da regra do art. 16, da Lei n.º
7.347/1985, dada a sua especialidade. Não se mostra mais possível, em sede de
cumprimento de sentença, afastar a incidência dessa norma de modo a ampliar a
abrangência do título, sob pena de ofensa à coisa julgada.
Anote-se, ainda, que inobstante tal questão não tenha sido levantada pela parte, não
há que se falar em aplicação do Código de Defesa do Consumidor nem da Súmula n.º
45 deste Tribunal ao caso em apreço, pois, repita-se, o parâmetro adotado atualmente
pelo Superior Tribunal de Justiça para a determinação da legitimidade ativa em casos
como o presente é o limite subjetivo delineado no título judicial. Em conclusão, como
a sentença executada foi exarada pelo juízo da 19ª Vara Cível da Comarca de São
Paulo/SP, o autor não tem legitimidade para ajuizar o presente cumprimento de
sentença, eis que reside no Estado do Paraná.
Para que não restem dúvidas, imperioso explicar que a legitimidade do autor, nesse
caso, é restrita pelo limite territorial da decisão, que, por ser genérica e nada
mencionar em sentido contrário, legitima somente os poupadores residentes em São
Paulo para a propositura de execução individual decorrente da sentença proferida na
referida Ação Civil Pública.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Unânime - J. 07.06.2017)
Inteiro Teor
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
feito por mais trinta dias. Ou seja, neste intervalo, passaram-se mais nove meses sem
que o banco impulsionasse o feito de alguma maneira.
Com efeito, em meio a alguns pedidos de suspensão do feito e para que fosse
regularizada sua representação processual, o Exequente foi intimado várias vezes,
inclusive pessoalmente, para dar prosseguimento à demanda, “sob pena de extinção
do feito”.
Depois disso, com a entrada em vigência da nova regra processual com previsão do
art. 475-J, do CPC, sobreveio a intimação do executado na pessoa de seu procurador,
em 12/12/2008, quando só então pode se falar em interrupção da contagem do prazo
prescricional.
Nesse passo, infere-se que o lapso temporal entre o início da fase de execução da
sentença e a efetiva intimação do executado transcorreu com desídia do Exequente, já
que, no transcurso do processo, o feito permaneceu parado por mais do que o prazo
prescricional de cinco anos.
Ora, prevê o artigo 206, §5º, inciso I, do Código Civil que a pretensão de cobrança de
dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular prescreve em cinco
anos, o que é aplicável na espécie em que a ação monitória foi lastreada em contrato
de abertura de crédito em conta corrente. Por sua vez, a Súmula 150 do Supremo
Tribunal Federal dispõe que “prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição da
ação”. No caso, considerando cumulativamente os períodos em que o feito
permaneceu parado sem qualquer provocação do exequente, transcorreram mais de
cinco anos e sete meses, no mínimo.
Logo, conclui-se que existem nos autos elementos que demonstram a inércia por
parte do Exequente, os quais são suficientes para reconhecer a prescrição
intercorrente, porquanto houve conduta negligente e violação da segurança jurídica
pelo Exequente.
A propósito, percucientes a seguintes ementas:
“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO MONITÓRIA EM FASE DE CUMPRIMENTO DE
SENTENÇA. 1. POSSIBILIDADE DE RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO
INTERCORRENTE NA VIGÊNCIA DO CPC/73 EM ATENÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA
RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO, DA SEGURANÇA JURÍDICA, DA
ORIENTAÇÃO CONSTITUCIONAL DE NÃO ETERNIZAÇÃO DAS PENDÊNCIAS
JUDICIAIS E, POR FIM, PARA CUMPRIR COM A FUNÇÃO JURISDICIONAL DE
PACIFICAÇÃO DOS CONFLITOS SOCIAIS.
SÚMULA Nº 150 DO STF. 2. DESNECESSIDADE DE PRÉVIA INTIMAÇÃO DA PARTE
EXEQUENTE PARA DAR PROSSEGUIMENTO AO PROCESSO.
ENTENDIMENTO DO STJ E DESTA CORTE DE JUSTIÇA. 3. FIXAÇÃO
JURISPRUDENCIAL DO TERMO INICIAL DO PRAZO PRESCRICIONAL EM UM ANO
APÓS A SUSPENSÃO SINE DIE DA EXECUÇÃO. PROCESSO QUE FICOU
PARALISADO POR APROXIMADAMENTE 07 ANOS.
EVIDENTE DESÍDIA DO CREDOR POR LAPSO TEMPORAL MUITO SUPERIOR AO
PRAZO PRESCRICIONAL PREVISTO PARA HIPÓTESE. 4.
PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE QUE NÃO SE CONFUNDE COM ABANDONO DE
CAUSA. INAPLICABILIDADE DO ART. 485, § 1º, DO CPC/15. PRESCRIÇÃO
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
AÇÃO
desprovida.
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Inteiro Teor
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Unânime - J. 31.05.2017)
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suspensão dos prazos processuais entre os dias 20/12/2013 e 20/01/2014, não há que
se falar em propositura extemporânea da presente demanda, vez que respeitado o
prazo legal de 30 dias; daí a rejeição da preliminar de nulidade arguida pelo Apelante.
Da mesma forma, não é necessário que haja depósito judicial do valor da dívida no
prazo de 05 dias, contados do deferimento da consignação, vez que o próprio
dispositivo legal que prevê esse prazo ressalva os casos em que houver a recusa do
depósito extrajudicial.
Superado isso, alega o Apelante que o valor devido pela Apelada é superior ao da
condenação, na medida em que o cálculo deve aplicar o valor da arroba considerado
na sentença, mas considerar que se trata do boi morto. Sem razão.
Isso porque, da leitura da contestação é possível observar que o Réu se insurgiu
somente quanto ao valor da arroba, aduzindo que como o pagamento não ocorreu
dentro do prazo deveria ser computado o valor atualizado da arroba comercializada.
Ora, esse novo valor de R$ 16.786,00 resultou de um cálculo apresentado somente
em fase recursal, pois em sede de contestação somente o valor da arroba foi
impugnado.
Ademais, fato é que o depósito extrajudicial ocorreu antes do vencimento da
obrigação, sendo que o próprio Réu admitiu que recusou o pagamento em razão do
desconto do valor faltante que era de apenas R$ 330,54, respeitante ao FUNRURAL.
Assim, não merece prosperar a alegação de que o valor devido pelo Apelante é
superior aquele reconhecido pela sentença, motivo pelo qual resta prejudicado o
pedido de fixação de multa por locupletamento ilícito.
4. Por conseguinte, não merece provimento o presente recurso.
Diante do exposto, ACORDAM os integrantes da Décima Quinta Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar
provimento ao recurso, nos termos da fundamentação.
Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Desembargador Hamilton Mussi Corrêa, sem
voto, e dele participaram, com voto, o Excelentíssimo Desembargador Shiroshi Yendo
e o Eminente Juiz Substituto em Segundo Grau Marco Antônio Antoniassi.
Curitiba, 31 de maio de 2017.
Elizabeth M. F. Rocha, Juíza de Direito Substituta em Segundo Grau.
MORAIS
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MANTIDA.Apelação desprovida.
J. 31.05.2017)
Inteiro Teor
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Por tais razões, correta a sentença que reconheceu a inexistência do débito e o dever
da Cooperativa/apelante em indenizar a Autora/apelada pelo dano moral sofrido,
decorrente de indevida inscrição de seu nome em cadastro de inadimplentes; daí o
desprovimento do recurso.
Diante do exposto, ACORDAM os integrantes da Décima Quinta Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar
provimento ao recurso, nos termos da fundamentação.
Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Desembargador Hamilton Mussi Corrêa, sem
voto, e dele participaram, com voto, o Excelentíssimo Desembargador Shiroshi Yendo
e o Eminente Juiz Substituto em Segundo Grau Marco Antônio Antoniassi.
Curitiba, 31 de maio de 2017.
Elizabeth M. F. Rocha, Juíza de Direito Substituta em Segundo Grau.
Apelação desprovida.
Inteiro Teor
Trata-se de apelação cível interposta por Tereza Lucas Bacarin e Outros, da sentença
que, nos autos de cumprimento de sentença individual da ação civil pública nº
38.765/1998, reconheceu a prescrição da pretensão dos exequentes, julgando-a
extinta e condenando os Apelantes ao pagamento de custas processuais e honorários
advocatícios fixados em 5% do valor da causa.
Nas razões do recurso, os Apelantes defendem, em síntese, a anulação da sentença,
pugnando pelo afastamento da prescrição da pretensão executiva no presente caso.
Processado o recurso e apresentadas as contrarrazões, os autos foram remetidos a
este Tribunal.
2. Presentes os pressupostos de admissibilidade, o recurso comporta conhecimento.
3. Não merece provimento a pretensão manejada pelos Apelantes, conforme análise a
seguir.
O presente feito trata de ação de execução por quantia certa proferida na ação civil
pública nº 38.765/1998, que teve curso perante a 1ª Vara da Fazenda Pública,
Falências e Concordatas do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de
Curitiba.
Pois bem.
Em 21/09/2011, o Superior Tribunal de Justiça reconheceu a repercussão geral da
matéria abordada no REsp nº 1.273.643/PR, isto é, a tese de que o prazo prescricional
das execuções individuais de julgamento de ações coletivas seria o mesmo prazo
prescricional destas, ou seja, de cinco anos. Por essa razão, aquela Egrégia Corte
proferiu decisão que determinou a suspensão de todos os processos que se
enquadrassem na matéria daquele recurso repetitivo.
Ocorrido o julgamento desse recurso, o Superior Tribunal de Justiça consolidou o
entendimento acerca da questão, com a seguinte tese: “No âmbito do Direito Privado,
é de cinco anos o prazo prescricional para ajuizamento da execução individual em
pedido de cumprimento de sentença proferida em Ação Civil Pública”.
Confira-se sua ementa na íntegra:
“DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL
DA EXECUÇÃO INDIVIDUAL. PRESCRIÇÃO VINTENÁRIA DO PROCESSO DE
CONHECIMENTO TRANSITADA EM JULGADO.
INAPLICABILIDADE AO PROCESSO DE EXECUÇÃO. RECURSO ESPECIAL
REPETITIVO. ART. 543-C DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. PROVIMENTO DO
RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. TESE CONSOLIDADA.
1.- Para os efeitos do art. 543-C do Código de Processo Civil, foi fixada a seguinte
tese: “No âmbito do Direito Privado, é de cinco anos o prazo prescricional para
ajuizamento da execução individual em pedido de cumprimento de sentença proferida
em Ação Civil Pública”.
2.- No caso concreto, a sentença exequenda transitou em julgado em 3.9.2002 (e-STJ
fls. 28) e o pedido de cumprimento de sentença foi protocolado em 30.12.2009 (e-STJ
fls. 43/45), quando já transcorrido o prazo de 5 (cinco) anos, estando, portanto,
prescrita a pretensão executória.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
3.- Recurso Especial provido: a) consolidando-se a tese supra, no regime do art. 543-C
do Código de Processo Civil e da Resolução 08/2008 do Superior Tribunal de Justiça;
b) no caso concreto, julgando-se prescrita a execução em cumprimento de sentença.”
No caso, verifica-se que a ação de “cumprimento de sentença” foi proposta em
31/08/2010, quando já transcorrido mais de 5 (cinco) anos do trânsito em julgado da
sentença proferida na Ação Civil Pública nº 38.765, que se deu em 03/09/2002.
Assim, acertada a sentença que extinguiu a execução em virtude da ocorrência da
prescrição quinquenal da pretensão executiva. Nesse sentido, inclusive, passou a ser o
entendimento desta Corte:
“Agravo interno. Ação Civil Pública. Cumprimento de sentença. Prescrição.
Prazo de cinco anos consolidado em recurso especial repetitivo. Art. 543-C do CPC.
“No âmbito do Direito Privado, é de cinco anos o prazo prescricional para
ajuizamento da execução individual em pedido de cumprimento de sentença proferida
em Ação Civil Pública” (tese fixada para efeitos do art. 543-C do CPC no Recurso
Especial Repetitivo n. 1.273.643-PR).
No caso, tendo a sentença exequenda transitado em julgado em 3.9.2002 e o
ajuizamento do cumprimento sido protocolado em 29.10.2010, quando já decorrido o
prazo de cinco anos, está prescrita a pretensão executória.
Prescrição reconhecida de ofício, ficando prejudicado o conhecimento do agravo de
instrumento.” (Ag. nº 824874-8/01, Rel. Des. Hamilton Mussi Corrêa, j. 03/04/2013)
“AGRAVO REGIMENTAL. EXECUÇÃO INDIVIDUAL DE SENTENÇA PROFERIDA EM
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PRAZO PRESCRICIONAL. TESE DE PRESCRIÇÃO
QUINQUENAL CONSOLIDADA EM SEDE DE RECURSO REPRESENTATIVO DE
CONTROVÉRSIA. ART. 543-C, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. PRESCRIÇÃO
PRONUNCIADA DE OFÍCIO.
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA EXTINTO. RECURSO PREJUDICADO.” (Ag. Reg. nº
830016-3/01, Rel. Des. Hayton Lee Swain Filho, j. 03/04/2013)
Ademais, afirma a parte Apelante que com a citação pessoal do devedor, ora
apelado, na ação Civil Pública proposta pelo IDEC na Comarca de São Paulo, houve
interrupção da prescrição, bem como o início de novo prazo prescricional. Ainda,
sustenta que a ação rescisória proposta contra a sentença proferida na ação civil
pública da APADECO também interrompeu o prazo prescricional. Por fim, defende a
inocorrência da prescrição, tendo em vista que não houve publicação do edital, para a
ciência dos interessados, conforme artigo 94 do Código de defesa do Consumidor.
Ressalta-se que a presente demanda tem por objeto a sentença proferida na ação civil
pública movida pela Associação Paranaense de Consumidores, e não pelo Instituto
Brasileiro de Defesa ao Consumidor, desta forma, sem razão o argumento de que o
ajuizamento de demanda coletiva com objetivo idêntico ao da sentença executada
interrompe o prazo prescricional.
Nesse sentido já se manifestou o eminente Desembargador Hayton Lee Swain Filho:
“(...) O ajuizamento de ação civil pública com objeto idêntico ao da ação que ora se
pretende executar, mas por outra associação, não enseja a pretendida interrupção,
nem tampouco o ajuizamento de ação rescisória contra a sentença que ora se executa.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
JUDICIÁRIA GRATUITA
J. 24.05.2017)
Inteiro Teor
(f. 36-TJ), constando que as custas deveriam ser pagas conforme pactuado entre as
partes.
O referido acordo contou com a seguinte redação:
“ITAU UNIBANCO e WALMIR PINTO MONTENEGRO E MARIA DE LOURDES GALIO
MONTENEGRO ... vêm ... requerer homologação da composição amigável que
efetuaram nas seguintes condições: 1. Os mutuários se confessam devedores do
Banco no montante equivalente a R$ 154.667,23..., valor este atualizado na data de
05/12/2011, decorrente do contrato de financiamento concedido através do
Instrumento Particular de Venda e Compra de Bem Imóvel, com Garantia Hipotecária e
Outras Avenças, contrato nº 8020436960.
(...) 4.Fica pactuado, ainda, que o pagamento das custas judiciais despendidas nas
ações que tenham por objeto o contrato de financiamento em questão são de
responsabilidade dos autores de cada demanda.
5.Em decorrência do acordo, fica estabelecido que cada parte arcará com os
honorários contratuais de seus patronos. (...)” (f. 33/35-TJ).
Depois disso, em 19/08/2015, a concessão do benefício da justiça gratuita foi
impugnada pela serventia do Juízo, argumento que foi acatado pelo juízo singular,
acarretando na interposição do Agravo de Instrumento nº 1455828-2. O recurso, de
relatoria do Desembargador Hayton Lee Swain Filho, foi julgado procedente, sob o
fundamento de que “falta à escrivania legitimidade para impugnar a concessão do
benefício da assistência judiciária gratuita. Isso porque, a teor do art.
7º, da Lei nº 1.060/50, somente a parte contrária poderá requerer a revogação dos
benefícios da assistência” (f. 51-TJ).
Na sequência, o perito requereu a quitação de seus honorários, sustentando que a
parte autora deveria ser condenada ao pagamento do valor de R$.4.162,64,
devidamente atualizado em 19/12/2016 (f. 57/61-TJ). Tal pedido foi deferido pela
decisão ora objurgada.
Pois bem.
Sabe-se que o detentor dos benefícios da assistência judiciária não está isento do
pagamento das verbas de sucumbência, na medida em que a cobrança desses valores
apenas fica suspensa pelo prazo máximo de cinco anos, findo o qual estará prescrita a
obrigação, conforme disposto no artigo 12 da Lei n.º 1.060/50 vigente à época da
concessão do benefício.
Ocorre que no presente caso houve a celebração de um acordo entre as partes, no
qual restou pactuado que a parte autora deveria arcar com as custas desse processo,
que são devidas nesse momento, considerando a extinção do feito.
Além disso, diversamente do que foi alegado pelos Agravantes, não há no acordo
celebrado entre as partes qualquer ressalva a respeito do referido benefício.
Assim, ainda que a parte autora fosse beneficiária da justiça gratuita, celebrou um
acordo posterior à concessão da benesse, pelo qual se obrigou ao pagamento das
custas processuais ao final do processo.
Não se trata de impugnação à assistência judiciária concedida aos Autores, mas sim
do cumprimento do acordo celebrado entre as partes e devidamente homologado
pelo juízo.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Nesse sentido:
“AGRAVO DE INSTRUMENTO - HOMOLOGAÇÃO DE ACORDO QUE AFASTA A
ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA CONCEDIDA À AUTORA - INSURGÊNCIA -
REFORMULAÇÃO DO PLEITO PARA DEFERIMENTO DO BENEFÍCIO - INEXISTÊNCIA
DE FUNDAMENTOS PARA DESCONSTITUIR A DECISÃO - RECORRENTE QUE AO
CELEBRAR ACORDO, CONSENTIU COM O ADIMPLEMENTO DOS ENCARGOS
JUDICIAIS, EM COMPORTAMENTO CONTRADITÓRIO AOS SEUS INTERESSES -
PRECEDENTE - RECURSO INFUNDADO - AGRAVO DESPROVIDO.” (TJPR - 17ª
C.Cível - AI - 1532510-9 - Curitiba - Rel.: Fabian Schweitzer - Unânime - - J. 08.03.2017)
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO.
CELEBRAÇÃO DE ACORDO. HOMOLOGAÇÃO. ESTIPULAÇÃO DE CLÁUSULA QUE
IMPUTA O PAGAMENTO DAS CUSTAS PROCESSUAIS REMANESCENTES PELA
PARTE AUTORA/BENEFICIÁRIA DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA.
REVOGAÇÃO DO BENEFÍCIO. CESSAÇÃO DA PRESUNÇÃO DA CONDIÇÃO DE
MISERABILIDADE. ISENÇÃO QUE NÃO PODE PREJUDICAR O DIREITO DE
TERCEIROS. EXERCÍCIO DO CONTROLE DE AVALIAÇÃO PELO MAGISTRADO
QUANTO À REAL NECESSIDADE DO BENEFÍCIO. ELEMENTOS DE CONVICÇÃO
QUE AFASTAM A PRESUNÇÃO RELATIVA DE NECESSIDADE DO BENEFÍCIO.
RECURSO NÃO PROVIDO.” (TJPR - 18ª C.Cível - AI - 1533481-7 - Curitiba - Rel.:
Espedito Reis do Amaral - Unânime - - J. 23.11.2016)
Desse modo, não merece provimento o presente recurso, sendo mantida incólume a
decisão agravada.
Diante do exposto, ACORDAM os integrantes da Décima Quinta Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar
provimento ao agravo de instrumento, nos termos da fundamentação.
Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Desembargador Luiz Carlos Gabardo, sem
voto, e dele participaram, com voto, o Excelentíssimo Desembargador Jucimar
Novochadlo e o Eminente Juiz Substituto em Segundo Grau Marco Antônio
Antoniassi.
Curitiba, 24 de maio de 2017.
Elizabeth M. F. Rocha, Juíza de Direito Substituta em Segundo Grau.
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Inteiro Teor
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Acrescentam que “não se pode dar validade à intimação dos Apelantes por meio de
edital, uma vez que, conforme demonstrado, os mesmos não se enquadram em
nenhuma das situações excepcionais disciplinadas pelo art. 231, do CPC, sob pena de
se caracterizar sua nulidade, conforme dispõe o art. 280 do NCPC” (m ov. 127.1 f.
07).
Por fim, aduzem que não houve preclusão da matéria, como decidido na sentença,
porque diz respeito ao mérito da demanda. Recebidos os recursos, a parte embargada
apresentou contrarrazões, apontando, preliminarmente, ofensa ao princípio da
dialeticidade (mov. 55.1 dos embargos à
arrematação e mov. 130.1 dos embargos de terceiro).
Na sequência, os autos foram remetidos a este Tribunal.
2. De início, não prospera a preliminar trazida nas contrarrazões de ambos os recursos,
de não conhecimento das apelações, por violação ao princípio da dialeticidade. Por
mais que as matérias deduzidas no âmbito recursal possam repetir o que já fora dito
em outras peças formuladas pelos Embargantes, houve ataque aos fundamentos da
sentença, o que é suficiente para a satisfação do requisito da regularidade formal
previsto no art. 1010 do CPC/2015.
Assim, passo à análise das Apelações.
Apelação 01 interposta pelo devedor nos autos de Embargos à Arrematação 3. Não
merece conhecimento a parte do recurso em que o Embargante/apelante alega a
nulidade da arrematação por ofensa ao contido no artigo 698 do CPC. Primeiro,
porque no decorrer deste acórdão restará demonstrado que o imóvel penhorado não
possui coproprietários. Segundo, porque o devedor, ora Apelante, não tem
legitimidade para defender eventual direito de terceiros.
Superado isso, o recurso comporta conhecimento, conforme análise a seguir.
3.1. Laudo de avaliação judicial Na apelação 01, o Embargante alega que o leilão
realizado é nulo, na medida em que o laudo de avaliação apresentado nos autos de
execução em apenso atribuiu ao bem preço vil.
Sem razão. Isso porque, como bem ressaltado pelo juízo a quo na sentença, nos autos
de execução em apenso há decisão transitada em julgado a respeito do valor atribuído
ao bem leiloado pelo laudo de avaliação judicial.
Da análise dos autos verifica-se que o ora Apelante Orandir Martins interpôs agravo
de instrumento da decisão que, nos autos de execução em apenso, homologou o
valor do bem apresentado no laudo pericial realizado, determinando o seu
praceamento (mov. 1.62 dos autos de execução).
Esse Agravo de Instrumento foi autuado neste Tribunal sob o nº 1277939-0 e contou
com a seguinte fundamentação:
“Como é cediço, o laudo elaborado pelo Avaliador Judicial não é infirmado pela
simples apresentação de outra avaliação por valor superior ao da avaliação judicial,
trazida pelo agravante. Desse modo, preenchendo os requisitos técnicos exigidos pelo
ordenamento jurídico, e fazendo referência às peculiaridades do bem, deve prevalecer
o laudo elaborado pelo expert judicial submetido ao contraditório.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Isso porque, a regra geral existente no Código de Processo Civil brasileiro prescreve a
não realização de nova avaliação, comportando apenas três hipóteses de exceção.
Estabelece o art. 683 do Código de Processo Civil:
`É admitida nova avaliação quando: (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
I - qualquer das partes arguir, fundamentadamente, a ocorrência de erro na avaliação
ou dolo do avaliador; II - se verificar, posteriormente à avaliação, que houve majoração
ou diminuição no valor do bem; ou III - houver fundada dúvida sobre o valor atribuído
ao bem (art. 668, parágrafo único, inciso V)’.
Pois bem, inexistindo a configuração de uma das hipóteses previstas no texto legal
não há justificativa para a realização de nova diligência.
Veja-se que o agravante não afirmou a existência de dolo, ou seja, da intenção de
prejudicar, limitando-se a insinuar deficiências no trabalho do auxiliar do juízo e
defasagem de tempo: “há uma série de questões que colocam em dúvida o valor
atribuído pelo Sr. Avaliador ao imóvel penhorado como v.g. ausência de descrição
pormenorizada da área avaliada e quais foram os critérios utilizados para atribuir o seu
valor; além da ausência de qualquer justificativa, quando intimado do despacho de
fl.143, de como os preços se mantiveram congelados decorridos 2 (dois) anos da
avaliação realizada na data de 04/10/2012 (fls. 70), e ainda, sem ter apresentado com
tecnicidade os parâmetros utilizados para se chegar ao valor que o mesmo entende
como correto para a área em questão” (fl. 8-TJ).
Contudo, a avaliação apresentada pelo agravante, realizada por um corretor de
imóveis (a pedido da pessoa interessada) fl. 176-TJ -, em que consta valor superior ao
do avaliador judicial, não se traduz em prova suficiente de que houve erro ou dolo no
laudo avaliatório do perito judicial.
É de se observar que, ao contrário do sustentado pelo agravante, o auto de avaliação
realizada em 14.04.2014 preenche os requisitos exigidos em lei (art. 681, do CPC e
item 3.15.4, do CN/CGJ: “3.15.4 O laudo de avaliação descreverá
pormenorizadamente o bem avaliado, enunciando as suas características e o estado
em que se encontra, bem como os critérios utilizados para a avaliação e as indicações
de pesquisas de mercado efetuadas”).
Da leitura do referido auto (fls. 178-TJ), extrai-se a descrição do bem a ser avaliado,
indicação de sua localização, e considerações gerais sobre sua topografia. Ainda, da
informação elaborada pelo Sr. Avaliador, ao contrário do alegado pelo agravante,
constam informações atualizadas (”Terreno situado em estrada secundária sem
asfalto”) e o apontamento das pesquisas de mercado efetuadas (”Pesquisa realizada
na Estrada do Cunha, Estrada Morangueira e no acervo desta escrivania”) tendo o
Avaliador considerado como valor de mercado o montante de R$ 350.000,00 o
alqueire, e R$ 700.000,00 a parte ideal de 2 alqueires -- tudo a afastar a tese de estar
equivocado o laudo elaborado.
Ademais, não prospera a alegação do agravante de que o Sr. Avaliador deixou de se
manifestar quando intimado do despacho de fl. 143. Verifica do traslado que o douto
Juízo, atento às divergências relativas à avaliação do imóvel determinou a abertura
de vista dos autos ao avaliador judicial para que informasse qual é o valor atual de
mercado do alqueire paulista na região gleba Morangueiro (fl.
586
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
143, 177-TJ).
Por fim, não prospera a alegação de que há dúvida sobre o valor atribuído ao bem em
decorrência do auto de avaliação ter o mesmo do valor do laudo anterior, elaborado
há mais de dois anos.
Observa-se que o douto Magistrado, como dito, determinou a intimação do Avaliador
para informar o valor atual de mercado do alqueire paulista na região do imóvel (gleba
Ribeirão Morangueiro), o que foi atendido pelo Sr. Avaliador à fl.178, e não
impugnado pelo executado/agravante (fl. 182-TJ).
Por derradeiro, não demonstrando o agravante, como lhe competia, qualquer
daquelas hipóteses para justificar sua pretensão, mas ao contrário, insurgindo-se
contra a avaliação alegando que há disparidade de valores entre a avaliação de
imobiliária que juntou aos autos e aquele elaborado pelo avaliador do Juízo, não há
como se acatar o pedido de nova avaliação fulcrado no artigo 683, inciso I, II ou III do
CPC.
Assim, não havendo prova concreta de que a avaliação judicial está incorreta, é
inadmissível na hipótese dos autos o acolhimento do pedido de reavaliação feito pelo
agravante.
Por fim, o segundo pedido do agravante de cancelamento do praceamento tem
por fundamento tão-somente o equívoco na avaliação do bem, de modo que o não
acolhimento do primeiro pedido (de nova avaliação) acarreta do indeferimento
também do segundo”.
Desse modo, como já houve decisão definitiva a respeito do valor do bem praceado,
apontado no laudo de avaliação homologado pelo juízo a quo, não prospera o recurso
neste ponto, ante a preclusão configurada.
3.2. Delimitação da área penhorada Argumenta o Apelante que “embora os 2
alqueires penhorados de um total de 8 alqueires, sejam do Apelante, este com os
demais coproprietários administram a área total em conjunto, não havendo uma
delimitação física do espaço ao qual caberia a cada um, ou seja, são todos possuidores
e proprietários do todo, dividindo frutos e prejuízos proporcionalmente, tornando-se o
imóvel, por vontade das partes, em razão de administrarem conjuntamente o bem,
indivisível, conforme dispõe o art. 88, caput, parte final do Código Civil” (mov. 49.1 f.
13).
Primeiramente, da análise da matrícula nº 56.832 (mov. 23.3, 23.4 e 23.5) é possível
perceber que com o falecimento da esposa do Embargante ocorreu a divisão dos 8
alqueires paulistas situados na Gleba Ribeirão Morangueiro, sendo atribuída ao
Embargante a propriedade de 2 desses alqueires.
Ora, em que pese não existir delimitação física da parte do terreno pertencente ao
Apelante, fato é que a parte do imóvel arrematada deverá respeitar a avaliação
ocorrida nos autos. Assim, caso alguma localidade desse imóvel possua valor superior
ao da avaliação, como sustenta o Apelante, não deverá integrar a parte arrematada.
Ademais, o Embargante não comprovou sua alegação de que todos os proprietários
da outra parte trabalham em conjunto na totalidade do terreno, considerando que sua
parte ideal não está separada do restante do terreno; daí a constatação de que se
trata de bem divisível.
587
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Nesse passo, oportuno destacar que não bastam simples alegações a respeito de
eventual indivisibilidade do terreno em questão, sendo necessária a comprovação de
que a finalidade atribuída ao bem o torna indivisível.
Desse modo, não prospera a alegação de nulidade da arrematação por ausência de
delimitação da área penhorada e indivisibilidade do terreno no qual está incluída essa
área.
Por conseguinte, impõe-se a manutenção da sentença que julgou improcedentes os
embargos à arrematação, subsistindo a condenação do Embargante ao pagamento
das verbas sucumbenciais.
Apelação 02 interposta pelos coproprietários nos autos de Embargos de terceiro 4.
Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço do presente recurso.
Alegam os Embargantes que “houve flagrante violação ao interstício mínimo de 10
(dez) dias, conforme dispõe o art. 698 do CPC/73, atual art. 889 do NCPC, para a
intimação dos coproprietários, dentre eles os ora Apelantes, acerca das datas
designadas para a hasta pública de seu imóvel” (mov. 127.1 f. 11).
Pois bem.
Primeiramente deve-se esclarecer que a arrematação do bem em discussão ocorreu
ainda na vigência do Código de Processo Civil de 1973, motivo pelo qual não há que
se falar em incidência do CPC/2015 neste caso.
Dito isso, estabelece o artigo 698 do CPC/73 que “Não se efetuará a adjudicação ou
alienação de bem do executado sem que da execução seja cientificado, por qualquer
modo idôneo e com pelo menos 10 (dez) dias de antecedência, o senhorio direto, o
credor com garantia real ou com penhora anteriormente averbada, que não seja de
qualquer modo parte na execução”.
Como visto, embora os Embargantes sustentem que o bem arrematado pertence a
um condomínio familiar, não houve a comprovação da sua indivisibilidade.
Além disso, restou demonstrado que os dois alqueires arrematados são de única e
exclusiva propriedade do devedor.
Assim, a adjudicação dessa parte ideal do imóvel causaria injustificado prejuízo aos
Embargantes apenas se estes fossem impedidos de exercer seu direito de preferência.
Ocorre que da análise dos autos é possível perceber que os ora Apelantes foram
devidamente intimados da segunda hasta pública, momento em que poderiam
inclusive arrematar o bem por valor inferior ao da avaliação. Contudo, eventual
interesse na arrematação do bem sequer foi mencionado no decorrer da demanda,
limitando-se os Embargantes a sustentar que a arrematação é nula porque não foram
intimados da primeira hasta.
Desse modo, como não restou comprovado o prejuízo sofrido pelos Embargantes
com a arrematação do bem de propriedade de terceiro, necessária a manutenção da
sentença que negou provimento aos Embargos de Terceiro.
5. Por fim, tendo em vista a manutenção das sentenças proferidas na vigência do
CPC/2015, impõe-se majorar a verba honorária em favor do Apelado José Elalio Zago
para 20% sobre o valor atualizado da causa, em ambos os processos, em
conformidade com o disposto no art. 85, §11º do CPC/15.
588
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO
Unânime - J. 19.04.2017)
Inteiro Teor
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n.º 1609714- 8, da Vara
Cível e Anexos da Comarca de Laranjeiras do Sul, em que figuram, como Apelante,
Dilmar de Oliveira e, como Apelado, Banco Bradesco S/A.
1. Trata-se de recurso de apelação cível interposta por Dilmar de Oliveira, da sentença
que, nos autos de ação cautelar de exibição de documentos movida em face do Banco
Bradesco S/A, extinguiu o feito sem resolução de mérito, reconhecendo a carência de
ação da parte autora pela falta de interesse de agir. Ainda, condenou-a ao pagamento
de custas e honorários advocatícios fixados em R$ 1.000,00 (mil reais).
589
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
J. 19.04.2017)
Inteiro Teor
592
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
594
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Infere-se que a norma, com a redação dada pela Lei 11.382/06, sujeita a
impenhorabilidade à verificação de dois requisitos apenas: a - tratar-se de pequena
propriedade rural; e b - trabalhada pela família.
Como se vê, nos dois dispositivos legais mencionados, há a necessidade de que a
pequena propriedade rural seja trabalhada pela família, o que não restou comprovado
no caso em apreço.
Os Agravantes não trouxeram aos autos qualquer documento hábil a comprovar que
o sustento de sua família provém daquele imóvel, já que as declarações de f. 66/67-TJ
não são suficientes para tanto. Tampouco há comprovação da existência de
construção, plantações ou benfeitorias sobre o imóvel penhorado, nem prova da
compra de insumos e outros produtos para o cultivo da propriedade, não restando
demonstrado, portanto, que retiram do bem o seu sustento e de sua família.
Destarte, carece de conjunto probatório a tese arguida pelos Agravantes de
realização de atividade em regime de economia familiar, afastando- se desta o
conceito de “propriedade familiar”, estabelecido pelo artigo 4º, inciso II, da Lei de n.º
4.504/64.
Assim, como o imóvel não cumpre com os requisitos para ser considerado pequena
propriedade rural impenhorável de acordo com o disposto na Carta Magna, pela qual
o imóvel deve absorver “toda a força de trabalho”, e garantir a sua subsistência, não
assiste razão aos executados/agravantes ao invocar a sua proteção constitucional.
Conclui-se, portanto, que a alegada impenhorabilidade do bem de família não é
aplicável ao caso, porquanto o imóvel foi dado em garantia de hipoteca para contrato
firmado em favor da entidade familiar, enquadrando-se nos termos do inciso V do art.
3º da Lei. 8.009/90. Ademais, o imóvel rural não pode ser considerado pequena
propriedade rural essencial ao sustento da família, razão pela qual a
impenhorabilidade advinda da Constituição Federal não pode ser invocada.
Vale ressaltar que o ônus da prova da impenhorabilidade do imóvel competia aos
Executados/Agravantes, nos termos do art. 373, II do CPC/15, do qual não se
desincumbiram.
Portanto, considerando a inexistência de comprovação de que o imóvel, objeto da
constrição, preenche os requisitos legais estabelecidos no art. 5º, XXVI da CF e art.
649, VIII, do CPC/73, não há que se falar em impenhorabilidade do imóvel rural objeto
da controvérsia.
A propósito, a jurisprudência:
“Embargos do devedor. Contrato de confissão de dívida assinado por duas
testemunhas. Alegação de excesso de execução. Ausência de juntada de memória de
cálculo do valor tido como correto. Desatenção ao art. 739- A, § 5º, CPC. Pequena
propriedade rural oferecida em garantia hipotecária. Impenhorabilidade. Constrição
mantida.1.
Conforme disposto no parágrafo quinto do artigo 739-A, do CPC, com redação dada
pela Lei 11.382, de 06.12.2006, quando o excesso de execução for fundamento dos
embargos, o embargante deverá declarar na petição inicial o valor que entende
correto, apresentando memória do cálculo, sob pena de rejeição liminar dos embargos
ou de não conhecimento desse fundamento.2. Para o reconhecimento da
595
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
impenhorabilidade de imóvel rural com fundamento nos artigos 649, VIII, do CPC, e
5º, XXVI, da CF, incumbe ao executado a prova de que a propriedade rural penhorada
era trabalhada pela família e que a dívida executada tem origem na atividade
produtiva, sob pena da proteção não poder ser deferida.Apelação provida.”(TJPR -
15ª C.Cível - AC - 1190171-4 - Cambará - Rel.: Hamilton Mussi Correa - Unânime - - J.
30.04.2014)
“PROCESSUAL CIVIL. RECURSO. APELAÇÃO. EXECUÇÃO DE TÍTULO
EXTRAJUDICIAL.EMBARGOS DO DEVEDOR. CÉDULA DE CRÉDITO RURAL
PIGNORATÍCIA/HIPOTECÁRIA. PEDIDO DE IMPENHORABILIDADE. AUSÊNCIA DA
PROVA DE QUE SE TRATA DE BEM DE FAMÍLIA OU DE QUE CONSTITUI PEQUENA
PROPRIEDADE RURAL TRABALHADA PELO DEVEDOR E SUA FAMÍLIA. EXEGESE DO
ART. 5º, XXVI, DA CF E ART. 649, VIII, DO CPC. ÔNUS DA PROVA DOS
EXECUTADOS. ART. 333, II, DO CPC. IMÓVEL DADO EM GARANTIA HIPOTECÁRIA.
ART. 3º, V DA LEI Nº 8.009/90. CONSTRIÇÃO MANTIDA. PRINCÍPIO DA
SUCUMBÊNCIA. DESPROVIMENTO DO RECURSO. MANUTENÇÃO DO ÔNUS. 1.
Impenhorabilidade. Pequena propriedade rural. Ônus da prova. O ônus da prova da
impenhorabilidade do imóvel competia aos executados, nos termos do art. 333, II do
CPC, na medida em que aquele que invoca a questão tem o ônus de comprovar sua
alegação. Diante da inexistência de comprovação de que o imóvel, objeto da
constrição preenche os requisitos legais de pequena propriedade rural (art. 649, VIII
do CPC), para que seja declarada a impenhorabilidade do bem, impõe-se a
manutenção da decisão recorrida. 2. Princípio da sucumbência. A sucumbência deve
ser sopesada tanto pelo aspecto quantitativo quanto pelo jurídico, em que cada parte
decai de suas pretensões e resistências, respectivamente impostas. Recurso de
apelação desprovido” (TJPR - 15ª C.Cível - AC - 979181-5 - Nova Esperança - Rel.:
Jurandyr Souza Junior - Unânime - - J. 27.02.2013)
4. De conseguinte, conclui-se pelo desprovimento do recurso, e consequente
revogação da anterior concessão de efeito suspensivo ao feito originário.
Diante do exposto, ACORDAM os integrantes da Décima Quinta Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar
provimento ao agravo de instrumento, nos termos da fundamentação.
Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Desembargador Luiz Carlos Gabardo, sem
voto, e dele participaram, com voto, os Excelentíssimos Desembargadores Hamilton
Mussi Corrêa e Hayton Lee Swain Filho.
Curitiba, 19 de abril de 2017.
Elizabeth M. F. Rocha, Juíza de Direito Substituta em Segundo Grau.
596
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Apelação Cível nº 1595040-2 da 22ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região
J. 12.04.2017)
Inteiro Teor
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1595040-2, da 22ª Vara
Cível do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba, em que
figuram como Apelantes e reciprocamente Apelados, Analice Rodrigues da Silva
(Apelação 01) e Banco Itaú Unibanco S/A (Apelação 02).
1. Trata-se de apelações cíveis interpostas por ambas as partes, da sentença que
julgou procedente a ação de indenização por dano moral e material movida por
Analice Rodrigues da Silva em face de Banco Itaú Unibanco S/A, para: “(a) declarar a
inexistência dos débitos alusivos ao adiantamento para parcelamento de seq.
1.9 e ao Contrato de Empréstimo Consignado nº 0061763044720140408; (b)
condenar o réu BANCO ITAUCARD S/A a pagar à autora indenização por dano
material, correspondente à repetição em dobro de todos os valores descontados da
sua conta corrente e de seu benefício previdenciário, acrescidos de correção
monetária pelo INPC/IBGE e de juros moratórios de 1% ao mês, a contar de cada
desconto indevido. (c) condenar o réu, ainda, ao pagamento à autora, a título de dano
moral, de indenização no valor de R$ 12.000,00 (doze mil reais), acrescido de correção
monetária pelo INPC/IBGE a partir da data da presente sentença e de juros moratórios
de 1% ao mês a contar da data dos respectivos ilícitos, ou seja, de cada desconto”
597
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
2.000 (dois mil reais) e que a gerente também informou que foi feito um empréstimo
de 60 vezes de R$ 23,42 (vinte e três reais e quarenta e dois centavos)” (mov.
1.6 f. 02).
Assim, a Autora requereu a condenação do Banco ao pagamento de indenização por
danos morais e materiais, estes últimos no valor equivalente ao dobro dos saques e do
empréstimo realizados em sua conta por terceira pessoa.
Em sua contestação, a instituição financeira enunciou que as operações questionadas
foram realizadas em caixa eletrônico mediante o uso de cartão magnético com chip e
senha pessoal, sendo impossível lhe ser imputada qualquer responsabilidade pelo
ocorrido, pois é dever da parte autora cercar-se das cautelas necessárias para que
terceiros não utilizassem indevidamente o cartão e a respectiva senha pessoal.
Sobreveio então a sentença que julgou procedentes os pedidos iniciais, sob o
fundamento de que “Apesar da adoção, pela autora, das medidas necessárias e
possíveis para impedir a utilização do seu cartão de crédito extraviado, inclusive
promovendo o bloqueio do cartão, o réu a compeliu a parcelar o saldo devedor
decorrente dos saques efetuados, emitindo o adiantamento para parcelamento de
seq.
1.9, cujas parcelas são descontadas de sua conta corrente (seq. 38.2), bem como
permanece descontando as parcelas do empréstimo não contraído pela autora (seq.
38.3)” (mov. 88.1 - f.05).
Pois bem.
Não obstante os argumentos reiterados pela Autora em suas contrarrazões, entende-
se que não ocorreu falha do Banco na prestação de serviço, motivo pelo qual não há
que se falar em dano moral e material indenizável.
Explica-se.
Em sua petição inicial, a Autora asseverou que mesmo tendo postulado junto ao Réu
o bloqueio de seu cartão no dia em que foi extraviado (08/04/2014), “no dia
16/04/2014 usaram seu cartão do Banco Itaucard para fazer quatro saques totalizando
o valor de R$ 2.000 (dois mil reais)”, sendo-lhe informado nesta data, pela gerente de
sua conta, sobre a realização de “um empréstimo de 60 vezes de R$ 23,42 (vinte e três
reais e quarenta e dois centavos), sem sua assinatura” (mov. 1.6 f. 06).
Ora, a Autora relatou em seu depoimento que tão logo percebeu o extravio de sua
carteira, dirigiu-se à uma delegacia de polícia para lavrar um Boletim de Ocorrência,
sendo que só depois se preocupou em bloquear seu cartão. Para isso, dirigiu-se até a
sua agência, na qual chegou várias horas depois do ocorrido, momento em que foi
informada a respeito da realização dos saques e do empréstimo.
Tal depoimento difere da narrativa fática constante na petição inicial, pois segundo o
que consta nessa última, a Autora teria tido ciência dos saques e do empréstimo
apenas em 16/04/2014, quando foi lavrado um novo Boletim de Ocorrência.
Já em seu depoimento, a Autora afirmou que teve ciência dessas operações no
momento em que solicitou o bloqueio do seu cartão à gerente de sua conta bancária.
Somado a isso, os documentos juntados pelo Banco (mov. 31.3 e 31.5) também
demonstram que o bloqueio do cartão foi solicitado depois de realizadas as operações
em questão.
599
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
600
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
J. 05.04.2017)
Inteiro Teor
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1612153-0, da 13ª Vara
Cível do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba, em que
figuram como Apelantes, Apoio Consultoria Assessoria Ltda. e Outros e, como
Apelada, Lawrence Investimentos Imobiliários Ltda.
1. Trata-se de apelação cível interposta por Apoio Consultoria Assessoria Ltda. e
Outros, da sentença que julgou parcialmente procedentes os embargos opostos à
execução movida por Lawrence Investimentos Imobiliários Ltda., para “reduzir os juros
da cláusula 3.2 do contrato de mútuo a 1% (um por cento) ao mês, devendo a parte
exequente apresentar novos cálculos nos autos de execução, permanecendo os
demais termos do contrato” (mov. 213.1 f. 03). Diante da sucumbência recíproca, as
partes foram condenadas ao rateio das custas processuais e ao pagamento de
honorários advocatícios em favor da parte adversa fixados em 10% sobre o valor da
causa, autorizada a compensação.
602
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
604
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
ÁGUA – ADMISSÃO
607
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
ADMISSIBILIDADE POSITIVO.
(TJPR - Seção Cível Ordinária - IRDR - 1676846-4 - Paranacity - Rel.: Luiz Cezar Nicolau
- Unânime - J. 23.06.2017)
Inteiro Teor
1) RELATÓRIO:
Trata-se de Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas suscitado por este
relator, com fulcro nos arts. 976 e seguintes do Código de Processo Civil/2015, nos
autos de Apelação 1.636.200-6, em que é apelante Francisco da Conceição e apelada
Companhia de Saneamento do Paraná.
O incidente foi suscitado com base na efetiva repetição de questão unicamente de
direito referente a ocorrência de dano moral decorrente da falha na prestação de
serviço público de fornecimento de água no Município de Inajá, pertencente a
Comarca de Paranacity.
O pedido de instauração foi apreciado pela 1ª Vice-Presidência, nos termos do art.
261, cabeça, do Regimento Interno desta Corte, que assim deliberou: “Por meio do
procedimento supra referido, o Desembargador Luiz Cezar Nicolau, integrante da 8ª
Câmara Cível, encaminhou a solicitação de instauração de Incidente de Resolução de
Demandas Repetitivas tendo em vista a Apelação Cível sob o nº 1.636.200-6, oriunda
do Juízo Único da Comarca de Paranacity, em que são partes como Apelante
Francisco da Conceição e como Apelada a empresa Companhia de Saneamento do
Paraná - SANEPAR. (...).
O Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas uma vez recebido no âmbito das
atribuições da Presidência deste Tribunal e, submetido à apreciação inicial pela 1ª
Vice-Presidência na forma do art. 15, § 3º, inc. VIII, do Regimento Interno, ante a
delegação conferida pelo Decreto Judiciário 024- DM, tem sua verificação restrita as
circunstâncias do art. 261, § 2º, do RITJPR.
Quanto à existência de processo de competência originária em tramitação no 2º grau
não há nenhuma dúvida a respeito, eis que as certidões acostadas informam a
propositura de centenas de Apelações Cíveis tramitando em diversas Câmaras desta
Corte de Justiça, referentes a mesma questão de direito.
Conforme bem observado pelo subscritor do pedido, além da multiplicidade de feitos
com repetição de demandas absolutamente idênticas, o que fundamenta a existência
dos pressupostos previstos no artigo 976 do CPC/2015, não se pode ignorar que há
um número expressivo de divergências entre as Câmaras de Responsabilidade Civil e
608
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
NÃO PROVIDO.
22.06.2017)
Inteiro Teor
1) RELATÓRIO:
Trata-se de recurso de apelação interposto pela ré contra sentença em cujo
dispositivo está assim consignado: “Diante do exposto, julgo parcialmente
procedentes os pedidos formulados nesta ação de indenização por danos materiais
proposta por Sebastião Ferreira Santiago em face de Cleonice Goudart, para o fim de
condenar a requerida ao pagamento de indenização por dano material no valor de R$
9.143,00 (nove mil, cento e quarenta e três reais), corrigido monetariamente pela
média do INPC/IGP-DI e acrescido de juros de mora de 1% (um por cento) ao mês
desde a data do evento danoso até o efetivo pagamento.
Como o autor sucumbiu em parte mínima do pedido, na forma do art. 86, parágrafo
único, condeno a requerida ao pagamento das custas, despesas processuais e
honorários advocatícios ao procurador do requerente. Fixo os honorários em 15%
(quinze por cento) sobre o valor da condenação, considerando o grau de zelo do
profissional, o tempo de trâmite do processo, com a necessidade de produção de
prova pericial e realização de audiência de instrução, bem como pela complexidade da
causa (CPC, art. 85, § 2º).
612
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Considerando que a requerida é beneficiária da justiça gratuita (mov. 39.1, item II),
suas obrigações decorrentes da sucumbência ficarão sob condição suspensiva e
somente poderão ser executadas se, nos 5 (cinco) anos subsequentes ao trânsito em
julgado, o credor demonstrar que deixou de inexistir a situação de insuficiência,
extinguindo-se, passado esse prazo, as obrigações do beneficiário (CPC, art. 98, § 5º).
Por fim, julgo extinto o processo, com resolução de mérito, com fundamento no
artigo 487, I, do Código de Processo Civil” (sic, mov. 100.1).
Sustenta, em síntese, que: (a) “os valores apresentados a título de orçamentos para
conserto do veículo exorbitam e bastante da realidade a não ser que seja considerado
um veículo em péssimo estado de conservação capaz de gerar um orçamento de R$
9.143,00 (nove mil cento e quarenta e três reais)” (sic); (b) não é justo que seja
condenada ao pagamento equivalente a um veículo novo, eis que não houve perda
total do veículo avariado; (c) a soma do valor da venda do veículo avariado com o valor
indenizatório é superior ao valor do veículo previsto na Tabela Fipe, havendo, assim,
enriquecimento sem causa do autor, devendo o valor excessivo ser excluído da
condenação. Pede o provimento do recurso para que haja “redução proporcional do
menor orçamento ou haja minoração para patamar que melhor atenda à hipótese
descrita no caso concreto” (sic).
O apelo foi contrariado (mov. 110.1), com o encaminhamento dos autos a este
Tribunal.
2) FUNDAMENTAÇÃO E VOTO:
2.1) Conheço do recurso porque adequado, tempestivo e isento de preparo ante a
concessão da gratuidade.
2.2) Cuida-se de ação de indenização por dano material ajuizada em razão do
acidente de trânsito ocorrido as 12h20m do dia 05/10/2014, na Rua dos Pioneiros, em
Curitiba, em que o veículo conduzido pela ré
Cleonice colidiu contra a traseira do veículo pertencente ao autor Sebastião,
provocando engavetamento.
O sentenciante consignou que “a indenização referente ao valor para conserto do
veículo deve ser concedida nos termos em que postulada.
O pedido está fundamentado em três orçamentos (mov. 1.5), sendo que o autor
pretende receber conforme o de menor valor, no importe de R$ 9.143,00, o que
corrobora com a afirmação deste juízo, por ocasião do saneamento do processo, que a
apuração do prejuízo deve levar em conta três orçamentos de empresas idôneas,
como feito pelo autor (mov. 39.1). O valor pretendido pelo autor é inferior ao valor de
mercado do veículo pela cotação da Tabela FIPE à época do acidente (mov. 30.1), o
que denota a ausência de pretensão de enriquecimento ilícito. Por outro lado, a venda
do veículo, no mesmo mês do acidente, pelo valor de R$ 5.500,00, conforme descrito
na declaração de imposto de renda do autor (mov. 45.2), não faz com que este
montante seja abatido do valor da indenização porque, de uma forma ou outra, o
autor efetivamente suportou perdas. A venda do veículo aconteceu no mesmo mês do
acidente (outubro de 2014) e por preço muito inferior à cotação da Tabela FIPE (R$
13.355,00), o que dá a entender que o veículo fora alienado no estado em que estava
e que o autor, por isso, suportou prejuízo de R$ 7.855,00 pela diferença com a média
613
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de mercado. Ora, não tivesse avariado o veículo, certamente a venda seria pelo valor
médio de mercado ou em quantia próxima a isso, e não por montante correspondente
a 41% do valor de mercado. Note-se que a diferença resultante da perda do autor é
bem próxima do valor pretendido a título de indenização, o que demonstra a venda
por preço reduzido justamente porque o veículo estava batido” (sic).
2.3) O pedido da apelante para que seja reduzido o valor da indenização por dano
material não merece ser acolhido.
O autor efetivamente demonstrou que vendeu o veículo avariado naquele mesmo
estado por R$ 5.500,00 (mov. 42.5), ao passo que o preço do bem em condições
normais de uso calculado de acordo com a Tabela Fipe equivaleria a R$ 13.555,00
naquela época (mov. 30.1). Sob essa realidade, a ré alega que o valor da condenação
(R$ 9.143,00) é superior ao efetivo prejuízo, que deveria ser calculado de acordo com
a diferença entre o valor de mercado e o da venda.
Ocorre que, como reconheceu a própria apelante, a Tabela Fipe constitui mera
estimativa abstrata do valor do veículo, de forma que o método pleiteado por ela para
cálculo do prejuízo sofrido pelo autor de acordo com aquele instrumento de referência
não se revela inarredável no caso concreto, eis que há outra fonte (site iCarros) que
avaliou o modelo em R$ 14.524,63 (mov. 30.1).
A propósito, ao contrário do que alegou a apelante, as fotos do veículo sinistrado
logo após o evento danoso possibilitam reconhecer que não se tratava de bem em
péssimo estado de conservação, razão pela qual não há outros fatores hábeis a
relativizar a conclusão retratada na decisão recorrida.
Assim, como adequadamente ressaltou a sentenciante, o valor pretendido pelo autor
a título de indenização por dano material, que se limitou ao montante calculado no
orçamento menos oneroso, revela-se adequado a ressarcir o prejuízo sofrido, sem que
importe em enriquecimento indevido da vítima, eis que proporcional ao que deixou de
aferir com a venda do veículo em condições normais.
2.4) Por imposição do § 11 do art. 85 do CPC há necessidade de elevar os honorários
de sucumbência, que foram arbitrados em 15% (quinze por cento) da condenação. O
fator objetivo especificado pelo legislador, para tanto, foi “o trabalho adicional
realizado em grau de recurso” (sic), que não exigiu dos procuradores do vencedor da
demanda excessivo esforço intelectivo na elaboração das contrarrazões, ante a relativa
simplicidade da matéria, razão pela qual se eleva a verba honorária de sucumbência
para dezessete por cento da condenação.
2.5) Diante do exposto, voto no sentido de negar provimento a apelação da ré e
manter a sentença, com majoração da verba honorária para dezessete por cento sobre
o valor da condenação.
3) DISPOSITIVO:
ACORDAM os Magistrados integrantes da 8ª Câmara Cível, à unanimidade de votos,
em não prover o recurso e ratificar o pronunciamento atacado, com elevação dos
honorários de sucumbência para dezessete por cento.
Participaram do julgamento o Juiz de Direito Substituto em 2º Grau Ademir Ribeiro
Richter e o Desembargador Gilberto Ferreira.
Curitiba 22 junho 2017.
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22.06.2017)
Inteiro Teor
1) RELATÓRIO:
Trata-se de recurso de apelação interposto pelo réu contra sentença em cujo
dispositivo está assim consignado: “Diante do exposto, em relação à segunda
requerida, julgo procedente o pedido inicial, condenando solidariamente os
requeridos ao pagamento de R$ 1.055,40 (um mil, cinquenta e cinco reais e quarenta
centavos), referente à franquia paga pelo requerente e a conversão do vídeo de
segurança, acrescidos de juros moratórios de 1% (um por cento) ao mês e correção
monetária pelo INPC, ambos contados desde a citação.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
O ordenamento jurídico adota o sistema aberto não tarifado para sua fixação, de
modo que fica ao prudente critério do juiz a estipulação, em conformidade com as
circunstâncias e particularidades do caso concreto.
Deve servir a indenização como um lenitivo, um consolo e conforto ao lesado pelo
dano causado e, ao agente, de advertência para que não volte a proceder de tal
maneira, não podendo, portanto, ser ínfima a ponto de nada representar, nem
exagerada a ponto de se constituir fator de enriquecimento sem causa.
E a magistrada adequadamente consignou que “o critério da fixação da indenização
deve ser fixada levando-se em conta tanto a qualidade do atingido, como a
capacidade financeira do ofensor, de modo a inibi-lo a futuras reincidências,
ensejando-lhe expressivo, mas suportável, gravame patrimonial. O objetivo da
indenização é tentar, de modo aproximado, minimizar ao prejudicado o agravo
sofrido, porém jamais servir de meio para enriquecimento fácil de quem a requer.
Deve ser considerado, no pedido do valor da indenização, a extensão dos danos
efetivos e potenciais, mas também, por uma questão de bom senso, a capacidade
econômica do requerido em pagar a indenização. De pouco ou nada adianta avaliar a
própria imagem em cifras astronômicas, quando o autor do dano é economicamente
frágil e incapaz de suprir a demanda a contento. A condenação serve também, de
modo oblíquo, como lição a terceiros sobre o risco de praticar atos danosos ao
patrimônio ou imagem de terceiros, e como atestado de idoneidade da imagem
prejudicada pelo autor do ilícito. Tendo em vista, portanto, a extensão do dano
causado, a capacidade econômica da requerida e o caráter de repreensão pela
conduta praticada, arbitro a indenização a título de danos morais em R$ 3.000,00 (três
mil reais)” (sic).
A valoração pecuniária deve subsistir. E isso porque não é possível considerar que a
extensão do dano foi menor que aquela já estimada pela sentenciante a ponto de
justificar a redução do montante arbitrado, considerando ainda a impossibilidade de
se arbitrar quantia ínfima sob pena de tornar inócua a indenização de acordo com os
propósitos aos quais ela se destina.
Assim, considerando (a) o grau de reprovabilidade da conduta do réu; (b) a extensão
dos danos sofridos pelo autor; (c) o potencial econômico do réu; (d) que o valor
arbitrado pela sentenciante a título de dano moral se coaduna com as circunstâncias
evidenciadas nos autos; (e) que o valor indenizatório deve ser o mais adequado
possível a trazer um lenitivo ao lesado e consistir em efetiva punição pedagógica ao
causador do dano, sem que seja ínfima ou exagerada, o caso em análise não comporta
redução do montante arbitrado.
2.5) Quanto aos juros de mora e a correção monetária.
A responsabilidade é extracontratual. Incidem aqueles, portanto, desde o evento
danoso, como determinado na sentença, e que está em conformidade com a
orientação do Superior Tribunal de Justiça (Súmula 54).
A atualização monetária sobre o valor do dano moral deve incidir desde a fixação
(Súmula 362 da Corte Superior), e não da citação como consignado na decisão
recorrida.
2.6) Quanto aos honorários de sucumbência.
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Foram arbitrados em dois mil reais. Pugna o réu sejam estabelecidos entre dez a vinte
por cento da condenação. A sentença é condenatória. Aplica-se, portanto, a hipótese
prevista na primeira parte do § 2º do art. 85 do Código de Processo Civil, ou seja, “os
honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre
o valor da condenação”.
O dano material foi especificado em R$ 1.055,40 e o dano moral em R$ 3.000,00,
totalizando R$ 4.055,40 (sem considerar atualização monetária e juros de mora em
ambas as verbas).
A quantia de R$ 2.000,00 corresponde a quase a praticamente a metade do valor da
condenação imposta (que é, também, o proveito econômico postulado e obtido pelo
autor), o que se mostra, efetivamente, excessivo.
Portanto, considerando, a relativa simplicidade da matéria debatida, o zeloso trabalho
desenvolvido pelos patronos do autor, a realização de audiência instrutória, o tempo
decorrido desde o ajuizamento da ação até a sentença (cinco anos), a verba honorária
deve ser fixada em 20% (vinte por cento) sobre o valor atualizado da condenação.
2.7) Diante do exposto, voto no sentido de dar parcial provimento a apelação do réu
para (a) estabelecer que a correção monetária deve ser calculada a partir da data da
fixação do valor da
indenização por dano moral, (b) arbitrar os honorários de sucumbência em 20% (vinte
por cento) sobre o valor atualizado da condenação imposta e (c) manter, quanto aos
demais termos, a sentença.
3) DISPOSITIVO:
ACORDAM os Magistrados integrantes da 8ª Câmara Cível, à unanimidade de votos,
em prover parcialmente o recurso e determinar a incidência da correção monetária
desde a data do arbitramento da indenização por dano moral, fixar os honorários
decorrentes da sucumbência em vinte por cento do valor total atualizado da
condenação, e ratificar, no mais, o pronunciamento atacado.
Participaram do julgamento o Juiz de Direito Substituto em 2º Grau Ademir Ribeiro
Richter e o Desembargador Gilberto Ferreira.
Curitiba 22 junho 2017.
(assinado digitalmente) Des. Luiz Cezar Nicolau, relator
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22.06.2017)
Inteiro Teor
1) RELATÓRIO:
Trata-se de recurso de agravo de instrumento interposto pela ré contra decisão
proferida nos autos 17938-72.2009.8.16.0001, de ação de responsabilidade
obrigacional securitária, ajuizada por Daniel Souza Belo e outros (33), que, com
exceção ao pleito da autora Ludmila Slavik, declinou da competência para processar e
julgar a demanda para a Justiça Federal (fl. 452, 654/655, e 686).
Sustentam, em síntese, a falta de interesse da Caixa Econômica Federal no feito e,
consequentemente, a competência do Juízo Estadual para com todos, ante à
aplicação do Recurso Especial 1.091.393/SC, representativo da controvérsia (fl. 04/71).
O pedido de efeito suspensivo foi indeferido (fl. 1.256-vº).
Intimadas, tanto a agravada quanto a interessada apresentaram resposta ao recurso (fl.
1.263/1.287, 1.296/1.322).
2) FUNDAMENTAÇÃO E VOTO:
Por ocasião do pronunciamento inaugural, em 25/07/2016 (fl.
1247-vº), não conheci do agravo de instrumento por não estar a deliberação do juízo
de origem sujeita a revisão deste recurso.
Exerci, na sequência, juízo de retratação em razão do agravo interno interposto (fl.
1256-vº), porque havia na Câmara posicionamento minoritário em sentido oposto,
justamente em razão da alteração legislativa processual recente.
Ocorre, no entanto, que após intensos debates e por ocasião do julgamento do
Agravo Interno em Agravo de Instrumento 1.571.284-2/01, de relatoria do Des. Luis
Sérgio Swiech, julgado em 09/02/2017, formou-se no colegiado entendimento
uniforme no sentido de não é cabível agravo de instrumento quando há declinação de
competência, em ação de responsabilidade securitária, em razão do interesse da Caixa
Econômica Federal.
Efetivamente o recurso de agravo de instrumento ficou restrito às hipóteses
contempladas no art. 1.015, cabeça, e nas situações especificadas no seu parágrafo
único. Trata-se de numerus clausus. A matéria objeto da deliberação pelo magistrado
não faz parte desse rol.
O pronunciamento recorrido não versou sobre a admissão ou inadmissão da
intervenção de terceiros, tampouco excluiu litisconsorte ou rejeitou pedido de
limitação do litisconsórcio, mas, tão somente, declinou parcialmente da competência
para a Justiça Federal, ante a manifestação de interesse da Caixa Econômica Federal,
hipótese em que não cabe agravo de instrumento conforme deliberação deste
Colegiado.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
INDENIZATÓRIO
620
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Unânime - J. 22.06.2017)
Inteiro Teor
1) RELATÓRIO:
Trata-se de recursos de apelação interpostos pelas partes contra sentença em cujo
dispositivo está assim consignado: “Diante do exposto, na forma do artigo 487, I do
Código de Processo Civil, julgo parcialmente procedentes os pedidos para condenar o
réu no pagamento de indenização por danos morais ao autor, no valor de R$
15.000,00 (quinze mil reais), corrigidos monetariamente pelo INPC (IBGE) e acrescidos
de juros de 1% (um por cento) ao mês, a partir da data desta sentença (cf. Correção
Monetária de Condenação Judicial em Ação
de Responsabilidade Civil, Arnaldo Wald, Revista de Processo nº 104, Ed.
RT, p. 143), o que faço com resolução do mérito.
De acordo com o artigo 87, § 1º, os vencidos respondem proporcionalmente pelas
despesas e pelos honorários.
Houve sucumbência recíproca. Com fundamento no artigo 86 do CPC, condeno o réu
no pagamento de 80% das custas e despesas processuais, e condeno o autor no
pagamento de 20% das custas e despesas processuais.
Fixo os honorários advocatícios em favor do advogado do autor em 15% do valor
atualizado da condenação, com base no artigo 85, § 2º, do Código de Processo Civil,
observado o grau de zelo, o lugar da prestação de serviço, que não exigiu significante
deslocamento, a natureza e a importância da causa, bem como sua complexidade, o
trabalho realizado e o tempo de tramitação do processo.
Fixo os honorários advocatícios em favor da advogada do réu em 10% do valor
atualizado da condenação, com base no artigo 85, § 2º, do Código de Processo Civil,
observado o grau de zelo, o lugar da prestação de serviço, que não exigiu significante
deslocamento, a natureza e a importância da causa, bem como sua complexidade, o
trabalho realizado e o tempo de tramitação do processo.
Não há compensação de honorários, conforme dispõe o § 14 do artigo 85 do CPC”
(sic, mov. 116.1).
Sustenta o réu, em síntese, que: (a) o próprio autor deu causa às eventuais ofensas
proferidas, tendo em vista sua atuação profissional inadequada; (b) houve
reciprocidade nas ofensas, que decorreram de desentendimento profissional entre as
partes; (c) a estrita crítica ao autor não constitui ato ilícito; (d) as expressões
empregadas não tiveram o intuito de ferir ou macular a imagem do autor, mas apenas
emitir juízos de valor acerca dos fatos; (e) as expressões mencionadas foram proferidas
621
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
agressões verbais via e-mail, sendo as mensagens eletrônicas encaminhadas aos sócios
do CEA, aos advogados destes e a terceiros (Procuradores da Fazenda Nacional,
Procuradores Federais da UNILA, representantes da UNILA, dentre outros); (vii)
também houveram agressões verbais em assembleia de sócios do CEA (mov. 1.1).
Pleiteia-se indenização por dano moral e a imposição do dever de retratação do réu
perante o autor.
O réu contestou afirmando que: (i) o autor foi antiético em sua atuação profissional,
beneficiando apenas alguns sócios (com os quais estava em conluio) em detrimento
dos interesses dos demais e da própria sociedade empresarial; (ii) “as discussões,
muitas vezes ríspidas e acaloradas de ambas as partes , desenrolaram-se em
ambiente restrito e foram motivadas exclusivamente pela postura do Autor, na
qualidade de advogado do CEA” (sic) (mov. 25.1).
A pretensão foi julgada parcialmente procedente, consignando-se na sentença o
seguinte: “O autor afirma que prestou serviços se assessoria jurídica ao Centro
Educacional das Américas e que o réu, à época atuando como sócio
presidente da Sociedade, não concordou com condutas praticadas pelo autor, motivo
pelo qual encaminhou e-mails ofensivos para diversos contatos, o que resultou em
danos de ordem pessoal e profissional à imagem do autor.
Pela prova trazida ao processo percebe-se que estas ofensas foram além do âmbito
interno das relações havidas entre autor e réu.
Note-se que o réu não se limitou a encaminhar as comunicações eletrônicas somente
ao autor e aos sócios das sociedades envolvidas, mas enviou referidos e-mails a
terceiros, conforme se verifica com os e-mails juntados aos autos, eventos 1.6 a 1.18;
30.9 a 30.12.
Pelo teor das correspondências fica evidente a intenção do réu de ofender a honra
subjetiva do autor. A honra é um atributo inerente à personalidade cujo respeito à sua
essência reflete a observância do princípio da dignidade da pessoa humana. (...).
Portanto, quando o réu, referindo-se ao autor utilizou adjetivos negativos, tais como
`sem vergonha, safado, mau caráter, antiético, mentiroso, covarde, imoral’, deixou
clara sua intenção de ofender-lhe a honra.
Tal intenção fica evidenciada pelo fato de as correspondências eletrônicas terem sido
encaminhadas a terceiras pessoas estranhas ao processo de adjudicação discutido pela
Sociedade e aos respectivos quadros societários das empresas envolvidas. (...).
Quanto ao pedido de condenação do réu a retratar-se mediante pedido de desculpas
a ser veiculado entre as mesmas pessoas que tomaram parte no momento em que
cada agressão verbal foi propalada, bem como pelo mesmo meio de comunicação,
tenho que deve ser julgado improcedente.
Ainda que reprovável a atitude de réu, não se pode abordar o assunto como direito
de resposta previsto no artigo 5º, inciso V, da CR, pois não se trata de matéria relativa
a `direito de imprensa’” (sic).
Cinge-se a controvérsia em determinar (i) se houve dano moral, (ii) a quantificação da
indenização, e (iii) a possibilidade de tornar a sentença pública aos demais envolvidos.
2.3) Quanto ao dano moral.
623
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
São fatos incontroversos que: (a) autor e réu foram advogado e diretor-presidente,
respectivamente, do Centro Educacional das Américas (CEA); (b) no período houve
desavenças entre estes, iniciadas em 2014; (c) o réu enviou e-mails ao autor com
expressões ofensivas, sempre copiando a mensagem eletrônica aos demais sócios e a
terceiros.
Aduz o réu que a indenização não é devida porque (i) as ofensas foram proferidas em
contexto de acaloradas discussões comerciais, sendo que as mensagens foram
transferidas apenas às pessoas relacionadas ao CEA, (ii) o autor deu causa às
agressões diante de sua atuação inadequada, sendo as expressões meras críticas aos
fatos, sem intenção de macular a imagem alheia, (iii) houve ofensas recíprocas entre as
partes, (iv) as expressões mencionadas são incapazes de ensejar dano moral, havendo
mero aborrecimento, (v) eventual publicidade dada às mensagens decorreu da função
“responder a todos” do sistema de e-mail, sem que haja intenção de tornar pública a
discussão.
Sem razão. Conquanto alegue que as mensagens circularam em meio restrito,
envolvendo apenas pessoas relacionadas ao âmbito empresarial, o próprio réu
reconheceu em audiência que, dentre as pessoas que recebiam os e-mails, estava
João Jabur, amigo pessoal sem nenhuma relação com o CEA (cd-rom 2’06”). O
mesmo se verifica nos e-mails de movs. 9.2, 25.5, 30.9, dentre outros, em que as
ofensas ao autor foram remetidas ao endereço “joão@jabur.com.br”.
Também se constata nas cópias dos e-mails que as mensagens foram enviadas para
pessoas evidentemente estranhas ao âmbito empresarial, como integrantes da UNILA,
da Advocacia Geral da União, da Uniamerica e da Procuradoria-Geral da Fazenda
Nacional (mov. 1.7/1.15/25.5).
Ainda que não houvesse a referida publicidade, esta Corte já decidiu, em casos
envolvendo o mesmo debate fático, que “é irrelevante, na hipótese, que o réu tenha
manifestado sua opinião por meio de correspondência eletrônica, enviada apenas aos
sócios do CEA, aos advogados e aos familiares, pois a configuração da
responsabilidade civil por injúria independe do conhecimento de terceiros acerca do
conteúdo dos e-mails” (AP 1.569.398-0, 9ª CCív, Rel. Des. Francisco Luiz Macedo
Junior, DJe 12/04/2017).
Nos mencionados e-mails se verifica o emprego de termos como “desprovido de
moral” (mov. 1.6/1.7), “imoral”, “safado”, “mau caráter”, “antiético” (mov. 9.3),
praticante de “bandidagens”, “safadezas” e “golpes”, “desprovido de caráter”,
“canalha” (mov. 25.5), “mentiroso”, “imoral”, “falso”, “sem caráter”, “bandido” (mov.
30.9), dentre outros.
O réu reconheceu, em audiência, a veracidade dos e-mails enviados (cd-rom 37”), e
que encaminhou cópias dos e-mails a terceiros (54”).
Não há evidência de que a atuação profissional do autor tenha sido inadequada ou
antiética, de modo a supostamente justificar as agressões proferidas. Ao contrário.
Denota-se que as ofensas foram ensejadas tão somente pela discordância entre as
partes quanto aos rumos da sociedade e as atuações de seus profissionais.
Nada obstante, ainda que se reconhecesse que a atuação profissional do autor fora
inadequada, tal fato não legitimaria as agressões verbais praticadas, sobretudo porque
624
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proferidas por meio eletrônico encaminhado a terceiros sem qualquer relação com o
ambiente empresarial.
As expressões acima destacadas excedem a “crítica” possível e tolerável, sem
intenção desabonadora, não podendo ser consideradas mero aborrecimento, pois
proferidas com evidente finalidade de macular a imagem do autor, a quem o réu se
referiu como “bandido”, “canalha”, “mau caráter”, dentre outros adjetivos.
Embora o réu alegue que houve ofensas recíprocas entre as partes, há nos autos
apenas um e-mail, datado de 21/05/2015, em que o autor disse ao réu: “Se comporte
Fouad. O senhor parece aquela criança birrenta querendo chamar atenção no
supermercado quando a mãe não deixa comprar chocolate. Por favor, pare de fazer
escândalos desnecessários e passar vergonha” (sic, mov. 25.5).
A referida mensagem, enviada após diversas ofensas recebidas pelo autor, não
configura efetiva “reciprocidade”, porque os termos nela empregados se revelam
moderados e sem intenção desabonadora ou ofensiva, não havendo indicação de que
outros e-mails similares tenham sido encaminhados pelo autor ao réu.
Quanto a alegação de que os e-mails “não foram copiados a terceiros
indiscriminadamente, ou seja, partiu dele [autor] os destinatários copiados, o réu
apenas usava a ferramenta `responder para todos’” (sic), não merece acolhimento. E
isso porque há indicação de que a remessa das mensagens a terceiros externos à
sociedade foi intencional e partiu do réu, como se verifica no e-mail de mov. 1.15,
onde consta: “Diz o ditado, `roupa suja se lava em casa’, mas considerando a
importância do assunto e a sua falta de caráter neste processo, assim como, a do
jurídico do CEA, e as pretensões descabidas dos donos da Angels, cabe a mim o
dever de levar ao conhecimento de todos os interessados no processo de adjudicação
o que está passando e como o assunto está sendo tratado pela sua administração
interina” (sic).
Os elementos de informação existentes nos autos permitem concluir que o réu
proferiu ofensas ao autor que excedem a mera crítica (ato ilícito), com a finalidade
específica de denegrir a honra deste (culpa), maculando indevidamente sua imagem
perante terceiros estranhos a relação societária (dano e nexo de causalidade).
Assim, caracterizados os requisitos configuradores da responsabilidade civil subjetiva
(ato ilícito, culpa, dano e nexo de causalidade), deve o réu responder pelas ofensas
proferidas perante o autor, na forma dos arts. 186 e 927 do Código Civil.
No mesmo sentido é a orientação deste Tribunal em casos similares, envolvendo o
mesmo debate fático perante o mesmo réu: “APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS.
OFENSA A HONRA. ENVIO DE CORRESPONDÊNCIA ELETRÔNICA COM
CONTEÚDO OFENSIVO. PALAVRAS NEGATIVAS A RESPEITO DO AUTOR
PROFERIDAS EM ASSEMBLEIA GERAL DOS SÓCIOS DE PESSOA JURÍDICA. ABUSO
DO DIREITO DE LIVRE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO. DANO MORAL
PRESUMIDO. RETRATAÇÃO. NÃO CABIMENTO. RECURSOS CONHECIDOS E NÃO
PROVIDOS. 1.Restando evidenciado que o réu proferiu palavras desabonadoras,
excedendo aos limites do direito à liberdade de expressão e ofendendo a honra e o
bom nome do autor, é devida a indenização por danos morais. 2. A retratação só é
625
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cabível quando houver prova de que a qualificação atribuída ao ofendido era indevida
e inverídica, circunstância que não foi objeto de investigação nestes autos” (AP
1.569.398-0, 9ª CCív, Rel. Des. Francisco Luiz Macedo Junior, DJe 12/04/2017).
“APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
OFENSA A HONRA. ENVIO DE CORRESPONDÊNCIA ELETRÔNICA COM
CONTEÚDO OFENSIVO. PALAVRAS NEGATIVAS A RESPEITO DO AUTOR
PROFERIDAS EM ASSEMBLEIA GERAL DOS SÓCIOS DE PESSOA JURÍDICA. ABUSO
DO DIREITO DE LIVRE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO. DANO MORAL
PRESUMIDO. QUANTUM INDENIZATÓRIO ARBITRADO DE ACORDO COM AS
CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO CONCRETO. RETRATAÇÃO. NÃO CABIMENTO.
REDISTRIBIÇÃO DA SUCUMBÊNCIA. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.
1. Restando evidenciado que o réu proferiu palavras desabonadoras, excedendo aos
limites do direito à liberdade de expressão e ofendendo a honra e o bom nome do
autor, é devida a indenização por danos morais. 2.
A fixação do quantum indenizatório é tarefa do juiz, devendo o arbitramento operar-se
com razoabilidade, proporcionalmente ao grau de culpa, aos níveis socioeconômicos
da parte ofendida e do ofensor e, ainda, levando-se em conta as circunstâncias do
caso.3. A retratação só é cabível quando houver prova de que a qualificação atribuída
ao ofendido era indevida e inverídica, circunstância que não foi objeto de investigação
nestes autos” (AP 1.486.756-4, 9ª CCív, Rel. Des. Francisco Luiz Macedo Junior, DJe
28/11/2016).
2.3.1) Aduz o autor que a indenização de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) é ínfima e
comporta majoração para R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), ao passo que o réu
pleiteia sua redução.
Conquanto o ordenamento jurídico tenha adotado o critério aberto (não tarifado), a
orientação do Superior Tribunal de Justiça recomenda o emprego do método bifásico
para fixação, assim estabelecendo: (a) na primeira fase se apura o valor básico da
indenização, considerando-se os julgados acerca da matéria (técnica do grupo de
casos); (b) na segunda fase se arbitra o valor definitivo da indenização a partir do valor
básico, ajustando-se às circunstâncias particulares do caso (AgRg no AREsp
809.951/RJ, Terceira Turma, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, DJe 07/03/2016).
A jurisprudência deste Tribunal converge para o valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais)
a R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais) como indenização para o mesmo caso fático,
envolvendo os mesmos e-mails e o mesmo réu: AP 1.531.875-1, 10ª CCív, Rel. Des.
Luiz Lopes, julgado em 30/03/2017 (vinte e cinco mil reais); AP 1.569.398-0, 9ª CCív,
Rel. Des. Francisco Luiz Macedo Junior, DJe 12/04/2017 (cinco mil reais); AP
1.486.756-4, 9ª CCív, Rel. Des. Francisco Luiz Macedo Junior, DJe 28/11/2016 (cinco
mil reais).
No presente caso o valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) se apresenta adequado à
realidade fática e não comporta alteração, considerando-se a média das indenizações
fixadas nos casos análogos e as circunstâncias da causa, quais sejam: (a) a exposição
das ofensas a terceiros externos ao âmbito societário, o que sobreleva a mácula a
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
627
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
(TJPR - 12ª C.Cível - AC - 1361758-0 - Curitiba - Rel.: Luiz Cezar Nicolau - Unânime -
J. 21.06.2017)
Inteiro Teor
1) RELATÓRIO:
Trata-se de apelação interposta pelos réus contra sentença que julgou parcialmente
procedente o pedido de cobrança de direitos autorais e os condenou ao pagamento
de R$ 29.053,32 (vinte e nove mil e cinquenta e três reais e trinta e dois centavos), com
juros de mora de um por cento ao mês a contardesde a citação e correção monetária
com base na variação nominal da TR desde o evento danoso (violação do direito
autoral), bem assim das custas e dos honorários de 10% (dez por cento) do valor da
condenação (mov.63.1/81.1).
Sustentam, em síntese, que: (a) em preliminar, os sócios da empresa são parte
ilegítima; (b) o ECAD não demonstrou as datas referentes às cobranças e nem seus
critérios, apenas demonstrando em uma
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
629
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
630
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
08.06.2017)
Inteiro Teor
1) RELATÓRIO:
Trata-se de agravo de instrumento interposto contra decisão proferida nos autos
25932-47.2016.8.16.0021, de embargos de terceiro, que que indeferiu a caução
ofertada e determinou o prosseguimento da execução com realização dos atos de
constrição do imóvel objeto dos embargos (fl. 243/244-TJ).
Sustenta a agravante, em síntese, que a caução não é necessária para concessão do
efeito suspensivo da execução na hipótese, e ainda que o fosse, o bem ofertado é
suficiente e adequado à garantia do juízo. Pede, por isso, a concessão de efeito
suspensivo, o regular processamento do recurso e o seu provimento para “o fim de
reste aceita a caução oferecida pela agravante e mantido o efeito suspensivo aos
embargos de terceiro; ou então dispensada a prestação de caução, uma vez que não
se verificam as hipóteses previstas no CPC, 674 e 678, parágrafo único, mantendo-se
igualmente o efeito suspensivo aos embargos de terceiro” (sic, fl. 4/17-TJ).
A liminar foi concedida (fl. 269/270-TJ) e os agravados apresentaram contrariedade,
afirmando, em suma, que: (a) a data apontada no contrato particular de compra e
venda (15/06/2001) é duvidosa e não corrobora com a data da escritura pública de
compra e venda (22/12/2014) e do registro (14/12/2005); (b) a aquisição da
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
634
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
reconhecendo como válida a caução oferecida sobre o imóvel, devendo ser lavrado o
termo respectivo.
3) DISPOSITIVO:
ACORDAM os Magistrados integrantes da 8ª Câmara Cível, à unanimidade de votos,
em prover o recurso na forma e para os fins acima especificados.
Participaram do julgamento o Juiz de Direito Substituto em 2º Grau Alexandre
Barbosa Fabiani e o Desembargador Gilberto Ferreira.
Curitiba 08 junho 2017.
(assinado digitalmente) Des. Luiz Cezar Nicolau, relator
PARA ASSIM PROCEDER, DE MODO QUE A QUANTIA NÃO SEJA NEM ÍNFIMA E
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
16.03.2017)
Inteiro Teor
1) RELATÓRIO:
Trata-se de apelação interposta pelo autor contra sentença que julgou parcialmente
procedente o pedido declaratório de inexistência de débito cumulado com
indenização por dano moral apenas para declarar a inexistência do débito no valor de
R$ 4.582,11 (quatro mil quinhentos e oitenta e dois reais e onze centavos),
condenando ambas as partes ao pagamento pro rata das custas e honorários de
sucumbência de dez por cento sobre o valor atualizado da causa.
Sustenta, em síntese, que: (a) a improcedência do pedido indenizatório não merece
prosperar porque a aplicação da Súmula 385 do Superior Tribunal de Justiça só se
justifica nos casos em que a pretensão indenizatória for deduzida diretamente contra o
órgão de proteção ao crédito por ter deixado de notificar previamente o devedor, nos
termos do art. 43, § 2º, do Código de Defesa do Consumidor, o que não se trata da
hipótese em discussão; (b) a própria jurisprudência da Corte Superior esclarece essa
circunstância, conforme entendimento consignado em decisões mais recentes em
relação a referida orientação sumular; (c) “Outrossim, como bem destacou o
magistrado, a negativação pré-existente advém do mesmo contrato, ou seja, a ré deu
causa há duas negativações e em ambas não conseguiu provar ser regular e legítimas
tais cobranças, sequer provou a existência de relação jurídica” (sic); (d) pretende
discutir a inexistência da relação contratual e não apenas a inexigibilidade dos valores
inscritos isoladamente considerados, razão pela qual o réu deve ser condenado ao
pagamento de indenização por dano moral em decorrência das duas anotações
irregulares. Pede, assim, o provimento do recurso para que a pretensão indenizatória
seja acolhida com a responsabilização do réu pela integralidade da verba da
sucumbência.
O apelo foi contrariado (mov. 64.1), com o encaminhamento dos autos a este
Tribunal.
2) FUNDAMENTAÇÃO E VOTO:
2.1) Conheço do recurso porque adequado, tempestivo e isento de preparo ante a
concessão da gratuidade.
2.2) Cuida-se de ação de declaratória de inexigibilidade de débito e indenização por
dano moral ajuizada em razão da inscrição indevida do nome do autor em cadastro de
restrição ao crédito.
O sentenciante reconheceu a inexigibilidade da dívida e por ocasião da análise do
pedido indenizatório consignou que “embora a anotação anterior tenha sido realizada
também pela ré, bem como, ao que parece, pelo mesmo contrato, não há pedido de
inexistência de tal débito. Por consequência, o pedido indenizatório não merece
acolhimento, fazendo jus a parte autora tão-somente ao cancelamento definitivo da
inscrição” (sic).
636
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Constata-se no extrato juntado com a inicial (mov. 1.8), que há duas dívidas originárias
do mesmo contrato bancário RE31366210182, sendo que a primeira, no valor de R$
1.179,62 foi anotada no SCPC na data de 15/07/2011, e a segunda, que perfaz R$
4.582,11, foi anotada em 17/10/2012.
O autor apresentou a seguinte causa de pedir: “A inclusão indevida que deverá ser
excluída do cadastro restritivo de crédito é: Banco Bradesco S/A, no valor de R$
4.582,11, incluída no SCPC em 17 de outubro de 2012, cujo contrato possui nº.
RE31366210182. Inclusive, é importante frisar que não se aplica ao presente caso a
súmula 385 do Egrégio Superior Tribunal de Justiça por ser esta a única inclusão em
seu nome (por serem irregulares todas as anotações em seu nome)”.
É possível concluir da petição inicial que o autor pretende a declaração de
inexigibilidade do débito total e não apenas do segundo débito, porquanto reputa
inexistente a relação jurídica que lhes deu origem.
Tanto é assim que na contestação o réu formulou um tópico específico acerca da
existência e da validade do contrato, contudo sem comprovar sua versão, o que
ensejou o reconhecimento da inexistência da dívida.
A propósito, o art. 322, § 2º do Código de Processo Civil determina que “a
interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação e observará o princípio
da boa-fé”, ou seja, deverá ser analisada a causa de pedir para fins da exata
compreensão dos limites da pretensão, e no caso concreto é possível vislumbrar que o
autor objetiva seja declarada a inexistência da relação contratual e não apenas da
segunda dívida anotada no SCPC.
Assim, deve ser acolhido o pedido para que seja reconhecida a inexistência de
relação contratual entre as partes, porquanto invertido ônus da prova - porquanto se
trata de relação de consumo - e ante a impossibilidade de o autor constituir prova
negativa, o réu deixou de comprovar sua origem, configurando a prática de ato ilícito
a inscrição do nome do autor no cadastro de proteção ao crédito por ambos os
débitos.
Ainda, consoante pacífica orientação da jurisprudência da Corte Superior, “a
inscrição/manutenção indevida do nome do devedor no cadastro de inadimplente
enseja o dano moral in re ipsa, ou seja, dano vinculado a própria existência do ato
ilícito, cujos resultados são presumidos” (AgRg no AREsp 346.089/PR, Quarta Turma,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/08/2013).
É impositivo, pois, que se reconheça a falha na prestação do serviço em decorrência
da inscrição indevida do nome do autor no cadastro restritivo, bem como a ocorrência
de dano moral, ensejando no dever de indenização com base na teoria do risco da
atividade prevista no art. 14 do Código de Defesa do Consumidor.
Frente a essa realidade tem-se que não se aplica a orientação da Súmula 385 do
Superior Tribunal de Justiça, porquanto a restrição negativa decorre do mesmo ato
praticado pelo réu.
2.3) Em relação ao valor da indenização por dano moral o ordenamento jurídico
nacional adotou o critério aberto (não tarifado), cabendo ao magistrado, com
prudência e parcimônia, atendendo as peculiaridades do caso concreto, arbitrá-lo.
Essa quantia não deve ser irrisória a ponto de nada representar ao agente causador do
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
quinze mil reais, com a incidência de correção monetária média pela médica do
INPC/IGP-DI desde esta data e de juros de mora de um por cento ao mês desde o
evento danoso (data inscrição) e condenar o réu ao pagamento das custas e
honorários de quinze por cento sobre o valor da condenação.
Participaram do julgamento os Desembargadores Clayton de Albuquerque Maranhão
e Gilberto Ferreira.
Curitiba 16 março 2017.
(assinado digitalmente) Des. Luiz Cezar Nicolau, relator
por dano moral. RECURSO DA RÉ. (A) Ausente demonstração efetiva de que a autora
fatos, não se apresenta possível responsabilizá-la por litigância de má-fé. (B) Tendo a
autora usufruído, por longo período de tempo, de serviços disponibilizados pela ré,
mesmo que não formalmente contratados, não pode postular a restituição do que
pagou a esse título, sob pena de se caracterizar enriquecimento sem causa e também
(TJPR - 12ª C.Cível - AC - 1402308-8 - Santa Helena - Rel.: Luiz Cezar Nicolau -
Unânime - J. 11.11.2015)
1) RELATÓRIO:
Trata-se de recursos de apelação interpostos pelas partes contra sentença que julgou
parcialmente procedente o pedido da autora para o fim de “condenar a requerida, OI
S.A. a devolver, de forma simples, os valores cobrados e efetivamente pagos dos
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
serviços denominados de: “CHAMADA EM ESPERA, SOS FONE, ARREC TERC DOAC
LBV ATEND AO COLAB, ARREC TERC DOAÇÃO FUND PRÓ-RENAL e PLANO
CONTA COMPLETA”, devendo ser corrigido monetariamente pelo INPC a partir de
cada desembolso a acrescido de juros de mora de 1% ao mês a partir da citação, na
forma da fundamentação acima e declarar indevidos os seguintes serviços, inseridos na
conta telefônica da autora: “CHAMADA EM ESPERA, SOS FONE, ARREC TERC DOAC
LBV ATEND AO COLAB, ARREC TERC DOAÇÃO FUND PRÓ-RENAL e PLANO
CONTA COMPLETA”, devendo a demandada se abster de efetuar a cobrança desses
valores nas posteriores faturas telefônicas, sob pena de multa diária de R$ 1.000,00
(mil reais) por cobrança indevida, a teor do artigo 461, §5º, do CPC”, confirmando-se
“os termos da liminar anteriormente concedida (evento de nº 7.1), com a ressalva de
que a proibição da inscrição do nome da autora nos órgãos arquivistas, somente
ocorre caso mantidas pagas as faturas pela autora, na forma determinada nesse
decisum”, e reconhecendo- se a sucumbência recíproca a fim de que as partes
recolham as custas processuais e honorários advocatícios de R$ 200,00 (duzentos reais)
para cada patrono, sendo possível a compensação dos honorários, com a ressalva do
deferimento dos benefícios da a assistência judiciária gratuita à autora (mov. 42.1).
Sustenta a autora, em síntese, que: (a) é devida devolução dos valores indevidamente
pagos em dobro nos termos do art. 42 do CDC; (b) a ré deve ser condenada ao
pagamento de indenização a título de dano moral, em valor não inferior a 50
(cinquenta) salários mínimos, em razão do sucessivo desrespeito para com o
consumidor; (c) a sucumbência deve ser redimensionada, condenando somente a
empresa apelada ao pagamento.
Pede o provimento do apelo para esses fins (mov. 47.1).
Sustenta a ré, em síntese, que: (a) a autora apresenta no seu pedido números de
protocolos inventados, e com fundamento no art. 17, II, do Código de Processo Civil
deve ser condenada por litigância de má-fé; (b) a contratação e as cobranças foram
regulares, e apesar dos números de protocolos informados, em seu sistema não consta
qualquer reclamação da autora, tendo usufruído dos serviços questionados por anos;
(c) os protocolos de atendimento fornecidos pela autora são inexistentes, o que torna
impossível a apresentação das gravações das ligações, as quais nunca aconteceram;
(d) não há hipossuficiência da parte autora para o questionamento dos valores que
entende indevidamente cobrados, haja vista ter recebido mensalmente as faturas,
levando-se em consideração que não houve a inversão do ônus da prova; (e) ante a
ausência de má-fé, descabe a restituição em dobro. Pede a reforma da sentença com a
improcedência da pretensão formulada (mov. 48.1).
Os apelos foram recebidos em ambos os efeitos (mov. 61.1), contrariados (movs. 54.1,
55.1) e os autos encaminhados a este Tribunal.
2) FUNDAMENTAÇÃO E VOTO:
2.1) Conheço dos recursos porque adequados, tempestivos, preparado o da ré e
isento de preparo o da autora ante a concessão dos benefícios da gratuidade.
2.2) Da apelação da ré.
640
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
2.2.1) Sustenta que a autora litiga de má-fé porque “em sua inicial informa números
de protocolo que descaradamente foram inventados, sendo que a apelante não os
encontrou em seus sistemas” (sic).
A ausência de localização dos referidos protocolos nos bancos de dados da ré não
imporá em presunção de falsidade dos numerais indicados.
Ausente qualquer prova no sentido de ter efetivamente a requerente “inventado” os
números dos referidos protocolos, inviabiliza o reconhecimento de que tenha
efetivamente agido de má-fé com o propósito de alterar a verdade dos fatos.
2.2.2) A autora afirma que desde o início das cobranças efetuadas por serviços de
telefonia não contratados tentou resolver a questão diretamente com a ré. Diz ter
entrado em contato com a empresa, em diversas oportunidades, para solucionar o
problema e retirar os valores ilegais da sua fatura. Informa para o período de
aproximadamente 05 (cinco) anos de reclamações, 05 (cinco) números de protocolos
(mov. 1.1).
As provas produzidas são suficientes para demonstrar a inexistência da contratação
entre as partes quanto aos pacotes adicionais.
O ônus do fato impeditivo, extintivo ou modificativo ao direito da autora era da ré,
nos termos do inciso II do artigo 333 do Código de Processo Civil, do qual não se
desincumbiu.
Portanto, não tendo sido contratados os serviços, devem os mesmos ser suspensos,
assim como sua cobrança.
Ainda que a ré não tenha conseguido fazer prova da contratação, apresenta-se
incontroverso o fato de que os serviços (Chamada em espera, SOS fone, Arrec terc.
Doac LBV atend ao colab, Arrec terc Doação fund Pró-Renal e Plano Conta
Completa) foram prestados, utilizados e cobrados
por longo período (de agosto de 2008 até o ajuizamento da ação em 01/10/2013)
segundo afirmado pela própria autora.
Não obstante a apresentação de alguns protocolos de atendimento, estes dão conta
de que foram poucas (e bastante espaçadas) as tentativas de solucionar a questão no
âmbito administrativo.
Como um elemento de interpretação da boa-fé objetiva, destaca- se a sua função
limitadora, que leva em conta a teoria dos atos próprios. Se uma das partes
contratantes agiu de determinada forma durante qualquer fase do contrato, torna-se
inadmissível que em momento posterior venha agir em total contradição com a
conduta antes praticada.
Neste sentido o entendimento do Superior Tribunal de Justiça: “O princípio da boa-fé
objetiva proíbe que a parte assuma comportamentos contraditórios no
desenvolvimento da relação processual, o que resulta na vedação do venire contra
factum proprium, aplicável também ao direito processual” (AgRg no REsp
1.280.482/SC, Segunda Turma, Rel. Min.
Herman Benjamin, julgado em 07/02/2012).
Resta evidenciado que a autora aderiu aos serviços ofertados, ainda que tacitamente,
tanto é que efetuou os respectivos pagamentos, mês após mês. Tal situação não se
641
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
mostra adequada com a de quem está se sentindo lesada com a cobrança de serviços
que nunca foram solicitados.
É impositivo, pois, que seja tida como legal a cobrança efetuada pelo serviço
prestado (e usufruído pela autora) até o ajuizamento da demanda, não cabendo,
assim, qualquer restituição de valores pagos.
2.3) Da apelação da autora.
Objetiva a responsabilização da ré por dano moral.
O sentenciante, a esse propósito, assim deliberou: “O pedido de dano moral deve ser
julgado improcedente. Com efeito, é entendimento assentado na jurisprudência que o
simples inadimplemento contratual, por si só, não gera dano moral. E nem poderia ser
diferente. É cediço que o dano moral traduz-se em ato ilícito que afeta direito da
personalidade da parte lesada (...). No caso em mesa, a autora para substanciar seu
pedido de dano moral cinge-se a apontar para a cobrança indevida, sem sequer
mencionar em que este fato ofenderia sua personalidade”.
São juridicamente adequadas e precisas as ponderações do juiz.
Efetivamente para a caracterização do dano moral (ou imaterial) há necessidade de
violação ao direito da personalidade do indivíduo, não sendo suficiente aborrecimento
do dia a dia e nem eventual descumprimento de regras contratuais.
O fato de a ré ter fornecido serviço que a autora não contratou (mas que acabou
utilizando pelo período prestado) e efetuado o respectivo pagamento mensal pelo
uso, não se constituiu situação de anormalidade que tivesse atingido sua honra e
credibilidade perante a sociedade ou muito menos perturbado de modo inabalável
sua paz interior, causando-lhe sofrimento e angustia.
Inacolhível, pois, o pleito no sentido de ser a ré condenada a indenizar a autora por
dano moral porque a situação fática retratada nos autos não enseja tal
responsabilização pecuniária.
2.4) O reconhecimento de que não é devida qualquer restituição a autora pelos
serviços prestados e por ela utilizados, não importar em alteração da decisão singular
no tocante à distribuição dos ônus da sucumbência, que já estabeleceu
adequadamente a sucumbência recíproca e equânime.
2.5) Diante do exposto voto no sentido de (a) dar provimento parcial a apelação da ré
para afastar a condenação de devolução de valores pagos no período em que o
serviço foi disponibilizado e utilizado pela autora, (b) negar provimento a apelação da
autora.
3) DISPOSITIVO:
ACORDAM os Magistrados integrantes da 12ª Câmara Cível, à unanimidade de votos,
em negar provimento ao recurso da autora, e, por maioria, prover parcialmente o
recurso da ré e excluir a condenação de restituir valores a autora, vencida a Desª
Ivanise com declaração de voto.
Participaram do julgamento os Desembargadores Mário Helton Jorge e Ivanise Maria
Traz Martins.
Curitiba 11 novembro 2015.
(assinado digitalmente) Des. Luiz Cezar Nicolau, relator
642
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Inteiro Teor
1) RELATÓRIO:
Trata-se de recurso de apelação interposto pela autora contra sentença que,
acolhendo preliminar arguida na contestação, extinguiu o processo, sem resolução de
mérito, nos termos do art. 267, incisos IV e VI, do Código de Processo Civil, ante a
existência de cláusula de compromisso arbitral (mov. 50.1).
Sustenta, em síntese, que: (a) está demonstrado a existência de pressupostos para a
constituição e desenvolvimento válido do processo, até porque o magistrado singular
autorizou a consignação de valores no início da lide, reconhecendo a extinção do
contrato; (b) restou comprovado pela juntada dos recibos que a apelante realizou a
manutenção do imóvel locado e que a ré recebeu as chaves do imóvel; (c) inexiste
interesse em proceder a mediação junto à CMA-PR, eis que o contrato já foi extinto;
(d) todos os documentos foram elaborados com a participação da apelada, não sendo
verossímil as questões controvertidas pela ré; (e) o magistrado singular “não somente
desconsiderou a inexistência do contrato de locação, como deixou a apreciar e julgar
fatos e documentos importantes, que por não terem sido apreciados redundaram em
flagrante prejuízo para a apelante que, nada mais devia para a apelada além dos
alugueres e acessórios, não recebidos por recusa da mesma, deixando, inclusive, em
poder da apelada, o valor referente ao FCI que deveria ser devolvido, ante a resolução
do contrato de locação” (sic).
Pede, assim, o provimento do recurso para que “seja reformada a decisão
monocrática, com o fim de serem objeto de análise as provas juntadas e requeridas
pela apelante”, com a procedência do pedido inicial.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
(TJPR - 12ª C.Cível - AC - 1319642-4 - Medianeira - Rel.: Luiz Cezar Nicolau - Unânime
- J. 23.11.2016)
Inteiro Teor
1) RELATÓRIO:
Trata-se de recurso de apelação interposto pelas rés contra sentença que julgou
parcialmente procedente pedido de rescisão de contrato cumulado com indenização
por dano material e moral para: (a) condenar as rés solidariamente ao pagamento de
R$ 10.000,00 (dez mil reais) a título de indenização por dano moral, com correção
monetária pelo INPC desde o arbitramento e com juros de mora de 1% (um por cento
ao mês) desde a data do evento danoso (data do negócio); (b) em decorrência da
sucumbência recíproca, responsabilizar ambas as partes pelo recolhimento das custas,
meio-a-meio, e ao pagamento de honorários aos patronos adversos de quinze por
cento sobre o valor da causa, compensando-se (fl. 133/137).
Sustenta a ré Denuzzi, em síntese, que: (a) não está caracterizado o dano moral
porque houve negligência do autor na verificação do veículo e não há elementos que
indiquem a ocorrência de dano; (b) o valor de dez mil reais é excessivo; (c) os juros de
mora devem incidir desde a citação, porque se trata de relação contratual. Pede,
assim, o provimento do recurso para que a pretensão indenizatória seja julgada
improcedente ou reduzida a indenização, com incidência de juros moratórios desde a
citação (fl. 141/147).
Sustenta a ré Andreia, em síntese, que: (a) não agiu com negligência ao alienar seu
veículo; (b) as mesmas razões que lhe imputam responsabilidade ensejam a
responsabilização do autor pela aquisição de veículo sinistrado; (c) não houve dano
moral, mas mero dissabor; (d) o valor de dez mil reais é excessivo; (e) há erro na
redação da sentença quanto a sucumbência. Pede, assim, o provimento do recurso
para que a pretensão indenizatória seja julgada improcedente ou reduzida a
indenização, com a correção da redação da sentença (fl. 152/159).
Os apelos foram recebidos em ambos os efeitos (fl. 169), contrariados (fl.
171/175/194/199), com o encaminhamento dos autos a este Tribunal.
2) FUNDAMENTAÇÃO E VOTO:
2.1) Conheço dos recursos porque adequados, tempestivos e preparados.
2.2) Trata-se de ação de rescisão contratual cumulada com indenização por dano
material e moral. Funda-se a pretensão na alegação de que o autor em 24/01/2008
adquiriu de boa-fé veículo que padecia de vício redibitório, de propriedade de
Andreia Rovaris, por intermédio da empresa Denuzzi Takahashi & Cia Ltda.
Aduz que o veículo Chevrolet S10 placa GQS-1992 apresenta vibrações nas portas,
forro e outros ruídos estranhos, e que após buscar informação acerca destes sintomas,
descobriu que o veículo sofreu sinistro com perda total.
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
(TJPR - 12ª C.Cível - AC - 1338640-2 - Fazenda Rio Grande - Rel.: Luiz Cezar Nicolau -
Unânime - J. 23.11.2016)
Inteiro Teor
1) RELATÓRIO:
Trata-se de recurso de apelação e adesivo interpostos pelos réus e autora,
respectivamente, contra sentença que julgou parcialmente procedente pedido de
resolução de contrato cumulado com reintegração de posse e indenização por dano
material para: “a) declarar rescindido o contrato de compromisso de compra e venda
entabulado entre as partes; b) determinar a reintegração de posse do imóvel, objeto
do contrato de compromisso de compra e venda em favor da parte demandante, com
prazo de desocupação voluntária de 30 dias a contar da publicação desta sentença e,
esgotado o prazo, expedindo-se mandado de reintegração de posse, concedendo a
antecipação de tutela parcial, mas não podendo a parte autora alterar as eventuais
benfeitorias feitas até a apuração do valor mencionado no item “e”;
c) condenar as partes demandadas, a título de perdas e danos, aos valores das
despesas pendentes de água, Luz, IPTU, se houver, bem como a pagar para a parte
demandante os aluguéis, desde a imissão na posse até a efetiva desocupação do
imóvel, no valor de 0,5% do valor venal de registrado no cadastro municipal para fins
de IPTU, por mês, corrigidos monetariamente pela média aritmética do INPC e IGP-DI
a partir de quando deveria ser paga cada prestação, bem como juros de mora de 1% a
partir da citação; d) determinar que a parte demandante devolva para as partes
demandadas os valores pagos a título de mensalidades, podendo aquela
(demandante) reter o percentual de 10% (dez por cento) sobre o valor a devolver,
corrigidos monetariamente pela média aritmética do INPC e IGP-DI a partir de quando
foi paga cada prestação; e) determinar que a parte demandante indenize as partes
demandadas nas benfeitorias úteis e necessárias por esta construídas, as quais
deverão ser apuradas em liquidação de sentença, por avaliação do oficial de justiça e,
649
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
havendo divergência, por perícia a ser paga pelo contestante da avaliação”, bem
como condenar os réus ao pagamento das custas e honorários de sucumbência, estes
arbitrados em 10% da condenação, suspensa a cobrança dessas verbas na forma e
pelo prazo previsto no art. 12 da Lei 1.060/50 (mov. 86.1/99.1).
Sustentam os réus, em síntese, que: (a) não foram notificados validamente, o que
enseja improcedência da pretensão; (b) há necessidade de dilação probatória para que
se averigue o valor das benfeitorias; (c) a sentença julgou além do pedido ao
determinar a retenção de dez por cento dos valores pagos; (d) houve dupla
penalização pelo mesmo fato; (e) o termo inicial dos eventuais alugueres devidos deve
ser a citação válida. Pede, assim, o provimento do recurso para que a pretensão seja
julgada improcedente, ou anulada a sentença para realização de prova pericial, ou,
ainda, readequados os valores condenatórios (mov. 106.1).
Sustenta a autora, adesivamente, que a reparação pelos alugueres não auferidos foi
fixada aquém da orientação jurisprudencial. Pede o provimento do recurso para a
fixação daqueles em 1% (um por cento) do valor de mercado do imóvel (mov. 119.2).
Os apelos foram recebidos em ambos os efeitos (mov. 110/125), contrariados (mov.
119.1/132.1), com o encaminhamento dos autos a este Tribunal.
2) FUNDAMENTAÇÃO E VOTO:
2.1) Conheço dos recursos porque adequados, tempestivos, preparado o da autora e
isento de preparo o dos réus ante a concessão dos benefícios da gratuidade.
2.2) Trata-se de ação de resolução de contrato cumulada com reintegração de posse
e indenização por dano material. Funda-se a pretensão na alegação de que os réus
adquiriram imóvel da autora, em 25/10/2004, tendo aqueles inadimplido com as
obrigações pactuadas a partir de 30/11/2010. Os réus não questionaram a contratação
e a inadimplência (mov. 61.1), sendo estes fatos incontroversos.
Cinge-se a controvérsia recursal em determinar (i) a validade da notificação
extrajudicial realizada, (ii) a necessidade de dilação probatória, (iii) o limite do pedido
das partes quanto a restituição dos valores, (iv) a ocorrência de dupla penalização, (v) o
valor dos alugueres e seu termo inicial.
2.3) Quanto a notificação.
A autora notificou os réus extrajudicialmente, através da publicação de edital em
jornal de grande circulação (mov. 1.7), fazendo constar expressamente os nomes das
partes (”Elias Oliveira dos Santos e seu cônjuge”), o período de inadimplência e o
prazo para pagamento para fins de constituição em mora e resolução contratual.
Os réus alegam que a notificação é invalida porque não foi enviada pessoalmente,
não há expressa menção do nome de Aurea Barbosa Leite dos Santos e não há
discriminação das parcelas vencidas mês a mês.
Segundo a orientação do Superior Tribunal de Justiça, a notificação extrajudicial pode
ser realizada por edital quando seja inviável a notificação pessoal: “Admite-se, ainda,
que a comprovação da mora do devedor seja efetuada pelo protesto do título por
edital, quando, esgotados os meios de localizar o devedor, seja inviável a notificação
pessoal, em razão de não ter sido o réu encontrado no endereço indicado no
contrato” (AgInt no AgRg no AREsp 664.661/MS, Quarta Turma, Rel.
Min. Raul Araújo, DJe 10/06/2016).
650
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
651
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
BEBIDAS
653
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
ACORDO ENTABULADO ENTRE AS PARTES QUE, POR SI SÓ, NÃO ENSEJA DEVER
SER INDENIZADA POR DANO MORAL. CASO CONCRETO QUE NÃO REVELA ESSA
Inteiro Teor
1) RELATÓRIO:
Trata-se de apelação interposta pela autora contra sentença que julgou improcedente
seu pedido de indenização por danos materiais e morais, condenando-a ao
pagamento das custas e dos honorários de sucumbência de R$ 1.500,00 (um mil e
quinhentos reais) (mov. 78.1).
Sustenta, em síntese, que: (a) a sentença é nula porquanto: (a.1) está maculada por
erro de fato ou, então, está carente de requisito essencial, qual seja, a fundamentação,
deixando de levar em consideração as provas produzidas, principalmente a oral; (a.2)
afronta o art. 535, inciso II, do Código de Processo Civil, pois mesmo após a oposição
de embargos de declaração não houve manifestação sobre pontos relevantes
arguidos; (b) em que pese não exista um instrumento escrito, as provas colacionadas
evidenciam que as partes celebraram contrato verbal de representação comercial com
exclusividade de distribuição regional da cerveja e chopp da marca Colônia; (c) as rés
inadimpliram com o avençado, vez que fizeram vendas diretas a pontos de venda
dentro da região de Londrina, gerando concorrência desleal, em total
descumprimento ao pactuado, quebrando, assim, com o dever de lealdade e de boa-
fé; (d) como consequência do descumprimento contratual, imperiosa a reparação dos
prejuízos suportados com a indenização pelos lucros cessantes, danos emergentes e
dano moral.
654
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Pede, assim, a nulidade da sentença ou a sua reforma para que “a) seja declarada a
existência do Contrato de Distribuição de cervejas (lata, latão, 600ml e litro) e chopp
entre as partes, assim como seja declarada ainda, a existência de cláusula de
Exclusividade para distribuição regional dos respectivos produtos fabricados e
distribuídos pelas Apeladas; b) seja declarada que a aludida Cláusula de Exclusividade
garantia à Recorrente a distribuição exclusiva dos produtos fornecidos pelas Empresas
Apeladas da seguinte forma: a. A Cerveja Colônia (lata, latão, 600ml e litro) para a
região de: Londrina, Cambé, Sertanópolis, Primeiro de Maio, Bela Vista do Paraíso,
Alvorada, Tamarana, Lerrovile, Paiquerê e Guaravera da; b. O Chopp Colônia para a
região de: Jataizinho, Ibiporã, Assaí, Uraí, Cornélio Procópio, Londrina, Cambé,
Sertanópolis, Primeiro de Maio, Bela Vista do Paraíso.
c) E diante do inadimplemento do contrato de distribuição com cláusula de
exclusividade, sejam as Apeladas condenadas ao pagamento das perdas e danos”
(sic), acrescidos de correção monetária e juros de mora a partir do evento danoso, ou
seja, o dia 07/04/2014, e apuração em sede liquidação de sentença (mov. 87.1).
O apelo foi recebido em ambos os efeitos (mov. 93.1), contrariado (mov. 98.1), com o
encaminhamento dos autos a este Tribunal.
2) FUNDAMENTAÇÃO E VOTO:
2.1) Conheço do recurso porque adequado, tempestivo e preparado.
2.2) Ajuizou a apelante a presente demanda visando o reconhecimento da existência
de contrato de representação com exclusividade de distribuição regional da cerveja e
chopp da marca Colônia, fabricada pela segunda ré e distribuída pela primeira, bem
como sua resolução por culpa destas por terem descumprido o que restou avençado,
atuando simultaneamente na região ofertada para exploração.
Consignou o sentenciante que as tratativas para uma venda exclusiva realmente
aconteceram, porém, não chegaram as partes a efetivamente estabelecer um acordo
desta natureza, logo, não haveria lastro jurídico para se pleitear indenização pelo não
cumprimento de uma obrigação inexistente.
2.2.1) Ocorre que os elementos de informações existentes nos autos indicam,
justamente o oposto, ou seja, que as partes efetivamente celebraram contrato de
exclusividade, mesmo que de forma precária.
Isso porque, quando perquiridas, via SAC, informaram as rés que a autora era a única
distribuidora de suas bebidas na cidade de Londrina (mov. 1.16).
O e-mail enviado à autora, no dia 10/06/2013, por Alcimar Giollo, funcionário à época
da INAB e hoje da Bebasul, evidencia o início das tratativas com relação à distribuição
das cervejas: “Boa Tarde, Distribuição dos produtos Colônia na região de Cambé,
Londrina, Sertanópolis, Bela Vista. Bonificação de duas garrafas por caixa para ação de
preço e introdução de produtos, Pilsen 600. Troca de 100% dos produtos vencidos ou
danificados em rota durante 30 dias, Poderá permanecer com multi marcas, ou seja,
venda de outras cervejas na mesma distribuidora, Venda direto de fábrica nas grandes
redes, Muffato /Condor /etc. Att.” (sic).
Importante observar que a permanência da autora como distribuidora de outras
bebidas (multimarcas) foi expressamente autorizada pelas rés, o que, por si só é
suficiente pra afastar a fundamentação do sentenciante de que “não parece comercial
655
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
Respondeu a INAB, por meio de Alcimar, seu representante à época: “OK quanto às
cidades, porém também exigimos a exclusividade na venda do chopp. Abraço” (sic).
Nota-se que com relação ao chopp, especificamente, foi cobrada exclusividade de
mão dupla, ou seja, somente a autora poderia distribuí-lo na região, desde que
vendesse exclusivamente chopp Colônia, exigência que, conforme prova testemunhal,
foi devidamente cumprida.
Ainda, sobre as provas documentais, juntou a autora e-mail datado de 12/03/2014,
enviado por Alcimar, estipulando metas e bonificações: “Bom dia Pablo, Seguem
objetivos do mês e março. São os volumes que combinamos na nossa reunião no mês
passado. E alguma coisa de mim. Lembro que acertamos preço para os meses de
fevereiro e março. Estamos no final do prazo. Quero ver com você também sobre o
vasilhame do litrão. São 100 caixas. Peço que veja quanto dele que você pode nos
devolver, visto que estragamos em outubro. Semana que vem, segunda ou terça feira
vou até você para acertarmos as bonificações. Pode confiar.
Combinamos também que nós lhe emprestaríamos 10 chopeiras, 5 para seis meses e
5 para um ano. Sei que não foram enviadas todas, apenas 8. Portanto pelo que para o
mês que vem, você possa nos devolver 3 chopeiras. As outras 5 ficarão para quando
completarmos 1 ano. Abraços” (sic).
Constata-se que os e-mails trocados entre as partes (movs. 1.13 e 1.9) evidenciam,
não apenas as condições do negócio, mas a sua execução, inclusive com cobrança de
metas, situação esta que se revela incompatível com uma relação de simples compra e
venda.
Não se mostra crível sustentar, pois, que a exclusividade não passou de mera
expectativa, até mesmo porque é incontroverso nos autos que o contrato escrito só
não foi celebrado em razão de problemas com o antigo distribuidor, todavia, não se
pode ignorar a existência e execução/implemento do contrato verbal.
Existência esta que foi devidamente corroborada pelo testemunho de Carlos
Henrique Garcia, ex-gerente de distribuição da INAB e Bebasul, que afirmou: a) a
autora tinha exclusividade de distribuição dos produtos Colônia na região de Londrina
mesmo sendo multimarcas; b) é possível ter exclusividade da marca e vender outras,
situação esta que, inclusive, era praticada em outras regiões em que trabalhou, como
Arapongas; c) tomou conhecimento sobre o contrato com a autora presenciando
reuniões entre o seu gerente, Alcimar Giollo, e o proprietário da autora, Pablo, nas
quais restou acertado que a exclusividade seria imediata e não futura.
Assim, com base nos elementos de prova existentes, imperioso o reconhecimento da
existência do contrato verbal de distribuição e representação com exclusividade,
conforme orientação do Superior Tribunal de Justiça: “PROCESSUAL CIVIL E
COMERCIAL. RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO. EMBARGOS
DECLARATÓRIOS. OMISSÃO.
INOCORRÊNCIA. RESCISÃO IMOTIVADA. EXCLUSIVIDADE. CONTRATO VERBAL.
POSSIBILIDADE. INTERPRETAÇÃO DE CLÁSULAS CONTRATUAIS E REEXAME DE
PROVA. 1. (...). 2. Possibilidade da demonstração da existência de cláusula de
exclusividade mesmo em contratos de representação firmados verbalmente,
admitindo-se a respectiva prova por todos os meios em direito admitidos. Aplicação
657
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
do art. 212 do CC/02 c/c os arts. 400 e segs. do CPC. Doutrina e jurisprudência desta
Corte acerca do tema. 3. Estabelecida, no caso concreto, pelo acórdão recorrido a
premissa de que o ajuste de representação comercial vigorava com cláusula de
exclusividade, confirmada por prova testemunhal, inarredável a conclusão de que
houve rescisão imotivada do contrato, pela contratação de novo representante par
atuar na mesma zona anteriormente conduzida pela recorrida. 4.
Inviável a análise da pretensão relativa ao afastamento das conclusos acerca da
exclusividade da representação, por óbice das Súmulas 5 e 7/STJ. 5. Recurso Especial
conhecido, porém não provido” (RESp 846.543/RS, Terceira Turma, Rel.Min. Paulo de
Tarso Sanseverino, julgado em 05/04/2011, DJe 11/04/2011).
Reconhecida a condição de exclusividade, tem-se que incontroverso o
inadimplemento e a rescisão imotivada e unilateral do contrato por parte das rés que,
assumidamente, começaram a realizar vendas diretamente da fábrica, sem a
intervenção/participação da parte autora.
Todavia, o descumprimento e a resolução contratual não justificam, por si sós, as
indenizações pleiteadas, sendo necessária a análise de cada um dos pedidos
individualmente, o que se passa a fazer.
2.3) Quanto aos danos materiais emergentes sustenta ser devida a condenação da ré
ao ressarcimento dos gastos obtidos com: (a) aquisição de equipamentos apetrechos,
no valor de R$ 135.250,15 (cento e trinta e cinco mil duzentos e cinquenta reais e
quinze centavos); (b) locação de um segundo barracão por trinta e seis vezes, no valor
mensal de R$ 4.250,00 (quatro mil duzentos e cinquenta reais), totalizando R$
153.000,00 (cento e cinquenta e três mil reais); (c) salários dos funcionários do
departamento dos produtos Colônia pela período de vigência do pacto entre as partes
(onze meses), no valor total de R$ 61.000,00 (sessenta e um mil reais); (d) aquisição de
veículos no valor de R$ 89.745,62 (oitenta e nove mil setecentos e quarenta e cinco
reais e sessenta e dois centavos); (e) combustível na média mensal de R$ 1.500,00 (um
mil e quinhentos reais); (f) energia elétrica com a câmara fria para o armazenamento do
chopp em torno de R$ 400,00 (quatrocentos reais) mensais; (g) catálogos novos com a
inserção dos produtos das rés na importância de R$ 3.000,00 (três mil reais).
Todavia, mesmo que a apelante tenha agido com zelo e dedicação, e tenha realizado
maciços investimentos no desenvolvimento da marca Colônia no mercado regional,
não se pode olvidar sua atuação como distribuidora e revendedora multimarcas,
circunstâncias estas que, por si só, afastam sua pretensão à indenização.
A uma, porque não restou comprovado nos autos que os investimentos e custos
acima elencados se deram exclusivamente em razão da comercialização dos produtos
Colônia. Ademais, mesmo que assim fosse, não se vislumbra qualquer perda material,
especialmente no tocante aos valores gastos com aquisição de equipamentos,
apetrechos e automóveis, haja vista a possibilidade de utilização dos bens na revenda
e distribuição de outras marcas e/ou de alienação destes.
A duas, porque conforme entendimento sedimentado por esta Câmara, “a expansão
dos negócios é objetivo comum do representante comercial ou de qualquer empresa,
o que implica necessariamente em investir em sua estrutura para que haja implemento
dos negócios. Logo, os investimentos realizados se deram na expectativa inerente ao
658
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
seu objeto, em essência, pelo que não foi o autor iludido ou induzido em erro, até
porque investiu no implemento da sua própria atividade mercantil, que continua a
exercer, sendo que a sua empresa preexistia com larga experiência no ramo de seu
negócio” (AP 1.358.239-5, Rel. Des. Mario Helton Jorge, julgada em 20/05/2015).
A três, porque tais dispêndios são inerentes à atividade comercial da autora, que,
incontroversamente, atuou por onze meses como distribuidora exclusiva das bebidas
Colônia na região, tirando proveito de tal situação.
A quatro, porque, ante à precariedade do acordo celebrado e a ausência de pacto
quanto a condições primárias e essenciais, como o prazo de duração da exclusividade,
por exemplo, não há que se falar em rescisão antecipada, de forma que todos os
investimentos representam, em verdade, mero risco assumido pela autora por sua
própria liberalidade.
E, em se tratando de contrato de representação comercial com exclusividade de
distribuição regional por prazo indeterminado, não merece igualmente guarida o
pleito de indenização pelos supostos lucros cessantes, sobretudo porque: (a) como já
elucidado, o acordo poderia ser rescindido a qualquer tempo; (b) não consiste o lucro
cessante em dano imaginário ou hipotético, mas sim em probabilidade objetiva e
razoável de que eventual fato danoso tenha interferido nos lucros regularmente
auferidos, o que, todavia, não se verifica, até mesmo porque, como por diversas vezes
afirmado pela própria apelante, a marca Colônia “não detém uma parcela satisfatória
no mercado”.
Não havendo, portanto, ato ilícito ou outros elementos objetivos que corroborem a
tese de dano material aventada pela autora, tem-se que esta não se desincumbiu do
ônus que lhe cabia, adequado, pois, o indeferimento do pedido de indenização pelos
danos materiais, consoante disposição do art. 402 do Código Civil e art. 333, inciso I,
do Código de Processo Civil de 1973.
2.4) Não obstante a possibilidade de a pessoa jurídica sofrer dano moral, nos termos
da Súmula 227 do Superior Tribunal de Justiça, a jurisprudência da própria Corte
Superior se consolidou no sentido de reconhecer que a ofensa somente é possível se
praticada contra sua honra objetiva, porquanto a honra subjetiva é inerente, apenas, à
pessoa natural.
Ocorre que não há nos autos a menor comprovação de que a apelante tenha sofrido
qualquer prejuízo a sua honra subjetiva, ou seja, a sua imagem e/ou nome comercial.
O inadimplemento e a rescisão injustificada pelas rés do contrato de representação
comercial com exclusividade de distribuição de bebidas, embora evidentemente típico
da frustração de um negócio comercial, quando muito, pode ter trazido algum
transtorno aos seus sócios, o que não significa (e efetivamente não restou
demonstrado) qualquer prejuízo à sociedade empresarial.
Nesse sentido orienta a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça: “AGRAVO
REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO.
TRANSFERÊNCIA DE VALORES DE CONTA CORRENTE.
HACKER. PESSOA JURÍDICA. DANOS MORAIS SUBJETIVOS. NÃO CABIMENTO. 1.
A pessoa jurídica somente poderá ser indenizada por dano moral quando violada sua
honra objetiva. Hipótese em que não são alegados fatos que permitam a conclusão de
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que a pessoa jurídica autora tenha sofrido dano à sua honra objetiva, vale dizer, tenha
tido atingidos o conceito, a reputação, a credibilidade, de que goza perante terceiros.
2. Agravo regimental a que se nega provimento” (AgRg no AREsp 149.523/GO,
Quarta Turma, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 06/02/2014).
Outro não é o entendimento deste Tribunal: “APELAÇÃO CÍVEL.
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. CONTRATO VERBAL
DE REPRESENTAÇÃO COMERCIAL. RESCISÃO INJUSTIFICADA. 1. CLÁUSULA DE
EXCLUSIVIDADE DE REPRESENTAÇÃO. NÃO COMPROVADA.
2. DANOS MATERIAIS. INVESTIMENTOS DECORRENTES DA ATIVIDADE
EMPRESARIAL. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO COM A RESCISÃO CONTRATUAL. 3.
DANO MORAL. DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AOS
DIREITOS DA PERSONALIDADE. MEROS DISSABORES. 4. MAJORAÇÃO DA VERBA
HONORÁRIA NA RECONVENÇÃO. IMPOSSIBILIDADE 5. RECURSO DESPROVIDO”
(AP 1.358.239-5, desta Câmara, Rel. Des. Mário Helton Jorge, julgada em 20/05/2015).
Ainda: “APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ORDINÁRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
COBRANÇA INDEVIDA DE VALORES. AUSÊNCIA DE INSCRIÇÃO DO NOME DO
CONSUMIDOR NOS ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO OU DE QUAISQUER
OUTROS ABALOS MORAIS. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO À HONRA OBJETIVA DA
PESSOA JURÍDICA. MEROS ABORRECIMENTOS. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL
NÃO DEVIDA. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO NÃO PROVIDO” (AP 1.177.480-0,
11ª CCív, Rel. Des. Gamaliel Seme Scaff, julgada em 20/08/2014).
Assim, tem-se que o episódio aqui retratado não é capaz de gerar indenização por
dano moral, razão pela qual a insurgência não comporta acolhimento também neste
ponto.
2.5) A autora formulou dois pedidos: declaratório de existência do contrato de
representação e condenatório por dano material e moral. Obteve vitória somente
quanto a um deles. Há, portanto, sucumbência recíproca. Ficam, assim, as partes
condenadas ao pagamento das custas processuais, meio-a-meio, em conformidade
com a tabela regimental em vigor, em a verba honorária aos patronos respectivos de
R$ 5.000,00 (cinco mil reais), considerando a relativa simplicidade da causa, o zeloso
trabalho desenvolvido pelos profissionais, a realização de audiência de instrução, e o
tempo decorrido desde o ajuizamento até a prolação da sentença (sete meses).
2.6) Diante do exposto, voto no sentido de dar parcial provimento a apelação da
autora para julgar parcialmente procedente seu pedido declarando a existência de
contrato de representação comercial com as rés e responsabilizar as partes ao
recolhimento das custas processuais na proporção de cinquenta por cento para cada
uma e ao pagamento de verba honorária aos respectivos patronos adversos de cinco
mil reais.
3) DISPOSITIVO:
ACORDAM os Magistrados integrantes da 12ª Câmara Cível, à unanimidade de votos,
em prover em parte o recurso da autora e julgar parcialmente procedente seu pedido
declarando a existência de contrato de representação comercial com as rés,
responsabilizando as partes ao recolhimento das custas processuais na proporção de
660
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cinquenta por cento para cada uma e ao pagamento de verba honorária aos
respectivos patronos adversos de cinco mil reais.
Participaram do julgamento o Desembargador Mário Helton Jorge e o Juiz Substituto
Mauro Bley Pereira Junior.
Curitiba 23 novembro 2016.
(assinado digitalmente) Des. Luiz Cezar Nicolau, relator
PROVIDO.
Unânime - J. 03.02.2016)
Inteiro Teor
1) RELATÓRIO:
Trata-se de apelação interposta pelos réus contra sentença que julgou procedente
pedido da autora para “declarar a anulação da escritura pública de compra e venda,
datada de 04/06/2008, lavrada no livro 248-C, fls. 107, do Tabelionato desta Comarca,
com a consequente anulação do respectivo registro na matrícula de nº 9.975, do
Registro de Imóveis desta Comarca” (sic), e os condenou “a arcarem de forma
solidária com as custas e despesas processuais, além de honorários advocatícios que
fixo em R$ 2.000,00 (dois mil reais) em atenção ao art. 20, § 4º, do CPC,
considerando o grau de zelo profissional, o trabalho apresentado, o tempo exigido
para o feito e a natureza da demanda” (sic, fl. 169/173).
Sustentam, em síntese, o seguinte: a) não foram analisados, pelo magistrado singular,
os argumentos e provas trazidas aos autos e, se fossem considerados, favoreceria a
tese dos apelantes, pois as testemunhas afirmaram que o imóvel foi comprado com
dinheiro de outro imóvel anteriormente vendido; b) não foi levado em conta a
expressa vontade dos apelantes por ocasião da assinatura da escritura pública, a qual
explicitamente trata das condições do negócio jurídico entabulado pelas partes; c) a
prova testemunhal é falha, pois as testemunhas da apelada afirmaram que foi a própria
apelada que lhes teria contado sobre tal condição de doação do imóvel; d) não se
pode anular uma escritura pública com base em argumentos sem qualquer prova
661
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
da casa, ajudava financeiramente nas despesas com alimentação entre outros, mesmo
tendo os requeridos, assumido todos estes encargos.
Passado algum tempo, a requerente, devido a problemas de saúde, necessitou fazer
uma cirurgia de cataratas, onde neste momento iniciaram os problemas. A requerente
necessitava fazer referida cirurgia na cidade de Curitiba, isso devido ao
encaminhamento feito por seu médico. Os requeridos alegavam que tal cirurgia não
era necessária e que se fosse feita iria gerar muitos gastos, onde dessa forma a mesma
não poderia ajudar mais ambos financeiramente durante o período de tratamentos
nem tampouco fazer suas tarefas domésticas” (sic, fl. 04); (l) essa situação fez com que
deixasse a sua casa e fosse morar em companhia de seu irmão; “descobriu
recentemente o golde dos requeridos, isso devido ao fato dos requeridos ameaçarem
vender o imóvel em questão, momento em que buscou auxílio para poder reaver seu
único bem” (sic, fl. 05); (m) o ato jurídico de compra e venda do imóvel não pode
subsistir porque presente erro substancial que autoria a sua anulação, com base nos
arts. 138, 139, 145 do Código Civil, sendo que sua intenção sempre foi doar o imóvel,
mediante usufruto, a quem lhe prestasse cuidados permanentes, tendo sido enganada
pelos réus.
Os réus apresentaram contestação sustentando, em síntese, que: (a) possuíam um
imóvel localizado no loteamento Santo Antonio (matrícula 16.819) “o qual foi vendido
justamente para comprar o imóvel da requerente” (sic, fl. 40); (b) a autora “tinha plena
noção e consciência do que estava fazendo, assinou a escritura de compra e venda e,
ainda, recebeu a quantia relativa ao negócio entabulado” (sic, fl. 40), não cabendo
falar em erro substancial e sim em arrependimento daquela na concretização do
negócio, o que não se constitui causa suficiente para a sua anulação; (c) a autora “não
fez a menor prova do suposto vício que importasse na anulação da escritura pública
celebrada entre ela e os requeridos e não se vislumbra o emprego de nenhum
expediente, na compra e venda, que induzisse a requerente em erro” (sic, fl. 41),
sendo que “o mero fato, portanto, de receber uma quantia abaixo do que valia o
imóvel, da parte possuir baixo grau de instrução, da parte estar passando por
dificuldades financeiras, ou de ter gasto o prêmio da tele sena não possui o condão de
determinar a invalidade do negócio” (sic, fl. 42); (d) consta na escritura pública de
compra e venda declaração da autora de ter recebido em moeda corrente o preço
ajustando dando plena e geral quitação, sendo que tal documento foi formalmente
elaborado, e “no que se refere a declaração de vontade, não existe prova que permita
concluir pela existência de erro substancial, o que demonstra que são totalmente
inverídicos os argumentos trazidos pela requerente, a qual não demonstra sequer um
indício da presença de vício de consentimento capaz de embasar a anulação do
negócio jurídico” (sic, fl. 43); (e) impõe-se, assim, a improcedência da pretensão
“devendo subsistir o negócio jurídico entabulado entre as partes, consistente na
compra e venda do imóvel registrado na matrícula nº 9575 do Cartório de Registro de
Imóveis desta Comarca, conforme escritura pública de compra e venda, lavrada no
tabelionato de notas da Comarca de Prudentópolis, no livro 248 C, folhas 107” (sic, fl.
45).
Os réus são, como já consignado, cunhado e irmã, respectivamente, da autora.
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Adelia Pastch Rossa disse que ficou sabendo pela autora que esta teria doado o
imóvel para os réus com o objetivo de que cuidassem dela (depoimento armazenado
em cd-rom).
Helena Kriyuyl, que é prima da autora e da ré, relatou que aquele morava com sua
mãe na casa que construiu; que a mãe da autora foi mora com o um filho porque
estava adoentada e o estado de saúde da autora também era precário; que a intenção
da autora, conforme várias vezes lhe relatou, era doar o imóvel para alguma pessoa
que se comprometesse em cuidar da mesma “para o resto de sua vida”; que acabou
doando o imóvel para os réus sob as promessas de que prestariam esses cuidados;
que a autora lhe disse que não recebeu nenhum dinheiro dos réus pela transferência
do imóvel; que também a autora se queixava de que os réus passaram a lhe maltratar,
fazendo com que se retirasse da casa e fosse morar com seu irmão; que a autora foi
operada de catarata; que a autora disse, também, que assinou a escritura pensando
que fosse doação (depoimento armazenado em cd-rom).
Maria Kraskovski, que também é parente das partes, declarou que a mãe da autora e
da ré frequentava a sua casa, tendo afirmado que a autora iria doar o imóvel para os
réus para que eles cuidassem dela “para o resto da vida”; que a autora possui
problema de saúde, tendo sido, inclusive, operada de catarata; que não sabe qual o
motivo de ter sido elaborada escritura de compra e venda ao invés de escritura de
doação; que a autora, pelo que lhe informou, não recebeu nenhum dinheiro dos réus
pela transferência do imóvel; que os réus chegaram a se mudar para a casa da autora;
que no início a autora era bem tratada pelos réus, situação que começou a se alterar
no passar do tempo, o que levou a autora a deixar o imóvel e a ir morar em
companhia de um irmão (depoimento armazenado em cd-rom).
Rosangela Suchodolak Pereira informou que conhece a autora há muitos anos; que foi
a autora quem construiu a casa sobre o lote de terreno, onde morava em companhia
de sua mãe; que tanto a autora quanto a sua mãe eram pessoas doentes, sendo que a
mãe da autora justamente por causa da debilitação física e porque a autora não possui
condição de cuidar da genitora foi morar com outro filho; que a autora sempre
comentou que sua intenção era doar o imóvel para quem “lhe cuidasse para o resto
da vida”; que a autora fez doação do imóvel para os réus porque estes teriam
prometido cuidar dela “para sempre”, conforme lhe relatou a própria autora; que a
autora acabou indo morar com um irmão seu porque os réus depois de um tempo
passaram a lhe tratar mal (depoimento armazenado em cd-rom).
Maria Isabel de Souza dos Santos afirmou que conhece os réus e que ficou sabendo
pela ré que compraram o imóvel da autora por vinte e sete mil reais; que não
presenciou o negócio realizado; que também por intermédio da ré que o casal vende
um lote que possuíam para adquirir o imóvel da autora, não sabendo, no entanto, qual
foi o valor dessa venda; que não conhece a autora; que nada sabe a respeito de
doação do imóvel da autora para os réus (depoimento armazenado em cd-rom).
Carlos Davi Zanzeluk foi contratado pelos réus para fazer uma reforma interna na casa;
que ficou sabendo pelo réu varão que teria comprado o imóvel, não sabendo por qual
preço; que os réus tinham um lote de terreno onde ia ser edificada uma casa; que
venderam esse lote e compraram a casa da autora (depoimento em cd-rom).
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Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
O ato retratado na escritura pública de compra e venda, portanto, não pode subsistir.
E isso porque a intenção da autora não era vender o seu imóvel e sim doá-lo a quem
se comprometesse em lhe prestar auxílio e cuidado.
O art. 139, inciso I, do Código Civil estabelece que “o erro é substancial quando:
interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou alguma das
qualidades a ele essenciais”.
Lecionam, a propósito, Gustavo Tepedino, Heloisa Helena Barbosa e Maria Celina
Bodin de Moraes, que “o negócio jurídico só será anulável por erro quando a
declaração de vontade emanar de erro substancial (art. 139). Na definição de Caio
Mário, “substancial é o erro que diz respeito à natureza do ato, ao objeto principal da
declaração, ou a algumas qualidades a ele essenciais (...). Em suma, para ser
considerado como defeito viciador da vontade, o erro há de constituir uma opinião
errada sobre as condições essenciais determinantes da manifestação de vontade, cujas
consequências não são realmente queridas pelo agente (Instituições, vol. p 520)”
(Código Civil Interpretado, 3ª ed., Renovar, pág. 272).
Estando comprovado o vício na manifestação da vontade, eis que foi a apelada
induzida em erro, correta está a decretação da nulidade do compromisso de compra e
venda.
2.3) Diante do exposto, voto no sentido de negar provimento a apelação dos réus e
manter a sentença.
3) DISPOSITIVO:
ACORDAM os Magistrados integrantes da 12ª Câmara Cível, à unanimidade de votos,
em não prover o recurso e ratificar a decisão atacada.
Participaram do julgamento o Desembargador Mário Helton Jorge e a Juíza Substituta
Suzana Massako Hirama Loreto de Oliveira.
Curitiba 03 fevereiro 2016.
(assinado digitalmente) Des. Luiz Cezar Nicolau, relator
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(TJPR - 12ª C.Cível - AC - 1393915-2 - Arapongas - Rel.: Luiz Cezar Nicolau - Unânime
- J. 03.02.2016)
Inteiro Teor
1) RELATÓRIO:
Trata-se de recurso de apelação interposto por ambas as partes contra sentença que
julgou parcialmente procedente o pedido cominatório para (a) determinar que a ré
devolva os títulos de n. 2364/10, 2364/11, 2364/12, 2364/13,2364/14, 2364/07 e
2364/06, se já não o tiver feito, confirmando a liminar concedida; (b) condenar a parte
ré ao pagamento de juros legais mensais, no importe de 1% ao mês, capitalizados de
forma simples, sobre o valor dos títulos de n. 2364/10, 2364/11, 2364/12, 2364/13,
2364/14, 2364/07 e 2364/06 (valores estes atualizados pela média INPC e IGP-DI a
partir de cada vencimento), sendo tais juros contados a partir da assinatura do contrato
(14.7.2009) até a devolução em 7.12.2010 (fI. 91); (c) determinar a compensação do
importe de R$ 5.000,00, atualizados na forma da fundamentação, devidos pela autora
à ré com o objeto da condenação do item b, com a retenção ou devolução do título n.
2364/08; Em razão da sucumbência recíproca, sem equivalência das derrotas,
considerando que a parte demandante obteve maior êxito (observado não só o caráter
quantitativo, mas também qualitativo de suas pretensões), condeno a parte autora ao
pagamento de 30% das custas processuais e honorários advocatícios à demandada no
importe de R$ 800,00 (oitocentos reais) e parte ré ao pagamento de 70% das custas
processuais e honorários advocatícios ao patrono da parte adversa, os quais fixo em
R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais), autorizada a compensação nos termos do
enunciado n.
306 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça, a qual deve ser realizada em
momento anterior à suspensão a que alude o art. 12 da Lei n. 1.060/50”.
Sustenta, a autora, em síntese, que: a) objetiva a condenação da parte contrária ao
pagamento de indenização por dano moral no valor dos títulos, que atualmente estão
imprestáveis para recebimento; b) a sentença negou esse direito ao argumento de que
implicaria em bis in idem ante a probabilidade de receber o mesmo valor duas vezes,
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(TJPR - 12ª C.Cível - AC - 1412552-9 - Francisco Beltrão - Rel.: Luiz Cezar Nicolau -
Unânime - J. 03.02.2016)
Inteiro Teor
1) RELATÓRIO:
Trata-se de recurso de apelação interposto pelo réu contra sentença que julgou
improcedentes os embargos monitórios que opôs em face do autor e procedente o
pedido monitório “para o fim de constituir o título executivo judicial em desfavor da
requerida, no valor correspondente ao cheque apresentado (R$ 100.000,00) e
despesas com cartório” (sic), condenando-o ao pagamento das custas processuais e
honorários de três mil reais (mov. 50.1).
Sustenta, em síntese, que: a) deve ser reconhecida a nulidade da sentença por
cerceamento de direito defesa ante o julgamento antecipado da lide; b) é parte
ilegítima, porquanto o cheque foi emitido pela pessoa jurídica Elair José Ozório ME;
c) deve ser comprovada a origem do débito, porquanto a desconhece; d) houve
julgamento ultra-petita porque o autor requereu o pagamento de juros moratórios
desde a citação, mas o magistrado singular determinou sua incidência desde a
emissão do cheque. Pede, assim, o provimento do recurso para esses fins (mov. 55.1).
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O apelo foi recebido nos efeitos devolutivo e suspensivo (mov. 58.1), contrariado
(mov. 61.1), com o encaminhamento dos autos a este Tribunal.
2) FUNDAMENTAÇÃO E VOTO:
2.1) Conheço do recurso porque adequado, tempestivo e preparado.
2.2) Havendo elementos de informação suficientes nos autos para a resolução da
controvérsia não há que se falar em cerceamento de defesa. O julgamento na fase em
que se encontra o feito está previsto no art.
330, inciso I, do Código de Processo Civil. É o caso em análise. O apelante, aliás,
sequer indica em suas razões recusais qual o efetivo prejuízo que teve com a não
produção de prova em audiência.
2.3) Não há, também, qualquer hipótese que enseja o reconhecimento da alegada
ilegitimidade passiva. Isso porque o cheque apresentado contempla expressamente a
assinatura do réu enquanto titular da empresa individual que o emitiu, não podendo a
ficção quanto à sua personalidade jurídica ser imposta como motivo para o não
pagamento da dívida.
Nesse sentido o seguinte precedente: “DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO
MONITÓRIA. CHEQUES PRESCRITOS.
PROVA DO PAGAMENTO. PROVA TESTEMUNHAL INADEQUADA.
CERCEAMENTO DE DEFESA INEXISTENTE. LEGITIMIDADE PASSIVA.
CHEQUES EMITIDOS POR EMPRESÁRIO INDIVIDUAL. PESSOA FÍSICA. PARTE
LEGÍTIMA PARA A CAUSA. CAUSA DE PEDIR.
DESNECESSIDADE DA DESCRIÇÃO DA ORIGEM DAS CÁRTULAS.
ÔNUS DA PROVA QUANTO AO PAGAMENTO DOS TÍTULOS. FATO EXTINTIVO DO
DIREITO DO AUTOR. ÔNUS DA PROVA DO EMITENTE. (...) IV. O empresário
individual corresponde à pessoa física que desempenha pessoalmente atividade
empresarial na modalidade de microempresa ou de empresa de pequeno porte. V.
Não há distinção entre o empresário individual e a pessoa física que exerce a atividade
empresarial.
Não se verifica o discrímen próprio das sociedades empresárias entre a pessoa
jurídica e seus membros. VI. Se a própria pessoa física titulariza a empresa e, por
conseguinte, todos os negócios jurídicos realizados mediante a “firma individual”, não
há como recusar sua legitimidade ad causam para a ação que tem como objeto a
cobrança de cheques emitidos pelo empresário individual. (...). Recurso conhecido e
desprovido” (TJDF, 4ª Turma Cível, Rel. Des. James Eduardo Oliveira, julgada em
23/10/2013).
2.4) Instruiu o apelado seu pedido monitório com um cheque emitido pelo apelante,
sacado contra o Banco HSBC, agência 0047, de Francisco Beltrão/Pr, no valor total de
R$ 100.000,00 (cem mil reais).
O embargante não nega a emissão do cheque e tampouco comprova a
inexigibilidade do débito. Limita-se a dizer que o apelado não comprovou a origem da
dívida e que isso inviabiliza a pretensão formulada.
O autor da ação monitória não precisa, na inicial, declinar a relação causal que deu
origem à emissão do cheque prescrito.
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(TJPR - 12ª C.Cível - AI - 1397420-4 - Curitiba - Rel.: Luiz Cezar Nicolau - Unânime - J.
03.02.2016)
Inteiro Teor
1) RELATÓRIO:
Trata-se de recurso de agravo de instrumento interposto contra decisão proferida nos
autos 1113-64.2015.8.16.0188, de ação de reconhecimento e dissolução de união
estável cumulada partilha de bens e alimentos, ajuizada por M.D.L.P.A. em face de
N.G., que fixou alimentos
provisórios em favor da agravada no valor de R$ 1.000,00 por mês (fl.
414/415-TJ).
Sustenta o agravante, em síntese, que: (a) apesar de habitarem a mesma residência
por determinado período de tempo e de terem sido casados, não existem provas
cabais que atestem a existência da união estável afirmada pela agravada, porquanto
não preenchidos os requisitos elencados no art. 1.723 do Código Civil; (b) a agravada
omite o fato de que trabalha há mais de quatro anos como monitora de van escolar e
com encomendas de doces e salgados, conforme fotografias e vídeos colacionados
aos autos; (c) os exames e atestados médicos que acompanham a petição inicial são
defasados, antigos e não retratam o atual estado de saúde da agravada, que,
portanto, demonstra condições de exercer as referidas atividades laborais; (d) durante
aproximadamente oito meses intervalo de tempo entre a saída da residência por
força de medida protetiva e a presente data a agravada se manteve sem qualquer
673
Análise de Banca – Magistratura TJPR 2017 - 2ª Fase • ESCOLA DA MAGISTRATURA DO PARANÁ
tipo de ajuda ou auxílio, sendo que não possui renda mensal bruta de R$ 9.000,00 por
mês como afirmado por aquela; (e) a decisão agravada comprometerá a sua
subsistência, uma vez que tem custos de aluguel, plano de saúde da genitora
(atualmente com 80 anos), funcionária da atividade comercial de transporte escolar
etc.; (f) as declarações apresentadas nos autos são assinadas por amigos do filho da
agravada que, dada a intimidade e convivência que possuem, “declarariam qualquer
coisa para ajudá-la, conforme informação extraída da rede social Facebook”.
Pede, assim, a suspensão imediata da decisão e o provimento do recurso para o fim
de “revogação da decisão interlocutória que fixou um valor exacerbado a título de
alimentos” (sic).
Deferi liminar para suspender o pronunciamento recorrido até o julgamento do mérito
da insurgência pela Câmara (fl. 442/443-vº).
A agravada apresentou resposta afirmando, em resumo, que deve ser mantida a
decisão que fixou alimentos provisórios, pois necessita do auxílio alimentar do
agravante porque se encontra fisicamente debilitada, sendo “vítima de agressão
doméstica, doente e sem qualquer capacidade de labor (aliás, os autos de medida
protetiva anexados pelo próprio agravante demonstram a necessidade da medida em
face das agressões perpetradas). Cabendo ao ex-cônjuge suprir as suas necessidades,
o qual se não for pela moral, que seja com amparo na legislação civil juntamente com
os dispositivos constitucionais. Sendo inadequado o filho resultante do relacionamento
arcar com o ônus que cada ao agravante” (sic, fl. 454).
2) FUNDAMENTAÇÃO E VOTO:
O pronunciamento recorrido está assim sintetizado: “4. O entendimento de que o
dever de mútua assistência imposto aos cônjuges interpretação do artigo 1.694, do
Código Civil origina a obrigação alimentar, a qual persiste mesmo após a dissolução
do vínculo matrimonial, tem sido objeto de inúmeras reflexões. 5. Recentemente, o
Superior Tribunal de Justiça manifestou-se sobre o assunto, decidindo no sentido de
que os alimentos entre ex-cônjuges são excepcionais e temporários. Ou seja, uma
exceção à regra, incidente apenas quando configurada a dependência do outro ou a
carência de assistência alheia. Tal entendimento vai ao encontro das paulatinas
alterações da sociedade brasileira, na qual a mulher não se dedica mais
exclusivamente à família, não necessitando, ab initio, de uma pensão alimentícia para
poder conseguir sobreviver após o término da relação conjugal 6. No caso dos autos,
a autora fundamenta sua pretensão, basicamente, na discrepância entre seus
rendimentos e os rendimentos do réu e na sua atual condição de saúde. 7. Analisando
os documentos juntados aos autos, em especial aqueles que confirmam o quadro de
saúde da requerente, e considerando que ela já recebe proventos oriundos de
aposentadoria, por ora, fixo os alimentos provisórios no importe de R$ 1.000,00 (um
mil reais) mensais, valor este a ser depositado até o dia 10 de todo mês em conta
corrente de titularidade da autora, a ser informada nos autos no prazo de 48 horas,
iniciando-se os depósitos no mês de junho do corrente ano”.
Diferentemente do que ocorre nas obrigações que envolvem alimentados incapazes,
onde a necessidade destes é presumida, a prestação de alimentos entre cônjuges
e/ou conviventes se funda no dever de mútua assistência (CC, art. 1.566, inciso III
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combinado com art. 1.724) e deve ser fixada “na proporção das necessidades do
reclamante e dos recursos da pessoa obrigada” (CC, art. 1.694, § 1º).
Ainda que o agravante afirme ter renda bruta de aproximadamente R$ 7.000,00 por
mês, observa-se que o mesmo tem despesas de plano de saúde, universidade do filho
e aluguel (fl. 73/75-TJ), além de serem presumíveis as demais despesas básicas
inerentes à moradia e de alimentação, por exemplo.
Acrescenta-se, ainda, a verossimilhança das alegações no tocante à tese de que a
agravada exerce atividade remunerada, especialmente como monitora de van escolar
e como vendedora informal de salgados, aquela conforme fotografias colacionadas (fl.
34/36-TJ) e esta conforme vídeo constante em mídia de CD-ROM e declaração de
profissão de “salgadeira” em determinado prontuário médico (fl. 29 e fl. 349-TJ).
Por fim, cabe observar que em ambas das composições realizadas pelas partes
separação judicial no ano de 2003 (fl. 146/149-TJ) e conversão da separação em
divórcio no ano de 2012 (fl. 95/96-TJ) houve dispensa de prestação de alimentos e,
ainda, o razoável período de tempo em que a agravada promoveu a sua subsistência,
em tese, sem qualquer auxílio de terceiros (maio/2014 a janeiro/2015, intervalo entre a
medida protetiva concedida nos autos 1856-57.2014.8.16.0011 e a propositura da
ação originária, fl. 135/136 e fl. 79-TJ).
Apresentam-se relevantes, pois, os fundamentos lançados pelo agravante, porque a
manutenção da decisão agravada neste momento de cognição sumária certamente
poderá resultar em lesão grave e de difícil reparação, sobretudo em razão de que
representa montante significativo da sua renda líquida e da concreta possibilidade de
prejuízo do sustento próprio e da sua família.
A agravada por ocasião da apresentação da resposta invoca o princípio da
solidariedade para justificar a manutenção da pensão provisória, não demonstrando,
no entanto, sua efetiva e real necessidade material, inviabilizando-se, assim, a fixação
de plano dessa obrigação, o que pode restar modificado durante a fase de instrução.
Diante do exposto, voto no sentido de dar provimento ao agravo de instrumento para
ratificar a liminar concedida e suspender o pronunciamento recorrido que fixou
alimentos provisórios de um mil reais em favor da agravada.
3) DISPOSITIVO:
ACORDAM os Magistrados integrantes da 12ª Câmara Cível, à unanimidade de votos,
em prover o recurso na forma e para o fim acima estabelecido.
Participaram do julgamento o Desembargador Mário Helton Jorge e a Juíza Substituta
Suzana Massako Hirama Loreto de Oliveira.
Curitiba 03 fevereiro 2016.
(assinado digitalmente) Des. Luiz Cezar Nicolau, relator
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Inteiro Teor
1) RELATÓRIO:
Trata-se de apelação interposta pelo réu e pelo escritório de advocacia que
patrocinou a causa pela parte autora contra sentença que julgou procedente o pedido
desta para o fim de “condenar o réu a pagar ao autor o correspondente a 10% (dez
por cento) sobre o benefício financeiro obtido pelo réu, nos termos da
fundamentação” a ser apurado mediante liquidação por artigos (CPC, art. 475-E),
incidindo juros de mora no importe de 1% (um por cento) sobre o benefício financeiro
obtido pelo réu e correção monetária pelo INPC/IGP-DI, bem assim ao pagamento das
custas processuais e de honorários de sucumbência de um mil e quinhentos reais
(mov.86.1).
Sustenta o réu, em síntese, que: a) celebrou contrato de cessão de atleta com o autor,
temporário e gratuito pelo período de 02/05/2012 a 30/11/2012, onde constou
cláusula estipulando que se ao final do empréstimo ou até 03 (três) meses
subsequentes ao seu término, o cedente efetuasse a venda do atleta a um terceiro
clube, repassaria ao autor cessionário “10% (dez por cento) do valor da venda
celebrada” (mov. 1.3, cláusula terceira, parágrafo primeiro); b) após o vencimento do
empréstimo e com o retorno do atleta Clube réu, o apelante negociou novo
empréstimo, gratuito, com o Coritiba Foot Ball Club para o período de 06/01/2013 a
31/05/2013 (mov. 19.3, cláusula 2.1), depois prorrogado, novamente de forma
gratuita, para o período de 01/06/2013 a 31/12/2013 (mov. 19.4, cláusula 2.1); c) os
empréstimos que o Coritba fez ao apelante dos atletas Dirceu e Vinicius não têm
qualquer relação com o de Arthur; d) houvesse a relação, o atleta Dirceu não poderia
estar hoje atuando no Londrina uma vez que Arthur foi devolvido pelo Coritiba tão
logo encerrou seu período de empréstimo; e) os salários dos atletas Dirceu e Vinicius
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continuaram a ser pagos pelo Coritiba, ante seus altos valores. Pede, assim, o
provimento do recurso com a improcedência da pretensão formulada (mov.
98.1).
Sustenta o escritório de advocacia, em síntese, que os honorários foram fixados em
valor irrisório a título de sucumbência, pelo que devem ser majorados (mov. 108.1).
Os apelos foram recebidos em ambos os efeitos (mov. 110.1 e 123.1), contrariado o
do réu (mov. 134.1) e os autos encaminhados a este Tribunal.
2) FUNDAMENTAÇÃO E VOTO:
2.1) Do recurso do réu. Conheço porque adequado, tempestivo e preparado.
Cinge-se a controvérsia à existência do dever do réu de pagar ao autor 10% (dez por
cento) sobre o valor obtido com a cessão temporária do atleta Arthur Caike do
Nascimento Cruz ao Coritiba Foot Ball Club.
Pelos termos do Instrumento Particular de Cessão Temporária de Atleta de Futebol
(mov. 1.3) o apelante, detentor dos direitos federativos do atleta, cedeu-os, em caráter
temporário e gratuito, ao cessionário apelado, pelo prazo de 02/05/2012 a
30/11/2012.
Em sua cláusula terceira, parágrafo primeiro, constou que: “Fica desde já estabelecido
entre as partes que caso o CEDENTE obtenha proposta de qualquer clube estrangeiro
ou nacional para a cessão temporária ou definitiva do ATLETA até 28.02.2013, e caso
o CESSIONÁRIO não exerça seus direitos estipulados no caput da Cláusula Terceira, o
CEDENTE se compromete a repassar ao CESSIONÁRIO 10% (dez por cento) do valor
da venda celebrada, ficando o CEDENTE plenamente livre e desimpedido para aceitar
ou não a proposta, bastando apresentar a proposta oficial do terceiro clube ao
CESSIONÁRIO, o qual fica obrigado a liberar o ATLETAem 02 (dois) dias a contar da
data da referida notificação” Em janeiro de 2013 o apelante entabulou novo
Instrumento Particular de Cessão Temporária de Atleta de Futebol e outras avenças
(mov.
19.3), agora com o Coritiba Foot Ball Club, transferindo temporária e gratuitamente
os direitos federativos do mesmo atleta.
Sentenciando, entendeu o magistrado: “Logo, à luz de uma interpretação segundo a
boa-fé contratual, pode-se afirmar que sobre qualquer cessão do atleta Arthur Caike
do Nascimento Cruz, seja temporária ou definitiva, a qualquer clube nacional ou
estrangeiro, até a data de 28/02/13, o cessionário (autor) possui direito ao equivalente
a 10% sobre o valor da venda, venda esta que deve ser entendida, neste contexto,
como benefício econômico em proveito do cedente (réu)” (sic).
Afirma o apelante que “não vendeu os direitos econômicos que detinha sobre o atleta
Arthur, limitando-se a transferir o jogador temporária e gratuitamente ao cessionário
Coritba, sem receber qualquer importância pela cessão (mov. 19.3 e mov. 19.4,
cláusula segunda, item 2.1), tal qual fizera anteriormente, quando do empréstimo do
mesmo atleta ao próprio autor/apelado (mov. 1.3, cláusula primeira), daí porque
entende o apelante ser inaplicável à espécie o dispositivo contratual indicado na r.
sentença ora hostilizada”.
Inobstante a discussão operada, de se tratar ou não de operação de troca de
jogadores ou de simples cessão temporária e gratuita, ou da existência ou não de
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benefício econômico havido pelo apelante, restou incontroverso nos autos que não foi
realizada a venda do atleta Arthur no período de vinculação existente no contrato
firmado entre os litigantes.
O art. 113 do Código Civil realça a boa-fé e os costumes que devem nortear a
interpretação dos negócios jurídicos em geral: “Os negócios jurídicos devem ser
interpretados conforme a boa-fé e os usos e costumes do lugar da celebração”.
Deve ser respeitada a livre contratação efetivada pelas partes.
Apenas em casos excepcionais é possível ao juiz intervir no que foi livremente
pactuado entre os litigantes, pois prevalece nesse tipo de contrato, em regra, o
princípio da força obrigatória.
A cláusula contratual que estabeleceu o percentual de repasse é de clareza ímpar,
descrevendo que a obrigação, o dever de pagamento do percentual, incidiria em caso
de venda do jogador Arthur, não sendo possível interpretá-la extensivamente de forma
a alcançar qualquer “benefício econômico”.
Portanto, em não tendo ocorrido a venda do atleta de futebol, Arthur Caike do
Nascimento Cruz dentro do período compreendido entre o término da cessão
temporária e a data de 28/02/2013, não tem o apelado direito ao percebimento de
qualquer quantia, devendo ser julgada improcedente a pretensão inicial, invertendo-se
o ônus da sucumbência.
2.2) Do recurso do escritório Tetto, Macedo, Mees & Tisi Advogados. Conheço
porque adequado, tempestivo e preparado.
No entanto, como objetiva a majoração da verba honorária de sucumbência, e como
foi provido o apelo do réu com a improcedência do pedido formulado pela parte
autora, constituída do apelante, resta prejudicado de análise e deliberação a
insurgência deduzida.
2.3) Diante do exposto, voto no sentido de dar provimento a apelação de Londrina
Esporte Clube para reformar a sentença e julgar improcedente a pretensão de Paraná
Clube, invertendo-se o ônus sucumbência, restando prejudicado o recurso do
escritório de advocatícia.
3) DISPOSITIVO:
ACORDAM os Magistrados integrantes da 12ª Câmara Cível, à unanimidade de votos,
em prover o recurso do réu para julgar improcedente o pedido do autor, com a
inversão da sucumbência, e prejudicado o recurso do escritório de advocacia.
Participaram do julgamento a Juíza Substituta Luciane Bortoleto e a Desembargadora
Joeci Machado Camargo.
Curitiba 02 março 2016.
(assinado digitalmente) Des. Luiz Cezar Nicolau, relator
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