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MAOME E A
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ASCENSAO DO ISLA
TRADUÇÃO
Sérgio Lamarão
conTRAPOnTO
©desta edição, Contraponto Editora Ltda, 2012
Título original: Mohammed and the Rise ofIslam
CIP-BRASIL CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE L IVROS, RJ
CDD: 297.63
12-2313 CDU: 28
SUMÁRIO
Prefácio 7
Bibliografia 13
1. E. Sachau, Ibn Sa'd III, i. O prefácio fornece um relato valioso sobre as fontes usadas
para a biografia do Profeta.
2. Walter Raleigh, The Life and Death ofMahomet, Londres, 1637.
3. Merece menção, entre os eloquentes relatos sobre Maomé, o que se encontra em Rea
de, Martyrdom ofMan, 14• ed., 260 p. O de Wellhausen, na introdução a Das Arabische
Reich und sein Sturs, é magistral.
4. Oxford, 1723. Abu'l-Fida é referido como o maior dos estudiosos, quiçá dos últimos
tempos, por T. Wright, Christianity in Arabia.
5. Muir, Londres, 1857-186 1 ; Sprenger, 2• ed., Berlim, 1869.
6. O julgamento que Wellhausen faz dele ( Wakidi, p. 24-26) é absolutamente justo e
sensato.
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retiradas de fontes que não são mais acessíveis. Ibn Hajar era dono
de uma extraordinária biblioteca.
4. Os trabalhos dos antigos escritores árabes, especialmente o
polígrafo 'Amr, filho de Bahr, chamado Al-Jahiz, que morreu em
255 a.H. (868 d.C.). Das suas obras, três encontram-se hoje aces
síveis, organizadas por Van V loten, além do tratado sobre retórica
publicado no Cairo. Embora não tratem diretamente de Maomé,
esses volumes contêm muitas alusões passíveis de utilização.
O escritor da atualidade pode lançar mão, além desses traba
lhos (na medida em que lhe sejam acessíveis), dos estudos já utili
zados por seus predecessores, dos quais são enumerados os prin
cipais nas referências bibliográficas. Um deles, Class Book of Ibn
Sa'd (e. 230 a.H., 845 d.C.), está para sair em livro.
Uma vez que os autores dos livros publicados na presente co
leção dispõem de um número limitado de páginas,* julguei ne
cessário sintetizar, e isso foi feito pela omissão de três tipos de
assuntos:
1 . Traduções do Alcorão (exceto nos casos mais raros).
2. Todos os relatos que óbvia ou muito provavelmente são fa
bulosos.
3. Os incidentes que têm pouca importância em si mesmos ou
para o desenvolvimento da narrativa.
Algumas orientações para se avaliar a credibilidade das tradu
ções são formuladas por Muir, na introdução de seu livro, e por
Goldziher, em Muhammadanische Studien. Observações impor
tantes a respeito do tema também são feitas por Nõldeke, ZDMG,
lii, 1 6ss. O número de motivos que levam à fabricação das tradi
ções é tão grande que o historiador corre o risco constante de em
pregar, como registros verazes, aquilo que na verdade era ficção.
Espero que eu não tenha sido apenas mais crédulo que meus ante
cessores. Ao condenar algumas das tradições como não históricas,
* O autor refere-se à série de estudos biográficos da qual seu livro faz parte, intitulada
Heroes of the Nations. [N.T.]
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* óbelo: sinal com que os antigos copistas marcavam as palavras ou passagens erradas
a serem emendadas na nova cópia. [N.T.]
8. The Spirit ofIslam, Londres, 1896; Calcutá, 1902.
9. Provavelmente toca-se o fundo da questão em New but True Life of the Carpenter,
Including a New Life ofMohammed, de Amos (Bristol, 1903 ).
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BIBLIOGRAFIA*
Ibn Ishak (citado nas notas como Ishak), morto cerca de 767. Seu livro existe em duas
versões: a de Ibn Hisham, morto em 833, que foi publicada por Wüstenfeld, Gõttingen,
1860, e depois por Zubair Pasha; e aquela publicada por Tabari, morto em 922, incluída
em seu Chronicle, publicado em Leyden, 1882-1885.
Wakidi, morto em 823, autor de um tratado sobre as campanhas militares de Maomé.
Uma edição imperfeita foi publicada por von Kremer em Calcutá, 1 856; uma tradução
abreviada de uma cópia muito melhor foi feita por Wellhausen e publicada com o título
Muhammed in Medina em Berlim, 1 882. Usamos Wakidi ( W.) para esta última versão.
Ibn Sa'd, secretário de Wakidi, morto em 845, autor de uma obra enciclopédica sobre o
Profeta e seus seguidores. Os três volumes foram publicados em Berlim sob a supervisão
de E. Sachau.
Ya'kubi, morto cerca de 905, autor de uma história em duas partes, pré-islâmica e islâ
mica, publicada por Houtsma em Leyden, 1883.
Ibn al-Athir, morto em 1 233, autor de Universal History, publicado em Leyden e no
Egito.
Diyarbekri, morto em 1 574, autor de Life of the Prophet, seguido de um esboço sobre a
história do Islã chamado Ta'rikh al-Khamis, publicado no Cairo, 1894.
Halabi, morto em 1634, autor de uma biografia do Profeta chamada Insan al-'uyun,
publicada no Cairo, 1882.
II. Livros tradicionais (coleções de frases atribuídas ao Profeta por testemunhas con
sideradas verossímeis)
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Tab. ou Tabari (Comm.) refere-se aos comentários sobre o Alcorão pelos historiadores
cujas datas foram apresentadas acima, publicados recentemente no Cairo. Outros co
mentários citados ocasionalmente são de Zamakhshari, morto em 1144, e Baidawi, mor
to em 1292.
Trabalhos modernos sobre o Alcorão: citamos ocasionalmente Smith, The Bible and Is
lam, Nova York, 1897. O autor se beneficiou dos tratados de' H. Hirschfeld, embora não
tenha tido ocasião de citá-los. Outros trabalhos árabes ocasionalmente citados nas notas
são bem conhecidos pelos estudiosos.
History ofMeccah, de Azraki, morto cerca de 859, editado por Wüstenfeld, Leipzig, 1858.
O editor agregou, em dois volumes, extratos de outros historiadores que escreveram
depois sobre Meca, bem como um terceiro volume com um resumo do conjunto, escri
to em alemão.
Muhammad Basha Sadik, The Pilgrim's Guide (em árabe), Cairo, 1895.
Gervais-Courtellemont, Mon Voyage à la Mecque, Paris, 1897.
Sabri Pasha, Mirror ofthe Two Sanctuaries (em turco), Constantinopla, 1886.
V. Trabalhos de 1. Goldziher
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Muhammed in Medina, ver acima; a introdução e as notas são citadas como Wellhausen
(W.) ou (Wakidi).
Reste arabischen Heidenthums, Berlim, 1897.
Skizzen und Vorarbeiten, viertes Heft, Berlim, 1889.
Die Ehe bei den Arabern, Gõttingen, 1893.
Das arabische Reich und sein Sturz, Berlim, 1902.
Cito também numerosos outros artigos desses estudiosos no ZDMG ( Zeitschrift der
deutschen morgenliindischen Gesellschaft) e no WZKM ( Wiener Zeitschrift für die Kunde
des Morgenlandes). JRAS remete a Journal of the Royal Asiatic Society.
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* Herói epónimo: fundador, real ou mítico, de uma cidade, família, clã, dinastia etc.
(N.T.)
3. Goldziher, MS, i, 64.
4. Nõldeke, ZDMG, xi, 159.
5. Sprenger, Alte Geographie Arabiens, 290.
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7. Uma brilhante descrição encontra-se em Wellhausen, Reste, 88-91. Ele afirma que os
locais das feiras devem ter sido originalmente santuários.
8. Wellhausen, Ehe, 442.
9. Jahiz, Mahasin, 226.
10. Jahiz, Opuscula, 62.
11. Chronicles ofMeccah, iii, 15.
12. Isabah, ii, 9 1 5.
13. Wüstenfeld, Genealogische Tabellen.
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67. Wellhausen, Reste, 7 1 . De acordo com Goldziher, MS, i, 225, erradamente, o que a
torna um "barbarismo''.
68. Sura xxxiv, 43, xxxvi, 5.
69. Tabari, i, 1 .207.
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76. Esse ato também é atribuído ao monoteísta Zaid, filho de 'Ainr. lbn Sa'd, iii, 277.
77. lbn Duraid, 1 93: Sa'd, filho de Mushammit, jurou que nunca veria um prisioneiro,
mas que o libertaria.
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95. Em 523. Fell, ZDMG, xxxv, 74. Nõldeke, Sasaniden, 1 86, nota.
* No começo do século VI, os abissínios de Axum cruzaram o mar Vermelho e esten
deram seu domínio sobre árabes e judeus de Himyar (Iêmen), aos quais impuseram
um vice-rei. Dunaan, membro da família himyarita afastada do trono, pegou em
armas, tomou Zafar e, como havia se convertido ao judaísmo, assassinou os mem
bros do clero e transformou a igreja em sinagoga. Em seguida, sitiou Najran, um dos
grandes centros cristãos da região. A cidade defendeu-se com tamanha valentia que
Dunaan prometeu anistiar a população caso ela se rendesse. Os defensores aceitaram
a oferta, mas Dunaan não cumpriu a palavra, condenando à morte todos os cristãos
que não abjurassem sua fé. Calcula-se que 4 mil homens, mulheres e crianças te
nham sido assassinados nesse episódio. [N.T.]
96. Mordtmann, ZDMG, xxxv, 700, julga isso inautêntico; Nõldeke e outros, autêntico.
97. Nõldeke, Sasaniden, 205, fornece argumentos que situam a expedição em data muito
anterior.
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* Senaqueribe: assírio que invadiu o reino de Judá em 701 a.e. O rei de Judá, Ezequias,
enviou-lhe mensagem de submissão, acompanhada de valiosos presentes, mas Se
naqueribe não se satisfez, exigindo a rendição de Jerusalém, o que foi recusado.
O monarca assírio, porém, por intervenção divina, segundo declarou, acabou desis
tindo do cerco da cidade, retirando-se para sua capital, Nínive. [N.T.]
98. Jahiz, Mahasin, 75.
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105. Al-Akhtal.
* Referência ao poeta e filósofo romano Horácio e à sua possível crença na vida após
a morte. Os Campos Elíseos são o paraíso dos gregos. Neles, os homens virtuosos
repousavam dignamente após a morte, rodeados de paisagens verdes e floridas,
dançando e se divertindo noite e dia. [N.T.]
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1 1 1 . Ibid., 466.
1 12. Rothstein, Lakhmiden, 26.
1 1 3. Isabah, iii, 522.
1 14. Ver Fischer, ZDMG, !, 224.
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a essas seitas eram imitadas em Meca. Visto que na Roma pagã não
era despropositado respeitar os dias santos judaicos, não sur
preende que em Meca o esclarecimento tenha tomado a forma de
uma imitação dos modos das comunidades ilustradas. Atribui-se
a alguns mequenses a prática de uma forma de flagelação, "segun
do a moda dos padres cristãos": eles se despiam, transformavam
seus trajes em cintos e flagelavam-se uns aos outros.115 A absten
ção do vinho como forma de ascetismo religioso, segundo consta,
era praticada por muitos pagãos coraixitas. Vez por outra ouviam
-se pregadores cristãos nas feiras nacionais, e há um provérbio que
perpetuou o nome daquele que, nessas ocasiões, exibia um grau
previamente inatingível de eloquência. Kuss, cujo nome parece ser
uma corruptela da palavra síria Kasha, "padre", e que se afirma ter
sido bispo de Najran, proferiu um discurso no mercado de Ukaz e
foi ouvido pelo Profeta. 116 O discurso, da forma como os árabes o
preservaram, apresenta marcante semelhança com as primeiras
passagens do Alcorão e pode ter contribuído de algum modo para
o Livro. m Nossos estudiosos não sugerem que as pessoas que ado
taram o cristianismo ou por ele demonstraram simpatia tenham
sofrido muitas atribulações em Meca. Por conseguinte, mesmo
que a invasão abissínia tenha causado algum recrudescimento do
paganismo no começo da vida de Maomé, o efeito disso já havia
desaparecido na época em que ele era um jovem adulto..
A especulação talvez não renda frutos quando dirigida ao pro
vável curso da história sob circunstâncias diferentes daquelas que
realmente aconteceram. Se Meca tivesse continuado a crescer em
riqueza e poder, sob seus astutos líderes, é provável que o povo
prosseguisse satisfeito com um sistema religioso considerado bár
baro nos países onde as pessoas eram compelidas a buscar a ciên-
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Maomé era filho de pais nascidos em Meca. Consta que seus no
mes eram Abdallah (Servo de Alá) e Aminah (A Segura, ou A Pro
tegida). A mãe pertencia aos Banu Zuhrah, e o pai era filho de Abd
al-Muttalib, do clã chamado Banu Hashim. É certo que o pai do
futuro Profeta morreu antes de o filho nascer, segundo dizem,
quando visitava Yathrib, mais tarde conhecida como Medina.
A mãe não sobreviveu por muito tempo ao marido, e s�u túmulo,
como afirmam alguns,1 encontra-se em Abwa, um lugar a meio
caminho entre Meca e Medina, onde, cerca de cinquenta anos de
pois, seus ossos corriam o risco de ser exumados.
O filho herdou uma constituição robusta, capaz de suportar
fadiga, privação e excesso. Por outro lado, a noção, corrente entre
escritores cristãos,2 de que ele sofria de epilepsia encontra uma
curiosa confirmação nas notícias acerca de suas experiências du
rante o processo de revelação - a importância disso não é dimi
nuída pela probabilidade de que os sintomas tenham sido muitas
vezes produzidos de modo artificial. Esse processo era marcado
por perda de consciência, acompanhado - ou às vezes precedido
- da impressão de ouvir sinos tocando3 ou de que alguém estava
presente,4 o medo, que deixava a pessoa molhada de suor,5 a cabe
ça revirada para o lado,6 a boca espumando,7 o rosto avermelhado
ou muito pálido e a sensação de dor de cabeça.8 Temos conheci-
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9 . Musnad, i , 148.
10. Gowers, 1 30.
1 1 . Bokhari (K.), ii, 270.
1 2. Musnad, iv, 166.
13. lshak, 82 1 .
1 4 . Musnad, iii, 24 1 .
1 5. Cf. Nõldeke, Sas., 291.
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16. Fihrist, 5.
17. Cf. W. R. Smith, Kinship and Marriage, 60.
18. Assim, Wakidi (W.) faz Hamzah retê-lo no campo de Batalha de Uhud.
19. Azraki, 70.
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20. Nõldeke, Beitriige zur Kenntniss der Poesie der alten Araber, 183- 199.
2 1 . Baihaki, Mahasin, 393, localiza nele a origem do costume de tingir o cabelo de preto.
22. Jahiz, Opuscula, 75, 5.
23. Tabari, 1 162, 13.
24. Jahiz, Mahasin, 165.
25. O debate sobre esses nomes, em Rõsch, ZDMG, xlvi, 432-440, não leva a qualquer
resultado.
26. Vale informar que o nome do elefante trazido por Abrahat contra a Caaba era Mah
mud (Azraki, 96). Pode-se supor, a partir daí, que o Profeta nasceu no ano seguinte?
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3 1 . Azraki, 71.
32. Wakidi (W.), 73.
33. Musnad, iii, 1 75.
34. Ibid., iii, 254.
35. Isabah, i, 525.
36. Alif-Bã, i, 322.
3 7. Chronicles ofMeccah, ii, 7.
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48. Nõldeke, Sketches, e. ii, mostra que Maomé não tinha consciência de que não chove
no Egito; talvez, contudo, o erro se devesse a um esquecimento momentâneo.
49. Musnad, iv, 206.
50. Ibid., iv, 297.
5 1 . Ibn Duraid, 147.
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57. Goldziher, MS, i, 53, considera essa uma aversão teológica, sendo os poetas os princi-
pais expoentes das ideias pagãs. sura xxxvi, 69.
58. Musnad, iv, 245; Jahiz, Bahan, i, 1 1 2.
59. Smith sugere que muitas dessas frases teriam sido simplesmente semitas.
60. Musnad, vi, 57.
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6 1 . Muslim, ii, 168. Há uma controvérsia sobre esse tema. Ver ed. Sayous, Jésus-Christ
d'apres Mahomet, Paris, 1 880, p. 36.
62. Muslim, ii, 380.
63. Isabah, i, 655.
64. Wakidi ( W.), 266.
65. Musnad, vi, 2 1 . Ela foi usada da mesma maneira pelos cristãos: J. M. Robertson,
A Short History of Christianity, 1 25.
66. Musnad, ii, 1 83.
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mais rico. A rejeição precoce pode ter tido algo a ver com a futura
trajetória do Profeta, a quem os males da pobreza impressionavam
muito. Bem depois, Umm Hani, liberada do marido, desejou que
Maomé renovasse a oferta, mas ele se recusou a fazê-lo.
Quando ele tinha 25 anos, Khadijah, uma rica mulher cuja ca
ravana conduzira em segurança, ofereceu-lhe sua mão. As senho
ras árabes não têm hoje em dia qualquer iniciativa nessas ques
tões; elas eram mais livres na época pagã, antes de o Islã introduzir
o uso do véu; alguns de seus privilégios datam dos antigos tempos
do matriarcado.80 Khadijah era alguns anos mais velha que Mao
mé, mas sem dúvida não tinha quarenta anos, como asseguram os
biógrafos do Profeta, embora a lenda afirme que algumas senho
ras beduínas mantinham boa aparência até os oitenta ou mesmo
os cem anos.81 As mulheres coraixitas eram vistas como exceção
à regra que torna a gravidez impossível depois dos sessenta anos. 82
O sobrinho de Khadijah, Hakim, filho de Hizam, era um dos mag
natas de Meca. Mais tarde, apareceria como comerciante, na rea
lidade, especulador no comércio de milho. 83 Ele afirmou ter li
bertado quarenta escravos nos tempos pagãos.84 Se é verdade que
pagou quatrocentos dirhems85 pelo escravo Zaid, filho de Hari
thah, e depois deu-o de presente à tia, devia realmente ter recur
sos, acumulados, segundo consta, com rígida economia.86
Consta que Warakah, primo de Khadijah, abençoou a união na
linguagem doméstica dos beduínos, chamando Maomé de camelo
"cujo nariz não seria atingido':87 O futuro Profeta deixou os carne-
80. Robertson Smith, em Kinship and Marriage, pesquisa o casamento de Khadijah, mas
não traz qualquer novidade.
8 1 . Jahiz, Mahasin, 205.
82. Id., Opuscula, 78, 5.
83. Musnad, iii, 403.
84. Ibid., iii, 434.
85. Ibn Sa'd, iii, 27.
86. Baihaki, Mahasin, 3 1 5. Ele era um dos que não participaram da Batalha de Badr. Ibn
Duraid, 103.
87. Mubarrad, Kami� i, 93. Outra tradição atribui as palavras a Abu Sufyan, quando
Maomé casou sua filha. Letters ofHamadhani, 2 16.
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los de seu tio para se tornar senhor de uma casa, ou de parte dela,
pois Khadijah vivia na casa do já mencionado sobrinho, na rua
Hizamiyah, com um caminho de entrada coberto e um jardim
com uma porta que dava para a casa de Awwam, que se casara
com uma tia do Profeta. 88
Aquele grande passo na trajetória de Maomé foi dado por um
homem que, livre das ocupações para o ganha-pão cotidiano, co
meçava a subir como um balão sem amarras. Doravante, não con
duziria camelo algum além do seu. Na realidade, porém, parece ter
se estabelecido com negócios em Meca, tendo por sócio Kais, filho
de Al-Sa'ib, cuja fidelidade muito elogiou posteriormente. A tra
dição parece não saber com que mercadorias ele abastecia seus
amigos cidadãos, embora tenha preservado esse detalhe no caso
dos sócios imediatos. Na única cena de compra e venda no pe
ríodo da qual temos registro, o Profeta é comprador, não ven
dedor. Suwaid, filho de Kais, disse: "Makhramah, o Abdita, e eu
trouxemos um fardo de roupas de Haji para Meca; o Profeta bar
ganhou conosco um par de bombachas; havia na loja algumas
pessoas que pesavam peças de argila, e o Profeta disse-lhes que nos
dessem um bom peso."89 Visto que as bombachas dificilmente po
deriam ser vendidas a peso, talvez o Profeta lhes tenha dado alguns
cereais ou frutas, em contrapartida.
Maomé e seu sócio punham suas mercadorias à venda na casa
de Kais.90 Os indícios dessa atividade são encontrados em todo o
Livro Sagrado. Há um trabalho sobre a linguagem comercial do
Alcorão mostrando que o Profeta negociante não se livrara das
metáforas provenientes de seus negócios. "Deus", afirma repeti
damente, "é bom nas contas. Os crentes estão fazendo um bom
negócio; os não crentes, infiéis, um mau comércio." O aperto de
mãos com o qual se fecha um negócio tornou-se, com Maomé e
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teve início a missão. Dado que era costume seu só apresentar seus
planos quando já estavam maduros, o papel que ele teria de repre
sentar devia estar presente em sua cabeça por muitos anos, suge
rido por conversas com judeus, cristãos e parsis. Essas conversas
lhe revelaram, de forma imperativa, as dificuldades e as injustiças
que clamavam por correção.
Judeus, cristãos, mágicos, sabeus, todos tinham algo que os
árabes não possuíam: um legislador que atuava como comissário
divino. Nenhum dos membros dessas seitas hesitava nem um mo
mento sequer quando indagado a respeito do código que seguia
ou de quem ele emanava. Moisés, Jesus, Zoroastro, são João Ba
tista, todos responderiam imediatamente com seriedade. Mas a
quem os adoradores de Hubal, Al-Lãt e Al-'Uzza seguiam? Nin
guém. Os estrangeiros lhes contavam que eles tinham Abraão
como pai, mas apenas os estrangeiros sabiam alguma coisa a res
peito de Abraão. Para os mequenses, ele não era sequer um nome.
Aqueles que tentaram descobrir ali uma comunidade abrâmica ou
um código abrâmico atravessaram o mundo em vão. Contudo,
cada nação devia ter um líder. 107 Residia aí a oportunidade para
um Profeta.
Quase nunca é lembrado de que forma um homem se con
vence da existência de uma necessidade que ele pode ou deve su
prir. Maomé tinha uma grande experiência nos males do sistema
tribal e na rixa de sangue, e as visitas a países onde a população
como um todo estava sujeita à lei de Deus podem perfeitamente
tê-lo convencido de que os árabes eram atrasados, e de que a reve
lação de um código divino era uma fase preliminar, indispensável
ao progresso. Esse código estava associado ao Deus dos judeus e
dos cristãos, mas não aos de Meca - Alá, Al-Lãt e Al-'Uzza -,
embora essas divindades aprovassem e desaprovassem vários atos.
Mas o nome do Deus dos judeus e dos cristãos era idêntico ao do
Deus dos coraixitas. A inferência de que havia espaço para um
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sido o profeta caso desejasse, mas ele não estava disposto a criar
sedição. 110
Na realidade, houve profetas que despontaram na Arábia antes
de Maomé. No Iêmen, entre os himaritas, um certo Samaifa tinha
imitado a façanha do velho Zamolxis: escondeu-se durante um
tempo e depois reapareceu, quando 100 mil homens prostraram
-se perante seu Senhor em ascensão.1 1 1 Lendas que talvez tenham
algum germe de verdade informavam como, pouco tempo antes
de Maomé, um certo Khalid, filho de Sinan, foi enviado para pre
gar na tribo de 'Abs, e certo Hanzalah, filho de Safwan, entre ou
tros habitantes da Arábia. Também em Yemamah, um tal Mas
lamah deu um sinal de que era enviado de Deus: introduziu um
ovo inteiro no gargalo estreito de uma garrafa até o fundo. 112 Uma
vez que Yemamah abastecia Meca de milho, a tradição que apre
senta Maomé como pupilo de Maslamah deve ter algum funda
mento. Mas Maomé tinha muito mais a ensinar a Maslamah do
que a aprender com ele. As aspirações deste último mal iam além
das de um mágico; seu pupilo, muito menos capaz de mistificar,
pensava em como um profeta poderia se tornar chefe de Estado.
Quando o plano se mostrou um sucesso garantido, outros se
sentiram inclinados a adotá-lo em seu próprio benefício. Para
Maomé, os clamores desses homens não pareciam merecer con
sideração; ele os tratava como havia sido tratado, no início, pelos
cidadãos de Meca. O desejo de que todas as pessoas do Senhor
fossem profetas, provavelmente jamais sentido por alguém que o
tenha proferido, não era expresso nem mesmo por ele. Se os ho
mens discordassem de seu segundo dogma, o seu próprio aposto
lado, Maomé divisava razões engenhosas para provar que também
não concordavam com o primeiro, a Unidade de Deus. Por isso
é lícito supor que ele con�eria maior importância ao segundo.
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3
1. Azraki, 467.
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2. Uma das principais autoridades nas tradições do Profeta às vezes introduzia seus re
gistros a respeito dos discursos de Maomé com performance similar. Tabari, Comm.,
xii, 9.
* "Súbito, às portas, o semblante muda, a voz não mais uma, decomposta a cabeleira;
colérico incha-lhe o peit0; arqueja e ofega. Maior parece, em tom mortal não soa,
quando a bafeja mais perto do nurne." Versos de Eneida, de Virgílio, livro IV. [N.T.]
3. Tabari, Comm., xxviii, 4.
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4. Bouveret, Les Sueurs morbides (Paris, 1 890) , afirma: "Adamkiewicz mostrou que a
respiração pode ser provocada por incitação artificial ou voluntária de músculos e
nervos."
5. Nõldeke abandona sua engenhosa explicação das letras místicas como assinaturas de
MSS, nos Sketches, em favor de teoria semelhante à apresentada.
6. Musnad, iv, 222; Bouveret, 47: ''A pele pode enrubescer simultaneamente" quando a
transpiração resulta de violenta emoção.
7. Musnad, vi, 56.
8. Ibid., iii, 2 1 .
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* Dizia-se que Maomé adestrara uma pomba para bicar ervilhas em suas orelhas, a fim
de parecer que o Espírito Santo, que a pomba classicamente representa, sussurrava
-lhe ao ouvido. [N.T.]
** As huris são belas virgens de olhos negros que estão no paraíso esperando para dar
prazer aos fiéis, sobretudo aos homens que morrem como mártires. [N.T.]
1 1 . Ibn Sa'd II, ii, 52. Um certo Harithab Ibn Al-Nu'man declarou ter visto Gabriel duas
vezes.
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1 7. O original é obscuro.
18. Em Usd al-ghabah, i, 207, consta que ele testemunhou a tortura de um dos seguido
res de Maomé.
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38. Wahidi, 1 1 8.
39. Abu Bakr aparece diversas vezes como intérprete de sonhos. Wellhausen ( W.), 14.
40. Musnad, iv, 462.
4 1 . Ibid., i, 3 1 8.
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timento num homem, Abu Bakr não o deixaria escapar. Esse con
verso pode ter sido Sa'id, filho de Zaid Ibn 'Amr; seu pai rejeitara
o politeísmo e a idolatria antes de a missão de Maomé começar,
sem, contudo, adotar o judaísmo ou o cristianismo. A conversão
de Sa'id foi prematura, mas ele não figura entre os prosélitos de
Abu Bakr. O converso também pode ter sido 'Abd al-Ka'bah (servo
da Caaba), filho de 'Auf, rebatizado 'Abd al-Rahmãn, pois a Caaba
ainda não se dissociara do paganismo. 42
Esse homem era mercador, sócio de um certo Rabãh, chamado
por seus novos amigos de "O Confiável". Ele tinha raro talento
para fazer dinheiro, o que o tornava um homem generoso. Anos
depois, quando ele43 e os outros emigrantes chegaram a Yatrib sem
nada, Rabãh pediu uma quantidade suficiente de bens que pudes
se ser exibida no mercado. Lá chegando, teve condições de prospe
rar, embora não dispusesse de qualquer capital.44 Consta que ele
era um completo cético antes da conversão, e depois desaprovou a
luta pela causa do Islã, mesmo quando já havia começado, mas
não era inferior a ninguém em coragem. Um homem assim, oito
anos mais jovem que Abu Bakr, podia não parecer material pro
missor, mas talvez tenha ficado sujeito à influência dele. É possível
que uma mulher estivesse envolvida nesse processo.
Havia em Meca um certo Mikdad, que fugira de sua própria
tribo por ter cometido assassinato e foi recebido pelos Kindah.
Também entre eles houve derramamento de sangue, e então
Mikdad fugiu para Meca, onde foi adotado por um homem cha
mado Al-Aswad, da tribo da mãe de Maomé. 'Abd al-Ka'bah acon
selhou-o, numa conversa, a se casar, mas não lhe concedeu a mão
de sua filha. Mikdad acabou encontrando consolo em Maomé,
que lhe entregou a filha de seu tio Zubair, já falecido, reproduzin
do as condições, supõe-se, pelas quais Othman foi levado a se con-
42. Não se sabe ao certo o nome original; outros o dão como servo de 'Amr.
43. Alif-Bã, i, 437.
44. Isabah.
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50. "Conduzi-nos pelo caminho reto, pelo caminho daqueles com quem o Senhor
tem sido misericordioso, não no daqueles com quem o Senhor tem sido colérico [os
judeus?] nem daqueles que se extraviaram [os cristãos? ] ." Esta é a explicação de Tir
midhi.
5 1 . Tabari, Comm., xvi, 90. Provavelmente a outra extremidade da corda estava ligada ao
teto. Histoire du Bas-empire, xiii, 3 1 2.
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67. Azraki, 8 1 .
68. Musnad, i , 84ss.
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69. Autobiography, 1 6 1 .
70. Muslim, ii, 2 1 2; Musnad, iii, 1 75.
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7 1 . Os pregadores também descrevem Maomé como o enviado que poderia obter justi
ça para os pobres em detrimento dos ricos; Hariri, 328.
72. Cf. Tabari, i, 1.218, 10.
* Os mistérios de Elêusis, festejados na cidade de mesmo nome, eram ritos de inicia
ção ao culto das deusas agrícolas Deméter e Perséfone. Eram considerados os mais
importantes entre todos os mistérios celebrados na Antiguidade. [N.T.]
73. Isabah, iii, 70; mas Wellhausen ( w:, 75) apresenta isso de outra forma. Em Muslim,
ii, 255, Abu Dharr afirma tê-la inventado. Ver também Goldziher, ZDMG, xlvi, 22.
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1. Isabah; em Musnad, i, 404, sete pessoas são nomeadas nesse contexto, mas não
Khabbab.
2. Tirmidhi, i, 1 8 1 .
* George Grote ( 1 794- 1 8 7 1 ) : historiador inglês que se tornou conhecido pela monu
mental History of Greece. [N.T.]
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7. Isabah, i, 60.
* Alusão à decisão do general Júlio César de atravessar o rio Rubicão com seu exército,
desobedecendo às determinações do Senado de Roma. A decisão teve importantes
desdobramentos na história romana. A expressão tornou-se sinônimo de decisão im
portante e irreversível. [N.T.]
8. Aghani, ii, 96.
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* William Edward Hartpole Lecky ( 1 838- 1903): historiador irlandês. A questão abor
dada pelo autor pode ter sido tratada por Lecky na obra The Religious Tendencies of
the Age. [N.T.)
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35. A sugestão de Halévy, de que essa é uma leitura equivocada da forma siríaca de
Jobab, parece adequada.
* Referência à chegada do escritor romano Virgílio ao Inferno, narrada em A divina
comédia, de Dante Alighieri. [N.T.]
36. Sura lix, 2.
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* Referência à tomada de Alexandria, no Egito, naquele ano, pelo rei persa Cosroes II.
O comentário sobre "o Oriente mais perto" talvez se deva à proximidade entre o
Egito e a península Arábica. [N.T.]
40. Ibid., 276.
** Creso, o último rei da Lídia, depois de submeter as principais cidades da Anatólia
( Ásia), ficou preocupado com o rei Ciro I I da Pérsia. Por isso resolveu enviar um
mensageiro ao oráculo de Delfos. Este lhe respondeu que, se conduzisse um exército
e cruzasse o rio Hális, destruiria um grande império. Tentado pelas palavras do orá
culo, Creso partiu para a guerra. No entanto, foi vencido por Ciro em 547 a.C. e
feito prisioneiro. Dessa forma, completou-se o vaticínio do oráculo, não pela des
truição do império persa, mas do império lídio. [N.T.]
4 1 . Compare com as observações de Riley sobre a profecia de Joseph Smith em relação
à Guerra Civil Americana, l.c., p. 184.
42. Do mesmo modo, Joseph Smith critica um de seus associados: "William E. McLellin, o
homem mais sábio, segundo sua própria avaliação, esforçou-se por escrever um man
damento como se fosse um dos últimos do Senhor, mas não conseguiu" (Riley, p. 322).
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* Firdausi (935- 1 O 1 5): pseudônimo de Mansur ben Hasan, destacado poeta persa, autor
do poema épico Shahnama, ou Livro dos reis, que envolve mitologia, história, litera
tura e propaganda. [N.T.]
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feta era que isso se dava para seu próprio conforto ou conveniência
pessoal.43 Da mesma forma, Joseph Smith, ao publicar o seu Livro
de Mórmon em um só volume, foi obrigado a completá-lo, aqui e
acolá, com revelações ocasionais. A teoria da "tábua preservada"
parece ter sido mais útil para gerações posteriores de teólogos do
que para o próprio Profeta. Foi como fonte viva de revelação que
ele ganhou a reverência de seus seguidores, não como alguém que
tinha acesso a um livro de outro modo inacessível.
Não há dúvida de que enquanto o debate entre Maomé e os
mequenses prosseguia a capacidade crítica destes últimos ficou
bastante afiada, e a atenção deles viu-se atraída para uma varie
dade de assuntos sobre os quais não haviam especulado. Os me
quenses eram constantemente insultados por não possuírem um
livro sagrado que pudessem citar em sua prática, visto que Maomé
referia-se às revelações dos preceitos muçulmanos.44 Formularam
-se perguntas sobre o caráter de outros livros sagrados que, como
se descobriu, eram escritos sobretudo em línguas mortas e sagra
das. Buscaram-se algumas noções dos atributos e do caráter de
pessoas que, supostamente, emitiam mensagens sobrenaturais,
e foram sugeridas investigações sobre a vida de alguns homens
cujos nomes eram conhecidos entre judeus e cristãos.
Ibn Ishak conta uma história segundo a qual os mequenses
teriam enviado dois emissários a Medina para obter o parecer dos
judeus daquela cidade acerca da pregação do Islã. Os judeus suge
riram três questões às quais Maomé deveria responder caso qui
sesse se apresentar como um verdadeiro profeta. De acordo com o
biógrafo, Maomé comprometeu-se a respondê-las em um dia, mas
foi incapaz de fazê-lo antes que se passassem quinze dias, fato que
confirma muito fortemente a teoria do mentor, que é contudo
enfraquecida pelo conselho da sura ao Profeta de que não consul-
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49. Isabah.
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5 1 . Isabah, i, 692.
52. lbid., 874.
53. lbid., iii, 5 8 1 ; Musnad, iii, 4 1 9.
54. Ver Wellhausen, Reste, 208.
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mente seriam homens. Isso implica que a teoria dos filhos de Alá
não se aplicou às divindades masculinas, a cuja adoração os me
quenses, bem como outras tribos árabes, se dedicavam, como se
sabe. Supomos que esse argumento sobre as filhas acarretou algu
mas zombarias bem merecidas a Maomé, que só tinha filhas. Na
verdade, foi revelada uma sura para consolá-lo e aliviar a carga de
ser um abtar, ou alguém sem filhos homens.
Devemos depreender, a partir de alguns textos55 e tradições,
que a objeção dos mequenses não dizia respeito à glorificação de
Alá, mas à identificação de sua divindade com aquele a quem os
judeus chamavam de Rahmtin (o Misericordioso), título aplicado
também a divindades pagãs. A razão da objeção, porém, está além
do nosso alcance.
Ao avaliar os argumentos do Alcorão para os mequenses, de
vemos lembrar sempre que Maomé está desempenhando o papel
de um profeta hebreu, conclamando seus compatriotas à adora
ção única do Deus nacional cujos ritos foram abandonados por
outros cultos e idolatrias. Talvez ele acreditasse sinceramente que
cumpria esse papel; enquanto o representava, provavelmente atri
buiu papéis correspondentes a seus antagonistas. Porém, se o pa
ganismo de Meca chegou assim tão perto do monoteísmo re
presentado no Alcorão, é evidente que, com um pouco de boa
vontade e candura, as diferenças insignificantes poderiam ter sido
superadas.
Essas qualidades, contudo, não estavam presentes. Enquanto
a controvérsia progredia, despontava entre os mequenses uma an
tipatia pessoal em relação a Maomé que parece inteligível para
nós. Embora os mitos posteriores o representem como membro
de uma família nobre, o Alcorão diz que não era bem assim. Se
os mequenses deviam mesmo ser "reformados", teriam preferido
que isso fosse feito por um homem de alta extração, de Meca ou
de Taif. A liderança política e a religiosa não podiam ser disso-
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* Caio Lucílio ( 1 84-102 a.C.): poeta romano considerado o inventor da poesia satírica,
gênero poético que se firmava na crítica irônica aos vícios, aos absurdos e às injus
tiças da sociedade, aos homens e instituições. [N.T.]
** Homilética: termo derivado do grego homilos, que significa "multidão", "assembleia
do povo", dando origem a outro termo, "homilia': ou "pequeno discurso", do verbo
omileu, "conversar". A palavra homilia significa um discurso com a finalidade de
convencer e agradar. Portanto, homilética significa "a arte de pregar''. [N.T.]
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* Davi: segundo rei de Israel; Natan: profeta. O profeta repreendeu Davi por ele ter
cometido adultério com a rainha Betsdabâ, quando ela era a mulher do hitita Urias,
cuja morte o rei também tramou para esconder sua transgressão. (N.T.]
** Penélope: esposa de Ulisses, cujo retorno da Guerra de Troia é narrada por Homero
na Odisseia.
57. Lebon, Crowds, p. 126.
*** Trata-se, provavelmente, de uma alusão à metáfora de Sócrates sobre a especificida
de cada um, conforme o trecho a seguir: "Assim como seria ridículo chamar o filho
do nosso alfaiate ou do nosso sapateiro para que nos fizesse uma roupa ou umas
botas, não tendo ele aprendido o ofício, assim também seria ridículo consentir ou
admitir no governo da República os filhos daqueles varões, que governaram com
acerto ou prudência, não tendo eles a mesma capacidade dos pais." [N.T.]
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5
O fato de manter sua missão em segredo pelo tempo que foi pos
sível mostra que Maomé estava cônscio de que ela representava
grande risco. Não sabemos que passos eram considerados legí
timos em Meca para alguém que tivesse abandonado os deuses
de seu país. Contudo, é certo que os deuses sofrem com a negli
gência das obrigações, e, como eles têm representantes na Terra,
alguns homens também sofrem com isso. Visto que se julgou ne
cessário o favor dos deuses para o bem-estar do Estado, muitos
que não tinham outro interesse comercial na matéria estavam an
siosos por suprimir a heresia, por medo de ofender seus senho
res. Assim, quaisquer que tenham sido os motivos, havia em Meca
muitas pessoas dispostas a fazer oposição a Maomé. Mas, no mo
mento em que ele foi obrigado a enfrentá-la, estava muito bem
preparado.
Com exceção da figura de Abu Sufyan, os magnatas mequenses
são figuras obscuras. Quando morreram, a tradição dos não con
versos se calou a respeito deles; quando viveram o suficiente para
abraçar o Islã, ela adulterou deliberadamente suas biografias. Abu
Sufyan provavelmente não era um opositor destacado antes da
Batalha de Badr, quando passou a comandar os mequenses contra
Maomé, até a tomada da cidade. Ao longo desse período, ele não
se mostrou incompetente nem lhe faltou energia, mas, intelec
tualmente, não estava à altura do Profeta. Uma tradição1 o apre
senta como um integrante do partido dos livre-pensadores, que
tinham conhecido o ateísmo com os "cristãos do Harrah"; ele
acrescentou a seu ceticismo uma moralidade frouxa. 2 A frieza em
relação aos insultos e injúrias, traço tão notável de seu filho
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em Meca antes da Fuga; se não fosse assim, por maior que tenha
sido a presteza dos muçulmanos na Fuga, não seria possível expli
car o número de campeões que foram a julgamento. Os campeões
devem ter sido julgados em algum lugar específico, e não há regis
tro de lutas externas nem alusão a isso nesse período.
Consta que, certa feita, o próprio Profeta, depois da recitação
da sura xxxvi, jogou terra na cabeça de seus oponentes. 8 A nova
religião parece ter sido caracterizada, desde o começo, pelo sábio
princípio de reagir quando atingida, e essa pode ter sido a causa
de seu rápido sucesso.
Aprendemos, a propósito,9 que o ofício profético não impe
dia que Maomé continuasse a trabalhar em seus negócios, mas
os seus seguidores que se encontravam em situação de dependên
cia certamente os perderam. Aqueles que, como Khalid, filho de
Sa'id, eram expulsos de seus lares por pais indignados deviam ser
alimentados à mesa do Profeta. O crescimento da nova religião
tendia a espalhar discórdia entre as famílias, colocando, assim, a
cidade em estado de baderna e confusão. Aqueles que, por qual
quer razão, sentiam-se discriminados por sua condição podiam
dar vazão à hostilidade juntando-se a Maomé, e alguns provavel
mente o fizeram em momentos de irritação. Bandidos dos quais a
cidade se envergonhava parecem ter sido recebidos nas fileiras do
Islã. Então, com base na força de sua fé, eles podiam afirmar que
eram melhores que seus vizinhos.
Os moradores de Meca tomaram uma medida que, para nós,
parece natural e inofensiva: os muçulmanos foram mantidos fora
dos recintos da Caaba. E quando para lá se dirigiram, a fim de
praticar suas devoções, foram rudemente rechaçados.
O Profeta ficou livre de violência contra sua pessoa graças à
proteção de conhecidos, especialmente depois que seu tio, o pode
roso caçador Hamzah, juntou-se ao Islã. Uma tradição afirma que
8. Wakidi ( W.), 5 1 .
9 . Ishak, 189.
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14. ii necessária a presença de intérpretes entre abissínios e árabes. Nõldeke, Sass., 220.
1 5. Muslim, ii, 265.
16. Goldziber, MS, i, 56.
1 7. Ibn Duraid, 223.
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52. Wellhausen, Ehe, 435, nota 5. Ele dá uma justificativa para isso.
53. Hariri, 430.
54. Ibid., 329.
55. Wellhausen, Ehe, 470.
56. Ibn Sa'd II, ii, 9 1 .
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5. Samhudi, 80.
6. Alguns ainda consideram esse evento não completamente mítico.
7. Apud Samhudi (Kaitun), mas provavelmente Fatyun (Ibn Duraid, 259) é melhor.
8. Samhudi, 8 1 .
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9. Ibn Duraid, 259, parece concordar com essa opinião. Ya'kubi avalia-a positivamente.
10. Apud Nõldeke.
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MAOMt E A AKENSÁO DO illÃ
13. A largura de um quarto seria equivalente a trinta cúbitos (66 cm). Ibn Sa'd II, ii, 10.
14. Ibn Sa'd II, ii, 9 1 .
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tivo de conquistar suas terras; o jogo deles foi imitado mais tarde
por Maomé com o mais evidente sucesso. Os Khazraj exigiram as
terras dos judeus e ameaçaram matar os reféns, o que produziu
muito sofrimento. Assim, os judeus foram enviados para ajudar os
Aus e para tomar parte na guerra, à qual eles estavam atentos. Eles
abriram suas portas para os Nabit fugitivos. Lutando sob o co
mando de estrangeiros e ao lado de homens bravos, os judeus
muitas vezes se mostraram tão bons soldados quanto os demais,
e na batalha que resultou dessa longa preparação os Khazraj foram
derrotados pelos Aus e seus aliados judeus. No momento posterior
à vitória e durante o período de vingança completa, os judeus não
se viam limitados pelos costumes respeitados pelos árabes.
Um dos chefes khazrajitas desempenhou um papel significa
tivo nessa história, que ele estava destinado a reproduzir muitas
vezes depois da chegada de Maomé. Esse chefe era Abdallah, fi
lho de Ubayy, do clã Balhubla. Ele não participaria do crime de
assassinato dos reféns, esforçando-se por dissuadir os demais a
mandar de volta os reféns sob seus cuidados. Também se manteve
distante da batalha, por escrúpulos de consciência. Assim, quando
a maré da fortuna voltou-se contra os Khazraj, ele foi capaz de
garantir a libertação de sua própria fortaleza. Porém, tirar vanta
gem completa de uma vitória era um procedimento que os árabes
haviam de aprender com Maomé. A Batalha de Bu'ath deu a vitó
ria aos Aus, mas o inimigo não fora exterminado, apenas humilha
do; era um resultado pesado contra eles, que todos os membros da
tribo estavam sob solene obrigação de pagar com sangue. As tri
bos hostis ainda habitavam lado a lado, e nenhum homem estava
a salvo ao sair de casa. O dia de Bu'ath, disse Aisha, foi arranjado
por Deus para benefício dos muçulmanos. 1 9
Durante a guerra civil, alguns dos antagonistas, segundo cons
ta, apelaram para a distante Meca e tentaram se aliar aos coraixi
tas, mas sem sucesso. Aos representantes desapontados Maomé
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MAOMÉ E A ASCENSÃO DO ISLÃ
ofereceu o Islã como substituto, mas a sugestão não foi aceita. Ou
tros visitaram os lugares sagrados de peregrinação nos períodos
usuais, quando, como vimos, era costume do Profeta proporcio
nar parte do espetáculo. Em uma dessas ocasiões, dois yathribitas
- As'ad, filho de Zurarah, já monoteísta quanto à crença,20 e
Dhakwan, filho de Abd Kais - envolveram-se numa disputa re
ferente a seus clamores por distinção, a qual eles submeteram ao
altamente respeitado cidadão de Meca 'Utbah, filho de Rabi'ah,
que, provavelmente seguindo o exemplo de seus colegas, não con
seguia se decidir quanto à questão. Enquanto esperavam sua re
solução, eles ouviram em Dhu'l-Majaz os discursos do Profeta
e tornaram-se os primeiros dos Ajudantes,21 como foram depois
chamados os habitantes de Yathrib que se juntaram ao Islã. Outro
relato22 faz de Rafi', filho de Malik, o primeiro converso; ele ouviu
a sura de José e levou-a com ele para Medina. Uma narrativa dife
rente23 afirma que o primeiro converso de Medina foi Mu'adh, fi
lho de Al-Harith.
Outros relatos ainda apresentam como os primeiros conversos
um grupo de seis, sete ou oito pessoas.24 É provável que estes cuja
atenção foi despertada pelas palavras do Profeta tenham sido
principalmente membros dos Khazraj. Também afirmou-se que
Asad, filho de Zurarah, o mais destacado dos Ajudantes, era inimi
go dos judeus. 25 Os khazrajitas tinham acabado de sofrer pesada
derrota numa luta que haviam travado contra as forças conjuntas
de Aus e judeus. A tradição nativa representa-os tentando compe
tir com Maomé por se considerarem mais espertos que ele. Os
judeus tinham falado, em momentos de desespero - como ainda
falam hoje -, do Messias que um dia ia aparecer e conquistar o
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* Epicteto: filósofo grego pertencente à corrente estoica que passou a maior parte da
vida como escravo em Roma. [N.T.]
29. Ibn Sa'd II, ii, 19.
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A estrada seguida pelo guia não parece ter sido idêntica a ne
nhuma das quatro mencionadas por Burton. Os primeiros dois
dias da jornada os levaram perto de Usfan, a 36 milhas de Meca;
esse local fica na borda extrema das colinas, e, aparentemente,
manteve sua denominação até a época de Burckhardt. Dos demais
nomes que figuram na narrativa da fuga do Profeta, poucos pare
cem ser conhecidos dos viajantes europeus. O guia, intencional
mente, seguiu a trilha conhecida, apenas de vez em quando cor
tando a rota ordinária. A forma verdadeira da alguns dos nomes
era duvidosa no terceiro século do Islã. Os incidentes fabulosos
com os quais algumas das crônicas embelezam a jornada não pre
cisam ser repetidos, mas é significativo que, quando eles alcança
ram 'Arj, e Maomé foi informado de que a terra pertencia à tribo
Aslam, cujo nome significa "mais seguro", o Profeta aceitou alegre
mente o presságio.59 Seu camelo ficou doente ali, e um membro da
tribo lhe providenciou outro.
De acordo com um relato, alguém de uma família a quem uma
filha de Abu Bakr servia de ama-seca, que também tinha fornecido
um guia, informou sobre um atalho para Medina,60 que passava
por cima de uma montanha íngreme chamada Raktibah, onde o
Profeta conseguiu colocar a seu serviço uma dupla de assaltan
tes.6 1 Os Aslam eram um ramo dos Khuza'ah. Ao conciliar-se com
eles, o Profeta deu o primeiro passo rumo à recuperação de Meca,
pois, como vimos, os Khuza'ah lembravam que tinham sido pri
vados de seus privilégios pelos coraixitas.62
Não se pode afirmar que os perseguidores vindos de Meca es
tavam muito longe na estrada para Medina, e é provável que os
líderes coraixitas, isentos de premeditação, se congratulassem por
se livrarem dos polêmicos compatriotas sem ter de derramar san-
59. No entanto, essa história talvez seja um exagero do biógrafo. Com frequência encon-
tram-se narrativas similares.
60. Isabah, ii, 180.
61. Musnad, iv, 74.
62. Ver Wellhausen, Wakidi, 320, 374.
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Uma vez que Yathrib ficava tão próxima, era de se esperar que
toda a cidade acorresse a Kuba para buscar seu Profeta e levá-lo
para casa; os habitantes das cidades localizadas a leste teriam de
enfrentar uma jornada de muitas horas para saudar convidados de
distinção moderada. Como os moradores de Yathrib não agiram
desse modo, é provável que, no começo, o precavido Profeta, que
escapara de Meca às ocultas, tenha guardado sua chegada em se
gredo, conhecido apenas de alguns poucos escolhidos. Mesmo
Abu Bakr, conhecido das pessoas na estrada, quando indagado
sobre quem era seu acompanhante, respondia "um guia contrata
do para me conduzir':68 O Profeta não era homem de aceitar de
clarações amenas sem algum ceticismo. De Kuba, ele comunicou
sua chegada a As'ad Ibn Zurarah e outros conversos em Yathrib,
mas sem dúvida seu tempo foi bem empregado em descobrir a
verdade sobre as boas-vindas que ele devia receber.
Na sexta-feira,69 o Profeta saiu de Kuba em direção a Yathrib e,
segundo consta, realizou um serviço religioso no Wadi Ra'unah,
que se situa na rota entre as duas cidades. Isso parece um ana
cronismo, e a adoção da sexta-feira como dia sagrado só aconte
ceria mais tarde, por sugestão de um medinense, quando as rela
ções com os judeus tinham deixado de ser amistosas. Na verdade,
uma confirmação disso pode ser encontrada no fato de ele ter es
colhido a sexta-feira para trabalhar. Conta-se que cada tribo pela
qual passou desejou ter a honra de sua presença e solicitou-lhe
fixar sua residência nela. Ele recusou todas essas ofertas para não
estimular ciúme e confiou ao seu camelo a tarefa de indicar um
sítio. O animal escolheu o lugar da futura mesquita, e o Profeta
só aceitou hospitalidade até sua própria casa ser construída. Anas
Ibn Malik afirmou que quinhentos Ajudantes foram encontrá-lo70
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71. Ibid., 1 6 1 .
72. Isabah, ii, 163.
73. Ibn Duraid, 271.
74. Ibn Sa'd II, ii, 12 lss.
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75. Wakidi, 1 2 1 .
76. Musnad, iv, 68.
77. Ibid., 1 18.
78. Ibn Duraid, 274; Wakidi ( W.), 249.
79. Musnad, iii, 1 33.
80. Ibn Sa'd II, ii, 87.
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�
adoção formal de uma sugestão de Omar, que o Profeta supunha
representar a opinião públi .
Em outra ocasião, Omar u algum outro), ao concluir que a
Chamada à Oração não devia p cer uma imitação de judeus e
cristãos, comunicou a sugestão ao Profeta e soube por ele que o
arcanjo Gabriel já se antecipara sobre a matéria. Em três outras
ocasiões, afirmou haver coincidência com as determinações de
Alá. Ao dar uma sugestão ao Profeta, este lhe comunicou que uma
revelação havia se dado, incorporando sua ideia às suas próprias
palavras.86 O acontecimento adulou a vaidade de Omar, mas não
levantou suspeita de impostura. Outros seguidores talvez fossem
menos ingênuos, mas estavam cientes do risco de ridicularizar o
Alcorão. Vez por outra, surgiam brigas entre os muçulmanos, por
que o Alcorão fora repetido para eles de formas diferentes, e cada
um, naturalmente, afirmava que sua versão era a correta. O Profe
ta, que nunca se dava por vencido, afirmava que o Alcorão fora
revelado em não menos que sete textos.
Conquanto estivesse presente tanto na mente do Profeta quan
to na de seus seguidores a noção de que o Alcorão era a palavra de
Deus no sentido mais literal, é bastante surpreendente que seus
conteúdos fossem tratados com certo descuido, como é ilustrado
por essa narrativa e também transparece em outros relatos. De
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�
quantidade de textos do Alcorão que reuniam, como se o processo
s asse elhasse ao da coleta das folhas de sibila.* Certos crentes,
na é ca do Profeta, fizeram daquela coleta- um negócio. 87
erta feita, quando indagado por contendores se determinada
sura tinha 35 ou 36 versos, o Profeta apenas corou, e deu a enten
der que tanto fazia. 88 Maomé, que algumas vezes era provocado
por ser "todo ouvidos" - isto é, por estar pronto a ser guiado por
qualquer sugestão -, podia facilmente ser levado a produzir mo
dificações ou abolir revelações, quando convencido de que uma
legislação era superficial e impraticável; mas aqueles que aponta
vam a falha tinham de tomar o cuidado de não lançar a menor
sombra de dúvida sobre o caráter divino dos oráculos anteriores.
Como o Profeta e seus seguidores não faziam qualquer concessão
a esse respeito, Maomé foi capaz de manter até o fim seu poder de
produzir, como um deus ex machina, oráculos aos quais podia efe
tivamente recorrer sempre que surgisse uma emergência séria; o
temor de se tornar objeto de um texto evitou que muitos homens,
de uma maneira ou de outra, se opusessem ao Profeta.
A primeira tarefa de Maomé em Medina era construir um lu
gar de adoração, a primeira igreja do Islã, a menos que seja verda
de que a mesquita de Kuba era mesmo anterior. O terreno selecio-
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vindiações sobre a terra. 89 Lemos vários detalhes a respeito da
construção da primeira das mesquitas, alguns fornecidos pela
im gin ção. O relato mais provável parece ser aquele em que
o Proti a não se envolveu nos trabalhos de construção, mas utili
zou celeiro ou depósito que tinha servido para secar tâmaras,
pe o qual deve ter pagado uma soma razoável. Alguns especialistas
sugerem que esse celeiro tinha sido usado como local de oração
antes mesmo de Maomé chegar a Medina; considerando que era
pouco provável que o Profeta deixasse qualquer coisa ao acaso, é
possível que seu camelo tivesse alguma razão para ter ajoelhado
nesse ponto em particular. As medidas que são dadas variam, mas
talvez setenta por ses·senta por sete cúbitos* seja a mais provável
entre aquelas registradas.
O telhado do celeiro, feito de folhas de palmeira e barro, não
era sólido o bastante para proteger da chuva. O Profeta encon
trou aí uma analogia com o Tabernáculo de Moisés, mas parece
que o confundiu com as tendas no banquete dos Tabernáculos,
cujo telhado não devia evitar a luz ou a umidade. Esse telhado era
suportado por troncos de palmeira, e era apoiado em um deles
que o Profeta costumava pregar até o púlpito ficar pronto. O celei
ro estava voltado para o norte, com portas para sudeste e oeste; no
primeiro desses lados, uma porta situada para o norte foi substi
tuída quando mudou a direção da prédica. A colocação de pe
dregulhos no telhado parece ter sido feita gradativamente pelos
adoradores, que ficavam incomodados com as pequenas poças
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formadas nos dias chuvosos. Uma porta situada do lado leste fun
cionava como entrada privativa para o Profeta, que deu continui
dade à preparação de alojamentos para ele e suas esposas naquele
lado da mesquita.
O primeiro dos alojamentos destinava-se à esposa Sauda e à
noiva Aisha, com quem Maomé se casou pouco depois da chega
da. Até sua morte, o número de esposas tinha aumentado para
nove. Um estudioso conta-nos que esses alojamentos não eram
construções novas, mas sim tendas pertencentes a um certo Hari
thah, filho de Al-Nu'man,90 que tornava disponível cada uma delas
tão logo o Profeta o solicitava. Quatro delas eram feitas de tijolos
de barro, com paredes internas de ripas de madeira e barro; cinco
eram de ripas de madeira e barro, sem paredes internas. Em mui
tos casos, uma cortina de tecido rústico servia de porta. Essas ten
das se distribuíam ao redor de três lados da mesquita; apenas o
lado oeste ficava livre.
Muitas das instituições do Islã se organizaram em torno desse
conjunto de construções. Na ausência de relógios, os adoradores
se reuniam em momentos diferentes, por isso houve muita con
fusão. Um antigo e fiel seguidor de Maomé, chamado Bilal, que
tinha uma voz forte, estava encarregado de convocar os adorado
res para tratar de algo importante, como o telhado do celeiro. Em
algum momento, nos primeiros meses de residência do Profeta
em Medina, essa prática tornou-se regular e foi considerada uma
tradição do Islã. Aqueles que ouviam o chamado eram instados a
vir para o encontro, sob pena de ter suas casas queimadas; nenhu
ma desculpa era aceita.91
A voz de Bilal salvou seu senhor da necessidade de imitar o
martelo cristão e a trombeta judaica. Ele esteve prestes a adotar a
primeira tradição. Um certo Abdallah, filho de Zaid, alegou ter
ouvido a "Chamada à Oração" numa revelação em sonho, que co-
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contra alguma dificuldade para explicar por que ele nunca é cita
do durante as muitas disputas que irromperam entre Maomé e os
judeus; e também por que não há registro de qualquer formalida
de concernente à sua vigência nem como poderia ser executado.
Alguém na posição de Maomé, entretanto, não teri� firmado um
tratado; até surpreende que ele tivesse reescrito o decreto que lhe
teria chegado na forma de uma revelação divina. Mas o Profeta
demonstrava tamanha cautela que talvez relutasse em colocar na
boca de Deus concessões que, como ele sabia desde o princípio,
deveriam ser suprimidas mais tarde.
O propósito do documento é acertar as relações das diferentes
comunidades que residiam em Medina. Vendetas e resgates de
viam ser obrigatórios às respectivas tribos, como antes, mas se
recomendava aos muçulmanos de todas as tribos que ajudassem
nesses casos, a fim de evitar que qualquer um dos seus viesse a se
incomodar. Prometeu-se proteção aos judeus, contanto que eles
não provocassem nenhuma ofensa. No caso de uma guerra gene
ralizada, cada tribo arcaria com suas próprias despesas. Somente a
população de Meca estaria excluída da possibilidade de relações
amigáveis.
Não é certo se o contrato foi firmado nessa ocasião ou um
pouco mais tarde. De qualquer forma, a posição dos judeus era
um tanto difícil. Não se deye esquecer que as fontes de informação
sobre profetas, revelações, anjos etc., tanto para os moradores de
Meca quanto para os de Medina, eram os judeus, e que Maomé
confiava nos testemunhos deles. Os judeus de Medina, pelo sim
ples fato de não estarem com Maomé, estavam contra ele. Pois se
não davam boas-vindas ao messias, ou eles ou o messias deviam
ser repreendidos. Além do mais, a inveja de muitos era despertada,
sem dúvida alguma, pela reflexão de que o poder de Maomé ven
cera pelo uso que dera à Bíblia judaica, da qual o Profeta tinha um
.conhecimento de iniciante, se comparado com o deles. Portanto,
os esforços dos judeus concentraram-se no intuito de desacreditá
-lo perante seus seguidores de Meca e Medina.
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7
A BATALHA DE BADR
1. Musnad, vi, 4.
2. Muslim, ii, 148.
3. Ibid., 1 10.
4. Bokhari, ii, 174.
5. Tabari, Comm., xxviii, 27.
6. Musnad, iii, 1 37.
7. Ibid., i, 8.
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carregar peles nas costas. Pelo menos numa ocasião, Ali ganhou
dezesseis tâmaras para encher recipientes com água e esvaziá-los
sobre a lama, para fabricar tijolos, à razão de uma tâmara por ces
ta, e isso mal compunha uma refeição, a qual ele dividia com
o Profeta.8 Os Emigrantes encontraram melhores perspectivas
de ganhar dinheiro com o comércio varejista. Assim, Abu Bakr
passou a vender roupas no mercado;9 Othman, filho de 'Affan , 10
tornou-se fruteiro, comprando tâmaras dos Banu Kainuka, e
revendendo-as a preço mais elevado; Abd al-Rahman, filho de
'Auf, estabeleceu-se como leiteiro;11 Omar também passava boa
parte de seu tempo barganhando no mercado, 12 e outros13 ga
nharam o nome de "os ambulantes", mudado por Maomé para
"os mercadores':
No entanto, o cultivo de tâmaras foi severamente afetado pelas
determinações do Profeta, que proibiu a fertilização artificial e
os empréstimos baseados na certeza de uma possível produção.
O desconforto causado pela primeira dessas medidas parece sufi
ciente para explicar as consequências que vieram a seguir. Aquela
proibição produziu escassez artificial em um momento em que
era necessária grande quantidade de alimentos. Um ou dois dos
Emigrantes parece ter tentado se dedicar ao comércio exterior, no
estilo de Meca, e logo encontraremos Ali dando início, embora
sem sucesso, a um negócio desse tipo. Omar também parece ter
estabelecido conexões comerciais com a Pérsia. 14
Deve-se registrar que o Profeta compartilhou integralmente
o infortúnio de seus seguidores. Na realidade, como se recusara
a usar as esmolas para atender às suas necessidades particulares,
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1 5. Tirmidhi, 1, 203.
16. Musnad, vi, 7 1 .
1 7. Ver, por exemplo, Musnad, v, 26.
18. Wakidi ( W.), 2 1 5.
19. Ver Musnad, iii, 423.
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A maior parte desse relato não pode ser conciliada com a his
tória comum, embora seja evidente que a memória de Sa'd ficou
marcada pelo fato de ter acontecido no mês sagrado. O coman
dante do destacamento era o primo de Maomé, Abdallah, filho
de Jahsh, sob cujas ordens colocaram-se sete homens. O pouco
que se sabe de Abdallah revela que, segundo consta, ele era um
fanático. Ao que parece, ele teria feito uma oração para morrer no
campo de batalha e ser mutilado. Ele tinha participado da dupla
fuga para a Abissínia, e agora era um pobre Emigrante em Medi
na. Maomé o enviou para Nakhlah com um envelope selado con
tendo orientações expressas sobre o que fazer. O envelope só po
deria ser aberto após dois dias de marcha, e, quando Abdallah o
abriu, soube que não deveria obrigar ninguém a acompanhá-lo
dali em diante.
Essas preparações indicam que se planejava algo que não era
digno de crédito, pois o serviço nos meses sagrados não era pe
rigoso, porém, na opinião dos árabes, árduo. O texto das orien
tações, conforme a tradição genuína,33 continha instruções defi
nidas para atacar um grupo que se deslocava sem escolta, sob a
proteção do mês sagrado. Nenhum dos seguidores de Abdallah
aproveitou-se da permissão para se retirar, à exceção de dois in-
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Maomé manteve a cabeça fria e satisfez cada parte que ele j ulgava
merecer alguma satisfação, revelando um desprezo pela coerência
digno de um estadista.
Para os tímidos muçulmanos, a coragem e a consciência foram
restauradas pelo invariável expediente de uma revelação: "Lutar
num mês sagrado é uma ofensa séria, mas expulsar pessoas de
Meca é ofensa ainda pior." Os muçulmanos deviam deduzir dessa
sentença ambígua que a atrocidade cometida pelos coraixitas ha
via autorizado um ataque contra eles no mês sagrado; ou que,
embora esse ataque não tivesse sido perpetrado, os mequenses não
poderiam se queixar, caso tivesse ocorrido. O butim foi concedido
ao bravo destacamento que o conquistara, descontado o percen
tual de um quinto reivindicado pelo Profeta. Como os dois me
quenses mantidos como reféns teriam de voltar um dia, ele acei
tou o pagamento de um resgate pelos prisioneiros.
A morte do hadramita, contudo, teve um desdobramento con
siderável. Esse homem e seu irmão encontravam-se sob a proteção
de 'Utbah, filho de Rabi'ah, um eminente coraixita a quem en
contraremos depois desempenhando papel heroico na Batalha de
Badr. O protetor, nesse caso, era obrigado a vingar a morte de seu
cliente. Em Badr, o irmão do homem morto, 'Amir, exigiu essa
vingança de seu protetor, que, em contrapartida, ofereceu paga
mento em camelos. Mas 'Amir recusou essa alternativa, instigado,
ao que parece,36 pelo inimigo de Maomé, Abu Jahl. Por conseguin
te, 'Utbah resolveu lutar, o que resultou no que será visto. A ven
deta, que impeliu os mequenses à luta com os medinenses, surgiu
da relação entre cliente e patrão; esta, pela sua natureza instável,
provocou muitas complicações. Mas, a exemplo de outros assun
tos que são deixados à consciência, produziu um conjunto de di
reitos e obrigações que aqueles de caráter mais honrável eram os
mais dispostos a observar.
36. Wellhausen (Wakidi, 14) considera, nesses casos, que a introdução de Abu Jahl foi
determinada pelo desenvolvimento de um mito.
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5 1 . Ibid., 338.
52. Preserved Smith, 84, faz essa comparação.
" Estevão: primeiro mártir do cristianismo, proferiu um discurso perante os legislado
res judeus destacando o caráter universal do Evangelho. [N.T.]
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64. Novecentos e cinquenta homens, setecentos camelos e cem cavalos; Wakidi ( W.), 44.
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68. Visto que Hubab era o nome de um demônio, é estranho que ele não tenha sido al-
terado.
69. 'Uyun al-Akhbar, 140, 12.
70. Musnad, iv, 228.
7 1 . lbid., iv., 271.
72. 'Uyun al-Akhhar, 135.
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94. O badri que sobreviveu mais tempo foi Sa'd, filho de Abu Wakkas. Bokhari (Kast.),
vi, 274.
95. Musnad, iii, 350.
96. Ibid., iv, 68.
97. Ibn Sa'd, iii, 34.
* Horácio: historiador romano que narra a história do chefe militar Regulus, famoso
por sua resistência heroica na guerra contra Cartago. [N.T.]
98. M_usnad, i, 247.
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5. Ibn Ishak (995-996) situa esses eventos depois de Uhud. Ibn Duraid dá o nome de
Ghishmir, filho de Kharshah (265), ao assassino de 'Asma.
6. Wakidi.
7. Isabah, iii, 56.
* Orestes: na mitologia grega, filho do rei de Micenas, Agamemnon, e de Clitemnestra.
Esta e o amante, Egisto, mataram Agamemnon quando ele retornava da Guerra de
Troia. Único capaz de vingar o crime, Orestes transferiu-se para a Fócida, suspeitando
que o amante da mãe pretendia matá-lo. Ao tornar-se adulto, em obediência às ordens
de Apolo, Orestes matou a mãe e Egisto. Perseguido, refugiou-se no santuário de Apo
lo, em Delfos. Julgado por seu crime em Atenas, o voto de Atena desempatou o resul
tado a seu favor. [N.T.]
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8. Goldziher, Abhandlungen, i.
9. Goldziher, ZDMG, xlvi, 19.
10. Tanto Muir quanto Sprenger consideram esses atos assassinatos a sangue-frio e trai-
çoeiros.
1 1. Sura lviii, 9.
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* Monte Carmelo: na costa do atual Estado de Israel, foi onde se travou o duelo es
piritual entre o profeta Elias e os profetas de Baal, no qual o primeiro provou aos
homens que o verdadeiro Deus era o de Israel. [N.T.]
12. Ibid., lxiii, 6.
13. Halabi, ii, 274.
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* Flávio Josefo: conhecido também pelo nome hebraico Yosef ben Matityahu; historia
dor e apologista judaico-romano que registrou in loco a destruição de Jerusalém, em
70 d.C., pelas tropas romanas; suas obras fornecem um importante panorama do
judaísmo no século 1 da Era Cristã. [N.T.]
20. Sura lix, 14.
2 1 . Um ou dois parecem ter tramado para ficar em Medina. Há informação de que
Rafa'ah, filho de Zaid, membro dessa tribo, era o ponto de ligação com o lado des
contente no máximo até o ano 5; e de que Zaid Ibn Al-Lukaib havia tomado parte
numa expedição no ano 9. Wakidi ( W.), 398.
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25. A "expedição Sawik" é omitida porque o mesmo nome é atribuído a outra expedição.
Além disso, há mais improbabilidades relacionadas a essa história.
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tarde, ele deu a Othman sua filha Umm Kulthum, como substituta
de Rukayyah, que morrera durante a Batalha de Badr. Por volta da
mesma época, ocorreu outro evento doméstico que levou a alegria
do Profeta ao máximo - o nascimento de seu neto Hasan, filho
de Ali e Fátima. No sétimo dia de vida, o menino foi batizado e
circuncidado, teve a cabeça raspada e fez-se em seu nome o sa
crifício de um carneiro. Conta-se que Al-Hasan, "o Belo", foi o
primeiro a usar esse nome próprio. Ao dá-lo ao seu neto, o Profe
ta imaginou que traduzia o nome de um filho de Aarão.26
Assim, depois de pouco mais de dois anos em Medina, Maomé
e seus seguidores possuíam riqueza, poder e felicidade doméstica.
O Profeta podia começar a conceber projetos de conquista em
grande escala: o horizonte definitivamente se expandia. Porém,
alguns contratempos ainda estavam por vir.
Pouco mais de um ano após a vitória de Badr, enquanto Maomé
e sua família encontravam-se em meio às alegrias domésticas, che
gavam notícias em Medina de que uma força bem equipada, três
vezes maior que aquela derrotada em Badr, estava a caminho, para
reparar o desastre. Parece que Abu Sufyan despertara para a gravi
dade do problema. Convenceu seus compatriotas a se prepararem
para a expedição com o lucro que trouxera em segurança para casa,
por ocasião da Batalha de Badr; contava com alguns aliados nas
tribos do litoral e com os Kinanah, e lançou mão do talento poético,
como se fazia em Meca. Recebera o apoio de um homem influente
de Medina, Abu 'Amir, "o monge': o aussita que, antes da chegada de
Maomé, manifestara disposição de abraçar a religião reformada,
mas a quem a presença de Maomé convencera da superioridade do
paganismo. Consta que ele levara para Meca cinquenta seguidores.27
Parece que Abu Sufyan fez o que pôde e - como um sucedâ
neo de música militar - determinou ou permitiu que o exército
26. Algumas vezes ele é chamado por seu nome siríaco; Mez, Baghdader Sittenbild, 5.
Mez considera a relação com Aarão uma invenção xiita.
27. Wakidi, 205.
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3 1 . Ishak, 614.
32. Wakidi, 207.
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33. Eles suplicaram, certa feita, que lhes permitissem mudar a residência para perto da
mesquita; Musnad, iii, 371.
34. Versos 1 62 - 1 67.
35. Burekhardt, ii, 104.
36. Ibid., 107.
37. A data da Batalha de Uhud é apresentada como sábado, 7; Sharowal, a.H. 3, o que
corresponde a 24 de março de 625 d.C.
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* Simei: da tribo Benjamin, filho de Gera; amaldiçoa o rei Davi, quando este conquista
a cidade de Jerusalém, atirando pedras em seu exército. [N.T.]
38. Samhudi, 20.
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39. Halabi.
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A DESTRUIÇÃO DOS JUDEUS
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3. Diyarbekri, i, 507.
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4. Tabari, i, 1 .441 .
5 . Musnad, iii, 1 37.
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6. Diyarbekri, i, 5 10.
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* Demóstenes: importante orador e político grego, de Atenas; aos sete anos perdeu o
pai e teve a herança roubada pelos tutores; posteriormente, abriu processo para re
cuperar os bens, ganhou, mas não reentrou na posse da totalidade deles; aos 27 anos
iniciou sua bem-sucedida carreira de orador. [N.T.]
** Cícero: filósofo, orador, escritor, advogado e político romano; introduziu em Roma
as escolas da filosofia grega, tendo criado um vocabulário filosófico em latim. [N.T.]
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13. W. R. Smith, Kinship and Marriage, 2• ed., 53. Wellhausen (Ehe, 1 4 1 ) afirma que o
escândalo foi causado pelo fato de Maomé ter violado sua própria lei.
14. Musnad, iii, l O l ss.
15. Ibid., 1 95.
1 6. Ibid., 98, 242.
17. Ibid., 99, 1 72.
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19. Isabah.
20. Ibid., ii, 109.
2 1 . Ibid., iii, 932.
22. Wakidi (W.), 190.
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23. Ibid.
24. Ishak, 980.
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34. Ishak, 699; Dhu'l-Ka'dah, a.H. 5; identificado como março-abril, 627 d.C.
35. Ibn Sa'd II, ii, 109.
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tituídos. Não, não poderiam ser tão cruéis. Deviam, então, tentar
uma manobra no sabá, quando a vigilância muçulmana provavel
mente seria relaxada? Ó, não, violar o sabá seria muito deplorável!
O que vingou foi o plano de cair aos pés do conquistador e supli
car demência. Mas que demência os judeus podiam esperar de
quem, poucos dias antes, estivera em estado de euforia diante do
sofrimento deles, e recusara a única homenagem a que atribuía
importância?
Atendendo a um pedido dos judeus, um integrante de seus an
tigos aliados, os Aus, chamado Abu Lubabah,36 às vezes empregado
por Maomé como tenente-governador de Medina, foi autorizado
a visitá-los a fim de aconselhá-los. Ao que parece, Abu Lubabah
lhes disse que resistissem como homens, já que o Profeta não mos
traria demência. Porém, arrependido de ter dado esse conselho,
expiou sua culpa amarrando-se a um pilar da mesquita; foi li
bertado por Maomé somente seis dias ou uma quinzena depois,
quando Alá manifestou seu perdão em uma revelação.
Depois de um cerco de aproximadamente quatro semanas, os
Kuraizah capitularam, com a condição de que seu destino fosse
decidido por um membro dos Aus - na expectativa, sem dúvida,
de que se buscassem termos favoráveis para eles, a exemplo do que
o chefe dos Khazraj havia feito três anos antes pelos Banu Kainuka.
O homem a quem o destino deles era entregue, todavia, não era
um apartidário indiferente, como Abdallah Ibn Ubayy. Sa'd Ibn
Mu'adh, que antes fora amigo da tribo judaica, tinha sido ferido
poucos dias antes durante as escaramuças na trincheira, e não es
tava, de forma alguma, com um humor muito generoso. Ele tivera
a veia mediana três vezes cortada, depois cauterizada por Maomé;
por isso, sua mão inchava cada vez mais. Conta-se que ele, por um
ato de vontade, conseguiu não sangrar até a morte antes que se
tivesse vingado dos Banu Kuraizah.37 Sua sentença foi algo inevitá-
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1. Ishak identifica Sha'ban, a.H. 6, como dezembro de 627-janeiro de 628. Já Wakidi si
tua-a um pouco antes.
2. Wakidi ( W.) , 1 78.
3. Ibid., 1 82.
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* Jacó: também conhecido como Israel, terceiro patriarca da Bíblia; arqueólogos não
encontraram, contudo, qualquer evidência significativa de sua historicidade. [N.T.]
** Otelo: personagem de William Shakespeare, da peça Otelo, o mouro de Veneza, cuja
trama, uma das mais conhecidas de Shakespeare, culmina com o assassinato de
Desdêmona, esposa do protagonista que, movido pelo ciúme, a mata e depois se
suicida. [N.T.]
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9. Sura xlviii, 1 7.
10. Wakidi ( W.), 244.
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com ele - caso em que teriam se livrado dele, sem qualquer pro
blema para si mesmos, ou se juntado a ele, sem perdas, caso fosse
bem-sucedido. Ocorreu-lhe a possibilidade de tomar Meca de sur
presa, se entrasse pelo passo de Dhat al-Hanzal, rota secundária,
conhecida de poucos, que seus guias conseguiram achar com algu
ma dificuldade. Por isso eles emergiram em Hudaibiyah, a cerca de
oito milhas de Meca, acreditando que as forças mequenses, cientes
de seus planos, estavam preparadas para encontrá-los. Contudo, a
razão que ele alegou mais tarde para desistir da investida contra
Meca foi o medo em relação ao destino dos muçulmanos que vi
viam (em retiro) naquela cidade, ou o temor de que seu camelo
fosse detido na estrada por uma força divina - o mesmo poder
que deteve o elefante etíope.
Se, no entanto, a ideia de atacar Meca teve de ser abandonada,
a intenção da peregrinação ainda permanecia de pé, bem como
a vontade de impressionar os mequenses com uma demonstra
ção de seu poder e sua riqueza, da reverência e da veneração que
inspirava. Não é provável que algum encontro efetivo tenha tido
lugar entre os crentes e os não crentes; mas os coraixitas faziam
repetidos contatos para saber o que Maomé queria, e se manifes
taram determinados a não o deixar entrar na cidade, quer viesse
como amigo, quer como inimigo; ao mesmo tempo, as garantias
dadas a respeito das intenções pacíficas do Profeta foram recebi
das com extremo ceticismo por Budail, filho de Warka, o khuzàita,
e 'Urwah, filho de Mas'ud, o thakafita (reencontraremos esses dois
homens adiante).
Finalmente, os mequenses enviaram o líder de seus aliados,
Hulais, filho de 'Alkamah, que Maomé sabia ter escrúpulos reli
giosos. O Profeta tomou precauções para que esse homem visse os
camelos sacrificiais e os peregrinos despenteados. Afetado pela
visão, 'Hulais instou os mequenses a fazer um acordo com seus
visitantes indesejados. 1 1
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Toda vez que o Profeta falhava, ou quando seu sucesso não era
completo, ele compensava atacando os judeus; essa política serviu
muito bem, até que fora temporariamente abandonada depois do
insatisfatório caso de Hudaibiyah. Por isso logo se planejou um
ataque aos judeus de Khaibar.27 Essa aldeia era conhecida como a
mais rica do Hijaz. De acordo com o seu nome (que em hebraico
significa "comunidade"), deve ter sido originalmente uma colônia
judaica, separada de Medina por cerca de cem milhas de extensão
de harrah, ou formação de lava.28 Raramente visitada pelos euro
peus, a área serviu de residência ao grande explorador Doughty*
por alguns meses, em 1 877. O oásis à margem do qual Khaibar
está situada é extremamente fértil e foi cultivado pelos judeus com
extrema habilidade. Além disso, o local era bem fortificado. Ibn
Ishak menciona os nomes de muitas fortalezas; algumas partes das
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De todo modo, a história contada pelos árabes, que pode ser falsa,
não contém qualquer erro cronológico. De acordo com esse relato,
Heráclio, ao receber a carta de Maomé das mãos do belo Dihyah,
sob cuja forma o arcanjo Gabriel estava acostumado a aparecer,45
perguntou se algum compatriota do Profeta podia ser encontrado
na Síria. Vivia-se a época da trégua entre mequenses e muçul
manos; por isso, Abu Sufyan, filho de Al-Harith,46 estava muito
próximo, em Gaza. Ele foi intimado a comparecer à presença do
imperador para explicar a conduta de seu compatriota, e deu res
postas que, sem qualquer intenção de sua parte, resultaram na
conversão do imperador - fato que, apenas por medo de seus sú
ditos, ele foi forçado a esconder.
Essa história, várias vezes embelezada, remete supostamente ao
próprio Abu Sufyan, que estava muito impressionado com o ter
ror que o nome de Maomé inspirava no imperador dos gregos: ele
agora estava convencido do sucesso definitivo do Islã. É difícil des
cobrir quais elementos de verdade encontram-se escondidos nessa
narrativa. A coincidência de Abu Sufyan estar na Síria - prova
velmente é histórica - foi suficiente para dar a ideia de que foi
intimado a fazer um relato sobre seu famoso compatriota. Tivesse
sido realmente intimado, ele dificilmente perderia a oportunidade
de procurar obter ajuda para Meca contra o perigoso exilado, de
destacar a ameaça às províncias vizinhas representada pela ascen
são do poder muçulmano.
Na verdade, de acordo com uma versão,47 Abu Sufyan acusou
o Profeta perante Heráclio, mas sua acusação foi respondida por
um poeta chamado A'sha de Kais. Provavelmente a missiva, numa
língua desconhecida, era considerada indigna da atenção do mo
narca. Muitos lunáticos de nossa época se preocupam com perso
nagens da realeza e suas inspirações! Se essa recepção foi realmen-
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pria mulher seja referida no Alcorão como uma fiel que se ofere
ceu ao Profeta. De acordo com alguns, ela foi a sua última esposa.
A fama de Maomé começou a atrair para Medina os bardos
que iam de corte em corte vendendo elogios. O poeta de Yema
mah, A'sha, de Kais, que desfrutava de uma reputação exagerada,
pensou em ganhar alguma coisa nessa ocasião e juntou a seus ver
sos uma superstição similar à que, nos tempos antigos, coubera
às palavras de Balaam: aqueles a quem ele elogiava se tornavam
grandes, aqueles a quem ridicularizava decaíam. No caminho de
Medina, ele desviou-se para Meca e, provavelmente desconhe
cendo a relação entre as duas cidades, mostrou seus versos a Abu
Sufyan. Este ofereceu-lhe cem camelos, se prosseguisse e obser
vasse a evolução dos eventos antes de publicar o elogio a Maomé.
O poeta tinha ares de homem de negócios capaz de aceitar a ofer
ta, mas um de seus camelos recém-adquiridos o matou.
O espetáculo da peregrinação fez um importante converso,
Khalid, filho de Al-Walid, logo destinado a receber o nome de Es
pada de Alá. Ele e o outro grande general muçulmano, 'Amr, filho
de Al-'Asi, se converteram mais ou menos na mesma época. Che
ga-se a afirmar que os dois se encontraram no caminho para Me
dina. Khalid tinha ido embora de Meca para não passar pela hu
milhação de ver os muçulmanos entrarem na cidade, e uma carta
de seu irmão, Walid, que se convertera pouco depois de Badr, es
crita por insistência do Profeta, foi decisiva para levá-lo a se juntar
aos conquistadores. 59
A conversão de 'Amr é atribuída algumas vezes àquele potenta
do abissínio em cujo palácio ele não era exatamente uma figura
pouco familiar. 'Amr retirou-se para lá, de acordo com seu próprio
relato,60 depois do caso do fosso, julgando que o sucesso de Mao
mé em sua guerra com os coraixitas estava agora assegurado, e que
a corte de seu amigo abissínio seria um porto seguro para ele.
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ansiosos por obter algo da glória que refletia sobre todos que com
ele se relacionavam. Abu Sufyan64 trabalhara arduamente para
convencer muitos de seus compatriotas a aderir à religião de seus
pais. Hakim, filho de Hizam e sobrinho de Khadijah, gastou tem
po e dinheiro para comprar uma veste que se dizia ter pertencido
ao herói Dhu Yazan, por cinquenta dinares, e levou-a a Medina65
como presente para seu distinto parente; este, no entanto, recu
sou-se a aceitar uma dádiva vinda de um não crente. O que nos
surpreende não foi o fato de Maomé ter tomado Meca com tanta
facilidade no ano seguinte, mas que ele tivesse de conciliar tantos
de seus antigos opositores com propinas.
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A TOMADA D E MECA
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sátiras não eram bem recebidas pelos coraixitas, porque ele os ri
dicularizava por não serem crentes e se gabarem disso.4
O generoso Profeta a todos concedia honras elevadas no paraí
so, mas para Ja'far ele encontrou asas que o carregaram até o trono
de Deus. Com lágrimas nos olhos, Maomé dirigiu-se aos muçul
manos narrando a ordem das mortes e dizendo que não podia
desejar aqueles homens de volta.5 Os sobreviventes dessa luta de
sastrosa foram considerados desertores pelos muçulmanos, e al
guns chegaram a ficar com medo de aparecer em público por al
gum tempo, o que mostra quão espartana se tornara a população
de Medina nesses oito anos de guerra. O Profeta, cuja mente era
sempre mais aberta nesses períodos de tensão, de modo algum fez
eco a essa atitude.
Se a quantidade de inimigos correspondesse a um décimo dos
números fornecidos pelos historiadores, nem um muçulmano te
ria escapado. Entrar em colisão com o grande poder mundial e
não ser exterminado não era uma vitória, mas estava muito perto
disso. Além do mais, para os maometanos, as tribos árabes que
agora serviam sob os comandantes bizantinos eram como trigo
pronto para a colheita.
Era hábito do Profeta, como já vimos muitas vezes, redimir um
desastre, o mais depressa possível, com algum sucesso estrondoso.
Enquanto houvesse judeus disponíveis, ele podia estar seguro de
uma vitória fácil. Os muçulmanos encontravam-se esgotados nes
se momento, mas Meca continuava lá, e as experiências que ha
viam tido nos últimos anos indicavam que a cidade estava madura
para cair. Tudo de que Maomé precisava era um pretexto decente
para atacá-la, e esse pretexto foi fornecido pelo tratado que ele
firmara com os mequenses na época da peregrinação fracassada.
Vimos repetidas vezes que, uma vez derramado, o sangue ja
mais é esquecido, a menos que ocorram expiações formais. Quem
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6. Em Isabah, s.v. Budail; para uma tradução, ver Wakidi ( W.), 306.
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9. Azraki, 1 55.
10. Musnad, iii, 396.
1 1. Azraki, l l l .
1 2 . Ibid., 192, cita o que eles disseram.
13. Ibid., 172.
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1 7. Azraki, 78.
1 8. Musnad, iv, 305.
19. Azraki, 353.
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* Jerubbaal ou Gideão (e. século XII a.C.): segundo a Biblia, quinto juiz de Israel, exem
plo de homem de fé. Para escapar dos midianitas (a cuja dominação estavam conde
nados por Deus), os israelitas foram obrigados e viver sete anos escondidos em caver
nas, tendo por isso abandonado suas riquezas. [N.T.]
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apropriado por um ano,20 agora podia-se dizer que elas deviam ser
atiradas em Satã. Por acaso Satã não era chamado de "o Apedre
jado" no Alcorão?
Uma drástica alteração estava prestes a se seguir, quando o Pro
feta concebeu a infeliz ideia de alterar o calendário sem conhecer
elementos de astronomia, ou mesmo sem se importar com a fina
lidade de se marcar o ano. Antes, por uma associação não científi
ca, os meses eram grosseiramente associados às estações. Maomé,
que baseou seu calendário em doze meses lunares, acabou com
toda e qualquer relação entre eles. Não podia haver mais dúvida
alguma quanto à acomodação dos meses da peregrinação às ne
cessidades do comércio. Maomé não pretendia esse resultado, cujo
acerto ignorava, mas ele aconteceu, e os mercados dos "Dias da
Ignorância" logo caíram no esquecimento. O comércio de Meca
estava arruinado, mas a cidade saíra ganhando; em primeiro lugar
pela parcela considerável que recebia da pilhagem do mundo, de
pois pelo aumento sem precedentes do número de visitantes nas
estações sagradas, torrente raras vezes afastada pela sedição e pelo
fanatismo, crescente nos tempos de paz, desde quando Meca foi
tomada até hoje, quando o trem a vapor ajuda a cidade a crescer.
Se Maomé tomou alguma coisa de Meca, deu-lhe mais em troca.
Das cidades que existiam no século VII da nossa era, poucas
são as que tiveram uma existência tão contínua, afetada apenas
por problemas superficiais, como Meca. Sua população, depois
que a cidade se tornou o grande santuário do mundo, rapidamen
te esqueceu a política e o comércio. Os mequenses transforma
ram-se em gerentes de um espetáculo, guardiões de uma exposi
ção que todo mundo tinha a obrigação de visitar. Para os fiéis, que
passaram a vida sonhando com Meca antes de ter a oportunidade
da peregrinação, a cidade sagrada ganhou as·cores de um encanto
fantástico, e era difícil para eles a dissociarem daquele paraíso para
o qual a visita representava uma preparação e do qual era o sím-
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bolo. "Abençoados por aqueles que residem na Tua Casa, eles de
vem estar sempre louvando a Ti." Não parece que a população de
Meca tenha passado todo o seu tempo dessa maneira edificante,
mas tinha agora a grande vantagem de saber que os negócios che
gariam até ela, sem ter mais de sair para procurá-los.
Dando ao império do Islã uma capital religiosa, em nenhum
momento utilizada como capital política, o fundador fixou em
Meca a base que assegurou a continuidade do sistema diante das
mais violentas convulsões. Depois de saqueada, uma capital polí
tica é quase sempre abandonada pela dinastia vitoriosa, que se
volta para outra; várias considerações comerciais e militares tor
nam essa substituição desejável ou mesmo imperativa. Por isso o
centro político do Islã foi deslocado à medida que as dinastias se
sucediam, uma após outra; mas, a cada vez, era ali que o soberano
maometano mais poderoso decidia instalar sua corte.
Meca foi igualmente honrada por todos esses soberanos. Cada
um deles se orgulhava de dar presentes à cidade de Deus, cada
qual considerava que protegê-la e adorná-la eram obrigações es
pecialmente atribuídas a ele. Identificada assim com o Islã, como
religião, a cidade que tinha oferecido a mais encarniçada resis
tência à sua ascensão logo se tornou sua mais fanática adepta.
Uma pessoa que não é muçulmana pode viver e mesmo prosperar
em qualquer país islâmico. Em Meca, ela deve esconder o fato de
não ser crente, sabendo que, se for descoberta, estará condenada
à morte.
A tomada de Meca foi seguida quase imediatamente de uma
luta perigosa com uma horda de árabes nômades, liderada por
alguns daqueles heróis pagãos com os quais a velha poesia e os
trabalhos de arqueólogos estão constantemente ocupados, mas
que até então não haviam marcado muita presença na vida do
Profeta - passada sobretudo em meio a debates com os judeus
civilizados ou com os moradores parcialmente civilizados das
cidades. O crescimento e a consolidação do Estado muçulmano
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2 1 . Jusham é considerada por Al-Akhtal (Kami� ii, 60) a pior das tribos, e, como os Ka
tas, nem preta nem vermelha. Bayan, i, 55, faz referência a uma guerra entre os
Thakif e os Nasr.
22. Goldziher, MS, i, 252.
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sionalmente, e nas duas frentes, ele topou com reveses, mas com
muito mais frequência foi exitoso. Numa ocasião, escapou de ser
assassinado fingindo-se de morto, truque também praticado pelos
índios americanos. A riqueza do ladrão de camelos não dura mui
to. Se for mantida em segurança, é logo dissipada com esposas
novas e velhas, com companheiros de clã e convidados. "Para ve
lhacarias" desse tipo "não há caixa-forte':
A velhice encontra-o pobre, despreparado para a guerra ou
para o amor, mas ainda não desprovido de seu mana e talvez an
sioso por morrer em campo de batalha, pronto para dar ao assas
sino desastrado algumas pistas úteis sobre a maneira de proceder.
Esse tipo de homem tem horror instintivo à ordem, à disciplina e
à organização. Onde o sangue não pode ser derramado livremente
ele não encontra seu verdadeiro ambiente.
A coalizão dos Hawazin com os Thakif apoderou-se de um
posto em um wadi chamado Autas, ao que consta não muito longe
de Meca, local que não tem sido visitado nos últimos tempos. Fica
em algum ponto a sudeste da cidade, nas proximidades de um
lugar chamado Dhu'l-Majaz, ou "o Passo", um dos locais de mer
cado dos velhos tempos. Para lá se dirigiram as tribos, acompa
nhadas, no verdadeiro estilo selvagem, por esposas e filhos, ove
lhas e rebanhos, procedimento que não seria aprovado pelo idoso
Duraid, mas que provavelmente era sancionado pelo costume.
Vimos que em Uhud as mulheres desempenharam um papel im
portante. Conta-se também que ele aconselhou a retirada, em par
te pela ausência de alguns dos melhores homens da tribo Hawazin.
Porém, como a cada dia o poder de Maomé aumentava, o líder
decidiu tentar a sorte de uma só vez.
Os homens ficaram escondidos dos dois lados do vale de Hu
nain, por onde os muçulmanos desciam. Os efetivos de Maomé23
foram estimados em 1 2 mil homens: os 1 0 mil com que invadira
23. Para essa campanha Maomé contraiu empréstimo de 30 mil ou 60 mil dirhems de
Abdallah Ibn Abi Rabi'ah, que foi pago honestamente. Musnad, iv, 36.
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39. Essa expressão é apropriada. Maomé, a quem os credores recorreram, foi instado a
entregar-lhes Mu'ad. O Profeta, porém, preferiu reunir a quantia devida, pagando
aos credores de Mu'ad um dividendo de cinco sétimos (cf. Ibn Sa'd, 123).
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4. Nasa'i.
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7. Musnad, iii, 328.
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1 1. lbid., 6 1 .
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Abu 'Amir estava assentada sobre areia movediça, pronta para cair
no fogo do inferno.
Tanto no começo da expedição a Tabuk como durante a ação
houve muitas deserções. O retorno do Profeta alarmou os culpa
dos, e nós somos informados, pelo Alcorão, de que o Profeta reser
vou alguns dos casos para deliberação especial. Uma dessas pes
soas deixou-nos um relato de seus sofrimentos que ilustra bem os
métodos do Profeta. 12 Ka'b, filho de Malik, era um khazrajita que
recebera onze ferimentos em Uhud e ganhara uma propriedade
em Khaibar. Era também poeta, e sua inspiração servia a Maomé.
Conta-se que ele teria coagido a tribo Daus a adotar o Islã. Duran
te a estação quente, ficava à vontade em Medina e, por indolência,
não conseguiu se aprontar a tempo de participar da expedição
nem de se juntar a ela mais tarde.
Ka'b não fez segredo disso para o Profeta, que reservou o caso,
com outros dois, para futura revelação. Nesse meio-tempo, nem o
Profeta nem qualquer muçulmano falaria com Ka'b. Durante o
período de sua excomunhão, segundo suas palavras, chegou-lhe
uma mensagem do príncipe gassânida na Síria, oferecendo-lhe
patrocínio e proteção caso ele optasse por deixar Medina; Ka'b
rejeitou essa tentação do diabo. Em seguida, veio uma mensagem
do Profeta punindo os três delinquentes com uma penitência que
Maomé sem dúvida considerava severa. Durante certo tempo, eles
teriam de ficar longe de suas esposas. Enquanto isso os três conti
nuariam praticando suas devoções com regularidade meticulosa,
na esperança de que a ira do Profeta passasse. Depois de cinquen
ta dias, ela passou.
A revelação que veio em seguida assegurou-os do perdão. Con
gratulações afetuosas chegaram de todos os lados. No entusiasmo
do momento abençoado, Ka'b estava pronto a dar tudo o que pos
suía como agradecimento por sua readmissão na sociedade dos
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19. Em Musnad, i, 3, consta que Abu Bakr fora chamado de volta de tal modo que al
guém da casa do Profeta pudesse entregá-lo, mas isso parece uma invenção xiita.
20. Wellhausen, Sturz, 14, aceita a data costumeira para esse documento; Grimme a si
tuaria após a tomada de Meca.
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24. lkd Farid, i, 104. Nem todos os enviados se converteram. Ibn Duraid, 236, menciona
Wazar lbn Jabir como um deles.
* Frase do monólogo de Hamlet, da peça homônima de William Shakespeare. [N.T.]
** Charlotte Corday ( 1 768- 1 793): jovem francesa que assassinou, com uma facada, o
revolucionário Jean-Paul Marat, um dos mais ardorosos defensores da política do
Terror durante a Revolução Francesa. [N.T.]
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* Referência ao fato de Maria ter concebido Jesus tendo permanecido virgem. Este é um
dogma caro tanto ao cristianismo quanto ao islamismo. [N.T.]
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13
O ÚLTIMO ANO
1. Jabir, filho de Abdallah, em Musnad, iii, 320. Outros autores datam a expedição de
alguns dias mais tarde.
2. Wellhausen, Reste, 70.
3. Isso é debatido por Goldziher, MS, i, 70-99.
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4. Musnad, i, 28.
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12. Isabah.
13. Ibn Duraid, 1 76. A mulher ficou leprosa em consequência disso.
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que Maomé fazia com eles. 18 Mesmo com seus seguidores adultos,
às vezes ele parecia colocar de lado a gravidade inerente a seu car
go. Conta-se uma história, que parece autêntica, de que, certa fei
ta, ele teria envolvido com os braços, de repente, a cabeça de um
anão converso de nome Zahir, que vendia bens no mercado, e o
teria colocado à venda.19 Um de seus seguidores declarou que o
Profeta quase sempre estava sorrindo. 20 Os sobrinhos e primos
que tinham atingido a idade adulta naturalmente mostravam-se
ansiosos por se aproveitar do parentesco com o grande homem e
reivindicar postos na nova administração; o recolhimento das es
molas era o mais fácil dos empregos e um dos que oferecia as me
lhores oportunidades de peculato. O Profeta, embora reconhecen
do as reivindicações da parentela, não atendia prontamente aos
pedidos;21 parece que de forma alguma sua administração podia
ser acusada de nepotismo; ele não permitiu que seus parentes in
terferissem no curso da justiça.22
As delegações constituem um importante capítulo na biografia
do Profeta. Embora realidade e ficção estejam entrelaçadas nos
relatos que temos delas, não é o caso de se questionar seu caráter
histórico. A derrota dos Hawazin decidiu o destino da Arábia.
Após aquele evento, tiveram lugar, com certa freqüência, ataques
sem importância, mas a maioria das dinastias ou comunidades
árabes em todas as partes da península, do Iêmen a Bahrain, de
Hadramaut a Yemamah, apressava-se em se lançar nos braços do
novo poder. Parece que os vaidosos chefes tribais tinham a noção
profundamente arraigada de que deviam ficar sob a suserania de
alguém; por séculos seus suseranos haviam sido os bizantinos ou
os persas. Provavelmente ganhariam alguma coisa com a mudança
de jugo, e talvez o despertar da consciência de nacionalidade os
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25. Isabah, i, 70 1 .
26. Ibid., i , 994.
27. Ibid., i, 1 .054; Ibu Duraid, 1 13.
28. Musnad, i, 164.
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mem que havia coberto de terra uma menina a quem sua mãe, em
virtude da ausência do pai, arriscou-se a socorrer. Nossas fontes
não nos informam em que circunstâncias essa prática vigorava.
Alguns arqueólogos confinaram-na a determinadas tribos, mas,
com base no Alcorão, podemos imaginar que o destino de cada
filha nascida era posto em suspenso. Por outro lado, uma das mu
lheres que adotaram o Islã por ocasião da tomada de Meca repu
diou, de forma indignada, a acusação de infanticídio. Embora a
filosofia política moderna encare essa prática com menos severi
dade que Maomé, considerando-a uma solução não muito cruel
para um problema aparentemente sem esperança, deve-se reco
nhecer tanto a humanidade que inspirou a proibição, ao promo
ver a valorização do sexo mais frágil, como a consideração de que
a vida humana era dotada de santidade.
Em relação à vida humana, o sistema de Maomé pouco reali
zou, porém, pelo sexo feminino; certamente ele fez o máximo para
apaziguar a voz do sentimento e tratar suas regras e inovações
como tentativas de lidar com um problema desanimador - desa
nimador no sentido de que nenhuma comunidade, independen
temente de suas dimensões, jamais encontrou uma coberta (para
usar a imagem de Isaías) capaz de abrigar sua totalidade. A reclu
são e o encobrimento das mulheres com véus, como Muir tão bem
observou, foram uma consequência direta da poligamia e da faci
lidade do divórcio. A poligamia é, em si mesma, uma tentativa de
resolver um problema que as nações indo-germânicas solucionam
admitindo a prostituição. Neste último sistema, um percentual da
população feminina fica completamente degradado, enquanto no
primeiro a população feminina como um todo se encontra par
cialmente degradada. Se, pela introdução do véu, Maomé reduziu
a liberdade das mulheres, ao mesmo tempo assegurou para elas,
com base em leis, os direitos de herança e de propriedade, que no
sistema anterior eram precários. Embora o espancamento das es
posas seja recomendado no Alcorão, o próprio Profeta, sem dúvi-
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57. Musnad, i, 22 1.
58. lbid., 78.
59. Ibid., iii, 447.
60. Ibid., V, 1 8.
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