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Edição 79 > _anais da moda > Abril de 2013

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Bafo em Paris
O caminho do jovem estilista brasileiro Pedro Lourenço rumo ao reconhecimento internacional
por DANIELA PINHEIRO

Em março, nas rodas mais animadas de Paris, só se falava da fuga de Gérard Depardieu para a Bélgica
atrás de impostos mais camaradas, das almôndegas de cavalo vendidas como carne de boi na Ikea e dos
desfiles da Semana de Moda da capital francesa, considerada a mais importante do mundo. O estilista
Pedro Lourenço – o mais jovem e único brasileiro a desfilar no prêt-à-porter parisiense nos últimos
anos – estava na cidade para mostrar sua coleção outono-inverno 2014.

Faltando pouco para as dez da manhã, podia ser visto de pernas cruzadas em uma cadeira Luís XV,
forrada de tecido azul-bebê. Lourenço, a cadeira e o tecido se encontravam no hotel Le Bristol,
localizado na rua Faubourg Saint-Honoré, onde hordas de todos os sexos e idades formam fila para
detonar ienes, yuans, dólares, petrodólares, rúpias, rublos, euros e reais em lojas como Christian
Louboutin e Chanel.

O costureiro paulista aguardava, algo impaciente, a visita de uma dúzia de repórteres e editores de
moda de todo o mundo que haviam confirmado presença para conferir ao vivo as roupas desenhadas
por ele – já que não as veriam nas passarelas. Depois de três anos e seis coleções ininterruptas em
Paris, pela primeira vez Lourenço não havia feito desfile. Trocara a apresentação tradicional por uma
versão digital, a ser exibida na internet.

Em vez de convite com assento marcado em fileira VIP de algum salão da Rive Droite, os críticos de
moda receberiam uma senha para acessar o filmete de cinco* minutos, que estaria disponível dali a
alguns instantes na rede. Gravado em São Paulo na semana anterior, trazia uma única manequim
alternando 27 roupas diferentes. Pelo computador, tablete ou telefone celular, o crítico poderia assistir
onde quisesse.

A Fédération Française de la Couture du Prêt-à-Porter des Couturiers et des Créateurs de Mode, que
organiza a Semana, tem regras estritas. Sem modelos ao vivo, passarela e plateia, aquilo não é
considerado desfile. A grife Pedro Lourenço foi excluída da temporada parisiense.

A rigor, ao ficar de fora do programa oficial, ele corria o risco de ser preterido por algum crítico
influente ou por quem realmente conta: as poucas dúzias de executivos das maisons. Ainda assim,
mesmo num ramo em que uma resenha elogiosa é capaz de deslanchar uma carreira e ser ignorado
pode significar a pá de cal no futuro, o estilista parecia despreocupado.

“Sem a obrigação do desfile, eu tenho tempo para sentar com os editores de moda, mostrar as roupas e
explicar o que fiz”, disse, afastando uma cortina de veludo para conferir o mau tempo pela janela do
hotel. “Também economizo dinheiro para investir mais no meu produto. Sou jovem, posso pular uma
estação e voltar na próxima. Eu sei para quem eu tenho que aparecer agora.” Às dez e meia da manhã, a
campainha tocou. Lourenço ajeitou o cabelo, esticou o pulôver, respirou fundo e se encaminhou em
direção à porta.

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ourenço tem apenas 22 anos e já soma dez de carreira. Seus assessores nos lembram com
frequência: seu primeiro desfile na São Paulo Fashion Week aconteceu aos 12 anos; a estreia na
Semana de Moda de Paris, aos 19; na de Nova York, aos 20. No ano passado, foi eleito pela
revista Forbes americana um dos trinta jovens mais influentes na moda.

Desde cedo, ele se acostumou a receber elogios da imprensa especializada, tanto brasileira como
internacional. Seja em português, inglês, francês, espanhol ou italiano, é improvável ler qualquer coisa
sobre ele sem tropeçar nas palavras “precoce”, “promessa”, “aposta”, “prodígio”.

Na suíte do Bristol, ele andava de um lado para o outro conferindo se havia café na mesa de centro, se
as flores estavam em ordem, se a sala contígua – onde as roupas pendiam de araras – estava impecável.
Usava calça, sapato de bico alongado e pulôver pretos com camisa social branca. No pescoço, exibia um
discreto pingente de diamante. Afetava um ar cool, comme il faut.

Ele é alto, tem o cabelo cortado rente à cabeça e mantém cuidadosamente por fazer a barba arruivada.
Sua sobrancelha é arqueada, a boca é espessa, o nariz bem-feito e os olhos são grandes, escuros e muito
vivos. Prodígio olfatório, ele recende a sândalo mesmo após um longo dia de trabalho.

Agitado, fala rápido e tem um forte sotaque paulistano, desses que nasalizam as sílabas tônicas, como
se o falante estivesse resfriado (intããão...). Suas frases são pontuadas por muitas gírias (algumas de
sua lavra, como “jairo”, que ele diz significar “meio louco”), expressões da moda (“Crepe é bafo agora”),
construções sintéticas heterodoxas (“Isso foi algo que aconteceu organicamente”) e jargões do mundo
das consultorias globalizadas (“Eu trouxe muitos inputs para essa coleção”).

O bordado de um guardanapo de papel pode capturar longamente sua atenção, assim como uma gola
de camisa mal passada é capaz de deixá-lo inquieto. À aproximação de um interlocutor, seus olhos vão
de alto a baixo num átimo de segundo. Parece-lhe incontrolável escanear a estampa alheia.
Frequentemente, não gosta do que vê.

Seu visual é irreprochável. Veste-se com cores neutras e sóbrias, usa marcas de pedigree e as mistura
com coisinhas acessíveis, como as da COS – a primeira linha da rede H&M. Sua pele parece ser tratada
a potes de creme, regula a alimentação e corta o cabelo em Paris, num lugar “que deixa a gente com
cara de rico”.

Dispara inúmeras ordens a um eficiente entourage, que lhe passa o celular já com o número discado,
monta-lhe refúgios privados em espaços públicos para que almoce com privacidade e paga as contas em
restaurantes sem que ele precise colocar a mão na carteira.

Todos, sem exceção, parecem cultivar uma devoção reverente ao patrão. Repetem, como mantra, “o
Pedro quer”, “o Pedro acha”, “o Pedro gosta”, “o Pedro não gosta”, “o Pedro fez”, “o Pedro disse”, “o
Pedro mandou”, e por aí vai. Ele é paciente com os funcionários.

irlene di Santolo, brasileira, é a responsável pelas compras das grifes vendidas na multimarca
inglesa Joseph, na Europa, Ásia e Estados Unidos. Por ano, comercializa cerca de 200 peças de
Pedro Lourenço – a quem conhece desde criança. “Há roupas que fazem você parecer mais
magra ou mais sexy. As dele fazem a mulher parecer mais independente”, disse durante um jantar em
outubro do ano passado, no bairro de South Kensington, em Londres. “É uma roupa internacional. É
avant-garde. Por isso, acho que ele é mais compreendido na Europa do que no Brasil”, afirmou.

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Naquela semana, o nome Pedro Lourenço estava estampado na parede de entrada da Joseph, em
Fulham Road, ao lado dos de Stella McCartney, Valentino e Pucci. Duas araras no centro da loja
expunham dezenas de vestidos, saias, camisetas e jaquetas do brasileiro. Uma mulher magra, na faixa
dos 60 anos, comprava um vestido curto de couro branco, com uma álacre palmeira estampada em
crepe. Pagou 800 libras, cerca de 2 500 reais.

As roupas desenhadas por Lourenço costumam ter formas retas e simétricas, com muitos elementos da
alfaiataria masculina. Origamis com pontas e planos, nunca sinuosidades. Às vezes, lembram peças
arquitetônicas, o que pode dar a impressão de serem mais bonitas que confortáveis. Antenado, ele
prefere usar materiais como couro, neoprene e tecidos chamados tecnológicos. Outro ponto forte são
suas estampas, obtidas por meio de processos digitais. É uma roupa para ser usada por uma mulher
magra, alta, jovem, classuda, discretamente malhada – e com um cartão de crédito Black AAA+.

Outra palavra recorrente usada nas resenhas sobre Lourenço é “Balenciaga”. Mais de uma vez, ele já foi
criticado por “olhar demais” para o trabalho de estilistas estrangeiros. Na temporada primavera 2012,
apresentada em Paris, o jornalista Eric Wilson escreveu no New York Timesque a coleção poderia ser
chamada de “Balenciaprada”, por remeter ao que as casas Balenciaga e Prada haviam mostrado
recentemente.

“Você olha os anos 60 e vê elementos comuns entre Courrèges, Pierre Cardin, Paco Rabanne. Essa
semelhança é o quê? É uma época. As pessoas vivendo as mesmas coisas num mesmo momento”,
rebateu Lourenço, em uma tarde recente.

“Aquela minha coleção tinha exuberância, que é uma linha da Prada. Tinha construção e volume, que é
uma característica da Balenciaga. Mas era essencialmente uma coisa baseada em videogame, coisa da
minha geração, nada a ver com eles”, argumentou.

Como quase não compra matéria-prima no Brasil, sua produção é restrita e caríssima. O cashmere e o
couro são italianos, o veludo é da única tecelagem que ainda o faz à mão na Europa, a seda é francesa.
Em determinada coleção, banhou os zíperes em ouro e desenvolveu uma estampa de tweed com os
mesmos fornecedores da Chanel, a partir de técnicas da tapeçaria baiana. Um vestido custava 20 mil
reais.

A pedido, a consultora de moda Costanza Pascolato falou sobre o trabalho de Lourenço. “Ele sabe fazer
roupa de luxo. É um dos poucos que têm noção de forma e proporção. Os belgas têm isso. Não tem
como eu explicar para leigo, me desculpe, mas você não vai entender”, decretou.

Arrasada, supliquei que tentasse ser mais clara. Ela se esforçou. “Ele sabe inovar essa merda de roupa
que já fizeram quinquilhões de vezes desde a primeira metade do século XX. Ele SABE fazer. E faz num
país que não tem estrutura nenhuma. É uma bênção ter alguém como ele por aqui”, esclareceu.

infância de Pedro Lourenço foi passada numa casa formidável do Jardim Europa, em São Paulo,
onde cresceu rodeado de tudo o que pudesse desejar. Para seu gáudio, podia fazer o que
quisesse. Filho único dos estilistas Gloria Coelho e Reinaldo Lourenço – ambos há muito
estabelecidos na praça –, desde muito cedo frequentava o ateliê de moda dos pais. Ali, em vez de uma
babá, era entretido por costureiras, piloteiras (quem confecciona a peça-piloto da roupa), modelistas
(quem faz o molde a partir do desenho do estilista) e passadeiras, com as quais brincava manuseando
tecidos, dedais, agulhas e bijuterias.

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Numa tarde de dezembro, Gloria Coelho almoçava em sua sala no ateliê – onde também funciona a
confecção. O prédio e parte dos funcionários são divididos com o rebento. O pai mantém seu escritório
noutro endereço.

Os desfiles de Pedro Lourenço costumam interromper os pespontos da mãe, que põe o ateliê à
disposição do filho. Enquanto um estilista iniciante demoraria anos para montar uma equipe
competente e com um maquinário adequado, Lourenço teve a fortuna de receber pronta a azeitada
estrutura materna.

Gloria fala devagar, com delicadeza, e tem um olhar zen e apaziguador. Sem largar o cigarro,
lembrou-se de quando o filho, aos 3 anos, interpelou uma amiga dela para saber se a saia que usava era
do estilista belga Martin Margiela. “Ele sempre foi ligado nisso. É dele, é natural”, contou.

Desde petiz, os pais o levavam para desfiles, festas e eventos de moda no Brasil e no exterior. Lourenço
ainda descreve em detalhes roupas da Comme des Garçons que viu com menos de 10 anos de idade.

Entediado, ia para a escola de manhã e passava o resto do dia a toda pelo ateliê. Suas experiências na
costura eram estimuladas e levadas a sério. Aos 7 anos, os pais construíram uma passarela em casa,
contrataram modelos e chamaram jornalistas de moda para assistir ao que é considerado, por eles, o
primeiro desfile do filho.

Patricia Carta, diretora da Carta Editorial, que publica as revistas RG e Harper’s Bazaar, estava lá.
“Tem criança que brinca de professor, outra de bombeiro. Ele brincava com o que estava ao seu
alcance. E, é evidente, os pais achavam tudo lindo”, contou, tarde da noite, num restaurante parisiense.
“Erra quem acha que os pais o forçaram a tomar esse caminho. A Gloria ficaria muito feliz se ele fosse
médico ou engenheiro. Ele podia ser qualquer coisa. Ele é o príncipe deles. Mas desde sempre Pedro foi
estilista”, disse.

Outro que tem na memória a infância de Lourenço é o maquiador Daniel Hernandez – que trabalha
com a família há anos. Ele conta a galhardia com que Lourenço, aos 6, mandou cortar o “rabo de sereia”
de um vestido da cantora Daniela Mercury feito pelo pai. No que foi atendido. E, aos 10, como
convenceu a mãe a quebrar um tabu e colocar modelos de batom vermelho na passarela “porque ficava
bem melhor” – e também foi ouvido.

Seu castigo não era ficar sem o videogame, mas não ir ao ateliê ou aos desfiles de Paris. “Era a pior
coisa que eles podiam fazer comigo”, riu Lourenço. “Eu ficava pensando numa vingança. Entrar lá e
botar fogo na coleção deles.”

Os pais davam corda e a imprensa achava folclórico. Quando ele tinha 11 anos, a mãe passou a
apresentá-lo como estilista assistente de sua segunda marca, a Carlota Joakina. Foi quase natural que,
no ano seguinte, Lourenço tenha apresentado sua primeira coleção na São Paulo Fashion Week.

É divertido ver o vídeo do desfile. No agradecimento final, o estilista – um menino gordinho e com o
cabelo à la príncipe Ricardo – entra fazendo um “legal” com o polegar e sai correndo, numa cena que
dura menos de dois segundos. À época, a jornalista Erika Palomino, então na Folha de S.Paulo,
escreveu que a “coleção empaca na inexperiência dele”. Foi quase uma voz isolada.

ua sala no ateliê tem paredes brancas, estantes repletas de livros de arte, um espelho colossal e

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pé-direito de Versalhes. A poucas semanas de ir para Paris, Lourenço colava pedaços de


fita-crepe vermelha no molde de madeira de um pé feminino. Aquilo viria a ser o protótipo do
sapato de sua coleção de inverno: pontudo, aberto atrás, quase aerodinâmico, lembrando as asas nos
calcanhares do grego Hermes (o mensageiro dos deuses, não o fabricante de bolsas).

Ele falava de sua vida em família. “Na minha casa, tinha uma coisa muito forte de competição entre
meus pais. Eu fui criado competindo com eles também”, disse. “Imagina como se fossem três crianças
numa mesma casa brigando o tempo todo”, afirmou. “Minha mãe era a mais madura, eu no meio, e o
meu pai o mais infantil de todos.”

Durante a gravação do desfile digital, em fevereiro, presenciei cenas da dinâmica familiar. Enquanto o
filho decidia sobre o que vestir na modelo, o patriarca palpitava o tempo todo dizendo: “Só tem uma
modelo, Pedro?”, “Põe o cabelo dela por dentro do casaco!”, “Coloca a luva branca”, “Pedro, testa essa
saia com aquela blusa, vai!” O filho se fazia de moco. “Pedro, você comeu? Outro dia, ele foi parar num
hospital! Não pode!”

“Arrête!”, devolveu o filho com a mão espalmada na altura da orelha. E o pai parou. Mais tarde,
Reinaldo Lourenço comentou comigo: “O meu terapeuta antroposófico me disse que eu tenho que me
controlar e falar só quando o Pedro me pedir opinião. Mas ele não pede nunca!” Já Gloria faz a linha
ser-mãe-é-padecer-no-paraíso.

A família – chamada pela imprensa de “triunvirato da moda paulistana” – partilhava o gosto pelas
roupas, pelas viagens, pelo vasto cardápio da cultura, além de dividir uma atração irresistível pelo
sobrenatural em sua versão Visconde de Mauá/São Tomé das Letras: signos zodiacais, mapa astral,
energia, sorte, crença, fé, cabala, numerologia.

Antes de desfiles, coleções ou em momentos que julga decisivos, Pedro Lourenço consulta dois
astrólogos na tentativa de vislumbrar o porvir. “Eu acho que o mapa astral dá uma direção, mas
acredito no livre-arbítrio”, refletiu. Para logo emendar: “Mas no ano passado Saturno me atrapalhou
muito.”

Ele pegou uma tesoura e passou a recortar pedaços angulosos na fita-crepe. “Esse clima de competição
em casa não me trazia insegurança. Ao contrário. Me fazia saber de cara do que eu gostava ou não
gostava e me obrigava a tomar posição. Eu sempre tinha que afirmar o que era meu de fato”, disse.

Se em família ele desfrutava da liberdade de andar fantasiado, falar sem rebuços de sua sexualidade e
frequentar rodas do mundo da moda, na Escola Vera Cruz, ao menos no início, evitava chamar a
atenção. “Eu vivia de Dior em casa, mas no colégio me vestia de mano, falava como mano”, contou. “Eu
sempre fui safo para me portar em diferentes ambientes do jeito que se deve.”

Tinha interesse por disciplinas específicas e seu desempenho escolar era mediano. Com 14 anos,
decidiu afirmar sua personalidade e passou a se vestir como um dândi. “Eu queria estar impecável.
Usava o cabelo comprido, um cinto para segurar a camisa na cueca, tinha uma renda no peito que
amarrava no pescoço, uma gravata de cetim. O blazer tinha silhueta de fraque e a bota era salto seis. Eu
era Luís XIV.”

No colegial, foi estudar na Fundação Armando Álvares Penteado, tida como criatório de playboys,
patricinhas e darks de butique. “Ali foi o último suspiro da loucura. Eu queria mesmo chocar. Ia para a
aula de legging de vinil com cachecol marroquino, bracelete, tênis branco”, lembrou.

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A excentricidade espalhafatosa o deixou isolado. É incapaz de citar o nome de um só amigo daquela


época. Seu interesse pelos estudos passou de pouco a nulo. “Não fazia sentido eu ficar ali. Eu não estava
a fim de ver um menino queimar a lata de lixo da escola para chamar atenção. Ou ver outro fazer
comentário preconceituoso sobre um chapéu. Ou a professora de história não saber o que era a cabala”,
explicou.

Os pais concordaram que ele abandonasse a escola. Tinha 15 anos. Passou a estudar com professoras
particulares as disciplinas de seu interesse: inglês, francês, ciências, história, matemática, literatura.
Fez supletivo para ter o 2º grau completo e ainda espera obter o diploma superior de um curso de
história da arte.

Nessa época, deixou a Carlota Joakina e lançou a marca que leva seu nome. Fez mais quatro desfiles na
São Paulo Fashion Week, todos eles recebidos com entusiasmo. Quando completou 17 anos, a família
concluiu que era hora de ele sair do Brasil.

Antes de viajar, Lourenço colou no quadro de recortes de seu quarto o que esperava do futuro. Havia
fotos de cédulas de 500 euros, cenas da Place Vendôme – o obelisco, a fachada do hotel Ritz –, modelos
vestindo roupas de sua grife e imagens da estilista italiana Elsa Schiaparelli, a maior concorrente de
Coco Chanel no começo do século passado, cuja marca está desativada há sessenta anos. (No ano
passado, Diego della Valle, presidente do grupo italiano Tod’s, comprou a grife, anunciou sua
reabertura para breve e disse estar procurando um novo diretor criativo no mercado. As sondagens
ainda estão em curso.)

ada uma das quatro principais semanas internacionais de moda testa um tipo específico de
estilista. Pode-se dizer que a de Milão é feita para os italianos, a de Londres para jovens
revelações, a de Nova York para os costureiros comerciais e a de Paris é o luxo.

Para participar da temporada parisiense, é preciso ser aceito pela Chambre Syndicale de la Haute
Couture e, mais que tudo, é necessário poder arcar com os altos custos da produção de um desfile. “Se
você está na Chambre e consegue se bancar, você desfila. Não tem mistério”, comentou o estilista
paulista Jun Nakao, que abandonou as passarelas por discordar dos rumos da moda no Brasil, que
julga pobre de ideias e com inclinação a copiar, criando vícios de percepção e mercado que
desestimulam quem realmente inova.

“Mas fazer uma carreira fora é outra coisa. Você tem que transformar o seu produto em números. Você
só é um escritor se você é lido. Você só é um es-tilista de sucesso se as pessoas vestirem tuas roupas, se
a compradora puder encontrá-las nas lojas. Não é trivial”, disse.

Ocimar Versolato foi o primeiro e único brasileiro a comandar uma grife no exterior. Na década de 90,
ele assumiu a Lanvin com as credenciais de ter sido um dos grandes expoentes da corrente minimalista
que era o furor do momento.

Tão rápida quanto sua ascensão foi sua saída da cena internacional. Decisões equivocadas, dívidas
acumuladas, doses exacerbadas de estrelismo e, sobretudo, a incapacidade de se superar como criador
de moda o levaram a um ostracismo do qual luta até hoje para sair.

No final dos anos 80, Versolato – um estudante de arquitetura que desenhava e vendia roupas para
viver – desembarcou em Paris para estudar estilismo no renomado Studio Berçot. Assim que se

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formou, foi contratado como assistente do estilista Hervé Léger. Entendia de costura como poucos, era
criativo e dono de um perfeccionismo raro. Nunca escondeu sua obsessão por construir uma carreira na
capital mundial da moda.

Em um dado momento, convenceu Léger a deixá-lo apresentar uma coleção de sua autoria. Não
podendo pagar costureiras, produzira à mão uma série de vestidos de festa. Uma amiga cedeu-lhe a
galeria de sua propriedade para o desfile. Top models que conhecia concordaram em trabalhar de
graça.

Numa época em que a moda flertava com o estilo grunge, Versolato apresentou vestidos esvoaçantes,
bordados, com fendas, alças finas e sem botões. A crítica especializada caiu de amores por seu trabalho.
Em pouco tempo, lojas de luxo como a Harrods e a Bergdorf Goodman exigiam exclusividade de suas
criações.

Versolato montou um ateliê em paralelo ao trabalho com Léger. Em 1996, veio o convite que mudaria
sua vida: assumir a Lanvin, a centenária grife fincada na Place Vendôme, o mais cobiçado endereço do
luxo em Paris.

Tinha dinheiro, prestígio e uma marca histórica como vitrine. Mas, já no primeiro desfile, algo parecia
fora de lugar. Apresentou roupas decotadas e transparentes – algo impensável para a conservadora
clientela da casa. As críticas foram implacáveis.

A fama havia exacerbado suas piores características. Tornara-se intratável e deslumbrado a ponto de
exigir que uma de suas assistentes, que o conhecia havia anos, começasse a chamá-lo de monsieur.

No segundo desfile, outra sucessão de erros: uma mistura de conceitos requentados do velho cardápio
da grife aliados a modelagens consideradas pouco criativas. Novamente, foi apupado pela crítica.
Houve ainda outras duas coleções – na última, o estilista nem sequer apareceu no desfile.

Tentou se reerguer na França e outras duas vezes no Brasil, sem sucesso. Associou-se a empresários e,
no final da parceria, sempre os culpava pela má administração do negócio, quando não os acusava de
tê-lo usado para lavar dinheiro. Nunca mais conseguiu a visibilidade do passado. Sua última
empreitada foi o lançamento de uma linha de cosméticos no Brasil.

A alta-costura pode parecer uma atividade frívola. Não confundi-la com os rigores relacionados a
construir e consolidar uma carreira internacional. Trata-se de um esporte tão brutal quanto o praticado
por um jovem financista que almeja chegar ao topo da Goldman Sachs.

ot Voodooé entoada por Marlene Dietrich, enquanto se despe de uma fantasia de gorila, em uma
das célebres cenas de A Vênus Platinada, de Josef von Sternberg, filmado em 1932. É um
exemplo do processo criativo de Pedro Lourenço, que dali tirou a inspiração para uma coleção
de roupas com aplicações de pele em couro que, segundo ele, “remetiam à transição entre o animal e o
delicado, o bruto e o feminino”.

Uma viagem ao Atacama também pode se tornar uma série de vestidos com estampas de glaciares e
paleta acinzentada. Ou a imagem de Diana, a deusa da caça, que motivou trajes de couro preto, bege e
marrom com detalhes horizontais de plástico, como uma armadura militar.

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Ele desenha usando um programa de computador. Às vezes, usa a caneta para dar um toque final nos
croquis. A seu lado, está sempre Monica Fernandes, uma paulistana de sardas e voz doce, que, no
passado, trabalhou com Reinaldo Lourenço.

Formada na escola de moda Saint Martins, em Londres, ela é a sombra de Lourenço na criação e na
produção. São como o olho e a mão, a ideia e a prática, o fio e a meada – em papéis alternados. Ele
sugere um tecido, ela diz que é muito fino e pode escorregar na máquina de costura. Ela faz um
plissado, ele demonstra que não vai dar certo.

A grife é vendida em uma loja no ateliê paulistano e em cinquenta multimarcas pelo Brasil. No exterior,
são onze pontos de venda distribuídos por seis países. Entre eles, a Barneys, de Nova York, a Brown, em
Londres, e a 10 Corso Como, em Milão.

De acordo com Mariana Gatti, diretora da marca, no ano passado o faturamento foi de 4 milhões de
reais, cerca de 30% em vendas internacionais. O grosso da receita é de vestidos de festa feitos sob
encomenda para clientes brasileiras. Uma peça pode custar 35 mil reais.

Segundo Lourenço, há uma grande diferença entre as compradoras dos hemisférios sul e norte. “A
brasileira quer roupa que mostre o corpo, que mostre o peito com silicone, a barriga malhada. Ela gasta
dinheiro em roupa de casamento. E tem que ser vestido tomara que caia e comprido”, explicou. “Já a
estrangeira está mais preocupada com design, matéria-prima e qualidade. Ela compra luxo para se
produzir no dia a dia.”

Em 2010, o estilista foi convidado pelo então dono da Daslu e controlador da Parmalat, o empresário
Marcus Elias – cuja filha Lourenço havia namorado no passado –, para desenhar duas coleções pelas
quais recebeu 700 mil reais. Quando o valor vazou, as estilistas contratadas pela Daslu ameaçaram
pedir demissão coletiva.

Lourenço afirma que a receita de coleções e licenciamentos é toda investida na empresa – da qual é o
único dono. Diz receber um pró-labore de 8 mil reais e “despesas pagas do que for de trabalho”.

nteressado em não postergar mais sua profissionalização, em 2008, aos 17 anos, Lourenço
desembarcou em Paris e, graças aos contatos da família, logo foi convidado a ajudar nos
bastidores de um desfile de Alber Elbaz, na Lanvin. Na mesma época, matriculou-se num curso
de bordado. Assistiu a duas aulas. “Era a tarde inteira bordando, não dava. Eu queria ver a
técnica. E em duas aulas eu entendi”, contou.

As relações familiares também o aproximaram do costureiro italiano Giambattista Valli, com quem
trabalhou por dois meses. “Fazia tudo o que precisasse. Até ficar passando alfinete”, disse. “Eu sempre
gostei de ser bem servido de alfinete quando estou fazendo modelagem em tecido. Então acho que o
assistente que sabe passar o alfinete para o estilista na hora certa domina uma arte.”

Para alojar o filho, os pais alugaram um apartamento de três quartos na avenue de Breteuil, a via que
dá nos Invalides (ainda mantêm o imóvel). “Eu ficava dias numa mesma ala do Louvre – Egito, por
exemplo. Noutra vez, acordava e falava: ‘Hoje é Truffaut.’ Aí ficava uma semana só vendo filmes dele.
Depois, tudo do Antonioni. Eu já estava criando arquivo de referência, já me preparando para um dia
usar aquilo num desfile. Bem louco!”, contou.

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Nesse período, os pais, depois de 25 anos de casamento, anunciaram a separação. “A relação de todo
mundo melhorou”, disse Lourenço.

época dos costureiros começa na metade do século XIX, quando o inglês Charles Frederic Worth
fez um vestido para uma princesa, que foi elogiado pela imperatriz. No dia seguinte, havia filas
em sua porta. É aí, segundo o sociólogo Gilles Lipovetsky, em O Império do Efêmero, que o
estilista passa a ser respeitado na sociedade.

Foi preciso mais um século para que a moda começasse a ser analisada como fenômeno social. A
superficialidade com que era descrita na imprensa chamou a atenção do semiólogo francês Roland
Barthes. Assim como a linguagem, ele acreditava que a moda era um sistema que precisava ser
decodificado. Mais que uma tendência imposta pela propaganda, era um reflexo da sociedade, um “fato
social total”. Corriam os anos 60.

A moda, defendeu Barthes, refletia o espírito do tempo, como durante a Revolução Francesa, quando o
aristocrata se distinguia do plebeu por suas roupas, signo pelo qual afirmava a sua classe. Ou como as
cartolas e chapéus que apareceram durante a Revolução Industrial remetiam às chaminés das fábricas.

Em “Neste ano o azul está na moda”, escrito em 1960, Barthes analisou o texto das reportagens
publicadas nas revistas femininas da época. “Gazes, organzas, voile, musseline de algodão, eis o verão”
era um exemplo de como a linguagem fragmentada construía sentidos inequívocos. Sem precisar de
muitas palavras, pensava-se imediatamente em algo fresco, delicado, singelo. A significação era total.

Barthes traçou um paralelo entre a linguagem da moda e os haicais japoneses – também breves, que,
embora narrem fatos banais, são contudo dotados de grande profundidade. O haicai, dizia ele, tinha o
direito de ser fútil, assim como a moda. A criação de um e de outro, porém, nada tem de simples.
Demandam técnica e conhecimento.

Contemporâneo de Barthes, o sociólogo francês Pierre Bourdieu também refletiu sobre o tema. O
prêt-à-porter ameaçava desbancar a alta-costura e ele enxergou até mesmo sintomas da luta de classes
marxista entre as duas correntes. Um exemplo era a maneira como os costureiros já estabelecidos
insistiam em manter os status quo,encastelando-se em grupo para não serem demovidos de sua
posição de privilégio.

Sob o manto da inovação, os novos criadores apareciam no mercado interessados em conquistar


(Bourdieu usa “explorar”) os mesmos consumidores de moda. Era uma disputa entre a velhice e a
juventude. E na moda, ele sustentava, não era preciso apenas superar a geração anterior, era necessário
sepultá-la para alcançar visibilidade e se estabelecer como o “novo”.

Hoje, a discussão passa pela mudança na importância do papel do estilista. Com a maioria das grifes de
luxo investindo pesado em publicidade, o nome da marca se sobrepôs ao de quem desenha os produtos.
Importa mais a grife, e quem a veste, do que quem a concebe.

Um artigo recente escrito pela influente jornalista Suzy Menkes, publicado na T Magazine do New
York Times, tratou do fenômeno das blogueiras de moda. São anônimas que se tornaram celebridades
por publicar fotos em seus blogs, no Facebook ou Instagram, nas quais divulgam seu jeito de vestir. São
seguidas por milhares de pessoas na rede, fotografadas e bajuladas por estilistas, jornalistas e pelas
próprias grifes.

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Na maioria das vezes, ganham dinheiro ou mimos a título de incentivo para que usem as roupas como
se fossem escolhas próprias, tiradas de seus closets particulares. Estão sempre superproduzidas e
posando para as lentes de fotógrafos profissionais ou diletantes. Aparecem tanto ou mais que qualquer
estilista. O “circo da moda”, ressaltou Suzy Menkes, passou a acontecer do lado de fora do salão de
desfiles – o que afeta diretamente o que se passa dentro dele.

arte significativa do mercado de luxo é dominada pelos conglomerados econômicos. O grupo


LVMH, do francês Bernard Arnault, o homem mais rico da França, fatura 13 bilhões de euros
por ano. Controla as marcas Louis Vuitton, Fendi e Marc Jacobs, entre outras. Seu principal
concorrente, o grupo também francês PPR, gerencia grifes como Gucci, Yves Saint Laurent e
Balenciaga.

Há cinco anos, o estilista Alexandre Herchcovitch vendeu 70% de sua grife para a InBrands – um braço
do grupo Pactual –, que também controla a Ellus. Até bem pouco tempo, Herch-covitch e seus sócios
ainda não se entendiam sobre os rumos da marca e muitas decisões equivocadas prejudicaram o
negócio.

“Só agora eles perceberam que a Ellus e Alexandre Herchcovitch são coisas diferentes, que devem ter
estruturas e estratégias diferentes”, disse ele, numa tarde de março, no escritório de sua assessoria, em
São Paulo.

Herchcovitch foi o primeiro brasileiro a participar, com sua marca, das semanas de moda de Paris e
Nova York. Desfilou por quatro anos na França e agora mostra suas roupas apenas nas semanas de
moda do Brasil e dos Estados Unidos. (Versolato jamais desfilou roupas de sua própria marca na
Semana de Moda parisiense.)

A tentativa de construir uma carreira internacional trombou com compromissos profissionais


assumidos no Brasil. “Meu grande erro foi ter ficado no vai e volta. Se você quer ser um estilista
internacional, não volte para o Brasil nem para visitar a família”, disse.

Em 2003, sua grife podia ser encontrada em 120 multimarcas em todo o mundo, mas eventos fora de
seu controle alteraram tudo. Pri-meiro, o 11 de Setembro, quando, segundo ele, “os clientes foram e não
voltaram mais”; depois em 2011, o tsunami no Japão, quando sua loja em Tóquio – seu maior mercado
depois do Brasil – foi fechada.

Hoje, a marca é comercializada em apenas cinco lojas no Brasil e no exterior. Mas Herchcovitch nunca
ganhou tanto dinheiro. Passou a firmar contratos de licenciamento da grife em todo o mundo. Tem 25
deles, de produtos que vão desde isqueiros Bic a conjuntos de cama, mesa e banho para a loja Zelo.
Ficou rico.

“Moda não é só fazer roupa. É vender um lifestyle”, explicou. “Eu alcancei o que queria, que é fazer
moda para todo mundo. E eu faço. A pessoa que quer algo do Alexandre Herchcovitch pode comprar
desde uma caneca na Tok&Stok por 28 reais a um vestido de 10 mil reais.”

Herchcovitch nunca pulou uma Semana de Moda em Nova York, onde se apresenta duas vezes ao ano.
“Eu desfilo fora para divulgar o meu nome aqui”, contou.

Ele acredita ser necessário ter uma visão pragmática da moda, não só o que chamou de “carcaça do

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business”. “Aqui ficam falando: ‘Ai, o Alexandre, coitadinho, não vende mais. Não vende mais o
caralho. Hoje eu gasto 150 mil por semestre para fazer um desfile e, por causa dele, consigo contratos
enormes de licenciamento”, falou. “O dinheiro está no meu bolso e no da InBrands. E as minhas
roupas, que continuo fazendo, estão nas lojas. As marcas bilionárias que fazem desfile para vender
bolsa e perfume fazem igual a mim. Só que elas capitalizam mais, é evidente.” No ano passado, o
mercado de luxo movimentou 275 bilhões de dólares no mundo. O Brasil contribuiu com apenas 12
bilhões de dólares. Ainda que se fale muito sobre a expansão das grifes de luxo no país, as cifras, em
que pese o valor absoluto, ainda são relativamente insignificantes. Não só pelas vendas, mas pela
participação no segmento. Segundo um estudo da consultoria Bain & Company, 60% das vendas de
luxo no país ainda são de cosméticos e perfumes, contra 20% da média mundial.

A brasileira gosta de luxo, mas não tem como pagar por ele. A prova é a procura por coleções que grifes
de luxo produzem para cadeias populares – como Stella McCartney para a c&a, por exemplo.
Esgotam-se como pão quente.

Numa tarde de janeiro, quando decidia sobre as encomendas de tecidos para a coleção de Paris, Pedro
Lourenço falou sobre o “custo Brasil” na moda. Produzir no país era impossível pela falta de estrutura,
mas importar também era custoso, em função da carga tributária de quase 40%. Sem levar em conta a
hipótese – não rara – de o produto ficar retido na alfândega, se extraviar ou ser danificado no trajeto.

“O governo deveria sobretaxar os chineses, que usam trabalho escravo e não estão nem aí para o meio
ambiente, e dar isenção de impostos para a Itália. Isso, sim, seria uma grande ajuda para os estilistas
no país”, disse. Fez uma pausa e completou: “Estou até pensando em escrever uma carta para a Dilma”
– a qual deveria, segundo ele, usar roupas que alongassem sua silhueta. “Se eu fosse vesti-la, usaria
grafismos na construção, como um tom de marinho na frente e preto na lateral. Ia usar tailleurs
clássicos, mas minimalistas”, elocubrou.

ntonioni, Truffaut e o Louvre haviam se esgotado e Pedro Lourenço voltou ao Brasil em 2009.
Uma de suas mais importantes providências foi contratar a KCD, uma das maiores empresas de
relações públicas em moda no mundo. Chanel, Givenchy e Marc Jacobs são algumas casas
representadas pela firma.

A missão da empresa era vender a imagem de Pedro Lourenço no exterior. Explorar sua juventude, seu
dandismo, a precocidade da carreira, aproveitando a onda positiva sobre o Brasil lá fora. Esse serviço
chega a custar 50 mil dólares por mês, mas cobravam-lhe um valor quase simbólico, cerca de um
quinto disso. Era uma aposta em seu futuro.

Uma das estratégias foi – como ele gosta de dizer – fazer “um bafo” em Paris. E assim se deu o primeiro
desfile. O cenário escolhido foi o salão imperial do hotel Westin, onde Yves Saint Laurent exibia sua
alta-costura. A equipe de produção contava com os ingleses Guido Palau – descrito pela Vogue inglesa
como “o cabeleireiro mais disputado do mundo da moda” – e a maquiadora Diane Kendal, cujo
portfólio inclui trabalhos com Chloé, Oscar de la Renta, Miu Miu.

Com mailing e contatos poderosos, coube à KCD organizar o desfile e colocar na primeira fila
celebridades do mundo fashion como Carine Roitfeld, da Vogue francesa, Hilary Alexander, do jornal
The Telegraph, e Suzy Menkes, do International Herald Tribune.

“Para você chamar a atenção em Paris, ainda mais vindo de um país que não tem tradição de moda,

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você tem que fazer algo muito grandioso. Ele contratou o top do top para o desfile e apresentou uma
coleção interessante. Foi uma ótima estratégia para chamar a atenção. E chamou”, comentou a
jornalista Vivian Whiteman, da Folha de S.Paulo.

As críticas foram animadoras. O desfile custou 600 mil reais. O governo brasileiro ajuda estilistas
nacionais com 75 mil reais, o resto foi pago com a venda de um imóvel da família. Gloria Coelho e
Reinaldo Lourenço nunca tiveram projeção internacional. Era a vez do filho.

Pedro Lourenço faria outros cinco desfiles em Paris entre 2010 e 2012, com produções superlativas.
Comenta-se que as despesas com sua carreira internacional tenham comprometido a contabilidade das
empresas da família. Ele nega. “Minha mãe teve gastos grandes, mas nada mortal”, disse.

A KCD também se encarregava de enviar peças da grife para celebridades da moda usarem em eventos
importantes. Pouco depois do desfile de estreia, Julia Restoin Roitfeld, filha da editora da Vogue
francesa, apareceu com uma saia da coleção. Para a imagem da grife, não tem preço.

Em paralelo, Lourenço foi orientado a usar em seu favor alguns dos atributos que tem. Bonito, bem
falante e entusiasmado com a moda e seus desdobramentos, deveria se reunir com executivos e editores
de moda influentes para mostrar seu trabalho. A KCD intermediaria os contatos. Foi assim que
conseguiu ser recebido quatro vezes por Anna Wintour, da Vogue americana, a mais poderosa editora
de moda do mundo. “Ela me deu dicas muito importantes. Disse que eu tinha que me tornar mais
comercial e me orientou a como e onde vender meu produto”, contou.

Foi a kcd que inventou o formato dos desfiles digitais pela internet. Balmain, Helmut Lang e See By
Chloé – alguns clientes da empresa – já haviam testado a novidade na temporada de Nova York, bem
acolhida por especialistas do ramo.

Foi fácil convencer Lourenço a fazer o mesmo. Além de gastar um terço do valor de um desfile, a
proposta vinha acoplada a um afinado discurso: ele era jovem, da geração tecnológica, era óbvia a
adequação com o formato digital. Encontraram um patrocinador de peso, a Samsung, que bancou boa
parte dos custos. Em contrapartida, Lourenço gravou um segundo filme, batizado de Inspiração, no
qual explica a coleção outono-inverno manipulando um celular da marca como se fosse uma
ferramenta cotidiana do trabalho.

ompendo com o geometrismo das coleções passadas, as roupas do desfile virtual eram
glamorosas, exuberantes e femininas. Segundo ele, era uma coleção baseada nos anos 30, 40 e
50, em sépia, dourado, branco, amarelo e vermelho – inspirada na paleta de cores das fotos
tiradas por Diana Vreeland, a lendária editora que mudou a imprensa de moda nos Estados Unidos.

Os tons também lembravam paisagens sul-africanas. Vinham daí as estampas de animais, leopardos
nos casacos e crocodilos nos sapatos. Outra homenageada era Elsa Schiaparelli. Era dela a silhueta dos
vestidos, o corte, as basques (um tipo de saiote, não uma rede de sorveterias), as peles.

Tendo ajeitado o cabelo e esticado o pulôver, Pedro Lourenço caminhou até a porta da suíte do Bristol.
Aprumou-se como um aluno bem-comportado antes da entrada da diretora da escola. A porta se abriu
e do outro lado estava Eric Wilson, do New York Times, o da crítica do “Balenciaprada”. Enquanto
assistiam ao desfile na tela do computador, Lourenço detalhava em inglês (também fala bem francês) as
técnicas usadas nos plissados, a metragem de tecidos, a maneira de imprimir a estampa de crocodilo, o

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corte a laser.

Wilson se interessou pelo trabalho manual de uma jaqueta aplicada com mais de 500 roletes feitos à
mão em um lamê sépia fosco. O estilista explicava que eram como “penas”, mas os críticos enxergaram
“pequenas bananas brasileiras” e houve quem levantasse a hipótese de “balões murchos”.

“Very impressive”, disse o jornalista.

“It’s very Schiaparelli”, definiu o estilista.

Quando Wilson deixou a sala, Lourenço comentou: “Você viu como aqui na Europa é a técnica que
importa? Eles podem até fazer uma crítica negativa, falar que não gostaram, mas eles olham a roupa e
sabem que aqui teve trabalho, que não foi brincadeira. Não é aquela coisa do Brasil.”

Nicole Phelps, do Style.com, entrou depois. É uma moça magra, com cabelo de fios longos arrepiados –
como quem o deixa secar ao vento – e nenhuma maquiagem. Vestia jeans, bo-ta e casaco, tudo em tons
escuros. Ao avistar o estilista, foi recebida com um sorriso de propaganda de dentifrício. Ele explicava
como havia conseguido fazer com que um moiré – tecido cuja trama produz efeitos ondulados –
alcançasse um efeito tridimensional. “Descobri que, ao plissar um moiré listrado, o movimento do
andar da modelo dá a impressão de a estampa pular do tecido”, contou.

Ao final da apresentação, ela bateu palminhas no ar como uma personagem de filme de época. “Very
cute”, animou-se. Na mesma hora, Lourenço me encarou, apertou os olhos discretamente numa
piscada dupla, como se falasse: “Missão cumprida.”

chegaram os jornalistas brasileiros. Com eles, o som da suíte aumentou em alguns decibéis.
Quase que combinados, apareceram todos em intervalos de dez minutos: as editoras da revista
Glamour, a diretora da Harper’s Bazaar e a equipe de editores da Vogue brasileira. Eles
conheciam a fundo o trabalho de Lourenço, faziam comparações sobre a evolução de sua técnica e
observavam como as roupas estavam mais femininas e “usáveis”. Na opinião geral, era sua melhor
coleção.

Lourenço se preparava para almoçar quando apareceu Rosangela Lyra, diretora da Dior no Brasil,
também conhecida por ser sogra do jogador de futebol Kaká. Sentaram-se para ver o vídeo. A certa
altura, ao ver a roupa dos roletes de lamê, ela comentou animada: “Nossa, que lindo! Isso lembra
demais aquele personagem do Vila Sésamo, como é mesmo o nome?”, “Não é da minha época”,
respondeu, contido. “Ah, é Garibaldo!”, disse ela, satisfeita com a memória.

Na suíte, pediam-lhe para posar ao lado de suas criações. A cada fotografia, Lourenço repetiu a mesma
estratégia – própria a quem gastou certo tempo na frente do espelho desvendando seu melhor ângulo:
ele cerra as sobrancelhas, morde o maxilar com força – o que afila os lábios e ressalta a ossatura de um
rosto bem desenhado – e encara a lente com ar resoluto de aviador. Poderia estrelar uma campanha de
perfume Giorgio Armani.

No elevador, a caminho do restaurante no lobby do hotel, comentou: “No Brasil, a cabeça das pessoas
ainda é muito atrasada. Eles olham outra coisa. Ficam preocupados se dá para usar a roupa, se é
vendável em shopping ou se eu fiz desfile. Isso não faz diferença, entende?”

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No meio da tarde, três italianas bem-vestidas apareceram na suíte do Bristol. Foram recebidas com
reverência e, quando perguntei quem eram, apresentaram-se como jornalistas da Condé Nast Itália.
“Molto hi-tech!”, “Anche questo è stupendo!”, “Guarda che cosa di moderno!”, comentavam entre si,
enquanto assistiam ao desfile pelo computador.

A mais alta das senhoras, loira e bronzeada, era Emanuela Schmeidler.Fora apresentada como repórter,
mas não era: trabalha como consultora do grupo Tod’s. De súbito, deixou a suíte e, dez minutos depois,
retornou escoltando Franca Sozzani, da Vogue italiana, que se materializou como uma visão saída de
um conto de fadas. Aos 63 anos, magra e baixa, usava uma roupa de seda esvoaçante e tinha os cabelos
loiros ondulados até a cintura. Andava, como se flutuasse, puxando um cachorrinho cinza pela coleira.

Sozzani foi direto para a sala contígua examinar as roupas. As pessoas se encostavam nas paredes para
lhe abrir passagem. Era como o mar diante de Moisés. Passados cinco minutos, despediu-se. “Mais uma
vez, tudo incrível. Parabéns”, largou no ar. As italianas agendaram uma reunião com o estilista para
mais tarde e, quando deixaram a suíte, Lourenço suava em bicas. Perguntei por que parecia nervoso.
“Não posso falar”, disse.

adeada pelo crítico de moda David Hayes, do Financial Times, a inglesa Suzy Menkes irrompeu
na suíte do Bristol. Fez-se um silêncio, que ela rapidamente se apressou em quebrar. “Hi, my
dear”, disse ao cumprimentar o estilista.

Ela vestia um mantô que lhe cobria a farta silhueta, tinha as unhas pintadas de azul-cobalto e exibia o
indefectível penteado, que a torna localizável até numa véspera de Natal na 25 de Março: a franja
enrolada no topo da cabeça como se usasse um bobe invisível.

Sentaram-se para ver o vídeo e os assessores da KCD fotografavam discretamente a cena – enviada
para o Instagram minutos depois. Nos primeiros acordes da música do desfile, Menkes passou a tomar
notas.

A modelo desfilou um vestido que revelava parte da barriga, o que provocou em Menkes uma tirada
irônica: “Esse é o seu lado brasileiro, não é?” Terminado, perguntou: “Por que você decidiu fazer isso
pela internet?”

Na sala ao lado, uma modelo com cara tristonha e cintura de criança apareceu com a saia de roletes em
lamê. Quando a moça vestiu a jaqueta, Menkes exclamou: “Uau, ela está virando um pássaro dourado...
It’s beautifuuuuul...” Sacou da bolsa uma câmera Kodak descartável e passou a clicar a moça.

David Hayes, que já havia escrito sobre Lourenço no passado, me falou do estilista. “É um nome
internacional. O fato de ser jovem é uma vantagem. Imagine só o que ele poderá fazer daqui a quinze ou
vinte anos se tomar o rumo certo.” Quando fui abordar Menkes, ela me dirigiu um olhar perplexo e saiu
em disparada como o coelho de Alice: “Eu estou atrasada, estou atrasada...”

Um segundo cachorro chegou acompanhado de seus donos, que trabalhavam para a Swarovski. Latia,
corria e alguém receou que acabasse comendo um dos sapatos da coleção.

Assim que a ruiva Taylor Tomasi Hill, do site Moda Operandi, deixou a suíte, Lourenço sugeriu a seus
assistentes que enviassem uma roupa da coleção para que ela vestisse em algum evento na cidade.

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Duas assessoras americanas da KCD rejeitaram a ideia. Debateram outros nomes, sem chegar a uma
conclusão, mas disseram que ele deveria urgentemente confeccionar um vestido de festa para o baile do
Metropolitan Museum, em Nova York. A empresa iria enviá-lo a uma celebridade e convencê-la a
usá-lo no tapete vermelho.

Três dias depois, a modelo checa Karolina Kurkova apareceu com um vestido Pedro Lourenço na festa
de Carine Roitfeld, em Paris. A imagem foi reproduzida em centenas de sites e nas redes sociais.

argada num canto, a bandeja de café e bolinhos permanecia intocada. Lourenço teclava o celular
quando o chamaram pelo FaceTime. Sorriu e se trancou no outro cômodo da suíte. Era seu
namorado, o também estilista paulistano Eduardo Toldi, da marca de tricô Egrey.

Há dois anos e meio, dividem um apartamento nos Jardins, em São Paulo. “Mas cada um no seu
quarto. Eu não divido quarto nem banheiro. É o contrário do que era com meus pais, que faziam tudo
junto, 24 horas”, falou.

Nos fins de semana, o casal costuma ter uma vida “ordinária”, nas palavras de Lourenço: casa,
restaurantes, cinema. “Eu li uma coisa do Flaubert em que ele diz que para você ter uma expressão
original é necessário ter uma vida ordinária. É isso”, afirmou.

O irlandês Godfrey Deeny, que escreve no diário Le Figaro, entrou na suíte do Bristol com o ar afobado.
Usava calça vermelha, bota branca, blusa cinza e um enorme casaco de pele preto. Fui puxada de lado
por uma assessora: “Esse é o mais importante crítico de moda na França.”

Com a feição cerrada, tomava notas em frente à tela do computador e fazia perguntas pontuais sobre
cortes e tecidos. Quando Lourenço lhe mostrou ao vivo a estampa de um mantô pied-de-poule, ele ficou
surpreso. “Mas não é real. Ela foi impressa, é isso? Aqui nada é o que parece. Parabéns, você ainda está
muito crazy.”

Às sete da noite, a maratona de visitas havia terminado. Por lá, passaram mais de cinquenta pessoas.
Lourenço havia pronunciado onze vezes a frase “Aqui há 7 metros de lamê, que depois é plissado...”.

A sala se esvaziou e ele jogou o corpo na cadeira Luís xv como quem pede arrego. Por alguns instantes,
ficou em silêncio e, de repente, seus olhos ficaram vermelhos. Ele mordeu os lábios segurando o choro.
“Eu estou muito cansado. Às vezes, eu fico tão cansado que tenho vontade de chorar.”

mpressionante”, escreveu Suzy Menkes no Herald Tribune sobre o vestido de crocodilo, dois
dias depois da visita. Ela disse que Lourenço havia feito um “favor a si mesmo” optando pelo
desfile virtual. Afirmou ainda que ele era um “artesão excepcional” e incensou sua alfaiataria.

Em sua resenha, Nicole Phelps, do Style.com, disse se tratar de sua “mais promissora coleção”. Gastou
muitas linhas para descrever as roupas e ressaltou as técnicas usadas no moiré, nas estampas e nos
plissados. Por fim, afirmou se tratar de um grande passo em sua carreira.

O site Women’s Wear Daily, o mais acessado do ramo, fez pouco caso da jaqueta de lamê e disse que
Lourenço é melhor quando “controla seus instintos criativos”. Mas afirmou que o resto da coleção era

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ótima. O New York Timese o Figaro nada comentaram. Bafo.

No dia seguinte à maratona do Bristol, as roupas foram levadas para um loftno bairro do Marais, onde
houve nova peregrinação de jornalistas, fornecedores de tecidos e compradores de lojas internacionais.

Assim que um grupo do Catar foi embora, Lourenço atendeu à ligação da gerente de sua loja em São
Paulo. A funcionária queria compartilhar com o patrão uma inquietude: as vendas estavam abaixo do
esperado. “Ela veio me falar que o movimento estava muito devagar”, me contaria um pouco depois.
“Pffffff”, desabafou, como quem diz: “A essa altura, isso lá tem alguma importância?” Paris o cercava
por todos os lados.

* Correção em relação à versão impressa

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