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A Guerra Trastâmara como um exemplo da

intolerância contra os judeus na Idade Média


The Trastámara War as an example of intolerance against Jews in the Middle Ages

kellen jacobsen follador


Mestre e doutoranda em História Social pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES),
bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (FAPES).

resumo O presente artigo aborda a intolerância sofrida abstract This article deals with the intolerance suffered
pelos judeus do reino de Castela durante a guerra dinástica by the Jews of the kingdom of Castile during the
de Trastâmara. O antijudaísmo foi usado como propaganda Trastámara dynastic war. The anti-Judaism has been used
política pelo bastardo Enrique de Trastâmara que almejava o as a propaganda by the bastard Enrique Trastámara, who
trono de seu irmão Pedro I. Durante a guerra o antijudaísmo craved the throne of his brother Peter I. During the war the
ganhou força e a intolerância levou a assassinatos, roubos e anti-Judaism gained strength and the intolerance led to
destruição de comunidades judaicas. murder, robbery and destruction of Jewish communities.

palavras-chave Intolerância, antijudaísmo, judeus na keywords Intolerance, Anti-Judaism, Jews in the Middle
Idade Média, conflito dinástico. Age, dynastic conflic.

Introdução
Este trabalho trata da intolerância sofrida pelos judeus do reino de
Castela durante a guerra dinástica de Trastâmara ocorrida na segunda metade do sécu-
lo XIV. As comunidades judaicas da Península Ibérica, de forma geral, viveram séculos
de prosperidade tanto sob o regime dos califas muçulmanos quanto sob os governos
dos reis cristãos após a Reconquista. A dinâmica das relações judaico-cristãs peninsu-
lares, que concomitantemente toleravam e marginalizavam os judeus, e a proteção régia
dispensada a eles propiciaram um retardamento, salvo exceções, na manifestação física
do antijudaísmo nos reinos peninsulares. O antijudaísmo vivido durante as Cruzadas
e no desenrolar dos séculos XI e XIII nos demais países europeus só foi sentido com
maior intensidade no reino de Castela no século XIV. Nesse contexto, a guerra dinás-
tica castelhana é de grande importância para o estudo da materialização da intolerân-
cia contra as comunidades judaicas, visto que nessa época o antijudaísmo foi usado
como bandeira política pelo bastardo Enrique de Trastâmara, que almejava o trono de
seu meio irmão Pedro I.
De acordo com Monsalvo Antón (2012), o período entre os séculos XI e XIII foi es-
sencial no desenvolvimento e amadurecimento de um antijudaísmo que se fez presente
por toda a Idade Média, passando a considerar os judeus como inimigos funcionais e
vulneráveis aos ataques cristãos, como ocorrido nas Cruzadas. Para o autor (ANTÓN,
2012, pp. 172-73), quatro fatores influenciaram no amadurecimento do antijudaísmo
nesse período: 1) a presença do judeu enquanto uma alteridade confessional, consti-
tuindo-se como um “enclave infiel” em meio à cristandade; 2) a representação negativa

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relacionada às práticas econômicas; 3) a inferiori- efectos violentos”. Assim, a comunidade judaica


dade, em todos os sentidos, dos judeus perante os era simultaneamente marginalizada e tolerada, pois
cristãos; e 4) a “identificación del judío con el Mal”, a sociedade medieval tinha uma atitude ambígua
pecadores inatos, pactuantes com o demônio, res- em relação aos marginalizados, debatendo-se “en-
ponsáveis por todas as desgraças que assolavam os tre o medo da contaminação ideológica e a hesita-
cristãos. Em suma, “un ser maligno y cruel”. ção em excluir os que poderiam concorrer contra-
Esse desenvolvimento do antijudaísmo nos sé- riamente para a salvação dos puros” (LE GOFF,
culos XI e XIII foi característico nos países do nor- 1990, p. 182). Os cristãos estranhamente admira-
te europeu que passaram pelas Cruzadas. No reino vam e temiam os judeus, mantendo-os à distância,
de Castela, tal cenário se concretizou com todas as mas de forma a tê-los sob seu controle e alcance.
características citadas por Monsalvo Antón apenas Além disso, de acordo com a teologia cristã, os ju-
no século XIV. Ao final do século XIII, os territó- deus deveriam ser mantidos em meio aos cristãos
rios castelhanos abrigavam aproximadamente cem para que servissem de exemplo, com seu sofrimen-
mil judeus e não houve nenhum episódio de vio- to e errância como um ensinamento vivo da ver-
lência como os vividos pelos judeus da França, dade cristã.
Alemanha e Inglaterra neste período. O que houve Monsalvo Antón (2012) afirma que, apesar do
entre os séculos XI e XIII foram alguns episódios fervor religioso presente na Reconquista Hispâni-
esporádicos e mal documentados de violência em ca, e mesmo com a influência dos cruzados que de
momentos de vazio de poder ou conflitos políti- passagem auxiliaram os cristãos peninsulares, os
cos, nos quais os monarcas não conseguiram pro- judeus castelhanos não se viram ameaçados pela
teger os judeus. Mesmo nesses casos as violências Reconquista. Isso foi possível graças à liderança
eram, em grande parte, praticadas por exércitos régia na guerra, à ausência de movimento popular
mercenários, a exemplo do episódio no qual os ci- autônomo nesta guerra e à presença dos infiéis
dadãos toledanos defenderam os judeus contra os muçulmanos em solo castelhano.
ataques dos exércitos europeus que haviam chega- Valdeón Baruque (2002, p. 268) destaca que os
do para auxiliar os reis cristãos na Batalha de Na- judeus foram bem recebidos em terras cristãs re-
vas de Tolosa1 em 1212 (LEÓN TELO, 1992). conquistadas aos mouros, pois, “al fin y al cabo,
Isso não quer dizer que o antijudaísmo e todo practicaban uma religión emparentada con la cris-
o imaginário cristão em relação ao povo “deicida” tiana”. Além do mais, desempenhavam funções
não existissem em Castela. Pelo contrário, existiam econômicas importantes para os cristãos. Nos ter-
e se intensificavam a cada século, mas a própria ritórios reconquistados, os judeus gozavam de au-
conjuntura de formação dos reinos cristãos duran- tonomia nas questões políticas, judiciais e religio-
te a Reconquista proporcionou uma dinâmica di- sas, sendo o rabino da cidade o juiz para as ques-
ferenciada na convivência interreligiosa. Para Mon- tões judaicas e se remetendo apenas ao rei. Para o
salvo Antón (2012, p. 218), de forma geral, os cris- autor, permitia-se a presença dos judeus em meio
tãos castelhanos podiam reproduzir os estereótipos aos cristãos porque se acreditava que um dia as
e preconceitos antijudaicos, mas o “clima social profecias do povo testemunha2 seriam cumpridas
reinante no era propenso todavía a sucumbir ante e os judeus reconheceriam seus erros e se conver-
la propagación de antisemitismos viscerales con teriam ao cristianismo.

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Desde o período da Reconquista os judeus esti- tardamento na aplicação dos ditames dos cânones
veram ao lado dos reis em importantes cargos na antijudaicos do IV Concílio de Latrão 1215, prin-
Corte, como médicos, almoxarifes, intérpretes, tra- cipalmente no que se referia ao uso do círculo ama-
dutores, cientistas, diplomatas, tesoureiros. Mas tam- relo nas roupas. O rei e o arcebispo temiam que a
bém existiam aqueles que ocupavam profissões mais “marca da infâmia” levasse os judeus a se refugia-
modestas como comerciantes, pequenos prestamis- rem em regiões muçulmanas, tornando-se aliados
tas, artesãos e agricultores, já que puderam ter terras deles. Em contrapartida, os impostos pagos pelos
até 1293, quando Sancho IV revogou tal situação. judeus eram muito importantes para a Coroa e a
A legislação castelhana estabelecia as relações Igreja castelhana. Mas, a proteção da Coroa a par-
entre judeus e cristãos de forma bem equitativa até tir de meados do século XIII precisou fazer algumas
o século XIV. Os judeus eram considerados servos concessões, pois se iniciou uma mudança no que
do rei,3 mas com relativa dependência, que lhes se refere ao trato com os judeus nas disposições das
permitia viver segundo suas leis e costumes. Eles cortes citadinas e, nesse caso, os reis precisavam ce-
pagavam um tributo anual em troca da proteção der a algumas propostas antijudaicas. As cortes exi-
real e da permanência em solo cristão. Além do giam que fossem cumpridos os cânones antijudai-
tributo anual à Coroa, as comunidades judaicas cos dos concílios eclesiásticos e algumas resoluções
contribuíam, assim como os cristãos, com os im- ligadas à diminuição social dos judeus em relação
postos aos conselhos das cidades e com o dízimo aos cristãos, como a proibição de luxuosas vesti-
para as Igrejas. mentas por parte de judeus de ambos os sexos e a
Até o século XIV as relações entre as comuni- posse de bens imóveis (LEÓN TELO, 1992).
dades cristã e judaica em Castela eram relativamen- Valdeón Baruque (2002, p. 271) acredita que,
te boas, apesar de entre a população mais pobre a por mais que no início do século XIV as cortes
hostilidade contra os judeus crescer rapidamente. castelhanas tenham legislado contrariamente aos
Esse grupo social sofria mais intensamente com a direitos judaicos, “el elemento decisivo en la irrup-
cobrança de impostos e juros de empréstimos e es- ción del antijudaísmo en la Corona de Castilla fue,
tava mais vulnerável às pregações antijudaicas dos sin duda alguna, la actitud adoptada en el trans-
frades mendicantes, que expunham e faziam crer curso de la guerra fratricida” pelo bastardo Enri-
sobre os pecados e perigos do povo “deicida”. A que de Trâstamara, que desejava conquistar o apoio
arraia miúda taxava os judeus de deicidas, sober- da população mais humilde, uma vez que o apoio
bos, orgulhosos, traidores, covardes, sujos, malchei- dos nobres, em grande parte, ele já possuía.
rosos, dentre outras questões que se envolviam no Dessa forma, é de primordial importância com-
imaginário coletivo sobre os judeus e compunham preender-se em que medida a guerra dinástica de
sua representação enquanto um pecador.4 Mas, de Trastâmara alterou a dinâmica de tolerância exis-
forma geral, não passavam de injúrias verbais, não tente em Castela e influenciou a materialização de
chegando ao ataque físico. uma intolerância que se faria mais presente em ter-
A proteção à comunidade judaica castelhana era ras castelhanas e seria externada em outros momen-
uma preocupação dos poderes constituídos, a pon- tos5 ao longo do século XIV. Para tanto, apresenta-
to de o rei Fernando III e o arcebispo de Toledo remos a seguir uma discussão sobre tolerância e
conseguirem junto ao Pontífice Honório III o re- intolerância na Idade Média e no reino de Castela.

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A relação judaico-cristã na Idade Média: a vista como a causa de um contínuo processo de


dinâmica entre a tolerância e a intolerância deterioração da vida judaica, pois acreditamos que
a violência física e moral, dentre outros fatores,
Cohen (1982) defende que as mudanças ocorridas influenciaram no seu cotidiano e permanência nos
nas relações judaico-cristãs são em grande parte reinos cristãos. Dessa forma, concordamos plena-
oriundas de transformações no pensamento cris- mente com Cohen, que identifica no trabalho in-
tão promovidas pelo movimento intelectual e teo- telectual dos frades, principalmente mendicantes,
lógico antijudaico dos frades mendicantes que, nos um ponto chave e sequencial no agravo da repre-
séculos XII e XIII6 destrincharam os livros sagrados sentação que se fazia dos judeus. O antijudaísmo
do cristianismo e judaísmo a fim de provar quão pregado por eles interveio na vida cotidiana e nas
pecaminosos, detestáveis e perigosos eram os se- leis que regiam a convivência e permanência dos
guidores do judaísmo, considerados a partir de judeus em meio aos cristãos, sendo uma das cau-
então como doutrina herética. Chazan (1991), con- sas da crescente intolerância e do declínio da vida
trariamente, argumenta que o declínio da vida ju- judaica nos reinos ibéricos a partir do século XIV,
daica nos reinos cristãos não foi resultado de mu- tanto porque a população passava a ter contato
danças ideológicas no pensamento cristão, tanto com esse tipo de antijudaísmo por causa das pre-
porque a representação negativa que se fazia dos gações dos frades nas cidades castelhanas.7 A guer-
judeus era muito anterior aos séculos XII e XIII, ra dinástica ocorrida em Castela deu ao povo, des-
remontando aos inícios da Era Comum. Por sua contente com a presença dos judeus em seu meio,
vez, David Nirenberg (2001) argumenta que a vio- a oportunidade de exteriorizar seu descontenta-
lência cristã contra os judeus não deve ser vista mento, exigindo mais intensamente do monarca e
como a causa de um contínuo processo de dete- da Igreja o cumprimento das leis antijudaicas exis-
rioração dos direitos e relações sociais que levaram tentes no reino.
às expulsões nos diferentes países da Europa. Ele Para Suárez Fernández (2012, p. 38), o que exis-
acredita que cada episódio de violência ou crise tia no reino de Castela, assim como no restante da
antijudaica deve ser avaliado em seu próprio e es- Europa, era uma convivência baseada na ideia da
pecífico contexto. aceitação das comunidades judaicas como “um mal
Quanto à nossa percepção, acreditamos que tan- menor, tolerável”. Para o autor, os judeus eram to-
to Chazan como Nirenberg estão de certa forma lerados em meio aos cristãos devido à esperança
corretos. Para Chazan, a representação negativa dos de um dia eles se converterem para assim se cum-
judeus existe na cristandade desde seu surgimento, prir a Divina Palavra, e, por outro lado, porque os
mas discordamos de sua proposta quando afirma rendimentos tributários das comunidades judaicas
que o declínio da vida judaica na Europa, incluin- eram proporcionalmente maiores do que os das
do a Península Ibérica, não foi resultado de mu- comunidades cristãs, sendo rentável para a Coroa
danças ideológicas no pensamento cristão. David a manutenção do povo testemunha em seu reino.
Nirenberg destaca que cada episódio de violência Coadunando com Suárez Fernández, Benito Rua-
antijudaica deve ser analisado em seu contexto, o no (1988) destaca que a tolerância religiosa estava
que é válido, mas nos opomos à sua interpretação baseada no fato de os grupos apenas se suportarem
de que a violência contra os judeus não deve ser uns aos outros, sendo uma questão de necessidade,

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de sobrevivência. Para os cristãos era uma solução primeira etapa, limite mínimo da tolerância, tolera-
imposta pela situação de vida que mantinha a pre- -se o que é reprovável, não tendo o poder de impe-
sença de vizinhos a quem não se podia exterminar dir o erro, o que de fato ocorria nas relações judaico-
e cuja função social e econômica era imprescindí- -cristãs no reino de Castela. Num segundo momen-
vel para a comunidade cristã. to marcado pela suspensão da violência, existe o
Quanto aos conceitos de tolerância e intolerân- desejo de compreender as convicções contrárias, sem
cia, seu sentido está atrelado a contextos nos quais aderi-las. Na última etapa se reconhece que cada um
a convivência e os conflitos entre diferentes grupos tem o direito de viver segundo seus princípios.
são antagonicamente permeados por divergências Tendo em vista esses fatores, acreditamos que a
religiosas, morais e cotidianas. Nesse sentido, para tolerância praticada nos reinos ibéricos em relação
Le Goff (2000, p. 38), a tolerância não é uma ca- aos judeus se encaixa na proposta de tolerância co-
racterística natural do ser humano, mas “uma cons- mo permissão (FORST, 2013). Esse tipo de tole-
trução, uma conquista”. Eco (2000, p. 17) ratifica rância ocorre quando uma autoridade ou uma maio-
essa proposta por acreditar que “aprendemos a to- ria permite a permanência do outro em seu meio.
lerância, pouco a pouco como aprendemos a con- Nesse sentido, dentro de um limite predetermina-
trolar o esfíncter”. Assim como controlar um es- do, o grupo dissidente pode viver de acordo com
fíncter humano requer um controle sobre os ins- suas crenças e costumes, sendo obrigatório o reco-
tintos mais básicos e naturais, controlar a intole- nhecimento da autoridade dominante. De acordo
rância também parte dessa premissa. Nesse sentido, com Gonçalves (2013, p. 66), a tolerância como
a intolerância, para Eco (2000, p. 18), tem raízes permissão não era tida como um dever da autori-
biológicas, “nasce dos impulsos mais elementares” dade legal ou um direito das minorias, mas “como
manifestando-se tanto na defesa territorial dos ani- uma estratégia política e, portanto, dependente das
mais quanto no instinto possessivo das crianças. conveniências de quem se encontrava no poder
De acordo com Rainer Forst (2013), ao aplicar-­ [sendo] exercida até onde não comprometa a ma-
se o conceito de tolerância a uma determinada rea- nutenção do poder”.
lidade devem-se observar alguns fatores, tais como: Considerando a interpretação de Gonçalves
1) a relação entre aquele que pratica a tolerância e (2013), acreditamos que a prática da tolerância pa-
o sujeito ou práticas que são toleradas; 2) a repro- ra com uma minoria não excluía a possibilidade
vação do indivíduo ou suas atitudes pelo arcabou- de episódios de intolerância e violência por parte
ço moral daquele que os tolera, possuindo, por da autoridade legal ou da população que compu-
outro lado, algum elemento de aceitação que per- nha a maioria. Por vezes, episódios de intolerância
mita, apesar de visto negativamente, ser tolerado; vieram à tona na convivência entre judeus e cris-
3) a marcação dos limites da tolerância apontando tãos no reino de Castela e a guerra dinástica de
os motivos para rejeição do indivíduo ou atitudes; Trastâmara foi um exemplo de como a tolerância
4) a espontaneidade na prática da tolerância; e 5) como permissão pode, conforme as circunstâncias,
a tolerância pode ser uma ação político-legal ou coexistir com episódios de intolerância levando à
pessoal, sendo que uma não elimina a outra. manifestação física do antijudaísmo. Valdeon Ba-
Paul Ricoeur (2000), por sua vez, destaca as eta- ruque (1979, p. 36) compartilha essa premissa ao
pas que levam à prática da plena tolerância. Numa dizer que a proteção régia recebida pelos judeus

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oscilava conforme os jogos políticos, fazendo dos truir os cristãos.10 Todas essas acusações serviam
judeus “válvulas de escape”. Dessa forma, acredi- para embasar a visão cristã de que os judeus eram
tamos que o conflito dinástico foi um exemplo da perigosos inimigos. Seus pecados e sua presença
“quebra” da tolerância como permissão, mas ao em meio aos cristãos poderiam trazer-lhes diversos
mesmo tempo, apesar de o governo de Enrique de males, que iam desde a ira divina aos prejuízos
Trastâmara manter a tradição de tolerância caste- econômicos e sociais.
lhana em relação aos judeus, o conflito também Le Goff (2000, p. 40) afirma que as minorias
serviu para acender uma chama de intolerância que sofriam com a intolerância eram perseguidas
que não mais se apagaria no reino de Castela. e taxadas como portadoras de uma “mácula de im-
No que tange à intolerância, Paul Ricoeur (2000, pureza infamante, suscetível de contaminar o con-
p. 20-21) a considera como “uma predisposição junto da sociedade”. De acordo com Mary Douglas
comum a todos os seres humanos [...] de impor (1991, p. 30), a defesa da pureza em contraposição
suas próprias crenças, suas próprias convicções, ao impuro se insere nos sistemas simbólicos de
desde que disponham, ao mesmo tempo, do poder classificação, onde a impureza equivale à desordem
de impor e da crença na legitimidade deste poder”. social e “ordenar pressupõe repelir os elementos
Para o autor, a desaprovação das crenças e dos prin- não apropriados”. Assim, o judeu, um ser impuro,
cípios do outro e o poder de impedir que esse ou- transgredia a organização social e a tolerância co-
tro leve sua vida como bem entenda são elementos mo permissão quando possuía, por exemplo, car-
indispensáveis à existência da intolerância. gos e dignidades que deveriam ser exclusivas dos
Jacques Le Goff (2000, p. 38) acredita que a in- cristãos. Essa “quebra de contrato”, muitas vezes
tolerância se apresenta “por meio de procedimen- incentivada pelos monarcas que precisavam dos
tos de proibição, exclusão ou de perseguição”. Pa- serviços desempenhados pelos judeus, levava à ira
ra o autor, a Alta Idade Média foi uma época re- do povo contra a comunidade judaica.
lativamente tolerante, mas a partir do século XI, e Françoise Heritier (2000) defende que a socie-
nos seguintes, houve um processo de transforma- dade cristã medieval combateu tudo que pudesse
ção, onde a “cristandade torna-se uma sociedade ameaçar sua prosperidade, como judeus, heréticos,
de perseguição”. Le Goff (2000, p. 40) exemplifica leprosos, bruxas, homossexuais e o fez sobre con-
a prática da intolerância com o caso dos judeus, cepções de pureza do sangue. O autor conceitua a
que julga deveras complexo pelo fato de eles se intolerância como a “a expressão de uma vontade
constituírem em um “corpo estranho à cristanda- de assegurar a coesão daquilo que é considerado
de”, mas estarem imersos nela. O autor destaca que como que saído de Si, idêntico a Si, que destrói
as primeiras materializações de intolerância ocor- tudo o que se opõe a essa proeminência absoluta”,
reram durante as Cruzadas8, por meio de perse- sendo a exclusão ou o aniquilamento as formas
guições praticadas pelo povo, mas provocadas e mais evidentes de intolerância.
incentivadas pela Igreja ou poder régio. Durante Quanto à ideia de pureza de sangue baseada na
esse período se intensificaram as acusações de dei- linhagem, Augé (1994, p. 56) destaca que ela tem
cídio9 e a negação do Messias; e surgiram outras, por base “uma fidelidade [a] uma tradição histó-
como a acusação de assassinato ritual, profanação rica”, na qual “são considerados impuros apenas
de hóstias e a prática da usura como forma de des- aqueles que traíram as suas origens”. No contexto

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dos conflitos judaico-cristãos, pode-se equiparar a expulsão em 1492. Esse século foi marcado por
base da ideia de pureza de sangue à fidelidade ao diversas mazelas que, apesar de sentidas por todos,
cristianismo e, conforme defendido pela lógica cris- foram imputadas como castigo divino pelos peca-
tã, os judeus se enquadravam nesse modelo de im- dos judaicos. Isso se deu porque os cristãos se en-
pureza, pois negaram suas origens ao não aceitar contravam mais sensíveis às teorias escatológicas e
Jesus Cristo como o Messias. à busca pela culpabilidade dos acontecimentos que
Para Adeline Rucquoi (1997), essas questões da os atormentaram durante décadas, como os suces-
relação entre o critério moral e biológico estão im- sivos períodos de carestia alimentar provocados
buídas de uma reflexão sobre o pecado, que se con- por más colheitas, as mortes provocadas pela pes-
verteu no reino de Castela em uma verdadeira ob- te negra e as crises econômicas.
sessão, não somente de letrados, poetas e cronistas, Para Joseph Pérez (2009, p. 76), tudo era moti-
mas da mentalidade popular como um todo. A vo para fazer do judeu o “mal absoluto” que por
autora esclarece que a noção de pecado pertence sua simples presença entre os cristãos provocava a
primeiramente ao campo religioso, no qual a cul- “ira de Deus”. Contemporâneo ao século XIV, o
pa tem um caráter moral e teológico e, nesse con- escritor e aristocrata Pedro Lopez de Ayala serve
texto, o sangue era ao mesmo tempo, o signo visí- de base para a concepção de Joseph Pérez, pois de-
vel da transmissão tanto das qualidades e virtudes, monstra não somente sua opinião em relação aos
quanto dos vícios e pecados, que passam dos pais judeus, mas a “opinião pública” de sua época, ao
para os filhos. afirmar que “[...] os judeus [estavam] agrupados
O medo da contaminação por essa mácula da para beber o sangue dos pobres coitados” que so-
impureza, a mácula do pecado, era o que, dentre ou- freram com as diversas dificuldades daquele século.
tros fatores, levava a sociedade cristã a perseguir e Nesse contexto, a população judaica que habi-
agir com intolerância contra as minorias no medie- tava as aljamas12, em grande parte composta por
vo. Mediante a dinâmica da intolerância contra os artesãos, comerciantes e pequenos prestamistas, vi-
judeus, que era motivada tanto por questões religio- via atormentada pelas dificuldades advindas das
sas quanto por questões sociais, políticas e econô- condições de vida que existiam nos bairros judai-
micas, veremos a seguir como a comunidade sefar- cos como, por exemplo, a imposição do espaço
dita11 do reino de Castela sofreu com a intolerância geográfico da judiaria pelos conselhos das cidades.
cristã durante o conflito dinástico de Trastâmara. Esse espaço não poderia ser expandido indepen-
dente do aumento populacional e geralmente se
A Guerra Trâstamara como fomento localizava em regiões mal vistas, avizinhados de
da intolerância antijudaica bordéis, por exemplo. A configuração do espaço
das judiarias, que gerava um empilhamento de re-
Para Amrán Cohén (2003), anteriormente ao sécu- sidências e a consequente insalubridade do local,
lo XIV, salvo algumas exceções, a coexistência entre somado à proximidade com vizinhos mal afama-
cristãos e judeus sefarditas foi positiva, porém, ocor- dos, levou, por sua vez, os cristãos a estereotiparem
reu nessa época uma verdadeira mudança na men- os judeus de sujos, miseráveis, portadores de mau
talidade da sociedade castelhana em relação à mi- odor e luxuriosos (SUÁREZ FERNÁNDEZ, 2012).
noria judaica, mudança que se estendeu até sua Nessa época, apesar de viverem sob o regime

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da tolerância como permissão os judeus se encon- puta política entre o monarca Pedro I13 e seu irmão
travam um tanto que desprotegidos. Apesar de se- bastardo Enrique de Trastâmara.14 A dicotomia en-
rem considerados como bens patrimoniais da Co- tre as duas comunidades religiosas foi incorporada
roa, uma vez que faziam parte do tesouro e finan- pela nobreza que lutava ao lado de Enrique de Tras-
ças reais, a tão importante proteção monárquica tâmara. Os revoltosos trastamaristas incitavam o
nesses tempos não ia muito além daquela ofereci- povo a acreditar que parte dos problemas econômi-
da aos poderosos prestamistas ou conselheiros ju- cos pelos quais o reino de Castela passava no gover-
deus que viviam na Corte. A maioria dos judeus no de Pedro I era consequência do auxílio e prote-
vivia em seus bairros próprios, afastados do con- ção que este destinava aos judeus. A nobreza expu-
vívio mais íntimo com os cristãos. Saiam de seus nha abertamente um antijudaísmo que, após a der-
bairros apenas para trabalhar e nesses momentos rota do monarca, seria sentido com maior eferves-
é que mantinham certa relação de convivência com cência no seio das comunidades cristãs de Castela.
a comunidade cristã. Em contrapartida a essa con- Desde os primeiros anos de reinado de Pedro
vivência pouco expressiva, os judeus que viviam I, a nobreza encontrava-se desgostosa das atitudes
na Corte real se mantinham muito próximos dos do monarca, que apoiava os letrados, a pequena
cristãos, que, como eles, ocupavam posições im- nobreza e a burguesia, e protegia os judeus. O mo-
portantes junto à Coroa. narca, que estava cercado de estudiosos formados
É importante ressaltar-se que os judeus que pos- em direito romano, buscou conhecer os direitos
suíam apanágios advindos de seu poder político e fiscais e territoriais dos nobres a fim de restringir
econômico certamente faziam parte de uma mino- a extensão de senhorios laicos e eclesiásticos, além
ria dentro da comunidade judaica. Nem todos os de controlar a economia fixando salários e preços
judeus foram comerciantes ricos e “supõe-se que (PERÉZ, 2009). Não obstante essa situação, o rei
os negócios de empréstimos dos judeus que viviam se recusava a aceitar conselhos e exigências de uma
nas cidades pequenas ou nas aldeias não ocupa- parte da nobreza e não cedia às reivindicações por
riam um lugar tão decisivo na vida pública” (BAER maiores benefícios. Sua política, marcada pela bru-
I, 1981, p. 98). talidade15 e confisco de bens, “acabou por lhe alie-
Em cidades como Toledo e Sevilha, uma fração nar até os seus mais fiéis partidários” (RUCQUOI,
um pouco maior da comunidade judaica fazia par- 1995, p. 180). A nobreza interpretou as atitudes do
te desse grupo privilegiado. A ascensão social e monarca como autoritárias e centralistas. As desa-
econômica dos judeus era criticada pelos cristãos, venças geraram assassinatos, prisões e exílios que
uma vez que acreditavam que os cargos ocupados só intensificaram o desejo dos nobres em apoiar a
por eles deveriam ser apanágio apenas dos cristãos. oposição dirigida pelos bastardos de Alfonso XI,
Tais críticas também eram direcionadas aos mo- especialmente por Enrique de Trastâmara, que den-
narcas que contrariavam os cânones conciliares ao tre suas propostas de governo possuía um conjun-
permitir que os judeus usufruíssem de tais benefí- to de medidas antijudaicas que lhe rendeu a adesão
cios em detrimento da população cristã. de muitos súditos (DÍAZ MARTÍN, 2001).
Essa aversão ao crescimento social e econômico Não faltaram motivos para justificar a rebeldia
dos judeus era usada para influenciar ideologica- contra o monarca, e, no que se refere à sua relação
mente os cristãos, como ocorreu nos anos de dis- com os judeus, Pedro I era apontado como “rei

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judaizado” completamente submetido aos mandos Nesse sentido, os monarcas castelhanos eram
e desmandos dos grandes representantes do povo criticados por não seguir as normas conciliares que
hebreu junto à Coroa (POLIAKOV, 1996, p. 127). legislavam sobre a proibição de judeus ocuparem
Essa propaganda política de cunho antijudaico ti- cargos que lhes dessem algum poder sobre os cris-
nha forte embasamento no cargo ocupado por uma tãos. Os cristãos consideravam os judeus indignos
década pelo judeu Samuel ha-Levi, administrador desses cargos porque carregavam consigo a mancha
das rendas do fisco. No governo de Pedro I os ju- dos pecados de deicídio e negação do Messias, além
deus monopolizavam os cargos ligados às finanças do ódio que nutriam pelos cristãos e que se confi-
régias, desde o cargo de ha-Levi, tesoureiro-mor, até gurava em uma ameaça social.
os cobradores locais de impostos. Samuel ha-Levi Essa ameaça social era sentida pelos cristãos na
também era responsável pelo confisco dos bens medida em que viam o crescimento econômico de
materiais e imóveis dos nobres que se rebelavam alguns judeus e seu reflexo na comunidade judai-
contra Pedro I, gerando contra si e contra e os de- ca. Os judeus enriquecidos podiam adquirir bens
mais funcionários judeus do fisco um ódio imen- imóveis em forma de casas e terras, que depois
so por parte daqueles que se viam prejudicados eram arrendadas aos cristãos, ou ter escravos mu-
(VALDEÓN BARUQUE, 1968). Os partidários da çulmanos. A grande Sinagoga del Tránsito foi cons-
causa trastâmara diziam ser inadmissível um rei truída em Toledo nos anos de gestão de Samuel
cristão permitir tamanha influência, já que todas ha-Levi, além de outras melhorias que eram efetua-
as finanças do reino estavam sob o poder de um das na comunidade graças à influência de seus
judeu (SUÁREZ FERNÁNDEZ, 2012). membros junto à Coroa. Tudo isso contrariava os
Os cristãos acreditavam que os judeus utiliza- cânones dos vários concílios eclesiásticos e mesmo
vam seus cargos junto à Coroa ou a prática da usu- algumas leis das Siete Partidas de Afonso X.17
ra para destruí-los. Ressaltamos que, durante a Ida- O grupo trastamarista disseminava ideias que
de Média, o comércio e a prática da usura eram buscavam desacreditar Pedro I diante dos súditos,
considerados como profissões desonrosas e conde- dos demais monarcas europeus e perante o papa,
nadas pela Igreja. A prática da usura era a ativida- além de provocar querelas internas entre os grupos
de mais criticada pela Igreja, pois acreditava que o que divergiam em relação ao conflito.18 No intuito
usurário não realizava trabalho e quando praticava de conquistar mais adeptos, principalmente no ex-
o juro se apropriava e vendia algo que pertencia a terior, a nobreza trastamarista alegava que Pedro I
Deus, isto é, o tempo (LE GOFF, 1991). Nesse con- era um rei ilegítimo, um bastardo filho de um ju-
texto, determinadas atividades econômicas desem- deu chamado Pedro Gil. Dessa forma, denotavam
penhadas pelos judeus tendiam a ser encaradas pe- a importância política e econômica que alguns ju-
los cristãos como uma forma de extorsão, na qual deus possuíam no reinado de Pedro I. Enrique de
ocorria uma transgressão à Lei de Deus, pois se Trastâmara utilizava-se dessas acusações para de-
ganhava sem se produzir. Tanto a atividade de co- monstrar ao povo que tinha o intuito de defendê-
brador de impostos quanto a prática da usura es- -lo contra as tiranias do monarca e contra o domí-
tavam devidamente respaldadas pelo poder real16 nio econômico dos judeus (MARTIN, 1995, p. 55).
e, apesar disso, continuavam a ser vistas de forma A acusação de rei favorável aos judeus poste-
negativa. riormente se modificou e Pedro I passou a ser en-

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carado como um monarca ilegítimo. Os trastama- tavam com o apoio de Samuel ha-Levi, que sofreu
ristas acusavam-no de não ser filho de Alfonso XI. as consequências da propaganda antijudaica. Suá-
Segundo os propagandistas de Enrique de Trastâ- rez Fernández (2012) aponta que Pedro I, um “per-
mara, a rainha de Castela D. Maria de Portugal, turbado mental”, suspeitou da lealdade de seu con-
que estava em vias de ser abandonada pelo marido, selheiro e em 1361 declarou sua prisão, o confisco
o rei Afonso XI, deu à luz a uma menina; porém, de seus bens, a tortura e a pena de morte.
com a responsabilidade de conceber um herdeiro, Sem a proteção real e de seu grande represen-
o iminente abandono e logicamente questões po- tante na Corte, as comunidades judaicas eram al-
líticas forçaram-na a trocar sua filha por um me- vos fáceis. Muitas foram atacadas, sendo seus mo-
nino, filho de um judeu chamado Pero Gil. Assim, radores saqueados e mortos. Nas cidades de Bri-
Pedro I não seria nada mais que um rei falsifica- viesca, Aguilar de Campo e Villadiego, as comuni-
do.19 Logo, concluía-se que os judeus sustentavam dades foram atacadas por soldados e mercenários
a monarquia tirânica já que um deles estava à fren- ingleses e franceses. Em outras regiões, como Se-
te da Coroa. govia, Ávila e Valladolid, o povo encarregou-se de
A propaganda antijudaica aliava o nome de Sa- invadir as casas judaicas e pilhar seus bens. Ade-
muel ha-Levi ao desrespeito do monarca Pedro I rindo à causa trastâmara, o povo tinha uma des-
às leis da Igreja, que em vários concílios proibiu culpa para se vingar daqueles que em sua concep-
os judeus de ocuparem funções de autoridade so- ção eram os responsáveis pela opressão econômica
bre os cristãos. No entanto, segundo a propaganda vivida naquele século (VALDEÓN BARUQUE,
antipetrista, como o monarca também era um ju- 1979, p. 133). Conforme Flannery (1968, p. 143),
deu, podia-se esperar que ambos se aliassem para o povo não distinguia as diferenças econômicas,
destruir os cristãos do reino de Castela. Dentre es- sociais e políticas entre os judeus, “atribuía a res-
se grupo que se dizia ameaçado estava a nobreza, ponsabilidade de sua pobreza aos cortesãos finan-
que, ao tentar impor às comunidades judaicas as cistas, judeus a quem culpavam do alto custo de
decisões conciliares, defendia seus interesses senho- vida, não fazendo distinção entre esses ricos e po-
riais e os interesses da Igreja. derosos judeus e o número maior de judeus tão
Os anos de 1366 a 1369, período no qual a pobres como eles”.
guerra entre os irmãos se desenvolveu, foi extrema- Muitas comunidades, além da pilhagem reali-
mente crítico para os judeus, uma vez que sofre- zada pelos exércitos e mercenários, sofriam com o
ram sanções econômicas e violências de ambos os pagamento de exorbitantes tributos que os monar-
partidos políticos. Enrique de Trastâmara incenti- cas impunham para ressarcir o cofre real. Mencio-
vou o antijudaísmo em meio à população cristã, namos o termo no plural porque durante o perío-
deixando-a livre para agir conforme sua consciên- do bélico tanto Pedro I como Enrique de Trastâ-
cia. Pedro I exigia quantias exorbitantes para a ma- mara se autodeclaravam e eram vistos como reis.
nutenção de seus exércitos e não conseguiu prote- Pedro I era o monarca por direito sucessório, ain-
ger as aljamas de roubos e assassinatos promovidos da aceito em muitas cidades de Castela, e Enrique
pelos exércitos de mercenários a seu serviço (VAL- de Trastâmara era o monarca “pela graça de Deus”,
DEÓN BARUQUE, 1968). benção papal, apoio político do rei francês e da
Nessa época, as aljamas do reino não mais con- alta nobreza castelhana.

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Nesse momento de guerra, a atitude dos mo- em terras castelhanas, porém, Enrique II respon-
narcas para com as comunidades judaicas em na- deu que essa seria a forma mais rápida de arruinar
da divergia. Ambos pressionaram as aljamas em a Fazenda Real e consequentemente a própria Co-
troca de uma fajuta proteção e quando as indeni- roa, pois, se proibisse o judaísmo os fiéis deveriam
zações não eram suficientes, usava-se a vida dos sair do reino ou se converter ao cristianismo e, de
judeus como mercadoria de troca. Pedro I decre- qualquer forma, a Coroa perderia grande parte de
tou a venda de trezentas famílias judias que se- suas rendas em impostos.
riam enviadas a Granada, mas tal situação foi Apesar de toda a campanha antijudaica que
evitada porque os próprios judeus pagaram o va- Enrique II empregou, após sua vitória restabeleceu
lor pelo qual seriam vendidos. Por sua vez, Enri- a política tradicional dos monarcas castelhanos em
que II, ao final da guerra, lançou uma altíssima relação aos judeus, colocando-os sob sua proteção
multa aos judeus de Toledo como castigo por te- e utilizando seus serviços nas finanças do reino
rem resistido e se mantido ao lado de Pedro I. (BAER I, 1981, p. 293). Ao mesmo tempo, os cris-
Essa punição gerou uma enorme dívida, que só tãos exigiam a exclusão dos judeus dos ofícios pú-
pôde ser paga ao longo dos anos. Encerrado o blicos. Segundo Leon Poliakov (1996, p. 126), essas
conflito político, as judiarias de Castela estavam exigências dos cristãos eram influenciadas por vá-
esgotadas financeiramente e moralmente (SUÁ- rios motivos que “eram tudo, menos teológicos”,
REZ FERNÁNDEZ, 2012). o que denota que para o autor os conflitos eram
Ao fim de três anos, o grupo Trastâmara lide- principalmente motivados por interesses econômi-
rado pelo filho bastardo de Afonso XI chegou ao cos e sociais.
poder. O novo rei foi coroado como Enrique II de A tolerância como permissão continuou a ser
Castela, iniciando assim o governo da dinastia Tras- praticada em terras castelhanas, mas concomitante
tâmara. Todo o apoio recebido ao longo dos anos a ela crescia a intolerância que se fazia cada vez
de rebeldia contra Pedro I e durante a guerra foi mais presente nas exigências das autoridades cita-
devidamente cobrado, principalmente pela nobre- dinas, estando praticamente todas essas reivindica-
za e pelos grupos que comandavam as cidades. Es- ções incorporadas no Sínodo de Zamora.21 Além
ses grupos citadinos fizeram muitas exigências a disso, nas reuniões de corte, os procuradores das
Enrique II no que se refere a suas promessas de cidades insistiam na proibição do judaísmo, na
vetar a ascensão judaica a determinados cargos e concessão de uma moratória às dívidas e na proi-
de conceder uma moratória universal aos emprés- bição de judeus em cargos públicos.
timos que os cristãos adquiriram junto aos presta- De acordo com Valdeón Baruque (1968), assim
mistas judeus naqueles anos. que Enrique II começou a governar, contratou al-
Mas como era de costume entre os monarcas guns judeus que prontamente se fizeram influentes
castelhanos,20 Enrique II sabia que a Fazenda Real na Corte: Joseph Abravanel, embaixador de Cas-
contava com a recuperação financeira das comu- tela no reino de Aragão; seu irmão Samuel Abra-
nidades judaicas, uma vez que elas eram a maior vanel, que juntamente com Haym Wakkar coman-
fonte de tributos no reino. Os procuradores da ci- dou uma companhia mercantil em Múrcia; e Jose-
dade de Burgos exigiram que monarca cumprisse ph Pichó, que controlava a arrecadação de impos-
suas promessas e proibisse a prática do judaísmo tos no reino.

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O monarca não aceitou essas exigências, que século, fomentaram tanto as teorias antijudaicas,
levariam à ruína de sua gestão. Não podia proibir quanto a prática da intolerância cristã para com
o judaísmo porque precisava dos judeus no quesi- as comunidades sefarditas, o que pode ser exem-
to econômico, uma vez que eles eram tidos como plificado desde as petições dos conselhos das cida-
um bem material da Coroa. Uma vez impossibili- des que exigiam junto ao monarca o fim de deter-
tada essa alternativa, o monarca precisava dos ser- minadas concessões feitas aos judeus tidas como
viços de judeus especialistas em economia e rela- prejudiciais aos cristãos, até os ataques às judiarias
ções internacionais. nos momentos de maior instabilidade social.
No decorrer da guerra dinástica, Enrique de
Conclusão Trastâmara, que já havia ocupado algumas cidades,
percebeu que as opiniões antijudaicas utilizadas
Abordamos nesse artigo a intolerância sofrida pe- em seu ataque contra Pedro I tinham alcançado
los judeus do reino de Castela durante a guerra um desenvolvimento que fugia ao seu controle. Os
dinástica de Trastâmara, ocorrida entre 1366-1369. súditos das cidades que renderam apoio e obediên-
Independente de o período entre os séculos XI e cia ao novo rei exigiam o fim do judaísmo, uma
XIII ter desenvolvido no restante da Europa um moratória universal e a proibição de os sefarditas
antijudaísmo que se fez presente por toda a Idade ocuparem cargos públicos. Tudo isso era difícil de
Média, passando a considerar os judeus como ini- cumprir, pois a Coroa necessitava dos impostos
migos funcionais, o que se via no reino de Castela pagos por eles e dos diversos profissionais essen-
nessa época era uma convivência interreligiosa ba- ciais à Monarquia. Após a vitória na guerra fratri-
seada, de forma geral, na tolerância. Por sua vez, cida e sua coroação como monarca castelhano, En-
vale lembrar que essa tolerância convivia com o rique II retomou a convencional tolerância prati-
antijudaísmo e todo o imaginário cristão em rela- cada pela Coroa em relação às comunidades judai-
ção ao povo deicida. Esse antijudaísmo se intensi- cas, sendo acusado pelos súditos cristãos de favo-
ficou ao longo dos séculos e igualmente aos cris- recer os judeus e não cumprir com suas promessas.
tãos norte-europeus, os castelhanos reproduziam Porém, toda intolerância praticada nos anos de
os estereótipos e preconceitos antijudaicos sem, no guerra se intensificou ao longo do século XIV e XV
entanto, exceder os limites de convivência, princi- até se transformar em política oficial do governo
palmente no que se refere aos ataques físicos. castelhano, que impôs aos judeus em 1492 a con-
A exteriorização da intolerância e os ataques às versão ou exílio.
comunidades judaicas castelhanas ocorreram de
forma sistemática no século XIV, com destaque pa-
notas
ra a guerra dinástica de Trastâmara, que usou o
1 Para maiores informações sobre a batalha, ver López
antijudaísmo como bandeira política contra o rei Payer; Rosado Llamas (2001).
Pedro I. Nesse período, a intolerância recobrou
2 Agostinho de Hipona construiu o papel de povo
suas forças devido, em parte, à liberdade antijudai-
testemunha para os judeus em sua teologia. Resultado de
ca durante o conflito dinástico e às disposições uma reflexão teológica na qual ele tentou resolver a questão
legais contrárias aos judeus. Esses fatores, ligados de os judeus ainda viverem em meio aos cristãos e,
a outras questões que se desenrolaram ao longo do concomitante a isso, de todas as mazelas que enfrentavam.

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Mediante a leitura do momento histórico no qual viveu e de 1414) em defesa da fé cristã; e o dominicano Pablo de
suas reflexões bíblicas, ele considerou que os judeus não Santa María (1350-1435) escreveu a obra antijudaica
deveriam ser aniquilados nem convertidos à força, mas Scrutinium scripturarum.
deveriam ser subjugados, inferiorizados e dispersos pelo 8 Para maiores informações sobre os ataques aos judeus
mundo para servir de testemunho, assim como Caim que, na Primeira Cruzada ler Chazan, 1987. Para a primeira e as
marcado por Deus com um sinal, vagou pelo mundo como demais cruzadas, ver Falbel (2001).
punição e exemplo do pecado cometido. Tal interpretação
encontra-se em Agostinho (2000, v. 3, p. 1832-33). Para 9 Durante muitos séculos, a passagem bíblica de João 19,
maiores informações sobre a interpretação agostiniana 6-7 foi, para os cristãos, a prova do deicídio, como consta:
sobre os judeus, ler Fredriksen (1995, pp. 299-324). “Quando os chefes dos sacerdotes e os guardas o viram,
gritaram: Crucifica-o! Crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: tomai-o
3 Brenner (2013, p. 94) destaca que o termo servi camerae vós e crucificai-o; porque eu não encontro nele motivo de
nostrae foi criado pelo papa Inocêncio III em 1205 e usado condenação. Os judeus responderam-lhe: nós temos uma
pela primeira vez em 1236 pelo imperador do Sacro Império Lei e, conforme essa Lei, ele deve morrer, porque se fez
Romano Frederico II para referir-se a todos os judeus do Filho de Deus”. Outras passagens abordam o julgamento
Império. O termo camera ou camera regis designava o de Jesus pelo Sinédrio, antes mesmo de ser apresentado a
tesouro do rei ou do imperador. Dessa forma, os judeus Pôncio Pilatos, como consta em: João 18, 12-24; Lucas 63,
eram tidos como um bem patrimonial da Coroa, que tinha o 71; Marcos 14, 53-65; Mateus 26, 57-68.
poder de tributá-los em troca da proteção física e jurídica
oferecida pelo rei. 10 Para maiores informações sobre as acusações
antijudaicas surgidas durante as Cruzadas e que se
4 Para maiores informações sobre o judeu enquanto estenderam por toda Idade Média, ler Monsalvo Antón
pecador e representação do mal no imaginário coletivo (2002, pp. 13-87).
cristão, ler Cantera Montenegro (2008).
11 O termo hebraico Sefarad se refere, na história judaica,
5 Para maiores informações sobre as violências físicas à Península Ibérica.
sofridas pelos judeus no final do século XIV, ver Follador
(2009, p. 53-64). 12 Termo usado na Península Ibérica para se referir ao
ajuntamento ou bairro de judeus ou mouros. Aqui será
6 Daniel Lasker analisou textos judaicos de polêmica usado apenas para referir-se ao bairro judeu.
anticristã para verificar se a literatura hebraica demonstrava
as mudanças na abordagem intelectual promovida pelos 13 Pedro I, chamado de “o cruel” reinou em Castela de
mendicantes no século XII. A resposta foi positiva, uma vez 1350 a 1369.
que as obras judaicas faziam frente às acusações lançadas 14 Após sua vitória, Enrique de Trastâmara foi coroado
pelos frades mendicantes (LASKER, 1996, p. 161-173). como Enrique II de Trastâmara e governou entre 1369-
7 Vários foram os clérigos peninsulares que escreveram 1379.
obras antijudaicas, entre eles destacamos o dominicano 15 Para Gonzalo Moya (1974), o monarca, quando criança,
catalão Raimundo Martí (ca.1220-1284), com a obra padeceu de uma paralisia cerebral que o deixou manco e
Pugio fidei adversus Mauros et Judaeos); Alonso de provocou um retardo mental que justificaria as atitudes
Espina (Fortalitium fidei contra Iudaeos, saracenos extremamente violentas de Pedro I, que beiravam, para o
aliosque christianae fidei inimicos), franciscano pesquisador, à psicopatia. Para maiores informações ver
castelhano que viveu no século XV; os judeus-conversos: Moya (1974).
Alfonso de Valladolid (1270-1346) escreveu a obra
Mostrador de justicia; Jerónimo de Santa Fe (De Iudaicis 16 Para maiores informações, ver Le Goff (1998, 2014).
erroribus ex Talmut) viveu entre meados do século XIV 17 Sobre as leis referentes aos judeus nas Sete Partidas,
até 1419, tendo participado do Debate de Tortosa (1413- ver Feldman (2009, pp. 589-620).

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18 No contexto da Guerra dos Cem Anos, o rei francês pôs- como: a utilização de um sinal distintivo; a proibição de sair
se ao lado do bastardo, juntamente com o papa de em público no período da Páscoa; a proibição de possuir
Avignon, o francês Urbano V (1362-1370), enquanto Pedro I cargos públicos; a concessão de moratórias para as
conseguiu o apoio da Inglaterra. dívidas de seus credores; e a vigilância sobre os abusos
19 Suárez Fernández (2012) destaca que nos documentos dos usurários, que deveriam respeitar a observação dos
da época se faz referência aos partidários de Pedro I como cânones que proibiam as usuras “graves e excessivas” (LE
emperegilados, menção ao nome do judeu Pero Gil, que GOFF, 1998, p. 72).
segundo a propaganda antipetrista seria o verdadeiro pai
do monarca. Essa lenda foi tida como verdadeira a ponto
de constar na Crônica do rei Fernando, o católico. O
cronista García Alfonso de Torres explicou que a princesa referências
que foi trocada por um menino judeu era a mãe do rabino
de Burgos Salomón ha-Levi que, ao converter-se livremente AGOSTINHO. A cidade de Deus. Lisboa: Fundação
ao cristianismo, recebeu o nome de Pablo de Santa Maria, Calouste Gulbenkian, 2000, v.3.
tornando-se então bispo da mesma cidade. Essa estória
AMRÁN COHÉN, Rica. “Un cambio en la mentalidad de la
mostra como se acreditava na genealogia limpa de sangue
sociedad hispana: el antijudaísmo en las crónicas de los
judaico que possuía a célebre família Cartagena. Era um
reyes de Castilla” in TOUS, Pere Joan i; NOTTEBAUM,
meio de explicar como uma família de conversos chegou a
Heike (ed.). El livro e la espada; Estudios sobre
possuir tanto destaque e altos cargos no reino de Castela.
antisemitismo en España (siglos XVI-XX). Tübingen: Max
Dessa forma, o cronista buscava mudar a interpretação
Niemeyer Verlag, 2003.
sobre o passado, mostrando que a família Cartagena
sempre possuiu origem cristã e de linhagem real. Apesar AUGÉ, Marc. “Puro/Impuro” in ROMANO, Ruggiero (dir.)
dessa informação nas Crônicas Reais de Castela, o bispo Enciclopédia Einaudi. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da
Alonso de Cartagena, filho de Pablo de Santa Maria, se Moeda, 1994, v. 30, p.55-73.
autodeclarava judeu converso, defendendo seu grupo BAER, Yitzhak. Historia de los judíos en la España
perante os cristãos-velhos que, no conflito de Toledo de Cristiana. Vol. 1. Madrid: Altalena, 1981.
1449, tentaram limitar a ascensão social dos cristãos de
linhagem judaica por meio da Sentencia Estatuto, BENITO RUANO, Eloy. De la alteridad en la historia.
documento que deu origem aos Tratados de Pureza de Madrid: Real academia de la Historia, 1988.
Sangue. BÍBLIA. Português. Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus,
20 Durante a Reconquista os judeus tiveram bastante 2006.
relevância na formação econômica dos reinos cristãos BRENNER, Michael. Breve história dos judeus. São Paulo:
ibéricos e repovoamento dos territórios, o que foi primordial Martins Fontes, 2013.
para a manutenção das conquistas cristãs. Graças a essa
CANTERA MONTENEGRO, Enrique. “La imagen del judío
importância, principalmente no povoamento das cidades,
como prototipo del mal en la Edad Media” in CARRASCO
os judeus receberam apoio dos monarcas ibéricos para
MANCHADO, Ana Isabel; RÁBADE OBRADÓ, María del
viver segundo seus preceitos religiosos e culturais, em
Pilar (Coords.). Pecar en la Edad Media. Madrid: Sílex,
troca do pagamento de tributos anuais.
2008.
21 No Sínodo de Zamora (1313) foram ratificadas as
______. European Jewry and the First Crusade. Berkeley:
proposições antijudaicas do Concílio de Latrão (1215), que
University of California, 1987.
proibiam os judeus de serem médicos de cristãos. O Quarto
Concílio de Latrão, convocado por Inocêncio III em 1215, COHEN, Jeremy. The Friars and the Jews; The evolution of
legislou sobre algumas questões relacionadas aos judeus, medieval anti-Judaism. Ithaca: Cornell University, 1982.

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Recebido em 15/04/2014
Versão revisada recebida em 23/072014
Aceito em 24/072014

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