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INTRODUÇÃO
SURDEZ E SURDOS
De fato, o pensamento da pessoa ouvinte tem som! Basta pensarmos no nosso nome,
por exemplo, e este nome se apresenta em nossa mente, de maneira sonora. No caso
do surdo, como ele organiza visualmente seu pensamento, este se efetiva por imagens,
como numa projeção de slides. No entanto, para estudar, raciocinar ou meditar, é
comum que eles “falem com as mãos”, numa espécie de tricô invisível. Algumas vezes,
ao realizarem uma caminhada solitária, o surdo fica “sinalizando”, falando sozinho, da
mesma forma que os ouvintes falam sozinhos e muitas vezes, falando alto!
Alguns sim. Mas este é um longo e complexo processo para aqueles com uma perda
auditiva severa. Vamos estabelecer aqui, a definição e classificação de surdez segundo
o modelo médico, para que possamos compreender as dificuldades inerentes ao
processo.
Podemos classificar a surdez de acordo com o tipo: condutiva (quando ocorre na orelha
externa e/ou média), neurossensorial (quando afeta a cóclea e/ou nervo auditivo) e
mista (quando envolve os dois tipos anteriores); quanto à época de
instalação( congênita, pré-lingual e pós-lingual) e quanto ao grau (leve, moderada,
severa e profunda).
Mas, o que é preciso ficar claro é que os surdos, mesmo com surdez profunda podem
apresentar uma comunicação oral funcional, desde que se submetam aos
procedimentos adequados e, principalmente, se assim o desejarem.
Não podemos correr o risco de cair em uma simplificação excessiva entendendo todos
os surdos da mesma forma. Além das idiossincrasias do ser humano em geral, o
indivíduo com surdez apresenta outras particularidades, decorrentes do tipo, grau ou
época de instalação da surdez, ou mesmo indícios em crianças que ainda não foram
diagnosticadas, que devem ser observadas, principalmente quando ele é um aluno de
uma escola inclusiva, ou seja, nenhuma criança surda é igual a outra.
Por exemplo, uma criança que ainda não foi diagnosticada e é classificada como
desatenta, hiperativa, emburrada, nervosa, briguenta, solitária, etc, pode apresentar
problemas de audição. O que também pode acontecer com aquela criança que perde
parte do que é dito em aula, principalmente quando existem ruídos ou mais pessoas
falando ao mesmo tempo e que muitas vezes é classificada como tendo déficit de
atenção.
Esta crença de que todo surdo faz leitura labial é muito forte entre os professores da
escola inclusiva. A maioria deles, pelo desconhecimento do assunto, acredita que todo
aluno surdo faz leitura labial e então, ministra normalmente suas aulas, deixando ao
aluno surdo a responsabilidade de acompanhar o seu discurso. No entanto, apenas
uma minoria dos surdos é constituída de hábeis leitores labiais.
Não. A língua de sinais não é inata ao surdo, da mesma forma que a língua oral não o é
para o ouvinte. A criança ouvinte aprende a falar pela interação com o meio em que
vive. O ideal seria que o mesmo acontecesse com a criança surda, isto é, que ela
adquirisse a sua primeira língua na interação com usuários dessa língua, inserida no
meio familiar e não mediante situações artificiais promovidas pela escola.
Os surdos fazem parte de um mundo ouvinte que utiliza a língua falada e, assim, têm,
necessariamente, que desenvolver certas habilidades ligadas à percepção da leitura e
da escrita para poderem nele conviver. Assim, a Lei que reconhece a Libras como língua
oficial brasileira (Lei Federal nº 10 436, de 24 de abril de 2002) estabelece, também,
que a mesma não poderá substituir a modalidade escrita da língua portuguesa.
Outro aspecto prejudicial decorrente desta crença tem a ver com ideais linguísticos que
rejeitam a maneira de falar de minorias desprestigiadas, como imigrantes, indígenas e
os próprios surdos. Ao estigmatizar tanto o português escrito como o oral de que o
surdo faz uso, se reforça também a ideia de que o surdo tem mais dificuldades que os
ouvintes na aprendizagem dos conteúdos escolares.
6. O surdo filho de pais ouvintes têm mais dificuldades nas interações familiares?
A maior parte das crianças surdas nasce em famílias ouvintes, que desconhecem a
língua de sinais, têm dificuldade de aceitá-la e, por consequência, de usá-la com seus
filhos. Se com a adoção da abordagem bilíngue, a Língua de Sinais não é mais proibida
nem na escola, nem na família, nas interações familiares em que predominam
membros ouvintes, as famílias privilegiam a linguagem oral, inacessível aos filhos
surdos, o que resulta na exclusão deles das conversas, e, finalmente, no seu isolamento
na família.
7. O surdo filho de pais ouvintes têm mais dificuldades escolares?
Toda criança inicia seus estudos trazendo uma bagagem de conhecimentos prévios
adquiridos no seio familiar. As crianças surdas filhas de pais ouvintes, por não
conseguirem ter acesso à língua oral privilegiada pelos seus familiares e como as
famílias não usam a língua de sinais, não participam das conversas e demais atividades
coletivas, particularmente as de contação de histórias, das cantigas de ninar e de roda,
de travalínguas, poemas infantis, etc. e assim, dificilmente chegam à escola com uma
língua desenvolvida, seja a de sinais, seja a majoritária — a língua portuguesa, no caso
dos surdos brasileiros.
Mas, não é apenas no que se refere aos conhecimentos linguísticos que as crianças
surdas, filhas de pais ouvintes ficam prejudicadas pela ausência de uma interação
natural e espontânea com seus familiares. Estudos apontam que as crianças surdas
apresentam atrasos na aquisição da sequência numérica (nome dos numerais ou
sequência de palavras-número), embora não existam diferenças na habilidade de
contagem entre as crianças surdas e ouvintes no que se refere ao processo em si, ou
seja, no que depende de estruturas lógico- matemáticas, no entanto, a sequência das
palavras-número (conhecimento social) das crianças surdas é bem mais reduzida que a
dos seus pares ouvintes, limitando assim, o seu ranking de contagem. Este atraso,
certamente irá causar atrasos de procedimentos matemáticos.
A melhor forma de evitar tais prejuízos é encaminhar as crianças surdas filhas de pais
ouvintes para uma escola para surdos, ainda bebês, para adquirirem a língua de sinais
na interação com adultos surdos.
8. O ensino em Libras, mediado ou não por intérpretes é suficiente para eu os
surdos tenham uma educação de qualidade?
Afinal, apenas garantir a presença de intérpretes (que é o que a maioria das pessoas
reivindica) não significa, absolutamente, que os surdos estão recebendo um ensino
com qualidade equivalente ao recebido por seus colegas ouvintes.
9. Se o surdo “não nasce” sabendo Libras, onde e como ele adquire esta língua?
O ideal seria que a criança surda pudesse adquirir a Libras, em contato com crianças e
adultos surdos sinalizadores, o que acontece de forma natural em uma escola
especializada para surdos.
10. Como o professor deve proceder em sala de aula com um aluno surdo?
Ao atuar em sala de aula lembrar-se sempre de não ficar de costas e nem de lado
quando estiver falando; de preparar os coleguinhas para receber o aluno surdo
naturalmente, estimulando-os para que sempre falem com ele. Outra atitude que deve
ser destacada é que, mesmo havendo a presença de intérpretes na sala, o professor, ao
falar, deve dirigir-se diretamente ao aluno surdo, usando frases curtas, porém com
estrutura completa e com o apoio da escrita; falar com o aluno mais pausadamente,
porém sem excesso e sem destacar as sílabas. O falar deve ser claro, num tom de voz
normal, com boa pronúncia; verificar se o aparelho de amplificação sonora individual
está ligado, o AASI reforça pistas e referências.
Outros cuidados essenciais que o professor precisa ter são: verificar se o surdo está
atento, pois este precisa “ler” os lábios para entender, no contexto da situação, todas
as informações veiculadas; chamar sempre sua atenção por meio de um gesto
convencional ou de um sinal; colocar o aluno surdo nas primeiras carteiras das fileiras
laterais ou colocar a turma toda em semicírculo e, procurar sempre utilizar todos os
recursos que facilitem sua compreensão. Quanto à posição do intérprete, o ideal seria
que este pudesse se colocar sempre de frente ao aluno surdo, atrás do professor. Como
isto nem sempre é possível, o intérprete deve ficar de frente para o aluno, mas de tal
forma que possa enxergar o professor e o quadro. Só como última opção o intérprete
deve se sentar ao lado do aluno surdo.
No que se refere a ações pedagógicas de caráter geral, deve ser dado destaque ao fato
de que a escola precisa da participação da família se quiser ter êxito na educação de
sujeitos surdos, portanto, é fundamental incluir a família em todo processo educativo.