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Sobre “Críton”

Neste diálogo de juventude, Platão mostra Sócrates aguardando a


execução da pena de morte na prisão quando seu amigo Críton o acorda e
tenta persuadi-lo a fugir. Como é sabido, Sócrates recusa a oferta de Críton
resignando-se à morrer. A recusa do personagem Sócrates é o núcleo do texto,
a parte com maior densidade filosófica.
Primeiramente analisemos a recusa inicial que Sócrates faz. Esta recusa
visa atingir os primeiros argumentos dados por Críton, a saber, a repreensão
que a maioria faria a ele, achando que Críton, rico que era, não salvara o
amigo, mesmo com condições de sobra para tal.
A resposta de Sócrates se dá com o exemplo do médico. Ninguém,
quando doente do corpo, seguirá a opinião da maioria para tratar da doença
que o aflige e só seguirá os conselhos do médico. Este exemplo é generalizado
por Sócrates: para qualquer assunto, devemos seguir os conselhos do
especialista sobre este determinado assunto.
Platão quer mostrar não apenas esta recusa circunstancial ao argumento
dado por Críton, e sim fazer uma crítica política. Essa crítica visa ao sistema
democrático da época, já com as reformas de Clístenes, mais especificamente
no que tange à ocupação das magistraturas por qualquer cidadão. Se não se
pode levar a sério a opinião da maioria, não se pode contar com ela para
governar, seja por sorteio ou qualquer outro método. Deve-se buscar o
especialista para governar a cidade. Sem levar em conta os diálogos de
maturidade, quando Platão já tem uma visão política mais delimitada e põe o
filósofo como este especialista, aqui em “Críton” já podemos colher esta crítica
à democracia. Quem seria este especialista é ainda nebuloso.
Porém, apesar de declarar nada saber na Apologia, podemos ver que o
fato de Sócrates saber que a atitude virtuosa a seguir neste caso é ficar e
morrer, seguindo às Leis da cidade, implica exatamente nesta ação. Há uma
conexão entre o saber o que é o bem e o agir bem, na qual o saber implica a
ação. Portanto, podemos inferir que o filósofo seja este especialista, mesmo
não estando demonstrado explicitamente neste diálogo.
Mas a questão principal deste primeiro argumento retrucado por
Sócrates, é a rejeição, e até mesmo a desqualificação do sistema democrático,
no que tange a sua essência, se é que este termo possa ser empregado:
qualquer cidadão pode ocupar os postos públicos mais altos. Note-se que o
argumento de Críton não visava inicialmente ao sistema, e sim à algo
corriqueiro, algo da vida privada, não da vida pública:
“E que opinião sobre mim seria mais vergonhosa do que esta: parecer ter
em mais alta conta o dinheiro do que os amigos? Pois a maioria não se
convencerá de que foi você mesmo que não quis sair daqui, apesar do nosso
esforço!” (Platão. p.116-117)
No Discurso fúnebre de Péricles, escrito por Tucídides, no qual,
contrariamente a “Criton”, há um elogio da democracia, já é mostrada a
repreensão desta atitude que afligiria Críton:
“Conduzimo-nos liberalmente em nossa vida pública, e não observamos
com uma curiosidade suspicaz a vida privada de nossos concidadãos, pois não
nos ressentimos com nosso vizinho se ele age como lhe apraz, nem o olhamos
com ares de reprovação que, embora inócuos, lhe causariam desgosto.”
(Tucídides. p.98)
Sócrates repreende o amigo já criticando a opinião da maioria em si
mesma, levando Críton a um debate conceitual sobre política, e não um debate
com questões efêmeras. Nos termos de Platão, um debate sobre questões da
alma, não do corpo. Isto é claro em outros momentos deste diálogo, quando
Críton pretende afastar as preocupações de Sócrates em relação ao sucesso da
fuga, com a ação dos sicofantas, por exemplo. A resposta de Sócrates é a
seguinte:
“Com isso, Críton, e com muitas outras coisas me mostro cauteloso...”
(Platão. p.118)
“E com muitas outras coisas”. Esta colocação indica que Sócrates já
havia se resignado à pena dada, ou seja, o exame que é proposto a ser feito
juntamente com Críton, decidindo pela adesão ou recusa da fuga, já havia sido
feito por Sócrates. Isto explica a forma discursiva do novo diálogo que se
segue, que não é mais um diálogo entre Críton e Sócrates, e sim um diálogo
entre as Leis e o Interesse Comum da cidade e um Sócrates que estaria prestes
a fugir com Críton. Sócrates mostra, com este diálogo forjado, porque deve
acatar a sua pena, mesmo fazendo esta crítica ao sistema político vigente na
época.
É nesta parte do diálogo que Platão nos apresenta esta moral sem
conflitos entre razão e emoção, em que saber o que é o bem é agir bem. E,
mesmo tendo conhecimento que a pena foi injustamente dada, já que contou
com a mera opinião da maioria, se o personagem Sócrates não acatasse as
Leis da cidade, estaria cometendo uma injustiça também. Cometer qualquer
ato injusto, mesmo contra alguém, ou um sistema injusto, é cometer injustiça;
este é o ponto de Platão.
Fazendo um novo paralelo com o Discurso fúnebre, podemos ver que o
estratego, mesmo não concordando que o discurso deveria ser proferido, o faz
obedecendo às Leis da cidade:
“A mim, todavia, ter-me-ia parecido suficiente(...) manifestar apenas com
atos as honras que lhes prestamos (…) em vez de deixar o reconhecimento do
valor de tantos homens na dependência do maior ou menor talento oratório de
um só homem.(...) Seja como for, já que nossos antepassados julgaram boa
esta prática também devo obedecer à lei.” (Tucídides. p.97)
Sem levar em conta que isto, acima de tudo, foi um recurso retórico,
podemos ver que a obediência às Leis estão, de certa forma, validando o resto
do discurso. Platão, mesmo criticando o governo da maioria, também respeita
tais Leis, escrito com maiúscula mesmo, já que se tratam não só das leis
escritas como das não escritas, ou, nas palavras de Platão, é o respeito às Leis
e os Costumes da cidade. É como se o respeito às Leis validasse a própria
crítica ao sistema político.

Bibliografia:
Platão – “Sobre o Dever (Críton)” in “Apologia de Sócrates Precedido de Sobre a Piedade
(Êutifron) e seguido de Sobre o dever (Críton)”. Trad: André Malta. Porto Alegre, L&PM
Editores . 2008.

Tucídides – “História da Guerra do Peloponeso”. Trad: Mário da Gama Kury. Brasília,


Editora Universidade de Brasília . 1982.
Nome: Bruno Fernandes Bernardo
Número USP: 6476152

FLF0388 - Ética e Filosofia Política I

Período: Noturno

Professor: Sérgio Cardoso

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