Sei sulla pagina 1di 7

Prof.

Elton Luiz

A ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA DE KANT

Muitas vezes uma filosofia se permite resumir mediante uma imagem. Como

elemento didático, a imagem cumpre uma função explicativa e sintética considerável.

Por exemplo, a Caverna de Platão constitui uma imagem emblemática de toda a

filosofia de Platão. No caso de Kant, a imagem é extraída de uma disciplina

paradigmática do século XVIII. Quase todos os filósofos da época, e do século seguinte,

viam-se na obrigação de estudar tal disciplina. A disciplina em questão é o Direito. É o

próprio Kant que se vale de tal imagem no início de sua Crítica da Razão Pura. Kant

compara a filosofia a um tribunal. Em um tribunal comum, encontramos alguém que

cometeu um crime, o réu, e um sujeito constituído de autoridade para julgá-lo, o juiz.

Réu e juiz, eis os dois extremos de um tribunal.

No tribunal da filosofia inaugurado por Kant o réu é a razão. O crime cometido

por ela : a metafísica. Mas o juiz de tal tribunal também é a razão. No tribunal de Kant,

a razão é, ao mesmo tempo, réu e juiz.

Durante toda sua história, a razão sempre se notabilizou por sua função crítica. A

sensibilidade, a doxa e o corpo já foram réus para a razão tradicional . A inovação de

Kant é pôr a própria razão como réu. É por isso que Kant define sua filosofia como

Crítica : crítica da razão sobre a própria razão. O crime cometido pela razão, como já

dissemos, é a metafísica.

O crime ocorre quando a razão pretende conhecer as coisas independentemente

da experiência. Kant emprega uma famosa metáfora para descrever tal procedimento

1
da razão. Ele nos lembra que uma andorinha só voa porque o ar lhe faz resistência. Sem

o ar, a andorinha não voaria. O ar em questão é a própria experiência: sem esta, a alma

humana não poderia descobrir dentro dela o que lhe permite “voar”, isto é, ir além da

experiência.

O crime da razão metafísica é pretender conhecer as coisas tais como elas são.

Para Kant, tal pretensão nasce da ignorância de que todo conhecimento humano

depende de certas condições. Não há conhecimento sem experiência. E toda experiência

se faz no tempo e no espaço. Mas tempo e espaço não são propriedades intrínsecas às

coisas mesmas. Ao contrário, tempo e espaço são formas interiores ao sujeito. Mais

precisamente, tempo e espaço são formas pertencentes à sensibilidade. A sensibilidade é

uma das faculdades do homem.

Na obra intitulada Crítica da Razão pura , o capítulo que estuda a sensibilidade

é chamado de Estética Transcendental. Não devemos confundir “transcendental” com “a

priori”, embora esses termos sejam assemelhados. “A priori” é tudo aquilo que antecede

a experiência, mas que pode não manter nenhuma relação com ela. Pode até mesmo se

lhe opor ( como as “Idéias Inatas” em Descartes, que são a priori a toda experiência e

não mantêm nenhuma relação com os dados da experiência). “Transcendental”, em

Kant, é tudo aquilo que , além de a priori, mantém uma relação fundamental com a

experiência. O transcendental tem a função de organizar e dar forma à experiência. Um

exemplo bem simples pode nos ajudar. Todos conhecem aquelas fôrmas com as quais as

crianças brincam na areia da praia. Elas são vazias e possuem formas geométricas.

Quando as crianças as mergulham na areia e depois as retiram, constatam que a areia

tomam a forma de tais fôrmas. Sem a ação das fôrmas, a areia é completamente

indeterminada, sem forma alguma. Sem a areia, as fôrmas são vazias. Tempo e espaço

são como que fôrmas que dão forma à matéria de nossa experiência. Embora não

2
derivem da experiência, elas existem para dar forma a esta, e é exatamente esse aspecto

que define sua natureza transcendental 1.

Além do tempo e do espaço, o conhecimento humano também se faz apoiado em

conceitos. Estes são formas de outra faculdade do homem: o entendimento. É na

Analítica Transcendental, da Crítica da Razão Pura, que Kant expõe a função dos

conceitos no processo do conhecimento. A palavra “analítica” define a natureza

eminentemente lógica dos conceitos.

Todo conhecimento humano, portanto, pressupõe tempo, espaço e conceitos ( os

juízos derivam dos conceitos, pois todo juízo é composto por, no mínimo, dois

conceitos). Tal como o tempo e o espaço, os conceitos também são transcendentais, isto

é, não derivam da experiência, mas existem para determinar e tornar inteligível as

nossas experiências. Todo objeto de nossa experiência é uma construção que se faz a

partir do tempo, do espaço e dos conceitos. Por isso, nossas experiências nunca nos

põem em contato direto com as “coisas em si mesmas”, mas tão somente com os

“fenômenos”. Aceder diretamente às “coisas em si mesmas” somente seria possível se

anulássemos nossa subjetividade do processo do conhecimento, o que é impossível.

Kant crê na existência de duas dimensões de nossa subjetividade: uma que é

puramente fenomênica, passiva, sensível; e outra que é espontânea, numênica,

transcendental. Não é esta última que gira em torno do mundo; ao contrário, é o mundo

que gira em torno desse “eu transcendental”: é ele que modela o mundo conforme as

formas que estão alojado nos interior de sua subjetividade. Tudo o que vemos aparece,

sem que o percebemos, já organizado pelas formas que estão no interior de nossa

1
Em um sentido estrito , “Transcendente”, por sua vez, é tudo aquilo que existe sem nenhuma relação
com a matéria ou com o mundo sensível, e existe além do próprio homem. O homem é capaz de
transcendência ( isto é, de “ir além dos entes”), mas ele não é um ser transcendente. O transcendente é
todo ser cuja transcendência não é uma mera ação, mas a sua essência mesma. Nesse sentido, o Ser
plenamente transcendente é , segundo Kant, Deus. Há ainda outra concepção de transcendente em Kant,
que diz respeito ao uso que se pode fazer das faculdades. Mas a explicação desse ponto nos desviaria
muito dos nossos propósitos.

3
subjetividade. Nós não temos contato com o mundo tal como ele é, mas tal como ele nos

aparece. Em Kant, tempo e espaço já não são mais meros acidentes de uma Substância,

mas condições que determinam essencialmente nossa experiência com o mundo. Se nós

pudéssemos retirar da experiência as formas que projetamos sobre ela, só nos restaria o

substrato indeterminado e fugidio das sensações.

Há ainda uma terceira parte da Crítica da Razão Pura. Seu nome é sugestivo:

Dialética Transcendental. Geralmente, a palavra “dialética” nos suscita a idéia de um

confronto de posições. Quando Kant emprega essa palavra, é sua intenção nos lembrar

essa origem conflituosa da dialética. A Dialética Transcendental trata das Idéias. Aqui

residiria uma das mais importantes distinções elaboradas por Kant, e que terá muitas

conseqüências para a filosofia : a distinção entre conceito e Idéia. Tanto o conceito

quanto a Idéia são representações, isto é, são formas. O conceito é uma forma que

pertence ao entendimento, ao passo que a Idéia é uma forma pertencente à razão. A

diferença entre conceito e Idéia é a mesma que existe entre o conhecer e o pensar.

Quando se trata de conhecer a natureza, a razão delega ao entendimento e aos seus

conceitos a função de faculdade determinante. O entendimento é uma faculdade voltada

para o mundo exterior e para o conhecimento da natureza. No âmbito do conhecimento,

as Idéias da razão podem ser apenas pensadas, nunca conhecidas. É por isso que elas

possuem uma natureza dialética, uma vez que sua essência é fundamentalmente

metafísica. Imortalidade, liberdade, Deus e o mundo ( enquanto realidade cosmológica)

são exemplos de Idéias metafísicas da razão. Elas não são representações cujos objetos

aparecem na experiência sensível, mas Valores cuja função diz respeito intimamente ao

homem. Enquanto os conceitos se aplicam aos objetos, as Idéias dizem respeito ao

sujeito.

4
Para Kant, o homem possui um duplo aspecto: enquanto realidade submetida ao

tempo e ao espaço, o homem é uma realidade fenomênica; mas na medida em que o

pensamos como sujeito livre dotado de uma alma imortal, o homem é uma realidade

numênica. Contudo, é apenas no âmbito da moral que esta realidade numênica do

homem assume um caráter plenamente positivo e não dialético. E lembremos que a

moral é uma parte da filosofia em sua dimensão prática, isto é, não epistemológica. É

na Crítica da Razão Prática que essa realidade numência é associada à dimensão moral

do homem.

“Aja de tal maneira que a máxima da tua ação possa ser erigida, sem

contradição, em lei universal”. Segundo Kant, essa lei fundamental, ou imperativo

categórico, é uma idéia da razão prática. Contrariamente às leis da natureza, que

determinam os seres naturais ( inclusive o homem, enquanto sujeito fenomênico), essa

lei moral somente pode ser aplicada aos seres livres. Pode parecer paradoxal , mas Kant

afirma que esta é a “lei da liberdade”.

Traduzindo em palavras simples, Kant parece querer nos dizer que , seja o que

for que façamos , somente somos livres se nossa ação puder ser imitada também por

outrem, sem prejuízo para a liberdade e dignidade de cada um. Por exemplo, se alguém

escolhe como máxima ( motivo) a mentira, incorrerá em contradição exigir que outrem

não minta para ele. Como conseqüência, se todos mentissem tal conduta feriria o

princípio moral de nossa liberdade. Kant não diz “faça isso ou aquilo”, pois tal definição

conteudística da ação já a tornaria impura, isto é, misturada a interesses empíricos e

passionais. Não devemos ser morais para aparentarmos sermos bons . Devemos ser

morais para sermos morais, e isto é tudo.

Muito já se disse sobre o extremo formalismo e rigorismo da moral de Kant.

Quando Kant exclui da moral qualquer vinculação com o sensível, esse fato divorcia a

5
conduta moral das outras esferas da vida humana. Kant parecia colocar um abismo

entre a moral e as outras condutas  como a conduta política, por exemplo.

Contudo, foi exatamente meditando sobre um fato político que Kant parece ter

vislumbrado, “com entusiasmo” ( como ele mesmo diz), a possibilidade de realização ,

no tempo, das exigências mais elevadas da razão humana. Tal fato foi a Revolução

Francesa. Segundo pensava Kant, esta Revolução representou uma mudança de estágio

da humanidade. Esta passou da menoridade para a maioridade. Isto é, abandonou uma

existência sob tutela, que a mantinha submetida , para uma existência cujo norte é a

autonomia. Não mais o Rei, mas a Lei.

A partir de então, Kant começa a se interessar por temas relativos à Filosofia da

História. A História não era mais pensada por ele como o reservatório de fatos

contingentes sem nenhum lastro moral. Ao contrário, Kant passou a ver a História como

um palco no qual as Idéias poderiam realizar-se. A Realização dos Fins Supremos da

razão humana pedia igualmente um suporte histórico, político-jurídico. E é assim que

Kant passa a enveredar, já com certa idade, por temas relativos sobretudo ao Direito,

mas de um Direito Cosmopolita, que zele pela criação de uma ordem internacional entre

os Estados , uma Ordem Republicana, para que assim possa vingar uma “paz perpétua”.

Kant acreditava que a História é a progressiva realização do Supra-sensível no

sensível, com o conseqüente progresso moral da humanidade ; progresso este que

deveria refletir-se em instituições republicanas respeitosas da dignidade humana .

O Homem é um “Fim em Si”. Como “Fim em Si” o homem é um Homo

Noumenon, isto é, uma Idéia metafísica. Mas o homem também é uma realidade

antropológica no sentido “pragmático”, isto é, no sentido da vida cotidiana , na qual ele

constitui família, trabalha, produz, enfim, vive. Mas essa realidade pragmática do

homem não deve estar separada da metafísica, a do homem como Homo Noumenon.

6
Kant designa de Respublica Noumenon a idéia metafísica de um Estado Ideal ( uma

“Cidade Celeste”, como dizia Santo Agostinho). E Duratio Noumenon é a Idéia

metafísica de um tempo como palco de realização das mais elevadas Idéias humanas.

Homo Noumenon, Respublica Noumenon e Duratio Noumenon são idéias

metafísicas cuja função é orientar o homem, o Estado e a História na persecução da

mais alta finalidade: a da Realização , no tempo, da própria Razão.

Resumindo: no âmbito epistemológico, as Idéias assumem um caráter

problemático, dialético, pois sua natureza metafísica não permite que elas fundamentem

a prática científica. Na esfera da moral as Idéias assumem plena positividade, mas ao

preço de um extremo formalismo racional, que exclui com rigor toda motivação

empírica para a ação moral e livre. É no âmbito da História, como Filosofia da História,

que Kant vislumbra a possibilidade de as Idéias serem realizadas. Para tal acontecer, é

preciso que não apenas o Homem, mas os próprios Estados sejam concebidos segundo

uma Idéia que lhes sirva de orientação.

Potrebbero piacerti anche