Sei sulla pagina 1di 9

Revista

de Medicina e Saúde de Brasília RELATO DE CASO

Anomalia de Ebstein: relato de caso


Ebstein's anomaly: a case report

Mayra Martins Ribeiro Almeida 1, Fernanda D'Avila Sampaio Tolentino 1, Lorena Vieira Gondim
Costa 1, Camilla Martins Jacintho Quirino 1, Bárbara das Neves Linhares 1, Andrei Alkmim Teixeira 2

Resumo
A anomalia de Ebstein consiste em um defeito cardíaco congênito raro com malformação da valva
tricúspide, ocorrendo em cerca de 1% das cardiopatias congênitas. Comparada às outras
cardiopatias congênitas, a anomalia descrita apresenta uma evolução clínica mais lenta, com
possíveis repercussões ocorrendo apenas na vida adulta. O objetivo do presente relato é a discussão
de um caso clínico que envolve paciente portador de anomalia de Ebstein com diagnóstico tardio,
evolução clínica desfavorável e que foi submetido a retroca da valva tricúspide em menos de 2 anos
da 1ª cirurgia corretiva.
Palavras chave: anomalia de Ebstein, cardiopatias congênitas, valva tricúspide.

Abstract
The Ebstein's anomaly consists of a congenital heart defect with rare malformation of the tricuspid
valve, occurring in about 1% of congenital heart diseases. Compared to other congenital heart
diseases, the anomaly described has a slower clinical course, with possible repercussions occurring
only later in life. The aim of this report is the discussion of a clinical case involving a patient with
Ebstein's anomaly with delayed diagnosis, poor clinical outcome and underwent tricuspid valve of
break-action in less than two years of the first corrective surgery.
Keywords: Ebstein’s anomaly, congenital heart disease, tricuspid valve.

Introdução cardiopatias congênitas. É o defeito que mais


Os defeitos cardíacos correspondem à acomete esta valva. Não há relatos na
malformação congênita mais comum afetando literatura de associação direta entre a variável
8 em 1000 nascidos vivos. A anomalia de sexo e presença de cardiopatia congênita,
Ebstein consiste em um defeito cardíaco entretanto sabe-se que determinados defeitos
congênito raro com malformação da valva prevalecem discretamente em determinado
tricúspide, ocorrendo em cerca de 1% das sexo.1
246

1. Acadêmicos do curso de Medicina da Universidade Católica de Brasília


2. Médico, nefrologista, doutor, docente do Curso de Medicina da Universidade Católica de Brasília
E-mail do primeiro autor: mahmartinsra@gmail.com
Recebido em 15/12/2015 Aceito, após revisão, em 22/09/2016
Almeida MMR, Tolentino FDS, Costa LVG, Quirino CMJ, Linhares BN, Teixeira AA
Anomalia de Ebstein

Comumente, os folhetos posterior e paciente refratário a tratamento clínico, das


septal da valva inserem-se de forma anômala repercussões que aumentam
no ventrículo direito, com consequente morbimortalidade e do grau da anomalia
aumento da cavidade atrial, também valvar.3,5,6
conhecido como atrialização da via de entrada A substituição da valva tricúspide
do ventrículo direito.1,2 pode ser feita pela prótese mecânica ou pela
Comparada às outras cardiopatias prótese biológica. A depender do balanço
congênitas, a anomalia de Ebstein apresenta entre prós e contras entre elas se faz a escolha
uma evolução clínica mais lenta, com para a troca valvar.
possíveis repercussões ocorrendo apenas na As próteses mecânicas apresentam
vida adulta.3 durabilidade estrutural e risco associado de
O quadro clínico é variável, conforme tromboembolismo. Para isso, é necessária a
a gravidade do defeito anatômico e das terapia contínua e obrigatória com
anomalias associadas. Normalmente, anticoagulantes. Atualmente, são mais
apresenta-se com dispneia, cianose, arritmias utilizadas em pacientes com idade inferior a
cardíacas, síncopes, cardiomegalia e 65 anos.7
insuficiência ventricular direita. Pacientes que As próteses biológicas caracterizam-se
apresentam alterações discretas podem por baixa trombogenicidade, baixa
apresentar-se assintomáticos, sendo turbulência e boa hemodinâmica. Duram de 7
diagnosticados em idades mais a 15 anos, podem haver necessidade de
avançadas.4,5,6,7 reoperações. Ideais para pacientes com idade
O diagnóstico da anomalia de Ebstein, igual maior de 65 anos.7
no Brasil, prevalece entre as 2ª e 3ª décadas O objetivo do presente relato é a
de vida. Envolve evolução clinica prolongada discussão de um caso clínico que envolve
e suas consequentes repercussões, com paciente portador de anomalia de Ebstein com
suspeita em ECG e confirmação diagnostica diagnóstico tardio, evolução clínica
em ecocardiograma.4,8 desfavorável e que foi submetido a retroca da
O tratamento clínico inicial tem como valva tricúspide em menos de 2 anos da 1ª
objetivo a redução sintomática e com cirurgia corretiva.
consequente melhora na qualidade de vida do
paciente. Para isso, é necessário diminuir Metodologia
sinais de hipóxia e de congestão sistêmica. O O caso foi tratado no ICDF localizado na
tratamento cirúrgico consiste na plastia ou na cidade de Brasília – DF e foram realizadas
troca da valva tricúspide, dependendo se pesquisas nas seguintes bases de dados Scielo,
247
2238-5339 © Rev Med Saude Brasilia 2016; 5(2): 246-54
Almeida MMR, Tolentino FDS, Costa LVG, Quirino CMJ, Linhares BN, Teixeira AA
Anomalia de Ebstein

Pubmed, Medline e livros. Foram avaliados de Carvedilol 12,5mg (12h/12h), AAS


artigos em língua portuguesa. 100mg/dia, Furosemida 80mg (12h/12h),
Hidroclorotiazida 25mg/dia, Enalapril 10mg
Relato de caso (12h/12h), Sildenafil 20mg (8h/8h),
JAR, 49 anos de idade, sexo Levotiroxina 75mcg/dia, Alopurinol
masculino, casado, aposentado, natural de 300mg/dia, Domperidona 10mg (8h/8h),
Aroazes – PI, residente e procedente de Omeprazol 40mg (12h/12h), Carbonato de
Ceilândia – DF procurou o serviço do ICDF cálcio 500mg (8h/8h), Octreoitide 20 mg
para intervenção cirúrgica cardíaca eletiva. (1x/mês). Relata internações frequentes por
Paciente portador de anomalia de Ebstein, descompensação da insuficiência cardíaca. É
diagnosticado em julho/2012, em alérgico à codeína e paracetamol. Nega
acompanhamento ambulatorial no HUB com diabetes mellitus (DM), dislipidemias,
evolução para insuficiência acentuada da pneumopatias, infarto agudo do miocárdio
valva tricúspide e insuficiência moderada da (IAM), acidente vascular cerebral/acidente
valva mitral, com dilatação acentuada das isquêmico transitório (AVC/AIT) ou outras
câmaras direitas. Há 1 ano e 9 meses, foi comorbidades. Refere ser ex-tabagista (cessou
submetido a cirurgia de troca valvar há mais de 20 anos) e ex-etilista (cessou há 2
tricúspide com colocação de prótese biológica anos). Nega história familiar de cardiopatias
(SJ nº31). Evoluiu no pós-operatório com congênitas, coronariopatias ou morte súbita.
disfunção acentuada do ventrículo direito, Ao exame, paciente em bom estado
insuficiência pulmonar acentuada e síndrome geral, hipocorado (1+/4+), hidratado,
de baixo débito. Foi reinternado nesta eupneico, acianótico, anictérico, afebril ao
Unidade com programação cirúrgica de toque, consciente e orientado em tempo e
retroca valvar tricúspide e troca valvar espaço. Aparelho Respiratório: murmúrio
pulmonar. vesicular fisiológico, sem ruídos adventícios.
Paciente portador de hipotireoidismo, Frequência respiratória: 18ipm. Saturação O2:
hipertensão arterial sistêmica, doença renal 96%. Aparelho Cardiovascular: ritmo
crônica em tratamento conservador, cardíaco regular em 2 tempos, bulhas
coronariopatia, anomalia de Ebstein, hipofonéticas, presença de sopro sistólico
insuficiência cardíaca classe funcional III-IV 3+/6+ e de sopro diastólico 2+/6+ em foco
da NYHA, carcinoma neuroendócrino de pulmonar. Turgência jugular patológica.
baixo grau metastático para fígado e síndrome Frequência cardíaca: 61bpm. Abdome:
carcinoide. Foi submetido à cirurgia eletiva de semigloboso, depressível, doloroso a palpação
troca valvar tricúspide em julho/2013. Faz uso profunda em hipocôndrio direito, ruídos
248
2238-5339 © Rev Med Saude Brasilia 2016; 5(2): 246-54
Almeida MMR, Tolentino FDS, Costa LVG, Quirino CMJ, Linhares BN, Teixeira AA
Anomalia de Ebstein

hidroaéreos preservados. Fígado palpável a interventricular. Disfunção diastólica


5cm do rebordo costal direito, com superfície de padrão indeterminado. VD:
de característica lisa. Extremidades: perfusão disfunção sistólica acentuada, às
regular, com extremidades hipercrômicas e custas de comprometimento difuso do
aquecidas, sem edemas. miocárdio. Dimensões aumentadas em
Foram solicitados exames grau acentuado. VALVAS:
complementares no pré-operatório que Insuficiência mitral discreta.
evidenciaram a necessidade de terapêutica Insuficiência aórtica mínima. Prótese
intervencionista. biológica em posição tricúspide, com
1. Cateterismo cardíaco direito insuficiência mínima e gradientes
(27/03/14): DC 4,46L/min, índice diastólicos máximo de 14mmHg e
cardíaco (IC) 2,27L/min/m3, médio de 6mmHg. Valva pulmonar
resistência vascular pulmonar (RVP) espessada, com mobilidade reduzida e
1,3 UW, resistência vascular sistêmica falha de coaptação dos folhetos.
(RVS) 9UW, índice de resistência Insuficiência moderada/acentuada e
vascular pulmonar (IRVP) 2,6. estenose discreta, com gradientes
Pressão arterial pulmonar e resistência sistólicos máximo de 30mmHg e
vascular pulmonar normais. Presença médio de 20mmHg.
de gradiente sistólico do ventrículo 3. Cateterismo cardíaco esquerdo
direito para artéria pulmonar de (27/10/14): coronária direita ocluída
31mmHg. distal. Demais coronárias isentas de
2. Ecocardiogramatranstorácico lesões obstrutivas.
(16/07/14): Septo 8mm, parede 4. Ressonância magnética cardíaca
posterior (PP) 8mm, ventrículo (01/12/14): VE: septo 11mm, PP
esquerdo (VE) 39x20mm, átrio 9mm, 48x30mm, volume diastólico
esquerdo (AE) 40mm (volume final (VDF) 123mL, volume sistólico
indexado 36,98mL/m2), Aorta final (VSF) 60mL, FEVE 52%, função
31/25/40mm, ventrículo direito (VD) global no limite inferior da
51mm, fração de ejeção do ventrículo normalidade. Discreto achatamento
esquerdo (FEVE) 80,69%. VE: diastólico do septo interventricular,
dimensões da cavidade e espessura das indicando aumento das pressões nas
paredes normais. Função sistólica câmaras cardíacas direitas. VD:
global e segmentar preservada. 58X54mm, VDF 335mL, VSF
Movimento assincrônico do septo 240mL, FEVE 28%, cavidade de
249
2238-5339 © Rev Med Saude Brasilia 2016; 5(2): 246-54
Almeida MMR, Tolentino FDS, Costa LVG, Quirino CMJ, Linhares BN, Teixeira AA
Anomalia de Ebstein

dimensões acentuadamente 7. Eletrocardiograma (31/03/15): Ritmo


aumentadas. Disfunção sistólica sinusal. Frequência ventricular média
global de grau acentuado às custas de (FVM) 50bpm. ângulo do QRS
hipocinesia difusa. AE: dimensões (SAQRS) indeterminado. PR: 180ms.
normais. AD: dimensões aumentadas QRS: 200ms. Presença de sobrecarga
em grau acentuado. VALVAS: atrial esquerda (índice de Morris) e
insuficiência mitral discreta. Prótese ventricular direita, além de bloqueio
valvar biológica em posição completo pelo ramo direito, com
tricúspide, com jato de alterações secundarias da
turbilhonamento diastólico através da repolarização ventricular. Onda Q
prótese, sugerindo presença de patológica em DIII.
estenose/mismatch. Insuficiência 8. Radiografia de tórax (31/03/15):
valvar pulmonar. Aumento do calibre Redução da transparência pulmonar na
do tronco da artéria pulmonar base direita associado a obliteração do
(40mm). angulo frênico. Cardiomegalia.
5. Tomografia computadorizada de tórax Esternorrafia. Area cardíaca
(28/01/15): Moderado derrame pleural aumentada. Mediastino centrado.
com bolha gasosa de permeio, 9. Laboratoriais (06/04/2015):
associado a espessamento irregular, Hemoglobina 11,5g/dL; hematócrito
por vezes nodular, dos folhetos 37%; leucócitos 8.460/mm3; plaquetas
parietais. Cardiomegalia. 199.000/mm3; INR 1,4; TTPA 1,19;
6. Laboratoriais (19/02/2015): ureia 85mg/dL; creatinina 1,8mg/dL;
Hemoglobina 10,4g/dL; hematócrito Mg 1,9mg/dL; Na 142mEq/L; K
34,9%; leucócitos 7.530/mm3; 3,78mEq/L; lactato 13; PCR 2.
plaquetas 241.000/mm3; glicose 10. Laboratoriais (09/04/2015):
81mg/dL; ureia 43mg/dL; creatinina Hemoglobina 10,8g/dL; hematócrito
1,2mg/dL; colesterol total 143mg/dL; 33,8%; leucócitos 9.430/mm3;
HDL 48mg/mL; LDL 85mg/dL; plaquetas 231.000/mm3; INR 1,25;
triglicerídios 50 mg/dL; albumina TTPA 1,4; ureia 115,4mg/dL;
3,9g/dL; GGT 832U/L; TGO 24U/L; creatinina 1,7mg/dL; Mg 2,1mg/dL;
TGP 13U/L; Ca 9,1mg/dL; Na Na 142mEq/L; K 4,1mEq/L; PCR
141mEq/L; K 3,7mEq/L; TSH 2,38.
2,51mcUI/mL; T4 livre 1,73ng/dL.

250
2238-5339 © Rev Med Saude Brasilia 2016; 5(2): 246-54
Almeida MMR, Tolentino FDS, Costa LVG, Quirino CMJ, Linhares BN, Teixeira AA
Anomalia de Ebstein

11. Radiografia de tórax (13/04/15): (dispneia a poucos esforços com progressão


Derrame pleural moderado a direita. para dispneia paroxística noturna, lipotimia,
Cardiomegalia. síncopes e edema de membros inferiores),
Após alterações presentes no exame evolução com grande repercussão
físico e a análise dos exames complementares prognóstica.
foi discutida com a equipe a necessidade de As melhorias no diagnóstico,
transplante cardíaco. Entretanto, esta medida procedimento anestésico, técnicas de
terapêutica foi descartada frente a existência circulação extracorpórea (CEC), de proteção
de neoplasia em atividade. O tratamento miocárdica e dos cuidados pós-operatórios
proposto, portanto, foi o de retroca valvar têm modificado a história natural da doença
tricúspide e troca valvar pulmonar. cardíaca congênita.
Os tempos de CEC e anóxia
Desenvolvimento prolongados estão associados às condições
Portadores da anomalia de Ebstein clínica mais graves decorrentes de
apresentam evoluções clínicas distintas. diagnósticos e condutas tardios. Assim como
Apesar de ser uma anomalia cardíaca a necessidade de politransfusão que promove
congênita rara, está presente em muitos aumento da resposta inflamatória sistêmica
serviços de saúde no Brasil. com produção exacerbada de mediadores
Pela possibilidade de diagnóstico inflamatórios, repercutindo no pós-operatório
durante o pré-natal, algumas crianças já são imediato do paciente.
precocemente encaminhadas ao serviço No caso em questão, paciente foi
especializado logo após o nascimento para submetido a procedimento cirúrgico em
acompanhamento e tratamento de distúrbios 22/04/2015 para retroca valvar de tricúspide
consequentes à anomalia em países (prótese biológica tricúspide nº31mm) e troca
desenvolvidos. valvar de pulmonar (prótese biológica aórtica
Entretanto, no Brasil, o diagnóstico nº25mm), sendo constatado no ato cirúrgico a
ainda é tardio, tendo sua prevalência entre 2ª e necessidade de ampliação da via de saída do
3ª décadas ou ainda mais tardiamente. Neste ventrículo direito. Procedimento cirúrgico
presente caso, o paciente foi diagnosticado ocorreu sem intercorrências, sendo admitido
como portador da anomalia aos 47 anos de na UTI da unidade com sedação residual, em
idade, sendo suspeitada a anomalia quando uso de drogas vasoativas (noradrenalina,
paciente procurou atendimento no pronto- dobutamina e vasopressina), em ritmo de
socorro desta unidade com sintomas marcapasso em átrio e frequência cardíaca de
referentes a síndrome de baixo débito 86bpm, mas com ritmo próprio sinusal e
251
2238-5339 © Rev Med Saude Brasilia 2016; 5(2): 246-54
Almeida MMR, Tolentino FDS, Costa LVG, Quirino CMJ, Linhares BN, Teixeira AA
Anomalia de Ebstein

frequência cardíaca de 70bpm. Esterno sem 10mg/mL Escorias elevadas e oligúria.


rafia. Tempo de circulação extracorpórea foi Iniciado hemodiálise após avaliação da
de 2 horas e 40 minutos, sem pinçamento. nefrologia. Seguindo em cuidados intensivos.
Diurese ao final do procedimento de 2250mL. Neste caso, foi possível avaliar que a
Recebeu 1790mL de hemoconcentrado e evolução da anomalia com
597mL de plasma fresco congelado segundo diagnósticos/tratamento tardios teve grande
relatório. impacto no prognóstico do paciente e na
As indicações cirúrgicas se resumem consequente necessidade de retroca valvar.
a: 1) Sintomas de dispneia ou de insuficiência Entretanto, segundo a literatura, as próteses
cardíaca (NYHA CF III ou IV); 2) biológicas são indicadas para pacientes com
Intolerância progressiva ao exercício; 3) mais de 65 anos de idade e não se sabe ao
Taquiarritmias refratárias a medicamentos ou certo o por quê da escolha desta prótese
amenizadas com cateter; 4) Lesões quando o paciente foi submetido à troca
significativas associadas. A presença de uma valvar tricúspide. Por isso, o artigo questiona
ou mais indicações são mandatórias para a falência precoce da prótese, que dura em
tratamento cirúrgico. No caso, o paciente, média de 10 anos a 15 anos. As causas desta
portador de insuficiência cardíaca refratária a falência precoce podem ter se dado por
tratamento medicamentoso, em classe dificuldades técnicas no intraoperatório, por
funcional III-IV apresentava indicação deteorização precoce frente as repercussões
cirúrgica para retroca valvar.5 fisiológicas da anomalia já instaladas mesmo
No pós-operatório imediato, paciente com a intervenção tardia ou pelas
evoluiu gravíssimo com fibrilação atrial complicações frente a demora diagnóstica
cardiovertida quimicamente com amiodarona, alterações anatómicas também em valva
instável hemodinamicamente, com altas doses mitral, e consequente hipertensão/congestão
de drogas vasoativas com tendência a pulmonar. Paciente evoluiu estável
hipotensão. Foi necessária reabordagem para hemodinamicamente às custas de aminas, não
inspeção de sangramentos ativos, que ocorreu tolerando a tentativa de retirada de sedativos e
sem intercorrência, com sucesso. Drenos com nem de drogas vasoativas.
débitos habituais. Encontrava-se em dieta Além disso, paciente permaneceu em
enteral, em uso de dobutamina CEC por tempo prolongado, o que é
15mcg/Kg/min, noradrenalina 1mcg/Kg/min, comprovado pela literatura atual que tem
vasopressina 6mL/h, vancomicina, cefepime, correlação estatística com a mortalidade.8
nitroprussiato de sódio 25mg/mL, furosemida Entretanto, sabe-se que as consequências
10mg/mL, amiodarona 50mg/mL, morfina ocasionadas pela síndrome de baixo debito,
252
2238-5339 © Rev Med Saude Brasilia 2016; 5(2): 246-54
Almeida MMR, Tolentino FDS, Costa LVG, Quirino CMJ, Linhares BN, Teixeira AA
Anomalia de Ebstein

complicações em doença mais avançada, são o paciente ao menor estresse possível,


de grande relevância na literatura, influencia principalmente o orgânico.
na morbimortalidade do paciente no pós- Uma vez identificadas as alterações
operatório. descritas no artigo, os exames
Paciente agora encontra-se sedado e complementares são fundamentais para
intubado na UTI, estável às custas de drogas exclusão dos diagnósticos diferenciais e para
vasoativas com tendência a hipotensão, em um melhor prognóstico para o paciente,
hemodiálise plena e em dieta enteral propiciando uma intervenção mais precoce.
(30mL/h). Em uso de dobutamina Este relato reflete o quão tardiamente os
15mcg/Kg/min, noradrenalina pacientes portadores da anomalia de Ebstein
0,6mcg/Kg/min, fentanil 10mL/h, midazolam são diagnosticados e tratados no Brasil, o que
10mL/h e milrinone 0,3mcg/Kg/min. implica diretamente na mortalidade,
A programação para o caso é tentar a principalmente pelo hiperfluxo pulmonar
retirada da sedação parcialmente, das drogas crônico que leva à hipertensão pulmonar e
vasoativas para que paciente receba alta da consequente congestão.8
UTI, retorne a enfermaria e a sua rotina, com O tratamento deve ser individualizado,
melhora importante do quadro clínico que considerando a real necessidade de uma
apresentava em pré-reabordagem cirúrgica. abordagem cirúrgica frente a crítica evolução
do paciente como o em questão. Mais
Conclusão importante ainda é avaliar os prós e os contras
Com base na literatura atual, percebe- para a realização de um tratamento mais
se a importância que seja feito diagnóstico e invasivo, se preocupando sempre em ofertar o
tratamento de maneira precoces a fim de que é melhor para o paciente, que não
minimizar as principais complicações significa ser necessariamente a técnica mais
associadas a esta anomalia.10 nova e avançada de abordagem.
Demonstra-se que muita vezes a
condição do paciente no pós-operatorio tem Referências
íntima relação com o que ocorre no 1. Moretti MP, Schulz JC, Moretti M, Araujo
intraoperatório além de tempo de evolução da D, Cesconetto B. Associação da Anomalia de
doenças e complicações associadas. Por isso a Ebstein com a Síndrome de Wolff-Parkinson-
necessidade de se programar a cirurgia White: relato de caso. Arq Catarinenses de
minimamente, além de solicitar todos os Medicina, 2011;40(4):82-85.
exames importantes para se determinar a 2. Jorge JC, Pires BLS, Rodrigues FAL.
evolução da patologia além de se tentar expor Anomalia de Ebstein: relato de caso. Rev Med
253
2238-5339 © Rev Med Saude Brasilia 2016; 5(2): 246-54
Almeida MMR, Tolentino FDS, Costa LVG, Quirino CMJ, Linhares BN, Teixeira AA
Anomalia de Ebstein

Minas Gerais, 2012;22(4):S29-233. SIAC 2011. Arq Bras Cardiol, 2011;97(5 supl
3. Silva JP, Baumgratz JF, Fonseca L, Afiune 1):1-67.
JY, Franchi SM, Lopes LM, et al. Anomalia 7. Aiello VR, Binotto MA. Remodelamento
de Ebstein: resultados com a reconstrução miocárdico em cardiopatias congênitas. Arq
cônica da valva tricúspide. Arq Bras Cardiol, Bras Cardiol, 2007;88(6):e185-e186.
2004;82(3):212-216. 8. Sá RLMS, Abreu DC. Eletrocardiograma
4. Arruda Filho MB, Maia Jr H, Rayol S, na doença de Ebstein. Rev Bras Cardiol,
Santos FA, Arruda PM, Gusmão CAB, et al. 2010;23(3):197-199.
Anomalia de Ebstein em paciente adulto: 9. Atik, Edmar. Anomalia de Ebstein. Arq
valvuloplastia modificada para correção de Bras Cardiol, 2011;97(5):363-364.
insuficiência tricúspide. Rev Bras Cir 10. Nina RVAH, Gama MEA, Santos AM,
Cardiovasc, 2002;17(2):132-136. Nina VJS, Figueiredo Neto JA, Mendes VGG,
5. Atik E. Correlação Clínico-Radiográfica. et al. O escore de risco ajustado para cirurgia
Arq Bras Cardiol, Mai 2004;82(5):493. em cardiopatias congênitas (RACHS-1) pode
6. Tarasoutchi F, Montera MW, Grinberg M, ser aplicado em nosso meio? Rev Bras Cir
Barbosa MR, Piñeiro DJ, Sánchez CRM, et al. Cardiovasc, 2007;22(4):425-431.
Diretriz Brasileira de Valvopatias - SBC 2011
/ I Diretriz Interamericana de Valvopatias -

254
2238-5339 © Rev Med Saude Brasilia 2016; 5(2): 246-54

Potrebbero piacerti anche