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Artigo Original
RESUMO
Eliene Novais Oliveira1
Larissa Nayla Satomi Nishimura1 Introdução: A avaliação nutricional de crianças internadas é fundamental para uma melhor
Lene Garcia Barbosa2 condução do tratamento clínico e nutricional. Este estudo verificou a existência ou não da
avaliação nutricional em dois hospitais municipais de São Paulo, sendo um deles ligado ao
ensino e o outro não. Além disso, também foi alvo desse estudo o profissional de saúde que
realizou essa avaliação nutricional e os resultados da mesma. Assim, enfatizou-se a importância
do acompanhamento nutricional durante o período de internação e, principalmente, no aten-
dimento pediátrico. Método: Avaliação de prontuários de pacientes de ambos os sexos, entre
zero e 12 anos, internados na enfermaria pediátrica de dois hospitais municipais de São Paulo,
atendidos pelos médicos dessas Instituições no período de 1 a 31 de março de 2012. Resultados:
Verificamos que apenas 76 pacientes dos 207 avaliados, o que equivale a 36,71%, possuíam
alguma forma de avaliação do estado nutricional durante a internação e que 50% destas foram
realizadas por nutricionistas. Conclusões: Apesar da avaliação nutricional ser obrigatória de
qualquer avaliação pediátrica segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, infelizmente, ao
final desse estudo, concluímos que ela está sendo negligenciada nos dois hospitais municipais
de São Paulo que participaram da pesquisa.
ABSTRACT
Unitermos:
Introduction: Nutritional assessment of hospitalized children is fundamental to better conduct the
Avaliação nutricional. Criança. Hospitais.
clinical and nutritional treatment. This study verified the existence or not of nutritional assessment
in two municipal hospitals of São Paulo, one linked to education and the other not. Furthermore,
Keywords:
this study was also targeted the health professional who performed this nutritional assessment and
Nutritional assessment. Child. Hospitals.
the results of it. Thus emphasized the importance of nutritional counseling during the hospital stay
Endereço para correspondência: and especially in pediatric care. Check whether or not the nutritional assessment, the professional
Lene Garcia Barbosa who conducted and the result of children hospitalized in the ward of two municipal hospitals of
Universidade Anhembi Morumbi – São Paulo - Brasil São Paulo, one linked to education and other not, thus emphasizing the importance of nutritional
Rua Dr. Almeida Lima, 1.134 – Mooca – São Paulo, counseling during hospitalization, especially in pediatric care. Methods: Assessment records
SP, Brasil – CEP: 03164-000. of patients of both sexes, between zero and 12 years old, hospitalized in the pediatric ward of
E-mail: lenegb@anhembimorumbi.edu.br two municipal hospitals of São Paulo, attended by doctors of these institutions in the period of 1
March 1 to March 31 of 2012. Results: We found that only 76 of the 207 patients assessed, which
Submissão: equals 36.71% had some form of assessment of nutritional status during hospitalization and that
17 de janeiro de 2015 50% of these assessments was made by nutritionists. Conclusions: Despite the nutritional asses-
sment is mandatory for any pediatric examination according to the Brazilian Society of Pediatrics,
Aceito para publicação: unfortunately, at the end of this study, we conclude that it is being neglected in the two municipal
21 de fevereiro de 2015 hospitals of São Paulo in the survey.
1. Médica formada pela Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, SP, Brasil.
2. Mestre em Biotecnologia pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, médica pediatra e endocrinologista da disciplina
de endocrinologia da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (UNIFESP-EPM); Docente do curso de Medicina da
Universidade Anhembi Morumbi; Professora convidada do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina do ABC, São Paulo, SP, Brasil.
Este estudo teve como objetivo verificar a existência ou Tabela 1 – Principais resultados referentes ao levantamento dos
não da avaliação nutricional nas primeiras 48-72 horas prontuários.
pós-admissão em 2 hospitais do município de São Paulo, Variável Hospital A Hospital B Total
analisar as possíveis intervenções feitas para correção no Sexo
déficit nutricional e verificar qual profissional realiza essa Feminino 60 (46,51%) 37 (47,43%) 97 (46,85%)
avaliação nutricional nas crianças internadas na enfermaria Masculino 69 (53,48%) 41 (52,56%) 110 (53,14%)
pediátrica.
Idade
Recém-nascido 3 (2,32%) ___ 3 (1,44%)
MÉTODO Lactente 89 (68,99%) 53 (67,94%) 142 (68,59%)
Trata-se de um estudo transversal, realizado por meio de Pré-escolar 26 (20,25%) 17 (21,79%) 43 (20,77%)
revisão padronizada dos prontuários médicos de pacientes de Escolar 11 (8,52%) 5 (6,41%) 16 (7,72%)
ambos os sexos, entre 0 e 12 anos, internados na enfermaria Adolescente ___ 3 (3,84%) 3 (1,44%)
pediátrica de dois hospitais municipais de São Paulo (A - Avaliação Nutricional
“não ligado ao ensino”, B - “ligado ao ensino”), atendidos Sim 5 (3,87%) 71 (91,02%) 76 (36,71%)
pelos médicos dessas instituições no período de 1/3/2012 Não 124 (96,12%) 7 (8,90%) 131 (63,28%)
a 31/3/2012. Resultado da Avaliação
Foram verificados nos prontuários o sexo dos pacientes, < Escore-z -2 ___ 5 (7,04%) 5 (6,57%)
a idade, o motivo de internação, se houve ou não avaliação ≥ Escore-z -2 e
nutricional, se sim, por quem foi realizada, o resultado dessa ≤ Escore-z +1 4 (80%) 52 (73,23%) 56 (73,68%)
avaliação nutricional, se houve alguma intercorrência durante ≥ Escore-z +1 1 (20%) 12 (16,90%) 13 (17,10%)
a internação, data de entrada, data da alta e quantos dias Z entre +2 e 0 ___ 2 (2,81%) 2 (2,63%)
cada paciente ficou hospitalizado. Os prontuários foram
verificados manualmente e foram buscadas, variantes como
peso, altura, a relação entre elas, classificação nutricional classificadas em outra parte – 6,69%, asma – 3,34%),
e curvas de crescimento. Foram excluídos do trabalho, seguidas pelas doenças do sistema digestório (diarreia e
pacientes com internação anterior à 1/3/2012 e que não gastroenterite de origem infecciosa presumível – 6,69%),
receberam alta hospitalar até 31/3/12, internados na UTI pelas doenças do sistema geniturinário (infecção do trato
durante o tratamento, cuja terapêutica foi cirúrgica e alimen- urinário – 2,39%) e por outras afecções – 2,92%. Nenhuma
tação por outra via que não a oral. criança apresentou desnutrição ou obesidade como causa
A coleta de dados foi realizada pelas análises, compa- principal de internação.
rações, discussões e conclusões: obtidas do levantamento Apesar de todo o conhecimento em relação à impor-
dos prontuários e das literaturas publicadas sobre o temário: tância da avaliação nutricional, no hospital A, apenas 4
avaliação nutricional em crianças internadas na enfermaria dos 130 pacientes hospitalizados tinham avaliação nutri-
pediátrica de Hospitais Municipais de São Paulo, resultando cional. Já no hospital B, 72 pacientes dos 79 possuíam
em discussão dos resultados. avaliação nutricional. No total, entre os dois hospitais,
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa apenas 36,4% dos pacientes tiveram avaliação nutricional.
(CEP) das Instituições pesquisadas e pelo CEP da Universi- Dessas 76 avaliações nutricionais nos dois hospitais, 38
dade Anhembi Morumbi. foram realizadas por nutricionistas, 37 por médicos e 1
por ambos.
A altura dos pacientes não constava em muitos dos pron-
Resultados
tuários avaliados. Devido a isto, levamos em consideração
Foram avaliados 207 pacientes, sendo 129 destes inter- que o diagnóstico nutricional destes foi realizado avaliando-
nados pelo Hospital A e 78 pelo Hospital B (Tabela 1). Na se o peso para idade, o que sabidamente não é o índice
população avaliada, em ambos os hospitais, predominou o antropométrico mais recomendável para a avaliação do
sexo masculino (Hospital A – 53,48%, Hospital B – 52,56%); excesso de peso entre crianças. Verificamos que, no Hospital
a mediana de idade foi de 54,5 meses. Quanto ao tempo A, 80% das crianças que receberam avaliação nutricional,
de internação hospitalar, este foi de 5,5 dias, em ambos os ou seja, 4 pacientes apresentavam peso adequado para a
hospitais. Os diagnósticos mais frequentes à admissão, em idade e 20%, o que representa apenas 1 criança, teve o
ambos os hospitais, foram as doenças do sistema respira- diagnóstico de peso elevado. Já, no Hospital B, 5 dos 71
tório inferior (broncopneumonia – 28,7%, broncoespasmo (6,41%) pacientes avaliados apresentavam baixo peso, 55
- 17,70%, bronquiolite – 14,35%, pneumonia – 8,61%, (70,5%) peso adequado para a idade e 11 (14,1%), peso
bronquite – 8,61%, outras doenças dos brônquios não elevado para a idade (Figura 1).
Rev Bras Nutr Clin 2015; 30 (1): 71-5
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Oliveira EN et al.
nutricional, assegurar a via de acesso para a terapia nutricional nutricional nesses hospitais, porém este trabalho visa alertar,
indicada e registrar a evolução médica e os procedimentos principalmente os médicos pediatras, quanto à importância
médicos. Já aos nutricionistas cabe realizar a avaliação nutri- de uma avaliação nutricional adequada visando ao bem-estar
cional do paciente com base em protocolo preestabelecido, e ao crescimento saudável de seus pacientes, ou seja, toda a
avaliar qualitativa e quantitativamente as necessidades de equipe, médicos e nutricionistas devem estar empenhados em
nutrientes e acompanhar a evolução nutricional do paciente realizar a avaliação nutricional dos pacientes pediátricos inter-
em terapia nutricional, em conjunto com os médicos10-13. nados, compreender as alterações nutricionais que possam ser
Apesar da atribuição médica, muitas das crianças estu- detectadas precocemente e, consequentemente, proporcionar
dadas neste trabalho foram avaliadas por nutricionistas e não a restauração da saúde desses pacientes.
por pediatras, havendo, em um dos casos, diferença entre a
avaliação nutricional realizada pelo médico e pela nutricionista. Referências
Não houve caso de internação devido a desnutrição ou 1. Marques SBC, Medeiros AM. Sistema digestório e desnutrição.
obesidade, porém, durante a avaliação, percebeu-se que In: Duarte ACG, ed. Avaliação nutricional: aspectos clínicos e
diversas crianças apresentaram risco nutricional. Em nenhum laboratoriais. São Paulo: Atheneu; 2007. p.7-15.
2. Felix DS, Silva MKS. Obesidade. In: Teixeira Neto F, ed. Nutrição
desses casos foi descrito, em prontuário, que durante a clínica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003. p.185-94.
internação houve algum tipo de modificação ou orientação 3. Vannucchi H, Unamuno MRDL, Marchini JS. Avaliação do
dietética e que na alta tenha havido alguma orientação estado nutricional. Medicina. 1996;29(1):5-18.
4. Ferreira HS, França AOS. Evolução do estado nutricional
ao responsável ou encaminhamento dessas crianças para de crianças submetidas à internação hospitalar. J Pediatr.
acompanhamento específico. É interessante ressaltar que 2002;78(6):491-6.
os riscos nutricionais apresentados pelas crianças, sejam 5. Dias MCG, van Aanholt DPJ, Catalani LA, Rey JSF, Gonzales
MC, Coppini L, et al. Triagem e avaliação nutricional. Projeto
eles desvios da normalidade para mais ou para menos,
Diretrizes. São Paulo: Associação Médica Brasileira; Conselho
foram notados pela avaliação da equipe de nutricionistas. A Federal de Medicina; Disponível em: <http://www.projetodire-
triagem e a avaliação nutricional não visam apenas avaliar trizes.org.br/9_volume/triagem_e_avaliacao_do_estado_nutri-
aquelas crianças que já apresentam desnutrição, mas sim, cional.pdf> Acesso em: 8/5/2012.
6. Mello ED, Teixeira LB, Beghetto MG, Luft VC. Desnutrição
aquelas que apresentam risco nutricional elevado para tal. hospitalar cinco anos após o IBRANUTRI. Rev Bras Nutr Clin.
Quanto mais precocemente identificado o risco nutricional, 2003; 18(2):65-9.
mais precocemente será realizada a intervenção nutricional 7. Sociedade Brasileira de Pediatria. Avaliação nutricional da
criança e do adolescente: manual de orientação. São Paulo:
primária, evitando, assim, a instalação definitiva da desnu- Sociedade Brasileira de Pediatria; Departamento de Nutro-
trição e suas consequências. logia; 2009. Disponível em: <http://www.sbp.com.br/pdfs/
Quanto às complicações, poucas foram as relatadas MANUAL-AVAL-NUTR2009.pdf> Acesso em: 8/5/2012.
8. Péret Filho LA, Penna FGC, Rodrigues FG, Santana DP, Hanan
nos prontuários avaliados; porém, um dos pacientes classi- B, Oliveira GNM, et al. Avaliação nutricional de crianças inter-
ficado como desnutrido apresentou uma descompensação nadas em enfermaria geral de um hospital público. Pediatria.
respiratória importante. Não necessariamente são fatos 2005;27(1):12-8.
9. World Health Organization. The WHO Child Growth Standards.
correlatos. Sabemos, entretanto, que crianças com certo Disponível em: http://www.who.int/childgrowth/en/ Acesso em:
grau de desnutrição podem apresentar comprometimento 6/5/2012.
pulmonar, assim como são mais suscetíveis a infecções, 10. ANVISA. Resolução da diretoria colegiada - RCD n° 63,
de 6 de julho de 2000. Brasília: ANVISA; 2000. Disponível
principalmente septicemias, pneumonias e gastroenterites,
em: <http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/61e1d38
por conta, principalmente da deficiência da vitamina A e 0474597399f7bdf3fbc4c6735/RCD+N%C2%B0+63-2000.
do zinco, fatos importantes para a disfunção imunológica e pdf?MOD=AJPERES> Acesso em: 8/5/2012.
aumento da morbimortalidade. 11. Pernetta C. Anamnese. In: Pernetta C, ed. Semiologia pediátrica.
5ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara;1990. p.1-11.
Concluímos então que, a avaliação nutricional que deve 12. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departa-
ser realizada até o segundo dia após a internação (tanto pelo mento de Ações Programáticas Estratégicas, Área Técnica de
Saúde da Criança e Aleitamento Materno. Caderneta da Saúde
médico pediatra como pela nutricionista) e que tem como prin- da Criança. Segunda Tiragem. 3ª ed. Brasília: Ministério da
cipal objetivo estabelecer atitudes de intervenção adequada, Saúde;2007.
apresentando extrema importância para a manutenção da 13. Ribeiro Júnior HC, Mattos AP, Neri DA, Silva EMV, Almeida
saúde, está sendo negligenciada e mal utilizada pelos médicos PS, Valois SS, et al. Manual de terapia nutricional em pedia-
tria. Disponível em: <http://nutriliv.com.br/wp-content/
nos dois hospitais deste trabalho. Não conseguimos verificar uploads/2012/02/Manual-Terapia-Nutricional-em-Pediatria.
maior tempo de internação por conta de falta da avaliação pdf> Acesso em: 8/10/2012.
Local de realização do trabalho: Escola de Medicina da Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, SP, Brasil.
Rev Bras Nutr Clin 2015; 30 (1): 71-5
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