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audiovisual ou qualquer outro meio só pode ser feita com autorização dos autores e
editores (Lei de 11 de Março de 1957 revista).
Edições Prosveta…
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Edições Prosveta 4
Todos os seres dos diferentes reinos da natureza estão ligados entre si. Quer
tenhamos ou não consciência disso, tanto os seres que estão abaixo de nós, como os
que estão acima de nós, estão ligados a nós. Existe uma hierarquia viva na natureza, e é
graças a ela, graças ao elo que nos une a todos os seres superiores, que nós temos a
possibilidade de nos elevar. Mas nós estamos também ligados a todos os seres que
estão abaixo de nós, os animais, as plantas, as pedras, e este elo é extremamente
potente. Se os nossos pensamentos, os nossos sentimentos e os nossos actos são
honestos e puros, receberemos do Céu forças benéficas que se derramam em nós
através desta cadeia viva e ininterrupta de criaturas.
Mas estas correntes divinas não param em nós, atravessam-nos e descem até às
criaturas situadas abaixo de nós e igualmente ligadas a nós nos reinos animal, vegetal e
mineral. É assim que cada estado harmonioso que estamos a viver influencia
beneficamente não somente os seres humanos à nossa volta, mas também todos os
irmãos e irmãs que são também para nós os animais, as plantas e as pedras. E ao
mesmo tempo, graças a uma outra corrente de circulação, as energias sobem do reino
mineral até aos reinos superiores da natureza.
Pode comparar-se este fenómeno às duas correntes que circulam no tronco da
árvore: a corrente descendente transporta a seiva elaborada que alimenta a árvore,
enquanto a corrente ascendente transporta a seiva bruta até às folhas onde ela se
transforma. Na Árvore cósmica, o homem encontra-se também na passagem destas
duas correntes que o atravessam e ele tem que aprender a trabalhar com elas
conscientemente.
Aquele que se esforça por se ligar a esta cadeia viva de seres está a ser
incessantemente alimentado, e dessedentado. Enquanto o que crê que pode separar-se
dela não mais tem possibilidade de haurir de lá energias e debilita-se. Porque, donde
receberá ele o impulso, a inspiração, a sabedoria, o amor, as forças necessárias para a
vida de cada dia. “encontrá-las-á em si mesmo” respondereis vós. Sim, por algum
tempo talvez, mas esgotará rapidamente as suas reservas. Ainda que tenha começado
grandes projectos, deverá interromper esses trabalhos porque é impossível realizar
qualquer coisa grande se não se continua ligado à cadeia viva de criaturas. É
exactamente como uma lâmpada que se imaginasse poder iluminar sem estar ligada à
central eléctrica. Eh não, é a central que lhe envia a corrente; a lâmpada, ela não é
senão um condutor.
Na realidade, quer queiramos quer não, estamos ligados, entroncados na fonte
divina, mas esta ligação deve tornar-se consciente: deste modo beneficiaremos
plenamente dessa ligação para a nossa evolução e a de todas as criaturas do universo.
O homem pode ser poderoso, pode fazer milagres, mas só numa condição: é a de que
se torne um condutor consciente das energias que lhe vem do alto.
Nada é mais importante do que viver em harmonia com o grande corpo em que
estamos alojados e alimentados. Nesta harmonia todos os bens estão incluídos: a saúde,
a força, a alegria, a luz, a inspiração. Aquele que trabalha para alcançar uma tal
harmonia começa a sentir que todo o seu ser vibra em uníssono com a vida universal e
compreende o que é a vida, a criação, o amor… antes não. Antes, é impossível
compreender. Intelectualmente, exteriormente, pode sempre imaginar-se que
compreendemos qualquer coisa, mas não: a compreensão, a verdadeira compreensão
não se alcança através de algumas células do cérebro, consegue-se através de todo o
corpo, até pelos pés, pelos braços, pelo ventre, pelo fígado. Todo o corpo, todas as
células têm que compreender. Compreender é sentir intensamente. Vós sentis, e nesse
momento compreendeis e sabeis: porque vocês saborearam. Nenhuma compreensão
intelectual se pode comparar à sensação.
Todo o universo é harmonia, e se dais muita importância à vossa evolução, ao
vosso desenvolvimento, à vossa vitória definitiva, deveis trabalhar para harmonizar
todo o vosso ser com as forças do universo, com as criaturas de todas as hierarquias
celestes para vibrar em uníssono com elas. O vosso verdadeiro poder está unicamente
na faculdade que vocês têm de vos harmonizardes. Isso, ninguém tem o poder de vo-lo
impedir. Sois livres para meditar sobre a harmonia, de a amar, de a desejar, de a
meterdes em todo o corpo, em cada movimento, em cada palavra, em cada olhar. No
dia em que conseguirdes esta harmonia, compreendereis tudo duma vez e vivereis em
plenitude.
Impregnai-vos da palavra “harmonia”, não penseis em mais nenhuma, guardai-a
dentro de vós como uma espécie de diapasão, e quando vos sentirdes um pouco
inquietos ou perturbados, pegai no diapasão e escutai-o para colocar todo o vosso ser
em consonância com a vida ilimitada, a vida cósmica. Harmonizar-se com algumas
pessoas: a mulher, os filhos, os parentes, os vizinhos, os amigos, é bom, mas é
insuficiente. Muitos estão de acordo com pessoas medíocres, mas em desacordo com a
vida universal, e pouco a pouco esta dissonância infiltra-se neles e corrói todo o seu
organismo físico. É com a vida universal que deveis pôr-vos de acordo, porque é ela
que vos trará tudo aquilo de que necessitais: a saúde, a beleza, a luz, a alegria. E sentir-
vos-eis tão fortes que nem sequer tereis medo da morte. Sim, graças à harmonia
chegareis a vencer a morte.
E um dia também compreendereis as transformações que se operam no mundo
graças ao nosso trabalho sobre a harmonia, em quantas famílias, em quantos países
estamos a inspirar um grande número de pessoas que querem sair da desordem em que
mergulhou o mundo actual. Eis o que ainda vos escapa neste instante, não vedes as
razões pelas quais devemos viver nesta harmonia. É porque não somente começámos,
nós, a saborear o Reino de Deus, mas sobretudo porque enviamos para o mundo
inteiro, até às estrelas, correntes, ondas, forças dum tal poder e dum tal esplendor que,
cedo ou tarde, é toda a humanidade que será obrigada a transformar-se e a viver em
harmonia, em bondade e em paz.
A consciência da unidade
Pensais que, quando os humanos dizem “me, eu”, sabem realmente do que
falam ? Quando dizem: “Eu estou… (doente ou de saúde, infeliz ou feliz), eu quero…
(dinheiro, um automóvel, uma mulher), eu tenho… (tal desejo, tal gosto, tal opinião)”,
pensam que se trata realmente deles e é precisamente aí que se enganam. Como nunca
se analisaram profundamente para conhecer a sua verdadeira natureza, identificam-se
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Omraam Mikhaël Aïvanhov
constantemente com este “eu” representado pelo seu corpo físico, seus instintos, seus
desejos, seus sentimentos, seus pensamentos. Mas agora, se procuram reencontrar-se
pelo estudo e pela meditação, virão a descobrir , por detrás de todas as aparências, que
este eu que procuram se confunde com o próprio Deus. Porque a realidade, é que não
existe uma multidão de seres separados, mas um Ser único que trabalha através de
todos os seres, que os anima e se manifesta neles, mesmo sem o seu conhecimento.
Enquanto não se apercebem desta realidade, os humanos vivem na ilusão; e esta ilusão
afasta-os da Fonte divina, em que todos têm origem, e fá-los viver fora desta unidade
com uma multiplicidade de pequenos “eu” separados que não deixam de se afrontar.
Achais esta ideia de difícil compreensão ? Vou dar-vos um exemplo. Se as
células do nosso corpo tivessem uma consciência individual desenvolvida, conforme o
órgão a que pertencessem, o cérebro, o coração, o fígado, o estômago, etc., sentir-se-
iam estranhas umas das outras porque as suas funções são diferentes. Mas se depois
estas células pudessem subir na sua compreensão, dar-se-iam conta de que é um só ser
que as abraça e as reúne a todas: o próprio homem. Acontece o mesmo com as
criaturas humanas que representam cada uma, uma célula do grande corpo cósmico.
Sim, o Criador é realmente o único ser existente, e todos os humanos não passam de
células espalhadas do seu corpo. E como estas células ficaram num nível de consciência
bastante inferior, opõem-se, hostilizam-se. Estes afrontamentos são unicamente o
resultado da sua ignorância.
Apesar de tudo é necessário que os humanos compreendam que pertencem ao
grande corpo de Deus do qual representam, cada um, uma célula. Por isso, quando
fazem mal ao próximo pensando que lhe é estranho, exterior, e que não sofrerão ao
fazer o mal, enganam-se, porque existe uma ligação entre todas as criaturas vivas.
Quando fazemos mal aos outros, é também a nós que fazemos mal, mesmo que nessa
altura o não sintamos. E acontece o mesmo quando fazemos o bem: é também a nós
que o fazemos. Quantos verificaram que se um ser que se ama sofre ou é agredido, é
como se fossem eles os agredidos, e se lhe acontece uma coisa feliz, regozijam-se como
se aquela coisa feliz lhes acontecesse a eles. É porque instintivamente, intuitivamente,
entraram na consciência da unidade. E é esta consciência de unidade que é o
fundamento da vida moral.
O Criador previu que, para o equilíbrio da criação, cada criatura teria aquilo de
que tem necessidade para viver e se defender. Por isso é que quando os humanos se
confrontam e destroem, trabalham contra o Criador. Ainda que Ele os tenha criado
diferentes, isso não é para que as diferenças lhes sirvam para se combaterem. Todos
vieram de Deus, e Deus sofre por vê-los a digladiarem-se. Julgam-se muitas vezes
justificados nas guerras que pretendem conduzir em nome de interesses superiores,
enquanto na verdade são inspirados pela ignorância e pelo egoísmo. A defesa destes
interesses, desde que vão contra o interesse da criação no seu todo, levá-los-á à ruína.
Sim, o verdadeiro interesse dos humanos confunde-se com o da Divindade. Só o
encontro dos interesses do homem com os interesses de Deus produz bênçãos para
todos.
cósmica que criou esta diversidade de criaturas e não devemos tentar nivelá-las. Cada
um tem o direito de se manifestar com as diferenças, a originalidade, mas na condição
de se harmonizar com o conjunto, como numa orquestra. Pela forma, material,
sonoridade, quantas diferenças há ente o violino, o violoncelo, o piano, o oboé, a
flauta, a harpa, o trompete, os címbalos, o bombo ! Mas desta diversidade nasce uma
harmonia perfeita.
Cada indivíduo é independente, autónomo, bem entendido, mas está também
ligado à colectividade humana, e além disso está ainda ligado a todos os reinos da
natureza, à colectividade cósmica. Por isso nós vivemos simultaneamente duas vidas.
Para a maior parte das pessoas isto passa-se no inconsciente, mas é desejável que isto
se torne consciente. Aquele que tem tendência para fundir-se na vida cósmica não deve
perder a consciência do seu “ego”, para que possa pensar e agir sempre como um ser
responsável. E aquele que se sente um indivíduo muito diferente dos outros, mesmo
salvaguardando o sentimento do seu próprio carácter, deve ter consciência de que é
uma célula do organismo cósmico, que pertence a um conjunto.
Sim, mas o ser humano não pertence a este conjunto que é o universo como se
fosse somente uma pedra, uma planta ou animal. Enquanto ser pensante, tem outro
papel a desempenhar: deve participar na construção deste edifício que é a vida
colectiva. Se só trabalhar para si próprio, nada pode acontecer-lhe de bom. E vós
direis: “Mas como, se eu trabalho para mim, sempre ganho qualquer coisa!”. Não,
porque este “eu” para o qual trabalhais, o eu egoísta, separado, é um precipício e
trabalhando para ele, vós lançais tudo nesse precipício. Não é assim que se trabalha. Os
individualistas, os egoístas não vêem tudo o que poderiam ganhar trabalhando para a
colectividade. Dizem: “Eu não sou burro, eu, trabalho para mim, desenrasco-me…” E é
precisamente nesse momento que perdem tudo.
Unicamente, ouvi-me bem, quando falo de “colectividade”, não se trata
unicamente da colectividade humana, mas também do universo, de todas as criaturas do
universo, do próprio Deus. Esta colectividade, esta imensidade para a qual trabalhais é
como um banco, e tudo o que fizerdes por ele um dia ser-vos-á devolvido aumentado.
Como o universo faz todos os dias negócios formidáveis, …enriquece continuamente
com novas constelações, novas nebulosas, novas galáxias, todas estas riquezas virão
um dia até vós. Não virão imediatamente, é evidente, mas virão.
Quando depositais uma quantia no banco, não é no dia seguinte que recebeis os
juros, deveis esperar, e quanto mais esperais, mais elevados são os juros. No plano
espiritual a lei é exactamente a mesma. Trabalhais com muito amor, muita paciência,
muita confiança, e inicialmente não tendes qualquer resultado. Não percam a coragem.
Se vos desencorajais, é porque não decifrastes bem o sentido das leis que regem a vida
em sociedade. Sim, deveis conhecer as leis do banco e da administração. Se as
conhecerdes, compreendereis que é preciso esperar. Depois as riquezas cairão de todos
os lados, e mesmo que tenteis escapar-vos, é impossível, todo o universo vos lançará
riquezas extraordinárias sobre a cabeça, porque fostes vós que as provocastes. É isto, a
justiça !
A ciência da vida
Quando os cientistas descrevem um mineral, um vegetal, um animal ou um ser
humano, nada há a criticar-lhes, o que dizem é verdade. Mas esta verdade é parcial.
Para que seja completa é preciso que recoloquem o objecto do seu estudo na vida
cósmica a que ele pertence. Desligados desta vida, a pedra, a planta, o animal, o
homem estão privados do essencial. É por isso que, enquanto os pesquisadores
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continuarem nesta via, o que chamam de verdade científica, será uma verdade
incompleta, mutilada.
Entendei-me bem, não se trata de por em dúvida o valor e o interesse da
ciência. O verdadeiro problema está fora, na cabeça dos pesquisadores, na sua atitude
perante a vida, na sua incapacidade de ligar os objectos particulares do seu estudo com
o conjunto da vida. Os seres e as coisas não existem separadamente, existem como
partes dum todo, e as partes estão ligadas entre si. Isola-se um ramo, uma folha, um
fruto, para os estudar. Mas não, é na árvore que é preciso estudar o fruto para
compreender como se produz o ponto de encontro de todas as energias que circulam.
Ouve-se sempre elogiar a “verdade científica”. Mas mais importante que a verdade
científica, existe a verdade da vida. E a verdade da vida, é aprender a colocar todas as
vidas no edifício cósmico para ver como elas vibram em harmonia e participam na vida
do todo.
Portanto, não basta observar e estudar com precisão todos os elementos da
natureza, é preciso ir mais longe e ver as ligações que existem entre eles para
compreender como circula dum para o outro, esta qualquer coisa que não possuem
separadamente: a vida. O verdadeiro saber encontra-se na vida. Separai os elementos, a
vida já lá não está. Saber que um mineral, ou um vegetal tem tal propriedade, tal cheiro,
tal sabor, tal cor, não é essencial, porque enquanto os considerais isoladamente,
separai-los da vida. Ligai-os a todos os outros elementos da terra e do céu, a vida
aparece e vós possuireis o verdadeiro saber.
Qualquer que seja o campo em que vós estudeis e em que exerçais a vossa
actividade, deveis colocar a vida no centro e ver esta vida na sua dimensão mais
elevada, mais ampla. E uma vez que estejais ancorados no essencial, podeis permitir-
vos ir explorar tudo o que quiserdes. Na medida em que já tiverdes trabalhado no
essencial, tudo o que fizerdes a seguir beneficia dessa luz e para vós toma uma outra
dimensão. Não somente alcançareis um melhor conhecimento das coisas pela
inteligência, mas ao mesmo tempo todo um processo de regeneração se desencadeia no
mais íntimo de vós. Porque entrastes de novo em relação com o todo: comungais com
as correntes subtis do universo, estais mergulhados no seio da vida cósmica, participais
desta vida em harmonia com todas as criaturas visíveis e invisíveis, e o vosso campo
consciente alarga-se.
Esta compreensão mais vasta da ciência, é ela também, a verdadeira religião.
Mas qual ! Para que serve repetir que a palavra religião vem do latim “religare”: ligar,
se na sua cabeça, as pessoas só fazem separações ? Direis: “Mas a ligação de que eles
falam é a ligação com Deus !” Eu bem vejo, somente que significa uma ligação com
Deus se essa ligação é acompanhada dum separação com todo o resto ? A mesma
ligação que liga o Criador às criaturas deve ligar todas as criaturas entre si, e também
todos os elementos da criação. É a compreensão e o sentimento desta ligação que é a
verdadeira religião. Então, não obstante, o que quer que possais ver, ouvir, estudar ou
tocar, pensai em encontrar-lhe um lugar no Todo, não o deixeis de fora, desligado,
separado da Árvore da Vida. É esta atitude, esta maneira de compreender as coisas que
despertará em vós, pouco a pouco, todos os centros subtis. A estes centros, a mística
hindu chama “chakras”; existem muitos métodos para os desenvolver e alguns são
muito perigosos. O melhor método, o que eu vos recomendo, é trabalhar para realizar
em vós a unidade da vida.
Das pedras e das plantas até aos arcanjos e até Deus, tudo o que tem uma
existência no universo existe também no homem. É por isso que o universo é chamado
de macrocosmo (o grande mundo) e o homem o microcosmo (o pequeno mundo). O
homem é infinitamente pequeno, e o universo é infinitamente grande, mas entre o
infinitamente pequeno e o infinitamente grande, existe uma grande quantidade de
correspondências. Todos os órgãos do nosso corpo físico assim como os do nosso
corpo psíquico e espiritual estão em afinidade com regiões do cosmos. Evidentemente,
não é preciso imaginar que o cosmo tem órgãos como os nossos, mas na sua essência,
os nossos órgãos estão em correspondência absoluta com os órgãos do cosmo, e pela
lei da afinidade podemos tocar no espaço, em forças e em centros que correspondem a
certas forças e certos centros do nosso corpo. Este conhecimento das correspondências
abre-nos possibilidades inauditas. Toda a Ciência iniciática se funda nesta lei das
correspondências.
Entre o homem e o universo, entre o microcosmo e o macrocosmo, existe
portanto uma relação ideal, mas pela sua maneira de viver, o homem rompeu esta
relação. Ele deve, pois, esforçar-se por restabelece-la, e pode faze-lo, porque quando
saiu das oficinas do Criador, recebeu tudo o que lhe era necessário para se desenvolver
e encontrar, se se desviasse, o caminho da pátria celeste. Todos os espíritos que vem
encarnar na terra possuem órgãos e instrumentos que correspondem às qualidades e
virtudes do mundo divino e, porque é assim, são-lhe abertas todas as possibilidades,
mas na condição de conhecer as leis.
E quais são estas leis ? Suponde que tendes dois diapasões absolutamente
idênticos: se fizerdes vibrar um, reparai que o outro, em que não tocastes, também
entra em vibração. Diz-se que há ressonância. Toda a gente conhece este fenómeno,
mas não se pára para aprofundar e compreender que se passa a mesma coisa com o ser
humano. Se ele chegar a afinar o seu ser físico e o seu ser psíquico com as vibrações do
universo, pode atingir os poderes celestes para fazer uma troca com eles e receber
assim ajuda e reconforto. Sim, é uma maneira de comunicar. Vocês falam e nós
ouvimos; podeis mesmo servir-vos de certas forças para as fazer vir até junto vós e
beneficiar delas.
Suponhamos que estais tristes e angustiados: que fazer ? Ora bem, além de ficar
a chorar e a andar às voltas, porque não ir até junto dos seres que podem ajudar-nos ?
Direis: “Onde é que estão ? Onde os vou encontrar ? “ Mas estão aí, estão sempre aí, e
através do pensamento podeis dirigir-vos a eles e eles atenderão graças à lei acústica de
ressonância, à lei da afinidade. Depois de conhecer esta lei, compreendereis quão
importante é irdes mais longe, exceder-vos para tocar as cordas mais sensíveis, mais
subtis do vosso ser e faze-las vibrar, sabendo que há forças, entidades e regiões que
responderão. É a qualidade dos vossos pensamentos, dos vossos sentimentos, dos
vossos desejos, que determina em absoluto a natureza dos elementos e das forças que
serão despertadas muito longe, num qualquer lugar no espaço, e que, cedo ou tarde,
descerão até vós.
Então, atenção, agora que conheceis esta lei da afinidade, que é a lei mágica por
excelência, a base de toda a criação, podeis começar imediatamente a trabalhar. Pouco
a pouco chegareis a reconstituir tudo em vós, produzindo com os vossos pensamentos
e os vossos sentimentos, vibrações muito mais elevadas que irão muito longe, pelo
espaço, procurar entre os milhões de elementos existentes os que lhes correspondem.
no dia em que se apercebe que se está comprometido num caminho que se torna
perigoso, é tão difícil voltar atrás !
Direis: “Mas como fazer ? A maior parte de nós não tem meios para intervir
nos negócios do país”. Não digo que deveis intervir directamente, mas compreender
que a economia não é unicamente trabalho dos economistas, é também trabalho vosso.
Enquanto ser humano, enquanto célula dum organismo vivo, podemos agir, mas para
isso devemos desenvolver a nossa consciência e o nosso sentido de responsabilidade.
Se esta tomada de consciência não se faz, é a economia que, em vez de trazer
prosperidade, levará à ruína de muitos países.
Para compreender a economia, é preciso escutar as lições da natureza. Direis:
“Mas a natureza não nos dá nenhuma lição de economia, pelo contrário. Toda a
vegetação, todos os animais, todos os humanos que não cessam de nascer e de morrer
desde há milhões de anos, que desperdício! Para que serviram todas estas vidas ?” Para
nada, certamente, no sentido do proveito imediato que vós dais à palavra “servir”. Mas
todas as vidas foram úteis na economia cósmica, pertenceram ao ciclo da vida. Não
esqueçam que, para a natureza, a morte faz parte da vida e tudo o que morre entra na
criação doutras existências.
A natureza nunca ficou embaraçada pelos milhões e milhões de cadáveres de
seres humanos, de animais e de plantas: eles voltam à terra a fim de dar princípio a
outros seres vivos. Entretanto vede as dificuldades que os humanos encontram para de
desembaraçar dos seus resíduos ! Fabricaram materiais, produtos que, depois de
utilizados, não se decompõem naturalmente, ou que poluem a terra, o ar, a água, etc. É
inútil estar a enumerá-los, vocês sabem quais são. Direis: “Mas as matérias plásticas, as
pilhas eléctricas, a gasolina, a energia nuclear, etc., representam um grande progresso.”
Com certeza, eu não digo o contrário. Mas ao mesmo tempo que se realizava este
progresso, era preciso reflectir nos inconvenientes que eles nos podiam trazer. Ora, isto
foi o que não se fez: era preciso vender rapidamente.
Os humanos puseram o progresso técnico ao serviço da sua avidez, com risco
de destruir até as bases da sua existência na terra. É por isso que o progresso técnico
não é verdadeiramente o progresso. Será que o verdadeiro progresso consiste em
enviar engenhos para outros planetas ? Para fazer o quê , afinal ? Para explorar os seus
recursos e levar para lá a mesma desordem que existe na terra ? Para se combater no
espaço ? Para ir semear a desordem em todo o universo, agora ?… Seguramente, nada
há de mal em querer explorar o cosmos, mas não antes de ter encontrado a melhor
maneira. Os humanos nada respeitam, eles julgam-se donos do universo, estão prontos
a revolver tudo para satisfazer a sua curiosidade ou a sua cobiça. Ora bem, é preciso
que saibam que um dia devem pagar muito caro este desrespeito e esta violência.
coração, a nossa inteligência, a nossa alma e o nosso espírito são capazes de produzir
de bom pode ser um pagamento. No plano físico somos limitados, e a natureza não nos
pedirá a devolução dos alimentos, da água e do ar que utilizámos. Mas no plano
espiritual as nossas possibilidades são infinitas, e aí podemos devolver o cêntuplo de
tudo o que a natureza nos deu.
Quando o homem decide servir-se de todas as faculdades que Deus lhe deu para
caminhar conscientemente no caminho da luz e do sacrifício, está comprometido com o
serviço divino e Deus retribui dando-lhe a inteligência, a bondade, a beleza, etc. Ora
bem, é com este dinheiro que ele pode pagar tudo o que vai buscar à natureza. O que
não está comprometido com a administração celeste não recebe nada, está desfalcado,
não tem dinheiro para pagar aquilo que usa. Come, bebe, respira, passeia, faz negócios,
mas cedo ou tarde os credores, as forças da natureza vêm despojá-lo, porque não se
pode pagar com a negligência, a preguiça, a falta de respeito, a ingratidão. Então os
credores cobram-se na carne e nos ossos do seu devedor: levam-lhe a vida.
A natureza expõe à nossa frente todas as riquezas, temos o direito de nos
abastecer delas, está tudo à nossa disposição, mas com a condição de pagarmos. Ah,
estais admirados porque não são gratuitos ?… É gratuito, mas devem, vocês também,
dar gratuitamente ! Deus dá-nos tudo gratuitamente e nós devemos fazer da mesma
maneira. Nós pomo-nos ao serviço do Senhor e o Senhor em paga dá-nos a luz, o
amor, a força, a paz. Ora bem, esta luz, este amor, esta força, esta paz, são o dinheiro
que nos permite entrar nos grandes armazéns da natureza e pagar. O que não paga com
a ajuda deste dinheiro dado por Deus, ver-se-á obrigado a pagar com sofrimentos, com
doenças, com tormentos.
Nós somos convidados para a grande casa do Senhor; o nosso hospedeiro é
muito acolhedor, muito generoso, mas se nunca pensarmos em dar-Lhe qualquer coisa
em troca, Ele olhar-nos-á como crianças atrasadas que não souberam crescer. Ide
perguntar às criancinhas se pensam que devem alguma coisa aos seus pais. Para elas é
normal pedir e pegar sempre. Felizmente, quando crescem, ao menos em algumas delas,
a consciência acorda e é nesse momento que começam a tornar-se adultos. Ora bem,
nós também, nós devemos tornar-nos adultos e compreender que devemos alguma
coisa à nossa Mãe Natureza e ao nosso Pai, o Criador.
O homem come, todas as criaturas comem, mas porquê ? Direis que é para receber
forças. Sim, mas não existe outra razão ? Tudo o que fazemos não tem só uma razão,
só um fim, e se comemos, não é só para nos mantermos com vida e saúde…
Reparai, que fazem as minhocas ? Elas engolem a terra e expelem-na de seguida.
Fazendo-a passar assim através de si, as minhocas trabalham a terra a fim de a arejar, de
a tornar mais rica, mais fértil. Ora bem, o ser humano não faz outra coisa com a
alimentação. Pelas suas faculdades psíquicas, espirituais, o homem pertence a um grau
de evolução muito superior ao da matéria que absorve, e então passando através dele, a
matéria enriquece-se, purifica-se.
Todas as criaturas se alimentam: as plantas, os animais, os homens, ao alimentar-se
transformam a matéria que absorvem impregnando-lhe elementos que ela não possuía.
Como se fosse um dever para cada reino da natureza absorver matéria de reinos
inferiores a fim de a fazer evoluir. A Inteligência cósmica sem dúvida poderia encontrar
outros meios, mas foi aquele que ela escolheu: decidiu que, para viver, cada criatura
absorveria matéria do reino que lhe é inferior para a fazer circular no reino superior. Eis
o que fazemos quando comemos.
Na realidade, a questão não é somente fazer passar a matéria através do nosso
estômago, mas também através dos nossos pulmões, nosso coração, nosso cérebro.
Não é somente ao comer que o homem melhora a matéria, mas através de todas as
acções: ao respirar, ao trabalhar, ao falar, ao olhar… Vede até onde vai a tarefa do
homem. É por isso que logo após a sua morte a matéria do seu corpo se desintegra e
volta aos quatro elementos - a terra, a água, o ar, o fogo - as partículas que a
constituem tornam-se mais vivas, mais subtis, mais expressivas e vão servir para outras
formas, outras criações duma qualidade superior. Certamente pode acontecer que pelo
contrário estas partículas estejam aviltadas por causa da existência animal ou criminosa
que o homem levou e elas não serão pois utilizadas senão para criações grosseiras.
Reparai até onde vai a responsabilidade do homem: ele é até responsável por aquilo
que deixa de si após a sua morte, de todas as partículas do seu corpo: impregnou-as de
luz, de amor, de bondade, de pureza ou pelo contrário, de vibrações criminosas ?…
Sim, ele continua a ser responsável mesmo depois da morte. Eis as verdades que a
maior parte das pessoas ignoram, elas não sabem até onde vai a sua responsabilidade.
Além disso, a consciência da responsabilidade é a consciência mais elevada que existe.
O homem tem que compreender que recebeu esta missão grandiosa de transformar
e sublimar a matéria da criação: tudo o que come, tudo o que toca, tudo o que vê, ele
tem que melhorar, embelezar. Eis a nossa tarefa: fazer passar a matéria através de nós a
fim de a fazer sair divina. Enquanto não compreendermos isto tudo o que fizermos é
estúpido, insensato, a nossa própria existência não terá qualquer sentido. Nós temos a
tarefa de colocar o selo do espírito na matéria, de espiritualizar tudo, de tudo divinizar,
e se lá chegarmos seremos reconhecidos, apreciados, escolhidos pelos espíritos
luminosos que ficam junto de nós porque nós compreendemos o sentido da vida.
Quando fazemos esforços para avançarmos, para nos ultrapassarmos, para criarmos
qualquer coisa que é mais que nós próprios, imprimimos à matéria o selo do espírito, e
assim cumprimos a nossa tarefa de filhos de Deus.
Podeis fazer este exercício: ao expirar o ar, pensai que começais a dilatar-vos
até tocar os confins do universo… Depois, ao inspirar, regressais para dentro de vós,
para o vosso eu que é como que um ponto imperceptível, o centro dum círculo
infinito… Novamente, voltais a dilatar-vos, de novo voltais a contrair-vos…
Descobrireis assim este movimento de fluxo e refluxo que é a chave de todos os ritmos
do universo. Procurando tornar este movimento consciente em vós próprios, entrareis
na harmonia cósmica, e faz-se uma troca entre o universo e vós, porque ao respirar
recebeis elementos do espaço, e ao expirar projectais de volta qualquer coisa do vosso
coração e da vossa alma. Aquele que sabe harmonizar-se com a respiração cósmica
entra na consciência divina.
Mas quantos dentre vós estão preparados para compreender a dimensão
espiritual da respiração ? Se sentísseis esta dimensão, trabalharíeis toda a vida a
inspirar a força e a luz de Deus, depois a dar logo esta luz ao mundo inteiro. Porque a
expiração é também isso: distribuir a luz que se foi buscar junto a Deus.
Inspirar, expirar… inspirar, expirar… É preciso saber que a respiração diz
respeito a todas as manifestações da vida espiritual. A meditação é uma respiração, a
oração é uma respiração, o êxtase é uma respiração, toda a comunicação com o Céu é
uma respiração.
Aquele que aprende a respirar conscientemente ilumina a sua inteligência,
reanima o seu coração fortifica a sua vontade, mas prepara também melhores condições
para as suas reencarnações futuras. Porque ao respirar com uma consciência elevada,
ele entra em harmonia com as entidades mais evoluídas, atrai-as, cria uma ligação com
elas. Então estas inteligências luminosas aceitam vir trabalhar nele e, um dia, quando ele
deixar a terra, encontrará nos outros mundos estes amigos com os quais já terá
aprendido a trabalhar.
E nunca esqueçais que o vosso organismo forma uma sociedade cujos membros
se esforçam por manter a unidade; presentemente ainda não conheceis os associados
que vivem aí, dentro de vós, mas no dia em que fordes para o outro mundo, encontrá-
los-eis e sabereis quem eram os amigos que habitavam na vossa casa.
que as pedras, as plantas, os animais, as estrelas são vivos e inteligentes, é a vida que
introduzimos também em nós. E porque a natureza é viva e inteligente, devemos estar
extremamente atentos, respeitosos para com ela, e chegar-nos a ela com um sentimento
sagrado.
Quantos de entre vós pensam: “Que importa se ajo para com a natureza com
respeito ou não ! Para ela, isso não muda nada, não lhe faço bem nem mal”. Na
realidade, se tendes que respeitar a natureza, não é certamente por causa dela, é por
vossa causa. Se fordes atenciosos para com as pedras, as plantas, os animais e os
homens, e até com os objectos que vos rodeiam, a vossa consciência da vida
desenvolve-se, aprofunda-se e vós sois enriquecidos com toda esta vida que respira e
vibra à vossa volta. Sem dúvida que nunca pensastes nisto, e é por isso que vos sentis
muitas vezes desorientados, angustiados, no vazio. Quereis sair desta situação ? Pensai
que estais ligados às forças e às entidades luminosas da natureza e que podeis
comunicar com elas. Esta comunhão ininterrupta todos os dias com uma multidão de
criaturas, é a verdadeira vida. “Mas, direis vós, como fazer ?” Pelo amor. Não há outra
meio senão o amor. Se amais a natureza, ela falará em vós, porque vós também, vós
sois uma parte da natureza. Com certeza, é precisa toda uma preparação para atingir
este estado de consciência. Mas no dia em que o atingis, vós sentir-vos-eis na luz e na
paz, protegidos pela Mãe natureza que vos reconhece como seu filho, e ela acarinha-
vos, toma-vos nos seus braços, dá-vos as suas alegrias… Vós não sabeis mesmo donde
vem estas alegrias, mas vós ficais felizes, como se o céu e a terra vos pertencessem.
obedecem porque eles são feitos assim, não tem qualquer consciência moral, fazem da
mesma maneira o bem e o mal. Sabendo isto, são os humanos que devem mostrar-se
vigilantes e aprender a comprometê-los unicamente com vista ao trabalho divino.
Imaginais que só os homens podem ajudar os homens, e que não podem ajudá-
los senão por uma acção política, económica, social. Não, neste organismo vivo e
consciente que é a natureza e ao qual pertencemos, uma multidão de entidades estão
preparadas para contribuir para a evolução da humanidade. A terra, a água, o ar e o
fogo, os quatro elementos juraram diante do Eterno ajudar todos os que trabalham para
tornar-se criaturas de paz, de harmonia e de beleza.
Apesar de tudo, onde quer que andeis na natureza, pensai em dirigir-vos a todos
os seres que habitam as grutas, as árvores, os regatos, os lagos, e até o sol e as estrelas:
pedi-lhes para virem participar na exaltação do Reino de Deus na terra. Um dia,
milhões de espíritos pôr-se-ão em marcha para trabalhar nos corações e nos cérebros
humanos, e o Céu reconhecerá em vós um construtor da vida nova, uma fonte, um filho
de Deus.
que a habitam. Tocai unicamente uma pedra com amor: ela não mais é a mesma, ela
aceita-vos, ela vibra em uníssono convosco, ela ama-vos também.
Mas sim ! Tudo na terra vive, e compete-vos saber como trabalhar para que esta
vida venha até vós. No dia em que souberdes manter uma relação consciente com a
criação, sentireis a verdadeira vida penetrar em vós.
((FIM))
I - A estrutura do universo
A Ciência iniciática sempre salientou a analogia que existe entre o universo, o
macrocosmo, e o ser humano, o microcosmo.
Imaginem que alguém que não conhecesse absolutamente nada de anatomia, e
não tivesse qualquer ideia da maneira como o ser humano é feito, se interrogasse: "Mas
então como é que se combinaram as coisas para fazer uma criatura que anda, respira,
come, exprime pensamentos e sentimentos ?" Seria necessário mostrar-lhe que, debaixo
da pele que ele vê, existe carne, órgãos, músculos, vasos sanguíneos, nervos, etc., que
ele não vê, e ainda um esqueleto que sustenta o conjunto. Ora bem, numa escala
gigantesca, passa-se o mesmo com o universo. O universo é um corpo. O universo é o
corpo de Deus e o nosso corpo físico é feito à sua imagem. Então, do mesmo modo
que o nosso corpo possui uma estrutura, um esqueleto, sem o qual se desfaria, também
o universo é sustentado por uma estrutura graças à qual tudo se mantém equilibrado,
desde as galáxias até às mais ínfimas partículas da matéria que constituem os átomos. É
graças a esta estrutura que a vida é possível. É a ela que chamamos o mundo dos
elementos.
Para compreender como o universo é construído e como funciona, é necessário
poder contemplar o esqueleto do corpo cósmico dos pés à cabeça. É o que me tenho
esforçado por fazer há anos e anos. Pela meditação, pela contemplação, procurei
descobrir as leis que presidiram à construção do universo. Eu saí do meu corpo físico
para me elevar até ao alto donde se pode observar o edifício na totalidade. Sem dúvida
que, sobre a criação, nunca se chega a ter o ponto de vista do Criador, mas é preciso
fazermos o possível para nos aproximarmos dele. O único meio de lá chegar é fugir às
atracções e às limitações da terra. Porque a verdade, inicialmente é um ponto de vista, e
este ponto de vista só pode alcançar-se medindo as distâncias relativamente ao mundo
que vemos todos os dias.
Certamente, se nunca reflectistes sobre esta questão, é-vos difícil compreender-
me quando vos falo de experiências que fiz fora do meu corpo. Talvez compreendam
melhor se eu comparar estas experiências às dos astronautas que viajaram no espaço:
eles têm da terra e do universo um outro ponto de vista. Ora bem, cada ser humano
possui em si próprio o equivalente a estas máquinas que permitem aos astronautas
viajar no espaço. O Criador colocou nele centros e corpos subtis que lhe permitem
entrar em contacto com as realidades espirituais, tal como entra em contacto com as
realidades materiais através dos cinco sentidos.
Conheceremos a verdade no dia em que chegarmos a abranger com um só olhar
a estrutura deste gigantesco edifício da criação, do cimo até à base. O mundo
apresenta-se-nos como uma multidão de criaturas, elementos, objectos, fenómenos
dispersos e sem ligação entre eles. Na realidade existe uma ordem, existem ligações,
mas não podem ser abarcados na sua totalidade pela inteligência. Por isso, é-me
impossível apresentar-vos duma só vez este conjunto na sua totalidade; sou obrigado a
dar-vos de cada vez uma visão limitada. Cada uma das minhas conferências é um
elemento desta abordagem, e quando, por um trabalho interior vós tiverdes podido
juntar todos estes elementos, como numa iluminação divina, tereis conseguido abarcar
esta unidade do mundo. Por mim, não posso explicar-vos mais.
Aliás, há questões que os iniciados preferem pôr de lado, porque é impossível
explicá-los com argumentos objectivos, intelectuais; eles bem tentaram mas de nada
serviu. O único método eficaz seria poder fazer voltar os discípulos ao estado de
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espírito primordial em que tudo se torna evidente sem explicação. Senão, seria como
querer fazer compreender a um cego as cores do nascer do sol, ou a um surdo uma
missa de Mozart ou Beethoven: todas as explicações seriam inúteis. Mas dai a um a
vista e ao outro o ouvido, e nesse momento, já não é preciso explicar.
Quando o primeiro homem vivia ainda no seio do Eterno em comunicação
constante com Ele nada lhe era escondido. A vida divina na qual ele estava mergulhado
era a sua única e perfeita fonte de conhecimentos. Conhecer uma coisa é saboreá-la. Se
quereis reencontrar alguma coisa deste conhecimento primordial, deveis comunicar
com o universo, com o oceano de luz cósmica. Enquanto não conseguimos elevarmo-
nos ao estado de consciência que se chama comunhão, não experimentamos a
realidade, não a podemos conhecer. Talvez façamos suposições, teorias que se
aproximem mais ou menos da verdade, mas nunca é exactamente o mesmo. "Então,
direis vós, para que servem as explicações?” Servem para estimular a vossa
curiosidade, para vos dar a necessidade de fazer algum esforço, algumas experiências,
para poder viver finalmente outros estados. Tudo o que vos tenho dito há anos é fruto
da visão que tenho da ordem sublime que reina no universo. Dou-vos elementos, dou-
vos a direcção, e se souberdes como trabalhar, também a vós será dada esta visão da
verdade.
isso fosse a verdade... A questão não é crer ou não crer ! A questão é estudar, verificar.
É assim que nos aproximamos da verdade. O que diz "eu creio", sabe porque acredita ?
O que é que inspirou esta crença ? Em quantas coisas os humanos acreditam porque
isso lhes convém, porque tem interesse nisso, porque corresponde às suas necessidades,
à sua sensibilidade, aos seus interesses !... Ora bem, acreditem em tudo o que quiserem,
têm esse direito, mas não imaginem que aquilo em que acreditam é a verdade, e
sobretudo, que deixem de querer impô-la aos outros !
Também se ouve dizer muitas vezes: "Ah, reparai neste homem, tem convicções,
proclama-as, defende-as, e está pronto a bater-se por elas, é formidável !"
Evidentemente, não se pode criticar ninguém por ter convicções, porque não se pode
viver sem convicções. Mas uma vez mais, o que é grave, é nunca se questionar sobre se
as convicções estão verdadeiramente fundamentadas, se não é necessário reve-las. Do
ponto de vista da sabedoria, a atitude de certos "homens de convicção" é antes de mais
o orgulho ou a asneira, e as consequências podem ser terríveis: o fanatismo, a
crueldade.
Então, ao menos vocês, deixai de dizer: "Eu acredito ou eu não acredito", porque
aquilo em que acreditais não altera nada à realidade. A única coisa com que deveis
preocupar-vos, é a de saber se as vossas crenças vos tornam melhores, mais fortes,
mais generosos, mais compreensivos acerca dos outros. E se não é este o caso, não
tendes de que ficar orgulhosos.
O que é sábio diz: "Mas quem sou eu, meu Deus, para me pronunciar ? Quando
penso na quantidade de erros e estragos eu já fiz durante a minha vida, quantos reveses,
quantas decepções eu sofri ! Então como posso estar tão seguro das minhas opiniões ?
" Para perceber perfeitamente as coisas e raciocinar correctamente em consequência
desta percepção, é necessário ter instrumentos em bom estado de funcionamento. Quais
são estes instrumentos ? A inteligência, o coração e a vontade. Ora, somos obrigados a
reconhecer que na maior parte dos humanos estes instrumentos estão desregulados:
muitos conflitos, nervosismo, emoções, influências negativas, e eis a inteligência
sombria, o coração arrefecido, a vontade enfraquecida. Como entender a verdade de
tais Instrumentos ?... Claro está, é preciso fazer-lhes uma revisão.
Os humanos acham indispensável ter marcas e referências no plano físico que
ninguém tem o direito de vir fiscalizar. Durante anos, por exemplo, foi em Sèvres, no
Serviço de Pesos e Medidas, que se guardaram os padrões que serviam de referência
para todo o mundo. As referências são sempre necessárias, porque se cada um decidisse
conforme mais lhe agradasse sobre o comprimento do metro ou do valor do
quilograma, seria uma desordem indescritível. O mesmo se passa com as horas: todos
os países do mundo tiveram que se entender sobre os fusos horários, senão, nem o
telefone, nem os comboios, nem os aviões poderiam funcionar correctamente. E aos
aparelhos, às máquinas, aos veículos que são utilizados na vida do dia a dia, é
necessário fazer revisões de tempos em tempos, e até todos os dias, para alguns, para
ver se não estão desafinados, se o mecanismo não está estragado.
Já pensaram no que se passaria com os automóveis, os comboios e os aviões se
nunca se verificassem os travões, o motor, o painel de instrumentos !... Mas o homem,
ele próprio, pensa que nunca há nada a verificar em si: está acima disto tudo! Eis a
razão de haver tantos acidentes: todas as dificuldades, todas as infelicidades dos
humanos acontecem porque a sua inteligência, o seu coração e a sua vontade estão
avariados. Por isso, é necessário que de tempos a tempos se questionem sobre estes
aparelhos que lhe foram dados para pensar, amar e trabalhar. Todos os dias e não
somente uma vez, mas três, quatro, cinco, dez vezes, é indispensável que regulem os
seus aparelhos pelo padrão divino.
Todo o nosso futuro pode resumir-se numa questão: que direcção tomamos ?
Vamos para o interior ou para o exterior, para o centro ou para a periferia ?...
Evidentemente, a existência é feita de tal maneira que o ser humano está
continuamente a sair de si mesmo. Desde o momento em que acorda de manhã, dirige-
se para a periferia: olha, ouve, fala, deixa a casa para ir para o trabalho ou ao armazém
procurar o que precisa para se alimentar ou para fazer pequenas reparações; vai visitar
amigos, distrair-se, passear, viajar. Tudo bem, mas ao fim de algum tempo, deixa-se
prender por todas estas actividades de tal modo que acaba por perder o contacto
consigo próprio, e não sabe verdadeiramente quem é. E a partir deste momento, não só
não mais vê claro nas situações, e comete erros, mas enfraquece, e o mais pequeno
choque, a menor contrariedade deixam-no perturbado. É normal que o homem saia de
si, cada contacto com o mundo exterior obriga-o a sair. Mas para não acabar por sair à
deriva, deve continuamente vigiar para restabelecer o equilíbrio entre o exterior e o
interior, a periferia e o centro.
Infelizmente, é-se obrigado a constatar que os humanos se satisfazem com o
dispersão, a debandada, e mesmo os sistemas filosóficos que arquitectam, as ideologias
que fabricam são o reflexo desta tendência de sair do centro. Cada vez mais tudo é feito
para afastar os humanos da Fonte: na religião, na ciência, por toda a parte e sobretudo
na arte, só se constata o afastamento.
No fim tudo vai em todos os sentidos e ninguém compreende nada disso. Direis:
"Mas a vida foi feita assim, não pode ser doutra maneira com situações e seres tão
variados, diferentes !" A vida é muito complexa, é verdade, mas a maneira de
compreender e de resolver os problemas pode ser muito simples. A verdade é sempre
muito simples. Para os Iniciados tudo é simples, porque aprenderam a reduzir a
quantidade infinita de factos e situações a alguns princípios básicos. E quais são estes
princípios ? Figuras geométricas. Sim. Isto espanta-vos ?... Mas então porque credes
que certas tradições filosóficas representaram Deus como um geómetra ? Porque, na
origem destas tradições, há grandes espíritos que tinham compreendido que a
multiplicidade de seres e de coisas, assim como as relações que mantêm entre si, podem
ser reduzidas a estes princípios muito simples que são as figuras geométricas como o
círculo, o triângulo, o quadrado, a pirâmide, a cruz...
Peguemos na figura do círculo, precisamente. É muito interessante ver como se
desenha um círculo. Coloca-se a ponta do compasso no papel para ter um centro e é só
conservando este centro que se pode traçar a circunferência. Portanto, no princípio há o
centro: a circunferência só pode ser traçada a partir do centro. E se os Iniciados fizeram
do círculo o símbolo da criação, é para sublinhar a ideia de que tudo o que existe tem
uma ligação com o centro, e que não pode subsistir senão conservando e mantendo esta
ligação. O que corta esta ligação com o centro, não somente não pode ter uma ideia
clara sobre o mundo nem sobre as entidades e as forças que lá trabalham, mas priva-se
da corrente de vida pura que jorra da Fonte, do Próprio Deus. O equilíbrio da vida
cósmica funda-se nas relações que a periferia não deixa de manter com o centro. Todas
as partes têm que convergir para o centro porque é ele que sustenta a sua existência.
Um exemplo destas relações entre o centro e a periferia é-nos dado pelo sistema solar,
com os planetas que gravitam incansavelmente em volta do sol num movimento
harmonioso.
Quaisquer que sejam os problemas que temos para resolver na nossa vida,
devemos ter sempre em conta esta lei da preeminência do centro. Porque o que é
preciso compreender bem, é que estes dois termos, centro e periferia, não são somente
lugares geométricos: representam centros de forças que se apoderam de nós, e as forças
do centro, do espírito, regeneram-nos, enquanto as da periferia, da matéria, nos
trituram.
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Com certeza, o ser humano é feito assim e as suas condições de vida são tais
que não pode manter continuamente a sua atenção virada para o centro e negligenciar a
periferia. É obrigado a ir para a periferia, quer dizer, a estudar a matéria, a trabalhar
com ela. Mas para isso não é necessário que se rompa a ligação espiritual com o centro
e que se separe; deve, pelo contrário, agarrar-se ao centro divino em si porque é o
centro que une tudo, que congrega tudo, que explica tudo, e a partir deste centro há
todas as possibilidades de estender ligações para a periferia. À medida que se liga
interiormente ao centro, o homem molda em si um ponto de ligação sólido, e uma vez
ligado solidamente, pode aventurar-se sem perigo para a periferia. Para empregar outra
imagem, pode dizer-se também que ele enterra as raízes no Céu profundamente.
Vale a pena meditar sobre esta questão do elo que nos une ao centro, porque
este elo é a condição essencial da nossa vida. Quando um ser humano encarna na terra,
passa primeiro nove meses no ventre da mãe, à qual está ligado pelo cordão umbilical.
Ao fim dos nove meses, para que possa ter vida independente enquanto indivíduo, este
cordão deve ser cortado. Nesse momento dizemos que ele nasceu. Mas para viver, está
ligado ao universo por um outro cordão de natureza fluídico, e no dia em que esse
cordão se rompe, ele morre. Por fim um terceiro cordão, ainda mais subtil, liga-o ao
Senhor. Muitas pessoas cortaram este cordão e por mais que digam: "Estamos vivos,
vocês vêem-no bem", na realidade estão mortos. Qualquer coisa de essencial neles está
morto. Romperam o elo que os unia à Fonte divina da luz e do calor, para irem perder-
se nas trevas e no frio, e espiritualmente estão mortos. Porque ainda não cortaram o
cordão umbilical que os liga à mãe natureza, possuem a vida em certos planos, mas no
mundo espiritual estão mortos, e esta morte espiritual tem necessariamente repercussões
em todos os domínios da existência. É por isso que o discípulo cujas actividades
obrigam a deixar o centro para ir para a periferia, na agitação e no ruído, sabe que deve
apertar mais fortemente o elo que o une ao centro para não se dispersar e conservar o
equilíbrio interior. A periferia é rica e sedutora, é verdade, mas só poderemos beneficiar
completamente de todas estas riquezas se conseguirmos explorá-las mantendo-nos
ligados ao centro.
A existência coloca os humanos em situações de desequilíbrio continuamente, e
se não estão ligados ao centro, caem. E aqui, cair tem toda a espécie de significados.
Cair, é viver na desordem, na incerteza, em conflitos, com doenças, e sempre novas
doenças, porque se rompeu a ligação com o que é verdadeiramente essencial.
Esta necessidade de ficar ligado ao centro verifica-se quando se trata de
explorar o subconsciente. É perigoso para os seres, penetrar nas profundezas do
subconsciente antes de ter trabalhado previamente para estabelecer um elo sólido com o
centro divino que existe neles e que é o seu Eu superior. O subconsciente é comparável
aos fundos marinhos, aos abismos. Imaginai que tínheis de descer às profundezas dos
oceanos, só, sem luz, sem protecção e sem qualquer experiência: ficaríeis aterrorizados
por terdes de avançar assim no meio das algas, dos animais e monstros marinhos com
aspecto ameaçador. Ora bem, é isto, o subconsciente, e é muito perigoso aventurar-se lá
sem primeiro ter tido o cuidado de se prender bem a este centro divino onde se encontra
a luz, a força. Por isso, mesmo se a psicanálise, quando é utilizada por pessoas
competentes e dotadas de grandes qualidades morais, pode dar bons resultados, apesar
disso continua a ser um método muito arriscado, e o modo como se está a divulgar faz
correr grandes perigos aos humanos.
Então, vocês entendem, o símbolo do círculo e do ponto central vai longe,
muito longe. No seu aspecto mais abstracto, os símbolos que são figuras geométricas
apresentam-se sob formas extremamente simples; mas quando se tem que estudar todas
as suas aplicações nos diferentes planos da actividade humana, apresentam-se sob
aspectos tão diversos e complexos que quase não se pode reconhecer se se trata dum
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círculo, dum triângulo, dum quadrado ou duma cruz. Mas a mim, é isso que me
interessa. Sim, a única coisa que verdadeiramente me interessa, são os princípios, as
regras gerais. Não me peçam para vos falar de pormenores, deixo isso a outros, aos
especialistas; eles têm tempo para se munirem cada um com uma parcela do campo da
realidade e explorá-la em todos os seus recantos. São numerosos, podem partilhar o
trabalho e, se houver vontade disso, cada um será tido por uma sumidade na sua
especialidade. A mim é só a totalidade que me interessa; para pormenores sou um zero,
não me perguntem nada !
A única coisa importante, é trabalhar para voltar ao centro. Certamente, é difícil
ver claro como se apresentam estas duas direcções, o centro e a periferia, se não se
trabalhar anos e anos para ter uma espécie de modelo graças ao qual podemos
pronunciar-nos com certeza sobre tudo o que se nos oferece: as condições, os objectos,
os seres... e sentir, por exemplo, ao comprometermo-nos com tal pessoa, ao aceitar tal
proposta, ao lançarmo-nos em tal empreendimento, se nos aproximamos do centro ou
se nos afastamos dele.
Se quiserdes, podemos chamar a tudo isto a faculdade de discernir. Mas esta
faculdade pertence mais ao domínio da sensação que ao da compreensão. É qualquer
coisa muito difícil de explicar. Esta faculdade adquire-se pela observação, reflexão,
meditação, oração, mas sobretudo pela vigilância: depois de feita qualquer experiência,
é importante analisar-se para saber onde se está neste caminho que nos conduz ao
centro. Eu gastei anos e anos a alcançar este modelo, esta faculdade... ou este radar, se
assim o quiserdes ! E vós também, aplicando-vos a afinar este instrumento em vós,
podeis orientar-vos correctamente em todas as situações da vida. Pensai que não estarei
sempre aí para responder às vossas questões, encontrar soluções para os vossos
problemas, dar-vos conselhos. Sois vós, um dia, que deveis desenvencilhar-vos
sozinhos. E então que fareis se não aprenderdes como vos conduzir ? Já vos dei
exercícios, métodos para restabelecer a ligação com o centro do vosso ser. Esses
exercícios andam principalmente à volta do sol, porque, eu disse-o, o sistema solar
apresenta-nos a imagem ideal das analogias harmoniosas entre o centro e a periferia.
Mas hoje ainda posso dar-vos um novo exercício, diferente dos outros. Por exemplo, de
tempos a tempos parai, fechai os olhos, entrai dentro de vós, e experimentai encontrar o
centro que é a fonte pura da vida.
Abrir e fechar os olhos é um dos actos mais frequentes da vida diária, mas
fazemo-lo inconscientemente e é por isso que não aprendemos nada. De hoje em diante
procurai fazer conscientemente este exercício: fechai os olhos lentamente e deixai-os
fechados por um momento... Depois abri-os de novo, lentamente, e estudai as mudanças
que se produzem em vós. Pouco a pouco, chegareis a compreender como esta
alternância de abertura e fecho dos olhos tem a sua correspondência na vida interior:
abrir os olhos, é ir para a periferia, e fechá-los é voltar ao centro do vosso ser que é
Deus. Quando tiverdes conseguido estar em contacto com este centro dentro de vós,
sentireis afluir correntes que vos trarão o equilíbrio, a paz , a harmonia, e o que quer
que empreendais a seguir, sabereis que vos aproximais da verdade.
IV - A conquista do alto
Observai os humanos e constatareis que cada um vê os seres e as coisas segundo
a sua maneira de ser, quer dizer, em consequência da sua raça, país, religião, sexo,
situação social, educação, profissão, idade, etc., e sobretudo segundo o seu grau de
evolução. É normal, de tal modo normal que toda a gente dirá que é impossível que seja
de outra maneira. Na realidade, tendo todos os humanos sido criados nos estaleiros do
Senhor, segundo os mesmos projectos, com os mesmos elementos, possuem a mesma
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estrutura, são movidos pelas mesmas forças. Mas descendo ao nível da matéria,
tomaram caminhos diferentes, fizeram experiências diferentes, que suscitaram em si
opiniões, tendências, gostos diferentes, mesmo contraditórios. Somente, como todos
estão convencidos que a sua verdade particular representa a única verdade, nenhuma
outra compreensão é possível entre eles, e só vemos mal-entendidos e afrontamentos em
todos os domínios.
Para se porem de acordo novamente, para compreender e apreciar os mesmos
valores, os humanos precisam de retomar interiormente o caminho ascendente que os
conduzirá ao alto, às regiões luminosas do espírito. Sim, se em vez de ficar lá em baixo
a discutir eternamente, pudessem decidir aceitar o ponto de vista do alto, todos os
problemas políticos, económicos, sociais, religiosos, seriam resolvidos em vinte e
quatro horas. Pois eis o que é preciso meter na cabeça: para resolver efectivamente os
problemas, não se deve ficar ao nível em que eles se colocam, mas fazer um trabalho
interior que permite vê-los de cima. Enquanto os humanos se contentarem a pisar e a
discutir, lá em baixo, não somente não encontrarão a solução, mas os problemas
complicar-se-ão cada vez mais, e em primeiro lugar para eles próprios.
Então, vós ao menos, fazei este esforço: habituai-vos a concentrar-vos no alto, o
ponto culminante donde se pode ver a verdade a respeito dos seres e das coisas. É certo
que a distância que vos separa dele é imensa, mesmo insuperável; só pode subir até ao
alto o que vive uma vida verdadeiramente pura e santa. Mas através do pensamento,
cada um pode procurar atingi-lo, porque o pensamento é já uma corda que lançais até
lá, ao ponto que quereis tocar, e uma vez engatada a corda, subireis. è o que fazem os
alpinistas: lançam uma corda e trepam. Pois, reparai, nunca vistes as correspondências
entre o mundo físico e o mundo espiritual.
A vantagem de procurar atingir o alto, é também que antes de lá chegar, sois
obrigados a percorrer todas as regiões intermédias e ir de encontro aos seus habitantes.
Sem dúvida que não atingireis o ponto mais elevado, mas o essencial é começar. Reparai
outra vez nos alpinistas: eles não tentam logo atacar o Evereste, isso seria tolice.
Modestamente começam por alturas de 1800, 2000 metros e qualquer que seja a
altitude, que alegria de cada vez que chegam ao cimo ! Porque isso é o importante:
chegar cada vez mais alto.
Concentrando-vos no alto, sois obrigados a projectar-vos cada vez mais para a
frente, transpor degraus cada vez mais elevados; e sentireis quanto este hábito mental se
reflectirá, pouco a pouco, beneficamente na vossa vida diária. Cada vez que tiverdes um
problema para resolver, uma decisão a tomar, uma dificuldade para enfrentar, sentireis
que dominais melhor a situação porque conseguis vê-la de mais longe, de mais alto, e
quando deveis agir, fá-lo-eis com cada vez menos riscos de erro.
O alto não é unicamente um ponto mais elevado que os outros. Todo o alto,
qualquer que seja, é o centro vivo das energias mais puras, mais penetrantes. É por isso
que se impõe a todas as criaturas vivas. A omnipotência encontra-se no alto, é a
omnipotência do espírito. Só a força do alto pode dar ordem a todos os seres dos
diferentes reinos da natureza para nos darem ajuda e protecção. Encontra-se a prova
disso em certas narrativas da vida dos santos e eremitas que viviam em lugares
desérticos, hostis, onde nada havia para os alimentar, onde estavam expostos às
intempéries, a muito calor e muito frio: havia sempre um vegetal, um animal ou um ser
humano que aparecia para que pudessem comer, beber ou abrigar-se.
A Bíblia conta episódios semelhantes a respeito disto, por exemplo, o profeta
Elias no "Livro dos Reis": " E a palavra do Eterno foi dirigida a Elias nestes termos:
Vai, dirige-te para Oriente e esconde-te junto da ribeira de Kerith que está à vista do rio
Jordão. Beberás água da corrente e ordenei aos corvos para te darem alimento lá. Ele
partiu e fez segundo a palavra do Eterno, e foi morar junto da ribeira de Kerith que está
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à vista do rio Jordão. De manhã os corvos traziam-lhe pão e carne, pão e carne à noite,
e ele bebia água da corrente. Mas ao fim de algum tempo, a corrente secou porque não
tinha chovido nada na região. Então a palavra do Eterno foi-lhe dirigida nestes termos:
Levanta-te, vai a Sarepta que pertence a Sídon e fica lá. Eis que ordenei a uma viúva
para que te alimente. Quando chegava à entrada da cidade, eis que estava lá uma mulher
viúva que apanhava lenha... " Quando as ordens vêm de muito alto, do mais alto, a
natureza e os humanos são obrigados a obedecer.
Com certeza não é mau concentrar a vossa atenção em diferentes objectivos dos
planos físico, astral ou mental: Se estes objectivos forem puros, luminosos, obtereis
sempre alguns resultados, mas não tantos como se vos esforçardes por atingir o alto, a
quintessência que dirige tudo. Uma vez que atinjais o alto, atingistes o nó de forças de
que tudo depende.
Compreendestes ? Não, não estou certo de que vocês compreendam realmente
o que vos quero dizer... Então peguemos num exemplo da medicina. Um homem está
gravemente anémico, e nenhum dos seus órgãos funciona correctamente: o cérebro, o
estômago, os pulmões, o fígado, os intestinos... Que é preciso fazer ? Cuidar de todos
os órgãos, uns após os outros. Isso nunca mais acabará. Mas se lhe fizermos uma
transfusão de sangue, ei-lo de imediato completamente restabelecido. Do mesmo modo,
no momento em que estais contacto com o alto, dentro de vós mesmos, é como se se
operasse dentro de vós uma transfusão de energias puras e vivificantes. Porque é no alto
que age a omnipotência do espírito.
Eu expliquei-vos como os Iniciados se servem dos símbolos que são as figuras
geométricas para explicar as grandes questões da filosofia e da vida, e dei-vos um
exemplo com o círculo. Tomemos agora o símbolo da cruz. A cruz é feita com duas
linhas: uma horizontal e outra vertical. A linha horizontal é a da dispersão, é a da água
que se derrama na terra. A linha vertical é a da unificação, é o fogo que se eleva para o
céu. A linha horizontal é por conseguinte a da matéria, a linha vertical a do espírito. E
como vedes, estas duas linhas não estão separadas, elas encontram-se, o que mostra
bem que as duas direcções não são incompatíveis. O símbolo da cruz convida-nos a
continuar a realizar o nosso trabalho na matéria tomando a direcção vertical para voltar
ao espírito, à fonte, ao alto.
V - Da multiplicidade à unidade
I
preocupava grande coisa, pensava que os outros números eram mais importantes, mais
ricos, e encerrariam maiores segredos. Quanto acabou o primeiro capítulo, eu esperava,
com certeza, que ele continuasse com os capítulos sobre os outros números. Mas não,
fechou o livro, recolocou-o na biblioteca e a visita terminou.
Eu estava entusiasmado com o desejo de conhecer o resto. Foi por isso que, ao
regressar a casa, eu dizia para comigo: "Sem dúvida, na próxima vez que me convidar,
o Mestre continuará a leitura." Mas não, ele não continuou, nunca mais se tratou deste
livro. Durante algum tempo esperei, e estava um pouco enganado. Mas como tinha
uma imensa confiança no meu mestre, sabia que tudo o que fazia tinha sentido. Então
disse para mim: "O motivo porque não me lê nada sobre os outros números, é porque
não é tão importante que eu tenha necessidade disso". E reflectindo e meditando sobre
isso, compreendi que todos os outros números estavam contidos no número 1 e
resultavam dele. Por conseguinte, o Mestre tinha-me dado, aparentemente, pouca
coisa, mas na realidade tinha-me aberto uma porta para o infinito.
O que dá ao número 1 o seu carácter sagrado, é que ele representa a totalidade.
Através de todo o cosmo não existe senão uma unidade ininterrupta. E ainda que na
aparência, se vejam separações, rupturas, limites, em parte alguma existe realmente
separação absoluta. A decomposição da luz pelo prisma é o exemplo mais notável
disso. Eis um feixe de luz branca, ele representa o 1; decompondo-se ele dá as sete
cores. Não é extraordinário verificar como desta unidade, a luz branca, saiu a
diversidade das sete cores: violeta, anil, azul, verde, amarelo, laranja, vermelho ? O
que é que pode, melhor do que a luz, representar a passagem da unidade à diversidade
e da diversidade à unidade ? E agora reparai nestas cores procurando distinguir onde
acaba o vermelho e começa o laranja, mostrai-me onde se separam, onde está a
fronteira... Não a encontrareis, não existe. Este exemplo da luz é particularmente
interessante porque a luz é mesmo ao que há de mais importante no universo.
Na realidade não há fronteira, não há limite, tudo é 1. E o próprio homem, o
homem ideal é o representante do número 1.
Tomemos ainda um exemplo muito simples num domínio que todos podem
compreender: a saúde. Sobre os que estão de boa saúde, nada há a dizer porque tudo
vai bem. O homem com boa saúde sente-se como um todo harmonioso. Coloca-se-lhe
a questão: "Como vai? " e ele responde: "Bem", e é tudo, não há mais nada a dizer.
Enquanto com os que estão doentes, oh lá lá ! há histórias sem fim ! Da cabeça aos
pés, há tantos pontos no corpo que podem ser defeituosos, doridos, e com pormenores
tão diferentes ! Nesse caso, que complicações para comer, beber, dormir, respirar,
andar, ouvir, ver, trabalhar, estudar !... Pode dizer-se que a saúde é una; não há duas
saúdes, três saúdes, não, só há uma. Em compensação, as doenças são em número
infinito, e ainda não as conhecemos todas, porque todos os dias aparecem doenças
novas, criadas sempre pela maneira defeituosa de viver dos humanos.
A função dos órgãos é trabalhar juntos para manter esta unidade que é a saúde,
a vida. Então, reparai, a saúde é a unidade, a vida é a unidade. E a doença, a morte,
pelo contrário, são a divisão, a dispersão, a separação. Todos os nossos esforços nos
devem conduzir a esta unidade que é sinónimo de simplicidade. É na simplicidade do
número 1 que encontraremos a salvação. Mas os humanos não gostam da simplicidade,
ela aborrece-os, tem falta de pimenta, a diversidade é muito mais importante ! Mas
então que não se admirem por estar doentes.
Disse-vos que os Iniciados conseguiram sintetizar os problemas mais complexos
representando-os sob a forma de figuras geométricas. Tomemos o exemplo da
pirâmide. Visitei as pirâmides: Khéops, Khéphren, Mykérinos... e meditei sobre a
ciência que os iniciados do antigo Egipto quiseram resumir nestes monumentos
extraordinários. Uma pirâmide é constituída por uma grande base quadrada a partir da
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...(*.*)... Hi hiii hiiiii hiiiiiii .......
Omraam Mikhaël Aïvanhov
II
É preciso decidir-se a aprofundar esta ciência da unidade que revela a ligação
entre todos os elementos da Criação. Infelizmente, a unidade é uma noção que os
humanos têm tendência a deixar de lado. De longe em longe, com certeza, ouve-se falar
de unidade. Mas onde ? Quando ? É-se obrigado a reconhecer que não é sempre pelas
melhores razões. A maior parte das vezes é para se unir contra um adversário, contra
um partido político, contra um povo a que se quer fazer guerra. Sim, eis as ocasiões
mais frequentes em que se ouve falar de unidade: quando se trata de combater pessoas
que consideramos como inimigos. Pois bem, não é esta a verdadeira unidade. A
verdadeira unidade não combate ninguém, não exclui ninguém. Pelo contrário.
O que trabalha para se elevar pelo pensamento até ao cume que é a unidade,
começa a sentir que todos os seres humanos estão ligados. É verdade, no alto
representamos uma unidade, somos cada um uma célula do grande corpo cósmico, e
esta célula que nós somos reflecte a totalidade do corpo. Se fazemos mal a alguém
pensando que é estranho a nós e que não sofreremos ao fazer o mal, pois bem, é um
erro. Ao fazer mal aos outros, é também a nós que fazemos mal, mesmo que nesse
momento o não sintamos.
Alguns dirão: "Mas se nos aplicarmos realmente a procurar esta unidade de que
nos falas, vamos cair todos na uniformidade ?" Não senhor, entendei-me bem: eu não
digo que todos os humanos devem ter exactamente os mesmos pensamentos, os
mesmos desejos, os mesmos gostos, as mesmas actividades. A vida é
extraordinariamente rica de possibilidades diferentes, e é só do ponto de vista essencial
que devemos encontrar a unidade.
Peguemos em exemplos simples, acessíveis a todos: a alimentação, a respiração.
Todos os humanos têm necessidade de matar a fome e respirar ar puro. Agora, quer
comam trigo, milho, soja, arroz, ou ainda maçãs, laranjas, bananas ou mangas, isso não
tem importância. E quer respirem ar das alturas, do mar, da floresta ou simplesmente o
do jardim, isso também não tem importância. O importante é que, para ter uma boa
saúde, todos devem comer alimentos sãos e respirar ar puro. Isto parece evidente.
Pois, mas na realidade, quantos seres humanos à face da terra estão privados
destas possibilidades ! E entre os que têm boas condições de vida, quantos é que se
preocupam verdadeiramente com a situação deplorável em que vivem os outros ?
Então reparai, até para estas necessidades fundamentais do ser humano que todos
reconhecem unanimemente as coisas estão longe de estar em ordem. Existe uma razão
mais poderosa para todo o resto. E admiramo-nos depois por existirem conflitos no
mundo... Que hipocrisia! Porquê admirarmo-nos por as pessoas se revoltarem: porque
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...(*.*)... Hi hiii hiiiii hiiiiiii .......
Omraam Mikhaël Aïvanhov
não podem alimentar a família, porque não lhes foi dada a oportunidade de se
instruírem, porque são privadas da liberdade ... E depois, cada um imagina que pensa e
vive de acordo com a verdade !
Os humanos poderão dizer que encontraram a verdade unicamente quando
conseguirem viver todos no bem-estar e em paz. A verdade é a tradução duma
organização tal em que todos vivem em harmonia uns com os outros. Para alcançar tal,
é preciso com certeza toda um conjunto de ajustamentos, de adaptações, de
actualizações. E está nisso o trabalho para todos. Mas é preciso saber que só existe a
verdade universal. Não existe a verdade, portanto, senão na unidade.
Eis o sentido em que vos falo de unidade: procurai sentir que todos os humanos
têm as mesmas necessidades fundamentais, e não imagineis ter encontrado a verdade
enquanto as privações infligidas aos outros homens não vos dizem respeito também a
vós, enquanto o mal que é feito aos outros não é um mal que foi feito a vós próprios.
Certamente, este mal não pode tocar-vos directamente, e por isso não sentireis nada,
mas se desenvolverdes em vós a consciência da unidade, senti-lo-eis.
Sim, compreendei-me bem, é neste sentido que eu vos falo da unidade, não no
sentido duma uniformização de todos os homens da terra. Além disso, vós sabeis, não
há de que nos preocuparmos a este respeito. Todas as criaturas são diferentes e
ninguém pode chegar a fazê-las parecer-se. Os dirigentes, os regimes políticos,
experimentaram e acreditou-se por vezes que tinham conseguido, mal algum tempo
depois, foi-se obrigado a constatar que todas as tentativas tinham sido votadas ao
insucesso. Há qualquer coisa de irredutível, no ser humano, que resiste à
uniformização. Por isso, não vos inquieteis, preocupai-vos, de preferência, em
compreender o que significa a palavra unidade no seu sentido mais elevado.
O homem é constituído por três princípios fundamentais: a inteligência, o
coração e a vontade. A inteligência tem necessidade da luz (o conhecimento); o coração
tem necessidade de calor (o amor); a vontade quer agir procurando manifestar a luz da
inteligência e o calor do coração. É neste sentido que os humanos são idênticos: por
esta estrutura fundamental e pelas necessidades, aspirações que correspondem a esta
estrutura. Quer estejam conscientes disso ou não, quer aceitem essa ideia ou não, está
aí a verdade do seu ser, é neste sentido que devem trabalhar colectivamente.
Todos os dias nós devemos tender para a unidade. O método mais seguro para
lá chegar é, antes de mais, cada um introduzir a unidade em si próprio. Aliás é aí que
está a maior dificuldade. Ainda que eles tenham no seu coração, na sua alma, aspirações
magníficas, muitas pessoas são impelidas por outras forças que têm dentro de si,
desejos, paixões, a cometer actos de que logo a seguir se envergonham e arrependem.
Esta situação cria perturbações interiores e estas perturbações destruem-nos. O homem
tem necessidade de estar de acordo com si próprio, viver na unidade, e tem necessidade
que a sua inteligência, o seu coração e a sua vontade avancem ao mesmo tempo. Se
está continuamente preso por contradições, não pode encontrar o equilíbrio e sofre.
Para alguns, este desequilíbrio é tão grande que os conduz à nevrose, à loucura.
A verdadeira unidade, aquela para a qual nós devemos caminhar, é comparável à
do sistema solar. O sol está lá, no centro, e todos os planetas gravitam à volta dele, e
nenhum sai da trajectória traçada para si pela Inteligência cósmica. É uma unidade
análoga que o homem deve realizar em si próprio. Isto subentende uma verdadeira
aprendizagem: como viver, pensar e sentir para que todas as partículas que constituem
o nosso ser físico e o nosso ser psíquico regulem o seu movimento pelo sol que todos
possuímos em nós: o nosso Eu divino, o nosso espírito. É esta ordem, esta unidade que
dão o verdadeiro saber e o verdadeiro poder.
O Ensinamento da Fraternidade Branca Universal não tem outro fim que o de
nos ensinar a realizar a unidade em nós próprios: unidade de três princípios que estão
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...(*.*)... Hi hiii hiiiii hiiiiiii .......
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VI - A construção do edifício
Tomemos o exemplo dos músicos duma orqu estra: violinistas, violoncelistas,
flautistas, clarinetistas, oboeístas, etc. Cada um tem a partitura à sua frente e concentra-
se nela; para tocar, não é obrigado a conhecer a partitura dos outros músicos. Mas, lá
adiante, em frente da orquestra, em cima dum pódio, para ficar bem visível de todos, há
um maestro que conhece todas as partituras e que vela para que cada músico se faça
ouvir no momento pretendido, e que respeite também o compasso, os graus de
tonalidade, etc. Senão, seja qual for a beleza das frases musicais que cada um toca
individualmente, nunca será uma sinfonia mas uma cacofonia assustadora.
Ora, que se passa na vida ? Por toda a parte encontramos pessoas competentes
na sua profissão - digamos que sabem tocar a sua partitura - mas que não têm uma
visão de conjunto. Já é bom, evidentemente, que sejam bons na sua especialidade, mas
a ignorância do conjunto, provoca toda a espécie de anomalias e desordens. Na medida
em que se limitam às ideias, aos pontos de vistas que inspiram a sua posição individual,
não podem compreender a totalidade das situações porque não possuem o verdadeiro
conhecimento. Numa certa medida podemos achar que são desculpáveis, mas na
realidade não, não o são: deveriam trabalhar para tornar-se, também eles, maestros,
quer dizer, a elevar-se até ao ponto em que pudessem ter uma visão precisa de conjunto
e assim, agir correctamente em todas as circunstâncias que se lhes apresentassem.
Direis: "Sim, mas esse ponto de vista é o de Deus, do Criador." É verdade, mas
o que há a fazer pelo homem, é trabalhar para se aproximar do Criador. Jesus não disse:
"Sede perfeitos como o vosso Pai Celeste é perfeito" ? Por isso, um verdadeiro
discípulo de Jesus compreende a necessidade de ter esta visão de conjunto, de se
aproximar do ponto de vista do Criador.
Todos os que têm uma responsabilidade familiar, social, profissional, política,
devem esforçar-se para encontrar interiormente este ponto de vista elevado, donde
poderão dominar todos os aspectos dos problemas que têm que resolver. Assim,
tomarão as decisões mais justas para todos. Direis: "Mas não há a certeza de que estas
decisões justas sejam aceites; a maior parte das pessoas só se ocupam a defender os
seus interesses egoístas, e não é fácil levá-los a reconhecer os interesses dos outros." É
verdade, mas mesmo que certas das vossas boas análises e conclusões não sejam
aceites, isso não é razão para abandonar os vossos esforços. Desde o momento em que
conseguistes elevar-vos até este ponto de vista superior, haverá outras ocasiões na vida
em que as fareis triunfar. Nunca nenhum dos esforços que se fazem para progredir no
caminho da lucidez e do desinteresse está perdido. E ainda que os outros vos apelidem
de sonhadores, de utópicos, de iluminados, ou até de "malucos" - os qualificativos não
faltam ! - ao saberem que vós dos aproximais da verdade, vós não deveis perder a
coragem.
Os verdadeiros Iniciados, os verdadeiros Mestres espirituais são maestros.
Direis: "Mas estão sós, não têm músicos para dirigir !" Desenganai-vos, eles têm neles
próprios uma orquestra, e eles dirigem essa orquestra dia e noite. Sim, todos os seus
órgãos, todas as suas células formam uma orquestra e cantam e tocam as partituras que
lhes são apresentadas. O cérebro, o estômago, o coração, as mãos, os pés, as orelhas,
os olhos, a boca, etc., cada parte do seu corpo tem a sua actividade graças à qual
contribui para a harmonia do organismo. Sim, mas o bom funcionamento no plano
físico não é suficiente. É por isso que um Iniciado interroga todos os dias os seus
órgãos. Pergunta às pernas: "Onde é que me levais? " Aos braços: "Que acções estás a
preparar ? " À boca: "Que palavras vais pronunciar ? " Aos olhos: "E vós, para onde
olhais ? " E ao cérebro: "Em que pensamentos te concentras ?"... E esforça-se por
estabelecer e manter a harmonia entre todos.
E vós, se quereis manifestar-vos como discípulos inteligentes, conscientes,
deveis tornar-vos também bons maestros. Cada dia, velai não somente para que os
órgãos do vosso corpo físico trabalhem harmoniosamente para se manterem saudáveis,
mas pensai também em orientar a sua actividade para um fim superior a fim de não
produzirem dissonâncias no organismo cósmico.
Seja qual for o assunto de que eu fale, vocês ouvem-me sempre voltar ao
mesmo pensamento: como utilizar todos os elementos que existem em nós e à nossa
volta para progredir no caminho da harmonia universal.
E eu posso dar-vos uma outra imagem: a dum edifício cujos materiais ainda
estariam amontoados a trouxe-mouxe sem que se saiba o seu lugar uns em relação aos
outros. Para o conhecer, é preciso haver um plano, quer dizer, subir até Quem
concebeu o edifício, o Arquitecto, Deus.
A Criação existe, o edifício está construído, a questão que se põe ao homem é a
de saber o que deve fazer com tudo o que tem à sua disposição para poder construir ele
próprio a sua própria existência. Porquanto o homem faz parte do edifício, mas não
pertence a este conjunto como se fosse somente uma pedra, uma planta ou um animal.
Enquanto ser consciente, pensante, tem outro papel a desempenhar. Não lhe basta
unicamente fazer o inventário do que existe, é preciso que conheça todos os materiais,
e aprenda como utilizá-los para edificar a sua própria vida participando na edificação da
vida colectiva.
Sim, cedo ou tarde, cada um será obrigado a fazer o trabalho de participar na
construção deste edifício: a vida colectiva, a vida universal. Todas as nossas actividades
devem convergir para a vida universal. Quando levamos uma vida individualista,
egoísta, separada do Todo, é como se nos contentássemos em amontoar os materiais
sem ser capaz de fazer deles o que quer que fosse. Infelizmente é o caso para a maioria
dos humanos: contentam-se em amontoar os materiais e ficam por baixo deles. É
preciso que se decidam a fazer alguma coisa deles ! Mas antes aprendam a conhecer o
plano deste Arquitecto que é o Próprio Deus. Procurando conhecer o plano do Criador,
serão obrigados a identificar-se com Ele e assim, pouco a pouco, encontrarão
interiormente aquela parte deles próprios pela qual são parecidos com Deus.
Então, de agora em diante não fiqueis espantados por constatar que qualquer
que seja o meu ponto de partida, o ponto de chegada é sempre o mesmo.
Incansavelmente devo recordar-vos o fim a alcançar: construir o edifício. Enquanto vos
contentardes em acumular conhecimentos, informações, sobre todas as espécies de
assuntos, talvez possais estar orgulhosos de ter uma "boa bagagem intelectual", como
se diz, mas isso não é o que vos permitirá evoluir e contribuir para e evolução de toda a
humanidade. Enquanto com o Ensinamento dos Iniciados, mesmo com muito poucos
conhecimentos, ireis muito longe. Desde que conserveis sempre na vossa cabeça esta
ideia do edifício para construir: o edifício interior e o edifício colectivo, esta ideia
vivificar-vos-á, iluminar-vos-á, ressuscitar-vos-á, salvar-vos-á.
Agora, com certeza, se fordes capazes de nunca perder a verdadeira orientação
tornando-vos um poço de sabedoria, então ide. Mas se perderdes de vista a vossa
missão: a construção do edifício, admitindo mesmo que sois considerados como uma
sumidade pelos humanos, o Céu, verá somente que vós atravancastes a vossa alma e o
vosso espírito com uma quantidade de objectos inúteis.
O que quer que façais ou penseis, tudo deve encontrar o seu lugar na harmonia
da vida universal. Eis o que eu faço diante de vós desde sempre: insisto na harmonia.
Qualquer que seja o pormenor da vida sobre o qual eu me detenha, chego sempre à
mesma conclusão. Talvez vos lastimeis: "Oh ! é aborrecido, é sempre a mesma coisa!"...
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Omraam Mikhaël Aïvanhov
mas aí não pode haver outra coisa. Esta necessidade que tendes de vos dispersar, sabei
que é uma armadilha. A realidade é feita de uma infinidade de diferentes pormenores e,
com certeza, é atractiva, mas a razão de ser de todos estes pormenores é participar
numa mesma construção, entrar no mesmo projecto cósmico. É também o que Jesus
queria exprimir quando dizia: "Sede perfeitos como o vosso Pai Celeste é perfeito."
Tornar-se perfeito, é restabelecer a ordem entre todos os elementos dispersos.
Evidentemente, ainda haveria muitas coisas a dizer sobre esta noção de
perfeição. Tomemos o exemplo dos animais. Diz-se que os animais são perfeitos. Sim,
enquanto animais, tal como são, ao seu nível de animais são perfeitos. Apenas com
alguns dias de vida, andam, nadam, correm e rapidamente atingem a maturidade.
Enquanto o homem, quantos anos são precisos para alcançar o seu pleno
desenvolvimento ! E além disso quanto ao desenvolvimento físico, isso vai mais ou
menos, mas quanto ao desenvolvimento psíquico e quanto ao desenvolvimento
espiritual, nunca mais está acabado.
Tomemos um outro exemplo. Quando uma criança tem que começar a ir à
escola, é desejável que seja "perfeita", isto é, que os seus braços, pernas, olhos, orelhas
e cérebro estejam em estado de funcionar correctamente. Se estiver em desvantagem
física ou mentalmente, tudo será muito mais difícil para ela; é preciso que todos os
órgãos físicos e psíquicos estejam em bom estado para poder progredir realmente. Da
mesma maneira quando se trata, para o homem, da perfeição de que fala a Iniciação,
esta palavra significa em primeiro lugar que os órgãos da vida psíquica e espiritual
devem estar bem desenvolvidos e em bom estado de funcionamento; é nesta única
condição que pode encaminhar-se para a perfeição de Deus que é omnisciente, todo
amor, e omnipotente.
Alguns de entre vós atingiram o primeiro grau de "perfeição" que lhes permitirá,
à custa de trabalho, evoluir e atingir, depois de encarnações e encarnações, a perfeição
do próprio Deus. Será nesse momento que poderemos dizer que verdadeiramente
participastes na construção do edifício. Ora aí está, é preciso ser perfeito para se tornar
perfeito ! Está claro, compreendeis-me ? ...
O desejo de vos ser útil, é o que me preocupa todos os dias; sim, como trazer-
vos qualquer coisa de que não falei nas conferências anteriores, um elemento novo, uma
verdade nova. Direis: "Uma verdade nova ?" Sim, porque a verdade, este princípio
eterno para o qual nos devemos dirigir, é constituído por uma grande quantidade de
verdades, do mesmo modo que um organismo é formado por milhões e milhões de
células. Só que esta Verdade, que é a síntese de todas as verdades, nenhuma palavra,
nenhuma leitura no-la pode revelar imediatamente. Nós somente podemos conhecer as
verdades que nos aproximam cada vez mais da quintessência sublime, perfeita, que é a
Verdade.
Desde há anos, nada mais faço do que apresentar-vos múltiplos aspectos da
verdade que tocam os diferentes mundos: físico, astral, mental, causal, búdico, átmico,
na esperança de que um dia, enfim, vós possais atingir esta Verdade que abarca a
totalidade das existências.
Diante da beleza e da profundidade de certas obras de arte: poemas, quadros,
música, ou de certas obras filosóficas, iniciáticas, místicas, dá-se bem conta de que os
seus autores contemplaram em algum lado uma verdade que mais ninguém viu. Para ter
acesso a essa verdade, é preciso, evidentemente, outros olhos além dos olhos físicos;
enquanto órgãos dos sentidos, os olhos físicos são muito limitados, não podem perceber
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grande coisa do que um Iniciado chama a realidade enquanto eles não forem, eles
próprios, iluminados por uma luz que permite ver para lá das aparências. Mas então
que são os olhos para além dos olhos ?... E que luz é esta que ilumina o mundo que eles
viram ?...
A verdade é um mundo real, um mundo que existe como luz, beleza, harmonia,
perfeição. Para penetrar nesse mundo é necessário que qualquer coisa em nós possa
por-se em uníssono com ele. Há em nós uma faculdade superior que pode ver a
verdade, uma faculdade que nunca foi despertada nem afinada e sobre a qual devemos
trabalhar. Pode chamar-se intuição a esta faculdade, é uma faculdade do espírito.
A verdade escapará aos humanos enquanto a identificarem com o conhecimento
do mundo físico que podem ver, medir, pesar. O mundo físico é só uma manifestação,
uma consequência longínqua da verdade. Acreditamos ver ali a verdade, enquanto não
vemos senão a sua capa, uma parte superficial. A verdade é um mundo de perfeição que
tem manifestações nos três planos, espiritual, psíquico e físico: através das virtudes no
plano espiritual, através dos pensamentos e dos sentimentos no plano psíquico, através
das formas, das cores, dos sons, etc., no plano físico.
Portanto é um erro crer que a verdade pode ser conhecida pela inteligência. A
inteligência é uma faculdade que permite ao homem conhecer o mundo físico, pouca
coisa do mundo psíquico, mas não mais. A inteligência é uma faculdade muito reduzida,
só por si não pode conhecer a verdade. Tomemos o exemplo muito simples duma rosa.
Conhecer a verdade duma rosa, não é só perceber a sua forma, a sua cor, o seu
perfume. A verdade da rosa é uma emanação, uma presença que não se pode alcançar
com a inteligência. Conhecer a rosa é sentir todo este conjunto de elementos que fazem
dela uma rosa e não outra coisa. Por maioria de razão, para o ser humano: a verdade
sobre um ser humano deve reunir, sintetizar todos os elementos que o constituem, desde
o seu espírito até ao seu corpo físico. Enquanto vós não os conheceis, não conheceis a
verdade a seu respeito, não conheceis deles senão uma muito pequena parte. Mas a
verdade dum ser, a sua verdade definitiva, absoluta, reside no seu espírito, e não pode
ser conhecida senão pelo espírito. Direis: "De acordo, compreende-se que é difícil
conhecer o ser humano. Mas a natureza, conhecemo-la." Não, não a conhecemos, não
sabemos o que é uma rosa, não sabemos sequer o que é a terra. O que vemos à nossa
volta, as florestas, as montanhas, os rios, os mares, não é senão o invólucro exterior; é
matéria, diferentes categorias de matéria... o que encobre, se o quiserdes. Agora é
preciso exercitar-vos para ir ao lado de lá, a fim de ver o corpo etérico da natureza, com
as suas vibrações, as suas manifestações... Aliás, na realidade, até o corpo etérico é um
invólucro, e de lá ainda é preciso ir mais longe.
Só pode encontrar a verdade aquele que é capaz de retirar à natureza todos os
seus invólucros. E é isso que se ensina aos discípulos na Iniciação: levantar o véu de
Ísis. A deusa Ísis é, na religião egípcia, a esposa do Deus Osíris. Nesta grande figura
feminina os Iniciados viram um símbolo da natureza primordial da qual provieram todos
os seres e todos os elementos da criação. Esta natureza, impenetrável para o homem
comum, os Iniciados fizeram dela o seu principal objecto de estudo, querem conhece-la
e para isso dedicam-se a compreender as existências que ela produz e através das quais
se manifesta.
A expressão "levantar o véu de Ísis" é uma imagem. Pode ser que seja mal
entendida por alguns: à primeira vista verão qualquer coisa de trivial, uma mulher a
quem se retiram as vestes. Ora bem, nada disso, os Iniciados deixam as mulheres em
paz, porque sabem que o que procuram está noutro lado qualquer. A sua ambição é tirar
o véu da natureza, e chegam lá através da maior pureza, da maior mestria. É então que
Ísis se descobre para eles com todo o seu esplendor.
II
Que significa "estar nu" ? Esta expressão tem dois sentidos: pode querer dizer
que o homem é pobre, miserável, privado de todas as qualidades e virtudes. Pode
significar também que não tem nenhum invólucro, nenhuma carapaça, que é perfeito,
livre, que está na verdade. Só os seres divinos estão assim nus, o que se exprime
também dizendo que estão envolvidos ou vestidos de luz. É muito difícil encontrar no
vocabulário palavras que traduzam exactamente as realidades da vida espiritual, é
preciso recorrer a imagens, comparações, expressões simbólicas. É por isso que os
Iniciados ensinam que no mundo divino a verdade está nua, o que quer dizer que não
está envolta por uma matéria que a disfarce. Podem dizer também que é luz pura,
porque a luz situa-se precisamente na fronteira do mundo material e do mundo
espiritual.
De certo modo, encontram-se na natureza correspondências entre a vida do
plano físico e do plano espiritual. Vede, no verão, quando há muito sol, luz, calor, veste-
se pouca roupa. Pelo contrário, no inverno, quando o sol é mais raro, há mais sombra,
mais frio, deve vestir-se mais roupa. O calor e o frio são símbolos da vida interior:
quanto mais nos afastamos do mundo divino, da fonte do calor e da luz, mais estamos
pobres de virtudes, mais frio temos, somos obrigados a cobrir-nos com todo o género
de ouropéis. Pelo contrário, quando através duma vida pura e luminosa, começamos a
aproximar-nos da fonte, abandonamos todos os coberturas inúteis. Notai, é preciso
aprender a interpretar todos estes símbolos da vida psíquica.
Então compreendei-me bem, a nudez de que eu quero falar-vos é a do corpo
astral e mental. Por causa dos vossos pensamentos e dos vossos sentimentos egoístas,
malévolos, vingativos, pusestes estes corpos tão opacos que não podeis mais comunicar
com as realidades e existências do mundo espiritual. Quereis meditar, mas como não
conseguis libertar-vos das vossas preocupações materiais, das vossas inquietações, dos
vossos rancores, das vossas irritações, das vossas lembranças penosas, não podeis
elevar-vos. Então, por mais que fiqueis ali, de olhos fechados, esperando que se produza
o movimento que permitirá à vossa alma dar um salto para a luz, nada se passa. E nestas
condições é quase inútil tentar meditar, porque nada obtereis. Os vossos órgãos
interiores estão obstruídos, não funcionam. E isto será assim durante todo o tempo em
que não tiverdes aprendido a despojar-vos das velhas vestes grosseiras, sujas, usadas,
rotas. Sim, simbolicamente, existem certamente velhas vestes das quais temos de nos
desembaraçar !
A coisa mais importante na vida, é por isso este trabalho interior de renúncia.
Claro que é difícil, e não só é difícil, mas muitos não chegam mesmo a compreender que
há camadas opacas de que se deveriam desembaraçar, nem porque deveriam
desembaraçar-se delas.
Só a verdade está nua. Portanto, para se elevar até esta nudez da verdade, é
preciso trabalhar para se libertar de tudo o que em nós é opaco, impermeável ao mundo
divino. Quando se atinge esta nudez, pode ir-se mais alto a fim de receber mensagens,
conselhos, sabedoria, amor, ajuda de Deus. Diante do Céu é necessário apresentar-se
todo nu, quer dizer, despojado da sua cupidez, dos seus cálculos, das suas ideias falsas.
Quanto mais nos despojamos, mais nos elevamos.
Seguidamente, quando voltamos a descer - porque somos sempre obrigados a
descer, enquanto estamos na terra temos de cumprir também as nossas tarefas na terra -
revestimo-nos, quer dizer, retomamos todas as actividades, projectos, relações com a
família, os amigos, os vizinhos, etc. Para o mundo é necessário vestir-se, mas para o
Céu: o Céu só gosta de seres nus. Vede que imagem magnífica deram os Iniciados
quando falaram de contemplar a verdade nua, Ísis sem véus !...
Por agora nada mais vos direi sobre isso. Compete-vos agora meditar para
compreender o que significa o véu de Ísis e como separá-lo para conhecer a verdade.
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Omraam Mikhaël Aïvanhov
branca, negra, amarela ou vermelha ! Que o corpo seja idêntico, com as mesmas
formas, as mesmas funções, é secundário, é pela pele que os humanos se interessam.
Esta pele de que em geral não se preocupam grande coisa - salvo para lhe aplicar
loções, cremes ou pinturas ! - eis que de repente, por causa da sua cor, ela toma uma
importância capital e massacram-se ! É preciso deixar a cor tranquila, pensai antes no
que deveis fazer para proteger a vossa pele em condições de desempenhar o seu papel
de protecção mas também de instrumento de percepção. Que matéria extraordinária a
pele, ao mesmo tempo fina, macia, mas também tão resistente ! E quando ela está um
pouco maltratada, dilacerada, reconstitui-se rapidamente. Por outro lado, os Egípcios
que embalsamavam os mortos mostraram-nos qual podia ser a sua resistência já que,
em certas condições, ela pode durar séculos ou até milénios.
Com a pele, a Inteligência cósmica deu-nos um órgão dos sentidos que tem
também prolongamentos até ao mundo espiritual.; porque é preciso saber que a pele
produz secreções subtis que acabam por lhe dar certas propriedades. Para não destruir
esta película etérica há regras de vida a respeitar; porque tudo se reflecte na pele. Se
soubéssemos observar, descobriríamos através da pele o estado psíquico e até físico
duma pessoa. Existem peles sãs ou anémicas, inteligentes ou estúpidas, preguiçosas ou
activas. E por outro lado isto muda com as circunstâncias: um dia ela pode estar viva,
radiosa, e no outro dia sem brilho, pálida, morta. E acontece o mesmo com os cabelos
que são feitos dos mesmos elementos que a pele: eles reflectem o estado físico e o
estado interior.
Através da pele de qualquer pessoa, podeis saber a vida que ele leva: há
qualquer coisa no aspecto, na cor, que fala imediatamente duma vida espiritual ou duma
vida grosseira, animal. Mas o que é interessante constatar também é que a pele duma
mesma pessoa não é idêntica por todo o corpo: em certos sítios, é lisa, fina, e noutros
sítios é manchada ou enrugada. Há mesmo pessoas de que temos a impressão que a
pele, que é branca, está com a cor violeta, azul ou amarela. É a prova que atrás desta
fachada que é a pele, existem outras peles que não se vêm mas que projectam partículas
puras ou impuras, luminosas, coloridas ou pálidas. Há muito tempo encontrei em
Zurique uma clarividente e o que mais me impressionou na sua fisionomia e que nunca
mais pude esquecer, foi a sua pele, a santidade da sua pele. Foi por causa disso que eu
senti que ela era verdadeiramente uma muito grande clarividente.
Então, de hoje em diante, procurai compreender melhor em que sentido vale a
pena ocupar-nos da pele. Deixai de lado a questão da cor. Não vos preocupeis
demasiado com os produtos que servem para a conservar em bom estado. Em
compensação lembrai-vos que ela é a melhor veste que o Céu nos deu, e que ela pode
mesmo tornar-se um verdadeiro órgão do conhecimento. Mas para isso devemos
melhorar a nossa maneira de viver.
XI - Em espírito e em verdade
Os princípios que governam o universo são comparáveis aos algarismos de 0 a
9 a partir dos quais se fazem todas as combinações numéricas. Os princípios, como os
dez primeiros números, são dados uma vez para todos, mas ninguém é capaz de prever
as múltiplas combinações que podem produzir, até ao infinito. è isto que devemos
aprender no curso dos séculos: as novas combinações, as novas formas engendradas
pelos princípios que, eles, são eternos. Em todos os domínios, o movimento é a lei da
vida. Também é um grande erro da parte da religião querer eternizar as formas. Só os
princípios são eternos, as formas têm que mudar.
O encontro de Jesus junto a um poço com uma mulher samaritana que vinha
buscar água, é um dos episódios mais notáveis dos evangelhos.
"Jesus chegou a uma cidade de Samaria, chamada Sicar, perto dum campo que
Jacob tinha dado a José, seu filho. Lá encontrava-se o poço de Jacob. Jesus, cansado da
viagem, estava sentado na borda do poço. Era perto da hora sexta.
Uma mulher de Samaria veio tirar água. Jesus disse-lhe: Dá-me de beber.
Porque os seus discípulos tinham ido à cidade comprar mantimentos. A mulher
samaritana respondeu-lhe: Como é que tu, que és judeu, me pedes de beber, a mim que
sou uma mulher samaritana ? - Com efeito, os judeus não tinham relações com os
samaritanos. - Jesus respondeu-lhe: Se tu conhecesses o dom de Deus e quem é que te
diz : Dá-me de beber! tu própria lhe terias pedido de beber e ele te daria água viva.
Senhor, disse a mulher, tu não tens nada para tirar água e o poço é profundo: portanto
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donde tirarias essa água viva ? És tu maior que o nosso pai Jacob que nos deu este
poço e donde ele próprio bebeu, assim como os seus filhos e os seus rebanhos ? Jesus
respondeu-lhe: Todo o que bebe desta água voltará a ter sede, mas aquele que beber a
água que eu lhe der nunca mais terá sede, e a água que eu lhe der tornar-se-á nele numa
fonte de água que jorrará até na vida eterna. A mulher disse-lhe: Senhor, dá-me dessa
água, para não voltar a ter sede nem voltar aqui tirar água. Vai, disse-lhe Jesus, chama
o teu marido, e vem cá. A mulher respondeu: Eu não tenho marido. Jesus disse-lhe:
Tens razão para dizer: Eu não tenho marido. Porque tu tiveste cinco maridos, e o que
tens agora não é teu marido. Acerca disso disseste a verdade, Senhor, disse-lhe a
mulher, vejo que és profeta. Os nossos antepassados adoraram nesta montanha: e vós,
vós dizeis que o lugar onde se deve adorar é em Jerusalém. Mulher, disse-lhe Jesus,
acredita-me, vem o tempo em que não será nesta montanha nem em Jerusalém que
adorareis o Pai. Vem o tempo, e ele já chegou, em que os verdadeiros adoradores
adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque estão aí os adoradores que o Pai
procura. Deus é espírito, e é preciso que os que o adoram, o adorem em espírito e em
verdade. " (Jo 4- 5/24)
"Mulher, acredita-me, vem o tempo em que não será nesta montanha nem em
Jerusalém que adorareis o Pai. Vem o tempo, e ele já chegou, em que os verdadeiros
adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade". O que é extraordinário é que
Jesus fez esta revelação a uma mulher que, evidentemente, não podia compreender
estas palavras. E a pobre, nós não a podemos censurar por isso quando se pensa que
desde há séculos, alguns, mesmo entre os maiores teólogos, passaram ao lado do seu
verdadeiro significado.
"Vem o tempo em que não será nesta montanha nem em Jerusalém que
adorareis o Pai." ... E Jesus não indica um outro lugar que pudesse substituir a
montanha de Samaria ou o templo de Jerusalém, não menciona nenhum lugar mas
pronuncia duas palavras abstractas entre as mais inconcebíveis para o homem: espírito e
verdade. O espírito opõe-se à matéria e a verdade à mentira, ao erro, à ilusão, à
aparência. Portanto, adorar a Deus "em espírito" é abandonar as formas materiais que
nos prendem e nos impedem de nos mover livremente; e "em verdade", é apartar-se das
ilusões, das aparências.
Alguns dirão que "em espírito e em verdade" qualificava a religião que Jesus
trazia, a religião cristã, que ele opunha assim à religião de Moisés e às religiões pagãs
que abundavam então na Palestina. Não, eu não penso assim, e além disso o
cristianismo conservou as suas crenças, os seus rituais, os seus monumentos, sobretudo
muitos traços da religião judia e até das religiões pagãs. E além do mais, são todas as
religiões que têm tendência para se materializar, para se agarrar aos objectos, às
práticas exteriores. Por isso, é para todas as religiões que Jesus deu como ideal a atingir
a fórmula "em espírito e em verdade". Se ele voltasse hoje, pronunciaria certamente
pouco mais ou menos as mesmas palavras. Diria: "Chega a hora em que não será nem
em Jerusalém, nem em Roma, nem em Meca, nem em Benares... que adorareis ao Pai,
mas em espírito e em verdade."
Jesus tinha concepções revolucionárias, mas isso não o impedia de respeitar
certos aspectos da ordem antiga e os preceitos dados por Moisés. Ele dizia: "Não
penseis que eu venho para abolir a Lei ou os Profetas; eu não vim para abolir mas para
cumprir. Porque digo-vos, em verdade, enquanto o céu e a terra não passarem, não
desaparecerá da Lei um só ponto ou um só traço de letra até que tudo tenha
acontecido". (Mt 5-17/18) Mas ao mesmo tempo ele queria conduzir os homens mais
longe no caminho da verdadeira religião.
Um Mestre espiritual tem exactamente as mesmas preocupações que os outros
instrutores; tem obrigação de fazer progredir os humanos como um professor tem
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obrigação de fazer progredir os alunos. Sabe muitos não poderão segui-lo nas suas
ideias e projectos, mas por isso será preciso deixar estagnar o pequeno número
daqueles que desejam ir mais longe e que são capazes disso ? Porquê nivelar-se pelos
mais fracos, os mais limitados ? É sempre necessário incentivar os humanos a ir para a
frente, mas ao mesmo tempo mostrar-se compreensivo e indulgente face aos que não
podem progredir de tal modo naquele momento.
Jesus interrogava-se como instruir a multidão, as pessoas simples que vinham
ter com ele ao mesmo tempo que os seres espiritualmente mais avançados. Foi por isso
que se serviu de parábolas. E num dia em que os discípulos lhe reclamaram: "Porque é
que lhes falas por parábolas ?" ele respondeu: "Porque a vós foi-vos dado conhecer os
mistérios do Reino dos Céus e isso não lhes foi dado a eles". Para a multidão, Jesus
usou imagens e narrativas. Aos seus discípulos explicou a correspondência destas
imagens e destas narrativas no domínio das virtudes. E entre os seus discípulos, ele
ainda escolheu um, são João, a quem revelou o sentido profundo das suas palavras.
Pode dizer-se, pois, que à multidão deu a forma, aos discípulos o conteúdo e a são João
revelou o sentido.
E é assim há séculos: a multidão fica-se pela forma, os discípulos trabalham no
conteúdo, e os Iniciados encontram o sentido do qual o mais importante é resumido
nestas duas palavras "em espírito e em verdade" que revelam que para Jesus existia
também um lado esotérico da religião. Felizmente ele pronunciou estas palavras, senão
seria quase impossível encontrar em qualquer outro lugar nos Evangelhos uma menção
semelhante. Pergunta-se mesmo como se fez para que tenham sido conservadas. De tal
modo outras passagens foram suprimidas ou transformadas !
Para compreender, uma criança tem necessidade que lhe contemos histórias,
que lhe mostremos imagens, objectos concretos. No domínio da religião, a maior parte
dos humanos, nisso ainda ficou no estado da infância: eles têm necessidade de coisas
exteriores, concretas, tangíveis, às quais se agarrar. Imaginai que se anunciava um dia
aos crentes do mundo inteiro: "De hoje em diante, não haverá mais lugares de culto,
nem cerimónias, nem clero, nem estátuas nem imagens santas, nem nada material nem
exterior: ireis adorar a Deus em espírito e em verdade." Isto seria o vazio para eles,
eles sentir-se-iam perdidos. Só um ser excepcionalmente evoluído pode encontrar no
seu espírito, na sua alma, o santuário em que entrará para se dirigir ao Senhor, para
tocar, saborear e respirar os esplendores do Céu. Evidentemente que é desejável um
semelhante desenvolvimento da consciência. Para os que são capazes de chegar até lá,
não há mais limites, porque o mundo da alma e do espírito é o mais belo, o mais vasto;
podem trabalhar até ao infinito para construir o seu futuro de filhos de Deus.
Entretanto, como estamos na terra, somos obrigados a dar às nossas crenças
formas materiais: lugares, objectos de culto, festas religiosas em certos períodos do
ano, que são a expressão destas crenças. Mas precisamente, é preciso compreender que
elas não senão uma expressão, elas não são a própria religião. Nós não podemos fazer
entrar a Divindade numa igreja , num templo, numa mesquita ou numa sinagoga, nem
num objecto, nem mesmo numa hóstia. É rebaixar a Divindade pretender o contrário.
Sim, não quero ofender os cristãos, mas pretender que basta engolir uma hóstia para
comunicar com Cristo, é uma invenção magnífica, mas é uma invenção. Como
podemos acreditar que Cristo, o filho de Deus, se deixa aprisionar numa hóstia por
padres, mais ou menos dignos ? Mas porque se prende ? E chama-se a isso o mistério
da eucaristia ! Não, não existe ali nenhum mistério, mas somente realidades espirituais
que obedecem a leis: é verdade que num objecto se podem fazer entrar fluidos,
influências... mas não Deus ! Além disso Jesus não disse: "Se não me comerdes, se não
me beberdes" mas sim: " Se não comerdes a minha carne, e se não beberdes o meu
sangue..." Não é pois ele que se come ou que se bebe; é qualquer coisa que lhe
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pertence, mas que não é ele. A carne e o sangue do Cristo são elementos cósmicos que
nos podemos tomar pela alimentação, pela respiração, pela meditação, e podemos
mesmo condensá-los em objectos. Mas Cristo, ele próprio, o seu espírito, ninguém tem
poder sobre ele.
Para viver uma religião em espírito e em verdade, não é preciso ficar agarrado
ao que está ali, muito perto, ao alcance da mão ou da boca. É preciso deslocar-se,
porque Cristo está muito alto, altíssimo. Aquele que quer beber água pura deve subir à
montanha para se saciar na nascente, enquanto o que não pode subir, fica em baixo para
beber, mas aí, a água está poluída e ele apanha micróbios.
Entendei-me bem, eu não sou contra a comunhão dos cristãos, eu não digo que
não é preciso comungar, digo que é preciso ter uma visão correcta da realidade das
coisas. É inexacto dizer que o padre faz entrar Cristo numa hóstia ou no vinho. E não
ajudamos os humanos a ter uma melhor compreensão da vida espiritual ao fazer-lhes
crer que é pelo pão e pelo vinho da comunhão que tocarão a Divindade. Porquê querer
transformar a Divindade fechando-a em qualquer coisa de material ? Porquê enganar
os humanos com crenças erradas ? Quantas pessoas há na terra que não conhecem a
comunhão dos cristãos ? Isso significa que eles não podem comunicar com a Divindade
tão bem como os cristãos ? Pensa-se que para comunicar como Céu devem fazer-se
cristãos ?...Oh lá lá ! Porquê limitar-se assim e querer limitar os outros ?
Os humanos sempre sentiram necessidade de se impor aos outros, de lhes impor
constrangimentos. E foi muito longe... sim, até deformar, mutilar voluntariamente o
corpo físico. Todos estes costumes de ligar os pés, deformar as cabeças, etc., que
encontramos em certas culturas... Sim, em todos os domínios, houve humanos para
querer maltratar os outros física ou psiquicamente.
Então agora coloco-vos a questão: estes milhões de homens que desde há
séculos nunca ouviram falar da missa nem da comunhão, sinceramente, que pensam os
cristãos do seu destino ? Que serão rejeitados por Deus ?... Vede, é preciso
compreender a comunhão num sentido mais lato, mais vasto. A comunhão é a condição
da própria vida. Como comungamos ? De todas os modos. A começar já pelo alimento
que tomamos todos os dias, porque ainda que o alimento seja material, está impregnado
da vida do Criador e pode-se, por um trabalho do pensamento, da consciência,
aprender a retirar dele elementos mais subtis a fim de alimentar também a nossa alma e
o nosso espírito. É esta a verdadeira comunhão: alimentar a alma e o espírito.
E quando nós respiramos, quando dormimos, quando contemplamos a
natureza, As montanhas, o mar, o sol, as estrelas... podemos também viver estados de
consciência magníficos que são uma comunhão, a única verdadeira comunhão que dá
um sentido à comunhão dos cristãos. Tomar a hóstia e o vinho não serve para nada se
não se aprendeu a comungar com o Criador duma maneira mais vasta, mais profunda,
através dos actos mais simples da vida diária: comer, beber, andar, respirar, olhar, ouvir,
dormir, amar, trabalhar.
Agora, se preferirdes ficar com as concepções pobres e limitadas da comunhão,
sois livres de o fazer. Mas um dia sereis obrigados a abandoná-las. Se não for hoje, será
mais tarde; mas a profecia de Jesus deve cumprir-se. Mesmo que não seja de mim que
aceiteis estas verdades, o Céu enviará outros seres que vos dirão a mesma coisa.
A questão não é pertencer a uma religião em vez de uma outra, observar tal
ritual em vez de outro: um ritual é somente uma forma, e uma forma não é útil se não
se é capaz de a animar, de lhe introduzir um conteúdo.
Na minha juventude, na Bulgária, tinha ouvido contar esta história. Em tempos
antigos um bispo viajava pelas estradas com a sua comitiva. Uma manhã muito cedo,
tomou uma barca para atravessar um lago; mas rapidamente, o tempo começou a
alterar-se, a tempestade desencadeou-se e arrojou-o na costa num local ermo.
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Enquanto com as suas gentes agradecia ao Céu por ter escapado dum grande perigo,
viu chegar um jovem que guardava cabras. Interrogou-o: "Que lugar é este ? E tu,
quem és?..." A resposta do jovem pastor, o som da sua voz, a pureza do seu rosto
impressionaram o bispo que lhe perguntou: "Tu rezas a Deus, meu rapaz ? - Sim. - E
que orações rezas ? - Não rezo nenhuma oração. - Mas tu dizes que rezas, como
fazes ?" O rapaz pegou então no seu cajado de pastor, colocou-o horizontalmente em
cima de duas pedras e pôs-se a saltar de um lado para o outro. O bispo e a comitiva
arregalavam os olhos de assombro, enquanto ele, todo contente por poder mostrar a
tão importantes personagens como rezava, saltava, saltava... Quando terminou, um
pouco esfalfado, uma tal luz estava espargida sobre o seu rosto que o bispo ficou um
momento pensativo. Depois disse-lhe: "Está bem, mas há uma oração melhor, queres
conhece-la? - Oh sim !" , respondeu o pastor feliz por aprender a rezar melhor a Deus.
"- Então põe-te de joelhos, junta as mãos e repete depois de mim: Pai nosso, que estais
no Céu... Santificado seja o vosso nome... " O rapaz repetiu várias vezes com grande
respeito e aplicação. Acalmada a tempestade, os passageiros prepararam-se para partir.
Antes de subir para a barca o bispo abençoou o rapaz recomendando-lhe que recitasse
bem todos os dias a oração que tinha aprendido. A barca estava já a uma boa distancia
da margem quando de súbito o bispo viu chegar andando sobre as águas, o jovem
pastor com o seu cajado que chamava: "Senhor bispo, Senhor bispo, há algumas
palavras da oração de que me não lembro ! Oh meu rapaz, gritou o bispo maravilhado
de espanto diante deste prodígio, isso não tem qualquer importância, reza como
quiseres, o Senhor sempre percebeu a tua oração !"
Esta anedota é verídica ?... Em todo o caso, mesmo que não o fosse, quem a
inventou tinha compreendido que o essencial não está na forma, na postura, nas
palavras, mas na intensidade da vida interior.
"Nem sobre a montanha, nem em Jerusalém"... porque a qualidade da oração
não depende do lugar em que vós vos encontrardes. A única coisa importante sois vós,
no vosso templo interior. Podeis ir rezar a Deus no mais belo santuário do mundo, se o
vosso próprio santuário não estiver purificado, Deus não ouvirá a vossa oração. Mas se
tiverdes purificado, iluminado o vosso santuário interior, onde quer que estejais, a
vossa oração elevar-se-á até ao trono de Deus.
E da mesma maneira que não tem que necessariamente haver lugar para isso,
não tem que necessariamente haver tempo para adorar a Deus em espírito e em
verdade. Porque é que cada religião tem um dia particular reservado ao culto ? Para
os muçulmanos é sexta-feira, para os judeus o sábado, para os cristãos o domingo...
Não há na realidade nenhuma diferença entre estes dias. Aos olhos de Deus, todos os
dias são igualmente sagrados, abençoados. Passar seis dias a esquecer Deus nas
preocupações e actividades materiais, prosaicas, e no sétimo enfim voltar os olhos para
Ele, não faz sentido. Em que estado chegais diante Dele quando vivestes seis dias não
importa como ? Acreditais que ele gosta desta hipocrisia ? O que viveis no sétimo dia
depende do modo como vós já vivestes os outros seis, não é preciso ter ilusões.
Portanto, na verdadeira religião do Cristo, "em espírito e em verdade" é em toda a
parte e todos os dias que o homem se sentirá no templo de Deus para O celebrar e para
O louvar.
Jesus não demoliu a religião de seus pais, ele aprofundou-a, alargou-a,
interiorizou-a. E eu, quero demolir o cristianismo ? Não, eu quero pensar como Jesus,
sentir como ele, agir como ele... E se ainda não chego aí, continuarei ao menos a
desejar e a trabalhar para isso !
ingenuidade, a sua credulidade para fazer negócios. Eu gosto muito da pequena santa
Teresa, e é precisamente porque gostava dela que não fiquei contente por ir visitar a
catedral de Lisieux ou de ter a sua fotografia; fiz com que nos encontrássemos. Sim, ela
veio ver-me várias vezes e disse-me muitas coisas. Interpretai isto como quiserdes...
E então, quando alguém me deu um dia um cabelo de santa Teresa, com
certeza, não o rejeitei. Mas este cabelo foi mesmo seu ? Além disso, quantas perucas se
poderiam fazer com todos os cabelos de santos que assim foram distribuídos ! e o
Mestre Peter Deunov, também ele, os irmãos e irmãs da Bulgária, apanhavam os seus
cabelos quando por acaso os encontravam. Mas o que é que se acredita possuir ao
guardar os cabelos dum santo ou dum Iniciado ? É o seu exemplo, o seu ensinamento
que é preciso guardar, que é preciso seguir, e deixar os cabelos e tudo o resto
tranquilos.
Adorar Deus em espírito e em verdade... Esta concepção enunciada por Jesus
vai contra os interesses materiais de muitos, e é por isso que a deixam de lado. Mas
Jesus é nisso que trabalha, e um dia obriga-os a mudar, quer queiram ou não. Um dia, o
próprio Jesus virá sacudi-los dizendo: "Vós não procurastes o meu espírito, estivestes
adormecidos junto dos vestígios e agora estais, esclerosados, mortos." Sim, é ele que
virá sacudi-los a todos.
Seja em que domínio for, procurai nunca vos deixar parar na forma, senão as
vossas preocupações espirituais não serão satisfeitas e sereis infelizes. Enquanto
estiverdes habituados a ver as afinidades infinitas que existem entre cada forma e o
mundo divino, ireis muito longe. É preciso aprender a ler este livro que está diante de
nós.
nós fazemos procurar por um cão. Damos a respirar ao cão um lenço ou um objecto
que tivesse pertencido a esta pessoa e, farejando o seu rasto, o cão pode encontrá-la a
quilómetros dali. Isto prova que os seres humanos deixam sinais, mas os sinais, isto
ainda não é o espírito.
Por todo o lado há pistas. Nos lugares em que rezaram, nos templos em que
eles viveram e fizeram cerimónias, os Iniciados deixaram marcas no lado etérico da
matéria. Alguns clarividentes muito evoluídos são capazes de os encontrar e
interpretar, reconstituindo assim a vida tal como ela se desenrolava nos santuários. Mas
mesmo os sinais encontrados desta maneira não são senão aparências, envoltórios, as
vestes do espírito, exactamente como o corpo físico é a veste da nossa alma e do nosso
espírito. Não é portanto muito certo que se encontrará o espírito indo procurá-lo lá
onde ele respirou um dia.
Jesus e todos os Iniciados do passado, onde estão neste momento ? Procuram-
nos entre os escombros dos lugares em que viveram, mas eles não estão lá. Pode
acontecer que, encontrando-vos num estado de receptividade particular, o contacto se
faça imediatamente com o espírito dos lugares e que tenhais revelações. Mas isto são
fenómenos muito raros. Se quereis encontrar os sinais da passagem de Jesus na terra e
entrar em contacto com o seu espírito tal como se manifestou há dois mil anos, deveis
elevar-vos até às regiões do espaço que a Ciência iniciática chama "Akasha chronica" e
onde estão conservados todos os arquivos do universo. É lá que, pela meditação, pela
contemplação, tendes que procurar penetrar; e se fordes bem sucedidos nisso, vós
compreendereis então o que significam as palavras "em espírito e em verdade".
Todos os que se interessam pelas civilizações e pelas religiões do passado vão
para o terreno fazer escavações e tentam interpretar a mais pequena ruína, o mais
pequeno caco de cerâmica, o menor trapo de tecido ou de papiro. E certamente contam
muita coisa interessante, mas o essencial escapa-lhes. Para encontrar o espírito destas
civilizações, destas religiões, é preciso poder elevar-se até aos arquivos cósmicos, a
Akasha chronica.
Acontece que um Iniciado se debruça sobre vestígios, porque um Iniciado nada
negligencia, nada desdenha, mas sabe que são só sinais, e não o próprio espírito. Farei
ainda uma comparação. Vós lestes as aventuras do detective Sherlock Holmes... um
pouco das cinzas dum cigarro, um botão, lama num tapete e, pouco a pouco, ele chega
até ao criminoso. Ele não fica eternamente ao lado das pistas dizendo: "O assassino
isto... o ladrão aquilo..." não, ele desloca-se para ir procurar. Porque é isso o essencial:
deslocar-se. E eis que os cristãos ficam nos vestígios. É para ser fiéis às prescrições,
dizem eles. Não, é porque são preguiçosos.
"Então, direis vós, e agora, como poderemos encontrar o espírito de todos os
Iniciados da Índia, do Egipto, da Caldeia, de Israel, da Grécia ?" Eles não estão
mortos, voltaram para lá donde vieram, voltaram para a sua pátria: o sol. Sim, todos
estes espíritos luminosos que vieram iluminar o mundo voltaram a viver no sol donde
vieram, e lá de cima, continuam a ajudar-nos. É através dos raios do sol que
comunicam connosco, nos sorriem, nos tocam, nos purificam, nos vivificam; os raios
são como braços, mãos, mas o espírito fica lá em cima. E se aprenderdes a dirigir-vos a
partir destas pistas que são os raios de sol, chegareis até eles.
Só o espírito vivifica. Quanto aos vestígios, podemos compará-los às caixas de
conservas. Quereis comer ervilhas ou sardinhas ou cerejas, e eis ali, abre-se uma caixa.
Isto não é mau, mas não há em tudo isto a mesma vida como se as pequenas ervilhas ,
as sardinhas ou as cerejas fossem frescas. Então deixai as conservas e ide ao restaurante
que vos dará sempre a comida mais fresca: este restaurante é o sol. A partir do dia em
que decidirdes frequentá-lo, ireis reforçar-vos, iluminar-vos.
Mas quando vos falo do sol, compreendei-nos bem: eu não vos disse que não
há nada de superior ao sol. O sol também é um vestígio, o sol físico. Só o espírito do
sol é verdadeiramente espírito; e além disso, não está sempre no sol, é livre, desloca-se
pelo universo. Não acreditais em mim ? E todavia é verdade, o espírito do sol não está
sempre no sol, ele vai, ele vem, ele viaja através do espaço infinito, ele está por todo o
lado... Será que começais a compreender a que região eu vos conduzo ? Direis: " Mas
é de tal modo longe, é de tal modo alto que se têm vertigens." Tanto melhor, a vertigem
significa que planamos por de cima do abismo!...
Mas voltemos a descer um pouco e digamos ainda algumas palavras sobre as
conservas. Não é proibido comer conservas e além disso por vezes é-se obrigado a
come-las, senão seria muito complicado alimentar-se. Pequenas ervilhas, sardinhas,
também já as comi, isso nunca fez mal a ninguém. Mas quando eu digo que não é
preciso comer conservas, eu falo da alimentação espiritual. Para a alimentação
espiritual, eu nunca como conservas, isto, eu digo-vo-lo francamente. Todas estas
velhas elucubrações saídas dos cérebros de humanos ignorantes, eu não os aceito, faço
uma triagem. Eu deixo os outros regalarem-se com as conservas se quiserem, mas eu
não como nada de tudo isto. Agora não ide contar em toda a parte: "O Mestre disse
que nunca é preciso comer conservas". É muito mais fácil contar histórias a respeito de
caixas de conservas do que fazer um esforço para compreender que falo antes de tudo
para o plano espiritual !
Portanto, continuai a ir visitar os lugares em que os santos e os Iniciados
viveram, mas guardando bem no pensamento que estes lugares devem servir-vos
sobretudo como uma incitação a encontrar o único verdadeiro lugar sagrado que está
em vós. Se não encontrardes este lugar dentro de vós mesmos, será em vão que
visitareis todos os lugares santos da terra, não sentireis nada, não encontrareis nada,
ficareis sempre também pobre, vazio e insatisfeito. Trabalhai portanto para criar dentro
de vós certas condições e então, onde quer que estejais, sentir-vos-eis em comunhão
com todos os grandes espíritos que vieram encarnar na terra, alimentar-vos-eis da sua
sabedoria, do seu amor.
Vereis, volta-se sempre à preeminência do lado subjectivo sobre o lado
objectivo. O que procura a verdade ou a felicidade fora de si, encontrará sempre um
pouco de qualquer coisa, certamente, um reflexo, uma pista, mas depressa se sentirá
insatisfeito, no vazio. É preciso procurar dentro de si.
Alguém dirá: “Oh, mas para eu encontrar o espírito dos mortos, vou a reuniões
espíritas”. Então, credes que basta que alguém pergunte: “Espírito, estás aí ?” para que
encontreis realmente aquele que procurais ? Nada é menos provável. Muitas vezes, as
entidades que respondem às perguntas dos médiuns são larvas do plano astral,
elementais que sabem muito bem como enganar os humanos. E o ser que procurais,
sabe Deus onde ele está !
Com certeza, se quiserdes alimentar ilusões, sois livres de o fazer. Mas a
respeito das sessões espíritas, as mensagens mediúnicas, é preciso saber o seguinte: que
a qualidade das mensagens, a sua veracidade dependem do vosso grau de evolução
assim como do grau de evolução do médium. São os humanos que, pela qualidade da
sua vida interior, atraem tal ou tal entidade. No mundo invisível passa-se como no
mundo visível: encontram-se lá criaturas extremamente evoluídas, entidades luminosas,
puras e verídicas, e outras que, pelo contrário, são levadas a enganar os humanos, a rir-
se deles e a fazer-lhes mal. Infelizmente, são muitas vezes estes últimos que se
apresentam nas sessões de espiritismo ou de mesas girantes, por exemplo. Como podeis
imaginar que as mais altas entidades vão responder à chamada do primeiro que se
pretende médium, ou vão desconsertar-se para satisfazer a vossa curiosidade e as vossas
cobiças ?
Os verdadeiros iniciados dir-vos-ão: muitas vezes, mesmo muitas vezes, até nos
fenómenos de aparições, de materializações aos quais se assiste nas sessões espíritas,
não são produzidos por espíritos de luz, mas pelas sombras, por aparências, por larvas,
por elementais que se divertem a enganar os humanos. Portanto, as mensagens
transmitidas em semelhantes sessões são muitas vezes erradas ou até decididamente
enganadoras.
Os humanos vão aventurar-se no mundo invisível sem saber realmente o que ele
é, nem por que criaturas é povoado. Os que são capazes de mergulhar os seus olhares
neste mundo são muito pouco numerosas, há muito poucos clarividentes verdadeiros, e
aquele que quer entrar em relação com os espíritos deve saber que corre o risco de ser
enganado. Pode receber respostas exactas, mas ainda nesse caso, acontece que se isso
bate certo é unicamente o efeito do acaso.
Muitos de vós pergunta-se: “Mas porque é que o Céu permite às forças
invisíveis enganar os humanos ?” Oh, vós sabeis, o Céu permite muitas coisas. Tudo é
permitido nos pântanos e nos oceanos, as criaturas são livres de se devorar umas às
outras… desde que deixamos o Paraíso para descer às regiões obscuras da matéria,
invadidos de poeiras e nevoeiros, não podemos aperceber-nos claramente da realidade
do mundo invisível. É por isso que nos deixamos enganar e extraviar. Felizmente,
existem espíritos que aceitam ajudar-nos. Tudo depende de nós: são os nossos esforços
para nos elevarmos e nos aproximar das entidades celestes que nos permitirão ver a
verdadeira realidade. É por isso que o que quer entrar em contacto pessoalmente ou por
intermédio de um médium com os espíritos do mundo invisível deve desenvolver o seu
discernimento a fim de conhecer a natureza dos espíritos (ou aqueles a que chamamos
“espíritos”) que se manifestam, e não crer cegamente em tudo. Em todas as mensagens,
o verdadeiro e o falso podem estar misturados, é preciso ser capaz de fazer a selecção.
Agora, sabei também que se certas predições se não realizam, isso não significa
sempre que o médium se tenha enganado, mas que vós próprios vos opusestes àquelas
realizações. Porque os humanos tem o seu papel a desempenhar no desenrolar dos
acontecimentos. Na medida em que são livres, depende deles que certas coisas se
produzam ou não. Existem portanto no mundo invisível factos prestes a realizar-se de
que certos médiuns ou até vós próprios podeis aperceber-vos. Mas eis que estes factos
são substituídos por outros que vós formastes, e os acontecimentos que se produzem
são diferentes do que tinha sido previsto. É assim que certas predições feitas por
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grandes clarividentes podem não se realizar: a vontade dos humanos opôs-se a isso. Só
os factos essenciais não podem ser alterados.
As verdadeiras mensagens, predições ou profecias são como que impressões na
alma do mundo e podem ser transmitidas ou reflectidas pelas aves, os animais, ou até os
humanos, sem eles o saberem. Mas há toda uma aprendizagem a fazer para chegar a
decifrá-las. Não é porque possa haver nelas erros que é preciso rejeitar. Vós deveis
somente estudar procurando as confirmações destas mensagens ou os desmentidos por
toda a parte na natureza, e sobretudo em vós mesmos; assim, pouco a pouco, chegareis
a ver isso claro. Mas enquanto esperais trabalhai no vosso aperfeiçoamento interior.
Para poder encontrar o caminho neste labirinto que é a vida, é preciso conhecer
algumas regras que nos dão os grandes Mestres. Infelizmente, temos tendência para
procurar caminhos mais fáceis, mais adaptados aos nossos desejos e é assim que nós nos
perdemos, porque logo que nós nos deixamos ir a transgredir leis, tudo na natureza
contribui para nos induzir em erro. Mas se nós estamos em harmonia com as leis
divinas, se agirmos e vivermos segundo o Princípio supremo, tudo na natureza nos
ajuda, nos guia, nos sustenta e nos ilumina.
Por isso reflecti bem antes de querer fazer vir o espírito dum morto numa
reunião espírita. Se quereis realmente encontrá-lo, há métodos mais seguros e menos
perigosos. Se esse espírito possuía grandes qualidades espirituais, está agora num lugar
de paz, de luz, de beleza, e para o encontrar, o único meio infalível é fazer um esforço
para cultivar as mesmas qualidades que sentíeis nele quando estava vivo.
Evidentemente, é mais difícil do que pedir a um médium para evocar o seu espírito ou ir
ao cemitério e olhar uma foto alimentando na vossa cabeça toda a espécie de
fantasmagorias. Mas se vós quereis verdadeiramente reencontrar este ser, não tendes
outra solução, este reencontro não se pode fazer senão através da lei da afinidade.
Desenvolvendo as mesmas qualidades que ele tinha, encontrareis o seu espírito.
Eis como se pode ainda interpretar as palavras de Jesus “em espírito e em
verdade”. Esta expressão não diz respeito somente à vida mística, tem aplicação em
todos os domínios da existência. Acrescentarei mesmo que não é preciso esperar que os
seres que amamos estejam mortos para encontrar o seu espírito. É preciso começar
enquanto estão vivos - sim, e até sobretudo quando estão vivos. Porque é que, na maior
parte das vezes, as histórias de amor acabam mal, em decepções e em arrependimentos ?
Então, mesmo que ponham o amor acima de tudo, que esperem encontrar o grande
amor e viver até à eternidade, porque é que os homens e mulheres tem tantas
dificuldades em conservá-lo durante alguns anos ou até alguns meses ? Porque
precisamente, também nisso não compreenderam o que significa “em espírito e em
verdade”. Quando descobrem que amam um homem, uma mulher, fixam-se nele ou nela.
Não sabem que o que os faz amar uma criatura, é que ela é como um canal por onde
passam a beleza, o encanto, as qualidades do outro mundo. Então se se concentram
sobre esta criatura, esperam tudo dela. E está aí o erro, a origem das suas desilusões e
dos seus desgostos. Nisso também, fazem como o que, em vez de considerar o telefone
como um meio de comunicação o toma como o seu interlocutor, ou como o que
acredita que a divindade está na estatueta.
Pois bem, isto espanta-vos ? O homem, a mulher tem que aprender a considerar-
se como um ponto de partida para ir procurar o amor à nascente. Não é senão desta
forma que jamais ficarão decepcionados, porque na nascente - a água - o amor - é
sempre límpido, puro, vivificante. Senão… senão não tendes necessidade que eu vos
explique todas as desilusões e os sofrimentos engendrados pelo amor: será que não os
conheceis já, será que não os experimentastes já ?
As insatisfações e os tormentos do amor ocorrem sempre porque os humanos
não compreenderam o que se passa na realidade quando se amam. Têm necessidade
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dum ensinamento iniciático que lhes mostre como ver através de cada ser o princípio
que o anima: assim, através de todas as mulheres sobre a terra um homem aprenderá a
ver o eterno princípio feminino, a Mãe Divina. E como a Mãe Divina é de tal maneira
rica de cores, de perfumes, de formas, de movimentos, no seu coração e na sua alma ele
nunca esgotará estas riquezas. Inversamente, a mulher também tem que aprender a ver
em cada homem as possibilidades de entrar em relação com o eterno princípio
masculino, o Pai Celeste, e é assim que ela comunicará com a sua sabedoria, o seu
poder, a sua grandeza.
Se os humanos não encontrarem nada para além da mulher e do homem que
amam, não experimentarão senão decepções. Uma mulher não pode dar tudo a um
homem, nem um homem pode dar tudo a uma mulher. O homem deve dizer à mulher:
“Minha bem amada, é preciso que saibas que não sou eu que te poderei fazer feliz.
Ainda que eu te dê tudo o que possuo, o teu coração é tão grande que o universo
inteiro não o poderia encher, e a tua inteligência tem necessidade duma luz que eu não
tenho. Só Deus pode dar-te tudo. Então se tu só queres servir-te de mim como um
meio para ir até Deus, ficarei muito feliz. Ficarei ao pé de ti, mas é a Deus que tu
procurarás através de mim.” É assim que os homens e as mulheres deveriam conversar
em vez de se enganarem sempre uns aos outros. Mas para isso seria necessária uma
nova educação.
Mesmo que vós não o possais viver ainda, sabei que existem formas superiores
de amor para as quais vós deveis tender se quereis verdadeiramente ser felizes com o
vosso amor. Nessa altura o amor não vos deixará mais, ficará no vosso coração, tornar-
se-á em vós um estado de consciência que nada poderá turvar. E viver o amor como um
estado de consciência, é sentir em si um calor constante, uma luz que nunca mais se
extingue. Enquanto o outro amor é como um fogo de palha que não deixa depois dele
senão cinzas, frio e trevas.
Quando compreenderdes toda a dimensão desta fórmula: “em espírito e em
verdade”, ireis procurar à nascente este amor que procurais agora em vão no corpo dos
homens e das mulheres, e por fim encontrareis a verdadeira felicidade. Reparai, é
grande, é vasta a frase “em espírito e em verdade”…
Tudo o que aparece na terra acaba por desaparecer. Só fica acima de nós o sol,
imutável, eterno, e é para ele que devemos voltar o nosso olhar. Porque quando se
procura a verdade, e preciso dirigir-se ao que não passa, ao que não muda. Mas
relativamente ao sol, negligencia-se ou então exagera-se o seu papel: pensa-se que não
tem nada a ver com a religião, ou então considera-se como uma divindade. Mas não,
nos dois casos comete-se um erro. Ao não dar qualquer lugar ao sol na sua vida interior,
os humanos privam-se dum elemento essencial. Mas fixar-se no sol como se ele fosse
um ídolo, é voltar à mentalidade dos primitivos que adoravam as forças da natureza. O
sol deve ser somente um meio que nos permite encontrar Deus, o nosso sol interior. Ao
contemplá-lo, ao expormo-nos aos seus raios, identificando-nos com ele, cada dia
aumentaremos em nós a luz, o calor e a vida.
E está aí a diferença principal entre o nosso Ensinamento e a maior parte dos
cultos solares que existiram na história da humanidade e que existem ainda nalguns
lugares sobre a terra. Muitos, que não querem reflectir e que, porque se aborrecem,
acham muito interessante ridicularizar-nos, chamam-nos “os adoradores do sol”. Que
pensem e que digam o que quiserem, é problema deles. Para os que desejam
compreender, direi que nós não adoramos o sol, nós só adoramos Deus; mas se nós
aprofundamos a imagem do sol enquanto símbolo, somos obrigados a reconhecer que
ele é para os humanos a melhor imagem de Deus. Eis a nossa convicção absoluta.
Mesmo o sol, é preciso aprender a encontrá-lo interiormente. Porque vós podeis
olhá-lo durante anos imaginando toda a espécie de coisas a seu respeito, enquanto não
sentirdes que ele vibra, que irradia, que palpita em vós… ele continuará estranho para
vós, ele não vos dirigirá a palavra, não vos servirá mesmo de nada ir vê-lo. Ficareis um
pouco aquecidos, um pouco vivificados, recebereis algumas “vitaminas”, mas não
descobrireis o essencial. O essencial é precisamente encontrar o sol interior que é o sinal
de que a Divindade habita em vós. Nesse momento não mais tendes necessidade de
livros, nem de imagens, nem de templos, nem de estátuas, nem de cruz, nem mesmo do
sol e das estrelas: é em vós, no vosso sol interior, que ides buscar tudo aquilo de que
tendes necessidade.
Neste sentido, digo muitas vezes que a única verdadeira religião é a religião
solar. Não digo que as outras religiões estão erradas ou são más. Não, mas não são
verídicas senão na medida em que se aproximam da religião solar. Quantas religiões
existem no mundo das quais não sabemos quase nada ! Quantas desapareceram e
quantas ainda desaparecerão ! Até a religião cristã pode desaparecer. Mas renascerá
sob uma outra forma do mesmo modo que se inspirará na religião do sol. Porque a
religião trazida por Jesus era uma religião solar, eis o que os cristãos não
compreenderam. Quando ele diz, por exemplo: “Sede perfeitos como o vosso Pai
celeste é perfeito”, como se pode ter uma ideia da perfeição se não se toma como
modelo o sol ?
Para vos tornardes verdadeiramente perfeitos, não deveis tomar como modelo
mais ninguém senão o sol, nem mesmo os santos, nem mesmo os Iniciados. Estes dar-
vos-ão com certeza o exemplo de grandes virtudes, mas eles sabem que ao pé do sol
eles não são nada. É por isso que eles se manifestam com humildade, e se inclinam
diante do sol. Sabem que, o que quer que façam, a sua luz, o seu calor e a sua vida, não
podem comparar-se à luz, ao calor e à vida do sol.
Então, direis vós, como compreender que Jesus tenha dito: “Eu sou a luz do
mundo”? Porque quando pronunciou estas palavras, Jesus identificava-se com o Cristo.
O Cristo é um espírito cósmico que ilumina não somente a terra mas todo o universo e
todas as entidades que o povoam. O Cristo é o verdadeiro sol cósmico, é ele que é o
espírito do sol. Neste sentido pode dizer-se que o sol físico que nós vemos representa
para nós o sinal graças ao qual nós podemos encontrar o Cristo, o sol cósmico. É
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preciso portanto ir procurar o espírito do sol e não, como os astrónomos, ficar pela
“carcaça” física do sol.
É por isso que todos os anos no regresso da primavera vos preparais para
contemplar o sol, sabendo que ele é o único capaz de por em vós a harmonia e a ordem,
e de vos dar luz, amor, paz e alegria. Que privilégio poder contemplar todas as manhãs
o nascer do sol ! Não existe nada mais belo. É a fonte que brota, que vibra, que corre,
não podemos separar-nos dela. E principalmente quando se chega muito cedo antes do
nascer do sol e se vêem os primeiros alvores, a aurora que desponta, é-se invadido por
um sentimento sagrado. É como se toda a natureza estivesse ali para celebrar um
mistério. É-se obrigado a caminhar de maneira diferente para não perturbar a atmosfera,
e isto é também verdadeira poesia. Devemos rezar para que todos um dia possam sentir
esta vida abundante e embeber-se nela.
O nascer do sol é um símbolo e este símbolo pode encontrar-se em todas as
manifestações da vida. Tudo o que progride, que se eleva, o que se desenvolve, está
ligado ao nascer do sol. Conforme a vossa atitude, tornar-se-á para vós uma presença
real, viva, poderosa, ou então ficará somente um objecto físico, que vos ilumina, vos
aquece, certamente, mas nada mais que uma lâmpada eléctrica ou um fogão de sala.
Sim, à medida que o discípulo se aproxima desta verdade que o sol representa, o
sol fala-lhe e torna-se verdadeiramente seu amigo, um amigo com o qual pode contar e
apoiar-se, porque ele possui a verdadeira força. É por isso que é tão importante que
assistais todos os dias ao nascer do sol e que aprendais a olhá-lo com novos olhos.
Dizei-lhe: “Ó querido sol, eu ainda te não conheço. Eu via, com certeza, que tu eras
belo, que tu eras puro e que tu nos distribuis todos os dias a luz e o calor, mas não tinha
ainda compreendido a lição que tu nos dás. Agora compreendo que tu me mostras o
caminho da verdade, da perfeição, da plenitude. Eu quero tornar-me como tu.”
Seguramente, nunca vos tornareis como o sol, é impossível, mas não faz mal, ponde a
sua imagem na vossa cabeça como um ideal, porque, precisamente, é o que é impossível
que age, que reforça e transforma o homem.
Não é o que tendes, não é o que possuís, não é aquilo a que chegastes o que
pode fazer-vos evoluir. Procurai o que é impossível, o que é irrealizável. Nada mais há
senão isso que possa incitar-vos a progredir, a ir sempre em frente.
É verdade, por vezes achais que estais numa situação bizarra: a alegria, a paz e a
harmonia estão dentro de vós, e no exterior, só encontrais contrariedades,
afrontamentos. Sim, naquele momento é assim, mas no estado actual da humanidade é
difícil que seja de outra maneira. Mas é um fenómeno passageiro, não há nisso nada de
definitivo. A lei, tal como a Inteligência cósmica a estabeleceu, é absoluta: vós
recebereis um dia o que corresponde aos vossos pensamentos, aos vossos sentimentos,
aos vossos desejos e aos vossos actos. Sim a correspondência é absoluta. E ao esperar,
mesmo que tenhais de sofrer ataques do mundo exterior, tendes ao menos a alegria
dentro de vós.
Não encontrareis a verdade senão quando conseguirdes perceber todos os
segredos da palavra dar. Vêem-se muitas pessoas que estão orgulhosas de tudo o que
conseguiram alcançar com êxito e fazem gala disso à vista do mundo. Mas
interiormente todos estes roubos se transformam em fumo. Sim, quer sejam pessoas ou
países, todos os que enriqueceram às custas dos outros, não aproveitam disso
realmente, e chega sempre o momento em que, mesmo no plano material, o que eles
tomaram, devem deixa-lo bocado a bocado.
Um Iniciado tem como principal preocupação: dar. Quando vos saúda, quando
vos olha, vos sorri, vos aperta a mão ou vos fala, ele não deixa de vos dar qualquer
coisa de bom, de luminoso. E ao fazer isso, ele desabrocha, cresce, avança, e eleva-se
cada vez mais, porque obedece à lei do amor, e porque a verdadeira lei do amor é dar e
não tomar. Mas ao mesmo tempo que dá, ele recebe, porque a luz do sol desce até ele
como uma ribeira límpida.
A letra hebraica Aleph é um dos melhores símbolos desta atitude interior que
o homem deve encontrar para regular correctamente esta questão de receber e de dar.
Aleph representa o homem que conseguiu a fazer a ligação entre o Céu e a terra, a fim
de receber do Céu para dar na terra. Porque, para quê tirar aos humanos, aos pobres,
que não tem quase nada ? É no Céu, que é infinitamente rico, que deveis ir buscar, para
dar aos humanos. A letra Aleph ensina-nos que o nosso trabalho é tornarmo-nos um
traço de união entre o Céu e a terra. Do ponto de vista simbólico, o Cristo, o homem
perfeito, é o traço de união: recebe tudo o que está no Céu para o fazer descer sobre a
terra.
Pegai nesta letra Aleph como o mais alto ideal a atingir; ela deve ser um
chamamento incessante ao trabalho que tendes que fazer com sabedoria e amor. Tanto
para receber bênçãos do Céu como para repartir estas bênçãos sobre a terra, é preciso
amor e sabedoria: o amor é para se abrir ao Céu e aos outros homens, e a sabedoria é
para saber como entrar em relação com eles. Porque não é suficiente querer entrar em
relação com o Céu e os humanos, é preciso conhecer os métodos.
A história das religiões menciona sob formas diferentes alguns destes seres que
foram Aleph. O titã Prometeu que tinha roubado o fogo do céu para dar aos homens é
na mitologia grega uma das figuras mais conhecidas. Aquele que se tornou num Aleph,
quer dizer um ser que só pensa em dar, em iluminar e em aquecer como o sol, chega
através dos seus pensamentos e sentimentos a tocar todas as regiões do espaço. Então
encontra uma multidão de criaturas que o saúdam, e que ele saúda em retribuição.
Porque é esta a verdadeira vida: todos os dias uma comunicação ininterrupta com
milhões de criaturas.
Tornar-se como o sol, não há mais alto ideal. Esforçai-vos por alimentar este
ideal para que ele tome um tal lugar dentro de vós que todo o vosso ser fique abrasado,
iluminado. Só este alto ideal pode fazer germinar tudo o que há de melhor dentro de
vós. Mesmo sem que insistais, mesmo sem que penseis nisso, patenteareis as melhores
disposições. A única verdade que vale a pena ser procurada, é o sol espiritual que, desde
que brilhe dentro de nós, faz aparecer todas as nossas boas qualidades exactamente
como o sol físico faz eclodir a vida em toda a natureza.
saber que Deus é não só o nosso Criador, mas também nosso Pai e que somos da
mesma essência que Ele. Quando Jesus disse: “Meu Pai e eu, nós somos um”, resumiu
em algumas palavras os maiores mistérios da religião.
Alguns dirão: “Sim, mas Jesus, não somos nós. Ele era verdadeiramente filho de
Deus, enquanto nós…” Então agora ouvi-me bem. Se a Igreja quis fazer de Jesus o
equivalente do Próprio Deus, a segunda pessoa da Trindade, o Cristo, um príncipe
cósmico, colocando assim entre ele e os homens uma distancia infinita, é problema da
Igreja. Jesus, ele, nunca disse semelhante coisa. Jesus nunca pretendeu que ele era de
uma natureza diferente dos outros homens. Quando disse que era filho de Deus, não
era para significar que era superior ao resto do género humano, pelo contrário. Dizendo
que era filho de Deus, ele também sublinhou a natureza divina de todos homens; senão,
que significariam estas palavras: “Sede perfeitos como o vosso Pai é perfeito” e
também: “O que crê em mim fará as obras que eu faço, e fá-las-á até maiores” ?
Se Jesus disse que podemos fazer as mesmas obras que ele, é porque somos da
mesma natureza, da mesma natureza íntima que ele. Porque é que os cristãos
negligenciaram este aspecto do seu Ensinamento ? Uma vez mais porque são
preguiçosos, muito simplesmente, eles não querem fazer nenhum esforço para seguir as
pegadas de Jesus. Dizem: “Porque era filho de Deus, ele, ele era perfeito; é normal que
tenha manifestado uma sabedoria, virtudes e poderes excepcionais. Enquanto nós,
pobres infelizes, a nossa natureza é imperfeita e pecadora, é normal que nós sejamos
fracos, egoístas e maus”. Não, não, não é normal, nós somos filhos de Deus
exactamente como Jesus era filho de Deus. A única diferença é que Jesus estava
consciente da sua natureza e da sua predestinação divina e que ele trabalhava nesse
sentido. Ele já tinha trabalhado nas encarnações anteriores, com certeza, e chegava à
terra com imensas possibilidades e uma ideia muito clara da sua missão. Mas ele teve,
também ele, que fazer um imenso trabalho interior, resistir às tentações, jejuar, orar.
Lestes um pouco dos Evangelhos ? Porque é que Jesus teve que esperar pelos seus
trinta anos para receber o Espírito Santo ? E porque é que o diabo experimentou tentá-
lo ?
Pelo seu exemplo e pelo sacrifício da sua vida, Jesus abriu-nos o caminho para
que possamos, como ele próprio o disse, realizarmos as mesmas obras que ele. Se não
estamos conscientes desta semelhança entre Jesus e nós, é porque deixámos todas as
espécies de elementos estranhos escurecer, recobrir a nossa natureza divina. Então,
evidentemente, não podemos mais reconhecê-la. Mas se trabalharmos com amor e
sabedoria os nossos pensamentos, os nossos sentimentos e os nossos actos a fim de os
purificar, sentiremos essa natureza divina despertar em nós pouco a pouco. Sim,
devemos chegar ao estado de consciência em que nunca mais nos vamos separar do
Senhor, nós somos uma parte d’Ele, não existimos fora d’Ele.
Na realidade ninguém pode existir fora do Senhor. Foi Ele que nos criou, é Ele
quem nos alimenta, é Ele que nos faz viver. Não existe nenhuma criatura realmente
independente do Senhor; o sentimento de independência só pode existir na consciência,
porque, com efeito, é possível a um homem cortar voluntariamente o elo que o liga ao
Criador; mas então vai, pouco a pouco para a morte espiritual. Direis: “Mas Deus está
nos céus !” Sim, Deus está nos céus, mas porque é que nós aqui não estaríamos, neste
momento, nos céus, também nós, com Ele ?
Eis aí a verdadeira religião “em espírito e em verdade”, compreendeis ? Até lá,
haverá sempre um espaço entre Deus e vós, sempre uma distância, uma separação. E
ficando assim, fora de Deus, estais na realidade fora de vós próprios, do vosso
verdadeiro Eu. Vós não vos encontrais, passais por todas as espécies de estados
contraditórios: num momento estais em paz, o sentido da vossa vida parece-vos claro, e
depois, de repente, estais angustiados, perturbados, tudo se escurece. Sim, enquanto o
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homem não se identifica com a sua natureza divina, passa por altos e baixos, sente-se
sacudido, vacilante.
Moisés insistiu no temor do Senhor. Visto que Deus era um Mestre
intransigente, os humanos só podiam temê-Lo. Foi assim que ele disse: “O temor do
Senhor é o princípio da sabedoria”. Mas o temor é um sentimento negativo. Aquele
que age sempre sob o império do medo não pode realmente desenvolver-se e, com o
tempo, este temor tem uma acção destrutiva. Com o amor, pelo contrário, o homem
desenvolve-se, e foi por isso que Jesus veio para dizer que Deus era um Pai. Com
certeza, a criança teme também um pouco o seu pai, e é uma coisa boa, porque ele deve
sentir que há regras a não transgredir, e que se ele as transgride será punido. Mas o pai
é sobretudo aquele que os seus filhos amam, não somente porque ele lhes deu vida, mas
porque os faz beneficiar de todas as suas riquezas para o seu desenvolvimento.
“Meu Pai e eu somos um”. Para conseguir dizer uma frase semelhante, quantas
coisas é preciso conhecer, que trabalho há a fazer ! Mas aquele para o qual esta
identificação se torna verdadeiramente uma realidade vive na plenitude.
Deus está em nós, como o seu Reino está em nós. Se tomardes consciência de
que sois inseparáveis do Criador, sentireis que vedes cada vez mais claro para resolver
os vossos problemas e sobretudo para fazer o bem à vossa volta. Enquanto que se
estiverdes longe, sereis abandonados só aos vossos recursos que são muito limitados.
Então, pobres cristãos que não querem aceitar esta via que Jesus traçou para eles ! Que
eles saibam que certos hindus os ultrapassaram na compreensão: quando praticam Jnani-
yoga, o yoga do conhecimento, aprendem a meditar sobre a fórmula: “Eu, sou Ele” e
eles pronunciam-na até que ela se transforma na sua carne e ossos. Nesse momento o
seu pequeno eu limitado não existe mais, é só Ele, o Senhor, que existe neles e a partir
desse momento podem fazer milagres. Foi por isso que quando fazia milagres Jesus
dizia: “Não sou eu, mas sim o meu Pai, que age através de mim… então, se me recebeis
a mim, é a Ele que recebeis”. É neste sentido também que se pode dizer que Jesus era
realmente filho de Deus: porque ele era intermediário entre Deus e os homens.
Se vos apagardes, se vos fundirdes no Senhor para fazer um só com Ele, tornar-
vos-eis num poder formidável. Sim, é tornando-nos pequenos diante do Senhor, que na
realidade vos tornais grandes. Enquanto que se vos levantais face a Ele, tornar-vos-eis
fracos, vulneráveis, não sois nada. Foi por isso que Jesus dizia ainda: “Se não
morrerdes, não vivereis”. Quer dizer: se não morreis enquanto elemento separado do
Todo, não vivereis a vida ilimitada do Todo; no dia em que conseguirdes acabar com a
vossa natureza inferior, não mais sereis vós que vivereis, mas o Senhor viverá em vós.
Se nós o não compreendermos no plano físico, espiritual, esta frase não tem qualquer
sentido.
O princípio de toda a disciplina espiritual está em conhecer-se um dia como
sendo o Próprio Deus, e é esse o sentido desta fórmula do Jnani-yoga: “Eu, sou Ele”.
O meu papel e dar-vos o verdadeiro saber, mesmo que eu saiba que, neste
momento, vós não o podeis aplicar. Eu tenho que vos dizer que existe uma melhor
compreensão das coisas, mas ao mesmo tempo ser paciente, indulgente, aceitar a
situação actual, porque as coisas não podem e nem devem fazer-se prematuramente.
Conheceis nos Evangelhos a parábola do festim. “Um homem deu um grande banquete
e convidou muita gente. À hora da refeição, enviou o seu servo para dizer aos
convidados: Vinde, porque já está tudo preparado. Mas todos, unanimemente, se
puseram com escusas. O primeiro disse-lhe: Comprei um campo e sou obrigado a ir vê-
lo; peço-te que me escuses. Um outro disse: Comprei cinco juntas de bois e vou
experimentá-los; peço-te que me escuses. Outro disse: Acabo de me casar e por isso
não posso ir…” As desculpas que os convidados deram para não comparecer ao festim
são a imagem dos pretextos que a maioria dos humanos encontra para levar uma vida
longe do Senhor.
Mas que se passaria se, querendo mostrar que tinha compreendido bem a
parábola, cada um decidisse abandonar os seus compromissos dizendo: “Eu tenho que
me tornar livre para o Senhor” ? Na realidade, não é assim que se faz, para alguns é
melhor que não sejam livres de tal maneira, senão, mesmo consagrando-se ao Senhor,
fariam ainda mais asneiras. Porque nem toda a gente é capaz de fazer bom uso da
liberdade; para alguns é melhor que estejam comprometidos com uma família, uma
profissão à qual são obrigados a consagrar muitas das suas energias e do seu tempo.
Um homem mesquinho, fanático, que se liberta para responder supostamente ao apelo
do Senhor, será uma catástrofe, não fará outra coisa senão devastações !
Pelas mesmas razões, não se pode exigir aos humanos que se desliguem das
expressões materiais exteriores da religião prematuramente a fim de adorar a Deus “em
espírito e em verdade”. Haverá mudanças, pouco a pouco, a realização desta profecia
feita por Jesus aproxima-se, e para alguns ela já se cumpriu. Mas é preciso
compreender que uma tal mudança não pode acontecer duma só vez no mundo inteiro,
porque é um acontecimento da vida interior.
Quando se trata de acontecimentos que se produzem no plano físico, toda a
gente os vive ao mesmo tempo. Quando se decretam reformas num país, pode anotar-
se a data a partir da qual as reformas entrarão em execução. Decide-se trocar a
monarquia pela república ou a república pela monarquia, declara-se a guerra ou então
assina-se a paz: a partir duma data precisa, existe então a república ou a monarquia, a
guerra ou a paz. Ou então um concílio decreta que não mais se dirá a missa em latim a
partir duma certa data, e com efeito a partir desta data não se diz mais a missa em latim.
Mas quando Jesus disse: “Virá o dia em que se adorará a Deus em espírito e em
verdade”, trata-se de um fenómeno da vida interior que não pode acontecer senão em
função do grau de evolução dos humanos.
Jesus dizia também: “O Reino de Deus está próximo.” Muitos farão notar que
passaram dois mil anos desde que ele pronunciou estas palavras e que o Reino de Deus
ainda está muito longe. É porque eles não compreenderam de que maneira ele estava
próximo. Para alguns o Reino de Deus já chegou. Para outros ainda está para vir. E
para uma terceira categoria de pessoas, ele virá… não se sabe quando. Portanto, ele já
veio, vem ou virá… Reparai, há aqui boas conjugações.
Direis: “Apesar disso, desde há dois mil anos que a cristandade trabalha para o
Reino de Deus, como se acontecesse que ele ainda estivesse muito longe ? Tantas
guerras, fome, misérias e desgraças !”… Ora bem, precisamente, porque os humanos
não sabem trabalhar “em espírito e em verdade”. Passam o seu tempo a falar, a escrever
para sublinhar tal defeito, tal lacuna: a má organização, a incompetência dos
responsáveis, o dinheiro mal utilizado… E para melhorar supostamente a situação,
querem obrigar uns a fazer isto, impedir outros de fazer aquilo, criar grupos, comissões,
etc. Não têm em conta senão as soluções materiais, e para as aplicar são levados a
afrontamentos incessantes. Como é que o Reino de Deus pode tornar-se real nestas
condições ?
É preciso aprender daqui em diante a pensar e a agir de outra maneira. Aquele
que deseja sinceramente trabalhar para a vinda do Reino de Deus tem que saber que
não é com os métodos humanos, os métodos da matéria, que poderá alcançá-lo, mas
com os métodos divinos, os métodos do espírito. Estes métodos consistem em
alimentar em si os melhores sentimentos, a não pronunciar senão palavras positivas,
porque esses sentimentos, esses desejos, essas palavras desencadeiam no mundo
invisível, poderes luminosos que virão ajudá-los no seu trabalho.
Sim, que todos os que têm por ideal realizar qualquer coisa de bom para a
colectividade se reunam com o desejo de fazer primeiro um trabalho espiritual. Graças
a esse trabalho, os seus desejos e os seus pensamentos tornar-se-ão de tal modo puros e
luminosos que irão muito alto no espaço tocar as entidades, os elementos que lhe
correspondem, e atraí-los-ão a eles. São estas entidades e estes elementos que os
ajudarão a melhorar a situação muito mais eficazmente que as suas críticas, as suas
reivindicações e as suas propostas de reforma.
Eis como trabalha aquele que quer aplicar o preceito de Jesus “em espírito e em
verdade”. Aquele que não aceita este ensinamento tem que contar com desgraças: vai
destruir-se pouco a pouco, irritar-se, porque os pensamentos e os sentimentos que ele
remove assim mantêm-no nas regiões inferiores dos planos astral e mental. E um dia ou
outro, será obrigado a constatar que todos os seus esforços para nada serviram: porque
ele não sabia como trabalhar. Quantas pessoas quiseram dar-me conselhos para
construir a Fraternidade a partir de métodos normais ! Mas eu não os escutei.
Continuei a trabalhar no mundo invisível com o amor e a luz, e agora as criações da
minha alma e do meu espírito descem ao plano físico onde, pouco a pouco, elas
acabarão por realizar-se todas.
Virá a hora em que adoraremos a Deus em espírito e em verdade… O Reino de
Deus aproxima-se… A realização das profecias de Jesus corresponde a fenómenos
interiores, íntimos. Sem esperar que se realizem à volta de si, cada um tem que
encontrar em si próprio a paz, a luz, a verdade. É inútil tentar encontrá-las fora.
Porque mesmo admitindo que tivesse conseguido encontrá-las no exterior, não será
capaz de as apreciar e conservar se primeiro as não tiver realizado em si mesmo.