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Omraam Mikhaël Aïvanhov

O HOMEM NO ORGANISMO CÓSMICO

Omraam Mikhaël Aïvanhov

Estruturação Visual do Texto é da responsabilidade do Ser Alma Flor 1


...(*.*)... Hi hiii hiiiii hiiiiiii .......
Omraam Mikhaël Aïvanhov

Indice

O HOMEM NO ORGANISMO CÓSMICO.....................................................................................3


A CADEIA VIVA DE CRIATURAS........................................................................................................... 4
A HARMONIA COM O COPO CÓSMICO................................................................................................. 4
A CONSCIÊNCIA DA UNIDADE............................................................................................................ 6
A VIDA INDIVIDUAL E A VIDA COLECTIVA........................................................................................... 7
A CIÊNCIA DA VIDA.......................................................................................................................... 8
MICROCOSMO E MACROCOSMO: A LEI DAS CORRESPONDÊNCIAS.........................................................9
A BASE DA ECONOMIA: PREVER....................................................................................................... 10
RECEBEMOS GRATUITAMENTE, DEVEMOS DAR GRATUITAMENTE........................................................12
A VIDA É FEITA SÓ DE TROCAS........................................................................................................ 13
I - A alimentação fala-nos do universo............................................................................................13
II - A nutrição: a transformação da matéria...................................................................................14
RESPIRAR A VIDA DIVINA................................................................................................................ 15
RESTABELECER O CONTACTO COM A VIDA UNIVERSAL......................................................................16
O TRABALHO COM OS ESPÍRITOS DA NATUREZA................................................................................17
UMA SAUDAÇÃO À CRIAÇÃO............................................................................................................ 18
"EM ESPÍRITO E EM VERDADE"....................................................................................................19
I - A ESTRUTURA DO UNIVERSO....................................................................................................... 19
II - A CASA DIVINA DOS PESOS E MEDIDAS......................................................................................20
III - A LIGAÇÃO COM O CENTRO...................................................................................................... 23
IV - A CONQUISTA DO ALTO............................................................................................................. 26
V - DA MULTIPLICIDADE À UNIDADE................................................................................................ 28
I.........................................................................................................................................................28
II........................................................................................................................................................29
VI - A CONSTRUÇÃO DO EDIFÍCIO....................................................................................................32
VII - CONTEMPLAR A VERDADE: ÍSIS SEM VÉU................................................................................35
I.........................................................................................................................................................35
II........................................................................................................................................................38
VIII - A VESTE DE LUZ.................................................................................................................... 39
IX - A PELE, ÓRGÃO DO CONHECIMENTO.........................................................................................40
X - O PERFUME DO JARDIM DO ÉDEN..............................................................................................42
XI - EM ESPÍRITO E EM VERDADE................................................................................................... 43
XII - A IMAGEM, SIMPLES SUPORTE PARA A ORAÇÃO........................................................................48
XIII - O ESPÍRITO NÃO EXISTE NOS VESTÍGIOS.................................................................................51
XIV - NÃO SE ENCONTRAM OS SERES SENÃO PELO ESPÍRITO............................................................54
XV - O SOL, QUINTESSÊNCIA DE QUALQUER VERDADEIRA RELIGIÃO.................................................57
XVI - A VERDADE DO SOL: DAR...................................................................................................... 59
XVII - O reino de Deus está dentro de nós..........................................................................................62

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...(*.*)... Hi hiii hiiiii hiiiiiii .......
Omraam Mikhaël Aïvanhov

Omraam Mikhaël Aïvanhov

O HOMEM NO ORGANISMO CÓSMICO

A cadeia viva das criaturas


A harmonia com o corpo cósmico
A consciência da unidade
Vida individual e vida colectiva
A ciência da vida
Microcosmo e macrocosmo: a lei das correspondências
A base da economia: prever
Recebemos gratuitamente, devemos dar gratuitamente
A vida só é feita de mudanças
1. Os alimentos falam-nos do universo
1. Alimentação: transformação da matéria
1. Respirar a vida divina
Restabelecer o contacto com a vida universal
O trabalho com os espíritos da natureza
Uma saudação à criação

* * *

Os temas apresentados nestes excertos são desenvolvidos nas seguintes obras


da colecção Izvor:
N.ºs 202 O homem à conquista do seu destino - 204 O yoga da alimentação -
216 Os segredos do livro da natureza - 225 Harmonia e saúde - 226 O livro da magia
divina - 234 A verdade, fruto da sabedoria e do amor.

Copyright 1995 reservado pela S.A: Editions Prosveta para todos os países. As
reproduções, adaptação, representação ou quaisquer edições não podem ser feitas sem
autorização do autor e dos editores. Também as cópias particulares, a reprodução
audiovisual ou qualquer outro meio só pode ser feita com autorização dos autores e
editores (Lei de 11 de Março de 1957 revista).
Edições Prosveta…

* * *

Edições Prosveta 4

A cadeia viva de criaturas

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...(*.*)... Hi hiii hiiiii hiiiiiii .......
Omraam Mikhaël Aïvanhov

Todos os seres dos diferentes reinos da natureza estão ligados entre si. Quer
tenhamos ou não consciência disso, tanto os seres que estão abaixo de nós, como os
que estão acima de nós, estão ligados a nós. Existe uma hierarquia viva na natureza, e é
graças a ela, graças ao elo que nos une a todos os seres superiores, que nós temos a
possibilidade de nos elevar. Mas nós estamos também ligados a todos os seres que
estão abaixo de nós, os animais, as plantas, as pedras, e este elo é extremamente
potente. Se os nossos pensamentos, os nossos sentimentos e os nossos actos são
honestos e puros, receberemos do Céu forças benéficas que se derramam em nós
através desta cadeia viva e ininterrupta de criaturas.
Mas estas correntes divinas não param em nós, atravessam-nos e descem até às
criaturas situadas abaixo de nós e igualmente ligadas a nós nos reinos animal, vegetal e
mineral. É assim que cada estado harmonioso que estamos a viver influencia
beneficamente não somente os seres humanos à nossa volta, mas também todos os
irmãos e irmãs que são também para nós os animais, as plantas e as pedras. E ao
mesmo tempo, graças a uma outra corrente de circulação, as energias sobem do reino
mineral até aos reinos superiores da natureza.
Pode comparar-se este fenómeno às duas correntes que circulam no tronco da
árvore: a corrente descendente transporta a seiva elaborada que alimenta a árvore,
enquanto a corrente ascendente transporta a seiva bruta até às folhas onde ela se
transforma. Na Árvore cósmica, o homem encontra-se também na passagem destas
duas correntes que o atravessam e ele tem que aprender a trabalhar com elas
conscientemente.
Aquele que se esforça por se ligar a esta cadeia viva de seres está a ser
incessantemente alimentado, e dessedentado. Enquanto o que crê que pode separar-se
dela não mais tem possibilidade de haurir de lá energias e debilita-se. Porque, donde
receberá ele o impulso, a inspiração, a sabedoria, o amor, as forças necessárias para a
vida de cada dia. “encontrá-las-á em si mesmo” respondereis vós. Sim, por algum
tempo talvez, mas esgotará rapidamente as suas reservas. Ainda que tenha começado
grandes projectos, deverá interromper esses trabalhos porque é impossível realizar
qualquer coisa grande se não se continua ligado à cadeia viva de criaturas. É
exactamente como uma lâmpada que se imaginasse poder iluminar sem estar ligada à
central eléctrica. Eh não, é a central que lhe envia a corrente; a lâmpada, ela não é
senão um condutor.
Na realidade, quer queiramos quer não, estamos ligados, entroncados na fonte
divina, mas esta ligação deve tornar-se consciente: deste modo beneficiaremos
plenamente dessa ligação para a nossa evolução e a de todas as criaturas do universo.
O homem pode ser poderoso, pode fazer milagres, mas só numa condição: é a de que
se torne um condutor consciente das energias que lhe vem do alto.

A harmonia com o copo cósmico


Se os humanos aceitassem estudar o modo como o universo foi criado, que
regiões o constituem e que criaturas povoam essas regiões, compreenderiam que eles se
encontram no corpo da natureza viva, que fazem parte dum todo, e que devem agir em
harmonia com esse todo. Para os que provocam muitos distúrbios com a sua atitude
anárquica, é muito simples, a natureza toma uma purga e eles são rejeitados. Os
anarquistas nunca são aceites por muito tempo. Se não forem os humanos a combatê-
los, é a própria natureza, porque ela não tolera a desarmonia; é como um tumor, um
cancro no seu corpo, pois ela remedeia isso. Que é que vocês pensam ? A natureza
sabe defender-se.
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Nada é mais importante do que viver em harmonia com o grande corpo em que
estamos alojados e alimentados. Nesta harmonia todos os bens estão incluídos: a saúde,
a força, a alegria, a luz, a inspiração. Aquele que trabalha para alcançar uma tal
harmonia começa a sentir que todo o seu ser vibra em uníssono com a vida universal e
compreende o que é a vida, a criação, o amor… antes não. Antes, é impossível
compreender. Intelectualmente, exteriormente, pode sempre imaginar-se que
compreendemos qualquer coisa, mas não: a compreensão, a verdadeira compreensão
não se alcança através de algumas células do cérebro, consegue-se através de todo o
corpo, até pelos pés, pelos braços, pelo ventre, pelo fígado. Todo o corpo, todas as
células têm que compreender. Compreender é sentir intensamente. Vós sentis, e nesse
momento compreendeis e sabeis: porque vocês saborearam. Nenhuma compreensão
intelectual se pode comparar à sensação.
Todo o universo é harmonia, e se dais muita importância à vossa evolução, ao
vosso desenvolvimento, à vossa vitória definitiva, deveis trabalhar para harmonizar
todo o vosso ser com as forças do universo, com as criaturas de todas as hierarquias
celestes para vibrar em uníssono com elas. O vosso verdadeiro poder está unicamente
na faculdade que vocês têm de vos harmonizardes. Isso, ninguém tem o poder de vo-lo
impedir. Sois livres para meditar sobre a harmonia, de a amar, de a desejar, de a
meterdes em todo o corpo, em cada movimento, em cada palavra, em cada olhar. No
dia em que conseguirdes esta harmonia, compreendereis tudo duma vez e vivereis em
plenitude.
Impregnai-vos da palavra “harmonia”, não penseis em mais nenhuma, guardai-a
dentro de vós como uma espécie de diapasão, e quando vos sentirdes um pouco
inquietos ou perturbados, pegai no diapasão e escutai-o para colocar todo o vosso ser
em consonância com a vida ilimitada, a vida cósmica. Harmonizar-se com algumas
pessoas: a mulher, os filhos, os parentes, os vizinhos, os amigos, é bom, mas é
insuficiente. Muitos estão de acordo com pessoas medíocres, mas em desacordo com a
vida universal, e pouco a pouco esta dissonância infiltra-se neles e corrói todo o seu
organismo físico. É com a vida universal que deveis pôr-vos de acordo, porque é ela
que vos trará tudo aquilo de que necessitais: a saúde, a beleza, a luz, a alegria. E sentir-
vos-eis tão fortes que nem sequer tereis medo da morte. Sim, graças à harmonia
chegareis a vencer a morte.
E um dia também compreendereis as transformações que se operam no mundo
graças ao nosso trabalho sobre a harmonia, em quantas famílias, em quantos países
estamos a inspirar um grande número de pessoas que querem sair da desordem em que
mergulhou o mundo actual. Eis o que ainda vos escapa neste instante, não vedes as
razões pelas quais devemos viver nesta harmonia. É porque não somente começámos,
nós, a saborear o Reino de Deus, mas sobretudo porque enviamos para o mundo
inteiro, até às estrelas, correntes, ondas, forças dum tal poder e dum tal esplendor que,
cedo ou tarde, é toda a humanidade que será obrigada a transformar-se e a viver em
harmonia, em bondade e em paz.

A consciência da unidade
Pensais que, quando os humanos dizem “me, eu”, sabem realmente do que
falam ? Quando dizem: “Eu estou… (doente ou de saúde, infeliz ou feliz), eu quero…
(dinheiro, um automóvel, uma mulher), eu tenho… (tal desejo, tal gosto, tal opinião)”,
pensam que se trata realmente deles e é precisamente aí que se enganam. Como nunca
se analisaram profundamente para conhecer a sua verdadeira natureza, identificam-se
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constantemente com este “eu” representado pelo seu corpo físico, seus instintos, seus
desejos, seus sentimentos, seus pensamentos. Mas agora, se procuram reencontrar-se
pelo estudo e pela meditação, virão a descobrir , por detrás de todas as aparências, que
este eu que procuram se confunde com o próprio Deus. Porque a realidade, é que não
existe uma multidão de seres separados, mas um Ser único que trabalha através de
todos os seres, que os anima e se manifesta neles, mesmo sem o seu conhecimento.
Enquanto não se apercebem desta realidade, os humanos vivem na ilusão; e esta ilusão
afasta-os da Fonte divina, em que todos têm origem, e fá-los viver fora desta unidade
com uma multiplicidade de pequenos “eu” separados que não deixam de se afrontar.
Achais esta ideia de difícil compreensão ? Vou dar-vos um exemplo. Se as
células do nosso corpo tivessem uma consciência individual desenvolvida, conforme o
órgão a que pertencessem, o cérebro, o coração, o fígado, o estômago, etc., sentir-se-
iam estranhas umas das outras porque as suas funções são diferentes. Mas se depois
estas células pudessem subir na sua compreensão, dar-se-iam conta de que é um só ser
que as abraça e as reúne a todas: o próprio homem. Acontece o mesmo com as
criaturas humanas que representam cada uma, uma célula do grande corpo cósmico.
Sim, o Criador é realmente o único ser existente, e todos os humanos não passam de
células espalhadas do seu corpo. E como estas células ficaram num nível de consciência
bastante inferior, opõem-se, hostilizam-se. Estes afrontamentos são unicamente o
resultado da sua ignorância.
Apesar de tudo é necessário que os humanos compreendam que pertencem ao
grande corpo de Deus do qual representam, cada um, uma célula. Por isso, quando
fazem mal ao próximo pensando que lhe é estranho, exterior, e que não sofrerão ao
fazer o mal, enganam-se, porque existe uma ligação entre todas as criaturas vivas.
Quando fazemos mal aos outros, é também a nós que fazemos mal, mesmo que nessa
altura o não sintamos. E acontece o mesmo quando fazemos o bem: é também a nós
que o fazemos. Quantos verificaram que se um ser que se ama sofre ou é agredido, é
como se fossem eles os agredidos, e se lhe acontece uma coisa feliz, regozijam-se como
se aquela coisa feliz lhes acontecesse a eles. É porque instintivamente, intuitivamente,
entraram na consciência da unidade. E é esta consciência de unidade que é o
fundamento da vida moral.
O Criador previu que, para o equilíbrio da criação, cada criatura teria aquilo de
que tem necessidade para viver e se defender. Por isso é que quando os humanos se
confrontam e destroem, trabalham contra o Criador. Ainda que Ele os tenha criado
diferentes, isso não é para que as diferenças lhes sirvam para se combaterem. Todos
vieram de Deus, e Deus sofre por vê-los a digladiarem-se. Julgam-se muitas vezes
justificados nas guerras que pretendem conduzir em nome de interesses superiores,
enquanto na verdade são inspirados pela ignorância e pelo egoísmo. A defesa destes
interesses, desde que vão contra o interesse da criação no seu todo, levá-los-á à ruína.
Sim, o verdadeiro interesse dos humanos confunde-se com o da Divindade. Só o
encontro dos interesses do homem com os interesses de Deus produz bênçãos para
todos.

A vida individual e a vida colectiva


Todos devem poder ajustar para si próprios a questão da vida individual e da
vida colectiva.
O ser humano é uma entidade individual que tem vida própria; mas não está só,
faz parte dum conjunto, e a questão que se põe a todos, é conciliar as exigências da
vida individual com as da vida colectiva. Cada indivíduo é especial, foi a Inteligência
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cósmica que criou esta diversidade de criaturas e não devemos tentar nivelá-las. Cada
um tem o direito de se manifestar com as diferenças, a originalidade, mas na condição
de se harmonizar com o conjunto, como numa orquestra. Pela forma, material,
sonoridade, quantas diferenças há ente o violino, o violoncelo, o piano, o oboé, a
flauta, a harpa, o trompete, os címbalos, o bombo ! Mas desta diversidade nasce uma
harmonia perfeita.
Cada indivíduo é independente, autónomo, bem entendido, mas está também
ligado à colectividade humana, e além disso está ainda ligado a todos os reinos da
natureza, à colectividade cósmica. Por isso nós vivemos simultaneamente duas vidas.
Para a maior parte das pessoas isto passa-se no inconsciente, mas é desejável que isto
se torne consciente. Aquele que tem tendência para fundir-se na vida cósmica não deve
perder a consciência do seu “ego”, para que possa pensar e agir sempre como um ser
responsável. E aquele que se sente um indivíduo muito diferente dos outros, mesmo
salvaguardando o sentimento do seu próprio carácter, deve ter consciência de que é
uma célula do organismo cósmico, que pertence a um conjunto.
Sim, mas o ser humano não pertence a este conjunto que é o universo como se
fosse somente uma pedra, uma planta ou animal. Enquanto ser pensante, tem outro
papel a desempenhar: deve participar na construção deste edifício que é a vida
colectiva. Se só trabalhar para si próprio, nada pode acontecer-lhe de bom. E vós
direis: “Mas como, se eu trabalho para mim, sempre ganho qualquer coisa!”. Não,
porque este “eu” para o qual trabalhais, o eu egoísta, separado, é um precipício e
trabalhando para ele, vós lançais tudo nesse precipício. Não é assim que se trabalha. Os
individualistas, os egoístas não vêem tudo o que poderiam ganhar trabalhando para a
colectividade. Dizem: “Eu não sou burro, eu, trabalho para mim, desenrasco-me…” E é
precisamente nesse momento que perdem tudo.
Unicamente, ouvi-me bem, quando falo de “colectividade”, não se trata
unicamente da colectividade humana, mas também do universo, de todas as criaturas do
universo, do próprio Deus. Esta colectividade, esta imensidade para a qual trabalhais é
como um banco, e tudo o que fizerdes por ele um dia ser-vos-á devolvido aumentado.
Como o universo faz todos os dias negócios formidáveis, …enriquece continuamente
com novas constelações, novas nebulosas, novas galáxias, todas estas riquezas virão
um dia até vós. Não virão imediatamente, é evidente, mas virão.
Quando depositais uma quantia no banco, não é no dia seguinte que recebeis os
juros, deveis esperar, e quanto mais esperais, mais elevados são os juros. No plano
espiritual a lei é exactamente a mesma. Trabalhais com muito amor, muita paciência,
muita confiança, e inicialmente não tendes qualquer resultado. Não percam a coragem.
Se vos desencorajais, é porque não decifrastes bem o sentido das leis que regem a vida
em sociedade. Sim, deveis conhecer as leis do banco e da administração. Se as
conhecerdes, compreendereis que é preciso esperar. Depois as riquezas cairão de todos
os lados, e mesmo que tenteis escapar-vos, é impossível, todo o universo vos lançará
riquezas extraordinárias sobre a cabeça, porque fostes vós que as provocastes. É isto, a
justiça !

A ciência da vida
Quando os cientistas descrevem um mineral, um vegetal, um animal ou um ser
humano, nada há a criticar-lhes, o que dizem é verdade. Mas esta verdade é parcial.
Para que seja completa é preciso que recoloquem o objecto do seu estudo na vida
cósmica a que ele pertence. Desligados desta vida, a pedra, a planta, o animal, o
homem estão privados do essencial. É por isso que, enquanto os pesquisadores
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continuarem nesta via, o que chamam de verdade científica, será uma verdade
incompleta, mutilada.
Entendei-me bem, não se trata de por em dúvida o valor e o interesse da
ciência. O verdadeiro problema está fora, na cabeça dos pesquisadores, na sua atitude
perante a vida, na sua incapacidade de ligar os objectos particulares do seu estudo com
o conjunto da vida. Os seres e as coisas não existem separadamente, existem como
partes dum todo, e as partes estão ligadas entre si. Isola-se um ramo, uma folha, um
fruto, para os estudar. Mas não, é na árvore que é preciso estudar o fruto para
compreender como se produz o ponto de encontro de todas as energias que circulam.
Ouve-se sempre elogiar a “verdade científica”. Mas mais importante que a verdade
científica, existe a verdade da vida. E a verdade da vida, é aprender a colocar todas as
vidas no edifício cósmico para ver como elas vibram em harmonia e participam na vida
do todo.
Portanto, não basta observar e estudar com precisão todos os elementos da
natureza, é preciso ir mais longe e ver as ligações que existem entre eles para
compreender como circula dum para o outro, esta qualquer coisa que não possuem
separadamente: a vida. O verdadeiro saber encontra-se na vida. Separai os elementos, a
vida já lá não está. Saber que um mineral, ou um vegetal tem tal propriedade, tal cheiro,
tal sabor, tal cor, não é essencial, porque enquanto os considerais isoladamente,
separai-los da vida. Ligai-os a todos os outros elementos da terra e do céu, a vida
aparece e vós possuireis o verdadeiro saber.
Qualquer que seja o campo em que vós estudeis e em que exerçais a vossa
actividade, deveis colocar a vida no centro e ver esta vida na sua dimensão mais
elevada, mais ampla. E uma vez que estejais ancorados no essencial, podeis permitir-
vos ir explorar tudo o que quiserdes. Na medida em que já tiverdes trabalhado no
essencial, tudo o que fizerdes a seguir beneficia dessa luz e para vós toma uma outra
dimensão. Não somente alcançareis um melhor conhecimento das coisas pela
inteligência, mas ao mesmo tempo todo um processo de regeneração se desencadeia no
mais íntimo de vós. Porque entrastes de novo em relação com o todo: comungais com
as correntes subtis do universo, estais mergulhados no seio da vida cósmica, participais
desta vida em harmonia com todas as criaturas visíveis e invisíveis, e o vosso campo
consciente alarga-se.
Esta compreensão mais vasta da ciência, é ela também, a verdadeira religião.
Mas qual ! Para que serve repetir que a palavra religião vem do latim “religare”: ligar,
se na sua cabeça, as pessoas só fazem separações ? Direis: “Mas a ligação de que eles
falam é a ligação com Deus !” Eu bem vejo, somente que significa uma ligação com
Deus se essa ligação é acompanhada dum separação com todo o resto ? A mesma
ligação que liga o Criador às criaturas deve ligar todas as criaturas entre si, e também
todos os elementos da criação. É a compreensão e o sentimento desta ligação que é a
verdadeira religião. Então, não obstante, o que quer que possais ver, ouvir, estudar ou
tocar, pensai em encontrar-lhe um lugar no Todo, não o deixeis de fora, desligado,
separado da Árvore da Vida. É esta atitude, esta maneira de compreender as coisas que
despertará em vós, pouco a pouco, todos os centros subtis. A estes centros, a mística
hindu chama “chakras”; existem muitos métodos para os desenvolver e alguns são
muito perigosos. O melhor método, o que eu vos recomendo, é trabalhar para realizar
em vós a unidade da vida.

Microcosmo e macrocosmo: a lei das correspondências

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Das pedras e das plantas até aos arcanjos e até Deus, tudo o que tem uma
existência no universo existe também no homem. É por isso que o universo é chamado
de macrocosmo (o grande mundo) e o homem o microcosmo (o pequeno mundo). O
homem é infinitamente pequeno, e o universo é infinitamente grande, mas entre o
infinitamente pequeno e o infinitamente grande, existe uma grande quantidade de
correspondências. Todos os órgãos do nosso corpo físico assim como os do nosso
corpo psíquico e espiritual estão em afinidade com regiões do cosmos. Evidentemente,
não é preciso imaginar que o cosmo tem órgãos como os nossos, mas na sua essência,
os nossos órgãos estão em correspondência absoluta com os órgãos do cosmo, e pela
lei da afinidade podemos tocar no espaço, em forças e em centros que correspondem a
certas forças e certos centros do nosso corpo. Este conhecimento das correspondências
abre-nos possibilidades inauditas. Toda a Ciência iniciática se funda nesta lei das
correspondências.
Entre o homem e o universo, entre o microcosmo e o macrocosmo, existe
portanto uma relação ideal, mas pela sua maneira de viver, o homem rompeu esta
relação. Ele deve, pois, esforçar-se por restabelece-la, e pode faze-lo, porque quando
saiu das oficinas do Criador, recebeu tudo o que lhe era necessário para se desenvolver
e encontrar, se se desviasse, o caminho da pátria celeste. Todos os espíritos que vem
encarnar na terra possuem órgãos e instrumentos que correspondem às qualidades e
virtudes do mundo divino e, porque é assim, são-lhe abertas todas as possibilidades,
mas na condição de conhecer as leis.
E quais são estas leis ? Suponde que tendes dois diapasões absolutamente
idênticos: se fizerdes vibrar um, reparai que o outro, em que não tocastes, também
entra em vibração. Diz-se que há ressonância. Toda a gente conhece este fenómeno,
mas não se pára para aprofundar e compreender que se passa a mesma coisa com o ser
humano. Se ele chegar a afinar o seu ser físico e o seu ser psíquico com as vibrações do
universo, pode atingir os poderes celestes para fazer uma troca com eles e receber
assim ajuda e reconforto. Sim, é uma maneira de comunicar. Vocês falam e nós
ouvimos; podeis mesmo servir-vos de certas forças para as fazer vir até junto vós e
beneficiar delas.
Suponhamos que estais tristes e angustiados: que fazer ? Ora bem, além de ficar
a chorar e a andar às voltas, porque não ir até junto dos seres que podem ajudar-nos ?
Direis: “Onde é que estão ? Onde os vou encontrar ? “ Mas estão aí, estão sempre aí, e
através do pensamento podeis dirigir-vos a eles e eles atenderão graças à lei acústica de
ressonância, à lei da afinidade. Depois de conhecer esta lei, compreendereis quão
importante é irdes mais longe, exceder-vos para tocar as cordas mais sensíveis, mais
subtis do vosso ser e faze-las vibrar, sabendo que há forças, entidades e regiões que
responderão. É a qualidade dos vossos pensamentos, dos vossos sentimentos, dos
vossos desejos, que determina em absoluto a natureza dos elementos e das forças que
serão despertadas muito longe, num qualquer lugar no espaço, e que, cedo ou tarde,
descerão até vós.
Então, atenção, agora que conheceis esta lei da afinidade, que é a lei mágica por
excelência, a base de toda a criação, podeis começar imediatamente a trabalhar. Pouco
a pouco chegareis a reconstituir tudo em vós, produzindo com os vossos pensamentos
e os vossos sentimentos, vibrações muito mais elevadas que irão muito longe, pelo
espaço, procurar entre os milhões de elementos existentes os que lhes correspondem.

A base da economia: prever

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O progresso das ciências e das técnicas coloca imensas possibilidades à


disposição dos humanos. Está bem, mas todas estas novas facilidades levam-nos a
esperar tudo do exterior, e a mostrar-nos indiferentes, irreflectidos, levianos. Podemos
negligenciar a nossa saúde: há farmacêuticos, médicos, cirurgiões, dentistas, etc.
Podemos inutilizar o papel, escangalhar os aparelhos, partir os objectos, manchar e
rasgar os fatos, deitar fora a comida: os armazéns estão cheios para reparar ou
substituir tudo isto. Podemos deitar um cigarro aceso para a floresta: se provocar um
incêndio, os bombeiros virão apagá-lo. Para quê matar a cabeça ?
É assim que a atenção, a vigilância, o discernimento, se embotam cada vez mais.
Para quê desenvolvê-los se a sociedade oferece tais meios para reparar as asneiras que
fazemos ? Aí estão todos, os pesquisadores, os técnicos, para ajudar os humanos. Na
realidade, eles não os ajudam. Ajudam, sem dúvida, os fabricantes que vendem os seus
produtos, mas aos humanos, enfraquecem-nos, tornam-nos cada vez mais dependentes.
Não digo que é preciso parar o progresso material, o progresso técnico, não, mas é
mais importante trabalhar no plano interior a fim de cultivar a atenção, a prudência, a
habilidade, a mestria. Quantos desperdícios devido à falta de atenção, à falta de
consciência ! E depois, fala-se de economia…
Para praticar a verdadeira economia, é preciso estar consciente, atento,
previdente, senão, seja como for, corre-se para a ruína. É à natureza que vamos buscar
tudo o que precisamos para a nossa existência, e mesmo quando somos nós que
fabricamos os objectos, os produtos, somos obrigados, duma maneira ou doutra, a
utilizar materiais que se encontram na natureza. Mas a natureza não está aí para
satisfazer os caprichos e fraquezas dos humanos. Se continuarem a explorar sem conta,
a poluir, a destruir, é a si que eles destruirão primeiro, e uma vez desembaraçada dos
humanos, a natureza voltará ao de cima. Ela, natureza, tem recursos, não se deixa
vencer tão facilmente. Se o homem não faz o que deve para viver e trabalhar em
harmonia com ela, ela defende-se. Até uma criança percebe isto. Então, porque é que
os grandes especialistas não o percebem ? Porque na cabeça só têm a exploração e o
lucro.
É por isso que cada um agora deve tornar-se consciente e compreender como
deve regular esta questão da economia, primeiro para si, na sua própria existência. Não
é nada fácil por ordem na sociedade, e alguns indivíduos, malgrado a sua boa vontade,
não podem mudar as tendências perniciosas da economia mundial. Mas se há cada vez
mais pessoas capazes de reflectir sobre a vida e as suas actividades para as colocar em
harmonia com o organismo colectivo, um dia chegarão mesmo a fazer prevalecer o seu
ponto de vista.
Quando uma sociedade coloca em primeiro plano os seus interesses
económicos, ainda que comece por acumular sucessos, sempre virá o momento em que
encontrará dificuldades que não teve a sabedoria de prever. Um exemplo: para um país
que fabrica armas nada é mais vantajoso, com certeza, do que exportá-las. E é assim
que se chega a vender todo um material cada vez mais mortífero para os povos que,
pelas suas lutas contínuas, arriscam comprometer a paz e a segurança de todo o
planeta. Alguns destes povos sabem unicamente ler e escrever, mas isso não interessa,
mandam-se as armas mais perfeitas e enviam-se peritos para lhes mostrar como se
servir delas. Por um lado ganha-se muito dinheiro, é verdade, mas pelo outro pagam-se
muito caros estes benefícios, porque a seguir, quantas despesas, quantas dificuldades
para acabar com estes conflitos que explodem em todos os cantos do mundo ! No fim,
encontramo-nos diante de problemas inextricáveis porque não se reflectiu, não se
previu, só se consideraram as vantagens imediatas.
A economia é a ciência da previsão. Sim, ser um bom economista, não é
contentar-se com soluções que talvez sejam boas naquele momento, mas depois ?… E
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Omraam Mikhaël Aïvanhov

no dia em que se apercebe que se está comprometido num caminho que se torna
perigoso, é tão difícil voltar atrás !
Direis: “Mas como fazer ? A maior parte de nós não tem meios para intervir
nos negócios do país”. Não digo que deveis intervir directamente, mas compreender
que a economia não é unicamente trabalho dos economistas, é também trabalho vosso.
Enquanto ser humano, enquanto célula dum organismo vivo, podemos agir, mas para
isso devemos desenvolver a nossa consciência e o nosso sentido de responsabilidade.
Se esta tomada de consciência não se faz, é a economia que, em vez de trazer
prosperidade, levará à ruína de muitos países.
Para compreender a economia, é preciso escutar as lições da natureza. Direis:
“Mas a natureza não nos dá nenhuma lição de economia, pelo contrário. Toda a
vegetação, todos os animais, todos os humanos que não cessam de nascer e de morrer
desde há milhões de anos, que desperdício! Para que serviram todas estas vidas ?” Para
nada, certamente, no sentido do proveito imediato que vós dais à palavra “servir”. Mas
todas as vidas foram úteis na economia cósmica, pertenceram ao ciclo da vida. Não
esqueçam que, para a natureza, a morte faz parte da vida e tudo o que morre entra na
criação doutras existências.
A natureza nunca ficou embaraçada pelos milhões e milhões de cadáveres de
seres humanos, de animais e de plantas: eles voltam à terra a fim de dar princípio a
outros seres vivos. Entretanto vede as dificuldades que os humanos encontram para de
desembaraçar dos seus resíduos ! Fabricaram materiais, produtos que, depois de
utilizados, não se decompõem naturalmente, ou que poluem a terra, o ar, a água, etc. É
inútil estar a enumerá-los, vocês sabem quais são. Direis: “Mas as matérias plásticas, as
pilhas eléctricas, a gasolina, a energia nuclear, etc., representam um grande progresso.”
Com certeza, eu não digo o contrário. Mas ao mesmo tempo que se realizava este
progresso, era preciso reflectir nos inconvenientes que eles nos podiam trazer. Ora, isto
foi o que não se fez: era preciso vender rapidamente.
Os humanos puseram o progresso técnico ao serviço da sua avidez, com risco
de destruir até as bases da sua existência na terra. É por isso que o progresso técnico
não é verdadeiramente o progresso. Será que o verdadeiro progresso consiste em
enviar engenhos para outros planetas ? Para fazer o quê , afinal ? Para explorar os seus
recursos e levar para lá a mesma desordem que existe na terra ? Para se combater no
espaço ? Para ir semear a desordem em todo o universo, agora ?… Seguramente, nada
há de mal em querer explorar o cosmos, mas não antes de ter encontrado a melhor
maneira. Os humanos nada respeitam, eles julgam-se donos do universo, estão prontos
a revolver tudo para satisfazer a sua curiosidade ou a sua cobiça. Ora bem, é preciso
que saibam que um dia devem pagar muito caro este desrespeito e esta violência.

Recebemos gratuitamente, devemos dar gratuitamente


Devemos tudo à natureza, os elementos de que o nosso corpo é formado e tudo
o que nos permite subsistir: a água, a comida, o ar que respiramos, a luz e o calor do
sol, os materiais de que fazemos o vestuário, as habitações, as ferramentas… tudo. Os
humanos são muito ciosos da sua habilidade, mas donde tiraram os materiais a partir
dos quais fabricam os instrumentos, os aparelhos, e até as obras de arte ? Da natureza.
A natureza dá-nos tudo. Mas aquilo em que nós pegamos está registado nalgum
lado pormenorizadamente. São os débitos que contraímos para com ela, e um dia
devemos saldar estas dívidas, devemos pagar. Mas como ? Com uma moeda que se
chama respeito, reconhecimento, amor e vontade de estudar tudo o que está escrito no
seu grande livro. Pagar significa dar qualquer coisa em troca, e tudo o que o nosso
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Omraam Mikhaël Aïvanhov

coração, a nossa inteligência, a nossa alma e o nosso espírito são capazes de produzir
de bom pode ser um pagamento. No plano físico somos limitados, e a natureza não nos
pedirá a devolução dos alimentos, da água e do ar que utilizámos. Mas no plano
espiritual as nossas possibilidades são infinitas, e aí podemos devolver o cêntuplo de
tudo o que a natureza nos deu.
Quando o homem decide servir-se de todas as faculdades que Deus lhe deu para
caminhar conscientemente no caminho da luz e do sacrifício, está comprometido com o
serviço divino e Deus retribui dando-lhe a inteligência, a bondade, a beleza, etc. Ora
bem, é com este dinheiro que ele pode pagar tudo o que vai buscar à natureza. O que
não está comprometido com a administração celeste não recebe nada, está desfalcado,
não tem dinheiro para pagar aquilo que usa. Come, bebe, respira, passeia, faz negócios,
mas cedo ou tarde os credores, as forças da natureza vêm despojá-lo, porque não se
pode pagar com a negligência, a preguiça, a falta de respeito, a ingratidão. Então os
credores cobram-se na carne e nos ossos do seu devedor: levam-lhe a vida.
A natureza expõe à nossa frente todas as riquezas, temos o direito de nos
abastecer delas, está tudo à nossa disposição, mas com a condição de pagarmos. Ah,
estais admirados porque não são gratuitos ?… É gratuito, mas devem, vocês também,
dar gratuitamente ! Deus dá-nos tudo gratuitamente e nós devemos fazer da mesma
maneira. Nós pomo-nos ao serviço do Senhor e o Senhor em paga dá-nos a luz, o
amor, a força, a paz. Ora bem, esta luz, este amor, esta força, esta paz, são o dinheiro
que nos permite entrar nos grandes armazéns da natureza e pagar. O que não paga com
a ajuda deste dinheiro dado por Deus, ver-se-á obrigado a pagar com sofrimentos, com
doenças, com tormentos.
Nós somos convidados para a grande casa do Senhor; o nosso hospedeiro é
muito acolhedor, muito generoso, mas se nunca pensarmos em dar-Lhe qualquer coisa
em troca, Ele olhar-nos-á como crianças atrasadas que não souberam crescer. Ide
perguntar às criancinhas se pensam que devem alguma coisa aos seus pais. Para elas é
normal pedir e pegar sempre. Felizmente, quando crescem, ao menos em algumas delas,
a consciência acorda e é nesse momento que começam a tornar-se adultos. Ora bem,
nós também, nós devemos tornar-nos adultos e compreender que devemos alguma
coisa à nossa Mãe Natureza e ao nosso Pai, o Criador.

A vida é feita só de trocas


Aquilo a que chamamos “vida” não é outra coisa senão o resultado de trocas
que fazemos com a natureza. A vida é feita só de trocas. As manifestações mais
evidentes disso são a alimentação e a respiração, e se estas trocas forem impedidas,
segue-se o enfraquecimento, a doença e a morte. Mas as trocas que as pessoas têm que
fazer para viver não se limitam a alimentar-se e a respirar. Ou antes, pode dizer-se que
consistem em alimentar-se mas não unicamente no plano físico. Respirar é também uma
maneira de se alimentar. A nutrição é o símbolo das trocas que nós fazemos com as
diferentes regiões do universo para alimentar não somente o corpo físico, mas também
os nossos corpos subtis: os corpos etérico, astral, mental, causal, búdico, átmico.
Quando compreenderdes como é possível encontrar nas diferentes regiões do
espaço o alimento que convém aos vossos diferentes corpos, sentireis o universo como
uma imensa sinfonia. Mas primeiro é preciso começar a restabelecer as comunicações a
fim de que as correntes de energia possam circular entre o universo e vós, e o
restabelecimento destas comunicações não pode fazer-se senão com um trabalho do
pensamento.

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Omraam Mikhaël Aïvanhov

I - A alimentação fala-nos do universo

Quando comeis, aprendei a concentrar-vos nos alimentos pensando que estais a


comunicar com todo o universo. É assim que os alimentos vos contarão a sua história,
falar-vos-ão da terra, do vento, da chuva, do orvalho, do sol, das estrelas…
O alimento é feito de partículas e de energias que não vem somente da terra, mas de
todo o cosmo. Sim, são os elementos vindos do cosmos que se materializam sob a
forma de flores, de legumes, de frutos. Na realidade, o alimento materializa-se na terra
exactamente como as crianças se materializam no seio da mãe. Na origem, as plantas,
os frutos eram espíritos no espaço, mas como não se pode trabalhar no plano físico se
não se tiver corpo físico, para poder agir eficazmente aqui na terra e viver a vida, foi
preciso que estes espíritos se conformassem às leis da matéria: e por isso tomaram
forma material e visível.
Podemos comparar a alimentação à radiestesia. Isto admira-vos ? Mas o que é a
radiestesia ? A capacidade de detectar radiações emitidas pelos objectos. Ora, o
alimento recebeu influências de todo o cosmo: não só os quatro elementos participaram
na elaboração de todos os alimentos que nós comemos, mas o sol, as estrelas
impregnaram-lhes os seus raios. Se os humanos estivessem mais atentos, se
compreendessem a riqueza e o valor da alimentação, se aprendessem a comer com
amor e reconhecimento, poderiam receber e decifrar as mensagens que ela transporta e
descobririam as maravilhas da criação.
O homem, como animal, precisa comer para subsistir. Mas de modo diferente do
animal, o homem pela suas consciência pode encontrar na alimentação um meio de
crescer psíquica e espiritualmente. Eu irei mais longe: desde que não seja capaz de dar
ao acto de alimentar-se uma dimensão maior, mais profunda, é inútil que ele se julgue
cultivado, civilizado. Para mim é um teste. Quando os humanos aprenderem a comer
com uma consciência iluminada, maravilhando-se com a comida, pensando com
reconhecimento que todo o universo trabalhou para produzir os frutos, os legumes, os
cereais graças aos quais recebem a vida, nesse momento, sim, poderá falar-se de cultura
e civilização.
Ler livros não é a única forma de nos instruirmos. Podemos instruir-nos também
graças à alimentação, e a sabedoria que se recebe assim é uma sabedoria viva, porque
impregna toda a substância do nosso ser. As revelações que a alimentação nos trará,
não serão talvez aquelas de que poderemos falar logo de imediato porque não se
destinam ao intelecto. São sensações com as quais todo o nosso ser, toda a nossa
existência serão enriquecidas.
Mas quem é que nunca pensou que a alimentação nos pode trazer revelações ? Que
ela nos dá forças, ninguém duvida disso; e toda a gente ouviu falar de calorias, de
vitaminas e hormonas. Mas não se foi mais longe para ver o que a alimentação pode
trazer nos planos subtis. Se soubésseis concentrar-vos e por-vos em estado receptivo,
poderíeis mesmo ouvir as melodias que a alimentação toca e canta; ela dir-vos-ia como
todas as partículas que a compõem atravessaram o universo, que seres trabalharam para
a fazer crescer, que entidades se ocuparam constantemente, dia e noite, a infundir-lhes
tal ou tal propriedade para ser útil aos filhos de Deus. Ela registou até as impressões
que lhe deixaram os homens que trabalharam nos campos ou que se passearam através
dele. Que cerimónias mágicas, que talismãs são capazes de vos trazer a vida desta
maneira, como a alimentação ? Nenhum. Então, não valerá a pena conhecer a sua
história ?

II - A nutrição: a transformação da matéria


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Omraam Mikhaël Aïvanhov

O homem come, todas as criaturas comem, mas porquê ? Direis que é para receber
forças. Sim, mas não existe outra razão ? Tudo o que fazemos não tem só uma razão,
só um fim, e se comemos, não é só para nos mantermos com vida e saúde…
Reparai, que fazem as minhocas ? Elas engolem a terra e expelem-na de seguida.
Fazendo-a passar assim através de si, as minhocas trabalham a terra a fim de a arejar, de
a tornar mais rica, mais fértil. Ora bem, o ser humano não faz outra coisa com a
alimentação. Pelas suas faculdades psíquicas, espirituais, o homem pertence a um grau
de evolução muito superior ao da matéria que absorve, e então passando através dele, a
matéria enriquece-se, purifica-se.
Todas as criaturas se alimentam: as plantas, os animais, os homens, ao alimentar-se
transformam a matéria que absorvem impregnando-lhe elementos que ela não possuía.
Como se fosse um dever para cada reino da natureza absorver matéria de reinos
inferiores a fim de a fazer evoluir. A Inteligência cósmica sem dúvida poderia encontrar
outros meios, mas foi aquele que ela escolheu: decidiu que, para viver, cada criatura
absorveria matéria do reino que lhe é inferior para a fazer circular no reino superior. Eis
o que fazemos quando comemos.
Na realidade, a questão não é somente fazer passar a matéria através do nosso
estômago, mas também através dos nossos pulmões, nosso coração, nosso cérebro.
Não é somente ao comer que o homem melhora a matéria, mas através de todas as
acções: ao respirar, ao trabalhar, ao falar, ao olhar… Vede até onde vai a tarefa do
homem. É por isso que logo após a sua morte a matéria do seu corpo se desintegra e
volta aos quatro elementos - a terra, a água, o ar, o fogo - as partículas que a
constituem tornam-se mais vivas, mais subtis, mais expressivas e vão servir para outras
formas, outras criações duma qualidade superior. Certamente pode acontecer que pelo
contrário estas partículas estejam aviltadas por causa da existência animal ou criminosa
que o homem levou e elas não serão pois utilizadas senão para criações grosseiras.
Reparai até onde vai a responsabilidade do homem: ele é até responsável por aquilo
que deixa de si após a sua morte, de todas as partículas do seu corpo: impregnou-as de
luz, de amor, de bondade, de pureza ou pelo contrário, de vibrações criminosas ?…
Sim, ele continua a ser responsável mesmo depois da morte. Eis as verdades que a
maior parte das pessoas ignoram, elas não sabem até onde vai a sua responsabilidade.
Além disso, a consciência da responsabilidade é a consciência mais elevada que existe.
O homem tem que compreender que recebeu esta missão grandiosa de transformar
e sublimar a matéria da criação: tudo o que come, tudo o que toca, tudo o que vê, ele
tem que melhorar, embelezar. Eis a nossa tarefa: fazer passar a matéria através de nós a
fim de a fazer sair divina. Enquanto não compreendermos isto tudo o que fizermos é
estúpido, insensato, a nossa própria existência não terá qualquer sentido. Nós temos a
tarefa de colocar o selo do espírito na matéria, de espiritualizar tudo, de tudo divinizar,
e se lá chegarmos seremos reconhecidos, apreciados, escolhidos pelos espíritos
luminosos que ficam junto de nós porque nós compreendemos o sentido da vida.
Quando fazemos esforços para avançarmos, para nos ultrapassarmos, para criarmos
qualquer coisa que é mais que nós próprios, imprimimos à matéria o selo do espírito, e
assim cumprimos a nossa tarefa de filhos de Deus.

Respirar a vida divina


Como a acto de comer, o acto de respirar põe-nos em contacto com a vida
universal. Mas para que esta relação seja completa, rica, devemos estar conscientes
disso e acompanhá-la com um trabalho do pensamento.

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Podeis fazer este exercício: ao expirar o ar, pensai que começais a dilatar-vos
até tocar os confins do universo… Depois, ao inspirar, regressais para dentro de vós,
para o vosso eu que é como que um ponto imperceptível, o centro dum círculo
infinito… Novamente, voltais a dilatar-vos, de novo voltais a contrair-vos…
Descobrireis assim este movimento de fluxo e refluxo que é a chave de todos os ritmos
do universo. Procurando tornar este movimento consciente em vós próprios, entrareis
na harmonia cósmica, e faz-se uma troca entre o universo e vós, porque ao respirar
recebeis elementos do espaço, e ao expirar projectais de volta qualquer coisa do vosso
coração e da vossa alma. Aquele que sabe harmonizar-se com a respiração cósmica
entra na consciência divina.
Mas quantos dentre vós estão preparados para compreender a dimensão
espiritual da respiração ? Se sentísseis esta dimensão, trabalharíeis toda a vida a
inspirar a força e a luz de Deus, depois a dar logo esta luz ao mundo inteiro. Porque a
expiração é também isso: distribuir a luz que se foi buscar junto a Deus.
Inspirar, expirar… inspirar, expirar… É preciso saber que a respiração diz
respeito a todas as manifestações da vida espiritual. A meditação é uma respiração, a
oração é uma respiração, o êxtase é uma respiração, toda a comunicação com o Céu é
uma respiração.
Aquele que aprende a respirar conscientemente ilumina a sua inteligência,
reanima o seu coração fortifica a sua vontade, mas prepara também melhores condições
para as suas reencarnações futuras. Porque ao respirar com uma consciência elevada,
ele entra em harmonia com as entidades mais evoluídas, atrai-as, cria uma ligação com
elas. Então estas inteligências luminosas aceitam vir trabalhar nele e, um dia, quando ele
deixar a terra, encontrará nos outros mundos estes amigos com os quais já terá
aprendido a trabalhar.
E nunca esqueçais que o vosso organismo forma uma sociedade cujos membros
se esforçam por manter a unidade; presentemente ainda não conheceis os associados
que vivem aí, dentro de vós, mas no dia em que fordes para o outro mundo, encontrá-
los-eis e sabereis quem eram os amigos que habitavam na vossa casa.

Restabelecer o contacto com a vida universal


Quantas pessoas tem a impressão de ter sido lançadas no mundo como num
meio que lhes é estranho e mesmo hostil ! Porquê ? Porque perderam o contacto com a
natureza. Elas não sentem esta amizade, esta boa vizinhança de tudo o que existe à sua
volta: as pedras, as plantas, os animais, o sol, as estrelas… mesmo quando se
encontram no abrigo da sua casa, estão inquietos, perturbados. Mesmo durante o sono
se sentem ameaçados. É uma impressão subjectiva porque, na realidade, nada os
ameaça daquela maneira; mas interiormente qualquer coisa está desfeita e eles não se
sentem protegidos. Por isso é preciso que restabeleçam o contacto com a vida universal
a fim de compreender a sua linguagem e de trabalhar em harmonia com ela.
Toda a natureza fala, tudo o que existe no universo possui uma maneira
particular de se exprimir. A questão é trabalhar sobre as nossas faculdades de percepção
a fim de compreender todas as manifestações da natureza e das suas formas de
linguagem, mas também de encontrar em nós próprios meios de expressão para nos
dirigir a ela ou responder-lhe. Porque a natureza é viva e inteligente. Sim, inteligente, a
inteligência não é unicamente própria do homem. É difícil de admitir por alguns, eu sei,
mas é preciso que o saibam: à medida que mudamos a nossa opinião sobre a natureza,
modificamos o nosso destino. A natureza é o corpo de Deus. Se nós pensamos que é
morta e estúpida, diminuímos a vida em nós, e se pensamos que é viva e inteligente,
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que as pedras, as plantas, os animais, as estrelas são vivos e inteligentes, é a vida que
introduzimos também em nós. E porque a natureza é viva e inteligente, devemos estar
extremamente atentos, respeitosos para com ela, e chegar-nos a ela com um sentimento
sagrado.
Quantos de entre vós pensam: “Que importa se ajo para com a natureza com
respeito ou não ! Para ela, isso não muda nada, não lhe faço bem nem mal”. Na
realidade, se tendes que respeitar a natureza, não é certamente por causa dela, é por
vossa causa. Se fordes atenciosos para com as pedras, as plantas, os animais e os
homens, e até com os objectos que vos rodeiam, a vossa consciência da vida
desenvolve-se, aprofunda-se e vós sois enriquecidos com toda esta vida que respira e
vibra à vossa volta. Sem dúvida que nunca pensastes nisto, e é por isso que vos sentis
muitas vezes desorientados, angustiados, no vazio. Quereis sair desta situação ? Pensai
que estais ligados às forças e às entidades luminosas da natureza e que podeis
comunicar com elas. Esta comunhão ininterrupta todos os dias com uma multidão de
criaturas, é a verdadeira vida. “Mas, direis vós, como fazer ?” Pelo amor. Não há outra
meio senão o amor. Se amais a natureza, ela falará em vós, porque vós também, vós
sois uma parte da natureza. Com certeza, é precisa toda uma preparação para atingir
este estado de consciência. Mas no dia em que o atingis, vós sentir-vos-eis na luz e na
paz, protegidos pela Mãe natureza que vos reconhece como seu filho, e ela acarinha-
vos, toma-vos nos seus braços, dá-vos as suas alegrias… Vós não sabeis mesmo donde
vem estas alegrias, mas vós ficais felizes, como se o céu e a terra vos pertencessem.

O trabalho com os espíritos da natureza


Da terra ao sol e para além dele, todo o espaço é habitado por criaturas. Os
quatro elementos, a terra, a água, o ar e o fogo são habitados. Estas criaturas são
mencionadas nas tradições de todo o mundo. Com certeza, elas não se apresentam
talvez tal como foram descritas por cada religião ou cada cultura, mas existem, e nós
podemos entrar em comunicação com elas e faze-las participar no nosso trabalho para a
exaltação do Reino de Deus.
Quando caminhais na natureza, experimentai tomar consciência da presença de
todos estes espíritos que a povoam e que já existiam muito antes do aparecimento do
homem na terra; Ligai-vos a eles, falai-lhe, maravilhai-vos diante da beleza do trabalho
que eles executam nos lagos, nas ribeiras, nas florestas, nas montanhas, nas nuvens, etc.
… Então eles ficarão felizes, eles terão amizade por vós, e dar-vos-ão prendas:
vitalidade, alegria, inspiração… Mas vós podeis ir ainda mais longe. Esta multidão de
espíritos que estão lá para contribuir com a sua actividade na vida da natureza, pedi-
lhes para virem trazer a sua ajuda a todos os que trabalham para o amor, a luz e a paz:
para a exaltação do Reino de Deus sobre a terra.
E mesmo quando ides à beira mar, sabei que também lá há outras coisas para
fazer, em vez de se deitar horas sobre a areia a deixar divagar o pensamento. Dirigi-vos
aos espíritos das águas e dizei-lhes: “Vós também, vós podeis fazer qualquer coisa para
o bem da humanidade. Esforçai-vos por influenciar todos os que se vem banhar e os
que viajam de barco, inspirai-lhes o desejo de se melhorarem. Tendes poderes e se
insistirdes, acabarão por vos ouvir. Ide, ao trabalho !”
Os espíritos da natureza gostam que lhes demos trabalho, mas nunca se
preocupam com o fim bom ou mau, benéfico ou maléfico deste trabalho. Quem quer
que seja que lhe dê uma tarefa, eles executam-na, e estão inteiramente submetidos a
esta vontade superior que conseguiu dominá-los. É por isso que tantos mágicos e
feiticeiros os utilizam para cometimentos abomináveis: os espíritos da natureza
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obedecem porque eles são feitos assim, não tem qualquer consciência moral, fazem da
mesma maneira o bem e o mal. Sabendo isto, são os humanos que devem mostrar-se
vigilantes e aprender a comprometê-los unicamente com vista ao trabalho divino.
Imaginais que só os homens podem ajudar os homens, e que não podem ajudá-
los senão por uma acção política, económica, social. Não, neste organismo vivo e
consciente que é a natureza e ao qual pertencemos, uma multidão de entidades estão
preparadas para contribuir para a evolução da humanidade. A terra, a água, o ar e o
fogo, os quatro elementos juraram diante do Eterno ajudar todos os que trabalham para
tornar-se criaturas de paz, de harmonia e de beleza.
Apesar de tudo, onde quer que andeis na natureza, pensai em dirigir-vos a todos
os seres que habitam as grutas, as árvores, os regatos, os lagos, e até o sol e as estrelas:
pedi-lhes para virem participar na exaltação do Reino de Deus na terra. Um dia,
milhões de espíritos pôr-se-ão em marcha para trabalhar nos corações e nos cérebros
humanos, e o Céu reconhecerá em vós um construtor da vida nova, uma fonte, um filho
de Deus.

Uma saudação à criação


As nossas mãos são como antenas que tem a possibilidade de captar correntes
de forças, mas também de projectá-las. Alguns dirão: “Mas é perigoso, é magia !” Sim,
é magia . Tudo o que fazemos é magia. Os magos são os que sabem servir-se das suas
mãos para receber forças ou projectá-las, para as reter ou orientar, para as ampliar ou
reduzir. E não há de que ter medo, porque é o Criador que dotou as nossas mãos com
tais poderes.
Se soubéssemos observar, reconheceríamos em certos gestos da vida diária um
traço deste saber milenário que diz respeito às nossas mãos e seus poderes. Reparai, em
todos os países, quando as pessoas se encontram ou se deixam, que fazem ? Levantam
o braço para enviar uma saudação ou então apertam a mão. A mão serve portanto
como meio de emissão e recepção entre os humanos. É por isso que é preciso estar
particularmente atento sobre o que damos com a mão. Se temos que nos saudar, é para
fazer bem, dar-se mutuamente qualquer coisa de bom. Se nos saudamos ou se
apertamos a mão maquinalmente, ficando negligente, distante, fechado, isso é inútil.
Mas para o que tem a consciência desperta, é um gesto formidável, significativo e
operante pelo qual pode encorajar, consolar, vivificar as criaturas e dar-lhe muito amor.
É preciso que uma saudação seja uma verdadeira comunhão, que seja poderosa,
harmoniosa e viva.
Mas a mão não é somente um meio de entrar em relação com os humanos, é
também um meio de entrar em relação com a natureza. Quando abris a janela ou a
porta, de manhã, habituai-vos a saudar toda a natureza, as árvores, o céu, o sol,
levantai a mão ou pelo menos a vossa mão etérica e dizei bom dia a toda a criação.
Perguntareis: “Mas tem utilidade ? Serve para alguma coisa ?”. Sim, isso serve para
começar o dia com um acto essencial; ligar-se à fonte da vida. Em resposta à vossa
saudação a natureza inteira também se abrirá a vós, ela vos enviará forças para todo o
dia.
É tempo de compreender que tendes um trabalho a fazer com o vosso
pensamento, com o vosso amor, a fim de que a natureza se abra para vós.
Experimentai: quando vos aproximardes dum lago, duma floresta, duma montanha,
parai um momento e enviai-lhes um sinal com a mão. Sentireis interiormente qualquer
coisa que se equilibra, que se harmoniza e muitas incertezas e incompreensões deixar-
vos-ão muito simplesmente porque vós decidistes saudar a natureza viva e as criaturas
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que a habitam. Tocai unicamente uma pedra com amor: ela não mais é a mesma, ela
aceita-vos, ela vibra em uníssono convosco, ela ama-vos também.
Mas sim ! Tudo na terra vive, e compete-vos saber como trabalhar para que esta
vida venha até vós. No dia em que souberdes manter uma relação consciente com a
criação, sentireis a verdadeira vida penetrar em vós.

((FIM))

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"EM ESPÍRITO E EM VERDADE"

I - A estrutura do universo
A Ciência iniciática sempre salientou a analogia que existe entre o universo, o
macrocosmo, e o ser humano, o microcosmo.
Imaginem que alguém que não conhecesse absolutamente nada de anatomia, e
não tivesse qualquer ideia da maneira como o ser humano é feito, se interrogasse: "Mas
então como é que se combinaram as coisas para fazer uma criatura que anda, respira,
come, exprime pensamentos e sentimentos ?" Seria necessário mostrar-lhe que, debaixo
da pele que ele vê, existe carne, órgãos, músculos, vasos sanguíneos, nervos, etc., que
ele não vê, e ainda um esqueleto que sustenta o conjunto. Ora bem, numa escala
gigantesca, passa-se o mesmo com o universo. O universo é um corpo. O universo é o
corpo de Deus e o nosso corpo físico é feito à sua imagem. Então, do mesmo modo
que o nosso corpo possui uma estrutura, um esqueleto, sem o qual se desfaria, também
o universo é sustentado por uma estrutura graças à qual tudo se mantém equilibrado,
desde as galáxias até às mais ínfimas partículas da matéria que constituem os átomos. É
graças a esta estrutura que a vida é possível. É a ela que chamamos o mundo dos
elementos.
Para compreender como o universo é construído e como funciona, é necessário
poder contemplar o esqueleto do corpo cósmico dos pés à cabeça. É o que me tenho
esforçado por fazer há anos e anos. Pela meditação, pela contemplação, procurei
descobrir as leis que presidiram à construção do universo. Eu saí do meu corpo físico
para me elevar até ao alto donde se pode observar o edifício na totalidade. Sem dúvida
que, sobre a criação, nunca se chega a ter o ponto de vista do Criador, mas é preciso
fazermos o possível para nos aproximarmos dele. O único meio de lá chegar é fugir às
atracções e às limitações da terra. Porque a verdade, inicialmente é um ponto de vista, e
este ponto de vista só pode alcançar-se medindo as distâncias relativamente ao mundo
que vemos todos os dias.
Certamente, se nunca reflectistes sobre esta questão, é-vos difícil compreender-
me quando vos falo de experiências que fiz fora do meu corpo. Talvez compreendam
melhor se eu comparar estas experiências às dos astronautas que viajaram no espaço:
eles têm da terra e do universo um outro ponto de vista. Ora bem, cada ser humano
possui em si próprio o equivalente a estas máquinas que permitem aos astronautas
viajar no espaço. O Criador colocou nele centros e corpos subtis que lhe permitem
entrar em contacto com as realidades espirituais, tal como entra em contacto com as
realidades materiais através dos cinco sentidos.
Conheceremos a verdade no dia em que chegarmos a abranger com um só olhar
a estrutura deste gigantesco edifício da criação, do cimo até à base. O mundo
apresenta-se-nos como uma multidão de criaturas, elementos, objectos, fenómenos
dispersos e sem ligação entre eles. Na realidade existe uma ordem, existem ligações,
mas não podem ser abarcados na sua totalidade pela inteligência. Por isso, é-me
impossível apresentar-vos duma só vez este conjunto na sua totalidade; sou obrigado a
dar-vos de cada vez uma visão limitada. Cada uma das minhas conferências é um
elemento desta abordagem, e quando, por um trabalho interior vós tiverdes podido
juntar todos estes elementos, como numa iluminação divina, tereis conseguido abarcar
esta unidade do mundo. Por mim, não posso explicar-vos mais.
Aliás, há questões que os iniciados preferem pôr de lado, porque é impossível
explicá-los com argumentos objectivos, intelectuais; eles bem tentaram mas de nada
serviu. O único método eficaz seria poder fazer voltar os discípulos ao estado de
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Omraam Mikhaël Aïvanhov

espírito primordial em que tudo se torna evidente sem explicação. Senão, seria como
querer fazer compreender a um cego as cores do nascer do sol, ou a um surdo uma
missa de Mozart ou Beethoven: todas as explicações seriam inúteis. Mas dai a um a
vista e ao outro o ouvido, e nesse momento, já não é preciso explicar.
Quando o primeiro homem vivia ainda no seio do Eterno em comunicação
constante com Ele nada lhe era escondido. A vida divina na qual ele estava mergulhado
era a sua única e perfeita fonte de conhecimentos. Conhecer uma coisa é saboreá-la. Se
quereis reencontrar alguma coisa deste conhecimento primordial, deveis comunicar
com o universo, com o oceano de luz cósmica. Enquanto não conseguimos elevarmo-
nos ao estado de consciência que se chama comunhão, não experimentamos a
realidade, não a podemos conhecer. Talvez façamos suposições, teorias que se
aproximem mais ou menos da verdade, mas nunca é exactamente o mesmo. "Então,
direis vós, para que servem as explicações?” Servem para estimular a vossa
curiosidade, para vos dar a necessidade de fazer algum esforço, algumas experiências,
para poder viver finalmente outros estados. Tudo o que vos tenho dito há anos é fruto
da visão que tenho da ordem sublime que reina no universo. Dou-vos elementos, dou-
vos a direcção, e se souberdes como trabalhar, também a vós será dada esta visão da
verdade.

II - A casa divina dos pesos e medidas


Segundo a filosofia dos Iniciados, existe uma Verdade única, eterna. É por isso
que todas as crenças, todas as opiniões que os humanos têm por verdades, não podem
realmente ser consideradas como tal senão na medida em que elas se aproximam do
princípio universal que é o coração de tudo. Até que vocês atinjam este coração, a
verdade será somente a vossa verdade. Tudo o que vos parece verdadeiro é com
certeza uma forma de verdade, mas é uma verdade relativa. Vocês dizem: "Do meu
ponto de vista, as coisas são - ou não - tais e tais..." mas o vosso ponto de vista ainda
não é a verdade. Dizendo "do meu ponto de vista" pensais estar identificados com a
verdade ?... Não, há duas realidades diferentes: a verdade e vós. Quem vos disse que a
vossa verdade é a verdade ? Se pudésseis conferir, seríeis obrigados a constatar quanto
os vossos pontos de vista se afastam da verdade.
Não pode existir definição absoluta da verdade, porque os humanos transformam-
se e as definições que dão variam com eles. Vocês foram crianças, tiveram brinquedos,
e se os quebrassem ou se vo-los tirassem era uma verdadeira tragédia. Uma criança a
quem se disser que há coisas mais importantes que as bonecas, os soldados de chumbo,
ou os seus carrinhos, não pode acreditar nisso: todo o seu mundo está nos brinquedos:
é a sua verdade. Uma vez chegada à adolescência, quando se lembra daquele período,
sorri, considera que era muito ingénua, e agora a sua verdade está noutro lado: na
amizade dos seus amigos, nos êxitos na escola, etc. Alguns anos depois, ainda mudou e
com ela a sua verdade. Isto é mau ? Não, é assim que o ser humano progride. Mas o
essencial é, exactamente, que ele progrida para verdades cada vez mais elevadas,
avance sempre para mais longe na compreensão e desenvolvimento dos seus pontos de
vista, e que aos noventa anos não esteja ainda nas verdades dos quinze anos!
Pode explicar-se facilmente porque é que os humanos têm esta
opinião ou aquele comportamento. Pode mesmo compreender-se que cometam toda a
espécie de erros e disparates. Mas daí a admitir que pensem ou ajam de acordo com a
verdade, isso é outra coisa. Cada um pronuncia-se conforme as suas capacidades, o
seu temperamento, as suas necessidades, mais nada. E quando dizem: "Eu acredito
nisto... e não acredito naquilo..." com a segurança de estar a anunciar uma verdade
eterna, ora essa, que presunção ! Como se bastasse eles crerem ou não crerem para que
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Omraam Mikhaël Aïvanhov

isso fosse a verdade... A questão não é crer ou não crer ! A questão é estudar, verificar.
É assim que nos aproximamos da verdade. O que diz "eu creio", sabe porque acredita ?
O que é que inspirou esta crença ? Em quantas coisas os humanos acreditam porque
isso lhes convém, porque tem interesse nisso, porque corresponde às suas necessidades,
à sua sensibilidade, aos seus interesses !... Ora bem, acreditem em tudo o que quiserem,
têm esse direito, mas não imaginem que aquilo em que acreditam é a verdade, e
sobretudo, que deixem de querer impô-la aos outros !
Também se ouve dizer muitas vezes: "Ah, reparai neste homem, tem convicções,
proclama-as, defende-as, e está pronto a bater-se por elas, é formidável !"
Evidentemente, não se pode criticar ninguém por ter convicções, porque não se pode
viver sem convicções. Mas uma vez mais, o que é grave, é nunca se questionar sobre se
as convicções estão verdadeiramente fundamentadas, se não é necessário reve-las. Do
ponto de vista da sabedoria, a atitude de certos "homens de convicção" é antes de mais
o orgulho ou a asneira, e as consequências podem ser terríveis: o fanatismo, a
crueldade.
Então, ao menos vocês, deixai de dizer: "Eu acredito ou eu não acredito", porque
aquilo em que acreditais não altera nada à realidade. A única coisa com que deveis
preocupar-vos, é a de saber se as vossas crenças vos tornam melhores, mais fortes,
mais generosos, mais compreensivos acerca dos outros. E se não é este o caso, não
tendes de que ficar orgulhosos.
O que é sábio diz: "Mas quem sou eu, meu Deus, para me pronunciar ? Quando
penso na quantidade de erros e estragos eu já fiz durante a minha vida, quantos reveses,
quantas decepções eu sofri ! Então como posso estar tão seguro das minhas opiniões ?
" Para perceber perfeitamente as coisas e raciocinar correctamente em consequência
desta percepção, é necessário ter instrumentos em bom estado de funcionamento. Quais
são estes instrumentos ? A inteligência, o coração e a vontade. Ora, somos obrigados a
reconhecer que na maior parte dos humanos estes instrumentos estão desregulados:
muitos conflitos, nervosismo, emoções, influências negativas, e eis a inteligência
sombria, o coração arrefecido, a vontade enfraquecida. Como entender a verdade de
tais Instrumentos ?... Claro está, é preciso fazer-lhes uma revisão.
Os humanos acham indispensável ter marcas e referências no plano físico que
ninguém tem o direito de vir fiscalizar. Durante anos, por exemplo, foi em Sèvres, no
Serviço de Pesos e Medidas, que se guardaram os padrões que serviam de referência
para todo o mundo. As referências são sempre necessárias, porque se cada um decidisse
conforme mais lhe agradasse sobre o comprimento do metro ou do valor do
quilograma, seria uma desordem indescritível. O mesmo se passa com as horas: todos
os países do mundo tiveram que se entender sobre os fusos horários, senão, nem o
telefone, nem os comboios, nem os aviões poderiam funcionar correctamente. E aos
aparelhos, às máquinas, aos veículos que são utilizados na vida do dia a dia, é
necessário fazer revisões de tempos em tempos, e até todos os dias, para alguns, para
ver se não estão desafinados, se o mecanismo não está estragado.
Já pensaram no que se passaria com os automóveis, os comboios e os aviões se
nunca se verificassem os travões, o motor, o painel de instrumentos !... Mas o homem,
ele próprio, pensa que nunca há nada a verificar em si: está acima disto tudo! Eis a
razão de haver tantos acidentes: todas as dificuldades, todas as infelicidades dos
humanos acontecem porque a sua inteligência, o seu coração e a sua vontade estão
avariados. Por isso, é necessário que de tempos a tempos se questionem sobre estes
aparelhos que lhe foram dados para pensar, amar e trabalhar. Todos os dias e não
somente uma vez, mas três, quatro, cinco, dez vezes, é indispensável que regulem os
seus aparelhos pelo padrão divino.

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Omraam Mikhaël Aïvanhov

Como esta Repartição de Pesos e Medidas em Sèvres, existe um centro cósmico


junto do qual devemos aferir os nossos critérios. Está escrito nos Livros sagrados que
Deus criou o universo a partir do peso, da medida e do nome; toda a criação saiu desta
Casa divina dos Pesos e Medidas, e é por isso que devemos elevar-nos até ela para aí
fazer a revisão à nossa inteligência, ao nosso coração e à nossa vontade.
Os momentos de silêncio que costumamos guardar no decurso das nossas
reuniões são ocasiões para fazer sempre uma actualização, para nos despertar, nos
afinar com este diapasão que é a Alma universal, o Próprio Deus. É assim que nós
entraremos de novo na harmonia cósmica. Enquanto não nos decidirmos a fazer este
trabalho, seremos como instrumentos desafinados. Pois sim, vejam um outro exemplo:
vede quantas vezes na vida um músico é obrigado a afinar o seu instrumento ! É
extraordinário verificar que aquilo que os humanos compreenderam tão bem no plano
físico, têm tantas dificuldades para compreender no plano psíquico.
Alguns pensarão: " Mas enfim, é humilhante ter de se regular continuamente com
estas normas !" Eu nunca achei isto humilhante, e nunca tive vergonha de dizer que
quero regular as minhas opiniões pelo padrão divino. Pensarão de mim que não tenho
qualquer dignidade, independência, porque não quero ter opiniões pessoais, e julgar-
me-ão muito pobre e fraco. Ora bem, que achem o que quiserem. No que muitos
chamam de dignidade, independência, os Iniciados não vêm senão fraqueza, e no que
outros chamam de fraqueza, os Iniciados vêm a força. O verdadeiro prestígio, é
inclinar-se diante desta Casa dos Pesos e Medidas universais. O nosso metro padrão
deve estar no alto e não em baixo.
Muito dentre vós pensarão: "Mas se temos que nos sujeitar às mesmas normas,
tornar-nos-emos todos semelhantes, como objectos em série." Não, não se aflijam,
ficareis todos diferentes, porque não tendo os mesmos temperamentos, as mesmas
faculdades, as mesmas qualidades, não podem ser todos induzidos pelos mesmos
métodos. Vede por exemplo os diferentes yogas que os Mestres da Índia propõem aos
seus discípulos: Radja yoga, a mestria, o autodomínio; Karma yoga, a actividade
desinteressada, a abnegação; Hatha yoga, o domínio do corpo físico; Kriya yoga, o
trabalho com a luz: Laya yoga, o desenvolvimento da força Kundalini; Bakhti yoga, a
oração, a adoração e a contemplação; Jnani yoga, a meditação, o conhecimento; Agni
yoga, a via do amor e do fogo... Então, enquanto discípulos, podemos seguir diferentes
yogas, mas todos os yogas têm o mesmo fim: ensinar a elevarmo-nos para nos
aproximarmos deste princípio universal da verdade.
Não se pode encontrar a verdade permanecendo no círculo estreito das vulgares
preocupações. Para encontrar a verdade é preciso apartar-se de si próprio. Ainda muito
jovem, compreendi isto. Senti que não havia outra salvação senão sair das limitações
impostas pela hereditariedade, pela família e pela sociedade. Então tomei a decisão de
caminhar sob o comando dos grandes seres que já tinham explorado os caminhos da
luz, e a partir daí, instruí-me, instruí-me de dia e de noite. Sim, até de noite. Porque o
sono não é senão, de outra maneira, o prolongamento das preocupações do estado de
vigília. Aquele que durante o dia se esforça por deixar o campo de preocupações
prosaicas, egocêntricas, para atingir um nível de consciência mais elevado, mais vasto,
durante o sono encontra condições favoráveis para continuar este trabalho. A alma
deixa o corpo e percorre o espaço à descoberta doutros mundos e dos seus habitantes.
E mesmo que não se lembre, ao acordar, de tudo o que viu e ouviu, estas viagens
deixam nele traços profundos que transformam, pouco a pouco a sua compreensão das
coisas.

III - A ligação com o centro

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Omraam Mikhaël Aïvanhov

Todo o nosso futuro pode resumir-se numa questão: que direcção tomamos ?
Vamos para o interior ou para o exterior, para o centro ou para a periferia ?...
Evidentemente, a existência é feita de tal maneira que o ser humano está
continuamente a sair de si mesmo. Desde o momento em que acorda de manhã, dirige-
se para a periferia: olha, ouve, fala, deixa a casa para ir para o trabalho ou ao armazém
procurar o que precisa para se alimentar ou para fazer pequenas reparações; vai visitar
amigos, distrair-se, passear, viajar. Tudo bem, mas ao fim de algum tempo, deixa-se
prender por todas estas actividades de tal modo que acaba por perder o contacto
consigo próprio, e não sabe verdadeiramente quem é. E a partir deste momento, não só
não mais vê claro nas situações, e comete erros, mas enfraquece, e o mais pequeno
choque, a menor contrariedade deixam-no perturbado. É normal que o homem saia de
si, cada contacto com o mundo exterior obriga-o a sair. Mas para não acabar por sair à
deriva, deve continuamente vigiar para restabelecer o equilíbrio entre o exterior e o
interior, a periferia e o centro.
Infelizmente, é-se obrigado a constatar que os humanos se satisfazem com o
dispersão, a debandada, e mesmo os sistemas filosóficos que arquitectam, as ideologias
que fabricam são o reflexo desta tendência de sair do centro. Cada vez mais tudo é feito
para afastar os humanos da Fonte: na religião, na ciência, por toda a parte e sobretudo
na arte, só se constata o afastamento.
No fim tudo vai em todos os sentidos e ninguém compreende nada disso. Direis:
"Mas a vida foi feita assim, não pode ser doutra maneira com situações e seres tão
variados, diferentes !" A vida é muito complexa, é verdade, mas a maneira de
compreender e de resolver os problemas pode ser muito simples. A verdade é sempre
muito simples. Para os Iniciados tudo é simples, porque aprenderam a reduzir a
quantidade infinita de factos e situações a alguns princípios básicos. E quais são estes
princípios ? Figuras geométricas. Sim. Isto espanta-vos ?... Mas então porque credes
que certas tradições filosóficas representaram Deus como um geómetra ? Porque, na
origem destas tradições, há grandes espíritos que tinham compreendido que a
multiplicidade de seres e de coisas, assim como as relações que mantêm entre si, podem
ser reduzidas a estes princípios muito simples que são as figuras geométricas como o
círculo, o triângulo, o quadrado, a pirâmide, a cruz...
Peguemos na figura do círculo, precisamente. É muito interessante ver como se
desenha um círculo. Coloca-se a ponta do compasso no papel para ter um centro e é só
conservando este centro que se pode traçar a circunferência. Portanto, no princípio há o
centro: a circunferência só pode ser traçada a partir do centro. E se os Iniciados fizeram
do círculo o símbolo da criação, é para sublinhar a ideia de que tudo o que existe tem
uma ligação com o centro, e que não pode subsistir senão conservando e mantendo esta
ligação. O que corta esta ligação com o centro, não somente não pode ter uma ideia
clara sobre o mundo nem sobre as entidades e as forças que lá trabalham, mas priva-se
da corrente de vida pura que jorra da Fonte, do Próprio Deus. O equilíbrio da vida
cósmica funda-se nas relações que a periferia não deixa de manter com o centro. Todas
as partes têm que convergir para o centro porque é ele que sustenta a sua existência.
Um exemplo destas relações entre o centro e a periferia é-nos dado pelo sistema solar,
com os planetas que gravitam incansavelmente em volta do sol num movimento
harmonioso.
Quaisquer que sejam os problemas que temos para resolver na nossa vida,
devemos ter sempre em conta esta lei da preeminência do centro. Porque o que é
preciso compreender bem, é que estes dois termos, centro e periferia, não são somente
lugares geométricos: representam centros de forças que se apoderam de nós, e as forças
do centro, do espírito, regeneram-nos, enquanto as da periferia, da matéria, nos
trituram.
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Omraam Mikhaël Aïvanhov

Com certeza, o ser humano é feito assim e as suas condições de vida são tais
que não pode manter continuamente a sua atenção virada para o centro e negligenciar a
periferia. É obrigado a ir para a periferia, quer dizer, a estudar a matéria, a trabalhar
com ela. Mas para isso não é necessário que se rompa a ligação espiritual com o centro
e que se separe; deve, pelo contrário, agarrar-se ao centro divino em si porque é o
centro que une tudo, que congrega tudo, que explica tudo, e a partir deste centro há
todas as possibilidades de estender ligações para a periferia. À medida que se liga
interiormente ao centro, o homem molda em si um ponto de ligação sólido, e uma vez
ligado solidamente, pode aventurar-se sem perigo para a periferia. Para empregar outra
imagem, pode dizer-se também que ele enterra as raízes no Céu profundamente.
Vale a pena meditar sobre esta questão do elo que nos une ao centro, porque
este elo é a condição essencial da nossa vida. Quando um ser humano encarna na terra,
passa primeiro nove meses no ventre da mãe, à qual está ligado pelo cordão umbilical.
Ao fim dos nove meses, para que possa ter vida independente enquanto indivíduo, este
cordão deve ser cortado. Nesse momento dizemos que ele nasceu. Mas para viver, está
ligado ao universo por um outro cordão de natureza fluídico, e no dia em que esse
cordão se rompe, ele morre. Por fim um terceiro cordão, ainda mais subtil, liga-o ao
Senhor. Muitas pessoas cortaram este cordão e por mais que digam: "Estamos vivos,
vocês vêem-no bem", na realidade estão mortos. Qualquer coisa de essencial neles está
morto. Romperam o elo que os unia à Fonte divina da luz e do calor, para irem perder-
se nas trevas e no frio, e espiritualmente estão mortos. Porque ainda não cortaram o
cordão umbilical que os liga à mãe natureza, possuem a vida em certos planos, mas no
mundo espiritual estão mortos, e esta morte espiritual tem necessariamente repercussões
em todos os domínios da existência. É por isso que o discípulo cujas actividades
obrigam a deixar o centro para ir para a periferia, na agitação e no ruído, sabe que deve
apertar mais fortemente o elo que o une ao centro para não se dispersar e conservar o
equilíbrio interior. A periferia é rica e sedutora, é verdade, mas só poderemos beneficiar
completamente de todas estas riquezas se conseguirmos explorá-las mantendo-nos
ligados ao centro.
A existência coloca os humanos em situações de desequilíbrio continuamente, e
se não estão ligados ao centro, caem. E aqui, cair tem toda a espécie de significados.
Cair, é viver na desordem, na incerteza, em conflitos, com doenças, e sempre novas
doenças, porque se rompeu a ligação com o que é verdadeiramente essencial.
Esta necessidade de ficar ligado ao centro verifica-se quando se trata de
explorar o subconsciente. É perigoso para os seres, penetrar nas profundezas do
subconsciente antes de ter trabalhado previamente para estabelecer um elo sólido com o
centro divino que existe neles e que é o seu Eu superior. O subconsciente é comparável
aos fundos marinhos, aos abismos. Imaginai que tínheis de descer às profundezas dos
oceanos, só, sem luz, sem protecção e sem qualquer experiência: ficaríeis aterrorizados
por terdes de avançar assim no meio das algas, dos animais e monstros marinhos com
aspecto ameaçador. Ora bem, é isto, o subconsciente, e é muito perigoso aventurar-se lá
sem primeiro ter tido o cuidado de se prender bem a este centro divino onde se encontra
a luz, a força. Por isso, mesmo se a psicanálise, quando é utilizada por pessoas
competentes e dotadas de grandes qualidades morais, pode dar bons resultados, apesar
disso continua a ser um método muito arriscado, e o modo como se está a divulgar faz
correr grandes perigos aos humanos.
Então, vocês entendem, o símbolo do círculo e do ponto central vai longe,
muito longe. No seu aspecto mais abstracto, os símbolos que são figuras geométricas
apresentam-se sob formas extremamente simples; mas quando se tem que estudar todas
as suas aplicações nos diferentes planos da actividade humana, apresentam-se sob
aspectos tão diversos e complexos que quase não se pode reconhecer se se trata dum
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círculo, dum triângulo, dum quadrado ou duma cruz. Mas a mim, é isso que me
interessa. Sim, a única coisa que verdadeiramente me interessa, são os princípios, as
regras gerais. Não me peçam para vos falar de pormenores, deixo isso a outros, aos
especialistas; eles têm tempo para se munirem cada um com uma parcela do campo da
realidade e explorá-la em todos os seus recantos. São numerosos, podem partilhar o
trabalho e, se houver vontade disso, cada um será tido por uma sumidade na sua
especialidade. A mim é só a totalidade que me interessa; para pormenores sou um zero,
não me perguntem nada !
A única coisa importante, é trabalhar para voltar ao centro. Certamente, é difícil
ver claro como se apresentam estas duas direcções, o centro e a periferia, se não se
trabalhar anos e anos para ter uma espécie de modelo graças ao qual podemos
pronunciar-nos com certeza sobre tudo o que se nos oferece: as condições, os objectos,
os seres... e sentir, por exemplo, ao comprometermo-nos com tal pessoa, ao aceitar tal
proposta, ao lançarmo-nos em tal empreendimento, se nos aproximamos do centro ou
se nos afastamos dele.
Se quiserdes, podemos chamar a tudo isto a faculdade de discernir. Mas esta
faculdade pertence mais ao domínio da sensação que ao da compreensão. É qualquer
coisa muito difícil de explicar. Esta faculdade adquire-se pela observação, reflexão,
meditação, oração, mas sobretudo pela vigilância: depois de feita qualquer experiência,
é importante analisar-se para saber onde se está neste caminho que nos conduz ao
centro. Eu gastei anos e anos a alcançar este modelo, esta faculdade... ou este radar, se
assim o quiserdes ! E vós também, aplicando-vos a afinar este instrumento em vós,
podeis orientar-vos correctamente em todas as situações da vida. Pensai que não estarei
sempre aí para responder às vossas questões, encontrar soluções para os vossos
problemas, dar-vos conselhos. Sois vós, um dia, que deveis desenvencilhar-vos
sozinhos. E então que fareis se não aprenderdes como vos conduzir ? Já vos dei
exercícios, métodos para restabelecer a ligação com o centro do vosso ser. Esses
exercícios andam principalmente à volta do sol, porque, eu disse-o, o sistema solar
apresenta-nos a imagem ideal das analogias harmoniosas entre o centro e a periferia.
Mas hoje ainda posso dar-vos um novo exercício, diferente dos outros. Por exemplo, de
tempos a tempos parai, fechai os olhos, entrai dentro de vós, e experimentai encontrar o
centro que é a fonte pura da vida.
Abrir e fechar os olhos é um dos actos mais frequentes da vida diária, mas
fazemo-lo inconscientemente e é por isso que não aprendemos nada. De hoje em diante
procurai fazer conscientemente este exercício: fechai os olhos lentamente e deixai-os
fechados por um momento... Depois abri-os de novo, lentamente, e estudai as mudanças
que se produzem em vós. Pouco a pouco, chegareis a compreender como esta
alternância de abertura e fecho dos olhos tem a sua correspondência na vida interior:
abrir os olhos, é ir para a periferia, e fechá-los é voltar ao centro do vosso ser que é
Deus. Quando tiverdes conseguido estar em contacto com este centro dentro de vós,
sentireis afluir correntes que vos trarão o equilíbrio, a paz , a harmonia, e o que quer
que empreendais a seguir, sabereis que vos aproximais da verdade.

IV - A conquista do alto
Observai os humanos e constatareis que cada um vê os seres e as coisas segundo
a sua maneira de ser, quer dizer, em consequência da sua raça, país, religião, sexo,
situação social, educação, profissão, idade, etc., e sobretudo segundo o seu grau de
evolução. É normal, de tal modo normal que toda a gente dirá que é impossível que seja
de outra maneira. Na realidade, tendo todos os humanos sido criados nos estaleiros do
Senhor, segundo os mesmos projectos, com os mesmos elementos, possuem a mesma
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estrutura, são movidos pelas mesmas forças. Mas descendo ao nível da matéria,
tomaram caminhos diferentes, fizeram experiências diferentes, que suscitaram em si
opiniões, tendências, gostos diferentes, mesmo contraditórios. Somente, como todos
estão convencidos que a sua verdade particular representa a única verdade, nenhuma
outra compreensão é possível entre eles, e só vemos mal-entendidos e afrontamentos em
todos os domínios.
Para se porem de acordo novamente, para compreender e apreciar os mesmos
valores, os humanos precisam de retomar interiormente o caminho ascendente que os
conduzirá ao alto, às regiões luminosas do espírito. Sim, se em vez de ficar lá em baixo
a discutir eternamente, pudessem decidir aceitar o ponto de vista do alto, todos os
problemas políticos, económicos, sociais, religiosos, seriam resolvidos em vinte e
quatro horas. Pois eis o que é preciso meter na cabeça: para resolver efectivamente os
problemas, não se deve ficar ao nível em que eles se colocam, mas fazer um trabalho
interior que permite vê-los de cima. Enquanto os humanos se contentarem a pisar e a
discutir, lá em baixo, não somente não encontrarão a solução, mas os problemas
complicar-se-ão cada vez mais, e em primeiro lugar para eles próprios.
Então, vós ao menos, fazei este esforço: habituai-vos a concentrar-vos no alto, o
ponto culminante donde se pode ver a verdade a respeito dos seres e das coisas. É certo
que a distância que vos separa dele é imensa, mesmo insuperável; só pode subir até ao
alto o que vive uma vida verdadeiramente pura e santa. Mas através do pensamento,
cada um pode procurar atingi-lo, porque o pensamento é já uma corda que lançais até
lá, ao ponto que quereis tocar, e uma vez engatada a corda, subireis. è o que fazem os
alpinistas: lançam uma corda e trepam. Pois, reparai, nunca vistes as correspondências
entre o mundo físico e o mundo espiritual.
A vantagem de procurar atingir o alto, é também que antes de lá chegar, sois
obrigados a percorrer todas as regiões intermédias e ir de encontro aos seus habitantes.
Sem dúvida que não atingireis o ponto mais elevado, mas o essencial é começar. Reparai
outra vez nos alpinistas: eles não tentam logo atacar o Evereste, isso seria tolice.
Modestamente começam por alturas de 1800, 2000 metros e qualquer que seja a
altitude, que alegria de cada vez que chegam ao cimo ! Porque isso é o importante:
chegar cada vez mais alto.
Concentrando-vos no alto, sois obrigados a projectar-vos cada vez mais para a
frente, transpor degraus cada vez mais elevados; e sentireis quanto este hábito mental se
reflectirá, pouco a pouco, beneficamente na vossa vida diária. Cada vez que tiverdes um
problema para resolver, uma decisão a tomar, uma dificuldade para enfrentar, sentireis
que dominais melhor a situação porque conseguis vê-la de mais longe, de mais alto, e
quando deveis agir, fá-lo-eis com cada vez menos riscos de erro.
O alto não é unicamente um ponto mais elevado que os outros. Todo o alto,
qualquer que seja, é o centro vivo das energias mais puras, mais penetrantes. É por isso
que se impõe a todas as criaturas vivas. A omnipotência encontra-se no alto, é a
omnipotência do espírito. Só a força do alto pode dar ordem a todos os seres dos
diferentes reinos da natureza para nos darem ajuda e protecção. Encontra-se a prova
disso em certas narrativas da vida dos santos e eremitas que viviam em lugares
desérticos, hostis, onde nada havia para os alimentar, onde estavam expostos às
intempéries, a muito calor e muito frio: havia sempre um vegetal, um animal ou um ser
humano que aparecia para que pudessem comer, beber ou abrigar-se.
A Bíblia conta episódios semelhantes a respeito disto, por exemplo, o profeta
Elias no "Livro dos Reis": " E a palavra do Eterno foi dirigida a Elias nestes termos:
Vai, dirige-te para Oriente e esconde-te junto da ribeira de Kerith que está à vista do rio
Jordão. Beberás água da corrente e ordenei aos corvos para te darem alimento lá. Ele
partiu e fez segundo a palavra do Eterno, e foi morar junto da ribeira de Kerith que está
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à vista do rio Jordão. De manhã os corvos traziam-lhe pão e carne, pão e carne à noite,
e ele bebia água da corrente. Mas ao fim de algum tempo, a corrente secou porque não
tinha chovido nada na região. Então a palavra do Eterno foi-lhe dirigida nestes termos:
Levanta-te, vai a Sarepta que pertence a Sídon e fica lá. Eis que ordenei a uma viúva
para que te alimente. Quando chegava à entrada da cidade, eis que estava lá uma mulher
viúva que apanhava lenha... " Quando as ordens vêm de muito alto, do mais alto, a
natureza e os humanos são obrigados a obedecer.
Com certeza não é mau concentrar a vossa atenção em diferentes objectivos dos
planos físico, astral ou mental: Se estes objectivos forem puros, luminosos, obtereis
sempre alguns resultados, mas não tantos como se vos esforçardes por atingir o alto, a
quintessência que dirige tudo. Uma vez que atinjais o alto, atingistes o nó de forças de
que tudo depende.
Compreendestes ? Não, não estou certo de que vocês compreendam realmente
o que vos quero dizer... Então peguemos num exemplo da medicina. Um homem está
gravemente anémico, e nenhum dos seus órgãos funciona correctamente: o cérebro, o
estômago, os pulmões, o fígado, os intestinos... Que é preciso fazer ? Cuidar de todos
os órgãos, uns após os outros. Isso nunca mais acabará. Mas se lhe fizermos uma
transfusão de sangue, ei-lo de imediato completamente restabelecido. Do mesmo modo,
no momento em que estais contacto com o alto, dentro de vós mesmos, é como se se
operasse dentro de vós uma transfusão de energias puras e vivificantes. Porque é no alto
que age a omnipotência do espírito.
Eu expliquei-vos como os Iniciados se servem dos símbolos que são as figuras
geométricas para explicar as grandes questões da filosofia e da vida, e dei-vos um
exemplo com o círculo. Tomemos agora o símbolo da cruz. A cruz é feita com duas
linhas: uma horizontal e outra vertical. A linha horizontal é a da dispersão, é a da água
que se derrama na terra. A linha vertical é a da unificação, é o fogo que se eleva para o
céu. A linha horizontal é por conseguinte a da matéria, a linha vertical a do espírito. E
como vedes, estas duas linhas não estão separadas, elas encontram-se, o que mostra
bem que as duas direcções não são incompatíveis. O símbolo da cruz convida-nos a
continuar a realizar o nosso trabalho na matéria tomando a direcção vertical para voltar
ao espírito, à fonte, ao alto.

V - Da multiplicidade à unidade
I

A verdade deve abarcar a totalidade dos seres e das coisas. A verdade é a


unidade. É na unidade que tudo está incluído, tudo está englobado, tudo está assente. O
que penetra nos mistérios do numero 1, ou da letra Aleph, compreende todos os outros
números, todas as outras letras, quer dizer, todos os outros poderes do universo.
Porque o Verbo - números e letras - é uma substância ininterrupta; nele nada está
separado, nem dividido, tudo está ligado, cada elemento faz parte duma unidade
grandiosa. Eis porque o que quer realmente avançar no caminho da iniciação se deve
concentrar na unidade.
O que é o número 1 ? Graficamente é uma linha, assim, erguida, toda nua: 1.
Quando se olha para ele, não se vê nele nada de muito significativo, mas eis que é
precisamente este 1 que é o princípio criador dinâmico, a fonte da vida.
Quando eu era ainda um jovem discípulo do Mestre Peter Deunov, na Bulgária,
o Mestre convidava-me muitas vezes para ir a casa dele para me falar. Um dia, pegou
da sua biblioteca um livro em inglês sobre números, e começou a traduzir-me o
primeiro capítulo que tratava do número 1. Eu estava interessado, é verdade, eu
escutava atentamente. Por isso devo dizer que naquela altura o número 1 não me
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Omraam Mikhaël Aïvanhov

preocupava grande coisa, pensava que os outros números eram mais importantes, mais
ricos, e encerrariam maiores segredos. Quanto acabou o primeiro capítulo, eu esperava,
com certeza, que ele continuasse com os capítulos sobre os outros números. Mas não,
fechou o livro, recolocou-o na biblioteca e a visita terminou.
Eu estava entusiasmado com o desejo de conhecer o resto. Foi por isso que, ao
regressar a casa, eu dizia para comigo: "Sem dúvida, na próxima vez que me convidar,
o Mestre continuará a leitura." Mas não, ele não continuou, nunca mais se tratou deste
livro. Durante algum tempo esperei, e estava um pouco enganado. Mas como tinha
uma imensa confiança no meu mestre, sabia que tudo o que fazia tinha sentido. Então
disse para mim: "O motivo porque não me lê nada sobre os outros números, é porque
não é tão importante que eu tenha necessidade disso". E reflectindo e meditando sobre
isso, compreendi que todos os outros números estavam contidos no número 1 e
resultavam dele. Por conseguinte, o Mestre tinha-me dado, aparentemente, pouca
coisa, mas na realidade tinha-me aberto uma porta para o infinito.
O que dá ao número 1 o seu carácter sagrado, é que ele representa a totalidade.
Através de todo o cosmo não existe senão uma unidade ininterrupta. E ainda que na
aparência, se vejam separações, rupturas, limites, em parte alguma existe realmente
separação absoluta. A decomposição da luz pelo prisma é o exemplo mais notável
disso. Eis um feixe de luz branca, ele representa o 1; decompondo-se ele dá as sete
cores. Não é extraordinário verificar como desta unidade, a luz branca, saiu a
diversidade das sete cores: violeta, anil, azul, verde, amarelo, laranja, vermelho ? O
que é que pode, melhor do que a luz, representar a passagem da unidade à diversidade
e da diversidade à unidade ? E agora reparai nestas cores procurando distinguir onde
acaba o vermelho e começa o laranja, mostrai-me onde se separam, onde está a
fronteira... Não a encontrareis, não existe. Este exemplo da luz é particularmente
interessante porque a luz é mesmo ao que há de mais importante no universo.
Na realidade não há fronteira, não há limite, tudo é 1. E o próprio homem, o
homem ideal é o representante do número 1.
Tomemos ainda um exemplo muito simples num domínio que todos podem
compreender: a saúde. Sobre os que estão de boa saúde, nada há a dizer porque tudo
vai bem. O homem com boa saúde sente-se como um todo harmonioso. Coloca-se-lhe
a questão: "Como vai? " e ele responde: "Bem", e é tudo, não há mais nada a dizer.
Enquanto com os que estão doentes, oh lá lá ! há histórias sem fim ! Da cabeça aos
pés, há tantos pontos no corpo que podem ser defeituosos, doridos, e com pormenores
tão diferentes ! Nesse caso, que complicações para comer, beber, dormir, respirar,
andar, ouvir, ver, trabalhar, estudar !... Pode dizer-se que a saúde é una; não há duas
saúdes, três saúdes, não, só há uma. Em compensação, as doenças são em número
infinito, e ainda não as conhecemos todas, porque todos os dias aparecem doenças
novas, criadas sempre pela maneira defeituosa de viver dos humanos.
A função dos órgãos é trabalhar juntos para manter esta unidade que é a saúde,
a vida. Então, reparai, a saúde é a unidade, a vida é a unidade. E a doença, a morte,
pelo contrário, são a divisão, a dispersão, a separação. Todos os nossos esforços nos
devem conduzir a esta unidade que é sinónimo de simplicidade. É na simplicidade do
número 1 que encontraremos a salvação. Mas os humanos não gostam da simplicidade,
ela aborrece-os, tem falta de pimenta, a diversidade é muito mais importante ! Mas
então que não se admirem por estar doentes.
Disse-vos que os Iniciados conseguiram sintetizar os problemas mais complexos
representando-os sob a forma de figuras geométricas. Tomemos o exemplo da
pirâmide. Visitei as pirâmides: Khéops, Khéphren, Mykérinos... e meditei sobre a
ciência que os iniciados do antigo Egipto quiseram resumir nestes monumentos
extraordinários. Uma pirâmide é constituída por uma grande base quadrada a partir da
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Omraam Mikhaël Aïvanhov

qual se elevam quatro faces triangulares que se reúnem no cimo. Simbolicamente, a


base da pirâmide representa a multiplicidade dos fenómenos, e o seu vértice, o mundo
dos princípios: a unidade. Em baixo, ao nível dos fenómenos, está-se na dispersão, na
confusão, porque não se pode ver como se situam os seres e as coisas, bem como as
relações que têm uns com os outros. Para ver isso claramente é preciso subir. E que
quer dizer subir ? Tomar o caminho da unidade. É a unidade que regula e dirige a
multiplicidade. Na unidade está-se no coração das coisas e compreende-se como se
tecem todos os fios da vida.
No plano físico, os factos aparecem sempre dispersos, espalhados, sem qualquer
ligação uns com os outros, é por isso que é impossível resolver problemas ficando no
nível do plano físico. E reparai, voltamos ao que já vos disse ao falar do trabalho a
fazer com a imagem do alto. Sim, repito: nunca se resolvem os problemas ficando ao
nível em que eles aparecem. Para os resolver, é preciso subir, subir sempre, para poder
estudá-los do ponto de vista da unidade.

II
É preciso decidir-se a aprofundar esta ciência da unidade que revela a ligação
entre todos os elementos da Criação. Infelizmente, a unidade é uma noção que os
humanos têm tendência a deixar de lado. De longe em longe, com certeza, ouve-se falar
de unidade. Mas onde ? Quando ? É-se obrigado a reconhecer que não é sempre pelas
melhores razões. A maior parte das vezes é para se unir contra um adversário, contra
um partido político, contra um povo a que se quer fazer guerra. Sim, eis as ocasiões
mais frequentes em que se ouve falar de unidade: quando se trata de combater pessoas
que consideramos como inimigos. Pois bem, não é esta a verdadeira unidade. A
verdadeira unidade não combate ninguém, não exclui ninguém. Pelo contrário.
O que trabalha para se elevar pelo pensamento até ao cume que é a unidade,
começa a sentir que todos os seres humanos estão ligados. É verdade, no alto
representamos uma unidade, somos cada um uma célula do grande corpo cósmico, e
esta célula que nós somos reflecte a totalidade do corpo. Se fazemos mal a alguém
pensando que é estranho a nós e que não sofreremos ao fazer o mal, pois bem, é um
erro. Ao fazer mal aos outros, é também a nós que fazemos mal, mesmo que nesse
momento o não sintamos.
Alguns dirão: "Mas se nos aplicarmos realmente a procurar esta unidade de que
nos falas, vamos cair todos na uniformidade ?" Não senhor, entendei-me bem: eu não
digo que todos os humanos devem ter exactamente os mesmos pensamentos, os
mesmos desejos, os mesmos gostos, as mesmas actividades. A vida é
extraordinariamente rica de possibilidades diferentes, e é só do ponto de vista essencial
que devemos encontrar a unidade.
Peguemos em exemplos simples, acessíveis a todos: a alimentação, a respiração.
Todos os humanos têm necessidade de matar a fome e respirar ar puro. Agora, quer
comam trigo, milho, soja, arroz, ou ainda maçãs, laranjas, bananas ou mangas, isso não
tem importância. E quer respirem ar das alturas, do mar, da floresta ou simplesmente o
do jardim, isso também não tem importância. O importante é que, para ter uma boa
saúde, todos devem comer alimentos sãos e respirar ar puro. Isto parece evidente.
Pois, mas na realidade, quantos seres humanos à face da terra estão privados
destas possibilidades ! E entre os que têm boas condições de vida, quantos é que se
preocupam verdadeiramente com a situação deplorável em que vivem os outros ?
Então reparai, até para estas necessidades fundamentais do ser humano que todos
reconhecem unanimemente as coisas estão longe de estar em ordem. Existe uma razão
mais poderosa para todo o resto. E admiramo-nos depois por existirem conflitos no
mundo... Que hipocrisia! Porquê admirarmo-nos por as pessoas se revoltarem: porque
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Omraam Mikhaël Aïvanhov

não podem alimentar a família, porque não lhes foi dada a oportunidade de se
instruírem, porque são privadas da liberdade ... E depois, cada um imagina que pensa e
vive de acordo com a verdade !
Os humanos poderão dizer que encontraram a verdade unicamente quando
conseguirem viver todos no bem-estar e em paz. A verdade é a tradução duma
organização tal em que todos vivem em harmonia uns com os outros. Para alcançar tal,
é preciso com certeza toda um conjunto de ajustamentos, de adaptações, de
actualizações. E está nisso o trabalho para todos. Mas é preciso saber que só existe a
verdade universal. Não existe a verdade, portanto, senão na unidade.
Eis o sentido em que vos falo de unidade: procurai sentir que todos os humanos
têm as mesmas necessidades fundamentais, e não imagineis ter encontrado a verdade
enquanto as privações infligidas aos outros homens não vos dizem respeito também a
vós, enquanto o mal que é feito aos outros não é um mal que foi feito a vós próprios.
Certamente, este mal não pode tocar-vos directamente, e por isso não sentireis nada,
mas se desenvolverdes em vós a consciência da unidade, senti-lo-eis.
Sim, compreendei-me bem, é neste sentido que eu vos falo da unidade, não no
sentido duma uniformização de todos os homens da terra. Além disso, vós sabeis, não
há de que nos preocuparmos a este respeito. Todas as criaturas são diferentes e
ninguém pode chegar a fazê-las parecer-se. Os dirigentes, os regimes políticos,
experimentaram e acreditou-se por vezes que tinham conseguido, mal algum tempo
depois, foi-se obrigado a constatar que todas as tentativas tinham sido votadas ao
insucesso. Há qualquer coisa de irredutível, no ser humano, que resiste à
uniformização. Por isso, não vos inquieteis, preocupai-vos, de preferência, em
compreender o que significa a palavra unidade no seu sentido mais elevado.
O homem é constituído por três princípios fundamentais: a inteligência, o
coração e a vontade. A inteligência tem necessidade da luz (o conhecimento); o coração
tem necessidade de calor (o amor); a vontade quer agir procurando manifestar a luz da
inteligência e o calor do coração. É neste sentido que os humanos são idênticos: por
esta estrutura fundamental e pelas necessidades, aspirações que correspondem a esta
estrutura. Quer estejam conscientes disso ou não, quer aceitem essa ideia ou não, está
aí a verdade do seu ser, é neste sentido que devem trabalhar colectivamente.
Todos os dias nós devemos tender para a unidade. O método mais seguro para
lá chegar é, antes de mais, cada um introduzir a unidade em si próprio. Aliás é aí que
está a maior dificuldade. Ainda que eles tenham no seu coração, na sua alma, aspirações
magníficas, muitas pessoas são impelidas por outras forças que têm dentro de si,
desejos, paixões, a cometer actos de que logo a seguir se envergonham e arrependem.
Esta situação cria perturbações interiores e estas perturbações destruem-nos. O homem
tem necessidade de estar de acordo com si próprio, viver na unidade, e tem necessidade
que a sua inteligência, o seu coração e a sua vontade avancem ao mesmo tempo. Se
está continuamente preso por contradições, não pode encontrar o equilíbrio e sofre.
Para alguns, este desequilíbrio é tão grande que os conduz à nevrose, à loucura.
A verdadeira unidade, aquela para a qual nós devemos caminhar, é comparável à
do sistema solar. O sol está lá, no centro, e todos os planetas gravitam à volta dele, e
nenhum sai da trajectória traçada para si pela Inteligência cósmica. É uma unidade
análoga que o homem deve realizar em si próprio. Isto subentende uma verdadeira
aprendizagem: como viver, pensar e sentir para que todas as partículas que constituem
o nosso ser físico e o nosso ser psíquico regulem o seu movimento pelo sol que todos
possuímos em nós: o nosso Eu divino, o nosso espírito. É esta ordem, esta unidade que
dão o verdadeiro saber e o verdadeiro poder.
O Ensinamento da Fraternidade Branca Universal não tem outro fim que o de
nos ensinar a realizar a unidade em nós próprios: unidade de três princípios que estão
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Omraam Mikhaël Aïvanhov

em nós, coração, inteligência e vontade; unidade de todas as nossas actividades físicas e


psíquicas, unidade do nosso eu inferior e do nosso Eu superior. Ora, esta unidade não
pode ser obtida senão se nós mantivermos solidamente em nós um centro universal que
hierarquiza as coisas, as organiza e as une entre si. Graças a esta filosofia de unidade,
podem-se explicar e resolver todos os problemas.
Não há verdade senão na unidade. Certamente, na aparência, a filosofia da
dualidade é verídica, visto que o mundo apresenta permanentemente o espectáculo
desolador de lutas, conflitos, afrontamentos e antagonismos de todas as espécies. Os
humanos opõem-se, mas realmente, eles são um. Se eles se separam, é a morte para
uns e para os outros. Eis o que eles não viram. Por conseguinte mesmo parecendo
separados, visto que se combatem, estão ligados, são sustentados pela unidade. Nesta
Árvore cósmica da unidade, há muitos ramos, folhas e frutos, que se desordenam
frequentemente, mas nada podem contra o facto de terem o mesmo tronco e as mesmas
raízes, e que dependem disso para a sua sobrevivência.
O mais importante para a conduta da nossa vida é saber que tudo é um. E se há
certas manifestações que na nossa opinião não são correctas, se o mundo não nos
parece sempre bem feito, é somente a nossa opinião. A estas coisas nós chamamos o
mal e nós quereríamos suprimi-las; mas segundo a Inteligência cósmica tudo está bem e
tudo está no seu lugar. Porque ela sabe servir-se delas. Pegai num químico: no seu
laboratório pode ter venenos, vírus ou também explosivos, mas não se serve deles para
envenenar e destruir os humanos, serve-se deles para encontrar elementos úteis e
remédios. Então, vendo o que faz o químico, como pensar que o Senhor não é capaz
de o fazer ? Ele também tem necessidade de todos estes materiais, de todos estes
elementos que nós consideramos maus; são úteis na economia cósmica. Somente é
preciso saber servir-se deles. O Senhor sabe servir-se deles, e nós que não sabemos,
devemos aprender.
E reparai também na terra: sobre os detritos, a putrefacção e os cadáveres, ela
não deixa de produzir erva, flores, árvores, legumes, frutos... Sim, houve biliões e
biliões de cadáveres que foram acumulados, e a terra, que nada rejeita, é um verdadeiro
cemitério. Mas é este cemitério que alimenta toda a humanidade ! Como é isto
possível ? Ora bem, porque a terra conhece o segredo da transformação que é o
segredo da unidade. Sim, fixai bem isto: o segredo da verdadeira transformação é o
segredo da unidade. Porque é que o homem não conhece este segredo ?... É preciso
que vá instruir-se junto da terra, senão vai envenenar-se. É o que acontece a todos os
que não aprenderam a arte da transformação: envenenam-se.
Então, compreendei bem que, enquanto não aceitardes a filosofia da unidade,
estareis sempre doentes, atormentados, desconjuntados. É a filosofia da unidade que
vos dá a capacidade de fazer face às dificuldades, que vos dá poderes, que vos dá as
soluções.
E não receeis que a procura da unidade nos conduza para a uniformização. Há
um só fim, mas os caminhos que lá conduzem são numerosos. Eu escolhi o caminho do
Mestre Peter Deunov que é o mesmo do Cristo. Agora, se alguém me põe a questão: "
Não há outros caminhos ?" responder-lhe-ei: "Certamente que há outros. Se eu o
negasse, não diria a verdade". Eu escolhi o que achava bom para mim e mantenho-me
lá, nunca o abandonarei, e por causa de certas coisas poderia mesmo dizer-se que sou
fanático. Mas no fundo sei que é possível tomar muitos outros caminhos para me dirigir
para Deus. É preciso ser grande, é preciso estar aberto. Mesmo que se seja obrigado a
escolher, não devemos imaginar que só existe um caminho para se tornar um
verdadeiro filho de Deus, uma verdadeira filha de Deus. Sim, é preciso ser grande, é
preciso estar aberto, há lugar para toda a gente, cada um tem o seu lugar em qualquer
parte. Não se ganha nada em se mostrar intolerante, mesquinho e limitado.
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VI - A construção do edifício
Tomemos o exemplo dos músicos duma orqu estra: violinistas, violoncelistas,
flautistas, clarinetistas, oboeístas, etc. Cada um tem a partitura à sua frente e concentra-
se nela; para tocar, não é obrigado a conhecer a partitura dos outros músicos. Mas, lá
adiante, em frente da orquestra, em cima dum pódio, para ficar bem visível de todos, há
um maestro que conhece todas as partituras e que vela para que cada músico se faça
ouvir no momento pretendido, e que respeite também o compasso, os graus de
tonalidade, etc. Senão, seja qual for a beleza das frases musicais que cada um toca
individualmente, nunca será uma sinfonia mas uma cacofonia assustadora.
Ora, que se passa na vida ? Por toda a parte encontramos pessoas competentes
na sua profissão - digamos que sabem tocar a sua partitura - mas que não têm uma
visão de conjunto. Já é bom, evidentemente, que sejam bons na sua especialidade, mas
a ignorância do conjunto, provoca toda a espécie de anomalias e desordens. Na medida
em que se limitam às ideias, aos pontos de vistas que inspiram a sua posição individual,
não podem compreender a totalidade das situações porque não possuem o verdadeiro
conhecimento. Numa certa medida podemos achar que são desculpáveis, mas na
realidade não, não o são: deveriam trabalhar para tornar-se, também eles, maestros,
quer dizer, a elevar-se até ao ponto em que pudessem ter uma visão precisa de conjunto
e assim, agir correctamente em todas as circunstâncias que se lhes apresentassem.
Direis: "Sim, mas esse ponto de vista é o de Deus, do Criador." É verdade, mas
o que há a fazer pelo homem, é trabalhar para se aproximar do Criador. Jesus não disse:
"Sede perfeitos como o vosso Pai Celeste é perfeito" ? Por isso, um verdadeiro
discípulo de Jesus compreende a necessidade de ter esta visão de conjunto, de se
aproximar do ponto de vista do Criador.
Todos os que têm uma responsabilidade familiar, social, profissional, política,
devem esforçar-se para encontrar interiormente este ponto de vista elevado, donde
poderão dominar todos os aspectos dos problemas que têm que resolver. Assim,
tomarão as decisões mais justas para todos. Direis: "Mas não há a certeza de que estas
decisões justas sejam aceites; a maior parte das pessoas só se ocupam a defender os
seus interesses egoístas, e não é fácil levá-los a reconhecer os interesses dos outros." É
verdade, mas mesmo que certas das vossas boas análises e conclusões não sejam
aceites, isso não é razão para abandonar os vossos esforços. Desde o momento em que
conseguistes elevar-vos até este ponto de vista superior, haverá outras ocasiões na vida
em que as fareis triunfar. Nunca nenhum dos esforços que se fazem para progredir no
caminho da lucidez e do desinteresse está perdido. E ainda que os outros vos apelidem
de sonhadores, de utópicos, de iluminados, ou até de "malucos" - os qualificativos não
faltam ! - ao saberem que vós dos aproximais da verdade, vós não deveis perder a
coragem.
Os verdadeiros Iniciados, os verdadeiros Mestres espirituais são maestros.
Direis: "Mas estão sós, não têm músicos para dirigir !" Desenganai-vos, eles têm neles
próprios uma orquestra, e eles dirigem essa orquestra dia e noite. Sim, todos os seus
órgãos, todas as suas células formam uma orquestra e cantam e tocam as partituras que
lhes são apresentadas. O cérebro, o estômago, o coração, as mãos, os pés, as orelhas,
os olhos, a boca, etc., cada parte do seu corpo tem a sua actividade graças à qual
contribui para a harmonia do organismo. Sim, mas o bom funcionamento no plano
físico não é suficiente. É por isso que um Iniciado interroga todos os dias os seus
órgãos. Pergunta às pernas: "Onde é que me levais? " Aos braços: "Que acções estás a
preparar ? " À boca: "Que palavras vais pronunciar ? " Aos olhos: "E vós, para onde

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Omraam Mikhaël Aïvanhov

olhais ? " E ao cérebro: "Em que pensamentos te concentras ?"... E esforça-se por
estabelecer e manter a harmonia entre todos.
E vós, se quereis manifestar-vos como discípulos inteligentes, conscientes,
deveis tornar-vos também bons maestros. Cada dia, velai não somente para que os
órgãos do vosso corpo físico trabalhem harmoniosamente para se manterem saudáveis,
mas pensai também em orientar a sua actividade para um fim superior a fim de não
produzirem dissonâncias no organismo cósmico.
Seja qual for o assunto de que eu fale, vocês ouvem-me sempre voltar ao
mesmo pensamento: como utilizar todos os elementos que existem em nós e à nossa
volta para progredir no caminho da harmonia universal.
E eu posso dar-vos uma outra imagem: a dum edifício cujos materiais ainda
estariam amontoados a trouxe-mouxe sem que se saiba o seu lugar uns em relação aos
outros. Para o conhecer, é preciso haver um plano, quer dizer, subir até Quem
concebeu o edifício, o Arquitecto, Deus.
A Criação existe, o edifício está construído, a questão que se põe ao homem é a
de saber o que deve fazer com tudo o que tem à sua disposição para poder construir ele
próprio a sua própria existência. Porquanto o homem faz parte do edifício, mas não
pertence a este conjunto como se fosse somente uma pedra, uma planta ou um animal.
Enquanto ser consciente, pensante, tem outro papel a desempenhar. Não lhe basta
unicamente fazer o inventário do que existe, é preciso que conheça todos os materiais,
e aprenda como utilizá-los para edificar a sua própria vida participando na edificação da
vida colectiva.
Sim, cedo ou tarde, cada um será obrigado a fazer o trabalho de participar na
construção deste edifício: a vida colectiva, a vida universal. Todas as nossas actividades
devem convergir para a vida universal. Quando levamos uma vida individualista,
egoísta, separada do Todo, é como se nos contentássemos em amontoar os materiais
sem ser capaz de fazer deles o que quer que fosse. Infelizmente é o caso para a maioria
dos humanos: contentam-se em amontoar os materiais e ficam por baixo deles. É
preciso que se decidam a fazer alguma coisa deles ! Mas antes aprendam a conhecer o
plano deste Arquitecto que é o Próprio Deus. Procurando conhecer o plano do Criador,
serão obrigados a identificar-se com Ele e assim, pouco a pouco, encontrarão
interiormente aquela parte deles próprios pela qual são parecidos com Deus.
Então, de agora em diante não fiqueis espantados por constatar que qualquer
que seja o meu ponto de partida, o ponto de chegada é sempre o mesmo.
Incansavelmente devo recordar-vos o fim a alcançar: construir o edifício. Enquanto vos
contentardes em acumular conhecimentos, informações, sobre todas as espécies de
assuntos, talvez possais estar orgulhosos de ter uma "boa bagagem intelectual", como
se diz, mas isso não é o que vos permitirá evoluir e contribuir para e evolução de toda a
humanidade. Enquanto com o Ensinamento dos Iniciados, mesmo com muito poucos
conhecimentos, ireis muito longe. Desde que conserveis sempre na vossa cabeça esta
ideia do edifício para construir: o edifício interior e o edifício colectivo, esta ideia
vivificar-vos-á, iluminar-vos-á, ressuscitar-vos-á, salvar-vos-á.
Agora, com certeza, se fordes capazes de nunca perder a verdadeira orientação
tornando-vos um poço de sabedoria, então ide. Mas se perderdes de vista a vossa
missão: a construção do edifício, admitindo mesmo que sois considerados como uma
sumidade pelos humanos, o Céu, verá somente que vós atravancastes a vossa alma e o
vosso espírito com uma quantidade de objectos inúteis.
O que quer que façais ou penseis, tudo deve encontrar o seu lugar na harmonia
da vida universal. Eis o que eu faço diante de vós desde sempre: insisto na harmonia.
Qualquer que seja o pormenor da vida sobre o qual eu me detenha, chego sempre à
mesma conclusão. Talvez vos lastimeis: "Oh ! é aborrecido, é sempre a mesma coisa!"...
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mas aí não pode haver outra coisa. Esta necessidade que tendes de vos dispersar, sabei
que é uma armadilha. A realidade é feita de uma infinidade de diferentes pormenores e,
com certeza, é atractiva, mas a razão de ser de todos estes pormenores é participar
numa mesma construção, entrar no mesmo projecto cósmico. É também o que Jesus
queria exprimir quando dizia: "Sede perfeitos como o vosso Pai Celeste é perfeito."
Tornar-se perfeito, é restabelecer a ordem entre todos os elementos dispersos.
Evidentemente, ainda haveria muitas coisas a dizer sobre esta noção de
perfeição. Tomemos o exemplo dos animais. Diz-se que os animais são perfeitos. Sim,
enquanto animais, tal como são, ao seu nível de animais são perfeitos. Apenas com
alguns dias de vida, andam, nadam, correm e rapidamente atingem a maturidade.
Enquanto o homem, quantos anos são precisos para alcançar o seu pleno
desenvolvimento ! E além disso quanto ao desenvolvimento físico, isso vai mais ou
menos, mas quanto ao desenvolvimento psíquico e quanto ao desenvolvimento
espiritual, nunca mais está acabado.
Tomemos um outro exemplo. Quando uma criança tem que começar a ir à
escola, é desejável que seja "perfeita", isto é, que os seus braços, pernas, olhos, orelhas
e cérebro estejam em estado de funcionar correctamente. Se estiver em desvantagem
física ou mentalmente, tudo será muito mais difícil para ela; é preciso que todos os
órgãos físicos e psíquicos estejam em bom estado para poder progredir realmente. Da
mesma maneira quando se trata, para o homem, da perfeição de que fala a Iniciação,
esta palavra significa em primeiro lugar que os órgãos da vida psíquica e espiritual
devem estar bem desenvolvidos e em bom estado de funcionamento; é nesta única
condição que pode encaminhar-se para a perfeição de Deus que é omnisciente, todo
amor, e omnipotente.
Alguns de entre vós atingiram o primeiro grau de "perfeição" que lhes permitirá,
à custa de trabalho, evoluir e atingir, depois de encarnações e encarnações, a perfeição
do próprio Deus. Será nesse momento que poderemos dizer que verdadeiramente
participastes na construção do edifício. Ora aí está, é preciso ser perfeito para se tornar
perfeito ! Está claro, compreendeis-me ? ...

VII - Contemplar a verdade: Ísis sem véu


I

O desejo de vos ser útil, é o que me preocupa todos os dias; sim, como trazer-
vos qualquer coisa de que não falei nas conferências anteriores, um elemento novo, uma
verdade nova. Direis: "Uma verdade nova ?" Sim, porque a verdade, este princípio
eterno para o qual nos devemos dirigir, é constituído por uma grande quantidade de
verdades, do mesmo modo que um organismo é formado por milhões e milhões de
células. Só que esta Verdade, que é a síntese de todas as verdades, nenhuma palavra,
nenhuma leitura no-la pode revelar imediatamente. Nós somente podemos conhecer as
verdades que nos aproximam cada vez mais da quintessência sublime, perfeita, que é a
Verdade.
Desde há anos, nada mais faço do que apresentar-vos múltiplos aspectos da
verdade que tocam os diferentes mundos: físico, astral, mental, causal, búdico, átmico,
na esperança de que um dia, enfim, vós possais atingir esta Verdade que abarca a
totalidade das existências.
Diante da beleza e da profundidade de certas obras de arte: poemas, quadros,
música, ou de certas obras filosóficas, iniciáticas, místicas, dá-se bem conta de que os
seus autores contemplaram em algum lado uma verdade que mais ninguém viu. Para ter
acesso a essa verdade, é preciso, evidentemente, outros olhos além dos olhos físicos;
enquanto órgãos dos sentidos, os olhos físicos são muito limitados, não podem perceber
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grande coisa do que um Iniciado chama a realidade enquanto eles não forem, eles
próprios, iluminados por uma luz que permite ver para lá das aparências. Mas então
que são os olhos para além dos olhos ?... E que luz é esta que ilumina o mundo que eles
viram ?...
A verdade é um mundo real, um mundo que existe como luz, beleza, harmonia,
perfeição. Para penetrar nesse mundo é necessário que qualquer coisa em nós possa
por-se em uníssono com ele. Há em nós uma faculdade superior que pode ver a
verdade, uma faculdade que nunca foi despertada nem afinada e sobre a qual devemos
trabalhar. Pode chamar-se intuição a esta faculdade, é uma faculdade do espírito.
A verdade escapará aos humanos enquanto a identificarem com o conhecimento
do mundo físico que podem ver, medir, pesar. O mundo físico é só uma manifestação,
uma consequência longínqua da verdade. Acreditamos ver ali a verdade, enquanto não
vemos senão a sua capa, uma parte superficial. A verdade é um mundo de perfeição que
tem manifestações nos três planos, espiritual, psíquico e físico: através das virtudes no
plano espiritual, através dos pensamentos e dos sentimentos no plano psíquico, através
das formas, das cores, dos sons, etc., no plano físico.
Portanto é um erro crer que a verdade pode ser conhecida pela inteligência. A
inteligência é uma faculdade que permite ao homem conhecer o mundo físico, pouca
coisa do mundo psíquico, mas não mais. A inteligência é uma faculdade muito reduzida,
só por si não pode conhecer a verdade. Tomemos o exemplo muito simples duma rosa.
Conhecer a verdade duma rosa, não é só perceber a sua forma, a sua cor, o seu
perfume. A verdade da rosa é uma emanação, uma presença que não se pode alcançar
com a inteligência. Conhecer a rosa é sentir todo este conjunto de elementos que fazem
dela uma rosa e não outra coisa. Por maioria de razão, para o ser humano: a verdade
sobre um ser humano deve reunir, sintetizar todos os elementos que o constituem, desde
o seu espírito até ao seu corpo físico. Enquanto vós não os conheceis, não conheceis a
verdade a seu respeito, não conheceis deles senão uma muito pequena parte. Mas a
verdade dum ser, a sua verdade definitiva, absoluta, reside no seu espírito, e não pode
ser conhecida senão pelo espírito. Direis: "De acordo, compreende-se que é difícil
conhecer o ser humano. Mas a natureza, conhecemo-la." Não, não a conhecemos, não
sabemos o que é uma rosa, não sabemos sequer o que é a terra. O que vemos à nossa
volta, as florestas, as montanhas, os rios, os mares, não é senão o invólucro exterior; é
matéria, diferentes categorias de matéria... o que encobre, se o quiserdes. Agora é
preciso exercitar-vos para ir ao lado de lá, a fim de ver o corpo etérico da natureza, com
as suas vibrações, as suas manifestações... Aliás, na realidade, até o corpo etérico é um
invólucro, e de lá ainda é preciso ir mais longe.
Só pode encontrar a verdade aquele que é capaz de retirar à natureza todos os
seus invólucros. E é isso que se ensina aos discípulos na Iniciação: levantar o véu de
Ísis. A deusa Ísis é, na religião egípcia, a esposa do Deus Osíris. Nesta grande figura
feminina os Iniciados viram um símbolo da natureza primordial da qual provieram todos
os seres e todos os elementos da criação. Esta natureza, impenetrável para o homem
comum, os Iniciados fizeram dela o seu principal objecto de estudo, querem conhece-la
e para isso dedicam-se a compreender as existências que ela produz e através das quais
se manifesta.
A expressão "levantar o véu de Ísis" é uma imagem. Pode ser que seja mal
entendida por alguns: à primeira vista verão qualquer coisa de trivial, uma mulher a
quem se retiram as vestes. Ora bem, nada disso, os Iniciados deixam as mulheres em
paz, porque sabem que o que procuram está noutro lado qualquer. A sua ambição é tirar
o véu da natureza, e chegam lá através da maior pureza, da maior mestria. É então que
Ísis se descobre para eles com todo o seu esplendor.

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...(*.*)... Hi hiii hiiiii hiiiiiii .......
Omraam Mikhaël Aïvanhov

Para um Iniciado o verdadeiro conhecimento é um desnudamento. Mas é pena


que esta questão da nudez seja obscurecida por todos os preconceitos e tabus de que ela
é objecto desde há séculos e que a associam sempre à sexualidade. Alguns não podem
ler ou ouvir a palavra nudez sem que a sua imaginação comece imediatamente a
cavalgar. É altura de eles irem mais longe para compreender que a noção de nudez
pode ser transposta para outros planos além do plano físico. E mesmo no plano físico há
uma outra maneira de compreender a nudez: em vez de ficar pelo aspecto mais exterior
e concreto, é preciso intrepretar. Este instinto, por exemplo, que leva o homem a querer
tirar as roupas à mulher é a expressão duma necessidade mais profunda do ser que sente
que os invólucros são um obstáculo ao conhecimento. Claro que, se ele se contenta em
tirar as vestes à mulher, ele não a conhecerá melhor: mesmo sem roupa, ela permanece-
lhe escondida, misteriosa, indecifrável, porque o corpo físico é ainda uma veste. E os
corpos subtis são, eles próprios, vestes...
Quando um clarividente se desdobra, sai do seu corpo físico como se
abandonasse um invólucro, e graças ao seu corpo astral pode deslocar-se no espaço.
Mas o corpo astral é ainda um entrave, uma veste que o impede de conhecer a
realidade: é preciso também po-la de lado e fazer o mesmo ao corpo mental, a fim de
ficar nu, sem entraves, completamente livre. É só nesse momento que se conhece a
verdade. Senão, é exactamente como se pretendêsseis conhecer alguém simplesmente
porque a encontrastes na rua. Não, para a conhecer, é preciso atravessar não somente as
vestes mas também os seus diferentes corpos para chegar até ao seu espírito. Quando se
atinge o domínio do espírito, entra-se na região das forças sem forma, mergulha-se num
oceano de vida, de alegria, onde se respira, onde nos estendemos até ao infinito.
Só o espírito está nu, e não tem necessidade de fato. Ele veste-se para se
manifestar na matéria, mas para voltar ao seu domínio, despe-se. Se os humanos
soubessem interpretar os diferentes actos da vida diária, compreenderiam que repetem
todos os dias estes processos de descida à matéria e de regresso ao espírito. Ao vestir-se
de manhã, começa-se por enfiar as roupas mais leves: camisola, camisa... para acabar
com o grosso sobretudo; do mesmo modo, para encarnar na terra, entra-se em corpos
cada vez mais densos, mental, astral, até ao corpo físico. E quando se despe à noite,
antes de se deitar, despoja-se destes invólucros, e também é simbólico: fará da mesma
maneira para voltar ao outro mundo. Tudo o que é veste, invólucro, simboliza a matéria;
é preciso vestir-se para descer e é preciso despir-se para subir. Tirar as vestes é
atravessar o mundo opaco das aparências para descobrir a realidade.
O véu de Ísis é o mistério da natureza viva que nós ainda não conseguimos
penetrar. E através da «natureza», é igualmente necessário compreender o ser humano:
também ele, como a natureza, esta envolto em véus, é por isso que experimenta tantas
dificuldades para se conhecer e para conhecer os outros. O verdadeiro conhecimento
exige que consigamos elevar-nos até às regiões sublimes do espírito. Quando deixarmos
de nos ver e de ver os outros através de óculos deformadores dos nossos corpos
opacos, poderemos saber finalmente o que é o ser humano nas regiões sublimes: uma
imensidão, uma luz, um esplendor.
Todos os hierofantes do passado deixaram o mesmo ensinamento, revelaram
aos discípulos que o ser humano é feito à imagem da natureza, ei-lo também: escondido
sob camadas de matéria, habita um espírito, uma centelha, um ser indiscritível,
omnisciente, todo poderoso, o próprio Deus. O que pela meditação, pela oração, pela
renúncia, for capaz de obedecer às exigências do espírito, verá Ísis aparecer diante de si
despojada dos seus véus.

II

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...(*.*)... Hi hiii hiiiii hiiiiiii .......
Omraam Mikhaël Aïvanhov

Que significa "estar nu" ? Esta expressão tem dois sentidos: pode querer dizer
que o homem é pobre, miserável, privado de todas as qualidades e virtudes. Pode
significar também que não tem nenhum invólucro, nenhuma carapaça, que é perfeito,
livre, que está na verdade. Só os seres divinos estão assim nus, o que se exprime
também dizendo que estão envolvidos ou vestidos de luz. É muito difícil encontrar no
vocabulário palavras que traduzam exactamente as realidades da vida espiritual, é
preciso recorrer a imagens, comparações, expressões simbólicas. É por isso que os
Iniciados ensinam que no mundo divino a verdade está nua, o que quer dizer que não
está envolta por uma matéria que a disfarce. Podem dizer também que é luz pura,
porque a luz situa-se precisamente na fronteira do mundo material e do mundo
espiritual.
De certo modo, encontram-se na natureza correspondências entre a vida do
plano físico e do plano espiritual. Vede, no verão, quando há muito sol, luz, calor, veste-
se pouca roupa. Pelo contrário, no inverno, quando o sol é mais raro, há mais sombra,
mais frio, deve vestir-se mais roupa. O calor e o frio são símbolos da vida interior:
quanto mais nos afastamos do mundo divino, da fonte do calor e da luz, mais estamos
pobres de virtudes, mais frio temos, somos obrigados a cobrir-nos com todo o género
de ouropéis. Pelo contrário, quando através duma vida pura e luminosa, começamos a
aproximar-nos da fonte, abandonamos todos os coberturas inúteis. Notai, é preciso
aprender a interpretar todos estes símbolos da vida psíquica.
Então compreendei-me bem, a nudez de que eu quero falar-vos é a do corpo
astral e mental. Por causa dos vossos pensamentos e dos vossos sentimentos egoístas,
malévolos, vingativos, pusestes estes corpos tão opacos que não podeis mais comunicar
com as realidades e existências do mundo espiritual. Quereis meditar, mas como não
conseguis libertar-vos das vossas preocupações materiais, das vossas inquietações, dos
vossos rancores, das vossas irritações, das vossas lembranças penosas, não podeis
elevar-vos. Então, por mais que fiqueis ali, de olhos fechados, esperando que se produza
o movimento que permitirá à vossa alma dar um salto para a luz, nada se passa. E nestas
condições é quase inútil tentar meditar, porque nada obtereis. Os vossos órgãos
interiores estão obstruídos, não funcionam. E isto será assim durante todo o tempo em
que não tiverdes aprendido a despojar-vos das velhas vestes grosseiras, sujas, usadas,
rotas. Sim, simbolicamente, existem certamente velhas vestes das quais temos de nos
desembaraçar !
A coisa mais importante na vida, é por isso este trabalho interior de renúncia.
Claro que é difícil, e não só é difícil, mas muitos não chegam mesmo a compreender que
há camadas opacas de que se deveriam desembaraçar, nem porque deveriam
desembaraçar-se delas.
Só a verdade está nua. Portanto, para se elevar até esta nudez da verdade, é
preciso trabalhar para se libertar de tudo o que em nós é opaco, impermeável ao mundo
divino. Quando se atinge esta nudez, pode ir-se mais alto a fim de receber mensagens,
conselhos, sabedoria, amor, ajuda de Deus. Diante do Céu é necessário apresentar-se
todo nu, quer dizer, despojado da sua cupidez, dos seus cálculos, das suas ideias falsas.
Quanto mais nos despojamos, mais nos elevamos.
Seguidamente, quando voltamos a descer - porque somos sempre obrigados a
descer, enquanto estamos na terra temos de cumprir também as nossas tarefas na terra -
revestimo-nos, quer dizer, retomamos todas as actividades, projectos, relações com a
família, os amigos, os vizinhos, etc. Para o mundo é necessário vestir-se, mas para o
Céu: o Céu só gosta de seres nus. Vede que imagem magnífica deram os Iniciados
quando falaram de contemplar a verdade nua, Ísis sem véus !...
Por agora nada mais vos direi sobre isso. Compete-vos agora meditar para
compreender o que significa o véu de Ísis e como separá-lo para conhecer a verdade.
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...(*.*)... Hi hiii hiiiii hiiiiiii .......
Omraam Mikhaël Aïvanhov

VIII - A veste de luz


Uma veste é uma matéria que nos envolve e nos esconde, mas também uma
cortina que nos isola do mundo exterior. Aquele que traz um manto espesso está ao
abrigo do frio, e também de algumas picadelas, de alguns golpes, enquanto o que está
despido está exposto às menores agressões. Quanto mais vestes tiramos, mais sensíveis
nos tornamos. Transportando esta lei para o domínio da vida interior, pode-se dizer que
a sensibilidade é uma manifestação da espiritualidade, e que é preciso apartar-se da
espessura das preocupações comuns para ganhar sensibilidade no mundo divino.
Nos Livros sagrados, encontram-se histórias em que aquele que viveu em
conformidade com as leis divinas, que venceu as tentações, triunfou do mal, recebe em
recompensa uma veste. Esta veste pode ser branca ou de cor, mas é sempre apresentada
como um adorno magnífico, um tecido precioso. Esta veste, eu já vo-lo expliquei, é o
símbolo da aura*. A aura é a nossa verdadeira veste. Para a merecer, devemos
desembaraçar-nos de tudo o que nos torna pesados e nos obscurece, a fim de entrar em
relação como mundo divino. A aura, esta veste de luz, é o sinal de que nós já lá
chegámos.
Direis: "Mas vós antes falavas-nos de nudez e agora falais-nos de vestes!" Sim,
porque a palavra nudez é só uma maneira de apresentar as coisas. Eu disse-vos, há tão
poucos termos para falar da vida espiritual que somos obrigados a servir-nos de imagens
que, por vezes, podem parecer contraditórias. Na realidade, o homem nunca está nu:
não somente o seu corpo físico é uma veste, como também os seus outros corpos mais
subtis. Para estar realmente nu, tem que executar um trabalho interior gigantesco,
quase irrealizável: tornar-se espírito puro, ou mais exactamente dar ao espírito em si um
tal poder que parece pulverizar o corpo físico e transformá-lo em luz, como a que foi
produzida por Jesus quando foi transfigurado no monte Tabor.
Esta questão da veste é muito interessante e merece que nos debrucemos sobre
ela. O corpo físico é a veste da alma e do espírito. As palavras são as vestes do
pensamento. Os sentimentos, os pensamentos, as forças possuem uma veste; todas as
criaturas visíveis e invisíveis possuem vestes. Uma flor, por exemplo, é uma veste na
qual se esconde uma entidade. É por isso que é preciso meditar sobre as flores, sobre as
suas formas, cores, perfume, para conhecer a natureza dos seres que possuem tais
vestes. E não só sobre as flores, mas sobre tudo o que existe nos diferentes reinos da
natureza: mineral, vegetal, animal, humano. Um cristal, um diamante, uma pedra
preciosa é uma veste, o corpo no qual uma entidade espiritual está encarnada a fim de se
manifestar...
Para aprofundar esta questão das vestes, quer dizer, interpretar as formas de
todas as criaturas, de todas as entidades, é preciso possuir uma grande sabedoria. Uma
veste é a condensação de elementos subtis e é muito difícil decifrar tais são as
expressões e as particularidades. As montanhas, os lagos, os rios, as árvores... a
natureza inteira é a veste do Espírito cósmico. Tudo são vestes, do reino dos minerais
ao do homens, e estas vestes são duma diversidade extraordinária. De entre os animais,
reparai só na imensa variedade de aves e das suas plumagens !
Todavia, se as vestes servem muitas vezes para esconder os seres, podem
também, em certa medida, dar indicações a seu respeito. No teatro, por exemplo,
utilizam-se modos de vestir, porquê ? Os actores poderiam muito bem actuar quaisquer
que fossem as suas vestes, mas os seus trajes revelam imediatamente os seus papeis.
Logo que um actor entra em cena, antes mesmo que ele tenha falado, vê-se a que
categoria de seres ele pertence e adivinha-se já o personagem.

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...(*.*)... Hi hiii hiiiii hiiiiiii .......
Omraam Mikhaël Aïvanhov

E não só as formas e cores, mas também os movimentos, os sons, os perfumes


são vestes. Tudo o que é um meio de expressão entra na categoria de vestes. E
particularmente entre os humanos. Direis: " Mas então o espírito não pode exprimir-se
assim, todo nu ?" Não, que se pode saber duma força, duma energia quando só a vemos
manifestar-se através da forma ?
Para se exprimir, o espírito é obrigado a passar por intermediários. Há-os de
todas as maneiras, dos mais materiais aos mais subtis. Alguns impulsos exprimem-se
através de movimentos, mas há outros impulsos muito mais subtis que se exprimem pelo
olhar, a voz, a cor da face. É portanto toda uma variedade de expressões, das mais
físicas às mais imateriais, que chegamos apenas a perceber e que ainda é mais difícil de
interpretar. Reparai, esta questão das vestes é tão vasta e tão profunda que se pode
trabalhar sobre ela toda a vida.

IX - A pele, órgão do conhecimento


Recebi, um dia, de alguém, uma carta verdadeiramente espantosa que me dizia
entre outras coisas isto: " Tudo o que o sr. sabe, dir-se-ia que foi pela pele que o senhor
as aprendeu. Como se fosse a sua pele que lhe desse conhecimento das coisas..." Eu
não esperava de modo algum esta nota e fiquei surpreendido. Mas na realidade, se
reflectirmos sobre isso, descobriremos que é a pele que, no corpo humano, é o órgão
principal do conhecimento. Tudo o que entra no homem como sensações, impressões,
influências, não pode fazê-lo sem autorização da pele. É ela que envolve o nosso corpo
e todos os órgãos do nosso corpo. É ela o inspector que examina, que faz experiências,
e não deixa entrar senão o que é necessário ao homem. Cada órgão nasceu duma
diferenciação progressiva da pele. Podemos compará-la a uma mãe que pôs no mundo
uma quantidade de crianças, ou às raízes duma árvore graças às quais o tronco pode
crescer e desenvolver-se correctamente dando ramos, folhas, flores e frutos.
Admitindo que é a pele que permite ou interdita a passagem, a entrada ou a
saída, é preciso dar-lhe possibilidades para não admitir senão os elementos benéficos e
eliminar os que são nocivos. Lavar-se, por exemplo, contribui para o bem estar e para a
saúde física. Mas se o fizermos num estado de consciência adequada, podemos também
absorver forças e correntes que nos mantêm em contacto com a vida cósmica. A pele
possui verdadeiros radares, verdadeiras antenas graças às quais nós emitimos e
absorvemos fluidos. Desde sempre, os magos ou os feiticeiros que possuíam estes
conhecimentos, punham-se nus para fazer os seus esconjuros: captavam assim as
influências dos espíritos invisíveis e, eles próprios projectavam forças que começavam a
agir sobre os seres e sobre as coisas.
Outras práticas mágicas consistem em esfregar o corpo com certos unguentos
cujos efeitos sobre o sistema nervoso são tais que o homem sai do corpo e desloca-se
no espaço. Sabe-se agora que muitas "feiticeiras" que pretendiam ter assistido ao
"sabbat" na realidade não tinham feito senão untar o corpo com certas substâncias que,
ao penetrar através da pele, tinham provocado o desdobramento. Com efeito, estas
mulheres tinham ido ao "sabbat", mas não com o seu corpo físico, tinham ido lá no seu
corpo astral e tinham-se entregue a todos os tipos de devassidão.
Infelizmente, os humanos estão sempre preparados para se lançar em
experiências que as levam ao inferno; estão muito menos dispostos a aprender como
comunicar com as forças divinas para se melhorar. Por isso, entendei-me bem, falo-vos
destes fenómenos para que vocês conheçam a realidade das coisas e não para vos
compelir a interessar-vos nestas práticas e a fazer experiências arriscadas.
Consciente ou inconscientemente, os humanos dão uma grande importância à
pele. Vede: quantas guerras se fizeram e continuam a fazer somente pela cor da pele,
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Omraam Mikhaël Aïvanhov

branca, negra, amarela ou vermelha ! Que o corpo seja idêntico, com as mesmas
formas, as mesmas funções, é secundário, é pela pele que os humanos se interessam.
Esta pele de que em geral não se preocupam grande coisa - salvo para lhe aplicar
loções, cremes ou pinturas ! - eis que de repente, por causa da sua cor, ela toma uma
importância capital e massacram-se ! É preciso deixar a cor tranquila, pensai antes no
que deveis fazer para proteger a vossa pele em condições de desempenhar o seu papel
de protecção mas também de instrumento de percepção. Que matéria extraordinária a
pele, ao mesmo tempo fina, macia, mas também tão resistente ! E quando ela está um
pouco maltratada, dilacerada, reconstitui-se rapidamente. Por outro lado, os Egípcios
que embalsamavam os mortos mostraram-nos qual podia ser a sua resistência já que,
em certas condições, ela pode durar séculos ou até milénios.
Com a pele, a Inteligência cósmica deu-nos um órgão dos sentidos que tem
também prolongamentos até ao mundo espiritual.; porque é preciso saber que a pele
produz secreções subtis que acabam por lhe dar certas propriedades. Para não destruir
esta película etérica há regras de vida a respeitar; porque tudo se reflecte na pele. Se
soubéssemos observar, descobriríamos através da pele o estado psíquico e até físico
duma pessoa. Existem peles sãs ou anémicas, inteligentes ou estúpidas, preguiçosas ou
activas. E por outro lado isto muda com as circunstâncias: um dia ela pode estar viva,
radiosa, e no outro dia sem brilho, pálida, morta. E acontece o mesmo com os cabelos
que são feitos dos mesmos elementos que a pele: eles reflectem o estado físico e o
estado interior.
Através da pele de qualquer pessoa, podeis saber a vida que ele leva: há
qualquer coisa no aspecto, na cor, que fala imediatamente duma vida espiritual ou duma
vida grosseira, animal. Mas o que é interessante constatar também é que a pele duma
mesma pessoa não é idêntica por todo o corpo: em certos sítios, é lisa, fina, e noutros
sítios é manchada ou enrugada. Há mesmo pessoas de que temos a impressão que a
pele, que é branca, está com a cor violeta, azul ou amarela. É a prova que atrás desta
fachada que é a pele, existem outras peles que não se vêm mas que projectam partículas
puras ou impuras, luminosas, coloridas ou pálidas. Há muito tempo encontrei em
Zurique uma clarividente e o que mais me impressionou na sua fisionomia e que nunca
mais pude esquecer, foi a sua pele, a santidade da sua pele. Foi por causa disso que eu
senti que ela era verdadeiramente uma muito grande clarividente.
Então, de hoje em diante, procurai compreender melhor em que sentido vale a
pena ocupar-nos da pele. Deixai de lado a questão da cor. Não vos preocupeis
demasiado com os produtos que servem para a conservar em bom estado. Em
compensação lembrai-vos que ela é a melhor veste que o Céu nos deu, e que ela pode
mesmo tornar-se um verdadeiro órgão do conhecimento. Mas para isso devemos
melhorar a nossa maneira de viver.

X - O perfume do jardim do Éden


O que torna a questão da pele delicada de tratar, é que ela mexe imediatamente
com a da nudez, e aí é preciso ser sempre muito prudente: a nudez é ainda um assunto
escabroso para muitos, já vo-lo disse, porque tem uma conexão com a sexualidade.
Quando se fala de nudez, as pessoas geralmente não pensam nem no pescoço, nem nas
costas, nem nos braços, nem nas pernas, mas a maior parte das vezes pensam no peito
ou nos órgãos sexuais. Estes órgãos são como são, e não têm nada de chocante, mas a
vida que homens e mulheres levam, deixa neles impressões: não impressões físicas,
claro, mas etéricas, e é isso que se sente quando as pessoas estão nuas. E como a
maioria deles vive uma vida de desordens e paixões, é melhor que tapem os órgãos,
porque o que emana deles não é nem belo, nem puro, nem poético. Perguntam-me de
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vez em quando o que penso do nudismo, ou do facto de nas praias, no verão, as


pessoas estarem cada vez mais nuas. Já vos contei como fui convidado um dia a ir
visitar um campo de nudistas. Eu aceitei na condição de me conservar vestido. Foi uma
experiência interessante. Antes de ir eu interroguei-me que impressão iria experimentar
e, para ser sincero, não esperava o que realmente senti: todos aqueles corpos nus me
deram uma certa sensação de indigestão.
Talvez instintivamente, os nudistas encontraram uma verdade: os benefícios de
viver uma vida natural. Mas como não têm um ensinamento iniciático, estes benefícios
não são muito grandes. Direis que não é necessário um ensinamento iniciático para se
expor ao sol e ao ar. Certamente, mas quando não se conhece a natureza das influências
às quais se expõem, isso não pode trazer grande coisa. Seria preciso que os nudistas ao
menos tivessem alguns métodos, que soubessem em que estado de espírito convém
exporem-se nus.
Porque o que se recebe assim, depende dos pensamentos e dos sentimentos que
alimentam dentro de si. A pele, por si só é neutra, pode deixar passar tudo, o bom e o
mau. O que orienta e determina o trabalho da pele, é a consciência, o pensamento. De
acordo com o que tiverdes na cabeça, a pele pode favorecer ou impedir a entrada de
certos elementos. Se os vossos pensamentos forem puros, luminosos e ligados a Deus,
é como se a vossa pele recebesse uma ordem superior para se por a trabalhar para
afastar os venenos e não atrair senão as partículas e as energias vivificantes. Feita em
boas condições, esta comunhão com as forças de natureza pode-vos renovar, regenerar.
Mas são verdadeiramente estas as preocupações das pessoas que vão para os
campos de nudismo ou para as praias ? Eles comem não importa o quê, bebem álcool,
fumam, drogam-se, não têm nenhum domínio dos seus pensamentos e dos seus
sentimentos; estão lá, contentam-se por viver uma vida vegetativa, animal. Que pensais
então que sai da sua pele ? São como nuvens que sobem, exalações doentias que
deixam uns para entrar nos outros. Até de longe se sente isso. Muitas vezes, mesmo
sem ir à praia, passeando-me unicamente um pouco acima, eu senti esses miasmas que
se desprendiam de todos esses corpos estendidos; e os odores astrais são por vezes
piores que os odores físicos... Não penseis que digo isto porque não gosto dos
humanos. Sim, eu gosto deles, eu quero ajudá-los, mas não posso nem deixar de ver
nem de sentir o que emana de alguns por causa da sua maneira de viver por ser de tal
modo grosseira.
Se vivessem uma vida mais razoável, inteligente e pura, o homem e a mulher
tornar-se-iam como flores. Porque a pele pode destilar um perfume semelhante ao de
certas flores que se encontram nas montanhas. Num passado longínquo, o primeiro
homem e a primeira mulher possuíam este perfume, Eva sobretudo, era por isso que as
plantas a conheciam e amavam. Ela comunicava com todo o reino vegetal no Paraíso,
no jardim do Éden, Eva ultrapassava todas as outras flores pelo seu perfume. Depois
do pecado original, que era um declive para as regiões mais densas da matéria, ela
perdeu esta propriedade de destilar perfumes, e as flores não mais a reconheceram.
Porque as flores são puras, castas, não tem qualquer desejo astral, e vendo a falta que
Eva cometeu, renunciaram a comunicar-lhe todas as suas virtudes como anteriormente.
Mas é porque as mulheres conservaram no seu subconsciente a recordação
desta antiga situação no Paraíso que têm necessidade de se perfumar. Daqui em diante,
elas têm que saber que lhes é possível reencontrar este perfume, mas na condição de
restabelecer nelas esse estado de pureza original, através de pensamentos puros, de
sentimentos puros e de uma alimentação pura. Sim, a alimentação também é
importante.
Não basta expor-se ao ar e ao sol. O nudismo deveria ser compreendido de
outra maneira de que não o é actualmente; deveria trazer uma nova concepção das
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coisas acompanhando-se de uma disciplina apropriada para que os humanos se tornem


física e psiquicamente belos, expressivos... Senão, que interesse tem ? É preferível estar
vestido. O espectáculo de corpos mais ou menos estéticos, donde emanam eflúvios
doentios tem, por vezes, algo de repugnante. É necessária uma nova cultura para
formar uma nova humanidade. Quem a preparará ? Podem ser as mães, se elas
decidirem instruir-se e trabalhar os seus pensamentos e os seus sentimentos, a fim de
colocar no mundo crianças sãs e equilibradas física e psiquicamente*.
O nudismo terá realmente razão de ser quando os humanos compreenderem que
têm todo um trabalho a realizar em si próprios para se embelezar, se aperfeiçoar. No
entanto, as vestes permitem ao menos camuflar as imperfeições ! Direis que também
contribuem para os perpetuar. É verdade, de certo modo. Aliás, muitas pessoas utilizam
as suas vestes para lançar pó nos olhos. Sente-se que contam com as suas vestes para
se esconder, para dar uma certa imagem deles próprios além daquela que os outros não
irão buscar. Mas mesmo que eles se saíssem bem disso, durante quanto tempo poderão
interiormente representar para si próprios a comédia ?
Não haverá nada de mau se os humanos viverem cada vez mais na nudez, mas
primeiramente, será preciso por muitas coisas em estado de funcionar. E como agora as
condições não estão realizadas, é preferível que mantenham as suas vestes e trabalhem
a sua nudez interior, quer dizer, que se exercitem com habilidade os seus instintos, as
suas paixões, as suas cobiças. Nessa altura, tornar-se-ão tão puros, tão luminosos, e
sobretudo difundirão um tal perfume que poderão apresentar-se diante de todo o
mundo, de toda a criação, todos ficarão maravilhados sentindo que emana deles
qualquer coisa de divino como nos tempos longínquos do jardim do Éden.
Acreditai, a única coisa que eu compreendi verdadeiramente, a única coisa que
teve verdadeiramente valor para mim, foi a vida purificada, iluminada, por um ser
consciente de que a razão da sua existência na terra é este trabalho em si próprio que
faz de todo o seu ser um reflexo do mundo divino.

XI - Em espírito e em verdade
Os princípios que governam o universo são comparáveis aos algarismos de 0 a
9 a partir dos quais se fazem todas as combinações numéricas. Os princípios, como os
dez primeiros números, são dados uma vez para todos, mas ninguém é capaz de prever
as múltiplas combinações que podem produzir, até ao infinito. è isto que devemos
aprender no curso dos séculos: as novas combinações, as novas formas engendradas
pelos princípios que, eles, são eternos. Em todos os domínios, o movimento é a lei da
vida. Também é um grande erro da parte da religião querer eternizar as formas. Só os
princípios são eternos, as formas têm que mudar.
O encontro de Jesus junto a um poço com uma mulher samaritana que vinha
buscar água, é um dos episódios mais notáveis dos evangelhos.
"Jesus chegou a uma cidade de Samaria, chamada Sicar, perto dum campo que
Jacob tinha dado a José, seu filho. Lá encontrava-se o poço de Jacob. Jesus, cansado da
viagem, estava sentado na borda do poço. Era perto da hora sexta.
Uma mulher de Samaria veio tirar água. Jesus disse-lhe: Dá-me de beber.
Porque os seus discípulos tinham ido à cidade comprar mantimentos. A mulher
samaritana respondeu-lhe: Como é que tu, que és judeu, me pedes de beber, a mim que
sou uma mulher samaritana ? - Com efeito, os judeus não tinham relações com os
samaritanos. - Jesus respondeu-lhe: Se tu conhecesses o dom de Deus e quem é que te
diz : Dá-me de beber! tu própria lhe terias pedido de beber e ele te daria água viva.
Senhor, disse a mulher, tu não tens nada para tirar água e o poço é profundo: portanto
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Omraam Mikhaël Aïvanhov

donde tirarias essa água viva ? És tu maior que o nosso pai Jacob que nos deu este
poço e donde ele próprio bebeu, assim como os seus filhos e os seus rebanhos ? Jesus
respondeu-lhe: Todo o que bebe desta água voltará a ter sede, mas aquele que beber a
água que eu lhe der nunca mais terá sede, e a água que eu lhe der tornar-se-á nele numa
fonte de água que jorrará até na vida eterna. A mulher disse-lhe: Senhor, dá-me dessa
água, para não voltar a ter sede nem voltar aqui tirar água. Vai, disse-lhe Jesus, chama
o teu marido, e vem cá. A mulher respondeu: Eu não tenho marido. Jesus disse-lhe:
Tens razão para dizer: Eu não tenho marido. Porque tu tiveste cinco maridos, e o que
tens agora não é teu marido. Acerca disso disseste a verdade, Senhor, disse-lhe a
mulher, vejo que és profeta. Os nossos antepassados adoraram nesta montanha: e vós,
vós dizeis que o lugar onde se deve adorar é em Jerusalém. Mulher, disse-lhe Jesus,
acredita-me, vem o tempo em que não será nesta montanha nem em Jerusalém que
adorareis o Pai. Vem o tempo, e ele já chegou, em que os verdadeiros adoradores
adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque estão aí os adoradores que o Pai
procura. Deus é espírito, e é preciso que os que o adoram, o adorem em espírito e em
verdade. " (Jo 4- 5/24)
"Mulher, acredita-me, vem o tempo em que não será nesta montanha nem em
Jerusalém que adorareis o Pai. Vem o tempo, e ele já chegou, em que os verdadeiros
adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade". O que é extraordinário é que
Jesus fez esta revelação a uma mulher que, evidentemente, não podia compreender
estas palavras. E a pobre, nós não a podemos censurar por isso quando se pensa que
desde há séculos, alguns, mesmo entre os maiores teólogos, passaram ao lado do seu
verdadeiro significado.
"Vem o tempo em que não será nesta montanha nem em Jerusalém que
adorareis o Pai." ... E Jesus não indica um outro lugar que pudesse substituir a
montanha de Samaria ou o templo de Jerusalém, não menciona nenhum lugar mas
pronuncia duas palavras abstractas entre as mais inconcebíveis para o homem: espírito e
verdade. O espírito opõe-se à matéria e a verdade à mentira, ao erro, à ilusão, à
aparência. Portanto, adorar a Deus "em espírito" é abandonar as formas materiais que
nos prendem e nos impedem de nos mover livremente; e "em verdade", é apartar-se das
ilusões, das aparências.
Alguns dirão que "em espírito e em verdade" qualificava a religião que Jesus
trazia, a religião cristã, que ele opunha assim à religião de Moisés e às religiões pagãs
que abundavam então na Palestina. Não, eu não penso assim, e além disso o
cristianismo conservou as suas crenças, os seus rituais, os seus monumentos, sobretudo
muitos traços da religião judia e até das religiões pagãs. E além do mais, são todas as
religiões que têm tendência para se materializar, para se agarrar aos objectos, às
práticas exteriores. Por isso, é para todas as religiões que Jesus deu como ideal a atingir
a fórmula "em espírito e em verdade". Se ele voltasse hoje, pronunciaria certamente
pouco mais ou menos as mesmas palavras. Diria: "Chega a hora em que não será nem
em Jerusalém, nem em Roma, nem em Meca, nem em Benares... que adorareis ao Pai,
mas em espírito e em verdade."
Jesus tinha concepções revolucionárias, mas isso não o impedia de respeitar
certos aspectos da ordem antiga e os preceitos dados por Moisés. Ele dizia: "Não
penseis que eu venho para abolir a Lei ou os Profetas; eu não vim para abolir mas para
cumprir. Porque digo-vos, em verdade, enquanto o céu e a terra não passarem, não
desaparecerá da Lei um só ponto ou um só traço de letra até que tudo tenha
acontecido". (Mt 5-17/18) Mas ao mesmo tempo ele queria conduzir os homens mais
longe no caminho da verdadeira religião.
Um Mestre espiritual tem exactamente as mesmas preocupações que os outros
instrutores; tem obrigação de fazer progredir os humanos como um professor tem
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obrigação de fazer progredir os alunos. Sabe muitos não poderão segui-lo nas suas
ideias e projectos, mas por isso será preciso deixar estagnar o pequeno número
daqueles que desejam ir mais longe e que são capazes disso ? Porquê nivelar-se pelos
mais fracos, os mais limitados ? É sempre necessário incentivar os humanos a ir para a
frente, mas ao mesmo tempo mostrar-se compreensivo e indulgente face aos que não
podem progredir de tal modo naquele momento.
Jesus interrogava-se como instruir a multidão, as pessoas simples que vinham
ter com ele ao mesmo tempo que os seres espiritualmente mais avançados. Foi por isso
que se serviu de parábolas. E num dia em que os discípulos lhe reclamaram: "Porque é
que lhes falas por parábolas ?" ele respondeu: "Porque a vós foi-vos dado conhecer os
mistérios do Reino dos Céus e isso não lhes foi dado a eles". Para a multidão, Jesus
usou imagens e narrativas. Aos seus discípulos explicou a correspondência destas
imagens e destas narrativas no domínio das virtudes. E entre os seus discípulos, ele
ainda escolheu um, são João, a quem revelou o sentido profundo das suas palavras.
Pode dizer-se, pois, que à multidão deu a forma, aos discípulos o conteúdo e a são João
revelou o sentido.
E é assim há séculos: a multidão fica-se pela forma, os discípulos trabalham no
conteúdo, e os Iniciados encontram o sentido do qual o mais importante é resumido
nestas duas palavras "em espírito e em verdade" que revelam que para Jesus existia
também um lado esotérico da religião. Felizmente ele pronunciou estas palavras, senão
seria quase impossível encontrar em qualquer outro lugar nos Evangelhos uma menção
semelhante. Pergunta-se mesmo como se fez para que tenham sido conservadas. De tal
modo outras passagens foram suprimidas ou transformadas !
Para compreender, uma criança tem necessidade que lhe contemos histórias,
que lhe mostremos imagens, objectos concretos. No domínio da religião, a maior parte
dos humanos, nisso ainda ficou no estado da infância: eles têm necessidade de coisas
exteriores, concretas, tangíveis, às quais se agarrar. Imaginai que se anunciava um dia
aos crentes do mundo inteiro: "De hoje em diante, não haverá mais lugares de culto,
nem cerimónias, nem clero, nem estátuas nem imagens santas, nem nada material nem
exterior: ireis adorar a Deus em espírito e em verdade." Isto seria o vazio para eles,
eles sentir-se-iam perdidos. Só um ser excepcionalmente evoluído pode encontrar no
seu espírito, na sua alma, o santuário em que entrará para se dirigir ao Senhor, para
tocar, saborear e respirar os esplendores do Céu. Evidentemente que é desejável um
semelhante desenvolvimento da consciência. Para os que são capazes de chegar até lá,
não há mais limites, porque o mundo da alma e do espírito é o mais belo, o mais vasto;
podem trabalhar até ao infinito para construir o seu futuro de filhos de Deus.
Entretanto, como estamos na terra, somos obrigados a dar às nossas crenças
formas materiais: lugares, objectos de culto, festas religiosas em certos períodos do
ano, que são a expressão destas crenças. Mas precisamente, é preciso compreender que
elas não senão uma expressão, elas não são a própria religião. Nós não podemos fazer
entrar a Divindade numa igreja , num templo, numa mesquita ou numa sinagoga, nem
num objecto, nem mesmo numa hóstia. É rebaixar a Divindade pretender o contrário.
Sim, não quero ofender os cristãos, mas pretender que basta engolir uma hóstia para
comunicar com Cristo, é uma invenção magnífica, mas é uma invenção. Como
podemos acreditar que Cristo, o filho de Deus, se deixa aprisionar numa hóstia por
padres, mais ou menos dignos ? Mas porque se prende ? E chama-se a isso o mistério
da eucaristia ! Não, não existe ali nenhum mistério, mas somente realidades espirituais
que obedecem a leis: é verdade que num objecto se podem fazer entrar fluidos,
influências... mas não Deus ! Além disso Jesus não disse: "Se não me comerdes, se não
me beberdes" mas sim: " Se não comerdes a minha carne, e se não beberdes o meu
sangue..." Não é pois ele que se come ou que se bebe; é qualquer coisa que lhe
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pertence, mas que não é ele. A carne e o sangue do Cristo são elementos cósmicos que
nos podemos tomar pela alimentação, pela respiração, pela meditação, e podemos
mesmo condensá-los em objectos. Mas Cristo, ele próprio, o seu espírito, ninguém tem
poder sobre ele.
Para viver uma religião em espírito e em verdade, não é preciso ficar agarrado
ao que está ali, muito perto, ao alcance da mão ou da boca. É preciso deslocar-se,
porque Cristo está muito alto, altíssimo. Aquele que quer beber água pura deve subir à
montanha para se saciar na nascente, enquanto o que não pode subir, fica em baixo para
beber, mas aí, a água está poluída e ele apanha micróbios.
Entendei-me bem, eu não sou contra a comunhão dos cristãos, eu não digo que
não é preciso comungar, digo que é preciso ter uma visão correcta da realidade das
coisas. É inexacto dizer que o padre faz entrar Cristo numa hóstia ou no vinho. E não
ajudamos os humanos a ter uma melhor compreensão da vida espiritual ao fazer-lhes
crer que é pelo pão e pelo vinho da comunhão que tocarão a Divindade. Porquê querer
transformar a Divindade fechando-a em qualquer coisa de material ? Porquê enganar
os humanos com crenças erradas ? Quantas pessoas há na terra que não conhecem a
comunhão dos cristãos ? Isso significa que eles não podem comunicar com a Divindade
tão bem como os cristãos ? Pensa-se que para comunicar como Céu devem fazer-se
cristãos ?...Oh lá lá ! Porquê limitar-se assim e querer limitar os outros ?
Os humanos sempre sentiram necessidade de se impor aos outros, de lhes impor
constrangimentos. E foi muito longe... sim, até deformar, mutilar voluntariamente o
corpo físico. Todos estes costumes de ligar os pés, deformar as cabeças, etc., que
encontramos em certas culturas... Sim, em todos os domínios, houve humanos para
querer maltratar os outros física ou psiquicamente.
Então agora coloco-vos a questão: estes milhões de homens que desde há
séculos nunca ouviram falar da missa nem da comunhão, sinceramente, que pensam os
cristãos do seu destino ? Que serão rejeitados por Deus ?... Vede, é preciso
compreender a comunhão num sentido mais lato, mais vasto. A comunhão é a condição
da própria vida. Como comungamos ? De todas os modos. A começar já pelo alimento
que tomamos todos os dias, porque ainda que o alimento seja material, está impregnado
da vida do Criador e pode-se, por um trabalho do pensamento, da consciência,
aprender a retirar dele elementos mais subtis a fim de alimentar também a nossa alma e
o nosso espírito. É esta a verdadeira comunhão: alimentar a alma e o espírito.
E quando nós respiramos, quando dormimos, quando contemplamos a
natureza, As montanhas, o mar, o sol, as estrelas... podemos também viver estados de
consciência magníficos que são uma comunhão, a única verdadeira comunhão que dá
um sentido à comunhão dos cristãos. Tomar a hóstia e o vinho não serve para nada se
não se aprendeu a comungar com o Criador duma maneira mais vasta, mais profunda,
através dos actos mais simples da vida diária: comer, beber, andar, respirar, olhar, ouvir,
dormir, amar, trabalhar.
Agora, se preferirdes ficar com as concepções pobres e limitadas da comunhão,
sois livres de o fazer. Mas um dia sereis obrigados a abandoná-las. Se não for hoje, será
mais tarde; mas a profecia de Jesus deve cumprir-se. Mesmo que não seja de mim que
aceiteis estas verdades, o Céu enviará outros seres que vos dirão a mesma coisa.
A questão não é pertencer a uma religião em vez de uma outra, observar tal
ritual em vez de outro: um ritual é somente uma forma, e uma forma não é útil se não
se é capaz de a animar, de lhe introduzir um conteúdo.
Na minha juventude, na Bulgária, tinha ouvido contar esta história. Em tempos
antigos um bispo viajava pelas estradas com a sua comitiva. Uma manhã muito cedo,
tomou uma barca para atravessar um lago; mas rapidamente, o tempo começou a
alterar-se, a tempestade desencadeou-se e arrojou-o na costa num local ermo.
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Enquanto com as suas gentes agradecia ao Céu por ter escapado dum grande perigo,
viu chegar um jovem que guardava cabras. Interrogou-o: "Que lugar é este ? E tu,
quem és?..." A resposta do jovem pastor, o som da sua voz, a pureza do seu rosto
impressionaram o bispo que lhe perguntou: "Tu rezas a Deus, meu rapaz ? - Sim. - E
que orações rezas ? - Não rezo nenhuma oração. - Mas tu dizes que rezas, como
fazes ?" O rapaz pegou então no seu cajado de pastor, colocou-o horizontalmente em
cima de duas pedras e pôs-se a saltar de um lado para o outro. O bispo e a comitiva
arregalavam os olhos de assombro, enquanto ele, todo contente por poder mostrar a
tão importantes personagens como rezava, saltava, saltava... Quando terminou, um
pouco esfalfado, uma tal luz estava espargida sobre o seu rosto que o bispo ficou um
momento pensativo. Depois disse-lhe: "Está bem, mas há uma oração melhor, queres
conhece-la? - Oh sim !" , respondeu o pastor feliz por aprender a rezar melhor a Deus.
"- Então põe-te de joelhos, junta as mãos e repete depois de mim: Pai nosso, que estais
no Céu... Santificado seja o vosso nome... " O rapaz repetiu várias vezes com grande
respeito e aplicação. Acalmada a tempestade, os passageiros prepararam-se para partir.
Antes de subir para a barca o bispo abençoou o rapaz recomendando-lhe que recitasse
bem todos os dias a oração que tinha aprendido. A barca estava já a uma boa distancia
da margem quando de súbito o bispo viu chegar andando sobre as águas, o jovem
pastor com o seu cajado que chamava: "Senhor bispo, Senhor bispo, há algumas
palavras da oração de que me não lembro ! Oh meu rapaz, gritou o bispo maravilhado
de espanto diante deste prodígio, isso não tem qualquer importância, reza como
quiseres, o Senhor sempre percebeu a tua oração !"
Esta anedota é verídica ?... Em todo o caso, mesmo que não o fosse, quem a
inventou tinha compreendido que o essencial não está na forma, na postura, nas
palavras, mas na intensidade da vida interior.
"Nem sobre a montanha, nem em Jerusalém"... porque a qualidade da oração
não depende do lugar em que vós vos encontrardes. A única coisa importante sois vós,
no vosso templo interior. Podeis ir rezar a Deus no mais belo santuário do mundo, se o
vosso próprio santuário não estiver purificado, Deus não ouvirá a vossa oração. Mas se
tiverdes purificado, iluminado o vosso santuário interior, onde quer que estejais, a
vossa oração elevar-se-á até ao trono de Deus.
E da mesma maneira que não tem que necessariamente haver lugar para isso,
não tem que necessariamente haver tempo para adorar a Deus em espírito e em
verdade. Porque é que cada religião tem um dia particular reservado ao culto ? Para
os muçulmanos é sexta-feira, para os judeus o sábado, para os cristãos o domingo...
Não há na realidade nenhuma diferença entre estes dias. Aos olhos de Deus, todos os
dias são igualmente sagrados, abençoados. Passar seis dias a esquecer Deus nas
preocupações e actividades materiais, prosaicas, e no sétimo enfim voltar os olhos para
Ele, não faz sentido. Em que estado chegais diante Dele quando vivestes seis dias não
importa como ? Acreditais que ele gosta desta hipocrisia ? O que viveis no sétimo dia
depende do modo como vós já vivestes os outros seis, não é preciso ter ilusões.
Portanto, na verdadeira religião do Cristo, "em espírito e em verdade" é em toda a
parte e todos os dias que o homem se sentirá no templo de Deus para O celebrar e para
O louvar.
Jesus não demoliu a religião de seus pais, ele aprofundou-a, alargou-a,
interiorizou-a. E eu, quero demolir o cristianismo ? Não, eu quero pensar como Jesus,
sentir como ele, agir como ele... E se ainda não chego aí, continuarei ao menos a
desejar e a trabalhar para isso !

XII - A imagem, simples suporte para a oração

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Existiram, no curso da história, religiosos que, sem dúvida, tinham meditado


tão bem nas palavras de Jesus "em espírito e em verdade" que quiseram fazer interditar
todas as estátuas, todas as imagens dos santos, o que deu origem a lutas sangrentas.
Porque, evidentemente, os outros que tinham estas imagens ripostavam
violentamente... Ora bem, também essa era uma atitude errada. Porquê querer suprimir
as imagens ? A questão não é ter imagens santas ou não as ter, a questão é saber como
considerá-las. Os Iniciados têm uma atitude muito sábia sobre este ponto: não precisam
de lugares de culto, de igrejas ou de templos, não têm necessidade de estátuas nem de
ícones, mas quando entram num santuário, seja qual for, inclinam-se diante das imagens
porque sabem que, por detrás destas práticas, se esconde toda uma ciência e uma
pedagogia. Uma imagem, uma estátua não é um fim em si, mas somente um
instrumento, um suporte para o pensamento, para a oração. E esta lei não é válida só
para as imagens santas, mas para tudo o que existe. Um exemplo vos fará compreender
o que eu vos quero explicar: o telefone. Sim, o telefone. Imaginai que uma pessoa que
não soubesse o que é o telefone vos via pegar no aparelho, levá-lo ao ouvido, marcar
os números com os dedos e depois vos ouvia exclamar: "Então seu imbecil, seu idiota,
porque é que fizeste isso ? Vais ver o que vais ver, vou dar-te uma bofetada !" Ou
então: "Bom dia, minha querida, como vais ! Como estou feliz por ouvir a tua voz !
Amo-te, tu sabes... dou-te um beijo." Esta pessoa diria para com os seus botões: "Mas
aquele está maluco, fala para um aparelho, injuria-o, diz-lhe palavras doces. É preciso
interná-lo." Vede, vós nunca reflectistes na lição que se pode tirar do telefone. Vós
servis-vos dele e mais nada. Ora, que é que há para compreender, precisamente ? Vós
servistes-vos do telefone para falar; não foi para ele que falastes, mas para alguém,
algures, por vezes mesmo muito longe, e esse alguém ouve e responde. Vós servis-vos
do telefone como meio de comunicação com outras pessoas.
Vós reconheceis que dissésseis para o vosso telefone: "Ó meu querido, beijo-
te, preciso de ti, fica comigo", seríeis completamente ridículos. Todavia, é o que, de
certo modo fazeis. Sim, noutras circunstâncias, é assim exactamente que agis: vós
agarrais-vos aos seres, aos objectos, sem ver que estão lá unicamente para vos por em
ligação com outros seres, outros objectos. E para voltar ao assunto da religião, eis aí
qual deve ser também a função das relíquias que tiveram um tão grande papel na
cristandade. Todas as relíquias podem ser preciosas, mas na condição de saber como
considerá-las; elas contêm muitas coisas, mas o ser que procurais não está lá. Uma
relíquia é só uma espécie de testemunho, um suporte para a vossa procura.
Não é mau agarrar-se aos objectos, e até é útil, mas não é preciso ficar-se lá. É
preciso pegar num objecto material como um ponto de partida e pela meditação entrar
num certo estado para entrar, através desse objecto, em ligação com seres distantes ou
desaparecidos. Por outro lado a magia, a magia natural como se diz, baseia-se no
princípio das relações que se estabelecem a partir de objectos do plano físico com os
seres ou as existências da vida espiritual. É nisso que ela difere da magia divina, a
teurgia, que só trabalha com nomes e números, e portanto com princípios. Não é
necessário ter um suporte material para entrar em contacto com entidades celestes, os
Iniciados nunca tiveram necessidade disso; mas antes de aí chegar, a maioria dos
humanos tem necessidade de passar por objectos tangíveis, concretos. Além disso, é
por esta razão que estamos na terra, sim, para tocar as coisas, saboreá-las; e depois,
para as respirar, as ouvir, as ver; e enfim, para as sentir e compreender. Com a sensação
e com a compreensão, entra-se no mundo espiritual.
Foi na Bulgária, era eu muito jovem, um dia, cheirei uma rosa - é verdade que
lá as rosas são certamente mais perfumadas! - e de repente, senti que deixei o meu
corpo, estava projectado num espaço no qual descobria um mundo novo de beleza e
luz... A partir desse momento, esforcei-me para repetir muitas vezes essa experiência. O
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perfume da rosa, da própria rosa, graças às quintessências de que está impregnada,


tinha-me posto em contacto com existências que desde então estão sempre comigo. Já
nessa altura as rosas me ensinaram muitas coisas e a seguir ensinaram-me ainda mais.
Sim, vede quantas pequenas coisas podem revelar-nos coisas maiores.
Que é uma rosa, ou até somente uma pétala ?... Para a maioria das pessoas é
qualquer coisa insignificante, mas para um Iniciado instruído na Cabala, é um meio de
se unir ao mundo de Vénus que pertence à séfira Netzach. Foi Vénus que criou a rosa.
Cada pétala de rosa está impregnada da quintessência de Vénus e através dela podeis
entrar em comunicação com os habitantes, as qualidades de Vénus. Esta pétala está
impregnada de todas as quintessências desta região: olhando-a, amando-a, comunicais-
lhe o vosso magnetismo, e ela própria também vos comunica qualquer coisa em troca:
ela liga-vos com os habitantes de Vénus, que são mais evoluídos do que os da terra. Se
tendes necessidade de amor, de ternura, de beleza, de perfume, podeis atraí-lo e graças
a esta pétala. É simples, é o princípio da magia, tanto da magia branca como da magia
negra. Uma pétala de rosa não é Vénus e não deveis prender-vos a ela, porque ela não
vos dará nada, mas vós pensais que somente através da pétala podeis tocar existências
superiores, e são elas que vos darão tudo através dela.
Do mesmo modo, a estatueta duma divindade não é a divindade, e se vós lhe
endereçais orações, não é ela, a estatueta, que vos vai ajudar, mas ela por-vos-á em
comunicação com a divindade, e aí vós tendes muitas possibilidades. A estatueta é um
ponto de partida, como a pétala da rosa. Estão aqui verdades elementares da Ciência
iniciática e as possibilidades, as aplicações que elas vos dão são infinitas. Isso depende
de vós. Mas em primeiro lugar é preciso compreender bem; as aplicações virão depois
umas atrás das outras. Aquele que pode abraçar esta filosofia um dia saboreará a vida
eterna.
As formas são úteis, e até necessárias, mas não é preciso fixar-se nelas, é
preciso procurar sempre o princípio que está por trás e ligar-se a este princípio para
alcançar todas as qualidades que ele representa. "Em espírito e em verdade" não
significa que não devemos apoiar-nos em nada material, nem seres, nem objectos, mas
que não devemos agarrar-nos a eles.
Além disso, viu-se, o facto de nos agarrarmos a formas materiais acabou por
conduzir a verdadeiras aberrações. Os vestígios, as relíquias tornaram-se tão
importantes que toda a gente quis tê-las. E então, o que é que não se fez na cristandade
com as relíquias dos santos ! Isso foi tudo um negócio no qual se lançaram pessoas
com interesses e cobiçosas. Porque era muito vantajoso: nos santuários onde havia
relíquias, a multidão vinha em peregrinação e os negócios corriam muito bem. Foi por
isso que alguns fabricaram relíquias de todos os objectos.
Conta-se até que um czar da Rússia tinha ouvido que um mosteiro, não se
sabia qual, tinha a cabeça de S. João Baptista. Por isso ele fez saber através de todo ao
país que desejava possuir essa relíquia para a sua capela. Qual não foi o seu espanto por
ver chegar, umas atrás de outras, uma dezena de cabeças cada uma das quais,
asseguravam-lhe, era mesmo a de João Baptista !...
E os pedaços da cruz de Jesus: desde há dois mil anos que não deixam de se
vender, é toda uma floresta que teve de ser deitada abaixo ! Então, pobres humanos,
abandonam o espírito que está vivo, para se agarrar a vestígios que estão mortos. Tudo
isto para a maior alegria de alguns astutos que encontraram maneira de ganhar dinheiro.
Diante do espectáculo que dão algumas cidades de peregrinação como Lourdes, na
verdade, nós interrogamo-nos...
E do mesmo modo, ide a Lisieux, vereis aí lojas e mais lojas... Quanto
comércio se faz com esta pobre pequena santa Teresa ! Sim, porque em vez de ensinar
aos cristãos onde se deve procurar verdadeiramente, prefere-se explorar a sua
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ingenuidade, a sua credulidade para fazer negócios. Eu gosto muito da pequena santa
Teresa, e é precisamente porque gostava dela que não fiquei contente por ir visitar a
catedral de Lisieux ou de ter a sua fotografia; fiz com que nos encontrássemos. Sim, ela
veio ver-me várias vezes e disse-me muitas coisas. Interpretai isto como quiserdes...
E então, quando alguém me deu um dia um cabelo de santa Teresa, com
certeza, não o rejeitei. Mas este cabelo foi mesmo seu ? Além disso, quantas perucas se
poderiam fazer com todos os cabelos de santos que assim foram distribuídos ! e o
Mestre Peter Deunov, também ele, os irmãos e irmãs da Bulgária, apanhavam os seus
cabelos quando por acaso os encontravam. Mas o que é que se acredita possuir ao
guardar os cabelos dum santo ou dum Iniciado ? É o seu exemplo, o seu ensinamento
que é preciso guardar, que é preciso seguir, e deixar os cabelos e tudo o resto
tranquilos.
Adorar Deus em espírito e em verdade... Esta concepção enunciada por Jesus
vai contra os interesses materiais de muitos, e é por isso que a deixam de lado. Mas
Jesus é nisso que trabalha, e um dia obriga-os a mudar, quer queiram ou não. Um dia, o
próprio Jesus virá sacudi-los dizendo: "Vós não procurastes o meu espírito, estivestes
adormecidos junto dos vestígios e agora estais, esclerosados, mortos." Sim, é ele que
virá sacudi-los a todos.

O que é extraordinário é que sob o pretexto de que possuem e veneram um


objecto que pertenceu a um santo, as pessoas pensam que são espiritualistas. De modo
nenhum ! Uma pessoa pode pretender ser espiritualista e comportar-se como o maior
materialista. Ser materialista ou espiritualista é um nível de consciência. Não se é
espiritualista porque nos interessamos pelo mundo invisível, nem se é materialista
porque nos interessamos pela matéria. É a maneira como se interessa pelo espírito ou
pela matéria que faz um espiritualista ou um materialista. A religião, tal como alguns a
praticam, na realidade não é senão materialismo. É por isso que em vez de criticar os
materialistas, muitos deviam antes de mais fazer uma reflexão sobre si próprios, para se
interrogar se, também eles não são materialistas, já que se agarram exclusivamente à
forma e perdem assim o conteúdo e o sentido. Quereis ser verdadeiramente um
espiritualista ? Caminhai para o espírito que vivifica e para a verdade que liberta.
Para que a imagem dum santo vos possa atender, não deveis dirigir-vos só a
ele, mas servir-vos dele como duma escada, se quiserdes, para ir até ao santo
propriamente dito, até ao Senhor. Cada ícone, cada templo, tudo é uma escada. Mesmo
uma foto dum Iniciado, dum grande Mestre, não é capaz de vos curar ou de vos salvar
se através dessa foto não fordes encontrar o seu espírito. Eis o verdadeiro ensinamento:
ele não destrui nada, ele constrói. E se um ser de grande espiritualidade vos dá um
objecto que ele abençoou, não deveis rejeitá-lo, é um talismã; mas não vos persuadais
de que este talismã por si próprio é todo poderoso. Não, através dele tentai subir mais
alto, mais longe, ligai-vos com a força cósmica que o impregna: nesse momento este
objecto agirá eficazmente em vós.
Os Iniciados não rejeitam o mundo material. Os Iniciados regozijam-se com
tudo, maravilham-se com tudo, servem-se de tudo, mas não se enganam, não
confundem os princípios e os meios. Sabem que o essencial se encontra no próprio
homem e que o mundo exterior deve ser posto ao serviço do mundo interior. Porque a
luz está em nós, a verdade está em nós, a paz está em nós, o Reino de Deus está em
nós: é em nós que devemos procurá-los. Todos os objectos que estão no exterior de
nós são como a crosta da realidade, a sombra da realidade. Em certas condições podem
ser úteis, eficazes, mas não são absolutamente reais, podem desfazer-se, podem
desaparecer, são imagens. E o que se agarra a eles não encontra o espírito mas sim a
matéria, não encontra a verdade mas sim ilusões.
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Seja em que domínio for, procurai nunca vos deixar parar na forma, senão as
vossas preocupações espirituais não serão satisfeitas e sereis infelizes. Enquanto
estiverdes habituados a ver as afinidades infinitas que existem entre cada forma e o
mundo divino, ireis muito longe. É preciso aprender a ler este livro que está diante de
nós.

XIII - O espírito não existe nos vestígios


Como não chegam a desligar-se da matéria, até no domínio religioso, os
humanos se concentram nos vestígios: visitam os lugares santos, fazem peregrinações,
veneram relíquias sem se dar conta que agarrando-se a elas assim como a recordações
materiais, nunca chegarão a alcançar os seres que deixaram essas recordações; em lugar
de encontrar o espírito, não encontrarão senão antiguidades e poeira.
O homem é feito com um corpo físico que é receptáculo material de vários
princípios psíquicos e espirituais, mas tomemos a divisão mais simples, a divisão em
dois: espírito e corpo, e digamos que o homem é um espírito que anima um corpo.
Quando morre só fica o corpo físico de que, dentro em pouco, não subsiste mais que o
esqueleto. O espírito partiu e se agora quiserdes ir procura-lo nos cemitérios, sereis
obrigados a dar conta que ele não está lá. Há muitas dessas ossadas para nos lembrar
que existiu um dia um ser em qualquer lugar, e muitas vezes, milhões de anos depois,
os arqueólogos reúnem estes restos para os por num museu com a etiqueta "homem de
Cro-Magnon, homem de Neanderthal..." Quanto ao espírito, que está sempre vivo, que
se move, que viaja, encontra-se algures, não se sabe onde.
É a mesma coisa para tudo o que existiu sobre a terra. O mundo está cheio de vestígios
que o espírito deixou há muito tempo. E como os humanos não podem seguir o
espírito, porque não têm faculdades suficientes para o perceber, para o compreender,
agarram-se aos vestígios. E vão ao Egipto junto às Pirâmides, vão à Grécia, a Delfos
ou a Eleusis, vão à Índia, visitam as grutas de Ajanta ou de Ellora... Ficam
maravilhados diante das arquitecturas, das estátuas ou dos frescos, e procuram
encontrar qualquer coisa do espírito que respirava ali, mas o espírito não mais está ali.
E os cristãos vão à Palestina, aos lugares onde Jesus nasceu, pregou e
fez milagres. Mas mesmo se ainda permanecem algumas pedras, o espírito de Jesus já lá
não está. Eu também fui a Israel, visitei aqueles lugares em que Jesus passou, e com
todo o meu coração, com toda a minha alma, eu transportei-me até essa época
longínqua, mas senti que não sobra quase nada sobre esta terra dos sinais luminosos e
sagrados da sua passagem. Desde há séculos, muitas pessoas passaram por lá
transportando as suas preocupações da vida normal, sentimentos e pensamentos que
não eram nem claros, nem puros. Direis que desde a Idade Média a cristandade se
preocupou em proteger os lugares santos. Sim, conduzindo guerras contra os "infiéis",
massacrando, pilhando. Eis os esquisitos métodos para conservar os sinais da passagem
de Jesus.
Se queremos conservar as impressões deixadas pelos seres espirituais, é preciso
respeitar os lugares em que se encontram. E é a razão de ser principal dos templos, dos
santuários. Lá, não se entra como entramos num bar ou num dancing. Mas não basta
ter externamente uma certa atitude, não gritar, rir ou gracejar... A atitude interior é
igualmente importante, os pensamentos, os sentimentos, porque são sobretudo eles que
deixam os sinais. Eu repito-o, muitas pessoas pisaram esta terra da Palestina que não
estavam inspirados pelas virtudes crísticas, e o espírito de Jesus deixou estes lugares.
Direis: "Mas então, quando se visitam os lugares santos, não se pode encontrar
nada dos acontecimentos que se produziram nesses lugares e seres que lá viveram ?"
Sim, com certeza, podem encontrar-se alguns sinais. Tomai o caso duma pessoa que
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Omraam Mikhaël Aïvanhov

nós fazemos procurar por um cão. Damos a respirar ao cão um lenço ou um objecto
que tivesse pertencido a esta pessoa e, farejando o seu rasto, o cão pode encontrá-la a
quilómetros dali. Isto prova que os seres humanos deixam sinais, mas os sinais, isto
ainda não é o espírito.
Por todo o lado há pistas. Nos lugares em que rezaram, nos templos em que
eles viveram e fizeram cerimónias, os Iniciados deixaram marcas no lado etérico da
matéria. Alguns clarividentes muito evoluídos são capazes de os encontrar e
interpretar, reconstituindo assim a vida tal como ela se desenrolava nos santuários. Mas
mesmo os sinais encontrados desta maneira não são senão aparências, envoltórios, as
vestes do espírito, exactamente como o corpo físico é a veste da nossa alma e do nosso
espírito. Não é portanto muito certo que se encontrará o espírito indo procurá-lo lá
onde ele respirou um dia.
Jesus e todos os Iniciados do passado, onde estão neste momento ? Procuram-
nos entre os escombros dos lugares em que viveram, mas eles não estão lá. Pode
acontecer que, encontrando-vos num estado de receptividade particular, o contacto se
faça imediatamente com o espírito dos lugares e que tenhais revelações. Mas isto são
fenómenos muito raros. Se quereis encontrar os sinais da passagem de Jesus na terra e
entrar em contacto com o seu espírito tal como se manifestou há dois mil anos, deveis
elevar-vos até às regiões do espaço que a Ciência iniciática chama "Akasha chronica" e
onde estão conservados todos os arquivos do universo. É lá que, pela meditação, pela
contemplação, tendes que procurar penetrar; e se fordes bem sucedidos nisso, vós
compreendereis então o que significam as palavras "em espírito e em verdade".
Todos os que se interessam pelas civilizações e pelas religiões do passado vão
para o terreno fazer escavações e tentam interpretar a mais pequena ruína, o mais
pequeno caco de cerâmica, o menor trapo de tecido ou de papiro. E certamente contam
muita coisa interessante, mas o essencial escapa-lhes. Para encontrar o espírito destas
civilizações, destas religiões, é preciso poder elevar-se até aos arquivos cósmicos, a
Akasha chronica.
Acontece que um Iniciado se debruça sobre vestígios, porque um Iniciado nada
negligencia, nada desdenha, mas sabe que são só sinais, e não o próprio espírito. Farei
ainda uma comparação. Vós lestes as aventuras do detective Sherlock Holmes... um
pouco das cinzas dum cigarro, um botão, lama num tapete e, pouco a pouco, ele chega
até ao criminoso. Ele não fica eternamente ao lado das pistas dizendo: "O assassino
isto... o ladrão aquilo..." não, ele desloca-se para ir procurar. Porque é isso o essencial:
deslocar-se. E eis que os cristãos ficam nos vestígios. É para ser fiéis às prescrições,
dizem eles. Não, é porque são preguiçosos.
"Então, direis vós, e agora, como poderemos encontrar o espírito de todos os
Iniciados da Índia, do Egipto, da Caldeia, de Israel, da Grécia ?" Eles não estão
mortos, voltaram para lá donde vieram, voltaram para a sua pátria: o sol. Sim, todos
estes espíritos luminosos que vieram iluminar o mundo voltaram a viver no sol donde
vieram, e lá de cima, continuam a ajudar-nos. É através dos raios do sol que
comunicam connosco, nos sorriem, nos tocam, nos purificam, nos vivificam; os raios
são como braços, mãos, mas o espírito fica lá em cima. E se aprenderdes a dirigir-vos a
partir destas pistas que são os raios de sol, chegareis até eles.
Só o espírito vivifica. Quanto aos vestígios, podemos compará-los às caixas de
conservas. Quereis comer ervilhas ou sardinhas ou cerejas, e eis ali, abre-se uma caixa.
Isto não é mau, mas não há em tudo isto a mesma vida como se as pequenas ervilhas ,
as sardinhas ou as cerejas fossem frescas. Então deixai as conservas e ide ao restaurante
que vos dará sempre a comida mais fresca: este restaurante é o sol. A partir do dia em
que decidirdes frequentá-lo, ireis reforçar-vos, iluminar-vos.

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Omraam Mikhaël Aïvanhov

Mas quando vos falo do sol, compreendei-nos bem: eu não vos disse que não
há nada de superior ao sol. O sol também é um vestígio, o sol físico. Só o espírito do
sol é verdadeiramente espírito; e além disso, não está sempre no sol, é livre, desloca-se
pelo universo. Não acreditais em mim ? E todavia é verdade, o espírito do sol não está
sempre no sol, ele vai, ele vem, ele viaja através do espaço infinito, ele está por todo o
lado... Será que começais a compreender a que região eu vos conduzo ? Direis: " Mas
é de tal modo longe, é de tal modo alto que se têm vertigens." Tanto melhor, a vertigem
significa que planamos por de cima do abismo!...
Mas voltemos a descer um pouco e digamos ainda algumas palavras sobre as
conservas. Não é proibido comer conservas e além disso por vezes é-se obrigado a
come-las, senão seria muito complicado alimentar-se. Pequenas ervilhas, sardinhas,
também já as comi, isso nunca fez mal a ninguém. Mas quando eu digo que não é
preciso comer conservas, eu falo da alimentação espiritual. Para a alimentação
espiritual, eu nunca como conservas, isto, eu digo-vo-lo francamente. Todas estas
velhas elucubrações saídas dos cérebros de humanos ignorantes, eu não os aceito, faço
uma triagem. Eu deixo os outros regalarem-se com as conservas se quiserem, mas eu
não como nada de tudo isto. Agora não ide contar em toda a parte: "O Mestre disse
que nunca é preciso comer conservas". É muito mais fácil contar histórias a respeito de
caixas de conservas do que fazer um esforço para compreender que falo antes de tudo
para o plano espiritual !
Portanto, continuai a ir visitar os lugares em que os santos e os Iniciados
viveram, mas guardando bem no pensamento que estes lugares devem servir-vos
sobretudo como uma incitação a encontrar o único verdadeiro lugar sagrado que está
em vós. Se não encontrardes este lugar dentro de vós mesmos, será em vão que
visitareis todos os lugares santos da terra, não sentireis nada, não encontrareis nada,
ficareis sempre também pobre, vazio e insatisfeito. Trabalhai portanto para criar dentro
de vós certas condições e então, onde quer que estejais, sentir-vos-eis em comunhão
com todos os grandes espíritos que vieram encarnar na terra, alimentar-vos-eis da sua
sabedoria, do seu amor.
Vereis, volta-se sempre à preeminência do lado subjectivo sobre o lado
objectivo. O que procura a verdade ou a felicidade fora de si, encontrará sempre um
pouco de qualquer coisa, certamente, um reflexo, uma pista, mas depressa se sentirá
insatisfeito, no vazio. É preciso procurar dentro de si.

XIV - Não se encontram os seres senão pelo espírito


Como interpretar ainda com mais amplitude estas palavras de Jesus: “em espírito
e em verdade” ? Tomemos a experiência que vós já vivestes, fatalmente, uma vez
qualquer. Um parente, um amigo de quem gostastes muito, morreu; deixou-vos
recordações, coisas, cartas, fotografias, talvez até fatos ou móveis. Olhais para estes
objectos, tocais-lhes, pondes-lhe flores, acendeis uma vela ao pé do seu retrato. Com
certeza, é normal, mas ao fazer isto o que pensais encontrar realmente ? Em qualquer
caso, nunca o espírito deste ser. Enquanto ficais aí, a andar à volta de certos objectos,
não se trata de espírito, mas de matéria. E se ides recolher-vos junto à sua campa, isso
também é normal, mas sabeis que não está lá, está algures. O seu corpo está lá, mas ele
mesmo, o seu espírito, viaja, e se gostais verdadeiramente dele e o quereis encontrar, em
lugar de chorar e rezar na sua campa, é preferível ir procurá-lo directamente onde ele
está. Ele não está na campa, mas ao quererdes que ele lá esteja, retende-lo, limitai-lo,
martirizai-lo. Se quereis verdadeiramente encontrar um ser querido, esforçai-vos por ir
procurá-lo lá onde ele está, quer dizer, no espírito; senão ficareis na matéria e na ilusão.

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Omraam Mikhaël Aïvanhov

Alguém dirá: “Oh, mas para eu encontrar o espírito dos mortos, vou a reuniões
espíritas”. Então, credes que basta que alguém pergunte: “Espírito, estás aí ?” para que
encontreis realmente aquele que procurais ? Nada é menos provável. Muitas vezes, as
entidades que respondem às perguntas dos médiuns são larvas do plano astral,
elementais que sabem muito bem como enganar os humanos. E o ser que procurais,
sabe Deus onde ele está !
Com certeza, se quiserdes alimentar ilusões, sois livres de o fazer. Mas a
respeito das sessões espíritas, as mensagens mediúnicas, é preciso saber o seguinte: que
a qualidade das mensagens, a sua veracidade dependem do vosso grau de evolução
assim como do grau de evolução do médium. São os humanos que, pela qualidade da
sua vida interior, atraem tal ou tal entidade. No mundo invisível passa-se como no
mundo visível: encontram-se lá criaturas extremamente evoluídas, entidades luminosas,
puras e verídicas, e outras que, pelo contrário, são levadas a enganar os humanos, a rir-
se deles e a fazer-lhes mal. Infelizmente, são muitas vezes estes últimos que se
apresentam nas sessões de espiritismo ou de mesas girantes, por exemplo. Como podeis
imaginar que as mais altas entidades vão responder à chamada do primeiro que se
pretende médium, ou vão desconsertar-se para satisfazer a vossa curiosidade e as vossas
cobiças ?
Os verdadeiros iniciados dir-vos-ão: muitas vezes, mesmo muitas vezes, até nos
fenómenos de aparições, de materializações aos quais se assiste nas sessões espíritas,
não são produzidos por espíritos de luz, mas pelas sombras, por aparências, por larvas,
por elementais que se divertem a enganar os humanos. Portanto, as mensagens
transmitidas em semelhantes sessões são muitas vezes erradas ou até decididamente
enganadoras.
Os humanos vão aventurar-se no mundo invisível sem saber realmente o que ele
é, nem por que criaturas é povoado. Os que são capazes de mergulhar os seus olhares
neste mundo são muito pouco numerosas, há muito poucos clarividentes verdadeiros, e
aquele que quer entrar em relação com os espíritos deve saber que corre o risco de ser
enganado. Pode receber respostas exactas, mas ainda nesse caso, acontece que se isso
bate certo é unicamente o efeito do acaso.
Muitos de vós pergunta-se: “Mas porque é que o Céu permite às forças
invisíveis enganar os humanos ?” Oh, vós sabeis, o Céu permite muitas coisas. Tudo é
permitido nos pântanos e nos oceanos, as criaturas são livres de se devorar umas às
outras… desde que deixamos o Paraíso para descer às regiões obscuras da matéria,
invadidos de poeiras e nevoeiros, não podemos aperceber-nos claramente da realidade
do mundo invisível. É por isso que nos deixamos enganar e extraviar. Felizmente,
existem espíritos que aceitam ajudar-nos. Tudo depende de nós: são os nossos esforços
para nos elevarmos e nos aproximar das entidades celestes que nos permitirão ver a
verdadeira realidade. É por isso que o que quer entrar em contacto pessoalmente ou por
intermédio de um médium com os espíritos do mundo invisível deve desenvolver o seu
discernimento a fim de conhecer a natureza dos espíritos (ou aqueles a que chamamos
“espíritos”) que se manifestam, e não crer cegamente em tudo. Em todas as mensagens,
o verdadeiro e o falso podem estar misturados, é preciso ser capaz de fazer a selecção.
Agora, sabei também que se certas predições se não realizam, isso não significa
sempre que o médium se tenha enganado, mas que vós próprios vos opusestes àquelas
realizações. Porque os humanos tem o seu papel a desempenhar no desenrolar dos
acontecimentos. Na medida em que são livres, depende deles que certas coisas se
produzam ou não. Existem portanto no mundo invisível factos prestes a realizar-se de
que certos médiuns ou até vós próprios podeis aperceber-vos. Mas eis que estes factos
são substituídos por outros que vós formastes, e os acontecimentos que se produzem
são diferentes do que tinha sido previsto. É assim que certas predições feitas por
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grandes clarividentes podem não se realizar: a vontade dos humanos opôs-se a isso. Só
os factos essenciais não podem ser alterados.
As verdadeiras mensagens, predições ou profecias são como que impressões na
alma do mundo e podem ser transmitidas ou reflectidas pelas aves, os animais, ou até os
humanos, sem eles o saberem. Mas há toda uma aprendizagem a fazer para chegar a
decifrá-las. Não é porque possa haver nelas erros que é preciso rejeitar. Vós deveis
somente estudar procurando as confirmações destas mensagens ou os desmentidos por
toda a parte na natureza, e sobretudo em vós mesmos; assim, pouco a pouco, chegareis
a ver isso claro. Mas enquanto esperais trabalhai no vosso aperfeiçoamento interior.
Para poder encontrar o caminho neste labirinto que é a vida, é preciso conhecer
algumas regras que nos dão os grandes Mestres. Infelizmente, temos tendência para
procurar caminhos mais fáceis, mais adaptados aos nossos desejos e é assim que nós nos
perdemos, porque logo que nós nos deixamos ir a transgredir leis, tudo na natureza
contribui para nos induzir em erro. Mas se nós estamos em harmonia com as leis
divinas, se agirmos e vivermos segundo o Princípio supremo, tudo na natureza nos
ajuda, nos guia, nos sustenta e nos ilumina.
Por isso reflecti bem antes de querer fazer vir o espírito dum morto numa
reunião espírita. Se quereis realmente encontrá-lo, há métodos mais seguros e menos
perigosos. Se esse espírito possuía grandes qualidades espirituais, está agora num lugar
de paz, de luz, de beleza, e para o encontrar, o único meio infalível é fazer um esforço
para cultivar as mesmas qualidades que sentíeis nele quando estava vivo.
Evidentemente, é mais difícil do que pedir a um médium para evocar o seu espírito ou ir
ao cemitério e olhar uma foto alimentando na vossa cabeça toda a espécie de
fantasmagorias. Mas se vós quereis verdadeiramente reencontrar este ser, não tendes
outra solução, este reencontro não se pode fazer senão através da lei da afinidade.
Desenvolvendo as mesmas qualidades que ele tinha, encontrareis o seu espírito.
Eis como se pode ainda interpretar as palavras de Jesus “em espírito e em
verdade”. Esta expressão não diz respeito somente à vida mística, tem aplicação em
todos os domínios da existência. Acrescentarei mesmo que não é preciso esperar que os
seres que amamos estejam mortos para encontrar o seu espírito. É preciso começar
enquanto estão vivos - sim, e até sobretudo quando estão vivos. Porque é que, na maior
parte das vezes, as histórias de amor acabam mal, em decepções e em arrependimentos ?
Então, mesmo que ponham o amor acima de tudo, que esperem encontrar o grande
amor e viver até à eternidade, porque é que os homens e mulheres tem tantas
dificuldades em conservá-lo durante alguns anos ou até alguns meses ? Porque
precisamente, também nisso não compreenderam o que significa “em espírito e em
verdade”. Quando descobrem que amam um homem, uma mulher, fixam-se nele ou nela.
Não sabem que o que os faz amar uma criatura, é que ela é como um canal por onde
passam a beleza, o encanto, as qualidades do outro mundo. Então se se concentram
sobre esta criatura, esperam tudo dela. E está aí o erro, a origem das suas desilusões e
dos seus desgostos. Nisso também, fazem como o que, em vez de considerar o telefone
como um meio de comunicação o toma como o seu interlocutor, ou como o que
acredita que a divindade está na estatueta.
Pois bem, isto espanta-vos ? O homem, a mulher tem que aprender a considerar-
se como um ponto de partida para ir procurar o amor à nascente. Não é senão desta
forma que jamais ficarão decepcionados, porque na nascente - a água - o amor - é
sempre límpido, puro, vivificante. Senão… senão não tendes necessidade que eu vos
explique todas as desilusões e os sofrimentos engendrados pelo amor: será que não os
conheceis já, será que não os experimentastes já ?
As insatisfações e os tormentos do amor ocorrem sempre porque os humanos
não compreenderam o que se passa na realidade quando se amam. Têm necessidade
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dum ensinamento iniciático que lhes mostre como ver através de cada ser o princípio
que o anima: assim, através de todas as mulheres sobre a terra um homem aprenderá a
ver o eterno princípio feminino, a Mãe Divina. E como a Mãe Divina é de tal maneira
rica de cores, de perfumes, de formas, de movimentos, no seu coração e na sua alma ele
nunca esgotará estas riquezas. Inversamente, a mulher também tem que aprender a ver
em cada homem as possibilidades de entrar em relação com o eterno princípio
masculino, o Pai Celeste, e é assim que ela comunicará com a sua sabedoria, o seu
poder, a sua grandeza.
Se os humanos não encontrarem nada para além da mulher e do homem que
amam, não experimentarão senão decepções. Uma mulher não pode dar tudo a um
homem, nem um homem pode dar tudo a uma mulher. O homem deve dizer à mulher:
“Minha bem amada, é preciso que saibas que não sou eu que te poderei fazer feliz.
Ainda que eu te dê tudo o que possuo, o teu coração é tão grande que o universo
inteiro não o poderia encher, e a tua inteligência tem necessidade duma luz que eu não
tenho. Só Deus pode dar-te tudo. Então se tu só queres servir-te de mim como um
meio para ir até Deus, ficarei muito feliz. Ficarei ao pé de ti, mas é a Deus que tu
procurarás através de mim.” É assim que os homens e as mulheres deveriam conversar
em vez de se enganarem sempre uns aos outros. Mas para isso seria necessária uma
nova educação.
Mesmo que vós não o possais viver ainda, sabei que existem formas superiores
de amor para as quais vós deveis tender se quereis verdadeiramente ser felizes com o
vosso amor. Nessa altura o amor não vos deixará mais, ficará no vosso coração, tornar-
se-á em vós um estado de consciência que nada poderá turvar. E viver o amor como um
estado de consciência, é sentir em si um calor constante, uma luz que nunca mais se
extingue. Enquanto o outro amor é como um fogo de palha que não deixa depois dele
senão cinzas, frio e trevas.
Quando compreenderdes toda a dimensão desta fórmula: “em espírito e em
verdade”, ireis procurar à nascente este amor que procurais agora em vão no corpo dos
homens e das mulheres, e por fim encontrareis a verdadeira felicidade. Reparai, é
grande, é vasta a frase “em espírito e em verdade”…

XV - O sol, quintessência de qualquer verdadeira religião


Em todos os países a que fui, visitei igrejas, templos, basílicas, sinagogas,
mesquitas, pagodes… Sim, por toda a parte, porque não menosprezo estes edifícios;
pelo contrário, rezei em todos estes lugares sagrados.
Mas a questão que se põe é a seguinte: qual é o templo construído pelos
humanos que pode comparar-se com o grande templo que Deus criou: o universo ?
Pode existir um lugar mais sagrado do que um lugar criado pelo próprio Deus ? Como
imaginar que um edifício construído com materiais que se podem reduzir facilmente a
pó pode ultrapassar a obra de Deus que ninguém jamais poderá destruir ? Porque
limitarmo-nos sempre ?… Respeitemos os templos, vamos rezar aos templos, mas
compreendamos que também se pode adorar a Deus no seu templo: a natureza, e
sobretudo na paz e limpidez da manhã. Nesse templo, o sol que se levanta é a hóstia que
distribui bênçãos a todas as criaturas: a luz, o calor e a vida.
É magnífico: onde quer estejais sobre a terra o sol brilha por cima da vossa
cabeça. Não tendes necessidade de viajar ou ir em peregrinação para o encontrar. A sua
luz, o seu calor e a sua vida valem todos os talismãs, todas as relíquias, e como ele é
inesgotável, ninguém poderá enganar-vos como se faz com os pedaços da cruz de Jesus
ou os cabelos de tal ou tal santo.

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Tudo o que aparece na terra acaba por desaparecer. Só fica acima de nós o sol,
imutável, eterno, e é para ele que devemos voltar o nosso olhar. Porque quando se
procura a verdade, e preciso dirigir-se ao que não passa, ao que não muda. Mas
relativamente ao sol, negligencia-se ou então exagera-se o seu papel: pensa-se que não
tem nada a ver com a religião, ou então considera-se como uma divindade. Mas não,
nos dois casos comete-se um erro. Ao não dar qualquer lugar ao sol na sua vida interior,
os humanos privam-se dum elemento essencial. Mas fixar-se no sol como se ele fosse
um ídolo, é voltar à mentalidade dos primitivos que adoravam as forças da natureza. O
sol deve ser somente um meio que nos permite encontrar Deus, o nosso sol interior. Ao
contemplá-lo, ao expormo-nos aos seus raios, identificando-nos com ele, cada dia
aumentaremos em nós a luz, o calor e a vida.
E está aí a diferença principal entre o nosso Ensinamento e a maior parte dos
cultos solares que existiram na história da humanidade e que existem ainda nalguns
lugares sobre a terra. Muitos, que não querem reflectir e que, porque se aborrecem,
acham muito interessante ridicularizar-nos, chamam-nos “os adoradores do sol”. Que
pensem e que digam o que quiserem, é problema deles. Para os que desejam
compreender, direi que nós não adoramos o sol, nós só adoramos Deus; mas se nós
aprofundamos a imagem do sol enquanto símbolo, somos obrigados a reconhecer que
ele é para os humanos a melhor imagem de Deus. Eis a nossa convicção absoluta.
Mesmo o sol, é preciso aprender a encontrá-lo interiormente. Porque vós podeis
olhá-lo durante anos imaginando toda a espécie de coisas a seu respeito, enquanto não
sentirdes que ele vibra, que irradia, que palpita em vós… ele continuará estranho para
vós, ele não vos dirigirá a palavra, não vos servirá mesmo de nada ir vê-lo. Ficareis um
pouco aquecidos, um pouco vivificados, recebereis algumas “vitaminas”, mas não
descobrireis o essencial. O essencial é precisamente encontrar o sol interior que é o sinal
de que a Divindade habita em vós. Nesse momento não mais tendes necessidade de
livros, nem de imagens, nem de templos, nem de estátuas, nem de cruz, nem mesmo do
sol e das estrelas: é em vós, no vosso sol interior, que ides buscar tudo aquilo de que
tendes necessidade.
Neste sentido, digo muitas vezes que a única verdadeira religião é a religião
solar. Não digo que as outras religiões estão erradas ou são más. Não, mas não são
verídicas senão na medida em que se aproximam da religião solar. Quantas religiões
existem no mundo das quais não sabemos quase nada ! Quantas desapareceram e
quantas ainda desaparecerão ! Até a religião cristã pode desaparecer. Mas renascerá
sob uma outra forma do mesmo modo que se inspirará na religião do sol. Porque a
religião trazida por Jesus era uma religião solar, eis o que os cristãos não
compreenderam. Quando ele diz, por exemplo: “Sede perfeitos como o vosso Pai
celeste é perfeito”, como se pode ter uma ideia da perfeição se não se toma como
modelo o sol ?
Para vos tornardes verdadeiramente perfeitos, não deveis tomar como modelo
mais ninguém senão o sol, nem mesmo os santos, nem mesmo os Iniciados. Estes dar-
vos-ão com certeza o exemplo de grandes virtudes, mas eles sabem que ao pé do sol
eles não são nada. É por isso que eles se manifestam com humildade, e se inclinam
diante do sol. Sabem que, o que quer que façam, a sua luz, o seu calor e a sua vida, não
podem comparar-se à luz, ao calor e à vida do sol.
Então, direis vós, como compreender que Jesus tenha dito: “Eu sou a luz do
mundo”? Porque quando pronunciou estas palavras, Jesus identificava-se com o Cristo.
O Cristo é um espírito cósmico que ilumina não somente a terra mas todo o universo e
todas as entidades que o povoam. O Cristo é o verdadeiro sol cósmico, é ele que é o
espírito do sol. Neste sentido pode dizer-se que o sol físico que nós vemos representa
para nós o sinal graças ao qual nós podemos encontrar o Cristo, o sol cósmico. É
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preciso portanto ir procurar o espírito do sol e não, como os astrónomos, ficar pela
“carcaça” física do sol.
É por isso que todos os anos no regresso da primavera vos preparais para
contemplar o sol, sabendo que ele é o único capaz de por em vós a harmonia e a ordem,
e de vos dar luz, amor, paz e alegria. Que privilégio poder contemplar todas as manhãs
o nascer do sol ! Não existe nada mais belo. É a fonte que brota, que vibra, que corre,
não podemos separar-nos dela. E principalmente quando se chega muito cedo antes do
nascer do sol e se vêem os primeiros alvores, a aurora que desponta, é-se invadido por
um sentimento sagrado. É como se toda a natureza estivesse ali para celebrar um
mistério. É-se obrigado a caminhar de maneira diferente para não perturbar a atmosfera,
e isto é também verdadeira poesia. Devemos rezar para que todos um dia possam sentir
esta vida abundante e embeber-se nela.
O nascer do sol é um símbolo e este símbolo pode encontrar-se em todas as
manifestações da vida. Tudo o que progride, que se eleva, o que se desenvolve, está
ligado ao nascer do sol. Conforme a vossa atitude, tornar-se-á para vós uma presença
real, viva, poderosa, ou então ficará somente um objecto físico, que vos ilumina, vos
aquece, certamente, mas nada mais que uma lâmpada eléctrica ou um fogão de sala.
Sim, à medida que o discípulo se aproxima desta verdade que o sol representa, o
sol fala-lhe e torna-se verdadeiramente seu amigo, um amigo com o qual pode contar e
apoiar-se, porque ele possui a verdadeira força. É por isso que é tão importante que
assistais todos os dias ao nascer do sol e que aprendais a olhá-lo com novos olhos.
Dizei-lhe: “Ó querido sol, eu ainda te não conheço. Eu via, com certeza, que tu eras
belo, que tu eras puro e que tu nos distribuis todos os dias a luz e o calor, mas não tinha
ainda compreendido a lição que tu nos dás. Agora compreendo que tu me mostras o
caminho da verdade, da perfeição, da plenitude. Eu quero tornar-me como tu.”
Seguramente, nunca vos tornareis como o sol, é impossível, mas não faz mal, ponde a
sua imagem na vossa cabeça como um ideal, porque, precisamente, é o que é impossível
que age, que reforça e transforma o homem.
Não é o que tendes, não é o que possuís, não é aquilo a que chegastes o que
pode fazer-vos evoluir. Procurai o que é impossível, o que é irrealizável. Nada mais há
senão isso que possa incitar-vos a progredir, a ir sempre em frente.

XVI - A verdade do sol: dar


“Tudo o que está em baixo é como o que está em cima, e tudo o que está em
cima é como o que está em baixo”, disse Hermes Trimegisto na “Mesa d’Esmeralda”.
Portanto, também na terra, tem que existir uma expressão visível, tangível deste mundo
inacessível da verdade. Esta expressão é o sol; porque a verdade, como o sol, é o que
nos permite ver as coisas claramente. É por isso que entre as cinco virtudes: amor,
sabedoria, verdade, bondade, justiça, a verdade está ligada aos olhos. Dizeis que
procurais a verdade e não vedes que ela está ali, representada diante de vós pelo sol ?
… Por isso vós continuais a procurá-la, e durante esse tempo o sol continua a brilhar.
Vós não vos apercebeis que ele vos diz: “Olhai para mim, procurai conhecer-me, virei
instalar-me em ti e terás a verdade” .
O sol dá a luz e o calor que são condições para haver vida. Então, como o sol,
o que quer encontrar a verdade tem que aprender a dar. Mas dar, não é fazer esmola de
algumas moedas, de algumas côdeas de pão, ou de roupas usadas. Em tudo o que se
faz pode haver uma ocasião para dar, quer dizer, de se mostrar mais aberto na sua
compreensão, mais desinteressado na sua relação com os outros, esforçando-se por
amar mais do que ser amado. Todos os que querem servir encontrarão a verdade; todos
os que querem ser servidos não a encontrarão.
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...(*.*)... Hi hiii hiiiii hiiiiiii .......
Omraam Mikhaël Aïvanhov

Lembro-me que há muitos anos, no decurso duma reunião, o Mestre Peter


Deunov, na Bulgária, nos tinha perguntado: “Qual é a diferença entre o velho
ensinamento e o novo ensinamento ?” Alguns experimentaram responder, mas não era
isso. Por fim, o Mestre disse: “O velho ensinamento ensina-nos como tomar, e o novo
ensinamento ensina-nos como dar.” Aí está, era curto, era claro. Ainda que falte, com
certeza, juntar muitas explicações para compreender o que tomar e dar significam em
todos os domínios da existência.
A bondade, a generosidade, o perdão, a abnegação, todas estas qualidades estão
contidas na palavra “dar”. O egoísmo, a cólera, a violência, o ciúme, a grosseria, a falta
de consciência são defeitos contidos na palavra “tomar”. Observai bem e constatareis
que o que está na verdade se distingue dos outros por todas as espécies de qualidades,
mas sobretudo pela sua bondade, nobreza e desinteresse. É por isso que, quando vejo
que alguém pretende possuir a verdade enquanto está rancoroso, intratável, vingativo,
etc., tenho vontade de lhe dizer: “Vai-te deitar, meu velho, se isso é a verdade, não vale
a pena o menor esforço para se aproximar dela.” Mas os humanos raramente utilizam
estes critérios. Vem energúmenos pregar o ódio e a violência em nome da verdade, e
estão preparados não somente para os seguir mas também para os imitar.
Nunca acrediteis naquele que pretende ter a verdade se não vos mostrar o
diploma. Direis: “Mas para isso também há diplomas ?” Sim, com a diferença que o
diploma daquele que tem a verdade não é um pedaço de papel: esse diploma está
impresso nele, é um diploma vivo que os Iniciados e até os espíritos da natureza podem
ler de longe, porque ele brilha, emite raios de luz. Quando se encontra um tal ser, tem-
se a sensação de se ser iluminado, aquecido, como se assistíssemos ao nascer do sol.
Infelizmente, esta faculdade de dar não está muito desenvolvida entre os
humanos. Não sabem dar, ou ainda quando dão, é para mais facilmente poder tomar.
Aliás, eles dizem-vos isso. Para ter é preciso tomar. Pois bem, isso não é tão seguro, e
os Iniciados, eles dizem-vos que para ter é preciso dar. Claro que isto precisa uma
explicação. É verdade que não se pode dar se não se tiver qualquer coisa de seu, e nada
podemos dar se nada tivermos recebido. Mas a questão é saber de onde e de quem se
recebe. A maior parte dos humanos vai buscar a casa dos outros humanos, e é assim
que eles lhes tomam, pouco a pouco, o que eles têm: o dinheiro, os haveres, as forças,
as ideias, os sentimentos… Pode mesmo dizer-se que os maiores ladrões que existem
são os apaixonados. E como por toda a parte, na poesia, nos romances, no teatro e no
cinema, não há senão histórias de amor, não há, portanto, senão histórias de ladrões: é
a história de quem consegue roubar o coração do outro.
No plano psíquico, como no plano físico, só se vêem roubos. As pessoas que só
se preocupam em dar são muito raras. E não somente são raras, elas rapidamente se dão
conta de que aquele que é idealista, aberto aos outros, sempre preparado para os
acolher e ajudar, encontra oposições e dissabores, e elas recuam dizendo a si mesmo
que não vale a pena: se os esforços têm que lhes trazer tais aborrecimentos, para quê
continuar ? Pois bem, pelo contrário, isso vale a pena.
É preciso nunca esquecer que não é porque tendes um ideal sublime que o
mundo inteiro reconhecerá os vossos esforços e o vosso trabalho. Fora de vós tendes
que enfrentar sem cessar toda a espécie de situações desagradáveis, mas interiormente
vivereis alegres. Oh sim, durante muito tempo sentireis uma grande diferença entre o
mundo interior e o mundo exterior, porque não somente haverá pessoas para vos
combater, mas haverá outras que, vendo ali “uma pêra doce” que para seguir o exemplo
do sol decidiu desenvolver as virtudes da generosidade, da abnegação e da paciência, se
precipitarão para se aproveitar disso sem escrúpulos. Eles vão procurar tomar-vos tudo
o que possam, e de seguida ir-se-ão sem um único sinal de agradecimento. Mas isso não
faz mal, perseverai a fim de conservar as bênçãos que vos dá o vosso alto ideal.
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...(*.*)... Hi hiii hiiiii hiiiiiii .......
Omraam Mikhaël Aïvanhov

É verdade, por vezes achais que estais numa situação bizarra: a alegria, a paz e a
harmonia estão dentro de vós, e no exterior, só encontrais contrariedades,
afrontamentos. Sim, naquele momento é assim, mas no estado actual da humanidade é
difícil que seja de outra maneira. Mas é um fenómeno passageiro, não há nisso nada de
definitivo. A lei, tal como a Inteligência cósmica a estabeleceu, é absoluta: vós
recebereis um dia o que corresponde aos vossos pensamentos, aos vossos sentimentos,
aos vossos desejos e aos vossos actos. Sim a correspondência é absoluta. E ao esperar,
mesmo que tenhais de sofrer ataques do mundo exterior, tendes ao menos a alegria
dentro de vós.
Não encontrareis a verdade senão quando conseguirdes perceber todos os
segredos da palavra dar. Vêem-se muitas pessoas que estão orgulhosas de tudo o que
conseguiram alcançar com êxito e fazem gala disso à vista do mundo. Mas
interiormente todos estes roubos se transformam em fumo. Sim, quer sejam pessoas ou
países, todos os que enriqueceram às custas dos outros, não aproveitam disso
realmente, e chega sempre o momento em que, mesmo no plano material, o que eles
tomaram, devem deixa-lo bocado a bocado.
Um Iniciado tem como principal preocupação: dar. Quando vos saúda, quando
vos olha, vos sorri, vos aperta a mão ou vos fala, ele não deixa de vos dar qualquer
coisa de bom, de luminoso. E ao fazer isso, ele desabrocha, cresce, avança, e eleva-se
cada vez mais, porque obedece à lei do amor, e porque a verdadeira lei do amor é dar e
não tomar. Mas ao mesmo tempo que dá, ele recebe, porque a luz do sol desce até ele
como uma ribeira límpida.
A letra hebraica Aleph  é um dos melhores símbolos desta atitude interior que
o homem deve encontrar para regular correctamente esta questão de receber e de dar.
Aleph representa o homem que conseguiu a fazer a ligação entre o Céu e a terra, a fim
de receber do Céu para dar na terra. Porque, para quê tirar aos humanos, aos pobres,
que não tem quase nada ? É no Céu, que é infinitamente rico, que deveis ir buscar, para
dar aos humanos. A letra Aleph ensina-nos que o nosso trabalho é tornarmo-nos um
traço de união entre o Céu e a terra. Do ponto de vista simbólico, o Cristo, o homem
perfeito, é o traço de união: recebe tudo o que está no Céu para o fazer descer sobre a
terra.
Pegai nesta letra Aleph como o mais alto ideal a atingir; ela deve ser um
chamamento incessante ao trabalho que tendes que fazer com sabedoria e amor. Tanto
para receber bênçãos do Céu como para repartir estas bênçãos sobre a terra, é preciso
amor e sabedoria: o amor é para se abrir ao Céu e aos outros homens, e a sabedoria é
para saber como entrar em relação com eles. Porque não é suficiente querer entrar em
relação com o Céu e os humanos, é preciso conhecer os métodos.
A história das religiões menciona sob formas diferentes alguns destes seres que
foram Aleph. O titã Prometeu que tinha roubado o fogo do céu para dar aos homens é
na mitologia grega uma das figuras mais conhecidas. Aquele que se tornou num Aleph,
quer dizer um ser que só pensa em dar, em iluminar e em aquecer como o sol, chega
através dos seus pensamentos e sentimentos a tocar todas as regiões do espaço. Então
encontra uma multidão de criaturas que o saúdam, e que ele saúda em retribuição.
Porque é esta a verdadeira vida: todos os dias uma comunicação ininterrupta com
milhões de criaturas.
Tornar-se como o sol, não há mais alto ideal. Esforçai-vos por alimentar este
ideal para que ele tome um tal lugar dentro de vós que todo o vosso ser fique abrasado,
iluminado. Só este alto ideal pode fazer germinar tudo o que há de melhor dentro de
vós. Mesmo sem que insistais, mesmo sem que penseis nisso, patenteareis as melhores
disposições. A única verdade que vale a pena ser procurada, é o sol espiritual que, desde

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...(*.*)... Hi hiii hiiiii hiiiiiii .......
Omraam Mikhaël Aïvanhov

que brilhe dentro de nós, faz aparecer todas as nossas boas qualidades exactamente
como o sol físico faz eclodir a vida em toda a natureza.

XVII - O reino de Deus está dentro de nós


Haveria muitas coisas a rever nas concepções que a maioria das pessoas tem
sobre o Senhor. A imagem de um Deus continuamente irritado contra os humanos e não
parando de proferir ameaças, de infligir aborrecimentos, ou a de um velho com uma
longa barba ocupado a observar e a tomar nota das faltas dos humanos, talvez tenham
sido aceitáveis numa certa época e em certas condições. Mas actualmente, francamente,
é ridículo. Nenhum homem razoável quereria esta vida e estas ocupações que desde há
milhares de anos alguns apresentaram como sendo as do Senhor.
Evidentemente, a ideia de um Deus único, trazida por Moisés, foi um grande
progresso na história do pensamento. Mas chegou um momento em que a imagem deste
Deus de justiça, severo, implacável, ciumento, vingativo, devia ser substituída para que
os próprios humanos pudessem evoluir. Porque como podiam eles aprender a
manifestar paciência, perdão, bondade, à vista dos seus semelhantes, se tinham
continuamente diante dos seus olhos o exemplo de um Deus sempre intransigente e
implacável ?
Jesus veio e ensinou aos humanos que Deus era o seu Pai; então a tónica não
mais foi posta exclusivamente na noção de justiça, mas na do amor, da bondade e do
perdão. Deus não mais era o mestre rígido, diante do qual os homens deviam inclinar-se
como escravos, mas um Pai, e os homens tornavam-se seus filhos. Esta mudança de
ponto de vista a respeito das relações entre os humanos e o Senhor levou a um outro
ponto de vista mais profundo, igualmente mencionado nos evangelhos mas que ainda
não foi bem compreendido. Esta mudança de ponto de vista diz respeito à própria
natureza do homem. Se Deus é nosso pai, é porque temos a mesma natureza que ele -
nunca vimos um pai e os seus filhos serem de natureza diferente - e se somos da mesma
natureza que Ele, podemos identificar-nos com Ele, então nós estamos n’Ele e Ele está
em nós.
Não basta considerar que Deus é nosso Pai e nós seus filhos, porque assim
admitíamos uma separação, um corte: se Ele está fora de nós e nós fora d’Ele, somos
obrigados a imaginar tudo o que está compreendido neste intervalo, estamos fora da sua
luz, da sua paz e do seu amor.
Quantos místicos se queixaram de ser abandonados por Deus ! Não, Deus não
os tinha abandonado, eram eles que não tinham sabido conservar a consciência da sua
presença neles. Deus nunca nos abandona, é na nossa consciência que se produzem
mudanças. Umas vezes a nossa alma está mais receptiva e nós sentimo-nos penetrados
pela luz e pelo calor de Deus. Outras vezes, pelo contrário, a nossa alma fecha-se e
ficamos privados da sua presença. De quem é a culpa ? Afastai-vos do sol, sentireis
frio e escuridão. Com certeza, é difícil manter permanentemente um tal estado de
consciência em que nós nos sintamos habitados pela presença divina, mas é neste
sentido que devemos trabalhar fazendo do nosso ser o templo da Divindade. Sim, não
um palácio, mas um templo. Evidentemente, já é muito bom se chegamos a fazer de nós
um palácio, mas no palácio falta o elemento de santificação que se encontra no templo.
Aquele que consegue fazer de si próprio um templo, Deus entrará nele e não mais o
deixará: a Divindade não deixa o santuário que lhe foi consagrado e onde se continua a
prestar-lhe culto na pureza e na luz.
Será que Deus existe ? E se Ele existe, Ele é assim, Ele é assado ? E que é o
homem relativamente a Deus ? Como definir a natureza humana face à natureza
divina ?… Estas são questões que é preciso deixar de colocar: simplesmente é preciso
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Omraam Mikhaël Aïvanhov

saber que Deus é não só o nosso Criador, mas também nosso Pai e que somos da
mesma essência que Ele. Quando Jesus disse: “Meu Pai e eu, nós somos um”, resumiu
em algumas palavras os maiores mistérios da religião.
Alguns dirão: “Sim, mas Jesus, não somos nós. Ele era verdadeiramente filho de
Deus, enquanto nós…” Então agora ouvi-me bem. Se a Igreja quis fazer de Jesus o
equivalente do Próprio Deus, a segunda pessoa da Trindade, o Cristo, um príncipe
cósmico, colocando assim entre ele e os homens uma distancia infinita, é problema da
Igreja. Jesus, ele, nunca disse semelhante coisa. Jesus nunca pretendeu que ele era de
uma natureza diferente dos outros homens. Quando disse que era filho de Deus, não
era para significar que era superior ao resto do género humano, pelo contrário. Dizendo
que era filho de Deus, ele também sublinhou a natureza divina de todos homens; senão,
que significariam estas palavras: “Sede perfeitos como o vosso Pai é perfeito” e
também: “O que crê em mim fará as obras que eu faço, e fá-las-á até maiores” ?
Se Jesus disse que podemos fazer as mesmas obras que ele, é porque somos da
mesma natureza, da mesma natureza íntima que ele. Porque é que os cristãos
negligenciaram este aspecto do seu Ensinamento ? Uma vez mais porque são
preguiçosos, muito simplesmente, eles não querem fazer nenhum esforço para seguir as
pegadas de Jesus. Dizem: “Porque era filho de Deus, ele, ele era perfeito; é normal que
tenha manifestado uma sabedoria, virtudes e poderes excepcionais. Enquanto nós,
pobres infelizes, a nossa natureza é imperfeita e pecadora, é normal que nós sejamos
fracos, egoístas e maus”. Não, não, não é normal, nós somos filhos de Deus
exactamente como Jesus era filho de Deus. A única diferença é que Jesus estava
consciente da sua natureza e da sua predestinação divina e que ele trabalhava nesse
sentido. Ele já tinha trabalhado nas encarnações anteriores, com certeza, e chegava à
terra com imensas possibilidades e uma ideia muito clara da sua missão. Mas ele teve,
também ele, que fazer um imenso trabalho interior, resistir às tentações, jejuar, orar.
Lestes um pouco dos Evangelhos ? Porque é que Jesus teve que esperar pelos seus
trinta anos para receber o Espírito Santo ? E porque é que o diabo experimentou tentá-
lo ?
Pelo seu exemplo e pelo sacrifício da sua vida, Jesus abriu-nos o caminho para
que possamos, como ele próprio o disse, realizarmos as mesmas obras que ele. Se não
estamos conscientes desta semelhança entre Jesus e nós, é porque deixámos todas as
espécies de elementos estranhos escurecer, recobrir a nossa natureza divina. Então,
evidentemente, não podemos mais reconhecê-la. Mas se trabalharmos com amor e
sabedoria os nossos pensamentos, os nossos sentimentos e os nossos actos a fim de os
purificar, sentiremos essa natureza divina despertar em nós pouco a pouco. Sim,
devemos chegar ao estado de consciência em que nunca mais nos vamos separar do
Senhor, nós somos uma parte d’Ele, não existimos fora d’Ele.
Na realidade ninguém pode existir fora do Senhor. Foi Ele que nos criou, é Ele
quem nos alimenta, é Ele que nos faz viver. Não existe nenhuma criatura realmente
independente do Senhor; o sentimento de independência só pode existir na consciência,
porque, com efeito, é possível a um homem cortar voluntariamente o elo que o liga ao
Criador; mas então vai, pouco a pouco para a morte espiritual. Direis: “Mas Deus está
nos céus !” Sim, Deus está nos céus, mas porque é que nós aqui não estaríamos, neste
momento, nos céus, também nós, com Ele ?
Eis aí a verdadeira religião “em espírito e em verdade”, compreendeis ? Até lá,
haverá sempre um espaço entre Deus e vós, sempre uma distância, uma separação. E
ficando assim, fora de Deus, estais na realidade fora de vós próprios, do vosso
verdadeiro Eu. Vós não vos encontrais, passais por todas as espécies de estados
contraditórios: num momento estais em paz, o sentido da vossa vida parece-vos claro, e
depois, de repente, estais angustiados, perturbados, tudo se escurece. Sim, enquanto o
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Omraam Mikhaël Aïvanhov

homem não se identifica com a sua natureza divina, passa por altos e baixos, sente-se
sacudido, vacilante.
Moisés insistiu no temor do Senhor. Visto que Deus era um Mestre
intransigente, os humanos só podiam temê-Lo. Foi assim que ele disse: “O temor do
Senhor é o princípio da sabedoria”. Mas o temor é um sentimento negativo. Aquele
que age sempre sob o império do medo não pode realmente desenvolver-se e, com o
tempo, este temor tem uma acção destrutiva. Com o amor, pelo contrário, o homem
desenvolve-se, e foi por isso que Jesus veio para dizer que Deus era um Pai. Com
certeza, a criança teme também um pouco o seu pai, e é uma coisa boa, porque ele deve
sentir que há regras a não transgredir, e que se ele as transgride será punido. Mas o pai
é sobretudo aquele que os seus filhos amam, não somente porque ele lhes deu vida, mas
porque os faz beneficiar de todas as suas riquezas para o seu desenvolvimento.
“Meu Pai e eu somos um”. Para conseguir dizer uma frase semelhante, quantas
coisas é preciso conhecer, que trabalho há a fazer ! Mas aquele para o qual esta
identificação se torna verdadeiramente uma realidade vive na plenitude.
Deus está em nós, como o seu Reino está em nós. Se tomardes consciência de
que sois inseparáveis do Criador, sentireis que vedes cada vez mais claro para resolver
os vossos problemas e sobretudo para fazer o bem à vossa volta. Enquanto que se
estiverdes longe, sereis abandonados só aos vossos recursos que são muito limitados.
Então, pobres cristãos que não querem aceitar esta via que Jesus traçou para eles ! Que
eles saibam que certos hindus os ultrapassaram na compreensão: quando praticam Jnani-
yoga, o yoga do conhecimento, aprendem a meditar sobre a fórmula: “Eu, sou Ele” e
eles pronunciam-na até que ela se transforma na sua carne e ossos. Nesse momento o
seu pequeno eu limitado não existe mais, é só Ele, o Senhor, que existe neles e a partir
desse momento podem fazer milagres. Foi por isso que quando fazia milagres Jesus
dizia: “Não sou eu, mas sim o meu Pai, que age através de mim… então, se me recebeis
a mim, é a Ele que recebeis”. É neste sentido também que se pode dizer que Jesus era
realmente filho de Deus: porque ele era intermediário entre Deus e os homens.
Se vos apagardes, se vos fundirdes no Senhor para fazer um só com Ele, tornar-
vos-eis num poder formidável. Sim, é tornando-nos pequenos diante do Senhor, que na
realidade vos tornais grandes. Enquanto que se vos levantais face a Ele, tornar-vos-eis
fracos, vulneráveis, não sois nada. Foi por isso que Jesus dizia ainda: “Se não
morrerdes, não vivereis”. Quer dizer: se não morreis enquanto elemento separado do
Todo, não vivereis a vida ilimitada do Todo; no dia em que conseguirdes acabar com a
vossa natureza inferior, não mais sereis vós que vivereis, mas o Senhor viverá em vós.
Se nós o não compreendermos no plano físico, espiritual, esta frase não tem qualquer
sentido.
O princípio de toda a disciplina espiritual está em conhecer-se um dia como
sendo o Próprio Deus, e é esse o sentido desta fórmula do Jnani-yoga: “Eu, sou Ele”.
O meu papel e dar-vos o verdadeiro saber, mesmo que eu saiba que, neste
momento, vós não o podeis aplicar. Eu tenho que vos dizer que existe uma melhor
compreensão das coisas, mas ao mesmo tempo ser paciente, indulgente, aceitar a
situação actual, porque as coisas não podem e nem devem fazer-se prematuramente.
Conheceis nos Evangelhos a parábola do festim. “Um homem deu um grande banquete
e convidou muita gente. À hora da refeição, enviou o seu servo para dizer aos
convidados: Vinde, porque já está tudo preparado. Mas todos, unanimemente, se
puseram com escusas. O primeiro disse-lhe: Comprei um campo e sou obrigado a ir vê-
lo; peço-te que me escuses. Um outro disse: Comprei cinco juntas de bois e vou
experimentá-los; peço-te que me escuses. Outro disse: Acabo de me casar e por isso
não posso ir…” As desculpas que os convidados deram para não comparecer ao festim

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Omraam Mikhaël Aïvanhov

são a imagem dos pretextos que a maioria dos humanos encontra para levar uma vida
longe do Senhor.
Mas que se passaria se, querendo mostrar que tinha compreendido bem a
parábola, cada um decidisse abandonar os seus compromissos dizendo: “Eu tenho que
me tornar livre para o Senhor” ? Na realidade, não é assim que se faz, para alguns é
melhor que não sejam livres de tal maneira, senão, mesmo consagrando-se ao Senhor,
fariam ainda mais asneiras. Porque nem toda a gente é capaz de fazer bom uso da
liberdade; para alguns é melhor que estejam comprometidos com uma família, uma
profissão à qual são obrigados a consagrar muitas das suas energias e do seu tempo.
Um homem mesquinho, fanático, que se liberta para responder supostamente ao apelo
do Senhor, será uma catástrofe, não fará outra coisa senão devastações !
Pelas mesmas razões, não se pode exigir aos humanos que se desliguem das
expressões materiais exteriores da religião prematuramente a fim de adorar a Deus “em
espírito e em verdade”. Haverá mudanças, pouco a pouco, a realização desta profecia
feita por Jesus aproxima-se, e para alguns ela já se cumpriu. Mas é preciso
compreender que uma tal mudança não pode acontecer duma só vez no mundo inteiro,
porque é um acontecimento da vida interior.
Quando se trata de acontecimentos que se produzem no plano físico, toda a
gente os vive ao mesmo tempo. Quando se decretam reformas num país, pode anotar-
se a data a partir da qual as reformas entrarão em execução. Decide-se trocar a
monarquia pela república ou a república pela monarquia, declara-se a guerra ou então
assina-se a paz: a partir duma data precisa, existe então a república ou a monarquia, a
guerra ou a paz. Ou então um concílio decreta que não mais se dirá a missa em latim a
partir duma certa data, e com efeito a partir desta data não se diz mais a missa em latim.
Mas quando Jesus disse: “Virá o dia em que se adorará a Deus em espírito e em
verdade”, trata-se de um fenómeno da vida interior que não pode acontecer senão em
função do grau de evolução dos humanos.
Jesus dizia também: “O Reino de Deus está próximo.” Muitos farão notar que
passaram dois mil anos desde que ele pronunciou estas palavras e que o Reino de Deus
ainda está muito longe. É porque eles não compreenderam de que maneira ele estava
próximo. Para alguns o Reino de Deus já chegou. Para outros ainda está para vir. E
para uma terceira categoria de pessoas, ele virá… não se sabe quando. Portanto, ele já
veio, vem ou virá… Reparai, há aqui boas conjugações.
Direis: “Apesar disso, desde há dois mil anos que a cristandade trabalha para o
Reino de Deus, como se acontecesse que ele ainda estivesse muito longe ? Tantas
guerras, fome, misérias e desgraças !”… Ora bem, precisamente, porque os humanos
não sabem trabalhar “em espírito e em verdade”. Passam o seu tempo a falar, a escrever
para sublinhar tal defeito, tal lacuna: a má organização, a incompetência dos
responsáveis, o dinheiro mal utilizado… E para melhorar supostamente a situação,
querem obrigar uns a fazer isto, impedir outros de fazer aquilo, criar grupos, comissões,
etc. Não têm em conta senão as soluções materiais, e para as aplicar são levados a
afrontamentos incessantes. Como é que o Reino de Deus pode tornar-se real nestas
condições ?
É preciso aprender daqui em diante a pensar e a agir de outra maneira. Aquele
que deseja sinceramente trabalhar para a vinda do Reino de Deus tem que saber que
não é com os métodos humanos, os métodos da matéria, que poderá alcançá-lo, mas
com os métodos divinos, os métodos do espírito. Estes métodos consistem em
alimentar em si os melhores sentimentos, a não pronunciar senão palavras positivas,
porque esses sentimentos, esses desejos, essas palavras desencadeiam no mundo
invisível, poderes luminosos que virão ajudá-los no seu trabalho.

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Sim, que todos os que têm por ideal realizar qualquer coisa de bom para a
colectividade se reunam com o desejo de fazer primeiro um trabalho espiritual. Graças
a esse trabalho, os seus desejos e os seus pensamentos tornar-se-ão de tal modo puros e
luminosos que irão muito alto no espaço tocar as entidades, os elementos que lhe
correspondem, e atraí-los-ão a eles. São estas entidades e estes elementos que os
ajudarão a melhorar a situação muito mais eficazmente que as suas críticas, as suas
reivindicações e as suas propostas de reforma.
Eis como trabalha aquele que quer aplicar o preceito de Jesus “em espírito e em
verdade”. Aquele que não aceita este ensinamento tem que contar com desgraças: vai
destruir-se pouco a pouco, irritar-se, porque os pensamentos e os sentimentos que ele
remove assim mantêm-no nas regiões inferiores dos planos astral e mental. E um dia ou
outro, será obrigado a constatar que todos os seus esforços para nada serviram: porque
ele não sabia como trabalhar. Quantas pessoas quiseram dar-me conselhos para
construir a Fraternidade a partir de métodos normais ! Mas eu não os escutei.
Continuei a trabalhar no mundo invisível com o amor e a luz, e agora as criações da
minha alma e do meu espírito descem ao plano físico onde, pouco a pouco, elas
acabarão por realizar-se todas.
Virá a hora em que adoraremos a Deus em espírito e em verdade… O Reino de
Deus aproxima-se… A realização das profecias de Jesus corresponde a fenómenos
interiores, íntimos. Sem esperar que se realizem à volta de si, cada um tem que
encontrar em si próprio a paz, a luz, a verdade. É inútil tentar encontrá-las fora.
Porque mesmo admitindo que tivesse conseguido encontrá-las no exterior, não será
capaz de as apreciar e conservar se primeiro as não tiver realizado em si mesmo.

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