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LEGISLAÇÃO

AMBIENTAL

Professora Me. Heloísa Alva Cortez Gonçalves

GRADUAÇÃO

Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi

NEAD - Núcleo de Educação a Distância


Direção Operacional de Ensino
Kátia Coelho
Direção de Planejamento de Ensino
Fabrício Lazilha
Direção de Operações
Chrystiano Mincoff
Direção de Mercado
Hilton Pereira
Direção de Polos Próprios
James Prestes
Direção de Desenvolvimento
Dayane Almeida
Direção de Relacionamento
Alessandra Baron
Head de Produção de Conteúdos
Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli
Gerência de Produção de Conteúdos
Gabriel Araújo
Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais
Nádila de Almeida Toledo
Supervisão de Projetos Especiais
Daniel F. Hey
Coordenador de Conteúdo
Silvio Silvestre Barczsz
Design Educacional
Isabela Agulhon Ventura
Iconografia
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Amanda Peçanha dos Santos
Distância; GONÇALVES, Heloísa Alva Cortez.
Ana Carolina Martins Prado
Legislação Ambiental. Heloísa Alva Cortez Gonçalves. Projeto Gráfico
Maringá-Pr.: UniCesumar, 2016. Reimpresso em 2018. Jaime de Marchi Junior
189 p. José Jhonny Coelho
“Graduação - EaD”.
Arte Capa
1. Legislação. 2. Ambiental. 3. EaD. I. Título. Arthur Cantareli Silva
ISBN 978-85-459-0334-5
Editoração
CDD - 22 ed. 304.2 Victor Augusto Thomazini
CIP - NBR 12899 - AACR/2 Qualidade Textual
Hellyery Agda
Danielle Marta Loddi Santos
Pedro Afonso Barth
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário Ilustração
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Bruno Cesar Pardinho
Marta Kakitani
Luis Ricardo Prado
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos
com princípios éticos e profissionalismo, não so-
mente para oferecer uma educação de qualidade,
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in-
tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos
em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e
espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos
de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de
100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil:
nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba,
Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos
EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e
pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros
e distribuímos mais de 500 mil exemplares por
ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma
instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos
consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos
educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educa-
dores soluções inteligentes para as necessidades
de todos. Para continuar relevante, a instituição
de educação precisa ter pelo menos três virtudes:
inovação, coragem e compromisso com a quali-
dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de
Engenharia, metodologias ativas, as quais visam
reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
promover a educação de qualidade nas diferentes
áreas do conhecimento, formando profissionais
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está
iniciando um processo de transformação, pois quando
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou
profissional, nos transformamos e, consequentemente,
transformamos também a sociedade na qual estamos
inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-
nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com
os desafios que surgem no mundo contemporâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica
e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con-
tribuindo no processo educacional, complementando
sua formação profissional, desenvolvendo competên-
cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em
situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal
objetivo “provocar uma aproximação entre você e o
conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento
da autonomia em busca dos conhecimentos necessá-
rios para a sua formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita.
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns
e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis-
cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe
de professores e tutores que se encontra disponível para
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
AUTORA

Professora Me. Heloísa Alva Cortez Gonçalves


Possui graduação em Direito (2007), pós-graduação em Direito Público
pela Universidade Gama Filho - RJ (2008), Especialista em Direito Ambiental
pela Universidade Internacional de Curitiba - PR (2011), é Mestre em Direito
pelo Centro Universitário de Maringá (2011), pós-graduada em Direito
Constitucional pela Universidade Estadual de Maringá - UEM (2011).
Tem formação em Derechos Humanos, Interculturalidad y Desarrollo pela
Universidad Pablo de Olavide - Espanha (2013). É participante do grupo
de estudos de Latim e fontes do Direito Romano (2014.1) - As Instituições
de Justiniano (Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC), cursando
Doutorado em Direito - Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),
na disciplina (DIR510129) - Direito, Estado e Constituição. Atualmente
é professora na Graduação e Pós-graduação no UNICESUMAR - Centro
Universitário de Maringá. Tem experiência e atuação profissional de pesquisa
nas áreas de Direito Constitucional, Teoria do Estado e Direito Ambiental. É
advogada e autora de livros.
APRESENTAÇÃO

LEGISLAÇÃO AMBIENTAL

SEJA BEM-VINDO(A)!
Caro(a) aluno(a), é com muita alegria que me dirijo a você durante este nosso estudo!
Meu nome é Heloísa Alva Cortez Gonçalves e elaborei para você este material de ma-
neira sistematizada e de fácil entendimento, para contribuir com sua formação nesta
importantíssima matéria de Legislação Ambiental.
Até pouco tempo, o estudo do Meio Ambiente e da Legislação Ambiental não recebia
muita atenção, porém, após os graves sinais de uma crise ecológica, este cenário mudou.
No mesmo sentido, no Brasil, foi necessária uma atualização na legislação, criticada por
alguns e aclamada por outros. Institui-se o chamado novo Código Florestal; a Lei 12.651
de 25.05.2012, revogando a Lei anterior (n. 4.771/1965). Este novo código é um dos di-
plomas legais mais polêmicos dos últimos anos, o que provocou uma mobilização da
sociedade e de setores econômicos. As entidades ambientalistas eram contrárias ao
novo Código Florestal de 2012, alegando que o mesmo promovia uma flexibilização na
proteção das áreas florestais, o que implicaria riscos à proteção ambiental. Já o setor do
agronegócio defendia uma nova configuração que não implicasse restrições à atividade
econômica.
Assim, nota-se que, um dos pontos que devem ser discutidos neste livro é o novo códi-
go florestal, já que, ao gestor ambiental, é necessário conhecer a legislação a fim de não
feri-la.
Sabemos que o Direito Ambiental tem um leque abrangente a ser abordado, porém
nossa intenção neste livro é apresentar os pontos mais importantes ao gestor ambien-
tal, apresentando-o ao universo jurídico a fim de familiarizá-lo com o tema. Por estas
razões, fizemos uma seleção de alguns pontos com observações práticas e dicas esque-
matizadas. No universo jurídico, atualizações nas leis são observadas constantemente,
por isso, sugerimos que consulte a legislação constantemente, a fim de não basear-se
em uma lei que já não esteja mais em vigor (revogada).
Tratamos assim de uma disciplina complexa, pois vai além da racionalidade jurídica, exi-
gindo uma visão transdisciplinar e um conhecimento interativo com várias áreas técni-
cas, de humanas e das sociológicas. Portanto, a fim de facilitar seu estudo, baseei este
livro em uma visão direta, sem exagero de linguagem e redundância na argumentação,
por isso inclui uma pequena introdução sobre a legislação e como e onde encontrá-la,
além de dicas de memorização, resumos esquemáticos, sínteses e algumas questões
práticas.
Para a elaboração deste livro, utilizei várias obras, sendo estas as mais indicadas recentes
e aclamadas do Direito Ambiental. Por serem fonte segura e didática no embasamento
desta obra, este ponto contribui para a qualidade de nosso material.
APRESENTAÇÃO

Pela necessidade de uma visão prática da disciplina, ao longo de nossos estudos


apontarei a você, caro(a) aluno(a), alguns exemplos reais da atividade advocatícia
no Direito Ambiental de forma meramente ilustrativa, e fornecerei dicas importan-
tes para a utilização desta matéria extremamente dinâmica, que evolui com a so-
ciedade. Porém, tomei o cuidado necessário para que apenas noções gerais sejam
apontadas neste livro, pois me direciono aos gestores ambientais.
Convido-o(a) a embarcarmos nesta jornada de leituras, estudos e análise da legis-
lação que lhe mostrará a existência de um novo universo jurídico prático, que você
poderia estar explorando, mas não havia se dado conta da complexidade e das pos-
sibilidades de utilização deste instrumento.

Bons estudos!
09
SUMÁRIO

UNIDADE I

DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO E SEUS ASPECTOS GERAIS

15 Introdução

16 Direito Ambiental e Desenvolvimento Sustentável

20 Conferências Internacionais Para a Proteção do Meio Ambiente

28 Meio Ambiente na Constituição Federal de 1988

32 Sustentabilidade e Direito Ambiental Brasileiro

35 Considerações Finais

44 Gabarito

UNIDADE II

PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL

47 Introdução

48 Princípios do Direito Ambiental

63 Da Política Nacional do Meio Ambiente

65 Padrões de Qualidade Ambiental

66 Zoneamento Ambiental

67 Avaliação de Impactos Ambientais

67 Sistema Nacional do Meio Ambiente

68 Competências do Conselho Nacional do Meio Ambiente

69 IBAMA

69 Instituto Chico Mendes


10
SUMÁRIO

70 Considerações Finais

78 Gabarito

UNIDADE III

ESTUDO PRÉVIO DE IMPACTO AMBIENTAL, LICENCIAMENTO


AMBIENTAL, DA RESPONSABILIDADE AMBIENTAL

81 Introdução

82 Estudo Prévio de Impacto Ambiental

86 Licenciamento Ambiental

89 Responsabilidade Ambiental

96 Dos Crimes Contra a Fauna e a Flora, e o Princípio da Insignificância

101 Considerações Finais

112 Gabarito

UNIDADE IV

CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO E SEUS DESAFIOS. LEI N.º 12.651 DE


25 DE MAIO DE 2012

115 Introdução

116 Objetivos do Código Florestal Brasileiro

121 Área de Preservação Permanente (APP)

127 Reserva Legal

133 Cadastro Ambiental Rural 


11
SUMÁRIO

136 Das Áreas Consolidadas 

139 Considerações Finais

149 Gabarito

UNIDADE V

POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS E RECURSOS HÍDRICOS

153 Introdução

154 Política Nacional de Resíduos Sólidos

172 Recursos Hídricos

176 Considerações Finais

186 Gabarito

184 REFERÊNCIAS
187 CONCLUSÃO
Professora Me. Heloísa Alva Cortez Gonçalves

I
DIREITO AMBIENTAL

UNIDADE
BRASILEIRO E SEUS
ASPECTOS GERAIS

Objetivos de Aprendizagem
■■ Localizar a Lei.
■■ Introduzir o(a) acadêmico(a) na disciplina do Direito Ambiental
e demonstrar sua importância, desmembrando-a desde seu
nascimento até a sociedade atual.
■■ Demonstrar a evolução do Direito Ambiental no Brasil e sua proteção
constitucional.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Direito Ambiental e desenvolvimento sustentável
■■ Conferências Internacionais para a proteção do Meio Ambiente
■■ Meio Ambiente na Constituição Federal de 1988
■■ Sustentabilidade e Direito Ambiental Brasileiro
15

INTRODUÇÃO

Saber localizar uma lei, um artigo e seus desdobramentos é uma tarefa fácil para
os aplicadores do Direito. Porém, para quem nunca esteve em contato com esta
disciplina, é essencial demonstrar como estes se apresentam. É verdade que exis-
tem inúmeras leis, e um dos desafios para o leigo é saber se ainda estão valendo
ou não mais. Por estes motivos, apresentaremos a você onde encontrar a lei que
deseja e saber diferenciar seus desdobramentos, pois qualquer ação do gestor
ambiental deve estar pautada na Legislação. Também abordaremos sobre o meio
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ambiente e seu histórico de proteção. Apresentarei algumas das legislações mais


discutidas e ideias que circundam em outros países, além de classificar o meio
ambiente, que não é uma tarefa muito fácil. Porém, a base para tudo isso está
na Lei maior de nosso país; a CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988, que em
seu artigo 225 dispõe que o meio ambiente é um bem de uso comum do povo.
Assim, como você pode perceber, nesta primeira unidade apontaremos a
composição da Legislação e onde encontrá-la. Este primeiro ponto é funda-
mental, pois, para conhecer o Direito Ambiental, você precisa saber que existem
artigos, incisos, parágrafos, alíneas e itens que compõem a norma. No Direito,
de um modo geral, precisamos fundamentar todas as nossas ações, e estas só
podem ter validade se forem baseadas em uma legislação vigente.
Após esta apresentação do universo jurídico, comentaremos sobre as noções
introdutórias do Direito Ambiental e as concepções éticas ambientais na lei bra-
sileira, apresentaremos a definição de meio ambiente e Direito Ambiental, e as
principais normas brasileiras e algumas de suas teorias justificadoras, seguidas de
exemplos, reflexões e curiosidades da matéria. A princípio, alguns dos conteúdos
na definição de meio ambiente e suas teorias justificadoras, assim como os prin-
cípios, podem ser tratados na disciplina de Fundamentos da Gestão Ambiental.
Porém, aqui se trata desta abordagem, mas sobre a ótica do Direito Ambiental.
Prontos?!

Introdução
16 UNIDADE I

DIREITO AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL

“Nunca uma geração teve tanta responsabilidade em relação a si mesma e ao


futuro como a geração atual.” (José Saramago)

Antes de iniciarmos nosso tema, precisamos


explorar a composição da Lei e sua localização.
Inicialmente, eu questiono: você sabe

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
como procurar e onde encontrar uma lei?
Importa citar que as normas infraconsti-
tucionais (que não são constitucionais) estão
separadas por assuntos. Assim, se queremos
©shutterstock
encontrar normas sobre Direito Ambiental,
nossa procura será na coletânea de Legislação Ambiental, e não no Código
Penal. Se você não tiver um código para consultar a legislação (é possível adqui-
rir obras completas com várias normas, como a Constituição Federal, o Código
Civil, Código Penal, dentre outros), a consulta pode ser feita no site do Planalto
por meio do Portal da Legislação.1
Mas, para facilitar a busca, sugiro a você que tenha sempre em mãos uma
coletânea de Legislação Ambiental. Lembre-se: tenha uma atualizada, pois evita
que você esteja consultando leis que não estão mais em validade.

Coletânea da Revista dos Tribunais disponível para pesquisa no link abaixo.


(Você poderá também optar por outras editoras.)
<http://d3vdsoeghm4gc3.cloudfront.net/Custom/Content/Pro-
ducts/20/35/203564_Zoom3.jpg>.

Agora que você já sabe onde localizar a Lei, vamos falar sobre seus desdobramentos.
Você sabe como identificar a composição da Lei?
Vamos analisar brevemente a Lei n.º 9.433/1997 que trata sobre a Política
Nacional de Recursos Hídricos, pois vivemos períodos de crise no setor de abas-
tecimento de água.

DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO E SEUS ASPECTOS GERAIS


17

Suponha que precisemos encontrar o artigo que informa sobre a cobrança


do uso dos recursos hídricos. Note que nosso objeto de pesquisa será a Lei n°
9. 433/1997, pois a mesma trata sobre águas e está vigente. Observando a lei,
encontramos na seção IV sobre a Cobrança do uso de Recursos Hídricos, no
art. 19. Pronto! Agora, basta analisar o que dispõe estes artigos. (Você também
pode encontrar qualquer lei no site do Planalto2).
Observe a estrutura desta seção (uma divisão da norma por assuntos):
Art. 19. A cobrança pelo uso de recursos hídricos objetiva:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

I - reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indi-


cação de seu real valor;

II - incentivar a racionalização do uso da água;

III - obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e


intervenções contemplados nos planos de recursos hídricos.

Observe que a Lei 9.433/1997 tem em seu artigo 19 outras três disposições. Estas
se chamam INCISOS, pois estão representadas por números romanos.
Figura 1 - Composição da Norma
Composição da Norma
Artigos
É a unidade básica da lei. Toda lei tem, no mínimo, um artigo, e
eles constituem a forma mais prática de se localizar alguma
informação dentro da lei, por maior que ela seja.
Artigos
Parágrafos
É um desdobramento da norma de um determi-
nado artigo, podendo complementá-la, indicar
alguma exceção etc. é indicado pelo símbolo § e vem
seguido de um número.
Parágrafos
Incisos
É um desdobramento do artigo ou do
parágrafo, conforme o caso. São representados
Incisos por algarismos romanos. Um parágrafo
pode ser divido em incisos, mas um inciso
não pode se dividir em parágrafos.
Alíneas
Alíneas Representam o desdobramento dos
incisos ou dos parágrafos. São represen-
tadas por letras minúsculas, acompanha-
das de parênteses.
Fonte: a autora

Direito Ambiental e Desenvolvimento Sustentável


18 UNIDADE I

Ainda conforme o exemplo da Lei n° 9.433/1997, temos no artigo 22:


Art. 22. Os valores arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos
hídricos serão aplicados prioritariamente na bacia hidrográfica em que
foram gerados e serão utilizados:

I - no financiamento de estudos, programas, projetos e obras incluídos


nos Planos de Recursos Hídricos;

II - no pagamento de despesas de implantação e custeio administrativo


dos órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional de Gerencia-
mento de Recursos Hídricos.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
§ 1º A aplicação nas despesas previstas no inciso II deste artigo é
limitada a sete e meio por cento do total arrecadado.

§ 2º Os valores previstos no caput deste artigo poderão ser aplicados a


fundo perdido em projetos e obras que alterem, de modo considerado
benéfico à coletividade, a qualidade, a quantidade e o regime de vazão
de um corpo de água.

§ 3º  (VETADO)

Note que este artigo 22 tem incisos e parágrafos.


Se sua opção for pela utilização de códigos físicos, toda legislação contém
um SUMÁRIO. Através dele, você poderá encontrar o assunto que procura com
maior facilidade.
Agora que você já tem noções de legislação, passemos à análise da nossa
disciplina.

LEMBRE-SE: é necessário fazer a leitura integral do artigo e seus desdobra-


mentos. Somente assim é possível entender as exceções e sentido da nor-
ma. A leitura de apenas uma parte ou um artigo sozinho pode levar o leitor
ao erro.

Agora sim falaremos sobre a base contextual do Direito Ambiental.

DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO E SEUS ASPECTOS GERAIS


19

O homem tem uma tendência a achar que os recursos naturais são inesgo-
táveis, e com isso sua atividade predatória destrói cada dia mais as precio-
sidades do ecossistema. Vale lembrar que os famosos Jardins da Babilônia
(apesar das discussões sobre sua real existência) foram dizimados, e o para-
íso que se descrevia não existe mais. Justamente para assegurar a preserva-
ção do Meio Ambiente é que se mune de instrumentos o Direito Ambiental.
Sendo um dos mais recentes setores do Direito Moderno, com toda certeza
é um dos que tem sofrido as mais relevantes modificações, crescendo de
importância na ordem jurídica internacional e nacional. Como toda novida-
de, existem incompreensões e incongruências sobre o papel que ele deve
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

desempenhar na sociedade, na economia e na vida em geral. Contudo, uma


verdade pode ser proclamada: a preocupação do Direito com o Meio Am-
biente é irreversível. O principal foco do Direito Ambiental está em orga-
nizar a utilização social dos recursos ambientais, estabelecendo métodos,
critérios, proibições e permissões, definindo o que pode e o que não pode
ser apropriado economicamente. Além disso, também estabelece como a
apropriação econômica (ambiental) pode ser feita. Assim, conforme afirma
Antunes (2014), o Direito Ambiental se encontra no coração de toda ativida-
de econômica, pois a mesma se faz sobre a base de uma infraestrutura que
consome recursos naturais, notadamente sob forma de energia. O surgi-
mento do Direito Ambiental como disciplina jurídica denota que as relações
entre o homem e o mundo que o envolve vêm se modificando de forma
muito acelerada e profunda. A definição de Direito Ambiental depende da
definição de meio ambiente. Einstein, o gênio físico, definiu ambiente como
“everything that isn’t me” – tudo que não seja eu. Ou seja, este conceito é
extremamente amplo.

Ainda segundo Antunes (2014), ao tratarmos de Direito Ambiental, não esta-


mos falando de toda e qualquer atividade humana, mas daquelas atividades que
afetam as águas, a fauna, as florestas, o solo e o ar em especial. Veja que as leis
ambientais são voltadas para aspectos específicos, como a proteção a florestas,
recursos hídricos etc.
Mas como surgiu a preocupação para com o meio ambiente? Lenza (2012)
afirma que, se fizermos um resgate histórico, encontraremos algumas preocupa-
ções com o Meio Ambiente desde o direito romano, em especial sobre a limpeza
das águas, o barulho, a fumaça e a preservação de áreas plantadas. É pertinente
destacar, contudo, que, referida preocupação cingia-se a questões de Direito
Imobiliário, intrinsecamente atreladas a uma perspectiva econômica.

Direito Ambiental e Desenvolvimento Sustentável


20 UNIDADE I

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
©shutterstock

CONFERÊNCIAS INTERNACIONAIS PARA A


PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE

O reconhecimento da proteção ambiental tomou maiores proporções com as


conferencias da ONU, sendo a primeira delas em 1972.
Em 16.06.1972 na cidade de Estocolmo, Suécia, ocorreu a Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, (CONFERÊNCIA...on-line)3
com a participação de 113 Estados.
De acordo com Melo (2014), no curso destes trabalhos, os países se dividi-
ram em preservacionistas, liderados pelos países desenvolvidos, que defenderam
a mitigação nas intervenções antrópicas sobre meio ambiente, e os desenvol-
vimentalistas, compostos por países em desenvolvimento, como o Brasil, que
defendiam que os mesmos aceitavam a poluição e que a preocupação deveria
ser com o crescimento econômico.
Ao fim das reuniões e discussões na Conferência de Estocolmo, originou-se
a Declaração de Estocolmo sobre Meio Ambiente Humano, com 26 princípios.

DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO E SEUS ASPECTOS GERAIS


21

O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade, e ao des-


frute de condições de vida adequadas, em um meio ambiente de qua-
lidade tal que lhe permita levar uma vida digna, gozar de bem estar e é
portador solene de obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente,
para as gerações presentes e futuras. (DECLARAÇÃO de Estocolmo,
Princípio I, on-line)4.

Esta conferência originou o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA), que tem sede em Nairóbi, Quênia, com objetivo de promover a pro-
teção ao meio ambiente e o uso eficiente dos recursos naturais.
Após a conferência das nações unidas sobre meio ambiente humano em
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

1972 foram realizados:


■■ Relatório BRUNDTLAND (nosso futuro comum); ONU criou a comis-
são mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1983, que,
após muitas discussões, apresentou em 1987 o Relatório Nosso Futuro
Comum, também conhecido como relatório Brundtland, uma homena-
gem à senhora Gro Harlen Brundtland, ex-Primeira Ministra da Noruega,
que presidiu os trabalhos desta comissão. Este relatório definiu o con-
ceito mais clássico de desenvolvimento sustentável como aquele “que
atende às necessidades das gerações atuais sem comprometer a capaci-
dade de as futuras gerações terem suas próprias necessidades atendidas.”
(CAMPOS, 2011, on-line)5.
■■ RIO 92 – Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento.

A Rio 92, segundo Melo (2014), na verdade foi a Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro e ficou
conhecida como a “Cúpula da Terra”. Participaram 179 países, e houve mais de
10.000 participantes. A importância da Rio 92 foi que esta originou a Declaração
do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Agenda 21, a Convenção
Quadro sobre Mudanças do Clima, a Convenção sobre Diversidade Biológica ou
da Biodiversidade e a Declaração de Princípios sobre Florestas. A Agenda 21 foi
um instrumento de planejamento para a construção de sociedades sustentáveis
em diferentes bases geográficas, que concilia métodos de proteção ambiental e
eficiência econômica. Neste documento se estabelecem diretrizes para a imple-
mentação do Desenvolvimento Sustentável.

Conferências Internacionais Para a Proteção do Meio Ambiente


22 UNIDADE I

IMPORTÂNCIA DA AGENDA 21

O objetivo da Agenda 21 foi de preparar o mundo para os desafios dos próxi-


mos séculos, conscientizar sobre a cooperação ambiental e a importância dos
governos em criarem programas e estratégias para proteção do meio ambiente.
Vejamos brevemente os principais instrumentos de proteção ambiental inter-
nacional – ONU. (AMBIENTE GESTÃO, on-line)6.
Quadro 1: Algumas Conferências Ambientais Mundiais e seus principais documentos

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
CONFERÊNCIA ANO/ LOCAL DOCUMENTO DECORRENTE
Conferência das Nações 1972/
Declaração de Estocolmo sobre o meio ambiente
Unidas sobre o Meio Estocolmo,
humano.
Ambiente Humano. Suécia.
Após 11 anos da realização da conferência de
Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano, a ONU
criou a Comissão mundial sobre o Meio Ambiente
e Desenvolvimento (1983), que, após estudos,
Relatório Brundtland
apresentou o relatório Nosso Futuro Comum.
(Nosso Futuro 1987
Esse relatório definiu os contornos do conceito de
Comum)
desenvolvimento sustentável, como: “aquele que
atende as necessidades das gerações atuais sem
comprometer a capacidade de as futuras gerações
terem suas próprias necessidades atendidas.”
Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento.
Conferência do Rio Agenda 21.
1992/ Rio
de Janeiro sobre
de Janeiro, Convenção quadro sobre mudanças do clima.
Meio Ambiente e
Brasil. Convenção sobre Diversidade Biológica ou da
Desenvolvimento.
Biodiversidade.
Declaração de Princípios sobre Florestas.
Cúpula Mundial sobre 2002/ Declaração Política.
Desenvolvimento Joanesburgo,
Sustentável (Rio +10) África do Sul. Plano de Implementação.
Conferência das
2012/ Rio
Nações Unidas sobre
de Janeiro, O futuro que queremos.
Desenvolvimento
Brasil.
Sustentável (Rio +20)
Fonte: Melo, (2014, p. 28).

DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO E SEUS ASPECTOS GERAIS


23

RIO+20

Importa citar que a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento


Sustentável, a RIO+20, ocorrida entre os dias 13 a 22 de junho de 2012, teve dois
temas principais: I. A economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável
e da erradicação da pobreza; e II. A estrutura institucional para o desenvolvi-
mento sustentável. Infelizmente, a Rio+20 não teve a devida representatividade
para produzir os efeitos necessários, sendo um dos motivos para tal, a ausência
dos principais líderes mundiais no evento.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Além disso, os países desenvolvidos optaram por não se comprometerem


com medidas vinculantes ou mesmo metas específicas para as temáticas propos-
tas, provavelmente em razão da crise econômica global. Por fim, o documento
final chamado O FUTURO QUE QUEREMOS contém 283 tópicos que rela-
cionam a renovação dos compromissos políticos das conferências anteriores, e
consigna proposições genéricas sobre a economia verde, o quadro institucional
para o desenvolvimento sustentável e os meios de implementação.
O documento faz menção à observância do princípio das responsabilida-
des comuns mais diferenciadas. Estabelece que os países com maiores recursos
devem apresentar maior empenho financeiro para implementação de ações em
prol do meio ambiente. Outro ponto importante foi a questão da proteção dos
oceanos, (item 162 do documento), para uso sustentável da biodiversidade e
conservação em alto mar. Antes da Rio+20, as águas internacionais careciam de
regulamentação entre os países.
Além daqueles já citados, existem ainda documentos de proteção na
Organização dos Estados Americanos. Vejamos alguns:

Conferências Internacionais Para a Proteção do Meio Ambiente


24 UNIDADE I

PROTEÇÃO AMBIENTAL NA ORGANIZACAO DOS ESTADOS


AMERICANOS:

A OEA – organização dos Estados Americanos, fora criada em 1948 na Colômbia


em Bogotá. O Brasil faz parte da OEA.

Protocolo de San Salvador:


O protocolo adicional à convenção americana sobre direitos humanos (pacto de
São José da Costa Rica) é conhecido como protocolo de San Salvador, aprovado

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
em 1988. Dispõe sobre os direitos econômicos, sociais e culturais no sistema
interamericano de direitos humanos. Entre seus dispositivos está: contemplar
o direito a um meio ambiente sadio (art. 11).
Toda pessoa tem direito a viver em meio ambiente sadio e a contar com os
serviços públicos básicos. 2. Os Estados partes promoverão a proteção, preser-
vação e melhoramento do meio ambiente” (PROTOCOLO...on-line)7.
Para Guido Fernando Silva Soares (1995), a consciência da necessidade de
proteção do meio ambiente decorre:
a. Dos problemas advindos com o crescimento caótico das atividades
industriais.
b. Do consumismo desenfreado em âmbito local e mundial.
c. De uma filosofia imediatista pelo desenvolvimento a qualquer preço.
d. Da inexistência de uma preocupação inicial com as repercussões cau-
sadas ao meio ambiente pela atividade econômica.
e. Da assunção de que os recursos naturais seriam infinitos, inesgotáveis
e recicláveis por mecanismos automáticos incorporados à natureza –
Revolução Industrial.

Deve-se, portanto, buscar um equilíbrio entre os direitos ao desenvolvimento


e o direito ao meio ambiente sadio e ecologicamente equilibrado.
Passemos agora à análise da ótica Constitucional brasileira sobre o Meio
Ambiente.

DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO E SEUS ASPECTOS GERAIS


25

A ORDEM CONSTITUCIONAL BRASILEIRA DO MEIO AMBIENTE.

Conceito de meio ambiente:


Se procurarmos no dicionário da língua portuguesa, encontraremos a defini-
ção para ambiente como: “que cerca ou envolve os seres vivos ou as coisas, por
todos os lados.” (DICIONÁRIO AURÉLIO, 1997, on-line)8.
Conforme Lenza (2012, p.1196), alguns autores chegam a criticar a expres-
são “meio ambiente”, alegando suposta redundância, uma vez que a expressão
meio já estaria englobada pela palavra ambiente, portanto seriam sinônimas.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Já a definição legal do meio ambiente está contida no artigo 3, I da Lei


6.938/81, Política Nacional do Meio Ambiente, que afirma ser: “o conjunto de
condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica,
que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.
De acordo com Beltrão (2009), assim, o nosso direito positivo indicou
como elemento caracterizador do meio ambiente a vida em geral, ou seja, não
apenas a humana, mas de todas as espécies, animais e vegetais. A perspectiva
é, portanto, BIOCÊNTRICA. Todos os aspectos, de ordem física, química e
biológica, relativos à vida, estão compreendidos pelo meio ambiente. Logo, a
legislação, ao fixar padrões de qualidade para a água, o ar etc., não pode limitar
a uma análise dos efeitos químicos ou físicos das substâncias a serem libera-
das, devendo também, necessariamente, avaliar quais os seus efeitos biológicos
no ambiente.
Desta forma, o meio ambiente não corresponde apenas ao ambiente natu-
ral, abrangendo também outras perspectivas em que esteja inserida a vida.
Assim, tradicionalmente, classifica-se o meio ambiente a partir de três aspec-
tos: o meio ambiente natural ou físico, o meio ambiente artificial e o meio
ambiente cultural.
Vejamos os conceitos de meio ambiente:

Conferências Internacionais Para a Proteção do Meio Ambiente


26 UNIDADE I

Quadro 2 - Conceitos de meio ambiente

MEIO AMBIENTE
MEIO AMBIENTE MEIO AMBIENTE MEIO AMBIENTE
NATURAL OU
ARTIFICIAL CULTURAL DO TRABALHO
FÍSICO
Corresponde ao espa-
ço urbano construído,
abrangendo conjunto
de edificações e equi-
pamentos públicos, Consiste nas
como ruas, avenidas, intervenções hu-
Corresponde à

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
praças e espaços manas, com valor
Constitui-se qualidade do
livres em geral. Deste cultural. Abrange
pelo ar, atmosfe- ambiente em
aspecto deriva a ne- o patrimônio
ra, água, solo e que o traba-
cessidade de plane- histórico, artísti-
subsolo, fauna, lhador exerce
jamento e ordenação co, paisagístico,
flora e biodiver- a sua atividade
do território, avaliação ecológico, etc.
sidade. profissional. Art.
do processo de urba- Veja art. 216 da
200, II e VIII CF.
nificação e redução de Constituição
impactos para melhor Federal de 1988.
equilíbrio ambiental
nas cidades. Veja lei
10.257/2001, art. 2,
inciso I.

Fonte: a autora

José Afonso da Silva (2007, p.43) observa sobre o meio ambiente:


“O meio ambiente se divide em natural, artificial, cultural e do traba-
lho, os doutrinadores que a ele se seguiram passaram a reproduzir tal
divisão. Com isto, foi significativamente ampliada a visão do escopo
desta disciplina, passando a abranger temas como poluição no inte-
rior de estabelecimentos industriais, qualidade de vida nas cidades e
proteção do patrimônio cultural.”

Ou seja, várias são as classificações e conceitos de Direito Ambiental, mas


todas têm a finalidade de mostrar o conjunto de princípios e normas jurídi-
cas que buscam regular os efeitos diretos e indiretos da ação humana no meio,
no intuito de garantir à humanidade, presente e futura, o direito fundamental
a um ambiente sadio. Assim, afirma Beltrão (2009) que o objetivo do Direito
Ambiental é assegurar o Desenvolvimento Sustentável.

DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO E SEUS ASPECTOS GERAIS


27

MAS O QUE É O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL?

Desenvolvimento Sustentável é aquele que satisfaz as necessidades do


presente sem pôr em risco a capacidade das gerações futuras de terem
suas próprias necessidades satisfeitas, conforme definição da Comissão
Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, da Organização das
Nações Unidas (ONU) (BELTRÃO, 2009, p. 27).

A Sustentabilidade apresenta-se como a chave para a solução do aparente con-


flito do direito ao desenvolvimento e a preservação do ser humano. É por isso
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

que hoje se fala com tanta insistência em desenvolvimento sustentável ou eco-


desenvolvimento, cuja característica consiste na possível conciliação entre o
desenvolvimento, a preservação ecológica e a melhoria da qualidade de vida do
homem.

“O que estamos fazendo para as florestas do mundo é apenas um reflexo do


que estamos fazendo a nós mesmos e uns aos outros.” (Gandhi)

Para Milaré (apud LENZA, 2012, p. 1200), é falso o dilema ou desenvolvimento


ou meio ambiente, na medida em que, sendo uma fonte de recursos para o outro,
devem harmonizar-se e complementar-se. Compatibilizar meio ambiente e
desenvolvimento significa considerar os problemas ambientais dentro de ambos
e observando-se as suas inter-relações particulares a cada contexto sociocultu-
ral, politico, econômico e ecológico dentro de uma dimensão tempo/espaço.
Caro(a) aluno(a), você já percebeu que existem vários conceitos de meio
ambiente. Porém, como o trata a Constituição Federal? Vejamos:

Conferências Internacionais Para a Proteção do Meio Ambiente


28 UNIDADE I

MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE


1988

Antes de discorrermos sobre a Legislação Constitucional sobre o Meio Ambiente, é


importante fazer uma breve comparação com as constituições brasileiras anteriores
sobre o diploma ambiental. Importa citar que foi somente com a Constituição de
1988 que se estabeleceu, de maneira especifica e global, a proteção ao meio ambiente.
■■ Em 1824, data da primeira Constituição Brasileira, não havia relato sobre
o tema ambiental. Naquela época, o Brasil exportava produtos agrícolas

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e minerais, inexistindo proteção ambiental.
■■ Na segunda Constituição Brasileira de 1891 houve a competência da união
para legislar sobre minas e terras, com objetivo claro de proteger os inte-
resses da burguesia e institucionalizar a exploração do solo (art. 34, n.º 29).
■■ A Constituição de 1934 trouxe dispositivos sobre proteção às belezas natu-
rais, patrimônio histórico, artístico e cultural e competência da união em
matéria de riquezas do subsolo, mineração, florestas, águas, caça e pesca e
sua exploração, com poderes para legislar somente a União nesses aspec-
tos. (art. 10, III, e 148)
■■ Na Constituição de 1937, conforme art. 134, os monumentos históricos,
artísticos e naturais, assim como as paisagens ou os locais particular-
mente dotados pela natureza, gozam da proteção e cuidados especiais da
nação, dos estados, e dos municípios. Fixou-se a competência da união
para legislar sobre bens de domínio federal, minas, metalurgia, energia
hidráulica, águas, florestas, caça e pesca e sua exploração (art. 16, XIV),
podendo os estados legislar, respeitadas as regras da lei federal (art. 18, a).
■■ Em 1946, nossa 5ª Constituição dispôs formas para a racionalização econômica
das atividades de exploração dos recursos naturais, porém sem preocupação
de proteção ambiental. Vejamos a citação de Medeiros sobre esta constituição:
De qualquer sorte, apesar de não possuírem uma visão holística do am-
biente e nem uma conscientização de preservacionismo, por intermé-
dio de um desenvolvimento técnico industrial sustentável, essa Carta
teve mérito de ampliar, de forma significativa, as regulamentações refe-
rentes ao subsolo, à mineração, à flora, à fauna, às águas, dentre outros
itens de igual relevância (MEDEIROS, 2004, p. 62).

DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO E SEUS ASPECTOS GERAIS


29

■■ Já na Constituição de 1967, conforme art. 172, estavam sob proteção


especial do Poder Público os documentos, as obras e os locais de valor
histórico ou artístico, os monumentos e paisagens naturais notáveis, como
as jazidas arqueológicas.
■■ Emenda constitucional nº. 1/1969: (alterou a Constituição de 1967), man-
teve a linha do texto emendado e trouxe a palavra ecológico (art. 172).
■■ Constituição de 1988: foi o primeiro texto a trazer um capítulo próprio
com regras sobre meio ambiente, além de garantias previstas de modo
esparso na Constituição.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Então, quando a Constituição Federal Brasileira de 1988 foi promulgada, mui-


tos a chamaram de “Constituição Verde”. Qual seria o motivo? É que ela fora a
primeira a destinar um capítulo próprio ao meio ambiente (título VII, capítulo
VI). No artigo 225 da CF está estabelecido que:
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impon-
do-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preser-
vá-lo para as presentes e futuras gerações.

Mas o que quer dizer meio ambiente ecologicamente equilibrado? Compreende-se


um meio ambiente não poluído, com higidez e salubridade.
O equilíbrio ecológico não significa uma permanente inalterabilidade
das condições naturais. Contudo, a harmonia ou a proporção e a sani-
dade entre os vários elementos que compõem a ecologia – populações,
comunidades, ecossistemas e a biosfera – hão de ser buscadas inten-
samente pelo poder público, pela coletividade e por todas as pessoas
(MACHADO, 2007, p.121).

A sadia qualidade de vida esperada pelo texto constitucional propõe que só pode
ser alcançada com o meio ambiente ecologicamente equilibrado, saudável, não
poluído. Está ligado ao direito à vida, o que demonstra a essencialidade do meio
ambiente ecologicamente equilibrado.
Ao dispor também que é dever defender e preservar o meio ambiente para as
presentes e futuras gerações, mostra-se como uma das concepções mais inovadoras
e significativas em um texto constitucional em nível mundial; a responsabilidade
entre gerações. É uma responsabilidade ética intergeracional, um diálogo com o
futuro, com os nossos filhos e netos.

Meio Ambiente na Constituição Federal de 1988


30 UNIDADE I

Por fim, destacamos as palavras de Hely Lopes de Meirelles(1991, p.426):


Meio ambiente sadio e equilibrado é direito e dever de todos, tido como
“bem de uso comum”, definido como aquele que se reconhece à coleti-
vidade em geral sobre os bens públicos, sem discriminação de usuários
ou ordem especial para sua fruição.

Ou seja, ninguém tem direito de causar dano ao meio ambiente.


Vamos detalhar o preceito constitucional para melhor entendimento:
Artigo 225, caput da Constituição da Republica Federativa do Brasil:
Quadro 3 - Meio Ambiente na Constituição Federal Brasileira de 1988

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DISPOSITIVO PREVISÃO COMENTÁRIOS
Todos: todos os brasileiros e quem estiver
no território residindo.
Art. 225, caput da
Norma matriz Meio ambiente ecologicamente equili-
CF
brado: é o meio ambiente com higidez e
salubridade.

Fonte: a autora.

Ou seja, há proteção na esfera constitucional sobre o meio ambiente, com suas


particularidades detalhadas.

©shutterstock

DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO E SEUS ASPECTOS GERAIS


31

Conforme art.225 da CF:


§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o mane-
jo ecológico das espécies e ecossistemas; (Regulamento)
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do país
e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material
genético; (Regulamento) (Regulamento) (Regulamento) (Regulamento).
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus com-
ponentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprome-


ta a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; (Regulamento).
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencial-
mente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo
prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; (Regulamento).
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, méto-
dos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o
meio ambiente; (Regulamento).
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a cons-
cientização pública para a preservação do meio ambiente.
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que colo-
quem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou
submetam os animais à crueldade. (Regulamento).
§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio
ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão pú-
blico competente, na forma da lei.
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujei-
tarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e adminis-
trativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pan-
tanal mato-grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua uti-
lização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a pre-
servação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
(Regulamento) (Regulamento).
§ 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por
ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
§ 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização
definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.

Meio Ambiente na Constituição Federal de 1988


32 UNIDADE I

SUSTENTABILIDADE E DIREITO AMBIENTAL


BRASILEIRO

Direito do Meio Ambiente, Direito Ambiental


e Direito do Ambiente são expressões sinô-
nimas, tradicionalmente utilizadas pela
doutrina. O Direito Ambiental tem por obje-
tivo o desenvolvimento sustentável, que,
conforme definição dada pela comissão de

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Brundtland, consiste naquele que “satisfaz as
necessidades do presente sem pôr em risco a
capacidade das gerações futuras de terem suas
©shutterstock

próprias necessidades satisfeitas.” A susten-


tabilidade opera-se, portanto, por meio da administração racional dos recursos
naturais e dos sistemas ecológicos.
Mas para alcançar a sustentabilidade, imensos são os desafios:
Os problemas ambientais são produto de uma série de comportamen-
tos humanos historicamente arraigados. Entre eles convém citar uma
certa predisposição do ser humano em agir a curto prazo ( = atuação
imediatista), para auxiliar apenas aqueles com quem se relaciona pes-
soalmente, em especial os familiares e amigos próximos, negando as-
sistência a terceiros desconhecidos ( = atuação individualista), e para se
ver em permanente antagonismo com a natureza que o cerca, buscan-
do, por isso mesmo, desbravá-la, transformá-la e dominá-la ( = atuação
degradadora). O direito ambiental visa, em síntese, mudar tais traços
comportamentais, todos ambientalmente nefastos. Não espanta, pois,
que, em relação ao paradigma jurídico tradicional, o Direito Ambiental
seja considerado profundamente herético (BENJAMIN, 2001, p. 57).

O discurso sobre a necessidade de proteção e preservação da natureza não é


novidade. Porém, o que se observa na prática é, muitas vezes, a sobreposição da
economia sobre o meio ambiente, inclusive do próprio Estado que adia a cria-
ção de políticas públicas concretas para viabilizar o desenvolvimento sustentável.

DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO E SEUS ASPECTOS GERAIS


33

Conforme destaca Cavalcanti (1997, p.28):


Numa sociedade sustentável o progresso deve ser apreendido pela
qualidade de vida (saúde, longevidade, maturidade psicológica, edu-
cação, um meio ambiente limpo, espírito de comunidade, lazer gozado
de modo inteligente, e assim por diante) e não pelo puro consumismo
material.

José Rubens Morato Leite (2013) afirma que vivemos uma verdadeira crise eco-
lógica, que passou a ser reconhecida a partir do momento em que a degradação
ambiental atingiu índices alarmantes e tomou-se consciência de que a preser-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

vação de um ambiente sadio está intimamente ligada à preservação da própria


espécie humana. Matérias relativas ao efeito estufa, destruição da camada de ozô-
nio, redução da biodiversidade, poluição do solo, da água e do ar, tratamento
inadequado do lixo já não estampam apenas as páginas catastróficas de autores
de ficção cientifica, mas as páginas dos jornais e as agendas de qualquer governo.
Argumentam Guerra e Guerra (2014) que a crise ecológica não é uma mera
disputa politica ou ideológica. O debate ambiental também está perpassado por
disputas científicas. Diferentemente dos anos 60, em que uma parte expressiva dos
cientistas desconfiava da existência da crise ecológica, hoje a ciência não apenas
admite como também vem empenhando-se em atendê-la, apontando suas cau-
sas, características, profundidades e consequências. O envolvimento de cientistas
nesse debate e o gradativo surgimento das ciências ambientais vêm contribuindo
para revelar a crise ecológica nos seus diferentes ângulos. Em virtude disso, igno-
rar a crise ficou difícil, podendo o preço de subestimá-la ser elevado demais.
Partimos para essa conclusão de crise ambiental ao avaliar brevemente a situ-
ação da água. Havia no passado uma percepção de que a água era um recurso
ilimitado e talvez por essa razão a utilização do referido recurso tenha ocorrido de
forma indiscriminada. A água é um bem vital para a existência da vida de todas
as espécies e, em especial, para o ser humano, sendo certo afirmar que sua utili-
zação vai para além do consumo orgânico, haja vista que é utilizada em diversas
outras atividades realizadas, tais como: uso doméstico, indústria, agricultura, etc.
Ao desperdiçar a água, as pessoas negam seu valor e demonstram claramente a
visão míope diante dos acontecimentos presentes e futuros da humanidade, ense-
jando uma verdadeira mudança de comportamento sobre a utilização racional

Sustentabilidade e Direito Ambiental Brasileiro


34 UNIDADE I

desse bem precioso. Sem embargo, de toda água existente no planeta, em números
aproximados, 97,5% é salgada e apenas 2,5% é doce, sendo que esse percentual
não está acessível para o consumo humano. Então, dos 2,5% existentes de água
doce, 2,493% encontram-se nas grandes geleiras e em regiões subterrâneas de
difícil acesso. 0,007% é a porcentagem que está à disposição do consumo humano
nos continentes, tanto em rios quanto em lagos. Com efeito, apesar de sua grande
importância, a água tem sido utilizada de forma predatória, ensejando uma ver-
dadeira crise onde se observam em várias regiões do planeta pessoas que morrem
por falta do referido recurso. Especialistas afirmam que a escassez da água de

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
qualidade para o consumo humano será o maior problema do século XXI e que
irá afetar mais de dois terços da humanidade nos próximos anos.
Estudo da ONU estima que problemas de abastecimento afetarão dois
terços da humanidade por volta de 2025. O número de pessoas vivendo
nas regiões com problemas graves ou crônicos de falta de água quadru-
plicará nos próximos vinte e cinco anos, ou seja, um terço da população
mundial estará de alguma forma, passando sede. Nos países em desen-
volvimento, apenas metade da população tem acesso à água potável de
boa qualidade. Na China, 125 milhões de pessoas não possuem acesso
à água potável; na Índia, são cerca de 19% e na África do Sul, 30% da
população total. (GUERRA; GUERRA, 2014, p. 11).

Ainda segundo Guerra e Guerra (2014) outro ponto preocupante sobre a água
é que, além do seu desperdício, a distribuição dela em termos planetários não
ocorre de forma equânime, ou seja, isso é um fator de preocupação no plano
global. Para se ter noção da gravidade dos fatos, da água doce disponível exis-
tente no mundo, o Brasil é detentor do correspondente a quase um quinto (17%).
Essa condição propicia para cada brasileiro a disponibilidade do equivalente a
34 milhões de litros de água (em tese).
Assim, a escassez da água é um problema grave, e necessita que condutas
sejam repensadas e muito seja feito.

DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO E SEUS ASPECTOS GERAIS


35

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade, você, caro(a) aluno(a), entendeu como se dividem as normas legais
e como encontrá-las. Expusemos as noções introdutórias do Direito Ambiental
e suas classificações. Abordamos a importância da evolução histórica sobre a
preocupação ambiental, destacando a Conferência das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente Humano, realizada em 1972 em Estocolmo, na Suécia, a qual é o
marco do Direito Ambiental internacional. Apontamos a importância do relatório
Nosso Futuro Comum, que definiu os contornos do conceito do Desenvolvimento
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Sustentável. Com relação à Agenda 21, expusemos a Conferência Rio 92, conhe-
cida como cúpula da Terra, que, dentre os pontos importantes, elaborou um plano
de ação com uma série de instrumentos e iniciativas para a proteção do meio
ambiente no âmbito nacional, internacional, regional e local. Sobre a Rio+20,
realizada em 2012, concluiu-se em um documento chamado “O futuro que que-
remos”, mas que pouco teve aplicação, seja pela ausência dos líderes mundiais
ou pela falta de programas e metas específicas.
No que se refere à proteção interamericana, destacamos o protocolo de São
Salvador, que aponta entre seus dispositivos contemplar o direito a um meio
ambiente sadio. Posteriormente, fizemos uma classificação e conceituação do que
vem a ser meio ambiente, e compreendemos como sendo tudo aquilo que rodeia
o homem, seja natural, cultural, artificial ou do trabalho. Posteriormente, aponta-
mos a abordagem constitucional brasileira, fazendo um breve “passeio” nas (oito)
8 constituições que tivemos, avaliando-as e, por fim, nos prendemos a concei-
tuar e delimitar a atual preocupação ambiental na Constituição adotada (1988).
Sobre esta, percebemos que o conceito constitucional é amplo e assim o
deve ser. Por fim, percorremos algumas das principais problemáticas ambien-
tais e como a legislação deve atuar sobre elas. Percebemos que a crise ambiental
é grave e que o cenário somente tende a se agravar.

Considerações Finais
36

1. A Constituição Federal brasileira de 1988 assevera que todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial
à sadia qualidade de vida. Sobre este artigo, qual concepção sobre meio ambien-
te se adota?
a. Holística.
b. Pragmática.
c. Criacionista.
d. Perfeccionista.
e. Antropocêntrica.

2. São vários os aspectos que envolvem o conceito de meio ambiente, por ser en-
tendido de modo amplo e completo. Sobre este tema, assinale a alternativa cor-
reta, particularmente sobre o meio ambiente cultural e do trabalho:
a. Considera-se meio ambiente como um bem público classificado pela Consti-
tuição Federal como de uso comum do povo, razão pela qual não se admite
que o seu uso seja oneroso ou imponha a necessidade de qualquer contra-
prestação de ordem pecuniária.
b. Meio ambiente cultural só pode ser entendido como o direito de participar
de espetáculos artísticos de boa qualidade.
c. Ao estabelecer a tutela do meio ambiente, a Constituição Federal dispõe a pro-
teção do meio ambiente nele compreendido o meio ambiente do trabalho.
d. O meio ambiente cultural é o integrado pelos equipamentos urbanos como
bibliotecas e museus.

3. Nesta unidade verificamos que vivemos uma verdadeira crise ecológica, que
passou a ser reconhecida a partir do momento em que a degradação ambiental
atingiu índices alarmantes e tomou-se consciência de que a preservação de um
ambiente sadio está intimamente ligada à preservação da própria espécie hu-
mana. Estudo da ONU estima que problemas de abastecimento afetarão dois ter-
ços da humanidade por volta de 2025. O número de pessoas vivendo nas regiões
com problemas graves ou crônicos de falta de água quadruplicará nos próximos
vinte e cinco anos. Assim, questionamos: quais as principais atitudes que devem
ser tomadas? Explique.
37

4. Em 2012 foi realizado no Rio de Janeiro – Brasil, a conferência chamada de


Rio+20. Diversos temas foram tratados nos meses que se antecederam ao referi-
do encontro, tais como a economia verde e erradicação da pobreza. O secretário
geral da ONU – Ban Ki- Moon, afirmou que o documento final desta conferência
ficou abaixo das expectativas. Apesar dos problemas, alguns resultados colhidos
na Rio+20 podem ser exitosos, como o princípio da responsabilidades comuns
mais diferenciadas. Sobre este princípio, explique-o e aponte um avanço colhido
nesta conferência sobre os oceanos.

5. As constituições brasileiras trataram sobre o meio ambiente de modo diverso.


Importa citar que somente com a constituição de 1988 que se estabeleceu, de
maneira específica e global, a proteção ao meio ambiente. Sobre as abordagens
constitucionais ambientais brasileiras, marque a alternativa correta:
a. Em 1824, data da primeira constituição brasileira, já havia relato sobre o tema
ambiental. O Brasil não permitia exportação de produtos agrícolas e minerais
e o corte de madeira.
b. A Constituição de 1934 trouxe dispositivos sobre proteção às belezas na-
turais, patrimônio histórico, artístico e cultural e competência da união em
matéria de riquezas do subsolo, mineração, florestas, águas, caça e pesca e
sua exploração, com poderes para legislar somente a União nestes aspectos.
c. A Constituição de 1937 estabeleceu sobre a reserva legal e a área de preser-
vação permanente.
d. A Constituição de 1946 ficou conhecida como a Constituição Verde. Foi a pri-
meira a permitir o uso sustentável do meio ambiente.
38

CRISE AMBIENTAL
Em 2007 foi produzido o relatório do clima, que demonstra os efeitos desastrosos da
ação produzida pelo homem e apresenta dados preocupantes sobre as mudanças cli-
máticas no planeta. Segundo o relatório, o cenário mundial vem sendo alterado pelas
mudanças climáticas e a população mundial terá dificuldades para se adaptar a ele.
As mudanças incluem não só o aumento do clima em si, mas também fenômenos como
precipitação e sazonalidade, importantes no que tange à capacidade de adaptação das
diferentes espécies, inclusive o ser humano. Água, ecossistemas/agricultura, sociedade/
economia e saúde estão entre os setores analisados pelo IPCC. (...) Dentre as previsões,
o IPCC afirma que cerca de 30% de costa litorânea será perdida em função do aumento
do nível da água, o que afetará não só a oferta de produção (peixes, por exemplo) como
a própria sobrevivência das populações humanas que habitam tais áreas. Outro dado
preocupante é a mudança da distribuição geográfica de vetores. Ou seja, insetos trans-
missores de doenças endêmicas (malária, dengue, febre amarela) poderão se alastrar
em regiões onde não são encontrados atualmente, como na Europa e na América do
Norte, já que tais regiões tendem a ficar mais quentes ao longo dos anos. (...) A curto
e médio prazo, os africanos é quem mais sofrerão com as consequências desastrosas
relacionadas ao acesso à agua. (...) Na Ásia, o derretimento do Himalaia provocará um
aumento de enchentes, deslizamentos de encostas e dificuldade de acesso aos recursos
hídricos nas próximas duas ou três décadas.
Na América latina, vários ecossistemas tendem a desaparecer, ou serem drasticamente
reduzidos. No Brasil, especialmente a própria Amazônia, segundo cientistas, poderá ser
substituída por uma vegetação característica de cerrados (savana brasileira). Recifes de
coral (estes importantíssimos para a reprodução de várias espécies marinhas) também
tendem a desaparecer, já que consistem em colônias que suportam baixíssima variação
climática. Caso a demanda por recursos naturais e os índices de degradação ambiental
permaneçam nas taxas atuais, é possível que, em poucos anos, os dados do relatório
sejam considerados extremamente amenos. Aliás, isso aconteceu já na sua apresen-
tação, quando cientistas foram acusados de suavizar os reais impactos das mudanças
climáticas previstos para os próximos 50 anos. Não se pode olvidar que os riscos, espe-
cialmente em matéria ambiental, possuem algumas especificidades que anunciam a
modernização reflexiva. A começar pela ideia de que os riscos ambientais não são limi-
tados a um determinado tempo e espaço, isto é, seus efeitos podem ser sentidos com
maior incidência ao longo dos anos e alcançar vários estados-nação, fazendo com que
tenhamos, de fato, um problema no plano global. Assim, em relação à espacialidade,
impende assinalar que o risco ambiental não está adstrito a um determinado espaço.
39

Ao contrário, os efeitos que são produzidos são de natureza transnacional. Existem vá-
rios casos que podem demonstrar bem essa realidade, qual seja a não observância das
fronteiras quando da ocorrência de uma lesão ao ambiente. Evidencia-se, por exemplo,
o problema da emissão dos gases poluentes, responsáveis também pelo aquecimento
global. Como visto, sua emissão contribui para o denominado efeito estufa, que produ-
zirá efeitos em termos planetários. Outro problema que tem sido discutido em vários
foros internacionais é pertinente à poluição transfronteiriça e à produção do lixo tóxi-
co, ou seja, quando ocorre o lançamento do efluente no mar ou no ar, seus efeitos e
desdobramentos são sentidos em estados vizinhos e dependendo da lesão produzida,
também no plano global. Do mesmo modo, o risco de eclosão de uma guerra nuclear
pode destruir a Terra em fração de poucos segundos.
Fonte: Guerra e Guerra (2014, p. 53 - 55).
40

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
A partir da contradição econômica e ecológica, questionaram-se as formas de desen-
volvimento, já que se priorizou o desenvolvimento quantitativo (chamado crescimento
econômico) e descuidou-se do habitat humano. A humanidade, se não adotadas urgen-
tes e planejadas medidas em escala supranacional para salvaguarda do meio ambiente,
acha-se predestinada a terminar sua era em meio ao lixo, aos rios e mares assoreados,
às florestas desertificadas, ao calor insuportável, à poluição geral e sem perspectiva de
retorno, à fome e sede, enfim, ao cemitério dos mortos vivos.
Ante o paulatino e, às vezes, rápido processo de deterioração do meio ambiente e à
grande problemática econômica pela qual atravessa o mundo, tem-se apresentado dis-
tintas estratégias para a conservação do meio ambiente no planeta. A Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano de 1972 concluiu que os princípios de
conservação se incorporavam ao desenvolvimento,- dando origem ao termo ecodesen-
volvimento. Ou seja, desenvolvimento em níveis regionais e local, congruente com as
potencialidades da área em questão, prestando-se atenção ao uso adequado e racional
dos recursos naturais e à aplicação de estilos tecnológicos apropriados e à adoção de
formas de respeito dos ecossistemas naturais, centrando seu objetivo em utilizar os re-
cursos segundo as necessidades humanas e melhorar e manter a qualidade de vida para
esta geração e para as futuras.
Fonte: Guerra e Guerra (2014, p. 111).
MATERIAL COMPLEMENTAR

Primavera Silenciosa
Rachel Carson
Editora: Gaia
Sinopse: Quando a bióloga marinha Rachel Carlson lançou seu histórico
livro, Primavera Silenciosa, em setembro de 1962, qualquer indústria química de
inseticidas e outros derivados sintéticos podia lançar no meio ambiente o que bem
entendessem, sem testes cientificamente projetados. No fundo, praticamente
bastava que essas substâncias sintetizadas não matassem o químico responsável.
Aliás, nem existia nos EUA a agência de proteção ambiental, a EPA.

O texto trata sobre o desafio da autora de construir uma casa sustentável. A autora, que é jornalista
especialista em sustentabilidade, resolve brincar de “joão-de-barro” e relata seu desafio de armazenar
a água da chuva e tratar o esgoto, criando jardins funcionais. São excelentes ideias para todos nós!
Link: <http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/casa/como-joao-de-barro-historia-casa-
sustentavel-748313.shtml>.

Material Complementar
REFERÊNCIAS

ANTUNES, P. de B. Direito Ambiental. 16 ed. Editora Atlas, 2014.


BELTRÃO. A. F. G. Direito ambiental para concursos públicos. 2 ed. São Paulo: Mé-
todo, 2009.
BENJAMIN, A. H. Objetivos do Direito Ambiental. In: BENJAMIN, A. H.; SÍCOLI, José
Carlos Meloni (org.). O Futuro do Controle da Poluição e da Implementação Am-
biental (The future of pollution, regulation and enforcement). São Paulo: IMESP,
2001.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Fe-
deral: Centro Gráfico, 1988.
CAVALCANTI, C. Política de governo para o desenvolvimento sustentável: uma in-
trodução ao tema e a esta obra coletiva. In: Clóvis Cavalcanti (org.) Meio ambiente,
desenvolvimento sustentável e politicas pública. São Paulo: Cortez, 1997.
GUERRA, S.; GUERRA S. Curso de Direito Ambiental. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2014.
LEITE, J. R. M. A responsabilidade civil por danos ambientais na sociedade de risco:
um direito reflexivo frente às gerações de problemas ambientais. In: LOPEZ, T. A.;
LEMOS, P. F. I.; RODRIGUES JÚNIOR, O. L. Sociedade de risco e direito privado. São
Paulo: Atlas, 2013.
LENZA, P. Direito Constitucional esquematizado. 16 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
MACHADO, P. A. L. Direito Ambiental Brasileiro, 15 ed. São Paulo: Malheiros, 2007.
MEDEIROS, F. L. F. de. Meio ambiente. Direito e dever fundamental. Porto alegre:
livraria do advogado, 2004.
MEIRELLES, H. L. Direito Administrativo brasileiro. 6 ed. São Paulo: RT, 1991.
MELO, F. Manual de Direito Ambiental. São Paulo: Método, 2014.
SILVA, J. A. da. Direito Ambiental Constitucional, 6 ed. São Paulo: Malheiros, 2007.
SOARES, G. F. S. As responsabilidades no Direito Internacional do Meio Ambiente.
Tese para Professor Titular de Direito Internacional Público da Faculdade de Direito da
USP, 1995.
43
REFERÊNCIAS

Citação de Links

1
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2
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9433.htm>. Acesso em 12 dez. 2015.
3
<www.unb.br/temas/desenvolvimento_sust/eco_92.php>. Acesso em 12 dez.
2008.
4
<www.mma.gov.br/estruturas/agenda21/arquivos/estocolmo.doc>. Acesso em:
12 dez. 2015.
5
<https://ambiente.wordpress.com/2011/03/22/relatrio-brundtland-a-verso-origi-
nal/>. Acesso em: 12 dez. 2015.
6
<http://ambientes.ambientebrasil.com.br/gestao/agenda_21.html>. Acesso em:
28 dez. 2015.
7
<http://www.cidh.org/Basicos/Portugues/e.Protocolo_de_San_Salvador.htm>.
Acesso em: 12 dez. 2015.
8
<https://dicionariodoaurelio.com/>. Acesso em: 12 dez. 2015.
GABARITO

1. E.

2. C.

3. A situação da água em especial tornou-se um grave problema para a humanida-


de, e enseja a realização de vários congressos e reuniões no plano internacional
no intuito de buscar resultados favoráveis para essa adversidade. Porém, marca-
mos como pontos importantes a serem melhor avaliados e efetivados:
- distribuição da água.
- economia do uso da água.
- uso consciente da água.
- programas de aproveitamento da água.
- tratamento eficaz da água com possibilidade de reaproveitamento.
- programas de educação ambiental para o uso da água.

4. A observância do princípio das responsabilidades comuns mais diferenciadas


estabelece que os países com maiores recursos devem apresentar maior em-
penho financeiro para implementação de ações em prol do meio ambiente.
Outro ponto importante foi a questão da proteção dos oceanos, (item 162 do
documento), para uso sustentável da biodiversidade e conservação em alto mar.
Antes da Rio+20, as águas internacionais careciam de regulamentação entre os
países.

5. B.
Professora Me. Heloísa Alva Cortez Gonçalves

PRINCÍPIOS DO DIREITO

II
UNIDADE
AMBIENTAL

Objetivos de Aprendizagem
■■ Apresentar os principais princípios do Direito Ambiental.
■■ Expor a sistemática da Política Nacional do Meio Ambiente.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Princípios do Direito Ambiental
■■ Política Nacional do Meio Ambiente
47

INTRODUÇÃO

Os princípios em matéria de Direito Ambiental são muito importantes para o


desenvolvimento da área, tendo em vista que seu embasamento teórico surge a
partir das conferências internacionais de proteção ao meio ambiente, que con-
sagram em suas respectivas partes dispositivas a principiologia que irá nortear
a própria elaboração da matéria ambiental. Princípios são linhas mestras, são as
diretrizes que apontam os rumos a serem seguidos pela sociedade e pelos poderes
constituídos. Princípios são mandamentos de um sistema jurídico, conhecê-los
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

é condição para se chegar a um raciocínio do sistema normativo.


Por isso, vários são os princípios existentes aplicáveis no estudo do Direito
Ambiental. Há de se observar que ainda não há um consenso na doutrina sobre
os princípios, por isso numeraremos os principais nesta unidade.
O Direito Ambiental é uma das mais recentes matérias do Direito Moderno,
e também tem sofrido as mais relevantes modificações. A preocupação funda-
mental do Direito Ambiental é organizar a utilização dos recursos ambientais,
por isso contempla tamanha discussão com posições contrárias e protecionis-
tas. O papel do Direito Ambiental é estabelecer métodos, critérios, proibições
e permissões, definindo o que pode e o que não pode ser apropriado economi-
camente (ambientalmente). O Direito Ambiental se encontra no centro de toda
atividade econômica e, diante de tamanho desafio, posiciona-se a atender alguns
preceitos (não iniciaremos neste momento o debate sobre a forma como a legis-
lação brasileira o faz), mas a questão é que muito falta para avançarmos.
Após avaliação dos princípios, apontaremos a logística, objetivos e competên-
cias da politica nacional do meio ambiente e seus instrumentos de efetivação.

Introdução
48 UNIDADE II

PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL

O Direito Ambiental é um dos mais recentes setores do


Direito Moderno e, com toda certeza, é um dos que
tem sofrido as mais relevantes modificações. Como
em toda novidade, existem incompreensões e
incongruências sobre o papel que ele deve
desempenhar na sociedade, na economia e
na vida em geral. A sua implementação não se

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
faz sem dificuldades das mais variadas origens,
indo desde as conceituais até as operacionais.
Mas uma verdade pode ser proclamada: a pre- ©shutterstock

ocupação do Direito com o meio ambiente


é irreversível.
Conforme Antunes (2014) a preocupação
fundamental do Direito Ambiental é organizar
a utilização social dos recursos ambientais, estabelecendo métodos, critérios,
proibições e permissões, definindo o que pode e o que não pode ser apropriado
economicamente (ambientalmente). Não satisfeito, vai além e estabelece como
a apropriação econômica (ambiental) pode ser feita. Logo, o Direito Ambiental
se encontra no coração de toda atividade econômica, uma vez que, seja ela qual
for, se faz sobre a base de uma infraestrutura que consome recursos naturais,
notadamente sob a forma de energia.
No caso dos princípios do Direito Ambiental, pode-se afirmar que é a partir
deles que as matérias que ainda não foram objeto de legislação específica podem
ser tratadas pelo poder judiciário e pelos diferentes aplicadores do direito, pois,
na inexistência de norma legal, há que se recorrer aos diferentes elementos for-
madores do direito.
Assim, ressaltamos que não há um consenso acerca dos princípios do direito
ambiental. Citaremos os principais.

PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL


49

PRINCÍPIO DO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE


EQUILIBRADO COMO DIREITO FUNDAMENTAL

Este princípio tem base na Constituição Federal (1988) em seu art. 225, caput,
que dispõe: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida.”
A declaração do Rio (1992) contemplou este princípio quando afirma: “Os
seres humanos estão no centro das preocupações com o desenvolvimento sus-
tentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

natureza.” (Princípio 1º).


Então, o que seria meio ambiente ecologicamente equilibrado?
Entende-se como o meio ambiente sem poluição, com salubridade e higidez.
Com o meio ambiente equilibrado, pretende-se garantir, em aspectos fundamen-
tais, o direito à vida, sobretudo à sadia qualidade de vida, o que proporciona a
materialização do axioma maior do sistema jurídico brasileiro: a dignidade da
pessoa humana. Conforme Fiorillo (2013), aludida conclusão é alcançada pela
observação do art. 225 da lei maior, que utiliza a expressão “sadia qualidade de
vida”. De fato, o legislador constituinte optou por estabelecer dois objetos de
tutela ambiental: “um imediato, que é a qualidade do meio ambiente, e o outro
mediato, que é a saúde, o bem estar e a segurança da população, que se vêm sin-
tetizando na expressão da qualidade de vida.”

PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Conforme o relatório “Nosso Futuro Comum” – relatório de Brudtland, o desen-


volvimento sustentável é: “aquele que atende às necessidades do presente sem
comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias
necessidades.” (RELATÓRIO Brundtland, on-line)1.
Para Melo (2014), o Supremo Tribunal Federal entende o princípio do
desenvolvimento sustentável como suporte legitimador em compromissos inter-
nacionais assumidos pelo estado brasileiro e representa fator de obtenção do
justo equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia, subordinada,

Princípios do Direito Ambiental


50 UNIDADE II

no entanto, a invocação desse postulado, quando ocorrente situação de conflito


entre valores constitucionais, relevante a uma condição inafastável, cuja obser-
vância não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais
significativos direitos fundamentais: o direito à preservação do meio ambiente,
que traduz bem de uso comum da generalidade das pessoas, a ser resguardado
em favor das presentes e futuras gerações.
Já a Constituição Federal Brasileira no seu artigo 170 dispõe que a ordem
econômica é fundada na valorização do trabalho e na livre iniciativa, e visa asse-
gurar existência digna conforme os ditames da justiça social, com a observância,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dentre outros, dos princípios observados na figura 1.
Figura 1 - Princípios envolvidos no Direito Ambiental

Da defesa do
meio ambiente

Da função social
da propriedade

Fonte: a autora

Por função social da propriedade, aponta-se para o exercício do direito de pro-


priedade que deve observar e respeitar as normas ambientais. A defesa do meio
ambiente nas atividades econômicas ocorre mediante tratamento diferenciado
conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de ela-
boração e prestação. Para falar sobre o desenvolvimento sustentável, os artigos 170
e 225, ambos da Constituição Federal de 1988, devem ser avaliados conjuntamente.

PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL


51

Não obstante é recorrente a tensão entre as atividades econômicas e as


normas protetivas do ambiente. Assim, na impossibilidade de compa-
tibilizá-los, há de se indagar sobre o que há de prevalecer: as ativida-
des econômicas ou o meio ambiente. A resposta é que pela sistemática
constitucional as atividades econômicas não podem ser exercidas em
desarmonia com os princípios destinados a tornar efetiva a proteção ao
meio ambiente. (MELO, 2014, p. 100).

O meio ambiente não pode ser prejudicado por interesses econômicos e empre-
sariais. A atividade econômica está condicionada a privilegiar a defesa do meio
ambiente.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 2: Desenvolvimento sustentável

Social

Desenvolvimento
Sustentável

Econômico Ambiental

Fonte: Melo (2014, p. 100).

Os recursos ambientais não são inesgotáveis, tornando-se inadmissível que as


atividades econômicas se desenvolvam alheias a esse fato. Permite-se o desen-
volvimento, mas de forma sustentável, planejada, para que os recursos hoje
existentes não se esgotem ou se tornem inócuos. Como se percebe, o princípio
possui grande importância. Porquanto, numa sociedade desregrada, à deriva de
parâmetros de livre concorrência e iniciativa, o caminho inexorável para o caos
ambiental é uma certeza. Não há dúvida de que o desenvolvimento econômico
também é um valor precioso para a sociedade. Todavia, a preservação ambien-
tal e o desenvolvimento econômico devem coexistir, de modo que aquela não
acarrete a anulação deste.

Princípios do Direito Ambiental


52 UNIDADE II

Fiorillo (2013) afirma que a preservação do meio ambiente passou a ser a


palavra de ordem. Porquanto, sua contínua degradação implicará diminuição da
capacidade econômica do país, e não será possível à nossa geração e, principal-
mente, às futuras, desfrutar de uma vida com qualidade. Sabe-se que a atividade
econômica, na maioria das vezes, representa uma degradação ambiental, mas o
que se procura é minimizá-la, pois pensar de forma contrária significaria dizer
que nenhum empreendimento que venha a afetar o meio ambiente poderá ser
instalado, e não é essa a concepção apreendida do texto. O correto é que as ati-
vidades sejam desenvolvidas lançando-se mão dos instrumentos existentes

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
adequados para a menor degradação possível.

PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO

O que significa prevenir? Significa agir antecipadamente, assim a tendência deste


princípio é esta! É uma conduta necessária em qualquer programa ou atuação
que envolva questões ambientais.
Pensemos: como erradicar os efeitos de Chernobyl? Ou, de que forma res-
tituir uma floresta milenar devastada e que abrigava milhares de ecossistemas
diferentes, cada um essencial em seu papel na natureza? É impossível resta-
belecer uma situação idêntica à anterior antes destes danos que muitas vezes
só podem ser mensurados em sua totalidade anos depois. Por isso, adota-se
o princípio da prevenção do dano ao meio ambiente como basilar ponto do
Direito Ambiental.
Por essa razão, o Direito Ambiental é eminentemente preventivo. Há de se
adotar uma conduta antecipada para evitar a ocorrência de danos ambientais.
Assim, este princípio é aplicável ao RISCO CONHECIDO. Mas o que vem a
ser risco conhecido? Seria aquele identificado por meio de pesquisas, informa-
ções ambientais, ou porque já havia um precedente, resultado de intervenções
anteriormente realizadas. Citamos o caso de exploração de atividades de mine-
ração. Sabe-se que as consequências ambientais são enormes, e é a partir do risco
ou perigo conhecido que se procura adotar medidas antecipatórias de mitigação
dos possíveis impactos ambientais.

PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL


53

A prevenção consiste em impedir a superveniência de danos ao meio


ambiente por meio de medidas apropriadas, ditas preventivas, antes
da elaboração de um plano ou da realização de uma obra ou atividade.
(PRIEUR apud GRANZIERA, 2008, p. 53).

A prevenção e a preservação devem ser concretizadas por meio de uma cons-


ciência ecológica, desenvolvida por uma política de educação ambiental. Mas
a nossa realidade não contempla essa afirmativa, por isso instrumentos de pre-
venção são importantes, tais como:
Figura 3 - Instrumentos de Prevenção

EIA/RIMA (estudo prévio de impac- Auditorias ambientais. Podem ser


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

to ambiental, e o relatório de públicas ou privadas. Trata-se de um


impacto ambiental). Estudo que identifi- procedimento de avaliação ambiental em
ca previamente os possíveis impactos e uma empresa ou atividade, da conformi-
danos ao meio ambiente de uma dade com a legislação ambiental ou no
atividade efetiva ou potencial- âmbito da responsabilidade socioam-
mente causadora de significativa biental, de forma mais ampla, da
degradação ao meio ambiente e compatibilidade com normas
sugere as medidas de empresariais especificas de
mitigação e/ou compensação. certificação, como o sistema ISO.
Poder de polícia ambiental. O
exercício do poder de polícia
Licenciamento ambiental. ambiental para fiscalização e controle
De atividades efetiva ou de técnicas, métodos e substancias que
potencialmente poluidoras. comportem risco para a vida, a qualidade
de vida e o meio ambiente
Fonte: a autora

PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO

O princípio da precaução está disposto: “quando houver ameaça de danos gra-


ves ou irreversíveis, a ausência de certeza cientifica absoluta não será utilizada
como razão para o adiamento de medidas economicamente viáveis para pre-
venir a degradação ambiental.” (Princípio 15 da Declaração do Rio, de 1992).
Neste princípio, o que lhe marca é a ausência de informações ou pesquisas
científicas conclusivas sobre a potencialidade e os efeitos de determinada inter-
venção no meio ambiente e na saúde humana.
Atua como um mecanismo de gerenciamento de riscos ambientais, nota-
damente para as atividades e empreendimentos marcados pela ausência de
estudos e pesquisas objetivas sobre as consequências para o meio ambiente e a
saúde humana. Como exemplo deste princípio, cita-se o plantio de organismos
geneticamente modificados (OGMs). Não há estudos conclusivos sobre as con-
sequências de OGMs para a saúde humana e o meio ambiente, e como tal faz-se
necessária a observância ao citado princípio.

Princípios do Direito Ambiental


54 UNIDADE II

Assim, não se admite o plantio de uma espécie de OGM ou o desenvolvi-


mento de pesquisas genéticas sob a alegação de que não há provas ou estudos
objetivos de que causará danos ao meio ambiente ou à saúde humana. É justa-
mente a ausência ou a incompletude de provas e elementos sobre a potencialidade
dos impactos que justifica a adoção do princípio da precaução, que visa à espera
da informação até que estudos e pesquisas sejam realizados para autorizar even-
tual intervenção ou procedimento. “Na dúvida, não faça intervenções.” (MELO,
2014, p. 106).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Deve-se aprender a pensar e agir com visão de longo prazo e evitar o irre-
versível. (Hans Jonas)

Assim, considera-se que há diferenças fundamentais entre os princípios da pre-


venção e da precaução.
Quadro 1: Quadro comparativo entre princípio da precaução e principio da prevenção

PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO

Risco conhecido Risco desconhecido


Certeza cientifica Incerteza cientifica

Fonte: a Autora.

Conclui Mira (2001) que, no princípio da precaução, adota-se um direito de


prudência, de vigilância, e não mais de tolerância, impondo-se na prática
que sempre que houver perigo da ocorrência de dano grave ou irreversível,
a falta de certeza cientifica absoluta não deverá ser utilizada como motivo
para adiar-se a adoção de medidas eficazes para impedir a degradação do
meio ambiente.

PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL


55

PRINCÍPIO DO POLUIDOR PAGADOR

Para Silva (2002), o princípio do poluidor pagador teria surgido pela primeira
vez por meio da Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico,
(OCDE), em 1972, e buscava impor ao poluidor o dever de arcar com os custos
de medidas de recuperação ambiental.
Tem natureza econômica, cautelar e preventiva, que compreende a interna-
lização dos custos ambientais, que devem ser suportados pelo empreendedor,
afastando-os da coletividade. Visa este princípio internalizar os custos externos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

da deterioração ambiental, impõe-se ao produtor, consumidor, transportador,


que nesta relação pode causar um problema ambiental, arcar com os custos da
diminuição ou afastamento do dano.
Diferente do que possa aparentar, pela simples leitura do termo – polui-
dor pagador, este principio não dá direito a poluir e depois pagar! Essa leitura
é equivocada.
O objetivo do princípio é preventivo, quando busca evitar a ocorrência de
danos ambientais, a qual obriga a internalização das externalidades negativas. Por
internalização, entende-se o processo produtivo e por externalidades ambientais
negativas tudo o que se encontra fora do processo de produção, como a polui-
ção etc.
Vejamos nas palavras de Fabiano Melo (Manual de Direito Ambiental):
Para evitar que as externalidades ambientais negativas sejam suporta-
das pela comunidade (como no caso de um rio que abastece os mora-
dores de uma cidade e é poluído por determinada empresa), impõe-se
ao empreendedor a adoção de medidas preventivas, tais como a insta-
lação de filtros de limpeza de gases, estações de tratamento de efluentes,
destinação dos resíduos e rejeitos, etc. (MELO, 2014, p.109).

Mesmo se o empreendedor adotar medidas preventivas e o dano ambiental ocor-


rer, deve este suportar o dever de reparar, assim, o princípio do poluidor pagador,
além do aspecto preventivo contemplar o ponto repressivo.
Interessante manifestação do Superior Tribunal de Justiça (STJ) sobre este
princípio:

Princípios do Direito Ambiental


56 UNIDADE II

Não mais se admite, nem se justifica, que para produzir ferro e aço a
indústria brasileira condene as gerações futuras a uma herança de ex-
ternalidades ambientais negativas, rastros ecologicamente perversos de
uma atividade empresarial que, por infeliz escolha própria mancha sua
reputação e memória ao exportar qualidade, apropriar-se dos benefícios
econômicos e, em contrapartida, literalmente queimar, nos seus fornos
nossas florestas e bosques, que nas fagulhas expelidas pelas chaminés,
se vão irreversivelmente (SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, 2015).

Dessa forma, conclui-se que toda poluição gera um custo para a sociedade. Esse
princípio consiste no dever do poluidor de pagar por este custo ambiental, de
forma preventiva, por meio do investimento em tecnologias e outros mecanis-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
mos, ou por meio de medidas reparadoras, quando o dano ambiental já ocorreu.
Na mesma vertente, pode-se afirmar que quanto mais rigorosa for a legis-
lação ambiental, maior será a busca por novas tecnologias que assegurem um
mínimo de desperdício no processo produtivo, até alcançar o grau máximo de
eficiência produtiva: ausência absoluta de resíduos.
Este princípio tem base constitucional, em seu art. 225, parágrafo 3º, que
dispõe:
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados.

Também a Lei n° 6.938/1981 no art. 4º, VII aponta: (BRASIL, Lei n.º 6.938, de
31 de agosto de 1981, on-line)2.
Art 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará:

(...)

VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar


e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela
utilização de recursos ambientais com fins econômicos.

Já o art. 14, p. 1º, da Lei n° 6.938/1981 dispõe: (BRASIL, Lei n.º 6.938, de 31 de
agosto de 1981, on-line)3.

PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL


57

§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo,


é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a
indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros,
afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados
terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal,
por danos causados ao meio ambiente.

Portanto, mesmo sem ter “culpa” pelo dano ambiental gerado, o poluidor é obri-
gado a reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por
sua atividade.
Lembrou-se de algum fato?
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Tragédia em Mariana (Minas Gerais), abordaremos este ponto com alguns


esclarecimentos do ocorrido em nossa leitura complementar.

PRINCÍPIO DO USUÁRIO PAGADOR

Este princípio está previsto no inciso VII do art. 4º da Lei n° 6.938/1981, como
sendo um dos objetivos da política nacional do meio ambiente, com a impo-
sição ao usuário da contribuição pela utilização de recursos ambientais com
fins econômicos. O mesmo decorre da necessidade de valorização econômica
dos recursos naturais, evitando o que chama de custo zero, que é a ausência
de cobrança pela utilização, pois o custo zero conduz a uma hiperexploração
do bem ambiental.

“Como exemplo, ao não se valorar o custo pela utilização da água, inevita-


velmente ocorrerão sua exploração e utilização de forma excessiva, com a
diminuição da disponibilidade desse bem fundamental para a vida.” (Édis
Milaré)

Princípios do Direito Ambiental


58 UNIDADE II

Mas é lícito (legal) cobrar pela água, se é um bem fundamental


à existência das pessoas, animais e plantas?
Sim, tanto é que a Lei n° 9.433/1997 (política nacional de
recursos hídricos) reconhece a água como bem econômico
e a necessidade de dar ao usuário uma indicação do seu
real valor – art. 19, I. Também, a Lei n° 12.862/2013,
que dispõe sobre a política nacional de saneamento
básico, estabelece que os serviços públicos de
saneamento básico sejam prestados com base nos

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
seguintes princípios fundamentais, dentre outros,
a adoção de medidas de fomento à moderação do
consumo de água. (art. 2º, XIII) conforme a Lei n.º
9.4334 e a Lei n.º 12.8625.
©shutterstock

Então, este princípio tem natureza meramente remuneratória pela outorga


do direito de uso de um recurso ambiental. Não há aqui uma ilicitude.

PRINCÍPIO DO PROTETOR RECEBEDOR

Este princípio é recente, uma vez que foi positivado com a Lei n° 12.305/2010
(BRASIL, Lei n.º 12.305, de 2 de agosto de 2010, on-line)6 , que se refere à polí-
tica nacional de resíduos sólidos. Tal princípio concede benefícios econômicos,
fiscais ou tributários aos agentes que optam por medidas de proteção ao meio
ambiente. Como exemplo deste princípio, citamos a servidão ambiental, a qual
o proprietário ou possuidor do imóvel pode limitar o uso de toda a sua proprie-
dade ou parte dela para preservar, conservar ou recuperar os recursos ambientais
existentes, beneficiando-se com isenção do imposto territorial rural (ITR) sobre
a área de servidão.
Nas palavras de Fabiano Melo (2014, p.112), o princípio:
Nada mais justo, uma vez que aquele que protege ou renuncia à explo-
ração de recursos naturais em prol da coletividade deve ser contempla-
do com os incentivos decorrentes do princípio do protetor recebedor.

PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL


59

PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA PROPRIEDADE

O que muito se questiona por parte de leigos é: se a propriedade é minha, por


que não posso fazer com ela o que bem quiser?
Ora, a resposta é simples, pois existe a função socioambiental da propriedade.
Desta forma, garante-se a propriedade privada conforme art. 5º, XXII da
CF, mas o direito de propriedade somente se legitima ao atender a função social
desta (art. 5º. XXIII da CF).
Vejamos o artigo 5º da Constituição da República Federativa do Brasil (1988):
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natu-
reza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País
a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança
e à propriedade, nos termos seguintes:

XXII - é garantido o direito de propriedade;

XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;[...].

Só se pode falar em propriedade no ordenamento jurídico como função social.


A função socioambiental nada mais é que a função social da propriedade com
ênfase em seu aspecto ambiental.
Mas existe diferença de função social da propriedade para a rural e urbana?
Sim, vejamos:
Quadro 2: Quadro comparativo sobre a Função Social, Urbana e Rural.

PROPRIEDADE URBANA PROPRIEDADE RURAL


Esta cumpre sua função socioambiental conforme leitura do
Cumpre sua função art. 186 da CF:
social quando atende às “Art. 186. A função social é cumprida quando a
exigências fundamentais propriedade rural atende, simultaneamente, se-
gundo critérios e graus de exigência estabeleci-
de ordenação da cidade dos em lei, aos seguintes requisitos:
que se expressam no
I - aproveitamento racional e adequado;
plano diretor (art. 182, § 2
da CF). Em regra, o plano II - utilização adequada dos recursos naturais dis-
diretor é obrigatório para poníveis e preservação do meio ambiente;
cidades com mais de 20 III - observância das disposições que regulam as
mil habitantes (art. 41 da relações de trabalho;
lei 10.257/2001). IV - exploração que favoreça o bem-estar dos pro-
prietários e dos trabalhadores.”
Fonte: a Autora.

Princípios do Direito Ambiental


60 UNIDADE II

PRINCÍPIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Decorre do princípio da participação na tutela do meio ambiente, previsto no


art. 225, § VI da CF. O objetivo é trazer consciência ecológica ao povo, titular
do direito ao meio ambiente, permitindo a efetivação do princípio da participa-
ção na salvaguarda desse direito.
Na Declaração de Estocolmo sobre meio ambiente humano em 1972 já se
mencionava a importância da educação ambiental no princípio 19. Vejamos:
É indispensável um esforço para a educação em questões ambientais,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dirigida tanto às gerações jovens como aos adultos e que preste a devida
atenção ao setor da população menos privilegiado, para fundamentar
as bases de uma opinião pública bem informada, e de uma conduta
dos indivíduos, das empresas e das coletividades inspirada no sentido
de sua responsabilidade sobre a proteção e melhoramento do meio
ambiente em toda sua dimensão humana. É igualmente essencial que
os meios de comunicação de massas evitem contribuir para a deterio-
ração do meio ambiente humano e, ao contrário, difundam informação
de caráter educativo sobre a necessidade de protegê-lo e melhorá-lo, a
fim de que o homem possa desenvolver-se em todos os aspectos. (DE-
CLARAÇÃO...on-line)7.

“Ensina a teus filhos o que temos ensinado aos nossos: que a terra é nossa
mãe. Tudo quanto fere a terra, fere os filhos da terra.” (Cacique Seatle)

Já a Constituição Brasileira também cita a importância da educação ambiental


no art. 225, § 1, VI:
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente;[...].

Mas o que é educar ambientalmente? Nas palavras de Fiorillo (2013):

PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL


61

Figura 4 - Definição de "educar ambientalmente"


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

A Reduzir os custos ambientais, à D Incentivar a realização do


medida que a população atuará princípio da solidariedade, no
como guardião do meio ambiente. exato sentido que perceberá que o
meio ambiente é único, indivisível e
B Efetivar o princípio da prevenção. de titulares indetermináveis devendo
ser justa e distributivamente acessível
a todos.
C Fixar a ideia de consciência
ecológica, que buscará sempre a
utilização de tecnologias limpas. E Efetivar o princípio da partici-
pação, entre outras finalidades.
Fonte: adaptado de Fiorillo (2013).

Deve-se levar o indivíduo e a coletividade a construir valores sociais, conheci-


mentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do
meio ambiente, bem de uso comum do povo. Além disso, a Educação Ambiental
é componente da educação nacional, devendo estar presente em todos os níveis
e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal.

PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO AO RETROCESSO ECOLÓGICO

Esse princípio não permite o recuo para níveis de proteção ambientais inferiores.
O que se pretende é a proteção contra retrocessos e flexibilizações na lei ambiental.
Nas palavras de Sarlet e Fensterseifer (2011, p.202)

Princípios do Direito Ambiental


62 UNIDADE II

No caso especialmente da legislação ambiental que busca dar operativi-


dade ao dever constitucional de proteção do ambiente, há que assegurar a
sua blindagem contra retrocessos que a tornem menos rigorosa ou flexível,
admitindo práticas poluidoras hoje proibidas, assim como buscar sempre
um nível mais rigoroso de proteção, considerando especialmente o déficit
legado pelo nosso passado e um ajuste de contas com o futuro, no sentido
de manter um equilíbrio ambiental também para as futuras gerações.

PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃO

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A informação é essencial para que a proteção ao meio ambiente seja efetivada.
Todos têm direito a amplo acesso às informações, dados e estudos relacionados
ao meio ambiente, produzidos e/ou guardados nos órgãos públicos, indepen-
dentemente da comprovação de algum interesse específico.
A Lei n° 6.938/1981 em seu inciso V do art. 4º dispõe:
Art 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará:

V - à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação


de dados e informações ambientais e à formação de uma consciência
pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e
do equilíbrio ecológico.

Também como expressão do princípio da informação, o art. 40, da Lei n°


11.105/2005, dispõe ser direito dos consumidores serem informados sobre pro-
dutos e alimentos que contenham organismos geneticamente modificados (OGM).
Conforme a Lei n.º 11.105/20058
Agora, você conhece os principais princípios do direito ambiental, e sabe da
importância que estes têm na matéria ambiental. Nosso próximo passo é conhe-
cer a sistemática da política nacional do meio ambiente. Prontos?!

PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL


63

DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

A Política Nacional do Meio Ambiente foi instituída pela Lei n° 6.938/1981. A


importância dessa lei é que, como objetivo geral, estabelece a preservação, melho-
ria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no
país, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança
nacional e à proteção da dignidade da vida humana (art. 2º, caput).
Como objetivos específicos, a Lei n° 6.938/1981 aponta no art. 4º que a
Política Nacional do Meio Ambiente visará:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

I – à compatibilização do desenvolvimento econômico social com


a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio eco-
lógico.

Compreendem princípios da Política Nacional do Meio Ambiente, conforme


art. 2º da Lei n° 6.938/1981:

Art 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, me-
lhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no
País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança
nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes prin-
cípios:

I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o


meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e
protegido, tendo em vista o uso coletivo;

II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;

Ill - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;

IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;


V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras;
VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional
e a proteção dos recursos ambientais;

VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental;

VIII - recuperação de áreas degradadas;

IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação;

X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comuni-


dade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.

Da Política Nacional do Meio Ambiente


64 UNIDADE II

OBJETIVOS ESPECÍFICOS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO


AMBIENTE

Como objetivos gerais, a política nacional do meio ambiente visa à preservação,


melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, assegurando no
país condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança
nacional e à proteção da dignidade da vida humana. Como objetivos específi-
cos, encontramos no art. 4º do diploma n.º 6.938/1981:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Art 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará:
I - à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preser-
vação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico;
II - à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à quali-
dade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Esta-
dos, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios;
III - ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de
normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais;
IV - ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas
para o uso racional de recursos ambientais;
V - à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de
dados e informações ambientais e à formação de uma consciência pública
sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio
ecológico;
VI - à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua
utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a ma-
nutenção do equilíbrio ecológico propício à vida;
VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou
indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização
de recursos ambientais com fins econômicos.

Repare que o princípio do desenvolvimento sustentável está enraizado no art. 4º


citado, assim como a incumbência ao poder público de definir as áreas de pro-
teção ambiental. O artigo também expõe a necessidade de utilizar os recursos
naturais de forma racional.

PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL


65

INSTRUMENTOS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

Os instrumentos conferem efetividade à Politica Nacional do Meio Ambiente. São


os mecanismos legais e institucionais postos a disposição da administração pública
para a implementação dos objetivos do PNMA. São 13 instrumentos de efetiva-
ção da Política Nacional do Meio Ambiente, embora alguns deles não tenham
sido regulamentados ou se vejam espaços na Legislação Ambiental Brasileira.
Estes instrumentos de comando e controle, por meio de imposições norma-
tivas em geral, e o eventual descumprimento implica sanções às pessoas físicas
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

e jurídicas. Ainda estão previstos mecanismos econômicos, como a servidão


ambiental, o seguro ambiental que enfatiza a importância no investimento em
atividades ambientais como forma de se obterem ganhos econômicos. Veja o
caso da servidão ambiental, que limita o uso da propriedade para preservar,
conservar ou recuperar os recursos ambientais existentes e, em contrapartida, o
proprietário pode transformar cada hectare protegido na emissão de uma cota de
reserva ambiental e comercializá-la em bolsas de mercadorias de âmbito nacio-
nal ou em sistemas de registro e de liquidação financeira de ativos autorizados
pelo Banco Central do Brasil.

PADRÕES DE QUALIDADE AMBIENTAL

Ao falar de padrões de qualidade ambiental, pode-se entender como o meca-


nismo utilizado pelo Poder Público no controle da poluição, ao estabelecer os
limites máximos para emissão de poluentes e, no mesmo sentido, programas
que garantam a qualidade do ar, das águas e de ruídos. É uma exigência para
que o exercício de atividades e empreendimentos econômicos não comprometa
a incolumidade do meio ambiente e a saúde dos cidadãos.
Como exemplos de padrões de qualidade ambiental, enumeram-se as ini-
ciativas do CONAMA:

Padrões de Qualidade Ambiental


66 UNIDADE II

Figura 5 - Iniciativas do CONAMA

Programa de controle da
poluição do ar por veículos
automotores (proconve),
Programa nacional de resolução n. 18/1986.
controle de qualidade
do ar (pronar), pela
resolução n. 5/1990.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Qualidade das águas,
resolução n. 357/2005.

Fonte: a autora.

ZONEAMENTO AMBIENTAL

O zoneamento ambiental foi regulamentado pelo decreto n.º 4.297/2002, que


dispõe sobre o zoneamento ecológico econômico como mecanismo de organi-
zação do território a ser obrigatoriamente seguido na implantação de planos,
obras e atividades públicas ou privadas.
Zoneamento significa uso e a ocupação territorial, incluindo a utilização dos
recursos ambientais. O zoneamento ecológico econômico estabelece medidas e
padrões de proteção ambiental destinados a assegurar a qualidade ambiental dos
recursos hídricos e do solo e a conservação da biodiversidade, com a garantia
do desenvolvimento sustentável e a melhoria das condições de vida das pessoas.
Deve ser feito, para isso, uma gestão integrada das politicas territoriais,
ambientais e de desenvolvimento em um espaço determinado, que pode ser um
município, um estado, uma região ou todo o Brasil. Conforme o decreto n.º 4.2979.

PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL


67

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS

A Avaliação de Impactos Ambientais (AIA) é um instrumento de gestão ambien-


tal inspirado no direito norte americano. Aplica-se a avaliação quando uma
atividade ou empreendimento é efetivo ou potencialmente propenso a causar
poluição ou degradação ambiental.
Diferentes instrumentos são a AIA do EIA – Estudo Prévio de Impacto
Ambiental. A AIA inclui o próprio EIA como uma de suas espécies de Avaliação
de Impactos Ambientais. Além do EIA, existe o RAP – Relatório Ambiental
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Preliminar, previsto na Lei n° 11.284/2006 que trata da Lei de gestão de flores-


tas públicas, que é um estudo simplificado.

SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

O SISNAMA – Sistema Nacional do Meio Ambiente é o conjunto de entes e órgãos


da União, Estados, Distrito Federal, Municípios e suas respectivas administra-
ções indiretas, responsáveis pela proteção, controle, monitoramento e melhoria
da qualidade e da política ambiental no país. O SISNAMA é uma criação da
Política Nacional do Meio Ambiente, (art. 6º da Lei n° 6938/1981) regulamen-
tado pelo Decreto n.º 99.274/199010.
Estrutura-se em seis níveis fundamentais o SINAMA.
a. Órgão superior: conselho de governo.
b. Órgão consultivo e deliberativo: o conselho nacional do meio ambiente
– CONAMA.
c. Órgão central: Ministério do Meio Ambiente.
d. Órgão executor: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA) e o Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade.

Avaliação de Impactos Ambientais


68 UNIDADE II

e. Órgãos seccionais: os órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela


execução dos programas, projetos e pelo controle e fiscalização de
atividades capazes de provocar a degradação ambiental.
f. Órgãos locais: os órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo
controle e fiscalização dessas atividades, nas suas respectivas jurisdições.

COMPETÊNCIAS DO CONSELHO NACIONAL DO MEIO


AMBIENTE

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A finalidade do CONAMA é assessorar, estudar e propor, ao Conselho do
Governo, diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os
recursos naturais, além de deliberar, no âmbito de sua competência, sobre nor-
mas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e
essencial à sadia qualidade de vida. Conforme art. 8º da Lei n° 6.938/1981, são
competências do CONAMA:

Art. 8º Compete ao CONAMA:  (Redação dada pela Lei n.º 8.028, de 1990).

I - estabelecer, mediante proposta do IBAMA, normas e critérios para o licenciamento


de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, a ser concedido pelos Estados e
supervisionado pelo IBAMA; (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989).

II - determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das alternativas e


das possíveis consequências ambientais de projetos públicos ou privados, requisi-
tando aos órgãos federais, estaduais e municipais, bem assim a entidades privadas,
as informações indispensáveis para apreciação dos estudos de impacto ambiental,
e respectivos relatórios, no caso de obras ou atividades de significativa degradação
ambiental, especialmente nas áreas consideradas patrimônio nacional.

III - revogado;

IV - vetado;

V - determinar, mediante representação do IBAMA, a perda ou restrição de benefícios


fiscais concedidos pelo Poder Público, em caráter geral ou condicional, e a perda ou
suspensão de participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais
de crédito; (Redação dada pela Vide Lei n.º 7.804, de 1989).

PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL


69

VI - estabelecer, privativamente, normas e padrões nacionais de controle da poluição


por veículos automotores, aeronaves e embarcações, mediante audiência dos Minis-
térios competentes;

VII - estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à manutenção


da qualidade do meio ambiente com vistas ao uso racional dos recursos ambientais,
principalmente os hídricos.
Parágrafo único. O Secretário do Meio Ambiente é, sem prejuízo de suas funções, o
Presidente do CONAMA. 

Desta forma, o Decreto 99.274/1990 regulamentou a Lei n.º 6.938/1981 e ampliou


a competência do CONAMA.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Assim, o CONAMA, no uso de suas atribuições, edita resoluções, moções,


recomendações, proposições e decisões. Essa é uma de suas competências.

IBAMA

O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA)


é um dos entes executores do SISNAMA. Criado em 1989 pela Lei n.º 7.73511,
representou a integração das políticas ambientais no Brasil, que se dividiam em
vários órgãos e ministérios. A principal atribuição do IBAMA é exercer o poder
de polícia ambiental, executar ações das políticas nacionais do meio ambiente
referentes às atribuições federais, relativas ao licenciamento ambiental, ao con-
trole da qualidade ambiental, à autorização de uso dos recursos naturais e à
fiscalização, monitoramento e controle ambiental, e executar as ações supleti-
vas de competência da união.

INSTITUTO CHICO MENDES

O Instituto Chico Mendes de conservação da biodiversidade tem autonomia


administrativa, criada pela Lei n.º 11.516/200712. É órgão executor do SISNAMA
e possui competência para administrar as unidades de conservação federais pre-
vistas e criadas a partir da Lei n.º 9985/2000.

Ibama
70 UNIDADE II

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade avaliamos os principais princípios do Direto Ambiental, percebe-


mos que não existe um consenso na doutrina sobre estes, então elegemos alguns
para serem abordados. Sobre o princípio da prevenção, percebemos que este
procura evitar a ocorrência de danos que certamente serão causados pela ativi-
dade ou obra humana. Já o princípio da precaução parte da imprevisibilidade
decorrente da incerteza científica quanto aos efeitos de uma obra ou atividade,
na dúvida e falta de conhecimento, prefere-se não implementar.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Quanto ao princípio do poluidor pagador, diferente do que se possa imagi-
nar ao ler o citado, impõe ao poluidor o dever de arcar com o custo ambiental
que a sua atividade gera, seja de modo preventivo, investindo em tecnologias e
outras formas, seja em medidas reparadoras, quando o dano ocorreu.
O princípio do desenvolvimento sustentável compatibiliza o desenvolvimento
das atividades econômicas com a proteção ao meio ambiente. Já o princípio da
função socioambiental da propriedade impõe que, no uso da propriedade, seja
urbana ou rural, somente pode ocorrer se cumprir a função socioambiental. Esses
critérios estão estipulados no plano municipal – propriedade urbana, e na fun-
ção social da propriedade rural do art. 186 da CF. Por fim, sobre o princípio da
informação ambiental, dispõe que é direito da população receber e ter acesso a
informações sobre todos os procedimentos que intervenham no meio ambiente.
Sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, você percebeu que o objetivo
desta é a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental. Existem
instrumentos da política nacional do meio ambiente que são mecanismos legais
e institucionais postos a disposição da administração pública para implementar
os objetivos do PNMA. Sobre o sistema nacional do meio ambiente (SISNAMA),
compreendemos ser o conjunto de entes e órgãos da união, estados, distrito
federal, municípios e suas respectivas administrações indiretas, responsáveis
pela proteção, controle, monitoramento e melhoria da qualidade e da política
ambiental do país.

PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL


71

Interessante matéria sobre a competência e atuação do IBAMA, porém com uma reper-
cussão negativa.
CASO: IBAMA MULTOU ÍNDIO QUE FAZIA ARTESANATO EM 3 MILHÕES DE REAIS.
O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL DO PARÁ É CONTRA A DECISÃO DO IBAMA
Um índio da etnia Wai-Wai foi multado em quase R$ 3 milhões pelo Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente (IBAMA), em 2009. Nesta sexta-feira (26), o Ministério Público Federal
(MPF/PA) se manifestou em parecer enviado à Justiça Federal pedindo que a multa seja
anulada por ser desproporcional.
O indígena confeccionava e transportava artesanato feito com penas de aves e foi autu-
ado pelo IBAMA em Oriximiná, no oeste do Pará, em 2009, com 132 peças de artesanato.
A Defensoria Pública da União (DPU) entrou com ação pedindo anulação da multa e o
MPF foi chamado a dar parecer, como fiscal da lei. O procurador Camões Boaventura, de
Santarém, chamou a atenção pela desproporcionalidade da multa aplicada. “A título de
comparação, a empresa Norte Energia S.A, concessionária da Usina Hidrelétrica de Belo
Monte, foi multada pelo IBAMA no valor de R$ 8 milhões por ter provocado a morte de
16 toneladas de peixe. A Norte Energia, pessoa jurídica responsável pela mais cara obra
pública em andamento no Brasil, orçada atualmente em R$ 32 bilhões, foi atuada pelo
IBAMA em apenas R$ 8 milhões, por crime ambiental inegavelmente mais grave - e de
mais severa repercussão socioeconômica - que a conduta praticada pelo indígena”, de-
fendeu.
A Fundação Nacional do Índio (FUNAI), também se manifestou no pro-
cesso e informou à Justiça que o índio multado pelo IBAMA não traba-
lha com produção em larga escala, nem mesmo com recursos ou tecnolo-
gias que causem impacto ambiental sobre a população local de papagaios.
“Ademais, a fabricação de adornos não impacta o meio ambiente nem afeta o modo de
vida tradicional da etnia Wai Wai. Ao contrário, fortalece as estratégias de sustentabilida-
de cultural, ambiental e econômica desse povo”, opinou a FUNAI.
(...)
O índio Timóteo Taytasi Wai-Wai estuda no núcleo urbano de Oriximiná e usava a venda
de artesanato para se sustentar longe da aldeia. Depois da autuação e da multa do IBA-
MA, além da dívida, encontra dificuldade para continuar os estudos.
O MPF destaca no parecer que os povos indígenas, com técnicas reconhecida-
mente sofisticadas de manejo da agrobiodiversidade e tecnologias de baixo im-
pacto ambiental, protegem o meio ambiente em seus territórios, o que se traduz
no índice de desmatamento de terras indígenas, que na média não passa de 1%.
“Bastante inferior ao índice encontrado em unidades de conservação gerenciadas pelo
ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, órgão do governo
brasileiro), por exemplo”.
Fonte: G1 (2016, on-line)13.
72

Ao abordarmos os princípios, um deles nos chama atenção dado a total conformidade


pelo momento vivido no Brasil em 2015. Você se lembra da tragédia em Mariana? Será
que o princípio do poluidor pagador no que se refere à prevenção foi adotado?
Vamos entender o que ocorreu.
TRAGÉDIA EM MARIANA: PARA QUE NÃO SE REPITA
Em 5 de novembro, em apenas onze minutos, um tsunami de 62 milhões de metros
cúbicos de lama aniquilou Bento Rodrigues. Dez mortes haviam sido confirmadas até a
tarde da última sexta-feira e dezoito pessoas continuavam desaparecidas. A onda devas-
tou outros sete distritos de Mariana e contaminou os rios Gualaxo do Norte, do Carmo
e Doce. Moradores de cidades em Minas e no Espírito Santo tiveram a rotina afetada
por interrupções no abastecimento de água. O destino final da lama deve ser o mar do
Espírito Santo, onde o Rio Doce tem sua foz. O que causou a tragédia foi o rompimen-
to de duas barragens no complexo de Alegria, da mineradora Samarco. As barragens
continham rejeito, o resíduo não tóxico resultante da mineração de ferro. Segundo a lei,
empresas que exercem atividades com riscos conhecidos, como a mineração, assumem
o ônus por eventuais acidentes. Por isso, o monitoramento das barragens é um dos pon-
tos críticos do empreendimento. “Os rejeitos se acumulam, e os engenheiros vão am-
pliando as estruturas”, diz o professor de geologia de engenharia da USP Edilson Pissato.
Há depósitos com 200 metros de altura. O de Fundão tinha 90 metros. Existem técnicas
mais modernas para lidar com o rejeito, que usam filtros para garantir sua drenagem.
Seus custos podem encarecer a exploração de uma jazida em até seis vezes. “Por isso, as
mineradoras acabam assumindo o risco de usar os processos tradicionais”, diz Pissato.
A ONG International Commission on Large Dams (ICOLD) calcula que ocorrem em média
dois rompimentos como o de Mariana por ano no mundo. (...) Além da tragédia huma-
na, o desastre em Mariana teve impacto ambiental difícil de avaliar. O IBAMA já aplicou
multas preliminares no valor de 250 milhões de reais à Samarco. A mineradora deverá
arcar ainda com a indenização às pessoas afetadas e com os custos de reconstrução da
região atingida.
Fonte: Gonçalves, Garcia, Fusco e Vespa (2015, on-line)14..
73

1. Os princípios do Direito Ambiental são fundamentais para análise e interpreta-


ção deste ramo do Direito. O objetivo do Direito Ambiental é a proteção do meio
ambiente ecologicamente equilibrado. Assim, considerando as orientações dos
princípios do direito ambiental, analise as afirmações e marque a correta:
a. Os danos ambientais somente devem ser evitados quando se tenha certeza
científica quanto a sua ocorrência, sob pena de ofensa à livre iniciativa.
b. É dever do empreendedor incorporar as externalidades negativas de seu pro-
cesso produtivo, para que a coletividade não seja destinatária de tais ônus.
c. O princípio do poluidor pagador autoriza a aplicação de punição – multa,
ao infrator, diante do cometimento de ilícito, mas não tem como objetivo
imputar ao poluidor/ degradante o custo social da poluição por ele gerada.
d. Adota-se o princípio da precaução quando conhecidos os males que a ação
causa ao ambiente.

2. Analisando os princípios da prevenção e precaução, com base no direito am-


biental, discorra sobre suas diferenças.

3. Sobre os princípios da precaução e prevenção, sabe-se que muitos autores não


distinguem os dois, porém há fortes e marcantes diferenças entre estes. Sobre o
princípio da precaução e prevenção, assinale a alternativa correta:
a. Adota-se o princípio da prevenção quando há dúvida cientifica sobre o po-
tencial danoso de uma ação que interfira no ambiente.
b. Adota-se o princípio da precaução quando conhecidos os males que a ação
causa ao ambiente.
c. O princípio da precaução significa que, dada a imprevisibilidade decorrente
da incerteza cientifica quanto aos efeitos de determinada obra ou atividade
no ambiente, deve-se optar por não implementá-la.
d. O princípio da prevenção derroga o princípio da precaução se estiverem em
rota de colisão quando da solução de um caso concreto.
e. Sabe-se que o SISNAMA tem papel essencial na proteção do meio ambiente.
Com base nisso, disserte sobre o papel e a composição do SISNAMA na pro-
teção da qualidade ambiental no brasil.
74

4. O Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, regulamentado pela lei n.º


6.938/1981, tem a função de:
a. Expedir resoluções para a manutenção da qualidade do meio ambiente no
âmbito federal.
b. Reunir em um único sistema os órgãos da administração ambiental federal,
estadual e municipal, promovendo reuniões trimestrais entre eles para tornar
efetiva a proteção do meio ambiente.
c. Gerir o fundo nacional do meio ambiente e a distribuição de recursos para
projetos ambientais.
d. Estudar e propor diretrizes de políticas governamentais para o meio ambien-
te e executar a política nacional do meio ambiente, podendo agir administra-
tivamente ou judicialmente.
e. Estudar, propor diretrizes de politicas governamentais para o meio ambiente
e deliberar, no âmbito de suas competências, sobre normas, padrões compa-
tíveis com a proteção do meio ambiente.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Antes que a natureza morra


Jean Dorst
Editora: Edgar Blücher
Sinopse: Esse livro, escrito em 1973, continua a ser uma leitura básica para os
que querem compreender as causas da crise ambiental do século XX. Analisa a
história da humanidade desde a época pré-industrial, apontando os momentos
em que se ampliou a escala de impactos na relação dos seres humanos com o
ambiente. Discute ainda os conhecimentos que abriram a possibilidade de se
pensar na recuperação do meio ambiente por meio de um desenvolvimento
responsável. Embora predominasse uma visão apocalíptica na época em que o
livro foi escrito, ele termina com esperanças para um futuro melhor.

Material Complementar
REFERÊNCIAS

ANTUNES, B. Direito Ambiental. São Paulo: Atlas, 2014.


BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Fe-
deral: Centro Gráfico, 1988.
FIORILLO, C. A. Curso de Direito Ambiental brasileiro. 14 ed. São Paulo: Saraiva,
2013.
GRANZIERA, M. L. M. Direito Ambiental. São Paulo: Atlas, 2008.
MELO, F. Manual de Direito Ambiental. São Paulo: Método, 2014.
MILARÉ, E. Direito do ambiente. 7 ed. São Paulo: RT, 2011.
MIRA, Á. L. V. Direito Ambiental: o princípio da precaução e sua aplicação judicial.
Revista de Direito Ambiental, n. 21. São Paulo: revista dos tribunais, 2001.
SARLET, I. W.; FENSTERSEIFER, T. Direito Constitucional Ambiental. São Paulo: RT,
2011.
SILVA, N. C. B. da; FIGUEIREDO, P. M. S. de; FARIA, S. A. O princípio poluidor pagador
à luz da responsabilidade objetiva: instrumento para o alcance do desenvolvimento
sustentável. In: BENJAMIN, A. H. (ed). 10 anos da eco 92: o direito e o desenvolvi-
mento sustentável. São Paulo: IMESP, 2002.
SUPERIOR Tribunal de Justiça. Resp. n.º 1.137.314, DJe 04.05.2011, Rel. Min. Her-
man Benjamin, 2ª Turma, 2010.
77
REFERÊNCIAS

Citação de Links

1
<https://pt.scribd.com/doc/12906958/Relatorio-Brundtland-Nosso-Futuro-Comum-
-Em-Portugues>. Acesso em: 25 de abr. de 2016.
2
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm>. Acesso em: 25 de abr. de
2016.
3
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm>. Acesso em: 25 de abr. de
2016.
4
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9433.htm>. Acesso em: 25 de abr. de
2016.
5
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12862.htm>. Aces-
so em: 25 de abr. de 2016.
6
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Aces-
so em: 25 de abr. de 2016.
7
<www.mma.gov.br/estruturas/agenda21/_arquivos/estocolmo.doc>. Acesso em:
25 de abr. de 2016.
8
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11105.htm>. Aces-
so em: 25 de abr. de 2016.
9
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/d4297.htm>. Acesso em: 25
de abr. de 2016.
10
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/antigos/d99274.htm>. Acesso em:
25 de abr. de 2016.
11
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7735.htm>. Acesso em: 26 de abr. de
2016.
12
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11516.htm>. Aces-
so em: 25 de abr. de 2016.
13
<http://g1.globo.com/pa/para/noticia/2016/02/ibama-no-pa-multa-indio-que-fazia-
-artesanato-em-r-3-milhoes.html>. Acesso em: 27 de abr. de 2016.
< http://veja.abril.com.br/complemento/brasil/para-que-nao-se-repita/>. Acesso
14

em: 25 de abr. de 2016.


GABARITO

1. B.

2. Resposta: Não há de se confundir os princípios da prevenção e precaução. O


princípio da prevenção se configura partindo do risco ou perigo concreto, co-
nhecido, enquanto o princípio da precaução aplica-se ao risco ou perigo abstra-
to, incerto, que ainda não se conhecem os efeitos e consequências, é a incerteza
cientifica. Assim, no princípio da precaução o que se configura é a ausência de
informações ou pesquisas científicas conclusivas sobre a potencialidade e os
efeitos de determinada intervenção no meio ambiente e na saúde humana.

3. C.

4. E.
Professora Me. Heloísa Alva Cortez Gonçalves

III
ESTUDO PRÉVIO

UNIDADE
DE IMPACTO AMBIENTAL,
LICENCIAMENTO AMBIENTAL, DA
RESPONSABILIDADE AMBIENTAL

Objetivos de Aprendizagem
■■ Expor as particularidades do estudo prévio de impacto ambiental.
■■ Demonstrar a necessidade do Licenciamento Ambiental.
■■ Demonstrar a necessidade da reponsabilidade ambiental nas suas
esferas.
■■ Demonstrar a necessidade da Legislação Penal Ambiental.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Estudo prévio de impacto ambiental
■■ Licenciamento Ambiental
■■ Responsabilidade ambiental
■■ Dos crimes contra a fauna e a flora, e o princípio da insignificância
81

INTRODUÇÃO

Nesta importante unidade, trataremos sobre o estudo prévio de impacto ambiental


e suas particularidades, e também sobre o RIMA (Relatório de Impacto Ambiental)
– relatório ligado a este estudo. O EIA (Estudo Prévio de Impacto Ambiental)
tem um procedimento específico a ser seguido, inclusive as atividades sujeitas a
ele estão elencadas de modo exemplificativo. Explicaremos como se realiza este
estudo e o alcance de responsabilidade da equipe técnica multidisciplinar. Já
Licenciamento Ambiental será avaliado, e exposto sua importância e conexão
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

com o EIA/RIMA, à medida em que pode ser entendido como um “típico ins-
trumento de prevenção aos danos ambientais”, visto que é nesse procedimento
(licenciamento) que o órgão ambiental licenciador verifica condições e termos.
Ainda sobre as licenças ambientais, falaremos sobre as suas espécies e dife-
renças entre elas, na medida em que são etapas sequenciais. Nesta unidade,
abordaremos também uma matéria bem específica aos aplicadores do direito,
que é fundamental ao gestor ambiental para entender as atitudes ilícitas e suas
consequências. Estamos falando da responsabilidade em termos ambientais,
que envolve três esferas. Trataremos destas de modo separado para que você
possa entender que ações ilícitas causam consequências diferentes no setor do
direito, podendo ser civis, administrativas e penais. Sobre a responsabilidade
penal, abordaremos o tema: Será que a pessoa jurídica pode ser punida na esfera
penal? Como?
Por fim, trataremos sobre a lei de crimes ambientais – Lei n° 9.605/1998, que
tratou de iniciar um importante passo na proteção ambiental. Porém, existem
vários pontos problemáticos nesta lei. Será que a mesma abriga a justificativa
do crime de bagatela para não responsabilizar o agente que cometeu o crime
ambiental?

Introdução
82 UNIDADE III

ESTUDO PRÉVIO DE IMPACTO AMBIENTAL

A Lei n.º 6.938/1981 aponta que a AIA (Avaliação de Impactos Ambientais) é um


dos seus instrumentos. A lei disciplinar fornece diretrizes básicas para a avalia-
ção de impacto ambiental, em seu art. 9º. Comumente se confunde a avaliação
de impacto ambiental com o estudo de impacto. Esse equívoco decorre da reso-
lução n° 1/1986 do CONAMA. Mas a avaliação de impacto ambiental consiste

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
no gênero, do qual o estudo de impacto ambiental é uma das espécies. A própria
resolução CONAMA n° 1/1986 define impacto ambiental como sendo qualquer
alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente. Tais
alterações são resultantes de atividades humanas que afetam diferentes panora-
mas, representados na Figura 1.
Figura 1 - Alterações da atividade humana

I
A saúde, a segurança e o
bem estar da população;

II
As atividades sociais e
econômicas;

III
A biota;

IV
As condições estéticas e
sanitárias do meio ambi-
ente;
V
A qualidade dos recursos
ambientais.

Fonte: adaptado da resolução CONAMA 1/19861.

ESTUDO PRÉVIO
83

O Estudo Prévio de Impacto Ambiental constitui procedimento administrativo


de análise antecipatória dos possíveis impactos ambientais de uma obra, ativi-
dade ou empreendimento potencialmente causador de significativa degradação
do meio ambiente, elaborado por equipe multidisciplinar, em que se relacio-
nam as medidas de mitigação e compensatórias à possível intervenção no meio
ambiente. Os pontos positivos e negativos elencados no estudo prévio sobre o
empreendimento ou atividade servem de base para a decisão do órgão ambien-
tal responsável pelo licenciamento do projeto.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

EIA E RIMA

Existe também uma diferença muito importante entre o EIA – Estudo Prévio de
Impacto Ambiental, e o RIMA- Relatório de Impacto Ambiental.
Vejamos:
Quadro 1: Principais diferenças entre o Estudo Prévio de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto
Ambiental

EIA RIMA
Documento técnico amplo e complexo, Relatório apresentando as conclusões
com a revisão da literatura, coleta de à comunidade, de forma acessível
dados e materiais, estudos de campo e didática, com as consequências
etc. ambientais de sua implementação.
O RIMA pode vir acompanhado de
Tem como função a prevenção e mapas, cartas, quadros, gráficos e
o monitoramento dos impactos demais técnicas de comunicação visual,
ambientais. É um instrumento de de modo que se possam entender as
materialização do princípio da vantagens e desvantagens do projeto,
prevenção, e em alguns casos do bem como todos as consequências
princípio da precaução também. ambientais de sua implementação (art.
9º, parágrafo único).
Fonte: a autora.

Estudo Prévio de Impacto Ambiental


84 UNIDADE III

MOMENTO DE REALIZAÇÃO DO EIA/RIMA

Deve ser confeccionado antes da licença previa, pois é condição para a mesma. O
órgão ambiental competente para o licenciamento elabora um termo de referên-
cia com as diretrizes que devem ser observadas pelo empreendedor na realização
do EIA. Com a aprovação do EIA, o empreendedor obtém a licença prévia.
E se o empreendimento estiver operando sem EIA e houver a necessidade
do mesmo? O que ocorre?
Não será o caso de realizar o EIA, mas sim outros estudos de avaliação des-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tinados a acompanhar ou controlar os possíveis impactos ambientais. Note-se
que o EIA deve ser PRÉVIO.

ATIVIDADES SUJEITAS AO EIA

No art. 2º da resolução CONAMA n.º 01/1986, estabelece-se um rol exemplifica-


tivo de atividades que se presumem causadoras de significativa degradação, a saber:

a. Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento;


b. Ferrovias;
c. Portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos;
d. [...]
p. Qualquer atividade que utilizar o carvão vegetal, derivados ou produtos
similares, em quantidade superior a dez toneladas por dia;
q. Projetos agropecuários que contemplem áreas acima de 1.000 ha, ou
menores, neste caso quando se tratar de áreas significativas em termos
percentuais ou de importância do ponto de vista ambiental, inclusive nas
áreas de proteção ambiental.

Perceba que, por ser um rol exemplificativo e pelo desenvolvimento tecnológico


e científico, podem ser enquadradas outras atividades, produtos e empreendi-
mentos que causam significativa degradação ambiental e que evidentemente não
se encontram relacionados no rol citado.

ESTUDO PRÉVIO
85

RESPONSABILIDADE DO EMPREENDEDOR E DA EQUIPE


MULTIDISCIPLINAR

É de responsabilidade do empreendedor e da equipe técnica multidisciplinar a


incumbência pelo EIA/ RIMA. Tem responsabilidade penal e administrativa a
equipe multidisciplinar pela veracidade dos estudos e informações que integram
o EIA (art. 69 – A, Lei n° 9.605/1998). Já o decreto n.º 6.514/2008, dispõe respon-
sabilidade administrativa da equipe multidisciplinar, com a aplicação de multa
de R$ 1.500,00 a R$ 1.000.000,00 para quem elaborar ou apresentar informa-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ção, estudo, laudo, ou relatório ambiental total ou parcialmente falso, enganoso


ou omisso, seja nos sistemas oficiais de controle, seja no licenciamento, na con-
cessão florestal ou em qualquer outro procedimento administrativo ambiental.
Quem arca com os custos do EIA/ RIMA? É o empreendedor.
Não obstante, à publicidade do EIA/ RIMA deve-se resguardar o sigilo indus-
trial (conforme art. 11, resolução n.º 01/1986 CONAMA, e art. 2º, p. 2 da Lei
n.º 10.650/2003).

DECISÃO DO ÓRGÃO AMBIENTAL

O EIA/ RIMA será objeto de análise do órgão ambiental para a sua aprovação
ou não. Vejamos:

Com aprovação, o empreendedor obtém a licença prévia e dará continuida-


de ao licenciamento ambiental para a consecução das licenças de instalação
e operação.

Ressalta-se que as conclusões do EIA/RIMA não vinculam o órgão ambiental.


Caso se queira decidir contrariamente, será possível desde que motivada a sua
decisão, passível de controle judicial suscitado por qualquer ente ou cidadão.

Estudo Prévio de Impacto Ambiental


86 UNIDADE III

Aprendemos a voar como os pássaros e a nadar como os peixes, mas não


aprendemos a conviver como irmãos. (Martin Luther King)

LICENCIAMENTO AMBIENTAL

O Licenciamento Ambiental é um dos instrumentos da política nacional do meio


ambiente, e representa um procedimento administrativo decorrente do poder

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de polícia ambiental, com finalidade de avaliar os possíveis impactos e riscos
de uma atividade ou empreendimento potencialmente causador de degradação
ambiental ou poluição.
O Licenciamento Ambiental se trata de:
Típico instrumento de prevenção aos danos ambientais, visto que é
nesse procedimento que o órgão ambiental licenciador verifica a na-
tureza, dimensão e impactos (positivos e negativos) de um empreen-
dimento potencialmente poluidor, antes mesmo que ele seja instalado
e, a partir de tais constatações, condiciona o exercício da atividade ao
atendimento de inúmeros requisitos (chamados de condicionantes),
atos a eliminarem ou reduzirem tanto quanto possível os impactos am-
bientais negativos. (BECHARA, 2009, p. 82).

Conforme a Lei n.º 140/2011, o Licenciamento Ambiental é o procedimento


administrativo destinado a licenciar atividades ou empreendimentos utilizado-
res de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes,
sob qualquer forma, de causar degradação ambiental. Já a Lei n° 6.938/1981,
no art. 10, dispõe que a construção, instalação, ampliação e funcionamento de
estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou
potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degrada-
ção ambiental dependerão de prévio licenciamento ambiental. A resolução do
CONAMA n.º 237/1997 também dispõe sobre o licenciamento ambiental. Caso
a obra ou empreendimento for potencialmente causador de significativa degrada-
ção ao meio ambiente, será necessária a realização do estudo prévio de impacto
ambiental. Enquanto procedimento administrativo, o licenciamento ambiental
passa por etapas representadas pela obtenção das licenças prévias, com a aprovação

ESTUDO PRÉVIO
87

do projeto e sua localização, a licença de instalação, com a materialização do pro-


jeto, e a licença de operação, com o efetivo funcionamento da atividade. Então,
para empreendedor, o objetivo final do licenciamento ambiental é a obtenção da
licença de operação e, com ela, durante o prazo assinalado, o funcionamento e
desempenho de sua atividade econômica.
Vejamos os tipos de licenças:

Licença prévia:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

É a primeira das licenças, tem o objetivo de aprovar a localização e a con-


cepção do projeto. Nesta fase aprova-se a localização do projeto, com a ve-
rificação da compatibilidade do empreendimento ou atividade com o plano
diretor, zoneamento e os planos e programas governamentais. Estabelece-se
os requisitos básicos e condicionantes que o empreendedor deverá observar
nas licenças posteriores. O prazo da licença prévia será disposto no projeto, e
não pode ser superior a cinco anos. Para as atividades causadoras de signifi-
cativa degradação ambiental, exigem-se a realização e a aprovação do estudo
prévio de impacto ambiental (EIA/RIMA) para a concessão da licença prévia.

Licença de instalação:
Nesta licença, autoriza-se a instalação do empreendimento ou atividade de
acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos
aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais condicio-
nantes, da qual constituem motivo determinante. Neste ponto, é possível
edificar, construir, cortar árvores, usar água e todas as obras necessárias para
o empreendimento. O prazo para a licença de instalação é o definido no
projeto, e não pode ser superior a seis anos.

Licença de operação:
Esta verifica o cumprimento dos condicionantes das licenças anteriores, e
autoriza a operação da atividade ou empreendimento, estabelece os condi-
cionantes ambientais para o funcionamento, e tem prazo mínimo de quatro
anos e prazo máximo de dez anos.

Licenciamento Ambiental
88 UNIDADE III

O empreendedor pode solicitar a renovação de licenças ambientais, requeridas


com antecedência de 120 dias da expiração de seu prazo e validade, fixado na
licença, conforme art. 14, p. 4, da Lei Complementar (LC) n.º 140/2011.
Quadro 2: Resumo comparativo sobre as licenças

LICENÇA DE LICENÇA DE
LICENÇA PRÉVIA
INSTALAÇÃO OPERAÇÃO
Aprova a
Autoriza a Autoriza a operação
localização e
Efeitos instalação do da atividade ou
concepção do

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
empreendimento empreendimento.
projeto
Estabelece os Define as medidas Verifica o
requisitos e de controle cumprimento das
condicionantes ambiental e os condicionantes das
Condicionantes
para as próximas condicionantes licenças anteriores
fases do para a próxima e estabelece para a
licenciamento fase. fase de operação
Mínimo: quatro
Prazos (res. N.º Não superior a Não superior a seis
anos, e máximo 10
237/1997) cinco anos. anos.
anos.
Fonte: a Autora.

Para determinar a competência dos entes para o licenciamento ambiental, faz-se


necessário avaliar a LC n.º 140/2011, art. 7º, inciso XIV (competência União), LC
n.º 140, 2011, art. 8º, XIV (competência dos estados membros), e LC n°140/2011
compete ao município promover o Licenciamento Ambiental das atividades ou
empreendimentos que causam ou possam causar impacto ambiental de âmbito
local, conforme tipologia definida pelos conselhos estaduais de meio ambiente,
considerados os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade,
ou, localizados em unidades de conservação instituídas pelo município, exceto
em áreas de proteção ambiental (APAs).
A Licença Ambiental está sujeita a retirada temporária que ocorre quando
há a suspensão do empreendimento ou da atividade, em que o grau de irregula-
ridade é sanável e, por consequência, possibilita a retomada correspondente. Já a
retirada definitiva ocorre quando o grau de irregularidade não pode ser sanado.

ESTUDO PRÉVIO
89

RESPONSABILIDADE AMBIENTAL

A responsabilidade em termos ambientais envolve três esferas. Trataremos des-


tas de modo separado para que você possa entender que ações ilícitas causam
consequências diferentes no setor do Direito.
Antes, convém explicar algumas terminologias que são comuns no Direito,
mas que para você podem ser novas. Vamos entender alguns pontos:
Figura 2 - Definição de dolo, culpa, ilícito e lícito.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Fonte: a autora

Portanto, dolo e culpa são elementos diferentes para caracterização do ato.

RESPONSABILIDADE AMBIENTAL CIVIL

O objetivo das normas protetivas em termos ambientais é sempre preventivo,


uma vez que as consequências de danos ao meio ambiente são irreversíveis em
sua maioria. Desta forma, o artigo 225, § 3 º da CF, preconiza:

Responsabilidade Ambiental
90 UNIDADE III

§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente


sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados.

A Lei n.º 6.938/1981 adota a responsabilidade objetiva, sem culpa, fundada no


nexo de causalidade, impondo a obrigatoriedade de reparar e/ou indenizar pelos
danos causados. A responsabilidade civil ambiental norteia-se pelos princípios
da prevenção, do poluidor pagador, da solidariedade intergeracional e da repa-
ração integral.
Considera-se degradação ambiental aquela que altera de forma adversa as

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
características do meio ambiente conforme art. 3º, II, da Lei n.º 6.938/1981. A
degradação do meio ambiente normalmente ocorre quando há uma atividade
antrópica (resultante da ação do homem), principalmente aquela que ocasione
poluição, mas é possível a degradação do meio ambiente sem intervenção humana,
como em uma erupção vulcânica, por exemplo.
Édis Milaré define o dano ambiental como: “lesão aos recursos ambientais,
com consequente degradação (alteração adversa) do equilíbrio ecológico e da
qualidade de vida.” (MILARÉ, 2012, p. 810).
Para Morato Leite e Ayla (2010), o dano ambiental deve ser compreendido
como toda lesão intolerável causada por qualquer ação humana (culposa ou não)
ao meio ambiente, diretamente, como macrobem de interesse da coletividade,
em uma concepção totalizante, e, indiretamente, a terceiros, tendo em vista inte-
resses próprios e individualizáveis e que refletem no macrobem.
Para se mensurar o dano ambiental, deve-se levar em conta:

A extensão do bem protegido.

A extensão do dano ambiental.

A sua reparabilidade.

ESTUDO PRÉVIO
91

Em termos de responsabilidade civil ambiental, a lei n.º 6.938/1981 e a Lei n°


7.347/1985 no art. 3º dispõem de duas formas de reparação do dano ambiental:
a restauração e a indenização pecuniária. Objetiva-se primeiro a reparação da
lesão causada no local específico em que ocorreu o dano ambiental, e o retorno
à situação de equilíbrio. A compensação ecológica que se fará caso a reparação
não seja possível, trata-se de substituir o bem lesado por outro equivalente. Já
a indenização pecuniária é a forma mais comum de reparação do Direito Civil.
No Direito, o responsável pelos danos ambientais é chamado de poluidor. A Lei
nº 6.938/1981 no inciso IV do art. 3º dispõe que o poluidor é: “a pessoa física
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente,


por atividade causadora de degradação ambiental.”
A responsabilidade em matéria civil é objetiva. Ou seja, o poluidor é obri-
gado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos
causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade.

RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA AMBIENTAL

A infração administrativa ambiental é definida como toda ação ou omissão que


viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio
ambiente. A previsão da responsabilidade administrativa ambiental está disposta
nos arts. 70 a 76 da Lei n.º 9.605/1998 e no decreto n.º 6.514/2008, que efetiva-
mente regulamenta a Lei n.º 9.605/1998. Trata-se da ação decorrente do poder
de polícia pelos entes responsáveis pela qualidade ambiental.
Deve ser exercido pelos órgãos ambientais fiscalizatórios de todos os entes
federativos, de forma a garantir a cooperação e a solidariedade no combate à polui-
ção em qualquer de suas formas, na proteção das florestas, da fauna e da flora.
Como ocorre o exercício do poder de Polícia Ambiental?
O agente do órgão ambiental competente para a fiscalização, de ofício ou
mediante representação, dirige-se a local e, caso verifique o cometimento de
infração administrativa ambiental, lavrará o auto de infração, com aplicação de
uma sanção, em regra, uma multa, que deverá ser confirmada pela autoridade
julgadora.

Responsabilidade Ambiental
92 UNIDADE III

Para aplicação de sanções nessa esfera, devem-se levar em consideração


alguns pontos, como a gravidade dos fatos e a situação econômica do infrator.
(decreto 6.514/2008, art. 4º).
Conforme a Lei n° 6.514/2008, em seu art.72, são dez as sanções que podem
ser aplicadas a uma infração administrativa ambiental, dentre elas:

Advertência.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Multa simples.

Multa diária.

Apreensão de animais, produtos e subprodutos da fauna, flora, instrumen-


tos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados
na infração.

RESPONSABILIDADE PENAL AMBIENTAL

A proteção ambiental na esfera penal está prevista no art. 225 da Constituição


Federal. A Lei n° 9.605/1998 é uma importante norma, pois disciplina as san-
ções penais e prevê sanções administrativas ambientais para aqueles que violem
regras de garantia para um meio ambiente ecologicamente equilibrado.
A responsabilidade por danos ambientais atinge pessoas físicas (art. 2º da lei
n.º 9605/1998), tema interessante se faz quando o art. 2º em sua segunda parte
prevê a possibilidade de as pessoas físicas responsáveis pela pessoa jurídica res-
ponderem por omissão nos crimes ambientais.
Veja que interessante a explicação de Fabiano Melo (2014, p.444):

ESTUDO PRÉVIO
93

O diretor, ou gerente de uma empresa que não evita o crime ambiental,


podendo fazê-lo, responde por delito omissivo. O dispositivo em comen-
to criou para as pessoas nele mencionadas (diretor, preposto, gerente, au-
ditor, etc.) o denominado dever jurídico de agir e de evitar o crime, o que
torna a omissão delas penalmente relevante (criminosa). No entanto, para
não haver responsabilidade penal objetiva (sem dolo e sem culpa) o art. 2º
dispõe que tais pessoas só respondem por omissão se sabiam da existên-
cia do crime e se podiam agir para evitar o delito.

Já a pessoa jurídica também pode ser responsabilizada penalmente! Mas como?


Ela vai “presa”?
O art. 3º da Lei n.º 9.605/1998 prevê a responsabilização penal das pessoas
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

jurídicas nos crimes ambientais nos seguintes termos:


Art. 3º: As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, ci-
vil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a in-
fração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratu-
al, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.

Assim, exige-se expressamente para a responsabilidade penal da pessoa jurídica:

a. Decisão do crime tomada por representante legal, contratual ou órgão


colegiado da empresa;
b. Crime praticado no interesse ou em beneficio da empresa.
Desta forma, são penas aplicáveis a pessoas jurídicas:
a. Multa: será calculada de acordo com as regras do código penal.
b. Restritiva de direitos: definidas nos arts. 22 e 23 da Lei 9.605/1998, como
a suspensão parcial ou total das atividades, aplicável quando a pessoa
jurídica não estiver obedecendo a disposições legais ou regulamentares
relativas à proteção do meio ambiente (art. 22, I, e parágrafo 1º), a inter-
dição temporária do estabelecimento, obra ou atividade, e a proibição
de contratar com o poder público e dele ter subsídios, subvenções ou
doações, não pode exceder o prazo de 10 (dez) anos.
c. Prestação de serviços à comunidade: estão dispostas nos arts. 23, I a IV da
lei citada. São eles: custeio de programas e de projetos ambientais, execu-
ção de obras de recuperação de áreas degradadas, manutenção de espa-
ços públicos, contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas.

Responsabilidade Ambiental
94 UNIDADE III

DIREITO CRIMINAL AMBIENTAL

O art. 5º, inciso XXXIX da Constituição Federal assim define: “não há crime
sem lei anterior que o defina.” A aplicação de sanções penais ambientais tem
como objetivo elementar assegurar a todos o direito ao meio ambiente ecologi-
camente equilibrado.
Já a pessoa física que comete crime ambiental, conforme Lei n.º 9.605/1998,
está sujeita às penas:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
a. Privativas de liberdade. São aplicadas nos tipos elencados nos arts. 29
ao 69 A da Lei n.º 9.605/1998. Podem ser de detenção ou reclusão;
b. Multa;
c. Restritiva de direitos. Estas substituem as privativas de liberdade quan-
do, por exemplo, os motivos e circunstâncias do crime indicarem que a
substituição seja suficiente para reprovação e prevenção do crime (art.
7º da lei 9.605/1998).

São espécies de penas restritivas de direitos: a prestação de serviços à comunidade


que são tarefas gratuitas que devem ser cumprias em parques, jardins públicos
e unidades de conservação, ou podem ainda consistir na restauração de coisa
particular, pública ou tombada danificada se possível, assim como outra forma
de restritiva de direitos é o recolhimento domiciliar que se baseia na autodisci-
plina e senso de responsabilidade, que deverá permanecer recolhido nos dias e
horários de folga em residência ou em qualquer local destinado à sua moradia
habitual, conforme se estabelecer em sentença.

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA DOS DELITOS AMBIENTAIS

Este princípio previsto no Direito Penal, conforme pronunciamento do Supremo


Tribunal Federal, significa que:

ESTUDO PRÉVIO
95

O princípio da insignificância tem o sentido de excluir ou de afastar a


própria tipicidade penal, ou seja, não considera o ato praticado como
um crime, por isso, sua aplicação resulta na absolvição do réu e não
apenas na diminuição e substituição da pena ou na sua não aplicação.
Para ser utilizado, faz-se necessária a presença de certos requisitos, tais
como: (a) a mínima ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhu-
ma periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo grau de reprova-
bilidade do comportamento e (d) a inexpressividade da lesão jurídica
provocada (exemplo: o furto de algo de baixo valor). (SUPREMO TRI-
BUNAL FEDERAL, on-line)2.

É muito comum se referir a este princípio quando se cita o caso de pessoas com
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

fome e que furtam um pão para comer.


Então, este princípio seria aplicado no Direito Penal Ambiental? Há con-
duta de pequeno potencial ofensivo nesta matéria?
A Doutrina e os Tribunais divergem sobre a aplicação deste princípio nos
delitos ambientais.
Veja a descrição de um caso:
Pessoa flagrada ao portar 12 camarões e rede de pesca fora das especifica-
ções da portaria n° 84/2002 do IBAMA. Prevaleceu o voto do ministro Ce-
zar Peluso que reputou irrelevante a conduta em face do número de espéci-
mes encontrados na posse da pessoa. O ministro Gilmar Mendes acresceu
ser evidente a desproporcionalidade da situação, porquanto se estaria dian-
te de típico crime famélico. (SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, on-line)3.

CRIMES AMBIENTAIS EM ESPÉCIE

Trataremos agora sobre alguns dos crimes descritos na Lei nº 9.605/1998, que
são crimes contra o meio ambiente e estão divididos da seguinte forma:
I. Dos crimes contra a fauna (art. 29 ao art. 37);
II. Dos crimes contra a flora (art. 38 ao art. 53);
III. Da poluição e outros crimes ambientais (art. 54 ao art. 61);
IV. Dos crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural (art.
62 ao art. 65).
V. Dos crimes contra a administração ambiental (art. 66 ao art. 69 – A).

Responsabilidade Ambiental
96 UNIDADE III

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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
DOS CRIMES CONTRA A FAUNA E A FLORA, E O
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

Sobre a fauna, tracemos comentários:


Você sabe o que é a fauna?
A fauna da Floresta Atlântica representa uma das mais ricas em diver-
sidade de espécies e está entre as cinco regiões do mundo que possuem
o maior número de espécies endêmicas. Está intimamente relacionada
com a vegetação, tendo uma grande importância na polinização de flo-
res, e dispersão de frutos e sementes. A precariedade dos levantamen-
tos sobre a fauna da Mata Atlântica torna sua descrição e análise mais
difícil que no caso da vegetação (ADAMS, 2000, on-line)4.

Quando falamos da fauna, referimo-nos, normalmente, a todos os animais


existentes em uma determinada região.
Fonte: Santos (Mundo educação, on-line)5.

ESTUDO PRÉVIO
97

A Lei n.º 9. 605/1998 dispõe de regramento detalhado para a proteção à fauna.


De acordo com Fiorillo (2013), objetiva-se proteger a fauna enquanto bem
ambiental, pois na lei os animais não são sujeitos de direitos, porquanto a pro-
teção do meio ambiente existe para favorecer o próprio homem e, somente por
via reflexa, as demais espécies.
Por outro lado, devemos também lembrar que ninguém desconhece a volú-
pia dos países do primeiro mundo em “internacionalizar” nossa flora para depois
se apossar de nossa maior riqueza, a biodiversidade. A proteção das florestas e
o enfrentamento de situações lesivas ou mesmo ameaçadoras à biota são o fun-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

damento básico para a aplicação dos crimes contra a flora, o que motivou o
legislador a adotar desde logo critérios não só preventivos (art. 48) como repres-
sivos (art. 50) visando à aplicação das sanções penais ambientais.
Vejamos alguns artigos sobre a proteção à fauna (Lei n.º 9.605/1998):

Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silves-
tre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou auto-
rização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida:
Pena - detenção de seis meses a um ano, e multa.
Art. 30. Exportar para o exterior peles e couros de anfíbios e répteis em bru-
to, sem a autorização da autoridade ambiental competente:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
Art. 31. Introduzir espécime animal no País, sem parecer técnico oficial favo-
rável e licença expedida por autoridade competente:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres,
domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Dos Crimes Contra a Fauna e a flora, e o Princípio da Insignificância


98 UNIDADE III

PROTEÇÃO À FLORA NA LEI N.º 9605/1998

Conforme vamos estudando e analisando algumas definições quanto à flora e


as suas leis de proteção, fica clara a preocupação do legislador em proteger nos-
sas florestas:
O dicionário brasileiro conceitua flora como: conjunto das plantas que cres-
cem numa região.
Já sobre a Flora, a lei 9.605/1998 em sua sessão II inaugura: Dos Crimes
contra a Flora.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Você certamente quando criança conheceu a “brincadeira” praticada com
uma flor (dessas que se apanha nos jardins das casas ou praças públicas) do
“bem-me-quer-mau-me-quer”, que consiste em arrancar as pétalas da flor pro-
ferindo as palavras: bem-me-quer, mau-me-quer. Sabia que esta simples ação
está prevista na lei de crimes ambientais? Veja que interessante o artigo abaixo:
Art. 49. Destruir, danificar, lesar ou maltratar, por qualquer modo ou
meio, plantas de ornamentação de logradouros públicos ou em pro-
priedade privada alheia:

Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, ou ambas as penas


cumulativamente.

Parágrafo único. No crime culposo, a pena é de um a seis meses, ou


multa.

Você sabe o que são plantas de ornamentação? As plantas ornamentais são


plantas cultivadas para apreciação de sua beleza. Elas são utilizadas para
ornamentar jardins e interiores, sendo as chamadas plantas de “jardim”.
Então, da próxima vez, mais cuidado com as plantas ornamentais, e mesmo
que sua intenção não seja essa descrita, o crime ainda existe, pois há a pre-
visão culposa (ou seja, quando não há culpa – intenção).
Fonte: Kolling (Plantas…on-line)6.

ESTUDO PRÉVIO
99

Vejamos mais alguns artigos previstos na Lei n.º 9.605/1998 sobre os crimes
ambientais contra a flora:

Art. 41. Provocar incêndio em mata ou floresta:


Pena - reclusão, de dois a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de detenção de seis meses
a um ano, e multa.
Art. 42. Fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocar
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

incêndios nas florestas e demais formas de vegetação, em áreas urbanas ou


qualquer tipo de assentamento humano:
Pena - detenção de um a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulati-
vamente.
Art. 43. Vetado.
Art. 44. Extrair de florestas de domínio público ou consideradas de preser-
vação permanente, sem prévia autorização, pedra, areia, cal ou qualquer
espécie de minerais:
Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.
Art. 45. Cortar ou transformar em carvão madeira de lei, assim classificada por
ato do Poder Público, para fins industriais, energéticos ou para qualquer outra
exploração, econômica ou não, em desacordo com as determinações legais:
Pena - reclusão, de um a dois anos, e multa.
Art. 46. Receber ou adquirir, para fins comerciais ou industriais, madeira, le-
nha, carvão e outros produtos de origem vegetal, sem exigir a exibição de li-
cença do vendedor, outorgada pela autoridade competente, e sem munir-se
da via que deverá acompanhar o produto até final beneficiamento:
Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe à venda,
tem em depósito, transporta ou guarda madeira, lenha, carvão e outros pro-
dutos de origem vegetal, sem licença válida para todo o tempo da viagem
ou do armazenamento, outorgada pela autoridade competente.

Estes são alguns dos tipos penais sobre os crimes contra a fauna. Recomendo
a você, caro(a) aluno(a), que faça a leitura da legislação n.º 9.605/1998 em sua
totalidade para melhor entendimento do tema.

Dos Crimes Contra a Fauna e a flora, e o Princípio da Insignificância


100 UNIDADE III

DA POLUIÇÃO E OUTROS CRIMES AMBIENTAIS

A seção III da Lei n.º 9.605/1998, nos artigos 54 a 61, trata sobre proteção a
pessoa humana e proteção do meio ambiente. Por isso é considerado crime as
atividades descritas que causem poluição de qualquer natureza, e ainda resul-
tem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou mesmo em detrimento
de outros (fauna e flora), com rigoroso tratamento de sanções penais ambientais.
Vejamos o art. 54 da Lei 9.605/1998:
Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resul-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem
a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

§ 1º Se o crime é culposo:

Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.

O que significa danos à saúde humana?


A saúde no plano do direito constitucional alcançou o conceito de bem estar,
da ausência de patologia de qualquer espécie, seja a natural, seja a doença ocupa-
cional, profissional ou do trabalho. A ideia do art. 54 é resguardar a incolumidade
físico-psíquica da pessoa humana, punindo aqueles que causem poluição em
face da saúde, ou seja, as pessoas físicas ou as pessoas jurídicas que degradem a
qualidade ambiental resultante de atividades que, direta ou indiretamente, pre-
judiquem a saúde (art. 3º, III, a).
Já o artigo 56 da Lei de Crimes Ambientais destaca a necessidade de fixar
rigoroso controle das denominadas substancias tóxicas, perigosas ou nocivas à
saúde humana. O objetivo é o controle dos aludidos produtos ou substâncias,
com particular atenção as de maior potencial ofensivo.
Art. 56. Produzir, processar, embalar, importar, exportar, comercializar,
fornecer, transportar, armazenar, guardar, ter em depósito ou usar pro-
duto ou substância tóxica, perigosa ou nociva à saúde humana ou ao
meio ambiente, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis
ou nos seus regulamentos:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

ESTUDO PRÉVIO
101

Toda poluição é ilícita, devendo seu agente necessariamente sofrer as san-


ções, de ordem civil, penal e administrativa, previstas na legislação? Não é
bem assim... Imaginemos, por exemplo, que todos nós ao dirigirmos um ve-
ículo ou ao utilizarmos algum transporte público, movido por combustível
de origem fóssil, estamos liberando no ar, por meio do sistema de escapa-
mento, uma série de poluentes que degradam a atmosfera. Desta forma,
somos poluentes diretos ou indiretos. Contudo, partindo-se da premissa de
que o veiculo está cumprindo com os limites previstos pela legislação de
regência quanto à liberação de poluentes, não haveria, juridicamente, dano
algum. Em outras palavras, significa afirmar que a poluição é tolerada pelo
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ordenamento jurídico, desde que respeitados os limites – padrões de quali-


dade, previstos pelo poder público.
Fonte: Beltrão (2009, p. 237).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme verificamos, o Licenciamento Ambiental serve para regular as ativi-


dades efetiva ou potencialmente poluidoras. É um dos principais instrumentos
da política nacional do meio ambiente, de índole preventiva, visando compa-
tibilizar o desenvolvimento econômico com a proteção ao meio ambiente. O
licenciamento visa à obtenção sequencial das licenças: prévia, instalação e ope-
ração. O prazo de análise da licença pelo órgão ambiental responsável, com o
deferimento ou indeferimento, é de no máximo seis meses, a contar do seu pro-
tocolo. Na hipótese de realização do EIA/ RIMA ou de audiência pública, o prazo
é de um ano. A renovação de licenças ambientais deve ser requerida com ante-
cedência mínima de 120 dias da expiração de seu prazo de validade, fixado na
respectiva licença, ficando esta automaticamente prorrogada até a manifestação
definitiva do órgão ambiental competente. As atividades e empreendimentos são
licenciados ou autorizados pelo ente federativo, conforme atribuições estabele-
cidas na Lei Complementar n.º 140/2011.
No que tange à responsabilidade, percebe-se ser possível sua imputação civil,
penal e administrativa. Sobre o dano ambiental na esfera cível, constatou-se que
o poluidor é toda pessoa física ou jurídica de direito público ou privado, respon-
sável direta ou indiretamente por atividade causadora de degradação ambiental,

Considerações Finais
102 UNIDADE III

e que a reparação do dano neste caso ocorre em: reparação in natura, compensa-
ção ecológica, e indenização pecuniária, dando-se prioridade sempre à reparação
in natura, que é a reparação da lesão causada pelo dano ambiental. Quanto à res-
ponsabilidade administrativa ambiental, ocorre quando por toda ação ou omissão
que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do
meio ambiente.
Já sobre a responsabilidade penal ambiental, conclui-se que pessoas físicas e
jurídicas estão sujeitas às penalidades descritas na lei, e que o princípio da insig-
nificância nos delitos ambientais não está pacificado.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Sobre a poluição, verificou-se que só será crime se resultar ou puder resul-
tar em: danos à saúde humana, morte de animais ou destruição significativa da
flora, até porque, o simples ato de sair de carro, ônibus, moto, avião, enfim, já
polui o meio ambiente, na medida em que estes veículos lançam poluentes no ar.
Inúmeros são os temas pertinentes e interessantes acerca do meio ambiente
e suas esferas penais. Porém, em razão da necessidade de condensar o material
a ser trabalhado, elegemos apenas alguns. Espero que tenham gostado, e tenham
cuidado em “arrancar” flores de praças ou jardins particulares. Tal ato é definido
como um crime ambiental!

ESTUDO PRÉVIO
103

ANIMAIS EM CIRCO
Muito se discute sobre a origem do circo, ou melhor dizendo, da arte circense, chegan-
do alguns a apontar as suas raízes na Grécia antiga ou até mesmo no Egito, servindo
de espetáculo para marcar a volta da guerra e, assim, trazendo animais exóticos para
demonstrar a grandiosidade das batalhas e a distância percorrida pelos generais. Outros
atribuem o surgimento à China, destacando-se as acrobacias humanas. Mas a ideia de
circo moderno, com o picadeiro, a cobertura de lona, as arquibancadas, deve-se a Philip
Astley, da Inglaterra. Hoje se fala de um circo contemporâneo enaltecendo a figura do
homem e excluindo a participação de animais. Como anotou o deputado federal An-
tônio Carlos Biffi em seu parecer, “para realizar tarefas como dançar, andar de bicicleta,
tocar instrumentos, pular em argolas (com ou sem fogo), cumprimentar a plateia, entre
outras proezas, os animais são submetidos a treinamento que, regularmente, envolve
chicotadas, choques elétricos, chapas quentes, correntes e outros meios que os violen-
tam.” A alimentação e o descanso desses animais são, muitas vezes, inadequados e insu-
ficientes. Há ainda uma perversidade adicional gerada pela presença de carnívoros nos
espetáculos circenses – é comum que cães e gatos vivos sejam fornecidos a eles como
alimentação, muitas vezes trocados por ingressos pelos moradores da localidade onde
se encontra o circo. (PL N.° 7.291/2006, em 20.12.2007, apresentado na Comissão de
Educação e Cultura (CEC) da Câmara dos Deputados).
Segundo relata o deputado federal Jorge Pinheiro, ao analisar o PL n.º 7.291/2006, que
tramita na CD, “vários circos famosos internacionalmente - como o circo Soleil do Ca-
nadá, e o circo Oz da Austrália – não utilizam animais em seus espetáculos e, inclusive,
a escola nacional de circos se manifestou a favor do projeto de lei proibindo animais
em circos no estado do Rio de Janeiro. (...) a apresentação de animais nos espetáculos
circenses em nada contribui à educação ambiental da população, visto que o compor-
tamento apresentado não se assemelha ao comportamento natural desses animais, in-
clusive expondo-os ao ridículo.
Fonte: LENZA, 2012, p.1206 - 1207.
104

ENTENDA A LEI DE CRIMES AMBIENTAIS


O meio ambiente é um bem fundamental à existência humana e, como tal, deve ser
assegurado e protegido para uso de todos. Este é princípio expresso no texto da Cons-
tituição Federal, que no seu art. 225, caput, dispõe sobre o reconhecimento do direito
a um meio ambiente sadio como uma extensão ao direito à vida, seja pelo aspecto da
própria existência física e saúde dos seres humanos, seja quanto à dignidade desta exis-
tência, medida pela qualidade de vida. Este reconhecimento impõe ao Poder Público e
à coletividade a responsabilidade pela proteção ambiental.
Crime é uma violação ao direito. Assim, será um crime ambiental todo e qualquer dano
ou prejuízo causado aos elementos que compõem o ambiente: flora, fauna, recursos
naturais e o patrimônio cultural. Por violar direito protegido, todo crime é passível
de sanção (penalização), que é regulado por lei. O ambiente é protegido pela Lei n.º
9.605 de 12 de fevereiro de 1998 (Lei de Crimes Ambientais), que determina as
sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio
ambiente.
Antes da sua existência, a proteção ao meio ambiente era um grande desafio, uma vez
que as leis eram esparsas e de difícil aplicação: havia contradições como, por exemplo,
a garantia de acesso livre às praias, entretanto, sem prever punição criminal a quem o
impedisse. Ou inconsistências na aplicação de penas. Matar um animal da fauna silves-
tre, mesmo para se alimentar, era crime inafiançável, enquanto maus tratos a animais e
desmatamento eram simples contravenções punidas com multa. Havia lacunas como
faltar disposições claras relativas a experiências realizadas com animais ou quanto à sol-
tura de balões.
Com o surgimento da Lei de Crimes Ambientais, a legislação ambiental no que toca à
proteção ao meio ambiente é centralizada. As penas agora têm uniformização e grada-
ção adequadas e as infrações são claramente definidas. Contrário ao que ocorria no pas-
sado, a lei define a responsabilidade das pessoas jurídicas, permitindo que grandes em-
presas sejam responsabilizadas criminalmente pelos danos que seus empreendimentos
possam causar à natureza. Matar animais continua sendo crime, exceto para saciar a
fome do agente ou da sua família; os maus tratos, as experiências dolorosas ou cruéis,
o desmatamento não autorizado, a fabricação, venda, transporte ou soltura de balões,
hoje são crimes que sujeitam o infrator à prisão.
Além das agressões que ultrapassam os limites estabelecidos por lei, também são con-
siderados crimes ambientais as condutas que ignoram normas ambientais, mesmo que
não sejam causados danos ao meio ambiente. É o caso dos empreendimentos sem a
devida licença ambiental. Neste caso, há a desobediência a uma exigência da legislação
ambiental e, por isso, ela é passível de punição por multa e/ou detenção.
As penas previstas pela Lei de Crimes Ambientais são aplicadas conforme a gravidade da
infração: quanto mais reprovável a conduta, mais severa a punição. Ela pode ser privativa
de liberdade, onde o sujeito condenado deverá cumprir sua pena em regime penitenciário;
105

restritiva de direitos, quando for aplicada ao sujeito -- em substituição à prisão -- penalida-


des como a prestação de serviços à comunidade, interdição temporária de direitos, suspen-
são de atividades, prestação pecuniária e recolhimento domiciliar; ou multa.
A pessoa jurídica infratora, uma empresa que viola um direito ambiental, não pode ter
sua liberdade restringida da mesma forma que uma pessoa comum, mas é sujeita a pe-
nalizações. Neste caso, aplicam-se as penas de multa e/ou restritivas de direitos, que são:
a suspensão parcial ou total das atividades; interdição temporária de estabelecimento,
obra ou atividade; a proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter
subsídios, subvenções ou doações. Também é possível a prestação de serviços à comu-
nidade através de custeio de programas e de projetos ambientais; execução de obras
de recuperação de áreas degradadas; contribuições a entidades ambientais ou culturais
públicas.
Diante de um crime ambiental, a ação civil pública (regulamentada pela Lei 7.347/85)
é o instrumento jurídico que protege o meio ambiente. O objetivo da ação é a repara-
ção do dano onde ocorreu a lesão dos recursos ambientais. Podem propor esta ação
o Ministério Público, Defensoria Pública, União, Estado, Município, empresas públicas,
fundações, sociedades de economia mista e associações com finalidade de proteção ao
meio ambiente.
Tipos de Crimes Ambientais
De acordo com a Lei de Crimes Ambientais (Lei n.º 9.605/98), os crimes ambientais são
classificados em cinco tipos diferentes:
Contra a fauna (art. 29 a 37): São as agressões cometidas contra animais silvestres, na-
tivos ou em rota migratória, como a caça, pesca, transporte e a comercialização sem au-
torização; os maus-tratos; a realização de experiências dolorosas ou cruéis com animais
quando existe outro meio, independente do fim. Também estão incluídas as agressões
aos habitats naturais dos animais, como a modificação, danificação ou destruição de
seu ninho, abrigo ou criadouro natural. A introdução de espécime animal estrangeira no
país sem a devida autorização também é considerado crime ambiental, assim como a
morte de espécimes devido à poluição.
Contra a flora (art. 38 a 53): Causar destruição ou dano a vegetação de Áreas de Pre-
servação Permanente, em qualquer estágio, ou a Unidades de Conservação; provocar
incêndio em mata ou floresta ou fabricar, vender, transportar ou soltar balões que pos-
sam provocá-lo em qualquer área; extração, corte, aquisição, venda, exposição para fins
comerciais de madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal sem a devida
autorização ou em desacordo com esta; extrair de florestas de domínio público ou de
preservação permanente pedra, areia, cal ou qualquer espécie de mineral; impedir ou
dificultar a regeneração natural de qualquer forma de vegetação; destruir, danificar, le-
sar ou maltratar plantas de ornamentação de logradouros públicos ou em propriedade
privada alheia; comercializar ou utilizar motosserras sem a devida autorização.
106

Poluição e outros crimes ambientais (art. 54 a 61): Todas as atividades humanas pro-


duzem poluentes (lixo, resíduos, e afins), no entanto, apenas será considerado crime am-
biental passível de penalização a poluição acima dos limites estabelecidos por lei. Além
desta, também é criminosa a poluição que provoque ou possa provocar danos à saúde
humana, mortandade de animais e destruição significativa da flora. Assim como aquela
que torne locais impróprios para uso ou ocupação humana, a poluição hídrica que torne
necessária a interrupção do abastecimento público e a não adoção de medidas preven-
tivas em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível.
São considerados crimes ambientais a pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais
sem autorização ou em desacordo com a obtida e a não-recuperação da área explora-
da; a produção, processamento, embalagem, importação, exportação, comercialização,
fornecimento, transporte, armazenamento, guarda, abandono ou uso de substâncias
tóxicas, perigosas ou nocivas à saúde humana ou em desacordo com as leis; a operação
de empreendimentos de potencial poluidor sem licença ambiental ou em desacordo
com esta; também se encaixam nesta categoria de crime ambiental a disseminação de
doenças, pragas ou espécies que possam causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna,
à flora e aos ecossistemas.
Contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural (art. 62 a 65): Ambiente é um
conceito amplo, que não se limita aos elementos naturais (solo, ar, água, flora, fauna). Na
verdade, o meio ambiente é a interação destes com elementos artificiais -- aqueles for-
mados pelo espaço urbano construído e alterado pelo homem -- e culturais que, juntos,
propiciam um desenvolvimento equilibrado da vida. Desta forma, a violação da ordem
urbana e/ou da cultura também configura um crime ambiental.
Contra a administração ambiental (art. 66 a 69): São as condutas que dificultam ou
impedem que o Poder Público exerça a sua função fiscalizadora e protetora do meio am-
biente, seja ela praticada por particulares ou por funcionários do próprio Poder Público.
Comete crime ambiental o funcionário público que faz afirmação falsa ou enganosa,
omitir a verdade, sonegar informações ou dados técnico-científicos em procedimentos
de autorização ou de licenciamento ambiental; Ou aquele que concede licença, autori-
zação ou permissão em desacordo com as normas ambientais, para as atividades, obras
ou serviços cuja realização depende de ato autorizativo do Poder Público. Também co-
mete crime ambiental a pessoa que deixar de cumprir obrigação de relevante interesse
ambiental, quando tem o dever legal ou contratual de fazê-la, ou que dificulta a ação
fiscalizadora sobre o meio ambiente.
107

Infrações Administrativas
São infrações administrativas quaisquer ações ou omissões que violem regras jurídicas
de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente. A Lei de Crimes
Ambientais disciplinou as infrações administrativas em seus arts. 70 a 76, e foi regula-
mentada pelo Dec. 6.514/08.
O Poder Público, no exercício do poder fiscalizador, ao lavrar o auto de infração e de
apreensão, indicará a multa prevista para a conduta, bem como, se for o caso, as demais
sanções estabelecidas no decreto, pela análise da gravidade dos fatos, dos antecedentes
e da situação econômica do infrator. A aplicação de sanções administrativas não impede
a penalização por crimes ambientais, se também forem aplicáveis ao caso.
Qualquer pessoa, ao tomar conhecimento de alguma infração ambiental, poderá apre-
sentar representação às autoridades integrantes do Sistema Nacional do Meio Ambien-
te (SISNAMA). A autoridade ambiental não tem escolha: uma vez ciente, deverá promo-
ver imediatamente a apuração da infração ambiental sob pena de corresponsabilidade.
Balões
Dentre os crimes contra a flora, um dos mais notórios é a soltura de balões. Diante dos
grandes riscos e prejuízos que os balões juninos podem provocar, especialmente na
época da seca, o que antes era só contravenção (delito de pouca importância), agora é
crime. O art. 42 estabelece que fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam
provocar incêndios nas florestas e demais formas de vegetação é crime com pena de um
a três anos de detenção e/ou multa. Conforme o art. 59 do Dec. 6.514/08, a multa é de 1
mil a 10 mil reais por balão.
Fonte: O eco (2014, on-line)7.
108

1. A Política Nacional do Meio Ambiente, na Lei 6. 938/1981, conceitua a degrada-


ção da qualidade ambiental como toda modificação adversa ao equilíbrio ecoló-
gico. Da mesma forma, a lei citada define o poluidor como sendo:
a. Pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou
indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental.
b. Pessoa jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indireta-
mente por atividade qualquer que seja ela.
c. Pessoa jurídica, de direito privado, responsável, direta ou indiretamente, por
atividade causadora de degradação ambiental.
d. Da pessoa jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indi-
retamente, por atividade causadora de degradação ambiental.

2. Avalie as disposições acerca do Licenciamento Ambiental:


a. O Licenciamento Ambiental é o conjunto de etapas constituintes do procedi-
mento administrativo que objetiva a concessão da licença ambiental, sendo
esta, portanto, uma das etapas do licenciamento.
b. O Licenciamento Ambiental pode ser dispensado caso a pessoa requeira com
base no atestado de pobreza.
c. Na Licença de Instalação, por exemplo, deve ser concedida a empreendimen-
tos cujas condições de instalação detalhadas no projeto o tornem compatível
com a preservação do ambiente onde será construído.
d. São idênticos os prazos de validade da licença prévia, da licença de instalação
e da licença de operação, etapas inextinguíveis do licenciamento ambiental.

3. Existem atividades econômicas que não necessitam do estudo de impacto am-


biental e do relatório de impacto ambiental (EIA/RIMA), são elas:
a. Projeto de portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos.
b. Ferrovias.
c. Exploração econômica de madeira em área acima de 100 hectares.
d. Estradas de rodagem com duas faixas de rolamento.
e. Barragem hidrelétrica com potencial de 9 MW.
109

4. Sobre o Estudo Prévio de Impacto Ambiental, disposto na Lei n.º 6.938/1986, jul-
gue os itens e marque o correto:
a. Deve o EIA ser feito concomitantemente à implantação da obra ou à realiza-
ção da atividade.
b. Deve o EIA anteceder, necessariamente, a implantação da obra ou a realiza-
ção da atividade.
c. Pode ser dispensado o EIA mediante disposição expressa em Lei Federal.
d. O EIA pode ser substituída pela realização de relatório de viabilidade ambien-
tal.
e. O EIA pode ser dispensado caso o empreendedor julgue necessário por ser
importante para a comunidade.

5. No tema de responsabilidade administrativa ambiental, elencado na Lei n.º


9.605/1998, a sanção de multa diária é aplicável às infrações administrativas am-
bientais quando:
a. Depende da prévia e progressiva aplicação da sanção de multa simples.
b. Exclui a aplicação de outras sanções de caráter administrativo.
c. Incide naquelas infrações de menor lesividade.
d. Quando o cometimento da infração se prolongar no tempo.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Lei de Crimes Ambientais - Comentários à Lei 9.605/1998


Silvio Maciel; Luiz Flávio Gomes
Editora: Método
Sinopse: O Direito Ambiental desperta cada vez mais o interesse do mundo
jurídico, tendo em vista a crescente preocupação da humanidade com os
problemas causados ao meio ambiente pelo desenvolvimento humano.
Cada vez mais são produzidas obras, leis e decisões judiciais sobre esse novo,
porém, importante ramo do Direito. No plano legislativo, surgem a cada dia
novos diplomas legais visando coibir práticas que degradam o meio ambiente.
Nossa atual Constituição Federal, por exemplo, destina um capítulo inteiro
de tutela do meio ambiente, consubstanciando-se num dos documentos
normativos mais avançados do mundo em matéria de proteção ambiental.
Nessa gama de proteção, está a tutela penal, com a determinação constitucional
expressa de que as condutas lesivas ao meio ambiente sejam criminalizadas.
Há, pois, um mandato expresso de criminalização na nossa Constituição Federal. Cumprindo essa
determinação constitucional, surgiu a Lei 9.605/1998, conhecida como Lei de Crimes Ambientais,
que além de tipificar dezenas de comportamentos degradadores do nosso meio ambiente, também
tratou de criar mecanismos que estimulem a prevenção e a reparação dos danos ambientais, além
de normatizar outros importantes temas, tais como a responsabilidade criminal das empresas.
Comentários: Este livro é indicado para aqueles que querem explorar mais o tema de crimes
ambientais. Um livro de fácil acesso e com linguagem didática, representando um estudo
aprofundado sobre a lei de crimes ambientais.
111
REFERÊNCIAS

BECHARA, E. Licenciamento e compensação ambiental na lei do sistema nacio-


nal das unidades de conservação. São Paulo: Atlas, 2009.
BELTRÃO, A. F. G. Direito Ambiental para concursos públicos. 2 ed. São Paulo: Mé-
todo, 2009.
FIORILLO, C. A. Curso de Direito Ambiental brasileiro. 14 ed. São Paulo: Saraiva,
2013.
LEITE, J. R. M.; AYLA, P. de A. Dano ambiental: do individual ao coletivo, extrapa-
trimonial. Teoria e pratica. 3 ed. São Paulo: RT, 2010.
LENZA, P. Direito Constitucional Esquematizado. 16 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
MELO, F. Manual de Direito Ambiental. São Paulo: Método, 2014.
MILARÉ, É. Direito do ambiente. 7º ed. São Paulo: RT, 2012, p.810.

Citação de Links

1
<http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html>. Acesso em: 25
abr. 2016.
2
<http://www.stf.jus.br/portal/glossario/verVerbete.asp?letra=P&id=491>. Acesso
em: 25 abr. 2016.
3
<http://www.stf.jus.br/portal/informativo/verInformativo.asp?s1=pri nc%EDp io+-
da+insignific%E2ncia&pagina=29&base=INFO>. Acesso em: 26 abr. 2016.
4
<http://www.ib.usp.br/ecosteiros/textos_educ/mata/fauna/fauna.htm>. Acesso em:
26 abr. 2016.
5
<http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/biologia/fauna-flora.htm>. Acesso em 25
abr. 2016.
6
<http://plantas-ornamentais.info/>. Acesso em: 25 abr. 2016.
7
<http://www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/28289-entenda-a-lei-de-crimes-am-
bientais/>. Acesso em: 25 abr. 2016.
GABARITO

1. A.

2. A.

3. E.

4. B.

5. D.
Professora Me. Heloísa Alva Cortez Gonçalves

IV
CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO

UNIDADE
E SEUS DESAFIOS. LEI N.º 12.651
DE 25 DE MAIO DE 2012

Objetivos de Aprendizagem
■■ Localizar a Lei Florestal.
■■ Destacar os principais pontos do Código Florestal Brasileiro.
■■ Situar o acadêmico na atual situação legislativa do país.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Objetivos do Código Florestal Brasileiro
■■ Área de preservação permanente (APP)
■■ Reserva Legal
■■ Cadastro Ambiental Rural
■■ Das áreas consolidadas
115

INTRODUÇÃO

Nesta unidade, vamos analisar alguns pontos importantes do novo Código


Florestal. O intuito deste estudo, caro(a) aluno(a), é situá-lo(a) no universo legis-
lativo florestal para que você saiba onde encontrar a lei, entendendo os pontos
mais polêmicos. A Lei n.º 12.651/2012 de 25 de maio de 2012 instituiu o novo
Código Florestal, revogando a Lei de n.º 4.771/1965.
A nova lei provocou calorosos debates políticos. As bancadas ruralistas e
ambientalistas incendiaram dúvidas e afirmaram certezas sobre as futuras con-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

sequências da aprovação do novo código. Porém, antes, é necessário mencionar


que, em termos de legislação ambiental tratando de “florestas”, em 1934, na
época de Getúlio Vargas, o Brasil detinha, em termos legislativos, de uma pre-
ocupação ambiental apenas a título de preservação de madeira, já que para o
país a lenha era fundamental naquela época. Já na ditadura ganhamos o código
de 1965, que na verdade jamais chegou a ser efetivamente cumprido, o que fez
com que na década de 90 se iniciassem debates sobre a necessidade de um novo
código. A bancada política começou a preocupar-se com a Legislação Ambiental
uma vez que o Brasil ganhou destaque mundial como grande exportador de
carne e soja, e como uma das exigências dos compradores estrangeiros estava
o cumprimento da lei ambiental brasileira. Desta forma, após anos em pauta
para discussão, José Aldo Rebelo Figueiredo, do Partido Comunista, tornou-se
relator do novo Código Florestal Brasileiro. Infelizmente, a comunidade cien-
tífica não foi levada em consideração na elaboração do novo código, e mesmo
com a preocupação dos ex-ministros do Meio Ambiente, que solicitaram uma
reunião à época com a presidente Dilma, muitos artigos foram promulgados.
Em 2011, na iminência da aprovação do novo código, o Brasil bateu recordes
de desmatamento. Em 2012, tivemos, finalmente, a aprovação do código, com o
claro objetivo de ter sido criado para que os ruralistas pudessem facilmente se
adequar a ele. Mas o que esperar do país que já teve o lema “integrar para não
entregar”1? Agora, a lei está vigente, com muitos erros e também alguns acertos.
Avaliemos agora essa nova lei.

1 Aquele que desmatasse áreas nativas e a tornasse “produtiva” ganhava até incentivos monetários do
INCRA na época da ditadura.

Introdução
116 UNIDADE IV

OBJETIVOS DO CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO

Antes de iniciarmos nossos estudos, proponho que você reflita sobre esta mensagem
na imagem abaixo. Proteger as florestas, a água, a biodiversidade, o solo é apenas
questão de “atrapalhar a economia”? Ou trata-se de proteger o local em que vivemos?
Figura 1: Novo Código Florestal: bancada ruralista

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fonte: Adaptado de Vazos (2012)1.

As discussões que se seguiram até a aprovação do novo código invocaram algumas


questões muito interessantes, que o permeiam até agora, como a possibilidade de o
atual código estar ferindo o Preceito Constitucional Brasileiro. Vejamos o porquê:
A Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, em seu artigo
225, dispõe que:
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
como o uso comum do povo é essencial à sadia qualidade de vida, im-
pondo-se ao poder público à coletividade o dever de defendê-lo e pre-
servá-lo para as presentes e futuras gerações.”

Desta forma, a alegação de que o novo Código Florestal produz um retrocesso


em relação à Constituição Federal ocorre, pois há o dever do princípio da proi-
bição ao retrocesso ecológico. Com o princípio, o que se pretende é a proteção

CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO E SEUS DESAFIOS. LEI N.º 12.651 DE 25 DE MAIO DE 2012
117

contra os retrocessos e flexibilizações in pejus na legislação. Até mesmo porque


não raro opta-se por interesses políticos e econômicos em detrimento à prote-
ção e garantia do meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Conforme afirmam Sarlet e Fensterseifer (2011, s/p).
No caso especialmente da legislação ambiental que busca dar operativi-
dade ao dever constitucional de proteção do ambiente, há que se asse-
gurar a sua blindagem contra retrocessos que a tornem menos rigorosa
ou flexível, admitindo práticas poluidoras hoje proibidas, assim como
buscar sempre um nível mais rigoroso de proteção, considerando es-
pecialmente o déficit legado pelo nosso passado, e um ajuste de contas
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

com o futuro, no sentido de manter um equilíbrio ambiental também


para as futuras gerações.

De acordo com Melo (2014), o novo Código Florestal estabelece normas gerais
sobre a proteção da vegetação, áreas de preservação permanente e áreas de reserva
legal, a exploração florestal, o suprimento de matéria prima florestal, o controle da
origem dos produtos florestais e o controle e prevenção dos incêndios florestais,
e prevê instrumentos econômicos e financeiros para o alcance de seus objeti-
vos. Reconhece o novo código que as florestas existentes no território nacional
e as demais formas de vegetação nativa são bens de interesse comum a todos os
habitantes do país, exercendo-se os direitos de propriedade com as limitações
da legislação em geral e especialmente do Código Florestal.
Assim, reconhecer as florestas e demais formas de vegetação nativa como
de interesse comum a todos os habitantes do país significa que a utilização e
exploração da vegetação, ações ou omissões contrárias ao que dispõe o Código
Florestal são uso irregular da propriedade, com sanções previstas. Tanto é que o
uso irregular de uma área protegida pelo código – APPs, RL, Área de uso restrito,
enseja responsabilidade não só do proprietário, mas do possuidor e também do
detentor, seja pessoa física ou jurídica. Assim, ao adquirir um imóvel rural, se o
mesmo estiver irregular, cabe a quem comprou recompor o passivo ambiental.
Desta forma, o objetivo do código é proteger a terra, sem que o comprador, ven-
dedor, ou detentor fique discutindo sobre quem deve regularizar a terra.
Você já sabe em qual cenário foi criado o novo Código Florestal, e também
qual o objeto dele, ou seja, a proteção da terra. Agora é importante mencionar
o que este instrumento jurídico objetiva, o que quer atingir.

Objetivos do Código Florestal Brasileiro


118 UNIDADE IV

O objetivo básico do Código Florestal é o desenvolvimento sustentável.


Assim, tais princípios devem ser observados:
Figura 2 - Princípios do desenvolvimento sustentável

F.
Criação e mobilização de
A.
Afirmação do compromisso
incentivos econômicos para soberano do Brasil com a
fomentar a preservação e recuper- preservação das suas florestas e
ação da vegetação nativa e para demais formas de vegetação
promover o desenvolvimento de nativa, bem como da biodiversi-
atividades produtivas sustentáveis. dade, do solo, dos recursos hídricos
e da integridade do sistema
climático, para o bem estar das
gerações presentes e futuras.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fomento
E. á pesquisa
B.
Reafirmação da importância
científica e tecnológica na busca da da função estratégica da atividade
inovação para o uso sustentável do agropecuária e do papel das florestas
solo e da água, a recuperação e a e demais formas de vegetação nativa
preservação das florestas e demais na sustentabilidade, no crescimento
formas de vegetação nativa. econômico, na melhoria da
qualidade de vida da população
brasileira e na presença do país nos
mercados nacional e internacion-

D.
al de alimentos de

Responsabilidade comum
C.
Ação governamental de
bioenergia.

da Uniao, Estados, Distrito Federal e proteção e uso sustentável de


Municipios, em colaboração com a florestas, consagrando o compro-
sociedade civil na criação de misso do país com a compatibili-
politicas para a preservação e zação e harmonização entre o uso
restauração da vegetação nativa e produtivo da terra e a preservação
de suas funções ecológicas e da água, do solo e da vegetação.
sociais nas áreas urbanas e rurais.

Fonte: adaptado do Código Florestal Brasileiro2.

De todos os pontos propostos, destacamos a letra “c”, que estabelece a ação do


governo para o propósito da proteção de florestas, já que esta jamais foi uma
realidade brasileira, até agora.

CONCEITOS IMPORTANTES DO NOVO CÓDIGO FLORESTAL


BRASILEIRO

Você já sabe o que estuda o novo código e quais seus objetivos. Agora, destaca-
remos alguns conceitos importantes.

CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO E SEUS DESAFIOS. LEI N.º 12.651 DE 25 DE MAIO DE 2012
119

a. Área rural consolidada:


O novo código menciona muitas vezes a área rural consolidada. Você sabe do
que se trata? Ela representa a área de imóvel rural com ocupação antrópica
preexistente a 22.07.2008 (data da promulgação da lei de crimes ambientais),
com edificações, benfeitorias ou atividades agrossilvipastoris, admitida, neste
último caso, o regime de pousio (prática de interrupção temporária de ativi-
dades ou usos agrícolas, pecuários ou silviculturais, por no máximo 5 anos
para permitir a recuperação da capacidade de uso ou da estrutura física do
solo). O novo código concede uma série de prerrogativas e privilégios para
a regularização das intervenções irregulares antes de 22.07.2008. Para as
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

posteriores a esta data, às regras não importam exceções ou flexibilizações.


b. Pequena propriedade ou posse rural familiar:
É aquela propriedade explorada mediante o trabalho pessoal do agricultor
familiar e empreendedor familiar rural. Deve atender aos requisitos,
dispostos na Lei n.° 11.326/2006, no art.3º:
- não detenha, a qualquer título, área maior que 4 (quatro) módulos fiscais;
- utilize predominantemente mão de obra da própria família, nas ativida-
des econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento;
- tenha percentual mínimo da renda familiar originada de atividade eco-
nômica do seu estabelecimento ou empreendimento, na forma definida
pelo poder executivo.
- dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família.
c. Cadastro Ambiental Rural:

Está no âmbito do Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente


(SINIMA), e é um registro público eletrônico de esfera nacional, obrigatório
para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as informações
ambientais das propriedades e posses rurais, compondo base de dados
para controle e combate ao desmatamento. É através do CAR que todas
as informações sobre os imóveis rurais do Brasil são registradas, inclusive
a localização da Área de preservação permanente e a Reserva Legal.

Objetivos do Código Florestal Brasileiro


120 UNIDADE IV

d. Amazônia Legal:
Quando o código cita Amazônia Legal, refere-se aos estados do Acre,
Pará, Amazonas, Roraima, Amapá e Mato Grosso, e às regiões dos esta-
dos de Tocantins, Goiás e Maranhão. É importante sabê-los, pois estes
definem os percentuais para a reserva legal.
e. Uso alternativo do solo:
Fazer uso alternativo do solo significa substituir a vegetação nativa e
formações sucessoras por outras coberturas do solo, como atividades
industriais, de mineração, assentamentos urbanos ou outras formas de

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ocupação humana, atividades agropecuárias, de geração e transmissão
de energia e transporte.
f. Manejo sustentável:
Significa administrar a vegetação natural para a obtenção de benefícios
econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os mecanismos de sus-
tentação do ecossistema, objeto do manejo, considerando-se cumulativa
ou alternativamente a utilização de múltiplas espécies madeireiras ou não
de múltiplos produtos e subprodutos da flora, bem como a utilização de
outros bens e serviços.

©shutterstock

CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO E SEUS DESAFIOS. LEI N.º 12.651 DE 25 DE MAIO DE 2012
121

ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APP)

O artigo 3º do Código Florestal dispõe sobre as diferenças entre a Área de


Preservação Permanente e a Reserva Legal. Os objetivos da APP e RL também
são diferentes, mas curiosamente a nova Lei Florestal permite a reserva legal em
regime de condomínio.
Segundo o Código Florestal, a APP é: “área protegida, coberta ou não por
vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a
paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem estar das populações humanas.”
Sobre as APPS, destacam-se:
Quadro 1 - Área de preservação permanente

ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE


Incidência sobre imóveis em área rural ou urbana
Vegetação na área de APP deve ser mantida.
Caso a APP tenha sido suprimida, o proprietário, possuidor ou ocupante é obri-
gado a promover a RECOMPOSIÇÃO da vegetação, ressalvados os usos autoriza-
dos no Código Florestal.
Fonte: adaptado do Código Florestal Brasileiro.

Existem ainda dois tipos de APPs:


Figura 3 - Tipos de APPs

- APP declarada de interesse social por ato


do poder público: art. 6 da Lei n.°
12.651/2012. Nesta, quem declara este inter-
esse social é o chefe do poder executivo
(presidente da república, governador de
estado ou prefeito municipal);

- APP por força de lei, do art. 4 da Lei n.°


12.651/2012. Nesta, pela localização consid-
era-se APP, ou seja as faixas marginais de
rios, pelo simples fato de existir um rio
naquele local, há o dever de se proteger com
APP.

Área de Preservação Permanente (APP)


122 UNIDADE IV

Nas APPS por força de lei temos 11 espécies, todas descritas no art. 4º do Código
Florestal. Citemos algumas:
■■ Áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais;
■■ As áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer
que seja sua situação topográfica;
■■ As bordas dos tabuleiros ou chapadas;
■■ No topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de
100 metros e inclinação média maior que 25 graus.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O artigo 4º do Código Florestal também dispõe sobre as metragens e extensões
para cada espécie. Vejamos algumas:
■■ As faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e
intermitente.

Esta é uma das mais importantes espécies de APP. Nesta, excluem-se os efême-
ros, desde a borda da calha do leito regular em largura mínima de:
Quadro 2 - Proteção dos cursos d'água

LARGURA DO CURSO D’ÁGUA FAIXA MARGINAL DE PROTEÇÃO APP


Menos de 10 metros 30 metros
10 a 50 metros 50 metros
50 a 200 metros 100 metros
200 a 600 metros 200 metros
Mais de 600 metros 500 metros

CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO E SEUS DESAFIOS. LEI N.º 12.651 DE 25 DE MAIO DE 2012
123

Figura 4: Áreas de preservação permanente

Largura do rio
< 10m
Largura do rio Largura do rio
Largura do rio 200 - 600m > 600m
10 - 50m
Nascente Largura do rio
raio 50m 50 - 200m

Mata ciliar
30m

Mata ciliar
50m
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Mata ciliar
100m

Mata ciliar
200m

Mata ciliar
500m
Fonte: Euclides et al. (Atlas..., 2011, on-line)3.

■■ Lagos e Lagoas naturais:

Nesta, a proteção de APP ocorre no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa
com largura mínima de:
Quadro 3 - Proteção dos lagos e lagoas

LAGO E LAGOAS NATURAIS FAIXA DE APP


Zona urbana 30 metros
Zona rural para corpo d’água com até
50 metros
20 ha de superfície
Zona rural com mais de 20 ha de
100 metros
superfície

Observação: nas acumulações naturais de água com superfície inferior a um hec-


tare, fica dispensada a reserva da faixa de proteção prevista para os lagos e lagoas
naturais, vedada nova supressão de áreas de vegetação nativa, salvo autorização
do órgão ambiental competente (art. 4º, p.4º da Lei n.º 12.651/2012).

Área de Preservação Permanente (APP)


124 UNIDADE IV

■■ Áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer


que seja sua situação topográfica:

As áreas entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes são considerados
APPs em um raio mínimo de 50 metros. Nascentes são o afloramento natural
do lençol freático que apresentam perenidade e dão início a um curso d’água. Já
olho d’água é o afloramento natural do lençol freático, mesmo que intermitente.
■■ No topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de
100 metros e inclinação média maior que 25 graus.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
■■ As áreas em altitude superior a 1.800 metros, qualquer que seja a vegetação.
■■ Áreas de preservação permanente declaradas de interesse social: é facultado
ao chefe do poder executivo, seja ele presidente da república, governa-
dor de estado ou prefeito municipal, declarar uma área coberta com
florestas ou outras formas de vegetação como de interesse social e confi-
gurá-la como APP. Mas para isso é necessário estar enquadrado em uma
das seguintes situações:
a. conter a erosão do solo e mitigar riscos de enchente e deslizamentos de
terra e de rocha.
b. proteger as restingas ou veredas.
c. proteger várzeas.
d. abrigar exemplares da fauna ou da flora ameaçados de extinção.
e. proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico, cultural ou
histórico.
f. formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias.
g. assegurar condições de bem estar público.
h. auxiliar a defesa do território nacional, a critério das autoridades militares.

i. proteger áreas úmidas, especialmente as de importância internacional.

Agora você conhece algumas das ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTES


descritas no novo Código Florestal, lembre-se de que é importante a leitura inte-
gral do artigo 3º da lei 12.561/2012.

CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO E SEUS DESAFIOS. LEI N.º 12.651 DE 25 DE MAIO DE 2012
125

Façamos a seguinte indagação: se a APP é de tamanha importância como


descrita, é possível a supressão desta?
Fonte: a autora.

Como o próprio nome diz, a APP em regra é INSUSCETÍVEL de supressão!


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Porém, o novo Código Florestal traz algumas exceções. Vejamos:

■■ Supressão em áreas de preservação permanente:

Pode ocorrer a intervenção ou supressão de vegetação nativa em área de preser-


vação permanente somente nos casos de utilidade pública, de interesse social
ou de baixo impacto ambiental, conforme artigo 8º do Código Florestal. Mas
o que vem a ser utilidade pública neste caso? São consideradas como exemplo:
atividades de segurança nacional e proteção sanitária, obras de infraestrutura
destinadas às concessões e aos serviços públicos de transporte, sistema viário,
inclusive aquele necessário aos parcelamentos de solo urbano aprovados pelos
municípios, saneamento, gestão de resíduos, energia, telecomunicações, radio-
difusão, instalações necessárias à realização de competições esportivas estaduais,
municipais ou internacionais, bem como mineração, exceto, neste último caso,
a extração de areia, argila, saibro e cascalho etc.
Já os casos de INTERESSE SOCIAL são entendidos como, por exem-
plo: a exploração agroflorestal sustentável praticada na pequena propriedade
ou posse rural familiar ou por povos e comunidades tradicionais, desde que
não descaracterize a cobertura vegetal existente e não prejudique a função
ambiental da área, a implantação de instalações necessárias à captação e con-
dução de água e de efluentes tratados para projetos cujos recursos hídricos
são partes integrantes e essenciais da atividade, a regularização fundiária de
assentamentos humanos ocupados predominantemente por população de
baixa renda em áreas urbanas consolidadas, observadas as condições estabe-
lecidas na Lei n.º 11.977 de 2009.

Área de Preservação Permanente (APP)


126 UNIDADE IV

Por fim, são entendidas como ATIVIDADES EVENTUAIS ou de BAIXO


IMPACTO AMBIENTAL: abertura de pequenas vias de acesso interno e suas
pontes e pontilhões quando necessária a travessia de um curso d’água, ao acesso
de pessoas e animais para a obtenção de água ou à retirada de produtos oriun-
dos das atividades de manejo agroflorestal sustentável, implantação de trilhas
para o desenvolvimento do ecoturismo, plantio de espécies nativas produtoras
de frutos, sementes, castanhas e outros produtos vegetais, desde que não impli-
que supressão da vegetação existente nem prejudique a função ambiental da
área, dentre outras situações.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A intervenção e supressão de vegetação nativa protetora de
Fique LIGADO! nascente, dunas e restingas somente poderão ser autorizadas
em caso de UTILIDADE PÚBLICA.
Possibilidade de AMPLIAÇÃO das hipóteses de intervenção
e supressão em APP. Além das hipóteses de intervenção e
supressão em APP elencadas na lei, o novo código possibilita
que outras atividades se enquadrem nas hipóteses similares
FIQUE LIGADO! de utilidade pública ou de interesse social, bastando que sejam
caracterizadas e motivadas em procedimento administrativo
próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional ao
empreendimento proposto, e definidas em ato do chefe do
poder executivo FEDERAL – presidente da república.

É possível entrar em APP para obtenção de água?


Sim. O artigo 9º da Lei n.º 12.651/2012 dispõe que é permitido o acesso de
pessoas e animais às áreas
de preservação permanente
para obtenção de água e para
realização de atividades de
baixo impacto ambiental.
Agora você já sabe o
conceito e algumas espécies
de APPS. Vamos prosseguir
falando sobre a RESERVA
LEGAL. ©shutterstock

CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO E SEUS DESAFIOS. LEI N.º 12.651 DE 25 DE MAIO DE 2012
127

RESERVA LEGAL

RESERVA LEGAL também está conceituada no artigo 3º do Código Florestal.


Considera-se reserva legal a área localizada no interior de uma propriedade
ou posse rural, delimitada nos termos da Lei n.º 12.651/2012, com a função de
assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel
rural, auxiliar a conservação e reabilitação dos processos ecológicos e promo-
ver a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna
silvestre e da flora nativa (art. 3º, III). A RESERVA LEGAL só é aplicável a pro-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

priedades e posses rurais no país! Deve ser conservada com cobertura vegetal
nativa pelo proprietário do imóvel rural, possuidor ou ocupante a qualquer título,
pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado.

PERCENTUAIS DA RESERVA LEGAL

De acordo com cada região do Brasil, será definido um percentual de reserva


legal a ser destinado. Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de
vegetação nativa, a título de reserva legal, sem prejuízo da aplicação das normas
sobre as áreas de preservação permanente, observados os percentuais mínimos
em relação à área do imóvel:
I. Localizado na Amazônia
TamanhoLegal:
da Reserva Legal

80% em 35% em 20% em


Florestas Cerrados Campos
Gerais

A. 80% no imóvel situado B. 35% no imóvel situado C. 20% no imóvel situado


em área de florestas. em área de cerrado. em área de campos gerais.

II. Localizado nas demais regiões do país: 20%.

Reserva Legal
128 UNIDADE IV

Figura 5: Tamanho da Reserva Legal


Tamanho da Reserva Legal

BIOMA AMAZÔNIA
BIOMA
CAATINGA

BIOMA

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Amazônia 80% CERRADO
da propriedade
BIOMA
PANTANAL
35%
nos Estados da
Amazônia Legal
BIOMA MATA
20% ATLÂNTICA 20%
nos demais em outros
Estados Biomas
BIOMA
PAMPA

Fonte: Piau (O novo Código..., 2012, on-line)4.

RESERVA LEGAL PODE SER DISPENSADA?

O novo Código Florestal dispõe três exceções à obrigatoriedade da Reserva


Legal. São elas:

Os empreendimentos de abastecimento público de água e tratamento de


esgoto não estão sujeitos à constituição de Reserva Legal (art. 12, p. 6).
Não será exigido Reserva Legal relativa às áreas adquiridas ou desapropria-
das por detentor de concessão, permissão ou autorização para exploração
de potencial de energia hidráulica, nas quais funcionem empreendimentos
de geração de energia elétrica, subestações, ou sejam instaladas linhas de
transmissão e de distribuição de energia elétrica (art. 12, p. 7).
Não será exigida Reserva Legal relativa às áreas adquiridas ou desapropria-
das com o objetivo de implantação e ampliação de capacidade de rodovias
e ferrovias (art. 12, p. 8).

CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO E SEUS DESAFIOS. LEI N.º 12.651 DE 25 DE MAIO DE 2012
129

RESERVA LEGAL EM IMÓVEIS COM ATÉ 4 MÓDULOS FISCAIS

Falaremos agora sobre um dos pontos mais polêmicos da Reserva Legal no


Novo Código, pois se flexibilizou a Reserva Legal para propriedades com até 4
módulos fiscais.
Afirma Melo (2014) que nos imóveis rurais com até 4 módulos fiscais que
detinham em 22.07.2008 remanescente de vegetação nativa em percentuais infe-
riores ao legal do novo código, a reserva legal será constituída com a área ocupada
com a vegetação nativa existente em 22.07.2008, vedadas novas conversões para
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

uso alternativo do solo (art. 67).


Vejamos: o módulo fiscal é medido em hectares, e este tem uma definição
para cada município brasileiro, conforme instrução especial n.º 20 do INCRA.
Então, uma pequena propriedade pode variar muito, de 8 ha até 440 ha, conforme
o município brasileiro. Quanto à data de 22.07.2008, já explicada como divisor de
águas, significa que as intervenções e supressões irregulares ocorridas até então
gozam de prerrogativas e privilégios para a regularização ambiental. Assim, o
proprietário ou possuidor constituirá a RL com o remanescente de vegetação
nativa existente em 22.07.2008, vedado novas conversões de uso alternativo do
solo. Ou seja, explicando através de um exem-
plo: João tem uma propriedade rural no sul
do Brasil, com até 4 módulos fiscais. Até o dia
22.07.2008, João detinha somente 5% de área
remanescente de vegetação nativa, a reserva
legal para esta região é de 20% da proprie-
dade, mas como João tem uma propriedade
com até 4 módulos fiscais, ele não será obri-
gado a recompor a sua RL na integralidade.
Conforme a lei – 20%, só deve manter a vege-
tação que sobrou em 22.07.2008, ou seja, os
5% que existiam.
©shutterstock

Reserva Legal
130 UNIDADE IV

RESERVA LEGAL, AMPLIAÇÃO E REDUÇÃO EM FLORESTAS NA


AMAZÔNIA

A Reserva Legal na Amazônia pode ser reduzida? Infelizmente, sim. Vejamos:


O poder público pode reduzir a RL para até 50% para fins de recomposição,
conforme art. 12, p. 4º e 5º do Código Florestal.
A Reserva Legal também pode ser ampliada em até 50% dos percentuais pre-
vistos para cumprimento de metas nacionais de proteção à biodiversidade ou de
redução de emissão de gases de efeito estufa (art. 13, II, da Lei n.º 12.651/2012).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ONDE DEVE ESTAR LOCALIZADA A RESERVA LEGAL?

Quem define a localização da Reserva Legal é o órgão estadual integrante do


SISNAMA ou instituição por ele habilitada, que deverá aprová-la após a inclu-
são do imóvel no cadastro ambiental rural. Mas deve a RL levar em consideração
os seguintes estudos e critérios:
a. O plano de bacia hidrográfica;
b. O zoneamento ecológico econômico;
c. A formação de corredores ecológicos com outra reserva legal, com área
de preservação permanente, com unidade de conservação ou com outra
área legalmente protegida;
d. As áreas de maior importância para a conservação da biodiversidade e;
e. As áreas de maior fragilidade ambiental.

Cômputo das áreas de preservação permanente no cálculo do


percentual da Reserva Legal:

É possível computar as áreas de preservação permanente no calculo do percen-


tual da Reserva Legal do imóvel desde que (art. 15 da lei 12.651/2012):

CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO E SEUS DESAFIOS. LEI N.º 12.651 DE 25 DE MAIO DE 2012
131

a. O benefício previsto no artigo não implique na conversão de novas áreas


para uso alternativo do solo.
b. A área a ser computada esteja conservada ou em processo de recupera-
ção, conforme comprovação do proprietário ao órgão estadual integrante
do SISNAMA.
c. O proprietário ou possuidor tenha requerido inclusão do imóvel no cadas-
tro ambiental rural, nos termos da lei.
Importante citar que o artigo 20 do Código Florestal prevê a possibilidade do uso
econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural. Assim,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

nada obsta o uso econômico da Reserva Legal, que pode ser sem propósito comer-
cial ou com propósito comercial. O manejo sustentável para exploração florestal
eventual em propósito comercial, para consumo no próprio imóvel, independe de
autorização dos órgãos competentes e deve ser declarada previamente ao órgão
ambiental a motivação da exploração e o volume explorado, limitada a exploração
anual a 20 metros cúbicos (art. 20). A coleta de produtos florestais não madei-
reiros, como frutos e sementes, é livre, devendo observar o art. 21 do código.
Figura 6: Reserva Legal em regime de condomínio

Eu não
Eu tenho 5% tenho área
da reserva de reserva
legal legal

Reserva legal adquirida em


regime de condomínio

Fonte: Áreas de R.L (Tortuga, on-line)5.

No artigo 16 do Código Florestal está disposta a possibilidade de ser instituído


Reserva Legal em regime de condomínio ou coletiva entre propriedades rurais,
respeitando os percentuais descritos na lei.

Reserva Legal
132 UNIDADE IV

RECOMPOSIÇÃO DA RESERVA LEGAL DESMATADA APÓS


22.07.2008

Para determinar as intervenções irregulares após 22.07.2008, as regras são mais


rígidas e comportam flexibilizações, ao passo que aquelas ocorridas até 22.07.2008
são mais flexíveis. Para a Reserva Legal desmatada irregularmente após 22.08.2008,
deve-se PARAR imediatamente com as atividades na área da RL, deve ser ini-
ciado o processo de recomposição da RL em até dois anos contados a partir da
data de publicação do Código Florestal, devendo os processos estarem concluídos

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
nos prazos estabelecidos pelo programa de regularização ambiental (art. 18, p.4).

RECOMPOSIÇÃO DA RESERVA LEGAL IRREGULAR ATÉ


22.07.2008

A área de RL que detinha em 22.07.2008, inferior ao estabelecido pelo novo


Código Florestal, poderá regularizar sua situação, independentemente da ade-
são ao programa de regularização ambiental, adotando as seguintes alternativas,
isoladas ou conjuntamente:
■■ Recompor a RL.
■■ Permitir a regeneração natural da vegetação na área de RL.
■■ Compensar a RL.

A recomposição da RL deve atender aos critérios estipulados pelo órgão com-


petente do SISNAMA e ser concluída em 20 anos, abrangendo a cada dois anos,
no mínimo, 1/10 da área total necessária à sua complementação.

CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO E SEUS DESAFIOS. LEI N.º 12.651 DE 25 DE MAIO DE 2012
133

CADASTRO AMBIENTAL RURAL

O Cadastro Ambiental Rural (CAR) foi criado no âmbito do Sistema Nacional


de Informação sobre o Meio Ambiente (SINIMA), registro público eletrônico
de âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais com a finalidade
de integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais, com-
pondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e
econômico e combate ao desmatamento (art. 29).
A inscrição no CAR é feita, preferencialmente, no órgão ambiental municipal
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ou estadual, que, nos termos do regulamento, exigirá do proprietário ou possuidor


rural: identificação do proprietário ou possuidor rural, comprovação da proprie-
dade ou posse, identificação do imóvel por meio de planta e memorial descritivo,
contendo a indicação das coordenadas geográficas com pelo menos um ponto de
amarração do perímetro do imóvel, informando a localização dos remanescentes
de vegetação nativa das áreas de preservação permanente, das áreas de uso res-
trito, das áreas consolidadas e, caso existente, também da localização da Reserva
Legal conforme (Portal Brasil, 2015, on-line)6.
Figura 7 - Cadastro Ambiental Rural

Fonte: Cadastro Ambiental Rural (PORTAL BRASIL, 2015, on-line)7.

Cadastro Ambiental Rural


134 UNIDADE IV

ÁREAS VERDES URBANAS

São tidos como Áreas Verdes Urbanas os espaços públicos ou privados com pre-
domínio de vegetação preferencialmente nativa, natural ou recuperada, previstos
no plano diretor, nas leis de zoneamento urbano e uso do solo do município,
indisponíveis para construção de moradias, destinados aos propósitos de recre-
ação, lazer, melhoria da qualidade ambiental urbana, proteção dos recursos
hídricos, manutenção ou melhoria paisagística, proteção de bens e manifesta-
ções culturais (art. 3º, XX).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ÁREAS DE USO RESTRITO

O novo código instituiu este novo espaço: Áreas de Uso Restrito, que são:
a. Os Pantanais e Planícies Pantaneiras; aos quais é permitida a exploração
ecologicamente sustentável devendo-se considerar as recomendações técni-
cas dos órgãos oficiais de pesquisa, ficando novas supressões de vegetação
nativa para uso alternativo do solo condicionadas à autorização do Órgão
Estadual do Meio Ambiente, com base nestas recomendações.
b. As áreas de inclinação entre 25 e 45 graus: são permitidos o manejo flo-
restal sustentável e o exercício de atividades agrossilvipastoris, bem como
a manutenção da infraestrutura física associada ao desenvolvimento de
atividades, observadas boas práticas agronômicas, sendo vetada a con-
versão de novas áreas, excetuadas as hipóteses de utilidade pública e
interesse social.

CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO E SEUS DESAFIOS. LEI N.º 12.651 DE 25 DE MAIO DE 2012
135

PROIBIÇÃO DO USO DO FOGO E DO CONTROLE DOS


INCÊNDIOS

Em regra, o Código proíbe o uso do fogo na vegetação, com algumas exceções:


a. Em locais ou regiões cujas peculiaridades justifiquem o emprego do fogo
em práticas agropastoris ou florestais, mediante prévia aprovação do
órgão estadual ambiental competente do SISNAMA, para cada imóvel
rural ou de forma regionalizada, que estabelecerá os critérios de moni-
toramento e controle.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

b. Emprego da queima controlada em unidades de conservação, em confor-


midade com o respectivo plano de manejo e mediante prévia aprovação
do órgão gestor da unidade de conservação, visando ao manejo conser-
vacionista da vegetação nativa, cujas características ecológicas estejam
associadas evolutivamente à ocorrência do fogo.
c. Atividades de pesquisa científica vinculadas a projetos de pesquisa devi-
damente aprovados pelos órgãos competentes e realizadas por instituição
de pesquisa reconhecida, mediante prévia aprovação do órgão ambiental
competente do SISNAMA.

©shutterstock

Cadastro Ambiental Rural


136 UNIDADE IV

PROGRAMAS DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA

O novo Código prevê a regularização fundiária, pelas intervenções e desmata-


mentos irregulares. Conforme artigo 59, caput da Lei n.° 12.651/2012, a união,
os estados, e o Distrito Federal deverão, no prazo de um ano, prorrogado por
igual período, por ato do chefe do poder executivo, implantar programas de
regularização ambiental (PRA), de posses e propriedades rurais com o objetivo
de adequá-las.
Caberá aos estados e ao Distrito Federal estabelecer o detalhamento por

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
meio de normas de caráter específico, em razão de suas peculiaridades territo-
riais, e cabe à União editar as normas de caráter geral.
Afirma Melo (2014) que a inscrição do imóvel rural no cadastro ambiental
rural (CAR) é condição obrigatória para a adesão ao PRA.
Falaremos agora sobre os últimos temas selecionados sobre o Código Florestal,
e também um dos mais criticados.

DAS ÁREAS CONSOLIDADAS

Nas Áreas de Preservação Permanente, é autorizada, exclusivamente, a conti-


nuidade das atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural em
áreas rurais consolidadas até 22.08.2008 (art. 61 – A).

São requisitos para a regularização em ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE


consolidada:
É autorizada exclusivamente a continuidade de atividades agrossilvipastoris, de
ecoturismo e de turismo rural;
É possível somente em área rural consolidada até 22.07.2008;
Será considerada a área detida pelo imóvel rural em 22.07.2008;

CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO E SEUS DESAFIOS. LEI N.º 12.651 DE 25 DE MAIO DE 2012
137

É possível a recomposição das seguintes espécies de Área de Preservação Perma-


nente:
Ao longo dos cursos d’água;
Entorno de nascentes e olhos d’água perenes;
Entorno de lagos e lagoas naturais;
Em veredas.

Para entender como ocorrerá a recomposição em áreas rurais consolidadas em


áreas de preservação permanente ao longo de cursos d’água naturais, deve-se
levar em consideração a metragem da propriedade, definida em módulo fiscal.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Quadro 4 - Recomposição em áreas rurais consolidadas em áreas de preservação permanente ao longo de


cursos d’água naturais

RECOMPOSIÇÃO EM ÁREAS RURAIS CONSOLIDADAS EM ÁREAS DE PRESERVAÇÃO


PERMANENTE AO LONGO DE CURSOS D’ÁGUA NATURAIS
Imóvel superior a Imóvel superior a
Imóvel com até 1 Imóvel superior a 4
1 até 2 módulos 2 até 4 módulos
módulo fiscal módulos fiscais
fiscais fiscais
Obrigatória a recom-
5 metros 8 metros 15 metros posição das respecti-
vas faixas marginais

Ou seja, mesmo estando em área consolidada, tratando-se de APP, deve-se res-


peitar o mínimo estabelecido para a recomposição.
Vejamos que quando se trata de nascentes e olhos d’água, é obrigatória a
RECOMPOSIÇÃO DO RAIO mínimo de 15 METROS, sendo possível a manu-
tenção de atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo ou turismo rural.
Já para lagoas e lagos naturais:
Quadro 5 - Recomposição em áreas rurais consolidadas no entorno de lagos e lagoas naturais

RECOMPOSIÇÃO EM ÁREAS RURAIS CONSOLIDADAS NO ENTORNO DE LAGOS E


LAGOAS NATURAIS
Imóvel superior a Imóvel superior a
Imóvel com até 1 Imóvel superior a
1 até 2 módulos 2 até 4 módulos
módulo fiscal 4 módulos fiscais
fiscais fiscais
5 metros 8 metros 15 metros 30 metros

Das Áreas Consolidadas


138 UNIDADE IV

Dessa forma, os imóveis rurais, com área consolidada em APP, no entorno de


lagos e lagoas naturais, podem manter atividades agrossilvipastoris, de ecotu-
rismo ou turismo rural sendo obrigatória a recomposição conforme o quadro 5,
o intuito do código é a proteção, e permanência destas lagoas.
Para imóveis rurais em VEREDAS, estabelece-se:
Quadro 6 - Áreas rurais consolidadas em VEREDAS

ÁREAS RURAIS CONSOLIDADAS EM VEREDAS:


Imóveis com área superior a 4 módulos
Imóveis com até 4 módulos fiscais

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
fiscais
30 metros 50 metros

COMO DEVEM SER FEITAS ESTAS RECOMPOSIÇÕES?

Vejamos, conforme cita o professor Fabiano Melo (2014, p.306):


Para recompor as áreas consolidadas em APP, podem ser feitos de
modo isolado ou em conjunto os seguintes métodos:

a. Condução de regeneração natural de espécies nativas;

b. Plantio de espécies nativas;

c. Plantio de espécies nativas conjugado com a condução da regene-


ração natural de espécies nativas;

d. Plantio intercalado e espécies lenhosas, perenes, ou de ciclo longo,


exóticas com nativas de ocorrência regional, em até 50% da área
total a ser recomposta, no caso dos imóveis a que se refere o inciso
V do caput do art. 3º do Código Florestal – a pequena propriedade
ou posse rural familiar. (MELO, 2014, p.306).

CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO E SEUS DESAFIOS. LEI N.º 12.651 DE 25 DE MAIO DE 2012
139

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade, estudamos o novo Código Florestal com suas peculiaridades.


Percebemos que muitos pontos polêmicos chamam a nossa atenção, seja por pro-
moverem um tratamento diferente às áreas consolidadas, seja por flexibilizarem
o uso do solo. Mas, em muitos pontos, podemos estabelecer grandes acertos que
dependem ainda de melhor regulamentação após efetivamente entrarem em vigor,
como o CAR (Cadastro Ambiental Rural), que se mostra uma boa medida para
a fiscalização das terras públicas e particulares, além de ter menção das APPS e
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Reserva Legal. Percebemos que o novo Código estabelece normas gerais sobre a
proteção da vegetação, Áreas de Preservação Permanente e as Áreas de Reserva
Legal. Verificamos que existem dois tipos de APPs, a por força de lei e a decla-
rada de interesse social por ato do poder público, assim como a intervenção ou
a supressão de vegetação nativa em APP que somente ocorrerá nas hipóteses de
utilidade pública, de interesse social ou de baixo impacto ambiental, previstas no
código. Já a Reserva Legal é uma área localizada na propriedade ou posse rural
com função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos
naturais do imóvel rural. Nela deve ser conservada a cobertura vegetal nativa
pelo proprietário do imóvel rural, possuidor ou ocupante, seja pessoa física ou
jurídica, pública ou privada. A Reserva Legal deve manter a cobertura nativa de
acordo com área do imóvel localizado na Amazônia legal: de 80% no imóvel situ-
ado em florestas, de 35% no imóvel situado em área de cerrado, 20% no imóvel
em área de campos gerais e 20% se estiver localizado nas demais regiões do país.
Não é obrigatória a Reserva Legal em alguns casos como: os empreendimen-
tos de abastecimento público de água e tratamento de esgoto, assim como não é
exigida Reserva Legal às áreas adquiridas ou desapropriadas com o objetivo de
implantação e ampliação de capacidade de rodovias e ferrovias. A localização
da Reserva Legal também deve obedecer a alguns pontos que são levados em
consideração. O Órgão Estadual integrante do SISNAMA ou instituição por ele
habilitada deverá aprovar a localização da reserva legal após inclusão do imóvel
no Cadastro Ambiental Rural. Um dos pontos mais interessantes apresentados
nesta unidade foi referente à possibilidade do computo das áreas de preserva-
ção permanente no cálculo do percentual da Reserva Legal do imóvel desde que:

Considerações Finais
140 UNIDADE IV

o benefício previsto não implique na conversão de novas áreas para uso alter-
nativo do solo, a área a ser computada esteja conservada ou em processo de
recuperação, conforme comprovação do proprietário ao Órgão Estadual inte-
grante do SISNAMA, e o proprietário ou possuidor tenha requerido inclusão no
Cadastro Ambiental Rural. Outro ponto interessante foi que, no caso de imóveis
rurais que detinham em 22.07.2008 área de até 4 módulos fiscais e que possu-
íam remanescente de vegetação nativa em percentuais inferiores ao previsto no
art. 12, a Reserva Legal será constituída com a área ocupada com a vegetação
nativa existente em 22.07.2008, vedadas novas conversões para uso alternativo

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
do solo. Dessa forma, verificamos que, em termos de proteção, o atual código
deveria ser mais rígido. Porém, percebemos que um dos pontos positivos deste
é que agora, finalmente, o Governo tem ferramentas para fiscalizar melhor as
florestas do nosso grande e desmatado país: o Brasil.

CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO E SEUS DESAFIOS. LEI N.º 12.651 DE 25 DE MAIO DE 2012
141

CARTILHA: ESCLARECIMENTOS DIVERSOS SOBRE ADA, CTF, ITR, APP, RESERVA


LEGAL, OUTROS
Nossa Leitura Complementar se refere a uma questão formulada ao IBAMA sobre a Re-
serva Legal. Vejamos o teor do questionamento:
“15- Todo imóvel rural deve possuir, obrigatoriamente, área de Reserva Legal? A área
de Reserva Legal não existente in loco, ou seja, no próprio imóvel, pode ser compensa-
da em outro imóvel? (O imóvel não possui área de Reserva Legal, porém, ela tem uma
averbação de Reserva Legal em outra matrícula que compensa esta área). De que forma
se dá essa compensação? Apresenta-se um Ato Declaratório Ambiental - ADA apenas,
ou dois? Um ADA declarado para cada matrícula é possível e, em consequência, dedu-
zir-se o dobro de imposto? A existência de área de Reserva Legal é obrigatória em todo
imóvel rural, independentemente do tamanho e localização deste; o percentual a ser
mantido no imóvel rural – a título de área de Reserva Legal – é variável nas diversas
regiões do país, conforme estabelecido pela legislação específica. Entretanto, quando
de sua não constatação in loco, ou seja, no próprio imóvel rural, pressupõe-se a alocação
extrapropriedade (em outro imóvel rural) em área de Servidão Ambiental dada como
compensação, o que também é previsto na Legislação. É necessário ressaltar que aque-
le imóvel rural que ‘cede’ a área em compensação (Servidão Ambiental) deve também
manter sua própria área de Reserva Legal, respeitado o percentual mínimo exigido por
Lei. → Imóvel “A”: Não possui Áreas de Preservação Permanente (APP) tampouco Área
de Reserva Legal; → Imóvel “B”: Executa a compensação da Área de Reserva Legal do
imóvel “A” em Área de Servidão Ambiental que possui, além de manter sua própria Área
de Reserva Legal (e eventual APP). Assim, somente para o imóvel “B” será apresentado
o ADA, pois faz jus à isenção do pagamento do ITR sobre a Área de Reserva Legal, sobre
a Área de Servidão Ambiental (dada em compensação) e sobre as APP (que eventual-
mente possua). Para o imóvel “A”, não será apresentado ADA pois ele não possui Área
de Reserva Legal in loco, além de não possuir APP. Caso possuísse APP, seria declarado
ADA referente a ela, visto que também faria jus à isenção do pagamento do ITR sobre
a mesma. É necessário observar que, na compensação de área de Reserva Legal de um
dado imóvel rural, em área cedida por outro imóvel rural (Servidão Ambiental): 1) Todas
as propriedades já tiveram suas áreas de Reserva Legal aprovadas pelos órgãos esta-
duais ambientais competentes; 2) Todas as propriedades já tiveram averbadas em suas
respectivas matrículas suas áreas de Reserva Legal; 3) Tendo em vista que a propriedade
“A” não dispõe de área suficiente para compor a totalidade necessária para sua Reserva
Legal, tomou emprestado parte dessa área de Reserva Legal de uma outra proprieda-
de “B”. Cabe lembrar que tal operação deverá ter sido aprovada pelos órgãos ambien-
tais competentes e aceita pelo Registro de Imóveis de Jurisdição das Áreas. A resposta
baseou-se na Legislação afetada, especialmente na Lei n.º 12.651/2012 (Lei de Proteção
da Vegetação Nativa ou “novo Código Florestal”) e Lei n.º 6.938/1981 (Política Nacional
do Meio Ambiente). Da Lei n.º 12.651/12: “Artigo 13, inciso I, § 1º No caso previsto no
inciso I do caput, o proprietário ou possuidor de imóvel rural que mantiver Reserva Legal
142

conservada e averbada em área superior aos percentuais exigidos no referido inciso


poderá instituir Servidão Ambiental sobre a área excedente, nos termos da Lei nº 6.938,
de 31 de agosto de 1981, e Cota de Reserva Ambiental.” “Artigo 15, § 2º: O proprietário
ou possuidor de imóvel com Reserva Legal conservada e inscrita no Cadastro Ambiental
Rural - CAR de que trata o art. 29, cuja área ultrapasse o mínimo exigido por esta Lei,
poderá utilizar a área excedente para fins de constituição de servidão ambiental, Cota
de Reserva Ambiental e outros instrumentos congêneres previstos nesta Lei.” “Art. 66. O
proprietário ou possuidor de imóvel rural que detinha, em 22 de julho de 2008, área de
Reserva Legal em extensão inferior ao estabelecido no art. 12, poderá regularizar sua
situação, independentemente da adesão ao PRA, adotando as seguintes alternativas,
isolada ou conjuntamente: … III - compensar a Reserva Legal. … § 5o A compensação
de que trata o inciso III do caput deverá ser precedida pela inscrição da propriedade no
CAR e poderá ser feita mediante: … II - arrendamento de área sob regime de servidão
ambiental ou Reserva Legal; ...” Novamente, da Lei n.º 12.651/12: Art. 79. A Lei n.º 6.938,
de 31 de agosto de 1981, passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 9º - B e 9º - C: “Art.
9o - B. A servidão ambiental poderá ser onerosa ou gratuita, temporária ou perpétua.
§ 1º: O prazo mínimo da servidão ambiental temporária é de 15 (quinze) anos. § 2º: A
servidão ambiental perpétua equivale, para fins creditícios, tributários e de acesso aos
recursos de fundos públicos, à Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN, definida
no art. 21 da Lei n.º 9.985, de 18 de julho de 2000. § 3º: O detentor da servidão ambiental
poderá aliená-la, cedê-la ou transferi-la, total ou parcialmente, por prazo determinado
ou em caráter definitivo, em favor de outro proprietário ou de entidade pública ou pri-
vada que tenha a conservação ambiental como fim social.”
Fonte: Gulli. (2014, on-line)8.
143

O CÓDIGO FLORESTAL
O novo Código Florestal (Lei n.° 12.651/12) está em vigor desde maio de 2012, mas a sua
implementação ainda dá os primeiros passos. O prazo de um ano, prorrogável por mais
um, para que os cerca de 5,4 milhões de proprietários de imóveis rurais do país façam o
registro no Cadastro Ambiental Rural (CAR), por exemplo, só começou a valer em 06 de
maio de 2014, quando foi publicada a Instrução Normativa n.º 2 do Ministério do Meio
Ambiente.
A nova lei, resultado da forte e continuada pressão pela flexibilização do Código Flores-
tal de 1964 por parte das entidades de classe que representam os grandes proprietários
rurais, manteve a exigência de proteção da vegetação nativa (Reserva Legal) em uma
parcela que varia de 20% a 80% da área dos imóveis rurais, dependendo do bioma.
Também foi mantida - apesar de ter sofrido redução - a exigência de proteção das Áreas
de Preservação Permanente (APPs) às margens de rios e encostas de morros, por exem-
plo. Áreas desmatadas ilegalmente até 22 julho de 2008, no entanto, ganharam trata-
mento diferenciado. Os maiores desafios da implementação do novo Código Florestal
são, justamente, a recomposição das APPs e a recuperação ou compensação da Reserva
Legal das propriedades.
O déficit acumulado em anos de sucessivos descumprimentos das regras de proteção
da vegetação nativa nas propriedades só será conhecido após a conclusão do cadastra-
mento ambiental, ocasião em que os proprietários irão declarar a situação dos imóveis
em cima de imagens de satélites.
Parte desse déficit desapareceu, por exemplo, quando o novo Código Florestal consi-
derou “consolidada” parte da área desmatada ilegalmente antes de 22 de julho de 2008
e desobrigou pequenas propriedades, com até quatro módulos fiscais, a recuperar a
Reserva Legal dos imóveis.
Ou permitiu que a recuperação das APPs levasse em conta o tamanho das propriedades.
Também passou a ser permitido somar as APPs à área de Reserva Legal para chegar ao
percentual de vegetação nativa exigido.
Tamanho do Passivo
Por ora, as previsões sobre o déficit remanescente variam de cerca de 20 milhões de hec-
tares a mais de 80 milhões de hectares, algo entre a dimensão do Estado de São Paulo e
o território do Estado do Mato Grosso.
O Código Florestal fixa em 20 anos o prazo para a recomposição ou compensação da
Reserva Legal dos imóveis rurais. Mas não há prazo para a recuperação das Áreas de
Preservação Permanente.
Tampouco há prazos para que os Estados analisem as declarações prestadas no Cadas-
tro Ambiental Rural, o que deve ser feito apenas por amostragem.
144

A partir de 25 de maio de 2017, proprietários de terras que não tiverem o registro no


CAR não poderão tomar crédito nas instituições financeiras.
Decreto editado pela presidente Dilma Rousseff em outubro de 2012 prevê que infor-
mações sobre remanescentes de vegetação nativa e respectivos passivos ambientais
das propriedades rurais, assim como informações sobre o processo de regularização
ambiental, deveriam estar disponíveis na internet, no site do Sistema Nacional do Ca-
dastro Rural (Sicar), um ano após a promulgação da nova Lei Florestal, em 25 de maio
de 2013.
Com atraso de um ano, o sistema foi lançado e irá receber, gerenciar e integrar dados
sobre regularização ambiental das propriedades em todos os estados.
Descentralizando o processo, o novo Código prevê que os estados criem, aprovem, mo-
nitorem e fiscalizem Planos de Regularização Ambiental (PRA) para as propriedades com
passivo de Reserva Legal que necessitam recuperar ou compensar Reservas Legais e
Áreas de Preservação Permanente para se regularizarem do ponto de vista ambiental.
Até o segundo aniversário do Código, em maio de 2014, nenhum estado havia criado o
seu PRA. Os incentivos para as propriedades rurais que preservaram mais do que o exi-
gido por lei, previstos no artigo 41 do novo Código, ainda não foram regulamentados.
Fonte: O Código florestal. (Observatório..., on-line)9.
145

1. Conforme o novo Código Florestal, a Lei n.° 12.651/2012, as Áreas de Preservação


Permanente (APPS) podem ser computadas no cálculo do percentual da institui-
ção da Reserva Legal? Justifique.
2. Conforme apresentado nesta Unidade, muitas discussões permearam o novo Có-
digo Florestal, alguns justificam que este fere inclusive o Preceito Constitucional
brasileiro. Assim, reflita se a flexibilização do Código Florestal ostenta incompatibili-
dade constitucional por supostamente ser mais brando com aquele que desmatou.
3. Conforme a Lei n.° 12.651/2012, para a instituição da localização de reserva legal
no imóvel rural, alguns critérios devem ser considerados, quais são eles?
a. O plano macro ecológico da área ocupada.
b. A formação de corredores socioecológicos com unidades de preservação
continuada.
c. As áreas de proteção mínima dos apicuns e salgados.
d. O zoneamento ecológico econômico.
e. As áreas de menor fragilidade ambiental.
4. João Alfredo é proprietário de imóvel rural com 3 módulos fiscais, no qual a ati-
vidade desenvolvida desde 1980 é o plantio de cana de açúcar, que ocupa a área
total do imóvel, inclusive as margens de curso d’água de 40 metros de largura
que corta a propriedade. De acordo com a Lei Federal n.º 12.651/2012, novo Có-
digo Florestal, este cidadão:
a. Poderá continuar com sua atividade econômica, mas terá a obrigação de re-
compor a área de preservação permanente de 40 metros de largura contados
de cada margem do curso d’água que corta sua propriedade.
b. Poderá continuar com sua atividade econômica, mas terá a obrigação de re-
compor a área de preservação permanente de 15 metros de largura contados
da borda da calha do leito regular do curso d’água que corta sua propriedade.
c. Terá de cessar a sua atividade econômica na área de preservação permanen-
te, que, neste caso, é de 50 metros de largura contados da borda da calha
do leito regular do curso d’água que corta sua propriedade, permitindo sua
regeneração natural.
d. Terá de cessar a sua atividade econômica na área de preservação permanen-
te, que, neste caso, é de 50 metros de largura contados da borda da calha do
leito regular do curso d’água que corta sua propriedade, e promover a sua
recomposição por meio de plantio.
e. Terá de cessar a sua atividade econômica na área de preservação permanen-
te, que, neste caso, é de 30 metros de largura contados da borda da calha
do leito regular do curso d’água que corta sua propriedade, permitindo sua
regeneração natural.
146

5. O novo Código Florestal (Lei n.° 12.651/2012) traz diversas disposições concer-
nentes à Área de Reserva Legal, sendo CORRETO afirmar que:
a. Os proprietários ou possuidores de imóveis rurais que realizaram supressão
de vegetação nativa respeitando os percentuais de Reserva Legal previstos
pela legislação em vigor à época em que ocorreu a supressão são obrigados
a promover a recomposição, compensação ou regeneração para os percen-
tuais exigidos na nova Lei.
b. A Reserva Legal deve ser conservada com cobertura de vegetação nativa
pelo proprietário do imóvel rural, possuidor ou ocupante a qualquer título,
pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, não sendo admitida
sua exploração econômica.
c. A inserção do imóvel rural em perímetro urbano definido mediante lei muni-
cipal desobriga o proprietário ou posseiro na manutenção da área de Reserva
Legal.
d. Todo imóvel rural, localizado em qualquer região do país, deve manter área
com cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva Legal, sem prejuízo
da aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação Permanente, obser-
vados os percentuais mínimos em relação à área do imóvel e excetuados os
casos expressamente previstos na Lei.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Comentários ao Novo Código Florestal


Paulo de Bessa Antunes
Editora: Atlas
Sinopse: O Novo Código Florestal é lei que nasceu marcada pela polêmica e por
fortes e acalorados debates, nem sempre com a necessária isenção e análise. A
Lei tem sido considerada como um instrumento que afirma várias conquistas da
agricultura. O presente livro tem por objeto comentar, artigo por artigo, a Lei n.º
12.651, de 25 de maio de 2011, que dispõe sobre a proteção da vegetação nativa.
Comentários: Livro indicado para uma leitura mais aprofundada do Direito
Ambiental, especialmente no que se refere ao Código Florestal Brasileiro de 2012.

Material Complementar
REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Fe-


deral: Centro Gráfico, 1988.
MELO, F. Manual de Direito Ambiental. São Paulo: Método, 2014.
SARLET, I. W.; FENSTERSEIFER, T. Direito Constitucional Ambiental. São Paulo: RT,
2011.

Citação de Links

1
<https://vasosdopurus.wordpress.com/2012/03/07/charge-da-semana-novo-codi-
go-florestal/>. Acesso em: 26 de abr. de 2016.
2
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm>.
3
<http://www.atlasdasaguas.ufv.br/exemplos_aplicativos/roteiro_dimensionamen-
to_barragens.html>. Acesso em: 26 de abr. de 2016.
4
< http://pt.slideshare.net/cafeicultura/palestra-cdigo-florestal-deputado-federal-
-paulo-piau>. Acesso em: 26 de abr. de 2016.
5
< http://www.tortugaonline.com.br/cartilha-area-de-reserva-legal-rl>. Acesso em:
26 de abr. de 2016.
6
<http://www.mma.gov.br/mma-em-numeros/cadastro-ambiental-rural>. Acesso
em: 26 de abr. de 2016.
7
<http://www.mma.gov.br/mma-em-numeros/cadastro-ambiental-rural>. Acesso
em: 26 de abr. de 2016.
8
<http://www.ibama.gov.br/servicosonline/phocadownload/manual/cartilha-escla-
recimentos-diversos-ada-2014-2.pdf>. Acesso em: 26 de abr. de 2016.
9
<http://www.observatorioflorestal.org.br/pagina-basica/o-codigo-florestal>. Aces-
so em: 26 de abr. de 2016.
149
GABARITO

1. Sim. Conforme o art. 15 do Código Florestal, será admitido o computo das áreas
de preservação permanente no calculo do percentual da Reserva Legal do imó-
vel deste que: o beneficio previsto não implique na conversão de novas áreas
para uso alternativo do solo, a área a ser computada esteja conservada ou em
processo de recuperação, conforme comprovação do proprietário ao Órgão Es-
tadual Integrante do SISNAMA, e o proprietário ou possuidor tenha requerido
inclusão no Cadastro Ambiental Rural.

2. Deve-se levar em conta que o retrocesso ecológico não pode ocorrer, se pre-
tende proteger a legislação contra retrocessos e flexibilizações para pior, pois,
muitas vezes, o legislador faz a opção por interesses políticos e econômicos em
detrimento da garantia do meio ambiente ecologicamente equilibrado.

3. D.

4. B.

5. D.
Professora Me. Heloísa Alva Cortez Gonçalves

V
POLÍTICA NACIONAL DE

UNIDADE
RESÍDUOS SÓLIDOS E
RECURSOS HÍDRICOS

Objetivos de Aprendizagem
■■ Analisar a lei sobre resíduos sólidos.
■■ Conhecer a lei de recursos hídricos.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Política nacional de resíduos sólidos
■■ Recursos hídricos
153

INTRODUÇÃO

Nesta última unidade, abordaremos a Lei n.° 12.305/2012, que trata sobre os
resíduos sólidos, e que ficou mais de 20 (vinte) anos tramitando no Congresso
Nacional até sua aprovação. O objetivo desta Lei é a gestão integrada e o geren-
ciamento dos resíduos sólidos, que, tardiamente, passou a ser uma preocupação
brasileira.
O lixo sempre foi e está se tornando cada vez mais um problema enorme,
principalmente pela quantidade de pessoas habitando o mundo, juntamente à
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

quantidade de lixo que cada uma possui. Estima-se que, atualmente, haja mais
de 7 bilhões de pessoas no mundo, e este número tende a aumentar e muito.
Assim, preocupar-se com o lixo que produzimos é um fato fundamental para
assegurar nossa própria existência.
Existem também normas correlatas aos resíduos sólidos, como a Lei n.º
11.445/2007 que trata sobre o saneamento básico. O plano de resíduos sólidos
constitui-se em documentos que definem a dinâmica, e instrumentos assim como
os procedimentos para a execução e gerenciamento integrado dos resíduos sóli-
dos. Plausivelmente, a lei existe, mas muito se discute acerca da sua aplicabilidade
e fiscalização. O que falta, então para chegarmos ao objetivo proposto pela Lei?
Outro tema que elegemos para tratar neste capitulo é a Lei n.º 9443/1997,
que trata sobre os recursos hídricos. A crise da água já atinge muitas localidades,
e a tendência é negativa caso este precioso recurso não seja preservado e racio-
nalizado. Estima-se que, quando atingirmos 10 bilhões de pessoas no mundo,
a situação piorará e muito. Quase 1,5 bilhão de pessoas não têm água potável, e
quase 2 bilhões não dispõem de instalações sanitárias. Por tais motivos, a luta
pela proteção da água se torna essencial, mas será que a nossa forma legal atende
a essa necessidade? Estaríamos protegendo nossa água de modo efetivo?

Introdução
154 UNIDADE V

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Santos (2009) afirma que a Terra, em breve, não será mais azul. A Terra, a pró-
pria quintessência da condição humana, ao que se sabe singular no universo
e ambiente único em que o homem pode viver sem artifícios, será coberta de
lixo. Essa previsão apocalítica do planeta conspurcado revela a inexistência de
dúvida de que sejamos capazes de destruir toda a vida orgânica na Terra e que
haja potencial para que isso ocorra neste próximo século.
Após refletirmos sobre tudo que consumimos e despejamos na natureza (na
qual não é absorvido por ela como se fosse um grande filtro do que não queremos
mais), vamos começar a entender melhor o porquê dessa enorme preocupação
quanto ao nosso lixo.
Segundo Pinho (2011) a história do lixo está ligada ao processo civilizatório
humano. Quando deixamos de ser nômades e começamos a nos fixar no terri-
tório, passamos a conviver com os resíduos gerados. A palavra lixo provém do
latim LIX, que significa lixívia ou cinzas. Também do latim provém o termo resí-
duo, que significa o que sobra: residuu. Afirma Seadon (2006) que, nos primeiros
núcleos habitacionais, o lixo era lançado diretamente nas ruas ou nas proximi-
dades da casa; outra prática era sua queima.

POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS E RECURSOS HÍDRICOS


155

Não era comum a liderança no trato da questão, que era resolvida com estra-
tégias particulares, além de não haver definição de lugares para o lançamento de
resíduos. Entretanto, os gregos já possuíam o hábito de cobrir os resíduos dispos-
tos a céu aberto ao invés de queimá-los, e em Atenas, 320 a.C., já existia varrição
nas ruas. Como reflexo do crescimento das cidades, e por motivo de higiene, as
pessoas começaram a encaminhar os resíduos para fora dos muros da cidade,
ou distantes o suficiente para não incomodar a dinâmica do lugar.
De acordo com Velloso (2008), apenas no século XVI, com a Peste Negra
e outras epidemias, ocasionadas pela falta de salubridade, as pessoas se viram
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

obrigadas a intervirem na coleta e disposição final, nos lugares mais isolados; o


lixo era queimado, lançado no solo perto de plantas, servia para alimentar ani-
mais ou era enterrado, estas práticas continuam presentes nas áreas não providas
por serviços de coleta de lixo. Na época medieval, as fezes, urina, os restos e as
águas fétidas continuavam a ser lançados pelas janelas. Tomar banho em dema-
sia era considerado prejudicial à saúde.
Na época medieval, os catadores eram chamados de trapeiros, e na Alemanha
as tarefas de limpeza urbana eram delegadas a prostitutas, prisioneiros de guerra,
condenados, escravos, mendigos e ajudantes de carrascos. Assim, conhecendo a
História, fica fácil compreender os motivos da desqualificação social dos luga-
res, como lixões e usinas de reciclagem. Em 1808, na cidade de Lisboa, passa a
ser proibido lançar lixo e despejos nas ruas. Como fruto da Revolução Francesa
(1789), foram criados no final daquele século os primeiros sistemas de tratamento
de água e incineradores de resíduos na Inglaterra. Com a Revolução Industrial,
a expansão das cidades traz à tona o problema do lixo (PINHO, 2011).
A partir do século XIX, a questão dos resíduos passou a ser tratada direta-
mente como um problema de saúde pública.
Rezende (2008) afirma que no Brasil, em função das pestes que assolavam
o Rio de Janeiro, em 1624 foi determinada a limpeza das valas onde era lançado
o lixo urbano; em 1727, a cada seis meses, os moradores eram convocados para
o trabalho comunitário de manter as ruas limpas.

Política Nacional de Resíduos Sólidos


156 UNIDADE V

De acordo com Carregal (1992), no Brasil, ao longo do século XIX, a má


limpeza das ruas persistia, o lixo e os dejetos eram recolhidos por escravos em
barris, e transportados e vertidos nas praias e nas margens de rios para que as
que as águas os levassem.
Desde o início do século XX, a questão do saneamento básico (água e esgoto)
foi vista como questão nacional, mas apenas a partir da década de 1960, segundo
Rezende (2008), que efetivamente surgiu uma Política Nacional para o tema.
Assim, o lixo sempre foi um problema a ser enfrentado.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A primeira lixeira de que se tem notícia surgiu em Atenas, no ano 500 a.C.
Fonte: Martinho, Gonçalves (1999, p. 14)

Desse cenário histórico sobre o lixo, passemos a analisar a Lei brasileira que trata
sobre os resíduos sólidos.
Após longuíssima tramitação, o Congresso Nacional editou a Lei n.º 12.305
de 02 de agosto de 2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
A Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) deve ser entendida como
uma lei voltada para a proteção ambiental, conforme art. 24 da Constituição
Federal Brasileira:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre:

VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do


solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da
poluição;

VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e


paisagístico;

VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumi-


dor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico.

POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS E RECURSOS HÍDRICOS


157

Antunes (2014) afirma que esta Lei tem como objeto a gestão integrada e o
gerenciamento de resíduos sólidos. Dispõe sobre os princípios, objetivos, e
instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao
gerenciamento de resíduos sólidos, inclusive os perigosos, às responsabilidades
dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis.
Como se vê, relevante lei, espera-se, poderá vir a contribuir decisivamente para
a mitigação dos gravíssimos danos oriundos da inadequada disposição final de
resíduos sólidos, notadamente os perigosos.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ABRANGÊNCIA DA LEI

A Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos se aplica a toda pessoa física ou


jurídica, de direito público ou privado, responsáveis, direta ou indiretamente,
pela geração de resíduos sólidos e as que desenvolvam ações relacionadas à ges-
tão integrada ou ao gerenciamento de resíduos sólidos.
Para melhor entendimento da lei, expliquemos alguns conceitos:
Figura 1 - Conceitos por entender a Política Nacional de resíduos sólidos

Os resíduos sólidos são


entendidos como: “materi-
al, substância, objeto ou
bem descartado resultante REJEITOS: são resíduos
de atividades humanas em sólidos que, depois de
sociedade, a cuja desti- esgotadas todas as possib-
nação final se procede, se ilidades de tratamento e Gestão integrada de
propõe proceder ou se recuperação por processos resíduos sólidos é o
está obrigado a proceder, tecnológicos disponíveis e “conjunto de ações volta-
nos estados sólido ou economicamente viáveis, das para a busca de O gerenciamento de
semissólido, bem como não apresentem outra soluções para os resíduos resíduos sólidos com-
possibilidade que não a sólidos de forma a consid- preende-se como o
gases contidos em recipi- conjunto de ações exerci-
entes e líquidos cujas disposição final ambiental- erar as dimensões política, das, direta ou indireta-
particularidades tornem mente adequada. (art. 3, econômica, ambiental, mente, nas etapas de
inviável o seu lançamento XV) cultural, e social como coleta, transporte, trans-
controle social e sob a bordo, tratamento e desti-
na rede publica de esgotos nação final ambiental-
ou em corpos d’água, ou premissa do desenvolvi- mente adequada dos
exijam para isso soluções mento sustentável” (art. 3, resíduos sólidos e
técnica ou economica- XI). disposição final ambien-
talmente adequada dos
mente inviáveis em face da rejeitos, de acordo com
melhor tecnologia plano municipal de gestão
disponível” (art. 3, XVI). integrada de resíduos
sólidos ou com plano de
gerenciamento de resídu-
os sólidos exigidos na
forma da PNRS (art. 3, X).

Fonte: a autora.

Política Nacional de Resíduos Sólidos


158 UNIDADE V

Assim, rejeito é o resíduo sólido que não apresenta alternativa que não a dispo-
sição final ambiental adequada. Mas o que é a disposição final ambientalmente
adequada?
É a distribuição ordenada de rejeitos em aterros, observando normas opera-
cionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança
e a minimizar os impactos ambientais adversos (art. 3º, VIII).
Outro conceito importante é o:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
DESTINAÇÃO FINAL AMBIENTALMENTE ADEQUADA: inclui a reutilização, re-
ciclagem, compostagem, recuperação e aproveitamento energético, e dis-
posição final.

Sobre estes conceitos, façamos alguns comentários, acordados com Melo (2014):
a. Reutilização: é o processo de aproveitamento dos resíduos sólidos sem sua
transformação biológica, física ou físico-química, observadas as condi-
ções e os padrões estabelecidos pelos órgãos competentes do SISNAMA
e, se couber, do SNVS e do SUASA (art. 3º, XVIII). Exemplo para com-
preensão: é a água usada para lavar roupa que pode ser usada para lavar
o quintal, ou ainda as garrafas de plástico podem ser usadas como vasos
de plantas.
b. Reciclagem: é o processo de transformação dos resíduos sólidos que
envolve a alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou bio-
lógicas, com vistas à transformação em insumos ou novos produtos,
observadas as condições e os padrões estabelecidos pelos órgãos compe-
tentes do SISNAMA e, se couber, do SNVS e do SUASA (art. 3º, XIV). O
produto reciclado é aquele que, após transformação química ou bioló-
gica, é reintroduzido no mercado e poderá ser usado novamente como
matéria prima de outro produto ou em sua forma original. É o caso do
papel reciclado, por exemplo.
c. Compostagem: é o conjunto de técnicas aplicadas a estimular a decom-
posição de materiais orgânicos. É um processo biológico em que
micro-organismos transformam a matéria orgânica, como estrume, folhas,
papel e restos de comida, num material semelhante ao solo, chamado de
composto, que pode ser usado como adubo. É uma forma de dar destinação

POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS E RECURSOS HÍDRICOS


159

a 50% do lixo doméstico, também melhora a estrutura e aduba o solo,


gera redução de herbicidas e pesticidas devido à presença de fungicidas
naturais e micro-organismos, e aumenta a retenção de água pelo solo.
d. Aproveitamento energético: não está contido este conceito na Lei. Mas
entende-se como a geração de energia elétrica em um aterro controlado
direto do gás de lixo, digestão anaeróbica ou por meio de incineração.

Então, podemos resumir assim:


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

RESÍDUOS SÓLIDOS têm conceito mais amplo e incluem os rejeitos.


REJEITOS são os resíduos sólidos que, depois de esgotadas as possibilidades
de tratamento e recuperação, não apresentam outra solução que não a dis-
posição final ambientalmente adequada.

Importa citar que a Lei n.º 12.305/2010 não se aplica aos rejeitos RADIOATIVOS
(lei n.º 10.308/2001).

OBJETIVOS DA POLITICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS


(ART. 7º)

Os objetivos da PNRS estão descritos no art.7º. Dentre eles, destacamos:


II - não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos re-
síduos sólidos, bem como disposição final ambientalmente adequada
dos rejeitos;

III - estímulo à adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo


de bens e serviços; 

IV - adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas


como forma de minimizar impactos ambientais; 

V - redução do volume e da periculosidade dos resíduos perigosos; 

VI - incentivo à indústria da reciclagem, tendo em vista fomentar o


uso de matérias-primas e insumos derivados de materiais recicláveis e
reciclados.

Política Nacional de Resíduos Sólidos


160 UNIDADE V

Na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, tem-se uma prioridade: a não


geração dos resíduos. Caso esta não seja possível, parte-se para a redução, e a
sequência: reutilização, reciclagem, tratamento e disposição final. Ou seja, quer-
-se que não se produza resíduos!
Figura 2 - Ordem de prioridade

Não geração Redução

Disposição final
ambientalmente Reutilização

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
adequada dos
rejeitos.

Tratamento dos Reciclagem


resíduos sólidos

CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS:

Para efeitos da Política Nacional de Resíduos Sólidos, estes podem ser classifi-
cados em:
1. Quanto à origem:
a. Resíduos domiciliares: originários de atividades domesticas.
b. Resíduos de limpeza urbana: originários da varrição, limpeza das vias
públicas e logradouros.
c. Resíduos sólidos urbanos: dispostos nos pontos A e B.
d. Resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços.

e. Resíduos dos serviços públicos de saneamento básico.


f. Resíduos industriais: gerados nos processos produtivos e instalações
industriais.
g. Resíduos de serviços de saúde: conforme definição do SISNAMA e
do SNVS.
h. Resíduos da construção civil: gerados nas construções, reformas, repa-
ros e demolições de obras de construção civil, incluídos os resultantes
da preparação e escavação de terrenos para obras civis.

POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS E RECURSOS HÍDRICOS


161

i. Resíduos agrossilvopastoris: os gerados nas atividades agropecuá-


rias e silviculturais, incluídos os relacionados a insumos utilizados
nessas atividades.
j. Resíduos de serviços de transporte: originários de portos, aeropor-
tos, terminais alfandegários, rodoviários e ferroviários assim como
passagens de fronteira.
k. Resíduos de mineração: gerados na atividade de pesquisa, extração
ou beneficiamento de minérios.
2. Quanto à periculosidade:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

a. Resíduos perigosos: aqueles que, em razão de suas características de


inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxidade, patogenicidade,
carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade, apresentem
significativamente riscos à saúde pública ou à qualidade ambiental,
conforme Lei, regulamento ou norma técnica.
b. Resíduos não perigosos: os que não estão descritos no item A.

Agora você conhece a classificação dos RESÍDUOS. Vamos tratar sobre o Plano
de Resíduos Sólidos.

PLANOS DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Importante se estudar o Plano dos Resíduos Sólidos, pois estes irão definir a dinâ-
mica, os instrumentos e procedimentos para execução, de acordo com o que foi
elaborado, para o gerenciamento integrado dos resíduos sólidos.
a. Plano Nacional de Resíduos Sólidos: A União elaborará, coordenada pelo
Ministério do Meio Ambiente, um Plano Nacional de Resíduos Sólidos,
com vigência por prazo indeterminado, e horizonte de 20 (vinte) anos,
atualizando-se a cada quatro anos. O Plano Nacional de Resíduos Sólidos
será elaborado mediante processo de mobilização e participação social,
com audiências e consultas públicas, conforme art. 15 da Lei. O PNRS
deve conter conteúdos mínimos descritos no art. 15 da Lei. Dentre estes
conteúdos, destacamos:

Política Nacional de Resíduos Sólidos


162 UNIDADE V

V- metas para a eliminação e recuperação de lixões, associadas à inclu-


são social e à emancipação econômica de catadores de materiais reuti-
lizáveis e recicláveis.

b. Plano Estadual de Resíduos Sólidos: Os estados devem elaborar um Plano


Estadual de Resíduos Sólidos para terem acesso a recursos da UNIÃO
ou por ela controlados, conforme art. 16 da Lei. Já o Plano Estadual será
elaborado para vigência por prazo indeterminado, abrangendo todo o
território do Estado, com horizonte de atuação de 20 anos e revisões a
cada quatro anos, com conteúdo mínimo conforme descrição do art. 17
da Lei PNRS. Dentre eles, destacamos:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Art. 17.  O Plano Estadual de Resíduos Sólidos será elaborado para
vigência por prazo indeterminado, abrangendo todo o território do
Estado, com horizonte de atuação de 20 (vinte) anos e revisões a cada 4
(quatro) anos, e tendo como conteúdo mínimo: 

XI - previsão, em conformidade com os demais instrumentos de plane-


jamento territorial, especialmente o zoneamento ecológico-econômico
e o zoneamento costeiro, de: 

a) zonas favoráveis para a localização de unidades de tratamento de


resíduos sólidos ou de disposição final de rejeitos; 

b) áreas degradadas em razão de disposição inadequada de resíduos


sólidos ou rejeitos a serem objeto de recuperação ambiental; 

XII - meios a serem utilizados para o controle e a fiscalização, no âm-


bito estadual, de sua implementação e operacionalização, assegurado o
controle social.  (grifo nosso).

Destaca-se, portanto, a previsão das zonas para localização de unidades de tra-


tamento, como sendo incumbência do Plano Estadual.

DOS PLANOS MUNICIPAIS DE GESTÃO INTEGRADA DE


RESÍDUOS SÓLIDOS

Os municípios e o Distrito Federal devem elaborar os planos municipais de gestão para


terem acesso a recursos da UNIÃO ou por ela controlados, destinados a empreendi-
mentos e serviços relacionados à limpeza urbana e ao manejo de resíduos sólidos, ou
para serem beneficiados por incentivos ou financiamentos conforme art. 18 da Lei.

POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS E RECURSOS HÍDRICOS


163

O Plano Municipal de Gestão tem conteúdo mínimo conforme art. 19.

Art. 19.  O plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos tem o


seguinte conteúdo mínimo: 
I - diagnóstico da situação dos resíduos sólidos gerados no respectivo terri-
tório, contendo a origem, o volume, a caracterização dos resíduos e as for-
mas de destinação e disposição final adotadas; 
II - identificação de áreas favoráveis para disposição final ambientalmente
adequada de rejeitos, observado o plano diretor de que trata o § 1o do art.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

182 da Constituição Federal e o zoneamento ambiental, se houver; 


III - identificação das possibilidades de implantação de soluções consorcia-
das ou compartilhadas com outros Municípios, considerando, nos critérios
de economia de escala, a proximidade dos locais estabelecidos e as formas
de prevenção dos riscos ambientais; 
IV - identificação dos resíduos sólidos e dos geradores sujeitos a plano de
gerenciamento específico nos termos do art. 20 ou a sistema de logística
reversa na forma do art. 33, observadas as disposições desta Lei e de seu
regulamento, bem como as normas estabelecidas pelos órgãos do SISNAMA
e do SNVS; 
V - procedimentos operacionais e especificações mínimas a serem adotados
nos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos,
incluída a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos e obser-
vada a Lei n.º 11.445, de 2007; 
VI - indicadores de desempenho operacional e ambiental dos serviços públi-
cos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos; 
VII - regras para o transporte e outras etapas do gerenciamento de resíduos
sólidos de que trata o art. 20, observadas as normas estabelecidas pelos ór-
gãos do SISNAMA e do SNVS e demais disposições pertinentes da Legislação
Federal e Estadual; 
VIII - definição das responsabilidades quanto à sua implementação e ope-
racionalização, incluídas as etapas do plano de gerenciamento de resíduos
sólidos a que se refere o art. 20 a cargo do poder público; 
IX - programas e ações de capacitação técnica voltados para sua implemen-
tação e operacionalização; 
X - programas e ações de educação ambiental que promovam a não gera-
ção, a redução, a reutilização e a reciclagem de resíduos sólidos; 

Política Nacional de Resíduos Sólidos


164 UNIDADE V

XI - programas e ações para a participação dos grupos interessados, em es-


pecial das cooperativas ou outras formas de associação de catadores de ma-
teriais reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas físicas de baixa renda,
se houver; 
XII - mecanismos para a criação de fontes de negócios, emprego e renda,
mediante a valorização dos resíduos sólidos; 
XIII - sistema de cálculo dos custos da prestação dos serviços públicos de
limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, bem como a forma de co-
brança desses serviços, observada a Lei n.º 11.445, de 2007; 

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
XIV - metas de redução, reutilização, coleta seletiva e reciclagem, entre ou-
tras, com vistas a reduzir a quantidade de rejeitos encaminhados para dispo-
sição final ambientalmente adequada; 
XV - descrição das formas e dos limites da participação do poder público
local na coleta seletiva e na logística reversa, respeitado o disposto no art.
33, e de outras ações relativas à responsabilidade compartilhada pelo ciclo
de vida dos produtos; 
XVI - meios a serem utilizados para o controle e a fiscalização, no âmbito
local, da implementação e operacionalização dos planos de gerenciamento
de resíduos sólidos de que trata o art. 20 e dos sistemas de logística reversa
previstos no art. 33; 
XVII - ações preventivas e corretivas a serem praticadas, incluindo programa
de monitoramento; 
XVIII - identificação dos passivos ambientais relacionados aos resíduos sóli-
dos, incluindo áreas contaminadas, e respectivas medidas saneadoras; 
XIX - periodicidade de sua revisão, observado prioritariamente o período de
vigência do plano plurianual municipal.

Repare que, para os municípios com menos de 20.000 habitantes, o Plano


Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos terá conteúdo simplificado,
porém não se aplica ao município que estiver descrito no art. 19, p. 3 da Lei.

POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS E RECURSOS HÍDRICOS


165

PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

O Gerenciamento de Resíduos Sólidos é: conjunto de ações exercidas, direta ou


indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento e des-
tinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final
ambientalmente adequada dos rejeitos, de acordo com plano municipal de ges-
tão integrada de resíduos sólidos ou com plano de gerenciamento de resíduos
sólidos, exigidos na forma desta (Lei n.° 12.305/2010, art. 3°, X ).
Assim, estão sujeitos à elaboração do Plano de Gerenciamento de Resíduos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Sólidos as pessoas físicas e jurídicas (art.20):

I - os geradores de resíduos sólidos previstos nas alíneas “e”, “f”, “g” e “k” do
inciso I do art. 13; 
II - os estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços que: 
a) gerem resíduos perigosos; 
b) gerem resíduos que, mesmo caracterizados como não perigosos, por sua
natureza, composição ou volume, não sejam equiparados aos resíduos do-
miciliares pelo Poder Público Municipal; 
III - as empresas de construção civil, nos termos do regulamento ou de nor-
mas estabelecidas pelos órgãos do SISNAMA; 
IV - os responsáveis pelos terminais e outras instalações referidas na alínea “j”
do inciso I do art. 13 e, nos termos do regulamento ou de normas estabelecidas
pelos órgãos do SISNAMA e, se couber, do SNVS, as empresas de transporte; 
V - os responsáveis por atividades agrossilvopastoris, se exigido pelo órgão
competente do SISNAMA, do SNVS ou do SUASA. 
Parágrafo único.  Observado o disposto no Capítulo IV deste Título, serão
estabelecidas por regulamento exigências específicas relativas ao Plano de
Gerenciamento de Resíduos Perigosos.

Política Nacional de Resíduos Sólidos


166 UNIDADE V

Além disso, o conteúdo mínimo do Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos


está determinado no art. 21 da Lei n.° 12.305/2010.

Art. 21.  O Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos tem o seguinte con-


teúdo mínimo: 
I - descrição do empreendimento ou atividade; 
II - diagnóstico dos resíduos sólidos gerados ou administrados, contendo
a origem, o volume e a caracterização dos resíduos, incluindo os passivos
ambientais a eles relacionados; 

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
III - observadas as normas estabelecidas pelos órgãos do SISNAMA, do SNVS e do
SUASA e, se houver, o Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos: 
a) explicitação dos responsáveis por cada etapa do gerenciamento de resí-
duos sólidos; 
b) definição dos procedimentos operacionais relativos às etapas do geren-
ciamento de resíduos sólidos sob responsabilidade do gerador; 
IV - identificação das soluções consorciadas ou compartilhadas com outros
geradores; 
V - ações preventivas e corretivas a serem executadas em situações de ge-
renciamento incorreto ou acidentes; 
VI - metas e procedimentos relacionados à minimização da geração de resí-
duos sólidos e, observadas as normas estabelecidas pelos órgãos do SISNA-
MA, do SNVS e do SUASA, à reutilização e reciclagem; 
VII - se couber, ações relativas à responsabilidade compartilhada pelo ciclo
de vida dos produtos, na forma do art. 31; 
VIII - medidas saneadoras dos passivos ambientais relacionados aos resídu-
os sólidos; 
IX - periodicidade de sua revisão, observado, se couber, o prazo de vigência
da respectiva licença de operação a cargo dos órgãos do SISNAMA. 

Para elaboração, implementação, operacionalização e monitoramento de todas as


etapas do Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos, nelas incluído o controle
da disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, será designado respon-
sável técnico devidamente habilitado. Vejamos os artigos pertinentes da Lei n.°
12.305/2010:

POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS E RECURSOS HÍDRICOS


167

Art. 22.  Para a elaboração, implementação, operacionalização e monitora-


mento de todas as etapas do Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos,
nelas incluído o controle da disposição final ambientalmente adequada dos
rejeitos, será designado responsável técnico devidamente habilitado. 
Art. 23.  Os responsáveis por Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos
manterão atualizadas e disponíveis ao órgão municipal competente, ao órgão
licenciador do SISNAMA e a outras autoridades, informações completas sobre
a implementação e a operacionalização do plano sob sua responsabilidade.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

REPONSABILIDADE DO GERADOR DE RESÍDUOS DOMICILIARES:

O art. 28 da Lei n.º 12.305/2010 dispõe que:


Art. 28.  O gerador de resíduos sólidos domiciliares tem cessada sua
responsabilidade pelos resíduos com a disponibilização adequada para
a coleta ou, nos casos abrangidos pelo art. 33, com a devolução. 

Afirma Fabiano Melo sobre o artigo (2014, p.633):


Uma dona de casa tem cessada sua responsabilidade pelos seus resídu-
os ao fazer a disponibilização adequada para a coleta ou, tratando-se
de pilhas, baterias, lâmpadas, produtos eletrônicos, entre outros, com a
devolução nos sistemas de logística reversa (que é o art. 33).

RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA:

A responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos significa o


conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importado-
res, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços
públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o
volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impac-
tos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de
vida dos produtos, nos termos da Lei. Além disso, os fabricantes, importadores,
distribuidores e comerciantes têm responsabilidade que abrange:

Política Nacional de Resíduos Sólidos


168 UNIDADE V

Art. 31.  Sem prejuízo das obrigações estabelecidas no plano de gerencia-


mento de resíduos sólidos e com vistas a fortalecer a responsabilidade com-
partilhada e seus objetivos, os fabricantes, importadores, distribuidores e
comerciantes têm responsabilidade que abrange: 
I - investimento no desenvolvimento, na fabricação e na colocação no mer-
cado de produtos: 
a) que sejam aptos, após o uso pelo consumidor, à reutilização, à reciclagem
ou a outra forma de destinação ambientalmente adequada; 
b) cuja fabricação e uso gerem a menor quantidade de resíduos sólidos pos-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
sível; 
II - divulgação de informações relativas às formas de evitar, reciclar e elimi-
nar os resíduos sólidos associados a seus respectivos produtos; 
III - recolhimento dos produtos e dos resíduos remanescentes após o uso, as-
sim como sua subsequente destinação final ambientalmente adequada, no
caso de produtos objeto de sistema de logística reversa na forma do art. 33; 
IV - compromisso de, quando firmados acordos ou termos de compromisso
com o Município, participar das ações previstas no plano municipal de ges-
tão integrada de resíduos sólidos, no caso de produtos ainda não inclusos
no sistema de logística reversa. 

Desta forma, objetiva-se aproveitar ao máximo os resíduos deixados pelo con-


sumidor, dispondo de modo claro o correto aproveitamento.
Sobre as embalagens, o art. 32 dispõe que estas devem ser fabricadas com
materiais que propiciem a reutilização ou reciclagem.

LOGÍSTICA REVERSA

Sobre a Logística Reversa, o conceito está disposto no art. 3º, XII da Lei n.°
12.305/2010, como:
XII - logística reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e
social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios
destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao
setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros
ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada;

POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS E RECURSOS HÍDRICOS


169

Desta forma, após o uso pelo consumidor, o produto


– resíduo sólido, deve retornar para o empresariado
para o seu reaproveitamento ou outra destinação final
ambientalmente adequada. Muito comum nos
locais de venda de celulares ou baterias a qual o
consumidor deposita-as no local de devolução.
A Lei n.° 12.305/2012 dispõe como sendo
obrigatória a implementação e estruturação de
Logística Reversa, mediante retorno dos produtos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

após o uso pelo consumidor, de forma indepen- ©shutterstock

dente do serviço público de limpeza urbana e manejo


dos resíduos, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de (art. 33):

Art. 33. São obrigados a estruturar e implementar sistemas de Logística Re-


versa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de for-
ma independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos
resíduos sólidos, os fabricantes, importadores, distribuidores e comercian-
tes de: 
I - agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos
cuja embalagem, após o uso, constitua resíduo perigoso, observadas as re-
gras de gerenciamento de resíduos perigosos previstas em lei ou regula-
mento, em normas estabelecidas pelos órgãos do SISNAMA, do SNVS e do
SUASA, ou em normas técnicas; 
II - pilhas e baterias; 
III - pneus; 
IV - óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens; 
V - lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; 
VI - produtos eletroeletrônicos e seus componentes.

Ponto interessante sobre a Logística Reversa é que, fora dos dispostos no art. 33,
é possível ampliá-la para outros produtos, como as embalagens plásticas.

Política Nacional de Resíduos Sólidos


170 UNIDADE V

OBRIGAÇÃO DOS CONSUMIDORES NA COLETA SELETIVA E NA


LOGÍSTICA REVERSA:

A Coleta Seletiva é a coleta de resíduos sólidos


previamente segregados conforme sua consti-
tuição ou composição. Sempre que houver o
sistema de coleta seletiva e aplicação da Logística
Reversa, os consumidores são obrigados a acon-
dicionar adequadamente e de forma diferenciada

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
©shutterstock

os resíduos sólidos gerados e disponibilizar ade-


quadamente os resíduos sólidos reutilizáveis e
recicláveis para coleta ou devolução.

O Poder Público Municipal pode instituir incentivos econômicos aos consu-


midores que participam do sistema de Coleta Seletiva.

DAS PROIBIÇÕES DISPOSTAS NA LEI DE RESÍDUOS SÓLIDOS

A Lei n.° 12.305/2010 dispõe sobre formas proibidas de destinação ou disposi-


ção final de resíduos sólidos ou rejeitos. Primeiro, vamos relembrar os conceitos
de destinação final e disposição final ambientalmente adequadas:
Quadro 1 - Conceitos de destinação

DESTINAÇÃO FINAL AMBIENTALMENTE DISPOSIÇÃO FINAL AMBIENTALMENTE


ADEQUADA ADEQUADA
Destinação de resíduos que inclui a É a distribuição ordenada de rejeitos em
reutilização, a reciclagem, a compostagem, a aterros, observando normas operacionais
recuperação e o aproveitamento energético específicas de modo a evitar danos ou
ou outras destinações admitidas pelos órgãos riscos à saúde pública e à segurança
competentes do SISNAMA, do SNVS e do SUASA, e a minimizar os impactos ambientais
dentre elas a disposição final (...) (art. 3º, VII). adversos. (art. 3º, VIII).

POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS E RECURSOS HÍDRICOS


171

O art. 47 da Lei n.° 12.305/2010 proíbe as formas de destinação ou disposição


final dos resíduos sólidos ou rejeitos:
a. Lançamentos em praias, no mar ou em quaisquer corpos hídricos.
b. Lançamento in natura a céu aberto, excetuados os resíduos de mineração.
c. Queima a céu aberto ou em recipientes, instalações e equipamentos não
licenciados para essa finalidade.
d. Outras formas vedadas pelo Poder Público.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

São ainda proibidas, conforme art. 48 da Lei PNRS, nas áreas de disposição final
de resíduos ou rejeitos, as atividades:
Art. 48.  São proibidas, nas áreas de disposição final de resíduos ou
rejeitos, as seguintes atividades: 

I - utilização dos rejeitos dispostos como alimentação; 

II - catação, observado o disposto no inciso V do art. 17; 

III - criação de animais domésticos; 

IV - fixação de habitações temporárias ou permanentes; 

V - outras atividades vedadas pelo Poder Público. 

Ou seja, não se admite a presença de pessoas e animais nos “lixões”.

Gostaria de dividir com você uma recente matéria publicada sobre resíduos.
A Coreia do Norte tem enviado à Coreia do Sul balões contendo lixo.
Segundo o site Korea JoongAng Daily, recentemente os balões têm sido en-
chidos com lixo de verdade: bitucas de cigarro e até papel higiênico usado. 
Fonte: Época (Negócios, 2016, on-line)1.

Política Nacional de Resíduos Sólidos


172 UNIDADE V

CONTROLA AS
CALORIAS ENERGIZA OS
MÚSCULOS

MELHORA A
COR DA PELE

BEBA MAIS
ÁGUA

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
TRÊS COPOS DE ÁGUA POR DIA
MANTERÁ O EQUILÍBRIO

ELIMINA AS AJUDA SEUS


TOXINAS DO RINS
CORPO

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RECURSOS HÍDRICOS

Como já mencionamos neste livro, a água é um bem essencial à vida e extrema-


mente escasso no planeta.
A água é um elemento indispensável a toda e qualquer forma de vida. Sem
a água, é impossível a vida. De fato, o desperdício dos Recursos Hídricos é um
fato que se repete muitas vezes.
O nosso uso da água esta criando uma crise em grande parte do mun-
do. Estima-se que as retiradas todas de água tenham aumentado mais
de 35 vezes durante os últimos três séculos, e que devem aumentar 30-
35% até o ano 2000. Os níveis atuais de uso de água doce não poderão
ser mantidos se a população humana atingir 10 bilhões em 2050. (AN-
TUNES, 1994, p. 992).

POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS E RECURSOS HÍDRICOS


173

No Brasil, a proteção e uso dos recursos hídricos estão dispostos na:


■■ Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei n.º 9.433/1997);
■■ Lei da Agência Nacional de Águas (Lei n.º 9.984/2000);
■■ Lei de Saneamento Básico (Lei n.º 11.445/2007);
■■ Decreto n.º 2.464/1934 (Código das Águas).

Porém, o objetivo deste breve estudo é apenas a Lei n.º 9.433/1997, que traz os
fundamentos, objetivos e instrumentos para o uso dos recursos hídricos no Brasil.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

A água de boa qualidade é como a saúde ou a liberdade: só tem valor quan-


do acaba. (Guimarães Rosa)

FUNDAMENTOS DA POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS


HÍDRICOS:

A Política Nacional de Recursos Hídricos tem como fundamentos:


I. A água é um bem de domínio público. Ou seja, a água é bem de uso
comum do povo.
II. A água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico. Aqui
se reconhece o caráter finito da água. Por isso, qualifica-a como um bem
econômico que dê ao usuário uma dimensão de sua importância, para
evitar o chamado “custo zero”, que é a ausência de valoração, resultando
na hiperexploração dos recursos hídricos.
III. Em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o con-
sumo humano e a dessedentação de animais.
IV. A Gestão dos Recursos Hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo
das águas. Este uso múltiplo das águas significa sua otimização, com o
consumo humano, o insumo agrícola, para a pesca etc.

Recursos Hídricos
174 UNIDADE V

V. A bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da


Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional
de Gerenciamento de Recursos Hídricos.
O conceito de bacia hidrográfica: uma área de drenagem de um curso
d’água ou lado. Com esse fundamento, nota-se que a definição de uma
bacia hidrográfica não se atém ao sistema federativo tradicional. Por essa
razão, na formação de um comitê de bacia hidrográfica, órgão responsá-
vel pela gestão da bacia hidrográfica, é necessária a participação de todos
os atores envolvidos, como o setor público, usuários, entidades da socie-
dade civil etc.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
VI. A gestão dos recursos hídricos deve descentralizar e contar com a parti-
cipação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.

OBJETIVOS DA POLÍTICA NACIONAL DOS RECURSOS


HÍDRICOS:

O art. 2º da Lei n.° 9.433/1997 define como objetivos da Política Nacional dos
Recursos Hídricos:
Art. 2º: São objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos:

I - assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade


de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos;

II - a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o


transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável;

III - a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de ori-


gem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais.

POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS E RECURSOS HÍDRICOS


175

INSTRUMENTOS DA POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS


HÍDRICOS:

O art. 5º da Lei n.º 9.433/1997 dispõe sobre os instrumentos:

Art. 5º: São instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos:


I - os Planos de Recursos Hídricos;
II - o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos pre-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ponderantes da água;
III - a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos;
IV - a cobrança pelo uso de recursos hídricos;
V - a compensação a municípios;
VI - o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.

Sobre a cobrança pelo uso dos recursos hídricos, note-se que é um instrumento
que consubstancia o princípio do usuário pagador.
Figura 3 - Objetivos da cobrança pelo uso de recursos hídricos

A. Reconhecer a água B. Incentivar a racio- C. Obter recursos


como bem econômico nalização da água. financeiros para o
e dar ao usuário uma financiamento dos
indicação de seu real programas e inter-
valor. venções contempla-
dos nos planos de
recursos hídricos.

Recursos Hídricos
176 UNIDADE V

A cobrança pelo uso de recursos hídricos está ligada à outorga do art. 12 da Lei
n.º 9.433/1997. Porém, existem critérios para fixação dos valores da cobrança,
conforme art. 21 da Lei citada. São eles:
■■ Nas derivações, captações e extrações de água, o volume retirado e seu
regime de variação.
■■ Nos lançamentos de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, o
volume lançado e seu regime de variação e as características físico-quí-
micas, biológicas e de toxidade do afluente.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Em verdade, as discussões sobre a proteção aos recursos hídricos se
revestem de um desafio afeto a todos: poder público, setores empre-
sariais, usuários, comunidades, etc. Em última analise, mais que um
insumo produtivo, a gestão dos recursos hídricos tem como condão
garantir o consumo humano, o que implica reconhecer que a crise am-
biental é, igualmente, uma crise de água.” (MELO, 2014, p. 552).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade, tratamos sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Estão


sujeitas a esta Lei todas as pessoas (sejam físicas ou jurídicas) responsáveis,
direta ou indiretamente, pela geração de resíduos sólidos e as que desenvolvem
ações relacionadas à gestão integrada ou ao gerenciamento de resíduos sólidos.
Na gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos, objetiva-se não gerar, reduzir,
reutilizar, reciclar, tratar os resíduos sólidos e dar disposição final ambiental-
mente adequada aos rejeitos, nesta ordem de prioridade. Há a classificação dos
resíduos sólidos.

POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS E RECURSOS HÍDRICOS


177

Os Planos de Resíduos Sólidos são importantes à medida que contém um


planejamento a níveis federal, estadual e municipal para definir a dinâmica, ins-
trumentos e procedimentos para execução, de acordo com o nível em que foi
elaborado, para o gerenciamento integrado de resíduos sólidos. Já o Plano de
Gerenciamento de Resíduos Sólidos é parte do processo de licenciamento ambien-
tal do empreendimento ou atividade pelo órgão competente do SISNAMA. A Lei
institui ainda a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto, à
medida que implementa, de forma individualizada e encadeada, para os fabrican-
tes, importadores, distribuidores e comerciantes, os consumidores e os titulares
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos. Já a


Logística Reversa nada mais é do que um procedimento para reaproveitamento do
produto. Os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dispostos
na Lei, são obrigados a estruturar e implementar o Sistema de Logística Reversa.
No último tópico desta unidade, tratamos sobre os Recursos Hídricos.
Entendemos que a Política Nacional de Recursos Hídricos considera a água como
um bem de domínio público, um recurso natural limitado, dotado de valor eco-
nômico, e que, em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos
é o consumo humano e a dessedentação de animais, além da gestão dos recur-
sos hídricos que deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas, e a bacia
hidrográfica é a unidade territorial para implementação da política nacional de
recursos hídricos. O objetivo desta Política é assegurar à atual e futuras gerações
a necessária disponibilidade de água em padrões de qualidade adequados. Vários
são os instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos para se chegar ao
esperado, dentre eles temos a outorga dos Direitos de uso de Recursos Hídricos.
Percebemos que a cobrança pela utilização da água é possível e lícita, uma vez
que é a manifestação do Princípio do Usuário Pagador.
Esperamos que você tenha gostado dos temas escolhidos e propostos. E lem-
bre-se: lutar pelo meio ambiente é dever de todos!

Considerações Finais
178

A CRISE DA ÁGUA TEM SOLUÇÃO?


A ideia de reutilizar a água pode parecer nojenta à primeira vista, mas é uma das so-
luções mais sustentáveis para resolver a falta de água no mundo. De certa forma, ela
reproduz a ideia do próprio ciclo da água na Terra – afinal, a água disponível no planeta
é limitada e está sempre sendo “reutilizada”. O reuso funciona assim: a água do esgoto
de casas e indústrias é levada por tubulações específicas até estações de tratamento,
onde impurezas e partículas sólidas são removidas. A água reciclada pode ser usada nas
indústrias e na irrigação, pode reabastecer aquíferos subterrâneos ou rios, e pode até
servir para ser bebida. Cada objetivo requer um determinado tipo de tratamento.
Dá para reutilizar água em casa, sem gastar muito. Existem soluções simples, como cap-
tar a água da máquina de lavar roupas para limpar a calçada, por exemplo. A outra op-
ção é estruturar o reuso no próprio sistema de tratamento da água. Nesse caso, pode-se
construir uma segunda rede de esgoto, paralela à que já existe, para coletar e distribuir a
água de reuso, ou tratar o esgoto de forma que ele possa retornar sem perigo à rede que
já existe. “No Brasil, em termos de custo, a segunda alternativa é melhor. Mas é preciso
desenvolver tecnologia, principalmente para os solúveis e contaminantes emergentes,
além de resíduos de remédios, que precisam ser removidos da água”, explica Antônio
Félix Domingues.
Fonte: Vilaverde (2015, on-line)2.
179

A CRISE DA ÁGUA E AS PERSPECTIVAS FUTURAS


O ano de 2014 no Brasil foi marcado, dentre outras coisas, pela escassez de água. Fe-
nômeno até então pouco conhecido fora dos limites do Norte e do Nordeste do país, a
seca chegou ao Sudeste e região. Fruto da ausência de chuvas, possivelmente associa-
da às mudanças climáticas, mas outros fatores também contribuíram para a terrível (e
ainda não solucionada) situação a que chegamos. A falta de cuidado com a vegetação
ciliar onde ela ainda existe é também apontada por especialistas como uma das causas
do problema, na medida em que a devastação das áreas circundantes de rios, cursos
d’água, lagos, lagoas, reservatórios e similares contribui para o assoreamento e, portan-
to, para as perdas qualitativas e quantitativas dos elementos hídricos e de suas funções
ecológicas.
Por isso, a contundente crítica dirigida ao Novo Código Florestal quando, no particular,
reduz os limites de proteção da mata ciliar, já que a faixa de Área de Preservação Perma-
nente (APP) passa a ter a metragem contada a partir da “borda da calha do leito regular”
do rio – e não mais do seu “nível mais alto”, como outrora –, deixando desguarnecidas
áreas alagadiças que exercem importantes funções ambientais.
De todo modo, mesmo no regime florestal anterior, as dificuldades de fazer implemen-
tar a legislação ambiental no Brasil sempre foram muitas, a ponto de ter se tornado lugar
comum afirmar que o país possui um dos mais bem estruturados sistemas legais de
proteção ao meio ambiente do mundo, o qual, contudo, carece de efetividade.
A cultura que se desenvolveu no país nunca foi a da preservação. Por aqui, sempre se
preferiu investir na reparação dos danos a propriamente prevenir para que aqueles não
acontecessem. No caso dos recursos hídricos, jamais fizemos como os nova-iorquinos:
preservar os mananciais para não ter de investir em saneamento. O resultado é conheci-
do: o povo daquele estado americano altamente industrializado possui uma das águas
de melhor qualidade do planeta.
No Brasil, contudo, a preocupação com a água nunca foi a tônica dos setores público e
privado. Exceção feita a poucas iniciativas aqui e acolá, a regra sempre foi a poluição dos
elementos hídricos. Desnecessário citar exemplos, infelizmente.
Por outro lado, é incontestável que os instrumentos de comando e controle, tão enalteci-
dos por muitos, não tiveram o condão de diminuir os efeitos da degradação do meio am-
biente. Não fosse assim, o Código Florestal anterior, aliado a uma série de outras normas
legais (Sistema Nacional de Unidades de Conservação, Lei da Mata Atlântica, etc.), teria
sido responsável pela redução do desmatamento. Não foi, contudo, o que aconteceu.
Logo, torna-se necessário partir-se para uma nova era. Um tempo em que se passe a
investir intensamente na valorização e na recompensa daqueles que realizam serviços
ambientais.
180

A lógica é simples: em vez de simplesmente punir aquele que descumpre a legislação –


o que, repita-se, revelou-se ineficaz –, remunera-se quem preserva. É uma inversão total
daquilo que sempre se praticou no Brasil. Em vez de “poluidor-pagador”, passa-se para a
tônica do “protetor-recebedor”.
Iniciativas como essas vão desde a remuneração financeira aos pequenos proprietários
rurais que preservam a vegetação que protege as águas, passando por incentivos tribu-
tários à preservação ecológica (IPTU verde, ICMS ecológico, redução de IPI para produ-
tos ambientalmente sustentáveis, etc.), maior incentivo financeiro à criação de reservas
particulares do patrimônio natural (RPPNs), estímulo à comercialização de créditos de
logística reversa e de cotas de reserva ambiental, entre outros. Ganham as pessoas, ga-
nha o meio ambiente e ganha a sustentabilidade.
Já está mais do que na hora de se reconhecer que a proteção do meio ambiente não é
apenas uma fonte geradora de despesas, mas pode se tornar uma grande oportunidade
para se obter recompensas financeiras efetivas, ao mesmo tempo em que se contribui
para a melhoria da qualidade ambiental das presentes e futuras gerações.
Marcelo Buzaglo Dantas, advogado e pós-doutor em Direito, é consultor jurídico na área
ambiental e membro da Comissão de Direito Ambiental da OAB/RJ, da Comissão Perma-
nente de Direito Ambiental do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) e da Rede de
Especialistas em Conservação da Natureza.
Fonte: Dantas (2015, on-line)3.
181

1. A Lei n° 12.305/2010 estabelece sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos.


Sobre esta, marque a alternativa correta:
I. Os fabricantes de produtos em geral têm o dever de implementar sistemas
de Logística Reversa.
II. Os consumidores têm responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida de
qualquer produto adquirido.
III. No Gerenciamento de Resíduos sólidos, a não geração a redução de resíduos
são objetivos preferíveis à reciclagem e ao seu tratamento adequado.
IV. A Logística Reversa é o processo de reciclagem.
Estão corretas:
a. I, II.
b. II, III.
c. I, IV.
d. III, IV.

2. Um dos principais problemas atuais em termos ambientais é a questão do lixo,


a inadequada destinação final dos resíduos sólidos. Em muitos municípios, há
coleta regular de lixo doméstico, o que não implica, necessariamente, a correta
destinação final desses resíduos. Assim, redija uma nota a respeito da Política
Pública, abordando as consequências da destinação inadequada dos resíduos
sólidos.

3. Sobre a Lei n.º 9433/1997 – Política Nacional dos Recursos Hídricos, assinale a
alternativa correta:
a. A outorga de direito de uso de recursos hídricos não implica a alienação das
águas, que são inalienáveis, mas o simples direito de seu uso.
b. O Poder Público é apenas o gestor dos recursos hídricos, não sendo facultado
cobrar por sua utilização, visto que água, elemento que compõe o meio am-
biente, não é considerado bem econômico.
c. A água jamais pode ser cobrada, pois é direito de todos.
d. De acordo com a Política Nacional de Recursos Hídricos, em situações de es-
cassez, o uso dos recursos hídricos deve restringir-se ao consumo humano,
vedada sua utilização para qualquer outra finalidade.
182

4. Independem de outorga dos Recursos Hídricos, dispostos na Lei n.º 9.433/1998:


a. O lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou
gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição
final.
b. O uso de recursos hídricos para a satisfação das necessidades de pequenos
núcleos populacionais, distribuídos no meio rural, conforme definido em re-
gulamento.
c. O aproveitamento dos potenciais hidrelétricos.
d. A extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou insumo
de processo produtivo.

5. A Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos (n.º 12.305/2010) prevê a respon-


sabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto, sendo importantíssima
para alcançar o objetivo proposto pela citada Lei. Sobre esta, assinale a alterna-
tiva correta:
a. Identificou como um de seus objetivos compatibilizar interesses entre os
agentes econômicos e sociais e os processos de gestão empresarial e mer-
cadológica com os de gestão ambiental, desenvolvendo estratégias susten-
táveis.
b. Pretendeu que o mercado desenvolva produtos com menores impactos à
saúde humana e à qualidade ambiental em seu ciclo de vida, inclusive usan-
do produtos cuja matéria prima seja nacional.
c. Teve como um dos objetivos proibir a importação de resíduos sólidos peri-
gosos e rejeitos, bem como resíduos sólidos que causem dano ao meio am-
biente.
d. Impôs ao Poder Público Estadual a instituição de incentivos econômicos aos
consumidores que participem do Sistema de Coleta Seletiva, na forma da Lei.
e. Proibiu com a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto
que baterias possam ser produzidas em território nacional.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Resíduos Sólidos
J. B. Torres de Albuquerque
Editora: Independente
Sinopse: A presente obra faz alusão à nova Lei n.º 12.305/2010, que nada mais
é, depois de 20 anos tramitando pelo Congresso, a Lei de Política Nacional
dos Resíduos Sólidos, agora em vigor no Brasil. A sanção aconteceu no dia
02 de agosto próximo passado, e vai por fim, em quatro anos, aos lixões. De
acordo com o projeto, a Lei estabelece responsabilidades compartilhadas entre
governo, indústria, comércio e consumidores sobre o destino final do lixo. A
disposição da matéria abrange todos os aspectos inerentes aos resíduos sólidos
tais como: lixões; aterros sanitários, incineração de resíduos; reciclagem etc. Para
maior entendimento, todos os tópicos mencionados fazem-se acompanhar por
legislação especifica; jurisprudência correlata e modelos de petições típicas.
Comentário: Este livro bastante completo traz como novidade as decisões do judiciário acerca do
tema de Resíduos Sólidos. Aborda os principais temas da Lei 12.305/2010, com algumas críticas.

Wall-E
Após entulhar a Terra de lixo e poluir a atmosfera com gases tóxicos, a humanidade
deixou o planeta e passou a viver em uma gigantesca nave. O plano era que o retiro
durasse alguns poucos anos, com robôs sendo deixados para limpar o planeta.
Wall-E é o último destes robôs, que se mantém em funcionamento graças ao
auto conserto de suas peças. Sua vida consiste em compactar o lixo existente no
planeta, que forma torres maiores que arranha-céus, e colecionar objetos curiosos
que encontra ao realizar seu trabalho. Até que um dia surge repentinamente uma
nave, que traz um novo e moderno robô: Eva. A princípio curioso, Wall-E logo se
apaixona pela recém-chegada.

Material Complementar
REFERÊNCIAS

ANTUNES, P. B. A justiça e o direito à água limpa. In: CAUBET, Guy (org.). Manejo
alternativo de recursos hídricos. Florianópolis: UFSC, 1994.
ANTUNES, P. de B. Direito Ambiental. 16 ed. São Paulo: Atlas, 2014.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília. DF: Senado,
1988.
BRASIL. Lei n.º 9.433, de 08 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de
Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos,
regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei
nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro
de 1989. Diário oficial da União. Brasília, DF, 09 de jan. de 1997.
BRASIL. Lei n.º 10.308/2001, de 20 de novembro de 2001. Dispõe sobre a seleção
de locais, a construção, o licenciamento, a operação, a fiscalização, os custos, a
indenização, a responsabilidade civil e as garantias referentes aos depósitos de
rejeitos radioativos, e dá outras providências. Diário oficial da União. Brasília, DF, 21
de nov. de 2011.
BRASIL. Lei n.º 11.445, de 05 de janeiro de 2007. Estabelece diretrizes nacionais
para o saneamento básico. Diário oficial da União. Brasília, DF, 08 de jan. de 2007.
BRASIL. Política Nacional dos Resíduos Sólidos. Lei n.º 12.305 de 02 de agosto de
2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Diário oficial da União. Brasília,
DF, 03 de ago. de 2010.
CARREGAL, L. T. L. O lixo: uma interpretação. In: GARCIA, P. (Org.). Falas em torno do
lixo. Rio de Janeiro: Nova, 1992.
COMISSÃO mundial sobre meio ambiente e desenvolvimento. Nosso futuro
comum. Rio de janeiro: editora FGV, 1991.
CONFERÊNCIA das Nações Unidas sobre meio ambiente e desenvolvimento.
Agenda 21. Curitiba: IPARDES, 2001.
MARTINHO, M. da G. M.; GONÇALVES, M. G. P. Gestão de resíduos. Lisboa:
Universidade aberta, 1999.
MELO, F. Manual de Direito Ambiental. São Paulo: Método, 2014.
PINHO, P. M. O. Avaliação dos planos municipais de gestão integrada de
resíduos sólidos urbanos na Amazônia brasileira. 2011. 249 f. Tese de Doutorado.
Programa de pós-graduação em Ciência ambiental. Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2011.
REZENDE, C. S.; HELLER, L. O Saneamento no Brasil: políticas e interfaces. Belo
Horizonte: UFMG, 2008.
185
REFERÊNCIAS

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Tese em Direito do Estado. Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Universidade
de São Paulo, São Paulo, 2009.
SEADON, J. K. Integrated waste management–Looking beyond the solid waste
horizon. Waste management, v. 26, n. 12, 2006, p. 1327-1336.
VELLOSO, J. P. dos R. A verdadeira revolução brasileira. Rio de Janeiro: José
Olympio, 2008.

Citação de Links

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<http://epocanegocios.globo.com/Mundo/noticia/2016/02/coreia-do-norte-usa-
-baloes-para-jogar-papel-higienico-usado-na-coreia-do-sul.html>. Acesso em: 27
de abr. de 2016.
2
<http://super.abril.com.br/crise-agua/solucoes.shtml>. Acesso em: 27 de abr. de
2016.
3
<http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/a-crise-da-agua-e-as-perspectivas-fu-
turas-eixye2vo6q0591gyzjzctcrim>. Acesso em: 27 de abr. de 2016.
GABARITO

1. B.

2. O inadequado gerenciamento e consequente destinação inadequada dos resí-


duos urbanos tem o condão de trazer sérios riscos para o meio ambiente, como
a contaminação do solo e dos rios, e para a saúde humana, constituindo-se em
grave problema. Para evitar esses infortúnios, faz-se necessária a destinação final
ambientalmente adequada.

3. A.

4. B.

5. A.
187
CONCLUSÃO

Neste livro intitulado LEGISLAÇÃO AMBIENTAL, objetivamos demonstrar que o Di-


reito Ambiental é importante e vai muito além da aplicação e conhecimento de ad-
vogados, juízes, promotores e bacharéis em Direito. Tratar sobre meio ambiente é
falar “nossa casa”, nosso planeta, um assunto comum e que deve interessar a todos
nós. Na primeira unidade, abordamos a importância da evolução histórica sobre a
preocupação ambiental, destacando a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente Humano, realizada em 1972 em Estocolmo, na Suécia, e mencionamos
o recente encontro ocorrido em 2012 no Brasil – RIO+2,0 que não chegou a tra-
zer resultados satisfatórios o suficiente para provocar a mudança necessária a título
mundial sobre o meio ambiente. Comentamos exaustivamente sobre a importância
da Constituição Federal de 1988, a chamada Constituição Verde, pois foi a primeira
a tratar sobre meio ambiente de modo específico e com maiores cuidados. Perce-
bemos que o conceito constitucional sobre o meio ambiente é amplo. A afirmação
do artigo 225 de que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equili-
brado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impon-
do-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para
as recentes e futuras gerações” traz um imenso rol a ser discutido, mas destacamos
principalmente a preocupação do legislador em salvaguardar o bem mais precioso
da humanidade, e a possibilidade de existir com qualidade.
Na unidade II, nosso título foi a Principiologia do Direito Ambiental. Apontamos prin-
cípios mais importantes que se aplicam e os exemplificamos. Dentre eles, podemos
destacar neste momento o princípio do Usuário Pagador, que impõe a cobrança
pela utilização de um bem ambiental, sendo necessário na medida em que coloca
um valor econômico ao bem com o objetivo de evitar seu desperdício e uso irracio-
nal. O princípio do Desenvolvimento Sustentável compatibiliza o desenvolvimento
das atividades econômicas com a proteção ao meio ambiente. Ainda nesta unidade,
avaliamos a Política Nacional do Meio Ambiente, que, com seus instrumentos, re-
presenta mecanismos legais e institucionais postos a disposição da administração
pública para implementar os objetivos do PNMA. Sobre o Sistema Nacional do Meio
Ambiente (SISNAMA), compreendemos ser o conjunto de entes e órgãos da União,
estados, Distrito Federal, municípios e suas respectivas administrações indiretas,
responsáveis pela proteção, controle, monitoramento e melhoria da qualidade e da
política ambiental do país. O SISNAMA é uma criação da Política Nacional do Meio
Ambiente, Lei n.º 6.938/1981, regulamentada pelo Decreto n.º 99.274/1990.
Na unidade III, fizemos uma abordagem em três vertentes; ESTUDO PRÉVIO DE
IMPACTO AMBIENTEL, LICENCIAMENTO AMBIENTAL e DA RESPONSABILIDA-
DE AMBIENTAL. Sobre o estudo prévio de impacto ambiental, percebemos que se
constitui em um procedimento administrativo de análise antecipatória dos possíveis
impactos ambientais de uma obra, atividade ou empreendimento potencialmente
causador de significativa degradação do meio ambiente, elaborado por equipe mul-
tidisciplinar, em que se relacionam as medidas de mitigação e compensatórias à
possível intervenção no meio ambiente. Os pontos positivos e negativos elencados
CONCLUSÃO

no estudo prévio sobre o empreendimento ou atividade servem de base para a de-


cisão do órgão ambiental responsável pelo licenciamento do projeto. Concluímos
também sobre esta unidade que a própria Lei no art. 2º da Resolução CONAMA n.º
01/1986 estabelece um rol exemplificativo de atividades que se presumem causa-
doras de significativa degradação. Sobre as licenças, verificamos que se dividem em
três: prévia, instalação e operação. Sobre a responsabilidade ambiental, envolve três
esferas: civil, administrativa e penal. Em especial a penal chama atenção, uma vez
que, em regra, é reservada para os “crimes” mais complexos e que demandam maior
atenção. Então, óbvio que o Direito Ambiental tem sua atuação! O art. 3º da Lei n.º
9.605/1998 prevê a responsabilização penal das pessoas jurídicas nos crimes am-
bientais.
Em nossa unidade IV, deixamos para abordar um dos assuntos mais importantes e
interessantes dos últimos tempos em matéria ambiental; o novo Código Florestal.
O novo Código Florestal tem muitos pontos polêmicos, seja por promover um tra-
tamento diferente às áreas consolidadas, seja por flexibilizar o uso do solo. Alguns
temas do novo Código Florestal ainda não estão em vigor, como o CAR (Cadastro
Ambiental Rural), que se mostra uma boa medida para a fiscalização das terras pú-
blicas e particulares, além de ter menção das APPS e Reserva Legal. Percebemos
que o Novo Código estabelece normas gerais sobre a proteção da vegetação, áreas
de preservação permanente e as áreas de Reserva Legal. Foi um grande salto para
promover a regulamentação dos proprietários de terras e tentar identificar as áreas
preservadas, apesar de ter sido muito criticado pela comunidade ambientalista e
científica. Já em nossa última unidade, preferimos tratar sobre a Lei n° 12.305/2012,
que aborda os resíduos sólidos, e que ficou mais de 20 (vinte) anos tramitando no
Congresso Nacional até sua aprovação. A Lei n.º 12.305/2012 trata sobre a Gestão
Integrada e o Gerenciamento dos Resíduos Sólidos. Tomada de muitos problemas
ainda, pois o lixo sempre foi e está se tornando um empecilho enorme, principal-
mente pela quantidade de pessoas habitando o mundo e a quantidade de lixo que
cada uma possui, a Lei possui algumas alternativas muito interessantes, tais como
a destinação de resíduos que inclui a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a
recuperação e o aproveitamento energético ou outras destinações admitidas pelos
órgãos competentes do SISNAMA, do SNVS e do SUASA, entre elas a disposição fi-
nal, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos
à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos; e a
disposição final ambientalmente adequada que é a distribuição ordenada de rejei-
tos em aterros, observando-se normas operacionais específicas, de modo, também,
a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos
ambientais adversos.
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CONCLUSÃO

Existem ainda normas correlatas aos resíduos sólidos, como a Lei n.º 11.445/2007
que trata sobre o saneamento básico. O Plano de Resíduos Sólidos constitui-se em
documentos que definem a dinâmica, e instrumentos, assim como os procedimen-
tos, para a execução e gerenciamento integrado dos resíduos sólidos.
Outro tema que elegemos para tratar nesta última unidade foi a Lei n.º 9443/1997,
que trata sobre os Recursos Hídricos. Expusemos que a crise da água é real e já
atinge muitas localidades, e a tendência é negativa caso este precioso recurso não
seja preservado e racionalizado. A água é tida como um bem de domínio público,
um recurso natural limitado, dotado de valor econômico. A Lei tem como objetivo
assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, com
padrões de qualidade adequados aos respectivos usos, assim como a utilização ra-
cional e integrada dos recursos hídricos, a prevenção e a defesa contra eventos hi-
drológicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos Recur-
sos Naturais. Mas veja que, em várias regiões do Brasil, nos últimos tempos, vivemos
uma grande crise por falta de água potável, por vários motivos. Assim fica a grande
pergunta: estamos cuidando bem do nosso meio ambiente? De nossa água? E você?
Faz a sua parte?

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