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23/08/2018 Capitalismo de vigilância e a nova reprodução do antigo - Observatório da Internet no Brasil

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Capitalismo de vigilância e a
nova reprodução do antigo
Alexandre Arns Gonzales - publicou em 05 de abril de 2017

A ideia de transformação é um elemento constante nos fóruns de governança da internet. A


inexorabilidade desta transformação é advertida para seus opositores, instituições e organizações
rígidas e verticalmente hierarquizadas; e anunciada para seus herdeiros, os indivíduos. O anuncio
da mudança, contudo, vela a face do imutável na própria transfomação anunciada, o quanto que,
apesar das mudanças, certas relações de dominação e alienação continuam, embora com
diferentes mecanismos.

O trabalho da Shoshana Zubo , Big other: surveillance capitalism and the prospects of an information
civilization (2015), penso, contribui para captar o quanto que a novidade anunciada nos fóruns de
governança da internet tem, no seu âmago, a reprodução do “antigo”, mas ainda atual relação de
exploração do capitalismo. Importante comentar que o diálogo que tento realizar com o texto da
Zubo (2015) não tem como motivação a concordância integral com a posição da autora, mas o
reconhecimento do esforço dela na construção de uma análise sob outra lente interpretativa das
transformações anunciadas.

Em seu artigo interessantíssimo, Zubo (2015) analisa as implicações daquilo que ela denomina
de uma nova lógica de acumulação baseada na vigilância massiva, cuja implicação é o
engendramento de um capitalismo de vigilância e a inauguração de uma nova era de civilização.
Para a autora, o expoente desta suposta nova lógica, a empresa Google, protagonizou um modelo
de negócio que dinamiza um ciclo de geração de valor sobre as informações dos usuários dos
serviços e produtos da empresa. A extração massiva de dados dos usuários, o armazenamento
destes dados, seu processamento e prestação de novos serviços e produtos é, em síntese, a
dinâmica de exploração e geração de valor deste ciclo.

Neste mesmo texto a faz referência a outro artigo seu onde ela conclui que o trabalho
automatizado por tecnologias de informação – como os computadores – con guram uma divisão
do trabalho baseado no conhecimento. “A qualidade, ao invés da quantidade, do esforço será a
nova fonte de onde o valor agregado será derivado (…) o aprendizado é a nova forma de trabalho”
(ZUBOFF, 1988, p.395, tradução minha). As tecnologias de informação registram os dados sobre
determinado trabalho e, a partir deste registro, as próprias máquinas passam a automatizar o
trabalho. O aprimoramento do trabalho realizado pela máquina – entenda-se como
“produtividade” – depende do registro de mais informações que a orientem seu desempenho.

A Google, portanto, extrai o registro de dados, os armazena e processa, inicialmente, pelo seu
serviço de motor de busca de conteúdo na própria rede. Por meio do provimento de serviços e
aplicações, como o motor de busca, sem cobrar o usuário nal, a empresa consegue extrair a sua
matéria-prima – dados dos usuários de suas aplicações. A lógica de acumulação, nesse sentido, é
suprida por meio da relação da Google com seus clientes que comercializam as informações 

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extraídas e processadas
  pela Google  através
 do “trabalho
 contratado” pela empresa e o “trabalho
gratuito” (DANTAS, 2014, p.95-97).

O exemplo clássico é o algorítimo do AdWord da empresa, que orienta a disposição da


publicidade dos clientes da Google em suas páginas no navegador da rede, com base no uso de
palavras-chaves na busca de conteúdos pelos usuários da plataforma. Entretanto, a dimensão
deste ciclo não limita-se a sua potencialidade publicitária, ela envolve uma série de outros
produtos e serviços – veículos não tripulados; “mordomos virtuais”; nano partículas, mapas
“inteligentes”, entre outros.

Ao passo que muito das nossas trocas sociais passam a ser mediadas por dispositivos que
registram informações destas trocas sociais, torna-se possível o amadurecimento e difusão de
uma lógica de acumulação baseada na extração constante destas de seus usuários; de uma lógica
de acumulação que se estrutura a partir do permanente monitoramento destas trocas e passa a
demandá-la. Em suma, de uma constante vigilância, eis a razão da denominação de capitalismo de
vigilância.

O aspecto virtuoso – ao menos assim é percebido pelos seus promotores – da coleta massiva
destas informações é na reversão em novos produtos e serviços que contribuam para o bem-
estar e a comodidade de seus usuários ao mesmo tempo em que mantém a coleta de dados. O
processamento destas informações permite a identi cação de padrões de comportamento que,
por sua vez, viabiliza – em tese – a antecipação de ações. As tendências da economia, do
“mercado”, bem como dos usuários ou consumidores, passa a ser mais “transparentes”,
previsíveis. Diminuindo, assim, o risco da tomada de decisão política ou econômica.

O componente alarmante desta perspectiva, denunciada pela Zubo em seu artigo, é,


exatamente, a remoção do elemento que confere a origem do “risco”. O risco no processo de
tomada de decisão – seja esta decisão sobre uma ação de determinada candidatura na disputa
eleitoral, ou seja ela a orientação de investimento de determinada empresa sobre um setor da
economia – decorre da imprevisibilidade do estado da ordem social e econômica no futuro por
parte de quem toma a decisão.

Assumindo a perspectiva a partir do indivíduo, enquanto elemento constituinte da ordem social


econômica, o caráter originário desta imprevisibilidade é a incapacidade de anteceder as ações
dos indivíduos. Este caráter é a autonomia de ação de cada um. Portanto, a remoção deste risco,
segundo Zubo , é a anulação da autonomia dos indivíduos.

Sobre esta advertência, considero possível identi car três formas que esta suposta nova lógica de
acumulação incide sobre a autonomia das pessoas: controle explícito sobre o comportamento das
pessoas; controle velado sobre o comportamento das pessoas; e a incidência sobre a habilidade
cognitiva.

A incidência sobre a habilidade cognitiva, penso, pode ser ilustrada pela pesquisa realizada em
2016, publicada agora em 21 de Março de 2017, na Nature Communications, demonstra o que
Zubo denomina de “acomodação”. Nesta pesquisa 24 pessoas tiveram sua atividade cerebral
monitorada enquanto dirigiam um simulador das ruas de Londres. Algumas delas utilizavam um
sistema de navegação, para transitar e outros não. Aqueles que não usavam o sistema
expressavam intensa atividade cerebral em determinadas regiões do cérebro, especialmente
quando encontravam-se diante de uma nova localização para o motorista, seja uma rua
possibilitando trajetos alternativos ou uma rua sem saída. Aqueles que usavam o sistema de
navegação, por sua vez, não demonstravam mesma intensidade de atividade nestas regiões do
cérebro.

As considerações desta experiência seriam que a dependência acentuada de sistemas de


navegações, por exemplo, reduziria a habilidade cognitiva de seus usuários em xar trajetos
mentais e, mesmo, pensar alternativas de trajetos. Esta capacidade, por sua vez, está relacionada
com a memória espacial do indivíduo.

É como se o capitalismo extraísse do indivíduo habilidades manuais e cognitivas que antes lhe
eram comuns. Esta é, a nal, a crítica presente no “Tempos Modernos”. Neste sentido, não há nada
de novo sobre as mudanças no capitalismo de vigilância. Ainda assim, poderia-se argumentar que,
embora para transitar por uma cidade o indivíduo reduza sua atividade cognitiva, ela pode ser
compensada com outras comodidades e bem-estar – car menos tempo no trânsito

Outras formas de incidência sobre a autonomia do indivíduo seria o controle explícito sobre o
comportamento, penso, está bem exempli cado em outro texto, “Privacidade, mercadoria de luxo”,
de Rafael Evangelista. Nele o autor exempli ca a dimensão perversa desse modelo de negócio que

não limita-se a identi cação de padrões de comportamento, pela coleta dos dados, mas de
modulação de comportamento de seus usuários: 

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Por exemplo, imaginemos um plano de saúde que, como condição para
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oferecer preços mais baixos, oferte ao cliente o uso ininterrupto de uma
pulseira de monitoramento cardíaco. Antes, a empresa podia apenas
recomendar ao cliente que se exercitasse três vezes por semanas por
pelo menos 30 minutos ao dia para manter uma vida saudável pelo seu
próprio bem. Com a pulseira, a sincronizar dados com os computadores
da empresa diariamente, esta tem como estar certa de como o cliente se
comportou, se fez exercícios ou não, veri cando os batimentos cardíacos.
Se o cliente não cumpriu o “recomendado” então os preços,
automaticamente, sobem. O risco da empresa cai consideravelmente,
pois dá preços mais altos aos sedentários, condição que ela veri ca ao
vigiar a que velocidade bate o coração do segurado.

Esta mesma ameaça – controle de comportamento – Shoshana Zubo denuncia em seu artigo. O
alarme que ela dispara sobre esta suposta nova lógica de acumulação capitalista consiste no
poder de controle que ela confere a determinados agentes econômicos-políticos e seus riscos
sobre as fundações da ordem liberal e, especi camente, a democracia liberal.

Por m, o controle velado sobre o comportamento das pessoas está associado à discussão sobre
governança algorítmica, que ocorre risco de estar sujeito a experimentos pelo uso de determinada
aplicação ou plataformas.

Sobre estas três formas de controle perpassa uma outra questão que, ao menos neste artigo,
Zubo (2015) não considerou e que Primavera Di Filippi (2013), Cloud-Computing: analysing the
trade-o between user confort and autonomy, pondera que é a con guração da arquitetura lógica da
rede. O debate sobre a lógica de acumulação baseada na vigilância consiste em discutir o modelo
de negócios da Google que, por sua vez, é um modelo de negócio que incide sobre a própria
arquitetura da rede buscando uma não interoperabilidade com outras plataformas ou aplicações.

“[O] princípio par-a-par também é uma importante pré condição para autonomia do usuário. De
fato, o princípio estipula que a inteligência da internet deve substitir não na rede em si, mas nas
suas extremidades” (DI FILIPPI, 2013, p.03, tradução minha).

Portanto, destas considerações resta analisar, como propõe a própria autora, se a lógica de
acumulação vigilante manifesta tendências em tornar-se a lógica hegemônica e se ele desencadeia
um novo ciclo de acumulação sistêmico. O debate sobre as formas de controle e a organização da
arquitetura da rede são, talvez, importantes pontos de partida para o aprofundamento deste
debate, de como o antigo se reproduz junto do novo.

Referências bibliográ cas

http://observatoriodainternet.br/post/capitalismo-de-vigilancia-e-a-nova-reproducao-do-antigo 3/4
23/08/2018 Capitalismo de vigilância e a nova reprodução do antigo - Observatório da Internet no Brasil

 Big other:
ZUBOFF, Shoshana.  surveillance
  capitalism and the prospects of an information
civilization. Journal of Information Technology (2015) 30, pp.75-89. Palgrave Macmillan. Disponível
em: < http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2594754 > Acessado em: 13 Ago.
DANTAS, Marcos. Mais-valia 2.0: Produção e Apropriação de Valores nas Redes. Revista Eptic Online.
Vol. 16 n.2. maio-agosto 2014. pp. 89-112.
DE FILIPPI, Primavera. Cloud-computing: analysing the trade-o between user confort and
autonomy. Internet Policy Review. Volume 02, Issue 02. 13 junho 2013. Disponível em: <
http://policyreview.info/articles/analysis/cloud-computing-analysing-trade-between-user-comfort-
and-autonomy > Acessado: 16 dez. 2015;

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