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DIREITO PENAL, ESTADO E SOCIEDADE: O (DES)ENCONTRO DA RAZÃO

Vinícius Alves Scherch


GT 3 – Discurso e práticas penais contemporâneas
RESUMO
Vivemos uma dissociação da razão crítica, a atualidade já não tem mais a capacidade de pensar
o direito. Não conseguimos cumprir a Constituição e na contramão caminhamos para o Estado
Penal. A sociedade já não é aquela disciplinar que Foucault menciona, o declínio está para além
disso, para a sociedade de controle.

INTRODUÇÃO
Partindo da realidade atual, em que é constatado um forte índice de violência e
criminalidade em vários aspectos e que isso é, por assim dizer, um produto da sociedade, temos
a ideia de que Estado e sociedade ainda que distintos e por vezes divergentes, têm algo em
comum e se misturam no mundo da vida.
A sociedade, vista enquanto um aglomerado humano e plural, ao longo da história,
passou por diversas mudanças em sua estrutura, teve momentos de avanços e de retrocessos.
Todavia, é praticamente impossível falar em uma linearidade ou em uma linha reta que aponta
para o progresso. Bem na verdade, a sociedade apresenta picos que são avaliados de acordo
com a ótica do seu observador. Os consensos, neste sentido, são quase que inalcançáveis se
temos em conta que o observador pode ter uma visão conservadora ou progressista. Difícil é
classificar o que representa então uma (r)evolução da sociedade.
A linearidade é constatada tão somente com relação ao tempo, e a sociedade ora pende
para a direita e ora para a esquerda. Partimos aqui, da premissa de que a sociedade antecede ao
Estado, que, por sua vez é produto de criação social. Porém, o filho da sociedade, o Estado,
assume um papel de, sob um modo geral, organizar, disciplinar e conduzir a sociedade, pelo
que se torna uma espécie de guardião protetor dela.
Eis o paradoxo, o Estado tem por finalidade permitir a sobrevivência da sociedade e a
sociedade é responsável por manter o Estado, e por isso afirmamos que são inseparáveis e
conflitantes à medida que um se insere na esfera do outro sem consenso, que só pode ser obtido
mediante a política.

METODOLOGIA
Utilizaremos o método de análise de cada um dos dois institutos – Estado Penal e
Sociedade de Controle - que abordaremos, de forma separada primeiramente, para depois então
vislumbrá-los conjuntamente. A partir das metodologias exploratória e explicativa, buscaremos
apresentar a proposta.

SOCIEDADE E ESTADO
A sociedade através das práticas, costumes e hábitos vai construindo mecanismos para
o controle social, doravante denomina-se sociedade disciplinar. O Estado, com regras
administrativas, ocupa-se de uma seara menos incidente no direito privado e mais afeiçoada à
burocracia e ao estabelecimento de regras gerais e abstratas. Percebe-se que se complementam
e o estudo do poder, sob o aspecto do domínio de um sobre o outro, torna-se mais uma questão
política do que de ordem jurídica.
Do ponto de vista político nascem os conflitos quando a sociedade e o Estado tentam
impor-se um sobre o outro, numa disputa pela programação de daquela sobre este e deste sobre
aquela. Desta disputa é engendrada a situação-problema de ilegitimidade e de
ingovernabilidade, que só pode ter solução mediante um consenso que, por óbvio, não pode ser
imposto, mas precisa desabrochar como um elemento intrínseco e unificador de intenções. Este
consenso não surge de decisões judiciais ou da criação de uma lei – que pode ser dispensada
pelos atores conflitantes – mas nasce do processo político.
A sociedade de controle aparece após a Segunda Grande Guerra, num contexto mais
atual de conivência, onde os indivíduos vivem numa “prisão ao ar livre” na expressão de
Adorno. A liberdade é tolhida sem constrangimento, sem grades e sem cárcere.
Deliberadamente, os indivíduos cedem ao controle dos meios de comunicação, do consumo e
do Estado, quase que num movimento irracional. A sociedade de controle pode ser tão sutil,
que vai desde ao CPF na nota aos ditames da São Paulo Fashion Week. Para explicar melhor a
questão da sociedade de controle, podemos estabelecer um paralelo com a sociedade disciplinar,
onde o elemento central é vigiar as pessoas de modo que estas disciplinem-se por saber da
existência da vigilância mas não ter certeza dela. Ou seja, por medo daquele que detém o poder
de vigiar e punir, a sociedade adota o comportamento desejado, como Foucault (1987, p. 186-
214) explica o Panóptico de Bentham.
Na sociedade de controle, ao contrário, não há vigia evidente, mas as pessoas são
instigadas ou movidas para a direção cujo detentor do poder determina. Assim, são criadas
situações que constrangem as pessoas a agir no interesse do controlador de modo que todos
voltam seus olhares para o ponto fixado com referência, passando a uma condição também de
autovigiação, onde os indivíduos movidos pelo controlador fazem o papel de vigias uns dos
outros (DELEUZE, 1992, p. 1-4).
O Estado, como já dissemos, decorre da sociedade e comporta inúmeros conceitos,
basta olhar para clássicos como Leviatã, O Príncipe e Contrato Social, que percebemos como o
Estado pode tomar várias formas e ao mesmo tempo permanecer disforme. Ao mesmo tempo
que tem hegemonia, dissolve-se nas mãos dos indivíduos, ao mesmo tempo que ostenta poder,
é dependente das pessoas para sua existência. Pelas palavras de Zulmar Fachin e Rene Sampar
(FACHIN, 2017, p. 1), o Estado “pode representar a salvaguarda dos valores mais caros, mas,
ao reverso, pode-se constituir no carrasco que suprime ideias, sonhos e promove genocídios”.
Como o tema não se volta ao uma teoria de Estado ou a se aprofundar em sua complexa gnose,
mas a uma visão a respeito da expressão Estado Penal, feita esta breve excursão, passamos às
formatações de Estado que reputamos mais importantes a esta pesquisa.
Rapidamente, o Estado Absolutista, é aquele em que o Poder Executivo é exacerbado
e teve destaque nos períodos medieval e do feudalismo, é marcado por características de
governo arbitrário e por violações aos direitos das pessoas, porquanto não haver limites para o
governo.
O Estado liberal pode ser dito como uma resposta ao absolutismo, no qual as pessoas
passam a minar a legitimidade do poder absoluto – muitas vezes justificado por preceitos
religiosos – a partir da ideia de que o Estado é fruto de um pacto. Aqui o papel do Estado
restringe-se a organizar e policiar as negociações. O traço que mais marca o Estado liberal é o
resguardo de direitos fundamentais de primeira dimensão – vida, liberdade, propriedade.
Também é marcado de uma alta proliferação de violações de direitos sociais – e indiretamente
daqueles de primeira dimensão – pelas classes economicamente mais abastadas, como a
burguesia, a classe média e outros membros ou descendentes de famílias nobres. A estigma do
Estado liberal é proliferação desenfreada do capitalismo e a exploração dos mais pobres, que
não conseguem ascender no sistema a que são submetidos.
Passando ao Estado de direito, pode ser dito como uma situação erigida tanto de
práticas sociais, como os costumes, a negociação e as interações dos indivíduos com o mundo,
bem como do substrato normativo encampado pelo Estado, no sentido de organizar e limitar o
poder. Neste sentido, ao mesmo tempo que o Estado de direito surge como baliza, serve como
garantia de inviolabilidade de direitos fundamentais. Essa disposição do Estado de direito é o
que confere às pessoas, em casos extremos, a própria sobrevivência, ou, ao menos, é para o que
deveria servir os seus postulados, já que detém a capacidade de deter a atuação do Estado –
entendido enquanto governo – e da sociedade – entendida enquanto impositiva de dogmas
morais e interesses essencialmente capitalistas.
Cabe dizer que o Estado de direito tem por escopo preservação dos indivíduos,
relativizando outros interesses que orbitam a pessoa humana. Tragicamente, embora tivesse
uma gama representável de direitos fundamentais positivados, a Constituição de Weimar não
conseguiu manter-se, sob o aspecto de um Estado de direito, face à atuação política que
implantou o nazismo na Alemanha.
O Estado de bem-estar representa uma condição na qual o Estado liberal é relativizado,
ou seja, ganha espaço de discussão e de garantia, as condições e acesso ao trabalho, o
desenvolvimento regular da economia com ênfase na melhoria das condições de vida das
pessoas, a diminuição das desigualdades entre as classes e o acesso público e universal à saúde
e educação, com vistas à solidariedade. Embora estes últimos variem de país para país, a
solidariedade e o respeito à dignidade da pessoa humana, bem como a ampliação do catálogo
de direitos fundamentais são parte da agenda do Estado e já se fala em uma força conjunta da
sociedade. Há quem critique o Estado de bem-estar em razão de seu elevado custo para
implementação e manutenção, obviamente a crítica nasce das ideologias neoliberais e do
capitalismo avançado.
Feitos estes apontamentos, passamos ao Estado Penal. De acordo com Wacquant
(1998, p. 7-26), o Estado Penal constitui-se numa guinada das políticas penais e na dizimação
das políticas sociais. Ou seja, há uma diminuição abissal daquilo que é tido como direito
fundamental sob o vértice das liberdades individuais, das conquistas sociais e das práticas
solidárias e um abrupto incremento das políticas penais sob o ângulo da punição. Os problemas
do Estado Penal só se agravam, principalmente porque juntamente a política punitivista
hipertrofiada o alvo é a população pobre e que vive em situações já extremas pela falta de
recursos, infraestrutura e agora com a omissão de políticas sociais inclusivas e redistributivas.

CONCLUSÃO
Antes de mais nada, é necessário termos em consideração que o Brasil não chegou a
alcançar o ideal de Estado de bem-estar. Muito embora tenham sido implantadas diversas
políticas com foco na diminuição das distâncias entre as classes e diversas conquistas sociais
tiveram êxito no aspecto de inclusão e redistribuição de renda, ficamos aquém do ideal
instituído pelo constituinte quanto à construção de uma sociedade livre, justa e solidária, da
erradicação da pobreza e da marginalização e da redução das desigualdades sociais e regionais.
Ao todo que expomos, à guisa de conclusão podemos com firmeza chegar ao ponto de
que o encontro do Estado Penal e da Sociedade de Controle pode gerar consequências
catastróficas. Isso porque, ao voltar os olhos dos indivíduos para um problema criminal – e
focalizar esse problema nos pobres – perde-se o aspecto da solidariedade e da própria
humanidade. Quando imbricados, a solução dos problemas sociais passam a ser a eliminação
do pobre, que passa de ser humano a fardo para a sociedade e a questão penitenciária passa por
um processo de desumanização pelo mesmo motivo. Os investimentos passam a ser no sentido
da elitização e do aparelhamento das forças de segurança, porém de forma deturpada, em
prejuízo dos mais necessitados. Políticas de empregabilidade dão lugar ao fomento da produção
de capital e as relações de trabalho se tornam mais tirânicas e verticalizadas. O acesso aos
direitos é hierarquizado e se sobrar a camada de baixo consegue alguma coisa.
No Brasil, parece que o Estado Penal tem ganho um certo prestígio nos últimos dias,
temos com frequência o enaltecimento do combate ao crime com contornos de uma cegueira
deliberada a respeito dos direitos humanos e a diminuição dos direitos sociais sob a capa de
ajuste econômico. Contextualizando, vemos a retirada de direitos dos pobres e a ampliação dos
direitos das elites, dos achegados do governo e dos donos das maiores parcelas do capital.
De outro lado, a Sociedade de Controle parece que foi descoberta pelos detentores do
poder e temas como o combate à corrupção de forma seletiva ganham o prestígio das pessoas
para a implantação de um regime rígido e antidemocrático por uma direita conservadora, que
alimenta e fomenta o Estado Penal como a solução dos problemas contemporâneos da ordem
social.
Tornamos ao ponto de que partimos, a questão precisa ser resolvida no campo político,
e com urgência, precisamos preservar a democracia enquanto garante dos direitos fundamentais
e ao mesmo tempo evitar que a guinada conservadora se aconchegue no poder.

REFERÊNCIAS
DELEUZE, Gilles. Post-scriptum sobre as sociedades de controle. Tradução de Peter Pál
Pelbart. Rio de Janeiro: Conversações, Ed. 34, 1992, p. 219-226.
FACHIN, Zulmar; SAMPAR, Rene. Teoria do Estado. 2 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2017.
FOUCAULT, Michel.Vigiar e punir: nascimento da prisão; tradução de Raquel Ramalhete.
Petrópolis, Vozes, 1987.
WACQUANT, Loïc. De l’État social à l’État pénal. Actes de la recherche en sciences sociales.
Vol. 124, septembre 1998. Disponível em: <http://www.persee.fr/issue/arss_0335-
5322_1998_num_124_1> Acesso em: 26 set. 2017.

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