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SEMANAL
A NEWSMAGAZINE MAIS LIDA DO PAÍS WWW.VISAO.PT NOVA REVISTA
MEMÓRIA
A SAGA
DOS MELLO
POR MARIA
FILOMENA
MÓNICA
A HISTORIA
DA RICA E DISCRETA
FAMILIA ARIE
Dominam o comércio de perfumes em Portugal e compram cadeias de restaurantes.
Mas sem dar nas vistas. Como aprenderam com o patriarca, um negociante
judeu que, em 1954, veio para Portugal... por amor
VISÃO
17 MAIO 2018 / Nº 1315
14 Entrevista: Constantino
Sakellarides
RADAR
18 Imagens da semana HARRY MYERS/REX FEATURES
24 Raios X
26 A semana em 7 pontos
28 Holofote
30 Almanaque
32 Inbox
34 Transições
36 Próximos capítulos 64 Windsor, uma empresa real
Após a morte de Diana, há duas décadas, a monarquia britânica parecia
ter os dias contados. Agora, com o casamento de Harry com Meghan,
FOCAR a família liderada por Isabel II recupera o seu prestígio, com um plano
72 PSD cavalga Justiça de comunicação digno de uma multinacional
76 O que resta do “brutal
aumento de impostos” 40 A “tribo” dos endinheirados
78 Irlanda: o referendo Depois de Os Pobres, Maria Filomena Mónica lança agora Os Ricos,
da polémica um novo livro de biografias de que publicamos um excerto sobre Alfredo
da Silva, Manuel de Mello e Jorge de Mello, três “capitães da indústria” do
80 A que sabe Portugal? século XX
VAGAR
82 Lídia Jorge em entrevista: só
48 A discreta família Arié
Na vida e nos negócios, agem com a máxima reserva. Foi desse modo
a literatura nos pode salvar? que puseram de pé um império que, em Portugal, inclui a distribuição de
88 Joana Ribeiro, a portuguesa dezenas de marcas de luxo, de cosmética e de moda, e a participação no
do filme de Terry Gilliam grupo de restauração de José Avillez. História de uma saga familiar
92 Tendências
58 O braço de ferro do Orçamento
VISÃO SETE Greves, protestos e uma grande manifestação da CGTP marcam estes
meses de maio e junho. Como pano de fundo,as negociações para o
Orçamento de 2019 e o endurecimento da linguagem entre António Costa
e os parceiros à esquerda. Estarão mesmo condenados a entender-se...?
Montra
97 O charme discreto
da Foz do Porto
AUTOBIOGRAFIA
DE STEPHEN HAWKING
OPINIÃO À venda, com esta edição da VISÃO, estará A Minha
10 António Lobo Antunes Breve História, de Stephen Hawking. Trata-se de um
12 Rui Tavares Guedes livro autobiográfico através do qual o cosmólogo
britânico, falecido a 14 de março último, passa em
38 José Manuel Pureza revista o seu próprio percurso: desde a sua infância,
75 José Carlos Vasconcelos no pós-II Guerra Mundial, até aos anos em que se
tornou uma celebridade. A Minha Breve História
96 Miguel Araújo é uma edição da Gradiva, tem revisão científica €4,99
130 Ricardo Araújo Pereira de Carlos Fiolhais e estará à venda por 4,99 euros.
CAMILO NO PANTEÃO
A crónica Porque não está Camilo no
Panteão?, de Germano Silva [V1313],
É já no próximo sábado, 19, que chega às bancas a VISÃO Saúde. A nova apenas conta metade da história.
É verdade que não era vontade de
revista será inteiramente dedicada a temas de saúde e terá reportagens Camilo, mas porquê? Há quem diga
e histórias surpreendentes, as últimas novidades da Ciência, notícias, que Camilo escolheu aquele local
portefólios, infografias e a opinião dos melhores especialistas do País. no cemitério para ficar perto de Fanny
Apresenta ainda uma linguagem acessível, uma abordagem didática nos Owen, por quem estaria apaixonado.
Mas há mais: consta que os restos de
artigos e um rigoroso cuidado com a informação. Em todas as edições, Fanny Owen estão em parte incerta...
haverá um tema mais aprofundado que, neste primeiro número, será o Muitos mistérios encerra o Porto.
cancro, concretamente, as novas armas de combate a esta doença – o uso do Adriano Silva, Porto
sistema imunitário para lutar contra os tumores e os novos medicamentos.
A VISÃO Saúde está dividida por cinco secções: a Sala de Espera, onde CORREÇÃO
encontra pequenas novidades; o Dossier, no qual haverá sempre um No artigo Uma conversa dos deuses
tema alargado; o Diagnóstico, em que pode ler histórias e explorar [V1312], resultado do diálogo entre
temas de várias áreas e com abordagens António Lobo Antunes e José
Tolentino Mendonça, no VISÃO Fest,
diferentes; o Consultório, onde alguns onde se lê “o ato de querer é um ato
especialistas respondem às perguntas que de exposição de si” deve ler-se “o ato
todos querem saber; e, por fim, a Alta, que de crer é um ato de exposição em si”.
lhe dá a descobrir livros que lhe podem Aos visados e aos leitores, as nossas
desculpas.
interessar. E porque queremos sempre ser
fiéis ao compromisso com a qualidade, na Contactos
VISÃO Saúde contamos com um Comité CORREIO: Rua Calvet de Magalhães, 242,
Consultivo de 14 figuras de referência que 2770-022 Paço de Arcos
são conceituados especialistas e académicos. visao@visao.pt
Faltam assim poucos dias para que possa ir As cartas devem ter um máximo
às bancas e conhecer a mais recente extensão de 60 palavras e conter nome, morada
de marca VISÃO, que assim se junta à VISÃO e telefone. A revista reserva-se
História e à VISÃO Júnior. Tudo porque para o direito de selecionar os trechos
nós a sua saúde merece a melhor VISÃO. que considerar mais importantes.
17-05-18 09:16
todos apresentam mostradores azuis ou brancos. Edição limitada a 150 relógios · Movimento mecânico ·
Estão revestidos com doze camadas de verniz da Corda automática Pellaton · Calibre manufaturado IWC
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INVESTIGAÇÃO, REPORTAGENS, NOTÍCIAS,
ENTREVISTAS COM OS MELHORES ESPECIALISTAS, DICAS E SUGESTÕES
A NOVA REVISTA
PARA QUEM SE INTERESSA POR SAÚDE
Uma história
de amor
POR ANTÓNIO LOBO ANTUNES
ILUSTRAÇÃO: SUSA MONTEIRO
P
odemos não nos ter dado conta, nhando o seu isolamento em relação ao resto
porventura por andarmos distraí- do mundo. Mas, apesar do coro de protestos,
dos com outros assuntos tão “ur- nessa altura não soaram propriamente os
gentes” como a final da Eurovisão, alarmes, até porque as consequências desse
mais um folhetim futeboleiro ato só serão visíveis daqui a alguns anos.
ou o 172º sinal de clivagem na No caso do acordo nuclear com o Irão
“Geringonça”, mas a verdade é que – uma das obras finais do mandato de
o mundo mudou muito nas últimas Obama, que conseguiu conciliar os inte-
semanas. Ou melhor: começou a mudar resses norte-americanos com os da Rússia,
uma certa ordem do mundo com que, para China, França, Alemanha e Reino Unido –, Como apresentar
o bem e para o mal, nos habituámos a viver as consequências começam já a ser visíveis. aos leitores uma
família discreta,
desde há várias décadas. Pela primeira vez, vemos os aliados atlânti-
mas com um
A forma como Donald Trump rompeu, a cos a afirmarem abertamente que deixaram
grande império?
8 de maio, o acordo nuclear com o Irão assi- de confiar em Donald Trump. A chanceler É esse o desafio
nala o início dessa mudança e dá, igualmen- alemã Angela Merkel foi a primeira a dizê-lo,
te, o tiro de partida para uma série de outras numa posição imediatamente secundada
ações que, nos próximos dias e semanas, vai pelo francês Emmanuel Macron que, ainda
vincar ainda mais o novo papel que os Esta-
dos Unidos da América querem desempe-
há poucas semanas, se revelava incapaz de
conseguir esconder a admiração que nutria
2
nhar no jogo global: o de potência com uma pelo atual Presidente norte-americano, para
visão unilateral do mundo, cuja força se ba- desconforto de muitos dos seus compatrio-
seia unicamente no seu poderio tas e também de vários estadis-
militar, apenas preocupada com tas europeus. A clivagem entre
os interesses norte-americanos Apesar das a Europa e os EUA é cada vez
e desvalorizando as regras da suas diferenças, maior e por uma única razão:
ordem internacional criadas no os líderes apesar de todas as diferenças
pós-guerra. que possam existir entre eles, os
Foi já nesse papel que Donald europeus líderes europeus querem mos-
Trump concretizou, esta sema- querem trar-se ao mundo como per-
Uma possibilidade
na, a mudança da Embaixada mostrar-se ao sonalidades em quem se pode seria a de apresen-
dos EUA em Israel, de Telavive confiar. Donald Trump está-se
para Jerusalém, à revelia, por
mundo como nas tintas para isso. tar o rosto de uma
exemplo, de todos os seus alia- personalidades
das suas “marcas”,
E se os europeus deixaram de
deixando a família
dos europeus. E, nos próximos em quem se confiar na América de Trump, em fundo
dias, deverá continuar o mesmo pode confiar. o que dizer dos povos de todos
caminho em duas tomadas os outros países que só recen-
de posição importantes: a que Donald Trump temente se aproximaram da
decidirá a sorte do Tratado de está-se nas ordem internacional? No caso
Livre Comércio com o Canadá
e o México, e o destino a dar à
tintas para isso do Irão, por exemplo, este ras-
gar do acordo pode significar o
3
guerra tarifária com a Europa. fim de qualquer tentativa tímida
Pelo caminho, vai dar ares de grande esta- de abertura do regime e um argumento po-
dista, debaixo dos focos globais, quando se deroso para fazer crescer o apoio dos setores
encontrar (se não mudar de ideias, entretan- mais conservadores. E se Trump foi capaz
to) em Singapura, a 12 de junho, com Kim de quebrar o acordo com o Irão, quem pode
Jong-un para discutir o futuro nuclear da garantir aos norte-coreanos que qualquer
Coreia do Norte, cujo líder parece manter, compromisso sobre o seu programa nuclear
em simultâneo, conversações cada vez mais será respeitado?
estreitas com os vizinhos de Pequim. Ao insistir neste caminho unilateral,
É verdade que o Presidente dos EUA alérgico a compromissos ou a negociações,
já tinha rasgado acordos e compromissos a América deixa de basear o seu poder na in- Outra hipótese
assumidos, no passado, por Barack Obama. fluência e limita-se a exercer apenas o da for- seria a de uma
capa mais gráfica,
Fê-lo, nomeadamente, com o Acordo de ça. E esse é o caminho para um mundo muito
com menos poder
Paris, sobre as alterações climáticas, subli- mais perigoso – outra vez. rguedes@visao.pt
da fotografia
VANTAGEM CLIENTE
6.000€
ANOS DE
ATÉ *
MANUTENÇÃO
GARANTI A
E ASSI STÊNCIA
Consumo combinado: 3,8 – 5,8 l/100 km. Emissões de CO2: 99 – 134 g/km.
*Oferta válida para clientes particulares nos dias 17 a 20 de Maio. Exemplo para Pulsar 1.5 dCi N-Connecta, com retoma de viatura. Inclui oferta de 3 anos
de garantia (ou 100.000km), manutenção e assistência em viagem. Visual não contratual. Consumo combinado: 5,0 l/100 km. Emissões de CO2: 117 g/km.
Constantino Sakellarides
Catedrático jubilado de Política de Saúde
Falar em má gestão
na Saúde, como fez o ministro
das Finanças, é uma
banalidade. O problema
é não haver gestão nenhuma.
Está toda centralizada
no Ministério das Finanças
e no da Saúde
E M Í L I A C A E TA N O LUÍS BARRA
Uma OPA à meia-luz A China Three Gorges quer ficar com toda a EDP.
Mas, além dos obstáculos regulatórios, há outro
problema: o preço que é considerado baixo
P A U L O Z A C A R I A S G O M E S pzgomes@exame.pt
Vamos
às compras
A empresa pública
chinesa por detrás
da oferta pública
Corrida
com barreiras
Para que a oferta
vingue, há que ultra-
passar 16 condições
10 262
milhões de euros
é quanto a China
Façam o favor
Na primeira reação ao
lançamento da OPA,
o Governo estendeu a
passadeira ao negócio
Presença global
Com mais de
11 600 trabalhadores,
a EDP está em mais
de uma dezena
e disse que cabe ao de mercados,
de aquisição (OPA), colocadas pelos Three Gorges terá
mercado decidir. sobretudo na Europa
que já é a maior chineses, como o OK de investir para
“A China Three Gorges e nas Américas,
acionista da EDP, das autoridades dos comprar as ações
é há muitos anos com produção,
propõe comprar países onde a EDP que ainda não
acionista de referência transporte,
todo o capital está presente. De- detém na EDP e na
da EDP e não temos distribuição
mas contenta-se safio difícil nos EUA, EDP Renováveis
nenhuma reserva a e comercialização
com, pelo menos, onde a administração
opor. As coisas têm de energia.
metade. E também Trump tem torcido o
corrido bem”, disse As renováveis valem
quer a EDP nariz a compras da
o primeiro-ministro 40% do seu EBITDA
Renováveis China no país
António Costa
-5,5%
Quando entrou na empresa,
em 2012, a China Three
Gorges pagou 3,44 euros
por título. Agora propõe
gastar menos 5,5%
por cada ação:
3,26 euros
Contra-ataque?
O avanço do acionista chinês surge meses
depois dos rumores do interesse de outras
elétricas na EDP, como a espanhola Gas
Natural, a italiana Enel e a francesa Engie.
Poderão agora alimentar uma contra-OPA?
O DESAFIO É REAL.
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uma experiência de condução única, que alia a sofisticação do design verdadeiramente original à fiabilidade
do novo motor gasolina 1.5 Turbo MIVEC de 163cv, de elevada performance e baixos consumos. Porque os
desafios são reais, o Novo Eclipse Cross apresenta-se num novo patamar de equipamento de série, segurança
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PONTOS DA SEMANA
POR
FILIPE LUÍS*
JOSÉ CARLOS CARVALHO
ainda não se sabia qual a em que apenas pagariam barato demais. Será uma
verba dos contratos... 3,26 euros por ação, ficou questão de tempo?
CASO DA SEMANA
David Goodall
decidiu morrer
O famoso cientista
australiano de 104 anos
despediu-se da vida numa
clínica na Suíça, como
pretendia e ao som do Hino
à Alegria de Beethoven
“Não quero
continuar a viver”,
disse. “A minha
vida já não merece
ser vivida, e obrigar
alguém a manter-se
vivo contra a sua vontade é
cruel.” O conhecido botânico
não tinha nenhuma doença
Ronaldo super-herói
terminal, mas estava cansado
de viver por, aos 104 anos, já
não ter a mesma qualidade
de vida. Há uma semana, fez
O craque português será protagonista da série de desenhos a sua última viagem para a
animados Striker Force 7 Suíça, onde lhe foi concedido
o desejo de terminar com a
própria vida. “Lamento mesmo
Cristiano, Ronaldo ou apenas CR7. comunicado. “Super-heróis
muito ter chegado a esta
Não há no mundo quem não e futebol são formas de união entre
idade. Quero morrer e não há
reconheça o nome – milhares de fãs já as pessoas em todo o mundo. Vamos nada de triste nisso. Triste é
o tomam como um verdadeiro super- unir as duas e ver o que dá”, comparou. querer morrer e ser proibido
herói na vida real. Algo que vai passar “O nome do Cristiano é sinónimo de o fazer.” Há 20 anos que
oficialmente para a ficção: a convite de profissionalismo, dedicação e êxito”, sonhava com este momento:
das produtoras Graphic India e da elogiou o responsável de operações tinha 84 anos e não conseguiu
VMS Communications, o internacional da VMS Communications, Diego renovar a carta de condução.
do Real Madrid, 33 anos, será o rosto Guarderas, justificando que é essa Nos últimos tempos, tornou-
do protagonista da Striker Force 7. a razão pela qual o português -se conhecido como um
“Estou muito entusiasmado com a “inspira pessoas de todo o mundo”. ativista feroz da causa do
possibilidade de ajudar a criar esta Só ainda não se sabe quando será suicídio assistido, depois de
nova série”, afirmou o português, em o lançamento. uma carreira consagrada
como pioneiro do estudo
quantitativo das plantas.
Desde 1964 que publicava na
Nature, e manteve-se ativo
NÚMERO até 2016, quando a Edith
1,89 milhões
Cowan University, onde era
professor emérito, pediu
que ele passasse a fazer as
suas pesquisas de casa. Não
Portugueses que vivem com menos queriam que ele sofresse uma
de 454 euros por mês. Os indicadores queda no campus. Reclamou
de desigualdade e pobreza assinalam e ainda conseguiu manter-se
que há menos pobres em Portugal ativo, até muito recentemente
(a taxa desceu de 19% para 18%) mas sentir uma quebra tremenda
a desigualdade ainda permanece. Esta das suas capacidades.
foi também a semana em que se soube “Levanto-me, tomo o pequeno-
que há 37,5 mil portugueses a ganhar no Instituto Nacional de Estatística. -almoço e fico por casa. Pouco
três mil euros, e foi caso para se dizer Por falar em desigualdades, há ainda depois, almoço e mantenho-
que nunca houve tantos a ganhar tanto, 11 administradores que, só em 2017, -me por ali. Qual é a ideia de
desde que passou a haver registos somaram mais de... um milhão de euros. viver assim?”
M O D É S T I A À PA R T E
Há dogmas
da biologia a ser Sou uma
quebrados a todo
o momento
mulher
MÓNICA BETTENCOURT DIAS
Bióloga e nova diretora numa
situação
do Instituto Gulbenkian
de Ciência, a primeira mulher
a assumir o cargo, a falar sobre
o estado da investigação
terrível
GEORGINA CHAPMAN
Estilista e ex-mulher de Harvey Weinstein
a falar da sua vida e, pela primeira
vez, do escândalo que envolve o produtor.
Chapman aproveitou ainda para
agradecer a Scarlett Johansson por
ter usado um vestido seu na gala Met,
evento de beneficência do Metropolitan
Museum of Art Costume Institute
3 MESES DEPOIS
3 MESES DEPOIS
LIPOSHAPER
SEM ANESTESIA
® A 1ª “LIPOASPIRAÇÃO” SEM DOR
NÃO-INVASIVA SEM TEMPO DE RECUPERAÇÃO
AGORA NO ALGARVE !
TRANSIÇÕES
MORTE
“Era uma artista de
referência, é uma enorme
perda para o País”, sublinhou
o ministro da Cultura, Luís
Filipe Castro Mendes. Clara
Menéres nasceu em Braga,
em 1943, e estudou Escultura
na Escola Superior de Belas-
-Artes do Porto. Catedrática
de Belas-Artes em Lisboa e
Évora, uma das suas obras
mais conhecidas é Jaz Morto
e Arrefece – representação
de um soldado morto com
a farda da Guerra Colonial,
inspirada no poema O Menino
De Sua Mãe, de Fernando
Pessoa – em exposição
na Fundação Calouste
Gulbenkian. Dia 11
PERISCÓPIO
PICANTE DISTRAÍDO
Sai um franguinho Em casa de
para o sr. ferreiro...
Presidente! ... Espeto de pau, é o
Não, não estamos a mínimo que pode dizer-
falar de futebol nem -se da distração do
de alguma lembrança cidadão – e primeiro-
que um guarda-redes -ministro – António
tenha oferecido a Costa que se esqueceu
um presidente de de renovar o seu cartão
um clube qualquer. de cidadão, entretanto
Estamos a referir-nos, caducado. A confissão
mesmo, a Marcelo foi proferida pelo
Rebelo de Sousa que próprio, em Carnaxide,
foi, esta segunda-feira, Oeiras, durante uma
visto num take away visita à empresa Vision
de Cascais... a comprar Box, especialista
o jantar. Passe a em tecnologias
VENEZUELA publicidade, o Jardim de identificação e
dos Frangos foi uma exportadora para
O caos de Maduro
boa escolha, dado que todo o mundo (há
teria sido esquisito se muitos aeroportos
o mais alto magistrado internacionais
da República tivesse apetrechados com os
optado por um seus equipamentos).
Com as exportações de petróleo a caírem a pique, hipotético monárquico Quer dizer: o Simplex
a crise pode ainda agravar-se. Será que o Presidente “Rei dos Frangos”. é bom e é para os
Faltou a mini... outros...
vai resistir até 2024, caso seja reeleito no domingo?
Uma desgraça nunca vem só, mas na Venezuela elas sucedem-
TRANSPARENTE
-se a cada dia que passa e o pior ainda pode estar por vir. No
próximo domingo, 20, o país vai a votos para decidir a reeleição Desinteressante, eu?!
do atual Presidente, Nicolás Maduro, para um segundo mandato “Não parece que as tuas informações do Facebook
que lhe pode garantir a permanência no Palácio de Miraflores, foram partilhadas [sic] com a Cambridge Analytica
pela This Is Your Digital Life.” Assim termina uma
em Caracas, até 2024. No entanto, o mais provável é que o
tranquilizadora mensagem enviada a milhões de
principal resultado deste escrutínio, cuja validade é posta em
utilizadores daquela rede social, na sequência do
causa pela ONU, União Europeia e Organização de Estados escândalo do uso abusivo de dados pessoais que,
Americanos, acabe por ser uma nova vaga de sanções contra nomeadamente, terá influenciado as eleições
o regime chavista. Os principais líderes da oposição foram norte-americanas. Um deles foi o deputado do
impedidos de entrar na corrida e muitos estão presos ou tiveram PS Ascenso Simões, que decidiu partilhar a
de exilar-se. É o caso de Leopoldo López, antigo economista mensagem do Face, com o seguinte comentário:
e autarca condenado a 14 anos de prisão por ter promovido as “A minha vida, tão desinteressante, nunca poderia
manifestações e motins de 2014. Ou de Henrique Capriles, o interessar à Cambridge Analytica... É o que diz o
antigo governador e candidato presidencial impossibilitado de Facebook :).” Pudera! Pois se foi o próprio quem pôs
desempenhar cargos públicos durante 15 anos. Ou do antigo tudo a nu, ao divulgar a sua remuneração como
ministro e general dissidente Miguel deputado! Assim, também nós! ;)
Rodríguez Torres, detido há dois meses
87% DOS por “atentar contra a pátria”, pela singela
razão de responsabilizar o Chefe de
VENEZUELANOS Estado pela crise económica e social.
ESTÃO NA Na última terça-feira, 15, ficou a saber-
-se que o país com as maiores reservas
POBREZA, de petróleo do mundo está mesmo à
E A ONU DIZ QUE beira do colapso, por não honrar os
seus compromissos internacionais, e
CERCA DE CINCO que a petrolífera nacional, a PDVSA,
MIL PESSOAS está sob o assédio dos seus credores e
enfrenta inúmeros processos judiciais
ABANDONAM que põem em causa cada vez mais o
LUÍS BARRA
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isenção
liberdade
rigor
ANOS A FOCAR
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OPINIÃO
Despenalizar e respeitar:
o desafio ao Parlamento
P O R J O S É M A N U E L P U R E Z A / Professor universitário. Deputado do Bloco de Esquerda
T
em razão o Presidente da República: decisão a preto e branco. Com informação
“Foi um debate muito participado por a menos e emoção a mais. Sucede que a
todos os quadrantes político-partidários, despenalização da eutanásia não é uma questão
religiosos, sociais. Agora seguem o de um simples sim ou não. É uma decisão que
seu curso as iniciativas parlamentares, tem de convocar experiência e conhecimento,
esperarei aqui em Belém.” Marcelo interlocução com a pluralidade de posições
Rebelo de Sousa referia-se ao debate de constitucionalistas e penalistas, médicos e
público aberto pelo Movimento Cívico enfermeiros, filósofos e estudiosos de ética e
pela Despenalização da Morte Assistida. também – e sobretudo – com quem acompanha
E tem razão: foi um debate que, nos histórias de sofrimento desesperante de
últimos dois anos, foi intenso e muito participado. familiares e amigos. Tudo isso para fazer
Agora é o tempo do Parlamento. acompanhar a despenalização de uma definição
Na ânsia de barrarem caminho a uma decisão rigorosa de requisitos para que ela possa operar
democrática sobre este assunto, os adeptos da e de meios de fiscalização da sua verificação.
manutenção da pena de prisão Inquestionavelmente, o
até três anos para quem entenda processo de trabalho do
corresponder ao pedido de A despenalização Parlamento é o que dá mais
antecipação da morte de um
doente sem cura e em destruição
da eutanásia não garantias de acautelar o rigor
que uma lei sobre este assunto
quer do corpo quer da dignidade é uma questão de delicado tem de ter.
aos seus olhos bradam com a
suposta falta de legitimidade
um simples sim ou Nesta reta final do debate,
só o desespero pode explicar
do Parlamento para legislar não. É uma decisão o uso de argumentos
porque os partidos não incluíram que tem de convocar vocacionados para incutir o
este tema nos seus programas
eleitorais. Este apego repentino
experiência e terror. Que eles venham de
pessoas com responsabilidade
à importância dos programas conhecimento institucional na área médica
eleitorais é democraticamente é motivo para especial
comovente, sem dúvida. Imbuído preocupação e repúdio
desta comoção democrática, não lhes perguntarei adicional. Invocar que uma fibromialgia ou
o que dizia o programa eleitoral do partido x sobre uma artrite reumatoide serão motivo suficiente
meios da proteção civil ou o programa eleitoral para a prática de eutanásia podia ser só pouco
do partido y sobre diversificação dos meios de sério. Mas é mais: é uma expressão de desprezo
financiamento da Segurança Social. Poupamo-nos pelo conhecimento dos médicos que virão a
assim à embaraçosa situação de ficar claro que intervir no processo de aferição dos requisitos da
quem agora clama pela importância crucial dos morte medicamente assistida. O que consta dos
programas eleitorais nunca se deu ao trabalho de projetos que vão a debate no dia 29 é claro: uma
ler nenhum. demência, uma doença crónica ou uma doença
Os mesmos defensores do escrúpulo democrático psiquiátrica não são condições suficientes para a
neste assunto – não me recordo de os ver defender antecipação da morte. Muito menos ser velho e
a democracia máxima quando o Parlamento socialmente vulnerável – porque não são doenças
aprovou tratados europeus que diminuem… a e é só de doenças que os projetos apresentados
democracia – sugerem que 230 deputados vão ao Parlamento tratam.
arrogar-se o direito de decidir em conclave fechado O que o Parlamento decidirá no próximo dia 29
aquilo que só o povo tem o direito de decidir. A é se amplia ou não o espaço da tolerância numa
insinuação da falta de genuinidade democrática sociedade plural como felizmente é a nossa. É se
do Parlamento tem perna curta e história longa. acolhe ou não mais um caminho na luta contra
Percebe-se a intenção de aplicar a lógica televisiva o sofrimento e pela dignidade. Confio que sim.
do Prós e Contras que empurraria para uma visao@visao.pt
www.worldpressphoto.org
Visita solene
Alfredo da Silva (à frente,
à dir., de bigode), recebe
o embaixador dos Estados
Unidos da América, coronel
Birch (à frente, à esq.,
de calças brancas), no
complexo CUF do Barreiro,
em 1918. Atrás de Alfredo
da Silva, com chapéu claro,
vê-se o futuro genro Manuel
de Mello (primeiro à direita)
ARQUIVO MUSEU INDUSTRIAL BAÍA DO TEJO
MARIA FILOMENA
MÓNICA
A
Alfredo da Silva nasceu em Lisboa,
em 1871, numa família abastada da
capital. Em jovem, foi estudar para
França, até que a morte do pai, em
Em 1908, o Barreiro, uma viló-
ria rural da Outra Banda, assistira
à inauguração de uma fábrica de
ácido sulfúrico, a primeira unidade
de um aglomerado que chegou até
aos nossos dias como o símbolo da
CUF. Esta obra, a que inicialmente
estiveram associados Henri Burnay
e Martin Weinstein, acabou por ficar
sobretudo ligada ao nome de Alfre-
do da Silva. A vila cresceu durante a
Primeira Guerra Mundial e nos anos
que imediatamente lhe sucederam.
Em 1917, a CUF empregava dois mil
operários. Treze anos depois, já ali
trabalhavam 16 mil, o que a tornou a
maior empresa da Península Ibérica.
Alfredo da
Silva foi
deputado
franquista,
tendo estado
em Alcântara,
quando,
de pistola
em punho,
Finalmente, na Primavera de 1927, te. Aliás, as ideias de ambos sobre o ções minuciosas no caso de em breve
regressou. Na Assembleia-Geral da futuro do país eram opostas. Alfredo vir a morrer. Declarava que os operá-
CUF, de 21 de Abril desse ano, já estava da Silva desejava instalar as indústrias rios não deveriam fazer um dia de luto
de novo a mandar em toda a gente. por ele consideradas como essenciais, pela sua morte, devendo continuar a
Manuel de Mello, que ganhara alguma Salazar fugia da modernização como trabalhar: “A laboração não deveria
autonomia dentro da empresa, teria, o diabo da cruz. (...) cessar em sinal de luto, mas apenas
a partir de agora, de manter um perfil Em 5 de Agosto de 1942, pouco an- dada tolerância de ponto ao pessoal
baixo. Tinha 32 anos e a vida, pensou, tes de morrer, Alfredo da Silva ainda que o quisesse acompanhar à última
à sua frente. Aliás, o período de crise conseguiu estar presente na reunião morada.” (...)
que o país e o grupo económico atra- do Conselho de Administração da
vessavam aproximou-os. (...) CUF. Preocupava-o a falta de maté- O GENRO MANUEL...
O “Salvador” chegou, em 1928, na rias-primas provocada pela guerra, Apesar do longo estágio que fizera
pessoa de Salazar. O Estado Novo viria uma vez que “não queria que nenhum junto do sogro, era evidente que,
a satisfazer muitas das reivindicações dos seus operários fosse dispensado”. sob a direcção de Manuel de Mello,
dos patrões, do condicionamento Como seria de prever, deixou instru- a CUF iria ser diferente. Este herdara
industrial à legislação que proibia as o motto da família – “Os Mello falam
greves. Alfredo da Silva aplaudiu en- pouco” – pelo que sempre pretendeu
tusiasticamente o novo regime, tendo resolver os conflitos de forma serena.
Como qualquer
até aceitado, em 1934, um lugar na Na família aristocrática (os Sabugosa)
Câmara Corporativa. Consolidado o a que pertencia, os arrebatamentos de
sistema político, passou a dedicar-se, Alfredo da Silva não eram bem vistos.
em exclusivo, aos seus negócios, cada
vez mais prósperos após a aprovação
burguês que se A visão que o sogro tinha do mundo
era burguesa, urbana, industrial; a de
dos decretos relativos à Campanha
do Trigo. prezasse, tinha Manuel de Mello, fidalga, bucólica e
paternalista.
Apesar de apoiar a maior parte
das medidas aprovadas, nem sempre uma amante Alfredo da Silva deixava atrás de si
um império. Não só montara a partir
francesa...
as suas relações com Salazar foram do nada a indústria química como
simples. Ele não apreciava que alguém adquirira, na banca, nos seguros,
interferisse na gestão da CUF e Salazar no comércio colonial, na navegação,
não gostava de quem lhe fizesse fren- na indústria, uma posição invejável.
se estava
construir pela família. Depois de ter Jorge de Mello, então com 27 anos,
frequentado um liceu em Lisboa, o pai pudesse ocupar o lugar de vogal do
decidiu mandá-lo, juntamente com os Conselho de Administração. Cinco
seus outros dois filhos, para a Suíça,
a fim de prosseguirem estudos, mas
disposto anos depois, chegava a vez do irmão
José Manuel. O primeiro ficaria ligado
os resultados de Manuel não foram
brilhantes, tendo acabado por desistir a casar-se aos ramos químicos, o segundo aos
sectores financeiros e de construção
do curso. Em 1915, devido à Primeira
Guerra Mundial, o pai mandou os também e reparação naval. (...)
Por vezes, a interferência do Estado
com a CUF...
filhos regressar ao país e, dois anos no quotidiano das empresas irritava
depois, Manuel era recrutado para aqueles que, em última análise, dela
a tropa. Foi durante este período beneficiavam. Para só citar um caso,
que as duas famílias começaram a veja-se a fúria de Manuel de Mello, e
D.R.
ziu-se a ser procurador na Câmara
Negócio de família Alfredo da Silva, Corporativa e Presidente do Grémio
o fundador, e Jorge de Mello, o seu dos Armadores da Marinha Mercante
neto – dois homens que mudaram e, tal como o sogro, quis deixar uma
a face da indústria em Portugal. marca filantrópica, que se traduziu
Ao lado, uma manifestação na criação do Hospital da CUF, ainda
de trabalhadores da Setenave, hoje em funcionamento, de bairros
nos anos 70. O grupo de Alfredo operários, de escolas, de uma colónia
da Silva sempre foi palco de greves balnear, de farmácias e de creches.
e de contestações, desde os anos 40, Pouco tempo antes de morrer, criaria
quando os trabalhadores começaram
ainda a Fundação Amélia da Silva de
a reivindicar aumentos salariais
Mello, destinada a apoiar projectos
na área da educação e assistência. Em
15 de Outubro de 1966, com 71 anos,
morria, sendo substituído pelo seu
filho mais velho, Jorge de Mello.
Em 1988, tive oportunidade de
falar com ele. (...) Antes da entrevis-
ta, recolhi alguns dados biográficos.
Jorge Augusto Caetano da Silva José
sobretudo de seu filho Jorge, quando, de Mello nascera em Sintra, em 1921,
em Maio de 1954, o então ministro das durante um dos mais agitados perío-
Corporações, Soares da Fonseca, de- dos da República. Com poucos meses
cidiu castigar os operários da fábrica de vida, conheceu o seu primeiro
Sol, uma empresa têxtil que pertencia exílio, quando, ao lado do avô, dei-
à CUF, por terem faltado durante o xou Portugal. Sabe-se pouco sobre
1º de Maio, coisa que a direcção tinha a sua infância e a sua adolescência,
autorizado. Segundo o relato que o excepto que Alfredo da Silva lhe dera
ministro enviou a Salazar, Manuel “uma educação germânica”. Em 1945,
de Mello sentira-se tocado no seu casava-se com Maria Eugénia d’Orey
“prestígio”, enquanto o filho, Jorge, Mendonça e Menezes, filha do 4.º
lhe comunicara que considerava a marquês de Olhão e 3º marquês de
medida “negadora dos seus direitos
de patrão”. Exaltado, este até sugerira
ao ministro que o mandasse para a
Dos afortunados Valada, de quem teve 10 filhos, e de
quem, após o 25 de Abril, se viria a
divorciar, tendo-se casado, em se-
cadeia, enquanto, pelo meio, amea- Dois anos depois de ter publicado gundas núpcias, com Maria do Pilar
çava com o recurso directo a Salazar. Os Pobres, Maria Filomena Salazar de Sousa.
Mas as escaramuças de orgulho ferido Mónica regressa com Os Ricos (...) A certa altura, pedi a Jorge de
depressa passaram. (A Esfera dos Livros, €16,90), Mello que me contasse a forma como a
(...) Nos anos 1960, as actividades a “tribo” que conheceu ainda CUF se tornara o maior grupo econó-
da CUF intensificaram-se, pelo que criança, em Cascais. Trata-se mico português. Fê-lo com exemplar
Manuel de Mello sentiu que era neces- de um livro de biografias em que clareza. Como eram precisos sacos
a socióloga (a primeira mulher
sário reforçar a administração, tendo para os adubos que a empresa produ-
portuguesa a doutorar-se em
decidido convidar alguns membros zia, o grupo lançara-se no ramo têxtil;
Sociologia) escreve sobre várias
da família Sabugosa. O recrutamento famílias, além dos Mello. Dos
como eram necessários barcos para
fez-se com a entrada de José Antó- aristocratas como o 1º duque ir buscar a juta, o grupo carecia de
nio Maria José de Mello, 3º conde do de Palmela ou o conde de Burnay, uma companhia de navegação; como
Cartaxo (irmão mais velho de Manuel passando por industriais como já tinha uma rede comercial montada
de Mello) e dos seus irmãos João Ma- Champalimaud, Américo Amorim para os adubos, o grupo lançou-se na
ria José de Mello e de Diogo José de ou Belmiro de Azevedo e outros produção de sulfato de cobre para as
Mello. Não era a primeira vez que o milionários como Eugénio de vinhas. Numa palavra, num país onde
assunto era abordado. Em tempos, Almeida ou Antónia Ferreira. nada existia, a CUF teve de fazer tudo.
Alfredo da Silva olhara um pedido Nascida em 1943, Maria Em dada altura, disse-me que,
similar com condescendência: “Mande Filomena Mónica é autora antes do 25 de Abril, já existiam na
então vir o primo que é nobre”, disse- de uma vasta obra. CUF comissões de trabalhadores
A PRISÃO
Na madrugada de 25 de Abril, na sua
quinta de Riba Fria, Jorge de Mello re-
cebeu um telefonema de um dirigente
da Legião Portuguesa, avisando-o de
que havia tropa insurrecta na rua.
Interrogado pela mulher, respon-
deu-lhe: “Está tudo perdido, esquece
as nossas casas, esquece a nossa vida,
esquece tudo. O grupo CUF está a ruir a Setenave, os Estaleiros Navais de pensou em usar a pistola que tinha na
nesta noite.” Pouco depois, António Viana do Castelo, a Fisipe, a Sopo- gaveta, mas considerou que seria uma
Serra Lopes, um jovem e brilhante ad- nata, a Companhia de Nacional de estupidez. Já na rua, [o tenente Eduar-
vogado, entrou no seu escritório para Navegação, o Banco Totta & Açores do] Rosário Dias comunicou-lhe irem
lhe mostrar o programa do MFA (Mo- e a Companhia de Seguros Império. para Caxias, o que sossegou Jorge de
vimento das Forças Armadas). Jorge (...) Nos meses seguintes, a vida de Mello, uma vez que chegou a pôr a
de Mello pediu-lhe que lho lesse. Serra Jorge de Mello não seria fácil. Ao hipótese de ir ser fuzilado.
Lopes foi interrompido antes de pas- lado de alguns dos mais importantes Fuzilado não seria, mas foi sujeito
sar à 2ª página, pois o dono da CUF industriais, incluindo o seu irmão a humilhações, tal como a de se ter
estava ansioso por saber a sua opinião. José Manuel de Mello e o cunhado de despir várias vezes. Às 18 horas,
O seu colaborador voltou a ler o ponto 6 António Champalimaud, esteve activo entrava na cela 7, no 2º piso. Na cela
do programa, que dizia: “O Governo na organização de alguns movimen- contígua estavam, desde a véspera,
Provisório lançará os fundamentos de: tos de empresários, como o efémero alguns membros da família Espírito
a) Uma nova política económica, pos- MDS/E38. Sem tradição de activismo, Santo. As celas – pequenas, húmidas
ta ao serviço do Povo Português, em os empresários não souberam organi- e sem condições sanitárias – eram as
particular das camadas da população zar-se, acabando quase tudo em ruínas mesmas onde tinham vivido, duran-
até agora mais desfavorecidas, tendo após o golpe de 11 de Março de 1975. te anos, os prisioneiros políticos do
como preocupação imediata a luta Em 12 de Março de 1975 (...), os mi- Estado Novo. (...)
contra a inflação e a alta excessiva do litares entraram no gabinete de Jorge Seja como for, estas detenções
custo de vida, o que necessariamente de Mello, para o prender. Este ainda não duraram muito tempo. Embora
implicará uma estratégia antimono- o suspense sobre o que lhes poderia
polista.” Eis como o Jorge de Mello acontecer certamente tivesse causado
reagiu: “Não me parece mal.” E logo a insónias aos presos, os dias em Caxias
seguir perguntou-lhe: “Ó Serra Lopes, foram suportáveis. O grupo de gran-
temos algum monopólio no grupo?”
A CUF era, de facto, o maior grupo Jorge de Mello des patrões e banqueiros ali detidos
optou por se distrair com brincadei-
foi preso no
económico nacional, detendo perto de ras infantis, tais como jogos da bata-
180 empresas, responsáveis por cerca lha naval, o Monopólio e a bisca. Em
de 4% da economia portuguesa e por 15 de Março, em nome do Conse-
quase 50 mil postos de trabalho. Em
rigor, não era um monopólio, mas era
ano de 1975 em lho da Revolução, o almirante Rosa
Coutinho ordenou a “libertação ime-
assim que era visto e, como tal, um
alvo a abater. Na altura, o grupo alar- Caxias e sujeito diata” de Jorge de Mello e de outros
seis presos ligados ao Banco Espíri-
gara a sua presença a Moçambique,
Angola, São Tomé e Guiné-Bissau.
No leque das empresas contava-se
a humilhações to Santo. A isto não terá sido alheia
a intervenção de José Manuel de
Mello, quer junto do Presidente da
a Compal, a Tabaqueira, a Lisnave, República, marechal Costa Gomes,
Foi ao som da
quer junto das embaixadas brasilei- tactos internacionais para formar
ra e francesa. O Presidente Giscard uma sociedade destinada a canalizar
d’Estaing – que gostava de caçar os investimentos estrangeiros para
em Portugal – enviou mesmo um
ultimatum a Vasco Gonçalves: “Se
“Internacional” Portugal, a MHW, em colaboração
com os ingleses da Hambros e os
Jorge de Mello não for libertado
rapidamente, a França tomará as que os manos franceses da Worm. Começou por
investir o dinheiro que recebera das
devidas opções.”
Mello entraram indemnizações (cujo pagamento se
iria prolongar por 28 anos, à taxa de
na fábrica Sol...
RENASCER 2,5% ao ano), nas áreas alimentares, na
No Verão de 1975, após a tomada de metalomecânica ligeira e em compo-
posse do V Governo por Vasco Gon- nentes para automóveis. Dedicou-se
çalves, o bispo de Braga incitou os ainda a negócios na área do azeite e
povos à rebelião, pelo que ocorreram dos óleos alimentares, com uma das
motins no Norte, tendo sido queima- mais fortes marcas portuguesas, o
das sedes do PCP. Muitos pensaram azeite Oliveira da Serra. Finalmente, a
estar o país à beira de uma guerra civil. Nutrinveste ressuscitou em força, com
Em 12 de Agosto, a Comissão Unitária depois, Jorge de Mello seguia para o negócios em cinco países. (...)
dos Trabalhadores da CUF reunia-se, exílio. Como disse numa entrevista, Ao longo das décadas, Alfredo da
na fábrica Sol, com delegados sindi- “andei por aí” – viveria em Espanha, na Silva e os Mello souberam criar uma
cais do grupo, tendo decidido “averi- Suíça e no Brasil – durante alguns anos. “cultura CUF”. Ser ali engenheiro era
guar as informações, segundo as quais A situação, dele e do irmão, era caricata. quase um diploma. É verdade que
constava que o Dr. Jorge de Mello e o As Forças Armadas determinaram que estavam ligados ao regime e que, em
Sr. José Manuel de Mello teriam fugi- nunca poderiam sair os dois ao mesmo várias ocasiões, utilizaram formas
do do país”. Pelo meio, a Comissão de tempo: um tinha de ficar “sequestrado” de repressão duríssimas sobre os
Trabalhadores informava a secretária no país. Em 1981, quando lhe pareceu grevistas, mas isto não exclui a outra
de Jorge de Mello que ou este se apre- que se voltara “a reconhecer, na socie- face da moeda, ou seja, que os Mello
sentava na CUF ou “o povo” tomaria dade e na política, o papel indispensável faziam parte de um tipo de empresa-
as fábricas de assalto. Foi ao som da dos empresários privados”, regressou. riado raro em Portugal. Um operário
Internacional que os manos Mello Queria começar tudo de novo. que ali tivesse emprego sabia que era
entraram na fábrica Sol. Devem ter O relançamento empresarial foi feito melhor trabalhar na CUF – onde ha-
sido momentos desagradáveis, mas, na base de financiamentos bancários via creches, escolas e hospitais – do
quando com ele falei, nunca Jorge de e com o produto da venda da casa que na maioria das outras empresas.
Mello se exaltou ao contar-me o que onde nascera, a Quinta da Riba Fria, Mais do que o pai, Jorge de Mello
se passara. (...) e de uma grande herdade, a do Peral, herdou do avô a vontade de deixar
Após alguns meses de agitação la- que possuía no Alentejo. No campo obra feita. (...) visao@visao.pt
boral, a CUF foi nacionalizada. Pouco financeiro, aproveitou os seus con- Título e subtítulos da responsabilidade da VISÃO
DISTRIBUIÇÃO RETALHISTA
Com a compra, no início de 2015, do
Grupo Barreiros Faria, detentor de uma
quota de 40% no mercado de retalho nas
áreas de perfumaria e cosmética, o grupo
Arié ganhou acesso a cerca de 150 lojas
próprias que, hoje, ostentam a designação
de Perfumes & Companhia
FOTO: HIPERSUPER
Cascais, decidiram conversar para avaliar a reservados e não pretendem mudar. Não são
possibilidade de se juntarem. frequentadores de festas e não gostam de ser
Naqueles tempos em que debatiam ideias fotografados.
com o futuro sócio, “nunca pensaram” que o Vivem assim, discretamente, desde peque-
plano de restauração viesse a assumir a di- nos. Renato e os irmãos, Charles e Jacqueli-
mensão e o mediatismo que tem atualmente, ne, herdaram um já considerável negócio de
admite Renato Arié. “Mas desde aí que a ideia família, criado pelo pai Roudolph Arié, um
é ter um projeto consistente. E, por isso, os NO INÍCIO NINGUÉM negociante judeu que, durante o Estado Novo,
passos dados foram sempre conscientes”, trouxe para Portugal os cremes de uma das
garante. Assim, tempos depois, nesse mesmo IMAGINAVA A marcas mais luxuosas do mundo, a Harriet
ano de 2010, a família entrou para a empresa DIMENSÃO QUE Hubbard Ayer.
José Avillez. E, em 2011, abriram o primeiro
restaurante em conjunto – o Cantinho do O PROJETO COM PAIS APAIXONARAM-SE EM PARIS
Avillez, no movimentado bairro do Chiado, O JOSÉ AVILLEZ VIRIA Roudolph veio para Portugal por amor. Corria
em Lisboa. o ano de 1954 quando chegou a Lisboa, para
Hoje, têm dificuldade em saber de cor os A TER. MAS, DESDE se casar com Eva Jablonsky, uma rapariga de
locais que exploram em conjunto. Este ano, SEMPRE, TIVEMOS origem polaca que vivia na capital portuguesa
chegaram às duas dezenas, com a inauguração com os pais desde os seis anos. A família dela
de um novo espaço, na zona do Parque das A VISÃO DE CRIAR tinha emigrado e instalara-se em Lisboa em
Nações, em Lisboa. Nestes nove anos de par- UMA MARCA FORTE 1936, onde lançou um pequeno negócio de
ceria, a família que investiu no talento de José malhas. Numa viagem a França, Roudolph e
Avillez decidiu ficar sempre nos bastidores. E DE REFERÊNCIA”, Eva conheceram-se e apaixonaram-se.
Nem Renato nem a mãe nem os irmãos AFIRMA RENATO ARIÉ Ele, nascido em Sofia em 1915, pertencia a
gostam de aparecer. São extremamente dis- uma família búlgara com jeito para o negó-
cretos, e esta é a primeira vez que aceitam cio. Na Bulgária, os seus pais tinham uma fá-
falar abertamente sobre o assunto. “O que brica de produtos de higiene e exportavam a
temos de valorizar são as nossas marcas”, rosa da Bulgária – também conhecida como
sublinha Renato, contando que o lema dos rosa-damascena, uma fragrância que se diz
Arié foi sempre o de centrar “o estrelato nas ter múltiplas propriedades terapêuticas
marcas e não na família”. Assumem ser muito para a pele. Roudolph estudou Engenharia
Raquel
Neta
Rafael
Neto
David Arié
Neto
Responsável pela área digital
e de desenvolvimento de negócio
na Perfumes & Companhia
Alexandre Arié
Neto Ana Arié
Neta
Filha de Charles e Helena Arié. Estudou
Hotelaria e trabalhou na Quinta das
Lágrimas, em Coimbra, gerindo o
catering. Foi ela quem levou a família a
juntar-se a José Avillez e a apostar na
restauração. Casou-se com um jovem
católico e tem três filhos
17 MAIO 2018 VISÃO 53
Expansão O chefe no Bairro
do Avillez, no Chiado, um dos
17 restaurantes que tem em
parceria com a família Arié
O menino de ouro
À aptidão para a gestão de José Avillez aliou-se
a capacidade de investimento da família Arié
de total confiança”
de vir a liderar a firma de perfumes da fa-
mília. Porém, acabou por ir trabalhar para
Israel, onde passou por várias empresas,
incluindo a Revlon.
Como se movimentava bem na área dos
O chefe com duas Estrelas Michelin fala da parceria perfumes e cosméticos, logo que chegou a
que tem com os Arié e explica como, no dia a dia, Portugal, em 1954, conseguiu obter a repre-
trabalha com a família
sentação da marca Harriet Hubbard Ayer.
“Ele começou por trazer a marca de produtos
cosméticos, abriu logo um instituto de bele-
Como nasceu esta sua “união” za, com um cabeleireiro e depois até teve um
com a família Arié? ginásio”, lembra Renato.
A relação com a família Arié teve início em 2010. Em 1964, o patriarca Roudolph inaugurou
No começo desse ano, foi-me pedido que reunisse a boutique Ayer, que se tornou um ponto
com Charles Arié e com Ana Arié para falarmos sobre de encontro da alta sociedade portuguesa.
um projeto de consultoria. Na altura, Ana Arié queria Funcionou inicialmente na Rua Manuel Je-
abrir uma empresa de catering para escritórios e sus Coelho, em Lisboa, mas, em 1995, a loja
gostava de contar comigo para construir o projeto. de alta-costura passou para a requintada
Dessa reunião, nasceu a ideia de fazermos uma Avenida da Liberdade. No estabelecimento
sociedade para uma empresa de catering e take away. vendiam-se as mais conceituadas marcas do
E assim surgiu a participação da família Arié na JA mundo da moda e este era frequentado pelas
Cooking, empresa da qual eu já era sócio e que, mais mulheres mais ricas do País. Eva Arié viajava
tarde, se transformaria no Grupo José Avillez. várias vezes ao ano para visitar os melhores
Quem, da família, acompanha mais o dia a dia salões de moda de Paris e de Milão. Chegou
do seu grupo e como é essa relação? a ser notícia no jornal International Herald
É uma relação próxima e de total confiança. Estamos Tribune, onde se contava que, naqueles paí-
sempre em contacto. A família Arié participa na ses, a matriarca dos Arié costumava comprar
administração do Grupo José Avillez e recebe padrões para depois reproduzi-los em Por-
informações diárias. tugal. Foram anos de muito sucesso para o
O que preza mais na família Arié casal judeu.
e na forma discreta como os seus membros Pelo meio, Roudolph e a mulher, que ti-
atuam na vida e nos negócios? nham 15 anos de diferença de idade, ainda
A forma discreta com que atua, a total confiança abriram um health center, na Rua Rodrigues
que têm em mim e na minha equipa, o entusiasmo Sampaio, também em Lisboa, que mais tarde
e o permanente incentivo. acabou por fechar.
Algum dos seus pratos tem a “mão”
de alguém da família? Uma sugestão, um O MISTÉRIO DOS NOMES FRANCESES
ingrediente, uma história, uma viagem… Ao mesmo tempo que o negócio ia crescendo,
Poderia ter, mas isso ainda não aconteceu... a família foi aumentando. Em 1955, nasceu
LUÍS BARRA
LUÍS BARRA
nomes franceses aos descendentes por ser netos do fundador à empresa, surgiria uma
essa a língua em que falavam quando se co- nova revolução no património da família. Ana
nheceram em Paris. Arié, filha de Charles, acaba por empurrar o
Aos poucos, a empresa foi ganhando terre- pai e os tios para o seu sonho de investir na
no no mercado da perfumaria e da cosmética. área da restauração. Tinha um projeto em
Jacqueline, que se formou em Arquitetura, foi mente que queria pôr em prática. Foi assim
para a Suíça estudar, e Charles partiu para o que o caminho do então jovem José Avillez e
Brasil. Renato permaneceu junto dos pais. E, da família Arié se cruzaram.
à medida que se iam formando e concluindo Desde 2011 que têm negócios juntos, mas só
os cursos, foram integrando e participando o chefe costuma dar a cara. Os sócios têm
ativamente nos negócios familiares. Acaba- O QUE MAIS PREZO preferido manter-se discretos e fazem ques-
ram por ser eles a causar a primeira grande tão de garantir que pouco se sabe sobre eles.
mudança no mundo empresarial dos Arié. NA FAMÍLIA ARIÉ É “É uma forma de estar na vida”, explicam.
“A nova geração veio alargar a área de A FORMA DISCRETA Quem os conhece garante que são das fa-
negócios que existia”, descreve Renato Arié, mílias mais reservadas que existem no País.
falando dos anos 80, quando a família apos- COM QUE ATUA, A Vivem em boas casas, uns em Lisboa, outros
tou na Stefanel – a marca de roupa que eles TOTAL CONFIANÇA em Cascais, mas não gostam de exibir grandes
ainda mantêm e que foi criada em Itália, no luxos, como barcos e outras extravagâncias.
ano de 1959, por Carlo Stefanel. QUE TEM EM MIM Têm por hábito reunir-se em família, e Eva, a
Nessa época, começaram também a co- E NA MINHA EQUIPA, viúva de Roudolph, ainda é vista como a ma-
mercializar marcas de lingerie como a DIM, triarca que não perdeu a tentação de mandar
entre outras, e a expandir cada vez mais o O ENTUSIASMO em todos. Ela e a filha Jacqueline, que não tem
grupo para a área têxtil. Jacqueline dedicava- E O PERMANENTE descendência, gostam de jogar bridge com as
-se em grande parte à Ayer, sendo conhecida amigas. Já os homens assumem claramente o
por todas as clientes. Já os irmãos seguiram INCENTIVO”, CONTA controlo do dia a dia do Grupo Arié.
de perto a gestão de todos os negócios. JOSÉ AVILLEZ Este integra uma empresa de distribuição (a
Roudolph SA) – através da qual o clã detém a
NETOS FAZEM REVOLUÇÃO exclusividade de várias das melhores marcas
Em 2002, os três irmãos perdem o pai. de cosméticos e de perfumes do mundo – e
O patriarca morre aos 87 anos, deixando um outra de retalho (a P&C – Perfumes & Com-
império bem montado em Portugal. Porém, panhia SA), através da qual são donos de 150
tempos depois, em 2004, conta Renato, co- lojas. Além disso, os Arié têm participação em
meçou a dar-se um desinvestimento do grupo várias outras áreas de atividade, por meio de
na área têxtil e um reforço nas perfumarias e empresas detidas pelo grupo – como sucede
cosméticos. Foi, de certa forma, um regresso na parceria com José Avillez.
às origens. No entanto, com a chegada dos Muitos dos familiares trabalham na empre-
1987
Família abre a primeira
loja Stefanel, marca que
Roudolph e Eva Na boutique Ayer, hoje ainda representa em
na Avenida da Liberdade Portugal
1995
Boutique Ayer muda-se
para uma localização
nobre: a Avenida da
Liberdade, em Lisboa
sa. Na topo da hierarquia da holding está qual Ana Arié integra o conselho de adminis-
Jacqueline e os dois irmãos. Depois, nas vá- 2010 tração e tem, desde o início, um papel ativo.
rias unidades operacionais, surgem outros Participação na empresa Estão todos a par, diariamente, dos valores de
de catering de José
familiares, como Susana Ruah, casada com Avillez, dando assim faturação de cada um dos restaurantes, conta
Renato, e David Leote Arié, filho de Charles início a um novo ramo Renato, e acompanham a gestão dos vários
e de Helena Arié. Nenhum deles leva para de investimento, o da estabelecimentos. Gostam de frequentar os
casa ordenados milionários, conta quem os restauração espaços. “Há uns Arié mais gourmets do que
conhece, nem são gastadores. Vão trabalhar outros”, brincam. Por vezes, levam os amigos
todos os dias e costumam encontrar-se na 2015
para jantar nos restaurantes, e é habitual
atual sede da empresa, na Rua Mouzinho Compra do Grupo ouvirem elogios, principalmente de quem
da Silveira, onde definem ao pormenor os Barreiros Faria, com uma vem do estrangeiro. “O restaurante Páteo é
passos a dar. quota de mercado de 40% o que mais impressiona pela sua dimensão”,
Juntos decidiram avançar para um dos na área da perfumaria e revela Renato, falando do espaço que se situa
negócios mais importantes dos últimos anos: cosmética. Hoje, todas na Rua Nova da Trindade.
as 150 lojas ostentam a
a compra da totalidade das sociedades que designação Perfumes & Em breve, os Arié preparam-se para investir
integram o Grupo Barreiros Faria. “A aquisi- Companhia na cidade do Porto. Estão em negociações
ção da Perfumes & Companhia foi um grande com o empresário Vasco Mourão, dono de
marco, pois são 150 lojas”, admite o filho mais restaurantes como o Cafeína, o Terra, o
novo do fundador do Grupo Arié. Em 2015, a 2017 Portarossa e a Casa Vasco. Os Arié assumem
Compra do grupo de
dimensão do negócio obrigou a uma tomada restaurantes Doca de que há vontade de investir, mas garantem
de posição da Autoridade da Concorrência. Santo, a partir do qual que a parceria passará sempre por incluir
Os Arié já tinham a distribuição grossista criou o atual Grupo no negócio o próprio Vasco Mourão – um
de marcas de cosmética (Ayer, Carita, Juve- Capricciosa empresário da Foz do Porto que também
na, La Prairie, Marlies Möller e Valmont) e de se assume como uma pessoa low-profile e
perfumes (Bvlgari, Elie Saab, Fendi, Givenchy, que conta com a admiração de José Avillez.
Hermès, Issey Miake, Jean-Paul Gaultier, “É quase uma condição o Vasco manter-se
Kenzo, Lolita Lempicka e Narciso Rodriguez) na gestão e na constituição do projeto para
e, com esta operação que acabou por ter a que isto avance”, adianta Renato. O negócio
luz verde da Autoridade da Concorrência, está ainda a ser feito em segredo.
ficaram também com o comércio de retalho, Apesar de o império ser já grande, a famí-
ou seja, as lojas. lia promete não ficar por aqui. Está apenas
à espera de encontrar o melhor parceiro do
NOVOS NEGÓCIOS PARA BREVE NO PORTO mundo em outras áreas, tal como acon-
Apesar de se dedicarem a variadas áreas, teceu ao descobrirem o chefe que acabou
Renato e Charles fazem questão de seguir de por tirá-los do secretismo onde viviam.
perto os negócios do grupo José Avillez, no cguerreiro@visao.pt *Com Clara Teixeira e Sara Belo Luís
CHARME MAGAZINESCO
Em 2016, por ocasião
do seu 90º aniversário,
a rainha deixou que a
fotógrafa americana
Anne Leibovitz lhe
tirasse vários retratos e
foi capa da revista Vanity
Fair. Uma operação de
relações públicas sem
precedentes
PALAVRA DE RAINHA
“A monarquia é uma instituição que sabe
que tem de mudar para sobreviver, criando ESTRELA TELEVISIVA
a ilusão de que é imutável”, considera Cathe- No mesmo ano, a Netflix
rine Mayer, autora da biografia do príncipe estreou a série The
Carlos The Heart of a King (não editada em Crown e o sucesso foi
Portugal). Isabel II tem-no feito habilmente imediato – incluindo
desde o período da sua coroação, em 1952. um Globo de Ouro para
Esse momento solene, reservado até então Claire Foy, a atriz que faz
aos olhares de alguns eleitos, foi o primeiro a de Isabel II. O primeiro
episódio da segunda
ser filmado e transmitido para todo o mun-
temporada (estão
do, permitindo ao povo – mesmo que iluso-
previstas seis) arranca
riamente – a sensação de proximidade com com imagens de Setúbal,
a monarca, numa ocasião tão marcante. Nos alusivas à passagem da
anos seguintes, Isabel II instituiu comunica- rainha por Portugal,
ções regulares com os seus súbditos através em 1957
dos serviços de rádio e televisão da BBC e,
em 1969, aceitou participar num documen-
tário destinado a revelar alguns detalhes do
seu quotidiano e da intimidade da família
real. Contudo, consciente da artificialidade “NÃO SE DIZ A UMA SOBERANA
desse registo, o Palácio de Buckingham não
voltou a permitir a sua exibição. DE 92 ANOS O QUE DEVE
“Não há diferença entre uma multina-
cional e a família real. As exigências para FAZER. ELA É MAIS EFICAZ
construir e preservar a reputação da sua
marca são as mesmas – uma estratégia de
DO QUE QUALQUER OUTRO
símbolos, êxitos comerciais, líderes e uma
conexão de qualidade no mundo”, garante
COMUNICADOR”, AVISA ROBERT
John Mahony, diretor da agência Reputatio- LACEY, BIÓGRAFO DA RAINHA
70 VISÃO 17 MAIO 2018
Rainha ao volante Isabel II num
passeio de automóvel com os seus
dois filhos mais velhos, Carlos
e Ana, em 1957, perante o olhar
atento dos transeuntes de Windsor
“Se um homem
falhar em
conciliar a justiça
com a liberdade,
falhará em tudo”
Albert Camus
Escritor francês
de origem argelina
(1913-1960)
T
nem todos os balanços são positivos
uma estratégia
ta confiança na procuradora-geral da
República (PGR).” A ex-bastonária da
Ordem dos Advogados faz um balanço
positivo do mandato de Joana Marques
Vidal e deixou transparecer que apoia a
sua eventual recondução ao cargo. Uma
posição que Rui Rio ainda não revelou
–e está a funcionar?
se apoia mas que, ao que tudo indica,
não será tão clara quanto a da sua vice.
O ex-autarca do Porto, sempre que
confrontado com o tema, tem adiado a
revelar a sua posição. Num debate com
Pedro Santana Lopes, na altura das au-
tárquicas, deixou mesmo escapar que o
balanço que faz da atuação da PGR “não
Um primeiro mês turbulento, é positivo”.
um segundo de consensos, um terceiro Enquanto esta frase continua a ecoar
ao ataque. A oposição que parecia no silêncio que o líder laranja se autoim-
adormecida está, afinal, a marcar pôs sobre o tema, o partido parece remar
todo no mesmo sentido: o do apoio à re-
a agenda. “Temas como o de Sócrates condução de Joana Marques Vidal. Além
não são para largar.” Enquanto assim for, da tomada de posição de Elina Fraga, um
JOSÉ CARLOS CARVALHO
Rio estará mais perto da paz interna. conjunto de cinco deputados sociais-
-democratas – António Leitão Amaro,
Mas ainda há telhados de vidro Duarte Marques, Hugo Soares, Marga-
rida Balseiro Lopes e Miguel Morgado
JOSÉ PEDRO MOZOS –, assinou na passada sexta-feira, 11,
MARCOS BORGA
sem se concertar primeiro com Rui Rio”,
afirma à VISÃO António Leitão Amaro.
O vice-presidente da bancada parlamen-
tar lê assim nas entrelinhas das palavras Mais um mandato Grande parte do PSD defende a recondução
da ex-bastonária aquela que, entende, de Joana Marques Vidal na PGR. Rio tem mantido o silêncio. O que fará?
acabará por ser a posição que o presi-
dente do partido vai adotar. O social-democrata foi um dos que, na popular. A oposição e as tomadas de
No entanto, o sentimento que paira reunião da bancada, mais apoiaram a in- posição mais importantes são “obvia-
noutras paragens da mesma bancada é tervenção de Fernando Negrão no último mente combinadas”, explica à VISÃO
outro, mais cético. “O discurso de al- debate quinzenal – que se centrou na o presidente do grupo parlamentar do
guns membros da direção do PSD sobre leitura política da investigação a José Só- PSD. Além de se cruzarem nas reuniões
o Ministério Público não faz parte do crates – e que defenderam a recondução da Comissão Permanente e da Comissão
património do nosso partido”, come- de Joana Marques Vidal na PGR. À seme- Política Nacional, Fernando Negrão e Rui
ça por dizer Paula Teixeira da Cruz. lhança de António Leitão Amaro, Duarte Rio concertam posições de modo a defi-
À VISÃO, a ex-ministra da Justiça revela Marques acredita que o líder laranja possa nir os temas que são abordados em cada
estar “expectante” em relação à posição vir a apoiar a posição que ambos defendem. momento. O primeiro exemplo dessa
que o partido vai assumir neste caso, consonância é apontado pelo próprio
mas não esquece “as posições de alguns A ESTRATÉGIA DE RIO FUNCIONA? líder parlamentar. Aconteceu no debate
dirigentes sobre o segredo de justiça, a A recuperar do “estado de desgraça” quinzenal no qual se estreou nas novas
delação premiada e o Ministério Públi- com que começou a liderar a bancada funções e em que o tema eleito foi o da
co”. E acrescenta: “Com esse discurso, parlamentar do PSD, Fernando Negrão entrada da Santa Casa da Misericórdia
o PSD aproxima-se daquilo que foi a tem conseguido reunir cada vez mais no Montepio. O tema “foi escolhido
tentativa de condicionamento do poder consensos entre os deputados. Através pelos dois”, assegura. A polémica fazia
judicial na era Sócrates.” Por isso, para a da sua liderança, tem levado as causas correr tinta nos jornais dos dias seguin-
deputada, só há uma análise que se pode do partido a debate, enquanto Rui Rio tes, mas no círculo próximo de Rui Rio
fazer não só da atuação da direção neste vai estando no terreno, no contacto já se preparava a próxima estocada no
caso mas também, e principalmente, dos
três meses que Rui Rio leva à frente do Margarida
partido: “Uma análise de preocupação.” Balseiro Hugo
Soares
Menos cética é a leitura que o deputa- Miguel Lopes António
do Duarte Marques faz. “Era importante Morgado Duarte Leitão
que Rui Rio tivesse iniciado a liderança Marques Amaro
de outra maneira e mostrado o rumo Os cinco
que queria seguir mais cedo, mas acho Deputados
que o balanço que se pode fazer destes do PSD assinaram
primeiros três meses é positivo.” Afinal artigo conjunto
de contas, e apesar de ter demorado, em que defendem
“o partido já percebeu a estratégia de Rui recondução
Rio e é mais fácil concordar com ele.” da PGR
1
“NÃO SE PODE LARGAR SÓCRATES”
Seguiu-se o pedido para que se divulgas- O Congresso do PS tem na agen- Justiça, que tem de ser independente
sem os nomes dos principais devedores da, por via da moção de António e soberana na sua área de ação/juris-
da Caixa Geral de Depósitos e depois Costa, alguns temas de fundo re- dição; “à política o que é da política”
deram-se as reações à investigação a levantes. Ainda bem. São temas quer dizer que, sem interferir com a
Manuel Pinho. O primeiro a falar foi Rui não conjunturais nem polémicos, Justiça, os factos e comportamen-
Rio. Em catadupa, começaram a reagir os sobre os quais será fácil obter con- tos nesta apurados e julgados são
restantes partidos, incluindo o próprio sensos. E compreende-se que embora suscetíveis de – ou mesmo impõem
PS, que se viu obrigado a falar pela pri- muito importantes não estejam em – um juízo de valoração política, ou
meira vez das suspeitas que recaem não pauta temas quentes e no imediato ético/política.
apenas sobre Pinho mas também sobre complexos – das reformas do sistema
3
José Sócrates – tendo o caso terminado político à luta contra a corrupção. Isto Ainda em sede de Justiça, volta
com o divórcio entre o ex-primeiro- não exclui, porém, que nele se fale da à ribalta a recondução ou não da
-ministro e os socialistas. Entretanto, necessidade de aprofundar o combate procuradora-geral da República.
Rui Rio continuava no terreno, a visitar à corrupção e de ao serem escolhidos Tema ainda fora de prazo, por isso
tanto faculdades como centros de saúde, os titulares de cargos públicos ter na Marcelo ter dito, e bem, semanas
e ainda os locais afetados pelos incên- devida conta os seus perfis e percursos, atrás, que era um “não assunto”. Po-
dios no ano passado. Mas ia mantendo mormente as ligações a grandes grupos rém, após uma interpretação errada
o contacto com Fernando Negrão, fosse e interesses, sobretudo económicos. e uma declaração infeliz da ministra
diretamente fosse através de David Jus- Mais, do Congresso deveria sair uma da Justiça, dirigentes e comentado-
tino, vice-presidente do partido, homem tomada de posição nesse res afetos à anterior
de confiança de Rio e coordenador do sentido. Ou pelo menos o maioria começaram a
Conselho Estratégico Nacional, que tem secretário-geral tomá-la, Não é justa pugnar pela sua recon-
passado muito tempo no Parlamento. com veemência, na sua para Joana dução, e a dizer que o
Entre os três, havia uma ideia clara: no intervenção de encerra- Marques Vidal Governo a ela se opu-
debate quinzenal seguinte não se podia mento. nha, insinuando às ve-
largar o tema Sócrates. E assim foi. Os e só a pode zes que devido ao pro-
2
deputados gostaram do que viram e Creio, aliás, que face prejudicar cesso contra Sócrates.
identificaram-se com a estratégia deli- aos casos de José como Há muito conhecen-
neada pela tríade riista. Rui Rio parece Sócrates e Manuel do e respeitando Joana
ter encontrado nos pecados do governo Pinho o discurso mais
procuradora- Marques Vidal (JMV)
Sócrates o calcanhar de Aquiles do atual. adequado do PS, na boa -geral da considero lamentável,
“Temas como os de Sócrates não se po- fase que vive, não é in- República a além do mais, que o ní-
dem largar”, desabafa Duarte Marques. vocar um passado ima- atual espécie tido objetivo (também?)
Tudo estaria a correr bem se não fos- culado que não existe, político dessa espécie
sem os pequenos desentendimentos que nem nele nem nos ou- de campanha de campanha possa le-
continuam a surgir no PSD. Além da re- tros partidos que foram a favor da sua var a identificá-la com
condução da PGR, existem posições opos- poder, ou limitar-se a recondução o setor político dos que
tas dentro do próprio partido sobre ou- repetir “à Justiça o que a promovem. O que não
tros temas, como a demissão do ministro é da Justiça, à política o é justo para JMV e só
da Saúde – pedida por um deputado, mas que é da política”. É vergonhoso insi- pode prejudicar a posição e ação da
desautorizada pelo próprio presidente nuar o que quer que seja em relação procuradora-geral – como a prejudi-
do partido – ou o enriquecimento ilícito. a membros do Governo de Costa por caria por igual se o setor fosse outro.
A nova fórmula demorou a ser entendida também o terem sido de Sócrates, ou Com o peso destas sombras, valha-nos
no PSD e, para muitos, a sua afirmação foi querer que eles soubessem o que não ao menos a sensatez de Rui Rio ao não
lenta demais. É hoje certamente mais fácil poderiam saber. E Costa, ele próprio, se pronunciar a esse respeito, o que
de entender do que era no início, mas ainda até como ministro fez o que nenhum levou um jornal com responsabilida-
há no seio do PSD muita expectativa – assim outro terá feito contra a corrupção. des a titular que ele “mantém o tabu”
como arestas por limar. Entre os militantes Isto dito, todos os que defendem sobre aquela recondução! Tabu? De
há de tudo: quem se tenha convertido, quem o Estado de Direito sabem como é resto, após Marcelo não ter respon-
pareça conformado, quem esteja expec- essencial o que se contém naquele dido sim ou não à pergunta, absurda
tante e quem não goste do que vê. Para o brocardo. Que, no entanto, tem dois a mais de dois anos de prazo, sobre
bem e para o mal, parece estar encontra- sentidos: “à Justiça o que é da Justiça” se iria recandidatar-se, já vi também
do o caminho que Rio quer seguir para quer dizer que a política não pode o título “Presidente mantém o tabu”...
tentar roubar o lugar a António Costa. substituir-se à, nem influenciar a, Assim vamos. visao@visao.pt
jpmozos@visao.pt
O estranho caso
do sobe e desce
dos impostos
A carga fiscal aumentou, mas as medidas
de Mário Centeno aliviaram os impostos.
Confuso? Os detetives do Banco
de Portugal tentam explicar
O
NUNO AGUIAR
perdão fiscal). Nessa ótica, verifica-se reembolsos caíram em rácio do PIB ten- perspetiva. As medidas contribuíram
que a carga fiscal deu dois grandes sal- dencial e o Banco de Portugal reconhece para descer a carga fiscal estrutural em
tos nas últimas duas décadas, em 2011 também problemas de ajustamento e de 0,2 pontos do PIB, entre 2015 e 2017. Por
e, principalmente, em 2013. O “enorme estimativa em alguns indicadores. comparação, o aumento de impostos de
aumento de impostos” de Vítor Gaspar Mesmo sem aprofundar mais os de- Gaspar aumentou-a 1,79 pontos, seguin-
trouxe subidas de IRS, IRC, IMI e im- talhes técnicos, podemos concluir que do-se mais dois anos de iniciativas que
posto de selo, levando a receita fiscal em dois anos a atuação agregada do Go- subiram os impostos. A melhoria dos
estrutural a saltar de 34,8% para 37,2% verno aliviou as famílias e as empresas. últimos dois anos representa menos
do PIB. Uma descida significativa só che- Contudo, é importante colocá-la em de 10% do agravamento dos três anos
garia em 2016, mas foi quase totalmente anteriores (embora 2018 possa trazer
revertida no ano passado. um maior alívio com a mudança dos
Mas se a investigação confere um escalões de IRS).
álibi ao Governo, quem é o culpado? Há Além disso, embora a atuação do
sempre quatro suspeitos para a evolu- Governo não tenha aumentado a carga
ção da receita estrutural: as já referidas fiscal, a sua inação pode ser responsa-
medidas permanentes de política fiscal; bilizada. Mesmo que a receita esteja a
a variação automática da receita devido crescer porque o emprego e a economia
à elasticidade orçamental; a discrepân- estão a recuperar mais depressa do que
cia entre a base macroeconómica da se previa, o Executivo podia sempre des-
economia portuguesa e a evolução do
PIB; e o “resíduo” (onde estão todas as “NÃO HOUVE cer ainda mais os impostos, de forma a
deixar a economia respirar mais. É uma
explicações que não as anteriores).
O agravamento de 2017 foi essencial-
AUMENTO escolha política não o fazer e é também
conveniente numa altura em que Mário
mente provocado pelo “resíduo”, a tal
fatia que não faz parte das outras cate-
DO ESFORÇO FISCAL” Centeno e António Costa ainda acham
que é decisivo carregar no pedal do
gorias. Porquê? No IRC, por exemplo, os DIZ MÁRIO CENTENO ajustamento orçamental. naguiar@exame.pt
S
PAT R Í C I A F O N S E C A
FINLÂNDIA
de uma jovem indiana que estudava O direito à interrupção voluntária da gravidez está consagrado na lei de
medicina dentária no país. Entrara no quase todos os países europeus. A Irlanda subsiste como um dos últimos
hospital grávida de 17 semanas, com bastiões proibicionistas, prevendo 14 anos de prisão pelo crime de aborto
sinais de um aborto espontâneo. Não
havia forma de manter a gravidez, disse- Proibido ou permitido apenas em último Realizado apenas nalgumas circunstâncias,
ram-lhe. Mas também não podiam fazer recurso, quando há risco de vida para por indicação médica ou legal (Polónia,
qualquer intervenção médica para lhe a mãe (Irlanda, Malta, Andorra, São Marino) Irlanda do Norte, Mónaco, Liechtenstein)
salvar a vida porque o feto ainda revelava
batimento cardíaco. A jovem acabou por Lei permissiva, embora não contemple a livre
morrer uma semana depois, com uma escolha da mulher (Reino Unido – exceto na Permitido a pedido da mulher
infeção generalizada. Irlanda do Norte –, Finlândia, Chipre e Islândia)
Mais de 20 mil pessoas juntaram-
-se nessa noite à porta do hospital de
Galway, com velas na mão. As manifes- ficam reféns das parteiras clandesti- Kitty Holland, jornalista do Irish Times,
tações estenderam-se a toda a República, nas na Irlanda, ou compram pílulas não se atreve a dar como certa a vitória
com mulheres empunhando cartazes abortivas através da internet, com to- do “Sim” no referendo, apesar de notar
que não defendiam o “Sim” ou o “Não” dos os riscos de saúde associados. Em uma “grande mudança” na forma como
– pediam apenas “Nunca mais”. caso de complicações, acabam entre o assunto está a ser debatido publica-
a vida e a morte nos mesmos locais sem mente. Na hora de votar poderá haver
O FIM DAS VIAGENS A INGLATERRA? condições médicas, porque uma ida às surpresas, escreveu esta semana no The
A oitava emenda foi inscrita na Cons- urgências pode implicar uma denúncia Guardian. “Aqueles que se dizem contra
tituição em 1983, após aprovação em que as atira para a prisão. a revogação da oitava emenda expres-
referendo (67% dos votos). Desde então, Este tema subsiste como o último sam preocupações sobre o fim de uma
multiplicou-se o número de mulheres tabu da sociedade irlandesa, que aprovou Irlanda que sempre valorizou a família
a procurar Inglaterra para abortar: os o casamento entre pessoas do mesmo e os filhos, uma Irlanda construída em
dados oficiais britânicos referenciam sexo em 2015 e, em junho do ano pas- torno da comunidade, da proteção dos
170 mil irlandesas como utentes. sado, elegeu Leo Varadkar, de 39 anos mais vulneráveis e profundamente res-
Ao contrário das britânicas, que têm e homossexual assumido, como primei- peitadora da sua fé. O aborto, dizendo
a interrupção voluntária da gravidez ro-ministro do país. É ele quem promete respeito aos direitos individuais, vis-
gratuita no serviço nacional de saúde, liderar a discussão parlamentar sobre to até como uma questão egoísta das
as irlandesas têm de pagar entre 700 a interrupção voluntária da gravidez, mulheres, aparentemente colide com
e 2000 euros, consoante o tempo de caso o “Sim” vença o referendo. O gover- essa ideia de Irlanda. E muitos cida-
gestação. Por isso, esta é também uma no irá propor que as irlandesas possam dãos permanecem divididos por isso
questão de classes – as mais pobres fazê-lo até às 12 semanas de gestação. mesmo.” pfonseca@visao.pt
A
LUÍSA OLIVEIRA J O S É C A R L O S C A R VA L H O , E M L O N D R E S
quela aterragem no Aero- Este projeto nasceu há um ano e meio, mesa, claro, a comer, garantindo que as
porto da Portela, já à noite, quando a Associação da Hotelaria, Restau- ementas são de facto portuguesas, os
depois de um voo tranquilo ração e Similares de Portugal (AHRESP) se empregados falam bem a língua e co-
de duas horas e meia, vindo candidatou ao Compete 2020 e ganhou nhecem a nossa cultura. Nesta primeira
da capital inglesa, tem um dois milhões de euros para certificar res- fase, assumem, o grau de exigência foi
simbolismo especial. Para a taurantes nos maiores mercados emissores menor, para que a rede ganhasse lastro.
equipa do programa Taste de turistas, para que eles possam transfor- À primeira vista, Leandro Carreira,
Portugal, trata-se do ponto mar-se em embaixadores do País e, mais 39 anos, chefe do Londrino, que abriu
final de seis meses de péri- especificamente, da gastronomia nacional. há sete meses na capital inglesa, não
plo por cinco países, a visi- Nas visitas, levam na mala produtos preencheria os requisitos para entrar no
tar os restaurantes portugueses que lá portugueses, organizam feiras para os Taste Portugal, apesar de viver há vários
existem. Acabou a primeira fase, mas a mostrar, e os restaurantes aderentes anos fora do País, sempre a trabalhar em
segunda já está na calha, agendada para também participam com demonstrações cozinhas. “Não queremos ser um restau-
depois do verão e em mais meia dezena ao vivo da vasta culinária portuguesa. rante tipicamente português e os nossos
de cidades, da China aos Estados Unidos Depois, fazem auditorias, controlam produtos, à exceção do porco Bísaro, do
da América. tudo com uma checklist e acabam à azeite e de alguns queijos, não vêm de
€2 milhões
tos. Além disso, são convidados para as portuguesa”, afirma Jorge de Jesus.
nossas ações de formação e podem rece- Entrar no Grelha D’Ouro, de José Ro-
ber os estagiários das escolas de turismo, drigues, situado em Stockwell, onde se
porque estabelecemos essa parceria.” O montante do programa Compete 2020 encontra a maior parte da comunidade
O chefe Vítor Sobral é o rosto do setor para estabelecer esta rede portuguesa, é viajar até casa. A televi-
que dá visibilidade a esta iniciativa. de restaurantes portugueses no mundo são está sintonizada na SIC Notícias, os
O embaixador Manuel Lobo Antunes, empregados são todos portugueses e, na
59 anos, a representar o País no Reino esplanada do café que também é da famí-
Unido, conhece alguns dos restaurantes lia Rodrigues, bebe-se galão. Não fossem
portugueses da cidade onde vive, por- as casas em tijolo do outro lado da rua e
que já lá foi experimentar a ementa para os carros que nos aparecem do sentido
matar saudades da nossa gastronomia. contrário, esqueceríamos depressa que
“Existe uma certa diversidade de esco- estamos em Londres. Até porque, nas
lha, do conceptual ao tradicional, que mesas, há azeitonas e queijo fresco para
agrada a públicos muito diferentes”, um feliz arranque de qualquer conversa.
diz, satisfeito por ter à disposição muita José conta-nos que é de Celorico de Basto,
variedade quando decide ir jantar fora. mas que se mudou para a capital inglesa
Sabemos que, apesar do arrojo do che- há 16 anos, trazendo os sabores nacionais
fe Leandro, aprecia bastante o sofisticado
Londrino. Muito diferente do descon-
O CHEFE VÍTOR SOBRAL na mala. A ementa do Grelha D’Ouro, de
que é proprietário há dois anos, enche-se
traído Caco & Co., que Jorge de Jesus, É UM DOS ROSTOS de sugestões como feijoada à transmon-
40 anos, abriu há cinco meses numa tana, caldo-verde, fritada mista de peixe,
zona de escritórios, especializado essen- DA INICIATIVA QUE porco-preto e bacalhau. Mas também são
cialmente em bolo do caco (há um ano,
inaugurou o primeiro em Askew Road). PROMOVE UMA REDE famosas as travessas de marisco. “Curio-
samente, o peixe e o marisco são muito
A chefe Antonieta está quase a reformar-
-se, mas por enquanto é ela quem faz a
DE RESTAURANTES mais baratos do que em Portugal”, garante
José Rodrigues, de 49 anos, enquanto se
massa com cinco ingredientes – uma
receita da família Jesus – e finaliza os
PORTUGUESES serve de mais uma dose de amêijoas à
Bulhão Pato – um irrepreensível “voo”
pães madeirenses na chapa quente, à vista PELO MUNDO direto para Portugal. loliveira@visao.pt
LIVROS
Lídia Jorge
“A maior
desgraça que
pode acontecer
a um artista
é começar pela
literatura, em
vez de começar
pela vida”
Só a literatura
Miguel Torga
Escritor
(1907-1995)
Edmundo Galeano copia excertos da uns nomes escolhidos que depois fui
Ode Marítima e da Ilíada para treinar alterando à medida que as personagens
a sua mão direita, onde só o polegar iam aparecendo e crescendo. Sílvio, por
e o indicador sobraram depois de um exemplo, parecia-me apropriado ao
acidente num poeirento campo de irmão mais frívolo...
refugiados em que prestava assistência Um eco do Silvio Berlusconi?
humanitária. De regresso a Lisboa, à Talvez. Pode estar no inconsciente...
frente dos olhos vê flutuar uma pequena Muitas coisas são inconscientes, não só
e perfeita bola azul: a forma que toma o na escrita, em tudo na vida. Vivemos com
livro que sonha escrever para “avisar a um mundo submerso, sem darmos conta
Humanidade”. Lídia Jorge, 71 anos, iden- dele... Os escritores perdem o pudor de
tifica-se com a mistura de ambição e in- mostrar esse mundo e vão, muitas vezes,
genuidade dessa personagem que criou, buscar aí o alimento para as suas páginas.
um dos cinco irmãos que regressam Um dos temas centrais deste roman-
à casa do Largo do Corpo Santo num ce é a própria literatura, através da
momento difícil da família Galeano, que ambição do protagonista, Edmundo.
tem encalhado um avultado negócio Também a Lídia sonha, ou sonhou,
com barcos de grande porte. ao longo da sua carreira literária,
Depois da utopia revolucionária do 25 “escrever um livro para avisar a
de Abril revisitada no anterior romance, Humanidade que tome cuidado com
Os Memoráveis (2014), a escritora, que o seu destino”?
prodigiosamente se estreou na literatu- Acho que, na totalidade, é isso que eu
ra em 1980 com O Dia dos Prodígios, faço. Mesmo que não seja um desígnio
apresenta em Estuário um livro com vista explícito, é para isso que a literatura
para o apocalipse − tão longe, tão perto. serve; é uma espécie de testemunho
Para ler mesmo “depois da última página”. subversivo, alucinado, que não tem só
Uma primeira curiosidade: a escolha como objetivo não deixar esquecer o
dos nomes das personagens nos passado mas avisar que há leis intem-
seus romances é um processo quase porais que comandam a História e os
aleatório? O livro começa logo sucessos dos homens. Neste roman-
com o nome “Edmundo Galeano” ce fala-se muito da Ilíada, um livro
que, inevitavelmente, faz pensar precisamente sobre isso: diz-nos que do apocalipse. Esse medo é um tema
em Eduardo Galeano, o escritor a violência será eterna e é perigosa, que atravessa a nossa literatura. Não
uruguaio... É uma coincidência? destrói os homens. Mesmo Cervantes, só herdámos isso do mundo bíblico,
Não é um processo aleatório, tem com o Dom Quixote, avisa-nos sobre como é mesmo algo inerente à Hu-
muito que ver com a sonoridade dos o fim do mundo, uma loucura que é manidade: pensar que além de um fim
nomes, com o peso que quero dar-lhes. salvadora mas, ao mesmo tempo, tem dos homens, haverá um fim da Terra...
Escolhi a palavra Galeano sem pensar o extermínio à frente... Neste momen- Hoje estamos numa dobra do tempo,
no Eduardo Galeano, apesar de ser um to em que estamos aqui a falar, deve percebe-se perfeitamente. E, por isso,
escritor que aprecio e criou um género haver centenas e centenas de escritores acho que imensos escritores escre-
muito próprio. Mas não pensei em nada sentados à frente dos computadores vem sobre isso, quase todos. Seja pela
disso. O nome Galeano, realmente, a escreverem sobre isso, sobre a ideia denúncia dos abusos sobre a Terra, os
tem que ver com Gales, mas há tam- abusos da política. Até a melancolia
bém uma associação sonora à palavra que atravessa a literatura em relação ao
“galeão”, que remete para viagens, o amor... Também é um aviso sobre um
imaginário marítimo, uma ligação com desentendimento latente. A literatura
o exterior. A escolha não foi aleatória, “HOJE, RARAMENTE serve para isso, para nos avisarmos uns
mas o efeito pode ser... Os nomes das
outras personagens também resultam OFEREÇO OS MEUS aos outros. Não de forma sádica, mas
embalados pela beleza das palavras.
muito pela sonoridade. Charlote, por
exemplo, não é um nome muito por-
LIVROS... TENHO Um livro bom nunca pode ser só sobre
o mal, é sempre também sobre a bele-
tuguês. Mas coincide com a invasão de A SENSAÇÃO DE QUE za, e é essa parte que é sempre reden-
nomes estrangeiros que se deu há uns tora na literatura. Pode-se escrever
30, 40 anos. Como queria que ela fosse AS PESSOAS sobre o fim do mundo, mas há sempre
diferente, com um percurso especial
e um peso às costas, achei o nome LAMENTAM TER MAIS uma janela que é redentora, que é a da
beleza. Respondendo mais concisa-
apropriado.
Mas é uma escolha prévia a todo o
UM LIVRO EM CASA, mente: sim, se eu somar todos os meus
livros, acho que eles também são isso,
processo de escrita?
Estive a ver ontem os apontamentos
DE QUE NÃO TÊM esse aviso sobre um fim do mundo que
pode acontecer e nós queremos adiar
para este livro e a verdade é que tinha TEMPO PARA ELE” indefinidamente.
A donzela portuguesa
de um Quixote maldito
Joana Ribeiro é a estrela portuguesa de O Homem que Matou Dom
Quixote, de Terry Gilliam, o mais adiado (e esperado) filme dos últimos
20 anos, que encerra o Festival de Cannes, neste sábado, 19
A
MANUEL HALPERN
o que tudo indica, 20 anos poderá ser o derradeiro capítulo deste dora NOS não se comprometeu com
depois, O Homem que autêntico romance de cavalaria está um uma data de estreia.
Matou Dom Quixote vai conflito aberto entre o realizador, Terry Quando o filme de Terry Gilliam fi-
finalmente ver a “luz” do Gilliam, e o produtor, Paulo Branco, que nalmente for exibido em Cannes, neste
público. E dizemos, pru- tinha adquirido os direitos do filme e sábado, 19, muitos se questionarão sobre
dentemente, “ao que tudo não autoriza a sua projeção, tendo pe- quem é aquela bela e jovem atriz que faz
indica”, porque, atenden- dido inclusive uma providência cautelar o papel de Angélica. Joana conta-nos
do ao historial de azares para impedir a exibição em Cannes. Um como chegou ao filme: “Foi feito um cas-
e peripécias que a produ- tribunal francês autorizou a projeção no ting em Portugal, quase uma self tape.
ção do filme tem sofrido, festival, mas com a ressalva de que deve Passadas duas ou três semanas, soube
todos os imponderáveis ser mencionado que os direitos perten- que tinha ficado com o papel.” Na altura,
devem ser considerados. cem ao produtor português. E, apesar de a produção era ainda de Paulo Branco,
Pode ainda ocorrer um cataclismo, um a exibição no circuito comercial já estar que foi essencial para o início da carreira
tremor de terra, um tsunâmi, uma falha anunciada para França e China, ainda de Joana. A única longa-metragem em
elétrica global ou algum revés jurídico nada é certo. Em Portugal, a distribui- que tinha participado antes fora A Uma
que impeçam a estreia. E então o filme Hora Incerta, de Carlos Saboga (também
reforçará o seu karma do mais oculto produzida por Branco). De resto, só cur-
dos objetos de culto do cinema contem- tas e telenovelas. A participação no filme
porâneo, o mais longo making of, a mais de Gilliam foi um inesperado e altíssimo
frustrante história de cinema, tanto ou voo. “De início, pensei que poderia ser
mais quixotesca quanto o próprio Dom um passo demasiado grande para mim.
Quixote. Joana Ribeiro, a atriz portugue- Mas, mesmo quando estava mais ner-
sa que participa no filme, contracenando vosa, o Adam Driver e os outros atores
com Adam Driver, revela à VISÃO que, ajudaram-me muito. Nunca me trataram
durante as rodagens, a malapata deste como se fosse uma novata, sempre me
Dom Quixote era muitas vezes referida, fizeram sentir parte do grupo.”
até com sentido de humor, não fosse A participação no filme envolveu um
Gilliam um dos Monty Python: “Havia longo tempo de preparação. “Trabalhei
D.R.
sempre uma piada. Ao mínimo percalço, muito com o Manuel Gorjão. Fizemos
dizia-se logo: “Ainda não é desta...” Mas, o estudo da personagem, das cenas, de
na verdade, não aconteceu nada de grave. “LOGO NA PRIMEIRA como andava, de como falava. Vi muitos
Eram mais as questões meteorológicas, filmes com a Penélope Cruz e a Anna
se bem que a equipa estava preparada CENA QUE FILMEI, TIVE Magnani, tudo o que pudesse servir de
para, em caso de chuva, filmar as cenas
em estúdio.” DE IR PARA DEBAIXO DE referência de mulheres resilientes. Pre-
parei-me ao máximo para que, chegando
A aventura da produção desta versão “Logo na primeira cena que filmei, tive
de Dom Quixote é também uma his- de ir para debaixo de uma cascata, com
tória portuguesa. Na base daquele que FOI NADA FÁCIL” um frio de rachar. Não foi nada fácil...”
D.R.
Museu
não é
mausoléu
Praticar ioga rodeado
de obras-primas,
abordar a arte de
uma perspetiva
feminista ou visitar
uma exposição
completamente nu…
Sim, é possível
O
VÂ N I A M A I A
s bilhetes esgotaram em tantes adultos (a criatividade sempre fez des têm em comum a origem geográfica.
48 horas. O entusiasmo pela parte das iniciativas dirigidas às crianças). “Temos a preocupação de garantir sempre
exposição Discorde, Fille de Portugal não é exceção, sobretudo quan- uma ligação ao Oriente. É uma forma de
la Nuit, sobre o impacto da do se aproximam dois dias de atividades prolongarmos a missão do museu en-
História na arte contempo- intensas (ver caixa). quanto espaço de encontro”, contextualiza
rânea, não se devia, apenas, As visitas nudistas ainda não chegaram Margarida Mascarenhas, responsável pelo
às obras dos artistas. A cor- a Portugal, mas o Museu da Farmácia, Serviço Educativo do Museu do Oriente.
rida à bilheteira deveu-se, em Lisboa, criou um percurso temático Os museus sacrossantos já lá vão.
antes, a um acontecimento dedicado à História da Sexualidade. Os Agora, até há os que aceitam visitantes
inédito no Palais de Tokyo, participantes deparam-se, por exemplo, de quatro patas, como o Museu Nacio-
um dos mais emblemáticos com um preservativo desenvolvido es-
museus de Paris: uma visita pecialmente para prevenir a sífilis, um
guiada em modo naturista, ou seja, até o pioneiro vibrador medicinal de dínamos
guia tinha de estar despido. A iniciativa, ou um cinto de castidade usado para pro-
promovida pela Associação dos Naturis-
tas de Paris, mobilizou mais de três mil
teger as operárias fabris de abusos sexuais.
A próxima visita realiza-se na sexta-feira,
FESTAS PELA NOITE
pessoas no início deste mês. 18 de maio, Dia Internacional dos Museus. DENTRO, DIAS ABERTOS
Nem todos os museus estão dispo- Não é só o corpo que merece atenção, a
níveis para acolher eventos tão extre- mente também. Ioga, tai chi, chi kung ou AOS ANIMAIS OU
mos, mas multiplicam-se as iniciativas
que ajudam a desconstruir preconceitos
dança oriental. Estas são algumas das ati-
vidades disponíveis quase em permanên- AULAS DE MEDITAÇÃO
sobre o que se deve esperar (ou não) de
um museu. Festas pela noite dentro, dias
cia na programação do Museu do Oriente,
em Lisboa. Também há workshops de
SÃO ALGUMAS DAS
abertos aos animais de estimação ou aulas
de meditação são algumas das estratégias
alimentação ayurveda (inspirada na me-
dicina tradicional indiana) ou de estética
ESTRATÉGIAS PARA
menos convencionais para atrair visi- e cultivo de bonsais. Todas estas ativida- ATRAIR VISITANTES
REUTERS
GETTYIMAGES
D.R.
nal de Cinema de Turim que, à VISÃO, Em território nacional, o deus dos um Baile Barroco de Carnaval, que inclui
confirmou receber animais dentro das prazeres vínicos é invocado no Teatro Ro- concertos e até aulas de dança de roda,
instalações, desde que “sejam pequenos mano, um dos polos do Museu de Lisboa, fazendo justiça à herança barroca do
e possam ser levados ao colo ou trans- na última quinta-feira do mês, através da edifício. Por ocasião do Dia Internacio-
portados em bolsas para animais de Hora de Baco, uma degustação de vinhos, nal dos Museus (sexta, 18), o baile será
estimação”. Também os populares Dog patrocinada pela Adega de Pegões, que in- multicultural e dedicado à diversidade da
Film Festival e Cat Film Festival, festivais clui concertos em pleno museu. Há quem capital. “Procuramos promover eventos
dedicados aos filmes em que cães e gatos o visite pela primeira vez motivado apenas que estejam relacionados com a história
são os protagonistas, têm sido acolhidos pela experiência da prova, e, depois, se do museu ou da cidade, potenciando
em vários museus dos Estados Unidos da torne seu frequentador habitual. o que temos para oferecer”, esclarece a
América que, até ver, só aceitam especta- E se há bebidas alcoólicas, também há diretora, Joana Sousa Monteiro.
dores bípedes... festas, claro. Uma das iniciativas pioneiras
As bebidas alcoólicas também se tor- a levar vida noturna para dentro dos mu- A EXPOSIÇÃO SAI À RUA
naram ferramentas de atração. O Ex- seus saltou diretamente da ficção para a O que têm em comum o estilista Filipe
ploratorium, o museu de Ciência de São realidade. Após a estreia do filme À Noite Faísca, o realizador João Canijo e a escri-
Francisco, EUA, organiza uma iniciativa no Museu (2006), o Museu Americano de tora Maria Teresa Horta? Os três vão con-
dedicada à Ciência nos cocktails. Além História Natural, em Manhattan, onde duzir visitas guiadas à exposição Pós-Pop.
de provar as bebidas, o público aprende se passava a trama, instituiu as pernoitas Fora do lugar-comum, patente no Museu
como são fabricadas, se é problemático exclusivamente para adultos. Habitual- Gulbenkian, em Lisboa, na sexta-feira, 18,
fazer misturas ou o que acontece ao cé- mente esgotadas, apesar de custarem que também será dia de festa, dedicada
rebro quando se bebe álcool. Semanal- quase €300 por pessoa, incluem jantar aos anos 60 e 70, até à meia-noite.
mente, o museu transforma-se num bar e, volante, brinde com champanhe, sessões Tornar figuras públicas embaixado-
enquanto os convidados bebem, assistem de cinema, jazz ao vivo e visitas guiadas à ras dos museus está a generalizar-se
a palestras de cientistas, legisladores ou luz de lanternas. como uma forma de influenciar futuros
outros especialistas sobre temas tão po- Já o Palácio Pimenta, o polo do Cam- visitantes – ou não vivêssemos na so-
larizadores como o consumo de canábis. po Grande do Museu de Lisboa, instituiu ciedade do espetáculo. O Museu Nacio-
R E U N I ÃO T ÉC N I C A D E E S C L A R EC I M E N TO
21 DE MAIO, 11H30 HORAS | AESE BUSINESS SCHOOL, LISBOA
T
em sido através da música que a vida me tem trazido
tudo aquilo que de melhor me tem acontecido. Não são
muitas as pessoas que se sujeitam a esta empreitada
estranha, não são muitos aqueles que entregam a sua
existência a esta tarefa bizarra. “Ninguém entende,
nessa aparência bizarra, como é que a gente se prende
às cordas duma guitarra”, conforme cantava o Carlos
P O R M I G U E L A R A Ú J O / Músico Ramos. Ninguém entende a não ser uns aos outros.
Aquele que ofereceu a sua vida a esta forma de arte tosca, popular, ligeira,
menor, maior, encontra no seu semelhante um amigo de infância, de
Tower
sempre, numa amizade que se pode rebobinar até ao dia em que um “Deus
sonso e ladrão fez das tripas a primeira liga e animou todos os sons”,
como garante o Chico Buarque. São almas que reconhecem a importância
of Song
urgente e aflitiva de munir este mundo de mais uma canção, mesmo que o
mundo não precise de mais canções, como disse o Bob Dylan há 30 anos.
Andar a bordar refrões durante o pequeno-almoço em família, emparelhar
palavras e melodias no comboio, rematar refrões durante o sono, é
uma empreitada que ocupa a existência duma pessoa de forma tirana,
permanente, exclusiva, inconsciente, inteira, numa demanda que reclama
a vida toda duma pobre alma desde que, ainda criança, se põe ali de pé,
a mendigar cá em baixo, à porta da torre da canção, na esperança de que o
Hank Williams atire de lá de cima uma côdea. “Dá-me um refrão, torre da
canção”, implora o Samuel Úria em forma de prece-canção. E a coisa mais
maravilhosa é encontrar outros. As pessoas reconhecem-se e unem-se
numa cumplicidade sincera e antiga, numa amizade de sempre. Conheci
a Mafalda Veiga há poucas semanas e é para mim um bálsamo para a alma
andar por perto, ouvir as histórias. A Planície (a miraculosa e maravilhosa
canção dos pássaros do sul) nasceu em cinco minutos, quando a sua
autora nem 20 anos tinha. A melodia dessa música é um milagre, como
é que uma coisa dessas é possível? Como é que se faz para ser tão bom?
Uma pessoa ouve uma música a tocar dentro da cabeça e tenta sacar os
acordes, como se estivesse a tentar sacar os acordes duma música do Cat
Stevens, daquelas de sempre, só que é uma música que não existia e de
repente passa a existir, é literalmente assim. O Marcelo Camelo, a falar da
canção Despedida, diz que nasceu feita, diz que veio com o princípio do
mundo. Esta vida deu-me a conhecer o João Gil, o Carlos Tê, o Rui Veloso,
os meus maestros soberanos, e eu massacro-os com perguntas e eles
falam, contam, uma pessoa nesta vida junta-se e são soldados a mostrar as
suas feridas de guerra, pessoas que confiam em mim porque sabem que eu
ando também a tentar, dizem como foi, também não sabem de onde veio,
de onde vem. “But while they search for a mate my type hibernate
In bedrooms above, composing their songs of love”, explica o Neil Hannon.
O Leonard Cohen já rastejou em cuecas na alcatifa de um motel à
procura duma palavra. O Chico Buarque fala da descida aos infernos.
O Jorge Cruz conta que sai de casa e anda dum lado para o outro sem
rumo, desesperado. O João Gil diz que um dia foi em tronco nu para a
janela e começou a cantar “Querida mãe, querido pai então que tal”,
como um louco, a gesticular. É difícil, quanto mais simples mais difícil.
Aquele que ofereceu “I said to Hank Williams, how lonely does it get?
Hank Williams hasn’t answered yet.” Mas as canções lá vão
a sua vida a esta aparecendo. “Mesmo miseráveis os poetas como eu, são bonitas, não
forma de arte tosca, importa, são bonitas as canções”, voltando ao choro bandido do Chico
Buarque. E são. Para mim, são. Tem que se ir fazendo, mesmo que não se
popular, ligeira, acredite, como se se acreditasse num fim último, em que tudo faz sentido,
menor, maior, até as canções. Uma pessoa agarra-se às palavras sábias do Daniel Faria
e segue seguindo. É o poema mais simples e mais importante do mundo:
encontra no seu
semelhante um amigo “Seja o que for
Será bom.
de infância, de sempre É tudo.” visao@visao.pt
LUCÍLIA MONTEIRO
Q
Quem atravesse a Rua de Gondarém, na Foz, mal caia a
noite, não dará conta de que na Padaria Formosa se prepara
a massa para a broa de milho e para as 45 variedades de pão
que hão de entrar no forno lá pelas duas ou três da manhã.
Numa das padarias mais antigas do Porto (1898), a noite é de
trabalho para os 11 padeiros que, manhã cedo, levam o pão da
Formosa a hotéis e restaurantes da cidade, e até aos barcos-
-hotel que sobem o Douro. Às sete, abrem-se as portas a
Esplanada Praia da Luz
tanto “aos mais velhos como aos mais novos”, conta o sr.
Almeida, 78 anos, conhecido por aqui andar com o seu
cavalo Castelo. Agora é o novato Rafa que o acompanha, foi
trazido da Golegã por mão amiga desta figura típica da Foz.
“Está bom, sr. Almeida?”, acenam-lhe do outro lado da rua.
Pelas 11 horas, há de ir-se embora “montado no Ferrari”,
como chama à sua carroça.
Antigamente, a Foz era separada do Porto por montes
e terrenos, lugar de longas férias de verão. Atraídos pelo
mar, também aqui continuam a chegar os turistas, à boleia
do elétrico no1, com paragem no Passeio Alegre, quase em
frente à casa (fechada) de Eugénio de Andrade. Amalia
Naveira e Marie-Claude Triquet, de Lyon, confessam que
não esperavam “encontrar uma cidade tão bonita e com
este mar”, depois de terem percorrido a Avenida do Brasil.
Toda a marginal do Douro à Foz, desde a Cantareira até
ao Castelo do Queijo, é escolhida por quem gosta de fazer
caminhadas ou andar de bicicleta. Apreciando, por vezes,
a forte ondulação do mar na Barra ou parando aqui e ali,
nas muitas esplanadas, como a da Praia da Luz, onde tanto
se saboreiam ostras ao natural (€12) como se come uma
cataplana de peixes e mariscos (€35/duas pessoas) ou se
bebe um gin (a partir de €9).
Casa Aberta
Cozinha portuguesa
reinventada e de partilha
R. Padre Luís Cabral, 1080, Porto
> T. 91 596 3272 > ter-qui 12h30-
-14h30, 19h30-22h30, sex-sáb
até às 23h, dom 12h30-15h
Confeitaria Tavi
Fundada em 1935, é um dos
ícones da Foz. Destaca-se pela
pastelaria cuidada e pela es-
planada com vista para o mar
R. Senhora da Luz, 363, Porto >
T. 22 618 0152 > seg-dom 8h30-20h
Mercearia Augusto
R. Passeio Alegre, 924, Porto >
T. 22 618 0301 > seg-sáb 9h-20h30,
dom 10h30-13h30, 15h-20h
Padaria Formosa
R. de Gondarém, 362, Porto >
T. 22 618 0781 > seg-sex 7h-19h,
ANABELA sáb 7h-17h, dom 8h-13h
BALDAQUE
52 ANOS
DESIGNER DE MODA
Restaurante
Pedro Lemos
Moro na Foz Velha,
genuinamente antiga. R. Padre Luís Cabral, 974, Porto
> T. 22 011 5986 > ter-sáb 12h30-
É quase um esconderijo, -15h, 19h30-23h
um bocadinho
de campo, de mar,
de pesca, de ruralidade’’
Sabores da Herdade
É loja gourmet e garrafeira,
mas também serve petiscos
e vinhos a copo
R. da Cerca, 450, Porto > T. 22 616
1160 > seg-qui 10h30-20h, sex-sáb
10h-21h
fiambre à fatia ou pão. Do sabor dos queques caseiros de massa fina do Peco, a comida saudável dos Frascos,
do Café Moreira, onde Eugénio de Andrade costumava os brigadeiros coloridos da Brigadão, da brasileira Luísa
almoçar, feitos por Maria Lúcia há mais de 40 anos, “com Werfel, ou o sushi da Origami.
ovos caseiros”. Ou dos croissants da Doce Mar, na Avenida Por aqui, juntam-se moradores com turistas, que
do Brasil, de onde há mais de 60 anos saem quentinhos fotografam e acham graça ao mercado antigo, mas,
duas vezes por dia (de manhã cedo e a partir das 16 horas, sobretudo, empregadas que vêm fazer as compras para
e paredes meias com a casa, ao abandono, de António encher a despensa da casa dos patrões. “Setenta por cento
Nobre). Até o velhinho Mercado da Foz – tem mais de 70 das vendas da nossa banca de peixe são feitas por elas logo
anos e servia para os agricultores escoarem os produtos de manhã”, conta a peixeira Celeste Cadilhe. Foi na banca da
– tem vindo a ser renovado pela junta de freguesia. Entre fruta que encontrámos Helena Cruz, 55 anos, que trabalha
as antigas bancas de legumes, fruta, peixe e carne, novos há mais 30 com uma família da Foz. Veio comprar laranjas
projetos também têm surgido: os cachorros gourmet do para fazer “o sumo dos meninos, os netos da senhora”.
Famous Dog, com nomes de cães célebres do cinema
(Lassie, Scooby, Snoopy, Rex), a Hamburgueria, as pizzas NEGÓCIOS À MESA DO CAFEÍNA
Muitos negócios se terão consumado à mesa do Cafeína,
um dos restaurantes mais especiais de Vasco Mourão,
nascido há 23 anos na Rua do Padrão. Da cozinha de Camilo
Jaña saem propostas tão diferentes como o carpaccio
com lascas de foie gras e queijo São Jorge DOP (€10,50),
“Vendo pratos, bebidas, mas também bacalhau gratinado com creme de cebola assada e migas de
ambiente, decoração, atmosfera. broa (€19) – adaptação do prato que chegou a chamar-se
É a mesma coisa que pôr sal na comida”, bacalhau à Dilma, depois de, em 2012, a antiga Presidente
do Brasil ter feito escala no Porto, a caminho da Alemanha,
explicou-nos Vasco Mourão, só para o provar – ou o magret de pato com molho de vinho
o empresário que pôs a Foz do Porto e cuscus de cogumelos (€18,50). “Vendo pratos,
no mapa da restauração de luxo bebidas, mas também ambiente, decoração, atmosfera. É
Patuska
Marca portuguesa de roupa
para criança até aos dez anos.
R. Senhora da Luz, 204, Porto
> T. 96 179 0106 > seg-sáb 10h30-
-13h30, 15h-19h30
Piupiuchick
R. de Diu, 222, Porto
> T. 22 610 3026 > seg-sex 10h30-
-19h, sáb 10h30-13h30
D. Urraca
tem alusões a David Bowie e ao rock “escutado pelos pais
nos anos 80”. A Foz, contam, “é um bairrinho”, onde os
filhos ainda se divertem nas ruas e andam, de casa em casa,
a brincar com os amigos. E onde ainda se ouve (os mais R. Padre Luís Cabral, 1086, Porto
velhos, claro) dizer: “Vou ao Porto.” > T. 91 537 8322
S U S A N A L O P E S F A U S T I N O slopes@visao.pt
o novo restaurante
do chefe francês > bonzinho
Vincent Farges.
Fica no Largo da RALLY NO CENTRO DO PORTO
Academia das Belas- Entre quinta, 17, e domingo, 20, dispu-
ta-se o Rally de Portugal, entre Guima-
-Artes, no Chiado, rães e Fafe. Na sexta, 18, o percurso
passa pelo Porto e pode ser acompa-
e tem uma das nhado no hotel Palácio das Cardosas,
melhores vistas com bar aberto e buffet (€150)
sobre Lisboa
> assim-assim
NATUREZA AUMENTADA
Viajar até ao Jurássico, mergulhar no
Ártico e conhecer animais selvagens
é a proposta de Natureza Aumenta-
da, espetáculo interativo e imersivo,
grátis, que acontece até domingo,
20, na praça central do Amoreiras
Shopping Center, em Lisboa
Apenas
4,99€
Estr. de Vale do Lobo > T. 289 394 521 > ter-sáb 19h-22h30, R. da Igreja, 12, Vila do Conde > T. 252 081 795 > seg-qui 12h-15h, 19h-23h,
dom 12h30-14h30 > menu degustação €120 sex-dom 12h-15h, 19h-24h
comer&beber@visao.pt
D.R.
Nos pratos Daqui a três semanas, a 11 de junho, Serra, alheiras de fabrico caseiro, saladinhas de
principais, para ser rigoroso, o restaurante Toca da polvo e de caça, entre outras. O capítulo principal
destaque para Formiga, em Ermesinde, comemora 35 tem alguns destaques: peixe fresco, seja na
o peixe fresco, anos de atividade a servir os melhores caçarola com uma base simples de azeite, cebola e
seja na caçarola pratos da cozinha nortenha, tomate com o tempero certo e a cozedura correta,
com uma base confecionados com mestria por seja no arroz caldoso, em regra de robalo ou de
simples de Arnaldo Azevedo (cujo filho, a quem passou garoupa, com sabores delicados; polvo laminado,
azeite, cebola o nome e o talento, faz no mesmo dia 33 anos, que é cozido e depois volta ao fogão, desta vez
e tomate com sendo um dos mais conceituados chefes de à frigideira com azeite, alho e orégãos para, além
o tempero certo
cozinha portugueses da nova geração, agora da cor e do sabor, ganhar a textura macia que
e a cozedura
à frente do restaurante Palco, no Porto). No Lugar o torna aliciante; arroz de entrecosto em vinha-
correta, seja no
arroz caldoso,
da Formiga, ponto mais elevado da freguesia -d’alhos, porventura o ex-líbris da casa, húmido,
em regra de de Ermesinde, concelho de Valongo, a Toca da mas consistente, com a carne macia e o sabor
robalo ou Formiga é a casa do mestre Arnaldo Azevedo, com intenso que denota a influência da marinada;
de garoupa, a sua cozinha genuinamente portuguesa, alheia a bochechas de porco preto em vinho tinto que
com sabores modas ou a conveniências. Tem uma sala se desfazem na boca. E, ainda, a testemunhar a
delicados acolhedora com balcão a separá-la da cozinha, qualidade dos produtos, naco de boi com queijo
atoalhados de algodão, decoração singela e da Serra e lombo de boi na frigideira, ambos
ambiente tranquilo a convidar para refeições tenros e suculentos. Tudo simples, natural e bom,
de negócios ou em família. como é próprio da cozinha portuguesa autêntica.
A ementa muda diariamente, de acordo com Doçaria igualmente apelativa, como evidenciam
o mercado, porque se baseia em produtos frescos o pudim Abade de Priscos e o doce de chila, por
da região e da época. Para entrada, há propostas exemplo. Garrafeira selecionada com critério,
apelativas: enchidos de Montalegre, queijo da vendo-se algumas raridades. Serviço simpático.
R. de Chãos, 516, Formiga, Ermesinde > T. 229 747 485 > seg-sex 12h-15h, encerra feriados > €20
Loco Lisboa
Queijos para não esquecer
A irreverência do restaurante do chefe Alexandre Silva revela-se agora, igualmente, nos queijos artesanais
ali produzidos. Uma aventura – também para o palato
D.R.
A Ciência há muito desfez hesitações. “A parte mais difícil de ser O chefe do Loco arrisca dizer que será
o mito de que o queijo criativo é, a dado momento, ter a “o rebanho mais ocidental da Europa
prejudica a memória, mas capacidade de travar essa criatividade”, continental”. Entre o leite de vaca e o
o chefe Alexandre Silva sublinha Alexandre Silva. Mas houve de cabra que foram buscar a Alcobaça
e o subchefe Ricardo Leite criatividade q.b. para fazer justiça ao e o de ovelha trazido de Sesimbra,
decidiram eliminar arrojo deste restaurante premiado percorreram mais de 400 quilómetros.
quaisquer dúvidas e tentar criar com uma estrela Michelin. Há queijo A aventura continuou, a seguir, no
queijos verdadeiramente inesquecíveis. parmesão de cabra encerado com cera I+D, uma espécie de laboratório de
A aventura começou há sete meses, de abelha, queijo de ovelha curado cozinha contíguo ao restaurante, onde
motivada pelos clientes do restaurante em folhas de figueira e aguardente, Ricardo Leite passou horas infindas
Loco que, no final do jantar, lhes e queijo azul também de ovelha. a aperfeiçoar os queijos. O parmesão
perguntavam se havia queijo. “Não A busca pelos melhores de vaca, por exemplo, precisa de ser
podíamos correr o risco de comprar fornecedores de leite obrigou-os amassado, durante mais de uma hora,
os queijos e, depois, as pessoas a fazerem-se à estrada. “Chegámos enquanto a temperatura sobe dos 32oC
dizerem que tinha sido a melhor parte a percorrer dezenas de quilómetros até aos 51oC. As suas mãos acabaram
da refeição”, brinca Alexandre Silva, para ir buscar cinco litros de leite “bem quentinhas”… Habituou-se a ter
sentado numa das mesas do Loco. de cabra, que não chegam nem para a cabeça cheia de fórmulas matemáticas
A ideia inicial era fazer um único fazer meio quilo de queijo”, recorda que revelam a quantidade exata de
queijo, mas os chefes entusiasmaram- Alexandre Silva, com um entusiasmo coalho ou fermento necessária para
-se e já criaram… onze. A teoria, surpreendente. O leite utilizado cada queijo. “Houve dias muito longos
sabiam-na bem, mas só no terreno nos queijos de ovelha é de animais e continuo a vir ao restaurante mesmo
começaram a dominar o processo de que pastam em campos de cevada quando estou de folga”, conta
fabrico e a experimentar sem fresca, junto ao cabo Espichel. o subchefe. “Alguns queijos precisam
O dragão
no escudo
da cidade
Em 1833, em pleno Cerco
do Porto, D. Pedro IV – para
demonstrar o afeto que
nutria pela cidade, onde
estava cercado pelas
tropas miguelistas, e como
reconhecimento pela adesão
dos portuenses à causa
da rainha D. Maria II, pela
qual lutava – ordenou que
ao segundo filho ou filha
dos reis de Portugal fosse
dado o título de duque ou
D.R.
duquesa do Porto. Quatro
MARCOS BORGA
Foi a teimosia em não deixar morrer da responsabilidade da FRESS a programação Rui Gamito
um legado de sete gerações que levou dos cursos e oficinas (6, 12 ou 30 horas) que é um apaixonado
a Casa Maciel a aceitar o convite da aqui vão decorrer às terças, quintas e sábados, pelas lanternas
Câmara Municipal de Lisboa para e nos quais qualquer pessoa poderá participar: de latão que
fazer parte do Mercado de Ofícios do passamanaria, tecelagem, douramento, gravação aprendeu
Bairro Alto. “Achei maravilhosa e decoração de pele, embutidos, talha e cerâmica. a fazer. Ao lado
a ideia de se transformar um antigo mercado As segundas e sextas-feiras são open days, em da mulher,
de Lisboa num lugar dedicado à promoção que é permitida a utilização livre e gratuita das Margarida
e à transmissão deste saber-fazer tradicional, de máquinas, da serra elétrica à mufla. “As pessoas Pargana
Gamito, o casal
artes que são muito portuguesas, como a latoaria, inscrevem-se referindo o que querem fazer,
representa
a que nos dedicamos desde 1798”, diz Margarida sempre com supervisão. Podem até vir fazer
a sétima
Pargana Gamito, a sétima geração da empresa. o empalhamento de uma cadeira, nós teremos cá geração da Casa
A sala ocupada pela Casa Maciel serve, por agora, alguém da FRESS para ajudar. A formação é feita Maciel
de oficina mas em breve será também uma escola com o apoio dos mestres e artífices da fundação,
de latoaria, acompanhando assim a nova função assim como de alunos nossos, certificados, uma
de promoção e divulgação das artes tradicionais, forma de os incluir no mercado de trabalho”, diz
do renovado Mercado do Bairro Alto. Conceição Amaral, administradora-executiva da
“Era impossível não nos associarmos a este instituição. Embora o edifício do mercado seja
projeto tão importante para a preservação de pequeno, haverá ainda tempo e espaço para
ofícios tão portugueses”, explica Pedro Santana o ocupar com conversas, conferências e exibição
Lopes, presidente da Fundação Ricardo do de filmes, sempre à quarta-feira, de 15 em 15
Espírito Santo Silva (FRESS), outra das entidades dias, entre as 18h e as 20h, e com entrada livre.
envolvidas na dinamização do mercado. É, aliás, Susana Lopes Faustino
Tv. da Boa-Hora, Lisboa > T. 21 881 4600, fress.moba@gmail.com / fress.moba@fress.pt > ter, qui e sáb: oficinas criativas;
seg-sex: open days > a partir de €10 (oficinas)
O festival de arte urbana Tons da Primavera regressa nesta quinta, 17, convidando o público a redescobrir a cidade
e as freguesias rurais. Até domingo, 20, haverá música, passeios, provas de vinho e animação a colorir as ruas
1. 3. 5. 6. 7.
Arte Urbana Concertos Vinhos Conhecer Produtos locais
Viseu ganhará 11 Pelo Mercado 2 de Maio e petiscos o ofício As empresas locais
intervenções artísticas passa, nesta quinta, 17, O festival terá, no O contacto dos também foram
(a juntar às 28 a dupla viseense Gallo Mercado 2 de Maio, artistas com o convidadas
existentes), assinadas Cant’Às Duas, uma zona dedicada aos público é promovido a apresentarem
por artistas locais com a sua música vinhos do Dão, o Entre por Tons da os seus produtos,
(Ana Seia de Matos, exótica e psicadélica. Aduelas, que contará Primavera em no Mercado 2 de Maio.
Ergo Bandits, Juliana Nas restantes noites, com a presença de conversas sobre A Amor Luso,
Ferreira e Carlos soarão vozes femininas, enólogos e produtores arte urbana e ainda com uma linha de
Sousa), nacionais com muita atitude: Da da região. Além de em workshops cosmética e de
(DRAW & Contra, Chick, na sexta, 18, e um wine bar com para todas as aromas para o lar,
Godmess, Glam, Capicua, no sábado, 19. cocktails e vinhos a idades, conduzidos ensinará alguns
Halfstudio, Nuno Ambos os concertos copo, ali vão decorrer pelos artistas, segredos numa oficina,
Pimenta e Nuno Palha estão marcados para workshops e provas nomeadamente assim como a Sortido
AKA Third) e pelo as 22h, na Fonte das (ao final da tarde). Foi DRAW (o curador Flash, conhecida
argentino Eduardo 3 Bicas. Os fins de também criada uma do festival) e pelas almofadas
Relero, autor de uma tarde e as noites praça de alimentação Godmess, com com enchimento
pintura 3D numa das contarão também com com “comida de rua”, estilos e técnicas de grão de trigo.
portas da Feira de DJ sets de Fernando onde não faltará uma muito distintos. O Centropontoarte,
São Mateus. As obras Alvim e Ary Rock, entre esplanada. um atelier de artes
estão espalhadas pelo outros. gráficas, terá uma
centro da cidade e oficina de gravura para
por cinco freguesias
das redondezas 4. crianças.
LUCÍLIA MONTEIRO
Garagem Central Porto
A toda a velocidade
Uma antiga estação de serviço transformada em oficina de motos, que é também loja,
cabeleireiro, estúdio de tatuagens e café
Além de fes- Ninguém sai da Garagem Central antes experiente”, reforça João Riem. Segue-se a loja,
tas e festivais, de partilhar uma boa história de no mesmo piso, onde há roupa da marca
a Garagem velocidade e “borboletas na barriga”. australiana Deus Ex Machina, com um estilo
Central orga- Instalada em mil metros quadrados de surfista e de aventura, e as botas feitas à mão da
niza ativida- uma antiga estação de serviço de 1930, americana Red Wing Shoes. Ao lado, numa espécie
des ligadas esta concept store é uma ideia de de aquário, encontra-se a oficina de reparação.
ao universo Raquel e João Riem, que acaba de abrir no Porto. “Queremos crescer de uma forma orgânica para
motard, como A montra, pintada por Hugo Moura, dá as isto ir carburando devagarinho”, continua João.
passeios primeiras pistas sobre o que vamos encontrar ao Subindo ao primeiro andar, há fios, tubos,
de moto, entrar. Há uma oficina, com stand exclusivo da ferro e traves de madeira escura à vista, além de
conversas, italiana Morini – sim, essa mesma de motos feitas claraboias no teto, a deixar entrar a luz natural.
apresenta- à mão –, mas também se pode compor o guarda- Apesar da renovação, o edifício mantém o
ções, cursos -roupa, cortar o cabelo ou fazer uma tatuagem. carácter industrial e ganhou uma mezzanine,
e exposições. E nada é um exclusivo masculino, claro. “As motos onde fica o cabeleireiro Carlos Gago, o estúdio
são a base, mas não somos um stand, agregamos de tatuagem da Fruta da Época, uma sala
várias filosofias”, diz João Riem, consultor de reuniões e um open space multiusos com
imobiliário e apaixonado pelas duas rodas. flippers recuperadas. Em breve, vai abrir também
Depois de um ano de renovação, Raquel e João um café. A completar o cenário, as cadeiras dos
criaram “uma experiência” que envolve mais de 20 anos 50 ou recuperadas de uma escola primária,
marcas em paralelo. A começar pela Morini, cujo as mesas de uma velha tipografia e o balcão de
modelo básico tem 1200 centímetros cúbicos e uma antiga loja dos CTT. É uma garagem para
pode custar mais de dez mil euros. “É uma peça de agitar a cidade, com mais ou menos adrenalina.
gama alta e tecnologia avançada, para um motard Susana Silva Oliveira
R. da Alegria, 1023, Porto > T. 22 316 9611 > ter-sáb 10h-13h, 14h-19h
D.R.
há três anos, quatro
Centro da Juventude das Caldas
da Rainha > R. de Vitorino Fróis, 22,
Caldas da Rainha > T. 262 840 900
> 23-25 mai, qua-sex 18h30 >
€10 a €20 (passe)
D.R.
Altice Arena > R. dos Olivais, Lisboa > T. 21 891 8409 > 20 e 21 mai, dom e seg 21h > €45 a €90
Teatro Camões > Passeio
do Neptuno, Parque das Nações,
Lisboa > T. 21 892 3470
> 18-27 mai, qua 15h, qui-sex 21h,
sáb 18h30, dom 16h > €5-€25
DR
Cinema São Jorge > Av. da Liberdade, 175, Lisboa > T. 21 310 3400 > 18-19 mai, sex-sáb 21h30 >
€8 e €14 > Coliseu do Porto > R. Passos Manuel, 137, Porto > T. 22 339 4940 > 26 mai, sáb 22h > €14
Alkantara Lisboa
25 anos de construção
Começa mais uma edição do festival, a última com direção artística
assinada por Thomas Walgrave. Falámos com o programador belga
A metáfora podia estar no uso das Mundial, o Japão fez parte de uma operação
cores. Os totes – também conhecidos militar. E há uma espécie de indiferença por parte Aldara Bi-
como “sacolas de pano” – da edição da juventude...”, continua Walgrave. “Quinze anos zarro, João
Fiadeiro e
comemorativa dos 25 anos do Festival depois, Toshiki faz agora uma reencenação com
Vera Mantero,
Alkantara misturam roxo-bebé com atores muito novos, tendo esta ideia em mente:
coreógrafos
laranja-salmão-choque, laranja- é para comemorar, mas é também para perceber fundamentais
-salmão-bebé com verde-água-choque. O saco, o que aconteceu desde então.” da chamada
feito de cores e tons suaves, discreto, traduz a No último ano em que está à frente do nova dança
bagagem, a história da iniciativa e da associação, festival, Walgrave refere que a sua linha é... não portuguesa
que foi fundada em 1993 por Mónica Lapa ter linha, a escolha dos artistas tem que ver com que fizeram
e começou por chamar-se Danças na Cidade. a sensibilidade de “perceberem o que está à sua parte da pri-
As letras impressas, de tons garridos que quase volta antes de fazerem as primeiras páginas meira edição
brilham no escuro, representam o lado visível, dos jornais”. “Nesta edição, isso traduz-se em do Festival
o lado festivo, a jovialidade, a projeção no futuro. preocupações como a identidade, o local [por Alkantara,
“A tentação de entrar na nostalgia é grande. oposição ao global], os refugiados, a água, a apresentam
Uma das questões, para mim, é fazer mesmo a arte que se pensa a si própria, a arquitetura...” agora novas
festa. Quase como um drone que vai sobrevoar a E lembra também os 50 anos do Maio de 68 e criações.
festa e tentar perceber o que ela é...”, diz Thomas do Tropicalismo. Christiane Jatahy, a Artista na
Walgrave. “Um exemplo fortíssimo disso é o Cidade deste ano (uma iniciativa da EGEAC),
trabalho do coreógrafo japonês Toshiki Okada, também regressa ao festival, desta vez com Ítaca
que fez, em 2003, um espetáculo histórico e que – Nossa Odisseia I. Walgrave fala da importância
foi uma bomba no teatro contemporâneo no da ideia de recorrência e continuidade.
Japão. Chama-se Five Days in March e fala sobre “A primeira vez que trazes um autor, isso é
uma geração de jovens japoneses no momento considerado autoria, como programador.
em que os aliados invadem o Iraque. Pela primeira Quando volta pela terceira vez, a ligação já é direta
vez, desde os traumas da Segunda Guerra entre ele e o público.” Cláudia Marques Santos
Castelo de São Jorge, Culturgest, Espaço Alkantara, Maria Matos Teatro Municipal, São Luiz Teatro Municipal, Teatro
Nacional D. Maria II > Lisboa > T. 21 315 2267 > 23 mai-9 jun
D.R.
em Portugal os admiradores
do seu trabalho. Biberstein
Culturgest > R. Arco do Cego,
Centro Cultural de Belém > Pç. do Império, Lisboa > T. 21 361 2400 > 18-19 mai, sex-sáb 21h 50, Lisboa > T. 21 790 5155
> €25-€30 > 19 mai-9 set, ter-sex 11h-18h,
sáb-dom, 11h-19h > €4
Culturgest > R. Arco do Cego, 50,
Lisboa > T. 21 790 5155 > 18-19 mai,
sex-sáb 21h30, dom 17h > €5-€12
MARIA JOANA FIGUEIREDO
Fauna > Quinta da Bemposta, Travessa da Quinta, 1, Joane > Centro Cultural da Juventude de Joane
> Rua Dr. Agostinho Fernandes, 113, Joane > T. 91 276 1740 > 18-28 mai > €4
A arte da imobilidade
coletiva, um grupo de
17 adolescentes, todas
da mesma escola, resolve
engravidar e “fazer nascer”
os seus filhos. Baseado
O filme francês, do mestre do terror japonês, não prega sustos em factos reais, o filme de
mas mexe com a alma Delphine e de Muriel Coulin,
datado de 2011, mas que
só agora chega ao circuito
Apesar de, ao longo da sua carreira, ter experimentado diferentes
comercial, funciona como
géneros cinematográficos, Kiyoshi Kurosawa é conhecido como uma espécie de case study,
um dos mais desafiantes mestres do cinema de terror japonês. tanto para comportamentos
Neste O Segredo da Câmara Escura, extravasa fronteiras, extremos na adolescência
demonstrando a abrangência do seu talento. Sai do típico ambiente como para a forma como
japonês para se localizar em Paris e adapta o argumento ao meio a sociedade acolhe os casos
envolvente. Está longe de ser um clássico de género. Não é daqueles filmes que de gravidez precoce.
pregam sustos ou exploram o obsceno imagético do universo gore. Há antes uma Em termos de olhar sobre
cautelosa aproximação do sobrenatural, partindo de um ambiente naturalmente a adolescência, este é
fantástico, com imagens sugestivas que nos aproximam subtilmente de clássicos desarmante: a decisão
do género, como Drácula ou Frankenstein. coletiva das jovens, tão
De início, encontramos Jean, à porta de uma decrépita mansão francesa, forte e intransponível, não
respondendo a uma oferta de emprego pouco comum. O “senhor” da mansão deixa de ser tratada como
é um artista, de nome Stéphane, bem cotado no mundo da moda, que tem como uma moda seguidista e de
especialidade a reprodução de daguerreótipos à escala humana. Para quem não confronto com a geração
sabe, esta foi uma técnica pioneira de fotografia, ainda da primeira metade do dos pais – tal como se elas
século XIX, que permitia a reprodução de imagens únicas e obrigava a longos fossem fazer um piercing
tempos de exposição e imobilidade. A obsessão de Stéphane por daguerreótipos no umbigo ou tomar drogas
é elevada a limites para além do concebível. Os seus modelos sujeitam-se leves. As consequências,
a um sistema imobilizador que faz com que não esbocem qualquer movimento claro, são outras e,
por aí, há uma estranha
durante um tempo que pode ir até aos 120 minutos. As reproduções mais ousadas
coincidência de
e artísticas de Stéphane são feitas com a filha (e anteriormente com a mulher).
responsabilidade absoluta
Se determinadas tribos indígenas acreditam que a fotografia lhes rouba a com a irresponsabilidade
alma, aqui fica a ideia de que os daguerreótipos, no limite do seu perfecionismo, total. Assistimos a uma
replicam os corpos em formato etéreo. É neste ponto que, no filme de Kurosawa, sociedade impreparada
aquilo que é realisticamente fantástico comunica com o sobrenaturalmente para lidar com o assunto
palpável. Manuel Halpern e, feitas as contas,
17 Raparigas traz mais
perguntas do que respostas.
M.H.
De Delphine e Muriel Coulin,
com Louise Grinberg, Roxane Duran
e Esther Garrel > 90 minutos
DR
De Kiyoshi Kurosawa, com Tahar Rahim, Olivier Gourmet, Constance Rousseau e Mathieu Amalric
> 131 minutos
Uma Semana
nos Rios Concord
e Merrimack
Henry David Thoreau
É um desafio
à velocidade
contemporânea ler
o primeiro livro de
Henri David Thoreau
(1817-1862), poeta,
ensaísta e nome
maior do naturalismo
americano. Em Uma
D.R.
Contrário da Escuridão
Espírito
O baterista e guitarrista
dos GNR, Tóli César
Machado, edita pela
D.R.
primeira vez em nome
Arctic Monkeys
(apesar de serem da sua
autoria muitos dos grandes
êxitos da banda que fundou
em 1980). Tóli − ou Espírito,
Crise de identidade?
como assina este trabalho
− apresenta-se a solo mas
não sozinho. Está, aliás,
muito bem acompanhado:
Sem riffs de guitarra, mas com o mesmo sentido para escrever as letras,
convidou José Luís
de observação, o sexto disco da banda tem tudo Peixoto, Tiago Torres
para dividir opiniões. E ainda bem da Silva, Mário João
Alves, Adolfo Luxúria
Canibal e Jónatas Pires,
Alex Turner podia ter feito um álbum a solo e seria para, segundo o próprio,
mais ou menos a mesma coisa. Doze anos depois participarem num “jogo
de o ouvirmos cantar sobre porteiros de discoteca de sedução criativa”, no
mal-encarados ou a falta de romance da música qual, alguns temas, para
feita para toque de telemóvel, o vocalista dos o compositor se inspirou
Arctic Monkeys não podia estar mais longe das nas letras, e noutros os
ruas de Sheffield, Inglaterra, onde a banda cresceu. Viver na letristas se inspiraram
artificialidade de Los Angeles tem destas coisas, e nem a na música. O resultado
última das bandas indie, como escreveu The Guardian, podia O sexto disco são dez canções (duas
ficar igual para sempre. Mas era preciso querer chegar à Lua? dos Arctic delas instrumentais) que,
“A guitarra perdeu a capacidade de me inspirar”, disse Monkeys, tendo como bitola uma
Turner numa entrevista à BBC. É ele, como sempre, o homem Tranquility assumida sonoridade pop,
Base Hotel se vão alargando a outros
de todas as palavras e ideias, quem desta vez decidiu pôr em
& Casino, é uma territórios mais ambientais
prática ao piano, presente de aniversário que recebeu aos 30,
homenagem e eruditos. Para dar voz às
e que passou os dois anos seguintes a explorar. Na verdade, palavras, foram chamados
há muito que os Arctic Monkeys procuravam evoluir sem à elegância
musical nomes como o fadista
perder a crueza dos primeiros dois álbuns, conseguindo com Ricardo Ribeiro, Adolfo
dos anos 70
AM, de 2013, uma mistura entre as letras irrepreensíveis de Luxúria Canibal, Selma
combinada
Turner e guitarras de encher estádios. A mudança de direção Uamusse, Marcela Freitas
com a destreza
que é Tranquility Base Hotel & Casino não será exatamente de Alex Turner (que canta em três temas)
uma surpresa: quem tem estado atento aos Last Shadow com as palavras e a brasileira Dom La
Puppets, banda que Turner divide com o amigo Miles Kane, Nena. Na sua variedade,
já tinha percebido que havia por ali um fascínio pelos anos acabam por contribuir
70, a languidez de Serge Gainsbourg com uns laivos de David para a identidade deste
Bowie, os fatos impecáveis e o cabelo escorregadio. Four Out Contrário da Escuridão,
of Five, o candidato mais natural a single, num disco feito concentrando na música
para não os ter, tem um vídeo a dar ares de Stanley Kubrick, e na exemplar produção
todo ele surrealismo e cores fortes. Não é coincidência que de Rui Maia (X-Wife
Turner encaixe neste cenário egomaníaco na perfeição – mas e Mirror People) o fio
um pouco de megalomania nunca fez mal a ninguém. R.M.C. condutor desta luminosa
viagem. M.J.
Em 13rea-
sonswhy.info,
o elenco da
série fala de
temas como
a agressão
sexual.
O site inclui
os contactos
de linhas de
apoio de cada
país – em Por-
tugal, é a SOS
Voz Amiga.
D.R.
Estreia 18 mai, sex
HUMBERTO MOUCO
Moinho do Maneio Penamacor
Viver numa bolha
Nesta casa de campo, dorme-se a ver as estrelas. E não é forma de escrever:
aqui existe mesmo uma tenda em forma bolha para estar mais perto da Natureza
Além de É por um caminho de terra batida, Esta última, que é a maior, recebe até cinco pessoas
cultivarem rodeado de árvores, que se chega de e destaca-se pela sua banheira feita de uma antiga
framboesas, carro ao Moinho do Maneio, a oito pipa de vinho. No Moinho do Maneio, há mais
os responsáveis quilómetros de Penamacor. Nesta casa quartos para espreitar, como o Andorinhas, o
pelo Moinho do de campo, é-se recebido por Mimosa, Amieiro e o Trigo, com decorações alusivas a cada
Maneio também Berry e Júnior, três cães dóceis que nome. Descobre-se ainda uma zona de piscina,
levam a Lisboa esperam os hóspedes com euforia e brincadeiras. perfeita para fugir às altas temperaturas do verão
mel, queijo, É também nesta entrada que se pode guardar na região. Dali até à ribeira que vem da serra da
cerejas do o telemóvel e deixar o stresse na mala de viagem. Malcata são mais uns metros, e logo se mergulha
Fundão, mirtilos
Ali não há rede, televisão nem nada que possa ou se conhece os encantos desta zona num passeio
e amoras
perturbar o silêncio ou distrair o olhar da de canoa. Já os mais pequenos não vão conseguir
de pequenos
produtores
Natureza. Mas há muito para descobrir nesta resistir ao grande trampolim que ocupa uma das
da região. Tudo propriedade que se estende por cerca de bermas. “Queremos virar as atenções para esta
por encomenda 20 hectares, como a pequena ribeira da Bazágueda, ribeira e aproveitar a água para outras atividades”,
ali tão perto, entre outros recantos verdejantes. diz Rui Marcelo, que também cultiva framboesas
Antes da engenheira Anabela Martins e do em terrenos próximos, os quais depois chegam
jornalista Rui Marcelo porem mãos à obra, em aos pratos dos hóspedes. Por fim, sobe-se uma
2002, não havia água, luz ou esgotos. “Só ruínas”, pequena ladeira e vê-se um dos destaques desta
diz o casal em uníssono. Com as profundas casa de campo: a tenda em forma de bolha que
renovações, os antigos palheiros, o curral dos é transparente à frente e em cima e que, por isso,
porcos e outras infraestruturas quase destruídas deixa-nos adormecer a ver o céu estrelado.
deram lugar a duas casas com lareira e uma Pode não haver rede, mas carrega-se baterias
pequena cozinha de apoio: a Alecrim e a Pipa. com a simplicidade da Natureza. Sandra Pinto
Estrada Municipal km 7,5, Bazágueda, Penamacor > T. 277 394 399 > quarto duplo a partir de €70, casa €85 (época baixa); quarto
duplo a partir de €80, casa €95, bolha €100 (época alta)
Palavras cruzadas O S T E R M O S - C H AV E D A AT U A L I D A D E
>> HORIZONTAIS >> 1. Larva da mosca varejeira. Adolescente em (…) terminal tem
recuperação “milagrosa” depois de a mãe lhe dar canábis às escondidas – em 2013,
Deryn Blackwell, 14 anos, tinha apenas dias de vida, segundo os médicos
– diagnosticado com dois tipos de cancro, o adolescente contava as horas até à
próxima dose de morfina. // 2. Vereador. Acafelou. // 3. Tipo de memória mais usada nos
computadores. O m. q. raridade. // 4. Género de plantas a que pertencem a erva-moura,
a batateira, o tabaco, etc. // 5. Muito oiro. Som imitativo da campainha. // 6. Emprega-se
para excitar ou animar (interj.). Cargo, função ou dignidade de deão. // 7. “O grande erro do
século XX foi acharmos que o amor era só um sentimento que vai e vem – na realidade,
é um ato de vontade e inteligência” – entrevista ao psiquiatra e (…) espanhol Enrique
Rojas, o homem do momento em Espanha. Extraterrestre (abrev.). // 8. Ecoo. Nome de
duas espécies de cotovias. Vende a crédito. // 9. Cultivador. Ave pernalta africana.
// 10. Letra do alfabeto arábico. Cerimónia pública e solene (pl.). // 11. Contr. do pron.
pess. compl. “lhe” ou “lhes” com o pron. pess. compl. ou pron. dem. “a”. Violino fabricado
em Cremona (Itália). >> VERTICAIS >> 1. Os melhores locais para voltar à costa
antes do (…) – a VISÃO percorreu o País à beira-mar para, do Sotavento Algarvio ao
Alto Minho, descobrir os melhores sítios para regressar ao Litoral antes das enchentes
estivais. Conjunto das pessoas mais cultas. // 2. Sufixo de filiação, descendência. Tenho a
natureza de. // 3. Órgão excretor que tem a função de formação da urina. Paulo Paiva dos
Santos, fundador da farmacêutica portuguesa Generis, vai promover uma campanha de
(…) de fundos para manter de pé a colónia balnear d’ “O Século” – o objetivo é levar 640
crianças à praia e angariar mais 100 mil euros para a obra social da fundação. // 4. Artigo
antigo. Brotar. Basta. // 5. Referente aos gregos modernos. // 6. Causa inquietação. Extrair.
// 7. Altar cristão. Capital do Catar. A ti. // 8. O ranger os dentes. Grau de abaixamento ou
elevação de voz. // 9. Planta anual da família das compostas. Pequeno instrumento de
madeira roliço com que se fia. // 10. Ecoa. Representação abstrata e geral de um objeto
ou relação. // 11. A minha pessoa. Terra que se amontoa em volta das árvores.
Contr. da prep. “de” com o art. def. “a”.
// 4. El, Sair, Tá. // 5. Romai, // 6. Abala, Tirar. // 7. Ara, Doa, Te. // 8. Frender, Tom. // 9. Arzola, Fuso. // 10. Soa, Ideia. // 11. Eu, Amota, Da.
// 8. Soo, Cia, Fia. // 9. Cultor, Tua. // 10. Há, Atos. // 11. Lha, Cremona. >> VERTICAIS >> 1. Verão, Escol. // 2. Ada, Sou. // 3. Rim, Recolha.
>> HORIZONTAIS >> 1. Vareja, Fase. // 2. Edil, Barrou. // 3. RAM, Rareza. // 4. Solano. // 5. Oirama, Dlim. // 6. Eia, Deado. // 7. Escritor, Et.
A sedução do nojo
POR RICARDO ARAÚJO PEREIRA
A
extraordinária popularidade da palavra bastante diferentes. A expressão “uma pessoa no-
nojo no debate público português só tem jenta” tanto pode designar uma pessoa que mete
duas explicações possíveis: ou Portugal nojo como uma pessoa que se deixa enojar com
está cada vez mais nojento ou os inter- facilidade. Ou seja, quando acusamos os outros de
venientes no debate têm um vocabulário serem nojentos, estamos a ser nojentos. E fica difícil
cada vez menos vasto. Inclino-me para a distinguir o nojento que inflige nojo do nojento que
segunda hipótese. Portugal tem muitos sofre nojo – o que acaba por ser nojento. Além do
defeitos, mas (mesmo sem estar na posse mais, estar sempre a bradar nojo parece mesmo
de dados do INE) parece-me que se tem coisa de mete-nojo.
mantido relativamente estável em ter- E há ainda uma questão adicional. No nosso com-
mos de nojo – o que contrasta com a cada vez maior plexo idioma, o nojo não é necessariamente mau.
frequência com que se assinala a ocorrência de múl- É frequente, por exemplo, determinada sobremesa
tiplos nojos: a divulgação de certos vídeos é um nojo; ser tão boa que até mete nojo. Fica claro, por isso,
determinado artigo de jornal é um nojo; esta opinião que é preciso encontrar outra estratégia para dimi-
é um nojo; aquela gente mete nojo; essa pergunta é nuir preguiçosamente o adversário. Esta é um nojo.
um completo nojo. A discussão decorre, pelos vistos, visao@visao.pt
numa pocilga argumentativa e o objectivo é ser o
primeiro a apontar o nojo da posição do adversário.
A grande vantagem deste modelo é a rapidez. Não
é preciso aperfeiçoar argumentos e debater: não se
discute com o nojo. Há a nossa opinião e o resto é
nojo. Quem decreta nojo encontra-se numa imba-
tível posição de superioridade moral: é, ao mesmo
tempo, mais sensível e mais limpo do que o seu opo-
sitor, que é demasiado bruto e porco para perceber
que está a ser nojento. Após sentenciado o nojo, não
há discussão: aguarda-se que o nojento seja retirado
da presença das pessoas asseadas.
Este vómito perpétuo tem o mérito de introduzir
alguma energia num ambiente que costuma ser titu-
beante. Num país em que os factos são sempre ale-
gados, é bom que o nojo seja comprovado. Podemos
não ter a certeza de nada, mas sabemos
que é nojento. Sempre conseguimos
agarrar-nos a qualquer coisa.
O problema deste método é que, em
português, a palavra nojo tem significados
25 ANOS
A CELEBRAR
OS SEUS PROJETOS
Chegámos a Portugal em 1993. Vimos o país a mudar, a evoluir e a tornar-se grande. E, claro, crescemos com ele. Retribuímos
apoiando a concretização dos projetos de mais de um milhão de portugueses, nos momentos mais importantes das suas vidas.
Acompanhámos os sucessos dos parceiros e comemorámos as conquistas em equipa. Hoje, festejamos 25 anos de ideias que
ganharam vida, de projetos que se tornaram reais e de votos de confiança que se traduziram em prémios. Obrigado por celebrar
estes momentos connosco.
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