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Danilo Persch∗
RESUMO
Com seu estudo Mudança estrutural da esfera pública, que em 2012 completou 50
anos, Habermas procurou retratar o surgimento, a consolidação e a decadência de
uma sucessão de acontecimentos históricos que na filosofia, e sob a denominação do
próprio autor desta obra, é compreendida como esfera pública burguesa (bürgerliche
Öffentlichkeit). Desde sua publicação, esse livro já foi traduzido para vários idiomas e
até hoje está influenciando discussões críticas sobre temáticas relacionadas à “esfera
pública”, particularmente o que tange os meios de comunicação de massa, as
estruturas sociais, a política, a burocracia, o espaço público como também a opinião
pública. Na primeira parte do nosso texto procuraremos descrever de forma bem
sintetizada como se deu, conforme Habermas, o processo de desenvolvimento da
publicidade moderna, isto é da esfera pública burguesa – sua origem através de
pessoas privadas formando um público pensante no século XVII, sua consolidação por
meio da autoconsciência desse mesmo público durante a época do esclarecimento e
do liberalismo clássico e, por fim, sua decadência já no final do século XIX. A segunda
parte do texto trata de uma entrevista de Michael Haller, que por muito tempo atuou
como colunista do antigo correspondente suíço “Spiegel”, e que muito bem conhece
essa obra de Habermas. Haller também foi professor/pesquisador de jornalismo na
Universidade de Leipzig (Alemanha) até setembro de 2010 (quando se aposentou). A
entrevista em questão foi realizada por Hans Ulrich Probst, repórter da Rádio “DRS”
(Suíça), publicada em 13 de abril de 2012 por eDysfunktion (Licença padrão do
YouTube). Nessa entrevista Haller fala sobre questões tais como: o que é esfera
pública (Öffentlichkeit) para Habermas? O modelo de organização social que Habermas
tem em vista ao tratar da esfera pública, que tem relação com a sua grande Teoria do
agir comunicativo, desenvolvida posteriormente, é um projeto essencialmente
utópico? O que desse livro clássico permanece válido na era da internet e do mundo
digital? Por que ainda hoje vale a pena ler esse texto de Habermas, que na ocasião da
publicação tinha apenas 32 anos? A tradução das perguntas e respostas do alemão
para o português é de nossa autoria.
PALAVRAS-CHAVE: Esfera pública. Habermas. Comunicação. Política. Mundo digital.
∗
Professor na Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). Ex-aluno da Pós-Graduação em
Filosofia da UFSCar. E-mail: dan.persch@bol.com.br.
É em meio a esse contexto que surge a esfera pública burguesa que “(...) pode
ser entendida inicialmente como a esfera das pessoas privadas reunidas em um
público”. (HABERMAS, 2003, p. 42). Um momento central do desenvolvimento da
esfera pública burguesa descrita por Habermas se dá com o surgimento, por volta do
século XVIII, da esfera pública literária, institucionalizada primeiramente na Inglaterra
por meio das casas de café (coffee-houses), posteriormente nos salões (salons) na
França e finalmente também na Alemanha por meio das comunidades de comensais.
São, conforme Habermas, locais de encontro, ou seja: “(...) centros de uma crítica
inicialmente literária e, depois, também política, na qual começa a se efetivar uma
espécie de paridade entre os homens da sociedade aristocrática e da intelectualidade
burguesa”. (HABERMAS, 2003, p. 48). Nestes círculos de leitura, em lugar de
hierarquias presava-se pela igualdade entre todos, ou seja, todos tinham acesso a
obras filosóficas, literárias, artísticas etc. A produção cultural, antes restrita a classe de
maior poder aquisitivo, agora passa a ser destinada para o grande público. As pessoas
ali reunidas discutiam sobre tudo o que era lido: cartas, romances, enciclopédias,
dicionários, jornais etc. Todos também tinham liberdade para emitir opiniões.
Referências Bibliográficas
Entrevista
DRS – Sobre se essa ideia já fazia parte das discussões sociais no início dos
anos 60. O Senhor se lembra das suas primeiras leituras? O Senhor também fez suas
primeiras publicações no “Jornal Nacional de Basel”. O que essa publicação informou
na época? Haller – Já muita coisa. Mas isso não dependeu apenas desse livro
enquanto livro, mas dependeu também do “espírito de época” (Zeitgeist). Sim, esse
livro também não foi trabalhado a revelia por Habermas no final dos anos 50, porque
ali estava em andamento um “espírito de época” consciente, que nesse livro (por
assim dizer) foi posto sob um conceito. Esse “espírito de época” significa que (e
naquele tempo nós estávamos tão fascinados por esse livro) pode-se verdadeiramente
estudar, que o pensamento de uma sociedade que se forma a si mesma não é uma
utopia apenas tratada simploriamente nas casas de café, mas que o pensamento de
uma sociedade que se forma a si mesma já está, por assim dizer, validado
historicamente. Sim, isso quer dizer que no final do século XVIII até meados do século
XIX já havia algo como uma cultura política discursiva, na qual os cidadãos se
esforçavam em prol da sua esfera pública e no aperfeiçoamento daquilo que hoje
talvez pudéssemos denominar de bem comum. Isso nos tem fascinado. Se agora
traduzirmos isso para a Suíça, na época eu concebia a Suíça como muito progressiva
porque tinha a ver com muitos pontos da sua própria história, tinha a ver com muitas
perguntas do seu desenvolvimento e do seu próprio entendimento dentro da Europa.
Isso nos anos 60 era por assim dizer (faflissig). O Senhor talvez esteja lembrado que
era também a época de personalidades tais como Max Frisch, que interrogavam sobre
as exportações suíças etc. Um tempo em que se observava que a clareza das estruturas
eleitorais dos pequenos lugares poderia ter uma qualidade positiva. Portanto, assim
nós tínhamos na época com o Jornal Nacional, por exemplo, a impressão de que
poderíamos, e isso também é uma ideia trabalhada nesse livro, de que poderíamos
estabelecer, publicisticamente, algo como um discurso, de que poderíamos dialogar
DRS – Além dessa parte histórica, como seria possível descrever a estrutura da
esfera pública? Muito disso já está iniciado em Habermas, o Senhor acabou de falar
sobre isso, como a aniquilação que a política faz nos meios de comunicação, mas
também a crítica diante da cultura de massa em jornais etc., que ofusca a visão do
cultural. Ali Habermas ainda é uma criança, ainda muito pessimista e crítico da
Escola de Frankfurt (Adorno, Horkheimer). Sim, mas essa ampla publicidade civil
também se desenvolveu enormemente. Como o Senhor puxaria a linha principal de
uma nova mudança estrutural, agora nas últimas décadas? Haller – Porém a esses,
dever-se-ia talvez acrescentar mais um ponto, que Habermas próprio reconheceu no
início dos anos 90 por ocasião da revisão a esse livro, (as recensões, sim, ele levou as
críticas a sério). Ali ele bem reconheceu que pelo menos num ponto esse livro, por
assim dizer, está aquém da realidade. E esse um ponto, mas muito importante, é que
ele acreditava, assim era sua crença esperançosa, que é possível a realização de uma
esfera pública discursiva, que estado e sociedade se fundariam, por assim dizer, numa
totalidade. Sim, algo que numa visão do passado particularmente entenderíamos hoje
como pensamento socialista, que com o pensamento liberal, sempre mantem um
profundo ceticismo para com as forças opositoras.
DRS – Ele tinha a esperança numa reconciliação? Haller – Sim. Esse era o
pensamento dito por ele, de que em determinado momento, em meados do século
XIX, nós já estávamos bem longe de termos um entendimento integrativo orientado do
que é razão estatal no sentido de democratização e o que os cidadãos privados
querem como cidadãos estatais. E hoje, portanto aquilo que ele escreveu no início dos
anos 90 como sendo por assim dizer a missão da sua posição, ele reconheceu, e aí eu
volto para sua pergunta, de que as sociedades pós-modernas (ou modernidade tardia)
DRS – Que ele (cidadão) também necessita ter conhecimento? Haller – Exato.
Portanto, ele (cidadão) tem que estar ciente do que está acontecendo. Mas num
Estado em que as relações se dão apenas de forma pseudodemocrática, no qual as
informações mais importantes e necessárias para a formação de uma opinião
permanecem sobre controle ou sobre censura, ali o discurso mais belo e livre de
DRS – Michael Haller, muito obrigado por essas informações. Penso que
Jürgen Habermas também teria se alegrado com esses esclarecimentos bem
concretos em relação a suas observações muito teóricas. E como balanço fica a
impressão da ambivalência. Haller – Certamente. Sim, isso está certo.