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Resumo: O presente artigo discorre acerca das simetrias e assimetrias entre o fato e o
vício do produto e do serviço. Inicialmente foram apontadas as característica de cada uma
destas categorias jurídicas, que constituem inovação do Código de Defesa do Consumidor.
Em seguida, destacaram-se os aspectos que aproximam e extremam estes institutos.
Deu-se especial ênfase ao estudo das assimetrias por ser este o objetivo deste artigo,
quais sejam: o bem jurídico tutelado; a extensão da responsabilidade; a questão relativa à
responsabilidade dos profissionais liberais; a solidariedade dos fornecedores; o ônus da
prova; a prescrição e a decadência.
Abstract: This article discusses the symmetries and asymmetries between defective
products/services and improper products/services. The characteristics of each of these
legal categories, which are an innovation of the Consumer Defence Code are at first pointed
out. Then we highlight the common aspects of such institutes. Special emphasis to the
study of asymmetries is given due to this article’s purpose, namely: the protected legal
right; the liability extent; the theme of autonomous professionals liability; provider’s joint
liability; the burden of proof; limitation and decay.
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Simetrias e assimetrias entre fato e vício do prouto/serviço:
repercussão doutrinária e jurisprudencial
Sumário:
1Introdução - 2Fato e Vício do produto ou do serviço: novas categorias jurídicas criadas
pelo Código de Defesa do Consumidor - 3Assimetrias entre o fato e vício do produto ou
serviço - 4Conclusão - 5Bibliografia
1 Introdução
O produto ou serviço defeituoso é aquele que não oferece ao consumidor a segurança por
este legitimamente esperada (arts. 12, § 1.º e 14, § 1.º, do CDC (LGL\1990\40),
respectivamente) e dá origem ao chamado acidente de consumo que lhe causa dano
material ou extrapatrimonial.1 O produto ou serviço é viciado quando este se torna
impróprio, inadequado ao consumo a que se destina ou lhe diminua o valor, bem como haja
disparidade com as indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem, oferta
ou mensagem publicitária (arts. 18, caput e 20, caput, do CDC (LGL\1990\40)).
O Código Civil (LGL\2002\400) tratou do chamado vício redibitório em seus arts. 441 a 446
no capítulo que trata das Disposições Gerais dos contratos. Embora o vício redibitório
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também tenha servido de baliza para a criação do fato e do vício do produto ou do serviço
no âmbito do Código de Defesa do Consumidor, com estes últimos não se confundem
porque têm regime jurídico próprio, a começar pela circunstância de não se prestarem a
simples garantia do contrato, mas precipuamente à responsabilização, posto que
topograficamente inserido em seções do Código de Defesa do Consumidor que tratam da
responsabilidade do fornecedor.4 A inspiração do instituto do fato do produto (product
liability) foi preponderantemente a Diretiva 374/85/CEE, que tratou da aproximação das
disposições legislativas, regulamentares e administrativas dos Estados-Membros da
Comunidade Econômica Europeia, hoje, União Europeia, em matéria de responsabilidade
decorrente dos produtos defeituosos.
O vício redibitório regulado pelo Código Civil (LGL\2002\400) tem por fundamento tão
somente a impropriedade da coisa em si, ao passo que o fato e o vício previstos no Código
de Defesa do Consumidor têm por alicerce o princípio da confiança, cuja expectativa de
qualidade e segurança no produto ou serviço foi legitimamente suscitada pelos agentes
econômicos no consumidor, passando-se da responsabilidade fundada na culpa para a
responsabilidade objetiva como regra.6 A legítima confiança inspirada ao consumidor pelo
fornecedor acerca da qualidade do produto ou serviço tem como fundamento as práticas
que estão reconhecidas na consciência social acerca daquilo que legitimamente se espera
do comportamento da outra parte, na observação do seu comportamento e assimilação de
suas manifestações.7 Até o advento do Código de Defesa do Consumidor as questões
decorrentes do vício do serviço eram resolvidas no âmbito do Código Civil (LGL\2002\400),
mais especificamente no direito dos contratos, especialmente por intermédio do instituto
do inadimplemento.8
Constata-se, ainda, que o Código Civil (LGL\2002\400) não tratou de forma diferente o
defeito e o vício, a teor do que dispõe o seu art. 441, posto que os equiparou, conforme se
extrai da redação do texto do aludido artigo. O Código de Defesa do Consumidor lhes deu
tratamentos e efeitos diversos, embora em alguns momentos padeça de uniformidade
semântica no tratamento dos institutos do defeito e do vício, a exemplo do que ocorre no
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O fato ou vício do produto ou do serviço, por sua vez, tem variadas opções para o
consumidor que vão desde medidas que visam à conservação do contrato (reexecução do
serviço ou substituição do produto; abatimento proporcional do preço), até a sua rescisão,
sem prejuízo da reparação integral das eventuais perdas e danos experimentados (arts. 18
e 20, ambos do CDC (LGL\1990\40)).
Portanto, o Código de Defesa do Consumidor inovou quando tratou dos institutos do fato e
vício do produto ou do serviço porque estes têm conteúdo e efeitos jurídicos distintos do
vício (ou defeito) constante do Código Civil (LGL\2002\400). Também é certo que o Código
Civil (LGL\2002\400) não tratou do vício do serviço, mas apenas do vício da coisa
(produto).
O Código Civil (LGL\2002\400) tratou do vício (ou defeito) redibitório no âmbito do direito
contratual. O Código de Defesa do Consumidor superou esta dicotomia ao tratar do defeito
do produto ou do serviço (também chamado acidente de consumo), independentemente
da existência de prévia relação jurídica contratual entre as partes, porque o seu
fundamento passa a ser simplesmente a relação jurídica de consumo, o mero contato
social.14
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Outra simetria que pode ser apontada é que tanto no fato quanto no vício do produto ou do
serviço a responsabilidade do fornecedor é imputada objetivamente, a despeito de não
haver expressa menção legal acerca da responsabilidade objetiva do fornecedor nas
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Serviço é atividade que decorre de uma ação humana37 prestada no mercado de consumo,
mediante remuneração.38 O vício diz respeito às características inerentes da coisa que
afetam a sua prestabilidade ou diminuem o seu valor e quantidade (arts. 18 e 20 do CDC
(LGL\1990\40)).39 Isto leva à afirmação de que o vício é uma anomalia intrínseca à coisa,
que pode ser oculta ou aparente (in re ipsa).40
Sustenta-se que o vício atinge somente o produto ou serviço, jamais o consumidor ou o seu
patrimônio,41 vale dizer, o aspecto patrimonial do preço pago pelo produto ou serviço. 42 O
vício, portanto, impede ou reduz a função ou o fim a que se destina o produto ou serviço,
afetando a utilidade que o consumidor dele espera. 43 O Código de Defesa do Consumidor
enumerou os vícios de qualidade ou quantidade do produto ou serviço como aqueles: a)
impróprios ao consumo; b) que lhes diminuam o valor e, c) em que há disparidades entre
as suas características na oferta e publicidade. Em resumo, o vício decorre da violação dos
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O vício do serviço constituiu inovação do Código de Defesa do Consumidor. Não foi previsto
na Diretiva 374/85/CEE dada à dificuldade de se elaborar uma doutrina que o
contemplasse, motivo pelo qual o legislador comunitário originalmente se limitou a regular
apenas o fato do produto.45
Este entendimento não é compartilhado pela unanimidade da doutrina porque parte dela
entende que o vício não se confunde com o inadimplemento contratual, mesmo parcial,
tampouco configura deficiência do negócio jurídico ou vício de vontade. O vício constitui
uma espécie própria que tem por objetivo tutelar a função do objeto do contrato, que serve
como garantia legal implícita de funcionalidade ou de adequação, que não pode ser
afastada por vontade das partes.48
Citem-se como vícios do serviço a atividade de fornecimento de luz, gás, telefonia, serviços
bancários, financeiros, securitários, médico-hospitalares, transportes, estacionamentos,
dentre outros, a depender do caso concreto, posto que se o fornecimento destes serviços
resultar na ocorrência de dano à incolumidade física do consumidor por força da ausência
da segurança que dele se espera ocorrerá fato do serviço e não vício.
Conforme já visto, parte da doutrina entende que essa diferença não seria absoluta porque
um produto ou serviço pode ser ao mesmo tempo inseguro e inadequado, a exemplo do
automóvel que apresenta anomalias em seu sistema de freios que, em razão deste vício,
causa lesão em seus ocupantes,50 caracterizando o produto como defeituoso. Verifica-se
que pelo critério da preponderância,51 a questão pode ser doutrinariamente dirimida,
resolvendo a adequação da questão ao fato do produto. Porém, as assimetrias não param
nesse ponto e o operador do direito deve se atentar para outras diferenças ao realizar a
adequação do fato à norma.
Ainda que não se utilize o critério da preponderância para dirimir a questão, é intuitivo que
na ocorrência de vício do produto ou serviço que dê origem a um acidente de consumo,
propõe a absorção do vício pelo defeito porque o defeito é vício acrescido de um dano à
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incolumidade física do consumidor: há vício sem defeito, mas não há defeito sem vício. O
vício é uma característica inerente, intrínseca do produto ou serviço em si.
O defeito, por sua vez, é o vício acrescido de um problema extra, alguma coisa extrínseca
ao produto ou serviço, que causa um dano maior que afeta mais do que a qualidade ou
quantidade do produto ou serviços. Portanto, o defeito causa, além do dano decorrente do
próprio vício, dano à incolumidade física ou patrimonial extrínseca do consumidor.
Entende-se a metáfora da absorção do vício pelo fato e se afirma que o vício é um defeito.
Mas nem todo defeito é vício, porque este se configura quando a função do produto ou do
serviço, natural ou atribuída, não realiza plenamente em prejuízo do destinatário.52
Não basta que determinado produto ou serviço seja perigoso em si mesmo para causar
acidente de consumo. É necessário que o dano (patrimonial ou extrapatrimonial)
efetivamente ocorra, a exemplo da venda de veículo novo pela concessionária com
problema no sistema de freios, que logo após a sua retirada da loja seja constatado o vício
pelo consumidor, sem que este se envolva em qualquer acidente. 54 Entretanto, por outro
lado, se a anomalia nos freios der causa a colisão ou lesão pessoal, a anomalia é
caracterizada como defeito.55
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O fato do produto ou serviço pode ocorrer não somente nas relações de consumo em que
as partes estejam ligadas entre si por um contrato. Qualquer pessoa, ainda que não esteja
unida por relação contratual a um fornecedor, pode ser vítima em acidente de consumo.
Neste aspecto o Código de Defesa do Consumidor acabou com a distinção entre relação
jurídica contratual e extracontratual (aquiliana) para fim de responsabilização civil. No
acidente de consumo, portanto, adota-se o conceito mais alargado de consumidor
constante do art. 17 do CDC (LGL\1990\40). Deste modo, em tese, até mesmo outro
fornecedor pode ser vítima de acidente de consumo.
O fornecedor responde de forma objetiva por fato do produto ou do serviço (arts. 12 e 14,
do CDC (LGL\1990\40)). Embora não haja expressa previsão legal no Código de Defesa do
Consumidor, os fornecedores também respondem objetivamente quando o produto ou
serviço apresente vício, via interpretação extensiva, conforme já consolidada interpretação
jurisprudencial.
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§ 3.º, do CDC (LGL\1990\40)). Constata-se que o legislador, ao tratar do vício primou pela
preservação do contrato e, somente na impossibilidade de manutenção do vínculo,
autorizou a sua rescisão.
No vício não constitui regra a responsabilização do fornecedor por outros danos, conforme
previsto nos arts. 18, § 1.º, II e 20, II, ambos do CDC (LGL\1990\40). Isto porque no vício
geralmente o dano fica circunscrito ao próprio produto ou serviço. Os eventuais danos
decorrentes do vício do produto ou serviço, denominados de extra rem, são apenas
indiretamente ligados ao vício, ou seja, dele decorre, mas de forma relativamente
independente, que por si só produziria o resultado. O dano resultante do vício é, portanto,
contingente, vale dizer, pode ou não ocorrer, e não algo que necessariamente decorre do
vício constatado.60
O dano circa rem, por ser imanente ao vício do produto ou serviço, não gera pretensão
autônoma. Neste caso, todas as consequências resultantes do vício estão previstas no arts.
18 a 20 do CDC (LGL\1990\40). Os eventuais danos não constituem pretensão autônoma.
Logo, a menção nos arts. 18, § 1.º, II; 19, IV e 20, II, todos do CDC (LGL\1990\40), se
refere ao dano extra rem (sem prejuízo de eventuais perdas e danos).61 Deste modo, não
existe dano na hipótese de responsabilidade por vício, senão aquele intrínseco ao próprio
produto ou serviço porque não constitui consequência obrigatória da sua ocorrência,
apesar de poder decorrer dele de forma indireta.62
Não há previsão legal de que o profissional liberal responda de forma subjetiva quando
incorre em vício na prestação de serviço. Portanto, neste caso, a sua responsabilidade é
objetiva (art. 20 do CDC (LGL\1990\40)), invertendo-se o ônus da prova em favor do
consumidor, porque não houve exceção legal, pois se trata de princípio geral de
hermenêutica aquele que as normas de exceção devem ser interpretadas
restritivamente.63
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próprio profissional provar que não agiu com culpa (imprudência, imperícia ou
negligência), invertendo-se o ônus da prova em favor do consumidor, a exemplo de
procedimentos ortodônticos em que a meta perseguida é a obtenção de resultado
satisfatório, quando não há questão funcional envolvida.64
3.5 Solidariedade
Nos vícios de qualidade, por outro lado, todos os agentes que compõem a cadeia de
fornecimento respondem solidariamente, sem exceção, pela inadequação do produto ou
serviço (arts. 7.º, parágrafo único e 25, § 1.º, ambos do CDC (LGL\1990\40)). Portanto, o
rol de responsáveis pelo vício é maior do que o dos fornecedores que respondem pelo
acidente de consumo.
O ônus da prova no acidente de consumo é carreado ao fornecedor por força da própria lei
(ope legis), conforme arts. 12, § 3.º e 14, § 3.º, ambos do CDC (LGL\1990\40), ao
disporem que o fornecedor só não será responsabilizado quando provar no caso de
produtos: a) que não o colocou no mercado; b) que o defeito inexiste ou, c) a culpa
exclusiva do consumidor ou de terceiro (art. 12, § 3.º, I a III, do CDC (LGL\1990\40)); ou
quando provar no caso de serviços: a) que este não é defeituoso e, b) a culpa exclusiva do
consumidor ou de terceiro (art. 14, § 3.º, I e II, do CDC (LGL\1990\40)). Embora não
expressamente consignado, também exclui a responsabilidade do fornecedor a prova da
ocorrência de caso fortuito ou força maior, por serem causas gerais de exclusão da
responsabilidade.
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consumidor não foram afastados pelo Código de Defesa do Consumidor em relação a esta
categoria profissional, razão pela qual o juiz inverterá o ônus da prova (art. 6.º, VIII, do
CDC (LGL\1990\40)), imputando-lhe o ônus de provar a inexistência do defeito do serviço,
a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro, dentre outros, quando presentes os
requisitos para inversão judicial (ope judicis), quais sejam, verossimilhança do que
alegado pelo consumidor ou sua hipossuficiência.
Portanto, o ônus da prova nas hipóteses de ocorrência do vício do produto ou serviço não
é invertido por força da lei, ou seja, ope legis. Aplica-se ao caso, num primeiro momento,
a regra geral de que cabe ao autor provar o fato constitutivo do seu direito e ao réu o fato
desconstitutivo, modificativo ou extintivo do direito do autor (art. 373, I e II, do CPC
(LGL\2015\1656)). Porém, acaso o juiz verifique estarem presentes os requisitos da
verossimilhança e da hipossuficiência do consumidor, inverterá o ônus da produção da
prova (ope judicis).66
Outra importante assimetria ente o fato e o vício consiste em que o acidente de consumo
gera pretensão de indenização que está sujeita a prazo prescricional de cinco (05) anos
iniciando-se a contagem do conhecimento do dano e de sua autoria (art. 27 do CDC
(LGL\1990\40)). A seu turno, o vício do produto ou serviço gera direito à reclamação por
parte do consumidor, sujeito a prazo decadencial de 30 (trinta) dias para a hipótese de
fornecimento de produto ou serviço não durável e de 90 (noventa) dias em se tratando de
produtos ou serviços duráveis, iniciando-se a contagem do prazo a contar da entrega do
produto ou término da execução do serviço. Tratando-se de vício oculto, o prazo
decadencial tem início no momento em que este ficar evidenciado (art. 26, § 3.º, do CDC
(LGL\1990\40)).
Esta assimetria entre o fato e o vício do produto ou do serviço traz implicação prática
relevante quando da identificação de tais institutos em face do exíguo prazo decadencial de
reclamação comparado ao prazo prescricional para reaver perdas e danos.
O defeito implica, segundo se pode inferir da redação dos arts. 12 e 14 do Código de Defesa
do Consumidor, a assunção de responsabilidade por parte do fornecedor por força da
necessária lesão à incolumidade física que a anomalia do produto ou serviço impõe ao
consumidor. Há constatação da alteração no plano natural da higidez física do consumidor
que teve como causa um produto ou serviço defeituoso, violando, assim as regras de
segurança legitimamente esperada, seja em razão da não observância de alguns modais,
quais sejam, (a) sua apresentação; (b) seus usos e riscos razoavelmente esperados e, (c)
em decorrência da época em que posto em circulação. Portanto, o fornecedor tem fixada
previamente a sua responsabilidade na hipótese de ocorrência do fato do produto ou
serviço.67
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4 Conclusão
Os institutos do fato e do vício do produto e serviço são categorias jurídicas criadas pelo
Código de Defesa do Consumidor, que possuem simetrias entre si, dentre estas: (a) a
imputação de responsabilidade objetiva ao fornecedor, a exceção dos profissionais liberais
(arts. 12, 14, 18, 20, do CDC (LGL\1990\40)); (b) a tutela dos direitos e interesses dos
consumidores quanto aos produtos e serviços disponibilizados no mercado (arts. 1.º, 4.º,
6.º, 8.º, 9.º e 10, do CDC (LGL\1990\40)); (c) a solidariedade, como regra, entre os
fornecedores que compõem a cadeia de fornecimento do produto ou do serviço (arts. 7.º,
parágrafo único e 25, § 1.º, do CDC (LGL\1990\40)); (d) a reparação integral dos danos
resultantes do fato e do vício do produto e do serviço (art. 6.º, VIII, do CDC
(LGL\1990\40)).
O fato e o vício do produto e do serviço, contudo, possuem assimetrias, dentre outras: (a)
o fato caracteriza-se pela insegurança do produto ou serviço (arts. 12 e 14, do CDC
(LGL\1990\40)) e o vício pela sua inadequação (arts. 18 e 20, do CDC (LGL\1990\40)); (b)
o fato gera o dever de indenizar, ao passo que o vício faculta ao consumidor as opções de
dar continuidade ao contrato, mediante saneamento do vício, substituição do produto ou
reexecução do serviço, restituição da quantia paga ou abatimento proporcional do preço,
sem prejuízo de postular eventuais perdas e danos (arts. 18 e 20, do CDC (LGL\1990\40));
(c) o fato alcança o consumidor e pode até mesmo atingir terceiro estranho ao contrato
(arts. 12, 14, 17 e 29, do CDC (LGL\1990\40)) enquanto o vício se aplica estritamente ao
consumidor contratante (arts. 18 e 20, do CDC (LGL\1990\40)); (d) o fato é mais grave do
que o vício porque atinge a incolumidade física do consumidor e, reflexamente, lhe inflige
lesão a direito da personalidade que, é todavia, espécie de dano autônomo. O dano
decorrente do vício fica circunscrito ao próprio produto ou serviço e a eventual lesão a
direito da personalidade, caso ocorra, tem causa independente do vício; (e) o fato está
sujeito à prescrição (art. 27 do CDC (LGL\1990\40)) e o vício a prazo decadencial (art. 26
do CDC (LGL\1990\40)); (f) no fato o comerciante somente responde solidariamente com
os demais fornecedores que compõe a cadeia de fornecimento do produto ou serviço nas
hipóteses de anonimato dos demais integrante da cadeia de fornecimento ou quando não
conserva adequadamente o produto (art. 13 do CDC (LGL\1990\40)). No vício todos os
fornecedores respondem solidariamente pela anomalia do produto ou serviço (art. 18, 20,
do CDC (LGL\1990\40)); (g) No fato o ônus da prova é do fornecedor (arts. 12, § 3.º e 14,
§ 3.º, do CDC (LGL\1990\40)). No vício o ônus da prova é, regra geral, do consumidor, a
menos que invertido pelo juízo presente os requisitos legais da verossimilhança ou
hipossuficiência (art. 6.º do CDC (LGL\1990\40)).
O Código de Defesa do Consumidor não deu ao fato e ao vício tratamento diferenciado por
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mero diletantismo, mas porque são ontologicamente distintos e quando tratados de forma
atécnica, tomando-se um pelo outro, pode-se chegar a resultado diverso do que
pretendido pela própria legislação. Portanto, a correta identificação e aplicação de tais
institutos não é questão meramente semântica porque tem consequência prática para as
partes envolvidas no litígio, em especial, para o consumidor. Dúvidas podem surgir quanto
à correta aplicação do instituto, mas os critérios apontados, colhidos da legislação,
doutrina e jurisprudência, se mostram eficientes para nortear a sua classificação.
5 Bibliografia
CAVALIERI FILHO, Sérgio Cavalieri. Programa de direito do consumidor. 3. ed. São Paulo:
Atlas, 2011.
DENARI, Zelmo. In: GRINOVER, Ada Pellegrini [et al]. Código brasileiro de defesa do
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LOBO, Paulo Luiz Netto. Responsabilidade por vício do produto ou do serviço. Brasília:
Brasília Jurídica, 1996.
MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no código de defesa do consumidor. 7. ed. São Paulo:
Ed. RT, 2013.
MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 4. ed. São Paulo: Ed. RT, 2013.
ROCHA, Sílvio Luis Ferreira da. Responsabilidade civil do fornecedor pelo fato do produto
no direito brasileiro. 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2000.
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SIMÃO, José Fernando. Vícios do produto no novo código civil e no código de defesa do
consumidor. São Paulo: Atlas, 2003.
TADEU, Silneu Alves. Responsabilidade civil: nexo causal, causas de exoneração, culpa da
vítima, força maior e concorrência de culpas. Revista de Direito do Consumidor. São Paulo,
v. 16, n. 64, p. 134-165, out.-dez. 2007.
1 ROCHA, Sílvio Luis Ferreira da. Responsabilidade civil do fornecedor pelo fato do produto
no direito brasileiro. 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2.000. p. 95.
5 MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no código de defesa do consumidor. 7. ed. São Paulo:
Ed. RT, 2013. p. 1.218.
6 MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no código de defesa do consumidor. 7. ed. São Paulo:
Ed. RT, 2013. p. 1.290-1.291.
8 BENJAMIN, Antônio Herman V.; MARQUES, Cláudia Lima e BESSA, Leonardo Roscoe.
Manual de direito do consumidor. 5. ed. São Paulo: Ed. RT, 2013. p. 206.
10 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de direito do consumidor. 3. ed. São Paulo: Atlas,
2011. p. 358.
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16 BENJAMIN, Antônio Herman V.; MARQUES, Cláudia Lima e BESSA, Leonardo Roscoe.
Manual de direito do consumidor. 5. ed. São Paulo: Ed. RT, 2013. p. 140.
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regimental a que se nega provimento.(STJ, AgRg no AREsp 413.571/MG, Rel. Ministro Raul
Araújo, 4.ª Turma, j. 12.08.2014, DJe 01.09.2014). Ação de indenização. Compra e venda
de veículo usado. Vício de qualidade do produto. Artigo 18, § 1º, do Código de Defesa do
Consumidor. Danos materiais. Responsabilidade objetiva do fornecedor. Cálculo dos juros
de mora. I - Restando comprovado que a extensão dos danos materiais sofridos pelo autor,
ora recorrido, não se restringiu à peça danificada no motor do veículo fornecida pela ré, ora
recorrente, tendo alcançado também as despesas efetuadas na realização do serviço,
mostra-se insubsistente a alegação recursal de que, com a reposição da referida peça, teria
desaparecido o ato ilícito. II - Não havendo nos autos prova de que o defeito foi ocasionado
por culpa do consumidor, subsume-se o caso vertente na regra contida no caput do artigo
18 da Lei n. 8.078/90, o qual consagra a responsabilidade objetiva dos fornecedores de
bens de consumo duráveis pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ou
inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, impondo-se o
ressarcimento integral dos prejuízos sofridos.
20 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Responsabilidade por vício do produto ou do serviço. Brasília:
Brasília Jurídica, 1996. p. 193.
23 DENARI, Zelmo. In: GRINOVER, Ada Pellegrini [et al]. Código brasileiro de defesa do
consumidor. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1998. p. 139.
25 TADEU, Silneu Alves. Responsabilidade civil: nexo causal, causas de exoneração, culpa
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27 FILHO, Sérgio Cavalieri. Programa de direito do consumidor. 3. ed. São Paulo: Atlas,
2011. p. 292.
28 MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 4. ed. São Paulo: Ed. RT, 2013. p.
507.
29 Direito civil. Dano moral. Preservativo encontrado em lata de extrato de tomate. Prova.
Responsabilidade objetiva. Perícia requerida pelo fornecedor indeferida. Preclusão. Dano
moral. Existência. Entrevista posterior. Irrelevância. 1. A ausência de impugnação
oportuna da decisão que indeferiu o pedido de produção de prova pericial pelo fornecedor
justifica a negativa de anulação da sentença, pelo Tribunal. Se esse fundamento foi alçado
a razão de decidir no acórdão recorrido, a falta de impugnação do ponto impede do
conhecimento da matéria, no recurso especial. 2. O fato de a consumidora ter dado
entrevista divulgando sua vitória na ação de indenização não é indicativo de inexistência do
dano moral. Ao contrário, divulgar o fato e a obtenção da indenização, demonstrando a
justiça feita, faz parte do processo de reparação do mal causado. 3. O montante da
indenização não comporta revisão na hipótese em que, em processo semelhante, no qual
consumidor encontra inseto dentro de lata de leite condensado, esta Corte manteve
indenização fixada em valor semelhante. 4. Recurso especial conhecido e improvido. (STJ,
REsp 1317611/RS, rel. Ministra Nancy Andrighi, 3.ª Turma, j. 12.06.2012, REPDJe
27.08.2012, DJe 19.06.2012).
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repercussão doutrinária e jurisprudencial
32 BENJAMIN, Antônio Herman V.; MARQUES, Cláudia Lima e BESSA, Leonardo Roscoe.
Manual de direito do consumidor. 5. ed. São Paulo: Ed. RT, 2013. p. 180.
33 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de direito do consumidor. 3. ed. São Paulo: Atlas,
2011. p. 290.
36 Direito civil e processual civil. Recurso especial. Ação de indenização por danos
materiais e compensação por danos morais. Plano de saúde. Exclusão de cobertura relativa
à prótese. Abusividade. Dano moral. 1. Recurso especial, concluso ao Gabinete em
06.12.2013, no qual discute o cabimento de compensação por danos morais decorrente de
negativa de fornecimento de prótese ortopédica por plano de saúde. Ação de cobrança
ajuizada em 06.01.2011. 2. É nula a cláusula contratual que exclua da cobertura órteses,
próteses e materiais diretamente ligados ao procedimento cirúrgico a que se submete o
consumidor. 3. Embora o mero inadimplemento contratual não seja causa para ocorrência
de danos morais, é reconhecido o direito à compensação dos danos morais advindos da
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Simetrias e assimetrias entre fato e vício do prouto/serviço:
repercussão doutrinária e jurisprudencial
injusta recusa de cobertura de seguro saúde, pois tal fato agrava a situação de aflição
psicológica e de angústia no espírito do segurado, uma vez que, ao pedir a autorização da
seguradora, já se encontra em condição de dor, de abalo psicológico e com a saúde
debilitada. 4. Recurso especial provido. (STJ, REsp 1421512/MG, rel. Ministra Nancy
Andrighi, 3.ª Turma, j. 11.02.2014, DJe 30.05.2014).
37 SIMÃO, José Fernando. Vícios do produto no novo código civil e no código de defesa do
consumidor. São Paulo: Atlas, 2003. p. 40.
39 SIMÃO, José Fernando. Vícios do produto no novo código civil e no código de defesa do
consumidor. São Paulo: Atlas, 2003. p. 56.
43 LOBO, Paulo Luiz Netto. Responsabilidade por vício do produto ou do serviço. Brasília:
Brasília Jurídica, 1996. p. 52.
44 MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 4. ed. São Paulo: Ed. RT, 2013. p.
588.
47 Recurso Especial. Civil. "Pacote turístico". Inexecução dos serviços contratados. Danos
materiais e morais. Indenização. Art. 26, I, do CDC (LGL\1990\40). Direto à reclamação.
Decadência. O prazo estatuído no art. 26, I, do CDC (LGL\1990\40), é inaplicável à
espécie, porquanto a pretensão indenizatória não está fundada na responsabilidade por
vícios de qualidade do serviço prestado, mas na responsabilidade contratual decorrente de
inadimplemento absoluto, evidenciado pela não-prestação do serviço que fora avençado
no "pacote turístico". (REsp 278.893/DF, rel. Ministra Nancy Andrighi, 3.ª Turma, j.
13.08.2002, DJ 04.11.2002, p. 197). No mesmo sentido: Indenização. Seguro saúde.
Despesas hospitalares. Cobertura recusada pela seguradora. Prescrição ânua. Em caso de
recusa da seguradora ao pagamento da indenização contratada, o prazo prescricional da
ação que a reclama é de um ano, nos termos do art. 178, § 6º, II, do Código Civil de 1916.
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Inaplicável o lapso prescricional de cinco anos, por não se enquadrar a espécie no conceito
de “danos causados por fato do produto ou serviço” (acidente de consumo). Precedentes
do STJ. Recurso especial conhecido, em parte, e provido. (STJ, REsp 738.460/RJ, Rel.
Ministro Barros Monteiro, 4.ª Turma, j. 11.10.2005, DJ 05.06.2006, p. 292).
48 LOBO, Paulo Luiz Netto. Responsabilidade por vício do produto ou do serviço. Brasília:
Brasília Jurídica, 1996. p. 69.
52 LOBO, Paulo Luiz Netto. Responsabilidade por vício do produto ou do serviço. Brasília:
Brasília Jurídica, 1996. p. 52.
54 LOBO, Paulo Luiz Netto. Responsabilidade por vício do produto ou do serviço. Brasília:
Brasília Jurídica, 1996. p. 45.
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Simetrias e assimetrias entre fato e vício do prouto/serviço:
repercussão doutrinária e jurisprudencial
28.06.2013).
56 DA ROCHA, Sílvio Luis Ferreira da Rocha. Responsabilidade civil do fornecedor pelo fato
do produto no direito brasileiro. 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2000. p. 165.
57 MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 4. ed. São Paulo: Ed. RT, 2013. p.
514.
58 SIMÃO, José Fernando. Vícios do produto no novo código civil e no código de defesa do
consumidor. São Paulo: Atlas, 2003. p. 60-61.
60 “A rigor, não é o vício do produto ou do serviço que causa o dano extra rem – dano
material ou moral –, mas a conduta do fornecedor, posterior ao vício, por não dar ao caso
a atenção e solução devidas. O dano moral, o desgosto íntimo, repita-se, decorre de causa
superveniente (o não-atendimento pronto e eficiente ao consumidor, a demora
injustificável na reparação do vício). Tem caráter autônomo”. Confira-se em CAVALIERI
FILHO, Sérgio. Programa de direito do consumidor. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 325.
61 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de direito do consumidor. 3. ed. São Paulo: Atlas,
2011. p. 325.
62 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Responsabilidade por vício do produto ou do serviço. Brasília:
Brasília Jurídica, 1996. p. 93.
63 MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 4. ed. São Paulo: Ed. RT, 2013. p.
588.
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repercussão doutrinária e jurisprudencial
65 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de direito do consumidor. 3. ed. São Paulo: Atlas,
2011. p. 293.
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