Resenha I – “Adam Smith em Pequim - Origens e fundamentos do século XXI”, de
Giovanni Arrighi Giovanni Arrighi foi um economista político que tratava dentre outros temas aspectos sociológicos e das relações internacionais. Neste contexto, acaba escrevendo a obra Adam Smith em Pequim - Origens e fundamentos do século XXI, em que dialoga com estudos de Smith e de Marx. No capítulo 12, ao qual foi baseado esta resenha, Arrighi fala sobre a origem e dinâmica da ascensão chinesa. Antes de tudo, como em todo relatório que trate sobre a China em seus aspectos políticos, econômicos e culturais, é importante ressaltar que deve-se manter a mente livre para entender os fatos sob os aspectos orientais, sendo errôneo tentar encaixar, interpretar ou comparar os fatos que desencadearam a ascensão da China a grande economia que é hoje nos nossos moldes ocidentais. O PCC merece reconhecimento pelo fato de acionar os chineses residentes no exterior no sentido de mobilizar forças para o desenvolvimento de sua nação. Giovanni destaca os investimentos diretos estrangeiros, mas sem dúvidas, sem os chineses que se capacitaram no exterior e puderam aplicar conhecimentos técnicos à gestão e no suporte ao planejamento central todos os avanços que vemos hoje poderiam ter acontecido em um ritmo mais lento. A mão-de-obra barata que antigamente atraiu as empresas estrangeiras para a China acabou contribuindo para o desenvolvimento de empresas nacionais, seja por parcerias para funcionamento em mercado chinês ou pelo fato de trazer novas tecnologias que foram copiadas posteriormente por rivais, principalmente por conta das exigências que não somente a parte de montagem fosse feita em territórios chineses, mas como também que outras partes da cadeia produtiva estivessem na China; o que fez com que fossem criadas novas ofertas de trabalho e gerasse um estímulo na economia. Claro que esta análise é superficial se comparado aos fatos e o grau de detalhes que permeiam estas negociações, mas o fato a ser ressaltado é que atualmente está ocorrendo uma inversão destes papéis, pois, com a ascensão da mão-de-obra qualificada (ainda com custos menores que países concorrentes) e com o fortalecimento do mercado interno (o que faz com que o país deixe de ser exclusivamente dependente de exportações) acaba deixando as empresas estrangeiras em situação delicada, por conta da competitividade e também em posição de desvantagem em negociações (principalmente se as negociações forem em pautas contrarias as dos interesses chineses). Os investimentos diretos estrangeiros direcionados a interesses específicos da nação chinesa sem dúvidas deram força para que a China aumentasse a capacidade produtiva com um custo reduzido e com maior qualificação da sua força de trabalho. No setor da educação, a China bateu rapidamente números de capacitação de sua população com relação a países desenvolvidos, como Japão, e até mesmo inverteu relações no contexto global como por exemplo ao se tornar credora dos Estados Unidos. Mesmo com os boicotes dos estadunidenses a economia chinesa (como no período em que sugeriu que o crédito aos chineses fossem reduzidos), essa ainda consegue se manter firme em seu planejamento e colocar seus contrapontos aos negócios que acreditam serem importantes para a nação. A grandeza histórica ao qual a China possui é um fator que legitima este interesse em progredir e estimular uma vasta população em um território tão grande, como é, a continuar trabalhar duro e produzirem produtos tão bom, ou até mesmo melhores, que os estrangeiros no mercado interno. Outro aspecto que em conjunto aos investimentos estrangeiros deram fôlego ao desenvolvimento da China foi as mudanças de Deng relacionadas aos agricultores, que estimulou não só a produção, como também o preço dos produtos agrícolas. As políticas de permitir que os agricultores comercializassem com cidades vizinhas e posteriormente com o surgimento das Empresas de Aldeias e de Municípios (EAMs) acabou estimulando a explosão de mão-de-obra não relacionada a agricultura, o que foi outro fator de estímulo para a economia geral. Por fim, com o crescimento acelerado do país e com muitas reformas que deram certo em um prazo relativamente curto de tempo há também o surgimento de contradições sociais como resultado direto destas mudanças. Entre vários relatos, pode-se citar o desvio de terras destinadas a agricultura para fins industriais e imobiliários, além da corrupção de governos locais (sem contar na questão dos impostos e taxas cobradas), o que acabou florescendo um descontentamento da população. A partir de 1990, como cita Arrighi, há uma mudança de postura dos chineses, surgimento de um descontentamento, que mina a ideia de que não há protestos ou movimentos trabalhistas na China, pois, muito mais jovens vão para as ruas cobrar direitos e exigir do PCC um maior equilíbrio entre o desenvolvimento rural e urbano. O resultado destas manifestações é concessão de mudanças e a conquista dos objetos de reclamação, como o fechamento da fábrica de inseticidas poluidora em Dong-yang, em 2005, onde cerca de 10 mil moradores derrotarem a polícia e conseguiram o fechamento da fábrica ou a conquista de novas legislações trabalhistas que visa aumentar o direito dos trabalhadores.