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Apostila de teoria de FT - capítulos____________________________________________________________________ 1

Capítulo 1

Fenômenos de Transporte - Introdução


1.1 Generalidades

Para entender do que se trata Fenômenos de Transporte, serão analisados


alguns casos práticos, tais como:

a) Respiração animal: ar em movimento; ar  fluido; movimento  Mecânica;


portanto: Mecânica dos Fluidos;
b) Circulação sangüínea: sangue em movimento; sangue  fluido; movimento
 Mecânica; portanto: Mecânica dos Fluidos;
c) Fazer café na forma líquida: aquecer a água para depois colocar o pó de
café; aquecer a água  aquecer primeiro o recipiente  condução de calor
 aquecer a água  convecção; portanto, passando calor do recipiente para
a água tem-se uma Transferência de Calor;
d) “Bronzear-se” na praia: um processo recomendado somente antes da 10h
da manhã e após às 16h da tarde, com uso de protetor solar ou filtro; radiação
solar que atinge a pele humana  calor que se transfere do Sol à pessoa 
portanto: Transferência de Calor;
e) Secar roupa no varal: com a umidade relativa do ar baixa (menor que 50%)
as gotículas de água saem da roupa e vão para o ar seco, gradativamente;
isto é acelerado pelo ar em movimento (ventilação); ar em movimento 
Mecânica dos Fluidos; gotículas de água saindo da roupa e indo para o ar
 Transferência de Massa;
f) Fabricação de leite em pó: retirar água do leite; se aquecer o leite de forma
bruta, direta, poderá destruir suas propriedades alimentícias; portanto, a água
deve ser retirada do mesmo de forma gradativa, utilizando-se o mesmo
processo da secagem da roupa no varal, mas com ar muito seco e quente;
portanto: Transferência de Massa;
g) Projeto de aeronaves, navios, submarinos, mísseis, automóveis,
projéteis; trens: contato do veículo com ar, água ou ambos; ou o veículo fica
estático e o fluído move-se ao seu redor ou o contrário; em ambos os casos
 Mecânica dos Fluidos;

Em todos estes casos familiares, que fazem parte do cotidiano, e mais em


uma centena de outros casos, é aplicado algum estudo de Fenômenos de
Transporte (FT).
Por isto, pode-se definir Fenômenos de Transporte como a ciência que
estuda toda a fenomenologia na transferência (transporte) de um ponto A até um
ponto B de três áreas (ou situações), a saber:

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- Fluidos: líquidos e gases  Transferência de Quantidade de Movimento;

- Calor: fluxo térmico  Transferência de Calor;

- Massa: difusividade molecular  Transferência de Massa;

1.2 Aplicações de FT

1.2.1 Aeronáutica

Como projetar um avião como os das figuras 1.1 e 1.2 sem saber de FT?
O futuro engenheiro deve tentar imaginar a complexidade destes aparelhos
sem o conhecimento do engenheiro que os projetou em FT.

Fig. 1.1: avião para uso comercial

Fig. 1.2: avião para uso militar

1.2.2 Automobilística

Estudar a aerodinâmica dos automóveis, colocando o protótipo num túnel de


vento já é tarefa corriqueira para um engenheiro com conhecimentos em FT (fig.
1.3).

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Fig. 1.3: carro esporte

1.2.3 Projeto de coração artificial e hemodiálise

Imagine o futuro engenheiro a Medicina sem o auxílio de engenheiros com


conhecimentos em FT. Talvez alguns pacientes demorassem um pouco mais para
serem curados de seus problemas cardíacos ou renais (figs. 1.4 e 1.5).

Fig. 1.4: projeto de coração artificial elétrico

Fig. 1.5: bomba peristáltica utilizada em hemodiálise


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1.2.4 Estação de Tratamento de Esgoto

Muito se deve ao bem estar da população pela existência de engenheiros e


químicos com conhecimentos em FT capazes de projetar estas edificações que tanto
bem fazem à humanidade (fig. 1.6), principalmente ao nosso querido Rio Sorocaba.

Fig. 1.6: Estação de Tratamento de Esgoto

1.2.5 Formação de ondas oceânicas e estudos climáticos

Base para a Meteorologia, FT deslumbra como matéria fundamental para a


previsão de ondas gigantes (tsunamis) e furacões em alguns países cujas
populações tem que se precaver destes fenômenos meteorológicos (fig. 1.7 e 1.8).

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Fig. 1.7: furacão visto do espaço por satélites

Fig. 1.8: formação de ondas no oceano

1.2.6 Usina Maremotriz

Sabia o futuro engenheiro que é possível conseguir-se gerar energia elétrica


através da força das marés? Esta edificação é denominada usina maremotriz e já é
aplicada em alguns países já faz algum tempo (fig. 1.9).

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Fig. 1.9: modelo de usina maremotriz

1.2.7 Extração Petrolífera e Sondagem na Água

Hoje já existem plataformas de petróleo em alto mar que são totalmente


automatizadas, cujo controle é feito na costa marítima, sem haver a necessidade de
técnicos na plataforma, evitando assim inúmeros acidentes que, infelizmente,
fizeram várias vítimas. Imagine o futuro engenheiro se isto poderia funcionar sem os
conhecimentos básicos em FT (figs. 1.10 e 1.11).

Fig. 1.10: plataforma para extração petrolífera em alto mar

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Fig. 1.11: sondagem na água

1.2.8 Projeto de embarcações de grande porte

Será que quem projetou o Titanic tinha reais conhecimentos em FT? Será que
ele deveria realmente ter afundado? Hoje todas as embarcações são projetadas com
o máximo de segurança possível e seus engenheiros são altamente gabaritados em
FT para cumprir tal nobre missão na Engenharia (fig. 1.12).

Fig. 1.12: transatlântico Queen Mary 2

1.2.9 Fontes alternativas de geração de energia elétrica

O vento vem sendo uma das formas mais estudadas para geração de energia
elétrica, considerada como forma alternativa ainda a ser amplamente aplicada nos
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dias atuais. Logicamente, estudar os geradores eólicos somente se faz com


conhecimentos profundos em FT. Na fig. 1.13 se faz um comparativo entre as pás de
um gerador eólico e um avião comercial.

Fig. 1.13: geradores eólicos

1.2.10 Usinas hidrelétricas

Logicamente, para se projetar, construir e manter o funcionamento de Itaipu é


formada uma equipe de engenheiros, biólogos, químicos e vários outros
profissionais que, sem os conhecimentos básicos em FT, seria impossível suprir esta
tão complexa tarefa (fig. 1.14).

Fig. 1.14: UH de Itaipu


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1.2.11 Pasteurização do leite e fabricação do leite em pó

Pasteurizar o leite é purificá-lo das bactérias nocivas à saúde, para depois


secá-lo, sem tirar-lhe suas propriedades nutritivas, fabricando-se assim o leite em
pó. E isto é feito com os conhecimentos básicos em FT (figs. 1.15 e 1.16).

Fig. 1.15: processo de pasteurização do leite


(1)-Leite Crú; (2)-Bomba; (3)-Água Fria; (4)-Água Quente; (5)-Homogeneizador; (6)-Serpentina
de Controle; (7)-Água Superaquecida; (8)-Vapor de Aquecimento; (9)-Leite Pasteurizado

Fig. 1.16: desidratador para leite em pó


(1)-Desidratador; (2)-Ar Aquecido; (3)-Leite Líquido; (4)-Bomba de Pressão; (5)-Atomizador;
(6)-Ciclone; (7)-Filtro; (8)-Saída do Ar; (9)-Saída do Leite em Pó

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1.2.12 Fabricação de cerveja

Quem não conhece, pelo menos teoricamente, esta bebida famosa no mundo
inteiro? Para suprir a demanda mundial, os fabricantes têm que automatizar seus
processos de fabricação, aprimorando ainda mais os seus conhecimentos de FT
nesta aplicação (fig. 1.17).

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Fig. 1.17: modelo de fabricação de cerveja


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1.2.13 Fabricação do aço

Considerando-se que para fundir o aço, a temperatura mínima necessária, à


pressão normal, é de 1480 oC, pode-se fazer uma idéia de quão necessário é o
conhecimento mínimo em FT para se controlar esta temperatura num forno propício
para tal (fig. 1.18).

Fig. 1.18: fabricação do aço

1.2.14 E a vida continua...

Em outras palavras, não há nenhuma área de Engenharia que não precise de


FT. É por isto e por muitos outros motivos que o futuro engenheiro precisa
fundamentalmente dos conhecimentos adquiridos em FT para sua formação
profissional.

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Capítulo 2

Sistemas de Unidades
2.1 Grandeza – definição

Grandeza é tudo o que pode ser medido. A grandeza obedece à seguinte


equação característica:

Grandeza = valor medido + unidade


O valor medido pode ser obtido por um método direto (instrumento de
medição) ou indireto (cálculo). Se a grandeza não tiver unidade (ou dimensão) ela é
denominada adimensional.

2.2 Sistemas de Unidades

A unidade deve ser obtida por um sistema de unidades adequado. São quatro
os sistemas de unidades mais utilizados em FT, a saber:

I) Sistema Internacional de Unidades (SI): é composto de 7 grandezas


básicas, chamadas FUNDAMENTAIS, de onde deduzem-se as outras, denominadas
DERIVADAS.
As grandezas básicas do S.I. são resumidas na tabela 2.1.
Tab. 2.1: grandezas fundamentais do SI
Grandeza Unidade Símbolo da unidade
Comprimento metro m
Massa quilograma kg
Tempo segundo s
Intensidade de corrente elétrica ampère A
Temperatura termodinâmica kelvin K
Intensidade luminosa candela cd
Quantidade de matéria mol mol

Algumas grandezas possuem suas unidades homenageando alguns cientistas


Alguns exemplos:

a) Força: Newton  N

Em homenagem a Isaac Newton, cientista inglês.

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Isaac Newton (1643 – 1727)

b) Energia, trabalho: Newton . metro = Joule  J


Em homenagem a James Prescott Joule, cientista inglês.

James Prescott Joule (1818 – 1889)

c) Potência: Joule/segundo = J/s = Watt  W


Em homenagem a James Watt, cientista escocês.

James Watt (1736 – 1819)

d) Intensidade de Corrente Elétrica: Ampère  A


Em homenagem a André Marie Ampère, cientista francês.

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André Marie Ampère (1775 – 1836)

e) Temperatura Absoluta: Kelvin  K


Em homenagem a Whilliam Thonpson (mais conhecido pelo seu título,
Lord Kelvin), cientista inglês.

Whilliam Thonpson, Lord Kelvin (1824 – 1907)

f) Pressão, tensão: Pascal  Pa


Em homenagem a Blaise Pascal, cientista francês.

Blaise Pascal (1623 – 1662)

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g) Carga elétrica: Coulomb  C


Em homenagem a Charles Augustin Coulomb, engenheiro militar
francês.

Charles Augustin Coulomb (1736 – 1806)

II) Sistema Inglês Gravitacional (SIG): as grandezas fundamentais do SIG são


resumidas na tabela 2.2.

Tab. 2.2: grandezas fundamentais do SIG


Grandeza Unidade Símbolo da unidade
Comprimento foot (pé) ft
Massa slug slug
Tempo segundo s
Temperatura Termodinâmica rankine R
Força libra-força lbf

III) Sistema Inglês de Engenharia (SIE): basicamente, o que muda do SIE para
o SIG é a unidade de massa que, no SIE, é a libra-massa (lbm).
A relação das unidades de massa dos dois sistemas está no valor da
aceleração gravitacional no SIE, que vale:

Ao nível do mar : g o = 9,80665 m/s 2


1
Como : 1 ft = 0,3048 m → 1 m = ft
0,3048
9,80665
∴go = ft/s 2 → g o = 32,17405 ft/s 2 ≅ 32,17 ft/s 2
0,3048

Assim, a relação entre a libra-massa e o slug é:

1 slug = 32,17 lbm

IV) Sistema Prático (SP): basicamente, as grandezas fundamentais no SP estão


resumidas na tabela 2.3.

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Tab. 2.3: grandezas fundamentais do SP


Grandeza Unidade Símbolo da unidade
Força quilograma-força kgf
Comprimento inch (polegada) in
o o
Temperatura graus Celsius/graus Fahrenheit C/ F

2.3 Construção de um fator de conversão de unidade composto

Pelo apêndice N sabe-se, por exemplo, que:

1 kgf = 9,80665 N

1 lbf = 4,448 N

1 ft = 0,3048 m

Deseja-se saber quanto vale 1 kgf/m2 em lbf/ft2 (também denominado psf =


pound square foot).
O raciocínio para construir este tipo de fator de conversão é da seguinte
forma:

Se : 1 kgf = 9,80665 N
E : 1 lbf = 4,448 N
9,80665
Então : 1 kgf = lbf
4,448
kgf 9,80665 lbf
Ou ainda : 1 2 =
m 4,448 m 2
Mas, se : 1 ft = 0,3048 m
1 1
Então : 1 m = ft → 1 m 2 = ft 2
0,3048 (0,3048) 2

lbf 9,80665.(0,3048) lbf


2
kgf 9,80665 1
Portanto : 1 2 = . =
m 4,448 1 ft 2 4,448 ft 2
(0,3048)2
kgf lbf
∴1 2
= 0,2048 2
m ft

2.4 Símbolos dimensionais

O símbolo dimensional leva em consideração a dimensão mais básica da


grandeza e não depende do sistema de unidades adotado. Assim sendo, os
símbolos dimensionais das grandezas fundamentais são assim definidos na tabela
2.4.

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Tabela 2.4: símbolos dimensionais das grandezas fundamentais


Grandeza Símbolo dimensional
Comprimento L
Massa M
Tempo T
Intensidade de corrente elétrica I
Temperatura termodinâmica θ
Intensidade luminosa Io
Quantidade de matéria N

Assim, através do símbolo dimensional das fundamentais, pode-se deduzir o


símbolo dimensional das grandezas derivadas. Exemplos:

a) Velocidade: V = d/t = distância/tempo


Símbolo dimensional: [V] = [d/t] = L /T = L . T-1

b) Aceleração: a = V/t = velocidade/tempo


Símbolo dimensional: [a] = [V/t] = L . T-1/T = L . T-2

c) Força: F = m . a = massa . aceleração ( 2a Lei de Newton )


Símbolo dimensional: [F] = [m . a] = M . L . T-2 = F

Neste caso da força, ela reúne em si toda a base dimensional do sistema, isto
é, a base MLT. Assim pode-se obter outra base dimensional, isto é, a base F. Ou
seja, toda grandeza que depender da força para sua definição básica, utilizará a
base F ou a base MLT, conforme o caso.
Um exemplo disto é o trabalho (ou energia). Seu símbolo dimensional pode
ter duas bases, MLT ou F, da seguinte forma:

Trabalho = F . d = força . distância  [Trabalho] = [F.d] = F . L = M . L2.T-2

Como o símbolo dimensional independe do sistema de unidades utilizado, ele


poderá ser utilizado para se saber qual a unidade da grandeza no sistema adotado.
Por exemplo, a unidade de velocidade no SI pode ser deduzida pelo símbolo
dimensional da velocidade, da seguinte forma: lembrando que o símbolo
dimensional da velocidade é L . T-1 tem-se que a unidade da velocidade no SI será a
unidade representativa de L vezes o inverso da unidade representativa de T, no
mesmo sistema (isto é, o SI). Isto é:

[V] = m . s-1 = m/s

E, assim analogamente, podem-se determinar as unidades das grandezas


derivadas, sabendo-se seus símbolos dimensionais e o sistema de unidades em
estudo.
Na tabela 2.5 estão ilustrados os símbolos dimensionais de várias grandezas
derivadas estudadas em Mecânica dos Fluídos.

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Tabela 2.5: símbolos dimensionais de várias grandezas derivadas


Grandeza derivada Definição mais básica Símbolo dimensional na base
MLT
Potência (dW/dt) Energia/tempo M1.L2.T-3
Massa específica (ρ) Massa/volume M1.L-3.T0
Peso específico (γ) Peso/volume M1.L-2.T-2
Tensão ou Pressão (τ ou p) Força/área M1.L-1.T-2
Carga de pressão (H) Pressão/peso específico M0.L1.T0
Taxa de deformação angular Ângulo/tempo M0.L0.T-1
(dα/dt)
Viscosidade dinâmica ou Tensão/taxa de deformação M1.L-1.T-1
absoluta (µ) angular
Viscosidade cinemática (υ) Viscosidade dinâmica/massa M0.L2.T-1
específica
Módulo de elasticidade (E) Tensão/deformação relativa M1.L-1.T-2
Vazão em volume ou Volume/tempo M0.L3.T-1
volumétrica (Q)
Vazão em massa ou mássica Massa/tempo M1.L0.T-1
(dm/dt)

2.5 Grupos adimensionais

Define-se grupo adimensional ao conjunto de grandezas cuja


dimensionalidade é unitária, isto é, o símbolo dimensional do grupo todo é unitário.
Isto não significa que o grupo adimensional é formado por grandezas adimensionais.
Mas, no conjunto, o grupo adimensional possui dimensão unitária.
Um exemplo de grupo adimensional muito importante na Mecânica dos
Fluidos é o Número de Reynolds, em homenagem a Osborne Reynolds, cientista
irlandês (ver apêndice L):

Osborne Reynolds (1842 – 1912)

O Número de Reynolds estuda a relação entre forças de inércia e forças de


viscosidade presentes num escoamento de fluido e é dado pela relação a seguir:

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ρ .V .L
Rey =
µ

Onde: V = velocidade média do fluido em escoamento


L = dimensão característica do escoamento  [L] = L

Para provar que o Número de Reynolds é adimensional basta substituir, no


lugar das grandezas que o compõem, seus símbolos dimensionais, da seguinte
forma:

 ρ .V .L  M 1.L−3 .L1.T −1.L1


[Rey] =   = M 1.L−1.T −1 = 1
 µ 

Portanto, como o símbolo dimensional do Número de Reynolds é unitário, o


Número de Reynolds é um grupo adimensional.

2.6 Teorema de Bridgmann

Em homenagem a Percy Williams Bridgmann, cientista norte americano (ver


apêndice E).

Percy Williams Bridgman (1882 – 1961)

O enunciado do Teorema de Bridgman é:

“Seja um conjunto de grandezas, pertencentes a um fenômeno físico. Qualquer


grandeza G, pertencente ao conjunto das grandezas envolvidas, pode ser
escrita como um produto de uma constante adimensional mais o produto das
demais grandezas do conjunto, cada qual elevado a um expoente próprio.”

Isto é:

G = k .G1α .G2β .G3γ ....Gnζ


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O presente teorema implica que, se as grandezas envolvidas possuem


praticamente a mesma base dimensional, elas estão relacionadas entre si como um
produto das mesmas grandezas onde os expoentes próprios são determinados
pelos expoentes da base dimensional.
Por exemplo, no experimento do pêndulo simples, foram medidas as
grandezas envolvidas período de oscilação (T), comprimento do pêndulo (L) e a
aceleração da gravidade (g). Deseja-se escrever a relação funcional entre as
grandezas envolvidas, com relação ao período de oscilação (T), isto é:

T = f ( L, g )
De acordo com o Teorema de Bridgmann, tem-se que:

T = k .Lα .g β
A próxima etapa é substituir as grandezas envolvidas pelo respectivo símbolo
dimensional, colocando-os na mesma base dimensional, isto é:

L0 .T 1 = 1.Lα .Lβ .T −2.β = Lα + β .T −2.β


Aplicando-se homogeneidade dimensional (para mesma base expoentes
iguais), isto resulta no seguinte sistema de equações lineares:

 1
α = − β  α =
α + β = 0  2
 →  1 → 
− 2.β = 1 β = − 2 β = − 1
 2
Com estes valores retorna-se à equação principal completando-se a relação
funcional, isto é:

1 1
− L L
T = k .L . g 2 2
= k. → T = k.
g g

É bom lembrar que a constante k pode ser determinada pelos dados


experimentais ou através da aplicação de equações íntegro-diferenciais no
fenômeno, NUNCA pela análise dimensional.

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2.7 Conta de maluco

Para o futuro engenheiro saber manipular as unidades dos diversos sistemas


é de fundamental importância para a sábia resolução das situações que serão
expostas nos exercícios e no cotidiano.
A título de curiosidade sobre saber manipular os sistemas de unidades, leia o
artigo a seguir:

Conta de maluco
Confusão de medidas derruba sonda espacial e mostra como é urgente esquecer pés e polegadas

(Marcos Gusmão - Revista Veja, São Paulo: Abril, n. 1618, p. 118-119, 6 out. 1999.)

A escola ensina que, para qualquer operação que envolva padrões diferentes de pesos e medidas, é
necessário fazer a conversão para um único sistema de unidade. Sem isso, é confusão na certa. Na semana
passada, a agência espacial americana, a Nasa, admitiu que um erro primário como esse pode ter sido a causa
do desvio, e depois da perda, da sonda Mars Climate Orbiter, que custou 125 milhões de dólares. A nave foi
enviada ao espaço para estudar o clima de Marte e espatifou-se ao entrar desastradamente na atmosfera
marciana. Para o constrangimento dos cientistas americanos, a única explicação é a sonda ter recebido
informações conflitantes dos controladores de voo. Ou seja, ao se aproximar do planeta vermelho, foi abastecida
de dados em metro e em quilograma, do Sistema Métrico Decimal, e também em pé e em libra, unidades do
Sistema Imperial Britânico. A comissão de cientistas que investiga o caso acredita que os programas de
computador da Nasa não foram capazes de detectar as diferenças entre valores expressos em dois sistemas.
O melhor time de navegadores espaciais do mundo acabou com uma nave caríssima por causa da
teimosia dos Estados Unidos e de outros países de origem anglo-saxã em manter esse sistema de medidas criado
há oito séculos e que já deveria ter virado peça de museu. "Somente o sistema métrico deveria ser usado", diz
Lorde Young, a presidente da Associação Métrica dos Estados Unidos. "Ele é a língua de toda ciência
sofisticada.". De fato, é inconcebível para uma cabeça adaptada ao sistema decimal a quantidade de cálculos
necessária para trabalhar com medidas como polegadas, jardas e pés. A dificuldade de associação rápida é
assombrosa. Um pé se divide em 12 polegadas. A jarda tem 3 pés e uma milha equivale a 1 760 jardas. Para
responder quantas polegadas existem em uma milha sem fritar os neurônios só apelando de imediato para uma
calculadora. São 63 360 polegadas. E em três quartos de milha? É melhor esquecer. Pelo sistema métrico, para
se chegar a quantos centímetros existem em um quilômetro, é só pensar nas 100 subdivisões do metro e
acrescentar mais os três zeros do milhar. O resultado: 100000 centímetros em cada quilômetro. Em três
quartos de quilômetro? Na ponta da língua: 75 000 centímetros.

Para abastecer o carro, o inglês e o americano pedem o combustível em galão e não em litro, bebe
cerveja em pint e não em mililitro. Mede o peso em libra ou onça. Para a temperatura adota um estranhíssimo
sistema com ebulição a 212 graus, batizado como Fahrenheit e completamente diverso dos graus Celsius que o
resto do mundo usa. Quando se leva em conta a origem dos sistemas então, parece piada. Houve um tempo em
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que a jarda era a distância que ia do nariz à extremidade do braço esticado do rei no poder, senhor de todos os
padrões. O pé era exatamente do tamanho do pé real e a polegada ia pelo mesmo caminho, vinculada ao dedo
do soberano. Hoje não é assim, óbvio. A polegada não é o dedão da rainha Elizabeth II, mas sim 2,5 centímetros.
Para se chegar à jarda também não é preciso medir o braço real: fechou-se a questão em 91,4 centímetros. E o
pé, então, é uma lancha de 30,4 centímetros, que claramente não corresponde às dimensões do de sua
majestade.
Os padrões do chamado Sistema Imperial Britânico foram adaptados ao sistema métrico para poder
funcionar como medidas modernas. “Mesmo com os ingleses mantendo os conceitos antropomórficos, o metro e
as demais unidades do sistema decimal acabaram vencendo a batalha", afirma Giorgio Moscati, professor do
Instituto de Física da Universidade de São Paulo e membro do Comitê Internacional dos Pesos e Medidas. E por
quê? Porque o metro já nasceu com conceituação científica e filosófica e não apenas prática. Ele surgiu como
uma unidade de medida física imutável, no caso, a décima milionésima parte da distância entre o Pólo
Norte e o Equador, medida pelo meridiano que passa por Paris. Foi um produto do iluminismo
francês, para acabar com as medidas arbitrárias da Antiguidade e da Idade Média ainda em vigor no século
XVIII. E até se sofisticou. Hoje o metro é calculado com base no espaço percorrido pela luz no vácuo
em determinado período de tempo, o que permite uma calibragem de instrumentos com precisão
indiscutível.
O problema é que, por motivos culturais diversos países, entre eles a maior potência do planeta,
relutam em abrir mão de suas medidas arcaicas. O que foi disputa entre as pretensões imperiais da França e da
Inglaterra nos últimos dois séculos virou um problemão científico para o futuro, como prova a bobagem
cometida pelos cientistas da Nasa na semana retrasada. "Não dá para trocar as medidas de uma hora para
outra", explica o professor Moscati. "Assim como a jarda é incompreensível para nós, o metro não passa de uma
abstração para a maioria dos americanos e ingleses", diz ele. O resultado é um conflito de comunicação entre
metade do planeta que pensa de um jeito e o outro lado que pensa de outro, insustentável numa sociedade
globalizada. Para resolver pendengas como essa, na próxima segunda-feira a Conferência Geral dos Pesos e
Medidas se reúne mais uma vez em Paris, na França. Os especialistas discutirão exatamente quais são as
maneiras de acelerar o processo de unificação que adotará definitivamente o sistema internacional de unidades
(SI) que regulamenta o metro, o quilograma, o litro e os graus Celsius como padrão. "A unificação no padrão
métrico decimal é inevitável", afirma Moscati, que participará da reunião. Os Estados Unidos aderiram ao
sistema internacional em 1959. Há quatro anos, por força da União Européia, a Inglaterra resolveu dar adeus
definitivo à velharia baseada em pés, polegares e narizes reais. Em ambos os países, o sistema métrico convive
com o imperial, mas a maioria da população só faz contas no estilo antigo. Por isso as trapalhadas como a
ocorrida na Nasa. A confusão está longe de acabar.

Mars CIimate Orbiter: descompasso entre metros e pés derrubou a sonda

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Capítulo 3

Fluidologia - fluidos e suas


propriedades
3.1 Generalidades

FLUIDO: é uma substância que se deforma continuamente sob a ação de um


esforço (tensão) tangencial, NÃO IMPORTANDO quão diminuto seja este esforço.
Outra definição: é uma substância que se adapta totalmente ao recipiente que a
contém (mesmo volume). Outra definição: é uma substância que tem facilidade de
se escoar (embora seja visto em FT que este conceito é relativo). Em FT como
fluidos se entendem os líquidos e os gases. Por sua vez, na área industrial, os
fluidos mais importantes são água, ar, óleo e vapor de água.

PARTÍCULA FLUIDA: é certa quantidade de fluido que possui certa continuidade


(ausência de espaços vazios em seu interior).

ADERÊNCIA: corresponde à condição de deslocamento do fluido quando em


contato com alguma superfície, expressa da seguinte forma: “A camada de fluido em
contato com a superfície possui a mesma velocidade da superfície.” Na matéria,
quando há uma interação entre moléculas da mesma substância, tem-se uma
força de coesão. Quando a interação se dá entre moléculas de substâncias
diferentes, há uma força de adesão. Os sólidos possuem forças de coesão muito
altas, ao passo que nos líquidos esta força é fraca e nos gases ela é praticamente
inexistente. Ambas as forças, coesão e adesão, são de natureza elétrica (forças
eletrostáticas que obedecem à Lei de Coulomb). O fluido, ao escoar, pode entrar em
contato com alguma superfície (placas, paredes de tubulações). Ao fazê-lo, surge
um fenômeno de interação entre as partículas fluidas e a constituição física da
superfície (adesão = rugosidade do tubo + viscosidade do fluido), fazendo surgir
entre elas esforços tangenciais opostos ao movimento das partículas. Nesta
interação as partículas que estão em contato com a superfície ficam agregadas à
mesma superfície, fazendo-se com que a primeira (e muito pequena) camada de
fluido em contato com a superfície adquira a velocidade da superfície. Ou seja, entre
a primeira (e muito pequena) camada de fluido e a superfície não há
“escorregamento”.

DIAGRAMA PRESSÃO X TEMPERATURA DO FLUIDO: é o gráfico que relaciona a


pressão absoluta em função da temperatura sobre o fluido e fornece o ponto triplo
do fluído, para estudo dos limites de mudança de estado. Na figura 3.1 ilustra-se um
diagrama pressão x temperatura para qualquer substância.

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Fig. 3.1: diagrama pressão x temperatura genérico

Como exemplo, a figura 3.2 fornece o diagrama pressão x temperatura do


dióxido de carbono (CO2).

Fig. 3.2: diagrama pressão x temperatura do CO2 – na fase sólida, o CO2 é denominado gelo
“seco”

A importância de se definir os limites de pressão e temperatura para um fluido


em estudo, estando ele em repouso (Fluidostática) ou em movimento
(Fluidocinemática) é que, pelo menos em FT, não será estudada a possibilidade de
mudança de estado do fluido. Assim sendo, se num escoamento o fluido inicia seu
movimento como líquido terminará o escoamento como líquido. Se o fluido inicia seu
escoamento como gás, ele terminará o escoamento como gás.

MASSA ESPECÍFICA OU DENSIDADE ABSOLUTA: define-se massa específica (ρ


= rô) ou densidade absoluta de uma substância como sendo a relação entre sua
massa e o volume que ela ocupa no espaço, dada por:

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 ∆m  dm
ρ= lim   =
∆Vol → ∆Vol ' ∆V
 ol  dVol

Onde: ∆Vol’ = volume mínimo onde ainda se pode determinar a massa


específica.

Unidades:

No SI: [ρ] = kg/m3

No SIG: [ρ] = slug/ft3

Os instrumentos mais utilizados para medir-se a massa específica são:

I) Areômetro ou densímetro: o funcionamento do densímetro basea-se no


princípio do empuxo: uma força de resistência causada pelo fluido em
contato com alguma superfície em seu interior; a força de empuxo é aplicada
no densímetro em sentido contrário à força peso sobre ele; quando estas
forças se equilibram, no nível do líquido se mede a densidade do líquido na
escala do densímetro; nas figuras 3.3 e 3.4 ilustram-se o densímetro utilizado
em laboratório e o mesmo densímetro medindo a densidade de uma amostra
de água, onde se oberva aproximadamente o valor de 1 g/cm3 para esta
amostra.

Fig. 3.3: areômetro ou densímetro utilizado em laboratórios

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Fig. 3.4: areômetro ou densímetro em uso para a água – leitura aproximada de 1 g/cm3

II) Picnômetro: o picnômetro é um recipiente de volume padronizado,


geralmente 50 mL, e, além do recipiente, ele é composto ainda de um
termômetro e um obturador; o processo de medição da densidade pelo
picnômetro é o seguinte: mede-se a massa do conjunto a vazio (sem líquido
no interior do recipiente) com o auxílio de uma balança digital, em gramas;
retira-se o termômetro e a tampa do obturador do picnômetro e enche-se o
picnômetro com o líquido do qual se quer saber a densidade; recoloca-se
primeiro o termômetro no picnômetro e depois a tampa do obturador, pois o
excesso de líquido no recipiente vazará pelo obturador; se limpa, com pano
ou toalha de papel, todo o conjunto para se retirar excesso de líquido no lado
externo do picnômetro; mede-se a massa do conjunto com a balança digital,
em gramas; calcula-se a diferença das massas do picnômetro a vazio e com
ele completo; dividi-se esta diferença de massa pelo seu volume e, assim,
obtém-se a leitura da densidade do líquido estudado em g/mL ou g/cm3; na
figura 3.5 ilustra-se o picnômetro utilizado em laboratórios; na figura 3.6
ilustra-se o picnômetro a vazio na balança; na figura 3.7 ilustra-se o conjunto
completo na balança com uma amostra da mesma água utilizada no
densímetro da figura 3.4; e, na figura 3.8, ilustra-se o termômetro utilizado no
picnômetro, para se registrar a que temperatura foi medida a amostra.

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Fig. 3.5: picnômetro completo utilizado em laboratórios

Fig. 3.6: picnômetro completo e a vazio na balança digital – leitura de 42,9 g

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Fig. 3.7: picnômetro completo e com a amostra de água na balança digital – leitura de 93,6 g

Fig. 3.8: termômetro utilizado no picnômetro medindo a temperatura da amostra de água


leitura de 23 oC

Pelas leituras dos instrumentos apresentados nas figuras 3.4, 3.6 e 3.7 pode-
se tirar as seguintes conclusões:

I) Pelo areômetro a amostra de água possui densidade de 1 g/cm3;


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II) Pela leitura do picnômetro a densidade da amostra de água será dada por:

massa picnômetro _ completo − massa picnômetro _ vazio 93,6 − 42,9


densidade = =
50 50
∴ densidade = 1,014 g/mL = 1,014 g/cm 3

III) Na temperatura de 23 oC, de acordo com dados da tabela A1 do apêndice A,


a água deverá ter uma densidade dada por:

23 − 25 densidade − 0,9965
= → densidade = 0,9929 g/cm 3
20 − 25 0,998 − 0,9965

Comparando-se os valores das densidades medidas e considerando o valor


dado pela temperatura medida como o mais preciso, têm-se os seguintes erros de
comparação:

1 − 0,9929
Erro entre a medida do termômetro e do densímetro : ε 1 % = 100. = 0,7151 % ≤ 5% → OK!
0,9929
1,014 − 0,9929
Erro entre a medida do termômetro e do picnômetro : ε 2 % = 100. = 2,1251 % ≤ 5% → OK!
0,9929

Por estes valores, fica a cargo do futuro engenheiro escolher o método de


medição da densidade da água mais preciso para a sua aplicação.

PESO ESPECÍFICO: defini-se peso específico (γ = gama) de uma substância como


sendo a relação entre o seu peso e o volume que a substância ocupa no espaço,
dado por:

 ∆W  dW
γ = lim  =
∆V →∆V ' ∆V 
 ol  dVol
ol ol

Unidades:

No SI: [γ] = N/m3

No SIG: [γ] = lbf/ft3

A relação entre γ e ρ é dado por:

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Como : ΔW = Δm.g
ΔW Δm
Dividindo por ΔVol tem − se que : =γ= .g = ρ.g
ΔVol ΔVol
∴ γ = ρ.g

DENSIDADE RELATIVA: define-se densidade relativa (DR ou S ou δ) como sendo


a relação entre a massa específica (ou peso específico) da substância com a massa
específica (ou peso específico) de uma substância padrão (ou conhecida). A
substância padrão mais utilizada é a água a 4 oC.
Sendo assim, a equação da densidade relativa define-se como sendo:

ρ substância γ substância
DR = S = δ = =
ρ água γ água
Como a DR é uma relação entre grandezas de mesma espécie, a DR é
adimensional. E, para todas as substâncias, ela varia com a temperatura. Na tabela
A1, presente no apêndice A, é descrita a variação da DR da água em função da
temperatura. Mas, para efeito da determinação do valor da DR de uma dada
substância, os valores padronizados de ρágua e γágua, ambos a 4 oC, são:

ρágua = 1000 kg/m3 = 1,94 slug/ft3  γágua = 1000 kgf/m3 = 9806,65 N/m3 = 62,41 lbf/ft3

Algumas substâncias em FT são conhecidas e devem ser familiarizadas pelos


futuros engenheiros, a saber:

0,7 ≤ DRóleo ≤ 0,85

DRgasolina ≅ DRálcool = 0,7

DRágua do mar ≅ 1,025

DRar ≅ 1,2256.10-3

DRHg ≅ 13,6

Um exemplo de aplicação: deseja-se misturar, num único recipiente, dois


fluidos de densidades relativas DR1 e DR2, respectivamente. Sabe-se que o volume
do primeiro fluido é Vol_1 e o volume do segundo fluido é Vol_2. Deseja-se saber qual
a DR da mistura de ambos os fluidos no mesmo recipiente, desde que estejam todos
à mesma temperatura. Aplicando o princípio de conservação de massa (não se
perde massa e nem se cria massa) e o princípio de conservação de volume (não
se perde volume e nem se cria volume) tem-se que:
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Tem − se que : m mistura = m1 + m 2 → Vol_mistura = Vol_1 + Vol_2


Mas : m mistura = ρ mistura .Vol_mistura = DR mistura .ρ água .Vol_mistura
m mistura m1 + m 2 DR 1 .ρ água .Vol_1 + DR 2 .ρ água .Vol_2
∴ DR mistura = = =
ρ água .Vol_mistura ρ água .(Vol_1 + Vol_2 ) ρ água .(Vol_1 + Vol_2 )
DR 1 .Vol_1 + DR 2 .Vol_2
∴ DR mistura = → média ponderada
Vol_1 + Vol_2

Exemplo resolvido 3.1: utilizando os dados do apêndice A, determinar a massa


específica da água a 42 oC e do ar a 1 atm e 42 oC.

Solução: para a água, basta aplicar interpolação nos dados da tabela A1, o que
significa fazer o seguinte:

42 − 45 DRágua − 0,9895
= → DRágua = 0,9907
40 − 45 0,9915 − 0,9895
∴ ρ água = DRágua .ρ água _ padrão = 0,9907.1000 = 990,7 kg/m 3
∴ ρ água = DRágua .ρ água _ padrão = 0,9907.1,94 = 1,921958 slug/ft 3

Para o ar, utiliza-se a equação de Clapeyron, o significa fazer o seguinte:

Pabs 1.101325
ρ ar = = = 1,1206468 kg/m 3
R.θ abs 286,9.(42 + 273,15)
1,1206468.1,94
ρ ar = = 0,002174055 slug/ft 3
1000

HIPÓTESE DO CONTÍNUO: enunciado:

“O fluido é um meio contínuo, isto é, pode ser dividido infinitas vezes, em


partículas fluidas, entre as quais se supõe não haver espaços vazios.”

Problema 1: divide-se o fluido em partículas fluidas e corre-se o risco de, num


determinado volume muito pequeno, não encontrar-se mais moléculas o suficiente
para determinar-se os valores de ρ e γ, pois as moléculas do fluido SE MOVEM
CONTINUAMENTE em qualquer volume, por menor que seja.

SOLUÇÃO ADOTADA NA ENGENHARIA: adota-se um volume mínimo (∆Vol’) onde


se encontre um número razoável de moléculas, onde se pode ainda determinar suas
propriedades.

MAS, AFINAL, QUAL SERIA ESTE VALOR DE ∆Vol’?

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ESTUDO DO PIOR CASO: O AR

Em CNTP (condições normais de temperatura e pressão: 15 oC = 288,15 K e


1 atm = 101325 Pa), em 1 m3 de ar o número de moléculas de ar é dado pela Lei
dos Gases Perfeitos, definida como sendo:

N moléculas P.Vol .N Avogadro


P.Vol = .R.θ → N moléculas =
N Avogadro R.θ
101325.1.6,0221413.10 23
∴ N moléculas =
8,314472.288,15
∴ N moléculas = 2,547.10 25 moléculas de ar

E este número é muito mais que suficiente para o cálculo das propriedades do
ar (ρ e γ). Mas, se se tomar um volume de 10-12 m3 de ar (que é o volume de um
cubo com 0,1 mm de aresta), tem-se um número de 2,547.1013 moléculas que, ainda
assim, é muito mais que suficiente para os cálculos das propriedades do ar.
Para se ter uma ideia prática do que é um cubo com 0,1 mm de aresta, numa
garrafa PET de 600 mL, há 600 milhões de cubos com 0,1 mm de aresta. Na
barragem de Sobradinho (BA), o maior reservatório de água do Brasil, há 341.1020
cubos com 0,1 mm de aresta.
Portanto, se na Engenharia, adotar-se que o valor de ∆Vol’ é 10-12 m3, pode-se
considerar que os fluidos estudados são meios contínuos, isto é, podem ser
divididos infinitas vezes, em partículas fluidas, entre as quais se supõe não haver
espaços vazios.

Problema 2: então, pode-se dizer que a hipótese do contínuo vale sempre.

RESPOSTA ENCONTRADA NA ENGENHARIA: Não, nem sempre.

NOVAMENTE, ESTUDANDO O PIOR CASO: A ATMOSFERA.

A uma altitude de 90 km acima do nível do mar, tem-se uma redução de 99%


na massa específica do ar. Estes dados foram fornecidos por cuidadosas e
complexas medições através de balões meteorológicos combinados com técnicas
computacionais avançadas. Neste caso, portanto, a aplicação da hipótese do
contínuo é arriscada. Geralmente, em casos deste tipo, se recorre a métodos
probabilísticos para se determinar as propriedades do ar.

FORÇAS ATUANTES: em FT há duas classes de forças atuantes: as forças de


campo (peso, eletromagnética) e as forças de contato. A força de contato ainda se
divide em força normal à superfície (Fn) e a força tangencial à superfície (Ft),
conforme ilustra a figura 3.9.

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Fig. 3.9: decomposição da força F em normal e tangencial à superfície

Dividindo-se a força normal à superfície pela área da superfície (A) tem-se a


tensão normal σ, isto é:

F
σ= n
A
Analogamente, dividindo-se a força tangencial à superfície pela área da
superfície (A) tem-se a tensão de cisalhamento τ, isto é:

Ft
τ=
A
Observação importante: O fluido não suporta esforços tangenciais,
embora saiba suportar muito bem esforços normais.
E são os esforços tangenciais o assunto da próxima propriedade do fluido.

3.2 Viscosidade - definição

Define-se viscosidade como sendo a resistência que o fluido oferece ao


movimento relativo de qualquer de suas partes. O fluido é denominado ideal quando
sua viscosidade é praticamente nula. Na prática, isto é um conceito relativo, se
comparar-se, por exemplo, o gás metano com a glicerina pois, a 20 oC, a glicerina
possui uma viscosidade da ordem de 15.104 vezes maior que o metano. Isto é,
relativamente é mais difícil escoar glicerina do que o metano, na mesma
temperatura, o que torna o metano um fluido relativamente ideal se comparado à
glicerina.
Pela propriedade da aderência, quando um fluido entra em contato com uma
superfície, ele adquire a velocidade da superfície. Este fenômeno está intimamente
ligado com a força de adesão entre o fluido e a superfície e esta força de adesão se
dá pelos efeitos combinados da rugosidade da superfície e a viscosidade do fluido.
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Portanto, quando o fluido escoa no interior de uma tubulação, o contato do fluido


com as paredes da tubulação causam forças de atrito contrárias ao movimento
relativo do fluido na tubulação que, por sua vez, causam perdas de energia
mecânica na forma de calor. Isto será estudado com mais profundidade no capítulo 6
desta apostila.
Para se estudar os efeitos da viscosidade de fluidos em contato com uma
superfície adota-se o modelo de duas placas planas paralelas e horizontais,
separadas por uma distância infinitesimal dy (infinitesimal = muito pequena,
geralmente da ordem de 10-5 m), onde, entre elas há um fluido viscoso. A placa
inferior está em repouso e a superior é móvel, conforme ilustra a figura 3.10.

Fig. 3.10: modelo físico de placas planas paralelas e horizontais

À placa superior aplica-se uma força F na horizontal que faz a placa adquirir
uma velocidade dU. A relação entre a força F e a área da placa A resulta da tensão
de cisalhamento τ. Em t + dt o fluido deforma-se sob um ângulo dα, chamado
deformação angular. A variação da deformação angular, à medida que o tempo
passa de t para t + dt, denomina-se taxa de deformação angular dα/dt. A
velocidade das camadas do fluido varia de 0, na placa fixa, até dU, na placa móvel,
de acordo com a propriedade da aderência. Como a distância entre as placas dy é
infinitesimal, a variação do módulo do vetor velocidade das camadas do fluido é de
forma linear e denomina-se perfil linear de velocidades (PLV).
Matematicamente, podem-se deduzir as seguintes relações, de acordo com o
modelo físico ilustrado na figura 3.10:

( )
Como dα é muito pequeno 0 ≤ dα ≤ 9 o → tg (dα ) ≅ dα =
dx
dy
dα dx dU  dα  1
∴ = = →   = s −1 =
dt dt.dy dy  dt  s
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Ao estudar o modelo físico ilustrado na figura 3.10, o cientista inglês Sir Isaac
Newton enunciou uma lei que relaciona a tensão de cisalhamento e a taxa de
deformação angular, conhecida como a Lei de Newton da Viscosidade.

Isaac Newton (1643 – 1727)

Enunciado da Lei de Newton da Viscosidade:

“A tensão de cisalhamento é diretamente proporcional à taxa de


deformação angular.”

Isto é:

dα dU
τ yx = µ . = µ.
dt dy
Onde: µ (mi) = viscosidade dinâmica ou absoluta do fluido

Unidades:

No SI: [µ] = N.s/m2 = Pa.s = kg/m.s

No SIG: [µ] = lbf.s/ft2 = psf.s = slug/ft.s

A unidade mais utilizada de µ é do SP e chama-se cP (centi-Poise 


pronuncia-se “centi poáze”). Esta unidade foi dada em homenagem a Jean Louis
Marie Poiseuille, cientista francês.

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Jean Louis Marie Poiseuille (1797 – 1869)

Defini-se viscosidade cinemática υ (ni) (utilizada na análise de


escoamentos) como a relação entre a viscosidade dinâmica e a massa específica do
fluido, ou seja:

µ
υ=
ρ
Unidades:

No SI: [υ] = m2/s

No SIG: [υ] = ft2/s

Analogamente a unidade de υ mais utilizada é do SP e chama-se St (Stoke 


pronuncia-se “estouque”). Esta unidade foi dada em homenagem a George Gabriel
Stokes, cientista irlandês.

George Gabriel Stokes (1819 – 1903)

Observação muito importante: o fluido que obedece à Lei de Newton da


Viscosidade é denominado newtoniano. Como exemplos de fluidos newtonianos
tem-se a água, o ar, o óleo diesel, o gás metano, a glicerina.

Exemplo resolvido 3.2: utilizando os dados do apêndice A no SI, obter a


viscosidade dinâmica para os seguintes fluidos:

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a) Água a 32 oC:

Solução: aplicando-se a equação que relaciona a viscosidade dinâmica com a


temperatura tem-se que:

 570 , 6   570 , 6 
 θ +133,15   32 +133,15 
µ = 2,414.10 .e −5   −5
= 2,414.10 .e  
= 0,0007642623 Pa.s

b) Ar a 32 oC:

Solução: idem à da água, tem-se que:

 (θ + 273,15)1,5  −6 (32 + 273,15)


 1, 5

µ = 1,458.10 . −6
 = 1, 458. 10 . 
 θ + 383,55   32 + 383,55 
∴ µ = 0,0000187027 Pa.s

c) Glicerina a 32 oC:

Solução: aplicando-se interpolação na tabela A3 tem-se que:

32 − 35 µ − 0,5
= → µ = 0,59 Pa.s
30 − 35 0,65 − 0,5

3.2.1 Fluidos Não Newtonianos

Os fluidos não newtonianos podem obedecer à lei exponencial entre a


tensão de cisalhamento e a taxa de deformação angular dada por:

n
 dU 
τ = k . 
 dy 

Onde: k = índice de consistência do fluido


n = índice de comportamento de escoamento do fluido

Para:

n = 1  k = µ  fluido newtoniano (ex.: água, óleo diesel, glicerina, metano)

n > 1  fluido dilatante (ex.: suspensão de partículas sólidas em líquidos, sumo de


pera, sumo de laranja)

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n < 1  fluido pseudoplástico (ex.: creme pesado de leite, sumo de maçã, sumo de
groselha, concentrado de tomate, sorvete, iogurte)

Outro tipo de fluido não newtoniano é o Plástico Bingham (ou ideal),


descoberto por Eugene Cook Bingham, químico norte americano.

Eugene C. Bingham (1878 – 1945)

Este fluido necessita de uma tensão de cisalhamento inicial (τo) para escoar
e, após dado o início de seu escoamento, se comporta como newtoniano. Sua
equação geral é definida como sendo:


τ = τ o + µ.
dt
Exemplos de fluidos que obedecem a esta equação são: pasta dental, lama
de perfuração, suspensão de argila, tinta a óleo.
Na figura 3.11 estão ilustrados o comportamento dos fluidos e sua
classificação de acordo com sua característica viscosimétrica. O diagrama da figura
3.11 denomina-se DIAGRAMA REOLÓGICO (Reologia é a parte da Física que
estuda as propriedades e o comportamento mecânico dos corpos deformáveis que
não são nem sólidos nem líquidos).

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Fig. 3.11: Diagrama Reológico

Exemplo resolvido 3.3: Dados experimentais para o creme pesado do leite


mostram-no com um comportamento pseudoplástico que pode ser modelado,
matematicamente, por um relacionamento exponencial entre a tensão de
cisalhamento e a taxa de deformação, a baixas taxas de deformação angular.
Suponha os seguintes dados:

τyx (Pa) 0,01 0,1


dU/dy (s-1) 0,023 0,75

Avalie os índices de comportamento do escoamento e de consistência usando


unidades SI.

Solução: o modelo exponencial de um fluido não newtoniano é dado por:

n
 dU 
τ = k . 
 dy 
Aplicando-se o logaritmo natural em ambos os membros desta equação tem-se
que:

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  dU  n   dU 
ln(τ ) = ln k .   = ln(k ) + n. ln 
  dy    dy 
 dU 
Se : y = ln(τ ) → x = ln  → A = n → B = ln(k )
 dy 
Então : y = B + A.x → função linear

Portanto, monta-se uma tabela auxiliar do tipo:

y = ln(τ) -4,6051702 -2,3025851


x = ln(dU/dy) -3,7722611 -0,287682

Montando-se a equação da reta, tem-se que:

Para : x = −3,7722611 → y = −4,6051702 ⇒ −4,6051702 = A.( −3,7722611) + B ⇒ [1]


Para : x = −0,287682 → y = −2,3025851 ⇒ −2,3025851 = A.( −0,287682) + B ⇒ [2]
Fazendo − se : [1] − [2] ⇒ −4,6051702 + 2,3025851 = A.( −3,7722611) + A.(0,287682)
− 4,6051702 + 2,3025851
∴A= → A = 0,6607929 = n
− 3,7722611 + 0,287682
Substituindo - se este valor de A na equação [1] tem - se que :
− 4,6051702 = 0,6607929.( −3,7722611) + B → B = -2,11248688
Se : B = ln(k) → k = e B → k = 0,120936837 Pa.s 0,6607929

3.3 Viscosímetros

São instrumentos para medir-se a viscosidade de fluidos. Os tipos de


viscosímetros mais utilizados são:

i) Viscosímetro Saybolt Universal: utilizado para produtos de petróleo e


lubrificantes; suas características construtivas são mostradas nas figuras
3.12 e 3.12.

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Fig. 3.12: viscosímetro Saybolt Universal

Fig. 3.13: viscosímetro Saybolt Universal utilizado em laboratórios

O procedimento para medição da viscosidade do óleo no Saybolt Universal é


da seguinte forma: abre-se a tampa superior do viscosímetro, coloca-se a
amostra de óleo a ser analisada no interior do tubo de 60 cm3, fecha-se a
tampa superior, liga-se o viscosímetro para pré aquecer a amostra e, quando a
temperatura da amostra estiver estabilizada, retira-se a tampa inferior do
viscosímetro e mede-se o tempo t para que a amostra do óleo aquecido desça
por gravidade até preencher um recipiente de 60 cm3 colocado logo após a
saída do tubo de 60 cm3.
A leitura deste viscosímetro é em Segundos Saybolt Universal – SSU. Após
efetuar-se a leitura do tempo de escoamento verifica-se a faixa a qual este tempo se

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enquadra, dentro das equações apresentadas a seguir, e calcula-se a viscosidade


cinemática do óleo:

Viscosidade cinemática em m 2 /s :
 1950  −7
para 32 ≤ t ≤ 100 SSU : υ =  2,26.t − .10
 t 
 1350  −7
para 100 ≤ t ≤ 1000 SSU : υ =  2,20.t − .10
 t 
Viscosidade cinemática em ft 2 /s :
 1950  −7
para 32 ≤ t ≤ 100 SSU : υ =  2,26.t − .10,76391.10
 t 
 1350  −7
para 100 ≤ t ≤ 1000 SSU : υ =  2,20.t − .10,76391.10
 t 
Viscosidade cinemática em St :
 1950  -3
para 32 ≤ t ≤ 100 SSU : υ =  2,26.t − .10
 t 
 1350  -3
para 100 ≤ t ≤ 1000 SSU : υ =  2,20.t − .10
 t 

Na tabela 3.1 ilustram-se vários ensaios de óleos lubrificantes e sua


classificação SAE (Society of Automotive Engineers = Sociedade dos
Engenheiros Automotivos). A letra “W”, que acompanha alguns ensaios,
especifica que o ensaio foi feito no inverno (winter, em inglês) a uma temperatura de
-17,78 oC.

Tab. 3.1: ensaio de alguns óleos lubrificantes, utilizando o viscosímetro Saybolt Universal, e
sua classificação SAE
SAE SSU mínimo a -17,78 oC SSU máximo a -17,78 oC SSU mínimo a 98,89 oC SSU máximo a 98,89 oC
5W *************** 4000 *************** ***************
10W 6000 < 12000 *************** ***************
20W 12000 48000 *************** ***************
20 *************** *************** 45 < 58
30 *************** *************** 58 < 70
40 *************** *************** 70 < 85
50 *************** *************** 85 < 110

ii) Viscosímetro de cilindros concêntricos (ou rotacional): dois cilindros de


mesmo eixo central (um fixo e outro em movimento circular) onde, entre
eles, há um fluido; a construção do viscosímetro pode ser simplificada nas
figuras 3.14 e 3.15.

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Fig. 3.14: viscosímetro de cilindros concêntricos com massa M acoplada

Fig. 3.15: viscosímetro de cilindros concêntricos usado em laboratórios

O modelo físico adotado para estudar este viscosímetro, baseado na figura


3.14, é ilustrado da figura 3.16.

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Fig. 3.16: modelo físico para o viscosímetro de cilindros concêntricos com massa M acoplada
e polia no cilindro interno móvel

Do modelo físico ilustrado na figura 3.16 sabe-se que:

M = é a massa acoplada a uma corda inextensível que irá fazer a polia girar em
movimento rotacional;
g = aceleração da gravidade local;
Vm = velocidade máxima, suposta constante, que M irá atingir em seu
movimento descendente;
ω = velocidade angular do sistema;
r = raio da polia;
R = raio do cilindro interno do viscosímetro de cilindros concêntricos que se
move, uma vez que o cilindro externo está em repouso;
H = altura dos cilindros interno e externo;
a = folga anular entre os cilindros (diferença dos raios dos cilindros externo e
interno).

O que não se sabe do modelo físico ilustrado na figura 3.16 é a viscosidade


dinâmica ou absoluta do fluido (µ) inserido entre os cilindros, pois é função do
viscosímetro medi-la.
Algumas considerações sobre o modelo físico ilustrado na figura 3.16 devem
ser feitas, a saber:

III) O torque ou momento de rotação deve ser constante, o que


resulta:

r
M .g .r = F .R ⇒ F = .M .g
R
IV) A velocidade angular é constante, o que resulta:

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Vm V R
= ⇒ V = .Vm
r R r
Como a velocidade angular é constante resulta que:

γ = 0 ⇒ aceleração angular é nula


Pela 2 a Lei de Newton :
F = f at = τ . A = τ .2.π .R.H

Supondo que o fluido entre os cilindros é newtoniano tem-se que:

dU
τ = µ.
dr
Supondo que o perfil de velocidades no interior do fluido é linear tem-se que:

dU ∆U U PM − U PF V R
≅ = = = .Vm
dr ∆r a a r.a
Portanto, a tensão de cisalhamento pode ser dada por:

R
τ = µ. .Vm
r.a
Portanto, a força F no cilindro interno pode ser dada por:

R
F = τ .2.π .R.H = µ . .Vm.2.π .R.H
r.a
2.π .Vm.µ .H .R 2
∴F =
r.a
Ou ainda:

2.π .Vm.µ .H .R 2 r
F= = .M .g
r.a R

Finalmente, a viscosidade dinâmica µ do fluido pode ser dada por:

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M .g .a.r 2 M .g .a.r
µ= =
2.π .Vm.H .R 3 2.π .ω.H .R 3
Também, no viscosímetro, é possível se obter o momento de atrito Ma entre o
cilindro móvel e o fluido, dado por:

2.π .µ .H .Vm.R 3 2.π .µ .H .ω.R 3


Ma = F .R = =
r.a a
Em casos onde se exige maior precisão nos resultados como, por exemplo,
em rolamentos, utiliza-se a equação de Couette (pronuncia-se “cuêti”) para o Ma,
dada por:

4.π.µ.ω.H.R 2 .(R + a ) 2
Ma =
(R + a ) 2 − R 2
Esta equação tem seu nome em homenagem a Alfred Marie Maurice Couette,
cientista francês, considerado o inventor do viscosímetro de cilindros concêntricos.

Alfred Marie Maurice Couette (1858 – 1943)

A figura 3.17 ilustra o viscosímetro inventando por Couette.

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Fig. 3.17: viscosímetro de cilindros concêntricos de Couette.


Um cilindro (A) de diâmetro 144 mm, equipado com dois cilindros (B) para proteção, foi removido do interior do
cilindro (C) como mostra na fotografia. O eixo do cilindro exterior (D) era guiado por um rolamento lubrificado,
equipado com um volante. A polia (E) é impulsionada por uma correia e um motor elétrico. A “vassoura” (F) serve para
controlar a passagem entre os setores, isolar e medir a velocidade rotacional. Atritos novos foram medidos sobre o
eixo do cilindro interior com fios com torção (G) ou uma máquina de Atwood (H), em função do seu valor.

iii) Viscosímetro Engler: em homenagem a Carl Engler, cientista alemão.

Carl Engler (1842 – 1925)

O princípio deste viscosímetro é o mesmo do Saybolt Universal


alterando-se o volume escoado para 200 cm3. O viscosímetro Engler é
ilustrado na figura 3.18.

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Fig. 3.18: viscosímetro Engler

O tempo de escoamento do líquido ensaiado neste viscosímetro é dado em


Segundos Engler – SE.
O grau Engler (E) é a relação entre o tempo de fluxo de 200 cm3 de certo
líquido ensaiado a uma temperatura indicada e do tempo de fluxo de 200 cm3 de
água destilada a 20 oC (48,51 s), ou seja:

tempo de fluxo de 200 cm 3 de um líquido ensaiado à temperatura θ, em SE


E=
48,51

E como E é uma relação de grandezas de mesma espécie, ele é


adimensional.
Com o valor de E pode-se determinar a viscosidade cinemática do líquido
ensaiado na temperatura indicada, através da equação a seguir:

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Viscosidade cinemática em m 2 /s :
 6,31  −6
υ =  7,31.E − .10
 E 
Viscosidade cinemática em ft 2 /s :
 6,31  −6
υ =  7,31.E − .10,76391.10
 E 
Viscosidade cinemática em St :
 6,31  −2
υ =  7,31.E − .10
 E 

A tabela 3.2 mostra a relação entre a viscosidade em graus Engler e a


classificação SAE.

Tabela 3.2: viscosidade em graus Engler (a 50 oC) e a classificação SAE


E 3a5 5a7 7a9 9 a 12 12 a 19 19 a 27
SAE 10 20 30 40 50 60

Exemplo resolvido 3.4: óleo SAE 30 é testado num viscosímetro tipo Saybolt
Universal e mede-se o tempo de 454,68 SSU para a amostra em estudo. Para
esta amostra de óleo pede-se:

a) A viscosidade cinemática do óleo no SI;

Solução: aplicando-se a equação do viscosímetro tipo Saybolt Universal para o


tempo de 454,68 SSU tem-se que:

 1350  −7
para 100 ≤ t ≤ 1000 SSU : υ =  2,20.t − .10
 t 
 1350  −7
∴ υ =  2,20.454,68 − .10 → υ = 9,9732688.10 -5 m 2 /s
 454,68 

b) A temperatura do óleo em oC;

Solução: aplicando-se interpolação linear nos dados da tabela A4, presente do


apêndice A, tem-se que:

θ − 45 0,000099732688 − 0,00009
= → θ = 43,7194 o C
40 − 45 0,000128 − 0,00009

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c) De acordo com os dados da tabela 3.1, este óleo atende as


especificações de ensaio padronizadas?

Solução: não, pois sua temperatura está bem abaixo do nível mínimo da
temperatura de ensaio de 98,89 oC.

Exercício resolvido 3.5: A distribuição de velocidades para o escoamento


laminar entre placas paralelas é dada por:

u 4. y 2
= 1−
u máx h2

Onde h é a distância entre as placas e a origem é colocada na metade da


distância entre elas. Considere um escoamento de água a 15 oC, com umáx =
0,30 m/s e h = 0,50 mm. Calcule a tensão de cisalhamento na placa superior.

Solução: a lei de Newton sobre a viscosidade define a relação entre a tensão


de cisalhamento e a taxa de deformação angular, para um fluido newtoniano,
da seguinte forma:

dα dU
τ yx = µ . = µ.
dt dy

Como a água é um fluido newtoniano, ela obedece esta relação reológica. Mas,
o perfil de velocidades dados não é linear. Portanto, tem-se que determinar a
taxa de deformação angular através da derivação do perfil de velocidades da
água que escoa entre as placas, e que será dada por:

u( y) 4. y 2  4. y 2  4. y 2
= 1 − 2 → u ( y ) = u máx .1 − 2  = u máx − u máx . 2
u máx h  h  h
du ( y ) d  4. y 2  − 8.u máx . y
∴ = u máx − u máx . 2  =
dy dy  h  h2

Portanto, a tensão de cisalhamento é dada por:

dU − 8.µ .u máx . y
τ yx = µ . =
dy h2
h − 4.u máx .µ
Na parede superior : y = + → τ yx =
2 h
Pelos dados do apêndice A, a viscosidade dinâmica da água pode ser dada
por:

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 570 , 6 
 
 θ +133,15 
µ = 2,414.10 .e −5

 570,6 
 15 +133,15 
Para θ = 15 C : μ = 2,414.10 .e
o -5  
= 0,00113611755 Pa.s

Os demais dados são:

umáx = 0,30 m/s  h = 0,50 mm = 5.10-4 m

Substituindo-se os dados na equação da tensão de cisalhamento, tem-se que:

− 4.0,30.0,00113611755
τ yx = → τ yx = −2,726682 Pa
5.10 -4

Exercício resolvido 3.6: Um pequeno trenó de fundo chato, usado em


demonstrações, apóia-se numa película de ar (θ = 17,46 oC). Esta tem a
espessura h = 0,00135 in e a área de contato é A = 12,5 in2. Num dado instante,
a velocidade do trenó é V = 6,25 ft/s. Determine a força de impulsão do
movimento do trenó nesse instante.

Solução: o modelo físico aqui adotado é o mesmo da Lei de Newton sobre a


Viscosidade, onde:

Placa superior em movimento com velocidade constante = parte inferior do


trenó

Placa inferior em repouso = piso

Fluido entre as placas = ar a 17,46 oC

Neste caso, o perfil de velocidades é linear (PLV = perfil linear de velocidades)


pois, no trenó, a velocidade é constante e, no piso, ela é nula. Como a
distância entre as placas (folga anular) é muita pequena (praticamente
infinitesimal) pode-se adotar que:

du ( y ) ∆u U placa_superior − U placa_inferior V − 0 V
≅ = = =
dy ∆y y placa_superior − y placa_inferior h h

Portanto, a força de impulsão no trenó é dada por:

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2 a Lei de Newton no trenó : Fimpulsão - f at = m.a


Onde : f at = força de atrito entre o trenó e o ar, presença da tensão de cisalhamento
Como a velocidade é constante : a = 0 → Fimpulsão = f at = τ yx .A trenó
du(y) V
Se o ar é newtoniano : τ yx = μ. = μ.
dy h
V.A trenó
∴ Fimpulsão = μ.
h

Calculando os dados no SI (embora isto não seja uma obrigação, pois também
poderia ser feito no SIG), tem-se que:

• Viscosidade dinâmica do ar na temperatura dada: pelo apêndice A tem-


se que:

 (θ + 273,15)1,5  − 6 (17,46 + 273,15)


 1, 5

µ = 1,458.10 . −6
 = 1,458.10 . 
 θ + 383,55   17,46 + 383,55 
∴ µ = 1,80122577.10 -5 Pa.s

• Velocidade do trenó:

V = 6,25 ft / s = 6,25.0,3048 = 1,905 m/s

• Área do trenó:

A = 12,5in 2 = 12,5.(0,0254) = 0,0080645 m 2


2

• Folga anular ou distância entre o trenó e o piso:

h = 0,00135in = 0,00135.0,0254 = 0,00003429 m

Substituindo estes dados na equação da força de impulsão tem-se que:

V.A trenó
Fimpulsão = μ.
h
1,905.0,0080645
∴ Fimpulsão = 1,80122577.10 −5.
0,00003429
∴ Fimpulsão = 0,00807 N = 8,07 mN

3.4 Variação da viscosidade com a temperatura

Nos fluidos a viscosidade varia com a temperatura da seguinte forma:

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I) Líquidos: a viscosidade diminui com o aumento da temperatura. Motivo: diminuição


da força de coesão intermolecular.

II) Gases: a viscosidade aumenta com o aumento da temperatura. Motivo: aumento


da quantidade de movimento intermolecular (aumento do atrito intermolecular).

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Capítulo 4

Fluidostática
4.1 Definição

Fluidostática é a parte da Mecânica dos Fluidos que estuda os fluidos em


repouso (equilíbrio estático).

4.2 Pressão – definição

Define-se pressão como sendo a relação entre força e área, dada por:

 ∆F  dF
p = lim  =
∆A→0 ∆A
  dA
Unidades:

No SI: [p] = N/m2 = Pa (pascal)

No SIG: [p] = lbf/ft2 = psf (pound square foot)

A unidade Pascal foi dada em homenagem a Blaise Pascal, cientista francês.

Blaise Pascal (1623 – 1662)

A variável dA denomina-se elemento diferencial de área que possui direção


perpendicular à área e sentido sempre para fora da mesma. A variável dF denomina-
se elemento diferencial de força e é aplicado na direção perpendicular à área. A
pressão se classifica conforme o sentido de dF e dA da seguinte forma:

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A pressão será de sucção se dF possuir mesmo sentido de dA

A pressão será de compressão se dF possuir sentido contrário de dA

A figura 4.1 ilustra a classificação supra citada.

Fig. 4.1: sentidos de aplicação de F e dA e a classificação da pressão

Assim sendo, as relações entre força, pressão e área são definidas da


seguinte forma:

dF
Se : p = → dF = p.dA → F = ∫ p.dA
dA A

4.3 Estudo de um elemento prismático de fluido submetido às forças de


pressão e de campo

A figura 4.2 ilustra um elemento prismático de fluido, de volume dVol =


dx.dy.dz, em coordenadas cartesianas, da mesma ordem de grandeza de ∆Vol’
adotado no capítulo 3, sendo submetido à forças de pressão e de campo (peso).

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Fig. 4.2: elemento prismático de fluído submetido a forças de pressão e de campo (peso)

Deseja-se estudar as forças aplicadas neste elemento prismático e determinar


sua resultante. Ao igualar-se a sua resultante ao vetor nulo, o elemento prismático
se encontrará em equilíbrio estático (repouso).
A questão é que, para se determinar a resultante das forças aplicadas no
elemento prismático, devem-se concentrar todos os esforços num único ponto e,
neste caso, o ponto de concentração é o baricentro (G) ou centro de gravidade do
elemento prismático, onde se concentra toda a sua massa.
Deve-se observar que a única força que já está sendo aplicada naturalmente
no baricentro do elemento prismático é a força peso, dada por:
 
dW = m.g = ρ .dVol .g .(−kˆ) = γ .dVol . − kˆ ( )
No caso das forças de pressão, deve-se observar que as pressões estão
sendo aplicadas nas faces do elemento prismático, a uma distância que corresponde
à meia aresta do elemento em todas as direções com relação ao baricentro. Isto
significa que as forças de pressão devem ter seus efeitos transladados para o
baricentro, levando-se em consideração a variação da pressão ao longo da meia
distância entre a face e o baricentro, aplicando-se a derivação da pressão em
direção ao baricentro, através de uma técnica matemática denominada expansão
em série polinomial de primeira ordem, descrita da seguinte forma:

  ∂p d eixo   ∂p d eixo  
dFeixo =  p − . .versor do eixo +  p + . .(− versor do eixo ).(área normal ao eixo )
  ∂ eixo 2   ∂ eixo 2  

Como o elemento prismático é tridimensional a derivação da pressão deve ser


feita em três variáveis. Por isto, não se utiliza uma derivação simples ou ordinária e,
sim, uma derivação parcial, utilizando o operador ∂.
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Assim sendo, aplicando-se a técnica da expansão em série polinomial de


primeira ordem para a pressão neste elemento prismático, os esforços de pressão
sobre o elemento prismático ficam assim definidos:

( )
  ∂p dx   ∂p dx  
dFx =  p − . .iˆ +  p + . . − iˆ .dy.dz
 ∂x 2   ∂x 2  
 
∂p dy   ∂p dy 
( )

dFy =  p − . . ˆj +  p + . . − ˆj .dx.dz
 ∂y 2   ∂y 2  
  ∂p dz 
∂z 2 
 ∂p dz  
dFz =  p − . .kˆ +  p + . . − kˆ .dx.dy
 ∂z 2 
( )
 

Somando-se todas as forças de pressão e de campo (peso) sobre o elemento


prismático tem-se que:

  ∂p ∂p ∂p 
dFR = − .iˆ + .ˆj + .kˆ .dVol + γ.dVol . − kˆ ( )
 ∂x ∂y ∂z 
 ∂p ∂p ∂p
Fazendo:∇p = .iˆ + .ˆj + .kˆ = gradiente de p
∂x ∂y ∂z
 
Tem-se que: dF = −∇p.dV + γ.dV . − kˆ
R ol ol ( )
Enunciado do Princípio Fundamental da Fluidostática:

“A soma de todas as forças atuantes no elemento fluido deverá ser nula.”

O que resulta:

 
− ∇p.dVol + γ.dVol . − k = 0

ˆ ( )

∴ −∇p + γ . − k =
ˆ ( )
0
dVol

=0

∴ ∇p = −γ .kˆ
Fisicamente, este resultado implica nas seguintes condições:

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∂p ∂p
= = 0 → não há variação de p no plano XOY ou na horizontal
∂x ∂y
∂p dp
= −γ = → p só varia na vertical
∂z dz
dp
Equação Fundamental da Fluidostática : = −γ
dz

4.4 Lei de Stevin

Em homenagem a Simon Stevin, cientista belga.

Simon Stevin (1548 – 1620)

Seja um recipiente qualquer e, em seu interior, um fluido de peso específico γ.


No fluido, destacam-se dois pontos em estudo, a e b, e suas cotas Za e Zb,
conforme fig. 4.3.

Fig. 4.3: recipiente com fluido e dois pontos em estudo em seu interior
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Admitindo-se que, na Equação Fundamental da Fluidostática, o peso


específico γ do fluido seja constante (não varie nem com p e nem com z), para os
pontos a e b descritos na figura 4.3 tem-se a seguinte situação:

dp
= -γ → dp = − γ.dz → equação diferencial de 1a ordem
dz
pb Zb

∫ dp = −γ . ∫ dz → p b − pa = −γ .(Zb − Za ) = γ .(Za − Zb ) = γ .h
pa Za

Peso Peso
∴ pb − pa = γ .h → ∆p = γ .h = .h = → Lei de Stévin
Vol Área da base da coluna fluida

Enunciado da Lei de Stévin:

“A diferença de pressão entre dois pontos, no interior da massa fluida (em


equilíbrio estático e sujeita à gravidade), é igual ao peso da coluna de fluido
tendo como por base a unidade de área e por altura a distância vertical entre
os dois pontos.“

Como consequência da Lei de Stévin tem-se que, se as cotas dos dois


pontos, no interior do fluido, forem iguais (Za = Zb), as pressões nestes pontos
também serão iguais (pa = pb).

4.5 Pressão absoluta e pressão efetiva (ou manométrica)

Defini-se pressão absoluta (pabs) num dado ponto do fluido à pressão total
existente no referido ponto. Em suma, é a soma total de todas as pressões acima
deste ponto e, sendo assim, ela sempre será positiva.
Matematicamente, pode-se descrever a pressão absoluta como sendo:

p abs = p referência _ acima _ da _ coluna _ fluida + γ .h

No caso particular em que o recipiente que contem o fluido está aberto à


atmosfera, a pressão de referência é a pressão atmosférica local (patm).
Por sua vez, defini-se pressão efetiva ou manométrica (pef = pman) num dado
ponto do fluido como sendo a pressão da coluna de fluido existente acima daquele
ponto. Pela Lei de Stévin, a pressão efetiva pode ser positiva (onde o ponto pode
estar, por exemplo, no interior da água do oceano, indo a grandes profundidades) ou
negativa (onde o ponto pode estar, por exemplo, na atmosfera, indo para o vácuo).
Matematicamente, pode-se descrever a pressão efetiva como sendo:

pef = pman = γ .h

Assim sendo, podem-se ter as seguintes relações entre pabs e pef:

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pabs = patm + pef → pef = pabs − patm

Uma consequência muito importante da relação entre a pressão absoluta e a


pressão efetiva é a seguinte:

Se, num dado ponto do sistema fluidodinâmico a pressão absoluta for igual
à pressão atmosférica local, a pressão efetiva neste ponto será nula.

Isto é:

p abs _ no _ ponto = p atm → p ef _ no _ ponto = 0

Por exemplo, se uma pessoa estiver com a cabeça para fora da água de uma
piscina, a pressão absoluta sobre ela será a pressão atmosférica local e a pressão
efetiva sobre ela será nula. Outro exemplo é a água que sai do bocal de uma
mangueira simples de jardim. Nesse ponto de descarga da água da mangueira a
pressão absoluta é a pressão atmosférica local e a pressão efetiva é nula. Por isto, é
comum dizer que a água que sai da mangueira pelo bocal está livre de pressão e o
jato de água que sai da mangueira denomina-se jato livre.

Exercício resolvido 4.1: qual é altura da coluna de mercúrio (γHg = 136000 N/m3)
que irá produzir na base a mesma pressão de uma coluna de água (γágua =
10000 N/m3) de 5 m de altura?

Solução: pela lei de Stévin, as pressões efetivas das colunas de água e


mercúrio devem ser iguais, na mesma base. Portanto, igualando-se as
pressões efetivas das colunas destes fluídos, tem-se que:

γ água .hágua = γ Hg .hHg → 10000.5 = 136000.hHg


10000.5
∴ hHg = = 0,367647 m = 36,7647 cm = 367,647 mm
136000

Exercício resolvido 4.2: no manômetro da figura, o fluido A é água e o B,


mercúrio. Qual é a pressão p1?

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Solução: de acordo com a lei de Stévin, a soma das pressões efetivas acima
do ponto X deve ser igual à soma das pressões efetivas acima do ponto Y
(vasos comunicantes). Portanto, tem-se que:

p X = pY → p1 + γ água .(0,075 − 0,05) = γ Hg .(0,15 − 0,05)


∴ p1 = γ Hg .0,10 − γ água .0,025 → p1 = 136000.0,10 − 10000.0,025
∴ p1 = 13350 Pa → p1 = 13,35 kPa (man.)

4.6 Experiência de Torricelli – Barometria – Medição da Pressão Atmosférica

Em homenagem a Evangelista Torricelli, cientista italiano.

Evangelista Torricelli (1608 – 1647)

Experiência de Torricelli realizada ao nível do mar: toma-se uma bacia com


mercúrio e um tubo de ensaio de, no mínimo, 1 m de comprimento; enche-se o tubo
de ensaio também com mercúrio; coloca-se uma tampa de vedação (rolha) na
entrada do tubo, vira-se o tubo ao contrário (de cabeça para baixo) e introduz-se o
tubo assim preparado dentro da bacia com mercúrio; tira-se a rolha do tubo e
observa-se o equilíbrio da coluna de mercúrio no interior do tubo e o ar em volta do
mesmo; observa-se que a coluna de mercúrio no interior do tubo desce até uma
altura de 76 cm acima do nível do mercúrio na bacia; embora invisível, há vapor de
mercúrio no espaço restante no fundo do tubo, cuja pressão é praticamente
desprezível; aplica-se a Lei de Stévin entre um ponto fora do tubo e um ponto em
seu interior; no lado de fora do tubo, a pressão é a atmosférica; no lado de dentro do
tubo, a pressão é de 76 cm de coluna de mercúrio; a figura 4.4 ilustra uma pintura da
época de Torricelli, durante a realização de seu experimento; na figura 4.5 ilustra-se
o modelo físico adotado para se estudar a experiência de Torricelli.

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Fig. 4.4: pintura da época de Torricelli durante a sua experiência

Fig. 4.5: experiência de Torricelli – modelo físico para o barômetro de Hg

Como as pressões nos pontos devem ser iguais (estão à mesma cota e no
mesmo fluido), pode-se tirar a seguinte conclusão: ao nível do mar a pressão
atmosférica vale 76 cmHg.
Assim, a experiência acima descrita transformou-se num instrumento
rudimentar de medição de pressão atmosférica: o barômetro de mercúrio, ilustrado
na figura 4.6 como na época de Torricelli.

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Fig. 4.6: barômetro de Hg antigo

Atualmente, vários outros barômetros são utilizados para medir-se a pressão


atmosférica com muito mais precisão do que este, mas a precisão atingida por
Torricelli, mesmo utilizando equipamentos rudimentares de laboratório, o tornou um
dos maiores cientistas que já colaboraram para a Fluidostática.
Em outras unidades, podem-se adotar os seguintes valores para patm, ao
nível do mar:

patm = 76 cmHg = 760 mmHg = 10,33 mca = 1 atm = 2116,8 psf = 14,696 psi = 1,033 kgf/cm2
patm = 10330 kgf/m2 = 101325 Pa = 1,01325 bar

Em algumas aplicações, adotam-se as denominadas medidas técnicas que


são:

γágua = 104 N/m3  g = 10 m/s2  patm = 105 Pa ≅ 10 mca

Exercício resolvido 4.3: o desenho mostra a seção reta do interior de um


submarino. Calcule a profundidade de submersão y. Supor que o peso
específico da água do mar seja 10 kN/m3.

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Solução: considerando que as pressões atmosféricas dentro e fora do


submarino são diferentes, este exemplo deve ser resolvido com pressões
absolutas. Portanto, calculando as pressões absolutas nos pontos A e B tem-
se que:

p abs _ A = p abs _ B
p atm _ fora + γ água _ do _ mar .( y + 0,2 ) = p atm _ dentro + γ Hg .0,4
p atm _ dentro − p atm _ fora + γ Hg .0,4
y + 0,2 =
γ água _ do _ mar
p atm _ dentro − p atm _ fora + γ Hg .0,4
∴y = − 0,2
γ água _ do _ mar
101325
Se : p atm _ dentro = 840mmHg = 840. = 111990,7894737 Pa
760
101325
p atm _ fora = 740mmHg = 740. = 98658,55263158 Pa
760
111990,7894737 - 98658,55263158 + 136000.0,4
∴y = − 0,2
10000
∴ y = 6,5732237 m

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4.7 Lei de Pascal – Distribuição de pressão no interior da massa fluida

Experiência de Pascal: toma-se um recipiente metálico, com vários orifícios


em sua área lateral que posteriormente serão vedados com parafina (cera). Enche-
se o recipiente com água e, na sua entrada, acopla-se um êmbolo (parte móvel da
seringa de injeção utilizada para se aplicar vacinas). Aplica-se uma força na parte
superior do êmbolo e verifica-se que todas as vedações de parafina sairão de suas
posições CONCOMITANTEMENTE (ao mesmo tempo), conforme ilustrado pela
figura 4.7.

Fig. 4.7: experiência de Pascal

Na figura 4.8 ilustra-se o aparato utilizado por Pascal para realizar sua
experiência.

Fig. 4.8: aparato utilizado por Pascal para realizar sua experiência

Assim sendo, Pascal tirou uma conclusão sobre esta experiência, que ficou
conhecida como Lei de Pascal:

“A pressão exercida sobre a superfície de uma massa fluida é transmitida ao


seu interior, integralmente e em todas as direções.”

A Lei de Pascal é aplicada em várias situações práticas, dentre as quais se


destacam as seguintes:

I) Freio automobilístico: a pressão exercida pelo pé do motorista no freio é


transmitida ao disco de freio acoplado à roda do automóvel, por uma
combinação de alavanca (pedal do freio) e pistão com fluido de freio
(semelhante ao êmbolo da seringa); a figura 4.9 ilustra esta aplicação;

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Fig. 4.9: aplicação da Lei de Pascal – freio automobilístico

II) Elevador fluido-pneumático: a combinação da entrada de ar, pressionando


óleo numa câmara, faz o óleo levantar um pistão de 29 cm de diâmetro
podendo levantar automóveis com massa da ordem de 1500 kg; para
baixar o automóvel, basta retirar o ar da câmara que o peso do automóvel,
combinado com a viscosidade do óleo, faz com que o automóvel desça
com velocidade constante; a figura 4.10 ilustra esta aplicação da Lei de
Pascal;

Fig. 4.10: aplicação da Lei de Pascal – elevador pneumático

Utilizando o exemplo do elevador pneumático, se o pistão menor possuir um


diâmetro da ordem de 10% do pistão maior, a força de aplicação necessária para
levantar um automóvel de 1500 kg é dada pela Lei de Pascal, assim descrita:

2
Faplicação Felevação Faplicação Felevação D 
= → = → Faplicação = Felevação . menor 
Amenor Amaior π 2 π 2  Dmaior 
.D .D
menor maior
4 4
∴ Faplicação = 1500.9,80665.(0,1) → Faplicação = 147,09975 N = 15 kgf
2

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Em compensação, se o pistão menor possuir uma distância de descida de 10


cm, o pistão maior possuirá uma distância de elevação dada pela Lei de
Conservação de Energia, assim descrita:

Trabalho pistão _ maior = Trabalho pistão _ menor


Felevação .distância _ elevação = Faplicação .distância _ descida
Faplicação
∴ distância _ elevação = distância _ descida.
Felevação
2
D 
∴ distância _ elevação = distância _ descida. menor 
 Dmaior 
∴ distância _ elevação = 10.(0,1) → distância _ elevação = 0,1 cm = 1 mm
2

Assim sendo, a Lei de Pascal apresenta a vantagem de multiplicar forças,


mas a desvantagem de dividir deslocamentos. Para amenizar esta desvantagem na
prática fazem-se combinações de pistões e fluidos, como no caso do freio
automobilístico.

Exercício resolvido 4.4: aplica-se uma força de 200 N na alavanca AB, como é
mostrado na figura. Qual é a força F que deve ser exercida sobre a haste do
cilindro para que o sistema permaneça em equilíbrio?

Solução: este exemplo deve ser resolvido em duas partes: primeiro, calcula-se
a força F’, pela igualdade dos momentos na articulação da alavanca AB;
segundo, aplica-se a lei de Pascal entre os pistões; portanto, tem-se que:

200.20
Na haste AB : 200.20 = F '.10 → F ' = = 400 N
10
2
F' F  25 
Nos pistões : = → F = F '.  = 400.25
π .5 2
π .25 2
 5 
4 4
∴ F = 10 kN

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4.6 Aplicações práticas do conceito de pressão

Algumas aplicações do conceito de pressão serão apresentadas a seguir:

I) Vasos comunicantes: são sistemas de dutos, contendo dois ou mais fluidos,


ligados entre si, cujos fluidos em seu interior se equilibram sob a ação da
pressão de seus pesos; o principio dos vasos comunicantes possui uma
infinidade de aplicações como, por exemplo, na construção civil, para
determinação do ponto de nivelamento de paredes e/ou estruturas
(mangueira de nível); as figuras 4.11, 4.12, 4.13 e 4.14 ilustram vasos
comunicantes e suas aplicações;

Fig. 4.11: vasos comunicantes

Fig. 4.12: vasos comunicantes – mangueira de nível

Fig. 4.13: vasos comunicantes num aparelho sanitário


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Fig. 4.14: vasos comunicantes no Sistema Cantareira

II) Manometria: é a parte da Fluidostática destinada à medição de altas


pressões através de instrumentos próprios para este fim, denominados
manômetros; a manometria é ainda subdividida em piezometria (piezômetros
são instrumentos utilizados em Hidráulica que utilizam a própria água como
fluido manométrico) e vacuometria (vacuômetros são instrumentos para
medição de pressão de vácuo); na figura 4.15 ilustra-se um par de
piezômetros instalados numa tubulação;

Fig. 4.15: piezômetros instalados numa tubulação e sua linha piezométrica

Aplicando-se a Lei de Stévin nos pontos 1 e 2 dos piezômetros ilustrados na


figura 4.15 tem-se que:

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Em 1 : P1 = γ.H1
Em 2 : P2 = γ.H2
∴ P1 − P2 = γ.(H1 − H2)
P1 − P2
∴ H1 − H2 = = diferença da carga piezométrica entre 1 e 2
γ

Os manômetros mais utilizados são:

a) Tipo Bourdon: em homenagem a Eugène Bourdon, engenheiro francês que,


em 1849, inventou um manômetro que poderia medir 100000 psi (6800 atm) para
sistemas a vapor, algo praticamente impossível na época;

Eugéne Bourdon (1808 – 1884)

Este manômetro utiliza o princípio de expansão de membrana espiralada


através da injeção (ou retirada) de fluido em seu interior, conforme ilustram as
figuras 4.16 e 4.17.

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Fig. 4.16: manômetro tipo Bourdon – vista interna

Fig. 4.17: manômetro tipo Bourdon – vista externa

b) Tipo de coluna em U ou de coluna fluida: este manômetro utiliza o princípio


dos vasos comunicantes e a Lei de Stevin e pode medir tanto a diferença de pressão
entre dois pontos como a pressão de um ponto do sistema com relação à atmosfera
(referência); sua configuração mais básica é dada na figura 4.18.

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Fig. 4.18: manômetro de coluna em U

Aplicando-se a Lei de Stévin entre os pontos M e N no modelo físico do


manômetro em U da figura 4.18 tem-se que:

p M = p N → p A + γ .d = γ man .h
∴ p A = γ man .h − γ .d
A figura 4.19 ilustra um manômetro diferencial de coluna em U que pode
medir a diferença de pressão entre dois pontos de um sistema.

Fig. 4.19: manômetro diferencial em U


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Aplicando-se a Lei de Stévin entre os pontos M e N do modelo físico do


manômetro diferencial em U ilustrado na figura 4.19 tem-se que:

p M = p N → P1 + γ .Z1 = P 2 + γ .Z 2 + γ m .h
∴ P1 − P 2 = γ .Z 2 − γ .Z1 + γ m .h = γ .(Z 2 − Z1) + γ m .h
∴ P1 − P 2 = −γ .h + γ m .h
∴ P1 − P 2 = (γ m − γ ).h

A figura 4.20 ilustra um manômetro inclinado, que é geralmente utilizado


quando a pressão a ser medida é muito pequena para um manômetro de coluna em
U na vertical.

Fig. 4.20: manômetro inclinado

Aplicando-se a Lei de Stévin no modelo físico do manômetro inclinado


ilustrado na figura 4.20 tem-se que:

p M = p N → P1 + γ .Z1 = P 2 + γ .Z 2 + γ m .∆h
∴ P1 − P 2 = γ .Z 2 − γ .Z1 + γ m .∆h = γ .(Z 2 − Z1) + γ m .∆h
∴ P1 − P 2 = −γ .∆h + γ m .∆h → P1 − P 2 = (γ m − γ ).∆h
Mas : ∆h = ∆L.senα
∴ P1 − P 2 = (γ m − γ ).∆L.senα

Na prática, o ângulo de inclinação deste manômetro é 30º para que a altura


manométrica ∆h seja metade do comprimento ∆L, uma vez que sen 30º = 0,5.

c) Esfigmomanômetro: aparelho que mede a pressão arterial, cujo modelo é


ilustrado na figura 4.21.

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Fig. 4.21: modelo de um esfigmomanômetro

Os números de uma medida de pressão arterial significam uma medida de


pressão calibrada em milímetros de mercúrio (mmHg), cujo manômetro do
esfigmomanômetro é ilustrado na figura 4.22.

Fig. 4.22: escala manométrica do manômetro do esfigmomanômetro

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A pressão arterial é baseada na leitura de dois valores manométricos. O


primeiro valor manométrico, ou o de maior valor, é chamado de sistólico, e
corresponde à pressão da artéria no momento em que o sangue foi bombeado pelo
coração. O segundo valor manométrico, ou o de menor valor, é chamado de
diastólico, e corresponde à pressão na mesma artéria, no momento em que o
coração está relaxado após uma contração. Não existe uma combinação precisa de
medidas para se dizer qual é a pressão normal, mas em termos gerais, diz-se que o
valor de 120/80 mmHg é o valor considerado ideal. Contudo, medidas até 140
mmHg para a pressão sistólica, e 90 mmHg para a diastólica, podem ser aceitas
como normais. O local mais comum de verificação da pressão arterial é no braço,
usando como ponto de ausculta da artéria braquial. Para auscultar os batimentos,
localizando no sistema circulatório do braço os pontos sistólico e diastólico, utiliza-se
um estetoscópio, ilustrado pela figura 4.23.

Fig. 4.23: estetoscópio típico

Para se auscultar e localizar os pontos sistólico e diastólico no sistema


circulatório do braço, através do estetoscópio em conjunto com o
esfigmomanômetro, utiliza-se a técnica dos sons de Korotkov. Os sons de
Korotkov (ou sons de Korotkoff) são os sons ouvidos durante a medição da pressão
arterial através de meios não invasivos. O nome refere-se a Nikolai Sergeyevich
Korotkov, médico russo que os descreveu em 1905 quando exercia na Academia
Médica Imperial de São Petersburgo. Os sons de Korotkov só são audíveis com
recurso a um esfigmomanômetro. Os sons ouvidos durante a medição não são os
mesmos que aqueles produzidos pela vibração dos ventrículos no coração, e
quando se coloca um estetoscópio sobre a artéria braquial não há nenhum som que
seja audível. Quando se coloca o manguito do esfigmomanômetro no braço de um
paciente e é insuflada a uma pressão superior à sua pressão arterial sistólica, não
há ainda qualquer som audível. Isto ocorre porque a pressão do manguito é
suficientemente alta que abafa por completo a pressão sanguínea. À medida que a
manguito é esvaziado, no momento em que atinge o mesmo valor de pressão que
a pressão sistólica do paciente, é audível o primeiro som de Korotkov (k1). À medida
que o manguito continua a ser esvaziado, continuam-se a ouvir sons até à sua
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pressão ser coincidente com os valores de pressão diastólica do paciente (k2, k3,e
k4), momento em que deixam de se ouvir sons (k5).

Nikolai Sergeyevich Korotkov (1874 – 1920)

Na tabela 4.1 encontram-se os valores de pressão arterial considerados


normais em seres humanos em função da idade.

Tab. 4.1: valores médios normais de pressão arterial


Idade (em anos) Pressão Arterial (em mmHg)
4 85/60
6 95/62
10 100/65
12 108/67
16 118/75
Adulto 120/80
Idoso 140-160/90-100

4.9 Empuxo sobre superfícies planas submersas – Lei de Arquimedes

Em homenagem a Arquimedes de Siracusa, cientista grego.

Arquimedes de Siracusa (287 aC – 212 aC)

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Define-se EMPUXO como a força de resistência oferecida pela superfície à


ação de um fluido ao qual está imersa ou parcialmente imersa.

4.9.1 Equação geral do empuxo

Seja uma superfície plana A, de contorno qualquer, mergulhada em um


líquido em equilíbrio, conforme ilustra a figura 4.24.

Fig. 4.24: modelo físico de uma superfície plana submersa em fluído

Do modelo físico ilustrado na figura 4.24 pode-se adotar a seguinte relação


trigonométrica entre os valores de h e y:

ho = y o .senα → hc = y c .senα

Cada face da superfície está sujeita à pressão unitária p, provocando o


esforço elementar de empuxo dE. Somando-se todos os esforços elementares de
empuxo sobre a superfície tem o empuxo total E, dado por:

dE = p.dA = γ .h.dA = γ . y.senα .dA → E = ∫ dE =γ .senα .∫ y.dA


A

∫ y.dA = M
A
x = momento estático ou de primeira ordem

Da Mecânica Geral tem-se que:

M x = yo .A

Assim sendo, a equação geral do empuxo sobre uma superfície imersa ou


parcialmente imersa pode ser dada por:

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E = γ . y o .senα . A → E = γ . A.ho
Conclusão fundamental que pode ser tirada da equação do empuxo sobre
uma superfície imersa ou parcialmente imersa:

O empuxo é igual ao peso de uma coluna líquida que tem por base a área da
superfície e por altura a profundidade do seu centro de gravidade.

4.9.2 Profundidade do centro de pressões ou ponto de aplicação do empuxo

O centro de pressões C é o ponto de ação da força de empuxo E. Neste


ponto, a força de empuxo E age na direção normal ou perpendicular à superfície.
Por isto, é de fundamental importância sua determinação.
O princípio para determinação do ponto C é de que o empuxo E forçará a
superfície a um momento de rotação, que será dado por:

y C .E = ∫ y.dE = γ .senα .∫ y 2 .dA


A

∫y .dA = I x = momento de inércia ou de segunda ordem


2

A questão de se calcular Ix é de que, como o eixo x pode ser colocado onde


for mais conveniente, o valor de Ix varia conforme o posicionamento do eixo x. Mas,
assim como no cálculo de E, o ponto principal de interesse da superfície é o seu
baricentro (G). Portanto, o eixo x deve ser transladado para passar pelo ponto G.
Para fazê-lo, é necessário aplicar um teorema muito importante da Mecânica Geral,
denominado Teorema dos Eixos Paralelos ou Teorema de Steiner, em
homenagem a Jakob Steiner, matemático suíço.

Jakob Steiner (1796 – 1863)

O Teorema dos Eixos Paralelos diz que o momento de inércia ou momento


de segunda ordem é a soma do momento de inércia de translação do eixo de
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interesse ao eixo que passa pelo baricentro da superfície mais o momento central de
inércia, relativo ao baricentro da superfície, ou seja:

I x = I G + y o2 . A
Assim sendo, o ponto de aplicação do empuxo é dado por:

y C .E = y o2 . A.γ .senα + I G .γ .senα


y o2 . A.γ .senα I G .γ .senα y o2 . A.γ .senα I .γ .senα
∴ yC = + = + G
E E y o . A.γ .senα y o . A.γ .senα
IG
∴ yC = yo +
yo .A

Pelas relações trigonométricas entre h e y já definidas, tem-se que:

Como : hc = y c .senα → ho = y o .senα


IG h h IG
Tem − se que : y C = y o + → c = o +
yo .A senα senα ho
.A
senα
I G .sen 2α
∴ hc = ho + → profundidade de C
A.ho

O valor de IG (momento de inércia central) é tabelado e seus valores estão no


apêndice B para várias figuras planas.

Casos particulares:

I) se α = 90o  a superfície imersa está na vertical.

Logo: yC = hC  a profundidade do centro de empuxo é igual à coordenada y do


mesmo.

II) se α = 0o  a superfície imersa está na horizontal.

Logo: hC = ho  a profundidade do centro de empuxo é igual à profundidade do


centro de gravidade da superfície.

III) se 0 ≤ α ≤ 90o  a superfície imersa está inclinada de ângulo qualquer.

Logo: sen2α > 0  IG > 0  A > 0  ho > 0  hC > ho  em geral, a


profundidade do centro de pressões é maior que a profundidade do centro de
gravidade da superfície na sua parte imersa.

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Exemplo resolvido 4.5: determinar o momento que deve ser aplicado em A na


fig. abaixo para que a comporta permaneça em equilíbrio.

Solução: o momento do empuxo é dado por:

M = E. y = E.(hc − (10 − 6 )) = E.(hc − 4 )

Onde:

 6
E = γ água . A.ho = 1,94.32,17.6.4.10 −  = 10484,8464 lbf
 2
4.6 3
.1
I G .sen α 
2
6 12
hc = ho + = 10 −  + = 7,42857143 ft
A.ho  2  6
6.4.10 − 
 2

Portanto:

M = E.(hc − 4 ) = 10484,8464.(7,42857143 − 4 )
∴ M = 35948,0448 lbf.ft

4.9.3 Flutuação

Seja um corpo imerso num fluido de peso específico γfluido como ilustra a
figura 4.25.

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Fig. 4.25: corpo imerso em fluido

O corpo está sujeito às forças peso (W) e empuxo (E). Portanto, define-se
peso aparente do corpo à diferença W - E, isto é:

Wap = W − E
Da equação geral do empuxo pode-se escrever que:

E = γ . A.ho = γ .Vol _ deslocado = Wdeslocado


Assim sendo, pode-se enunciar a Lei de Arquimedes:

“O empuxo total sobre um corpo em flutuação é igual ao peso do fluido


deslocado pelo mesmo.”

A equação geral do peso aparente fica assim definida:

Wap = W − E = γ corpo .Vol _ corpo − γ fluido .Vol _ deslocado


Wap = γ água .(DRcorpo .Vol _ corpo − DR fluido .Vol _ deslocado )

Pela equação geral do peso aparente, podem-se tirar as seguintes


conclusões:

Wap > 0 → DRcorpo > DRfluido → Vol_deslocado = Vol_corpo → corpo afunda

Wap < 0 → DRcorpo < DRfluido → Vol_deslocado < Vol_corpo → corpo flutua acima da superfície
do fluido

Wap = 0 → DRcorpo = DRfluido → Vol_deslocado = Vol_corpo → corpo flutua no interior do fluido

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Ainda, no caso de Wap < 0, o corpo só atinge a posição de equilíbrio quando


parte do seu volume estiver fora do contato direto com o fluido. Neste ponto, ocorre
a igualdade de W e E, o que resulta:

W = E → DRcorpo .Vol _ corpo = DR fluido .Vol _ deslocado


Vol _ deslocado DRcorpo  Vol _ deslocado  DRcorpo
∴ = → % = 100. → percentual do corpo imerso no fluido
Vol _ corpo DR fluido  V  DR
 ol _ corpo  fluido

Por exemplo, uma gota de óleo, com DR = 0,8, em contato com água do mar,
com DR =1,025, possui 78,05% de seu volume imerso (no interior) da água do mar.
Por este exemplo, fica a cargo do futuro engenheiro refletir como é difícil retirar o
óleo derramado no mar devido a vazamentos em petroleiros ou outras fontes.

Exemplo resolvido 4.6: um corpo pesa 800 N no ar e, quando imerso em água


tem um peso aparente de 500 N. Determinar o volume do corpo e seu peso
específico.

Solução: neste caso, deve-se aplicar a lei de Arquimedes duas vezes, isto é,
para o caso do corpo no ar e para o caso do corpo na água. Portanto, tem-se
que:

No ar : E ≅ 0 → Wap ≅ W = 800 N
Na água : Wap = W - E = 500 N
∴ E = W - 500 = 800 - 500 → E = 300 N
Mas : E = γ água .Vol_des = 9,80665.1000.Vol_des = 300
300
∴ Vol_des = → Vol_des = 0,0305915 m 3
9,80665.1000
W 800
E : W = γ corpo .Vol_corpo → γ corpo = =
Vol_corpo 0,0305915
∴ γ corpo = 26151,055031 N/m 3

4.9.4 Aplicação da Lei de Arquimedes – O motivo de um navio não afundar

Sabe-se que, pelo princípio do peso aparente, que corpos cuja densidade é
maior do que a da água afundam, quando em contato com este fluido. Então, surge
a dúvida: como pode um navio feito de aço, cuja densidade é maior do que a da
água, não afundar em contato com a água do mar?
A explicação é de que não é o peso do navio que conta, mas a sua
densidade. O navio não é construído de aço maciço, mas é oco, isto é, possui ar
dentro de si e, se dividir-se o peso todo do navio pelo seu volume, este valor é
menor do que se dividir o peso da água que ocupa o mesmo espaço do navio,
dividido pelo mesmo volume.
Isto pode ser visto na figura 4.26, onde se ilustra o volume de água que o
navio ocupa para se deslocar. Se dividir-se o peso deste volume de água pelo
volume que ocupa o valor é inferior à densidade do navio.
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Fig. 4.26: volume de água que o navio utiliza para se deslocar

Em contrapartida, se o navio se acidenta e surge um rombo (rasgo ou ruptura)


no casco, a água começa a entrar e a densidade do navio aumenta, afundando-o. E
isto foi o que aconteceu com o navio mais famoso da história da Real Marinha
britânica, o RMS Titanic, no dia 14 de Abril de 1912, conforme ilustra a figura 4.27.

Fig. 4.27: ilustração do RMS Titanic afundando

Quando o RMS Titanic navio bateu no iceberg, por volta das 23h40min, a
água já estava em uma temperatura extremamente baixa. A lâmina de gelo que
cortou o casco do RMS Titanic possivelmente permitiu que isso ocorresse devido ao
fato do metal utilizado na construção do casco não ser o ideal. É possível que, pela
baixíssima temperatura, o casco em sua área inferior estava gélido, ou quase
congelado, o que facilitou sua abertura no atrito com o gelo. Caso o gelo tivesse
cortado o casco pouco antes do quinto compartimento, o RMS Titanic estaria salvo.
Ele foi feito para flutuar com quatro compartimentos estanques cheios d’água, mas o
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gelo havia cortado, além disso, o quinto e o sexto compartimento, como ilustra a
figura 4.28. Por isso não havia nada a ser feito para salvar o navio, pois seu
naufrágio era inevitável. O RMS Titanic afundou totalmente às 2h20min do dia 15 de
Abril de 1912.

Fig. 4.28: RMS Titanic e suas divisórias

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Capítulo 5

Fluidocinemática
5.1 Generalidades

Analogamente à Mecânica dos Sólidos, a Cinemática dos Fluidos estuda o


movimento do fluido (escoamento) sem se importar com as causas que provocam
este efeito.

5.2 Escoamento – definição

Define-se ESCOAMENTO como qualquer simples alteração na forma inicial do


fluido, sob ação de esforço tangencial. Também pode ser chamado de “fluidez”.

5.2.1 Métodos de Análise de Escoamento

Dois são os métodos de análise de escoamento mais estudados em FT, a


saber:

I) MÉTODO DE LAGRANGE: em homenagem a Joseph Louis Lagrange, matemático


e cientista francês.

Joseph Louis Lagrange (1736 – 1813)

Neste método o observador desloca-se, simultaneamente, com a partícula


fluida. As trajetórias serão linhas, descritas pelas partículas em movimento. Para
cada partícula fluida, uma linha é definida. O método é simples quanto à descrição
do movimento, mas apresenta grandes dificuldades nas aplicações práticas. Na
maioria dos casos, o que interessa não é o movimento de uma partícula em si, mas
de um conjunto de partículas que constituem o escoamento; o método de Lagrange
é análogo a um surfista que está com sua prancha na crista da onda, fazendo

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suas manobras; o surfista acompanha o escoamento e pode descrevê-lo onde ele


estiver;

II) MÉTODO DE EULER: em homenagem a Leonard Euler, cientista suíço (ver


apêndice J).

Leonard Euler (1707 – 1783)

Neste método adota-se certo intervalo de tempo, escolhe-se um ponto do


espaço e consideram-se todas as partículas que passam por esse ponto. Neste
método, o observador é fixo. O método apresenta grandes facilidades práticas e por
isto é o preferido para estudar o escoamento dos fluidos. O método de Euler é
análogo a um pescador, que fica à margem do rio, obervando o deslocamento
da água.

5.2.2 Linha de Corrente, Tubo de Corrente e Filamento de Corrente

Para se estudar o escoamento dos fluidos, adotam-se os seguintes modelos


físicos, a saber:

LINHA DE CORRENTE: é uma curva imaginária, tomada através do fluido, para


indicar a direção do vetor velocidade em diversos pontos. As linhas de corrente
nunca se cruzam pois se isto ocorrer, a partícula que estiver no ponto de cruzamento
terá velocidades diferentes, o que é impossível na prática.

TUBO DE CORRENTE: é um conjunto de linhas de corrente, formando uma figura


espacial fechada (tubo), onde não há escoamento perpendicular às suas paredes.

FILAMENTO DE CORRENTE: é a porção de fluido que escoa no interior do tubo de


corrente.

A figura 5.1 ilustra os conceitos de linha de corrente, tubo de corrente e


filamento de corrente.

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Fig. 5.1: linha de corrente, tubo de corrente e filamento de corrente.

Para ilustrar o conceito de linhas de corrente, as figuras 5.2, 5.3, 5.4, 5.5 e 5.6
mostram as linhas de corrente que se formam ao redor de um cilindro quando
submetido ao escoamento de ar e numa asa de avião (ou aerofólio).

Fig. 5.2: linhas de corrente num cilindro em Fig. 5.3: linhas de corrente num cilindro em
meio ao fluxo de ar com velocidade V1 meio ao fluxo de ar com velocidade V2 > V1

Fig. 5.4: linhas de corrente num cilindro em Fig. 5.5: linhas de corrente num cilindro em
meio ao fluxo de ar com velocidade V3 > V2 meio ao fluxo de ar com velocidade V4 > V3

Fig. 5.6: linhas de corrente ao redor de uma asa de avião (ou aerofólio)

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5.2.3 Classificação do escoamento

I) Quanto à direção da trajetória:


- laminar: as linhas de corrente formam como “lâminas” paralelas que
escoam em baixa velocidade; a figura 5.2 ilustra um exemplo de
escoamento laminar ao redor de um cilindro;
- turbulento: as linhas de corrente formam pequenos turbilhões
(vórtices) ao longo do escoamento, geralmente em altas velocidades;
o conceito de vórtice está voltado à formação de movimentos de
rotação da partícula fluida em torno do seu eixo de rotação, ao longo
do escoamento, fato este visto altamente nos escoamentos rotacionais;
as figuras 5.7, 5.8, 5.9 e 5.10 ilustram alguns exemplos de vórtices.

Fig. 5.7: exemplo de vórtice violento – tornado “Elie Manitoba”

Fig. 5.8: formação de vórtices nas asas de um avião comercial

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Fig. 5.9: “caminho” de vórtices de Von Kármán (em homenagem a Theodore Von Kármán,
cientista húngaro), que se formam atrás de um cilindro submetido ao escoamento de um fluido
(ver fig. 5.4)

Theodore von Kármán (1881 – 1963)

Fig. 5.10: vórtices de von Kármán nas Ilhas Guadalupe – Mar do Caribe – América Central

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II) Quanto à variação no tempo:


- permanente: as propriedades do fluido e sua velocidade não variam
no tempo, num dado ponto do escoamento, podendo variar de ponto a
ponto;
- não permanente: as propriedades do fluido e sua velocidade variam
no tempo, num dado ponto do escoamento, podendo variar também de
ponto a ponto;

III) Quando à variação da trajetória:


- uniforme: numa dada trajetória em todos os pontos a velocidade é
constante no intervalo de tempo considerado, podendo variar de uma
trajetória para outra;
- variado: os diversos pontos da trajetória não apresentam velocidade
constante no intervalo de tempo considerado;
Na figura 5.11 ilustram-se os escoamentos uniforme (externo à tubulação)
e variado (interno à tubulação);

Fig. 5.11: escoamento uniforme (externo à tubulação) e variado (interno à tubulação)

IV) Quanto ao movimento de rotação:


- rotacional: cada partícula fluida é submetida a uma velocidade angular
ω com relação ao seu centro de massa, devido aos efeitos de
viscosidade; na prática, para se saber se o escoamento é rotacional,
basta tomar dois palitos de fósforo e colá-los em forma de cruz; após a
secagem da cola, esta pequena “cruzeta” de fósforos deverá ser
colocada no escoamento; se a “cruzeta” possuir um movimento de
rotação além do movimento de translação, o escoamento é
rotacional;
- irrotacional: as partículas não são submetidas a um movimento de
rotação ao redor do seu centro de massa; na prática, para se saber se
o escoamento é rotacional, basta tomar dois palitos de fósforo e colá-
los em forma de cruz; após a secagem da cola, esta pequena “cruzeta”
de fósforos deverá ser colocada no escoamento; se a “cruzeta” não
possuir um movimento de rotação além do movimento de
translação, o escoamento é irrotacional;

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V) Quanto à compressibilidade:
- compressível: as propriedades do fluido variam conforme a posição
da partícula, podendo variar também no tempo;
- incompressível: as propriedades do fluido não variam conforme a
posição da partícula, podendo variar no tempo;
Nos gases, o limite de compressibilidade é de 20% (na realidade, é 30%
mas adota-se 20% como um fator de segurança, para se evitar ondas de
choque no interior das tubulações, na presença de conexões ou
dispositivos no meio do escoamento) da velocidade do som no ar seco,
isto é, considerando que a velocidade do som no ar seco é 340 m/s, o
limite de compressibilidade para os gases é de 68 m/s ou 244,8 km/h; nos
líquidos, como a velocidade do som é de 1500 m/s, o limite de
compressibilidade é muito alto, isto é, cerca de 300 m/s ou 1080 km/h;
portanto, o escoamento nos líquidos é praticamente sempre
incompressível e, nos gases, só o será se a sua velocidade média for
abaixo de 68 m/s ou 244,8 km/h;

VI) Quanto à dimensão:


- unidimensional: quando o campo de velocidades varia apenas em
uma dimensão; como exemplo tem-se os escoamentos em tubos
circulares;
- bidimensional: quando o campo de velocidades varia em duas
dimensões; como exemplo tem-se os escoamentos em dutos
retangulares, como nos sistemas de ar condicionado;
- tridimensional: quando o campo de velocidades varia em três
dimensões; como exemplo tem-se os escoamentos das massas de ar
na atmosfera;

5.3 Vazão volumétrica (ou de volume) e vazão mássica (ou de massa)

Defini-se VAZÃO VOLUMÉTRICA ou DE VOLUME (Q) como sendo a relação


entre o volume de fluido deslocado na unidade de tempo.
Equacionalmente pode-se escrever a vazão volumétrica como sendo:

 ∆V  dVol
Q = lim  ol =
∆t →0
 ∆t  dt

Unidades:

No SI: [Q] = m3/s

No SIG: [Q] = ft3/s

Defini-se VAZÃO MÁSSICA ou DE MASSA (dm/dt) como sendo a relação


entre a massa em escoamento na unidade de tempo.
Equacionalmente pode-se escrever a vazão de massa como sendo:

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dm  ∆m 
m = = lim  
dt ∆t →0 ∆t 
Unidades:

No SI: [dm/dt] = kg/s

No SIG: [dm/dt] = slug/s

5.3.1 Relação entre as vazões de volume e de massa

A relação entre as vazões de volume e de massa é definida da seguinte


forma:

dm  ρ .∆Vol   ∆V 
Como : ∆m = ρ .∆Vol → m = = lim   = ρ . lim  ol  = ρ .Q
dt ∆t →0 ∆t  ∆t →0
 ∆t 
dm
∴ m = = ρ .Q
dt

Outra forma de escrever-se a equação de Q é através da variação da


velocidade das partículas em cada ponto da seção transversal do escoamento, da
seguinte forma:

 A.∆s   ∆s 
Como : ∆Vol = A.∆s → Q = lim   = A. lim   = A.V
∆t →0
 ∆t  ∆t →0 ∆t
 
   
∴ Q = V . A = ∫ V  dA → m = ρ .Q = ρ .V . A = ∫ ρ .V  dA
A A

Q 1  
V = = .∫ V  dA
A AA
Onde : V = velocidade média do escoamento

Por exemplo, seja o escoamento laminar numa tubulação de secção circular,


cujo perfil é ilustrado na figura 5.12.

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Fig. 5.12: perfil de velocidades de um escoamento laminar numa tubulação de secção circular

A equação que rege o perfil de escoamento laminar é dada por (ver apêndice
F):

 r2 
v(r ) = Vmáx .1 − 2 
 R 
Onde: Vmáx = velocidade do escoamento medida no centro da tubulação (r = 0).
r = variável polar raio, que varia no intervalo 0 ≤ r ≤ R
R = raio da tubulação

Lembrando-se que, numa secção transversal circular, tem-se que:

A = π .R 2 → dA = 2.π .r.dr
Substituindo-se estes dados e a equação do perfil no conceito de velocidade
média, tem-se que, num escoamento laminar, o valor da velocidade média é dado
por:

1
R
 r2  2.Vmáx 
R
r3 
π .R 2 ∫0 ∫
V= . V .
máx  1 − 
2 
. 2 .π .r .dr = 2
. 
 r − .dr
2 
 R  R 0
R 
2.Vmáx  r 2 r 4  2.Vmáx  R 2 R 2  2.Vmáx R 2
R R

V= . − = . −  = .
R 2  2 0 4.R 2 0  R2  2 4  R2 4
 
V
∴V = máx = 0,5.Vmáx → velocidade média do escoamento laminar
2
A figura 5.13 ilustra além do perfil de velocidades do escoamento laminar
numa tubulação, o perfil de velocidades de um escoamento turbulento numa
tubulação de diâmetro D.

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Fig. 5.13: perfis de velocidades numa tubulação de diâmetro D para regime de escoamento
laminar e turbulento

A equação que rege o perfil de escoamento turbulento é dada por:

1
k
 r N  r
v(r ) = Vmáx .1 −  = Vmáx .1 − 
 R  R
Onde : 7 ≤ N ≤ 8,8 → intervalo experimental

Onde: Vmáx = velocidade do escoamento medida no centro da tubulação (r = 0).


r = variável polar raio, que varia no intervalo 0 ≤ r ≤ R
R = raio da tubulação
k = 1/N = índice de comportamento do escoamento turbulento

Lembrando-se que, numa secção transversal circular, tem-se que:

A = π .R 2 → dA = 2.π .r.dr
Substituindo-se estes dados e a equação do perfil no conceito de velocidade
média, tem-se que, num escoamento turbulento, o valor da velocidade média é
dado por:

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k k
 r 2.Vmáx  r 
R R
1
2 ∫ máx 
R 2 ∫0  R 
V= . V . 1 −  .2.π .r.dr = . 1 −  .r.dr
π .R 0  R

→ du = − → dr = − R.du → r = R.(1 − u )
r dr
Fazendo : u = 1 −
R R
2.Vmáx  k 
0 0
V= 2
. − R.du ) = 2.Vmáx .∫ u k .(u − 1).du
. ∫ u .R.(1 − u )(
R 1  1

 u k + 2 0 u k +1 0 
( )
0
V = 2.Vmáx .∫ u k +1 − u k .du = 2.Vmáx . − 
 k + 2 k + 1 1
1 1 
 1 1   1 1   k + 2 − k −1 
V = 2.Vmáx .0 − −0+ = − =  . k + 2 ) 
2 .V . 2.V .
 k +2 k + 1  k + 1 k + 2 
 (k + 1)(
máx máx

2.Vmáx 2.Vmáx 2.Vmáx 2.N 2 .Vmáx


V= = = =
(k + 1)(. k + 2)  1 + 1. 1 + 2   1 + N . 1 + 2.N  (2.N + 1)(. N + 1)
     
 N  N   N  N 
2.N 2 .Vmáx
∴V = → velocidade média do escoamento turbulento
(2.N + 1)(. N + 1)
Tomando-se um valor médio de N, no intervalo experimental, tem-se que N =
7,9. Determinando-se a velocidade média para o escoamento turbulento numa
tubulação de secção circular para N = 7,9 tem-se que:

V ≅ 0,8348.Vmáx → 66,961% maior do que a velocidade média do escoamento laminar!

Em termos gerais, a vazão em volume numa tubulação de secção circular


pode ser dada por:

  R R
Q = ∫ V  dA = ∫ v(r ).2.π .r.dr = 2.π .∫ v(r ).r.dr
A 0 0

Onde : v(r ) = perfil de velocidades na secção circular

Experimentalmente, se medir-se o perfil de velocidades na secção circular da


tubulação, deve-se levantar um gráfico de v(r).r x r, e que terá a forma dada na
figura 5.14.

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Fig. 5.14: gráfico v(r).r x r na secção circular de uma tubulação

Do gráfico da figura 5.14 pode-se determinar a área total do gráfico que está
entre a curva e o eixo de r, da seguinte forma:

(V .r )1 .r1  (V .r ) 2 + (V .r )1 
A1 = → A2 =  .(r2 − r1 )
2  2 
 (V .r ) 3 + (V .r ) 2   (V .r ) 4 + (V .r ) 3 
A3 =  .(r3 − r2 ) → A4 =  .(r4 − r3 )
 2   2 
 (V .r ) 5 + (V .r ) 4  (V .r ) 5 .( R − r5 )
A5 =  .(r5 − r4 ) → A6 =
 2  2
R
Ag = A1 + A2 + A3 + A4 + A5 + A6 → Ag = ∫ v(r ).r.dr
0

Assim sendo, a vazão em volume numa tubulação de secção circular é dada


experimentalmente por:

Q = 2.π . Ag
Por exemplo, seja a tabela 5.1 que ilustra os valores de v(r) em função de r
do estudo do fluxo de água em escoamento turbulento numa secção circular com
diâmetro de 3 in cujos raios são normalizados conforme a norma americana PTC-11
(1946):

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Tab. 5.1: dados de v(r) x r para uma aplicação de fluxo de água em escoamento turbulento
numa tubulação de 3 in
2
Ponto r (mm) v(r) (m/s) v(r) . r (m /s)
0 0,0 3,3759 0,0000
1 12,3 3,3759 0,0415
2 21,4 3,3017 0,0707
3 27,6 3,1085 0,0858
4 32,6 2,9448 0,0960
5 37,5 2,8157 0,1056
6 38,1 0,0000 0,0000

O gráfico que ilustra a variação de v(r).r x r é dado na figura 5.15.

Gráfico v.r x r - escoamento turbulento

0,12
0,1
0,08
v.r (m2/s)

0,06
0,04
0,02
0
0 10 20 30 40 50
r(mm)

Fig. 5.15: gráfico v(r).r x r para o fluxo de água em escoamento turbulento - exemplo

A área total sob a curva traçada no gráfico da figura 5.15 é dada por:

A1 = 0,0002553732 m3/s  A2 = 0,0005104247 m3/s  A3 = 0,000484999 m3/s

A4 = 0,0004544833 m3/s  A5 = 0,0004938933 m3/s  A6 = 0,000031677 m3/s

Ag = 0,0022308505 m3/s

Portanto, a vazão em volume do escoamento será dada por:

Q = 2.π.Ag = 0,014017 m3/s = 14,017 L/s

E, para este escoamento, o método experimental determina a seguinte


velocidade média:

Q Q 4.Q 4.0,014017
V = = = =
A π .D 2 π .D 2 π .(3.0,0254)2
4
∴V = 3,07362 m/s
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Mas, se o escoamento é turbulento, a velocidade média também pode ser


dada por:

V ≅ 0,8348.Vmáx = 0,8348.3,3759 = 2,81820132 m/s


3,07362 - 2,81820132
Erro : ε % = 100. = 9,0632% > 7% → não OK!
2,81820132

A justificativa de este erro ser maior que 7% (limite experimental) está no fato
de que a velocidade média (utilizando a equação em função de N = 7,9) foi calculada
para um valor específico de N. Como N varia na faixa 7 ≤ N ≤ 8,8, certamente o
valor de N não é 7,9 para este caso.

5.3.2 Equação da Continuidade

De acordo com o apêndice D a Equação da Continuidade, na sua forma


geral, pode ser dada por:

    ∂
∫ ρ.V  dA −
Entrada
∫ ρ.V  dA +
Saída
∫ ρ.dVol = 0
∂t VC
Onde :
 
∫ ρ. V
Entrada
 d A = taxa de massa que entra no sistema de controle
 
∫ ρ.
Saídaa
V  d A = taxa de massa que sai do sistema de controle


∫ ρ.dVol = taxa de massa acumulada no sistema de controle
∂t VC

Por sua vêz, de acordo com o Princípio da Continuidade, enunciado pelo


Dr. Hunter Rouse (cientista norte americano, diretor do Centro de Pesquisas em
Engenharia Hidráulica, Universidade do Iowa, USA) tem-se que:

“A menos que se tenha contração ou compressão do volume no interior de um


tubo de corrente (escoamento incompressível), a vazão líquida de fluido que
passa por ele é a soma das vazões da entrada e da saída do mesmo.”

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Hunter Rouse (1906 – 1966)

Assim sendo, considerando-se um EPI (escoamento permanente e


incompressível) a Equação da Continuidade para um EPI é definida como sendo:

∂    
EPI : ∫ ol
∂t VC
ρ .dV = 0 → ∫ ρ
Entrada
.V  dA = ∫ ρ
Saída
.V  dA

n m
∴ ∑ (ρ entrada .Ventrada . Aentrada )i = ∑ (ρ saída .Vsaída . Asaída ) j
i =1 j =1

Onde : n = número de entradas → m = número de saídas

Um exemplo de aplicação: seja o sistema de escoamento ilustrado na figura


5.16, onde na entrada 1 escoa água com vazão em volume Q1 e na entrada 2 escoa
óleo com vazão em volume Q2. Deseja-se saber a DR do fluido que sairá na secção
3.

Fig. 5.15: sistema de escoamento com duas entradas e uma saída - exemplo

Para tal, considera-se que todo o sistema de escoamento se comporte como


um EPI. Aplicando-se a Equação da Continuidade tem-se que:

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ρ1 .Q1 + ρ 2 .Q2 = ρ 3 .Q3


ρ .Q + ρ 2 .Q2
∴ ρ3 = 1 1
Q3
Mas : Q3 = Q1 + Q2
E : ρ1 = DR1 .ρ água → ρ 2 = DR2 .ρ água → ρ 3 = DR3 .ρ água
DR1 .ρ água .Q1 + DR2 .ρ água .Q2
∴ DR3 .ρ água =
Q1 + Q2
DR1 .Q1 + DR2 .Q2
∴ DR3 = → média ponderada
Q1 + Q2

Se o futuro engenheiro notar, esta mesma equação já foi utilizada na


Fluidostática, no caso da mistura de dois fluidos em repouso num recipiente, mas,
agora, está sendo utilizada para escoamentos de dois fluidos num sistema de
escoamento.

Exemplo resolvido 5.1: água escoa em regime permanente no duto de seção


circular mostrado na figura abaixo, com um fluxo de massa 50 kg/s. Determine
a vazão em volume do escoamento e as velocidades médias nas seções 1 e 2.

Solução: aplicando-se a relação entre as vazões em massa e em volume e a


relação entre a vazão em volume e a velocidade média na secção do
escoamento tem-se que:

m 50
 = ρ.Q → Q =
m = = 0,05 m 3 /s = 50 L/s
ρ 1000
π 4.Q 4.0,05
Q = V1 .A 1 = V1 . .D12 → V1 = = → V1 = 1,59155 m/s
4 π.D1 π .0,20 2
2

π 4.Q 4.0,05
Q = V2 .A 2 = V2 . .D22 → V2 = = → V2 = 6,3662 m/s
4 π.D 2 π .0,10 2
2

Exemplo resolvido 5.2: um propulsor a jato queima 1 kg/s de combustível


quando o avião voa à velocidade de 200 m/s. Sendo dados ρar = 1,2 kg/m3,
ρgases = 0,5 kg/m3, A1 = 0,3 m2, A2 = 0,2 m2, determinar a velocidade dos gases
na seção de saída.

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Solução: aplicando a equação da Continuidade para um EPI sem atrito no


sistema do propulsor, tem-se que:

m ar + m combustível = m gases
ρ ar .Qar + m combustível = ρ gases .Q gases
ρ ar .Var . A1 + m combustível = ρ gases .V gases . A2
ρ ar .Var . A1 + m combustível 1,2.200.0,3 + 1
∴V gases = =
ρ gases . A2 0,5.0,2
∴ Vgases = 730 m/s

Algumas observações com relação a este caso: a velocidade do ar aqui


adotada é, na realidade, a velocidade relativa entre o avião e o ar ao redor dele;
se o ar ao redor estivesse numa velocidade em sentido contrário ao do avião, a
velocidade do ar seria maior do que a adotada; se o ar ao redor estivesse
numa velocidade em sentido a favor do avião, a velocidade do ar seria menor
do que a adotada; portanto, a velocidade do ar aqui adotada denota que o ar ao
redor do avião está em repouso; por favor, não pergunte ao seu professor por
que é necessário levar em consideração a vazão mássica de combustível no
propulsor; se acaso ainda não percebeu, sem ela o avião iria cair.

5.4 Equação de Bernoulli para um EPI sem atrito

Em homenagem a Daniel Bernoulli, cientista holandês (ver apêndice I).

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Daniel Bernoulli (1700 – 1790)

A figura 5.16 ilustra um tubo de corrente onde se evidencia as forças de


pressão (p.A), as velocidades do fluido (V) e sua cota (z) na sua entrada (ponto 1) e
na sua saída (ponto 2).

Fig. 5.16: tubo de corrente e suas características fluidocinemáticas

Daniel Bernoulli percebeu, através de seus estudos, que um sistema


fluidocinemático sem atrito possui três formas de energia associadas, a saber:

I) Energia de pressão por unidade de massa:

F pressão .∆l p. A.∆l p.Vol p


E pressão = = = =
m m m ρ

II) Energia cinética por unidade de massa:

FR .∆l m.a.∆l V2
E cinética = = = a.∆l =
m m 2

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III) Energia potencial gravitacional por unidade de massa:

F peso .z m.g .z
E potencial = = = g .z
m m
Daniel Bernoulli percebeu que, num sistema isento de atrito ou onde o fluido é
ideal (sem viscosidade), fazendo-se o balanço energético do sistema, tem-se que:

E pressão + E cinética + E potencial = constante


p V2
∴ + + g .z = constante → Equação de Bernoulli para um EPI sem atrito
ρ 2

O fato de que a soma das três formas de energia, num EPI sem atrito, ser um
valor constante não significa que os valores de pressão, velocidade e cota em todos
os pontos do escoamento sejam iguais, mas, sim, que a soma das parcelas das
três formas de energia é que devem ser iguais. Daniel Bernoulli percebeu que, uma
consequência de sua equação, é que, de alguma forma, as três formas de energia
se compensam ao longo do escoamento, isto é, quando uma delas for a menor
naquele ponto do escoamento, as demais serão as maiores no mesmo ponto.
Outra forma de escrever a mesma equação de Bernoulli é dividindo-se todos
os termos da equação de Bernoulli pela aceleração da gravidade local, fazendo-se
com que as três formas de energia sejam determinadas por unidades de peso e não
mais por unidade de massa, resultando na seguinte equação:

p V 2 g .z p V 2 constante
+ + = + +z=
ρ . g 2. g g γ 2.g g
Onde :
p
= H p = carga piezométrica
γ
V2
= H c = carga cinética
2.g
z = H g = carga geométrica

A vantagem da segunda forma da equação de Bernoulli com relação à


primeira forma é de que na primeira forma cada parcela possui a seguinte unidade:

p  m2  p  ft 2
No SI :   = 2 → No SIG :   = 2
ρ  s ρ  s

E na segunda forma cada parcela possui a seguinte unidade:


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p p
No SI :   = m → No SIG :   = ft
γ  γ 

Ou seja, na prática é mais simples aplicar as três formas de energia com


unidade de comprimento do que com unidade científica.
Finalmente, para o tubo de corrente ilustrado na figura 5.16 a equação de
Bernoulli para um EPI sem atrito resulta:

p1 V12 p 2 V22
+ + z1 = + + z2
γ 2.g γ 2.g

5.4.1 Aplicações da equação de Bernoulli para um EPI sem atrito – casos


gerais

Algumas aplicações em casos gerais da equação de Bernouli para um EPI


sem atrito serão analisadas a seguir:

I) Escoamento de ar ao redor de um perfil da série NACA (ou aerofólio ou


flap da asa de um avião): na figura 5.17 ilustra-se o escoamento de ar ao
redor de um perfil da série NACA (National Advisory Committee for
Aeronautics - Comitê Consultivo Nacional para a Aeronáutica); a NACA foi
criada pelo governo dos Estados Unidos em 1915; após um início tímido,
chegou à década de 1930 com quatro grandes laboratórios, 500 funcionários
e sendo considerada uma referência na solução de todo tipo de problema
relacionado ao voo e à fabricação de aviões; sua importância cresceu durante
a Segunda Guerra Mundial, e em 1947 desenvolveu o X-1, o primeiro avião a
quebrar a barreira do som.

Fig. 5.17: escoamento de ar ao redor de um perfil da série NACA

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De acordo com a Cinemática, como a velocidade média é diretamente


proporcional ao deslocamento, no ponto 1 da figura 5.17 a velocidade do ar é maior
do que no ponto 2, uma vez que ar possui um deslocamento maior no ponto 1 do
que no ponto 2. Considerando-se que a diferença de cotas entre os pontos 1 e 2 é
desprezível, isto é, a diferença da energia potencial por unidade de peso entre os
pontos 1 e 2 é desprezível em comparação com as demais formas de energia, pela
equação de Bernoulli para um EPI sem atrito, tem-se que:

p2 − p1 V12 − V22 γ
γ
=
2.g
→ p2 − p1 =
2. g
( )
. V12 − V22 → Princípio de Bernoulli

Ou seja, pelo Princípio de Bernoulli, como V1 > V2  p2 > p1. E como


Fpressão = p.A  Fpressão2 > Fpressão1. Isto é, surgirá uma força de pressão resultante
de baixo para cima no perfil, denominada força de sustentação (Fs), que fará com
que o perfil se eleve, como ilustra a figura 5.18.

Fig. 5.18: força de sustentação num perfil da série NACA

É desta forma que um avião consegue decolar, desde que consiga um


impulso (força horizontal) que faça com que o ar ao redor de suas asas provoque
este efeito demonstrado para o perfil NACA, ilustrado nas figuras 5.17 e 5.18.

I) Escoamento de líquido através de um orifício instalado na parede de um


grande reservatório (ou grande tanque): a figura 5.19 ilustra um grande
reservatório com um orifício instalado na sua parede por onde se escoa um
líquido.

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Fig. 5.19: escoamento de líquido por um orifício instalado na parede de um grande tanque

O PHR (plano de horizontal de referência ou datum) foi referenciado no ponto


2. Por sua vez, datum, do latim dado, refere-se ao modelo matemático teórico da
representação da superfície da Terra ao nível do mar utilizado pelos cartógrafos
numa dada carta ou mapa. Assim sendo, a cota no ponto 2 é nula (z2 = 0). Por sua
vez a cota no ponto 1 é z1 = h.
Como o tanque está aberto à atmosfera local a pressão no ponto 1 é nula (em
termo efetivos). A mesma consideração se faz no ponto 2 (jato livre). Como a área
do ponto 1 (secção reta do tanque) é muito maior do que no ponto 2, pelo princípio
da Continuidade, pode-se concluir o seguinte:

ρ1 .V1 . A1 = ρ 2 .V2 . A2 → ρ1 = ρ 2 → V1 . A1 = V2 . A2
A 
∴V1 = V2 . 2 
 A1 
Como : A1 >> A2 → V1 << V2 → V22 − V12 ≅ V22 → princípio dos grandes reservatórios

Portanto, aplicando-se a equação de Bernoulli para um EPI sem atrito no


modelo de escoamento ilustrado na figura 5.19 tem-se que:

p1 V12 p2 V22 V22 − V12 V22


+ + z1 = + + z2 → = z1 → =h
γ 2.g γ 2.g 2.g 2.g
∴V2 = 2.g .h → velocidade teórica de saída do jato

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Na prática, a velocidade teórica deve ser corrigida para se levar em


consideração aspectos geométricos da forma do orifício, e isto é feito se
multiplicando a velocidade teórica por um valor adimensional denominado
coeficiente de velocidade CV, resultando, assim, na velocidade real do jato de
líquido que sai do orifício, isto é:

Vreal = CV . 2.g .h

Exemplo resolvido 5.3: em uma determinada localização do sistema de águas


de uma cidade, a água encontra-se à pressão de 500 kPa (man.). A tubulação
de água deve subir uma colina. Qual poderia ser a altura da colina, acima da
localização, para que o sistema possa fornecer água para o outro lado da
colina?

Solução: posicionando o PHR na base da colina como sendo o ponto 1 e o


ponto mais alto da colina como sendo o ponto 2, tem-se que:

Ponto 1 : z1 = 0 → P1 = 500 kPa (man)


Ponto 2 : z 2 = H → P2 = 0 (mínima pressão para o escoamento da água)
Considerando D1 = D 2 → A 1 = A 2 → V1 = V2 (equação da Continuidade)
Aplicando - se a Equação de Bernoulli para um EPI sem atrito tem - se que :
P1 V12 P2 V22 500.10 3 V12 V12
+ + z1 = + + z2 → + +0 = 0+ +H
γ 2. g γ 2. g 9,80665.1000 2.g 2.g
500.10 3
∴H = → H ≅ 51 m
9,80665.1000

Exemplo resolvido 5.4: a largura de um canal retangular se reduz de 10 para 6


ft, conforme a figura abaixo. A profundidade a montante é de 5 ft e a superfície
cai de 6 in na seção contraída. Determine a vazão.

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Solução: posicionando o PHR na base do canal e aplicando-se a equação


de Bernoulli para um EPI sem atrito tem-se que:

Ponto 1 : z1 = 5 ft → P1 = 0 (onde a pressão absoluta é a Patm, a efetiva é nula! → cap. 4)


Q Q Q
V1 = = =
A1 b1.h1 50
Ponto 2 : z 2 = 4,5 ft → P2 = 0 (onde a pressão absoluta é a Patm, a efetiva é nula! → cap. 4)
Q Q Q
V2 = = =
A 2 b2.h2 27
P1 V12 P V2 Q2 Q2
+ + z1 = 2 + 2 + z 2 → 0 + + 5 = 0 + + 4,5
γ 2.g γ 2.g 2.g .50 2 2.g .27 2
Q2 Q2 5 − 4,5 5 − 4,5
− = 5 − 4,5 → Q = =
2.g .27 2 2.g .50 2 1 1 1 1
− −
2.g .27 2 2.g .50 2 2.32,17.27 2
2.32,17.50 2
∴ Q = 181,9491447 ft 3 /s

5.4.2 Aplicações da equação de Bernoulli para um EPI sem atrito – medidores


de velocidade local e vazão em volume

As aplicações da equação de Bernoulli são diversas. As aplicações na área


instrumental serão explanadas a seguir.

I) Tubo de Pitot: em homenagem a Henri Pitot (lê-se “pitô”), cientista francês.

Henri Pitot (1695 – 1771)

Em sua época, Pitot realizou medições de velocidade de canais fluviais


utilizando um tubo de vidro idêntico ao ilustrado na figura 5.20.
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Fig. 5.20: tubo de Pitot do século XVIII

Pitot realizou duas séries de medidas: primeiro, manteve o tubo em repouso


na corrente fluida; segundo, com o auxílio de um barco em movimento no canal,
utilizou o seu tubo para verificar a influência da velocidade do barco nas suas
medições. No primeiro caso Pitot observou que, quanto maior a velocidade da
corrente fluida no canal, maior a altura da coluna de água no interior do seu tubo. No
segundo caso, ele observou que quanto maior a velocidade do barco, maior era
também a altura da coluna fluida no interior do seu tubo. Portanto, Pitot concluiu que
seu tubo poderia ser utilizado como um medidor relativo de velocidade utilizando o
próprio fluido como líquido manométrico, pois, em ambos os casos, a coluna fluida
se equilibrava com a pressão atmosférica local.
Hodiernamente (nos dias atuais ou atualmente) o tubo de Pitot possui dois
tipos de orifícios: um primeiro orifício para se medir a pressão total (ou máxima) do
fluido em escoamento (ponto de estagnação, pois nele a velocidade é nula) e uma
série de outros orifícios, onde se mede a pressão estática do escoamento (pontos de
velocidade máxima), conforme está ilustrado na figura 5.21.

Fig. 5.21: tubo de Pitot utilizado em tubulações

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As aplicações do tubo de Pitot (além de medir o perfil de velocidades no


escoamento em tubulações) são na área da Aerodinâmica em aviões e carros de F1,
onde ele pode medir a velocidade relativa entre o veículo e o ar ao seu redor,
conforme ilustram as figuras 5.22, 5.23, 5.24 e 5.25.

Fig. 5.22: tubos de Pitot no Boeing 777

Fig. 5.23: tubo de Pitot num avião comercial e os instrumentos no painel

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Fig. 5.24: tubo de Pitot usado num MIG – 29A

Fig. 5.25: tubo de Pitot num carro de corrida de resistência

No ponto B da fig. 5.21 tem-se o ponto de estagnação da velocidade do fluido


(VB = 0), mas a pressão do fluido neste ponto é a pressão total ou máxima. Porém,
no ponto A, a velocidade VA é máxima e a pressão é a pressão estática, podendo o
tubo medir a velocidade relativa entre ele e a corrente fluida, pois a distância entre
os pontos é muito pequena (zA ≅ zB).
Aplicando-se a equação de Bernoulli entre os pontos A e B do tubo de Pitot
na fig. 5.21 tem-se que:

pA V A2 p B VB2 V A2 p − pA
+ + zA = + + zB → = B
γ 2.g γ 2.g 2.g γ
2.g .( p B − p A ) 2.( p B − p A ) 2.g .∆p 2.∆p
∴V A = = = =
γ ρ γ ρ

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Na realidade, há de se fazer uma correção na velocidade teórica medida pelo


tubo de Pitot, multiplicando-a pelo coeficiente de velocidade CV, definindo-se a
velocidade real medida pelo tubo de Pitot, dada por:

2.g .∆p 2.∆p


∴Vreal = CV . = CV .
γ ρ

E foi com um tubo de Pitot, utilizado no interior de uma tubulação de 3 in, que
foi levantado o perfil de velocidades de um escoamento turbulento, no exemplo de
aplicação dos dados ilustrados na tabela 5.1.

II) Placa de orifício (ou diafragma): a placa de orifício é um dispositivo que


mede a vazão em condutos forçados (fechados) e constitui-se, na sua forma mais
simples, de uma placa circular com um orifício em seu centro.
Se as características geométricas do orifício e as propriedades do fluído são
conhecidas, a placa de orifício pode ser utilizada como medidor de vazão.
Na figura 5.26 ilustram-se várias placas de orifício e suas flanges (peça em
forma de anel com vários parafusos com a função de prender a placa na tubulação).

Fig. 5.26: placas de orifício de suas flanges

Na figura 5.27 ilustra-se a visualização do escoamento de um fluido pelo


orifício da placa, onde se percebe a contração do jato de fluido após a passagem
pelo orifício. Esta contração no jato denomina-se em latim vena contracta ou veia
contraída.

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Fig. 5.27: estabelecimento da vena contracta numa placa de orifício

Na figura 5.28 ilustra-se a distribuição de pressão efetiva à montante (antes) e


à jusante (depois) da placa de orifício.

Fig. 5.28: distribuição de pressão efetiva numa placa de orifício

No modelo físico apresentado na figura 5.28 a grandeza Hp denomina-se


perda de carga da placa de orifício e, nota-se que seu valor não é desprezível.
Verifica-se ainda, pelo modelo físico apresentado na figura 5.28, que as linhas de
corrente continuam a convergir mesmo após a passagem pelo orifício da placa.
Portanto, a área mínima de seção reta do escoamento é menor que a área do
orifício. Para relacionar a área contraída do jato A2 (vena contracta) com a área do
orifício Ao da placa e relacionar a área do orifício com a área da tubulação define-se

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o coeficiente de contração Cc e a relação diametral β (dada pelo fabricante da


placa), como sendo:

2
A jato
A D D D  A
Cc = = 2 → β = orifício = o → β 2 =  o  = o
Aorifício Ao Dtubo D1  D1  A1
A A2
∴β 2 = o = → A2 = β 2 .Cc . A1
A1 Cc . A1

Para baixos valores do número de Reynolds (Rey) do orifício, o coeficiente Cc


é uma função desse número, isto é, Cc = f (Rey). Mas para valores altos do número
de Reynolds, Cc é função somente da geometria do orifício. Como exemplo, se a
razão β for menor que 0,3, Cc possui valor aproximadamente igual a 0,562. Mas se a
razão β é 0,8, Cc aumenta para 0,72.
A dedução da equação para a vazão que escoa através do orifício é feita
através da Equação de Bernoulli entre as seções à montante (ponto 1) e à jusante
(ponto 2), ambos tomados na linha de corrente que passa no centro da placa de
orifício ilustrada no modelo físico ilustrado na figura 5.28. Como o datum está na
horizontal, tem-se que z1 = z2, o que resulta:

p1 V12 p2 V22 V22 − V12 p1 − p2 ∆p


+ +z = + + z2 → = =
γ 2.g 1 γ 2.g 2. g γ γ
2.g .∆p 2.∆p
∴V22 − V12 = =
γ ρ
Aplicando-se a Equação da Continuidade para um EPI no modelo físico
ilustrado na figura 5.28 tem-se que:

A 
V1 . A1 = V2 . A2 → V1 = V2 . 2 
 A1 
∴V1 = V2 .β 2 .C c

Substituindo este resultado da Equação da Continuidade no resultado da


Equação de Bernoulli tem-se que:

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2.g .∆p 2.∆p


V22 − V22 .β 4 .C c2 = =
γ ρ
2.g .∆p 2.∆p
( )
V22 . 1 − β 4 .C c2 =
γ
=
ρ
1 2.g .∆p 1 2.∆p
∴ V2 = . = .
1 − β 4 .C c2 γ 1 − β 4 .C c2 ρ

Assim como no tubo de Pitot, o valor de V2 deve ser corrigido de um


coeficiente de velocidade Cv devido às perdas de energia ao passar o fluido pelo
orifício, o que resulta:

CV 2.g .∆P CV 2.∆P


V2 _ real = . = .
1 − β 4 .Cc2 γ 1 − β 4 .Cc2 ρ

Portanto, a vazão medida pela placa de orifício será feita à jusante da placa, o
que resulta:

CV .Cc 2.g .∆P CV .Cc 2.∆P


Qreal = V2 _ real . A2 = .β 2 . At . = .β 2 . At .
1 − β 4 .Cc2 γ 1 − β 4 .Cc2 ρ
Onde : C Q = C V .C c → coeficiente de vazão
CQ
E :K = → coeficiente de escoamento
1 − β .C
4 2
c

2.g .∆P 2.∆P


∴ Qreal = K .β 2 . At . = K .β 2 . At .
γ ρ

Os valores de K são determinados experimentalmente em função da razão β


e de Rey relativo ao orifício, dados pela norma DIN (Deutsches Institut für
Normung ou Instituto Alemão para Normatização), cujas curvas estão ilustradas na
fig. 5.29 para medidores de vazão em tubulações.

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Fig. 5.29: curvas K = f(β,Rey) para medidores de vazão em tubulações de acordo com a norma
DIN

III) Tubo de Venturi: o tubo Venturi é fabricado como peça fundida e usinada
com faixa de precisão altíssima para se reproduzir a performance (desempenho em
francês) dos sistemas padronizados; consequentemente este tubo é pesado,
volumoso e oneroso; a perda geral é baixa e o tubo é auto limpante por causa da
superfície lisa interna; seu nome é dado em homenagem a Giovanni Battista Venturi,
cientista italiano.

Giovanni Battista Venturi (1746 – 1822)

A figura 5.30 ilustra um tubo de Venturi real.

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Fig. 5.30: tubo de Venturi real

Embora o tubo fosse idealizado por Venturi, como medidor de vazão só foi
estudado pela primeira vez pelo engenheiro civil austríaco Clemens Herschel, no
século XIX.

Clemens Herschel (1842 – 1930)

O primeiro Venturi como medidor de vazão foi construído para uma tubulação
de 60 in em 1853, conforme está ilustrado na figura. 5.31.

Fig. 5.31: primeiro tubo de Venturi construído por Herschel para medição de vazão em 1853

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Hodiernamente, o estilo Herschel de construir tubos de Venturi ainda encontra


aplicações, como os tubos de Venturi ilustrados na figura 5.32.

Fig. 5.32: tubos de Venturi estilo Herschel atualmente

Assim como na figura 5.28 ilustra-se a distribuição de pressão à montante e à


jusante de uma placa de orifício, a figura 5.33 ilustra a mesma distribuição num tubo
de Venturi.

Fig. 5.33: distribuição de pressão à montante e à jusante no tubo de Venturi

Na figura 5.33 a grandeza Hv denomina-se perda de carga no tubo de


Venturi. Comparando-se com a distribuição de pressões da placa de orifício,
ilustrada na figura 5.28, a perda de carga Hv é menor do que a perda de carga Hp.
A equação para medição de vazão do tubo de Venturi é a mesma do medidor
tipo placa de orifício, porém o coeficiente de escoamento K do tubo de Venturi varia
de 0,98 a 0,995, segundo dados experimentais para Rey elevados (superiores a
2.105), dados estes que estão ilustrados nas curvas da figura 5.29.

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Uma aplicação muito conhecida do tubo de Venturi, além de sua aplicação


como medidor de vazão, é na área agrícola, onde se utiliza um tubo de Venturi para
injetar fertilizante na corrente hidráulica, antes de ir para as plantações, conforme
ilustra a figura 5.34. Como ilustra o modelo físico do tubo de Venturi da figura 5.33,
no ponto 2 (garganta), por causa da passagem do fluido pelo tubo de Venturi, surge
um fenômeno de subpressão, isto é, uma pressão de sucção. Se colocar-se um tubo
de pequeno diâmetro neste ponto e ligá-lo a um tanque externo onde se tenha um
produto químico (neste caso um fertilizante) a subpressão irá sugá-lo e injetá-lo na
corrente hidráulica.

Fig. 5.34: utilização do tubo de Venturi na irrigação agrícola

5.5 Equação da Quantidade de Movimento para sistemas inerciais – EQM

A EQM tem como objetivo descrever quantitativamente a relação entre um


fluido em movimento sobre um sistema de controle e as forças dinâmicas sobre o
sistema de controle. O apêndice E demonstra a dedução da EQM e que pode ser
dada por:
   
FR = ∫ V .ρ .V  dA
SC

A EQM possui dois lados que podem ser analisados separadamente, mas que
constituem um único conjunto de forças, a saber:

I) Lado esquerdo da EQM  forças externas: peso, reação, forças de


pressão, força de atrito da SC com relação ao meio externo;

II) Lado direito da EQM  forças internas: forças devido ao escoamento da


massa fluida no interior da SC;
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Um exemplo de aplicação: seja o esguicho de jardim ilustrado na figura


5.34, por onde se escoa água e onde se indicam as forças agentes no esguicho,
com exceção das forças devido ao escoamento.

Fig. 5.34: esguicho de jardim e as forças atuantes

O objetivo do exemplo é determinar o vetor reação R. Para tal, aplicando a


EQM no esguicho de jardim ilustrado na figura 5.34, tem-se que:
 
Lado esquerdo : FR = R + P1.A1.cos α.iˆ + P1.A1.senαˆj − W.ˆj
  
Lado direito : FR = V1.(− ρ.V1.A1 ) + V2 .( ρ.V2 .A2 )
( )

Lado direito : FR = V1.cos α.iˆ + V1.senαˆj .(− ρ.V1.A1 ) + V2 .iˆ.( ρ.V2 .A2 )

( )
∴ Lado direito : FR = V22 .ρ . A2 − V12 .ρ . A1 . cos α .iˆ − V12 .ρ . A1 .senα . ˆj

( ) ( )
∴ R = V22 .ρ . A2 − V12 .ρ . A1 . cos α − P1 . A1 . cos α .iˆ + − V12 .ρ . A1 .senα − P1 . A1 .senα + W . ˆj

Um caso particular para este esguicho de jardim é o caso em que ele precisa
ficar em equilíbrio estático (repouso). Para tal, basta igualar o vetor reação R com o
vetor nulo, o que resulta:

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 
Se R = 0 então :
V22 .ρ . A2 − V12 .ρ . A1 . cos α − P1 . A1 . cos α = 0
 2
− V1 .ρ . A1 .senα − P1 . A1 .senα + W = 0
∴ P1 . A1 . cos α = V22 .ρ . A2 − V12 .ρ . A1 . cos α → [1]
∴ P1 . A1 .senα = W − V12 .ρ . A1 .senα → [2]
[2] W − V12 .ρ . A1 .senα
Fazendo : = tgα = 2
[1] V2 .ρ . A2 − V12 .ρ . A1 . cos α
( )
∴W = V22 .ρ . A2 − V12 .ρ . A1 . cos α .tgα + V12 .ρ . A1 .senα
[( )
∴W = ρ . V22 . A2 − V12 . A1 . cos α .tgα + V12 . A1 .senα ]
Quantitativamente, seja um esguicho de jardim com um diâmetro de entrada
(D1) igual a 0,5 in, um diâmetro de saída (D2) igual a 0,25 in, com uma velocidade de
entrada de água de 1,5 m/s e cuja massa a vazio seja de 170 g. Deseja-se saber a
massa de água no interior do esguicho de jardim quando ele está na condição de
jato livre contínuo. Assim sendo, tem-se o seguinte equacionamento:

π π
D1 = 0,5" → A1 = .D12 = .(0,5.0,0254) = 1,26677.10 -4 m 2
2

4 4
π π
D2 = 0,25" → A2 = .D22 = .(0,25.0,0254) = 3,16692.10 -5 m 2
2

4 4
A 
P.C. : ρ1 .V1 . A1 = ρ 2 .V2 . A2 → EPI : ρ1 = ρ 2 → V1 . A1 = V2 . A2 → V2 = V1 . 1 
 A2 
 1,26677.10 -4 
∴V2 = 1,5.  → V2 = 6m / s
-5 
 3,16692.10 
[( )
∴W = 10 3 . 6 2.3,16692.10 -5 − 1,5 2.1,26677.10 -4. cos 61 .tg 61 + 1,5 2.1,26677.10 -4.sen61 ]
2,0568
∴W = 2,0568 N → M = = 0,2097 kg = 209,7 g
9,80665

Como M é a massa total do conjunto, a massa da água no interior do


esguicho metálico de jardim será dada por:

M água no esguicho = M − M esguicho


∴ M água no esguicho = 209,7 − 170 = 39,7 g

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Exemplo resolvido 5.5: um jato de água saindo de um bocal estacionário a 15


m/s tendo secção de 0,05 m2 atinge uma pá defletora curva montada sobre um
carrinho conforme figura a seguir. A pá desvia o jato de um ângulo de 50º.
Determine o valor de M requerido para manter o carrinho estacionário.

Solução: para o carrinho se manter estacionário a resultante de todas as


forças sobre ele deve ser nula. Portanto, aplicando-se a EQM para sistemas
inerciais neste SC tem-se que:
   
FR = ∫ V .ρ .V  dA
SC
 
Lado direito da EQM : FR = −T. î + R
  
Lado esquerdo da EQM : FR = V1 .(− ρ.V1 .A1 ) + V2 .(ρ.V2 .A 2 )

FR = −ρ.V 2 .A jato . î + ρ.V 2 .A jato .cosθ î + ρ.V 2 .A jato .senθĵ
Igualando os lados da EQM resulta :

− T. î + R = −ρ.V 2 .A jato . î + ρ.V 2 .A jato .cosθ î + ρ.V 2 .A jato .senθĵ

( )
∴ R = T − ρ.V 2 .A jato + ρ.V 2 .A jato .cosθ .iˆ + ρ.V 2 .A jato .senθĵ
 
Como R = 0 : T − ρ.V 2 .A jato + ρ.V 2 .A jato .cosθ = 0
∴ T = ρ.V 2 .A jato − ρ.V 2 .A jato .cosθ = ρ.V 2 .A jato .(1 − cosθ )
Mas, na corda : T = M.g
ρ.V 2 .A jato .(1 − cosθ )
∴ M.g = ρ.V .A jato .(1 − cosθ ) → M =
2

∴M =
2
(
1000.15 .0,05. 1 − cos 50 o
) → M = 409,7872 kg
9,80665

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Capítulo 6

Escoamentos viscosos em tubulações


6.1 Experiência de Reynolds

Em homenagem a Osborne Reynolds, cientista irlandês (ver apêndice L).

Osborne Reynolds (1842 – 1912)

Na figura 6.1 ilustra-se o aparato experimental projetado por Reynolds, que,


na segunda metade do século XIX, utilizou numa experiência por ele realizada.

Fig. 6.1: ilustração do aparato utilizado por Reynolds para realizar sua experiência
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Os objetivos desta experiência eram: a) obervar o escoamento da água no


interior de uma tubulação através da injeção de corante dissolvido em água no
escoamento; b) estudar a relação entre as forças que agem num escoamento de
fluidos, a saber: forças de inércia (movimento da massa fluida) e forças de
viscosidade (ação das tensões de cisalhamento).
O modelo físico de seu aparato é ilustrado na figura 6.2, bem como se
ilustram, também, a visualização do escoamento com o corante diluído em água
injetado no escoamento através de uma agulha injetora.

Fig. 6.2: experiência de Reynolds: (a) modelo físico do aparato (b) visualização do escoamento

Hodiernamente, uma repetição do mesmo experimento foi realizada inúmeras


vezes e a figura 6.3 ilustra os resultados obtidos.

Fig. 6.3: experiência de Reynolds – resultados obtidos

As observações realizadas por Reynolds foram:

I) Para baixas vazões, o filete visível de partículas fluidas formava um único


filamento ao longo do tubo, característica de escoamento laminar (filetes
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formando “lâminas” paralelas), demonstrado na figura 6.3 na primeira


linha;
II) À medida que a velocidade aumentava, o filete tornava-se mais ondulado,
demonstrado na figura 6.3 na segunda linha, até quase desaparecer no
meio da corrente fluida, demonstrado na figura 6.3 na sexta linha; entre as
primeiras ondulações e o desaparecimento do filete, o escoamento
passava por uma transição, demonstrado na figura 6.3 nas linhas de três
a cinco;
III) Finamente, as partículas fluidas formavam pequenos “turbilhões” (vórtices) ao
longo da tubulação, fazendo-se com que sua trajetória se torne caótica
(indefinida), característica de escoamento turbulento, demonstrado na
figura 6.3 na sexta linha;

Ao relacionar as forças que agem no escoamento (força de inércia e força


viscosa) Reynolds deduziu um parâmetro adimensional dado por:

V 
m. .h
m.V .V m.V ρ .Vol .V ρ .V .L
=   =
Força de inércia m.a m.a.h t
= = = = =
Força viscosa µ.V . A µ.V . A µ.V . A µ.V . A µ. A µ. A µ
h
Força de inércia ρ .V .L
∴ = = Rey = Re = N Re = N R → Número de Reynolds
Força viscosa µ

Onde:
ρ = massa específica do fluido escoante
V = velocidade média do escoamento
L = dimensão característica da superfície de controle (SC)
µ = viscosidade dinâmica do fluido escoante

Lembrando-se do conceito de viscosidade cinemática, visto no capítulo 3,


tem-se que:

µ
υ=
ρ
Assim sendo, o número de Reynolds pode, então, ser também descrito por:

ρ .V .L V .L
Rey = =
µ υ

A dimensão característica L depende da SC utilizada como parâmetro de


estudo e, de uma forma geral, pode ser dada por:

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4. Am
L=
Pm
Onde:
Am = área molhada da SC = área de secção transversal na qual o fluido
escoará totalmente
Pm = perímetro molhado = perímetro efetivo da SC por onde escoará o fluido

No caso de tubos circulares de diâmetro D tem-se que:

π .D 2
Am = → Pm = π .D
4
π
4. .D 2
∴ L= 4 →L=D
π .D
Como a maioria dos estudos em FT será feita em tubos circulares, pode-se
escrever o Número de Reynolds das seguintes formas:

ρ .V .D V .D 4.ρ .Q 4.Q
Rey = = = =
µ υ π .D.µ π .D.υ

6.2 Classificação do escoamento em tubulações por Rey

Pela sua experiência, Reynolds ainda concluiu que, independentemente dos


parâmetros do escoamento (velocidade, massa específica, diâmetro, viscosidade)
desde que relacionados pelo seu número, o escoamento do fluido em tubulações
poderia ser classificado conforme a faixa de Rey ao qual está inserido, isto é:

Rey < 2300 (alguns autores adotam 3000): escoamento LAMINAR.

2300 < Rey < 4000: ZONA DE TRANSIÇÃO

4000 < Rey < 105: escoamento TURBULENTO LISO

105 < Rey < 106: escoamento TURBULENTO MISTO

Rey > 106: escoamento TURBULENTO RUGOSO

Por exemplo, alguns valores de Rey são típicos, resumidos na tabela 6.1.

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Tab. 6.1: situações práticas de fluxo e sua classificação conforme Rey


Fluxo de Rey Escoamento
Sangue no cérebro humano 1,00.102 Laminar
Sangue na aorta 1,00.103 Laminar
Óleo diesel em oleodutos 9,53.102 Laminar
Água em residências 2,86.104 Turbulento liso
Vapor de água (0 a 30 psia) 9,28.105 Turbulento misto
Água em indústrias 2,89.106 Turbulento rugoso
Ar em indústrias (0 a 30 psia) 1,74.106 Turbulento rugoso
Gás natural em gasodutos 1,66.106 Turbulento rugoso

O Número de Reynolds não tem como função apenas a de classificar o


escoamento. Pode-se afirmar com certeza que praticamente tudo o que está
relacionado com escoamento tem seu estudo em função de Rey, desde a calibração
de instrumentos até o estudo de modelos reduzidos de barragens, eclusas,
comportas e, juntamente com os Números de Froude e de Mach, em estudos de
modelos reduzidos de aviões, automóveis etc.

6.3 Perda de carga - definição

Define-se perda de carga como sendo a conversão irreversível de energia


mecânica ao longo do escoamento em energia térmica, devido ao contato do fluido
com uma superfície (atrito) ou o atrito entre suas próprias moléculas, ambos efeitos
da viscosidade.
Se o fluido fosse considerado ideal (viscosidade nula) o escoamento seria
admitido como sem atrito, a velocidade numa seção seria uniforme e a equação de
Bernoulli para escoamento ideal preveria perda de carga nula.
Portanto, no estudo de um fluido real a viscosidade não é nula e, como
consequência, o atrito é relevante. Assim sendo, para estudar um escoamento de
um fluido real deve-se completar a equação de Bernoulli com o termo de perda de
carga, que se denominará a equação de Bernoulli para escoamento real, dada
por:

p1 − p2 V12 + V22 ht p1 − p2 V12 + V22


ht = + + g .(z1 − z 2 ) → H t = = + + z1 − z 2
ρ 2 g γ 2.g

Onde: Ht = perda de carga total entre os pontos de estudo.

Unidades:
No SI: [Ht] = m

No SIG: [Ht] = ft

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Num sistema fluidodinâmico, a perda de carga se divide em perda de carga


distribuída Hl e a perda de carga localizada ou concentrada ou singular Hs.
Portanto, a perda de carga total é a soma destas perdas de carga e é dada por:

Ht = Hl + H s
As perdas de carga localizada e distribuída serão estudadas a seguir.

6.3.1.1 Perda de carga distribuída (Hl)

A perda de carga distribuída Hl ocorre devida à ação das tensões de


cisalhamento ao longo da tubulação e é função das seguintes grandezas: velocidade
média V do fluido escoante (ou vazão em volume Q), massa específica ρ do fluido
escoante, comprimento L da tubulação (ou do trecho considerado), viscosidade
dinâmica µ do fluido escoante, diâmetro D da tubulação, rugosidade e do material do
tubo (altura média da rugosidade da parede da tubulação, cujos dados para tubos
novos estão do apêndice G) e a aceleração da gravidade g. Relacionando-se
dimensionalmente estas grandezas (ver apêndice E) pode-se escrever a perda de
carga distribuída pela equação a seguir, denominada Equação de Darcy-Weisbach:

L V2 L 8.Q 2
Hl = f . . = f. 5 . 2
D 2. g D π .g

Onde: f = fator de atrito da tubulação ou fator de atrito de Darcy que, por sua
vez, é função de e/D (rugosidade relativa da tubulação) e de Rey.
A Equação de Darcy-Weisbach tem este nome em homenagem a Henry
Darcy, cientista francês e Julius Ludwig Weisbach, cientista alemão.

Henry Darcy (1803 – 1858)

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Julius Lugwig Weisbach (1806 – 1871)

Estes cientistas foram praticamente os pioneiros nos estudos do fator de atrito


f em tubulações e fizeram várias experiências utilizando-se de tubos horizontais e de
diâmetro constante, como a tubulação utilizada no modelo físico da figura 6.4.

Fig. 6.4: modelo físico de uma tubulação horizontal e de diâmetro constante

Em suas experiências, eles deduziram o valor de f igualando-se a equação de


Bernoulli para escoamento real com a equação de Darcy-Weisbach, valor este de f
denominado fator de atrito de Darcy experimental, dado por:

Se : D1 = D2 → P.C. : ρ1 .V1 . A1 = ρ 2 .V2 . A2 → A1 = A2 → V1 = V2


Tubulação horizontal : z1 = z 2
P1 - P2 L V2 L 8.Q 2 2.g .D.∆p π 2 .D 5 .g .∆p
∴ = f. . = f. 5 . 2 → f = =
γ D 2.g D π .g γ .L.V 2 8.γ .L.Q 2

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6.3.1.2 Obtenção do fator de atrito de Darcy experimental – métodos gráficos

No início do século XX o cientista alemão Johann Nikuradse (1894 –1979)


realizou experiências sobre a relação entre f e Rey com tubos de vidro e simulou a
perda de carga em seu interior utilizando grãos de areia colados delicadamente nas
paredes dos tubos, com uma cola especial. Os grãos de areia eram selecionados
com máxima precisão, o que levou a Nikuradse a ter alto conhecimento em
granulometria. Seus estudos foram correlacionados em diagramas, denominados
ábacos de Nikuradse, ilustrados na figura 6.5.

Fig. 6.5: ábacos de Nikuradse

Nota-se que, pelos ábacos de Nikuradse, ilustrados na figura 6.5, que até
Rey < 2300, o fator de atrito de Darcy varia inversamente proporcional com relação
a Rey e em forma linear, característica de escoamento laminar, e independe do
valor de e/D. A partir de Rey > 104, o fator de atrito de Darcy varia com Rey e e/D
até tomar um valor constante, característica de escoamento turbulento.
Conjuntamente, Lewis F. Moody, cientista norte americano (1880 – 1953),
utilizando tubos comerciais, levantou dados da correlação de f e Rey, mostrando-os
num diagrama que leva seu nome, o diagrama de Moody, ilustrado na figura 6.6.

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Fig. 6.6: Diagrama de Moody

Nota-se que, no diagrama de Moody, ilustrado na figura 6.6, o valor de f, para


o escoamento laminar, possui a mesma forma de variação descrita por Nikuradse.
Todavia, o fator de atrito de Darcy varia com relação a Rey e e/D, para o
escoamento turbulento, e é inversamente proporcional a Rey até a faixa de
turbulência plena, quando permanece constante.

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No diagrama de Moody para se obter o valor de f (eixo vertical esquerdo),


toma-se o valor de e/D (eixo vertical direito) e determina-se a curva de e/D empírica
(se esta curva já existir no gráfico, utiliza-se a existente). Após isto, toma-se o valor
de Rey (eixo horizontal) e sobe-se verticalmente até a curva de e/D. Ao encontrar-se
a curva de e/D, dirige-se até o eixo vertical esquerdo de f. Se o escoamento for
laminar, não há a necessidade do valor de e/D, pois a reta do escoamento laminar
encontra-se no lado esquerdo do gráfico, antes do valor de Rey igual a 2300.
A figura 6.7 ilustra a metodologia descrita anteriormente.

Fig. 6.7: diagrama de Moody - descrição de utilização

6.3.1.3 Obtenção do fator de atrito de Darcy experimental – métodos


equacionais

Analisando os métodos gráficos citados dos estudos de Nikuradse e Moody,


alguns cientistas deduziram algumas equações que, computacionalmente,
abrangem a maioria das situações práticas, a saber:

I) Escoamento laminar: como já foi citado nos métodos gráficos de Nikuradse


e Moody, o valor de f para este escoamento não depende de e/D; sua
determinação é dada pelos estudos conjuntos de dois cientistas: Gotthilf
Heinrich Ludwig Hagen, físico alemão e engenheiro hidráulico e a Jean
Louis Marie Poiseuille, médico e cientista francês, que estudaram o
escoamento laminar em tubos capilares (tubos de pequeno diâmetro
como, por exemplo, as veias e artérias do sistema circulatório sangüíneo);
com estes estudos, estes cientistas deduziram uma equação que leva
seus nomes (ver apêndice F), a Equação de Hagen-Poiseuille:

128.µ .L.Q
∆p =
π .D 4

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Onde: Q = vazão em volume no interior do tubo capilar;


∆p = variação de pressão entre as extremidades do tubo;
D = diâmetro efetivo do tubo;
µ = viscosidade dinâmica do fluido escoante;
L = comprimento do tubo;

Gotthilf Heinrich Ludwig Hagen (1797 - 1884)

Jean Louis Marie Poiseuille (1797 – 1869)

Como a única perda de carga no interior do tubo é a distribuída, pode-se


escrever a variação de pressão em termos da equação de Bernoulli para
escoamento real juntamente com a equação da perda de carga distribuída,
considerando o tubo com diâmetro constante e na horizontal, o que resulta:

Se : D1 = D2 → P.C. : ρ1 .V1 . A1 = ρ 2 .V2 . A2 → A1 = A2 → V1 = V2


Tubulação horizontal : z1 = z 2
P1 - P2 L V2 L γ .V 2 L ρ .V 2
∴ = f. . → ∆p = f . . = f. .
γ D 2.g D 2.g D 2

Igualando-se as equações da variação de pressão da Equação de Hagen-


Poiseuille e da Equação de Bernoulli para escoamentos reais e isolando-se o
fator de atrito f tem-se que:

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128.µ .L.Q L ρ .V 2 128.µ .L.V L ρ .V 2 128.µ .L.V .2.D 64.µ


= f. . → = f. . → f = =
π .D 4
D 2 4.D 2
D 2 4.D .L.ρ .V
2 2
ρ .V .D
64 64
∴f = →f = → fator de atrito de Darcy para escoamento laminar
ρ .V .D Rey
µ

II) Equação de Blasius: em homenagem a Paul R. H. Blasius, engenheiro


hidráulico alemão.

Paul R. H. Blasius (1883 – 1970)

Balsius correlacionou os dados dos outros cientistas e determinou que,


numa faixa de Rey da ordem de 4000 < Rey < 105 e somente para tubos
lisos (e/D ≤ 10-6 ) o valor de f poderia ser calculado por:

0,3164
f =
Rey 0,25

III) Eq. de Colebrook: em homenagem a Cyril Frank Colebrook, cientista galês:

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Cyril Frank Colebrook (1910 – 1997)

Utilizada em escoamento turbulento misto (105 < Rey < 106) e com
e/D ≤ 10-6 e em escoamento turbulento rugoso (Rey > 106) com e/D ≥ 0,02.
Colebrook propôs a utilização, por meio dos cálculos dos coeficientes de resistência
ao fluxo, uma dependência linear entre Rey e e/D. Esta proposta é fundamentada
nas observações de Prandtl e Nikuradse. A equação de Colebrook é largamente
utilizada no mundo inteiro, com diferentes denominações e é dada por:

−2
  e/D 2,51 
f = − 2. log + 
0,5  
  3,7 Rey.f 
O futuro engenheiro deve ter percebido que a equação de Colebrook é uma
equação transcendente (implícita), isto é, para ser resolvida é necessário cálculo
iterativo (Cálculo Numérico).
Mas, R. W. Miller, P. K. Swamee e A. K. Jain (séc. XX), cientistas estudiosos
dos trabalhos de Colebrook, sugeriram que, se a 1a iteração fosse calculada por sua
equação, o valor de f por Colebrook teria um erro de cálculo da ordem de 1%, erro
mais do que aceito em todas as aplicações práticas vistas aqui em FT.
Portanto, para se utilizar a equação de Colebrook (a menos que um
computador ou calculadora programável o faça) deve-se calcular a 1a iteração de
Colebrook pela equação de Miller-Swamee-Jain, dada por:

−2
  e/D 5,74 
f o = 0,25.log + 0,9

  3,7 Rey 

Assim sendo, após o cálculo de fo deve-se substituí-lo no lugar do valor de f


no interior da equação de Colebrook e efetuar o cálculo do fator de atrito f final,
formando, assim, a equação combinada de Miller-Swamee-Jain + Colebrook, dada
por:

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−2 −2
  e/D 5,74    e/D 2,51 
f o = 0,25.log + 
0,9  
→ f = − 2. log + 
0,5  
  3,7 Rey    3,7 Rey.f o 

IV) Equação Geral de Swamee-Jain: apresentada por P. K. Swamee e A. K.


Jain, em 1976, esta equação geral é utilizada nos casos onde nem Blasius
prevalece e nem Colebrook prevalece, isto é, em escoamento turbulento
liso (4000 < Rey < 105) e e/D > 10-6, em escoamento turbulento misto
(105 < Rey < 106) e e/D > 10-6 e escoamento turbulento rugoso (Rey >
106) e e/D < 0,02;

0 ,125
 8
 e/ D 6

−16

  64  5,74   2500  
f =   + 9,5.ln +  −   
 Re y    3,7 Re y
0,9

   
Re y
  
Resumidamente, para se calcular o fator de atrito de Darcy são adotados os
seguintes métodos, ilustrados na tabela 6.2.

Tab. 6.2: métodos equacionais para determinação do fator de atrito de Darcy


Escoamento Faixa de e/D Método
Laminar (Rey < 2300) ------------ f = 64/Rey
Turbulento liso (4000 < Rey < 105) ≤ 10-6 Equação de Blasius
5
Turbulento liso (4000 < Rey < 10 ) > 10-6 Equação Geral de Swamee-Jain
Turbulento misto (105 < Rey < 106) ≤ 10-6 Equação de Miller-Swamee-Jain +
Colebrook
Turbulento misto (105 < Rey < 106) > 10-6 Equação Geral de Swamee-Jain
Turbulento rugoso (Rey > 106) ≤ 0,02 Equação Geral de Swamee-Jain
Turbulento rugoso (Rey > 106) > 0,02 Equação de Miller-Swamee-Jain +
Colebrook

Um compêndio demonstrando todos os métodos equacionais de obtenção do


fator de atrito de Darcy para escoamento turbulento encontra-se no apêndice O.

6.3.1.4 Perda de carga localizada ou singular ou concentrada ou acidental (Hs)

Esta perda surge devido à perda de energia em pontos específicos do


escoamento, tais como dispositivos (bombas, turbinas, reatores etc...), medidores
(placas de orifício, tubo de Venturi, tubo de Pitot etc...) e conexões (curvas,
cotovelos, tês, válvulas etc...) instalados ao longo da tubulação. A equação que
determina o valor de Hs é dada por:

V2 8.Q 2 .
H S = k. = k. 2 4
2.g π .D .g

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Onde: k = coeficiente de perda de carga localizada da conexão ou dispositivo;


V = velocidade média do escoamento à jusante (após) a conexão;
Q = vazão em volume do escoamento à jusante da conexão;
D = diâmetro da tubulação à jusante da conexão;

O valor de k é tabelado e dado pelo fabricante do dispositivo (ou conexão)


para uma dada situação. Em geral, podem-se adotar os seguintes valores práticos,
ilustrados na tabela 6.3.

Tab. 6.3: valores de k para várias singularidades


Tipo de singularidade k
Válvula de comporta totalmente aberta 0,2
Válvula de comporta metade aberta 5,6
Curva de 90o 1,0
Curva de 45o 0,4
Válvula de crivo ou de pé 2,5
Entrada em um tubo 0,5
Saída de um tubo 1,0
Alargamento brusco 2
 D 
2

1 −  1  
  D2  
 
Redução brusca de seção (contração) 2
 D 
2

0,5.1 −  1  
  D2  
 

Pode-se substituir a perda de carga localizada por uma perda distribuída de


comprimento Leq que, como o próprio nome diz, é equivalente à perda localizada no
ponto. O valor de Leq é denominado comprimento equivalente da conexão (ou
dispositivo) e é determinado igualando-se a perda de carga distribuída com a
localizada no tubo ao qual está conectado, isto é:

Leq V 2 V2 k .D
f. . = k. → Leq =
D 2.g 2.g f
Onde f é o fator de atrito de Darcy onde a conexão está acoplada.
O efeito de se substituir a conexão por um pedaço de tubo de comprimento
Leq que forneça a mesma perda de carga do que a conexão é exclusivamente para
efeito de projeto, pois Leq é um valor virtual, isto é, na prática ele não existe.
O valor de Leq também é fornecido pelo fabricante da conexão ou dispositivo
e a figura 6.8 ilustra alguns valores de Leq.

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Fig. 6.8: valores de Leq para várias conexões

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6.3.2 Critério de velocidade econômica (Ve)

Para se minimizar os efeitos da perda de carga, a velocidade média do fluido


em escoamento não deve ultrapassar um determinado valor padronizado,
denominado velocidade econômica (Ve). Este valor depende do tipo de tubo a ser
utilizado, do fluido e da aplicação.
Como referência básica, adotam-se os valores ilustrados na tabela 6.4.

Tab. 6.4: valores das velocidades econômicas para várias aplicações


Fluido Ve (m/s) Tubo
Água - residências 1a2 Aço
Água - indústrias 2a3 Aço
Óleo lubrificante 0,75 Aço
Ar (0 a 30 psia) 20 a 30 Aço
Gás natural 30 Aço
Vapor d’água (0 a 30 psia) 20 a 30 Aço
Vapor d’água (30 a 150 psia) 30 a 50 Aço
Vapor d’água (>150 psia) 50 a 75 Aço
Vapor d’água – linhas curtas 75 Aço
Ácido sulfúrico 88 a 98% 1,2 FoFo

6.3.3 Considerações finais sobre a perda de carga

O futuro engenheiro deve ter percebido que a perda de carga é algo que deve
ser minimizado ao máximo possível, para que o sistema de escoamento tenha o
maior rendimento possível.
Minimizar a perda de carga não é uma tarefa tão simples assim. A priori, pelas
equações apresentadas, o futuro engenheiro deve ter percebido também que, para
diminuir a perda de carga é necessário escolher tubos com diâmetros grandes ou
escolher tubos lisos ou trechos de tubulações mais curtos ou sistemas com baixas
vazões.
Justamente estas considerações é que devem ser levadas para os projetos
de tubulações e, mais ainda, tentar minimizar os custos relevantes do projeto, bem
como atingir a maior relação custo-benefício do mesmo.
Está lançado o desafio para quem quiser ser um bom profissional nesta área.

Exemplo resolvido 6.1: um viscosímetro simples e preciso pode ser feito com
um tubo capilar. Se a vazão em volume e queda de pressão forem medidas, e a
geometria do tubo for conhecida, a viscosidade de um fluido newtoniano
poderá ser calculada. Um teste de certo líquido num viscosímetro capilar
(figura abaixo) forneceu os seguintes dados: Q = 880 mm3/s (880.10-9 m3/s) e
ρfluido = 999 kg/m3. Aplicando a Equação de Hagen – Poiseuille e com base no
viscosímetro fornecido determine a viscosidade do fluído ensaiado e prove
que o escoamento dentro do tubo é laminar.

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Solução: a equação de Hagen – Poiseuille é:

128.µ .L.Q
∆p =
π .D 4

Por esta equação, o valor da viscosidade dinâmica é dado por:

π .D 4 .∆p π .(5.10 − 4 ) .1.10 6


4

µ= =
128.L.Q 128.1.880.10 −9
∴ µ = 0,00174316 Pa.s = 1,74316 cP

Para se provar que o escoamento do fluido no tubo capilar é laminar deve-se


calcular Rey e verificar se seu valor é menor que 2300, o que resulta:

4.ρ .Q 4.999.880.10 −9
Re y = = = 1284,2543 < 2300 → escoamento laminar!
π .D.µ π .5.10 − 4.1,74316.10 −3

Exemplo resolvido 6.2: O diagrama de Moody fornece o fator de atrito de Darcy


(fD) em termos do número de Reynolds (Rey) e da rugosidade relativa (e/D). O
fator de atrito de Fanning para escoamento em tubos é definido como:

τw
fF =
1
. ρ .V 2
2

onde τw é a tensão de cisalhamento na parede do tubo. Obtenha uma relação


entre os fatores de atrito de Darcy e de Fanning para escoamento plenamente
desenvolvido. Mostre que: fD = 4.fF.

Solução: adotando o escoamento do fluido no tubo como laminar, tem-se que


o perfil de velocidades típico para este escoamento é dado, de acordo com o
que está descrito no capítulo 5, por:

 r2  V
v(r ) = Vmáx .1 − 2  → V = máx → V = velocidade média
 R  2
 r2  r2
∴ v(r) = 2.V.1 − 2  = 2.V − 2.V . 2
 R  R

Considerando o fluido como newtoniano, tem-se que:

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dv(r ) d  r2 
τ rz = − µ. = − µ . 2.V − 2.V . 2 
dr dr  R 
4.V .r
τ rz = µ .
R2

Como a tensão de cisalhamento é na parede do tubo, deve-se fazer, nesta


equação, r = R, o que resulta:

4.V 8.V
τ w = τ rz r =R = µ. = µ. → D = diâmetro da tubulação
R D
Substituindo-se este valor da tensão de cisalhamento na equação do fator de
atrito de Fanning tem-se que:

µ .8.V
τw D = 16.µ = 16 = 16
fF = =
1
.ρ .V 2
ρ .V 2 ρ .V .D ρ .V .D Re y
2 2 µ

Por sua vez, o fator de atrito de Darcy, para o escoamento laminar, é dado por:

64
fD =
Re y

Portanto, se dividir-se o fator de atrito de Darcy pelo fator de atrito de Fanning,


resulta:

64
f D Re y 64 Re y
= = . = 4 → f D = 4. f F
fF 16 Re y 16
Re y

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Exemplo resolvido 6.3 (“a la Gasparetto”): um oleoduto é formado por uma


tubulação horizontal de aço comercial de 20 km de extensão e a cada 1 km
existe uma válvula gaveta (Leq_vg = 0,25 m). O diâmetro efetivo do oleoduto é
40” (1,016 m) e óleo diesel (ρ = 750 kg/m3  γ = 7,3575.103 N/m3  µ = 0,6 Pa.s
 g = 9,81 m/s2) escoa no sistema a uma velocidade de 0,75 m/s. Sabendo que
a potência do sistema de bombeamento que abastece o oleoduto pode ser
dada por Potência = Q. ∆p, onde ∆p é a variação de pressão total do sistema
prove que a potência do sistema de bombeamento que abastece o oleoduto é
de, aproximadamente, 227,5 HP.

Solução: antes de se aplicar a equação de Bernoulli para escoamento real tem-


se que se verificar que tipo de escoamento o óleo terá na tubulação, através de
Rey; dependendo do valor de Rey, calcula-se o fator de atrito de Darcy mais
adequado ao escoamento; portanto, calculando-se Rey tem-se que:

ρ .V .D 750.0,75.1,016
Re y = = = 952,5 → escoamento laminar!
µ 0,6
64 64
∴fD = = = 0,0671916
Rey 952,5

O comprimento real da tubulação será dado por:

Lreal = L + 19.Leq _ válvula = 20.10 3 + 19.0,25 = 20004,75 m

Considerando que o oleoduto está na horizontal e possui diâmetro constante,


tem-se que:

cota de entrada = cota de saída → z 1 = z 2


D1 = D2 → A1 = A2 → V1 = V2 → equação da Continuidade

Aplicando-se a equação de Bernoulli para escoamento real tem-se que:

P1 − P2 V12 − V22 Lreal V 2


Ht = + + z1 − z 2 = f D . .
γ 2.g D 2.g
P1 − P2 Lreal V 2 Lreal γ .V 2
+ 0 + 0 = fD. . → ∆P = f D . .
γ D 2.g D 2.g
20004,75 7357,5.(0,75)
2
∴ ∆P = 0,0671916. .
1,016 2.9,81
∴ ∆P = 279066,816273 Pa = 279,066816273 kPa (man.)

Calculando-se a vazão em volume do escoamento, tem-se que:

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π π
Q = V . A = V . .D 2 = 0,75. .(1,016 ) → Q = 0,608048975 m 3 /s = 608,048975 L/s
2

4 4

Portanto, calculando-se a potência do sistema de bombeamento do oleoduto,


tem-se que:

dW
= Q.∆P = 0,608048975.279,066816273.10 3
dt
dW 169,68629157.10 3
= 169,68629157 kW = = 227,461517 HP
dt 746

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Capítulo 7

Primeira Lei da Termodinâmica


aplicada a um volume de controle

7.1 Balanço energético em um sistema de controle

Seja o sistema de controle ilustrado na figura 7.1.

Fig. 7.1: modelo físico de um sistema de controle

Onde: E = energia interna total do sistema


W = trabalho realizado pelo sistema
Q = quantidade de calor acumulada pelo sistema

A primeira declaração explícita da Primeira Lei da Termodinâmica (PLT), dada


por Rudolf Julius Emanuel Clausius, físico e matemático alemão, um dos fundadores
da Termodinâmica como ciência, em 1850, refere-se a processos termodinâmicos
cíclicos.

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Rudolf Julius Emanuel Clausius (1822 – 1888)

Clausius dizia que sempre que o trabalho for produzido pelo órgão gerador de
calor, certa quantidade desta energia é consumida, que é proporcional ao trabalho
realizado. Por outro lado, pelo gasto de uma quantidade igual de trabalho a mesma
quantidade de calor é produzida.
Clausius descreveu a PLT utilizando a denominação matemática da taxa de
variação, referindo-se à existência de uma função do estado do sistema chamada
energia interna (E), expressa em termos de uma equação diferencial para os
estados de um processo termodinâmico, ou seja, calor (Q) e trabalho (W). Esta
equação pode ser traduzida em palavras como se segue:

"Em um processo termodinâmico fechado, a alteração da energia interna do


sistema é igual à diferença entre a alteração do calor acumulado pelo sistema
e a alteração do trabalho realizado pelo sistema".

Assim sendo, aplicando a PLT no modelo físico ilustrado na figura 7.1 tem-se
que:

dE dQ dW
= − → E = Q − W
dt dt dt
A energia E de um sistema termodinâmico, composto por um grande número
de partículas tais como íons, moléculas, átomos ou mesmo fótons, pode ser
decomposta em três partes:

I) As energias cinéticas atreladas ao movimento de todo o sistema e ao


movimento das partículas que o constituem;

II) As energias potenciais do sistema devidas às interações com o ambiente


externo (expressas via campos gravitacionais, elétricos ou magnéticos), e
devidas às interações internas entre as moléculas, íons, átomos, elétrons,
núcleos, e demais elementos que constituem esse sistema;

III) As energias de campos radiantes confinados pelas fronteiras do sistema,


tipicamente as energias de fótons térmicos confinados.
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Existem, portanto, dois níveis de escala para a energia total do sistema:

I) Nível macroscópico: sensível aos sentidos, ou seja, definido em escala


humana ou superior, abarcando a energia cinética macroscópica do
sistema quando em movimento em relação a um referencial inercial e à
parte dele, e as energias potenciais do sistema quando imerso em
campos gravitacionais, elétricos ou magnéticos macroscopicamente
estabelecidos por fontes externas;

II) Nível microscópico: inacessível aos sentidos, abarcando a soma das


energias cinéticas das partículas constituintes, atrelada ao movimento
térmico destas; as energias potenciais de todas as interações entre tais
partículas microscópicas, com destaque para a elétrica no caso das
energias nas ligações químicas (energia química) e para a nuclear no caso
das energias de interação entre núcleos (energia nuclear); e a soma das
energias das partículas de campo confinadas.

Assim sendo, com exceção da energia das partículas de campo confinadas,


que é praticamente negligenciável, a energia total E do sistema termodinâmico será
a soma das seguintes formas de energia:

E = E cinética + E potencial + E interna_intermolecular


Onde : E interna_intermolecular = U = E cinética_molecular + E potencial_molecular + E nuclear

Se dividir-se a energia total do sistema E pela massa do fluido escoante, que


é o objeto de estudo, tem-se a energia total por unidade de massa e, dada por:

E E cinética E potencial E interna_intermolecular


e= = + +
m m m m
2
m.V
2 m.g .z U V2
∴e = + + →e= + g .z + u
m m m 2

No apêndice D, para o volume de controle, foi deduzida a variação total da


grandeza N ao longo do escoamento da massa fluída, dada por:

dN   ∂
= ∫ η .ρ .V  dA + ∫ η .ρ .dVol
dt SC ∂t VC

Pela PLT aplicada a um volume de controle tem-se que:

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N = E →η = e
dE dQ dW   ∂
∴ = − = ∫ e.ρ .V  dA + ∫ e.ρ .dVol
dt dt dt SC
∂t VC

Lembrando-se que, num EPI tem-se que:


EPI : ∫ e.ρ.dVol = 0
∂t VC
dQ dW   dQ dW V 2   
∴ − = ∫ e.ρ .V  dA → − = ∫  + g.z + u .ρ .V  dA
SC 
dt dt SC
dt dt 2

O objetivo da aplicação da PLT no volume de controle é determinar o trabalho


de eixo que dispositivos como bombas e turbinas podem fornecer (ou receber) do
sistema de controle.
Por sua vez, o trabalho W compõe-se das seguintes parcelas:

W = WS + Wnormal + Wcisalhamento + Woutros


Onde :
WS = trabalho de eixo transferido para fora da superfície de controle (bombas e turbinas)
Wnormal = trabalho realizado por tensões normais na superfície de controle (pressões)
Wcisalhamento = trabalho realizado por tensões de cisalhamento na superfície de controle
Woutros = trabalho realizado por outras formas de energia → Woutros = 0

Os valores de Wnormal e Wcisalhamento são dados por:

p.m
Wnormal = Fpressão .d = p.A.d = p.Vol =
ρ
dWnormal p dm p  
∴ = . = . ∫ ρ.V  dA
dt ρ dt ρ SC

  dWcisalhamento  d  
Wcisalhamento = ∫ τ  d.dA → = ∫ τ  .dA = ∫ τ  V.dA
SC
dt SC
dt SC

  dWcisalhamento
Mas, na SC : V//dA → τ  V = 0 → =0
dt

Assim a PLT, na forma resumida, é dada por:


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dQ p   dWS V 2   
− . ∫ ρ .V  dA − = ∫  + g .z + u .ρ .V  dA
dt ρ SC dt SC
2 
dWS V 2    p   dQ
∴− = ∫  + g .z + u .ρ .V  dA + . ∫ ρ .V  dA −
dt SC
2  ρ SC dt
dWS V 2 p    dQ
∴− = ∫  + g .z + + u .ρ .V  dA −
dt SC
2 ρ  dt
dWS V 2 p    dQ
∴ = − ∫  + g .z + + u .ρ .V  dA +
dt SC
2 ρ  dt
dQ dQ dm dQ  
Pode − se escrever que : = . = . ∫ ρ .V  dA
dt dm dt dm SC
dWS V 2 p    dQ  
∴ = − ∫  + g .z + + u .ρ .V  dA + . ∫ ρ .V  dA
dt SC
2 ρ  dm SC
dWS V 2 p dQ   
∴ = − ∫  + g .z + + u − .ρ .V  dA
dt SC  2 ρ dm 

Define-se perda de carga ht como sendo:

dQ
ht = u −
dm
Assim, para dois pontos do sistema de controle, onde o ponto 1 é a entrada e
o ponto 2 é a saída, a PLT pode ser assim descrita:

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dWS V 2 p   
= − ∫  + g .z + + ht .ρ .V  dA
dt SC
2 ρ 
dm  p 2 − p1 V22 − V12 
+ g .(z 2 − z1 ) + ht 
dWS
∴ =− . +
dt dt  ρ 2 
dWS dm  p1 − p 2 V12 − V22 
∴ = . + + g .(z1 − z 2 ) − ht 
dt dt  ρ 2 
 p1 − p 2 V12 − V22 
+ g .(z1 − z 2 ) − ht 
dWS
∴ = ρ .Q. +
dt  ρ 2 


dWS 
= Q. p1 − p 2 +
(
ρ . V12 − V22 ) 
+ ρ .g .(z1 − z 2 ) − ρ .ht 
dt  2 

Onde : ∆p =  p1 − p 2 +
(
ρ . V12 − V22 ) 
+ ρ .g .(z1 − z 2 ) − ρ .ht 
 2 
E : ∆p = variação de pressão total do sistema
dWS
∴ = Q.∆p
dt

Isto é, o termo dWS/dt é o produto de vazão em volume pela variação de


pressão total do sistema, o que dimensionalmente resulta:

 dWS 
 dt  = [Q.∆p ] = L .T .M .L .T = M .L .T
3 −1 −1 −2 2 −3

 
Que é o símbolo dimensional da potência (ver capítulo 2).
Em outras palavras, a potência de eixo do dispositivo (bomba ou turbina)
instalado no meio do escoamento é o produto da vazão em volume do sistema pela
variação de pressão total. Nesta variação de pressão total estão incluídas todas as
pressões possíveis do sistema e, principalmente, a perda de pressão pela existência
da perda de carga.
Unidades de dWs/dt:

No SI: [dWs/dt] = N.m.s-1 = W  Watt

No SIG: [dWs/dt] = lbf.ft.s-1

No SP: [dWs/dt] = CV (cavalo-vapor) ou HP (horse-power)

Pelo modelo adotado para a aplicação da PLT (fig. 7.1) convenciona-se que:

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Se dWS/dt > 0  existe uma turbina entre 1 e 2

Se dWS/dt < 0  existe uma bomba entre 1 e 2

Se dWS/dt = 0  não existe nem uma bomba e nem uma turbina entre 1 e 2

Se analisar-se a PLT aplicada no volume de controle têm-se alguns casos


particulares muito importantes que devem ser de conhecimento do futuro
engenheiro, a saber:

dWS
Ausência de dispositivo no sistema : =0
dt

Como : Q > 0 → p1 − p 2 +
(
ρ. V12 − V22 )
+ ρ.g.(z1 − z 2 ) − ρ.h t = 0
2
p1 − p 2 V12 − V22
∴ht = + + g.(z1 − z 2 ) → Equação de Bernoulli para escoamento real
ρ 2
dWS
Ausência de dispositivo no sistema + ausência de perda de carga : = ht = 0
dt

Como : Q > 0 → p1 − p 2 +
(
ρ. V12 − V22 )
+ ρ.g.(z1 − z 2 ) = 0
2
p − p 2 V12 − V22
∴ 1 + + g.(z1 − z 2 ) = 0 → Equação de Bernoulli para escoamento ideal
ρ 2

Portanto, pela aplicação da PLT no volume de controle pode-se voltar à


Equação de Bernoulli, como foi definida no capítulo 5, desde que sejam aplicadas
as restrições já citadas e com muita cautela.

7.2 Caso particular de aplicação da PLT em sistemas de controle – sistema de


bombeamento simples

Seja o sistema simples de bombeamento ilustrado na figura 7.2.

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Fig. 7.2: sistema de bombeamento simples

O sistema é formado por duas tubulações distintas, a saber: sucção (vai do


reservatório inferior ou poço até a bomba centrífuga) e recalque (vai da bomba
centrífuga até o reservatório superior ou caixa d’água). Os diâmetros destas
tubulações podem ser diferentes (geralmente Dsucção > Drecalque) ou iguais.
Neste sistema destacam-se os seguintes componentes:

I) Bomba centrífuga (BC): dispositivo que tem a função de retirar a água do


reservatório inferior (geralmente um poço) e enviá-la para o reservatório
superior (geralmente uma caixa d’água); seu princípio de funcionamento
baseia-se na aplicação da força centrífuga na água quando ela se
encontra dentro do impulsor; as figuras 7.3 e 7.4 ilustram uma BC.

Fig. 7.3: bomba centrífuga – vista externa

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Fig. 7.4: bomba centrífuga – vista interna em corte

II) Motor de acionamento da BC: pode ser elétrico, de combustão interna


(gasolina, álcool) ou à explosão (diesel); também pode ser empregada
uma turbina a vapor no lugar do motor; sua função é mover o rotor da
bomba em regime permanente, para garantir o funcionamento da parte
hidráulica; no caso de um motor elétrico em regime CA (corrente
alternada) a figura 7.5 o ilustra.

Fig. 7.5: motor elétrico em CA

III) Cotovelo de 90o: geralmente é metálico mas, para algumas aplicações


em baixa potência, hoje já existem em PVC rígido; na figura 7.6 ilustra-se
uma cotovelo em aço inox.

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Fig. 7.6: cotovelo de 90o em aço inox

IV) Válvula de retenção: utilizada para reter a água na tubulação de


recalque; geralmente é metálica e tem que ser fabricada com rígido
controle de qualidade, a figura 7.7 ilustra uma válvula de recalque.

Fig. 7.7: válvula de retenção

V) Registro de gaveta: utilizado para controle da vazão do sistema; sua


fabricação também deve seguir o mesmo rigor da válvula de retenção; na
figura 7.8 ilustra-se um registro de gaveta.

Fig. 7.8: registro de gaveta

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VI) Válvula de crivo ou de pé: utilizada para controle da entrada da água na


sucção; possui uma grelha para evitar a entrada de rochas e outros
objetos na tubulação de sucção, a figura 7.9 ilustra uma válvula de crivo
ou de pé.

Fig. 7.9: válvula de crivo em aço inox

Para o sistema da fig. 7.2 deve-se considerar que:

a) os pontos 1 e 2 para aplicação da PLT serão, respectivamente, o nível de


água do reservatório inferior (onde p1 = Patm, em termos absolutos) e a saída
da tubulação de recalque no reservatório superior (onde p2 = Patm, também
em termos absolutos);
b) a velocidade de recalque V2 é muito maior que a velocidade do ponto 1
(princípio dos grandes reservatórios, já aplicado no capítulo 5) de tal forma
que, no termo de carga cinética tem-se que:

(V12 − V22 ) − V22 − V 2 − 8.Q 2


≅ = = 2 4
2 2 2 π .Drecalque

c) cada tubulação e conexão contribuirá com sua perda de carga; somando-as,


tem-se a perda de carga total do sistema, dada por:

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 f .L f .L 
H t = 0,60304.Q 2 . rec 5 rec + suc 5 suc  [m]
 Drec Dsuc 
Onde : [Q] = m 3 /h → [L] = m → [D] = in
E : L suc = a + L eq_cotovelo de 90o + L eq_válvula de crivo
L rec = A + L eq_cotovelo de 90o + L eq_registro de gaveta + L eq_válvula de retenção

Os dados de Leq para estas conexões estão dispostos do apêndice H.

d) a diferença de cotas entre os pontos 1 e 2 resulta:

∆z = z1 − z 2 = −(H + h )
e) a altura manométrica total do sistema (AMT), que considera toda altura
necessária para a elevação da água mais as perdas de carga do sistema, é
dada pela expressão:

AMT = H + h + H t [m]
Porém, devido ao fato da BC também provocar uma perda de carga
localizada no sistema, adota-se que a AMT real deve ser o produto da AMT por um
coeficiente de segurança (da ordem de 20% ou mais). Por isto, a AMT real é dada
por:

AMTreal = 1,2. AMT = 1,2.(H + h + H t ) [m]


Substituindo-se os dados dos itens a até d na PLT tem-se que:

 0,150262.Q 2 
∆p = ρ . 4
+ g . AMTreal  [Pa]
 Drec 
dWS Q.∆p
∴ = [W]
dt 3600
A rigor, o valor de ∆p deveria ser negativo, mas este sinal foi omitido, uma vez
que já se sabe que o dispositivo é uma bomba.
Finalmente, com os dados da potência dWs/dt e AMTreal basta consultar um
catálogo do fabricante de bombas e dimensionar a bomba mais adequada para a
aplicação. Geralmente, os catálogos fornecem curvas que auxiliam o projetista a
dimensionar corretamente a BC mais adequada ao sistema. Um exemplo de curva
de BC é ilustrada na figura 7.10.
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Fig. 7.10: exemplo de curva AMT x Q de uma BC

É claro que, num projeto mais completo, deve-se considerar também a


determinação do parâmetro NPSH, de fundamental importância para o
dimensionamento da BC. Por sua vez, NPSH é um acrônimo para o termo em lingua
inglesa Net Positive Suction Head (algo como altura livre positiva de sucção). É
a energia (carga) medida em pressão absoluta disponível na entrada de sucção de
uma BC. O NPSH disponível (NPSHdisp), é a energia que o sistema disponibiliza ou
chega na entrada de sucção da bomba ou é a energia de pressão absoluta
resultante e é expressa normalmente em metros de coluna de água (mca). O NPSH
requerido (NPSHreq) é a energia de pressão absoluta que a bomba requer na sua
entrada de sucção para evitar que o fenômeno da cavitação ocorra que, por sua vêz,
depende das caracteristicas construtivas da bomba, da sua rotação e da vazão. Ele
é informado pelo fabricante da bomba. Quando o NPSHdisp > NPSHreq,
provavelmente não ocorrerá o fenômeno da cavitação.
Por sua vez, cavitação é o nome que se dá ao fenômeno de vaporização de
um líquido pela redução da sua pressão quando em movimento. Em certos pontos
do escoamento, devido à aceleração do fluido, como em um vertedor, em uma
turbina hidráulica, em uma BC, em um bocal ou em uma válvula, a pressão do fluido
pode cair a um valor menor que a pressão mínima em que ocorre a vaporização do
mesmo (Pv) na temperatura To. Então ocorrerá uma vaporização local do fluido,
formando bolhas de vapor que, por sua vez, poderão explodir, ocasionando ondas
de choque que, ao entrarem em contato com a superfície mais próxima, provocam
nela cavidades ou corrosão. A cavitação deve ser sempre evitada por causa dos
prejuízos financeiros que causa devido à erosão associada, seja nas pás de
turbinas, de bombas, em pistões ou em canais.
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Nas figuras 7.11 e 7.12 ilustram-se o efeito da cavitação nas pás das turbinas
hidráulicas.

Fig. 7.11: exemplo de cavitação nas pás de uma turbina hidráulica

Fig. 7.12: exemplo de cavitação numa turbina tipo Francis

Exercício resolvido 7.1: Por um tubo horizontal de PVC com 2 in de diâmetro


efetivo e 6 m de comprimento escoa água a 20 oC. Se o tubo está submetido a
uma variação de pressão de 100 kPa, determine a sua máxima vazão em
volume (em litros/s), utilizando o aplicativo “SisHidra”

Solução: observe na tela principal do aplicativo o ícone “Ensaios”, no canto


superior esquerdo. Ao entrar nele digite os dados, na janela “Calcular a vazão
máxima do sistema”. Note que, pelo fato do tubo ser horizontal, qualquer valor
em z1 e z2 pode ser digitado, desde que sejam iguais. Outra observação
importante é que, neste caso, não há nenhum dispositivo (bomba ou turbina)
no meio do sistema. Portanto a potência do mesmo é nula. Como a variação de
pressão é p1 – p2 o valor dado (100 kPa) está em p1 para p2 nulo. Após digitar
estes dados, no ícone “Calcular dados fundamentais do sistema” escolhe-se o
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tipo do material do tubo, neste caso o PVC. Confirmando o dado do tubo, o


aplicativo executa os cálculos necessários e expõe a resposta pedida,
conforme a tela a seguir:

Exemplo resolvido 7.2: Para o sistema a seguir são dados:

Comprimento total do tubo: 175 m


Tipo de tubo: fofo (ferro fundido)
Diâmetro do tubo: 2 in
Velocidade econômica: Ve = 2 m/s

Pede-se a potência da bomba (em HP), utilizando o aplicativo “SisHidra”.

Sistema:

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Solução: novamente, deve-se entrar no ícone “Ensaios”, abrindo agora a


janela “Calculando a potência do dispositivo”. Nesta janela nota-se que, pelo
sistema fluidodinâmico dado, as pressões em 1 e 2 são nulas (pressões
atmosféricas). Nota-se também, que a cota do ponto 1 é negativa, pois o datum
(plano horizontal de referência) está no dispositivo. Como o aplicativo só
calcula o escoamento em termos de vazão em volume, com os dados de Ve e o
diâmetro do tubo, é possível se saber a vazão em volume, que resulta Q =
4,05366 litros/s. Deve-se tomar extremo cuidado com o número de cotovelos
que, neste caso, são 4. Após digitar os dados na janela, deve-se escolher o
tipo de tubo, da mesma forma do teste 1, e confirmar o dado. Após isto, o
aplicativo executa os cálculos necessários e expõe o resultado pedido,
conforme a tela a seguir:

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Referências
- BASTOS, F.A. Problemas de Mecânica dos Fluídos. Rio de Janeiro:
Guanabara, 1983.
- BRUNETTI, F. Mecânica dos Fluidos. São Paulo: Prentice Hall, 2005.
- FOX, R.W., McDONALD, A.T., PRITCHARD, P. J. Introdução à Mecânica
dos Fluídos. 6a ed. Rio de Janeiro: LTC Editora, 2006.
- GILES, R.V., EVETT, J.B., LIU, C. Mecânica dos Fluidos e Hidráulica. São
Paulo, Makron Books, 1997.
- SISSOM L.E., PITTS D.R. Fenômenos de Transporte. Rio de Janeiro:
Guanabara, 1988.
- STREETER, V.L., WYLIE, E.B. Mecânica dos Fluidos. São Paulo: McGraw-
Hill, 1982.
- VENNARD, J.K., STREET, R.L. Elementos de Mecânica dos Fluidos. Rio
de Janeiro: Guanabara Dois, 1978.

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