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Parte I

Aspectos gerais
da psicopatologia

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1 Introdução geral à
semiologia psiquiátrica

Um dia escrevi que tudo é autobiografia, que a vida de cada um de nós a estamos contando em
tudo quanto fazemos e dizemos, nos gestos, na maneira como nos sentamos, como andamos e
olhamos, como viramos a cabeça ou apanhamos um objeto no chão. Queria eu dizer então que,
vivendo rodeados de sinais, nós próprios somos um sistema de sinais.

José Saramago

O QUE É SEMIOLOGIA (EM grego semeion, “signo”). Ela nos ensinará em


que consistem os signos, que leis os regem.
GERAL E SEMIOLOGIA MÉDICA
E PSICOPATOLÓGICA) Charles Morris (1946) discrimina três campos
distintos no interior da semiologia: a semântica,
A semiologia, tomada em um sentido geral, é a responsável pelo estudo das relações entre os
ciência dos signos, não se restringindo, obvia- signos e os objetos a que se referem; a sintaxe, que
mente, à medicina, à psiquiatria ou à psico- compreende as regras e leis que regem as relações
logia. É campo de grande importância para o entre os vários signos de um sistema; e, por fim,
estudo da linguagem (semiótica linguística), a pragmática, que se ocupa das relações entre os
da música (semiologia musical), das artes em signos e seus usuários, os sujeitos que os utilizam
geral e de todos os campos de conhecimento e concretamente, em situações e contextos sociais e
de atividades humanas que incluam a interação históricos do dia a dia.
e a comunicação entre dois interlocutores por O  signo  é o elemento nuclear da semio-
meio de sistemas de signos. logia; ele está para a semiologia assim como
Já a semiologia psicopatológica, por sua a célula está para a biologia e o átomo para a
vez, é o estudo dos sinais e sintomas dos trans- física. O signo é um tipo de  sinal. Define-se
tornos mentais. sinal como qualquer estímulo emitido pelos
Entende-se por semiologia médica o estudo objetos do mundo. Assim, por exemplo, a
dos sintomas e dos sinais das doenças, o qual fumaça é um sinal do fogo, a cor vermelha, do
permite ao profissional da saúde identificar sangue, etc.
alterações físicas e mentais, ordenar os fenô- O signo é um sinal especial, sempre pro-
menos observados, formular diagnósticos e vido de significação. Dessa forma, na semio-
empreender terapêuticas. logia médica, sabe-se que a febre pode ser um
Embora esteja intimamente relacionada à sinal/signo de uma infecção, ou a fala extre-
linguística, a semiologia geral não se limita a mamente rápida e fluente pode ser um sinal/
esta, uma vez que o signo transcende a esfera signo de uma síndrome maníaca. A semio-
da língua. São também signos os gestos, as ati- logia médica e a psicopatológica tratam par-
tudes e os comportamentos não verbais, os ticularmente dos signos que indicam a exis-
sinais matemáticos, os signos musicais, etc. De tência de transtornos e patologias.
fato, a semiologia geral como ciência dos signos Os  signos  de maior interesse para a psico-
foi postulada pelo linguista suíço Ferdinand de patologia são os sinais comportamentais obje-
Saussure [1916] (1970, p. 24), que afirmou: tivos, verificáveis pela observação direta do
paciente, e os sintomas, isto é, as vivências sub-
Pode-se, então, conceber uma ciência que jetivas relatadas pelos indivíduos, suas queixas
estude a vida dos signos no seio da vida e narrativas, aquilo que o sujeito experimenta e,
social; [...] chamá-la-emos de Semiologia (do de alguma forma, comunica a alguém.

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4 Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais

Sá Junior (1988) apresenta uma definição de


sintoma e sinal um pouco diferente. Ele discri- DIMENSÃO DUPLA DO
mina os sintomas objetivos (observados pelo SINTOMA PSICOPATOLÓGICO:
examinador) dos sintomas subjetivos (perce-
bidos apenas pelo paciente). Os sinais, por sua
INDICADOR E ELEMENTO
vez, são definidos como dados elementares das SIMBÓLICO AO MESMO TEMPO
doenças que são provocados (ativamente evo-
Os sintomas médicos e psicopatológicos têm,
cados) pelo examinador  (sinal de Romberg,
como signos, uma dimensão dupla. Eles são
sinal de Babinski, etc.).
tanto um índice (indicador) como um símbolo.
Segundo o linguista russo Roman Jakobson
O sintoma como índice sugere uma disfunção
(1896-1982), já os antigos filósofos estoicos
desmembraram o signo em dois elementos que está em outro ponto do organismo ou do
básicos:  signans  (o significante) e  signatum  (o aparelho psíquico; porém, aqui, a relação do
significado) (Jakobson, 1962; 1975). Assim, sintoma com a disfunção de base é, em certo
todo signo é constituído por estes dois ele- sentido, de contiguidade. A febre pode corres-
mentos: o significante, que é o suporte mate- ponder a uma infecção que induz os leucócitos
rial, o veículo do signo; e o significado, isto é, a liberarem certas citocinas, que, por sua ação
aquilo que é designado e que está ausente, o no hipotálamo, produzem o aumento da tem-
conteúdo do veículo. peratura. Assim, o sintoma febre tem determi-
De acordo com o filósofo norte-americano nada relação de contiguidade com o processo
Charles S. Peirce (1839-1914), segundo as rela- infeccioso de base.
ções entre o significado (conteúdo) e o signi- Além de tal dimensão de indicador, os sin-
ficante (suporte material) de um signo, há três tomas psicopatológicos, ao serem nomeados
tipos de signos: o ícone, o indicador e o símbolo pelo paciente, por seu meio cultural ou pelo
(Peirce, 1904/1974). médico, passam a ser “símbolos linguísticos”
O ícone é um tipo de signo no qual o ele- no interior de uma linguagem.
mento significante evoca imediatamente o sig- No momento em que recebe um nome,
nificado, graças a uma grande semelhança entre o sintoma adquire o  status  de símbolo, de
eles, como se o significante fosse uma “foto- signo linguístico arbitrário, que só pode ser
grafia” do significado. O desenho esquemático compreendido dentro de um sistema simbó-
no papel de uma casa pode ser considerado um lico dado, em determinado universo cultural.
ícone do objeto casa. Dessa forma, a angústia manifesta-se (e reali-
No caso do  indicador, ou índice, a relação za-se) ao mesmo tempo como  mãos geladas,
entre o significante e o significado é de contigui- tremores e aperto na garganta  (que indicam,
dade; o significante é um índice, algo que aponta p. ex., uma disfunção no sistema nervoso
para o objeto significado. Assim, uma nuvem é autônomo), e, ao ser tal estado designado
um indicador de chuva, e a fumaça, de fogo. como  nervosismo, neurose, ansiedade ou gas-
O símbolo, por sua vez, é um tipo de signo tura, passa a receber certo significado sim-
totalmente diferente do ícone e do indicador; bólico e cultural (por isso, convencional e
aqui, o elemento significante e o objeto ausente arbitrário), que só pode ser adequadamente
(significado) são distintos em aparência e sem compreendido e interpretado tendo-se como
relação de contiguidade. Não há qualquer relação referência um universo cultural específico, um
direta entre eles; trata-se de uma relação pura- sistema de símbolos determinado.
mente convencional e arbitrária. Entre o con- A semiologia psicopatológica, portanto, cuida
junto de letras agrupadas “C-A-S-A” e o objeto especificamente do estudo dos sinais e sintomas
“casa” não existe qualquer semelhança (visual produzidos pelos transtornos mentais, signos
ou de qualquer outro tipo), o que constitui uma que sempre contêm essa dupla dimensão.
relação totalmente convencional. Por isso, o sen-
tido e o valor de um símbolo dependem neces-
sariamente das relações que este mantém com DIVISÕES DA SEMIOLOGIA
os outros símbolos do sistema simbólico total;
depende, por exemplo, da ausência ou presença A semiologia (tanto a médica como a psicopatoló-
de outros símbolos que expressam significados gica) pode ser dividida em duas grandes subáreas:
próximos ou antagônicos a ele. semiotécnica e semiogênese (Marques, 1970).

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Introdução geral à semiologia psiquiátrica 5

A  semiotécnica  refere-se a técnicas e pro- Entretanto, ao se delimitar uma síndrome


cedimentos específicos de observação e coleta (como síndrome depressiva, demencial, para-
de sinais e sintomas, assim como da descrição noide, etc.), não se trata ainda da definição e da
de tais sintomas. No caso dos transtornos men- identificação de causas específicas, de um curso
tais, a semiotécnica concentra-se na entrevista e evolução relativamente homogêneos e de uma
direta com o paciente, seus familiares e demais estrutura básica do processo patológico. A sín-
pessoas com as quais convive. drome é puramente uma definição descritiva
A coleta de sinais e sintomas requer a habi- de um conjunto momentâneo e recorrente de
lidade sutil em formular as perguntas mais ade- sinais e sintomas.
quadas para o estabelecimento de uma relação Denominam-se, em medicina e psiquia-
produtiva e a consequente identificação dos tria, entidades nosológicas, doenças ou trans-
signos dos transtornos mentais. São fundamentais tornos específicos (como esquizofrenia, doença
o tipo de perguntas e “como” e “quando” fazê-las, de Alzheimer, anorexia nervosa, etc.). São os
assim como o modo de interpretar as respostas e a fenômenos mórbidos nos quais podem-se iden-
decorrente formulação de novas perguntas. tificar (ou pelo menos presumir com certa con-
Além disso, é crucial, sobretudo para a sistência) certas causas ou fatores causais (etio-
semiotécnica em psicopatologia, a observação logia), o curso relativamente homogêneo, certos
minuciosa, atenta e perspicaz do comporta- padrões evolutivos e estados terminais típicos.
mento do paciente, do conteúdo de seu dis- Além disso, nas entidades nosológicas ou
curso e do seu modo de falar, da sua mímica, transtornos, busca-se identificar mecanismos
da postura, da vestimenta, da forma como psicológicos e psicopatológicos  caracterís-
reage e do seu estilo de relacionamento com o ticos,  antecedentes genético-familiares  algo
entrevistador, com seus familiares e, eventual- específicos e  respostas a tratamentos e inter-
mente, com outros pacientes. venções mais ou menos previsíveis.
Já a semiogênese, por sua vez, é o campo Em psicopatologia e psiquiatria, frequente-
de investigação da origem, dos mecanismos de mente somos obrigados a trabalhar no âmbito
produção, do significado e do valor diagnós- das síndromes, pois, muitas vezes, o diagnós-
tico e clínico dos sinais e sintomas. tico preciso de entidades nosológicas, doenças
Por fim, alguns autores utilizam o termo “pro- ou transtornos específicos é difícil ou incerto.
pedêutica médica” ou “psiquiátrica” para designar Embora muito esforço tenha sido (há mais de
a semiologia. O termo propedêutica, de modo 200 anos!) empreendido no sentido de se iden-
geral, é empregado em várias áreas do saber para tificar transtornos mentais específicos bem
designar o ensino prévio, os conhecimentos pre- delimitados, na prática isso ainda não se con-
liminares necessários ao início de uma ciência ou segue em todos os casos clínicos.
filosofia. Prefiro o termo “semiologia” a “prope- Cabe, ainda, lembrar que o reconhecimento
dêutica”, mas reconheço que a semiologia psico- dessas entidades não tem apenas um interesse
patológica (como propedêutica) pode ser conce- científico ou acadêmico (valor teórico); ele geral-
bida como uma ciência preliminar, necessária a mente viabiliza ou facilita o desenvolvimento de
todo estudo psicopatológico e prática clínica em procedimentos e intervenções terapêuticos e pre-
psiquiátrica e em psicologia clínica. ventivos mais eficazes (valor pragmático).

SÍNDROMES E ENTIDADES
NOSOLÓGICAS (TRANSTORNOS
ESPECÍFICOS)
Na prática clínica, os sinais e os sintomas não
ocorrem de forma aleatória; surgem em certas
associações, certos  clusters  (agrupamentos)
mais ou menos frequentes. Definem-se, por-
tanto, as síndromes como agrupamentos relati-
vamente constantes e estáveis de determinados
sinais e sintomas.

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