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Político
Mãos Dadas Raquítico
Carlos Drummond de Andrade Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que
Não serei o poeta de um mundo quer que seja
caduco fora de si mesmo
Também não cantarei o mundo De resto não é lirismo
futuro Será contabilidade tabela de co-
Estou preso à vida e olho meus senos secretário do amante
companheiros exemplar com cem modelos de
Estão taciturnos mas nutrem cartas e as diferentes
grandes esperanças maneiras de agradar às mulheres,
Entre eles, considero a enorme etc
realidade Quero antes o lirismo dos loucos
O presente é tão grande, não nos O lirismo dos bêbedos
afastemos O lirismo difícil e pungente dos
Não nos afastemos muito, vamos de bêbedos
mãos dadas O lirismo dos clowns de
Shakespeare
Não serei o cantor de uma mulher,
de uma história - Não quero mais saber do lirismo
Não direi os suspiros ao anoitecer, que não é libertação.
a paisagem vista da janela
Não distribuirei entorpecentes ou
cartas de suicida Emergência
Não fugirei para as ilhas nem serei Mário Quintana
raptado por serafins
O tempo é a minha matéria, o Quem faz um poema abre uma
tempo presente, os homens janela.
presentes Respira, tu que estás numa cela
A vida presente abafada,
esse ar que entra por ela.
Manuel Bandeira Por isso é que os poemas têm ritmo
Estou farto do lirismo comedido – para que possas profundamente
Do lirismo bem comportado respirar.
Do lirismo funcionário público com Quem faz um poema salva um
livro de ponto expediente afogado.
protocolo e manifestações de apreço
ao Sr. diretor. Procura da Poesia
Estou farto do lirismo que pára e Carlos Drummond de Andrade
vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo. Não faças versos sobre
Abaixo os puristas acontecimentos.
Todas as palavras sobretudo os Não há criação nem morte perante
barbarismos universais a poesia.
Todas as construções sobretudo as Diante dela, a vida é um sol
sintaxes de exceção estático,
Todos os ritmos sobretudo os não aquece nem ilumina.
inumeráveis
As afinidades, os aniversários, os
incidentes pessoais não contam. Penetra surdamente no reino das
Não faças poesia com o corpo, palavras.
esse excelente, completo e Lá estão os poemas que esperam
confortável corpo, tão infenso à ser escritos.
efusão lírica. Estão paralisados, mas não há
desespero,
Tua gota de bile, tua careta de gozo há calma e frescura na superfície
ou de dor no escuro intata.
são indiferentes. Ei-los sós e mudos, em estado de
Nem me reveles teus sentimentos, dicionário.
que se prevalecem do equívoco e Convive com teus poemas, antes de
tentam a longa viagem. escrevê-los.
O que pensas e sentes, isso ainda Tem paciência se obscuros. Calma,
não é poesia. se te provocam.
Espera que cada um se realize e
Não cantes tua cidade, deixa-a em consume
paz. com seu poder de palavra
O canto não é o movimento das e seu poder de silêncio.
máquinas nem o segredo das casas. Não forces o poema a desprender-se
Não é música ouvida de passagem, do limbo.
rumor do mar nas ruas junto à Não colhas no chão o poema que se
linha de espuma. perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
O canto não é a natureza como ele aceitará sua forma
nem os homens em sociedade. definitiva e concentrada
Para ele, chuva e noite, fadiga e no espaço.
esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das Chega mais perto e contempla as
coisas) palavras.
elide sujeito e objeto. Cada uma
tem mil faces secretas sob a face
Não dramatizes, não invoques, neutra
não indagues. Não percas tempo em e te pergunta, sem interesse pela
mentir. resposta,
Não te aborreças. pobre ou terrível, que lhe deres:
Teu iate de marfim, teu sapato de Trouxeste a chave?
diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos Repara:
esqueletos de família ermas de melodia e conceito
desaparecem na curva do tempo, é elas se refugiaram na noite, as
algo imprestável. palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de
Não recomponhas sono,
tua sepultada e merencória rolam num rio difícil e se
infância. transformam em desprezo.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia. PROFISSÃO DE FÉ
Que se partiu, cristal não era. Olavo Bilac
Sem um defeito:
Le poète est cise1eur,
Le ciseleur est poète. E que o lavor do verso, acaso,
Victor Hugo. Por tão subtil,
Possa o lavor lembrar de um vaso
Não quero o Zeus Capitolino De Becerril.
Hercúleo e belo,
Talhar no mármore divino E horas sem conto passo, mudo,
Com o camartelo. O olhar atento,
A trabalhar, longe de tudo
Que outro - não eu! - a pedra corte O pensamento.
Para, brutal,
Erguer de Atene o altivo porte Porque o escrever - tanta perícia,
Descomunal. Tanta requer,
Que oficio tal... nem há notícia
De outro qualquer.
Mais que esse vulto extraordinário,
Que assombra a vista, Assim procedo. Minha pena
Seduz-me um leve relicário Segue esta norma,
De fino artista. Por te servir, Deusa serena,
Serena Forma!
Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor Deusa! A onda vil, que se avoluma
Com que ele, em ouro, o alto relevo De um torvo mar,
Faz de uma flor. Deixa-a crescer; e o lodo e a
espuma
Imito-o. E, pois, nem de Carrara Deixa-a rolar!
A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara, Blasfemo> em grita surda e
O ônix prefiro. horrendo
Ímpeto, o bando
Por isso, corre, por servir-me, Venha dos bárbaros crescendo,
Sobre o papel Vociferando...
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel. Deixa-o: que venha e uivando passe
- Bando feroz!
Corre; desenha, enfeita a imagem, Não se te mude a cor da face
A idéia veste: E o tom da voz!
Cinge-lhe ao corpo a ampla
roupagem Olha-os somente, armada e pronta,
Azul-celeste. Radiante e bela:
E, ao braço o escudo> a raiva
Torce, aprimora, alteia, lima afronta
A frase; e, enfim, Dessa procela!
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim. Este que à frente vem, e o todo
Possui minaz
Quero que a estrofe cristalina, De um vândalo ou de um visigodo,
Dobrada ao jeito Cruel e audaz;
Do ourives, saia da oficina
Este, que, de entre os mais, o vulto Contigo só!
Ferrenho alteia,
E, em jato, expele o amargo insulto Vive! que eu viverei servindo
Que te enlameia: Teu culto, e, obscuro,
Tuas custódias esculpindo
É em vão que as forças cansa, e â No ouro mais puro.
luta
Se atira; é em vão Celebrarei o teu oficio
Que brande no ar a maça bruta No altar: porém,
A bruta mão. Se inda é pequeno o sacrifício,
Morra eu também!
Não morrerás, Deusa sublime!
Do trono egrégio Caia eu também, sem esperança,
Assistirás intacta ao crime Porém tranqüilo,
Do sacrilégio. Inda, ao cair, vibrando a lança,
Em prol do Estilo!
E, se morreres por ventura,
Possa eu morrer
Contigo, e a mesma noite escura Cante Lá Que Eu Canto Cá
Nos envolver! Patativa do Assaré