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Universidade Federal de Minas Gerais

Laboratório de Ensino de Sociologia II


Otávio Augusto Alves Coelho (2014082272)
Professora: Corinne Davis Rodrigues
2018/2

Conteúdos Teóricos - Povos Indígenas

A partir do tema Povos Indígenas (Rurais e Urbanos) o objetivo das aulas centra-se na
ideia de que os alunos compreendam parte da história indígena no Brasil e a resistência
desses povos frente ao Estado e à colonização, além de algumas teorias indígenas.
Dessa forma, abordaremos a temática em três eixos: primeiras definições, onde algumas
desmistificações serão necessárias; história indígena, da resistência à colonização e do
indigenismo; e teorias indígenas.

Primeiro Eixo - Definições

Buscando refinar a discussão futura sobre o tema, algumas definições se farão


necessárias, tais como os próprios conceitos de ‘índio’ e ‘indígena’, além de ‘tribo’,
‘comunidade’, ‘aldeia’ e povo.
Como nos mostra Viveiros de Castro “Índio é qualquer membro de uma
comunidade indígena, reconhecido por ela como tal” (2008, p. 132), o que indica que não
há nenhuma característica ‘substancial’, isto é, uma essência, que torne alguém indígena.
Dessa forma, a definição passa mais pela relação histórica com a terra em um sentido
pré-colombiano. A própria definição de comunidade indígena do autor passa por aí: “é
toda comunidade fundada nas relações de parentesco ou vizinhança entre seus
membros, que mantém laços histórico-culturais com as organizações sociais indígenas
pré-colombianas.” (id.). É importante ressaltar, contudo, a diferença entre índio e indígena.
O primeiro só existe por meio da relação com os brancos, uma vez que o termo é uma
invenção colonial; ao mesmo tempo, indígena é uma definição que se encerra por si só,
indicando a relação desses povos com o próprio território (na medida que é o inverso de
alienígena, isto é, aquele estranho ao território, que não é autóctone).
Se a definição de indígena passa pelo território, nos mostra o mesmo autor (id.)
que é mais coerente tratar esses povos como “situados no Brasil”, do que “parte do
Brasil”, o que não implica negar a eles a condição de cidadãos brasileiros, mas evitar
qualquer visão assimilacionista que assuma que eles estão se integrando à sociedade
nacional. Nesse sentido, opta-se por tratá-los dessa maneira considerando que o fato de
serem “parte do Brasil” é mero acaso, já que estavam aqui muito antes da própria ideia de
Brasil. A partir dessa concepção de situados, abre-se espaço para tomá-los a partir de
suas especificidades internas, anteriores à qualquer relação com o Estado ou a nação.
Além dessas definições, buscar-se-á desconstruir o termo “tribo”, já em decadência
nos meios acadêmico, indigenista e entre os próprios povos indígenas. Com um lastro
colonial, tal termo se relaciona a uma concepção primitivista, indicando uma “ausência de
complexidade social”, um “estado de Natureza”, uma indistinção entre a realidade e o
fantasioso etc entre esses povos, o que justificou por séculos tanto a colonização quanto
a tutela por parte do Estado. Em seu lugar, outros termos têm sido utilizados, tais como
comunidade (embora com forte herança jesuíta, das comunidades de catequização),
aldeia (para se referir aos locais de moradia dos indígenas), e povo, o mais aceito
atualmente.
Sendo assim, nesse eixo também buscaremos desconstruir qualquer perspectiva
evolucionista que assuma que os povos indígenas são inferiores, menos complexos ou
primitivos em relação aos brancos. Para cumprir com tal objetivo, nos utilizaremos do livro
“Raça e História”, de Lévi-Strauss, escrito em 1952 [2018] e que ao tentar desconstruir o
racismo, admite que de nada adianta destruí-lo se o substituirmos pela cultura, isto é,
tratando algumas culturas como superiores às outras. Nesse ponto, o autor demonstra
como as comparações utilizadas para “provar” que algumas culturas são melhores que
outras (especialmente a ocidental em relação ao resto) são equivocadas, na medida em
que cada cultura se relaciona com seu meio de determinada maneira, e que não se
compara totalidades culturais a partir de pontos específicos (os esquimós são mais
capazes de viver em um ambiente inóspito do que qualquer branco, por exemplo; as
técnicas corporais indianas são inacessíveis à maioria dos povos etc). É importante,
assim, que os alunos compreendam que os povos indígenas possuem uma realidade
própria, suas especificidades, suas complexidades e seu modo de pensar radicalmente
diferente, em muitos aspectos, do modo ocidental.
Por fim, observa-se que não se pode homogeneizar a condição de “índio” (o que,
infelizmente, é muito comum, gerando estereótipos de forte penetração na sociedade
branca). Assim, mostraremos que há 305 etnias com 274 línguas apenas no Brasil, como
revela o censo de 20101 e que, por exemplo, há uma grande população indígena urbana
no país, lidando com diversas questões, como o preconceito. Como o próprio censo
revela, 39% da população indígena está nos meios urbanos atualmente, o que se choca
1 Visto em: <https://censo2010.ibge.gov.br/noticias-censo.html?busca=1&id=3&idnoticia=2194&t=censo-2010-
populacao-indigena-896-9-mil-tem-305-etnias-fala-274&view=noticia>. Acesso em: 27/11/2018.
com o estereótipo do índio enquanto um habitante da floresta, embora 61% deles vivam
em meio rural.

Segundo Eixo - História Indígena, Colonização e Aculturação


Superado o primeiro momento em que se espera ter definido com clareza os
termos trabalhados, buscar-se-á, em uma aula, reconstituir parte da história indígena,
realizando uma breve revisão histórica desde o descobrimento, passando pela
colonização, o império, a primeira república, a ditadura militar e o período pós-1988, de
redemocratização. Assim, seguem os pontos a serem discutidos nessa aula, utilizando
como base o texto Por Uma História Indígena e do Indigenismo, de Manuela Carneiro da
Cunha (2009):

1 - Primeiro momento de conversão e, logo depois, escravização (século XVI),


junto do início do extermínio dos povos da costa brasileira.
2 – Com o início do tráfico transatlântico de negros, acentuando-se no século XVII,
a escravidão deixa de ser uma questão central em relação aos indígenas e se
fortifica o ideal de conversão pelos jesuítas. Posteriormente, já no século XVIII,
com a expulsão dos jesuítas por Marquês de Pombal e a decadência das
comunidades de conversão, acentua-se a colonização do interior do Brasil. Já no
Império, com a maior interiorização, os conflitos com os povos do interior se
acentuam.
3 - Criação, em 1910, do SPI, o Serviço de Proteção ao Índio, que buscava
mapear os povos indígenas para integrá-los a sociedade nacional. Embora seja o
primeiro momento de “cuidado” dos povos indígenas pelo Estado, o que se admite
nesse órgão é a tutela indígena e uma política assimilacionista, ou seja, de caráter
ainda colonial e evolucionista. Posteriormente, trataremos da criação da FUNAI,
em 1967, que junto do Estatuto do Índio, 1973, ainda possuía um caráter
assimilacionista de tutela. Nesse último vigorava uma ideia de que os indígenas
seriam relativamente incapazes de decidir por conta própria, conferindo ao Estado
a prerrogativa de decidir por eles.
4 – No último momento buscar-se-á reconstruir historicamente o momento de
retomada indígena, sobretudo a partir dos anos 80. Em um período de
redemocratização e de assembleia constituinte, os movimentos indígenas foram
responsáveis por grandes pressões para que seus direitos fossem assegurados na
Constituição de 1988, o que possibilitou o fim da tutela, a asseguração das
demarcações das terras e o direito inalienável a elas.

Para ilustrar esse momento de retomada indígena, utilizaremos como apoio o texto
de Marshall Sahlins, “O Pessimismo Sentimental e a Experiência Etnográfica: porque a
cultura não é um objeto em vias de extinção” (1997), que demonstra como as culturas
indígenas não estão acabando, já que esses povos têm resistido bravamente ao
extermínio há, pelo menos, 5 séculos. Ademais, verifica-se hoje, ao contrário do que
poderia pensar o senso comum, uma retomada populacional; se em 1957 havia apenas
70 mil indígenas no Brasil, em 2018, como nos mostra a tabela, há 800 mil:

Tal retomada pode ser explicada por dois fatores: o crescimento da taxa de
natalidade e diminuição da mortalidade infantil indígena, além do retorno à condição de
indígena. Se por muitas décadas esta condição foi interditada, na medida em que se
afirmar como indígena implicava perseguição e violência, com a retomada democrática, a
esta condição foi reafirmada positivamente em relação à sociedade. Assim, vários povos e
sujeitos que deliberadamente esconderam sua condição indígena voltaram a se afirmar
enquanto tais. Conclui-se, assim, que esses povos não estão se aculturando, que não
estão sendo assimilados por uma “cultura mais forte” ou coisa que o valha. Embora seja
importante ressaltar as relações de poder que têm gerado conflitos por terra até os dias
de hoje, com movimentos poderosos contrários às demarcações, principalmente oriundos
do agronegócio, cuja representatividade nas instituições e no congresso é relevante,
observa-se como tais povos têm lutado pela sobrevivência e pela manutenção de seu
modo de vida ancestral.

Terceiro Eixo - Teorias Indígenas


Muito se diz sobre o que são os povos indígenas e o que eles sofreram ao longo
dos tempos, mas é importante saber o que eles pensam e como pensam. Nesse eixo
buscaremos apresentar duas teorias indígenas de muita importância: “a sociedade contra
o Estado” (apontada por Pierre Clastres, 2014) e o “perspectivismo ameríndio” (apontado
por Viveiros de Castro, 1996a).
Pierre Clastres, em seu seminal texto “A Sociedade Contra o Estado”, demonstra
como as sociedades indígenas da América impossibilitam o surgimento interno do Estado
em suas comunidades. Isto porque possuem mecanismos para frear a existência de
dominantes e dominados, berço do Estado para o autor. Nesse sentido, teríamos, nessas
sociedades, “chefes sem poder”, isto é, chefes que não possuem a capacidade de decidir
pela coletividade. Assim, sua posição é muito mais relacionada à resolução de conflitos,
intermediando-os, do que decidindo por todos. As decisões, assim, são todas coletivas e
resta ao chefe apenas o poder de falar, o que não significa que ele possa decidir sozinho
os rumos de uma sociedade, como, por exemplo, iniciar uma guerra.
Outra teoria é a do “perspectivismo ameríndio”, em que o antropólogo Eduardo
Viveiros de Castro aponta como a noção de humano é radicalmente diferente para os
povos ameríndios. Para eles, a condição de pessoa também é extensível aos não-
humanos, sobretudo porque muitos desses não-humanos se veem como humanos;
assim, se um índio se vê como humano e vê a onça como animal, a onça se vê como um
humano e vê o índio como porco do mato. As diferentes perspectivas se definem pelos
corpos diferentes e o que prevalece entre humanos e não-humanos é a cultura. Se
humanos comem porcos do mato e a onça se vê como humana, ao ver os humanos ela
os têm como porcos do mato, já que humanos são presas de onça. Em vez de
simplesmente inverter as relações, a cultura humana é o que está de fundo; onças
compartilham a cultura humana (e por isso comem porcos do mato, ainda que na
verdade, sejam humanos) com humanos. Se no Ocidente humanos e não-humanos
compartilham uma natureza de fundo (no fundo, humanos, embora possuidores de
cultura, possuem um lado instintivo, natural, animal) para os povos indígenas o que se
compartilha entre humanos e não-humanos (espíritos e animais) é a cultura, variando as
naturezas, na medida em que as diferentes perspectivas se dão porque os corpos dos
seres são diferentes. Onças veem diferentemente de humanos, assim, porque possuem
corpos diferentes deles.
BIBLIOGRAFIA

CLASTRES, Pierre. A sociedade contra o Estado. Editora Cosac Naify, 2014


CUNHA, Manuela Carneiro da. Por uma história indígena e do indigenismo. Cultura com
aspas e outros ensaios, 2009.

LÉVI-STRAUSS, Claude.Antropologia estrutural dois. Ubu Editora LTDA-ME, 2018.

SHALINS, Marshall. O Pessimismo Sentimental e a Experiência Etnográfica: porque a


cultura não é um objeto em vias de extinção.Mana, v. 3, n. 2, p. 103-150, 1997.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo


ameríndio. Mana, v. 2, n. 2, p. 115-144, 1996.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo; SZTUTMAN, Renato. Encontros.Organização:


Renato Sztutman. Rio de Janeiro: Azougue, 2008.

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