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Delírio e materialismo histórico –p. 38, 39.

Com efeito, o delírio qualifica o registro que recolhe o processo de


produção das máquinas desejantes; e, embora seja dotado de sínteses
e afecções próprias, como acontece na paranoia e até nas formas
paranoicas da esquizofrenia, ele não constitui uma esfera autônoma,
mas é segundo em relação ao funcionamento e às falhas
das máquinas desejantes. Todavia, Clérambault empregava o termo
“automatismo (mental)” para designar apenas fenômenos atemáticos
de eco, de sonorização, de explosão, de não-senso,NT nos
quais ele via o efeito mecânico de infecções ou de intoxicações. Ele
explicava uma boa parte do delírio, por sua vez, como um efeito
do automatismo; e considerava a outra parte, a “pessoal”, como
sendo de natureza reacional, remetendo-a ao “caráter”, cujas manifestações
podiam, aliás, preceder o automatismo (por exemplo,
o caráter paranoico).20 Assim, no automatismo, Clérambault via
tão somente um mecanismo neurológico no sentido mais geral da
palavra, e não um processo de produção econômica que pusesse
em jogo máquinas desejantes; e, quanto à história, contentava-se
em invocar o caráter inato ou adquirido. Clérambault é o Feuerbach
da psiquiatria, no sentido em que Marx diz: “Quando Feuerbach
é materialista, não leva em conta a história, e quando leva
em consideração a história, ele não é materialista”.NT Uma psiquiatria
verdadeiramente materialista define-se, ao contrário, por uma dupla operação: introduzir o desejo no
mecanismo e introduzir
a produção no desejo.

ANALÍTICO DO COMPLEXO DE ÉDIPO, A ESQUIZOFRENIA, O


O IMPERIALISMO
EU, P. 39, QUARENTA

formas típicas do idealismo. A teoria da [30] esquizofrenia está


marcada por três conceitos que constituem a sua fórmula trinitária:
a dissociação (Kraepelin), o autismo (Bleuler), o espaço-tempo ou
o ser no mundo (Binswanger).NT O primeiro é um conceito explicativo
que pretende indicar a perturbação específica ou a deficiência
primária. O segundo é um conceito compreensivo que indica a
especificidade do efeito: o próprio delírio ou o corte, “o desligamento
da realidade acompanhado por uma predominância relativa
ou absoluta da vida interior”. O terceiro é o conceito expressivo,
que descobre ou redescobre o homem delirante no seu mundo
específico. Os três conceitos têm em comum reportar o problema
da esquizofrenia ao eu, por intermédio da “imagem do corpo”
(último avatar da alma, em que se confundem as exigências do
espiritualismo e do positivismo). No entanto, o eu é como papai-
-mamãe — e há muito que o esquizo já não acredita nisso. Ele está
além, atrás, sob, alhures, mas não nesses problemas. E ali onde
quer que esteja, há problemas, sofrimentos insuperáveis, misérias
insuportáveis, mas por que querer reconduzi-lo àquilo de que já
saiu, recolocá-lo nesses problemas que não são mais os seus, por
que zombar da sua verdade, que se pensou homenagear suficientemente
ao fazer-lhe uma saudação ideal? Dirão que o esquizo não
pode mais dizer eu, e que é preciso devolver-lhe essa sagrada função
de enunciação. É o que ele resume, ao dizer: me re-sabotam.
“Não mais direi eu, nunca mais o direi, é uma asneira. A cada vez
que ouvi-lo, porei no seu lugar a terceira pessoa, se pensar nela. Se
isso os diverte. Isso nada mudará.” E se torna a dizer eu, isso também
não altera nada. Ele se acha tão fora desses problemas, tão
para além deles. Nem mesmo Freud sai desse estreito ponto de
vista do eu. E o que o impedia era sua própria fórmula trinitária
— a edipiana, a neurótica: papai-mamãe-eu. Será preciso perguntar
se o imperialismo analítico do complexo de Édipo não teria levado Freud a reencontrar, e a garantir
com sua autoridade, o
lamentável conceito de autismo aplicado à esquizofrenia. Porque,
afinal, e não é preciso esconder isso, Freud não gosta dos esquizofrênicos,
não gosta da sua resistência à edipianização, e tende sobretudo
a tratá-los como bestas: diz que tomam as palavras por
coisas, que são apáticos, narcísicos, desligados do real, incapazes
de transferência, que eles se assemelham a filósofos, [31] “semelhança
indesejável”.

PÁGINA QUARENTA. INCONSCIENTE EDÍPICO IDEALISTA E INCONSCIENTE


MATERIALISTA

Porque, de fato, desde que nos colocam


no Édipo, desde que nos comparam com Édipo, tudo se resolve,
suprimindo-se a única relação autêntica que era a de produção. A
grande descoberta da psicanálise foi a da produção desejante, a
das produções do inconsciente. Mas, com o Édipo, essa descoberta
foi logo ocultada por um novo idealismo: substituiu-se o inconsciente
como fábrica por um teatro antigo; substituíram-se as unidades
de produção inconsciente pela representação; substituiu-se
o inconsciente produtivo por um inconsciente que podia tão somente
exprimir-se (o mito, a tragédia, o sonho...).

EU E MATERIALISMO - QUARETA

esquizofrênico,
só resta “apreciar” uma suposta essência ou especificidade do
esquizo, seja com amor e piedade, seja para cuspi-la com nojo.
Uma vez como eu dissociado, outra vez como eu cindido, e outra
ainda, a mais faceira, como eu que não deixara de ser, que se achava
especificamente aí, mas no seu mundo, e que se deixa encontrar
por um psiquiatra astuto, um sobre-observador compreensivo, em
suma, por um fenomenólogo. E ainda aqui recordemos a advertência
de Marx: não é pelo gosto do trigo que se adivinha quem o
cultivou, nem é pelo produto que se adivinha o regime e as relações
de produção. O produto aparece tanto mais específico, indizivelmente
específico, quanto mais o reportamos a formas ideais de
causação, de compreensão ou de expressão, mas não ao processo
de produção real do qual ele depende.

P. 41.O PROCESSO E A HISTÓRIA – O MATERIALISMO

A respeito deste e de outros pontos, JaspersNT deu indicações


as mais preciosas, porque seu “idealismo” era singularmente
atípico. Opondo o conceito de processo aos de reação ou
de desenvolvimento da personalidade, ele pensa o processo como
ruptura, intrusão, fora de uma relação fictícia com o eu, substituindo-
a por uma relação com o “demoníaco” na natureza. Falta-
-lhe somente conceber o processo como realidade material econômica,
como processo de produção na identidade Natureza = Indústria,
Natureza = História.

Desejo e produção social, 48

A existência maciça de uma repressão social que incide sobre


a produção desejante não afeta em nada nosso princípio: o desejo
produz real, ou a produção desejante não é outra coisa senão a
produção social. Não se trata de reservar ao desejo uma forma de
existência particular, uma [38] realidade mental ou psíquica que
se oporia à realidade material da produção social. As máquinas
desejantes não são máquinas fantasmáticas ou oníricas que se distinguiriam
das máquinas técnicas e sociais, e que viriam duplicá-
-las. Os fantasmas são antes expressões segundas que derivam da
identidade de dois tipos de máquinas em um dado meio. Ademais,
o fantasma nunca é individual; é fantasma de grupo, como soube
mostrar a análise institucional. E se há dois tipos de fantasmas de
grupo, é porque a identidade pode ser lida em dois sentidos, conforme
as máquinas desejantes sejam apreendidas nas grandes massas
gregárias que elas formam, ou conforme as máquinas sociais
sejam relacionadas às forças elementares do desejo que as formam.
No fantasma de grupo pode ocorrer, portanto, que a libido invista
o campo social existente, inclusive nas suas formas mais repressivas;
ou, ao contrário, que efetue um contrainvestimento que propague
o desejo revolucionário no campo social existente (por exemplo,
as grandes utopias socialistas do século XIX funcionam, não
como modelos ideais, mas como fantasmas de grupo, isto é, como
agentes da produtividade real do desejo que tornam possível um
desinvestimento ou uma “desinstituição” do campo social atual,
em proveito de uma instituição revolucionária do próprio desejo).
Mas entre as duas, entre as máquinas desejantes e as máquinas
sociais técnicas, nunca há diferença de natureza. Há certamente
uma distinção, mas apenas uma distinção de regime, segundo relações
de grandeza. São as mesmas máquinas, mas com regimes
diferentes; e é isso que os fantasmas de grupo mostram.

Édipo e a estrutura, p. 73, 74

[II.1.1. Seus modos]


Em sentido restrito, Édipo é a figura do triângulo papai-mamãe-
eu, a constelação familiar em pessoa. Mas, ao fazer dele o seu
dogma, a psicanálise não desconhece a existência de relações ditas
pré-edipianas na criança, exoedipianas no psicótico, paraedipianas
em outros povos. Como dogma ou “complexo nuclear”, a função
de Édipo é inseparável de um forcing [esforço] pelo qual o teórico
da psicanálise chega à concepção de um Édipo generalizado. De
um lado, para cada sujeito de um ou outro sexo, ele leva em conta
uma série intensiva de pulsões, afetos e relações que unem a
forma normal e positiva do complexo à sua forma inversa ou negativa:
é o Édipo de série, tal como Freud o apresenta em O eu e
o isso [Das Ich und das Es, 1923], e que permite, em sendo necessário,
ligar as fases pré-edipianas ao complexo negativo. Por outro
lado, ele leva em conta a coexistência em extensão dos próprios
sujeitos e de suas múltiplas interações: é o Édipo de grupo, que
reúne colaterais, descendentes e ascendentes (é assim que a visível
resistência do esquizofrênico à edipianização, a ausência evidente
do liame edipiano, pode ser sufocada por uma constelação de avós,
seja porque se julgue necessária uma acumulação de três gerações
para o surgimento de um psicótico, seja porque se descubra um
mecanismo ainda mais direto de intervenção dos avós na psicose,
formando-se, assim, Édipos de Édipo ao quadrado: a neurose é
papai-mamãe, mas a vovó é a psicose). Finalmente, a distinção
entre imaginário e simbólico permite explicitar uma estrutura edipiana
como sistema de lugares e de funções que não se confundem
74 Psicanálise e familismo: a santa família
com a figura variável daqueles que a ocuparão [61] numa determinada
formação social ou patológica: é o Édipo de estrutura (3
+ 1), que não se confunde com um triângulo, mas que opera todas
as triangulações possíveis ao distribuir, num determinado domínio,
o desejo, seu objeto e a lei.

Texto-máquina desejante, 76,77

Esquizofrenizar, esquizofrenizar o campo do


inconsciente, e também o campo social histórico, de maneira a
explodir o jugo de Édipo e a reencontrar em toda parte a força das
produções desejantes, reatar no próprio Real o liame da máquina
analítica, do desejo e da produção? Isto porque o próprio inconsciente
não é estrutural e nem pessoal; ele não simboliza, assimcomo
não imagina e nem figura: ele maquina, é maquínico. Nem
imaginário nem simbólico, ele é o Real em si mesmo, o “real impossível”
e sua produção.

Página 129, o familismo o Édipo inconsciente. O liberalismo inconsciente

O pior é que se torna evidente que, invocando


um tal a priori, não se sai do familismo no sentido mais
restrito, que sobrecarrega toda a psicanálise; ao contrário, afundamo-
nos nele e o generalizamos. Os pais foram postos no seu
devido lugar no inconsciente, que é o de indutores quaisquer, mas
se continua a confiar o papel de organizador a elementos simbólicos
ou estruturais que são ainda os da família e da sua matriz edipiana.
E mais uma vez não se consegue sair disso: foi tão somente
encontrado o meio de tornar a família transcendente.
[II.5.5. Um familismo impenitente]
Aí está o incurável familismo da psicanálise, enquadrando o
inconsciente em Édipo, atando-o de um lado e de outro, esmagando
a produção desejante, condicionando o paciente a responder
papai-mamãe e a consumir sempre papai-mamãe. Foucault, portanto,
tinha inteiramente razão quando dizia que a psicanálise, de
uma certa maneira, cumpria aquilo a que se propusera, com Pinel
e Tuke,NT a psiquiatria asilar do século XIX: soldar a loucura a
um complexo parental, ligá-la “à dialética meio-real, meio-imaginária
da família” — constituir um microcosmo no qual se simbolizam
“as grandes estruturas maciças da sociedade burguesa e de
seus valores”, Família-Crianças, Falta-Castigo, Loucura-Desordem
— fazer com que a desalienação passe pelo mesmo caminho que
a alienação, Édipo nas duas extremidades, fundar assim a autoridade
moral do médico como Pai e Juiz, Família e Lei — e chegar
por fim ao seguinte paradoxo: “Enquanto o doente mental está
inteiramente alienado na pessoa real do seu médico, o médico dissipa
a realidade da doença mental no conceito crítico de [111]
loucura”.
34

131

É evidente que esse familismo em extensão, no


qual a família recebe as potências próprias da alienação e da desalienação,
implica um abandono das posições de base da psicanálise
com respeito à sexualidade, apesar da conservação formal
de um vocabulário analítico. Verdadeira regressão em proveito de
uma taxonomia das famílias. É o que se vê com nitidez nas tentativas
de psiquiatria comunitária ou de psicoterapia dita familiar,
que quebram efetivamente a existência asilar, mas que conservam
todos os seus pressupostos, reatando-se fundamentalmente com a
psiquiatria do século XIX, segundo o slogan proposto por Hochmann:
“da família à instituição hospitalar, da instituição hospitalar
à instituição familiar... retorno terapêutico à família”!

Pensar o modernismo tardio literalmente como teoria da recepção, momento de leitura do


modernismo heróico.

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