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Daniel Carnacchioni
Direito Civil
Aula 07
ROTEIRO DE AULA
1. Premissas
Bens em si considerados (classificação). Tal classificação é relevante para as pertenças? Não, em razão das
pertenças, necessariamente, pressuporem uma relação entre bens – portanto, há uma conexão com a segunda
classificação (bens reciprocamente considerados).
Bens reciprocamente considerados (classificação). Para que exista pertença é essencial a afetação/vinculação a
outro bem (CC, art. 93).
Pertença: não é um bem distinto ou uma categoria especial de bem. A pertença é um rótulo ou uma qualificação
legal dada a determinado bem quando se relacionar com outros bens.
Em algumas situações, o próprio CC expressa a acessoriedade. Ex.: frutos, produtos, benfeitorias. Em relação às
pertenças, o CC, art. 93 não as especifica e a doutrina majoritária compreende as pertenças como bens acessórios. No
entanto, classificá-las como bens acessórios é irrelevante. Regra: o bem acessório submete-se ao regime jurídico do
bem principal. Tal regra possui duas exceções:
Legal.
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Pertenças: a lei, em determinadas situações, não submete o bem acessório ao regime jurídico do bem
principal por ser uma pertença. Em outras palavras, a pertença é uma exceção à regra de que o
acessório segue o principal por possuir um regime jurídico próprio - autonomia jurídica.
Conceito legal: CC, art. 93: “São pertenças os bens que, não constituindo partes integrantes, se
destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro”.
Autonomia jurídica: CC, art. 94: “Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não
abrangem as pertenças, salvo se o contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das
circunstâncias do caso”. Observação: o regime jurídico próprio é analisado de acordo com
classificação relacionada à natureza bem – bens em si considerados.
Convencional.
Pertença possui autonomia – mantém a sua natureza jurídica (CC, art. 94).
I. Fato jurídico
Fato: acontecimento do mundo da vida. Em outras palavras, é qualquer evento relacionado à natureza ou ao ser
humano. Enquanto fato não possui relevância para o Direito. O fato, ao receber a qualificação jurídica, deixa o
mundo da vida e passa a integrar o mundo do Direito.
Jurídico (norma jurídica). A norma qualifica o fato e o torna jurídica. Portanto, fato jurídico é a associação entre
um acontecimento da vida e a norma jurídica. Em outras palavras, quando um acontecimento da vida se ajusta
a uma previsão normativa há um fato jurídico.
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Critério do Estado (norma jurídica) para qualificar o fato como jurídico. Observação inicial: a norma traz
o fato do mundo da vida para o mundo do Direito para gerar efeito jurídico. Os efeitos jurídicos são,
portanto, a consequência. O critério, para selecionar o fato do mundo da vida, é a relevância social.
Consequência da qualificação: o fato ingressa no mundo do Direito e submete-se aos planos do Direito –
validade e eficácia. Portanto, o fato possuirá relevância jurídica, conforme a norma jurídica - relação de
adequação entre o fato e norma jurídica:
Como o fato deixa o mundo concreto dos fatos para ingressar no mundo do Direito?
Existência de uma norma jurídica, a qual elege o fato como um fato relevante para tornar-se um fato jurídico.
Previsão na norma do suporte fático concreto. A norma jurídica expressa o que é necessário que ocorra no
mundo da vida para que o fato torne-se um fato jurídico.
Incidência da norma jurídica sobre o suporte fático concreto.
Conclusão: suporte fático ou fato é a enunciação do fato (simples) ou conjunto de fatos (complexo) cuja ocorrência no
mundo da vida provocará a incidência da norma jurídica correspondente.
Conclusão n. 2: fato jurídico civil é todo fato da vida, natural ou humano (conduta), selecionado pelo Estado para lhe
atribuir consequência jurídica no âmbito de regulação do Direito Civil.
b) Existência
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Fato jurídico: fato da vida que preencheu o suporte fático concreto previsto na norma e passou a ter existência jurídica.
Observação: não preenchimento do suporte fático: fato está restrito ao mundo da vida. Consequência: não há efeito
jurídico.
Observações:
c) Validade
Elemento do suporte fático concreto: vontade. Não possuí-la: fato ingressa no ordenamento jurídico produzindo efeitos
(eficácia).
d) Eficácia
Objetivos da classificação:
Demonstrar que os elementos para que um fato torne-se jurídico não são uniformes.
Demonstrar a relação da teoria do fato jurídico com os planos.
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Espécies:
Por que especificar o fato jurídico? As especificidades estão relacionadas à “origem do fato” e à “relevância ou não da
exteriorização da vontade” para sua qualificação e à presença ou ausência de “autonomia privada”.
Plano (relação entre o fato da natureza e a norma): ingresso, no mundo jurídico, produzindo efeitos. Portanto, não se
submete ao plano da validade – o plano da validade impõe, no suporte fático concreto, a presença da vontade. Ex.:
aquisição de proprietária imobiliária em decorrência de eventos da natureza – formação de ilhas (CC, art. 1.248, I), p. ex.
b) Ato-fato jurídico
Qual a características que justifica torná-lo espécie de fato jurídico? O ato humano independente do elemento volitivo –
ato humano objetivamente considerado. Em outras palavras, há necessidade que o fato da vida origine-se de um ato
humano. No entanto, a norma jurídica não exige o elemento vontade. Tal característica é o ponto de distinção entre o
ato-fato jurídico e as ações humanas lícitas (ato jurídico em sentido estrito e negócio jurídico).
Não se submete ao plano da validade. Portanto, o ato-fato jurídico ingressa, no mundo jurídico, produzindo efeitos.
Dito de outro modo, a norma jurídica, quando elege os elementos de fato do mundo da vida para lhe conferir
juridicidade, dispensa o elemento subjetivo. Tal fato ingressa no mundo jurídico – a vontade humana não integra o
suporte fático exigido pela norma – embora seja essencial sua vinculação, na origem, com ato humano.
Exemplos:
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Atos reais (ex.: posse natural – não depende de vontade, pois o possuir pode ser incapaz, p. ex.).
Atos indenizativos (indenização sem ilicitude – independe de vontade, pois não há contrariedade ao direito, mas
há o dever de indenizar).
Caducificantes.
Observação em relação ao fato jurídico em sentido estrito e ao ato-fato jurídico: a lei é criteriosa ao definir quais os
elementos devam ocorrer, no mundo da vida, para que esses fatos tornem-se fatos jurídicos. Por não se submeterem ao
plano da validade, a norma jurídica controla-os no plano da existência – maior rigor legal quando comparado aos fatos
jurídicos submetidos ao plano da validade.
Portanto, há autonomia da vontade tanto no ato jurídico em sentido estrito quanto no negócio jurídico. Observação: a
autonomia é a liberdade de agir com eficácia jurídica, isto é, a liberdade de exteriorizar a vontade para buscar um
resultado, o qual possuirá uma repercussão no mundo jurídico.
Há autonomia da vontade, mas não há poder, isto é, há submissão aos efeitos, pois decorrem diretamente da lei
(efeitos “ex legis”).
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Exemplos: reconhecimento de filho; pagamento de obrigação; ocupação de um bem; usucapião.
Observação: CC, art. 185: “Aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, aplicam-se, no que couber, as
disposições do Título anterior”. Ex.: condição, termo e encargo não são aplicados ao ato jurídico em sentido estrito.
d) Negócio jurídico
Noção geral: inexistente negócio jurídico sem vontade exteriorizada – é igual à vontade do ato jurídico em sentido
estrito. Portanto, o suporte fático concreto exige autonomia da vontade.
Distinção entre o ato jurídico em sentido estrito e o negócio jurídico: autonomia privada – poder de autodeterminação.
Diante de um poder, concedido pelo Estado, é possível que se altere os efeitos de uma norma de acordo com interesses
próprios. Em suma: autonomia da vontade mais autonomia privada.
O negócio jurídico submete-se ao plano da validade. O Código Civil, na parte geral, centraliza suas normas para
solucionar questões relativas ao negócio jurídico no plano da validade – o Código Civil não trata dos pressupostos de
existência do negócio jurídico (são encontrados a partir dos pressupostos de validade).
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