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“Apoiar formas preciosas de vida é mais uma questão social do que individual.
A monogamia, admitindo-se que ela seja a única forma de casamento
moralmente valiosa, não pode ser praticada por um indivíduo. Ela requer
uma cultura para reconhecê-la e apoiá-la através da atitude do público e
através de suas instituições formais”3
Apresentação do problema4
I
Em um influente paper de 19945, o Professor John Finnis, tendo como
base sua teoria do direito natural, tornada notória especialmente com a
uma maneira meramente descritiva, como eles trataram da questão. Trata-se, pois, de uma
mera abordagem histórica de jaez introdutório. Meu ponto não é discutir (tampouco julgar)
o comportamento individual. O cerne de meu problema, aqui, é discutir em que consiste o
casamento (instituição social) e qual a razão para que seja mais razoável que ele ocorra
unicamente entre um homem e uma mulher. Na verdade, a questão é exatamente essa: há
relações sobre as quais não cabe ao Estado se envolver, pois elas são exclusivamente
pessoais. Cabe ao Estado interferir em relações cujas implicações vão para muito além do
indivíduo, como o casamento, por exemplo. Nesse sentido, os autores “clássicos” aqui
referidos, no contexto da apresentação do problema, não tocaram, a meu ver, no problema
central, a saber, na definição do que seja o casamento (muito embora eles tenham sugerido
elementos que serão constitutivos da visão tradicional de casamento). Nesse sentido, reforço
que não se trata de julgar relações particulares nas quais vige exclusivamente a emoção, o
sentimento. Trata-se de mostrar que o Estado deve voltar sua atenção (regrar) para
relações cujas implicações se estendem aos demais (no presente) e aos pósteros (no futuro).
Relações restritas exclusivamente aos concernidos não são do interesse do Estado. Sua
preocupação deve estar voltada para o bem comum, uma categoria muito mais abrangente,
que envolve os presentes e os vindouros. Assim, o casamento é, como afirmou Tomás de
Aquino, “um bem humano primário e, considerado filosoficamente, tem um objetivo (fim,
finis) duplo: (i) a procriação e o desenvolvimento das crianças é a forma apropriada ao seu
bem, e (ii) fides, a qual vai além da tradução literal por “fidelidade” e inclui não apenas
exclusividade e permanência, mas também a prontidão e o compromisso positivo de estar
unido com seu cônjuge na mente, no corpo e em uma vida doméstica de mútua assistência”
(FINNIS, John. Direito Natural em Tomás de Aquino. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris
editor, 2007, p. 47).
publicação de seu já clássico Natural Law and Natural Rights6 (1980),
sustenta uma vigorosa crítica ao comportamento homossexual. Aliás, a
relevância de tal comportamento no contexto da discussão em ética vem,
como ele mesmo aponta em diversos textos, desde a antiguidade. Hoje há
uma banalização generalizada do debate, tal como ocorre com outras
questões altamente polêmicas, como as questões do aborto e do suicídio
assistido, por exemplo. Tais questões têm sido debatidas sob perspectivas as
mais diversas, as quais, em geral, não se sustentam argumentativamente,
pois se baseiam em pontos de vista particulares relativizados e, dir-se-ia,
subjetivizados (e não em “razões” passíveis de objetividade). Nesse sentido,
tentarei, em geral, me abster de tocar no assunto tal como a mídia mais
abrangente, por exemplo, o vem expondo. Procurarei me basear
especialmente em alguns autores, sobretudo no já referido John Finnis, mas
também em Robert P. George e Maggie Gallagher. Por fim, tomarei como
ponto central do problema a questão do matrimônio 7, uma vez que “what we
have come to call the gay marriage debate is not directly about
homosexuality, but about marriage”. Assim, não se trata da questão
simplória “whom to let marry”, mas “about what marriage is”8 Nesse
sentido, e quanto a esse ponto em específico, tomarei como base
especialmente os trabalhos de Robert P. George e Maggie Gallaghan.
Portanto, como mencionei na nota 4, é imperioso reconhecer que a questão
não é discutir a homossexualidade, mas o casamento (o que seja o casamento
à luz do bem comum, do razoável). O foco no homossexualismo nos afasta do
5 Finnis, John. Law, Morality, and “sexual orientation”. Notre Dame Law Review, Volume
69, Number 5 (1994), 1049-1076. Republicado em: Finnis, John. “Law, Morality, and ‘sex
orientation’ ”. In: Finnis, John. Collected essays: Volume III (“Human Rights & Common
Good”). Oxford: Oxford University Press, 2011.
6 Finnis, John. Natural Law & Natural Rights. Second edition. Oxford: Oxford University
Press, 2011.
7 Usarei os termos “casamento” e “matrimônio” como sinônimos. Dado que não estou
preocupado com seu aspecto religioso, levarei em consideração especificamente seu caráter
institucionalizado. O cerne de minha argumentação será de jaez moral, muito embora a
perspectiva religiosa possa estar em harmonia com a perspectiva moral. De qualquer forma,
mesmo a perspectiva legal e política pode (deve, eu diria) também estar em harmonia com a
perspectiva moral.
8 George, Robert P. (et al) What is Marriage? Man and Woman: A defense . New York:
9 Bem como nos conduz ao risco de nos perdermos em debates infrutíferos, em torno dos
quais vige um emotivismo e um preconceito inaceitáveis. Não cabe, aqui, investigar se a
causa do homossexualismo é natural, cultural, biológica, mera escolha, etc. Essa parece ser
uma questão insolúvel. Cabe, sim, discutir o que seja o casamento.
10 Alexy, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. São Paulo: Malheiros, 2009.
Fontes, 1996, p. 119-121. O princípio da inércia assere, então, que uma determinada
ação/decisão do passado continuará vigendo no futuro, especialmente por uma questão de
coerência ou, mesmo, de hábito. Nesse sentido, ela não poderá ser abandonada sem que
exista uma razão suficiente para a mudança. Com isso, tal princípio garante que possamos
sempre contar com o habitual, com o normal. Assim, o apelo a certa prática já
existente/estabelecida não demanda justificação ou prova. Somente a mudança tem de ser
justificada. Com efeito, tal princípio seria, segundo Perelman, o fundamento da
estabilidade, da segurança social e jurídica. Afinal, ele nos permite recorrer a precedentes
jurisdicionais, isso no caso de uma nova situação se assemelhar com a situação passada.
especialmente se levarmos em consideração o “debate” nos fóruns públicos,
notoriamente nos midiáticos mais abrangentes. Esse é um ponto. O outro é o
desapego à racionalidade (à razoabilidade), manifesto nas diversas opiniões
baseadas em sentimentos e, eventualmente, preconceitos (resultado, penso,
de focar a discussão, equivocadamente, no homossexualismo, e não no
casamento). Mas essas questões surgirão no desenvolvimento de minha
linha argumentativa, a qual passo a expor em um encadeamento de
argumentos.
II
Com efeito, ainda no tocante à questão da apresentação e
posicionamento do problema, podemos tomar como base alguns trabalhos do
Professor Finnis12, nos quais ele não apenas recoloca a questão no plano da
discussão jusfilosófica, mas também nos oferece um panorama histórico da
questão, remontando a autores clássicos tais quais Sócrates, Platão,
Aristóteles, Caio Musônio Rufu, Santo Tomás de Aquino e Immanuel Kant,
todos por ele referidos em seus artigos sobre o tema. Dessa forma, esse ponto
descreve, à luz de alguns expoentes da filosofia clássica, como alguns
autores se aproximaram da questão. Embora eles não tenham, segundo vejo,
abordado a questão fulcral (que é o casamento?), eles lançaram algumas
ideias que constituirão a concepção tradicional de casamento. Nesse sentido,
parece legítima uma breve descrição acerca do que tais autores dizem a
respeito do tema.
Assim, especialmente no texto Law, Morality, and “sexual
orientation”, Finnis esclarece, a partir de uma rigorosa crítica a Martha
Nussbaum, a perspectiva de autores “clássicos” da antiguidade acerca do
comportamento homossexual. O cerne de sua argumentação reside, nesse
texto, em demonstrar que, embora imersos em uma cultura homoerótica,
tais autores desaprovavam tal comportamento, o qual era compreendido por
12Finnis, John. “Law, Morality, and ‘sex orientation’ ”. In: Finnis, John. Collected essays:
Volume III (“Human Rights & Common Good”). Oxford: Oxford University Press, 2011.
______. “The Good of Marriage and the Morality of Sexual Relations: Some Philosophical
and Historical Observations,” American Journal of Jurisprudence, 42: 97–134, 1997.
eles como para phusin, “contrário à natureza”13. Nesse sentido,
historicamente, a questão do agir homossexual já foi colocada sob os
spotlights da filosofia prática em autores da antiguidade, como nos acima
referidos. Essa questão foi levantada por Finnis especialmente em seu
debate com Nussbaum. Esse debate ocorreu em torno do caso Romer v.
Evans (1996)14. Contra a posição sustentada por Nussbaum, a qual
defendeu a, digamos, “naturalidade” do comportamento homossexual,
especialmente a partir de uma leitura comprovadamente equivocada dos
autores antigos, especialmente de Platão e Aristóteles15, Finnis logra
demonstrar em que sentido alguns autores clássicos manifestaram uma
posição contrária à ideia de que o homossexualismo fosse algo “natural” (e
que devesse, por essa razão, ser institucionalizado mediante o matrimônio).
Embora eles, especialmente Sócrates e Platão, não o concebessem como algo
“perverso”, o que mesmo Finnis reconhece em sua interpretação desses
autores, eles reiteraram a ideia de que tal comportamento seria, nos termos
de Finnis, “shameful”, “immoral”. O fato de Platão, em “As Leis”, comparar a
homossexualidade com o incesto seria, segundo Finnis, indício dessa posição.
Em suma, em Sócrates e em Platão não haveria qualquer exortação à
institucionalização de tal prática (em uma instituição tal qual a do
casamento). O mesmo ocorreria em Aristóteles. Aliás, nesse há uma crítica
ainda mais severa a tal modo de agir, o qual ele considera objetável tanto
individual quanto socialmente. Basta tomarmos três passagens de suas mais
importantes obras em Filosofia prática, duas de Ethica Nicomachea, outra
13 Posteriormente traduzido, para o latim, por contra naturam, opondo-se, pois, à ideia de
kata phusin (“de acordo com a natureza”).
14
Tal caso envolveu um debate em torno de “direitos civis” e “leis estatutárias”. O ponto
central era a emenda constitucional nº 2 à Constituição do Colorado, a qual impedia que o
Estado do Colorado adotasse medidas antidiscriminatórias em favor de gays, lésbicas e
bissexuais. Tal emenda foi considerada, pela Suprema Corte do Colorado, inconstitucional,
pois feriria a ideia de uma equal protection doctrine. Esse seria, aliás, um exemplo,
segundo Finnis, de como o estado pode adotar medidas que sejam contrárias ao bem
comum. Nesse caso, medida contrária ao casamento, que, como a epígrafe inicialmente
citada nesse paper tem o propósito de sugerir, é um bem social, e não meramente
individual. Trata-se de uma instituição social cujo propósito é, também, social (o referido
bem comum).
15 Vou me eximir de entrar nesse debate em específico, pois ele é esclarecido de forma
precisa por Finnis no ensaio citado. Ele recorre, sobretudo, a alguns estudos consagrados e
aos textos dos autores antigos para demonstrar seu ponto.
de Politica. Na primeira (Livro VII), ao tratar dos estados brutos, ele se
refere aos “morbid states resulting from custom, e.g. the habit of plucking
out the hair or gnawing the nails, or even coals or earth, and in addition to
these paederasty”16. Mais adiante (Livro VIII), distinguindo o homem dos
demais animais, ele afirma, também, que “human beings live together not
only for the sake of reproduction but also for the various purposes of life; for
from the start the functions are divided, and pleasure seem to be found in
this kind of friendship; so they help each other by throwing their peculiar
gifts into the common stock”17. Em Politica, ele afirma que “there must be a
union of those who cannot exist without each other; namely, of male and
female, that the race may continue (and this is a union which is formed, not
of choice, but because, in common with other animals and with plants,
mankind have a natural desire to leave behind them an image of
themselves)18”. Essas são considerações valiosas para o que intento defender
mais adiante, uma vez que sugerem não apenas a biologicamente óbvia
diferença de gênero19 (e os respectivos “peculiar gifts” que eles trazem para
dentro do casamento), mas também o papel social do casamento. Ele não é
um mero meio de satisfação pessoal ou, mesmo, reprodução, mas possui
aspectos bem mais abrangentes. E é importante notar que esses foram
autores não tocados pela tradição judaico-cristã. Esse é também um dos
pontos que aqui será defendido, a saber, que o casamento não é uma
instituição religiosa: ele antecede a religião20, sendo apenas incorporado e
legitimado por essa.
16 Barnes, Jonathan (Ed.) The Complete Works of Aristotle. Princeton: Princeton University
Press, 1995, 1148ᵇ1, p. 1814.
17 Barnes, Jonathan (Ed.) The Complete Works of Aristotle. Princeton: Princeton University
Assim, compreendo gênero como uma categoria taxonômica que unifica formas de vida
relacionadas filogeneticamente, as quais se distinguem das outras (diferenças de
gênero/sexo, por exemplo) em virtude de algumas diferenças inegáveis, como ocorre no
dimorfismo sexual.
20 Pois antes mesmo do Estado havia, como veremos adiante (ver notas 62 e 63, referentes a
Santo Tomás de Aquino: Grisez, Germain. “The First Principle of Practical Reason: A
Commentary on the Summa Theologiae, 1-2 Question 94, Article 2”. Natural Law Forum 10
(1965): 168-201. Com efeito, o texto de Grisez foi o ponto de partida da nova teoria do direito
natural, a qual vem sendo desenvolvida por John Finnis, Robert P. George, et al.
22 Finnis, John. Aquinas. Oxford: Oxford University Press, 1998.
23 Ver: Finnis, John. “Marriage: A Basic and exigent Good”. IN: Finnis, John. Collected
Essays – Vol. III (Human Rights & Common Good). Oxford: Oxford University Press, 2011.
24 Finnis, John. Aquinas. Oxford: Oxford University Press, 1998, p. 145. Nesse sentido, fides
não envolve apenas o comando negativo de não nos unirmos a outra pessoa. Há, também, e
isso é talvez o mais importante, o comando positivo de nos unirmos ao cônjuge. Fides é,
assim, uma razão para o agir.
25
Finnis, John. Aquinas. Oxford: Oxford University Press, 1998, p. 146.
ocorra26). Não foi rompida, então, a ligação entre a atividade sexual e o bem
do casamento. Portanto, o problema dos atos sexuais não se reduz a uma
perspectiva de moralidade pessoal, mas envolve, sobretudo, a rede social. Ou
seja, atos contra bonum matrimonii não se limitam ao foro íntimo, mas
afetam toda a rede social.
Na modernidade, já em uma perspectiva pós-cristianismo
secularizada, temos, por exemplo, a posição de Immanuel Kant a esse
respeito. Ele a expressa de forma clara especialmente em sua Rechtslehre27,
ao comparar a pederastia ao estupro e à bestialidade, atribuindo às
primeiras práticas a pena de castração. Mas há algo em comum entre as três
ações: elas são cometidas “contra a própria natureza”28, violam a dignidade
humana, pois instrumentalizam o indivíduo, desconsiderando seu valor
intrínseco29. Aliás, ao tratar do ‘Direito Conjugal’ (§24), ele afirma:
26 Tal como ocorre em todo o ‘ato matrimonial’ – intercurso sexual entre homem e mulher no
seio do casamento –, pois a maioria desses atos não leva à procriação (em períodos nos quais
a mulher não está fértil, por exemplo). No entanto, eles devem estar sempre abertos à
procriação: devem ser atos do tipo procriador.
27 Primeira parte da obra Die Metaphysik der Sitten (1797).
28 Kant, Immanuel. A Metafísica dos Costumes. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,
Books, 2012.
momento vigente). No entanto, segundo pretendo defender39, a visão
conjugal tem um propósito individual e coletivo: assegurar aquilo que John
Finnis denomina de “florescimento humano” (human flourishing). Como nos
diz Finnis logo ao início de Natural Law and Natural Rights (1980),
“existem bens humanos que só podem ser garantidos por meio das
instituições do direito humano e requisitos de razoabilidade prática a que
apenas essas instituições podem satisfazer”40.
Assim, há instituições que devem ser fomentadas e estimuladas pelo
Estado, assim como há práticas que devem ser desestimuladas pelo
Estado41, e isso tendo-se em vista o interesse social que repousa sobre tais
instituições. Em verdade, há algumas ideias de fundo por detrás do discurso
dos que defendem o casamento entre indivíduos do mesmo sexo, como, por
exemplo, um individualismo exacerbado, um emotivismo e a ideia
equivocada de que gênero é algo construído socialmente, e não um fato
biológico (hoje, além de reconhecermos o dimorfismo sexual corporal – o qual
é mais evidente –, há, também, como estudos na endocrinologia têm
demonstrado, o dimorfismo cerebral – diferenças de gênero que residem em
especificidades cerebrais42). Bom, mas sobre o individualismo, a ideia de
liberdade individual, desde seu auge no século XVII, está intimamente
ligada à ideia de responsabilidade comunitária, com a totalidade do corpo
social. Resumidamente, ela nunca esteve ligada à simples ideia de
permissividade egocêntrica43. Para os autores que construíram as bases da
17.
41 Elas são, conforme John Finnis, bad forms of life (Finnis, John. Law, Morality, and
“sexual orientation”. Notre Dame Law Review, Volume 69, Number 5 (1994), 1049-1076.
42 Leia-se, por exemplo, o seguinte estudo (publicado nos Arquivos Brasileiros de
por exemplo: Glendon, Mary Ann. Rights Talk. The Impoverishment of Political Discourse.
New York: The Free Press, 1991. Sowell, Thomas. Civil Rights: Rhetoric or Reality? New
York: William Morrow, 1984.
Bill of Rights (1689), da United States Declaration of Independence (1776) e
da Déclaration des droits de l’homme et du citoyen (1789), importavam,
sobretudo, os interesses mais amplos da sociedade. Nesse sentido, pensemos
em um dos aspectos do casamento trazido pelas considerações dos autores
acima, a saber, o das crianças. Ora, uma concepção razoável (justa) de
casamento não pode ser moralmente neutra (e isso vale para todas as
instituições sociais). O Estado é moralmente neutro em relação a outros
tipos de relação social, como a amizade (independentemente do grau de
envolvimento e dos benefícios mútuos), por exemplo. Não cabe ao Estado
interferir sobre esse tipo de relação. Mas quanto ao casamento as coisas são
diferentes. Aqui é necessária uma regulamentação estatal, pois estamos
tratando de um tipo de relação cujas implicações são sociais, interferem
sobre o tecido social. E isso, aliás, é algo que os defensores do casamento
entre indivíduos do mesmo sexo sequer respondem, a saber, o porquê do
interesse do Estado sobre o casamento. Na verdade, eles se eximem de tocar
nessa questão, a qual, aliás, deve ser o ponto de partida. Mas eles se eximem
da questão porque, muito provavelmente, a resposta seja dada pela conjugal
view. Assim, o Estado deve levar em conta, por exemplo, o fato de que uma
criança, como veremos em seguida, precisa de seus pais biológicos. E disso
dependem não somente essas crianças, individualmente consideradas, mas o
bem comum. Assim, além do foco no aspecto meramente afetivo do
casamento, os defensores do casamento entre indivíduos do mesmo sexo
também usam, frequentemente, o seguinte recurso (à casuística, eu diria), o
de que pessoas do mesmo sexo, se casadas, poderiam adotar e amparar
crianças rejeitadas por seus pais biológicos44. Mas esse propósito se desfaz
44Outro argumento defende que o casamento deve ser aberto a todos. Ora, ele é aberto a
todos: “Since marriage is between a male and a female, and all people are either male or
female, marriage is in principle open to all people” (Farrow, Douglas. “Rights and
recognition”. In: Cere, Daniel; Farrow, Douglas (Ed.) Divorcing Marriage. Montreal: McGill-
Queen´s University Press, 2004, p. 99). A asserção de Farrow ecoa a posição já anunciada
por Richard Posner, que, em um texto dos anos 1990, já afirmara que “in this respect there
is already perfect formal equality between homosexuals and heterosexuals” (Posner,
Richard. “Should there be homosexual marriage? And if so, Who should decide?” Michigan
Law Review 95 (1996-1997): 1580. Cabe notar, então, que mesmo os defensores da “visão
tradicional” (conjugal) são favoráveis à igualdade acerca do casamento. A todos deve ser
permitido acesso a ele. A questão fundamental é, primeiramente, defini-lo. A questão é
explicitar o que é o casamento e por que ele importa para o Estado, bem como quais seriam
diante da ideia tradicional de casamento, o qual é constituído por duas
instâncias, a instância biológica (ímpeto para a procriação) e a instância
social, isto é, uma cultura que favoreça a procriação e a criação (nurture).
Portanto, se a dignidade humana residisse em como “eu” me sinto (em
uma perspectiva essencialmente individualista, emotivista), eu então seria a
medida, a fonte da regra, o que levaria à opressão. Logo, temos que
distinguir entre o que é nossa satisfação pessoal (subjetivo) e o que é, para
usarmos a expressão de Kant, nossa dignidade como pessoa (objetivo). Aliás,
essa “dignidade” já está assegurada pelo direito45, de tal forma que essa
tentativa de revogar a concepção tradicional, visão conjugal, de casamento
tem como propósito impor uma perspectiva relativizada e subjetivizada de
casamento, baseada, exclusivamente, em uma emoção, o que está manifesto
na ideia de que “tudo o que importa é o amor”. Certamente ele importa. Mas
em um casamento há muito mais em jogo. Ele não se restringe aos
indivíduos, pois tem implicações sociais no presente e no futuro. Colocado
em outros termos, aqui está em conflito o individual, a busca por uma boa
vida, e o público, a busca pelo bem comum mediante as instituições sociais.
Nesse sentido, mesmo do ponto de vista da neutralidade liberal, o casamento
entre sujeitos do mesmo sexo estaria vedada. O liberalismo político de
Rawls, por exemplo, em uma linha argumentativa bem distinta da de
Finnis, mantém que a família “é parte da estrutura básica, já que uma de
suas funções essenciais é ser a base da produção e reprodução ordenadas da
46 Rawls, John. Justiça como equidade: Uma reformulação. São Paulo: Martins Fontes,
2003, p. 230.
47 Rawls, John. Justiça como equidade: Uma reformulação. São Paulo: Martins Fontes,
2003, p. 230/231.
48 Rawls, John. Justiça como equidade: Uma reformulação. São Paulo: Martins Fontes,
2003, p. 237.
49 Hart, Herbert L.A. O Conceito de Direito. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2007,
p. 208.
Além disso, o impacto da família (do “espírito de família”) sobre a
economia50, por exemplo, parece já ter sido reconhecido por Alexis de
Tocqueville, notadamente quando ele afirma:
50 Como esclarecerei adiante, o casamento envolve, também, elementos econômicos: ele tem
um peso na economia. Nesse sentido, cabe sublinhar que pouco se fala sobre os impactos
econômicos do divórcio, por exemplo. São vários os elementos que dão suporte à
razoabilidade do casamento em sua perspectiva tradicional, da monogamia, etc.
51 Tocqueville, Alexis de. A Democracia na América. São Paulo: Martins Fontes, 1998, p. 59.
52 Ver: Velleman, David. “Family History”. Philosophical Papers, Vol. 34, N. 03 (November
53 Cabe deixar claro, não obstante, que as pesquisas que serão arroladas ao longo desse
trabalho não são nem o ponto de partida nem o fundamento do que aqui se está defendendo.
O ponto de partida é o aspecto da razoabilidade da ideia de casamento que aqui se defende.
As pesquisas apenas vêm ao encontro dessa ideia, corroborando-a.
54 Disponível em: http://www.prc.utexas.edu/nfss/index.html. Como podemos ler no site:
“The New Family Structure Study (NFSS) is a comparative project which seeks to
understand how young adults (~ages 18-39) raised by same-sex parents fare on a variety of
social, emotional, and relational outcomes when compared with young adults raised in
homes with their married biological parents, those raised with a step-parent, and those
raised in homes with two adoptive parents. In particular, the NFSS aims to collect new
data in order to evaluate whether biological relatedness and the gender of young adults'
parents are associated with important social, emotional, and relational outcomes.
Moreover, because there have been no large-scale studies of young adults who have spent
time in households with two parents of the same sex, the NFSS seeks to field exactly such a
study. Accordingly, the NFSS would provide scholars with an up-to-date portrait of the
afirmei acima, indicando os índices que comprovam que há, sim, uma
diferença significativa entre crianças criadas por pais biológicos em um
ambiente de pouco conflito e aquelas criadas por pais do mesmo sexo.
Além disso, há outro aspecto, mas sobre esse não me deterei, qual
seja, o da suposta “construção de gênero” 55. Dado ser essa (a diferença entre
gêneros) um fato biológico, sequer vou tecer comentários sobre a ideia de que
o gênero é, de alguma forma, “construído” socialmente. Segundo vejo, essa
seria uma tentativa similar à de nos jogarmos do vigésimo andar de um
edifício e tentarmos, assim, reconstruir a lei da gravidade. Especialmente
em autores da Filosofia da biologia (e isso para nos restringirmos aos
autores no âmbito da Filosofia), encontramos sólidos argumentos que
demonstram a absurdidade dessa ideia. Tomemos, por exemplo, Matt Ridley
e seu livro “Nature via Nurture”56 (2003). Especialmente no capítulo dois ele
deixa claro essas diferenças, e isso a partir de um ponto de vista biológico.
Nas palavras dele, “hoje ninguém nega que homens e mulheres são
diferentes não só na anatomia, mas também no comportamento (...) apesar
das exceções57 – há diferenças mentais e físicas consistentes entre os sexos”
58. E tal dado é importante para o nosso argumento, uma vez que, como já
apontado na citação de Aristóteles, o casal traz, para dentro do casamento,
elementos específicos para a formação das crianças, os quais representam as
diferenças entre os gêneros essenciais à formação mental (cognitiva e moral)
da criança.
association between a variety of different family structure background experiences and the
welfare of young adults”.
55 Ver nota 18.
56 Ridley, Matt. O que nos faz humanos: genes, natureza e experiência . Rio de Janeiro:
Record, 2008.
57 Não vou, aqui, discutir sobre possíveis elementos que talvez venham, segundo o ponto de
59 Aqui temos um exemplo do “ativismo judicial”, nesse caso colocado em prática pelo STF, o
qual recorre eventualmente a ideologias privadas em detrimento do direito existente ou
mesmo de um processo legislativo (democrático). Nesse caso a decisão judicial é muitas
vezes baseada em perspectivas não objetiváveis. Ao invés de valores absolutos, as decisões
são tomadas a partir de opiniões fortemente influenciadas por certas ideologias.
Desnecessário dizer que isso ameaça aquilo que John Finnis denominou de “human
flourishing” (eudaimonia). Ainda sobre o “ativismo judicial”, ver, por exemplo: Teixeira,
Anderson Vichinkeski. “Ativismo judicial: Nos limites entre racionalidade jurídica e decisão
política”. Revista Direito GV, São Paulo 8 (1), Jan-Jun 2012, p. 037-058.
a exemplo da discussão tal como essa tem sido espraiada, apenas se respondeu à questão
“quem vamos deixar casar?”
62 O STF não é a última palavra porque é infalível: ele é infalível porque é a última palavra.
Disagreement (1999), na qual ele defende63 que dar aos juízes a palavra
final no que diz respeito ao significado dos direitos constitucionais é
inconsistente com o right of rights, a saber, o direito democrático de as
pessoas comuns participarem de maneira equânime de decisões públicas.
Em suma, dar aos juízes tal poder faz de nós, segundo Waldron, second-class
citizens.
Além disso, outro problema que surge de se permitir que duas pessoas
do mesmo sexo casem envolve, segundo Mary Ann Glendon, um problema de
justiça distributiva, pois esse mesmo direito (e suas implicações) não vale,
por exemplo, para irmãos solteiros que residem juntos, tampouco para um
indivíduo que cuida de um familiar doente. Como nos diz ela:
There is a real problem of distributive justice here. How can one justify
treating same-sex households like married couples when such benefits are
denied to all the people in our society who are caring for elderly or disabled
relatives whom they cannot claim as family members for tax or insurance
purposes? Shouldn't citizens have a chance to vote on whether they want to
give homosexual unions, most of which are childless, the same benefits that
society gives to married couples, most of whom have raised or are raising
children?64
63 Waldron, Jeremy. Law and Disagreement. Oxford: Oxford University Press, 2004. Ver
especialmente capítulo 11, “Participation: The Rights of Rights”.
64 Glendon, Mary Ann. "For Better or for Worse?" The Wall Street Journal (February 25,
2004).
Estado. Esse apenas o legaliza tendo em vista seu interesse em assegurar o
bem comum. Aliás, essa é uma ideia que já encontramos em um texto
clássico do jusnaturalismo moderno, no “Segundo tratado sobre o Governo”
(Second Treatise on Civil Government, 1690), de John Locke, especialmente
no capítulo VII, ‘Da sociedade política ou civil’, onde lemos que “a primeira
sociedade foi entre homem e mulher, que deu origem à de pais e filhos”65
(The first society was between man and wife, which gave beginning to that
between parents and children). Com efeito, em seguida ele caracteriza essa
sociedade da seguinte forma:
Wherein one cannot but admire the wisdom of the great Creator, who
having given to man foresight, and an ability to lay up for the future, as well
as to supply the present necessity, hath made it necessary, that society of
man and wife should be more lasting, than of male and female amongst
other creatures; that so their industry might be encouraged, and their
interest better united, to make provision and lay up goods for their common
issue, which uncertain mixture, or easy and frequent solutions of conjugal
society would mightily disturb.
65 Locke, John. The second treatise of Government. New York: Macmillan Publishing
Company, 1998, p. 44.
66 Locke, John. The second treatise of Government. New York: Macmillan Publishing
67 Desnecessário dizer que, assim como ocorreu com a propriedade privada ao longo da
história, também o casamento afastou-se muitas vezes daquilo que ele deveria ser. A
proposta do same-sex marriage exemplifica isso no contexto atual. A permissão do divórcio
seria outro exemplo.
68 George, Robert P.; Lee, Patrick. Body-Self Dualism in Contemporary Ethics and Politics.
Marriages have always been the main and most effective means of rearing
healthy, happy, and well-integrated children. The health and order of
society depend on the rearing of healthy, happy, and well-integrated
children70
69 George, Robert P. (et al) What is Marriage? Man and Woman: A defense. New York:
Encounter Books, 2012, p. 06.
70 George, Robert P. (et al) What is Marriage? Man and Woman: A defense . New York:
Finnis estabelece sete bens humanos básicos. Mas eles não se esgotam, não
necessariamente, nesses sete. Por exemplo, em 2008 (Finnis, John. “Marriage: A Basic and
exigent Good”. IN: Finnis, John. Collected Essays – Vol. III [Human Rights & Common
Good]. Oxford: Oxford University Press, 2011) ele coloca o casamento como “um bem
humano distinto e fundamental”, corrigindo (em verdade, ele já havia feito essa “correção”
em Aquinas) uma lacuna que haveria na obra clássica de 1980. Não obstante, o bem
humano 1. Vida concerne ao impulso elementar de autopreservação. Ele envolve não apenas
saúde física, mas também mental (psicológica). Indica também a busca pela
que afirmei inicialmente: o governo/estado não pode (e nunca é) moralmente
neutro.
Além disso, essa visão já entrincheirada é individual e socialmente
mais adequada aos fins do Estado porque, justamente em virtude das
características citadas acima, ela garante maior estabilidade econômica,
dada a exclusividade e a orientação voltada para a vida familiar. Nesse
sentido, uma redefinição do casamento colocaria em risco tal estabilidade
econômica (individual e social). Portanto, o casamento extrapola as
preferências e interesses individuais. Como já indicado, há uma
inquestionável diferença entre homens e mulheres, e essas diferenças são
levadas para o casamento, especialmente para a criação dos filhos (como já
fora sugerido por Aristóteles). Com a redefinição do casamento isso se
72 George, Robert P. (et al) What is Marriage? Man and Woman: A defense. New York:
Encounter Books, 2012, p. 15.
73 George, Robert P. (et al) What is Marriage? Man and Woman: A defense . New York:
74 Não apenas isso. Se o que importa é o sentimento, por que não permitir o human-animal
marriage??? Pelo menos desde 1998 já surgiram tentativas nesse sentido
(http://en.wikipedia.org/wiki/Human%E2%80%93animal_marriage). Vejam: se o que
importa é o sentimento (sua intensidade), como não atender ao pleito daqueles que desejam
casar com seus animais de estimação? Rejeitar essa possibilidade não seria, então, uma
forma de discriminação?
75 Glendon, Mary Ann. "For Better or for Worse?" The Wall Street Journal (February 25,
2004).
76 George, Robert P. (et al) What is Marriage? Man and Woman: A defense . New York:
77 Finnis, John. Direito Natural em Tomás de Aquino. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris
editor, 2007, p. 47.
78
Finnis, John. “Marriage: A Basic and exigent Good”. IN: Finnis, John. Collected Essays –
Vol. III (Human Rights & Common Good). Oxford: Oxford University Press, 2011, p. 318.
procriação amplia o casamento, levando-o a outro nível. E isso por uma
razão simples: ela corporifica a união expressa na ideia de “um só corpo”.
Em outros termos, o casamento está voltado também para esse fim, mesmo
quando por fatores contingentes (e alheios à vontade dos cônjuges) ele não
ocorre. Em suma, o ato sexual consuma o casamento e permite a procriação.
E esse aspecto da procriação está ausente das relações entre indivíduos do
mesmo sexo. Não há, nesse caso, comprometimento com a vida familiar, a
qual é essencialmente procriadora. Mas tracemos mais algumas
considerações sobre casais inférteis. Usemos o exemplo levantado pelos
autores de What´s Marriage?. No casamento há uma cooperação mútua com
vistas à vida familiar (plenamente realizada mediante a procriação). Mas,
lamentavelmente, nem sempre isso ocorre. Isso, contudo, desqualificaria
essa relação como casamento? Não. Por exemplo, um time de futebol
desenvolve suas habilidades com o propósito de vencer um jogo. Mas o
desenvolvimento dessas habilidades é valioso, ainda que eles não vençam o
jogo. Assim a diferença entre um casamento entre indivíduos de sexo
diferente que se reproduzem em relação àqueles que não se reproduzem é de
grau (e não de tipo). Em ambos os casos a união está dirigida para a
procriação. Nas palavras dos autores de What´s Marriage?, sobre os casais
inférteis, a união sexual deve “combine the right behavior with the right
intention; it must be a real bodily union ( coitus) that seals a certain kind of
union of mind and hearts”79. Ou seja, ainda que o casal seja infértil, seus
corpos estão unidos de forma similar a como os órgãos em um único corpo
estão, isto é, voltados para um fim imanente, um fim biológico, a saber, a
reprodução80. Permanece, então, o right behavior e a right intention, dado
que a relação está ordenada para a reprodução. Assim, embora a
infertilidade seja uma perda, uma vez que não permite a corporificação do
79 George, Robert P. (et al) What is Marriage? Man and Woman: A defense. New York:
Encounter Books, 2012, p. 74.
80 Desnecessário também esclarecer que diagnósticos de infertilidade são, muitas vezes,
revertidos por tratamentos cada vez mais sofisticados, de tal forma que um diagnóstico de
infertilidade nem sempre (não necessariamente) é definitivo (diferentemente das relações
entre sujeitos do mesmo sexo, as quais jamais serão do tipo reprodutivo). Além disso, a
exceção à regra não é o fundamento da lei. O interesse do Estado deve estar voltado para as
relações matrimoniais que produzirão crianças.
casamento, ela não é o único propósito, tampouco o único aspecto, do
casamento. O casamento é um bem em si. Ele não pode ser
instrumentalizado, seja para o fim da procriação, seja para o fim de uma
fruição pessoal. Ambos os aspectos são fundamentais ao casamento. Ele
envolve, como já mencionei, permanência (através do tempo) e exclusividade
(a todo tempo). Ora, somente uma visão tradicional dá conta desses aspectos
essenciais ao casamento, pois eles decorrem da ideia de união plena entre
mente e corpo, entre aspectos subjetivos (emocionais) e sociais, a procriação
e o cuidado da prole com vistas às gerações seguintes. Obviamente, se
ficarmos com o aspecto meramente emotivo não conseguiremos sustentar
aspectos tais quais exclusividade e permanência, os quais são de interesse
estatal (e, portanto, devem fazer parte da concepção matrimonial). Essa é a
razão pela qual as culturas em geral regulam as uniões, as regram. Como
diz John Finnis em Lei Natural e Direitos Naturais81:
For these new and highly dependent people, there is no path to physical,
moral, and cultural maturity without a long and delicate process of ongoing
care and supervision – one to which men and women typically bring
different strengths, and for which they are better suited the more closely
related they are to the children82
81
Finnis, John. Lei Natural e Direitos Naturais. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2007, p.
89.
82 George, Robert P. (et al) What is Marriage? Man and Woman: A defense . New York:
83 Gallagher, Maggie. “The case against Same-Sex Marriage”. In: Gallagher, Maggie;
Corvino, John. Debating Same-Sex Marriage. Oxford: Oxford University Press, 2012, p. 96.
84 Marriage and the Public Good: Ten Principles. Princeton: The Witherspoon Institute,
Most of the public debate over marriage focuses on the role of marriage as a
social, moral, or religious institution. But marriage is also an economic
institution, a powerful creator of human and social capital. Increases in
divorce and unwed childbearing have broad economic implications,
including larger expenditures for the federal and state governments. This is
the first-ever report that attempts to measure the taxpayer costs of family
fragmentation for U.S. taxpayers in all fifty states. Among its findings: Even
85 Wilcox, Bradford; Dew, Jeffrey. “Is love a flimsy foundation? Soulmate versus
institutional models of marriage”. Social Science Research 39 (2010) 687-699.
http://dx.doi.org/10.1016/j.ssresearch.2010.05.006
programs that result in very small decreases in divorce and unwed
childbearing could yield big savings for taxpayers86
Assim, o que estou defendendo é que há uma boa razão para o Estado
se preocupar com o casamento. Ele não é um mero meio de satisfação
pessoal. Ele está ligado ao desenvolvimento da comunidade mesma. Pais e
mães têm, como mencionei, “dons” específicos para oferecer aos seus filhos.
A ausência de um deles resulta em problemas para o desenvolvimento da
criança, o que causa, também, problemas sociais os mais diversos.
Certamente há casamentos com altos níveis de conflito, e isso entre pais
biológicos. No entanto, ainda assim, isso não justifica suprimirmos a ideia
tradicional de casamento, pois isso tornaria regra o que atualmente é
acidental. Aliás, outros dados podem ser trazidos ao debate, apenas para
instanciarmos essas ideias. Por exemplo, meninas criadas sem a presença
paterna tendem, em média geral, a ser mais vulneráveis aos abusos sexuais,
bem como, em geral, engravidam ainda na adolescência. Os meninos criados
sem a presença paterna tendem, também de acordo com a média geral, a
manifestar comportamento agressivo. Há alguns estudos que mostram
exatamente esses dados. Me baseio, aqui, em três: “Does Father Absence
Place Daughters at Special Risk for Early Sexual Activity and Teenage
Pregnancy?”87, coordenado por Bruce Ellis; “Father Absence and Youth
Incarceration “88, de Sara McLanahan; e “Reconcilable Differences: What
Social Sciences Show About Complementarity of Sexes & Parenting”89.
Apesar de pesquisas distintas, há elementos em comum entre elas.
Há, por exemplo, uma tese geral presente nelas, a saber, que o casamento, e
isso unicamente na visão tradicional, é uma união entre marido e mulher, a
86 Scafidi, Benjamin (Org.) “The Taxpayer Costs of Divorce and Unwed Childbearing: First-
Ever Estimates for the Nation and for All Fifty States”. Institute for American Values.
2008. Disponível em: www.americanvalues.org
87 Ellis, Bruce (et al). “Does Father Absence Place Daughters at Special Risk for Early
Sexual Activity and Teenage Pregnancy?” Child Development. Volume 74, Issue 3, pages
801–821, May 2003.
88 McLanahan, Sara S.; Harper, Cynthia C. “Father Absence and Youth Incarceration”.
90Gallagher, Maggie. “The case against Same-Sex Marriage”. In: Gallagher, Maggie;
Corvino, John. Debating Same-Sex Marriage. Oxford: Oxford University Press, 2012, p.
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