Com origem na língua espanhola e portuguesa, Casta, “linhagem”, é
derivada do adjetivo castus, que no latim significa “puro”. A Casta é definida, enquanto conceito, como um grupo social fechado onde os indivíduos separam-se da sociedade tanto quanto possível e levam um modo de vida particular e diferente do resto da sociedade. No uso corrente, geralmente atribui-se ao conceito de Casta uma idéia de especialização hereditária. Assim, filho de sapateiro é sapateiro, filho de juiz é juiz e assim por diante. Também é levado em conta e determina em muito a formação de uma Casta, a questão racial. Dessa forma ficam unidos, segundo C. Bouglé, raça e ofício e ninguém além do filho, pode continuar a profissão do pai, tornando-se isso mais que um direito, uma obrigação de nascimento. Observa-se sociedades sujeitas a esse regime de Castas desde a antigüidade, sendo que na Índia, com certeza proliferou a maior parte dos estudos sobre esse conceito. Também é importante ressaltar que além da questão da raça e ofício e a obrigação de nascimento, também está associado ao regime de Castas o privilégio, a hierarquia, graus, níveis. O mesmo nascimento que impõe uma profissão inferior a um indivíduo, não o faz com outro, bem como pelo nascimento, um indivíduo é obrigado a pagar altos impostos, enquanto o outro é isento. Até a vestimenta destinada a um determinado grupo significa interdito ao outro. Logo, o regime de Castas também impõe desigualdades sociais, que são a origem da formação das Classes Sociais. É fato que o regime de Castas existiu desde a antigüidade e persiste principalmente na Índia. Só a partir da década de 60, na Índia, com a entrada de multinacionais de diversos países, num processo de modernização, é que pode verificar-se um certo abalo do regime de Castas reinante, havendo uma convivência entre o sistema de Classes com o de Castas. Note-se que o nome que se dá a Casta na Índia, na verdade é Varna, que significa cor, daí a forte conotação racial. Entretanto, ainda existem mesmo em outras sociedades, elementos que nos permitem identificar Castas, ainda que seja numa sociedade de Classes. Podemos dizer que para a existência de uma Casta são necessárias algumas condições. Segundo Ampére, “abster-se de certas profissões que lhe são estranhas, preservar-se de toda aliança fora da casta, continuar a profissão recebida dos antepassados” são condições essenciais para a existência de Castas. Numa rápida olhada para o Brasil, podemos notar algumas dessas características, só para citar um exemplo, na categoria dos juizes. Apesar do dispositivo do concurso público que permite, em tese, o acesso a qualquer cidadão que preencha as exigências para o cargo, freqüentemente encontramos continuadores da profissão recebida dos antepassados. Por outro lado, é extremamente comum vermos casais de juizes. É claro que não podemos comparar a suposta existência de uma Casta de juizes no Brasil com o regime de Castas que imperou durante muito tempo na Índia e ainda pode sobreviver. Na verdade podemos elencar esses elementos que, à luz do pensamento de alguns estudiosos, dão lugar à formação de Casta. Também Weber analisa o conceito a partir do estudo das Castas na Índia e considera que já a partir do final da década de 50, várias práticas inerentes ao regime de Castas perderam a sua força. Para Weber a Casta é essencialmente uma ordem social.
LUTEMBERG DE SOUZA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Ianni, Octavio (org). Teorias de Estratificação Social: Leituras de Sociologia, Cia.
Editora Nacional, São Paulo, 1972.
Bobbio, Norberto. Dicionário de Política, Ed. Universidade de Brasília, Brasília, 1991.
Weber, Max. Ensaios de Sociologia, Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1982.