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Anotações sobre o Movimento Messiânico de Belo Monte

- MARTINS, Paulo Emílio Matos. Os viventes do Bello Monte – Considerações sobre o


tamanho do arraial conselheirista na crônica literária e no imaginário sertanejo. In:
ALMEIDA, Angela Mendes de; ZILLY, Berthold; LIMA, Eli Napoleão (Org.). De
sertões, desertos e espaços incivilizados. Rio de Janeiro: FAPERJ: MAUAD, 2001. p.
133-140.
- SILVA, Dácia Ibiapina. Entre literatura e jornalismo: a Guerra de Canudos nas crônicas
de Machado de Assis e Olavo Bilac. In: ALMEIDA, Angela Mendes de; ZILLY,
Berthold; LIMA, Eli Napoleão (Org.). De sertões, desertos e espaços incivilizados. Rio
de Janeiro: FAPERJ: MAUAD, 2001. p. 141-155.
- COSTA, Frederico Lustosa da. A guerra dos mundos: Euclides e o Conselheiro em
Canudos. ALMEIDA, Angela Mendes de; ZILLY, Berthold; LIMA, Eli Napoleão (Org.).
De sertões, desertos e espaços incivilizados. Rio de Janeiro: FAPERJ: MAUAD, 2001.
p. 187-197.

_ Para Martins (cf. 2001, p. 134), o povoado de Canudos constituiu uma exitosa
comunidade ao prover milhares de habitantes em uma região árida e praticamente
improdutiva. Belo Monte não era um arraial de incivilizados como se via à época.
“Diante de tal fenômeno de crescimento demográfico, forçoso é reconhecer que o
povoado governado pelo Bom Jesus Conselheiro foi palco de um notável caso de
liderança de massa e de um bem-sucedido modelo de organização social e econômica
capaz de prover a subsistência de tamanha população na região mais pobre do semiárido
baiano. Ou, alternativamente, teríamos que admitir a hipótese absurda de que Canudos
foi um gigantesco campo de concentração onde seus prisioneiros lutaram até à morte para
não abandoná-lo.
Essa enorme população sertaneja [...], apesar de seu vertiginoso crescimento e das
condições relativamente estéreis da região, não parece ter sofrido qualquer crise de
abastecimento em sua breve história. Ao contrário, à exceção de fontes com forte
motivação para denegrir a imagem daquela obra comunitária e de seu líder como, por
exemplo, o frei João Evangelista de Monte Marciano1 – chefe da malograda missão com

1
Pesquisar e consultar o Relatorio Apresentado, em 1895, pelo Revd, Frei João Evangelista de Monte
Marciano, ao Arcebispado da Bahia, sobre Antonio Conselheiro e seu Séquito no Arraial de Canudos.
o objetivo de dissuadir o povo de Bello Monte de continuar seu projeto e que teria sido
expulso da comunidade e ameaçado de morte pelos jagunços de Antonio Conselheiro – e
Euclides da Cunha – influenciado pelo relatório do frade capuchinho, citado nos seus
memoráveis Os Sertões –, os dados disponíveis falam de um povoado que, até o seu sítio
completo nos últimos dias da guerra, não conheceu a fome – praga social que,
secularmente, assedia os sofridos sertanejos.” (MARTINS, 2001, p. 134)

“[...] Nessas terras irrigadas pelo Vaza-Barris e seus afluentes e, por suas aguadas,
nos períodos de estiagem, o povo de Bom Jesus Conselheiro plantava e produzia milho,
feijão, batata, abóbora, alguma farinha de mandioca e cana-de-açúcar [...], além de
manejarem rebanhos de caprinos e ovinos [...] e, em escala menor, suínos e bovinos.”
(MARTINS, 2001, p. 13)

“Manoel Benício, testemunha da guerra como correspondente do Jornal do


Commercio do Rio de Janeiro e autor da preciosa e detalhada crônica O Rei dos Jagunços,
confirma essa abundância que vive no imaginário dos descendentes dos sobreviventes da
guerra fratricida” (MARTINS, 2001, p. 136)  consultar páginas 171 e 172 de O Rei dos
Jagunços: “As margens frescas do rio eram cultivadas com plantações de diversos
legumes [...] os pequenos cultores de terra, em Canudos, possuíam sítios, pomares,
fazendolas [...] As mulheres não estavam inativas.”

_ Silva (cf. 2001), ao comparar os escritos de Machado de Assis e de Olavo Bilac sobre
a Guerra de Canudos, revela que o primeiro via um potencial poético no movimento
messiânico e em sua repreensão.  Os MMs têm potencial poético ao mesmo tempo
em que é visto negativamente.
“[...] Machado de Assis percebeu muito claramente a riqueza poética e literária do
que estava ocorrendo nos sertões da Bahia e é este o enfoque que prevalece nas suas
crônicas [...]. Bilac, por sua vez, era um militante político apaixonado pela causa
republicana nacional, então muito marcada por uma visão positivista da realidade. Onde
Machado de Assis via poesia, Bilac via misticismo, fanatismo e irracionalismo; por isso
suas crônicas, apesar de literárias, se aproximam muitas vezes do discurso político.”
(SILVA, 2001, p. 145)

Bahia, Typografia do Correio de Noticias, 1895 (Edição fac-similada), in: Centro de Estudos Baianos da
Universidade Federal da Bahia, Salvador, nº 130, 1987, p. 4.
. Olavo Bilac, ilustre poeta e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, revela,
em suas crônicas que até os intelectuais entenderam o movimento de Belo Monte como
uma revolução monarquista.
“Em 05/02/1897, na crônica intitulada ‘Malucos furiosos, Bilac reafirma sua visão
sobre a Guerra de Canudos e sobre o seu líder:
Não se trata, pois, de uma simples rebelião, facilmente dominável. A guerra civil
de Canudos [...] é uma guerra feita por fanáticos, por malucos furiosos que o delírio
religioso exalta – gente que vem morrer agarrada à boca das peças, tentando toma-las a
pulso.2
[...]
Em 14/03/1897, Bilac publica na Gazeta de Notícias a crônica ‘3ª expedição’, sob
o impacto da derrota, comandada pelo General Moreira César, ferido mortalmente em
combate, no dia 02/03/1897. Esta morte foi uma vitória significativa dos conselheiristas,
porém seu impacto foi a chama que faltava para explodir o barril em que se transformou
o arraial de Canudos. Debelar os rebeldes vitoriosos virou questão de honra nacional.
Nesta crônica, como de resto nas demais, Bilac assume com entusiasmo a bandeira
republicana. Ele está convencido de que a rebelião de Canudos é um movimento
restaurador da monarquia e pede que ela seja sumariamente eliminada:
No vulto ascético do Maciel, esquálido e sujo, arrastando pela poeira dos sertões
as suas longas barbas de Iniciado, construindo igrejas que têm nas torres canhões em
vez de sinos e cemitérios em que se plantam carabinas em vez de cruzes, e vestindo, como
o cura Santa Cruz, um burel sobre o cabo do punhal e a coronha da pistola – encarnou-
se a propaganda perversa que, só tratando das cousas do céu, só quer as cousas da terra,
e que se diz aconselhada e dirigida por Deus, como se Deus tivesse tempo disponível
para se preocupar com sistemas de governo...
Mas, a máscara caiu. Já agora, não há de ser fácil ao monarquismo pregá-la
outra vez na cara descomposta.3
[...] Em um pequeno trecho desta crônica Bilac, ao contrário de Machado de Assis,
prevê que Conselheiro e seus seguidores vão desaparecer da memória nacional:

2
BILAC, Olavo. Vossa Insolência: crônicas. Organização de Antonio Dimas. São Paulo: Companhia das
Letras, 1996. p. 403.
3
BILAC, Olavo. Vossa Insolência: crônicas. Organização de Antonio Dimas. São Paulo: Companhia das
Letras, 1996. p. 393-394.
[151] Em breve, já nem memória há de restar da afronta: haverá apenas a glória
dos que morreram e a glória dos que souberam vingá-los. E esta ‘Crônica’ voltará a ser
alegre – porque nem mesmo hoje, nestes dias de luto e sangue, conseguiu ela ser triste.4”
(SILVA, 2001, p. 150-151).

“[...] Na crônica ‘Cidadela maldita’, de 09/10/1897, mais uma vez, Bilac reafirma
seu ponto de vista sobre a guerra e sobre Antônio Conselheiro:
Enfim, arrasada a cidadela maldita! Enfim, dominado o antro negro, cavado no
centro do adusto sertão, onde o Profeta das longas barbas sujas concentrava a sua força
diabólica, feita de fé e de patifaria, alimentada pela superstição e pela rapinagem!
E, ao final:
Enfim, assaltada e vencida a furna lôbrega, onde a ignorância, ao mando da
ambição, se alapardava perversa! Enfim, desmantelada a cidadela-igreja, onde o Bom
Jesus facínora, como um cura Santa Cruz de nova espécie, oficiava, tendo sobre o espesso
burel a coronha da pistola assassina!...5
A crônica “Cidadela maldita” foi publicada no jornal O Estado de S. Paulo, em
10/10/1897. No dia seguinte foi publicada outra crônica de Bilac, na Gazeta de Notícias,
em sua coluna ‘Crônica’, intitulada ‘Cérebro de fanático’. Nesta crônica Bilac segue
comemorando a vitória da Quarta Expedição, que finalmente pôs fim à Guerra de
Canudos e faz especulações sobre o cérebro de Antônio Conselheiro, fato que denuncia
sua postura cientista-positivista, tão em voga no final do século XIX no Brasil e no
mundo. É interessante contrastar esta postura com a de Machado de Assis, que prefere o
elogio da imaginação e da poesia ao positivismo e à prosa naturalista da época” (SILVA,
2001, p. 151).

_ Costa ressalta a disparidade entre o sertão baiano e o litoral:


“A Guerra de Canudos é um desses momentos de desencontro, de tensão e de
conflito entre o mundo racional e republicano da cidade, da ‘indústria’ e da crença na
ciência e no progresso e o mundo mágico e multiforme do sertão, da intuição, dos reis

4
BILAC, Olavo. Vossa Insolência: crônicas. Organização de Antonio Dimas. São Paulo: Companhia das
Letras, 1996. p. 394.

5
BILAC, Olavo. Vossa Insolência: crônicas. Organização de Antonio Dimas. São Paulo: Companhia das
Letras, 1996. p. 412-413.
místicos e do encantamento religioso. Os Sertões é a narrativa dessa guerra entre dois
mundos.” (COSTA, 2001, p. 188)

_ Costa aponta que o Movimento Messiânico liderado por Antônio Conselheiro baseava-
se em um catolicismo “impregnado de todos os horrores da Idade Média”:
“Segundo Euclides da Cunha, a maior influência recebida pela religiosidade
popular do sertão vem de herança do catolicismo peninsular, ainda impregnado de todos
os horrores da Idade Média. Ela foi trazida pelo português impressionável que alimentava
o mito do sebastianismo e as práticas heresiárquicas dos penitentes.
Em Canudos, a República era rejeitada não apenas por ser uma forma política
incompreensível, mas como uma espécie de ruptura da ordem natural das coisas. O
Império representava a unidade, a continuidade e a ordem divina. O sebastianismo era o
mito milenarista fundador dessa continuidade.” (COSTA, 2001, p. 193)

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