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com/2011/03/imagem-nua-e-as-
pequenas-percepcoes.html
Segundo José Gil, a imagem nua é toda aquela a que falta a significação verbal e
que tende e apela ao sentido.
José Gil
Estamos então (segundo J.Gil) mergulhados num mundo de imagens-nuas,
sendo a maior parte das nossas percepções e dos nossos sonhos compostos
por elas, a que se associam pensamentos imperceptíveis, os chamados
«pensamentos voadores» (Leibniz) que teriam mais tarde muita importância na
associação livre e na cura analítica e no material imagético das técnicas de
publicidade, do cinema e das artes. São elas que transportam significações
mudas e informações mais ricas por vezes que as mensagens verbais.
Gottfried Leibniz
As imagens-nuas arrastam consigo conteúdos não conscientes de sentido, de
não consciência, mas não do inconsciente freudiano.
Estas imagens produtoras de «pequenas percepções» estão associadas a
forças e provocam um apelo de sentido estimulando o espírito à procura da
significação verbal ausente que irá preencher o seu vazio ou nudez.
Nalgumas obras, como os readymade de Duchamp, o apelo ao sentido é
neutralizado pela inadequação das inscrições ou títulos que lhes são postos.
Gera-se assim uma oscilação entre imagem e inscrição, na procura dum sentido
entre uma e outra que nunca se encontra. No urinol ( Fonte ), faltava o jacto de
água (ou urina) , no “Porta garrafas” não existem garrafas, etc.
Duchamp problematizou não só aquilo que se entende por obra de arte,
expondo objectos de uso comum, mas a adequação da palavra à imagem. O
título ou inscrição não ajuda à compreensão do objecto, não supera aquilo que
falta à sua compreensão, não o completa, mas por outro lado reforça essa falta
nomeando-a verbalmente e neutralizando o apelo ao sentido através dessa
inadequação entre imagem e título.
Aqui não se trata de imagens-nuas, porque o visual não corresponde à palavra,
porque esta não atribui sentido ou significado ao objecto que nos é dado a
observar e é através da oscilação e da procura de sentido entre estes dois
elementos que Duchamp nos mostra que uma obra adquire sentido quando
existe uma certa relação com o seu sentido verbal.
A introdução das noções de «força» e «inconsciente» modificou os conceitos
clássicos da fenomenologia, principalmente os de «visível» e «invisível.
Existe uma confusão e querela entre o estatuto do invisível e dos seus níveis
ontológico e fenomenológico a que Merleau Ponty não conseguiu dar uma
resposta definitiva. Ele não identifica totalmente o invisível com o inconsciente,
deixando indeterminada essa definição, ou remete o visível para a
fenomenologia e o invisível para a ontologia.
Merleau Ponty
Merleau Ponty não conferia ao «invisível» uma autonomia clara. Para ele o
invisível “é a impercepção da percepção”, para J.Gil o invisível “ é o experimentar
de modo inconsciente, é um experienciar para além da consciência .” Existe assim,
segundo J.Gil, um risco em deixar suspensa a apreensão do invisível da
presença do visível. Para ele a percepção do invisível é uma “visibilidade
segunda”, é o “avesso” do visível (o forro deste).
É na estética que a percepção do invisível se torna central, pois é na arte,
(principalmente na pintura segundo P. Klee) que reside o destino de tornar o
invisível, visível, pois é no segundo que se descobre o primeiro. A estética vê o
invisível à partida.
AS PEQUENAS PERCEPÇÕES