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Compreende-se agora aquela velha máxima dos antigos fazendeiros de Minas e São Paulo: “Nesta
casa só se compram ferro, sal, pólvora e chumbo.” São estes, realmente, os quatro únicos produtos
que o grande domínio não pode produzir. De modo que, dentro do latifúndio,
cuja enormidade o absorve, o fazendeiro frui uma independência
econômica absoluta. Se toda a sociedade se extinguisse em derredor
dele, do seu próprio domínio extrairia ele o bastante para as suas necessidades fundamentais, e
continuaria a viver, como se nada houvera, a sua
vida laboriosa e fecunda. P. 190/191
Eschwege
é mais expressivo ainda: das cinco classes, em que a sociedade mineira
do princípio do século passado se divide, os “negociantes” ocupam,
segundo ele, o quarto lugar; cabendo respectivamente os três primeiros
aos “mineradores”, “agricultores” e “criadores’; o quinto lugar, o ultimo,
é o da classe dos “vagabundos” e “criminosos”.141 De modo que o comerciante fica entre a classe
detritária dos vagabundos e a classe senhorial dos criadores. Em síntese: com a sua onímoda
capacidade produtora, o
grande domínio impede a emersão, nos campos, de uma poderosa burguesia comercial,
capaz de contrabalançar a hegemonia natural dos grandes feudatários territoriais. P. 191
Nas comunas medievais, são esses pequenos artesãos e fabricantes os temíveis e vitoriosos
oponentes dos potentados feudais. Aqui, o
grande domínio exerce sobre eles uma sorte de centripetismo absorvente:
atrai-os para dentro da órbita da sua influência e os anula inteiramente. “ p. 92
Numa terra destas, em que “não há pobre que não seja farto
com pouco trabalho”, na confissão apologética de frei Rui Pereira, para
que servirá ao operário rural o salário do patrão? Ele pode dispensá-lo.
É-lhe um adminículo apenas. O salário para ele não é, como para o
lavrador saxônio, um meio essencial à manutenção da vida material. –
Daí, dessa generosidade incomparável da terra, a impossibilidade histó-
rica de uma vinculação estreita e permanente entre a classe senhoril e o
proletariado dos campos. P. 196
Destarte, nem os pequenos sitiantes nem os grandes arrendatários se acham, nos domínios
açucareiros, envencilhados, de um modo
necessário e permanente, aos senhores do engenho. Para um encadeamento forte e contínuo não
há, entre as duas classes, um motivo forçado
e fatal. Tudo é vago, incoerente, instável. P. 199
De tudo isso resulta que, nem nos grandes domínios açucareiros, nem nos grandes domínios
cerealíferos, nem nos grandes domínios
cafeeiros, nem nos grandes domínios pastoris, os interesses econômicos
da classe foreira e da aristocracia territorial se aliam de um modo constante e durável. Interferem
apenas. Essa inteferência é, porém, intermitente e transitória. Não apresenta o cunho de uma
necessidade inelutável. P. 200
Os nossos núcleos urbanos do interior rural, pela ação simplificadora dos grandes domínios, nada
valem como mercados. Habilitados
por uma população escassa e pobre, têm uma clientela restrita. Como
praças comerciais, facilmente atingem a pletora, porque lhes faltam, em regra, escoadouros para os
grandes centros consumidores da costa.
Como é para eles que os pequenos proprietários e cultivadores carreiam
a totalidade das suas colheitas, é inevitável o excesso da oferta sobre a
procura, a superabundância dos gêneros e, conseqüentemente, a queda
dos preços, que ficam “de rastros”, no expressivo dizer dos nossos matutos. De modo que,
vendidas as colheitas, o lucro dos pequenos cultivadores ou é mesquinho, ou é nulo, ou é negativo.
O que é certo é que
não dá margem à capitalização. Dependentes por esta forma dos mercados vilarejos, da sua
insignificância e mesquinhez, os pequenos proprietários vivem num estado de asfixia periódica. E
languescem dentro desse meio, assim compressivo e anemiante. P. 202-203
Entre nós, ao contrário, a terra vasta e a terra exuberante – o deserto e o trópico – não tornam
necessária a aproximação das classes
dentro do ecúmeno rural; não as constringem dentro de uma conexão
forçada e permanente; fazem os laços, que as prendem, facilmente solú-
veis; e lhes dão, no tocante à sua estrutura, à coesão dos seus elementos
componentes, uma incoerência, uma desintegração, uma fluidez, uma
instabilidade, que as tornam, realmente, inorgânicas e informes. P. 205